INCANDESCENTE - Jikook HowUdare
INCANDESCENTE - Jikook HowUdare
Category: Fanfiction
Genre: abo, babyboy, bdsm, bts, fanfic, fetiche, flex, gay, howyoudare,
jikook, jikookflex, jimin, jiminalfa, jiminbottom, jimintop, jkalfa, jkbottom,
jktop, jungkook, jungkookbottom, kookmin, lgbt, nsfw, omegaverse
Language: Português
Status: In-Progress
Published: 2018-07-29
Updated: 2021-01-10
Packaged: 2021-03-21 23:15:33
Chapters: 42
Words: 306,567
Publisher: www.wattpad.com
Summary: BDSM (Jm¡DOM × Jk¡BRAT) || ABO (Alfa × Alfa) || FLEX
Jeon Jungkook é a personificação do que se pode chamar de "pentelho" -
um alfa teimoso e que parece ter nascido ao contrário, tendo uma
personalidade que demonstra prazer na desobediência; era um malcriado.
Por isso, a personalidade ora intimidante, ora gentil, de Park Jimin - seu
vizinho alfa lúpus e Tenente-coronel da aeronáutica coreana -, o atraísse
tanto. Mas Jimin, além de extremamente sensual, é alguém evasivo e que
esconde segredos. E quando Jungkook acidentalmente os descobre, é
apenas o começo de uma relação mais quente que o inferno. Twitter ☆
@ALPHASDOMINATOR & @cherrysubjk TAGS: #CobraSorrateira +
#JungkookBebêDoJimin
Language: Português
Read Count: 2,599,862
TRAILER + CAST 🃏
Assista ao booktrailer de INCANDESCENTE antes de começar a
leitura. A experiência fica mais divertida ❤
https://www.youtube.com/watch?v=ekUMg8DssTg
[CAST]
Essa fanfic é ambientada num universo ABO ↪ Alfa, Beta e Ômega. Por
ser um universo inexistente, alguns conceitos podem ser diferentes de
outras histórias que você conheça. Portanto, fique atento às explicações
ABO desta história. Não aplique os conceitos de outros livros ABO's em
Incandescente. Ela tem suas próprias regras. Cada autor cria as suas.
Fanfic Jikook!flex. O que significa que, como casal gay, os dois irão
penetrar e serem penetrados. Há trocas, de acordo com os momentos em
que >>eu<< quiser colocar. Lembrando que flex significa trocar a posição
de ativo e passivo na relação.
Incandescente tem a tag #JungkookBebêDoJimin no twitter. Use sem
moderação ❤ Falar da fic no twitter é muuuito bom pra que outras pessoas
a conheçam. Façam bastante, se gostarem dela
BEM-VINDOS A INCANDESCENTE
01| curious
Jungkook observava a chuva cair pela janela de vidro, junto a sua própria
imagem emburrada de fios vermelho-cereja refletida na superfície
transparente, afogada em gotinhas de água. O dia estava claro e cinzento.
Nada lhe parecia anormal. Pelo contrário, era como se um monstro enorme
de garras negras lhe sufocasse. Tédio. Nada mais lhe chamava a atenção e a
rotina lhe deprimia. Acordar todos os dias, trabalhar naquela lojinha de
conveniências, receber um salário baixo, que lhe servia apenas para pagar
por seu aluguel e as contas da casa. Pouco lhe sobrava exatamente para
divertir-se — embora trabalhar numa loja de conveniência sem câmeras, lhe
permitisse furtar muitas garrafas de soju, vodca e um bocado de guloseimas.
Não que ele achasse aquilo certo. Apenas fazia, sem pensar muito sobre o
assunto. Algo sobre "distribuir a riqueza das oligarquias entre os menos
favorecidos" lhe soavam tocantes e escusas.
Apoiado no balcão, bufou impaciente. Seu emprego era chato, sua vida era
chata, seus relacionamentos e vida sexual eram chatas. A única coisa
interessante eram seus amigos. E falando nos diabos...
O sininho da porta soou, indicando novo cliente. Não era necessário, já que
o balcão do caixa era posicionado de frente para a porta, por onde o beta
Jung Hoseok acabara de entrar, com a cara amarrada e os olhos vermelhos.
— Você já sabia que ele não era do tipo obediente — Jungkook responde
sem humor. — Até eu que não pratico bdsm, sabia que você não iria
aguentar.
— Talvez você devesse me explicar melhor esta coisa outra vez... — pede o
ruivo, franzindo o cenho. — Esse negócio de Brat, não é uma coisa ruim?
Uma delas, era que o ômega Min Yoongi havia sido um Dominador pelo
qual Hoseok tinha se sentido extremamente atraído. Saíram muitas vezes,
mas o Dom não parecia sequer interessado em criar uma relação fixa com
Hoseok. Não passavam de encontros esporádicos. Mas Hoseok queria, e
muito, ter algo a mais com o de cabelos loiros; Sim, Min Yoongi tinha
cabelos platinados, o que era absurdamente inesperado na aparência de um
Dominador de bdsm, Hoseok contara — geralmente estes procuravam
cultivar uma aparência mais intimidante, e não delicada.
Jungkook, como a boa sementinha do mal que era, foi quem lhe deu a ideia
— esta que o Jung achou genial e seguiu de imediato, mas que agora se
arrependia amargamente, diante de mais um coração partido, só que desta
vez, por Kim Taehyung, o submisso malcriado e apelidado de brat, pelos
praticantes da Masmorra que frequentavam.
— É... foi uma ideia ruim — o outro concorda, cansado.— Mas fui ainda
mais burro em achar que daria certo...
— Ah, sai pra lá, beta! — Jungkook exclama rindo, enquanto empurra o
braço do outro do balcão, para passar um pano úmido ali. — Eu não sou
essa coisa aí que você diz. Não sou malcriado; Talvez eu seja um
Dominador....
— Você? Um Dom? — riu com força, batendo nos próprios joelhos e quase
engasgando com a bebida. — Jungkook, você é um bebêzão manhoso e
malcriado...
— Iti, mas que bebêzinho fofo... — o beta implica, apertando uma de suas
bochechas gordinhas.
Jungkook bufa e rapidamente afasta a mão dele de seu rosto, com um tapa.
— Que seja, mas pra quê tirou a foto? É pra fazer mais um meme meu, seu
engraçadinho?
[...]
Era sempre assim. Não podia ver Park Jimin, que sua boca não parava
quieta.
Não era à toa que o outro nunca parecia lhe dar muita ideia — pensava o
pobre Jeon. Isso e o fato de que Jimin era um alfa. E não era muito comum
um alfa se interessar por outros alfas. Mas também não era como se Jimin o
destratasse, pelo contrário: O Park era sempre muito gentil e educado
consigo, e, não só isso: flertava como o Diabo. Todavia, Jungkook sempre
tendia a achar que os flertes e provocações aconteciam como uma boba
brincadeira entre colegas.
O problema era que aquele sorriso curvava um pouco pro lado e o olhar
felino do moreno parecia querer devorá-lo bem ali, em cima daquele balcão,
na frente de tudo e todos. É. Definitivamente era muito mais do que um
sorriso simpático, Jeon bem sabia — mas como sempre, fazia-se de rogado.
Porque, afinal, Park Jimin não poderia querer nada com ele, poderia?
Não que Jungkook se achasse feio nem nada — na verdade, tinha bastante
confiança sobre sua aparência — era bonito pra um santo caralho; tinha um
maxilar quadrado, bem marcado e másculo, lábios finos e malditamente
bem desenhados, enfeitados por uma pintinha delicada abaixo deles, o nariz
grande e marcante, olhos de cor preta, puxados e redondinhos, que
pareciam extremamente curiosos, mas que também eram intensos demais
por conta do par de sobrancelhas grossas e escuras.
Por conta disso, era muito normal que o de cabelos cereja fosse rejeitado ou
tratado como algum tipo de aberração, como se não pudesse ser atraente o
suficiente, por ter os cheiros misturados, como um repelente. E isso destruía
sua autoestima em certo nível.
— Digamos que sim... — Jimin respondeu, jogando os cabelos pra trás com
a mão, num movimento extremamente sexy, que fez Jungkook
inconscientemente encará-lo e morder os lábios. — Fugindo é que eu não
tô...
Jimin então dá uma risada alta, jogando o corpo pra trás, cobrindo a boca
com a mão.
O Jeon sorri satisfeito, sem saber exatamente porquê havia causado aquela
reação no outro, mas ainda assim contente de fazê-lo sorrir. O avermelhado
sempre que via o Park, se empenhava em fazê-lo rir minimamente, já que
Jimin carregava sempre uma postura e expressões sérias, ainda que fosse
meigo em todas as vezes em que se falavam.
Jungkook achava Jimin fofo a seu modo, ao mesmo tempo em que sentia
vontade de tê-lo em cima de si, o subjugando. Porque era aquela imagem
que o militar lhe passava... A de alguém muito bom em dar ordens.
Talvez aquela ideia houvesse sido implantada em sua mente, apenas porque
já havia visto o Park em sua farda branca e, por Deus! Aquela visão o
deixara salivando. Sequer sabia que tinha fetiches por caras fardados.
Apenas sabia que Jimin o tinha deixado com um tesão incontrolável.
Tentava não criar esperanças, já que sendo um alfa, Jimin provavelmente só
gostava de ômegas e betas. Mas sempre o vira entrar e sair de casa sozinho,
sem mulheres ou homens, alfas, betas ou ômegas. Talvez o moreno tivesse
um ômega e visitasse-o em sua casa, como um cavalheiro.
Jimin observava Jeon com uma expressão séria no rosto, mas era
perceptível o risinho no canto de seus lábios.
É claro que insinuar que o outro era velho, era uma péssima técnica de
flerte. Mas o de cabelos cereja tinha um prazer especial em provocar as
pessoas, principalmente seus hyungs, de modo que nunca se segurava, era
algo natural nele, fazia parte de si.
— Ah, mas eu tenho 25, sou quase um bebê! — rebate em falsa indignação.
— Isso mata, você sabe — Jungkook fala. — Anda aborrecido com o quê?
Quer conversar? — indaga docemente.
— Ah, ele diz que é Switcher... quer dizer que faz os dois. Significa que
pode ser o manda-chuva ou o cachorrinho de alguém... — responde rindo.
— Você conhece alguma coisa desses fetiches?
Ninguém o impedia.
Pra quem começou INC agora, bem-vindo. Essa fic foi editada, pra que
se encaixasse melhor nas regras de conteúdo do site. Por conta disso,
muitas alterações foram feitas no enredo, até mesmo na ordem de
alguns capítulos. Por isso não se assuste se vir comentários que falem
sobre algo diferente, capische? Eu sei que você capische.
— Você nem mora aqui. Não sei por quê se mete na minha arrumação...
— E daí? Isso é uma construção social imposta, Minzy é uma menina, ela é
o que ela quiser ser...
Hoseok não responde e apenas sai da casa para deixar a sacola preta de lixo
na porta.
— Isso não seria tipo, me fazer ser algo que não sou? — o ruivo questiona,
se jogando no sofá, com um potinho cheio de m&m's vermelhos.
— Não é nada demais, já que você insiste que seu gato macho é uma fêmea,
só porque você quer... — devolve ácido.
— JK, gatos não falam, você não tem como saber o que seu gato pensa,
pare de ser idiota. — Hoseok fala, batendo com a vassoura nos pés do mais
novo, para que este os levantasse enquanto ele passava a mesma por ali.
— Minzy não fala mas eu sinto, conheço minha filha... — responde
teimosamente, olhando pela janela.
— Você debocha assim porque nunca o viu. O cara é a coisa mais deliciosa
que eu já vi na vida. Ele é todo meigo e educado, mas tem um porte ereto,
um olhar penetrante, toda uma coisa de macho alfa... — sacode o corpo
fingindo um arrepio. — Se bem que ele é mesmo um alfa, embora não
pareça...
— Amigo, não é assim, o cara é um alfa! Você sabe como esses sujeitos são
com os outros alfas... Vai que eu dou uma cantada nele e ele um soco na
minha cara, hmn?
— É bom você dar um jeito logo, se não esse cara vai voltar pro quartel
outra vez e você vai ficar aqui chupando dedo, como sempre — Hoseok
declara. — Por que não tenta o velho truque do açúcar?
— Yah, que nota você daria pros pornôs de bdsm que assistiu? — Hoseok
questiona, voltando ao assunto anterior, enquanto passa um pano com
lustra-móveis na estante, de costas pro alfa.
— Uau! — o moreno se vira pra ele. — Isso é muito. Tem certeza que não
quer visitar o clube? É sério, Jungkook, você precisa aprender sobre
disciplina...
— Sério? Legal! Hoje não dá, mas no final de semana sim. Vai estar de
folga quando?
[...]
— Não, idiota. Olha ele ali — sussurra, apontando para o alfa mais à frente.
— Yah, eu não sou frouxo, poderia ser um dom, sim! Sou um Alfa, me
respeita!— fala subindo a voz, irritado.
"Me dá esse telefone aqui..." uma voz ao longe diz, parecendo tirar o
telefone das mãos de Hoseok.
— Oi hyung, uma ova! — Jin grita do outro lado da linha. — Escute aqui,
você é um homem ou um saco de batatas?
— Isso explica muita coisa, já que batatas cruas são pesadas, mas batatas
fritas são metade vento dentro do pacote — Jin suspira. — Jungkook,
aproveita esse rostinho lindo que Deus te deu, esse corpinho todo
trabalhado na sensualidade, e faça alguma coisa! Você come que nem uma
criança faminta e continua gostoso pra porra, essa sorte é de poucos. Vai
lá, pede a merda do açúcar e pergunta se ele quer sair com você num
encontro, caralho. Não é tão difícil assim, você é lindo. Qualquer pessoa
seria incapaz de te recusar, sendo alfa, beta ou ômega...
— Olha aqui, garoto. Eu vou te ligar daqui há meia hora e se você não
tiver ido falar com ele, juro pelo Buda, que eu mesmo vou até aí encher a
sua cara de porrada. Tchau! — Então Jin encerra a chamada.
O de cabelos cereja observou a rua vazia pela janela. Pelo menos se ele
apanhasse, não teria muita gente assistindo a sua desgraça. Arrumou os
cabelos num visual despojado e passou um lip balm, pra evitar qualquer
rachadura feia nos lábios, que o tornassem de aparência "não beijável".
Vestiu uma calça apertada de cintura alta, que marcaria sua cinturinha fina
— orgulhava-se muito dela, obrigado — e uma camisa preta com a gola V,
que deixava à mostra suas clavículas salientes. Sabia que aquilo era sexy.
Por último, calçou um tênis e saiu de casa.
Antes de bater na porta, lembrou que não tinha levado a maldita xícara.
Voltou ao seu apartamento para pegar a porcelana. Antes de sair outra vez
pela porta do prédio, avistou Jimin entrando em casa, vestido em sua farda
branca. Sentiu o coração errar uma batida. Foi andando devagar e,
respirando fundo, bateu na porta do Tenente-Coronel, que obviamente havia
acabado de entrar na residência.
Segundos que pareceram uma eternidade se passaram, até que o outro
abrisse a porta. Ele usava a farda completa, o coturno, a gravata e o quepe
branco e preto na cabeça. Haviam milhares de broches presos do lado
esquerdo do peito, e as asas que representavam a aeronáutica, do outro.
Havia também o broche de uma pirâmide, que indicavam a classificação de
alfa.
— Ah, é... Você fica... Bem bonitão com ela — arriscou dizer, quase
fechando os olhos e esperando tomar um sopapo pela ousadia. Mas Jimin
apenas sorriu.
— Ah, sim — disse então, quase esquecendo o plano inicial, já que estava
embasbacado demais vendo aquele pedaço de mau caminho fardado. — É
que... sabe, vi você chegando com as compras de mercado mais cedo, e
coincidentemente acabou ingrediente enquanto eu cozinhava, então pensei
que você provavelmente teria pra me ceder um pouco.
"Merda! Sabia que não era pra ouvir aqueles idiotas!" pensou.
Jimin abre espaço e o deixa entrar, fechando a porta logo atrás de si. Era a
primeira vez que o ruivinho entrava naquela casa. Ele abandonou os tênis
na porta e entrou cuidadosamente, observando a sala simples, porém de
móveis aparentemente caros.
— Acho que gosto. Mas acho o brilho do látex mais legal — responde
simples.
— Não... é que realmente não tinha muita coisa aqui em casa e... — o mais
baixo se pausa.
— E..? Hyung, não seja tão misterioso.
— Bem, não é como se eu pudesse esconder por mais tempo, já que você
vai me ver em casa todos os dias... — Jimin responde, suspirando. — Eu
estou desempregado.
— Fui expulso. Estou fardado porque hoje foi a minha audiência perante o
Tribunal Militar. Fui condenado. Estou oficialmente fora das Forças
Armadas.
— Mas então você fez algo errado, não foi? Fez alguma besteira, Jimin-ah?
— pergunta meio assustado.
O Coronel suspira e então o encara nos olhos, fixamente, o que deixa Jeon
desconsertado, mas sem desviar o olhar do dele.
— O que quer dizer? Eu não dou tanta pinta assim — devolveu indignado.
— Acabei de dizer que gosto de alfas. Você acha mesmo que dei em cima
de você todos esses anos, só pra te sacanear? — Levanta uma sobrancelha,
questionador.
Oh-oh. Isso queria dizer que, de fato, o Park flertava consigo por ter algum
interesse. Ah, pobre JK. Parecia que estava vendo a explosão do big bang
bem diante de seus olhos. Ficou totalmente sem reação.
— Oh... certo. Então você vai ter que deixar por isso mesmo — o garoto
assume.
— Exato.
Cheiro de musk.
Oh, finalmente, ali estava: Park Jimin era um alfa lúpus — o tipo de alfa
com a maior capacidade reprodutora de sua classe.
Jungkook precisou morder o lábio, pra conter o suspiro deleitoso que quis
escapulir de seus finos lábios, ao sentir tal fragrância. Claro, dado a altura
de Jimin, que era baixa pra um alfa comum, Jeon já desconfiava que este
fosse um lúpus; Alfas Lúpus tendiam a ter estaturas menores, igualando-se
a ômegas comuns, em aparência. Na verdade isso ficava claro pra qualquer
um. Mas até então, o garoto não havia sentido o maldito cheiro de musk.
Sempre tentava sutilmente farejar e decodificar todas as notas no aroma de
Jimin, mas nunca encontrava o bendito cheiro de musk, que só alfas lúpus
possuíam, pra que pudesse confirmar suas suspeitas.
— Hmn... s-sim.
Jungkook, petrificado, não soube o que fazer. Era como se um zum zum
zum tivesse começado dentro de sua cabeça. Em reflexo, fechou os olhos e
colocou a pontinha da língua para fora, para lamber o doce posto em seus
lábios finos. Mas o que o músculo macio encontrou, foi o dedo de Jimin,
que ainda estava ali.
De modo que, Jeon estar começando a sentir suas palmas das mãos suarem
e seu coração bater daquele jeito errático, fazendo seu peito doer, parecia
absurdo demais.
Jungkook arfou ao sentir uma das mãos do ex-militar agarrar em seus fios
de cabelo e a outra apertar sua cintura entre os dedos, puxando-o para ainda
mais perto, mas sem permiti-lo começar logo aquele beijo: quando o ruivo
ia aproximando mais a boca, o maldito lúpus se afastava pra trás.
O mais novo segurou a lapela da farda alheia com as mãos e o puxou mais
contra si, trazendo o militar de volta. Seus olhos gritavam: "Me beije logo!
Se não o fizer, eu mesmo farei!" — mas infelizmente, vendo o outro por
algum motivo fugir, Jeon não se sentiu muito confiante para roubar aquele
beijo. Poderia ser rejeitado, e o rapaz tinha pavor da rejeição.
E percebendo seu cheiro emanar tão forte assim na frente do vizinho, pela
primeira vez, teve medo de afastar Jimin de si por isso — alheio ao fato de
que o Park já estava mais de que ciente sobre sua condição biológica e,
inclusive, a apreciava um bocado. Afinal, o mais novo pensava que se o
mais velho era um alfa que gostava de outros alfas, um alfa com cheiro de
ômega poderia não levá-lo exatamente ao delírio.
Mal sabia ele, que era justamente aquela mistura que deixava Jimin insano
de tesão.
Sim, deixava; Não era novidade aquele aroma, para o Park. O lúpus possuía
um olfato bastante aguçado. Com certa frequência, sentia o cheiro ômega
em Jeon. No começo, chegou a pensar que o garoto fosse marcado, ou que
ao menos andasse por aí transando com vários ômegas, pra que o cheiro de
tal classe estivesse tão cravado ao fundo das notas de seu aroma. Mas com o
tempo percebeu que não podia ser aquilo, pois a forma como o cheiro de
um companheiro se sobressai no corpo do outro, é diferente daquela.
Como as coisas poderiam estar tão intensas, se eles sequer estavam sem
roupas? Pior, se sequer um beijo eles estavam dando? Tudo era carregado
de uma intensidade mais quente que mil sóis em brasa. Parecia até absurdo
agora, que eles nunca tivesse cedido daquele jeito, durante os três anos em
que se conheciam. Talvez isso se devesse ao fato de que aquela era
praticamente a primeira vez que ficavam realmente sozinhos entre quatro
paredes — com exceção do dia que se conheceram.
O mais novo franziu o cenho. Não havia entendido muito bem. Precisava de
permissão pra isso? Quer dizer, nunca havia precisado exatamente pedir
permissão para que pudesse tocar alguém que estava beijando. As pessoas
sempre deixavam, era natural. E quando não deixavam, elas apenas
avisavam e ele entendia o recado.
O que o alfa lúpus queria então? Um pedido? Se era isso, Jeon o daria.
Daria-lhe o que o outro quisesse. Com isso, o ruivinho sorriu ladino e
deixou a postura ereta, fazendo com que seu rosto ficasse mais próximo ao
do militar, que lhe encarava de cima.
— Posso, por favor, apertar essa sua bunda gostosa, hyung? — perguntou
com a voz manhosa e abusada, quase que por instinto. Sequer havia
pensado muito, apenas dito.
Jimin sorriu em aprovação. Mas ao invés de permitir que este fizesse o que
pediu, ele mesmo segurou as mãos magras e grandonas do garoto, e as
levou até as laterais de seus quadris, instruindo como e onde o ele deveria
alisá-lo. Provocou e atiçou, deixando o outro doido. Até finalmente levar as
palmas alheias até sua bunda musculosa, onde o Jeon apertou com tanta
força, que as pontas de seus dez dedos ficaram brancas, enquanto ele unia
as sobrancelhas e abria a boca, extasiado.
CONTINUA [...]
"Jimin... Por que não me beija logo? " a voz manhosa e sôfrega de
Jungkook soou nos ouvidos do alfa lúpus.
Ele observou o garoto quatro anos mais novo em sua frente. Parecia tão
inocente...
E era isso que estava segurando o coronel. Jungkook não era do bdsm.
Jungkook provavelmente sequer era fetichista.
Não que Jimin fosse recusar o bom e velho sexo tradicional, mas após um
acontecimento doloroso e traumático em sua vida amorosa, anos atrás, tinha
medo de se envolver com pessoas baunilhas, comuns.
E o Park não era o tipo de praticante de bdsm, que tentava enfiar todo e
qualquer parceiro seu naquele mundo. Não que fosse um mundo ruim, mas
Jungkook parecia alguém fora de questão para aquilo. Não parecia ser do
tipo que se encaixava naquele tipo de coisa mais suja, mais apelativa, mais
perigosa. Para Jimin, tudo em Jeon gritava: "Baunilha!"
Mas se Jimin começasse a transar com aquele menino alfa, sabia que não
conseguiria parar. Entraria numa relação constante, ficariam juntos sempre,
não seria esporádico. E desse modo, o moreno seria incapaz de esconder
seus fetiches, de esconder a dinâmica que tanto apreciava na cama: a
dominação absoluta; ter o seu parceiro rendido a si, amarrado, vendado,
chicoteado e humilhado, como uma presa sendo abatida. Não seria capaz de
esconder o quão fodidamente sádico era, o quanto o excitava degradar seus
parceiros e tê-los como uma mercadoria, uma propriedade sua; em como
seu pau latejava só de pensar naquelas coisas.
Já havia tentado permanecer numa relação onde a outra pessoa não sabia
sobre suas preferências sexuais, e as coisas terminaram bem mal. Esconder
quem ele era e abrir mão de sua essência não fora suficiente. Nunca era.
Alfas e betas pareciam ideais pra si, mas o corpo feminino não lhe atraía
como deveria. Então sua única opção era a de betas e alfas machos — o que
tornava sua vida mais complicada, com menos opções, já que encontrar
alfas que curtissem transar com outros alfas, era um pouco complicado,
principalmente os machos.
Por sorte, havia um alfa macho submisso, com quem Jimin passava seus
ruts semestrais. Ele era muito agradecido àquele alfa, mas não era como se
o sujeito estivesse realmente lhe fazendo um favor, afinal, ele era quem
mais gozava durante os cios do lúpus.
Portanto, assim que entrou em casa, planejou ficar por ali mesmo. Talvez ir
até a loja de conveniência da esquina e flertar com seu vizinho
tremendamente gostoso. Mas sequer precisou fazer aquilo, já que o garoto
de bochechas fofas viera até ele. E Jimin não conseguiu mais se segurar. O
garoto estava, desde que se mudara para aquela rua, sozinho com ele, entre
quatro paredes.
Fingiria que nada havia acontecido. Esperava que o mais alto o tirasse de
seu sistema, com o tempo. Claro, depois de hoje, seria mais complicado, o
garoto certamente começaria a procurá-lo com certa frequência, doido para
terminarem o que haviam começado, ele bem sabia. E o Park não confiava
muito em sua disciplina para se manter afastado, em se tratando daquele
garoto em especial. Tinha uma queda e tanto por ele. Então teria que sumir
de suas vistas por algum tempo.
Resignado, soube que teria que parar naquele mesmo momento, caso
contrário, até o fim do dia, já teria fodido com Jeon Jungkook um trio de
vezes.
Com a decisão tomada, o alfa lúpus interrompeu as reboladas no colo do
garoto, desacelerando aos poucos, para aí descer do colo dele e se afastar
consideravelmente.
Jungkook teve vontade chorar. Havia perguntando: "Por que você não me
beija?" e recebido apenas um alto e severo: "Não" como resposta.
Ouch!
— Me desculpe. Eu não deveria ter feito isso — falou o tenente, ainda sem
encará-lo nos olhos. — Acabei me exaltando. Minhas emoções estão um
pouco alteradas por conta da minha exoneração. Isso não vai se repetir, eu
prometo.
— E se eu quiser que se repita? — o de cabelos cereja indagou em tom
agoniado e ansioso, levantando-se da cadeira e parando de frente pro Park,
encarando-o questionador e altivo, até finalmente ter sua atenção.
— Mas eu não quero — declarou duro, sentindo seu peito apertar, ao dizer
tamanha mentira. Principalmente quando viu a expressão do garoto, em
resposta: cabisbaixo e com os olhos marejados, que rapidamente desviaram
dos seus, envergonhados.
— Não precisa dizer duas vezes, então — Jeon murmurou de volta, em tom
de voz extremamente baixo e absolutamente tristonho, machucado. Seu ego
havia sido ferido consideravelmente. — Sei onde fica a saída — disse
rápido, e aí saiu da casa do outro, tão rápido quanto um foguete, como se
pudesse correr da vergonha que sentia.
O maior foi tão veloz, que Jimin sequer teve tempo de reagir. Quando
piscou, já tinha ouvido a porta da frente bater. Frustrado, o — agora — ex-
militar, sentou-se na mesma cadeira que o vizinho ocupara a pouco, se
deixando cair pesadamente sobre o móvel de ferro, suspirando, enquanto
passava as mãos pelos cabelos lisos, frustrado.
Aquele alfa de cheiro doce lhe traria problemas, podia sentir. Soube desde o
momento em que pôs os olhos nele pela primeira vez.
— Uau, JK... — o beta Hoseok diz em tom brincalhão. — Você curte Pony
Play? Isso é BDSM extremo. Não sabia que você gostava do meu mundo
tanto assim... Quem diria, uh? — fala rindo, com uma expressão faceira.
— Isso não é tipo zoofilia?² — o ômega Jin pergunta com uma careta.
Todavia, os betas em sua maioria eram quase inférteis, não tinham cio.
Também não geravam filhotes entre si, geralmente, apenas com ômegas e
alfas. Contudo, não era impossível. Sempre havia aquele um em um milhão.
Além do mais, ômegas e alfas só reproduziam em períodos de cio, enquanto
que betas poderiam fazê-lo à qualquer tempo... Mas tudo dependia de
acasalarem com um ômega ou alfa em cio, obviamente, podendo gerar
filhotes de ômegas e alfas em seu ventre, assim como fecundar ômegas e,
raramente, outros betas.
— Você não vai transformar o nosso menininho num fetichista bizarro não,
né? — Jin ralhou. — Não quero saber desse garoto dizendo que tem tesão
em um ômega mijando na cara dele, pelo amor de Deus.
— Isso é verdade — Hoseok disse aos risos. — Aquele beta não é feio, mas
ele é muito sem graça, parece um dicionário ambulante, sempre corrigindo
tudo e todos, e falando sobre assuntos que ninguém se importa. Isso tira
todo o sex appeal do cara; o que é um desperdício, porque ele tem uma
carinha de safado e belas pernas. Ninguém gosta de gente "sabe tudo".
Parece que só você se excita com isso, hyung.
— Como assim? Eu já sei com que roupa vou, não preciso de ajuda — o
ruivo devolve confuso.
— Ah. Então eu acho que você vai ter que escolher mesmo.
— Não, é que você vai usar aquela sua calça de couro preta, que te deixa
com umas coxas gostosas pra caralho, e não quero que a cor da cueca
chame mais atenção que suas pernas — o beta responde simples. Então ele
joga a calça por cima do ombro, e Jungkook a pega imediatamente. Por
último, o moreno escolhe uma jaqueta também de couro, e a entrega ao
mais novo, finalizando sua busca. — É só isso, vá tomar banho.
— É o mais comum. Estaremos num clube sexual, afinal. Mas se você for
se sentir desconfortável, não precisa. Só pensei que talvez você fosse do
tipo que gosta de se exibir, já que costumava passar tantas horas malhando
na frente da tv. Esse abs bonito e trincado, pensei que fosse querer mostrar
— deu de ombros.
— Passa uma maquiagem preta esfumada nos olhos, vai ficar mais sexy!
— Yah! Só quem ajuda o Jungkook aqui sou eu. Eu, Jung Hoseok, sou o
parceiro oficial de cios dele, nem vem.
— Eu fiz o que vocês disseram, fui lá na casa dele pedir açúcar emprestado.
Na verdade eu perguntei se ele tinha achocolatado... — respondeu. — Aí
ele me chamou pra entrar e me contou que havia acabado de ser exonerado
do exército...
— Ele estava vestindo aquela farda branca, com quepe e tudo, vocês
acreditam? Tem noção do tesão que eu fiquei? — Jungkook reclama. — E
aí ele me agarrou e a gente começou a se pegar com força. Ele me jogou na
cadeira e rebolou no meu colo, eu fiquei tão duro que achei que meu pau ia
partir e se quebrar ao meio. Puta merda!
— Ah é, ele também gosta de outros alfas, não é óbvio? Aliás, eu acho que
ele só gosta de alfas machos. Então era de se esperar. Deve ser doloroso
fazer isso sem o Slick... — Jungkook divagava, sua mente lhe fazendo
pensar na dor que um alfa sentiria ao ser passivo, uma vez que não produzia
lubrificação natural no ânus, que pudesse facilitar a penetração. Ele mesmo
nunca tinha conseguido comer um alfa macho.
— Tá, tá, tá, mas e aí? — Hoseok interrompeu, cruzando os braços
enquanto esperava ansioso pelo desfecho da história.
— E aí ele não me beijou. Acredita nisso? Ele lambeu minha boca, chupou
meu pescoço, apertou minha bunda, rebolou no meu colo e depois... —
disse enumerando item por item, com os dedos magros. — Depois nada. Ele
ficou me provocando, com a boca pertinho da minha, e quando perguntei o
porquê ele não me beijava logo... — foi ficando sem jeito e um tantinho
choroso ao relembrar. Estava realmente magoado com o Park.
Jeon suspirou.
— Ele respondeu "não". Disse que aquilo tinha sido um erro dele e que não
iria se repetir. Eu ainda tentei contornar a situação, falei que queria que
aquilo se repetisse, sim. Fui bastante direto, eu acho. Mas ele disse que não
queria. Sério, com todas as letras, ele deixou claro que não me queria. Foi
humilhante... — murmurou, sentindo os olhos arderem de raiva.
— Ah, hyung, eu... Sabe como é. Ele não precisou explicar duas vezes, dei
o fora de lá, bem rapidinho. Queria que eu continuasse lá pra ser ainda mais
humilhado? Fala sério. Não preciso de explicação de nada não. Se ele não
quer, tem quem queira! — falou empinando o nariz.
— Eu não falei mais com ele desde então. Não o vi mais, até hoje de manhã
— respondeu o avermelhado, com pesar.
— Como assim não o viu mais? Ele mora do outro lado da calçada e nem tá
mais no exército — Jin rebateu.
— É, mas ele sumiu. Pensei até em bater na porta dele, com alguma
desculpa esfarrapada, tipo perguntar se eu tinha deixado meu casaco lá
naquele dia, ou algo assim, mas percebi que não tinha ninguém em casa.
Faz quase uma semana. E isso foi ótimo, porque assim não passei a
vergonha de ir lá tentar arrumar assunto com ele de novo, mesmo depois de
ser rejeitado igual um saco de merda.
— Só que hoje mais cedo o vi entrando em casa numa boa, junto com um
outro alfa macho. Era um cara bonitão de cabelos loiro platinados, parecia
um modelo. Não deu pra ver muita coisa de longe, mas dava pra ver que era
bem bonito. Acho até que era mais alto que eu! — reclamou com um bico.
— Eu nunca tinha o visto entrar com ninguém em casa antes. Me sinto um
idiota — finalizou com a voz fraca e ombros caídos.
Além do mais, não queria ter que dizer que sua maior teoria, era a de que
Jimin havia sentido o cheiro de ômega, quando ficou excitado, e então
perdido a vontade de transar com ele. Porque se Jimin era um alfa que
gostava de outros alfas, então isso queria dizer que Jimin não ficaria atraído
pelo cheiro de feromônios ômega — ainda que ele tivesse dado a entender
que dava em cima dele todo aquele tempo, porque tinha sim, interesse.
Talvez a teoria de Hoseok estivesse certa e o Park já tivesse alguém, de fato.
Não tinha como saber.
— Oh! Minha nossa! — Jin exclamou, correndo para o sofá, buscando por
algo ali. — Eu larguei o celular, fiquei tão chocado em ver o Jungkook todo
arrumado, que dei vácuo no Namjoon! Ah, meu Deus, vou atrás dele lá na
loja. Tchauzinho pra vocês! — disse pegando o aparelho telefone em meio
às almofadas e saiu correndo do apartamento.
¹PONEY PLAY: Fetiche inserido nas práticas de BDSM, onde alguém age
como um treinador ou cocheiro, enquanto a outra pessoa veste-se e
comporta-se como um cavalo. Está dentro do 'pet play'.
²ZOOFILIA: prática sexual entre humanos e animais, proibida
legalmente em muitos países.
VOTE
06| choker
— Sabe, JK, acho incrível que você finalmente tenha tido coragem pra ir lá
na boate. É saudável que as pessoas explorem seus fetiches... — Hoseok
fala, enquanto dirige seu carro. — O que te convenceu?
— Na verdade, só não fui antes porque tinha vergonha de... Você sabe... Do
meu cheiro — o avermelhado confessou em voz baixa. Embora não tivesse
nenhum segredo que escondesse do Jung, ainda assim não gostava de
admitir aquela sua fraqueza em voz alta, às vezes nem pra si mesmo.
— Ora, Jungkook, e você acha que lá alguém ligaria pra o fato de você ser
um alfa com cheiro de ômega? Mas que coisa! Na THE CAVE tem pessoas
que gostam que o parceiro urine no rosto delas, o último lugar pra se ter
preconceitos é num clube fetichista — Hoseok declara. — A não ser, é
claro, com a coisa dos Brat's. Brat's são alvo de preconceito pelos
Dominadores mais clássicos, que pensam que todo submisso deve ser como
um escravo e fazer qualquer coisa que eles mandarem, sem pestanejar...
— Ninguém vai saber que você é um brat, Jungkook-ah. Você não vai
chegar lá transando com alguém ou participando de alguma Cena...
— Não vou? Ah, mas que merda, achei que ia transar hoje — reclama,
fazendo bico. — Me depilei à toa — murmurou baixinho, mas por estarem
num ambiente minúsculo, fechado, e os dois lado a lado, Hoseok pode ouvir
perfeitamente.
— Traduza. Não faço ideia do que é isso aí que você falou — Jungkook
retrucou. — Conheço muitas práticas, mas não entendo muito sobre a
dinâmica ou essas regras e eventos aí...
— Ah, entendi. Mas e se alguém chegar em mim, pedindo pra ficar comigo,
achando que vou saber fazer essas coisas? O que eu falo? — Jungkook
perguntou, ficando nervoso.
— Entender eu entendo, mas ainda não entendi por quê você está me
mostrando uma.
— Porque se você for ao clube sem coleira, as pessoas vão pensar que você
ou é um Dom, ou é um Sub não-compromissado. Os Sub's vão ficar
flertando com você, e os Dom's vão tentar chegar junto. Então, pra isso não
acontecer, você vai usar essa coleira e fingir ser o meu Sub. Simples assim
— Hoseok finalizou, ditando o óbvio.
— Mas e se o Taehyung ver? Isso não vai complicar as coisas pra vocês?
Quer dizer, vocês terminaram esses dias... — Jungkook fala. Mas o beta
apenas solta uma risadinha maléfica, o que faz o ruivo entender tudo. —
Ah! Seu filho de uma puta, você quer que ele veja e fique com ciúmes,
achando que você já tem outro, não é? Você é muito vingativo, hyung —
finaliza colocando a coleira no pescoço, enquanto checa a aparência no
espelho.
A coleira havia o deixado sexy. Era preta, de mesmo tom de suas roupas.
Apenas o cabelo cor de cereja destoava, deixando sua aparência
extremamente exótica. E o brilho prateado do pingente, era o máximo. De
repente, Jungkook viu tudo ficar escuro, quando o carro entrou em um
estacionamento coberto, no subsolo.
Jeon então abriu sua jaqueta, expondo o peitoral e abdome malhados, sem
vergonha alguma — não tinha exatamente problemas com o próprio corpo,
sabia que era gostoso, de fato. E agora, vendo que Hoseok estaria seminu, e
outras pessoas ali certamente estariam também, sentiu-se absolutamente
confortável para fazer o mesmo e se exibir, sem medo.
— Boa noite. Olá Hope — disse o homem, com um risinho. — Sub novo?
Você supera rápido, beta.
— Sei que você sabe as regras, mas já que trouxe um novato, preciso ditá-
las pra ele — o alfa submisso avisou, se voltando para Jungkook, que o
escutava atentamente. — A área do primeiro andar é mobiliada com sofás e
poltronas para o conforto de todos, onde tem a pista de dança e o dj da casa.
Já o segundo andar é a Masmorra, que é composta por vários móveis e
equipamentos para práticas voltadas ao BDSM São, Seguro e Consensual,
com som ambiente à parte. A todos que forem fazer cenas, atentar-se às
regras de funcionamento da Casa e utilização da mesma, inclusive sobre a
regra fundamental de não-uso de bebidas alcoólicas e entorpecentes. O
SSC, ou seja, o São, Seguro e Consensual é fundamental, inclusive para
quem assiste, por isso pedimos que Cenas sejam feitas apenas na Masmorra
que é o ambiente apropriado. Áreas Sociais, como o primeiro andar, são
apenas para socializar.
Dress-Code:
— Máscara + Gala
— Medieval
— Corte
— Vitoriano
— Realeza
— Social
— Látex
— Couro
— Fetish
— All Black
— Half-naked
Jungkook viu uma mulher ômega com o corpo cheio de curvas, os seios
desnudos e duas fitas pretas em formato de X cobrindo os mamilos. Vestia
uma saia preta apertada de cintura alta nos quadris e um salto fino também
preto calçava seus pés. De imediato soube que a ômega era uma submissa,
pois esta usava uma coleira e essa coleira estava conectada à uma guia, por
onde seu Dominador, um macho alfa, a puxava como um animal de
estimação. Sorriu animado com a visão e encarou Hoseok, que o observava
sorrindo de volta.
— Se fosse você ali, acha que iria preferir estar preso à coleira, sendo
arrastado, ou gostaria de estar puxando alguém? — Hoseok indagou
curioso.
— Acho que queria ser puxado por alguém... a ideia me excita mais —
respondeu, sem nem se dar conta.
o Jung soltou uma gargalhada.
Jeon abriu e fechou a boca, tentando rebater, mas não teve realmente
argumento e então suspirou derrotado.
Este então pareceu mais estimulado, acertando com força uma chicotada na
bunda desnuda já vermelha do submisso, que gemeu dolorido e
impulsionou o corpo pra frente, sorrindo sacana, como se tivesse aprovado
a agressão. E Jeon estava se sentindo endurecer ao assistir aquilo. Não era
novidade alguma pra si, que gostava de assistir transas alheias, ainda que
aquela não fosse uma transa, apenas uma demonstração de bondage e
masoquismo.
Jeon arregalou os olhos. Então aquele cara bonitão era o tal brat? Deveria
ter notado antes. Nenhum submisso responderia "Vá se foder" após uma
ordem clara de resposta de seu Dominador. Apenas um malcriado o faria,
um Brat. E Jungkook percebeu internamente, que talvez ele fosse assim
também, já que havia sorrido satisfeito com a resposta de Taehyung para
Yoongi, sentindo seu baixo abdominal formigar quando o Dominador deu
uma chicotada estalada na bunda do outro. Podia jurar que tinha sentido o
couro do chicote arder em sua própria pele.
Então, como o bom amigo que era, quando percebeu que tanto Taehyung,
quanto Yoongi olhavam na direção de Hoseok, a seu lado, encaixou seu
rosto no pescoço do beta, dando-lhe um chupão. Este, pego de surpresa,
arfou, e automaticamente segurou sua cintura com força. Sentiu o amigo
então dar um tapa em sua nádega esquerda e deu um pulinho surpreso, mas
continuou seu trabalho no pescoço do outro, segurando uma risadinha. Ele
sabia que para o beta, aquilo não estava sendo de fato excitante, tampouco
pra ele. Apenas era prazeroso ajudar o outro a vingar-se dos dois ex's.
Jeon então sorriu satisfeito e puxou Hoseok pela mão, levando-o para o
mais longe dali. Pararam num canto afastado e Jungkook terminou de beber
seu refrigerante, largando a latinha num canto.
— Espere aqui, vou buscar algo pra gente — o beta disse em seu ouvido,
logo afastando-se para pegar uma nova bebida.
Viu uma alfa fêmea, vestida com um corselet preto e luvas também negras,
até os cotovelos, sentada com a bunda em cima do rosto de outra alfa, esta
submissa, que estava deitada em uma mesa, com os pulsos e tornozelos
presos por algemas, em cada lado da mesa, toda aberta. A submissa parecia
prestes a sufocar, então a Domme se levantava, deixando-a respirar
rapidamente, para logo em seguida, sentar em seu rosto de novo, rebolando
em sua face, enquanto a submissa à chupava. O garoto salivou com a visão.
— Caro do tipo que você não vai poder pagar. Ela acredita que um
submisso deve ter como meta de vida, agradar seu dominador em todos os
sentidos, inclusive o dando quantias em dinheiro — disse com uma careta.
— De certo modo sim, se você for contar a parte do sexo. Mas se for apenas
a parte da sessão de Dominação, não. E é claro que um Dominador pode
cobrar por uma sessão, é normal até — Hoseok responde, dando de ombros.
Já o submisso, usava uma máscara de látex, que cobria sua cabeça inteira,
como uma touca, deixando de fora apenas os olhos, a boca e o nariz. O
dominador estava com o rosto virado pro teto, enquanto o sub, ajoelhado no
chão, chupava-o com fervor.
E então seu sangue gelou, quando os olhos de Park Jimin se grudaram nos
seus. Primeiro, o alfa lúpus demonstrou choque. Os lábios se abriram ainda
mais, todavia só fez parecer que era porque o boquete que recebia estava
mais gostoso. Os olhinhos pequenos também se arregalaram.
Estando Jimin de frente para o ruivo, não teve escapatória, a não ser encará-
lo. Estava tão reação, que sequer foi capaz de interromper a sessão e parar
com aquilo tudo e ir atrás do Jeon, de imediato.
Quando seu olhar vagou pelo corpo bonito de Jeon, que estava com a
jaqueta aberta, mostrando o torso nu de mamilos marronzinhos, e viu a
coleira em seu pescoço, sentiu-se desgostoso. Foi aí que decidiu não
encerrar sessão alguma. Se Jungkook já tinha outra pessoa, então ele não
era obrigado a parar de fazer o que estava fazendo, afinal.
Queria que Jungkook fosse seu e apenas seu. Quis isso desde que conheceu
o garoto. Agora se arrependia de não ter simplesmente o chamado pra sair
antes e contado de cara sobre seus fetiches. Poderiam estar juntos agora.
Poderia ser o ruivo ali com ele, curtindo uma boa exibição de como seus
corpos provavelmente pegariam fogo quando unidos.
No momento em que viu Jimin gozar, Jeon correu pra fora dali, sem sequer
dar atenção aos chamados de Hoseok. Encontrou o banheiro mais próximo
e entrou em uma das cabines, fechando a porta. Respirando descompassado,
tanto pela corrida, quanto pelas coisas que viu, arriou as calças e se
encostou na porta, alisando o próprio falo, massageando-se. Parecia que iria
morrer se não se aliviasse logo e era tudo culpa do maldito Park Jimin!
Girou o dedão na cabecinha molhada, espalhando o pré-gozo que a fenda
expelia, suspirando em deleite. Então levou a destra em frente à boca e
cuspiu nela, voltando a massagear o pênis teso, lubrificando-o com a
própria saliva. Subiu e desceu a mão um bocado de vezes, sentindo-se
endurecer ainda mais.
"Então talvez tenha sido por isso que Jimin tenha perdido o interesse"
Jungkook pensou; O moreno certamente notara que ele não era do tipo
submisso, então viu que dali não sairia nada de bom. Pelo menos era isso
que o ruivo pensava agora.
O mais novo resolveu tirar sua mente dali, do contrário, ao invés de gozar,
broxaria. Então voltou a fantasiar com ele e o lúpus em cenas eróticas
demais para serem narradas. Lembrou-se do formato das nádegas durinhas
em suas mãos e a barriga lisa e chapada; Lembrou-se de como o ex-coronel
o havia deixado sem fôlego, sem nem sequer tê-lo beijado ou tocado mais
intimamente. Então Jungkook gozou. Gozou forte, tremendo, soltando
gemidinhos finos e incoerentes, extasiado. Ficou ali por mais alguns
minutos, respirando pesadamente.
— Olha, eu acho que posso conversar com ele sobre você, e talvez ele faça
um treinamento demonstrativo contigo hoje mesmo. Eu explico que você já
sabe algumas coisas e então de repente ele aceita e faz algo bem leve... — o
Switcher sugeriu, ainda meio zombeteiro.
— Sim! Meu vizinho era aquele cara na sala de vidro! O tal AlphaDome!
— exclamou.
— É que ele estava olhando pra você o tempo todo, achei que ele estava
fazendo isso pra me afrontar. Não que eu seja inimigo dele, mas ele é amigo
do Yoongi, então pensei que... Ah, você entendeu.
— Oh... é verdade. Mas e se... E se ele só não me quis, por achar que eu era
baunilha? — indagou um tanto esperançoso.
— Talvez você esteja certo. Mas é que me incomoda vê-lo com outras
pessoas...
— Ué... Tá com ciúmes dele? Oh meu Deus, você é apaixonado pelo cara?
Achei que você só queria o corpinho dele... — o switcher declara
espantado.
— Eu não tô apaixonado, não seja idiota — reclama, desgostoso. — Mas
meu ego ficou ferido. Ele não fala comigo desde aquele dia, Hoseok. Ele
me rejeitou e ainda apareceu com outro alfa! De repente é até o mesmo alfa
que 'tava transando com ele lá na sala de vidro! — disse apontando em
qualquer direção. — E agora que me viu... Eu não sei se ele mudaria isso. E
se ele realmente não me quiser? E se ele só falar comigo e ainda assim
continuar transando com outras pessoas, bem na minha frente?
— Pensei que você tinha ficado excitado em vê-lo fodendo outro cara... —
Hoseok rebateu confuso.
— O que esse caras querem com você, meu Senhor? — Jungkook se meteu
fingido, abraçando Hoseok pela cintura. Ele sabia da coisa sobre um sub ter
de se referir ao seu Dom como "senhor", Hoseok já havia comentado sobre
e, além do mais, era sempre assim nos filmes pornôs daquele gênero. Eram
coisas básicas, que qualquer um que pesquisasse superficialmente saberia.
— Não acho que meu sub mereça ficar aqui sozinho, pra que eu fale com
vocês. Digam na frente dele — o switcher respondeu, debochadamente. —
Aliás, vocês deveriam respeitá-lo. Não veem que dei uma coleira a ele?
Quando o beta assentiu, Jeon foi até a bancada do bar e pediu mais uma
garrafa de água, enquanto encarava o amigo e os outros três de longe. Até
sentir uma voz macia falando consigo:
Jeon então se virou pra ele, tremendo dos pés a cabeça. O garçom entregou
a garrafa de água pro avermelhado, que a puxou de cima do balcão
rapidamente, bebendo quase metade do conteúdo, deixando uma pequena
gota escapulir pelo canto da boca. Viu Jimin acompanhar o trajeto da gota
com o olhar, como se estivesse faminto.
Quando se deu conta do que fazia, Jimin rapidamente tirou a mão dali.
Jungkook num ato impulsivo, segurou o lúpus pelo pulso, quando este se
afastava, recebendo de volta um olhar curioso.
— Mas e a coleira..?
— Ninguém, ainda.
— Ora, veja só... — a voz de Jimin soou divertida por cima de seu ombro.
— Parece que seu amigo vai estar ocupado demais para uma carona, então
você terá de vir comigo — disse exalando confiança, enlaçando a cintura do
avermelhado e encaixando sua pélvis na traseira dele, que arfou com o
contato.
— Tudo bem, então. Apenas uma carona, Jimin — respondeu, com o nariz
em pé.
Jungkook agora quase arrancava a pele dos dedos, já que suas unhas
estavam minúsculas, uma vez que roera todas durante o caminho. Estava
nervoso. Uma ansiedade o tomava e nem sabia o porquê. Só sabia que estar
num cubículo fechado com Jimin, depois dos últimos acontecimentos, era
um desafio a sua sanidade.
O mais novo tentou sair do automóvel, mas o dominador foi mais rápido e
travou as portas elétricas. Jeon se retesou e, lentamente, virou o rosto na
direção do Park, que colocou a mão em sua coxa e foi deslizando-a por ali.
O ruivo sentiu uma fisgada no abdome. Mas o outro apenas pegou suas
mãos, que descansavam em seu colo, para observar seus dedos. Então
comentou com a voz autoritária:
— Você vai querer me agradar, não vai? — Jimin perguntou com a voz
suave, repousando o braço direito por trás do assento de Jeon, aproximando
sua boca da orelha do ruivo, que com a tensão, havia fechado os olhos,
sentindo o dominador deslizar a canhota novamente por suas coxas grossas,
numa carícia sugestiva e deliciosa. — Vai querer deixar seu
dominador feliz, uh? Eu certamente te recompensaria depois... — e ao
dizer isso, capturou com os dentes, o lóbulo da orelha alheia, levando
Jungkook ao delírio, este quase derretendo no banco.
Não obteve resposta. Então foi retirando a mão dali, devagar. Só que de
supetão, Jeon agarrou seu pulso pela segunda vez na noite, olhando
finalmente para si. Continuou sem dizer nada, apenas negou com a cabeça,
tendo os olhos semi-cerrados, e recolocou timidamente a mão do
Dominador sobre sua ereção, este que prontamente a apertou, fazendo
Jungkook finalmente soltar um gemido de maior intensidade, encostando a
cabeça no banco.
Nunca sentira muita atração por cheiro doce, cheiro ômega. Mas a mistura
do aroma de Jeon Jungkook, mesclando ao forte e intenso amadeirado alfa e
ao leve cítrico, provocante, faziam-no cheirar de um modo único. Seu lobo
queria Jeon. Sempre soube que o garoto agradava seu lobo porque muito ao
fundo, era capaz de sentir as notas adocicadas de ameixa e maçã no cheiro
dele e, mesmo assim, sentia-se atraído demais. Ainda que costumeiramente
cheiro ômega não lhe fosse grande coisa. Contudo, a mistura dos odores
alfa e ômega, o causavam sensações nunca antes sentidas naquela
intensidade.
Quando haviam tido aquele momento em sua casa, Jimin pode sentir o
cheiro do garoto ainda mais forte, e sabia que ele não vinha da lubrificação
do pênis do avermelhado, mas sim de sua traseira. Ele tinha certeza que
Jungkook lubrificava, pois Jeon era um alfa mas seus genes eram ômegas. E
só de pensar naquilo, sua boca saliva. Já havia topado com alguns daquela
classe híbrida, mas nunca seu lobo havia sentido-se tão atraído e eufórico.
Até porque, Jimin não gostava de ômegas. Mas o cheiro misto de Jungkook
era algo espetacular. O deixavam ansiando por ele. Desejando-o como um
louco. Era completamente afrodisíaco.
Sentiu o cheiro bem fraco de um beta ali. Talvez fosse do amigo de
Jungkook. Sabia que o tal Hope era um beta, então provavelmente havia
sido ele. Seu instinto lobo reclamou e ele mesmo também não gostou nada.
Afastou a boca do pescoço alheio, antes que fizesse alguma besteira, como
marcar o rapaz. Aquela era uma das raras vezes em que sentia sua sanidade
por um fio. Jimin não era de se descontrolar, nem mesmo em seu estado
lupino mais forte — este só ficava insano durante seus ruts.
Como alguém criado à base de regras, Park Jimin já até havia chegado a
pensar ser um submisso, por obedecer a ordens tão prontamente. Mas foi
apenas uma confusão. Gostava era de dar ordens e vê-las sendo cumpridas,
não de recebê-las. Contudo, por conta do treinamento no exército, havia
aprendido a submeter-se. Só não levava isso para sua vida sexual.
— Seja meu... Seja meu, Kook-ah... — o ex-coronel disse com a voz mais
sensual e persuasiva que conseguia, ao pé do ouvido do rapaz.
Ah, Jungkook estava irado. Possesso. Furioso. E... magoado. Seu peito
estava corroendo de ciúmes, pois seu ego estava ferido como um caralho.
Quem esse alfa lúpus de merda pensava que era, para tratá-lo assim? Não,
não e não. Não deixaria barato. Não mesmo. Que se fodesse Park Jimin e
suas galinhagens. O ruivo então travou o maxilar, de raiva, e encarou o
outro muito seriamente.
Mas não foi necessário muito tempo para que o moreno saísse do veículo
também e fosse atrás do rapaz. Quase perdeu o olhar na bunda durinha e
coxas grossas, marcando dentro da calça de couro, enquanto este se afastava
rebolando. O que provavelmente era proposital. Quando puxou Jeon pelo
braço, ficou com ainda mais tesão ao ver o peito desnudo do outro, subindo
e descendo, com a respiração rápida, aparecendo pela jaqueta aberta.
Jungkook tremia de excitação, mas não queria dar o braço a torcer. Agora
era uma questão de orgulho.
Jimin apenas bufou. Mas não foi de irritação, mas sim de frustração consigo
mesmo. Como estava ignorando aquilo? Era claro que Jungkook estava com
o ego ferido. Era lógico que tinha feito o garoto se sentir rejeitado. Porra, se
dando conta daquilo agora, sentia-se um idiota do caralho... Sequer
conseguia organizar os próprios pensamentos para explicar ao garoto, o que
se passara em sua mente, para ter feito aquilo. Precisava explicar que
justamente o motivo que o havia feito dispensá-lo, era saber perfeitamente o
tanto que o desejava, e no que isso implicaria, caso fossem adiante.
Então frente ao silêncio do outro, Jeon ficou ainda mais afetado. Pensou
que o Park não tinha uma explicação boa para tudo aquilo, porque era isso
mesmo que tinha acontecido: o outro havia jogado consigo, brincado com
ele, feito-o de bobo.
— Foi o que pensei — e com toda a força empurrou Jimin pra longe pelo
peito, ainda mais decepcionado com o alfa lúpus.
— Eu sei que significa. Então você é desses que só transa se for dentro dos
fetiches? — perguntou, franzindo o cenho.
Agora a coisa parecia feia. O moreno tinha certeza que o alfa não iria
perdoá-lo por aquilo. Chamar o outro de baunilha, certamente também não
tinha ajudado. Estava quase tendo uma síncope, bem ali, no meio da rua.
Porque sua decisão fora tomada na tentativa de não ser rejeitado pelo
vizinho, mas o tiro havia saído pela culatra e agora o rapaz parecia muito
impelido a mandá-lo pra casa do caralho. Nunca tinha visto o mais novo
bravo daquele jeito.
Jungkook engoliu em seco. Aquela havia sido uma declaração? Quis sorrir.
Mas deixaria Jimin sofrer um pouco mais, assim como ele havia sofrido
angustiado, após uma semana sem vê-lo, depois de prová-lo.
Mas o de cabelos cereja estava certo, afinal. Estava mostrando que, ainda
que viesse a ser seu submisso, não se deixaria ser inferiorizado nem feito de
idiota. Então correu pro banheiro, e se tocou outra vez durante o banho,
pensando em Jimin novamente.
Sequer conseguia dormir, então se virou e revirou na cama, por três horas,
frustrado e puto. Quando o sol já estava perto de aparecer, o alfa desistiu de
tentar dormir naturalmente, pois sua mente estava à todo vapor. Então
tomou um calmante e apagou. Ao contrário de Jeon, que dormiu como um
bebêzinho, altamente satisfeito.
Naquele momento, não era Jimin quem dominava a situação. Era o Jeon
Jungkook. O maldito Brat.
INCANDESCENTE:
Lembrou-se dos acontecimentos dos dias anteriores. Viu Jimin várias vezes
parado na porta de casa, como se esperando ele aparecer, sentado na
escadinha da entrada. Foi até a janela, segurando sua caneca de café morno
e observou sorrateiramente por trás das cortinas. Suspirou. Talvez o alfa não
merecesse tanta birra, afinal, já havia lhe dito que só estava com medo de
que ele o rejeitasse. Por que Jungkook continuava com o draminha? Se
Jimin seria o dominador e Jeon o submisso, não era ele quem deveria estar
castigando o lúpus, era?
— JK? Sou eu, Hobi. Tô ligando do telefone do Tae, o meu tá sem bateria.
— A gente... se resolveu.
— Bom, diferente de você, eu quero ser feliz. Agora vê se limpa essa casa,
porque aquela panela no fogão deve estar com mofo.
Jeon caminhou até o eletrodoméstico e abriu a panela que havia deixado ali,
suja com o óleo que havia usado pra fritar carne, dias atrás. Arregalou os
olhos, ao constatar que o amigo estava certo: tinha mofo ali dentro.
— A maior parte dos praticantes de bdsm não aceitam um sub com mais de
um Dom, mas isso é tudo besteira — o beta respondeu. — Aliás, acho
absurdo que alguns praticantes tenham certos preconceitos às vezes, é tão
imbecil...
— Você tem um Dom e um sub agora. Oh... Tudo faz sentido, hyung.
Pra piorar sua situação, teve que abrir uma infinidade de caixas e guardar
montes de produtos que chegaram na lojinha, para reabastecê-la. E
Namjoon era um destrambelhado. Portanto, as caixas mais pesadas e coisas
delicadas, como as garrafas de vidro, ficavam totalmente sob a
responsabilidade de Jeon.
— Sabe, o livro diz que não é como se o pecado fosse especificamente uma
coisa ou outra... — Namjoon dizia, enquanto enfileirava os pacotes de
biscoitos na prateleira — Mas sim consiste em ter acordado algo com o mal
e...
— Tô.
— Ah... você está perto do cio, né? Quando você tá perto do rut de alfa, não
fica mal humorado, fica só agressivo. Mas quando tá perto do heat de
ômega, cacete... Tenho pena do Hoseok, que te atura.
— Uau, sério?
Jungkook nem mesmo estava perto do rut, pra estar tão arisco assim. Mas a
situação com Jimin, causada por sua própria teimosia, o deixavam
irritadiço. Apreciava sim, aquela pequena agonia, mas ao mesmo tempo,
tinha vontade de explodir tudo, se jogar no colo do Park e declarar: "Me
fode! Por favor, me fode! Não aguento mais."
Olhou para o relógio. Ainda faltavam três horas pra que seu turno acabasse.
Pegou três caixas de absorventes internos higiênicos e as guardou na
mochila, colocando a quantia em dinheiro correspondente no caixa. Não era
sempre que furtava as coisas, tinha um pouco de moral dentro de si.
Sabendo que seu slick começaria a vazar nos próximos dias, precisaria dos
absorventes internos pra controlar a enxurrada molhada em seu ânus, do
contrário ficaria vazando, e o cheiro chamaria muita atenção. Isto é, se fosse
tentar ficar dopado. Mas planejava ir até Jimin e aceitar sua proposta. E
então o alfa certamente passaria o cio consigo. Ele não recusaria ser seu
companheiro de cio, certo?
[...]
Precisava e queria Jimin para passar o cio, além de desejar intensamente ser
o submisso do ex-coronel. Mas se ele tivesse com outra pessoa... bem, então
não. Queria Jimin com ele e apenas ele. Não estava inclinado a dividir nada.
Não deveria estar se sentindo enciumado, eles dois ainda não haviam
acordado coisa alguma, realmente. Mas seu instinto lobo se revirava,
contrariado. Jeon odiava dividir suas coisas, qualquer coisa. Mesmo que o
moreno não fosse exatamente seu. Todavia, seu ego apontava o dedo na sua
cara e gritava: "Você nunca vai ser o suficiente! Você é uma aberração!
Quem escolheria você, coisa bizarra?"
O acerejado suspirou.
— Eu não deveria ter dito, mas sim, ele é doidinho por você. Então, vê se
faz alguma coisa quanto a isso — respondeu direto.
— Uh? Por que..? — mas realmente percebeu que não importava. — Ah,
tanto faz. Eu tomo conta aqui. Daqui a pouco a Hwasa e a Moonbyul
chegam pro próximo turno. Vai lá, eu seguro as pontas — Namjoon disse.
Mas quando chegou em frente à sua calçada, deu de cara com algo que não
esperava. Definitivamente uma hipótese que não havia passado por sua
cabeça:
— Yah! Você tem que me respeitar! Não pode ficar chamando seu
Dominador de "bobão", seu Brat! Se não, vou te deixar amarrado na
cadeira, com um vibrador ligado no...
Incrível como mesmo bêbado, Park Jimin era descarado. E ainda por cima,
flertava de modo tão sexy quanto se estivesse sóbrio. Já Jungkook, se
tentasse flertar alcoolizado, pareceria apenas idiota. Porque ele já era
levemente imbecil e sem tato, normalmente. O pobre coitado não era
nenhum mestre da oratória.
O ruivo pegou sua mochila do chão e foi arrastando o outro para atravessar
a rua e entrar com ele na casa. Adentrando a residência, o levou até a
cozinha e sentou Jimin na cadeira. Colocou água para esquentar no fogão e
alguns cubos de gelo no pano de prato, mandando o mais velho pressionar
sobre a testa machucada, enquanto ia ao banheiro procurar algum remédio
antisséptico.
Passou algum tempo procurando nas gavetas embaixo da pia, até encontrar
remédio, algodão, e band-aids. Voltou pra cozinha correndo, encontrando o
ex-militar agora deitado no chão, rindo sozinho.
— Ahhh... O Tetê foi lá comprar as cervejas pra mim, já que você não
queria me ver. Se eu fosse lá, você podia pensar que eu estava te
perseguindo... — respondeu, aos poucos abaixando a voz. — Eu sabia que
você ia fugir de mim... Sabia que você me acharia uma aberração...
— Eu sabia... Você não me quer, não é? Porque não sou normal e tenho
esses desejos sexuais estranhos na cabeça... — Jimin resmungou, agora
sentado no chão e encostado na parede. — Estou ciente que ter um amigo
desse meio, é uma coisa; ficar com uma pessoa assim, é bem diferente...
— Hey, não é nada disso... o único estranho e aberração por aqui sou eu...
com esse meu cheiro esquisito e genética errada... — Jungkook retrucou
baixinho. — Já você é... simplesmente perfeito — declarou, mirando o
lúpus sem conseguir disfarçar a admiração em seus olhos brilhantes. — Eu
te quero tanto, que você não tem ideia... — confessou, resignado. Não era
como se Park Jimin fosse lembrar-se daquilo quando o efeito da bebida
passasse. Então, por que não admitir em voz alta, certo?
— Colocando gelo na bebida quente, pra que ela esfrie mais rápido... — o
moreno murmurou com a voz suave. — Você é muito impaciente, alfa.
Jungkook grunhiu e arranhou com mais força a nuca do moreno, ainda que
não pudesse arranhá-lo de fato. Sugava a boca do outro como se sua vida
dependesse daquilo.
— Eu aceito, Jimin-ssi — pôs firmeza na voz, mas esta saiu como um sopro
suave. — Quero que me ensine. Quero ser seu submisso. — E respirando
fundo, tentando lembrar-se de todas as coisas que já conhecia sobre as
práticas de D/s e como um submisso deveria portar-se para com o seu Dom,
continuou: — Quero servi-lo como meu único senhor e a mais ninguém...
— Eu sei — Jeon riu fofinho, seus olhos formando ruguinhas nos cantos. —
Esperamos tempo demais... Mas não tem problema, hyung. Teremos todo o
tempo do mundo, agora. Vamos com calma. Já esperamos três anos,
podemos esperar mais uns dias, talvez — e soltou a respiração.
— Sim... Você está sendo mais maduro que eu, ou é impressão minha? —
disse meio atrapalhado em meio a um bocejo. — Por acaso acordei num
universo paralelo ou o que? — brincou olhando ao redor.
— Uhum. Existe muita coisa no BDSM que possui distinções sutis, que não
ficam claras logo de cara — Jimin responde. — Continuando... Todas as
regras de segurança, sobre como realizar fetiches com risco de dano à
saúde, como cera de velas, choke play, ou o próprio bondage, por exemplo,
precisam de plena experiência e capacidade do Dominador para praticá-las
sem causar danos físicos aos submisso.
— Exato. Você gosta? — pergunta encarando o outro. Seu olhar deveria ser
puramente indagativo, mas era mais como se incinerasse todo o corpo
alheio.
Estava sendo tão difícil esperar. Ainda mais quando ambos sabiam o que o
corpo um do outro era capaz de fazer.
— Deixe-me pensar... Acho que se um sub diz que sente muita dor com a
palmatória sendo dada nas nádegas, e como punição por ter desobedecido
alguma ordem do Dom, este o pune com a palmatória, ao invés de prazer, o
sub sente uma dor ruim... Então, tecnicamente ele vai estar sendo punido,
por ter feito algo errado e isso não vai gerar prazer algum.
— Então não existem regras fixas, certo? É tudo a questão do acordo entre
as partes, respeitando o óbvio? — Jungkook pergunta incerto.
— Pode ser, quando são muito intensas e beiram os limites aceitáveis. Mas
vai do gosto de cada um. Venha aqui — Jimin fala calmo, dando dois
tapinhas em uma de suas coxas, enquanto descruza as pernas e se põe numa
postura relaxada, sentando à frente do mais novo.
O lúpus solta uma risada por isso. O outro parecia uma criancinha numa
loja de brinquedos. Há quanto tempo esses garoto deveria estar querendo
conhecer mais sobre aquele mundo e nada fazia? Era claramente um
fetichista. Não era como se ele não tivesse facilidade de acesso aos clubes e
casas noturnas de práticas bdsm, sendo amigo de Jung Hoseok, um
Switcher.
Jeon mordeu o lábio, olhando para sua traseira, por cima do ombro.
Jungkook soltou um risinho ladino, ansioso pra saber o que Jimin faria, sem
saber exatamente se iria gostar, mas algo lhe dizia que sim.
O moreno chegou perto das nádegas bonitas, quase que salivando. Jeon era
tão delicioso que tinha vontade de devorá-lo ali mesmo.Alisou com a
destra, primeiro uma nádega, depois a outra, ora apertando-as, ora apenas as
acariciando, tendo seu corpo debruçado por cima do outro.
Odiava que sua voz soasse tão manhosa, afinal era um alfa, possuía voz de
comando. Mas ele não gostava de comandar coisa alguma. Gostava de ser
levado, de ser embalado ao som de uma música. Não fazia ideia do que
queria na vida, então preferia pensar que um dia encontraria alguém que
fosse pegá-lo pela mão e liderar o caminho, sem que ele precisasse abrir os
olhos para saber se o caminho era certo. Queria alguém em quem pudesse
confiar, que faria as melhores escolhas por ele. Certamente teria prazer em
servir esta pessoa, caso ela cuidasse de si, como Jeon ansiava ser cuidado.
O Dom então dá um terceiro tapa, com ainda mais força, deixando a ligeira
marca vermelha de exatos cinco dedos e uma palma, em meio a bunda
branca que mais parecia uma obra de arte.
— Jimin-ssi! — exclama.
Jimin pareceu aprovar, já que seu cheiro se tornou mais intenso que antes. O
de cabelos cereja, que puxava o ar pesadamente, teve o aroma do outro alfa
lhe esmurrando as narinas. Aquele delicioso cheiro de lúpus; aroma de
musk, violeta e sândalo. Seu odor lhe lembrava vinho tinto, aquela coisa
rústica, misturada ao doce, com final amargo, que queimava a garganta. E
se pudesse, ficaria embebedado facilmente.
O Park sorri e volta a alisá-lo como um devoto. E aí, desfere mais tapas
estalados na carne firme. Jeon sente a ardência de cada tapa, como se estes
fossem uma fisgada em seu baixo abdome. E talvez fossem. Era delicioso;
Park Jimin era delicioso. Sentia uma agitação em seu interior, um arrepio
em sua pele, seus pêlos se eriçavam. Aquela expectativa de quando e como
seria o tapa, deixavam seu estômago rodopiando. Nunca tinha esperado que
aquela fosse a sensação e ela era maravilhosa.
Finalmente, o lúpus alisou um pouco mais a bunda alheia, para subitamente
parar e subir o moletom do garoto e afastá-lo de si, o pondo no tapete.
Depois de um tempo, o moreno se levanta, ficando de pé, enquanto Jeon,
agora ajoelhado no tapete, ao pé da poltrona, o encarava confuso.
— Pois bem. Entendeu a coisa de sentir prazer com a dor e sentir prazer em
causar a dor? — pergunta.
— Oh! Então era isso? Não era nenhum bicho de sete cabeças, nem uma
coisa macabra de espancamento?
Jimin, ao notar o olhar abusado de Jeon sobre si, sentiu-se mais certo de
que, provavelmente, ele não fosse ser tão fácil assim de se submeter ou de
ser subjugado — a despeito de sua personalidade sempre inocente e
bondosa. Alfas sempre eram mais difíceis de se submeter. Mas o Park tinha
uma vasta experiência naquilo. Afinal, dominava preferencialmente outros
Alfas. Pensou que deveria começar a discipliná-lo imediatamente.
Logo ele, com tantos anos de prática como Dominador no bdsm, não
poderia fracassar no treinamento de um iniciante submisso. E Deus sabe o
quanto Jimin tinha desprezo pelos tais Brats — aqueles que estavam em
posição de submissão, mas não comportavam-se como tal, provocando seu
Dominador até o limite da paciência, com suas teimosias e desrespeito às
ordens.
Lembrou-se de uma capitã ômega fêmea, que era sua subalterna no quartel,
anos atrás. Nunca havia tido um desafio tão grande como aquele. A garota
era insubordinada, abusada e raivosa. Batia de frente com absolutamente
tudo o que ele falava, e Jimin sonhava em amarrá-la com fita isolante e
deixá-la abandonada na chuva em meio ao frio. Garotinha irritante.
Talvez, tal relação pudesse assemelhar-se à da caça e do caçador. Um cervo
não se deixa abater pelo leão da montanha, sem tentar fugir ou lutar —
ainda que o mais forte e o vencedor sejam claros nesta condição. Portanto,
no meio BDSM, pra se lidar com um Brat de forma satisfatória, o
Dominador não poderia ser um Dom tradicional, mas sim um Tamer — na
tradução livre, seria um Domador.
Oh, sim, Jeon Jungkook talvez fosse um desafio. Jimin esperava não estar
errado, porque tal percepção acabara de provocá-lo ainda mais. Um
submisso malcriado... Um Brat... Ele seria capaz de lidar com algo assim?
Ou aquilo se tornaria enfadonho e problemático? Ele não sabia.
O submisso que ele dominava naquele dia em que Jeon o assistira, havia
sido esquecido durante o ato. Não o via realmente, pois seus olhos estavam
grudados nos de Jungkook. Ele fizera questão de demostrar ao vizinho, que
poderia ser ele ali, ao invés do sub. E havia funcionado, já que o ruivo saíra
de lá com uma enorme e vergonhosa ereção dentro das calças, precisando
aliviar-se de imediato no banheiro da Masmorra. De todas as pessoas do
mundo, Jimin jamais imaginava que seu vizinho bobinho e atrapalhado
poria os pés ali. Agradeceria Jung Hoseok depois.
Até que o lúpus parou atrás de si e, num movimento rápido, puxou os fios
vermelhos entre seus dedos curtos, fazendo o pescoço de Jeon curvar-se
para trás e sua respiração acelerar, ao sentir o hálito quente do glorioso
dominador, chocar-se na lateral de seu rosto. A voz doce, porém altiva e
perigosa, soou então em seu ouvido esquerdo, onde a boca de Jimin
encontrava-se perigosamente próxima:
Foi com muita força de vontade, que o acerejado tentou impedir que todo o
seu sangue fluísse novamente para seu membro dentro das calças, tamanha
a excitação que a situação atual estava já lhe proporcionando. Estava mais
ansioso de que na vez em que perdera a virgindade, anos atrás.
Contendo uma expressão de prazer ao ter seus fios puxados — porque isso
o excitava desesperadamente —, Jungkook respondeu:
— Sim, eu entendi, Senhor. Não irá se repetir — disse do modo certo desta
vez. Embora soubesse que sim, iria se repetir.
Porque era claro que quando Jimin era desobedecido, este ficava mais
agressivo. E Jungkook adorava aquela rudeza, vinda daquele homem tão
gentil em seu cotidiano.
Depois de tanta enrolação e três malditos anos desejando seu vizinho alfa
em segredo, Jungkook finalmente o teria. Deus, era libertadora a sensação
de finalmente conseguir algo pelo qual tanto ansiava. Parecia coisa escrita
pelo destino, não? Os caminhos meio tortuosos, mas tudo dando certo no
final. Jeon finalmente poderia ter o corpo alheio para si e, de quebra, ainda
aprenderia sobre os fetiches que sempre haviam lhe excitado. Não poderia
ser mais perfeito.
E não era de hoje que o de cabelos cereja havia se interessado pelo BDSM.
Mas daí a fazer parte da comunidade e pôr seus fetiches em prática, além de
começar a levar a coisa toda como um estilo de vida, já era algo sobre o
qual ele não pensava muito. Não gostava da ideia de entregar o poder sobre
seu corpo, nas mãos de uma pessoa desconhecida. Claro que, Hoseok já lhe
havia proposto a coisa do BDSM em diversas ocasiões e se disposto a ser
seu Mentor. Mas o alfa não conseguia levar o amigo com toda essa
seriedade. Até porque, o de genes ômegas não o via daquela maneira.
Jung Hoseok era extremamente gostoso, sim, é claro. Mas talvez, pela
amizade desde antes de se mudar para aquele bairro, Jungkook não
conseguia ver o beta de outro modo. Apenas passava seus cios com ele, por
uma questão de lógica. Por ser uma espécie de híbrido entre alfa e ômega,
Jeon possuía heats (o cio ômega) e ruts (o cio alfa), em períodos alternados,
sendo ruts 2x ao ano, e heats 2x também. Se fosse um ômega puro, passaria
por 4 heats, de três em três meses, e se fosse um alfa puro, seus ruts
aconteceriam de seis em seis meses, ou seja, 2x ao ano. Por conta de sua
genética exótica, acabava por ter um heat, um rut, outro heat e mais um rut,
assim, intercalados.
As dores do heat não eram piores que as de rut, para o ruivo. Claro, como
uma espécie de "pansexual", Jungkook gostava de machos e fêmeas, alfas
ou betas, mas sua preferência sempre havia sido por alfas machos. A única
coisa que não gostava era de ômegas, independente do sexo.
Contudo, um alfa macho nunca o havia ajudado num rut. Alfas machos
tendiam a se negar a transar como passivos, sendo penetrados durante o
sexo. Ou ao menos a maior parte deles, mesmo os que gostavam de outros
alfas. E bem, já fazia uns bons anos que o Jeon não se envolvia com
nenhuma alfa fêmea. Por isso, Hoseok era o único que poderia ajudá-lo.
Além de ser alguém confiável e respeitoso, o beta não se importava em
ficar por cima ou por baixo, em dominar ou ser dominado. Então, tanto em
seus heats, quanto em seus ruts, Hoseok o ajudava a aliviar a dor, e quando
o período acabava, a amizade continuava, sem muitas lembranças do ato.
Após o aceite da proposta, o de cabelos cereja vinha tendo aulas com Jimin,
onde ele o explicava mais sobre as práticas existentes naquele universo, e
que, agora ficariam disponíveis para o ruivo desvendar com sua ajuda.
Na semana anterior, em mais uma das aulas que vinha tendo com
Dominador, o moreno havia lhe resumido coisas básicas e lhe dado
bofetadas ardidas na bunda branca, para exemplificar o fetiche chamado
Spanking, que se encontrava dentro do Masoquismo e Sadismo, onde se
podia ter prazer em sentir dor ou causar dor no parceiro, respectivamente.
E durante a pequena demonstração prática, Jungkook tinha ficado sedento,
escorrendo, de pau duro e com o corpo quente e suado. Não foi nada bacana
o Park tê-lo deixado na mão, porque no fim das contas, o ruivo teve de se
sentar no sofá e esconder o volume em sua calça com uma almofada,
enquanto continuava a ouvir as explicações do Dominador, que agia como
se absolutamente nada tivesse acontecido.
Ah, sim, Park Jimin era um tremendo filho da puta. Sequer havia feito
questão de esconder o volume em sua própria virilha, depois de estapear a
bunda alheia, ficando tranquilamente sentado e mantendo uma conversa
didática, até que seu membro murchasse por completo.
Aliás, já faziam boas semanas desde que confirmara que o ex-coronel era
um lúpus. Havia sentido uma pontada de cheiro que ainda não tinha sentido
naqueles três anos. Um cheiro ainda mais forte, que denunciara a
particularidade na classe do alfa: o delicioso e absurdamente afrodisíaco
cheiro de musk. Não deveria ser uma novidade. Afinal, Jimin era um alfa de
porte pequeno, e na maioria das vezes, um alfa pequeno significava ser
lúpus. Mas claro, como não era uma regra, haviam alfas comuns que não
eram maiores que ômegas. Nem sempre a genética acontece de maneira
padrão, ela pode desviar — o próprio alfa de genes ômegas era exemplo
disso.
A condição de lúpus queria dizer que ele seria ainda mais bruto e mais rude
em um rut, pois lúpus tinham capacidade de reprodução mais intensa, então
ficavam mais sedentos. E Jeon já imaginava que certamente o Park possuía
alguém para passar os períodos consigo. Era de conhecimento geral, que os
ruts de um alfa, fossem lúpus ou não, eram extremamente brutais no quesito
dor, se não possuíssem um parceiro para aliviá-los. Era quase impossível
para um lúpus, passar aquele período sozinho, ainda que tomasse
supressores.
O de cabelos cereja percebera naquele dia, que o rut do alfa lúpus deveria
estar muito próximo, já que havia detectado aquele cheiro de lúpus somente
agora. E por experiência própria, ele mesmo sabia que o seu cheiro ômega
se fazia muito mais presente, quando ele estava muito excitado ou quando
em período de heat, ficando absolutamente notável que o cheiro doce partia
dele. De seus genes. Ninguém costumava notar seu cheiro doce de primeira.
Tendiam a pensar que ele era um alfa marcado por um ômega ou que, no
mínimo, andava tendo relações com um. Mas quando excitado ou em
período próximo ao de heat, o aroma se fazia forte o suficiente pra ficar
claro que o cheiro era puramente dele.
E era isso que lhe deixava aflito. Queria contar ao alfa e perguntar se ele
passaria o período consigo. Afinal, haviam acordado sobre uma relação D/s,
mas nada haviam conversado sobre cios. Entretanto, Jeon estava um
pouquinho nervoso. Jimin não era idiota, certamente já havia sentido seu
cheiro doce e cítrico, mesclado à madeira de bergamota e cedro, deixando
bem clara a sua mistura genética.
Mas é claro, tinha a noção de que na prática real, as coisas seriam um tanto
diferentes. Aliás, o Park deixava claro que todo candidato a se aventurar nas
práticas de Dominação e Submissão, Sadomasoquismo, Disciplina e
Bondage — o qual Jungkook ainda não sabia com perfeição, a não ser que,
genericamente, tratava-se de restrição de movimentos — deveria pesquisar
e estudar com afinco, por si só, antes de se iniciar nas práticas, fosse ou não
com ajuda de outro fetichista ou BDSMer experiente.
Então o alfa vinha pesquisando sobre tudo com ainda mais curiosidade e
empenho. Pesquisas realmente profundas, como fóruns de discussões
online, vídeos, blogs de praticantes, enfim, todo o tipo de material
produzido por membros experientes e iniciantes na comunidade BDSM,
dando suas opiniões sobre diversos assuntos naquele meio. Ele até mesmo
se deu conta, de que sobre certas coisas, não havia um consenso entre os
praticantes. Tudo variava de acordo com opiniões, experiências e pontos de
vista.
O garoto até mesmo se deu conta de que o BDSM não é apenas a prática de
fetiches pra gozar diferente; Mas sim um estilo de vida que visa causar
satisfação psicológica e sexual, nos relacionamentos e em suas dinâmicas. É
uma forma diferente de relação, buscando a saciedade da alma.
Jimin prometera que hoje lhe daria uma última aula, onde explicaria sobre
principais estilos de relações de dominação e submissão, e que eles
deveriam definir qual seria o tipo de relação deles. Embora o lúpus não
houvesse tocado no assunto das coleiras, Jungkook se perguntava se, em
algum momento, o lúpus lhe daria uma. Aquilo significaria algo sério,
certo? Mas se repreendia ao pensar naquilo, afinal, era muito cedo pra estar
querendo algo mais a sério com o outro alfa. Contudo, ao perguntar para
Jimin se ele já havia dado uma coleira a algum submisso, o ex-coronel
apenas tinha se esquivado do assunto, como sempre fazia. O Park
continuava um pouco evasivo, embora não tanto quanto o antes. O
avermelhado não gostou nada nada, mas deixou passar. Não queria
pressioná-lo.
Pelas suas contas, o cio chegaria em dois dias ou menos, por conta das
dores no baixo abdominal e a produção de slick exagerada que vinha
ocorrendo, mesmo sem que ele estivesse excitado com algo. Seus genes
ômegas apenas o faziam ter que lidar com a pior parte de ser um ômega,
mesmo que ele não fosse um. Já até mesmo havia informado no trabalho,
sobre sua provável falta nos próximos dias.
Jungkoook odiava os malditos heats. Por mais dolorosos que os ruts de alfa
fossem, os heats de ômega também era bem desconfortáveis. Tinha até
mesmo que usar os pads higiênicos enfiados no ânus, para absorver a
maldita lubrificação, além de deixá-lo mal humorado e irritadiço — embora
não tão agressivo, fisicamente, como ficava em período pré-rut. Ele sequer
poderia engravidar, então por quê diabos tinha heats? O corpo de um alfa
não era preparado para conceber um filhote.
Com os fios molhados, Jeon foi até a sala, enrolado na toalha e ligou a TV,
com alguma música. Mas antes que pudesse chegar em seu quarto para
vestir-se, ouviu a campainha tocar. Bufou. Certamente era Hoseok ou
SeokJin, eles eram mestres em aparecer sem avisar, o que irritava o mais
novo fortemente, já que era do tipo que apreciava ficar sozinho. Boa parte
de sua infância havia sido assim, de qualquer modo. Detestava visitas
inconvenientes, e os amigos eram bastante.
Sem checar o olho mágico, apenas abriu a porta. Quando viu a pessoa ali,
arregalou os olhos. Park Jimin o encarava com uma expressão perdida, que
rapidamente foi substituída por um olhar selvagem, quando este mordeu o
lábio inferior, secando seu corpo molhado enrolado apenas com uma toalha
branca, com os olhos.
Após o choque inicial, Jeon esperou que o lúpus se pronunciasse, mas este
ficou apenas encarando seu abdome exposto, com o desejo estampado na
face.
"Ótimo" — o de genes ômegas pensou. — "Ele consegue se afastar e não
fazer absolutamente nada depois de me alisar inteirinho e me deixar de pau
visivelmente duro, mas me come com os olhos só por eu estar de toalha.
Cara confuso."
— Você sabe, meus olhos estão aqui em cima, não ali embaixo.
Quando o lúpus passou por ele, Jeon pode sentir o cheiro lupino ainda mais
forte no suor do outro. Seu instinto animal quis uivar e mordê-lo. Mas por
que infernos um alfa se sentiria impelido a morder outro alfa? O ruivo ficou
levemente chocado. Ainda não tinha sentido nada daquele tipo antes.
— Gostei de como você decorou tudo. Da última vez em que estive aqui, só
haviam caixas de mudança espalhadas pela casa. Vejo que trocou a
decoração por embalagens de lasanha e latas de refrigerante — zombou da
bagunça do outro, rindo.
