100% acharam este documento útil (11 votos)
51K visualizações1.080 páginas

INCANDESCENTE - Jikook HowUdare

Summary: Jeon Jungkook é a personificação do que se pode chamar de "pentelho" - um alfa teimoso e que parece ter nascido ao contrário, tendo uma personalidade que demonstra prazer na desobediência; era um malcriado. Por isso, a personalidade ora intimidante, ora gentil, de Park Jimin - seu vizinho alfa lúpus e Tenente-coronel da aeronáutica coreana -, o atraísse tanto. Mas Jimin, além de extremamente sensual, é alguém evasivo e que esconde segundas intenções.

Enviado por

alphadome1999
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
100% acharam este documento útil (11 votos)
51K visualizações1.080 páginas

INCANDESCENTE - Jikook HowUdare

Summary: Jeon Jungkook é a personificação do que se pode chamar de "pentelho" - um alfa teimoso e que parece ter nascido ao contrário, tendo uma personalidade que demonstra prazer na desobediência; era um malcriado. Por isso, a personalidade ora intimidante, ora gentil, de Park Jimin - seu vizinho alfa lúpus e Tenente-coronel da aeronáutica coreana -, o atraísse tanto. Mas Jimin, além de extremamente sensual, é alguém evasivo e que esconde segundas intenções.

Enviado por

alphadome1999
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 1080

INCANDESCENTE jikook by HowUdare

Category: Fanfiction
Genre: abo, babyboy, bdsm, bts, fanfic, fetiche, flex, gay, howyoudare,
jikook, jikookflex, jimin, jiminalfa, jiminbottom, jimintop, jkalfa, jkbottom,
jktop, jungkook, jungkookbottom, kookmin, lgbt, nsfw, omegaverse
Language: Português
Status: In-Progress
Published: 2018-07-29
Updated: 2021-01-10
Packaged: 2021-03-21 23:15:33
Chapters: 42
Words: 306,567
Publisher: www.wattpad.com
Summary: BDSM (Jm¡DOM × Jk¡BRAT) || ABO (Alfa × Alfa) || FLEX
Jeon Jungkook é a personificação do que se pode chamar de "pentelho" -
um alfa teimoso e que parece ter nascido ao contrário, tendo uma
personalidade que demonstra prazer na desobediência; era um malcriado.
Por isso, a personalidade ora intimidante, ora gentil, de Park Jimin - seu
vizinho alfa lúpus e Tenente-coronel da aeronáutica coreana -, o atraísse
tanto. Mas Jimin, além de extremamente sensual, é alguém evasivo e que
esconde segredos. E quando Jungkook acidentalmente os descobre, é
apenas o começo de uma relação mais quente que o inferno. Twitter ☆
@ALPHASDOMINATOR & @cherrysubjk TAGS: #CobraSorrateira +
#JungkookBebêDoJimin
Language: Português
Read Count: 2,599,862
TRAILER + CAST 🃏
Assista ao booktrailer de INCANDESCENTE antes de começar a
leitura. A experiência fica mais divertida ❤

https://www.youtube.com/watch?v=ekUMg8DssTg

[CAST]

Jeon Jungkook (alfa com genes ômegas - sub/brat):

Park Jimin (alfa lúpus - tamer/dom):


Min Yoongi (ômega - tamer/dom):

Jung Hoseok ( beta - switcher):


Kim Taehyung (alfa - sub/breakme/masoquist):
Kim Namjoon (beta - não fetichista):
Kim SeokJin (ômega lúpus - não fetichista):
Lee Taemin (alfa - sub):

Kim Mingyu (alfa - tamer):


AVISOS DE CONTEÚDO
Esse é um romance erótico, com práticas de bdsm sãs, seguras e
consensuais. Os outros tipos de bdsm, como os onde não há segurança, ou
quaisquer dos outros dois itens, serão superficialmente abordados também.

No bdsm, nem todos os conceitos e práticas possuem entendimentos


homogêneos; o que significa que você possa ver aqui algumas questões com
as quais talvez discorde. Por esse motivo, os entendimentos dados aqui são
os meus, como Dominadora praticante. Não o de site x, ou de fanfic y.

E consequentemente, por ser uma Domme praticante, eu sempre vou


saber do que estou falando (em relação ao bdsm), e ao menos que você
também seja praticante realmente, é mais educado não se afobar querendo
discutir sobre algo que você não tem experiência. A arrogância (atitude de
opinar e debater sobre assuntos que a gente não domina), pode acabar
gerando atritos. Por ser uma pessoa meio pavio curto, posso acabar
respondendo com pouca cordialidade, e não queremos isso, certo?❤😊

Independente de ser praticante ou não, sintam-se livres pra interromper


sua leitura a qualquer momento, caso sintam-se desconfortáveis, ok? ❤
Existem milhares de livros sobre bdsm no site, e você certamente
encontrará algum mais compatível com suas opiniões 😊

Em Incandescente os brats não serão tratados como "apenas um tipo de


bottom", mas sim como submissos rebeldes.

Essa fanfic é ambientada num universo ABO ↪ Alfa, Beta e Ômega. Por
ser um universo inexistente, alguns conceitos podem ser diferentes de
outras histórias que você conheça. Portanto, fique atento às explicações
ABO desta história. Não aplique os conceitos de outros livros ABO's em
Incandescente. Ela tem suas próprias regras. Cada autor cria as suas.

Fanfic Jikook!flex. O que significa que, como casal gay, os dois irão
penetrar e serem penetrados. Há trocas, de acordo com os momentos em
que >>eu<< quiser colocar. Lembrando que flex significa trocar a posição
de ativo e passivo na relação.
Incandescente tem a tag #JungkookBebêDoJimin no twitter. Use sem
moderação ❤ Falar da fic no twitter é muuuito bom pra que outras pessoas
a conheçam. Façam bastante, se gostarem dela

Os jikook de incandescente tem perfis no twitter, onde postam fotinhos


temáticas (deles mesmos e das práticas fetichistas), e interagem bastante,
como pessoas de verdade Sigam os piticos falando putaria e se amando
fofinho na internet: @ ALPHASDOMINATOR & @ cherrysubjk

Este não é um manual de BDSM. Caso você seja maior de idade e


interessado pelas práticas, estude regularmente sobre o assunto e busque por
um Mentor. Não baseie seus conhecimentos em um livro ou fanfiction,
menos ainda num único site. O universo bdsm é extenso demais pra isso.

Lembre-se que votar ao final de cada capítulo lido, funciona como um


"marca-páginas", e assim você não se perde no livro, caso o app saia da
parte onde você parou a leitura (o que acontece toda hora, né?) Portanto, é
bom votar sempre

BEM-VINDOS A INCANDESCENTE
01| curious

ESCRITO POR HowUdare

Jungkook observava a chuva cair pela janela de vidro, junto a sua própria
imagem emburrada de fios vermelho-cereja refletida na superfície
transparente, afogada em gotinhas de água. O dia estava claro e cinzento.
Nada lhe parecia anormal. Pelo contrário, era como se um monstro enorme
de garras negras lhe sufocasse. Tédio. Nada mais lhe chamava a atenção e a
rotina lhe deprimia. Acordar todos os dias, trabalhar naquela lojinha de
conveniências, receber um salário baixo, que lhe servia apenas para pagar
por seu aluguel e as contas da casa. Pouco lhe sobrava exatamente para
divertir-se — embora trabalhar numa loja de conveniência sem câmeras, lhe
permitisse furtar muitas garrafas de soju, vodca e um bocado de guloseimas.
Não que ele achasse aquilo certo. Apenas fazia, sem pensar muito sobre o
assunto. Algo sobre "distribuir a riqueza das oligarquias entre os menos
favorecidos" lhe soavam tocantes e escusas.

Apoiado no balcão, bufou impaciente. Seu emprego era chato, sua vida era
chata, seus relacionamentos e vida sexual eram chatas. A única coisa
interessante eram seus amigos. E falando nos diabos...

O sininho da porta soou, indicando novo cliente. Não era necessário, já que
o balcão do caixa era posicionado de frente para a porta, por onde o beta
Jung Hoseok acabara de entrar, com a cara amarrada e os olhos vermelhos.

Hoseok era amigo de Jeon Jungkook há um bocado de tempo. Tratavam-se


como perfeitos irmãos — embora alguns aspectos daquela amizade
envolvessem certas coisas que irmãos não são supostos a fazer.

Os cabelos escuros do beta, cuja franja partida ao meio batiam um pouco


abaixo dos olhos, emolduravam o rosto anguloso de queixo fino, nariz
arrebitado e maçãs salientes, junto a um sorriso em formato de coração e
uma fileira de dentes branquíssimos e bem alinhados.
— O que foi? 'Tava fumando alguma coisa? — o mais novo pergunta,
observando a coloração nos olhos do amigo.

— Antes fosse — Hoseok resmunga. — Aquele Brat maldito... — bufa,


pegando uma garrafa de Soju no refrigerador verde.

— Você já sabia que ele não era do tipo obediente — Jungkook responde
sem humor. — Até eu que não pratico bdsm, sabia que você não iria
aguentar.

— Mas eu sou um Switcher, pô! — Hoseok exclama em tom indignado. —


Posso ser tanto Dominador quanto Submisso. Eu era a melhor aposta para
dar certo com um submisso malcriado.

— Talvez você devesse me explicar melhor esta coisa outra vez... — pede o
ruivo, franzindo o cenho. — Esse negócio de Brat, não é uma coisa ruim?

— Não necessariamente — o Jung diz, dando um gole na garrafa de vidro.


— O negócio é que dentro desse mundo de dominação e submissão, um
brat é exatamente ao contrário de um submisso. Ele não aceita ordens
apenas por aceitar. O Dominador precisa fazer por merecer. Só que a grande
e esmagadora maioria de Dom's e Domme's não tem o menor prazer em dar
ordens para serem desobedecidos. E o brat é alguém que desobedece ciente
de que aquilo irrita seu Dom, mas a questão é que ele sente prazer em
afrontar aquele que supostamente o domina.

— Oh... — Jungkook fala. — Então... Você gostava de ser desobedecido?


— pergunta confuso.

— Aish, claro que não, JK — o moreno responde. — Mas eu gostava de


fazer por merecer. Gostava de mostrar a todos, que aquele bratzinho safado
se submetia a mim. Ainda mais depois do fracasso da relação dele com
aquele branco azedo...

— O tal Yoongi, né?

Jeon já sabia daquela história.


"E lá vamos nós de novo..." — o avermelhado pensou, ao lembrar que tocar
no nome do tal Yoongi — o qual ele sequer havia visto alguma vez na vida
— era o início de um enorme monólogo de um desgostoso Hoseok.
Monólogo e não conversa, já que o rapaz quando começava naquele
assunto, nunca mais parava. Iniciava um debate consigo mesmo, ao que
Jungkook não sabia bem o que dizer, já que além de não conhecer Yoongi,
também não conhecia a fundo como funcionava uma relação de bdsm —
apenas sabia por alto, já que o amigo Hoseok era praticante e sempre lhe
contava muitas coisas.

Uma delas, era que o ômega Min Yoongi havia sido um Dominador pelo
qual Hoseok tinha se sentido extremamente atraído. Saíram muitas vezes,
mas o Dom não parecia sequer interessado em criar uma relação fixa com
Hoseok. Não passavam de encontros esporádicos. Mas Hoseok queria, e
muito, ter algo a mais com o de cabelos loiros; Sim, Min Yoongi tinha
cabelos platinados, o que era absurdamente inesperado na aparência de um
Dominador de bdsm, Hoseok contara — geralmente estes procuravam
cultivar uma aparência mais intimidante, e não delicada.

Mas o platinado apenas o tratava com indiferença e tampouco ligava para


seus dramas. Dizia que ter uma relação de dominação fixa, era muita
responsabilidade e lhe daria um enorme trabalho, algo que ele afirmava não
querer. Então acabou não dando certo a relação dos dois. E após míseros
dois meses do término da relação, Yoongi surgira na Masmorra "The Cave",
com um submisso de coleira — o que Hoseok havia lhe explicado, ser o
sinal de que a relação entre os dois era algo fixo e não esporádico. Aquilo
partiu o coração do Jung, que na primeira oportunidade, durante o
rompimento de Yoongi com o submisso, havia avançado para cima de
Taehyung — que vinha a ser o tal sub de Yoongi.

Jungkook, como a boa sementinha do mal que era, foi quem lhe deu a ideia
— esta que o Jung achou genial e seguiu de imediato, mas que agora se
arrependia amargamente, diante de mais um coração partido, só que desta
vez, por Kim Taehyung, o submisso malcriado e apelidado de brat, pelos
praticantes da Masmorra que frequentavam.

— Eu me sinto um pouco culpado de ter te dado aquela ideia de se vingar


desse dominador, pegando o submisso dele... — Jungkook fala sem jeito,
coçando a nuca.

— É... foi uma ideia ruim — o outro concorda, cansado.— Mas fui ainda
mais burro em achar que daria certo...

— Relaxe. Você é um cara bonitão, certo? Já, já arruma outro... como é


mesmo que você chama? Outro "sub"... — Jeon diz tentando confortar o
amigo, que sorri aberto pra ele.

— Se você obviamente não fosse um brat... — o Jung fala, em tom de


provocação — Eu te iniciaria no bdsm, como meu submisso...

— Ah, sai pra lá, beta! — Jungkook exclama rindo, enquanto empurra o
braço do outro do balcão, para passar um pano úmido ali. — Eu não sou
essa coisa aí que você diz. Não sou malcriado; Talvez eu seja um
Dominador....

Hoseok solta uma gargalhada alta, sacudindo o corpo e jogando a cabeça de


fios escuros pra trás.

— Você? Um Dom? — riu com força, batendo nos próprios joelhos e quase
engasgando com a bebida. — Jungkook, você é um bebêzão manhoso e
malcriado...

— Não sou nada! — o Jeon reclama indignado, imediatamente cruzando os


braços na frente do peito e tendo um enorme bico formado em seus lábios.
— Sou um Alfa!

O que faz Hoseok rir ainda mais.

— Espere, não saia dessa pose, não se mexa! — Hoseok pede, às


gargalhadas. Ele saca seu celular do bolso do casaco e abre a câmera, para
então bater uma foto do de cabelos cereja, que pisca quase cego com o flash
forte.

— Hyung, meus olhos — resmunga com um biquinho.

— Iti, mas que bebêzinho fofo... — o beta implica, apertando uma de suas
bochechas gordinhas.
Jungkook bufa e rapidamente afasta a mão dele de seu rosto, com um tapa.

— Malcriado! — Hoseok repreende, apertando os olhos.

— Que seja, mas pra quê tirou a foto? É pra fazer mais um meme meu, seu
engraçadinho?

— Ninguém precisa fazer um meme seu, Jungkook, você já é um meme


vivo — o moreno rebate, com uma das sobrancelhas arqueadas. — Você já
se olhou no espelho quando faz birra? Não, né? E nem precisa, olha aqui
essa fotinho... — diz rindo, enquanto posiciona a tela frente aos olhos do
amigo, dando zoom no rosto dele na imagem. — Percebe? Você fica igual
um ursinho bravo. Principalmente depois que pintou esse cabelo de
vermelho rosado, ou rosado vermelho, eu sei lá. Sua cabeça parece uma
cereja gigante, só falta a gente colocar um caule verde aí em cima.

— Vá se foder... — Jungkook diz, se virando no balcão, para ligar a


máquina de café.

— Olha a malcriação... — o switcher rebate em tom falsamente


repreensivo.

— Vá se foder duas vezes... — devolve com um sorriso sarcástico.

— Jungkook, por que você me odeia? — o beta diz fingindo tristeza.

— Porque você é um hyung implicante...

— Não é implicância se eu digo a verdade... — o Jung resmunga, dando um


último gole no Soju e então larga a garrafa no balcão.

— Hey, a lixeira está bem ali! — o alfa exclama indignado.

— Quem trabalha aqui é você, eu sou cliente...

— E que tipo de cliente é esse que não paga? — Jungkook questiona em


tom irritado, com as mãos na cintura.
— O tipo que tem um dongsaeng com livre acesso à bebida grátis... —
responde dando uma piscadinha e parando na frente da porta. — Te vejo
mais tarde, brat...

Jungkook sequer responde, apenas revira os olhos e trata de se livrar da


garrafa abandonada.

[...]

Algumas horas depois, quase no fim de seu expediente, Jeon Jungkook


aguardava ansiosamente pela entrada de Kim Namjoon, o colega de
trabalho que pegaria o turno da noite naquele dia. Só poderia ir embora
quando o amorenado chegasse e, faltando apenas dez minutos para a troca
de turno, Namjoon ainda não havia dado as caras.

De qualquer forma, Jeon desamarrou o avental preto e o guardou dobrado


embaixo do balcão, no exato momento em que o sininho da porta soou,
indicando um novo cliente entrando no estabelecimento. Bufou, pensando:
"Ah, não, uma hora dessas..." — mas o horário era horário normal de fluxo
na loja. Ele apenas estava doido de vontade de largar o expediente logo e
sentar-se na sala de casa, com alguns pacotes de biscoitos de algas e
refrigerantes, pra jogar vídeo-game.

Quando levantou-se, viu um homem moreno abaixado, com a bunda


empinada, pegando dois packs de seis cervejas cada, dentro da geladeira
azul. Tinha o cheiro de Alfa, bem conhecido. Observou quase hipnotizado
ao corpo magro e definido, que parecia mais baixo que o dele. O cara se
assemelhava a um modelo da Calvin Klein, metido em uma calça e casaco
jeans combinando, da marca citada. Ele era como um enorme pecado
ambulante. E o ruivo não pôde deixar de sorrir sem jeito quando o homem
se virou, revelando a pele branquinha, os lábios cheinhos e os olhos
pequenos, emoldurado pelos cabelos tão pretos que reluziam.

— Jimin-ssi! — exclamou alegre para o sujeito vestido em jeans.

— Boa noite, Jungkook-ah — O moreno cumprimentou, andando até o


balcão e abandonando os engradados em cima do caixa. — Uau... seu
cabelo está bem bonito. Combinou com você — elogiou.
— Whoa, obrigado — agradeceu sorridente. — Meus amigos estavam me
zoando por eu nunca mudar nada em minha aparência, dizendo que eu
nunca saia dos meus "cinquenta tons de castanho", como eles costumam
dizer... Mas isso era porque uma vez tentei fazer algumas mechas loiras e
meu cabelo ficou duro feito palha! Eu tive traumas... — desatou a falar.

Era sempre assim. Não podia ver Park Jimin, que sua boca não parava
quieta.

Não era à toa que o outro nunca parecia lhe dar muita ideia — pensava o
pobre Jeon. Isso e o fato de que Jimin era um alfa. E não era muito comum
um alfa se interessar por outros alfas. Mas também não era como se Jimin o
destratasse, pelo contrário: O Park era sempre muito gentil e educado
consigo, e, não só isso: flertava como o Diabo. Todavia, Jungkook sempre
tendia a achar que os flertes e provocações aconteciam como uma boba
brincadeira entre colegas.

— Seu cabelo não me parece "duro" agora... — Jimin respondeu sincero,


observando os fios coloridos do outro. — Acho que você ficou ainda mais
bonito... com uma aparência mais fofa — terminou com um sorriso
simpático costumeiro.

O problema era que aquele sorriso curvava um pouco pro lado e o olhar
felino do moreno parecia querer devorá-lo bem ali, em cima daquele balcão,
na frente de tudo e todos. É. Definitivamente era muito mais do que um
sorriso simpático, Jeon bem sabia — mas como sempre, fazia-se de rogado.
Porque, afinal, Park Jimin não poderia querer nada com ele, poderia?

Não que Jungkook se achasse feio nem nada — na verdade, tinha bastante
confiança sobre sua aparência — era bonito pra um santo caralho; tinha um
maxilar quadrado, bem marcado e másculo, lábios finos e malditamente
bem desenhados, enfeitados por uma pintinha delicada abaixo deles, o nariz
grande e marcante, olhos de cor preta, puxados e redondinhos, que
pareciam extremamente curiosos, mas que também eram intensos demais
por conta do par de sobrancelhas grossas e escuras.

Mas qual é? Jungkook tinha nascido ao contrário. Algum erro genético,


desses que são um em um milhão, havia lhe acometido: era um alfa, mas
carregava genes de ômega. Isso mexia com muita coisa em seu corpo, como
por exemplo, o seu cheiro. Jeon normalmente possuía o cheiro amadeirado
de alfa, mas notas doces como as de aroma ômega se sobressaíam com uma
frequência absurda — geralmente quando ficava excitado, mas pra qualquer
um com faro aguçado, era possível perceber o cheiro ômega mesclado ao
cheiro alfa em sua pele, mesmo que o garoto estivesse com zero nível de
excitação.

Por conta disso, era muito normal que o de cabelos cereja fosse rejeitado ou
tratado como algum tipo de aberração, como se não pudesse ser atraente o
suficiente, por ter os cheiros misturados, como um repelente. E isso destruía
sua autoestima em certo nível.

Jungkook ficou extremamente embaraçado e sem jeito. Sentiu o rosto


queimar. Claro que, não era como se fosse do tipo envergonhado, apenas
sentia-se assim com Park Jimin, já que este era seu vizinho militar, que
passava setenta e cinco por cento do ano enfiado no quartel e apenas
aparecia em casa nas folgas de escala — onde ele também não passava
muito tempo enfiado, já que Jeon sempre o via entrando e saindo, em
diversos horários. Park Jimin parecia ter uma vida agitada fora das Forças
Armadas.

— Está de folga? — o ruivo perguntou, mas rapidamente quis dar-se um


tapa na testa, por tal pergunta imbecil. Se o outro estava ali, e não no
quartel, era óbvio que estava de folga.

— Digamos que sim... — Jimin respondeu, jogando os cabelos pra trás com
a mão, num movimento extremamente sexy, que fez Jungkook
inconscientemente encará-lo e morder os lábios. — Fugindo é que eu não
tô...

— Talvez você estivesse... — Jungkook murmura. Ao ver a expressão


indagativa do outro, ele explica: — Você me parece alguém cheio de
atitude, talvez fugir do quartel não fosse uma possibilidade tão absurda
assim...

— Humn... talvez — o outro alfa responde. — Mas não sou exatamente do


tipo que curte quebrar regras. Sou bastante disciplinado e ensino meus
subalternos a serem exemplos de disciplina como eu. Esse é o único modo
de crescer na carreira militar, foi assim que cheguei ao cargo de Tenente-
Coronel antes dos trinta anos...

— Um homem de sucesso, dá pra ver — o ruivo diz rindo. — Eu tenho um


amigo que pratica bdsm, já ouviu falar? Ele certamente diria que você daria
um perfeito submisso... por causa dessa coisa das regras e tudo o mais. Quer
dizer, gente submissa meio que curte essa parada de obedecer e seguir
ordens — fala passando o bipe nos códigos de barras dos engradados de
cerveja.

Jimin então dá uma risada alta, jogando o corpo pra trás, cobrindo a boca
com a mão.

O Jeon sorri satisfeito, sem saber exatamente porquê havia causado aquela
reação no outro, mas ainda assim contente de fazê-lo sorrir. O avermelhado
sempre que via o Park, se empenhava em fazê-lo rir minimamente, já que
Jimin carregava sempre uma postura e expressões sérias, ainda que fosse
meigo em todas as vezes em que se falavam.

Jungkook achava Jimin fofo a seu modo, ao mesmo tempo em que sentia
vontade de tê-lo em cima de si, o subjugando. Porque era aquela imagem
que o militar lhe passava... A de alguém muito bom em dar ordens.

Então é claro, Jungkook apenas estava insinuando que o alfa tivesse


vocação pra submisso, pra ser do contra. Não era nenhuma novidade o seu
prazer corriqueiro em contrariar. Se Jimin lhe passava uma imagem
totalmente dominante, o ruivo claramente diria o contrário por pura
provocação. Queria tirar uma com a cara do vizinho e, com isso, talvez tê-lo
falando mais sobre si mesmo, coisa que Jimin evitava um tanto.

Talvez aquela ideia houvesse sido implantada em sua mente, apenas porque
já havia visto o Park em sua farda branca e, por Deus! Aquela visão o
deixara salivando. Sequer sabia que tinha fetiches por caras fardados.
Apenas sabia que Jimin o tinha deixado com um tesão incontrolável.
Tentava não criar esperanças, já que sendo um alfa, Jimin provavelmente só
gostava de ômegas e betas. Mas sempre o vira entrar e sair de casa sozinho,
sem mulheres ou homens, alfas, betas ou ômegas. Talvez o moreno tivesse
um ômega e visitasse-o em sua casa, como um cavalheiro.

O sinal da porta soou novamente, quando Namjoon entrou na pequena loja.

— Aigoo, finalmente! Pensei que ia ter que ficar cobrindo você —


Jungkook resmunga.

— Ainda falta um minuto pro meu turno, seu desesperado — o colega


rebate, dando a volta no balcão. — Annyeonghaseyo! — fala para Jimin,
curvando-se levemente. Este se curva de volta para o atendente e responde
educadamente.

— Yah, eu já tô indo — Jungkook fala para o beta Namjoon, dando a volta


para o lado de fora do balcão. — Amanhã 'tô de folga, otário.

Jimin observava Jeon com uma expressão séria no rosto, mas era
perceptível o risinho no canto de seus lábios.

— Não vai nem finalizar a compra do cliente, garoto? — Namjoon


pergunta, colocando seu boné na cabeça de fios amarronzados, encarando o
mais novo com a expressão repreensiva.

— Ah, é — o ruivo responde, se dando conta. — Jimin-ssi, pague ao


Namjoon hyung e vamos andando juntos pra casa. Quero dizer, você está
indo pra casa, certo?

O militar solta uma risadinha.

— Tô sim — e então encara a parede atrás do atendente beta. — Me dê um


maço de Carlton também.

Jungkook o encara curioso.

— Você fuma, hyung? — pergunta.

— Não regularmente, apenas quando ando com problemas demais — fala


em tom cuidadoso.
— As doze cervejas e o cigarro, dão vinte mil wons, senhor — Namjoon
diz, colocando o maço em cima de um dos engradados.

Jimin tira o dinheiro da carteira e entrega nas mãos do atendente; e


enquanto guarda o maço de cigarros no bolso da calça jeans apertada, pega
um dos engradados; Jungkook apanha o outro e os dois se despedem do
beta, saindo da loja.

— Você é um menino prestativo — o Park diz, sorrindo de forma humorada


enquanto caminham pelo quarteirão.

— Me disseram que eu devo ajudar os mais velhos — Jungkook responde,


matreiro.

É claro que insinuar que o outro era velho, era uma péssima técnica de
flerte. Mas o de cabelos cereja tinha um prazer especial em provocar as
pessoas, principalmente seus hyungs, de modo que nunca se segurava, era
algo natural nele, fazia parte de si.

— Você é abusado, hein... — o militar diz apertando os olhinhos em sua


direção. — Eu nem sou tão mais velho que você assim... Tenho 29 anos,
você sabe! E recém completos. Fiz aniversário esse mês.

— Ah, mas eu tenho 25, sou quase um bebê! — rebate em falsa indignação.

— Aish... — Jimin responde, parando de andar para acender um cigarro e


logo voltando a caminhar.

— Isso mata, você sabe — Jungkook fala. — Anda aborrecido com o quê?
Quer conversar? — indaga docemente.

— Você é muito gentil, Jungkook, mas não estou muito no clima de


desabafo — responde direto. — Esse seu amigo que curte BDSM, o que ele
costuma fazer? — pergunta mudando o assunto, sem demonstrar-se muito
curioso.

— Ah, ele diz que é Switcher... quer dizer que faz os dois. Significa que
pode ser o manda-chuva ou o cachorrinho de alguém... — responde rindo.
— Você conhece alguma coisa desses fetiches?

— Um pouco... — o outro responde, observando o de cabelos vermelhos


atentamente.

— Já praticou alguma coisa? — Jeon pergunta genuinamente interessado,


no momento em que param em frente à sua casa.

— Humn... talvez. Vá dormir, Jungkook-ah — o coronel fala rindo e solta


uma piscadinha, antes de puxar o engradado de suas mãos e atravessar a rua
correndo, com um rebolado que deixava o ruivinho salivando.

O de cabelos cereja ficou ali observando o mais velho entrar na casa da


frente e suspirou. Jimin era sempre tão evasivo. Recusava-se a responder
qualquer pergunta mais pessoal ou profunda. Até se fosse sobre o sentido
do universo ou vida alienígena. E isso o avermelhado sabia, pois já havia
tentado — Falar sobre et's e coisas parecidas.

Não sabia se a personalidade de Jimin era realmente assim, ou se era algo


que ele havia aprendido em seu treinamento militar, a ser mais impessoal e
sério. Mas queria, e muito, descobrir. Já eram vizinhos e colegas há três
anos, afinal. Fizeram amizade desde que Jungkook se mudara para o prédio
da frente. Já estava na hora do garoto conhecer um pouco mais o alfa. E ah,
ele o faria. Jeon Jungkook era teimoso.

Naquele momento, o alfa de genes ômegas decidiu que, definitivamente,


queria conhecer os segredos de Park Jimin. E quando ele botava uma coisa
na cabeça...

Ninguém o impedia.

BRAT: significa malcriado, em inglês. No BDSM, é utilizado pra se


referir àqueles que estão em posição de submissão, mas não obedecem
devidamente, rebelando-se muitas vezes contra seu dominante. A
posição de SUB tem muitas variações, e estas serão explicadas ao
decorrer da obra. Tenham paciência ;) Tudo será dito no momento
certo, de acordo com o meus entendimentos sobre a filosofia BDSM (e
não o entendimento do site ou fanfic de Fulaninho e Ciclaninho, pois os
entendimentos do Ciclaninho, nãos são os mesmo da HowUdare,
tenham isso em mente.)

Pra quem começou INC agora, bem-vindo. Essa fic foi editada, pra que
se encaixasse melhor nas regras de conteúdo do site. Por conta disso,
muitas alterações foram feitas no enredo, até mesmo na ordem de
alguns capítulos. Por isso não se assuste se vir comentários que falem
sobre algo diferente, capische? Eu sei que você capische.

VOTA AÍ, MEU COMPATRIOTA


02| about discipline

Escrito por HowUdare

— Hoseok, pare de arrumar minha casa! — Jungkook exclama, no meio de


sua sala, vendo o amigo beta andar de um lado pro outro, enfiando coisas
numa sacola preta.

— Você vive num chiqueiro, garoto. Me dá agonia ver essas embalagens de


lasanhas, pacotes de biscoitos, meias e refrigerantes pela casa... — o outro
rebate indignado.

— Você nem mora aqui. Não sei por quê se mete na minha arrumação...

— Não me meto na sua arrumação, me meto na falta dela — Hoseok diz


bufando. — Sabia que achei uma meia sua, dentro de um copo com metade
de pepsi?

— Sério? Deve ter sido a Minzy...

— Você é como uma criança de oito anos, colocando a culpa no gato — o


beta fala balançando negativamente a cabeça.

— Não é gato, é gata — Jungkook fala. — Já te disse que Minzy é uma


menina, hyung.

— Ele tem tem bolas, Jungkook. Bolas! — retruca estupefato.

— E daí? Isso é uma construção social imposta, Minzy é uma menina, ela é
o que ela quiser ser...

Hoseok não responde e apenas sai da casa para deixar a sacola preta de lixo
na porta.

Jungkook era um cara totalmente do contra, bagunceiro, birrento e que


gostava de inverter todas as coisas possíveis do universo. Se pudesse,
inverteria até a Terra — caso esta não fosse redonda. Outro dia mesmo, o
Jung havia visto o garoto pesquisar no AliExpress¹ por uma bola quadrada.

— Jungkook... — diz entrando novamente na casa. — Sabe do que você


precisa?

— Uh? — responde sem dar atenção ao outro, fuçando sua geladeira em


busca de m&m's.

— De disciplina! — Hoseok exclama. — Você foi muito mimado por seus


pais e cresceu sem regras. Talvez você aprendesse um pouco a se comportar
e a ter responsabilidades no bdsm...

— Lá vem você de novo... — o de cabelos vermelhos resmunga, catando


apenas os confetis de chocolate na cor vermelha, para comer. Era uma
mania sua. — Eu já li e pesquisei sobre várias coisas desses fetiches que
você fala. Achei excitante, mas essa coisa de seguir ordens não é comigo.
Ficar mandando nos outros também não é a minha vibe, gosto de ficar na
minha e cada um cuidar do seu. Simples assim.

— Como um submisso, você aprenderia bem sobre a disciplina. Aprenderia


que às vezes é necessário obedecer, pra conseguir o que deseja, pra ter
alguma recompensa, do contrário, receberia castigos — Hoseok comenta,
varrendo a casa.

— Isso não seria tipo, me fazer ser algo que não sou? — o ruivo questiona,
se jogando no sofá, com um potinho cheio de m&m's vermelhos.

— Não é nada demais, já que você insiste que seu gato macho é uma fêmea,
só porque você quer... — devolve ácido.

— Eu já disse que Minzy... — começa, mas o beta o interrompe.

— JK, gatos não falam, você não tem como saber o que seu gato pensa,
pare de ser idiota. — Hoseok fala, batendo com a vassoura nos pés do mais
novo, para que este os levantasse enquanto ele passava a mesma por ali.
— Minzy não fala mas eu sinto, conheço minha filha... — responde
teimosamente, olhando pela janela.

E sequer percebe quando Hoseok o fita curioso, enquanto este continua a


encarar fixamente a rua ao lado de fora.

— Ainda na esperança de ver seu vizinho gostoso passando na calçada? —


o Jung pergunta rindo.

— Você debocha assim porque nunca o viu. O cara é a coisa mais deliciosa
que eu já vi na vida. Ele é todo meigo e educado, mas tem um porte ereto,
um olhar penetrante, toda uma coisa de macho alfa... — sacode o corpo
fingindo um arrepio. — Se bem que ele é mesmo um alfa, embora não
pareça...

— Ainda bem, porque tô solteiro outra vez e se visse um alfa bonitão, eu


partiria pro ataque — o Jung declara.

— Você me trairia dessa maneira, seu fura-olho? — Jungkook indaga


genuinamente indignado.

— Ora, já fazem três anos — o outro devolve, com as mãos na cintura. —


Três anos que você se mudou pra cá, e nunca teve coragem de chegar no
cara!

— Amigo, não é assim, o cara é um alfa! Você sabe como esses sujeitos são
com os outros alfas... Vai que eu dou uma cantada nele e ele um soco na
minha cara, hmn?

— Eu aposto que ele faz "meinha" com os soldados no dormitório. Isso de


ser alfa não me engana.

Jungkook sai da janela e se joga na outra ponta do sofá, de costas.

— Eu queria muito um jeito de descobrir isso, sem tomar uma porrada ou


uma mordida dolorosa... — Se um alfa mordesse outro, era como uma
picada de cobra. Poderia até mesmo ser letal, se não socorrido por um
médico imediatamente. Não que o doidinho já tivesse sido mordido por um
alfa, apenas ouvira falar, era isso que os livros de biologia diziam.

— É bom você dar um jeito logo, se não esse cara vai voltar pro quartel
outra vez e você vai ficar aqui chupando dedo, como sempre — Hoseok
declara. — Por que não tenta o velho truque do açúcar?

— Truque do açúcar? Como assim? Explica! — exclama, sentando-se no


estofado, parecendo alerta.

O beta revira os olhos e encosta a vassoura na parede.

— Jungkook, você cresceu no planeta Terra? — pergunta retoricamente. —


O truque do açúcar é aquele dos filmes, você bate na porta do vizinho, com
uma xícara vazia nas mãos, e pergunta se ele tem um pouco de açúcar pra te
emprestar, porque o seu acabou e você precisa terminar uma receita,
urgente.

— Ohhhhhh... — o acerejado exclama surpreso. — Mas e se ele não tiver


açúcar?

— Inventa alguma coisa que todo mundo sempre tem em casa. Um


escorredor de macarrão, talvez — Hoseok diz, dando de ombros.

— Essa é uma ideia... — Jungkook fala coçando o queixo, pensativo. —


Uma ótima ideia...

— Yah, que nota você daria pros pornôs de bdsm que assistiu? — Hoseok
questiona, voltando ao assunto anterior, enquanto passa um pano com
lustra-móveis na estante, de costas pro alfa.

— Nove. Pra alguns, zero, mas em sua maioria, nove.

— Uau! — o moreno se vira pra ele. — Isso é muito. Tem certeza que não
quer visitar o clube? É sério, Jungkook, você precisa aprender sobre
disciplina...

— Tá legal, chato — Jungkook fala, vencido. — Podemos ir hoje?


Era óbvio que sua recusa era apenas medo. Tinha uma vontade absurda de
visitar a tal masmorra, embora os poucos conceitos sobre as práticas bdsm
em sua cabeça, fossem todos embaralhados e confusos. Mal sabia
diferenciar o papel de um dominador e de um submisso, realmente. Parecia
muito complexo e ele não se enxergava encaixando em nenhum dos dois,
exatamente.

— Sério? Legal! Hoje não dá, mas no final de semana sim. Vai estar de
folga quando?

— Daqui há uma semana, já folguei ontem — Jeon responde simples. —


Agora larga essa flanela aí, que preciso ir pro trabalho — diz se levantando
e pegando as chaves em cima da estante. Hoseok o acompanha e os garotos
deixam a casa.

[...]

Já na esquina da loja de conveniência, Jungkook avistava Jimin de costas,


andando bem mais à frente. Ele empurra Hoseok para que se escondam
atrás de um carro estacionado na calçada e este o fita com uma careta.

— Que foi agora, ô garoto infernal? — o beta questiona. — Tá bêbado?

— Não, idiota. Olha ele ali — sussurra, apontando para o alfa mais à frente.

— Ele quem? — o moreno indaga, olhando para todos os lados.

Jeon dá um tapa na própria testa.

— É pra disfarçar, idiota! — devolve irritado.

— Mas JK, eu não tô vendo ninguém! Ele tá vestido como?

— Ali, de jaqueta jeans!

Hoseok continua procurando, mas não enxerga. O mais novo suspira.

— Agora ele já saiu de vista, esquece, imbecil.


— Yah! Não é culpa minha, você que empurrou a gente aqui pra trás desse
carro e ficou difícil de enxergar. Tá pensando que eu sou o Indiana Jones?²
— retruca se levantando.

— Otário — Jungkook devolve simplesmente, atravessando a rua e


deixando o amigo para trás.

¹ AliExpress: site de compras online

² Indiana Jones: Super herói de filmes de aventura


03| hotter than hell

ESCRITO POR HowUdare

— Jungkook, vai lá! — Hoseok exclama ao telefone. — Você é muito


frouxo! Tá vendo como você jamais poderia ser um Dom? — o outro
provoca.

— Yah, eu não sou frouxo, poderia ser um dom, sim! Sou um Alfa, me
respeita!— fala subindo a voz, irritado.

"Me dá esse telefone aqui..." uma voz ao longe diz, parecendo tirar o
telefone das mãos de Hoseok.

— Jeon Jungkook! — SeokJin, seu amigo ômega, exclama com a voz


estridente costumeira

— Oi, hyung — o alfa responde.

— Oi hyung, uma ova! — Jin grita do outro lado da linha. — Escute aqui,
você é um homem ou um saco de batatas?

— Talvez um saco de batatas... — Jungkook murmura em resposta.

— Isso explica muita coisa, já que batatas cruas são pesadas, mas batatas
fritas são metade vento dentro do pacote — Jin suspira. — Jungkook,
aproveita esse rostinho lindo que Deus te deu, esse corpinho todo
trabalhado na sensualidade, e faça alguma coisa! Você come que nem uma
criança faminta e continua gostoso pra porra, essa sorte é de poucos. Vai
lá, pede a merda do açúcar e pergunta se ele quer sair com você num
encontro, caralho. Não é tão difícil assim, você é lindo. Qualquer pessoa
seria incapaz de te recusar, sendo alfa, beta ou ômega...

— Mas hyung, e se ele me socar? — Jungkook pergunta num gemido.


— Aí você cospe o sangue no chão e responde sarcasticamente "Uau, pra
me bater, só na cama, e ainda assim, tem que pagar pelo menos um jantar
primeiro, Coronel!" — Jin responde rindo.

— Mas e se aí ele me bater de novo, hyung? — Jeon rebate, ignorando o


sarcasmo do outro.

Jin bufa outra vez no telefone, dessa vez mais irritado.

— Olha aqui, garoto. Eu vou te ligar daqui há meia hora e se você não
tiver ido falar com ele, juro pelo Buda, que eu mesmo vou até aí encher a
sua cara de porrada. Tchau! — Então Jin encerra a chamada.

— Grosso... — Jeon murmura com um bico.

Kim SeokJin era definitivamente o ômega mais agressivo da Terra, e olha


que eram poucos como ele.

O de cabelos cereja observou a rua vazia pela janela. Pelo menos se ele
apanhasse, não teria muita gente assistindo a sua desgraça. Arrumou os
cabelos num visual despojado e passou um lip balm, pra evitar qualquer
rachadura feia nos lábios, que o tornassem de aparência "não beijável".
Vestiu uma calça apertada de cintura alta, que marcaria sua cinturinha fina
— orgulhava-se muito dela, obrigado — e uma camisa preta com a gola V,
que deixava à mostra suas clavículas salientes. Sabia que aquilo era sexy.
Por último, calçou um tênis e saiu de casa.

Atravessou a rua e respirou fundo.

Antes de bater na porta, lembrou que não tinha levado a maldita xícara.

— Merda! — murmurou entredentes.

Voltou ao seu apartamento para pegar a porcelana. Antes de sair outra vez
pela porta do prédio, avistou Jimin entrando em casa, vestido em sua farda
branca. Sentiu o coração errar uma batida. Foi andando devagar e,
respirando fundo, bateu na porta do Tenente-Coronel, que obviamente havia
acabado de entrar na residência.
Segundos que pareceram uma eternidade se passaram, até que o outro
abrisse a porta. Ele usava a farda completa, o coturno, a gravata e o quepe
branco e preto na cabeça. Haviam milhares de broches presos do lado
esquerdo do peito, e as asas que representavam a aeronáutica, do outro.
Havia também o broche de uma pirâmide, que indicavam a classificação de
alfa.

— Oi, Jungkook — Jimin disse com a voz desanimada.

O que quase desanimou o ruivinho também, mas se controlou e continuou


firme.

"Eu não sou um saco de batatas! Sou um homem e um alfa!" exclamou


mentalmente.

— Oi, Jimin-ssi. Me desculpe incomodar, você chegou agora? — perguntou


ao moreno.

— Sim, nem tive tempo de tirar a farda — o moreno respondeu.

— Ah, é... Você fica... Bem bonitão com ela — arriscou dizer, quase
fechando os olhos e esperando tomar um sopapo pela ousadia. Mas Jimin
apenas sorriu.

— Obrigado — respondeu sorrindo fraco. — E então, precisa de algo?

— Ah, sim — disse então, quase esquecendo o plano inicial, já que estava
embasbacado demais vendo aquele pedaço de mau caminho fardado. — É
que... sabe, vi você chegando com as compras de mercado mais cedo, e
coincidentemente acabou ingrediente enquanto eu cozinhava, então pensei
que você provavelmente teria pra me ceder um pouco.

Jimin o encara de cima a baixo, franzindo o cenho e então se depara com a


xícara nas mãos do mais novo. Ele retira seu quepe da cabeça, e arruma os
cabelos para trás, deixando Jungkook outra vez hipnotizado com o
movimento.
— O truque do açúcar? Sério? — o militar indaga, com um sorriso no canto
dos lábios.

— Hein? — Jeon pergunta saindo de seu transe. Então vê o Tenente


alternando o olhar entre ele a xícara em suas mãos. — Ah, não, é que... Eu
tava fazendo um bolo de chocolate, mas acabou o achocolatado para a
cobertura... E você sabe, sem cobertura não tem graça — fala sorrindo sem
jeito.

— Por que não compra na loja de conveniência? Você trabalha lá, é no


próximo quarteirão... — Jimin responde o encarando com uma das
sobrancelhas arqueadas.

O ruivo então prende a respiração.

"Merda! Sabia que não era pra ouvir aqueles idiotas!" pensou.

— Oh, é mesmo, não pensei nisso, hyung — mente. — Me desculpe. Mil


desculpas — fala, quase tropeçando nos próprios pés, desesperado para sair
correndo dali e se esconder em seu quarto até o dia do apocalipse.

Mas quando desceu as escadinhas da entrada da casa de Jimin, ouviu sua


risadinha característica, então se virou para trás e o pegou rindo, com uma
das mãos em frente à boca.

— Eu estava brincando, Jungkook — o Park diz rindo abertamente. —


Pensei que você fosse do tipo humorado.

Jeon continuou olhando pra ele, aliviado e perdido na beleza daquele


hyung. O cara era tão lindo que doía bem na sua alma, ele podia sentir. Não
sabia o que responder, estava se sentindo idiota. A sensação era a mesma de
um ator que acabara de esquecer a fala bem no meio da peça.

— Eu tenho sim, tanto o açúcar quanto o achocolatado — o militar declara,


finalmente, quando para de rir. — Mas você vai ter que entrar e me ajudar a
achar, porque eu estava atrasado para um compromisso no quartel e acabei
deixando as compras todas em cima da bancada, nem tirei das sacolas...
— Oh. Tudo bem. Sem problemas. Quero dizer, eu preciso mesmo do
chocolate... — Jungkook começa a tagarelar.

Jimin abre espaço e o deixa entrar, fechando a porta logo atrás de si. Era a
primeira vez que o ruivinho entrava naquela casa. Ele abandonou os tênis
na porta e entrou cuidadosamente, observando a sala simples, porém de
móveis aparentemente caros.

O coronel parecia gostar de coisas no estilo high-tech. Os eletrônicos eram


pretos, as paredes cinzas, o sofá e as poltronas de couro eram vermelhas e o
tapete felpudo no chão, branco. Talvez o sofá e as poltronas chamassem
atenção demais, em meio a tantas cores sem graça. Mas Jungkook era
suspeito pra dizer, já que amava vermelho — aparentemente tanto quanto o
moreno.

— Sofá legal, hyung — o mais novo puxa conversa.

— Obrigado. Eu quem escolhi. Você gosta de coisas de couro? — Jimin


pergunta, com um tom estranho na voz, que o mais novo não soube
identificar.

— Acho que gosto. Mas acho o brilho do látex mais legal — responde
simples.

O anfitrião o encara com as sobrancelhas arqueadas, com uma nova


expressão que Jungkook também não foi capaz de entender.

— Venha, a cozinha é por aqui — o moreno chamou, fazendo um sinal para


que o outro o acompanhasse.

Passaram pelo corredor e entraram no cômodo. Não era mentira, haviam


cerca de vinte sacolas de compras em cima do balcão e outras pelo chão.

— Uau! Tá planejando dar uma festa? — Jungkook pergunta, já ajudando o


militar a tirar as coisas das sacolas.

— Não... é que realmente não tinha muita coisa aqui em casa e... — o mais
baixo se pausa.
— E..? Hyung, não seja tão misterioso.

— Bem, não é como se eu pudesse esconder por mais tempo, já que você
vai me ver em casa todos os dias... — Jimin responde, suspirando. — Eu
estou desempregado.

— Uh? Como assim, hyung? — questiona em choque, pausando seus


movimentos.

— Fui expulso. Estou fardado porque hoje foi a minha audiência perante o
Tribunal Militar. Fui condenado. Estou oficialmente fora das Forças
Armadas.

— Mas então você fez algo errado, não foi? Fez alguma besteira, Jimin-ah?
— pergunta meio assustado.

O Coronel suspira e então o encara nos olhos, fixamente, o que deixa Jeon
desconsertado, mas sem desviar o olhar do dele.

— Não exatamente — o moreno responde. — Você considera um alfa


homem gostar de outros alfas homens, algo errado?

Jungkook arregala os olhos e após os segundos de choque, tenta segurar o


sorriso de felicidade que queria estampar seu rosto, já que sabia que uma
risada poderia ser considerada de forma errônea.

— É claro que não, hyung. Eu seria hipócrita se achasse, já que gosto


bastante. De alfas, quero dizer. — Ah, parecia um idiota, todo enrolado
confessando aquilo. — Gosto de alfas. E de betas. Sendo macho ou fêmea,
não importa. A única coisa que não me atrai são ômegas — disse com um
suspiro, tentando concluir o raciocínio sem parecer desesperado demais.

O militar sorriu ladino.

— Isso não é novidade — disse o mais velho, em tom provocador.

— O que quer dizer? Eu não dou tanta pinta assim — devolveu indignado.

— Dá sim — Jimin rebate, rindo.


— Aish... Está querendo dizer que sempre soube que eu gostava de alfas?
— perguntou, achando aquilo um tanto inacreditável. Jimin apenas
balançou a cabeça em afirmativa, com aquele sorrisinho brincalhão ainda
nos lábios. — Então... é por isso que você flertava comigo, não era? Pra
tirar uma com a minha cara... — pergunta de olhos apertados.

O tenente-coronel dá uma risada sem humor desta vez, balançando a cabeça


como se não acreditasse no que estava ouvindo.

— Acabei de dizer que gosto de alfas. Você acha mesmo que dei em cima
de você todos esses anos, só pra te sacanear? — Levanta uma sobrancelha,
questionador.

Jungkook pisca algumas vezes, assimilando.

Oh-oh. Isso queria dizer que, de fato, o Park flertava consigo por ter algum
interesse. Ah, pobre JK. Parecia que estava vendo a explosão do big bang
bem diante de seus olhos. Ficou totalmente sem reação.

E após segundos de um silêncio começando a ficar constrangedor demais


para o ruivo, ele optou pela sua melhor alternativa, diante daquele estado
catatônico no qual havia se metido: mudou de assunto, como se a confissão
direta do alfa não quisesse dizer nada.

— De qualquer forma, então é verdade isso de que militares são proibidos


de se envolverem com pessoas de mesma classificação? — fez-se de
rogado.

— Infelizmente, sim — o outro responde, soltando um muxoxo. — Para um


militar alfa, nada é permitido além de ômegas e betas. As leis penais civis
não proíbem, mas as leis penais militares sim, então eu respondo por elas, já
que não sou sou um civil. Entretanto, estou aliviado de certa forma, porque
se fosse em outros países asiáticos, a pena não seria apenas a exoneração do
cargo com desonra, seria de chibatadas ou coisa pior.

O avermelhado então engole em seco e respira fundo, fechando os mirantes,


compadecido e dividindo a dor do peso daquelas palavras. Seus olhos
ardiam. Esse tipo de coisa continuar a acontecer em pleno século XXII era
revoltante. Lembrou-se sobre a Época das Trevas, no fim do século XXI —
aquela anterior ao surgimento dos humanos lupinos, onde existiam apenas
humanos puros, muito semelhantes aos betas atuais.

Naqueles tempos, homens só podiam se envolver com mulheres. Esse era


considerado o "natural". Aqueles que se envolviam romântica ou
sexualmente com pessoas de mesmo sexo, eram tratados como escória,
pecadores. Eram atacados, violados, agredidos e discriminados. Agora,
aquele passado da Antiga Raça parecia tão absurdo... Como assim homens
não podiam relacionar-se com homens, nem mulheres com mulheres? Ora,
esse era o natural nos dias de hoje!

O garoto bufou, sentindo-se irritadiço.

— Isso é contra os Direitos da Nova Raça... — resmunga, sentindo os olhos


marejarem.

— Sim, esse foi o argumento de defesa do meu advogado — Jimin


responde, sem emoção. — Mas aí o pessoal dos Direitos da Nova Raça
Internacionais se meteria em minha defesa, e tudo viraria um grande círculo
midiático, meu rosto estaria estampado em todos os sites de notícias mundo
afora, principalmente os coreanos. E aí seria tudo ainda pior. Minha família
inteira saberia e as pessoas conheceriam meu rosto, o que faria a situação
ficar insustentável. Eu não iria mais conseguir emprego algum, mas ainda
preciso comer e pagar contas, certo?

— Oh... certo. Então você vai ter que deixar por isso mesmo — o garoto
assume.

— Exato.

— Hyung... Posso perguntar algo?

— Perguntar pode, mas não te garanto resposta... — o militar devolve,


sorrindo leve, enquanto abre uma embalagem de iogurte de morango.

— Como você foi descoberto? — Jungkook questiona, assistindo o Park


enfiar um dedo dentro do pote de iogurte cremoso e logo em seguida levá-lo
à boca, chupando-o, num movimento que, de tão inacreditavelmente lento,
era quase erótico. Ou talvez o avermelhado fosse quem estivesse pensando
em indecências demais, após ouvir a confissão do outro; E não só isso:
estava claramente sentindo um aroma mais forte no moreno...

Cheiro de musk.

Oh, finalmente, ali estava: Park Jimin era um alfa lúpus — o tipo de alfa
com a maior capacidade reprodutora de sua classe.

Jungkook precisou morder o lábio, pra conter o suspiro deleitoso que quis
escapulir de seus finos lábios, ao sentir tal fragrância. Claro, dado a altura
de Jimin, que era baixa pra um alfa comum, Jeon já desconfiava que este
fosse um lúpus; Alfas Lúpus tendiam a ter estaturas menores, igualando-se
a ômegas comuns, em aparência. Na verdade isso ficava claro pra qualquer
um. Mas até então, o garoto não havia sentido o maldito cheiro de musk.
Sempre tentava sutilmente farejar e decodificar todas as notas no aroma de
Jimin, mas nunca encontrava o bendito cheiro de musk, que só alfas lúpus
possuíam, pra que pudesse confirmar suas suspeitas.

E puta merda! Senti-lo agora... Que cheiro fodidamente delicioso. O


moloque sentia sua boca salivando, literalmente. Seu corpo ficou
completamente tenso e vidrado no lúpus.

— Quer um pouco? — o mais velho indagou com a voz incrivelmente


rouca, baixinha, apontando pro iogurte.

Ainda meio hipnotizado, o ruivo respondeu:

— Hmn... s-sim.

O militar o observou por um tempo, com uma expressão indecifrável. Jeon


esperou que ele abrisse a gaveta e pegasse uma colher para entregá-lo. Ou
que talvez o entregasse um frasco de iogurte fechado. Mas não eram essas
as intenções do Park; este se aproximou do mais alto e parou de frente pra
ele, bem próximo, fazendo as respirações se chocarem.
O moreno enfiou o dedo no iogurte novamente e quando o trouxe pra fora,
o deslizou nos lábios finos do garoto, delicadamente, o sujando com o
creme rosa.

Jungkook, petrificado, não soube o que fazer. Era como se um zum zum
zum tivesse começado dentro de sua cabeça. Em reflexo, fechou os olhos e
colocou a pontinha da língua para fora, para lamber o doce posto em seus
lábios finos. Mas o que o músculo macio encontrou, foi o dedo de Jimin,
que ainda estava ali.

Então o ruivo subiu os mirantes e os olhares se fixam um no outro. Quando


encostou a língua quente no dedo alheio, acabou mordiscando as digitais
alheias, de leve.

Subitamente, era como se o clima estivesse mais quente que o próprio


inferno. E o que eles estavam fazendo? Absolutamente nada demais. Quer
dizer, o que é uma mordiscada no dedo de outra pessoa? Significa alguma
coisa? É um ato sexual? De certo que não.

De modo que, Jeon estar começando a sentir suas palmas das mãos suarem
e seu coração bater daquele jeito errático, fazendo seu peito doer, parecia
absurdo demais.

Todavia, era exatamente aquilo acontecia. Jimin o encarava com tanta


intensidade, com aqueles olhos felinos, afiados e sedutores, que o garoto
resfolegou.

Já o Park, sentia-se absolutamente enfeitiçado. Estava preso nas orbes


redondinhas e curiosas do mais novo, que sempre lhe pareciam tão
brincalhonas e inocentes, mas que, pela primeira vez, soube serem capazes
de perfurá-lo e desvendar todos os seus segredos mais sombrios.

Jimin o queria. Queria tanto! Sempre teve vontade de segurar o vizinho


contra a parede e o beijar até perder o ar, enquanto apertava a carne durinha
daquelas nádegas em suas mãos. Jeon Jungkook era gostoso pra porra. Se
não fosse o autocontrole fodido que o mais baixo aprendera a ter na carreira
militar, nunca teria sido capaz de se segurar — ou aos seus hormônios —,
quando perto do alfa mais novo.
O de cabelos cereja continuava a fitá-lo atento, com genuína curiosidade.

O Park então mergulhou o dedo novamente no doce e chupou o próprio


dígito, devagar. E após isso, abandonou a embalagem de iogurte, aproximou
seu rosto do outro e pôs a língua pra fora, lambendo o lábio inferior de
Jungkook, como um felino, limpando o creme rosa dali, sem tirar os olhos
dos dele.

A cozinha pareceu menor, as paredes pareciam se encolher. O ar estava tão


denso, que poderia ser cortado com uma faca.

Fora repentino demais, embora o tempo parecesse estar em câmera lenta;


Jeon ficou sem ação, prendendo a respiração, inflando os pulmões, incapaz
de fazer qualquer coisa. Estava gritando por dentro, mas seu corpo não era
capaz de se mover, havia congelado no lugar. Viu Jimin dar então um
pequeno sorriso rápido, antes de, muito lentamente, roçar os lábios grossos
nos seus, mas sem beijá-lo. Aparentava estar se segurando, de algum modo.
Talvez torturando-o, testando seus limites.

Jungkook arfou ao sentir uma das mãos do ex-militar agarrar em seus fios
de cabelo e a outra apertar sua cintura entre os dedos, puxando-o para ainda
mais perto, mas sem permiti-lo começar logo aquele beijo: quando o ruivo
ia aproximando mais a boca, o maldito lúpus se afastava pra trás.

O mais novo segurou a lapela da farda alheia com as mãos e o puxou mais
contra si, trazendo o militar de volta. Seus olhos gritavam: "Me beije logo!
Se não o fizer, eu mesmo farei!" — mas infelizmente, vendo o outro por
algum motivo fugir, Jeon não se sentiu muito confiante para roubar aquele
beijo. Poderia ser rejeitado, e o rapaz tinha pavor da rejeição.

Jimin tinha cheiro de perfume caro e másculo: o cheiro de almíscar e


sândalo tomaram completamente o lugar, sobrepondo-se ao cheiro cítrico de
Jeon. Parecia ser seu completo oposto, este que tinha um cheiro natural de
doce mesclado ao amadeirado, por conta de seus genes ômegas e alfas
misturados.

O Park precisou segurar a respiração perto do outro. Não era de modo


consciente, é claro, mas Jungkook estava soltando seu odor de forma mais
forte, por estar tremendamente excitado. Mesmo após 25 anos, Jeon ainda
se sentia envergonhado e desconfortável em emanar um odor tão adocicado
para um alfa. Sofrera tantos preconceitos por conta daquilo a sua vida toda,
que pensava ter nascido ao contrário. Como uma criança que ao invés de
sair do útero de cabeça pra baixo, sai sentada de pernas cruzadas.

E percebendo seu cheiro emanar tão forte assim na frente do vizinho, pela
primeira vez, teve medo de afastar Jimin de si por isso — alheio ao fato de
que o Park já estava mais de que ciente sobre sua condição biológica e,
inclusive, a apreciava um bocado. Afinal, o mais novo pensava que se o
mais velho era um alfa que gostava de outros alfas, um alfa com cheiro de
ômega poderia não levá-lo exatamente ao delírio.

Mal sabia ele, que era justamente aquela mistura que deixava Jimin insano
de tesão.

Sim, deixava; Não era novidade aquele aroma, para o Park. O lúpus possuía
um olfato bastante aguçado. Com certa frequência, sentia o cheiro ômega
em Jeon. No começo, chegou a pensar que o garoto fosse marcado, ou que
ao menos andasse por aí transando com vários ômegas, pra que o cheiro de
tal classe estivesse tão cravado ao fundo das notas de seu aroma. Mas com o
tempo percebeu que não podia ser aquilo, pois a forma como o cheiro de
um companheiro se sobressai no corpo do outro, é diferente daquela.

As respirações começaram a ficar desreguladas. Jimin, além de aumentar o


aperto em seus fios, apertou ainda mais forte sua cintura fina. O garoto
subiu os braços para envolver o pescoço do coronel com eles, e uma vez
que era um pouco mais alto, a posição favorecia.

O moreno então tirou a mão que segurava os fios vermelhos de Jeon, e


levou ambas para as nádegas durinhas do mais novo, que arfou ao sentir o
aperto forte nelas, mordendo os lábios. E ainda assim os olhos de ambos
não se desgrudaram um segundo sequer.

Como as coisas poderiam estar tão intensas, se eles sequer estavam sem
roupas? Pior, se sequer um beijo eles estavam dando? Tudo era carregado
de uma intensidade mais quente que mil sóis em brasa. Parecia até absurdo
agora, que eles nunca tivesse cedido daquele jeito, durante os três anos em
que se conheciam. Talvez isso se devesse ao fato de que aquela era
praticamente a primeira vez que ficavam realmente sozinhos entre quatro
paredes — com exceção do dia que se conheceram.

O militar o encarou com uma voracidade sem igual e em seguida partiu em


direção ao pescoço branquinho, brincando com a língua, desenhando
pequenos círculos de saliva ali, de forma lenta e torturante.

E ao sentir a língua quente em sua tez, o ruivo deixou escapar um


vergonhoso gemido, soltando o ar pra fora dos pulmões com uma pesada e
forte lufada. A cada movimento da língua alheia, uma parte diferente de seu
corpo musculoso se arrepiava.

Jungkook já estava vergonhosamente duro, e sem temor algum, jogou o


quadril pra frente, fazendo-o se chocar com o de Jimin, sorrindo ao
perceber que o outro estava tão excitado quanto ele.

O moreno então gemeu contido em seu pescoço, e ao sentir a fricção dos


membros cobertos, mordeu o pescoço de Jeon, passando a sugar a pele com
mais afinco. O maior à esta altura já era uma completa bagunça, se vendo
total e completamente entregue.

O Park subitamente lhe puxou pra frente e o empurrou em cima da cadeira


de ferro da cozinha, onde o ruivo caiu sentado, de olhos levemente
arregalados, boca aberta e a respiração desregulada, o que não escapou ao
olhar afiado do coronel, que sorriu ladino e rapidamente colocou uma perna
em cada lado de seu corpo, sentando-se em seu colo.

Jungkook segurou a cintura do outro e imediatamente este começou a


rebolar sobre seu pau semi-desperto, soltando o hálito quente saído de seus
lábios grossos, contra a boquinha sedenta do mais novo, que se sentia a um
passo de mordê-lo.

Enquanto a bunda volumosa de Jimin esfolava seu caralho coberto, Jeon


pensou que talvez tivesse morrido. Aquela era a única explicação para o
tesão absurdo que estava sentindo naquele momento, sem sequer estar
beijando ou transando com o cara. Não havia nenhum ato sexual
acontecendo ali, realmente. Era só uma maldita provocação que, porra!
Estava deixando o de cabelos cereja desnorteado.

Não só o Park era tremendamente gostoso, como parecia comandar cada


toque. Jungkook imaginou que se o militar o pedisse que se jogasse de
alguma janela, ele o faria. Estava à sua mercê, faria qualquer maldita coisa
que o moreno fardado pedisse.

O mais novo sentiu um desejo súbito de agarrar aquela bunda gostosa em


suas palmas e assim o fez. Só que, de imediato, Jimin as afastou, segurando
seus pulsos, tirando dali suas mãos.

O Park o encarou divertido.

— O que..? Fiz algo errado? — perguntou Jungkook, com a respiração


descompassada.

— Você não pediu permissão para me tocar aí... — respondeu


simplesmente.

O mais novo franziu o cenho. Não havia entendido muito bem. Precisava de
permissão pra isso? Quer dizer, nunca havia precisado exatamente pedir
permissão para que pudesse tocar alguém que estava beijando. As pessoas
sempre deixavam, era natural. E quando não deixavam, elas apenas
avisavam e ele entendia o recado.

O que o alfa lúpus queria então? Um pedido? Se era isso, Jeon o daria.
Daria-lhe o que o outro quisesse. Com isso, o ruivinho sorriu ladino e
deixou a postura ereta, fazendo com que seu rosto ficasse mais próximo ao
do militar, que lhe encarava de cima.

— Posso, por favor, apertar essa sua bunda gostosa, hyung? — perguntou
com a voz manhosa e abusada, quase que por instinto. Sequer havia
pensado muito, apenas dito.

Jimin sorriu em aprovação. Mas ao invés de permitir que este fizesse o que
pediu, ele mesmo segurou as mãos magras e grandonas do garoto, e as
levou até as laterais de seus quadris, instruindo como e onde o ele deveria
alisá-lo. Provocou e atiçou, deixando o outro doido. Até finalmente levar as
palmas alheias até sua bunda musculosa, onde o Jeon apertou com tanta
força, que as pontas de seus dez dedos ficaram brancas, enquanto ele unia
as sobrancelhas e abria a boca, extasiado.

— Hyung... Por que não me beija logo? — finalmente indagou, já


desesperado com aquela coisa absurda.

Mas o que recebeu, foi o mais puro silêncio.

CONTINUA [...]

NÃO ESQUECE DE DAR SUA ESTRELINHA, FAZ BEM PRA


SAÚDE (pra minha saúde, no caso kkkkkkkkkkk)
04| why don't ü?

ESCRITO POR HowUdare

"Jimin... Por que não me beija logo? " a voz manhosa e sôfrega de
Jungkook soou nos ouvidos do alfa lúpus.

E aquela frase ecoou pela cabeça do Park:

"Por que não o beijo logo?"

Ele observou o garoto quatro anos mais novo em sua frente. Parecia tão
inocente...

"Daria um ótimo submisso" pensou. Isto se não tivesse notado claramente,


durante aqueles três anos, que Jeon Jungkook era tudo, menos submisso.
Pelo menos não apenas por ser. O garoto era indisciplinado, provocador e
de língua afiada. Encarava as pessoas nos olhos, como se as desafiasse.
Com exceção dele mesmo. Com ele, Jungkook perdia a guerra de olhares e
desviava facilmente, com as bochechas coradas — ao menos na maior parte
das vezes.

Mas para qualquer um na posição de Dominador de BDSM, como Park


Jimin, que já era praticante há pouco mais de uma década, uma relação com
um garoto daqueles seria incabível. Jungkook não parecia exatamente do
tipo que se submetia, que acatava ordens, que aceitava as coisas e se
entregava numa bandeja, para ser usado ao bel prazer alheio. Todavia, o
jovem militar tinha um tesão tão absurdo pelo menino, que não sabia como
havia sido capaz de se controlar todo aquele tempo. Talvez por apostar que
Jeon não era do tipo fetichista. Que embora pudesse ser bom de cama,
provavelmente era do tipo baunilha — o que era um termo usado para
pessoas adeptas do sexo tradicional, sem fetiches fora do usual ou coisas
mirabolantes.

E era isso que estava segurando o coronel. Jungkook não era do bdsm.
Jungkook provavelmente sequer era fetichista.
Não que Jimin fosse recusar o bom e velho sexo tradicional, mas após um
acontecimento doloroso e traumático em sua vida amorosa, anos atrás, tinha
medo de se envolver com pessoas baunilhas, comuns.

E o Park não era o tipo de praticante de bdsm, que tentava enfiar todo e
qualquer parceiro seu naquele mundo. Não que fosse um mundo ruim, mas
Jungkook parecia alguém fora de questão para aquilo. Não parecia ser do
tipo que se encaixava naquele tipo de coisa mais suja, mais apelativa, mais
perigosa. Para Jimin, tudo em Jeon gritava: "Baunilha!"

Poderiam grudar os lábios um no outro e beijarem-se com toda a clara


vontade e volúpia em seus corpos, sanando o desejo absurdo que tinha um
pelo outro? Poderiam. E isso, sem sombra de dúvidas, os levaria a muito
mais que beijos — afinal, eram dois adultos na faixa dos vinte e poucos
anos, e gente dessa idade não tende a ficar só nos beijinhos.

Poderiam transar ali e agora? Poderiam. Seria gostoso de toda a forma,


Jungkook estava ali lhe provando isso; Que baunilha ou não, a conexão dos
dois e a atração de seus corpos um pelo outro, era definitivamente forte.

Mas se Jimin começasse a transar com aquele menino alfa, sabia que não
conseguiria parar. Entraria numa relação constante, ficariam juntos sempre,
não seria esporádico. E desse modo, o moreno seria incapaz de esconder
seus fetiches, de esconder a dinâmica que tanto apreciava na cama: a
dominação absoluta; ter o seu parceiro rendido a si, amarrado, vendado,
chicoteado e humilhado, como uma presa sendo abatida. Não seria capaz de
esconder o quão fodidamente sádico era, o quanto o excitava degradar seus
parceiros e tê-los como uma mercadoria, uma propriedade sua; em como
seu pau latejava só de pensar naquelas coisas.

Já havia tentado permanecer numa relação onde a outra pessoa não sabia
sobre suas preferências sexuais, e as coisas terminaram bem mal. Esconder
quem ele era e abrir mão de sua essência não fora suficiente. Nunca era.

Jungkook era exatamente o seu tipo ideal de homem. Em algum momento


ele acabaria se exaltando e deixando transparecer sua verdadeira identidade.
E caso o fizesse, sabia que eram tremendamente enormes as chances de
Jeon achá-lo insano. Era isso que todos pensavam, afinal. Que pessoas
adeptas do Sadomasoquismo, Bondage, Dominação&submissão e afins,
eram apenas pessoas com a mente conturbada e traumas sexuais envolvidos.

Não queria ganhar o temor ou repulsa do vizinho bonito e de sorriso fofo.


Não queria que as coisas ficassem estranhas entre os dois. Se odiaria se
aquilo acontecesse. Assim como acontecera com o outro. Embora sete anos
houvessem se passado, na sua memória ainda estava fresca a lembrança de
seu noivo o abandonando, após descobrir sobre suas práticas fetichistas.
Após humilhá-lo, deixando claro o quanto achava as práticas repulsivas,
declarando que o lúpus deveria procurar ajuda profissional de um
psiquiatra, porque, segundo ele, sua mente era conturbada.

Logo em seus primeiros anos após a puberdade, Jimin percebera que


ômegas não serviam para si. Seu lobo era muito bruto para que um ômega
fêmea ou macho aguentassem sua rudeza e brutalidades. Então com o
tempo, ômegas deixaram de lhe atrair. Não era como se o cheiro sempre lhe
tivesse sido muito atraente, de qualquer modo. Não sentia repulsa,
exatamente, era mais como um cheiro neutro.

Alfas e betas pareciam ideais pra si, mas o corpo feminino não lhe atraía
como deveria. Então sua única opção era a de betas e alfas machos — o que
tornava sua vida mais complicada, com menos opções, já que encontrar
alfas que curtissem transar com outros alfas, era um pouco complicado,
principalmente os machos.

Por sorte, havia um alfa macho submisso, com quem Jimin passava seus
ruts semestrais. Ele era muito agradecido àquele alfa, mas não era como se
o sujeito estivesse realmente lhe fazendo um favor, afinal, ele era quem
mais gozava durante os cios do lúpus.

Inclusive, quando recebeu o veredicto de sua exoneração das Forças


Armadas, havia planejado visitar o clube bdsm à noite, pois não havia
tristeza que não pudesse ser curada com boas doses de sexo e submissos lhe
servindo. Mas não estava apenas triste, estava com ódio. Sabia que sua
saúde mental precisava estar sã, caso contrário, acabaria descontando nos
submissos e ultrapassando seus limites. E como um Dominador experiente,
Jimin jamais faria isso. Tinha responsabilidade, afinal. Era um Dominador
sério, respeitável e experiente.

Portanto, assim que entrou em casa, planejou ficar por ali mesmo. Talvez ir
até a loja de conveniência da esquina e flertar com seu vizinho
tremendamente gostoso. Mas sequer precisou fazer aquilo, já que o garoto
de bochechas fofas viera até ele. E Jimin não conseguiu mais se segurar. O
garoto estava, desde que se mudara para aquela rua, sozinho com ele, entre
quatro paredes.

Quando o viu se compadecer de seu sofrimento, sentiu seu coração


esquentar. Jungkook era um doce. Gostaria imensamente de poder tê-lo para
si. O mais novo, além de cheiroso, bonito e completamente sexy, era um
amor de pessoa, o fazia rir como ninguém, o causava uma sensação de
euforia, mas que ao mesmo tempo era tão leve, que era algo exclusivo; não
se sentia assim com mais ninguém. Estar na presença do Jeon, era bom, era
gostoso.

Então respirou fundo e tomou a decisão de que não encostaria mais em


Jungkook. Não poderia pôr a perder a relação bacana que já possuíam e
cultivavam ao longo dos anos. Não podia estragar tudo. Tinham uma
relação boa demais, pra que pudesse pôr tudo a perder, quando tivesse seus
segredos desmascarados. Adorava Jeon Jungkook e adorava mais ainda tê-
lo em sua vida, realmente. Porque o vizinho fofo lhe fazia um bem danado.

Fingiria que nada havia acontecido. Esperava que o mais alto o tirasse de
seu sistema, com o tempo. Claro, depois de hoje, seria mais complicado, o
garoto certamente começaria a procurá-lo com certa frequência, doido para
terminarem o que haviam começado, ele bem sabia. E o Park não confiava
muito em sua disciplina para se manter afastado, em se tratando daquele
garoto em especial. Tinha uma queda e tanto por ele. Então teria que sumir
de suas vistas por algum tempo.

Sim, isso era o necessário.

Resignado, soube que teria que parar naquele mesmo momento, caso
contrário, até o fim do dia, já teria fodido com Jeon Jungkook um trio de
vezes.
Com a decisão tomada, o alfa lúpus interrompeu as reboladas no colo do
garoto, desacelerando aos poucos, para aí descer do colo dele e se afastar
consideravelmente.

— Não — respondeu o fardado, simplesmente.

Jungkook teve vontade chorar. Havia perguntando: "Por que você não me
beija?" e recebido apenas um alto e severo: "Não" como resposta.

Ouch!

Aquilo era de doer até no ego do cara mais confiante do mundo.

O de cabelos cereja estava insano de tesão e com o pau duro, sentado na


cozinha de seu vizinho gostoso, de quem era terrivelmente a fim há um trio
de anos, desde que este havia o ajudado com caixas e mobílias no caminhão
de mudanças, no dia um em que fora morar ali.

Naquela ocasião, quando viu os braços fortes do lúpus aparecendo pela


regata sem mangas, ficando cada vez mais inchados e com os músculos
marcados à cada movimento que demandava força ao carregar as caixas
pesadas, Jungkook ficou de quatro por ele — apenas metaforicamente
falando, é claro. Infelizmente. — Quando percebeu o quanto os braços
musculosos destoavam do rostinho delicado de Jimin, soube que havia
perdido ali. Não era uma luta justa, realmente. Soube que ficaria arriado por
ele, a partir dali.

— Hyung... — tentou insistir, numa mistura de decepção com embaraço e


incredulidade.

Mas Jimin fez-se de rogado, desamassando a própria farda com as mãos,


superficialmente, enquanto encarava todos os lugares da cozinha, evitando
o rosto do outro alfa.

— Me desculpe. Eu não deveria ter feito isso — falou o tenente, ainda sem
encará-lo nos olhos. — Acabei me exaltando. Minhas emoções estão um
pouco alteradas por conta da minha exoneração. Isso não vai se repetir, eu
prometo.
— E se eu quiser que se repita? — o de cabelos cereja indagou em tom
agoniado e ansioso, levantando-se da cadeira e parando de frente pro Park,
encarando-o questionador e altivo, até finalmente ter sua atenção.

Jimin, relutante, o fitou, perdendo-se nas orbes escuras do moleque, que


agora lhe pareciam um bocado magoadas. O moreno se xingou
mentalmente por isso. Não queria magoá-lo. Nunca, nem em um milhão de
anos. Ele adorava o mais novo. Mais do que tinha coragem de admitir. Mas
sabia que o certo a fazer era aquele. Era um homem extremamente racional,
lógico e disciplinado. Não deixaria suas emoções intervirem, de jeito
nenhum.

— Mas eu não quero — declarou duro, sentindo seu peito apertar, ao dizer
tamanha mentira. Principalmente quando viu a expressão do garoto, em
resposta: cabisbaixo e com os olhos marejados, que rapidamente desviaram
dos seus, envergonhados.

— Não precisa dizer duas vezes, então — Jeon murmurou de volta, em tom
de voz extremamente baixo e absolutamente tristonho, machucado. Seu ego
havia sido ferido consideravelmente. — Sei onde fica a saída — disse
rápido, e aí saiu da casa do outro, tão rápido quanto um foguete, como se
pudesse correr da vergonha que sentia.

O maior foi tão veloz, que Jimin sequer teve tempo de reagir. Quando
piscou, já tinha ouvido a porta da frente bater. Frustrado, o — agora — ex-
militar, sentou-se na mesma cadeira que o vizinho ocupara a pouco, se
deixando cair pesadamente sobre o móvel de ferro, suspirando, enquanto
passava as mãos pelos cabelos lisos, frustrado.

Aquele alfa de cheiro doce lhe traria problemas, podia sentir. Soube desde o
momento em que pôs os olhos nele pela primeira vez.

Eu sou o zumbi do votinho ♀ gruuuuu gruuuuu gruu, me dê seu


votinho
05| dress code

ESCRITO POR HowUdare

Jungkook observava a tela, num misto de humor e descrença. O vídeo era


um suposto pornô, mas quem diabos poderia ficar excitado com isso? — ele
pensava. Claro, sabia que fetiches e preferências sexuais eram algo muito
particular à cada indivíduo. Porém não conseguia parar de imaginar o
quanto os traumas e vivências de alguém poderiam interferir em sua mente,
para desencadear algum fetiche daquele tipo.

Como a coisa de defecar no parceiro, por exemplo. Jungkook não conseguia


entender como a mente de alguém poderia chegar a isso. A pensar que fezes
poderiam ser algo excitante bem na hora H. Em sua opinião, cocô era a
coisa mais broxante do mundo. Mas bem, fetiches não eram exatamente
algo consciente, logo, não eram algo a ser entendido. Apenas eram. E ele
tentava não julgar. Pelo menos não externamente, já que sabia não ter nada
a ver com a vida ou as práticas sexuais dos outros.

Ficou encarando o homem forte sentado na garupa de um sujeito magrinho.


Como ele conseguia suportar o peso daquele brutamontes? Aquela coisa
fetichista deixava Jungkook sempre intrigado, embora ele achasse tudo
muito normal e aceitável, já que ele mesmo considerava grande parte das
práticas de BDSM, algo extremamente sensual. Tinha uma absurda
curiosidade de presenciar algo no estilo, apenas não havia ainda criado
coragem para tal. Isso e mais outro motivo: a questão sobre seu cheiro
ômega, que ficava muito mais forte quando ele se via excitado. Tinha medo
da reação das pessoas.

Começou a rir, quando o cara magrelo fez um barulho estranho. O sujeito


relinchava. Mas é claro, era tudo o que faltava para aquela encenação ficar
perfeita. Afinal, o garoto magrelo, estava vestido com uma roupa de couro
apertada, toda preta, que cobria desde seus pulsos, até os tornozelos, como
uma segunda pele. Nas mãos haviam luvas que imitavam um casco de
cavalo. E a cabeça estava coberta por uma touca que era uma cópia da face
do quadrúpede, com crina e tudo.
"Bizarro" ele pensou.

Quando o cara grandão, sentado nas costas do "cavalinho" puxou as rédeas


da sela — porque é claro, haviam essas coisas também —, o avermelhado
danou a rir.

— Minha nossa... — gargalhou. — É, eu definitivamente não tenho fetiche


nesse tal de Poney Play¹.

Ouviu a campainha tocar e se levantou preguiçoso do sofá para abrir a


porta. Deu de cara com Jin e Hoseok, que mal deram "oi" e já foram se
infiltrando no apartamento pequeno. Jungkook ficou para trás, fechando a
porta. E quando entrou na sala, viu os amigos olhando para a tevê com
expressões engraçadas. Jin, com os cabelos castanho claros e uma boca
aberta em total choque e horror, e Hoseok com as sobrancelhas arqueadas e
um sorrisinho ladino.

— Ah, foi mal! — o de cabelos cereja se adianta, correndo para desligar a


tevê, um pouco sem jeito.

— Mas que bizarrice é essa, Jungkook? Bateu a cabeça? — Jin exclama,


com a voz engraçada.

— Ah, hyung, eu só estava vendo por curiosidade... — responde, ficando


vermelho.

— Uau, JK... — o beta Hoseok diz em tom brincalhão. — Você curte Pony
Play? Isso é BDSM extremo. Não sabia que você gostava do meu mundo
tanto assim... Quem diria, uh? — fala rindo, com uma expressão faceira.

— Aish, hyung! Eu só estava assistindo por curiosidade, pare com isso.


Definitivamente não tenho esse fetiche, não achei sexy, só fiquei rindo — e
aí aponta para as próprias calças. — Viu? Nenhum volume.

— Isso não é tipo zoofilia?² — o ômega Jin pergunta com uma careta.

— Na verdade não, hyung — responde o beta. — Não tem nenhum animal


ali de verdade, são dois lupinos, como nós. É apenas uma encenação, e as
pessoas que participam dela, tem prazer em fazer isso. É bem simples. Só
fiquei surpreso que o Jungkook gostasse.

Lupinos eram a nova raça de humanos que povoavam a Terra,


geneticamente modificados com genes de lobos, depois da Terceira Guerra
Mundial, no século XXI. Armas biológicas foram usadas e a raça humana
fora praticamente exterminada.

Cientistas da época, procurando uma cura para que a humanidade não


desaparecesse por completo, criaram os humanos híbridos de lobos — e
então a Nova Raça foi chamada de Lupinos. O que fazia sentido, já que
seus genes eram metade lobo e metade humano.

Com isso, as divisões sexuais biológicas para reprodução, tornaram-se


diferentes. Não eram mais necessários que um homem e uma mulher
copulassem, para que o esperma masculino fecundasse o óvulo no útero
feminino. Agora, o casal necessário para a reprodução da espécie se dava
através de classes ômega, beta e alfa, independente de sexo.

Ômegas possuíam útero. Engravidavam e gestavam seus filhotes, assim


como betas. Já os alfas e betas, eram responsáveis pelo esperma, por
fecundar um óvulo, fosse num ômega ou num beta.

Os betas eram considerados o resultado perfeito, já que não possuíam


exatamente classificação — e por isso foram denominados betas, por
servirem como substitutos, como carta coringa num baralho, podendo tanto
engravidar alguém, quanto serem fecundados. Além disso, seus instintos
animais de lobo não nublavam suas mentes, como acontecia com os alfas e
ômegas. Betas eram os mais próximos dos antigos humanos, já que os
genes lupinos apenas os agraciavam com o melhor da Nova Raça — como
imunidade a muitas doenças humanas, e um exemplo disso era a agora
extinta aids.

Todavia, os betas em sua maioria eram quase inférteis, não tinham cio.
Também não geravam filhotes entre si, geralmente, apenas com ômegas e
alfas. Contudo, não era impossível. Sempre havia aquele um em um milhão.
Além do mais, ômegas e alfas só reproduziam em períodos de cio, enquanto
que betas poderiam fazê-lo à qualquer tempo... Mas tudo dependia de
acasalarem com um ômega ou alfa em cio, obviamente, podendo gerar
filhotes de ômegas e alfas em seu ventre, assim como fecundar ômegas e,
raramente, outros betas.

— Você não vai transformar o nosso menininho num fetichista bizarro não,
né? — Jin ralhou. — Não quero saber desse garoto dizendo que tem tesão
em um ômega mijando na cara dele, pelo amor de Deus.

— Hyung! — Jungkook exclamou, sentindo as bochechas arderem de


vergonha.

— Não vou transformar o Jungkook em nada, vou apenas levá-lo ao lugar


onde ele poderá exercer os fetiches que sempre teve, sem ser julgado —
Hoseok repreendeu sutilmente. — E você deveria respeitar o fetiche alheio,
hyung — finalizou olhando feio para Jin, que se encolheu levemente.

— Foi mal... é que é estranho — o ômega respondeu.

— Estranho é você achar o Namjoon hyung bonito — o ruivo murmurou,


fazendo Hoseok cair na gargalhada.

— Isso é verdade — Hoseok disse aos risos. — Aquele beta não é feio, mas
ele é muito sem graça, parece um dicionário ambulante, sempre corrigindo
tudo e todos, e falando sobre assuntos que ninguém se importa. Isso tira
todo o sex appeal do cara; o que é um desperdício, porque ele tem uma
carinha de safado e belas pernas. Ninguém gosta de gente "sabe tudo".
Parece que só você se excita com isso, hyung.

— Yah! — Jin reclama. — Ele é muito inteligente! Vocês o acham sem


graça porque são burros e superficiais, e aí não entendem nada do que ele
fala. Namjoon é um gênio. E um gostoso da porra, sim senhores. Aquele
corpo, aquele rosto, o jeito que ele me olha, aquela boca carnuda, o rosto
fino...

— Você também não entende nada, só fica concordando e sorrindo com


tudo o que ele diz, desesperado pra que ele perceba que você está flertando
— Jungkook rebateu, direto.
— Eu não vou mais debater com vocês — o ômega resmungou, cruzando
os braços e se jogando pesadamente no sofá, com um bico nos lábios.

Hoseok deu uma risadinha, antes de virar-se para o Jeon e dizer:

— Vim mais cedo, pra te ajudar a escolher sua roupa.

— Como assim? Eu já sei com que roupa vou, não preciso de ajuda — o
ruivo devolve confuso.

— Ah, existe um código de vestimenta nos clubes fetichistas, Jungkook.


Não pode entrar com roupa normal, você tem que ir à caráter — Hoseok
responde.

— Ah. Então eu acho que você vai ter que escolher mesmo.

— Muito bem, vamos lá! — o switcher fala animado, indo em direção ao


quarto do alfa. Ao chegar no cômodo, abre o armário e começa a bisbilhotar
todas as roupas penduradas nos cabides e gavetas. — Aqui, usa essa boxer
preta.

— Tem regras até pra cor da cueca, é? — O garoto resmunga.

— Não, é que você vai usar aquela sua calça de couro preta, que te deixa
com umas coxas gostosas pra caralho, e não quero que a cor da cueca
chame mais atenção que suas pernas — o beta responde simples. Então ele
joga a calça por cima do ombro, e Jungkook a pega imediatamente. Por
último, o moreno escolhe uma jaqueta também de couro, e a entrega ao
mais novo, finalizando sua busca. — É só isso, vá tomar banho.

— Ficou faltando a camisa — Jungkook retruca, ainda parado em sua


frente.

— Nada de camisa. Você vai com a jaqueta fechada e quando chegar lá


deixa aberta.

— O quê? — o mais novo indaga com os olhos arregalados. — Eu tenho


que ficar seminu?
Hoseok ri.

— É o mais comum. Estaremos num clube sexual, afinal. Mas se você for
se sentir desconfortável, não precisa. Só pensei que talvez você fosse do
tipo que gosta de se exibir, já que costumava passar tantas horas malhando
na frente da tv. Esse abs bonito e trincado, pensei que fosse querer mostrar
— deu de ombros.

— Oh. Bem, eu decido quando chegarmos lá — o acerejado responde


finalmente, seguindo para o banheiro.

Enquanto tomava banho e se depilava — afinal, nunca sabia quando podia


encontrar um alfa (ou beta) gostoso querendo sexo —, Jungkook escutou
Hoseok bater na porta e gritar:

— Passa uma maquiagem preta esfumada nos olhos, vai ficar mais sexy!

O Jeon assentiu rindo e saiu do chuveiro. Já fora do banheiro, estava a


própria personificação de "sexy pra um santo caralho". Hoseok e Jin o
encaravam abismados.

— Uau... — Jin murmurou chocado, levantando-se do sofá com os olhos


arregalados e os lábios grossos abertos, abandonando o celular no estofado.
De repente a conversa que estava tendo com Namjoon não era mais tão
interessante assim. — Você tem certeza que não curte ômegas, Koo?

— Hyung! — O avermelhado exclamou rindo.

— É sério, olha... Eu poderia fazer o que você quisesse... Você poderia me


deixar te ajudar nos seus ruts e o Hoseok nos heats — Jin declarou maldoso,
em tom meio pidão.

— Yah! Só quem ajuda o Jungkook aqui sou eu. Eu, Jung Hoseok, sou o
parceiro oficial de cios dele, nem vem.

— Aish, parem vocês dois! Já é estranho o suficiente que eu tenha que


transar com meu melhor amigo de três em três meses, parem de falar disso,
estão me deixando constrangido — o alfa resmunga, estupefato.
— E por falar nisso, não estou mais em um relacionamento com ninguém,
JK — o beta fala em tom natural. — Posso voltar a te ajudar. Eu me senti
muito mal de ter te deixado passar o último rut sozinho. Justamente o rut,
que é o mais forte...

— Tá tudo bem, Hobi — Jungkook responde sem jeito. — Foi doloroso,


mas passei a maior parte do tempo dopado. E não era certo você ter relações
comigo, enquanto namorava o Taehyung. Quando era o tal Yoongi tudo
bem, né, vocês não estavam namorando. De qualquer forma, eu é quem
deveria arranjar um parceiro novo... Se pelo menos o Jimin colaborasse...
— resmungou.

— O que quer dizer? — Jin indagou, encarando Jungkook curiosamente,


assim como Hoseok.

Jeon bufou e então fechou a jaqueta, cobrindo seu corpo.

— Eu fiz o que vocês disseram, fui lá na casa dele pedir açúcar emprestado.
Na verdade eu perguntei se ele tinha achocolatado... — respondeu. — Aí
ele me chamou pra entrar e me contou que havia acabado de ser exonerado
do exército...

— Whoooa! — Jin e Hoseok exclamaram em coro.

— Ele estava vestindo aquela farda branca, com quepe e tudo, vocês
acreditam? Tem noção do tesão que eu fiquei? — Jungkook reclama. — E
aí ele me agarrou e a gente começou a se pegar com força. Ele me jogou na
cadeira e rebolou no meu colo, eu fiquei tão duro que achei que meu pau ia
partir e se quebrar ao meio. Puta merda!

— Um alfa rebolou no seu colo? — Jin indagou, espantado.

— Ah é, ele também gosta de outros alfas, não é óbvio? Aliás, eu acho que
ele só gosta de alfas machos. Então era de se esperar. Deve ser doloroso
fazer isso sem o Slick... — Jungkook divagava, sua mente lhe fazendo
pensar na dor que um alfa sentiria ao ser passivo, uma vez que não produzia
lubrificação natural no ânus, que pudesse facilitar a penetração. Ele mesmo
nunca tinha conseguido comer um alfa macho.
— Tá, tá, tá, mas e aí? — Hoseok interrompeu, cruzando os braços
enquanto esperava ansioso pelo desfecho da história.

— E aí ele não me beijou. Acredita nisso? Ele lambeu minha boca, chupou
meu pescoço, apertou minha bunda, rebolou no meu colo e depois... —
disse enumerando item por item, com os dedos magros. — Depois nada. Ele
ficou me provocando, com a boca pertinho da minha, e quando perguntei o
porquê ele não me beijava logo... — foi ficando sem jeito e um tantinho
choroso ao relembrar. Estava realmente magoado com o Park.

— E o que ele respondeu? — o amigo ômega perguntou, ansioso.

Jeon suspirou.

— Ele respondeu "não". Disse que aquilo tinha sido um erro dele e que não
iria se repetir. Eu ainda tentei contornar a situação, falei que queria que
aquilo se repetisse, sim. Fui bastante direto, eu acho. Mas ele disse que não
queria. Sério, com todas as letras, ele deixou claro que não me queria. Foi
humilhante... — murmurou, sentindo os olhos arderem de raiva.

— Oh... tadinho do meu bebê — Hoseok sussurrou tristonho, passando a


afagar as madeixas vermelho-cereja do amigo.

— Mas que cara escroto! — Jin rebateu indignado, pondo as mãos na


cintura. — Se ele não te queria, por que fez uma coisa dessas? Você não
pediu explicações?

— Ah, hyung, eu... Sabe como é. Ele não precisou explicar duas vezes, dei
o fora de lá, bem rapidinho. Queria que eu continuasse lá pra ser ainda mais
humilhado? Fala sério. Não preciso de explicação de nada não. Se ele não
quer, tem quem queira! — falou empinando o nariz.

— Não precisa se fazer de durão pro nosso lado — interveio o beta. — A


gente sabe o quanto você esperou pela oportunidade de tentar algo com ele.
Nossa ideia foi péssima. Mas a gente não tinha como saber que ele ia dar
uma de doido assim. Desculpa...
— Agora vê se não dá mais bola pra ele, Koo — falou Jin. — Comece a
ignorá-lo e mostrar que você não está afetado por ele ser um babaca. Mas
vê se finge direito, porque se você fizer essa carinha de coitado na frente
dele, igual tá fazendo agora, não sei não... — brincou.

Jungkook deu um muxoxo triste.

— Eu não falei mais com ele desde então. Não o vi mais, até hoje de manhã
— respondeu o avermelhado, com pesar.

— Como assim não o viu mais? Ele mora do outro lado da calçada e nem tá
mais no exército — Jin rebateu.

— É, mas ele sumiu. Pensei até em bater na porta dele, com alguma
desculpa esfarrapada, tipo perguntar se eu tinha deixado meu casaco lá
naquele dia, ou algo assim, mas percebi que não tinha ninguém em casa.
Faz quase uma semana. E isso foi ótimo, porque assim não passei a
vergonha de ir lá tentar arrumar assunto com ele de novo, mesmo depois de
ser rejeitado igual um saco de merda.

— É... realmente — disse o Jung.

— Só que hoje mais cedo o vi entrando em casa numa boa, junto com um
outro alfa macho. Era um cara bonitão de cabelos loiro platinados, parecia
um modelo. Não deu pra ver muita coisa de longe, mas dava pra ver que era
bem bonito. Acho até que era mais alto que eu! — reclamou com um bico.
— Eu nunca tinha o visto entrar com ninguém em casa antes. Me sinto um
idiota — finalizou com a voz fraca e ombros caídos.

Os meninos o encararam com pesar.

— Bem, então esse cara é realmente um idiota — Hoseok concluiu. — Ele


já devia estar saindo com esse alfa, provavelmente. Ele deve ter se sentido
tentado a dar uns amassos com você, e por isso ficou naquela esfregação,
mas não te beijou porque isso seria oficialmente uma traição...

— E ficar se agarrando com outra pessoa não é traição também? — se


meteu o ômega.
— Sim, mas vai saber o que se passa na cabeça do cara? — retrucou
Hoseok. — Olha, JK, ele não sabe o que está perdendo, além de você ser
um cara ótimo, ainda fode bem pra porra e é muito do gostoso e cheiroso...

Então os três amigos se entreolharam e riram juntos.

— É melhor a gente ir, né? — o mais novo desconversou. Falar com


normalidade, sobre o fato de que ele e Hoseok transavam nos cios, era
desconfortável. Mesmo depois de todos aqueles anos.

Além do mais, não queria ter que dizer que sua maior teoria, era a de que
Jimin havia sentido o cheiro de ômega, quando ficou excitado, e então
perdido a vontade de transar com ele. Porque se Jimin era um alfa que
gostava de outros alfas, então isso queria dizer que Jimin não ficaria atraído
pelo cheiro de feromônios ômega — ainda que ele tivesse dado a entender
que dava em cima dele todo aquele tempo, porque tinha sim, interesse.
Talvez a teoria de Hoseok estivesse certa e o Park já tivesse alguém, de fato.
Não tinha como saber.

Jung Hoseok já estava arrumado, com uma roupa semelhante a de


Jungkook, mas usando um casaco de lã por cima, na cor creme. O ruivo
imaginou que ele tiraria aquilo na boate.

— E você hyung? — Jungkook perguntou a Seokjin.

— Oh! Minha nossa! — Jin exclamou, correndo para o sofá, buscando por
algo ali. — Eu larguei o celular, fiquei tão chocado em ver o Jungkook todo
arrumado, que dei vácuo no Namjoon! Ah, meu Deus, vou atrás dele lá na
loja. Tchauzinho pra vocês! — disse pegando o aparelho telefone em meio
às almofadas e saiu correndo do apartamento.

¹PONEY PLAY: Fetiche inserido nas práticas de BDSM, onde alguém age
como um treinador ou cocheiro, enquanto a outra pessoa veste-se e
comporta-se como um cavalo. Está dentro do 'pet play'.
²ZOOFILIA: prática sexual entre humanos e animais, proibida
legalmente em muitos países.

VOTE
06| choker

Jungkook e Hoseok foram de carro para o clube. O alfa ainda se sentia


incomodado com toda a coisa com Jimin, mas resolveu que não iria pensar
mais naquilo.

— Sabe, JK, acho incrível que você finalmente tenha tido coragem pra ir lá
na boate. É saudável que as pessoas explorem seus fetiches... — Hoseok
fala, enquanto dirige seu carro. — O que te convenceu?

— Na verdade, só não fui antes porque tinha vergonha de... Você sabe... Do
meu cheiro — o avermelhado confessou em voz baixa. Embora não tivesse
nenhum segredo que escondesse do Jung, ainda assim não gostava de
admitir aquela sua fraqueza em voz alta, às vezes nem pra si mesmo.

— Ora, Jungkook, e você acha que lá alguém ligaria pra o fato de você ser
um alfa com cheiro de ômega? Mas que coisa! Na THE CAVE tem pessoas
que gostam que o parceiro urine no rosto delas, o último lugar pra se ter
preconceitos é num clube fetichista — Hoseok declara. — A não ser, é
claro, com a coisa dos Brat's. Brat's são alvo de preconceito pelos
Dominadores mais clássicos, que pensam que todo submisso deve ser como
um escravo e fazer qualquer coisa que eles mandarem, sem pestanejar...

— Agora você está me assustando — o ruivo fala. — E se alguém lá tirar


sarro de mim, dizendo que eu sou um brat? — indaga.

— Ninguém vai saber que você é um brat, Jungkook-ah. Você não vai
chegar lá transando com alguém ou participando de alguma Cena...

— Não vou? Ah, mas que merda, achei que ia transar hoje — reclama,
fazendo bico. — Me depilei à toa — murmurou baixinho, mas por estarem
num ambiente minúsculo, fechado, e os dois lado a lado, Hoseok pode ouvir
perfeitamente.

— Não é assim, JK — explicou. — Você ainda não sabe sobre muitas


coisas, não pode simplesmente ir participando de uma Cena com algum
Dom, sem ter sido treinado. Ainda mais na frente de todo mundo. Eu e você
só transamos durantes seus cios, então nunca usei nenhum fetiche ou
acessório com você. Lá tá rolando uma Play Party hoje, então é o melhor
modo de aprender várias coisas através da observação.

— Traduza. Não faço ideia do que é isso aí que você falou — Jungkook
retrucou. — Conheço muitas práticas, mas não entendo muito sobre a
dinâmica ou essas regras e eventos aí...

— Play Party é um evento, onde muitos iniciantes e interessados nesse


universo vão para conhecer e aprender as práticas. Vai ter uma área onde as
pessoas podem dançar, socializar e beber, e no outro andar vão estar rolando
as Cenas, onde vão ter vários fetichistas e bdsmers experientes fazendo
demonstrações. Não de sexo exatamente, embora vá rolar também. Mas vão
ter cenas de Humilhação, Eletroestimulação, Espancamento, Salas de
exibicionismo, Jogo com cera de velas, e até aquela do cavalo e outras
mais. É quase como um show — Hoseok explicou.

— Ah, entendi. Mas e se alguém chegar em mim, pedindo pra ficar comigo,
achando que vou saber fazer essas coisas? O que eu falo? — Jungkook
perguntou, ficando nervoso.

— Ah, quanto à isso, tenho uma solução. Abra o porta-luvas — o beta


pediu. — Pegue a caixinha de veludo que tem aí.

Jeon então abriu e capturou a caixa, abrindo-a de imediato. Observou o


objeto de couro ali e franziu o cenho.

— Uma coleira? — Indagou, se virando para o moreno, que não tirava os


olhos da estrada.

A peça possuía um pingente redondo bem grande, com as iniciais JH — de


Jung Hoseok, certamente.

— Se lembra quando te falei que as coleiras no BDSM são tipo alianças de


casamento? — Hoseok questiona e Jungkook assente. — Então.... Quando
um sub usa uma coleira com iniciais, quer dizer que ele tem um Dominador
fixo, significa que ele está numa relação de dominação e submissão com
alguém. Então nenhum outro Dom tenta chegar nele, entende?

— Entender eu entendo, mas ainda não entendi por quê você está me
mostrando uma.

— Porque se você for ao clube sem coleira, as pessoas vão pensar que você
ou é um Dom, ou é um Sub não-compromissado. Os Sub's vão ficar
flertando com você, e os Dom's vão tentar chegar junto. Então, pra isso não
acontecer, você vai usar essa coleira e fingir ser o meu Sub. Simples assim
— Hoseok finalizou, ditando o óbvio.

— Mas e se o Taehyung ver? Isso não vai complicar as coisas pra vocês?
Quer dizer, vocês terminaram esses dias... — Jungkook fala. Mas o beta
apenas solta uma risadinha maléfica, o que faz o ruivo entender tudo. —
Ah! Seu filho de uma puta, você quer que ele veja e fique com ciúmes,
achando que você já tem outro, não é? Você é muito vingativo, hyung —
finaliza colocando a coleira no pescoço, enquanto checa a aparência no
espelho.

A coleira havia o deixado sexy. Era preta, de mesmo tom de suas roupas.
Apenas o cabelo cor de cereja destoava, deixando sua aparência
extremamente exótica. E o brilho prateado do pingente, era o máximo. De
repente, Jungkook viu tudo ficar escuro, quando o carro entrou em um
estacionamento coberto, no subsolo.

— Chegamos — o switcher declara, estacionando o carro.

Dali já se podia ouvir o som de música abafado pelas portas acolchoadas


mais à frente, além do pequeno tremor do som grave das batidas musicais.
Antes de fechar a porta e trancar o automóvel, Jungkook viu Hoseok retirar
o casaco cor creme e abandoná-lo no banco. Então pode ver que o beta
usava um harness de couro preto, que parecia bem simples sobre o torso nu:
apenas uma tira na horizontal, logo abaixo do peito, e uma tira em cada
ombro, na vertical. Mas quando Hoseok se virou de costas, caminhando em
direção à entrada do clube, pode ver que nas costas o harness era
transpassado, formando um "X" que cobria as costas do moreno,
emoldurando a cintura fina. O visual dele era simples, junto a uma calça
jeans clara apertada, toda rasgada nas coxas, e um coturno de couro preto.
Hoseok estava definitivamente sexy.

Jeon então abriu sua jaqueta, expondo o peitoral e abdome malhados, sem
vergonha alguma — não tinha exatamente problemas com o próprio corpo,
sabia que era gostoso, de fato. E agora, vendo que Hoseok estaria seminu, e
outras pessoas ali certamente estariam também, sentiu-se absolutamente
confortável para fazer o mesmo e se exibir, sem medo.

O recepcionistas na porta eram dois alfas, um macho e uma fêmea. Ambos


estavam vestidos de látex, mas a fêmea usava um corselet vermelho com
uma calça de mesma cor, saltos altos de mesma cor, unhas postiças bem
afiadas vermelhas e batom num tom parecido, só que mais escuro. A única
coisa diferente era seu cabelo, que era loiro prata e estava preso em um
comprido rabo de cavalo. Já o macho tinha cabelos castanhos e vestia uma
calça preta de látex, uma camisa social preta de botões e um harness branco
vestido por cima, combinado à uma coleira também branca.

— Boa noite, senhores — a mulher disse. — Me entreguem suas


identificações, para que eu verifique a lista.

— Boa noite. Olá Hope — disse o homem, com um risinho. — Sub novo?
Você supera rápido, beta.

Hoseok soltou uma gargalhada, entregando sua identidade para a mulher, e


Jungkook fez o mesmo.

— Não pentelha, Seung — respondeu Hoseok.

— Sei que você sabe as regras, mas já que trouxe um novato, preciso ditá-
las pra ele — o alfa submisso avisou, se voltando para Jungkook, que o
escutava atentamente. — A área do primeiro andar é mobiliada com sofás e
poltronas para o conforto de todos, onde tem a pista de dança e o dj da casa.
Já o segundo andar é a Masmorra, que é composta por vários móveis e
equipamentos para práticas voltadas ao BDSM São, Seguro e Consensual,
com som ambiente à parte. A todos que forem fazer cenas, atentar-se às
regras de funcionamento da Casa e utilização da mesma, inclusive sobre a
regra fundamental de não-uso de bebidas alcoólicas e entorpecentes. O
SSC, ou seja, o São, Seguro e Consensual é fundamental, inclusive para
quem assiste, por isso pedimos que Cenas sejam feitas apenas na Masmorra
que é o ambiente apropriado. Áreas Sociais, como o primeiro andar, são
apenas para socializar.

Então a mulher alfa tomou a frente:

— O uso da safeword é OBRIGATÓRIO. Pedimos que no início da Cena,


avisem aos que estiverem assistindo, qual a safe, para evitar problemas
posteriores. Informem principalmente aos seguranças. É de bom tom que as
Cenas sejam breves, pois outras pessoas farão cenas, e com o mínimo
barulho possível. A casa preza pela boa educação e compostura em Cenas
Públicas. É expressamente proibida a ingestão de bebidas alcoólicas ou
quaisquer entorpecentes, para quem for fazer as cenas, portanto não é
permitido ingerir bebidas alcoólicas no segundo andar, apenas no primeiro,
como já avisou Seung. Caso haja descumprimento dessa norma, os
participantes serão convidados a se retirarem da Casa. Alfas em períodos de
rut e ômegas em heat, são estritamente proibidos de entrar na boate.
Dúvidas?

Ambos negaram. A mulher devolveu as identidades, e Hoseok pagou as


entradas. Jungkook observou um cartaz na porta, onde haviam os preços de
entrada e o código de vestimenta:

Dress-Code:

— Máscara + Gala

— Medieval

— Corte

— Vitoriano

— Realeza

— Social

— Látex
— Couro

— Fetish

— All Black

— Half-naked

Então ele poderia vestir qualquer uma daquelas coisas?

— Preparado? — Hoseok perguntou.

— Muito, hyung — respondeu sorrindo.

— Bem-vindos à The Cave — a mulher declarou.

Hey, vocês já conhecem minha outra ABO? Chama-se "666: A BESTA" e é


bem estilo "chapéuzinho vermelho" meio gore, eu diria kkkkkkkkkkkkk é
uma colab entre mim e a YuraSugaLipidio - com jimin!ômega e jk!alfa, mas
nada de alfa friozão top e ômega virgem super submisso. Na verdade, essa
fic é flex (mas me prometam guardar segredo, porque queremos tombar as
only!jktop extremistas kkkkkkk) O Jimin de "A Besta" consegue ser ainda
mais dominante que o Jimin de incandescente, se é que é possível kkkkkkkkk
leiam! É nosso melhor trabalho, de verdade. Você vai se surpreender. Rola
muita intriga política e questões sobrenaturais. Entrem no meu perfil pra
salvar a fic na biblioteca :D
07| alphadome
SEGURA AQUI ESSA CONTINUAÇÃO DO CAPÍTULO PASSADO
HAHAHAHAHHAH QUERO SABER TUUUUUUUUUUUUDO O QUE
VOCÊS ACHAREM SOBRE A THE CAVE E A BOMBA DESTE
CAPÍTULO!

ESCRITO POR HowUdare

Depois de passarem pela recepção e as entradas serem autorizadas,


Jungkook e Hoseok adentraram a boate escura, onde gelo seco e luzes roxas
e verdes climatizavam o ambiente. Então chegaram na parte onde haviam
diversos sofás de couro negro espalhados, junto a mesas, onde pessoas
conversavam, bebiam e dançavam distraidamente.

Quase todos ali, usavam máscaras cobrindo parcialmente o rosto. As


paredes vermelhas e as músicas sensuais, de batida pesada e forte pegada
industrial, deixavam o clima extremamente convidativo e sensual.

— Vamos beber alguma coisa? — Hoseok disse em seu ouvido, segurando-


o pela cintura. O alfa apenas assentiu e foi arrastado para a bancada do bar,
onde Hoseok pediu refrigerante para ambos. Não iriam participar de
nenhuma Cena, todavia, queriam ficar no andar de cima, onde as Cenas
ocorriam, e os recepcionistas na entrada já haviam esclarecido serem contra
as regras consumir bebidas alcoólicas no segundo andar da casa. — Vamos
lá pra cima.

Subiram a escadaria bonita e larga, no centro, coberta por um tapete


vermelho, que mais parecia a escadaria de um palácio real. No andar de
cima, aconteciam as tão faladas demonstrações de práticas de bondage,
dominação e submissão, masoquismo e sadismo. O lugar era muito grande e
haviam muitas pessoas, todas vestidas nos diversos estilos emitidos no
cartaz na entrada da The Cave. Algumas estavam quase nuas.

Haviam diversos aparelhos espalhados pelo lugar, como enormes cruzes de


madeira com algemas nas extremidades, mesas acolchoadas e cordas presas
ao teto como guindastes, além de todo o tipo de aparelhagem sexuais, como
chicotes, tábuas, dildos, cadeiras com amarras, e tudo o que se pudesse
imaginar. Parecia, realmente, uma masmorra de tortura. Ao mesmo tempo
em que parecia assustadora, era também muito sensual.

— Hyung, as pessoas compartilham esses vibradores? São tipo


comunitários? — perguntou com cara de nojo. Jungkook era muito
higiênico nesse sentido, estava apontando algo coerente, a despeito do
estado costumeiro de bagunça e sujeira na qual deixava seu apartamento.
Mas não era um cara porco, apenas era um bocado preguiçoso. E em se
tratando de sexo, ele era perfeitamente oposto ao dono de casa desleixado.

— Ah, não se preocupe. A maioria fica ali só pra exposição. Quando


alguém vai fazer uma cena ou utilizar as salas de exibicionismo, ou até
mesmo as masmorras privadas, levam seus próprios acessórios — explicou.

— Ahhh... menos mau.

Jungkook viu uma mulher ômega com o corpo cheio de curvas, os seios
desnudos e duas fitas pretas em formato de X cobrindo os mamilos. Vestia
uma saia preta apertada de cintura alta nos quadris e um salto fino também
preto calçava seus pés. De imediato soube que a ômega era uma submissa,
pois esta usava uma coleira e essa coleira estava conectada à uma guia, por
onde seu Dominador, um macho alfa, a puxava como um animal de
estimação. Sorriu animado com a visão e encarou Hoseok, que o observava
sorrindo de volta.

— Gostou? — o beta perguntou.

— Me parece que sim... — respondeu Jungkook, meio sem jeito.

— Se fosse você ali, acha que iria preferir estar preso à coleira, sendo
arrastado, ou gostaria de estar puxando alguém? — Hoseok indagou
curioso.

Após pensar um pouco, o de cabelos cereja respondeu:

— Acho que queria ser puxado por alguém... a ideia me excita mais —
respondeu, sem nem se dar conta.
o Jung soltou uma gargalhada.

— Eu não disse que você jamais seria um Dominador? — provocou aos


risos.

Jeon abriu e fechou a boca, tentando rebater, mas não teve realmente
argumento e então suspirou derrotado.

— É, talvez eu seja um submisso malcriado, como você fala... — respondeu


rindo.

Observaram algumas Cenas por ali, sendo demonstradas teatralmente pelos


praticantes. Jungkook gostou muito de uma onde um ômega macho de
cabelos platinados, chicoteava as costas e traseiro de um sujeito de pele
mais amorenada e cabelos rosa bem claros, que tinha os pulsos e o corpo
quase todo amarrados por cordas no teto, por onde estava praticamente
pendurado. À cada chicotada, o ômega xingava o submisso de cabelos rosa-
pastel, dizendo palavras sujas e de baixo calão.

Hoseok explicou que aquela era uma demonstração de prática de Bondage,


já que tal fetiche era relacionado a restringir os movimentos do parceiro,
fosse com cordas ou qualquer outra coisa. O ômega dominador então puxou
os cabelos daquele submisso amarrado e o mandou responder ao que ele
perguntava. Jungkook viu que o cara amarrado tinha um rosto
extremamente bonito, sob a luz da luminária próximo ao seu rosto, quando
este sorriu de forma claramente desafiadora e respondeu um "Vá se foder!"
ao dominador ômega.

Este então pareceu mais estimulado, acertando com força uma chicotada na
bunda desnuda já vermelha do submisso, que gemeu dolorido e
impulsionou o corpo pra frente, sorrindo sacana, como se tivesse aprovado
a agressão. E Jeon estava se sentindo endurecer ao assistir aquilo. Não era
novidade alguma pra si, que gostava de assistir transas alheias, ainda que
aquela não fosse uma transa, apenas uma demonstração de bondage e
masoquismo.

Jeon era um perfeito voyeur. Só restava saber se gostaria que as pessoas o


assistissem, tanto como gostava de chamar atenção e ser visto. Era provável
que sim, já que desde que entrara na boate, sentiu-se com o ego amaciado
ao ter tantas pessoas lhe observando com clara lascívia e desejo. Gostava de
ser desejado, de causar aqueles olhares. Gostava que as pessoas o
comessem com os olhos.