Jimin usava uma roupa social, com camisa de botões e uma gravata bem
amarrada. Com as mãos dentro dos bolsos da calça, o lúpus observou
rapidamente o cômodo e se sentou no sofá.
O possível brat ficou um pouco sem jeito de o mais velho ver a zona de
guerra que sua moradia parecia, enquanto a dele própria era limpa e bonita.
Por sorte, não havia nenhuma meia fedida ou cueca suja jogada pelos
cantos. Um par de dias antes, Hoseok havia passado por ali e feito suas
costumeiras arrumações.
E ao pensar nisso, lembrou que o amigo switcher havia colocado suas
roupas para lavar na máquina, e que sua única função era estendê-las no
varal pequeno depois. Dois dias se passaram, e Jungkook sequer havia
lembrado daquilo. Provavelmente estaria tudo fedido outra vez, teria que
lavar novamente. Deu tapa na própria testa pela burrice.
— Oh. Eu senti mesmo o seu cheiro mais forte — o ruivo respondeu meio
atordoado, pego de surpresa. — Com mais cedo você quer dizer... hoje?
— Tudo bem. Não precisamos ter uma aula agora. Você deveria ir
encontrar o seu alfa, então - disse as últimas palavras com desgosto na
voz. — Podemos resolver nossas coisas depois, sem problemas. — O que
era uma mentira, pois tinha muito problema sim.
É claro, o tom amargo na voz do alfa, não passou despercebido a Jimin, que
começou a sentir uma ansiedade estranha e o peito como se estivesse...
aquecido. Jungkook estava com ciúmes de si? O que aquilo significava?
O lúpus estava ali com uma meta: descobrir se o Jeon gostaria de passar seu
rut com ele. Era claro que não queria passar com seu amigo Taemin. Estava
louco de vontade de passá-lo com o de genes ômegas. Mas como sempre, o
Park adorava joguinhos mentais de sedução, então ao invés de
simplesmente indagar: "Hey, Jungkook. Pode me ajudar com o rut?"
preferiu dizer que estava indo para a casa de outro cara, e aguardar a reação
do mais novo.
— Eu já senti o seu cheiro e sei que você também vai passar por um
período agora, não é? — o dominador indagou.
A mente de Jeon começou a criar mais mil e uma teorias baseadas em seu
medo de rejeição.
— Sim, eu... eu vou — disse, com a voz sem emoção. — Me desculpe por
ser assim. E-eu... realmente não queria isso.
Na mente do mais alto, era claro que o alfa lúpus, por gostar de outros alfas,
se sentiria enojado com o cheiro doce de ômega, se passasse o rut consigo.
Pensou que talvez Jimin suportasse o cheiro em momentos normais de
excitação, mas em rut não. Em rut seria demais. Talvez algo nojento. Ele
mesmo não conseguia gostar de ômegas, por conta do cheiro.
— Sobre... o meu cheiro. Eu realmente odeio ser parte ômega, passar por
esses malditos heats e exalar esse cheiro irritante, e-eu...
Eles ficaram ali, se encarando pelo tempo que pareceu uma pequena
eternidade. O acerejado não conseguia acreditar que o alfa estivesse falando
sério. Ele realmente não ligava para a coisa do cheiro ômega? Que ele não
se importava com o slick, já havia notado. Mas com o cheiro doce? Se
Jimin gostava apenas de alfas e betas, o cheiro doce, provavelmente o
enojaria. Talvez o lúpus apenas estivesse sendo uma pessoa legal
consigo — pensou.
A terceira coisa, era descrença. Como Jungkook poderia pensar que seu
cheiro o desagradava? Mas que merda! Esse garoto sequer sabia como seu
cheiro misto, entre frutas e madeira, o deixavam completamente inebriado?
Até mesmo seu lado lobo ficava indiscutivelmente extasiado, quente e
fogoso. O cheiro deixava Jimin com uma ereção bem dura no meio das
pernas. Sua garganta queimava, como se tivesse sede, e sua região da
virilha ardia e formigava. E isso era só o cheiro. Sequer poderia pôr em
palavras, o que a aparência gloriosa e beleza absurdas do avermelhado,
causavam em sua mente.
— Eu... Sabe, gostaria de passar meu rut com você. Não paro de pensar em
quanto seria incrível passar um rut com alguém de genes ômegas, em
período de cio ao mesmo tempo que eu. Tenho certeza de que seria...
indescritível — o ex-coronel declarou, ficando sem jeito pela primeira vez
com o garoto. Não era de seu feitio, sentir-se envergonhado, mas no
momento, era aquilo que acontecia, e nem sabia o porquê. Talvez fosse seu
lado lobo, que deixava bem claro o quanto desejava o alfa de cabelos
vermelhos. — Mas imagino que você certamente já tenha uma pessoa pra
isso... — jogou no ar, curioso.
Jeon se sentiu confuso. Uma pitada de euforia também começou a se
alastrar em seu peito. Ele estava mesmo dizendo aquilo? Jimin queria
ajudá-lo em seu heat e que ele o ajudasse com seu rut? Aquilo era um
sonho? Abobado, Jeon se beliscou no braço, discretamente. É, estava bem
acordado, percebeu fazendo uma careta de dor.
— Como assim? Está dizendo que passa seus heats sozinho? Dopado? E
quanto aos ruts? Você tem ruts também, não tem? Eu já senti o seu cheiro
de alfa mais forte, algumas vezes no passado... — Jimin o encarou com uma
expressão estranha.
— Oh, não é isso, eu... Tenho um amigo beta que me ajudava nos dois.
Aquele que é um Switcher, que me levou no clube fetichista aquela vez...
E por que vinha se sentindo daquele jeito o tempo todo por causa de Jimin?
Não era segredo que possuía uma inegável atração pelo alfa, já fazia muito
tempo. E sim, às vezes o enxergava de forma um pouco... sentimental. Mas
ficar sentindo ciúmes dele, era o cúmulo do absurdo, e Jeon sabia disso.
Contudo, não podia realmente controlar os próprios sentimentos, apenas
suas atitudes. E às vezes, nem elas.
— Ah, claro que não. Hoseok é meu amigo. Meu melhor amigo. Se eu
pudesse, não faria este tipo de coisa com ele — respondeu. — Mas ele é o
único em quem confio para tal.
Viu Jimin então alternar o olhar incisivo entre seus lábios e seus olhos, e
aproximar-se lentamente, como em câmera lenta, até morder seu lábio
inferior, puxando a carne entre os dentes, antes de sugá-la, numa
provocação. Jeon arrepiou até o último fio de cabelo e seu baixo abdominal
formigou.
Tentou levantar, mas sentiu uma pontada no baixo abdome, que o fez
assobiar de dor. Merda de cio. O heat ômega causava fortes dores no corpo,
além de uma febre alta. Já nos ruts, a febre alta ocasionava delírios, estes
que faziam com que a parte animal e selvagem lupina, quisesse tomar conta
da personalidade alheia, tirando um pouco da sua sanidade.
Sem alternativas, deitou com cuidado na cama, outra vez. Aonde estava
Jimin? Até onde se lembrava, o alfa havia dormido consigo, na mesma
cama. Será que o outro tinha desistido dele? Algum imprevisto ocorrera?
Porque era isso que sempre acontecia quando eles estavam quase lá. Algo
os impedia. Geralmente esse algo era o próprio Jimin. Como no dia
anterior, por exemplo.
O lúpus só conseguia pensar em como seu lobo fazia com que sua gengiva
coçasse, querendo liberar suas presas e enterrar os dentes naquela carne
macia e marcar o Jeon para si — sem saber que o mesmo acontecia com o
mais novo: seus instintos também queriam marcá-lo, o que era impossível,
já que os dois eram alfas.
Já Jungkook, sentindo o lúpus abraçar seu corpo com tanto aperto, queria
chorar de tesão. Jimin lhe causava aquela coisa louca, mesmo em tempos
normais. Ah, o ruivo estava absolutamente sedento. Sua boca estava aberta
num perfeito "O", com a cabeça jogada pra trás e os olhos fechados,
enquanto sons necessitados saíam de sua garganta.
Só que como num filme de terror, algo tinha que acontecer. O maldito
celular do lúpus começou a tocar estridente, assustando-os. Jimin
abandonou a sucção em seu pescoço e olhou para o bolso da própria calça,
que brilhava com a luz do aparelho.
— Não é importante — o moreno falou, e então avançou para os lábios do
outro alfa, beijando-o afoito e saudoso.
Só que o telefone tocou e parou de tocar, pelo menos três vezes. Na quarta,
Jungkook empurrou o alfa sutilmente para trás, e separou os lábios,
bufando impaciente.
Jungkook então pulou do balcão e foi em direção ao quarto, para dar mais
privacidade ao moreno. Não queria que o mesmo pensasse que ele era
bisbilhoteiro ou que não respeitava o espaço alheio — embora ele fosse um
fofoqueiro do caralho, sim.
— Alô..? — Jimin atendeu, com a voz um pouco falhada. — Sim... Ah, sobre
isso... Acho que vou ficar por aqui mesmo... É, eu estou com ele. Jungkook
vai entrar no heat junto ao meu rut. Decidimos passar juntos... Sim, eu ia te
avisar, mas nós estávamos meio... er... você sabe... Não vai ficar chateado,
né?... Eu sei, você sempre me entende, Tetê... Uhum... Não estou te
trocando, canceriano dramático — disse Jimin com a voz engraçada,
soltando uma risada escandalosa. — Eu sei, quando a semana do rut
passar, vou te visitar, ok..? Se cuida! — Então desligou a chamada.
Talvez o tal alfa fosse para o Park, como Hoseok era pra si. Um auxílio.
Sabia que não era certo se enciumar com aquilo, mas o rapaz tinha um quê
bem forte de possessividade em si.
Desgostoso, Jeon entrou em seu quarto e vestiu uma roupa, limpando sua
entrada melada de slick com um lenço umedecido. Quando estava prestes a
sair do quarto, o moreno apareceu, lhe encarando confuso.
O mais baixo caminhou para perto dele, puxando-o com uma mão
espalmada em sua bunda durinha, trazendo-o o para si, até os peitos de
chocarem. Jungkook era mais alto que si e os ombros eram mais largos, e
aquilo excitava o dominador ainda mais. Dominar um homem de porte
maior, era instigante. Isso era o que mais o atraía nos alfas, o fato de a
maior parte daquela classe ter um corpo maior e mais largo, mais forte,
mais musculoso.
— Eu posso dar um jeito nisso, você sabe... — declarou com a voz rouca,
aproximando os lábios.
— Ah, hyung, eu realmente não tô mais no clima agora... Você... não vai
ficar chateado comigo, né?
— Claro que não. Tá tudo bem — e então deu um rápido selo nos lábios
finos do ruivinho. — Você já comeu?
E aquele sorriso... Ah, que sorriso mais lindo. Quando Jungkook sorria,
seus olhos faziam ruguinha adoráveis em volta deles. Os dentinhos da
frente eram salientes e deixavam sua expressão ainda mais fofa. Jimin
queria mordê-lo. Sua mente gritava "Grrrrw"; Toda vez que via aquele
maldito sorriso, ficava encantado, desde o dia em que vira o garoto se
mudando para aquele prédio e o ajudara a subir com as caixas pesadas
para o apartamento. Naquele dia, quando o novo vizinho sorriu para si, o
moreno sentiu vontade de apertar as bochechas gordinhas. Só conseguia
pensar no quanto aquele alfa era lindo e fofinho. E foi logo dali que a ideia
de que Jungkook jamais poderia ser do tipo fetichista, havia se instalado
em sua mente.
— Você é muito fofo — foi só o que lhe respondeu, antes de sair do quarto e
deixá-lo sozinho no cômodo.
Rosnou de raiva de si mesmo. Por que diabos tinha que sentir aquele tipo de
coisa sempre? Nunca confiava em ninguém. É claro, tendo um passado
como o seu, era esperado que ele tivesse se tornado aquele tipo de pessoa
desconfiada, que pensa sempre que irá ser abandonada, sempre insuficiente
para alguém, sempre passada para trás.
Ouviu a porta da sala bater e se retesou. Até ver Jimin abrir a porta do
quarto, com uma mochila nas mãos.
— Sim, minha cabeça dói muito, hyung — disse fazendo uma careta, ao
que Jimin acendeu a luz do abajur, tendo o cuidado de não acender a luz do
teto, para não incomodar os olhos doloridos do mais novo.
— Está muito próximo agora. Você está com febre. Lhe darei um
antitérmico e mais outro comprimido pra dor, okay? Trouxe alguns mais
fortes dos que os remédios que você tinha aqui — falou, pegando uma
pequena necessaire dentro da mochila.
Entregou os comprimidos para Jeon e foi até a cozinha, voltando com uma
garrafa de água, que deixou na mesinha de cabeceira. Depois que o alfa
tomou os comprimidos, Jimin afastou as cobertas pesadas e o puxou
delicadamente para que se levantasse.
— Ora... Você sabe alfas normais costumam ter um porte físico mais pesado
que os lúpus. Você, no caso, é um alfa bem maior que eu.
— Porque no cio, nenhum de nós fica são. E nós dois estaremos em cio.
Você lembra que as práticas devem ser sãs, certo?
— Sim, hyung.
Jimin dá de ombros.
— Com a exceção de que não vai ser realmente algo forçado ou passível de
controle.
— O Pet Play é absurdamente diferente. Não tem nada sobre caça, sobre
instintos, sobre selvageria ou agressividade animal. Geralmente, no pet play
o sub brinca de ser algum animal doméstico. Mesmo quando for um poney
play, onde é um jogo específico que o sub finge ser um cavalo, o ponto
principal do jogo é fingir ser um animal e se portar como um. A selvageria
é quase inexistente, a não ser quando se trata de um animal selvagem, mas
mesmo assim... No Primal Play, não é exatamente sobre ser um animal, e
sim se comportar como um humano primitivo.
— Eu não quis dizer nesse sentido, Jungkook. Não gosto de comer coisas
doces, mas seu cheiro me encanta, já falei — disse deixando a voz mais
áspera e sexy. — Meu instinto de lobo me faz ter vontade de... — mas se
interrompeu, imaginando que não deveria dizer aquilo para o garoto e
assustá-lo.
— Seu lobo tem vontade que, hyung? — insistiu curioso e atento. Por mais
que a particularidade lupina fosse apenas um instinto selvagem e não uma
segunda personalidade, era costumeiro se referir ao instinto lupino inerente
às novas raças, como "seu lobo". — Me diz, por favor... Eu quero saber,
odeio ficar curioso — terminou com um pequeno bico.
— Humn... Eu nunca senti isso antes, sabe? Meu lobo, ele... sente vontade
de te marcar — respondeu o mais velho, de modo cuidadoso.
— M-mesm-mo?
— Ah, você sabe. Alfas, por serem mais fortes que os ômegas e betas,
acabam ficando um pouco... Você sabe... metidos.
Conversar com Jimin sempre parecera muito fácil, o assunto fluía. Todavia,
o lúpus era misterioso e evasivo, o que fazia com que o ruivo não apreciasse
tanto as conversas assim. Mas depois que descobrira sobre o vizinho e os
fetiches que ele praticava e levava como filosofia de vida, pareciam não
haver mais tantos segredos entre os dois, pelo menos na maior parte das
vezes, deixando tudo mais simples e leve.
O menor bufou e revirou os olhos. Tudo indicava que Jeon Jungkook seria
um perfeito brat, no mínimo um bratty sub, que o provocaria e
desobedeceria por puro prazer. Então o dominador sorriu maldoso, antes de
responder:
Jungkook apertou os olhos, com aquela indireta bem direta. Não duvidava
que gozaria como nunca e ainda acabaria obedecendo Jimin, como um
cachorrinho adestrado.
— Tomara que você tenha sorte comigo, hyung. Posso ser um pouco
teimoso... — Jungkook disse, arrancando uma risada do Park.
— Por falar nisso, vamos relembrar que durante as sessões, devo ser
chamado apenas de Senhor, Mestre ou Jimin-ssi. No dia a dia, me chame de
hyung ou Jimin, como preferir — explicou comendo seu cereal não muito
adocicado.
Não tinham nada emocional, Jungkook estava ciente. Mas não era como se
repudiasse a ideia. Cada dia mais, inclusive, pensar em ter Jimin pra ele e só
pra ele, causava-lhe sensações muito intensas, ao ponto de começar evitar
pensar a respeito, porque sua cabeça não parava de bombardeá-lo com
cenários dos dois juntos, como um casal de verdade. E era irritante.
— Eu concordo. Vou te explicar a última, mas acredito que nossa relação se
encaixe na troca parcial de poder — Jimin declarou sob olhar atento de
Jeon. — A terceira, é a Submissão 24/7. Necessariamente, ela será uma
relação de total entrega de poder. Essa certamente não seria a nossa, porque
eu mesmo não me agrado muito com ela e tenho certeza de que você
também não. Como o próprio nome já diz, essa relação de submissão é
ininterrupta, acontece todos os dias, o tempo todo, 24 horas por dia, 7 dias
na semana. É muito comum encontrarmos essa relação entre os praticantes
de BDSM. É como o santo-graal das relações, porque geralmente, pra se
chegar a uma relação nesse nível, os praticantes também estão envolvidos
romanticamente. É complexo, porque torna-se uma relação de Servidão,
onde o Dominador acaba se portando como Dono do sub, e o sub como
Escravo. E, é claro, o sub pode ser do tipo obediente, um escravo totalmente
suave de se lidar, que gosta de obedecer, assim como ele pode ser o tipo que
gosta de ser forçado. Tudo vai depender da dinâmica do casal.
— Eu também não gosto. Imagine só, ter uma pessoa ali, te servindo, como
um empregado... Minha nossa, eu me sentiria muito sufocado.
— Não exatamente. Tive um sub, uma vez, que queria me servir todo o
tempo. Eu até tentei deixar, mas me senti realmente incomodado que ele
vivesse junto comigo. Era quase como um regime marital, então era
estranho, considerando que eu não estava apaixonado por ele. Então apenas
encerrei a relação, depois de um mês, mais ou menos.
— Você... Tem algum contato com ele ainda? — o mais novo perguntou,
levemente enciumado, mas Jimin não pareceu perceber.
— Não. Na verdade eu nunca mais o vi. De qualquer forma, falemos da
nossa relação — mudou rapidamente o rumo da conversa. — Obviamente
nós teremos uma relação fixa. Sendo vizinhos, é claro que teremos
facilidade para transar toda hora. E eu sou o seu Mentor, seu professor,
então é claro que não poderia ser esporádico — Jimin dizia, racionando
logicamente. — Nós também não temos um romance entre nós, embora
nossos lobos pareçam estar meio... confusos — falou rindo rapidamente,
como se não estivesse dando muita importância àquele fato curioso.
Não era só o seu lado lobo que o deixava confuso em relação a Jungkook.
Ele nutria sim, um carinho diferente pelo garoto, fruto, talvez, de todo
aquele desejo encubado ao longo dos anos. O Park sabia que, quanto mais
desejava uma coisa que não podia ter, mais o interesse aumentava, e era
aquilo que vinha acontecendo entre eles.
Só que no meio do curto caminho, sentiu uma forte dor no corpo e uma
tontura que quase o levou ao chão, se não fossem os braços fortes de Jeon,
que o seguraram com firmeza, quando notou que ele estava derrubando as
tigelas e perdendo o equilíbrio.
É claro que sabia como eram os ruts de um alfa, afinal, ele também era um.
Todavia, Jimin era um lúpus. Sabia que os alfas lúpus costumavam nascer
com uma estrutura menor, semelhante a dos ômegas, mas que seus ruts
eram ainda mais brutais, pois um lúpus possuía uma fertilidade muito maior
que o normal.
Teve a impressão de ter dormido por horas e de ter sido atropelado por um
caminhão, ao acordar com o sol iluminando a janela por trás das cortinas
finas. Seu corpo estava quente e o ânus molhado de slick. E com a primeira
fungada de ar que deu, pode sentir o cheiro que denunciava o rut de Jimin.
O lúpus já estava no cio. E pior: tinha entrado no cio antes de Jeon, coisa
que nenhum dos dois esperavam.
Já o avermelhado, ao ter o outro alfa no cio, por cima de si, perdeu toda a
linha de raciocínio na mente. Era como se um grande clarão tivesse surgido
e tirado todos os seus pensamentos. Jungkook observou os olhos do
alfa lúpus, originalmente negros, agora num tom completamente cinza.
Enjoy.
Jungkook já era acostumado a ficar com outros alfas, assim como Jimin.
Mas a primeira vez em que sentira vontade de marcar alguém, fora na
presença do lúpus; Só que seu lado que queria marcar, era o lado alfa. Um
lado que ainda estava ali, ainda que seus instintos fossem tomados pela
essência ômega agora. Porque estando em heat de ômega, a maior parte de
seu ser, queria fazê-lo se portar como um. Todavia, sua parte alfa ainda
estava ali, escondida. Como se seu corpo fosse um automóvel, onde o alfa
estava no banco do carona, e o ômega no banco do motorista.
E um alfa não era suposto a sentir desejo ou atração pelo cheiro do outro,
mas sim repulsa. Então o medo, ao encarar os olhos cinzas do alfa lúpus o
atingiu. Seu lado alfa se amedrontou em estar ali, à mercê de outro de sua
classe, controversamente.
Enquanto corria pelo pequeno corredor, ouviu o som que o fez arrepiar a
espinha: o uivo irado do alfa lúpus. Um uivo alto, dolorido, sofrido. Sabia
que todos os vizinhos de seu prédio e dos prédios ao lado, teriam ouvido. O
problema era que aquele tipo de uivo, servia para convocar a matilha. Ainda
que a raça híbrida de humanos e lobos não andassem em bando daquele
modo. Mas de qualquer jeito, os instintos estavam ali e funcionavam.
Jungkook sempre ouvira falar dos uivos de um alfa lúpus. Já tinha até
escutado alguns ao longe, algumas vezes. Ainda que ele mesmo possuísse
genes recessivos, aqueles uivos de alfas lúpus, jamais surtiram efeito em si.
Porque ele era um alfa, afinal de contas. Alfas não atendiam aos chamados
de uivos de outros alfas.
O ruivo continuou sua fuga, mas teve de parar na sala. Olhou para todos os
lados, pensando na possibilidade de fugir. Mas como poderia? Estava no cio
também. O calor em seu corpo era insuportável, seu baixo abdome parecia
estar sendo rasgado por dentro.
Como se não bastasse, sentia um incômodo vento gelado em seu ânus, pois
sua lubrificação estava escorrendo, dando-lhe um arrepio na pele — o pad
higiênico havia deslizado pra fora enquanto dormia. E agora, para piorar,
Jimin estava uivando como um louco. Ao longe, outros uivos estavam
sendo dados em respostas, uivos ômegas. Então sua consciência se
enfureceu. Quem Jimin pensava que era, para tentar convocar outros
ômegas ao seu apartamento? Ele era seu. Tanto o apartamento, quanto o
alfa lúpus. Tudo ali era seu. Ele seria o ômega a satisfazê-lo e a ser
satisfeito por ele, ainda que não fosse um ômega exatamente. Mas naquele
momento, era como um.
Era como diziam por aí, ômegas eram mesmo confusos; em um segundo
sentiam-se amedrontados frente a um alfa, e no outro já estavam clamando
por eles, excitados que só. E em se tratando de Jeon Jungkook, um híbrido
de classes, era tudo uma enorme confusão de sensações e sentimentos.
Jimin não poderia deixar que aquele ômega o subjugasse, de jeito nenhum.
Então, em um rápido movimento, derrubou o de fios cereja no chão duro,
pousando por cima deste. O estalo do corpo no chão foi ouvido, mas o ruivo
não pareceu se importar. A excitação certamente o deixava alucinado, de
modo que, provavelmente tenha sido incapaz de sentir dor ao ser atirado no
chão com brutalidade.
Foi então que Jungkook começou a sentir o arrepio surreal subir por sua
coluna; aquele que anunciava seu prazer querendo ser despejado. Mordeu
os próprios lábios, tentando descontar aquela sensação que queria rasgar seu
corpo, já que não haviam lençóis ali, para que pudesse apertar. E aí suas
mãos foram parar diretamente nas costas do alfa. Apertou a pele dali, e
quando foi sentindo seu gozo fazer o caminho para fora do corpo, tudo
ficou em câmera lenta; suas unhas, já um pouco crescidas, deslizaram com
toda a força pelas costas do lúpus, da nuca até a bunda. Sim, até lá. O lúpus
sugou o ar audivelmente, jogando a cabeça pra trás, num som misto de
prazer e dor, ao que sentiu os cortes superficiais rasgando sua pele.
Então o ruivo gozou, gozou tão forte, que sentiu como se seu corpo
estivesse entrando em chamas. O calor aumentou, era como se a febre
tivesse atingido o seu pico. Sentia claramente o suor saindo pelo poros, as
veias do corpo bombeando sangue rapidamente, o cérebro quase dando
pane e a mucosa das gengivas coçando e ardendo, como se suas presas
quisessem rasgá-las.
O Park voltou a sugar o pescoço do mais novo com ainda mais força,
gemendo abafado contra sua pele, usando o pouco de sanidade que ainda o
restava, para que não marcasse o rapaz; mas sentir a porra quente do ômega,
melando sua barriga, soltando aquele cheiro cítrico ainda mais forte,
fizeram-no quase perder o controle. Sua presas desceram mais na carne da
gengiva, e a pontinha dos dentes fizeram menção de rasgar a pele alheia. O
lúpus quase chorou em desespero. Precisava retomar o controle sobre seus
instintos, antes que fizesse uma besteira. Seu nariz estava exatamente no
pescoço do rapaz, onde o cheiro era extremamente forte. E isso, somado ao
cheiro de seu prazer liberado, eram o ápice olfativo.
Num rompante, Jimin virou o corpo mole de Jeon no piso, de forma rápida,
esfregando-se nele, com o pau teso deslizando entre as bandas meladas de
lubrificação natural que o interior alheio expelia. O de cabelos cor de cereja
chegou a sentir seu slick escorrer do ânus para suas bolas inchadas, agora
que estava de bruços e o mel escorria em grande quantidade, deslizando
pelo períneo, causando um arrepio gostoso por onde o líquido descia.
Estava sim, ainda meio atordoado pela explosão rápida de prazer, mas
aquele era um cio, afinal. Não seria uma gozada que o satisfaria. O pênis
permaneceria firme como rocha. Aliás, estava ainda mais excitado que
antes. Queria sentir sua entrada ser invadida e alargada. Queria sentir a
cabeça do pau alheio, cutucando seu interior, massageando sua próstata,
levando-o ao delírio, enquanto sentia aquele ponto em especial sendo
atingido, uma, duas, mil vezes.
Não era como se houvesse de fato, um lobo dentro de si, como uma
segunda pessoa. Era mais como se a irracionalidade primitiva humana se
associasse com o instinto animal lupino, impedindo um raciocínio claro.
Um lobo agia por instinto, e seu instinto era acasalar para procriar e
interromper a dor e urgência insuportáveis que corriam por seus corpos,
tanto a dele quanto a de seu parceiro.
Contudo, mesmo que seus instintos tivessem pressa, Jimin queria provocar
o outro alfa ainda mais. Queria usar o restinho de sanidade que ainda
possuía, para vê-lo implorando para ser tomado e fodido com gana. Porque
o lúpus fodia gloriosamente bem, em qualquer ocasião e com qualquer
pessoa, ainda que fosse um alguém pelo qual ele não tivesse muito desejo.
Era algo inerente à sua classe de alfa lúpus, afinal, era biologicamente o
maior reprodutor de sua espécie.
— Peça... — Jimin falou sussurrando. — Peça o que quer que seu hyung
faça e farei agora, hmn? — disse esfregando a ponta do nariz pela pele
exposta da nuca alheia, mas segurando a respiração ao máximo, para não
perder o controle e marcá-lo. — Peça, Alfa...
Jungkook sugou o ar com força, inebriado. Não queria ter que pedir. Sentia-
se humilhado em pedir tal coisa. Talvez apenas envergonhado, mas era tudo
muito confuso naquele momento. Ainda mais quando o caralho melado do
lúpus roçava em sua entrada enrugada, que piscava ansiosa e desesperada.
— Oh, que subzinho mal educado, tsc tsc... — o moreno zombou afastando-
se.
Jimin sorriu ladino e satisfeito, com seus olhos cinzentos como um céu
chuvoso.
O lúpus soltou uma lufada de ar, buscando o próprio autocontrole, mas não
funcionou. Logo se viu metendo forte, fundo e rápido na entrada quente, de
tal forma, que o corpo alheio sacudia com os movimentos, saindo do lugar.
O Park já não estava mais em si, estava louco de tesão. Sequer se importava
sobre Jungkook tê-lo chamado por um apelido no diminutivo e não ter se
mantido no "Senhor" ou "Jimin-ssi". Até porque, não estavam praticando
uma sessão de BDSM. Era uma transa normal, dentro do cio de ambos. Só
que nem de longe aquela seria uma foda "baunilha". Ah, de forma
nenhuma. Jimin faria Jungkook lembrar-se daquele cio pelo resto de sua
vida. O foderia tão fundo e intenso, que o mais novo consideraria aquele o
cio mais maravilhoso de todos os tempos. E por mais que tivesse uivado,
convocando ômegas para o lugar, tinha feito por pura provocação, para
mostrar ao ruivo, que quem mandava ali era ele. Não era como se qualquer
ômega, de fato, fosse querer se aproximar do apartamento, pois o cheiro do
de cabelos cereja os repeliria.
Jimin então parou de arremeter contra o mais novo, saindo de dentro dele e
o puxando pelos cabelos, de modo que o alfa se levantasse meio
desengonçado, de joelhos e com os olhinhos semicerrados. O moreno
empurrou o outro contra a parede e puxou seu quadril na direção contrária,
empinando-o e trazendo a bunda perfeitamente durinha para si.
O ruivo não pôde conter o sorriso. Saber que o outro alfa ficava tão louco
por si quanto ele o deixava, era tão satisfatório que o fazia sentir-se pleno.
Então, o híbrido abriu os olhos e mirou o lúpus por cima do ombro, com um
sorrisinho malicioso.
A intenção não era irritá-lo, apenas o provocar. E assim que Jimin ouviu
aquela pergunta, fechou o semblante, rosnando, agora mais instigado a
arrebentar aquele alfa abusado. Puxou Jeon por um dos cotovelos, virando-
o para si, sem delicadeza alguma no movimento.
Já Jungkook sabia que aquela provocação não sairia barata. A tinha feito
sem sequer pensar nas consequências, havia sido instintivo. Achava que
Jimin apenas ficaria bravo e instigado a fodê-lo com uma velocidade ainda
maior e uma força ainda mais bruta, não que o lúpus fosse encará-lo com a
face distorcida como o próprio demônio. Engoliu em seco, totalmente tenso,
começando a se arrepender da provocação. Não sabia o que o mais velho
seria capaz de fazer agora. Principalmente ao ter um alfa rosnando para si.
E por mais estranho que pudesse parecer, sentiu um certo medo que o
excitou ainda mais, de forma que nunca havia previsto.
Jungkook nunca pensou que o medo pudesse excitá-lo. Mas Park Jimin
cada dia mais o causava sensações novas e mostrava formas diferentes de
sentir prazer, sem nem mesmo se esforçar muito pra isso.
Cada vez mais tomados pelos instintos, as falas iam sumindo. Sua voz não
saiu, apenas arregalou os olhos e sacudiu a cabeça de um lado pro outro,
enquanto sua garganta soltava um pequenino soluço de choro, negando.
Mas Jimin puxou seu rosto pela mandíbula, de modo firme, segurando-o e o
trazendo para perto de si, com os narizes se encostando.
Só que ao invés de dizer qualquer coisa, o lúpus apenas rosnou outra vez,
soltando algo que se assemelhou a um latido. Os instintos primitivos agora
já os tomavam tanto, que sequer lembravam-se de como proferir as
palavras. Era como se apenas os sons de rosnados, os olhares e as
expressões, pudessem dizer tudo. Então Jungkook assentiu balançando a
cabeça veementemente. O lúpus lhe deu um puxão, sentando-o com a bunda
na quina da janela aberta.
Outra vez o de genes ômegas o encarou assustado. Mas algo em sua mente
o dizia que se Jimin segurava-o firme pelas coxas, não havia nada a temer.
A adrenalina causada pelo medo o estava atiçando, ele só não conseguia
ultrapassar aquele medo que o prendia, sozinho.
Jeon suspirou, colocando as mãos para trás e se segurando no parapeito da
janela, ainda temeroso, mesmo que excitado. Jimin, que estava entre suas
pernas, segurando-o pelas coxas, verificando que o maior estava firme,
estocou duas vezes, fazendo uma pequena parte do corpo do ruivo quicar
para fora da janela aberta.
Mas então o alfa lúpus puxou seu corpo para a frente, fazendo o quadril do
ruivo sair do parapeito e apenas suas mãos para trás o segurarem ali. E ao
invés de estocar, Jimin passou a puxar seu corpo para frente, fazendo com
que a entrada do avermelhado deslizasse sobre seu caralho ereto e não ao
contrário.
Jungkook se deixava ser dominado com certa facilidade, mas Jimin sabia
que era por conta dos instintos ômegas. Quando o mais novo fosse tomado
pelo rut alfa, as coisas seriam bem diferentes, e ele até mesmo ansiava por
isso; pela disputa de poder que certamente aconteceria.
Jeon sentia seu slick escorrer agora entre suas pernas abertas, deixando tudo
gelado. Cada vez que o caralho teso do alfa o penetrava, mais slick escorria
por suas coxas, enchendo-o de tesão. Aquilo era insano, Jungkook sentia-se
insano. Seu corpo pegava fogo e seu pau já estava duro de novo, tão rápido
como nunca antes. Então ouviu o lúpus rosnar alto, como um animal
selvagem, enviando vibrações por todo o seu corpo, fazendo sua espinha
arrepiar-se e seus pelos eriçarem outra vez. A porra quente do Park o
inundou com uma última estocada funda.
O híbrido queria gritar. Queria gemer e dizer bem alto, o quão bom Jimin
era, o quanto acabara de se apaixonar por aquele pau, em como aquela foda
estava tão gostosa, que não queria que ela acabasse nunca mais. Queria
xingar meia dúzia de palavrões, mas estava entrando num estado de torpor,
e era impossível dizer alguma coisa. A garganta estava seca e ele sequer se
lembrava de como usar as próprias cordas vocais.
O moreno então puxou a parte detrás dos joelhos do ruivo, trazendo o corpo
do alfa para grudar-se no seu, e então tomou-lhe os lábios, ao mesmo tempo
em que seu pênis duro se encaixou na entradinha gozada. E assim que o
penetrou, iniciou estocadas nervosas e urgentes.
Jungkook acordou com uma forte dor no estômago. Vazio era o que estava
sentindo naquele momento. O ácido em seu estômago o corroía, já que nos
três dias inteiros de cio, mal havia se alimentado. Quando ele e Jimin
finalmente paravam para comer alguma coisa, ou até para beber água, a
comida acabava sendo abandonada pela metade, já que seus corpos
entravam em combustão, quase que literalmente, com o calor da febre
subindo e os membros constantemente eretos e sensíveis. O cio era o
momento de acasalamento e apenas isso, de modo que ignorava a fome, a
dor, a sede, e qualquer outro tipo de necessidade biológica, apenas para se
saciar. Mas todo o descaso era sentido ao fim do período. O corpo inteiro
doía, ficando mole e fraco.
Assustou-se ao sentir algo peludo roçando em sua perna, mas durou apenas
um segundo, pois lembrou-se da gata.
— Bom dia, hyung — respondeu, um pouco sem jeito pelo estado em que
se encontrava sua casa.
— Não acredito que perdi o controle assim. Meus ruts são brutos, mas
nunca destruí tanto as coisas dessa forma. Acho que exagerei um pouco —
o moreno declarou, aparentando extrema chateação. Contudo, ao sentir a
gata peluda em suas pernas lhe pedindo carinho, seu semblante suavizou-se,
ao passo que se abaixou para acarinhar o bichano.
— Mesmo assim. Olha, Jungkook, arrume suas coisas. Ponha tudo o que
você precisar em uma mala. Você vai ficar lá em casa até arrumarmos seu
apartamento. E traga o gatinho também — declarou simplesmente.
Jeon arregalou os olhos. Ele havia escutado bem? Teria de morar um tempo
com o vizinho?
Mas então, o Park rapidamente lhe deu aquele olhar intenso de sempre,
entrando em um novo assunto.
Jungkook franziu o cenho. Não havia reparado. Bem, não era a primeira
vez, de qualquer modo. Quando Jimin tinha o enchido de chupões no carro,
na volta da The Cave, Jeon ficara um par de dias com manchinhas rosadas
na pele clara do pescoço.
O Park então deslizou suavemente as mãos até a bunda alheia e apertou de
levinho, mas o ruivo soltou um gemidinho dolorido e desaprovador.
— Me desculpe por isso, Kook-ah. Pelas marcas, pela casa. Quero dizer,
você certamente vai passar a apreciar as marcas, quase todo submisso gosta
delas, por trazerem memórias boas, mas... eu só irei fazê-las, quando você
me disser que gosta. Vou cuidar de você, sim? — disse dando um selinho
estalado na bochecha do ruivo, que suspirou em deleite. — Vem aqui —
ordenou, entrelaçando os dedos nos de Jungkook, puxando-o pelas mãos até
o quarto. — Deite-se — mandou.
— Nós não vamos transar, não se preocupe. Já disse que irei cuidar de você.
Aliás, essa é uma das regras no bdsm. Depois de uma sessão, o Dominador
deve cuidar do seu submisso, passar alguma loção calmante na pele dele,
nos locais onde ele tiver apanhado e coisas do gênero. Nós chamamos de
Aftercare. É um momento puro de cuidado, para com quem confiou os
limites de seu corpo à nós.
— Essa é uma pomada de assaduras — Jimin explicou. Sua voz estava tão
suave, que o ruivo sentia como se o som fizesse cócegas em sua pele. —
Irei passá-la em você, toda vez depois que transarmos, sim? Sua entrada
ficou bem vermelhinha, então a pomada irá ajudar com a dor e fará ela se
recuperar logo — finalizou, deslizando o creme com o dedo nas pregas
judiadas.
E pelo tom autoritário em sua voz, ainda que calmo, Jeon assimilou que
aquela era claramente uma ordem do dominador.
— Uh?
— Você... não vai achar estranho que eu fique na sua casa? Você disse que
uma vez tentou isso de morar junto com um submisso, mas não gostou... E
se... e se isso te fizer enjoar de mim? — perguntou com os olhinhos, que
haviam voltado ao tom negro natural, arregalados e temerosos.
— Não sei, não. O raciocínio aqui é lento, Jimin hyung... — disse bem
humorado, já mais tranquilo de não ter chateado o alfa com a coisa dos
arranhões.
— É claro que sim. Ser Dominador não me obriga a ser apenas ativo. Posso
ser passivo e ainda dominar. Passivos dominadores, são chamados de power
bottons — Jimin rebateu, o fitando curioso. — Se você sempre fica com
alfas, quer dizer que você nunca...?
— Mas não se anime muito, alfa... — Jimin falou, divertido. — Você será o
ativo, mas quem continua a mandar aqui, sou eu. Você não vai controlar
nada. Talvez eu até te amarre, para impedir que você me desobedeça —
terminou dando um toque brincalhão no queixo do ruivo, e voltando a catar
as roupas no armário.
— Me amarrar como fez ontem? Com a camisa? — o vermelho retrucou
com um sorriso de lado, cruzando os braços na frente do peito e mirando o
lúpus de cima abaixo.
[...]
— Esse primeiro quarto é o de hóspedes, não que eu receba muita gente pra
passar a noite dormindo — disse risonho. — Você poderá ficar nele, mas
não há um banheiro. O banheiro é nessa porta ao lado. — Jungkook ficou
um pouquinho aliviado. Estava se sentindo incomodado de ter que dividir o
quarto com Jimin, como se fossem um casal, afinal, não estavam
envolvidos romanticamente, embora seu coração desse fortes disparadas na
presença do alfa moreno. — A porta da frente é meu quarto. É uma suíte,
então tem um banheiro dentro. Logo, o banheiro ao lado do quarto é todo
seu, pode deixar seus cosméticos espalhados se quiser, mas não exagere na
bagunça, pivete — falou rindo, com os olhinhos se fechando em dois
risquinhos adoráveis.
No meio do quarto, havia algo que parecia uma maca de couro acolchoada,
e a parte debaixo dela era envolta em grades de ferro, como uma jaula. Jeon
levantou uma das sobrancelhas ao imaginar que Jimin já havia prendido
pessoas dentro dela, durante um pet play, certamente, já que nesse fetiche,
uma das pessoas se vestia e comportava-se como um animal, e o uso de
jaulas era comum, ele vira em suas pesquisas recentes. Sentiu-se levemente
incomodado... aquilo era... ciúmes outra vez? Preferia que fosse apenas
palpitação cardíaca.
— Na verdade não. Nunca tive tempo pra trazer submissos aqui. Estava
sempre no quartel, você sabe. Quando aquele sub morou comigo, não tinha
construído esse quarto ainda. Na verdade, construí apenas recentemente,
quando saí do exército.
— Mas ficar com a boca aberta assim, não faz a pessoa ficar babando sem
parar, como um bebê babão? — Jeon perguntou com uma careta.
— Hmn... você sabe que sim — Jeon responde em voz baixa e o moreno
aperta os olhos para si, descontente com a forma levemente rude de tê-lo
respondido. — Sim, Jimin-ssi — consertou quando notou a expressão
alheia.
— Não. Alguns, claro, são antigos. Mas a maior parte são acessórios novos,
por uma questão de higiene. Não vou usar um estimulador de próstata em
você, que já tenha usado em outra pessoa, por exemplo. Seria anti higiênico
e irresponsável. Já alguns itens, como as palmatórias, por exemplo, já usei
com outras pessoas, pois eles não tem contatos com áreas íntimas ou
sangue. Mas sempre os esterilizo apropriadamente, então não se preocupe.
— Está dizendo então, que comprou boa parte pra... usar comigo? —
questionou incerto.
— É claro — o moreno respondeu com um sorriso doce. Tão doce que algo
no peito do ruivinho, derreteu.
— Você não vai usar esse negócio de choque em mim, né? — indagou
assustado.
Jungkook observou que no último canto do quarto, havia uma cama maior
que uma de solteiro, mas não tão larga quanto a de casal, que possuía dossel
de ferro. Estava bem forrada, com dois travesseiros vermelhos e era só.
Nada muito floreado. Certamente era uma cama apenas para sexo. Engoliu
em seco, incomodado novamente, ao pensar em Jimin transando com outra
pessoa, mais especificamente com o tal Taemin. Mas se o próprio havia
declarado que a Masmorra era recente, então talvez ele não houvesse levado
ninguém ali ainda. E aquele era um grande talvez...
Contudo, Jimin faria o garoto desejar aquilo e não apenas fazer para agradá-
lo, porque aí não seria correto, moralmente falando. Muitos submissos,
mesmo sem querer realizar certas práticas, acabam as aceitando para poder
agradar o Dom. Mas o moreno não gostava das coisas daquela forma, não
queria seu submisso fazendo algo contra a sua vontade e fazendo com que o
prazer, ao invés de mútuo, fosse apenas unilateral.
— Seria desrespeitoso sim, mas o negócio é que naquela Cena, tudo foi
previamente acordado. — Jimin respondeu tranquilo. — Isso porque, o
Yoongi tem um enorme fetiche de ser xingado. É um Degradee. Ele é como
um oposto meu. Enquanto eu gosto de ser elogiado, Yoongi gosta de ser
afrontado, não só com xingamentos. A verdade é que Yoongi é um puta
Domador de brats, ele só não se nomeia desse modo.
— Isso é porque ele nem sabia. A real é que o Yoongi sempre gostou muito
da personalidade daquele beta, mas Hoseok era submisso demais no sexo.
Então pro Yoongi, como um Tamer, as coisas ficavam sem graça demais.
Ele sempre evita ficar com submissos perfeitos, prefere os switchers,
porque um switcher tem uma parte da natureza dominadora e isso
consequentemente se sobressai quando ele tenta se submeter, ou seja, uma
parte dos switchers, quando submissos, acabam sendo malcriados. Mas o
Hoseok não. Ele agia como o submisso perfeito. Ele faz parte da outra
parcela de switchers, que justamente por saberem bem como é estar no
outro lado da relação, se portam perfeitamente bem. Por isso Yoongi acabou
deixando ele pelo Taehyung.
Se dando conta dos absurdos que estava pensando, e no quão idiota devia
estar parecendo ao encarar o ruivo, o ex-tenente aprumou-se e voltou a
falar, todo "negócios":
— Durante nosso cio, acho que você pôde notar alguns fetiches meus —
falou. Não estava ali pra ficar falando sobre Jung Hoseok, era claro. Até
porque, sentia um certo ciúmes de seu novo sub com aquele sujeito. O beta
era um bom Dominador e o Park sabia disso. Não queria pensar na
possibilidade de perder seu novo brinquedinho para o outro. — Me diga
quais fetiches você acha que tenho, pela sua observação comigo.
— Humn... Além de ser arranhado, me parece que você gosta muito que
implorem por você — Jeon respondeu astuto.
Tinha algum minuto do dia em que aquele sujeito não fosse seduzi-lo
daquele jeito? Jeon se perguntava.
Se fosse para ter Jimin cuidando dele daquela forma, faria o que o outro
quisesse para agradá-lo. Até mesmo beijaria seu pés. Se bem que, aquela
era uma prática comum de um submisso, beijar os pés de seu Dom, e nem
precisava ter um fetiche em Podolatria pra isso.
Não que Jungkook tivesse fetiche por pés, mas pensando na sensação de
ajoelhar-se no chão e, literalmente, beijar os pés de Jimin, davam-lhe uma
impressão gostosa, de satisfação. Riu internamente. Estava se saindo um
baita submisso. Hoseok sempre estivera certo, era claro agora. Muito claro.
Assim como o fato de que estava ficando caidinho por Park Jimin. E aquilo
talvez fosse um grande problema.
"É só sexo, Jungkook" repetiu para si mesmo. Talvez assim seu cérebro se
convencesse.
Eu ia cortar esse capítulo aí, mas... fico ansiosa pros acontecimentos. E
hey, você aí, não tá me seguindo por quê? Que vacilation tour é essa?
Me segue aí, namoral, não seja ingrato.
A quem fez essa capinha linda, muito obrigada *u* avisa aqui, pq eu
perdi o user ;-;
15| purple pride
Galero, vi que alguns de vocês ficaram chocados com a citação sobre o
Jimin já ter sido noivo de alguém, como se fosse informação nova
euhheuuheuhe aí pra quem esqueceu, queria lembrar que essa informação
já tinha sido dada no capítulo "Hotter than hell", quando a gente entra na
mente do Jimin, e tem toda a explicação sobre ele não querer se atrever a
iniciar numa relação com o Jk, e que por isso ele passa a evitar o alfinha a
partir dali. Quem não lembra, vai lá dar uma relida, é o capítulo que rolou
a primeira pegação deles.
Ignorou. Nada nem ninguém o tiraria de seu soninho confortável. Aliás, sua
mente nem mesmo conseguia assimilar o que diabos Park Jimin fazia ali,
mas na realidade já estava acostumado a ter o outro alfa o acordando, após
os três dias do cio. Contudo, o tecido quentinho fora arrancado de seu
corpo, fazendo-o franzir o cenho, incomodado.
Jimin sentiu algo em seu estômago dar uma guinada e conteve a vontade
suspirar. Por que infernos esse alfa tinha que deixá-lo tão... arriado? Sua
cabeça estava lhe pregando peças, aquilo tudo estava indo rápido demais e
não era isso que queria. Não teria uma relação romântica com o Jeon, ele
não deveria ser diferente dos outros submissos que já tivera. E sequer
haviam começado a praticar bdsm, apenas haviam explorado sutilmente
alguns fetiches, como quando amarrara os pulsos do garoto, ou quando o
fizera sentir um pouco de medo, provando do tesão que a adrenalina no
sangue o causaria.
Entretanto, admirar Jeon Jungkook como uma jóia rara, não o deixava
incomodado, apenas apreensivo. Jimin não era exatamente de ter medo de
sentimentos, somente não os tinha mais há muito tempo, já que após o
rompimento de seu noivado, anos atrás com o beta Dong Taeyang, ficara
temeroso quanto a entregar-se para alguém. Não era medo de sentir, mas
sim de decepcionar-se, de modo que sua mente o impossibilitara de sentir
qualquer coisa mais forte por qualquer pessoa. Criava sim, um carinho por
seus submissos, mas era algo que apagava tão rápido quanto se acendia,
assim como a chama de uma vela em meio à umidade. Não que passasse a
odiá-los, mas era como se as coisas perdessem a magia após um par de
meses. Até mesmo o sexo tornava-se sem graça. E desse jeito, nenhum
submisso durava tanto em uma relação consigo, e aquilo para si era
completamente normal. Vivia feliz desse modo, tranquilo, sem sentimentos
o sufocando e lhe tirando o controle.
— Eu sou seu Dominador, devo estabelecer seus horários para que você
fique disciplinado... — respondeu.
Jungkook então abriu bem um dos olhos, mantendo o outro ainda fechado,
sem desfazer a carranca. Odiava ser acordado. Odiava com todas as suas
forças.
— Até onde entendi, nossa relação não se estende tanto assim. Eu não gosto
de ser acordado, nem de ter meus horários controlados, hyung. Aí já é
demais, isso me deixa mal humorado...
O Park deu uma risadinha, mas não tinha gostado muito da resposta. De
fato, não haviam acordado em uma relação de total troca de poder, para que
delimitasse os horários do mais novo, contudo, morando na mesma casa,
ainda que temporariamente, seria necessário que tivessem horários iguais.
— Oh... — Jeon grunhiu, entendendo. — Tudo bem... Mas olha, não tem
como me acordar um pouquinho mais tarde não? Eu trabalho até meia-
noite, se acordar tão cedo assim, vou ficar destruído... — disse com um
biquinho.
Aliás, era assim que parte dos casamentos acabavam, certo? Ouvira até
mesmo na tevê, sobre o caso de um homem que processou a esposa, por ela
tê-lo enganado, acordando antes dele todos os dias para maquiar-se e
disfarçar a falta de beleza no rosto. E o sujeito só descobriu, porque quando
tiveram o primeiro filho, a criança nasceu desesperadoramente horrível. É
claro, aquela era uma manchete sensacionalista, mas sabia que a cultura em
seu continente chegava nesses níveis absurdos.
Até o dia anterior, as marcas não estavam tão fortes, mas o normal era que
piorassem, para atingir o pico da coloração arroxeada e começarem a
desaparecer, deixando manchas amareladas pela pele. Olhou novamente
para o espelho e sorriu. Aquelas marcas estavam-no fazendo sentir-se
satisfeito... até que entendeu que o sentimento estranho que invadia seu
corpo, era o de orgulho. As marcas faziam uma forte ligação entre ele e
Jimin, e lhe davam um sentimento de posse em relação ao outro. De
pertencer a ele. E aquilo o deixava praticamente derretido.
Quando saiu do chuveiro, todo limpinho e cheiroso, foi até o quarto e fez o
que tinha que fazer, descendo vestido até a cozinha, com os fios úmidos.
Seus cabelos estavam mais claros que de costume, num tom mais rosado de
que vermelho, o tonalizante colorido desbotando.
Achava a coisa mais estranha descer aqueles degraus transparentes, que lhe
davam a impressão de que cairia no chão a qualquer momento. Jimin devia
ter realmente um bom dinheiro. Mas já era de se esperar, era um Tenente-
Coronel da aeronáutica, anteriormente. E militares ganhavam muito bem.
— Oh... me desculpe. É que está sem açúcar... Já disse que prefiro coisas
não muito doces... com exceção de você — terminou com uma piscadinha;
o que fez Jungkook sorrir de volta para ele, aceitando o flerte. — Tome,
aqui está o adoçante — disse lhe entregando o frasquinho transparente.
Sem se abalar pelo olhar minucioso do outro sobre si, Jungkook puxou uma
conversa:
— Não se preocupe com isso, Jungkook-ah... eu achei uma graça. Você fica
muito fofinho descabelado, parece um fósforo. Talvez você seja a pequena
luz em minha escuridão — falou comicamente, com uma mão no peito,
numa péssima encenação de filme romântico.
— Yah! — bradou o outro, com uma bochecha mais inchada que a outra,
por conta do alimento ali dentro, ao mesmo tempo em que tentava não rir
das gracinhas do alfa.
Uma coisa que sabia, era que Park Jimin o fazia rir tanto quanto ele fazia o
lúpus sorrir também. Era simplesmente incrível como se davam bem desde
o começo.
O moreno riu alto, cobrindo a boca e jogando a cabeça para trás, como
sempre fazia, mas dessa vez ainda mais solto que de costume. A presença
constante de Jungkook, o fazia relaxar e mostrar mais de sua verdadeira
personalidade, agora sem medo algum de que vizinho se aproximasse de si
e viesse a descobrir sobre suas práticas incomuns. Já não tinham mais
segredos... Com exceção de uma coisa. Mas esta, continuaria mantendo em
segredo, e rezaria para que o garoto jamais descobrisse, ainda que não
estivesse fazendo exatamente algo errado. Apenas queria evitar um possível
conflito. Submissos costumavam ser delicados nessas questões e não sabia
se o Jeon era exatamente ciumento, todavia já tinha notado algumas
características no alfa, que indicavam que sim.
O de cabelos nem mais tão cereja assim sorriu de lado e deu uma rápida
sacudida de cabeça, algo que Jimin notou ser uma mania do rapaz, ao longo
do tempo, assim como era uma mania sua jogar os cabelos para trás, mesmo
sabendo que voltariam a cair no mesmo lugar.
Capturou mais uma torrada e então a levou em direção aos lábios do mais
novo, ao mesmo tempo que este estendia o garfo cheio de ovos para si.
Confusos, cada um abocanhou a comida oferecida pelo outro, meio
desengonçadamente, mas depois riram cúmplices, se fitando. Era muito
fácil estarem juntos; tanto o avermelhado, quanto o mais velho, já haviam
reparado na facilidade e suavidade que tinham em se relacionar
tranquilamente quando estavam na companhia um do outro.
Então o lúpus deu mais uma bebericada na bebida fumegante, e pegou seu
aparelho celular e as chaves no balcão, enfiando-os dentro do bolso da calça
social preta. Deu a volta e parou ao lado do ruivo, segurando seu rosto
delicadamente entre os dedos cheios de anéis prateados, para então selar
carinhosamente sua testa, de forma extremamente suave e gentil.
Automaticamente Jeon fechou os olhos, aproveitando o carinho, para então
deixar um pequeno bico se formar em seus lábios, quando o lúpus se
afastou de si.
[...]
Jimin estava frustrado. Se soubesse que aquela entrevista era pra isso, não
teria se dado ao trabalho nem de sair de casa. Enquanto dirigia, queria bater
com a cara no volante, de tanta raiva. Piloto de avião? Mesmo? Nem
fodendo. Se fosse trabalhar assim, viveria viajando todo o tempo. E uma
coisa era certa: não queria mais viver longe de casa. Principalmente agora
que tinha um motivo e tanto para voltar. E esse motivo tinha cabelos
vermelhos e cheiro doce.
Não que o alfa meio ômega fosse algo com tamanha importância em sua
vida assim, a ponto de recusar um trabalho por ele, embora não apreciasse
de modo algum a ideia de separar-se do mesmo agora. Todavia, Jimin
estava cansado. Fizera parte da Aeronáutica por toda a sua vida,
praticamente. E era um trabalho pesado. Então não tinha sido de todo ruim,
ter sido expulso agora. Contudo, uma exoneração não era o mesmo que uma
aposentadoria compulsória. Numa dessas, continuaria a receber algum
dinheiro. Mas em seu caso, era apenas mais um desempregado e sem fonte
de renda. Embora ainda tivesse um bocado de direito guardado, ele não
duraria pra sempre.
Repousou a destra na testa suada do mais novo, notando o quão quente ele
estava, e então estalou a língua no céu da boca. Jeon estava obviamente
com febre, o que significava que estava doente. Não era exatamente comum
que os seres da Nova Raça ficassem doentes assim. Teria que levá-lo ao
médico, mas deixaria para o fazer quando o mais novo acordasse. Então
apenas tirou os anéis e pulseiras das mãos, depositando-os na cômoda do
quarto, em seguida tirando também suas roupas, permanecendo de cueca,
para então deitar-se atrás de Jungkook, sem abraçá-lo, e aí adormecer ao
lado dele, para vigiá-lo.
Mais tarde, sentiu o garoto se remexer no colchão, enquanto tossia, o que o
fez despertar e perguntar como ele estava. Após uma rápida conversa,
acabou o levando ao hospital mais próximo, onde descobriram tratar-se
apenas de uma gripe. Mas não era nada com o que tivessem que se
preocupar. Apenas teria que lembrar ao ruivinho, os horários certos de
tomar os remédios, e entre cinco dias e uma semana, ele estaria curado... O
que Jimin fez com todo o gosto.
E foi aí que notou o quão manhoso Jeon Jungkook poderia ficar, mais do
que imaginara naqueles três anos em que o conhecia. A fala manhosa e
fanha, por conta das dores e nariz entupido, eram adoráveis. Quem ficava
charmoso até mesmo todo congestionado, com as narinas vermelhas
escorrendo catarro? O mais velho quis se bater. Estava caindo fácil na
ladainha daquele abusado. E o mais novo era bastante sacana, se
aproveitando de todas as situações para manter Jimin 24h consigo, onde
apenas se separavam para dormirem, cada um em seu quarto.
Não haviam motivos para que dormissem juntos, não eram um casal, nem
estavam declaradamente apaixonados, embora atração e admiração mútuas
fossem bem fortes e aparentes. Quando dormiram juntos na casa do Jeon,
fora uma exceção, algo propício ao momento. Estavam em cio, os dois. Os
corpos necessitavam do calor alheio, queriam estar perto todo o tempo, mas
havia toda uma necessidade sexual. O que não se aplicava agora,
principalmente em se tratando de um Jungkook catarrento e que roncava.
E roncava muito!
Então respirando fundo, decidiu que resolveria sobre o tal segredo que
escondia de seu, oficialmente, submisso. Não deixaria que nada se pusesse
entre os dois agora. Não sabia se o de cabelos cereja também teria a vontade
de ficar só com ele, mas uma coisa era certa: Não queria estar numa relação
aberta. Fosse dentro ou fora do bdsm, Park Jimin queria ficar apenas com
Jeon Jungkook e ninguém mais. O problema seria resolver uma certa
situação alheia ao de cabelos cereja, para conseguir isso.
Quando abriu a porta do quarto, viu que a de Jimin estava aberta também,
mas não pode parar para verificar o motivo. Apenas desceu as escadas
transparentes, chamando pela gatinha.
— Psiiiu, psiuuu, psiuu... Minzy! Cadê você, nenê? Vem pro papai, vem! —
chamou.
Mas não obteve resposta. Começou a procurar pela casa toda, ficando tenso.
— Tchu, tchu, tchu... Minzy! — chamou outra vez, estalando os dedos
estendidos pra frente.
O Jeon, que estava com o corpo levemente curvado para enxergar embaixo
dos móveis, aprumou-se e então volveu-se para o lúpus, tendo um biquinho
contrariado no rosto.
— O que importa é que minha filha atenda ao chamado. Você não ouviu
aqueles miados altos na rua ainda agora, hyung? E se for a Minzy? E se
alguém a machucou, uh? Me ajude a achá-la!
Jimin estalou a língua no céu da boca, jogando os cabelos pra trás, com uma
expressão matreira na face, como se soubesse de algo.
O de genes ômegas ainda não tinha visto bem a garagem, apenas sabia que
o Park tinha um carro preto, pois este o estacionava algumas vezes na porta
da frente, deixando-o na calçada. Contudo, o que o lúpus queria mostrá-lo,
não estava na garagem, mas sim, fora dela, na rua de trás.
Assim que o mais velho abriu o portão automático que dava pra rua, o ar
frio os pegou, fazendo Jeon se encolher de frio e bater os dentes. O chão
começava a ficar branquinho, por conta da fraca neve que caía em suaves
flocos no chão.
O rosado observava maravilhado a neve nas calçadas, quando a voz de
Jimin o despertou, tendo a mão macia ainda colada na sua. E aquilo
estranhamente o dava uma sensação de paz... De pertencer a alguém. De
estar no lugar certo e com a pessoa certa. Era algo realmente novo para o
mais novo, aquele sentimento. Jamais sentira-se parte de coisa alguma
antes, sempre sentiu-se à margem, diferente de todos.
— Eu queria te trazer aqui fora, para vermos juntos a primeira neve cair...
— o moreno disse com a voz doce, o encarando com um sorriso meigo. Até
seu rosto se transformar numa risadinha divertida. — Mas parece que sua
gata decidiu comemorar antes de mim... — disse apontando pro muro da
casa ao lado.
Mas Jimin deu uma risada alta, correndo atrás dele, quase chorando de rir, e
segurou o mais alto pela cintura, este que começou a se debater fracamente,
teimando em ir atrás do pet.
Jimin, à esta altura, tinha tirado os braços de sua cintura, para envolvê-lo
pelos ombros, ficando na ponta dos pés para ganhar uma altura semelhante
a do ruivo, e poder enxergar por cima do tronco dele.
— Jungkook-ah, chega disso. Não adianta mais negar, veja bem... — disse
encostando o queixo em seu ombro direito. — Minzy está copulando com
uma gata fêmea. E do jeito que eles estão fazendo, Minzy é definitivamente
um menino hétero, com um pênis. Você deve aceitá-lo como ele é, Kook-ah
— declarou entrando na brincadeira.
— É menina. Tem três cores, bebê. É raríssimo que um gato macho tenha 3
cores, majoritariamente só as fêmeas acabam sendo assim.
O Park deu de ombros e sorriu ainda mais, puxando Jungkook pela cintura,
para que entrassem de volta na casa.
— Você já disse que sabia que ele era macho. Por que não o castrou? —
perguntou ainda risonho.
— Não, não, hyung. Não posso deixar que faça isso — disse sem jeito. —
Você já vai ter que consertar as coisas lá no meu apartamento, e são muitos
gastos, eu...
— Mas eu não tenho como pagar isso, hyung... a não ser que eu pague em
parcelas — disse o ruivo seriamente. — Não me sobra muito do salário,
depois que pago as contas e o aluguel... — murmurou. — Mas posso me
comprometer a pagar aos pouquinhos e... — mas sua voz morreu, quando
viu que Jimin aproximara-se sorrateiramente de si, parando quase colado ao
seu corpo.
"Cala a boca, Jimin..." ouviu a voz do ruivo lá de fora. "Já pra casa, Minzy!
Você fez o suficiente por hoje!" ouviu um barulho agitado, como passos
correndo e então um gritinho do Jeon. Então, preocupado, o Park correu
para o lado de fora também. Antes que saísse da garagem, viu a gata — ou
melhor, gato — correr pela porta aberta, passando por entre suas pernas e
entrando de volta na casa.
O Park já começara a dar passos para alcançar o outro alfa no chão, mas se
travou bruscamente, ao ouvir o xingamento. Cruzou o braços e arqueou a
sobrancelha.
— Você sabe que não é assim pede, Kook-ah — resmungou. — Peça com
jeitinho, que o hyung ajuda.
O mais alto bufou, desistindo de tentar levantar-se e então sentou-se de
bunda, cansado. Olhou o lúpus parado ali em sua frente, vendo o corpo
musculoso e menor que o seu, totalmente imponente, usando apenas uma
blusa listrada de mangas e uma calça de moletom preta de alguma marca
esportiva cara. Não importava Jimin ser menor que ele ou ter uma aparência
mais delicada. O sujeito simplesmente tinha um ar de autoridade inegável.
Enquanto Jungkook era quem parecia um bobão.
O Park tentou permanecer sério. Deus sabe que tentou. Mas Jungkook era
um filho da puta, engraçado pra cacete. "Estou com friozinho na bunda" —
quem fala isso seriamente?
— Ainda bem que é um roupão... Não deve ter molhado sua roupa. Você
está doente, não pode se expor assim... — Então fitou Jeon de cima à baixo.
— Porque você está de roupão mesmo?
Entraram novamente na casa, dessa vez com o Park trancando a porta com a
chave, tendo a certeza de que, se o gato estava lá dentro, ninguém mais
precisava ir lá fora. Virando-se de frente pra Jungkook, o encarou parado no
pé da escada. Ele parecia meio perdido, e Jimin logo entendeu o porquê. Ele
mesmo estava assim também.
— Perdeu o sono, né? — perguntou ao mais novo.
— É...
O garoto suspirou. Era surreal como Park Jimin tinha a capacidade de entrar
naquele modo sedutor, em um piscar de olhos. E aquele talento, não só
deixava o ruivo intrigado, como também fazia seu coração palpitar. O
baixinho o tinha nas mãos e nem sabia.
Jeon não tinha vergonha alguma do Park no sexo; o de cabelos cereja era
tão safado quanto o outro e amava uma provocação. Mas fora daquele
cenário, qualquer frase ou movimentação de Jimin, deixavam-no
desnorteado. Estava assustado com a possibilidade de seus sentimentos
crescentes pelo alfa lúpus. E mais assustado ainda, com a possibilidade de
ser rejeitado por ele.
Sem querer acordar o Park, então, Jungkook acabou dormindo daquele jeito
mesmo. Com a cabeça jogada no estofado, e o homem que o havia
enfeitiçado, descansando sobre si.
[...]
Buscou Jimin com os olhos, vendo a cabeleira negra aparecendo por cima
da porta da geladeira aberta. Levantou sorrateiramente para ir até o
banheiro, arrumando os cabelos, escovando os dentes e tornando-se mais
apresentável.
O mais velho piscou os olhos e sorriu novamente, mas lhe deu um olhar
estranho. Nada reprovador, era apenas um olhar diferente, que Jeon não
soube identificar o significado.
— Obrigado, Kook-ah.
— Você me abraçou e puxou minha cabeça pro seu peito. Ficamos como
um casal de coalas — respondeu rindo, o Park. — Você disse: "Dorme
comigo aqui, hyungie?" e então eu fiquei... — suspirou. — É um pouco
difícil dizer não, pra alguém tão fofo... — disse para propositalmente
deixar Jeon sem graça.
[...]
Quando Jimin virou a esquina de sua rua, a primeira coisa que viu, foi um
narigudo de cabelos vermelho-fogo brilhando sob o sol, parecendo uma
tocha humana, e uma bola de pelos circulando entre suas pernas, enquanto
miava pedindo-lhe atenção. Riu-se com o pensamento, e quando
aproximou-se o segurou por trás, sentindo o mais alto dar um pulinho
assustado. Então disse com a voz repreensiva:
— O que você está fazendo aqui fora? Pensei ter dito pra que você não
saísse, Jeon Jungkook. Você está doente.
— Você não joga o lixo fora nem na sua casa, não esqueça que já vi a
bagunça do seu apartamento... — rebateu.
— Você ainda não está cem por centro, Jungkook. Só está dizendo isso
porque não quer que eu te acorde às 6h da manhã pra tomar o antibiótico...
— Eu já falei que estou bem, não 'tô nem tossindo mais — teimou.
Jimin revirou os olhos. Jungkook era tão teimosinho e birrento. Era mesmo
um bebê.
— Sim, hyung. É quando um de nós age como mais novo do que realmente
é, se portando como um bebê de fraldas, ou como uma criancinha de doze
anos que brinca de amarelinha, ou mesmo como um adolescente, em roupas
de colegial.
— Então, você quer que eu me fantasie de bebê, mas daí a gente não transa?
— Não é só a fantasia, nós vamos interpretar papéis. No age play, o casal
finge ter uma diferença de idade grande, ou às vezes eles tem mesmo,
apenas reforçam as características do mais velho e do mais novo, no play
deles. O que se porta como mais velho, geralmente é o Daddy ou Mommy,
enquanto que o sub, que geralmente faz o papel do mais novo, é o Baby boy
ou Baby girl. Mas ao invés de pai, posso fingir ser o seu padrasto ou seu
tutor, por exemplo. A ideia é que eu esteja em posição de responsável por
cuidar de você. Então você poderá me chamar apenas de Jimin hyung e não
de Daddy.
— O sub sempre vai ser o mais novo e o Dom sempre terá o papel de mais
velho? — Indagou o alfa curioso.
— É o que faz mais sentido. Eu gosto de cuidar dos meus sub's, de ajudar
no banho, lavando os cabelos, ou fazendo a comida, aplicando loção
calmante na pele depois de um spanking e todo o aftercare, enfim, coisas
sutis, como fiz com você. Mas pode ser que o dominador queira ser servido
pelo sub, então o submisso pode fazer o papel de mãe, por exemplo, dando
comida pro Dom — disse rindo. — Então, nesse caso, o sub, mesmo
interpretando o papel de mais velho, continuaria submisso. É mais
incomum, até porque o Age Play é umas das vertentes da Disciplina.
— Acho que entendi.... Então a gente meio que já está praticando isso
então, não é? Você cuida bastante de mim...
O rapaz assentiu, não falando nada por estar com a boca cheia, mastigando
seu cereal. Jimin então caminhou até ele e passou a mão nos fios vermelhos
desbotados e úmidos, já que o maior havia acabado de tomar banho.
— Tem gente que faz isso? A coisa das fraldas e dos brinquedos? Tipo
chupeta e tudo? — Jungkook indagou arregalando os olhos e abrindo a boca
cheia de comida. O Park riu e empurrou seu queixo para que o garoto a
fechasse.
— Sim. E você vai usar uma chupeta e brincar com seus carrinhos, porque
eu acho fofinho...
— Não é aleijado, mas é meu bebê... — o menor rebateu com a voz fofa. —
Por favor... — disse roçando o nariz no pescoço do outro. — Por favor...
Deixa eu cuidar de você, hmn?
— Mas não tem ninguém vendo... Por favorzinho, bebê... Deixa o seu Dom
te alimentar direitinho... Prometo que não te obrigo mais a tomar o
remédio...
Ah, mas que bosta. O lúpus estava o manipulando com aquela vozinha fina
de cachorro pidão e Jungkook sabia disso. Mas o que poderia fazer? O
moreno nunca agia tão manhoso assim consigo e vê-lo agindo daquele
modo era uma novidade. Jeon o daria o mundo se pudesse.
O Park riu contido e mordeu o lábio. O vizinho era esperto, já devia ter
notado que ele o manipularia na base da manha, então o garoto estava
fazendo o mesmo consigo, tinha aprendido rápido. Dois manipuladores
juntos, ou daria em uma grande confusão, ou seria absurdamente perfeito.
Bastava aguardar para ver.
— Humn... Tudo bem. Você pode comer o que quiser — disse o moreno,
dando outra colherada do alimento ao submisso e depositando um selar
agora na cabeça de fios coloridos.
E foi assim que Jungkook percebeu que, à cada colherada que aceitava,
Jimin depositava um beijinho casto em alguma parte de seu rosto, ou
acariciava sua cintura ou sua orelha.
Então era assim? Toda vez que obedecesse, o lúpus lhe daria um carinho?
Ora, se era assim, então deveria obedecer mais vezes. Quando terminou de
mastigar a última porção do cereal, ele mesmo deu um beijinho estalado no
pescoço do moreno, que riu de maneira fofa. E foi aí que Jeon inalou um
cheiro diferente vindo do alfa.
— Sim, eu... Espere aí, como você conhece o cheiro desse ômega? —
Indagou o Park, confuso.
— Como você sabe que o alfa que encontrei foi o Taemin? — perguntou.
— Não precisa ficar tenso assim, Jimin-ssi. Eu sei que o Taemin é o alfa
com quem você passa seus cios.
E outra vez o moreno se viu arregalando tanto os olhos pequenos, que estes
quase pareciam saltar da cavidade ocular. Esse garoto tinha se transformado
na porra do Sherlock Holmes e ele não estava sabendo?
— Como você..?
— Eu meio que... ouvi sem querer, você falando no telefone com ele,
aquele dia lá em casa... — o ruivo declarou sem jeito.
— Não é assim, hyung. Você sabe que minha casa não é exatamente
espaçosa. Em qualquer canto dali, eu poderia escutá-lo. Não é como se você
falasse baixo também — alfinetou, tentando jogar a culpa no outro.
O Park riu, sacudindo a cabeça. Aquele garoto era um cara de pau. Mas
realmente, a casa era pequena.
— Em que momento você assimilou que o Tetê era o alfa que me ajudava
nos cios? — Perguntou para ter certeza. Porque do jeito que as coisas
estavam, era capaz de Jeon até mesmo saber sobre a parte disso que ele
escondia.
— Eu não sei. Te incomoda que eu seja amigo de Hoseok, sendo que ele
também era meu parceiro de cio?
— Sim. É claro que me incomoda. Mas não devo, não posso e não quero
exigir que você se afaste dele. Primeiro porque isso seria um abuso, não é
deste modo que terei uma relação com você. Eu mando em você sim, mas...
"na cama" — brincou pra descontrair. — Exigir tal coisa, não seria te
domar, seria te forçar. Existe uma linha tênue entre dominar e abusar. E eu
jamais faria isso, Jungkook-ah.
O alfa de cabelos coloridos então abriu um sorriso enorme. O alfa lúpus
parecia a porra de um príncipe encantado, todo perfeito, maduro e sensato.
Ao contrário dele mesmo, que era um bobalhão e que tinha ciúmes até da
própria sombra; mas pelo menos tinha ciência de que quando uma pessoa
queria trair outra, não havia nada que se pudesse fazer para impedir, ela o
faria e fim. De qualquer modo, não era como se eles tivessem um
relacionamento amoroso. Tinham passado o cio juntos, e agora formariam
uma relação de Dominador e submisso. Não era bem um namoro, era algo
explicitamente diferente, ligado à sexo e nada além. Então, ainda com o
sorriso no rosto, continuou fitando Jimin, sem dizer nada.
O desbotado sorriu tão aberto que sentiu sua boca quase se rasgando nos
cantinhos.
— Isso é porque sei me controlar. Não acho certo agir como um idiota,
dando crises e tudo o mais. Mas é claro, nós devemos agir de forma
respeitosa um com o outro. Não quero que você sinta ciúmes ao me ver com
alguém e acabe indo flertar com outra pessoa para se vingar, do mesmo
modo que não farei com você. Quando eu estiver conversando com alguém,
na The Cave, por exemplo, e você se sentir ameaçado... Não precisa se
sentir incomodado, você pode apenas chegar perto de mim, me abraçar e
exibir sua coleira.
— Whoa. Eu achei que você sabia tudo, já que estava usando uma lá na The
Cave. O que você sabe sobre elas?
— Hope hyung me disse que as coleiras são tipo alianças de casamento, que
elas demonstram que há uma relação entre um sub e um Dom.
Jungkook sentiu o rosto queimar, ficando vermelho ele também. Tinha dito
alguma coisa muito errada e agora o outro estava rindo da sua cara?
— Você gosta tanto de mim assim? Por isso quer casar comigo? — o
moreno questionou com a voz rouca, porém ainda muito brincalhona, em
clara provocação ao alfa.
— Eu não! — Respondeu rápido. — Sou muito novo pra casar, não surte,
Park Jimin. Não sou nenhum carente.
Era sim.
O Park virou a cabeça pra trás, enquanto explodia numa nova gargalhada.
— Oh, minha nossa! — disse alto. — Você é tão fofo! Jeon Jungkook, você
é a coisa mais bonitinha que já vi na vida — terminou correndo em direção
ao garoto, com as mãos estendidas para apertar suas bochechas outra vez.
Mas o de cabelos cereja foi rápido em dar a volta na bancada, fugindo do
alfa.
— Você está me deixando com vergonha, hyung, pare com isso! — bradou.
E foi necessária apenas essa frase, para que o dominador murchasse como
uma rosa. Estava se abrindo tão rápido para ele, agindo da maneira meiga e
brincalhona que agia com aqueles mais íntimos, que se esquecera de que era
sempre tão misterioso com o garoto e ele poderia estranhar aquela mudança
brusca em sua personalidade. E ainda havia uma enorme possibilidade de
que Jungkook talvez gostasse dele sendo mais distante e evasivo. Pelo
menos era o que ele pensava. Então deixou a postura ereta e alisou a própria
camisa, desamassando um amassado que sequer existia ali, e jogou a franja
para trás, caminhando de volta para a pia, para dar continuidade ao kimchi,
sem dizer uma palavra.
— Jimin-ah...
Com ninguém.
No capítulo anterior, Jimin deixou claro que não seria "pai" do JK; eles
não chegaram a definir qual o parentesco simulariam no play. Sendo assim,
o Age Play que vai rolar não é daddy kink exatamente, mas essa é apenas
uma tecnicalidade.
Boa leitura.
Já fazia um punhado de dias que Jungkook não via o Park direito. Desde o
episódio na cozinha, o mais velho saía de casa em busca de um novo
emprego e largava Jeon sozinho. O que o deixava bravo não com o menor,
mas consigo mesmo. Tinha sido um vacilo e tanto, criticar o lúpus, mesmo
que sem querer, por ter agido de forma brincalhona, totalmente oposta à sua
personalidade séria usual. E é claro que aquilo fez com que o lúpus se
retraísse novamente, voltando para dentro de sua "casca". Não deixava de
dirigir à palavra a Jeon, tampouco tratava-o mal. Todavia, falava apenas o
básico, fugindo sempre de qualquer interação mais profunda. Basicamente,
Jimin voltara à sua típica personalidade evasiva.
Aquilo era uma punição? Um castigo? Jungkook não sabia. Aliás, sabia que
os dois não queriam dizer exatamente a mesma coisa. De acordo com tudo
o que o lúpus havia lhe ensinado, aparentemente um seria prazeroso e o
outro doloroso, e não necessariamente a dor seria física.
Nos primeiros dias, principalmente pelo mais novo estar doente, o moreno
dormia no quarto de hóspedes, junto a ele. Mas depois do desentendimento
na cozinha, o alfa lúpus passara a dormir em seu próprio quarto, sem dar
nenhuma explicação sobre isso. Não que ela fosse necessária, estava óbvio
o motivo.
Até que, subitamente, lembrou-se de que a resposta estava bem ali, na sua
cara: o tal age play.
Jimin tinha combinado que esta seria a primeira brincadeira deles, e que não
teria conotação sexual alguma. O rapaz falara até mesmo sobre a idade que
Jungkook poderia fingir ter, que era a de três anos, aproximadamente. Um
bebê grande.
Então o ruivo se apressou em abrir o notebook, pela quarta vez naquele dia,
para pesquisar sobre como iniciar a prática, o que seria necessário, as
vestimentas, o modo como deveria se portar e tudo o mais. Queria
surpreender seu Dom. Mais do que tudo, queria agradá-lo. Estava
envergonhado pelo que fizera, ainda que não parecesse nada demais,
realmente.
— Eca... Assim não quero não... — murmurou com uma careta. A parte do
leite saindo dos seios da Domme, lhe incomodava, não gostou.
Para papéis onde a regressão mental fosse de um bebê na faixa de até dois
anos, apelidava-se o bottom de Baby. Para regressões de três a dez anos,
rotulava-se Little. E aqueles que preferiam regredirem a idade mental e
comportamento de adolescente e pré-adolescente, entre dez e dezoito anos,
chamavam-se Teens ou Middles.
Após absorver bem a coisa dos babys, littles e middles, avançou seus
estudos por diversos sites, aprendendo mais sobre a teoria da prática em si,
encontrando assim algo que lhe chamou bastante atenção e abriu seus
horizontes, realmente:
— Quem faz isso de forma não acordada? Euhein... Aliás, quem faz isso
com um menor? — resmungou. — Se eu descubro que Jimin já fez essas
coisas com alguém menor de idade, eu bato na cabeça dele — declarou para
as paredes.
Mas é claro, sabia que a probabilidade de Park Jimin ter feito algo de
natureza imoral, ilegal ou antiética, era praticamente nula. O cara era um
exemplo de caráter. E além do mais, menores de idade possuíam amparo
legal para terem relações sexuais ou amorosas com maiores, a partir de
certa idade, mas esta se alterava de país pra país; em alguns a idade mínima
era quatorze, em outros dezesseis, e assim se seguia. Mas de qualquer
modo, de tudo o que já vinha pesquisando, para a prática do bdsm era,
inegavelmente, dezoito anos, o mínimo aceitável para adentrar aquele
mundo, pois era necessário ser legalmente capaz para lidar com qualquer
burocracia que surgisse das práticas.
Jungkook abriu a boca num enorme "O". Então era isso, claro como água,
simples até demais. A partir do momento que uma pessoa queria portar-se
como criança, por um período de tempo ininterrupto, aquilo indicava um
desequilíbrio mental de natureza grave, sendo necessária a ajuda de
psicólogos e psiquiatras. Já os fetiches relacionados ao age play, eram uma
forma que a mente saudável buscava para tentar curar feridas sobre traumas
familiares subconscientes.
Não conseguiu evitar pensar em sua família. Em sua relação com seus pais.
Não era segredo nenhum para si, que quando via pais sendo carinhosos e
compreensivos com seus filhotes, aquilo lhe irritava. Lhe causava incômodo
e inveja. Jungkook odiava o modo como seu pai alfa e seu pai ômega lúpus,
haviam-no destratado e tentado manipulá-lo a casar-se com alguém cuja
classe ele não suportava, a ômega. Dada a resistência do filho, tentaram
então fazê-lo amarrar-se a um beta, mas Jeon recusara de pronto também.
Não casaria-se por imposições familiares, tampouco com alguém que não
amasse romanticamente. Aqueles mesmos que o deram a vida, também
haviam transformado-na num perfeito inferno. Se não fosse pelo amigo
Hoseok, Jungkook não saberia dizer aonde estaria agora.
"Todo ser humano tem fetiches, sendo dos mais leves ao mais absurdos.
Todo fetiche é desencadeado por experiências e sensações gravadas no
subconsciente. Contudo, um fetiche é algo extremamente saudável à mente
humana, desde que seja algo feito para apimentar a relação. A partir do
momento que uma pessoa não se importa mais com o parceiro em si, e só
consegue obter prazer com a realização do fetiche, então se torna algo
patológico, deixando de ser saudável."
Mais uma vez, Jeon ficou satisfeito. Porque, parando pra pensar, Jimin já
tinha demonstrado que poderia transar com ele tranquilamente, sem a
realização dos fetiches. Tinham transado no cio, e quase transado algumas
vezes antes disso. Então, basicamente, isso queria dizer que os fetiches de
ambos eram saudáveis. Todos os dois batiam bem da cabeça, muito
obrigado.
Instigado, o alfa pesquisou mais sobre o ageplay, por horas a fio. Desde
conceitos, definições, narrativas de praticantes e mais alguns pornôs. Estes
últimos não pareciam muito fiéis aos relatos dos praticantes. Mas pornô era
sempre algo que fugia muito à realidade e isso não era novidade.
Decidido, o ruivinho saiu de casa com seu cartão de crédito. De ônibus, foi
até o centro comercial, entrando e saindo de lojas e mais lojas. Subitamente,
lembrou-se de que não tinha avisado a Jimin que sairia de casa. Seu coração
foi na boca, só de imaginar que poderia pôr tudo por água abaixo. Então
rapidamente sacou o aparelho celular e enviou-lhe uma mensagem. Mas
seria melhor mandar apenas uma mensagem, ou telefoná-lo? A ligação
demonstraria mais respeito, não? Ficou na dúvida. Acabou telefonando,
mas a ligação foi direto para a caixa postal. Sem alternativas, acabou
enviando uma mensagem:
Espero que não tenha problema em não ter te avisado antes de sair. |
— Oi, Jimin-ssi.
— Oi. Vi sua mensagem. Aonde você está?
Jeon respirou tão aliviado ao ouvir a voz tranquila do alfa, que até parou de
andar.
Uma alfa grandona que vinha caminhando atrás, acabou por esbarrar em si,
ocasionando numa leve tropada e xingamentos entre os dois.
— Oh, tá tudo bem, Jimin-ssi. Foi só uma alfa rabugenta e mal educada.
Estou fazendo umas compras.
— Por que pensou que eu brigaria com você? Fez algo de errado? —
perguntou o lúpus, com a voz em alerta.
— Pensei que você ficaria bravo se chegasse em casa e eu não estivesse lá...
— respondeu fazendo um pequeno bico.
— Não é necessário, Jungkook. Nós não temos uma relação de total troca
de poder, lembra? Embora eu prefira que você me diga aonde está, pois
ajuda na relação de controle. Só não é necessário me pedir permissão.
— Oh. É verdade. Mas é bom que eu te conte o que faço. Eu gosto — disse
brincando com o zíper do casaco.
— Isso não vou contar. É um segredo, uma surpresa pra você. Esteja
preparado — falou com a voz matreira.
— O que você está aprontando, garotinho? — rebateu o ex-militar, tão
divertido quanto.
— Até aí, sem novidades — riu-se o lúpus. — Então até mais tarde.
E desligou o telefone.
[...]
Era difícil pra Jeon, esconder a animação. Estava tão ansioso, que parecia
existir uma corrente elétrica percorrendo todo o seu corpo. Mas precisava se
controlar, pra não agarrar Jimin e enchê-lo de carinho. Precisava aguardar a
hora certa. Até porque, o Park andava um pouco mais distante dele nos
últimos dias. Nem mesmo de "bebê" ele o vinha chamando, como tinha
virado costume.
Quando o moreno se vira com uma panela nas mãos, imerso em sua
cantoria, quase deixa tudo ir ao chão, deparando-se com o alfa de cabelos
nem mais tão vermelhos ali.
Era um riso contido, o moreno não queria dar espaço ou muita confiança
para o mais novo.
Jimin danou a rir, sem sequer conseguir enxergar as coisas à sua frente, pois
seus olhos pequenos ficavam ainda mais fechados quando gargalhava.
Jungkook era tão engraçado; quase não restavam dúvidas de que era um
perfeito brat. E o melhor de tudo era que o Dom, pela primeira vez na vida,
achava divertido alguém que o confrontasse daquele jeito.
Aliás, o moreno não tinha ficado com raiva do que o mais novo havia dito.
Sabia que tinha sido um pouco dramático demais no calor do momento.
Jungkook o descontrolava. Mas o problema era outro. Era que o Park estava
se achando um completo idiota, por estar criando um carinho e apego fortes
demais pelo alfinha malcriado. Ele não queria se sentir daquele jeito. Não
queria se machucar e, por isso, não se apaixonava verdadeiramente há anos.
Mas Jeon Jungkook magicamente, e sem esforço algum, vinha destruindo
os muros que o Park demorou tanto para construir ao seu redor.
"Parece a porra de um jantar romântico, se ele ainda não sabe das minhas
intenções, então vai saber agora."
Sem resposta de novo. Esperou pelo menos meio minuto, insistindo nas
batidas contra a madeira, mas o garoto não respondia. Então abriu a porta,
num rompante, se deparando com o de cabelos cereja sentado no chão, de
costas para a entrada, vestindo um pijama rosa de listras brancas, com
vários bichinhos desenhados. O garoto pareceu ignorar sua entrada no
recinto, permanecendo do mesmo jeito que estava antes: sentado de pernas
cruzadas, com as costas curvadas e mexendo em algo no chão, a cabecinha
de fios vermelhos movendo-se levemente.
E para sua surpresa, tinha às suas vistas agora, o que tanto Jeon fazia:
— Oi, hyung. — Mas sua voz não estava exatamente comum. Também não
estava manhosa. Todavia, estava num tom tão doce, que o moreno não se
aguentou. De fato, se abaixou e apertou o rosto do garoto em suas mãos.
Mas acabou exagerando nos apertões, porque Jeon fez uma caretinha
irritada e estapeou as mãos alheias,. O lúpus aí devolveu o olhar com a
expressão falsamente brava.
Era agora que Jimin derreteria mesmo. O ruivo havia começado um age
play! Surpreso, o mais velho o observava com um sorriso caloroso e
orgulhoso querendo despontar na face bem desenhada. Se deu conta de que
essa era a surpresa então. Nunca um submisso tinha sido tão bonzinho
daquele jeito, preparando-lhe uma brincadeira surpresa, de modo tão
natural.
O acerejado certamente tinha estudado muito para que pudesse fazer aquilo,
da forma mais perfeita possível. Isso mostrava o quão corajoso era, afinal,
que iniciante de alguma coisa teria confiança suficiente pra começar algo
sozinho, que fosse novidade pra si? Mas até mesmo a dicção de uma
criança pequena, que fala as palavras de modo errôneo — algo sobre o qual
o dominador não havia pontuado —, Jeon estava fazendo certinho.
Jimin sorriu como nunca antes, e então começou a fazer carinho nos fios
vermelho-rosados, extremamente carinhoso, observando o garoto à sua
frente, como se fosse seu bem mais precioso, os olhos de ambos brilhando,
uma bolha de carinho muito doce os evolvendo naturalmente.
— É. Minnie é de Jiminie.
— Oh... Mas eu não tenho a boca grande assim! — Implicou com a voz
resmungona.
— Dizem que se você quiser saber como se parece realmente, deve pedir
pra uma criança desenhá-lo. Acho então, que devo ser realmente beiçudo
desse jeito — convenceu-se.
Jeon então olhou para si, com os olhos redondos de jabuticaba brilhando, e
sacudiu a cabecinha de fios vermelhos desbotados, de um lado pro outro,
em negativa.
Jimin sorriu outra vez. Era tão fofa a forma como Jungkook tirava a
chupetinha rosa da boca para que pudesse falar e, ao final, voltava à chupá-
la novamente. Não faziam sequer dez minutos que tinham começado a
brincadeira, e ele já estava se mostrando o melhor babyboy de todos.
Nenhum submisso tinha feito tão perfeitinho assim. Bom, fazer até fazia,
mas precisava admitir que ninguém fazia de um jeito tão fofinho. O vizinho
parecia ser o seu par ideal. Droga, Jungkook era tão malditamente fofo!
Desceu até a cozinha e retirou a louça fina, apagou as velas e guardou tudo
de volta aos armários. Era uma pena que o novo submisso houvesse
estragado seus planos de declaração óbvia, mas o que o garoto lhe tinha
dado era ainda melhor. Sentia que Jungkook gostaria de experimentar de
tudo ao menos uma vez, e era de sua completa responsabilidade se o garoto
iria gostar ou não.
— O que você está fazendo aqui? Não falei que era pra esperar eu subir pra
te buscar, bebê? — repreendeu, mas sem realmente brigar.
— Mas criança não tem querer. Obedeça se não quiser tomar umas
palmadas e ficar sem sobremesa.
O Park foi até ele e sentou-se ao seu lado, colocando a comida nos pratos e
enchendo o copinho do garoto com suco de ameixa.
Jimin riu da frase do garoto e foi até a pia jogar o suco artificial fora,
substituindo pelo outro sabor na geladeira. Suquinhos em pó, diluídos em
água, não eram o melhor pra saúde, mas era aquilo que tinha. Frutas eram
muito caras e estragavam rápido.
Mas Jimin não podia castigar um brat sempre, por desobedecê-lo. Não faria
sentido, pelo menos não naquela situação. O comportamento malcriado do
garoto no play, estava sendo divertido, era uma parte da personalidade dele.
Talvez até mais divertido do que se ele obedecesse. O moreno se pegou
pensando se o Jungkook de três anos real, fora assim também.
— Já que você foi um bebê bonzinho e comeu tudinho, hyung vai te dar
sobremesa — o Park anunciou, vendo o garoto sorrir grande e animado.
Jimin foi até a geladeira e trouxe consigo dois pedaços de torta de frutas.
Voltou a sentar-se ao lado do de cabelos cereja, dando-lhe a primeira fatia
na boca. Quando foi dar a segunda, seu celular tocou, abandonado no sofá
da sala.
— Hyung precisa atender, pode ser sobre trabalho. Não faça sujeira —
advertiu, se levantando e indo até o outro cômodo.
Viu o nome de Yoongi na tela e bufou. Não que não gostasse de receber
ligações do amigo, apenas se decepcionou por não ser alguma resposta das
milhares de entrevistas de trabalho que vinha fazendo. Precisava de um
emprego, o mais rápido possível. Suas reservas de dinheiro não durariam
para sempre — embora fossem suficientes pra durar um ano inteiro,
praticamente.
— Que foi?
— O que é? Tá carente?
— Não sei não, hyung. Estamos ocupados hoje. Pode ser amanhã?
— Sim. Ele mesmo quem começou, fez surpresa pra mim — falou com um
sorriso. Mas quando se virou para observá-lo de novo, o avermelhado o
encarou de volta, com a expressão sapeca de quem ia aprontar, e empurrou
o copinho no chão, que com a queda, soltou a tampa e sujou todo o piso
com o líquido amarelo. — Jeon Jungkook! — exclamou o alfa lúpus, em
uma brava repreensão.
Jimin sorriu.
— Mas eu já vi!
— Jungkook!
E aí Jimin não se aguentou e danou a rir, jogando o corpo pra trás, ficou até
sem ar. Quando finalmente conseguiu parar, viu o outro o encarando e este
quase saiu do little space para cair na gargalhada também, segurava o riso
esticando a lateral dos lábios, contorcendo a face; mas antes que o fizesse, o
ex-tenente foi lhe empurrando para o lado de fora.
[...]
Um Dominador que tinha medo de raios. Era engraçado, não era? Jeon
achava. Mas não pensava que Jimin era fraco por isso. Achava fofo. O mais
velho possuía uma dualidade chocante. Mas de qualquer modo, aonde dizia
que um dominador, um alfa ou um homem, não poderia ter medo de trovão?
Ele era uma pessoa, afinal. E pessoas tem medo de coisas. Cada um tem
algo particular que o aterroriza.
Jungkook nunca teve medo de muitas coisas. Na verdade, um dos poucos
medos que possuía, era o do preconceito. Do bullying. De sofrer alguma
maldade, pela peculiaridade de seus genes. Se seus próprios pais o haviam
maltratado por conta disso, quem dirá outras pessoas. O alfa ruivinho tinha
um medo tremendo disso. Nunca tinha contado ao Park, pois era algo
profundo demais. Ademais, o lúpus apenas recentemente havia começado
com aquela abertura maior consigo.
Há muito tempo atrás, Jimin lhe contara que odiava trovões. Disse que
ficava assustado, por mais bobo que parecesse. Nunca lhe disse o motivo,
só que não gostava. E ele nem parecia ter contado porque queria, o mais
novo tinha notado, na época, que o outro soltara a informação sem querer.
Tanto que depois disso, ele se levantou da escada onde estava sentado com
Jeon, na porta de sua casa, dizendo que precisava entrar, encerrando a
conversa dos dois ali. E era sempre assim. O ex-coronel encerrava o
contato, quando as coisas pareciam estar fluindo bem. Mas isso era antes.
Antes de Jungkook descobrir sobre seu segredo. Antes de começarem uma
relação mais quente que o inferno. Antes da confusão de sentimentos
inundar a cabeça de ambos.
Com o abraço, pode sentir que o Park tremia levemente. O que deixou o
mais novo extremamente preocupado.
— Você... não deveria me ver assim... — Jimin disse num fio de voz. — Me
deixe sozinho.
Por um momento, Jeon pensou em obedecê-lo. Mas seu cérebro foi rápido
em se dar conta, de que o moreno não o queria realmente fora dali. Apenas
não queria que ele o visse assustado, porque aquela certamente não era uma
imagem que um dominador gostaria de passar ao seu submisso.
Então, munido de uma coragem altamente protetora, Jungkook aninhou o
outro mais confortavelmente em seus braços.
— Eu não vou sair daqui, Jimin-ssi — fez questão de usar o tom respeitoso,
pra demonstrar que aquela não era uma simples malcriação.
Até porque, dadas as circunstâncias, o ruivo não estava mais em seu papel
de criancinha malcriada. O ageplay havia claramente sido interrompido.
Sua mente havia voltado ao estado normal.
— Não é pelo motivo que você está pensando. Já te disse que posso transar
com alguém, fora dos fetiches e fora da relação D/s. Eu transei com você no
cio, não foi? Eu posso transar de modo "baunilha", não tenho problema com
isso.
— E então..?
Jimin suspirou, vencido. Outro trovão alto ressoou lá fora, fazendo-o dar
um leve pulinho de susto. O ruivo segurou seu rosto entre as mãos,
acarinhando a bochecha cheinha, suavemente.
— Há sete anos atrás, tinha um noivo chamado Dong Taeyang. Ele era um
beta. Nossa relação durou dois anos. Eu já tinha sido iniciado como
dominador no bdsm naquela época, mas o Taeyang não fazia parte da
comunidade. Ele sequer era fetichista. E ele também não sabia sobre as
minhas práticas, embora eu claramente o dominasse na relação. Ele só não
percebia, não entendia o conceito ou o rótulo. Minha dominação não era
escancarada ou com acessórios. Nas vezes em que tentei apimentar mais as
coisas, com vendas, algemas, até algo simples como sugar chantilly no
corpo dele, Taeyang nunca gostava. Ele curtia as coisas sem muitos floreios,
embora curtisse instigar as coisas com cenas de ciúmes. Ele achava que
sexo não precisava dessas coisas. Acreditava que fetiches desse tipo, eram
coisas de pessoas doentes. Então, um dia, ele descobriu sobre tudo.
— Foi horrível, Jungkook. Nós brigamos por dias. Ele me disse coisas
horríveis. Taeyang me fez sentir um doente, um nojento, um depravado. Ele
terminou nossa relação e voltou para a casa dos pais. Como eu já havia
pago o valor de entrada da casa, acabei vindo pra cá, de qualquer modo.
Mas nunca gostei daqui. Demorei seis meses pra começar a tirar meus
pertences das caixas e arrumar tudo. Por seis meses, as caixas ficaram
espalhadas pela casa. Porque eu só queria ir embora. Então, depois de um
ano morando aqui, vi que jamais superaria o fim do meu relacionamento, se
continuasse nesta casa. Embora não houvessem lembranças de Taeyang
aqui, já que ele nunca chegou a morar nesse lugar realmente, saber que essa
deveria ser nossa casa, era como cutucar uma ferida não cicatrizada. Então
fui embora daqui.
— Eu aluguei essa casa para uma família de ômegas e fui morar com o
Yoongi. Não era como se eu ficasse muito tempo fora do quartel. Mas
quando o período do contrato de locação acabou, a família não quis renovar.
Eu fiquei dormindo uns dias aqui, porque coloquei a casa pra alugar de
novo, então algumas pessoas vinham visitá-la constantemente, e eu havia
decidido mostrá-la eu mesmo, sem precisar pagar por um corretor de
imóveis. Não sentia mais nenhum tipo de aversão pela casa, não associava
mais o lugar ao Taeyang, porque alguns anos se passaram e, com isso, meus
sentimentos sobre nossa relação fracassada sumiram, superei. Mas num
desses dias, um pequeno caminhão de mudanças amarelo parou no prédio
da frente... — disse com um sorriso bobo.
Jungkook franziu o cenho, sem entender porque o alfa o encarava com uma
expressão engraçada, até que se deu conta:
— O que você estava fazendo às 5h da manhã, fora de casa, pra ter me visto
chegar, hyung? — subitamente perguntou, curioso.
Outra trovoada alta soou, mas dessa vez, o menor não pareceu tão afetado.
Apenas apertou uma das coxas de Jungkook e respirou fundo.
— O que eu quis dizer com isso tudo é que... — Jimin voltou a falar —
fiquei de coração partido, após ser abandonado por Taeyang. E isso fez eu
me fechar. Tudo perdeu a graça pra mim, e sentimentos não eram uma
prioridade. Eu tentava suprir tudo com sexo. Com minhas relações de
Dominação sobre outros alfas. Principalmente eles, que são mais fortes e
mais difíceis de se submeter.
— Sim. Tive alguns. Nenhum durava muito tempo. Por culpa minha,
admito. Em algum momento, meus submissos criavam um sentimento
romântico que eu não era capaz de retribuir, então tudo acabava...
O mais novo sentiu sua garganta fechar. Se era assim, jamais poderia contar
para ele que estava... se apaixonando. Não podia repetir os mesmos erros
dos submissos anteriores; isso faria a relação chegar ao fim, e ele não
poderia mais tê-lo consigo. E tudo o que Jungkook queria, era Park Jimin.
Então, no fim, o alfa de genes ômegas percebeu que o moreno estava certo
em não criar mais sentimentos românticos por ninguém. Tinha sido um
baita trauma. Pra fugir do assunto, Jeon voltou a fazer perguntas:
O Park realmente não se deu conta de como suas declarações poderiam soar
para o mais novo. Não percebeu que dizer ao homem por quem estava
interessado romanticamente, que nunca se apaixonava e ainda terminava o
relacionamento com seus submissos quando estes apaixonavam-se por si,
era como colocar um outdoor em sua cabeça, que dizia: "Não estou
disponível emocionalmente para relações amorosas, afaste-se". Esse erro o
faria arrepender-se um bocado depois.
Jungkook assentiu, sentindo o clima ficando mais leve, embora seu coração
ainda apertasse.
— Posso dormir hoje aqui com você, hyung? Pra te proteger dos trovões.
Mesmo chateado e sem esperanças, ele queria cuidar de Jimin. Não queria
fazê-lo bem na esperança de conquistá-lo. Queria fazê-lo bem, pura e
simplesmente porque se preocupava com ele e, querendo ou não, à cada dia
mais, sua paixonite pelo mais velho só aumentava. Sequer poderia
continuar intitulando seus sentimentos apenas como "quedinha". Era algo
maior, ele sabia, embora se recusasse a admitir para si mesmo. Como se não
admitir, tornasse a coisa menos real.
Ele cuidaria do lúpus; assim como o lúpus cuidava dele. Ainda que seu
cérebro dissesse o quão fodido e imprestável ele era, pensando que, no fim
das contas, pessoa alguma seria capaz de amá-lo. Seus pais não o fizeram.
Era ilusão achar que o mais velho o faria. Ao menos já estava acostumado
com a rejeição. Não doeria tanto.
Por exemplo, era óbvio que para aquilo funcionar bem, o sub e o Dom
precisavam se conhecer direito. Não dava pra ficar perguntando toda hora,
se o sub gostaria de ser açoitado com objeto tal, ou qual parte do corpo ele
preferia ser tocado. As coisas travariam desse jeito, a sessão não fluiria, eles
não entrariam nas personagens direito, ainda que entrassem em seus
respectivos "spaces" — ou seja, os estados mentais de dominação ou de
submissão.
Então, foi por aquela constatação que o de cabelos cereja até mesmo parou
de mastigar. Jimin era realmente muito experiente e sabia o que estava
fazendo, ainda que pela primeira vez, estivesse aceitando domar alguém
que não se submetia fácil. E todo o cuidado que o moreno demonstrava, só
fazia o avermelhado sentir-se mais dragado pra dentro daquele buraco negro
dramático de sensações românticas pelo novo tamer. Não deveria ser assim.
Jeon sabia que não deveria se deixar envolver romanticamente com uma
pessoa com quem combinou que seria apenas uma relação de dominação e
submissão. Romance e BDSM raramente se misturavam.
Como se não bastasse, Jimin tinha contado que após o trauma do fim do seu
noivado, por conta dos preconceitos do ex-noivo, relacionado a BDSM e
fetiches, o ex-militar não estava disposto a se envolver romanticamente com
ninguém, e não o fazia há um bocado de tempo. O Park fora bem claro
quanto ao motivo pelo qual nunca ficava muito tempo com o mesmo
submisso: eles criavam sentimentos por si, de modo que ele não era capaz
de retribuir.
Mas a ideia era que o clima do jantar à luz de velas, tendo louças finas e um
bom vinho, fosse criar o ambiente perfeito para deixar óbvio pra onde ele
queria caminhar aquela relação: pra algo mais sentimental; queria que
ficasse claro que gostaria de algo além da relação impessoal de dominação
e submissão com o outro alfa. Bem, é sabido que fora tudo por água abaixo,
ainda que ele mesmo não tivesse ciência disso. Mas ao menos, já havia
deixado claro que queria uma relação exclusiva e não aberta. Isso
significava que eles eram namorados. Só esperava que Jungkook tivesse
entendido bem essa parte, quando ele lhe propôs algo exclusivo.
— Não coma deitado, faz mal pra digestão — o mais velho repreendeu,
tirando a barrinha de cereal da mão do ruivo, para então sentar no sofá onde
as pernas do garoto repousavam, ao lado.
Nem é preciso dizer que Jungkook ficou bravo de ter tido o alimento
roubado. Então levantou o tronco, sentando-se ereto e de pernas cruzadas
no chão, para teimosamente arrancar a barrinha das mãos de Jimin,
tomando-a novamente.
— Então isso quer dizer que você também não gosta muito de mim, já que
não queria se comportar? — o Park indagou em provocação.
É claro que Park queria saber tudo, cada detalhezinho. Se pudesse entrar na
mente de Jungkook, o faria. E para sua sorte, Jeon era muito transparente
em suas ações, além de ser bem direto, praticamente sem filtro. Embora
esse detalhe não estivesse fazendo Jimin enxergar como o garoto realmente
vinha demonstrando os sentimentos por ele, através de ações. O modo como
o mais novo se comportava, revelava tudo.
Park Jimin era muito observador, sim. Sabia entender o que uma pessoa
estava sentindo, ao observá-la bem. Mas dizem que o amor cega, e era por
este exato motivo que o ex-militar não conseguia identificar nas ações do
garoto, a demonstração de sua paixão por si.
E essa, aliás, era a única maneira que Jeon Jungkook sabia se declarar: com
ações. Nunca fora uma pessoa muito boa com palavras, nem boa em
expressar sentimentos abertamente. Se ele gostava de alguém, seu modo de
agir, seus sorrisos, o modo como fitava de forma admirada seu objeto de
paixão, era como ele se declarava. Isso fazia de Jimin, um cego na luz do
dia, e Jungkook um surdo em meio a um concerto musical.
— Bebê, não precisa ter medo de me dizer as coisas, sim? Eu quero que me
fale — o mais velho disse com a voz doce, deslizando do sofá, para sentar-
se no chão também, ao lado do mais novo. — Fala pra mim... — pediu
manso, levando a destra até a nuca de Jungkook, para acariciá-la.
Aquilo era golpe baixo. Jeon se derretia todo com aquele carinho na nuca.
Qualquer carinho de Jimin, o desmontava, mas especialmente quando ele o
tocava delicadamente na nuca ou no lóbulo da orelha, o garoto se via
totalmente entregue.
— Eu... — tentou dizer, com um suspiro. Então decidiu aproveitar que tinha
fechado os olhos para apreciar o carinho, e explicar ao menos alguma coisa.
— Sou um pouco sentimental, hyung — disse cuidadoso. — E você é
muito... acolhedor. Não estou acostumado a ter tanta atenção assim, e...
humn...
Jimin fechou a cara e fez o maior bico que podia, levantando a mão pra dar
um sopapo no ruivo abusado, este que se encolheu em reflexo, rindo com a
língua entre os dentes. Era uma criança zombeteira mesmo.
Jungkook foi parando de sorrir, vendo que não tinha escapatória. Agora que
abriu o bico, tinha que ir até o final. Começou a morder o lábio
nervosamente, como já era seu costume. Estava tentando pensar em outro
jeito de dizer aquilo, sem deixar óbvio que estava se apaixonando. Afinal,
em sua cabeça, se contasse aquilo para o dominador, ele faria o mesmo que
fez com seus submissos anteriores: encerraria a relação ali. E Jungkook não
estava nem um pouco disposto a terminar aquilo agora.
— Hyung, prometa que não vai terminar comigo, ok? — Jungkook pediu
tenso.
— Por que eu faria isso? Você fez algo errado? — O lúpus indagou de
cenho franzido.
— Só prometa, hyung.
— Ok. Eu te tratei daquele jeito, não porque não apreciasse o seu jeito mais
aberto comigo... Na verdade, essa sua coisa de ficar sendo evasivo e
misterioso o tempo todo, sempre me irritou, Jimin — disse sincero.
Meio sem jeito, rodeou a cintura do moreno, num aperto que, timidamente,
foi aumentando a pressão para, aí, finalmente, deslizar as mãos pelas costas
do Park, num carinho delicado e sincero, cheio de sentimentos reprimidos.
Sentiu o mais velho suspirar contra sua pele e, lentamente, retirar o rosto
dali, para dar um beijo demorado em sua bochecha esquerda. Provocando,
Jimin passou os lábios a um milímetro de distância dos dele, apenas para
alcançar a outra bochecha e depositar ali um beijo estalado como fizera na
outra, sem desviar os olhos dos dele.
Jimin sorriu, indo até sua testa para deixar um novo selar suave ali, seguido
de outro na ponta do nariz e, por fim um em seu queixo. Então o lúpus
roçou a ponta de seus narizes, fechando rapidamente os olhos, para aí abri-
los novamente e mirar Jungkook de pertinho.
— Você fez eu contar, pra ficar zoando com a... — mas não conseguiu
concluir.
Isso porque, Jimin segurou seu rosto, pressionando o dedão num lado de
sua bochecha, e o indicador do outro, impedindo-o de mover a face, para
então beijar sua boca com intensidade.
Não era um beijo de língua, o Park tinha a boca fechada, mas era um beijo
com pressão, que se findou com um estalo. Apenas para se seguir de mais
outro, outro, e mais um, até que o moreno mordiscou o lábio inferior do brat
e deixou mais um selinho.
— Você não entendeu nada do que eu disse ontem, não foi? — perguntou
com a voz mais meiga que de costume, parecia até... melosa.
— Não sei o que você quer dizer... — Jungkook rebateu em pura confusão.
Jimin sorriu contra seus lábios, dando agora um beijo no cantinho de sua
boca.
— Eu não quis dizer que você não deveria se apaixonar por mim, bebê... —
disse docemente. — Quis dizer que você foi a pessoa que me despertou um
interesse imediato, desde o fim do meu noivado. E que, de todo mundo que
conheci e me relacionei de lá pra cá, você é o único por quem me atrevi a
sentir alguma coisa... — sussurrou.
O ex-coronel sorriu pra ele outra vez, arrastando a ponta do nariz pequeno
pela bochecha gordinha do mais novo.
A boca do pequeno Jeon secou como o deserto. Sequer conseguia falar. Sua
mente estava dando pane. Ele continuava parado, fitando Jimin de olhos
arregalados, como se em sua cabeça estivesse dando a tela de ERROR404.
— Não precisa dizer que gosta de mim de volta, nem nada do tipo,
Jungkook... — disse sem jeito e, inconscientemente, afastou de leve os
corpos.
— Não... não se afasta, hyung... — Foi a única coisa que conseguiu dizer.
Mas o que ele sabia, era que só de olhar para Park Jimin, seu corpo
esquentava, sentindo-se lubrificar entre as bandas da bunda e na glande do
pênis. As gengivas costumavam coçar, querendo marcar aquele alfa pra si,
tê-lo como seu. Uni-los em um laço único, mas que sabia que jamais seria
possível, já que os dois eram alfas, e a genética não permitia. Sentir a boca
de Jimin o marcando, o corpo musculoso entrelaçado ao seu, o cheiro
inebriante de sândalo, a presença dominante, o modo como cuidava dele
com tanto cuidado e carinho, que era quase como um pai. O ruivinho estava
atordoado. Estava bobamente apaixonado e sabia disso. Então decidiu que
responderia do modo que sabia responder: com ações e não palavras. No
fim, palavras não serviam de nada.
O mais novo então subiu a destra para a nuca do Park, trazendo seu rosto
para si. Ambos fecharam os olhos e se perderam no início de um novo
beijo, dessa vez, com as línguas se encontrando intensa e imediatamente.
O de cabelos nem mais tão cereja assim, sentia-se esquentar. E com o Park,
não era diferente. Ao longo dos anos, quase se esquecera do quão gostosa
era a sensação de estar começando a se apaixonar por uma pessoa, e em
como tais sentimentos tornavam a intensidade do tesão em algo quase
surreal, de tão bom.
Deixando seu corpo agir de acordo com as emoções, Jeon soltou os braços
que envolviam o moreno, para então repousá-los de qualquer jeito no chão,
abertos, o corpo inconscientemente se abrindo e se deixando à mercê do
domador. Aquela era a linguagem corporal que dizia: "você pode fazer o
que quiser comigo". E Jimin podia mesmo. Jungkook se encontrava
totalmente entregue a ele.
O mais velho afastou a mão que segurava o rosto do garoto, e a deslizou por
um dos braços caídos no tapete, achando automaticamente o caminho para a
canhota alheia. E quando estas se encontraram, uniram-se perfeitamente,
entrelaçando os dedos e sentindo o calor da palma um do outro. Era
confortável e perfeito. Como se elas tivessem sido feitas para encaixarem
uma na outra.
Como se tendo suas mentes presas num mesmo espaço imaginário, Jimin
sentiu exatamente a mesma coisa. Quanto tempo fazia desde que não
pegava nas mãos de alguém que realmente queria? O Park achava o toque
das mãos algo íntimo demais; E era.
Contudo, segurar as mãos de Jungkook, foi algo que fez porque realmente
quis; e aproveitou o toque. Amou ter suas mãos unidas calorosamente
assim. Seu coração deu várias batidas erráticas com isso.
Quando teve que se pôr de joelhos para despir o mais novo, o lúpus parou
um momento para admirar aquele corpo perfeito. Jungkook era tão lindo. O
peitoral inchadinho, com os biquinhos dos mamilos escuros excitados,
abdome bem esculpido, a cintura perfeitamente fina, as coxas grossas, o
baixo ventre enfeitado com veias grossas, que preparavam para a visão do
caralho duro e veiudo, já pulsando caído sobre a barriga do dono. Parecia
uma escultura grega de centenas de anos atrás. Era simplesmente perfeito. E
a constatação fez Jimin salivar.
Jimin então tirou a própria camisa, tentando aliviar o calor em seu corpo.
Levantou uma das pernas do avermelhado pela panturrilha, mordiscando a
parte interna do local, intercalando com beijos macios. Devagar, ia
massageando as pernas do ruivo, vindo com a boca logo em seguida,
descendo as carícias até a virilha de Jeon. Sua língua desenhava círculos de
saliva na pele, fazendo com que o submisso remexesse o quadril inquieto no
tapete.
Para o brat, o Park estava muito perto de seu membro atiçado pra que
pudesse se controlar, as mãos apertando os pelos do tapete para descontar
um tesão furioso o possuindo rapidamente.
— Não — respondeu.
Jimin estalou um tapa na lateral de sua coxa, fazendo o ruivo abrir os olhos
no susto, e então encontrar o olhar dele colado em seu rosto.
E foi assim que Jungkook sentiu várias de suas amarras mentais, irem
soltando-se. Era como uma marionete sendo finalmente liberta. A
aprovação de Jimin, deixava o alfa o em êxtase. E sim, ele amava provocar
para receber atenção, mesmo que nem sempre ela acabasse por ser positiva.
Mas toda vez que o mais novo se via naquela situação com seu hyung,
ficava completamente submisso e entregue à suas carícias. Naquele
momento, ele não tinha intenção alguma de provocar nada; queria apenas
ter seu corpo explorado e utilizado por Park ao seu bel prazer, porque aquilo
para si, era definição de satisfação extrema.
— Fica de quatro pra mim, bebê... — ordenou com a voz mansa e baixinha.
— Lembre-se de não se mexer, por mais que queira muito. E acredite, você
vai querer demais. Mas precisa me obedecer, bebê...
— Sim, senhor.
O Park capturou com a destra, a rola grossa que balançava entre as pernas
do submisso. O moreno deslizou a mão nela, estimulando-a, para então
trazê-la pra si, de modo que ficasse voltada para trás, e ele livre para tocá-la
dali. Levou a língua para a glande encharcada de pré-porra, a limpando
delicada e deliciosamente.
— Você foi tão obediente, bebê... Seu senhor vai deixar que você se mexa
agora.
— Vem pra mim, meu bratzinho... goza pro seu domador... — ordenou com
a voz rouca, logo voltando a estocar o rabo do outro com a língua.
E Jungkook não resistiu àquela ordem. Não resistiu àquele tom autoritário,
não resistiu àquelas carícias fodidamente maravilhosas. Soltou as próprias
nádegas e gemeu e puxando os pelos do tapete entre seus dedos,
arrancando-os. O baixo abdome formigou, os dedinhos dos pés se
contorceram, os lábios se separaram, e um grito mudo morreu em sua
garganta seca. Gozou com força e intensidade, vindo-se na mão pequena do
Park, que parecia ainda menor rodeando o pau grande do alfa.
Jimin aproveitou a porra melada em sua mão, para deslizar mais facilmente
sobre o pênis alheio, e quando viu o orgasmo do garoto acabando, apertou
bem a região abaixo da glande, de modo que todo o sêmen fosse expelido,
como se espremendo o membro do outro.
Jungkook sequer teve forças para contestar, seu orgasmo fora bruto o
suficiente para deixá-lo petrificado por alguns minutos. Ficou encarando os
pelinhos do tapete, até que decidiu rolar preguiçosamente por ele e ficar de
barriga pra cima, removendo a camisa que ainda tinha no corpo, para
diminuir o calor. Passou a encarar o teto, sua mente era como um quadro
em branco. Não conseguia pensar em absolutamente nada, parecia que
Jimin tinha deletado sua memória.
O moreno deslizou os dedos pelo pulso do mais novo, como se numa quase
restrição. Não impediria o garoto de massagear seu pau coberto, mas
também não o deixaria tão livre pra fazer como bem quisesse.
— E por que não coloca, Jimin-ssi..? — retrucou com a voz baixa, soando
tão sedutor quanto o moreno. — Quero sentir você inteiro, até ficar sem
fôlego...
— Eu não posso apenas dar dois tapinhas nas suas coxas, quando precisar
que você pare..? — perguntou massageando mais gostoso o pênis alheio, no
intento de persuadi-lo, na maior cara de pau.
— Como me pede pra não ficar ansioso, hyung? Tem ideia de quanto estou
esperando por isso? Tem noção de como é difícil estar acordando e indo
dormir debaixo do mesmo teto que você, sem fazer nadinha? — perguntou
chateado. — Jimin-ah, não existem motivos pra que a gente precise ter
pessoas aqui, eu confio em você. Não é como se fôssemos estranhos um pro
outro, sei que você não vai ultrapassar nenhum limite. É só pegarmos leve
na primeira vez. Por favor, hyung... Por favor... — pediu tão manhoso como
podia, estava claramente implorando.
O de cabelos cereja fez um bico ainda maior. Sabia que Jimin estava certo,
mas duvidava muito daquela possibilidade. Naquele momento, o ruivo
parecia uma criança birrenta, sentado no colo de seu tamer, enquanto este
alisava carinhosamente suas coxas, fitando-o de baixo, com devoção clara
em seu olhar; estava completamente enfeitiçado e afetado por Jeon
Jungkook, sentindo coisas que há muito não sentia.
E assim Jimin não era capaz de resistir, realmente. Ele ficou encarando
aqueles olhos negros pidões, o rostinho infantil, o biquinho montado
naquela boquinha fina e deliciosamente beijável. Realmente, não havia
motivo pra toda aquela preparação, não eram desconhecidos, afinal.
Estavam até mesmo sob o mesmo teto, ficar adiando era apenas uma tortura
das grandes.
Jimin os levou para a suíte, onde sentiu o Jeon na ponta da cama, e foi até
sua cômoda, capturando uma caixinha de veludo quadrada preta, e a levou
até o garoto.
— Sim — o mais velho assentiu, movendo a cabeça pra cima e pra baixo,
com um sorriso genuíno estampando os lábios grossos, enquanto dava
permissão pra que seu mais novo submisso tocasse o acessório. — Comprei
na cor vermelha, pra combinar com seu cabelo. E também preferi esse
modelo com rebites, ao invés do modelo liso tradicional, justamente porque
queria que sua coleira fosse tão única quanto seu jeitinho...
Jeon sentiu as bochechas arderem e não conseguiu olhar pro Park, então
manteve os olhos na coleira estilosa em suas mãos, analisando-a, dessa vez
sem conseguir impedir seu músculo da face de se repuxar em um sorriso
lindo.
— Mas você sempre enjoa dos submissos, hyung — disse com um toque de
chateação na voz. — Você não passa mais que três meses com ninguém,
então não é como se isso estivesse longe, já começamos isso há semanas,
então...
— Você está errado. Nós começamos isso há três anos — disse firme,
encarando-o intensamente com o olhar felino. — Eu te quis desde a
primeira vez que te vi, Jungkook. Eu sempre guardei o que sentia, pra mim,
porque adoro você e não queria correr o risco de estragar as coisas entre a
gente. Gosto de você e gosto da nossa amizade. Você me tão faz bem, eu já
falei...
Jungkook mordeu o lábio e sentiu o rosto queimar. Desviou seu olhar pro
chão e ficou lutando contra si mesmo, pra não se jogar na cama e começar a
girar sacudindo os braços e as pernas, dando gritinhos animados de
excitação.
— Tsc, tsc, tsc... — o mais velho estalou a língua nos dentes, sacudindo a
cabeça, reprovador, enquanto deslizava a calça e a cueca pelo quadril, de
uma vez só.
O ruivo não teve como dar muita atenção ao pênis alheio durante o cio, pois
a urgência pela penetração o impedia de prestar atenção nos detalhes. Mas
agora, vendo o ali, tão de pertinho e com calma, podia apreciar cada
pedacinho daquele homem que mais parecia a porra de uma escultura, de
tão perfeito.
O ruivo então apertou a carne dura do sexo alheio em sua palma, ainda sem
desviar seu olhar do lúpus. Subiu e desceu a mão com cuidado, observando
bem as expressões no rosto do outro, embebedando-se nelas.
O tempo travou. Eles ficaram se encarando intensamente, como se numa
guerra de olhares, para descobrir quem desviaria primeiro. Mas foi ao
mesmo tempo que os lábios se encontraram, encaixando-se com facilidade.
E é claro, Jimin ainda tinha o pau duro e pronto para fodê-lo. Jungkook não
havia se esquecido disso. Alguma coisa acontecia dentro dele, quando
sentia o dominador duro pra si e por si. Abrindo os olhos levemente durante
o ato, pôde observar a face do moreno. Continuou a masturbá-lo, sentindo
um imenso prazer nas feições desejosas e nos gemidos grossos que o
moreno emitia, enquanto começava a rebolar inquieto em seu colo, roçando
a bunda em seu pau semi desperto.
Suas bocas não desgrudavam nem por um segundo. Não queriam se afastar
sequer para tomar ar, o que os deixava ainda mais sem fôlego. Jimin chegou
o corpo mais pra frente, encaixando sua entrada exatamente em cima do
pênis duro do mais novo, sem parar de beijá-lo de jeito nenhum; abriu os
olhos também, e levou a canhota diretamente para o pescoço do submisso,
enfeitado com a coleira vermelha de rebites, adorando ver o acessório nele.
Só aquela peça já lhe causava um tesão tremendo, porque além de
visualmente sexy, representava a submissão consensual do outro a si. E
nada o instigava mais do que aquilo. Acabou apertando levemente o
pescoço do brat com a ponta dos dedos grossos, recebendo um gemido
aprovador em resposta, que o fez sorrir.
— Você gosta, não é? Adora ficar sem ar, ser enforcado, ficar sob o meu
controle... — indagou provocador, sondando o terreno.
— Puta que pariu, garoto... — disse o mais velho num meio rosnado
mesclado a um gemido excitado pra cacete.
— Não é que assim que se pede, seu malcriado... — Jimin brincou, com a
voz aveludada, dando um aperto mais forte nas laterais do pescoço do
garoto.
— Por favor, goza pra mim, meu senhor... Eu imploro... Me deixa sentir sua
porra — corrigiu falando arrastado.
Maldoso, Jimin levou a canhota pra trás do próprio corpo, abaixo dele e
capturou o falo duro do garoto, direcionando a cabecinha para sua entrada,
deslizando ela ali, recebendo aí o olhar surpreso e vacilante do Jeon.
— Ah, Jimin... Isso não se faz — cruzou os braços e fez um bico. — Isso é
maldade, poxa! Por que está me castigando assim?
— Porque tenho quase certeza que você é um masoquista, então não vou
conseguir te manipular a me obedecer, ameaçando te machucar — foi
direto. — Então preciso de uma carta na manga. Sei que você nunca fodeu
um alfa macho e está louco por isso, então...
Jimin deu uma piscadinha zombeteira e limpou o esperma que sujava ele e
Jungkook, com a cueca jogada no chão. Depois se jogou de costas na cama,
relaxado, e fez um sinal pra que o ruivo fosse até ali se deitar com ele, o que
o garoto fez sem oferecer resistência. O moreno trouxe a cabeça de fios
vermelhos desbotados para seu peito, acariciando os fios tingidos entre seus
dedos, enquanto ambos tentavam recuperar as respirações.
O Park riu, todo bobo. Realmente, tinha proposto gozar na cara do garoto,
enquanto tocava uma, mas as coisas acabaram acontecendo diferente.
— Claro que sim, bebê... Sou um homem de palavra, afinal — disse com
alguma seriedade. — Se eu disser que vou te fazer gozar só te fodendo,
cumprirei com minha palavra — finalizou rindo.
— Você fala putaria o tempo todo... — o mais novo riu, se inclinando para
olhar no rosto do outro. — Isso faz parte de você?
— Cala a boca, Jimin — o ruivo disse alto, dando um tapa no peito alheio.
Estava contando com que o lúpus tivesse esquecido daquilo. O Park apenas
gargalhou mais alto, vendo que, finalmente, fizera Jungkook sentir
vergonha.
— Com Taeyang eu precisava me controlar mais, mas não era como se ele
repudiasse ouvir algumas putarias. Isso pra ele era até aceitável, ele mesmo
dizia um pouco, durante o ato. Como eu disse, todos tem fetiches Kookie,
mesmo que ainda não tenham se dado conta da maior parte deles —
explicou. — Quis dizer durante a adolescência mesmo. Quando comecei a
fazer sexo, depois que passei pelo primeiro cio.
— Eles te obrigaram a passar um cio com alguém que você não queria? —
Jimin indagou, levando o rosto para encarar Jungkook seriamente
preocupado.
— Não quero falar sobre isso agora, hyung. Vai acabar o clima e não quero
estragar nosso momento — resmungou. — Te contarei melhor em outra
ocasião. Mas honestamente, eu não suporto meus pais. Eles são ricos. Não é
à toa que mesmo vindo de uma família rica, eu tenha um trabalho de merda
e more naquele cubículo. Mas odeio tanto minha família, que prefiro passar
por algumas necessidades, do que ter de aturá-los. Eles me fizeram
realmente mal, quando eu te contar, você talvez me entenda...
— Mas volte a me contar sobre você... O que aconteceu na primeira vez que
você pegou pesado no Dirty Talk? — perguntou curioso, o ruivinho.
— Aish... Eu estava com uma ômega fêmea. A mesma com quem tinha
passado meu primeiro cio — contou. — Eu não entendia porque fora do
cio, não estava me sentindo com tesão por ela. Quero dizer, eu sabia que
gostava de alfas, sempre soube. O cheiro me atraía e me deixava de pau
duro. Mas não era como se o cheiro ômega me incomodasse também, só
não me deixava excitado. E eu gostava de corpos femininos, não repudiava.
Só que era uma excitação tão fraca, que acabava se tornando um sexo
mecânico demais, sem paixão ou desejo suficientes. Então tentei um ômega
macho. Foi mais prazeroso, o corpo masculino me atiçava muito. Mas o
cheiro continuava indiferente. Já os betas, por não terem cheiros
específicos, soavam como algo bom, mas não delicioso. Eu sentia
necessidade de dizer obscenidades e transar de modo bruto. Os ômegas e
principalmente as fêmeas, até mesmo as de classe alfa, definitivamente não
aguentavam. Eles ficavam horrorizados com minhas palavras, alguns até se
assustavam, pensavam que eu era um maníaco ou algo assim — disse rindo.
— Com o tempo, percebi que mulheres não me atraíam de verdade,
independente de classes. Ômegas também não me deixavam excitado, então
eu me permitia ficar apenas com betas machos. Foi assim que conheci
Taeyang. Mas um pouco antes de estar com ele, me permiti experimentar
meu primeiro alfa e foi incrível. Então eu só ficava com betas machos
quando não podia ter um alfa macho, era mais como uma necessidade. Eu
estava saindo com um alfa macho, quando conheci Taeyang, mas por ironia
do destino, acabei me apaixonando por esse beta. Mas ele foi o único,
também. Então, digamos que eu seja homossexual; e quanto às classes, só
curto alfas e betas, sou bi-classe.
— Talvez isso seja por causa do seus genes de ômega, não? — sugeriu o
mais velho.
— Não... na verdade, antes do meu primeiro cio, nem eu mesmo sabia sobre
os genes ômegas. Eu tinha cheiro normal, de alfa — revelou, vendo Jimin
encará-lo surpreso. — Quando meu primeiro cio veio, com a febre... bem,
tive um heat. E foi assustador. Não sabia o que estava acontecendo, meu
corpo não deveria estar reagindo daquele jeito. Não me incomodo com meu
cheiro ômega, ele não me enjoa, é só o de outros ômegas.
— Foi por isso que você nunca foi o ativo na relação com um alfa macho?
Antes do primeiro cio, você só transou com um beta macho e uma alfa
fêmea. Depois do cio..?
— Depois do cio, quando fui ficar com um alfa macho, ele não me deixava
ser o ativo. E então nenhum deles deixou, nenhuma vez. Sempre me diziam
que por eu ter genes ômegas e lubrificação, tinha nascido para ser penetrado
— falou revirando os olhos. — Por conta disso, eu até costumava ficar mais
com ômegas fêmeas, que machos.
— Tanto faz — disse dando de ombros. — Gosto dos dois, realmente. São
sensações diferentes, mas me agradam do mesmo jeito.
— Assim não vou ficar mole nunca, hyung. E isso vai ser ruindade, se você
não for me fazer gozar de novo — disse quando o outro soltou seu beiço.
— E quem disse que não vou te fazer gozar de novo? Só falei que hoje você
ainda não vai me foder — riu em tom zombador. — Mas ainda vamos
brincar muito, temos a madrugada toda, bebê... — E aproximando-se do pé
do ouvido alheio, provocou: — Ainda vou te foder inteirinho hoje...
— Não me faça repetir o que já falei lá embaixo, não sou bom com
palavras... — resmungou sem jeito, mas sem tirar o sorriso bobo de seu
rosto.
Jimin lhe deu um selar na testa, fazendo um carinho em sua bochecha, com
a mão direita.
— O que você acha que eu quis dizer, quando falei que queria que nossa
relação fosse exclusiva? — indagou em tom meio indignado.
— Pensei que você queria dizer que a gente teria uma relação de D/s fixa e
exclusiva, mas que fora dela era outra coisa.
Jimin bufou e sacudiu a cabeça, como se faz ao ver uma criança fazendo
malcriação.
— É claro que não. Nós não temos apenas uma relação dentro do BDSM,
temos? Nós temos uma relação fora disso também. Nós somos parceiros de
cio. Transamos pela primeira vez nele, mas vamos transar ainda mais hoje
mesmo. No fim das contas, nós temos uma relação muito mais fora do
BDSM, uma vez que nós não tivemos nenhuma prática de bdsm sexual
ainda. Entende o sentido?
— Mas já não dá pra contar como bdsm, tudo o que a gente fez hoje? Quer
dizer, você realmente me dominou e me controlou, hyung. Usei coleira e
tudo...
— Bem, podemos considerar sim — deu de ombros. — O D/s esteve
presente, mas me referi a coisa dos acessórios e tudo o mais. Algo mais
oficial e visual, na masmorra e tudo.
Mas quando ele chegou na porta, o alfa mais alto não se moveu. Não entrou
no lavatório, tampouco cedeu passagem. Então Jimin o encarou de cenho
franzido, tentando entender qual era a dele.
— Depois o bobinho sou eu, não é? — o mais novo disse rindo, e então
segurou o rosto do lúpus entre suas mãos, de forma delicada, e o encarou
docemente, antes de lhe dar um beijo estalado nos lábios. Eles fecharam os
olhos e apreciaram o sabor dos lábios um do outro, pra depois se afastarem
lentamente, se fitando. — Eu disse que gosto de você, hyung. Como não
vou querer ser seu namorado ou qualquer coisa sua?
— Eu é que não tenho culpa de você não interpretar bem minhas ações —
devolveu.
— Já disse que não sou bom com palavras, só com ações, mas que coisa,
hyung.
— Isso é um castigo leve, pra você aprender a não me irritar, nem a ficar
me confundindo de propósito — o lúpus ralhou, apertando os olhos na
direção do outro, enquanto sentava em sua frente.
— Tá falando do que? Você faz a mesma coisa. Sabia que quase me fez
chorar, quando veio com aquele papo de: "Eu nunca me apaixono por
ninguém, desde que Taeyang me abandonou"? — imitou a voz do outro, de
maneira cômica. — Pensei que nunca seria correspondido, eu entrei em
pânico, ok? Isso não se faz, você é mais cuzão do que eu, Jimin —
defendeu-se.
— Então você não perde por esperar, garotinho. Vou te foder sem nenhum
carinho — e aí voltou a grudar seus lábios nos dele.
Meus nenês, tudo bem? Eu queria muito que vocês lessem minhas
outras fics, tenho tantas. Qnd eu gosto de um autor, eu já fuço as obras
dele todinhas, pq sei que é mto provável que eu vá gostar do resto.
Claro, é mais fácil qnd o autor tem poucas fics, oq ñ é o caso da tia
Dare, né kakaka mas deem uma olhadinha, sim? A escrita bacana pelo
menos, vcs sabem que eu garanto.
E queria muito pedir que certos leitores que 'broxam' com a palavra
'rola' ou 'piroca' saibam que eu, autora, broxo mais ainda ao ver o
quão imaturos eles podem ser. Qual, é, galera? Essa é uma fic de sexo
explícito e práticas sexuais extremas. Aqueles que não tem maturidade
pra ler algo assim, não tinham que tá aqui. A fanfic está marcada como
"conteúdo maduro". Então ngm é obrigado a gostar, mas pfvr, evitem
os comentários sobre, pq me desmotiva e autor desmotivado ñ atualiza
fanfic. Comenta que tá broxado aí na sua casa, ñ precisa dizer isso
aqui. É CHATO.
E um último aviso: A forma como Jimin decide punir e castigar o JK, são
os modos como EU castigaria meu submisso, caso ele fosse um brat. Não
existe um consenso na forma como lidar com brat's, realmente. Se vc ñ
concorda, é só ñ castigar o seu sub assim, manja? kkkkkkkkkkk teve uma
criatura que criticou a história, com argumentos sem sentido, dizendo que
o Jimin aqui era todo "machão". Blz, ponto de vista dela. Mas eu ri né? Pq
o Jm dessa fic é soft demaaaaaaaaais, muito mesmo. Se ela achou isso, ela
leu errado, fazer oq? Vale lembrar que o Jimin de INC foi militar por anos,
e quem conhece militares, sabe que eles costumam ser mais rígidos, por
conta de todo o treinamento duro pelo qual eles passam. Então se o Jimin
PARECE durão algumas vezes, é por conta da carreira profissional dele e
não por ser um Dom. Capische?
Boa leitura
Virou-se em direção à escada mais uma vez, para gritar pelo mais velho:
— Por que você tem que se arrumar tanto? — reclamou. — Nós só estamos
indo levar Minzy pra castrar! Não é um desfile ou um encontro, é um
evento muito triste pra um macho. Meu filho vai perder a masculinidade
dele, hyung.
— "Por que você tem que se arrumar tanto, Jimin?" — repetiu fazendo
uma voz totalmente distorcida e zombeteira, deixando o mais novo
indignado com a audácia. — Um homem deve estar sempre bonito e
apresentável, Jungkook — declarou abotoando calmamente a camisa clara.
— Isso é porque você nasceu lindo e perfeito, não precisa de muita coisa
pra parecer bem — disse tranquilamente. — Você fica bonito até acordando
com a cara amassada e os cabelos pro alto.
Jimin o fez, e quando viu o carro do lado de fora, pronto para partir, com
Jungkook no volante, ele arregalou os olhos e levou uma das mãos
pequenas ao peito.
— O que você pensa que está fazendo? — indagou com a voz aumentando
três oitavas, de forma aguda.
1- O carro era de Jimin; ele é quem levaria Jeon de carona até a clínica
veterinária.
Quando viu o lúpus na calçada, com a face cômica de pavor, o rosado sorriu
ainda mais satisfeito e pisou com um pouco mais de força no acelerador,
assistindo ao mais velho também acelerar o passo e, afobadamente, alcançar
o veículo, abrindo a porta do carona e se jogando pra dentro, esbaforido.
Jungkook fingiu que nem era com ele, dando de ombros, para então clicar
no controle automático que repousava em suas coxas, fechando a porta da
garagem; em seguida, voltou as mãos ao volante, trocou a marcha e
acelerou.
— E daí? — Jimin gritou com o tom fino que sua voz adquiria quando
ficava indignado com algo. — Não importa, você não pode dirigir, apenas
fique ao meu lado.
— Sinto saudade de dirigir. Sempre fui ótimo motorista, mas depois que saí
da casa dos meus pais, as coisas ficaram difíceis, financeiramente falando,
então nunca tive dinheiro pra comprar um carro novo — comentou o
rosado, sem tirar os olhos da direção em que seguiam. — Tive que vender o
veículo que eu tinha, pra pagar pelos móveis, a mudança e depósito de três
meses de aluguel adiantado.
— Humn — Jimin murmurou, contrariado, ao mesmo tempo em que sentia-
se mal de querer privá-lo de dirigir, dado os fatos narrados. — Ao menos
coloque o cinto de segurança, Jungkook, seja menos imprudente... — mas
ao ver que o mais novo não movia um músculo pra obedecer, o mais velho
bufou e se esticou por cima do garoto, com cuidado para não bloquear sua
visão, e puxou o cinto por cima dele, transpassando o corpo magro do brat e
conectando-o no lugar devido.
Cara de pau.
— Você fica cada vez mais abusado — reclamou. — Isso vai ter volta,
Jungkook. — O rosado apenas riu, como se não levasse a sério o aviso. —
Vai rindo, pivete... vai rindo — debochou o Park. — Você vai ser punido
por isso e por ter sido um malcriado durante nosso play. Nada está passando
batido.
— Onde foi que eu errei? — resmungou. — Olha só como você me fez sair
de casa!? Não pude nem passar um bb cream no rosto. Olha isso aqui! —
bradou apontando pra própria face limpa, onde uma pequena marca de
espinha manchava o rosto quase imaculado, na área da bochecha.
Jimin abriu o porta-luvas, pegando o óculos de sol que sempre deixava ali
dentro, para então colocá-lo na face, no intuito de esconder o rosto sem
maquiagem e amassado de sono. Observando Jeon dirigir com apenas uma
das mãos e o outro braço relaxado na janela aberta, o mais velho grunhiu.
"É a natureza dele, Jimin" pensou. "Não dê tanta atenção a isso, ele não faz
exatamente de propósito, é algo mais forte que ele e você está ciente disso.
Nada que uma lição não seja capaz de controlar."
— Já chegamos, vamos lá — o de genes ômegas disse despreocupado, após
dez minutos na direção, enquanto estacionava. Guardou então a chave e
saiu do carro, abrindo a porta traseira e pegando a caixinha do gato.
— Ele queria que o gato fosse gata, então batizou assim. Mas é macho.
Estamos aqui para castrar as bolas dele — disse resoluto.
Jungkook o encarou de olhos apertados, fingindo-se de bravo, pelo modo
que o outro havia falado dele. A recepcionista apenas riu e sacudiu a cabeça
levemente.
— Sim, deixei ela doze horas sem comida e sem água... quero dizer, ele.
Deixei ele — Jeon respondeu.
— Passe o valor no meu cartão, por favor — O mais velho pediu, tirando a
carteira do bolso.
— Pra quê carro? Vamos a pé. Tem vários restaurantes por aqui — o Park
disse óbvio.
Não era incomum que Jimin lhe fizesse carinho, mas agora que tinham
finalmente se declarado um pro outro e deixado definido, que o que tinham
era um namoro, além da relação de Dom e sub, os carinhos do tamer eram
ainda mais frequentes, e Jeon não sabia se ficava tenso ou se derretia; as
mãos suavam frio, a boca secava, o coração acelerava no peito. Porque a
verdade, era que à cada carinho que o Park lhe dava, Jungkook se via mais
afogado naquele mar de emoções profundas.
Entretanto, isso deixava sua cabeça mais confusa. Nunca precisou separar
muito a coisa de ter sentimentos por alguém, versus apenas transar. As
vezes gostava de algumas pessoas, namorava, curtia, mas era tudo
passageiro. Alguns romances eram muito intensos, outros nem tanto. Uns
mais tranquilos, outros mais conturbados — e quanto maior o nível de seu
sentimento pela pessoa, mais possessivo o garoto ficava, fazendo desses
relacionamentos os mais conturbados, pela sua total falta de maturidade
para lidar com o próprio ciúme e insegurança. Ele sabia que geralmente
exagerava naquela questão, mas não era como se pudesse controlar muita
coisa.
Nunca chegou a ser abusivo com ninguém, mas criava discussões absurdas,
que terminavam em um Jungkook furioso e rompendo as relações, no calor
do momento. Pessoas não eram perfeitas e o rosado menos ainda. Mas era
algo que ele cuidadosamente vinha tentando melhorar em si mesmo. Algo
lhe dizia que se ele fizesse qualquer ceninha ciumenta com Jimin, o Dom
ficaria muito, mas muito bravo.
— Mas quero escolher o que vou comer, hyung, você nem sabe o que eu
gosto — resmungou.
— Por favor, traga junto com a comida, um koni de frutas — Jimin ordenou
ao garçom, quando este se aproximou. Então dispensou o atendente, com
um movimento de mãos, em seguida pegando seu celular no bolso,
começando a teclar nele distraidamente.
O moreno rolou os olhos da tela do celular, para mirar o mais novo e seus
olhinhos redondos brilhantes, sentindo-se tentado a parar com aquela coisa
de punição, e mimá-lo muito. Mas não podia. Realmente não podia.
— Eu vou comer o koni de frutas, mas não tem sobremesa pra você,
Jungkook — respondeu o encarando com seriedade. — Já falei que está de
castigo. Ou melhor, você está sendo punido. É pra que você se envergonhe
do que fez mais cedo.
O mais novo ficou surpreso. Pensou que seus castigos, seriam algo como
não poder gozar, ou não poder beijar o Park enquanto transavam, coisas
daquela natureza. Quanto às punições, imaginou que fossem algo como
ficar sem receber carinho ou aftercare. Mas tirar sua sobremesa, já era
sacanagem. A sobremesa era algo muito importante. Não se brinca com a
comida de um homem.
Ele ficou remoendo aquilo em sua mente, até que, enquanto mastigava a
segunda porção de comida, resolveu perguntar:
— Hyung?
— Por que você não me castigou pela malcriação nosso play antes? Já se
passaram alguns dias — disse de boca cheia.
O Park levou uma peça de uramaki à boca, com o auxílio de seu jotgaraki, e
pensou em como explicar de forma simples. Quando engoliu o alimento,
fitou o mais novo, que o observava com atenção, esperando pela
explicação.
Jimin, ao reparar na tristeza do garoto, não sentiu prazer algum. Não queria
realmente puni-lo, mas era uma obrigação. Se não o fizesse, em algum
momento Jeon realmente passaria dos limites em suas provocações, o que
poderia gerar uma situação irreversível na relação deles, algo que o moreno
não queria. Afinal, estava ficando realmente apaixonado pelo garoto, um
sentimento forte demais se desenvolvendo, um gostar genuíno, e prova
disso, era a vontade de fazer carinho no mais alto 24h por dia. Ele era seu
namorado agora, além do mais.
O tamer então aproximou sua destra da dele, que ficou apenas encarando as
suas mãos unidas, sem dizer nada, e com a cabeça baixa.
— Isso é pro seu bem e pro bem da nossa relação, Jungkook-ah — disse
com a voz suave. — Não estou me divertindo em fazer isso, pode ter
certeza. Mas não é só o submisso que tem limites, amor. O Dominador
também tem os dele. E se eu não for capaz de te disciplinar agora,
futuramente você poderá ultrapassar os meus, prejudicando a nossa relação.
E não quero que isso acabe mal. Na verdade, não quero que acabe nunca.
Realmente gosto muito e me importo com você, bebê — disse subindo a
destra para os cabelos macios do brat. — Gosto muito mesmo — repetiu
baixinho.
— Que bom — o mais velho murmurou, dando um último carinho nos fios
desbotados do garoto, para então se afastar e voltar a comer em silêncio.
Após pagar a conta — não perdendo o costume de dar uma gorda gorjeta ao
garçom, ainda que sua situação financeira não permitisse tal coisa —, o
lúpus acompanhou o namorado de volta à clínica veterinária para buscar o
gatinho, caminhando lado a lado, tendo a mão delicadamente pousada na
curvatura das costas do mais novo de modo protetor e territorialista, o que
não passou despercebido do Jeon, que embora chateado, adorava a
proximidade do corpo do mais velho ao seu e como o domador se portava
de modo claramente possessivo para com ele.
Jimin então deslizou a destra pela coxa esquerda do garoto, sem malícia.
Esticou o corpo e puxou a cabeça do alfa em sua direção com a canhota,
deixando-lhe um selar na testa meio coberta pela franja.
A coisa era que Jimin precisava que Jungkook entendesse o porquê não
deveria fazer tais coisas, e aparentemente, esta parte já estava funcionando.
Mas o que ele lhe daria no final de semana, mostraria o verdadeiro tamer
dentro de si. O menino malcriado seria, efetivamente, domado.
[...]
O sininho da loja de conveniências soou. Jungkook estava nos fundos,
colocando o celular pra carregar na tomada, mas pode ouvir perfeitamente a
voz de Jung Hoseok cumprimentando Namjoon e imediatamente engatando
uma conversa com o outro beta.
Após verificar que o aparelho carregava, para que dali a pouco pudesse
avisar Jimin que fosse buscá-lo, Jeon caminhou para a frente da loja, vendo
o Jung com um sorriso grande nos lábios, enquanto ria de algum assunto
com o Kim.
Do lado de fora, a neve caía em flocos finos e de forma leve, como plumas
no ar, enfeitando o chão de concreto com um tapete branco de gelo.
— Eu não tenho nada a ver com isso, viu? — o beta mais novo respondeu.
— O Senhor Bum é um mão de vaca do caralho, por mim, você pode comer
e beber o que quiser e sair sem pagar, Hoseok-ssi. Mas se ele descobrir, o
Jeon vai pro olho da rua — alertou dando de ombros.
— Hey, por que só eu vou pro olho da rua? — o garoto indagou com um
biquinho e olhos levemente esbugalhados. — Você também compactua com
isso.
— É, mas o Hoseok é seu amigo. Seu melhor amigo — Namjoon
respondeu. — Eu o conheci através de você, então não é como se a culpa
fosse cair pra cima de mim. Além do mais, quando você não está, Hoseok
costuma pagar pelo que consome.
— Aquele velho gordo nem tem como saber — o mais velho dos três
comentou, soprando o miojo fumegante preso em seus jeotgaraki. — A não
ser que tenha colocado câmeras escondidas por aqui.
— Oh... menos mal — o rosado disse aliviado. Então foi dar a volta no
balcão e a primeira coisa que viu, foi o par de tênis estranhos que Hoseok
usava, fazendo-o montar uma careta debochada na face. — Cara... por que
você se veste tão mal? Olha esse sapato... e essa bolsinha de velha,
pendurada? Minha nossa, meus olhos doem...
— Você diz isso agora, mas se tiver a oportunidade de ter um, não vai parar
de usar — o switcher declarou. — Aliás, tente pedir um pro seu alfa. Ele
tem grana pra isso e aposto que vai adorar te mimar.
— Você está com um trabalho que paga tão bem assim, Hoseok-ssi? —
indagou Namjoon. Ele e Hoseok eram colegas, mas não tanto a ponto de
usar o honorífico "hyung", então se referia ao mesmo de modo respeitoso,
com o sufixo "ssi".
— Então você usa esse sapato feio pra agradar ele, é? — o ruivo zombou.
— Que cachorrinho obediente. Pensei que fosse ao contrário e ele quem
fosse o que faz as coisas pra agradar você, já que é submisso seu...
— É tão sutil que você nem percebia, não é? — perguntou o Jung, aos risos.
Jungkook bufou.
Hyung favorito
Ia deixar o celular no lugar e voltar para a frente da loja, mas Jimin ficou
online, e em menos de um quarto de minuto, começou a digitar. Então o
rosado aguardou.
Hyung favorito
Jungkook sorriu e bloqueou a tela, sabendo que não era necessário resposta.
Já, já, eles iriam se ver.
— Mas e quanto à você e o meu amigo Jin? — falou o Jung, de boca cheia.
— Você e ele tiveram aquele encontro?
O sino da porta soou, mais uma vez. E agora, finalmente Park Jimin entrava
no recinto. Usava uma calça preta apertada, tênis, um casaco grande aberto
na frente e uma camisa preta com uma boca vermelha desenhada,
emoldurando presas de vampiro.
Jungkook conhecia aquela camisa. Era sua. Tinha dormido com ela na noite
anterior. E hoje mais cedo, ao trocar de roupa para ir ao trabalho, acabou
deixando-a amarrotada em cima da cama do Park. Porque, é claro, ele
continuava um bagunceiro fodido. Torcia pra que o dono da casa não
entrasse em seu quarto emprestado hoje, porque o cômodo parecia uma
zona de guerra.
— Oi, bebê — o moreno disse com a voz suave, abrindo um sorriso meigo
para Jeon.
— Até parece que não sabe que eu como igual um bebê recém-nascido, de
hora em hora... — O avermelhado murmurou contrariado. Não gostava de
ser chamado a atenção, principalmente na frente dos outros. E ele sentia os
olhares de Hoseok e Namjoon queimarem em cima dele e do Park.
Jimin pareceu gostar menos ainda daquela resposta, então suspirou e olhou
fundo nos olhinhos redondos do mais novo.
— Estou dizendo isso pro seu bem. Você concorda que eu sou melhor para
escolher algumas coisas para você ou não, Jungkook? — perguntou sério.
Se ele e o Park estavam numa relação de D/s, afinal, era porque concordava
que o lúpus cuidaria dele, tomando a maior parte das decisões por e para
ele. Claro, esse poder tinha bastante limites, os quais o acerejado costumava
deixar claro quais eram. Principalmente porque não tinham uma relação de
total troca de poder, esta era apenas parcial. Contudo, morando juntos, as
coisas pareciam ir se moldando e ele, sem nem perceber, ia entregando cada
vez mais poder ao ex-militar. E por mais insubordinado que Jeon Jungkook
fosse, ele gostava daquela dinâmica mais intensa. Gostava daquele cuidado,
daquele exagero — Jimin podia ser bastante dramático, quando queria.
Mas como a coisa de ser acordado, Jeon entendia que haviam motivos para
que se levantassem no mesmo horário, para que aproveitassem melhor o
tempo juntos, enquanto estivesse morando na casa do Dom. Assim como
agora. Embora Jungkook fosse um homem maduro de 25 anos, que podia
perfeitamente optar por comer um pacote de m&m's ao invés de jantar, sua
racionalidade dizia que era uma puta sacanagem encher a barriga com
aquilo, quando Jimin tinha lhe preparado algo tão gostoso, com tanto
cuidado e carinho. Porque o Park claramente fazia de tudo para dar-lhe o
melhor tratamento e hospitalidade que podia.
O desbotado se virou para tirar o avental e foi para os fundos da loja. Só aí,
foi que o Park notou os outros dois betas ali. Ele acabou ficando sem jeito,
de os dois presenciarem sua bronca em Jeon, então pigarreou e sorriu
forçado.
— Hey, Park — o switcher chamou. — Não fique tão bravo com o JK, fui
em quem deu os m&m's pra ele. Foi mal.
É claro, o switcher estava mais que ciente do que o AlphaDome faria com o
Jeon durante a visita. E que por isso, o ex-militar precisava da presença de
outras pessoas ali, para aplicar efetivamente a prática. Mas não deixava de
pensar no quão ousado era o Park, por já punir um sub iniciante na primeira
sessão deste. Era um movimento arriscado. Mas sabia que se Jimin
escolhera aquilo, o faria corretamente. Não fora apelidado de AlphaDome à
toa, afinal. E Jungkook não era nenhum frouxo, embora fosse um pouco
sensível. Mas pelo que Yoongi lhe contara, não era como se o Jeon fosse
acabar chateado, no fim das contas. Jimin pegaria muito mais leve do que
Yoongi costumava pegar com Taehyung, por exemplo.
De qualquer modo, era bom demais. E Jungkook pensava que, ainda que
ele fosse amaldiçoado a ser um animal, uma fera, ou um demônio, de
qualquer modo seu coração bateria mais forte pelo sujeito de lábios
carnudos, maxilar cortante e olhos pequenos. Ser ou não ser era uma
questão de ponto de vista. E na sua visão, Jimin seria sempre a pessoa mais
atraente que já vira.
— Vai indo pro banheiro do meu quarto — o lúpus pediu, tirando o casaco
do rapaz, enquanto este empurrava as botas para fora dos pés, quando
entraram em casa. — Põe a banheira pra encher e tira a roupa. Já te
encontro lá, vou só buscar sua roupinha no outro quarto — finalizou dando
um beijinho na nuca do rosado.
— Quer dizer que você vai ficar escolhendo minhas roupas e nem pergunta
se eu deixo, é? — indagou.
Jimin piscou um par de vezes, para então abrir um sorriso tão sarcástico
quanto o do brat.
— Você é meio lento, né? Demorou esses dias todos pra reparar — zombou,
passando a empurrar o alfa para que caminhasse em direção às escadas
transparentes. Jungkook começou a fazer um biquinho indignado, mas antes
que dissesse alguma coisa, Jimin se explicou: — Eu fiz e você não
reclamou. Se você não quiser, não faço mais. Algumas coisas não posso
simplesmente pedir, porque você vai negar por pura birra. Então faço de
forma sutil e vejo se você gosta. E você não pareceu se importar muito, pelo
contrário... — terminou quando chegaram no andar de cima.
— Eu sei, só quis implicar, porque me dei conta disso hoje — comentou
despreocupado o rosado. — E isso porque o tal do Yoongi escolheu uma
roupa ridícula pro Hoseok hyung vestir . Tinha que ver o par de tênis que
ele usava. Parecia uma nave espacial. E foi presente do tal Taehyung. Sabia
que o sub deles é rico?
Jimin fechou os olhos, rindo dos comentários do garoto. Jeon realmente não
tinha filtro, falava o que vinha na cabeça e pronto. Aquilo deveria causar
problemas ao mesmo e certamente causaria problemas na relação deles.
Mas não deixava de ser engraçado, Jimin admirava a coragem. Ele mesmo
acabava sendo meio falso com as pessoas ao redor, pois não queria ser rude
ao criticá-las em sua sinceridade.
Como por exemplo, não sugerir a Yoongi que este comesse um pouco mais
de arroz diariamente, pra ganhar algum peso. Ele achava que o amigo
estava tão magro, que um mero vendaval seria capaz de arrastá-lo para
longe. Mas mesmo com o melhor amigo, o Park não queria ser indelicado.
Então apenas ficava quieto. Bem diferente de Jungkook, aparentemente.
— Pode fazer como quiser, hyung. Agora vem me dar banhozinho, que eu
tô cansado...
— Eu sei lá. Acho que foi hoje à tarde. Não me faz pergunta difícil, Jimin.
O moreno bufou, passando pelo outro alfa e então tomou o pacote vermelho
das mãos dele.
— Esse seria um problema meu também! Eu beijo essa boca aí, garoto! —
exclamou.
Mas é claro que Jungkook o fizera de propósito, tanto que sorriu matreiro
com a língua entre os dentes.
— Que bom que você é malandrinho, mas aqui não tem empregado, ok? —
Jimin ralhou. — Arrume sua bagunça — e então abandonou o quarto,
deixando Jungkook sozinho com sua tarefa. Mas não sem antes lhe dar um
olhar enviezado e repreensivo, que fez o mais alto continuar a rir, sozinho
no quarto.
Não haviam mais dúvidas. Jungkook nascera para irritar o Park e tirar um
ótimo proveito daquilo. A relação dos dois estava certinha. O dominador se
derretia todo, quando o ruivinho o afrontava, embora fizesse um bico
gigante e uma careta irritada. Mas era aquilo que mais o atraía no alfa. O
rosado o instigava. Jeon gostava de agradá-lo, mas sem deixar de ser quem
era, sem perder a própria essência ou contrariar os próprios instintos. Jeon
Jungkook era original e destemido. Fofo e inocente. Ao passo em que,
quando se tratava de sexo, era manhoso e safado, um bocado audacioso.
Park Jimin estava irreversivelmente apaixonado por ele. E era mais do que
recíproco.
SWAAAAAAAAAAAAAAAG
Lembrete:
É claro, Jeon já sabia que sua primeira sessão realmente, tinha sido o age
play. Todavia, uma vez que o Age Play é considerado por muitos, como
algo à parte do BDSM — talvez uma vertente deste —, e seu jogo com
Jimin não havia tido nenhuma conotação sexual, mas apenas uma regressão
psicológica de sua própria mente, onde pôde explorar livremente sua
criança interior — que ansiava por atenção, carinho e algumas façanhas
desobedientes —, sua primeira sessão oficial de BDSM, na masmorra, seria
a que aconteceria hoje.
Ah, sim, Jimin havia pensado muito sobre aquilo. O que planejava pro
malcriado, era um castigo delicioso, principalmente porque já tinha notado
as nuances exibicionistas em seu menino. Ao contrário do próprio Park:
Enquanto o Dom curtia apenas se mostrar, Jungkook amava tanto se exibir,
como observar. Era como os dois lados de uma mesma moeda: exibicionista
de um lado, voyeur do outro.
Imediatamente o aloirado foi tirando seu pijama que, daquela vez, consistia
num shortinho de tecido leve e um moletom preto fofinho. Ele tinha batido
o pé, na noite anterior, porque queria vestir seu pijaminha rosa com listras,
mas o Park havia lhe explicado que sua mente, sem querer, poderia ser
transportada ao seu Little Space, fazendo-o portar-se inconscientemente
como o bebêzinho de 3 anos do age play, ainda que de forma leve. E isso
não poderia acontecer naquele dia, por conta da sessão e por conta do
castigo. O brat precisava estar apenas no seu Sub Space agora.
Diferente do que a maior parte das pessoas tem impressão, o BDSM não
existe sem Dominação psicológica. "Dominar" apenas fisicamente o corpo
de alguém, sem que sua concessão seja feita pela parte a ser submetida, é
abuso e/ou estupro. Dominar é fazê-lo à nível mental, de modo que o outro
queira se submeter fisicamente, ainda que o submisso não seja do estilo
tradicionalmente obediente. Ainda que seja um dos vários tipos de bottom,
como: Escravo, um Brat, um Sam, ou até mesmo um Break Me — este
último, não considerado uma vertente de submissão dentro do BDSM São,
Seguro e Consensual, mas sim de outra vertente, justamente por conta da
consensualidade problemática, havendo muitas discussões sobre o assunto
no meio.
Jimin deu uma gargalhada, fechando os olhos pequenos. Qual era a daquela
maldita mania de Jungkook, de querer fazê-lo morrer de amores, sendo
teimosinho? Mas que coisa. O Park sequer se entendia, sempre detestou ser
contrariado, ter gente o questionando ou batendo de frente, mas quando o
maior fazia, era tão, tão, tãaaao bonitinho. Ficava em dúvida se tinha se
apaixonado por conta disso, ou se era ao contrário e achava bonitinho por
estar apaixonado.
— Você quer mesmo? Pensei que era só da boca pra fora. Eu vejo você
tentando controlar a alimentação pra manter o físico...
— Porque são coisas diferentes, Kook-ah. Uma coisa é você ter um amigo
que pratica isso. Outra completamente diferente, é você estar se
relacionando com alguém do meio. Ter um amigo até mesmo fetichista, não
é algo que te relacione ou que vá interferir diretamente na sua vida. Mas
estar transando com alguém assim, significa que você pode acabar sendo
alvo das práticas. Então pensei que você fosse ter medo de ficar comigo. E
já te contei da coisa toda com Taeyang, você sabe que aquilo me deixou
meio traumatizado.
— Eu não sei porque não me apaixonava pelos sub's que tinha — foi
sincero. — No começo da relação, eu até ficava um pouco balançado, me
sentindo meio encantado. Mas parece que minha mente travava e revertia
tudo depois. Não pelo bdsm, óbvio. Mas sim porque... fiquei traumatizado
pelo romance. Ser tratado do jeito que eu fui, por quem eu amava mais que
qualquer coisa no mundo, foi uma facada nas costas — referiu-se ao
abandono do ex-noivo.
Jeon se sentiu mal por ele, mas ao mesmo tempo algo doeu nele próprio
com aquela frase. Taeyang havia sido o grande amor da vida do Park,
aparentemente. Não que Jungkook esperasse que ele fosse vir a ter um
papel tão grande assim na vida do outro, mas ainda assim, era um tanto
incomodo. Fazia-o pensar que, talvez, Jimin fosse ter um limite até onde
podia sentir alguma coisa por si.
O aloirado nunca teve um grande amor da sua vida. Todos os amores eram
na mesma medida de intensidade, alguns mais fortes que outros, mas nada
daquele tipo que "só se sente uma vez na vida." E saber que, já que o lúpus
já tinha tido essa experiência antes dele, deixava-o receoso de que o Park
fosse vir a ser essa pessoa pra ele, enquanto ele não seria a do ex-coronel.
— Mas sério... você nem desconfiava que eu era tão safado quanto você?
— disse brincalhão. — Caramba, Jimin, eu te dava mole o tempo todo!
O ex-militar riu tão alto, que acabou jogando o corpo pra trás, deitando no
tapete, mas não sem antes dar um tapinha fraco no ombro do desbotado, que
ria tanto quanto ele.
Jungkook então o empurrou de volta pro tapete, rolando o corpo por cima
do Park e o tendo agora à sua mercê.
Jimin sorriu, levantando o tronco pra deixar um beijinho nos lábios finos do
namorado. O desbotado retribuiu, segurando seu rosto entre as mãos
grandes; o rosto do moreno, cabia em suas palmas.
— Talvez ele não tivesse tentado arrancar seu dedo a dentadas, se você não
estivesse tentando roubar o biscoito de dentro da boca do menino, hyung!
— Mas...
— Óbvio.
Então a campainha tocou. Sequer haviam notado que o sol já tinha ido
embora por completo, dando lugar a noite; E com ela, a chegada de suas
visitas.
Jungkook encarou o alfa, de modo sério, analisando-o. Até que puxou uma
almofada do sofá e a atirou no rosto do moreno.
— Por que você tá pedindo isso pra ele, Hoseok hyung? Eu não perdi meu
direito de consentir nada não... — ralhou.
Aí então, Jungkook ficou sem jeito. Realmente, ele lembrava de ter lido
sobre aquilo. Era tradicional e ligado aos bons costumes dentro da
comunidade, um Dominador pedir permissão ao outro, antes de se dirigir ao
sub dele. Era algo ligado ao respeito — pelo dominador — e educação,
claro.
— Você sabe como Jungkook pode ser pirracento — o alfa lúpus comentou
em tom brincalhão para Hoseok, enquanto deslizava os dedos entre os do
aloirado, pegando-o pela mão e então se voltando pra ele. — Venha, vamos
nos aprontar. — Então se direcionou para Yoongi: — Hyung, peça a comida
naquela churrascaria do centro pelo telefone, por favor.
Foi só aí que Jungkook reparou no alfa. Ele o encarava com uma cara não
muito convidativa, o que fez o ex-ruivo sentir-se meio perdido. Será que ele
ainda tinha ciúmes pelo dia da play party na The Cave? Será que ainda se
incomodava por ele ter fingido ser o sub do Switcher?
Viu a coleira no pescoço do alfa de cabelos rosinha, o tal Taehyung. Não era
como aquelas usadas nas sessões. Era algo suave e sutil, como um simples
acessório comum. A gargantilha dele era de veludo roxo, com dois
pingentes na ponta, um sendo a letra H e outra a letra Y. Claramente
representando Hoseok e Yoongi. Se voltou então para o amigo Hoseok. Este
usava apenas um fino cordão de prata, com o pingente Y pendurado,
exatamente como o do alfa.
É, Jungkook não sabia quase nada sobre as coleiras. Sabia que existiam
vários tipos e significados, leu um pouco por alto, mas ainda estava um
tanto confuso. Ele sempre esquecia de pedir pra Jimin explicar melhor. Fez
uma anotação mental pra questionar sobre isso depois.
— Ainda não conversei sobre isso com ele. Vamos falar disso daqui a
pouco no jantar, hyung. Agora preciso aprontá-lo — avisou o Park. — Vem
— chamou o namorado, puxando-o pela mão, em direção às escadas.
— Você vai usar uma coisa, que desempenhará a função da punição. Não
vai te dar prazer algum, pelo contrário: vai te deixar chateado,
provavelmente — declarou, sob o olhar atento de Jungkook. — Mas ao
mesmo tempo, terá uma outra coisa te dando prazer. E pra isso, vou precisar
que você fique duro o tempo todo.
— Por quanto tempo a marca que você tem aí funciona? — riu safado,
passando a língua entre os lábios.
— Então você não tem nenhum problema de coração, nem está no grupo de
contraindicados pra esse tipo de remédio, certo?
— Sim... Mas eu não sei se me sinto muito confortável com uma punição
em público...
— Não é pra você ficar feliz mesmo. Por isso te disse que seria um misto
entre punição e castigo. Não é algo muito pesado, mas inclui que você se
sinta levemente constrangido em frente aos rapazes — explicou.
— Bem que você queria — comentou com sarcasmo. — Isso seria algo que
você apreciaria, não é? — questionou se aproximando. — Sei que você
gosta de se exibir, seu fingido...
Jungkook então abriu a caixa branca, vendo uma porção de tecidos com
babados vermelhos. Puxou a roupa, esticando-a frente aos seus olhos. Então
os arregalou e abriu a boca, em choque.
Vermelha.
Jimin mordiscou seu pescoço, distribuindo sucções na pele alva, que ainda
possuíam uma ou outra marquinha escura de chupões das fodas brutas que
deram durante a semana. A mão se movia com destreza no pau de Jeon, que
mordia o lábio com as carícias, sentindo-se enrijecer rapidamente na palma
alheia.
O ex-ruivo sentiu o outro deslizar para sua frente e então abaixar. Ao abrir
as pálpebras, encontrou o Park ajoelhado no chão, como se pronto para
rezar. E o fitando nos olhos, este pôs a língua grande pra fora, lambendo sua
glande.
Mas talvez sua vergonha fosse, de fato, apenas por estar recebendo um
castigo, afinal. Não sabia dizer, era novo demais naquilo, para que pudesse
entender perfeitamente seus próprios fetiches. A prática o faria conhecer a
si mesmo melhor, isso era certo.
Nesse momento, até mesmo o carrancudo Taehyung teve que soltar uma
gargalhada contrariada. A careta que Yoongi fez ao ter uma resposta
daquelas, foi impagável. Hoseok escandalosamente ria, de boca bem aberta
e jogando o corpo em cima do Kim.
— Eu te avisei, hyung. Tudo o que contei sobre Jungkook, não era exagero.
Você podia ter dormido sem essa. — O que apenas culminou com uma
risada mais escandalosa ainda dos garotos, incluindo o próprio Jungkook.
Hoseok apenas recuperou a postura quando seu dominador ômega o
encarou sério; mas continuou segurando uma risadinha no canto dos lábios.
Caminharam para se sentar à mesa da cozinha, onde os alimentos já
estavam expostos e organizados, assim como pratos, copos e talheres. Ao
notar que só haviam quatro cadeiras, embora a mesa fosse levemente
cumprida, Jungkook buscou o olhar de Jimin, confuso:
Jeon sequer sabia onde enfiar a cara naquele momento. Principalmente com
Hoseok sorrindo daquele jeito debochado. Aparentemente seu amigo estava
gostando mais daquele castigo, que seu próprio tamer. Talvez o switcher
estivesse se sentindo vingado, depois de aturar seis anos de encheção de
saco do mais novo, sem poder dar-lhe uma boa surra.
— Aaaah, você tinha que ver, Tae! — exclamava o beta, em tom animado e
alto, como era de costume. — Eu disse: "Dá a patinha, Tannie" e ele
obedeceu e deu um latidinho. Minha nossa, ele é tão fofinho...
— Ele não é mais fofo que Min Holly... — declarou o Yoongi, com um
olhar apaixonado.
E assim que o mais novo fez a pergunta, todos na mesa, com exceção de
Yoongi, fizeram uma careta desesperada e chorosa, incluindo Jimin. Este
apertou sua cintura e choramingou rente ao seu ouvido:
O alfa ficou totalmente confuso, mas antes que pudesse questionar o que
estava acontecendo, Yoongi pôs os braços pra cima, levantando-se da
cadeira com uma expressão muito orgulhosa e convencida no rosto.
O platinado meteu a mão no bolso traseiro da calça jeans que trajava,
pegando o próprio celular, para então entregá-lo a um Jeon totalmente
perdido.
— Dê play, para conhecer a criatura mais maravilhosa que já andou por esta
Terra... — o ômega declarou somente.
Jungkook, que tinha um dos braços em torno dos ombros de Jimin, para se
segurar em seu colo, segurou o telefone grande com a canhota, dando play
no vídeo.
Jimin, que tinha colocado o rosto no ombro do namorado, para que pudesse
ver o vídeo junto com ele, deu uma risadinha em seu cangote.
— Você disse que Minzy não podia ser gay, Jimin. Você me enganou, você
é um cuzão, eu acreditei em você, e... — Só que enquanto dizia isso, o ex-
ruivo começou a dar tapinhas no ombro do Park. E este então cessou a
risada, para encarar o namorado de cima à abaixo. Foi aí que, em silêncio, o
moreno apanhou seu aparelho celular em cima da mesa. E Jungkook se deu
conta de que estava fodido.
Jimin agia como se nada estivesse acontecendo, dissimulado que só. Ele
continuava a comer sozinho e a beber o seu suco, conversando com os
outros rapazes, enquanto Jungkook estava imóvel em seu colo, o corpo
totalmente tenso, na medida em que quase se derretia com o movimento
torturante e delicioso em seu membro sensível. O tamer fingia não estar
dando atenção às reações do garoto, mas pela visão periférica, capturava
cada tremelique que o corpo do ex-ruivo dava sobre seu colo.
Jungkook engoliu em seco. Por causa do remédio pra ereção, seu pênis
estava mais sensível que o normal, e qualquer pequeno movimento, o
deixava mais necessitado. Principalmente no momento em que Jimin se
mexeu e o posicionou melhor em seu colo, encaixando a bunda do
namorado em cima de seu caralho duro e coberto.
— E pra quê isso? É tipo obrigatório? — Jeon indagou, tentando com todas
as suas forças, interagir normalmente. Não queria dar aquele gostinho ao
Park. Ele era um garoto competitivo, afinal.
Jungkook queria muito perguntar como, afinal, Park havia sido descoberto.
Mas o maldito lúpus aumentou a velocidade da bullet, propositalmente, por
não querer entrar naquele assunto no momento. Então em dois segundos, a
atenção do desbotado desviou-se daquela questão.
— O meu é bem simples — comentou o beta. — Eu uso o apelido que tinha
quando era adolescente...
— BabyJ era o apelido do Jimin, quando ele era sub — declarou rindo o
platinado, ao mesmo tempo que batia palmas, com a recordação.
Jeon sentiu seu dominador bufar atrás de si, mas não era como se pudesse
dar muita atenção, já que o movimento do brinquedo em seu pênis
subitamente parecia gostoso demais da conta, pra que sequer conseguisse
manter os olhos abertos.
— Oh, sempre ouvi sobre isso, mas agora quero ouvir direto da fonte —
declarou animado, o switcher. — Você dominou o cara, tipo, do nada?
Jimin deu uma risada gostosa, se inclinando mais de leve, para fitar o beta.
— Oh... do jeito que todo mundo fala, faz parecer que você pegou o cara de
surpresa mesmo. Soava meio exagerado demais, na minha opinião... —
comentou Taehyung.
Mas a mente do brat insistia que ele não podia deixar o Park vencê-lo, de
jeito nenhum. Ele precisava ganhar, sair por cima. Não podia permitir que o
lúpus tivesse um controle tão malditamente fácil sobre si. Principalmente
porque suas emoções influenciavam diretamente em sua libido. Quanto
mais apaixonado e entregue ficava, mais levianamente se submetia em tudo.