— Você gosta de apanhar, não é, seu bratzinho? — O platinado disse quase


rosnando.

O de cabelos rosas o olhou por cima do ombro, com uma expressão


dolorida, mas um sorriso ladino surgiu em seus lábios, provocador.

Jeon notou então, de que aquele ômega dominador de cabelos quase


brancos, lhe lembravam a descrição do antigo Dom de Hoseok, então virou-
se para o amigo, encontrando-o com a expressão fechada e o maxilar
trincado. De braços cruzados, o beta encarava aCena com o olhar furioso.

— Esse cara é o tal Yoongi? — perguntou ao outro, que bufou antes de


responder:

— Sim. E isso nem é o pior de tudo...

— O que é? — Jungkook indagou confuso.

— O cara que ele está dominando é o meu Taehyung — respondeu amargo.

Jeon arregalou os olhos. Então aquele cara bonitão era o tal brat? Deveria
ter notado antes. Nenhum submisso responderia "Vá se foder" após uma
ordem clara de resposta de seu Dominador. Apenas um malcriado o faria,
um Brat. E Jungkook percebeu internamente, que talvez ele fosse assim
também, já que havia sorrido satisfeito com a resposta de Taehyung para
Yoongi, sentindo seu baixo abdominal formigar quando o Dominador deu
uma chicotada estalada na bunda do outro. Podia jurar que tinha sentido o
couro do chicote arder em sua própria pele.

Então, como o bom amigo que era, quando percebeu que tanto Taehyung,
quanto Yoongi olhavam na direção de Hoseok, a seu lado, encaixou seu
rosto no pescoço do beta, dando-lhe um chupão. Este, pego de surpresa,
arfou, e automaticamente segurou sua cintura com força. Sentiu o amigo
então dar um tapa em sua nádega esquerda e deu um pulinho surpreso, mas
continuou seu trabalho no pescoço do outro, segurando uma risadinha. Ele
sabia que para o beta, aquilo não estava sendo de fato excitante, tampouco
pra ele. Apenas era prazeroso ajudar o outro a vingar-se dos dois ex's.

Quando achou suficiente, soltou o beta e encarou o ômega loiro e o de


cabelos rosados Taehyung, que notou ser um alfa como ele. Estes pareciam
perdidos em meio à cena, agora que haviam visto Hoseok ali e
acompanhado. Yoongi parecia ser mais impassível, melhor em esconder
suas expressões. Já Taehyung demonstrava-se claramente irritado.

Jeon então sorriu satisfeito e puxou Hoseok pela mão, levando-o para o
mais longe dali. Pararam num canto afastado e Jungkook terminou de beber
seu refrigerante, largando a latinha num canto.

— Obrigado, Kook-ah —Hoseok falou, com a expressão cansada.

— Não pensa nisso, vamos beber mais alguma coisa, uh?

— Espere aqui, vou buscar algo pra gente — o beta disse em seu ouvido,
logo afastando-se para pegar uma nova bebida.

Ao longe, Jungkook viu pessoas se agrupando em volta de salas com


paredes de vidro. Percebeu que dentro de tais salas, as pessoas não só
demonstravam as práticas fetichistas, como transavam, de fato. Tais salas
assimilavam-se a enormes aquários.

Viu uma alfa fêmea, vestida com um corselet preto e luvas também negras,
até os cotovelos, sentada com a bunda em cima do rosto de outra alfa, esta
submissa, que estava deitada em uma mesa, com os pulsos e tornozelos
presos por algemas, em cada lado da mesa, toda aberta. A submissa parecia
prestes a sufocar, então a Domme se levantava, deixando-a respirar
rapidamente, para logo em seguida, sentar em seu rosto de novo, rebolando
em sua face, enquanto a submissa à chupava. O garoto salivou com a visão.

Jungkook gostava de quase tudo, com exceção de ômegas, pois o cheiro


deles lhe era enjoativo. Quanto ao sexo, também não importava, poderia ser
macho ou fêmea, embora tivesse preferência por machos. Principalmente
machos alfas. Via beleza em tudo, ainda que fosse muito exigente com seus
parceiros e não escolhesse qualquer um. Desejou ser a alfa deitada na mesa,
chupando a outra, enquanto a mesma a sufocava.

Olhou em volta, procurando por Hoseok. Queria se aproximar e observar as


duas alfas fodendo, de perto. Até porque a Domme tinha os cabelos longos
e negros, o que deixou Jungkook ainda mais interessado, já que achava
fêmeas com aquela aparência extremamente belas.

Hoseok o cutucou, entregando-lhe uma garrafa de água, e rapidamente o


ruivo o puxou pelo harness, até as paredes de vidro, onde confirmou que a
alfa morena era realmente bonita.

— Gostou dela? — Hoseok perguntou e Jungkook assentiu. — É Kiko


Watannabe. Ela é dona do clube, a Dominatrix mais famosa daqui. Se você
quiser, pode pedir pra que ela seja sua Domme e o treine. Mas ela cobra
caro — riu.

— Caro quanto? — Jungkook indagou, bebendo da garrafa.

— Caro do tipo que você não vai poder pagar. Ela acredita que um
submisso deve ter como meta de vida, agradar seu dominador em todos os
sentidos, inclusive o dando quantias em dinheiro — disse com uma careta.

— Mas isso não seria prostituição? — Jungkook questiona confuso.

— De certo modo sim, se você for contar a parte do sexo. Mas se for apenas
a parte da sessão de Dominação, não. E é claro que um Dominador pode
cobrar por uma sessão, é normal até — Hoseok responde, dando de ombros.

O de cabelos cereja então percebeu uma multidão aglomerada em uma outra


sala de vidro. Eram tantas pessoas, que diferente da anterior, não era
possível ver o que se passava ali dentro, pois as pessoas tapavam sua visão.
O switcher acompanhou seu olhar e disse:

— Quer ver o que tá rolando na outra sala? Pela quantidade de gente em


volta, aposto que é o AlphaDome — o beta sugeriu.
— Quem?

— AlphaDome é o apelido de um Dom aqui da boate. Ele é um alfa macho,


que domina principalmente outros alfas machos. Ele domina betas também,
mas é raro. Daí surgiu o nome de AlphaDome. Esse cara é meio que uma
lenda. Dizem que há uma década atrás, ele começou a frequentar a boate
como submisso de um outro alfa macho. Aí eles foram fazer uma sessão,
numa dessas salas de vidro, numa play party como essa. Nessas salas de
vidro, as sessões não seguem um roteiro, não tem a intenção de demonstrar,
como nas Cenas, mas sim exibir, entende? A galera que faz as sessões nas
salas de vidro, o fazem pra se exibir, pra serem observadas pelos voyeurs —
Hoseok declarou, voltando a bebericar a garrafinha de água, enquanto
puxava Jungkook para a outra parede de vidro.

As outras pessoas abriram espaço, então ambos puderam visualizar dois


alfas machos, quase completamente pelados, com exceção do harness
extremamente trabalhado e com várias fitas ao redor do torso do
Dominador, que tinha a pele bem clara e abdome trincado, parecendo uma
barra de chocolate branco. Ele possuía um par de coxas grossas e a cintura
não era fina.

Já o submisso, usava uma máscara de látex, que cobria sua cabeça inteira,
como uma touca, deixando de fora apenas os olhos, a boca e o nariz. O
dominador estava com o rosto virado pro teto, enquanto o sub, ajoelhado no
chão, chupava-o com fervor.

Jungkook arregalou os olhos. Quando o dominador abaixou o rosto, o ruivo


se deu conta de quem era...

Ele conhecia aquele Dom...

Era Park Jimin.

— Sabia! É ele mesmo. Aquele ali é o AlphaDome — Hoseok disse,


apontando para Jimin no aquário. — Como eu estava falando, o boato é que
durante uma sessão nessas salas de vidro exibicionistas, o AlphaDome
simplesmente fez o Dominador dele se render à si. Ele estava lá, numa boa
recebendo ordens, até que simplesmente subjugou o próprio Dom. E hoje,
esse antigo dominador é um Switcher. Tipo, ele converteu um Dominador
em Switcher. Esse cara é realmente bom.

Jungkook não respondeu. Ao invés disso, engoliu em seco. Park Jimin


estava ali, recebendo um oral de um sujeito qualquer, dentro de uma sala de
vidro, num clube de bdsm. Park Jimin, seu vizinho gostoso, por quem tinha
uma queda fodida, e que o havia dispensado e ferido seu ego já frágil, um
bocado de dias atrás. O mesmo Park Jimin, era um Dominador. Jungkook
sentiu seu coração bombear sangue mais rapidamente, era quase doloroso.

E então seu sangue gelou, quando os olhos de Park Jimin se grudaram nos
seus. Primeiro, o alfa lúpus demonstrou choque. Os lábios se abriram ainda
mais, todavia só fez parecer que era porque o boquete que recebia estava
mais gostoso. Os olhinhos pequenos também se arregalaram.

Jungkook quis chorar. Estava sentindo um ciúmes sem tamanho. Seu


instinto lupino o fazia rosnar de raiva e frustração. Era um ciúme tão forte
que... instigava. Hoseok o encarou assustado, ouvindo o rosnar baixo e
contido do outro.

— Que foi? O AlphaDome te excitou tanto assim, é? — debochou, ao sentir


o cheiro doce e frutal dos genes ômegas do alfa começar a emanar. Mas
Jungkook não deu muita atenção à sua provocação.

Estando Jimin de frente para o ruivo, não teve escapatória, a não ser encará-
lo. Estava tão reação, que sequer foi capaz de interromper a sessão e parar
com aquilo tudo e ir atrás do Jeon, de imediato.

Já o mais novo, ao mesmo tempo em que queria correr dali, estava se


sentindo estranhamente excitado, mesmo se roendo de ciúmes. Estava
sentindo calor dentro daquela roupa de couro apertada, seu pau começando
a despertar e ficar esmagado dentro da cueca.

O Park xingou-se mentalmente. Havia ignorado Jeon a semana toda,


porque não queria continuar aquilo com o garoto e acabar tendo que contar,
em algum momento, sobre suas preferências de práticas sexuais. Teve medo
de que o alfa se assustasse e o visse como um doente, ou uma aberração, já
que era isso que a maioria das pessoas "baunilhas" achavam. Estava
incrivelmente chocado de que estivesse vendo o rapaz ali.

Quando seu olhar vagou pelo corpo bonito de Jeon, que estava com a
jaqueta aberta, mostrando o torso nu de mamilos marronzinhos, e viu a
coleira em seu pescoço, sentiu-se desgostoso. Foi aí que decidiu não
encerrar sessão alguma. Se Jungkook já tinha outra pessoa, então ele não
era obrigado a parar de fazer o que estava fazendo, afinal.

A coleira significava que Jungkook tinha um dono, um Dominador, que


obviamente seria o sujeito ao seu lado, que Jimin já conhecia por
HopeSwitcher — ex de Yoongi, seu amigo. E aquilo tinha irritado e
enciumado o Park. Tinha dispensado o garoto pra isso? Pra descobrir que
ele era tão — ou até mais — fetichista do que ele? Que o vizinho já estava
mais do que familiarizado com o BDSM? Porra, estava puto. Aquilo só
podia ser uma brincadeirinha de mau gosto do destino.

Queria que Jungkook fosse seu e apenas seu. Quis isso desde que conheceu
o garoto. Agora se arrependia de não ter simplesmente o chamado pra sair
antes e contado de cara sobre seus fetiches. Poderiam estar juntos agora.
Poderia ser o ruivo ali com ele, curtindo uma boa exibição de como seus
corpos provavelmente pegariam fogo quando unidos.

O ex-militar tentava segurar as pálpebras, pois seus olhos queriam revirar


com aquele oral delicioso do submisso. Principalmente porque só conseguia
fantasiar com Jungkook naquela posição. Com aquela boquinha bem
desenhada, a língua abusada do vizinho deslizando em sua glande, os
olhinhos redondos o encarando daquele jeitinho inocente... Então foi
pensando no avermelhado, que alfa veio com força na garganta do sub,
enquanto jogava a cabeça pra trás, aliviado.

No momento em que viu Jimin gozar, Jeon correu pra fora dali, sem sequer
dar atenção aos chamados de Hoseok. Encontrou o banheiro mais próximo
e entrou em uma das cabines, fechando a porta. Respirando descompassado,
tanto pela corrida, quanto pelas coisas que viu, arriou as calças e se
encostou na porta, alisando o próprio falo, massageando-se. Parecia que iria
morrer se não se aliviasse logo e era tudo culpa do maldito Park Jimin!
Girou o dedão na cabecinha molhada, espalhando o pré-gozo que a fenda
expelia, suspirando em deleite. Então levou a destra em frente à boca e
cuspiu nela, voltando a massagear o pênis teso, lubrificando-o com a
própria saliva. Subiu e desceu a mão um bocado de vezes, sentindo-se
endurecer ainda mais.

Então fechou os olhos e pensou nele — como já fazia há um bocado de


anos, desde que se conheciam. Imaginou Jimin pelado. Jimin o fitando com
toda a intensidade de seus olhos negros. Jimin rebolando em seu colo.
Fantasiou o Park o chupando, com aquela boquinha provavelmente bem
gostosa, lhe dando ordens... "Se ajoelhe. Ponha as mãos pra trás. Não
deixei você me tocar aí." Em sua mente, já era craque em visualizar o
melhor sexo possível com o vizinho militar.

"Então talvez tenha sido por isso que Jimin tenha perdido o interesse"
Jungkook pensou; O moreno certamente notara que ele não era do tipo
submisso, então viu que dali não sairia nada de bom. Pelo menos era isso
que o ruivo pensava agora.

O mais novo resolveu tirar sua mente dali, do contrário, ao invés de gozar,
broxaria. Então voltou a fantasiar com ele e o lúpus em cenas eróticas
demais para serem narradas. Lembrou-se do formato das nádegas durinhas
em suas mãos e a barriga lisa e chapada; Lembrou-se de como o ex-coronel
o havia deixado sem fôlego, sem nem sequer tê-lo beijado ou tocado mais
intimamente. Então Jungkook gozou. Gozou forte, tremendo, soltando
gemidinhos finos e incoerentes, extasiado. Ficou ali por mais alguns
minutos, respirando pesadamente.

Quando se recuperou, limpou-se com papel higiênico. Teve de limpar sua


entrada também, já que o slick escorria um pouco em sua traseira; Por conta
de seus genes ômegas, o garoto lubrificava no ânus, exatamente como um
ômega.

Saiu da cabine e lavou as mãos, em seguida arrumando os cabelos no


espelho.

Quando saiu do banheiro, encontrou Hoseok próximo à porta, sorrindo


zombeteiro pra si:
— Uau. Quer dizer que você ficou tão excitado com a sessão do
AlphaDome, que teve que correr pro banheiro tocar uma punhetinha, hein?
— o beta disse rindo.

— Não enche, Hoseok — Jungkook bufou.

— Olha, eu acho que posso conversar com ele sobre você, e talvez ele faça
um treinamento demonstrativo contigo hoje mesmo. Eu explico que você já
sabe algumas coisas e então de repente ele aceita e faz algo bem leve... — o
Switcher sugeriu, ainda meio zombeteiro.

— Hobi, você não está entendendo a gravidade da situação — o ruivo diz


com um grunhido, puxando o amigo para um canto. — Esse cara é Park
Jimin!

— Uh? Seu vizinho está aqui? — disse olhando ao redor.

— Sim! Meu vizinho era aquele cara na sala de vidro! O tal AlphaDome!
— exclamou.

— Whoooooooooooooa! — o beta gritou, totalmente pasmo, de olhos


arregalados e a boca aberta num formato de 'O'. — Tá de sacanagem?! Não
é possível! Aquele dominador gostoso pra caralho é o seu vizinho alfa, o
que é ex-militar?

— Sim, é ele! Você não percebeu como ele me encarava?

— Ah... Então era por isso — o beta murmurou, suspirando aliviado.

Jungkook franziu o cenho.

— O que quer dizer?

— É que ele estava olhando pra você o tempo todo, achei que ele estava
fazendo isso pra me afrontar. Não que eu seja inimigo dele, mas ele é amigo
do Yoongi, então pensei que... Ah, você entendeu.

— E agora? O que eu faço? Acha que devo falar com ele?


— É melhor não, Jungkook — opinou. — Quero dizer, o cara te negou na
cara dura, né? Você não deve se humilhar assim... — lembrou.

— Oh... é verdade. Mas e se... E se ele só não me quis, por achar que eu era
baunilha? — indagou um tanto esperançoso.

— Hoje ele já te viu com a coleira e provavelmente pensa que você e eu


temos uma relação.

— Ah! Merda, hyung! — o alfa reclama frustrado, se dando conta do


engano.

— Foi mal, cara, eu não tinha como adivinhar — justificou-se o beta. —


Mandei você usar a coleira pra te proteger...

— Eu sei, eu sei... — Jungkook resmunga. — Ai, mas que complicação...


— gemeu, batendo com a mão na testa.

— JK, relaxa. Qualquer coisa, eu mesmo explico pra ele.

— Eu acho que quero ir pra casa — o novato fala cruzando os braços e


fazendo biquinho. Estava terrivelmente mal humorado agora.

— Ai, começou a pirraça — Hoseok devolve, revirando os olhos. — Quer


ir embora, justo agora? O que você tem em casa? Não acha mais afrontoso
ficar por aqui e observar Jimin em seu "habitat natural"? Você vive dizendo
que o cara é evasivo e não te conta muita coisa. Você pode só observar ele
aqui. Pode fazer de maneira discreta, ou pode segui-lo na maior cara de pau,
no maior estilo stalker.

Jungkook pareceu pensar por um tempinho, antes de dizer:

— Talvez você esteja certo. Mas é que me incomoda vê-lo com outras
pessoas...

— Ué... Tá com ciúmes dele? Oh meu Deus, você é apaixonado pelo cara?
Achei que você só queria o corpinho dele... — o switcher declara
espantado.
— Eu não tô apaixonado, não seja idiota — reclama, desgostoso. — Mas
meu ego ficou ferido. Ele não fala comigo desde aquele dia, Hoseok. Ele
me rejeitou e ainda apareceu com outro alfa! De repente é até o mesmo alfa
que 'tava transando com ele lá na sala de vidro! — disse apontando em
qualquer direção. — E agora que me viu... Eu não sei se ele mudaria isso. E
se ele realmente não me quiser? E se ele só falar comigo e ainda assim
continuar transando com outras pessoas, bem na minha frente?

— Pensei que você tinha ficado excitado em vê-lo fodendo outro cara... —
Hoseok rebateu confuso.

— Eu fiquei... — confirmou incomodado. — E nem eu sei porquê fiquei, já


que por dentro eu estava muito, muito enciumado. Mas ele não tirava os
olhos de mim, e então subitamente me senti quente... como se estivesse no
inferno — confessou suspirando. — Eu te falei que esse cara mexe comigo
de um jeito forte demais... — resmungou.

— Hoseok — uma terceira voz chamou, atrás de Jungkook.

Ele se virou e encontrou Taehyung e Yoongi parados ali, alternando os


olhares entre ele e o Switcher.

— Precisamos conversar com você — Yoongi declarou ao beta.

— O que esse caras querem com você, meu Senhor? — Jungkook se meteu
fingido, abraçando Hoseok pela cintura. Ele sabia da coisa sobre um sub ter
de se referir ao seu Dom como "senhor", Hoseok já havia comentado sobre
e, além do mais, era sempre assim nos filmes pornôs daquele gênero. Eram
coisas básicas, que qualquer um que pesquisasse superficialmente saberia.

Taehyung bufou e Hoseok riu de nervoso.

— Não acho que meu sub mereça ficar aqui sozinho, pra que eu fale com
vocês. Digam na frente dele — o switcher respondeu, debochadamente. —
Aliás, vocês deveriam respeitá-lo. Não veem que dei uma coleira a ele?

— Hoseok, eu e Taehyung não estamos numa relação, nos unimos apenas


para fazer a Cena, a pedido da Kiko — Yoongi falou impaciente. — Ela
queria que nós mostrássemos ao público, que domar um brat também pode
ser divertido.

Jungkook então se soltou de Hoseok e encarou o amigo, preocupado:

— Quer que te deixe à sós com eles? — perguntou preocupado.

Quando o beta assentiu, Jeon foi até a bancada do bar e pediu mais uma
garrafa de água, enquanto encarava o amigo e os outros três de longe. Até
sentir uma voz macia falando consigo:

— Ciúmes de seu Dom conversando com os dois ex's na sua frente? — A


voz de Jimin soou maldosa. — Eu jamais faria algo tão desrespeitoso assim
com meu Submisso... — falou provocando, dando de ombros.

Jeon então se virou pra ele, tremendo dos pés a cabeça. O garçom entregou
a garrafa de água pro avermelhado, que a puxou de cima do balcão
rapidamente, bebendo quase metade do conteúdo, deixando uma pequena
gota escapulir pelo canto da boca. Viu Jimin acompanhar o trajeto da gota
com o olhar, como se estivesse faminto.

O Park então secou com os dedos a gota fujona, deixando um clima


extremamente pesado recair sobre ambos, por conta do ato.

Quando se deu conta do que fazia, Jimin rapidamente tirou a mão dali.

— Me desculpe — o alfa disse incomodado, olhando para algo atrás de


Jeon. — Não se preocupe, seu Dom não viu nada. Vou me afastar pra que
você não tenha problemas.

Jungkook num ato impulsivo, segurou o lúpus pelo pulso, quando este se
afastava, recebendo de volta um olhar curioso.

— Ele não é meu Dominador, Jimin — disse finalmente.

— Mas e a coleira..?

— Foi só pra impedir que outras pessoas chegassem em mim — explicou.


— Hoseok é meu amigo. Ele me trouxe aqui pra que eu conhecesse e
aprendesse um pouco mais. Tenho interesse nos fetiches, mas nunca
cheguei a praticar nada...

— Oh... — Jimin exclamou, piscando surpreso. — Então você é um


iniciante?

— Sim, eu acho — respondeu Jungkook, sem jeito.

— Quem está te treinando? — o de cabelos negros indagou.

— Ninguém, ainda.

Jimin foi se aproximando, mudando totalmente a postura, o mirando de


cima a baixo, descaradamente, lambendo os lábios, sem fazer a mínima
questão de esconder seu desejo.

— O que acha de a gente ir embora daqui e conversar na minha casa?


Vamos terminar o que começamos... — propôs com a voz rouca, em clara
provocação, aproximando-se do rosto de Jeon para dar-lhe um beijo.

Mas Jungkook virou o rosto, fazendo com que os lábios de Jimin


encontrassem sua bochecha. Este se afastou levemente e o fitou confuso.

— Você disse que não me queria — Jungkook disse, encarando o ex-militar


nos olhos.

— Sabe, Jungkook-ah, um submisso não deveria agir assim, tão malcriado


para com um Dominador... — disse com um leve tom de ameaça na voz.

Jeon então apertou os olhos em sua direção, em óbvio sinal de desafio.

— Mas você não é o meu dominador, não te devo respeito — respondeu


apenas.

O Park ficou alguns segundos em silêncio, observando o de cabelos cereja


muito de perto. Tão de perto, que suas respirações se chocavam e a tensão
entre eles era quase palpável. Estavam tão próximos quanto no episódio da
cozinha.
— Não sou, mas poderia ser — Jimin respondeu, o encarando nos olhos.

O alfa tremeu na base. O ex-coronel realmente estava oferecendo aquilo?


Porque se fosse, então isso queria dizer que Jimin o queria sim, e que seu
cheiro nada tinha a ver com a história. Mas ainda queria saber porque
diabos o alfa não havia dado as caras nos últimos dias e, principalmente:
quem diabos era o alfa com quem ele havia entrado em casa. Então decidiu
que lhe daria o benefício da dúvida, assim como este fazia consigo. Não
seria um belo trouxa, que aceita o cara de volta, como um poodle adestrado,
depois de ser levemente humilhado e rejeitado. Não mesmo.

— Talvez — foi só o que respondeu. — Agora preciso chamar Hoseok


hyung para ir embora comigo... — desdenhou, se virando em direção ao
amigo e andando alguns passos para longe do vizinho. Mas travou no lugar
quando viu Hoseok beijar Taehyung furiosamente e, em seguida, beijar
Yoongi. Logo os três davam amassos quentes no canto da parede escura,
enquanto luzes verdes piscavam sobre eles.

— Ora, veja só... — a voz de Jimin soou divertida por cima de seu ombro.
— Parece que seu amigo vai estar ocupado demais para uma carona, então
você terá de vir comigo — disse exalando confiança, enlaçando a cintura do
avermelhado e encaixando sua pélvis na traseira dele, que arfou com o
contato.

Jungkook respirou fundo, mordendo o lábio inferior. Aceitaria a carona,


mas não iria ceder tão fácil. Ainda estava bravo e enciumado. E não era
nenhum segredo, o quanto o ruivo gostava de fazer birra. Fora isso, seu ego
estava estava aos frangalhos e ele não perdoaria Jimin por isso tão fácil
assim, sem nem uma mísera explicação. Se o lúpus disse que não o queria e
agora, aparentemente havia mudado de ideia, então teria que explicá-lo suas
motivações. E estas precisavam ser bem convincentes, caso contrário, o
mais novo o mandaria se foder.

— Tudo bem, então. Apenas uma carona, Jimin — respondeu, com o nariz
em pé.

E foram embora juntos.


Não esquece de deixar sua estrelinha aqui
08| caught in despair

ESCRITO POR HowUdare

O carro preto parou na calçada vazia, entre a casa de Jimin e o pequeno


prédio de Jungkook. Nenhum dos dois haviam dito uma palavra sequer
durante o percurso todo. O moreno tinha ligado o som em volume mediano,
então nenhum deles se atreveram a falar coisa alguma.

Jungkook agora quase arrancava a pele dos dedos, já que suas unhas
estavam minúsculas, uma vez que roera todas durante o caminho. Estava
nervoso. Uma ansiedade o tomava e nem sabia o porquê. Só sabia que estar
num cubículo fechado com Jimin, depois dos últimos acontecimentos, era
um desafio a sua sanidade.

O mais novo tentou sair do automóvel, mas o dominador foi mais rápido e
travou as portas elétricas. Jeon se retesou e, lentamente, virou o rosto na
direção do Park, que colocou a mão em sua coxa e foi deslizando-a por ali.
O ruivo sentiu uma fisgada no abdome. Mas o outro apenas pegou suas
mãos, que descansavam em seu colo, para observar seus dedos. Então
comentou com a voz autoritária:

— Você deveria parar de roer as unhas. Eu gosto de ser arranhado. Conhece


esse fetiche? — perguntou. — Chama-se Scratching. Gosto que me
arranhem até que eu possa sentir o sangue brotar levemente na pele.
Principalmente nas costas, enquanto eu estiver te tomando fundo e
forte... — disse a última frase diminuindo a voz, deixando tudo mais
intenso.

Jungkook arfou audivelmente. O ex-militar engoliu um risinho, acariciando


a mão maior que a sua, enquanto seus olhos estavam grudados no rosto do
avermelhado. Já o de cabelos cereja, encarava as próprias coxas, sem
coragem alguma de olhar para o moreno. Sabia que se o olhasse, seu
instinto lobo tomaria conta e avançaria em Jimin, pouco se importando em
estarem dentro de um carro. Apenas começariam uma transa furiosa,
certamente esbarrando na buzina diversas vezes e chamando a atenção de
todos os vizinhos, que presenciariam o carro chacoalhando e os vidros
ficando embaçados, dando um belo show de atentado ao pudor à
vizinhança.

— Você vai querer me agradar, não vai? — Jimin perguntou com a voz
suave, repousando o braço direito por trás do assento de Jeon, aproximando
sua boca da orelha do ruivo, que com a tensão, havia fechado os olhos,
sentindo o dominador deslizar a canhota novamente por suas coxas grossas,
numa carícia sugestiva e deliciosa. — Vai querer deixar seu
dominador feliz, uh? Eu certamente te recompensaria depois... — e ao
dizer isso, capturou com os dentes, o lóbulo da orelha alheia, levando
Jungkook ao delírio, este quase derretendo no banco.

— Humn... — o mais novo gemeu contido, sentindo a mão ágil de Jimin,


agora alisar seu pau semi-ereto por cima da calça de couro.

O lúpus beijava, lambia e chupava a pele cheirosa do pescoço do outro alfa,


sentindo-se cada vez mais instigado com os gemidos que podia ouvir Jeon
travar na garganta. Quanto mais Jungkook negava-se a demonstrar o quanto
estava gostando das carícias, mais impelido o Dominador ficava. Se fosse
com outros submissos, nesse momento estaria bravo com a relutância do
outro em gemer, mesmo quando seu cheiro excitado já estava tão forte, que
se sobrepunha até mesmo ao cheiro do lúpus.

— Você não parece estar gostando... — sussurrou Jimin com a voz


melodiosa. — Quer que eu pare? — provocou.

Não obteve resposta. Então foi retirando a mão dali, devagar. Só que de
supetão, Jeon agarrou seu pulso pela segunda vez na noite, olhando
finalmente para si. Continuou sem dizer nada, apenas negou com a cabeça,
tendo os olhos semi-cerrados, e recolocou timidamente a mão do
Dominador sobre sua ereção, este que prontamente a apertou, fazendo
Jungkook finalmente soltar um gemido de maior intensidade, encostando a
cabeça no banco.

— Jimin-ssi... — Jungkook gemeu arrastado, com a respiração falhando.


Já conhecia Park Jimin há três anos, não havia necessidade de chamá-lo
usando o sufixo "ssi" da linguagem formal. Mas em seu idioma, usar aquele
sufixo demonstrava respeito e reverência à alguém em nível de hierarquia
superior ao seu. E o Jeon era sim um submisso nato — embora malcriado
—, já que se referiu ao Dominador como "Jimin-ssi" de forma automática,
reconhecendo-o como um Dom, assim como um bom sub, que sabia
reconhecer um Dominador quando estava em frente a um.

Jimin continuou com os lábios no pescoço do alfa de cheiro doce, fazendo


questão de pôr a maior força possível ali, para que mais tarde, a pele ficasse
pintada de marcas roxas. Como um alfa e dominador, Jimin adorava marcar
território. Geralmente faria aquilo com qualquer outro sub, mas no caso do
ruivo, era algo a mais. Queria marcá-lo mais do que com seu cheiro. Queria
que fosse seu e apenas seu. Ele mesmo arfou no pescoço alheio, inalando o
fodido cheiro doce do mais novo. Aquela fragrância doce o enlouquecia,
sentia até mesmo seus pelos se arrepiarem.

Nunca sentira muita atração por cheiro doce, cheiro ômega. Mas a mistura
do aroma de Jeon Jungkook, mesclando ao forte e intenso amadeirado alfa e
ao leve cítrico, provocante, faziam-no cheirar de um modo único. Seu lobo
queria Jeon. Sempre soube que o garoto agradava seu lobo porque muito ao
fundo, era capaz de sentir as notas adocicadas de ameixa e maçã no cheiro
dele e, mesmo assim, sentia-se atraído demais. Ainda que costumeiramente
cheiro ômega não lhe fosse grande coisa. Contudo, a mistura dos odores
alfa e ômega, o causavam sensações nunca antes sentidas naquela
intensidade.

Quando haviam tido aquele momento em sua casa, Jimin pode sentir o
cheiro do garoto ainda mais forte, e sabia que ele não vinha da lubrificação
do pênis do avermelhado, mas sim de sua traseira. Ele tinha certeza que
Jungkook lubrificava, pois Jeon era um alfa mas seus genes eram ômegas. E
só de pensar naquilo, sua boca saliva. Já havia topado com alguns daquela
classe híbrida, mas nunca seu lobo havia sentido-se tão atraído e eufórico.
Até porque, Jimin não gostava de ômegas. Mas o cheiro misto de Jungkook
era algo espetacular. O deixavam ansiando por ele. Desejando-o como um
louco. Era completamente afrodisíaco.
Sentiu o cheiro bem fraco de um beta ali. Talvez fosse do amigo de
Jungkook. Sabia que o tal Hope era um beta, então provavelmente havia
sido ele. Seu instinto lobo reclamou e ele mesmo também não gostou nada.
Afastou a boca do pescoço alheio, antes que fizesse alguma besteira, como
marcar o rapaz. Aquela era uma das raras vezes em que sentia sua sanidade
por um fio. Jimin não era de se descontrolar, nem mesmo em seu estado
lupino mais forte — este só ficava insano durante seus ruts.

Como alguém criado à base de regras, Park Jimin já até havia chegado a
pensar ser um submisso, por obedecer a ordens tão prontamente. Mas foi
apenas uma confusão. Gostava era de dar ordens e vê-las sendo cumpridas,
não de recebê-las. Contudo, por conta do treinamento no exército, havia
aprendido a submeter-se. Só não levava isso para sua vida sexual.

— Seja meu... Seja meu, Kook-ah... — o ex-coronel disse com a voz mais
sensual e persuasiva que conseguia, ao pé do ouvido do rapaz.

Como se acordando de um transe, Jungkook voltou à orbita. Lembrou-se do


lúpus o dispensando. Lembrou dele lhe dizendo claramente que não o
queria. Com todas as letras. Lembrou-se deste grande filho da puta fitá-lo
diretamente nos olhos, antes de gozar na garganta do outro alfa na boate.

Ah, Jungkook estava irado. Possesso. Furioso. E... magoado. Seu peito
estava corroendo de ciúmes, pois seu ego estava ferido como um caralho.
Quem esse alfa lúpus de merda pensava que era, para tratá-lo assim? Não,
não e não. Não deixaria barato. Não mesmo. Que se fodesse Park Jimin e
suas galinhagens. O ruivo então travou o maxilar, de raiva, e encarou o
outro muito seriamente.

Ambos travaram uma guerra de olhares. Ninguém queria dar o braço a


torcer. Jungkook estava furioso, já Jimin, estava se divertindo. O controle
era sempre seu, mas agora quem decidiria aquilo seria o de cabelos
vermelhos. Estava certo de que o ruivo o queria, e que apenas estava sendo
teimoso... Não estava levando em conta quanto o ego do rapaz mais novo
havia sido ferido.

Só que o avermelhado continuou sem responder. Este, com uma carranca


montada na face se esticou por cima do lúpus, clicou no botão que
destravava as portas e então abriu a do passageiro e pulou pra fora do carro,
deixando Jimin desnorteado.

Mas não foi necessário muito tempo para que o moreno saísse do veículo
também e fosse atrás do rapaz. Quase perdeu o olhar na bunda durinha e
coxas grossas, marcando dentro da calça de couro, enquanto este se afastava
rebolando. O que provavelmente era proposital. Quando puxou Jeon pelo
braço, ficou com ainda mais tesão ao ver o peito desnudo do outro, subindo
e descendo, com a respiração rápida, aparecendo pela jaqueta aberta.

Prendeu os olhos na coleira em seu pescoço, e num movimento rápido,


meteu as mãos na trava frágil e abriu o acessório, atirando-o ao longe.

— Yah! — Jungkook exclamou, arregalando os olhos.

— Seja meu! — repetiu em tom contido, soando levemente desesperado. —


Seja meu, Jungkook... — disse com a voz urgente, espremendo Jeon contra
a parede na lateral do prédio. — Seja meu e lhe ensinarei tudo...

Jungkook tremia de excitação, mas não queria dar o braço a torcer. Agora
era uma questão de orgulho.

— Você me magoou, Park Jimin — rosnou. — Qual a sua desculpa? Você


pensa que sou o que? Me provoca, me seduz, me deixa sedento como a
porra de um cachorro e depois se nega a me dar um beijo? A porra de um
beijo? Você me dá um fora, some por dias e depois vem cheio de papinho
gostoso pro meu lado, só porque me viu num eventinho fetichista? — disse
aumentando a voz, puto. — Eu sou uma piada pra você?

Jimin apenas bufou. Mas não foi de irritação, mas sim de frustração consigo
mesmo. Como estava ignorando aquilo? Era claro que Jungkook estava com
o ego ferido. Era lógico que tinha feito o garoto se sentir rejeitado. Porra, se
dando conta daquilo agora, sentia-se um idiota do caralho... Sequer
conseguia organizar os próprios pensamentos para explicar ao garoto, o que
se passara em sua mente, para ter feito aquilo. Precisava explicar que
justamente o motivo que o havia feito dispensá-lo, era saber perfeitamente o
tanto que o desejava, e no que isso implicaria, caso fossem adiante.
Então frente ao silêncio do outro, Jeon ficou ainda mais afetado. Pensou
que o Park não tinha uma explicação boa para tudo aquilo, porque era isso
mesmo que tinha acontecido: o outro havia jogado consigo, brincado com
ele, feito-o de bobo.

— Foi o que pensei — e com toda a força empurrou Jimin pra longe pelo
peito, ainda mais decepcionado com o alfa lúpus.

Virou-se de costas, digitando a senha no teclado numérico do painel de seu


prédio. Teve certeza que Jimin a viu, mas não deu importância. Quando a
porta destravou e ele a abriu, o moreno finalmente se pronunciou, chegando
perto, mas sem tocá-lo desta vez.

— Eu fiquei com medo, Jungkook — confessou, suspirando cansado. E aí,


tendo capturado fragilmente a atenção do garoto que o espiava por cima do
ombro, precisou abrir-se de uma vez e usar toda sinceridade, se queria
mesmo arrumar as coisas entre os dois. — Sabia que se eu fosse em frente
com você naquele dia, não teríamos apenas encontros esporádicos. Eu ia
querer mais. Eu ia querer você sempre. Então em algum momento teria de
revelar sobre minhas... preferências. E você definitivamente não me parecia
alguém desse tipo. Pensei que você era baunilha.

Jungkook então se vira para ele, ainda segurando a porta.

— Baunilha? — sentiu-se um tanto ofendido.

— Baunilha é como chamamos as pessoas não-fetichistas. Aquelas que


apenas fazem o sexo tradicional — respondeu o ex-coronel.

— Eu sei que significa. Então você é desses que só transa se for dentro dos
fetiches? — perguntou, franzindo o cenho.

— De modo algum — Jimin respondeu rápido, utilizando o máximo de seu


controle para não demonstrar o desespero subindo por sua garganta.

Agora a coisa parecia feia. O moreno tinha certeza que o alfa não iria
perdoá-lo por aquilo. Chamar o outro de baunilha, certamente também não
tinha ajudado. Estava quase tendo uma síncope, bem ali, no meio da rua.
Porque sua decisão fora tomada na tentativa de não ser rejeitado pelo
vizinho, mas o tiro havia saído pela culatra e agora o rapaz parecia muito
impelido a mandá-lo pra casa do caralho. Nunca tinha visto o mais novo
bravo daquele jeito.

Sob o olhar afiado do Jeon, o lúpus continuou:

— Eu tive medo de que se fôssemos adiante, você descobrisse sobre o


BDSM. Apenas não queria correr o risco de você me achar estranho ou
algum tipo de aberração e então correr para longe de mim. Eu não queria...
perder você — confessou com a voz baixa, sentindo suas mãos suarem. —
Não queria perder a relação de amizade que a gente tinha, porque me sinto
tão bem tendo você em minha vida que... Porra! — disse apertando os
punhos. — Eu sinceramente preferia ter só um pouco de você, do que me
arriscar a ter tudo e acabar ganhando seu ranço. Eu não queria viver num
mundo onde você me desprezasse. — E ele mesmo ficou ainda mais
surpreso com sua confissão, pois faziam anos que não se sentia tão
vulnerável daquela forma. Nada nem ninguém mais tinha o poder de deixá-
lo assim. Ele sempre estava no controle, afinal. Seu precioso controle...

Jungkook engoliu em seco. Aquela havia sido uma declaração? Quis sorrir.
Mas deixaria Jimin sofrer um pouco mais, assim como ele havia sofrido
angustiado, após uma semana sem vê-lo, depois de prová-lo.

— Vou levar isto em conta, Jimin-ssi. Boa noite — respondeu finalmente,


fechando a porta e entrando no prédio, deixando o alfa lúpus indignado do
lado de fora.

— Esse... esse... — o baixinho murmurou, desacreditado que mesmo depois


de uma confissão tão verdadeira e profunda, o garoto o tivesse ignorado
completamente. — Esse brat! — grunhiu indignado demais da conta e saiu
batendo o pé, rumo à sua casa, do outro lado da rua.

Quando Jungkook entrou no apartamento, quicava como uma bola de


pingue-pongue. A euforia era como uma corrente elétrica correndo em seu
corpo. É claro, sabia que aquilo teria volta. Se aceitasse a relação de
dominação e submissão com Jimin, este com certeza iria se vingar do que o
de cabelos cereja havia feito hoje. Mas estava no seu direito, não estava?
Precisava se vingar do modo horrível que o outro o fizera sentir-se dias
atrás, quando o tinha rejeitado — ainda que que o tivesse feito justamente
com intenções contrárias e até mesmo nobres.

Mas o de cabelos cereja estava certo, afinal. Estava mostrando que, ainda
que viesse a ser seu submisso, não se deixaria ser inferiorizado nem feito de
idiota. Então correu pro banheiro, e se tocou outra vez durante o banho,
pensando em Jimin novamente.

Já o dominador, entrou em casa bufando e irritado. Se seu lobo pudesse, iria


espancá-lo. O lado instintivo de seu ser, o lado animal, estava furioso com o
Park, principalmente agora que seu rut estava próximo e o lobo queria
Jungkook. Tinha a absurda impressão, de que agora que havia provado
Jeon, seu lado lobo não aceitaria passar o rut com seu amigo alfa, Lee
Taemin, que era seu parceiro de cios usual. Tampouco ele se sentiria
confortável em transar com o outro, pensando no avermelhado. Não podia
fazer aquilo com Taemin, uma vez que ele era seu amigo há dez anos, e a
pessoa que o ajudava a não passar seus ruts dopado e com dores. Seria falta
de respeito e consideração.

Sequer conseguia dormir, então se virou e revirou na cama, por três horas,
frustrado e puto. Quando o sol já estava perto de aparecer, o alfa desistiu de
tentar dormir naturalmente, pois sua mente estava à todo vapor. Então
tomou um calmante e apagou. Ao contrário de Jeon, que dormiu como um
bebêzinho, altamente satisfeito.

Naquele momento, não era Jimin quem dominava a situação. Era o Jeon
Jungkook. O maldito Brat.

Deixa seu voto aí, meu compatriota.


Não lembro o user de quem me enviou essa capinha, mas queria
agradecer, porque ela é muito lindinha, iti <3
09| dominated
Uma pequena curiosidade: Vocês sabem pq a fic se chama Incandescente?
Bem, a palavra dá todo o significado da trama durante as narrações dos
capítulos;

INCANDESCENTE:

1.em sentido literal: estado de incandescência; em brasa; candente.

2.em sentido figurado: muito excitado; exaltado, ardente, fogoso.

Jungkook acordou sentindo algo roçar em sua perna. Levantou-se irritado,


ao notar que a gata Minzy estava lhe fazendo carinho. Sabia, de longa data,
que Minzy não se interessava realmente por isso, mas sim em pedir comida.
Sonolento, abriu o saco de ração e despejou no pote da gata, que faminta,
avançou miando pra cima da refeição, antes mesmo que o alfa terminasse
de colocar os grãozinhos ali.

— Bom dia pra você também, ingrata — murmurou infeliz.

Lembrou-se dos acontecimentos dos dias anteriores. Viu Jimin várias vezes
parado na porta de casa, como se esperando ele aparecer, sentado na
escadinha da entrada. Foi até a janela, segurando sua caneca de café morno
e observou sorrateiramente por trás das cortinas. Suspirou. Talvez o alfa não
merecesse tanta birra, afinal, já havia lhe dito que só estava com medo de
que ele o rejeitasse. Por que Jungkook continuava com o draminha? Se
Jimin seria o dominador e Jeon o submisso, não era ele quem deveria estar
castigando o lúpus, era?

Mas Jungkook era, definitivamente, um masoquista emocional. Gostava de


sofrer e sempre esteve ciente disso — embora só agora soubesse que nome
dar àquela sensação de satisfação com o próprio sofrimento. Nada muito
pesado, mas algo sobre sofrimento amoroso o fazia sentir-se... vivo. Quase
excitado. Como se na hora de fazer as pazes, as coisas fossem tornar-se
mais intensas.
E se mantendo afastado do outro alfa, sem realmente dar-lhe a resposta que
colocaria tudo nos eixos e encerraria toda aquela aflição, era algo que lhe
fazia sofrer também. Então continuava fugindo e postergando a resolução
daquela questão.

Ouviu o celular tocar e se afastou da janela para atendê-lo:

— Quem perturba? — atendeu entediado.

— JK? Sou eu, Hobi. Tô ligando do telefone do Tae, o meu tá sem bateria.

— O que você quer? — respondeu mal humorado. Odiava quando Minzy o


acordava antes da hora, pedindo comida. Somando isso ao fato da coisa
com Jimin, só o estava deixando mais irritadiço.

— Grosso! — resmungou na linha. — Enfim, lembra que eu te falei que


aquele dia na boate, acabei indo dormir na casa do Yoongi, junto com o
Tae?

— Uhum... Lembro, e aí? — perguntou Jungkook, mastigando um pouco de


arroz com ketchup. Era algo que gostava de comer. Garoto estranho.

— A gente... se resolveu.

— Como assim? Um deles te escolheu? — perguntou de boca cheia.

— Os dois me escolheram, Kook-ah. Estamos namorando — o beta


respondeu com a voz exalando felicidade.

— Whoa! Namorando, tipo, à três? Vocês são o quê? Um trisal? — Jeon


perguntou afobado.

— Mais ou menos isso — Hoseok devolve rindo. — Eu tô feliz pra caralho,


Jungkook, você não tem noção — terminou aos suspiros.

— Ah, eu tenho sim. Você é um filho da puta de sorte. Tinha dois


problemas e resolveu ambos de uma vez só. Eu que só tenho um, não
consigo resolver nada — falou sem humor.
— Isso é porque você é um imbecil — o beta respondeu sem rodeios. —
Olha, eu sou mais do que a favor do masoquismo durante o sexo, mas
masoquismo emocional? Qual é, JK?! Corta essa! O cara já falou que quer
você, já disse que só não foi em frente contigo antes, por medo de que você
achasse ele uma aberração, e mesmo assim você continua fugindo? —
Hoseok ralhou. — Eu te escuto falar de Park Jimin há três anos, não
consigo acreditar que agora que tem ele a seus pés, você vai ficar nesse
chove e não molha. Cresce, meu querido!

— Para de brigar comigo, hyung, eu sou sensível... — reclamou fazendo


bico, ainda que o outro não pudesse ver, mas aquele era seu costume de
fazer manha.

— Sensível é a cabeça do meu pau, depois de gozar três vezes — Hoseok


retruca irritadiço. — Jungkook, se não se resolver logo com ele, vai 'tá
sendo um cuzão medroso. Só tenho isso a te dizer. E vai passar o próximo
cio sozinho, não se esqueça disso.

— Ah, é, tem isso agora... Obrigado por me abandonar — murmurou em


desgosto.

— Bom, diferente de você, eu quero ser feliz. Agora vê se limpa essa casa,
porque aquela panela no fogão deve estar com mofo.

Jeon caminhou até o eletrodoméstico e abriu a panela que havia deixado ali,
suja com o óleo que havia usado pra fritar carne, dias atrás. Arregalou os
olhos, ao constatar que o amigo estava certo: tinha mofo ali dentro.

— Como você sabe? — perguntou chocado.

Hoseok soltou uma risada desacreditada.

— Tchau, bebêzão — E quase desligou o telefone.

— Espere aí, hyung! — o alfa exclamou. — Tô com uma dúvida...

— Ahh, aceite ser o submisso do AlphaDome, que ele te explica tudo... —


o switcher respondeu bem humorado.
— Se você, o alfa e o ômega, estão juntos, numa relação à três... Isso quer
dizer que um dominador pode ter vários submissos e os submissos, mais de
um dominador? — questionou, ignorando a indireta do outro.

— Na verdade, é mais aceito que o Dominador tenha mais de um submisso,


e o submisso só tenha um dominador. Os submissos que possuem o mesmo
Dominador, a gente apelida de "irmãos de coleira". Mas como tudo pode ser
acordado entre os praticantes em questão, de forma que fique satisfatório
pra ambos, nada impede na real, que um sub tenha mais de um Dom,
contato que ambos estejam de acordo.

— Oh... Isso eu não tinha como saber pesquisando na internet, eu acho — o


avermelhado murmurou. — Tenho pesquisado muito esses dias, depois da
visita à The Cave, descobri um montão de coisas, pra não não passar
vergonha na frente do Park...

— A maior parte dos praticantes de bdsm não aceitam um sub com mais de
um Dom, mas isso é tudo besteira — o beta respondeu. — Aliás, acho
absurdo que alguns praticantes tenham certos preconceitos às vezes, é tão
imbecil...

— Mas e então, quem manda em quem? — Jungkook pergunta curioso. —


Você e o Taehyung são submissos do Yoongi? Vocês dois agora são tipo
irmãos de coleira?

— É exatamente isso — o outro respondeu. — Mas já que eu costumava ser


o Dominador de Taehyung, e agora, me submeto a Yoongi, Taehyung e eu
somos irmãos de coleira, contudo... Eu continuo sendo Dominador do Tae,
então o domino tanto quanto Yoongi. Basicamente o Tae tem dois dom's, o
Yoongi tem dois sub's, e eu...

— Você tem um Dom e um sub agora. Oh... Tudo faz sentido, hyung.

— Depois a gente conversa mais, dongsaeng. Meus namorados estão


tocando a campainha... — o beta declarou malicioso e encerrou a chamada.

Jeon acabou arrumando as coisas, já que queria distrair a mente do negócio


todo com Jimin. Quando terminou, já estava quase na hora de ir para a loja,
então tomou banho e saiu de casa. Viu que o ex-coronel não estava na porta,
então saiu rápido, porque não queria acidentalmente encontrar o alfa
naquele momento e acabar tendo que falar com ele, e dá-lo uma resposta
concreta e definitiva, além de ter que encerrar sua pequena vingança.

Pra piorar sua situação, teve que abrir uma infinidade de caixas e guardar
montes de produtos que chegaram na lojinha, para reabastecê-la. E
Namjoon era um destrambelhado. Portanto, as caixas mais pesadas e coisas
delicadas, como as garrafas de vidro, ficavam totalmente sob a
responsabilidade de Jeon.

— Sabe, o livro diz que não é como se o pecado fosse especificamente uma
coisa ou outra... — Namjoon dizia, enquanto enfileirava os pacotes de
biscoitos na prateleira — Mas sim consiste em ter acordado algo com o mal
e...

— Namjoon, eu já disse que nunca li esse livro... — Jungkook retrucou,


bufando.

— Que foi? Tá mal humorado hoje? — perguntou com um risinho.

— Tô.

O beta farejou o ar.

— Ah... você está perto do cio, né? Quando você tá perto do rut de alfa, não
fica mal humorado, fica só agressivo. Mas quando tá perto do heat de
ômega, cacete... Tenho pena do Hoseok, que te atura.

— Vai se foder — o avermelhado resmungou. — E pra sua informação,


Hoseok não é mais meu parceiro de cio. Ele tá namorando.

— Uau, sério?

— É. Com dois caras. Dois! Um alfa e um ômega. Já eu, tô prestes a passar


por esse inferno de heat, que dura três dias inteiros, e não tenho ninguém
pra me ajudar.
— Jungkook, larga de palhaçada, pra você deve ser a coisa mais fácil do
mundo. Você gosta de alfas e betas, de machos e de fêmeas. Como diabos
deve ser difícil justo pra você, encontrar um parceiro novo? — Namjoon
rebate, estupefato.

— Você é tão idiota, olha quem fala... — Jungkook devolve irritado. — Se


acha tão inteligente e fica aí falando sobre esses assuntos filosóficos, que
pra você parecem tão óbvios, mas que pra nós que temos um QI regular,
não faz sentido nenhum. — Namjoon abre a boca pra falar, mas Jungkook
faz um sinal de silêncio com a mão. — Ainda não terminei! Você tem esse
QI de 148, mas não consegue enxergar um palmo na frente do nariz, tipo
quando um certo ômega bonitão fica te ouvindo falar esse monte de bosta
de maconheiro, sem entender uma porra de nada, mas ainda assim sorri e
acena, igual os pinguins de Madagascar, mas só você ainda não percebeu,
que ele faz isso porque tá a fim de você. Acorda, ô poste — finalizou,
rasgando as caixas vazias com fúria.

Jungkook nem mesmo estava perto do rut, pra estar tão arisco assim. Mas a
situação com Jimin, causada por sua própria teimosia, o deixavam
irritadiço. Apreciava sim, aquela pequena agonia, mas ao mesmo tempo,
tinha vontade de explodir tudo, se jogar no colo do Park e declarar: "Me
fode! Por favor, me fode! Não aguento mais."

Namjoon ficou embasbacado olhando pra ele. Depois de longos minutos em


silêncio, arrumando os biscoitos, o acerejado pensava que o beta já tinha até
se esquecido de seu surto. Embora não fosse de pirar assim, mesmo em
período pré-cio, o Kim havia tocado na ferida. Porque é claro, o
avermelhado não tinha tanta dificuldade pra arrumar alguém assim. Ele só
tinha medo. Medo por ser diferente. Medo por ser claramente um alfa, mas
quando excitado, exalar aquela fragrância doce de ômega tão intensamente.
Medo de ser rejeitado justamente por ser quem era: um alfa que tinha ruts e
heats, ou seja, cios alfas e cios ômega, respectivamente; que sua entrada
produzia slick — a lubrificação natural de um ômega. Um cara que não era
um submisso perfeito, nem um dominador ideal. Era um sujeito do contra,
rebelde, cheio de atitude, mas ao mesmo tempo era tão manhoso e birrento,
e só desejava um pouco de carinho e compreensão.
Foi aí que percebeu, que o medo que Jimin sentia era real e não algo dito da
boca pra fora, como forma de desculpa. Era um medo tão real quanto o seu:
o medo do preconceito e da rejeição. Então se sentiu meio idiota, de não ter
levado em conta os sentimentos do Park naquilo tudo também.

Olhou para o relógio. Ainda faltavam três horas pra que seu turno acabasse.
Pegou três caixas de absorventes internos higiênicos e as guardou na
mochila, colocando a quantia em dinheiro correspondente no caixa. Não era
sempre que furtava as coisas, tinha um pouco de moral dentro de si.
Sabendo que seu slick começaria a vazar nos próximos dias, precisaria dos
absorventes internos pra controlar a enxurrada molhada em seu ânus, do
contrário ficaria vazando, e o cheiro chamaria muita atenção. Isto é, se fosse
tentar ficar dopado. Mas planejava ir até Jimin e aceitar sua proposta. E
então o alfa certamente passaria o cio consigo. Ele não recusaria ser seu
companheiro de cio, certo?

Impaciente, batucou os dedos no balcão. Viu um sujeito entrar na loja e


comprar um pack de cervejas, falando ao telefone enquanto ria. Aquele
sujeito não lhe era estranho. Parecia reconhecê-lo de algum lugar. Este
então deixou o engradado sobre o balcão, acenando rapidamente pra ele,
enquanto falava ao telefone.

— Sim, eu peguei a que você gosta... — o homem magro disse ao telefone.


Era um alfa, tinha o cheiro fresco de patchouli e carvalho, cabelos lisos, não
muito curtos, em tom de louro branco, aparentando serem macios e
hidratados. — Eu tô levando a que você gosta, Jimin, é cerveja preta, não
enche. Já chego aí — disse rindo e então desligou a chamada.

Jungkook paralisou. O sujeito era amigo de Jimin. Então se deu conta de


que esse era o mesmo cara que havia visto entrar com o lúpus em sua casa.
E eles pareciam bem... íntimos, enquanto caminhavam pela rua,
conversando tranquila e levemente. Nunca via o Park entrar em casa com
outras pessoas, com exceção dessa vez, recentemente. E era justamente com
aquele sujeito.

Pra piorar a situação, o cara, além de alfa, era extremamente gato. De


aparência limpa e rosto de traços suaves — podia observar de perto agora,
confirmando o quão dolorosamente bonito ele era. Mas ao menos não era
mais alto que si, como tinha desconfiado ao vê-lo de longe. Vendo-o então
assim, a centímetros de distância, se deu conta de que o alfa era da altura de
Jimin; apenas tinha pensado ao contrário pois o homem era magro e esguio,
de porte elegante.

— Não precisa de troco — o alfa declarou simpático, deixando uma nota de


valor maior que o do engradado, em cima do balcão, e se retirou.

O ruivo sentiu a cabeça girar e o coração martelar no peito. "Acalme-se,


Jungkook. Talvez eles sejam apenas amigos. Não é o que você está
pensando. Não é isso..." pensou. Mas era claro que existiam 99% de
chances de Jimin ter cansado de esperar por sua resposta, afinal, muitos dias
já haviam se passado, desde o encontro acidental na The Cave.

[...]

O resto das horas passaram quase que se arrastando. Jungkook estava em


desespero. Não sabia se teria coragem de bater na porta do Park, porque ele
poderia estar lá com o aquele loiro, e aquilo lhe deixaria puto. Tê-lo visto
com outra pessoa na masmorra, já tinha sido agoniante o suficiente —
deixando de lado a excitação inesperada que se apossara de si, na ocasião.

Precisava e queria Jimin para passar o cio, além de desejar intensamente ser
o submisso do ex-coronel. Mas se ele tivesse com outra pessoa... bem, então
não. Queria Jimin com ele e apenas ele. Não estava inclinado a dividir nada.

Não deveria estar se sentindo enciumado, eles dois ainda não haviam
acordado coisa alguma, realmente. Mas seu instinto lobo se revirava,
contrariado. Jeon odiava dividir suas coisas, qualquer coisa. Mesmo que o
moreno não fosse exatamente seu. Todavia, seu ego apontava o dedo na sua
cara e gritava: "Você nunca vai ser o suficiente! Você é uma aberração!
Quem escolheria você, coisa bizarra?"

— Jungkook-ah... — Namjoon perguntou, se aproximando e tirando o ruivo


de seus pensamentos dolorosos. — Você quis dizer mesmo aquilo? O Jin
hyung... ele 'tá a fim de mim?

O acerejado suspirou.
— Eu não deveria ter dito, mas sim, ele é doidinho por você. Então, vê se
faz alguma coisa quanto a isso — respondeu direto.

Namjoon subitamente pulou em cima dele. De início, o ruivo achou que o


outro iria agredi-lo, então ficou estático. Mas percebeu ser apenas um
abraço apertado.

Quando se soltaram, o beta estava sorrindo.

— Você não sabe como me ajudou, Jungkook-ah! Minha nossa, você


deveria ter me contado antes, eu realmente não havia notado, sou meio sem
jeito pra essas coisas de flertes e relacionamento...

— Não tem de quê — devolveu sorrindo de leve.

— Olha, eu posso te agradecer, falando com um primo meu, o Jackson... ele


é um cara legal e bem bonito. Ele é um alfa também, então você poderia
passar o cio com ele, né? Aposto que ele não vai negar quando eu mostrar
sua foto...

E então o de fios coloridos teve uma ideia:

— Hyung, se você quiser realmente agradecer, me deixe sair agora e cubra


o final do meu turno! — exclamou de repente.

— Uh? Por que..? — mas realmente percebeu que não importava. — Ah,
tanto faz. Eu tomo conta aqui. Daqui a pouco a Hwasa e a Moonbyul
chegam pro próximo turno. Vai lá, eu seguro as pontas — Namjoon disse.

Jungkook deu um pulo da cadeira e pegou sua mochila no canto,


desamarrando o avental afoitamente e correndo pra fora da loja, gritando
animado: "Você é um anjo!" para o colega, que apenas o encarava com a
expressão que respondia: "E você é definitivamente esquisito."

Enquanto caminhava pelo quarteirão até em casa, sentia suas pernas


bambas. Estava nervoso e seu estômago revirava. Se Jimin estivesse com
esse outro cara, seria o fim da picada. O de cabelos cereja choraria em
posição fetal por dias — não só de tristeza e frustração, mas também pela
dor do cio. Subiu a ladeira a passos rápidos, pensando que a qualquer
momento poderia escorregar e rolar chão abaixo, desmaiado.

Mas quando chegou em frente à sua calçada, deu de cara com algo que não
esperava. Definitivamente uma hipótese que não havia passado por sua
cabeça:

Jimin estava na calçada, olhando em direção à sua janela no terceiro andar,


enquanto gritava seu nome de forma enrolada.

E o mais velho não estava exatamente normal. Estava cambaleando e


tentando atirar pedrinhas na janela do apartamento — estas que voltavam e
caiam em sua cabeça, pela mira fraca de um sujeito alcoolizado. Foi quando
uma dessas pedrinhas bateu de volta em Jimin, com força, e este levou a
mão à testa, que Jungkook correu pro seu lado, largando a mochila no chão.

— Hyung! — exclamou, segurando-o pelo braço.

— Oh! Jungoo-ah... — Jimin respondeu embolado, o observando de um


jeito engraçado, totalmente risonho e de olhinhos semicerrados. — Por
onde você desceu? — perguntou intercalando o olhar entre o Jeon e a
janela.

Jungkook revirou os olhos e segurou um risada.

— Eu não desci de lugar nenhum, acabei de chegar, tava trabalhando, bobão


— respondeu.

— Yah! Você tem que me respeitar! Não pode ficar chamando seu
Dominador de "bobão", seu Brat! Se não, vou te deixar amarrado na
cadeira, com um vibrador ligado no...

— Jimin, cala a boca! — interrompeu o mais novo, tampando os lábios


gordinhos do outro, com a mão. — Você tá muito bêbado e sua testa tá
sangrando. Vamos pra sua casa, vou fazer um curativo nisso e te dar algum
chá, pra ver se você fica sóbrio...
Mas o lúpus botou a língua pra fora e lambeu a palma que tampava sua
boca, de forma que seu eu alterado julgava ser sensual. E talvez fosse; mas
provavelmente não.

— Jimin, que nojo, porra! — Jungkook disse, segurando o riso e tirando a


mão dali, para limpar no tecido de seu jeans.

— Se fosse em outro lugar, você não estaria reclamando... — retrucou o


lúpus, com a voz insinuativa.

Incrível como mesmo bêbado, Park Jimin era descarado. E ainda por cima,
flertava de modo tão sexy quanto se estivesse sóbrio. Já Jungkook, se
tentasse flertar alcoolizado, pareceria apenas idiota. Porque ele já era
levemente imbecil e sem tato, normalmente. O pobre coitado não era
nenhum mestre da oratória.

O ruivo pegou sua mochila do chão e foi arrastando o outro para atravessar
a rua e entrar com ele na casa. Adentrando a residência, o levou até a
cozinha e sentou Jimin na cadeira. Colocou água para esquentar no fogão e
alguns cubos de gelo no pano de prato, mandando o mais velho pressionar
sobre a testa machucada, enquanto ia ao banheiro procurar algum remédio
antisséptico.

Passou algum tempo procurando nas gavetas embaixo da pia, até encontrar
remédio, algodão, e band-aids. Voltou pra cozinha correndo, encontrando o
ex-militar agora deitado no chão, rindo sozinho.

— Jimin-ah, falei pra você colocar o gelo na testa, alfa teimoso —


exclamou, puxando-o para que se levantasse.

— Não quero! Quero ficar no chão... Quem manda sou eu — o Park


respondeu, com a voz enrolada.

Jungkook sentiu vontade de rir e ao mesmo tempo revirar os olhos. Toda


aquela ânsia por controle. Por que diabos alguém gosta de controlar alguma
coisa, se a gente não é capaz de controlar a própria vida?
— Aish, aquele seu amigo é uma péssima influência... Veja só como ele te
deixou. Só meia dúzia de cervejas e já ficou assim? — reclamou.

— Meu amigo? Oh? Você conhece Taemin? — perguntou o bebum, de boca


aberta.

— É, parece que sim. O alfa com cara de modelo, eu o vi comprar bebidas


pra vocês lá na loja... Cadê ele? — Jungkook se aproveitou pra perguntar,
curioso, olhando em volta do recinto, à procura do outro alfa em questão.

— Ahhh... O Tetê foi lá comprar as cervejas pra mim, já que você não
queria me ver. Se eu fosse lá, você podia pensar que eu estava te
perseguindo... — respondeu, aos poucos abaixando a voz. — Eu sabia que
você ia fugir de mim... Sabia que você me acharia uma aberração...

— Hey, Jimin... não é assim... — o ruivo tentou dizer, surpreso. Estranhou o


alfa estar sendo dramático, ele não costumava portar-se deste modo, mas
talvez, seu eu bêbado fosse mais emotivo.

— Eu sabia... Você não me quer, não é? Porque não sou normal e tenho
esses desejos sexuais estranhos na cabeça... — Jimin resmungou, agora
sentado no chão e encostado na parede. — Estou ciente que ter um amigo
desse meio, é uma coisa; ficar com uma pessoa assim, é bem diferente...

— Hey, não é nada disso... o único estranho e aberração por aqui sou eu...
com esse meu cheiro esquisito e genética errada... — Jungkook retrucou
baixinho. — Já você é... simplesmente perfeito — declarou, mirando o
lúpus sem conseguir disfarçar a admiração em seus olhos brilhantes. — Eu
te quero tanto, que você não tem ideia... — confessou, resignado. Não era
como se Park Jimin fosse lembrar-se daquilo quando o efeito da bebida
passasse. Então, por que não admitir em voz alta, certo?

Viu o ex-militar grudar os olhos em seu rosto e permanecerem ali,


conectados pelo olhar. Jimin o deixava quente. Não sabia quanto tempo
mais conseguiria aguentar sem agarrá-lo. Então abandonou seu olhar e se
levantou para pegar os remédios e limpar a ferida que o outro tinha tinha
feito na testa com a pedrinha, desesperado para quebrar o clima que
subitamente havia se instalado entre eles.
Viu que a chaleira com água fervendo apitava e desligou o fogo, colocando
a água quente numa caneca e um pacotinho de chá dentro dela. Depois de
uns segundos, jogou algumas pedras de gelo, para esfriar o chá
rapidamente, e lembrou o quanto as pessoas o achavam estranho por fazer
esse tipo de coisa. Principalmente quando ele fazia aquilo com o café.
Realmente, Jungkook era uma criatura anormal em muitos sentidos. Mas
nem de longe, essas eram coisas ruins. Depois voltou para o chão, sentando-
se de frente pro alfa.

Enquanto limpava o machucado com o algodão embebido em remédio,


Jimin apenas continuava o fitando, como se estivesse vendo o segredo do
universo ali. Jeon, em qualquer outro dia, ficaria sem jeito sob aquele olhar
tão intenso. Isto é, se ele não encarasse o outro de volta, com tanta
intensidade quanto.

— Colocando gelo na bebida quente, pra que ela esfrie mais rápido... — o
moreno murmurou com a voz suave. — Você é muito impaciente, alfa.

— Eu quero você... — Jungkook se viu dizer de repente, confirmando sua


impaciência, de fato.

Ficaram se encarando por míseros segundos, mas sentiram como se


houvesse se passado um longo tempo. A tensão era óbvia. Enquanto se
miravam, era possível detectar cada piscada no rosto alheio.

O alfa lúpus se aproximou deslizou a pontinha do nariz pelo dele, tão


suavemente quanto o farfalhar de asas de uma borboleta. Jeon fechou os
olhos e esperou. Pode sentir o outro suspirar sobre seus lábios, com hálito
alcoólico, antes de uni-los, soltando um gemido de aprovação.

De imediato as mãos do ruivo seguraram o rosto do mais velho. Deslizou as


mãos para fios de cabelo macios, aproveitando ao máximo possível de todo
aquele contato. Tinha ansiado por aquilo por tanto, tanto tempo. Parecia
estar sonhando acordado.

Os dois suspiram na boca um do outro, sentindo-se eufóricos e realizados.


Definitivamente as coisas pareciam no lugar, finalmente. Eram como peças
se encaixando. Para Jimin, o beijo do garoto era mais doce do que esperava.
Era simplesmente perfeito. E é claro, desejando-o tanto e há tanto tempo,
seu corpo rapidamente passou a entrar em chamas.

Jungkook grunhiu e arranhou com mais força a nuca do moreno, ainda que
não pudesse arranhá-lo de fato. Sugava a boca do outro como se sua vida
dependesse daquilo.

O lúpus então deslizou as palmas pequenas pelos braços musculosos do


acerejado, sentindo a pele do rapaz arrepiar sob seu toque. Aquela conexão,
aquela eletricidade... Era aquilo que faltava. Era exatamente isso que faltava
há tantos anos. Essa sensação que ia muito além da carne; algo que
envolvesse seus sentidos, que brincasse com sua mente, que o deixasse
desnorteado e maravilhado sobre outra pessoa.

— Eu quero te acorrentar... — Jimin disse com a voz rouca, interrompendo


o beijo e roçando a boca na do ruivinho. — Quero te amarrar... —
mordiscou o lábio fino. — Te amordaçar... — beijou sua bochecha. — Te
espancar... — apertou os cabelos vermelhos entre os dedos. — Eu quero,
literalmente, te sufocar de tesão e te foder inteiro, até você chorar de tanto
gozar... — disse em tom de voz baixo, sussurrado, soando perigoso.

Jungkook quase soluçou. Seu corpo estava mole, como se a matéria


estivesse se desfazendo. Queria tanto. Queria pra caralho. Precisava daquilo
como alguém precisava de ar. Estava perdido. Não havia realmente uma
escolha, Park Jimin era seu dono e possessor, ainda que o mais novo não
houvesse se pronunciado sobre aceitar ser ou não ser seu submisso. Ele
apenas era. E por que negaria? O que quer que rondasse sua mente sobre os
contras naquele acordo, não eram sequer coerentes. Não quando se tinha o
alfa dos seus sonhos, lhe dizendo na cara dura, sobre o quanto o desejava,
em como o queria fazer gozar e gemer, até que ele implorasse para parar,
por não aguentar mais. Não fazia sentido negar, não fazia sentido recusar.

Então, quase chorando de ansiedade, com o rosto ardendo e a mente


totalmente nublada, Jungkook anunciou:

— Eu aceito, Jimin-ssi — pôs firmeza na voz, mas esta saiu como um sopro
suave. — Quero que me ensine. Quero ser seu submisso. — E respirando
fundo, tentando lembrar-se de todas as coisas que já conhecia sobre as
práticas de D/s e como um submisso deveria portar-se para com o seu Dom,
continuou: — Quero servi-lo como meu único senhor e a mais ninguém...

O moreno suspirou, notavelmente satisfeito e aliviado, antes de responder:

— Eu vou te fazer chorar... — declarou sussurrado. Não era uma ameaça.


Era um fato. Então Jungkook sentiu sua espinha arrepiar, de cima a baixo.
Já podia chorar agora? — Vamos lá pra cima... Quero te provar inteiro... —
e já foi logo tentando se levantar, puxando o mais alto consigo.

— Não — o outro retrucou firme, recebendo um olhar confuso do lúpus. —


Você está bêbado, hyung. Não quero que nossa primeira vez seja assim.
Quero que você esteja sóbrio o suficiente pra aproveitar e curtir cada
segundo, cada detalhe, cada toque... — disse sôfrego.

O lúpus suspirou, um tanto desapontado, mas sabendo que Jungkook tinha


razão. Ele mesmo também não achava que deveriam fazer aquilo agora,
sinceramente. Não com ele um tantinho entorpecido pelo álcool.

— Você tem razão... — respondeu. — Desculpe, é que... — tentou explicar,


mas não encontrava palavras, então mordeu o lábio.

— Eu sei — Jeon riu fofinho, seus olhos formando ruguinhas nos cantos. —
Esperamos tempo demais... Mas não tem problema, hyung. Teremos todo o
tempo do mundo, agora. Vamos com calma. Já esperamos três anos,
podemos esperar mais uns dias, talvez — e soltou a respiração.

— Sim... Você está sendo mais maduro que eu, ou é impressão minha? —
disse meio atrapalhado em meio a um bocejo. — Por acaso acordei num
universo paralelo ou o que? — brincou olhando ao redor.

Jungkook o deu um tapa leve no braço, rindo com a implicância do


vizinho — agora seu dominador. Aquele título soava tão forte, tão cheio de
peso, que o ruivo sentia como se algo muito grande que estivesse prestes a
acontecer.

— Você deveria tomar um banho e dormir. Preciso ir pra casa também,


hoje preciso lavar roupa... — fez uma careta.
— Eu posso ir lavar com você... — o moreno sugeriu, dedilhando de modo
brincalhão o peitoral do garoto. Este segurou seu dedos e, ao mesmo tempo,
acabaram entrelaçando-os, natural e despreocupadamente. E ao se darem
conta disso, se fitaram, outra vez, daquele jeito único. Daquele jeito que
dizia que não precisavam colocar nada em palavras, pois era cedo demais
para aquilo, mas ao mesmo tempo sabendo o que o outro queria dizer.

— Quer passar tanto tempo comigo assim, hyung? — zombou do outro, o


encarando docemente.

O Park sorriu e, como era absurdamente raro de acontecer, ficou com as


bochechas vermelhas, escondendo o rosto com a mão livre — mas ainda
encarando a figura do Jeon com um dos olhos, através da abertura entre um
dos dedos gordinhos.

— Oh... Eu não sou assim tão grudento normalmente — tentou se justificar


com uma vozinha fofa e reclamona, que causou no mais alto uma vontade
absurda de apertar as bochechas cheinhas do ex-militar; mas refreou-se,
pois talvez fosse levar um tapa.

— Eu sei... Você é tipo o senhor do mistério, todo evasivo e sedutor, como


aqueles personagens de novela, que acabam arrastando o mocinho pro
perigo...

— Só que você já conhece o perigo bem demais, uh? — Jimin riu.

— Só um pouco — respondeu o acerejado, preguiçosamente se levantando,


ainda sem soltar os dedos do Park, que o acompanhou logo após. — Bem...
Estou indo agora. Se precisar de alguma coisa, qualquer coisa... Me mande
uma mensagem no celular, ok?

— Tudo bem. Se precisar de algo, pode me chamar também.

— Durma bem, hyung — e mesmo sem muita vontade, foi soltando os


dedos alheios dos seus.

Naquela noite, Jungkook dormiu com o coração quente. E Park Jimin,


bem... este dormiria ótimo, de qualquer modo. Estava levemente bêbado,
então isso era óbvio. Mas de qualquer modo, dormiu sentindo uma leveza
que sabia bem a causa e motivo: Jeon Jungkook. Seu vizinho do sorriso
fofo.

Tão ouvindo esse barulhinho? Este é o som do meu chicote estalando; dá a


sua estrelinha, se não eu fico nervosa osdaihiodhSOAIHDSOIa
*chucuplá*
10| teach you
— O BDSM não se trata de sexo fácil. O sexo é uma consequência — Jimin
disse com propriedade. — Não se trata também de mandar ou ser mandado
por uma pessoa, como numa ditadura, contra sua vontade. O BDSM em si é
puramente sobre prazer. Sentir prazer e dar prazer. Isso significa que o seu
prazer, será a causa de prazer do outro. Compreende? Se a dor for algo que
te dá prazer em sentir e o outro tiver prazer em causá-la, isso é BDSM. Se a
submissão à outra pessoa for algo que te excita, assim como dominar o seu
parceiro e fazê-lo te servir e ceder aos seus caprichos, isso é BDSM. Tudo
aqui gira em torno do prazer mútuo e satisfação. Por isso os pilares do
BDSM, além do bom senso, são os termos "São, seguro e consensual". O
próprio nome é autoexplicativo. Vou explicar cada um deles. Vamos à parte
do "seguro": A segurança precisa vir em primeiro lugar. Um Dominador
que não sabe o que está fazendo e acaba ultrapassando os limites de seu
submisso, está praticamente cometendo um pecado. Se algo assim acontece
durante uma Cena, aquele Dominador será visto com maus olhos. Perderá
seu bom nome e boa fama no meio, e dificilmente encontrará um novo
submisso ou submissa para si, se ultrapassar os limites de alguém ou
executar as coisas de forma errada, ainda mais em público.

— O que é uma cena exatamente, Jimin-ssi? — pergunta Jungkook, sentado


no sofá de couro da casa do ex-tenente. — Eu vi algumas lá na boate, mas
sei que às vezes são chamadas de sessão também, então nunca entendi
perfeitamente a diferença.

— A Cena é como chamamos uma demonstração das práticas BDSM em


público. Geralmente se trata de uma performance, uma atuação, onde o
Dominador ou Dominatrix, juntamente a um submisso ou submissa,
interagem como numa peça teatral, com seus papéis bem definidos e pré-
estabelecidos. É um conceito que não é totalmente definido, é mais amplo.
E aí nós temos também a chamada Sessão. Essa é puramente quando Dom e
sub se reúnem para praticar os atos de Bondage, Disciplina, Dominação e
Submissão, ou Masoquismo e Sadismo. É o momento da prática, de
maneira geral. Geralmente é em privado, mas se for dentro de uma sala de
vidro, como as lá da boate, com o intuito de exibição, então será tão
pública.

— Acho que entendi um pouco... — Jungkook fala. — Uma é mais voltada


pro público, de forma demonstrativa, enquanto a outra é a prática em si,
entre o Dominador e o submisso. São diferenças suaves, certo?

— Uhum. Existe muita coisa no BDSM que possui distinções sutis, que não
ficam claras logo de cara — Jimin responde. — Continuando... Todas as
regras de segurança, sobre como realizar fetiches com risco de dano à
saúde, como cera de velas, choke play, ou o próprio bondage, por exemplo,
precisam de plena experiência e capacidade do Dominador para praticá-las
sem causar danos físicos aos submisso.

— Choke play é aquele kink de ser enforcado ou ter a respiração


interrompida durante o ato sexual, né? — o ruivo indaga curioso, embora
precisasse apenas da confirmação.

— Exato. Você gosta? — pergunta encarando o outro. Seu olhar deveria ser
puramente indagativo, mas era mais como se incinerasse todo o corpo
alheio.

Estava sendo tão difícil esperar. Ainda mais quando ambos sabiam o que o
corpo um do outro era capaz de fazer.

— Gosto... — Jungkook disse com um traço de timidez em sua voz. — Eu


gosto quando... o cara vai fundo em minha garganta, e por alguns segundos
sou incapaz de respirar, com um pau inteiro dentro dela — confessou. Não
era como se devesse esconder esse tipo de coisa do Park, pelo contrário.
Tinha que falar, afinal estavam ali pra isso.

O Park arqueou suas sobrancelhas, com um sorrisinho extremamente


provocador em seus lábios, como se desafiasse Jungkook a fitar-lhe nos
olhos. Pra um alfa, o garoto era terrivelmente manhoso. Pra um ômega, ele
era faceiro demais. Para o ex-militar, aquela combinação era perfeita; o de
cabelos cereja lhe dava água na boca.
O cheiro adocicado, mesclado ao característico amadeirado do alfa, eram de
fazer salivar. O Jeon tinha cheiro de madeira de bergamota e cedro, ameixa
e maçã. Parecem muitas notas, mas não eram nem a metade das notas de
um perfume caro, por exemplo. Jimin se perguntava qual seria o sabor de
seu Slick — a lubrificação natural de um ômega. Alfas não deveriam ter a
entrada lubrificada com slick, mas Jungkook tinha, e o lúpus desconfiava.
Aquela particularidade o deixava mais atiçado e ele ainda não havia se dado
ao prazer de experimentar Jeon lá atrás.

O mais velho pigarreou e tentou mais bravamente ignorar a fragrância


deliciosa que adentrava suas narinas à força. Seu lobo queria rugir. Seus
caninos roçavam as gengivas, querendo descer. Em todos aqueles anos, seu
lobo jamais demonstrara interesse real em querer marcar alguém. Jimin
pensava que isso era devido ao fato de alfas não poderem se marcar entre si.
Mas seu instinto lobo ficava desesperadamente inquieto, frente a Jeon
Jungkook. Andava altamente descontrolado por causa daquele garoto, para
alguém que era o mestre do controle e disciplina.

— Isto nos leva diretamente a parte do "seguro" — continuou, cruzando as


pernas sobre a poltrona em que estava sentado. — Os limites do submisso
jamais devem ser ultrapassados pelo Dominador. Se o sub aguenta apenas
10 segundos tendo sua respiração paralisada, o dominador em hipótese
alguma deve achar que ele deve ou pode aguentar mais. O "querer" que
importa não é o dele, é o do submisso. Isso quase não é notado, mas é o sub
quem manda na relação. Ele define os limites. Logo, nunca os limites de um
sub devem ser excedidos ou extrapolados, e se isto acontece, nós saímos da
zona de prazer e entramos na zona da punição, e não de uma forma
prazerosa. O que nos leva a parte dos castigos aprazíveis dentro do BDSM.
Os castigos fetichistas não estão ligados a punições dolorosas não-
consensuais. Os castigos devem ser aqueles que dão prazer ao castigado.
Ele deve ter prazer em ser castigado, da maneira que ele e o Dom tiverem
anteriormente acertado, de forma a ser disciplinado. Já a punição, acontece
quando o sub desobedece, estando totalmente consciente do erro que está
cometendo. A punição não é agradável, é dolorosa; mas ainda assim, é
consensual. Ela faz parte do poder que um submisso confere ao seu
Dominador, como parte necessária naquela relação. Você sabe me dar um
exemplo, Jungkook? — Jimin pergunta o encarando atentamente.
— Humn... Ser estimulado de forma altamente prazerosa com um oral, mas
ter o orgasmo interrompido. É uma forma de castigo — o alfa responde.
Vinha estudando um bocado, desde que acidentalmente havia esbarrado
com o vizinho na The Cave.

— Correto. — E tais palavras de aprovação de Jimin, deixavam o ruivo


deleitoso, fazendo-o suspirar satisfeito. — É uma forma de castigo, não
deixar o sub gozar. Chama-se "Orgasm Denial". E isso será um castigo
apenas por alto, já que o sub vai sentir um enorme prazer no seu quase
ápice. Aquilo o deixará mais excitado. Talvez seja até mais prazeroso do
que se o sub de fato gozasse. Não é tão difícil de entender, certo? É como
preto no branco, e não uma coisa cinza, como as pessoas costumam
associar. Enquanto o prazer estiver sendo sentido dos dois lados, é válido.
Agora me dê um exemplo contrário. Um onde a punição dada pelo dom
seria algo não prazeroso para o sub.

— Deixe-me pensar... Acho que se um sub diz que sente muita dor com a
palmatória sendo dada nas nádegas, e como punição por ter desobedecido
alguma ordem do Dom, este o pune com a palmatória, ao invés de prazer, o
sub sente uma dor ruim... Então, tecnicamente ele vai estar sendo punido,
por ter feito algo errado e isso não vai gerar prazer algum.

— Exato. Você entende bem, suas pesquisas valeram à pena. Toda e


qualquer pessoa, antes de iniciar-se no mundo do BDSM deve pesquisar
muito. É mais fácil de entender quando alguém te explica, se você já tiver
um embasamento pelo qual buscou sozinho. E essa questão do prazer é o
que define tudo. Enquanto ambos estiverem sentindo prazer nas práticas,
estaremos dentro dos conceitos do BDSM. E ter prazer nas práticas, não
necessariamente quer dizer que será gostoso, mas sim que você está
satisfeito com os acontecimentos. Mesmo numa punição, que tem objetivo
de envergonhar o submisso, não lhe gerando prazer, ele permite que ela
aconteça, porque inicialmente foi ele quem permitiu aquela relação para
com o Dom, compreende? Mesmo durante uma punição, o submisso terá
prazer, de certa forma. Mas daí, o prazer será relacionado à relação em si. A
partir do momento que não houver prazer pra uma das partes, então não
estamos mais dentro do BDSM. Estamos dentro do ABUSO. A relação
abusiva em si, é algo detestável, que não entra nas práticas D/s, embora pra
quem veja de fora, possa parecer que é assim que funciona. Principalmente
quando são relações perfeitamente esteriotipadas, como as de Alfas machos
Dominadores, e ômegas fêmeas submissas.

— Então não existem regras fixas, certo? É tudo a questão do acordo entre
as partes, respeitando o óbvio? — Jungkook pergunta incerto.

— Exatamente. Já vi Alfas Machos como eu, serem perfeitos submissos de


Ômegas Fêmeas, de aparência frágil. O BDSM é atrativo em nosso mundo,
justamente por quebrar padrões. No bdsm nós temos as bases, as noções, os
conceitos que embasam as práticas de dominação e submissão, do bondage,
da disciplina, do sadismo e masoquismo, mas quem faz as regras são as
partes numa relação; O que pode e o que não pode, o que deve e o que não
deve ser feito — Jimin diz sério. — No estudo do Direito, por exemplo,
existe uma frase norteadora nas relações contratuais, que diz que "O
contrato faz lei entre as partes". Quer dizer que a regra, será aquela que as
partes decidirem como tal. Existe uma linha um tanto tênue entre uma
relação abusiva e a relação de dominação e submissão. Por isso, deve-se
existir muita conversa entre os praticantes, pois tudo deve ser acordado e
consensual.

— Mas a gente vai poder começar as práticas exatamente quando, Jimin-


ssi? — Jungkook pergunta, com um tom leve de ansiedade na voz.—
Apenas quando eu souber absolutamente tudo?

— Não tenha pressa. Lembre-se da disciplina, sim? — o lúpus responde


com um sorriso de canto. — Preciso que você saiba exatamente o básico. O
resto é aprendido na prática. Mas você deve estar ciente de todos os poréns,
antes de começarmos essa relação. Vamos falar um pouco sobre
Masoquismo e Sadismo, que são bem básicos para os iniciantes. Sabe os
conceitos?

— O Sádico é aquele que sente prazer em infligir dor e Masoquista é aquele


tem prazer em senti-la — Jungkook responde de pronto. — Me parecem
uma parte meio assustadora, essa coisa da dor.

— Pode ser, quando são muito intensas e beiram os limites aceitáveis. Mas
vai do gosto de cada um. Venha aqui — Jimin fala calmo, dando dois
tapinhas em uma de suas coxas, enquanto descruza as pernas e se põe numa
postura relaxada, sentando à frente do mais novo.

Mas não é como se fosse um pedido. É uma ordem. A autoridade é clara em


seu tom, mesmo que fale de forma tranquila.

— Vamos praticar algo agora? — Jeon indaga animado, com os olhinhos


brilhando em expectativa.

O lúpus solta uma risada por isso. O outro parecia uma criancinha numa
loja de brinquedos. Há quanto tempo esses garoto deveria estar querendo
conhecer mais sobre aquele mundo e nada fazia? Era claramente um
fetichista. Não era como se ele não tivesse facilidade de acesso aos clubes e
casas noturnas de práticas bdsm, sendo amigo de Jung Hoseok, um
Switcher.

Jungkook, ao chegar pertinho dele, o encarou ainda incerto, mas o lúpus


segurou gentilmente sua mão e o puxou levemente, para que fosse em frente
e se abaixasse. Posicionou o mais novo em seu colo, com o corpo
atravessado por cima dele, de barriga pra baixo.

O Park então observou a bunda malhada empinadinha em sua direção e


salivou. Jungkook era tão fodidamente gostoso. O mais velho sentia seu
corpo esquentar como se estivesse com febre, queimando por dentro, só em
olhá-lo. Aquele garoto sequer sabia o quão ridiculamente erótico ele
parecia, com aquele corpo musculoso e o rostinho de criança inocente. Ou
quando ele ficava animado e fazia uma expressão curiosa, parecendo um
bebêzinho no corpo de um gostoso do caralho. Ah, a sanidade de Park Jimin
estava se esvaindo com ele.

— Vai me dar palmadas? — o garoto indagou o espiando por cima do


ombro e sorrindo de lado, em tom meio brincalhão.

O lúpus nada respondeu, apenas agarrou o elástico do moletom e desceu a


calça do mais novo, junto com a cueca, deixando os glúteos lisinhos e
branquinhos desnudos. A pele era livre de marcas, e isso fez o dominador
pensar que, daqui há algum tempo, aquela bundinha arrebitada ficaria cheia
com as marcas de seus dedos e chicotadas. Aliás, com qualquer tipo de
marca que pudesse fazer ali. Talvez até mesmo mordidas. Ah, sim.
Mordidas seriam perfeitas. Inclusive, no BDSM aquele era o lugar especial
onde um casal de Dom e sub se marcavam, quando levavam a relação como
um casamento, e ao invés de marcarem-se em partes aleatórias, a mordida
era feita na nádega esquerda.

Jeon mordeu o lábio, olhando para sua traseira, por cima do ombro.

— Vou apenas te dar um exemplo demonstrativo — disse o dominador com


a voz rouca, já começando a sentir-se excitado.

Jungkook soltou um risinho ladino, ansioso pra saber o que Jimin faria, sem
saber exatamente se iria gostar, mas algo lhe dizia que sim.

O cheiro da excitação dos dois alfas passou a rodear o local. O aroma


ômega de ameixa e maçã do ruivinho era tão docinho e gostoso...

O moreno chegou perto das nádegas bonitas, quase que salivando. Jeon era
tão delicioso que tinha vontade de devorá-lo ali mesmo.Alisou com a
destra, primeiro uma nádega, depois a outra, ora apertando-as, ora apenas as
acariciando, tendo seu corpo debruçado por cima do outro.

E então desferiu um tapa, com a mão em formato de concha.

— Jimin-ssi... — resmungou o mais novo, com a voz fina, dando um


pulinho ao sentir o golpe fraco.

Odiava que sua voz soasse tão manhosa, afinal era um alfa, possuía voz de
comando. Mas ele não gostava de comandar coisa alguma. Gostava de ser
levado, de ser embalado ao som de uma música. Não fazia ideia do que
queria na vida, então preferia pensar que um dia encontraria alguém que
fosse pegá-lo pela mão e liderar o caminho, sem que ele precisasse abrir os
olhos para saber se o caminho era certo. Queria alguém em quem pudesse
confiar, que faria as melhores escolhas por ele. Certamente teria prazer em
servir esta pessoa, caso ela cuidasse de si, como Jeon ansiava ser cuidado.

O Park voltou a alisar carinhosamente o bumbum alheio, fazendo um


carinho gentil, para inesperadamente, golpeá-la novamente, dessa vez mais
forte, o som do tapa estalando na acústica da sala de estar do ex-militar.

— Ugh... — o mais novo geme em deleite.

O Dom então dá um terceiro tapa, com ainda mais força, deixando a ligeira
marca vermelha de exatos cinco dedos e uma palma, em meio a bunda
branca que mais parecia uma obra de arte.

— Jimin-ssi! — exclama.

— Gosta? — Jimin pergunta, com a voz entrecortada. — Gosta desses


tapas? da força dos três? do mais fraco, do médio, do forte?

— Gosto. Gosto muito, Jimin-ssi — Jungkook responde, quase sem ar e


com a voz desestabilizada. — Por favor, faça de novo, Senhor — pede,
surpreso em como aquela dor e a sensação de se submeter, o tinham
deixado excitado.

Jimin pareceu aprovar, já que seu cheiro se tornou mais intenso que antes. O
de cabelos cereja, que puxava o ar pesadamente, teve o aroma do outro alfa
lhe esmurrando as narinas. Aquele delicioso cheiro de lúpus; aroma de
musk, violeta e sândalo. Seu odor lhe lembrava vinho tinto, aquela coisa
rústica, misturada ao doce, com final amargo, que queimava a garganta. E
se pudesse, ficaria embebedado facilmente.

— Como vou poder te punir, se você for um masoquistazinho de merda? —


o moreno murmurou e mordeu o lábio, apertando aquela bunda durinha
entre as palmas.

O Park sorri e volta a alisá-lo como um devoto. E aí, desfere mais tapas
estalados na carne firme. Jeon sente a ardência de cada tapa, como se estes
fossem uma fisgada em seu baixo abdome. E talvez fossem. Era delicioso;
Park Jimin era delicioso. Sentia uma agitação em seu interior, um arrepio
em sua pele, seus pêlos se eriçavam. Aquela expectativa de quando e como
seria o tapa, deixavam seu estômago rodopiando. Nunca tinha esperado que
aquela fosse a sensação e ela era maravilhosa.
Finalmente, o lúpus alisou um pouco mais a bunda alheia, para subitamente
parar e subir o moletom do garoto e afastá-lo de si, o pondo no tapete.
Depois de um tempo, o moreno se levanta, ficando de pé, enquanto Jeon,
agora ajoelhado no tapete, ao pé da poltrona, o encarava confuso.

— Vê como estou duro? — o dominador pergunta com a voz aveludada,


apontando para o volume em suas calças apertadas. O de cabelos vermelhos
apenas assente com a cabeça, mordendo o lábio inferior. — Você sequer me
tocou para que eu ficasse assim — explica. — Fiquei duro por dar aqueles
tapas em você e te assistir se contorcer de prazer por causa da ardência
deles... — sussurra. — Você sentiu prazer com a dor da minha mão te
estapeando? — pergunta em tom provocador.

— Sim, Jimin-ssi... — o garoto responde aos suspiros. — Causa uma


ansiedade gostosa, uma expectativa... Eu quero... mais — corajosamente
diz, o encarando de baixo, de um jeito tão inocente que fazia o mais velho
sentir-se quase nocauteado, com a imagem clássica de submissão, na qual
havia posto o rapaz, despropositadamente. Jungkook era tão fofo!

O mais velho então se afasta abruptamente e então sai de perto, sentando-


se na outra enorme poltrona na lateral do sofá, deixando o de cabelos cereja
desnorteado e confuso.

Jeon se vira, ainda zonzo e volta a sentar-se no outro estofado vermelho,


puxando rapidamente uma almofada para cobrir a já absurda ereção entre
suas pernas. Seu pau estava duro e molhado, assim como sua entrada, e
Jungkook irritado, formava um biquinho nos lábios. Jimin era um grande
filho da puta, já o estava castigando e ele nem havia desobedecido em nada.

— Não se preocupe, irei recompensá-lo depois... — fala, como se lendo


seus pensamentos. — Não vou te deixar na mão. Mas não posso terminar a
explicação, se você estiver anuviado pelo prazer, você não prestaria total
atenção, entende?

O ruivo bufa, recebendo um olhar repreensivo do ex-militar. O Dominador


era acostumado com o jeito sem-filtro do outro, mas não em se tratando de
seus sub's, então era mais difícil engolir as pirraças alheias, sem fazer uma
careta.
— Eu entendi, Jimin-ssi... — resmungou, ainda irritadiço.

— Pois bem. Entendeu a coisa de sentir prazer com a dor e sentir prazer em
causar a dor? — pergunta.

Jungkook arregala levemente os olhos surpreso.

— Oh! Então era isso? Não era nenhum bicho de sete cabeças, nem uma
coisa macabra de espancamento?

O lúpus riu divertido.

— Exatamente, é bem simples. É claro que existem diferentes níveis, bebê.


Alguns praticantes preferem níveis mais pesados, que chegam a ser
realmente um espancamento. A dor não necessariamente pode ser sentida
através de tapas. Pode ser com choques elétricos, puxões de cabelo,
amarrações com cordas. Mas o fetiche de bater para obter prazer, nós
chamamos de Spanking. Está dentro do Masoquismo e Sadismo — o
moreno fala, sentindo seu pau já começando a abaixar. — Mas são precisos
muitos cuidados. Quem tem problemas de circulação sanguínea, por
exemplo, tende a ficar com mais hematomas. Já se a pessoa estiver tomando
remédios anticoagulantes, o Spanking irá deixar menos marcas, já que o
sangue não vai se agrupar ali. Existem inúmeras áreas para se praticar o
Spanking, como as costas, nos glúteos, nas pernas, no peito, nos braços...
De longe o mais tranquilo é o traseiro, como fiz com você.

— Estou ansioso, senhor — Jungkook fala em tom de voz baixo e


provocador, mordendo o lábio inferior, enquanto tenta disfarçar o olhar
desejoso sobre o corpo definido do outro, mas sem sucesso, já que seus
olhares se juntaram numa encarada intensa. O ar até mesmo pareceu
esquentar dentro daquele cômodo.

O corpo do Park lhe parecia absurdamente atraente. Era tão musculoso e


contornado, tão definido e sensual. Mas estranhamente era um corpo
delicado, mais delicado que o seu próprio, este que era mais alto, mais largo
e mais forte. Jungkook tinha braços e coxas ainda mais grossas que as de
Jimin, mas sua cintura fina deixava seu corpo, talvez, mais delicado.
Possivelmente teria algo a ver com seus genes ômegas. Todavia, tais
percepções físicas eram notadas apenas para aqueles que eram bons
observadores e percebiam estas particularidades com clareza, nos mínimos
detalhes.

Jimin, ao notar o olhar abusado de Jeon sobre si, sentiu-se mais certo de
que, provavelmente, ele não fosse ser tão fácil assim de se submeter ou de
ser subjugado — a despeito de sua personalidade sempre inocente e
bondosa. Alfas sempre eram mais difíceis de se submeter. Mas o Park tinha
uma vasta experiência naquilo. Afinal, dominava preferencialmente outros
Alfas. Pensou que deveria começar a discipliná-lo imediatamente.

Logo ele, com tantos anos de prática como Dominador no bdsm, não
poderia fracassar no treinamento de um iniciante submisso. E Deus sabe o
quanto Jimin tinha desprezo pelos tais Brats — aqueles que estavam em
posição de submissão, mas não comportavam-se como tal, provocando seu
Dominador até o limite da paciência, com suas teimosias e desrespeito às
ordens.

Jimin nunca havia se relacionado com um Brat antes, embora conhecesse


alguns. Mas como um Dominador e ex-militar extremamente apegado às
ordens e disciplina, ele, até então, achava inaceitável o comportamento de
um submisso teimoso. Afinal, o conceito de submissão era exatamente o
oposto de resistência.

Um Brat certamente causaria desgosto em seu Dominador, ao invés de


prazer e contentamento. Talvez, Brat's fossem uma anomalia no BDSM, e
para lidar com eles e seus desejos caprichosos e matreiros, certamente fosse
necessário um tipo de Dominador diferente. Sim, Jimin já havia passado
certo tempo a pensar naquilo. Para que um Brat causasse satisfação a um
Dominador, tal Dom teria de ser certamente alguém que gostasse de
desafios. Que sentisse um prazer quase tangível, em disciplinar um rebelde,
fazendo por merecer ser obedecido.

Lembrou-se de uma capitã ômega fêmea, que era sua subalterna no quartel,
anos atrás. Nunca havia tido um desafio tão grande como aquele. A garota
era insubordinada, abusada e raivosa. Batia de frente com absolutamente
tudo o que ele falava, e Jimin sonhava em amarrá-la com fita isolante e
deixá-la abandonada na chuva em meio ao frio. Garotinha irritante.
Talvez, tal relação pudesse assemelhar-se à da caça e do caçador. Um cervo
não se deixa abater pelo leão da montanha, sem tentar fugir ou lutar —
ainda que o mais forte e o vencedor sejam claros nesta condição. Portanto,
no meio BDSM, pra se lidar com um Brat de forma satisfatória, o
Dominador não poderia ser um Dom tradicional, mas sim um Tamer — na
tradução livre, seria um Domador.

Assim como no circo, um Domador é aquele sujeito que doma um leão,


fazendo o animal selvagem obedecer a si, e não atacá-lo, como atacaria
qualquer pessoa. O leão domado, dá carinho ao seu Domador. O leão
domado talvez até o tema.

Então Jimin segurou um sorriso malicioso. Ele era definitivamente alguém


que gostava de dar ordens e ser obedecido, detestava malcriação. Mas sabia
bem, em seu interior, o quanto recentemente se sentia altamente
atiçado com a simples ideia de ter que domar alguém.

Domar Jeon Jungkook, para ser mais específico.

Talvez, em todo o seu tempo de experiência e os seus dez anos tanto na


carreira militar, como dentro do bdsm, tendo suas ordens e imposições
sempre acatados, viessem lhe fazendo começar a achar toda a submissão a
si um tanto... sem graça. Era rotineira.

Oh, sim, Jeon Jungkook talvez fosse um desafio. Jimin esperava não estar
errado, porque tal percepção acabara de provocá-lo ainda mais. Um
submisso malcriado... Um Brat... Ele seria capaz de lidar com algo assim?
Ou aquilo se tornaria enfadonho e problemático? Ele não sabia.

Mas tinha um grande pressentimento de que aquilo seria divertido, pois o


alfa ruivinho o deixava louco de tesão, não deixava? O Park o queria com
força. Apenas não havia tentado ir em frente com aquilo em ocasiões
passadas, por ter assumido que Jungkook não seria do tipo fetichista. Ledo
engano. Ver Jungkook naquela boate, havia o deixado em êxtase.

O submisso que ele dominava naquele dia em que Jeon o assistira, havia
sido esquecido durante o ato. Não o via realmente, pois seus olhos estavam
grudados nos de Jungkook. Ele fizera questão de demostrar ao vizinho, que
poderia ser ele ali, ao invés do sub. E havia funcionado, já que o ruivo saíra
de lá com uma enorme e vergonhosa ereção dentro das calças, precisando
aliviar-se de imediato no banheiro da Masmorra. De todas as pessoas do
mundo, Jimin jamais imaginava que seu vizinho bobinho e atrapalhado
poria os pés ali. Agradeceria Jung Hoseok depois.

O mais velho caminhou lentamente até o rapaz de cabelos cor de cereja,


como uma cobra prestes a dar o bote. Jungkook acompanhava-o com o
olhar atento e ansioso. Quase salivava, tamanha a expectativa — esta que
era descontada por seus dentes cortando a carne macia das partes internas
de suas bochechas.

Até que o lúpus parou atrás de si e, num movimento rápido, puxou os fios
vermelhos entre seus dedos curtos, fazendo o pescoço de Jeon curvar-se
para trás e sua respiração acelerar, ao sentir o hálito quente do glorioso
dominador, chocar-se na lateral de seu rosto. A voz doce, porém altiva e
perigosa, soou então em seu ouvido esquerdo, onde a boca de Jimin
encontrava-se perigosamente próxima:

— Jungkook... você só deve me encarar nos olhos quando eu mandar —


disse com a voz lenta e rouca no pé do ouvido do outro, que arfou com o
tom de suas palavras. — Da próxima vez que me encarar nos olhos sem me
pedir permissão, irei puni-lo. Você vai se arrepender por não ter me
obedecido. Fui claro, alfa? — finalizou dando mais uma leve puxada nos
fios tingidos.

O ruivo segurou um gemido na garganta. Aquela pose tão dominadora de


Jimin deixava-o louco. Logo Jimin, seu vizinho sempre tão educado, tão
amável e doce, de voz delicada e sorriso fácil. Ah, sim, descobrir que este
era um experiente dominador de BDSM havia deixado-o estranhamente
ansioso. No momento em que pôs os olhos nele, dentro daquela boate,
Jungkook soube que teria que ser dele. A felicidade que sentiu, ao descobrir
que Jimin era um Alfa que gostava de Alfas, havia sido semelhante a
ganhar na loteria. Era como um presente caído dos céus.

Foi com muita força de vontade, que o acerejado tentou impedir que todo o
seu sangue fluísse novamente para seu membro dentro das calças, tamanha
a excitação que a situação atual estava já lhe proporcionando. Estava mais
ansioso de que na vez em que perdera a virgindade, anos atrás.

Mas passou tanto tempo perdido em tais pensamentos acerca do homem


atrás de si, que acabou demorando a dar sua resposta, o que deixou Jimin
irritadiço.

Park então puxou novamente os fios vermelhos:

— Não ouvi sua resposta, malcriado — repreendeu firme.

Contendo uma expressão de prazer ao ter seus fios puxados — porque isso
o excitava desesperadamente —, Jungkook respondeu:

— Sim, Jimin. — E é claro, a forma desrespeitosa foi proposital. Fora


instintivo.

— Errado — o ex-coronel rebateu. — Ponha-se em seu lugar e responda


corretamente.

— Sim, eu entendi, Senhor. Não irá se repetir — disse do modo certo desta
vez. Embora soubesse que sim, iria se repetir.

Porque era claro que quando Jimin era desobedecido, este ficava mais
agressivo. E Jungkook adorava aquela rudeza, vinda daquele homem tão
gentil em seu cotidiano.

— Ótimo — o alfa lúpus respondeu por fim.

Mas ele sabia que o submisso mentia. Era um brat, afinal.


11| i wanna

ESCRITO POR HowUdare

Depois de tanta enrolação e três malditos anos desejando seu vizinho alfa
em segredo, Jungkook finalmente o teria. Deus, era libertadora a sensação
de finalmente conseguir algo pelo qual tanto ansiava. Parecia coisa escrita
pelo destino, não? Os caminhos meio tortuosos, mas tudo dando certo no
final. Jeon finalmente poderia ter o corpo alheio para si e, de quebra, ainda
aprenderia sobre os fetiches que sempre haviam lhe excitado. Não poderia
ser mais perfeito.

E não era de hoje que o de cabelos cereja havia se interessado pelo BDSM.
Mas daí a fazer parte da comunidade e pôr seus fetiches em prática, além de
começar a levar a coisa toda como um estilo de vida, já era algo sobre o
qual ele não pensava muito. Não gostava da ideia de entregar o poder sobre
seu corpo, nas mãos de uma pessoa desconhecida. Claro que, Hoseok já lhe
havia proposto a coisa do BDSM em diversas ocasiões e se disposto a ser
seu Mentor. Mas o alfa não conseguia levar o amigo com toda essa
seriedade. Até porque, o de genes ômegas não o via daquela maneira.

Jung Hoseok era extremamente gostoso, sim, é claro. Mas talvez, pela
amizade desde antes de se mudar para aquele bairro, Jungkook não
conseguia ver o beta de outro modo. Apenas passava seus cios com ele, por
uma questão de lógica. Por ser uma espécie de híbrido entre alfa e ômega,
Jeon possuía heats (o cio ômega) e ruts (o cio alfa), em períodos alternados,
sendo ruts 2x ao ano, e heats 2x também. Se fosse um ômega puro, passaria
por 4 heats, de três em três meses, e se fosse um alfa puro, seus ruts
aconteceriam de seis em seis meses, ou seja, 2x ao ano. Por conta de sua
genética exótica, acabava por ter um heat, um rut, outro heat e mais um rut,
assim, intercalados.

As dores do heat não eram piores que as de rut, para o ruivo. Claro, como
uma espécie de "pansexual", Jungkook gostava de machos e fêmeas, alfas
ou betas, mas sua preferência sempre havia sido por alfas machos. A única
coisa que não gostava era de ômegas, independente do sexo.

Contudo, um alfa macho nunca o havia ajudado num rut. Alfas machos
tendiam a se negar a transar como passivos, sendo penetrados durante o
sexo. Ou ao menos a maior parte deles, mesmo os que gostavam de outros
alfas. E bem, já fazia uns bons anos que o Jeon não se envolvia com
nenhuma alfa fêmea. Por isso, Hoseok era o único que poderia ajudá-lo.
Além de ser alguém confiável e respeitoso, o beta não se importava em
ficar por cima ou por baixo, em dominar ou ser dominado. Então, tanto em
seus heats, quanto em seus ruts, Hoseok o ajudava a aliviar a dor, e quando
o período acabava, a amizade continuava, sem muitas lembranças do ato.

Todavia, agora que o beta estava em um relacionamento de Dominação e


submissão, além de ser também uma relação amorosa, com um alfa e um
ômega, ao mesmo tempo, ele não mais seria seu auxílio, pois devia
fidelidade aos seus dois namorados. Isso vinha preocupando o alfa nos
últimos dias. Depois que encontrou Jimin bêbado na calçada de casa,
atirando pedrinhas em sua janela, Jungkook e o lúpus haviam se atracado
mais uma vez na cozinha da casa do ex-coronel. Tinham dado o primeiro
beijo, finalmente. E então, o de genes recessivos tinha finalmente aceitado a
proposta de ter Jimin como seu Dominador e Mentor responsável por iniciá-
lo nas práticas daquele mundo.

Jeon estava ansioso. Porém, Park Jimin, o aclamado "AlphaDome", havia


lhe dito que ele primeiro precisaria explicar a teoria de tudo o que pudesse
para o avermelhado, antes que passassem para a efetiva prática da coisa.

Após o aceite da proposta, o de cabelos cereja vinha tendo aulas com Jimin,
onde ele o explicava mais sobre as práticas existentes naquele universo, e
que, agora ficariam disponíveis para o ruivo desvendar com sua ajuda.

Na semana anterior, em mais uma das aulas que vinha tendo com
Dominador, o moreno havia lhe resumido coisas básicas e lhe dado
bofetadas ardidas na bunda branca, para exemplificar o fetiche chamado
Spanking, que se encontrava dentro do Masoquismo e Sadismo, onde se
podia ter prazer em sentir dor ou causar dor no parceiro, respectivamente.
E durante a pequena demonstração prática, Jungkook tinha ficado sedento,
escorrendo, de pau duro e com o corpo quente e suado. Não foi nada bacana
o Park tê-lo deixado na mão, porque no fim das contas, o ruivo teve de se
sentar no sofá e esconder o volume em sua calça com uma almofada,
enquanto continuava a ouvir as explicações do Dominador, que agia como
se absolutamente nada tivesse acontecido.

Ah, sim, Park Jimin era um tremendo filho da puta. Sequer havia feito
questão de esconder o volume em sua própria virilha, depois de estapear a
bunda alheia, ficando tranquilamente sentado e mantendo uma conversa
didática, até que seu membro murchasse por completo.

Pior: prometeu recompensá-lo depois e que não o deixaria na mão. Mas


mais tarde naquele dia, quando o avermelhado exigiu a continuação das
coisas, o moreno lhe respondeu com: "Eu não disse quando seria o nosso
depois."

Jungkook sentiu vontade de socá-lo. Por que o Park simplesmente não o


tinha fodido? Não precisava apenas ser algo ligado ao bdsm. Poderiam
transar sem isso, certo? Poderiam transar "estilo baunilha"? Não fazia ideia
do porquê o lúpus continuava se esquivando, se ele lhe afirmara que
transava sim, fora de uma sessão e fora dos fetiches; que transava 'baunilha'
também. Tinha até tentado transar com ele, quando estava bêbado.

Aliás, já faziam boas semanas desde que confirmara que o ex-coronel era
um lúpus. Havia sentido uma pontada de cheiro que ainda não tinha sentido
naqueles três anos. Um cheiro ainda mais forte, que denunciara a
particularidade na classe do alfa: o delicioso e absurdamente afrodisíaco
cheiro de musk. Não deveria ser uma novidade. Afinal, Jimin era um alfa de
porte pequeno, e na maioria das vezes, um alfa pequeno significava ser
lúpus. Mas claro, como não era uma regra, haviam alfas comuns que não
eram maiores que ômegas. Nem sempre a genética acontece de maneira
padrão, ela pode desviar — o próprio alfa de genes ômegas era exemplo
disso.

A condição de lúpus queria dizer que ele seria ainda mais bruto e mais rude
em um rut, pois lúpus tinham capacidade de reprodução mais intensa, então
ficavam mais sedentos. E Jeon já imaginava que certamente o Park possuía
alguém para passar os períodos consigo. Era de conhecimento geral, que os
ruts de um alfa, fossem lúpus ou não, eram extremamente brutais no quesito
dor, se não possuíssem um parceiro para aliviá-los. Era quase impossível
para um lúpus, passar aquele período sozinho, ainda que tomasse
supressores.

O de cabelos cereja percebera naquele dia, que o rut do alfa lúpus deveria
estar muito próximo, já que havia detectado aquele cheiro de lúpus somente
agora. E por experiência própria, ele mesmo sabia que o seu cheiro ômega
se fazia muito mais presente, quando ele estava muito excitado ou quando
em período de heat, ficando absolutamente notável que o cheiro doce partia
dele. De seus genes. Ninguém costumava notar seu cheiro doce de primeira.
Tendiam a pensar que ele era um alfa marcado por um ômega ou que, no
mínimo, andava tendo relações com um. Mas quando excitado ou em
período próximo ao de heat, o aroma se fazia forte o suficiente pra ficar
claro que o cheiro era puramente dele.

Portanto, chegou a conclusão de que ele e o ex-militar possuíam períodos


de fertilidade próximos, já que seu próprio cio ômega estava para acontecer,
no final do mês.

E era isso que lhe deixava aflito. Queria contar ao alfa e perguntar se ele
passaria o período consigo. Afinal, haviam acordado sobre uma relação D/s,
mas nada haviam conversado sobre cios. Entretanto, Jeon estava um
pouquinho nervoso. Jimin não era idiota, certamente já havia sentido seu
cheiro doce e cítrico, mesclado à madeira de bergamota e cedro, deixando
bem clara a sua mistura genética.