Ele queria se deixar levar, segurar na mão daquele em quem confiava e
seguir pra onde o outro quisesse. Só que seu coração era sensível demais e
ele sabia. Então achava que precisava se controlar, por mais difícil que
fosse.
Ah, o Diabo trabalha de modo ardiloso, mas Park Jimin trabalhava ainda
mais. E ele adorava aquilo. Adorava ver Jeon se contorcer, tentando negá-
lo, sem sucesso. Adorava assisti-lo tentar desobedecê-lo e aí fraquejar, bem
diante dos seus olhos. Amava o poder que tinha sobre Jungkook, porque
sabia que causava no mais novo, o mesmo efeito que ele causava em si.
O ex-coronel era um bobo por Jeon Jungkook. Faria tudo por ele e mais um
pouco. As coisas que vinha sentido pelo alfa de genes ômegas, chegavam
em seu peito como uma batida de trem furiosa. A sensação era que, por ter
tentado reprimir o interesse e atração genuínos que sentia pelo garoto ao
longo daqueles três anos, agora o atropelavam como uma avalanche. Ao
invés de vir aos poucos, vinha tudo de uma só vez, numa sensação quase
sufocante.
Mas ora, Jungkook não fora classificado como brat tão imediatamente, à
toa. Ele gostava do embate e de devolver qualquer tipo de provocação na
mesma moeda. Por mais que às vezes se deixasse levar. Agora,
especialmente, ele lutava contra seus instintos, para que não fosse vencido.
Daria o troco em seu dominante. Ele não o domaria agora.
Foi aí que o tamer quase viu estrelas. O maldito brat estava disfarçada e
audaciosamente rebolando no seu pau. Fingia que estava movendo o corpo
porque gesticulava durante a conversa, onde contava alguma coisa, mas era
só um pretexto pra deslizar as nádegas durinhas no pênis alheio. O feitiço
tinha se voltado contra o feiticeiro.
Mas o lúpus não era bobo. Lidar com um sub que não se submetia fácil,
embora fosse uma novidade pra ele, ainda assim não o deixava na mesma
posição de um dominador iniciante. Ainda mais com o monte de estudos
que vinha fazendo, sobre as melhores formas de lidar com um brat.
Aplicaria seus conhecimentos agora. Até porque, Park Jimin nascera com o
dom da provocação intrínseca em seu ser. Aquilo era parte dele. A afronta,
a disputa, o prazer de fazer o outro se curvar a ele. Tudo aquilo lhe era
fodidamente prazeroso e isso sim era uma novidade: as sensações que o brat
lhe causava.
Yoongi era o único que sabia exatamente qual brinquedinho estava sendo
usado no sub. Então o inegável sadismo em si, o dizia que ele precisava
ajudar seu amigo a castigar o malcriado mais um pouquinho. Jimin era
muito mole.
— É que... eu tô... tá tudo bem, sabe, as coisas estão ótimas, minha saúde tá
incrível, hyung, eu tô parecendo desconfortável? — o ex-ruivo falou
desconcertado, apertando o tecido da fantasia entre seus dedos com toda a
força... — Deve ser impressão sua, é que, eu... não sei, tô legal mesmo...
— Mesmo, JK? — Hoseok entrou na brincadeira. — Que coisa, você tá
parecendo suado, igual quando fica com febre. Seu rosto tá até meio corado.
Tá com calor?
— Oh, Kookieee, você não deveria se comportar assim, eu ainda sou o seu
hyung, só estou preocupado com o bebê... — rebateu o switcher, em tom
fingido e repleto de sarcasmo.
— Amor... — chamou Jimin por trás dele. Jungkook se virou de cara feia,
querendo socar o outro. — Pega aquele potinho de alface pra mim, ali do
outro lado da mesa? Mas não quero que peça ao Taehyung. Quero que se
estique e pegue pra mim.
— Você não me parece bem, Jeon — o alfa de fios rosas provocou. — Está
com uma carinha de doente. Ou talvez assim de perto, você seja realmente
feio... — comentou maldoso.
Meio sem jeito por ter visto o que não devia, mas perfeitamente atiçado,
Hoseok voltou o olhar para Yoongi, sentado de frente pra ele, soltando um
risinho safado.
— Tem certeza mesmo que está bem, amor? Quer um pouco de água? —
indagou venenosamente o Park, ao passo em que se sentou mais ereto na
cadeira e rodeou a cintura do namorado com os braços, puxando o corpo do
garoto pra baixo e fazendo seu caralho ir mais fundo dentro da cavidade
quentinha. Ele podia estar ficando louco, mas deixaria Jungkook ainda
mais. Se o outro queria sentar, agora teria que sentar de verdade.
— Oh, JK, já que você está bem, porque não pega uma água gelada pro seu
hyung, hein? Por gentileza — divertiu-se o beta.
— Por que não pega você mesmo? Por acaso nasceu sem mão? — devolveu
o ex-ruivo ao amigo, de modo mal educado e irritadiço.
— Ele não vai me emprestar pra ninguém, não sou um objeto... — rebateu o
brat.
Jimin estava achando uma gracinha, seu gatinho pondo as garrinhas pra
fora, como já era de costume... Ou seria um coelhinho selvagem?
— Ele disse que não é um objeto, portanto não pode pertencer à alguém,
nem mesmo à você — alfinetou o Kim, com um bico nos lábios, do outro
lado da mesa.
O lúpus então, maliciosamente deslizou a palma por uma das coxas de Jeon,
tocando-o pela virilha, até que apanhou a piroca dura na destra, movendo-a
de um jeito muito, muito gostoso.
A porra quente jorrou pela uretra, sujando toda a mão do Park e escorrendo
para as coxas de ambos. E claro, ver o seu garotinho gozando tão gostoso
daquele jeito, além de estarem na frente de tanta gente, deixava o ex-militar
em estado crítico. Não podia enxergar o rosto de Jungkook, mas podia
apostar que o garoto estava com a boquinha aberta, os olhos apertados e o
cenho franzido, enquanto seus dedos longos apertavam a quina da mesa.
CONTINUA [...]
. Meu presente de aniversário: vocês publicarem o link da fic no
próprio mural (mesmo que vc tenha pouquíssimos seguidores)
https://youtu.be/nLlzPoT_r6o
E não quer dizer que todo o homem submisso vestido de lolita ou qualquer
coisa padronizada como 'feminina', está tomando uma punição. Existe o
fetiche específico do cross-dressing, e inserido nele, estão os Sissy, que são
homens que se vestem não apenas como uma mulher, mas sim como uma
boneca. É fetiche dele se vestir assim no play, independente de sua
identidade de gênero ou sua orientação sexual.
Era agora.
Seu coração martelava, seu sangue pulsava por baixo das veias, até sua
visão já estava ficando embaçada. O desbotado teve que começar a fazer
controle da própria respiração, para acalmar a ansiedade que subitamente o
atingira.
— Sim, senhor, eu entendi. Direi "amarelo" caso queira que pegue mais
leve, e "vermelho" se eu quiser que a gente interrompa tudo.
— O cheiro dele é muito gostoso, Hobi... você vai me chupar pra aliviar
meu problema, né? Eu tô surtando, meus instintos estão gritando pra eu
avançar nesse feioso... — resmungou.
Jeon, de pé no corredor e obviamente tendo tudo dito assim, bem na sua
cara, arregalou os olhos. Mas o que sentiu foi diferente de constrangimento.
Engolindo em seco, notou uma certa satisfação em seu ego: Kim Taehyung
estava excitado pelo seu aroma.
Yoongi ainda permaneceu ali fitando Jungkook de modo curioso por mais
um par de segundos, antes de sorrir matreiro e dizer:
— Tire toda a sua roupa, menos a coleira. Remova também a bullet. Fique
ajoelhado aos pés da cama, de cabeça baixa, e me espere. Vou me preparar
pra você — disse sério, mas mantendo aquele tom rouco e provocador em
sua voz. — Quando eu entrar na masmorra, não serei mais o seu vizinho
gentil, nem o seu namorado... Serei o seu Dominador e Senhor. Nós não
teremos romance. Eu irei te humilhar e te machucar. Esteja pronto pra
entrar no jogo — avisou.
Jungkook quase soltou um assobio. Seu coração acelerou, batendo tão forte
no peito, que teve medo que Jimin o ouvisse. Passando a língua entre os
lábios, inspirou e expirou o ar demoradamente, antes de dizer com um
sorrisinho sacana:
— Sim, meu senhor. Mas antes, posso te pedir uma coisa? — perguntou. O
tamer o encarou curioso e deu um aceno positivo de cabeça. — Usa seu
quepe da farda? Por favor...
Entre esses dois, a disputa era acirrada para definir qual deles era mais
safado.
O mais novo então se virou para entrar na masmorra, torcendo para que
tivesse seu pedido atendido. Sabia que estava sendo punido e castigado,
então provavelmente o tamer o ignoraria. Mas torcia pra que seu fetiche
fosse realizado.
Contudo, não hoje; Hoje Jeon Jungkook estava disposto a ser o submisso
mais obediente que o ex-militar já conhecera na vida. Faria cada pequena
coisinha que o outro ordenasse, desde que não ultrapassasse seus limites.
Esses que nem ele mesmo vinha descobrindo aos pouquinhos, já que era
novo naquilo. Mas ao menor sinal de desconforto real e imotivado, o ex-
ruivo sabia que não exitaria em pedir pra parar.
Checou o próprio corpo no espelho. Estava bonito, como sempre. Seu pênis
continuava ereto como nunca, imponente em meio à pélvis clara e
recentemente depilada. A cápsula vibratória estava desligada, mas Jeon
ainda era capaz de recordar a sensação da vibração enlouquecedora, quando
olhava pra bullet. E subitamente com a visão, recordou da expressão sádica
de olhos apertados e desafiadores do Park.
E sim, era claro que o Park já notara. Punir Jungkook era difícil, uma vez
que ele era medianamente masoquista. O desbotado não costumava
provocar para apanhar, mas adorava uma dorzinha. Entretanto, sua clara
exceção era no pênis. Era muito sensível a qualquer dor ali, e espertamente,
era onde o ex-militar percebera ser seu calcanhar de aquiles, de modo que
era um dos poucos modos eficazes de puni-lo com a dor. Então sim, usar a
fita isolante para prender o brinquedo vibrador em seu pênis, fazia parte da
punição.
A sensação que tinha agora, era a de um lugar familiar e que lhe passava
conforto. Era como se quisesse fazer parte da mobília, tão em casa se sentia.
E pensando bem, Jungkook poderia ser considerado um adorno do local.
Era tão propriedade do AlphaDome, quanto todos os objetos que haviam ali
dentro. E ele se orgulhava disso — ainda que houvesse alegado não ser um
objeto, minutos atrás, por pura birra com Yoongi.
Foi aí que Jimin entrou no cômodo iluminado pela suave luz vermelha,
como uma forte entidade. Sua presença era forte abrasadora, parecendo
deixar o ar mais denso. A pele úmida pós-banho, brilhava na leve
penumbra.
Era excitante pra caralho, que aquele moreno doce, de estatura pequena e
voz manhosa, usasse um tom tão rude naquele momento, vestido naquela
minúscula peça de roupa fetichista e pornográfica de látex, e ainda o
insultando como fazia.
Por um triz, o mais novo não se levantou do local em que estava, e partiu
para cima do Park, grudando seu dentes na carne branca do pescoço
cheiroso, marcando-o finalmente como seu.
Sem olhar pra cima, o ex-ruivo espalmou as duas mãos magras no chão e,
lentamente, se arrastou até a poltrona, sempre fitando o tapete vermelho
felpudo por onde passava, nunca o outro alfa, porque duas desobediências
seguidas, não eram uma boa ideia.
Jimin mal podia acreditar que tudo aquilo era seu. Jeon Jungkook, o alfa
peculiar, de personalidade atrevida e cheiro mesclado, era seu e somente
seu. Não só o corpo, mas a mente do garoto lhe pertencia. Era a ele que o
rapaz atendia, ansiava e obedecia.
Jeon Jungkook fora domado por Park Jimin. Submetia-se a ele e somente a
ele. Era sua propriedade, seu brinquedinho. E fora da relação D/s, o garoto
de cabelos tingidos era seu namorado, seu amorzinho e seu bebê.
Droga, estava tão apaixonado que doía. O lúpus vivia para ver o sorrisinho
de coelho brotar no rosto daquele alfa. Jungkook estava ajoelhado no chão,
mas era Park Jimin quem estava aos seus pés.
Jimin era gostoso e fofo. Como alguém poderia ser os dois? — Jungkook
pensava. A dualidade era irritantemente perfeita, e o tamer parecia ter sido
esculpido de forma a deixar o pobre Jeon louco de tesão e morrendo de
amores, como um bobo.
— Olhe pra mim — Jimin ordenou, o tom suave, mas ainda autoritário.
Isso fez o desbotado sorrir, entortando a boca: porque reparou que o lúpus
lembrava-se que ele tinha uma preferência por látex e não couro, de modo
que estava usando a peça daquele material, no intuito de agradá-lo, mesmo
que o tivesse lhe dado aquela inocente informação há muito tempo atrás.
Fora o bendito quepe branco na cabeça, que lhe deixava com uma postura
ainda mais fodidamente excitante. Jungkook estava tão seduzido pelo
moreno, que doía. Doía forte em seu interior, queimava como brasa.
E o desejo do Park não era diferente; queria lambuzar Jungkook com sua
porra, ansiava ouvir os gemidos manhosos do garoto em seu ouvido, queria
sentir a pele alheia queimar encostada na sua. Mas não poderia. Não
naquela sessão. Jeon Jungkook merecia mais um pouco de medidas
disciplinares, não merecia? Mais castigos? Oh, Park Jimin fazia preces
silenciosas, pra que seu autocontrole exemplar não vacilasse justamente
agora. Mal haviam começado, e o moreno já estava louco para comer
aquele cuzinho apertado, puxando os fios desbotados com força entre seus
dedos, pouco se fodendo pra merda de castigo. Queria Jungkook e o queria
agora, implorando por ele.
— Chupe.
Buscando o olhar de seu dono, viu este lhe dar aprovação e incentivo para
que continuasse, com um curto e quase imperceptível menear de cabeça.
Mais instigado, Jeon acolheu o dedo para dentro da boca, dando uma
chupava suave, de olhos fechados. Ouviu Jimin soltar um pequeno gemido
dengoso; Imediatamente, o ruivo abriu os olhos, para mirar o tamer, sua
boca abandonando o dígito com um baixo som de 'ploc'.
Viu o ex-coronel cerrar os olhos e jogar a cabeça levemente para trás, com
os lábios separados, emitindo uma pequena lamúria com a garganta, ao
mesmo tempo em que descia a mão gordinha para o próprio pau desperto,
apertando-o por cima da cueca de látex.
Ao ver o olhar sádico de Jimin sobre si, o mais novo sentiu seu membro
fisgar. Doeria, ah se doeria. E aquilo o excitava ainda mais.
Era inegável que apenas Park Jimin o causava aquele tipo de sensação tão
intensa, como se ele pudesse explodir de tanta agitação. Tinha certeza que
aqueles sentimentos eram o tipo de coisa que levaria qualquer um a pecar.
Como um passe direto pro inferno.
— Oh, você acha que já está bom? — repetiu debochadamente. — Você não
tem que achar nada, Jungkook. Quem decide sou eu. E já sei onde você
gosta e desgosta de sentir dor. Então antes de me provocar de sacanagem,
saiba sempre o que te aguarda. Não serei bonzinho todas as vezes — e
sorriu de modo sádico.
Por último, o lúpus desceu o tronco, de costas para si, fazendo a própria
cabeça ficar entre as pernas. E claro, a posição fez com que sua bunda
coberta pelo tecido látex brilhoso ficasse totalmente voltada pro garoto.
— Amei imaginar o seu cuzinho aberto pra mim, hyung — disse com a voz
rouca ao pé do ouvido. — Não sabe o tanto de vontade que estou de fodê-
lo, Jimin-ssi.
O desbotado quase rosnou desapontado. Mas era culpa dele mesmo, e sabia
disso. Naquele momento entendeu: O Park usaria aquilo como arma. Então
isto mudava as coisas. Se queria foder seu alfa lúpus... ah, teria de ser o
mais comportado possível. O mais submisso que esse mundo já viu.
— Me desculpe por ser assim. Prometo que a partir de agora serei muito,
muito bonzinho, pra que eu possa te dar prazer do jeito que meu senhor
espera.
— E hyung... Prometo que quando estiver com meu pau dentro de você,
vou te fazer gozar mais gostoso que nunca, enquanto você quica em cima
de mim.
Jimin fechou os olhos com força e pressionou a pélvis na do mais novo,
apertando a cintura fina entre suas palmas enluvadas, os dois cacetes tesos
se roçando. Aquelas palavras o afetaram de um jeito totalmente abrasivo.
Porque sim, estava morrendo de vontade de se foder no caralho do outro,
fazia tempo. Estava louco de vontade de sentar nele, o tendo amarrado na
cama e totalmente contido, enquanto usava e abusava de seu corpo como
um brinquedinho. Faria com o pau de Jeon, o mesmo que fazia com seus
dildos coloridos expostos na estante de vidro.
Soltou um dos pulsos do alfa, sob o olhar atento deste, e em seguida soltou
o outro.
Vestido, Jungkook não parecia ter uma comissão traseira com muita carne.
Sem roupas, a história era diferente; o bumbum durinho e malhado, parecia
perfeitamente desenhado, como uma escultura grega da antiguidade. A
visão deixava Jimin passando mal.
O brat mal podia se manter de pé, sua cabeça girava. Rebolava o quadril pra
trás, de encontro ao membro de Jimin, sentindo o baixo abdome fisgar com
os gemidos manhosos que o moreno soltava ao pé de seu ouvido.
Mas com uma risadinha sádica, o mais velho se afastou e foi até a poltrona
capturar o flogger outra vez em sua mão enluvada pelo látex negro. Ajustou
o quepe branco na cabeça, enquanto Jungkook o espiava inquieto por cima
do ombro.
As tiras eram finas e não muito longas, havendo cerca de dez tiras. Quanto
mais finas, maior a sensação ardida e menor a sensação de impacto. As
pontas possuíam cortes na diagonal, tendo o mesmo intuito: o de arder na
pele.
Dando uma leve girada no pulso, para deixar a mão que açoitaria Jeon mais
solta, estudou concentrado a bunda bonita e a parte de trás das coxas
grossas. Sua respiração estava calma e controlada, como deveria ser.
Virou-se para encarar seu domador, por cima do ombro, com um sorrisinho
contido.
O mais novo sorriu e jogou o pescoço para trás, aliviando a tensão em seus
músculos.
Jungkook parecia apreciar uma dor mais ardida, ao invés da dor mais forte e
intensa, então o Park fazia de modo calculado para agradar seu garotinho
masoquista.
Desceu alguns leves golpes para as laterais das coxas do garoto, um pouco
de cada lado, se embebedando nos gritinhos doloridos do mesmo. Cuidaria
dos machucados em sua pele com o maior prazer depois, mas melhor ainda,
teria a visão da pele marcada por si, por bons dias.
Jeon franziu o cenho, pela dorzinha aguda; as duas pequenas peças presas a
seus biquinhos, mais pareciam objetos de tortura, como as garras de um
caranguejo.
— Estou bem, meu senhor — declarou. Seu interior fervilhava pra xingar o
Park com meia dúzia de palavras chulas, mas estava usando o máximo de si
para se calar, afinal.
Mas subitamente, Jimin retirou o membro teso de sua boca, sorrindo sacana
ao virar-se de costas, com a bunda volumosa e musculosa pairando frente
ao rosto do submisso.
— Você vai se calar, porque sua língua estará ocupada demais me fodendo
inteiro — e então agarrou os fios da franja desbotada entre seus dedos
enluvados, causando uma dor prazerosa no couro cabeludo de Jungkook, ao
passo que imediatamente direcionava o rosto dele em direção à sua entrada
sedenta por aquele beijo. — Chupa direitinho, como um bom menino,
Kook-ah... — provocou, sem alterar o tom de ordem explícito em sua voz.
Jimin gemia despudorado com o beijo grego em seu ânus. Amava recebê-lo
na mesma intensidade que amava dar um daqueles. E toda vez que ele
rosnava deliciado, Jungkook grunhia de volta, fazendo com que o som de
sua garganta reverberasse numa vibração gostosa na bunda do Park. Aquela
era a definição de prazer mútuo. Tudo entre os dois era mútuo, afinal.
Jeon adorava o que estava fazendo. Metia a língua no ânus necessitado,
penetrando forçadamente sua entrada no orifício pequeno. Alternava com
lambidas na carne franzida, lambendo tudo o que podia ao redor, para aí
adentrar o máximo de seu músculo aveludado no cuzinho terrivelmente
apertado, outra vez. E aquilo só o fazia imaginar com mais intensidade,
como seria ter seu pau enterrado ali dentro. Tinha certeza que seria como ir
ao inferno e queimar.
Jimin sorriu ainda mais sádico que antes, deliciando-se com o desespero do
outro. Aquilo alimentava seu ego ao ponto de quase fazê-lo explodir. Tinha
Jeon Jungkook em suas mãos.
— Pra você não dizer que sou rígido além da conta, vou te dar algo que eu
estava devendo... — disse naquele tom de voz rouco, que deixava Jungkook
doente de tesão, com o membro piscando pelo namorado.
Jimin então lambeu a palma, para levemente lubrificá-la com sua própria
saliva e aí levá-la para seu sexo duro, deixando-se latejar na própria mão
enquanto a deslizava pela extensão grossa e de veias dilatadas. Tudo isso
sem tirar os olhos de cima do brat.
A pulsação do mais novo estava acelerada e então seu rosto ardeu, sentindo
emoções demais ao mesmo tempo, ao ponto de deixá-lo vidrado na imagem
do Park, piscando rápido para não perder o foco daquele figura gloriosa.
Só aí o mais novo entendeu o que Jimin queria dizer com "algo que estava
lhe devendo" — era a gozada na cara, como planejaram fazer dias e dias
atrás.
Assim que o mais velho se viu livre do torpor pós-orgásmico, limpou com o
dedão uma gota do líquido esbranquiçado na pálpebra do namorado, que
abriu os olhos após isso, o encarando de forma faminta, esperando por mais,
pelo próximo passo delicioso que viria a seguir...
Mas a coisa seguinte que o alfa lúpus fez, foi sorrir de modo debochado e
então dar às costas ao namorado, até sentar-se pesadamente em uma das
poltronas de couro, com as pernas abertas, encarando o submisso ajoelhado
e sujo no tapete, de forma incisiva.
— Sempre soube que você ficaria lindo como uma obra de arte, quando
estivesse sujo com a minha porra... — comentou com a voz mesclada entre
ácida e intensa, deslizando os dígitos pelo próprio lábio inferior, como se
estudasse o mais novo.
— Meu senhor... você não pode limpar isso depois? Vem cuidar de mim,
por favor... — disse com a voz abusada, como uma criança reclamona.
— Não, Kook. Eu quis dizer que você não vai gozar hoje — e então sorriu
maldosamente satisfeito.
— Vai me deixar sem gozar? — o garoto indagou com uma expressão num
misto de surpresa e desespero no rosto.
Ok, era um definitivo exagero, mas de todo o modo, o filho da puta era
rígido pra um caralho. O mais novo estivera mais do que em enganado ao
pensar que o alfa lúpus era um Dominador suave, puramente por ser fofo
com ele e agir todo manhoso na relação amorosa entre eles. Mas Jimin além
de dominador, era um ex-militar, afinal. Controle, disciplina e treinamento
eram suas especialidades.
Jimin sorriu ainda mais malvado, ao ter seu garoto lhe pedindo clemência,
estirando no chão e com a cara coberta de porra. Era realmente lindo, podia
sentir seu sangue correr rápido nas veias e a pulsação acelerar.
O efeito foi certeiro: Jimin desferiu mais dois tapas, um de cada lado do
rosto, dessa vez mais fortes, segurando a mandíbula entre os dedos
rapidamente outra vez, fazendo o garoto encará-lo nos olhos.
— Você não manda aqui, Jungkook... — comentou com uma voz
extremamente calma que sequer combinava com sua expressão dura e
irritadiça. — Acha que pode me vencer? — indagou retoricamente e então
sentou-se sobre o corpo do maior, encaixando imediatamente o caralho duro
do brat entre suas carnes, mas sem se deixar ser penetrado. — Eu sempre
ganho esse jogo, garotinho teimoso... Sempre — e com um sorriso, passou a
deslizar lentamente sobre o falo teso do rapaz, que sequer teve tempo de
pensar em algo para responder, pois sua garganta estava ocupada demais em
gemer ao sentir o atrito delicioso daquele rabo gostoso no seu pau sensível.
Mas então gemidos abafados, que até então Jungkook não havia escutado,
começaram a ficar mais altos. Virando o rosto para a parede, em choque, o
ex-ruivo reconheceu um deles: eram as lamúrias de Jung Hoseok, no quarto
ao lado.
O maldito trisal havia esquecido que estavam ali para protegê-lo caso algo
desse errado. Ao invés disso, estavam usando a suíte do anfitrião, para
transar.
Jungkook queria tocar seu alfa, mas suas mãos estavam unidas pelos pulsos,
num aperto forte da algema de plástico, e quando o tamer empurrou seus
braços e os posicionou na altura da cabeça, o garoto resmungou sabendo
que agora então, seria impossível tocá-lo.
"Ah, sim, nosso alfinha não passa de uma cadelinha sedenta, não é
mesmo?" e dessa vez fora Jung Hoseok a dizer as palavras maldosas, de
forma arrastada.
Jimin rebolou tão acelerado sobre seu submisso, que este quase viu estrelas.
Estava instigado pra um caralho. Ouvir as lamúrias, gemidos e humilhações
dos amigos, além dos sons agressivos, estavam deixando o casal louco.
[...]
O Park sorria como se tivesse ganho na loteria. Sabia que depois dessa, o
malcriado pensaria sempre duas vezes antes de desobedecê-lo, realmente.
Ficar sem gozar já era ruim demais normalmente; mas ficar sem gozar,
tendo ingerido um estimulante de ereção era... maligno.
O melhor de tudo, era aquela sensação quente em seu peito. Era uma
novidade pra ele também. Jimin jamais tivera um submisso por quem
estivesse apaixonado. Meio arriado, talvez, afinal não tinha coração de ferro
nem nada. Mas fazer o Dominador ficar apaixonado depois do fim da
relação com Taeyang, era uma proeza conseguida apenas pelo bendito Jeon
Jungkook.
Com cuidado, o mais velho cortou a algema de plástico com uma pequena
tesoura guardada na gaveta da mesinha de cabeceira — o dominador
dispusera ali, todo o tipo de coisa que seria bom de ter em fácil alcance,
como lubrificante, anel peniano, gel com sabor e coisas simples como estas.
Depois de liberar os pulsos de Jungkook, beijou delicada e carinhosamente
a pele avermelhada, massageando para aliviar a região, ainda que o mais
novo insistisse que não estava incomodado.
Jimin também passou um bom tempo massageando com uma pomada para
pancadas, a pele das nádegas do brat — percebeu então que os açoites
haviam sido mais fortes do que pensara. O bumbum durinho já se
encontrara vermelho de montão, como se um leopardo tivesse arranhado a
traseira de seu garoto. O Park temeu que Jeon se assustasse com o
resultado, mas a resposta do desbotado foi:
— Foi uma delícia você me surrando daquele jeito, hyung... E por mais que
esteja doendo pra cacete agora, toda vez que eu vir essas marcas, vou
lembrar do quanto nossa primeira sessão foi gostosa. — E com isso, o
dominador se derreteu todo. Jeon Jungkook era seu par perfeito, realmente,
e à cada dia mais se convencia disso. Seus fetiches e gostos se completavam
com perfeição.
Qualquer um que visse aquele momento, sem ter ideia de suas práticas
sexuais extremas, pensariam que eles eram um casal que fazia amorzinho
fofo. O que não condizia em nada com a realidade, já que Jimin e Jungkook
apenas namoravam fofo... porém transavam muito, muito bruto e selvagem.
O pênis de Jeon continuava duro feito pedra. Ele torcia pra que Jimin desse
um jeito naquilo ao longo da noite, afinal, ainda faltavam um par de horas
pro efeito do remédio passar. Isto é, se ele não fosse um dos azarados que
acabavam mantendo a ereção por doze horas.
O Park foi até a cozinha novamente e buscou comida para os dois. Entrando
no quarto com uma bandeja, sentou-se no colchão macio e se pôs a comer
os cereais com leite; o seu, sem açúcar; o de Jungkook, com pelo menos
quatro colheres cheias do refinado branco, porque era assim que seu menino
gostava: de alimentos muito doces.
E para encerrar a noite da melhor forma que podia, o lúpus pediu que Jeon
fechasse os olhos e estendesse as mãos, pois tinha um novo mimo pro seu
amorzinho:
Jimin sorriu ainda mais aberto que antes, contorcendo o corpo para que
pudesse abraçar Jungkook de frente. Suas bochechas pareciam querer
rasgar, de tanto que as esticava para demonstrar sua felicidade. Uma de suas
mãos deslizava pelas costas nuas do ex-ruivo, e a outra em seus fios
desbotados e macios, num carinho singelo.
— As vezes eu tenho ciúmes de Jung Hoseok. Ele sabe muito sobre você,
enquanto eu ainda não te conheço tanto quanto gostaria... — confessou em
voz calma.
— Pensei que você me desvendasse fácil, Jimin-ah. Não sei ser misterioso
como você, sou como um livro aberto... as coisas sobre mim parecem
bastante claras, não?
— Você quer que eu te conte mais o que? Eu já te digo tudo, não tenho nem
filtro pra isso. Daqui a pouco vou te chamar de "querido diário", deixa de
charme... — rebateu fazendo bico.
— É sim!
— Mas hyung, não tô mentindo, tô até olhando nos seus olhos, caramba!
Seus pés são gordinhos sim! E são fofos — acusou se jogando em cima do
moreno.
— Park Jimin, seja coerente, okay? Há meio minuto atrás, você disse que
eu era grosso...
O lúpus forjou uma expressão ultrajada no rosto, fazendo uma careta tosca e
levando a destra ao peito, de forma dramática:
— Não acredito que você está usando minhas palavras contra mim mesmo!
— Vem cá, hyung. Eu vou te dar um m&m pra você ficar calminho, tá
legal? Docinho deixa qualquer um contente... — e estendendo o confete
colorido em direção aos lábios gordinhos do alfa lúpus, este o capturou com
a boca, fazendo uma carinha contrariada. — Você tá muito fofo com esse
biquinho, Jimin-ssi... — provocou — Vou morder ele...
— Eu que vou morder o seu, você também tá com biquinho, sempre faz
um... — devolveu com a voz reclamona costumeira.
O fato era que o lúpus sabia que quando estava com Jungkook, os dois
pareciam duas criancinhas manhosas. A única diferença entre eles, de fato,
era que a criancinha de cabelos negros gostava de mandar e a criancinha
nariguda acabava obedecendo porque desistia de tentar ir contra.
Jungkook o deixava tão, mas tão derretido, que era quase impossível para o
Park, não agir do mesmo jeito que ele. Definitivamente ficar apaixonado,
deixava as pessoas meio imbecis.
— Mas eu 'tava com medo de você não aceitar meus sentimentos, Kook-
ah... — se defendeu fazendo manha.
— Ah, não fiz por mal. Só vi a chance e aproveitei. E você disse sim! —
Apontou um dedo acusador no rosto do alfa de cheiro doce. — Você é meu
namorado agora, nem pense em voltar atrás, Jeon Jungkook. Eu não aceito
um término, não, não não... — disse sacudindo a cabeça.
Agora era o desbotado quem sorria, sentindo as bochechas arderem. Porra,
aquele calorzinho em seu peito, quando estava com o Park, era tão irritante!
Irritante de um jeito que dizia: "Olhe bem o poder que ele tem sobre você...
Num estalar de dedos, poderá partir seu coração." — e era nisso que a
mente do desbotado sempre o guiava. Talvez fosse uma forma de fazê-lo ser
mais cuidadoso nas relações, sabendo que nem sempre tudo era tão lindo
quanto parecia; ou talvez realmente fosse só uma paranoia de sua cabecinha
surtada. Não tinha como saber ao certo.
— Oh, JK, tão agressivo... — zombou o Switcher. Sabia que Jeon era
briguento, realmente. E que a implicância de seu submisso com seu amigo,
era ridícula. Mas Kim Taehyung era impossível de controlar, e se eles dois
entrassem num embate, não sabia se tentaria separa-los ou apenas sentaria-
se com um balde de pipoca para assistir àquela espécie de UFC de Alfas.
— É sério, qual é a dele? Ciúmes de mim? Fala sério! Até parece que ele
nunca precisou usar um amigo como parceiro de cios antes. Todo mundo
passa por isso em algum momento da vida...
— É diferente, hyung. Esse cara não era só parceiro de cio do meu Jimin,
ele era submisso dele — disse a última parte num sussurro e olhando em
volta da sala.
— Por que o Jimin acha que eu não sei que esse "Tetê" era sub dele também
— disse com a voz alterada em deboche, o nome do do outro alfa. — Ele
acha que sou tão idiota como aparento — deu um sorrisinho malandro.
— Ah, é! — Hoseok fez uma carinha surpresa, arregalando os olhos e pôs a
mão em frente à boca. — Isso me lembra algo que queria te contar. Eu ouvi
uma conversa do Yoongi com esse Taemin ao telefone. Parece que ele está
fora do país. Foi trabalhar no Japão.
— Eu tenho que ir. Mas olha... Só tenta controlar seu ciúmes com o Jimin,
ok? — disse preocupado. — Yoongi disse que o Park é ciumento, como a
maioria de vocês alfas são mesmo, mas ele é muito controlado, mesmo
quando tinha aquele noivo beta. E JK, não só pelo que meu Dominador me
conta, mas também pelo que observei hoje, o Alphadome parece realmente
estar apaixonado por você. Ele é super cuidadoso contigo, é visível que ele
não te trata só como submisso. Então se controla, tá legal? Você sabe como
gente ciumenta pegando no pé, é irritante e cansativo. Eu nem vou pra casa
do Yoongi hyung hoje mais, porque o Taehyung tá me irritando, então
prefiro deixar o Yoongi lidar com ele sozinho. Você sabe que faz bem
quando segue meus conselhos, né?
— Eu não aguento com o tanto que você é fofo, que saco — dando um
abraço no desbotado. — É cada vez mais difícil não me apaixonar mais por
você, Jeon Jungkook — declarou subitamente, enfiando o rosto no pescoço
do mais novo e assim ficando voz abafada.
As bochechas do alfa híbrido arderam. Sentiu-se tão bobinho, mas tão, tão
contente, que não tinha como responder.
— Provar como?
— Me faz gozar.
Seguinte: tem outro Abo vindo aí, que TALVEZ seja ômega x ômega;
ele tem aquela vibe de Diário de uma Paixão, embora não seja de época
(nem tenha final triste), mas queria saber quem se interessa, pq tô
insegura (tanto q lancei a alfa x alfa antes) >.< comenta aqui :)
22| freak on a leash
Era a primeira vez em muito tempo, que o moreno passaria o natal com
quem amava. Costumava evitar ao máximo passar aquela data com Taemin,
embora, ao longo dos anos, já tivesse sim passado com o amigo,
companheiro de cio e submisso, um par de vezes. Contudo, passar a data
comemorativa com ele, poderia implicar em equívocos sentimentais a
Taemin, e a última coisa que ele queria, era magoá-lo.
Deste modo, sua preferência era sempre passar na casa da família Min, ou
até mesmo no quartel, em serviço. O natal no país, diferentemente da maior
parte das nações do globo, eram passados em casal, preferencialmente. E
dessa vez, Jimin cumpriria a tradição coreana, com o maior prazer.
Uma vez que a cultura coreana e asiática em geral era voltada para o
budismo, e não ao cristianismo, não haviam realmente pratos tradicionais
para o natal. As pessoas costumavam comer sopa de arroz (teokkug),
macarrão de batata doce (japchae), carne doce (bulgogi) e kimchi.
Basicamente, todo o tipo de comida coreana normal. E Jimin já havia
preparado alguns daqueles pratos, para comer com Jungkook à noite.
Mas um dos costumes mais deliciosos do natal, era o Bolo de Natal, que
consistia num bolo comum, confeitado com figuras de temas natalinos,
como sinos, bengalas coloridas e um papai noel.
Não havia uma árvore de natal em sua casa, já que não costumava passar os
natais ali. Então ele esperou Jeon acordar, com o presente do garoto ao seu
lado e o bolo pros dois tomarem café.
— Jimiiiiiiiiiiiiiiiiiin-ssiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii !!!!!
— Aham.
— Você acha que não é grave, porque não é o seu cabelo — devolveu
Jungkook com uma expressão comicamente revoltada.
— Vem comer. — Então puxou um dos pulsos do garoto, pra que descesse
as escadas com ele. — Que ideia doida é essa de pintar o cabelo sem nem
tomar café? Podia ter feito isso depois.
— Jungkook, o que eu te falei sobre entrar no seu Little Space sem querer?
Não faça isso. Vai demorar um pouco pra tinta chegar, só quero que você se
alimente enquanto isso. Olha, eu até enfeitei uma metade do bolo exclusiva
pra você, só com m&m's vermelhos...
O ex-militar se afastou rindo, buscando seu celular na sala, para ligar para a
farmácia. Precisou ir até o lixo do banheiro da suíte, pegar a embalagem
vazia da tinta, pra especificar a marca e a cor no pedido.
O tempo que gastou limpando o banheiro não foi muito, então desceu pra
comer com o namorado, encontrando-o não na cozinha, como havia o
deixado, mas sim sentado no tapete da sala, em frente à TV, com o pratinho
de bolo no colo e a caneca de café no chão, enquanto apertava furiosamente
os botões do joystick do videogame, as costas nuas e secas, exibindo a pele
pouco bronzeada, mas os músculos definidos. Não era uma visão rara,
encontrar Jeon sem camisa pela casa, mas o Park não conseguia desviar o
olhar daquela visão escultural nunca.
Após resgatar seu próprio café e bolo na cozinha, o tamer sentou-se no sofá
de couro vermelho, pegando seu livro sobre submissão de brats na gaveta
da mesinha de canto, abrindo na página marcada, enquanto bebericava a
caneca tranquilamente.
— No banheiro?
— Tá, tá, tá, mandão chato do caralho — o garoto resmungou, dando meia
volta e indo em direção à área de serviço.
— Eu sei que sou lindo — respondeu o alfa convencido. — Não sei como
você conseguiu resistir a mim por três anos... — debochou, alisando os
ombros do mais velho. — E ainda por cima, tenho uma personalidade
ótima... quase sempre.
Jimin gargalhou alto, jogando a cabeça pra trás, para aí voltar dando
selinhos por todo o rosto do namorado, que sorria de volta, se deixando ser
beijado e descabelado, enquanto abraçava de volta o Park.
Mas a expressão tristonha em seu rostinho bochechudo era tão fofa, que o
Park sequer conseguiria se sentir decepcionado com aquilo, mesmo se
quisesse. Então sorriu meigo, e levantou a manga longa do casaco, para que
pudesse apertar uma das bochechas de Jeon entre os dedos; depois deslizou
a palma para a nuca do garoto, fazendo um carinho suave.
— Você já me presenteia todos os dias — disse com uma voz tão doce, que
o de cabelos cereja sentiu o coração palpitar de forma errática.
Jeon ficou sem palavras. O que não era uma novidade, realmente. Ele sentia
com toda a intensidade do mundo, mas a oratória não era sua praia. Era
realmente difícil se expressar.
Por conta da falta de reação do mais novo, Jimin acabou ficando sem jeito.
Não queria assustá-lo com uma declaração tão intensa. Sabia que o maior
nunca o magoaria, mas talvez ele estivesse indo rápido demais, e não queria
pressionar o outro alfa. Pigarreou desconfortável, tentando disfarçar.
Com isso, Jungkook parou de sorrir e correu para arrancar a caixa com as
pantufas brancas, das mãos pequenas do Park.
— Não, não, não, Jimin-ah. Eu não posso jogar fora as pantufas. Sei que
elas são velhas e já são até duras de pisar, não esquentam nada e ainda tem
furos na sola. Mas elas tem valor sentimental pra mim — disse
timidamente. — Foram presente do Hoseok hyung.
O mais velho piscou um par de vezes, antes de entender. E agora ele estava
ainda mais sem jeito de que antes, quando o de cabelos cereja não reagiu à
sua declaração romântica.
— Nós não podemos escolher sentir uma coisa ou não, hyung. Com o
ciúme é mesma coisa. É um sentimento natural, ninguém decide se sente ou
não sente.
— Eu sei que não podemos evitar de sentir. Mas nós podemos controlar a
forma que lidamos com ele. E eu definitivamente não posso me permitir ser
um ciumento descontrolado que surta com coisas imbecis, por pura
possessividade. Se você é meu, é porque deseja ser, e não simplesmente
porque eu quis assim. Desse modo, quando você não quiser mais ser, não
poderei fazer nada pra impedir, então... Só vou remoer meu ciúme aqui na
minha cabeça, até convencê-la a se aquietar, fique tranquilo — disse com
um sorriso fraco.
— Sei que você já disse que seus pais são ricos. Mas mesmo assim, por que
você..? — mas Jimin sequer conseguia por em palavras.
— Kook-ah...
— Como alguém pode não gostar do seu cheiro? — Jimin indagou num
rosnado.
— Não é que as pessoas não gostem, mas elas ficam meio horrorizadas,
como se eu fosse uma aberração de circo ou algo assim. Você sabe que não
é muito comum ter os genes híbridos.
— Foi por isso que você... já teve que tomar remédios para ereção? —
perguntou temeroso.
— Você não podia ficar apenas com betas? — perguntou o Park, num misto
de irritação e descrença.
— Não só podia, como ficava. Mas meus pais insistiam que se eu ficasse
com ômegas, isso iria "ajudar" no processo de "cura", pois meu corpo iria
se convencer a gostar do cheiro deles e a me atrair. Então eu acabava
bastante manipulado com isso. Não queria ter repulsa a ômegas, afinal. E
quando transava com alfas, escondido, claro, eles sempre pareciam me ver
como algo inferior. Principalmente alfas machos, que nunca me deixavam
penetrá-los, eu sempre tinha que ser o passivo. E não é como se eu não
gostasse de estar por baixo, porque você sabe que gosto até demais... Só não
gosto de ser visto como incapaz de alguma coisa, por conta de uma classe
genética.
Jimin apertou os olhos pro mais novo. Era desrespeitoso se referir à alguém
mais velho com "Yah".
Jeon sorriu matreiro, com a língua entre os dentes, para então roubar um
beijo da boca carnuda do Park, sorrindo mais ainda.
— Foi só pra descontrair, hyung mais lindo do Jungoo — disse com uma
gargalhada, vendo a expressão do lúpus ir quebrando pra um sorrisinho
também. — De qualquer modo, eu e Hoseok nunca fomos noivos, não
viaja. Ninguém tentou criar um contrato entre nós, só nos apresentaram e
deram indícios de que adorariam um casamento. O que nós prontamente
ignoramos.
— Um pouco. O pai dele estava realmente ansioso pra que ele se casasse
com alguém de família rica, especialmente sendo alguém de cargo tão alto
no hospital em que ele trabalha.
— Então ao invés de optarem pela coisa mais fácil e menos dolorosa, que
era puramente se dopar nos cios, seus pais te faziam de cobaia científica,
por puro preconceito de não aceitarem um filho que gostasse de alfas e que
tivesse um cheiro diferente?
— Sempre vou cuidar de você, Kook-ah. Nem que pra isso eu acabe agindo
como um pai. Agora você tem alguém pra atravessar a rua de mãos dadas
com você.
O mais alto sorriu grande, uma leve vontadezinha de chorar fazendo arder
os olhos, mas engoliu. Detestava ser tão emotivo assim por dentro.
[...]
O queixo de Jeon caiu. Não que já não imaginasse. Mas não esperava ter
que lidar com nenhum ex-caso do Park, assim tão cedo. O de cabelos cereja
era péssimo em esconder aquele sentimento ruim.
Jungkook bufou.
O Park o puxou por entre os corredores, olhando pra todos os lados, até
finalmente cutucar alguém. Um beta com um corpo bem mais forte que o de
Jungkook, porém de mesma altura. Imediatamente todos os alarmes soaram
na cabeça do de genes ômegas, ficando extremamente mal humorado.
Principalmente quando a mão de Jimin abandonou a sua, para capturar o
corpo musculoso do beta num abraço, cheio de cumprimentos amigáveis.
Amigáveis demais. Jungkook queria dar um soco nos dois. Ou talvez em si
mesmo. Ao menos assim sua carranca se desfaria.
Não se deixando ser intimidado — afinal, Jeon era um alfa, não era? — ele
estendeu a mão de volta, enquanto estufava o peito como um bendito
pombo, e empunhava força demais naquele aperto de mãos.
Aos poucos, Jungkook foi desfazendo a carranca. Mas não porque seu
ciúme havia passado, mas sim porque os brinquedos começaram a chamar
muito de sua atenção. Ele imediatamente começou a pegar alguns nas mãos
e analisá-los, jogando os que aprovava, no carrinho de compras que o
funcionário arrastava.
— É. Bem legal. O Park é um cara ótimo — respondeu seco. E aí
finalmente tomou coragem e se voltou pro beta, com os olhos apertados. —
Qual é a sua com o Jimin?
— Não aja assim. Eu e ele não temos nada — e aí abaixou a gola da camisa
de seu uniforme, mostrando então um fino cordão de prata, com um
cadeado delicado como pingente. — Eu já tenho um Dominador.
— Isso não me parece com uma coleira — Jeon rebateu, jogando uma
dezena de bonecas Barbie pra dentro do carrinho.
— Jimin falou que existem vários tipos, mas não me explicou com
exatidão. Ele só me deu uma coleira pra usar nas sessões. Nunca me deu a
tal da coleira social, sobre a qual li nos fóruns de bdsm — revelou em tom
magoado.
— Suponho que você diga isso por experiência própria — o alfa comentou,
como quem não quer nada. Se tinha uma coisa que Jungkook era, era
fofoqueiro. Ele sabia como arrancar informações alheias, sem parecer
desesperado demais.
Wonho bufou.
— Taemin joga sujo. Você deveria tomar cuidado com ele — declarou,
encarando o alfa atentamente. — Aliás... se você e Jimin estão namorando...
Isso quer dizer que eles dois não estão mais juntos? — perguntou de cenho
franzido.
— Sim — respondeu Jeon, firme. — Acho que confio no Jimin. Se ele disse
que tá só comigo, então ele tá só comigo.
— Realmente confio. Não tem porque ele mentir pra mim, seria bem idiota.
Mas se eu descobrir que ele está mentindo... Ah, não sei como vou me
segurar pra não arrancar os olhos dele fora e comer no café da manhã —
disse em tom raivoso.
— Uau, que agressivo. Acho que foi por isso que você conseguiu domar o
Jimin. Ele não te domou, você foi quem domou ele.
— Humn... — Jeon resmungou, com um ar superior. — Mas e aí, me conta
melhor essa coisa do Taemin. Jimin nem fala nada do cara, ele pensa que
sou bobo.
— Aí... tem como você me explicar com mais clareza, uh? Por favorzinho!
— apelou fazendo sua maior expressão de coitadinho.
— Você precisa prometer que não ouviu nada de mim, ok? — exigiu. Jeon
assentiu freneticamente com a cabeça, sacudindo os fios recém-tingidos. —
Tudo bem. Como eu disse, Taemin joga sujo. Ele e Jimin tem uma relação
de amizade há dez anos. Depois que Jimin se separou do noivo, ele
começou a ficar com o Tetê. Aliás, Taemin era amigo do Taeyang. Foi ele
quem apresentou os dois.
— Aish, é nisso que você prestou atenção? Isso não importa. O negócio é
que quando eu disse ao Jimin que não queria mais aquela relação, Taemin
deu pra trás e disse que eu tinha entendido errado. Que o que ele tinha
prometido, era ficar comigo, ao mesmo tempo em que se submetia a Jimin.
— Oh, sim! — Wonho respondeu rápido, pra que o lúpus não desconfiasse
do teor da conversa que estavam tendo ali.
[...]
O caminho todo de volta pra casa, foi com o lúpus tagarelando, enquanto
Jungkook dirigia. O Park parecia tão contente em poder levar todos aqueles
presentes de natal, mais uma vez, pras crianças do orfanato, e estava tão
contente por poder visitá-las na noite de ano-novo, que não conseguia parar
de falar sobre elas, ainda que o Jeon estivesse mais quieto que o normal e
não muito atento ao que o namorado dizia, realmente. Porque se tinha uma
coisa que o de cabelos cereja não era, era quieto.
— Por que tenho a impressão de que você está totalmente fora de órbita? —
o moreno perguntou, finalmente reparando na expressão do outro.
— Então foi por isso que você me zuou naquele dia, por eu ter achado que
só haviam coleiras representando casamento, né? — indagou.
— Mesmo que a gente não tenha chegado nesse nível, já me sinto bastante
sortudo pelo que a gente tem, hyung — confessou, com os olhinhos
brilhando. — Eu já disse como me sinto em relação à você — declarou
timidamente, desviando o olhar rapidamente para o lado de fora, enquanto
entrava na rua de casa.
Os alfas comeram e tomaram banho juntos, como sempre. E é claro, não foi
só um banho que aconteceu. Jungkook recebeu um boquete tão bom, que
saiu do chuveiro com as pernas bambas. E Jimin adorava o efeito que
causava no namorado.
Então Jeon agora sabia que, além das três que o Tamer já havia falado,
havia a Coleira de Posse, que era referente a uma relação de Escravo e
Dono, algo realmente profundo, onde o submisso se tornava propriedade do
dominante, como uma mercadoria, mero objeto e sem poderes decisórios
sobre si mesmo, entregando todo o poder de sua vida nas mãos de seu Dom
— de modo consensual, claro. — Jungkook gostava quando Jimin o
chamava de sua propriedade e seu brinquedinho, mas era só um modo de
falar. A relação de ambos não chegava a ser extrema daquele modo, mas o
Park lhe aconselhara a jamais julgar o modo como a relação de outros
bdsmers se daria. A menos que houvessem sinais claros de abuso físico,
emocional e psicológico ali, não se deveriam fazer comentários e/ou dar
pitaco nas relações alheias. Porque, uma vez que a relação fosse consensual,
tudo na relação também seria, cabendo apenas ao casal, decidir sobre,
nunca terceiros.
Por conta disso, Jungkook se revirava de um lado pro outro na cama, sem
conseguir dormir. Sua cabeça realmente negava-se a desligar. Mesmo
sabendo que aquela era uma preocupação boba.
Foi assim que o alfa decidiu abandonar o namorado na cama — este que
dormia como uma pedra — e descer as escadas, na intenção de comer
alguma coisa e tentar passar o tempo jogando vídeo-game.
Uma coisa sobre coincidências, é que elas tendem a acontecer com uma
certa frequência — e sobre coisas que você menos espera. Porque enquanto
esperava a quarta partida do jogo começar, ouviu o irritante barulhinho de
notificações do celular do Park.
Porque bem ali, na tela bloqueada, já era possível ver o teor da mensagem
recebida:
twitter: #JungkookBebêDoJimin
— Você anda estranho já faz tempo. Uns dois dias mais ou menos. O que
foi, amor? Fala comigo... — pediu doce.
Jimin bufou, cansado. É claro que tinha alguma coisa incomodando seu
garoto, mas este era durão demais pra abrir o bico e contar. Fazia jus à
fama de alfas serem fortes e valentões, o que era nada mais que uma crença
popular baseada em merda nenhuma.
As pessoas eram diferentes entre si, e suas personalidades nada tinham a ver
com com classe ou sexo. A construção da personalidade de uma pessoa
envolvia muito mais fatores que uma simples classe genética, que definiu
seu biotipo físico.
Jimin engoliu em seco. Não era a hora. Não era o momento mesmo.
Faltavam poucas horas pro ano-novo e os dois estavam na porta do
orfanato, cheios de sacolas nas mãos para presentear as crianças, Jungkook
ainda dentro do carro, com apenas uma das pernas pra fora. Definitivamente
não queria estragar a festa, entregando ao namorado uma informação que
ele tinha certeza que deixaria o garoto emburrado. Porque Jeon era muito
ciumento, não era segredo algum.
— Claro que não, amor — mentiu. — Nada que possa trazer problemas pra
nós dois, ok? — sondou. — O que importa é que nós estamos juntos agora.
Sou apenas seu e você é apenas meu, certo?
O de cabelos cereja assentiu, com a postura quieta. Por dentro, estava
totalmente decepcionado com a insistência alheia em omitir uma
informação tão imbecil. Sentia como se seu namorado o estivesse o fazendo
de bobo. E aquilo o deixava cabreiro pra um caralho.
Jungkook então pulou pra fora do carro, arrastando algumas sacolas junto
consigo. o lúpus já havia levado uma boa quantidade para a porta.
Em relação a Taemin, o de genes ômegas não sabia se era aquilo que estava
acontecendo mesmo, ou se estava sendo apenas paranoico. Hoseok dissera
que Jimin estava só com ele, não dissera? Não havia deixado claro que
Taemin sequer no país estava?
Mas e se essa fosse uma meia verdade? E se Jimin estivesse com ele apenas
enquanto Taemin não voltava? E se quando o outro chegasse, as coisas
voltassem a ser como antes?
Segundo Wonho, Jimin não tinha nenhuma relação romântica com Taemin.
Mas e se tivesse? Ninguém passava tanto tempo assim com uma pessoa,
sem criar algum sentimento. Impossível.
A criança realmente não deveria estar sentindo sua mistura de seus cheiros
tão facilmente assim, afinal eles só sobressaíam quando ele estava excitado,
o que claramente não acontecia naquele momento. Ficou curioso acerca
disso e indagou então:
— Como você consegue sentir tudo isso? Alguém aqui tem narizinho
sensível? — disse brincalhão, dando um pequeno apertão no nariz da
garota.
— Claro que guardo seu segredo. Me dá seu dedinho aqui — e então pegou
aquela mãozinha minúscula e gordinha, entrelaçando aquele projeto de
dedo mindinho no seu e, conectando os dedos, selou a promessa.
— Hey, aqui estão vocês! — a voz de Jimin soou atrás deles, fazendo-os se
virar para encará-los.
O Park vinha todo sorridente, andando com o corpo meio inclinado pra
esquerda, já que em seu braço direito, carregava uma garotinha muito
parecida com JangMi, no colo. Esta tinha os olhos, bochechas e rostinho
muito parecidos com a ômega de genes alfas, porém seus cabelos eram um
pouquinho mais longos e sua testa não era coberta por uma franja, seus fios
estavam partidos ao meio, expondo a fina sobrancelha falhada.
— Ah, não... — JangMi murmurou com uma careta. Jungkook se virou para
ela curiosamente.
Jeon dançou os olhos por toda a figura magra, elegante e firme do Park, que
trajava sapatos pretos e uma calça apertada de mesma cor, junto a uma
camisa de mangas longas, com o tecido tão fino que parecia mover-se como
água sob a pele, sendo o lado direito da camisa totalmente branco e quase
transparente, enquanto o esquerdo era negro. Jimin era tão lindo que fazia o
coração do pobre híbrido apertar.
— Saí, ele é meu! — JangMi ralhou. — Você já tem o Jimin oppa, larga
meu Jungkookie — falou afastando a mãozinha da outra, com um
empurrão.
— Feia! — SunHee gritou.
— Chega, chega, chega! Tem Jimin e Jungkook pra todo mundo — o lúpus
se intrometeu, apartando a briga e pegou JangMi no colo. — E você, venha
ficar um pouco com seu oppa. Não está me trocando pelo Jungkook, não é?
— Não seja assim, sabe o que o oppa trouxe pra vocês? Presentes!
— Espero que o meu seja uma arminha de água, pra eu afogar a cara dessa
alfa feia! — JangMi respondeu, fazendo uma careta pra irmã, por cima do
ombro do Park.
— Por que você e sua irmã brigam tanto, SunHee? — o de cabelos cereja
indagou a de cabelos partidos.
Jeon se segurou para não rir, SunHee parecia muito diferente da outra. Ela
era menor, exatamente como Jimin havia lhe dito um par de dias atrás: tinha
cinco anos, mas era tão miudinha que parecia ter três. Enquanto a irmã, que
era um ano mais nova, parecia mais velha. SunHee não falava como uma
criança, parecia mais uma mini pessoa. Um adulto que encolheu.
Isso porque sabia da imensa responsabilidade que era ser pai. Não era algo
passageiro, era uma responsabilidade pra toda vida. E tal responsabilidade
ultrapassava o limite material, ela alcançava níveis psicológicos. Sabendo,
por experiência própria, de todo o tipo de traumas que os progenitores
podiam causar em seus filhotes, Jungkook sentia pavor daquilo. Então
agradeceu aos Céus, que nem ele, nem Jimin fossem capazes de ter um
filhote juntos. Tinham o mesmo sexo e a mesma classe, seria impossível
conceberem um filhote, nem mesmo por acidente.
Talvez, se o Park fosse uma fêmea, ainda que alfa, pudesse acontecer algum
acidente do tipo. Era raríssimo, afinal, alfas, independente de sexo,
possuíam o útero atrofiado, por causa dos genes de sua classe. Mas existiam
casos isolados ao redor do mundo, onde mulheres alfas, acabavam tendo os
úteros perfeitamente formados, e inesperadamente engravidavam de
machos alfas, betas ou mesmo ômegas.
Jeon observava aquelas crianças e tinha vontade de dar a elas todo o amor
do mundo. Elas mereciam, afinal. Sabia o quanto pais poderiam ser cruéis,
e ser pai não obriga automaticamente alguém a amar seu filhote. Não sabia
a história sobre o abandono de cada um dos pequenos por ali, mas sentia
empatia por cada um deles. Afinal, por mais que não tivesse sido dado para
a adoção, Jungkook sentira a rejeição parental, de qualquer modo.
Jeon sorriu de leve, mas o sorriso não chegou aos seus olhos. Toda a
história que Wonho havia lhe contado, além da mensagem que vira sem
querer no celular do dominador, estavam-no deixando aflito, incomodado.
O mais novo detestava ser daquele jeito. Ser o tipo de pessoa que sofre por
antecipação, que sente ciúmes até da própria sombra. Mas ele possuía
aquele sentimento latente de que nunca seria o suficiente pra ninguém.
Sequer fora pros seus pais, como seria para qualquer outro alguém?
O pior de tudo, era que aquele sentimento de traição que se alastrava por
suas veias, podia ser facilmente refreado, se ele simplesmente se sentasse e
abrisse o jogo com o Park. E se o lúpus dissesse: "Hey, eu gosto de você,
mas Taemin sempre estará na minha vida, então ou você o aceita ou cai
fora", Jungkook ao menos poderia se afastar agora. Agora que seus
sentimentos estavam aumentando. Seria como cortar o mal pela raiz, antes
que algo mais perigoso acontecesse. Algo como... amor.
Ele se conhecia bem o suficiente pra saber que seus sentimentos por Jimin
estavam caminhando pra isso. Era muito a fim de Jimin, já faziam três anos.
Nutria uma coisa estranha por ele que, até então, pensara ser apenas atração
e uma quedinha. Agora, precisava admitir que o sentira pelo lúpus todo
aquele tempo, era um pouco mais que isso; era paixão. E depois da primeira
ficada dos dois na cozinha, foi como liberar um monstro.
Não bastasse isso, Jimin ainda o tratava melhor que qualquer um já o tratara
na vida. O dava carinho, atenção, o respeitava, alimentava, mimava, dava
presentes... e ainda por cima, lhe proporcionava as melhores fodas de sua
vida. Era simplesmente a pessoa mais perfeita com quem já havia se
envolvido. Conversavam na maior facilidade, gostavam das mesmas coisas,
tinham uma intimidade fodida e automática, como se conhecessem-se de
outras vidas... talvez mesmo se conhecessem em universos paralelos.
Porque Jeon Jungkook se apaixonar por Park Jimin, era algo inevitável.
E agora, dois meses depois do começo de tudo, eles se viam numa relação
que mais parecia que eles estavam juntos desde o começo. Desde a primeira
troca de olhares. Desde o dia que o caminhão de mudanças amarelo de
Jungkook, estacionara no prédio em frente à casa de Jimin, três anos atrás.
O alfa lúpus, por outro lado, não estava completamente alheio à bagunça
que acontecia no interior do namorado. Ele sabia que o avermelhado havia
arrancado alguma informação de Wonho, e agora sentia-se um imbecil por
tê-los apresentado.
Na verdade, sentia-se mais imbecil ainda por não ter aberto o jogo de uma
vez com Jeon, e contado a verdade sobre a relação que possuía com
Taemin. Deveria ter esclarecido as coisas. Esconder nunca era uma boa
opção, ele sabia disso desde quando estava com Taeyang. Se tivesse
contado ao noivo sobre suas preferências para obter prazer, desde o começo,
talvez não tivesse perdido tanto tempo num relacionamento sem futuro.
O lúpus também estava aflito. Não sabia o quanto tinha chegado aos
ouvidos de Jeon, nem o quanto daquilo ele havia interpretado corretamente.
Tampouco sabia se, quando os dois se confrontassem — e aquilo
aconteceria mais cedo ou mais tarde — se Jungkook o daria ouvidos e
acreditaria em seus motivos e desculpas. Estava preocupado com aquilo um
bocado, mas não tinha coragem de simplesmente vomitar as palavras.
Sua intuição gritava que ele estragaria tudo. E Jimin não queria perder o de
cabelos cereja nunca. Estava completamente apaixonado pelo garoto de
cheiro maravilhoso e personalidade explosiva. Não se perdoaria, caso o
afastasse de si. Não queria perder outra pessoa, pelo mesmo motivo
praticamente. Não queria perdê-lo por causa de algo relacionado ao bdsm.
Não queria perdê-lo de modo algum, em suma.
As pessoas começaram a gritar a contagem regressiva, em coro. Jimin
soltou o namorado para ficar em sua frente e segurar seu rosto bochechudo
entre as palmas, encarando-o intensamente.
Ao invés disso, puxou Jimin com as mãos em sua cintura, trazendo o corpo
menor para si, à medida que o Park deslizava as mãos de seu rosto para
rodear seu pescoço com os braços e, na ponta dos pés, para que driblasse a
pequena diferença de altura, pudessem tocar os lábios.
O beijo era tão intenso, que, se não estivesse escuro e a iluminação viesse
fraca e colorida dos fogos de artifício queimando o céu, poderia ser
considerado obsceno, principalmente por causa do ambiente cheio de
crianças.
Ainda com os rostos tão perto que podiam sentir a respiração um do outro
golpear a face, Jimin sussurrou em tom sôfrego:
— Então por favor, não me machuque, hyung — pediu com todos aqueles
sentimentos presos em seu coração. — Não me faça de bobo, não minta pra
mim. Eu quero tanto você...
Ficaram assim, por minutos sem fim, apenas sentindo o corpo um do outro
nos braços; sentindo os batimentos cardíacos intensos contra a caixa
torácica, que sabiam ser ocasionado pela presença alheia.
Ele viu de relance, quando Jimin puxou o telefone com a tela brilhante e o
nome de Taemin reluziu. O Park havia virado o aparelho de modo rápido,
fazendo sinal de que se afastaria, mas pedindo que o esperasse ali.
Jungkook engoliu em seco e uma lágrima escorreu de seu olho. Sua intuição
nunca mentia.
Sempre soube que o amor doía. Via muitos alegarem que não era o amor
que machucava, mas sim as próprias pessoas que o faziam. Contudo, ele
não compartilhava desse raciocínio agora. Para ele, o amor machucava sim.
Quando se está apaixonado dessa forma tão intensa, não somente o que a
pessoa amada faz ou diz atinge seus sentimentos. O próprio sentimento em
si, é doloroso. Saber que você ama algo que pode ir embora de sua vida à
qualquer momento, é doloroso.
— O que foi amor? — fez uma careta preocupada. — Fala pra mim, bebê...
— Era ele, não era? — Jungkook perguntou a voz fraca. — Quando Taemin
voltar pra Coréia, você vai voltar com ele, não vai?
Mas de qualquer modo, como diabos o ruivo podia estar pensando uma
coisa dessas? Ele não estava ouvindo tudo o que ele vinha dizendo e
declarando ao longo dos últimos dois meses?
— Eu estou só com você. Quantas vezes preciso repetir que sou seu, Jeon
Jungkook? Eu sou completa e inteiramente seu. Só me separo de você, se
você não me quiser mais. Você pode entender? Taemin é só meu amigo e
nada além disso...
— Por favor, não diga isso... — pediu sentindo seus olhos arderem. —
Jamais te magoaria ou te trataria como seus pais fizeram, por favor não me
acuse disso, Kook-ah. Dói — declarou choroso.
— Mas Taemin sempre estava ali com você — o ruivo teimou, mal
humorado, sentindo o ciúme corroê-lo.
— Porque Taemin aceitava o que eu era! Ele aceitava meus limites, minhas
condições. Ele aceitava estar comigo, enquanto ficávamos com outras
pessoas. Ele sabia que não passava de pura diversão, apenas de uma relação
fetichista, onde tirávamos proveito disso e nada além. Ele me viu chorar por
Taeyang e me viu chorar por você. Ele me ofereceu o ombro e...
— Não mente mais pra mim, hyung... Por favor, não mente mais pra mim.
Se quiser que isso dê certo, não me esconda mais nada... — pedia do fundo
do coração.
— Não vou mais mentir, meu amor. Prometo. Olha pra mim — e puxou o
queixo do outro pra cima, fazendo seus olhares se unirem. — Nada vai te
machucar, meu bebê.
Até a próxima.
Nos vemos quando INC bater 400k rsrsrsrssrsrs (tô brincando, mas se
vcs quiserem, eu quero).
— QUEBRA DE TEMPO —
Logo de início ele soube que Jeon era bom de cama, pra um senhor caralho.
Mas a paixão era realmente o melhor tempero pro sexo. E apaixonado como
estava, Jimin tinha certeza de uma coisa: Jeon Jungkook era a melhor foda
da sua vida. Ponto final.
Isso facilitava as coisas pra ele? Nem um pouco. Se pegava pensando que
se, talvez, um dia o garoto não o quisesse mais, ele entraria num estado
catatônico. Não veria mais graça em viver, basicamente. Por que onde
diabos encontraria alguém como Jeon Jungkook? O alfa de genes ômegas
era único. Exótico. Peculiar. Sua personalidade, sua aparência, seu cheiro,
sua foda. Tudo nele era diferente e ridiculamente perfeito para o Park.
Combinavam como as peças de um quebra-cabeças.
Quando o sol estava prestes a se pôr, o lúpus saiu de seu quarto e desceu as
escadas, em busca do celular. Ia perguntar por mensagem, se já poderia
buscar Jungkook no trabalho — não que fosse necessário, mas ele adorava
ir buscá-lo. Dava uma sensação gostosa, e o bratzinho também adorava.
Vinham os dois bem alegrinhos de mãos dadas pela rua, subindo a ladeira.
— Jimin, preciso falar com você — o de cabelos cereja disse em tom calmo
e sério, sentado ao balcão que dividia a sala da cozinha.
O mais novo soltou o ar, um pouco mais forte que o normal, ao ter o lúpus
sentando-se no alto banco de madeira a sua frente, com a expressão
cuidadosa.
— Essa não é a chave original, é a cópia que estava com Hoseok hyung. A
chave original do meu apartamento continua com você, enfiada sabe-se lá
onde — respondeu direto. — Quero saber por que continua mentindo,
Jimin? — acusou impaciente.
— Hyung, sei que você tá ruim de grana, tá legal? Você pode tentar pagar
de fodão o quanto for, mas qualquer imbecil consegue entender que, por
mais que você costumasse ganhar bem e tivesse uma boa poupança
guardada, já está desempregado há quase quatro meses. Provavelmente
você não gastou tudo de lá pra cá, mas obviamente reformar aquele
apartamento todo, vai fazer um rombo nas suas economias e te prejudicar. E
olha, não é como se o apê realmente precisasse de algo tão grande, como
uma reforma. A gente não quebrou nenhuma parede ou coisa assim. Foram
só uns objetos e... armários. E o vaso sanitário. Então, por favor, não insista
nisso. Não precisa ficar me enganando, dizendo que o apê já tá quase
pronto, pra me enrolar e ganhar tempo. É sério, não precisa...
— É claro que vai mudar, enquanto moro aqui, nós vivemos uma vida de
casados, mas quando eu voltar pra minha casa, seremos mais como
namorados — respondeu de forma paciente. — E é isso que somos, não é?
Namorados. Não casados. Você não quer uma relação 24/7, e eu não quero
uma relação de total troca de poder. E você disse que uma relação 24/7 é,
necessariamente, de total troca de poder...
— Isso não importa, nós dois fazemos nossas próprias regras. Você pode
continuar morando sob o meu teto, podemos continuar tendo uma relação
24/7, mas onde você limita meu poder sobre você e...
— Jimin, por que? Por que você está cismado com isso? Você nem gosta de
uma relação tão forte dessas, você...
— Hyung, você quer isso mesmo? De uma hora pra outra? Realmente? —
insistiu sério e nada convencido. — Não acha que estamos indo rápido
demais? Quero dizer, nos conhecemos e somos colegas à três anos, eu sei,
isso é um bocado de tempo, mas só ficamos pela primeira vez há pouco
mais de três meses e moramos debaixo do mesmo teto há pouco menos que
isso... — e sim, o pobrezinho vinha contando cada dia.
— Estou querendo dizer que se a gente for com tanta sede ao pote assim, as
coisas podem acabar na mesma velocidade que começaram — disse tudo de
forma rápida e desengonçada, com uma expressão exasperada. — Você não
tem medo? Não tem medo de que... eu não sei... acabe tendo uma espécie
de "overdose de Jungkook", e termine enjoando de mim? Você disse que era
sempre assim... Que você ficava meio arriado pelos seus sub's, por um um
mês ou dois, mas que no terceiro, a magia simplesmente sumia. Eu não
quero ser mais um submisso passageiro, Jimin. Não quero acordar um dia e
te encontrar sentado na mesa, com cara de paisagem, e aí você me chamar
pra conversar e explicar que não dá mais, que acabou, que quer a coleira de
volta e...
— Jungoo-ah, por que é tão difícil de você entender que, isso tudo que já
contei sobre meus submissos passados, se aplicavam à relação D/s e apenas
ela? Eu não sou meramente seu dominador, tamer, mentor, ou como diabos
queira chamar. Sou seu namorado, droga! Isso não te diz nada? Nós temos
sentimentos um pelo outro, eu gosto de você, venero você, eu te a... — e
então se calou, arregalando os pequenos olhos, ao passo em que assistia
Jungkook se afastar três passos, com a expressão apavorada no rosto.
Até que o mais velho pigarreou, desconsertado, e tentando retomar seu tão
precioso controle, fingiu que aquela última parte da conversa sequer havia
acontecido. Não iria dizer aquelas palavras pra Jungkook agora. Por mais
que seu interior estivesse simplesmente explodindo para dizê-las há
semanas.
Desde a pequena DR que tiveram na noite de ano novo, semanas atrás, por
causa de Taemin, Jimin tivera a mais intensa vontade de segurar o rosto do
mais novo entre as mãos e dizer: "Não seja idiota! Como posso querer
Taemin ainda, se eu amo você?" — mas sua racionalidade o impedira, por
sorte. Ele sabia que aquele não era o momento. Jeon poderia pensar que ele
estava dizendo aquilo apenas para convencê-lo ou qualquer coisa assim. E
agora, infelizmente, continuava não sendo o momento ideal. Precisava ter a
mais absoluta certeza se o que sentia era, verdadeiramente, amor. A paixão
queimava muito forte em seu peito, a ponto de nublar sua mente, era certo.
Jeon ficou sem palavras. Seu único argumento era aquele. Ele não se via
realmente incomodado em viver com o Park, o outro não o fazia se sentir
um peso, nem uma visita ou coisa assim, pelo contrário; Jimin o consultava
pra todo o tipo de coisa que fizesse em relação à casa. "Você acha que devo
pôr o que na lista de compras?;" "Qual shampoo deveríamos comprar?;"
"Você prefere qual produto de limpeza?;" — Jimin o fazia absolutamente
sentir-se tão dono da casa quanto ele, então era mais que absolutamente
confortável conviver com o ex-militar.
Contudo, algo no interior do alfa, lhe dizia que eles estavam muito
apressados, e na experiência do ruivo, tudo que vinha fácil, ia embora mais
fácil ainda.
Bem, aquilo não queria dizer nada, era apenas uma superstição. As coisas
não aconteciam de forma padrão e linear, cada caso era um caso, mas pra
alguém tão paranoico quanto o Jeon, seria melhor prevenir do que remediar.
E isso era quase como uma inversão de papéis, já que Jungkook era do tipo
impulsivo e sem noção, que não media as consequências de nada, enquanto
o Park era do tipo cuidadoso, calculista e controlado. Só que claramente, em
se tratando daquela relação, nenhum dos dois se comportava realmente
como o esperado.
Céus! Jeon queria ficar ali, do jeito que estavam, morando juntinhos. Queria
muito. Mas sua cabeça martelava e chegava a doer, de tanto que sua
consciência dizia: "Hey, isso está rápido demais. Ele vai enjoar de você.
Pegue o controle das coisas enquanto pode." Pobre Jungkook. Sempre tão
paranoico e acostumado à rejeição, que sequer conseguia aproveitar um
bom momento.
Jimin sentiu a frase do outro como um tapa na cara. Ele realmente não
esperava que o namorado fosse apontar aquelas coisas agora. Eles estavam
tão bem. E desde a situação do ano novo havia explicado melhor as coisas
pra Jungkook, embora não tivesse explicado exatamente a forma que tinha
terminado com Taemin — até porque isso não era exatamente da conta de
Jeon. Então se estava tudo bem, por que o garoto arrumava um problema
novo agora?
Foi aí que o Park se deu conta de que, talvez, ele o estivesse assustando.
Que talvez, o de cabelos cereja não fosse o elo mais fraco daquela relação:
ele é quem era. Park Jimin, o alfa lúpus em total controle de suas ações e
sentimentos, o grande dominador de alfas, agora era só um bobão
apaixonado, que tinha entregue seu coração tão blindado, nas mãos que um
garotinho imaturo e completamente doido das ideias.
[...]
— Vai chover bem feio hoje... — Jungkook comentou enquanto olhava pro
céu, ao atravessarem a rua carregando os montes de bolsas com suas coisas.
— Olha como 'tá cheio de nuvens cinzas...
— Oh... é verdade. Vai fazer frio, então — respondeu o outro. — Vou
dormir com você e te esquentar... — aproveitou-se.
— Sou um homem que vai atrás do que quer... — rebateu o Park, dando de
ombros.
Os dois riram cúmplices, o clima entre eles um pouco mais ameno que
antes. Não iriam deixar uma decisão por precaução de Jungkook, se pôr
entre eles. Não era exatamente uma coisa ruim. As preocupações do mais
novo eram totalmente válidas, afinal.
— Ain, que preguiça... — Jeon resmungou assim que abriu a porta e viu a
bagunça na sala.
— Oh... eu tenho que ir ao mercado antes que feche... — disse o mais novo,
olhando pro relógio da parede.
"Vou ao mercado e você espera aí" a voz abafada por trás da porta
respondeu.
"Tudo bem, ele é seu namorado. É lógico que vai deixar coisas dele na sua
casa, Jungkook. Não pira" repreendeu-se.
Era mais como um kit básico de bdsm. Haviam dois pares de algemas de
couro vermelho, uma ball gag, uma venda, sua coleira vermelha de rebites
dentro de uma caixinha de veludo, a guia da coleira, também vermelha, uma
palmatória pequena de madeira, um chicotinho todo preto com a ponta
cortada em formato retangular, uma corda vermelha macia toda enrolada,
lubrificante, pomada para hematomas, um gel de massagem, um hidratante,
bolinhas tailandesas e, por último, uma flogger. Mas não uma flogger
qualquer: era um gato de nove caldas. O que basicamente era um flogger
com as tiras de tecido bem finos, quase como uma franja. Jungkook não
fazia ideia de qual seria a sensação dos açoites daquela ali, mas imaginou
que pela textura, provavelmente seria mais macio e menos cortante.
Coitadinho... estava pensando errado. Mas um dia ele seria corrigido.
Literalmente.
— Sei sim. Mas quem vai fazer comida pra você, sou eu. O neném precisa
de alguém pra cuidar dele, certo? — disse fofo.
— Humn... você cuida tão bem de mim... — murmurou com a voz abafada
no pescoço do lúpus, onde começara a atacar com beijinhos manhosos. —
Como vou conseguir viver sem você depois?
— Que papo é esse de "ficar sem mim"? Tá dizendo que vai me dar um
fora? — indagou assustado, o peito batendo acelerado.
— Não foi isso que eu quis dizer — o mais novo respondeu com um bico.
— É que... nós não vamos ficar juntos pra sempre. Tudo um dia acaba... —
disse com o olhar baixo, sem querer encarar o outro.
— Não enjoei de você, e olha que você já testou bastante a minha paciência
— zombou e em seguida apertou o nariz do garoto entre os dedos, rindo
fofinho.
— Hey. Eu estou aqui com você, não estou? — o lúpus assentiu, parecendo
muito com uma criança. — O que aconteceu com você, Jimin-ah? Conta
pra mim... Quero te ajudar a superar isso, sim? Juntinhos... — disse
deslizando o nariz pelos cabelos do mais velho.
— Sim. Foi assim que conheci Yoongi hyung. O pai dele era um prefeito
que estava concorrendo pra ser reeleito. E ele vinha sendo bem perseguido,
na época. Meu pai era babá de Yoongi. E minha mãe, a motorista da
família.
— Minha mãe é uma alfa. Meu pai, um beta. Enfim, eu e Yoongi éramos
um pouco parecidos. Crianças muito novinhas já se parecem, de modo
geral. Nós dois tínhamos a mesma altura, embora ele fosse mais velho que
eu, dois anos. Mas o corte de cabelo e a cor eram as mesmas. E nós temos
olhinhos pequenos.
— Sim. Foi daí que surgiu meu medo de trovões — respondeu retribuindo
abraço, mas logo em seguida os afastou pra que pudesse olhar em seu rosto
enquanto revelava. — Eu só tinha 5 anos. Foi um trauma muito forte. E os
sequestradores eram muito rudes. Eles puxavam meu bracinho magrelo com
muita força. Me deram apenas pão velho pra comer e água. Só consegui ir
ao banheiro, porque um dos caras não era tão ruim quanto os outros.
Lembro dele dizer "Hey, ele é só uma criança! Vai impedir o pirralho de
mijar?" - e aí os outros se convenceram. Foi horrível, Kook. Eu só chorava
e sentia medo e desespero o tempo todo — disse com os olhinhos
marejados. — Naqueles três dias, chovia muito. Tinha um vasculhante no
alto do quarto onde eles me trancaram. Era bem alto, eu não tinha como
fugir. Mas os trovões eram tudo o que eu ouvia. E eu estava passando por
um nervoso tão extremo, estando sozinho... Eu não consigo ouvir os trovões
e ficar tranquilo, até hoje. Eu só... sinto aquele medo arrasador, toda vez. É
como se eu estivesse lá de novo. Mesmo que eu esteja bem aqui, entende?
— Eventualmente eles descobriram que eu não era Yoongi. Não sei o que
eles fariam comigo, mas o Senhor Min pagou o resgate. Ele realmente me
salvou. E semanas depois os sequestradores foram presos. Tudo ficou bem.
Então Yoongi e sua mãe foram enviados pra morar em outro estado, longe
do Senhor Min. Ele não queria pôr a família dele e a minha, em risco. Eu e
minha família fomos junto. Meus pais só pararam de trabalhar, depois que
entrei pro exército. Comecei a ganhar bem, então comprei um restaurante
pra eles. E eles trabalham lá até hoje. Mas fica em Seul. Por isso quase não
os vejo.
— Sim, você pode — Jimin comentou com um sorriso bobo. — Você cuida
de mim e eu de você — disse apertando o nariz alheio, novamente.
— Sobre o que é?
— Isso me parece meio triste... Amar com alguém que você nunca poderá
ficar, nem mesmo tocar...
— Um bocado. Há consequências...
Jimin riu da carinha que o avermelhado fez. Lhe parecia uma história
interessante, já que tinha um enredo peculiar misturado à comédia e ainda
rolava sexo explícito — o tipo favorito de atração para o alfa lúpus. Além
do mais, era importante dar atenção às coisas que o outro gostava. Então
decidiu que assistiria com ele. Seria uma nova paixão para dividirem entre
si.
— Não posso te contar, você vai ter que assistir pra saber... — instigou. —
Tenho quase certeza que a obsessão do ômega pelo alfa, é por causa de
alguma ligação de lobos.
Jimin amava ficar nos braços de seu alfa. Jungkook era grande e tinha o
peitoral forte e macio. Ele se sentia seguro ali. Como se Jeon fosse capaz de
defendê-lo do mundo. O via como alguém confiável pra quem pudesse
mostrar suas fraquezas.
— Vai ter o munch da The Cave, semana que vem. Aquele que te falei,
onde os membros da masmorra vão pra se conhecer fora do cenário...
— O que é?
— Você não pode morrer antes do meu rut, Jimin. Pode aguentando aí. Não
pode morrer, antes de me dar uma coisinha... — provocou malicioso,
deixando implícito sobre a que se referia.
— Se toca. Depois que eu te comer, não vou querer outra coisa... Seu
gostoso — disse dando uma reboladinha.
— E isso significa que vai parar de dar pra mim, uh? — provocou dando
outro tapa na bunda durinha.
O moreno riu se jogando pra todos os lados. Jeon não tinha mesmo filtro
nenhum. Era como uma criança, que dizia o que dava na telha, na hora que
queria.
— Agora não — disse rindo. — Nós temos uma série inteira pra assistir,
não? Duas, aliás. E confesso que ainda 'tô um pouquinho cansado de
ontem... você me deu um trabalho... — falou em tom malicioso.
— E daí? Eu sento em você...
— Não quero você no controle... você anda muito abusado — disse com os
olhos apertados.
— Mas... você quer dizer nunca? Tipo, uma carta fora do baralho? —
reclamou de cara feia.
Sim, os enredos das séries favoritas que os Jikook citaram, são de duas
fics minhas. Assombrado e 666, A BESTA. Sou sutil como um coice de
mula.
https://youtu.be/aKSxbt-O6TA
25| destroyer
ESCRITO POR HowUdare
Celular do Jungkook:
me ajuda! eu tô pirando! |
| O que houve?
Chamada rejeitada
| Ahh... e aí?
eu usei a chave que peguei com vc, pra vir aqui. e descobri que o jimin
não arrumou nadinha, hyung! nada! |
calado |
eu confrontei ele. e aí falei que não queria que ele consertasse nada, que
a única coisinha que queria, era que ele parasse de mentir pra mim |
pior!!! ele disse que tava escondendo isso, pq não queria que eu fosse
embora!!!!! |
| E aí e aí e aí?????????
tb não dei mta abertura pra que ele fosse em frente, pq me assustei pra
um caralho |
e isso ficou bem explícito quando dei uns 20 passos pra trás... 😢 |
e eu tô, hyung :( |
| Ah, neném, não fica assim, poxa 😩 Dessa vez pode dar certo. O jimin
parece um cara super correto. Já falei que os sentimentos dele por vc
transbordam pelo olhar. Dá pra ver à distância, que ele é louco por vc,
sabia?
| Certo?
amo, eu acho... |
| JUNGKOOK!
ai eu amo sim |
como não amar um cara lindo, fofo, cheiroso, que me trata como um
príncipe e é simplesmente a melhor foda de toda a minha vida
miserável???? |
| Então faz o seguinte: tenta dar mais abertura pra que ele se sinta
confortável o suficiente pra se declarar.
| Medo, todos nós temos. Mas entrar numa relação é isso. É entrar de
cabeça, mesmo sabendo que pode bater com ela no chão e abrir a cuca.
| PARA!
| SÉRIO, PARA.
| SEM PARANOIA.
😠😠😠 |
| Mais tarde passo lá na loja pra te ver e te dar um abraço, seu bebêzão
Quando Jimin tentou ir pra casa naquela tarde, o ruivo não sabia como dizer
que o queria ali. Como explicar que havia batido o pé pra que morassem
separados, mas ao mesmo tempo ter a cara de pau de dizer que o queria ali,
junto a ele, em sua casinha simples? Que já tinha acostumado tanto com a
presença do lúpus, que dormir sozinho apertaria seu coração?
O engraçado era que o rapaz não conseguia dormir. Tinha convencido Jimin
a dormir lá outra vez — usando sexo como artimanha — mas o lúpus já
havia pego no sono há horas, enquanto o mais novo continuava pilhado.
Não sabia bem se pelos pensamentos sobre a relação dos dois pairando em
sua mente, ou se porque estava próximo ao rut e suas substâncias hormonais
estivessem enlouquecidas.
Então buscou por seu notebook e sentou-se com ele no sofá, decidindo
estudar um pouco mais do universo que vivenciava agora. Já havia se
tornado uma prática. Pelo menos três vezes na semana, Jungkook se pegava
lendo e pesquisando bdsm mais a fundo. Já conhecia um bocado de
acessórios e o jeito certo de usá-los — mas dava mais atenção às descrições
sobre as sensações de cada um deles, afinal, ele é quem estaria na posição
de submissão; ele é quem teria os acessórios sendo utilizados em si, de
modo que precisava saber melhor sobre isso, do que a forma de utilizá-lo
em terceiros — porque Jimin provavelmente não o deixaria dominá-lo, nem
em um milhão de anos. O ruivo estava certo de que a promessa do outro,
sobre trocar as posições numa sessão um dia, haviam sido só para calá-lo, já
que o Jeon podia ser bem irritante quando cismava com algo.
— Oh. Boa sorte, hyung. A vida de pobre não é pra você. Eu nasci pra ser
um Baby Boy, e você o meu Sugar Daddy...
— Então por que você vive tentando escapulir dos meus mimos? —
perguntou curioso.
— Por que só quero ser mimado, se isso não te deixar morrendo de fome
depois — fez uma expressão exasperada, como se o outro lhe questionasse
o óbvio. — Mas com você trabalhando, é bom ir preparando a carteira.
Quero tudo o que mereço, tá ok? E eu mereço muita coisa... — terminou
com o nariz empinado.
O alfa lúpus precisou abafar a risada no peito do outro, pois seu corpo não
atendia muito bem aos comandos de equilíbrio, ao iniciar uma gargalhada.
Costumava ser um tanto escandaloso nesses momentos, sua postura quase
se esvaía.
— Certo. O bebê vai ganhar muitos mimos. O que você quiser, meu amor
— disse todo apaixonadinho. — Sabe que sou um bobão por você, né? Leve
todo o meu dinheiro.
E isso não passou batido aos olhos do de cabelos cereja. Deu um risinho
ladino e capturou a orelha de seu tamer entre os dentes, mordiscando
brincalhão, mais como um carinho e não com o objetivo de excitá-lo.
— Você fica um tesão quando age assim, todo superior, sabia? —
murmurou.
[...]
— Você sabe que nós não temos exatamente um lobo interior, certo? É mais
como um instinto, não uma segunda personalidade...
— Por que vocês não tentam algo pra... Apimentar? Pode funcionar. Tipo
umas algemas, umas roupas de látex, Jin hyung sentando em cima de você
e te enchendo de tapa na cara, até você implorar pra ele...
— Garoto! Muita informação. Não quero mais conversar com você. Vou lá
atrás conferir a lista de reposição de produtos. — E o beta foi para os
fundos da loja encarando Jungkook como se este fosse totalmente louco.
— Hmn... baunilhão — o alfa resmungou, apoiando o queixo na mão
magra e o cotovelo no balcão. E então começou a murmurar sozinho: — É
por isso que eu acho ele feio. De que adianta uma v line bem marcada e um
corpão todo gostoso, se age como um virjão? Fala sério...
Mas talvez tenha murmurado alto demais, já que Namjoon parou e cruzou
os braços no portal, encarando o Jeon com uma cara nada boa.
— Sabe, Jungkook, as pessoas não estão aí pra agradar seu senso estético.
Namjoon bufou e, de fato, fez o que o outro dizia. Não era de hoje que o
garoto dizia que ele era péssimo conversador. Não que o Jeon pensasse que
ele deveria mudar o jeito dele, afinal, aquele era o jeito dele, no fim das
contas. Era quem ele era. Mas ao menos deveria filtrar os interesses das
pessoas com quem conversava, e não ficar falando sobre assuntos
desinteressantes ao próximo. Falar era ótimo, mas saber ouvir era essencial.
Aquele começo de noite estava especialmente frio. Era primavera, mas uma
leve garoa caía lá fora, e o ar-condicionado da loja de conveniência estava o
fazendo tremer um bocado.
Então a animação que sentira pela quase declaração de amor do lúpus, dias
antes, agora parecia pouca coisa. Não era realmente uma declaração, afinal.
E uma marca entre os dois, que conectaria suas mentes, também era
impossível.
Por que diabos não havia se apaixonado por um beta? Por que infernos não
conseguia se atrair por ômegas? Aquilo era um saco.
No caminho pro apartamento, o garoto fez algo que não fazia há algum
tempo: roeu as unhas. Jimin reclamaria um bocado, mas em parte era culpa
dele, veja só.
— Cara, ele deve ser marcado por um ômega, para de implicância... — viu
uma alfa fêmea de cabelos vermelhos dizer.
— Ah, fala sério, Gina! Você não vê esse esquisitão andando de um lado
pro outro com aquele alfa lúpus baixinho? Não seja inocente. São duas
aberrações, isso que são... — rebateu novamente o platinado.
Sendo chamado pra briga, o outro avançou pra ele, mas a alfa ruiva e um
beta macho careca seguraram o amigo, puxando-o pra trás.
— Qual é, cara? Fica numa boa. A gente veio curtir e não arrumar confusão
na rua. Deixa o cara — a mulher falou.
— Babaca...
Mas ao abrir a porta do próprio apartamento, deu de cara com algo que lhe
parecia a Disneylândia: havia um mar de sacolas e caixas de incontáveis
marcas, espalhadas em sua pequenina sala de estar — sem contar o grande
sofá preto aveludado em formato de "L", que ele só havia visto em lojas de
mobília caríssimas. De quem diabos era aquele estofado? Nunca teve
dinheiro pra comprar um daqueles.
Passando os olhos rapidamente pelo lugar, Jungkook avistou uma pilha alta
de cases de jogos em cima da estante abaixo da tv. Imediatamente arregalou
os olhos e correu até lá, ignorando Jimin — mas por uma boa causa;
precisava conferir se, de fato, haviam jogos novos ali.
E tinham.
Uns vinte.
— Nem o triplo de tudo isso, fazem jus ao que eu sinto por você, Kook-ah...
— declarou manso, encarando o acerejado no fundo dos olhos.
— Uhum...
— Eu tenho um namorado e dominador rico e com um bom emprego, que
me dá jóias de presente, num dia de semana... — disse com uma falsa
expressão pensativa. — Acho que posso me acostumar com isso, sabe...
Jimin riu, cerrando as pálpebras pequenas tão forte e jogando a cabeça pra
trás, que ninguém poderia negar o quanto estava genuinamente feliz. E
assim Jungkook se pegou hipnotizado por aquele sorriso, aquele rosto, o
som daquela gargalhada. Antes que pudesse pensar muito, disparou em voz
baixa e sussurrada:
Aos poucos, o ex-militar foi cessando a risada, até encarar Jeon bem de
frente, face à face. Deslizou lentamente a língua entre os lábios grossos,
mirando o outro com a intensidade de mil sóis em brasa.
Jeon mordeu o lábio fino, segurando a respiração. Aquilo tudo era tão
intenso. Do jeito que só via em filmes, livros e histórias antigas. Nunca
achou que esse tipo de coisa fosse verdadeira, no mundo real. Ninguém
amava tão intensamente assim e tinha a sorte de ser retribuído...
Esperava que Jimin dissesse que o amava logo. Do contrário, ele mesmo
explodiria nas próprias emoções e acabaria confessando tudo. Que o que
sentia pelo outro, era amor.
Mas ah, se tinha uma área onde Jeon Jungkook definitivamente se recusava
a ser submisso, era no amor. Não queria estar naquela posição: a de ser a
pessoa que ama mais. O elo mais frágil. Aquele que se declara primeiro.
Não, não. Precisava se segurar, até que o outro lhe dissesse as três
palavrinhas primeiro.
O moreno, por sua vez, encaixou a aliança ligeiramente mais fina no dedo
do acerejado e beijou a peça sob seu dedo, carinhosamente, entrelaçando
seus dedos e as mãos.
#JungkookBebêDoJimin
26| hellish munch
Não deveriam estar mexendo na jóia agora, mas ah... Iriam para o munch da
The Cave, num dos melhores restaurantes da cidade. Todo mundo estaria lá.
E o lúpus queria deixar bem visível o quão avançada era sua relação com
seu submisso, a ponto de usarem anéis de casal e brincos combinando.
Até porque, Park Jimin não era idiota. Ele, mais do que ninguém, estava
ciente do quão atraente Jeon Jungkook era. De como seu cheiro era
formidável, de como suas expressões meigas e, quase sempre, fofinhas
como a de uma criança inocente, chamariam muito a atenção de outros
dominantes. Mas Jungkook era seu. E naquela relação, Jimin seria capaz de
sair na dentada com outros, como um lobo, para proteger o que lhe
pertencia.
Exceto pelos pés de Jungkook. O garoto quase saiu de casa com as pantufas
pretas de coelhinho. O par havia simplesmente se tornado um uniforme. O
acerejado não usava mais chinelos ou meias dentro de casa. Apenas as
pantufas que ganhara de presente de natal do lúpus. Toda vez que olhava
pra elas, lembrava-se de Jimin. E mesmo quando o moreno estava ao seu
lado, aquilo lhe dava uma sensação gostosa. Porque Park Jimin estava por
toda a parte, assim como ele estava por toda a parte da vida do outro.
Havia dado um par de botas de couro preto para Jungkook, porque além de
bonitas, pareciam muito gostosas de calçar. Junto a isso, o de cabelos cereja
usava uma camiseta branca de botões e mangas compridas, deixadas
desabotoadas intencionalmente, com parte da barra pra fora da calça preta
apertada, e a outra pra dentro, cobrindo o tronco de modo propositalmente
desleixado, casual.
— Sim... Pensei em algo como Cherry Pie, mas preciso colocar a posição
no nome, certo? — o Park confirmou com um murmúrio. — Então, acho
que gosto de CherrySub.
— Algo tipo... "Oh, sua coleira é bonita. Sou um submisso também, pode
me chamar de Cherry. É a primeira vez que estou vindo a um munch com
meu dominador..." ?
— Claro que não, amor. Mas você é livre pra rondar o local e ir
conversando com outras pessoas. Afinal, é pra isso que os munch's são
realizados. Pra que os membros que frequentam uma mesma masmorra se
conheçam e tenham uma certa intimidade entre si, como um grupo unido.
— Ah, sim... — o moreno sorriu também, meio sem jeito até. — Sabe, eu
costumava ser bem tradicional, antes de você. Achava inadmissível que um
bottom não se dirigisse a mim como "Senhor". E eu conseguia manipular o
submisso a me tratar como seus superior, apenas com o olhar...
— E naquele dia você me disse de cara: "Você não é meu dominador, não te
devo respeito." — imitou uma vozinha malcriada. — Juro que senti vontade
de te castigar imediatamente. E depois, quando se recusou a ser meu
submisso e entrou pra dentro do prédio, batendo a porta na minha cara, eu
pirei. É sério, sequer consegui dormir naquela noite... Precisei apelar pra
um calmante.
— Te deixei tão desesperado assim? — perguntou Jeon, divertindo-se com
as confissões do, agora, namorado.
— E por que pensou isso, se quando nos encontramos na The Cave você já
sabia que eu tava a fim de você?
— Por vários motivos. O primeiro de todos, foi eu ter feito a burrice de ter
te dado um fora lá em casa. Sabia que tinha te deixado possesso com isso. E
em segundo, por causa de Hoseok. Se ele era seu amigo íntimo, pensei que
sua escolha seria ele como dominador, e não a mim. E quanto mais pensava
naquilo, mais agoniado eu ficava. Cheguei até a sonhar com você me
ignorando algumas vezes... — murmurou com um bico.
— Sabe... Eu acho que se você não estivesse chateado com a coisa da sua
exoneração, naquele dia, provavelmente não teria dado em cima de mim.
Talvez tivesse batido a porta na minha cara e me mandado ir comprar o
achocolatado no mercado mesmo... — disse, virando uma esquina.
Jeon sentiu um alívio tremendo no peito. Não que pensasse que Jimin fosse
capaz de cometer tamanha traição, mas ainda assim, era bom ter a
confirmação de que o lúpus, de fato, respeitava a relação deles, e não só da
boca pra fora.
— Não acredito que você chegou primeiro... — uma voz soando levemente
entediada, disse atrás deles.
O moreno deu um rápido abraço no amigo, mas o ômega não era muito fã
de contatos físicos, então foi empurrando Jimin pro lado, um pouco brusco,
enquanto resmungava. Mas o lúpus não se abalou, abraçou-o de novo e
permaneceu rindo, como uma criança pentelha.
— Não é por nada não, viu, mas esse seu submisso é um babacão. Fala
sério — disparou o brat.
Jeon recebia tantos elogios, que suas bochechas ardiam. Elas ficavam
naquele tom rosa, que parecia bastante com sua bunda, depois de umas
palmadas do Park. E a sensação de ter o ego amaciado daquele jeito, era
deliciosa. No fundo, estava adorando receber toda aquela atenção, afinal,
era um exibicionista de primeira, embora também curtisse bastante
observar.
Era um alfa de mesma altura que a sua, cabelos escuros com franjinha e
roupas casuais. Usava uma gargantilha bonita de veludo no pescoço, então
Jeon facilmente o reconheceu como sub. E aí o rapaz falou consigo,
finalmente:
— Acho que conheço você... É submisso do Hope, certo? Acho que você
entrou com ele na última Play Party lá na The Cave...
Oh. Agora ele lembrava. Vagamente, mas lembrava. Era o cara da portaria
da boate. No dia, ele trabalhava junto a uma fêmea alfa loira, toda vestida
em látex vermelho, da cabeça aos pés. Jungkook teve a impressão de tê-la
visto por ali, rapidamente, mas era quase irreconhecível sem a maquiagem e
usando apenas uma calça jeans e camiseta de botões.
— Ah, tudo bem, não esquenta. Eu ajudo. Então, é o seguinte: o bratty sub
é um submisso comum — disse puxando a cadeira e sentando-se
confortavelmente ao lado do Jeon, que o encarava atento e genuinamente
interessado. — Bratty sub é um submisso normalmente obediente, mas que
em uma ou outra ocasião, acaba se recusando a cumprir as ordens. Não por
prazer, mas por birra ou o que quer que seja. Como uma criança, sabe?
Mesmo filhos bonzinhos, tem seus momentos de rebeldia. Existem os
middle brat's também, são basicamente um meio-termo, entre serem
obedientes e malcriados. Já o puramente brat, é aquele que está em posição
de submissão, mas não aceita obedecer por obedecer. Esse não é o jogo
dele. O brat ama, verdadeiramente, provocar seu superior. Ele não quer se
deixar ser dominado, ele quer ser domado. Ele gosta de irritar porque...
— Porque acha atraente quando seu tamer fica irritado com ele —
completou o ruivo, com um sorriso.
— Então, esse sou eu. Amo quando Ji- quero dizer, o AlphaDome, fica
irritadinho. A expressão dele é bem sexy, sabe? Ele é assim todo pitiquinho
e com aquelas bochechas gordinhas. Não dá pra sentir medo dele —
desatou a falar. — O que ele vai fazer, me dar um peteleco?
Pessoas comuns, pessoas baunilhas, diriam que aquilo era um baixaria, uma
pouca vergonha. Mas para os membros da masmorra, era algo natural.
— Troca de casais?
— Sim. Num casal, um deles curte ver seu parceiro transando com outra
pessoa. Ou curte transar com um desconhecido, enquanto seu parceiro
assiste. Isso é o fetiche que chamamos de Cuckold. Cuckold é uma gíria pra
corno. Bom, não ser corno, realmente, afinal é uma prática consensual, no
fim das contas. Mas você concorda em assistir seu companheiro transando
com outra pessoa na sua frente, isso te excita. É diferente de simplesmente
tomar um chifre. Ser Cuckold, não significa ser traído realmente, já que é
tudo combinado entre o casal.
— Você pode tentar uma vez, só pra tirar a dúvida — deu de ombros. —
Mas quanto à questão do seu masoquismo emocional, ele é o que te faz
sentir tesão em imaginar seu dominador transando com outra pessoa.
Porque te dói pensar nisso, te machuca. Te dói imaginar ser trocado assim,
na sua frente. E a dor emocional alimenta seu fetiche. — E aí Seung bateu
palmas, como se tivesse chegado à conclusão de tudo. — Profundo, não?
— Me diga o que você acha. Ninguém pode te dizer o que você é, além de ti
mesmo. Pense nas características todas que te falei. Una elas e vá pelo
caminho lógico. É quase como um cálculo matemático. Vamos exercitar sua
mente... — instigou Seung.
— Seung, Seung... Você continua negando sua paixão por mim. Por que não
admite logo?
— Bem, primeiro de tudo, pra mim, brats não são submissos. São apenas
bottons, estão em posição inferior, mas não se submetem. Se deixar
submeter e fazer malcriação, são coisas opostas — disse o dominador alfa,
apertando os olhos bem maquiados pro ruivo, analisando-o, mas com um
sorrisinho persistente no rosto, claramente gostando do que via.
— Posso aceitar isso. É claro que uma jóia rara, como você, já teria sido
capturada — respondeu-lhe.
— Bem, se não o conhece, não fale sobre ele — alfinetou o ruivo. — Meu
namorado gosta do meu jeito, gosta das minhas imposições e eu o atiço o
suficiente com isso. Não se preocupe, estou em boas mãos — disse
levantando o queixo.
Claro, Jeon estava sim gostando de ser cortejado pelo outro Domador, ele
era bonito, cheiroso — tinha aroma de menta —, charmoso e... um alfa.
Mas nada se comparava a Jimin, pois o ex-militar era quem tinha seu
coração e sua total devoção, de corpo e alma.
O ruivo não estava irritado com as investidas do tamer, afinal, quem ficaria
irritado com outra pessoa sedutora demonstrando interesse por si? Só um
louco. Mas não daria corda. Em respeito a Jimin, é claro.
— Vejo que fez amizades, bebê — o Park lhe falou, ignorando os presentes.
— Vamos pra casa? Quero ficar sozinho com você... — disse com a voz
rouca e provocante, fazendo o vermelho morder os lábios e fitá-lo safado.
— Oh, me desculpem — disse nitidamente fingindo notar os outros dois ao
redor, somente naquele momento. — Seung, como está? — deu um aceno
de cabeça. — Olá, Helsing.
— Sim, encontrar meu Cherry foi a sorte grande. Ele é meu namorado e
estou o iniciando em nosso mundo — deixou claro o status da relação, que
ia além do BDSM. E então, propositalmente movimentou a mão com o
anel, próxima a de Jungkook, tendo acertado ao ver o olhar do outro tamer
passear entre as mãos de ambos, notando os anéis. — Vou me despedir da
Kiko e de alguns amigos e já venho te buscar, amor... — sussurrou no
ouvido do de genes ômegas.
— Esperto... Uma jóia rara, como eu disse — elogiou. — Bem, você está
no chat da The Cave? — perguntou.
— Ah, não se preocupe — Seung foi quem respondeu dessa vez. — Você já
conheceu a Kiko, certo? — o Jeon sacudiu a cabeça em afirmativa. —
Então ela logo irá pedir seu contato ao seu Senhor, para adicioná-lo nos
grupos, tanto o grupo geral, quanto o de brat's. Esse é um grupo novo,
antigamente unia todos os submissos. Mas depois que Lady Kiko se
envolveu com alguns brat's, ficou encantada. E agora ela adora novos
bottons desse tipo na masmorra. Por isso fez um grupo especialmente pra
eles. Já já você entra e então vai poder conhecer mais alguns como você —
disse gentil.
— Não gosto daquele alfa. Não quero que fale que com ele — disse,
finalmente.
Jungkook passou meio minuto assimilando que o alfa sobre o qual ele
falava, era claramente o domador, o tal Helsing, não Seung. Arqueou uma
das sobrancelhas pro outro, com uma expressão desacreditada no rosto.
— Como assim "não quer que eu fale com ele"? Você mesmo disse que
nunca me proibiria de alguma coisa Jimin, isso é ultrapassar os limites...
Jeon apertou os olhos pro alfa lúpus. Pelas reações do Park, tinha uma boa
ideia de onde vinha sua inimizade, e não gostou nadinha daquilo, menos
ainda da reação totalmente contraditória dele, que jamais o tratara daquele
jeito, sempre alegando ser controlado demais pra ter alguma crise de
ciúmes.
Jimin bufou, mordendo o lábio. Merda! Por que tinha tocado no assunto?
Jungkook levaria aquilo para um outro lado, ele podia sentir.
— Já — respondeu somente.
— Jungkook...
Além disso, não gostava de ninguém lhe impondo ordens, dizendo com
quem podia ou não falar. Embora estivessem praticamente vivendo uma
relação 24/7 — ou quase isso —, ainda assim não viviam uma relação de
Total Troca de Poder, era uma dinâmica de Troca Parcial, Jungkook deixava
aquilo claro no acordo entre os dois, e Jimin o aceitava tranquilamente, pois
não era o maior fã de ter o controle total sobre a vida de alguém.
Jimin então logo se deu conta e o soltou, sentindo-se envergonhado por tê-
lo segurado daquele jeito, mas o havia feito por impulso, por medo de que o
mais novo entendesse as coisas errado, como sempre, e saísse dali,
deixando-o sozinho.
Jimin apertou os olhos pra ele, ficando cada vez mais irritado. Qual era a
dele, afinal? Jungkook era mais ciumento que ele, deveria ser o primeiro a
entender como era sentir-se ameaçado. Estava certo de que, na situação
inversa, Jeon agiria ainda pior, faria um escândalo na frente de todos e não
esperaria até chegarem em casa.
— Por que você está agindo assim? Se você se incomodasse com minha
proximidade com algum submisso e me pedisse pra não dar trela pra ele, eu
certamente te respeitaria.
— Então se afaste de Taemin — testou.
— Você sabe que Taemin é meu amigo, Jungkook. É diferente. Helsing não
é nada pra você, o conheceu não faz sequer um dia...
— Ah, nem vem com esse papo, Park! — ralhou. — Você só está agindo
assim porque tem rixa com o cara por causa do seu ex, não por mim. Pelo
ex! Pelo cuzão do Taemin — gritou, irado.
E era por isso também, que deveria ter contado de primeira. Era um cara de
quase trinta anos, afinal. Tinha experiência demais na bagagem, para saber
que numa relação, tudo sempre é descoberto. E que por mais que esconder
alguma coisa seja um ato lógico e racional, visando o bem, a merda toda se
tornava muito maior quando exposta. E ela sempre seria exposta, mais cedo
ou mais tarde.
— Não quero mais ficar com você hoje, Jimin. Só quero ficar com você,
quando passar minha raiva dessa tua cara sonsa. Se ela passar! — falou
levantando o indicador de forma acusadora no rosto do outro.
— Já falei que não quero saber, Jimin! E tenha uma ótima tarde.
SOZINHO. Pensando nas coisas que fez — disse enfezado e saiu batendo o
pé, entrando pela porta da garagem, pra dentro da casa do moreno, mas
apenas para atravessar pela sala e sair pela porta da frente, indo pro seu
próprio apartamento.
"Você não vai ter paciência com um brat" — foi o que todos os seus amigos
lhe disseram. — "Ah, ele vai testar sua paciência, não faça isso." — disse-
lhe Yoongi. — "Não vai durar." — avisou Kiko.
Mas eles não tinham razão. Embora Jimin se visse extremamente magoado
no momento, tinha plena certeza de que Jeon Jungkook fora a melhor coisa
que havia lhe acontecido em anos. Combinavam perfeitamente,
temperavam a vida um do outro na medida certa. Não se arrependia de ter
começado a relação entre eles, nem por um segundo.
O moreno sabia que tinha errado com o garoto, afinal. Não deveria ter
explodido daquele jeito, nem ter dito as coisas daquela forma. Não deveria
ter exigido que o rapaz se afastasse do outro tamer, pois isso era um abuso.
Não tinha direito de exigir que ele se afastasse de alguém.
Mas não era essa a irritação real do Jeon, era? Ao que tudo indicava, isso
fora apenas o estopim da briga. A real questão ali, eram os ciúmes de
Jungkook sobre Taemin; Porque achava que o Park tinha alguma espécie de
rixa com o tal Helsing, por terem disputado Taemin no passado, quando na
verdade, Taemin nunca sequer ficou com o sujeito, o Park nunca fora com a
cara dele o suficiente pra que emprestasse seu submisso — nenhum deles
— ao rapaz. Havia algo sobre Mingyu que incomodava Jimin, de uma
maneira que ele não sabia explicar.
Mas não ia com a cara daquele tamer. Jimin não sentia segurança ou
respeito vindos do cara, o que podia fazer? Era como uma espécie de sexto
sentido ou qualquer coisa assim. Ele não lhe parecia confiável e fim.
Seu último relacionamento amoroso fora com o ex-noivo, Taeyang. Ali, não
era bem uma questão de território, mas sim sentimental, de sentir-se
ameaçado, de ter o coração partido. Jimin odiava sentir ciúmes, mas
Taeyang o provocava como o Diabo, adorava jogar. Depois disso, fodiam
bruto, com direito a tapas, mordidas, arranhões e puxões de cabelo.
O sexo do Park com o ex-noivo podia até ser baunilha, na maioria das
vezes, mas Taeyang adorava provocá-lo, com certa frequência.O beta,
sabendo do ciúme alfa do militar, tendia a flertar abertamente com outras
pessoas em sua frente, pois sabia que Jimin não faria nada em público,
nenhum tipo de escândalo; e era isso que acontecia. Quando chegavam em
casa, Jimin o fodia rude e depois torturava-o com sentadas violentas,
impedindo o beta de gozar, como castigo por suas provocações. Sempre
fora uma artimanha sua, afinal; negar o orgasmo à alguém, como forma de
mostrar que quem mandava ali, era ele. E inacreditavelmente, Taeyang
adorava. Mas aquele era o limite dele. Descobrir sobre as práticas
fetichistas do alfa, fora demais pro beta. Aquilo já era inaceitável, ao seu
ver. Era sujo, depravado demais, além dos limites.
Desde então, Jimin passou a detestar a coisa do ciúmes. Não que já tivesse
sido fã, algum dia, mas era um bom tempero pro sexo de sua relação
baunilha. Mas aquilo se tornou um trauma e ele não queria mais.
Era simples: não se sentia realmente ameaçado pela relação entre Jungkook
e o beta Jung Hoseok, pois confiava na amizade dos dois, confiava que
Hoseok não seria realmente uma competição pelo coração do avermelhado,
então era sempre capaz de controlar seu ciúme em relação ao Jung. Com
Mingyu, era diferente. Não confiava no tamer. E ao ver Jeon com o cara que
ele não gostava, sentiu seu sangue ferver.
No fim das contas, ele não estava tão errado assim. Toda moeda tem dois
lados. Tinha se equivocado, num momento de descontrole, por conta de sua
inimizade para com o homem. Mas Jungkook também não era vítima
nenhuma ali. O garoto tinha feito tempestade num copo d'água e tinha posto
seus ciúmes irracionais à frente de tudo, mais uma vez, mesmo após Jimin
reconhecer o próprio erro. Os dois estavam errados, ambos tinham sua
parcela de culpa. Até porque, quando um não quer, dois não brigam.
Mas se não era o fim do mundo, por quê sentia como se fosse?
#JungkookBebêDoJimin
Jung Hoseok estava cansado. As noites não eram mais pra dormir e os dias
eram inteiros dedicado ao seu trabalho. Um trabalho que fazia
mecanicamente, era claro. Não conseguia sequer se concentrar
apropriadamente.
Ah, mas ao menos poderia conversar com Jungkook hoje, não poderia? O
amigo estava perdido nos próprios problemas, mas tinha certeza que ao
longo da noite, provavelmente iria escutá-lo também.
Jeon não tinha muito jeito com as palavras, mas era bom de reclamação.
Todavia, nada disso fazia o mais novo alguém que não fosse bom em ouvir.
Era ótimo nisso, na verdade.
— Oh... Eu também não vou muito com a cara dele — juntou-se. — Esse
alfa vivia dando em cima do Taehyung, quando estávamos juntos da
primeira vez. Da segunda, ele não se atreveu, mas acho que foi mais por
causa do Yoongi... As pessoas tendem a ter muito respeito (ou medo) dele.
Mas em compensação, Helsing já tentou sair com o Yoon um bocado de
vezes, também. Ele é do tipo que atira pra todos os lados e jura que pode
submeter até mesmo um dominador...
— Yoongi hyung não gosta do jeito como ele se acha todo superior quando
se trata de brat's. Ele pensa que é, eu sei lá, um especialista? É um arrogante
— disse com uma expressão de desprezo. — A questão é que falei com o
Jungkook de maneira errada. Quer dizer, eu sou ciumento, sou um alfa,
afinal. Mas sempre soube me controlar. Mesmo nos meus namoros, que
nada tinham a ver com bdsm, sabia me controlar. Nunca fui de fazer
ceninhas em público ou gritar. Sempre fui mais do tipo vingativo...
— Então por que perdeu o foco dessa vez? — o beta indagou curioso,
sentando-se no degrau da escada, ao lado do Park.
— Claro que não! Taemin jamais faria isso. Ele é meu amigo, afinal. Ele
não vai fazer nada pra me magoar, sabe que estou apaixonado pelo
Jungkook...
— Provavelmente você vai ter que escolher entre manter a amizade com
Taemin ou manter sua relação com Jungkook — deu ombros. — Estando na
mesma posição que você agora, bem... Eu escolhi o meu amigo — disse em
tom triste, mas resoluto, dando um suspiro.
— Oh. Yoongi hyung contou sobre isso. Sinto muito que você e Taehyung
tenham terminado — disse dando-lhe uma afagada no ombro, gentilmente.
— Taehyung me parece muito mais surtado que o Jungkook. Ele é mais
descontrolado, não é? Quer dizer, você e Jungkook poderiam ter ficado
juntos, se quisessem. Confesso que já tive ciúmes de você, mas se vocês
quisessem ficar juntos, ficariam. As famílias de vocês aprovariam.
Jungkook poderia voltar pra mansão dos pais e tudo...
— Você sabe que agora que vocês romperam, é bem provável que ele faça o
Yoongi escolher entre vocês dois, certo? Ele certamente não vai suportar
que o Dom dele namore com ele e o ex, ao mesmo tempo.
— Não se preocupe. Amigo é pra essas coisas. Quero dizer, nós dois não
somos amigos exatamente — franziu o cenho, apontando pra eles mesmos.
— Mas você sendo namorado do meu melhor amigo, e eu sendo namorado
do seu...
— Hey, não se preocupe. Vou tentar limpar sua barra lá dentro, tá legal? O
pirralho é um cabeçudo teimoso, mas depois que a raiva passa, ele vem
como um cachorrinho caído do caminhão de mudanças, com o rabo entre as
pernas. Ainda mais depois que eu esfregar na cara dele, que também 'tá
errado.
— Agora vou lá pro apê. Meu bebê deve estar arrancando os cabelos fora.
— Ou, ou, ou... Que história é essa de seu bebê? — o lúpus fingiu-se de
indignado, em tom brincalhão. — Ele é meu bebê!
— Mas a chupeta dele está lá na minha casa — disse como se essa fosse a
efetiva prova de que o dito "bebê" era seu, apontando pra dentro.
— O que você dois tanto conversavam? Está se voltando contra mim, Jung
Hoseok? Está flertando com o inimigo, uh? — reclamou todo teatral.
— Ei, por que não faz você mesmo? — Hoseok reclamou em tom
indignado completamente fingido, afinal, já esperava isso dele.
— Oh, nos desculpe por tentar te trazer pro mundo real, e não pro
mundinho que você cria na sua cabeça, JK — ironizou, acariciando o
gatinho, que ronronava em seu colo.
— Eu e Taehyung... terminamos.
— Cara. Que chato. Por que vocês terminaram? O que o panaca fez?
— Olha... — o acastanhado suspirou, encarando o amigo. — Taehyung tem
muito ciúmes de você. Desde o começo, você sabe. Mas a coisa chegou
num nível insuportável e ele me fez escolher entre vocês dois. — Jungkook
arregalou os olhos um bocado, de boca aberta. — Mas por favor, não se
sinta culpado. Sei que é uma situação desconfortável pra todo mundo,
mas... Eu não iria abandonar meu melhor amigo, por namorado nenhum.
Você é minha família, JK.
— Posso com falar o Jimin hyung, de repente a gente faz alguma coisa na
casa dele, sem aquele alfa cara de bunda... — Jeon referiu-se a Taehyung.
Hoseok gargalhou com a fala do outro. Zero papas na língua, como sempre.
— E você... Está pretendendo parar de birra com seu namorado, que dia?
Está demorando demais, você sabe. Seu birrento — Hoseok acusou.
— Ah, hyung, Jimin foi um cuzão, fala sério! Ele estava com ciuminho do
cara, só porque ele já deu em cima daquele bostinha do Taemin — disse
entredentes. — Não é ciúme de mim. É que ele não gosta do sujeito, porque
o cara tentou roubar o subzinho dele, que tem um cabelo loiro brilhante e
cheiro de patchoulli... — terminou resmungando, enquanto descruzava os
braços.
— Yah! Agora ele fez sua cabeça, foi? Park Jimin, aquela cobra sorrateira!
— Jimin só me deu a versão dele. Agora quero que me dê a sua. Vou julgar
como um juiz imparcial. Sou neutro nessa história.
— Bem, tecnicamente sou amigo dos dois. Meio que acabei de combinar
com o Park, que somos amigos, então... foi mal.
— Jung Hoseok, você está jogando essa traição na minha cara? Bem assim,
na frente da minha salada?
— Olha, é sério. Fala logo a sua versão pra eu te ajudar. Pra ajudar vocês
dois, na verdade — disparou com a boca cheia. — Vocês são meu casal
favorito.
— Minha nossa, como você é um idiotão, JK. É claro que ele tem ciúmes
de você. O negócio é que quase nenhum dominador vai com a cara desse
Helsing. O cara atira pra todos os lados e não respeita os sub's
comprometidos. Além do mais, ele se acha o único capaz de saber lidar com
brats, é um sem noção.
— Ele dá em cima de todo mundo, ué. Aposto que deu em cima de você. —
Jeon sentiu-se desconfortável, sob o olhar atento do outro, sem dizer nada,
movendo-se na cadeira. — Ah, fala sério! — o beta bateu com as mãos nas
próprias coxas, se dando conta. — Você flertou com ele?
— Sim, você não está errado nisso. Mas olha, o Helsing realmente não
parece boa coisa. Jimin não está totalmente errado em querer você longe do
cara. Ele só meteu os pés pelas mãos e fez isso de maneira errada. E ele já
se desculpou, não já? Sei que já!
— Mas... mas ele não gosta do cara, por causa do cocôzão do Taemin! —
Jungkook teimou com uma criança birrenta.
— Não, Jungkook, porra, seu imbecil! Ele não vai com a cara desse tamer.
O cara já deu em cima do Taemin, do Taehyung, do Yoongi, até mesmo da
Kiko — Hoseok foi enumerando com os dedos finos. — Ele dá em cima até
de dominadores, simplesmente não tem rédeas e decoro, não respeita a
liturgia ou os bons modos. Se fosse outra pessoa se engraçando pro teu
lado, Jimin sentiria ciúmes de qualquer jeito, só que ele não estouraria
daquele modo. Ele só estourou porque era o Helsing com você. E olha,
Yoongi sempre me disse que Jimin é controlado com ciúmes, que nunca na
vida o viu fazer uma ceninha nem nada assim... Nem com aquele ex-noivo
endiabrado dele.
E ah, sim, Hoseok sabia tudo sobre a relação conturbada do Park com o ex-
quase-marido. O linguarudo Yoongi havia lhe contado tudo, mas o beta não
entraria em detalhes disso com o melhor amigo, afinal, era Jimin quem
tinha que definir o que ele queria que Jungkook soubesse sobre sua antiga
relação. Não cabia a si.
— É, foi sim. Agora vamos beber e encher a pança de comida, pra que eu
afogue minhas mágoas. Depois você se resolve com seu macho, 'tá legal?
Agora é hora de ajudar seu amigo.
[...]
— Você pensa em pedir pro Jimin experimentar esse kink com você? —
perguntou curioso.
— Eu não sei. Provavelmente não. Eu sei lá, imaginar a coisa toda na minha
cabeça, é um tesão. Mas na prática, não sei não... Talvez eu brochasse e
começasse a chorar, no meio da casa de swing ². Imagina o mico?
— E não é. Mas num threesome, tanto você quanto seu parceiro, vão transar
com um "convidado". Então a possibilidade de sentir ciúmes e ficar
desconfortável, é bem menor do que você ficar de canto, apenas assistindo
o seu homem ficar com outra pessoa na sua frente — deu de ombros.
Jungkook pensou por um instante. Se alguém entendia bem de fodas em
trio, esse alguém era Jung Hoseok, afinal, não só havia namorado à três,
como também mantivera uma relação D/s à três com as mesmas pessoas.
— Você chegava aqui desse jeito com bastante frequência, seu safadinho...
— zombou. O outro riu da piadinha infame, sacudindo a cabeça em
negativa, mas sem reprovação no olhar, apenas humor.
— Uhum. Esse daí. — Levantou-se pra encher seu copo com mais bebida,
na bancada da cozinha. — Eu fiquei tão possesso, que fodi por nove horas
seguidas, com três sub's: uma mulher e dois caras, sendo que um deles era
ômega e me lembrava muito o Yoon, sabe? Era bem magrelo e branquinho.
Aish, fui tão sádico com o pobrezinho... E quanto mais eu machucava, mais
ele me dava aquele olhar sofrido e eu odiava. Eu queria vê-lo me fitar com
ódio, com desprezo, como o Yoongi fazia...
— Então por que você não ficou com um Dominador, ao invés de três subs?
— Jeon indagou confuso.
— Porque naquele dia, eu estava tão magoado que não me sentia à vontade
de me submeter à alguém. Queria apenas dominar, me sentir poderoso,
provar a mim mesmo que eu era o máximo e poderia ter quem quisesse nas
mãos.
— Mas e aí, quando foi que você deixou de sentir ciúmes deles dois juntos?
— Como você sabe que a rola do meu namorado é grossa, hein, seu talarico
raspa-canela? — disse em falso tom indignado, já meio bêbado.
— Por que isso pareceu tão nada a ver? A gente sempre se pegou, era de
boa...
— Eu não sei, mas eu também não consigo mais te ver com atração... —
Hoseok respondeu rindo, também olhando pro teto, com as mãos sobre a
barriga, tranquilo.
— Você acha que tem algo a ver com a gente estar mais próximos do que
nunca, ultimamente? — divagou.
— Oh, que droga. Eu planejava me casar com você, se a gente chegasse aos
50 anos, solteiros — Jeon disse em falso tom de lamentação.
— Você, eu não sei. Mas eu, com certeza seria por causa do meu jeitinho
acalorado de lidar com as coisas. Sabe como é...
— Você quis dizer esse seu jeitinho pistolado, sem noção e difícil de lidar,
né, Jeikei?
Uma coisa era fato: Jungkook e Hoseok jamais haviam transado fora dos
cios híbridos do alfa. Claro, não era incomum trocarem uns beijinhos
quando saiam pra clubes à noite, ou quando ficavam alterados demais pra
conseguir soletrar o próprio nome. Mas sexo ou qualquer tipo de pegação
mais animada, eles nunca tentavam. Não seria agora que o fariam. E,
aparentemente, nunca mais.
— É, você tem mais vocação pra Rachel, do que pra Ross¹... — Hoseok
disse. — E eu seria um cuzão de fazer isso, algumas horas depois de
prometer ser amigo cara. Ah, o álcool mexe com a mente das pessoas,
realmente. Mas ao menos, agora a gente sabe que o clima entre nós se
evaporou por completo, depois de quase sete anos de amizade colorida —
deu de ombros.
— Como assim? Você vai contar isso pra ele? Por que? A gente nem fez
nada, só trocamos uns olhares, nossas bocas nem se encostaram, tá louco?
— disse tudo em tom alarmado.
— Não, idiota, não isso. Nem tem necessidade de contar uma coisa dessas,
é desnecessário. Nada aconteceu. Eu quis dizer ir lá me desculpar com ele,
pela nossa briga de semana passada, hyung. Isso realmente me fez perceber
o quanto eu tô amando esse cara...
— Sim, eu já sabia que o amava. Mas acabei de perceber que jamais teria
coragem de traí-lo, com quem quer que fosse. Eu o amo tanto, que a à cada
dia mais, sinto que essa coisa é irreversível, e isso me dá medo...
Intensidade demais atrapalha. É a lei da vida. É sempre assim. Tenho
vivência.
— Ei, isso me lembra uma coisa... Seu rut alfa não é mais ou menos nessa
época?
— Sim. Mas está atrasado. Às vezes eu sinto uma leve quentura no corpo,
mas logo passa. É como se o cio estivesse ameaçando vir e não vem nunca.
— Uhum.
— Então você vai dormir no sofá, né? Porque vai que você entra em rut de
madrugada e a gente 'tá dormindo lado a lado? Sei lá né, a gente pode ter
constatado que não sente mais atração um pelo outro, mas um cio é coisa
crítica...
— Na-na-ni-na-não!
— Euzinho!
— Então quero ver! — e aí o moreno se pôs de pé num pulo, correndo em
direção ao quarto.
[...]
Era o cio? Não parecia. Não era o mesmo tipo de dor. Era só a febre, o
corpo quente e transpirante. Só aquela quentura sendo resfriada pelos poros,
através do suor. E seu rut estava um bocado atrasado, aparentemente. Já
devia ter começado há um punhado de dias.
O alfa pegou o celular e sentou-se no sofá. Uma pequena garoa caía lá fora,
molhando as janelas de vidro, mas sem muito barulho. Isso o lembrava de
Jimin. Garoas podiam ser o início de tempestades, e estas sempre vinham
acompanhadas de trovões — o ponto fraco do alfa lúpus.
Ao desbloquear a tela, viu que haviam várias mensagens do Dom, cada uma
em um horário diferente. O mais velho enviava mensagens todos os dias,
mas a maioria o Jeon ignorava, e quando respondia, era pra fazer birra e
alongar a briga.
Maldito masoquistazinho emocional de merda.
Hyung favorito
[22:13 PM]
[22:14 PM]
| Eu tô sofrendo, sabia?
[23:01 PM]
[00:03 AM]
| Poxa, Kook. Já faz quase uma semana, para com isso, poxa 😭
[01:08 AM]
[01:51 AM]
| Sei que você está com o Hope e não vai me responder agora. Mas acho
que ele também já conversou com você. Então, estou ansioso pra que
você venha até mim amanhã. Se você não vier, vou ficar muito bravo
[02:11 AM]
[03:02 AM]
| Poxa, eu tô triste :/
Jungkook sorriu pra tela, como um bobo. Seria muito problema largar
Hoseok ali sozinho e sair na chuva?
O Park então deu espaço pra que o outro entrasse, ficando assim
encurralado na porta, após fechá-la.
Quase.
— Desculpa por tudo isso aí que você falou — disse olhando pros próprios
pés, sem coragem de fitar o namorado. — Principalmente por ter te
ignorado. Admito que senti certo prazer em fazer isso... Meu masoquismo
emocional é um pouco forte... E acabei de descobrir que meu sadismo
também — confessou de uma vez, finalmente levantando o rosto para ver as
reações do outro.
O Park se voltou pra ele novamente e o afastou com leveza, indo pra longe,
até parar no meio da sala e encará-lo, com as mãos na cintura.
— Ei!
— Muito bem. Não irei te punir dessa vez, apenas castigá-lo, pra que saiba
que seu Senhor é piedoso. Vamos para a masmorra — ordenou e deus às
costas, subindo as escadas transparentes.
Ao menos estava tranquilo por notar que aquele — ainda — não era seu cio,
já que se fosse, não poderiam praticar o BDSM naquele momento. Teriam
que se trancar em casa por alguns dias, e Jimin teria de satisfazer seu
período de procriação, mas sem utilizar-se das práticas de dominação e
submissão, por não haver perfeita sanidade em Jungkook.
Toda vez antes de terem uma sessão, Jeon se sentia do mesmo jeito. Aquele
era o efeito Park Jimin. Começou a sentir seu pênis flácido acordar,
enchendo-se, o sangue começando a circular freneticamente em sua pélvis.
Ah, mas o tamer sabia que era tudo uma grande farsa. Jungkook era tão, tão
sonso...
— Vou fazer o que eu quiser e você vai aceitar caladinho — disse o fitando
por cima do ombro com um olhar de falso desprezo, abrindo a porta do
quarto onde ficava a masmorra. — Só quero que abra a boca pra gemer e
responder o que eu perguntar, fui claro, seu malcriado?
— Me desculpe, Jimin-ssi. Mas é que... Sabe, se nós dois erramos, por que
só eu estou sendo castigado? — questionou, mas sem audácia ou
arrogância.
— Oh... mesmo? Gosto mais quando você tira ela, hyung. Pecinha por
pecinha... — Jeon provocou ardiloso, tentando se esquivar.
Jimin sugou o ar entredentes. Não, não estava perdendo a paciência. Estava
ficando excitado. Mais uma vez seu corpo provava o quanto, pela primeira
vez na vida, alguém conseguia instigá-lo através da teimosia. Sentiu seu
baixo abdominal repuxar, dando os primeiros sinais de excitação.
— Calado! — O moreno ralhou. — Já falei que só pra você abrir essa porra
de boca, quando eu mandar, não falei? Essa foi uma pergunta retórica —
disse rude.
Ele pensava: "Sou tão bonzinho. Até mesmo quando meu alfa é um grosso.
É isso que tenho que aguentar e ainda assim dou a ele meu amor. Sou um
ser humano incrível. Isso é devoção de verdade." Ah, a forma como a
mente de um submisso trabalhava era sempre assim, egocêntrica, tendendo
a se pôr em uma posição de vítima, que lhe soava tão nobre, a ponto de
justificar seus impulsos, aceitando estar em posição inferior somente por
isso; para sentir-se melhor sobre si mesmo.
— Acho que vou morrer... — o mais novo dramatizou. — Vou dizer minha
palavra de segurança — resmungou, contrariado, fazendo o outro alfa
retirar os dedos de dentro de si mesmo, para fitá-lo desafiador.
— Pode dizer quando quiser. Você não vai me foder, do mesmo jeito —
declarou firme e perverso.
Ele pensava que, honestamente, aquela era sua última chance de disciplinar
o submisso abusado. Se penetrá-lo era o que o garoto mais queria, essa era
sua única e maior arma para forçá-lo a obedecer. Mas se nem assim o
maldito malcriado cedia, bem... Então ele não teria conserto.
Jungkook estava suando de novo. Sentiu uma gota grossa escorrer por uma
de suas têmporas, escorrendo de seu pescoço para o peitoral, passando pela
barriga, até se acumular ali, em seu umbigo. Estava quase hiperventilando.
Quando o de cabelos cereja viu o brinquedo entrar quase todo no ânus de
seu domador, ele grunhiu. Daria qualquer maldita coisa pra ser o seu pau no
lugar daquela porcaria de borracha. Tinha certeza que satisfaria seu homem
muito mais do que aquela merda.
Queria reclamar pra caralho. Mas o moreno já tinha ordenado duas vezes
pra que ele só falasse quando solicitado. Então o brat fez um esforço
sobrehumano para se manter com a língua dentro da boca.
De fato, Jimin era ótimo em torturá-lo sexualmente, não o dando o que ele
queria, pois ele não fazia por merecer. Jungkook nunca esteve em uma
relação assim, mas agora que estava, vivia se perguntando como não entrara
nisso antes. Sequer se imaginava mais em relações baunilhas. O BDSM era
seu destino, desde sempre. Lhe combinava perfeitamente.
Olhando para seu submisso malcriado por cima do ombro, Jimin começou a
movimentar lentamente o dildo dentro de sua entrada, gemendo
provocadoramente no processo.
O mais novo choramingou outra vez, mordendo o lábio com tanta força,
que pensou estar prestes a arrancar um pedaço.
— Meu senhor, por favor, eu imploro, por favor, por favooooor, por
favooooor!!! — Jungkook grunhiu desesperado, sentindo seu tesão alcançar
a estratosfera, o pau latejando tão forte que doía.
— Quero mais que qualquer coisa nessa vida, meu senhor, por favor... —
JK choramingou.
— Então por que não se comporta, amorzinho? Por que insiste em magoar
seu dominador? Eu não sou bom pra você, uh? — provocou mais.
— Hyung, por favor, por tudo o que é mais sagrado, não tô aguentando
mais... — Jungkook disse com uma voz sofrida e chorosa. Seu pau doía.
Doía de verdade. O pobre coitado parecia que ia explodir de tesão, porque
Jimin passivo pra ele, era como um sonho, um prêmio que ele precisava
conquistar, desesperadamente, mas não tinha forças para acatar o exigido
para tal conquista: comportar-se.
— Ahn.... Que gostoso... — o lúpus gemeu manhoso, ignorando o mais
novo, enquanto jogava a cabeça pra cima e se fodia mais rápido no dildo
rosa. — Ah... eu queria tanto gozar com o pau do meu bratzinho socando
fundo em mim...
— Meu senhor, eu faço o que você quiser, por favor! — Jeon gritou
agoniado.
Doido pra gozar e com um tesão infernal deixando seu corpo febril, Park
Jimin sentiu-se prestes a ceder.
— Cobra sorrateira...
E então o lúpus quase não pode acreditar. Não que fosse novidade Jungkook
chamá-lo assim ou soltar umas tiradas engraçadinhas e malcriadas. Mas
puta merda, um gesto de insolência justamente quando estava sendo
disciplinado? Aquilo era o cúmulo! Esse garoto ria na cara do perigo! Jeon
Jungkook definitivamente que não queria fodê-lo o suficiente, pelo visto.
Jungkook, sem ter como como usar as mãos ou braços para se apoiar no
colchão, acabou perdendo o equilíbrio e caindo de costas, com o alfa lúpus
irado montado nele como se monta num touro bravo, enquanto movia o
brinquedo pra dentro e pra fora de sua garganta.
O tamer desceu do colo do mais novo e o puxou pelo aro da coleira para
que este voltasse a se sentar, quando parou de tossir.
Sem poder ver coisa alguma e tendo a mordaça de aço — que parecia uma
aranha —, arreganhando sua boca, Jeon começou a sentir saliva escorrer
involuntariamente por seus lábios, sem poder controlá-la por conta da gag.
— Ajoelhe-se.
— Você não tem como dizer sua safeword, caso precise. Então se precisar
que eu pare, dê três tapinhas na minha coxa. Fui claro? Afirme com um
movimento de cabeça para 'sim' ou para 'não'.
Jeon fez o movimento pra cima e pra baixo, afirmativo.
— Muito bem, alfa. Agora vou foder sua boquinha toda, até o talo do meu
pau — declarou o dominador, com a voz absolutamente provocante e
rouquinha, masturbando-se, deixando que o de cabelos cereja pudesse ouvir
a fricção melada de sua mão punhetando o próprio pênis grosso.
— Oh... pensei que fosse mais guloso, bebê. Não aguenta? — zombou.
O alfa lúpus então voltou a deslizar seu caralho grosso na boquinha quente,
fodendo-a, literalmente, até o talo, deliciando-se com as engasgadas do
outro e suas lamúrias mudas.
Empurrava o quadril pra frente e pra trás, como se fodesse um cu. Forte,
bruto, sem delicadeza, apenas querendo gozar de uma vez.
— Tsc, tsc, tsc... Nada de se masturbar, meu bem. Sem as mãos — ordenou,
o sadismo muito bem audível em sua voz delicada e provocadora, quase
sussurrada.
Park fodia aquela boquinha com vontade, até sentir sua pélvis bater contra
os lábios finos arreganhados do alfa. Afastava-se de tempos em tempos, de
modo ritmado e bem contabilizado, pra que o brat pudesse respirar e não
causá-lo refluxo.
Jimin pôde sentir o sangue correr rápido por baixo das veias do pau do
garoto, que latejava em sua língua. E foi aí que ele abandonou a felação no
membro alheio, fazendo soar o conhecido som de 'ploc' suave.
O corpo de Jungkook tremeu sob seu olhar, o cenho franzindo após o
abandono.
Ah, pobre coitado. Não importava o quanto conhecesse Jimin, ele nunca
esperava pelo pior que aquela mente suja e vingativa poderia aprontar.
— Por que?
Ainda que estivesse com os olhos tampados pela venda, e não pudesse ver
seu dominante, o de cabelos cereja tinha o rosto voltado pra baixo.
Jimin se deixou sorrir de lado, os olhos brilhando, já que o Jeon não poderia
ver as reações que sua declaração lhe causara.
— Sim, senhor.
— Bom menino.
Foi aí que Jungkook sentiu alguma coisa buscar passagem em sua entrada:
o dedo de Jimin. O dominador deslizou ele ali algumas vezes, antes de
enfiar mais um, e mais outro, dedando-o lentamente.
Após um pouco daquilo, o ruivo ouviu uma fricção molhada atrás de si, e
então um pau se enterrando lentamente nele. Mas não era o pau de Jimin.
Era um de borracha. Um dildo. Ele podia saber, porque um pênis de
brinquedo era sempre muito mais duro de que um caralho de verdade.
— Vai me comer com essa coisa falsa, ao invés de me foder de verdade? —
indagou, com manha. — Isso é maldade, hyung...
Foi aí que o Park desamarrou a venda de seus olhos, deixando-o ver tudo ao
redor. Após algumas piscadas pra se readaptar a luz azulada do quarto,
Jungkook virou o pescoço por cima do ombro, para que pudesse ver o que
quer que Jimin fazia.
— Eu não mereço ficar sem ser passivo, porque meu bratzinho não
consegue se comportar, não é, bebê? — atiçou. — Então é assim que as
coisas vão ser, amor. Se você não me obedecer, a partir de agora, além de
não me foder, eu também não vou comer você. Vamos nos saciar apenas
com esse vibrador compartilhado — disse fitando o rosto do outro por cima
do ombro. E então ele ligou a vibração dos dildos, através do controle.
Não foi preciso dizer duas vezes. Jungkook jogou o quadril pra trás e pra
frente, repetindo o ato lentamente e, aos poucos, foi aumentando a
velocidade.
O vibrador duplo possuía uma ponta mais grossa e a outra mais fina, além
de as cabecinhas de borracha serem bem inchadinhas.
— Mais rápido, bebê... Seu alfa gosta de ser fodido com força, uh?
Jungkook ficou até zonzo. Apertou a corda em suas mãos, buscando melhor
equilíbrio, e passou a jogar o quadril pra trás ainda mais rápido, mais forte,
mais intenso. Aquilo era bom demais. Bom pra caralho. Uma delícia do
cacete. O garoto nunca tinha feito algo assim. O pensamento sequer havia
cruzado sua mente alguma vez. Sempre foi adepto do revezamento, e
quando não, era só porque seus parceiros se recusavam a serem penetrados
ou apenas penetrar.
Ah, Park Jimin era o rei da foda. O alfa lúpus não tinha medo de testar os
limites do prazer, não exitava em descobrir cada ponto erógeno do próprio
corpo e do corpo de seu parceiro. Pra ele, o céu era o limite. E era isso que
o fazia tão bom naquilo: o não medo de experimentar. E Jungkook sempre
lhe despertava essa gigantesca vontade de tentar de tudo, de uma forma que
submisso nenhum já havia lhe feito.
— Puxa, meu senhor, como você consegue ser tão gostoso de todas as
maneiras? Você vai me deixar louco assim, Jimin-ssi... — ele sussurrou
com a voz entrecortada pelo esforço da foda.
— Vou gozar tão gostoso pra você agora, neném... — o lúpus disse alterado,
usando a destra para se punhetar rápido e forte, ao mesmo tempo em que se
empurrava pra trás, com intensidade.
Quando a última gota de sêmen escapuliu pela uretra do alfa lúpus, ele se
sentiu como se tivesse sido tombado. Era como se aquele orgasmo tivesse
sugado tudo de si, estava fraco, até um pouco sonolento.
Jeon enfiou a cara mais fundo no travesseiro macio, que, para piorar sua
situação, tinha o cheiro gostoso de sândalo e musk (almíscar) de Jimin. A
vibração em sua glande e próstata simultaneamente, junto ao esforço de se
conter, causava uma sensação aguda nos nervos.
E com a maior calma do mundo, ele cantarolou em sua própria mente, até a
casa dos vinte:
Ele sabia que era agora. Jungkook já estava desesperado pra gozar desde o
começo, só não tinha gozado antes, porque não podia se tocar, e o
movimento dos quadris dos dois balançando juntos, quando dividiram
aquele dildo, atrapalhava sua concentração, certamente.
— Eu gostei... das luzes... — o mais novo puxou assunto. Mas outra vez,
Jimin não disse nada. Apenas limpou sua barriga suja de sêmen, pegou as
roupas do garoto no chão e começou a vesti-lo, exceto pelo casaco úmido,
pois não queria que seu bebê ficasse doente. Vestiu sua própria calça, sem
se dar ao trabalho de vestir uma camisa ou cueca.
— Vem... — disse puxando o namorado pela mão, este que parecia aéreo
como um bêbado, após gozar tão forte, tão rápido e tão gostoso.
— Fiquei com tanta saudade de você, meu hyungie... — Jeon declarou todo
manhosinho e grudento, rodeando o lúpus com os braços, descendo as
escadas, com o Park agarrado a ele. — Me desculpe de novo, eu sou um
idiotão. Juro que queria ser menos ciumento e explosivo — suspirou.
— Mas e você?
— Seu amigo está dormindo na sua casa. Não é educado fazer isso com a
visita. Ele vai ficar chateado se acordar e você não estiver lá. É isso que faz
com seus amigos? Abandona?
Realmente, poderia fazer isso. Se Jimin tivesse pensado nisso antes, talvez
o fizesse. Daria seu castigo aqui mesmo, o pondo pra dormir num quarto
separado do seu. Mas bem, se acatasse a ideia de Jungkook, então estaria
fazendo o que ele queria, não era? E a ideia de seu castigo era totalmente
oposta a essa.
— Não — disse firme. — Você vai pra casa. Vai dormir sem mim. Esse é o
seu castigo — anunciou com um sorriso sádico nos lábios grossos, que se
curvaram pra cima, maldosos.
— E mais uma coisa. Quero você e Hoseok aqui às 10h, pra tomarmos café
juntos.
Simples assim.
É, Jungkook... ser um malcriado tinha seu preço. Estava mais ciente que
nunca daquilo agora, coitadinho.
[...]
— Ah, Jimin, você não sabe o quanto esse garoto resmungou — Hoseok
entregou o amigo. — Ele me acordou quando o sol estava começando a
raiar... — deu uma mordida em seu misto quente. — E aí ele começou a
reclamar, reclamar e reclamar. E tive que aguentar tudo isso de ressaca...
Hoseok estava prestes a retrucar, mas Jimin o interrompeu pedindo que este
lhe passasse a manteiga.
— Ah, sim — Hoseok puxou assunto. — Jungkook disse que você está
trabalhando pertinho de mim. O que acha de almoçarmos juntos algumas
vezes? — sugeriu animado.
— Eu adoraria! — Jimin respondeu simpático, mas quando ia dar
continuidade à conversa, seu celular vibrou e tocou em cima da mesa.
— Ai, esse Taemin, porra, ele me tira do sério! Todo dia essa porra, quando
não é ligação, são mensagens — grunhiu, puto da vida.
— Minha tia HangNi foi casada por quinze anos com o primeiro marido, e
ela se separou porque disse que ao longo dos anos foram perdendo o tesão
um pelo o outro, ué... Isso acontece.
— Taemin disse que vai voltar mais cedo do Japão — disse então. — Ele
não explicou muito bem o motivo, mas ele não vai lecionar na academia de
dança até o fim do semestre, como tinha planejado. Não disse exatamente a
data, mas me pediu pra arrumar uma diarista pra limpar o apartamento dele
antes que ele volte.
Confiar em Jimin como seu dominador, ele confiava mesmo. Mas como
namorado? Havia confiança o suficiente naquela cabecinha insegura e
paranoica?
— Ah, minha nossa, uma boiolagem dessas bem na frente da minha salada?
Que horror! — Fez uma careta brincalhona, fazendo o casal sorrir entre o
beijo e se afastar para encará-lo.
— Que salada você 'tá comendo, talarico? Isso aí é pão de forma, com
queijo e presunto... — retrucou.
— Então, hoje eu entro mais tarde e saio mais tarde também, amor — disse
o Park, acariciando os fios vermelhos no topo da cabeça de seu garoto. —
Mas antes de 00h chego em casa, ok?
— Sim, tô de folga e não tem nada pra fazer na minha, o Hoseok deu uma
organizada quando a gente acordou. E quando vocês saírem, vou tirar um
soninho, não dormi direito essa noite, né? — riu maldoso.
— Ah, com certeza! Estou muito sonolento pra dirigir, ainda — respondeu,
secando a mão no pano de prato.
— Até mais tarde, meu príncipe — o lúpus chamou com um novo apelido
carinhoso, antes de dar um beijo estalado na testa do namorado, e se
levantar da cadeira.
"Meu príncipe", essa era nova. E tinha o deixado todo derretido. Jimin era
tão carinhoso e atencioso consigo. Era tudo o que ele sempre havia
sonhado.
Na era como das outras vezes, onde decidia se comportar, mas cinco
minutos depois, lá estava ele aprontando. Não, dessa vez ele faria de tudo
pra agradar seu alfa. Primeiro porque queria fodê-lo, e seu rut vinha por aí.
Segundo, porque de jeito nenhum ele aguentaria ficar só nos brinquedinhos
com o dominador — tinha sido absolutamente delicioso, era impossível
negar —, mas o que Jungkook queria mesmo era sentir a pele na pele, Jimin
se enterrando dentro dele e ele dentro do alfa lúpus. E em terceiro, ele
realmente queria mostrar pro dominador, que ele era a escolha certa, não
Lee Taemin.
____________________________
² Tipo de casa temática que propicia troca de casais e threesomes (não faz
parte do BDSM em si, mas as casas de swing são similares às masmorras
BDSM.)
____________________________
Eu já devo ter dito isso antes mas, cês já repararam que eu nunca
digo exatamente qual a cor do Minzy, a gata que é gato? kkkkk é
porque quero deixar à escolha do leitor :3 o Minzy é da cor que você
imaginar ele. Eu mesma imagino de uma cor diferente à cada capítulo.
Quem acha que o 1º jk!tops de INC será numa sessão, comenta aqui.
😻 Quem acha que o 1º jk!tops de INC vai ser tbm uma primeira
transa romântica, comenta aqui.
Quem surtou com a briga de passivo dos jikook batendo bunda nesse
capítulo, dá um surto aqui kkkkkkkkkkkk
Surprise, mothafuckers!!!
#JungkookBebêDoJimin
— QUEBRA DE TEMPO —
— Sabe, parece que você tem um colar roxo no pescoço — Jeon escutou
Hwasa comentar despreocupada, enquanto limpava as mesas da loja. —
Senhor Bum não vai gostar nada disso.
— E o que ele tem que se meter na minha vida pessoal? Euhein — o ruivo
retrucou, contabilizando o dinheiro do caixa.
O que Jimin fizera na noite anterior consigo durante a sessão, fora uma boa
tortura sexual. Pra cada gemido que o garoto deixava escapar, o lúpus
chupava sua pele do pescoço com mais força. E ele havia adorado, claro.
Ficava um bocado orgulhoso ao ver as marcas feitas pelo outro. Era um
sentimento de orgulho. De posse. De pertencer a Park Jimin, de ser dele.
— Não é essa a questão. É que não pega bem exibir essas marcas no
trabalho, garoto — ela explicou pacífica. — Só... eu sei lá, põe uma echarpe
ou algo assim.
— Eu sei — a alfa disse com um risinho, que não passou despercebido pelo
rapaz também alfa, que a encarou desconfiado.
— É, mas você vai prometer ficar com esse bico fechado, porque preciso
que você seja meu espião. Vai ficar de olho no Namjoon pra mim, pelas
próximas semanas. Quero saber se dá pra levar ele à sério, ou se ele ainda
vai ficar se engraçando com aquele seu amigo ômega...
— Ah, o Jin hyung? Pff... Duvido. Acabou a magia. Eles foram foder e foi
horrível. Jin hyung tá pegando uma alfa, prima da vizinha dele — deu com
a língua nos dentes.
— Juro que não entendo o que vocês veem no Namjoon hyung, ele é um
feio... — resmungou com um bico. — O cara só fala uns assuntos chatos,
parece um maconheiro com o cérebro derretido e...
— Jungkook, me poupe, 'tá legal? Todo mundo sabe que você tem raivinha
do Nam, por causa daquele dia...
— Não sei do que você está falando... — ele empertigou-se, todo fingido.
— Fez sim. E quando tentou beijar o Namjoon, ele desviou a cara pro lado.
Você passou a festa inteira achando que ele 'tava de cu doce, mas ele só não
queria ficar com você mesmo, porque tu é doidinho da cabeça...
Jeon abriu a boca pra retrucar, mas viu Jimin atravessando a rua pelo
paredão de vidro da loja de conveniências, então tratou de murmurar:
— E daí?
— E, que... Você não sabe mesmo onde estou querendo chegar? — o lúpus
indagou, exasperado, enquanto tirava as chaves do bolso.
— Jimin, meu filho. Eu não posso ficar grávido, se é isso que está
pensando. Sou Alfa e Macho...
| Um dia te conto meu nome e você me diz o seu, mas por hora, vamos
com calma hehe
Ele aguentaria ver aquilo? Bom, já tinha visto Jimin ficar com outra pessoa
em sua frente, não já? E de qualquer modo, aquele vídeo era de anos atrás,
então não deveria realmente ficar magoado em ver tal coisa.
| Aqui: [link]
| Mas olha, não suja pro meu lado não, hein, brat? Se você criar atrito
com seu Dom por isso, não é culpa minha. Não fala que fui eu que
passei.
| Não é isso.... Se bem que, sim, é um vídeo que só quem consegue ver
são os participantes do chat da The Cave. Você precisa entrar com seu
login e senha, que a Kiko passou. E ele é protegido de downloads, não
tem como baixar.
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
|
E cagão |
pó pó pó póooo |
Jeon esticou o rosto num sorriso, ao ver o mais velho com aquela expressão
fofinha que o fazia parecer um patinho filhote, com os lábios cheinhos
formando um adorável biquinho. Admirando a beleza de seu namorado e
dominador, o garoto pegou os confeitos pra começar a decorar os bolinhos
já assados em cima da bancada, distribuídos em vários formas.
Jimin arqueou uma das sobrancelhas bem feitas, e lançou um sorriso sacana
ao namorado.
— Pode sim, ele vai comer e beber de graça, então pode perfeitamente
enfeitar esses negocinhos e encher alguns balões. Ou você está me dizendo
que mima seu amigo também? — o avermelhado disparou com as mãos na
cintura.
— Mas quem tem que ser mimado sou eu! — reclamou com as bochechas
infladas e os olhinhos de jabuticaba arregalados. — Ele é um dominador.
Dominadores não tem que receber mimos de nada, euhein... — resmungou
com um biquinho infantil adorável.
— Relaxa, hyung. Você sabe que sou forte além da conta — o abusado
retrucou, subindo os degraus transparentes. — E além do mais, precisamos
poupar tempo.
— Garoto, a gente vai cair da escada, você é louco? — disparou
exasperado. — E o que me levar no colo, igual um homem das cavernas,
tem a ver com poupar tempo? — ralhou, invocado.
Então o Jeon foi quem desceu as escadas e recebeu os amigos, ainda com os
fios molhados — mas a maquiagem estava impecavelmente feita; Jungkook
possuía um talento para aquilo.
O beta usava uma camisa branca de botões aberta até metade do peito,
deixando a pele e as clavículas salientes à mostra, junto à sua coleira social,
com o pingente com a letra Y pendurado no pescoço fino, e uma calça jeans
toda rasgada, além de sapatos lustrosos e elegantes. Estava definitivamente
sexy e bem perfumado — com fragrância artificial, complementando seu
cheiro beta natural.
O mais novo deu espaço pra que o amigo entrasse na casa, dando-lhe um
beijo na bochecha antes de adentrar.
— Sério que a gente fez uma super produção e você veio assim, como se
estivesse indo na feira? — disse em tom ameno e brincalhão.
O platinado deu de ombros, com as mãos nos bolsos.
— Ah, vou beber que nem um tanque bebe gasolina, então não quero
estragar nenhuma roupa cara quando eu começar a rolar pelo chão —
justificou-se o ômega de pele pálida.
— Oh, JK... Você não tem medo do perigo, bebêzão... — Hoseok zombou,
encostado com o cotovelo na bancada, enquanto abocanhava um dos
cupcakes não terminados.
— Yah, quem disse que você já podia comer os doces? — o Jeon reclamou
indignado, soltando o ômega no chão imediatamente e correndo pra
arrancar o bolinho das mãos do amigo. Mas apenas pra levar a metade
restante à própria boca, estufando a bochecha enquanto mastigava.
— Ora, seu... — o beta resmungou mais indignado ainda, enquanto assistia
ao ruivo comer o doce que roubara de si.
— Eles dois até saem pra almoçar juntos, todos os dias — continuou o
dominador, referindo-se a Jimin e Hoseok.
— Uma coisa que nunca entendi foi por que ele comprou uma casa nesse
bairro. Não que aqui seja um local de classe baixa, mas também não é lugar
de gente rica — divagou Hoseok.
— Chega, chega, muita boiolagem pro meu lado, sai pra lá — resmungou o
loiro, afastando o Park.
— Fala sério. Esse Taehyung é um cuzão! Sabe o que seria bom? Se ele
sumisse! Aquele cuzão ciumento do caralho...
— Ai, hyung, sua boca tá com gosto amargo... — reclamou com uma
careta.
Mas então os carinhos manhosos foram interrompidos pelo barulho
estrondoso da campainha.
O de cabelos cereja caminhou até a porta, todo felizinho e pronto pra festa
— isto é, depois que o aniversariante e seu amigo terminassem de trepar ou
que quer que estivessem fazendo no andar de cima.
Mas sua expressão animada murchou assim que abriu a porta e se deparou
com uma das pessoas mais desagradáveis e inesperadas possíveis:
— Vai ficar me olhando com essa sua cara feia ou vai me deixar passar?
Quero ver meu namorado — Kim Taehyung declarou, com um tom de
deboche na voz. Seus cabelos estavam num tom de rosa mais vívido,
provavelmente havia retocado. Combinava bem com a coleira de veludo
roxo, onde, dessa vez, apenas repousava o pingente com a letra "Y", e não
mais o "H" acompanhando. Usava um terno elegante, de cor rosa bebê,
tecido fluído e caimento largo, despojado. Combinando delicadamente com
o terno aberto, vestia uma camisa estampada de flores, com o fundo branco,
além de um par de brincos da CHANEL, que Jeon podia apostar custarem
mais que um mês de aluguel de seu apartamento.
— Não use voz de comando comigo, seu tosco! Se eu falei pra esperar,
você espera quietinho aí! — retrucou o ruivo, por trás da porta. E então
correu em disparada para a cozinha barulhenta, onde Jimin batia uma
mistura de frutas e vodka no liquidificador, preparando coquetéis.
— Bebê, me ajuda aqui a colocar esses guarda-chuvinhas nos copos... — o
lúpus pediu, antes de ver a cara de pânico do avermelhado. — Que foi? O
que houve? — perguntou alarmado.
— Afinal, como diabos ele descobriu sobre a festa hoje? — indagou o Park.
— Yoongi hyung ficou de ontem até hoje à tarde com ele, justamente pra
que pudesse passar a noite com o Hoseok. E Taehyung sabia que a divisão
era essa! Ele veio aqui de sacanagem...
— E você sabe que isso não deu certo, né? Os pais dela acabaram se
encontrando no corredor do prédio, de qualquer forma, e aí começaram a
brigar e estragaram tudo...
— A gente não vai estragar a festa do hyung! Nem Taehyung e nem você
— disse entredentes. — Me ajuda! — E aí, respirando fundo, o menor abriu
a porta, pegando o Kim com o dedo a meio caminho da campainha.
— É que eu pensei que esse daí 'tava tirando uma com a minha cara... — o
Kim apontou pro ruivo.
— Por que a festa não vai ser na casa do Park? — questionou o Kim. — A
casa dele é maior e mais elegante...
— E você por acaso sabe como é a minha casa? — o ruivo devolveu
irritado.
— Não, mas sei que você não é nenhum ex-militar condecorado e com um
salário decente. A não ser que as lojinhas de conveniência estejam pagando
tão bem assim... — disse soberbo.
— Isso quer dizer que você não vai mais beber, né? — indagou o mais novo
a Yoongi, meio chateado por ele.
— Infelizmente. Não posso estar bêbado se a quarta guerra mundial
começar, então posso me vestir mais arrumadinho — respondeu o
platinado, incomodado.
— Você fica muito gostoso nessa calça de couro, hyung — o Park sentiu os
lábios finos do namorado em sua orelha, segurando-o por trás e apertando
sua cintura, em meio à pista de dança improvisada, enquanto se moviam no
ritmo da música. Era um saco que ele e seu bratzinho só pudessem ficar
juntos um pouquinho, porque toda hora o garoto precisava voltar pra outra
festa.
Jimin sorveu o último gole da batida de frutas em seu copo, para então se
virar de frente pro namorado e envolver seu pescoço com os braços.
— Ah, antes eu não sei, mas a gente pode se ver nu lá meu quarto... —
propôs o moreno, em tom bastante safado.
Jungkook gargalhou e prensou o corpo do mais velho com mais força contra
o seu, apertando mais os dedos na cintura alheia.
— Não posso deixar meu apê sem supervisão, hyung, sabe disso... — falou
meio mole, o álcool fazendo efeito. — Yoongi está lá agora, e se ele quiser
vir pra cá, o apartamento vai ficar sozinho, não conheço nenhuma daquelas
pessoas...
— Yah, nem vem com isso. O Dominador aqui sou, garotinho. Talvez eu
devesse controlar suas finanças, sabe... Talvez devesse cortar seu acesso às
contas. Um bocado de casais que frequentam a The Cave são assim...
— Você não vai pagar seus boletos. Eu vou pagar tudo pra você. E aí a
gente pode transferir o seu salário todo mês pra uma poupança. E um dia se
você precisar, vai ter um bom dinheirinho guardado. Por favor... — o lúpus
disse em tom que parecia um gatinho ronronando, enquanto encarava com
os olhinhos meio desfocados pela bebida. — Deixa eu cuidar de você, meu
bebê...
— Hey, você tava demorando, então desisti de esperar e vim pra cá, não
quero deixar o Hobi sozinho, ele tá bêbado e chateado — o ômega falou. —
Só tem mais quatro pessoas lá na sua casa, Jungkook. O Taehyung, aquele
casal do seu trabalho e um ômega altão, meio escandaloso. Acho melhor
você ir lá, porque tá meio climão, eu acho.
— Ah, merda! — Jeon grunhiu. — Deve ser o Jin hyung. O Nam a Hwasa
passaram lá na festa depois de saírem do expediente. Porra, deve tá o maior
climão mesmo. A Hwa é alfa, ela vai ser extremamente territorialista por
causa do Namjoon. Eu já volto.
— Não tem problema. Eu 'tô de boa. Ela que tá me dando umas encaradas
tensas, porque, né... Vocês alfas, credo — respondeu o acastanhado.
— Então... realmente você e Namjoon hyung não tem mais volta nem nada,
né?
— Já disse que não. Eu tô até gostando daquela menina alfa que tô saindo.
Ela é bem dominante e controladora na cama, sabe? E minha nossa, eu fico
excitado pra um caralho.
— Qual foi a da sua incompatibilidade com o Nam? Você até agora não
explicou.
— Ai, tá legal — disse vencido, dando mais um gole em sua garrafa. — Ele
é muito submisso. Tipo, muito. E se fosse só isso, okay né. Mas daí... Ele se
recusa a ser passivo.
— Oh... Ah, mas você curte ser passivo, então qual o problema?
— O problema é que eu prefiro meter, meu filho, que coisa! E ele veio com
aquele papo de que já que sou ômega, meu corpo é predisposto pra ser
penetrado e não sei o quê — fez uma careta. — Parecia tão inteligente, mas
no fim, é um idiota. Quero dizer, ele é bonzinho, inteligente, um amor de
pessoa. Mas é idiota. Um sexista. Classicista. Alfista. Como quiser chamar.
Jeon precisou cobrir a boca pra abafar a risada escandalosa que queria
soltar. Aquilo era tão imbecil. Biologia nada tinha a ver com aquilo. Dava
quem gostava de dar. Penetrava quem gostava de penetrar. Independente de
quem gostava mais de controlar ou se submeter, independente de ser alfa,
ômega ou beta, macho ou fêmea. Cada um deveria fazer o que mais lhe
desse prazer na cama e fim.
E okay um cara não curtir ser penetrado, mas querer convencer o parceiro
com o papo manjado e escroto de: "Ah, mas ômegas são biologicamente
preparados e mais aptos pra penetração" era o fim da picada. Jungkook
ouviu isso a vida inteira, de todos os alfas machos com quem saiu, e até de
alguns betas. Achava tão ridículo, que ria.
— Ai, esses caras, fala sério... — E então ouviu batidas na porta. Abrindo-
a, deparou-se com Hwasa ali.
— E eu já falei que não vou! — rebateu o alfa, com a voz grave e séria,
alternando o olhar entre o ômega e o beta. — Ele fez a escolha dele,
Yoongi. Hoseok escolheu o amiguinho feioso dele ao invés da gente. Ele
não nos ama, hyung! Ele secretamente é apaixonado por aquele alfa cabeça
sangrenta!
Jungkook viu SeokJin o encarar com uma sobrancelha arqueada, como se
quisesse dizer: "Esse daí bebeu mais do que devia, né?"
— Eu já falei pra parar, Taehyung! Ou vou te punir por tanto tempo que...
— mas o dominador foi interrompido pelo beta.
— Eu faço isso. Bate lá na suíte do Jimin, primeira porta à direita. Pede pra
ele uma muda de roupas pra mim e outra pra você, e duas toalhas.
Aproveita e toma banho no banheiro do corredor ou no daqui de baixo,
enquanto isso. Pode ir pro quarto de visitas. Mas não o do fundo corredor!
O da frente da suíte do Jimin.
Jungkook sacudiu a cabeça e foi pro lado de fora, vendo que o resto dos
convidados que estavam pela calçada, já haviam dispersado. Exceto por
Taehyung, ainda dentro do próprio carro, com o rosto vermelho de choro, as
bochechas molhadas e o olhar perdido. O ruivo então deu duas batidinhas
no vidro. O outro, pego de surpresa, rapidamente secou as lágrimas e
desceu a janela do automóvel.
— Você não tem nada a ver com isso! — o alfa de fios rosa rosnou irritado,
apertando o volante com tanta força, que os nós de seus dedos estavam
brancos.
— Uma ova, que não! Tudo o que envolver o meu melhor amigo, tem a ver
comigo! Vou te deixar uma coisa bem clara, Kim Taehyung — disse
apontando um dedo na face do outro, fazendo a cara mais assustadora que
podia —: Se você magoar meu hyung outra vez, eu vou arrastar tua cara no
asfalto, até você ficar sem pele! — rosnou, usando sua voz de comando.
Não que ela fosse fazer efeito no outro alfa, mas ainda assim, soava mais
assustadora.
Olhou a bagunça pós-festa, e só de pensar que além de arrumar ali, teria que
arrumar seu apartamento também, lhe dava uma preguiça fora da conta.
— Ah, foi mal. É que eu estava falando com Yoongi pelo celular dele,
minutos atrás, dando parabéns. Mas de repente o telefone desligou e só tá
dando fora de área até agora. Então tô ligando pro telefone do Jimin,
justamente pra falar com Yoongi. Sei que vocês estavam dando a festa de
aniversário aí na casa do Minnie...
— Ah... — o ruivo ajeitou a postura, sentindo-se meio bobo por ter dado
aquele pequeno ataque. — Olha, não é uma boa hora. Teve o maior drama
aqui na festa. Você sabe sobre a situação amorosa de Yoongi, né? — disse
pegando água na geladeira.
— Ah, sim. Vocês tiveram que fazer duas festas, pra que o tal Hoseok e o
psicótico do Taehyung não batessem de frente e estragassem tudo, certo?
— Uhum. Mas não deu certo. Aparentemente Yoongi e Taehyung tem uma
ligação de lobos. Eles querem se marcar...
O que ele esperava que Taemin dissesse? Que gritasse: "O Jimin é meu e
vou tomá-lo de volta agora"? Certamente não. O cara tinha soado
preocupado com o outro amigo. E vendo o quão escrota era a situação
causada pelos ciúmes de Taehyung, e o quanto aquela coisa irracional e
doentia havia estragado uma relação cheia de amor entre os três rapazes, o
de cabelos cereja viu o quanto agia de modo irracional também. Sua última
briga com Jimin, semanas atrás, havia sido por algo parecido — e havia
tomado um puta castigo após isso.
Porque era isso que Park Jimin era pra si. Seu amor. Então por que magoar
alguém que se ama tanto?
Então, havia decidido fazer a coisa certa e agir de modo maduro. Lee
Taemin não parecia tão mau, afinal.
O TAEHYUNG:
até mais, consagrades!
29| quicksand
Não esquece de votar no capítulo pra marcá-lo como lido, pra você
não se perder na leitura ;)
#JungkookBebêDoJimin
— Não.
— Era isso o que você queria, bebê? — o Park sussurrou em tom sádico,
fitando àquele nos olhos. — Queria me ver fodendo com esse escrotinho
bem na sua frente, uh?
Então os olhos do Park voltaram-se pra ele, o fitando com frieza, enquanto
diminuía o ritmo das sentadas em cima do outro, apenas para que pudesse
dizer com clareza:
— É uma pena... Pensei que fosse mais esperto, bebê. Taemin é meu há dez
anos... Você foi como todos os outros: apenas um passatempo. Eu posso
enjoar do meu TaeTae, de tempos em tempos... — deu um selo estalado na
bochecha do platinado. — Mas ele sempre será o número um pra mim... —
e sorrindo, beijou o alfa abaixo de si, apaixonadamente nos lábios.
Ele socou o chão duro abaixo de si, e tentou se levantar, mas era como se
uma força invisível o puxasse pra baixo.
Seus olhos ficaram cada vez mais turvos, até que não pôde enxergar mais
nada; seu ser foi então, tomado por uma escuridão claustrofóbica.
Sentindo a coluna pulsar de dor, o ruivo se deixou ser puxado pra cima da
cama, apoiando-se nas mãos macias do dominador, que passou a alisar seus
braços, as costas e o tronco, checando-o.
Jungkook não tinha coragem. Não só porque isso deixaria Jimin puto da
vida, como o faria, com certeza, tomar uma implicância absurda de Seung,
o alfa submisso que costumava trabalhar como hostess nas festas da The
Cave, por tê-lo enviado o tal vídeo onde Jimin fodia e maltratava Taemin
sem dó nem piedade, em meio a uma multidão de voyeristas.
O ruivo sabia que deveria ter segurado mais sua maldita curiosidade. Sabia
que aquele fetiche recém-descoberto em assistir seu homem com outra
pessoa, poderia causá-lo uma dor maior do que ele podia ser capaz de
aguentar. Mas, teimoso, insistiu em assistir àquela coisa.
Isso fez o coração do ruivo quase saltar pela garganta, agarrando a camisa
do pijama do namorado entre os dedos firmes, retribuindo o abraço com
mais força do que planejava.
Poucos segundos depois, o ruivo sentiu o peso de Jimin sobre sua bunda,
montado nele. As mãos macias e pequeninas deslizaram pela pele de suas
costas nuas, delicadamente, umedecendo a tez.
— Aqui?
— Mas quando você passou mal depois do cio, eu te levei e você não se
opôs.
— Foi diferente, eu 'tava passando tão mal, que pensei que fosse morrer.
Não acho que vou morrer agora.
— E você tá usando ela pra quê? Não estamos numa sessão — respondeu
com certa indignação.
— Não é uma sessão, mas você está insistindo em algo que eu já disse que
não quero debater, mas que coisa!
— Hyung, não briga comigo não, poxa... Vamos ficar direitinho, hein? Eu
ainda tô mexido com o pesadelo... — manipulou.
— Sim. Essa semana peguei o primeiro turno, preciso sair às 6h, e já são
4h30.
— Ain... A gente nem vai se ver mais hoje, né? Quando eu sair do trabalho,
você já vai estar dormindo...
— Então quando eu sair do trabalho, vou direto pra sua casa ficar com
você. E até lá, vou morrer de saudadinha...
— Você também me deixa assim. Você é todo lindo, fofo, cheiroso, gostoso,
fofinho e teimoso... — suspirou. — Eu... — mas sua fala foi interrompida
pelo despertador, de forma brusca.
Jimin não tinha muito tempo a perder, e ainda precisava encarar um puta
trânsito no viaduto, pra que pudesse cruzar a cidade e chegar ao aeroporto
onde trabalhava como controlador de tráfego aéreo.
Mas isso não o impediu de ficar cheio de chamego com o Jeon na cozinha,
enquanto faziam o café, enquanto comiam, e enquanto ele se vestia no
quarto e o ruivinho fazia graça, deitado preguiçosamente na cama, o
chamando de volta pro emaranhado de lençóis; era tentador, mas o Park
realmente precisava ir trabalhar.
— Volte a dormir, neném. Se tiver algum pesadelo, ligue pra mim, tá bom?
— disse ao despedir-se do de cabelos cereja com um beijo carinhoso. — E
confere se o Minzy não ficou trancado aqui dentro, quando você sair.
— E se ele ficar, que diferença faz? Esse gato doido vive fugindo lá de casa
pra vir pra cá! — Jeon resmungou, indignado com seu bichano. — Minzy
está mal acostumado, pensando que a casa dele é essa casona de rico aqui...
— Mas essa é a casa dele — o lúpus rebateu. — Ele tem duas casas: a do
papai Jungoo' e a do papai Jimi'.
— Você não parece fofo com essa história de "papai Jungoo" e "papai
Jimin", parece só um sequestrador de filhos alheios, tá ok?
Jeon Jungkook, maluquinho, pentelho e sem noção, era a pessoa mais linda
que Jimin já tivera o prazer de conhecer no mundo. E o dominador sabia ser
o maior sortudo, por ter sido capaz de fisgar o coração de um ícone.
[...]
— QUEBRA DE TEMPO —
De todos os hospitais da cidade, aquele era o único onde o garoto podia ser
atendido gratuitamente, de toda a forma.
O alfa de genes ômegas não tinha plano de saúde ou condições de pagar por
um médico particular e arcar com o custo dos medicamentos que
certamente lhe seriam prescritos após aquela consulta.
Então que opção tinha, senão esperar na fila de atendimento do hospital que
seus pais trabalhavam e gerenciavam?
É. O atendimento gratuito tinha seu preço, e este era ligado aos pais do
rapaz.
Mas se tinha uma coisa que o desesperava mais que um possível encontro
acidental e infeliz com seus pais, essa coisa era pedir que Jimin pagasse sua
consulta em outro lugar.
Isso porque o alfa ruivo estava apavorado sobre o que podia estar
acontecendo com seu próprio corpo; e não queria que Jimin soubesse do
que se tratava. E se fosse algum tipo de bizarrice ligada aos seus tão
odiados genes ômegas? Não queria ter que lidar com Jimin e isso ao mesmo
tempo. O lúpus sequer podia saber que o mais novo estava ali, ainda que ele
mesmo tocasse no assunto dia sim, dia não.
Eram meados de maio. Seu rut deveria ter vindo ao final de fevereiro, no
máximo início de março. Faziam mais de dois meses. Já era quase tempo de
seu cio ômega agora — juntamente ao cio alfa de Jimin.