De qualquer modo, o ruivo não sabia se a relação de ambos se estendia


àquele nível, ou se ela permaneceria apenas na zona de dominação e
submissão. Queria perguntar, mas na última semana, Jimin não tinha parado
em casa, indo a muitas entrevistas de emprego, e apenas encontrando
consigo nos momentos em que ele ia até a casa do moreno, e este lhe dava
mais uma aula sobre os fetiches, práticas e acessórios. E é claro, provocava-
o da pior maneira possível. Era quase como se o menor estivesse colocando
lenha na fogueira. Maldito lúpus.
O avermelhado havia gostado muito dos acessórios. Deixou claro quais
gostaria que o Dominador experimentasse em si, preferencialmente, como a
palmatória, a chibata, o chicote, as mordaças, as coleiras ligadas a algemas,
os anéis penianos, os clips de mamilos, entre uma infinidade de acessórios
apresentados, mas não chegou a deixar claro quais não usaria de jeito
nenhum. Até então, não vira nenhum assustador o suficiente, pra que não
ousasse experimentar.

Jimin havia lhe explicado direitinho como funcionavam os principais


acessórios e os derivados daqueles que se poderia encontrar, o que permitia
com que o garoto tivesse uma boa ideia de para o que serviam alguns
objetos, mesmo que se deparasse com eles pela primeira vez, além de como
seria a sensação de cada um. Sobre muitos acessórios, Jungkook já tinha
uma boa noção, vira em filmes pornôs e pesquisas na internet.

Mas é claro, tinha a noção de que na prática real, as coisas seriam um tanto
diferentes. Aliás, o Park deixava claro que todo candidato a se aventurar nas
práticas de Dominação e Submissão, Sadomasoquismo, Disciplina e
Bondage — o qual Jungkook ainda não sabia com perfeição, a não ser que,
genericamente, tratava-se de restrição de movimentos — deveria pesquisar
e estudar com afinco, por si só, antes de se iniciar nas práticas, fosse ou não
com ajuda de outro fetichista ou BDSMer experiente.

Então o alfa vinha pesquisando sobre tudo com ainda mais curiosidade e
empenho. Pesquisas realmente profundas, como fóruns de discussões
online, vídeos, blogs de praticantes, enfim, todo o tipo de material
produzido por membros experientes e iniciantes na comunidade BDSM,
dando suas opiniões sobre diversos assuntos naquele meio. Ele até mesmo
se deu conta, de que sobre certas coisas, não havia um consenso entre os
praticantes. Tudo variava de acordo com opiniões, experiências e pontos de
vista.

O garoto até mesmo se deu conta de que o BDSM não é apenas a prática de
fetiches pra gozar diferente; Mas sim um estilo de vida que visa causar
satisfação psicológica e sexual, nos relacionamentos e em suas dinâmicas. É
uma forma diferente de relação, buscando a saciedade da alma.
Jimin prometera que hoje lhe daria uma última aula, onde explicaria sobre
principais estilos de relações de dominação e submissão, e que eles
deveriam definir qual seria o tipo de relação deles. Embora o lúpus não
houvesse tocado no assunto das coleiras, Jungkook se perguntava se, em
algum momento, o lúpus lhe daria uma. Aquilo significaria algo sério,
certo? Mas se repreendia ao pensar naquilo, afinal, era muito cedo pra estar
querendo algo mais a sério com o outro alfa. Contudo, ao perguntar para
Jimin se ele já havia dado uma coleira a algum submisso, o ex-coronel
apenas tinha se esquivado do assunto, como sempre fazia. O Park
continuava um pouco evasivo, embora não tanto quanto o antes. O
avermelhado não gostou nada nada, mas deixou passar. Não queria
pressioná-lo.

Pelas suas contas, o cio chegaria em dois dias ou menos, por conta das
dores no baixo abdominal e a produção de slick exagerada que vinha
ocorrendo, mesmo sem que ele estivesse excitado com algo. Seus genes
ômegas apenas o faziam ter que lidar com a pior parte de ser um ômega,
mesmo que ele não fosse um. Já até mesmo havia informado no trabalho,
sobre sua provável falta nos próximos dias.

Jungkoook odiava os malditos heats. Por mais dolorosos que os ruts de alfa
fossem, os heats de ômega também era bem desconfortáveis. Tinha até
mesmo que usar os pads higiênicos enfiados no ânus, para absorver a
maldita lubrificação, além de deixá-lo mal humorado e irritadiço — embora
não tão agressivo, fisicamente, como ficava em período pré-rut. Ele sequer
poderia engravidar, então por quê diabos tinha heats? O corpo de um alfa
não era preparado para conceber um filhote.

Quando um feto lupino estava em gestação no ventre de uma beta ou


ômega, o feto apenas desenvolvia um útero nele mesmo, após definido o
sexo e a classificação. Portanto, ao tornar-se um alfa, o músculo que daria
origem a um útero, se atrofiava. Mas se classificado em ômega ou beta, o
útero se desenvolveria.

O alfa olhou para o relógio digital ao lado da cabeceira da cama. Já estava


quase na hora de encontrar o Park. Tinha passado sua folga inteira pensando
no outro, mas este havia passado o dia todo fora, em busca de um novo
emprego. Todo o plano de passar o dia provocando Jimin e foder com ele
até as pernas ficarem bambas, tinha ido por água abaixo.

Tinha evitado transar com o dominador no dia da cozinha, pois o outro


estava bêbado. Os dois concordaram que seria melhor esperar um dia, mas
agora o lúpus vinha exagerando em fazê-lo esperar, o de cabelos cereja já
estava ficando impaciente pra um caralho. Seria esse mais um jogo do
dominador para com ele?

Jungkook chutou os lençóis, de forma mal humorada, e seguiu para o


banheiro, tomando o quarto banho do dia. Quanto mais próximo ao cio,
mais calor ele sentia — pois o principal sintoma de cios eram as febres — e
mais forte seu cheiro doce e frutal ficava. Então o alfa tomava muitos
banhos, para se livrar do calor e do cheiro doce. Não queria atrair outros
alfas para dentro do seu apartamento. Não que qualquer alfa fosse ser
tomado por um instinto animal e forçá-lo a algo contra a sua vontade. Até
no reino animal, quando a fêmea recusa, o macho se afasta. Ali não era
diferente.

Com os fios molhados, Jeon foi até a sala, enrolado na toalha e ligou a TV,
com alguma música. Mas antes que pudesse chegar em seu quarto para
vestir-se, ouviu a campainha tocar. Bufou. Certamente era Hoseok ou
SeokJin, eles eram mestres em aparecer sem avisar, o que irritava o mais
novo fortemente, já que era do tipo que apreciava ficar sozinho. Boa parte
de sua infância havia sido assim, de qualquer modo. Detestava visitas
inconvenientes, e os amigos eram bastante.

Sem checar o olho mágico, apenas abriu a porta. Quando viu a pessoa ali,
arregalou os olhos. Park Jimin o encarava com uma expressão perdida, que
rapidamente foi substituída por um olhar selvagem, quando este mordeu o
lábio inferior, secando seu corpo molhado enrolado apenas com uma toalha
branca, com os olhos.

Após o choque inicial, Jeon esperou que o lúpus se pronunciasse, mas este
ficou apenas encarando seu abdome exposto, com o desejo estampado na
face.
"Ótimo" — o de genes ômegas pensou. — "Ele consegue se afastar e não
fazer absolutamente nada depois de me alisar inteirinho e me deixar de pau
visivelmente duro, mas me come com os olhos só por eu estar de toalha.
Cara confuso."

—Jimin-ah? — chamou, mas o moreno sequer pareceu ouvir. — Jimin-ah?

— Uh? — o mais velho respondeu, atordoado, com um murmúrio, subindo


o olhar perdido nos mamilos alheios, diretamente para o rosto do ruivo.

— Você sabe, meus olhos estão aqui em cima, não ali embaixo.

O lúpus sorriu divertido.

— Você é realmente uma coisa. Posso entrar? — Jungkook sorriu de volta e


deu espaço para que o outro entrasse em seu pequeno apartamento.

Quando o lúpus passou por ele, Jeon pode sentir o cheiro lupino ainda mais
forte no suor do outro. Seu instinto animal quis uivar e mordê-lo. Mas por
que infernos um alfa se sentiria impelido a morder outro alfa? O ruivo ficou
levemente chocado. Ainda não tinha sentido nada daquele tipo antes.

— Gostei de como você decorou tudo. Da última vez em que estive aqui, só
haviam caixas de mudança espalhadas pela casa. Vejo que trocou a
decoração por embalagens de lasanha e latas de refrigerante — zombou da
bagunça do outro, rindo.

Jimin usava uma roupa social, com camisa de botões e uma gravata bem
amarrada. Com as mãos dentro dos bolsos da calça, o lúpus observou
rapidamente o cômodo e se sentou no sofá.

O possível brat ficou um pouco sem jeito de o mais velho ver a zona de
guerra que sua moradia parecia, enquanto a dele própria era limpa e bonita.
Por sorte, não havia nenhuma meia fedida ou cueca suja jogada pelos
cantos. Um par de dias antes, Hoseok havia passado por ali e feito suas
costumeiras arrumações.
E ao pensar nisso, lembrou que o amigo switcher havia colocado suas
roupas para lavar na máquina, e que sua única função era estendê-las no
varal pequeno depois. Dois dias se passaram, e Jungkook sequer havia
lembrado daquilo. Provavelmente estaria tudo fedido outra vez, teria que
lavar novamente. Deu tapa na própria testa pela burrice.

— Vamos repassar algumas coisas e vou te explicar os tipos de relações. Eu


espero você se vestir — Jimin voltou a dizer, depois de não obter nenhuma
resposta do outro.

O de cabelos cereja o encarou confuso.

— Eu achei que nos encontraríamos na sua casa, daqui há alguns minutos.

— Mudança de planos — Jimin respondeu.

Ao perceber que Jeon o encarava ainda mais questionador, respirou fundo e


decidiu explicar melhor. Sabia que o alfa ruivo era teimoso, não arredaria o
pé dali, enquanto não soubesse todos os "porquês" detalhadamente.

— Eu... — começou cuidadosamente. — Eu vou entrar em rut mais cedo do


que o previsto, Jungkook-ah.

— Oh. Eu senti mesmo o seu cheiro mais forte — o ruivo respondeu meio
atordoado, pego de surpresa. — Com mais cedo você quer dizer... hoje?

— Não. Mas provavelmente em dois dias, no máximo. E... Bom, preciso


ficar na casa do alfa com quem passo meus períodos — respondeu um
pouco sem jeito. — Por eu ser um lúpus, as dores são muito fortes e minha
febre é muito alta nos dois dias anteriores ao rut...

O semblante de Jungkook ficou completamente entristecido. Sentiu uma


lagriminha querendo escapulir de seus olhos. "Merda de genes ômegas, me
fazem ficar emotivo como um grande trouxa!" xingou mentalmente. Mas
não era culpa dos genes ômegas, realmente; era apenas seu ego ferido, por
estar sendo claramente trocado.
Então era isso. Jimin tinha sim, alguém, e não o escolheria ao invés do
outro. A relação dos dois seria apenas ligada ao bdsm. O mais novo se
sentiu incomodado como nunca. Era aquele tipo de incômodo que vai
apertando o coração como uma agulha grande, e termina por te deixar sem
ar suficiente nos pulmões. Quis empurrar o Park e correr para o quarto
chorando, como uma criança. Mas "alfas não choram". Então respirou
fundo — o que não foi uma boa ideia, já que o cheiro do lúpus adentrou
mais fortemente suas narinas, deixando seu instinto lobo em desespero.

— Tudo bem. Não precisamos ter uma aula agora. Você deveria ir
encontrar o seu alfa, então - disse as últimas palavras com desgosto na
voz. — Podemos resolver nossas coisas depois, sem problemas. — O que
era uma mentira, pois tinha muito problema sim.

É claro, o tom amargo na voz do alfa, não passou despercebido a Jimin, que
começou a sentir uma ansiedade estranha e o peito como se estivesse...
aquecido. Jungkook estava com ciúmes de si? O que aquilo significava?

O lúpus estava ali com uma meta: descobrir se o Jeon gostaria de passar seu
rut com ele. Era claro que não queria passar com seu amigo Taemin. Estava
louco de vontade de passá-lo com o de genes ômegas. Mas como sempre, o
Park adorava joguinhos mentais de sedução, então ao invés de
simplesmente indagar: "Hey, Jungkook. Pode me ajudar com o rut?"
preferiu dizer que estava indo para a casa de outro cara, e aguardar a reação
do mais novo.

Ah, o ex-militar era um sacana do caralho.

— Eu já senti o seu cheiro e sei que você também vai passar por um
período agora, não é? — o dominador indagou.

A mente de Jeon começou a criar mais mil e uma teorias baseadas em seu
medo de rejeição.

— Sim, eu... eu vou — disse, com a voz sem emoção. — Me desculpe por
ser assim. E-eu... realmente não queria isso.
Na mente do mais alto, era claro que o alfa lúpus, por gostar de outros alfas,
se sentiria enojado com o cheiro doce de ômega, se passasse o rut consigo.
Pensou que talvez Jimin suportasse o cheiro em momentos normais de
excitação, mas em rut não. Em rut seria demais. Talvez algo nojento. Ele
mesmo não conseguia gostar de ômegas, por conta do cheiro.

Jimin o encarou de cenho franzido, sem entender o que exatamente o que


outro alfa estava tentando dizer.

— Te desculpar pelo quê? — indagou confuso.

Jungkook suspirou antes de dizer:

— Sobre... o meu cheiro. Eu realmente odeio ser parte ômega, passar por
esses malditos heats e exalar esse cheiro irritante, e-eu...

— Jungkook — o interrompeu sério e com a voz grave. O lúpus se


aproximou e segurou o rosto de Jeon com a destra, de forma firme mas
delicada. O encarou no fundo dos olhos negros e então continuou: —
Jamais se desculpe por ser quem você é. Ainda mais se for sobre algo o
qual você não teve escolha. — Viu o de cabelos cereja piscar desacreditado
algumas vezes e abrir a boca para falar, mas fechá-la, claramente sem
palavras. — Nunca mais diga isso. É uma ordem do seu Dominador. Não
estou brincando.

Eles ficaram ali, se encarando pelo tempo que pareceu uma pequena
eternidade. O acerejado não conseguia acreditar que o alfa estivesse falando
sério. Ele realmente não ligava para a coisa do cheiro ômega? Que ele não
se importava com o slick, já havia notado. Mas com o cheiro doce? Se
Jimin gostava apenas de alfas e betas, o cheiro doce, provavelmente o
enojaria. Talvez o lúpus apenas estivesse sendo uma pessoa legal
consigo — pensou.

Já Jimin, estava com um misto de sensações dentro de si. A primeira era


raiva. O que infernos as pessoas deviam dizer àquele garoto, para que ele
pensasse que seu cheiro era desagradável? Aquilo era absurdo. Então uma
raiva subiu por seu peito, ao pensar em pessoas sendo capazes de magoar
um ser tão adorável quanto Jeon Jungkook. Aquilo para o Park, era
inconcebível. O ruivo parecia um bebêzinho, tão gentil e engraçadinho, de
olhos arregalados e brilhantes... era meio sem noção e pentelho, é claro,
mas aquela era só mais uma coisa que o deixava fofo.

A segunda sensação, era a de impotência. Gostaria de ter sido ainda mais


próximo do ruivo, por todo aquele tempo, pra que pudesse tê-lo defendido
de todas as coisas e pessoas ruins que provavelmente haviam-no dito tais
coisas. Queria tanto protegê-lo. O instinto protetor era algo inerente a Jimin,
por ser um Dominador e um alfa lúpus. Sentia uma vontade incontrolável
de proteger o mais novo de todo o mal. Principalmente quando ele o
encarava com aqueles olhinhos redondos de jabuticaba. Parecia um ursinho
fofo, com aquelas bochechas cheinhas; era tão lindo...

A terceira coisa, era descrença. Como Jungkook poderia pensar que seu
cheiro o desagradava? Mas que merda! Esse garoto sequer sabia como seu
cheiro misto, entre frutas e madeira, o deixavam completamente inebriado?
Até mesmo seu lado lobo ficava indiscutivelmente extasiado, quente e
fogoso. O cheiro deixava Jimin com uma ereção bem dura no meio das
pernas. Sua garganta queimava, como se tivesse sede, e sua região da
virilha ardia e formigava. E isso era só o cheiro. Sequer poderia pôr em
palavras, o que a aparência gloriosa e beleza absurdas do avermelhado,
causavam em sua mente.

Jimin se afastou do alfa, sacudindo a cabeça em negação. Não tinha sido


uma boa ideia testá-lo. Isso mexia com o medo de rejeição no coração do
garoto — e o lúpus sabia muito bem o quão terrível era sentir-se assim. De
modo que encerrou imediatamente o joguinho e foi sincero com o vizinho,
então:

— Eu... Sabe, gostaria de passar meu rut com você. Não paro de pensar em
quanto seria incrível passar um rut com alguém de genes ômegas, em
período de cio ao mesmo tempo que eu. Tenho certeza de que seria...
indescritível — o ex-coronel declarou, ficando sem jeito pela primeira vez
com o garoto. Não era de seu feitio, sentir-se envergonhado, mas no
momento, era aquilo que acontecia, e nem sabia o porquê. Talvez fosse seu
lado lobo, que deixava bem claro o quanto desejava o alfa de cabelos
vermelhos. — Mas imagino que você certamente já tenha uma pessoa pra
isso... — jogou no ar, curioso.
Jeon se sentiu confuso. Uma pitada de euforia também começou a se
alastrar em seu peito. Ele estava mesmo dizendo aquilo? Jimin queria
ajudá-lo em seu heat e que ele o ajudasse com seu rut? Aquilo era um
sonho? Abobado, Jeon se beliscou no braço, discretamente. É, estava bem
acordado, percebeu fazendo uma careta de dor.

— Na verdade não, não tenho ninguém — respondeu o avermelhado.

— Como assim? Está dizendo que passa seus heats sozinho? Dopado? E
quanto aos ruts? Você tem ruts também, não tem? Eu já senti o seu cheiro
de alfa mais forte, algumas vezes no passado... — Jimin o encarou com uma
expressão estranha.

— Oh, não é isso, eu... Tenho um amigo beta que me ajudava nos dois.
Aquele que é um Switcher, que me levou no clube fetichista aquela vez...

— Oh. O Hope Switcher — o ex-militar assentiu, então entendendo. — Ele,


Yoongi e aquele brat, estão em um relacionamento à três, agora. Eles estão
namorando realmente, é algo amoroso, não fica restrito apenas a relação
D/s. É por isso que você vai passar sozinho? Ele não vai mais te ajudar?

— Exatamente — o mais novo respondeu. — E eu não confio em deixar


outra pessoa me ajudar nesse período, eu... Bom, não posso confiar que
alguém não vá sair correndo enojado, ao descobrir a aberração que sou...

— Jeon Jungkook! — Jimin interrompeu, com a voz desacreditada. — O


que acabei de falar? Não te dei uma ordem clara de que jamais voltasse a
repetir algo dessa natureza sobre si mesmo? — Com isso, o mais alto se
encolheu. — Você está desobedecendo uma ordem do seu Dom? Mas já?
Seu bratzinho... — E aquela palavra fez Jeon arregalar os olhos.

— Ah, não, você também? — resmungou. Ao notar o olhar indagativo do


lúpus, explicou: — É que o Hoseok hyung também ficava me dizendo isso,
que se eu fizesse parte da comunidade BDSM, provavelmente seria um
submisso malcriado. Isso é ruim, não é?

— Hoseok hyung é o que te acompanhou na The Cave, certo? — E Jeon


assentiu com a cabeça. — Para a maioria dos dominantes, ser brat é um
problema, sim — foi direto. — Os brats não são obedientes aos seus
Dominadores e isso costuma causar desgosto na maioria dos Dom's, uma
vez que procuramos alguém que faça as coisas do nosso modo, que nos
entregue o poder e confie que nós tomaremos a melhor decisão, sempre. Os
brats não são vistos com bons olhos pela maior parte da comunidade
BDSM — Jimin respondeu.

— Isso... é um problema pra você? — Jeon questionou.

— Geralmente sim. Realmente detesto ser desobedecido. Eu gosto do


controle. Obviamente.

— Oh... — Foi tudo o que o avermelhado respondeu, sentindo o maldito


coração apertar. Aquela porcaria de músculo servia pra algo mais além de
bombear sangue, e esta coisa coisa era deixá-lo aflito.

E por que vinha se sentindo daquele jeito o tempo todo por causa de Jimin?
Não era segredo que possuía uma inegável atração pelo alfa, já fazia muito
tempo. E sim, às vezes o enxergava de forma um pouco... sentimental. Mas
ficar sentindo ciúmes dele, era o cúmulo do absurdo, e Jeon sabia disso.
Contudo, não podia realmente controlar os próprios sentimentos, apenas
suas atitudes. E às vezes, nem elas.

— Mas não se preocupe — o lúpus voltou a dizer. — Já tinha reparado essa


característica em você, ao longo dos anos. Eu gosto disso em você. Não
acho que teremos problemas com isso. Afinal, nós já conversamos sobre os
castigos — disse com a voz maldosa e um pequeno curvar na lateral dos
lábios grossos.

Sim, já haviam falado sobre eles. Jungkook tinha ciência de que ao


desobedecer seu Dominador, seria castigado, física ou psicologicamente,
mas que não necessariamente os castigos seriam ruins. Doeriam, sim, fosse
física ou mentalmente. Mas eles serviriam para discipliná-lo, de modo que
ele não voltasse a cometer os mesmos erros. Todavia, existiria um certo
prazer na coisa. Às vezes pelo próprio prazer advindo da dor, caso ele fosse
masoquista — o que Jeon desconfiava ser. Outras, apenas pela satisfação de
estar naquela relação em si, e se queria ser um submisso e aproveitar todo o
prazer que a relação poderia oferecê-lo, deveria aprender a se portar
corretamente, logo, mesmo dolorosos, os castigos seriam para um bem
maior, por assim dizer.

O castigo era o contrário da punição. A punição era mais severa; enquanto o


castigo era um meio de moldar o submisso aos gostos de seu Dominador,
ensinando-o a agir do modo que seu Dom gostaria, as punições serviriam
para fazer um submisso sentir vergonha de si mesmo, após uma
desobediência. Principalmente se desobedecesse de forma consciente; Se
tomasse alguma atitude que magoasse seu Dom. A punição não era algo
bom. Era a prova de um erro cometido naquela relação. Ambos envolviam
questões de disciplina D/s.

Ao mesmo tempo, Jeon ficou todo frouxo com a declaração do lúpus.


Aquela não era exatamente uma declaração de amor nem nada, mas já era
alguma coisa. Não que ele esperasse ou quisesse declarações românticas do
lúpus. Não, não. Ele negava isso em sua própria mente...

— Você e esse beta... — Jimin se pronunciou de novo. — Vocês tinham...


uma relação amorosa? - perguntou em tom neutro.

— Ah, claro que não. Hoseok é meu amigo. Meu melhor amigo. Se eu
pudesse, não faria este tipo de coisa com ele — respondeu. — Mas ele é o
único em quem confio para tal.

O Park então, não conseguiu esconder a ansiedade em sua face e foi se


aproximando novamente do outro alfa, a passos lentos e calculados, até
ficarem com os rostos tão próximos, que sequer respiravam. O cheiro de
Jeon estava forte e o deixando louco. Já estava ficando impaciente e
irritadiço com aquilo, porque Jungkook não parecia se tocar do que quais as
reais intenções dele ali. Então disse, com a voz extremamente rouca e
sensual:

— E em mim? Você não confiaria em mim para saciá-lo? — perguntou,


roçando propositalmente os lábios cheios na boca fina do outro.

Jungkook sentiu as pernas bambearem. Era aquele tipo de sensação que


Park Jimin sempre causava em si. Mesmo sendo alguns centímetros mais
baixo, o ex-militar parecia mais imponente e assustador para ele. Deixava-o
fraco, desde que o conhecera. O moreno era claramente intimidante. Mas
dos últimos tempos pra cá, desde que haviam se beijado na cozinha da casa
do outro, a influência do lúpus sobre si era ainda maior. Não só nele, mas
em seu lado lobo, que parecia apreciar tudo aquilo mais que o normal.

— E-eu... — tentou responder, mas ficou sem palavras.

Viu Jimin então alternar o olhar incisivo entre seus lábios e seus olhos, e
aproximar-se lentamente, como em câmera lenta, até morder seu lábio
inferior, puxando a carne entre os dentes, antes de sugá-la, numa
provocação. Jeon arrepiou até o último fio de cabelo e seu baixo abdominal
formigou.

Como peças de um quebra-cabeça, as bocas se juntaram, num beijo quente


e afoito, em razão do desejo. O ato era inegavelmente selvagem, com Jimin
o dominando, puxando sua cintura com as duas mãos, enquanto Jungkook
puxava a nuca do moreno em sua direção. O Park foi empurrando o
avermelhado para trás, até que sua cintura batesse no balcão que dividia a
sala da cozinha.

Em um segundo, o moreno o pegou no colo e sentou o alfa no balcão,


ficando entre suas pernas. Logo a boca do lúpus foi em direção ao pescoço
branquinho, sugando com força a pele ainda úmida, pelo banho recém
tomado. A toalha na cintura de Jungkook já estava frouxa, e ele muito
ciente de que era apenas o tecido felpudo que separava seus corpos quentes.

De súbito, Jimin pausou o beijo, e ambos com as respirações ofegantes, se


olharam, bagunçados.

— Ainda não me respondeu, alfa... — o dominador sussurrou, dando ênfase


ao modo como o chamou. — Você não me quer como parceiro de cio, uh?

— E-eu... — Jungkook estava inebriado, não só por sua excitação, mas


também pelo cheiro cada vez mais forte do alfa, que parecia rasgar seu
nariz. — Se você quiser, eu quero — respondeu em voz baixa.

— Não é o bastante — o lúpus rebateu. — Eu quero que você queira.


O de cabelos tingidos sugou o ar, antes de responder:

— Eu quero, Jimin-ah. Eu quero você. Merda, passe seu rut comigo! Eu


quero você demais — disse com a voz levemente manhosa, porém decidida,
movendo as orbes pelo rosto do outro.

O alfa lúpus então sorriu satisfeito e, completamente aliviado, declarou:

— Eu vou te foder com força — foi só o que respondeu, antes de arrancar a


toalha branca, para fora do corpo musculoso.

Não esqueçam do votinho amoroso!


12| a deal
As atualizações de Incandescente, agora acontecerão apenas no wattpad.
Não possuo mais um perfil no social spirit; não estou de acordo com a
conduta da staff, quanto às interpretações de regras de lá, portanto, minha
plataforma de postagem agora será APENAS o wattpad.

ESCRITO POR HowUdare

Quando Jungkook acordou, sua cabeça doía. Doía como se estivesse no


meio de uma cirurgia cerebral. Além de tudo, ela pesava. Era como se
houvessem trocado sua massa encefálica por uma bola de ferro, dessas que
ficam acopladas a correntes nos tornozelos de um presidiário dos tempos
antigos.

Se virou de lado na cama, segurando a cabeça. A fronha de seu travesseiro


tinha o cheiro de Park Jimin. Aquele cheiro fraquinho de shampoo,
mesclado ao cheiro de sândalo e musk. Jimin estivera ali.

Tentou levantar, mas sentiu uma pontada no baixo abdome, que o fez
assobiar de dor. Merda de cio. O heat ômega causava fortes dores no corpo,
além de uma febre alta. Já nos ruts, a febre alta ocasionava delírios, estes
que faziam com que a parte animal e selvagem lupina, quisesse tomar conta
da personalidade alheia, tirando um pouco da sua sanidade.

Sem alternativas, deitou com cuidado na cama, outra vez. Aonde estava
Jimin? Até onde se lembrava, o alfa havia dormido consigo, na mesma
cama. Será que o outro tinha desistido dele? Algum imprevisto ocorrera?
Porque era isso que sempre acontecia quando eles estavam quase lá. Algo
os impedia. Geralmente esse algo era o próprio Jimin. Como no dia
anterior, por exemplo.

Jimin chupava a pele do pescoço do ruivo, como se vida dependesse


daquilo. Jungkook gemia e sugava o ar entredentes, desesperadamente. O
lúpus estava prestes a levá-lo à loucura de tanto tesão. Jeon sequer
aguentava mais. Não seria capaz de aguentar nem se quisesse. Com o cio
tão próximo, seus hormônios estavam uma grande bagunça, e qualquer
toque o excitava mais que o normal.

O Park não estava em situação diferente. Já costumava ficar extremamente


excitado com uma simples encarada no brat, quem dirá agora que estava
há apenas algumas horas do início do seu próprio rut. Isso e o fato do
cheiro pré-heat de Jungkook serem insanamente convidativos. Os
gemidinhos baixos que o avermelhado dava, iam cada vez mais lhe fazendo
entrar num estado de completa combustão, como fogo quando encontra a
gasolina. Sua boca babava, mas seu pau também, começando a deixar sua
cueca molhada.

O Slick que a entrada do ruivo expelia, tinha um cheiro ainda mais


inebriante. Não queria esperar mais nada, queria foder Jeon Jungkook ali
mesmo, na bancada da cozinha. Que alfinha gostoso do caralho! Nenhum
outro macho com quem havia fodido, tinha lhe deixado com uma vontade
tão selvagem e um desejo tão absurdos.

O lúpus só conseguia pensar em como seu lobo fazia com que sua gengiva
coçasse, querendo liberar suas presas e enterrar os dentes naquela carne
macia e marcar o Jeon para si — sem saber que o mesmo acontecia com o
mais novo: seus instintos também queriam marcá-lo, o que era impossível,
já que os dois eram alfas.

Já Jungkook, sentindo o lúpus abraçar seu corpo com tanto aperto, queria
chorar de tesão. Jimin lhe causava aquela coisa louca, mesmo em tempos
normais. Ah, o ruivo estava absolutamente sedento. Sua boca estava aberta
num perfeito "O", com a cabeça jogada pra trás e os olhos fechados,
enquanto sons necessitados saíam de sua garganta.

Só que como num filme de terror, algo tinha que acontecer. O maldito
celular do lúpus começou a tocar estridente, assustando-os. Jimin
abandonou a sucção em seu pescoço e olhou para o bolso da própria calça,
que brilhava com a luz do aparelho.
— Não é importante — o moreno falou, e então avançou para os lábios do
outro alfa, beijando-o afoito e saudoso.

Só que o telefone tocou e parou de tocar, pelo menos três vezes. Na quarta,
Jungkook empurrou o alfa sutilmente para trás, e separou os lábios,
bufando impaciente.

— Atende logo, hyung. Pode ser importante.

— Não quero — o Park rebateu, com a voz levemente manhosa, como de


uma criança ao dizer que não quer tomar banho.

Então voltou a deslizar a língua no pescoço alheio, abraçando o corpo


maior em seus braços. Jungkook quase fechou os olhos, se entregando ao
prazer, mas o toque do celular o irritava profundamente, pois tirava sua
concentração. Além do mais, não queria que o outro perdesse algo
importante por sua causa. Se sentiria culpado depois.

— Jimin-ah, atende. Pode ser sobre trabalho. Alguma resposta às


entrevistas de emprego — palpitou.

Então o mais velho, a contragosto e parecendo lembrar-se daquele detalhe


só naquele momento, bufou e enfiou a mão no bolso da calça, afastando-se
muito levemente do outro alfa. Olhou a tela brilhosa do aparelho e fez uma
pequena careta, antes de atender.

Jungkook então pulou do balcão e foi em direção ao quarto, para dar mais
privacidade ao moreno. Não queria que o mesmo pensasse que ele era
bisbilhoteiro ou que não respeitava o espaço alheio — embora ele fosse um
fofoqueiro do caralho, sim.

Só que no meio caminho, pôde ouvir a voz de Jimin, e sua curiosidade


natural acabou falando mais alto:

— Alô..? — Jimin atendeu, com a voz um pouco falhada. — Sim... Ah, sobre
isso... Acho que vou ficar por aqui mesmo... É, eu estou com ele. Jungkook
vai entrar no heat junto ao meu rut. Decidimos passar juntos... Sim, eu ia te
avisar, mas nós estávamos meio... er... você sabe... Não vai ficar chateado,
né?... Eu sei, você sempre me entende, Tetê... Uhum... Não estou te
trocando, canceriano dramático — disse Jimin com a voz engraçada,
soltando uma risada escandalosa. — Eu sei, quando a semana do rut
passar, vou te visitar, ok..? Se cuida! — Então desligou a chamada.

Foi aí que o de cabelos cereja sentiu toda a sua ereção brochar,


imediatamente. Porque era óbvio que Jimin estava falando com o outro alfa
com quem ele passava seus ruts. Tetê era o tal Taemin, lembrava
claramente do outro tê-lo chamado assim, quando Jeon o encontrara
bêbado na calçada. O mesmo das cervejas. O único que já tinha visto
entrar na casa de Jimin. E Eles pareciam tão... próximos. Estava certo,
desde o começo. Eles não eram só amigos, eram parceiros de cio.
Claramente a relação deles era aberta, ainda que o ruivo não tivesse como
saber se era romântica ou não... Apenas aberta.

Talvez o tal alfa fosse para o Park, como Hoseok era pra si. Um auxílio.
Sabia que não era certo se enciumar com aquilo, mas o rapaz tinha um quê
bem forte de possessividade em si.

Então respirou fundo e bufou, sentindo sua excitação evaporar. Mesmo


sabendo que não era direito seu ficar chateado com aquilo, não podia se
impedir de sentir tal coisa. E agora ele claramente não voltaria a se
excitar, ainda que o dominador o devorasse, porque, veja bem, a coisa de
saber que Jimin saía com outra pessoa lhe incomodava pra cacete.
Jungkook não era o tipo de cara que achava maneiro dividir nada.
Portanto, tendo aquela verdade em sua mente, ainda tão fresca, nada o
faria ficar duro de novo, nem mesmo as carícias maravilhosas do Park.

Desgostoso, Jeon entrou em seu quarto e vestiu uma roupa, limpando sua
entrada melada de slick com um lenço umedecido. Quando estava prestes a
sair do quarto, o moreno apareceu, lhe encarando confuso.

— Por que se vestiu outra vez? — o lúpus perguntou, escorado no portal.

— Ah, é que... Acabou o clima — respondeu sem jeito.

O mais baixo caminhou para perto dele, puxando-o com uma mão
espalmada em sua bunda durinha, trazendo-o o para si, até os peitos de
chocarem. Jungkook era mais alto que si e os ombros eram mais largos, e
aquilo excitava o dominador ainda mais. Dominar um homem de porte
maior, era instigante. Isso era o que mais o atraía nos alfas, o fato de a
maior parte daquela classe ter um corpo maior e mais largo, mais forte,
mais musculoso.

— Eu posso dar um jeito nisso, você sabe... — declarou com a voz rouca,
aproximando os lábios.

Mas Jungkook o empurrou levemente, ainda muito sem jeito.

— Ah, hyung, eu realmente não tô mais no clima agora... Você... não vai
ficar chateado comigo, né?

O moreno piscou algumas vezes e então se afastou, com a expressão


tranquila.

— Claro que não. Tá tudo bem — e então deu um rápido selo nos lábios
finos do ruivinho. — Você já comeu?

— Ainda não... ia comer depois do banho, mas aí você chegou —


respondeu.

— Vou cozinhar algo pra você.

— Oh? Não, Jiminie, não precisa se dar ao trabalho, eu...

— Sou seu Dominador agora, esqueceu? É meu dever cuidar de você. É


uma troca. Você me dá o poder e faz de tudo pra me agradar, e cuido de
você em contrapartida — disse sorrindo, com as mãos enfiadas no bolso da
calça social, de modo bem despreocupado.

— Tudo bem então — Jeon respondeu docemente.

E aquele sorriso... Ah, que sorriso mais lindo. Quando Jungkook sorria,
seus olhos faziam ruguinha adoráveis em volta deles. Os dentinhos da
frente eram salientes e deixavam sua expressão ainda mais fofa. Jimin
queria mordê-lo. Sua mente gritava "Grrrrw"; Toda vez que via aquele
maldito sorriso, ficava encantado, desde o dia em que vira o garoto se
mudando para aquele prédio e o ajudara a subir com as caixas pesadas
para o apartamento. Naquele dia, quando o novo vizinho sorriu para si, o
moreno sentiu vontade de apertar as bochechas gordinhas. Só conseguia
pensar no quanto aquele alfa era lindo e fofinho. E foi logo dali que a ideia
de que Jungkook jamais poderia ser do tipo fetichista, havia se instalado
em sua mente.

— Você gosta de kimbap? — perguntou, fazendo um carinho despretensioso


na cabeça do mais novo, que tinha se sentado na cama.

— Gosto muito — o quase submisso respondeu, não conseguindo evitar o


sorriso bobo, ao sentir aquele carinho vindo do lúpus, pela primeira vez.

— Fique aí. Vá escolhendo alguma coisa pra gente assistir. Eu gosto de


filmes de ação. Ou de super-heróis. Escolha algum — o Park falou, ainda
lhe fazendo carinho nos cabelos tingidos.

— Prefiro super-heróis. Gosta do Homem de Ferro? — perguntou animado.

— Humn... — Jimin murmurou, com uma expressão pensativa. — Prefiro o


Capitão América.

— Aish, hyung! Eu estava quase pensando que você era perfeito! — o


avermelhado exclamou contrariado, vendo o outro parar o carinho e jogar
a cabeça para trás, rindo alto, do mesmo modo que riu ao telefone com o
outro alfa.

— Você é muito fofo — foi só o que lhe respondeu, antes de sair do quarto e
deixá-lo sozinho no cômodo.

Enquanto assistiam ao filme, na metade, os dois alfas estavam com a


barriga explodindo de tanto comer. Jungkook havia escolhido o filme dos
Vingadores, onde tinham os dois super-heróis, e Jimin notou que o mais
novo escolhera aquela película para lhe agradar.
Entretanto, quando começaram a assistir ao segundo filme, deitados na
cama do quarto do avermelhado, este começara a sentir uma dor de cabeça
forte, e acabou vomitando toda a refeição no banheiro. Suando frio, bebeu
um pouco da água que o lúpus ofereceu, e deitou na cama, sendo
embrulhado pelo companheiro em um pesado edredom.

O lúpus tinha desligado a TV e todas luzes do quarto, deitado ao seu lado e


feito carinho em sua cabeça até que dormisse. E agora, acordando sozinho,
o ruivo não conseguia parar de pensar que talvez o outro tivesse o deixado
ali para ir atrás do outro alfa com quem passava seus ruts.

Rosnou de raiva de si mesmo. Por que diabos tinha que sentir aquele tipo de
coisa sempre? Nunca confiava em ninguém. É claro, tendo um passado
como o seu, era esperado que ele tivesse se tornado aquele tipo de pessoa
desconfiada, que pensa sempre que irá ser abandonada, sempre insuficiente
para alguém, sempre passada para trás.

Ouviu a porta da sala bater e se retesou. Até ver Jimin abrir a porta do
quarto, com uma mochila nas mãos.

— Acordou? — o lúpus indagou, apertando os olhos em sua direção, já que


naquele breu, não podia enxergar com perfeição, ainda que os genes lupinos
dessem à Nova Raça, a capacidade de enxergar no escuro com mais clareza
que os humanos antigos.

— Sim... Pensei que você tivesse ido embora — declarou, sentindo-se


envergonhado, mas aproveitando que no escuro o lúpus não seria capaz de
ver seu rosto com perfeição.

— Só fui em casa buscar algumas coisas, meus produtos de higiene, cuecas,


esse tipo de coisa... Preciso cuidar de você até o heat chegar.

Jungkook sentiu seu peito aquecer.

— Oh... Isso é... muito atencioso, hyung — declarou encantado. — Mas...


você também vai sentir a febre do rut, certo?
— Sim, mas eu aguento. Você é a prioridade agora — respondeu com
firmeza. — Ainda sente dor?

— Sim, minha cabeça dói muito, hyung — disse fazendo uma careta, ao
que Jimin acendeu a luz do abajur, tendo o cuidado de não acender a luz do
teto, para não incomodar os olhos doloridos do mais novo.

O Lúpus se aproximou do garoto e pôs a mão em sua testa, sentindo-o


quente. Suspirou.

— Está muito próximo agora. Você está com febre. Lhe darei um
antitérmico e mais outro comprimido pra dor, okay? Trouxe alguns mais
fortes dos que os remédios que você tinha aqui — falou, pegando uma
pequena necessaire dentro da mochila.

Entregou os comprimidos para Jeon e foi até a cozinha, voltando com uma
garrafa de água, que deixou na mesinha de cabeceira. Depois que o alfa
tomou os comprimidos, Jimin afastou as cobertas pesadas e o puxou
delicadamente para que se levantasse.

— Venha, você precisa de um banho gelado, pra ajudar a diminuir a


temperatura do corpo.

— Me leva no colo, hyung? — Jungkook pediu manhoso, fazendo um


biquinho fofo com os lábios e uma carinha de coitado, que fez o coração de
Park palpitar, soltando um risinho.

— Ora... Você sabe alfas normais costumam ter um porte físico mais pesado
que os lúpus. Você, no caso, é um alfa bem maior que eu.

— Está dizendo que não aguenta me carregar, lúpus? — rebateu


zombeteiro.

Jimin rosnou, levemente irritado.

— Fique quieto e se levante logo, alfa. Não me provoque, se não te deixo


sozinho e só volto quando o heat começar — ameaçou. Mas não falava
realmente sério.
Rapidamente o Jeon se levantou rindo. Era tão divertido provocar Jimin, vê-
lo fechando a cara e fazendo um biquinho irritadiço. Devaneando, o
avermelhado teve plena ciência de que era por conta dessas suas atitudes
propositais de embate, que tanto Hoseok, quanto o Park, o consideravam
um brat. Ele seria capaz de mudar isso? Ele queria mudar isso? Porque a
resposta para a primeira pergunta era "talvez"; já para a segunda, era um
grande e agudo "não!".

Ambos seguiram para o banheiro, onde Jimin delicadamente retirou suas


roupas e as dele, entrando debaixo do chuveiro de água fria junto consigo.

— Jimin-ah... — chamou, enquanto sentia as mãos do lúpus deslizarem


com sabonete por seus ombros largos. — Você não quer me explicar a coisa
dos tipos de relações? Talvez eu deva saber, já que vamos entrar no cio
agora e...

— Nós não vamos praticar os fetiches durante o cio, Kook-ah — o Park


declarou, passando shampoo nos fios cor de cereja.

— Não? — indagou confuso, com os olhinhos fechados, o cenho se


franzindo e deixando sua expressão fofa. — Por que não?

— Porque no cio, nenhum de nós fica são. E nós dois estaremos em cio.
Você lembra que as práticas devem ser sãs, certo?

— Ah, sim. É verdade.

— Além do mais — Jimin continuou —, a sua primeira sessão como


submisso, deverá ser feita com mais cautela. Eu não irei te amarrar ou
amordaçar. Não é cabível fazer qualquer coisa que imobilize o sub, ou o
impeça de falar a safeword, na primeira sessão. Essa primeira sessão é tipo
um teste, pra você saber se gosta mesmo. Eu também não o infligirei
nenhum tipo de dor muito forte.

— Ah, não. Então qual a graça? Eu quero tapas, Jimin-ah... — resmungou,


arrancando uma risada do outro.
— Humn... Então posso abrir uma exceção pra você e te dar alguns tapas,
mas nada que ultrapasse a força leve, ok? — declarou em tom ameno. —
Futuramente nós podemos aumentar, mas não na primeira sessão.

— Eu não sabia disso — murmurou decepcionado. — Achei que... Eu não


sei, seria como as coisas que vi nos pornôs e lá na The Cave.

— Não é recomendável. Nós temos algumas regras para a primeira sessão


de um sub, que zelam pelo bem-estar dele. Por exemplo, nós chamaremos
pessoas de confiança, como Hoseok e Yoongi, para que fiquem no local,
enquanto realizamos a sessão. É de praxe. Serve para evitar que alguns
ditos "Dominadores" não acabem passando dos limites e o sub fique sem ter
a quem pedir ajuda. Existem alguns sádicos doentes, que ultrapassam os
limites saudáveis, compreende?

— Mas eu confio em você, Jimin-ssi. Nós nos conhecemos há alguns anos


— Jungkook respondeu bobamente.

— Mas é diferente. Estar em uma sessão de bdsm, é entrar dentro dos


personagens Dominador e submisso. Porque o Dom e o sub são
personagens. Nós não somos assim ainda, certo? Nós seremos futuramente.
Por já nos conhecermos há alguns anos, não é necessário que tenhamos os
garotos no cômodo próximo, geralmente essa necessidade é pra quando um
Dom e um sub que não se conheciam de antes, possam se prevenir de
possíveis problemas e acidentes. Mas mesmo que eu e você já nos
conheçamos há algum tempo, prefiro que seu amigo e o meu amigo estejam
lá, porque isso te deixará menos apreensivo. — Jungkook abriu a boca, num
pequeno "O", assentindo com um movimento de cabeça, entendendo
surpreso. — Isso nos leva à coisa dos tipos de relação que eu queria te
explicar. Vamos sair do chuveiro e sentar lá na sala, pra comer alguma
coisa. Preciso tomar uns comprimidos também, porque estou sentindo
minha febre chegar. A sua já está passando?

— Sim, hyung.

Jimin desligou o chuveiro e puxou as toalhas, para secarem os corpos e


saírem do box.
— Sabe, os humanos da Antiga Raça costumavam ter um jogo no bdsm,
chamado de Primal Play. Já ouviu falar?

O acerejado o encarou de cenho franzido.

— Pelo nome, me faz parecer que é algo relacionado ao primitivo; Seria


algo animalesco, talvez?

— Exato. Consistia num jogo, onde os humanos simplesmente acessavam o


lado mais primitivo deles e se deixavam levar pelos instintos, sem muita
consciência. E quando isso acontecia, naturalmente eles acabam evitando a
fala e se expressavam apenas com rosnados, grunhidos e uivos. Eles se
atacavam, lutavam por poder, se batiam, se machucavam. Pra eles era algo
proposital, era uma encenação, um jogo, verdadeiramente falando. Mas para
nós, que somos, de fato, híbridos de lobo, que temos instintos animais,
bem... Não é um jogo. É algo que simplesmente acontece. Por ser um lúpus,
minha natureza animal toma conta da minha consciência por completo. Eu
ajo instintivamente, quase não há racionalidade, são apenas os instintos de
dominar e procriar. Eu vou te ver como uma presa, algo a ser abatido e
dominado. E isso nenhum de nós dois vai poder controlar, entende?

Jungkook piscou atentamente, assimilando a informação. Nunca tinha


parado pra pensar naquilo, porque sequer sabia que se comportar assim, era
algo que humanos faziam por fetiche.

— Eu entendo. Nós somos controlados pelos instintos durante o cio, de


qualquer modo. Então, a gente meio que vai estar começando uma prática
de bdsm antigo, mas que pra nós da Nova Raça é comum agora.

Jimin dá de ombros.

— Com a exceção de que não vai ser realmente algo forçado ou passível de
controle.

— Qual a diferença disso pro pet play? — perguntou o ruivo.

— O Pet Play é absurdamente diferente. Não tem nada sobre caça, sobre
instintos, sobre selvageria ou agressividade animal. Geralmente, no pet play
o sub brinca de ser algum animal doméstico. Mesmo quando for um poney
play, onde é um jogo específico que o sub finge ser um cavalo, o ponto
principal do jogo é fingir ser um animal e se portar como um. A selvageria
é quase inexistente, a não ser quando se trata de um animal selvagem, mas
mesmo assim... No Primal Play, não é exatamente sobre ser um animal, e
sim se comportar como um humano primitivo.

— Oh, sim. Ficaram bem claras as distinções agora. Entendi, Jimin-ah.

Já secos e vestidos, sentaram-se no balcão da cozinha, um de frente pro


outro, com pratos de cereais mergulhados em leite. Enquanto tomava os
analgésicos e antitérmicos, o moreno viu Jungkook colocar cinco colheres
cheias de açúcar na tigela e arregalou os olhos.

— Você come tudo isso de açúcar? Eca! — exclamou, sentindo um pequeno


calafrio de nervoso.

— Gosto bem doce. Você não, hyung?

— Não. Detesto coisas doces demais — declarou o moreno.

Então o avermelhado se remexeu incomodado na cadeira. Ele tinha gosto e


cheiros doces. Aquilo só o fazia pensar na coisa sobre seus genes ômegas
desagradarem ao outro alfa.

Mas Jimin notou rapidamente e foi rápido em se desculpar.

— Eu não quis dizer nesse sentido, Jungkook. Não gosto de comer coisas
doces, mas seu cheiro me encanta, já falei — disse deixando a voz mais
áspera e sexy. — Meu instinto de lobo me faz ter vontade de... — mas se
interrompeu, imaginando que não deveria dizer aquilo para o garoto e
assustá-lo.

— Seu lobo tem vontade que, hyung? — insistiu curioso e atento. Por mais
que a particularidade lupina fosse apenas um instinto selvagem e não uma
segunda personalidade, era costumeiro se referir ao instinto lupino inerente
às novas raças, como "seu lobo". — Me diz, por favor... Eu quero saber,
odeio ficar curioso — terminou com um pequeno bico.
— Humn... Eu nunca senti isso antes, sabe? Meu lobo, ele... sente vontade
de te marcar — respondeu o mais velho, de modo cuidadoso.

Jungkook arregalou os olhos, em choque.

— M-mesm-mo?

— Sim. Eu sei, é estranho. Alfas não podem se marcar. A mordida de um


alfa em outro alfa é venenosa e quase letal. E como sempre costumei ter
relações sexuais com alfas, majoritariamente, meu lobo nunca sentiu essa
necessidade. Quando estive com ômegas e betas, meu lobo também não me
fez sentir nada disso. Mas não se preocupe. Jamais faria algo pra te
machucar de forma não prazerosa ou sem intenções disciplinares, sim? Não
fique receoso — o lúpus declarou firme. E então mudou o tom de voz para
algo zombeteiro e provocador: — Eu não mordo... só se você quiser —
terminou dando uma piscadinha galanteadora.

— Okay... — murmurou o ruivo, abaixando a cabeça e voltando a encarar


sua tigela de cereais com leite, segurando um risinho por conta do flerte
alheio. — Mas, hyung... E se... E se eu quiser te marcar?

Jimin o encarou confuso.

— Por que você faria isso? — perguntou fitando o avermelhado.

— Eu... Argh! — gemeu incerto, sem muita coragem de encará-lo, mas


precisando fazê-lo. — Eu não sei, hyung, mas hoje, quando você entrou no
apartamento e senti seu cheiro mais forte, por conta do rut, minhas gengivas
coçaram. Meu instinto me fez ter vontade de te morder também.

— Oh... — o moreno exclamou surpreso. — Isso é... Incomum. — Ficaram


em silêncio por alguns minutos, enquanto o dominador pensava sobre o
assunto. — Bom, eu confio que você não queira me ver envenenado nem
morto — disse brincalhão. — Então... Apenas não me morda.

Jeon riu, menos tenso.


— Juro que vou tentar me controlar. Você é bonito demais pra morrer,
hyung — declarou rindo.

O Park sorriu ladino, com uma expressão totalmente convencida e


engraçada.

— Eu sei — terminou dando uma piscadinha e ambos gargalharam, o clima


totalmente descontraído.

— Que alfa convencido... — Jungkook murmurou sacudindo a cabeça.

— Ah, você sabe. Alfas, por serem mais fortes que os ômegas e betas,
acabam ficando um pouco... Você sabe... metidos.

— Metidos? Eu não sou assim — o acerejado negou despreocupado.

— Você se acha pra cacete, Jungkook, corta essa — o lúpus devolveu,


descrente da afirmação mentirosa do outro.

— Ah, só um pouco. Ainda que as classificações em alfa, beta ou ômega


não interfiram em nossa personalidade, alfas realmente tendem a serem um
pouco mais cheios de si. Acho que isso é porque nós somos mais fortes
fisicamente, mais altos, mais robustos. Se bem que você é um alfa
pequenino, hyung — Jungkook falava tranquilamente.

Conversar com Jimin sempre parecera muito fácil, o assunto fluía. Todavia,
o lúpus era misterioso e evasivo, o que fazia com que o ruivo não apreciasse
tanto as conversas assim. Mas depois que descobrira sobre o vizinho e os
fetiches que ele praticava e levava como filosofia de vida, pareciam não
haver mais tantos segredos entre os dois, pelo menos na maior parte das
vezes, deixando tudo mais simples e leve.

— Eu vou virar essa tigela na sua cabeça, pivete — Jimin respondeu


grunhindo. Detestava que mencionassem sua altura. Alfas geralmente eram
maiores que os demais realmente, mas quando eram lúpus, acontecia o
oposto: alfas lúpus, eram alfas com tamanhos mais compactos.
— Oh, isso te irrita, eu sei — rebateu em tom zombeteiro. — Mas você fica
tão fofinho irritado...

O menor bufou e revirou os olhos. Tudo indicava que Jeon Jungkook seria
um perfeito brat, no mínimo um bratty sub, que o provocaria e
desobedeceria por puro prazer. Então o dominador sorriu maldoso, antes de
responder:

— Não há dúvidas que você vai se revelar um brat — comentou


provocador, lambendo sua colher. — Não um bratty sub, nem um middle
brat; mas um brat mesmo. Sabe, um submisso malcriado adora desafiar. Ele
é um tipo de submisso que tem prazer em jogar na beirada, brincando com
os limites do dominador e dele próprio. Falando de forma crua, um brat
enxerga o jogo entre ele e o Dom, como um embate imaginário, onde ele
pensa que pode ganhar, e que se ganhar, vai mostrar ao dominador que ele
sim está em posição superior. O brat é a pessoa que sente prazer em
submeter, mas sem admitir que se submete. Ele pensa que pode e deve
vencer o Senhor dele, mas, quando estão frente à frente, o brat não se
aguenta, ele fraqueja... E então goza, mas goza muito! É aí que ele é
domado e acaba fazendo tudo que o seu Domador mandar.

Jungkook apertou os olhos, com aquela indireta bem direta. Não duvidava
que gozaria como nunca e ainda acabaria obedecendo Jimin, como um
cachorrinho adestrado.

— Um Domador é o mesmo que um Dominador? — perguntou então,


interessado.

— É a mesma coisa, mas ao mesmo tempo não. Os dois estão em mesma


posição, mas funcionam em modos de diferentes. Um Dominador detesta
ser desobedecido. Um Dominador só se sente satisfeito, quando um sub
acata suas ordens, sem questionar, sabendo que se entregou o poder nas
mãos dele, ele é quem saberá tomar as melhores decisões para si — Jimin
explicou, levantando-se para ligar o ventilador de teto e voltando a sentar-
se. Os comprimidos estavam impedindo o mal estar, mas a febre estava
vindo, de qualquer modo. — Já o Domador ou Tamer, é o termo que a gente
usa para um dominante que entra numa relação com um brat. Um Domador
não se importa muito que o brat lhe desobedeça, porque vê aquilo como um
desafio. Ele sabe que pra que o brat obedeça, ele terá que conquistá-lo, terá
que provar que é bom o suficiente pra tal. Isso acaba sendo instigante pro
joguinho de poder dos dois.

— E você já lidou com outros brat's antes? — o avermelhado questionou


curioso.

— Não, você é o primeiro — respondeu, observando a expressão surpresa


de Jungkook vacilar. — Sempre detestei que minhas ordens fossem
questionadas, tanto no trabalho, quanto no bdsm. Mas lembro que no
quartel, às vezes eu sentia prazer em disciplinar alguns soldados
desobedientes e rebeldes. Era como se estivesse esfregando na cara deles
que eu sempre tinha razão. Era divertido vê-los abaixarem os olhos e se
submeterem às minhas ordens, com o olharzinho perdido e arrependido —
admitiu rindo.

— Tomara que você tenha sorte comigo, hyung. Posso ser um pouco
teimoso... — Jungkook disse, arrancando uma risada do Park.

— Por falar nisso, vamos relembrar que durante as sessões, devo ser
chamado apenas de Senhor, Mestre ou Jimin-ssi. No dia a dia, me chame de
hyung ou Jimin, como preferir — explicou comendo seu cereal não muito
adocicado.

— Você já disse hyung, eu lembro. Mas "Mestre" é estranho. Isso me


lembra o desenho Caverna do Dragão — disse com uma caretinha
engraçada.

— Certo — concordou gargalhando. — Apenas Senhor ou Jimin-ssi, então


— assentiu, observando o garoto. — Vamos falar sobre os tipos de relações
de D/s — ele começa, empurrando sua tigela para o lado. — Existem
diferentes trocas de poder; essa troca de poder pode ser sexual ou
romântica. E dentro dessa troca, elas podem ainda ser uma troca total ou
uma troca parcial. Ou seja, você pode dar todo o poder sobre seu corpo e/ou
sua vida pro seu Dominador, ou pode dá-lo apenas parcialmente. Você pode
entregar este poder na relação, apenas na parte sexual ou apenas na sua
vida, na relação em si, ou ambos. Existem três tipos de submissão: A
primeira, chama-se Submissão Erótica. É um tipo de relação apenas
sexual, sem nenhum envolvimento emocional entre os praticantes. Pode
haver, ou não, uma troca de parceiros, o submisso pode transar com outros
Dominadores, e vice e versa. Pode ser algo esporádico, ou eles podem ter
uma relação D/s fixa, mas ainda sem nenhum tipo de envolvimento
emocional. Nesse caso, a relação é apenas um jogo, onde o sub está sempre
disponível para aquele mesmo Dom. Aqui, obviamente, a troca de poder é
erótica, não romântica. E claramente é uma troca parcial de poder.

Vendo que Jungkook assentiu em entendimento, prosseguiu:

— A segunda, é comumente chamada de Submissão de alma. O submisso


de alma se submete na parte sexual, exatamente como naSubmissão Erótica,
mas busca um envolvimento emocional maior com seu dominante. E ele é
chamado assim, porque acredita-se que está em sua alma servir. É como
algo inerente à personalidade dele, a sua identidade. Esse submisso, é
submisso em todos os campos, praticamente. Ele aceita seu Dom como
alguém mais capacitado que ele, para fazer suas escolhas. E não só isso, ele
idolatra seu Dominador, de tal forma, que o excita profundamente ser
controlado. Ele prefere não ter que escolher muitas coisas, prefere que seu
dominante as faça por ele. Normalmente são submissos muito sensíveis,
pessoas emocionalmente mais delicadas, então é necessário um cuidado
maior ao se lidar com eles. Esse tipo de sub raramente vai querer apenas
jogos sexuais, eles querem uma troca de poder que seja no campo
romântico também, onde eles entregam todo ou quase todo o poder nas
mãos do seu Senhor.

— Humn... eu vejo nossa relação mais parecida com a Submissão Erótica


fixa. E sobre essa troca de poder... Eu não quero te dar todo o poder sobre
meu corpo ou sobre minha vida, só um pouco já é satisfatório. Mas ao
mesmo tempo, quero receber carinho. A gente não tem nada emocional,
mas já que vamos estar juntos... Eu não sei explicar, hyung.

Não tinham nada emocional, Jungkook estava ciente. Mas não era como se
repudiasse a ideia. Cada dia mais, inclusive, pensar em ter Jimin pra ele e só
pra ele, causava-lhe sensações muito intensas, ao ponto de começar evitar
pensar a respeito, porque sua cabeça não parava de bombardeá-lo com
cenários dos dois juntos, como um casal de verdade. E era irritante.
— Eu concordo. Vou te explicar a última, mas acredito que nossa relação se
encaixe na troca parcial de poder — Jimin declarou sob olhar atento de
Jeon. — A terceira, é a Submissão 24/7. Necessariamente, ela será uma
relação de total entrega de poder. Essa certamente não seria a nossa, porque
eu mesmo não me agrado muito com ela e tenho certeza de que você
também não. Como o próprio nome já diz, essa relação de submissão é
ininterrupta, acontece todos os dias, o tempo todo, 24 horas por dia, 7 dias
na semana. É muito comum encontrarmos essa relação entre os praticantes
de BDSM. É como o santo-graal das relações, porque geralmente, pra se
chegar a uma relação nesse nível, os praticantes também estão envolvidos
romanticamente. É complexo, porque torna-se uma relação de Servidão,
onde o Dominador acaba se portando como Dono do sub, e o sub como
Escravo. E, é claro, o sub pode ser do tipo obediente, um escravo totalmente
suave de se lidar, que gosta de obedecer, assim como ele pode ser o tipo que
gosta de ser forçado. Tudo vai depender da dinâmica do casal.

— Definitivamente eu não gostaria de ser o escravo de ninguém —


Jungkook disse, com uma careta. — Eu mal consigo fazer as coisas pra
mim, quem dirá pros outros.

Jimin dá uma risadinha divertida. O ruivo era tão era engraçadinho... Um


engraçado fofo. Principalmente quando sorria, porque seus dentinhos
saltados e as ruguinhas em volta dos olhos, deixavam sua expressão
bonitinha e meiga, beirava o infantil.

— Eu também não gosto. Imagine só, ter uma pessoa ali, te servindo, como
um empregado... Minha nossa, eu me sentiria muito sufocado.

— Então você nunca tentou? — Jungkook indagou.

— Não exatamente. Tive um sub, uma vez, que queria me servir todo o
tempo. Eu até tentei deixar, mas me senti realmente incomodado que ele
vivesse junto comigo. Era quase como um regime marital, então era
estranho, considerando que eu não estava apaixonado por ele. Então apenas
encerrei a relação, depois de um mês, mais ou menos.

— Você... Tem algum contato com ele ainda? — o mais novo perguntou,
levemente enciumado, mas Jimin não pareceu perceber.
— Não. Na verdade eu nunca mais o vi. De qualquer forma, falemos da
nossa relação — mudou rapidamente o rumo da conversa. — Obviamente
nós teremos uma relação fixa. Sendo vizinhos, é claro que teremos
facilidade para transar toda hora. E eu sou o seu Mentor, seu professor,
então é claro que não poderia ser esporádico — Jimin dizia, racionando
logicamente. — Nós também não temos um romance entre nós, embora
nossos lobos pareçam estar meio... confusos — falou rindo rapidamente,
como se não estivesse dando muita importância àquele fato curioso.

O que era uma grande mentira.

Não era só o seu lado lobo que o deixava confuso em relação a Jungkook.
Ele nutria sim, um carinho diferente pelo garoto, fruto, talvez, de todo
aquele desejo encubado ao longo dos anos. O Park sabia que, quanto mais
desejava uma coisa que não podia ter, mais o interesse aumentava, e era
aquilo que vinha acontecendo entre eles.

E agora que a coisa toda estava sendo permitida e os sentimentos


explorados entre os dois, não era como se o ex-militar fosse ser capaz de
controlá-los. Mas estava decido a não deixar aquilo às claras, para não
assustar o garoto. Afinal, mal haviam começado aquela relação.

— De qualquer modo — continuou —, se estivermos em uma relação fixa,


é claro que irei te dar carinho, não se preocupe. — Ah, é claro que daria.
Sua vontade era de espremer o garoto em apertados abraços, beliscões nas
bochechas e cheiradinhas no cangote. Mas se conteria, por hora. Ainda não
podia se mostrar tão abertamente, sem estudar o terreno. Jimin era muito
cuidadoso quando se tratava de sentimentos. Há muito não os sentia
daquele jeito. — Talvez eu tenha lhe parecido um pouco frio, durante o
tempo em que nos conhecemos, mas sou bastante carinhoso. Então não se
preocupe, cuidarei de você e irei mimá-lo, de acordo?

Jungkook sorriu bobo.

— De acordo, Jimin-ssi — provocou, chamando pelo honorífico


respeitoso. — Você nunca me pareceu frio, na verdade... Só era meio
misterioso. Acredito que fosse porque não queria me dar muita brecha e
com isso eu acabar descobrindo sobre a coisa do bdsm, né?
— Você aprende rápido... — o dominador sorriu satisfeito, dando uma
piscadinha matreira para o ruivo e, em seguida, levantou-se recolhendo as
duas tigelas para colocar na pia.

Só que no meio do curto caminho, sentiu uma forte dor no corpo e uma
tontura que quase o levou ao chão, se não fossem os braços fortes de Jeon,
que o seguraram com firmeza, quando notou que ele estava derrubando as
tigelas e perdendo o equilíbrio.

— Jimin-ah! — o ruivo exclamou nervoso.

É claro que sabia como eram os ruts de um alfa, afinal, ele também era um.
Todavia, Jimin era um lúpus. Sabia que os alfas lúpus costumavam nascer
com uma estrutura menor, semelhante a dos ômegas, mas que seus ruts
eram ainda mais brutais, pois um lúpus possuía uma fertilidade muito maior
que o normal.

Num movimento rápido, Jungkook pegou o alfa no colo e o levou para o


quarto, desviando dos cacos de porcelana espatifados no chão. Deitou-o
cuidadosamente na cama e correu até o banheiro, trazendo uma toalha de
rosto. Voltou à cozinha e encheu uma panela de gelo com água gelada,
voltando pro quarto.

Imergiu a toalha na água extremamente fria e a torceu, levando o tecido


úmido e gelado até o pescoço do lúpus, esfregando-a ali. Deslizou o tecido
frio em todas as partes nuas do corpo alheio, como braços, pernas e rosto.
Abandonou a toalha felpuda dentro da panela com água gelada de novo, e
levantou o corpo menor sem dificuldades, para retirar-lhe a camisa. Em
seguida, se livrou da bermuda usada pelo lúpus, deixando-o apenas em sua
boxer azul. Então torceu a toalha gelada outra vez e a pôs dobrada
retangularmente sobre a testa do moreno. Por fim, ligou o ar condicionado e
deixou Jimin ali, sabendo que aquilo poderia demorar.

Durante a madrugada, Jungkook ficou na sala, jogando vídeo-game,


enquanto tentava distrair-se da dor e calores causados pelo heat. Por conta
dos remédios, o calor e dores estavam um pouco controladas. De meia em
meia hora, ia até o quarto verificar o estado do Park, que tinha a pele cada
vez mais quente. Conquanto, repetia o processo com a toalha fria, por todo
o corpo exposto do lúpus para aliviá-lo, pois sabia que mesmo inconsciente,
o alfa deveria estar sentindo dor.

Em algum momento, com sono e sentindo sua entrada começar a contrair


desesperada, como era de praxe nos cios ômegas, trocou o pad higiênico
absorvente dentro do ânus, e deitou-se na cama ao lado de Jimin, sendo
agraciado pelo ar gelado. Não tinha forças para tirar as roupas, então apenas
deitou e adormeceu.

Teve a impressão de ter dormido por horas e de ter sido atropelado por um
caminhão, ao acordar com o sol iluminando a janela por trás das cortinas
finas. Seu corpo estava quente e o ânus molhado de slick. E com a primeira
fungada de ar que deu, pode sentir o cheiro que denunciava o rut de Jimin.
O lúpus já estava no cio. E pior: tinha entrado no cio antes de Jeon, coisa
que nenhum dos dois esperavam.

Jungkook estava deitado de costas para o lúpus e, ao se virar para ele,


tomou um susto ao sentir um rosto se enfiando na curvatura de seu pescoço,
farejando-o. O cheiro amadeirado do lúpus estava absurdamente forte, no
ápice olfativo. O aroma de musk era o que mais sobressaia. E o ruivo, ao
sentir aquele cheiro inebriante e convidativo, ficou imediatamente duro,
todo o sangue em seu corpo correndo diretamente pra lá. Manhoso,
arrepiou-se com as fungadas do Park em seu pescoço, até este girar e se por
em sua frente, subindo em cima de si. O lúpus sequer movia o corpo de
forma normal; Ele, de fato, agia como um animal, lembrava um felino, pois
os movimentos eram certeiros e graciosos.

Já o avermelhado, ao ter o outro alfa no cio, por cima de si, perdeu toda a
linha de raciocínio na mente. Era como se um grande clarão tivesse surgido
e tirado todos os seus pensamentos. Jungkook observou os olhos do
alfa lúpus, originalmente negros, agora num tom completamente cinza.

Então o instinto ômega surgiu, naquele exato momento. Jimin, que o


encarava exatamente como um animal faminto, percorrendo todo o seu
corpo com as orbes incisivas, ao fixar os lumes nos seus, que ele próprio
sabia estarem em tom dourado, rosnou com a voz distorcida, soando muito
perigosa:
— Alfa.

E avançou para cima do ruivo, abruptamente.


13| primitive
A fic fez 8k de views. Não é muita coisa, mas é o máximo que já consegui
aqui no wattpad kkk E como amanhã é feriado, acredito que todo mundo
esteja online, certo? Se não tiverem, cês são um bando vacilões kkkkkkkkkk
Então vamo comemorar com att e o tão esperado primeiro smut... Mas
relaxem! O smut de bdsm ainda está por vir (:

Enjoy.

Não era novidade que ômegas ficavam completamente enfeitiçados quando


atingidos pelo odor de alfas em cio. O cheiro lhes atraía, mostrando a um
ômega, qual seria sua função ali: a de satisfazer o alfa. Contudo, alfas
ficavam selvagens, descontrolados e assustadores. Alguns perdiam tanto o
controle que marcavam seus companheiros, no calor do momento.

Jungkook já era acostumado a ficar com outros alfas, assim como Jimin.
Mas a primeira vez em que sentira vontade de marcar alguém, fora na
presença do lúpus; Só que seu lado que queria marcar, era o lado alfa. Um
lado que ainda estava ali, ainda que seus instintos fossem tomados pela
essência ômega agora. Porque estando em heat de ômega, a maior parte de
seu ser, queria fazê-lo se portar como um. Todavia, sua parte alfa ainda
estava ali, escondida. Como se seu corpo fosse um automóvel, onde o alfa
estava no banco do carona, e o ômega no banco do motorista.

E um alfa não era suposto a sentir desejo ou atração pelo cheiro do outro,
mas sim repulsa. Então o medo, ao encarar os olhos cinzas do alfa lúpus o
atingiu. Seu lado alfa se amedrontou em estar ali, à mercê de outro de sua
classe, controversamente.

Já Jimin, fitava os lumes dourados de ômega em heat de Jungkook,


percebendo de forma surpresa, que aquele ser também estava em cio.
Ambos estavam agora. Então sentiu as gengivas coçarem outra vez. Todos
os seus instintos o mandavam morder aquele meio ômega de cheiro doce.
Principalmente porque aquele cheiro o enlouquecia. O alfa rosnou. Rosnou
de forma assustadora, recebendo um chorinho em resposta. Se ômegas se
excitavam com o cheiro de um rut, e alfas se apavoravam, no caso de
Jungkook, este sentia um misto de medo e tesão. Como se os instintos que o
faziam ficar ali, também o dissessem para correr. Seu ômega queria se
entregar, mas seu alfa entrara em pânico. E o rosnado de um alfa,
amedrontaria qualquer ômega ou beta, de qualquer modo.

Jungkook, tomado pelos dois instintos brigando entre si, se apavorou ao


ouvir aquele rosnado furioso do Park. Quando o viu mostrar as presas e as
aproximarem de seu pescoço, o ruivo empurrou o outro alfa com toda a sua
força e fugiu. Não que houvesse para onde fugir. O apartamento minúsculo
o conteria. Apenas o faria uma presa, prestes a ser abatida. Contudo, seu
corpo queimava pelo lúpus. Eram as sensações mais contraditórias
possíveis: querer fugir de alguém ao mesmo tempo em que quer
desesperadamente se entregar pra ele. Então correu. Correu, abrindo a porta
do quarto rapidamente, aproveitando-se que o alfa se atrasaria em ir atrás,
por ter sido atirado no chão com brutalidade por si.

Enquanto corria pelo pequeno corredor, ouviu o som que o fez arrepiar a
espinha: o uivo irado do alfa lúpus. Um uivo alto, dolorido, sofrido. Sabia
que todos os vizinhos de seu prédio e dos prédios ao lado, teriam ouvido. O
problema era que aquele tipo de uivo, servia para convocar a matilha. Ainda
que a raça híbrida de humanos e lobos não andassem em bando daquele
modo. Mas de qualquer jeito, os instintos estavam ali e funcionavam.

Jungkook sempre ouvira falar dos uivos de um alfa lúpus. Já tinha até
escutado alguns ao longe, algumas vezes. Ainda que ele mesmo possuísse
genes recessivos, aqueles uivos de alfas lúpus, jamais surtiram efeito em si.
Porque ele era um alfa, afinal de contas. Alfas não atendiam aos chamados
de uivos de outros alfas.

O ruivo continuou sua fuga, mas teve de parar na sala. Olhou para todos os
lados, pensando na possibilidade de fugir. Mas como poderia? Estava no cio
também. O calor em seu corpo era insuportável, seu baixo abdome parecia
estar sendo rasgado por dentro.

Como se não bastasse, sentia um incômodo vento gelado em seu ânus, pois
sua lubrificação estava escorrendo, dando-lhe um arrepio na pele — o pad
higiênico havia deslizado pra fora enquanto dormia. E agora, para piorar,
Jimin estava uivando como um louco. Ao longe, outros uivos estavam
sendo dados em respostas, uivos ômegas. Então sua consciência se
enfureceu. Quem Jimin pensava que era, para tentar convocar outros
ômegas ao seu apartamento? Ele era seu. Tanto o apartamento, quanto o
alfa lúpus. Tudo ali era seu. Ele seria o ômega a satisfazê-lo e a ser
satisfeito por ele, ainda que não fosse um ômega exatamente. Mas naquele
momento, era como um.

Então o resto de seu instinto alfa aterrorizado simplesmente evaporou. O


lado ômega definitivamente estava tomando todo o controle agora. E o seu
ômega, ainda que assustado com os rosnados, queria se saciar.

Quando Jimin surgiu na entrada da sala, completamente nu, com o glorioso


membro ereto apontando pra cima e o corpo brilhando de suor, Jungkook
rosnou de volta e correu para cima do alfa, o derrubando no sofá. O medo
apenas lhe deu uma descarga de adrenalina no corpo e imediatamente
desapareceu, com a mesma velocidade que uma lâmpada se acende ao
pressionarmos o interruptor.

O moreno tentava empurrá-lo, não queria ficar embaixo de modo algum.


Contudo, Jeon estava insano. Rosnava em seu ouvido, farejando-o, e
rebolava em seu colo, sem se penetrar, apenas deslizando o rabo melado de
slick em seu pau, tentando satisfazer-se minimamente.

Era como diziam por aí, ômegas eram mesmo confusos; em um segundo
sentiam-se amedrontados frente a um alfa, e no outro já estavam clamando
por eles, excitados que só. E em se tratando de Jeon Jungkook, um híbrido
de classes, era tudo uma enorme confusão de sensações e sentimentos.

O contato da lubrificação do ruivo na pele de Jimin, fazia o membro do


moreno formigar. Ele rosnou de volta e levou a destra para a nuca do
avermelhado, trazendo o rosto bonito para perto do seu, imediatamente o
beijando e sendo correspondido com paixão. Os lábios grossos do mais
velho colaram-se aos finos de Jeon de forma bruta e animalesca. Beijava
com volúpia e fervor, em total desespero, como se quisesse arrancar a boca
do outro.
E nem de longe aquele era um movimento ruim. O beijo faminto, era ainda
mais excitante. Jungkook gostava daquele jeito, daquela pegada bruta. Até
porque, estavam tomados pelos instintos animais, ora pois, aquilo era
inevitável. Teve de se esforçar para acompanhar o ritmo acelerado do lúpus,
já que seu corpo tinha ficado automaticamente mole em cima do moreno,
enquanto era dominado por ele, mesmo que Jeon fosse quem estivesse por
cima, no topo.

O de genes ômegas se sentia em transe. Os cheiros de musk, violeta e


sândalo de Jimin, estavam absurdamente fortes desta vez, tomando-lhe os
sentidos e o deixando à mercê do alfa. Seus genes ômegas imploravam para
que fosse fodido pelo lúpus sem demora, e que fosse atado ao seu nó,
embora, sendo um alfa, Jungkook não pudesse ser atado a outro que não
fosse ômega ou beta, já que apenas possuía nó em seu pênis, não em sua
traseira, até onde sabia.

Jimin não poderia deixar que aquele ômega o subjugasse, de jeito nenhum.
Então, em um rápido movimento, derrubou o de fios cereja no chão duro,
pousando por cima deste. O estalo do corpo no chão foi ouvido, mas o ruivo
não pareceu se importar. A excitação certamente o deixava alucinado, de
modo que, provavelmente tenha sido incapaz de sentir dor ao ser atirado no
chão com brutalidade.

O lúpus rosnou e avançou com os lábios para o pescoço cheiroso, chupando


e sugando a pele quente. Jungkook gemia e rebolava no chão, tentando ao
máximo manter a sanidade, enquanto sentia a língua macia gostosa do alfa
em sua pele. Jimin deslizava o músculo aveludado ali, desenhando círculos
de saliva na tez alheia, e à cada gemido necessitado dado por Jeon, o
moreno ia ficando mais duro. Só que sua ereção já se encontrava no limite,
expelindo pré-porra e pulsando desesperada. Investia com o quadril sobre o
corpo alheio, roçando seu caralho excitado no do parceiro. Calculava
cuidadosamente os movimentos, para que sua glande melada, deslizasse
certinho na glande do outro; e quando isso acontecia, ambos arfavam,
enlouquecendo de tesão.

Foi então que Jungkook começou a sentir o arrepio surreal subir por sua
coluna; aquele que anunciava seu prazer querendo ser despejado. Mordeu
os próprios lábios, tentando descontar aquela sensação que queria rasgar seu
corpo, já que não haviam lençóis ali, para que pudesse apertar. E aí suas
mãos foram parar diretamente nas costas do alfa. Apertou a pele dali, e
quando foi sentindo seu gozo fazer o caminho para fora do corpo, tudo
ficou em câmera lenta; suas unhas, já um pouco crescidas, deslizaram com
toda a força pelas costas do lúpus, da nuca até a bunda. Sim, até lá. O lúpus
sugou o ar audivelmente, jogando a cabeça pra trás, num som misto de
prazer e dor, ao que sentiu os cortes superficiais rasgando sua pele.

E quando Jungkook sentiu a carne durinha e volumosa das nádegas alheias


em suas mãos, apertou-as com fervor, sentindo a carne farta encher suas
palmas, enquanto Jimin acelerava as investidas em cima dele, aumentando
o atrito dos corpos e dos paus tesos.

Então o ruivo gozou, gozou tão forte, que sentiu como se seu corpo
estivesse entrando em chamas. O calor aumentou, era como se a febre
tivesse atingido o seu pico. Sentia claramente o suor saindo pelo poros, as
veias do corpo bombeando sangue rapidamente, o cérebro quase dando
pane e a mucosa das gengivas coçando e ardendo, como se suas presas
quisessem rasgá-las.

O Park voltou a sugar o pescoço do mais novo com ainda mais força,
gemendo abafado contra sua pele, usando o pouco de sanidade que ainda o
restava, para que não marcasse o rapaz; mas sentir a porra quente do ômega,
melando sua barriga, soltando aquele cheiro cítrico ainda mais forte,
fizeram-no quase perder o controle. Sua presas desceram mais na carne da
gengiva, e a pontinha dos dentes fizeram menção de rasgar a pele alheia. O
lúpus quase chorou em desespero. Precisava retomar o controle sobre seus
instintos, antes que fizesse uma besteira. Seu nariz estava exatamente no
pescoço do rapaz, onde o cheiro era extremamente forte. E isso, somado ao
cheiro de seu prazer liberado, eram o ápice olfativo.

Num rompante, Jimin virou o corpo mole de Jeon no piso, de forma rápida,
esfregando-se nele, com o pau teso deslizando entre as bandas meladas de
lubrificação natural que o interior alheio expelia. O de cabelos cor de cereja
chegou a sentir seu slick escorrer do ânus para suas bolas inchadas, agora
que estava de bruços e o mel escorria em grande quantidade, deslizando
pelo períneo, causando um arrepio gostoso por onde o líquido descia.
Estava sim, ainda meio atordoado pela explosão rápida de prazer, mas
aquele era um cio, afinal. Não seria uma gozada que o satisfaria. O pênis
permaneceria firme como rocha. Aliás, estava ainda mais excitado que
antes. Queria sentir sua entrada ser invadida e alargada. Queria sentir a
cabeça do pau alheio, cutucando seu interior, massageando sua próstata,
levando-o ao delírio, enquanto sentia aquele ponto em especial sendo
atingido, uma, duas, mil vezes.

Já o lúpus queria se enfiar no avermelhado de uma só vez, rasgá-lo,


arrombá-lo, sentir-se esmagado pelas paredes internas do outro, e assim o
faria, certamente e com rudeza. Seu lado Dominador era ainda mais forte
quando seus instintos de lobo o comandavam.

Não era como se houvesse de fato, um lobo dentro de si, como uma
segunda pessoa. Era mais como se a irracionalidade primitiva humana se
associasse com o instinto animal lupino, impedindo um raciocínio claro.
Um lobo agia por instinto, e seu instinto era acasalar para procriar e
interromper a dor e urgência insuportáveis que corriam por seus corpos,
tanto a dele quanto a de seu parceiro.

Contudo, mesmo que seus instintos tivessem pressa, Jimin queria provocar
o outro alfa ainda mais. Queria usar o restinho de sanidade que ainda
possuía, para vê-lo implorando para ser tomado e fodido com gana. Porque
o lúpus fodia gloriosamente bem, em qualquer ocasião e com qualquer
pessoa, ainda que fosse um alguém pelo qual ele não tivesse muito desejo.
Era algo inerente à sua classe de alfa lúpus, afinal, era biologicamente o
maior reprodutor de sua espécie.

Entretanto, ter qualquer pessoa implorando por si e o louvando, eram um


grande fetiche de Park Jimin. E se a pessoa a implorar fosse Jeon Jungkook,
ah..! Então o lúpus estaria no paraíso. Eram incontáveis as noites que havia
passado se masturbando, pensando em seu vizinho gostoso, de cheiro
apetitoso e volume aparente dentro das calças — porque sim, Jimin havia
reparado naquilo com bastante frequência ao longo dos anos, mais do que
gostava de admitir para si mesmo.

O cheiro ômega de ameixa e maçã do Jeon, certamente por estar em heat,


era muito mais forte agora. Mas como se posicionados como notas de
fundo, era possível sentir o cheiro alfa também, de bergamota e cedro. E
naquele momento, Jungkook estava totalmente submisso e entregue a si.
Rebolava no chão, gemendo baixinho e tentava empurrar seu quadril contra
o caralho duro de Jimin entre suas carnes, com pressa de ser empalado. Mas
como dito antes, o lúpus queria provocá-lo primeiro. Queria vê-lo implorar.

— Peça... — Jimin falou sussurrando. — Peça o que quer que seu hyung
faça e farei agora, hmn? — disse esfregando a ponta do nariz pela pele
exposta da nuca alheia, mas segurando a respiração ao máximo, para não
perder o controle e marcá-lo. — Peça, Alfa...

Jungkook sugou o ar com força, inebriado. Não queria ter que pedir. Sentia-
se humilhado em pedir tal coisa. Talvez apenas envergonhado, mas era tudo
muito confuso naquele momento. Ainda mais quando o caralho melado do
lúpus roçava em sua entrada enrugada, que piscava ansiosa e desesperada.

— Peça! — Jimin rosnou, segurando a base do próprio pênis e batendo


várias vezes a cabeça da piroca pesada em sua entrada, fazendo-o tremer
dos pés à cabeça, em puro tesão. Principalmente por conta dos barulhinhos
estalados do choque da glande inchada, batendo em sua fenda aberta.

— Me fode, alfa! — grunhiu o ruivo.

— Oh, que subzinho mal educado, tsc tsc... — o moreno zombou afastando-
se.

Jungkook queria chorar de desespero.

— Me fode, por favor... — disse manhoso. — Por favor — rebolou a


traseira empinada, provocador —, meu senhor — finalizou fitando o alfa de
forma abusada por cima do ombro.

Jimin sorriu ladino e satisfeito, com seus olhos cinzentos como um céu
chuvoso.

— É assim que eu te quero.... bem manhosinho... — se aproximou


novamente, puxando o quadril de Jeon para trás, este que automaticamente
se encaixou na glande do pênis duro. — Você merece ser recompensado.
Então vou te comer tão gostoso, como ninguém comeu na vida — declarou
e então finalizou com uma lambida na orelha alheia, empurrando-se para
dentro do outro, bem lento.

E à cada centímetro de pele que era engolida pelo avermelhado, ambos


gemiam em uníssono. Após estar por completo dentro do garoto, Jimin
respirou fundo, tentando se concentrar em alguma coisa, qualquer coisa,
para que desse tempo do outro se acostumar com seu caralho latejando no
interior alheio. Mas como pensar em algo fora dali, se o canal apertado e
quentinho do mais novo pulsava ao redor de seu pênis necessitado?

O lúpus soltou uma lufada de ar, buscando o próprio autocontrole, mas não
funcionou. Logo se viu metendo forte, fundo e rápido na entrada quente, de
tal forma, que o corpo alheio sacudia com os movimentos, saindo do lugar.

De início, Jungkook já gritava. Ninguém jamais havia feito gostoso daquele


jeito. Nenhum outro alfa ou beta. Nem mesmo ômegas. Jimin era rude,
investia duro, mas por conta de sua lubrificação natural, aquilo não
machucava. À cada enterrada, o alfa surrava sua próstata com a cabeça do
pau grosso, obrigando a garganta de Jeon a soltar urros de prazer contra a
sua vontade. Gostaria de gemer baixo e contido, e não demonstrar o quanto
estava sendo fodidamente delicioso, quando eles mal tinham começado.
Mas sua voz o traía. E o lúpus, por sua vez, amava ser louvado daquele
jeito.

— Alfa..! Awwn... — gritou. — Isso.. aí, aí... Jiminie... — sussurrou com a


voz grave rouca, sugando o ar entredentes, à cada estocada nervosa do
dominador bombeando em cima de si.

— T-tão quent-te... — o mais velho sussurrou com a voz entrecortada, ao pé


de seu ouvido. — Tão... molhado. Porra, Jungkook!

O Park já não estava mais em si, estava louco de tesão. Sequer se importava
sobre Jungkook tê-lo chamado por um apelido no diminutivo e não ter se
mantido no "Senhor" ou "Jimin-ssi". Até porque, não estavam praticando
uma sessão de BDSM. Era uma transa normal, dentro do cio de ambos. Só
que nem de longe aquela seria uma foda "baunilha". Ah, de forma
nenhuma. Jimin faria Jungkook lembrar-se daquele cio pelo resto de sua
vida. O foderia tão fundo e intenso, que o mais novo consideraria aquele o
cio mais maravilhoso de todos os tempos. E por mais que tivesse uivado,
convocando ômegas para o lugar, tinha feito por pura provocação, para
mostrar ao ruivo, que quem mandava ali era ele. Não era como se qualquer
ômega, de fato, fosse querer se aproximar do apartamento, pois o cheiro do
de cabelos cereja os repeliria.

Jeon era quente, apertado, cheiroso e manhoso. A soma de tudo isso, só


deixavam Jimin mais necessitado e insano. Seu cacete pulsava dentro do
interior alheio, gostando muito de estar ali. Era tão gostoso, que parecia
nem ser real. Jungkook era bom demais; sempre desconfiara, e agora apenas
tinha certeza.

Jimin então parou de arremeter contra o mais novo, saindo de dentro dele e
o puxando pelos cabelos, de modo que o alfa se levantasse meio
desengonçado, de joelhos e com os olhinhos semicerrados. O moreno
empurrou o outro contra a parede e puxou seu quadril na direção contrária,
empinando-o e trazendo a bunda perfeitamente durinha para si.

Jungkook automaticamente espalmou as mãos na parede e colou a bochecha


ali, respirando rápido, totalmente sem fôlego e ansioso, e de seus lábios
saíram novos rosnados. Fechou os olhos bem apertado ao sentir a glande
inchada do lúpus roçando em sua entrada novamente, e este o empalou mais
uma vez, adentrando-o lentamente para irritá-lo. Claro, não era tão
arrepiante como a primeira vez que sentira-o entrando em si, minutos atrás.
Mas sua entrada o engoliu de forma gulosa, já sentindo saudades daquele
pau, pelos breves segundos em que se desconectaram.

— Oh... que cuzinho apertado, ômega — provocou o Park. Jungkook


gemeu, sentindo sua cintura fina ser apertada com mais força pelo alfa puro.

Oh, sim, aquela cinturinha fina do de cabelos vermelhos fazia um belo


conjunto com a bunda malhadinha e empinada, em conjunto as coxas
ridiculamente grossas. Era como um belo quadro combinado a uma perfeita
moldura. Para o lúpus, pessoas com aquele tipo de corpo, com quadris
largos e cintura fina, eram perfeitos passivos. Contudo, a piroca grande e
grossa do outro o faziam imaginar que delícia seria ter seu rabo invadido
por ela também.
Jimin ia e voltava, se metendo no buraquinho quente com tanta força e
velocidade, que sua pélvis batia contra a bundinha branca, que já ficava
vermelha pelo contato bruto das peles se chocando. E quanto mais barulho
seus corpos faziam, mais insana e animalesca a coisa toda ficava.

Passou então a estapear a bunda bonita, tendo que diminuir um pouco a


velocidade das estocadas para isso, mas ficando ainda mais satisfeito ao
ouvir Jungkook gemendo mais necessitado à cada palmada. As porradas
eram tão fortes, que sua própria palma ardia, quem dirá a bunda alheia.

— Céus, você me enlouquece... — Jimin sussurrou, desacreditado.

O ruivo não pôde conter o sorriso. Saber que o outro alfa ficava tão louco
por si quanto ele o deixava, era tão satisfatório que o fazia sentir-se pleno.
Então, o híbrido abriu os olhos e mirou o lúpus por cima do ombro, com um
sorrisinho malicioso.

— É só isso que consegue fazer, Lúpus? — disse provocando o outro.

A intenção não era irritá-lo, apenas o provocar. E assim que Jimin ouviu
aquela pergunta, fechou o semblante, rosnando, agora mais instigado a
arrebentar aquele alfa abusado. Puxou Jeon por um dos cotovelos, virando-
o para si, sem delicadeza alguma no movimento.

— Você acha pouco, seu merdinha? — rosnou, aproximando os rostos,


grudando seus narizes. Oh, gostava tanto de xingar e humilhar seus
submissos. Todavia, sempre tivera bons subs, então quando os humilhava,
era apenas para castigá-los ou puni-los. Principalmente puni-los. Mas não
estava realmente com raiva. Embora não tivesse se envolvido com nenhum
brat antes, sabia que aquele comportamento provocador era típico de um
malcriado como Jeon. Era seu modo de instigá-lo. E bom, o Park amava
uma degradação.

Já Jungkook sabia que aquela provocação não sairia barata. A tinha feito
sem sequer pensar nas consequências, havia sido instintivo. Achava que
Jimin apenas ficaria bravo e instigado a fodê-lo com uma velocidade ainda
maior e uma força ainda mais bruta, não que o lúpus fosse encará-lo com a
face distorcida como o próprio demônio. Engoliu em seco, totalmente tenso,
começando a se arrepender da provocação. Não sabia o que o mais velho
seria capaz de fazer agora. Principalmente ao ter um alfa rosnando para si.
E por mais estranho que pudesse parecer, sentiu um certo medo que o
excitou ainda mais, de forma que nunca havia previsto.

Jungkook nunca pensou que o medo pudesse excitá-lo. Mas Park Jimin
cada dia mais o causava sensações novas e mostrava formas diferentes de
sentir prazer, sem nem mesmo se esforçar muito pra isso.

Então Jimin o puxou da parede e foi empurrado-o para trás, em direção a


algum lugar que o de genes ômegas não era capaz de ver, já que de costas,
andava às cegas. A cada empurrão que Jeon sentia em seu peito, fazendo-o
andar a passos erráticos, seu pênis duro dava uma fisgada ansiosa. O Park
rosnava ameaçadoramente, de modo que seu peito vibrava.

Quando sentiu o final de suas costas de encontro à janela aberta, o


avermelhado arregalou os lumes, olhando para detrás de si e se dando conta
dos não muito metros de altura que os distanciavam de uma queda horrível,
do terceiro andar.

Cada vez mais tomados pelos instintos, as falas iam sumindo. Sua voz não
saiu, apenas arregalou os olhos e sacudiu a cabeça de um lado pro outro,
enquanto sua garganta soltava um pequenino soluço de choro, negando.
Mas Jimin puxou seu rosto pela mandíbula, de modo firme, segurando-o e o
trazendo para perto de si, com os narizes se encostando.

Só que ao invés de dizer qualquer coisa, o lúpus apenas rosnou outra vez,
soltando algo que se assemelhou a um latido. Os instintos primitivos agora
já os tomavam tanto, que sequer lembravam-se de como proferir as
palavras. Era como se apenas os sons de rosnados, os olhares e as
expressões, pudessem dizer tudo. Então Jungkook assentiu balançando a
cabeça veementemente. O lúpus lhe deu um puxão, sentando-o com a bunda
na quina da janela aberta.

Outra vez o de genes ômegas o encarou assustado. Mas algo em sua mente
o dizia que se Jimin segurava-o firme pelas coxas, não havia nada a temer.
A adrenalina causada pelo medo o estava atiçando, ele só não conseguia
ultrapassar aquele medo que o prendia, sozinho.
Jeon suspirou, colocando as mãos para trás e se segurando no parapeito da
janela, ainda temeroso, mesmo que excitado. Jimin, que estava entre suas
pernas, segurando-o pelas coxas, verificando que o maior estava firme,
estocou duas vezes, fazendo uma pequena parte do corpo do ruivo quicar
para fora da janela aberta.

A adrenalina então percorreu pelas veias do híbrido, fazendo-o separar os


lábios num "O" chocado. Aquela era a primeira vez que o perigo de fato lhe
excitava. Não que já houvesse experimentado algo assim antes. Nunca tinha
feito nenhum tipo de sexo "perigoso". O máximo perto disso, foi transar
dentro de um carro, morrendo de medo de que alguém percebesse o que
acontecia ali dentro do veículo. Não tinha certeza se era culpa de seus
instintos, estar ficando tão excitado pelo medo daquele jeito, ou se era
apenas Jimin quem o estava levando a sentir aquilo. Talvez fosse um pouco
de ambos.

Mas então o alfa lúpus puxou seu corpo para a frente, fazendo o quadril do
ruivo sair do parapeito e apenas suas mãos para trás o segurarem ali. E ao
invés de estocar, Jimin passou a puxar seu corpo para frente, fazendo com
que a entrada do avermelhado deslizasse sobre seu caralho ereto e não ao
contrário.

Jungkook então sorriu surpreso. Sequer imaginava que o lúpus, de estatura


pequena, pudesse ter tanta força para segurá-lo daquela forma, com tanta
segurança e ainda mover seu corpo pesado pra cima e para baixo. Era claro
que, grande parte de força do ruivo também era demandada, uma vez que
seus braços flexionavam-se, segurando-o na beirada da janela, para trás do
corpo, fazendo uma flexão à cada investida. Seus braços certamente
ficariam extremamente doloridos ao final daquele cio. Mas valeria à pena,
ah se valeria. Percebia que até mesmo aquela queimação pelo esforço em
seus músculos, parecia gostosa. Gostava daquela dor.

O Park puxava seu corpo e ondulava o próprio quadril, de forma sensual,


fazendo Jungkook gemer fininho, à cada estocada. Os sons das peles se
chocando eram ainda mais excitantes, e o pau duro de Jeon quicava com
violência, pra cima e pra baixo, batendo entre seu próprio abdome e o de
Jimin. Por conta da força com a qual o membro batia, uma dorzinha
deliciosa surgia no alfa de genes ômegas, ao sentir a glande estalando
contra o abdome de Jimin ou do seu próprio. O choque da pele no falo
pesado, doía de uma maneira totalmente gostosa.

Sentindo os músculos de sua panturrilha quase atrofiarem num tremor,


ardendo, pinicando, e também os músculos de seu baixo abdominal
tensionarem, Jeon fechou os olhos e gemeu alto, dessa vez uivando
perfeitamente, de modo que toda a vizinhança foi capaz de ouvir,
explanando seu prazer. Sua mão direita abandonou o equilíbrio do
parapeito, para agarrar-se ao tecido pesado e grosso da cortina vermelha,
buscando mais equilíbrio, exatamente na mesma hora em que sua porra saiu
em jatos longos e quentes, sujando todo o seu abdome e o de Jimin de
branco. Alguns jatos alcançaram o queixo do lúpus, que pareceu já ter
previsto aquilo, sequer piscando ao sentir as gotas quentes atingirem seu
rosto. Este continuou apenas puxando o quadril de Jeon, estocando em seu
interior, prolongando o orgasmo do alfa, que revirava os olhos, perdido em
seu prazer.

Quando o corpo do ruivo ia ficando mole pelo orgasmo e quase perdendo a


firmeza, a cortina cedeu, de súbito, fazendo os carretéis que seguravam o
tecido pesado correrem do trilho, rasgando o tecido no processo.

Jungkook assustou-se, levantando a cabeça e fazendo uma expressão de


pânico, ao ver que perderia o equilíbrio e que de quebra, estava destruindo a
própria casa. Mas antes que seu corpo fosse ao chão, Jimin o abraçou de
frente, levando um dos braços a suas costas e o outro encaixando em sua
bunda, tirando-o dali no colo. Jeon só teve tempo de rodear os braços no
pescoço do alfa para se segurar, quase dando um pulo assustado quando
sentiu o moreno girar seu corpo numa velocidade rápida.

Em poucos segundos, sua bunda encontrou a dureza do mármore da pia da


cozinha. E quando Jimin abriu suas pernas e se enterrou dentro dele outra
vez, arremetendo em seu buraco ardido, com força, sua cabeça começou a
bater no armário de pratos acima da pia. À cada estocada, sua cabeça
balançava o móvel, mas a dor realmente não era uma preocupação agora.
Apenas os tremores em seu ânus sensível pelo orgasmo recente eram
sentidos. Em câmera lenta, ouviu o armário em que batia, anunciar sua
queda, mas sequer teve tempo de fazer algo quanto aquilo, já que Jimin
moveu seu corpo dali rapidamente outra vez, atirando-o em cima do balcão,
onde alguns objetos foram ao chão.

Ouviu o barulho do armário de louças despencar atrás deles, e as louças de


vidro se espatifarem no chão, mas não pôde ver nada, já que Jimin
empurrou seu rosto de encontro à superfície gelada do balcão, onde a pele
de sua bochecha se encostou num estalo dolorido, fazendo seu corpo
curvar-se de bruços sobre o móvel. Mas novamente, a dor era sua menor
preocupação. Sentiu a mão do alfa segurar sua cabeça ali, impedindo-o de
se levantar, enquanto a outra puxou seu braços para trás, o imobilizando-o
com apenas uma mão. Então as estocadas retomaram velocidade, cada vez
mais fundo e forte.

Jungkook se deixava ser dominado com certa facilidade, mas Jimin sabia
que era por conta dos instintos ômegas. Quando o mais novo fosse tomado
pelo rut alfa, as coisas seriam bem diferentes, e ele até mesmo ansiava por
isso; pela disputa de poder que certamente aconteceria.

Jeon sentia seu slick escorrer agora entre suas pernas abertas, deixando tudo
gelado. Cada vez que o caralho teso do alfa o penetrava, mais slick escorria
por suas coxas, enchendo-o de tesão. Aquilo era insano, Jungkook sentia-se
insano. Seu corpo pegava fogo e seu pau já estava duro de novo, tão rápido
como nunca antes. Então ouviu o lúpus rosnar alto, como um animal
selvagem, enviando vibrações por todo o seu corpo, fazendo sua espinha
arrepiar-se e seus pelos eriçarem outra vez. A porra quente do Park o
inundou com uma última estocada funda.

O híbrido queria gritar. Queria gemer e dizer bem alto, o quão bom Jimin
era, o quanto acabara de se apaixonar por aquele pau, em como aquela foda
estava tão gostosa, que não queria que ela acabasse nunca mais. Queria
xingar meia dúzia de palavrões, mas estava entrando num estado de torpor,
e era impossível dizer alguma coisa. A garganta estava seca e ele sequer se
lembrava de como usar as próprias cordas vocais.

Num cio, normalmente os instintos só se sentiam satisfeitos, quando ocorria


a ligação dos nós. Para Jimin, o nó quase nunca acontecia, uma vez que este
transava majoritariamente com alfas. E nas poucas ocasiões em que
transava com betas, usava preservativos. Por outro lado, Jungkook tinha o
costume de tomar anticoncepcionais que matavam os espermatozóides, já
que passava os cios com um beta, então corria o risco de engravidá-lo. Era
óbvio que não seria nada bom engravidar Hoseok. E por mais que seu corpo
pedisse por um nó traseiro, o avermelhado não se importava de não recebê-
lo, até porque, não o possuía. Seus genes eram de ômega, mas seu corpo
não. Estava satisfeito até demais, mesmo sem isso.

Jimin permaneceu estático por alguns segundos, para em seguida ir


relaxando e então deitar seu peito nas costas do ruivo. Apoiou sua bochecha
na superfície do balcão, ao lado da cabeça de Jungkook, de frente pra ele,
fitando-o. Sua outra mão fez um carinho singelo nos cabelos vermelhos e
logo deslizou os dedos para massagear o lóbulo da orelha alheia,
carinhosamente fazendo o ruivo acalmar-se e, aos poucos, seus instintos
irem relaxando, voltando à normalidade. Normalidade essa que duraria
muito pouco tempo, pois em breve seus corpos voltariam a agir
instintivamente por conta do cio.

Jimin saiu lentamente de dentro do canal alheio, o pênis ainda duro —


ficaria assim por três dias inteiros. Notou o corpo do ruivo vacilar e
rapidamente o segurou, ajudando-o a se levantar do balcão e segurando-o
pela cintura, caminharam até o banheiro para limparem-se. Uma banheira
ali, seria a melhor opção, mas a casa de Jungkook era simples e só possuía
um box pequeno.

Sentou o avermelhado cuidadosamente em cima da pia, enquanto regulava a


temperatura da água. Quando achou que estava boa o bastante, saiu do box
para pegar o alfa, mas deu de cara com o garoto masturbando o próprio falo
teso, a cabeça jogada pra trás, apoiada no espelho da parede, e a boca
aberta, inspirando o ar com dificuldades.

— Jungkook? — chamou, meio surpreso, com a voz rouca por conta da


garganta seca.

Lentamente a cabeça do alfa ruivo foi se afastando do espelho e então o


encarou com os orbes dourados, parecendo querer perfurá-lo com o olhar
intenso.
— Eu preciso de você, alfa... — o mais alto declarou com a voz distorcida,
flexionando os joelhos e apoiando os pés em cima da pia, de modo que
ficasse completamente aberto para o lúpus, ainda sem parar de se tocar, de
modo obviamente convidativo.

Jimin mordeu os lábios, salivando. Era claro que aquilo aconteceria,


estavam no cio, afinal. A recuperação era rápida naquele período, e o desejo
ardente dos corpos por sexo era avassalador.

O moreno então puxou a parte detrás dos joelhos do ruivo, trazendo o corpo
do alfa para grudar-se no seu, e então tomou-lhe os lábios, ao mesmo tempo
em que seu pênis duro se encaixou na entradinha gozada. E assim que o
penetrou, iniciou estocadas nervosas e urgentes.

Lá estavam eles, novamente, fodendo bruto. E aquele ainda era o dia 1.

Deixa eu explicar algo aqui rapidinho: eles estavam no cio; necessitados


pra um cacete. Não rolava de ter preliminares. Mas o motivo não foi só
esse. O motivo é que, eu não quero que esse seja o ponto alto da fic. O
ponto alto, pelo menos em relação a lemon/smut, serão os de bdsm,
entendem? Esse era pra ser um smut muito comum, mas acabou saindo
com 5.500k de palavras kkkkkkkkkkkk enfim, se você ainda não me
segue, vai ali no meu perfil e segue a Domme ;-; juro que tenho mais
obras legais.
14| bondage
Bicho, eu amei os comentários do capítulo passado! Vocês são incríveis,
continuem assim (: E se não for pedir muito, façam aquele esqueminha de
compartilhar a citação da história no twitter? É pra ajudar na divulgação
desta pobre ficwritter flopada. Sejam bonzinhos :>

ESCRITO POR HowUdare

Jungkook acordou com uma forte dor no estômago. Vazio era o que estava
sentindo naquele momento. O ácido em seu estômago o corroía, já que nos
três dias inteiros de cio, mal havia se alimentado. Quando ele e Jimin
finalmente paravam para comer alguma coisa, ou até para beber água, a
comida acabava sendo abandonada pela metade, já que seus corpos
entravam em combustão, quase que literalmente, com o calor da febre
subindo e os membros constantemente eretos e sensíveis. O cio era o
momento de acasalamento e apenas isso, de modo que ignorava a fome, a
dor, a sede, e qualquer outro tipo de necessidade biológica, apenas para se
saciar. Mas todo o descaso era sentido ao fim do período. O corpo inteiro
doía, ficando mole e fraco.

O ruivo então abriu os olhos, procurando pelo vizinho, e fitou surpreso, o


alfa dormindo abraçado a si, com as pernas entrelaçadas nas suas. Com
muito cuidado, foi afastando os braços e o corpo todo de Jimin do seu, para
que pudesse sair da cama. Mas era um pouco complicado, já que ao tentar
usar as mãos, encontrou seus pulsos presos num aperto. E ao tentar entender
o motivo, viu que ambos estavam unidos por um pano amarrado. Aquilo era
uma camisa? Olhou atentamente e teve certeza: era uma camisa social de
botões do alfa lúpus. As mangas estavam restringindo seus pulsos. Jeon
acabou deixando um sorriso sacana repuxar seus lábios finos.

Quando finalmente conseguiu levantar-se, sem acordar o lúpus, observou o


quarto. Parecia que um furacão havia passado por ali. Sua escrivaninha
estava torta e muitos de seus livros jogados no chão. Os travesseiros
estavam todos rasgados, com penas ainda flutuando no ar, e outras milhares
espalhadas pelo chão. Em que momento haviam rasgado os travesseiros?
Travesseiros de penas eram caros! Jungkook certamente não era nenhum
sujeito bem de vida, pra se dar ao luxo de rasgar travesseiros de penas. E
agora, dormiria com a cabeça em cima de quê? Do próprio braço,
certamente. Era o que restava. Comprar travesseiros novos, estava fora de
cogitação pro seu limitado orçamento.

Saiu do quarto silenciosamente, andando pelo corredor e notando alguns


quadros tortos na parede. Um flash dele e de Jimin se beijando e se tocando
com urgência, esbarrando em todos as paredes do corredor, e
consequentemente bagunçando os quadros, passou por sua mente. Franziu o
cenho, um pouco preocupado, mas ao mesmo tempo admirado. Tinham
fodido tão intensamente, como nunca havia feito antes. As memórias todas
ainda estavam falhas, mas estavam vindo aos poucos, à medida em que seu
cérebro ia lentamente acordando.

Desviou de um porta-retratos quebrado no chão, para que não se cortasse


com o vidro, e entrou no banheiro. Mas o que viu ali fê-lo arregalar os
olhos, em espanto e descrença. O vaso sanitário estava quebrado, caído de
lado, com o buraco no chão aberto. Lembrou-se de ter apoiado um dos pés
nele, enquanto Jimin o fodia no chuveiro. Viu a pia, também quebrada, com
vários de seus remédios e cosméticos jogados no chão. Bateu com a mão na
testa, ainda com os pulsos presos pela camisa. Como usaria o maldito
banheiro agora?

Precisando urgentemente mijar, passou um bom tempo mordiscando o nó


do tecido amarrando seus pulsos, até finalmente tê-los livres. Dando uma
rápida olhada na camisa amassada, viu a etiqueta de marca cara. Uma
camisa daquelas, custava 1/4 do seu salário. E Jimin usava algo naquele
valor, pra amarrar pulsos alheios durante a foda, veja só. Um perfeito
playboyzinho — o ruivo se deu conta, rindo.

Acabou tendo que se aliviar no chuveiro, na falta do vaso de cerâmica,


aproveitando para tomar um rápido banho. Enquanto se lavava, sentiu sua
entrada arder, dolorida. Não se recordava de ter tido um cio tão brutal antes,
com ninguém. Logo entendeu que metade daquilo, devia-se ao fato de Jimin
ser um Alfa Lúpus, cujos ruts eram absurdamente vorazes. Basicamente, se
a função de um lúpus era procriar e liderar, ele o faria com louvor. E talvez,
apenas talvez, parte da culpa fosse sua, já que lembrava-se nitidamente de
ter provocado o mais velho, com o intuito de vê-lo mais instigado. Bom, ele
tinha conseguido. Mas o resultado disso, fora a destruição parcial de sua
casa e seu ânus tão ardido, que teve de procurar um comprimido para dor,
em meio aos frasquinhos caídos no chão do banheiro.

Já não foi surpresa nenhuma, quando chegou na sala e deparou-se com a


cortina da janela rasgada, o trilho caído no chão, a estante de livros e
enfeites com algumas prateleiras quebradas, e sobre a pequena cozinha
então, nem se era necessário tecer comentários. Apenas pensava em como
prepararia um café da manhã, se todos os copos e pratos estavam
espatifados no chão. Sequer dava pra chegar perto da pia. Bufou. Como
diabos pagaria pelo conserto de tudo aquilo?

Assustou-se ao sentir algo peludo roçando em sua perna, mas durou apenas
um segundo, pois lembrou-se da gata.

— Oh. Você voltou — murmurou para o felino, que respondeu com um


miado. — Eu sei, você está com fome. Queria saber aonde a senhorita se
mete quando estou no cio — resmungou enquanto despejava ração no pote
de comida da gata e trocava a água do potinho.

— Jungkook? — ouviu o alfa chamar do corredor, a voz soando rouquinha


após acordar.

Jimin observava cada canto da casa, com uma expressão de desaprovação, o


cenho franzido. Ele estava nu, e mesmo com o membro flácido, o ruivo
ficou embasbacado com a beleza do alfa. A barriga lisa, com as entradas
marcadas nas laterais, que popularmente eram chamadas de "caminho da
perdição"; as coxas grossas e bem definidas, as panturrilhas desenhadas,
como as de um dançarino. Alguns pelos ralos, abaixo do umbigo, mas a
pélvis depilada. As clavículas aparentes e os braços finos, mas musculosos,
deixando sua aparência extremamente máscula. Olhar para ele, era como
fitar uma obra de arte erótica.

— Bom dia, hyung — respondeu, um pouco sem jeito pelo estado em que
se encontrava sua casa.
— Não acredito que perdi o controle assim. Meus ruts são brutos, mas
nunca destruí tanto as coisas dessa forma. Acho que exagerei um pouco —
o moreno declarou, aparentando extrema chateação. Contudo, ao sentir a
gata peluda em suas pernas lhe pedindo carinho, seu semblante suavizou-se,
ao passo que se abaixou para acarinhar o bichano.

— Foi culpa minha também, hyung. Eu te provoquei... — o mais novo


respondeu, levemente envergonhado.

— Mesmo assim. Olha, Jungkook, arrume suas coisas. Ponha tudo o que
você precisar em uma mala. Você vai ficar lá em casa até arrumarmos seu
apartamento. E traga o gatinho também — declarou simplesmente.

Jeon arregalou os olhos. Ele havia escutado bem? Teria de morar um tempo
com o vizinho?

— É gata, no feminino — corrigiu primeiramente. — Hyung, isso não é


necessário... — tentou dizer, mas logo foi interrompido pelo lúpus.

— Jungkook, me obedeça — disse, puxando Jeon pela cintura, de forma a


grudar seus peitorais um no outro, passando a falar pertinho de seus lábios.
— E você sabe que sua gata tem bolas, certo? Tipo, bolas masculinas? —
disse com uma careta.

Jeon deu uma pequena bufada impaciente e resmungou em resposta:

— Estou ciente das condições da minha filha — e fez um bico.

Mas então, o Park rapidamente lhe deu aquele olhar intenso de sempre,
entrando em um novo assunto.

— Você já viu o quanto está marcado, uh? Cheios de manchas roxas? —


perguntou.

Jungkook franziu o cenho. Não havia reparado. Bem, não era a primeira
vez, de qualquer modo. Quando Jimin tinha o enchido de chupões no carro,
na volta da The Cave, Jeon ficara um par de dias com manchinhas rosadas
na pele clara do pescoço.
O Park então deslizou suavemente as mãos até a bunda alheia e apertou de
levinho, mas o ruivo soltou um gemidinho dolorido e desaprovador.

— Viu? — continuou a dizer, sussurrando perto de sua boca. — Sua bunda


está completamente roxa e machucada. Eu nem lembrava de ter te mordido
tão forte. Sua entrada deve estar muito dolorida, não está? — Indagou.

Não, a mordida na bunda do de genes ômegas não era uma marca de


ligação. Eram apenas mordidinhas comuns, feitas durante a foda, as presas
não perfuraram a pele.

— Um pouco... — Jeon respondeu mentiroso. Mas ao ver Jimin encará-lo


divertido, com as sobrancelhas arqueadas, suspirou vencido e revirou
levemente os olhos. — Tá bom. Muito. Tá bem ardida — confessou
baixinho.

— Me desculpe por isso, Kook-ah. Pelas marcas, pela casa. Quero dizer,
você certamente vai passar a apreciar as marcas, quase todo submisso gosta
delas, por trazerem memórias boas, mas... eu só irei fazê-las, quando você
me disser que gosta. Vou cuidar de você, sim? — disse dando um selinho
estalado na bochecha do ruivo, que suspirou em deleite. — Vem aqui —
ordenou, entrelaçando os dedos nos de Jungkook, puxando-o pelas mãos até
o quarto. — Deite-se — mandou.

Ao ver Jeon encará-lo confuso, sorriu leve e explicou:

— Nós não vamos transar, não se preocupe. Já disse que irei cuidar de você.
Aliás, essa é uma das regras no bdsm. Depois de uma sessão, o Dominador
deve cuidar do seu submisso, passar alguma loção calmante na pele dele,
nos locais onde ele tiver apanhado e coisas do gênero. Nós chamamos de
Aftercare. É um momento puro de cuidado, para com quem confiou os
limites de seu corpo à nós.

Jungkook pareceu ainda mais confuso.

— Mas nós não praticamos BDSM, hyung.


— Isso não importa. Nós transamos, você está machucado, e eu sou seu
Dom. Logo, é minha obrigação cuidar de você. Ande, faça o que o falei e
deite-se na cama de bruços — disse suave, agachando-se e mexendo em sua
mochila abandonada no chão do quarto.

Jungkook se deitou e após um minuto, sentiu Jimin sentar-se na cama


bagunçada e ouviu o barulhinho de zíper da necessaire do lúpus sendo
aberta. As mãos do Park afastaram suas nádegas, e o movimento, mesmo
fraco, fez o de genes ômegas soltar um gemido de dor, já que suas pregas
assadas se esticaram com a movimentação. Então olhou para trás, querendo
ver o que o mais velho estava fazendo, encontrando-o com um dedo sujo
com um creme branco, que levou em direção à sua entrada ardida, dando
uma sensação fria na pele.

— Essa é uma pomada de assaduras — Jimin explicou. Sua voz estava tão
suave, que o ruivo sentia como se o som fizesse cócegas em sua pele. —
Irei passá-la em você, toda vez depois que transarmos, sim? Sua entrada
ficou bem vermelhinha, então a pomada irá ajudar com a dor e fará ela se
recuperar logo — finalizou, deslizando o creme com o dedo nas pregas
judiadas.

Em seguida, aplicou outro tipo de loção em Jungkook, dessa vez uma


transparente, em toda a pele das nádegas.

— Essa é uma loção calmante. Vai ajudar com a vermelhidão e a dor na


pele, além das marcas roxas. Em menos de uma semana, sua pele estará
branquinha novamente — declarou. — E já que você vai estar lá em casa
nos próximos dias, quero que deixe que eu faça isso. Eu mesmo irei aplicar
a loção e a pomada em você, não quero que faça sozinho. Me entendeu?

E pelo tom autoritário em sua voz, ainda que calmo, Jeon assimilou que
aquela era claramente uma ordem do dominador.

— Sim, Jimin-ssi — respondeu em voz baixa, assentindo levemente com a


cabeça, automaticamente utilizando a forma respeitosa de chamar o
dominador. Tê-lo cuidando de si, de forma tão preocupada e carinhosa,
haviam surpreendentemente deixado o avermelhado contente. O coração
parecia aquecido. Não que estivesse se iludindo e pensando que aquele
cuidado era exclusivo para si, o dominador havia acabado de explicar que o
tal aftercare fazia parte da relação de um dominador para com o submisso.

O lúpus sorriu satisfeito.

— Bom garoto — disse deixando um beijo estalado em um dos ombros do


sub. — Agora vamos colocar suas roupas em uma mala e iremos lá pra
casa. Estou morrendo de fome — terminou se levantando.

— Jimin-ssi... — Jeon chamou, sentando-se na cama com cuidado, e


encarando o chão.

— Uh?

— Você... não vai achar estranho que eu fique na sua casa? Você disse que
uma vez tentou isso de morar junto com um submisso, mas não gostou... E
se... e se isso te fizer enjoar de mim? — perguntou com os olhinhos, que
haviam voltado ao tom negro natural, arregalados e temerosos.

O Park sorriu, achando a expressão e preocupação do garoto extremamente


fofas.

— Não se preocupe com isso, Jungkook-ah. Não tenho a menor


possibilidade de enjoar de você. Principalmente depois desse cio. Você fode
tão gostosinho... — provocou com a voz baixinha e maldosa, junto a uma
expressão safada no rosto, fazendo Jeon rir com as bochechas coradas ao
lembrar-se do sexo altamente animalesco que tiveram juntos naqueles dias,
e no tanto de sem-vergonhices que haviam sido ditas ao pé do ouvido.

No momento em que o mais velho se virou para o armário novamente,


colocando suas roupas cuidadosamente dentro da mala, Jeon notou os
arranhões fortes nas costas do alfa e ficou tenso. Aquilo deveria ter ardido.
Embora Jimin tivesse pedido que deixasse suas unhas crescerem,
justamente para arranhá-lo, preocupou-se de ter passado dos limites
aceitáveis, já que os arranhões eram muitos, além de parecerem mais fundos
que o que seria considerado normal. Sequer lembrava do momento exato
que havia feito aquilo. Talvez tenha sido nas vezes em que o lúpus havia o
fodido de frente, deitados na cama, no sofá, no chão...
— Jimin-ah... — chamou novamente, vendo o alfa virar-se para sim,
despreocupado. — Eu acho que te machuquei. Na verdade, tenho certeza
que te machuquei — disse temeroso.

O moreno então se dando conta, acompanhando o menear de cabeça de


Jungkook, em direção a suas costas, observou sua traseira no espelho da
porta do armário. E então sorriu ladino, voltando a encará-lo:

— Pelo menos em uma coisa você me obedeceu, uh? — falou em tom


zombeteiro. Mas vendo a expressão chateada do mais novo, aproximou-se
do alfa, segurando as bochechas gordinhas entre suas palmas, virando o
rosto para encará-lo. — Hey, olhe pra mim... — E ao ter os olhos redondos
de Jungkook presos nos seus, continuou. — Eu disse que curtia ser
arranhado, não disse? Eu mesmo pedi que deixasse suas unhas crescerem
para que pudesse me arranhar, não foi?

— Mas hyung... Eu exagerei... — murmurou de volta.

— Se eu tivesse me incomodado, teria pedido para que parasse. E não


lembro de ter pedido algo assim — terminou fazendo um carinho na
bochecha alheia e então soltou o rosto do mais novo, voltando a tirar as
roupas do alfa do armário. — Além do mais, detesto sentir dor, com
exceção da dor do Scratching e de... bem, você sabe — disse em tom suave.

Mas Jungkook realmente não havia entendido e ficou fitando as costas do


alfa, franzindo o cenho.

— Não sei, não. O raciocínio aqui é lento, Jimin hyung... — disse bem
humorado, já mais tranquilo de não ter chateado o alfa com a coisa dos
arranhões.

O ex-coronel então se virou para ele, o fitando com os olhos apertados.

— A dor da penetração — respondeu simples.

— Seu pau dói quando penetra alguém? — o acerejado perguntou, ainda


confuso. Mas o dê um desconto, o pobre coitado havia acabado de acordar.
Jimin sacudiu a cabeça, desacreditado.

— Não, Jungkook-ah. Me refiro a dor de ser penetrado.

— Oh! — Jeon exclamou, arregalando levemente os olhos. — Então você...

— É claro que sim. Ser Dominador não me obriga a ser apenas ativo. Posso
ser passivo e ainda dominar. Passivos dominadores, são chamados de power
bottons — Jimin rebateu, o fitando curioso. — Se você sempre fica com
alfas, quer dizer que você nunca...?

— Fui o ativo? É, nunca — Jungkook respondeu amargo, se levantando. —


Parece que os outros machos de nossa classe, pensam que por eu ter genes
ômegas, estou apto apenas para ser passivo. Os únicos que pude penetrar
foram ômegas, betas, e fêmeas alfas. Já te falei que não sou chegado a
ômegas. Apenas ficava com alguns no início, durante os ruts e só. Hoje em
dia, não mais. Prefiro ficar sozinho ou com betas. Cheiro ômega não me
atrai. Alguns até me enjoam, com exceção do meu próprio.

O Park então caminhou até o de cabelos cereja, segurando-o delicadamente


pela cintura fina, agora que o outro estava de pé na frente da cama, roçando
levemente seus membros adormecidos, causando um arrepio no mais novo,
que suspirou com o toque e proximidades, por ainda estarem nus.

— Então parece que serei seu primeiro em alguma coisa, Jungkook-ah... —


disse malicioso.

O mais alto mordeu os lábios, atiçado. Se estava entendendo bem, e estava,


Jimin queria dizer que embora fosse um alfa e um Dominador, ele deixaria
Jeon penetrá-lo. Só de imaginar, já sentia seu corpo esquentar e seu pau
despertar.

— Mas não se anime muito, alfa... — Jimin falou, divertido. — Você será o
ativo, mas quem continua a mandar aqui, sou eu. Você não vai controlar
nada. Talvez eu até te amarre, para impedir que você me desobedeça —
terminou dando um toque brincalhão no queixo do ruivo, e voltando a catar
as roupas no armário.
— Me amarrar como fez ontem? Com a camisa? — o vermelho retrucou
com um sorriso de lado, cruzando os braços na frente do peito e mirando o
lúpus de cima abaixo.

— Sim. Se você não se comporta, eu te faço se comportar — o moreno


rebateu em tom provocador igual ao do mais novo. — Agora me ajude com
isso aqui, não sou seu empregado.

[...]

Os alfas entraram na casa da frente, ambos carregando mochilas e malas,


com os principais pertences de Jungkook, além de algumas sacolas com a
comida que restava em sua geladeira, e é claro, o gato com nome de gata.
Jimin tomou as sacolas de comida em suas mãos e as deixou na cozinha,
logo voltando até a sala e ajudando Jeon com as bagagens, direcionando-o
para o andar de cima. O ex-militar abriu a portinhola da casinha e a deixou
no chão, para que Minzy saísse à vontade pela casa, o que o bichano
imediatamente fez, percorrendo curiosamente o local.

O ruivo estava um pouco nervoso. Nunca tinha sequer visto a escada da


casa de Jimin. Conhecia bem a faixada, a cozinha e a sala. Mas no máximo
havia ido até o banheiro, no dia em que o encontrara bêbado na rua e
precisou fazer um curativo na testa cortada pela pedrinha. Contudo, não
tinha se atentado em nada. Agora que a parte do corredor onde havia a
escada lhe era revelado, Jungkook arregalou os olhos em surpresa, e a boca
se abriu num perfeito "O".

As paredes tinham cor creme, diferentes do concreto cinza da sala, e a


escada tinha os degraus suspensos na parede, como prateleiras, e estes eram
transparentes, dando a impressão de que a pessoa estava pisando no ar. O
corrimão era vermelho e brilhoso, como se fosse uma lâmpada neon acesa.
Era tão high-tech que chocava.

— Uau — Jungkook exclamou impressionado, subindo a escada com um


sorrisinho no rosto. — Jimin-ssi, esse lugar é incrível. É ainda mais bonito
aqui atrás do que os primeiros cômodos — exclamou maravilhado.
— Ainda bem — o lúpus respondeu. — Gastei um ano inteiro de salário em
material, mão de obra, e num designer de interiores metido à besta —
declarou rindo. — Mas vejo isso como um investimento.

Quando chegaram no fim da escada, começaram a caminhar pelo corredor


não muito extenso, que possuía as paredes cinzas, como as da sala. Ali
haviam quatro portas e alguns quadros pendurados nas paredes sóbrias.

— Esse primeiro quarto é o de hóspedes, não que eu receba muita gente pra
passar a noite dormindo — disse risonho. — Você poderá ficar nele, mas
não há um banheiro. O banheiro é nessa porta ao lado. — Jungkook ficou
um pouquinho aliviado. Estava se sentindo incomodado de ter que dividir o
quarto com Jimin, como se fossem um casal, afinal, não estavam
envolvidos romanticamente, embora seu coração desse fortes disparadas na
presença do alfa moreno. — A porta da frente é meu quarto. É uma suíte,
então tem um banheiro dentro. Logo, o banheiro ao lado do quarto é todo
seu, pode deixar seus cosméticos espalhados se quiser, mas não exagere na
bagunça, pivete — falou rindo, com os olhinhos se fechando em dois
risquinhos adoráveis.

— Tudo bem — Jungkook respondeu tranquilo, vendo o outro abrir a porta


do quarto de visitas onde agora ele dormiria. Mas antes de entrar, reparou
que havia uma porta sobre a qual Jimin não havia explicado. — Jimin... —
chamou, vendo o alfa, que deixava as bolsas no quarto, olhar para si. — E
aquela porta no fim do corredor, de frente pra escada? — Indagou
apontando com o queixo.

— Oh... Vá até lá — o ex-coronel respondeu com um sorriso matreiro


surgindo nos lábios.

O de cabelos cereja então soltou as bolsas e a mala no chão de seu novo


quarto e foi em direção a tal porta. Ansioso, abriu rapidamente, prendendo o
ar e arregalando os olhos em total surpresa, ao deparar-se com a decoração:

Era um quarto decorado apenas com apetrechos e móveis de práticas de


BDSM.
— Essa é a minha Masmorra — ouviu a voz suave de Jimin falando atrás de
si. Virou-se pra ele com um olhar pidão, que o Park logo entendeu. — Pode
ir. Mexa no que quiser. Preciso que você se familiarize mais com os
acessórios.

Jungkook então caminhou pelo quarto, tocando delicadamente nos móveis


de couro expostos, admirado. Em um canto havia algo que parecia uma rede
de balanço, com tecido de couro negro, pendurado no teto por correntes
grossas de ferro, dos quatro lados, em frente a espelhos.

Virou-se para Jimin, com a expressão indagativa, mas antes que


verbalizasse sua dúvida, o alfa se adiantou:

— Esse é um balanço erótico. Tem a mesma função da cama, é pra transar,


logicamente. A diferença é que enquanto o bottom fica deitado nele, o top
fica de pé, estocando. E dá mais facilidade nos movimentos, já que é um
balanço, então eu posso apenas puxar as correntes para que seu corpo vá
para a frente e para trás, se movimentando, enquanto fico parado. Quase
como fizemos na janela.

Jungkook assentiu, voltando a observar o resto do quarto, curioso.

As paredes eram brancas, e lâmpadas vermelhas estavam espalhadas nos


cantos entre o teto e as paredes, deixando o enorme cômodo com uma luz
vermelha perfeita para a prática de atividades sexuais, tudo muito sensual.

No meio do quarto, havia algo que parecia uma maca de couro acolchoada,
e a parte debaixo dela era envolta em grades de ferro, como uma jaula. Jeon
levantou uma das sobrancelhas ao imaginar que Jimin já havia prendido
pessoas dentro dela, durante um pet play, certamente, já que nesse fetiche,
uma das pessoas se vestia e comportava-se como um animal, e o uso de
jaulas era comum, ele vira em suas pesquisas recentes. Sentiu-se levemente
incomodado... aquilo era... ciúmes outra vez? Preferia que fosse apenas
palpitação cardíaca.

Mordendo a parte interior das bochechas nervosamente, voltou-se para o


mais velho, perguntando disfarçadamente:
— Você já trouxe muitas pessoas aqui, não é? — Mas o tom de sua voz não
soava tão despreocupado quanto gostaria.

Jimin passou alguns segundos parecendo procurar as palavras certas para


responder.

— Na verdade não. Nunca tive tempo pra trazer submissos aqui. Estava
sempre no quartel, você sabe. Quando aquele sub morou comigo, não tinha
construído esse quarto ainda. Na verdade, construí apenas recentemente,
quando saí do exército.

— Oh — foi só o que o avermelhado respondeu, sem jeito. E logo tratou de


voltar a circular pelo quarto. Não queria que o outro notasse seu
desconforto com aquele assunto e entendesse de maneira errada. Até
porque, nem ele mesmo estava entendendo o porquê daquela sua possessão
para com o Dominador. Talvez estivesse sim, sentindo alguma coisa pelo
lúpus, principalmente depois de tantos anos de desejá-lo em segredo e agora
tendo passado um cio incrível com o ex-militar. Mas ainda assim, era muito
cedo para dizer.

Se Jimin tinha construído aquela masmorra, na mesma época em que se


afastou das forças armadas, isso queria dizer que fora um pouco antes de
ficarem juntos pela primeira vez. Porém... a primeira vez que viu Jimin
entrar com alguém em sua casa, fora justamente depois que haviam tido
aquela pegação na cozinha. Logo, se pegou pensando que, talvez, ele
tivesse estreado a masmorra com o outro alfa, Taemin. Quis rosnar de raiva.
Mas respirou fundo, repetindo mentalmente "Nós dois não tínhamos e
ainda não temos nada. Controle-se, Jeon Jungkook, seu possessivo do
caralho."

Percorrendo o largo cômodo, notou que um belo tapete vermelho enfeitava


o meio do lugar, e num outro canto, haviam chicotes, harness, cordas e
palmatórias espalhadas, penduradas na parede. Havia também uma estante
toda de vidro, onde diversos acessórios repousavam, alguns parecendo
extremamente assustadores, como se fossem objetos de tortura, além de
alguns vibradores. A maioria já havia visto durante seus treinamentos com
Jimin. Mas claramente haviam bem mais ali.
— Não se assuste, todos são para seu máximo prazer, e só machuca se você
quiser — o Park disse bem humorado.

— Isso parece uma aranha — Jungkook declarou, apontando para um


objeto de aço, que possuía várias pontas finas, lembrando um aracnídeo.

— Realmente. Por isso se chama Spider Gag — o Dom esclareceu com a


voz suave. — Ela mantém a boca do submisso bem aberta, de modo que ele
não possa fechá-la, apenas mexer a língua.

— Pra quê serve? — indaga genuinamente curioso.

— Não consegue adivinhar? — o lúpus pergunta em tom malicioso.

O mais novo fita o acessório por alguns minutos, antes de exclamar,


surpreso:

— Para sexo oral?

— Não um sexo oral qualquer... — Jimin respondeu, sorrindo ladino. —


Um sexo oral muito profundo.

— Mas ficar com a boca aberta assim, não faz a pessoa ficar babando sem
parar, como um bebê babão? — Jeon perguntou com uma careta.

— Sim, faz — respondeu dando de ombros junto a uma risadinha pela


comparação do mais novo. — Mas a saliva serve pra lubrificar a felação,
além de ser excitante ver o sub babar no seu pau, não acha? — Jungkook
apenas dá de ombros também. — Você gosta quando vão fundo em sua
garganta, certo? Você disse que curtia e durante o cio, confirmei...

— Hmn... você sabe que sim — Jeon responde em voz baixa e o moreno
aperta os olhos para si, descontente com a forma levemente rude de tê-lo
respondido. — Sim, Jimin-ssi — consertou quando notou a expressão
alheia.

— A Spider Gag serve para isso. A Ring Gag também, percebe? —


Apontou para um objeto parecido, que consistia numa mordaça, com um
anel de circunferência grande no meio. Grande o suficiente para passar um
pênis por dentro dela.

Haviam também outros tipos de mordaça, de diferentes materiais ali:


silicone, aço, pano. Além de vendas em diferentes formatos e cores, plugues
anais coloridos, coleiras com guias, anéis penianos e algemas. Era uma
infinidade de acessórios, que nem se quisesse teria tempo de catalogar tudo
o que havia ali. Alguns já conhecia, pois Jimin tinha lhe mostrado nas aulas
preparatórias que haviam tido nas últimas semanas. Entretanto, a grande
maioria não conhecia ainda e pareciam objetos novos.

— Você colecionou tudo isso ao longo dos anos? — o ruivo indagou.

— Não. Alguns, claro, são antigos. Mas a maior parte são acessórios novos,
por uma questão de higiene. Não vou usar um estimulador de próstata em
você, que já tenha usado em outra pessoa, por exemplo. Seria anti higiênico
e irresponsável. Já alguns itens, como as palmatórias, por exemplo, já usei
com outras pessoas, pois eles não tem contatos com áreas íntimas ou
sangue. Mas sempre os esterilizo apropriadamente, então não se preocupe.

— Está dizendo então, que comprou boa parte pra... usar comigo? —
questionou incerto.

— É claro — o moreno respondeu com um sorriso doce. Tão doce que algo
no peito do ruivinho, derreteu.

Em um armário branco, posicionado entre a estante de vidro e um enorme


espelho, Jungkook encontrou lubrificantes, velas aromáticas, incensos,
isqueiros e aparelhos que pareciam ser eletrodos. Entendeu rapidamente, já
tendo assistido vídeos sobre estimular o parceiro com choques e sentiu um
arrepio na espinha.

— Você não vai usar esse negócio de choque em mim, né? — indagou
assustado.

— Só se você quiser — Jimin respondeu tranquilo. — Já falei que só


faremos o que tivermos acordado antes. Se você quiser experimentar os
choques, faremos. Eles são fraquinhos, eu mesmo já testei. Na verdade, eles
causam mais adrenalina, pelo medo da coisa. Dependendo da intensidade e
carga do choque, pode-se causar uma ereção. Manusear um aparelho de
choque, é algo que requer muito estudo, e demorou muito tempo para que
eu aprendesse da maneira correta. Eu te explicarei melhor sobre isso
futuramente. Mas se você não quiser, não usaremos, fique tranquilo.

Jungkook então observou pelo espelho, um suporte de madeira num


formato de X. Fora uma das primeiras coisas em que havia reparado no
quarto, mas já fazia uma boa ideia de para quê servia, uma vez que este
elemento aparecia com muita frequência em vídeos eróticos de bdsm.
Andou até ele, deslizando as mãos pela madeira grossa, tocando as algemas
de couro que haviam ali acopladas.

Um pouco acima, no teto, notou que existiam suportes esquisitos. Buscou o


olhar do dominador, que logo entendeu e lhe explicou:

— Servem para suspender o parceiro com cordas. A prática de imobilizar o


parceiro com cordas, está dentro do Bondage. Eu ainda não cheguei a lhe
explicar sobre o Bondage, certo? — indaga.

— Ainda não, Jimin-ssi. — Notavelmente, Jungkook ia aprendendo a se


portar diante de seu dominante e a como se dirigir à si, quando o
personagem de Dominador começava a surgir; e quando este surgia, o ruivo
automaticamente entrava no seu próprio de submissão.

— Como você já sabe, o "B" de BDSM é de Bondage, o "D" Disciplina, o


"S" de Sadismo, e por último o "M" de Masoquismo. Há quem diga que o D
e o S na sigla, significam Dominação e Submissão, mas ao meu ver,
dominação e submissão estão inseridos dentro do D de Disciplina. Nas
práticas de Sadismo e Masoquismo, estão os fetiches de causar dor ou senti-
la, seja de forma física ou psicológica. Já o Bondage é completamente
relacionado à restrição de movimentos do sub, e também a privação dos
sentidos, como usar uma venda, por exemplo... Eu posso imobilizá-lo com
algemas, numa cadeira, ou naquele objeto de madeira que você alisou...
aliás, ele se chama "Cruz de Santo André", porque, como você viu, parece
uma cruz, mas é em formato de X. Ali eu posso imobilizar um submisso
também. Além do mais, a imobilização pode ser feita com silvertape, é algo
mais... rústico, eu diria. Uma mordaça, como a ball gag, a spider gag e
qualquer restrição da fala em geral, também faz parte do bondage, percebe?
E por último, temos a imobilização por cordas— explicou, sentando-se
numa poltrona de couro vermelha mais adiante, fazendo sinal para que Jeon
sentasse na outra igual, de frente pra ele. — O Bondage é derivado do
shibari japonês; é uma técnica advinda de uma arte marcial de amarrar e
restringir os movimentos de um prisioneiro; era parte do estudo anatômico
humano e da luta. No bdsm, além de amarrar os braços, as pernas, os
pulsos, ou até mesmo amarrar o sub em uma cadeira ou mesa, há também o
bondage de suspensão, quando a pessoa é amarrada e suspensa no teto,
ficando com o corpo livre para exploração do Dominador. É pra isso que
pus aqueles suportes lá em cima.

Jungkook observou que no último canto do quarto, havia uma cama maior
que uma de solteiro, mas não tão larga quanto a de casal, que possuía dossel
de ferro. Estava bem forrada, com dois travesseiros vermelhos e era só.
Nada muito floreado. Certamente era uma cama apenas para sexo. Engoliu
em seco, incomodado novamente, ao pensar em Jimin transando com outra
pessoa, mais especificamente com o tal Taemin. Mas se o próprio havia
declarado que a Masmorra era recente, então talvez ele não houvesse levado
ninguém ali ainda. E aquele era um grande talvez...

— O mais importante é saber fazer as restrições de movimentos. Não se


deve amarrar as articulações e nervos do submisso, por exemplo, porque
isso pode trazer resultados ruins, será algo mal feito. Alguns dominadores
usam justamente esses pontos perigosos, quando precisam punir os subs. Eu
acho irresponsabilidade, porque algo pode dar realmente errado, nesses
casos — disse sério. — As cordas são de algodão, para não machucarem
muito a pele com o atrito. Aquele que gosta de ser amarrado,
especificamente por cordas, é chamado de Rope Bunny, e o Dom que gosta
de amarrar alguém com cordas, é chamado de Rigger. São apenas rótulos,
não necessariamente você precisa decorá-los, estou apenas explicando para
que você saiba. De qualquer modo, não esqueça que as imobilizações
podem ser feita com diversos materiais, mas eles precisam ser específicos
para não machucarem o submisso.

— Eu vou poder te amarrar? — Jeon indagou, animado.

Jimin riu escandaloso, achando a inocência do garoto uma fofura só.


— É claro que não, bebê. Sou um Dominador e necessariamente um Rigger.
Se eu deixar você me foder, não deixo de ser Dominador, mas se eu deixar
você me amarrar, eu ficaria submisso à você, entende? — Jungkook
assente, entendendo, um pouco brochado. Se bem que, se tivesse a
oportunidade de amarrar Jimin, não saberia o que fazer. Teria de comandar
as coisas, e Jungkook não era do tipo que sabia comandar coisa alguma.
Preferia não ter o trabalho, tampouco ser responsável de nada, não tinha
confiança pra isso. — Aliás, dentro do BDSM, o Dominador é chamado de
Top, e o submisso de bottom, mas isso é só dentro do BDSM. Fora dele,
como eu já te expliquei, ser bottom é o mesmo que ser passivo, ser aquele
que é penetrado, e isso não impede o passivo de dominar. Ou seja, ser top
ou bottom, nada tem a ver com ser Dominador ou submisso. Mas poucas
pessoas percebem essa diferença, já que as nomenclaturas e definições são
próprias de sexo entre dois homens — Jimin então se levantou e caminhou
tranquilamente pelo quarto de iluminação vermelha.

Jungkook acompanhava cada passo do dominador, com devoção em seus


olhos redondos. Costumeiramente o Park já possuía uma postura altiva, mas
ali dentro, era como se ele entrasse na personagem dominante com ainda
mais convicção.

— Voltando ao bondage — o moreno continuou a explicar —, você, como


sub, necessariamente será um Rope Bunny, caso goste de ser amarrado.
Algumas daquelas cordas já vem com os nós feitos, para que o Dom apenas
a encaixe em seu corpo. Eu posso amarrar qualquer parte sua, desde os
tornozelos, até suas bolas, por exemplo, evitando as áreas críticas que já
citei. Amarrar as bolas, nesse caso, serviria como um anel peniano,
retardando seu orgasmo. Prender o sub no teto é um pouco mais doloroso,
já que seu corpo fica suspenso pelas cordas e elas machucam um pouco.

— Eu quero tentar, Jimin-ssi. Lembro de ter visto o Yoongi e o Taehyung


fazendo isso numa Cena, aquela noite na The Cave.

Jimin assentiu, animado. Jeon era realmente interessado em muitas das


práticas, era um experimentalista. Gostava de experimentar um pouco de
tudo, embora deixasse claro os limites que não ultrapassaria. Mas nada que
um bom esclarecimento da parte de Jimin, que não pudesse, talvez, mudar a
mente do garoto, para pelo menos tentar uma vez, como a coisa dos
choques.

De certo modo, era uma manipulação. Deixaria o garoto atiçado para


experimentar os choques, até que ele mesmo o pedisse para tentar. Era
assim que o Park trabalhava: nas manipulações sutis.

Contudo, Jimin faria o garoto desejar aquilo e não apenas fazer para agradá-
lo, porque aí não seria correto, moralmente falando. Muitos submissos,
mesmo sem querer realizar certas práticas, acabam as aceitando para poder
agradar o Dom. Mas o moreno não gostava das coisas daquela forma, não
queria seu submisso fazendo algo contra a sua vontade e fazendo com que o
prazer, ao invés de mútuo, fosse apenas unilateral.

Entretanto, o lúpus sabia que, principalmente por ser um iniciante, ainda


que fosse aberto demais para experimentar as coisas, Jungkook teria medo
de outras, por isso daria o seu melhor para despertar o interesse do ruivo no
que o assustasse inicialmente, assim como tinha feito na coisa da janela.
Até porque, o medo, para muitos, servia como um instigante natural.

— Jimin-ssi... — o garoto chamou, com uma caretinha engraçada na face.


— Quando eu presenciei a Cena do Taehyung com o Yoongi, o Tae
desobedeceu uma ordem dele, mas não foi de forma suave... Ele realmente
mandou o cara "ir se foder". Isso não é meio que desrespeitoso? —
perguntou com os olhinhos negros bem abertos de curiosidade.

O lúpus soltou uma risadinha, porque aquele garoto conseguia deixá-lo


encantado com todas as suas expressões e o jeitinho engraçado. Alguma
coisa na personalidade do alfa híbrido o atraía, mas não sabia dizer
exatamente o quê. Certamente era tudo. Tudo sobre o alfa de fios vermelho-
cereja lhe era fascinante. E aquele sorriso que mostrava os dentinhos de
coelho, junto às ruguinhas nos cantos dos olhos, eram uma fofura só.
Jungkook era muito meigo, sem perceber.

— Seria desrespeitoso sim, mas o negócio é que naquela Cena, tudo foi
previamente acordado. — Jimin respondeu tranquilo. — Isso porque, o
Yoongi tem um enorme fetiche de ser xingado. É um Degradee. Ele é como
um oposto meu. Enquanto eu gosto de ser elogiado, Yoongi gosta de ser
afrontado, não só com xingamentos. A verdade é que Yoongi é um puta
Domador de brats, ele só não se nomeia desse modo.

— Whoa! — Jungkook exclamou espantado. — Hoseok hyung nunca me


explicou isso sobre o tal Yoongi profundamente...

— Isso é porque ele nem sabia. A real é que o Yoongi sempre gostou muito
da personalidade daquele beta, mas Hoseok era submisso demais no sexo.
Então pro Yoongi, como um Tamer, as coisas ficavam sem graça demais.
Ele sempre evita ficar com submissos perfeitos, prefere os switchers,
porque um switcher tem uma parte da natureza dominadora e isso
consequentemente se sobressai quando ele tenta se submeter, ou seja, uma
parte dos switchers, quando submissos, acabam sendo malcriados. Mas o
Hoseok não. Ele agia como o submisso perfeito. Ele faz parte da outra
parcela de switchers, que justamente por saberem bem como é estar no
outro lado da relação, se portam perfeitamente bem. Por isso Yoongi acabou
deixando ele pelo Taehyung.

— Então se eles se resolveram e estão juntos agora... — Jungkook diz


lentamente, raciocinando, antes de abrir um sorrisinho debochado. — Isso
quer dizer que o Hoseok está sendo um submisso malcriado, pra agradar
aquele ômega? Minha nossa, alguém vai ser muito zoado... — diz rindo alto
e jogando a cabeça para trás.

Jimin sorriu de lado, metendo as mãos nos bolsos e observando o mais


novo. A risada de Jungkook era engraçada, lhe dava vontade de sorrir
também. Ele conseguia ser fofo, até sendo escandaloso, e isso era algo que
o lúpus sempre reparara no garoto, e achava ser um charme. Precisava
tomar um enorme cuidado pra não se deixar levar por Jeon Jungkook.
Porque uma coisa era certa: desde o fim de seu noivado, o ex-militar nunca
ficara exatamente encantado com ninguém. No máximo sentia uma coisinha
aqui e outra ali, já que não tinha coração de gelo, mas nada ia pra frente,
enjoava fácil e a pessoa perdia a graça pra si. E aí veio Jungkook. O novo
vizinho, de cheiro intrigante, rosto lindo e inocente, e personalidade
cativante.

Enquanto o lúpus se mantinha num nível superficial de interação com o


garoto, estava protegido. Mas e agora, próximos desse jeito? Seria difícil
controlar aquele calorzinho irritante subindo em seu peito. Até porque,
sempre o adorou. Apreciava ter o vizinho em sua vida, pois ele o fazia bem
pra um caralho.

Se dando conta dos absurdos que estava pensando, e no quão idiota devia
estar parecendo ao encarar o ruivo, o ex-tenente aprumou-se e voltou a
falar, todo "negócios":

— Durante nosso cio, acho que você pôde notar alguns fetiches meus —
falou. Não estava ali pra ficar falando sobre Jung Hoseok, era claro. Até
porque, sentia um certo ciúmes de seu novo sub com aquele sujeito. O beta
era um bom Dominador e o Park sabia disso. Não queria pensar na
possibilidade de perder seu novo brinquedinho para o outro. — Me diga
quais fetiches você acha que tenho, pela sua observação comigo.

— Humn... Além de ser arranhado, me parece que você gosta muito que
implorem por você — Jeon respondeu astuto.

— Só isso? — insistiu provocador, com uma sobrancelha arqueada.

— Além de mandar, obviamente, você também gosta de castigar... Aquilo


que você fez comigo na janela, foi um castigo, certo?

Jimin balançou a cabeça, negando.

— Pode ter parecido, mas não. Eu só achei que você precisasse de um


pouco de adrenalina. Quis testar se você iria curtir um pouco de Fear Play.
O medo pode ser um ótimo estimulante. Você sentiu medo de cair da janela,
e a adrenalina em seu corpo te fez ficar mais excitado, não fez? — Indagou,
observando Jeon atentamente.

— Humn... Muito, na verdade. Mesmo sabendo que você não me deixaria


cair de propósito, sabia que algum acidente poderia acontecer...

— É muito fácil te ler, Jungkook... — disse com a voz provocadora outra


vez. Aliás, o Dominador parecia gostar de usar aquele tom com ele, noventa
por cento do tempo.
— Está dizendo que sou previsível? — o acerejado questionou incomodado.

— Na verdade, não. Eu sempre me surpreendo com você. Mas consigo


adivinhar quais fetiches te agradariam, justamente porque eles parecem
combinar muito com os meus. Nesses três dias de cio, pude notar como nos
encaixamos bem. Você me tocava exatamente como eu queria ser tocado e
vice-e-versa. Nós faremos uma boa dupla — disse, soltando uma piscadinha
galanteadora para o ruivo, que sentiu seu interior fisgar.

Tinha algum minuto do dia em que aquele sujeito não fosse seduzi-lo
daquele jeito? Jeon se perguntava.

— Venha. Vamos tomar café da manhã — o lúpus disse, puxando-o pela


mão.

E enquanto desciam as escadas transparentes, o avermelhado não conseguia


parar de sentir seu coração bater de forma errática no peito. Cada toque de
Jimin deixava seu corpo em chamas. E o lúpus era tão cuidadoso e bondoso
consigo, que o garoto sentia borboletas em seu estômago, embora tivesse
vontade de matar todas elas. Desejava servir aquele homem, mais de que
qualquer outra coisa, nos últimos tempos. Queria tê-lo em cima dele,
fazendo o que quisesse consigo e ele aceitaria de bom grado.

Se fosse para ter Jimin cuidando dele daquela forma, faria o que o outro
quisesse para agradá-lo. Até mesmo beijaria seu pés. Se bem que, aquela
era uma prática comum de um submisso, beijar os pés de seu Dom, e nem
precisava ter um fetiche em Podolatria pra isso.

Não que Jungkook tivesse fetiche por pés, mas pensando na sensação de
ajoelhar-se no chão e, literalmente, beijar os pés de Jimin, davam-lhe uma
impressão gostosa, de satisfação. Riu internamente. Estava se saindo um
baita submisso. Hoseok sempre estivera certo, era claro agora. Muito claro.
Assim como o fato de que estava ficando caidinho por Park Jimin. E aquilo
talvez fosse um grande problema.

"É só sexo, Jungkook" repetiu para si mesmo. Talvez assim seu cérebro se
convencesse.
Eu ia cortar esse capítulo aí, mas... fico ansiosa pros acontecimentos. E
hey, você aí, não tá me seguindo por quê? Que vacilation tour é essa?
Me segue aí, namoral, não seja ingrato.

A quem fez essa capinha linda, muito obrigada *u* avisa aqui, pq eu
perdi o user ;-;
15| purple pride
Galero, vi que alguns de vocês ficaram chocados com a citação sobre o
Jimin já ter sido noivo de alguém, como se fosse informação nova
euhheuuheuhe aí pra quem esqueceu, queria lembrar que essa informação
já tinha sido dada no capítulo "Hotter than hell", quando a gente entra na
mente do Jimin, e tem toda a explicação sobre ele não querer se atrever a
iniciar numa relação com o Jk, e que por isso ele passa a evitar o alfinha a
partir dali. Quem não lembra, vai lá dar uma relida, é o capítulo que rolou
a primeira pegação deles.

ESCRITO POR HowUdare

Jungkook sentiu algo macio tocando em seu pescoço, de forma suave e


carinhosa, mas era notável que aquele carinho tinha intenções de fazê-lo
despertar. Sonolento, resmungou algo incompreensível e virou-se para o
lado oposto, encolhendo o corpo, trazendo seus joelhos para a altura do
peito, encolhido como num casulo, puxando o lençol com cheiro de
amaciante para cobrir-se mais.

— Hora de acordar, garotinho — ouviu a voz doce de Jimin dizer.

Ignorou. Nada nem ninguém o tiraria de seu soninho confortável. Aliás, sua
mente nem mesmo conseguia assimilar o que diabos Park Jimin fazia ali,
mas na realidade já estava acostumado a ter o outro alfa o acordando, após
os três dias do cio. Contudo, o tecido quentinho fora arrancado de seu
corpo, fazendo-o franzir o cenho, incomodado.

— Vamos, sem manha — disse o moreno, em seguida estalando um tapa em


sua traseira, que fez o barulho ricochetear alto no silêncio do quarto.

O mais novo fez um bico e lentamente abriu os olhos, estranhando os


móveis do lugar. Alguns segundos foram necessários para que assimilasse
aonde estava, porquê estava e com quem estava. Suspirou, se virando de
barriga pra cima e espreguiçando-se de forma desengonçada, soltando altos
bocejos vergonhosos, mesclados a gemidos engraçados.
Jimin se levantou do colchão, já que estava sentado ao lado do rapaz, e
prostrou-se ao pé da cama, segurando o dossel de ferro branco, enquanto
observava o garoto entrar na realidade. Este então levantou o tronco,
sentando-se no colchão, mas com os olhos ainda fechados, com uma careta
incomodada na face, ainda muito fora do ar.

O lúpus segurou uma risadinha, observando os cabelos do ruivo estarem


completamente armados pra cima, fazendo-no parecer uma tocha humana.
Além do mais, a carinha inchada, o cenho franzido e o bico chateado nos
lábios, o deixavam ainda mais bonitinho.

O Park mordeu o lábio inferior, reprimindo-se. Ninguém acorda bonito, as


pessoas acordam descabeladas, com a pele brilhando de oleosidade, os
olhos inchados e remelentos, e os fios de cabelo parecendo resultado de
choques elétricos. Mas por algum motivo, o qual ele preferiu não pensar
muito sobre, Jeon Jungkook, mesmo acordando deste modo, parecia a coisa
mais fofinha do universo.

Jimin sentiu algo em seu estômago dar uma guinada e conteve a vontade
suspirar. Por que infernos esse alfa tinha que deixá-lo tão... arriado? Sua
cabeça estava lhe pregando peças, aquilo tudo estava indo rápido demais e
não era isso que queria. Não teria uma relação romântica com o Jeon, ele
não deveria ser diferente dos outros submissos que já tivera. E sequer
haviam começado a praticar bdsm, apenas haviam explorado sutilmente
alguns fetiches, como quando amarrara os pulsos do garoto, ou quando o
fizera sentir um pouco de medo, provando do tesão que a adrenalina no
sangue o causaria.

Entretanto, admirar Jeon Jungkook como uma jóia rara, não o deixava
incomodado, apenas apreensivo. Jimin não era exatamente de ter medo de
sentimentos, somente não os tinha mais há muito tempo, já que após o
rompimento de seu noivado, anos atrás com o beta Dong Taeyang, ficara
temeroso quanto a entregar-se para alguém. Não era medo de sentir, mas
sim de decepcionar-se, de modo que sua mente o impossibilitara de sentir
qualquer coisa mais forte por qualquer pessoa. Criava sim, um carinho por
seus submissos, mas era algo que apagava tão rápido quanto se acendia,
assim como a chama de uma vela em meio à umidade. Não que passasse a
odiá-los, mas era como se as coisas perdessem a magia após um par de
meses. Até mesmo o sexo tornava-se sem graça. E desse jeito, nenhum
submisso durava tanto em uma relação consigo, e aquilo para si era
completamente normal. Vivia feliz desse modo, tranquilo, sem sentimentos
o sufocando e lhe tirando o controle.

Jimin odiava perder o controle. Aparentemente, apenas Jungkook podia


bater de frente consigo, sem deixá-lo realmente irritado. Desde os primeiros
contatos que os dois tiveram, em basicamente tudo o que o ruivo o
contrariava, ele achava simplesmente fofo. Não sabia se porque o garoto era
mais novo, se porque tinha aquela carinha de inocente, ou se apenas se
deixava levar pelos olhinhos negros curiosos. Mas um fato era que o Jeon
simplesmente parecia um gatinho filhote, desses que sempre fogem de
carinho, mas que quando você menos espera, se enroscam em sua perna
pedindo atenção. E ai dele se não desse atenção.

O ex-coronel deu uma pequena tossida e falou ao avermelhado, com a voz


mansa:

— Vá se lavar e desça para tomarmos café.

— Que horas são agora? — o de cabelos cereja indagou, já tentando abrir


os olhos, ainda com uma grande careta na face.

— Nove horas — respondeu-lhe o alfa.

— E por que você está me acordando tão cedo, Park? Eu só trabalho às


quatro da tarde! — resmungou enquanto massageava os próprios ombros.

— Eu sou seu Dominador, devo estabelecer seus horários para que você
fique disciplinado... — respondeu.

Jungkook então abriu bem um dos olhos, mantendo o outro ainda fechado,
sem desfazer a carranca. Odiava ser acordado. Odiava com todas as suas
forças.

— Até onde entendi, nossa relação não se estende tanto assim. Eu não gosto
de ser acordado, nem de ter meus horários controlados, hyung. Aí já é
demais, isso me deixa mal humorado...
O Park deu uma risadinha, mas não tinha gostado muito da resposta. De
fato, não haviam acordado em uma relação de total troca de poder, para que
delimitasse os horários do mais novo, contudo, morando na mesma casa,
ainda que temporariamente, seria necessário que tivessem horários iguais.

— É só enquanto você estiver por aqui, garotinho. Nós precisamos ter


horários semelhantes, entende? — respondeu calmo. — Não
aproveitaremos nada, se você passar o dia todo dormindo, enquanto estou
acordado, e vice-e-versa.

— Oh... — Jeon grunhiu, entendendo. — Tudo bem... Mas olha, não tem
como me acordar um pouquinho mais tarde não? Eu trabalho até meia-
noite, se acordar tão cedo assim, vou ficar destruído... — disse com um
biquinho.

— Não se preocupe — Jimin respondeu sorrindo. — A partir de amanhã, te


acordarei às onze, de acordo?

O mais novo assentiu, levantando-se preguiçosamente da cama.

— De acordo... — murmurou, caminhando em direção à porta, enquanto


coçava os olhos.

— Estou te esperando lá embaixo — o ex-coronel declarou, passando em


sua frente. — Não demore — finalizou, deixando um rápido carinho na
orelha alheia, e então se retirou do quarto.

Jungkook suspirou relaxado. O carinho despretensioso do lúpus o agradara.


Não era a primeira vez que o recebia, mas era tão sutil, que deixava-o
desnorteado. O híbrido era manhoso, gostava de carinho, gostava de sentir-
se sendo cuidado. Aquilo lhe enchia de satisfação e a única coisa que sua
mente apontava, era o quanto queria agradar de volta quem lhe dava o que
queria. E essa pessoa era Park Jimin.

Coçando a nuca preguiçosamente enquanto bocejava, entrou no banheiro do


corredor, olhando-se no espelho grande acima da pia. Fez mais uma careta.
Era desse jeito que o glorioso Jimin o tinha visto? Ah, mas que grande
merda. Ninguém deveria ser obrigado a ver sua cara amassada e o cabelo
semelhante ao de um super sayajin. Bufou, inconformado. Trataria de fazer
algo quanto à sua aparência antes de dormir, se o lúpus fosse acordá-lo todo
dia. Se o outro o visse desleixado daquele jeito com frequência, temia que
ele perdesse totalmente o tesão em si.

Aliás, era assim que parte dos casamentos acabavam, certo? Ouvira até
mesmo na tevê, sobre o caso de um homem que processou a esposa, por ela
tê-lo enganado, acordando antes dele todos os dias para maquiar-se e
disfarçar a falta de beleza no rosto. E o sujeito só descobriu, porque quando
tiveram o primeiro filho, a criança nasceu desesperadoramente horrível. É
claro, aquela era uma manchete sensacionalista, mas sabia que a cultura em
seu continente chegava nesses níveis absurdos.

Escovou os dentes preguiçosamente, para em seguida tirar a roupa, tão


preguiçosamente quanto. Mas antes de entrar no chuveiro, observou seu
reflexo no espelho, notando algo que ainda não tinha visto antes, embora
soubesse que estavam ali: as marcas remanescentes do cio.

Observou cada milímetro da pele branca, pintada de marcas roxas,


vermelhas e esverdeadas, principalmente no peitoral, pescoço e clavículas.
Teria que se virar para cobrir aquelas marcas com a maquiagem barata que
tinha. Trabalho não era ambiente para expor tais coisas. Não que alguém
fosse questioná-lo, era um alfa, afinal de contas. A coisa mais comum, eram
alfas marcados com diferentes chupões. A coisa seria diferente se fosse um
ômega. A sociedade tendia a reprimi-los.

Notou como as manchas concentravam-se no encontro de seu pescoço e


ombros, e também nos mamilos. Os biquinhos e auréolas eram
normalmente marrons, mas seus entornos tomavam um tom de roxo azulado
incrível. Recordou-se dos momentos em que aquelas manchas foram
pintadas pelos lábios macios do alfa Dominador, e então estremeceu. Seu
baixo abdominal formigou, e era quase como se pudesse sentir as sucções
do alfa em sua tez outra vez.

Um sentimento estranho começou a se alastrar em seu ser, tomando forma,


lentamente. Nunca foi muito de curtir que deixassem marcas em si, achava
totalmente desnecessário... entretanto, agora o sentimento definitivamente
era oposto a esse.
Lembrou-se sobre as marcas no traseiro, as quais Jimin havia comentado
anteriormente, então virou-se de costas para o espelho rapidamente,
arregalando os olhos ao perceber os pequenos círculos com as marcas dos
dentes do alfa em todo o lugar de suas nádegas, além de, é claro, as
manchas roxas e esverdeadas em conjunto. Notou que atrás das coxas,
haviam leves vergões vermelhos, dando-se conta de que eram fruto dos
arranhões do Park, enquanto metia fundo dentro de si. Resfolegou com a
memória, mordendo os lábios, e então encostou a testa na parede de azulejo
frio. Seu corpo estava ficando quente só com aquela recordação, e todo o
seu fluxo sanguíneo começava a se direcionar para o pênis.

Até o dia anterior, as marcas não estavam tão fortes, mas o normal era que
piorassem, para atingir o pico da coloração arroxeada e começarem a
desaparecer, deixando manchas amareladas pela pele. Olhou novamente
para o espelho e sorriu. Aquelas marcas estavam-no fazendo sentir-se
satisfeito... até que entendeu que o sentimento estranho que invadia seu
corpo, era o de orgulho. As marcas faziam uma forte ligação entre ele e
Jimin, e lhe davam um sentimento de posse em relação ao outro. De
pertencer a ele. E aquilo o deixava praticamente derretido.

— Fodam-se os clientes da loja... — murmurou encarando o próprio


reflexo, com um sorriso ladino. — Vou deixar essa marcas bem à mostra.
Agora pertenço a Park Jimin... — então riu-se, ainda mais abertamente,
como um bobo, sentindo aquela sensação diferente causar um frio divertido
em seu estômago.

Pensou seriamente em se masturbar no chuveiro, mas aquilo demoraria.


Cogitou então chamar Jimin para resolver seu pênis inflado, afinal, a culpa
era dele. Mas seu estômago roncou faminto. Não tinha o costume de
banhar-se antes de comer, preferia fazer ao contrário, mas resolveu que faria
logo o que o mais velho lhe havia implicitamente ordenado, não querendo
irritá-lo àquela hora da manhã. Até porque, teria de morar na casa do outro,
pelo o que imaginava serem algumas semanas; não seria bom, irritá-lo
enquanto estivesse sob a dependência dele. Ainda que a culpa fosse do
citado.

Quando saiu do chuveiro, todo limpinho e cheiroso, foi até o quarto e fez o
que tinha que fazer, descendo vestido até a cozinha, com os fios úmidos.
Seus cabelos estavam mais claros que de costume, num tom mais rosado de
que vermelho, o tonalizante colorido desbotando.

Achava a coisa mais estranha descer aqueles degraus transparentes, que lhe
davam a impressão de que cairia no chão a qualquer momento. Jimin devia
ter realmente um bom dinheiro. Mas já era de se esperar, era um Tenente-
Coronel da aeronáutica, anteriormente. E militares ganhavam muito bem.

— Bom dia, hyung — murmurou com um sorriso singelo, que


imediatamente foi correspondido pelo alfa, que estava encostado no balcão
da cozinha, enquanto assistia ao noticiário matinal. Este se virou para si,
estendendo-lhe uma caneca vazia, para então enchê-la com o líquido preto
fumegante e enchendo uma para si também.

Jungkook rapidamente bebericou o café, para em seguida fazer sua, talvez,


décima careta do dia.

— Jimin hyung, isso tá azedo...

O moreno então o observou de cenho franzido, para então se dar conta e


soltar uma gargalhada.

— Oh... me desculpe. É que está sem açúcar... Já disse que prefiro coisas
não muito doces... com exceção de você — terminou com uma piscadinha;
o que fez Jungkook sorrir de volta para ele, aceitando o flerte. — Tome,
aqui está o adoçante — disse lhe entregando o frasquinho transparente.

— Obrigado — respondeu o ruivo, adoçando a bebida quente, vendo o


lúpus por um enorme prato de ovos mexidos e arroz a sua frente, junto a
algumas torradas.

— Coma bem — Jimin declarou, dando a primeira garfada nos ovos.


Aparentemente, dividiriam o mesmo prato, por isso a enorme quantidade de
comida ali.

Em um silêncio estranhamente confortável, os dois comiam e, não


raramente se fitavam. Na verdade, raro era não estarem se observando.
Principalmente o lúpus. Este mirava atentamente e de forma não muito
discreta, as marcas roxas pelo corpo alheio, tendo a já conhecida satisfação
de ver suas marcas de posse no corpo de um submisso. Por algum motivo,
sentia-se ridiculamente satisfeito em dobro, ao ver suas marcas pelo corpo
de Jeon Jungkook, especificamente. Não que não suspeitasse do motivo
pelo qual o simples fato de ser o ruivo — agora aparentemente mais rosado,
podia perceber —, deixá-lo mais pleno. O Park não era idiota, se conhecia
muito bem.

Sem se abalar pelo olhar minucioso do outro sobre si, Jungkook puxou uma
conversa:

— Hyung, não acho que você deveria me acordar todas as manhãs... —


disse de boca cheia.

— Te incomoda muito? — perguntou o alfa, observando o ruivo


atentamente.

— Na verdade, é que... eu não quero você me vendo aquele cabelo de Super


Sayajin... — disse rindo. — Assim quebra meu orgulho...

Jimin sorriu sacudindo a cabeça, enquanto passava manteiga na torrada,


para então estendê-la cuidadosamente em frente aos lábios de Jeon, que
entendendo a deixa, abocanhou rapidamente o alimento em sua mão.

— Não se preocupe com isso, Jungkook-ah... eu achei uma graça. Você fica
muito fofinho descabelado, parece um fósforo. Talvez você seja a pequena
luz em minha escuridão — falou comicamente, com uma mão no peito,
numa péssima encenação de filme romântico.

— Yah! — bradou o outro, com uma bochecha mais inchada que a outra,
por conta do alimento ali dentro, ao mesmo tempo em que tentava não rir
das gracinhas do alfa.

Uma coisa que sabia, era que Park Jimin o fazia rir tanto quanto ele fazia o
lúpus sorrir também. Era simplesmente incrível como se davam bem desde
o começo.
O moreno riu alto, cobrindo a boca e jogando a cabeça para trás, como
sempre fazia, mas dessa vez ainda mais solto que de costume. A presença
constante de Jungkook, o fazia relaxar e mostrar mais de sua verdadeira
personalidade, agora sem medo algum de que vizinho se aproximasse de si
e viesse a descobrir sobre suas práticas incomuns. Já não tinham mais
segredos... Com exceção de uma coisa. Mas esta, continuaria mantendo em
segredo, e rezaria para que o garoto jamais descobrisse, ainda que não
estivesse fazendo exatamente algo errado. Apenas queria evitar um possível
conflito. Submissos costumavam ser delicados nessas questões e não sabia
se o Jeon era exatamente ciumento, todavia já tinha notado algumas
características no alfa, que indicavam que sim.

— Você é um bobalhão... — resmungou o mais novo, fazendo Jimin


automaticamente cessar a risada e aprumar a postura, levantando uma das
sobrancelhas pro outro alfa, numa repreensão muda.

— Não me provoque, Jeon Jungkook... — disse com a voz perigosa,


fazendo o outro engolir em seco, mas sentir um arrepio de excitação. Estava
adorando ver o mais velho todo soltinho, mas adorava ainda mais quando
este tomava uma postura ameaçadora e Dominante.

O de cabelos nem mais tão cereja assim sorriu de lado e deu uma rápida
sacudida de cabeça, algo que Jimin notou ser uma mania do rapaz, ao longo
do tempo, assim como era uma mania sua jogar os cabelos para trás, mesmo
sabendo que voltariam a cair no mesmo lugar.

Capturou mais uma torrada e então a levou em direção aos lábios do mais
novo, ao mesmo tempo que este estendia o garfo cheio de ovos para si.
Confusos, cada um abocanhou a comida oferecida pelo outro, meio
desengonçadamente, mas depois riram cúmplices, se fitando. Era muito
fácil estarem juntos; tanto o avermelhado, quanto o mais velho, já haviam
reparado na facilidade e suavidade que tinham em se relacionar
tranquilamente quando estavam na companhia um do outro.

— Hey, Jimin... — chamou após engolir a torrada e bebericar seu café,


agora adoçado. — Nós parecemos aqueles recém-casados, cruzado os
braços para beberem na taça, na festa depois da cerimônia... — disse com
uma careta engraçada.
— Também pensei nisso... — admitiu rindo. — Quem sabe seja um insight
do futuro — disse brincalhão, com uma piscadinha. — Escute, terei que sair
agora para uma entrevista de emprego, mas volto antes de você ter que ir
para o trabalho, sim? Me espere, irei levá-lo até lá.

Jungkook parou de mastigar para fitá-lo, confuso.

— Por que quer me levar lá? É aqui do lado...

Jimin deu de ombros. Não existia exatamente um motivo para levar o


garoto até o trabalho, já que a lojinha ficava há apenas alguns quarteirões
dali, mas sentiu essa necessidade em si. Queria cuidar do avermelhado,
sentia uma urgência em protegê-lo, em rondá-lo, e em ficar atento a
qualquer um que pudesse se aproximar para machucá-lo. Era seu instinto
Dominador falando.

— Porque eu quero — respondeu. — E também vou aproveitar para


comprar algumas caixas de cereais pra você. Sei que gosta disso como café
da manhã — finalizou com mais uma piscadinha, enquanto limpava a boca
em um guardanapo e observava a hora em seu relógio de pulso. Bufou ao
perceber que precisava sair imediatamente de casa, para que não se
atrasasse. — Me desculpe não ficar com você até terminar a refeição, mas
realmente preciso ir agora.

Então o lúpus deu mais uma bebericada na bebida fumegante, e pegou seu
aparelho celular e as chaves no balcão, enfiando-os dentro do bolso da calça
social preta. Deu a volta e parou ao lado do ruivo, segurando seu rosto
delicadamente entre os dedos cheios de anéis prateados, para então selar
carinhosamente sua testa, de forma extremamente suave e gentil.
Automaticamente Jeon fechou os olhos, aproveitando o carinho, para então
deixar um pequeno bico se formar em seus lábios, quando o lúpus se
afastou de si.

— Até mais tarde — disse suavemente para o de fios vermelhos, dando-lhe


um último carinho na nuca, e então foi andando em direção à porta da
garagem.
— Hyung... — chamou o mais novo, e imediatamente o ex-militar volveu-
se para observá-lo. — Boa sorte. Você consegue. Fighting! — exclamou
com os punhos cerrados.

Jimin sorriu abertamente e então murmurou:

— Filho da puta fofo... — murmurou. — Aigoo... — então deu um sorriso e


saiu dali, balançando a cabeça.

A fofura de Jeon Jungkook era demais pra ele aguentar. As bochechas


gordinhas, os dentinhos avantajados e os olhinhos redondos envoltos em
ruguinhas nos cantos, o deixavam com uma aparência tão infantil. Um
perfeito Little por fora... e aparentemente por dentro também. Ficaria de
olho nessa tendência do mais alto, já que, deus sabe o quanto Park Jimin
adorava um age play. Só de pensar em cuidar de Jeon como uma criança,
lhe causavam um baita arrepio de satisfação, e um sorriso tentava escapulir
de seus lábios.

Já o garoto permaneceu encarando o local por onde o mais velho havia


saído, totalmente extasiado. Os olhinhos fechados do Park, lhe deixavam
totalmente de guarda baixa. Sentia que podia derreter ali na cadeira. Por que
diabos o sujeito mexia tanto consigo assim? Quanto mais perto dele ficava,
mais necessidade sentia de estar. Não queria exatamente ficar tão submisso
à outra pessoa nesse ponto, não no nível sentimental. Ser submisso no sexo
já deveria estar de bom tamanho. Sabia que ficar dependente
emocionalmente poderia complicar as coisas. Jimin já tinha deixado bem
claro que não costumava se envolver romanticamente com ninguém, certo?

Sacudiu a cabeça, tentando espantar os pensamentos, para então voltar a


comer. Ao finalizar, lavou a louça e foi até seu quarto, disposto a instalar
seu vídeo-game na tv da sala, e ficar jogando alguma coisa antes de dar o
horário de ir trabalhar.

Enquanto conectava os cabos, sentiu uma leve náusea, mas sentou-se em


seguida no sofá, esperando passar. Só que não passou. Foi ficando cada vez
mais incômodo e a sensação foi acompanhada de um forte enjoo, lhe
fazendo correr para o banheiro e vomitar.
Tomou remédios, mas diferente do que esperava, as horas foram passando e
a situação só piorava. Foi sentindo a cabeça pesar e o corpo esquentar, ao
mesmo tempo em que sentia frio. Um forte sono lhe acometeu e seus olhos
pesaram. Enviou uma mensagem a Namjoon, avisando sobre sua ausência
no turno. Não poderia trabalhar daquele jeito, nem se quisesse. Então foi
para o quarto e se enfiou debaixo das cobertas, sentindo as dores aliviarem,
quando finalmente pode fechar os olhos e cair na inconsciência.

[...]

Jimin estava frustrado. Se soubesse que aquela entrevista era pra isso, não
teria se dado ao trabalho nem de sair de casa. Enquanto dirigia, queria bater
com a cara no volante, de tanta raiva. Piloto de avião? Mesmo? Nem
fodendo. Se fosse trabalhar assim, viveria viajando todo o tempo. E uma
coisa era certa: não queria mais viver longe de casa. Principalmente agora
que tinha um motivo e tanto para voltar. E esse motivo tinha cabelos
vermelhos e cheiro doce.

Não que o alfa meio ômega fosse algo com tamanha importância em sua
vida assim, a ponto de recusar um trabalho por ele, embora não apreciasse
de modo algum a ideia de separar-se do mesmo agora. Todavia, Jimin
estava cansado. Fizera parte da Aeronáutica por toda a sua vida,
praticamente. E era um trabalho pesado. Então não tinha sido de todo ruim,
ter sido expulso agora. Contudo, uma exoneração não era o mesmo que uma
aposentadoria compulsória. Numa dessas, continuaria a receber algum
dinheiro. Mas em seu caso, era apenas mais um desempregado e sem fonte
de renda. Embora ainda tivesse um bocado de direito guardado, ele não
duraria pra sempre.

Todas as suas economias estavam sendo gastas nesse período de


desemprego. Daria pra ficar cerca de um ano usando o dinheiro guardado
em sua poupança, porém gastara boa parte com a construção da masmorra.
Não era o melhor momento para ter tido tal gasto, mas a construção de um
quarto para suas práticas fetichistas era algo que Jimin sempre quisera fazer.
Isso, somado ao fato de que passaria mais tempo em casa, acabaram o
levando a tomar a decisão de construir sim, o local.
O pior era que teria de realizar mais um gasto absurdo consertando o
apartamento de Jungkook, que haviam quebrado no cio. Se fosse antes de
ficar desempregado, certamente daria até mesmo um apartamento novo ao
Jeon. O ex-militar sempre apreciou dar presentes caros às pessoas que
gostava. Mas sua situação agora, não permitia tanta coisa assim. Tinha
pesquisado os preços de armários novos, tintas, mão de obra na internet, e o
total somado era alto demais pra sua situação.

Quando estacionou na garagem de casa, tentou melhorar sua expressão


derrotada, não queria que Jungkook o visse assim. Tampouco era uma
postura que deveria ser adotada frente a um submisso; isso seria demonstrar
fraqueza demais, o que não era ideal.

Estranhou quando entrou na casa e ouviu apenas silêncio. As luzes estavam


apagadas, embora não estivesse escuro, por causa da luz do sol que
adentrava as janelas. Jeon teria voltado a dormir? Sentiu-se culpado.
Realmente não tinha pensado muito que ao acordar o garoto cedo, o
prejudicaria. Bufou. Jimin detestava cometer erros, então o pensamento
deixou-lhe ainda mais frustrado.

Passando em frente ao quarto de hóspedes, notou que o mais novo dormia


com a porta aberta. Olhou o relógio em seu pulso, notando que teria que
acordá-lo outra vez, caso contrário, o garoto se atrasaria para o trabalho.
Não lhe parecia muito surpreendente que Jeon Jungkook fosse irresponsável
nesse quesito. Então acendeu a luz do ambiente e se agachou em frente ao
rosto tranquilo do garoto, estranhando os fios úmidos colando na testa e a
pele brilhando de suor.

Repousou a destra na testa suada do mais novo, notando o quão quente ele
estava, e então estalou a língua no céu da boca. Jeon estava obviamente
com febre, o que significava que estava doente. Não era exatamente comum
que os seres da Nova Raça ficassem doentes assim. Teria que levá-lo ao
médico, mas deixaria para o fazer quando o mais novo acordasse. Então
apenas tirou os anéis e pulseiras das mãos, depositando-os na cômoda do
quarto, em seguida tirando também suas roupas, permanecendo de cueca,
para então deitar-se atrás de Jungkook, sem abraçá-lo, e aí adormecer ao
lado dele, para vigiá-lo.
Mais tarde, sentiu o garoto se remexer no colchão, enquanto tossia, o que o
fez despertar e perguntar como ele estava. Após uma rápida conversa,
acabou o levando ao hospital mais próximo, onde descobriram tratar-se
apenas de uma gripe. Mas não era nada com o que tivessem que se
preocupar. Apenas teria que lembrar ao ruivinho, os horários certos de
tomar os remédios, e entre cinco dias e uma semana, ele estaria curado... O
que Jimin fez com todo o gosto.

E foi aí que notou o quão manhoso Jeon Jungkook poderia ficar, mais do
que imaginara naqueles três anos em que o conhecia. A fala manhosa e
fanha, por conta das dores e nariz entupido, eram adoráveis. Quem ficava
charmoso até mesmo todo congestionado, com as narinas vermelhas
escorrendo catarro? O mais velho quis se bater. Estava caindo fácil na
ladainha daquele abusado. E o mais novo era bastante sacana, se
aproveitando de todas as situações para manter Jimin 24h consigo, onde
apenas se separavam para dormirem, cada um em seu quarto.

Não haviam motivos para que dormissem juntos, não eram um casal, nem
estavam declaradamente apaixonados, embora atração e admiração mútuas
fossem bem fortes e aparentes. Quando dormiram juntos na casa do Jeon,
fora uma exceção, algo propício ao momento. Estavam em cio, os dois. Os
corpos necessitavam do calor alheio, queriam estar perto todo o tempo, mas
havia toda uma necessidade sexual. O que não se aplicava agora,
principalmente em se tratando de um Jungkook catarrento e que roncava.

E roncava muito!

Durante aquela semana, o lúpus chegava a levantar algumas vezes da cama


durante à noite, para ir até o quarto do mais novo e virá-lo de lado no
colchão. Os roncos eram tão altos, que não sabia como o garoto não tinha se
engasgado ainda — ou acordado com o próprio som incômodo. Ele não se
lembrava de tê-lo ouvido roncar antes, durante os dias do cio, então torcia
para que os sons estivessem sendo causados pelo nariz congestionado do
ruivinho, que por conta disso, vinha passando por maus bocados para
respirar. Se depois de passado o resfriado, ele continuasse a roncar, isso
seria um problema. Jimin tinha sono muito leve, e mesmo com as portas dos
quartos de ambos fechadas, era possível ouvir o ruído.
Se aquilo o faria desgostar do submisso-não-tão-submisso? Provavelmente
não, mas seria um bom material para tirar sarro com a cara do alfa ao
mesmo tempo em que seria a causa do lúpus acordar mal humorado pela
manhã.

No sexto dia, quando se despediu de Jeon com um beijo na testa, cobrindo-


o para que dormisse aquecido, caminhou até seu próprio quarto e então
deitou-se em sua cama, encarando o teto, pensativo. Sua relação com o
vizinho estava definitivamente ultrapassando qualquer coisa que já tinha
tido com algum submisso. E o engraçado era que sequer haviam começado
a praticar algo sexual naquele sentido. Haviam sim, transado no cio, e feito
uma ou outra coisinha quente antes disso. Mas depois que Jungkook se
mudara para sua casa temporariamente, eles não fizeram mais nada, nem
mesmo trocaram beijos, uma vez que o garoto estava doente e indisposto
todo o tempo.

Contudo, para o dominador, em toda a sua experiência nos jogos de BDSM,


tinha ciência de que eles já haviam iniciado a relação D/s, por mais que
Jungkook certamente ainda não tivesse se dado conta disso. Ele e o mais
novo já estavam sim, agindo como submisso e Dominador. O ex-coronel
cuidava do garoto de forma preocupada, carinhosa e dedicada. E em troca, o
avermelhado lhe obedecia em tudo o que ele mandava, desde as ordens para
dormir, comer, se banhar e outras mais.

De vez em quando Jungkook tentava contrariá-lo, mas não era como se


estivesse realmente em condições de perturbar, já que estava doentinho. E a
dinâmica daquela troca de poder, à essa altura estava clara: Jeon realmente
se submetia a Park Jimin, ainda que gostasse de desobedecê-lo de vez em
quando. Mas ainda assim, estava entregando parte do poder de controlar sua
vida e seu corpo ao moreno, indo até mesmo além do que tinham
inicialmente acordado. E isso se dava ao fato de que, quando decidiram os
limites de sua relação, não planejavam morar sob o mesmo teto. Mas agora
a situação era diferente, e naturalmente a relação dos dois se adaptava à
novidade.

O lúpus sorriu satisfeito e girou no colchão, todo bobo, com um sorriso na


cara e sacudindo as pernas no ar. Sentiu-se como um adolescente, algo que
lembrava bem ter sentido só algumas vezes na vida. Nem quando era
adolescente, tinha o costume de se sentir... arriado assim. E na última vez,
tinha saído com o coração tão partido, que nunca mais se atreveu a sentir
algo grande novamente. Mas agora, embora ainda tivesse algo a perder,
Jimin sabia que não seria capaz de controlar seus sentimentos. Não desta
vez. Porque esse era o efeito de Jeon Jungkook tinha em si: tirar o seu
controle e ainda fazê-lo gostar disso.

Então respirando fundo, decidiu que resolveria sobre o tal segredo que
escondia de seu, oficialmente, submisso. Não deixaria que nada se pusesse
entre os dois agora. Não sabia se o de cabelos cereja também teria a vontade
de ficar só com ele, mas uma coisa era certa: Não queria estar numa relação
aberta. Fosse dentro ou fora do bdsm, Park Jimin queria ficar apenas com
Jeon Jungkook e ninguém mais. O problema seria resolver uma certa
situação alheia ao de cabelos cereja, para conseguir isso.

E aê, clã! Eu tô curiosa sobre algumas coisas e queria que vocês me


contassem e marcassem os usuários nas perguntas, pra eu poder encher
minha biblioteca:

1- Quem tem os melhores lemons/smut/hots na sua opinião e pq?

2- Quais autoras do wattpad vc conhece, que escrevem jikook flex?

3- O que você acha mais importante em uma fanfic?

4- O que te atrai mais em INCANDESCENTE? Honestamente!


16| cat dealers
ESCRITO POR HowUdare

Jungkook deu um pulo da cama, atordoado. Os miados doloridos à distância


deixaram-no em total alerta. Calçou as pantufas brancas, que possuíam um
enorme e colorido chifre de unicórnio na ponta — presente de Hoseok, no
seu aniversário de 20 anos —, mas que pelo decurso do tempo, já estavam
tão gastas, que era como andar descalço, realmente. Estas apenas
permaneciam brancas, porque lavava sempre com água sanitária.

A madrugada tinha um clima muito frio e seco. Eram meados de dezembro


e, na Coréia, o inverno no fim de ano, era extremamente rigoroso. Sentindo
as pontas dos dedos geladas, assim como seu nariz, deu meia volta, quando
já estava na metade do caminho para sair do quarto, apenas para pegar o
roupão felpudo pendurado na porta. Um roupão não era exatamente um
sobretudo, mas o aqueceria para que pudesse ir ao lado de fora naquele frio,
caso fosse Minzy que estivesse na rua, arrumando briga. Como morava em
um prédio, a gata geralmente não saia de casa, com exceção das vezes em
que seu dono entrava no cio, e o bichano não tinha alternativas a não ser
escapulir pelo basculante do banheiro e ficar transitando pelo pequeno
prédio, por um trio de dias.

Contudo, estando Jungkook e o gato, hospedados na casa de Park Jimin, o


animal possuía uma enorme facilidade de dar passeios pela vizinhança — o
que deixava Jeon preocupado que algo acontecesse ao seu bichinho.

Quando abriu a porta do quarto, viu que a de Jimin estava aberta também,
mas não pode parar para verificar o motivo. Apenas desceu as escadas
transparentes, chamando pela gatinha.

— Psiiiu, psiuuu, psiuu... Minzy! Cadê você, nenê? Vem pro papai, vem! —
chamou.

Mas não obteve resposta. Começou a procurar pela casa toda, ficando tenso.
— Tchu, tchu, tchu... Minzy! — chamou outra vez, estalando os dedos
estendidos pra frente.

— "Tchu tchu tchu" é pra cachorro, Jungkook — a voz rouquinha de sono


do mais velho falou. — Pra gatos se faz "psiu"; Porque você gosta de ser
todo ao contrário? — disse em tom divertido.

O Jeon, que estava com o corpo levemente curvado para enxergar embaixo
dos móveis, aprumou-se e então volveu-se para o lúpus, tendo um biquinho
contrariado no rosto.

— O que importa é que minha filha atenda ao chamado. Você não ouviu
aqueles miados altos na rua ainda agora, hyung? E se for a Minzy? E se
alguém a machucou, uh? Me ajude a achá-la!

O de cabelos cereja não deixou de reparar nos olhinhos ainda menores do


outro e o rostinho amassado após ter acordado. O alfa lúpus era lindo de
qualquer jeito, e aquilo deixava Jeon mais revoltado que qualquer coisa.
Realmente não era justo alguém ser tão bonito e envolvente assim.

Jimin estalou a língua no céu da boca, jogando os cabelos pra trás, com uma
expressão matreira na face, como se soubesse de algo.

— Venha cá... — disse o moreno, estendendo a destra para que Jungkook a


pegasse. O avermelhado encarou a mão pequena, desconfiado, mas
lentamente a apanhou. — Vou te mostrar onde Minzy está... acho que você
vai ter uma surpresa, Kook-ah — falou quando já estavam de mãos dadas,
puxando o mais alto em direção à porta da garagem.

O de genes ômegas ainda não tinha visto bem a garagem, apenas sabia que
o Park tinha um carro preto, pois este o estacionava algumas vezes na porta
da frente, deixando-o na calçada. Contudo, o que o lúpus queria mostrá-lo,
não estava na garagem, mas sim, fora dela, na rua de trás.

Assim que o mais velho abriu o portão automático que dava pra rua, o ar
frio os pegou, fazendo Jeon se encolher de frio e bater os dentes. O chão
começava a ficar branquinho, por conta da fraca neve que caía em suaves
flocos no chão.
O rosado observava maravilhado a neve nas calçadas, quando a voz de
Jimin o despertou, tendo a mão macia ainda colada na sua. E aquilo
estranhamente o dava uma sensação de paz... De pertencer a alguém. De
estar no lugar certo e com a pessoa certa. Era algo realmente novo para o
mais novo, aquele sentimento. Jamais sentira-se parte de coisa alguma
antes, sempre sentiu-se à margem, diferente de todos.

— Eu queria te trazer aqui fora, para vermos juntos a primeira neve cair...
— o moreno disse com a voz doce, o encarando com um sorriso meigo. Até
seu rosto se transformar numa risadinha divertida. — Mas parece que sua
gata decidiu comemorar antes de mim... — disse apontando pro muro da
casa ao lado.

Jungkook franziu o cenho, seguindo a direção que o indicador curto do


outro apontava. E então, ao deparar-se com a cena, arregalou os olhos.

— Minzy, não! — exclamou soltando a mão do Park e correu em direção ao


bichano.

Mas Jimin deu uma risada alta, correndo atrás dele, quase chorando de rir, e
segurou o mais alto pela cintura, este que começou a se debater fracamente,
teimando em ir atrás do pet.

— Me solta, hyung! — reclamou tentando se desvencilhar do aperto


gostoso do lúpus, mas não tão decididamente, já que, naquele frio, o calor
alheio lhe era ainda mais irresistível. — Jimin hyung, eu preciso fazê-la
parar de fazer aquilo já! Por que está me impedindo? — indagou com as
bochechas infladas, e o Dom riu mais gostosamente em resposta.

— Ele está acasalando, Jungkook — respondeu-lhe. — Por que você não


castrou o gato antes?

— Eu já disse que é gata, no feminino! — ralhou com um bico e o


costumeiro olharzinho infantil contrariado em seu rosto.

Jimin, à esta altura, tinha tirado os braços de sua cintura, para envolvê-lo
pelos ombros, ficando na ponta dos pés para ganhar uma altura semelhante
a do ruivo, e poder enxergar por cima do tronco dele.
— Jungkook-ah, chega disso. Não adianta mais negar, veja bem... — disse
encostando o queixo em seu ombro direito. — Minzy está copulando com
uma gata fêmea. E do jeito que eles estão fazendo, Minzy é definitivamente
um menino hétero, com um pênis. Você deve aceitá-lo como ele é, Kook-ah
— declarou entrando na brincadeira.

— Ah, não... — Jeon aumentou o bico. — E se o outro for um gato macho,


hyung? Isso é possível...

— É menina. Tem três cores, bebê. É raríssimo que um gato macho tenha 3
cores, majoritariamente só as fêmeas acabam sendo assim.

— Não quero mais ver isso, é traumatizante, hyung — e então se virou de


frente para o moreno, encarando-o com a face desgostosa. — Vamos voltar
lá pra dentro.

O Park deu de ombros e sorriu ainda mais, puxando Jungkook pela cintura,
para que entrassem de volta na casa.

Quando dentro da residência, bateram os pés no tapete, para secar o


molhado da neve em que pisaram, e então ficaram se entreolhando, até que
caíram na gargalhada, escorando-se na parede do corredor, um de frente pro
outro.

Jimin foi o primeiro a falar:

— Você já disse que sabia que ele era macho. Por que não o castrou? —
perguntou ainda risonho.

Jungkook estalou a língua no céu da boca e interrompeu a risada, embora o


sorriso permanecesse em seus lábios.

— Eu não tinha dinheiro para pagar o procedimento e os medicamentos,


hyung. Então pensei que com Minzy dentro de casa, não tinha problema.
Quero dizer, ela... ou melhor, ele, apenas saia quando eu entrava no cio.
Todo o tempo restante, Minzy permanecia dentro do apartamento, sem
contato com outros bichos, então...
— Oh... entendi — Jimin respondeu. E após alguns segundos, mantendo
uma expressão pensativa, declarou: — Eu posso providenciar isso, Kook.

O desbotado abriu a boca, deixando o queixo cair, enquanto fitava o mais


velho com uma expressão levemente chocada. Esta logo foi misturada a
uma incomodada.

— Não, não, hyung. Não posso deixar que faça isso — disse sem jeito. —
Você já vai ter que consertar as coisas lá no meu apartamento, e são muitos
gastos, eu...

— Vou consertar o apartamento, pois fui eu quem quebrei — respondeu. —


Mas quanto ao gato... é necessário. Não quero vizinhos batendo na minha
porta, pra dizer que Minzy engravidou ninguém — riu-se. — Então,
digamos que estou te fazendo um favor e você vai ficar me devendo...

— Mas eu não tenho como pagar isso, hyung... a não ser que eu pague em
parcelas — disse o ruivo seriamente. — Não me sobra muito do salário,
depois que pago as contas e o aluguel... — murmurou. — Mas posso me
comprometer a pagar aos pouquinhos e... — mas sua voz morreu, quando
viu que Jimin aproximara-se sorrateiramente de si, parando quase colado ao
seu corpo.

— Sabe... — o menor disse alternando o olhar entre seus olhos e os lábios


finos. — Você pode me pagar de outro modo... — sussurrou depositando
um selar no cantinho da boca alheia.

Jungkook resfolegou e ficou molinho, imediatamente. Como uma conversa


sobre capar as bolas de seu gato, podia se transformar naquela provocação?
Park Jimin era quase como o filho da deusa Afrodite.

Jeon mordeu o próprio lábio, encarando o moreno, perdendo-se na beleza


de seu rosto, pela, provável, milésima vez.

— Mas eu não costumo me vender assim, hyung... — provocou. — Nunca


quis fazer esse tipo de coisa... — fingiu-se.

Jimin então encostou os lábios, roçando-os de leve.


— Não se preocupe... — mordiscou o lábio inferior do ruivo, que sugou o
ar.

Mas antes que pudesse continuar a provocação, ouviram mais um miado


estridente.

Então o mais novo empurrou bruscamente o outro, pelo susto, e abriu a


porta que dava para a garagem.

— Kook-ah, deixa o gato ser feliz...— o lúpus resmungou frustrado. Estava


com uma ereção se formando no meio das pernas, detestava esses tipos de
interrupções. Aquilo quebrava o clima totalmente.

"Cala a boca, Jimin..." ouviu a voz do ruivo lá de fora. "Já pra casa, Minzy!
Você fez o suficiente por hoje!" ouviu um barulho agitado, como passos
correndo e então um gritinho do Jeon. Então, preocupado, o Park correu
para o lado de fora também. Antes que saísse da garagem, viu a gata — ou
melhor, gato — correr pela porta aberta, passando por entre suas pernas e
entrando de volta na casa.

E quando chegou na calçada, o lúpus pôs-se a rir novamente. Jeon estava


caído no chão, apoiando-se nos braços, enquanto tinha uma perna dobrada e
a outra esticada, deslizando no chão, enquanto tentava se levantar do asfalto
coberto de gelo escorregadio. O ruivo dava impulso atrás de impulso, mas
continuava deslizando, sem conseguir sair realmente do chão coberto de
neve. E Jimin ria mais ainda.

— Yah! — bradou o avermelhado. Embora não estivesse realmente bravo.


Mas estava com frio. — Ajuda aqui, Jiminie bobão!

O Park já começara a dar passos para alcançar o outro alfa no chão, mas se
travou bruscamente, ao ouvir o xingamento. Cruzou o braços e arqueou a
sobrancelha.

— Você sabe que não é assim pede, Kook-ah — resmungou. — Peça com
jeitinho, que o hyung ajuda.
O mais alto bufou, desistindo de tentar levantar-se e então sentou-se de
bunda, cansado. Olhou o lúpus parado ali em sua frente, vendo o corpo
musculoso e menor que o seu, totalmente imponente, usando apenas uma
blusa listrada de mangas e uma calça de moletom preta de alguma marca
esportiva cara. Não importava Jimin ser menor que ele ou ter uma aparência
mais delicada. O sujeito simplesmente tinha um ar de autoridade inegável.
Enquanto Jungkook era quem parecia um bobão.

Consternado, passou a língua por dentro da bochecha e pediu:

— Jimin-ssi... por favor, ajude seu dongsaeng a se levantar, uh? — fez


carinha de coitado. — Estou com friozinho na bunda.

O Park tentou permanecer sério. Deus sabe que tentou. Mas Jungkook era
um filho da puta, engraçado pra cacete. "Estou com friozinho na bunda" —
quem fala isso seriamente?

Então o moreno gargalhou, mais uma vez, caminhando em direção ao Jeon,


que também sorria satisfeito, por tê-lo feito sorrir. Aquela era uma de suas
coisas favoritas no mundo: agradar Park Jimin; fazê-lo sorrir. Então
estendeu as mãos e o lúpus o ajudou a levantar-se. O moreno bateu a destra
na bunda alheia, removendo a neve que colava na parte detrás do roupão.

— Ainda bem que é um roupão... Não deve ter molhado sua roupa. Você
está doente, não pode se expor assim... — Então fitou Jeon de cima à baixo.
— Porque você está de roupão mesmo?

— Ah... — o avermelhado se deu conta. — Foi a primeira coisa que vi na


frente.

— Vem, está frio... — o menor disse, balançando a cabeça, e puxou o de


cabelos vermelho-desbotados outra vez pela mão.

Entraram novamente na casa, dessa vez com o Park trancando a porta com a
chave, tendo a certeza de que, se o gato estava lá dentro, ninguém mais
precisava ir lá fora. Virando-se de frente pra Jungkook, o encarou parado no
pé da escada. Ele parecia meio perdido, e Jimin logo entendeu o porquê. Ele
mesmo estava assim também.
— Perdeu o sono, né? — perguntou ao mais novo.

— É...

— Quer tomar um leite quente? Podemos ver algum filme ou ficar


conversando no sofá, até o sono voltar... — sugeriu.

Jeon abriu um dos seus sorrisos mais sinceros, genuinamente satisfeito.

— Quero sim, hyung...

Então o dono da casa deu um apertão em sua bochecha, murmurando:


"Fofo!" e então o seguiu para a cozinha, com Jungkook logo atrás.

O lúpus esquentou a bebida e indicou para que andassem em direção à sala,


sentando-se no sofá de couro, levemente duro.

Jeon remexia-se sem parar, procurando uma posição confortável para


descansar no estofado, mas era praticamente impossível.

— Hyung, eu definitivamente não gosto de couro... — murmurou


contrariado, com o bico usual montado na face, deixando a garrafinha de
vidro na mesinha ao lado do sofá.

Jimin sorriu matreiro e sussurrou perto do ouvido alheio:

— Prometo te fazer mudar de ideia... — e terminou com uma piscadinha,


voltando então a beber o seu próprio leite.

O garoto suspirou. Era surreal como Park Jimin tinha a capacidade de entrar
naquele modo sedutor, em um piscar de olhos. E aquele talento, não só
deixava o ruivo intrigado, como também fazia seu coração palpitar. O
baixinho o tinha nas mãos e nem sabia.

Jeon levou a garrafa de vidro aos lábios, perdido, desviando o olhar do


moreno, que o fitava intensamente. Jimin então se deu conta da tensão do
garoto, e se levantou, ligando a TV, para terem uma distração e amenizar o
clima.
— Esse filme parece divertido... — o ex-coronel comentou,
desconversando.

Ao receber apenas um murmúrio de Jungkook como resposta, terminou de


beber seu leite num último grande gole e, abandonando a garrafinha na
mesa, colocou uma almofada no colo alheio e deitou com a cabeça ali em
seguida. Pode observar atentamente o Jeon arregalando os olhinhos
redondos e engolindo uma boa quantidade do leite na garrafa de vidro, para
então fitar o alfa deitado sobre suas pernas.

— Me faça carinho... — Jimin praticamente ronronou. O que não queria


dizer que aquele fosse um pedido. Era uma ordem.

Então, timidamente, o de cabelos cereja levou a destra magra e delicada


para os fios de cabelo negros do ex-militar. Sentiu nos dígitos, a maciez
daqueles fios, e suspirou novamente quando assistiu o Park fechar os olhos,
deleitando-se em suas carícias.

Jungkook sentiu-se um bobo. Não conseguia entender porquê qualquer


atitude do mais velho o afetava tanto. Achava inaceitável que o alfa lúpus
conseguisse deixá-lo tão tenso, com alguns pequenos comentários ou
suaves atitudes. Estava começando a se apegar demais ao homem, e aquilo
o assustava. Sabia que seria um erro e tanto, um submisso se apaixonar por
seu dominador, quando o acordo era de que se relacionariam apenas como
praticantes de bdsm. Não deveria estar se deixando levar além disso, nem
esperar nada de Jimin em troca.

Jeon não tinha vergonha alguma do Park no sexo; o de cabelos cereja era
tão safado quanto o outro e amava uma provocação. Mas fora daquele
cenário, qualquer frase ou movimentação de Jimin, deixavam-no
desnorteado. Estava assustado com a possibilidade de seus sentimentos
crescentes pelo alfa lúpus. E mais assustado ainda, com a possibilidade de
ser rejeitado por ele.

Perdido em pensamentos, mal se deu conta quando o moreno adormeceu


em seu colo, ali no sofá mesmo. Quis apertar o rosto do outro em suas
mãos. Deus, como era fofo! Jimin possuía extremos impressionantes.
Conseguia ter a aparência meiga como a de um anjo, e inesperadamente
portar-se como um demônio do sexo, sedutor e dominante. E aquela
dualidade deixava Jeon aos seus pés.

Sem querer acordar o Park, então, Jungkook acabou dormindo daquele jeito
mesmo. Com a cabeça jogada no estofado, e o homem que o havia
enfeitiçado, descansando sobre si.

[...]

Pela manhã, o rosado acordou quentinho em meio às almofadas e um


pesado edredom cobrindo seu corpo, naquele tempo frio. Olhou ao redor,
dando-se conta de que estava deitado no chão da sala, em cima do tapete
felpudo. Como tinha ido parar ali?

Buscou Jimin com os olhos, vendo a cabeleira negra aparecendo por cima
da porta da geladeira aberta. Levantou sorrateiramente para ir até o
banheiro, arrumando os cabelos, escovando os dentes e tornando-se mais
apresentável.

Saindo do banheiro, o encontrou girando na sala, buscando algo pelas


prateleiras.

— Tá procurando o que, Jimin-ah? — indagou curioso.

O Park virou-se no eixo, para fitar o de cabelos desbotados.

— Você está aí... — disse sorrindo. — Bom dia, bebê...

Jungkook sentiu um friozinho no estômago. Ou seriam borboletas? Não


sabia dizer, mas era uma sensação boa essa que o Park lhe dava com só um
olhar.

— Bom dia, hyungie... — respondeu alegrinho e meio sem jeito, coçando a


nuca. — Perdeu alguma coisa?

— Ah, minhas chaves da porta da frente — respondeu. — Acabou o leite,


preciso ir na padaria comprar mais pra gente tomar café.
— Oh... elas estão penduradas ao lado da porta, hyung. Eu coloquei lá pra
você não perder.

O mais velho piscou os olhos e sorriu novamente, mas lhe deu um olhar
estranho. Nada reprovador, era apenas um olhar diferente, que Jeon não
soube identificar o significado.

— Obrigado, Kook-ah.

Então o Park lhe observou atentamente, caminhou em sua direção, pôs a


destra em sua cintura, e a canhota em sua nuca, aproximando seus rostos,
como se fosse beijá-lo; E beijou. Mas não onde Jungkook esperava. Este
fechou os olhos e esperou pelo selo nos lábios, mas recebeu um beijo
carinhoso na bochecha, onde Jimin puxou seu corpo para si, envolvendo-o
num abraço.

Entretanto, bastou um beijo na bochecha, para que o mais novo se


derretesse inteiro. Outra vez viu seu corpo tão leve, que era como se
flutuasse.

Quando o dominador se afastou — cedo demais, na concepção do rosado —


este fez um carinho em sua mandíbula, o encarando como um bobo. O olhar
do Park queria dizer algo, mas Jungkook continuava sem entender
exatamente o quê. Era algo que soava misterioso, como se ele escondesse
algo. Como sempre. Contudo, o garoto não sentia-se desconfiado em
relação a ele, já que era costumeiro que este agisse assim, cheio de
segredos.

— Você pode recolher os edredons e levar lá pra cima? — indagou o Park.


Não era uma ordem, era apenas um pedido, Jeon percebia pelo sutil tom de
voz do moreno. Talvez, se houvessem começado aquela relação de
dominação e submissão sem conhecerem-se anteriormente, o futuro
submisso não fosse capaz de identificar, de cara, as sutis mudanças no tom
de voz ou comportamento de Park Jimin. Mas como já se conheciam há um
bom tempo, para o Jeon essas coisas eram naturais de serem percebidas.

— Tudo bem — confirmou o mais novo, abaixando-se para recolher as


cobertas. — Como vim parar no chão, hyung? — lembrou-se de questionar,
mirando o moreno baixinho.

Jimin sorriu doce, o encarando com uma expressão fofa.

— Não se lembra? — Jungkook balançou a cabeça em negativa. — Eu


acordei e te chamei pra levantar e irmos lá pra cima, mas você estava com
tanto sono, que levantou de olhos fechados e se deitou no chão, e ainda me
puxou junto.

— Como assim? — o mais alto indagou, confuso. Não lembrava, realmente.


Quando era acordado em meio ao sono, fazia e dizia coisas das quais se
esquecia depois. Nada muito alarmante, mas sua mente ficava nublada por
algum tempo.

— Você me abraçou e puxou minha cabeça pro seu peito. Ficamos como
um casal de coalas — respondeu rindo, o Park. — Você disse: "Dorme
comigo aqui, hyungie?" e então eu fiquei... — suspirou. — É um pouco
difícil dizer não, pra alguém tão fofo... — disse para propositalmente
deixar Jeon sem graça.

O mais novo então sentiu aquele giro na barriga novamente, mesclado a


uma euforia e um pouco de vergonha. Sorriu de lado e voltou a dobrar os
lençóis, ignorando o Park.

O lúpus sorriu mais ainda com a reação do outro. Deu-lhe um último


carinho na cabeça e se virou para sair.

— Estou indo. Não vá lá fora, Jungkook — disse em tom preocupado.


Dessa vez, era clara a sua ordem. — Está frio, embora faça sol, e ontem
você já se expôs demais ao sereno e à neve. Você está melhorando após
uma semana doente. Não pode abusar, ok? Fique aqui dentro e me espere.
Eu já volto — terminou abrindo a porta.

— Tá bom — Jeon respondeu dando de ombros.

[...]
Quando Jimin virou a esquina de sua rua, a primeira coisa que viu, foi um
narigudo de cabelos vermelho-fogo brilhando sob o sol, parecendo uma
tocha humana, e uma bola de pelos circulando entre suas pernas, enquanto
miava pedindo-lhe atenção. Riu-se com o pensamento, e quando
aproximou-se o segurou por trás, sentindo o mais alto dar um pulinho
assustado. Então disse com a voz repreensiva:

— O que você está fazendo aqui fora? Pensei ter dito pra que você não
saísse, Jeon Jungkook. Você está doente.

— Eu só vim jogar o lixo fora, Jimin-ssi — o ruivinho respondeu com a voz


doce.

— Você não joga o lixo fora nem na sua casa, não esqueça que já vi a
bagunça do seu apartamento... — rebateu.

— Mas eu não quero incomodar, hyung... — disse se virando para olhar o


moreno, que foi o empurrando sutilmente em direção às escadas da entrada.
— Desde que vim pra cá, tenho te dado tanto trabalho... Você faz sopa pra
mim, me acorda pra dar remédio, cuida da Minzy... Se eu durmo sem tomar
banho, você me acorda pra ir pro chuveiro, se durmo sem cobertor, você
coloca um sobre meu corpo... Assim você parece meu pai.

— E qual o problema disso? — o Park indagou divertido, sorrindo ladino


enquanto subia os poucos degraus da entrada.

Jungkook ficou sem resposta por alguns segundos, antes de apertar os


olhinhos na direção do lúpus e perguntar:

— Isso é algum dos seus fetiches? Me tratar como seu filhote?

O mais velho riu abertamente, para em seguida morder os lábios e puxar o


garoto pela mão livre.

— Lá dentro a gente conversa melhor, vamos. Meu garoto precisa se


alimentar pra ficar bonzinho logo.
Em casa, os alfas preparavam o café-da-manhã na cozinha, enquanto batiam
papo descontraidamente. Para Jungkook, ter o mais velho tão aberto e
falante assim era algo incrível. O lúpus sempre fora extremamente educado
e simpático consigo, entretanto, Park Jimin sempre fora enigmático, suas
conversas com ele eram sempre superficiais, nunca envolviam assuntos
muito profundos ou particulares. E o Jeon, sendo a pessoa transparente que
era, não gostava de gente que agia como um agente secreto. Aquilo o
deixava irritado, pensando que a pessoa não apreciava sua amizade o
suficiente para abrir-se minimamente. Mas sim, sabia que Jimin tinha
motivos para manter-se tão misterioso. Só que agora, era tudo um grande
banquete de natal, basicamente. Porque o moreno era sincero e aberto com
aparentemente tudo, agora que ambos compartilhavam sobre as práticas
fetichistas e o estilo de vida D/s.

O de cabelos cereja estava sentado no banco da ilha da cozinha, enquanto


comia cereais mergulhados em uma tigela de leite, como era seu costume.
Já Jimin, comia alguns biscoitos e tagarelava de boca cheia, enquanto ligava
a panela elétrica de arroz, para que pudessem montar kimchi's para o
almoço mais tarde.

— Hyung, eu já falei que estou bem, não preciso mais de remédios — o


ruivinho murmurou com com a boca cheia, deixando escorrer um filete de
leite pela lateral desta, exatamente no momento em que o mais velho virara
para sentar-se à sua frente. E é claro que o moreno ficou muito concentrado
em observar a sugestiva gota branca traçar um caminho pelo queixo alheio.

Após alguns segundos de hipnose, foi que o Park rebateu:

— Você ainda não está cem por centro, Jungkook. Só está dizendo isso
porque não quer que eu te acorde às 6h da manhã pra tomar o antibiótico...

— Eu já falei que estou bem, não 'tô nem tossindo mais — teimou.

Jimin revirou os olhos. Jungkook era tão teimosinho e birrento. Era mesmo
um bebê.

— Vou fingir que acredito. Sobre o fetiche de que falamos lá fora... —


continuou o Park, recebendo imediatamente a atenção do meio ômega. —
Nós não temos e nem teremos uma relação de pai e filho, contudo... eu
cuidarei de você, porque isso me agrada, me ajuda com a sensação de
controle e dominação. O age play é um dos fetiches básicos em bdsm, creio
que você já deva ter lido sobre.

— Sim, hyung. É quando um de nós age como mais novo do que realmente
é, se portando como um bebê de fraldas, ou como uma criancinha de doze
anos que brinca de amarelinha, ou mesmo como um adolescente, em roupas
de colegial.

— Isso, como o próprio nome já diz, o Age Play significa brincadeira da


idade; Então também há o caminho inverso, onde um de nós pode ter tesão
em brincar de ser uma pessoa mais velha. Muitos leigos pensam que uma
pessoa que tem Daddy Kink, na verdade é algum tipo de pedófilo, mas não
é nada disso. Muitas vezes, o jogo da idade não tem conotação sexual, é só
a brincadeira e encenação de cuidado para o Dom, assim como ser mimado
é algo divertido para o sub. De qualquer modo, não precisamos encenar,
necessariamente um pai e filho. Podemos ser tio e sobrinho, padrasto e
enteado, qualquer coisa que remeta à alguém mais velho, cuidando de
alguém mais novo.

— Então... você tem esse fetiche e quer saber se eu tenho também? — o


Jeon perguntou.

Jimin deu uma risadinha e mordeu os lábios, encarando o avermelhado de


maneira intensa.

— Isso — respondeu. — Já que ainda precisamos esperar para ter certeza


que seu corpo está sadio, o que deve ser dentro de alguns dias, nós podemos
começar com o Age Play. Eu vejo como uma ótima forma de adestrar um
submisso iniciante, como é o seu caso. E sem conotação sexual, porque não
tenho tesão nenhum em transar com alguém vestido de bebê — disse rindo.
— Se bem que... Eu fico bem excitado com uniformes de colegial —
declarou mordendo os lábios.

— Então, você quer que eu me fantasie de bebê, mas daí a gente não transa?
— Não é só a fantasia, nós vamos interpretar papéis. No age play, o casal
finge ter uma diferença de idade grande, ou às vezes eles tem mesmo,
apenas reforçam as características do mais velho e do mais novo, no play
deles. O que se porta como mais velho, geralmente é o Daddy ou Mommy,
enquanto que o sub, que geralmente faz o papel do mais novo, é o Baby boy
ou Baby girl. Mas ao invés de pai, posso fingir ser o seu padrasto ou seu
tutor, por exemplo. A ideia é que eu esteja em posição de responsável por
cuidar de você. Então você poderá me chamar apenas de Jimin hyung e não
de Daddy.

— O sub sempre vai ser o mais novo e o Dom sempre terá o papel de mais
velho? — Indagou o alfa curioso.

— É o que faz mais sentido. Eu gosto de cuidar dos meus sub's, de ajudar
no banho, lavando os cabelos, ou fazendo a comida, aplicando loção
calmante na pele depois de um spanking e todo o aftercare, enfim, coisas
sutis, como fiz com você. Mas pode ser que o dominador queira ser servido
pelo sub, então o submisso pode fazer o papel de mãe, por exemplo, dando
comida pro Dom — disse rindo. — Então, nesse caso, o sub, mesmo
interpretando o papel de mais velho, continuaria submisso. É mais
incomum, até porque o Age Play é umas das vertentes da Disciplina.

— Acho que entendi.... Então a gente meio que já está praticando isso
então, não é? Você cuida bastante de mim...

— Sim... é meu papel natural — Jimin disse divertido, soltando uma


piscadinha. — De qualquer forma, você é muito manhoso e sempre notei...
— o vermelho riu com a fala do outro, meio envergonhado. Sabia que agia
como um grande bebêzão pirracento, Hoseok vivia zombando disso. — Pro
Age Play funcionar, você deverá, de fato, agir como um baby boy. Por
exemplo, bebês não comem sozinhos. Bebês não falam direito, então
quando precisam se comunicar, eles choram...

— Bebês também não limpam a bunda, então você tá querendo me colocar


pra cagar numa fralda? — Perguntou o de cabelos vermelhos, rindo-se.

O Park arregalou os olhos e gargalhou. Jungkook... sempre tão direto.


— Não, vamos por alguns limites. Vá ao banheiro sozinho. Vamos brincar
que você é um bebê de, talvez, 3 anos ou algo em torno disso, muito bem
educado... — sugeriu.

— Eu realmente achava que o Age Play tinha a ver com pedofilia... — o


Jeon murmurou sacudindo a cabeça.

— É um equívoco comum. Mas é só você parar pra pensar logicamente.


Pedofilia é quando um adulto tem desejos sexuais por crianças, o que eu
repudio. Todos deveriam repudiar, inclusive. Bem, não tem nenhuma
criança aqui, nós somos dois adultos, maiores de idade e estando em
perfeitas condições mentais. Você também não tem infantilismo, só é um
cara de vinte e poucos anos, meio bobalhão — alfinetou. — É assim com o
pet play também; não há um animal no meio da relação, apenas dois
humanos adultos, portanto, não há zoofilia alguma. Percebe a diferença?
Não tem nada de grotesco ou contra a lei acontecendo. São só duas pessoas
adultas e sãs, brincando consensualmente.

O rapaz assentiu, não falando nada por estar com a boca cheia, mastigando
seu cereal. Jimin então caminhou até ele e passou a mão nos fios vermelhos
desbotados e úmidos, já que o maior havia acabado de tomar banho.

— Eu irei te mimar e te tratar carinhosamente como uma criancinha, porque


você age imaturamente como uma. Mas não vou te colocar fraldas.

— Tem gente que faz isso? A coisa das fraldas e dos brinquedos? Tipo
chupeta e tudo? — Jungkook indagou arregalando os olhos e abrindo a boca
cheia de comida. O Park riu e empurrou seu queixo para que o garoto a
fechasse.

— Sim. E você vai usar uma chupeta e brincar com seus carrinhos, porque
eu acho fofinho...

O Dominador então tirou a colher de sua mão, para pegar um pouco do


cereal com leite e levar o talher em direção à boca do outro, que virou o
rosto rapidamente, percebendo o que ele queria fazer.
— Ah não, Jimin. Nem vem — resmungou. — Você não vai me dar comida
na boca, não sou aleijado.

— Não é aleijado, mas é meu bebê... — o menor rebateu com a voz fofa. —
Por favor... — disse roçando o nariz no pescoço do outro. — Por favor...
Deixa eu cuidar de você, hmn?

— Não, Jimin. Isso é vergonhoso...

— Mas não tem ninguém vendo... Por favorzinho, bebê... Deixa o seu Dom
te alimentar direitinho... Prometo que não te obrigo mais a tomar o
remédio...

Ah, mas que bosta. O lúpus estava o manipulando com aquela vozinha fina
de cachorro pidão e Jungkook sabia disso. Mas o que poderia fazer? O
moreno nunca agia tão manhoso assim consigo e vê-lo agindo daquele
modo era uma novidade. Jeon o daria o mundo se pudesse.

E embora aquele ainda não fosse um age play acontecendo, o ex-militar já


se dava por satisfeito em cuidar do ruivinho de um modo informal, que não
acontecesse dentro da encenação do jogo da idade.

Suspirando, o garoto então cruzou os braços em frente ao peito, em claro


sinal de birra, para então fitar o mais velho e abrir a boca, contrariado,
ficando com o rosto corado. E ele sequer estava entrando em algum papel
de criança teimosa, a sua personalidade era normalmente bravinha daquele
jeito. O que o fazia parecer com um adolescente rebelde, de qualquer
modo.

Cuidadoso, Jimin deu a comida na boca do outro, sorrindo abertamente, não


conseguindo conter a satisfação. Enquanto o garoto mastigava de boca
fechada e com a cara emburrada, o lúpus tascou-lhe um selo nos lábios,
deixando o submisso mais vermelho ainda.

— Que baby boy mais bonzinho... — disse ao pé do ouvido, com a voz


suave. — Mais tarde o seu hyung irá recompensá-lo...
Jungkook engoliu a comida nervosamente. Não podia esquecer que era
assim que funcionava. Se fizesse o que Jimin queria, o moreno o
recompensaria. E estava certo de que a recompensa seria boa. Então,
interesseiro, resolver continuar a brincadeira. Deitou a cabeça no ombro do
lúpus e sussurrou de forma manipuladora:

— Eu tô com muita fominha, Jimin-ssi. Eu queria comer o kimchi agora.

— Mas o kimchi é pro almoço, Kook-ah...

— Mas eu quero comer agora e no almoço também. Por favorzinho,


hyungie... Eu tô com fome...

O Park riu contido e mordeu o lábio. O vizinho era esperto, já devia ter
notado que ele o manipularia na base da manha, então o garoto estava
fazendo o mesmo consigo, tinha aprendido rápido. Dois manipuladores
juntos, ou daria em uma grande confusão, ou seria absurdamente perfeito.
Bastava aguardar para ver.

— Humn... Tudo bem. Você pode comer o que quiser — disse o moreno,
dando outra colherada do alimento ao submisso e depositando um selar
agora na cabeça de fios coloridos.

E foi assim que Jungkook percebeu que, à cada colherada que aceitava,
Jimin depositava um beijinho casto em alguma parte de seu rosto, ou
acariciava sua cintura ou sua orelha.

Então era assim? Toda vez que obedecesse, o lúpus lhe daria um carinho?
Ora, se era assim, então deveria obedecer mais vezes. Quando terminou de
mastigar a última porção do cereal, ele mesmo deu um beijinho estalado no
pescoço do moreno, que riu de maneira fofa. E foi aí que Jeon inalou um
cheiro diferente vindo do alfa.

— Jimin, que cheiro é esse?

O Park retesou o corpo, contendo o ímpeto de afastar-se para impedir que o


garoto continuasse o farejando, porque isso sim soaria mais suspeito ainda.
— Cheiro de alfa... e ômega? Andou abraçando alguém na rua? — o mais
novo perguntou, sem de fato demonstrar alguma insatisfação. — Eu
conheço esse cheiro de ômega... — disse franzindo o nariz de forma
engraçada, já que não gostava de cheiros de ômegas além do seu próprio.

— Sim, eu... Espere aí, como você conhece o cheiro desse ômega? —
Indagou o Park, confuso.

— É o cheiro do Min Yoongi, estou certo? O Hoseok vivia com o cheiro


dele, quando estavam juntos... Fazia tempo que eu não sentia essa coisa
doce — terminou com outra careta. Não via o beta há alguns dias, mas isso
não o impossibilitava de contar todas as novidades pro amigo, via
mensagens e conversas telefônicas.

Jimin deu uma risada aparentemente descontraída, mas no fundo estava


nervoso. Não havia feito nada errado, muito pelo contrário: finalmente tinha
feito a coisa certa. Tinha resolvido a situação alheia a Jeon, que ele sabia
que o traria problemas. Por mais esquisito que tudo pudesse futuramente
parecer, ainda assim o alfa lúpus não agira de má-fé. Começou a amolecer o
corpo, se acalmando. Não estava fazendo nada de errado, afinal. Com
exceção da parte onde escondia as coisas do outro. Onde escondia uma
particularidade em sua relação com o alfa Taemin. Aquilo, talvez,
moralmente falando, não fosse exatamente um exemplo.

— Então, você encontrou com o Yoongi e o Taemin quando foi comprar o


leite? Percebi que você demorou — declarou o avermelhado, como quem
não quer nada.

O ex-coronel arregalou os olhos, num misto de surpresa e pavor.

— Como você sabe que o alfa que encontrei foi o Taemin? — perguntou.

Jungkook deu de ombros, como se fizesse pouco caso.

— Conheço o cheiro dele, é bem forte. Ele cheira a patchouli. Me lembro


do cheiro, do dia em que ele foi lá na lojinha comprar cerveja preta pra
você.
— Oh... — foi só o que o menor respondeu, sem saber o que dizer. Até que
ouviu uma risadinha vir do rosado, então levantou o olhar perdido em cima
do balcão para fitá-lo.

— Não precisa ficar tenso assim, Jimin-ssi. Eu sei que o Taemin é o alfa
com quem você passa seus cios.

E outra vez o moreno se viu arregalando tanto os olhos pequenos, que estes
quase pareciam saltar da cavidade ocular. Esse garoto tinha se transformado
na porra do Sherlock Holmes e ele não estava sabendo?

— Como você..?

— Eu meio que... ouvi sem querer, você falando no telefone com ele,
aquele dia lá em casa... — o ruivo declarou sem jeito.

Jimin apertou os olhos pra ele e em seguida soltou um sorrisinho


debochado.

— Então você é do tipo fofoqueiro, hmn?

O mais novo sacudiu a cabeça, negando nervosamente. Embora sim, fosse


bem fofoqueiro mesmo. Mas jamais admitiria isso.

— Não é assim, hyung. Você sabe que minha casa não é exatamente
espaçosa. Em qualquer canto dali, eu poderia escutá-lo. Não é como se você
falasse baixo também — alfinetou, tentando jogar a culpa no outro.

O Park riu, sacudindo a cabeça. Aquele garoto era um cara de pau. Mas
realmente, a casa era pequena.

— Tudo bem... Eu não queria esconder a ligação, também — finalizou


tirando a tigela vazia do de genes ômegas do balcão e a levou para a pia, em
seguida separando a acelga e os outros componentes para montar o kimchi.

— Jimin-ah... — chamou timidamente. O alfa parou tudo o que fazia para


dar-lhe atenção. — Você... você e o Taemin ainda vão passar os cios juntos?
— Perguntou direto, fitando o chão, sem coragem de mirar o rosto de Jimin.
Estava morrendo de medo que o alfa dissesse que sim, que ficaria com
ambos. Afinal, haviam conversado sobre qual era a relação de bdsm na qual
eles se inseriam, contudo, não chegaram a decidir se seria algo exclusivo ou
não.

O mais baixo piscou algumas vezes, tentando entender como diabos


Jungkook sabia de tanta coisa, sem que ele tivesse contado nada. Só que
então percebeu que se o garoto havia escutado a conversa, talvez tivesse
ouvido o nome do outro alfa nela.

— Em que momento você assimilou que o Tetê era o alfa que me ajudava
nos cios? — Perguntou para ter certeza. Porque do jeito que as coisas
estavam, era capaz de Jeon até mesmo saber sobre a parte disso que ele
escondia.

— Por causa desse apelido aí — respondeu meio incomodado. — Você


chamou o alfa no telefone de Tetê, e no dia em que você estava bêbado
jogando pedrinhas na minha janela, se referiu ao seu amigo como Têtê
também. Eu só juntei as coisas.

— Oh. Então... te incomoda? Que eu seja amigo de alguém com quem


costumava transar?

Jungkook o encarou por alguns segundos, sem saber o que responder.


Porque era óbvio que incomodava. Jeon sempre fora um menino ciumento.
Mas então acabou respondendo a pergunta com outra pergunta:

— Eu não sei. Te incomoda que eu seja amigo de Hoseok, sendo que ele
também era meu parceiro de cio?

O Dom não titubeou, antes de responder:

— Sim. É claro que me incomoda. Mas não devo, não posso e não quero
exigir que você se afaste dele. Primeiro porque isso seria um abuso, não é
deste modo que terei uma relação com você. Eu mando em você sim, mas...
"na cama" — brincou pra descontrair. — Exigir tal coisa, não seria te
domar, seria te forçar. Existe uma linha tênue entre dominar e abusar. E eu
jamais faria isso, Jungkook-ah.
O alfa de cabelos coloridos então abriu um sorriso enorme. O alfa lúpus
parecia a porra de um príncipe encantado, todo perfeito, maduro e sensato.
Ao contrário dele mesmo, que era um bobalhão e que tinha ciúmes até da
própria sombra; mas pelo menos tinha ciência de que quando uma pessoa
queria trair outra, não havia nada que se pudesse fazer para impedir, ela o
faria e fim. De qualquer modo, não era como se eles tivessem um
relacionamento amoroso. Tinham passado o cio juntos, e agora formariam
uma relação de Dominador e submisso. Não era bem um namoro, era algo
explicitamente diferente, ligado à sexo e nada além. Então, ainda com o
sorriso no rosto, continuou fitando Jimin, sem dizer nada.

— E... Kook? — chamou. — Eu agora só me relaciono com você. Meus


cios serão satisfeitos apenas pelo meu bratzinho, uh?

O desbotado sorriu tão aberto que sentiu sua boca quase se rasgando nos
cantinhos.

— Você está dizendo que seremos exclusivos? — perguntou meio abobado.

— Sim, é o que eu quero. Se você quiser, é claro. Eu sou um pouco


ciumento.... Muito, na verdade.

— Mesmo? — Jungkook indagou surpreso. — Você me parece tão


tranquilo e sensato... — comentou.

— Isso é porque sei me controlar. Não acho certo agir como um idiota,
dando crises e tudo o mais. Mas é claro, nós devemos agir de forma
respeitosa um com o outro. Não quero que você sinta ciúmes ao me ver com
alguém e acabe indo flertar com outra pessoa para se vingar, do mesmo
modo que não farei com você. Quando eu estiver conversando com alguém,
na The Cave, por exemplo, e você se sentir ameaçado... Não precisa se
sentir incomodado, você pode apenas chegar perto de mim, me abraçar e
exibir sua coleira.