Seu telefone tocou. O apelido carinhoso com o qual havia salvo o contato
do namorado brilhou na tela, junto ao emoji de lobo que acompanhava o
número.
Olhou pra todos os lados. Queria fugir. Sair correndo. Se esconder embaixo
de um uma pedra, como o Patrick Estrela, do desenho 'Bob Esponja'.
O mais novo engoliu em seco. O que faria agora? Mentir não era uma
opção; dizer a verdade, tampouco. Ele precisava ter certeza que seu atraso
de cio não era nada demais, antes que pudesse revelar a causa ao namorado,
caso contrário, esconderia o problema, com toda a certeza.
Então apenas seguiu seus instintos. E geralmente seus instintos o levavam a
dizer merda:
— Ai, olha só, você tá me sufocando, Jimin! Não é esse o nosso combinado
nessa relação.
A cada palavra que saía de seus lábios nervosos, o ruivinho sentia como se
fossem adagas perfurando ele mesmo. Como uma cobra mordendo a língua
e se intoxicando com o próprio veneno — ainda que o status de cobra fosse
do Park, normalmente.
Jeon engoliu em seco. Precisava ser mais crível. Além de não ser bobo, o
ex-militar também o conhecia como a palma da própria mão.
— Tudo o que acontecer nessa consulta será privado, Senhor Jeon. É sigilo
médico-paciente. Mas não garanto que os Jeon's não saberão de sua vinda
ao hospital. Eles tem acesso à lista de pacientes. Seu nome está piscando na
tela da recepção agora mesmo — disse cuidadoso.
— Entendo. Então seu rut deveria ter vindo entre o fim de fevereiro e início
de março, certo?
— Sim. Tem mais de dois meses de atraso. Já está quase na hora do heat
outra vez.
— O heat não deve vir, se o rut não vier primeiro, então ele deve atrasar
também — avisou. — A enfermeira colheu sua amostra de sangue antes da
consulta?
— Sim, senhor.
— Uhum. Alfas e betas. Não sinto atração pelo cheiro ômega, ele me dá
certa repulsa. Sem ofensas! — arregalou os olhinhos castanho escuros.
— Bom, já atendi pacientes alfas com genes ômegas, que não se deixavam
ser penetrados em heat — deu de ombros.
O médico deu uma risada curta pela fala do outro, para então puxar um
carrinho com uma pequena máquina em cima, que parecia um super
computador.
— Isso seria impossível, Jeon-ssi. Você é alfa e ponto. Seu útero não se
desenvolveu o suficiente pra isso.
— Interessante...
— Me diz que não tem um filhote aí... — o garoto murmurou, com uma
expressão apavorada.
— E você já passou heats com algum alfa lúpus antes? Ou esse foi seu
primeiro lúpus?
— Esse foi o único lúpus com quem dividi um cio. E ele estava no cio
também!
— Entendo. Jungkook-ssi, você sabe que alfas lúpus tem uma capacidade
reprodutora três vezes mais intensa que a de um alfa comum, certo? Assim
como ômegas lúpus também tem capacidade reprodutiva mais forte que
ômegas comuns...
— Não. Mas o seu corpo é, internamente, mais ômega que alfa. Então, o
seu útero não atrofiou completamente, como deveria. Contudo, ele ainda é...
inóspito; Incapaz de gerar um filhote. Então, quando você passou o cio com
um alfa lúpus, que, além de ser o maior reprodutor da espécie, também
estava em cio, bem... Seu corpo tentou gerar um feto. Mesmo sem que haja
ocorrido a ligação dos nós.
Então era isso que o tinha feito passar mal, no dia seguinte ao fim do cio,
cinco meses atrás. Não se tratava de mero resfriado coisa nenhuma. Tinha a
ver com alguma bizarrice envolvendo seus genes ômegas.
— Não é um filhote. Não chega a ser sequer um feto. Não se preocupe. Mas
é que seu corpo está enviando a mensagem errada. Ele está agindo como se
você estivesse grávido, realmente. É por isso que seu rut não está vindo.
Contudo...
— Contudo..?
— Não é. Eu não digo sob essa ótica. Me refiro à questão de saúde. Seu
corpo entra em conflito consigo mesmo. Ele passa informações e comandos
opostos. E isso pode resultar em alguma doença séria. Sua vida pode ficar
em risco, entende?
— Talvez não agora. Mas pode ser que, recebendo a mensagem errada, seu
organismo se comporte de um jeito que não deveria. Pode te gerar muita
dor. Podem haver efeitos colaterais, como, por exemplo, um remédio pra
dopagem durante o cio não fazer efeito; sua voz de comando falhar; seu nó
peniano não se formar; a marca de um ômega ou beta ser rejeitada pelo seu
corpo, ou o seu corpo rejeitar a marca de um deles; Você, por acaso, já
sentiu vontade de marcar algum alfa?
— Eu não vou fazer isso! Eu jamais faria algo pra machucar o meu Jimin!
— soltou, ainda que o médico não fizesse ideia do nome do alfa lúpus.
— Não conscientemente, é claro. Mas você nunca pode prever o tamanho
do descontrole e o instinto animal que seu cérebro será capaz, quando em
cio. E um acidente pode acontecer. Algo que você vai se arrepender
amargamente, e sabe disso.
Jungkook ficou calado. Ele sabia que o médico estava certo. Ele também
tinha lido sobre as conquistas científicas obtidas por seus pais no campo de
reversão de genes. E ele achava isso ótimo, realmente.
— Seu heat vai vir só três meses depois do rut. Isso vai mudar o seu período
de cios agora.
— Entendi. E depois?
Aquilo não estava certo. Sentia-se como uma aberração. Sempre se sentiu.
Nos últimos meses, desde que começara uma relação com o Park, o lúpus o
fazia sentir-se tão querido e desejado, que ele quase esquecia de suas
peculiaridades genéticas.
Mas agora, sabendo que sua saúde ficava em risco, e que o certo a fazer era
completar a reversão de genes... Bem, ele estava empacado. Teria de rever
todos os conceitos que havia criado em sua mente, até ali. E agora, seu ódio
pelos genes ômegas era maior que nunca.
Mas a pessoa que se pôs do outro lado da mesa, não era o médico; pelo
menos não o Doutor Gong. Era outro médico...
O novo homem de jaleco era um ômega esguio, de pouca altura e olhos bem
redondos. Tinha nariz fino e os lábios também, o maxilar bem definido e
másculo, quadrangular, muito belo em conjunto com o cabelo liso e escuro,
cortado em formato tigelinha.
— Salvar vidas? — o mais novo grunhiu. — A única coisa que você e papai
queriam, era que eu não me relacionasse com outros alfas; Não estavam
pensando no meu bem, apenas no de vocês e na maldita descoberta
científica que tanto queriam!
— Eu não vim aqui brigar, filho. Eu só... Eu e seu pai sentimos sua falta —
tentou tocar seu ombro, mas Jungkook se esquivou. Sem jeito, o ômega
continuou: — Eu vi seu prontuário. Sabia que algo assim podia acontecer,
Jun. Por favor, nos deixe retomar seu tratamento. É a sua saúde que está em
risco aqui...
— Isso é porque não quero falar com vocês! — ele gritou de volta.
— Jun, olha... Não estou pedindo que nos entenda agora. Mas, por favor,
pense no tratamento. Você precisa fazer. Seu corpo tentou gerar um filhote!
Um alfa tentou conceber! Você não percebe o quão grotesco isso é?
— Sim, você está certo. Seu filho grotesco está de saída. Espero que você
não use seu novo filhote pra experimentos científicos, como fez comigo.
E então o garoto deu às costas, ouvindo a voz do pai ainda dizer: "Quando
você quiser melhorar é só vir até mim, filho. Nós estaremos aqui por você."
O que apenas o deixou mais magoado e indignado, pois o pai realmente
agia como uma vítima; um pobre pai que tinha um filho ingrato e rebelde.
Levou um bocado de tempo pra chegar lá. A pé, era tudo muito demorado.
Caminhou por quase uma hora inteira, mas sequer teve noção do tempo, já
que sua mente estava totalmente perdida nos próprios problemas.
O acerejado foi indo escada acima, sem esperar nenhum tipo de resposta ou
convite. Demorou um bocado, até que ouvisse o amigo fechar a porta lá
embaixo, e seus passos apressados surgissem na escada.
E o que viu lá dentro, o fez arregalar tanto os olhos, que ele podia jurar que
dessa vez um vaso sanguíneo havia se rompido:
Os pulsos do alfa estavam presos ao dossel dourado da cama King Size por
uma gravata, e seus olhos vendados.
— Vem logo, meu senhor... — o Kim pediu com a voz rouca, sem se dar
conta de quem também estava ali, até que uma corrente de ar passou pelo
Jeon, levando seu cheiro até o outro, que farejou o ar e fez um careta
irritadiça. — O que esse cara tá fazendo aqui? — questionou, com um
rosnado, o cenho franzindo-se.
— Eu não vou ficar ouvindo ladainha desse bosta! Manda ele embora,
Hoseok! Tô falando sério — Taehyung exigiu, raivoso, já solto das amarras
e sem a venda nos olhos.
— Não calo não! Já chega! Tá na hora desse garoto ouvir umas verdades!
— e voltou-se ao Jeon. — Isso que você fez, não se faz! Você torturou
Hoseok hyung, mantendo ele perto de você e passando os cios com ele,
mesmo sabendo como ele se sentia em relação a você!
— JK, eu posso explicar! — o beta pediu aflito, vendo o Kim bufar pela
forma carinhosa como havia chamado o amigo.
— Hyung, isso é verdade? — o mais novo questionou com a voz baixinha,
quase sussurrada. Seu lábio estava trêmulo, e os olhinhos arregalados
começando a marejar. — Fala que não é verdade... Diz que esse cara é
doido...
— Não foi assim, Jungkook! Eu sou seu amigo, seu irmão! — defendeu-se,
agoniado.
— É claro que não sabia, seu idiota! Eu nunca teria mantido por perto uma
pessoa apaixonada por mim, sem intenção de correspondê-la! Isso não se
faz!
— E aí você mentiu pra mim — o Jeon devolveu, com a voz sem humor. —
Mentiu e me tirou o direito de decidir. Parabéns por ser um egoísta do
caralho — e deu às costas, saindo do quarto.
Jeon ficou em silêncio, sem conseguir encarar o rosto do moreno aflito. Não
havia sequer o som das respirações de nenhum dos três, no corredor
cumprido.
[...]
Sendo assim, a primeira coisa que o ruivo fez ao chegar em sua rua, foi
correr pra casa do Park, pedindo colo. Ele sabia que o lúpus jamais o
negaria aquilo, mesmo que tivessem ficado em maus termos pela tarde.
Jungkook usou sua chave para entrar, buscando pelo Park nos dois andares,
mas não achou ninguém. A toalha no banheiro ainda estava úmida, e o
cheiro de sabonete impregnava o cômodo, dando a perceber que o lúpus
tinha saído de casa há pouco.
Então Jeon correu pra garagem, encontrando-a vazia, tendo a certeza de que
o outro alfa também não estaria o esperando em seu apartamento, mas sim
que havia saído pra algum lugar — talvez até pra procurá-lo por aí, não
duvidava nada.
Não ser atendido estava deixando Jungkook mais aflito que nunca, um bolo
estranho na garganta começando a se formar. Sua intuição estava a ponto de
bala, lhe dizendo que havia alguma coisa muitíssimo errada.
Inquieto, ele andava de um lado pro outro, sentava no sofá da sala por três
segundos, antes de se levantar outra vez e começar a andar de um lado pro
outro novamente, sempre espiando o lado de fora pela janela, na esperança
de ver o Park chegar.
Foi por isso que ele teve certeza de que se explicasse ao Park sobre a
consulta mais cedo, e lhe contasse o que estava acontecendo com sua saúde,
Jimin o entenderia. Perdoaria a besteira que ele havia dito mais cedo, e
entenderia que não passava de uma mentira; que ele amava sim, estar todos
os dias com o lúpus, fosse na sua casa, fosse na dele; que não se sentia
sufocado em nada com o grude constante, que amava tê-lo ao seu lado todo
o tempo, e que se não fosse por seus trabalhos, ficariam mais tempo juntos
ainda.
— Humn... Quem 'tá falando? Onde está o Jimin? — reuniu todas as suas
forças pra que pudesse responder sem falhar a voz.
— Err.. Oi? Você ainda 'tá aí? — a voz de Taemin soou pelos fones.
— Bom, eu vou pedir pra ele te retornar a ligação mais tarde, 'tá?
Tchauzinho, Jungkook-ssi! — e encerrou a ligação com a voz animada.
Ele se sentou no sofá caro, que o Park havia lhe comprado. Tirou a camisa e
a calça do pijama, ficando seminu em meio ao cômodo vazio. Não podia
desmaiar por causa de algo assim, certo? Não seria dramático a esse ponto...
Mas seu corpo lhe dizia o contrário. Era isso, então, que Doutor Gong havia
tentado lhe dizer. Os genes ômegas faziam uma bagunça em seu corpo,
enviando mensagens errôneas, que prejudicavam sua saúde.
E ele queria poder pensar melhor sobre isso, se não fosse sua mente
gritando pra ele, atordoada, sobre Jimin estar com Taemin.
O que diabos estavam fazendo juntos? O cara não deveria voltar do Japão
só na próxima semana, como Jimin lhe contara?
E por que infernos Jimin estava com o ex, justamente após uma briga feia
com o namorado? Ele não deveria estar em casa, esperando para confrontá-
lo e resolverem as coisas? Ele não deveria, ao menos, ter lhe mandado
mensagens ou tentado falar com ele, o dia todo, após a discussão ao
telefone?
Mas não havia sequer uma notificação do alfa lúpus em seu telefone.
Diferente de Hoseok, que já o havia enviado cerca de 102 mensagens de
texto e áudio, além de tê-lo telefonado quinze vezes seguidas, obrigando o
garoto a bloquear suas ligações.
Jungkook queria gritar de raiva e dor. Uma dor latente e flamejante, tão
incandescente quanto as sensações que o mais velho lhe causava na cama.
Era a rede social de fotos de Taemin, a qual ele havia seguido no dia da
festa de Yoongi, depois de falar com o ex-submisso do Park ao telefone
daquela vez.
Vocês sempre souberam que tudo nessa fic tava bom demais pra ser
verdade, né? em algum momento as coisas iam virar de cabeça pra baixo
kkkk E se uma coisa eu posso adiantar, é que vocês vão passar muita raiva.
Inclusive, eu fiz um índice de capítulos que faltam pra INC acabar, com
um roteiro de acontecimentos que precisam rolar em cada um deles, e
cheguei a 52 caps. Pode ser que tenha mais, ou tenha menos, mas agora
vocês sabem que falta um bocado pra gente se despedir dos nossos boiolas
de chicotinho.
#CobraSorrateira
O alfa lúpus abriu os olhos com dificuldade, por conta da dor e da luz que
entrava pela janela aberta. O sol era forte e claro demais pra suas íris
sensíveis.
Ele sentiu que estava deitado em uma cama macia, e aquele quarto lhe era
familiar, mas não era o seu. Girou no colchão, ainda sem abrir bem os
olhos. Estava sozinho na cama de casal. Sua companhia era apenas sua
ressaca.
Tentou lembrar do que tinha acontecido noite passada, mas sua cabeça doía
ao fazer tal esforço. Tudo o que recordava, era de ter brigado feio com
Jungkook, tomado um pé na bunda e atendido a uma ligação depois disso.
Lee Taemin.
Jimin olhou pra cama. Depois olhou pra si mesmo. E em seguida rolou os
olhos pra Taemin, fazendo cálculos mentais que deixariam confusos até os
mais brilhantes matemáticos.
Em pânico, olhou ao redor outra vez. Aquela não era a casa de Taemin. Mas
isso também não queria dizer muita coisa.
— Você quer dizer antes ou depois de você ficar muito bêbado? — o loiro
riu-se, e deu às costas pra fuçar os produtos de beleza na cômoda.
— Tudo. A única coisa que me lembro, foi de... — ele preferiu não dizer os
termos em que estava com o namorado naquele momento. — Lembro de
atender a uma ligação do Yoongi hyung.
O outro alfa deu uma risadinha, o espiando por cima do ombro enquanto
passava desodorante.
— Isso aí. Os três mosqueteiros estão de volta, com muito álcool — sorriu
grande, mostrando os dentes brilhantes emoldurados pelos belos lábios
grossos.
— É sério, Tê. Eu não lembro de absolutamente nada — declarou
angustiado. — A gente... por acaso... dormiu junto?
Taemin rolou os olhos de Jimin pra cama, da cama pra Jimin, e deixou um
sorriso ladino enfeitar o rosto.
— Sério? — dessa vez foi Yoongi quem falou, se virando pros amigos alfas
com uma muda de roupas pendurada no ombro. — Não se lembra nem de
ter jogado seu celular no píer, pra testar se realmente era à prova d'água?
Ele sabia que Jungkook devia estar pirando. Sabia que o garoto tinha
inventado aquela história de tempo, porque alguma coisa havia acontecido,
e ele, teimoso como era, não queria abrir o bico.
Ele tinha estragado tudo? Havia realmente ficado tão bêbado a ponto de
transar com Taemin e trair Jungkook?
O lúpus então disparou para o banheiro atrás do Min, que se assustou ao ver
o amigo parado atrás da porta de vidro do box, o encarando com uma
expressão nada boa.
O outro alfa se pôs atrás dele, ainda risonho, mas começando a ficar
preocupado.
Jimin até mesmo perdeu a força nas pernas. Sentou-se em cima do vaso,
com uma mão no peito e a outra na testa, sentindo um alívio absurdo tomá-
lo.
— Eu não traí ele — murmurou pra si mesmo. — Ah, puta merda, graças
aos céus, eu não estraguei tudo...
— O Jungkook vai fazer picadinho de mim, caras. Olhem bem pro seu
amigo aqui, porque essa é a última vez que vão me ver com vida — o lúpus
dramatizou.
— Eu ainda não consigo entender como esse brat mete medo em você...
Logo você — Taemin o fitou curioso.
— Parece que o Tae estava no meio de uma sessão com Hoseok, e o seu
namorado chegou lá de surpresa. Deu a maior confusão — o dono da casa
respondeu.
— Yoon, por que seu namorado estava tendo uma sessão com o ex de
vocês? — Foi Taemin quem perguntou.
— Humn... Longa história — o ômega bufou, os afastando para sair do
banheiro, sendo imediatamente seguido pelos dois.
— Seu celular 'tá lá embaixo, dentro de uma bacia de arroz cru, pra ver seca
a água — Yoongi informou. — A gente viu na internet que isso podia
funcionar, então... — deu de ombros, se vestindo.
— Ok. Então nada demais aconteceu ontem, além da gente ficar muito
bêbado, eu vomitar e meu celular se afogar na água. Certo?
— É que... Eu...
— E que... Bem, seu celular tocou. Você tinha deixado ele em cima da
mesa, junto com a carteira e as chaves do carro. E eu meio que... Atendi seu
telefone — o alfa de fios platinados disse sem jeito.
— Jungkook.
— Se você conhecesse Jeon Jungkook, saberia que fez uma coisa péssima...
— foi Yoongi quem respondeu, com pesar.
— Tudo bem, TêTê — o lúpus o interrompeu. — Não foi sua culpa. Foi
culpa minha. E desse animal do Yoongi — rosnou pro amigo.
— Primeiro por ter chegado atrasado. Segundo, por não ter me dito que
Taemin estaria no restaurante. E terceiro, porque...
— Hope?
— Você 'tá estranho. O que foi? Fiquei sabendo que você e Jungkook
brigaram ontem. É isso?
— É... sim — o acastanhado pigarreou. — Mas não quero falar disso agora.
Preciso me resolver com JK primeiro. Você tem as chaves aí? Ele tomou
minha cópia há um tempo atrás.
Jimin deu a volta no balcão da cozinha, e começou a fazer café. Era seu
vício diário. Precisava tomar várias canecas ao longo do dia, uma só não era
suficiente.
— Você está certo. Ele realmente não ia gostar nada disso. Ele nem sabia
onde eu estava — suspirou, fitando a água fervendo na chaleira. —
Jungkook vai fazer picadinho de mim. Fiz uma burrada... — lamentou-se.
— Realmente — Hoseok deu uma risada curta. — Mas olha... Você não
deveria ter mentido pra ele. Jungkook odeia isso. Ele vai ficar muito puto, e
com razão. Sei que vocês não tem uma relação D/s de total troca de poder,
pra que ele te proíba de alguma coisa, e mesmo que tivesse, ele é o
submisso, você é quem mandaria nele. Mas isso foi vacilo, Park. Sabe como
seu namorado é...
— Isso eu não sei. Vai depender da sua história. Mas ele vai ficar ranzinza
por um bom tempo... Esse garoto gosta de remoer as coisas, não perdoa
fácil — disse com amargura, que não escapou aos olhos atentos do Park.
— Você parece dizer isso por experiência própria. O que aconteceu entre
vocês ontem?
— Primeiro você precisa prometer que não vai ficar bravo comigo — ele
disse. — Não quero que você me odeie também, Jimin. Eu realmente gosto
de você, e de todo dia tentar te impedir de comprar um almoço caro, com
arroz de diamantes e cocô de galinhas de ouro — tentou descontrair.
— Eu não posso prometer isso — o lúpus riu fraco, pois começava a ficar
preocupado. — Mas prometo tentar entender o seu lado.
— Justo.
— E então?
— Isso não é um problema meu, mas realmente acho que seria mais
saudável se você e Yoongi hyung se relacionassem sozinhos, sem
Taehyung. Aquele lá passa dos limites...
— Por favor, não fique com raiva de mim por isso, eu... Você, mais do que
ninguém, sabe o quanto JK é encantador. Ele é um garoto maravilhoso e...
— Você é apaixonado por ele? — o lúpus arqueou uma sobrancelha pra ele.
Jimin apertou o bule nas mãos, enciumado que só. Mas não disse nada,
continuou encarando o amigo que, nervoso, logo voltou a se explicar.
— E se não fosse por isso, hoje em dia a gente talvez nem se falasse... —
Jimin comentou, pensando alto, o olhar perdido na caneca de café quente.
— Ele realmente ficou sentido quando você o rejeitou lá na sua casa. Ele foi
todo arrumadinho e encantador na sua porta, com o truque do açúcar, que eu
e Jin hyung sugerimos que ele fizesse...
O alfa entregou uma caneca pro Jung, e começou a bebericar sua bebida.
— Er, desculpe. De qualquer modo, JK não sabia disso, mas Taehyung sim.
E ele acabou acusando o JK de ter me usado durante todos esses anos,
mesmo sabendo dos meus sentimentos por ele, que Taehyung, inclusive,
não consegue entender que acabaram há muito tempo.
[...]
O Park pôde ter o vislumbre dos olhos violeta do rapaz, algo normal
durante o cio de um alfa comum, diferente dos alfa lúpus, cujos olhos
acizentavam-se em rut.
Seu celular dera perda total. Teve que comprar um aparelho novo — que
faria questão de cobrar o valor ao maldito Min yoongi. Mas o lúpus fez
questão de consertar o de Jungkook, que agora repousava na mesinha da
sala, novinho em folha.
Na manhã do quarto dia, Jimin tinha despertado antes do sol raiar, ansioso.
Queria que o Jeon acordasse logo, queria poder explicá-lo tudo, dar um
banho nele, beijá-lo, senti-lo se aninhar a si e dizer-lhe o quanto o adorava.
O moreno não sabia o que fazer, como começar a falar, se precisava esperá-
lo atacar primeiro para que pudesse se defender, ou se podia simplesmente
começar a se desculpar. Fazia tanto tempo que não se via naquela situação,
tendo que dar explicações e pedidos de desculpas sem que tivesse realmente
cometido algum erro.
Relacionamentos amorosos eram complicados, por isso Park Jimin os
evitava desesperadamente. Era um mestre em dominar, mas apenas um
bobo naquela coisa de amor.
E se Jimin tinha medo das explosões de raiva do Jeon, isso era porque ainda
não o tinha visto entrar naquele estado de silêncio mortal.
Até agora.
— Uhum — o ruivo respondeu de boca cheia, lhe dando uma rápida e fria
olhadela, para então voltar sua atenção ao prato.
Jeon limpou a boca com as costas da mão, num movimento um tanto bruto,
antes de afastar o prato e tomar ar pela boca e nariz.
E alguns segundos depois ele fixou os orbes no lúpus e clicou na tela, sem
olhar:
"Olha, Jungkook... " uma voz começou a soar pelo alto-falante do aparelho.
"Você realmente deveria questioná-lo. Mas eu não posso me meter, não
devo ser o portador das más notícias..."
Deu play num terceiro áudio: "Eu realmente não queria me meter nisso,
mas é tão errado..."
"Esses dias, Taemin veio puxar conversa comigo. Elogiou uma foto que eu
tinha postado com meu dominador... E então eu disse que esperava que ele
pudesse encontrar alguém bom pra si também. Quer dizer, até onde eu
sabia ele não estava mais com Jimin... E foi isso o que ele respondeu..."
"O que está dizendo, Won? Eu tenho Jimin. Você sabe o quanto ele é bom
pra mim." deu uma risadinha doce. "Você deve ter conhecido o Jungkook, o
novo sub dele. Eles estão namorando, sim. E como eu estivesse fora, Jimin
me pediu que o desse espaço pra preparar o terreno, entende? O tal
Jungkook é ciumento, não é do tipo que aceita dividir. Mas ele é novo no
BDSM, ainda não entende como as coisas funcionam. Então combinamos
que quando eu voltasse do Japão, nós seríamos apresentados. E aí o Jimin
vai contar pra ele que somos irmãos de coleira, bobinho. Ele só está sendo
cuidadoso com meu irmãozinho. Até parece que você não sabe o quão bom
Jimin é em manipular as pessoas. Ele consegue tudo o que quer. Jungkook
vai ter que aceitar, não existe outra opção. Sempre foi assim."
Ouvir aquele áudio outra vez, havia levado por água abaixo a frieza do
Jeon. Ele deixou as lágrimas silenciosas escorrerem pelo rosto, fitando o
moreno, que o encarava de volta com os olhos arregalados.
— Eu quero que você pegue todas as suas coisas e saia da minha casa. E
por favor, traga as minhas coisas que deixei na sua. Depois disso, quero que
suma da minha vida. Não quero que tente se aproximar de mim. É só isso
que peço, Jimin.
— Posso sim! — retrucou. — Não sou mais seu submisso, posso fazer o
que eu quiser. Nós não temos mais nada, Park Jimin. Agora vá embora — e
desviou do mais baixo, seguindo em direção ao quarto.
O moreno foi atrás, indignado. Tão indignado que sequer conseguia pôr em
palavras a sua indignação.
— Eu jamais faria isso! Por que você não confia em mim nem por um
momento? — o ex-militar rebateu, exasperado.
— Se fosse só uma coisa, Jimin... Mas não é. Tudo envolvendo vocês dois é
uma mentira. Ele te manda mensagens o tempo todo, te chama de 'meu
senhor', te dá as chaves do apartamento dele... Você até mesmo foi atrás
dele depois que pedi um tempo — disse com a voz dolorida.
— Chega. Não quero mais ouvir. Eu não posso mais, Jimin, eu não aguento
— e sua voz falhou consideravelmente, junto às lágrimas descendo de seus
olhos. — Vocês tem história demais juntos. Não quero passar essa relação
toda sob a sombra de um ex-submisso que sempre vai estar presente na sua
vida, no cargo de melhor amigo... Eu não quero ter que lidar com ele.
— Você não está à sombra de ninguém, meu amor. O que eu e você temos
não se compara à nada que tive com ele e nem com ninguém... — Jimin
disse emocionado, tentando se aproximar outra vez.
— Eu não posso, hyung — ele soluçou, angustiado. — Não posso lidar com
as pessoas que amo mentindo pra mim o tempo todo — sussurrou. Estava
firme no que havia decidido. E agora, sóbrio, longe dos efeitos do
acelerador e também do supressor, sua decisão continuava a mesma.
Independente de o Park ter boas desculpas e explicações pro que havia
ocorrido na noite anterior, ou não.
— Eu não minto pra você, bebê, olha pra mim... — resmungou, pidão.
— O que está dizendo? Você quer que eu corte relações com ele?
Os dois ficaram em silêncio, se fitando com pesar. O Park deu dois passos
pra trás, confuso, tentando assimilar o que estava implícito nos dizeres do
Jeon.
— Você 'tá dizendo que não quer mais estar realmente comigo? Que não
pode aceitar o meu passado? — indagou com a voz fraca, falhada.
— Sim, hyung. Estou dizendo que não sou capaz de lidar com isso de
maneira madura. Simplesmente não posso, isso vai além dos meus limites.
Me desculpe... — sussurrou, de cabeça baixa.
O coração partido do ruivo agora sangrava. Doía mais do que tudo fazer
aquilo. Mas ele tivera tempo demais pra pensar e remoer toda aquela coisa.
E tinha se tocado que o problema era ele, não Jimin. O problema era ele,
não Lee Taemin. O problema era e sempre seria ele. A forma com a qual ele
não conseguia lidar com os próprios medos e inseguranças. O quanto a sua
falta de confiança nas pessoas destruía seu psicológico e, principalmente,
suas relações interpessoais.
Jungkook não era de esconder muita coisa, sequer sabia mentir. Eram raras
as vezes em que o fazia, pois apenas o fazia em momentos de extrema
necessidade — como esconder sua ida ao médico, por exemplo. Mas aquela
era uma coisa sua, afinal. O ruivo não tinha obrigação nenhuma de dividir
suas condições médicas com o namorado.
E o problema não era Taemin e Jimin, afinal. O problema era lidar com a
relação deles. Ficando sempre à sombra do que um significava pro outro, do
que haviam sido um dia e do que eram agora.
Jungkook se conhecia bem o suficiente pra saber que aquilo era demais pra
aguentar, sabia que jamais conseguiria lidar com aquilo numa boa. Se
conhecia bem demais pra saber que aquela sua cisma jamais os deixaria
viver em paz e harmonia. Sempre seria seu calcanhar de Aquiles.
E por isso, o alfa de genes ômegas agora tomava aquela decisão tão
extrema; era pensando em si, em Jimin, nos dois. Era pensando no bem de
ambos. Precisava ser sincero consigo mesmo e com o Park. Não poderia
prometê-lo tornar-se alguém que não era, esconder as emoções que sentia.
Simplesmente não conseguia.
E além de tudo, não poderia forçar Jimin a viver em uma relação cheia de
restrições, onde este não pudesse sequer interagir com suas amizades
livremente, caso quisesse manter a paz com seu namorado e submisso-nada-
submisso. Não era aquela relação que o Jeon queria ter, e sabia que o ex-
militar menos ainda.
Jungkook se deu conta de que o problema era ele e sua mente caótica,
problemática, imatura e bagunçada. Em qualquer relação que estivesse, o
problema sempre seria ele.
— Não torne isso mais difícil, hyung... — pediu com a voz baixa.
— Não faz isso, bebê... — o outro sussurrou de volta, agora olhando pra ele
nos olhos, firme. — Não destrói o que a gente tem. Eu não me vejo mais
sem você... — ele acariciou o maxilar forte do ruivinho. — Isso é tudo um
engano. Eu te juro, não fui atrás do Taemin pra me vingar de você, sequer
acreditei nesse seu pedido de 'tempo', sabia que tinha alguma coisa errada.
E eu só estive com você, desde o cio. Você sabe disso, Jungkook. Aquele
dia em que saí pra comprar leite e voltei com cheiro de outro alfa... Eu tinha
ido terminar com Taemin. Eu juro, só estive com você desde então...
— Não há nada que você possa fazer, que me leve a te odiar, garoto —
disse em tom urgente, unindo suas testas.
— Não fala isso... Não diz isso de você... — o lúpus sussurrou, colocando o
dedo indicador frente aos lábios alheios.
Esse foi o golpe final. Era o que faltava para fazer o coração do lúpus se
partir em milhões de pedacinhos. Aquele coração duro, tão blindado, tão
resistente a tudo... Simplesmente estava se partindo em milhões de
partículas.
— Por que você não quer acreditar em mim, Jungkook-ah? — disse
chorando, as mãos tremendo e o coração acelerado. — Eu posso provar!
Posso provar que fui atrás de Yoongi hyung, e não de Taemin! Posso provar
que jamais estive sexualmente com ele depois de você!
— Você não pode culpá-lo por ter te amado, só porque você não aceita a
pessoa incrível que é! — Jimin não se segurou e jogou a verdade na cara do
ruivinho.
O lúpus engoliu o choro, usando toda a sua força, para se manter firme
enquanto por dentro, tudo desmoronava, ruía, como um castelo de cartas.
— Eu o culpo por mentir pra mim! Hoseok nos deixou construir nossa
amizade em cima de uma mentira. Eu tenho problemas de confiança, e
vocês dois ainda mentem pra mim!
Leiam devagar...
#CobraSorrateira
Jungkook rolou na cama, mais uma vez, e abraçou os joelhos contra o peito.
Chorar se tornara tão rotineiro, que já havia se acostumado com as
lágrimas. Elas escorriam de seus olhos até o travesseiro, o mesmo que
usava pra abafar seus soluços e o choro sofrido.
Sua vida parecia ter perdido o sentido. Era comum se sentir muito mal com
seus rompimentos amorosos, mas nunca tinha doído assim, nessa
magnitude. Nunca havia machucado tanto desse jeito.
Principalmente porque a decisão de rompimento havia partido dele, ao
constatar que o problema era ele mesmo; que jamais conseguiria ser feliz
com alguém, menos ainda com o Park, enquanto não mudasse seu gênio,
sua teimosia, seu ciúme sem sentido, que mais um pouco alcançaria um
patamar obsessivo.
Ele sabia que não era certo esconder sua possessividade atrás do BDSM.
Tampouco, justificá-la através de sua classificação alfa. Isso não era
saudável emocionalmente, nem pra ele, nem pro seu parceiro.
Assim os dias passaram. Primeiro um, depois dois, e então cinco, uma
semana, duas... O tempo se arrastava e fazia a dor dobrar de tamanho.
Era até incrível que conseguisse se levantar todo dia e ir trabalhar. Morava
sozinho, pagava o próprio aluguel, as contas, a comida, não tinha alguém
que pudesse segurá-lo naquele momento, então não podia se permitir falhar
com suas responsabilidades, de fato. E talvez fosse isto que o empurrasse da
cama todos os dias.
Todavia, Jeon parecia uma casca vazia. Todos os seus movimentos eram
robóticos e desanimados. Ele não sorria. Não conversava, não interagia. A
comida não tinha gosto. Era como se sequer respirasse. A vida havia
perdido a graça. Tudo tinha se tornado cinza.
Doía demais. Mas ele sabia que aquela era a decisão certa. Sabia ter sido
bom em reconhecer os próprios limites e não se forçar além do que podia.
Só não sabia se sua decisão havia, de fato, sido motivada internamente por
pura lógica, autopreservação e um vislumbre de maturidade, ou se havia um
quê de masoquismo emocional envolvido.
Jimin não estava em estado diferente. Estava como morto por dentro.
Sentava-se nas escadas da frente de casa e fitava por horas a fio a janela de
Jungkook. Já havia até mesmo perdido o controle e espiado o ex no
trabalho, se escondendo atrás da barraquinha de cachorro-quente do outro
lado da rua. Mas jamais deixava o ruivinho vê-lo. Não queria assustá-lo,
pois sabia que essa era uma atitude meio psicótica demais..
Ele também não sorria. Não conversava, não ria, não sentia. Buscava por
qualquer coisa que pudesse aliviá-lo. O que fosse necessário. E aí ficava
entorpecido, anestesiado.
E assim, o álcool se tornou seu novo melhor amigo. Ele bebia sozinho em
casa, até que perdesse a capacidade de subir as escadas e apagasse no chão
da sala.
Além do mais, Jimin ignorava Lee Taemin, como o próprio Diabo fugindo
da cruz. Culpava a si mesmo, mas acima de tudo, culpava Taemin. Não
tinha gostado nada das coisas que ouvira saírem de sua boca a WonHo
naquele áudio.
Por que Taemin havia mentido? Estava com vergonha de ter sido trocado?
Queria sair por cima? Ou só queria estragar sua relação com o Jeon?
Foi então que, trocando os pés, o ex-militar apanhou sua garrafa de vinho e
saiu pra varanda. O vento castigava, jogando a chuva toda pra dentro. Ele
fechou a porta e se atreveu a descer as escadas, se deixando molhar
completamente, a camisa larga colando no tronco e os fios de cabelo
grudando na testa.
Não houve resposta. Não havia nada, apenas silêncio. Silêncio mortal,
doloroso, excruciante. Ser xingado de todas as coisas ruins possíveis seria
menos desesperador que aquele silêncio, pois era como se estivesse
sozinho. Sofrendo sozinho. Amando sozinho.
Ele queria, mais do que tudo, abrir aquela porta e pegar o ex-militar no
colo, trazê-lo pra dentro e beijá-lo contra a parede, como se nunca mais
fosse deixá-lo.
Acima de tudo, Jungkook sabia não ter forças para encará-lo e tampouco
resistir a ele. Não era capaz de rejeitar Jimin duas vezes. Somente vê-lo, o
faria jogar sua decisão pelo ralo.
Ele estava sendo sensato e honesto consigo mesmo e com o vizinho. Não
era saudável manter aquela relação, se o Jeon não fosse capaz de aceitar o
passado do outro. Dessa forma, eles jamais dariam certo juntos. Então era
melhor acabar com aquilo de uma vez.
— O que você 'tá fazendo aqui? — perguntou, com cara de poucos amigos.
— Podemos subir?
— Não vai fechar a porta? — o Kim perguntou com sua voz grave.
— Claro que não, não sou idiota. Se for me matar, é pra todo mundo escutar
— implicou.
— Não encoste na minha gata! — Jeon ralhou. — Quero dizer, gato! Não
toca no Minzy!
— Por que? Eu não vou fazer mal a ele... Ela... Eu sei lá — deu de ombros.
Taehyung riu outra vez, mesmo a contragosto. Jeon Jungkook era doidinho
demais da conta.
O ruivo fez um bico, e mesmo contrariado, deu toda sua atenção ao mais
velho.
— Não deveria ter te visto como uma ameaça, mas... Eu queria Hoseok por
completo. Não queria que eu e Yoongi hyung tivessemos que competir com
você...
— Eu não podia ter certeza disso. E além do mais, tinha medo de que
quando o AlphaDome te magoasse, você fosse querer usar Hoseok como
step.
— Porque é isso o que ele sempre faz. O AlphaDome tem uma certa...
fama. Troca de submissos com certa frequência, o único que permanece é
Taemin. Eu imaginei que fosse fazer o mesmo com você, não tinha por quê
ser diferente — foi sincero.
— Não. A última vez que vi Jimin, foi quando deixei Yoongi hyung aqui na
casa dele, semana passada. Não cheguei a vê-lo direito. Mas vi Taemin. Não
aqui. Na casa de Yoongi. Parece que o Park vem ignorando ele...
— O que houve entre vocês? Yoongi não me conta nada, só fica atendendo
às chamadas de Jimin durante a madrugada. Ele vai pro lado de fora e passa
horas conversando com ele ao telefone, com a voz mansa. E Taemin
também não sai da casa do Yoon, está sempre por lá...
— Eu queria te ajudar com toda essa curiosidade, mas não sou seu amigo
— o ruivo respondeu, implicante.
— Não espero que nos tornemos amigos. Continuo não gostando muito de
você, mas admito ter sido injusto — Taehyung explicou. — Só espero que
possamos nos entender, ficar num mesmo cômodo sem que queiramos nos
socar. Seu dominador é melhor amigo do meu, então é meio difícil a gente
conseguir se evitar. Precisamos aprender a nos aturar, pelo menos.
— Eu e Jimin não estamos mais juntos — disse com a voz sussurrada, para
então fingir dar atenção às sacolas .
— Mais ou menos. O problema sou eu, na verdade. Mas não quero falar
disso com você — cortou.
— Oh, não, não. Era só isso. Podemos nos tratar com cordialidade a partir
de agora, certo? — o Kim confirmou.
[...]
— Tô falando sério, Jimin. Que papo é esse de faltar ao trabalho por causa
de um pé na bunda? — o ômega indagou, com a voz reprovadora.
— Já disse que não foi isso — o alfa respondeu, com a voz grossa de sono.
— Eu tô de ressaca.
— Você 'tá de ressaca todos os dias. Já viu como 'tá sua sala e a cozinha? Lá
embaixo parece um cenário apocalíptico. Esqueceu o caminho da lixeira,
mirradinho?
— Pra que pudesse fazer o que tô fazendo agora: Te obrigar a levantar essa
bunda grande e parar de remoer o fora que o bratzinho te deu, seu banana!
— puxou as cobertas de cima dele, à força.
— Não importa. Você precisa. Tem que conversar seriamente com ele,
Jiminie...
— Não posso falar por ele. Mas você não pode e nem deve assumir nada.
Precisa ouvir a verdade diretamente dele. Vocês se devem isso.
— Você acha que TêTê teria coragem de fazer algo assim? De tentar me
separar de alguém, pra benefício próprio? — perguntou com a voz fraca.
— Você tá se esquecendo que da última vez que nos forçou a ter uma
conversa fora de hora, como as coisas terminaram?
— E se eu não fizesse isso, você jamais teria tomado coragem pra dizer a
ele que queria terminar a relação D/s de vocês, pra ficar somente com
Jungkook — retrucou.
O Park grunhiu e puxou os cabelos. Seu rut estava perto, o deixando cada
vez mais irritadiço e agressivo. E a situação presente não ajudava em nada.
— E veja só como adiantou! Ele se recusou a aceitar que a gente não tinha
mais nada, e voltou pronto pra ser o irmãozinho de coleira do meu
namorado! — disse com um sarcasmo tão forte na voz, que o fazia soar
como alguém totalmente diferente da pessoa suave que era.
* flashback *
Jimin caminhava lentamente pela calçada suja, tragando meio sem vontade
o cigarro pela metade. Estava ansioso e era tudo culpa de Jungkook. Em
breve fariam sua primeira sessão de BDSM, e o Park já havia decidido
quais apetrechos e fetiches realizaria com seu novo submisso.
Claro, não tinha intenções de pegar muito pesado, o BDSM era como as
águas profundas do oceano atlântico, e pra quem não sabia respirar
embaixo d'água, o ideal seria permanecer na superfície aprendendo a
nadar por um tempo.
Queria que a primeira sessão de Jungkook fosse perfeita, porque até então,
o ruivinho permanecia apenas na expectativa. E se ele não gostasse? O
garoto claramente curtia ser domado pelo Park, mas e se ele não curtisse o
funcionamento da sessão? Ainda assim ele continuaria com o lúpus?
Aceitaria estar com ele como submisso ou como um namorado?
E esse fora o motivo pelo qual insistira tanto pra que o avermelhado se
tornasse seu submisso. Nunca havia corrido tanto atrás de uma relação
assim. Geralmente as pessoas que vinham até ele e não o inverso.
Mas Jungkook..? Ah, Jeon Jungkook era todo ao contrário e ainda tinha a
audácia de virar o ex-militar de cabeça pra baixo junto consigo.
Desde que o Jeon estava morando em sua casa, por terem quebrado todo o
apartamento durante o cio, Jimin sentia-se mais mexido pelo de cabelos
cereja. Faziam apenas alguns dias que o avermelhado se mudara para sua
casa temporariamente, e aquilo já estava o desconsertando.
O menino acordava com o rostinho inchado e fazendo birra por não querer
levantar, coçando os olhinhos e com um bico no rosto. O lúpus era
obrigado a dar alguns bons tapas estalados no traseiro durinho para que o
mesmo acordasse. E Jimin se praguejava por ficar mirando de forma tão
embasbacada aquela criaturinha linda. Sentia-se totalmente idiota. Nunca
havia se deixado levar por um submisso antes, ainda mais sendo um
novato. E se os seus sentimentos acabassem não sendo recíprocos?
Sempre sentira interesse pelo alfa, e todo aquele joguinho de "aceito ou não
aceito ser seu submisso" haviam-no deixado ansioso e dez vezes mais
interessado.
Faziam apenas alguns dias, cerca de uma semana inteira, mas o ex-tenente
vinha enrolando para contratar alguém para consertar o apartamento do
Jeon. Gostava tanto de tê-lo ali, debaixo de seus olhos, que não estava com
a mínima vontade de vê-lo voltar para a própria casa tão cedo. Não que
Jungkook soubesse disso.
— Sempre que fico realmente nervoso, você sabe. E para com essa coisa de
me chamar de mirradinho, Yoongi hyung, não estamos na oitava série —
respondeu com a voz resmungona.
— Não tente se esquivar, Park, você ainda não explicou pro garoto que o
Taemin é seu submisso há todos esses anos; nem que ele tem uma coleira
sua. Você só contou que passava os cios com alguém. Isso é uma traição,
sabia? — provocou.
E é claro, por terem uma amizade de anos, o Min sabia que o alfa não agia
assim na frente de todo mundo. Park Jimin havia criado uma máscara
social, onde interpretava um papel de aparente seriedade. E embora fosse
sim, um cara maduro e sensato, o lúpus era uma pessoa extremamente
delicada e cuidadosa para com aqueles que amava.
— E eu sou um alfa lúpus — rebateu com a voz reclamona usual, que usava
com os mais íntimos.
Jimin era muito diferente com as pessoas com quem tinha intimidade,
principalmente com as que ele não tinha nenhuma relação de D/s.
Entretanto, costumava sempre ser mais doce que de costume com Jungkook,
desde que se conheceram, talvez por terem criado um certo nível de
amizade ao longo dos anos.
E quando pensava nisso agora, notava que andava muito sério e puramente
sensual com o garoto. Talvez se mostrasse mais do seu lado meigo outra
vez, o de cabelos cereja se apaixonasse.
Mas era isso que queria realmente? Ter Jungkook apaixonado por ele? E se
estivesse apenas confuso? Só o tempo poderia dizer.
— Você veio aqui para pedir que eu fique na sua casa com meus submissos,
durante sua primeira Sessão com o Jungkook. Bem, só vou aceitar ser a
pessoa de confiança de vocês, se você resolver logo isso. Não vou
compactuar com essas coisas, Jimin. — Então o platinado lhe deu as
costas, entrando no estabelecimento novamente e abandonando o alfa
contrariado.
Era uma mentira para o bem da relação deles, porque tinha quase certeza
que Jungkook ficaria puto com aquilo e o abandonaria. Jimin não deixaria
aquilo acontecer de jeito nenhum. Gostava do ruivo. Gostava muito e já
fazia tempo, muito anterior ao dia fatídico em que teve sua condenação de
expulsão das forças armadas e acabaram tendo aquele momento na
cozinha.
Ficar com ele, havia apenas aumentado a coisa toda. Era como dar partida
num carro que já estava com o tanque cheio de gasolina.
E não era como se ele planejasse continuar com Taemin. Ora, se não ficava
com o cara há um par de meses, nesse meio tempo envolvera-se com
Jungkook, e agora estava apenas com ele, bem... na cabeça do Park, ele já
havia terminado com Taemin. Faltava apenas informar isso ao dito cujo.
O alfa platinado sorriu para si. Jimin sentiu-se um falso, sorrindo de volta.
Taemin era um de seus melhores amigos, além de tê-lo servido por um
bocado de anos. Além do mais, sabia que este achava sentir algo mais além
de amizade por si, e terminar a relação apenas faria magoá-lo.
Ainda mais sem saber até onde ia seu relacionamento com Jungkook.
Sequer tinha uma explicação plausível para aquilo, não era a primeira vez
que arranjava um novo submisso.
O problema era que, pela primeira vez, desejava que aquele submisso fosse
o único e não ficasse dividindo espaço com Taemin. Não queria submeter
Jungkook a isso. Principalmente porque sabia que dividi-lo com outras
pessoas, talvez impedisse o Jeon de enxergá-lo de forma romântica, e
porra! ele queria que Jungkook o visse daquele modo, não apenas como
algo sexual, embora sua proposta inicial tenha sido essa.
O lúpus não deveria se sentir tão culpado assim, afinal, nunca teve e nunca
teria uma relação romântica com Taemin. Possuíam uma relação D/s, eram
parceiros de cio e eram grandes amigos. Nenhum desses aspectos o
impedia de se envolver romanticamente com outra pessoa. Taemin já tinha
até tido diversos namorados naquele meio tempo.
Principalmente porque o acordo entre ele e Taemin era bem claro aos dois:
eram solteiros e ficavam com quem bem entendessem, sem ter de dar
satisfações um ao outro.
Ele já havia falado sobre o vizinho alfa de cheiro doce para Taemin, que
somente rira bem na sua cara, por Jimin estar sendo feito de bobo pelo
outro alfa. E este já estava de comum acordo com a possibilidade do ruivo
vir a ser um novo irmão de coleira.
Taemin só não contava que o Park quisesse que Jungkook fosse o único
sub, e ele mesmo jogado pra escanteio.
— Oh, ele disse que você queria conversar sobre meu novo irmão de
coleira — respondeu risonho. — Quando você vai apresentar a gente
oficialmente, Jimin-ssi? Se me lembro bem de quando o vi lá na loja de
conveniência quando fui comprar as cervejas pra você, ele é bem
lindinho... E lá no clube confirmaram isso. Vou querer usá-lo também... —
provocou com a voz maldosa.
Jimin revirou os olhos. Taemin tinha a mania de transar com seus irmãos
de coleira, sempre. Não que o Park proibisse, na verdade até gostava.
Aquilo facilitava a aceitação entre eles, e rendia ótimos threesomes. Mas
com Jungkook não. Nem fodendo Jimin dividiria o alfa de cabelos
vermelhos com alguém. Jeon era seu e apenas seu. Bem, na verdade não
era ainda, mas faria ser, assim que terminasse com Taemin. Proporia a
exclusividade naquela relação, junto a um pedido de namoro implícito.
— Você foi ao clube? Tem só uma semana que voltou do Japão, Tê —
disfarçou, mudando o rumo da conversa.
— Mas você estava passando o cio com o novato, o que eu podia fazer? —
respondeu o outro, contrariado. — Eu precisava de um sexo quente e umas
boas chicotadas, o tempo que fiquei no Japão foi muito ocupado com
trabalho e sexo baunilha com aquele alfa, o MinHo.
— Eu disse pra você que esse Minho curtia alfas e tava te dando mole, mas
você nunca acredita no que eu falo... — devolveu o Park, revirando os
olhos, entediado.
— É, mas você disse que ele parecia um dominador, só que ele é bem
baunilha — Taemin respondeu encarando o chão e fazendo um biquinho.
— Você deveria comprar um sorvete pro seu sub, estou com tanto
calorzinho... — disse o mais alto, dramaticamente, enquanto se jogava de
forma teatral em uma das cadeiras do lado de fora.
— Não foi uma ordem, Jimin-ssi, foi apenas uma sugestão — e então piscou
um dos olhos para o lúpus, de forma falsamente inocente, como fazia
sempre.
— Seu manipulador. Você tem sorte de ser bonzinho nas horas certas. Tô de
olho em você, tá doido pra virar um brat... — murmurou o Dom, lhe dando
às costas.
— Eu acho que não quero mais ser seu amigo — o Park murmurou com um
biquinho típico de quando era contrariado.
— Você repete a mesma coisa há mais de vinte anos, alfa. Já não tem mais
o mesmo efeito, compreende? — alegou, debochado. — Mas veja só...
Como sou seu amigo, e sabendo de coisas que você ainda não sabe, acho
que você deveria perguntar ao TêTê, se tem algo que ele esteja
escondendo...
— Porque você sabe que esses foram os meus termos pra continuar sendo
seu amigo e amigo dele, quando vocês começaram a se comer. Eu avisei
que não escolheria entre vocês dois e que não contaria nada de um pro
outro, não sou garoto de recados. Agora vai lá — terminou dispensando-o e
voltou a dar atenção ao seu sorvete.
— Eu sei até a combinação do sorvete que ele gosta. Por que mesmo nós
não somos um casal? — se perguntou sinceramente, mas logo chegou à
conclusão —: Ah sim, porque eu nunca vi Taemin como algo além de um
amigo querido e uma boa foda. Como poderia esquecer? — bufou. — Eu
me odeio — e então parou de falar, ao se sentar na cadeira ao lado do alfa,
e lhe entregar o sorvete.
— Eu sei, mas é que... Não quero te deixar meio ano com esse submisso
novato, sem que eu e ele nos conheçamos. Vai que esse garoto pensa que
pode roubar você de mim? Preciso marcar território!
Jimin engoliu em seco. Aquela era a hora. Precisava abrir o jogo com o
amigo e submisso, antes que tudo explodisse como uma bomba. Sabia como
Taemin poderia ser rancoroso quando queria.
— Vou fingir que não ouvi isso, Park Jimin. Meu sorvete está derretendo,
dá licença. — Então começou a abocanhar furiosamente a massa gelada,
com uma careta nada boa.
— Não é assim que se calculam as coisas. Nós ficamos pela primeira vez há
dez anos. Nós não estamos juntos desde então. Ou você tá esquecendo que
namorei e noivei com o Taeyang nesse meio tempo aí? — disse em tom de
sermão, com um leve toque de irritação na voz.
— Por que você não consegue acreditar nos meus sentimentos, Jimin? —
rebateu com a mágoa extremamente aparente na voz. — Eu sempre estive
aqui por você. E sou seu amigo há mais tempo que isso...
— Eu sei disso tudo, TêTê. Mas você sabe que sempre te vi como amigo,
certo? Eu te amo, mas não de uma maneira romântica, você sabe. Não
posso te dar mais do que isso...
— Você vai perceber que me ama como eu te amo um dia, meu senhor... —
tentou apelar, chamando-o daquela forma.
— Eu vou cancelar o contrato. Vou ligar pro reitor e avisar que não poderei
passar tanto tempo fora e...
Jimin odiava ver o rapaz assim. Era exatamente esse o motivo pelo qual
ficava adiando esse momento.
Quando Taemin viajou, fora no dia seguinte ao qual Jungkook declarou que
aceitava ser seu submisso. Imediatamente, a vontade de ficar apenas com
Jeon, tomou sua mente. Mas nunca havia feito isso antes. Sempre tivera
vários submissos, numa rotatividade intensa, contudo, Taemin sempre
estivera ali, simultaneamente.
Decidiu deixar aquilo pra lá, mas depois dos três dias de cio com
Jungkook, o lúpus teve certeza: queria ficar apenas com o ruivo. Ainda que
Jungkook não tivesse dito nada sobre querer ou não ficar apenas com ele.
— Esse tal Jungkook sequer consegue te obedecer, você mesmo disse que
ele deve ser um brat! Ele vai te deixar desgostoso, Jimin. Não é disso que
você gosta, de ser contrariado, sabe disso — disse com a voz dura.
Não que aquilo o abalasse. Mas percebeu que não gostava nada de ver
alguém falando do seu Jeon, ainda que essa pessoa fosse Taemin. Então
observou o outro voltar a falar:
— Eu não ligo de você ficar com outras pessoas além de mim, não ligo de
termos uma relação aberta, simplesmente porque sei que você não se
apaixona por ninguém, e a pessoa por quem você mais chega perto de
sentir alguma coisa sou eu — disse cheio de certeza. — Você quer ficar
apenas com esse sujeito? Então fique. Não é como se você ficasse mais que
três meses com um mesmo sub. Sou o único que continua com você, Jimin.
Não importa o tempo que passe. E quando eu voltar, ficarei satisfeito em
continuar nossa relação, como sempre foi, e ajudar a curar seu tédio pós-
Jungkook.
— Taemin, não é assim. Mesmo se eu e ele não dermos certo, não quero
continuar essa relação com você, porque percebo agora o quanto é egoísta
de minha parte, sabendo que você...
— Chega. Nós não vamos terminar, vamos apenas dar um tempo, já que
estarei fora do país. Então nada mudou. Até o semestre que vem, meu
senhor.
— Eu sabia que quando o momento chegasse, seria difícil. Mas pra sua
sorte, eu fiz isso acontecer em um local público, então me agradeça... —
disse meio risonho, tentando descontrair.
Jimin passou as mãos pelo rosto, respirando fundo para tentar manter a
calma.
— Não, não, Yoongi, você não tá entendendo — o moreno disse com a voz
nervosa. — Ele simplesmente levantou e disse que nada tinha mudado entre
a gente, que o fato de eu ficar com Jungkook não mudava nada, já que
nossa relação sempre foi aberta, sempre ficamos com outras pessoas. Ele
pensa que já que vai ficar seis meses fora, e eu nunca cheguei a ficar esse
tempo todo com um mesmo submisso além dele...
— Ora, e só por isso vocês não bateram nem uma punhetinha um pro
outro? O que é só um catarrinho, Jimin..? — zombou.
— Você é uma pessoa horrível, Min Yoongi... — o alfa riu, jogando o corpo
pra trás. — Ele está realmente mal, sentindo dores no corpo, sono em
excesso, esse tipo de coisa. Ele nem tem ido trabalhar...
— E não vai se despedir? Não vai me dar nem um abraço? — gritou para
que o outro escutasse, já que estava distante.
— Diga que me ama, seu ingrato, frígido, mau caráter... — Jimin disse com
a voz reclamona outra vez.
Assim que viu o dominador, Taemin abandonou a grande sacola preta que
usava pra recolher as garrafas de bebida que o novo relaxado Park havia
deixado pela sala.
— Se me chamar assim outra vez, não vou mais ouvir você se explicar.
— Por que a gente não se senta? — o ômega tentou amenizar, fazendo sinal
pros dois amigos. Estava ali apenas pra mediar a situação, não tomaria
partido em nada.
Os três sentaram-se nas poltronas, e o Park encarava o ex-submisso de
braços cruzados, claramente bravo.
— Tudo o que eu fiz... Jiminie, eu fiz porque te amo. Eu espero por você o
tempo que for...
— Você não deveria estar com ele! Fazem seis meses! Você nunca ficou
com uma mesma pessoa por tanto tempo assim! — o alfa retrucou, na
defensiva.
Finalmente o lúpus entendeu tudo, cristalino como água. Tudo aquilo o que
se negava a ver, preso em sua fuga cheia de negação. Era culpa dele, afinal.
Ele quem havia sido irresponsável em manter aquela relação com Taemin
ao longo dos anos.
Não deveria ter feito pouco caso dos sentimentos alheios. Deveria tê-los
levado à sério. Acabava de se dar conta de todo o sofrimento emocional que
havia causado ao submisso, e a tortura à qual o submetia, usando-o à bel
prazer, quando o coração do outro alfa o amava desesperadamente, e como
um bom submisso, aceitava todas as suas regras, os seus caprichos e
imposições. Tudo para que pudesse tê-lo para si, afinal, estar com ele e ter
que dividi-lo, certamente era melhor do que não tê-lo de modo algum, era
assim que a maior parte avassaladora de submissos pensava. Taemin
obviamente não pensava diferente.
— P-por favor, não... Jimin-ssi, por favor, não m-me deixa — Taemin disse
chorando tanto, que mal era possível entender suas palavras. — Eu não fui
bom pra você? Sempre fui o seu sub bonzinho, o seu garoto, o seu alfa! —
disse com a voz abafada. — Ninguém vai te amar como eu... Ninguém vai
te servir com tanto empenho como eu. Taeyang nunca foi a pessoa certa pra
você, ele não te respeitava, não te merecia!
Agora era o mundo do Park que desabava. Não podia acreditar. O tempo
todo, Taemin era quem destruía seus relacionamentos. Era ele o causador
dos seus rompimentos, o responsável por apagar suas alegrias, sem que ele
se desse conta.
Se sentia traído. Traído pelo amigo em quem confiou por tantos anos. Se
sentia enganado. Mas ao mesmo tempo era incapaz de sentir ódio dele. A
culpa maior era sua, afinal. Era sua culpa que as coisas tivessem chegado
àquele ponto. Ele estava terrivelmente ciente disso agora.
Yoongi observava a tudo calado, sentindo pesar por ambos. Ele sempre
soube que aquele momento chegaria. O momento em que o coração de seus
dois amigos seria totalmente quebrado. Mas tinha os avisado um bocado de
vezes ao longo dos anos. Era uma pena que os malditos alfas não lhe
dessem ouvidos.
Com o coração partido outra vez, Jimin viu seu ex-submisso e ex-amigo ser
levado embora, aos prantos, destruído. Jimin seria capaz de se perdoar?
10 anos atrás
— E aí, calouro. Me deixe ver o que fizeram com o seu cabelo... — Yoongi
já foi puxando o quepe branco da cabeça do militar. Jimin sorriu sem jeito,
e fez careta ao ter a cabeça de fios curtíssimos revelada. — Minha nossa...
Passaram máquina 1 em você! — o avermelhado danou a rir. —
Irmãozinho, o formato da sua cabeça é esquisito!
— Ei, TêTê! Esse é o famoso Park Jimin! Jimin, este é Lee Taemin, meu
amigo do curso de dança.
— Ei, ei, ei! Se aquieta, seu Dom Juan do inferno! — Yoongi ralhou. —
Não caia nos encantos dele, TêTê. Sério, eu tô te avisando, Jimin é um
galinha.
— Então, Taemin-ssi... Você vai ao clube com a gente semana que vem?
— Provavelmente.
— Então é mole. — Fez pouco caso. — Cara, esse campus é muito massa!
Sinceramente, o único defeito da Academia da Força Aérea, é ser em
regime de internato.
— Deve ser bem ruim ser adolescente e não poder curtir sua liberdade... —
Taemin comentou, puxando assunto.
— Vinte.
[...]
Naquela época, Jimin ainda insistia em ficar com fêmeas, quando estas
eram alfas. O corpo feminino não lhe parecia atraente, mas o aroma forte e
amadeirado, sim.
[...]
— Jimin, espera aí, eu preciso atender ao telefone! — o alfa disse, entre
risadinhas, tentando escapulir do corpo menor e mais pesado, em cima do
seu.
— Não! — o Cadete resmungou. — Meu pau tá duro, TêTê, meu pau é mais
importante que esse telefone...
— Não é não. Quem tá ligando é a minha mãe, ela sempre liga nessa
horário. Se eu não atender pra dizer que tá tudo bem, meus pais surtam e
pegam um jatinho de volta até aqui, imediatamente...
— Oi, mãe! Sim, tá tudo bem sim... Uhum, já comi. Não, mãe, não vou
trazer ômegas pra casa — revirou os olhos, vendo Jimin rolar de rir no
sofá. — Não, mãe, nem betas também. Sim, eu sei, camisinha e
contraceptivos quando estiver no cio. Eu não vou engravidar ninguém! —
afinou a voz, alarmado.
— Volta pra cáaaaaaa — Jimin resmungou, com sua típica voz reclamona,
que sempre usava pra manipular com aquela maldita fofura.
[...]
9 anos atrás
Ouviu uma fungada alta ao seu lado, e volveu-se para a pessoa deitada a
seu lado no colchão.
Taemin sorriu de lado, ao checar mais de perto as marcas feitas por ele no
corpo do moreno. E então observou o próprio corpo, cheio de manchas
roxas, arranhões e marcas de tapas. Jimin era praticamente um animal
completo na cama. E Lee Taemin havia adorado, assim como tinha
adorado a vez anterior, meses atrás, em que aquela amizade fora um pouco
além.
Lembrando-se de flashes dos três dias de rut do militar, ele mordeu o lábio,
apreensivo. Ele queria marcar Jimin. Suas gengivas coçaram, as presas
lupinas querendo descer e rasgar as mucosas. Aquilo não seria possível,
seria? Um alfa comum, sentindo vontade de marcar um alfa lúpus?
[...]
— Vocês vieram! — Taemin exclamou, todo contente.
— Meu Deus, você é uma coisa fofa, TêTê! — Jimin retrucou, apertando a
bochecha do amigo, que já tinha os olhos um tantinho caídos e um sorriso
frouxo nos lábios cheios. — Te amo. Feliz aniversário, hyung!
O alfa esguio sentiu suas bochechas corarem — sabia não ser pelo efeito
do álcool na corrente sanguínea, mas sim pela fala do amigo, que
constantemente mexia consigo e fazia suas pernas vacilarem.
[...]
— Tá tudo bem, Jiminie. É sério. Vai logo, não deixe ele esperando,
Taeyang hyung detesta atrasos — disse em tom de aviso, arqueando uma
sobrancelha.
— Por que insiste em mentir, TêTê? — perguntou. — Por que não disse a
Jimin que não queria que ele saísse com Taeyang?
— Não sei do que você tá falando — o alfa fez pouco caso, levantando-se
do estofado. — Acho que vou dormir, tô um pouco cansado. Boa noite,
hyung.
— Você pode ser bom em manipular o Jimin, mas não a mim. Eu sei que
você tá mentindo, Tê. Te conheço como a palma da minha mão. Você gosta
dele.
— Isso não vai acontecer. Jimin é... um espírito livre — rebateu. — Ele não
é do tipo que se prende à alguém por muito tempo. Eles vão ficar algumas
vezes, e logo Jimin vai enjoar.
— E se não enjoar? Pra tudo tem uma primeira vez. Não é porque Jimin
nunca se relaciona à sério com alguém, que isso não possa acontecer.
Porque vai acontecer, TêTê. Em algum momento ele vai se apaixonar, Jimin
não é arromântico nem nada, ele só vive ocupado com os estudos, e acaba
não tendo tempo pra romance, por isso ele acaba sendo galinha, como você
sabe...
— Tá legal, mas ele e Taeyang não tem nada a ver! — Deu um sorriso
debochado forçado. Porque ele não estava debochando, realmente. Ele
estava com medo, mas estava desesperado para ocultá-lo. — Conheço os
dois como a palma da minha mão. Eles não combinam. Isso não vai durar.
Taeyang é preconceituoso até mesmo com pessoas que se relacionam com
os de mesma classe. No segundo em que ele souber que Jimin também curte
alfas, ele vai se afastar...
— E se ele nunca souber? Jimin não espalha as preferências dele por aí,
sabe...
— Eles não vão ficar juntos, já disse. Não estou preocupado. E também não
estou apaixonado por ele. Jimin é meu melhor amigo, assim como você e
Taeyang. Agora, boa noite, hyung. Não fique a noite inteira no computador,
faz mal pra vista, especialmente a vista lupina. — E com um sorriso
forçado, subiu as escadas.
[...]
8 anos atrás
— Como assim "o que tem demais", amor? — o militar rebateu, em tom
quase indignado. — Você não ouve nada do que eu falo? O T-25 é a
primeira aeronave de instrução básica que a gente pilota na Academia de
Aviação! Até agora eu só tinha pilotado em simulados, tipo video-game. Eu
espero por isso desde meus tempos de calouro!
[...]
7 anos atrás
— Ah, ocidentais são tão bonitos... — Jimin resmungou, com a boca cheia,
olhando pra tevê gigantesca na parede do Min, recostado dentro do abraço
do noivo, sentados no tapete felpudo.
Sentado no sofá, atrás do casal, estava Lee Taemin, emburrado. Mas ele
ouvia com atenção à conversa dos amigos.
[...]
Taemin desviou o olhar pra porta do quarto, ao ver Yoongi e seus fios
recém-tingidos de azul, o fitarem do portal, chamando-o com o dedo.
O Lee suspirou, abatido e pesaroso. Acima de tudo, ele sentia uma culpa
que corroía até o fundo de sua alma.
Jimin não merecia alguém assim. Jimin era o homem mais maravilhoso que
Lee Taemin conhecia. Ele merecia alguém que fosse bom pra ele, que o
cuidasse, o servisse e vivesse totalmente devoto a ele, coisa que Dong
Taeyang jamais faria. A única preocupação do beta, era em terminar a
faculdade de Direito, e finalmente tornar-se sócio no escritório da
madrasta. Jimin era a última das preocupações na lista de prioridades
dele, e Taemin sabia disso.
Aquela era uma culpa que ele teria que carregar pro resto de sua vida.
[...]
— Jiminie... Por que você me deixa sozinho, pra se agarrar com todo
mundo, poxa? Você é tão mau comigo... — Fez um bico manhoso.
— Oh, o lobinho quer atenção, uh? Por que você não aproveita pra ir à
caça? Já fazem anos que você frequenta a The Cave, e até agora não
arranjou um Dom fixo pra você!
— Por que quer tanto que eu arrume um Dom? É pra se livrar de mim? —
rebateu, chateado.
— Claro que não! É porque sei que você gosta da coisa... — o Park lhe
lançou um sorriso depravado. — E eu lembro muito bem o quanto você
gosta... — flertou, um pouco bêbado, referindo-se à experiência que os dois
compartilharam juntos, anos atrás, logo do início daquela amizade.
— Não seja por isso — ele respondeu, puxando o alfa mais alto pela mão,
para fora da boate, em direção à sua casa.
[...]
3 anos atrás
— Apaixonado? Não vá tão longe, TêTê. Sabe que eu não faço isso. Eu não
me apaixono.
— Não vai mais vender a casa? Vai continuar morando lá, só por causa
dele? E diz que não está apaixonado?
— Aigoo, TêTê, por que está tão preocupado com isso? — o militar disse se
levantando e enchendo sua xícara de café. — Está com ciúme? — Deu um
risinho brincalhão. E logo em seguida precisou fugir do controle remoto
sendo atirado em sua direção.
[...]
2 anos atrás
— Eu também acho ele maravilhoso. Pra mim, seria incrível ter um irmão
de coleira switcher. Porque, quando estivéssemos só eu e ele, ele poderia
me dominar. Mas me preocupo em relação à você. E se ele não for muito
obediente e te afrontar?
Jimin foi até a cozinha, e em seguida voltou com uma caneca de café
quente em mãos, com uma expressão sonhadora no rosto bonito e anguloso.
— Sabe quem seria um irmão de coleira perfeito pra você? — disparou, de
repente. — Jeon Jungkook! — E deu um sorriso malicioso.
— Aigoo, mas é tão, tão difícil... Você diz isso porque nunca viu ele. É
sério, TêTê, Jungkook é lindo demais! Ele é sexy e fofinho, ele... —
Suspirou, colocando a mão no lado esquerdo do peito. — Ele me deixa de
pernas bambas. Se eu não fosse tão controlado, já teria lascado um beijão
naquela boquinha gostosa dele... — disse com o olhar longe, perdido. — A
boca de Jungkook parece tãaaao apetitosa...
Ele já tinha visto aquilo acontecer uma vez. Com Taeyang. Foi exatamente
assim que começou. Por três meses, Taemin ouviu o Park devanear e se
rasgar em elogios por Dong Taeyang, até receber a brutal e destruidora
notícia de namoro dos dois. O Lee não aguentaria passar por aquele
inferno outra vez.
Já faziam 7 anos que o alfa se tornara submisso de BDSM do outro. Há 9
anos, ele se dispunha a ser o parceiro de cios do militar. Há 10, Taemin
vivia por Park Jimin, entregando-se e servindo a ele, como um devoto.
Quando diabos o AlphaDome perceberia que a pessoa certa pra ele estava
bem ali?
VOTE #CobraSorrateira
É uma história DE CADEIA, gente, então quer for muito sensível e metido
à moralista, é melhor passar longe kkkkkk Mas quem conseguir entender
que os personagens são criminosos, e que agem como tal, se joga! É uma
leitura profunda, os personagens são intensos, é uma história bem mundo
real, sabe? Eu diria que ela tem essa mesma pegada de história adulta de
incandescente. Então é isto, leiam CONDENADOS! Puta livro do caralho!
33| fullgas
#CobraSorrateira
Jungkook se sentia vazio. Mas ao mesmo tempo prestes a pirar. Sem Jimin,
era como estar enfrentando seu próprio inferno particular. Nada ia bem.
Nada era feliz.
Mas essas eram possibilidades que ele jamais poderia tirar a prova. Não
havia mais tempo. O castelo de cartas já havia ruído.
A verdade era que Jungkook nunca se achara digno de amor, e por isso
tinha medo de ser enganado. Não confiava nas pessoas. E não estava
acostumado a ser amado.
Porque o amava. Simples assim. Jeon Jungkook amava Park Jimin, e era
inaceitável levar o seu amor à beira do abismo. Aquele era o caminho de
todos os relacionamentos. Os problemas e as diferenças aumentavam com o
passar do tempo, fatores internos e externos se sobressaíam em meio ao
caos, e assim as relações se desgastavam.
Aquela era uma noite fria. O ruivo se levantou da cama e meteu os pés nas
pantufas pretas de coelho que havia ganhado do dominador no natal
passado. Olhar pra elas lhe causava nostalgia, saudade. Mas ao mesmo
tempo servia como o lembrete físico de que aquilo tinha mesmo acontecido.
De que ele e Park Jimin haviam estado juntos, que mesmo por um período
efêmero haviam existido, como dois que se tornaram um. Como duas
pessoas que se pertenceram em quase todos os níveis que poderiam se
pertencer. Foram um do outro, por um breve momento. E Jungkook jamais
esqueceria disso.
Parado na frente do espelho do banheiro, ele fitou seu rosto bonito. Haviam
olheiras abaixo de seus olhos, e a despeito dos calmantes que usava pra
dormir; a face estava abatida. Os cabelos estavam desbotados, chegando ao
conhecido tom cor de salmão.
Ele não parecia bem e realmente não estava. Mas sua aparência bagunçada
não era nada, se comparada à sua bagunça interna.
Jeon ouviu seu celular tocar no quarto, e, imediatamente seu coração deu
um pulo, batendo tão forte que machucava o peito. Era sempre assim.
Qualquer notificação do telefone o deixava alarmado, porque em seus
desejos mais profundos, seria Jimin atrás dele.
Ele parou no meio do corredor, pondo a mão no peito. Não era justo que a
mera possibilidade de ouvir a voz do dominador, o fizesse quase gritar de
animação. Mas não era Jimin. Nunca era. E ele, racionalmente, agradecia
por isso. Não teria forças para rejeitar o moreno uma outra vez e sabia
disso.
O ex-militar vinha respeitando bem o seu espaço. Tentara ligar pro ex-
namorado todos os dias na primeira semana, mas na segunda não houveram
mais ligações. Houve o dia em que Jimin bateu à sua porta, bêbado, em
meio à chuva. E o Jeon se sentiu muito perto de ceder, mas foi firme e
segurou a decisão.
Ele sentia tanta saudade, que não era mais capaz de aguentar. Doía bem na
sua alma, e aquela dor nunca passava, mesmo após um mês inteiro do
término da relação.
Jimin queria dá-lo espaço, queria que o garoto pensasse melhor, que
voltasse atrás, que se desse conta que ele o aceitava mesmo com todos os
seus defeitos, que não esperava que ele fosse perfeito, mas que com o
tempo amadurecessem juntos. Que construíssem aquele amor juntos, e
aprendessem a ser pessoas melhores um pelo outro.
Porque se de uma coisa o Park estava certo, era de que jamais desistiria de
Jungkook por vontade própria. Jamais desistiria dos dois.
Mas Jungkook havia desistido. E isso magoava o mais velho tão fortemente,
que ele era incapaz de insistir ou tentar convencer o garoto do contrário.
Sentia-se rejeitado.
Aquela foto representava a forma que o Park o enxergava. Aquele era o seu
menino, o seu alfa, o seu amor, seu eterno bebêzinho.
Jungkook fora o único submisso a usar aquela masmorra. Estar ali, era o
mais perto de Jeon e suas memórias com ele, que o lúpus poderia chegar.
Muitas das roupas do ruivinho ainda estavam espalhadas pela casa do ex-
coronel, e este não fazia a menor questão de devolvê-las. Aqueles eram os
seus lembretes do tempo em que Jeon Jungkook fora seu. Eram a prova de
que o garoto não era produto de sua imaginação, mas sim alguém que ele
amou com toda a intensidade que podia.
Assim como o Jeon, Jimin sabia que seria impossível esquecê-lo tão cedo.
A distância parecia tornar aquele sentimento ainda mais forte, e o Park se
culpava por tê-lo perdido.
O lúpus havia passado todo o seu rut dopado. Além de não ter o alfa de
genes ômegas para satisfazê-lo, não havia clima. Seu coração estava
partido, e nada o impediria de pensar obsessivamente no quanto queria
aquele que partiu seu coração, ali consigo. Queria Jungkook, e apenas ele.
Ele chorava não só por Jungkook, mas por Taemin também. Sentia que
havia falhado, falhado como amigo, como namorado, e como dominador
com os dois submissos. Sentia, pela primeira vez na vida, que não era digno
e nem responsável o suficiente para ter a vida de alguém em mãos. O
pensamento sombrio de que ele deveria se aposentar do BDSM, rondava
sua mente. Um erro seu, e duas pessoas saíram feridas, além dele próprio.
— Não tem problema. Hoje não tá tendo nenhum movimento mesmo. Vai
pra casa. Você não anda bem... — o amorenado comentou, preocupado.
— Sei que você acha meus assuntos profundos demais, "coisas chatas de
nerd", como repete sempre, pra implicar comigo — Namjoon deu uma
risadinha curta, sendo acompanhado pelo alfa —, mas é bom ter alguém
com quem conversar sobre essas coisas, sabe? Alivia a tensão interna.
— Acho não, tenho certeza. Faça isso, Jungkook, vai ser melhor pra você.
Não gosto de te ver tão tristonho assim, e aposto que você mesmo também
deve odiar. — Sorriu fraco. — Quer um abraço? — Namjoon indagou.
E então Namjoon o puxou pelo ombro lhe deu um rápido abraço de urso,
terminando com tapinhas fracos nas costas, antes de ir pra dentro do
estoque.
Quando Jungkook se virou pra saída, deu de cara com um rosto conhecido:
Cabelos castanhos na altura dos olhos, rosto comprido, nariz pequeno, olhos
grandes e boca em formato de coração.
Jung Hoseok.
O desbotado viu naquele rosto, sua casa. Hoseok era sua família. Era seu
porto-seguro. Estar sem ele e sem Jimin, ao mesmo tempo, era como
quebrar as duas pernas, porque aqueles dois eram suas pessoas favoritas no
mundo.
Se lembrou então, das palavras de Jimin para si: "Você não pode culpá-lo
por te amar." e ele soube que o Park estava certo. Hoseok merecia ser
ouvido, pelo menos. Não merecia ser crucificado, como um criminoso, por
ter se apaixonado ou escondido aquilo dele.
Sabendo que aquela seria uma noite longa e difícil, Jungkook olhou ao
redor e pegou a garrafa de champagne mais cara da loja.
— Por que não pega algo mais barato? Champagne é pra festividades...
[...]
Se arrependeu amargamente.
Jimin encarou a mãe alfa, Park Saem, elegante em seus salto altos, que
nunca tirava, sequer pra ir ao banheiro. Ela usava o mesmo terninho de
sempre, marcando a cintura — ela reclamava de ser muito reta, ao contrário
do marido beta, que tinha um corpinho violão.
A mulher era um tanto alta, mais alta que o filho e o marido, era certo. E os
saltos a deixavam ainda maior. O cabelo comprido, negro como a noite, era
preso sempre do mesmo modo: um rabo de cavalo comprido e brilhoso.
Ao contrário do filho, ela tinha olhos grandes e nariz fino, mas seus lábios
carnudos eram idênticos, além dos dedinhos e coxas grossas, como Jimin.
Jimin fechou a porta, saindo de seu transe assustado, e correu pra sala, onde
os pais largavam as bagagens. E então precisou lidar com o pai beta
observando cada cantinho da sala, com uma expressão desacreditada na
face, e as mãos na cintura.
— Não foi bem uma festa, paizinho — mentiu na cara dura —, só chamei
alguns amigos pra cá ontem à noite, pra beber e... jogar vídeo-game.
— Ah, sabe o que é... — coçou a nuca e deu um sorriso forçado, sem graça.
— É que quem providenciou o console foi o Jungkook, meu vizinho ali do
prédio da frente.
— Não acha que está fumando demais? — ChinHae apontou pros vários
cinzeiros cheios de bitucas apagadas nas mesinhas. — Você por acaso está
tentando morrer antes do tempo?
— Paizinho... — Jimin murmurou, cansado. Seus pais não deveriam ver
aquela bagunça. Não deveriam vê-lo daquele jeito, acabado, desleixado, no
fundo do poço. Por que diabos eles não avisaram que estavam vindo pra
cidade?
— Não ligue pra ele, sabe como ChinHae é dramático. Nós estamos aqui
pra cuidar de você, pitiquinho. — E deu um beijo na bochecha de Jimin,
limpando a mancha de batom logo em seguida, com os dedos roliços
adornados de unhas azuis. — Agora vá lá pra cima tomar um banho e ficar
cheirosinho, uh? Eu e seu pai vamos limpar isso aqui. — O empurrou em
direção às escadas, dando um tapa estalado na traseira do mais baixo.
— Ei, não precisa disso! Vamos pedir comida pelo telefone... — ele disse,
com a voz reclamona.
— Onde está Yoongi? Chame ele pra almoçar com a gente! — o beta
declarou animado.
— Ignore seu pai — disse Saem —, eu faço isso — deu de ombros. — Por
que não o chama pra almoçar com a gente, então? Eu sempre vejo os vídeos
e as fotos que ele posta na internet. TêTê é um excelente dançarino! Uma
estrela! Ele já voltou do Japão, não já? Vimos a foto que ele postou de
vocês três juntos um dia desses... Os três mosqueteiros! — a mulher disse
contente.
— E não era você que 'tava ainda agora se rasgando em elogios pro meu
amigo alfa, que tem metade da sua idade? — Jimin rebateu. — Você não vai
falar nada sobre isso, mãezinha? Ele disse essas coisas bem na sua frente!
— arregalou os olhos e inflou as bochechas, em estado de pura indignação.
Jimin se engasgou com a própria saliva. Seus pais não sabiam de suas
preferências sexuais. Não sabiam sobre seus gostos por alfas e betas,
somente. E, principalmente, não sabiam sobre sua amizade colorida com o
amigo Taemin. Então, aquela insinuação era absurda demais.
Jimin, quase suando frio, sentou-se à mesa e deu atenção à caneca de água
quente onde colocaria seu café solúvel.
— Você não perde esse vício em café? — o beta trocou de assunto. — Seus
dentes vão ficar amarelos e isso ainda vai te causar uma gastrite, sabia?
Jimin estava, pela primeira vez, genuinamente feliz. A visita dos pais estava
acontecendo em boa hora — a despeito da surpresa tê-los feito verem o que
não deviam. Contudo, Jimin precisava daquilo. Andava indo de mal a pior,
triste, desleixado, amargurado. Curar um coração partido, não era mole.
Estar com seus pais, tão amados, era como receber um edredom cheiroso e
quentinho, após uma noite de frio.
Ansioso pra saber quem era, o moreno abriu a porta sem verificar pelo olho
mágico, outra vez. E seu coração quase pulou do peito, quando se deparou
com Jungkook ali.
— Não o vi hoje, mas ele estava por aqui ontem de manhã, quando sai pra
trabalhar — respondeu. — Eu dei até um pouco de ração a ele. Quer que o
leve pra você, se ele aparecer por aqui de novo?
Ah, Jungkook tinha ido até ali na maior contravontade. Se não estivesse
realmente preocupado com Minzy, jamais teria ido até a porta do Park, pois
ele sabia que ver o militar de pertinho outra vez mexeria com sua cabeça, e
enfraqueceria sua decisão e autocontrole já deliberadamente frágil.
— Gatos se apegam muito à casa onde moram. Ele deve estar um pouco
confuso, depois de ter morado um tempo aqui... — explicou o moreno, todo
suave e gentil.
— Hmn... sim. De qualquer forma, não precisa dar comida pra ele, Jimin.
Você pode enxotá-lo lá pra casa, quando ele aparecer pra incomodar...
— Oh, o do vídeo-game?
— Aposto que bebeu todas, como você. Ele parece mesmo de ressaca —
disparou ChinHae.
— Olha, vocês deixaram uma bagunça por aqui — o beta tornou a falar. —
Aposto que você ainda nem comeu — disse ao Jeon —, igualzinho a esse
daqui — cutucou o filho na cintura.
— Lámen? Um alfa não pode viver de lámen! Venha, você vai almoçar
conosco.
E foi esse desespero que fez o moreno dar um passo pra trás e convidar o
Jeon a entrar.
— Menino, quer fazer o favor de entrar logo? — o beta ChinHae disse com
a mão na cintura, achando um absurdo ter sua comida rejeitada. Park
ChinHae era muito sério quanto aos seus dons culinários, desde quando
trabalhava como cuidador de crianças.
— Tá escorrendo aí no cantinho...
— Ela é linda, não é? — disse o beta, a abraçando. — Ela sorriu pra mim,
trinta e dois anos atrás, e BAM! Eu já estava caidinho aos pés dela...
A alfa riu até ficar vermelha, e então depositou um selar no topo da cabeça
do marido.
— Jimin, para com isso — ele murmurou, quando os Park mais velhos
estavam ocupados conversando um com o outro. — Eu não sou seu bebê!
— É sim. Pra mim, sempre vai ser... — e não conseguiu sequer esconder o
tom meloso na voz sussurrada.
E essa pergunta, era aquela que fazia Jungkook querer morrer. Era o cheiro
ômega mesclado ao aroma alfa, que fazia as pessoas ficarem tão confusas
sobre ele. E geralmente, horrorizadas.
Jungkook não conseguiu segurar o riso, e quase cuspiu o suco que bebia.
— Sua cabeça não é grande agora, mas acredite quando digo: você nasceu
cabeçudo — declarou o beta.
Jungkook fez algumas reverências, mas antes que pudesse sair da cozinha,
Jimin se levantou e o segurou delicadamente pelo braço.
Mas essa, definitivamente, não era a resposta que o moreno esperava. Ela o
fez murchar como um balão de festa. Até mesmo seus ombros se
encolheram, na mais pura decepção. Não que quisesse ouvir que o mais
novo estava sofrendo, mas queria saber se o rompimento estava sendo tão
ruim pra ele, quanto vinha sendo pra si.
— Hmn... Sim.
— Eu... Passei meu rut dopado também — o Park revelou, meio sem jeito,
mas sem deixar de encará-lo intensamente, como de costume. — Eu
preferia ter passado com você — disparou.
Jimin gostaria de dizer mais que isso. Gostaria de puxá-lo pela cintura com
uma das mãos e agarrar seus cabelos com a outra, enquanto roçava seus
lábios nos dele e deixava suas respirações se mesclarem. E queria dizer-lhe
o quanto ainda o desejava, em como o amava e o queria consigo outra vez.
Que aquela separação forçada era insuportável, e que ele não aguentava
mais ficar sem o seu bebê.
E então não disseram mais nada. Não podiam dizer. Eram tantas coisas que
queriam declarar um pro outro, que sufocava. As palavras engasgavam,
morriam na garganta.
Jungkook desejava dizer que gostaria de ser outra pessoa, e que a única
coisa os impedindo de ficarem juntos, era ele mesmo. Ele e seus defeitos.
Ele e sua falta de maturidade pra controlar o próprio ciúme. Ele as
paranoias, que de tão reais pra si, transformavam sua mente em seu próprio
inferno particular.
E queria dizer também, que por mais que seu coração acreditasse que Jimin
dissera a verdade sobre ter encerrado a relação com Taemin há tempos, e
sobre não tê-lo procurado aquela noite por vingança, sua mente duvidava.
Sua maldita mente problemática não conseguia confiar em ninguém.
E pensar que aquela traição era verdade, machucava quase tanto como se
tivesse certeza de ela ter realmente ocorrido.
Já Jimin, queria dizer-lhe que se sentia afundando sem ele. Que sentia-se
infeliz, vazio, sem amor. Que queria Jungkook e todos os seus defeitos de
volta, que queria tê-lo todos os dias em seus braços, fosse num dia bom ou
ruim. Que mal conseguia acreditar no quanto sua vida e o seu eu pareciam
ter virado de cabeça de pra baixo, com a ausência do ruivinho malcriado.
Mas Jimin tinha medo da rejeição. Não era só Jungkook que se sentia
frustrado diante disso. O ruivo possuía um histórico de rejeições, por conta
dos genes ômegas, a começar pela rejeição dos pais. E embora Jimin
sempre conseguisse tudo o que queria, quem queria, e quando queria, a
rejeição do ex-noivo Taeyang havia deixado marcas profundas em sua alma.
Jimin queria poder se confessar ao Jeon ali, e pedi-lo que voltasse pra ele.
Mas Jungkook não estava se demonstrando arrependido de tê-lo
abandonado. Dissera que estava ótimo, até. E por isso o ex-militar deduziu
que, provavelmente, Jungkook já o estivesse superando.
O próprio Hoseok, que era amigo de anos do rapaz, havia lhe dito que
Jungkook sempre fora de se apaixonar e desapaixonar por várias pessoas,
com certa frequência. De três em três meses, ou algo assim. E então o alfa
lúpus percebeu que, talvez, ele tivesse sido apenas mais um na vida do
ruivo.
Jungkook sabia que se o Park chegasse perto o bastante, ele não seria capaz
de rejeitá-lo. Era muito fraco pra isso. Era viciado demais naquele alfa
lúpus, em seu cheiro, seu toque, no calor de sua pele...
— Ei, tem um gatinho aqui! Acho que é o seu gatinho, Jungkook-ssi! Iti,
você também é um pitiquinho... — a mulher disse ao felino, provavelmente
fazendo carinho nele.
— Ei, fugitiva. Sua casa é do outro lado da rua, viu? — disse à Minzy. —
Não seja uma interesseira. Sei que a casa de Jimin hyung é maior e mais
bonita, e que ele te compra com ração cara. Mas seu pai sou eu, tá legal?
Sua sonsa!
— Ah, é que... Eu não sabia o sexo dele até uns meses atrás. Achava que
era menina — explicou, meio sem graça. — Foi Jimin hyung quem me
disse que era um rapazinho. Mas como gatos não falam com a gente, eu não
tenho como saber se Minzy prefere ser um garoto ou uma garota. Então o
chamo tanto no masculino, quanto no feminino, porque meu filho pode ser
o que ele quiser.
— Obrigado, mais uma vez, pelo ótimo almoço. Agora eu já sei porque
Jimin é uma pessoa tão boa. Foi um prazer conhecê-los — Jungkook
agradeceu uma última vez, fazendo uma curta reverência com o gato no
colo.
Jeon, transparente como era, foi incapaz de esconder seu rosto surpreso e
temeroso. E Minzy ter pulado bruscamente de seu colo, não ajudou em
nada.
Sem nem ter tempo de pensar no que poderia vir a desenrolar daquilo,
Jungkook automaticamente puxou o tecido pra si.
— Oh, sim. Eu não lembrava que tinha deixado ela aqui... — comentou
mais pra si mesmo, do que para o outro. E só então sua ficha caiu: como
diabos explicaria o motivo de ter um pijama seu na casa do vizinho?
Jungkook deu dois passos pra trás, um pouco assustado. Do jeito que o
homem falava, parecia que estava prestes a ameaçá-lo de morte.
E após aquela declaração, o beta abriu a porta e se pôs pra dentro, lançando
uma última olhada significativa ao garoto.
Esqueci de avisar que os perfis dos Jikook de INC estão de volta ao twitter,
sendo administrados por mim e pela thedevilsdolly! Essas contas novas tem
os mesmos users anteriores (cherrysubjk & ALPHASDOMINATOR)
mas foram criadas do zero, então quem já seguia, precisa ir lá seguir de
novo. Abraços ;)
34| pleasure comes from pain
#CobraSorrateira
Mais uma manhã onde Jungkook acordou se sentindo pior do que nunca.
Não bastasse a fossa pós-término com o Park, toda a culpa que sentia com
isso, suas questões de saúde e a importante decisão que precisava tomar
quanto ao tratamento de reversão e genes, agora havia mais um incômodo
pra lista:
Os pais de Jimin.
Jungkook entendia o lado do homem, afinal, qual pai que ama o filho e não
o defende com unhas e dentes? De certo modo, ele sentia até inveja.
Inveja porque seus pais nunca foram assim. Nunca o defenderam, pelo
contrário: sempre assumiram que a culpa era dele, que ele era o errado da
história, em qualquer situação, antes mesmo de saber o que estava
acontecendo realmente.
Especialmente depois de perceber, mais uma vez, que era incapaz de ouvir
o nome de Lee Taemin, sem sentir seu coração doer e uma raiva furiosa se
alastrar por todo o seu corpo. Aquele ele era seu lembrete do porquê ele e
Jimin não dariam certo juntos.
E era seu amor pelo dominador, que o fazia ser altruísta o suficiente para
romper com ele, pelo bem do Park.
Por agora, Jeon sabia que estava machucando Jimin. Todavia, estava certo
de que o moreno o esqueceria, eventualmente, assim como havia superado o
ex-noivo e todos os outros romances que já havia tido. Era assim que as
coisas eram. Ninguém era insubstituível. Amores vem e vão.
E se sua relação com o Park já não era mais saudável, na maior parte por
culpa dele mesmo e de seu psicológico fodido, então Jungkook estava
sendo mais que maduro e racional ao encerrar o romance entre eles. Era
isso ou dragar Jimin consigo pro seu abismo de angústias; o que não era
justo, realmente. Jimin tinha uma mente saudável, afinal. Não merecia
adoecer junto com ele.
O que poderia fazer, no fim das contas? Ele somente poderia controlar a
forma como agia em relação aos seus sentimentos ruins — em especial, o
ciúme —, se fosse capaz de controlar a própria mente. Mas, infelizmente,
era o inverso que acontecia: sua mente que o controlava.
E não ser aprovado pelos pais da pessoa que ama, é um pé no saco. Mesmo
que Jungkook não tivesse a menor intenção de reatar a relação.
Mas no momento, o Jeon não se sentia nem um pouco no clima para voltar
a frequentar a The Cave. Não queria que os membros da masmorra
pensassem que ele já estava à caça de um novo dominador pra si, tão logo
rompera com o AlphaDome.
Jeon sabia que, eventualmente, tanto ele quanto o lúpus seguiriam em frente
e envolveriam-se com outras pessoas, fosse em relações baunilhas, fosse no
BDSM. Ele só não sentia essa necessidade agora. Tudo era muito recente,
seu amor por Jimin continuava intacto. Talvez até mais forte que antes — o
que era péssimo pra ele.
O ruivo trincou o maxilar com tanta força, que doía. Apertava os olhos pra
segurar as lágrimas que queriam descer, e respirava pela boca, tentando
controlar a respiração errática. Mas acabou se encostando no muro de
tijolos da esquina, onde apoiou as mãos nos joelhos e pôs-se a chorar,
magoado.
Ou ao menos lidar com o fato de que Taemin e Jimin eram grandes amigos,
e sempre seriam.
Mesmo que o áudio que o Lee tivesse mandado a WonHo, alegando nunca
ter terminado com Jimin, fosse a maior prova de que ele era um grande
mentiroso manipulador do caralho.
Jimin deveria estar puto com Taemin, não deveria? Se o alfa havia
realmente mentido sobre nunca ter terminado a relação D/s com Jimin,
então o lúpus deveria estar bravo com ele, certo? Ele deveria estar
desgostoso com o amigo, afinal, que amizade era aquela onde o outro
queria destruir seu relacionamento? Em especial, se tratando de uma
relacionamento que o fazia tão feliz?
— Jimin realmente mentiu pra mim. Ele nunca deixou de ser o dominador
de Taemin... Se Taemin tivesse mentido naquele áudio, Jimin estaria
absolutamente bravo com ele, não o recebendo alegremente em sua casa...
— murmurou pra si mesmo.
E aí, com vinte minutos de atraso, foi que o Jeon conseguiu se recompor,
embora não houvesse muito o que fazer quanto ao rosto inchado e os olhos
vermelhos pós-choro.
E acima de tudo, estava possuído de ódio. Sentia tanta, tanta raiva do Park
naquele momento, que gostaria de arrancar os olhos dele e amassar entre as
palmas.
— Ei... O que houve? — ouviu a voz de Namjoon atrás de si, o encarando
preocupado.
E foi então que o ruivo caiu no choro ainda mais intenso, de cabeça baixa e
com o tronco tremendo. Namjoon foi rápido em abraçá-lo, apoiando a
cabeça de fios recém-tingidos em seu ombro. Deixou que Jeon chorasse em
silêncio, apenas o oferecendo apoio enquanto deslizava as mãos em suas
costas, confortando-o.
Na mesma hora, Jungkook levantou o rosto do ombro dele, pra fitá-lo com
uma expressão mista entre desespero e uma risada contrariada. O que
diabos aquele cara estava falando?
— Foi por isso que eu não fiquei com você — o beta subitamente disparou,
ganhando a atenção e uma expressão indignada do alfa. — Não porque eu
não te ache atraente, mas sim porque nós somos muito diferentes. Você é
muito intenso, Kook. E eu sou muito leve, desligado, viajado. Sou como
água. E você é como fogo.
— Pensei que fosse porque você me acha doido — o garoto retrucou, sério.
Eles ficaram sorrindo um pro outro, o clima ficando mais leve, de certa
forma. E então os dois acabaram se encarando demais.
O Kim jamais negaria a beleza daqueles olhos grandes e expressão infantil
do garoto de sobrancelhas grossas.
O ruivo se sentia tão sozinho... Já fazia um mês e meio. E ainda que tivesse
voltado às boas com Hoseok e tivesse com quem desabafar, além dele e de
SeokJin, o garoto se sentia acabado.
Era como se nunca mais alguém fosse desejá-lo. Como se nunca mais
alguém fosse amá-lo.
Sentia-se carente, acima de tudo, pois era difícil perceber que aquele amor
era possivelmente uma mentira.
Talvez o moreno jamais fosse amar alguém além de Taeyang, e sua relação
com Taemin nunca fosse ter um fim, justamente porque o submisso era o
único que conseguia aceitar aquilo. Que conseguia permanecer ao lado do
dominador, sem exclusividade e sem amor, recebendo apenas o que o lúpus
podia oferecer: uma amizade colorida e muito carinho.
E foi assim que, contra todas as expectativas, os dois colegas se viram numa
bolha.
E as bocas se tocaram.
Não foi um beijo urgente, tampouco fogoso. Foi um beijo suave, carinhoso.
Jungkook levou as mãos à cintura do beta, enquanto este segurava seu rosto
entre as palmas, beijando-o delicadamente.
Era diferente do que estivera por meses acostumado, mas era muito bom.
Era reconfortante, embora nada familiar.
Foi um beijo demorado. Nenhum dos dois queria parar. E apenas pararam
quando faltou-lhes ar.
— É que você tava muito bonitinho com essa carinha de choro. Você é fofo
— deu uma apertada em sua bochecha. — Vai passar, Jungkook-ah. Falo
sério — disse sábio. — Mas se você quiser acelerar as coisas, sabe o que
precisa fazer, né?
— Curar um coração partido, sozinho, leva muito tempo. Então não fique
sozinho.
Até ver Taemin na casa do Park. Até entender que o ex-militar não parecia
muito preocupado com seu suposto amigo tendo mentido sobre a relação
deles por aí.
— Você está certo — Jeon respondeu. — Esse foi o melhor conselho que
recebi, na verdade. Ei, até que sua nerdice não é tão ruim assim.
— Ah, não, claro que não! — Jungkook foi rápido em concordar, sacudindo
os braços na frente do tronco. — Nada mudou. Mas... Você não tava saindo
com a Hwasa?
Mas não precisou de mais que um minuto ponderando aquilo. Ele jamais
conseguiria dividir o lúpus com ninguém. Por mais cuckold e masoquista
emocional que fosse, imaginar Jimin com outra pessoa o instigava. Mas daí
a realmente permitir que o cara que amava se relacionasse sexualmente com
outras pessoas, já era demais.
— Namjoon... Eu preciso falar com Jungkook a sós. Pode nos dar licença?
— pediu.
Jungkook não foi capaz de dizer nada. Sequer respirava. Estava totalmente
congelado, em pânico.
— Eu espero que você possa amadurecer e tirar uma lição disso, Jungkook.
Vou buscar os papéis da demissão pra você assinar.
[...]
— Jimin, vamos! — Yoongi resmungou, insistente, puxando a manga da
camisa do Park, como uma criança. — Não tô te falando pra ficar com
ninguém, apenas vamos ao clube beber e nos distrair!
— Beber sozinho em casa não é mais saudável que beber na The Cave! Ao
menos por lá, você vai estar rodeado de pessoas que gosta e com quem pode
conversar abertamente.
— É só a gente não chamar ele, ué! TêTê vai entender, outro dia eu vou
com ele e sem você. Pronto. Nada mais justo.
— Você sabe que ela não vai fazer isso. É só pressão psicológica pra me
convencer a ir — retrucou, fazendo pouco caso.
— Além do mais, meus pais estão aqui. Eu não vou deixá-los sozinhos em
casa, pra ir à boate com você. Seria bem escroto com eles...
— Seus pais foram ao cinema há quinze minutos. Vão ficar até tarde na rua,
com certeza vão rodar pela cidade toda. Pare de arrumar desculpas! Você
quer é ficar em casa sentindo pena de si mesmo e remoendo o pé na bunda
que Jungkook te deu! Supera, Jimin, já faz mais de um mês!! Acorda!
— Seis semanas, pra ser exato — o moreno resmungou. — É tão fácil pra
você dizer, você nunca precisou ficar de luto pelo fim de uma relação!
Quando terminou com Hoseok, tinha Taehyung! E vice-e-versa! Você pula
de uma pessoa pra outra, pra não dar tempo de sofrer — acusou.
— Olha quem fala... Você está sendo injusto. E eu terminei com Taehyung,
em definitivo — disse a contragosto.
— Como é?
— Então aquele babaca do Helsing estava certo, quando te disse isso aquela
vez?
— Mas e a coisa de se marcar? Vocês não tinham até mesmo decidido isso?
[...]
— Então por que caralhos não pensou nisso antes de roubar aquele
champagne? — retrucou o Kim.
— Você não teve nada com isso, hyung, fica tranquilo — Jeon respondeu.
— Mas sinceramente, que azar do caralho! Primeiro meu rut atrasa, depois
eu acabo sendo babaca com o Jimin porque precisava esconder à ida ao
hospital, aí eu dou de cara com meu pai, recebo a notícia de que preciso
voltar a fazer tratamento, aí aquela bosta ambulante do Taemin volta, o
Jimin mente pra mim, e aí você também — apontou pro beta, que se
encolheu na cadeira com isso. —, o pai de Jimin me odeia, e ainda por cima
sou pego roubando no trabalho! O que mais falta acontecer? Será que
quando estiver chovendo, um raio vai cair na minha cabeça?
— Veja por essa lado — interpôs Jin. — Pelo menos você conseguiu beijar
a boquinha do Nam, depois de tantos anos, seu safado — brincou.
— Eu preferia não ter minha vida indo ladeira abaixo, do que beijar ele.
Nenhum beijo paga todas essas desgraças, meu filho.
— Por que você não pede pros seus pais te arrumarem um emprego no
hospital, hein? — SeokJin o questionou. E isso fez os outros dois amigos o
encararem como se tivesse dito a coisa mais absurda do mundo. — Que foi,
seus fodidos? Jungkook não vai precisar morar com eles de novo, nem ter
uma relação além da profissional. E não é como se ele fosse trabalhar
diretamente com os médicos. Ele pode trabalhar no almoxarifado, na
farmácia, na recepção, na cantina, qualquer coisa assim...
— Isso não vai ser necessário — Hoseok repetiu. — Você vai arranjar outro
emprego. Eu vou checar com o RH da empresa onde trabalho, se tem
alguma vaga pro seu nível de graduação. E mesmo se tudo der errado, eu
saio da casa dos meus pais e alugo um apartamento de dois quartos, pra
você vir morar comigo.
— Tô sabendo sim — respondeu o beta. — Ele meio que tentou usar isso
como barganha pra comprar o meu perdão. Mas... Eu não aguento mais
lidar com ele. Sinceramente, não acho que o ame mais tanto assim. Esfriei
completamente.
Jeon viu o ômega fitar Hoseok com olhos apertados, até dar um tapa na
mesa, assustando a todos:
— Tem alguma coisa que você não está contando, beta. Abre esse caralho
de bico!
E o Jung, de fato, estava escondendo algo. Sem jeito, ele coçou a nuca e
largou a xícara sobre o píres, tentando achar um jeito de explicar aquilo.
— Tenho conversado bastante com Yoongi hyung. Esses dias ele disse que
ele e Taehyung terminaram, por certos motivos. E não parece realmente ter
volta.
— Tá, mas e aí? Você vai voltar com o Min? — o ruivo questionou
novamente.
— Não. Eu disse que nunca nos afastamos, só isso. Como amigos, eu acho.
Ou algo assim. Ele me chamou pra curtir na The Cave esses dias. Mas eu
tinha uma reunião na manhã seguinte, então recusei. Tô com vontade de
sair hoje, mas queria sair com vocês. JK está precisando espairecer... —
voltou a bebericar o seu chá.
— Eu acho uma ótima ideia. Minha alfa adora sair pra dançar, e a gente
curte muito quando bebemos juntos — declarou o Kim.
SeokJin já estava namorando uma alfa fêmea há alguns poucos meses, e ela
aparentemente atendia às suas expectativas sexuais, como não ocorrera
entre ele e Namjoon. Ele costumava gostar mais de ser aquele que
penetrava no sexo, embora mais submisso, e a tal alfa o dava exatamente o
que ele queria.
— Até uns dias atrás, eu diria que não estava preparado pra isso. Mas
honestamente... Depois de ver aquela cobra do Taemin na casa do Jimin...
— bufou, irritado. — Me sinto bem mais inclinado a isso.
— Já faz quase dois meses, JK. Eu também acho que você deveria seguir
em frente. Eu adoro o Jimin, mas se você decidiu realmente que não quer
mais estar com ele, quaisquer que sejam os seus motivos... Tá na hora de
dar o próximo passo. Vai ser melhor você se adiantar, do que ficar
remoendo isso, e do nada, ver que Jimin superou você e está com outra
pessoa, quando você menos esperar. Principalmente se essa pessoa for o
Taemin, porque você sabe que existe essa possibilidade — Hoseok foi
sincero.
— Concordo com esse caralho — Jin acenou, sem tirar os olhos do celular.
[...]
Por isso, o malcriado se via entre a cruz e a espada, pensando sobre ligar ou
não pro colega, e perguntar se Jimin voltara a frequentar a boate, somente a
título de curiosidade. Sua cabeça não parava de pensar nisso, desde o dia
em que saíra pra um café da manhã com Hoseok e SeokJin.
Jungkook não precisava saber disso, mas queria saber. Seu masoquismo
emocional urgia pra que ele se martirizasse mais. Que descobrisse novas
mentiras de Jimin, que assistisse a mais vídeos do lúpus em cenas com
outros submissos, que descobrisse o que o outro andava fazendo.
E se deixando controlar por aquilo, mais uma vez, o garoto finalmente ligou
pra Seung.
— Oi, hyung — disse ao alfa que, agora, sabia chamar-se Kang Seung-
Woon e ser sete anos mais velho que ele.
— Poxa, pensei que você fosse vir a The Cave esses dias, caramba!
— Eu não sei se me sinto muito pronto... Não quero dar de cara com o Ji...
O AlphaDome — mentiu. E só conseguia mentir, porque era ao telefone, e
assim o outro alfa não teria como notar sua expressão contraditória.
Jungkook ficou em silêncio, atordoado demais pra dizer qualquer coisa. Era
mais um confirmação da ideia de que o Park mentira pra ele, que nunca
havia sido seu Dominador somente, pois sempre mantivera a relação D/s
com Taemin por baixo dos panos e que, agora, estava junto com ele
novamente, como Dominador e submisso.
E por mais que uma relação de namoro e uma relação BDSM fossem
institutos distintos, ainda assim ele era seu namorado. Se o ex-militar havia
lhe prometido exclusividade e fidelidade tanto na relação D/s, quanto no
namoro, deveria cumprir com sua palavra.
— Você tem certeza que eram eles? — o garoto sussurrou, com os olhos
cheios de lágrimas.
— Por favor, não se martirize com isso, Jungkook — Seung pediu com a
voz aflita, após o silêncio do outro. — Eu sei que tem toda a coisa do seu
masoquismo emocional, mas use esse conhecimento pra outros propósitos.
Pra te ajudar a superar o AlphaDome, por exemplo. Sei que dói, mas tenha
em mente que ele foi o seu primeiro Mentor nesse mundo. Você ainda é um
bebê no BDSM, tem muito o que aprender e explorar. Você vai conhecer
novos dominadores, que serão bons e honestos com você. Vai encontrar
alguns péssimos também, mas com o tempo você aprende a identificá-los.
Preciso desligar agora, porque vou dirigir. Qualquer coisa, pode me ligar,
ok? Se quiser conversar ou chorar, ou até mesmo me encontrar pra encher
a cara, vou estar aqui. Até mais!
— Por nada. É isso que amigos fazem. Use seu conhecimento com
sabedoria — e encerrou a ligação.
Mais uma facada em seu coração machucado. Mais uma decepção. Mais
uma mentira. Mais uma traição.
Mesmo que ele e Jimin não tivessem mais uma relação, e ambos fossem
livres pra ficar com quisessem nos últimos meses, o Jeon se sentia traído.
Traído porque o Park jurara de pés juntos, que não tinha e nem teria mais
nada com Taemin. E lá estava ele outra vez, nos braços daquele que era
justamente a causa das paranoias e ciúmes de Jungkook, que agora sequer
pareciam tão absurdas assim.
— Fala, Jeikei.
[...]
— Aqui, coloque sobre a cabeça — a alfa Saem disse estendendo uma bolsa
de água quente ao filho, sentado de qualquer jeito sobre a poltrona da sala.
— Pitiquinho, o que 'tá acontecendo com você? — e sua voz não emitia
nada além de carinho e preocupação genuína. — Seu pai estava certo, ao
dizer que nós só te vimos assim uma vez na vida, e foi quando rompeu o
noivado com Dong Taeyang. Você não é indisciplinado assim, meu filho.
Nunca foi desorganizado, nunca foi de beber todos os dias, a ponto de
passar mal no dia seguinte. Eu preciso que você se abra comigo...
— Disso eu já sei. Quero saber quem partiu seu coração desse jeito, e por
que infernos você, ao invés de estar tentando consertar isso, fica se
afogando em bebida.
— Não me olhe assim — ela disse. — Você e ele nunca foram bons em
esconder que tinham um relacionamento que ia além de amizade. Por favor,
Jimin, nós não somos idiotas. Você e ele viviam com o cheiro um do outro
impregnado no corpo.
— Voc-cês s-sabiam?
— Qualquer um com olfato era capaz de saber. Agora me diga. Foi ele?
Vocês estão juntos há anos, aposto que essa fase vai passar e vocês vão se
resolver...
— Não é Taemin, mãezinha... — esclareceu, após se livrar do choque
inicial. — Na verdade, eu e ele não estamos em bons termos, realmente. É
por causa dessa nossa... amizade colorida, ao longo dos anos, que meu
relacionamento acabou. Eu tinha uma pessoa que amava e ainda amo muito.
Mais do que amei Taeyang, se quer saber.
— E imagino que essa pessoa não tenha sido capaz de aguentar sua
proximidade com alguém com quem você se relacionou sexualmente por
anos, e que permanece em sua vida como amigo íntimo, estou certa?
— Sim, como sempre, você está. — E sorriu triste. — Eu não sei o que
fazer... Até mesmo pensei em eliminar completamente Taemin de minha
vida, pra não perder o...
— Se sabia que era ele, por que perguntou sobre Taemin primeiro? E como
você sabe que é ele? Não vá me dizer que sentiu cheiro de alguma coisa,
porque isso seria impossível. Quando você e papai conheceram Jungkook,
nós já estávamos separados há semanas.
— Não precisa ser tão poética — ele retrucou com uma risada, que fez sua
cabeça doer e uma careta de dor se formar na face bonita. — Bastava dizer
que minha boca aberta babando pelo Jungkook, deixa claro que sou
apaixonado por ele.
— Essa seria uma forma mais simples de dizer, sim — Saem admitiu rindo
junto. — Você não está aposentado compulsoriamente da aeronáutica, como
disse pra nós, não é? — O olhou com pesar, deixando o sorriso em seus
lábios morrer. — Se seu desligamento fosse devido a problemas de saúde,
você estaria recebendo aposentadoria do governo, e não trabalhando na
torre de controle de vôos do aeroporto...
E é claro que o rapaz não diria à mãe, sobre seu subalterno ter presenciado
uma Cena de BDSM sua com Taemin na The Cave. Suas práticas fetichistas
eram algo privado, que não tinham a menor necessidade de serem
compartilhadas com os pais, independente das opiniões destes virem a ser
positivas sobre o assunto.
— Então você foi exonerado, por se envolver com outros de sua classe? —
ela indagou.
— Eu entendo — ela respondeu doce. — O que não entendo, foi por que
você escondeu sua sexualidade de mim e do seu pai por quase trinta anos,
pitiquinho. Nós nunca fomos preconceituosos...
— Mas não tinha como ter certeza da reação de vocês, mãezinha. E eu não
queria arriscar. Não queria criar um atrito, por algo que dizia respeito
somente a mim, e sobre o qual eu não tinha opção de escolha — justificou-
se.
— Mas você ainda não explicou sobre você e o seu vizinho — continuou, o
ignorando. — Ele realmente partiu seu coração?
— Mas é claro que não! A verdade é que eu só... fechava meus olhos pras
verdadeiras intenções de Taemin — admitiu, forçosamente. — Você sabe
como a amizade dele com Taeyang sempre foi tóxica. Eles competiam por
absolutamente tudo. E em relação a mim, não foi diferente. Então, quando
TêTê dava todos os indícios de que me amava, eu só tentava ignorar e
esperava que um dia ele percebesse que aquilo estava longe de ser amor,
que era apenas o ego competitivo dele querendo algo que já havia
pertencido a Taeyang.
— Sim — grunhiu. — Ele não quer ficar perto de mim, de jeito nenhum.
Mas a minha escolha sempre foi e sempre será ele, mãezinha. Infelizmente,
eu nunca amei Taemin desse jeito, nunca senti nada nem perto de romântico
por ele. Era uma amizade colorida muito forte, mas nunca houve romance.
E eu pensava que ele aceitava realmente àquela relação aberta.
— Eu não escolhi nesse sentido. Não acho que seria capaz de abandonar o
meu melhor amigo por exigência de namorado algum. Mas decidi me
afastar de Taemin, por estar magoado com os vacilos dele, e também pelo
bem dele próprio. Até então, eu nunca havia notado o quão tóxico sou pra
ele, entende? TêTê jamais vai conseguir superar esse amor que sente por
mim, enquanto continuarmos próximos. Só que agora Jungkook não quer
mais estar comigo, de jeito nenhum. Porque ele sabe que Taemin sempre
estará entre nós, e sempre será o motivo de nossas brigas, das desconfianças
dele comigo... E que por isso a gente nunca vai viver em paz — suspirou,
cansado.
O Park mais novo bateu com a mão na testa, e a desceu pelo rosto, com
certa força. Havia tanto arrependimento envolvido, que não cabia em si.
— Foi um deslize...
— Por isso Taemin não ficou aqui, e foi embora logo depois de te dar banho
lá em cima?
— O que Jungkook tem a ver com isso? Vocês não estão mais juntos desde
antes de eu e seu pai chegarmos aqui, ou eu entendi errado?
— Sim, mãezinha, eu estou solteiro, sim. Quero dizer, não devo mais nada a
Jungkook agora, sou livre pra ficar com quem bem entender. Mas ficar
justamente com Taemin, só prova que Jungkook estava certo em sentir tanto
ciúmes dele e considerá-lo um oponente. Claro que eu jamais teria ficado
com ele se eu e Jungkook ainda estivéssemos juntos, porque eu nunca o
trairia, fosse bêbado ou sóbrio. Mas eu estava completamente fora de mim,
amargurado e, física e psicologicamente fragilizado...
— Não importa bem o que eu acho. O que importa é o que Jungkook vai
achar, quando souber disso. E se eu tinha alguma esperança de que ele se
arrependesse e voltasse pra mim, ela acaba de morrer, porque Jungkook
nunca vai me perdoar por isso...
— Não vou contar isso a ele, apenas por contar, não o devo satisfações
agora. Porém, se milagrosamente nós voltássemos, bem... Eu teria que
contar, porque não seria certo recomeçar nossa relação com mentiras e
omissões outra vez. Mas como eu disse, não tenho mais esperanças, então...
— Talvez seja melhor assim, pitiquinho... Alguns amores não nasceram pra
durar... Nada é eterno. O que importa é que durante o tempo que durar, seja
intenso e verdadeiro o suficiente pra ter valido à pena.
— Ainda não devolvi nenhuma das roupas dele que ficaram aqui em casa,
porque preciso sentir o cheiro dele comigo... Eu o amo tanto, mãezinha... E
agora estraguei tudo de vez... — apertou a cintura da alfa, e deixou uma
lágrima escorrer, mordendo o lábio agora trêmulo.
— Shiiiu, não fale assim! Dadas as circunstâncias, o que você podia fazer?
Você estava fraco, bêbado e de coração partido, meu filho. Mesmo que você
tivesse correspondido ao beijo. se não fosse Taemin, seria outro...
— Não seria um problema se tivesse sido outro. Podia ter sido qualquer
maldita pessoa, menos ele... — disse sentindo as lágrimas rolarem
livremente pelas bochechas, molhando a camisa da mãe.
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35| eyes on fire
#CobraSorrateira
Estava ansioso pra ver o resultado final de seus cabelos. Hoseok havia
cortado e pintado pra ele, especialmente pra que o Jeon pudesse chamar a
maior atenção possível na The Cave.
— Não, acho que hoje você deveria ir bem elegante. O que acha de um
terno? — o switcher foi andando em direção ao seu closet.
— Oh, eu gostei desse aqui! — Jeon puxou um blazer preto, todo enfeitado
com paetês também pretos e muito brilhantes, na parte frontal, que davam à
peça uma textura diferente.
— Experimenta os que você quiser. Vou tomar banho, pra gente não chegar
lá tarde. Ali na cômoda tem algumas coleiras, escolha alguma — e foi pro
banheiro.
Jungkook vestiu uma cueca preta apertadinha, a calça social, bastante justa,
marcando suas coxas grossas e musculosas, a camisa social branca por
dentro do cós da calça, com os primeiros botões abertos, como o amigo
indicara, exibindo o início do colo e todo o pescoço.
Ele escolheu uma coleira de veludo grossa, na cor preta, e enfeitou as
orelhas com várias argolinhas prateadas, algumas com franjinhas, deixando
o visual totalmente charmoso. Por fim, vestiu o blazer de paetês e pôs um
sapato social lustroso, encarando o resultado final no reflexo. Faziam dois
meses que não se arrumava. Os mesmos dois exatos meses em que havia
terminado a relação com o Park.
Hoseok naquela noite estava inclinado à submissão, e por isso, usava uma
fina gargantilha preta de pano, com um pequeno aro de metal no meio.
Escolhera uma calça e camiseta pretas também, além de um coturno, na
mesma cor. A única coisa se destacando em cor diferente era o blazer
vermelho escuro com a lapela preta de cetim.
Ele já tinha todo um plano pra provocar o Park e mostrá-lo que este havia
brincado com o alfa errado.
Mas de uma coisa Jeon tinha certeza: ele talvez pudesse até se magoar,
vendo algo que não gostaria — leia-se Jimin com Taemin. — Mas ele se
jogaria também nos braços do primeiro ou primeira alfa ou beta que se
atirasse pra si. E faria questão de esfregar isso na cara de seu ex-dominador.
Ele já tinha uma pessoa em mente, que havia confirmado à ida à boate
aquela noite também, quando o perguntou pelo chat da The Cave.
Jeon tinha ciência, claro, de que aquela era uma atitude totalmente imatura
e irracional, na qual o tiro poderia sair pela culatra, e levá-lo a deixar a
boate naquela noite mais magoado do que ao entrar. Mas seus sentimentos
não eram racionais. Sua mágoa recém adquirida pelo ex-militar menos
ainda.
Ele faria o seu melhor para atingir Jimin com a mesma intensidade com a
qual o outro o atingira. E que se fodesse se aquilo faria seu ex-Dom odiá-lo,
no fim de tudo. Dessa vez, Jimin merecia, ele pensava. No fim, separar-se
do amado pra evitar que os dois se odiassem, não havia sido eficaz.
Acabariam assim, de qualquer forma.
O ruivo estava com o coração batendo a mil por hora, num misto de euforia
e ansiedade. Nunca pensou que a vingança poderia ser tão excitante. Se
vingaria pelos malditos dois meses em que sofrera como um desgraçado
pelo ex-namorado, enquanto este andava por aí às boas com Taemin, se
beijando nas masmorras e almoçando junto com sua família.
— Cheguei à conclusão que não posso evitar dar de cara com ele, já que
somos vizinhos — referiu-se a Jimin. — Então vou mostrar toda a minha
reciprocidade ao AlphaDome — disse cheio de sarcasmo, que o outro
submisso logo entendeu.
Assim que as portas duplas se fecharam atrás dos dois amigos, o som da
música ficou mais alto, as batidas graves fazendo seus corpos vibrarem e
rodeando-os numa bolha sensual, proporcionada pelo ritmo darkwave.
Dessa vez, era Jungkook a própria cobra sorrateira. Estava pronto pra
encontrar sua presa e dar o bote. Ele checava a aparência até mesmo dos
seguranças posicionados em cada canto da casa — alfas machos e fêmeas
enormes e altos, todos musculosos. Qualquer um era seu alvo. Hoje ele
estava decidido a não sair daquela boate sozinho.
Que Deus tivesse piedade de Park Jimin, pois Jeon Jungkook não teria. O
jogo tinha virado. Seria olho por olho, dente por dente.
E Hoseok estava certo: os membros da masmorra só faltavam ajoelhar aos
pés do alfa de cheiro exótico. Os submissos o encaravam embasbacados, e
os dominadores demonstravam-se completamente atiçados.
E, é claro, os olhos do alfa não paravam de buscar por duas coisas: aqueles
que queria neutralizar — ou como gostava de pensar, os "inimigos", Lee
Taemin e Park Jimin —, e sua carta na manga: O orgulhoso alfa domador
de brats, Mingyu, mais conhecido como Helsing.
E com isso, o Jeon se sentiu nas nuvens, o ego batendo nas alturas. A
morena então se virou de costas pra ele, rebolando e pressionando as
nádegas na pélvis do malcriado, que imediatamente ficou excitado,
apertando ainda mais forte a cintura da fêmea.
Eles dançaram juntos até o fim da música, quando a alfa se afastou pra ir
buscar uma bebida, e nesse meio tempo, um beta macho o agarrou por trás.
Era Jungkook quem tinha um pau pressionando sua bunda agora, e bastou
uma rápida olhada no cara, por cima do ombro, pro garoto decidir que havia
adorado a sensação.
Jungkook bebeu rapidamente o gim com água tônica que a morena o havia
oferecido, na intenção de entrar mais no clima da boate. As luzes coloridas
cortando o escuro, o gelo seco circulando os corpos, tudo ao redor deixava
o clima erótico e pesado.
E não demorou muito, o ruivo sentiu a alfa também começar a chupar seu
pescoço com a língua quente, ela de um lado, e o beta de outro.
E então logo enjoou daquilo ali, daqueles dois. Sem parar de dançar, foi até
Hoseok, e, depois de espantar a ômega que dançava com o amigo, puxou o
Jung pro andar de cima, pra que pudessem dar uma espiada nas Cenas que
rolavam por lá.
Subiram a escadaria atapetada com as mãos vazias, já que era proibida a
ingestão de álcool no segundo andar.
Jeon correu os olhos pela pequena multidão, buscando seus alvos com
atenção, mas acabou perdendo-se em um palco modesto mais à frente, onde
uma submissa, deitada sobre um tecido plástico esticado em cima de um
divã, recebia de bom grado as gotas de cera coloridas da vela sendo
derretida sobre seus mamilos, pelo dominador.
Helsing.
Embora ele ainda não tivesse sido capaz de identificar as notas do cheiro
alheio, por estarem em meio à muita gente, ainda assim sabia de quem se
tratava, antes mesmo de fitá-lo.
Estava lindo de morrer, como era de se esperar. Helsing usava uma camisa
branca de gola alta embaixo de um sobretudo preto e calças escuras bem
apertadas. Os cabelos negros estavam armados num topete arredondado e
elegante, e os olhos rasgados maquiados em sombra escura.
— Espero que não se incomode. Eu não mudo por ninguém. — Deu uma
piscadinha.
— Devo admitir que fiquei surpreso com o seu convite nada disfarçado —
Mingyu conversou, galante. — Imagino que um certo brat esteja disponível,
pra que tenha se unido a mim. O AlphaDome jamais deixaria um
brinquedinho dele sozinho comigo...
— É um pouco óbvio que não pertenço mais a ele — retrucou o garoto, sem
se deixar abalar, pelo contrário: abriu um sorriso malicioso e encarou
Mingyu intensamente e dos pés à cabeça, na maior cara de pau.
— Isso significa que agora tenho o caminho livre pra te conquistar?
Não era preciso muita enrolação, os dois sabiam pra quê estavam ali.
Jungkook queria usá-lo como modo de atingir o alfa lúpus, magoá-lo do
mesmo jeito que o ex-coronel havia o magoado, em seu ponto fraco: Se o
de Jeon era Taemin, o do Park era Mingyu.
E Jungkook adorou aquela indireta. Deixava seu ego inflado, nas alturas.
— Eu não duvido... — devolveu, em igual tom, ao pé do ouvido alheio. —
Na verdade, estou doido pra ver mais...
— Jungkook... Não esperava vê-lo por aqui. Hoseok não comentou que
você vinha.
— Vou ao bar pegar uma tequila. Quer que traga pra você também?
— Que cavalheiro — o tamer brincou, sorrindo. — Traga uma cerveja pra
mim, mas coloque sua bebida na minha comanda — disse o estendendo o
papel. — Deixe as bebidas por minha conta.
E não ficaria mesmo. Mingyu não era um cara sentimental. Se uma pessoa
queria usá-lo para atingir outrem, bem, que se fodesse. Ele era quem sairia
no lucro, provavelmente ganharia. Era assim que sua mente funcionava, e
ele estava mais do que ok com isso. Não era como se ele estivesse
romanticamente interessado no Jeon, de qualquer modo.
Meio segundo depois, já podia sentir Jimin virar a cabeça pra si, e o olhar
do lúpus queimar sobre ele, que, com firmeza, continuava a fingir não vê-
lo.
Fingido, ganhando exatamente a reação que queria, o ruivo fez uma cara
surpresa ao encará-lo, partindo os lábios.
— Oh, hyung! Que surpresa. Nem tinha te visto aí... — e fez pouco caso,
capturando sua dose de tequila.
O Park olhou nervosamente pra pista de dança, aflito.
— Jungkook-ah, eu não estou com ele! Vim com Yoongi hyung, mas
encontramos Taemin na entrada, ele faz isso toda vez...
— Uhum, tanto faz — fez pouco caso outra vez, revirando os olhos, antes
de lamber o montinho de sal que havia posto no próprio pulso, e em seguida
virar a pequena dose de tequila pra dentro da boca.
— Não quero ouvir mais as suas mentiras — disse agarrando a cerveja que
pegara pra Mingyu. — Só não se esqueça de que tudo o que vai, volta. — E
se afastou, indo pra pista de dança.
Sem acreditar no que via, Jimin estancou no lugar, assistindo a uma das
cenas mais dolorosas de sua vida:
— Por que você deixou ele fazer isso, Hoseok? Por que trouxe Jungkook
aqui pra isso? — disse, revoltado.
Jimin tentou responder, mas sequer tinha palavras para aquilo. Atordoado
era a única palavra que o definia bem.
Jimin virou a cerveja pra dentro, de uma vez só, fulminando Jeon e Mingyu
com o olhar. Ele poderia soltar raio lazer pelos olhos.
Mingyu, que não era bobo nem nada, sabia das intenções do ruivinho ali, e
pouco se importava. Ele já não era o maior fã do AlphaDome, de qualquer
modo, então ser usado para aqueles fins pelo ex-sub do cara, era muito
tranquilo pra si, até porque, ele estava doido pra usar e abusar de Cherry
também, de fazê-lo seu mais novo brinquedo. Fazia tempo que não se sentia
tão atraído por um brat assim.
Então Helsing aproveitou para encoxar Jungkook por trás, sob a mira
violenta do Park, que não desviava o olhar de cima deles por nada,
claramente ignorando Taemin, com quem dançava.
O Jeon sentiu o outro alfa apertar sua cintura com posse, ao mesmo tempo
em que esfregava o pau em sua traseira e começava a chupar forte a pele de
seu pescoço lívido.
Tendo o Park exatamente onde queria, Jungkook levou um dos braços pra
trás e segurou os cabelos de Mingyu, fazendo aprofundar mais os chupões e
lambidas em seu pescoço. Com o rosto virado na direção de Jimin, o ruivo
se deixava ser quase completamente dominado, enquanto desafiava o ex-
militar com os orbes incisivos.
Jimin, por sua vez, mal podia se aguentar. Apertou a cintura nua de Taemin
entre os dedos, fulminando o de genes ômegas com o olhar.
E, petrificado, viu Jungkook beijar o outro tamer por cima do ombro,
lascivamente, dando até mesmo pra ver as línguas se enroscando fora das
bocas.
— Foi por isso que você me trocou, Jimin? — indagou Taemin, com mágoa
clara na voz grossa. — Você não conseguiu me amar em dez anos, mas em
cinco meses se apaixonou perdidamente por um crianção imaturo, que só
sabe te desrespeitar e que tem ainda audácia de te afrontar desse jeito,
dentro da The Cave, que é praticamente sua segunda casa?! — atiçou, como
uma verdadeira cobra, que destruía tudo e todos que ousassem se pôr em
seu caminho.
— Mas que porra, Taemin?! Você precisa parar! Eu não aguento mais você
se humilhando dessa forma! Isso já ultrapassou todos os limites saudáveis,
tanto pra você, quanto pra mim. Eu amo Jungkook! Eu amo aquele imbecil
do caralho, e não importa se eu e ele vamos ter volta ou não, não quero
mais estar com você, essa relação já acabou, fim de história! Você não é
mais o meu submisso, e em nome da nossa amizade, estou cortando laços
com você em definitivo, até que você possa se curar desse amor doentio!
— Jimin! — o alfa grunhiu em retorno, as lágrimas descendo dos olhos
castanhos, a expressão atordoada, enquanto via o ex-militar se desvencilhar
de suas tentativas de agarre, e caminhar decidido em direção ao Jeon.
— Você vem comigo — o Park rosnou pra ele, segurando firme no tecido do
terno.
Jungkook sequer conseguiu responder, tão chocado ficara. Ele jamais havia
imaginado tal reação de Jimin, pelo contrário: estava preparado para assistir
ao outro beijando Taemin bem ali, na sua frente, e ter seu coração partido
outra vez — ou talvez até mesmo sentir seu maldito fetiche em ser corno
entrar em combustão ao presenciar aquilo.
— Você não tem mais esse direito, Jimin! — grunhiu, pouco se importando
em dizer o nome verdadeiro do alfa, ali na ante-entrada, onde o som era
muito mais baixo, e os seguranças os encaravam atentamente, preparados
para separá-los caso as coisas ficassem feias.
— Eu não estou com a porra do Taemin, quantas vezes vou ter que repetir
esse inferno?
— Todos os seus relacionamentos dão errado por causa desse cara, como
você consegue ser tão cego?! Até como amigo, ele fode a sua vida! —
perguntou em tom indignado, aumentando um pouco a voz.
Mas é de Jeon Jungkook que estamos falando, afinal. O garoto que, desde o
começo, foi capaz de chutar o autocontrole de Jimin pra escanteio, fazendo-
o quase enlouquecer.
— Eu não tô mais omisso quanto a isso, Jungkook! Já sei o que Taemin fez
e ainda faz, estou ciente das ações dele e da minha culpa nisso tudo
também!
— E mesmo assim, continua grudado a ele como a porra de um
sanguessuga! — Jeon rosnou, daquele jeito sussurrado, que tentava
controlar sem sucesso.
— Eu não menti pra você! Eu quero te explicar tudo, mas você não me
deixa!
O ruivo soltou o ar com força, que nem havia notado prender. E então olhou
ao seu redor. Olhou realmente:
— Você podia ter ficado com qualquer pessoa, Jimin, qualquer uma, menos
ele... — e sua voz saiu chorosa.
O ex-coronel caiu num choro profundo e intenso, junto a ele. Apertou mais
o rostinho bochechudo entre suas mãos, com firmeza, e uniu as testas,
roçando os narizes, amargurado.
— Não fala isso... — pediu. — Por favor, não fala isso, meu príncipe... Eu
te amo. Eu te amo demais, Jungkook, por favor... — finalmente confessou,
e sua voz permanecia naquele tom urgente, ainda que saísse
inevitavelmente quebrada.
Ele viu algo mudar no olhar do Jeon. Ele via o garoto lutar contra si mesmo
após aquela declaração de amor explícita, ao que este começou a chorar
com mais força.
O Park podia sentir como se seu coração sangrasse por dentro. Nada era tão
doloroso quanto aquilo.
Por fim, sem forças, Park Jimin se afastou completamente e deu às costas,
indo embora daquele lugar; entrou no primeiro táxi que apareceu —
agradecendo aos céus por ter sido responsável e não ter ido de carro, pois
mesmo se não tivesse bebido, estaria incapaz de dirigir o automóvel
naquele estado.
Jungkook encontrou o olhar penoso de Seung sobre si, então o garoto abriu
a portas acolchoadas da recepção do clube e correu pro estacionamento no
subsolo, onde se agachou atrás de um dos carros e se deixou desmoronar.
Passou minutos ali, meia hora ou talvez até uma hora inteira, como poderia
saber? Estava tão imerso no próprio sofrimento, que demorou a sentir um
par de mãos delicadas segurando seus pulsos, tentando afastá-las do rosto
que escondia.
O garoto demorou meio minuto fitando aquele rosto bonito do outro alfa,
até conseguir falar.
O mais alto suspirou e deslizou o dedão por seu rosto, secando suas
lágrimas.
E aí sua mente se acendeu como a porra de uma lâmpada 100 watts. Taemin
realmente não era uma ameaça.
E a prova disso, não era Jimin ter dito que o amava, finalmente.
A prova mais que concreta, era que o ex-coronel o havia visto beijar
Helsing bem na sua frente, e teve a oportunidade de dar o troco, beijando
Taemin. E contra todas as expectativas, ele não o fez.
Taemin nunca seria competição. Era ao Cherry sub que o dominador queria,
e somente a ele.
Jungkook se levantou rapidamente, desengonçado, e Mingyu fez o mesmo.
Olhando embasbacado pro outro alfa, ele sacudiu a cabeça, com um sorriso
desacreditado no rosto.
— É, eu tenho meus momentos. Aposto que deve ter ouvido bem mal de
mim por aí, certo? A maior parte são verdades. Estou pouco me fodendo
pras relações D/s alheias, dou em cima de todo mundo, foda-se — disse
direto.
— Porque a sua relação com o AlphaDome não é somente uma relação D/s,
é? — Arqueou uma sobrancelha.
— Muito, muito obrigado, Mingyu! Sério, se não fosse por você eu...
— Garoto, vai logo, antes que eu mude de ideia e invente pelo menos uns
dez motivos pra você não voltar com o AlphaDome e ficar comigo. Vá! —
E deu um sorrisinho de lado, antes de disparar com o carro.
E então confirmou qual era sua decisão, mesmo que tomada há poucos
minutos atrás, de forma absolutamente impulsiva.
[continua...]
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E então confirmou qual era sua decisão, mesmo que tomada há poucos
minutos atrás, de forma absolutamente impulsiva.
Ele ouviu um barulho vindo por detrás da porta, e seu coração se agitou,
batendo rápido. Jungkook quase podia escutar as malditas batidas.
— Não, saíram pra dançar salsa. Por quê? — o moreno retrucou, com a face
ainda contorcida em uma mescla de confusão e incredulidade.
Sem demorar muito, o moreno puxou o Jeon pela cintura e trouxe o corpo
maior pra mais perto do seu, chocando as pélvis e os peitorais duros. As
mãos cheias de anéis do ex-coronel apertaram a cintura fina do garoto, com
posse, reivindicando para si o que sempre fora seu, por direito.
O dominador sabia, aquele rapaz era dele. Podia enxergar claramente que
Jungkook o pertencia; mas não mais do que Park Jimin pertencia a ele. Era
tão de Jungkook, de corpo e alma, quanto Jungkook era dele.
Jimin também não sentia mais os efeitos do álcool. A única coisa nublando
sua mente era o choro, que agora, começava a ser substituído por uma
ereção crescente.
As línguas rapidamente desceram de forma vulgar e molhada pelo pescoço
um do outro, sugando, mordendo e lambendo, famintos. As peles tão
clarinhas certamente ficariam cheias de marcas roxas antes do amanhecer,
dado a falta de delicadeza nos toques de ambos.
Jimin deslizou o nariz pela nuca bem aparada, inalando o aroma de ameixa
e maçã se sobrepondo ao cheiro alfa do mais novo. Mordiscou a pele
levemente suada do ex-namorado, segurando os pulsos do rapaz ao lado do
corpo. Mas o ruivo soltou a canhota e a levou para trás, apertando a bunda
do Park entre os dedos fortes. O moreno não reclamou, estava desesperado
pelos toques do outro, saudoso e necessitado.
Porque esse era o efeito de Jeon Jungkook nele: bagunçava tudo e trazia a
catástrofe, mas também surgia como a luz do sol após a tempestade.
Aquele garoto era seu grande amor. Sentia por ele todo o tipo de amor que
poderia sentir: amor de namorado, de amigo, de irmão, de pai pra filho, de
lobo pra lobo. Amava-o incondicionalmente e em todos os aspectos
possíveis.
— Eu sei, hyung, sou um imbecil! Juro que vou tentar controlar meus
impulsos, minhas desconfianças, minha imaturidade... Você não me deu
enormes motivos pra desconfiar de você, você sempre foi bom pra mim! —
o ruivo exclamou, jogando as mãos pro alto. — E eu vi... Eu vi que Taemin
quis te beijar. Mas mesmo me vendo beijar o Helsing na sua frente, você
não retaliou, não se vingou. Você teve o maior motivo do mundo pra jogar
tudo pro alto e me dar o troco, mas você não fez, hyung. Então... Eu vejo
agora. Eu sou sua escolha. Eu sempre fui sua escolha.
— É o que venho dizendo há, o quê? Sete, oito meses? — o moreno não
conseguiu segurar algum sarcasmo na voz.
Ele secou o rosto de Jungkook com os dedos, segurando a face bonita entre
as palmas, deixando seus olhos se perderem em tamanha beleza. Jeon tinha
um efeito em si, que o moreno jamais imaginara que alguém teria um dia.
Era inexplicável e simplesmente impossível de correr contra. E ele não
queria correr contra.
Jimin sorriu um tanto tristonho, mas ainda assim, seu coração estava cheio
de alívio.
— Não teria não — Jeon sorriu triste. — Você não é imaturo como eu,
hyung...
— Okay, eu só estava tentando aliviar pro seu lado. — Sorriu fraco. — Mas
ainda assim... Um beijo não é o suficiente pra destruir o que a gente tem. O
que a gente tem é forte demais... Você sente isso também, não sente?
— Você... Você só beijou o Helsing, não foi? Você... Não transou com ele
antes nem nada assim, certo?
— E com outras pessoas? Ficou com outras pessoas nesses mais de dois
meses que ficamos separados?
Jimin quase sorriu com a expressão do garoto, mas estava tenso demais pra
saber sobre aquilo, seu coração apertava de angústia.
— Sem mais segredos, amor. Pra nenhum de nós dois. — Foi assertivo.
— Mais ou menos. Eles estão numa relação aberta, parece. Namjoon não
gosta muito de drama, ciúmes e essas coisas. Mas de qualquer forma, foi
meio que um beijo de consolação. Eu tava chorando muito, depois de ver o
Taemin aqui na porta, com seus pais e o Yoongi, daí...
— Oh — o moreno fez uma expressão surpresa. — Sei que dia foi. Taemin
e Yoongi hyung vieram aqui em casa almoçar com os meus pais, mas eu
não estava. Quando cheguei do trabalho e dei de cara com o TêTê... — fez
um bico, desgostoso. — Quero dizer, Taemin... ficou o maior climão. Quero
dizer, eu não podia envolver meus pais na história, proibi-los de encontrar
Taemin e etc... porque o nosso problema era particular. Meus pais não
precisavam ser metidos nisso.
O moreno também fez um bico desgostoso e contrariado. Era claro que não
havia gostado nada de saber que a boquinha do seu garoto andara beijando
outras por aí, e naquela mesma noite. Mas como ele mesmo havia dito,
beijos não eram o suficiente pra acabar com a relação dos dois.
Park estava bravo e magoado, com toda a certeza. Mas ele não era do tipo
orgulhoso. Jimin era sensato, racional a adorava gastar tempo analisando
meticulosamente as coisas.
E por conta disso ele se conhecia bem o suficiente pra saber que perdoava
Jungkook ter beijado outras pessoas para irritá-lo. Não fora uma traição,
não estavam juntos afinal.
Então o que ele poderia fazer, se o seu maior desejo do mundo nos últimos
dois meses, era ter o ruivinho de volta pra si? Ele deveria fazer exatamente
o que? Reprimi-lo? Rejeitá-lo? Isso seria uma traição a si mesmo.
É claro, as coisas não ficariam por isso mesmo. Como namorado, Jeon
Jungkook estava perdoado. Mas como submisso, bem... Coitadinho. O
Alphadome tinha planos perversos para castigar aquele malcriado. Deveria
puni-lo, na verdade. Mas talvez, só talvez, Park Jimin andasse muito frouxo
nos últimos tempos, por conta de um certo bratzinho de cabelos cor de
cereja... Ou melhor, cor de vinho.
Como se numa dança bem ensaiada, Jungkook uniu as bocas outra vez.
E a partir dali, o beijo não tinha mais aquela urgência. Era devagar, lento,
delicioso.
As mãos do Jeon foram até a cintura do moreno, puxando-o mais pra si.
Não eram mais os toques brutos com os quais estavam tão acostumados,
não havia a urgência e o fogo de se terem logo, pois, naquele momento, eles
sabiam que não iriam a lugar algum. Não havia pressa.
Jeon quase derretia nos braços do homem que o dominava. Tocava seus
braços rígidos, os ombros estreitos, e as costas bem trabalhadas, por onde
seguia a linha bem marcada da coluna, num toque leve por cima da camisa;
era como se pudesse enxergar aquele corpo através do tato, tão bem o
conhecia. Suas mãos invadiram a pele por baixo da roupa do Park, roçando
as pontas dos dedos na tez.
— Tão fofo... Tão precioso... — sussurrou pra ele então, sem querer mais
esconder sentimento algum.
O moreno caiu sentado no sofá, e logo teve Jungkook sentado em seu colo,
apertando seus fios de cabelo, enquanto o beijava, suspirante.
— Eu sou completamente seu, Park Jimin. E serei pra você, o que você
quiser que eu seja.
Jimin precisou contar mentalmente até três, pra controlar seu bendito
coração agitado que martelava forte dentro do peito.
— Eu não quero que o aconteceu se repita, bebê. Quero estar numa relação
D/s e romântica com você, tendo a segurança de que não vamos nos ver
nessa situação dolorosa de novo... Eu sofri muito, Jungkook. E sei que você
também. Nós dois erramos...
— Não. Não é isso que quero dizer. Tenho certeza que você quer que a
gente dê certo, e que você quer controlar seus ciúmes... Mas as coisas não
funcionam assim. Não basta boa vontade. Às vezes a gente precisa de ajuda
externa...
Jungkook continuou fitando o ex-coronel, com atenção, mas seu rosto não
parecia transparecer as emoções daquela vez. Isso porque, o garoto estava
congelado, parado no tempo, enquanto sua cabeça raciocinava a todo vapor.
Mas não só tesão, como amor irradiava da pele do dominador. Ele queria
possuir Jungkook, mas queria mais ainda naquele momento, que o mais
novo o possuísse. Queria dele a única coisa que ainda não tinha...
Jimin repuxou um sorriso na lateral dos lábios, fazendo uma expressão que
poderia ser considerada bem cafajeste, de tão safada e cínica, mudando da
água pro vinho, terrivelmente dual, como era de costume.
— Não precisa, neném. Eu também não bebi muito, não cheguei a ficar
alterado, e se tivesse, já teria passado. Mas não quero restringir seus
movimentos. Quero que você tenha liberdade pra agir e me tocar como bem
entender...
— Ei, não vá tão longe. Eu não disse nada sobre me submeter à você. Já
falei que vou pensar nesse assunto... Mas não quero te dominar hoje, quero
transar baunilha. Entende? Quero fazer amor...
Sem se deixar abalar, afinal, Jeon não tinha nenhum desejo absurdo de
dominar o parceiro, apenas de experimentar, por curiosidade, ele sorriu,
acariciando a nuca do brat tamer.
Mas o beijo logo foi rompido, quando o dominador o empurrou pro lado no
sofá e se levantou, o fitando com um risinho safado.
O garoto o seguiu animado, mas demoraram três vezes mais de tempo pra
terminar de subir os degraus, uma vez que, atiçado e eufórico pra um santo
cacete, o Jeon não parava de puxar o quadril do Park pra trás e esfregar seu
pau duro contra a bunda dele, fazendo o mesmo ter de segurar-se no
corrimão vermelho incandescente.
E Jimin não podia negar: estava se derretendo com aqueles toques. Talvez
deixar o bratzinho tão livre não fosse tão ruim assim. Afinal, ele já estava
mais do que acostumado a tê-lo lhe tirando o poder um bocado de vezes.
Então ele deu play em uma melodia de batida sensual, tirou a própria
camisa, depois a calça, e aí sentou-se na cama, só de cueca vermelha, se
apoiando com os cotovelos pra trás, exibindo o corpo bonito e bem
trabalhado.
— Quero que tire a roupa pra mim de novo. Como daquela vez... — Jimin
declarou com aquela voz sussurrada rouquinha, que deixava o pau do Jeon
apontando pro teto.
— Não precisa rebolar, bebê. Só tire a roupa bem devagar, enquanto olha
pra mim. Não tire os olhos de mim... — comandou, voltando à seriedade,
aos poucos.
Jeon mordeu o lábio, excitado. E não precisou ouvir mais nada. Sem
camisa, tirou os sapatos, e com os botões já abertos da calça, desceu
lentamente o zíper, para depois brincar suavemente com a borda da calça
social. Os mirantes arredondados fitavam fixamente aos rasgados do Park,
que o encarava de volta, segurando o lábio entre os dentes, cheio de tesão.
Suas mãos magras deslizaram pelo próprio abdome, sabendo muito bem
como jogar aquele jogo, provocando o — agora e novamente — namorado,
até o limite. A canhota acariciou a nuca bem aparada, enquanto a destra
apertou o próprio pau teso, por baixo do tecido da boxer preta, ao passo em
que Jimin fazia o mesmo, porém, acariciando-se por cima da cueca
vermelha.
— Você gostou, hyung? — sussurrou, em um tom que era tão sexy, quanto
brincalhão. — Quer que eu tire a coleira também?
— Você disse que não queria me dominar agora, Jimin — falou, em tom de
flerte, o sorriso ladino jamais deixando seus lábios, nem os do ex-militar. —
Então por que está me dando ordens? — resmungou, com uma sobrancelha
arqueada, como o perfeito malcriado que era, se encaixando entre as pernas
abertas do moreno.
— Eu mandei, mas não disse que era pra você obedecer — afrontou.
— Ei... Sem lubrificante não, bebê. Eu não tenho lubrificação natural, nem
a musculatura anal preparada pra isso...
— Eu sei, hyung. Não vou meter sem te preparar primeiro — fez um
biquinho fofo. — Eu só quero roçar um pouquinho aqui... — esfregou mais
a cabecinha do caralho teso nas pregas alheias. — Porra, eu tô tão ansioso
pra te comer! — grunhiu, exasperado.
— Filho da puta! — ele respondeu, dando uma risada curta, que tão logo
transformou-se num gemido lânguido, quando o ruivinho girou os dedos
dentro de si com mais velocidade. — Fode logo, Jungkook! — reclamou.
— Bem que você disse que aguentava muito, hyung... — sibilou com um
sorrisinho ladino, ao vê-lo engolir tudo até o talo.
Jeon começou a sentir o suor brotar por todos os seus poros. Porra, estava
dentro de Jimin! Estava o fodendo! Sua pressão quase abaixava com aquela
fodida sensação. Ele sequer sabia pôr em palavras. Jimin era tão
apertadinho, quente e pulsante... Ou era seu cacete que latejava tanto ali
dentro?
Com calma, deu a primeira estocada, retirando-se quase completamente,
para entrar outra vez, até o fundo.
Outra estocada, dessa vez até a metade, apenas para se pôr para fora e voltar
indo mais fundo. O ex-militar apertou o corpo de Jeon contra si, deslizando
seus pés pelas panturrilhas do mais novo.
Ele metia com atenção, ainda que afogado nas próprias sensações, pois
precisava desesperadamente ter a certeza que seu hyung estava gostando,
afinal, qual seria a graça, pra um submisso, em não agradar o seu
dominante? E Jungkook era, naturalmente, submisso aquele homem
deslumbrante.
Jimin disse que queria transar baunilha, mas ver o ruivinho usando uma
coleira simples de veludo enquanto o fodia, era excitante demais.
Espiando as mãos do Park com as palmas viradas pra cima sobre o colchão,
o de genes ômegas deslizou a canhota pelo braço alheio, até seus dedos se
entrelaçarem. O toque das palmas quentes era prazeroso, de um jeito
carinhoso, romântico e apaixonado.
Era visceral.
Quando Jungkook pôs a língua pra fora, tentando beijá-lo outra vez, Jimin
foi rápido em capturar o músculo molhado entre seus lábios grossos,
chupando-o como um pirulito.
O ruivo gemeu do fundo da garganta, fazendo até mesmo seu peito vibrar,
até o som de estalo de sua língua sendo abandonada soar.
— Hmn... Adoro quando você faz isso, hyung... — disse, ao ter a língua
liberada.
Exatamente como quando o ex-tenente pediu para ser fodido, minutos atrás
na sala, o Jeon arregalou os olhos, surpreso, diminuindo um bocado o ritmo
de suas estocadas.
Deus, Park Jimin poderia ser mais sem vergonha? A safadeza daquele cara
era inexplicável.
O ruivo fez questão de chupá-lo por um bom tempo, entrando e saindo com
a língua macia, rodeando tudo ao redor, enchendo-o de saliva com suas
carícias molhadas. E logo seu cacete duro voltou a se enfiar entre as carnes
alheias, estocando agora vagarosamente, mas com intensidade.
Ele tentava ir devagar e fundo, mas qual o propósito, se o próprio alfa lúpus
pervertido queria bruto?
Ele não queria somente ter prazer como ato, e sim sentia uma necessidade
absurda de agradar o Park, de servi-lo e mostrá-lo o quão bom podia ser pra
ele. Por mais malcriado e provocador que fosse, Jeon Jungkook tinha a
submissão intrínseca ao seu eu.
O Park levou as mãos para trás, apoiando as duas palmas nas coxas de
Jungkook; os pés, apoiou no colchão, ficando todo abertinho em cima do
amado. Aí, com uma posição mais firme, rebolou com destreza sobre o
caralho do outro, buscando a própria próstata com seus movimentos
perigosos. Queria sentir a cabecinha inchada e molhada atingindo aquele
lugarzinho gostoso dentro de si. Queria gozar só com o cacete do namorado
malcriado dentro dele.
Bom, talvez não estivesse fodendo realmente ninguém, uma vez que era o
lúpus quem se empalava em seu pênis; não era ele quem metia. Mas fazia
alguma diferença? — Jeon pensou. E chegou à conclusão de que não, não
fazia. Era seu pau dentro de Jimin, afinal. Não importava se quem
comandava os movimentos era ele, o que importava era que seu namorado,
aquele cara fodidamente gostoso e sensual, estava se acabando em seu sexo,
como fogos de artifício em festa de ano-novo. Era fodidamente
maravilhoso. A sensação era quase transcendental.
Pro caralho aquela coisa de foda baunilha. Nada sobre aqueles dois poderia
ser baunilha.
O Park passou a quicar mais rápido na pélvis do outro, com tanta força e
velocidade, que ocasionava em estalos das peles se chocando pelo quarto. E
não deixava de encarar seu submisso nos olhos, se embebedando nas
sensações que o olhar luxurioso do garoto sobre si, lhe causava.
— Por favor, Jimin-ssi... — pediu mais uma vez, a voz soando quase como
a de um gatinho ronronando.
Park Jimin não conseguia mais se imaginar sem aquela sensação, sem
aquele sentimento. Não queria perder Jungkook nunca mais na vida.
Pronto para dar ao seu alfa o que ele queria, Jimin continuou engolindo
entre suas bandas toda a espessura do sexo alheio, sentindo a pequena dor
deliciosa de ser arrombado. Essa era uma das raras dores que o dominador
gostava, uma vez que era completamente sádico, e nada masoquista.
— E se você quiser que eu pare? — testou. Mas Jungkook tinha sido bem
treinado, afinal.
Jimin assentiu, orgulhoso, pois o havia ensinado bem; e então apertou com
um pouco mais de força a jugular do submisso malcriado, dificultando-lhe a
respiração, mas ainda sem cortar a entrada de ar pela boca e nariz.
Tão delicioso que o deixava muito, muito próximo de gozar. Tudo dentro
dele formigava. Quando o Park liberava sua traquéia e o sub engolia o ar
com força, a sensação de alívio era ainda mais instigante: causava uma onda
de prazer tortuosa.
Quando ele pensava em seus castigos, sentia certa excitação. Mas quando
pensava em suas punições, ahhh! Ficava triste em ter seu Domzão tão bravo
com ele, como da vez em que fora punido sem aftercare. Puxa, era tão
melhor obedecer o seu dono, e receber seu prêmio, ao final de tudo; pois
nada era um prêmio maior para si, do que agradar ao seu alfa, e vê-lo
orgulhoso de si... A não ser, talvez, por vê-lo irritado e bruto. Talvez isso o
instigasse mais que qualquer coisa.
As mãos do tamer apertaram o pescoço do brat, mais uma vez, privando seu
cérebro do oxigênio. Este percebia, pelo olhar de Jimin, o quão cuidadoso
este estava sendo com aquilo.
Jimin se sentia tão poderoso ao fazer aquilo... Era tão excitante! Era como
um dos seus santo-graal's dos fetiches. O ápice da dominação: ter tanto
poder sobre seu submisso, ao ponto de comandar quando ele poderia ou não
respirar.
Tudo dentro de Jeon queimava. Parecia que seu cérebro estava sendo
comprimido. Era um prazer indescritível, como a explosão de uma estrela
em supernova. Era como se todos os membros de seu corpo se
desmontassem, e logo após, se juntassem de novo.
E o ex-militar, ao sentir o gozo quente e molhado o encharcando, gemeu
excitado, com os lábios separados e a boca seca. Liberou então o pescoço
de Jungkook do aperto, este que sugou o ar com força, enquanto esporrava
dentro cuzinho apertado do ex-coronel.
Ele foi diminuindo as reboladas em cima do brat, até que Jeon terminasse
de gozar. Quando percebeu a explosão de prazer do outro se apagar, ergueu
o quadril, levantando do colo do sub, sentindo um vazio incômodo, quando
o pau melado do outro abandonou sua cavidade, caindo pesadamente por
sobre a barriga do dono, enquanto de sua entrada escorria a porra quente do
alfa.
Sentindo cada célula de seu corpo explodir de tesão, o mais novo separou
os lábios e pôs a linguinha abusada pra fora, o encarando safado, obediente
e ansioso, louco para sentir o sabor e a textura deliciosa da pele fininha do
pênis veiudo em seu músculo aveludado, louco para deslizar a língua por
toda a extensão saborosa.
O que Jungkook lhe oferecia, mesmo sem saber, era a novidade e satisfação
mais gostosas que pode imaginar algum dia. Estava amarrado
emocionalmente a ele. Totalmente entregue.
Foi sentindo toda a sua extensão ser coberta e abrigada pela boquinha
quente, a glande inchada tocando a úvula, e os sons sufocados que Jeon
automaticamente emitia, que o tamer gozou, de olhos fechados, sabendo
que nenhuma gota sequer encostaria na língua do sub: tudo lhe desceria,
literalmente, goela abaixo.
Seu orgasmo lançou ondas de prazer que irradiaram do baixo abdome pelas
coxas e tronco, passando pelas pernas e pés, peito e cabeça, até terminar
queimando na ponta dos dedos.
Jeon tossiu por alguns segundos; depois rolou no colchão e abraçou o Dom
de lado, inalando o cheiro almiscarado diretamente da pele da bochecha
deste.
— E você não sabe o quanto fico feliz de ouvir isso. De saber que satisfaço
meu garoto, do jeito certo... — o moreno sussurrou, olhando fundo naqueles
olhos redondos e negros de pedra ônix. — Eu te amo.
— Você vai dizer toda hora? Assim vou ficar mal acostumado... — Jeon
sorriu, brincalhão. Mas não era como se estivesse realmente incomodado,
pelo contrário: se pudesse, ouviria aquela frase sair dos lábios carnudos do
Park um milhão de vezes, sem cansar, parecia um sonho.
— Hyung... Nós vamos fazer amorzinho assim mais vezes, né? Com você
deixando eu te foder... — fez uma expressão pidona, arrancando um sorriso
do Park.
— Vai sonhando.
[...]
E o ruivo não poderia estar gostando mais. Foi se deixando ser levado de
volta pro quarto, andando de costas, enquanto o lúpus o segurava num
abraço e distribuía beijos bobos em todo o seu rosto.
Haviam começado com uma transa baunilha, mas no fim das contas,
acabaram fodendo bruto, valendo-se de práticas incomuns dentro do
BDSM, como sempre faziam, pois era assim que eles gostavam, já era algo
intrínseco a quem eram e à dinâmica que gostavam entre si.
— Chupa essa balinha, amor. Ela faz bem pra garganta. É pra que ela não
fique muito machucada pelo Choking — explicou, colocando-a na boca do
ruivo, que a capturou com a língua. — Você vai ter que beber muita água
também, ok? Precisa hidratar as cordas vocais. Sua garganta deve ficar
doloridinha por um dia ou dois. Vai me dizendo tudo o que você for
sentindo, tá bem? — E com um sorriso genuíno na face, deu um beijo
estalado na bochecha gordinha do submisso.
— Você gosta mesmo? — perguntou. — Gosta tanto assim que eu seja seu?
— disse se movendo no colchão, fazendo com que seu corpo ficasse deitado
de lado, e o de Jimin também, um de frente pro outro, as pernas ainda
atreladas.
— Você não percebe, o quanto sou louco por você? Como me tem nas
mãos, uh? — murmurou, deslizando a ponta do nariz afilado, no nariz
grande do mais novo. — Entende de uma vez, que eu tô' irreversivelmente
apaixonado por você, seu pentelho malcriado... — provocou rindo.
Jungkook gargalhou, todo bobo, e deu um tapa na bunda do Park, que riu
mais ainda.
Jimin delicadamente segurou o maxilar do garoto entre seus dedos, para que
pudesse comandar o beijo, e ficaram ali por minutos a fio, naquele
momento gostoso, sem malícia. Apenas beijando, as línguas se acariciando,
se sentindo. Os corações batendo dentro do peito, acelerados. As pontas dos
dedos deslizando sobre as peles quentes e arrepiadas, pelo toque um do
outro.
— Jimin... — o ruivo chamou, entre seus lábios, recebendo atenção. —
Você não vai me castigar ou... punir, né? Por causa do que eu fiz? —
indagou com a expressãozinha apreensiva de coitado.
O moreno abriu um sorriso extremamente lento, tão sádico, que era quase
como o gato Cheshire.¹
— Vamos conversar disso mais tarde, amor. Agora quero recuperar o tempo
que perdi sem você... — e voltou a beijá-lo.
Mas Jungkook sabia que era uma ameaça velada... Ou uma promessa
velada. Sim, certamente a segunda opção. E constatar aquilo o deu um puta
frio na barriga.
Contudo, logo seu medo foi afastado, ao se perder nos lábios do ex-coronel.
Uma pessoa sempre será uma pessoa inteira, e não meia pessoa, para que
apenas se sinta completa com outra.
E aquela paixão havia chegado a um ponto que seria impossível voltar atrás.
Dali pra frente, tudo seria mais intenso do que nunca, estava claro.
https://youtu.be/n7nQ5cWgva0
Virando-se no colchão, Jeon viu a luz suave por baixo da porta do banheiro
da suíte, onde o ex-militar tomava banho. E então algo falou mais alto que
seu sono: tesão.
— Bom dia, bebê — o moreno respondeu, se virando de frente pra ele, com
um sorriso preguiçoso moldando os lábios grossos.
— Não pede pra foder, amor. Meus pais chegaram pouco antes do dia
clarear, então com certeza vão dormir o dia inteiro e… você sabe, nós dois
não somos muito silenciosos na cama — exibiu um sorriso de canto.
— Foi diferente. Saber que meus pais podiam chegar a qualquer momento
gerava medo e expectativa. Saber que eles estão no quarto da frente,
ouvindo os sons da nossa foda é completamente diferente. Não é excitante.
— Negou com a cabeça. — É desconfortável. E sem noção. E também meio
nojento. — Fez uma caretinha fofa, franzindo o nariz.
— Então eu quero passar o dia inteirinho com você, hyung. Quero matar a
saudade… — o mais novo disse imediatamente, aproveitando-se da careta
do outro para apertar seu nariz, como se faz com uma criança.
Jeon estava sentindo alívio em cada poro do seu ser. Ter Jimin cuidando
dele daquele jeito era tão prazeroso! Era a mesma sensação de receber um
abraço quentinho. Em especial, depois de tanto tempo sem ele e seus
carinhos, tendo que se virar sozinho naquela vida fria e solitária. Ah, a vida
sem Park Jimin era tão cinza, sem cor...
Depois, o lúpus secou o próprio corpo e cabelos, antes de sair do banheiro e
puxar o namorado pela mão, enrolando-o na toalha como um bebê — o que
era cômico, já que Jungkook era mais forte e mais alto que o Park.
— Certamente. Mas já vou ligar pra um deles e reservar uma mesa pra
gente jantar mais tarde, depois de pegar um cineminha, talvez. O que acha?
— O Park ofereceu em tom suave.
Com aquela resposta, o Jeon voltou-se pra trás de vez, para que pudesse
olhar bem no rosto do ex-coronel, com uma expressão confusa, os olhinhos
redondos levemente arregalados em surpresa, e um pequeno bico na boca
bonita.
— Você sabe que eu e Hoseok vamos te ajudar com dinheiro. E na pior das
hipóteses, você sempre pode vir morar comigo. A proposta ainda está de pé.
Desde o começo — disse, direto, mas tentando manter uma pose
descontraída, quando, por dentro, quicava de ansiedade, desesperado pra
que o alfa dissesse “sim, eu aceito!”.
O moreno imediatamente levantou os olhos pro garoto, com uma perna pra
dentro da calça de moletom branca e a outra perna ainda fora, quase
perdendo o equilíbrio e caindo no chão, desengonçado.
— Bem, é por isso que tô falando com você — respondeu, meio acanhado.
— Sei que se eu vier morar aqui, você não vai querer que eu pague nada,
então… Se for assim, posso pagar a mensalidade do curso com o salário do
meu próximo emprego. Quando eu conseguir um, é claro. O que pode ser
amanhã, como pode ser daqui há um milhão de meses. — Revirou os olhos,
cansado, só de imaginar.
— Ei, ei, ei, não se anima tanto não, projeto de sugar daddy — brincou. —
Ainda quero ser relativamente independente. — Empinou o nariz. — E
você não é mais um militar, não ganha tão bem assim, se aquieta. Deixa que
com a faculdade, eu me viro. Basta você me alimentar, me vestir e me dar
um teto. E, claro, me dar amorzinho, carinho e atenção, se não o bebê fica
triste. — Deu um sorriso sapeca.
— Eu tava pensando em alguma coisa voltada pras artes. Mas isso pode não
ser muito efetivo pra ganhar dinheiro, então eu pensei em, sei lá... Educação
física, por exemplo — deu de ombros. — Vai ser fácil arrumar trabalho
como personal trainer, tem academia em tudo quanto é canto…
— Personal trainer? Jungkook, qual é, você não aguenta dar duas voltas
correndo no quarteirão!
Dessa vez, foi o mais novo quem o olhou de cima a baixo, afastando o
moreno de si, com pouca força, fingindo-se indignado.
— Nem vem, hyung! Você sabe que eu gosto de malhar, todo dia eu tiro um
tempinho pra fazer agachamento, flexão, abdominal…
O garoto ficou pensativo por dois segundos, antes de disparar a rir, dando-
se por vencido.
— Tanto faz — deu de ombros. — Mas você também não é o Rambo¹ não,
tá legal?
— Não mesmo, eu estava bem acima dele. A Aeronáutica tem cinco níveis
hierárquicos, e eu já estava no quarto maior patamar. Era um Oficial
Superior. Faltava pouco tempo pra eu me tornar um General, na verdade. —
Fez uma suave expressão chateada. Mas rapidamente sacudiu a cabeça e
afastou o pensamento nostálgico. — Bebê… — o moreno aproximou-se
sorrateiro, outra vez. — Eu fui militar a minha vida toda. Se tem uma coisa
na qual sou bom, são exercícios físicos. Ou você acha que eu ficava só
pilotando aviãozinho? — Arqueou uma sobrancelha, como se desafiando o
outro a contestar.
— Ai, eu tava com tanta saudade disso, neném… — declarou com um olhar
sonhador, para então estalar um beijo carinhoso na bochecha do mais novo.
— Vem, vamos tomar café. Já passou da hora do almoço, na verdade. Mas a
gente janta mais tarde, depois de ir ao cinema.
E o puxou pela mão, pra que pudessem sair do quarto e descer as elegantes
escadas suspensas de LED.
— Você pediu isso tudo só por causa de mim? — Jungkook sorriu grande,
se aproximando e segurando o moreno pela cintura.
— Eu te amo mais…
— Claro que não, ninguém toma café à uma e meia da tarde, bebê — riu-se.
— Ah, e os seus pais? Devemos deixar uma parte pra eles comerem quando
se levantarem, né? — falou, enquanto desembalava os alimentos e os
dispunha sobre a mesa arrumada.
— Naah… Podemos comer tudo. Meus pais gostam de comer o que eles
mesmo cozinham. É uma questão de ego, por serem donos de restaurante e
acharem um desperdício gastar dinheiro em comida pronta. — Deu um
suave revirar de olhos, descontraído.
— Eu não como tanto assim — ele resmungou com a boca cheia de bolo.
Jimin sorriu e sacudiu a cabeça pra um lado e pro outro, tentando não cuspir
o café quente que bebericava.
Então o mais novo decidiu fazer vista grossa. Talvez fosse só um costume
que Jimin tivesse adquirido nos últimos meses, afinal. Era só um licor de
cereja, pra dar mais sabor ao café. Não havia necessidade de se alarmar.
Por isso, ele resolveu deixar pra lá e mudar de assunto. Acusar o ex-coronel
de ter virado alcoólatra ou algo do tipo, apenas causaria uma discussão.
— Ah… Então melhor não. Poxa… — o moreno fez uma falsa expressão
de tristeza. — Já tava fantasiando com você de óculos e uniforme,
segurando uns livrinhos, enquanto eu te empurrava de bruços na mesa do
professor e te fodia gostosinho.
— Sim. Sinto falta de age play. E a gente nunca brincou mudando a idade
de sempre, né? Eu só faço o bebêzinho arteiro de três anos… — referiu-se
às várias ocasiões durante o relacionamento, onde fizeram a brincadeira.
— Não sabemos se você vai se identificar como Teen, você curtiu ser um
Little desde o primeiro momento…
— Ah, eu não era muito diferente do que sou agora, quando adolescente. —
Deu de ombros, acariciando a nuca do moreno, enquanto mastigava um
biscoito amanteigado.
— Humn… Gosto da ideia. Você teria que se comportar desse jeito, então.
Ah, eu quero, Vamos fazer! Mal posso esperar pra ter você todo
envergonhadinho e obediente, desviando os olhinhos, com as bochechas
coradas e o cabelo suado grudando na testa, enquanto eu te fodo na mesa…
— Por que você que vai ser o ativo? E se eu quiser que você me amarre na
cadeira com a minha gravata, e sente no meu pau até eu gozar, Professor
Park? — Cruzou os braços, fingindo-se de bravo, mas era uma brincadeira
com fundo de verdade.
Jimin encarou o submisso malcriado, com uma expressão de seriedade
perfeita, antes de rolar os olhos por ele, de cima a baixo, e dizer:
— Para com isso! Você sabe que me deixa com muito tesão quando fica
rude! — E em seguida, avançou pros lábios do Dom, sedento.
Jimin tentou escapulir, mas o garoto era mais forte, e logo tratou de segurar
os braços do alfa lúpus, tascando-lhe um beijo na boca, de onde sentiu o
saborzinho suave do licor de cereja misturado ao café amargo.
Com isso, o Park mordeu o lábio do outro com certa força, fazendo-o se
afastar num pulo.
— Seu canibal! — Jeon riu safado, tocando o lábio dolorido com a ponta
dos dedos. — Agora vamos foder. Quero te comer!
— Ou você me obedece por bem, ou vai obedecer por mal. — Puxou mais
forte, forçando a cabeça do mais novo para trás.
— Esse é o jogo que você quer, seu malcriado? Uh? — Soltou o cabelo
alheio e estalou outro tapa na bunda do rapaz, que deu um pulinho de
imediato.
O ruivo sorriu com a língua entre os dentes, como o malandro que era, e
afastou as coisas na pontinha do móvel, sentando-se sobre a superfície em
seguida, de pernas abertas e de frente pro Park.
— Eu achei que vocês fossem acordar mais pro fim da tarde, já que
chegaram em casa só de manhã. A noite de salsa foi legal?
Os três alfas na mesa fitaram o beta com olhos arregalados pela súbita
indelicadeza.
— Paizinho!
— Não quero brincar com o seu filho, senhor Park — disse então, com
seriedade. — Nós conversamos muito ontem à noite e…
— Conversaram? — ele retrucou. — Não pareciam estar conversando,
quando eu e Saem chegamos em casa. Parecia mais uma luta de MMA
dentro daquele quarto! — Foi venenoso.
— Pai, pára com isso! — Jimin reclamou, contrariado. — Por que está
agindo assim? E além do mais, vocês chegaram em casa quase de manhã.
Eu e Jungkook nos resolvemos durante a noite. Não tem nada de anormal
em passar as horas seguintes fazendo sexo de reconciliação!
— Não ligue pro seu pai, Pitiquinho — intrometeu-se Saem. — Ele só está
sendo superprotetor e ridículo. — Fez uma cara nada boa pro marido beta.
— Eu não estou sendo ridículo! Nós vimos o estado que Jimin ficou durante
essa separação. E, como eu te disse aquele dia, Jeon-ssi, se for pra ficar
fazendo meu filho de bobo, é melhor que suma da vida dele, de uma vez por
todas! Já não basta o que ele sofreu por causa daquelezinho...
O ruivo estava embasbacado e magoado com o tom do sogro, mas antes que
pudesse responder qualquer coisa, Jimin levantou-se, irado.
— Está vendo, Saem? Não faz sequer um dia que está de volta com esse
rapaz, e já está se virando contra a própria família! — disse à esposa.
A mulher suspirou e pediu desculpa aos dois mais novos com o olhar, antes
de voltar-se ao marido:
— ChinHae, você está sendo ridículo. Quer parar? Jimin é nosso filho, mas
estamos na casa dele. E como ele e Jungkook levam a relação é, também,
um problema deles. Jimin está certo, você está passando dos limites! E
ainda está deixando o Jungkook desconfortável. Mas que falta de
delicadeza!
— Eu… Eu acho melhor não atrapalhar vocês. Vou terminar de tomar café
em casa — falou em voz baixa, desanimado e com o olhar caído.
— Não, hyung, é sério. Você não os vê há muito tempo, e não quero que
briguem por minha causa. Seria injusto. Seus pais te amam muito, e se eu
tivesse pais amorosos como os seus, jamais brigaria com eles pra defender
ninguém. Especialmente alguém que está no erro, como eu — murmurou,
cheio de vergonha e em tom acuado.
ChinHae fitou o filho com um olhar triunfante que dizia: “Viu só?”
[...]