— Você vai me dar uma coleira? — o rapaz retrucou pasmo, lembrando-se


que a coleira significava o mesmo que uma aliança de casamento, dentro de
uma relação de bdsm, segundo Hoseok.
O lúpus franziu o cenho.

— Você conhece todos os tipos de coleira?

— Tem mais de um tipo? — rebateu confuso.

— Whoa. Eu achei que você sabia tudo, já que estava usando uma lá na The
Cave. O que você sabe sobre elas?

— Hope hyung me disse que as coleiras são tipo alianças de casamento, que
elas demonstram que há uma relação entre um sub e um Dom.

Primeiro Jimin permaneceu com uma expressão séria, assustando o Jeon


inicialmente. Até que pôs-se a rir, deixando suas bochechas vermelhinhas.

Jungkook sentiu o rosto queimar, ficando vermelho ele também. Tinha dito
alguma coisa muito errada e agora o outro estava rindo da sua cara?

— O que foi? Eu disse algo errado? Você deveria me ensinar! — Ralhou o


mais novo, bravo.

— Não, bebê... — respondeu se aproximando e tocando as bochechas


cheinhas do outro. — O significado de uma delas é esse mesmo. Mas
existem muitos outros, há vários tipos de coleiras e cada uma tem um
significado. Só estou rindo porque... Você pareceu muito animado e
satisfeito, quando pensou que se eu te desse uma coleira, estaríamos numa
relação como a de casamento.

O avermelhado ficou com o rosto na mesma coloração de seus cabelos.


Estava pegando fogo e completamente envergonhado. Então agora Jimin
estaria ciente de que ele era um bobo ficando apaixonadinho. Mas que
porra.

— Você gosta tanto de mim assim? Por isso quer casar comigo? — o
moreno questionou com a voz rouca, porém ainda muito brincalhona, em
clara provocação ao alfa.

Jungkook piscou algumas vezes, com a carinha travada numa expressão


cômica. Até que voltou a si e empurrou Jimin para longe de si bruscamente.
Não que tivesse intenção de machucar o lúpus, mas o garoto era um pouco
bruto, como alguém muito forte, que não tem noção da força que tem.

— Eu não! — Respondeu rápido. — Sou muito novo pra casar, não surte,
Park Jimin. Não sou nenhum carente.

Era sim.

O Park virou a cabeça pra trás, enquanto explodia numa nova gargalhada.

— Oh, minha nossa! — disse alto. — Você é tão fofo! Jeon Jungkook, você
é a coisa mais bonitinha que já vi na vida — terminou correndo em direção
ao garoto, com as mãos estendidas para apertar suas bochechas outra vez.
Mas o de cabelos cereja foi rápido em dar a volta na bancada, fugindo do
alfa.

— Você está me deixando com vergonha, hyung, pare com isso! — bradou.

— E qual seria a graça de não fazer isso?

— Você não era assim, Park Jimin!

E foi necessária apenas essa frase, para que o dominador murchasse como
uma rosa. Estava se abrindo tão rápido para ele, agindo da maneira meiga e
brincalhona que agia com aqueles mais íntimos, que se esquecera de que era
sempre tão misterioso com o garoto e ele poderia estranhar aquela mudança
brusca em sua personalidade. E ainda havia uma enorme possibilidade de
que Jungkook talvez gostasse dele sendo mais distante e evasivo. Pelo
menos era o que ele pensava. Então deixou a postura ereta e alisou a própria
camisa, desamassando um amassado que sequer existia ali, e jogou a franja
para trás, caminhando de volta para a pia, para dar continuidade ao kimchi,
sem dizer uma palavra.

E é claro que Jungkook notou a mudança de postura, sentindo-se um idiota


por ter dito aquilo. Ansiou pelo vizinho durante todos aqueles anos, rezando
para que o mais velho deixasse de ser tão fechado consigo, que deixasse de
tratá-lo superficialmente e o permitisse chegar mais perto, porque sabia que
se tivesse a chance, poderia conquistá-lo e se esforçaria para tal. Contudo,
agora que finalmente começava a ter o lúpus agindo mais abertamente
consigo, criticava o jeito do rapaz, mesmo que sem querer. Bateu com a
mão na própria testa, frustrado e arrependido.

— Jimin-ah...

— Vá para a sala esperar que eu termine o kimchi — disse o moreno, com a


voz neutra.

— Não, hyung, eu... — tentou se desculpar.

— Eu dei uma ordem, Jungkook — o menor disse o encarando sério, a voz


mais rígida.

O de genes híbridos odiava ser chamado a atenção. Sentia vontade de


chorar, toda vez que alguém fazia aquilo consigo. Só não chorava por ser
um puta orgulhoso do caralho. Então, engolindo o choro, deu as costas e
saiu da cozinha, puto.

Tinha estragado tudo, justamente quando as coisas pareciam bem. Foi aí


que teve a certeza de que, talvez, ele não fosse o tipo de pessoa que desse
certo com alguém.

Com ninguém.

Feliz ano novo e que em 2019 os humilhados sejam, finalmente,


exaltados.

jikook namora <3

Já leram minha ficzinha que o JK é um mediador de fantasmas e se


apaixona pelo JM, uma alma penada toda nervosinha, estilo grunge e cabelo
ensebado, que costuma fazer ovos mexidos pra ele todas as manhãs?
kakakakaka é uma comédia romântica do caralho, e ela tem ligação com
Incandescente, se passando num universo paralelo ao daqui, mas tendo os
mesmos jikook. Vai lá dar um bizu. Tem mais explicações da dinâmica
deles no capítulo 00 - vão lá checar; E ah, é flex, não preciso nem dizer,
certo?
17| jimin's little baby

LEIA ESTE AVISO IMPORTANTE, antes de iniciar a leitura:

Aviso: O AGE PLAY NESTE CAPÍTULO. Como vocês já sabem, o Daddy


Kink está inserido no Age Play. O daddy kink é, necessariamente, um dos
praticantes fazendo o papel de pai e o outro de filho. Ao pé da letra, daddy
kink significa "fetiche de pai".

No capítulo anterior, Jimin deixou claro que não seria "pai" do JK; eles
não chegaram a definir qual o parentesco simulariam no play. Sendo assim,
o Age Play que vai rolar não é daddy kink exatamente, mas essa é apenas
uma tecnicalidade.

Esqueçam todos os DaddyKink's/AgePlay's que vocês andaram lendo por


aí, ESPECIALMENTE nas fics jikook. 99.9% estão errados, com coisas que
sequer fazem sentido. As pessoas escrevem sobre bdsm, baseadas em
pesquisas rasas demais, e o resultado é similar a um trabalho escolar mal
feito. Muitos acabam, inclusive, romantizando doenças como o infantilismo.
Bem, felizmente não é o meu caso. Então prestem bem atenção neste play,
tendo em mente que eu, inclusive, deixei ele mais suave do que os plays
realizados na vida real, pois não quero ninguém ficando desconfortável.

Boa leitura.

ESCRITO POR HowUdare

Já fazia um punhado de dias que Jungkook não via o Park direito. Desde o
episódio na cozinha, o mais velho saía de casa em busca de um novo
emprego e largava Jeon sozinho. O que o deixava bravo não com o menor,
mas consigo mesmo. Tinha sido um vacilo e tanto, criticar o lúpus, mesmo
que sem querer, por ter agido de forma brincalhona, totalmente oposta à sua
personalidade séria usual. E é claro que aquilo fez com que o lúpus se
retraísse novamente, voltando para dentro de sua "casca". Não deixava de
dirigir à palavra a Jeon, tampouco tratava-o mal. Todavia, falava apenas o
básico, fugindo sempre de qualquer interação mais profunda. Basicamente,
Jimin voltara à sua típica personalidade evasiva.

Aquilo era uma punição? Um castigo? Jungkook não sabia. Aliás, sabia que
os dois não queriam dizer exatamente a mesma coisa. De acordo com tudo
o que o lúpus havia lhe ensinado, aparentemente um seria prazeroso e o
outro doloroso, e não necessariamente a dor seria física.

Nos primeiros dias, principalmente pelo mais novo estar doente, o moreno
dormia no quarto de hóspedes, junto a ele. Mas depois do desentendimento
na cozinha, o alfa lúpus passara a dormir em seu próprio quarto, sem dar
nenhuma explicação sobre isso. Não que ela fosse necessária, estava óbvio
o motivo.

Jungkook estava quebrando a cabeça, pensando num modo de voltar às


boas com o Dominador, então passava horas pesquisando sobre os jogos
dentro do BDSM dos quais ele poderia se valer.

Até que, subitamente, lembrou-se de que a resposta estava bem ali, na sua
cara: o tal age play.

Afinal, fora no meio da conversa sobre a prática fetichista em questão, que


nascera o desentendimento súbito entre os dois.

Jimin tinha combinado que esta seria a primeira brincadeira deles, e que não
teria conotação sexual alguma. O rapaz falara até mesmo sobre a idade que
Jungkook poderia fingir ter, que era a de três anos, aproximadamente. Um
bebê grande.

Então o ruivo se apressou em abrir o notebook, pela quarta vez naquele dia,
para pesquisar sobre como iniciar a prática, o que seria necessário, as
vestimentas, o modo como deveria se portar e tudo o mais. Queria
surpreender seu Dom. Mais do que tudo, queria agradá-lo. Estava
envergonhado pelo que fizera, ainda que não parecesse nada demais,
realmente.

Assim que iniciou as pesquisas no site de buscas, viu imagens


desconcertantes pra si. Como por exemplo, a imagem de um homem vestido
com fraldas, mamando nos seios de uma mulher, como um verdadeiro bebê.

— Eca... Assim não quero não... — murmurou com uma careta. A parte do
leite saindo dos seios da Domme, lhe incomodava, não gostou.

Continuou em sua busca, lendo textos, dicas, relatos, e também assistiu a


vídeos. Pouco tempo após iniciar certa leitura, encontrou certas distinções,
cujas quais Jimin havia lhe explicado por alto, mas não de forma detalhada;
O Park falara sobre as diferentes idades num ageplay, mas naquele blog, o
Jeon acabara de encontrar algo sobre isso mais a fundo: as nomenclaturas
dadas ao bottom, de acordo com a idade que fosse interpretar no roleplay.

Para papéis onde a regressão mental fosse de um bebê na faixa de até dois
anos, apelidava-se o bottom de Baby. Para regressões de três a dez anos,
rotulava-se Little. E aqueles que preferiam regredirem a idade mental e
comportamento de adolescente e pré-adolescente, entre dez e dezoito anos,
chamavam-se Teens ou Middles.

Viu ainda, que os brat's tendiam a escolher atuar no roleplay como


Middle/Teen com mais frequência, uma vez que adolescentes tendiam a
serem um bocado mais rebeldes e malcriados. Com essa informação,
pensou se, talvez, não fosse melhor interpretar um adolescente, com
uniforme escolar e tudo — algo que o Park já deixara claro gostar. Contudo,
Jimin também tinha especificado bem que curtia a coisa do baby e a idade
em torno de três anos, que poderia ser algo entre o baby e o little. E com
isso, Jeon também percebeu que, por mais que entrar num roleplay como
um middle lhe agradasse, estava mais a fim de encenar um little, no
momento, pois queria muito usar uma chupetinha. A ideia estava
martelando forte em sua cabeça, desde aquele dia.

Após absorver bem a coisa dos babys, littles e middles, avançou seus
estudos por diversos sites, aprendendo mais sobre a teoria da prática em si,
encontrando assim algo que lhe chamou bastante atenção e abriu seus
horizontes, realmente:

"IMPORTANTE COLOCAR QUE O AGE PLAY É FEITO COM


PESSOAS MAIORES DE IDADE, EM PLENA CAPACIDADE DE
SUAS FACULDADES MENTAIS E TUDO DE FORMA
CONSENSUAL" — alertava um site.

— Quem faz isso de forma não acordada? Euhein... Aliás, quem faz isso
com um menor? — resmungou. — Se eu descubro que Jimin já fez essas
coisas com alguém menor de idade, eu bato na cabeça dele — declarou para
as paredes.

Mas é claro, sabia que a probabilidade de Park Jimin ter feito algo de
natureza imoral, ilegal ou antiética, era praticamente nula. O cara era um
exemplo de caráter. E além do mais, menores de idade possuíam amparo
legal para terem relações sexuais ou amorosas com maiores, a partir de
certa idade, mas esta se alterava de país pra país; em alguns a idade mínima
era quatorze, em outros dezesseis, e assim se seguia. Mas de qualquer
modo, de tudo o que já vinha pesquisando, para a prática do bdsm era,
inegavelmente, dezoito anos, o mínimo aceitável para adentrar aquele
mundo, pois era necessário ser legalmente capaz para lidar com qualquer
burocracia que surgisse das práticas.

— Oh. Isso é interessante.

Observou o link na tela, que falava sobre os chamados "arquétipos":

"Algumas pessoas desenvolvem depressão e desvios psicológicos na vida


adulta, por traumas vividos na infância e/ou adolescência. O complexo de
Édipo (ou Electra) surge por traumas psicológicos causados pela falta de
carinho dos pais, ausência do alfa, beta ou ômega progenitores, de modo
que a infância ou adolescência do indivíduo acaba não sendo aproveitada
em sua totalidade, pelo contrário: torna-se doloroso lembrar-se dessa fase
da vida; E durante a fase adulta, o indivíduo percebe que sua mais
profunda fantasia é advinda de sua mais dolorosa frustração: não ter sido
amado. Portanto, o Age Play surge como um recomeço, uma oportunidade
de vivenciar o carinho, cuidado e atenção que um sujeito deixou de viver
no tempo propício, para vivê-lo no agora. Existe uma complexa discussão
acerca do Age Play estar ou não incluído dentro do BDSM, ou como
apenas um fetiche. O fetiche é uma transição para o BDSM. Fetiche é algo
inerente a todos. Quando uma pessoa considerada "baunilha" decide
começar a explorar seus fetiches na cama, ela não está adentrando o
BDSM, ela está apenas observando a superfície. O BDSM é mais profundo.
É um estilo de vida, onde os fetiches vem a ser inseridos como uma parte de
algo muito maior, que é a relação de Dominação e submissão, e ao sadismo
e masoquismo em si. O arquétipo foi estudado na psicologia, de forma a
descobrir quais as imagens mais profundas estão gravadas na mente
humana, em seu inconsciente. Um dos arquétipos básicos, é a figura do pai
ou da mãe. Quando alguém pratica o age play, sua mente entra em algum
nível de regressão, que pode ser para mais ou para menos. O importante é
que o jogo dure apenas o tempo necessário. Pode ser de um dia ou dois.
Não há definição correta, o importante é que seja apenas uma brincadeira,
com tempo pré-estabelecido para terminar e o casal voltar à normalidade
adulta. Se a brincadeira não termina e existe um submisso que quer
continuar a manter-se no papel de criança, por tempo indeterminado, há o
perigo e possibilidade de haver uma doença como o infantilismo, algo que
deve ser tratado por um profissional, pois prova que há uma incapacidade
mental do sujeito, o que lhe faz inapto para as práticas fetichistas dentro do
bdsm, e pode também, dependendo do nível, vir a incapacitá-lo para os
atos da vida civil, sob a forma da lei."

Jungkook abriu a boca num enorme "O". Então era isso, claro como água,
simples até demais. A partir do momento que uma pessoa queria portar-se
como criança, por um período de tempo ininterrupto, aquilo indicava um
desequilíbrio mental de natureza grave, sendo necessária a ajuda de
psicólogos e psiquiatras. Já os fetiches relacionados ao age play, eram uma
forma que a mente saudável buscava para tentar curar feridas sobre traumas
familiares subconscientes.

Não conseguiu evitar pensar em sua família. Em sua relação com seus pais.
Não era segredo nenhum para si, que quando via pais sendo carinhosos e
compreensivos com seus filhotes, aquilo lhe irritava. Lhe causava incômodo
e inveja. Jungkook odiava o modo como seu pai alfa e seu pai ômega lúpus,
haviam-no destratado e tentado manipulá-lo a casar-se com alguém cuja
classe ele não suportava, a ômega. Dada a resistência do filho, tentaram
então fazê-lo amarrar-se a um beta, mas Jeon recusara de pronto também.
Não casaria-se por imposições familiares, tampouco com alguém que não
amasse romanticamente. Aqueles mesmos que o deram a vida, também
haviam transformado-na num perfeito inferno. Se não fosse pelo amigo
Hoseok, Jungkook não saberia dizer aonde estaria agora.

Sacudindo a cabeça, como se para espantar as lembranças amarguradas e


evitar que entrasse num lugar sombrio demais de sua mente, pois não era o
momento para tal, resolveu pensar em Jimin. Se o lúpus tinha aquele
fetiche, do mesmo jeito que ele, então era muito provável que o mais velho
também possuísse traumas relacionados à relação parental, ainda que essa
não fosse uma regra. Esperava um dia poder se abrir para ele e contá-lo
sobre suas inseguranças e problemas familiares, assim como esperava que,
eventualmente, o Park lhe contasse as suas também. Mas para isso, seria
necessário que o Jeon não mais julgasse o comportamento do outro, caso
contrário, Park Jimin jamais voltaria a se abrir consigo.

Subitamente, sentiu uma empatia absurda pelo vizinho, do mesmo modo


que sentira quando este lhe contara ter sido expulso das Forças Armadas,
por ser um alfa que gostava de outros alfas. Jimin tinha mais coisas em
comum consigo do que parecia, embora à primeira vista, fossem tão
opostos. Talvez os dois apenas fossem pessoas sensíveis e necessitadas de
amor.

E para consertar as coisas entre eles, deveria caprichar naquele Jogo da


Idade, de modo a agradar o seu Dom e mostrá-lo que ele era a coisa mais
importante para si a partir de agora. Que a sua satisfação viria da satisfação
dele. E que como seu submisso, seu garoto, faria de tudo para agradá-lo,
mas dentro dos seus próprios limites e personalidade.

O avermelhado deu mais uma olhada no blog, encontrando um link para um


outro site de psicologia, que explicava um pouco mais sobre os fetiches na
mente humana e como eles eram formados. Curioso, leu alguns artigos dali
também.

"Todo ser humano tem fetiches, sendo dos mais leves ao mais absurdos.
Todo fetiche é desencadeado por experiências e sensações gravadas no
subconsciente. Contudo, um fetiche é algo extremamente saudável à mente
humana, desde que seja algo feito para apimentar a relação. A partir do
momento que uma pessoa não se importa mais com o parceiro em si, e só
consegue obter prazer com a realização do fetiche, então se torna algo
patológico, deixando de ser saudável."

Mais uma vez, Jeon ficou satisfeito. Porque, parando pra pensar, Jimin já
tinha demonstrado que poderia transar com ele tranquilamente, sem a
realização dos fetiches. Tinham transado no cio, e quase transado algumas
vezes antes disso. Então, basicamente, isso queria dizer que os fetiches de
ambos eram saudáveis. Todos os dois batiam bem da cabeça, muito
obrigado.

Instigado, o alfa pesquisou mais sobre o ageplay, por horas a fio. Desde
conceitos, definições, narrativas de praticantes e mais alguns pornôs. Estes
últimos não pareciam muito fiéis aos relatos dos praticantes. Mas pornô era
sempre algo que fugia muito à realidade e isso não era novidade.

Decidido, o ruivinho saiu de casa com seu cartão de crédito. De ônibus, foi
até o centro comercial, entrando e saindo de lojas e mais lojas. Subitamente,
lembrou-se de que não tinha avisado a Jimin que sairia de casa. Seu coração
foi na boca, só de imaginar que poderia pôr tudo por água abaixo. Então
rapidamente sacou o aparelho celular e enviou-lhe uma mensagem. Mas
seria melhor mandar apenas uma mensagem, ou telefoná-lo? A ligação
demonstraria mais respeito, não? Ficou na dúvida. Acabou telefonando,
mas a ligação foi direto para a caixa postal. Sem alternativas, acabou
enviando uma mensagem:

Jimin, fui ao centro fazer compras. Seu telefone estava desligado. |

Espero que não tenha problema em não ter te avisado antes de sair. |

Após cerca de quarenta minutos, enquanto caminhava para fora da última


loja, seu telefone tocou. Viu o número do Park na tela. Mordeu o lábio,
apreensivo. E se o outro fosse brigar consigo? Jungkook não gostava que
gritassem com ele. Nadinha. Seus pais costumavam chamá-lo de "alfa
frouxo", pois não podia ouvir uma leve repreensão que já desatava a chorar.
Bufou. Com a mão tremendo e o coração batendo rápido, atendeu com a
voz temerosa:

— Oi, Jimin-ssi.
— Oi. Vi sua mensagem. Aonde você está?

Jeon respirou tão aliviado ao ouvir a voz tranquila do alfa, que até parou de
andar.

— Ainda no centro, fazendo algumas compras. Ai, que alívio, hyung.


Pensei que você fosse brigar comigo por...

Uma alfa grandona que vinha caminhando atrás, acabou por esbarrar em si,
ocasionando numa leve tropada e xingamentos entre os dois.

— Jungkook? Você está brigando na rua? Tá tudo bem? — a voz metálica


saiu do aparelhinho eletrônico.

— Oh, tá tudo bem, Jimin-ssi. Foi só uma alfa rabugenta e mal educada.
Estou fazendo umas compras.

— Por que pensou que eu brigaria com você? Fez algo de errado? —
perguntou o lúpus, com a voz em alerta.

— Pensei que você ficaria bravo se chegasse em casa e eu não estivesse lá...
— respondeu fazendo um pequeno bico.

Jimin soltou um risinho.

— Não é necessário, Jungkook. Nós não temos uma relação de total troca
de poder, lembra? Embora eu prefira que você me diga aonde está, pois
ajuda na relação de controle. Só não é necessário me pedir permissão.

— Oh. É verdade. Mas é bom que eu te conte o que faço. Eu gosto — disse
brincando com o zíper do casaco.

— Também prefiro deste modo... — respondeu o moreno, com a voz mais


doce. — O que você foi comprar?

— Isso não vou contar. É um segredo, uma surpresa pra você. Esteja
preparado — falou com a voz matreira.
— O que você está aprontando, garotinho? — rebateu o ex-militar, tão
divertido quanto.

— Você vai gostar, eu prometo.

— Vou confiar em você. Vai chegar para o jantar?

— Sim. E eu tô com fome.

— Até aí, sem novidades — riu-se o lúpus. — Então até mais tarde.

E desligou o telefone.

[...]

Era difícil pra Jeon, esconder a animação. Estava tão ansioso, que parecia
existir uma corrente elétrica percorrendo todo o seu corpo. Mas precisava se
controlar, pra não agarrar Jimin e enchê-lo de carinho. Precisava aguardar a
hora certa. Até porque, o Park andava um pouco mais distante dele nos
últimos dias. Nem mesmo de "bebê" ele o vinha chamando, como tinha
virado costume.

O desbotado entrou na casa do ex-coronel, de modo sorrateiro, deixando as


sacolas no corredor, para que o lúpus não as visse e de alguma forma tivesse
ideia do que se tratava. Viu o mais velho de costas no fogão, preparando
alguma comida. Ele cantarolava junto com a música que saía de seu celular,
em cima do balcão.

Era a primeira vez que Jungkook ouvia-o cantando. E, assim como os


homens são hipnotizados pelo canto de uma sereia, Jeon estava enfeitiçado
pela voz de Park Jimin. A boca estava aberta, o queixo caído, e a expressão
era de um perfeito idiota abobado.

Quando o moreno se vira com uma panela nas mãos, imerso em sua
cantoria, quase deixa tudo ir ao chão, deparando-se com o alfa de cabelos
nem mais tão vermelhos ali.

— Aaaaaaaaaaish! — grita com os olhos arregalados, fazendo o ruivo cair


numa risada escandalosa e debochada. — Minha nossa, Jungkook! Você
quer me matar do coração, por acaso?

— Que foi? Tá com medo de que? Pensou que eu era um fantasma? —


indagou irônico.

— E se pensei? Não julgue as crenças alheias, garoto.

— Ah, esse hyung, realmente... — resmungou balançando a cabeça de


modo reprovador.

Jimin apertou os olhos pra ele.

— Vá tomar banho para jantar, seu brat — disse rindo.

Era um riso contido, o moreno não queria dar espaço ou muita confiança
para o mais novo.

O ex-avermelhado deu de ombros e foi se afastando, mas não sem antes


fazer alguma gracinha, para amenizar o clima estranho que tinha se
instalado entre os dois.

— Sim, senhor, sim, capitão, coronel, Jimin-ssi! — Disse com a voz


engraçada, batendo continência, e saiu pelo corredor com os montes de
sacolas.

Jimin danou a rir, sem sequer conseguir enxergar as coisas à sua frente, pois
seus olhos pequenos ficavam ainda mais fechados quando gargalhava.
Jungkook era tão engraçado; quase não restavam dúvidas de que era um
perfeito brat. E o melhor de tudo era que o Dom, pela primeira vez na vida,
achava divertido alguém que o confrontasse daquele jeito.

Por algum motivo, quando o de genes ômegas agia daquela forma


zombeteira, o Park não se irritava, pelo contrário; achava engraçado e fofo.
Jeon Jungkook era um sujeitinho deveras peculiar. Se pôs a imaginar a
fofura que aquele garoto devia ter sido quando criança. Os olhos grandes e
curiosos, as bochechas redondinhas, a boca fina fazendo bico. Deveria ser a
coisa mais meiga do mundo, e só de imaginar, seu coração se aqueceu.
Jamais conheceu alguém tão doce.
Jimin continuou preparando o jantar de forma despreocupada. Arrumou a
mesa, os pratos, os talheres. Ele não era o tipo de pessoa que tinha cinco
tipos de louças diferentes, mas tinha ao menos duas: uma simples e outra
mais fina, que só tinha intenções de usar em festividades, quando vez ou
outra receberia visitas. Mas nas vezes em que passava as festas de fim-de-
ano fora do quartel, não era como se passasse em casa, de qualquer modo.
Geralmente ia para a casa da família Min. Então, decidiu que usaria as
louças finas, finalmente. Jungkook era especial demais pra ele; muito mais
que possíveis convidados de natal, estava certo disso.

— Aish... — resmungou. — Eu sabia que isso ia acontecer. Sabia que esse


garoto ia me deixar balançado... — deu três tapinhas na cabeça, irritado.

Porque sim, naquele punhado de dias depois do leve desentendimento com


Jungkook na cozinha, Jimin tinha se fechado e mantido-se afastado do
garoto. Saia para algumas entrevistas de emprego, que nem demoravam
tanto assim, mas então ia para a loja de vinis do amigo Yoongi, e lá ficava o
resto do dia, para não ter que lidar com o Jeon. E quando o avermelhado
chegava do trabalho, o moreno já estava dormindo.

Aliás, o moreno não tinha ficado com raiva do que o mais novo havia dito.
Sabia que tinha sido um pouco dramático demais no calor do momento.
Jungkook o descontrolava. Mas o problema era outro. Era que o Park estava
se achando um completo idiota, por estar criando um carinho e apego fortes
demais pelo alfinha malcriado. Ele não queria se sentir daquele jeito. Não
queria se machucar e, por isso, não se apaixonava verdadeiramente há anos.
Mas Jeon Jungkook magicamente, e sem esforço algum, vinha destruindo
os muros que o Park demorou tanto para construir ao seu redor.

Colocou duas taças de cristal na mesa, os pratos de louça cara, os talheres


de prata, os guardanapos de pano e acendeu as três velas trançadas do
castiçal. Se afastou um pouco para observar de longe e constatou:

"Parece a porra de um jantar romântico, se ele ainda não sabe das minhas
intenções, então vai saber agora."

Definitivamente fariam as pazes com isso ou deixariam tudo ainda mais


estranho entre os dois. Observou o relógio em cima da pia. Faziam trinta
minutos que Jeon tinha subido pra tomar banho. Aonde ele estava? Tinha
descido pelo ralo? Jimin subiu as escadas, indo atrás do garoto.

— Jungkook-ah? — chamou. Não obteve resposta. Estranhou. Não havia


sequer barulho água caindo do chuveiro vindo do banheiro. Foi então até a
porta fechada do quarto de hóspedes que o garoto ocupava em frente ao seu
e deu três batidinhas rápidas. — Jungkook-ah?

Sem resposta de novo. Esperou pelo menos meio minuto, insistindo nas
batidas contra a madeira, mas o garoto não respondia. Então abriu a porta,
num rompante, se deparando com o de cabelos cereja sentado no chão, de
costas para a entrada, vestindo um pijama rosa de listras brancas, com
vários bichinhos desenhados. O garoto pareceu ignorar sua entrada no
recinto, permanecendo do mesmo jeito que estava antes: sentado de pernas
cruzadas, com as costas curvadas e mexendo em algo no chão, a cabecinha
de fios vermelhos movendo-se levemente.

— Jungkook? — chamou novamente, já chegando perto do rapaz.

E para sua surpresa, tinha às suas vistas agora, o que tanto Jeon fazia:

Vários lápis coloridos estavam espalhados no piso, enquanto o garoto


coloria perfeitamente um papel branco, que agora estava cheio de rabiscos,
muito bem feitos, formando um rosto. O rosto de Jimin. O moreno ficou
absolutamente sem palavras.

De repente, o mais novo desviou a atenção do papel em que desenhava,


para olhar para o lúpus. Este ficou atônito, encarando a chupeta rosinha que
repousava na boca do garoto. Jeon sorriu, e as ruguinhas nos cantinhos de
seus olhos, fizeram o mais velho quase derreter ali mesmo, apreciando a
criatura mais fofa da face da Terra pra si. Teve vontade de se agachar e
apertar as bochechas gorduchas, até o garoto se irritar e estapeá-lo.

Jungkook tirou a chupeta colorida com a destra e o cumprimentou sorrindo


fofo:

— Oi, hyung. — Mas sua voz não estava exatamente comum. Também não
estava manhosa. Todavia, estava num tom tão doce, que o moreno não se
aguentou. De fato, se abaixou e apertou o rosto do garoto em suas mãos.

— Tão fofo, tão fofo, tão fofo! — grunhiu, tomado de um sentimento


gostoso no peito.

Mas acabou exagerando nos apertões, porque Jeon fez uma caretinha
irritada e estapeou as mãos alheias,. O lúpus aí devolveu o olhar com a
expressão falsamente brava.

— Não péta. Faz dodói — Jungkook falou com um biquinho e cara de


brabo.

Era agora que Jimin derreteria mesmo. O ruivo havia começado um age
play! Surpreso, o mais velho o observava com um sorriso caloroso e
orgulhoso querendo despontar na face bem desenhada. Se deu conta de que
essa era a surpresa então. Nunca um submisso tinha sido tão bonzinho
daquele jeito, preparando-lhe uma brincadeira surpresa, de modo tão
natural.

O acerejado certamente tinha estudado muito para que pudesse fazer aquilo,
da forma mais perfeita possível. Isso mostrava o quão corajoso era, afinal,
que iniciante de alguma coisa teria confiança suficiente pra começar algo
sozinho, que fosse novidade pra si? Mas até mesmo a dicção de uma
criança pequena, que fala as palavras de modo errôneo — algo sobre o qual
o dominador não havia pontuado —, Jeon estava fazendo certinho.

O mais velho estava encantado; totalmente surpreso e satisfeito. Ainda que


o desenho estivesse obviamente perfeito demais para que fosse feito por
uma criança com supostos 3 anos de idade ou algo em torno disso. Mas
decidiu ignorar aquele pequeno erro, não estragaria as coisas.

Por Jimin apenas ter permanecido um minuto inteiro em silêncio o


encarando, Jungkook se assustou e acabou saindo do papel.

— Que foi? Fiz errado? Ai, que vergonha... — murmurou mirando o


moreno, com os olhos arregalados, sentindo sua mente imediatamente
começar a querer evacuar do seu recém-acessado Little Space.
O Park logo voltou à si e interrompeu seu novo submisso, antes que a mente
do garoto abandonasse o little space, sob o qual não estava completamente
inserida ainda. Jungkook a estava experimentando pela primeira vez, então
é claro que o dominador sabia que o elo era frágil e podia se desconectar
facilmente. E ninguém ali queria aquilo. Ambos precisavam acessar aquele
campo mental, Jungkook o little space e Jimin o seu daddy space — ou
qualquer que fosse o papel parental que seu cérebro se conectava.

— Aish, não saia da personagem! Tá perfeito, continua — ralhou.

— Oh... — o rosado assimilou, começando a desfocar os olhos redondinhos


e entrar em algo que parecia um estado meio catatônico e, aos poucos voltar
a portar-se como um garotinho. — Jungoo' não gosta que "apéta."

Jimin sorriu como nunca antes, e então começou a fazer carinho nos fios
vermelho-rosados, extremamente carinhoso, observando o garoto à sua
frente, como se fosse seu bem mais precioso, os olhos de ambos brilhando,
uma bolha de carinho muito doce os evolvendo naturalmente.

— O que você está desenhando, meu pequeno?

— Jungkookie 'tá desenhando o Minnie hyung — respondeu, voltando a


rabiscar a folha A3.

— Minnie hyung sou eu? — perguntou o moreno, docemente.

— É. Minnie é de Jiminie.

— Oh... Mas eu não tenho a boca grande assim! — Implicou com a voz
resmungona.

— Tem sim — o garoto respondeu convencido e direto, logo voltando a


ignorar seu dominante, e volvendo sua atenção para o desenho.

O Park ia rebater, mas então se lembrou de uma coisa:

— Dizem que se você quiser saber como se parece realmente, deve pedir
pra uma criança desenhá-lo. Acho então, que devo ser realmente beiçudo
desse jeito — convenceu-se.
Jeon então olhou para si, com os olhos redondos de jabuticaba brilhando, e
sacudiu a cabecinha de fios vermelhos desbotados, de um lado pro outro,
em negativa.

— Não, não. Minnie hyung bonito.

Jimin sorriu outra vez. Era tão fofa a forma como Jungkook tirava a
chupetinha rosa da boca para que pudesse falar e, ao final, voltava à chupá-
la novamente. Não faziam sequer dez minutos que tinham começado a
brincadeira, e ele já estava se mostrando o melhor babyboy de todos.
Nenhum submisso tinha feito tão perfeitinho assim. Bom, fazer até fazia,
mas precisava admitir que ninguém fazia de um jeito tão fofinho. O vizinho
parecia ser o seu par ideal. Droga, Jungkook era tão malditamente fofo!

Resistindo ao ímpeto de suspirar, o mais velho levantou-se.

— O hyung já vai voltar pra te buscar pra jantar, pequeno — avisou


carinhosamente.

— Os platinhos do Jungoo' tão ali — disse o ruivo, apontando para uma


bolsa cor-de-rosa clarinha, dessas onde os pais carregam as coisinhas do
bebê ao levá-los na rua.

O Park abriu a bolsa, encontrando uma mamadeira, outra chupeta, talheres


em formato de dinossauro, um copinho de beber água com tampinha,
sugador com um aro de cada lado, para que a criancinha segurasse com
mais segurança, sem deixar o copo cair. Tinham três pratos coloridos, com
divisórias para os alimentos, dois babadores dos ursinhos carinhosos e, por
fim, um bonequinho do Homem de Ferro. Jimin riu outra vez. Jeon era
incrível, de fato. O mais velho fez uma anotação mental: não esquecer de
comprar carrinhos pra dar de presente ao seu bebê, futuramente.

— Já volto — o moreno declarou, sem realmente receber a atenção do


garoto.

Desceu até a cozinha e retirou a louça fina, apagou as velas e guardou tudo
de volta aos armários. Era uma pena que o novo submisso houvesse
estragado seus planos de declaração óbvia, mas o que o garoto lhe tinha
dado era ainda melhor. Sentia que Jungkook gostaria de experimentar de
tudo ao menos uma vez, e era de sua completa responsabilidade se o garoto
iria gostar ou não.

Perdido em pensamentos, começou a distribuir o pratinho, a colher, o


garfinho, e deixou o babador em cima da mesa. Quando se virou para
chamá-lo, levou um susto do alfa outra vez, deparando-se com ele já ali na
cozinha.

— O que você está fazendo aqui? Não falei que era pra esperar eu subir pra
te buscar, bebê? — repreendeu, mas sem realmente brigar.

Jungkook fez cara feia, girando as pernas flexíveis do boneco do homem de


ferro que carregava nas mãos, e aí tirou a chupeta pra falar.

— Jungoo' quer assistir o desenho do Patolino — disse e então enfiou a


chupeta novamente na boca, cobriu a mão pequena de Jimin com a sua e foi
o arrastando para a sala.

— Jungkook não pode assistir desenho agora, só depois do jantar —


retrucou o lúpus, puxando-o de volta para a cozinha.

O ruivo soltou sua mão e cruzou os braços na frente do peito, em clara


birra. Oh-oh. Que garotinho birrento e mimado!

— Mas o Jungoo' quer desenho!

— Mas criança não tem querer. Obedeça se não quiser tomar umas
palmadas e ficar sem sobremesa.

O de cabelos cereja fez um biquinho e encarou o dominador com o cenho


franzido, para então andar batendo os pés descalços no chão, com força, e
sentar-se na cadeira, de pernas cruzadas, os pés fora do chão.

O Park foi até ele e sentou-se ao seu lado, colocando a comida nos pratos e
enchendo o copinho do garoto com suco de ameixa.

— Jungoo' não gosta desse suco — resmungou o ruivo.


— E o de maracujá? Meu bebê gosta? — perguntou o lúpus, acariciando os
fios vermelhos macios, encarando o little, maravilhado.

— Do amarelinho que dá soninho, Jungoo' gosta.

Jimin riu da frase do garoto e foi até a pia jogar o suco artificial fora,
substituindo pelo outro sabor na geladeira. Suquinhos em pó, diluídos em
água, não eram o melhor pra saúde, mas era aquilo que tinha. Frutas eram
muito caras e estragavam rápido.

Se fosse qualquer outra pessoa, qualquer outro sub, comportando-se deste


modo no ageplay, o Park estaria puto pra cacete. O submisso já estaria de
bruços em seu colo, tendo a bunda estapeada, pra que fosse disciplinado.
Mas Jungkook? Jungkook era engraçadinho demais. E era fofo pra caralho,
agindo daquele jeito. É claro, ainda assim, o lúpus teria de castigá-lo para
discipliná-lo depois. A questão do castigo e punição, não eram sobre o
Dominador estar puto ou não, pelo contrário. Ambas tratavam sobre
disciplina. Sobre moldar um submisso à obediência. Eram sobre educar.
Principalmente o castigo. Já a punição, era pra envergonhar o sub, quando
este desobedecesse e magoasse seu Dom, e assim aprender a nunca mais
fazer de novo.

Mas Jimin não podia castigar um brat sempre, por desobedecê-lo. Não faria
sentido, pelo menos não naquela situação. O comportamento malcriado do
garoto no play, estava sendo divertido, era uma parte da personalidade dele.
Talvez até mais divertido do que se ele obedecesse. O moreno se pegou
pensando se o Jungkook de três anos real, fora assim também.

No fim, Park Jimin nunca foi um domador, mas sim um dominador.


Como Jeon era seu primeiro brat, o Park teria de aprender a ser um
tamer bom para ele, aos poucos. Então decidiu que castigaria o garoto
depois. Pediria ajuda de Yoongi, este tinha um brat consigo no momento,
saberia aconselhá-lo.

Sentando-se novamente, amarrou o babador no pescoço do alfa. Encheu a


colher de arroz e direcionou para a boca do garoto, que, para sua surpresa,
apenas a abriu e comeu direitinho.
Vez ou outra, Jungkook virava o rosto e esticava a mão grande, pedindo que
o lúpus o aguardasse enquanto dava sugadas no copo de suco. Quando
engolia, apenas abria um bocão outra vez e esperava que o dominador
voltasse a alimentá-lo. Ao mesmo tempo, Jimin aproveitava enquanto o
garoto estava ocupado mastigando, para que ele mesmo pudesse comer a
própria comida.

Quando terminaram, o lúpus se levantou, recolhendo as louças e levando-as


para a pia, enquanto o bebêzão brincava com o boneco do Homem de Ferro,
fazendo barulhinhos de luta com a boca. Jimin sentiu o coração bater
desenfreado com aquilo. Jungkook era perfeito? Não tinha nada que esse
garoto não soubesse fazer? Mesmo na primeira vez em que entravam num
play, o maior já sabia se portar melhor de que sub's experientes.

— Já que você foi um bebê bonzinho e comeu tudinho, hyung vai te dar
sobremesa — o Park anunciou, vendo o garoto sorrir grande e animado.

— Eba! — Comemorou jogando os dois braços pra cima.

Jimin foi até a geladeira e trouxe consigo dois pedaços de torta de frutas.
Voltou a sentar-se ao lado do de cabelos cereja, dando-lhe a primeira fatia
na boca. Quando foi dar a segunda, seu celular tocou, abandonado no sofá
da sala.

— Hyung precisa atender, pode ser sobre trabalho. Não faça sujeira —
advertiu, se levantando e indo até o outro cômodo.

Viu o nome de Yoongi na tela e bufou. Não que não gostasse de receber
ligações do amigo, apenas se decepcionou por não ser alguma resposta das
milhares de entrevistas de trabalho que vinha fazendo. Precisava de um
emprego, o mais rápido possível. Suas reservas de dinheiro não durariam
para sempre — embora fossem suficientes pra durar um ano inteiro,
praticamente.

— Que foi?

— E aí, mirradinho? — o outro falou na linha.


Park revirou os olhos.

— O que é? Tá carente?

— Eu não, tenho dois machos. Literalmente — respondeu divertido, o


platinado. — Hoseok quer ir aí ver o Jungkook. Ele tá ligando e mandando
mensagens, mas o bratzinho não atende o celular o dia todo. Estão
ocupados? — perguntou.

Jimin foi caminhando de volta para a cozinha, com o celular na orelha,


achando o silêncio do seu bebê muito suspeito.

— Não sei não, hyung. Estamos ocupados hoje. Pode ser amanhã?

— Oh... decidiram começar as coisas?

— É, nós... — mas se interrompeu ao ver que o mais novo estava com o


copinho de suco na ponta da mesa, quase derrubando-o no chão. —
Jungkook, tire o copo da ponta pra não cair — disse, afastando o telefone e
então desviou os olhos dele.

— O que vocês estão fazendo? — o ômega dominador indagou curioso na


linha.

— Acabei de dá-lo comida e agora estou dando a sobremesa.

— Estão fazendo Age Play?

— Sim. Ele mesmo quem começou, fez surpresa pra mim — falou com um
sorriso. Mas quando se virou para observá-lo de novo, o avermelhado o
encarou de volta, com a expressão sapeca de quem ia aprontar, e empurrou
o copinho no chão, que com a queda, soltou a tampa e sujou todo o piso
com o líquido amarelo. — Jeon Jungkook! — exclamou o alfa lúpus, em
uma brava repreensão.

A pequena peste começou a rir escandalosamente, jogando a cabeça


vermelha pra trás. Sua risada soava como uma perfeita peste bagunceira.
— Preciso desligar, hyung — falou Jimin ao telefone. — Esse garotinho
malcriado precisa aprender uma lição.

O ex-militar pensou seriamente em castigá-lo naquele minuto. Mas como


dito antes, era melhor não. Precisava conversar longamente com Yoongi,
para saber quais as melhores opções e aí decidir qual se adequaria melhor a
Jeon e aquela situação. Pediu aos céus que a falta de castigo, não o tornasse
mimadinho pra cacete. Jimin odiava gente mimada. Então sacudiu a cabeça,
em forma de repreensão, enquanto limpava o piso com um tecido e produto
de limpeza, sob o olhar atento da criança grande de cabelos vermelho-
rosados.

— Vem hyung, assiste o Patolino comigo — disse puxando o lúpus para a


sala, quando este terminou a limpeza. Sentaram-se no sofá, de qualquer
jeito.

— Mas você precisa escovar os dentes e eu preciso de um banho.

— Só se o hyung assistir o Patolino comigo.

Jimin sorriu.

— Prometo — falou erguendo o dedo mindinho.

O avermelhado reprimiu o pensamento de zombar do tamanho


ridiculamente minúsculo do dígito alheio, e entrelaçou o seu próprio dedo
no dele, para em seguida se levantarem para o banheiro, escovando os
dentes juntos. E é claro que, espertamente, o alfa ruivo fingiu que não sabia
usar a escova, deixando o Park ensiná-lo. Parados em frente ao espelho da
pia, Jimin sorriu pro garoto dentuço.

— Agora vá para a sala assistir ao desenho. Hyung precisa tomar banho —


falou após enxaguarem as bocas.

— E por que não posso ficar aqui? — perguntou o ruivo teimosamente.

— Porque o bebê não pode ver o hyung pelado.

— Mas eu já vi!
— Jungkook!

— Tá com vergonha de eu ver seu bigulinho, hyung? — perguntou com os


olhinhos curiosos.

E aí Jimin não se aguentou e danou a rir, jogando o corpo pra trás, ficou até
sem ar. Quando finalmente conseguiu parar, viu o outro o encarando e este
quase saiu do little space para cair na gargalhada também, segurava o riso
esticando a lateral dos lábios, contorcendo a face; mas antes que o fizesse, o
ex-tenente foi lhe empurrando para o lado de fora.

— Deite no sofá e sossegue — ordenou.

Jungkook obedeceu, deitando-se no estofado, já caindo de sono. Pelo visto,


seu castigo por ter jogado o copinho propositalmente no chão, não viria
hoje. Quer dizer, Jimin não estava agindo como se fosse castigá-lo.
Aparentemente. Então Jeon dormiu tranquilamente, assistindo ao bendito
Patolino, pensando que nada aconteceria. Só pensando.

[...]

Durante a madrugada, o avermelhado acordou com o barulho de um alto


trovão, que o fez dar um pulo assustado. Não costumava ter medo dessas
coisas, mas o som foi muito estrondoso. Puxou o edredom pesado que
estava em cima de si, juntamente ao travesseiro fofinho. Eles não estavam
ali quando adormeceu, então, certamente, Jimin os tinha deixado ali.

Podia continuar dormindo lá, mesmo que estivesse desconfortável demais


naquele maldito sofá de couro vermelho. Mas Jungkook se lembrou de algo
curioso sobre o Park: ele tinha medo de trovões.

Um Dominador que tinha medo de raios. Era engraçado, não era? Jeon
achava. Mas não pensava que Jimin era fraco por isso. Achava fofo. O mais
velho possuía uma dualidade chocante. Mas de qualquer modo, aonde dizia
que um dominador, um alfa ou um homem, não poderia ter medo de trovão?
Ele era uma pessoa, afinal. E pessoas tem medo de coisas. Cada um tem
algo particular que o aterroriza.
Jungkook nunca teve medo de muitas coisas. Na verdade, um dos poucos
medos que possuía, era o do preconceito. Do bullying. De sofrer alguma
maldade, pela peculiaridade de seus genes. Se seus próprios pais o haviam
maltratado por conta disso, quem dirá outras pessoas. O alfa ruivinho tinha
um medo tremendo disso. Nunca tinha contado ao Park, pois era algo
profundo demais. Ademais, o lúpus apenas recentemente havia começado
com aquela abertura maior consigo.

Há muito tempo atrás, Jimin lhe contara que odiava trovões. Disse que
ficava assustado, por mais bobo que parecesse. Nunca lhe disse o motivo,
só que não gostava. E ele nem parecia ter contado porque queria, o mais
novo tinha notado, na época, que o outro soltara a informação sem querer.
Tanto que depois disso, ele se levantou da escada onde estava sentado com
Jeon, na porta de sua casa, dizendo que precisava entrar, encerrando a
conversa dos dois ali. E era sempre assim. O ex-coronel encerrava o
contato, quando as coisas pareciam estar fluindo bem. Mas isso era antes.
Antes de Jungkook descobrir sobre seu segredo. Antes de começarem uma
relação mais quente que o inferno. Antes da confusão de sentimentos
inundar a cabeça de ambos.

O acerejado subiu as escadas transparentes, trazendo consigo o travesseiro e


cobertor. Bateu levemente na porta do Park, abrindo-a sem esperar resposta.
O viu sentado no canto da parede, enrolado e encolhido num grosso
edredom. Este parecia extremamente assustado. O que fez Jungkook correr
imediatamente pra ele, abandonando tudo o que trazia no chão.

— Hyung? Eu tô aqui... tá tudo bem — disse o abraçando.

Com o abraço, pode sentir que o Park tremia levemente. O que deixou o
mais novo extremamente preocupado.

— Você... não deveria me ver assim... — Jimin disse num fio de voz. — Me
deixe sozinho.

Por um momento, Jeon pensou em obedecê-lo. Mas seu cérebro foi rápido
em se dar conta, de que o moreno não o queria realmente fora dali. Apenas
não queria que ele o visse assustado, porque aquela certamente não era uma
imagem que um dominador gostaria de passar ao seu submisso.
Então, munido de uma coragem altamente protetora, Jungkook aninhou o
outro mais confortavelmente em seus braços.

— Eu não vou sair daqui, Jimin-ssi — fez questão de usar o tom respeitoso,
pra demonstrar que aquela não era uma simples malcriação.

Até porque, dadas as circunstâncias, o ruivo não estava mais em seu papel
de criancinha malcriada. O ageplay havia claramente sido interrompido.
Sua mente havia voltado ao estado normal.

O Park se afastou para fitá-lo, com a expressão contrariada, à qual Jeon


rapidamente notou e se adiantou em explicar:

— Você cuida de mim e eu cuido de você, hyung — o mais novo disse em


voz baixa. — Não vou te deixar aqui sozinho com esses trovões, sabendo
que você tem medo.

Jimin franziu o cenho e o encarou com os rostos bem perto, o fitando


surpreso e ao mesmo tempo admirado. Seus próprios olhos brilhavam,
mirando o ruivinho.

— Você se lembra disso? — perguntou com a voz fraca.

Jungkook piscou lentamente antes de assentir:

— Eu lembro de tudo sobre você, hyung. Todas as conversas. Eu até mesmo


lembrava que você achava cabelos vermelhos legais. Eu meio que... Me
inspirei nisso recentemente — declarou envergonhado.

O Park ofegou, encarando o ruivo, com um sorriso abobado no rosto.

— Você pintou o cabelo por minha causa? — perguntou desacreditado.

O mais novo suspirou.

— Eu queria chamar sua atenção — confessou. — Mas vermelho é minha


cor favorita também, sabe...
O moreno encarou o Jeon por longos segundos, que pareceram congelar o
tempo. O clima entre os dois estava pesado, mas não de um jeito ruim.
Havia uma tensão no ar, que ia muito além da sexual, enquanto os alfas se
fitavam com as faces muito próximas e as respirações se chocando frente
aos rostos.

— Você nunca passou despercebido pra mim, Jeon Jungkook. Sempre


flertei com você, embora eu realmente flerte com muita gente — declarou
sincero, com uma pitada de humor e olhando fundo nos olhos negros de
pedra ônix do outro. — Sempre desejei você. Com qualquer cor de cabelo.

O mais alto arregalou os mirantes, a face com a confusão e choque


estampadas nela. Abriu a boca algumas vezes pra tentar responder, mas nem
sabia o que dizer realmente.

Diante do silêncio do outro, Jimin ficou tenso. A sensação de que seria


rejeitado, era grande. A lembrança do término de seu noivado, inundou sua
mente. Mais uma vez, ele se sentia daquele jeito. Engoliu em seco. Mas
tomou coragem, para fazer ali, o mesmo que se faz para arrancar um band-
aid de um machucado: rápido e de uma vez só.

— Eu sempre me interessei por você, Kook-ah— disse aparentando


tranquilidade. Contudo, por dentro sua mente era um misto de nervosismo,
euforia e desespero. — Mas não podia investir em você, sabendo que você
era um baunilha, entende? Você já está familiarizado com o termo, sabe o
que significa.

O ruivo uniu as sobrancelhas, fazendo um biquinho incomodado.

— Você não ficaria com uma pessoa fora do BDSM ou não-fetichista? —


indagou com um leve tom de julgamento na voz. — Isso não é saudável,
Jimin hyung.

O mais velho sacudiu levemente a cabeça em negativa.

— Não é pelo motivo que você está pensando. Já te disse que posso transar
com alguém, fora dos fetiches e fora da relação D/s. Eu transei com você no
cio, não foi? Eu posso transar de modo "baunilha", não tenho problema com
isso.

— E então..?

Jimin suspirou, vencido. Outro trovão alto ressoou lá fora, fazendo-o dar
um leve pulinho de susto. O ruivo segurou seu rosto entre as mãos,
acarinhando a bochecha cheinha, suavemente.

— Eu tô aqui, hyung. Eu protejo você — sussurrou Jungkook, para acalmá-


lo.

O lúpus sorriu, sentindo a tensão se esvair lentamente, trazendo um alívio.


Podia confiar no mais novo. Podia se abrir pra ele. Claro, não conseguiria
dizer tudo agora, assim, de cara, mas ao menos diria algo resumido. Já eram
colegas há tanto tempo. Não havia mais motivo pra se fechar tanto pra ele.
Seu segredo já estava escancarado, afinal.

— Há sete anos atrás, tinha um noivo chamado Dong Taeyang. Ele era um
beta. Nossa relação durou dois anos. Eu já tinha sido iniciado como
dominador no bdsm naquela época, mas o Taeyang não fazia parte da
comunidade. Ele sequer era fetichista. E ele também não sabia sobre as
minhas práticas, embora eu claramente o dominasse na relação. Ele só não
percebia, não entendia o conceito ou o rótulo. Minha dominação não era
escancarada ou com acessórios. Nas vezes em que tentei apimentar mais as
coisas, com vendas, algemas, até algo simples como sugar chantilly no
corpo dele, Taeyang nunca gostava. Ele curtia as coisas sem muitos floreios,
embora curtisse instigar as coisas com cenas de ciúmes. Ele achava que
sexo não precisava dessas coisas. Acreditava que fetiches desse tipo, eram
coisas de pessoas doentes. Então, um dia, ele descobriu sobre tudo.

— Como? — perguntou o ruivo, curioso e interessado. Estava sentindo o


pesar do lúpus, e aquilo o deixava aflito pelo outro.

— Como morávamos juntos, eu guardava meus poucos acessórios numa


bolsa grande de couro. Ela ficava no fundo do closet, escondida. Então,
quando subi de cargo na Aeronáutica, nós decidimos nos mudar para uma
casa maior. Essa casa aqui.
Jungkook automaticamente olhou ao redor, fitando o espaço.

Jimin prosseguiu, antes de perder a coragem:

— Como eu estava sempre no quartel, Taeyang ficou encarregado de


encaixotar a maior parte das coisas. E quando ele esvaziou o closet...

— Ele encontrou a bolsa com todos os acessórios, né? — Jeon assimilou. O


Park balançou a cabeça em afirmativa, com uma expressão desgostosa.

— Foi horrível, Jungkook. Nós brigamos por dias. Ele me disse coisas
horríveis. Taeyang me fez sentir um doente, um nojento, um depravado. Ele
terminou nossa relação e voltou para a casa dos pais. Como eu já havia
pago o valor de entrada da casa, acabei vindo pra cá, de qualquer modo.
Mas nunca gostei daqui. Demorei seis meses pra começar a tirar meus
pertences das caixas e arrumar tudo. Por seis meses, as caixas ficaram
espalhadas pela casa. Porque eu só queria ir embora. Então, depois de um
ano morando aqui, vi que jamais superaria o fim do meu relacionamento, se
continuasse nesta casa. Embora não houvessem lembranças de Taeyang
aqui, já que ele nunca chegou a morar nesse lugar realmente, saber que essa
deveria ser nossa casa, era como cutucar uma ferida não cicatrizada. Então
fui embora daqui.

— Foi embora? — Jungkook indagou de cenho franzido. — Oh, espere aí,


eu me lembro... Quando vim visitar o apartamento com o corretor, vi a
placa de "aluga-se" aqui nessa casa. Lembro de pensar que se eu tivesse um
trabalho decente, gostaria de tê-la alugado, mas como não era o caso, só me
conformei com o cubículo do outro lado da rua. O que te fez voltar?

Jimin deu um sorriso misterioso, como se esperasse por aquela pergunta


mesmo.

— Eu aluguei essa casa para uma família de ômegas e fui morar com o
Yoongi. Não era como se eu ficasse muito tempo fora do quartel. Mas
quando o período do contrato de locação acabou, a família não quis renovar.
Eu fiquei dormindo uns dias aqui, porque coloquei a casa pra alugar de
novo, então algumas pessoas vinham visitá-la constantemente, e eu havia
decidido mostrá-la eu mesmo, sem precisar pagar por um corretor de
imóveis. Não sentia mais nenhum tipo de aversão pela casa, não associava
mais o lugar ao Taeyang, porque alguns anos se passaram e, com isso, meus
sentimentos sobre nossa relação fracassada sumiram, superei. Mas num
desses dias, um pequeno caminhão de mudanças amarelo parou no prédio
da frente... — disse com um sorriso bobo.

Jungkook franziu o cenho, sem entender porque o alfa o encarava com uma
expressão engraçada, até que se deu conta:

— Meu caminhão de mudanças! — exclamou com a boquinha aberta.


Afinal, não haviam muitos caminhões de mudança na cor amarela por aí.

— Sim. Era você — Jimin assentiu. — Primeiro fiquei confuso. Eram 5h da


manhã. Quem se muda de madrugada? Você sempre foi completamente
oposto ao tradicional... — declarou em tom de elogio.

— Eu não estava tentando ser diferente daquela vez... — Jungkook


explicou envergonhado, enrolando os dedos uns nos outros. — É que eu não
tinha muito dinheiro. E essa empresa de frete cobrava metade do valor, se a
mudança fosse feita de madrugada.

— Ohhh... — o lúpus exclamou com um biquinho. O ruivo ficou encarando


a boquinha carnuda do outro, pensando em como sentia saudade de beijá-la.
Jimin o respeitava muito, não ficava tentando agarrá-lo a todo momento,
embora flertasse como o Diabo e, vez ou outra, o encurralasse na parede,
provocando-o, até que seu pau estivesse duro para um santo caralho. Tinha
perdido a oportunidade de dar uns amassos no moreno, por causa da bendita
gata (que era um gato). Pensando melhor agora, Jeon preferia ter deixado o
animal cruzando do lado de fora com o outro bichano. E talvez assim, ele e
o Park tivessem acabado transando naquele dia. No fim das contas, apenas
o gato tinha se dado bem. Era uma pena. — Mas você precisa saber,
Jungoo... Eu realmente desisti de alugar a casa, depois que você veio pra cá.
Eu te achei... interessante demais. Então resolvi voltar a morar aqui.

— Mesmo? Você voltou a morar aqui só por minha causa? — perguntou


com os olhinhos brilhantes. Temeu que o Park estivesse lhe dizendo aquilo
como forma de agradá-lo, sem nenhum fundo de verdade. Mas o olhar
determinado do outro, lhe dizia que ele estava sendo sincero. Sincero até
demais.

— Sim... digamos que você foi um gatilho de convencimento, algo como a


cartada final. A ideia já vinha circulando minha mente...

— O que você estava fazendo às 5h da manhã, fora de casa, pra ter me visto
chegar, hyung? — subitamente perguntou, curioso.

— Estava fumando na varanda da frente. Não queria deixar a casa com


cheiro de cigarro, porque à tarde, uma família viria visitar o imóvel. Mas
então vi um garotinho de nariz grande e franjinha, que parecia meio
perdido. Eu quis me aproximar... Aí me ofereci pra te ajudar com as caixas.
Vi que você estava sozinho, só tinha a ajuda do motorista do caminhão,
então... — declarou com um sorriso sapeca, com os olhinhos rasgados.

Outra trovoada alta soou, mas dessa vez, o menor não pareceu tão afetado.
Apenas apertou uma das coxas de Jungkook e respirou fundo.

O avermelhado então abriu um sorriso enorme, maravilhado com a


confissão alheia. Seu peito pulava, palpitava num ritmo frenético, como as
batidas de uma música animada.

— O que eu quis dizer com isso tudo é que... — Jimin voltou a falar —
fiquei de coração partido, após ser abandonado por Taeyang. E isso fez eu
me fechar. Tudo perdeu a graça pra mim, e sentimentos não eram uma
prioridade. Eu tentava suprir tudo com sexo. Com minhas relações de
Dominação sobre outros alfas. Principalmente eles, que são mais fortes e
mais difíceis de se submeter.

— Você teve muitos submissos depois disso? — perguntou curioso, o


ruivinho.

O menor mordeu o lábio inferior, pensando por um momento, antes de


responder.

— Sim. Tive alguns. Nenhum durava muito tempo. Por culpa minha,
admito. Em algum momento, meus submissos criavam um sentimento
romântico que eu não era capaz de retribuir, então tudo acabava...

O mais novo sentiu sua garganta fechar. Se era assim, jamais poderia contar
para ele que estava... se apaixonando. Não podia repetir os mesmos erros
dos submissos anteriores; isso faria a relação chegar ao fim, e ele não
poderia mais tê-lo consigo. E tudo o que Jungkook queria, era Park Jimin.

Então engoliu a bola em sua garganta. Piscou e expulsou a ardência em seu


rosto. Não que fosse se debulhar em lágrimas, mas seus olhos queriam
marejar. Aquela declaração do Park, havia doído, porque podia significar
um monte de coisas.

Jungkook pensou no tal Taeyang, por um momento. Aquele cara era um


completo imbecil. Primeiro por ser um puta preconceituoso fodido.
Segundo, porque teve a impressão de que o tal beta, talvez não amasse tanto
o militar, quanto o militar o amava. Afinal, o Park aceitou tranquilamente,
reprimir e abdicar de suas práticas, para se encaixar no gosto comum do
noivo. Já este, ao descobrir sobre as práticas de Jimin, tratou-o como lixo. É
claro, Taeyang tinha todo o direito de não gostar das mesmas coisas que o
outro, mas o modo como agiu fora totalmente inaceitável, egoísta e
incompreensivo. E não é isso que alguém espera de um relacionamento.

Então, no fim, o alfa de genes ômegas percebeu que o moreno estava certo
em não criar mais sentimentos românticos por ninguém. Tinha sido um
baita trauma. Pra fugir do assunto, Jeon voltou a fazer perguntas:

— Por que você tem medo de trovões, Jimin-ah?

O mais baixo suspirou e lhe lançou um sorriso suave.

— Isso eu talvez conte futuramente. Já revelei segredos demais por hoje —


rebateu em tom levemente humorado.

O Park realmente não se deu conta de como suas declarações poderiam soar
para o mais novo. Não percebeu que dizer ao homem por quem estava
interessado romanticamente, que nunca se apaixonava e ainda terminava o
relacionamento com seus submissos quando estes apaixonavam-se por si,
era como colocar um outdoor em sua cabeça, que dizia: "Não estou
disponível emocionalmente para relações amorosas, afaste-se". Esse erro o
faria arrepender-se um bocado depois.

Jungkook assentiu, sentindo o clima ficando mais leve, embora seu coração
ainda apertasse.

— Posso dormir hoje aqui com você, hyung? Pra te proteger dos trovões.

Mesmo chateado e sem esperanças, ele queria cuidar de Jimin. Não queria
fazê-lo bem na esperança de conquistá-lo. Queria fazê-lo bem, pura e
simplesmente porque se preocupava com ele e, querendo ou não, à cada dia
mais, sua paixonite pelo mais velho só aumentava. Sequer poderia
continuar intitulando seus sentimentos apenas como "quedinha". Era algo
maior, ele sabia, embora se recusasse a admitir para si mesmo. Como se não
admitir, tornasse a coisa menos real.

O moreno sorriu grande, alheio aos sentimentos do Jeon, os olhos se


tornando dois risquinhos adoráveis. Fez um carinho na cabeça do outro. O
Park estava se sentindo bem de ter se aberto com Jungkook, de ter revelado
finalmente que seu interesse por ele já vinha de algum tempo atrás, e de ver
o carinho que o garoto retribuía para si.

— Pode e deve. Muito obrigado, Kook-ah.

Levantaram do chão e se deitaram na cama, de frente um pro outro.


Continuaram conversando, até que o sol aparecesse, levando a chuva
embora, o que finalmente fez o Park dormir tranquilo. E apenas quando
tinha certeza de que Jimin estava bem, Jeon pode cair no seu sono também.

Ele cuidaria do lúpus; assim como o lúpus cuidava dele. Ainda que seu
cérebro dissesse o quão fodido e imprestável ele era, pensando que, no fim
das contas, pessoa alguma seria capaz de amá-lo. Seus pais não o fizeram.
Era ilusão achar que o mais velho o faria. Ao menos já estava acostumado
com a rejeição. Não doeria tanto.

Mas Jungkook estava errado.


E aí clã? Eu não disse sobre o que Jungkook estava errado, tenham isso
em mente kekekekeke O que é um romance literário, sem alguns
(muitos) draminhas, não é verdade? E pra quem ficou assustado com
"eu sabia que em algum momento ele partiria meu coração", que o JK
narra no trailer da fic, pode ficando suave aí, flw? Essa fic tem
DRAMA, mas não é sad. Acontecerão desentendimentos, equívocos,
uns negócio meio novela mexicana, mas tudo suave no final, ok? É isto.
Ah, eu escolhi a tag pra gente fofocar sobre Incandescente no twitter:
#JungkookBebêDoJimin — usem sem restrições!

Cês já leram minha fic ASSOMBRADO? Jimin é um fantasma


nervosinho, que assombra a casa que Jungkook herda da avó. Só que o
JK é um médium, pode enxergar os fantasmas e tocá-los exatamente
como se fossem uma pessoa normal, de carne e osso (e isso quer dizer
que rola smut, sim). A fic é mó comédia, cês vão gostar. Tem muitas
referências a INC por lá, assim como referências de lá aqui. Então,
deem amor pra minha filhinha sobrenatural, ela é mto meu bebê
18| playing with fire
Hey, eu dou alguns avisinhos das fics no meu twitter, então pra não
ficar → @ howudare94 E não esqueçam de usar a
#JungkookBebêDoJimin pra gente conversar sobre INC por lá :)

OBS:. A ATT TÁ COM QUASE 13K DE PALAVRAS (*rindo de nervoso*)

DEIXA SEU VOTINHO

— Como você se sentiu durante nosso age play? Algo te incomodou? Me


diga tudo, com sinceridade — começou Jimin, durante a noite do dia
seguinte à realização da prática.

Jungkook havia acabado de chegar do trabalho. Como vinha virando


costume, o militar fora buscá-lo, assim como também o levava. Embora não
houvesse necessidade daquilo, o Jeon se sentia protegido. Não que
precisasse de proteção pra alguma coisa, também. Era forte como um lobo,
veloz e sagaz, ganhava uma briga fácil, fácil. Mas aquela sensação de ser
cuidado, de ter alguém se preocupando tanto consigo, como Jimin fazia
agora, fascinava e... viciava.

— É necessário que eu saiba perfeitamente como você se sentiu em relação


ao play inteiro, já que começamos nossa relação agora... — continuou o
moreno — e, além do mais, você é iniciante nesse mundo. Isso vai me
ajudar a saber identificar seus gostos, porque como seu dominante, preciso
sempre conhecer seu comportamento padrão, o que você costuma gostar ou
não, além de ir mapeando todo o seu corpo através do tempo, como forma
de saber onde poderei tocá-lo para causar prazer ou dor, assim como onde
devo evitar chegar perto.

O de cabelos cereja — cuja cor vivia se alterando pra diferentes tons de


rosado à cada lavagem —, estava mastigando uma barra de cereal, deitado
no chão da sala e com as pernas em cima do sofá, parou de mover a boca,
assimilando tudo o que o dominador lhe dissera. Eram muitas informações
de uma vez só, teve que piscar algumas vezes pra assimilar. O Jeon
aprendia muita coisa com o Park, mesmo que a primeira e única prática D/s
que fizeram até então, tenha sido algo não-sexual. E eram sempre
informações preciosas, algo que mesmo com toda a pesquisa que Jungkook
fazia na internet, não era informado de cara. E o mais irônico, é que
informações daquele tipo, pareciam bem óbvias.

Por exemplo, era óbvio que para aquilo funcionar bem, o sub e o Dom
precisavam se conhecer direito. Não dava pra ficar perguntando toda hora,
se o sub gostaria de ser açoitado com objeto tal, ou qual parte do corpo ele
preferia ser tocado. As coisas travariam desse jeito, a sessão não fluiria, eles
não entrariam nas personagens direito, ainda que entrassem em seus
respectivos "spaces" — ou seja, os estados mentais de dominação ou de
submissão.

Em meio a uma sessão, por exemplo, um Dom não ficará indagando se o


sub já conhece ou se gosta daquele material X, qual tipo de ponta das tiras
do flogger ele quer, ou qualquer coisa do gênero; ele precisa saber de
antemão, o que agrada seu submisso. E se o Dom não tiver certeza,
conhecendo seu sub, ao menos, ele poderá ter um bom palpite e ótimas
chances de acerto. Ao menos numa relação fixa, é claro.

O que era necessário, era que eles se conhecessem mental e fisicamente o


suficiente, para que, a partir da noção geral das preferências um do outro,
fosse possível utilizar acessórios, realizar carícias ou usar palavras que, de
acordo com os gostos gerais, se presume que serão bem aceitas, ficando
sempre atento aos sinais do outro e respeitando a palavra de segurança,
popularmente conhecida como Safeword, quando declarada, pois este é o
sinal para que a sessão seja interrompida, quando algo estiver errado.

Então, foi por aquela constatação que o de cabelos cereja até mesmo parou
de mastigar. Jimin era realmente muito experiente e sabia o que estava
fazendo, ainda que pela primeira vez, estivesse aceitando domar alguém
que não se submetia fácil. E todo o cuidado que o moreno demonstrava, só
fazia o avermelhado sentir-se mais dragado pra dentro daquele buraco negro
dramático de sensações românticas pelo novo tamer. Não deveria ser assim.
Jeon sabia que não deveria se deixar envolver romanticamente com uma
pessoa com quem combinou que seria apenas uma relação de dominação e
submissão. Romance e BDSM raramente se misturavam.
Como se não bastasse, Jimin tinha contado que após o trauma do fim do seu
noivado, por conta dos preconceitos do ex-noivo, relacionado a BDSM e
fetiches, o ex-militar não estava disposto a se envolver romanticamente com
ninguém, e não o fazia há um bocado de tempo. O Park fora bem claro
quanto ao motivo pelo qual nunca ficava muito tempo com o mesmo
submisso: eles criavam sentimentos por si, de modo que ele não era capaz
de retribuir.

Jungkook considerava que era como se estivesse pedindo pra se machucar.


No entanto, conhecendo bem sua inclinação para apreciar um sofrimento
psicológico, o garoto sabia que não abandonaria aquele barco nem tão cedo.
Infelizmente.

Já para o tamer, que estava completamente alheio ao modo que Jungkook


vinha interpretando as coisas que ele dissera, tudo parecia estar fluindo
tranquilamente. O Park pensava que, ao revelar um pouco sobre aquela
parte íntima fracassada de sua vida, o garoto entenderia que desde o começo
ele esteve interessado nele, que sempre tinha estado. E que agora, graças ao
fato de o avermelhado querer fazer parte da comunidade e praticar
efetivamente o bdsm, o domador estava basicamente aberto para sentir
emoções mais profundas por ele. Entretanto, Jimin não fazia ideia de que o
mais novo tinha entendido tudo ao contrário.

O ex-tenente vinha sentindo um carinho além do normal pelo vizinho. Era


um sentimento meloso, do tipo que parecia chocolate derretendo na pele:
difícil de remover e estranhamente excitante. O moreno tentava organizar a
mente, para que pudesse rotular e definir o que exatamente sentia pelo
garoto. Quando teve a ideia de fazer um jantar romântico entre eles, não era
como se pretendesse declarar-ser em palavras, até porque, não sabia definir
bem aquilo que sentia. Ele gostava. Estava óbvio que gostava, e muito.
Eram sintomas de paixão e ele estava ciente disso.

Mas a ideia era que o clima do jantar à luz de velas, tendo louças finas e um
bom vinho, fosse criar o ambiente perfeito para deixar óbvio pra onde ele
queria caminhar aquela relação: pra algo mais sentimental; queria que
ficasse claro que gostaria de algo além da relação impessoal de dominação
e submissão com o outro alfa. Bem, é sabido que fora tudo por água abaixo,
ainda que ele mesmo não tivesse ciência disso. Mas ao menos, já havia
deixado claro que queria uma relação exclusiva e não aberta. Isso
significava que eles eram namorados. Só esperava que Jungkook tivesse
entendido bem essa parte, quando ele lhe propôs algo exclusivo.

— Não coma deitado, faz mal pra digestão — o mais velho repreendeu,
tirando a barrinha de cereal da mão do ruivo, para então sentar no sofá onde
as pernas do garoto repousavam, ao lado.

Nem é preciso dizer que Jungkook ficou bravo de ter tido o alimento
roubado. Então levantou o tronco, sentando-se ereto e de pernas cruzadas
no chão, para teimosamente arrancar a barrinha das mãos de Jimin,
tomando-a novamente.

Depois de dar uma segunda mordida e manter-se com uma expressão


pensativa na face, Jeon engoliu e, logo após, deu um gole na garrafa de
água que repousava no tapete, para aí sim, começar a responder às
indagações do domador.

— Eu realmente gostei, Jimin-ah — confessou com a voz sincera. — Gostei


de me sentir cuidado, mesmo enquanto eu agia como um pentelho — soltou
uma risadinha. Jimin apenas piscou lentamente, ainda atento a ele, mas sem
esboçar reação, o que preocupou Jeon levemente. — Me senti protegido e
acolhido, como nunca senti antes, foi satisfatório — disse ignorando suas
impressões. — Não tinha uma noção muito ampla, de quais sensações o age
play me proporcionaria, mas afirmo com toda a certeza que gostei. Era
como se minha mente realmente tivesse regredido pra como eu era quando
criança. Lembro que gostava muito de atazanar minha antiga babá — disse
rindo. — Eu não gostava muito dela, porque ela me dava beliscões
escondidos, quando meus pais não estavam em casa. Então esse era meu
método de defesa.

— Então isso quer dizer que você também não gosta muito de mim, já que
não queria se comportar? — o Park indagou em provocação.

O acerejado arregalou levemente os olhinhos negros, para então sacudir a


cabeça em negativa, todo avoado.
— Não, não, Jimin-ah, não foi isso que eu quis dizer. Eu gosto de provocar
qualquer pessoa, porque é divertido pra mim — respondeu meio
envergonhado. — Não me orgulho disso, mas esse é o meu jeitinho.

— Certo — o alfa moreno respondeu, dando um sorriso oblíquo.

Todos os alertas de Jungkook se ativaram, sabendo que aquele sorriso de


Jimin, sempre queria dizer que ele estava escondendo alguma coisa. Porém,
preferia não perguntar, então só desviou o olhar e voltou a comer a barrinha
de cereal.

— E os pontos negativos? — Jimin voltou a perguntar, quando Jeon


permaneceu em silêncio. — Não teve nada que você não tenha gostado?
Como eu te dar comida na boca, por exemplo? Da primeira vez, você não
gostou tanto.

— Negativo? — repetiu o avermelhado, de boca cheia. — Acho que só a


falta de aftercare, talvez. Mas sei que foi porque acabei dormindo e você
não quis me acordar, porque sabe que não gosto — admitiu. — Mas de
qualquer forma, eu quem acabei cuidando de você depois, então valeu pra
mim.

— Me desculpe sobre isso, Kook-ah... Realmente falhei nesse aspecto,


deveria ter dormido ao seu lado e te mimado com muito carinho durante à
noite, mas acabou que você foi quem cuidou de mim depois... Me desculpe.

— Tá tudo bem, Jimin-ah... Não estou reclamando nem acusando, não


precisa se desculpar, eu gostei mesmo assim. Gostei de te dar carinho, ao
invés de receber. Temos uma relação mútua, certo? Um cuida do outro.
Também gostei de você me dar comida na boca, hyung — murmurou. —
Realmente fiz um age play surpresa pra você, como pedido de desculpas,
sabe? Eu só pareci relutante com a coisa de receber comida na boca, porque
na minha cabeça, aquilo me fazia sentir vulnerável ou incapaz de algo. Mas
você é sempre tão carinhoso, que me faz ficar com o coração quentinho —
disse fitando o rosto de Jimin, tentando guardar cada detalhe daquela beleza
na memória. Queria sempre poder lembrar de forma vívida em sua mente,
como o lúpus se parecia. — Não quis criticar você por estar agindo mais
aberto comigo aquele dia, hyung, me desculpe. Eu só me assusto um pouco,
quando você age tão... tão... — bufou, sacudindo suavemente a cabeça de
fios vermelhos em fase de desbotamento. Não teria coragem de dizer. Ainda
mais tendo o olhar afiado do outro sobre si, fazendo suas bochechas
queimarem, o que o levou a encarar o chão, arrancando os pelinhos do
tapete com os dedos, como forma de distração.

— Tão...? — o dominador exigiu continuidade.

É claro que Park queria saber tudo, cada detalhezinho. Se pudesse entrar na
mente de Jungkook, o faria. E para sua sorte, Jeon era muito transparente
em suas ações, além de ser bem direto, praticamente sem filtro. Embora
esse detalhe não estivesse fazendo Jimin enxergar como o garoto realmente
vinha demonstrando os sentimentos por ele, através de ações. O modo como
o mais novo se comportava, revelava tudo.

Park Jimin era muito observador, sim. Sabia entender o que uma pessoa
estava sentindo, ao observá-la bem. Mas dizem que o amor cega, e era por
este exato motivo que o ex-militar não conseguia identificar nas ações do
garoto, a demonstração de sua paixão por si.

E essa, aliás, era a única maneira que Jeon Jungkook sabia se declarar: com
ações. Nunca fora uma pessoa muito boa com palavras, nem boa em
expressar sentimentos abertamente. Se ele gostava de alguém, seu modo de
agir, seus sorrisos, o modo como fitava de forma admirada seu objeto de
paixão, era como ele se declarava. Isso fazia de Jimin, um cego na luz do
dia, e Jungkook um surdo em meio a um concerto musical.

— Bebê, não precisa ter medo de me dizer as coisas, sim? Eu quero que me
fale — o mais velho disse com a voz doce, deslizando do sofá, para sentar-
se no chão também, ao lado do mais novo. — Fala pra mim... — pediu
manso, levando a destra até a nuca de Jungkook, para acariciá-la.

Aquilo era golpe baixo. Jeon se derretia todo com aquele carinho na nuca.
Qualquer carinho de Jimin, o desmontava, mas especialmente quando ele o
tocava delicadamente na nuca ou no lóbulo da orelha, o garoto se via
totalmente entregue.
— Eu... — tentou dizer, com um suspiro. Então decidiu aproveitar que tinha
fechado os olhos para apreciar o carinho, e explicar ao menos alguma coisa.
— Sou um pouco sentimental, hyung — disse cuidadoso. — E você é
muito... acolhedor. Não estou acostumado a ter tanta atenção assim, e...
humn...

— Não precisa ter medo, pequeno, pode dizer...

Jungkook piscou um par de vezes, após ser chamado de "pequeno"; Então


mudou a postura, deu um risinho afrontoso e, arqueando uma das
sobrancelhas, fez o que melhor sabia fazer pra fugir de situações que o
deixavam desconfortável:

— Por que você continua a me chamar de pequeno, se o único


pequenininho aqui é você, hyung? — provocou com um sorriso matreiro.

Jimin fechou a cara e fez o maior bico que podia, levantando a mão pra dar
um sopapo no ruivo abusado, este que se encolheu em reflexo, rindo com a
língua entre os dentes. Era uma criança zombeteira mesmo.

— Aish, seu moleque... — o Park murmurou contrariado, abaixando a mão


no meio do caminho. — Tenho quase a mesma altura que você. Não mude
de assunto, eu quero saber do resto — insistiu. — Se você realmente quer
se desculpar, tem que explicar porque me tratou daquele jeito...

Jungkook foi parando de sorrir, vendo que não tinha escapatória. Agora que
abriu o bico, tinha que ir até o final. Começou a morder o lábio
nervosamente, como já era seu costume. Estava tentando pensar em outro
jeito de dizer aquilo, sem deixar óbvio que estava se apaixonando. Afinal,
em sua cabeça, se contasse aquilo para o dominador, ele faria o mesmo que
fez com seus submissos anteriores: encerraria a relação ali. E Jungkook não
estava nem um pouco disposto a terminar aquilo agora.

Vendo a relutância e demora do garoto em responder, Jimin bufou,


começando a se levantar do tapete.

— Tudo bem, se você não quer se abrir, eu... —


— Não! — Jungkook disse em voz alta, puxando o Park pela barra da
camisa. — Não é isso, Jimin-ah...

O mais velho, aos poucos, foi se sentando novamente, e encarou o ruivo


com atenção.

— Hyung, prometa que não vai terminar comigo, ok? — Jungkook pediu
tenso.

— Por que eu faria isso? Você fez algo errado? — O lúpus indagou de
cenho franzido.

— Só prometa, hyung.

— Tá... — O Park assentiu ainda meio desconfiado. — Eu prometo. — E o


moreno estava bem temeroso sobre o que podia sair dali.

— Me dá seu dedinho aqui — Jungkook disse puxando a mão do outro, que


acabou sorrindo com a atitude infantil, ao que o ruivo entrelaçou seus dedos
mindinhos, tornando aquela uma promessa. — Você não pode quebrar
promessa de mindinho, hyung.

O ex-militar riu, com os olhinhos se fechando nos costumeiros dois


risquinhos adoráveis, e depois fitou o garoto, numa expressão suave. Como
ele poderia terminar com uma coisinha fofa daquelas? Se dependesse dele,
nunca!

— Para de enrolar, Kookie-ah...

— Ok. Eu te tratei daquele jeito, não porque não apreciasse o seu jeito mais
aberto comigo... Na verdade, essa sua coisa de ficar sendo evasivo e
misterioso o tempo todo, sempre me irritou, Jimin — disse sincero.

— Mesmo? Achei que talvez você gostasse mais de mim sendo


misterioso... — O ex-coronel interrompeu surpreso. — Quero dizer, essa
coisa de macho alfa misterioso geralmente é um charme, né?

— Jimin, quer fazer o favor de me deixar falar logo? — reclamou


impaciente. O moreno lhe deu um olhar repreensivo, deixando o de cabelos
cereja sem jeito outra vez. — Err... desculpe. Continuando... Hyung,
ninguém nunca me tratou tão bem, ou foi tão carinhoso assim comigo. Pelo
menos ninguém com quem eu costumasse ter uma relação, entende? Você é
tipo um príncipe encantado, então fica um pouco difícil separar as coisas. E
quando digo separar as coisas, quero dizer, não começar a... ficar muito
sentimental sobre isso — disse encarando o chão, sem coragem alguma de
fitar o Park.

Jimin permaneceu parado, encarando o garoto. Não entendia o porquê


Jungkook estava receoso quanto àquilo. Ele pensava ter deixado implícito,
que vinha sentindo alguma coisa pelo mesmo, então por que Jungkook teria
vergonha de admitir estar sentindo algo por ele de volta?

— Deixe-me ser mais sucinto, hyung — Jeon falou novamente, querendo


acabar com aquilo logo de uma vez, tipo como tomar remédio de gosto
ruim num gole só. — É realmente difícil não me apaixonar por você,
quando você é tão bom comigo assim, entende? Mas não se preocupe com
isso, juro que não vou ficar apaixonado, prometo — obviamente mentiu,
ainda sem conseguir fitar o Park, afinal, quando mentia, não conseguia
mesmo encarar ninguém. — Sei que você acaba rompendo com seus subs
quando eles se apaixonam, porque você tem aquele trauma sobre seu
noivado e você não está aberto pra sentimentos, então não se preocupe
mesmo, ok? E não termine comigo por isso. Tô aprendendo a separar as
coisas, sei que esse seu jeito atencioso é sua forma de dominar e tratar seus
submissos, e... — mas o monólogo foi interrompido pelo dedinho gordo de
Jimin em seus lábios, calando-o.

O moreno partiu suavemente pra cima do garoto, fazendo-o perder o


equilíbrio e cair no tapete de costas, soltando a barrinha de cereal de
qualquer jeito no chão, e tendo Jimin deitado em cima dele.

Quando o mais velho começou a dar beijinhos delicados em seu pescoço,


Jungkook ficou estático. Ele estava bem confuso no momento, porque
aquela reação não era realmente esperada. O lúpus então deitou a cabeça ali
onde estava, encaixando-a no vão entre seu ombro e pescoço, parecendo
farejar disfarçadamente o cheirinho de sua pele.
— Me abraça — o Park ordenou com a voz abafada. Mas o ruivo
permaneceu parado, num conflito interno. Diante da falta de movimentação
do outro, Jimin insistiu: — É uma ordem, Jeon Jungkook — falou
autoritário. — Abrace seu tamer, malcriado do caralho.

E ao sentir o hálito quente do Park em seu pescoço, somado ao tom de voz


dominante do lúpus, Jungkook se arrepiou, ficando excitado ainda que
contra a sua vontade.

Meio sem jeito, rodeou a cintura do moreno, num aperto que, timidamente,
foi aumentando a pressão para, aí, finalmente, deslizar as mãos pelas costas
do Park, num carinho delicado e sincero, cheio de sentimentos reprimidos.
Sentiu o mais velho suspirar contra sua pele e, lentamente, retirar o rosto
dali, para dar um beijo demorado em sua bochecha esquerda. Provocando,
Jimin passou os lábios a um milímetro de distância dos dele, apenas para
alcançar a outra bochecha e depositar ali um beijo estalado como fizera na
outra, sem desviar os olhos dos dele.

Jeon reprimiu um suspiro. Precisava reprimir, não fazia ideia do que o


moreno estava fazendo, era inaceitável que seu coração batesse tão
acelerado no peito. O ruivinho sequer conseguia mover um músculo.

Jimin sorriu, indo até sua testa para deixar um novo selar suave ali, seguido
de outro na ponta do nariz e, por fim um em seu queixo. Então o lúpus
roçou a ponta de seus narizes, fechando rapidamente os olhos, para aí abri-
los novamente e mirar Jungkook de pertinho.

— Você é muito bobinho... — o tamer brincou com a voz baixa.

Jungkook fez uma careta. O maldito Park já ia zombar dele de novo?

— Você fez eu contar, pra ficar zoando com a... — mas não conseguiu
concluir.

Isso porque, Jimin segurou seu rosto, pressionando o dedão num lado de
sua bochecha, e o indicador do outro, impedindo-o de mover a face, para
então beijar sua boca com intensidade.
Não era um beijo de língua, o Park tinha a boca fechada, mas era um beijo
com pressão, que se findou com um estalo. Apenas para se seguir de mais
outro, outro, e mais um, até que o moreno mordiscou o lábio inferior do brat
e deixou mais um selinho.

O Domador voltou a abrir os mirantes, com a expressão calorosa.

— Você não entendeu nada do que eu disse ontem, não foi? — perguntou
com a voz mais meiga que de costume, parecia até... melosa.

— Não sei o que você quer dizer... — Jungkook rebateu em pura confusão.

Jimin sorriu contra seus lábios, dando agora um beijo no cantinho de sua
boca.

— Eu não quis dizer que você não deveria se apaixonar por mim, bebê... —
disse docemente. — Quis dizer que você foi a pessoa que me despertou um
interesse imediato, desde o fim do meu noivado. E que, de todo mundo que
conheci e me relacionei de lá pra cá, você é o único por quem me atrevi a
sentir alguma coisa... — sussurrou.

Jungkook entrou em pânico. Se seu coração já batia freneticamente dentro


do tórax antes, agora parecia a caixa de som de uma festa rave. Ele
arregalou os olhos, desacreditado, e engoliu em seco. Suas mãos suavam e
seu lábio inferior tremia levemente. Era como se estivesse prestes a ser
arrebatado e nem sabia pra onde.

O ex-coronel sorriu pra ele outra vez, arrastando a ponta do nariz pequeno
pela bochecha gordinha do mais novo.

— Tô dizendo que gosto de você, Kook-ah — declarou. — Não sei


classificar esse sentimento, mas sei que gosto muito e foi por isso que
sugeri que a gente ficasse junto, só nós dois, tipo exclusivos, lembra? — o
ruivo apenas moveu a cabeça lentamente, em uma afirmativa fraca,
encarando o rosto de Jimin, pairando tão perto do seu. — Então você pode
sim, gostar de mim, meu bebê... Eu deixo — o Park falou rindo. — Mas
você já gosta, não gosta? — perguntou realmente curioso, com o tom leve e
brincalhão, todavia sem conseguir esconder um pouco da tensão, pela
possibilidade de que, talvez, a resposta pudesse ser negativa. Seus
sentimentos o deixavam um tanto cego para os sentimentos que o vizinho
demonstrava, mas conseguia enxergar que o garoto ficava mexido, não era
bobo.

A boca do pequeno Jeon secou como o deserto. Sequer conseguia falar. Sua
mente estava dando pane. Ele continuava parado, fitando Jimin de olhos
arregalados, como se em sua cabeça estivesse dando a tela de ERROR404.

Jimin, temeroso, foi cessando o sorriso e mordeu o lábio inferior,


apreensivo. Não queria que o garoto se sentisse obrigado a aceitar seus
sentimentos, nem a dizer que gostava dele de volta, só queria que o outro
soubesse que, pra ele, dessa vez, era ok que eles deixassem os sentimentos
fluírem.

— Não precisa dizer que gosta de mim de volta, nem nada do tipo,
Jungkook... — disse sem jeito e, inconscientemente, afastou de leve os
corpos.

Só que o mais novo sentiu aquilo. O menor sinal de afastamento, fê-lo


puxar Jimin de volta pra si, com um toque possessivo.

— Não... não se afasta, hyung... — Foi a única coisa que conseguiu dizer.

O avermelhado passou a língua entre os lábios, tentando inutilmente


umedecê-los. Não conseguia pensar numa resposta verbal, Jungkook nunca
fora um mestre da oratória. Palavras nunca foram seu ponto forte, e não
sabia bem se expressar com elas. Além do mais, ele também não conseguia
definir bem aquilo que sentia por Jimin, se afinal de contas era uma
quedinha, paixonite, apego, querer, ou só uma porra de tesão fodido
acumulado e reprimido por um trio de anos. Estava confuso que nem um
caralho. Principalmente porque sabia que aqueles sentimentos iriam ferrá-
lo, de modo que vivia tentando reprimi-los, desde que conhecera o vizinho.

Mas o que ele sabia, era que só de olhar para Park Jimin, seu corpo
esquentava, sentindo-se lubrificar entre as bandas da bunda e na glande do
pênis. As gengivas costumavam coçar, querendo marcar aquele alfa pra si,
tê-lo como seu. Uni-los em um laço único, mas que sabia que jamais seria
possível, já que os dois eram alfas, e a genética não permitia. Sentir a boca
de Jimin o marcando, o corpo musculoso entrelaçado ao seu, o cheiro
inebriante de sândalo, a presença dominante, o modo como cuidava dele
com tanto cuidado e carinho, que era quase como um pai. O ruivinho estava
atordoado. Estava bobamente apaixonado e sabia disso. Então decidiu que
responderia do modo que sabia responder: com ações e não palavras. No
fim, palavras não serviam de nada.

O mais novo então subiu a destra para a nuca do Park, trazendo seu rosto
para si. Ambos fecharam os olhos e se perderam no início de um novo
beijo, dessa vez, com as línguas se encontrando intensa e imediatamente.

À cada deslizada do membro aveludado no outro, os dois sentiam coisas


parecidas demais. Era uma sensação carinhosa e mútua, que se expandia até
o último fio de cabelo, queimando todos os nervos, como algo
incandescente. Arrepios faziam com que toda a penugem de seus corpos se
eriçassem, alguma corrente de eletricidade imaginária tomando conta de
tudo.

Jimin foi o primeiro a intensificar a carícia, sugando a língua alheia com


mais força e começando a ondular o quadril em cima do brat. E Jeon foi
rápido em enfiar a canhota por baixo da blusa dele, arranhando as costas do
lúpus, que gemeu na sua boca, em resposta ao estímulo; estímulo esse que
Jungkook já sabia que o Park gostava.

O de cabelos nem mais tão cereja assim, sentia-se esquentar. E com o Park,
não era diferente. Ao longo dos anos, quase se esquecera do quão gostosa
era a sensação de estar começando a se apaixonar por uma pessoa, e em
como tais sentimentos tornavam a intensidade do tesão em algo quase
surreal, de tão bom.

Deixando seu corpo agir de acordo com as emoções, Jeon soltou os braços
que envolviam o moreno, para então repousá-los de qualquer jeito no chão,
abertos, o corpo inconscientemente se abrindo e se deixando à mercê do
domador. Aquela era a linguagem corporal que dizia: "você pode fazer o
que quiser comigo". E Jimin podia mesmo. Jungkook se encontrava
totalmente entregue a ele.
O mais velho afastou a mão que segurava o rosto do garoto, e a deslizou por
um dos braços caídos no tapete, achando automaticamente o caminho para a
canhota alheia. E quando estas se encontraram, uniram-se perfeitamente,
entrelaçando os dedos e sentindo o calor da palma um do outro. Era
confortável e perfeito. Como se elas tivessem sido feitas para encaixarem
uma na outra.

Quando Jungkook sentiu a mãozinha gorda do Park apertando a sua, o ruivo


não foi capaz de reprimir um pequeno gemido. Gemido, e não suspiro. Ele
de fato, gemeu ao sentir a mão do homem na sua. Nada era mais gostoso
para Jungkook, do que estar com alguém que retribuísse seus sentimentos,
fazendo com que tudo se transmutasse em um tesão fodido.

Como se tendo suas mentes presas num mesmo espaço imaginário, Jimin
sentiu exatamente a mesma coisa. Quanto tempo fazia desde que não
pegava nas mãos de alguém que realmente queria? O Park achava o toque
das mãos algo íntimo demais; E era.

Num mundo onde os corpos se usam sem necessidade de algum sentimento


amoroso prévio, sexo era algo realmente banal e impessoal; já as mãos
entrelaçadas, transmitiam algo puro e genuíno, como o gostar ou amar
alguém. Por esse mesmo motivo, Jimin raramente segurava nas mãos de
algum submisso, ou alguém com quem estivesse envolvido. Preferia andar
ao lado de seus subs, tendo um dos braços envoltos na cintura alheia, numa
posição de proteção e dominação, ou às vezes andando um passo à frente,
como se servindo como um escudo e nada além disso.

Contudo, segurar as mãos de Jungkook, foi algo que fez porque realmente
quis; e aproveitou o toque. Amou ter suas mãos unidas calorosamente
assim. Seu coração deu várias batidas erráticas com isso.

Sentindo tanto o ruivo, quanto ele próprio, com as ereções já enrijecendo


consideravelmente por dentro das calças, Jimin se moveu sensualmente por
cima dele, fazendo com que os pênis ficando tesos se pressionassem mais.
Levou os lábios para o pescoço já branquinho, mordiscando e chupando a
pele sensível e, satisfeito, ouviu os murmúrios de prazer que o Jeon emitia
pela garganta.
O Park obrigatoriamente teve de soltar as mãos de seu garoto, para fazer o
que queria fazer, mas não deixou de ouvir o suspiro insatisfeito do ruivo por
isso. Contudo, usou as mãos para subir a camisa do brat, deixando-a
enrolada acima do peito, de modo que os mamilos marrons ficassem à
mostra pra si. O Dom encarou Jungkook intensamente, para então, de forma
totalmente provocadora, deslizar a língua molhada para um dos biquinhos
eriçados, circulando-os, antes de sugá-los entre seus lábios grossos.

O alfa híbrido gemeu alto e manhoso, levando a canhota imediatamente


para os fios de Jimin, mas sem puxá-los. Apenas acariciando o couro
cabeludo, quase como ao se fazer carinho em um gatinho. O Park não o
afastou, deixou que o outro repousasse a mão ali.

O mais velho deu algumas mordiscadas no bico, antes de assoprar


suavemente contra a pele molhada, para propositalmente causar arrepios no
corpo dele, deixando-o ainda mais sedento. Encarando o rapaz dali debaixo,
moveu o rosto em direção ao outro mamilo, repetindo o mesmo processo de
lamber, sugar, morder e assoprar, sentindo os dedos de Jungkook
pressionarem-se mais fortemente em sua cabeça.

Desceu lentamente os lábios carnudos pelo peitoral e a barriguinha trincada


de seu garoto, fazendo questão de morder cada gominho bem trabalhado,
para então, abrir o zíper da calça alheia, deslizando-a de pronto, pelas coxas
grossas e lisinhas, junto à cueca boxer branca.

Quando teve que se pôr de joelhos para despir o mais novo, o lúpus parou
um momento para admirar aquele corpo perfeito. Jungkook era tão lindo. O
peitoral inchadinho, com os biquinhos dos mamilos escuros excitados,
abdome bem esculpido, a cintura perfeitamente fina, as coxas grossas, o
baixo ventre enfeitado com veias grossas, que preparavam para a visão do
caralho duro e veiudo, já pulsando caído sobre a barriga do dono. Parecia
uma escultura grega de centenas de anos atrás. Era simplesmente perfeito. E
a constatação fez Jimin salivar.

— Você é tão, tão gostoso... — murmurou, fitando o outro com os olhos


brilhantes. Este não tinha vergonha nenhuma do olhar do alfa lúpus sobre si
naquele momento, pelo contrário. Jungkook sentia-se pleno, sendo assistido
com tanta devoção, pelo homem que desejava na mesma intensidade. —
Assim você acaba com qualquer traço de sanidade em mim... Você me
deixa completamente louco — confessou com a voz rouca. E não era a
primeira vez que confessava aquilo, embora estivesse usando palavras um
pouco diferentes.

Jimin então tirou a própria camisa, tentando aliviar o calor em seu corpo.
Levantou uma das pernas do avermelhado pela panturrilha, mordiscando a
parte interna do local, intercalando com beijos macios. Devagar, ia
massageando as pernas do ruivo, vindo com a boca logo em seguida,
descendo as carícias até a virilha de Jeon. Sua língua desenhava círculos de
saliva na pele, fazendo com que o submisso remexesse o quadril inquieto no
tapete.

Para o brat, o Park estava muito perto de seu membro atiçado pra que
pudesse se controlar, as mãos apertando os pelos do tapete para descontar
um tesão furioso o possuindo rapidamente.

É claro, nenhum de seus movimento passavam despercebidos pelo tamer,


este estava sempre atento a todas às suas reações. Afastando os lábios da
pele desnuda, e com o hálito quente batendo no mastro duro e molhado,
Jimin estalou a língua no céu da boca, em reprovação:

— Tsc, tsc, tsc... tão sedento... — zombou. — Pare de mexer o quadril. Se


você movimentá-lo, serei obrigado a parar o que estou fazendo aqui. E você
não quer que eu pare, quer? — indagou em provocação.

Jungkook resfolegou, apertando os olhos com força.

— Não — respondeu.

Jimin estalou um tapa na lateral de sua coxa, fazendo o ruivo abrir os olhos
no susto, e então encontrar o olhar dele colado em seu rosto.

— Eu quis dizer não, meu senhor — corrigiu-se, recebendo o sorriso ladino


aprovador de Jimin.

E foi assim que Jungkook sentiu várias de suas amarras mentais, irem
soltando-se. Era como uma marionete sendo finalmente liberta. A
aprovação de Jimin, deixava o alfa o em êxtase. E sim, ele amava provocar
para receber atenção, mesmo que nem sempre ela acabasse por ser positiva.
Mas toda vez que o mais novo se via naquela situação com seu hyung,
ficava completamente submisso e entregue à suas carícias. Naquele
momento, ele não tinha intenção alguma de provocar nada; queria apenas
ter seu corpo explorado e utilizado por Park ao seu bel prazer, porque aquilo
para si, era definição de satisfação extrema.

Jimin levou a boquinha experiente para a outra virilha de Jeon, lambendo e


chupando delicadamente a pele fina da área, deliciando-se com os gemidos
que a garganta do avermelhado produzia, além de aproveitar a belíssima
visão do cacete teso e com a glande brilhando, bem na altura de seus olhos.

Então, com uma mordida, se despediu da coxa em que se divertia, para


então aproximar os lábios das bolas dolorosamente inchadas do ruivo,
soltando o hálito ali. A ação, fez o pau do garoto mover-se sozinho,
pulsando, desesperado por qualquer toque. Jungkook o encarava lá de cima,
com os olhinhos pidões, implorando com o olhar, para que Jimin o
abocanhasse de vez; Mas o tamer queria vê-lo sedento ao máximo, e aquilo
tinha sido muito pouco. Não era nem metade do que ele planejava fazer.
Então, maldosamente, se afastou, notando de imediato o biquinho
contrariado e decepcionado nos lábios de Jeon, o que o fez sorrir satisfeito.

— Fica de quatro pra mim, bebê... — ordenou com a voz mansa e baixinha.

Meio desnorteado, Jungkook obedeceu. Não estava querendo fazer a linha


malcriado agora. De costas e completamente exposto, sentiu o rosto do Park
aproximar-se de suas nádegas arreganhadas, então prendeu o lábio entre os
dentes, ansioso.

— Lembre-se de não se mexer, por mais que queira muito. E acredite, você
vai querer demais. Mas precisa me obedecer, bebê...

— Sim, senhor.

O ex-militar apenas deixou um beijo estalado na banda direita e outro na


esquerda, antes de se afastar novamente e estalar um tapa ardido, que
ressoou no cômodo, e fez o corpo do Jeon balançar rapidamente pra frente.
— Quero se abra pra mim, amor... — sussurrou o tamer, ainda com a voz
autoritária.

Jeon inspirou profundamente, excitado pra um caralho, como quase nunca


estivera na vida. A voz de Jimin era sempre provocadora e aveludada
demais, era como se pudesse sentir as palavras deslizando por sua pele.
Encostou a lateral do rosto no tapete, para ter algum equilíbrio, e então
levou as mãos até as próprias nádegas, afastando as bochechas da bunda, e
deixando a própria entrada vergonhosamente arreganhada.

— Isso, meu bem... — Jimin aprovou. — Bom garoto.

O avermelhado sentiu-se arder entre as pernas. Cada comentário positivo do


moreno, o atingia nas partes mais profundas de sua mente — e de seu corpo
também.

O Park capturou com a destra, a rola grossa que balançava entre as pernas
do submisso. O moreno deslizou a mão nela, estimulando-a, para então
trazê-la pra si, de modo que ficasse voltada para trás, e ele livre para tocá-la
dali. Levou a língua para a glande encharcada de pré-porra, a limpando
delicada e deliciosamente.

Jeon gemeu deleitoso, ao sentir o músculo molhado do outro deslizar sobre


a cabecinha inchada de seu membro, controlando-se ao máximo para não se
mover e desobedecer o domador. Este subiu a língua em linha reta pelo
mastro alheio, até chegar à base, e seguir caminho pelas bolas inchadas,
colocando uma a uma dentro da boca, sugando com cuidado.

O ruivo esfregou a cara no tapete, quase perdendo o equilíbrio. Jimin


adorava torturá-lo com aquela lentidão maldita, mas não estava reclamando,
pelo contrário. Era delicioso que o mais velho gostasse de lamber e chupar
cada pedaço de pele seu, antes de tê-lo por inteiro.

O avermelhado soluçou ao sentir a boca de Jimin abandonar suas bolas,


para finalmente continuar seu caminho, agora deslizando pelo períneo,
causando arrepios avassaladores e então encontrar sua entradinha molhada.
E quando a língua aveludada encostou ali, escorrendo saliva em suas
pregas, Jungkook não aguentou mais, sentindo-se piscar desesperadamente,
louco para engolir aquele pau dentro dela.

— Amn... Jimin-ssi... por favor... — clamou. — Por favor, deixe eu me


mover, não estou aguentando mais...

O Park afastou o rosto levemente dali, ainda masturbando o caralho do


garoto com a destra, para sorrir e dizer:

— Você foi tão obediente, bebê... Seu senhor vai deixar que você se mexa
agora.

Então, deu um selinho na nádega direita e em seguida voltou a lamber com


vontade o cuzinho que piscava pra si. O Dom se deliciava na lubrificação
docinha e nos gemidos escandalosos que Jungkook soltava ao ser chupado
ali. Ainda não havia se dado o prazer de chupá-lo lá atrás, de sentir seu
sabor. E agora, era como se a mistura mais deliciosa explodisse em sua
boca.

O gosto do Jeon era como o seu aroma: néctar de ameixa e maçã


misturadas. Cítrico, suave e delicioso.

Sem demora, colocou a pontinha da língua no buraquinho pequeno,


forçando-a mais pra dentro, até que pudesse estocá-la, simultaneamente às
bombeadas que sua mão dava no pau do submisso. Fora exatamente pra isso
que tinha ordenado que Jeon se abrisse pra ele, pra que suas mãos pudessem
se ocupar de masturbá-lo, enquanto chupava suas pregas, sem precisar usá-
las para separar suas bandas. O brat segurava as próprias nádegas com tanta
força, que as pontas de seus dígitos ficaram brancas.

Foi aí que Jungkook perdeu a linha. Os cantinhos dos olhos ficaram


úmidos, o rosto ardeu, os quadris rebolando na cara do Dominador,
tentando amenizar aquela coisa dolorida que era a vontade de gozar forte. O
fato de ainda estar vestindo a camisa branca, ainda que esta estivesse toda
enrolada em seu peito, fazia seu corpo ficar ainda mais quente. O som de
sua voz era grossa, mas não deixava de ter um tom completamente manhoso
e submisso, o que atiçava ainda mais Jimin a dar-lhe o que queria.
O lúpus masturbou o caralho do garoto com ainda mais velocidade,
enfiando a língua aveludada no buraco apertado, no mesmo ritmo; sua
saliva pingava ali, molhando mais ainda a entrada sedenta.

— Vem pra mim, meu bratzinho... goza pro seu domador... — ordenou com
a voz rouca, logo voltando a estocar o rabo do outro com a língua.

E Jungkook não resistiu àquela ordem. Não resistiu àquele tom autoritário,
não resistiu àquelas carícias fodidamente maravilhosas. Soltou as próprias
nádegas e gemeu e puxando os pelos do tapete entre seus dedos,
arrancando-os. O baixo abdome formigou, os dedinhos dos pés se
contorceram, os lábios se separaram, e um grito mudo morreu em sua
garganta seca. Gozou com força e intensidade, vindo-se na mão pequena do
Park, que parecia ainda menor rodeando o pau grande do alfa.

Jimin aproveitou a porra melada em sua mão, para deslizar mais facilmente
sobre o pênis alheio, e quando viu o orgasmo do garoto acabando, apertou
bem a região abaixo da glande, de modo que todo o sêmen fosse expelido,
como se espremendo o membro do outro.

Jeon tinha a respiração acelerada, o sangue correndo rápido abaixo da pele


clara, que em várias partes, já se começava a ficar avermelhada, por conta
dos chupões dados pelo Dom.

— Pode descansar, garotinho — disse o Park com a voz leve. — Vou ao


banheiro lavar a mão.

Jungkook sequer teve forças para contestar, seu orgasmo fora bruto o
suficiente para deixá-lo petrificado por alguns minutos. Ficou encarando os
pelinhos do tapete, até que decidiu rolar preguiçosamente por ele e ficar de
barriga pra cima, removendo a camisa que ainda tinha no corpo, para
diminuir o calor. Passou a encarar o teto, sua mente era como um quadro
em branco. Não conseguia pensar em absolutamente nada, parecia que
Jimin tinha deletado sua memória.

O Dom então saiu do banheiro, terminando de secar as mãos na bermuda de


pano, deleitando-se com a visão do garoto nu e destruído no chão. E aquela
não seria a primeira vez que eles fodiam no chão, realmente.
— Hey, bebê... — Jimin chamou com a voz doce, ajoelhando-se ao lado
dele. — Deixe eu te limpar... — falou já deslizando um lenço umedecido no
pau gozado do outro.

O brat sorriu genuinamente, virando-se de lado e aí deslizando a mão para


capturar o membro ainda duro do lúpus.

— Deixe eu retribuir, por favor, hyung... — pediu com os olhinhos


brilhando.

O moreno deslizou os dedos pelo pulso do mais novo, como se numa quase
restrição. Não impediria o garoto de massagear seu pau coberto, mas
também não o deixaria tão livre pra fazer como bem quisesse.

— O que você acha... — começou a sugerir Jimin — de me assistir batendo


uma pra você, uh? Eu gosto muito de te admirar... E seria ainda mais lindo
ver sua carinha toda suja com minha porra... — provocou com a voz
aveludada. Nem parecia que estava falando algo tão obsceno, usando aquele
tom tão gentil.

Jungkook resfolegou, umedecendo a boca, excitado outra vez. O menor


levou o dedão até a borda dos lábios do ruivo, deslizando o dígito ali, que
logo foi maliciosamente mordiscado pelo garoto.

— Porra... — Jimin resmungou inquieto. — Como eu queria te colocar uma


spider-gag e foder fundo a sua garganta, sem que você pudesse me parar...
— declarou direto, encarando o de fios vermelhos, com intensidade.

— E por que não coloca, Jimin-ssi..? — retrucou com a voz baixa, soando
tão sedutor quanto o moreno. — Quero sentir você inteiro, até ficar sem
fôlego...

O Park deu um sorriso lateral e orgulhoso, para em seguida deixar um selar


na testa do alfa.

— A Spider gag é perigosa, pequeno... — explicou. — Nós ainda não


transamos dentro de uma sessão, e não sei bem o limite de tempo que você
pode aguentar sem ar. A spider gag acaba tendo nuances fortes de Breath
Play, e você não vai poder falar com meu pau enterrado na garganta, para
que diga sua palavra de segurança.

— Eu não posso apenas dar dois tapinhas nas suas coxas, quando precisar
que você pare..? — perguntou massageando mais gostoso o pênis alheio, no
intento de persuadi-lo, na maior cara de pau.

— Melhor não — o outro respondeu, quase abalado, mas então se afastou e


sentou no estofado; abandou o lenço umedecido na mesinha de canto,
jogando pra trás os fios lisos da franja, e então apoiou os cotovelos nas
próprias coxas, cruzando as mãos uma na outra, de forma controlada. —
Vamos fazer sua primeira sessão com apetrechos em breve, neném... Não
fique tão ansioso. Yoongi e seus submissos estarão no quarto ao lado,
prontos pra ajudar, caso algo ruim aconteça...

O de cabelos cereja armou um biquinho contrariado na face, com a


expressão comicamente indignada. Ele se levantou do chão e empurrou
levemente Jimin para trás, fazendo-o descruzar as mãos e encostar-se no
sofá, para que pudesse sentar-se livremente em seu colo, massageando os
ombros do lúpus, enquanto o encarava de perto, estando por cima dele.

— Como me pede pra não ficar ansioso, hyung? Tem ideia de quanto estou
esperando por isso? Tem noção de como é difícil estar acordando e indo
dormir debaixo do mesmo teto que você, sem fazer nadinha? — perguntou
chateado. — Jimin-ah, não existem motivos pra que a gente precise ter
pessoas aqui, eu confio em você. Não é como se fôssemos estranhos um pro
outro, sei que você não vai ultrapassar nenhum limite. É só pegarmos leve
na primeira vez. Por favor, hyung... Por favor... — pediu tão manhoso como
podia, estava claramente implorando.

— Mas bebê, se eu fosse um aproveitador, um abusivo, eu não deixaria isso


explícito de cara — explicou. — Uma pessoa abusiva não dá muitos
indícios de como ela é realmente, pelo contrário; esse tipo de gente atua de
modo tão convincente, que se passam por verdadeiros príncipes
encantados... E se você estiver enganado em relação à mim, uh?

O de cabelos cereja fez um bico ainda maior. Sabia que Jimin estava certo,
mas duvidava muito daquela possibilidade. Naquele momento, o ruivo
parecia uma criança birrenta, sentado no colo de seu tamer, enquanto este
alisava carinhosamente suas coxas, fitando-o de baixo, com devoção clara
em seu olhar; estava completamente enfeitiçado e afetado por Jeon
Jungkook, sentindo coisas que há muito não sentia.

E assim Jimin não era capaz de resistir, realmente. Ele ficou encarando
aqueles olhos negros pidões, o rostinho infantil, o biquinho montado
naquela boquinha fina e deliciosamente beijável. Realmente, não havia
motivo pra toda aquela preparação, não eram desconhecidos, afinal.
Estavam até mesmo sob o mesmo teto, ficar adiando era apenas uma tortura
das grandes.

— Vamos lá pra cima...

O acerejado então deslizou de seu colo e ambos levantaram do estofado. O


Park lhe estendeu a destra e então enlaçaram os dedos, subindo em direção
ao segundo andar.

Jimin os levou para a suíte, onde sentiu o Jeon na ponta da cama, e foi até
sua cômoda, capturando uma caixinha de veludo quadrada preta, e a levou
até o garoto.

Jungkook observava a tudo com atenção, os olhos brilhando. Claro que o


pau duro do moreno, aparecendo pelo tecido fino da bermuda, atraía seus
orbes como um ímã, mas tentava ver o que tinha nas mãos do outro,
principalmente.

Quando o dominador abriu a caixinha de veludo frente aos seus olhos, o


ruivo segurou um sorriso e sentiu o coração palpitar.

— Essa é a minha coleira? — perguntou extasiado, a voz completamente


deleitosa. E com os olhinhos pidões, parecia pedir permissão para tocar o
objeto de couro vermelho descansando na caixa de veludo negro.

— Sim — o mais velho assentiu, movendo a cabeça pra cima e pra baixo,
com um sorriso genuíno estampando os lábios grossos, enquanto dava
permissão pra que seu mais novo submisso tocasse o acessório. — Comprei
na cor vermelha, pra combinar com seu cabelo. E também preferi esse
modelo com rebites, ao invés do modelo liso tradicional, justamente porque
queria que sua coleira fosse tão única quanto seu jeitinho...

Jeon sentiu as bochechas arderem e não conseguiu olhar pro Park, então
manteve os olhos na coleira estilosa em suas mãos, analisando-a, dessa vez
sem conseguir impedir seu músculo da face de se repuxar em um sorriso
lindo.

— Ela é minha? Ou se a gente terminar, vou precisar entregá-la de


volta..? — perguntou curioso. E então ficando mais sério, finalmente
encarou o mais velho. — Li num blog, que quando um sub e um Dom
rompem a relação, a coleira é devolvida...

— A devolução da coleira representa o rompimento da relação D/s entre


aquelas duas pessoas, sim — explicou. — Mas não vamos discutir isso
agora. Não vamos terminar nada agora, nós mal começamos... — olhou
doce para o ruivinho, deslizando então o indicador pelo queixo dele, suave
como o toque de uma pluma.

— Mas você sempre enjoa dos submissos, hyung — disse com um toque de
chateação na voz. — Você não passa mais que três meses com ninguém,
então não é como se isso estivesse longe, já começamos isso há semanas,
então...

— Você está errado. Nós começamos isso há três anos — disse firme,
encarando-o intensamente com o olhar felino. — Eu te quis desde a
primeira vez que te vi, Jungkook. Eu sempre guardei o que sentia, pra mim,
porque adoro você e não queria correr o risco de estragar as coisas entre a
gente. Gosto de você e gosto da nossa amizade. Você me tão faz bem, eu já
falei...

Jungkook mordeu o lábio e sentiu o rosto queimar. Desviou seu olhar pro
chão e ficou lutando contra si mesmo, pra não se jogar na cama e começar a
girar sacudindo os braços e as pernas, dando gritinhos animados de
excitação.

— Vou colocar a coleira em você... — o lúpus avisou gentil, enquanto se


punha atrás dele e pegava o objeto de couro, posicionando-o no pescoço
fino. — Esses rebites não são afiados, percebe? Escolhi assim, justamente
pra não te machucar, caso você movesse de mal jeito ou algo assim... —
sussurrou, enquanto fechava o acessório em sua nuca de cabelos bem
aparados. O Park viu uma pintinha ali e deu um beijinho nela, carinhoso,
arrepiando os pelos do corpo alheio.

Depois de suspirar e fechar os olhos, Jeon respondeu:

— Agora é oficial, certo? — murmurou. — Eu sou seu e você é meu...

— Nos pertencemos... — o lúpus disse ao pé do seu ouvido, sedutor,


massageando seus ombros.

— Eu quero você... — o ruivinho cochichou de volta, inebriado.

Jimin então se levantou num movimento rápido e elegante, parando na


frente do garoto, que estava sentado na cama. Com o abdome trincado
exposto, brincou o elástico da cueca em sua cintura, posicionada bem na
altura do rosto alheio.

Jungkook ficou encarando aquele volume escondido embaixo dos tecidos,


ao mesmo tempo que observava bem as entradinhas nas laterais do abdome
do ex-militar. Aquilo era sexy pra um santo caralho. Fazia sua boca salivar.
O corpo de Jimin era magro, mas era tão perfeitamente esculpido e com
detalhes instigantes, que deixavam o mais novo embasbacado e com um
tesão fodido. O baixo abdominal do moreno era muito liso e esticadinho, e
veias grossas e saltadas enfeitavam a região, algo típico de quem tem o pau
veiudo. E realmente era.

— Você quer me servir, uh? — o moreno disse com a voz aveludada e


expressão provocadora.

— Quero tudo o que você quiser, hyung...

— Tsc, tsc, tsc... — o mais velho estalou a língua nos dentes, sacudindo a
cabeça, reprovador, enquanto deslizava a calça e a cueca pelo quadril, de
uma vez só.
O ruivo não teve como dar muita atenção ao pênis alheio durante o cio, pois
a urgência pela penetração o impedia de prestar atenção nos detalhes. Mas
agora, vendo o ali, tão de pertinho e com calma, podia apreciar cada
pedacinho daquele homem que mais parecia a porra de uma escultura, de
tão perfeito.

— Meu senhor. Quis dizer, meu senhor... — o acerejado corrigiu-se.

— Bom garoto... — parabenizou. E aquela frase fez Jungkook sentir uma


corrente elétrica imaginária percorrer por todos os seus poros, os olhos
presos no caralho pesado que pulou em sua face.

Ao ver o membro alheio, imediatamente a boca do mais novo salivou.


Apoiou as mãos nas coxas duras do Park e levou a língua até a glande
arroxeada, lambendo-a devagar. Mirou o rosto do dominador, que ao
primeiro contato com sua boca, havia suspirado e apertado os olhos.

— Eu não disse pra você me tocar ainda, apressadinho... — a voz


melodiosa tinha tom repreensivo brando.

Imediatamente o Jeon abandonou o pênis alheio, afastando seus lábios dali,


para encarar o dominador com expectativa, aguardando suas ordens,
mordendo o lábio pra tentar se controlar.

Jimin então apoiou um joelho na lateral de seu quadril, e depois o outro,


sentando-se em seu colo e apoiando as mãos nos ombros largos do mais
novo. Jungkook já começava a ficar duro de novo, o que não era difícil,
agora que tinha o Park sentado em cima dele e com a bunda gostosa
roçando em seu membro.

O dominador encostou suas testas e segurou uma das mãos do garoto,


levando-a até seu membro duro.

— Me toca — disse autoritário, mas exalando um suspiro.

O ruivo então apertou a carne dura do sexo alheio em sua palma, ainda sem
desviar seu olhar do lúpus. Subiu e desceu a mão com cuidado, observando
bem as expressões no rosto do outro, embebedando-se nelas.
O tempo travou. Eles ficaram se encarando intensamente, como se numa
guerra de olhares, para descobrir quem desviaria primeiro. Mas foi ao
mesmo tempo que os lábios se encontraram, encaixando-se com facilidade.

Jungkook não conseguiu evitar suspirar na boca do lúpus, deslizando a


destra no caralho alheio, sentindo a carne tesa pulsar em sua palma. Não era
fácil se comportar quando tinha Jimin tão sedento sobre o seu corpo
daquele jeito gostoso, estando livre para apalpá-lo com tanta vontade, que o
fazia querer derreter.

E é claro, Jimin ainda tinha o pau duro e pronto para fodê-lo. Jungkook não
havia se esquecido disso. Alguma coisa acontecia dentro dele, quando
sentia o dominador duro pra si e por si. Abrindo os olhos levemente durante
o ato, pôde observar a face do moreno. Continuou a masturbá-lo, sentindo
um imenso prazer nas feições desejosas e nos gemidos grossos que o
moreno emitia, enquanto começava a rebolar inquieto em seu colo, roçando
a bunda em seu pau semi desperto.

Suas bocas não desgrudavam nem por um segundo. Não queriam se afastar
sequer para tomar ar, o que os deixava ainda mais sem fôlego. Jimin chegou
o corpo mais pra frente, encaixando sua entrada exatamente em cima do
pênis duro do mais novo, sem parar de beijá-lo de jeito nenhum; abriu os
olhos também, e levou a canhota diretamente para o pescoço do submisso,
enfeitado com a coleira vermelha de rebites, adorando ver o acessório nele.
Só aquela peça já lhe causava um tesão tremendo, porque além de
visualmente sexy, representava a submissão consensual do outro a si. E
nada o instigava mais do que aquilo. Acabou apertando levemente o
pescoço do brat com a ponta dos dedos grossos, recebendo um gemido
aprovador em resposta, que o fez sorrir.

— Você gosta, não é? Adora ficar sem ar, ser enforcado, ficar sob o meu
controle... — indagou provocador, sondando o terreno.

— Gosto... — respondeu Jungkook com um suspiro, encarando-no. — Faça


o que quiser comigo... Me deixa ser seu brinquedinho, Jimin-ssi... — disse
em tom levemente manhoso, mas ainda assim, intenso como fogo.
O dominador gemeu e revirou os olhos, ficando louco e rebolando com
mais afinco no pau alheio, por causa do teor da declaração alheia. Em
resposta, o brat abusado passou a punhetar o membro grosso do lúpus mais
rápido e mais apertado, deslizando o dedão sob a glande e usando o líquido
pré-seminal para lubrificar a felação. Mas aquilo não era o suficiente.
Então, audacioso, Jeon levou a mão as lábios, pondo-a entre o rosto dele e o
do Park, para lentamente esticar a língua pra fora e lamber a própria palma,
como um felino; O mais velho ficou hipnotizado observando o ato alheio. E
então viu o garoto levar a palma lubrificada com a própria saliva, de volta
para seu pênis teso, que imediatamente começou a pulsar na mão grande do
sub.

— Puta que pariu, garoto... — disse o mais velho num meio rosnado
mesclado a um gemido excitado pra cacete.

Jungkook sorriu ladino, descarado e provocador. O ruivinho não era pra


brincadeira.

— Quero te dar tanto prazer, hyung... Goza na minha mão...

— Não é que assim que se pede, seu malcriado... — Jimin brincou, com a
voz aveludada, dando um aperto mais forte nas laterais do pescoço do
garoto.

— Por favor, goza pra mim, meu senhor... Eu imploro... Me deixa sentir sua
porra — corrigiu falando arrastado.

Com um sorriso aprovador, o Park deslizou a mão do pescoço alheio para


os fios de cabelo vermelhos, tomando o controle da cabeça e, com isso,
direcionou o rosto do garoto para um de seus mamilos entumecidos,
deixando claro o que precisava agora.

Sugando o ar, Jeon abocanhou o mamilo entre os lábios, deslizando a língua


semi áspera com vontade, ao que o dominador se empinou todo com a
carícia e jogou a cabeça pra trás, fitando o teto, gemendo de prazer. E cada
gemido do moreno, era como uma pontada no âmago do submisso,
completamente satisfeito em dar tanto prazer ao seu dono.
— Isso... Assim, bebê... — Jimin sussurrou, respirando rápido e
rebolando. — Agora bate mais rápido... — disse suave, mas era uma ordem.
E assim Jungkook obedeceu, apertando o pênis duro na mão e a
movimentando acelerada sobre ele, enquanto sugava mais forte o mamilo
alheio pra dentro da boca, mordiscando e sugando, enlouquecido. — Hmn...
porra...

E então o dominador gozou, o cacete teso pulsando desesperado na destra


do brat, escorrendo porra entre os corpos dos dois. Aos poucos, o Park foi
deixando de rebolar, e aí volveu o rosto para fitar o companheiro, que ainda
apertava a sua glande na ponta, esperando os últimos resquícios de porra
serem expelidas.

Maldoso, Jimin levou a canhota pra trás do próprio corpo, abaixo dele e
capturou o falo duro do garoto, direcionando a cabecinha para sua entrada,
deslizando ela ali, recebendo aí o olhar surpreso e vacilante do Jeon.

— E isso que você quer, neném? — perguntou ao mais novo, baixinho e


soando provocador, embora estivesse tão destruído pelo orgasmo forte, que
sua voz estava ofegante. — Quer foder o seu alfa, hmn?

— Sim... — o garoto respondeu em tom meio desesperado. — Sim, por


favor, Jimin-ssi...

— Então eu vou quicar bem gostoso em você... — o lúpus respondeu com


um sussurro. — Mas não hoje — declarou, e aí se levantou do colo do
garoto, que arregalou ainda mais os olhos redondos brilhantes, fazendo uma
carinha de pobre coitado, assim como um cachorro caído do caminhão de
mudanças.

— Ah, Jimin... Isso não se faz — cruzou os braços e fez um bico. — Isso é
maldade, poxa! Por que está me castigando assim?

O menor deu uma risadinha sacana e matreira, jogando os fios negros da


franja pra trás, o encarando divertido.

— Porque tenho quase certeza que você é um masoquista, então não vou
conseguir te manipular a me obedecer, ameaçando te machucar — foi
direto. — Então preciso de uma carta na manga. Sei que você nunca fodeu
um alfa macho e está louco por isso, então...

— Você é ardiloso — o garoto resmungou, ainda chateado, mas


entendendo.

Jimin deu uma piscadinha zombeteira e limpou o esperma que sujava ele e
Jungkook, com a cueca jogada no chão. Depois se jogou de costas na cama,
relaxado, e fez um sinal pra que o ruivo fosse até ali se deitar com ele, o que
o garoto fez sem oferecer resistência. O moreno trouxe a cabeça de fios
vermelhos desbotados para seu peito, acariciando os fios tingidos entre seus
dedos, enquanto ambos tentavam recuperar as respirações.

— Você ainda está me devendo uma gozada na cara... — Jeon disse


naturalmente. — Era pra gozar na minha cara, Jimin.

O Park riu, todo bobo. Realmente, tinha proposto gozar na cara do garoto,
enquanto tocava uma, mas as coisas acabaram acontecendo diferente.

— Faremos isso na próxima, não vou esquecer — prometeu risonho.

— Você realmente sempre cumpre o que promete? — Jungkook perguntou


brincalhão. Sentiu o peito de Jimin vibrar com uma risada gostosa.

— Claro que sim, bebê... Sou um homem de palavra, afinal — disse com
alguma seriedade. — Se eu disser que vou te fazer gozar só te fodendo,
cumprirei com minha palavra — finalizou rindo.

— Você fala putaria o tempo todo... — o mais novo riu, se inclinando para
olhar no rosto do outro. — Isso faz parte de você?

— E você por acaso é algum tipo de santo? — debochou. — Ainda lembro


do nosso cio. Até parece que não grudou no meu pescoço, como um gatinho
ronronando e disse: "Me fode, hyung, por favor, me rasga e..."

— Cala a boca, Jimin — o ruivo disse alto, dando um tapa no peito alheio.
Estava contando com que o lúpus tivesse esquecido daquilo. O Park apenas
gargalhou mais alto, vendo que, finalmente, fizera Jungkook sentir
vergonha.

— Sempre gostei de dirty talk... — o moreno comentou, parecendo perdido


em algum lugar de suas lembranças. — Quando era adolescente, cheguei a
pensar que eu fosse algum tipo de depravado. Eu sentia uma necessidade
gritante de dizer coisas grosseiras e vulgares, quando ficava excitado. Você
pode imaginar o problema que foi...

— Por que? — o ruivo indagou curioso, o fitando suavemente. O menor


estava realmente se abrindo, afinal. — Você assustou algum namorado com
isso? Seu ex-noivo?

— Com Taeyang eu precisava me controlar mais, mas não era como se ele
repudiasse ouvir algumas putarias. Isso pra ele era até aceitável, ele mesmo
dizia um pouco, durante o ato. Como eu disse, todos tem fetiches Kookie,
mesmo que ainda não tenham se dado conta da maior parte deles —
explicou. — Quis dizer durante a adolescência mesmo. Quando comecei a
fazer sexo, depois que passei pelo primeiro cio.

— Eu não perdi a virgindade num cio... — Jungkook revelou com uma


careta.

— Mesmo? — o Park o fitou surpreso. — Por eu ser um lúpus, meu


primeiro cio veio mais cedo que o normal. Eu tinha acabado de fazer 14
anos.

— Whoa... Isso é realmente muito cedo — concordou. — O meu primeiro


cio foi aos 16. Eu não queria perder a virgindade num cio, planejei perder
antes. Então cheguei a ficar com duas pessoas, um cara beta e uma garota
alfa. E eu gostava dessa garota alfa, o primeiro cio dela foi comigo. Então
nós decidimos que ela seria minha primeira parceira de cio também. Só que
meus pais arrumaram um maldito ômega e me obrigaram a... você
entendeu.

— Eles te obrigaram a passar um cio com alguém que você não queria? —
Jimin indagou, levando o rosto para encarar Jungkook seriamente
preocupado.
— Não quero falar sobre isso agora, hyung. Vai acabar o clima e não quero
estragar nosso momento — resmungou. — Te contarei melhor em outra
ocasião. Mas honestamente, eu não suporto meus pais. Eles são ricos. Não é
à toa que mesmo vindo de uma família rica, eu tenha um trabalho de merda
e more naquele cubículo. Mas odeio tanto minha família, que prefiro passar
por algumas necessidades, do que ter de aturá-los. Eles me fizeram
realmente mal, quando eu te contar, você talvez me entenda...

— Hey, hey... — Jimin sussurrou, fazendo um carinho acolhedor na cabeça


de fios vermelhos. — Não te julgo, meu bem. Eu tive uma família
realmente amorosa, embora eles fossem um pouco ausentes, por causa do
trabalho. Mas ainda assim, sei que você tem seus motivos. Não se preocupe
com o que vou achar, ok? — finalizou dando um beijinho no topo da cabeça
alheia.

Jungkook se sentiu extremamente confortável, voltando a relaxar o corpo


em cima do lúpus. Seu pau ainda duro abandonado fazia suas bolas
inchadas incomodarem; queria bater uma pra aliviar, mas ele não queria sair
dali agora.

— Mas volte a me contar sobre você... O que aconteceu na primeira vez que
você pegou pesado no Dirty Talk? — perguntou curioso, o ruivinho.

Jimin deu uma gargalhada.

— Aish... Eu estava com uma ômega fêmea. A mesma com quem tinha
passado meu primeiro cio — contou. — Eu não entendia porque fora do
cio, não estava me sentindo com tesão por ela. Quero dizer, eu sabia que
gostava de alfas, sempre soube. O cheiro me atraía e me deixava de pau
duro. Mas não era como se o cheiro ômega me incomodasse também, só
não me deixava excitado. E eu gostava de corpos femininos, não repudiava.
Só que era uma excitação tão fraca, que acabava se tornando um sexo
mecânico demais, sem paixão ou desejo suficientes. Então tentei um ômega
macho. Foi mais prazeroso, o corpo masculino me atiçava muito. Mas o
cheiro continuava indiferente. Já os betas, por não terem cheiros
específicos, soavam como algo bom, mas não delicioso. Eu sentia
necessidade de dizer obscenidades e transar de modo bruto. Os ômegas e
principalmente as fêmeas, até mesmo as de classe alfa, definitivamente não
aguentavam. Eles ficavam horrorizados com minhas palavras, alguns até se
assustavam, pensavam que eu era um maníaco ou algo assim — disse rindo.
— Com o tempo, percebi que mulheres não me atraíam de verdade,
independente de classes. Ômegas também não me deixavam excitado, então
eu me permitia ficar apenas com betas machos. Foi assim que conheci
Taeyang. Mas um pouco antes de estar com ele, me permiti experimentar
meu primeiro alfa e foi incrível. Então eu só ficava com betas machos
quando não podia ter um alfa macho, era mais como uma necessidade. Eu
estava saindo com um alfa macho, quando conheci Taeyang, mas por ironia
do destino, acabei me apaixonando por esse beta. Mas ele foi o único,
também. Então, digamos que eu seja homossexual; e quanto às classes, só
curto alfas e betas, sou bi-classe.

— Oh... — Jungkook assentiu. — No meu caso, eu costumava ficar com


betas e alfas, fossem machos ou fêmeas. Gosto dos dois sexos. Mas os
ômegas, sempre me causavam uma certa repulsa. O cheiro me deixava
enjoado, com um pouco de náusea. Então sou bissexual e bi-classe.

— Talvez isso seja por causa do seus genes de ômega, não? — sugeriu o
mais velho.

Jeon balançou a cabeça em negativa.

— Não... na verdade, antes do meu primeiro cio, nem eu mesmo sabia sobre
os genes ômegas. Eu tinha cheiro normal, de alfa — revelou, vendo Jimin
encará-lo surpreso. — Quando meu primeiro cio veio, com a febre... bem,
tive um heat. E foi assustador. Não sabia o que estava acontecendo, meu
corpo não deveria estar reagindo daquele jeito. Não me incomodo com meu
cheiro ômega, ele não me enjoa, é só o de outros ômegas.

— Foi por isso que você nunca foi o ativo na relação com um alfa macho?
Antes do primeiro cio, você só transou com um beta macho e uma alfa
fêmea. Depois do cio..?

— Depois do cio, quando fui ficar com um alfa macho, ele não me deixava
ser o ativo. E então nenhum deles deixou, nenhuma vez. Sempre me diziam
que por eu ter genes ômegas e lubrificação, tinha nascido para ser penetrado
— falou revirando os olhos. — Por conta disso, eu até costumava ficar mais
com ômegas fêmeas, que machos.

— Você prefere penetrar? — o mais velho indagou atento.

— Tanto faz — disse dando de ombros. — Gosto dos dois, realmente. São
sensações diferentes, mas me agradam do mesmo jeito.

— Quando você for bonzinho o suficiente... — Jimin sussurrou, rolando


Jungkook pro lado e se pondo em cima dele. — Você irá me foder. Mas
você sabe, não vai comandar nada, só vai obedecer...

— Graças a Deus — o ruivo disse rindo. — Adoro você no comando. Faça


quando achar melhor, hyung. Vou esperar ansioso.

O Park deu um sorriso aprovador e se inclinou sobre o outro, lhe deixando


um beijo suave na bochecha e então sugou o lábio inferior alheio, puxando
a carne entre os dentes. Com isso, Jungkook gemeu e segurou o lúpus pela
cintura.

— Assim não vou ficar mole nunca, hyung. E isso vai ser ruindade, se você
não for me fazer gozar de novo — disse quando o outro soltou seu beiço.

— E quem disse que não vou te fazer gozar de novo? Só falei que hoje você
ainda não vai me foder — riu em tom zombador. — Mas ainda vamos
brincar muito, temos a madrugada toda, bebê... — E aproximando-se do pé
do ouvido alheio, provocou: — Ainda vou te foder inteirinho hoje...

— E o que a gente tá esperando? — devolveu o acerejado, rindo em meio a


um suspiro. — Mas acho que a gente realmente deveria tomar um banho
antes. E trocar esses lençóis — disse com uma careta.

Jimin também sorriu, com a expressão serena e realmente contente. Ele


estava feliz. Feliz pra caralho.

— Eu adoro você... — disse encarando o rosto do mais novo, de modo


maravilhado. — Parece que ultimamente estou ficando louco, por gostar
tanto de você assim... — declarou bobo.
Jungkook ficou com o rosto vermelho. Não sabia responder bem a afeto,
embora sentisse a mesma coisa pelo lúpus.

— Não me faça repetir o que já falei lá embaixo, não sou bom com
palavras... — resmungou sem jeito, mas sem tirar o sorriso bobo de seu
rosto.

Jimin lhe deu um selar na testa, fazendo um carinho em sua bochecha, com
a mão direita.

— Você é um namorado fofinho.

O mais novo arregalou os olhos, chocado.

— Sou seu namorado? — exclamou abismado. — Como..? O que..? Você


nunca pediu nada, Park Jimin! — ralhou.

O lúpus deu um sorriso desacreditado.

— O que você acha que eu quis dizer, quando falei que queria que nossa
relação fosse exclusiva? — indagou em tom meio indignado.

— Pensei que você queria dizer que a gente teria uma relação de D/s fixa e
exclusiva, mas que fora dela era outra coisa.

Jimin bufou e sacudiu a cabeça, como se faz ao ver uma criança fazendo
malcriação.

— É claro que não. Nós não temos apenas uma relação dentro do BDSM,
temos? Nós temos uma relação fora disso também. Nós somos parceiros de
cio. Transamos pela primeira vez nele, mas vamos transar ainda mais hoje
mesmo. No fim das contas, nós temos uma relação muito mais fora do
BDSM, uma vez que nós não tivemos nenhuma prática de bdsm sexual
ainda. Entende o sentido?

— Mas já não dá pra contar como bdsm, tudo o que a gente fez hoje? Quer
dizer, você realmente me dominou e me controlou, hyung. Usei coleira e
tudo...
— Bem, podemos considerar sim — deu de ombros. — O D/s esteve
presente, mas me referi a coisa dos acessórios e tudo o mais. Algo mais
oficial e visual, na masmorra e tudo.

Jungkook não respondeu, apenas ficou encarando o moreno. Então diante


do silêncio do mais novo, o Park voltou a falar:

— Nós estamos namorando, além de sermos Dominador e submisso... Ou


tamer e brat. A não ser que você não queira, Jungkook — disse em tom
cuidadoso, mas claramente insatisfeito.

— Talvez eu não queira — provocou o ruivo, dando de ombros.

O mais velho se levantou devagar, sentando no colchão; ficou encarando o


chão, parecendo meio perdido. Jeon aproveitou para levantar-se também,
indo em direção ao banheiro, mas vendo que o outro não o acompanhava,
parou no vão da porta, cruzando os braços.

— Não vai vir me dar banho? E o meu aftercare, Jimin-ssi? — brincou.

O Park piscou atordoado, se levantando e caminhando até o ruivo, ainda


meio aéreo. Jungkook estava deixando-o confuso.

Mas quando ele chegou na porta, o alfa mais alto não se moveu. Não entrou
no lavatório, tampouco cedeu passagem. Então Jimin o encarou de cenho
franzido, tentando entender qual era a dele.

— Depois o bobinho sou eu, não é? — o mais novo disse rindo, e então
segurou o rosto do lúpus entre suas mãos, de forma delicada, e o encarou
docemente, antes de lhe dar um beijo estalado nos lábios. Eles fecharam os
olhos e apreciaram o sabor dos lábios um do outro, pra depois se afastarem
lentamente, se fitando. — Eu disse que gosto de você, hyung. Como não
vou querer ser seu namorado ou qualquer coisa sua?

O alfa lúpus fez uma expressão irritadiça e cruzou os braços em frente ao


peito.
— Não tenho culpa se você fica me confundindo — disse com uma voz
reclamona engraçada, que Jeon estava se acostumando a ouvir com certa
frequência.

— Eu é que não tenho culpa de você não interpretar bem minhas ações —
devolveu.

— Você tem que dizer as coisas claramente, garotinho — rebateu.

— Já disse que não sou bom com palavras, só com ações, mas que coisa,
hyung.

Jimin bufou, o empurrando da entrada, fazendo o rapaz ir pra dentro do


cômodo.

— Entre na banheira, seu malcriado do caralho — disse estalando um tapa


na bunda alheia.

Jungkook entrou e sentou-se na cerâmica fria da banheira; o tamer o seguiu


logo atrás, ligando o chuveiro em cima da cabeça do acerejado, que deu um
grito e um pulinho, tentando fugir da água.

— Yah! Isso tá gelado! — reclamou puto da vida.

— Isso é um castigo leve, pra você aprender a não me irritar, nem a ficar
me confundindo de propósito — o lúpus ralhou, apertando os olhos na
direção do outro, enquanto sentava em sua frente.

— Tá falando do que? Você faz a mesma coisa. Sabia que quase me fez
chorar, quando veio com aquele papo de: "Eu nunca me apaixono por
ninguém, desde que Taeyang me abandonou"? — imitou a voz do outro, de
maneira cômica. — Pensei que nunca seria correspondido, eu entrei em
pânico, ok? Isso não se faz, você é mais cuzão do que eu, Jimin —
defendeu-se.

— Aish, esse moleque... — o Park resmungou teatralmente. — Não tenho


culpa de você ser burro e não conseguir interpretar os que os outros falam!

— Não sou burro, Jiminie-paboo.


— Você vai ver o "paboo"... — o moreno devolveu, afastando as pernas de
Jungkook e se pondo entre elas, na banheira que enchia. — Já disse que
você anda extremamente abusado? — indagou em tom repreensivo.

— Não é minha culpa que você é um Dom soft demais comigo... —


cantarolou infantilmente o ruivo, dando uma chave de perna na cintura do
Park, trazendo-o mais pra perto.

— Então você não perde por esperar, garotinho. Vou te foder sem nenhum
carinho — e aí voltou a grudar seus lábios nos dele.

— Eu quero ver... — o garoto provocou abusado, entre os lábios do tamer.

Jeon Jungkook gostava de brincar com fogo. Teria de aceitar, quando se


queimasse.

Meus nenês, tudo bem? Eu queria muito que vocês lessem minhas
outras fics, tenho tantas. Qnd eu gosto de um autor, eu já fuço as obras
dele todinhas, pq sei que é mto provável que eu vá gostar do resto.
Claro, é mais fácil qnd o autor tem poucas fics, oq ñ é o caso da tia
Dare, né kakaka mas deem uma olhadinha, sim? A escrita bacana pelo
menos, vcs sabem que eu garanto.

E queria muito pedir que certos leitores que 'broxam' com a palavra
'rola' ou 'piroca' saibam que eu, autora, broxo mais ainda ao ver o
quão imaturos eles podem ser. Qual, é, galera? Essa é uma fic de sexo
explícito e práticas sexuais extremas. Aqueles que não tem maturidade
pra ler algo assim, não tinham que tá aqui. A fanfic está marcada como
"conteúdo maduro". Então ngm é obrigado a gostar, mas pfvr, evitem
os comentários sobre, pq me desmotiva e autor desmotivado ñ atualiza
fanfic. Comenta que tá broxado aí na sua casa, ñ precisa dizer isso
aqui. É CHATO.

POR HOJE É SÓ, PESSOAL:


19| punishment

100k de views em INCANDESCENTE !!! yeeeeeeey ! O cap tá


ultrapassando os 10k de palavras e sinto em informar, que não haverão
mais caps pequenos por aqui, forças kkkk isso pq antigamente, eu
escrevia um capítulo numa tacada só, eu ñ sossegava enquanto ñ
terminasse. Hj já ñ tenho mais essa força de vontade (por N motivos),
então, ao escrever de pouquinho em pouquinho, acaba ficando gigante.

E ahhh, prestem bastante atenção nesse capítulo, tem surpresinha! Eu


explico melhor nas notas finais, LEIAM AS NOTAS FINAIS, É SOBRE
ALGO IMPORTANTE NA FIC, ALGO QUE NÃO TEM COMO
EXPLICAR DENTRO DA NARRATIVA

E um último aviso: A forma como Jimin decide punir e castigar o JK, são
os modos como EU castigaria meu submisso, caso ele fosse um brat. Não
existe um consenso na forma como lidar com brat's, realmente. Se vc ñ
concorda, é só ñ castigar o seu sub assim, manja? kkkkkkkkkkk teve uma
criatura que criticou a história, com argumentos sem sentido, dizendo que
o Jimin aqui era todo "machão". Blz, ponto de vista dela. Mas eu ri né? Pq
o Jm dessa fic é soft demaaaaaaaaais, muito mesmo. Se ela achou isso, ela
leu errado, fazer oq? Vale lembrar que o Jimin de INC foi militar por anos,
e quem conhece militares, sabe que eles costumam ser mais rígidos, por
conta de todo o treinamento duro pelo qual eles passam. Então se o Jimin
PARECE durão algumas vezes, é por conta da carreira profissional dele e
não por ser um Dom. Capische?

Boa leitura

ESCRITO POR HowUdare

— Jimin hyung, nós estamos atrasados! — o de agora cabelos


definitivamente rosados, gritou ao pé da escada transparente.

— Já tô quase pronto, não se preocupa... — Jimin respondeu do segundo


andar, a voz soando como se dentro de uma garrafa, ao longe.
O mais novo bateu o pé no chão, impaciente, bufando irritado. Era a
primeira vez que eles estavam indo juntos a algum lugar e, embora o mais
novo já estivesse ciente da demora de Park Jimin para se arrumar, nunca
precisou esperá-lo pra nada, já que nunca saíam juntos. Nas vezes em que o
ex-coronel o levava até o trabalho, não havia aquela demora, pois como a
loja de conveniências ficava muito próxima à casa deles, o Park ia com a
roupa que estivesse usando no momento, ainda que fosse um simples
moletom.

Agora, sofrendo pela inquietação irritante de ter que esperar o outro,


Jungkook finalmente havia encontrado um defeito sério no homem que,
anteriormente, considerava perfeito. E na opinião do rosado, demorar pra se
arrumar era um defeito grandão!

O alfa fitou a casinha onde Minzy estava contida à contragosto, deixando


clara a sua indignação com a prisão injusta. O gato miava de forma
insistente, contribuindo para que Jungkook sentisse uma vontade louca de
dar um murro no rosto bonito do Park.

Virou-se em direção à escada mais uma vez, para gritar pelo mais velho:

— Por que você tem que se arrumar tanto? — reclamou. — Nós só estamos
indo levar Minzy pra castrar! Não é um desfile ou um encontro, é um
evento muito triste pra um macho. Meu filho vai perder a masculinidade
dele, hyung.

O lúpus imediatamente apareceu no topo da escada, ainda com a camisa


aberta no peitoral, dedilhando os botões, antes mesmo que Jungkook
terminasse de falar. Passou as mãos pelos fios negros, jogando-os para trás,
em seu movimento costumeiro, para então zombar:

— "Por que você tem que se arrumar tanto, Jimin?" — repetiu fazendo
uma voz totalmente distorcida e zombeteira, deixando o mais novo
indignado com a audácia. — Um homem deve estar sempre bonito e
apresentável, Jungkook — declarou abotoando calmamente a camisa clara.

— Eu também sou um homem, mas estou pronto há vinte minutos —


retrucou. — E não tô feio, não!
Desde que se declararam um pro outro, Jeon vinha dormindo no mesmo
quarto que o Park. Fora algo natural. No início da madrugada, quando Jimin
o buscava no trabalho e voltavam juntos pra casa, o mais velho o levava
pelas mãos até o banheiro da suíte, tomava banho com ele, desciam,
jantavam e subiam para o quarto outra vez; aí assistiam tevê e conversavam
nos braços um do outro — geralmente Jimin nos braços de Jungkook — e
então adormeciam juntos. Pela manhã, acordavam abraçados. Um perfeito
grude clichê de início de namoro.

Além do mais, as roupas de Jungkook sempre estavam em cima da cama do


moreno, quando ele chegava em casa. O próprio Park separava as roupas de
dormir do outro, para que o mesmo pudesse vesti-las quando saíssem do
banho. E o desbotado sequer reparava que aquela era uma atitude de total
cuidado e dominância do outro para com ele. Que tudo o que o mais velho
fazia, era de caso pensado e de modo sutil.

Tão sutil, que passava despercebido à sua cabecinha desligada.

Jimin era um belo sonso. Ou um Dominador de respeito.

Mas um fato é que Jungkook observava o ex-militar acordar todas as


manhãs. Via o lúpus girar pelo quarto, por minutos à fio, fazendo as
próprias coisas. E o rosado realmente não conseguia entender porque diabos
o Park demorava tanto, se era só tomar banho e vestir uma roupa.

Jimin jogou a cabeça para trás e gargalhou divertido, fechando os últimos


botões da roupa com os dedos gordinhos, e aí declarou:

— Isso é porque você nasceu lindo e perfeito, não precisa de muita coisa
pra parecer bem — disse tranquilamente. — Você fica bonito até acordando
com a cara amassada e os cabelos pro alto.

— Você fala como se fosse feio... — rebateu Jeon, franzindo o cenho.

— Claro que não. Sou lindo e gostoso — devolveu o moreno, com a


expressão convencida e superior. — Mas você é um sortudo do caralho,
porque é ainda mais bonito que eu — terminou dando as costas e sumindo
no corredor do segundo andar.
Jungkook riu descrente.

— Obrigado pelo elogio, hyung, mas se não chegarmos na clínica


veterinária em — checou as horas em seu relógio de pulso — dez minutos,
Minzy vai perder a consulta. E aí vamos ter que remarcar. E isso pode levar
dias! Um dia a mais, solto por essa vizinhança, e Minzy pode engravidar
umas dez gatas diferentes!

— Vai colocando ele no banco traseiro do carro, as chaves estão penduradas


na entrada da garagem — a voz de Jimin soou abafada no andar de cima.

Jeon então sorriu maldoso, como um vilão de filmes infantis, só faltou a


risada macabra. Seu cérebro apitou imediatamente, lhe dando ideias para
tirar a paz do dominador, do jeitinho que ele gostava.

Rapidamente pegou a casinha onde Minzy estava trancafiado, capturando a


chave do carro e indo para a garagem. Abriu a porta traseira do veículo de
luxo, colocando a casinha do gato no banco de couro e enfiou o indicador
entre as grades, oportunidade em que o bichano segurou seu dígito com as
patinhas e mordiscou sem muita força.

— Hey, se comporte aí dentro, Minzy — falou com o pet. — Não posso


lidar com você e Jimin ao mesmo tempo, fique numa boa, ok? Você não vai
sentir dor. Quando acordar do procedimento, só vai sentir falta de um
pesinho entre as pernas. Mas vai continuar sendo meu filhotinho, não se
preocupe, sim?

E em seguida se afastou, fechando a porta traseira do automóvel preto e


abrindo a da frente. Contudo, Jungkook não entrou pelo lado do passageiro.
Sorrindo malandro, o rosado sentou-se no banco do motorista, clicando no
controle automático para que a porta elétrica da garagem se abrisse e,
enfiando a chave na ignição, deu partida no carro. Com um um dos braços
apoiados no banco do carona e a canhota apertando o volante,
cuidadosamente deu ré no automóvel, até posicioná-lo na direção da rua em
que seguiriam.

Rindo como uma criança prestes a aprontar, capturou o telefone no bolso da


calça de moletom, para então ligar para o celular de Jimin, que atendeu após
quatro toques.

— Eu já tô indo! — o menor resmungou na linha. — Pare de gastar


gasolina à toa e desligue o motor — ordenou.

O que Jungkook prontamente ignorou.

— Sabe, hyung, dá uma olhadinha na janela — disse fitando a mesma,


alguns metros acima.

Jimin o fez, e quando viu o carro do lado de fora, pronto para partir, com
Jungkook no volante, ele arregalou os olhos e levou uma das mãos
pequenas ao peito.

— O que você pensa que está fazendo? — indagou com a voz aumentando
três oitavas, de forma aguda.

— Oh? O que é isso? O carro está andando sozinho? — o mais novo


zombou, pisando levemente no acelerador, fazendo o automóvel avançar
alguns metros, lentamente.

— Jeon Jungkook, você não é louco! — Jimin protestou em pânico.

— Infelizmente sou meio doido sim, hyung, sabe disso — respondeu


tranquilamente. — Se eu fosse você, saia agorinha, pra não perder a carona.

"Carona" era totalmente oposto à realidade, tendo em vista que:

1- O carro era de Jimin; ele é quem levaria Jeon de carona até a clínica
veterinária.

E 2- Jimin é quem pagaria pelo procedimento no animal. Logo, se o Park


não fosse, nem fazia sentido.

Mas Jeon Jungkook era um pentelho implicante e zombeteiro, de marca


maior.

O moreno não respondeu. Apenas saiu de casa desesperado, descendo as


escadas com pressa e atravessou a porta da garagem em menos de meio
minuto.

Quando viu o lúpus na calçada, com a face cômica de pavor, o rosado sorriu
ainda mais satisfeito e pisou com um pouco mais de força no acelerador,
assistindo ao mais velho também acelerar o passo e, afobadamente, alcançar
o veículo, abrindo a porta do carona e se jogando pra dentro, esbaforido.

— Você quer morrer? — Jimin perguntou retoricamente, com a face


desacreditada e olhos arregalados.

Jungkook fingiu que nem era com ele, dando de ombros, para então clicar
no controle automático que repousava em suas coxas, fechando a porta da
garagem; em seguida, voltou as mãos ao volante, trocou a marcha e
acelerou.

— Hey, hey, hey! Tá fazendo o quê? — o moreno ralhou. — Pare o carro e


troque de lugar comigo, você não vai dirigir!

— Hyung, relaxa — rebateu despreocupado, quase sonolento de tão calmo.


— Eu dirijo desde os 16 anos, não se preocupe.

— E daí? — Jimin gritou com o tom fino que sua voz adquiria quando
ficava indignado com algo. — Não importa, você não pode dirigir, apenas
fique ao meu lado.

— E por quê não? — o ruivo desbotado provocou, o encarando de forma


desafiadora, logo após dobrar a primeira esquina. — Já disse que sei dirigir
há quase uma década!

— Não! — negou o Dom, com a voz teimosa, mas obviamente já tinha


perdido aquela batalha.

— Sinto saudade de dirigir. Sempre fui ótimo motorista, mas depois que saí
da casa dos meus pais, as coisas ficaram difíceis, financeiramente falando,
então nunca tive dinheiro pra comprar um carro novo — comentou o
rosado, sem tirar os olhos da direção em que seguiam. — Tive que vender o
veículo que eu tinha, pra pagar pelos móveis, a mudança e depósito de três
meses de aluguel adiantado.
— Humn — Jimin murmurou, contrariado, ao mesmo tempo em que sentia-
se mal de querer privá-lo de dirigir, dado os fatos narrados. — Ao menos
coloque o cinto de segurança, Jungkook, seja menos imprudente... — mas
ao ver que o mais novo não movia um músculo pra obedecer, o mais velho
bufou e se esticou por cima do garoto, com cuidado para não bloquear sua
visão, e puxou o cinto por cima dele, transpassando o corpo magro do brat e
conectando-o no lugar devido.

Quando o ex-militar se afastou, Jungkook lhe deu uma olhadela rápida,


sorrindo.

— Obrigado, hyung — agradeceu.

Cara de pau.

Jimin bufou alto e, olhando pra frente, colocou o próprio cinto de


segurança. Emburrado, cruzou os braços em frente ao peito, e fez um bico
do tamanho do mundo. O moreno odiava ser contrariado, mas o vizinho
parecia que tinha nascido para atentá-lo. Naquele momento, o Park não
estava achando o comportamento de Jeon "bonitinho". Estava ficando
irritado.

— Você fica cada vez mais abusado — reclamou. — Isso vai ter volta,
Jungkook. — O rosado apenas riu, como se não levasse a sério o aviso. —
Vai rindo, pivete... vai rindo — debochou o Park. — Você vai ser punido
por isso e por ter sido um malcriado durante nosso play. Nada está passando
batido.

Jeon parou o carro no sinal vermelho e aproveitou para fitar o Park, no


banco ao lado. Este o mirava pelo canto do olho, bastante mal humorado. O
desbotado não se atreveu a rir daquela vez, mas ainda estava achando
engraçado.

— Eu fui um bom menino durante o play, Jimin.

O moreno se voltou para ele, exasperado. Com isso, o tamer acabou


soltando um rosnado. O lado ômega do rosado se encolheu, mas como o
lado alfa era predominante, acabou não se incomodando tanto. Se o outro
quisesse usar voz de comando, também não daria em nada, pois Jungkook
usaria a sua de volta e eles assim ficariam num embate eterno.

— Como assim, meu filho? — perguntou desacreditado, com a voz ainda


meio em tom de gutural. — Você foi uma peste! — acusou. — Jogou
comida no chão, eu tive que limpar sozinho, seu... seu... seu brat!

Jungkook reprimiu uma risadinha, curvando a lateral dos lábios.

— Tá na hora de um repertório novo pra me xingar, Jimin-ssi — brincou,


sem medo da morte. — 'Brat' já caiu na rotina, e eu sou um brat mesmo.
Brat significa peste em inglês, então, você sabe...

O dominador bufou pesado, descansando a cabeça no encosto do assento,


enquanto massageava as têmporas.

— Onde foi que eu errei? — resmungou. — Olha só como você me fez sair
de casa!? Não pude nem passar um bb cream no rosto. Olha isso aqui! —
bradou apontando pra própria face limpa, onde uma pequena marca de
espinha manchava o rosto quase imaculado, na área da bochecha.

— Te acho mais bonito assim, hyung. Você é lindo naturalmente e sabe


disso, é lindo até sem maquiagem, não sei pra quê tanta preocupação e
alarde — o mais novo deu de ombros, virando o carro numa esquina.

Jimin apenas estalou a língua no céu da boca, resolvendo encerrar aquela


discussão inútil ali. O malcriado seria devidamente castigado e punido em
breve, de qualquer jeito. E sim, ele faria os dois. Castigo e punição. Não
exatamente por estar irritado, afinal, Jungkook só estava brincando, não
fizera nada demais, realmente. Mas o dominador temia que aquele
comportamento no submisso nada submisso, fosse acabar deixando-o
abusado além dos limites, se sempre fizesse o que queria, sem receber
nenhum tipo de represália. E então, a relação dos dois, deixaria de ser uma
de dominação e submissão; porque Jungkook não estaria se submetendo à
ninguém, verdadeiramente.

Como um brat, o garoto só obedecia quando queria, QUANDO LHE ERA


CONVENIENTE; Quando sabia que teria alguma recompensa, como gozar,
por exemplo. Tanto que seus maiores vislumbres de submissão, foram
durante o sexo. Contudo, Jimin precisava ensiná-lo a obedecer ao menos
com um pouco mais de frequência, na relação como um todo e não só no
ato físico.

Não era como se o Park tivesse decidido puni-lo e castigá-lo agora. O


castigo já estava planejado, por conta do comportamento de Jungkook no
age play. E o castigo seria adequadamente prazeroso, funcionando com uma
medida disciplinar. Porém, a afronta com o carro fora grande demais. O
suficiente para uma punição. Então Jimin pediria conselhos a Min Yoongi,
mais uma vez, e se ao fim da semana não estivesse mais com raiva, o
puniria. Mas só se sua raiva passasse. Caso contrário, não faria aquilo. Era
algo básico que um bom Dominador, ou mesmo um Tamer deveria saber:
não punir nem castigar seu sub, quando estivesse com raiva. Teria de
esperar para acalmar-se e não descontar seus sentimentos ruins no outro.

Castigo e punição, eram medidas puramente disciplinares, afinal. É claro, se


o Dom precisava aplicar uma medida corretiva, ele provavelmente estaria
chateado, sim. Mas o foco não era se vingar ou descontar a raiva. Era
apenas repreender, para que aquilo não se repetisse. Então era preciso ser
feito de forma calculada e não de cabeça quente.

Jimin abriu o porta-luvas, pegando o óculos de sol que sempre deixava ali
dentro, para então colocá-lo na face, no intuito de esconder o rosto sem
maquiagem e amassado de sono. Observando Jeon dirigir com apenas uma
das mãos e o outro braço relaxado na janela aberta, o mais velho grunhiu.

— Você poderia pelo menos dirigir com mais responsabilidade, sabe —


disse com a voz contrariada. — Não é seguro dirigir sem as duas mãos no
volante, pode causar um acidente.

Mas o de cabelos tingidos apenas assobiou em resposta, ignorando


completamente o Dominador. O que apenas fez o Park respirar fundo,
tentando manter a calma.

"É a natureza dele, Jimin" pensou. "Não dê tanta atenção a isso, ele não faz
exatamente de propósito, é algo mais forte que ele e você está ciente disso.
Nada que uma lição não seja capaz de controlar."
— Já chegamos, vamos lá — o de genes ômegas disse despreocupado, após
dez minutos na direção, enquanto estacionava. Guardou então a chave e
saiu do carro, abrindo a porta traseira e pegando a caixinha do gato.

O alfa lúpus continuou emburrado, andando com os braços cruzados e com


uma expressão desdenhosa no rosto — não que Jungkook pudesse vê-la, já
que o outro usava óculos escuros enormes, que tapavam quase metade da
cara, de qualquer modo.

Subiram a pequena escadinha do estabelecimento veterinário, abrindo a


porta de vidro, e o sinalzinho soou com a entrada dos dois. Jeon foi
andando na frente, indo em direção ao balcão da recepção, onde repousou a
caixa onde agora dormia o bichano.

— Boa tarde — ele cumprimentou a recepcionista ômega. — Eu marquei


para castrar meu gatinho, às 12h.

— Oh, qual o nome do bichinho e o nome do dono? — indagou a mulher de


cabelos curtos.

— O gato é Minzy e eu sou Jeon Jungkook — respondeu.

— Ok, um momento — a ômega voltou a dizer, digitando no computador à


sua frente. — Aqui está. Jeon Jungkook, marcado para castrar uma gatinha
fêmea, às 12h, com o Doutor Kang — finalizou com um sorriso.

— Não, não, não, é gatinho. É menino — Jungkook falou, meio


contrariado.

A mulher franziu o cenho em confusão.

— Oh... Mas Minzy não é um nome feminino? — perguntou.

Jimin, que até então observava à cena calado, se aproximou mais e


empurrou Jungkook levemente pro lado, tomando à frente ele mesmo.

— Ele queria que o gato fosse gata, então batizou assim. Mas é macho.
Estamos aqui para castrar as bolas dele — disse resoluto.
Jungkook o encarou de olhos apertados, fingindo-se de bravo, pelo modo
que o outro havia falado dele. A recepcionista apenas riu e sacudiu a cabeça
levemente.

— Não tem problema, senhores — a ômega amenizou. — É que a castração


de gatos machos é um procedimento mais rápido e, consequentemente, mais
barato. Vocês não precisarão esperar tanto. O gatinho está em jejum, como
pedido pelo telefone?

— Sim, deixei ela doze horas sem comida e sem água... quero dizer, ele.
Deixei ele — Jeon respondeu.

— Ótimo — a recepcionista assentiu, puxando a caixa do gato, dando uma


rápida checada no animal. Então entregou ao rosado, uma prancheta com
um papel e uma caneta. — Assine o termo de responsabilidade. — E o
ruivo assim o fez.

— Passe o valor no meu cartão, por favor — O mais velho pediu, tirando a
carteira do bolso.

Depois de toda a burocracia necessária, os dois deixaram a clínica


veterinária, já que o procedimento duraria cerca de uma hora à uma hora e
meia, e durante esse meio tempo, os dois foram procurar um restaurante
para almoçar.

— Aonde está indo? — Jimin indagou, ao ver o acerejado caminhando em


direção ao estacionamento.

O alfa de genes híbridos o fitou confuso, com aquela expressão fofinha de


garoto perdido, que fazia sempre.

— Indo pro carro, ué — respondeu, piscando lentamente.

— Pra quê carro? Vamos a pé. Tem vários restaurantes por aqui — o Park
disse óbvio.

— Aí não, Jimin-ah. Vamos de carro, não quero andar — resmungou o mais


novo.
O menor não disse nada, apenas o encarou de cima à baixo e aí puxou o
garoto pelo braço, enroscando-o ao seu, o arrastando dali. E Jungkook
caminhou sem deixar de reclamar.

Andaram apenas um quarteirão, encontrando logo um restaurante bacana de


comida japonesa, onde entraram e sentaram-se à mesa, observando o
cardápio.

Estavam sentados de frente um pro outro, e Jimin abandonou o sapato do pé


esquerdo para, descalço, deslizar o dedão pelo pé de Jungkook, num
carinho sutil por baixo da mesa, enquanto lia o cardápio, atenciosamente.

Jeon deu um leve sobressalto, ao sentir o carinho em seu pé, olhando


rapidamente para debaixo do móvel, levantando o tecido que o cobria. Ao
notar que era o pé de Jimin acariciando delicadamente o seu, ele engoliu em
seco e passou a fitar o chão, com os olhinhos perdidos.

Não era incomum que Jimin lhe fizesse carinho, mas agora que tinham
finalmente se declarado um pro outro e deixado definido, que o que tinham
era um namoro, além da relação de Dom e sub, os carinhos do tamer eram
ainda mais frequentes, e Jeon não sabia se ficava tenso ou se derretia; as
mãos suavam frio, a boca secava, o coração acelerava no peito. Porque a
verdade, era que à cada carinho que o Park lhe dava, Jungkook se via mais
afogado naquele mar de emoções profundas.

Um simples carinho do ex-coronel, o fazia sentir-se especial, adorado,


querido... amado. E ele sabia que aquilo não era amor por parte do outro,
talvez fosse algo mecânico que faria com qualquer submisso que tivesse —
pensava incomodado. Mas ao menos Jimin gostava dele, definitivamente.
Era um sentimento romântico, de qualquer modo.

Entretanto, isso deixava sua cabeça mais confusa. Nunca precisou separar
muito a coisa de ter sentimentos por alguém, versus apenas transar. As
vezes gostava de algumas pessoas, namorava, curtia, mas era tudo
passageiro. Alguns romances eram muito intensos, outros nem tanto. Uns
mais tranquilos, outros mais conturbados — e quanto maior o nível de seu
sentimento pela pessoa, mais possessivo o garoto ficava, fazendo desses
relacionamentos os mais conturbados, pela sua total falta de maturidade
para lidar com o próprio ciúme e insegurança. Ele sabia que geralmente
exagerava naquela questão, mas não era como se pudesse controlar muita
coisa.

Nunca chegou a ser abusivo com ninguém, mas criava discussões absurdas,
que terminavam em um Jungkook furioso e rompendo as relações, no calor
do momento. Pessoas não eram perfeitas e o rosado menos ainda. Mas era
algo que ele cuidadosamente vinha tentando melhorar em si mesmo. Algo
lhe dizia que se ele fizesse qualquer ceninha ciumenta com Jimin, o Dom
ficaria muito, mas muito bravo.

Um movimento foi feito pelo lúpus, chamando o garçom à mesa, o que


despertou Jungkook do transe em que havia se metido. Um pouco
atordoado, viu o atendente assentir e começar a se aproximar.

— Hyung, eu não escolhi nada ainda — avisou ao Park.

Jimin o encarou de modo neutro.

— Eu vou escolher o que você vai comer — disse simples.

O rosado fez um bico e uma caretinha indignada.

— Mas quero escolher o que vou comer, hyung, você nem sabe o que eu
gosto — resmungou.

O alfa lúpus encarou-lhe com uma das sobrancelhas arqueadas.

— Você já está lá em casa há tempo suficiente, para que eu note suas


preferências. Você gosta muito de massas e qualquer coisa com farinha,
carboidratos de modo geral — disse com propriedade, fazendo Jungkook
fitá-lo surpreso, afinal, o ex-militar havia acertado em cheio. O mais novo
realmente adorava massas, era seu tipo de comida favorita. — Além do
mais, mesmo que eu não soubesse, você não está merecendo escolher nada.
Então considere-se de castigo a partir de agora.

O garoto fez uma expressão contrariada.

— Isso não é justo.


— Justo? — Jimin repetiu debilmente, soltando uma risada sarcástica
depois. Então o garçom chegou na mesa, e o tamer ignorou Jeon, dando
atenção ao atendente.

— Boa tarde, senhores. Prontos para pedir? — o funcionário indagou com o


pequeno tablet eletrônico a postos.

— Eu quero 20 peças de sashimi, 10 de sushi e 20 uramakis, tudo de sushi,


pra mim. Pra ele — disse o moreno, apontando para Jungkook —, uma
porção grande de yakisoba com carne de cordeiro e muitos legumes. E por
favor, uma taça de vinho branco, não muito doce. A safra que você me
recomendar, está bom.

O garçom assentiu e após um leve aceno de cabeça, se retirou.

— Não é melhor pedirmos a sobremesa junto? O restaurante está cheio e


temos só 45 minutos restantes apenas, hyung — o mais novo sugeriu. O
Park assentiu e então fez sinal para que o garçom retornasse à mesa. Então
Jungkook avisou ao lúpus: — Eu quero quatro harumakis de chocolate.

— Por favor, traga junto com a comida, um koni de frutas — Jimin ordenou
ao garçom, quando este se aproximou. Então dispensou o atendente, com
um movimento de mãos, em seguida pegando seu celular no bolso,
começando a teclar nele distraidamente.

Jungkook franziu o cenho e fitou o Park, confuso demais.

— E os meus harumakis de chocolate, hyung?

O moreno rolou os olhos da tela do celular, para mirar o mais novo e seus
olhinhos redondos brilhantes, sentindo-se tentado a parar com aquela coisa
de punição, e mimá-lo muito. Mas não podia. Realmente não podia.

— Eu vou comer o koni de frutas, mas não tem sobremesa pra você,
Jungkook — respondeu o encarando com seriedade. — Já falei que está de
castigo. Ou melhor, você está sendo punido. É pra que você se envergonhe
do que fez mais cedo.
O mais novo ficou surpreso. Pensou que seus castigos, seriam algo como
não poder gozar, ou não poder beijar o Park enquanto transavam, coisas
daquela natureza. Quanto às punições, imaginou que fossem algo como
ficar sem receber carinho ou aftercare. Mas tirar sua sobremesa, já era
sacanagem. A sobremesa era algo muito importante. Não se brinca com a
comida de um homem.

Chateado, Jungkook deslizou na cadeira, ficando com a postura toda errada,


com uma carranca contrariada no rosto. Viu o Park digitando algo
furiosamente na tela do próprio telefone, imaginando que ele estaria
conversando com alguém, o que apenas o deixou mais irritado e enciumado,
pensando que o tamer poderia estar papeando com algum casinho ou coisa
parecida, a ponto de ignorar sua presença ali. De novo aquela paranoia
ciumenta em sua cabeça. O que ele tinha ciência de ser totalmente sem
sentido, realmente. Mas seu bico não deixou de ficar maior.

Após alguns minutos, o garçom chegou com o pedido, e Jimin logo


começou a comer suas peças, sem fazer a menor menção de dar a comida de
Jungkook na boca. Aquilo estava cada vez mais chato — o brat pensou,
cabisbaixo. Afinal, por mais que tivesse negado que ele lhe desse comida na
boca na primeira vez, o rosado tinha gostado. Claro, depois dali, o lúpus só
voltou a lhe dar comida na boca, quando fizeram o age play. Mas nos dias
seguintes, o tamer vinha lhe dando comidinha na boca, sempre que podia. E
o mais novo estava ficando um bocado mal acostumado com o mimo.

Ele ficou remoendo aquilo em sua mente, até que, enquanto mastigava a
segunda porção de comida, resolveu perguntar:

— Hyung?

— Uh? — Jimin levantou o rosto para o outro alfa, achando adorável a


forma como o lado direito de bochecha alheia, estava estufado por conta da
comida sendo mastigada.

— Por que você não me castigou pela malcriação nosso play antes? Já se
passaram alguns dias — disse de boca cheia.
O Park levou uma peça de uramaki à boca, com o auxílio de seu jotgaraki, e
pensou em como explicar de forma simples. Quando engoliu o alimento,
fitou o mais novo, que o observava com atenção, esperando pela
explicação.

— Como você já sabe, existem diferenças suaves entre os conceitos de


castigo e punição — falou. — O castigo funciona como modo de disciplinar
um submisso, quando ele, sem intenção, não se comporta. A punição já é
mais séria, e funciona, principalmente, quando o sub desobedecesse de
propósito, consciente de seus atos. Entretanto, você não é um submisso
comum. Você é, realmente, um brat. Se espera que um brat desobedeça de
forma proposital e consciente de seus atos e consequências deste, de modo
que, as situações onde se castigaria um sub, não são as mesmas onde se
castiga um brat. Entende o que quero dizer? Na teoria, um brat sempre seria
punido e não castigado, uma vez que faria tudo propositalmente. Mas isso
seria errado, não se adequaria às finalidades disciplinares de um castigo.

Jungkook fitou pensativo por um momento, a cabeça lentamente


absorvendo a informação, para então assentir em entendimento.

— Além disso — o Park continuou — existe o fato de que eu nunca


castiguei ou puni um brat dentro do bdsm antes. Sempre fui um Dominador,
não um Domador. De modo que fiquei um pouco incerto, sobre como
disciplinar você. Acabei pedindo ajuda a Yoongi, pois ele lida com brats
com uma certa frequência. Mas ele é bastante sádico, mais do que eu. E
embora eu também goste sim, de observar e causar a dor alheia, você é
novo nisso, e não queria que você entendesse errado e se magoasse comigo.
Além do mais, as malcriações que você fez, até então, não me
entristeceram. Achei fofo o modo que você agiu como Little, embora eu
não tenha apreciado nada nada a sua gracinha com o meu carro — disse em
tom repreensivo.

Jungkook sentiu as bochechas queimarem de vergonha, notando que, por


mais que tenha sido divertido pra ele, a brincadeirinha com o automóvel,
impactara o Park de forma oposta.

— Então, no fim das contas — continuou o ex-militar —, precisei


amadurecer algumas opções para castigar e punir você, mas a maior parte
das ideias que Yoongi hyung me sugeriu, te atingiriam de forma dura
demais, então levei alguns dias para chegar a uma conclusão. Como você
aprontou algo hoje, que realmente demonstra sua insubordinação,
ultrapassando o limite que considero "fofo", estou tendo que te dar uma
punição. E ao fim da semana, você terá seu castigo, para que tome atitudes
mais obedientes nos futuros plays. Se você não se comportar quando
fizermos a primeira sessão... Vai ser pior. Como você mesmo já apontou,
sou um Dom muito soft com você — disse sério, apertando os olhinhos. —
Mas não quero transformá-lo num mimadinho. Porque odeio gente mimada.

Jungkook deu um muxoxo cabisbaixo, voltando a comer seu yakisoba sem


o menor apetite. Estava realmente chateado, se aquela era uma punição,
estava funcionando.

Jimin, ao reparar na tristeza do garoto, não sentiu prazer algum. Não queria
realmente puni-lo, mas era uma obrigação. Se não o fizesse, em algum
momento Jeon realmente passaria dos limites em suas provocações, o que
poderia gerar uma situação irreversível na relação deles, algo que o moreno
não queria. Afinal, estava ficando realmente apaixonado pelo garoto, um
sentimento forte demais se desenvolvendo, um gostar genuíno, e prova
disso, era a vontade de fazer carinho no mais alto 24h por dia. Ele era seu
namorado agora, além do mais.

Então ele voltou a acariciar o pé de Jungkook com seu dedão, chamando a


atenção do garoto, que primeiro se sobressaltou levemente, para então fitá-
lo e relaxar, dando um meio-sorriso, sem jeito.

O tamer então aproximou sua destra da dele, que ficou apenas encarando as
suas mãos unidas, sem dizer nada, e com a cabeça baixa.

— Isso é pro seu bem e pro bem da nossa relação, Jungkook-ah — disse
com a voz suave. — Não estou me divertindo em fazer isso, pode ter
certeza. Mas não é só o submisso que tem limites, amor. O Dominador
também tem os dele. E se eu não for capaz de te disciplinar agora,
futuramente você poderá ultrapassar os meus, prejudicando a nossa relação.
E não quero que isso acabe mal. Na verdade, não quero que acabe nunca.
Realmente gosto muito e me importo com você, bebê — disse subindo a
destra para os cabelos macios do brat. — Gosto muito mesmo — repetiu
baixinho.

Aquilo pegou o rosado de jeito. Uma avalanche de sensações surgiram


dentro dele, soterrando sua mente num monte pesado de neve. Uma pontada
de esperança encheu seu peito, aliviando o coraçãozinho magoado, ao
menos um pouco.

— Tudo bem... eu entendo, Jimin-ssi — concordou respeitosamente, com a


voz suave.

— Que bom — o mais velho murmurou, dando um último carinho nos fios
desbotados do garoto, para então se afastar e voltar a comer em silêncio.

Quando foi o momento da sobremesa, Jimin preferiu não olhar na direção


do garoto, pois sabia que este salivava olhando para seu doce de frutas. E se
ele visse aqueles olhinhos pidões, se desmontaria na hora. Porque esse era o
poder que Jeon Jungkook tinha sobre ele, e o Park já estava mais que ciente.

Após pagar a conta — não perdendo o costume de dar uma gorda gorjeta ao
garçom, ainda que sua situação financeira não permitisse tal coisa —, o
lúpus acompanhou o namorado de volta à clínica veterinária para buscar o
gatinho, caminhando lado a lado, tendo a mão delicadamente pousada na
curvatura das costas do mais novo de modo protetor e territorialista, o que
não passou despercebido do Jeon, que embora chateado, adorava a
proximidade do corpo do mais velho ao seu e como o domador se portava
de modo claramente possessivo para com ele.

— Nossos amigos vão jantar conosco lá em casa, no final de semana —


Jimin informou, enquanto recuperavam o felino na clínica.

— Que amigos? — o alfa encarou o outro, de modo indagativo. Não


lembrava de ter amigos em comum com o vizinho.

— Meu amigo Yoongi, seu amigo Hoseok e o sub deles.

— Oh — Jeon soltou surpreso. — Tudo bem — assentiu, abrindo a porta do


estabelecimento e descendo as escadas.
Caminharam até o estacionamento lateral, indo em direção ao carro do ex-
militar. Jungkook destravou as portas com a chave automática, depositando
a caixinha com o gato sedado, no banco de trás. Mas em seguida, ao invés
de entrar pelo banco do motorista, entregou a chave nas mãos de Jimin e,
em silêncio, deu a volta no carro, entrando pelo lado do carona, e colocou o
cinto de segurança em volta do corpo, imediatamente.

O tamer sorriu contido, satisfeito em ver que a represália estava


funcionando como esperava, mirando Jungkook e suas bochechas
gordinhas, sentado no banco ao seu lado.

— Hyung... me desculpa — falou baixinho, sem encará-lo. — Realmente


não pensei que te irritaria tanto, era só uma brincadeira, não ia realmente
partir sem você — levantou o rosto para encarar o mais velho nos olhos. —
Vou tentar não exagerar nas coisas, a partir de agora.

Jimin então deslizou a destra pela coxa esquerda do garoto, sem malícia.
Esticou o corpo e puxou a cabeça do alfa em sua direção com a canhota,
deixando-lhe um selar na testa meio coberta pela franja.

— No final da semana — o moreno disse quando se afastou, dando partida


no carro —, lhe darei o seu castigo. Se você se comportar e for obediente,
em seguida já irei te liberar. Tudo bem?

— Sim, Jimin-ssi. Como o senhor quiser — respondeu manso por fora,


mas tenso por dentro.

Oh-oh. Alguém estava fodido.

A coisa era que Jimin precisava que Jungkook entendesse o porquê não
deveria fazer tais coisas, e aparentemente, esta parte já estava funcionando.
Mas o que ele lhe daria no final de semana, mostraria o verdadeiro tamer
dentro de si. O menino malcriado seria, efetivamente, domado.

E de uma forma fodidamente deliciosa.

[...]
O sininho da loja de conveniências soou. Jungkook estava nos fundos,
colocando o celular pra carregar na tomada, mas pode ouvir perfeitamente a
voz de Jung Hoseok cumprimentando Namjoon e imediatamente engatando
uma conversa com o outro beta.

Após verificar que o aparelho carregava, para que dali a pouco pudesse
avisar Jimin que fosse buscá-lo, Jeon caminhou para a frente da loja, vendo
o Jung com um sorriso grande nos lábios, enquanto ria de algum assunto
com o Kim.

Do lado de fora, a neve caía em flocos finos e de forma leve, como plumas
no ar, enfeitando o chão de concreto com um tapete branco de gelo.

— Você não tem mais o que fazer, não? — o vermelho implicou, se


encostando na parede, de braços cruzados.

— Yah! É assim que você me cumprimenta, fedelho? — Hoseok respondeu,


batendo a neve que se amontoara em seus ombros. — Fazem semanas que
não nos vemos, Jeon Jungkook. Faz mais de um mês. E o que você quer
dizer com "não ter mais o que fazer"? Eu já trabalho o dia todo —
resmungou com um bico.

— "Eu já trabalho o dia todo" — Jungkook repetiu zombando da voz do


outro. — Já que trabalha tanto, vai pagar por esse miojo que tá fazendo no
microondas, né? — perguntou apertando os olhos.

Namjoon deu uma risada alta, cobrindo a boca com as mãos.

— Eu não tenho nada a ver com isso, viu? — o beta mais novo respondeu.
— O Senhor Bum é um mão de vaca do caralho, por mim, você pode comer
e beber o que quiser e sair sem pagar, Hoseok-ssi. Mas se ele descobrir, o
Jeon vai pro olho da rua — alertou dando de ombros.

— Hey, por que só eu vou pro olho da rua? — o garoto indagou com um
biquinho e olhos levemente esbugalhados. — Você também compactua com
isso.
— É, mas o Hoseok é seu amigo. Seu melhor amigo — Namjoon
respondeu. — Eu o conheci através de você, então não é como se a culpa
fosse cair pra cima de mim. Além do mais, quando você não está, Hoseok
costuma pagar pelo que consome.

Jungkook virou o pescoço em velocidade recorde para o amigo, fazendo


uma careta indignada.

— Você é um cara de pau, viu, Jung Hoseok?

O switcher abriu um sorriso maior do que o sol, fazendo graça, e caminhou


em direção ao microondas que apitava no canto, indicando o miojo pronto.

— Aquele velho gordo nem tem como saber — o mais velho dos três
comentou, soprando o miojo fumegante preso em seus jeotgaraki. — A não
ser que tenha colocado câmeras escondidas por aqui.

— Minha nossa, será? — o alfa perguntou alarmado, olhando em volta, nos


cantinhos do teto e entre os armários.

Namjoon pôs-se a rir ainda mais, enquanto limpava o balcão.

— Ele não colocou, Jungkook — o Kim respondeu. — Se tivesse, já teria


descoberto o tanto de maços de cigarro que a Hwasa furta.

— Oh... menos mal — o rosado disse aliviado. Então foi dar a volta no
balcão e a primeira coisa que viu, foi o par de tênis estranhos que Hoseok
usava, fazendo-o montar uma careta debochada na face. — Cara... por que
você se veste tão mal? Olha esse sapato... e essa bolsinha de velha,
pendurada? Minha nossa, meus olhos doem...

— Yah! — o Jung exclamou, tendo Namjoon se curvando pelo balcão, para


espiar seus tênis igualmente. — Você também não é nenhum ícone fashion,
tá legal? Roupas três vezes o seu tamanho, não são exatamente uma beleza,
se você quer saber, parece um desleixado... — acusou. — Além do mais,
esses são tênis Balenciaga. São caríssimos.
— Eu sei que são. Mas continuam feios — Jeon respondeu, tirando a sacola
da lixeira. Já estava quase na hora de encerrar seu expediente, então tinha
que fazer sua parte na arrumação, pra não ficar muita coisa pra Namjoon, na
hora que acabasse o turno do outro.

— Você diz isso agora, mas se tiver a oportunidade de ter um, não vai parar
de usar — o switcher declarou. — Aliás, tente pedir um pro seu alfa. Ele
tem grana pra isso e aposto que vai adorar te mimar.

— Você está com um trabalho que paga tão bem assim, Hoseok-ssi? —
indagou Namjoon. Ele e Hoseok eram colegas, mas não tanto a ponto de
usar o honorífico "hyung", então se referia ao mesmo de modo respeitoso,
com o sufixo "ssi".

— Ah, quem me dera — o outro beta respondeu. — Foi meu namorado


quem me deu o tênis. Ele é como um daqueles CEO's problemáticos de
livros de romance — riu.

— Qual deles? — Jungkook falou, parando na porta dos fundos, antes de


sair pra levar o lixo pra fora.

— O Tae — o beta respondeu. — Ele é um figurão da indústria da moda.


Eu nem sabia disso quando estava com ele antes. Mas depois que
começamos a namorar realmente, ele acabou contando.

— Então você usa esse sapato feio pra agradar ele, é? — o ruivo zombou.
— Que cachorrinho obediente. Pensei que fosse ao contrário e ele quem
fosse o que faz as coisas pra agradar você, já que é submisso seu...

O Jung revirou os olhos em resposta à provocação do mais novo. Já


Namjoon, não entendeu nada.

— Você é um pé no saco, Jungkook — Hoseok devolveu. — Foi Yoongi


quem escolheu minhas roupas hoje, já que ele dormiu lá em casa. E eu não
quis desobedecer.

O Jeon franziu o cenho, encarando o amigo.


— Ele escolhe suas roupas? — perguntou estranhando.

— Sim. Ele é meu Dominador, afinal — o switcher respondeu. — O seu


não escolhe as suas?

Jungkook passou um minuto inteiro encarando o nada, com os olhos


arregalados e um biquinho nos lábios, com a expressão em totalmente
chocada, enquanto repassava todas as noites em que Jimin já chegava em
casa o arrastando pro banheiro, e ele via sua roupa de dormir já em cima da
cama.

— Park Jimin, aquela cobra sorrateira! — exclamou exasperado, ao se dar


conta. Jimin fazia a mesma coisa com ele, e o bobão nem reparava.

Namjoon encarava os dois, sem entender nada do assunto falado. E Hoseok,


por sua vez, começou a rir tanto, que tinha que parar para tossir e enxugar
as lágrimas dos cantinhos dos olhos. Era isso que switcher mais admirava
em Jeon Jungkook: a capacidade que o garoto tinha, de ser engraçado pra
um santo caralho, sem ao menos forçar.

— É tão sutil que você nem percebia, não é? — perguntou o Jung, aos risos.

Jungkook bufou.

— Não, não percebia mesmo — o alfa respondeu meio emburrado. —


Quando eu chego em casa do trabalho, minhas roupas de dormir e até
minha cueca, já estão me esperando em cima da cama. Então ele me arrasta
pro banheiro e me dá banho... — e então o garoto se deu conta do que havia
falado, vendo a expressão indagativa de Namjoon e aí ele se conserta: —
Quero dizer, ele toma banho comigo. Nós tomamos banho juntos — repete
envergonhado, se virando para os fundos do estabelecimento, aproveitando
a deixa para jogar o lixo fora na rua de trás.

Jimin era realmente sorrateiro e manipulador. Não de um jeito ruim, mas de


um modo sacana. O de cabelos cereja se via fazendo as vontades do outro,
sem nem notar. Tinha que admitir, o sujeito era bom naquilo. Realmente
bom.
Rindo quase desacreditado, o alfa entrou no estabelecimento outra vez,
sentindo uma súbita saudade do Park. Não se viam desde mais cedo,
quando o outro o deixara no trabalho. Estava doido de vontade de voltar pra
casa, jantar com seu namorado e dormir agarradinho a ele. Isso, é claro, não
sem antes confirmar que o lúpus realmente escolhia suas roupas,
propositalmente, de modo a exercer sua dominância. Sorriu bobo. Então
apanhou seu celular, carregando na tomada, e abriu o aplicativo de
mensagens, clicando na conversa com Jimin. Este já havia lhe enviado
algumas mensagens.

Hyung favorito

| Me avisa quando eu puder te buscar, Kook-ah.

| Hyung já está com saudades :(

| É muito duro passar o dia longe do meu bebê 😢

A boca de Jungkook só faltava rasgar, num sorriso completamente bobo.


Resistindo ao um impulso de dar um beijo na tela do celular, o alfa
respondeu:

Daqui à dez minutos já pode sair de casa, hyung |

e eu tbm tô com saudade 😞 |

quero ficar agarradinho com você |

e eu tô com fome, Jimin-ssi |

me alimente, por favor |

Ia deixar o celular no lugar e voltar para a frente da loja, mas Jimin ficou
online, e em menos de um quarto de minuto, começou a digitar. Então o
rosado aguardou.

Hyung favorito

| Preparei carne de cordeiro, pq sei q vc gosta


| Yoongi hyung me ensinou a fazer

Jungkook sorriu e bloqueou a tela, sabendo que não era necessário resposta.
Já, já, eles iriam se ver.

Quando chegou na parte da frente do estabelecimento, viu Hoseok e


Namjoon conversando distraidamente, pegando o assunto pela metade.

— Dois namorados... e ainda um alfa e outro ômega — o Kim dizia


desacreditado. — É tipo, o melhor de dois mundos. Você é tão sortudo, que
estou com inveja!

— Mas e quanto à você e o meu amigo Jin? — falou o Jung, de boca cheia.
— Você e ele tiveram aquele encontro?

— Ah... — Namjoon sorriu envergonhado, ficando instantaneamente


corado e deixando as covinhas em suas bochechas aparecerem. — Foi
ótimo. Jin hyung é um cara divertido. É um ômega muito mandão e
desbocado, mas é tão bonito o rosto... — finalizou com um suspiro,
encarando o nada. Jungkook e Hoseok se entreolharam um tanto, antes de
caírem na gargalhada, o beta mais velho quase engasgando com a comida,
tendo que o único alfa ali bater em suas costas para recuperá-lo. — O que
foi?

Os dois amigos continuaram rindo cúmplices e então o sino da lojinha soou,


indicando uma nova pessoa entrando no local. Jungkook virou os olhos para
a porta, ansioso e com um sorriso no rosto, mas murchou como um balão,
ao encontrar um desconhecido ali, ao invés de seu namorado dominador.
Foi como uma pontada em seu pobre coração.

O garoto então se posicionou atrás do caixa, esperando o cliente vir pagar


pelo que comprasse, aproveitando então para anotar no livro de registros, a
quantia com a qual estava deixando o caixa, ao fim de seu turno, além dos
outros procedimentos de fechamento. Todos os funcionários faziam aquilo,
ao final de seus devidos expedientes, uma vez que todos eram responsáveis
pelos valores do caixa, e quando dava alguma diferença no faturamento, era
descontado de seus salários.
O cliente foi até ele, e o garoto passou os produtos pelo biper, finalizando a
compra, de modo cordial e gentil, para então adicionar os novos valores no
registro e enfim sair dali.

— Hey, Kook-ah — o Jung chamou, lhe estendendo um pacote grande e


vermelho. — Comprei isso pra você, dongsaeng — disse com um sorriso.

Jungkook se aproximou para receber o pacote, com as duas mãos


estendidas, e assim que o capturou, arregalou os olhos, com um sorriso
gigantesco no rosto.

— Um pacote gigante só de m&m's vermelhos! — exclamou feliz da vida,


quase chorando de emoção. — Obrigado, hyung — declarou satisfeito,
dando um abraço desengonçado no amigo.

— Encontrei numa bomboniére daquele shopping em Myung-dong — o


Jung contou. — Tinham pacotes de todas as cores. Aparentemente existem
mais pessoas como você, com essa mania de comer apenas uma cor de
m&m's... — falou sacudindo a cabeça levemente em negativa.

Jungkook já havia rasgado o pacote e enfiava um punhado cheio dos


confetis de chocolate vermelho na boca.

— Whoa... — murmurou, com a bochecha esquerda mais cheia, enquanto


mastigava, revirando os olhos de prazer. — Finalmente posso comer na
fartura, sem ter que ficar catando os de uma cor só. Isso é quase como um
orgasmo.

— Me dá um pouquinho? — Namjoon pediu e se aproximou estendendo a


mão.

— Sai pra lá, beta! — o rosado resmungou, afastando o pacote de perto do


colega e, pra garantir, acabou se afastando uns bons metros do Kim, de
modo a proteger seu alimento, com uma pose comicamente defensiva.

Namjoon apertou os olhos pra ele.


— Egoísta! — ralhou, indo até a prateleira de m&m's e abrindo um pacote
para si mesmo. — Também não vou te dar os m&m's vermelhos daqui.

— Não me importo — o alfa devolveu, sacudindo os ombros em desdém.


— Tenho um pacote inteiro de vermelhos pra mim — terminou enfiando
outro punhado das bolinhas na boca.

O sino da porta soou, mais uma vez. E agora, finalmente Park Jimin entrava
no recinto. Usava uma calça preta apertada, tênis, um casaco grande aberto
na frente e uma camisa preta com uma boca vermelha desenhada,
emoldurando presas de vampiro.

Jungkook conhecia aquela camisa. Era sua. Tinha dormido com ela na noite
anterior. E hoje mais cedo, ao trocar de roupa para ir ao trabalho, acabou
deixando-a amarrotada em cima da cama do Park. Porque, é claro, ele
continuava um bagunceiro fodido. Torcia pra que o dono da casa não
entrasse em seu quarto emprestado hoje, porque o cômodo parecia uma
zona de guerra.

— Oi, bebê — o moreno disse com a voz suave, abrindo um sorriso meigo
para Jeon.

— Oi, hyung — disse levando mais um punhado de m&m's à boca.

O Park então mudou drasticamente a expressão e franziu o cenho, seu olhar


descendo do rosto do mais novo, diretamente para o pacote vermelho em
suas mãos.

O tamer se aproximou, em câmera lenta, levando os lábios cheios à


bochecha do brat, dando-lhe um beijinho delicado. Mas espertamente, sua
destra capturou o pacote vermelho das mãos do rosado, se aproveitando da
guarda baixa do rapaz.

— Eu disse ainda há pouco que passei as últimas horas cozinhando carne de


cordeiro pra você, Jungkook — reclamou, com o rostinho decepcionado. —
Não acredito que você se entupiu de chocolate antes do jantar.
O Jeon arregalou os olhos e abriu a boquinha, desconcertado e sentindo-se
culpado demais da conta.

— Mas hyung, eu vou jantar direitinho — justificou-se.

— Como vai jantar bem, se já comeu esse tanto de doce? — repreendeu. —


Se eu soubesse, não teria perdido três horas cozinhando a carne, com a
ajuda de Yoongi hyung ao telefone. Deveria ter deixado você se virar
fazendo um rámen — disse em tom amargo.

— Até parece que não sabe que eu como igual um bebê recém-nascido, de
hora em hora... — O avermelhado murmurou contrariado. Não gostava de
ser chamado a atenção, principalmente na frente dos outros. E ele sentia os
olhares de Hoseok e Namjoon queimarem em cima dele e do Park.

Jimin pareceu gostar menos ainda daquela resposta, então suspirou e olhou
fundo nos olhinhos redondos do mais novo.

— Estou dizendo isso pro seu bem. Você concorda que eu sou melhor para
escolher algumas coisas para você ou não, Jungkook? — perguntou sério.

Envergonhado, o alfa coçou a nuca, sentindo-se bastante imbecil. Jimin


estava certo, afinal. Deveria ter aceitado a bronca de primeira e apenas
assentido. Mas sua boca grande, sempre o fazia resmungar algum tipo de
merda.

Se ele e o Park estavam numa relação de D/s, afinal, era porque concordava
que o lúpus cuidaria dele, tomando a maior parte das decisões por e para
ele. Claro, esse poder tinha bastante limites, os quais o acerejado costumava
deixar claro quais eram. Principalmente porque não tinham uma relação de
total troca de poder, esta era apenas parcial. Contudo, morando juntos, as
coisas pareciam ir se moldando e ele, sem nem perceber, ia entregando cada
vez mais poder ao ex-militar. E por mais insubordinado que Jeon Jungkook
fosse, ele gostava daquela dinâmica mais intensa. Gostava daquele cuidado,
daquele exagero — Jimin podia ser bastante dramático, quando queria.

Mas como a coisa de ser acordado, Jeon entendia que haviam motivos para
que se levantassem no mesmo horário, para que aproveitassem melhor o
tempo juntos, enquanto estivesse morando na casa do Dom. Assim como
agora. Embora Jungkook fosse um homem maduro de 25 anos, que podia
perfeitamente optar por comer um pacote de m&m's ao invés de jantar, sua
racionalidade dizia que era uma puta sacanagem encher a barriga com
aquilo, quando Jimin tinha lhe preparado algo tão gostoso, com tanto
cuidado e carinho. Porque o Park claramente fazia de tudo para dar-lhe o
melhor tratamento e hospitalidade que podia.

Naquele momento, Jeon se arrependeu do vacilo, realmente. Mais uma vez,


o Dom estava certo. Ainda que obedecer alguém, em plena vida adulta,
fosse um saco.

— Desculpe, Jimin-ssi — pediu envergonhado e com a voz baixinha. —


Você está certo. Prometo que vou comer direitinho a comidinha que você
fez pra mim — terminou com pequeno bico.

Então o moreno foi deixando um sorriso satisfeito e orgulhoso moldar os


seus lábios, fechando os olhos como dois risquinhos. E aí segurou o rosto
de Jungkook e deixou um beijinho na ponta do nariz grande, e em seguida
outro no pescoço.

— Está desculpado — respondeu o mais velho, fazendo carinho na nuca do


seu garoto. — Vamos pra casa — pediu se afastando.

O desbotado se virou para tirar o avental e foi para os fundos da loja. Só aí,
foi que o Park notou os outros dois betas ali. Ele acabou ficando sem jeito,
de os dois presenciarem sua bronca em Jeon, então pigarreou e sorriu
forçado.

— Boa noite — cumprimentou gentilmente.

— Boa noite — os betas devolveram em uníssono, porém em tons


diferentes.

O beta mais novo, falou em tom meio desconsertado, devido a dinâmica


que presenciara entre os alfas. O beta mais velho, tinha um pequeno
sorrisinho divertido no canto dos lábios, afinal, sabia sobre a relação D/s
acontecendo ali.
Jungkook então saiu dos fundos da loja, enfiando o celular e o carregador
nos bolsos do casaco que agora vestia.

— Hey, Park — o switcher chamou. — Não fique tão bravo com o JK, fui
em quem deu os m&m's pra ele. Foi mal.

Jimin o encarou sem expressão, tentando decidir entre dar um peteleco na


testa do cara, por estar atrapalhando suas medidas disciplinares com o
ruivinho, ou se apenas entendia aquilo como algo desproposital. Preferiu a
segunda opção e então, mudou de assunto:

— Tudo certo pra depois de amanhã? — indagou, referindo-se ao jantar que


fariam no final de semana e onde Jungkook receberia seu castigo e o
restinho de sua punição. O que Jimin havia preparado envolvia uma certa
humilhação social para o brat, mas aquela era mesmo a intenção.

É claro, o switcher estava mais que ciente do que o AlphaDome faria com o
Jeon durante a visita. E que por isso, o ex-militar precisava da presença de
outras pessoas ali, para aplicar efetivamente a prática. Mas não deixava de
pensar no quão ousado era o Park, por já punir um sub iniciante na primeira
sessão deste. Era um movimento arriscado. Mas sabia que se Jimin
escolhera aquilo, o faria corretamente. Não fora apelidado de AlphaDome à
toa, afinal. E Jungkook não era nenhum frouxo, embora fosse um pouco
sensível. Mas pelo que Yoongi lhe contara, não era como se o Jeon fosse
acabar chateado, no fim das contas. Jimin pegaria muito mais leve do que
Yoongi costumava pegar com Taehyung, por exemplo.

— Eu não perderia por nada — o beta switcher confirmou.

— Vamos, hyung? — Jungkook chamou caminhando pra porta. — Tchau,


bundões — falou com uma piscadinha, pros amigos.

Jimin se despediu com um aceno de cabeça, e seguiu o namorado porta


afora, ambos andando devagar, pisando com cuidado na mediana camada de
neve cobrindo o chão. Não tão sutilmente, o Park enroscou seus dedos nos
do rosado, passando então a caminharem de mãos dadas. Ainda não tinham
feito aquilo na rua.
O Dom sentiu uma sensação quase arrebatadora no peito quando as mãos se
encaixaram e sentiu Jungkook apertar sua canhota, demonstrando apreciar o
toque. A sensação da palma quentinha e macia contra a sua, deixavam-no
fraco. E o moreno achava incrível, o modo como Jeon enfraquecia seu
corpo, sua mente e suas barreiras, de forma tão intensa e fazendo tão pouco.
Estava indiscutivelmente apaixonado pelo vizinho. E o sentimento não o
preocupava, de modo algum; pelo contrário. Era algo quente e acalentador.
O fazia sentir como se, finalmente, encontrasse água, após muito tempo no
deserto.

O mais velho às vezes se pegava pensando, se em circunstâncias diferentes,


talvez até mesmo em outras dimensões e universos paralelos, eles se
apaixonariam do mesmo jeito; e algo lhe dizia que sim. Que não importava
a situação, o tempo, ou os costumes; eles sempre se encontrariam, se
atraindo como ímãs. Talvez até mesmo se ele fosse um fantasma e Jungkook
um garoto vivo, ele se apaixonaria, imediatamente, ainda que esse fosse
claramente um amor impossível. Não importava. O que importava era que
Jeon Jungkook era o ser mais admirável, meigo, divertido e gentil que Park
Jimin já conhecera. Em qualquer realidade que os dois pudessem existir.

Talvez coincidentemente, ou por puro destino, Jungkook caminhava com


um sorrisinho apaixonado estampado no rosto, pensando exatamente a
mesma coisa. Que estava tão caidinho por Park Jimin, que provavelmente
em outras dimensões, ele estivesse apaixonado igual. E quase há pouco, se
dera conta de uma coisa: que sempre estivera apaixonado pelo Park.

Amor não é algo imediato como o interruptor de uma lâmpada. É


semelhante às raízes de uma árvore, que vão crescendo e se arrastando pela
terra, até o momento em que conseguem fincar a planta no chão. E
Jungkook teve três benditos anos para regar aquela planta.

Ele sabia o que estava acontecendo dentro do próprio peito, embora


teimasse em negar o tempo todo, por medo de não ser recíproco. Mas Jimin
insistia em levar seus muros emocionais de defesa em volta de si mesmo,
não deixando-o aproximar-se demais. E aquilo era frustrante. Magoava. E
ninguém gosta de admitir sentimentos por uma pessoa que claramente lhe
bloqueia.
Por conta disso, Jeon jamais admitia pra si mesmo, o que sentia pelo
vizinho. Mas ele sentia muito. Mentir e negar para si próprio, fora um meio
de autopreservação. Só que agora, não haviam mais barreiras. Não quando
Jimin estava sempre em sua frente, de braços abertos, retribuindo seus
sentimentos em dobro, ainda que aparentasse cautela quanto àquilo.

De qualquer modo, era bom demais. E Jungkook pensava que, ainda que
ele fosse amaldiçoado a ser um animal, uma fera, ou um demônio, de
qualquer modo seu coração bateria mais forte pelo sujeito de lábios
carnudos, maxilar cortante e olhos pequenos. Ser ou não ser era uma
questão de ponto de vista. E na sua visão, Jimin seria sempre a pessoa mais
atraente que já vira.

— Vai indo pro banheiro do meu quarto — o lúpus pediu, tirando o casaco
do rapaz, enquanto este empurrava as botas para fora dos pés, quando
entraram em casa. — Põe a banheira pra encher e tira a roupa. Já te
encontro lá, vou só buscar sua roupinha no outro quarto — finalizou dando
um beijinho na nuca do rosado.

Este se virou com um sorrisinho sarcástico na face e, voltando-se de frente


para o outro, sorriu abusado:

— Quer dizer que você vai ficar escolhendo minhas roupas e nem pergunta
se eu deixo, é? — indagou.

Jimin piscou um par de vezes, para então abrir um sorriso tão sarcástico
quanto o do brat.

— Você é meio lento, né? Demorou esses dias todos pra reparar — zombou,
passando a empurrar o alfa para que caminhasse em direção às escadas
transparentes. Jungkook começou a fazer um biquinho indignado, mas antes
que dissesse alguma coisa, Jimin se explicou: — Eu fiz e você não
reclamou. Se você não quiser, não faço mais. Algumas coisas não posso
simplesmente pedir, porque você vai negar por pura birra. Então faço de
forma sutil e vejo se você gosta. E você não pareceu se importar muito, pelo
contrário... — terminou quando chegaram no andar de cima.
— Eu sei, só quis implicar, porque me dei conta disso hoje — comentou
despreocupado o rosado. — E isso porque o tal do Yoongi escolheu uma
roupa ridícula pro Hoseok hyung vestir . Tinha que ver o par de tênis que
ele usava. Parecia uma nave espacial. E foi presente do tal Taehyung. Sabia
que o sub deles é rico?

Jimin fechou os olhos, rindo dos comentários do garoto. Jeon realmente não
tinha filtro, falava o que vinha na cabeça e pronto. Aquilo deveria causar
problemas ao mesmo e certamente causaria problemas na relação deles.
Mas não deixava de ser engraçado, Jimin admirava a coragem. Ele mesmo
acabava sendo meio falso com as pessoas ao redor, pois não queria ser rude
ao criticá-las em sua sinceridade.

Como por exemplo, não sugerir a Yoongi que este comesse um pouco mais
de arroz diariamente, pra ganhar algum peso. Ele achava que o amigo
estava tão magro, que um mero vendaval seria capaz de arrastá-lo para
longe. Mas mesmo com o melhor amigo, o Park não queria ser indelicado.
Então apenas ficava quieto. Bem diferente de Jungkook, aparentemente.

— Eu sei, ele é CEO de uma grife de roupas famosa — respondeu. — Só


nunca entendi bem o que o Hoseok faz. Trans-alguma-coisa? — indagou.

— Transferência de dados. Eu também não entendo muito o que ele faz,


mas é alguma coisa na área de informática, esquisita demais, meio Matrix
— terminou rindo.

— Vai lá encher sua banheira, vai... — Jimin desconversou, abrindo a porta


do quarto de hóspedes onde estavam as roupas do de genes ômegas.

E aí Jungkook entrou em pânico. O lúpus não ia gostar do que veria ali. Na


ponta dos pés, o rosado tentou sair de fininho, mas o Park abriu a porta
rápido demais. O ex-militar, ao acender a luz, arregalou os olhos e se voltou
para o namorado:

— Parado aí! — exclamou. — Jungkook, pelo amor de deus! Passou um


tornado por aqui?

O mais novo riu, sem jeito.


— Oh, é que... — tentou se explicar, coçando a nuca. Mas desistiu. — Não
tenho justificativa pra isso, hyung. Eu sou assim — confessou sacudindo a
cabeça.

O Park suspirou cansado.

— Tem embalagens de m&m's por todos os cantos — falou andando pelo


cômodo. — E m&m's também! Jungkook, por que você não guardou isso
na cozinha? — questionou levantando um pote cheio dos chocolates
coloridos.

— Ah... é que eu esqueci. Eu não como m&m's coloridos. Gosto só dos


vermelhos — disse sacudindo o pacote que Hoseok lhe dera, em frente ao
rosto.

Jimin fez um biquinho quase imperceptível, incomodado por não saber


daquilo.

— Você nunca me contou isso. Nunca nem te vi comer os m&m's, com


exceção de hoje — resmungou. — Se eu soubesse, tinha te comprado um
montão de pacotes de m&m's vermelhos... — Jungkook sorriu de modo
fofinho, fazendo as ruguinhas nos cantinhos dos olhos ficarem visíveis e os
dentinhos da frente avantajados aparecerem. — E já que é assim, estou
confiscando os m&m's coloridos de você. Estou roubando pra mim —
determinou, pegando o pote transparente com os chocolates e o abraçando
contra o peito, de modo protetor, assim como Jeon fizera com os vermelhos
ao fugir de Namjoon.

O maior sorriu e gargalhou, para então dar de ombros.

— Pode fazer como quiser, hyung. Agora vem me dar banhozinho, que eu
tô cansado...

— Banho? — o Park devolveu. — Primeiro você vai limpar esse quarto. E


enfiar essas roupas no armário. Minha nossa, quando você fez essa
bagunça, garoto? Há três dias atrás, eu entrei aqui pra pegar um bocado das
suas roupas e não estava assim...
Jungkook deu de ombros, começando a catar as coisas pelo chão.

— Eu sei lá. Acho que foi hoje à tarde. Não me faz pergunta difícil, Jimin.

O moreno bufou, passando pelo outro alfa e então tomou o pacote vermelho
das mãos dele.

— Vou colocar isso no armário da cozinha — avisou. — E vê se não deixa


mais resto de comida no quarto. Isso dá bicho. Já pensou se uma barata
passa na sua boca, quando você estiver dormindo?

— Então esse seria um problema entre eu e a barata — Jungkook devolveu


impaciente com o sermão.

O de cabelos negros abriu a boca, indignado.

— Esse seria um problema meu também! Eu beijo essa boca aí, garoto! —
exclamou.

— Aish, nessas horas sinto muita falta do Hoseok... — murmurou o


desbotado.

— Como é? — o moreno perguntou de olhos apertados e enciumado.

Mas é claro que Jungkook o fizera de propósito, tanto que sorriu matreiro
com a língua entre os dentes.

— Hoseok hyung ia lá em casa toda semana. E aí ele já entrava catando as


coisas e arrumando minha bagunça. Eu nem precisava de empregada —
declarou com um sorriso vitorioso.

— Isso é se aproveitar das pessoas, sabia? — o mais velho devolveu.

— Tô nem aí — respondeu o alfa, dando de ombros.

— Que bom que você é malandrinho, mas aqui não tem empregado, ok? —
Jimin ralhou. — Arrume sua bagunça — e então abandonou o quarto,
deixando Jungkook sozinho com sua tarefa. Mas não sem antes lhe dar um
olhar enviezado e repreensivo, que fez o mais alto continuar a rir, sozinho
no quarto.

Catando as bolinhas coloridas pelo chão, juntos às embalagens vazias e


rasgadas, ele murmurava:

— Minha nossa, isso é tão divertido — riu-se. — Olha só o biquinho que


esse cara faz, quando contrario ele... parece um patinho filhote, que
coisinha fofa... — sussurrou com um suspiro. Quando fosse desenhar, faria
uma caricatura de Jimin sendo um híbrido de pato, com bico e tudo.

Não haviam mais dúvidas. Jungkook nascera para irritar o Park e tirar um
ótimo proveito daquilo. A relação dos dois estava certinha. O dominador se
derretia todo, quando o ruivinho o afrontava, embora fizesse um bico
gigante e uma careta irritada. Mas era aquilo que mais o atraía no alfa. O
rosado o instigava. Jeon gostava de agradá-lo, mas sem deixar de ser quem
era, sem perder a própria essência ou contrariar os próprios instintos. Jeon
Jungkook era original e destemido. Fofo e inocente. Ao passo em que,
quando se tratava de sexo, era manhoso e safado, um bocado audacioso.
Park Jimin estava irreversivelmente apaixonado por ele. E era mais do que
recíproco.

AAAAAAAAAa 12k de palavras de narrativa soft; e tem gente que fala


que INC só tem sexo e pipipipopopo. Começo de relacionamento é
assim, bicho. Enfim, deixa eu contar do negócio que falei lá em cima;
Vocês viram as partes que pus em itálico no capítulo? Jimin pensando
em como eles dois deveriam ser em dimensões paralelas e JK pensando
a mesma coisa? Eram referências às fics "Assombrado" e "666: A
BESTA", esta última sendo um ABO em parceria com
a YuraSugaLipidio !! Eu já vinha conectando INC e Assombrado há
um tempo, mas uma leitora comentou sobre o quanto o JK daqui
parece com o de Assombrado e quanto o Jimin de A BESTA lembra o
Jimin de Ômega Free da Yura. Daí eu lembrei de uma fic q eu gosto
mto, que conta uma história sad/angst, e que tem uma segunda
temporada contando a mesma história, só que em um universo
paralelo, onde parte das coisas acontecem invertidas. Eu achei a ideia
mtmtmt daora. E na segunda temporada, inclusive, o Jk tem
vislumbres de cenas da primeira temporada, como se fossem deja vu's.
Aí eu pensei "humnnnnnnnn, e se a gente conectar os 3 abos +
Assombrado, como universos paralelos um do outro?"

Então é basicamente isso que vocês estão lendo. Os jikook da minhas


fics Assombrado e Incandescente (abo), os jikook de "A BESTA"
(minha collab abo com a Yura) e os de "Ômega Free" (abo) da Yura,
são basicamente os mesmos, mas em dimensões paralelas, com linhas
temporais IGUAIS. As citações de conexão serão sutis, mas quem for
leitor de todas elas, vai sacar. É isto. Até a próxima att e
MUITOOOOO OBRIGADA pelos 100k de views Continuem
divulgando a palavra de INCANDESCENTE!
20| brat vs. brat
O capítulo ficou monstruoso, então tive que cortar em 2 partes, pra não
ficar cansativo (só aqui tem 11k de palavras)

Não esquece de usar a HASHTAG #JungkookBebêDoJimin no twitter,


pra eu poder ver os comentários de vocês sobre a fic por lá

E VAMO COMEMEMORAR OS 25 ANINHOS DE PURA


PISTOLAÇÃO DA TIA DARE, EM CONJUNTO COM OS 26 DE MIN
YOONGI, YEEEEEEY o/ to atualizando TODAS as fics hoje, como
comemoração pelo nosso aniver. E se alguém tem curiosidade sobre como é
a personalidade da escritora por trás da INCANDESCENTE, é só observar
Min Yoongi kkkkkkkkkk É isto.

SWAAAAAAAAAAAAAAAG

Lembrete:

Yoongi [ômega/Dom/cabelos platinados]

Hoseok [beta/Switcher/cabelos castanhos]

Taehyung [alfa/sub/cabelos rosados]

Aquele era o grande dia. Finalmente a primeira sessão oficial de Jungkook


aconteceria, com acessórios, dentro de uma masmorra, de modo padrão,
bem visual.

É claro, Jeon já sabia que sua primeira sessão realmente, tinha sido o age
play. Todavia, uma vez que o Age Play é considerado por muitos, como
algo à parte do BDSM — talvez uma vertente deste —, e seu jogo com
Jimin não havia tido nenhuma conotação sexual, mas apenas uma regressão
psicológica de sua própria mente, onde pôde explorar livremente sua
criança interior — que ansiava por atenção, carinho e algumas façanhas
desobedientes —, sua primeira sessão oficial de BDSM, na masmorra, seria
a que aconteceria hoje.

Além do mais, Jimin precisava discipliná-lo. Jeon Jungkook era um brat


óbvio, jamais seria adestrado como um submisso comum, mas precisava ter
controle e consciência sobre os limites que poderia chegar na relação dos
dois.

Portanto, o ex-militar já o havia punido tirando sua sobremesa. Agora, o


castigaria. O castigo, como algo mais brando e que servia mais para uma
questão de disciplina e treinamento, não seria de todo ruim. Nunca era.
Exceto pela parte em que Jungkook seria perfeitamente humilhado em
frente aos trisal de amigos, como parte punitiva, ao mesmo tempo em que
seria efetivamente castigado. E em seguida, teria sua primeira sessão, com
um outro castigo dentro dela.

Ah, sim, Jimin havia pensado muito sobre aquilo. O que planejava pro
malcriado, era um castigo delicioso, principalmente porque já tinha notado
as nuances exibicionistas em seu menino. Ao contrário do próprio Park:
Enquanto o Dom curtia apenas se mostrar, Jungkook amava tanto se exibir,
como observar. Era como os dois lados de uma mesma moeda: exibicionista
de um lado, voyeur do outro.

Jungkook se levantou naquela manhã, já calçando suas pantufas velhas de


unicórnio — presente muito útil de Jung Hoseok. Estavam chegando ao fim
de dezembro, e o frio era intenso. Nem o aquecedor da casa do Park, ligado
no máximo, era capaz de deixar as coisas mais confortáveis.

Jimin não estava na cama de casal, e o agora quase loiro — de tão


desbotado —, podia sentir o cheiro forte do café ficando pronto no andar
debaixo. Olhando para o relógio na mesinha de cabeceira, se deu conta que
sequer era de manhã. Já passava do horário de almoço. O dominador o
deixara dormir por mais tempo, provavelmente o queria descansado para
mais tarde.
Estalou os ossos preguiçosamente, bocejando, com a cara toda inchada e os
olhinhos remelentos. Caminhou até o banheiro e se olhou no espelho.
Pensou que deveria ter retocado os cabelos. Nem mesmo rosa ele estava
mais. Estava num tom completamente loiro, com uma certa nuance
alaranjada, algo meio salmão, era confuso, na verdade. Não estava muito
bonito. Mas o dono do cabelo tinha um belo rosto, de modo que o estrago
não ficava tão grande.

Imediatamente o aloirado foi tirando seu pijama que, daquela vez, consistia
num shortinho de tecido leve e um moletom preto fofinho. Ele tinha batido
o pé, na noite anterior, porque queria vestir seu pijaminha rosa com listras,
mas o Park havia lhe explicado que sua mente, sem querer, poderia ser
transportada ao seu Little Space, fazendo-o portar-se inconscientemente
como o bebêzinho de 3 anos do age play, ainda que de forma leve. E isso
não poderia acontecer naquele dia, por conta da sessão e por conta do
castigo. O brat precisava estar apenas no seu Sub Space agora.

O nome já é autoexplicativo, mas Jimin não deixara de esclarecer ao mais


novo, como funcionava: em todo o play realizado, o psicológico dos
praticantes trabalhava muito mais do que o visual em si. A parte visual num
play, com acessórios e vestimentas, funcionava como um estímulo mental,
mas a dinâmica da brincadeira, acontecia verdadeiramente dentro de suas
mentes, e por conta disso, o uso dos termos 'Litte Space', 'Sub Space', 'Pet
Space' e tantos outros. Eles se referem especificamente ao espaço mental na
cabeça dos participantes, onde os mesmos invocam o papel que irão jogar
no roleplay, de modo a sentirem-se realmente dentro daquilo.

Enquanto o Little Space é a regressão mental daquele que joga no papel de


uma criança, o Sub Space é o estado psicológico de submissão, onde o
sujeito se sente inclinado a submeter-se, ainda que não facilmente, mas
entendendo que está em posição inferior, que está ali para ser controlado e
receber ordens — ainda que não as obedeça por pura provocação —, que
está ali para ser devidamente castigado e punido, quando necessário.
Basicamente, a relação D/s consiste em algo mental, antes de tudo.

Diferente do que a maior parte das pessoas tem impressão, o BDSM não
existe sem Dominação psicológica. "Dominar" apenas fisicamente o corpo
de alguém, sem que sua concessão seja feita pela parte a ser submetida, é
abuso e/ou estupro. Dominar é fazê-lo à nível mental, de modo que o outro
queira se submeter fisicamente, ainda que o submisso não seja do estilo
tradicionalmente obediente. Ainda que seja um dos vários tipos de bottom,
como: Escravo, um Brat, um Sam, ou até mesmo um Break Me — este
último, não considerado uma vertente de submissão dentro do BDSM São,
Seguro e Consensual, mas sim de outra vertente, justamente por conta da
consensualidade problemática, havendo muitas discussões sobre o assunto
no meio.

De banho tomado, ainda calçando suas pantufas, desceu as escadas,


animado. O casal almoçou junto, na sala mesmo, onde Jimin acabou
jogando uma partida de alguma coisa de tiros junto ao outro alfa, mas
desistiu depois de perceber que era realmente ruim naquilo, então,
desinteressado, preferiu ler um livro.

No cair da tarde, o mais novo já estava bufando de tédio. Os dedos estavam


doloridos de tanto apertar o joystick, de modo que preferiu dar uma pausa e
se voltar ao namorado, estirado no sofá. Virou o rostinho curioso num
ângulo engraçado, para descobrir o título da obra que o amado lia: "As
subculturas da submissão – Brat's e outros malcriados". Com uma
risadinha do de cabelos desbotados, a atenção de Jimin foi levada até o
mesmo, abaixando o livro para fitá-lo.

— Que foi? — indagou o moreno.

— É bonitinho hyung. Você fica aí estudando o jeitinho certo de lidar


comigo, quando nem eu sei lidar comigo mesmo. Você é muito cuidadoso...
— comentou sem jeito, dando o que moreno já reparara, ser um dos seus
movimentos tímidos: aquele onde o garoto entortava a boquinha pro lado,
reprimindo um sorriso enquanto falava.

O tamer sorriu, doido de vontade de apertar aquelas bochechas gordinhas e


dizer o quanto seu amorzinho era fofo, enchê-lo de beijos, fungadas no
pescoço e muito carinho. Mas prometeu pra si mesmo que se controlaria.
Hoje era o dia do devido castigo do brat, que Jimin decidira começar desde
cedo.
Então o Park nada disse, apenas voltou seu olhar ao livro, sem realmente
prestar atenção, já que sabia que em menos de meio minuto, Jungkook
reclamaria de alguma coisa.

— Hey... — o quase loiro murmurou, abaixando o livro do ex-militar,


exatamente como nos vídeos de gatinhos, que pedem atenção ao seu dono
com a patinha peluda e pequena. — Me dá atenção, Jimin-ah. Acabei de
dizer algo fofo e você me ignorou.

— Hoje é o dia do castigo, Jungkook — respondeu com um sorriso


dolorido. Porque o que o queria mesmo, era se jogar e cima do namorado,
sentindo o cheirinho de neném do corpo dele, e ter aqueles braços fortes
musculosos o agarrando.

— Mas o castigo é só mais tarde... — murmurou Jeon, todo tristinho e


manhoso. — Você pega muito pesado, hyung. Eu nem fiz nada. Você já me
puniu pelo lance do carro. E eu sinto muito em te informar, mas no age
play, aquele que você viu sou eu. Não vou mudar — reclamou cruzando os
braços.

Jimin deu uma gargalhada, fechando os olhos pequenos. Qual era a daquela
maldita mania de Jungkook, de querer fazê-lo morrer de amores, sendo
teimosinho? Mas que coisa. O Park sequer se entendia, sempre detestou ser
contrariado, ter gente o questionando ou batendo de frente, mas quando o
maior fazia, era tão, tão, tãaaao bonitinho. Ficava em dúvida se tinha se
apaixonado por conta disso, ou se era ao contrário e achava bonitinho por
estar apaixonado.

— Você já armou muita coisa de lá pra cá — o moreno declarou. — Você


precisa ser castigado, não só pela malcriação e bagunça que fez no play,
como pela bagunça que fez no quarto e o monte de m&m's espalhados por
lá. Aliás, eu achei um monte de m&m's coloridos espalhados pelo resto da
casa também. Principalmente na porta de entrada. O que é, hein? Você vai
na janela e atira os m&m's coloridos na rua, achando que não vou ver?

Jungkook dá uma gargalhada e prende a língua entre os dentes. O Park já


estava mais que acostumado com aquela expressão do garoto. Tudo nela
gritava: PIVETE ARRUACEIRO.
— Afinal, por que você não guarda os m&m's coloridos pra mim, Jungoo?

— Você quer mesmo? Pensei que era só da boca pra fora. Eu vejo você
tentando controlar a alimentação pra manter o físico...

— É que diferente de você, algumas pessoas não nascem com a genética da


sorte — devolveu.

— Lá vem você de novo... — o mais alto resmungou.

O ex-militar então, deslizou até o tapete, empurrando o namorado no chão,


para deitar com a cabeça no peitoral dele, agarrando sua cintura fina e
jogando uma das coxas por cima do corpo grande do mais novo.

O de cabelos desbotados sorriu contente. Primeiro por estar finalmente


agarradinho com seu hyung, segundo porque o tinha convencido com tão
pouca birra. Viu a coxa grossa do mais velho aparecendo pelo tecido curto
do short que este usava, então apoiou sua mão ali, fazendo carinho na perna
firme, subindo e descendo a destra, sentindo o músculo definido e a carne
durinha desnuda em sua palma.

Ficaram um pouco em silêncio, enquanto Jungkook sorria como um bobo,


olhando pro teto.

— Hyung, posso te fazer uma pergunta?

Jimin deu de ombros.

— É aquela coisa, perguntar você pode, mas não garanto resposta... —


fingiu-se misterioso.

Captando a piada, Jeon gargalhou, dando um tapinha leve na coxa do


namorado.

— Você disse, lá começo, que preferiu se afastar de mim depois do nosso


lance na cozinha, porque tinha medo de que quando eu descobrisse sobre
você ser praticante de bdsm, eu poderia ficar apavorado, como seu ex-noivo
fez... — disse cuidadosa e curiosamente. — Mas eu já tinha te falado que
tinha um amigo praticante, o Hoseok... Então por que pensou eu teria
preconceito com você? Eu já te perguntei isso uma vez, mas você explicou
de um jeito muito resumido. Quero saber mais sobre o que achou
exatamente...

Jimin levantou o rosto, para deixá-lo mais próximo ao do aloirado e fitá-lo.

— Porque são coisas diferentes, Kook-ah. Uma coisa é você ter um amigo
que pratica isso. Outra completamente diferente, é você estar se
relacionando com alguém do meio. Ter um amigo até mesmo fetichista, não
é algo que te relacione ou que vá interferir diretamente na sua vida. Mas
estar transando com alguém assim, significa que você pode acabar sendo
alvo das práticas. Então pensei que você fosse ter medo de ficar comigo. E
já te contei da coisa toda com Taeyang, você sabe que aquilo me deixou
meio traumatizado.

— Oh... eu entendo — assentiu. — Mas por que você não se envolvia


romanticamente com seus sub's então? Se seu medo era ser rejeitado por
conta do bdsm, não fazia sentido...

— Eu não sei porque não me apaixonava pelos sub's que tinha — foi
sincero. — No começo da relação, eu até ficava um pouco balançado, me
sentindo meio encantado. Mas parece que minha mente travava e revertia
tudo depois. Não pelo bdsm, óbvio. Mas sim porque... fiquei traumatizado
pelo romance. Ser tratado do jeito que eu fui, por quem eu amava mais que
qualquer coisa no mundo, foi uma facada nas costas — referiu-se ao
abandono do ex-noivo.

Jeon se sentiu mal por ele, mas ao mesmo tempo algo doeu nele próprio
com aquela frase. Taeyang havia sido o grande amor da vida do Park,
aparentemente. Não que Jungkook esperasse que ele fosse vir a ter um
papel tão grande assim na vida do outro, mas ainda assim, era um tanto
incomodo. Fazia-o pensar que, talvez, Jimin fosse ter um limite até onde
podia sentir alguma coisa por si.