O moreno sorriu de canto, sentindo aquela coisa gostosa no peito toda vez
que via seu amorzinho, especialmente ao se dar conta de que o humor dele
não tinha ficado irritadiço, defensivo e nem melancólico com o
desentendimento com seu pai, na casa do outro lado da rua, um par de horas
atrás.
— Ah, Namjoon hyung disse que vai separar algumas caixas de papelão pra
mim, à noite vou lá na lojinha buscar. — E então mudou a série de
exercícios pra de agachamentos, subindo e descendo os glúteos durinhos no
ar.
— Não, meu amor. Eu já te disse que não sou assim. Posso ter dado a
impressão oposta quando surtei de ciúmes por causa do DOM Helsing...
Mas eu ainda não acho certo limitar as pessoas com quem meu submisso
pode falar. Respeito quem prefere fazer assim e quem aceita estar numa
relação desse tipo, mas não é o que entendo ideal. Eu só estou enciumado.
Vai passar...
Mas o Jeon não parou o exercício por isso. Deixou o namorado se pendurar
em suas costas, enquanto ele continuava a fazer seus agachamentos,
flexionando os joelhos, agora com um grande peso a mais.
Jimin estava nas nuvens. Feliz como nunca. A sensação de ter Jungkook de
volta era um alívio indescritível. Ele não seria capaz de pôr em palavras,
nem se tentasse.
Mas não podia negar aquele pequeno desconforto no peito, toda vez que sua
mente o bombardeava com as memórias da noite anterior. As memórias de
antes da reconciliação.
Sim, as imagens de Jungkook o encarando com fúria e beijando aquele
outro alfa na The Cave, o estavam sufocando, desde que acordara.
Ele não queria tocar no assunto. Se havia perdoado Jungkook por aquilo
tudo — uma vez que sabia que este não estivera realmente movido por
racionalidade quando o magoara —, não havia necessidade de ficar
cutucando a ferida — o que não significava esquecer. Perdoar e esquecer
eram coisas completamente diferentes.
Perdoar era saber que uma coisa ruim acontecera mas lidar com ela tendo a
consciência de que não havia modo de se voltar ao passado e desfazer os
erros, somente aceitá-los e encontrar um bom modo de lidar com eles, de
forma que estes não machucassem mais.
Todavia, ainda era cedo — cedo demais — pra que pudesse evitar que
aquelas memórias não incinerassem brutalmente o seu peito.
Fora por isso que o moreno decidira anestesiar-se tão logo acordara, com
álcool. Era aquilo que usava para amortecer seu sofrimento, desde que se
entendia por gente, especialmente naqueles dois meses de fossa.
Ele sabia que aquilo não parecia bonito pra quem via de fora. Mas o Park
sempre fora dono do próprio nariz. Sempre responsável demais — por si
mesmo e pelos outros. Por isso, ele sabia perfeitamente o que estava
fazendo.
Enquanto procurava por uma taça grande nas louças de Jungkook — o que
ele sabia não ter, mas que esperava ter esquecido alguma sua por ali —, não
ouviu a porta do banheiro se abrindo, nem os passos do Jeon indo até o
quarto e depois caminhando até a sala.
— Você não vai beber isso agora, mocinho. Se quiser, mais tarde a gente
pode encher a cara. Não agora. Não são nem quatro da tarde ainda! —
ralhou.
— Mas nada. Nem vem — Jeon foi assertivo, o fitando de olhos apertados.
— Sei que você gosta de beber além da conta, General…
— Que seja. Mas você não vai beber isso a essa hora. E fim de papo. —
Rodeou a bancada e enfiou a garrafa de bebida dentro da geladeira. —
Agora, será que você pode assistir um filminho comigo e me dar atenção?
Eu quero ficar de chameguinho com você! — disse em tom muito sério,
arrancando um sorriso contido do moreno, que amolecia pra ele com
facilidade.
— Tudo bem, bebê — concordou, abraçando o corpo maior que o seu, e
aproveitando-se pra sentir o cheiro docinho de ameixa e maçã em sua pele
limpinha. — Mas só um pouquinho. Vou levar meus pais na estação de
trem, mais tarde. Você vem comigo? Prometo que meu pai não vai dizer
nada ruim pra você, já conversei com ele…
— Esse sofá vai ficar lá na nossa sala. Ele é mais confortável que o meu. —
Analisou o estofado de veludo preto que havia dado de presente ao Jeon,
poucos meses atrás.
O moreno não se chateou; não com a coisa do anel. Mas a maldita situação
que queria empurrar pro fundo de sua mente, juntamente às cenas de
Jungkook beijando outra pessoa em sua frente, começou a infernizar o seu
juízo, como já era esperado.
— A gente tinha combinado que a culpa era de nós dois, certo? Então não
vamos falar assim. — E acariciou os cabelos tingidos de seu amorzinho. —
Amanhã eu vou procurar aquele terapeuta pra nós. Vai dar tudo certo —
prometeu. — A gente vai ficar juntinho. E bem. É o que eu mais quero no
mundo — disse, fitando-o como se visse a constelação inteira frente a si.
[...]
— Isso, mas puxa um pouquinho mais pra esquerda — Min Yoongi disse
em tom autoritário, sentado na sala da casa de Jimin (ou melhor, na casa de
Jungkook e Jimin), poucos dias depois de toda a confusão na The Cave e a
consequente volta do casal de alfas esquentadinhos.
Espiando o estofado com atenção, ele disparou, após mais um gole em sua
bebida:
Jungkook, que até então secava a testa suada com a barra de sua camisa
preta de algodão, levantou o olhar, sorrindo radiante pro amigo. O brilho de
sua aliança prateada recém-encontrada fora refletido pela luz do sol de fim
de tarde entrando pela janela da sala, quase cegando o beta.
— Tá com inveja porque eu tô casando, enquanto você vai ficar pra titia?
— Implicou.
— Vai se foder, vai! — o switcher devolveu, rindo. — Você tem sorte de ter
encontrado o Jimin. Esse cara é um anjo, só por aturar você. A vaga dele no
céu tá garantida, assim como a minha.
— Ah… Eu não deixava — instigou o malicioso ômega loiro, divertindo-se
com o arranca-rabo dos amigos.
— Primeiro: a planta é de plástico. Eu falei pra você ontem, três vezes. Mas
você 'tava bêbado e esqueceu — o rapaz retrucou. — O que nos leva ao
segundo item: você está bebendo demais. E eu já falei que não vou deixar e
ponto final.
— Jimin, nem o meu Tio Zé, que foi alcoólatra por quinze anos, bebia licor
no café da manhã…
O moreno suspirou e preferiu não discutir. Ele sabia que o namorado estava
certo. De fato, quando começava a beber, nao queria mais parar. E não era
nada saudável beber nas quantidades que ele vinha bebendo nos últimos
dois meses.
Ainda que tivesse voltado a beber por culpa do término com Jungkook, ter
voltado com ele não o impedia de sentir vontade de beber. Infelizmente,
tornara-se um hábito. E quando pensava na euforia e leveza trazida pela
falta de lucidez induzida pela bebida, ele só queria mais e mais. Um dia sem
ficar doidão era um dia um tanto sem graça.
— Ah, é, eu esqueci que Jimin tem essas manias terríveis de gente rica…
— o beta retrucou.
— Lembrando que o quer que ele vá pedir, vamos todos dividir o valor,
hein! — disse o Jeon. — O Senhor Coronel e eu aqui, combinamos que ele
precisa aprender a controlar as finanças. Ele não é mais o Tenente-coronel
fodão da Aeronáutica, e eu vou entrar na faculdade agora, então não
sabemos se em algum momento vou precisar ficar sem trabalhar ou se vou
dar conta de trabalhar e estudar ao mesmo tempo em algum momento, por
isso vamos nos precaver. Aliás… Agora sou eu quem vai controlar os
gastos da casa, sabiam? A gente decidiu isso ontem, na nossa reunião de
moradores. No caso, eu e ele, porque só moramos nos dois, vocês sabem.
— Por isso mesmo. Eu tenho a loja de vinis, então só gasto o que lucro com
ela. O dinheiro do meu pai, guardo na poupança. Eu tenho um planejamento
que você já conhece: quero ter três filhos. Todos eles vão estudar nas
melhores escolas e nas melhores universidades. Por isso eu economizo o
máximo que posso.
— Sério? Onde?
Do outro lado da sala, Yoongi quase engasgava, mas o olhar pedinte que
Hoseok o lançava, fizera o ômega manter-se calado.
— Mas pra isso não precisa ter experiência na área ou alguma graduação
específica? — Jeon retrucou, de olhos arregalados e cara de idiota.
— Claro que precisa, mas não é como se você fosse ter que fazer algum
trabalho grandioso. É só preparar café, agendar reuniões, organizar e-mails,
marcar entrevistas com a mídia, essas coisas que qualquer um pode fazer…
Mas é um trabalho pesado. Por isso você, sendo jovem, é uma boa opção.
Vai ter mais gás.
— Mas devem ter pessoas com mais experiência nisso concorrendo à essa
vaga, né? — assimilou, cabisbaixo.
— Ei, não se preocupe, eu indiquei você, porque esse cargo exige sigilo
sobre muitas coisas relacionadas aos negócios da empresa. Então eles
precisam de alguém confiável. Tem termo de confidencialidade pra assinar
e tudo. Pra que você não venda informações privilegiadas à concorrência,
entende? Por isso é mais importante um secretário confiável, do que um
com experiência. O CEO é um conhecido meu…
— Eu também não acho uma boa ideia, não. Especialmente se for alguém
da The Cave. Jungkook não pode trabalhar com alguém que saiba tanto
sobre a vida privada e sexual dele, e vice e versa. Como ele vai se portar
sabendo que o chefe curte foder amarrado e tomar cuspida na cara, ou algo
do tipo? Você tá doido?
Então ele se levantou e pôs-se ao lado do ruivo, circulando sua cintura com
o braço:
— Ei, bebê. Pensando melhor, acho que você poderia tentar. Tem toda a
coisa da confiança e do contrato de confidencialidade… Parece seguro.
— Mas…
[...]
A primeira coisa que Jungkook pensou, foi que pra estar nos andares mais
altos daquele lugar, essa pessoa deveria ser dona do mundo. Ele nunca foi
ganancioso, nunca deu tanta importância assim ao dinheiro, mas isso se
devia a sua anterior realidade de garotinho rico da elite coreana. O ruivo já
provara o suficiente da classe baixa, pra que não gostasse mais tanto dela
assim. Experimentara por quase sete anos, pra ser exato. Desde que havia
abandonado a casa dos pais médicos.
E por isso, Jungkook estava tão ansioso, que tremia dos pés à cabeça.
Aquela era uma oportunidade grande. Enorme. Algo que ele só seria capaz
de conseguir outra vez na vida, se fosse com a ajuda desprezível dos pais.
Seguiu até a sala principal, que era uma ante-sala da sala do CEO, vendo
duas escrivaninhas, uma de cada lado da porta. A da esquerda estava
arrumadinha demais e um tanto vazia. Não parecia que havia alguém
usando-a naquele dia. Já a mesinha da direita, estava abarrotada de amostras
de tecido, uma pilha de revistas, canetas, documentos e uma maquete por
cima do notebook — que parecia uma maquete de passarela, com alfinetes
coloridos nas laterais, carregando nomes. Certamente era o mapa de
assentos de algum desfile cheio de celebridades, Jungkook assumiu.
Ela se levantou, afobada, e veio falar com Jungkook, que a vendo de perto,
podia reparar nas olheiras fundas sob a pele clara da assistente.
Ela tinha cheiro de chocolate e café, duas coisas que Jungkook gostava, mas
que ali, combinadas, fazia seu nariz franzir em leve desgosto. Cheiro ômega
o deixava realmente enjoado.
— Senhor Kim vai te entrevistar agora, mas antes — ela abriu bem os olhos
claros e segurou Jungkook pelos ombros, o assustando um bocado pela
urgência em sua expressão. — Preste bem atenção, novato — disse séria. —
Não me importa o que você é ou o que você faz, mas vai entrar naquela sala
com toda a confiança do mundo e fazer aquele homem contratá-lo! Você é
minha última chance! Está vendo isso aqui? — Ela apontou pro próprio
rosto, falando de forma agoniada. — Isso são os quatro meses que estou
sem dormir! Vê a minha mesa? — Apontou pra escrivaninha bagunçada. —
Esse é todo o trabalho que preciso fazer. Eu tenho hora pra chegar e não
tenho hora pra sair. Sabe por quê? Porque ninguém aguenta trabalhar pro
Kim! Vê aquela mesa vazia? — Apontou para a da esquerda. — É como
uma mesa amaldiçoada. Ninguém que se senta nela, permanece neste cargo
por muito tempo. E sabe quem se ferra com isso? Eu! Porque todo o
trabalho sobra pra mim! Tive que passar a noite de natal aqui, pelo amor de
Deus! — ela grunhiu, dizendo tudo em um tom sussurrado meio raivoso,
pra que somente o ruivo apavorado pudesse ouvir. — Ei, não faz essa cara
não. — Ela pôs um dedo acusador em frente ao rosto de Jungkook. — Essa
é a expressão de pavor que eu faço pra mim mesma todos os dias. Minha
vida depende de você conseguir esse cargo! E se você não durar, eu
descubro onde é sua casa e te mato enquanto dorme — ameaçou, da forma
mais perigosa que podia.
Mas o negócio é que pra uma magricela de 160 cm, em pé sobre saltos de
bico fino e embalada por um vestido tubinho preto que marcava seus ossos
da bacia, ela parecia tão assustadora quanto um cachorrinho pinscher.
Jungkook sequer teve a oportunidade de perguntar a ela seu nome, pois logo
a ômega já estava com o telefone no ouvido, dizendo:
Foi só então que o Jeon fitou a porta toda. E viu o nome pendurado em uma
placa brilhante presa na madeira:
— O que foi, alfa? Entra logo nisso daí! — ela rosnou, o empurrando.
Sem ter pra onde correr, Jungkook girou a maçaneta, se pondo pra dentro.
Antes de fechar a porta, ficou travado frente a ela.
O CEO estava sentado atrás de sua mesa sobre uma enorme poltrona de
couro, de costas pra si, observando a vista lá fora, pela enorme parede de
vidro de sua sala.
— É mau educado não dizer bom dia, Jungkook — o outro disse, ainda de
costas pra si.
— Isso não se faz, Taehyung! Não se brinca com coisa de emprego! Você
sabia que eu era o candidato, então por que diabos marcou essa entrevista?
Só pra poder tirar uma com a minha cara, é? Eu gastei uma grana nessa
porcaria de terno novo, só pra impressionar o diretor e conseguir a vaga!
Pra chegar aqui e descobrir que o CEO é justo você? — Foi despejando
tudo, fulo da vida.
E então Taehyung girou a cadeira, ficando de frente pra ele. O outro alfa
estava sentado de modo desleixado, os braços apoiados na lateral na
poltrona. Usava uma camiseta branca de botões gordos, junto a um terno
estampado totalmente colorido e vibrante, uma mistura de cores; tinha
verde, amarelo, roxo, vermelho, laranja e azul.
Jeon podia apostar que o preço de todas as peças no visual daquele alfa,
somadas, eram superiores a meio ano de aluguel da sua kitchenette.
— Olhe bem pra mim, Jungkook — disse sério, deixando sua pose ereta e
altiva, antes de se levantar da poltrona e começar a perambular pela sala
espaçosa. — Você acha mesmo que sou do tipo que brinca com trabalho? Se
eu fosse assim, acha que estaria aqui onde estou? Comandando a maior
multimarcas de grifes bilionárias ao redor do mundo, sendo dono de todas
as salas deste prédio, responsável pela vida de mais de cem mil funcionários
da Stigma? Você é um pouco burro… — Sorriu debochado, enfiando as
mãos nos bolsos do terno colorido.
Aos poucos, Jeon foi descruzando os braços, mas ainda de lábios franzidos.
O Kim apontou para a cadeira em frente a sua mesa, convidando-o
silenciosamente a sentar-se.
— Mas, ainda assim, preferi te entrevistar. Foi uma boa ideia de Hoseok.
Ninguém aguenta o trabalho deste cargo. E você não vai precisar ter algum
conhecimento específico pra realizá-lo. A parte mais técnica, por assim
dizer, fica nas mãos da Senhorita Kincaid, lá fora. A pobre coitada está
atolada com funções de secretário assistente, quando deveria cumprir
apenas as funções de secretária principal.
Taehyung não parecia tão arrogante e arisco agora. Talvez fosse o ambiente.
— Bem, você sabe fazer café, buscar comida, enviar e-mails, preencher
planilhas e fazer ligações?
— Sim.
— Não há nada mais que precisa me perguntar? Estudar meu perfil? Fazer
testes comportamentais?
— Ótimo. Lhe pago três vezes esse valor, e você ainda pode escolher, uma
vez por mês, um look completo das marcas que revendemos, como cortesia.
Isso, claro, pra te ajudar a se vestir bem, não gosto que meus funcionários
trabalhem maltrapilhos, temos uma imagem a manter. Afinal, esta é uma
companhia de moda.
— Sim — Taehyung deu de ombros. — Por que? Acha pouco? Não posso
te pagar mais do que pago à Senhorita Kincaid. Hoseok deve ter lhe
explicado sobre o contrato de confidencialidade também, certo?
Jeon piscou os olhos, o corpo estático. Ele estava tão chocado quanto um
ávido leitor ao chegar no plot twist da história.
— Por que está fazendo isso? Você não me suporta, ainda que a gente tenha
meio que "feitos as pazes". Nosso acordo de paz não parecia tão grandioso
assim. Sabe que isso não vai fazer Hoseok hyung voltar correndo pros seus
braços, não sabe?
[...]
— Com o salário que ele vai me pagar, vou poder me dar ao luxo de
guardar uma poupança, sabia? Um mês de trabalho na Stigma, equivale a
três meses de trabalho na lojinha. Não me importam as motivações daquele
insuportável. Eu preciso ficar com esse emprego.
— Você percebeu que vai ter que abaixar a cabeça e se submeter a ele,
certo? E que se ele te humilhar, você vai ter que engolir as palavras e
aceitar… Taehyung só submete no sexo, e ainda assim, somente depois de
ser derrotado. Ele literalmente nunca abaixa a cabeça. Yoongi diz que às
vezes ele parece um maldito e teimoso dominador...
— Já pensei nisso. Não importa, hyung. Ao menos com ele sendo meu
chefe, consigo refrear meus impulsos de partir a cara dele. — Deu de
ombros.
— Espero realmente que isso dê certo. Eu tô assombrado, bebê. Quando
Yoongi falou, eu pensei "O que diabos eles pensam que tão fazendo?"
Entretanto, uma coisa havia voltado aos eixos em sua vida, e serviria-lhe
como uma espécie de calmante: Jimin era dele outra vez.
Jeon sentia que havia perdido dois preciosos meses sem o amado, mas
agora que o tinha pra si outra vez, a relação parecia ainda mais brilhante.
Estavam morando juntos, vivendo como um verdadeiro casal...
Conversavam muito, riam muito, transavam pra cacete…
#CobraSorrateira
Tudo ali era de madeira maciça, e passava uma sensação de conforto; como
uma cabana de férias na floresta. Proposital. Assim como a escolha de
roupas da experiente terapeuta de classe beta, que tinha cabelos acobreados
em cachos suaves e usava roupas sóbrias em tons pastéis, passando
delicadeza até mesmo em seus movimentos de mãos ou um mero jogar de
cabelos.
— Diz pra ela, bebê... — pediu o moreno, com a voz suave, acariciando a
mão grande do de genes ômegas, que descansava em cima da própria coxa.
— Eu também estou curioso. — Sorriu doce.
— Mesmo? — o ruivo sorriu bobo. — Não sabe as coisas que mais admiro
em você? — Deu um sorriso de lado, galanteador.
— A quarta... Bem... É muito bom que você seja rico, pra me dar quantos
M&M's vermelhos eu quiser — o mais novo admitiu, com uma expressão
risonha. O que só causou no menor, um riso ainda mais escrachado, com
uma gargalhada mais alta.
— Você consegue dizer por quê faz todas as vontades dele, então, mesmo
sabendo que não é o vantajoso pra nenhum dos dois? — E a beta dizia
aquilo de modo tão delicado, que era como o rufar de uma brisa na
primavera.
— Eu... Acho que se eu for muito duro com ele, posso perdê-lo — admitiu,
a contragosto, fitando o chão de madeira, sem se voltar para o namorado.
— Bem, Jimin, não é como se você fosse precisar tratá-lo como um de seus
subalternos do quartel. — Ela deu um sorriso divertido. — Apenas imponha
mais limites. Caso contrário, Jungkook pensará que nada do que ele fizer
poderá fazer você se afastar, entende? Mesmo que de forma inconsciente,
ele poderá sentir-se inclinado a sempre testar os seus limites, testar até onde
vai o seu amor e... a sua paciência.
— Agora, Jimin... Diga a Jungkook as suas cinco coisas favoritas sobre ele
— ordenou a terapeuta, ciente da expressão contrariada do ruivinho, mas
sem se deixar abalar.
— Certo, certo... — Ela se virou de novo pra eles, com um sorriso suave. —
Justo.
— É só olhar pra mim que você sorri. Eu gosto disso — ele devolveu com
um sussurro a última frase, e com um olhar admirado e orgulhoso de si
próprio. Porque sim, basicamente ele vivia para fazer o Park sorrir.
— Essa não pode ser a última coisa. — O ruivo murmurou suave, com um
tantinho de indignação brincalhona em sua voz. — A quinta coisa que você
ama em mim, não pode ser me amar!
[...]
— Não, EunJi-ssi, eu mandei tudo direitinho, com certeza foi alguma coisa
errada que você fez aí! O e-mail está bem aqui na minha frente! —
Bufando, ele reabriu a planilha enviada. E como um baque, percebeu que
não, EunJi do departamento de logística não havia feito algo errado. Ele era
quem tinha feito.
"Puta merda, caralho, inferno!" ele grunhiu mentalmente, sem poder dizer
em voz alta. Passara a manhã toda e parte do seu horário de almoço
preenchendo a planilha com os manequins, modelos, cores e números de
referência de peças que precisavam ser enviadas à cada loja daquela região.
Mas, desatento, havia colocado uma pilha de papéis em cima do teclado do
computador, o que acabou causando a completa bagunça, e consequente
destruição da planilha enviada.
Não era à toa que o camuflador era tão caro, e de uso pouco comum entre o
público. Uma vez que tal remédio era muito mais forte que um supressor
comum e permitia que o usuário permanecesse consciente durante o
período, sem liberar seu cheiro afrodisíaco com toda a potência, acabava
fazendo uma bagunça nos hormônios. Só era indicado em casos extremos,
onde o usuário tivesse algum compromisso realmente importante e não
pudesse estar dopado na ocasião.
Além do mais, Jungkook suava como uma torneira aberta, e mesmo com o
ar-condicionado fazendo a ante-sala congelar, o garoto parecia um
espetinho de carne lupina virando churrasquinho no inferno. Era um
resquício do heat, embora não sentisse as dores. E pra piorar, o remédio não
estava sendo capaz de camuflar seu cheiro ômega o suficiente naquele dia.
Um mês havia se passado rápido demais, mas Jeon ainda sentia como se
houvesse sido uma eternidade naquele lugar. Ao menos, o salário gordo
fazia valer à pena. E muito. Ele tinha planos bem específicos para seus dois
primeiros salários.
— Por que não atende à minha linha direta? Estou te mandando me entregar
as amostras de tecido há quarenta minutos!
— Eu não me atraio por alfas, mas o cheiro que você solta é de ômega, me
deixa com a boca seca e com crise de ansiedade. Dá um jeito nisso! Pede
um bloqueador de aroma na farmácia, já disse, dá.o.seu.jeito! — falou
pausadamente, dando-lhe às costas em seguida, para ir em direção à saída
da ante-sala. — E não esqueça das amostras de tecido na minha mesa! —
Finalmente se retirou, deixando o Jeon sozinho com o barulho ensurdecedor
do telefone da outra secretária, que estava em algum outro andar do
edifício, buscando alguma coisa que ele sequer lembrava o que era.
Ao desligar, Jungkook notou a pasta pesada que ela havia jogado sobre a
mesa dele, fazendo a madeira leve estremecer.
Ao fim do dia, Jeon se sentia fraco. Seu corpo estava pesado e molenga, a
coluna doía, os pés também, assim como sua cabeça. A visão estava
embaçada e seu estômago ardia de fome, não pudera comer mais nada até o
fim do expediente, nem depois dele, pois precisou passar duas horas e meia
além de seu horário refazendo a maldita planilha pra enviar ao setor de
logística.
Ele desceu pelo elevador, se apoiando na parede. Até ali as coisas eram de
vidro. Qualquer um com fobia de altura, certamente desmaiaria ao ter que
descer um edifício daquele tamanho, em um elevador de vidro, que permitia
a vista de toda a cidade e do mar abaixo da ponte colorida ligando aquele
distrito ao vizinho.
— Seu cheiro está muito forte, amor. O camuflador não está funcionando?
— indagou, curioso e preocupado.
— Não fale assim, bebê. Já disse que não gosto quando fala de si mesmo
desse jeito. Eu te amo exatamente do jeitinho que você é. Absolutamente
tudo sobre você, me faz te amar completamente, e qualquer característica
que fosse tirada de você, seria como te tornar uma pessoa totalmente
diferente. — E então o encarou profundamente nos olhos escuros, ao
terminar a frase exatamente no momento em que parou num sinal.
Por mais linda que fosse a declaração do alfa lúpus, Jeon engoliu em seco.
Jimin não sabia que ele precisava reverter os genes ômegas. Não sabia que
ele teria de mudar o seu cheiro, os cios, a lubrificação e vários outros
aspectos que acompanhavam sua parte ômega. E se o Park deixasse de amá-
lo quando ele mudasse? E se sem o aroma ômega, ele não o atraísse mais?
Só de pensar naquilo, era desesperador, e por isso o garoto fugia daquele
assunto, como o Diabo fugindo da cruz.
Jungkook não tinha forças para ficar sem Jimin novamente. Sabia que
entraria em uma depressão profunda, antes de conseguir voltar a viver sem
ele. Não criara uma dependência emocional, pois sabia que poderia sim,
viver sem o Park, mas não queria. Era vazio demais, doloroso demais.
Sua mente cansada então lhe disse que talvez fosse melhor arrancar de uma
vez aquele band-aid. Doeria, mas seria de uma vez. Então ele encarou
atentamente o ex-militar, se desencostando do vidro da janela, no momento
em que o Park engatava a marcha e voltava a acelerar com o veículo.
— Você realmente adora minha parte ômega tanto assim, ou só fala isso pra
fazer eu me sentir bem comigo mesmo? — questionou, ansioso.
— Você quer dizer alguma coisa, Jungkook? Porque me contar desse jeito,
aos poucos, está me deixando nervoso. Não gosto disso. Diz logo de uma
vez. Tem algo a ver com dia que você esteve no hospital e aconteceu... tudo
aquilo? — referiu-se ao dia que ensejou o rompimento da relação.
— Sabe, um alfa pode ser full alfa, quando 100% de seus genes são
dominantes. Mas a maior parte dos alfas tem algum percentual de genes
recessivos, ou seja, genes ômega. Algo em torno de 1% a 15%; Lembra
disso, das aulas de genética na escola?
O Park franziu o cenho, pensativo. Aquilo era genética básica lupina. Ele
lembrava de modo falho, mas estava acompanhando o raciocínio, sim.
Então assentiu com um aceno leve de cabeça, instigando o outro a
continuar, com um olhar.
Com isso, o clima tenso deu uma suavizada, porque, é claro, pra Jimin, o
Jeon era a pessoa mais engraçada do mundo inteiro, e quando o garoto saía
com pérolas daquele tipo, o ex-Tenente só faltava engasgar na própria
saliva. Ele até tentou segurar o riso, mas não conseguiu. Precisou morder o
lábio pra se conter, ainda gargalhando.
— Isso. O percentual pode variar em 6%, mais pra alfa ou mais pra ômega,
mas passando disso, é híbrido. Como eu — explicou. — Porém, como o
percentual entre genes recessivos e dominantes no DNA é quase
equiparado, faz com que eles enviem mensagens confusas e opostas ao meu
corpo. E isso é extremamente perigoso pra minha saúde. Desde me
descontrolar em cio e acabar mordendo um alfa, a... Meu corpo pensar em
ser capaz de engravidar.
— Você teve gravidez psicológica? Queria tanto assim ser pai? — o lúpus
grunhiu, assustado e em choque.
Jimin o fitou por um bocado de tempo, perplexo. Ele mal podia acompanhar
o raciocínio, mas era extremamente alarmante. A situação de genes híbridos
era, realmente, bizarra. Ele entendia agora, o porquê Jungkook havia
escondido aquilo dele e reagido tão mal ao telefone, ensejando toda a briga
entre os dois e as consequências fervorosas advindas dela.
Jimin piscou os olhos um tanto de vezes, atordoado. Era muito, mas muito
mais sério do que ele pensava. Se Jeon corria risco de vida, ele não queria
sequer imaginar a possibilidade de alguma coisa acontecer ao seu ruivinho
pentelho. Ele morreria junto, se algo acontecesse ao seu amor.
— Quando vai fazer esse tratamento? Você já sabe disso há três meses e não
fez nada até agora. O que pensa que está fazendo? — grunhiu, entredentes.
— Não quero perder você, Jungkook — disse com o nariz colado na pele
alheia, a voz abafada. — Então, por favor, faça o que tiver que fazer pra
ficar saudável logo. Eu vou estar ao seu lado o tempo todo, cuidando de
você, bebê. Não vou te abandonar.
O acerejado sentiu o coração palpitar e o abraçou apertado de volta,
praticamente cobrindo o tronco do alfa mais baixo entre seus braços fortes.
Jimin poderia ser mais perfeito que aquilo? Sua experiência de vida o dizia
que ninguém no mundo poderia ser daquele jeito, mas ali estava o Park,
sendo a pessoa mais doce, sensata, carinhosa, prestativa, bonita, sexy,
educada e... Ah, Deus.
Correção. Tinha sim. Seu defeito era fingir não enxergar pessoas e situações
ruins ao próprio redor, e agir como se nada demais estivesse acontecendo,
como se todos fossem perdoáveis e bem intencionados. Era isso. Park Jimin
podia ser um safado de carteirinha quando se tratava de sexo e fetiches, mas
era muito inocente quanto à podridão das pessoas.
— Quando digo que não mudaria nada em você, é porque não mudaria
mesmo. Eu amo até os seus defeitos. Amo você. A sua personalidade, a sua
essência, o seu coração. — E colocou a mão aberta sobre o lado esquerdo
do peito do namorado. — Eu amo quem você é aqui. — Pressionou a palma
sobre o peito do alheio.
— Mas você disse que qualquer característica que fosse tirada de mim, seria
como me tornar uma pessoa totalmente diferente, hyung. Disse agorinha!
Jimin puxou o rosto dele pra si e deu três selares no bico armado.
— Isso é uma tecnicalidade. Sim, eu falo pra fazer você se sentir melhor
consigo mesmo e pra te ajudar no processo de aceitação do próprio corpo.
Não significa que eu esteja mentindo. Eu realmente te amo como você é
agora, mas não vou deixar de te amar se você mudar em algumas coisas,
Jungkook. Posso amar todas as versões de você. — Acariciou-lhe a
bochecha, suavemente, e uniu suas testas. — Não sei mais o que fazer pra te
deixar seguro quanto aos meus sentimentos. Eu só quero te dar todo o meu
amor, e te deixar seguro de que eu sou tão seu, quanto você é meu —
grunhiu. — Mas aí, vem a terapeuta e diz que estou te mimando demais,
que assim você vai achar que nunca vai me perder e aí começar a passar dos
limites por isso... É tão complicado! — disse, afinando a voz, daquele seu
jeito resmungão usual.
— Eu não acho que ela quis dizer desse jeito... — O ruivo murmurou,
repetindo a frase anterior do Park. Ele estava se segurando pra não sorrir de
orelha à orelha, especialmente quando seus olhos já começavam a ficar
marejados, o suor brotando na pele quente do cio camuflado.
Jeon não conseguiu reprimir um bocejo, que acabou por afastá-los e quebrar
um pouco do clima. Mas já estavam há uns bons minutos tendo aquela
conversa na calçada da entrada da garagem, e o garoto estava realmente
exausto. Por isso, ele deu um último beijo no topo da cabeça do Dominador
e o puxou pelas mãos, pra dentro de casa. Não se deram ao trabalho de
colocar o carro pra dentro da garagem.
Depois, o ex-militar desceu as escadas, guardou o que era pra ser o prato de
Jungkook na geladeira e deu algumas garrafadas no seu, antes de abandonar
a comida inacabada e sentar-se na sala, com sua garrafa inteira de vinho e
um filme na TV.
[...]
O problema era que ele não conseguiria trabalhar tranquilo e dar atenção ao
seu ofício, enquanto estivesse preocupado com o namorado vomitando as
tripas pra fora, em casa. Então, ele suspirou e buscou o número de Jung
Hoseok na lista de contatos do celular do ex-Coronel. O amigo atendeu
somente na segunda tentativa, o que era entendível, em razão do horário
cedo.
Minzy surgiu aos seus pés, enroscando-se entre seus tornozelos, ao que
miava pedindo comida. O garoto abaixou-se para despejar no pote a ração
cara que o ex-militar comprava pro gato, e aproveitou pra fazer carinho
atrás das orelhinhas fofas do bichinho.
— E o plano que o Yoongi te ensinou, de beber junto com ele, pra controlar
a quantidade? — indagou, deixando escapulir um bocejo.
— Eu tô fazendo! Mas é que ontem acabei dormindo antes do jantar, e aí
ele aproveitou pra beber uma garrafa de vinho toda sozinho.
— Vinho Tinto?
— Pior. Branco.
— Oh... Ele deve estar realmente mal. Vinho branco é mais forte. —
Suspirou. — Bom, eu posso falar com o Taehyung por você, se quiser...
Explico que o Jimin está doente e...
— JK, é sério. — Suspirou na linha, uma vez mais. — Eu... Eu meio que já
estava com Taehyung de novo, quando ele me disse pra oferecer o emprego
à você.
— JUNG HOSEOK!!!
— Ai, não grita! — resmungou o beta. — Olha, sei que deveria ter te
contado antes, mas é que... JK, eu não sabia que a gente ia ficar esse tempo
todo junto. Achei que tinha sido só uma recaída. E aí depois duas recaídas.
E então três, quatro, cinco...
— Ahh, hyung... — ele grunhiu, se arrastando pra cozinha, pra que pudesse
preparar um café. — Olha, assim fico numa posição delicada. Porque, se
Taehyung te machucar daquele jeito outra vez, vou ficar tão bravo, que irei
amarrá-lo na mesa daquele escritório metido à besta e encher ele de
porrada!
— Não vou dizer pra você qual o tamanho do pau dele. Ele é seu chefe
agora — declarou, em tom divertido.
— Seu ciúme não era tão descabido assim, JK. Sabe disso.
— Mas mesmo assim! Eu agi mal. Machuquei ele! Prometi que jamais o
faria sofrer, e veja só onde estamos agora... — lamentou.
— Todo mundo pode surtar às vezes, neném. Não fica assim. O importante
é que vocês estão bem agora, e mais felizes do que eu já vi ao longo de todo
esse tempo. A coisa da bebida é, infelizmente, uma das consequências com
as quais terão que lidar. Mas vocês vão passar por isso. Assim como
passaram pelo rompimento mais sofrido que já vi na vida, diga-se de
passagem — brincou. — Sério, Jungkook. Só cuide bem dele e diga que vê-
lo desse jeito te deixa triste. Tente usar um pouco de tática psicológica
hoje. Cuide dele, mas mostre que está decepcionado. Não é pra brigar, é
pra fazê-lo sentir que quando age desse modo, te afeta também.
Ele então subiu de volta pro quarto, carregando a sacolinha e duas canecas
de café preto.
— Não, bebê... — ele gemeu. — Não pode prejudicar o seu trabalho por
uma ressaca minha. Pode ir, posso me cuidar.
— Não, Jimin. Não é assim que funciona. Hoje é só uma garrafa de vinho,
amanhã são duas, depois três, e aí quando a gente for ver, vai estar
arrumando briga na rua, faltando ao trabalho, ficando violento,
descuidado...
— Eu não tô virando alcoólatra, pára com isso. — Ele fez um bico, bebendo
o isotônico, à contragosto.
— Não é, mas pode virar. Vício é coisa séria. Logo você, que é sempre tão
controlador, não consegue controlar os próprios anseios. Todo viciado
começa de algum lugar. A Doutora Kam estava errada. Não vou esperar pra
ver qual o seu limite.
— Jungkook... — ele grunhiu. Mas não conseguiu rebater mais nada. Não
era possível.
Ele sabia que o alfa, além de certo, estava preocupado consigo. E acima de
tudo, Jimin sabia que era fácil se descontrolar com aquilo. Especialmente
por não poder falar sobre o que o motivava a beber.
A cena na The Cave o causava uma angústia sem tamanho; uma sensação
ruim no pé da barriga. Sim, ele perdoava. Mas não conseguia esquecer, de
jeito nenhum. Por mais que tentasse expulsar a memória de sua mente,
diariamente ela voltava para assombrá-lo. Em um momento estava à mesa
com o namorado, e então este lhe dava um olhar que parecia similar ao que
havia lhe dado na The Cave e, BAM! A maldita memória dolorosa voltava
com tudo.
Beijos, realmente, não eram suficientes para acabar com a relação e amor
que nutria pelo Jeon. Ele ainda queria, mais que tudo na vida, continuar
aquela relação com o ex-vizinho. Jungkook era o grande amor de sua vida.
O que ele sentia pelo ruivinho não chegava sequer à metade do que uma vez
sentira por Taeyang. Entretanto, ter visto, ter presenciado o tal beijo, havia
sido traumatizante em muitos níveis. Porque, por mais que estivessem
separados na ocasião, em seu coração Jungkook continuava a ser dele, ao
mesmo tempo em que se sentia de Jungkook. Por isso, tinha a sensação de
ter sido traído, embora não houvesse acontecido nenhuma traição, de fato.
Todavia, Jimin era o tipo de pessoa que, quanto mais reprimia as coisas,
pior ficava quando estourava depois.
— Pode confiar em mim, hyung! Não quero mais ficar sem você... Aqueles
dois meses foram como uma amostra grátis do inferno. Não quero ficar sem
você nunca mais!
Jimin sorriu e esfregou a ponta do nariz no pescoço alheio, ao que Jeon o
tomava num abraço de urso, deslizando as mãos grandes por suas costas.
Jeon sorriu, como há tempos não sorria. Sentiu o coração palpitar, errático,
e uma sensação de paz atingir o seu âmago. Tudo estava, finalmente, se
encaixando no lugar. Como deveria ser.
[...]
— Então, Jimin... O que te traz aqui hoje, fora do seu dia normal de
consulta? — A terapeuta, Doutora Kam, indagou ao alfa, um minuto após
este sentar-se na poltrona à sua frente, três semanas após a primeira
consulta. Ela portava uma expressão convidativa, ainda que por trás da
simpatia e cordialidade, seus olhos atentos e estudiosos sobre o paciente.
— Então me diga.
— É compreensível. Sua mente está montando gatilhos. Talvez seja por ser
recente. Talvez porque você não tenha perdoado realmente...
— Eu perdoei! — disse firme. — Mas perdoar não é esquecer, então...
Apenas não consigo parar de lembrar.
— Talvez você queira tanto perdoar, que se convenceu disso, mas no fundo,
ainda não tenha conseguido. Isso se relaciona com seu exagero na bebida.
Não acha?
— O que posso fazer então? Eu não... Eu não quero me corroer com isso,
até chegar ao ponto de não querer mais estar com Jungkook. Eu o amo de
todo o meu coração. Jungkook é o amor da minha vida. Não quero estar
sem ele outra vez... — E as palavras quase engasgaram em sua garganta.
— Você precisa encontrar seu próprio modo de superar o que viu, Jimin. E
não vai ser bebendo até ficar inconsciente. Não tenho uma resposta certa
pra isso. É um trabalho mental que você terá que fazer, constantemente.
Você precisa se perguntar: "Por que me sinto assim?". Pense nisso por um
momento e tente responder.
— Eu... Me sinto... Traído. Deixado pra trás. Como se ele tivesse me feito
de bobo — confessou. — Porque... De todas as pessoas, nunca imaginei que
justo ele, a quem baixei a guarda, pudesse me magoar daquele jeito,
pudesse usar minha fraqueza contra mim.
— Então talvez isso tenha mais a ver com você, do que com Jungkook.
— Seu ego. Seu ego foi ferido, quando teve seu submisso o inferiorizando.
Isso pode ter abalado sua confiança em si mesmo. E sua mente insiste em
fazê-lo recordar do acontecimento, para convencê-lo disso.
— Não é bem isso que quero dizer. Você não pode esquecer que, a maior
parte dos atritos no seu relacionamento com ele, nascem da falta de diálogo
dos dois. Vocês precisam manter a sinceridade que vem usando nas últimas
semanas. Não volte a esconder coisas. Apenas diga a ele, explicitamente,
que esses pensamentos insistentes não são culpa dele, e que você está
trabalhando nisso, internamente. Talvez Jungkook se esforce ainda mais em
te passar segurança. E isso pode ajudar.
— Eu... Irei conversar com ele sobre isso, então. — O moreno se levantou
da poltrona, sentindo-se um pouco mais leve. — Não estou acostumado a...
expressar meus sentimentos, tão abertamente assim — disse sem jeito. —
Mas me sinto bem com isso. É como dividir um pouco do peso.
[...]
Aquilo fora ideia dele, claro. Jimin sequer tentou contrariá-lo. Disse-lhe
apenas: "A casa também é sua. Faça o que lhe agradar."
Por cima do balcão era possível ver a cozinha bagunçada — por culpa do
Jeon — e sobre a pia jazia a antiga xícara de porcelana branca que fora
usada como peça-chave pro início daquela relação. A mesma que o de
genes ômegas usara para pedir açúcar ao vizinho e houvera esquecido ali,
sendo usada pelo ex Tenente-coronel às escondidas, por todo aquele tempo.
Agora ele não a escondia mais. Fazia questão de usá-la todos os dias,
mesmo sendo uma xícara simples. Mas era claro o valor sentimental da
louça pra si — o que Jungkook achava um amor, ficava todo derretido.
— Porque não posso te punir por terminar comigo, amor... — disse em tom
dolorido, e deslizando as mãos pequenas pelo rosto do namorado. — Eu já
tinha tudo planejado, mas isso vai soar como vingança. Pode ser abusivo, de
certo ponto de vista...
— Eu quero isso, Jimin. O que você quiser fazer, eu concordo, mesmo que
eu não vá gostar. — O ruivo então o fitou com olhos urgentes. — Quero
que me puna. Pode ser até só um castigo. Se bem que, não sei se
funcionaria da maneira correta, mas... — Bufou, cansado. — Você precisa
fazer alguma coisa, hyung. Alguma coisa que apazigue o que está sentindo
aí dentro. — E alisou o lado esquerdo do peito do lúpus. — Por favor...
Quero que volte a sentir o efeito que tem sobre mim. Você me domina. Eu
sou seu. Você é a melhor coisa que eu poderia ter. E eu não te trocaria por
nada e nem ninguém, Jiminie... — disse emocionado.
E Jimin estava certo. Passaria. Não havia nada no mundo mais predestinado
a dar certo do que eles dois. Jimin e Jungkook. Desde outras dimensões,
dentre os diversos paralelos de existência nas camadas do universo.
Vou deixar aqui uns memes que o JK fez pro JM, no backstage desta fanfic
Quem me acompanha nas outras redes sociais sabe que eu abri uma editora
de livros voltada à publicação de fanfictions LGBTQIA+ de vários fandons
(começando por Bangtan). Todas as obras são adaptadas para versões com
personagens originais, é claro.
Lembram quando abri a venda do livro da minha fanfic ASSOMBRADO,
em junho? Pois bem. Eu o fiz justamente para arrecadar um dinheirinho
para abrir a EDITORA EUPHORIA, um projeto que vem sendo trabalhado
desde o comecinho do ano com minha amiga Mafê, mas que, infelizmente,
precisei dar continuidade sozinha.
Então, além de vir aqui convidar vocês a conhecerem minha editora linda e
cheirosa, também vim avisar que este é o motivo das minhas faltas de att e,
bem... VIM AVISAR TAMBÉM QUE, EVIDENTEMENTE,
INCANDESCENTE SE TORNARÁ UM LIVRO FÍSICO!
bjinho no popô
39| as if it's your first
#CobraSorrateira
Jungkook, Jungkook, Jungkook. O que Park Jimin não fazia para agradar
àquele pivetinho? O garoto já era dono de seu coração. Era dono de tudo em
sua vida. E a 'premissa era recíproca: Jungkook era completamente dele.
Sentindo-se leve após uma sessão com a terapeuta, vinha contando a ela,
nas últimas semanas, muito mais do que sobre seus sentimentos por
Jungkook: havia se aberto sobre a saudade da família, sobre como se sentia
uma criança na presença deles, e como sentia-se impotente por não poder
cuidar daqueles que amava e assumir o controle das coisas, quando não
andava tão apto nem para cuidar de si mesmo. Porque Park Jimin era assim:
cuidava do namorado, da gata que era gato, dos amigos, do trabalho, da
casa... Mas cuidar de si mesmo era complicado, às vezes. Especialmente
quando ficava triste.
Jeon também tinha suas sessões à sós com a terapeuta, e não havia um só
dia em que não saísse com o nariz grande tão vermelho como o de um
palhacinho — era um chorão e nem podia negar.
Enquanto descia o elevador espelhado, que tocava uma música relaxante ao
fundo, Jimin vinha pensando na conversa de momentos atrás, a qual o havia
levado a, finalmente, tomar uma decisão, sobre um certo assunto:
— Porém... Isso também pode estragar tudo. Pode ser muito arriscado,
Jimin. Especialmente em se tratando de dois ciumentos extremamente
monogâmicos como vocês dois.
— Mas... Ele disse que sonhou com isso! Três vezes, só nas últimas duas
semanas! — resmungou, com um bico do tamanho do mundo e uma carinha
contrariada.
— Quanto mais ele fala disso, mais me força a pensar na hipótese. Por
conta disso, me peguei fantasiando sobre — confessou. — Jungkook tem
trabalhado muito, o que nos deixa com muito pouco tempo juntos. Então,
pra me satisfazer, atualmente preciso apelar com certa frequência pra... —
Ele revirou os olhos. — Masturbação. E nesses momentos, eu visualizo a
cena...
— Por quê?
— Também porque não sei como podem ser as reações de Jungkook após
fazermos isso. Quero dizer, e se ele surtar de ciúmes e começar a se corroer
com isso, a ponto de se arrepender depois que já tiver acontecido? Isso
poderia acabar o deixando mais ciumento e inseguro. Mesmo que seja um
fetiche dele, não sou muito confiante com suas reações. O garoto é
temperamental, você sabe.
— Então você acha inviável ficar com alguém na frente de Jungkook? Acha
que ele não pode aguentar os reflexos disso depois, e nem você?
— Você dividiria ele com alguém? — Foi impassível e direta, outra vez.
Jimin bufou.
— Sim. — Ele sorriu, orgulhoso. — Jungkook sabe que o amo. Agora ele
entende que não irei deixá-lo. Entende de verdade, e não tem mais
necessidade de me testar a todo momento.
— Então, você agora tem segurança, também, que se fizerem uma sessão
fetichista com outra pessoa, as coisas correrão bem?
— Já estou mais do que acostumado a fazer sexo com mais de uma pessoa
ao mesmo tempo...
— De qualquer modo, minha resposta é: não. Não tenho sangue frio para
vê-lo transar com outra pessoa... Pelo menos não se eu não estiver junto. E
também não me sentiria confortável em transar com alguém, tendo
Jungkook de voyeur. Me sentiria um traidor. E eu, jamais, em hipótese
alguma, faria isso com o amor da minha vida. Mesmo a pedido dele.
Porém, se for uma coisa dividida, justa, não acho que seria um problema...
— E se ele achar que você está dando mais atenção ao convidado do que a
ele?
— Difícil. Isso não vai acontecer. Ninguém prende mais minha atenção que
ele. E eu seria incapaz de desejar ou dar mais atenção a alguém, que não
Jungkook. Isso não é sobre mim, é sobre nós. Especialmente se fizermos
uma vez só, apenas para ele experimentar estar com mais de uma pessoa
ao mesmo tempo... Ele disse que nunca fez isso.
— E quem te garante que Jungkook vai querer uma vez só? Quem te
garante que ele não vai insistir por isso mais vezes, até um dia surtar e
começar a sentir ciúmes da terceira pessoa?
— Vai ser minha condição.
— Parece que você quer me convencer a não fazer. O que é totalmente sem
sentido, já que no começo da sessão, disse que poderia ser saudável...
— Você já superou ter visto Jungkook beijando outro homem na sua frente,
daquela vez? — ela disparou.
— Vou ser franca com você, Jimin. — Kam chegou mais pra frente na
poltrona, apoiando os cotovelos nas coxas e cruzando as mãos. — Se quiser
fazer isso para experimentar uma coisa nova com Jungkook, pode dar
certo. Mas se estiver fazendo isso para fazer as vontades dele, como
sempre, isso não vai ser nada bom. Se sua motivação for uma vingança por
tê-lo visto beijar outro na sua frente, pior ainda. Então, você quer? Quer
para extravasar um fetiche, experimentar algo novo? Quer porque quer se
vingar daquele dia? Ou você quer porque Jungkook quer?
— Eu... — Ele pensou por um momento. — Ainda não tenho certeza. Quer
dizer, eu quero equilibrar as coisas. Mas não é uma vingança contra
Jungkook. Definitivamente não é esse o meu sentimento. Não é vingança
que desejo. Vingar implica machucá-lo, e não sinto a menor vontade de
machucá-lo. Somente de agradá-lo, não é óbvio?
— É claro que é. Mas é justamente esse o motivo que me leva a querer que
tome uma decisão apenas depois de considerar todos os ângulos e
possibilidades. Pense novamente: o que sente, quando se imagina fazendo
sexo com Jungkook e outra pessoa ao mesmo tempo?
— Quando penso nisso... Em nós dois tendo prazer com outra pessoa... —
Ele ficou pensativo, por um par de segundos. — Me parece excitante. Como
se eu e Jungkook compartilhássemos um segredo só nosso.
— Tem certeza?
— Você sabe que não é assim que funciona. O que Jungkook divide a sós
comigo, é protegido pelo sigilo médico-paciente. — Ela revirou suavemente
os olhos, mas falava muito a sério. — O que você sente quando pensa nisso,
Jimin?
— E...?
— Eu quero.
— Então tem sua resposta. — Ela falou em tom que encerrava o assunto.
— Quem?"
Jimin estava leve como uma pluma, meramente porque havia decidido: ele
queria. Queria porque seria gostoso. Queria porque seria uma experiência
nova pra Jungkook. E queria porque, quando pensava muito a fundo, sabia
que as estruturas daquela relação estavam tão firmemente fincadas em solo
estável agora, que fazer aquilo não os abalaria. Ao menos não se fosse do
jeito e com os limites que o Park desejava — o que não batia exatamente
com o que Jeon havia proposto, mas era ainda melhor, uma vez que oferecia
baixos riscos ao relacionamento, daquele modo.
|| que saco, por que não pode esperar eu chegar em casa pra contar?
|| hyung.... eu vou ficar de pau duro. o banheiro é longe sabe que o capet...
quero dizer, o taehyung não me deixa usar o banheiro dele. quem dirá pra
tocar punheta.
Mas eu não deixei você tocar punheta. Só ordenei que me contasse do
sonho.||
AGORA, Jeon Jungkook. SEU SENHOR ESTÁ MANDANDO. ||
|| não dá!
A-G-O-R-A ||
E? ||
|| é. lembro que queria MUITO que você beijasse ele, mas você sacudia a
cabeça e abaixava até a virilha do alfa. depois lambia o pau dele, várias
vezes, sem chupar. e o cara choramingava, pedindo por favor, pra você
colocar ele na boca, mas você só sorria, daquele jeito filho da puta, e não
chupava ele nunca...
|| eu sei lá, deve ser algum cara daquelas bandas de j-rock que a gente tava
zoando noutro dia.
Mas e aí? Depois disso o sonho acabou? Eu não fodi com ele? ||
|| nah... você engoliu ele todo, até o talo. aí eu acelerei a punheta, mas fechei
os olhos pra gozar. depois daí, você já sabe...
Não. ||
|| ahhh, hyung, qual é! eu fui bonzinho! obedeci e contei o que você queria!
Claro que disse! Falei que amo essa pintinha no seu nariz, e que eu
queria morar nela... ||
Abestado! ||
Entretanto, quase se chocou com uma figura de estatura quase como a sua, e
demorou cerca de dois segundos inteiros para balbuciar:
— T-taemin?
— Eu... Err... — O submisso pareceu sem jeito. Até que, após alguns
segundos infinitos tentando buscar uma desculpa, ele só suspirou e abaixou
os ombros, numa postura vencida. — Tô fazendo terapia.
— Não. Hoje foi minha consulta sozinho. Em uma semana eu venho com
ele, na outra separado. — Ele encarou o ex com atenção, estudando-o.
Tinha se decepcionado muito com o Lee, mas é claro que jamais deixaria de
se preocupar com ele ou começaria a desejá-lo mal.
Taemin fitava o chão, depois as coisas ao redor, mas não encarava o Park
nos olhos. Até que, subitamente, o mirou com atenção, e disparou, quase
como num sussurro:
— Muito, Tê. Muito mesmo. — Não era como se quisesse jogar aquilo na
cara do rapaz, não o fez por maldade. Apenas foi sincero demais.
Ele viu Taemin se encolher, levemente, e fitá-lo por trás das mechas de
cabelo escuro.
— Que bom. Eu, sinceramente, fico aliviado de ouvir isso. Tive medo de
que... Minhas interferências tivessem estragado tudo entre você e Jungkook.
— O rosto dele foi, subitamente, se avermelhando. E Jimin reconheceu
aquela expressão tão familiar: Taemin estava envergonhado.
O Lee sacudiu a cabeça, com um pouco de urgência, pra cima e pra baixo.
— Sim. Eu não... Você sabe que eu não fazia essas coisas exatamente pra te
ver mal, eu só... Não conseguia enxergar que... Não era a melhor opção pra
te fazer feliz. E nem você pra mim.
— Você também ficou legal moreno. Sabe que prefiro os loiros, mas... —
provocou, brincalhão, tomando um tapinha no ombro, de um risonho
Taemin, que fechava os olhos ao sorrir, exatamente como ele.
— Sim... Um dia. Jungkook tem o coração bom demais, Tê. Ele é muito
empático.
Jimin não pôde evitar sorrir também, sentindo um certo orgulho pela
felicidade do ex amigo que, por dentro, ainda amava do mesmo jeito de
sempre, embora ainda não conseguisse perdoá-lo por todo o mal feito, e
nem conseguiria tão cedo.
— Ainda não. Ela terminou um noivado, há meio ano atrás. O cara era meio
cuzão e saiu com a amiga dela. Então ela se mudou pra cá, pra recomeçar.
— Bem. Espero que você vá com calma dessa vez. E que seja honesto em
suas ações.
— Ah, estamos indo com bastante calma, na verdade. A gente nem transou
ainda. Já conversamos sobre isso, mas nunca aconteceu. Não por falta de
vontade, só não pareceu o momento certo. E eu quero que seja mágico,
sabe? Que seja algo carinhoso. Não me lembro da última vez em que fiz
amor com alguém, e não só uma foda... — Foi interrompido pelo próprio
celular vibrando no bolso da calça jeans. Atrapalhado, ele pegou o aparelho
e atendeu, com certa urgência: — Oh, doutor Chang! Já estou subindo,
estou aqui na recepção... É que encontrei alguém e... — Ele olhou
rapidamente para o Park e desviou. — Sim, eu conto aí em cima. — E
desligou. — Bem, tenho que ir. — Apontou pra trás de si, por cima do
ombro. — Foi bom te ver, Jimin... e saber que está feliz.
O mais alto então foi andando até o elevador e, antes de entrar pelas portas
abertas, indagou, apreensivo:
— A gente... se vê por aí? Quero dizer, você não vai fingir que não me
conhece, caso a gente se esbarre e você estiver com o Jungkook, certo? Eu
vou entender se sim, é claro, mas...
— Um: O que é aquela coisa enorme que acabei de ver subir as escadas?
Dois: De quem é? E três: O que diabos ele está fazendo na nossa casa?
— Sim, vamos sim... Eu, você e aquele pônei lá em cima — retrucou com
sarcasmo, mas envolvendo a cintura fina do maior com os braços.
— Ele tem dois. — E fez um bico do tamanho do mundo. — Ai, sabe, não
sou pago pra isso... O bicho vai destruir a casa!
— Você está chamando o cachorro alheio por outro nome? — o moreno riu,
exasperado. — Não é à toa que ele não te obedece.
Jimin riu ainda mais, tendo que se apoiar na bancada que dividia a sala da
cozinha, pra que não perdesse a força e fosse ao chão, como sempre ao
gargalhar intensamente.
— Então ele meio que se parece com você. — Sorriu de lado, triunfante.
O ruivo abriu a boca um trio de vezes, mas não tinha uma resposta para
aquilo, porque seu dominador estava certo. Ele e o cachorro eram um pouco
parecidos.
Aos risos, Jimin catou o pano do chão e buscou um rodo na cozinha, para
limpar a sujeira que o cachorro havia feito.
— Vai tomar banho e põe essa roupa na máquina. Você fede à ração. — Fez
careta.
— Está mais forte? Você nem anda malhando! Como pode estar ficando
maior? — indagou com alguma indignação.
— É que ganhei cinco quilos. Não tenho muito tempo de almoçar, então
como muito fast-food, porque é o que tem nos arredores da Stigma. E
quando chego em casa, você também me entope de comida... Sem falar que
na frente do prédio tem uma ajhuma vendendo bolinhos de chocolate com
nozes e, caramba! Eu como todo dia, quando Taehyung me obriga a ir lá
buscar um pra ele!
Jimin pôs uma das mãos nos quadris, segurando uma colher de pau na
outra.
— Do país?
— Não. Eu teria que estudar outra coisa. Algo a ver com administração, ou
com moda, ou contabilidade, logística, marketing, relações públicas,
qualquer coisa que dê pra ser aproveitada na Stigma. Mas não acho que
aguento estudar e trabalhar ao mesmo tempo, especialmente agora. Eu tô
sempre tão cansado... — murmurou, antes de mastigar um pouco de
comida.
— Estudar é sempre bom, mas você precisa ter qualidade de vida, senão
enlouquece. — Foi a opinião do Park. — O que Doutora Kam acha disso?
— Taemin.
— Ele disse que... — continuou o dominador — disse que espera que você
e eu possamos perdoá-lo um dia. Ele está fazendo fazendo tratamento na
mesma clínica que a gente, só que com um terapeuta diferente.
— Ok, mas... Eu só quis dizer que você não tem que esperar meu aval nem
nada assim, se quiser ficar de boa com ele.
Jeon tinha o coração puro demais pra desejar que Taemin vivesse sofrendo.
O fato de saber que ele estava superando o Park, e que talvez pudesse ser
feliz com alguém que realmente o amasse, era um ideia agradável. Até
porque, assim o dito cujo talvez não tentasse se intrometer em sua relação
com Jimin outra vez.
— Naaah... Eu nunca senti ciúmes dele desse jeito, e ele sabe disso. Além
do mais, você tinha que ver o rosto dele, ficando todo vermelho e
envergonhado falando dela...
Jimin caiu na gargalhada, mais uma vez naquela tarde, jogando o corpo
todo pra trás, e quase caiu da cadeira.
— Pensou em mim, fodendo outro cara na sua frente? — E assim que disse
isso, ele tomou os jeotgarak de Jungkook, indicando que, a partir daquele
momento, ele daria comida ao maior.
— Então você gozou vendo o vídeo, não pensando em mim com outro cara.
— Deu mais comida a ele.
— Ah, eu pensei sim — confessou, de boca cheia. — Meu rosto quase não
aparece no começo do vídeo, por causa do ângulo. Então imaginei que era
outro cara ali, comendo você.
— Você fala como se a gente nunca tivesse feito isso só por causa de mim,
sendo que você também vive indeciso e é um ciumento! — defendeu-se.
— É que... — O ruivo estalou a língua nos dentes, chateado. — Eu não sei
como meu ciúme vai aparecer. Não sei se... Se eu vou surtar, sabe? Acho
que depende muito de quem for a pessoa. Tenho certeza que se for alguém
que a gente nunca mais vai ver, eu fico numa boa. Não vou enxergar a
pessoa como uma ameaça.
— Você anda falando sobre isso com a Doutora Kam, não é? — perguntou,
com um risinho, ao perceber que a ideia que o garoto tinha sobre a pessoa
que possivelmente poderia participar daquilo, era a mesma concepção que a
dele: alguém com quem os dois não fossem ter muito convívio
posteriormente.
— Claro que sim, Jungkook. Qualquer fetiche que você me revele, eu passo
um tempo remoendo e analisando a possibilidade de experimentá-lo com
você. Uma das melhores partes da nossa relação é essa.
— E... o que anda mais inclinado a escolher? — Jeon o fitou com uma
carinha submissa, quase como um cachorrinho ao ser pego fazendo
baderna, pelo seu dono.
Um silêncio se seguiu após tudo, e Jeon voltou a dar atenção ao seu prato
de tteokbokki. Jimin também deu mais uma garfada na refeição, mas sem
tirar os olhos miúdos do namorado, analisando-o sorrateira e discretamente.
Precisava encontrar qualquer indício de chateação ou contrariedade no rosto
dele, que o indicasse que o rapaz era contra a ideia, apesar de ser uma ideia
realmente dele, desde o começo. Mas não encontrou nenhum sinal negativo.
Por isso, disparou, enfim:
— Então... Acho que podemos fazer isso, qualquer dia desses — finalmente
declarou.
— Manda brasa!
— A primeira, é que você precisa prometer que não vai insistir pra fazer
isso mais vezes.
— Tá legal. Posso aceitar isso. Não quero te forçar a fazer nada, sabe
disso... Você que gosta de me mimar — resmungou.
— Claro que não, bobinho. Não seja tão inocente. — Sorriu, sacudindo a
cabeça. — A segunda condição, é que o nosso convidado fique na posição
de submisso, pra que possamos dominá-lo juntos. Eu vou te orientar e te
ensinar. Não quero que você se submeta a outra pessoa. Não suporto a ideia
de vê-lo se curvar a alguém que não eu. Você é meu, Jungkook. Só meu.
Não é? — disse daquele jeitinho possessivo e arqueou uma sobrancelha.
— Eu não poderia ser de mais ninguém, amando você como amo, meu
senhor. — Seu tom era manhoso e submisso, do jeitinho que Jimin gostava.
E ele o fazia de propósito, para agradar seu alfa.
— Não gosto de pagar por esse tipo de coisa. Qual a graça, se não houver a
caça, o convencimento e a conquista?
— Na The Cave, é claro. Nós não vamos lá com tanta frequência, e ignorar
alguém de lá é muito fácil — disse com uma expressão de obviedade no
rosto delicado. — Agora, se me der licença, vou ali conhecer melhor o
nosso hóspede, Oliver Elio. — E deus às costas, saindo da cozinha.
— É Leleco!
[...]
Era terça-feira de manhã. O sol estava forte, mas o vento era fresco na
praia. O cheirinho de mar era gostoso, e o os grãozinhos de areia morna
envolvendo os dedinhos dos pés dos dois alfas, era muito relaxante.
— Acho que sim. Mas o pós-praia é cansativo e dá muito sono. Não acha?
— NÃO.
— Jungkook!
— Você já bebeu duas, Jimin, sai pra lá!
— Mas eu quero!
— Eu não sou irresponsável com nada, garoto! Só não sei a hora de parar,
às vezes... — resmungou.
— Sei que concordei com isso no começo, mas não estou gostando nada.
Está fazendo eu me sentir impotente! Sabe que preciso ter o controle das
coisas... Sou o dominador dessa relação e...
— Com você nunca é só uma cerveja. Mas quer saber? — Ele pegou a
carteira de dentro da mochila em cima da mesa e a abandonou no colo do
mais baixo. — Faz o que achar melhor. É um adulto, no fim das contas. E
eu não sou seu dominador, também não gosto de agir como se nossas
posições estivessem trocadas. Queria você cuidando de mim, mas isso fica
difícil quando sei que não posso confiar em você nessa coisa da
responsabilidade financeira e na bebida. — Ele falava tudo muito sério, e
havia uma mágoa escancarada em seu rosto de maxilar largo e definido. —
O que mais incomoda, é saber que não estou te fazendo feliz o suficiente
pra que pare de beber e fugir da realidade...
E aí ele se deu conta de que, sim, alguns males vinham pro bem. E que sim,
Jungkook estava certo em tentar limitá-lo naquele momento da vida, porque
queria protegê-lo de si mesmo, além de proteger a relação que tinham, já
que ela finalmente estava nos trilhos.
"Você cuida de mim e eu cuido de você", era o que Jungkook sempre lhe
dizia, desde os mais primórdios dias daquela relação.
— Não foi culpa sua, bebê. — O moreno o trouxe mais pra perto e deixou
um beijo estalado no pescoço quentinho do alfa mais alto.
— Não deveria, não. Eu nunca falo sobre não ter superado minha
exoneração.
— Mas é uma coisa óbvia, eu acho — retrucou, sem jeito. — Quer dizer,
você fez aquilo a sua vida toda. Era um emprego bom, e você já tinha se
acostumado a um certo padrão de vida que...
Jimin se aconchegou mais contra ele, e entrelaçou seus dedos curtos nos
dedos longos do garoto, que rodeava seus ombros, num abraço por trás, o
queixo encostado no topo da cabeça do ex-militar.
Jimin deu um sorriso suave,e o movimento do rosto fez uma lágrima saltar
do olho e escorrer pela bochecha farta.
— Você parece bem mais maduro agora, do que há alguns meses atrás,
quando começamos isso tudo — disse com evidente orgulho em seu tom de
voz e também em seu coração.
Jungkook deu de ombros e o abraçou mais forte, como se pudesse ser ele a
sua fortaleza.
— Então... Que tal pensarmos que, ao invés de termos sido castigados pelo
universo, as coisas ruins aconteceram no meio do caminho só para nos
trazer até aqui?
— Quer dizer um pro outro? Que se você não tivesse todo aquele trauma
com os pais, não moraria sozinho, lá nossa rua, e se eu não tivesse sido
abandonado pelo meu noivo, prestes a me casar, e nem expulso da
aeronáutica, a gente não teria ficado junto?
O cachorro então correu de volta pra eles, após todo aquele tempo. Havia se
ocupado em esconder a peteca num buraco bem fundo que cavara na areia.
Balançando o rabo, animado, e com a língua grande pra fora, ele os tomou
num susto quando deu um pulo e se levantou nas duas patas traseiras,
apoiando as patas da frente no peitoral do Park.
— Uou, espere aí, Oliver. Você é um pouco forte demais. — Jimin alisou o
rosto do bicho, sorrindo ao ter a mão lambida. E o cachorro voltou às quatro
patas e mostrou a direção onde havia escondido a peteca, voltando o rosto
pra lá e latindo engraçado, como se uivasse, pra depois voltar a encarar o
casal, o rabo sem parar de mexer, agitado, de um lado pro outro.
— Mas é dele!
Jimin sacudiu a cabeça e o foi andando atrás, mais devagar, até parar alguns
passos distantes, ao que o cachorro começava a pular e cavar determinado
ponto da areia. Ele encarou Jungkook, com uma expressão sonhadora,
vendo, bem na sua frente, o motivo que o fizera fixar tanto sua atenção no
vizinho, desde o primeiro momento em que haviam se visto: Jeon era
singular. Uma peça rara.
[...]
Mas ao menos, naquele dia, tinha ficado algum tempo rabiscando desenhos.
Ele gostava de fazer alguns croquis, baseando-se nos croquis de Taehyung e
nos outros tantos que chegavam à sua mesa para serem enviados ao chefe.
Consertava o que achava ruim nos esboços que via, adicionava pontos mais
bonitos, cores, e mudava os tecidos que não caíam bem.
O legal, era que podia somente fingir estar trabalhando, quando estava
apenas fazendo desenhos pra si e guardando-os no fundo da gaveta. O
tempo passava mais rápido e era mais divertido. Estava aprendendo a
administrar melhor o trabalho, no fim das contas. Fazia tudo o que era
necessário e ainda lhe sobrava algum tempo pra se divertir com seus
rabiscos. Não achava que alguém no mundo usaria as roupas que ele
desenhava, e por isso dava asas à própria criatividade, sem se importar se
alguém acharia aquilo bonito ou não.
— Ora, ora, quem é vivo sempre aparece... — disse o alfa animado e com
um sorriso mostrando a fileira de dentes brancos bem alinhados.
— Jimin não me proíbe de nada, ele não tem tanto controle sobre mim,
desse jeito — o ruivo respondeu, meio desconsertado, acabando por soltar o
verdadeiro nome do outro, sem nem se tocar. — Eu só não acho que seria
respeitoso ficar trocando mensagens com o cara que beijei na frente dele...
Você sabe que te usei para magoá-lo. Manter contato com você, depois de
tudo, seria cruel.
Mas se seu namorado estivesse vendo-o papear com seu nêmesis, aaah!
Aquilo não daria em boa coisa. Aquela coisa toda ainda era recente demais
pra que pudessem agir friamente sobre ela. E Jimin ficava particularmente
mexido com a questão "Mingyu", ele sabia.
— Mas como ele treinou você, se ele é sub? Sub's não treinam
dominadores, normalmente... Claro que ele é do tipo "break me", e isso é
bem oposto à submissão, claro, mas... Ah, eu tô confuso.
Ah, aquilo realmente acontecia, mas não havia sido o caso de Mingyu... Ele
somente não contaria ao Jeon sobre seus primórdios no BDSM junto a
Taehyung. Ele nunca contava a ninguém.
— Whoa!
Do outro lado da rua, Park Jimin apertava o volante entre os dedos roliços,
com mais força do que precisava. Aliás, não precisava de força alguma, o
carro estava desligado, estacionado entre uma fileira de outros de mesma
cor, majoritariamente.
Droga, o Jeon era tão fofo! Ele alternava os orbes expressivos entre si e o
outro brat tamer, num desespero conflitante.
O Park fitou seu oponente de cima a baixo, com uma sobrancelha arqueada,
não querendo sair da pose superior, mas ao mesmo tempo cheio de
curiosidade sobre o terceiro alfa ali. Especialmente por ser a primeira vez
na vida que o olhava com tanta atenção. Sabia que Mingyu nunca respeitava
relação alguma, mas segundo Jeon o havia contado, o desrespeito do alfa de
olhos dourados não se estendia às relações amorosas, somente as de BDSM,
às quais ele claramente não levava tão à sério.
— Não. Não há nenhuma inimizade por aqui. Quero dizer, não mais. —
Deu de ombros. — Eu e meu submisso estamos morando juntos.
Planejamos nos casar oficialmente em breve. Estamos muito seguros sobre
nossa relação agora. Aquilo que vocês tiveram na The Cave foi como a
despedida de solteiro dele. Não é, bebê? — Foi sarcástico, mas fingiu
seriedade.
Ele não tinha conversado coisa alguma sobre casamento com Jungkook,
mas aquele ciúme formigando debaixo da pele o havia feito dizer aquilo. E,
bem, embora a motivação não fosse das mais corretas, era lógico que aquele
era o seu desejo mais profundo: ter Jungkook como seu, de todas as
maneiras possíveis.
Sua frase só fez o avermelhado arregalar os olhos e separar os lábios,
surpreso, sem saber se Jimin falava a sério, ou se somente dizia aquilo para
alfinetar Helsing. O coração do garoto palpitou, falhando nas batidas.
Porque aaah... Se Jimin quisesse casar com ele, casar de verdade, com
cerimônia e tudo, ele diria sim, vinte vezes seguidas. As leis militares até
podiam proibir relações amorosas e sexuais entre os de mesma classe, mas
não as leis civis.
Jeon observava a tudo calado. Era quase como uma criança observando a
um duelo de titãs, prestes a explodir. Ele não se atreveria a dar um pio
sequer. Aquela testosterona masculina em conjunto aos feromônios alfa
sendo exalados pelos dois ali, faziam seu lado ômega encolher-se, ainda que
a face alfa permanecesse altiva. Ele sacudiu a cabeça, voltando ao foco: o
pequeno embate entre o cara que amava e o cara que usara para atingi-lo em
seu momento mais sombrio.
— Sim, hyung.
— Nos vemos mais tarde, então? — disparou para o outro tamer, com um
sorrisinho vitorioso na boca.
Jimin gargalhou.
— Mingyu.
A mulher franziu o cenho, um pouco confusa, antes de um lampejo de
compreensão perpassar seu rosto delicado e a beta assimilar.
— Discordo. Mas primeiro preciso saber sua motivação. Até pouco tempo
atrás, você sentia uma mágoa forte ao lembrar-se de Jungkook com esse
alfa, Mingyu...
— Então por que ainda precisa provar a ele que é melhor que Mingyu?
Ah, enganava-se qualquer um que pensasse que Jimin era sempre bonzinho.
Por trás de todo o amor e delicadeza voltadas a Jungkook, ainda havia um
gênio do mal. Park Jimin era uma cobra sorrateira. E seu veneno, quando
direcionado a outros que não seu namorado, era sempre letal.
— Não, bebê. Você sabe que isso não seria correto, embora você merecesse
sim, ter sido punido com greve de sexo e um cinto de castidade por
semanas, sabia? Por ter tentado me machucar. Mas, além de não estarmos
juntos quando fez isso, seria um castigo pra mim também, ficar sem tocar
esse seu corpo perfeito e sem ter a sua foda gostosa, por isso deixei passar.
Até porque, como conversamos, soaria como uma vingança....
Mingyu pouco se fodia em ser usado ou qualquer coisa assim. O cara era
quase zero por cento sentimental.
Ele não ficaria nem um pouco mexido ou enciumado em ver o Jeon ser
dominado na frente dele pelo Park. Mingyu não daria uma foda.
O fato de Mingyu não dar uma foda, não influenciaria na sensação de poder
que isso daria ao ex-militar, Jeon sabia bem disso.
— Bem, não é um problema. Mingyu não vai ligar pra isso, você sabe bem.
Ele vai ser o primeiro na fila para nos assistir, eu aposto. Ele é um safado.
Mas estou preocupado com você. Tem certeza que não vai dar em
confusão? Tem certeza que isso vai te atrapalhar a... Sabe, superar aquilo
que fiz com ele na sua frente? — Mordeu o lábio, apreensivo.
— Sim. Eu só quero que ele saiba que você é meu. E que ele nunca mais se
atreva a tentar tirar você de mim.
— Mas ele já sabe, hyung — contrapôs.
— Desde que você foi trabalhar pra ele, Taehyung entrou em contato
comigo. Disse que, para respeitar a liturgia, estava me informando sobre os
riscos que haviam, sobre meu submisso trabalhar na empresa, quando um
dos sócios era "alguém de quem eu queria mantê-lo longe".
— Porque ele não queria que você desistisse. Mingyu não trabalha no
mesmo setor que você, vocês mal se encontrariam, isto é, se chegassem a se
encontrar alguma vez...
— Eu armei pra que ele estivesse ali quando você saísse — disse com muita
tranquilidade, ao que o Jeon arregalou os olhos, perplexo.
— Depende. Sobre o que acha que estou falando? — Fez-se de sonso, mal
conseguindo manter um tom sério, enquanto segurava as risadas, sem muito
sucesso.
— Você não quer que Mingyu assista à nossa sessão, quer que ele participe
dela! Quer que a gente faça aquele menáge com ele!
— Ele não vai aceitar isso, nem se você estiver com o pau dele na boca —
teimou, categórico.
E após o que pareceu uma frase premonitória, Jimin abriu a porta do carro e
saltou para fora, levando consigo a mala de mão, onde jaziam os acessórios
a serem usados na sessão que fariam. Logo foi acompanhado pelo Jeon, que
insistentemente se recusava a acreditar na possibilidade de sucesso daquela
empreitada.
O som abafado atrás das portas acolchoadas da The Cave fazia o corpo dos
alfas vibrarem, totalmente energizados pela atmosfera quente e meio
vampiresca que o estabelecimento e os frequentadores ofereciam. Era quase
como entrar um universo paralelo, onde tudo era sedutor e absolutamente
erótico. Era como sair do mundo real e entrar em um livro de Anne Rice —
e é claro que Jimin seria o maldito vampiro Lestat.
Jeon encarou rapidamente seu reflexo nos vidros dos carros estacionados. O
cabelo vermelho e a coleira combinando em mesma cor destacavam muito
bem, como sempre, a palidez da pele e o negrume das roupas.
Jimin, por outro lado, era sempre monocromático quando em suas visitas à
masmorra, além dos cabelos escuros e com o novo corte assimétrico, vestia-
se de preto da cabeça aos pés, destacando apenas o prateado dos anéis e das
orelhas recheadas de brincos e piercings, os quais vinha aumentando, junto
ao Jeon. Em breve não haveria mais espaço em suas cartilagens.
— Nós viemos aqui duas vezes depois disso — Jeon contou —, mas você
não estava.
— Ah, sim, estive de férias. — Sorriu. — Ele está te tratando bem? — Deu
uma olhadela desconfiada ao Park.
— Ele nunca me tratou mal... — Jeon devolveu, com uma vozinha perdida
e um tanto sem jeito, afinal, se Seung vinha pensando assim do Park, o mais
novo imaginou que, talvez, ele tivesse induzido o colega a pensar assim.
— Sei... Só quero saber se ele agora está só com você, sabe... — Seung
continuou encarando o ex-coronel de modo desconfiado.
— Não sou seu inimigo, AlphaDome — ele retrucou. — Mas gosto muito
de Jungkook, desenvolvi um carinho por ele. E sim, eu e você nos
conhecemos há muito tempo. Tempo suficiente para saber que você nunca
pára com um submisso só. Então, só estou checando. Esse garoto é um
doce, e não merece ser magoado.
Sabendo que Yoongi e Hoseok ainda não haviam chegado, o casal foi para a
pista dançar, aproveitar o momento. Rapidamente foram seduzidos pelos
ritmos do rock nu metal, gótico e industrial que tocava na pista escura,
movimentada pelos corpos quentes, todos vestidos em roupas absurdamente
espalhafatosas, como sempre.
— Amor... Nunca estive tão firme. Eu quero ele. Quero abatê-lo, dominá-lo.
Quero mostrá-lo que sou mais poderoso que ele...
— Mas isso pode acabar mexendo com você de um jeito ruim. Você detesta
o cara... — argumentou, com preocupação muito plausível.
— Agora diga... — falou Jeon. — Diga aquilo que sei que está se
segurando pra confessar...
Jimin não conseguiu prender o riso, jogando a cabeça pra trás e segurando-
se nos ombros do namorado.
— Mirradinho, você é tão boiolinha por esse pirralho! — Foi assim que o
Min cumprimentou o melhor amigo, com a provocação costumeira.
Jimin acabou deixando o assunto de lado. Sabia que o aroma alfa não era de
Taehyung, mas também não era de sua conta.
Mingyu sorriu grande, jogando o rosto pro alto, antes de descê-lo e fixar os
mirantes dourados na estatura menor de Jimin, que estava, visivelmente o
encarando com uma malícia descarada, que surpreendeu a todos —
incluindo o próprio Kim.
Junto a eles, Hoseok e Yoongi se fitaram com os cenhos franzidos. Eles não
estavam entendendo absolutamente nada, e suas expressões denunciavam
certo desespero para descobrir o que acontecia.
Mingyu gargalhou alto, totalmente desacreditado que aquilo estava sendo
dito. Não era a primeira vez que ouvia aquilo na vida, mas era a primeira
vez em muito tempo...
Ninguém na The Cave sabia daquilo, e ele, até então, pretendia não deixar
que soubessem... A menos, até que uma proposta tentadora demais fosse
feita. O único que sabia, claro, era Taehyung, mas não era como se ele
comentasse por aí. Entretanto, era algo relativamente implícito. Todo
mundo testava uma coisa diferente, até encontrar o próprio caminho e
entender os próprios gostos com clareza. E qual caminho seria melhor,
senão, testando?
Claro, Jimin não sabia de nada. Estava apenas blefando. Nem mesmo
Yoongi e Hoseok sabiam sobre aquilo, pois Taehyung jamais tocara no
assunto. Mais foi o suficiente para fazer o alfa maior engasgar.
— E-eu não...
Mingyu, normalmente, era aquele que seduzia. Quase não se deparava com
pessoas que pudessem subjugá-lo daquele modo, ainda mais com aquela
facilidade. Precisava admitir que estava um bocado surpreso e um tantinho
assustado com a novidade inesperada.
Ele sabia que não comandaria nada, aquilo estava óbvio. Sequer tinha
coragem de tentar virar o jogo, tão arrebatado estava. Era como se os dois
ali fossem seus primeiros. Estava desnorteado, pego de guarda baixa.
Aquilo era surrealmente inesperado.
E assim que ele desapareceu, Jimin foi, suavemente, dando a volta pelo
corpo alto do Kim, até que estivesse frente a ele, os rostos muito perto. O
mais baixo tinha o queixo elevado, para que pudesse enxergar o outro nos
olhos e passar toda a sua autoconfiança e superioridade através do olhar
intenso que possuía. E Jimin ficava particularmente mais intenso e atraente
com os olhos bem maquiados em sombra escura, como estava naquela
noite.
— Por que pensa que estou armando alguma coisa? — este retrucou,
desabotoando lentamente a gola da camisa social preta que vestia,
capturando o olhar firme do outro alfa, botão por botão.
— Não somos íntimos, mas conheço sua fama. Já vi alfas grandes e fortes
se submeterem a você. Já vi dominadores caíram aos seus pés. Sei o poder
que tem. Mas não vou me render a você, não sabe? Se quiser, é você quem
vai se ajoelhar pra mim. — Arqueou uma sobrancelha, provocador ao
extremo, a voz sussurrada. Mas a confiança em sua voz era forçada, e Jimin
a reconhecia de longe.
Por isso, o Park jogou a cabeça pra trás e riu com escárnio, escandaloso.
— Algo contra? Se for a favor, será excelente que fique. Mas se não, fale
agora ou cale-se para sempre — zombou.
Aquela parte, embora um tanto óbvia, ele ainda não havia sacado. Tinha
pensado que as provocações de Jungkook eram apenas seu humor afiado e
comportamento corriqueiro de malcriado. Não que o rapaz estivesse
disposto a trocar de lado naquela noite.
— Você só pode estar brincando se acha que vou aceitar isso... — o moreno
resmungou, um tantinho irritadiço, porque, diferente de suas palavras, ele
sabia que aceitaria. Ele queria foder com os dois. E faria o que fosse
preciso para tê-los como mais uma de suas conquistas.
— Não há outro modo, Gyu... — foi o Jeon quem falou, com seu sorriso
matreiro habitual, que persistia moldando os lábios finos. — Sabe, Jimin é
um dominador muito bonzinho. Ele vai te dar um bom corretivo e você vai
gostar...
Jeon puxou o namorado para trás pela mão, de modo que chamasse sua
atenção e este se virasse para si. Ao fazê-lo o ex-tenente o fitou, atento:
Jimin sorriu satisfeito, e avisou aos seguranças que se Helsing surgisse, era
o único com permissão para entrar.
— Tira tudo.
Tropeçando de leve, Jeon obedeceu, tirando peça por peça, até que estivesse
totalmente nu, como viera ao mundo. Ele respirou fundo e girou os olhos
pelas paredes de vidro, encontrando os olhares desejosos sobre sua figura
forte e esbelta... Especialmente em seu caralho semi ereto e depilado,
pesando entre as pernas grossas e firmes, desnudo, assim como a bunda
pálida e pequena, porém bem desenhada e redondinha.
Por um momento, ele se constrangeu, mas não durou sequer meio segundo.
Logo a seguir, a sensação de ser desejado lhe atingiu em cheio. Seu ego foi
amaciado e sentiu o pau endurecer um tanto mais, consideravelmente.
— Ajoelhe-se — comandou.
Segurando um sorriso, Jeon caminhou até estar frente à frente com o lúpus,
e se por nos próprios joelhos, após deslizar suavemente até o chão. Seus
nervos formigavam numa ansiedade absolutamente elétrica. Estava sendo
invadido por uma libido absurda. Mal podia acreditar que fariam aquilo na
frente de tanta gente. Não conseguia parar de pensar na inveja que as
pessoas sentiriam dele... e do Park também. Ele sentia aqueles olhares.
Sabia que estava sendo desejado, de todas as formas. Se pudesse ouvir
aqueles pensamentos, sabia exatamente as coisas que escutaria. E aquilo
para si era afrodisíaco.
Ele encarou Jimin, de baixo, com um olhar rendido e submisso. Mas Jimin
estava olhando lá pra fora, enquanto um sorriso convencido pintava seu
rosto...
— Eu disse a você — foi o que falou, antes de levar as mãos até o pescoço
do namorado e destravar o fecho da coleira vermelha.
E assim que Jeon sentiu o peso da peça de couro e rebites abandonar seu
pescoço, franziu o cenho e, rapidamente olhou para trás, na direção da
entrada da sala de vidro...
Volto em breve.
#COBRASORRATEIRA
Table of Contents
Title Page
TRAILER + CAST 🃏
AVISOS DE CONTEÚDO
01| curious
02| about discipline
03| hotter than hell
04| why don't ü?
05| dress code
06| choker
07| alphadome
08| caught in despair
09| dominated
10| teach you
11| i wanna
12| a deal
13| primitive
14| bondage
15| purple pride
16| cat dealers
17| jimin's little baby
18| playing with fire
19| punishment
20| brat vs. brat
21| chastisement
22| freak on a leash
23| nothing's gonna hurt you, baby
24| overdose
25| destroyer
26| hellish munch
27| master of puppets
28| pity party
29| quicksand
30| house of cards
31| guilty
32| the other face of the snake
33| fullgas
34| pleasure comes from pain
35| eyes on fire
36| our catastrophe
37| one step ahead
38| 5 things i love about u
LIVRO DE INCANDESCENTE E EDITORA EUPHORIA
39| as if it's your first