O aloirado nunca teve um grande amor da sua vida. Todos os amores eram
na mesma medida de intensidade, alguns mais fortes que outros, mas nada
daquele tipo que "só se sente uma vez na vida." E saber que, já que o lúpus
já tinha tido essa experiência antes dele, deixava-o receoso de que o Park
fosse vir a ser essa pessoa pra ele, enquanto ele não seria a do ex-coronel.

Incomodado com tais teorias conflitantes, mudou o rumo do assunto.

— Mas sério... você nem desconfiava que eu era tão safado quanto você?
— disse brincalhão. — Caramba, Jimin, eu te dava mole o tempo todo!

O ex-militar riu tão alto, que acabou jogando o corpo pra trás, deitando no
tapete, mas não sem antes dar um tapinha fraco no ombro do desbotado, que
ria tanto quanto ele.

— Ainda bem que você é, né? — o moreno disse insinuativo, quando se


recuperou da gargalhada. — Acho que tirei a sorte grande, porque você é
todo perfeitinho — disse dando um beijinho na bochecha do outro.

Jungkook então o empurrou de volta pro tapete, rolando o corpo por cima
do Park e o tendo agora à sua mercê.

— E ser perfeitinho, inclui exatamente o quê? — provocou.

— Humn... deixe-me ver... — o Park fingiu-se pensativo, segurando a


cintura alheia. — Significa gostosinho, manhoso, cheiroso e...

— Malcriado? — indagou risonho, com uma sobrancelha arqueada.

Jimin sorriu, levantando o tronco pra deixar um beijinho nos lábios finos do
namorado. O desbotado retribuiu, segurando seu rosto entre as mãos
grandes; o rosto do moreno, cabia em suas palmas.

Trocaram um beijo romântico e calmo, sem a costumeira afobação que a


quentura em seus corpos obrigava normalmente. O que não significava que
o fogo da relação tinha abaixado, pelo contrário. Relacionamentos
amorosos, geralmente levam os casais a foderem como coelhos, nos
primeiros meses. Depois a coisa amornava, mas eles ainda estavam no
primeiro mês, desde o cio. O fogo não diminuiria tão cedo.

O restinho da tarde correu suave, os dois ficaram estirados no tapete,


conversando, se conhecendo mais a fundo, trocando histórias de infância.
Jeon até mesmo descobriu que o Park já tinha sido atacado por um canibal.
Ou era isso que o mais velho insistia em convencê-lo:

— Eu tô falando sério, Jungkook! — exclamou com a voz tipicamente


resmungona. O que só levava Jeon a pensar: "Será que sou mesmo o único
bebê por aqui?" mas preferia não verbalizar. — Ele era uma criança
canibal, pois quase arrancou meu dedo fora com os dentinhos de leite!

O ex-ruivo riu desesperadamente.

— Talvez ele não tivesse tentado arrancar seu dedo a dentadas, se você não
estivesse tentando roubar o biscoito de dentro da boca do menino, hyung!

— Mas eu era criança! — defendeu-se.

— E ele também, ué! — devolveu o quase loiro.

— Mas...

— Mas nada, Jimin. Você tentou roubar o biscoito de dentro da boca do


menino. Tava babado e mastigado, que nojo. Por que não pegou o biscoito
do pacote?

— Eu não sei — o moreno respondeu vencido.

— Você era uma criança bem abusada e mandona, né? — Jungkook


indagou rindo.

O Park riu, sem poder mentir.

— Óbvio.

Então a campainha tocou. Sequer haviam notado que o sol já tinha ido
embora por completo, dando lugar a noite; E com ela, a chegada de suas
visitas.

— Hyung, você não pediu a comida...


— É que você me distraiu — murmurou o mais velho, com um sorrisinho
no rosto. — Eu acabo esquecendo de tudo quando tô com você...

Jungkook encarou o alfa, de modo sério, analisando-o. Até que puxou uma
almofada do sofá e a atirou no rosto do moreno.

— Larga de ser um conquistadorzinho barato, viu?

E o dominador gargalhou alto, achando uma graça, sequer se incomodando


de ter tomado uma almofadada na cara. Levantou-se então para abrir a
porta, cumprimentando Yoongi e seus submissos. Conhecia ambos da The
Cave, embora não tivesse muita intimidade com os dois sub's.

— Kook-ah... — o Jung cumprimentou sem chegar perto. Então se voltou


para Jimin: — Posso dar um abraço no meu amigo? — O Park acenou
positivamente com a cabeça.

Mas Jungkook não gostou muito, e após o abraço, cruzou os braços na


frente do peito, com uma sobrancelha arqueada. Nem reparou muito num
certo alfa de cabelos rosa bebê, o fitando de cara feia no canto da sala.

— Por que você tá pedindo isso pra ele, Hoseok hyung? Eu não perdi meu
direito de consentir nada não... — ralhou.

Jimin sorriu divertindo-se, até os olhos fecharem, esperando o beta explicar


ele mesmo.

— Ah, JK, é uma questão de etiqueta. Não é de bom tom que um


Dominador toque ou se aproxime demais do submisso de outro, seria
desrespeitoso. Pedir permissão ao seu dominador, pra que eu abrace você, é
algo padrão. Você tinha dito que estava estudando direitinho, pensei que
soubesse... — disse em tom repreensivo, apertando os olhos pro amigo.

Aí então, Jungkook ficou sem jeito. Realmente, ele lembrava de ter lido
sobre aquilo. Era tradicional e ligado aos bons costumes dentro da
comunidade, um Dominador pedir permissão ao outro, antes de se dirigir ao
sub dele. Era algo ligado ao respeito — pelo dominador — e educação,
claro.
— Você sabe como Jungkook pode ser pirracento — o alfa lúpus comentou
em tom brincalhão para Hoseok, enquanto deslizava os dedos entre os do
aloirado, pegando-o pela mão e então se voltando pra ele. — Venha, vamos
nos aprontar. — Então se direcionou para Yoongi: — Hyung, peça a comida
naquela churrascaria do centro pelo telefone, por favor.

— Tudo bem — o ômega respondeu. — À propósito, Jungkook — chamou.


— Nós já nos conhecemos, embora não tenhamos sido apresentados
formalmente. Sou Min Yoongi, e esse carrancudo de cabelos rosa é meu
submisso e de Hoseok. Na The Cave ele usa o pseudônimo de PurpleSub.
Sabe como é... ele vive roxo, por ser um subzinho malcriado e ainda por
cima adora — disse sorrindo com o olhar oblíquo.

Foi só aí que Jungkook reparou no alfa. Ele o encarava com uma cara não
muito convidativa, o que fez o ex-ruivo sentir-se meio perdido. Será que ele
ainda tinha ciúmes pelo dia da play party na The Cave? Será que ainda se
incomodava por ele ter fingido ser o sub do Switcher?

Viu a coleira no pescoço do alfa de cabelos rosinha, o tal Taehyung. Não era
como aquelas usadas nas sessões. Era algo suave e sutil, como um simples
acessório comum. A gargantilha dele era de veludo roxo, com dois
pingentes na ponta, um sendo a letra H e outra a letra Y. Claramente
representando Hoseok e Yoongi. Se voltou então para o amigo Hoseok. Este
usava apenas um fino cordão de prata, com o pingente Y pendurado,
exatamente como o do alfa.

É, Jungkook não sabia quase nada sobre as coleiras. Sabia que existiam
vários tipos e significados, leu um pouco por alto, mas ainda estava um
tanto confuso. Ele sempre esquecia de pedir pra Jimin explicar melhor. Fez
uma anotação mental pra questionar sobre isso depois.

— Prazer em conhecê-lo, sou Jeon Jungkook — disse curvando-se


levemente para Yoongi e o rosado.

O ômega apenas deu um aceno de cabeça. O outro alfa brat se curvou


levemente e disse de modo mecânico, ainda com cara de quem comeu e não
gostou:
— Sou Kim Taehyung — declarou apenas.

— Então, já escolheu seu nickname? — Yoongi perguntou a Jeon. Mas


Jimin o interrompeu.

— Ainda não conversei sobre isso com ele. Vamos falar disso daqui a
pouco no jantar, hyung. Agora preciso aprontá-lo — avisou o Park. — Vem
— chamou o namorado, puxando-o pela mão, em direção às escadas.

E assim que chegaram no andar de cima, o moreno encarou Jeon de frente,


seriamente.

— Você vai usar uma coisa, que desempenhará a função da punição. Não
vai te dar prazer algum, pelo contrário: vai te deixar chateado,
provavelmente — declarou, sob o olhar atento de Jungkook. — Mas ao
mesmo tempo, terá uma outra coisa te dando prazer. E pra isso, vou precisar
que você fique duro o tempo todo.

O desbotado franziu o cenho, confuso.

— Explica melhor, hyung.

Jimin suspirou, um pouco receoso.

— Preciso que você tome um remédio pra ereção — esclareceu finalmente.


— Não tem como você ficar o jantar inteiro de pau duro. E quando digo
duro, quero dizer duro mesmo. Cem por cento. Você vai entender depois,
mas preciso que me diga se tem algum problema com isso, porque preciso
te dar a pílula agora, pra que ela comece a fazer efeito no tempo certo.

Mordendo o lábio, o alfa mais novo indagou:

— Por quanto tempo a marca que você tem aí funciona? — riu safado,
passando a língua entre os lábios.

O lúpus devolveu o sorriso, a expressão sacana montada na face.

— Faz efeito entre 30 minutos e uma hora, e perdura por 4h ou 6h... Em


alguns casos, a ereção se mantém por 12h inteiras. Já usou alguma vez?
— Sim... já foi necessário — o ex-ruivo comentou com uma careta.

— Então você não tem nenhum problema de coração, nem está no grupo de
contraindicados pra esse tipo de remédio, certo?

— Tá tudo bem, Jimin. Já conheço esse tipo de pílula. Pode me dar.

O Park ainda o estudou cuidadosamente por um tempo, antes de puxá-lo


para o banheiro e pegar a caixinha de remédios no armário embaixo da pia.
Abrindo uma embalagem branca, com as letras coloridas montando a
palavra "Sildenafila", entregou um comprimido azul ao garoto, que o
engoliu direto, pegando um pouco de água da torneira com as mãos em
formato de concha e a engolindo.

O desbotado sorriu lascivo, encarando o namorado de cima à baixo, para


então dizer:

— Eu tô com um pouco de pena de você, Jimin-ah. Vai ter que foder


comigo até o efeito passar. Tem certeza que aguenta 6h sem cansar? Talvez
seja melhor você tomar um comprimido também... — provocou. O lúpus
apertou os olhos pra ele, em resposta.

— Não me atenta, seu abusado. Tira a roupa e entra no chuveiro. Anda —


finalizou a ordem dando um tapa estalado na nádega do garoto, que deu um
pulinho com o acerto, para então sorrir e obedecer.

O tamer entrou no chuveiro com ele, tomando banhos juntos. Depois o


enrolou na toalha e secou cada pedacinho do corpo bonito do namorado,
quase se perdendo ali. Mas precisava segurar o tesão mais um pouco. Já, já
teria seu garoto à sua mercê, do jeito que tanto ansiava.

Já no quarto, os dois nus e de banho tomado, Jeon já começava a encher o


outro de perguntas, assistindo o ex-coronel pegar uma enorme caixa dentro
do armário, junto a uma pequena sacolinha de papelão:

— O que vamos fazer Jimin-ssi?


— Você sabe que humilhação e constrangimentos, podem fazer parte de
uma punição, certo, amor? — indagou fitando o sub atenciosamente.

— Sim... Mas eu não sei se me sinto muito confortável com uma punição
em público...

— Não é pra você ficar feliz mesmo. Por isso te disse que seria um misto
entre punição e castigo. Não é algo muito pesado, mas inclui que você se
sinta levemente constrangido em frente aos rapazes — explicou.

— Então depende. Eu vou ter ficar pelado na frente deles?

— Bem que você queria — comentou com sarcasmo. — Isso seria algo que
você apreciaria, não é? — questionou se aproximando. — Sei que você
gosta de se exibir, seu fingido...

Jeon não conseguiu impedir o pequeno sorriso de lado, entortando a boca.


Ele era mesmo, e aquilo ficava óbvio pra quem convivia consigo.
Principalmente pelo tanto de vezes que andava sem camisa pela casa,
propositalmente para atiçar o Park.

— Então o que vou ter que fazer? — indagou o sub.

— Você vai vestir isso — o moreno respondeu, apontando pra caixa em


cima da cama. — Abra e veja. Se você achar que isso atravessa seus limites,
preciso que me diga claramente. E então nós faremos outra coisa.

Jungkook então abriu a caixa branca, vendo uma porção de tecidos com
babados vermelhos. Puxou a roupa, esticando-a frente aos seus olhos. Então
os arregalou e abriu a boca, em choque.

— Um vestido de lolita? — soltou uma gargalhada desacreditada.

— Preciso que me diga se está de acordo ou não, Kook-ah.

Após pensar, analisando a roupa por meio minuto, finalmente o aloirado


declarou:
— Estou de acordo. É só isso? Vai ser vergonhoso vestir isso na frente dos
caras... Eles vão ficar me encarando durante todo o jantar... — comentou
pensativo, mais pra si mesmo do que para Jimin.

— Eu sei. A ideia é essa. Está mesmo de acordo? — repetiu o lúpus. Jeon


tirou os olhos da peça, para fitá-lo e repetir que sim, de modo firme. —
Ótimo. Então vista-se agora.

Sob o olhar atento do tamer, Jungkook vestiu a peça minúscula. Era um


vestidinho bem curto, com decote e mangas bufantes. Seu peitoral
musculoso ficava aparente demais, a cintura fina ficava marcada e as coxas
grossas apareciam bem. Era como usar o vestido de uma pirralha magricela
de 11 anos. Mas ao menos a saia do vestido era rodada, então não ficaria
grudada ao quadril, marcando seu pau futuramente duro. Caminhou até o
espelho e, ao ver sua imagem, fez uma careta.

— Ninguém merece... — murmurou para o próprio reflexo.

— Isso que dá, ser um garotinho abusado e arteiro. Existem consequências


desagradáveis — Jimin declarou. — Agora, falta uma coisinha... — e então
estendeu uma calcinha de renda, menor que a própria palma.

E ainda por cima era do tipo fio dental.

Vermelha.

Jungkook quase grunhiu de frustração. Usar aquela peça minúscula seria


bem desconfortável. O castigo começava dali, ele percebia. Mas não ia
recusar, não ia mesmo. Era uma questão de orgulho. Se seu Dominador
achava que só com aquilo seria capaz de humilhá-lo, vestindo-o como uma
boneca pornô da deep web, estava muito enganado.

— Me dá isso aqui — disse tentando tirar a peça minúscula das mãos do


namorado. Mas este apenas a afastou, rindo sacana.

— Não é tão simples assim, Kook-ah... — comentou divertido. — Ainda


precisamos fazer uma coisa, antes de você usar sua calcinha...
Então o lúpus se posicionou atrás dele, deslizando a ponta no nariz em seu
pescoço e a destra por sua coxa. O desbotado observava todos os
movimentos do outro pelo espelho, e conteve um gemido ao ter seu pênis
semi-flácido agarrado pela mão pequena do Park, já que ainda estava sem
cueca ou alguma roupa íntima.

Jimin mordiscou seu pescoço, distribuindo sucções na pele alva, que ainda
possuíam uma ou outra marquinha escura de chupões das fodas brutas que
deram durante a semana. A mão se movia com destreza no pau de Jeon, que
mordia o lábio com as carícias, sentindo-se enrijecer rapidamente na palma
alheia.

Tendo o Dom o atiçando com vontade, o aloirado empurrou o quadril pra


trás, sentindo o Park ainda mole. Então tentou capturar o pênis alheio com a
canhota, mas o moreno foi rápido em segurar seu pulso com firmeza, o
impedindo.

— Você apenas fará o que eu mandar, me entendeu? — o mais velho


indagou com a voz soando claramente perigosa, sem deixar de masturbar o
caralho do outro.

— Sim, Jimin-ssi — respondeu tentando reprimir um suspiro.

Provocadoramente, o tamer começou a deslizar o próprio membro na bunda


do brat, endurecendo junto com ele, lentamente, sentindo o garoto cada vez
mais atiçado e já de olhos fechados.

O ex-ruivo sentiu o outro deslizar para sua frente e então abaixar. Ao abrir
as pálpebras, encontrou o Park ajoelhado no chão, como se pronto para
rezar. E o fitando nos olhos, este pôs a língua grande pra fora, lambendo sua
glande.

Jungkook resfolegou, atiçado. Levou a destra de dedos magros para os fios


de cabelo negros do Dom, mas este continuou apenas lambendo a cabeça do
seu pênis, como se fosse um pirulito, sem a menor intenção de abocanhá-lo
por completo. Desceu com a língua quente por toda a extensão, sentindo as
veias saltadas e a pele fina do membro em seu paladar, levando o ex-ruivo à
loucura.
Contudo, parecia bom demais pra ser verdade. E era. Subitamente, o Park
se afastou, deixando o submisso malcriado sozinho na frente do espelho.

De pé, Jimin o encarou com um sorriso fodidamente sádico nos lábios.


Então caminhou até a sacolinha na cama e se virou com algo nas mãos. Era
um objeto pequeno e meio arredondado, com algum tipo de material
delicado e macio, de cor preta.

— Um vibrador bullet? — o brat indagou surpreso. — Onde vou usar


isso..? — Mas antes mesmo de o Park respondê-lo, ele entendeu. Em sua
cabeça, ele gritava: "Jimin, sua cobra sorrateira!" a plenos pulmões.

O Dominador se aproximou, com um sorriso quase diabólico, de tão


satisfeito. Além do mais, ele ainda estava nu, desde o banho. O que era uma
provocação maior ao raciocínio sexualmente sensível de Jungkook.

Segurando a pequena cápsula vibratória, com delicadeza, e um pedaço de


silvertape, Jimin encaixou o vibrador arredondado exatamente abaixo da
fenda da glande do mais novo, envolvendo o pênis e o sex toy com a fita
adesiva, deixando o membro e o brinquedo, presos um ao outro.

Não surpreendente gostando demais daquilo, Jeon entendeu o motivo de o


Park querer que ele ficasse duro durante o jantar: era pra que o estimulador
ficasse acoplado ao seu pênis, com a fita. Caso broxasse, o aperto se
desfaria. Mas tendo tomado a pílula azul, sua ereção perduraria por horas a
fio. Então notou que, estranhamente o pequeno vibrador em formato de
cápsula, possuía algo semelhante a uma antena de silicone, de mesmo
material que o resto do brinquedo erótico. Foi aí que engoliu em seco.
Aquilo só queria dizer uma coisa...

— Não se preocupe, amor... — o Park disse com a voz falsamente doce,


enquanto empunhava o próprio aparelho telefônico. — Ainda que você não
me obedeça, terei controle sobre cada uma das suas sensações... — e então
deu o comando pelo celular, que estava conectado por bluetooth, ao
vibrador. E imediatamente, a cápsula começou a vibrar, presa à glande de
Jeon. Ele grunhiu, sentindo um arrepio delicioso percorrer por toda sua
espinha e baixo abdominal; estava excitado pra um santo caralho! E aquela
partezinha da anatomia peniana, logo abaixo da glande, onde brinquedo
estava acoplado, era justamente a mais sensível. — E só pra constar, bebê...
O castigo é que você não pode gozar. Se gozar, você ganhará mais um
castigo. Bem pior que se vestir de lolita, na frente de outras pessoas... —
avisou em tom maldoso.

O desbotado deu um pequeno gemido, sentindo seu corpo queimar. Que


grande filho da puta era aquele lúpus. Cacete! O quão sádico alguém podia
ser, para fazer aquilo? Jeon tinha certeza de que terminaria aquele dia, com
um novo castigo na lista de espera. Porque era óbvio que gozaria sentado à
mesa. Principalmente porque sabia que aquela era a velocidade mínima do
brinquedo, e conhecendo Jimin como conhecia agora, estava ciente que ele
aumentaria a potência do bullet, durante a refeição, só pra foder com seu
juízo e autocontrole de vez. E Jeon Jungkook era muito, muito ruim em se
controlar.

O dominador não era idiota. Ciente do fetiche exibicionista em seu garoto,


deixá-lo excitado frente à outras pessoas, não seria um castigo, pelo
contrário, seria instigante. Contudo, se ele não permitisse que o garoto
gozasse, aí sim seria um puta castigo. Porque, estando em público, a
excitação do mais novo seria ainda maior. O grande problema era o próprio
Jimin conseguir se controlar. Porque ele também era exibicionista, e
enquanto fizesse de tudo para que Jeon cedesse, ele mesmo ficaria na borda
do descontrole.

Além do mais, também tinha o pequeno detalhe do aloirado ser muito


inseguro por conta do cheiro doce de seus genes ômegas. Ao mesmo tempo
em que o desbotado sabia ter uma aparência sexy, seu aroma misto causava
uma reação nada boa nas pessoas. Desse modo, quando ficasse excitado, o
cheiro ficaria forte. E aí o de genes ômegas ficaria inseguro e nervoso,
praticamente sofrendo, por estar deixando seu aroma contraditório surgir na
frente de terceiros.

— Agora vista sua calcinha, meu bem... — ordenou o moreno, em tom


ditador. — E não esqueça das suas meias — terminou com sorriso irônico.

Ao menos o Park desligara o vibrador, depois disso. O pênis de Jungkook


continuava duro como pedra, efeito do remédio. Por conta do modelo da
fantasia que usava, não ficava muito nítido o seu pau teso marcando no
tecido, o que era menos pior. Por mais que gostasse de chamar atenção,
seria seu amigo e os dois namorados dele ali. Eram dois desconhecidos. E
ao mesmo tempo em que sentia certa excitação por saber que poderia ser
pego no flagra, ainda era um pouco estranho. Eram realmente sensações
confusas e discrepantes, as de querer aparecer e ser visto, versus a vergonha
de ser pego.

Mas talvez sua vergonha fosse, de fato, apenas por estar recebendo um
castigo, afinal. Não sabia dizer, era novo demais naquilo, para que pudesse
entender perfeitamente seus próprios fetiches. A prática o faria conhecer a
si mesmo melhor, isso era certo.

Apenas um minuto antes de saírem do quarto, o lúpus posicionou Jungkook


outra vez de frente ao espelho, para repousar a já conhecida coleira de
couro vermelho e rebites prateados em seu pescoço.

— Hyung. Eu pesquisei um pouco sobre as coleiras, mas ainda tô confuso...


São muitos tipos, né? Qualquer coisa pode servir como coleira?

— Eu prometo te explicar disso depois, bebê. Agora precisamos descer. Me


lembre de voltarmos nesse assunto depois, ok?

Finalmente, Jungkook estava pronto. Usava a coleira vermelha bruta, como


a de um cachorro rottweiler, o vestido de lolita vermelho curtinho de saia
balão, a calcinha fio dental por baixo, e um par de meias 7/8 transparentes,
enquanto Jimin usava uma roupa de ficar em casa.

Ao descerem novamente pro primeiro andar, os olhares sobre Jeon não


foram de surpresa. Porque é claro, todos eles sabiam o que tinha sido
planejado pelo lúpus, para acontecer ali.

Yoongi tinha um sorriso sacana no rosto, aprovador, afinal, parte daquilo


fora ideia sua. Já Hoseok, portava um sorrisinho zombeteiro, exatamente
como os que um irmão dá pro outro, quando sabe que o mesmo vai se
ferrar.

Entretanto, Kim Taehyung continuava com uma expressão não muito


amistosa, encarando Jungkook de cara feia. O que o ex-ruivo prontamente
ignorou, afinal, ele sabia o motivo, era bastante óbvio. Mas se o rosado
seria irracional e descontrolado o suficiente para sentir ciúmes dele ali,
quando Jeon estava junto ao seu dominador, então isso não era problema
dele; os dominadores do Kim, que lidassem com aquilo. Jungkook estava
cem por cento nem aí. Queria mesmo era focar sua atenção na punição que
recebera em usar a fantasia de lolita, no castigo de ter um vibrador acoplado
ao seu pênis durante um jantar com amigos, e controlado à bel prazer de seu
tamer, além do friozinho na barriga, pela ansiedade da primeira sessão que
faria na vida, como um submisso de uma relação D/s oficialmente. Eram
coisas demais pra focar, para que perdesse sua atenção em Taehyung.

— Vocês demoraram tanto, que o restaurante já entregou a comida —


anunciou o Min, desligando a televisão pelo controle remoto. — Você está
uma gracinha, Jungkook — zombou.

O desbotado quase rosnou. Teve que controlar a vontade de dar um soco no


rostinho bonito do platinado, ao mesmo tempo em que queria sair correndo
dali e se trancar no quarto, de tanta vergonha. Estava se sentindo exposto
e... um tanto humilhado. Mas o brat era um cara competitivo. Não deixaria
Jimin vencê-lo. Não mesmo. Então empertigou-se, esticando a coluna e de
nariz em pé, mesmo morrendo de vergonha, disse:

— Obrigado, Yoongi-ssi. Agradeça meus pais depois, por eu ter nascido


assim tão bonito.

Nesse momento, até mesmo o carrancudo Taehyung teve que soltar uma
gargalhada contrariada. A careta que Yoongi fez ao ter uma resposta
daquelas, foi impagável. Hoseok escandalosamente ria, de boca bem aberta
e jogando o corpo em cima do Kim.

Park caminhou até o amigo ômega dominador, com um sorriso convencido


no rosto e, desferindo três tapinhas amigáveis em seu ombro, declarou:

— Eu te avisei, hyung. Tudo o que contei sobre Jungkook, não era exagero.
Você podia ter dormido sem essa. — O que apenas culminou com uma
risada mais escandalosa ainda dos garotos, incluindo o próprio Jungkook.
Hoseok apenas recuperou a postura quando seu dominador ômega o
encarou sério; mas continuou segurando uma risadinha no canto dos lábios.
Caminharam para se sentar à mesa da cozinha, onde os alimentos já
estavam expostos e organizados, assim como pratos, copos e talheres. Ao
notar que só haviam quatro cadeiras, embora a mesa fosse levemente
cumprida, Jungkook buscou o olhar de Jimin, confuso:

— Hyung, vai ficar faltando um lugar...

— Não vai não, bebê — o moreno respondeu, sentando-se na ponta, com


um sorriso maldoso. — Você vai sentar bem aqui — falou dando dois
tapinhas na própria coxa.

Jeon sequer sabia onde enfiar a cara naquele momento. Principalmente com
Hoseok sorrindo daquele jeito debochado. Aparentemente seu amigo estava
gostando mais daquele castigo, que seu próprio tamer. Talvez o switcher
estivesse se sentindo vingado, depois de aturar seis anos de encheção de
saco do mais novo, sem poder dar-lhe uma boa surra.

O desbotado deu um pequeno revirar de olhos, e caminhou contrariado até o


Park, sentando-se cuidadosamente em seu colo, ainda meio duvidoso.
Imediatamente o outro enroscou sua cintura, posicionando-o de modo mais
confortável, de ladinho, deixando espaço para que pudesse mexer nas coisas
em cima da mesa.

Começaram a comer, mas Jimin não o deixava comer sozinho. Dava


tudinho na boca de seu menino. E não é como se Jungkook não gostasse,
por dentro estava adorando. Gostava de ser alimentado pelo Park. Mas
morria de vergonha de ter aquilo sendo feito na frente de outras pessoas.
Principalmente enquanto vestia uma fantasia de lolita, de tamanho menor
que seu manequim, além das meias ⅞ transparentes, parecendo uma espécie
de fantasia sexual bizarra de nerd punheteiro. Agradeceu aos céus,
silenciosamente, pelo lúpus não ter ligado o vibrador bullet conectado ao
seu pênis — este que continuava desnecessariamente ereto, por conta do
remédio.

Embora tivesse sentido falta de Jimin o dando comida na boca, quando


foram no restaurante, pensando melhor agora, notava que não teria tido
coragem pra tal, de qualquer modo. Fazer aquilo à sós com o Park, era
satisfatório, mas na frente dos outros, era outra história. Aquilo o deixava
realmente sem graça.

Ainda que se sentisse desconfortável, o mais novo sabia perfeitamente que


Jimin jamais o forçaria a ser alimentado como uma criança na frente de
terceiros, caso ele não quisesse. O brat se dava conta de que aquilo fazia
parte da punição por suas malcriações, assim como a fantasia de lolita.
Todavia, não estava achando aquilo pior que ficar sem sobremesa. Seu
docinho pós-refeição era mais importante. Então se conseguira aguentar a
punição no restaurante, aguentaria bravamente a de agora. Mesmo que suas
bochechas não parassem de queimar em constrangimento.

— Aaaah, você tinha que ver, Tae! — exclamava o beta, em tom animado e
alto, como era de costume. — Eu disse: "Dá a patinha, Tannie" e ele
obedeceu e deu um latidinho. Minha nossa, ele é tão fofinho...

— É claro que meu cachorro é fofinho, ele é meu filho... — o rosado


respondeu convencido.

— Ele não é mais fofo que Min Holly... — declarou o Yoongi, com um
olhar apaixonado.

— Quem é Min Holly? — indagou Jungkook, de boca cheia. Ele já tinha


entendido, pelo andar da conversa, que Tannie, era apelido de Yeontan, o
cachorro de Taehyung. Mas não fazia ideia de quem fosse Min Holly.
Imaginou que seria um pet também, mas não fazia ideia de qual animal
seria.

E assim que o mais novo fez a pergunta, todos na mesa, com exceção de
Yoongi, fizeram uma careta desesperada e chorosa, incluindo Jimin. Este
apertou sua cintura e choramingou rente ao seu ouvido:

— Por que você fez isso, Jungkook? Ah, não...

O alfa ficou totalmente confuso, mas antes que pudesse questionar o que
estava acontecendo, Yoongi pôs os braços pra cima, levantando-se da
cadeira com uma expressão muito orgulhosa e convencida no rosto.
O platinado meteu a mão no bolso traseiro da calça jeans que trajava,
pegando o próprio celular, para então entregá-lo a um Jeon totalmente
perdido.

— Dê play, para conhecer a criatura mais maravilhosa que já andou por esta
Terra... — o ômega declarou somente.

Jungkook, que tinha um dos braços em torno dos ombros de Jimin, para se
segurar em seu colo, segurou o telefone grande com a canhota, dando play
no vídeo.

Um cachorrinho poodle, de tamanho médio e pelagem marrom-caramelada,


com espessura ondulada, tentava tocar um teclado infantil de brinquedo,
disposto no chão de carpete cinza, dando pulinhos engraçados, por cima do
objeto.

— Whoooaaa... ele é tão bonitinho — disse maravilhado. — Parece mesmo


que está tocando teclado, olha como ele pisa com as patinhas em cima das
teclas...

Jimin, que tinha colocado o rosto no ombro do namorado, para que pudesse
ver o vídeo junto com ele, deu uma risadinha em seu cangote.

— Não é à toa que Tannie está apaixonado por Holly... — Yoongi


comentou, fazendo graça.

— Ele não tá nada, hyung... — devolveu o de fios rosados. — Eles são só


amigos...

— Me desculpe Taehyung — se intrometeu Jimin. — Mas seu cachorro


realmente está apaixonado pelo Holly. Eu vi.

Então os garotos caíram numa risada gostosa, enquanto Taehyung


continuava teimando que não era assim, e que seu cãozinho ainda era um
neném, pra ficar por aí se apaixonando. Até que Jungkook se deu conta:

— Hey, espere aí... — comentou de cenho franzido. — Os dois são


machos?
— Sim — Hoseok comentou rindo.

Então Jeon se virou para o namorado, com o rostinho indignado:

— Você disse que Minzy não podia ser gay, Jimin. Você me enganou, você
é um cuzão, eu acreditei em você, e... — Só que enquanto dizia isso, o ex-
ruivo começou a dar tapinhas no ombro do Park. E este então cessou a
risada, para encarar o namorado de cima à abaixo. Foi aí que, em silêncio, o
moreno apanhou seu aparelho celular em cima da mesa. E Jungkook se deu
conta de que estava fodido.

Quando o brinquedo começou a vibrar tão próximo à sua glande, Jeon


conteve um gemido e mordeu o lábio. Ninguém na mesa pareceu notar, e se
notaram, fingiram que não. Então continuaram o assunto, com Hoseok
tirando sarro da cara do amigo, por ter passado a vida inteira teimando em
chamar o gato de gata, só porque queria ser do contra.

Jimin agia como se nada estivesse acontecendo, dissimulado que só. Ele
continuava a comer sozinho e a beber o seu suco, conversando com os
outros rapazes, enquanto Jungkook estava imóvel em seu colo, o corpo
totalmente tenso, na medida em que quase se derretia com o movimento
torturante e delicioso em seu membro sensível. O tamer fingia não estar
dando atenção às reações do garoto, mas pela visão periférica, capturava
cada tremelique que o corpo do ex-ruivo dava sobre seu colo.

O cheiro ômega do mais novo começou a se sobrepor ao seu cheiro alfa.


Aquilo definitivamente era a coisa responsável por maior parte da vergonha
que sentiria agora. Até porque, o alfa Taehyung e o ômega Yoongi, tinham
sentido o aroma, e o encaravam curiosos. O que deixava Jungkook mais
sem jeito com tudo. Tinha certeza que Jimin planejara aquilo
propositalmente, como parte da punição. O lúpus sabia que ele morria de
vergonha do cheiro doce.

Ainda fazendo-se de rogado, o Park mexeu no celular novamente, sob o


olhar atento do brat. Uma gota de suor brotou na têmpora do Jeon, quando a
velocidade do brinquedo aumentou. E pior: não só vibrava com mais
intensidade, como o ritmo das vibrações parecia diferenciado, ora ficando
mais forte, ora mais suave, como o ritmo das batidas de uma música.
Exatamente como o Park fazia com a língua, quando o chupava.

Jungkook engoliu em seco. Por causa do remédio pra ereção, seu pênis
estava mais sensível que o normal, e qualquer pequeno movimento, o
deixava mais necessitado. Principalmente no momento em que Jimin se
mexeu e o posicionou melhor em seu colo, encaixando a bunda do
namorado em cima de seu caralho duro e coberto.

— Mas e aí, você já escolheu um pseudônimo? — Hoseok indagou ao


amigo.

— Hein? — o desbotado indagou atordoado. Embora seu rosto não


demonstrasse muita coisa, era impossível se concentrar numa conversa, ao
mesmo tempo em que tinha suas partes íntimas tão deliciosamente
estimuladas.

— O costume é usar nicknames, pseudônimos, pra que possamos nos


apresentar aos membros da comunidade BDSM — respondeu Yoongi. —
Como o Jimin, por exemplo, que usa o nick de "AlphaDome".

— E pra quê isso? É tipo obrigatório? — Jeon indagou, tentando com todas
as suas forças, interagir normalmente. Não queria dar aquele gostinho ao
Park. Ele era um garoto competitivo, afinal.

— É pra que as pessoas mal intencionadas não te exponham — quem


respondeu foi Taehyung, ainda em tom azedo para com o outro alfa. — A
comunidade BDSM é muito fechada e de difícil ingresso. Não é qualquer
um que pode ir entrando...

— E mesmo com isso, Jimin acabou sendo exposto... — comentou Yoongi


com um careta.

Jungkook queria muito perguntar como, afinal, Park havia sido descoberto.
Mas o maldito lúpus aumentou a velocidade da bullet, propositalmente, por
não querer entrar naquele assunto no momento. Então em dois segundos, a
atenção do desbotado desviou-se daquela questão.
— O meu é bem simples — comentou o beta. — Eu uso o apelido que tinha
quando era adolescente...

— J-Hope? — indagou Jeon, de cenho franzido.

— HopeSwitcher — contou Hoseok, com um sorrisinho oblíquo. — Gosto


desse nome. Soa bem. Porque Hope, parece Rope. E enquanto o primeiro
significa esperança, o segundo significa corda. Então acaba ficando bem
ambíguo. Assim como eu, que estou sempre nos dois lados das coisas.

— Conte o seu apelido pra Jungkook, Yoongi hyung — pediu Jimin ao


amigo ômega.

O platinado deu um risinho convencido, antes de dar de ombros e dizer:

— DomSuga. As pessoas viam minha aparência frágil, pequena, delicada,


magra demais e bem, não sou um cara exatamente alto, embora não seja
baixinho também. Os Dominadores tentavam me cortejar, assumindo que eu
fosse um sub — narrava de forma teatral e debochada. — E eles sempre
usavam a mesma ladainha de flerte: "Sua pele é tão branquinha, como
açúcar... eu adoraria deixá-la bem marcada, você seria minha propriedade
favorita.." E nossa, eu ficava tão entediado — declarou com um revirar de
olhos. — Mas no fim, eu até sentia meu ego bem massageado.

— Então nós temos DomSuga, HopeSwitcher, PurpleSub e o AlphaDome.


Falta eu, né? — Jungkook indagou, tentando interagir na conversa e não se
deixar levar pelas sensações em seu corpo. — Sou eu mesmo quem escolho,
ou o meu dominador?

— É você mesmo, neném — respondeu o Park, em sua nuca. — Se quiser,


eu te ajudo com isso depois... — ofereceu.

— Poderia ser algo fofo, porque mesmo sendo irritante, você é


engraçadinho, JK... — disse o beta, de modo humorado. — Algo tipo...
SubBabyJ !

— BabyJ era o apelido do Jimin, quando ele era sub — declarou rindo o
platinado, ao mesmo tempo que batia palmas, com a recordação.
Jeon sentiu seu dominador bufar atrás de si, mas não era como se pudesse
dar muita atenção, já que o movimento do brinquedo em seu pênis
subitamente parecia gostoso demais da conta, pra que sequer conseguisse
manter os olhos abertos.

— Afinal, por que seu apelido é AlphaDOME, ao invés de AlphaDOM? —


perguntou Taehyung. — Dome é usado pra dommes fêmeas, né?

— O "Dome" em meu pseudônimo, vem de dominator. Então a pronúncia é


"dome-nator", certo? — respondeu Jimin. — AlphaDom soaria como se eu
fosse um alfa dominador apenas, e não um dominador de alfas. Já
AlphaDome, significa dominador de alfas, alfas dominator. Na verdade,
foram antigos membros da The Cave, na época, que me apelidaram assim,
depois que submeti meu próprio dominador em uma sessão num dos
aquários, ou salas de vidro, como quiser chamar.

— Oh, sempre ouvi sobre isso, mas agora quero ouvir direto da fonte —
declarou animado, o switcher. — Você dominou o cara, tipo, do nada?

Jimin deu uma risada gostosa, se inclinando mais de leve, para fitar o beta.

— Ele já havia me dito, desde o começo, que tinha interesse em


experimentar se submeter, mas que não confiava em outros dominantes pra
isso — respondeu o moreno. — Só que como eu era iniciante, e ele meu
mentor, quis testar comigo. Então nós chegamos a inverter os papéis
algumas vezes, em sessões particulares nossas. No dia em que fizemos em
público, foi de surpresa. Eu vi a oportunidade e então fiz. E ele não
reclamou, aceitou bem — finalizou dando de ombros.

— Oh... do jeito que todo mundo fala, faz parecer que você pegou o cara de
surpresa mesmo. Soava meio exagerado demais, na minha opinião... —
comentou Taehyung.

Enquanto os rapazes engatavam uma nova conversa, o desbotado estava


enlouquecendo no colo do namorado. Tanto que não conseguia mais sequer
prestar atenção no que acontecia ali, tinha perdido o fio da meada. Ele ouvia
as vozes, mas não distinguia o que elas diziam.
Ah, Jungkook estava prestes a surtar. Estava com tanto, mas tanto tesão!
Fora o fato de que estava na frente de terceiros e eles sequer pareciam notar
a tortura que o Park comandava em seu corpo, naquele momento. O mais
difícil era sorrir e conversar normalmente, quando estava morrendo de
vontade de gozar. O membro duro de Jimin o cutucando bem na entrada da
bunda vestida com nada além do fio dental, era enlouquecedor. Já que usava
um vestido, a pele de sua traseira encostava diretamente no tecido da calça
de tecido fino que o namorado usava.

Mas a mente do brat insistia que ele não podia deixar o Park vencê-lo, de
jeito nenhum. Ele precisava ganhar, sair por cima. Não podia permitir que o
lúpus tivesse um controle tão malditamente fácil sobre si. Principalmente
porque suas emoções influenciavam diretamente em sua libido. Quanto
mais apaixonado e entregue ficava, mais levianamente se submetia em tudo.
Ele queria se deixar levar, segurar na mão daquele em quem confiava e
seguir pra onde o outro quisesse. Só que seu coração era sensível demais e
ele sabia. Então achava que precisava se controlar, por mais difícil que
fosse.

Jungkook era transparente, mas era o tipo de pessoa ruim demais em


expressar seus sentimentos, por um simples motivo: ele os considerava uma
fraqueza. Deixar que uma pessoa soubesse o quanto possuía poder
emocional sobre si, era o mesmo que ensiná-la como destruí-lo quando bem
entendesse.

É claro, quando estava frente ao moreno, o garoto não conseguia esconder


nada. Nem mesmo dizer uma mentirinha. Até porque era muito, muito ruim
em mentir. Tanto quanto era ruim em explicar o que sentia, com palavras.
Então tudo acabava em um Jeon de olhinhos arregalados, com cara de idiota
e gaguejando. Simplesmente não era capaz de resistir ao alfa lúpus, e não
conseguia esconder sua fraqueza diante dele. Por isso era tão importante
para si, vencer seu dominante, naqueles embates imaginários.

Embora no início, o aloirado tivesse se dado por vencido, sabendo que


gozaria fácil, desobedecendo às ordens do Park, agora ele se via irritado, ao
se dar conta do sorrisinho presunçoso no rosto do menor, enquanto este
fingia que nada demais estava acontecendo, ao passo que se deliciava
sadicamente com as reações do mais novo em seu colo, querendo gozar e
sem ter permissão para tal.

Ah, o Diabo trabalha de modo ardiloso, mas Park Jimin trabalhava ainda
mais. E ele adorava aquilo. Adorava ver Jeon se contorcer, tentando negá-
lo, sem sucesso. Adorava assisti-lo tentar desobedecê-lo e aí fraquejar, bem
diante dos seus olhos. Amava o poder que tinha sobre Jungkook, porque
sabia que causava no mais novo, o mesmo efeito que ele causava em si.

O ex-coronel era um bobo por Jeon Jungkook. Faria tudo por ele e mais um
pouco. As coisas que vinha sentido pelo alfa de genes ômegas, chegavam
em seu peito como uma batida de trem furiosa. A sensação era que, por ter
tentado reprimir o interesse e atração genuínos que sentia pelo garoto ao
longo daqueles três anos, agora o atropelavam como uma avalanche. Ao
invés de vir aos poucos, vinha tudo de uma só vez, numa sensação quase
sufocante.

Mas ora, Jungkook não fora classificado como brat tão imediatamente, à
toa. Ele gostava do embate e de devolver qualquer tipo de provocação na
mesma moeda. Por mais que às vezes se deixasse levar. Agora,
especialmente, ele lutava contra seus instintos, para que não fosse vencido.
Daria o troco em seu dominante. Ele não o domaria agora.

Foi aí que o tamer quase viu estrelas. O maldito brat estava disfarçada e
audaciosamente rebolando no seu pau. Fingia que estava movendo o corpo
porque gesticulava durante a conversa, onde contava alguma coisa, mas era
só um pretexto pra deslizar as nádegas durinhas no pênis alheio. O feitiço
tinha se voltado contra o feiticeiro.

Não satisfeito, o tingido levou sorrateiramente as mãos para os lados de


próprio quadril e puxou levemente o tecido da fantasia, de modo que não só
a bunda, como o cóccix e o início de suas costas, ficassem visíveis para o
alfa embaixo dele.

A sanidade de Jimin quase se esvaiu. "Que garotinho filho da puta!" — sua


mente gritava, enquanto ele mordia o lábio e apertava as mãos em punho,
tentando se controlar pra não segurar Jungkook pela cintura e intensificar o
contato daquela bunda em seu cacete semi-teso. Principalmente vendo o
maldito fio dental na bunda do garoto, que estava tão enfiado na entrada, à
ponto de deixar a pele vermelhinha pelo atrito forte do tecido elástico.

Mas o lúpus não era bobo. Lidar com um sub que não se submetia fácil,
embora fosse uma novidade pra ele, ainda assim não o deixava na mesma
posição de um dominador iniciante. Ainda mais com o monte de estudos
que vinha fazendo, sobre as melhores formas de lidar com um brat.
Aplicaria seus conhecimentos agora. Até porque, Park Jimin nascera com o
dom da provocação intrínseca em seu ser. Aquilo era parte dele. A afronta,
a disputa, o prazer de fazer o outro se curvar a ele. Tudo aquilo lhe era
fodidamente prazeroso e isso sim era uma novidade: as sensações que o brat
lhe causava.

Então o tamer estava disposto a virar o jogo. Aumentou a vibração da bullet


pra velocidade máxima, rindo ao ouvir Jungkook gaguejar no meio da fala,
enquanto contava alguma coisa engraçada. E é claro, agora não tinha mais
como disfarçar que alguma coisa acontecia com ele. Os outros três rapazes
já tinham se dado conta.

Yoongi era o único que sabia exatamente qual brinquedinho estava sendo
usado no sub. Então o inegável sadismo em si, o dizia que ele precisava
ajudar seu amigo a castigar o malcriado mais um pouquinho. Jimin era
muito mole.

— Oh, Jungkook-ah? O que houve? Você tá passando mal? Quer um uma


água? Talvez tirar a roupa, ligar o ventilador? — debochou o platinado.

Todos se encaravam segurando risinhos, enquanto Jeon tentava responder,


mas seu olhar estava completamente perdido e desfocado, falando coisa
com coisa. Nem ele mesmo entendia o que estava dizendo, embora
estivesse dizendo alguma coisa.

— É que... eu tô... tá tudo bem, sabe, as coisas estão ótimas, minha saúde tá
incrível, hyung, eu tô parecendo desconfortável? — o ex-ruivo falou
desconcertado, apertando o tecido da fantasia entre seus dedos com toda a
força... — Deve ser impressão sua, é que, eu... não sei, tô legal mesmo...
— Mesmo, JK? — Hoseok entrou na brincadeira. — Que coisa, você tá
parecendo suado, igual quando fica com febre. Seu rosto tá até meio corado.
Tá com calor?

— Fica quieto, mercenário... — Jungkook sussurrou entredentes pro amigo,


já que era o mais próximo dele, dos três.

O garoto suava, e a coleira de couro grosso em sua garganta, parecia pesar


três toneladas naquela hora, dando uma sensação sufocante, embora não
estivesse nada apertada.

— Oh, Kookieee, você não deveria se comportar assim, eu ainda sou o seu
hyung, só estou preocupado com o bebê... — rebateu o switcher, em tom
fingido e repleto de sarcasmo.

— Amor... — chamou Jimin por trás dele. Jungkook se virou de cara feia,
querendo socar o outro. — Pega aquele potinho de alface pra mim, ali do
outro lado da mesa? Mas não quero que peça ao Taehyung. Quero que se
estique e pegue pra mim.

Quase tremendo, o mais novo obedeceu. Ao menos seria uma trégua da


sensação do pau duro do Park cutucando sua bunda. Mas enquanto se
esticava preguiçosamente por cima da mesa, sentiu a mãozinha sagaz do
mais velho arrastando o fio dental da sua calcinha pro lado.

O ex-ruivo fechou os olhos, quase se deixando cair de bruços por cima da


mesa, desistindo de tudo. Queria dar tchau pras visitas e implorar pra que
Jimin o fodesse ali, de bruços na mesa. Sequer notou que estava quase
fazendo isso, o peitoral grudando na superfície lisa e por cima de todas as
travessas de comida.

— Você não me parece bem, Jeon — o alfa de fios rosas provocou. — Está
com uma carinha de doente. Ou talvez assim de perto, você seja realmente
feio... — comentou maldoso.

— Taehyung... — a repreensão veio intensa do switcher.


Jungkook abriu os olhos, sem dar um puto de confiança pra provocação do
outro alfa bratzinho. Se resolveria com ele depois. Tratou de pegar a vasilha
com alface e voltar a sentar.

Malandro como o Park era, havia sorrateiramente puxado a calcinha do sub


pro lado, enquanto tirava o próprio pau teso pra fora da calça, com a outra
mão, segurando-o certeiro pela cabecinha, de modo firme e bem
direcionado. E quando Jungkook voltou o corpo pra trás...

— Porra... — o alfa híbrido xingou baixinho, com os lábios crispados.


Acabou largando a vasilha de salada na mesa e segurando as laterais do
móvel com tanta força, que os nós de seus dedos ficaram brancos.

Jungkook e Jimin estavam sentados juntos numa ponta, tendo Taehyung na


outra, Hoseok na lateral esquerda, e Yoongi à direita deles. Desse modo,
sem querer o Jung acabou olhando curiosamente pro lado, no exato
momento em que o pau ereto do lúpus se perdia pela saia do vestido, indo
de encontro à entrada sedenta e molhada do Jeon, deslizando cada
centímetro com facilidade.

Meio sem jeito por ter visto o que não devia, mas perfeitamente atiçado,
Hoseok voltou o olhar para Yoongi, sentado de frente pra ele, soltando um
risinho safado.

— Tem certeza mesmo que está bem, amor? Quer um pouco de água? —
indagou venenosamente o Park, ao passo em que se sentou mais ereto na
cadeira e rodeou a cintura do namorado com os braços, puxando o corpo do
garoto pra baixo e fazendo seu caralho ir mais fundo dentro da cavidade
quentinha. Ele podia estar ficando louco, mas deixaria Jungkook ainda
mais. Se o outro queria sentar, agora teria que sentar de verdade.

— Eu tô bem — o aloirado rosnou irritado. Ou o que ele achava ter soado


irritado, mas sua sentença pareceu como a de um filhote felino.

Jimin começou a se mover lentamente embaixo do outro, rebolando o


quadril em círculos, intercalando com estocadas curtas e suaves,
devagarzinho, ainda disfarçando. Não era porque todo mundo ali já estava
ciente da putaria que acontecia, que ele simplesmente foderia Jungkook
abertamente na frente de todos. Ou pelo menos, não naquele dia. A ideia era
que Jeon sentisse vergonha por causa do cheiro ômega tomando o lugar, e
não que ficasse com ainda mais tesão, visto que era tão exibicionista quanto
ele.

O desbotado queria gemer, fodidamente excitado. Por conta de a


movimentação ser lenta, ele podia sentir o cacete rígido do lúpus pulsando
necessitado dentro dele. Podia sentir cada pedacinho da extensão
massageando com cuidado e vagareza dentro de si, deixando-o louco. E pra
piorar toda a situação, a maldita bullet estava ali, tremendo tão perto de sua
glande, que ela já estava dolorida. Precisava gozar imediatamente.

— Oh, JK, já que você está bem, porque não pega uma água gelada pro seu
hyung, hein? Por gentileza — divertiu-se o beta.

Jungkook quase grunhiu de nervoso. Não queria ser pego em flagrante,


fodendo na frente de todo mundo. Embora ele soubesse que todo mundo ali
estava ciente do que ocorria, ainda seria muito humilhante ser pego, porque
todo mundo ali sabia que o cheiro doce mesclado ao amadeirado, era dele.
O cheiro ômega, vinha dele.

— Por que não pega você mesmo? Por acaso nasceu sem mão? — devolveu
o ex-ruivo ao amigo, de modo mal educado e irritadiço.

— Oh, Jimin... — comentou o ômega dominador, que também era tamer. —


Seu sub é muito mal educado. Talvez você deva me emprestá-lo pra que eu
o discipline. Eu faria com todo o prazer...

Do outro lado da mesa, Taehyung bufou e fechou a cara, cruzando os braços


na frente do peito, para então fitar Jeon com desdém. Mas ninguém pareceu
lhe dar atenção. Exceto Hoseok, que o encarou preocupado.

Jungkook respirou fundo, segurando com ainda mais força no tampo da


mesa.

— Ele não vai me emprestar pra ninguém, não sou um objeto... — rebateu o
brat.
Jimin estava achando uma gracinha, seu gatinho pondo as garrinhas pra
fora, como já era de costume... Ou seria um coelhinho selvagem?

— Bem, ele já disse que não concorda, hyung — comentou tranquilamente


o tamer, enquanto se movia lentamente dentro do garoto. Como se nada
estivesse acontecendo. — E de qualquer forma, não é como se eu quisesse
emprestá-lo. Ele é minha propriedade, apenas. E sou um pouco ciumento
com ela — disse com um traço de humor na voz.

— Ele disse que não é um objeto, portanto não pode pertencer à alguém,
nem mesmo à você — alfinetou o Kim, com um bico nos lábios, do outro
lado da mesa.

— Então você não me pertence, Jungoo-ah? — indagou provocadoramente


o Park, dando um beijinho na nuca do namorado, enquanto apertava com
mais possessão o corpo contra o seu.

Jeon fechou os olhos, tentando se concentrar numa resposta malcriada, mas


apenas resultou numa percepção mais aguçada dos movimentos gostosos
em sua bunda, assim como na vibração abrasadora em seu pênis. Se aquilo
não parasse logo, ele ia vir e com força. Ia perder aquela maldita disputa e,
de quebra, ganharia mais um maldito castigo.

— Jimin-ah, eu acho que já tá bom de a gente jantar — o híbrido declarou


com a voz fraca. — É melhor a gente ir lá pra cima agora, né?

— Quem dita o momento sou eu — o ex-militar comentou com a voz dura.


— Mas se você quer dizer isso como uma sugestão, ponha-se em seu lugar
e demonstre respeito. Você sabe como deve se referir ao seu alfa.

O lúpus então, maliciosamente deslizou a palma por uma das coxas de Jeon,
tocando-o pela virilha, até que apanhou a piroca dura na destra, movendo-a
de um jeito muito, muito gostoso.

Jungkook, por um triz, não soltou um gemido desesperado. Eram carícias


demais pra que pudesse se controlar. Ele ia gozar, estava quase lá. E ouvir
Jimin falando naquele tom autoritário e grosseiro, bem rente à sua nuca, era
demais pra que suportasse.
— Jimin-ssi, por favor... — corrigiu-se. — Eu não tô... — mas então o
dedinho do Park passou a deslizar em sua glande melada de tanta pré-porra.
O garoto não podia ver, mas tinha certeza que sua cabecinha babada já
devia estar roxa, sentindo-se estrangulada. E aí, ele não aguentou mais.

A porra quente jorrou pela uretra, sujando toda a mão do Park e escorrendo
para as coxas de ambos. E claro, ver o seu garotinho gozando tão gostoso
daquele jeito, além de estarem na frente de tanta gente, deixava o ex-militar
em estado crítico. Não podia enxergar o rosto de Jungkook, mas podia
apostar que o garoto estava com a boquinha aberta, os olhos apertados e o
cenho franzido, enquanto seus dedos longos apertavam a quina da mesa.

E imaginando a expressão tão conhecida de seu bratzinho, ao mesmo tempo


em que sentia o gozo melado na mão, o ex-coronel também não se
aguentou. Seu caralho latejou naquele interiorzinho quente e apertado.
Apoiou a testa nas costas do garoto e mordeu o próprio lábio entre os
dentes, tentando controlar as presas desesperadas pra rasgarem sua gengiva,
ao respirar aquele cheiro inebriante do rapaz híbrido. Sua palma acabou
apertando o pênis grande nela, sentindo-a vibrar junto ao bullet, enquanto
ele se despejava dentro do namorado.

— Esse cheiro... — comentou Taehyung, atordoado. — Minha nossa... —


disse de olhos arregalados e levantando-se da cadeira.

Yoongi deu uma risadinha satisfeita, encarando fixamente o casal. Já


Hoseok, apertava o próprio cacete teso dentro da calça, com a destra,
sorrateiramente; O cheiro de Jungkook era insuportavelmente gostoso, mas
o de Jimin tinha conseguido deixá-lo tonto... malditos alfas lúpus e seu
delicioso cheiro de musk.

— Agora sim... podemos... subir — declarou o lúpus, com a voz


entrecortada. E então um sorriso completamente sádico se apossou de seus
lábios.

Jungkook tinha perdido. Tinha gozado forte, afinal, desobedecendo seu


tamer. Então ele que se preparasse. Jimin o faria pedir arrego.

CONTINUA [...]
. Meu presente de aniversário: vocês publicarem o link da fic no
próprio mural (mesmo que vc tenha pouquíssimos seguidores)

.. O vídeo do Min Holly:

https://youtu.be/nLlzPoT_r6o

... Os avisinhos de praxe, pq são muito, muito, muito importantes:

Vamos deixar claro que homens afeminados, que gostam de se portar ou


se vestir como mulher, não tem o menor problema. Não é errado, não é
vergonhoso e é sempre bom lembrar que
ROUPA.NÃO.TEM.GÊNERO. — Contudo, o castigo/punição aplicado no
Jungkook aqui, é algo bastante comum dentro do bdsm. Submissos homens
QUE NÃO SÃO AFEMINADOS E NEM GOSTAM DE SER, costumam
receber este tipo de punição/castigo. Isso porque, se você não gosta de
uma coisa e é obrigado a fazê-la, obviamente será um martírio. Não foi
algo que inventei da minha cabeça, é uma punição clássica na comunidade.
Se o sub tiver fetiche em cross-dressing, não será usado como punição, isso
é lógico. Além do mais, a roupa que JK usa aqui, não é bem uma roupa de
mulher, é mais uma fantasia escrota pornôzona.

E não quer dizer que todo o homem submisso vestido de lolita ou qualquer
coisa padronizada como 'feminina', está tomando uma punição. Existe o
fetiche específico do cross-dressing, e inserido nele, estão os Sissy, que são
homens que se vestem não apenas como uma mulher, mas sim como uma
boneca. É fetiche dele se vestir assim no play, independente de sua
identidade de gênero ou sua orientação sexual.

Eu, por exemplo, mesmo sendo mulher, caso me submetesse à alguém e


tivesse que usar a roupinha de lolita que o jk usou, me sentiria muito
envergonhada. Pq a ideia da punição, é fazer com que o sub sinta-se
envergonhado por decepcionar seu dominador. Até o Michael Kyle já
castigou o Júnior em 'Eu, a patroa e as crianças' fazendo ele usar vestido e
salto. Portanto, dentro desse contexto de punição na relação D/s, vestir-se
como uma lolita pornô, não foi nenhum piquenique pro JK.
AGORA REPITAM COMIGO: ROUPA NÃO TEM GÊNERO. E NÃO HÁ
PROBLEMA ALGUM UM CARA SER AFEMINADO.

Quem entendeu, lindo, parabéns, toma essa estrelinha (e aproveita pra


deixar seu votinho no capítulo, pq é importante pra mim)

Agora, quem não entendeu... Amigo, paciência. Procure um curso online de


interpretação de texto, coisa e tal, pq mais explicado que isso, só em TCC.
21| chastisement

ESCRITO POR HowUdare

Enquanto subiam as escadas, Jungkook ia sentindo como se uma avalanche


estivesse acontecendo em seu peito.

Era agora.

Era finalmente o momento.

Seu coração martelava, seu sangue pulsava por baixo das veias, até sua
visão já estava ficando embaçada. O desbotado teve que começar a fazer
controle da própria respiração, para acalmar a ansiedade que subitamente o
atingira.

— Você já pensou em alguma safeword? — Jimin o perguntou, parado na


porta da masmorra, tendo o trisal posicionado em frente à porta da suíte,
esperando para ouvir qual seria a palavra de segurança do mais novo.
Jungkook sacudiu timidamente a cabeça em negativa, porque nunca tinha
pensado em uma palavra própria pra si. Sequer pensava que ele a
escolheria, achava que o Dominador faria isso. — Então, depois você pode
pensar em uma, com calma. Como é sua primeira sessão, nós podemos usar
palavras padrão.

— Tipo "vermelho"? — Jungkook indagou incerto. Já tinha lido em alguns


fóruns, blogs e artigos sobre bdsm, que "vermelho" ou "água" eram
palavras de segurança muito utilizadas. Qualquer palavra que fosse
broxante e distoasse do clima sensual.

— Sim, vermelho — o Park assentiu num leve menear positivo de cabeça.


— Use vermelho se sentir que ultrapassei seu limite e você quiser parar
completamente a sessão. Grite "amarelo" se achar que estou indo longe
demais e quiser que eu pegue mais leve, mas sem interromper
definitivamente a sessão. Entendeu? — o aloirado assentiu, movendo a
cabeça pra cima e pra baixo, em concordância. — Preciso que seja mais
verbal, Jungkook-ah.

— Sim, senhor, eu entendi. Direi "amarelo" caso queira que pegue mais
leve, e "vermelho" se eu quiser que a gente interrompa tudo.

O desbotado achava que se referir a Jimin daquele jeito respeitoso frente a


outras pessoas, principalmente aos seus amigos, seria algo estranho, lhe
daria uma certa vergonha, ou que se sentiria levemente diminuído. Mas
quando viu o sorriso aprovador nos rostos de Yoongi e Hoseok, que também
eram Dominadores, foi que Jungkook entendeu: não era vergonha alguma.
Era algo admirável. Qualquer um na posição de dominação, acharia
satisfatório.

Então se voltou para o lúpus, o encontrando com um olhar ainda mais


orgulhoso e um brilho quase animalesco nos olhos. E a aprovação do Park,
mexia com o ego de Jeon, de maneira arrebatadora. O ex-ruivo sentia seus
pêlos da nuca arrepiarem e o baixo abdome formigar. Era um prazer que
alimentava além de sua carne: dominava sua mente e o seu ego.

Jungkook acabou deixando sua excitação transparecer na face, quando


repuxou os lábios pro lado, num sorrisinho fechado e totalmente safado; Ao
que Jimin correspondeu, com um olhar afiado e a carne lábio inferior preso
entre os dentes, encarando o namorado lascivamente, de cima a baixo.

— Nós estaremos no quarto ao lado, JK — Hoseok avisou, com um sorriso


cúmplice. — Não exite em nos chamar... Mas duvido que vá precisar —
finalizou dando uma olhada brincalhona no Park, antes de dar uma
piscadinha pro amigo e entrar no quarto, arrastando Taehyung pela mão.

O PurpleSub ainda empacou no portal, encarando Jungkook de modo


irritado, para então dizer:

— O cheiro dele é muito gostoso, Hobi... você vai me chupar pra aliviar
meu problema, né? Eu tô surtando, meus instintos estão gritando pra eu
avançar nesse feioso... — resmungou.
Jeon, de pé no corredor e obviamente tendo tudo dito assim, bem na sua
cara, arregalou os olhos. Mas o que sentiu foi diferente de constrangimento.
Engolindo em seco, notou uma certa satisfação em seu ego: Kim Taehyung
estava excitado pelo seu aroma.

— Fique calado, você está de castigo, Taehyung — o Jung praticamente


rosnou e, com um puxão firme no pulso do rosado, finalmente o arrastou
pra dentro do quarto.

Yoongi ainda permaneceu ali fitando Jungkook de modo curioso por mais
um par de segundos, antes de sorrir matreiro e dizer:

— Eu tô com pena de você, criança... — e aí entrar na suíte do Park, onde


já estavam seus dois namorados, batendo a porta ao final.

Como já era de se esperar, o alfa de genes ômegas sentiu-se levemente


assustado, mas aquilo apenas o deixava ainda mais excitado e ansioso.
Olhou para o rosto de seu dominador, esperando uma nova ordem.

— Tire toda a sua roupa, menos a coleira. Remova também a bullet. Fique
ajoelhado aos pés da cama, de cabeça baixa, e me espere. Vou me preparar
pra você — disse sério, mas mantendo aquele tom rouco e provocador em
sua voz. — Quando eu entrar na masmorra, não serei mais o seu vizinho
gentil, nem o seu namorado... Serei o seu Dominador e Senhor. Nós não
teremos romance. Eu irei te humilhar e te machucar. Esteja pronto pra
entrar no jogo — avisou.

Jungkook quase soltou um assobio. Seu coração acelerou, batendo tão forte
no peito, que teve medo que Jimin o ouvisse. Passando a língua entre os
lábios, inspirou e expirou o ar demoradamente, antes de dizer com um
sorrisinho sacana:

— Sim, meu senhor. Mas antes, posso te pedir uma coisa? — perguntou. O
tamer o encarou curioso e deu um aceno positivo de cabeça. — Usa seu
quepe da farda? Por favor...

Jimin o fitou com um sorrisinho de lado e uma das sobrancelhas arqueadas.


— Isso te excita? — indagou para confirmar, mesmo já sabendo a resposta.

— Se me excita? — devolveu o ex-ruivo. — Eu já bati muita punheta


pensando em você de farda, hyung... — sorriu de modo luxurioso.

Entre esses dois, a disputa era acirrada para definir qual deles era mais
safado.

— Entra no quarto — o lúpus ordenou somente, ainda com um risinho


insistente.

O mais novo então se virou para entrar na masmorra, torcendo para que
tivesse seu pedido atendido. Sabia que estava sendo punido e castigado,
então provavelmente o tamer o ignoraria. Mas torcia pra que seu fetiche
fosse realizado.

De modo afoito, o garoto correu pra frente do espelho, quase escorregando


no tapete felpudo vermelho. Tirou a maldita fantasia de modo
desengonçado, quase caindo no processo. Finalmente estava se livrando
daquela coisa ridícula. E só de olhar pra como sua aparência parecia,
vestindo a roupa de lolita, já sentia as bochechas arderem de vergonha.

Estava pensando seriamente em se tornar um submisso bonzinho e nunca


mais na vida, agir de modo malcriado ou tentar provocar o Park. Isto é, se
vê-lo irritado, não lhe desse tanto prazer. Então provavelmente ele
continuaria sendo um brat safado.

Contudo, não hoje; Hoje Jeon Jungkook estava disposto a ser o submisso
mais obediente que o ex-militar já conhecera na vida. Faria cada pequena
coisinha que o outro ordenasse, desde que não ultrapassasse seus limites.
Esses que nem ele mesmo vinha descobrindo aos pouquinhos, já que era
novo naquilo. Mas ao menor sinal de desconforto real e imotivado, o ex-
ruivo sabia que não exitaria em pedir pra parar.

Checou o próprio corpo no espelho. Estava bonito, como sempre. Seu pênis
continuava ereto como nunca, imponente em meio à pélvis clara e
recentemente depilada. A cápsula vibratória estava desligada, mas Jeon
ainda era capaz de recordar a sensação da vibração enlouquecedora, quando
olhava pra bullet. E subitamente com a visão, recordou da expressão sádica
de olhos apertados e desafiadores do Park.

Cuidadosamente, roçou a unha na ponta da fita adesiva, começando a


descolar da pele. Prendeu um grito na garganta e fez uma careta de dor,
quando a silvertape quase arrancou a tez fina de seu membro fora. Ou pelo
menos aquela era a sensação.

Ao arrancar a última camada do adesivo, prendeu o lábio entre os dentes e


grunhiu, segurando o próprio membro nas mãos e dando pulinhos nervosos.
Tinha doído pra um cacete.

— Maldito Park Jimin, aquela cobra sorrateira! — resmungou irritadiço. —


Aposto que fez isso de propósito. Ele já deve ter reparado que eu realmente
não gosto dessa coisa de tortura genital...

E sim, era claro que o Park já notara. Punir Jungkook era difícil, uma vez
que ele era medianamente masoquista. O desbotado não costumava
provocar para apanhar, mas adorava uma dorzinha. Entretanto, sua clara
exceção era no pênis. Era muito sensível a qualquer dor ali, e espertamente,
era onde o ex-militar percebera ser seu calcanhar de aquiles, de modo que
era um dos poucos modos eficazes de puni-lo com a dor. Então sim, usar a
fita isolante para prender o brinquedo vibrador em seu pênis, fazia parte da
punição.

Jeon suspirou, ansioso. Estava incomodado por ter se esquecido de retocar


os cabelos, agora que via a coleira vermelho-sangue enfeitando seu
pescoço. Só conseguia pensar no quão perfeita ela combinaria com seus fios
cor de cereja.

Caminhou até a ponta da cama no canto do cômodo e se ajoelhou, ficando


de frente para a porta e descansando em seus calcanhares. Mal podia
esperar pelo momento em que o Dominador entrasse por ela. O que
demorou um certo tempo, talvez dez minutos ou mais. E enquanto isso,
Jungkook aproveitava para observar cada detalhe no quarto-masmorra.

O cômodo parecia infinitamente menor e menos imponente que da primeira


vez que entrara nele, quando se mudou para a casa do tamer, após o cio.
Fazia pouco mais de um mês, mas tendo já começado a relação D/s com
Jimin, convivendo com todas aquelas questões acerca das práticas, vinte e
quatro horas por dia, sete dias na semana, a masmorra não parecia mais uma
coisa de outro mundo.

A sensação que tinha agora, era a de um lugar familiar e que lhe passava
conforto. Era como se quisesse fazer parte da mobília, tão em casa se sentia.
E pensando bem, Jungkook poderia ser considerado um adorno do local.
Era tão propriedade do AlphaDome, quanto todos os objetos que haviam ali
dentro. E ele se orgulhava disso — ainda que houvesse alegado não ser um
objeto, minutos atrás, por pura birra com Yoongi.

Foi aí que Jimin entrou no cômodo iluminado pela suave luz vermelha,
como uma forte entidade. Sua presença era forte abrasadora, parecendo
deixar o ar mais denso. A pele úmida pós-banho, brilhava na leve
penumbra.

O avermelhado se atreveu a mirar o homem imponente, deparando-se com a


visão mais maravilhosa que poderia encontrar: o Park estava seminu,
usando apenas uma cueca de látex brilhoso, assim como um par de luvas
curtas de mesmo material. Compondo a aparência da cueca, havia um fino
zíper prateado, por onde o pau poderia ser colocado pra fora e fazer o
serviço, sem que a peça precisasse ser removida; assim como na parte
detrás, onde também existia um zíper idêntico, com a mesma finalidade.

O corpo esbelto de pele leitosa, se movia com a graça de um predador — e


ele de fato era. As linhas dos músculos definidos apareciam
provocadoramente por baixo da camada de pele macia, com algumas
gotículas de água escorrendo e levemente arrepiada pela temperatura gelada
do quarto ao final de dezembro, causando em Jungkook uma sensação de
fraqueza.

E finalmente, os cabelos negros estavam cobertos pelo quepe branco da


farda militar da aeronáutica coreana. Ele acatara o pedido, afinal. O brat
quase chorou e juntou as mãos dizendo: "Obrigado, obrigado, obrigado,
meu senhor!"
E ao mirar o olhar felino de seu Dominante, o mais novo estremeceu. O
Park tinha uma expressão completamente nova no rosto. Aquela, o garoto
jamais tivera o prazer de ver, mas agora que via, sentia como se uma carga
de adrenalina houvesse sido injetada diretamente em suas veias, que
refletiria em seu membro livre, caso já não estivesse completamente duro,
pela pílula azul que tomara.

— Eu te dei alguma porra de permissão para que me olhasse, seu merdinha?


— o ex-militar disse ríspido, com uma expressão de superioridade inegável.
E aquele tom fez o âmago do ex-ruivo formigar em resposta.

Era excitante pra caralho, que aquele moreno doce, de estatura pequena e
voz manhosa, usasse um tom tão rude naquele momento, vestido naquela
minúscula peça de roupa fetichista e pornográfica de látex, e ainda o
insultando como fazia.

Por um triz, o mais novo não se levantou do local em que estava, e partiu
para cima do Park, grudando seu dentes na carne branca do pescoço
cheiroso, marcando-o finalmente como seu.

— Não. Me desculpe, meu senhor — respondeu imediatamente o


desbotado, abaixando rapidamente o olhar e entortando a boca para o lado,
ao reprimir um sorriso ladino excitado. Agora, via apenas os pés do Park e,
porra! até seus pés eram bonitos.

O tamer deu as costas e se afastou mais um pouco, finalmente sentando-se


em uma das poltronas de couro, esta próxima à cruz de Santo André.

De cabeça baixa, Jeon podia ver que o ex-coronel estava esparramado no


móvel, com as pernas bem abertas, de modo despojado, confortável; os
cotovelos apoiados nas laterais do estofado.

Enquanto Jimin permanecia em silêncio, apenas o som das respirações de


ambos preenchiam a masmorra, o que ocasionava numa expectativa ainda
maior naquele em posição de submissão; Jungkook era até mesmo capaz de
ouvir as batidas aceleradas de seu próprio coração martelando no peito, a
pressão sanguínea aumentando, seus poros expulsando suor, a pele ficando
mais quente.
Foi aí que se deu conta de que a espera fazia parte do jogo. Causava uma
forte ansiedade naquele que se submetia, por estar exposto e à mercê de seu
superior, seu dominante.

— Engatinhe até aqui — o tamer ordenou simples.

Sem olhar pra cima, o ex-ruivo espalmou as duas mãos magras no chão e,
lentamente, se arrastou até a poltrona, sempre fitando o tapete vermelho
felpudo por onde passava, nunca o outro alfa, porque duas desobediências
seguidas, não eram uma boa ideia.

Enquanto engatinhava, tanto o pênis duro, quanto o quadril do mais novo,


balançavam com a bunda durinha empinada no ar, a coluna lindamente
curvada, os músculos das costas ondulando e os dos braços flexionando-se
com vagareza, expondo o quão bem trabalhado era seu corpo alfa.

Jimin mal podia acreditar que tudo aquilo era seu. Jeon Jungkook, o alfa
peculiar, de personalidade atrevida e cheiro mesclado, era seu e somente
seu. Não só o corpo, mas a mente do garoto lhe pertencia. Era a ele que o
rapaz atendia, ansiava e obedecia.

Jeon Jungkook fora domado por Park Jimin. Submetia-se a ele e somente a
ele. Era sua propriedade, seu brinquedinho. E fora da relação D/s, o garoto
de cabelos tingidos era seu namorado, seu amorzinho e seu bebê.

Droga, estava tão apaixonado que doía. O lúpus vivia para ver o sorrisinho
de coelho brotar no rosto daquele alfa. Jungkook estava ajoelhado no chão,
mas era Park Jimin quem estava aos seus pés.

Parado de quatro, frente ao ex-militar, o brat atrevido e devidamente


encoleirado, começou a subir o olhar teimosamente pelas pernas lisas do
Park, mas se travou e voltou o olhar pro chão, ao ouvir o moreno estalar a
língua nos dentes, em som tipicamente reprovador.

— Você precisa aprender a obedecer e demonstrar mais respeito, Jeon


Jungkook... — o mais velho disse em tom de repreensão branda. —
Meninos bonzinhos ganham as mais gostosas recompensas — declarou com
a voz claramente provocadora, em tom rouco.
O mais novo engoliu em seco, mordendo o lábio e aspirando o ar até seus
pulmões inflarem-se. Seu pau ficava cada vez mais duro, se é que era
possível, e cada segundo que passava era como uma tortura deliciosa, uma
expectativa nervosa.

Permaneceu ali, observando os pés do Dom, reparando em como as


extremidades do corpo dele costumavam ser gordinhas. Não só os dedos
das mãos, mas os dos pés do lúpus eram gorduchos também.

Jimin era gostoso e fofo. Como alguém poderia ser os dois? — Jungkook
pensava. A dualidade era irritantemente perfeita, e o tamer parecia ter sido
esculpido de forma a deixar o pobre Jeon louco de tesão e morrendo de
amores, como um bobo.

Vendo que o outro encarava fixamente seus pés, o AlphaDome sorriu de


lado, satisfeito, a ideia para um bom começo de sessão brotando em sua
mente.

Levantou o pé direito, lentamente, deslizando-o pela lateral do corpo do sub


ainda de quatro, que estremecia pelo leve contato, a pele sentindo cócegas.
Até que o moreno flexionou o joelho, deslizando a ponta do dedão pela
bochecha gordinha do submisso, que sem nem se dar conta, inclinava-se em
direção ao membro, como se aprovasse o toque, semelhante a um cachorro
pedindo carinho. E talvez fosse mesmo, a coleira vermelha incrustada de
pinos de aço em seu pescoço, o assemelhava a um.

— Olhe pra mim — Jimin ordenou, o tom suave, mas ainda autoritário.

Jungkook obedeceu, subindo lentamente o olhar pelo corpo alheio, notando


que, assim como ele, o AlphaDome não tinha sequer um pelo no corpo,
naquela ocasião; havia depilado-se por completo. Viu os mamilos marrons
rígidos pelo frio, os músculos do abdome trincados pela posição sentada e o
pênis meio duro sendo esmagado dentro do tecido brilhoso do látex, com a
cabecinha escapulindo pra fora.

Isso fez o desbotado sorrir, entortando a boca: porque reparou que o lúpus
lembrava-se que ele tinha uma preferência por látex e não couro, de modo
que estava usando a peça daquele material, no intuito de agradá-lo, mesmo
que o tivesse lhe dado aquela inocente informação há muito tempo atrás.
Fora o bendito quepe branco na cabeça, que lhe deixava com uma postura
ainda mais fodidamente excitante. Jungkook estava tão seduzido pelo
moreno, que doía. Doía forte em seu interior, queimava como brasa.

Quando os olhos do sub encontraram o de seu dominante, foi como gasolina


sendo ateada fogo. Uma complexa combustão. Jeon estava sedento. Queria
Jimin por inteiro, queria satisfazê-lo, ansiava vê-lo revirar os olhos por sua
causa.

E o desejo do Park não era diferente; queria lambuzar Jungkook com sua
porra, ansiava ouvir os gemidos manhosos do garoto em seu ouvido, queria
sentir a pele alheia queimar encostada na sua. Mas não poderia. Não
naquela sessão. Jeon Jungkook merecia mais um pouco de medidas
disciplinares, não merecia? Mais castigos? Oh, Park Jimin fazia preces
silenciosas, pra que seu autocontrole exemplar não vacilasse justamente
agora. Mal haviam começado, e o moreno já estava louco para comer
aquele cuzinho apertado, puxando os fios desbotados com força entre seus
dedos, pouco se fodendo pra merda de castigo. Queria Jungkook e o queria
agora, implorando por ele.

Respirando fundo em busca de algum controle, tomando as rédeas de sua


própria mente fértil, o Dominador deslizou o dedão do pé para mais perto
dos lábios finos de Jeon e então ordenou:

— Chupe.

Jungkook viu o dedo gordinho ali, pairando a centímetros de sua boca.


Eram dedos fofos. E a pele do Dominador cheirava a sabonete. Ainda
incerto, o mais novo separou os lábios, colocando a ponta da língua pra
fora, até que esta tocasse o dedão alheio, de modo experimental.

Buscando o olhar de seu dono, viu este lhe dar aprovação e incentivo para
que continuasse, com um curto e quase imperceptível menear de cabeça.

Mais instigado, Jeon acolheu o dedo para dentro da boca, dando uma
chupava suave, de olhos fechados. Ouviu Jimin soltar um pequeno gemido
dengoso; Imediatamente, o ruivo abriu os olhos, para mirar o tamer, sua
boca abandonando o dígito com um baixo som de 'ploc'.

Um gemido provavelmente queria dizer que o tamer estava gostando. Mas


Jungkook não fazia ideia de qual era a sensação de ter um dedo do pé
chupado. Então, sem fechar os olhos dessa vez, cuidadosamente segurou o
tornozelo do Park com a canhota e o pé com a destra, logo cobrindo o
dedão com a boca outra vez.

Viu o ex-coronel cerrar os olhos e jogar a cabeça levemente para trás, com
os lábios separados, emitindo uma pequena lamúria com a garganta, ao
mesmo tempo em que descia a mão gordinha para o próprio pau desperto,
apertando-o por cima da cueca de látex.

Naquele momento, algo explodiu no interior do brat. Uma sensação


gloriosa de satisfação, em estar agradando seu dominador, o atingiu. Queria
ouvir aquelas lamúrias e a expressão no rosto do Park, pra sempre. Porra,
era tão delicioso, tão satisfatório, em tantos sentidos...

Jungkook então passou a chupar o dedo do Alphadome com mais afinco,


sempre atento às expressões de seu mentor. Agora o moreno lhe encarava
de volta, com um pequeno sorriso no cantinho da boca, deixando claro em
suas expressões, o quanto gostava do que seu submisso lhe dava.

O ex-ruivo abandonou o dígito em seus lábios, para então desliza-los pelo


peito do pé alheio, dando pequenos beijinhos curiosos no membro,
enquanto suas mãos massageavam o pé gordinho cheiroso. O pé de Jimin
era grande, mas ainda era menor que o seu.

— Já está bom — o ex-coronel declarou satisfeito, afastando delicadamente


o pé dali. Ele então se inclinou, chegando o rosto muito próximo ao do
garoto, que agora se mantinha de joelhos, com as mãos espalmadas nas
próprias coxas brancas. — Quero que vá até a parede de acessórios e me
traga a chibata. Você se lembra das nossas aulas? É uma vara fina, com um
pequeno corte de couro na extremidade, em formato de coração.

Jungkook assentiu calmamente, e quando o Park se afastou, voltando a se


encostar no sofá, o garoto levantou do chão, virando-se de costas, e
caminhou até a parede com os diversos acessórios pendurados nela.

Passando os olhos atenciosamente pelos objetos de formatos e tamanhos


diferentes, capturou finalmente entre os dedos delicados, a haste colorida
em vermelho e branco listrada com uma fita, lembrando muito aqueles
doces de natal em formato de bengala; numa das pontas, estava o recorte de
couro vermelho em formato de coração, e por mais fofo que parecesse o
objeto, o alfa tinha total ciência de que ele servia mesmo era pra machucar.

Voltou as orbes brilhantes para Jimin, mostrando o acessório em suas mãos,


e o Park lhe deu um pequeno menear de cabeça, confirmando seu acerto;
era aquele mesmo. Então o desbotado caminhou ligeiro até o tamer,
ajoelhando-se aos seus pés novamente, lhe estendendo o objeto apoiado nas
duas palmas, de forma educada.

O moreno sorriu, capturando o acessório das mãos do outro, para então


deslizar o pedaço de couro por sua bochecha até o queixo, enquanto ele
aguardava suas ordens ansiosamente.

Ao ver o olhar sádico de Jimin sobre si, o mais novo sentiu seu membro
fisgar. Doeria, ah se doeria. E aquilo o excitava ainda mais.

O lúpus levantou-se graciosamente do sofá, analisando a chibata listrada em


suas mãos enluvadas. Posicionou-se atrás de Jeon e puxou fracamente sua
coleira, dando sinal para que levantasse e este o fez.

Jimin o direcionou para a cruz de Santo André, onde o prendeu de frente


para si, pelos pulsos e tornozelos.

Com o olhar afiado sobre o corpo de seu garoto, o ex-coronel o provocou,


deslizando a ponta de couro da chibata pelas laterais da perna do namorado,
encarando-o exatamente como uma presa prestes a ser abatida.

Jungkook resfolegou, mordendo nervosamente os lábios, sem sequer


conseguir parar de fitar os olhos rasgados de seu tamer. Estavam presos nas
esferas um do outro, quase como se conversassem pelo olhar.
— Por que gosta tanto de me desafiar, alfa? — o mais velho indagou altivo,
resvalando a tala de couro nos testículos dolorosamente inchados de Jeon.
— Responda! — ordenou batendo a tala na lateral do quadril do garoto,
num movimento sagaz, e este sugou o ar entredentes.

Jungkook sentiu, literalmente, o já conhecido misto de prazer e dor no


açoite. A chibata causava uma dor estalada e rápida, algo como um
beliscão. Em reflexo, levantou o joelho e abriu a boca, franzindo o cenho,
para em seguida dar um sorriso ladino.

— Porque você fica um tesão irritado, Jimin-ssi — respondeu sinceramente,


o encarando brincalhão.

— Só por isso? Ou você me provoca pra apanhar depois? — perguntou


fitando-o de cima a baixo.

— Não, meu senhor. Apenas o provoco porque me dá tesão te ver irritado.


Você é sempre muito gentil... então te ver irritado me faz ficar de pau duro
— sorriu com o lábio inferior preso entre os dentes e deu de ombros, do
jeito que podia, mesmo estando preso na cruz de madeira.

Jimin o encarou de modo intenso, a ponto de fazer o brat sentir-se febril.


Seu corpo estava queimando por dentro. Nunca tinha sentido tanto tesão
com alguém assim. As milhares de fodas e gozadas que dera ao longo de
seus vinte e poucos anos de vida, não eram absolutamente nada, se
comparadas ao que sentia com o ex-militar.

Era inegável que apenas Park Jimin o causava aquele tipo de sensação tão
intensa, como se ele pudesse explodir de tanta agitação. Tinha certeza que
aqueles sentimentos eram o tipo de coisa que levaria qualquer um a pecar.
Como um passe direto pro inferno.

— Sabe, garoto... — o moreno começou a dizer, com a voz tranquila,


deslizando o olhar com volúpia pelo corpo magro e musculoso. — Você se
acha muito espertinho, mas eu sou mais — deu um sorriso convencido. —
Quando me desobedecer de propósito, irei te punir. E como aposto que você
é um masoquistazinho de merda, vou te dar a dor... mas não do jeito que
você quer — e aí desferiu um chibatada rápida e curta no falo duro do
outro, bem na cabecinha do pênis.

Jungkook arregalou os olhos e deu um gritinho dolorido. Não tinha sido


gostoso, era ruim, bem ruim. Não era uma dor muito forte, mas incomodava
pra ele, não era nada prazerosa. Seus joelhos se remexiam inquietos,
tentando fechar as pernas para, de alguma forma, conseguir proteger o pau
dolorido e pulsando agoniado, mas era impossível, principalmente porque
Jimin estava parado em sua frente e bem próximo dele, atrapalhando o
caminho.

— Doeu, bebê? — perguntou zombeteiro, o ex-militar.

— Sim, meu senhor — o desbotado moveu a cabeça assentindo


freneticamente, a voz soando como um pequeno gemido. — Por favor,
chega de punições, hm? Eu só fiz uma brincadeirinha com o carro, o
senhor já me deixou sem sobremesa e já me fez usar aquela fantasia
ridícula na frente de todo mundo. Já aprendi a lição, Jimin-ssi... Já tá bom
de punição — reclamou com um biquinho completamente fofo.

Jimin quis morder aquele bico, enquanto o segurava pelas pernas e


arremetia forte no cuzinho apertado. Ah, ser firme com Jeon era
incrivelmente difícil, mesmo para o Park que era alguém totalmente
controlado e disciplinado. Mas o alfa híbrido mexia com ele de uma forma
que ninguém havia mexido antes. Nem mesmo o ex-noivo, que até então,
ele pensara ter sido o grande amor de sua vida, o causara sensações tão
fortes.

— Oh, você acha que já está bom? — repetiu debochadamente. — Você não
tem que achar nada, Jungkook. Quem decide sou eu. E já sei onde você
gosta e desgosta de sentir dor. Então antes de me provocar de sacanagem,
saiba sempre o que te aguarda. Não serei bonzinho todas as vezes — e
sorriu de modo sádico.

O alfa híbrido engoliu em seco. Sua cabeça sequer estava raciocinando


direito. Ele realmente não provocava no intuito de ser castigado e menos
ainda punido, apenas provocava e batia de frente com Jimin, por achar
divertido contrariar o lúpus. Este ficava bruto e rude, quando bravo, e Jeon
amava aquele lado avesso de seu tamer.

— Sim, meu senhor. Me desculpe por ser tão insubordinado — respondeu


levemente envergonhado, mas nem tanto, afinal, ele gostava de ser assim.

Viu o lúpus dar-lhe as costas e descansar a chibata na parede de acessórios.


Respirou aliviado com isso, afinal, não teria mais aquele objeto
aparentemente inocente, o machucando dolorosamente.

O ex-coronel então voltou para frente, segurando um objeto de haste grossa


e curta, com várias tiras de couro na ponta, como uma franja. Buscando na
memória pelo nome daquele objeto de açoite, Jeon lembrou-se: chamava-se
flogger. E este era um dos que havia sentido-se mais compelido e curioso a
experimentar, quando o Dom lhe mostrara, nas aulas que tiveram no
começo de tudo.

O Park soltou o objeto em cima da poltrona de couro, para então estalar o


próprio pescoço, o que deixou Jungkook levemente surpreso, com o
barulhinho dos ossos crepitando. E por algum motivo, aquilo deixava Jimin
tão másculo, que arrepiava todos os finos pêlos no corpo de Jeon.

O tamer levantou um braço e depois outro, como se estivesse se


espreguiçando. Foi só aí que Jungkook entendeu que ele estava se
alongando, para o que quer que fosse fazer com aquele flogger. Os braços
giraram em círculos no ar, foram esticados por cima do corpo, para a frente,
para trás, de todas as formas possíveis, o que o sub observava
atenciosamente, afinal, observar Jimin era terrivelmente excitante. Aquele
corpo... não haviam palavras suficientes para descrever a perfeição.

Por último, o lúpus desceu o tronco, de costas para si, fazendo a própria
cabeça ficar entre as pernas. E claro, a posição fez com que sua bunda
coberta pelo tecido látex brilhoso ficasse totalmente voltada pro garoto.

O desbotado deu um sorriso assanhado, sentindo seu lado animal contorcer


em desejo. Sabia que Jimin estava fazendo aquilo de propósito, deixando
seu rabo todo aberto pra ele daquele jeito.
E de cabeça pra baixo, com a mesma entre as pernas, o moreno sorria,
assistindo Jungkook querendo se soltar das algemas na cruz, avançar pra
cima dele e devorá-lo.

— Você é todo gostoso, meu senhor — o subzinho atrevido não se aguentou


e disse com a voz rouca e manhosa.

O Park se levantou devagar, segurando o quepe na cabeça, sacudindo os


ombros e com um sorriso no rosto, para aí se virar e caminhar até estar com
o peitoral colado no de Jungkook e a boca rente a dele também.

— É? E você gostou do que viu? — atiçou.

— Muito, meu senhor... — confessou arrastando os lábios pelo do Dom. —


Muito mesmo...

— De qual parte, exatamente? — incitou mais. — Conta pra mim, bebê...

Jungkook revirou os olhos e sugou o ar entredentes. Estava ficando louco.


Que talento era aquele que o lúpus possuía, para deixá-lo assim?

Então mexeu um pouco o pescoço, colando seus lábios finos na orelha do


tamer:

— Amei imaginar o seu cuzinho aberto pra mim, hyung — disse com a voz
rouca ao pé do ouvido. — Não sabe o tanto de vontade que estou de fodê-
lo, Jimin-ssi.

Ouviu o dominador gargalhar com o rosto em seu pescoço e então apertar


sua cintura fina entre os dedos enluvados, o tronco vibrando pela risada
curta.

— Você quer, é? O quanto você quer? — perguntou num sussurro quase


diabólico. Sabia que estava deixando Jungkook desesperado e não era
pouco. O cacete duro do mais novo não parava de expelir pré-gozo,
pressionado entre as barrigas de ambos.

— Eu quero muito, meu senhor. Muito mesmo. Estou quase enlouquecendo


com isso... — respondeu com a libido em ebulição.
Jimin afastou um pouco os rostos, para então fitar seu garoto.

— É uma pena, bebê... Porque eu já disse que você só vai me comer,


quando se comportar direitinho. E você não tem sido um bom menino, tem?
— disse arqueando uma das sobrancelhas, em clara provocação, junto a um
sorrisinho maldoso.

O desbotado quase rosnou desapontado. Mas era culpa dele mesmo, e sabia
disso. Naquele momento entendeu: O Park usaria aquilo como arma. Então
isto mudava as coisas. Se queria foder seu alfa lúpus... ah, teria de ser o
mais comportado possível. O mais submisso que esse mundo já viu.

Então decidiu que, a partir daquele momento, seria o subzinho mais


obediente que o Park já teve. Porque não havia nada que desejasse mais
ultimamente, que foder o seu hyung. Jungkook nunca fodera um alfa macho
antes. Ômegas homens e mulheres? Sim. Betas machos e fêmeas? Sim.
Mulheres alfas? Claro. Mas homens alfas ainda eram para si, como um
troféu brilhante, o qual ansiava muito pôr as mãos. Principalmente em se
tratando de Park Jimin.

— Tenho sido um mau menino, meu senhor — respondeu com um


biquinho.

— Então já que sabe disso, peça desculpas — ordenou em desafio.

— Me desculpe por ser assim. Prometo que a partir de agora serei muito,
muito bonzinho, pra que eu possa te dar prazer do jeito que meu senhor
espera.

— Muito bem, garotinho — disse o Park, levando os lábios até a bochecha


do sub e dando-lhe um beijo estalado em aprovação por suas palavras.

Foi aí que o Dom sentiu a boquinha abusada de Jeon aproximar-se de sua


orelha de novo, para dizer manhoso:

— E hyung... Prometo que quando estiver com meu pau dentro de você,
vou te fazer gozar mais gostoso que nunca, enquanto você quica em cima
de mim.
Jimin fechou os olhos com força e pressionou a pélvis na do mais novo,
apertando a cintura fina entre suas palmas enluvadas, os dois cacetes tesos
se roçando. Aquelas palavras o afetaram de um jeito totalmente abrasivo.
Porque sim, estava morrendo de vontade de se foder no caralho do outro,
fazia tempo. Estava louco de vontade de sentar nele, o tendo amarrado na
cama e totalmente contido, enquanto usava e abusava de seu corpo como
um brinquedinho. Faria com o pau de Jeon, o mesmo que fazia com seus
dildos coloridos expostos na estante de vidro.

Dando uma mordida fraca no ombro do desbotado, ouviu um gemido deste


em resposta e aí se afastou, deixando um tapa forte na outra coxa que não
fora açoitada pela tala equestre antes.

Soltou um dos pulsos do alfa, sob o olhar atento deste, e em seguida soltou
o outro.

— Você vai ficar preso de costas agora, se vire — e o desbotado obedeceu.


— Essa bundinha arrebitada vai ganhar um carinho da flogger... — zombou,
já alisando as nádegas durinhas do namorado.

Vestido, Jungkook não parecia ter uma comissão traseira com muita carne.
Sem roupas, a história era diferente; o bumbum durinho e malhado, parecia
perfeitamente desenhado, como uma escultura grega da antiguidade. A
visão deixava Jimin passando mal.

O que acontecia no interior do Jeon não era diferente. Estava praticamente


hiperventilando, não aguentava mais. Principalmente depois que o tamer
prendeu seus dois pulsos na madeira com as algemas novamente, e o mais
novo escutou o barulhinho do zíper da cueca minúscula de látex sendo
aberto.

O ex-ruivo deleitou-se, pensando que o lúpus o foderia de novo naquele dia,


agora preso na cruz de madeira. E ele estava ansiando por isso, pois parecia
que a foda lenta dada à mesa no andar de baixo, já tinha acontecido há
muitas horas atrás — o que não condizia com a realidade. Mal um par de
horas havia se passado desde então, mas o alfa híbrido estava
completamente sedento.
O Park passou a roçar o caralho duro na entrada molhada do mais novo,
enquanto gemia manhoso no ouvido dele, querendo atiçá-lo até o limite.
Segurava o falo teso pela cabecinha, movendo o quadril enquanto arrastava
a glande na entrada do ânus alheio.

— Eu quero te foder tão gostoso, meu Jungkookieee... — falou arrastado,


com a voz manhosinha.

O brat mal podia se manter de pé, sua cabeça girava. Rebolava o quadril pra
trás, de encontro ao membro de Jimin, sentindo o baixo abdome fisgar com
os gemidos manhosos que o moreno soltava ao pé de seu ouvido.

— Então fode, hyung... — respondeu tão alterado quanto. — Fode agora,


por favor...

Mas com uma risadinha sádica, o mais velho se afastou e foi até a poltrona
capturar o flogger outra vez em sua mão enluvada pelo látex negro. Ajustou
o quepe branco na cabeça, enquanto Jungkook o espiava inquieto por cima
do ombro.

O Dominador prendeu a alça que compunha o cabo do flogger em seu


pulso, dando-lhe maior segurança nos movimentos, para que o açoite não
escapulisse de suas mãos acidentalmente.

As tiras eram finas e não muito longas, havendo cerca de dez tiras. Quanto
mais finas, maior a sensação ardida e menor a sensação de impacto. As
pontas possuíam cortes na diagonal, tendo o mesmo intuito: o de arder na
pele.

Dando uma leve girada no pulso, para deixar a mão que açoitaria Jeon mais
solta, estudou concentrado a bunda bonita e a parte de trás das coxas
grossas. Sua respiração estava calma e controlada, como deveria ser.

— Olhe pra frente — ordenou se aproximando mais, até que estivesse há


cerca de um metro e meio de distância do sub.

O desbotado rapidamente obedeceu, esperando ansioso. Jimin encarou seu


corpo por mais um momento, antes de levar o braço direito para trás e
voltar com ele de modo certeiro e rápido, desenhando um oito horizontal no
ar e acertando a nádega direita de Jeon com as tiras do flogger.

Dessa vez, Jungkook franziu fortemente o cenho, assobiou de dor e o corpo


se lançou pra frente, sendo impedido de seguir adiante pela madeira da
cruz. Mas não era uma dor ruim. Era excitante pra um caralho.

A primeira impressão em sua pele, foi a de ter tomado um tabefe rápido.


Em seguida, mudou para algo pungente, mais aflitivo. E a ardência era a
parte mais gostosa.

O desbotado soltou uma risada completamente masoquista e dolorida,


sentindo tudo dentro de si vibrar de prazer. Era aquilo que vinha
procurando. Era aquilo o que vinha buscando a vida toda. Estava realmente
surpreso com o prazer que sentira naquilo.

Virou-se para encarar seu domador, por cima do ombro, com um sorrisinho
contido.

— Está tudo bem? Posso continuar? — questionou o lúpus, preocupado.

O mais novo sorriu e jogou o pescoço para trás, aliviando a tensão em seus
músculos.

— Continue por favor, meu senhor — declarou em voz alta.

Em poucos segundos, as tiras da flogger cortaram o ar, indo de encontro à


sua outra nádega, fazendo-o sibilar com a dor. Mas ele gostava dela.

Girando o pulso e a flogger como num símbolo do infinito, o tamer açoitava


rápida e repetidamente as nádegas branquinhas, fazendo com que apenas as
pontas do flogger deslizassem na pele alheia.

Rapidamente a bunda de Jeon exibia as marcas vermelhinhas das tiras,


como arranhões, e num movimento mais forte do Park, um pequeno filete
de sangue surgiu na pele.

Jungkook parecia aguentar bem e gostar daquilo. Os gritinhos doloridos que


soltava eram bem contidos, como se ele se negasse a demonstrar o quanto
machucava.

Jungkook parecia apreciar uma dor mais ardida, ao invés da dor mais forte e
intensa, então o Park fazia de modo calculado para agradar seu garotinho
masoquista.

O olhar de Jimin sobre a pele marcada de seu submisso era intenso. Os


olhos estavam injetados e seu interior se contorcia em um prazer sádico
com a dor alheia, o próprio pênis duro pingando pré-gozo, pelo zíper aberto
da minúscula cueca apertada.

Desceu alguns leves golpes para as laterais das coxas do garoto, um pouco
de cada lado, se embebedando nos gritinhos doloridos do mesmo. Cuidaria
dos machucados em sua pele com o maior prazer depois, mas melhor ainda,
teria a visão da pele marcada por si, por bons dias.

A cada açoitada, Jungkook tremelicava, num curioso misto de dor e prazer,


os pés saindo do chão e os joelhos se levantando, tentando, de algum modo,
curvar e proteger o corpo em reflexo.

Não foram muitos golpes, mas o suficiente para Jimin se divertir e aí


abandonar o objeto novamente sobre o estofado.

Aproximou-se outra vez do mais novo e se ajoelhou no chão, contemplando


o bumbum na altura de sua face. Distribuiu beijinhos carinhosos por toda a
pele marcada das nádegas do brat, acariciando suavemente com as mãos,
escutando a respiração pesada do outro — que apenas permanecia de pé por
causa dos pulsos presos nas algemas de couro nas extremidades da cruz.

A entrada ainda gozada de Jeon, pela transa anterior durante a punição do


jantar, mostrava a lubrificação já seca misturada ao gozo do lúpus
escorrendo entre as pernas, o que fez o Park afastar suas bandas com
delicadeza e meter a língua ali, como num beijo cuidadoso e melado,
sentindo seu próprio sabor no paladar, ao passo em que Jungkook gemia em
resposta. O ânus sempre seria o lugar mais sensível no corpo de uma
pessoa, e com ele não era diferente. Sentir a língua de Jimin ali, era
fodidamente delicioso.
— Você está bem? — perguntou o Park, depois de levantar, enquanto
alisava seus ombros tensos.

— Sim, hyung — respondeu com a garganta seca. Mas logo se corrigiu: —


Sim, estou bem, Jimin-ssi.

O ex-militar liberou seus pulsos e o puxou pelo círculo de aço acoplado à


coleira — que era o elo onde se devia prender uma guia. Parando em frente
ao expositor de vidro, Jimin apanhou uma algema descartável — que
consistia numa fita finíssima de nylon, que envolveria os dois pulsos do sub
e se fecharia com pequenas travas, algo mais rústico.

Com os pulsos presos novamente, mas agora atracados um ao outro em


frente ao corpo, o desbotado viu o Park tirar da estante, algo que era um dos
seus maiores temores: os clipes de mamilo. Jeon tinha extrema
sensibilidade em seus biquinhos marrons, e qualquer coisa ali já era sentida
intensamente.

O moreno encarou seu sub, esperando que ele se opusesse ao uso do


acessório, mas este não o fez. Então o dominador conectou o pingente
circular da coleira à corrente de aço dos clipes de mamilo e, logo em
seguida, prendeu os clipes nos biquinhos já eriçados, fazendo assim com
que a coleira e os clipes ficassem unidos pela corrente dupla.

Jeon franziu o cenho, pela dorzinha aguda; as duas pequenas peças presas a
seus biquinhos, mais pareciam objetos de tortura, como as garras de um
caranguejo.

Outra vez, o tamer enfiou o dedo no pingente circular da coleira, para


arrastar o sub para onde queria. Comandou que o alfa se ajoelhasse ao pé da
cama e este o fez, obediente. A dor na pele machucada das nádegas
incomodava pelo atrito de estar sentando-se em cima delas, então montou
uma caretinha dolorida no rosto, sem perceber. Mas Jimin notou e sorriu
debochado com isso.

— Está doloridinho, meu bem? Quer interromper a sessão, uh? —


questionou com um sorriso matreiro.
Jungkook apertou os olhos pro tamer, de modo contrariado e desafiador,
pronto para devolver a gracinha à altura. Mas de súbito, lembrou-se que
prometera se comportar. Queria muito foder o Park, e se não fosse um bom
garoto, jamais teria aquela recompensa. Nem tão cedo foderia seu macho
alfa.

Então, engolindo sua resposta malcriada, respirou fundo e suavizou a


expressão, ainda que estivesse se roendo por dentro.

— Estou bem, meu senhor — declarou. Seu interior fervilhava pra xingar o
Park com meia dúzia de palavras chulas, mas estava usando o máximo de si
para se calar, afinal.

Claro, o dominador não deixou aquilo passar despercebido. Era um ótimo


observador, afinal de contas. E Jeon Jungkook, para si, nunca fora
exatamente um enigma — ao contrário dele mesmo, que se portava quase
como uma esfinge frente ao vizinho, se esforçando ao máximo para não ter
seus mistérios revelados, num passado não muito distante da relação dos
dois.

Sabendo que o havia manipulado perfeitamente bem a se comportar, com a


ameaça de nunca o deixar penetrá-lo como o ex-ruivo ansiava, Jimin o tinha
na palma das mãos. Afinal, o que um alfa macho não faria para foder
alguém? Até mesmo as alfas fêmeas, que não tinham um pênis, faziam de
tudo ao seu alcance, diante da possibilidade de foder — ou se foder em —
uma pessoa. Sexo regia o mundo, afinal.

Querendo testar o já fraco autocontrole do companheiro insolente, Jimin


deslizou a destra enluvada pelo maxilar firme do namorado, até capturar seu
rosto entre os dedos, enquanto que, com a canhota, passara a vagarosamente
se masturbar na frente dele.

— Sabe, amor... — sussurrou, encarando os olhinhos redondos de Jeon, sem


parar a masturbação em seu próprio sexo. — Você é muito malcriado,
porque tem essa linguinha ferina. Talvez, o modo mais fácil de fazê-lo se
comportar, seja ocupando sua boca... — sorriu maldoso. — Então, pra te
ajudar a cumprir a promessa, vou te calar de um jeito muito gostoso. Ponha
a língua pra fora — ordenou firme.
E segurando um sorrisinho excitado, o rapaz obedeceu. O Park deslizou a
pontinha do pau melado na língua de seu sub, limpando todo o pré-gozo de
sua glande no membro aveludado do outro, que o encarava profundamente
— já que ele mesmo não havia lhe proibido de olhar; tampouco proibiria
agora, gostava da forma lasciva e quente que Jungkook o encarava,
totalmente faminto por si, como um animal selvagem.

Mas subitamente, Jimin retirou o membro teso de sua boca, sorrindo sacana
ao virar-se de costas, com a bunda volumosa e musculosa pairando frente
ao rosto do submisso.

Encarando o mais novo por cima do ombro, enquanto descia lentamente o


zíper na traseira do short de látex, declarou:

— Você vai se calar, porque sua língua estará ocupada demais me fodendo
inteiro — e então agarrou os fios da franja desbotada entre seus dedos
enluvados, causando uma dor prazerosa no couro cabeludo de Jungkook, ao
passo que imediatamente direcionava o rosto dele em direção à sua entrada
sedenta por aquele beijo. — Chupa direitinho, como um bom menino,
Kook-ah... — provocou, sem alterar o tom de ordem explícito em sua voz.

O de genes ômegas foi à loucura. Clamou à todos os deuses e santos


existentes em seu mundo e até mesmo em universos paralelos. Foi com
gosto que passou a língua molhada entre os lábios, umedecendo-os, para em
seguida metê-la no buraquinho enrugado de seu dominador, gemendo ao
sentir a textura daquela área tão íntima do outro na boca.

Com a destra, o moreno segurava os fios de Jeon; com a canhota, afastava a


banda esquerda da própria bunda, para ficar mais aberto e facilitar as
carícias do outro alfa em sua traseira.

Jimin gemia despudorado com o beijo grego em seu ânus. Amava recebê-lo
na mesma intensidade que amava dar um daqueles. E toda vez que ele
rosnava deliciado, Jungkook grunhia de volta, fazendo com que o som de
sua garganta reverberasse numa vibração gostosa na bunda do Park. Aquela
era a definição de prazer mútuo. Tudo entre os dois era mútuo, afinal.
Jeon adorava o que estava fazendo. Metia a língua no ânus necessitado,
penetrando forçadamente sua entrada no orifício pequeno. Alternava com
lambidas na carne franzida, lambendo tudo o que podia ao redor, para aí
adentrar o máximo de seu músculo aveludado no cuzinho terrivelmente
apertado, outra vez. E aquilo só o fazia imaginar com mais intensidade,
como seria ter seu pau enterrado ali dentro. Tinha certeza que seria como ir
ao inferno e queimar.

— Ah... Jungkookie... — clamou o mais velho, com a voz totalmente


errática. — Não consigo parar de pensar no seu pau grande me rasgando,
pulsando dentro de mim...

O desbotado soltou um uivo fino contra a entrada alheia, quase como um


chorinho de cachorro. Tentou levar as mãos para masturbar o próprio
caralho duro que latejava entre as pernas, mas o maldito Park havia
prendido seus dois pulsos um ao outro com a merda da algema de nylon.
Ficava impossível se masturbar e ainda corria o risco do tamer pegá-lo em
flagrante, tocando-se sem permissão.

— Humn... Kook-ah... Eu posso gozar só com sua língua me fodendo... —


disse maldoso. Não estava mentindo, mas dizia aquilo para atiçar ainda
mais o sub.

Desesperado, Jeon afastou o rosto do quadril do Park, aproveitando que o


aperto em seus fios se suavizara e aí inspirou o ar que sequer havia notado
que lhe faltava; tinha quase se sufocado deliciosamente naquela bunda.

— Por favor, hyung... Por favor, senta em mim — implorou. — Senta no


meu pau, me faz gozar, meu senhor, por favor, não tô aguentando mais... —
pediu com a voz chorosa.

Jimin sorriu ainda mais sádico que antes, deliciando-se com o desespero do
outro. Aquilo alimentava seu ego ao ponto de quase fazê-lo explodir. Tinha
Jeon Jungkook em suas mãos.

A peça minúscula de látex, havia se travado no meio de suas coxas. Então o


ex-militar terminou de removê-la, a abandonando no chão. Tirou o quepe da
cabeça, para jogar os fios da franja para trás e aí ajustar a peça na cabeça
novamente.

Passando a língua entre os lábios carnudos, Jimin sorriu apreciando o


desespero daquele que se submetia a ele, ficando mais excitado ainda com o
poder que tinha sobre o outro naquele momento. E principalmente, em
como o disciplinaria de uma vez por todas, dando-lhe um dos castigos mais
frustrantes que se podia dar...

— Pra você não dizer que sou rígido além da conta, vou te dar algo que eu
estava devendo... — disse naquele tom de voz rouco, que deixava Jungkook
doente de tesão, com o membro piscando pelo namorado.

Com os pequenos olhos semicerrados, o Dom retirou a luva negra de sua


destra com os dentes, de forma insuportavelmente erótica, o que só
contribuía para que a mente de Jeon ficasse cada vez mais insana. Assistir
ao moreno puxando a ponta da luva que cobria cada dedo, lentamente, até
arrancar a peça por completo e praticamente cuspi-la no chão, deixava o
desbotado quase hipnotizado.

Jimin então lambeu a palma, para levemente lubrificá-la com sua própria
saliva e aí levá-la para seu sexo duro, deixando-se latejar na própria mão
enquanto a deslizava pela extensão grossa e de veias dilatadas. Tudo isso
sem tirar os olhos de cima do brat.

Jungkook precisou morder o lábio para descontar um mínimo do calor


desenfreado que percorria seu corpo. Era como assistir pornô ao vivo, ver o
namorado com a pele já brilhando suavemente de suor, masturbando ao
próprio caralho necessitado bem na altura de seus olhos. Jeon sentia-se
exatamente como uma criança vendo os doces na mesa do bolo, mas sem
poder comer nenhum antes do parabéns. Pobre bratzinho.

A pulsação do mais novo estava acelerada e então seu rosto ardeu, sentindo
emoções demais ao mesmo tempo, ao ponto de deixá-lo vidrado na imagem
do Park, piscando rápido para não perder o foco daquele figura gloriosa.

— Ah... Kook-ah... — o moreno gemeu aumentando a velocidade da


punheta, ao passo em que agarrou os fios da franja alheia e, direcionando
sua glande frente ao rosto do submisso malcriado, alertou: — É melhor
fechar os olhos, bebê... — e pouco depois que Jeon cerrou as pálpebras,
sentiu os jatos de porra quente atingirem não apenas seu rosto, mas também
seus lábios entreabertos, queixo, peitoral, cabelos e tudo na altura do peito
pra cima.

Só aí o mais novo entendeu o que Jimin queria dizer com "algo que estava
lhe devendo" — era a gozada na cara, como planejaram fazer dias e dias
atrás.

Sorrindo de forma audaciosa, mas ainda de olhos fechados, Jeon passou a


língua macia entre os lábios sujos, esticando-a para alcançar também o
queixo e tudo o que pudesse à sua volta, sentindo o gosto do sêmen do Park
em seu paladar.

Assim que o mais velho se viu livre do torpor pós-orgásmico, limpou com o
dedão uma gota do líquido esbranquiçado na pálpebra do namorado, que
abriu os olhos após isso, o encarando de forma faminta, esperando por mais,
pelo próximo passo delicioso que viria a seguir...

Mas a coisa seguinte que o alfa lúpus fez, foi sorrir de modo debochado e
então dar às costas ao namorado, até sentar-se pesadamente em uma das
poltronas de couro, com as pernas abertas, encarando o submisso ajoelhado
e sujo no tapete, de forma incisiva.

— Sempre soube que você ficaria lindo como uma obra de arte, quando
estivesse sujo com a minha porra... — comentou com a voz mesclada entre
ácida e intensa, deslizando os dígitos pelo próprio lábio inferior, como se
estudasse o mais novo.

O Park aí se levantou e recolheu a flogger jogada na poltrona ao seu lado,


levando-a para a bancada próximo à parede, onde, com flanelas e um frasco
de loção hidratante e higienizadora para couro em spray pôs-se a limpar a
flogger e a chibata que havia utilizado, cuidadosamente, como se tivesse
todo o tempo do mundo.

Calmamente, Jimin recolheu as luvas e a cueca de látex do chão, revirando-


as do avesso, para também limpá-las e dobrá-las com lentidão.
Impaciente, Jungkook bufou discretamente e acabou soltando rápido:

— Meu senhor... você não pode limpar isso depois? Vem cuidar de mim,
por favor... — disse com a voz abusada, como uma criança reclamona.

Já esperando por aquela reação do namorado, o Park voltou os olhos para


ele preguiçosamente e respondeu:

— Cuidar de você? Cuidar de você como, querido? — e um sorrisinho


levantava a lateral de seus lábios grossos

— Eu preciso gozar, Jimin-ssi... — o garoto respondeu o óbvio.

— Oh... — respondeu o moreno, retirando o quepe da cabeça para então


repousá-lo na bancada, de modo despreocupado, penteando os cabelos com
os dedos. — É uma pena que você precise, Kook-ah... Porque você não vai
gozar.

Jeon olhou ao redor de modo confuso, como se estivesse perdido.

— Não vou gozar agora?

— Não, Kook. Eu quis dizer que você não vai gozar hoje — e então sorriu
maldosamente satisfeito.

— Vai me deixar sem gozar? — o garoto indagou com uma expressão num
misto de surpresa e desespero no rosto.

— Eu já te disse mais cedo, amor — o Park devolveu numa expressão


falsamente condescendente. — Você estava proibido de gozar, mas me
desobedeceu e gozou enquanto eu te fodia à mesa de jantar — sorriu
perversamente. — Você não completou o seu castigo, então por isso está
ganhando outro. Mas eu gozei muito gostoso duas vezes hoje, muito
obrigado, bebê. Você me serve como ninguém — deu um suspiro e se jogou
teatralmente na poltrona de couro, com um sorriso impiedoso nos lábios.

Jungkook não sabia se rosnava de raiva ou se chorava de frustração. O


maldito lúpus havia planejado tudo minuciosamente para dá-lo uma lição
daquelas. Ficar sem gozar, depois de tudo aquilo? Era quase diabólico.
O mais novo começou a pensar que, talvez, mais que uma cobra sorrateira,
Park Jimin fosse a própria cobra do jardim do Éden.

Ok, era um definitivo exagero, mas de todo o modo, o filho da puta era
rígido pra um caralho. O mais novo estivera mais do que em enganado ao
pensar que o alfa lúpus era um Dominador suave, puramente por ser fofo
com ele e agir todo manhoso na relação amorosa entre eles. Mas Jimin além
de dominador, era um ex-militar, afinal. Controle, disciplina e treinamento
eram suas especialidades.

Quase choramingando, Jungkook se deitou de costas no tapete, se sentindo


muito burro, no fim das contas. Como não tinha previsto isso? Como se
deixara manipular tão fácil pela mudança na personalidade distante do alfa
em algo caloroso e delicado? Ah, se sentia tão fraco agora.

— Hyung, por favor... — resmungou o encarando do chão. — Por


favorzinho, eu prometo que faço tudinho o que você quiser daqui pra frente,
serei o submisso mais bonzinho que você já teve, só por favor me faz gozar,
meu senhor... — e sua voz era num tom de perfeita humilhação. Não tinha
um pingo de orgulho restando em si naquele momento.

Jimin sorriu ainda mais malvado, ao ter seu garoto lhe pedindo clemência,
estirando no chão e com a cara coberta de porra. Era realmente lindo, podia
sentir seu sangue correr rápido nas veias e a pulsação acelerar.

— E você realmente vai me obedecer e ser bonzinho, a partir de agora, alfa


— sorriu falsamente, quase como aqueles psicopatas em filmes de terror.
Jungkook engoliu em seco. — Você vai obedecer a partir de agora, porque
toda vez que pensar em fazer uma malcriação, vai se lembrar do dia de hoje
— disse passando o dedão pelo lábio inferior, de modo forma provocante.

E então o mais velho se levantou e voltou a cuidar dos acessórios na


bancada, ignorando Jeon como se ignora uma mosca.

— Ugh, Park Jimin, sua cobra sorrateira! — exclamou em tom indignado,


sabendo que havia perdido aquela disputa, mas perdido tão feio, que era de
dar dó.
— Como disse? — o domador se voltou pra ele, com uma sobrancelha
arqueada, quase como se não acreditasse naquela audácia.

A passos rápidos, o alfa lúpus alcançou o submisso deitado no chão e,


ajoelhando-se ao seu lado, segurou seu maxilar firme entre os dedos.

— Você perdeu a noção do perigo, seu merdinha? — sibilou de modo


assustador. E esse gesto fez o sangue do desbotado ferver e a pele pinicar de
tesão, num misto de medo e ansiedade.

Jeon sorriu de lado, de forma marrenta e declarou em tom de voz


provocador:

— E o que você vai fazer, Jiminzinho? Bater na minha cara?

O mais velho rosnou de raiva com a provocação. Mal podia acreditar na


audácia daquele moleque. O de genes ômegas era inegavelmente
masoquista, ainda que em baixo nível. Sequer tivera tempo de cantar vitória
e o garoto já estava virando o jogo. Domar Jeon Jungkook exigia uma
criatividade maior dentro do play.

— Bate, hyung — o brat disse atrevido. — Bate na porra da minha cara.


Mostra pra mim, o meu lugar. Mostra que quem manda aqui é você... — e
as palavras deslizaram por seus lábios como veneno.

O Park o observou atenta e cuidadosamente, analisando qualquer indício


contrário no rosto daquele em posição de submissão. E ao perceber que ele,
de fato, queria aquilo, desferiu um tapa estalado, de força contida, na
bochecha alheia.

O rosto de Jungkook virou pro lado com o movimento e, imediatamente um


sorriso masoquista brotou em seus lábios.

— Você pode fazer mais do que isso, lúpus... — instigou mais.

O efeito foi certeiro: Jimin desferiu mais dois tapas, um de cada lado do
rosto, dessa vez mais fortes, segurando a mandíbula entre os dedos
rapidamente outra vez, fazendo o garoto encará-lo nos olhos.
— Você não manda aqui, Jungkook... — comentou com uma voz
extremamente calma que sequer combinava com sua expressão dura e
irritadiça. — Acha que pode me vencer? — indagou retoricamente e então
sentou-se sobre o corpo do maior, encaixando imediatamente o caralho duro
do brat entre suas carnes, mas sem se deixar ser penetrado. — Eu sempre
ganho esse jogo, garotinho teimoso... Sempre — e com um sorriso, passou a
deslizar lentamente sobre o falo teso do rapaz, que sequer teve tempo de
pensar em algo para responder, pois sua garganta estava ocupada demais em
gemer ao sentir o atrito delicioso daquele rabo gostoso no seu pau sensível.

Mas então gemidos abafados, que até então Jungkook não havia escutado,
começaram a ficar mais altos. Virando o rosto para a parede, em choque, o
ex-ruivo reconheceu um deles: eram as lamúrias de Jung Hoseok, no quarto
ao lado.

O maldito trisal havia esquecido que estavam ali para protegê-lo caso algo
desse errado. Ao invés disso, estavam usando a suíte do anfitrião, para
transar.

Como se combinados aos movimentos cada vez mais acelerados do lúpus


sobre o cacete do submisso, os gemidos ficaram mais escandalosos no
cômodo ao lado.

"Isso... Isso, hyung, aaaaahh... puta merda, Yoongi-ssi!" a voz exclamou.


Mas de modo algum fora em tom manhoso; a voz era grossa e forte... era a
voz de Jung Hoseok.

Jimin sorriu excitado. Passou a mover-se ainda mais desesperadamente


sobre o caralho teso do outro, que sugava o ar entre os lábios abertos, com o
peitoral musculoso subindo e descendo rápido.

O moreno então soltou os clipes dos mamilos de Jungkook e os substituiu


por seus dedos e língua, chupando de um lado, enquanto beliscava o outro
com a ponta dos dígitos, tendo de empurrar os braços de Jeon pra cima,
para dar-lhe espaço.

Jungkook queria tocar seu alfa, mas suas mãos estavam unidas pelos pulsos,
num aperto forte da algema de plástico, e quando o tamer empurrou seus
braços e os posicionou na altura da cabeça, o garoto resmungou sabendo
que agora então, seria impossível tocá-lo.

Naquele momento o desbotado gemia alto, tendo tantos estímulos ao


mesmo tempo. O lúpus deslizava com maestria em seu pau, estimulava seu
mamilos de modo enlouquecedor e os sons dos gemidos do trisal do outro
lado da parede pareciam absurdamente mais próximos e excitantes.

"Você é só um depósito de porra, Kim Taehyung" a voz do Min foi ouvida


de maneira ácida, causando um arrepio em Jeon pelo tom autoritário de
escárnio.

"Ah, sim, nosso alfinha não passa de uma cadelinha sedenta, não é
mesmo?" e dessa vez fora Jung Hoseok a dizer as palavras maldosas, de
forma arrastada.

Barulhos de tapas fortes soaram; e então um gemido lânguido de Taehyung.


Provavelmente estava gozando.

Jimin rebolou tão acelerado sobre seu submisso, que este quase viu estrelas.
Estava instigado pra um caralho. Ouvir as lamúrias, gemidos e humilhações
dos amigos, além dos sons agressivos, estavam deixando o casal louco.

Com um sorrisinho afetado, o mais velho levantou o tronco e deslizou mais


rápido sua fenda na piroca tesa caída sobre a barriga do mais novo. Soltou
um pequeno gemido, ao senti-la pulsando entre suas bandas. Mais excitado
ainda ficou, quando foi capaz de sentir as veias saltadas no cacete abaixo de
si perfeitamente, mesmo que não estivesse se penetrando, apenas deslizando
sobre a extensão.

— Porra! Como eu queria você inteiro dentro de mim, Kook-ah... —


suspirou. Quase não podia manter a pose durona e inabalável. Não quando
seu próprio ânus parecia piscar com o mero contato contra o sexo alheio.

— Então me ponha, meu senhor... — Jeon sussurrou choroso. — Por favor,


Jimin-ssi, me ponha dentro de você, me deixa te foder gostoso...
Mas o Park apenas sorriu e passou a deslizar sobre o caralho alheio com
mais afinco, soltando lamúrias de prazer, de olhos fechados e com os lábios
separados, rebolando o quadril; apenas em sentir aquela extensão pulsante
em contato a sua área sensível, sentia-se louco, querendo engoli-lo de forma
gulosa.

— Jimin... Jimin-ssi! — o ex-ruivo exclamou desesperado. Estava quase lá.


E então o maldito Park desceu de seu colo, deixando-o a ver navios outra
vez. — Não, Jimin, Jimin, por favor, por favor, por favooooooor, não faz
isso comigo — choramingou desesperado.

O ex-militar apenas sorriu e se aproximando de seu ouvido, declarou:

— Eu avisei, Jungkook — e então se levantou e saiu do quarto, sob os


protestos agoniados do submisso castigado.

[...]

O Park sorria como se tivesse ganho na loteria. Sabia que depois dessa, o
malcriado pensaria sempre duas vezes antes de desobedecê-lo, realmente.
Ficar sem gozar já era ruim demais normalmente; mas ficar sem gozar,
tendo ingerido um estimulante de ereção era... maligno.

O mais velho ficou cerca de meia hora na cozinha, recolhendo as louças,


guardando o resto da comida na geladeira, lavando e arrumando tudo.
Jungkook precisava ficar sozinho na masmorra sofrendo com as mãos
literalmente atadas, sem poder se masturbar, enquanto portava um ereção
dolorida e, de quebra, ouvia os gemidos fodidamente excitantes do trisal no
quarto ao lado. E os sons estavam tão altos, que até mesmo da cozinha, o
lúpus era capaz de ouvi-los também.

É claro, os gemidos da sessão dos três namorados não faziam parte do


plano, inicialmente, todavia, funcionaram como um excelente bônus para
castigar e disciplinar seu subzinho malcriado pra cacete.

Totalmente nu, mas com um pano de prato pendurado no ombro, o moreno


tinha suas mãos espalmadas no balcão da cozinha agora limpa, enquanto
encarava o nada, como um idiota. Um sorrisinho persistia em seus lábios:
estava fodidamente satisfeito.

O melhor de tudo, era aquela sensação quente em seu peito. Era uma
novidade pra ele também. Jimin jamais tivera um submisso por quem
estivesse apaixonado. Meio arriado, talvez, afinal não tinha coração de ferro
nem nada. Mas fazer o Dominador ficar apaixonado depois do fim da
relação com Taeyang, era uma proeza conseguida apenas pelo bendito Jeon
Jungkook.

Naquele momento, o lúpus só conseguia se perguntar: "Como diabos


consegui resistir ao garoto bonitinho e sexy pra um senhor caralho, por
todos esses anos?" — considerava-se um guerreiro por isso; tinha boa
disciplina, afinal, ainda que Jeon fosse a aparente única pessoa a conseguir
fazer seu controle balançar.

Sacudindo a cabeça em negativa, Jimin subiu as escadas, voltando ao


segundo andar. Estava na hora do aftercare do seu amorzinho.

Ao entrar no quarto, o Park se aproximou do submisso; deixou um selar em


sua testa, para então abraçar o corpo forte em seus braços. Deslizou as mãos
pelas costas do ex-ruivo, sentindo uma enorme calmaria se apossar de si.
Aquela era uma felicidade genuína e inesperada. Não costumava misturar
bdsm e amor, sentimentos por si só, já eram algo que Jimin desprezava há
um bom tempo. Mas agora... agora era como descobrir o segredo do
universo. Jeon Jungkook era a peça que faltava em sua vida. Não tinha mais
jeito de sequer voltar atrás com aquilo. Estava arrebatado.

— Você é muito, muito malvado, Jimin hyung... — o garoto murmurou com


um bico, mas sem rejeitar o abraço de seu domador, ainda que estivesse
brabo pela ereção dolorida e orgasmo negado. Ele sabia que merecia aquela
lição, afinal.

Com cuidado, o mais velho cortou a algema de plástico com uma pequena
tesoura guardada na gaveta da mesinha de cabeceira — o dominador
dispusera ali, todo o tipo de coisa que seria bom de ter em fácil alcance,
como lubrificante, anel peniano, gel com sabor e coisas simples como estas.
Depois de liberar os pulsos de Jungkook, beijou delicada e carinhosamente
a pele avermelhada, massageando para aliviar a região, ainda que o mais
novo insistisse que não estava incomodado.

Deu banho em seu submisso no banheiro do corredor, já que o trisal de


amigos não se tocava que deveriam liberar a suíte — talvez porque não
tivessem terminado sua própria sessão.

Jimin também passou um bom tempo massageando com uma pomada para
pancadas, a pele das nádegas do brat — percebeu então que os açoites
haviam sido mais fortes do que pensara. O bumbum durinho já se
encontrara vermelho de montão, como se um leopardo tivesse arranhado a
traseira de seu garoto. O Park temeu que Jeon se assustasse com o
resultado, mas a resposta do desbotado foi:

— Foi uma delícia você me surrando daquele jeito, hyung... E por mais que
esteja doendo pra cacete agora, toda vez que eu vir essas marcas, vou
lembrar do quanto nossa primeira sessão foi gostosa. — E com isso, o
dominador se derreteu todo. Jeon Jungkook era seu par perfeito, realmente,
e à cada dia mais se convencia disso. Seus fetiches e gostos se completavam
com perfeição.

Ficaram por um tempo incontável deitados na cama, nus e de banho


tomado, enquanto faziam carinhos despretensiosos pelo corpo um do outro,
trocando beijinhos e sorrisos bobos, como dois adolescentes.

Qualquer um que visse aquele momento, sem ter ideia de suas práticas
sexuais extremas, pensariam que eles eram um casal que fazia amorzinho
fofo. O que não condizia em nada com a realidade, já que Jimin e Jungkook
apenas namoravam fofo... porém transavam muito, muito bruto e selvagem.

Acabaram tendo de passar a noite na masmorra, já que o trisal não parecia


disposto a deixar o quarto do Park tão cedo.

O pênis de Jeon continuava duro feito pedra. Ele torcia pra que Jimin desse
um jeito naquilo ao longo da noite, afinal, ainda faltavam um par de horas
pro efeito do remédio passar. Isto é, se ele não fosse um dos azarados que
acabavam mantendo a ereção por doze horas.
O Park foi até a cozinha novamente e buscou comida para os dois. Entrando
no quarto com uma bandeja, sentou-se no colchão macio e se pôs a comer
os cereais com leite; o seu, sem açúcar; o de Jungkook, com pelo menos
quatro colheres cheias do refinado branco, porque era assim que seu menino
gostava: de alimentos muito doces.

O tamer não perdeu a oportunidade de dar a comida na boca de seu sub —


que aceitou o mimo de bom grado, encostado na cabeceira da cama, tendo o
Park entre seus braços, virando-se para alimentá-lo.

E para encerrar a noite da melhor forma que podia, o lúpus pediu que Jeon
fechasse os olhos e estendesse as mãos, pois tinha um novo mimo pro seu
amorzinho:

— Você comprou um pacote só de m&m's vermelhos pra mim, hyung? — o


alfa exclamou com os olhinhos negros brilhantes e um sorriso abobado no
rosto. — Você lembrou... — disse desacreditado.

Com um sorrisinho apaixonado, o Park encarava a expressão de felicidade


no rosto do namorado, pensando no quanto vê-lo contente, fazia seu
coração se sentir quentinho. Suspirando então, respondeu:

— Eu nunca esqueço nada sobre você, meu Jungkookie...

— Seu Jungkookie? — Jeon repetiu, com um confete de chocolate


vermelho parado a caminho da boca gulosa.

— Meu. Só meu — o mais velho devolveu com um risinho. De súbito, o


alfa híbrido se jogou nos braços do lúpus, escondendo o rosto em seu
pescoço e o abraçando forte pela cintura. — O que foi, neném? — o
moreno indagou preocupado.

— Você lembrou. Você lembrou mesmo, hyung — respondeu com a voz no


vão entre seu pescoço e a clavícula.

Jimin sorriu ainda mais aberto que antes, contorcendo o corpo para que
pudesse abraçar Jungkook de frente. Suas bochechas pareciam querer
rasgar, de tanto que as esticava para demonstrar sua felicidade. Uma de suas
mãos deslizava pelas costas nuas do ex-ruivo, e a outra em seus fios
desbotados e macios, num carinho singelo.

— As vezes eu tenho ciúmes de Jung Hoseok. Ele sabe muito sobre você,
enquanto eu ainda não te conheço tanto quanto gostaria... — confessou em
voz calma.

O ex-ruivo então levantou o rosto para fitá-lo curioso.

— Pensei que você me desvendasse fácil, Jimin-ah. Não sei ser misterioso
como você, sou como um livro aberto... as coisas sobre mim parecem
bastante claras, não?

— Bastante, até — respondeu deslizando a destra carinhosamente pela nuca


alheia. — Mas não é sobre isso que falo. Eu te observo e analiso
constantemente. Atualmente, meu hobbie é te ver — disse carinhoso. —
Mas me refiro a coisas bobas, que fazem parte de seus gostos. Como gostar
apenas de m&m's vermelhos. Algumas coisas só posso saber se você me
contar...

— Você quer que eu te conte mais o que? Eu já te digo tudo, não tenho nem
filtro pra isso. Daqui a pouco vou te chamar de "querido diário", deixa de
charme... — rebateu fazendo bico.

Jimin grunhiu, fingindo-se de bravo.

— Boneco grossinho da Mattel! — reclamou mordiscando o ombro do


namorado.

— Ai! — resmungou da mordida, mesmo gargalhando. — Não sou nada —


devolveu o mais novo.

— É sim!

— Não sou nada, Jimin!

— E ainda é malcriado... — o Park disse apertando os olhinhos pra ele. —


Alguém já está quebrando a promessa de obediência...
Jungkook arregalou os olhos e ficou branco como papel.

— Não, não, não, Jimin-ssi. Sou um subzinho obediente e bonzinho, me


desculpa, é que eu sou doido — disse atropelando-se nas próprias palavras.
— Vou até beijar seu pézinho gordinho pra provar isso, olha aqui ó... — e
então se virou na cama e encheu os dois pés do alfa lúpus de beijos, fazendo
gracinhas, enquanto este ria descontroladamente.

— Sai daí, garoto!

— Hyung... você tem os pés gorduchos, parecem dois pãezinhos. É fofo! —


declarou com um sorriso meigo.

— Garoto, você quer morrer? — o Park tentou ameaçar seriamente, mas


sua boca repuxava num sorriso lateral contido.

— Mas hyung, não tô mentindo, tô até olhando nos seus olhos, caramba!
Seus pés são gordinhos sim! E são fofos — acusou se jogando em cima do
moreno.

— Sabe o que é fofo aqui? Você — Jimin devolveu manhoso e risonho.

— Eu não sou fofo, hyung. Você é fofo.

— Não, não. Você que é fofo — o ex-militar insistiu.

— Park Jimin, seja coerente, okay? Há meio minuto atrás, você disse que
eu era grosso...

O lúpus forjou uma expressão ultrajada no rosto, fazendo uma careta tosca e
levando a destra ao peito, de forma dramática:

— Não acredito que você está usando minhas palavras contra mim mesmo!

— Quem perdoa é Deus — o desbotado respondeu sagaz, dando de ombros


como se fizesse pouco caso.

— Yah... — o ex-coronel rebateu, mas não conseguiu formular uma


resposta à altura. Abriu e fechou a boca, tentando inutilmente criar um
argumento para tentar dar a última palavra naquela discussão sem sentido
de dois idiotas, mas não conseguiu. Jeon Jungkook era impossível.

O mais novo, sorrindo de orelha à orelha e notando a falta de contestação


do dominador, gargalhou divertido, pegando o pacotinho amassado de
m&m's no colchão.

— Vem cá, hyung. Eu vou te dar um m&m pra você ficar calminho, tá
legal? Docinho deixa qualquer um contente... — e estendendo o confete
colorido em direção aos lábios gordinhos do alfa lúpus, este o capturou com
a boca, fazendo uma carinha contrariada. — Você tá muito fofo com esse
biquinho, Jimin-ssi... — provocou — Vou morder ele...

— Eu que vou morder o seu, você também tá com biquinho, sempre faz
um... — devolveu com a voz reclamona costumeira.

O fato era que o lúpus sabia que quando estava com Jungkook, os dois
pareciam duas criancinhas manhosas. A única diferença entre eles, de fato,
era que a criancinha de cabelos negros gostava de mandar e a criancinha
nariguda acabava obedecendo porque desistia de tentar ir contra.

Jungkook o deixava tão, mas tão derretido, que era quase impossível para o
Park, não agir do mesmo jeito que ele. Definitivamente ficar apaixonado,
deixava as pessoas meio imbecis.

— Então morde — atiçou o ex-ruivo, com uma expressão matreira.

O mais velho avançou em seus lábios, dando um mordidinha leve na


boquinha fina franzida, que se unia num pequeno bico risonho.

— Você é muito meu bebê... — falou de modo apaixonado, fitando os


olhinhos redondos do mais novo e a testa coberta pela franja que caía
suavemente. Observou as sobrancelhas grossas e expressivas emoldurando
seus olhos, as ruguinhas que se formavam nas laterais dos mirantes, o nariz
avantajado e másculo, cuja ponta era redondinha como uma bolota. Desceu
o olhar fascinado pelos lábios bem desenhados, sendo o de cima mais fino
que o inferior, que terminava com uma pintinha charmosa bem abaixo dele.
As mandíbulas fortes e bem desenhadas, deixavam o rosto de Jungkook
num limbo entre a aparência infantil e o visual sério e sexy. O alfa de genes
ômegas era dono de uma beleza exótica e completamente estonteante. Jimin
tinha certeza que o rapaz poderia ter quem quisesse aos seus pés. Ter sido
escolhido por ele, em meio a tantas outras pessoas, fazia o Park sentir-se
especial. Não queria deixar Jungkook por nada.

— Hyung... — chamou o garoto, cuidadoso, deitado por cima do mais


velho, que lhe fazia carinho e o fitava com cara de bobo. — No dia que
você disse que a gente tava namorando, desde quando pediu para sermos
exclusivos... Você tava jogando verde, não é? — perguntou apertando os
olhos, desconfiado. Então o lúpus se entregou, deixando as bochechas
inflarem e seu rosto ficar vermelho, até explodir numa gargalhada. — Eu
sabia! Park Jimin, sua cobra sorrateira!!! — exclamou indignado, tentando
se afastar do corpo alheio, mas o tamer o segurava com força pela cintura,
enquanto ria como uma peste.

— Aaah, Jungkookie... Tenta entender o lado do hyung, tá legal? — se


justificou entre as risadas. — Fazia um bom tempo que eu não pedia
ninguém em namoro. Minhas relações não eram românticas, eram apenas
relações D/s e nada além disso. Eu estava morrendo de medo de parar na
sua frente e dizer: "Olha, eu tô apaixonado por esse seu jeitinho abusado e
fofo pra caralho, namora comigo?"

— Era só dizer, Jimin! — o mais novo devolveu num rosnado irritado.

— Mas eu 'tava com medo de você não aceitar meus sentimentos, Kook-
ah... — se defendeu fazendo manha.

— Você é um manipulador safado! — acusou, nem tão bravo assim. Era


mais um charme, por achar divertido entrar naqueles embates bobos com
seu tamer.

— Ah, não fiz por mal. Só vi a chance e aproveitei. E você disse sim! —
Apontou um dedo acusador no rosto do alfa de cheiro doce. — Você é meu
namorado agora, nem pense em voltar atrás, Jeon Jungkook. Eu não aceito
um término, não, não não... — disse sacudindo a cabeça.
Agora era o desbotado quem sorria, sentindo as bochechas arderem. Porra,
aquele calorzinho em seu peito, quando estava com o Park, era tão irritante!
Irritante de um jeito que dizia: "Olhe bem o poder que ele tem sobre você...
Num estalar de dedos, poderá partir seu coração." — e era nisso que a
mente do desbotado sempre o guiava. Talvez fosse uma forma de fazê-lo ser
mais cuidadoso nas relações, sabendo que nem sempre tudo era tão lindo
quanto parecia; ou talvez realmente fosse só uma paranoia de sua cabecinha
surtada. Não tinha como saber ao certo.

Mas a partir daquele minuto, decidiu que confiaria no lúpus. Estavam


felizes, afinal. Não tinha porque algo dar errado, não naquele momento,
pelo menos. Então decidiu, de forma madura e racional que quase nunca
usava na vida, que deixaria apenas as coisas fluírem e aproveitaria ao
máximo os sentimentos bons e quentes que o ex-militar lhe proporcionava.

Se em algum momento seus caminhos tivessem que divergir, ao menos


guardaria boas lembranças daquele tempo. Porque ao longo da vida, nós até
podemos esquecer de algumas pessoas, afinal, elas são passageiras. Mas
jamais esquecemos do modo como cada uma dessas pessoas já nos fez
sentir.

Durante a madrugada, algumas batidas foram dadas na porta do quarto-


masmorra. O casal ainda estava acordado, conversando e rindo um do
outro. Aquele era um aftercare perfeito para o alfa mais novo: comer as
coisas que gostava, ganhar carinho do namorado, fazê-lo rir e rir dele de
volta, além de dar e receber mil e uma confissões de sentimentos mútuos.
Aquilo o fazia sentir-se amado, querido, protegido. Entregar seu corpo nas
mãos de Jimin, havia sido a melhor decisão que tomara, desde que decidira
morar longe dos pais tóxicos, afinal. E ao longo do tempo, previa que
acabaria entregando todo o resto, se continuassem tendo algo tão intenso,
recheado de carinho e respeito assim.

Como não possuíam roupas extras guardadas na masmorra, os dois ainda


estavam nus. Jungkook estava enrolado no lençol vermelho, então foi ele
quem levantou para atender à porta, deparando-se com Jung Hoseok ali,
portando um sorrisinho matreiro no rosto.
— Veja só o mais novo subzinho malcriado de bdsm aqui, oficialmente —
declarou rindo. — Vai lá embaixo fechar a porta pra gente, JK — pediu.

— Tá legal — o desbotado concordou preguiçoso, fechando a porta do


quarto e acompanhando o amigo escada abaixo, enquanto Yoongi e
Taehyung se adiantavam indo mais à frente.

— E aí, o que você achou da sua primeira experiência oficial? É bem


diferente do age play, né? Totalmente oposta... — o beta começou a
conversar animado, como uma adolescente conversando com a melhor
amiga sobre sua primeira vez.

Mas afinal, aquele tempo todo Jungkook era alguém de fora da


comunidade, então por mais que Hoseok fosse capaz de conversar com o
amigo sobre aquele universo, era diferente agora, pois o mais novo saberia
exatamente do que ele estivesse falando.

— Ah, hyung... — Jeon respondeu com um sorrisinho infantil. — Eu


realmente sou masoquistazinho de merda.... — e então ambos se olharam,
até explodirem numa gargalhada confidente.

— Sabe, a parede da suíte é fina demais... — Hoseok comentou entre risos.


— A gente já sabia que sua primeira sessão seria mais voltada para o S/M,
mas ouvir você apanhando e gostando, deixou o Taehyung atiçado. E
quando ele fica atiçado, Deus que me perdoe... — disse sacudindo a cabeça
desacreditado.

— Vocês também ouviram a gente? — perguntou surpreso. — Hyung, nós


também ouvimos vocês!

— Ah, eu imaginei — devolveu o switcher risonho. — Aliás, deve ter sido


difícil receber um castigo de não gozar, enquanto ouvia gemidos de sexo no
quarto ao lado, né? Foi mal — mas o beta não sentia-se mal realmente, é
claro. Achava mais que merecido, afinal, o amigo era mesmo um malcriado
insolente.

— Sonso — Jungkook rebateu apertando os olhos em direção ao moreno.


— Mas aí, qual é a do seu subzinho afinal, hein? Que cara chato! A
próxima vez que ele implicar comigo, a gente vai sair no soco, hyung. Você
deixa ele avisado — resmungou o desbotado, segurando o lençol vermelho
que tampava sua nudez.

— Oh, JK, tão agressivo... — zombou o Switcher. Sabia que Jeon era
briguento, realmente. E que a implicância de seu submisso com seu amigo,
era ridícula. Mas Kim Taehyung era impossível de controlar, e se eles dois
entrassem num embate, não sabia se tentaria separa-los ou apenas sentaria-
se com um balde de pipoca para assistir àquela espécie de UFC de Alfas.

— É sério, qual é a dele? Ciúmes de mim? Fala sério! Até parece que ele
nunca precisou usar um amigo como parceiro de cios antes. Todo mundo
passa por isso em algum momento da vida...

— Taehyung é um caso complicado, mas não é muito diferente de você —


devolveu o beta. — Vocês alfas, tem esse instinto ciumento, mais que as
outras classes, credo. Por isso eu acabo me sentindo mais confortável com o
Yoongi hyung — disse sacudindo a cabeça de modo reprovador. — A gente
tá tentando disciplinar ele, JK, mas ele é pior que você... Se você parar pra
pensar, não é muito diferente do seu ciuminho com o ex-parceiro de cio do
Jimin também...

— Nem me fala desse cara. Só de pensar nele, já me sinto irritado —


murmurou o ex-ruivo.

— Olha aí, o sujo falando do mal lavado... — repreendeu o amigo.

— É diferente, hyung. Esse cara não era só parceiro de cio do meu Jimin,
ele era submisso dele — disse a última parte num sussurro e olhando em
volta da sala.

— Por que você tá sussurrando? — Hoseok perguntou em igual sussurro e


imitando o gesto do outro, ao olhar em volta do local, como um idiota.

— Por que o Jimin acha que eu não sei que esse "Tetê" era sub dele também
— disse com a voz alterada em deboche, o nome do do outro alfa. — Ele
acha que sou tão idiota como aparento — deu um sorrisinho malandro.
— Ah, é! — Hoseok fez uma carinha surpresa, arregalando os olhos e pôs a
mão em frente à boca. — Isso me lembra algo que queria te contar. Eu ouvi
uma conversa do Yoongi com esse Taemin ao telefone. Parece que ele está
fora do país. Foi trabalhar no Japão.

— Oh! — o alfa exclamou. — Então não preciso me preocupar com esse


cara... Aigoo, fico tão aliviado... — suspirou levando a destra em direção ao
peito, de forma dramática.

Quando o beta estava prestes a responder, a buzina do carro estacionado na


frente da casa, soou alta, com um Taehyung ao volante encarando os dois de
forma brava.

Hoseok suspirou, aparentando cansaço.

— Eu tenho que ir. Mas olha... Só tenta controlar seu ciúmes com o Jimin,
ok? — disse preocupado. — Yoongi disse que o Park é ciumento, como a
maioria de vocês alfas são mesmo, mas ele é muito controlado, mesmo
quando tinha aquele noivo beta. E JK, não só pelo que meu Dominador me
conta, mas também pelo que observei hoje, o Alphadome parece realmente
estar apaixonado por você. Ele é super cuidadoso contigo, é visível que ele
não te trata só como submisso. Então se controla, tá legal? Você sabe como
gente ciumenta pegando no pé, é irritante e cansativo. Eu nem vou pra casa
do Yoongi hyung hoje mais, porque o Taehyung tá me irritando, então
prefiro deixar o Yoongi lidar com ele sozinho. Você sabe que faz bem
quando segue meus conselhos, né?

— Eu sei, hyung. Pode deixar — murmurou o desbotado, todo


encolhidinho.

Trocaram um abraço com tapinhas nas costas e então Jungkook fechou a


porta, voltando pro andar de cima.

— Demorou bebê — comentou o Park, deitado na cama, enquanto mexia


no celular. — Quer fazer o que agora?

— Quero mais comida, hyung — o ex-ruivo respondeu, se jogando no


colchão ao lado do moreno.
— Como assim mais comida? — o mais velho devolveu indignado,
arregalando os pequenos olhos pro namorado e abandonando o celular entre
os lençóis. — Garoto, pelo amor de Deus! Você jantou, lanchou, comeu
m&m's... Esse estômago não enche não?

— Meu buchinho nunca enche, hyung — respondeu com falsa seriedade na


voz, fitando o namorado. — Comidinhas são muito importantes pra manter
o Jungkook feliz.

Com isso, logo a expressão do tamer se transformou num sorriso divertido.

— Eu não aguento com o tanto que você é fofo, que saco — dando um
abraço no desbotado. — É cada vez mais difícil não me apaixonar mais por
você, Jeon Jungkook — declarou subitamente, enfiando o rosto no pescoço
do mais novo e assim ficando voz abafada.

As bochechas do alfa híbrido arderam. Sentiu-se tão bobinho, mas tão, tão
contente, que não tinha como responder.

— Se está tão apaixonado assim, então prova — aproveitou-se.

O moreno levantou o rosto para encarar o namorado.

— Provar como?

— Me faz gozar.

— Não adianta, Jungkook — negou solenemente, sacudindo a cabeça. —


Sua ereção vai continuar aí, até o efeito do remédio passar.

— Então ao menos me dê mais comida, hyung — devolveu o garoto.

— Cara de pau! — o lúpus exclamou rindo, e voltou a enfiar o rosto na


curvatura do pescoço alheio. — Pede o que quiser no aplicativo de comida,
seu mimado.

— Ah, meu Dominador é tão bom pra mim... — brincou, sorrindo


satisfeito.
Talvez aquela relação estivesse planejada... ou talvez o universo tivesse
mudado por eles dois. Não importava. Só importava o fato de que agora,
Jimin era de Jungkook, e Jungkook pertencia a Jimin, e eles estavam
realmente felizes assim, como há muito não acontecia em suas vidas
separadas.

Seguinte: tem outro Abo vindo aí, que TALVEZ seja ômega x ômega;
ele tem aquela vibe de Diário de uma Paixão, embora não seja de época
(nem tenha final triste), mas queria saber quem se interessa, pq tô
insegura (tanto q lancei a alfa x alfa antes) >.< comenta aqui :)
22| freak on a leash

ESCRITO POR HowUdare

Era véspera de natal. Como sempre, Jimin acordou primeiro que o


namorado. Já estava mais que acostumado a acordar sempre cedo, no
mesmo horário, rotineiramente, devido à todo o seu tempo nas forças
armadas.

A vida no exército, principalmente no começo, quando se é um simples


cabo, é algo realmente complicado. Muita disciplina e submissão são
demandadas, dificilmente funciona pra quem tem pouco controle das
emoções.

Era a primeira vez em muito tempo, que o moreno passaria o natal com
quem amava. Costumava evitar ao máximo passar aquela data com Taemin,
embora, ao longo dos anos, já tivesse sim passado com o amigo,
companheiro de cio e submisso, um par de vezes. Contudo, passar a data
comemorativa com ele, poderia implicar em equívocos sentimentais a
Taemin, e a última coisa que ele queria, era magoá-lo.

Deste modo, sua preferência era sempre passar na casa da família Min, ou
até mesmo no quartel, em serviço. O natal no país, diferentemente da maior
parte das nações do globo, eram passados em casal, preferencialmente. E
dessa vez, Jimin cumpriria a tradição coreana, com o maior prazer.

De banho tomado, cabelos molhados e bem agasalhado em um moletom


parecendo ter o dobro de seu tamanho, onde as mangas eram tão longas que
cobriam suas mãos de maneira fofa, sentou-se à mesa da cozinha, pensando
no que fazer naquele dia. O Park era um cara aparentemente pequeno. Mas
só aparentemente, afinal, um metro e setenta e cinco, não fazem de ninguém
um anão.

Uma vez que a cultura coreana e asiática em geral era voltada para o
budismo, e não ao cristianismo, não haviam realmente pratos tradicionais
para o natal. As pessoas costumavam comer sopa de arroz (teokkug),
macarrão de batata doce (japchae), carne doce (bulgogi) e kimchi.
Basicamente, todo o tipo de comida coreana normal. E Jimin já havia
preparado alguns daqueles pratos, para comer com Jungkook à noite.

Mas um dos costumes mais deliciosos do natal, era o Bolo de Natal, que
consistia num bolo comum, confeitado com figuras de temas natalinos,
como sinos, bengalas coloridas e um papai noel.

Então o Park caminhou até a padaria do quarteirão vizinho e comprou um


bolo de massa clara, com recheio de avelã e chocolate. Já em casa, enfeitou
com m&m's coloridos de um lado, e apenas com m&m's vermelhos do
outro. Basicamente uma metade pra ele e outra pra Jungkook.

Não havia uma árvore de natal em sua casa, já que não costumava passar os
natais ali. Então ele esperou Jeon acordar, com o presente do garoto ao seu
lado e o bolo pros dois tomarem café.

Jungkook levantou preguiçoso, vendo a neve cair em flocos finos lá fora


pelo vidro da janela do quarto. Ele sorriu ao notar Minzy pulando do muro e
caminhando pela neve que cobria o chão lá embaixo, imprimindo suas
pequenas patinhas no tapete branco de gelo.

Tomou um banho quente, lavando os cabelos com shampoo, para depois se


enrolar na toalha e pegar o tonalizante vermelho para retocar os fios, que já
se encontravam num tom estranho de amarelo meio salmão. Era natal e,
pela primeira vez, passaria com o Park. Era importante, então queria estar o
mais bonito possível. Jeon era extremamente cuidadoso com sua aparência,
assim como o alfa lúpus.

Sobre pintar os cabelos, geralmente Hoseok fazia o procedimento pra ele,


mas já tendo observado o amigo realizar aquilo um bocado de vezes,
resolveu fazer sozinho. Cuidadoso, começou a aplicar o creme vermelho
nos fios, dividindo-o em mechas finas, para não correr o risco de deixar
algo manchado. Mas aí estava o problema: as mechas estavam finais
demais. E quando o produto acabou, Jungkook tinha exatamente a metade
esquerda da cabeça tingida e a direita não.
Resmungando, saiu do banheiro enrolado na toalha, com as mãos enluvadas
e gritou em volume desesperadamente alto:

— Jimiiiiiiiiiiiiiiiiiin-ssiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii !!!!!

Assustado, o Park largou tudo o que fazia na cozinha, pra correr de


encontro ao alfa, já que pelo tom desesperado, só podia esperar que algum
acidente tivesse acontecido.

— O que foi? O que houve? Se machucou? — indagou de olhos


arregalados, subindo os degraus transparentes, de dois em dois.

— Eu calculei mal a quantidade de tinta, hyung — explicou aflito. — Liga


pra farmácia e pede outra pra mim, por favor! — pediu agoniado.

Jimin passou um minuto inteiro encarando o garoto, sem se mover.

— Era só isso? — perguntou sério.

— Aham.

O moreno soltou todo o ar preso em seus pulmões, pesadamente, sacudindo


a cabeça em negativa.

— Precisava gritar desesperado assim? Pensei que algo grave tinha


acontecido — reclamou.

— Você acha que não é grave, porque não é o seu cabelo — devolveu
Jungkook com uma expressão comicamente revoltada.

Jimin sacudiu a cabeça de novo, desistindo.

— Vem comer. — Então puxou um dos pulsos do garoto, pra que descesse
as escadas com ele. — Que ideia doida é essa de pintar o cabelo sem nem
tomar café? Podia ter feito isso depois.

Mas o Jeon estancou no lugar.


— Ah não, Jimin, não vou ficar sentado na sua frente, com esse cabelo
ridículo.

O Park revirou os olhos.

— Eu já vi, Jungkook, não tem jeito. Agora obedece — finalizou puxando o


garoto, que o seguiu fazendo birra. — Senta aí — ordenou, empurrando o
outro na cadeira da mesa da cozinha. — Quer que eu busque um roupão pra
você? O aquecedor está ligado no máximo, então aqui dentro está quente,
mas não quero que fique doente...

Jeon tirou as luvas, cruzou os braços, contrariado, e negou sacudindo a


cabeça. O lúpus colocou o bolo colorido na sua frente, cortando uma fatia
pra cada e encheu as canecas de café. Porém, o mais novo fitou a comida e
a ignorou, voltando a encarar o teto. Jimin não se aguentou soltou uma
gargalhada.

— Jungkook, o que eu te falei sobre entrar no seu Little Space sem querer?
Não faça isso. Vai demorar um pouco pra tinta chegar, só quero que você se
alimente enquanto isso. Olha, eu até enfeitei uma metade do bolo exclusiva
pra você, só com m&m's vermelhos...

O tingido suspirou vencido, para então desfazer o bico, descruzar os braços


e aí então abocanhar a fatia quase inteira com uma mordida só, claramente
faminto. E não era nenhuma novidade que Jeon Jungkook estava sempre
faminto, mas de manhã ficava muito mais, e Jimin já dividia o mesmo teto
com ele há tempo suficiente para reparar naquilo.

O ex-militar se afastou rindo, buscando seu celular na sala, para ligar para a
farmácia. Precisou ir até o lixo do banheiro da suíte, pegar a embalagem
vazia da tinta, pra especificar a marca e a cor no pedido.

Quando encerrou a ligação, o moreno observou o banheiro. Não tinha muita


coisa suja, mas o piso estava todo molhado e respingos de tinta vermelho-
sangue coloriam a pia. Suspirando cansado, pela milésima vez só naquela
manhã, pôs-se a limpar o cômodo.
Morar com Jeon Jungkook era exatamente como ter um filho. Ele sujava e
bagunçava as coisas, não lavava a louça, não forrava a cama, sequer
lembrava de lavar as próprias roupas. Mas como o moreno não andava
fazendo muita coisa pra passar o tempo, às vezes lavava pra ele. E isso era
porque não queria que o outro se tornasse um mimado, imagine só se
quisesse. Contudo, o maldito daddy kink falava mais alto.

O tempo que gastou limpando o banheiro não foi muito, então desceu pra
comer com o namorado, encontrando-o não na cozinha, como havia o
deixado, mas sim sentado no tapete da sala, em frente à TV, com o pratinho
de bolo no colo e a caneca de café no chão, enquanto apertava furiosamente
os botões do joystick do videogame, as costas nuas e secas, exibindo a pele
pouco bronzeada, mas os músculos definidos. Não era uma visão rara,
encontrar Jeon sem camisa pela casa, mas o Park não conseguia desviar o
olhar daquela visão escultural nunca.

Após resgatar seu próprio café e bolo na cozinha, o tamer sentou-se no sofá
de couro vermelho, pegando seu livro sobre submissão de brats na gaveta
da mesinha de canto, abrindo na página marcada, enquanto bebericava a
caneca tranquilamente.

Alguns minutos mais tarde, a campainha soou. Era o entregador da


farmácia. Tanto Jimin, quanto Jungkook, levantaram num pulo.

— Deixa que eu atendo — o ex-coronel pediu. — Vai indo lavar a parte


pintada, se não ela vai ficar mais tempo que o necessário e acabar num tom
diferente do outro lado. — O mais novo assentiu, indo em direção às
escadas, mas se travou quando Jimin bradou: — Yah, aonde você pensa que
está indo?

— Lavar o cabelo, ué — respondeu o maior, com a expressão confusa.

— No banheiro?

— Claro, onde mais? — devolveu o tingido.

O Park sacudiu a cabeça, exasperado.


— Vai lavar isso no tanque, Jungkook. Você quase manchou o banheiro da
suíte todo, seu pivete. Vai lá pra área de serviço — mandou.

— Tá, tá, tá, mandão chato do caralho — o garoto resmungou, dando meia
volta e indo em direção à área de serviço.

Jimin ficou um bocado de tempo parado ali, com a boquinha carnuda


aberta, chocado com a audácia. Jungkook simplesmente parecia ter nascido
pra perturbar o juízo até dos mais paciente lupino. Sentiria pena dos pais
dele, se não desconfiasse que os mesmos eram um casal de filhos da puta.
Então provavelmente mereciam o filho birrento que tinha.

A campainha soou de novo, insistente, então o moreno atendeu ao


chamado, pagando o produto com seu dinheiro e seguindo para área de
serviço, em busca do Jeon. O encontrou curvado, com a cabeça debaixo da
bica jorrando água, e com a bundinha gostosa empinada. Não se contendo,
o mais velho foi até ele e o puxou pela cintura, dando um tapa abafado pela
toalha na nádega deste e encaixando sua pélvis naquela traseira.

— Jimin — repreendeu o garoto, pingando água vermelha pelo corpo, ao


dar um pulinho e ficar em posição ereta. O Park gargalhou com sua risada
divertida costumeira, para aí soltar a toalha da cintura do mais novo,
deixando-o nu. — Pra que você tá me deixando pelado?

— Pra secar você, garotinho — resmungou em resposta, deslizando a toalha


nas costas do garoto, secando a água colorida que escorria.

Depois que terminou de enxaguar a metade do cabelo pintado, Jeon seguiu


para o banheiro, para terminar de pintar o outro lado. Ainda gastou bons
minutos esperando o tempo de pausa, depois um novo enxágue no tanque,
para aí usar um dos cremes hidratantes capilares caros que o vaidoso Park
mantinha no banheiro. Depois tomou seu devido banho, lavando cada
pedacinho do corpo de forma aplicada, coisa que não havia feito ao acordar,
já que apenas tinha lavado o cabelo.

E após todo o trabalhoso procedimento de tingir — duas vezes — os fios,


lavar, hidratar, secar, alisar, tomar um banho bem caprichoso e finalmente
se vestir, Jungkook finalmente estava pronto pro almoço.
— Uau — murmurou o lúpus, meio embasbacado. — A cor está tão forte
agora, tão brilhante... — comentou se aproximando do namorado, para
enlaça-lo pela cintura e ficarem com os rostinhos próximos. — Já disse o
quanto você é lindo? E o quanto esse cabelo cor de cereja te deixa mais
lindo ainda?

— Eu sei que sou lindo — respondeu o alfa convencido. — Não sei como
você conseguiu resistir a mim por três anos... — debochou, alisando os
ombros do mais velho. — E ainda por cima, tenho uma personalidade
ótima... quase sempre.

Jimin gargalhou alto, jogando a cabeça pra trás, para aí voltar dando
selinhos por todo o rosto do namorado, que sorria de volta, se deixando ser
beijado e descabelado, enquanto abraçava de volta o Park.

— Foi realmente uma tortura, acredite — o lúpus confessou. — A minha


sorte, é ser muito disciplinado, do contrário, teria atacado você na primeira
oportunidade.

— Que bom que desistiu de resistir, Jimin-ah — respondeu pegando o rosto


afilado do namorado entre as palmas, e deu-lhe um longo beijo carinhoso.

Quando se soltaram, aos suspiros, ficaram presos no olhar um do outro. Era


cada vez mais difícil refrear o que estavam sentido. Era como, basicamente,
pular de um avião, sem ter a menor certeza se o paraquedas funcionaria .
Alguém sempre saía machucado — era o que Jeon pensava. E ele sabia que
seria ele, mas não havia jeito de se afastar do Park, nem em um milhão de
anos.

Jimin também pensava naquelas coisas. Mas havia chegado à conclusão de


que Jeon Jungkook era a última pessoa na Terra que o magoaria. Então
simplesmente se jogava tranquilamente, certo de que se seu paraquedas não
abrisse, o ruivinho o salvaria. Tinha convicção nisso.

— Tenho algo pra você — o mais velho anunciou, afastando-se levemente,


com um sorrisinho suspeito. — Só deveria entregar depois de meia-noite,
certo? Mas queria te ver usando agora — e então entregou um caixa grande
cinza.
Jungkook a recebeu de mãos estendidas, completamente desconcertado.
Não havia comprado nada para o lúpus, porque não tinha dinheiro
sobrando, para dar algo que o namorado realmente pudesse gostar. Jimin
tinha gostos caros e sofisticados, e um presente realmente interessante pra
ele, custaria mais caro que um mês inteiro de salário do avermelhado.

— Hyung... tô com vergonha. Não comprei nada pra você... — disse


cabisbaixo.

Mas a expressão tristonha em seu rostinho bochechudo era tão fofa, que o
Park sequer conseguiria se sentir decepcionado com aquilo, mesmo se
quisesse. Então sorriu meigo, e levantou a manga longa do casaco, para que
pudesse apertar uma das bochechas de Jeon entre os dedos; depois deslizou
a palma para a nuca do garoto, fazendo um carinho suave.

— Você já me presenteia todos os dias — disse com uma voz tão doce, que
o de cabelos cereja sentiu o coração palpitar de forma errática.

— Corta essa, Jimin — respondeu lhe dando um olhar apertado. — Tá


falando isso só pra que eu não me sinta mal...

— Não tô não — devolveu o Park, encarando-o fundo dentro dos olhos. —


É sério, Kook-ah. Ficar com você, foi a melhor coisa que me aconteceu nos
últimos anos. Mesmo dormindo e acordando abraçado à você, mesmo te
tendo o tempo todo comigo, meu coração palpita, minhas mãos suam, meu
corpo fica mole... E eu não costumo ser meloso assim.

Jeon ficou sem palavras. O que não era uma novidade, realmente. Ele sentia
com toda a intensidade do mundo, mas a oratória não era sua praia. Era
realmente difícil se expressar.

Por conta da falta de reação do mais novo, Jimin acabou ficando sem jeito.
Não queria assustá-lo com uma declaração tão intensa. Sabia que o maior
nunca o magoaria, mas talvez ele estivesse indo rápido demais, e não queria
pressionar o outro alfa. Pigarreou desconfortável, tentando disfarçar.

— Não vai abrir o presente, bebê?


Piscando meio atordoado, Jungkook sorriu leve e então abriu o presente. A
caixa cinza abrigava dois objetos felpudos de cor negra, com uma coisinha
laranja nas pontas. Com a boquinha aberta num pequeno "O" surpreso, Jeon
os puxou delicadamente pra fora da caixa.

— Pantufas de coelho! — exclamou sorrindo de orelha à orelha, enquanto


alisava a penugem fofa dos calçados. Os dois pés tinham orelhinhas
compridas e durinhas apontando pra cima, e uma pequena cenourinha de
espuma na boca do coelho.

O garoto rapidamente tirou as pantufas brancas surradas de unicórnio dos


pés, para substituir pelas novas. Ele se levantou animado, andando de um
lado pro outro da sala, testando os pisantes.

— Whoooa, hyung! São realmente macias. É como andar nas nuvens —


sorriu deleitoso.

— Ainda bem que você gostou — Jimin respondeu sorrindo. — Agora


podemos jogar fora suas pantufas surradas — disse pegando as pantufas de
unicórnio e as colocando dentro da caixa de embalagem das novas.

Com isso, Jungkook parou de sorrir e correu para arrancar a caixa com as
pantufas brancas, das mãos pequenas do Park.

— Não, não, não, Jimin-ah. Eu não posso jogar fora as pantufas. Sei que
elas são velhas e já são até duras de pisar, não esquentam nada e ainda tem
furos na sola. Mas elas tem valor sentimental pra mim — disse
timidamente. — Foram presente do Hoseok hyung.

O mais velho piscou um par de vezes, antes de entender. E agora ele estava
ainda mais sem jeito de que antes, quando o de cabelos cereja não reagiu à
sua declaração romântica.

— Me desculpe, Jungoo-ah. Eu não... não sabia que elas eram tão


importantes assim — e por dentro, seu interior estava fervilhando com um
calorzinho ciumento.
Jeon o encarou atentamente, notando a careta que o menor se esforçava
muito em reprimir, mas sem conseguir com total sucesso. Então o garoto
sorriu divertido.

— Está com ciúmes? — perguntou se sentando ao lado de Jimin no sofá de


couro vermelho.

— Eu não — mentiu de pronto. Mas sob o olhar afiado de sobrancelhas


arqueadas do mais novo, o Park cedeu, sacudindo a cabeça. — É, eu tô sim.
Mas é errado.

— Nós não podemos escolher sentir uma coisa ou não, hyung. Com o
ciúme é mesma coisa. É um sentimento natural, ninguém decide se sente ou
não sente.

— Eu sei que não podemos evitar de sentir. Mas nós podemos controlar a
forma que lidamos com ele. E eu definitivamente não posso me permitir ser
um ciumento descontrolado que surta com coisas imbecis, por pura
possessividade. Se você é meu, é porque deseja ser, e não simplesmente
porque eu quis assim. Desse modo, quando você não quiser mais ser, não
poderei fazer nada pra impedir, então... Só vou remoer meu ciúme aqui na
minha cabeça, até convencê-la a se aquietar, fique tranquilo — disse com
um sorriso fraco.

Jungkook sorriu doce e então deu um beijo estalado na bochecha macia do


namorado. O lúpus era tão maduro e racional, que dava inveja. Se fosse
Jeon em seu lugar, provavelmente não teria confessado o ciúme, mas
permaneceria o resto do dia emburrado, como um crianção.

— Obrigado, Jimin. Sabe, Hoseok hyung é realmente meu melhor amigo do


mundo. Ele realmente fez muita coisa por mim — contou cuidadoso. — Ele
deu forças pra que eu me mudasse da casa dos meus pais, me ajudou a
procurar apartamentos, a achar um emprego, e até já me emprestou dinheiro
quando precisei. Ele já me defendeu dos meus pais quando foi necessário,
também. Ele vive arrumando minha casa, como já te contei. Pode parecer
que apenas me aproveitava dele por isso, mas a verdade é que Hoseok
hyung sabe que sou péssimo em me cuidar sozinho. Realmente não gosto de
lidar com responsabilidades, ter compromissos e tarefas pré-agendadas, eu
queria só... ter alguém que me guiasse. Tipo quando você é criança e não
precisa olhar pros dois lados, antes de atravessar a rua, porque seus pais vão
olhar por você e te puxar pela mão, de modo seguro.

Jimin sorriu compreensivo e acariciou seus fios vermelhos, como era de


costume, sentindo seu pequeno sentimento ciumento ir se esvaindo.

— Sabe como nos conhecemos? — continuou a contar o submisso. O Park


sentou-se mais confortável, para ouvir a história. — Hoseok é filho do
cardiologista-chefe do General South Hospital.

— Uau! — o lúpus comentou chocado. — Esse é um dos hospitais mais


tops da cidade.

— Sim — assentiu desconfortável. — E o Doutor Jung era amigo próximo


do meu pai ômega...

— Eles eram colegas de trabalho? — indagou confuso.

O acerejado sacudiu a cabeça em afirmativa, meio encolhido.

— Meu pai é o diretor do hospital.

Jimin arregalou os olhos pequenos, de um modo tão estranho, que parecia


um desenho animado em uma cena absurda. Vendo a expressão do outro, o
avermelhado revirou os olhos, com leve impaciência.

— É, todo mundo fica em choque assim mesmo.

— Sei que você já disse que seus pais são ricos. Mas mesmo assim, por que
você..? — mas Jimin sequer conseguia por em palavras.

— Por que vivo como um pé rapado? — Jeon deu de ombros. — Eu quis


assim, Jimin. É bem melhor que ser forçado a passar o cio com ômegas, por
sua própria família. É melhor do que ter os mais diversos tipos de testes e
agulhas sendo enfiadas em você todo o tempo, numa busca incansável de
"cura" para os genes ômegas, em nome da ciência ou qualquer merda que
seja — disse em tom extremamente amargo.
Jimin, cada vez mais chocado, ouvia a tudo atentamente.

— Kook-ah...

— Me deixe terminar, antes que a coragem me escape, hyung —


interrompeu, respirando fundo. — Toda vez que eu entrava em cio, era a
mesma briga. Eu queria um alfa ou um beta. Meus pais queriam me forçar a
passar com ômegas. Era muito difícil encontrar pessoas dispostas a passar
os cios comigo, por causa do meu cheiro híbrido...

— Como alguém pode não gostar do seu cheiro? — Jimin indagou num
rosnado.

— Não é que as pessoas não gostem, mas elas ficam meio horrorizadas,
como se eu fosse uma aberração de circo ou algo assim. Você sabe que não
é muito comum ter os genes híbridos.

— Foi por isso que você... já teve que tomar remédios para ereção? —
perguntou temeroso.

— Sim — Jungkook respondeu com um suspiro cansado. — Claro que, nos


cios, era impossível broxar. O cio faz o sangue circular pro pênis, sem parar,
exatamente como o efeito do remédio. Mas eu ainda era forçado a transar
com ômegas em período normal.

— Quando você diz forçar...

— Nada físico, quero dizer. Ninguém podia me forçar fisicamente, eu sou


forte demais pra me defender, você sabe — explicou. — Eles me forçavam
psicologicamente. Diziam que o certo era que eu sentisse desejo por
ômegas e betas apenas, e que isso fazia parte da minha "doença de genes
ômegas".

— Você não podia ficar apenas com betas? — perguntou o Park, num misto
de irritação e descrença.

— Não só podia, como ficava. Mas meus pais insistiam que se eu ficasse
com ômegas, isso iria "ajudar" no processo de "cura", pois meu corpo iria
se convencer a gostar do cheiro deles e a me atrair. Então eu acabava
bastante manipulado com isso. Não queria ter repulsa a ômegas, afinal. E
quando transava com alfas, escondido, claro, eles sempre pareciam me ver
como algo inferior. Principalmente alfas machos, que nunca me deixavam
penetrá-los, eu sempre tinha que ser o passivo. E não é como se eu não
gostasse de estar por baixo, porque você sabe que gosto até demais... Só não
gosto de ser visto como incapaz de alguma coisa, por conta de uma classe
genética.

— Porra, isso é fodido — Jimin comentou exasperado, alisando as têmporas


com os dedos, como se saber de tudo aquilo o deixasse com dor de cabeça.
E deixava mesmo. Era completamente revoltante que fizessem isso com
qualquer pessoa no mundo. Principalmente em se tratando de alguém tão
doce como Jeon Jungkook, que nem em um milhão de anos, mereceria
passar por esse tipo de coisa. — E onde Hoseok entra nessa história?

— Humn, bem... — Jeon pigarreou. — Tanto meus pais, quanto eu,


estávamos sempre à procura de parceiros de cio pra mim. Eu só procurava
por betas, é claro. Meus pais buscavam pelos dois. Como era bem difícil
encontrar ômegas e betas em todos os períodos, meus pais brilhantemente
decidiram que se eu me casasse com um beta, tudo estaria resolvido. Não
haveria mais a preocupação de buscar por parceiros novos pra mim,
algumas vezes ao ano, e caso o tratamento de alteração de genes não desse
certo, ao menos eu estaria com algum beta, que não seria ruim pra mim.

— Então eles te apresentaram Jung Hoseok... — o Park assumiu.

— Sim. Eu e Hobi hyung nos tornamos muito amigos, os melhores. Meus


pais estavam animadíssimos pra gente realmente ficar junto. A parte dos
cios já estava resolvida, eu os passava tranquilamente com Hoseok. Mas por
uma grande ironia do destino, a gente não se apaixonou. Era estranho, eu o
vejo como um irmão mais velho e vice-e-versa.

— Vocês nunca... Transaram fora do cio?

— Nunquinha — respondeu o avermelhado, sacudindo a cabeça recém-


tingida.
— Então isso quer dizer que vocês já foram noivos?

— Yah, eu não disse nada disso.

Jimin apertou os olhos pro mais novo. Era desrespeitoso se referir à alguém
mais velho com "Yah".

— Alguém está se esquecendo de ser um menino bonzinho — disse em tom


repreensivo.

Jeon sorriu matreiro, com a língua entre os dentes, para então roubar um
beijo da boca carnuda do Park, sorrindo mais ainda.

— Foi só pra descontrair, hyung mais lindo do Jungoo — disse com uma
gargalhada, vendo a expressão do lúpus ir quebrando pra um sorrisinho
também. — De qualquer modo, eu e Hoseok nunca fomos noivos, não
viaja. Ninguém tentou criar um contrato entre nós, só nos apresentaram e
deram indícios de que adorariam um casamento. O que nós prontamente
ignoramos.

— Isso não trouxe problemas ao Jung? — indagou o moreno curioso.

— Um pouco. O pai dele estava realmente ansioso pra que ele se casasse
com alguém de família rica, especialmente sendo alguém de cargo tão alto
no hospital em que ele trabalha.

— Ah, claro. Típico — revirou os olhos. Então, pensativo, voltou a


perguntar: — Jungoo-ah, por que você não resolvia o problema, apenas
tomando os supressores? Quero dizer, sei que eles são realmente muito
caros pra suas condições financeiras atuais, mas seus pais podiam
facilmente financiar isso, quando você morava com eles...

— Eu não podia tomar supressores, hyung — explicou. — Eram


incompatíveis com o tratamento de alteração de genes.

— Então ao invés de optarem pela coisa mais fácil e menos dolorosa, que
era puramente se dopar nos cios, seus pais te faziam de cobaia científica,
por puro preconceito de não aceitarem um filho que gostasse de alfas e que
tivesse um cheiro diferente?

Jungkook deu de ombros, não querendo demonstrar o quanto se ressentia


realmente daquilo. Mas é claro, o garoto era bem transparente. Era nítida a
sua expressão magoada. Então o Park o abraçou, enchendo o corpo forte de
carinho.

— Sempre vou cuidar de você, Kook-ah. Nem que pra isso eu acabe agindo
como um pai. Agora você tem alguém pra atravessar a rua de mãos dadas
com você.

O mais alto sorriu grande, uma leve vontadezinha de chorar fazendo arder
os olhos, mas engoliu. Detestava ser tão emotivo assim por dentro.

— Você é realmente incrível, hyung — sorriu fazendo as ruguinhas em


volta de seus olhos aparecerem.

E aí, subitamente, o mais velho perguntou:

— Kook-ah... Você gosta de crianças?

[...]

Os alfas caminhavam pelo shopping abarrotado de pessoas, em pleno 29 de


dezembro. Jungkook ainda estava meio confuso com o que fariam,
exatamente, mas ao menos seu buchinho estava sendo empaturrado de
comidinhas gostosas desde a véspera de natal em casa. Não satisfeito com o
monte de massas que o lúpus preparara, o ruivo ainda comeu sua metade
toda do bolo, se atrevendo a comer a de Jimin também — claro, tirando
todos os m&m's coloridos e dando-os ao Park.

— Mas hyung, isso não vai ficar meio caro?

— Você acha que as crianças não merecem? — perguntou o moreno,


parando de andar.

— Claro que merecem, hyung — respondeu aturdido o mais alto, piscando


os olhinhos redondos brilhantes. — Mas... não é melhor comprar em um
lugar mais barato? Quer dizer, é uma quantidade de roupas e brinquedos
bem grandes... E você tá desempregado.

— Eu vou arrumar um emprego novo já, já — respondeu teimoso. — E


tenho desconto nessa loja, de qualquer modo. O gerente é... um conhecido
lá da The Cave.

Jungkook arqueou uma sobrancelha, já cruzando os braços.

— Que tipo de conhecido?

O Park sorriu sem jeito.

— Ele já foi meu submisso — disse baixinho.

O queixo de Jeon caiu. Não que já não imaginasse. Mas não esperava ter
que lidar com nenhum ex-caso do Park, assim tão cedo. O de cabelos cereja
era péssimo em esconder aquele sentimento ruim.

— Mas não se preocupe, bebê — o dominador falou meloso, enlaçando a


cintura alheia. — Nós apenas ficamos juntos por cerca de dois meses e não
era nada sentimental...

Jungkook bufou.

— Dois meses é mais do que eu e você — retrucou. — E eu não deveria ter


uma coleira pra marcar meu lugar na frente do cara ou algo assim?

Jimin sorriu, fechando os olhinhos rasgados.

— Você não é um mero submisso de BDSM, Kook. Você é meu namorado.


Vou apresentá-lo como tal — então lhe deu um beijo na boca e o puxou pela
mão, entrelaçando os dedos.

Jeon foi seguindo emburrado pelos corredores do shopping, ficando com a


carinha ainda mais brava ao entrar na loja. Era uma loja de departamentos
imensa, que ocupava dois andares. Ali vendiam-se brinquedos, produtos de
higienes, chocolates, biscoitos, produtos de casa, de limpeza, eletrônicos e
eletrodomésticos. Mas tudo coisa de gente classe média. Nada era muito
barato.

O Park o puxou por entre os corredores, olhando pra todos os lados, até
finalmente cutucar alguém. Um beta com um corpo bem mais forte que o de
Jungkook, porém de mesma altura. Imediatamente todos os alarmes soaram
na cabeça do de genes ômegas, ficando extremamente mal humorado.
Principalmente quando a mão de Jimin abandonou a sua, para capturar o
corpo musculoso do beta num abraço, cheio de cumprimentos amigáveis.
Amigáveis demais. Jungkook queria dar um soco nos dois. Ou talvez em si
mesmo. Ao menos assim sua carranca se desfaria.

— Jungoo-ah, este é o Wonho — o moreno apresentou o outro, que com


toda a movimentação, tinha ficado com os cabelos castanhos um tanto
bagunçados.

— Olá, prazer em conhecê-lo — o beta fortão curvou-se e em seguida


estendeu a mão em cumprimento.

Não se deixando ser intimidado — afinal, Jeon era um alfa, não era? — ele
estendeu a mão de volta, enquanto estufava o peito como um bendito
pombo, e empunhava força demais naquele aperto de mãos.

Wonho sorriu sem jeito e desviou os olhos dos mirantes agressivos e


julgadores do ruivo, encolhendo-se levemente ao soltar-lhe a canhota; o que
Jungkook estranhou. Tinha realmente conseguido impor medo naquele
brutamontes?

— Whoooa! — Jimin exclamou com a destra sobre o ombro do ex-


submisso, a boquinha aberta num bico e olhinhos pequenos arregalados. —
Você tá levando à sério essa coisa de musculação, né? Você tá grande.
Uau...

Incomodado, Jungkook pigarreou nem um pouco disfarçadamente, fazendo


o Park afastar-se rapidamente do outro, sorrindo amarelo, ao notar o
desconforto do namorado com toda aquela aproximação.

— Eu sou o namorado do Jimin — o ruivo disparou.


O Park piscou algumas vezes, antes de sair de seu estado de transe, pra
então sorrir tenso outra vez.

— Ah, é, Wonho. Jungkook é meu namorado, quase esqueci de apresentar


direito. — Então olhou pros lados, checando se haviam mais pessoas
próximas, para então sussurrar em tom brincalhão e bastante orgulhoso. —
Ele é meu submisso também. Mas ele é um Brat. Acredita que estou
aprendendo a ser um Tamer por ele?

Wonho abriu um sorriso surpreso, olhando de um pro outro.

— Sério? Whoa. Então você realmente gosta dele! Aigoo, Jimin-ssi,


finalmente alguém conseguiu derreter esse coraçãozinho de gelo, uh? —
brincou.

— Você não sabe o quanto — o ex-militar respondeu alisando a nuca do


namorado. Já Jeon permanecia com a expressão impassível. — Então, acho
que vou escolhendo as roupas das crianças. A Diretora do orfanato me disse
só tem três garotinhos menores de 3 anos lá. O resto são crianças e pré-
adolescentes. Jungkook, você pode escolher os brinquedos com o Wonho,
enquanto vou pegando as roupas nas araras?

Meio à contragosto, o mais novo respondeu:

— Tá legal — e então foi seguindo o funcionário em direção à sessão de


brinquedos, enquanto Jimin partia pro lado oposto.

— É muito bacana isso que o Jimin-ssi faz, de comprar roupas e brinquedos


todos os anos, pra dar de presente às crianças do orfanato, não é? — Wonho
perguntou, puxando assunto.

Aos poucos, Jungkook foi desfazendo a carranca. Mas não porque seu
ciúme havia passado, mas sim porque os brinquedos começaram a chamar
muito de sua atenção. Ele imediatamente começou a pegar alguns nas mãos
e analisá-los, jogando os que aprovava, no carrinho de compras que o
funcionário arrastava.
— É. Bem legal. O Park é um cara ótimo — respondeu seco. E aí
finalmente tomou coragem e se voltou pro beta, com os olhos apertados. —
Qual é a sua com o Jimin?

Wonho ficou com as bochechas coradas, antes de arregalar os olhos e tossir,


totalmente sem graça.

— Não aja assim. Eu e ele não temos nada — e aí abaixou a gola da camisa
de seu uniforme, mostrando então um fino cordão de prata, com um
cadeado delicado como pingente. — Eu já tenho um Dominador.

— Isso não me parece com uma coleira — Jeon rebateu, jogando uma
dezena de bonecas Barbie pra dentro do carrinho.

— Você sabe que existem diversos tipos de coleira, certo? — Wonho


perguntou com uma expressão atenta.

O mais magro se encolheu, levemente sem jeito, por não saber


detalhadamente sobre aquilo. Claro, ele já sabia que qualquer acessório
serviria como representação da relação D/s, mas por um momento quis
afrontar o outro e disse besteira. Então precisava se justificar de algum
modo que o fizesse parecer menos inexperiente na frente do rival:

— Jimin falou que existem vários tipos, mas não me explicou com
exatidão. Ele só me deu uma coleira pra usar nas sessões. Nunca me deu a
tal da coleira social, sobre a qual li nos fóruns de bdsm — revelou em tom
magoado.

Wonho suspirou, totalmente empático.

— Sabe, ele não te tomaria como namorado, se não estivesse totalmente


louco por você — disse em tom confidente. — Taemin tentou por anos e
não conseguiu nadinha dele.

Jungkook piscou os olhos um par de vezes, confuso.

— O que quer dizer? — indagou.


— Ah, você sabe... — Wonho deu de ombros. — É claro que Taemin é
totalmente apaixonado pelo Jimin. Eles são amigos há uma década. São
parceiros de cio. E ainda são Dominador e submisso. É claro que ele ama o
Park. E ele destrói qualquer um que se ponha entre os dois, com a mesma
facilidade com a qual se espanta uma mosca — comentou em tom
nitidamente magoado.

— Suponho que você diga isso por experiência própria — o alfa comentou,
como quem não quer nada. Se tinha uma coisa que Jungkook era, era
fofoqueiro. Ele sabia como arrancar informações alheias, sem parecer
desesperado demais.

Wonho bufou.

— Taemin joga sujo. Você deveria tomar cuidado com ele — declarou,
encarando o alfa atentamente. — Aliás... se você e Jimin estão namorando...
Isso quer dizer que eles dois não estão mais juntos? — perguntou de cenho
franzido.

— Sim — respondeu Jeon, firme. — Acho que confio no Jimin. Se ele disse
que tá só comigo, então ele tá só comigo.

— Você acha que confia, ou realmente confia? — o beta indagou,


arqueando uma das sobrancelhas.

E após um par de segundos, o alfa respondeu mais decidido.

— Realmente confio. Não tem porque ele mentir pra mim, seria bem idiota.
Mas se eu descobrir que ele está mentindo... Ah, não sei como vou me
segurar pra não arrancar os olhos dele fora e comer no café da manhã —
disse em tom raivoso.

Wonho riu nervosamente, fechando os olhos.

— Uau, que agressivo. Acho que foi por isso que você conseguiu domar o
Jimin. Ele não te domou, você foi quem domou ele.
— Humn... — Jeon resmungou, com um ar superior. — Mas e aí, me conta
melhor essa coisa do Taemin. Jimin nem fala nada do cara, ele pensa que
sou bobo.

— Provavelmente ele só não quer te causar um ciúme desnecessário.


Porque, acredite: se tem uma coisa que ele não sente pelo Taemin, é amor
romântico. No máximo é amor de amigo.

— Aí... tem como você me explicar com mais clareza, uh? Por favorzinho!
— apelou fazendo sua maior expressão de coitadinho.

Wonho riu, sacudindo a cabeça em negativa, achando Jungkook bem


peculiar. Ele não agia como um submisso, mas também não tinha nenhum
tipo de postura dominante. Era... exótico. Como todo o brat que conheceu.

— Você precisa prometer que não ouviu nada de mim, ok? — exigiu. Jeon
assentiu freneticamente com a cabeça, sacudindo os fios recém-tingidos. —
Tudo bem. Como eu disse, Taemin joga sujo. Ele e Jimin tem uma relação
de amizade há dez anos. Depois que Jimin se separou do noivo, ele
começou a ficar com o Tetê. Aliás, Taemin era amigo do Taeyang. Foi ele
quem apresentou os dois.

— Whoa! — o ruivo exclamou chocado, com direito a boca aberta num


"O", olhos quase saltando da cavidade ocular e a destra em frente aos lábios
abertos.

— É. Muito chocante. Parece novela das nove. Continuando... Como Jimin


já era envolvido com BDSM, ele apresentou a comunidade a Taemin. E
então se tornou Mentor dele. Dali, foi um pulo pra que a relação deles de
Dom e sub acontecesse. Contudo, Jimin sempre deixou claro que a relação
deles jamais seria romântica. Mas o Taemin pensava que, com o tempo,
Jimin notaria ter sentimentos por ele, sim. Você sabe que, embora Taemin
tenha sido o submisso de Jimin todo esse tempo, ele jamais foi o único,
certo? — o ruivo balançou a cabeça em concordância, mas era a mais bela
mentira. Porque ele não sabia tão bem assim. — A questão é que toda vez
que Jimin aparecia com um irmão de coleira pra Taemin, ele se fazia de
doce e amoroso com o novo "irmãozinho". Mas na real, ele só manipulava o
outro submisso, até conseguir induzi-lo a fazer algo que Jimin desaprovasse
e terminasse a relação.

— Tipo o que? Que coisas? — o avermelhado questionou ansioso, já


roendo a pele do dedão.

— Bom, posso dizer o que ele fez comigo — disse sombriamente. —


Taemin me seduziu. Me fez juras de amor. Me fez acreditar que estava
apaixonado por mim, e que eu deveria terminar a relação com Jimin, pra
que a gente pudesse ficar junto.

— Dois submissos juntos? Sério? — o alfa indagou, com uma caretinha


confusa.

— Aish, é nisso que você prestou atenção? Isso não importa. O negócio é
que quando eu disse ao Jimin que não queria mais aquela relação, Taemin
deu pra trás e disse que eu tinha entendido errado. Que o que ele tinha
prometido, era ficar comigo, ao mesmo tempo em que se submetia a Jimin.

— Dá pra fazer isso? — Jungkook questionou, mais confuso e curioso


ainda.

O beta bufou, meio impaciente.

— Claro que dá.

— Hey, já escolheram os brinquedos? — O Park se aproximou, empurrando


um carrinho lotado de roupas.

Infelizmente aquele papo estava terminado.

— Oh, sim! — Wonho respondeu rápido, pra que o lúpus não desconfiasse
do teor da conversa que estavam tendo ali.

— Então acho que podemos pagar — o ex-coronel declarou sorridente.

[...]
O caminho todo de volta pra casa, foi com o lúpus tagarelando, enquanto
Jungkook dirigia. O Park parecia tão contente em poder levar todos aqueles
presentes de natal, mais uma vez, pras crianças do orfanato, e estava tão
contente por poder visitá-las na noite de ano-novo, que não conseguia parar
de falar sobre elas, ainda que o Jeon estivesse mais quieto que o normal e
não muito atento ao que o namorado dizia, realmente. Porque se tinha uma
coisa que o de cabelos cereja não era, era quieto.

— E tem a Sunhee! Ela é tão fofa, Jungkook! — declarou animado. — Ela


é uma alfa lúpus de cinco anos, mas é tão miudinha, que parece ter três. E
ela é toda educadinha. Uma vez, a irmãzinha ômega dela ficou insistindo
pela minha atenção, bem na hora em que SunHee estava me mostrando seus
desenhos. Fiquei sem saber o que fazer. Como eu ia explicar pra pequena
ômega, que estava a fim de ficar um pouco com a Sun? E então a alfinha
colocou a mãozinha gorda no ombro da outra, e disse delicadamente:
"JangMi, querida. Jimin Oppa está tendo um momento comigo agora. Se
você puder, nos dê licença por favor, sim?". Jungkook, juro que quase cai
rolando no chão, não sabia se ficava com pena da ômega e dava um sermão
em SunHee, ou agarrava as duas e enchia de beijos. Elas são tãaaaaaao
lindinhas — disse com a voz melosa e olhar apaixonado.

— Isso é legal, hyung. É fofa a sua relação com as crianças do orfanato —


Jungkook comentou, meio aéreo. Sua mente estava presa em tudo o que
Wonho havia contado sobre a relação de Jimin com Taemin, e aquilo não
parecia nada bom. Algo em sua mente avisava que, se as coisas eram
daquele jeito, certamente Taemin ia ressurgir das cinzas, em algum
momento. Ele não cederia fácil assim. Não entregaria o Park de bandeja pra
outro. Então estava bastante preocupado, afinal.

— Por que tenho a impressão de que você está totalmente fora de órbita? —
o moreno perguntou, finalmente reparando na expressão do outro.

— Eu? Nada. Tô só... meio pensativo.

— E no que você tá pensando? — disse alisando a coxa do namorado,


enquanto este dirigia.
— Nos tipos de coleiras — mentiu. — Você ficou de me explicar melhor,
mas não o fez.

— Oh! — Jimin exclamou, aumentando os olhos. — Tinha esquecido


completamente. Ok, vamos lá. A coleira vermelha de rebites que te dei, é
um tanto grosseira. Não é o tipo de coleira pra se usar por aí, ela chama
muita atenção e é desconfortável. Então o ideal é que você use só durante
nossas sessões. Ou quando formos à The Cave. Talvez até nos Munch's,
mas acho que chama atenção demais, e ninguém vai realmente à caráter nos
munch's.

— O que é um munch? — perguntou estranhando o nome. Já tinha lido


sobre aquela palavra em algum lugar.

— Munch é um encontro dos membros de uma masmorra, fora do cenário


BDSM. É quando a gente se encontra pra um almoço, usando roupas
normais do dia à dia, sem toda aquela roupagem. A intenção é que a gente
conheça uns aos outros, pra que possamos fazer amizades. A gente costuma
usar aqueles codinomes, pra manter nossas identidades em sigilo, no clube.
Como o meu, por exemplo, que é AlphaDome. Pouquíssimas pessoas
sabem que me chamo Park Jimin, apenas aqueles que frequentam a
Masmorra há muitos anos.

— Oh... isso é novidade. Quando vamos em um munch? — indagou


genuinamente curioso, movendo um pouco o rosto para encarar o tamer.

— Em fevereiro vai rolar um munch. Nós iremos, com certeza. Quando a


Kiko tiver uma data definida, ela vai mandar mensagem pra mim. Mas
voltemos às coleiras — disse arrumando a postura no banco, substituindo-a
por uma mais séria, de postura ereta; sua aura dominante dando as caras. —
Como você pode perceber, a coleira que te dei é uma coleira demonstrativa.
Ela representa que temos uma relação, mas você não a utiliza o tempo todo.
Mas, como nós dois somos, de fato, um casal, e você está sendo iniciado no
BDSM agora... Ela também figura como uma coleira de treinamento. Eu
sou seu dominador e mentor. Eu escolhi uma vermelha, não só porque
combina com seus cabelos, mas também porque a liturgia aponta uma
coleira de couro vermelha ou preta, pra uma relação D/s similar a um
namoro. E é isso que nós temos, certo? Você é meu namorado. Meu
amorzinho — disse sorriso fofo e dando um aperto leve na coxa grossa de
Jeon.

O avermelhado sorriu bobo, já esquecendo completamente a coisa sobre


Taemin.

— Então foi por isso que você me zuou naquele dia, por eu ter achado que
só haviam coleiras representando casamento, né? — indagou.

— Sim — o Park devolveu rindo. — A questão do encoleiramento no


BDSM é muito séria. Se você anda ficando com um submisso e vocês não
estão realmente sérios numa relação, a coleira é apenas demonstrativa. Se a
relação é fixa, mas não necessariamente vocês são exclusivos ou tem
sentimentos românticos um pelo outro, essa é a coleira certa. Já quando a
relação começa a ficar mais séria, como um namoro por exemplo, aí vem a
coleira de treinamento. Claro, não necessariamente se aplica a uma relação
de namoro. Mas é uma hipótese de cabimento, entende? Já a coleira de
casamento, seria equivalente a um anel de noivado. Aí sim, funciona pra
quando existe uma relação mais séria, com sentimentos e total entrega de
um para o outro. E por serem as coleiras consideradas mais importantes, são
entregues numa cerimônia, chamada Cerimônia das Rosas; que equivale a
uma cerimônia de casamento.

— Você já foi a uma cerimônia dessas?

— Poucas. Não é com frequência que dois BDSMers se apaixonam tão


intensa e sinceramente, a ponto de casarem-se. Estar apaixonado pelo seu
submisso, e o submisso pelo seu dominante, é algo raro, Kook-ah — disse o
encarando doce, mas intensamente.

— Mesmo que a gente não tenha chegado nesse nível, já me sinto bastante
sortudo pelo que a gente tem, hyung — confessou, com os olhinhos
brilhando. — Eu já disse como me sinto em relação à você — declarou
timidamente, desviando o olhar rapidamente para o lado de fora, enquanto
entrava na rua de casa.

— Eu também — o moreno respondeu-lhe, se aproximando e deixando um


beijo estalado em sua bochecha.
Assim que chegaram em casa, o casal organizou as sacolas na sala.
Embrulhariam os presentes no dia seguinte, para que no dia 31, pudessem
levá-los para o orfanato e presentear as crianças.

Os alfas comeram e tomaram banho juntos, como sempre. E é claro, não foi
só um banho que aconteceu. Jungkook recebeu um boquete tão bom, que
saiu do chuveiro com as pernas bambas. E Jimin adorava o efeito que
causava no namorado.

O Park também explicou sobre o resto das coleiras, de forma resumida.


Avisou que compraria algum acessório pra que eles pudessem usar em
conjunto, como um casal. Algo que funcionasse como uma coleira social —
aquela que ele explicou ser a coleira que seria usada todo o tempo; Como
um anel de compromisso. Mas que estava pensando em algo especial ainda.

Então Jeon agora sabia que, além das três que o Tamer já havia falado,
havia a Coleira de Posse, que era referente a uma relação de Escravo e
Dono, algo realmente profundo, onde o submisso se tornava propriedade do
dominante, como uma mercadoria, mero objeto e sem poderes decisórios
sobre si mesmo, entregando todo o poder de sua vida nas mãos de seu Dom
— de modo consensual, claro. — Jungkook gostava quando Jimin o
chamava de sua propriedade e seu brinquedinho, mas era só um modo de
falar. A relação de ambos não chegava a ser extrema daquele modo, mas o
Park lhe aconselhara a jamais julgar o modo como a relação de outros
bdsmers se daria. A menos que houvessem sinais claros de abuso físico,
emocional e psicológico ali, não se deveriam fazer comentários e/ou dar
pitaco nas relações alheias. Porque, uma vez que a relação fosse consensual,
tudo na relação também seria, cabendo apenas ao casal, decidir sobre,
nunca terceiros.

Havia também a chamada Coleira de Casa — quando um submisso é


iniciante e não está apto para uma relação BDSM ainda, mas frequenta um
clube/masmorra, no intuito de aprender e se habituar à comunidade. Sendo
assim, este tipo de coleira lhe seria dada pela organização da Casa,
impedindo Dominadores de se aproximarem do mesmo. Algo semelhante
ao que Hoseok havia feito consigo, quando o levara à The Cave.
Existia também a Coleira Virtual — o que basicamente consistia em perfis
em redes sociais, que os praticantes utilizam para exibir seus fetiches e
práticas na internet, na maior parte da vezes não revelando seus rostos. E na
descrição do perfil, deveriam haver explicitamente o nome do Dominante à
quem o submisso pertencesse.

Esta última, os dois concordaram em utilizar também, adicionando os


nomes um do outro em seus perfis. Jungkook escreveu um nada sutil
"Bratzinho do @AlphaDome" em seu perfil de fotos. Já Jimin, entrando na
onda, se intitulou como "Dono do @alfakookie" — novamente, eles não
tinham uma relação de Dono e Escravo, mas Jimin curtia se referir a
Jungkook como seu, e o ruivo adorava. Porque era exatamente assim que se
sentia: uma propriedade do outro. Amava pertencer a ele. E não se via
pertencendo realmente a mais ninguém.

Para Jeon, a questão de pertencer a Jimin, não era uma questão de


dependência emocional — como é comum acontecer com muitos em
posição de submissão, além de extremamente perigoso do ponto de vista
psicológico —, era algo como sentir-se em casa, ter uma sensação de
familiaridade e estar bem no lugar certo, com a pessoa certa.

A cada dia mais, se via admirado com a pessoa de Jimin: um cara


extremamente carinhoso, bondoso, preocupado, que mesmo estando em
situação financeira delicada — ainda que não revelasse abertamente ao
ruivo, mas que o danado bem sabia, pois não era bobo — fazia questão de
ajudar os menos favorecidos, não só em questão material, mas também
fazendo visitas e dando um pouco de seu tempo e atenção, àquelas crianças
tão carentes de afeto.

Se antes Jungkook já era total e completamente enfeitiçado pelo vizinho


dócil e misterioso, agora o rapaz se via frente a um precipício, do qual não
tinha a opção de pular ou não; cairia em queda-livre, de qualquer forma.
Cairia de amores por Park Jimin. Era inevitável.

Todavia, os sentimentos crescendo latentes em seu coração, o deixavam


com medo. Muito medo. Principalmente agora, que vinha descobrindo
coisas sobre o tal Taemin e a relação aparentemente obsessiva que o mesmo
nutria por seu ex-dominador. Jungkook queria não se preocupar, mas era
quase impossível. Principalmente em se tratando de alguém tão ansioso
como ele.

Por conta disso, Jungkook se revirava de um lado pro outro na cama, sem
conseguir dormir. Sua cabeça realmente negava-se a desligar. Mesmo
sabendo que aquela era uma preocupação boba.

Foi assim que o alfa decidiu abandonar o namorado na cama — este que
dormia como uma pedra — e descer as escadas, na intenção de comer
alguma coisa e tentar passar o tempo jogando vídeo-game.

Uma coisa sobre coincidências, é que elas tendem a acontecer com uma
certa frequência — e sobre coisas que você menos espera. Porque enquanto
esperava a quarta partida do jogo começar, ouviu o irritante barulhinho de
notificações do celular do Park.

Olhando pra todos os lados, notou o aparelho do ex-coronel abandonado no


sofá vermelho de couro da sala. Sentindo uma sensação ruim na boca do
estômago, Jungkook capturou o celular entre seus dedos longos. A tela
estava acesa. Ele não tinha a senha do aparelho, e vendo o que via agora,
agradecia por realmente não ter.

Porque bem ali, na tela bloqueada, já era possível ver o teor da mensagem
recebida:

Tetê [às 04:32]

| Tô morrendo de sdds do meu Senhor😞 te amo

HASHTAG da fic no twitter >>> #JungkookBebêDoJimin — comenta lá,


oq vocês acharam do capítulo!

Seguinte, uma coisa legal pra contar! YEEEEY

Perfil do JK >>> @ cherrysubjk


Perfil do Jimin >>> @ ALPHASDOMINATOR

é isto, web-compatriotas. até breve!

(elogiem minha capa pfvr, bj)


23| nothing's gonna hurt you, baby

twitter: #JungkookBebêDoJimin

— Jungkook-ah? — repetiu o Park, sacudindo o alfa de cabelos vermelhos


levemente pelo ombro. O mais novo estava sentado no banco do carona,
enquanto Jimin se encontrava de pé ao lado de fora, segurando a porta
aberta, mas o garoto parecia ter paralisado no banco, perdido em seus
próprios devaneios.

— Uh? — o ruivo sacudiu a cabeça atordoado. — Ah, desculpe, hyung.

— Você anda estranho já faz tempo. Uns dois dias mais ou menos. O que
foi, amor? Fala comigo... — pediu doce.

— Eu tô bem, juro. Não tem nada acontecendo — mentiu pela provável


sexta vez naqueles últimos dias. — Só tô pensando numas coisas da vida.

Jimin bufou, cansado. É claro que tinha alguma coisa incomodando seu
garoto, mas este era durão demais pra abrir o bico e contar. Fazia jus à
fama de alfas serem fortes e valentões, o que era nada mais que uma crença
popular baseada em merda nenhuma.

As pessoas eram diferentes entre si, e suas personalidades nada tinham a ver
com com classe ou sexo. A construção da personalidade de uma pessoa
envolvia muito mais fatores que uma simples classe genética, que definiu
seu biotipo físico.

A construção da personalidade de alguém envolve emoções, crenças,


conceitos, criação, meio social em que a mesma está inserida, sexualidade,
livros que ela lê, filmes que assiste, os tipos de música e ídolos que
consome, quais ideais políticos defende, quais traumas possui em seu
psicológico, qual tipo de trabalho realiza, em qual área acadêmica se
especializa, qual idade tem, quais tipos de pessoa estão em seu meio
social... enfim, existe uma infinidade de fatores que irão influenciar na
formação da personalidade do indivíduo, e nunca uma pessoa será igual a
outra. Porque a combinação de fatores a influenciar uma pessoa, sempre
será diferente da combinação de outra.

Até mesmo no caso de irmãos gêmeos, ainda que tenham um DNA


exatamente igual, suas personalidades serão distintas. Em suma, nunca se
pode pautar a personalidade de alguém, em apenas um fator.

— O que Wonho andou te falando, Jungkook? — finalmente indagou


preocupado.

Seu ex-submisso poderia perfeitamente ter deixado escapar alguma coisa


sobre Taemin na jogada. E ele não queria de jeito nenhum que Jungkook
soubesse que sua relação com Taemin fosse tão longa e ainda dentro do
bdsm. Era seu maior segredo em relação a Jungkook. Sua maior omissão ao
namorado. Porque sabia que contar que Taemin, além de amigo e parceiro
de cio, costumava ser seu submisso há anos, levaria seu ruivinho a pensar
que ele próprio não era especial. Que era só mais um. Qualquer coisa dessa
natureza. Porque Jungkook estava acostumado à rejeição. O lúpus agora
sabia sobre parte de seu passado familiar e a relação que tinha com os
mesmos, assim as coisas ficavam bem claras. A rejeição familiar por conta
de seus genes ômegas, haviam-no influenciado a ser uma pessoa insegura e
inconstante.

— Por que ele me contaria alguma coisa? — o mais novo rebateu


cinicamente. — Tem algo que esteja escondendo e eu não possa saber?

Jimin engoliu em seco. Não era a hora. Não era o momento mesmo.
Faltavam poucas horas pro ano-novo e os dois estavam na porta do
orfanato, cheios de sacolas nas mãos para presentear as crianças, Jungkook
ainda dentro do carro, com apenas uma das pernas pra fora. Definitivamente
não queria estragar a festa, entregando ao namorado uma informação que
ele tinha certeza que deixaria o garoto emburrado. Porque Jeon era muito
ciumento, não era segredo algum.

— Claro que não, amor — mentiu. — Nada que possa trazer problemas pra
nós dois, ok? — sondou. — O que importa é que nós estamos juntos agora.
Sou apenas seu e você é apenas meu, certo?
O de cabelos cereja assentiu, com a postura quieta. Por dentro, estava
totalmente decepcionado com a insistência alheia em omitir uma
informação tão imbecil. Sentia como se seu namorado o estivesse o fazendo
de bobo. E aquilo o deixava cabreiro pra um caralho.

— Então... — insistiu o Park. — Somos apenas um do outro — finalizou


como se aquilo fosse suficiente.

E deveria ser. Mas em se tratando de amor, as pessoas tendem a não serem


racionais o bastante. Se conseguissem, não permaneceriam em relações
ruins, perigosas e abusivas.

Jungkook então pulou pra fora do carro, arrastando algumas sacolas junto
consigo. o lúpus já havia levado uma boa quantidade para a porta.

Desde a mensagem de Taemin, o brat se via nervoso pra um cacete. Não


queria confrontar Jimin e questioná-lo sobre aquilo. Estava ciente de que o
ex-coronel detestava cenas de ciúmes e brigas por conta disso. O próprio
Hoseok o alertara a evitar esse tipo de coisa, se não quisesse perder o Park.

Em relação a Taemin, o de genes ômegas não sabia se era aquilo que estava
acontecendo mesmo, ou se estava sendo apenas paranoico. Hoseok dissera
que Jimin estava só com ele, não dissera? Não havia deixado claro que
Taemin sequer no país estava?

Mas e se essa fosse uma meia verdade? E se Jimin estivesse com ele apenas
enquanto Taemin não voltava? E se quando o outro chegasse, as coisas
voltassem a ser como antes?

E se... Jimin o forçasse a aceitar Taemin como seu irmão de coleira, no


maior estilo: "Aceite isso ou terminamos aqui"?

Segundo Wonho, Jimin não tinha nenhuma relação romântica com Taemin.
Mas e se tivesse? Ninguém passava tanto tempo assim com uma pessoa,
sem criar algum sentimento. Impossível.

Meio travado, Jeon sentiu um beijo carinhoso em sua bochecha, seguido do


sorriso do namorado, que fez um rápido sinal com a cabeça para que ele o
seguisse. Completamente aéreo, o ruivo apenas foi seguindo, sequer dando
atenção à pessoa que abrira a porta e os cumprimentara. Não notou quando
tiraram a maior parte das sacolas de suas mãos, para ajudá-los, e montes de
crianças começaram a rodear os dois, totalmente fofas e animadas, pulando
como pulguinhas.

Jungkook só voltou ao planeta Terra, quando sentiu puxões insistentes na


parte inferior de sua jaqueta rosa-bebê — e ele estava vestido num
conjuntinho jeans todo rosinha pastel, com montes de glitters prensados.
Não fazia ideia de como Jimin havia descoberto que ele queria aquela
roupa, mas o lúpus a deixou esticadinha em cima da cama, fazendo o ruivo
encontrá-la assim que saíra do banho.

O alfa abaixou a cabeça e se deparou com uma criatura miudinha, de olhos


redondos e brilhantes, muito parecidos com os seus, emoldurados por uma
franjinha reta e comprida, de cor castanho-escuro. A garotinha tinha
bochechas muito gordinhas e lábios rosados, fazia um biquinho enquanto
puxava o tecido da jaqueta de Jungkook, chamando-lhe insistentemente a
atenção.

Ao se deparar com aquela criança fofa, Jeon abaixou-se, pondo-se agachado


no chão de grama macia do pátio do orfanato, abrindo automaticamente um
sorriso enorme para a pequenina.

— Oi — disse doce, fitando a menina em expectativa.

— Oi. Qual o seu nome? Você tem um cheiro engraçado, oppa —


respondeu com sua vozinha meiga.

Imediatamente o sorriso de Jeon retraiu, como uma bola de aniversário


murchando. Sempre o cheiro. Sempre o maldito cheiro. E crianças não
tinham muito filtro pra falar, ele sabia.

— Err... tenho um cheiro diferente, não sou como a maioria — respondeu o


maior, sem jeito e completamente perdido. Porque se sentia magoado, toda
vez que alguém tocava naquele assunto, mas era uma criança ali, não havia
como ficar chateado com ela, a garotinha não o fazia por maldade, era
lógico.
A pequena aproximou o narizinho arrebitado de seu pescoço e inspirou
profundamente, para então voltar-se pra si com um sorriso enorme e
banguela, com duas janelinhas frontais na arcada dentária — o que só
contribuía para deixá-la mais meiga.

— Oppa, seu cheirinho é tão gostoso e diferente. Lembra maçã e ameixa,


bem docinho. E eu amo maçã e ameixa, sempre como no lanche da
escolinha — declarou em tom cúmplice. Imediatamente Jungkook sentiu
toda a sua armadura desmontar, abrindo um sorriso tão grande que fazia a
pele em volta de seus olhos se retorcer. — Você também cheira à... — disse
com a expressão pensativa, dando uma fungada no ar, que franzia seu
narizinho pequeno de modo fofo —, madeira de cedro e... tangerina? Não...
acho que não é o cheiro da frutinha, mas parece...

Jungkook sorriu um tanto e deslizou os dedos longos pelo cabelinho fino e


macio da garota, que fechou os olhinhos e sorriu de volta pra ele,
aproveitando o carinho.

— Esse é o cheiro da árvore onde nascem as tangerinas. É mais forte, é


cheiro de madeira, igual o cedro. É cheiro de alfa — respondeu simples.

A garotinha abriu os olhos e sorriu mais abertamente, revelando a falta de


ainda mais dentes de leite.

A criança realmente não deveria estar sentindo sua mistura de seus cheiros
tão facilmente assim, afinal eles só sobressaíam quando ele estava excitado,
o que claramente não acontecia naquele momento. Ficou curioso acerca
disso e indagou então:

— Como você consegue sentir tudo isso? Alguém aqui tem narizinho
sensível? — disse brincalhão, dando um pequeno apertão no nariz da
garota.

Ela sorriu e se sacudiu, livrando-se do beliscão nasal.

— Eu consigo sentir qualquer cheiro — respondeu com a expressão


convencida. — É porque sou especial... A Tia Bong me disse que sou
muito, muito especial... Se eu te contar, você guarda segredo, oppa? Tem
gente que me olha estranho por isso...

— Claro que guardo seu segredo. Me dá seu dedinho aqui — e então pegou
aquela mãozinha minúscula e gordinha, entrelaçando aquele projeto de
dedo mindinho no seu e, conectando os dedos, selou a promessa.

— Eu sou ômega... mas tenho genes de alfa — sussurrou, com a outra


mãozinha na lateral da boca, cobrindo-a. — Não sei o que são genes, mas
Tia Bong disse que é algo especial, que me faz ser o que eu sou.

Jungkook quase rasgou o rosto, de tanto sorrir. Estava absolutamente


surpreso e maravilhado. Essa era uma das garotinhas de quem Jimin havia
contado dias atrás.

— Posso sentir seu cheirinho? — perguntou à pequena, que sacudiu a


cabeça com veemência, concordando. O acerejado então pôs o nariz no topo
de sua cabecinha e inalou os suaves fios castanhos, dando um sorriso ao
sentir que a garotinha tinha cheiro de goiabeira e maracujá. O aroma do
maracujá era doce, muito doce e delicado, enquanto o cheiro da madeira de
árvore de goiabas, era intenso e cortante, mas este estava posicionado como
uma nota de fundo, ainda fraco por se tratar de uma criança. — Você tem
um cheiro muito bom! Muito, muito cheirosa! — elogiou sorrindo,
enquanto voltava a acariciar os fios macios entre seus dedos longos. — À
propósito, meu nome é Jeon Jungkook, e o seu?

— Meu nome é JangMi, tenho quatro anos — respondeu com a vozinha


infantil. — Aposto que você tem uns dez, oppa.

Jeon sorriu, mais uma vez, encantado com a pequenina.

— Tenho vinte e cinco. Você quase acertou. Você é muito inteligente,


amiguinha! — disse dando pequenos cutucões na barriguinha estufada da
menor. O que acabou se transformando em uma competição de cócegas,
onde ambos se cutucavam, morrendo de rir.

— Hey, aqui estão vocês! — a voz de Jimin soou atrás deles, fazendo-os se
virar para encará-los.
O Park vinha todo sorridente, andando com o corpo meio inclinado pra
esquerda, já que em seu braço direito, carregava uma garotinha muito
parecida com JangMi, no colo. Esta tinha os olhos, bochechas e rostinho
muito parecidos com a ômega de genes alfas, porém seus cabelos eram um
pouquinho mais longos e sua testa não era coberta por uma franja, seus fios
estavam partidos ao meio, expondo a fina sobrancelha falhada.

— Ah, não... — JangMi murmurou com uma careta. Jungkook se virou para
ela curiosamente.

— O que foi, pequena?

— Lá vem o Jimin oppa com a SunHee — respondeu com uma careta.

— Oh, você conheceu a JangMi! — o alfa lúpus exclamou, deixando os


dentes brilhantes à mostra, num de seus mais lindos sorrisos.

Jeon dançou os olhos por toda a figura magra, elegante e firme do Park, que
trajava sapatos pretos e uma calça apertada de mesma cor, junto a uma
camisa de mangas longas, com o tecido tão fino que parecia mover-se como
água sob a pele, sendo o lado direito da camisa totalmente branco e quase
transparente, enquanto o esquerdo era negro. Jimin era tão lindo que fazia o
coração do pobre híbrido apertar.

— Jungkook, esta é a SunHee, irmã da JangMi — o tamer declarou. —


SunHee, esse é o namorado do oppa, que falei pra você. Olha como o
cabelo dele é legal! — disse pondo a menina no chão e apontando pro Jeon.

A garotinha deu um sorriso matreiro e se aproximou de Jungkook, que


permanecia agachado na grama. Ela estendeu a pequena mãozinha e tocou
os cabelos vermelhos do alfa, pondo a língua entre os dentes.

— Dá vontade de comer seu cabelo, oppa! — exclamou, com os olhinhos se


fechando.

— Saí, ele é meu! — JangMi ralhou. — Você já tem o Jimin oppa, larga
meu Jungkookie — falou afastando a mãozinha da outra, com um
empurrão.
— Feia! — SunHee gritou.

— Você que é feia, sua lambisgóia! — a outra devolveu.

— O que é uma lambisgóia? — Jungkook indagou, olhando confuso de


uma pra outra.

— Eu não sei, mas não quero ser uma — respondeu SunHee.

— Chega, chega, chega! Tem Jimin e Jungkook pra todo mundo — o lúpus
se intrometeu, apartando a briga e pegou JangMi no colo. — E você, venha
ficar um pouco com seu oppa. Não está me trocando pelo Jungkook, não é?

— Você sempre me troca pela Sun — a pequena ômega respondeu


enfezada, cruzando os bracinhos no colo do mais velho, que danou a rir de
sua postura zangada.

— Não seja assim, sabe o que o oppa trouxe pra vocês? Presentes!

— Espero que o meu seja uma arminha de água, pra eu afogar a cara dessa
alfa feia! — JangMi respondeu, fazendo uma careta pra irmã, por cima do
ombro do Park.

— JangMi! — Jimin repreendeu, mas o tom risonho em sua voz o


denunciava.

— Por que você e sua irmã brigam tanto, SunHee? — o de cabelos cereja
indagou a de cabelos partidos.

A pequena voltou a mexer em seus fios vermelhos, distraída.

— Porque a Mi é ciumenta. As vezes parece uma alfa rabugenta — contou


com o nariz franzido. — Ela é mal educada, por isso todo mundo gosta
mais de mim. Não tenho culpa de ser mais inteligente — disse séria.

Jeon se segurou para não rir, SunHee parecia muito diferente da outra. Ela
era menor, exatamente como Jimin havia lhe dito um par de dias atrás: tinha
cinco anos, mas era tão miudinha que parecia ter três. Enquanto a irmã, que
era um ano mais nova, parecia mais velha. SunHee não falava como uma
criança, parecia mais uma mini pessoa. Um adulto que encolheu.

Além do mais, a menina tinha cheiro de café forte e um suave cheirinho de


musk, bem ao fundo, fraquinho... Como Jimin. Definitivamente era uma
alfa lúpus. Jungkook sorriu ao constatar.

As horas assim se passaram, todos no orfanato em clima de paz e festa,


apenas esperando a virada do ano. Os dois alfas não ficaram à sós um
minuto — revezavam a atenção entre JangMi e SunHee, para que elas não
brigassem entre si, assim como Jeon ia conhecendo mais crianças do
orfanato.

Um garotinho alfa derrubou pudim em seu macacão, e Jungkook acabou


ficando responsável por dá-lo banho e trocar sua roupinha, com a ajuda de
uma das tias do orfanato. Naquele momento ele notou que por mais que
adorasse crianças — e se desse muito bem com elas, era claro —, nunca
havia se visto sendo o pai de uma. O ruivo nunca quis um filhote. Sempre
teve o maior cuidado do mundo, pra que não engravidasse ninguém.

Isso porque sabia da imensa responsabilidade que era ser pai. Não era algo
passageiro, era uma responsabilidade pra toda vida. E tal responsabilidade
ultrapassava o limite material, ela alcançava níveis psicológicos. Sabendo,
por experiência própria, de todo o tipo de traumas que os progenitores
podiam causar em seus filhotes, Jungkook sentia pavor daquilo. Então
agradeceu aos Céus, que nem ele, nem Jimin fossem capazes de ter um
filhote juntos. Tinham o mesmo sexo e a mesma classe, seria impossível
conceberem um filhote, nem mesmo por acidente.

Talvez, se o Park fosse uma fêmea, ainda que alfa, pudesse acontecer algum
acidente do tipo. Era raríssimo, afinal, alfas, independente de sexo,
possuíam o útero atrofiado, por causa dos genes de sua classe. Mas existiam
casos isolados ao redor do mundo, onde mulheres alfas, acabavam tendo os
úteros perfeitamente formados, e inesperadamente engravidavam de
machos alfas, betas ou mesmo ômegas.

Jeon observava aquelas crianças e tinha vontade de dar a elas todo o amor
do mundo. Elas mereciam, afinal. Sabia o quanto pais poderiam ser cruéis,
e ser pai não obriga automaticamente alguém a amar seu filhote. Não sabia
a história sobre o abandono de cada um dos pequenos por ali, mas sentia
empatia por cada um deles. Afinal, por mais que não tivesse sido dado para
a adoção, Jungkook sentira a rejeição parental, de qualquer modo.

Estava perdido em pensamentos, observando as crianças correrem afoitas


pelo parquinho, segurando os mais diversos potes de comida na mão — que
derrubavam na grama, todo o tempo, enquanto saiam em disparada com
suas perninhas curtas.

— Faltam cinco minutos pra meia-noite, preparem-se! — a voz de um dos


responsáveis soou alto em meio à barulheira das comemorações.

Haviam muitos doadores e auxiliares do orfanato ali, todos pegando as


crianças pelas mãozinhas e as levando para a área aberta onde ficavam mais
visíveis os fogos que seriam soltos à meia-noite.

Jungkook sentiu o característico aroma de sândalo e musk do namorado,


antes mesmo que sentisse seus dedos gélidos entrelaçarem-se nos seus.
Jimin o abraçou delicadamente por trás, com uma das mãos em sua cintura
e espalhou selares com os lábios macios, na pele de seu pescoço, fazendo o
mais forte suspirar.

— Dizem que as pessoas com quem passamos a virada do ano, acabam


ficando com a gente durante o ano todo... — O Park comentou com a voz
suave.

Jeon sorriu de leve, mas o sorriso não chegou aos seus olhos. Toda a
história que Wonho havia lhe contado, além da mensagem que vira sem
querer no celular do dominador, estavam-no deixando aflito, incomodado.

O mais novo detestava ser daquele jeito. Ser o tipo de pessoa que sofre por
antecipação, que sente ciúmes até da própria sombra. Mas ele possuía
aquele sentimento latente de que nunca seria o suficiente pra ninguém.
Sequer fora pros seus pais, como seria para qualquer outro alguém?

O pior de tudo, era que aquele sentimento de traição que se alastrava por
suas veias, podia ser facilmente refreado, se ele simplesmente se sentasse e
abrisse o jogo com o Park. E se o lúpus dissesse: "Hey, eu gosto de você,
mas Taemin sempre estará na minha vida, então ou você o aceita ou cai
fora", Jungkook ao menos poderia se afastar agora. Agora que seus
sentimentos estavam aumentando. Seria como cortar o mal pela raiz, antes
que algo mais perigoso acontecesse. Algo como... amor.

Ele se conhecia bem o suficiente pra saber que seus sentimentos por Jimin
estavam caminhando pra isso. Era muito a fim de Jimin, já faziam três anos.
Nutria uma coisa estranha por ele que, até então, pensara ser apenas atração
e uma quedinha. Agora, precisava admitir que o sentira pelo lúpus todo
aquele tempo, era um pouco mais que isso; era paixão. E depois da primeira
ficada dos dois na cozinha, foi como liberar um monstro.

Não bastasse isso, Jimin ainda o tratava melhor que qualquer um já o tratara
na vida. O dava carinho, atenção, o respeitava, alimentava, mimava, dava
presentes... e ainda por cima, lhe proporcionava as melhores fodas de sua
vida. Era simplesmente a pessoa mais perfeita com quem já havia se
envolvido. Conversavam na maior facilidade, gostavam das mesmas coisas,
tinham uma intimidade fodida e automática, como se conhecessem-se de
outras vidas... talvez mesmo se conhecessem em universos paralelos.

Será que ele e Jimin existiam juntos em outras dimensões? E se em outro


universos, eles vivessem alguma relação de amor e ódio? E se Jimin fosse
um ômega e Jungkook um alfa? Tinha certeza que, ainda assim Jimin o
dominaria. Em qualquer véu de realidade, Jungkook estava certo de que se
punha aos pés do Park, não importava aonde. Porque Jimin tinha um
magnetismo tão absurdo sobre si, que ele estava certo que alcançava outros
planos de existência.

Porque Jeon Jungkook se apaixonar por Park Jimin, era algo inevitável.

Desde o final de outubro, quando pela primeira vez, o Park o vira de


cabelos vermelhos, seus caminhos passaram a esbarrar-se com uma absurda
frequência. As coisas ficaram meio complicadas pra Jungkook, depois que
ficaram a primeira vez e ele sentiu seu coração se apertar, ao ter o moreno
afastado. Começou a sentir aquela coisa angustiante do abandono, desde
aquele momento.
No começo do mês seguinte, quando encontraram-se acidentalmente na The
Cave, as coisas começaram a tomar um rumo inesperado — mas
completamente desejado. De lá pra cá, tudo tinha acontecido muito rápida e
intensamente; a proposta de relação D/s, o cio, a mudança temporária para a
casa do Park, a declaração de sentimentos, o pedido mal feito de namoro, a
primeira sessão...

E agora, dois meses depois do começo de tudo, eles se viam numa relação
que mais parecia que eles estavam juntos desde o começo. Desde a primeira
troca de olhares. Desde o dia que o caminhão de mudanças amarelo de
Jungkook, estacionara no prédio em frente à casa de Jimin, três anos atrás.

O alfa lúpus, por outro lado, não estava completamente alheio à bagunça
que acontecia no interior do namorado. Ele sabia que o avermelhado havia
arrancado alguma informação de Wonho, e agora sentia-se um imbecil por
tê-los apresentado.

Na verdade, sentia-se mais imbecil ainda por não ter aberto o jogo de uma
vez com Jeon, e contado a verdade sobre a relação que possuía com
Taemin. Deveria ter esclarecido as coisas. Esconder nunca era uma boa
opção, ele sabia disso desde quando estava com Taeyang. Se tivesse
contado ao noivo sobre suas preferências para obter prazer, desde o começo,
talvez não tivesse perdido tanto tempo num relacionamento sem futuro.

O lúpus também estava aflito. Não sabia o quanto tinha chegado aos
ouvidos de Jeon, nem o quanto daquilo ele havia interpretado corretamente.
Tampouco sabia se, quando os dois se confrontassem — e aquilo
aconteceria mais cedo ou mais tarde — se Jungkook o daria ouvidos e
acreditaria em seus motivos e desculpas. Estava preocupado com aquilo um
bocado, mas não tinha coragem de simplesmente vomitar as palavras.

Sua intuição gritava que ele estragaria tudo. E Jimin não queria perder o de
cabelos cereja nunca. Estava completamente apaixonado pelo garoto de
cheiro maravilhoso e personalidade explosiva. Não se perdoaria, caso o
afastasse de si. Não queria perder outra pessoa, pelo mesmo motivo
praticamente. Não queria perdê-lo por causa de algo relacionado ao bdsm.
Não queria perdê-lo de modo algum, em suma.
As pessoas começaram a gritar a contagem regressiva, em coro. Jimin
soltou o namorado para ficar em sua frente e segurar seu rosto bochechudo
entre as palmas, encarando-o intensamente.

— Quero que fique comigo por muito tempo... — disse de modo


apaixonado. — Prometa que não vai me deixar... — pediu ao ruivo, num
quase sussurro.

Jungkook assustou-se levemente com a declaração. Os olhos negros e


rasgados do Park pareciam agoniados, como escondessem algo. Aquilo não
era bom. E o ruivo estava amargurado, de qualquer forma. Então ao invés
de sentir-se nas nuvens com a fala do outro, apenas sentia um gosto ruim na
garganta.

"Cinco, quatro, três, dois..." as vozes contavam em coro.

O alfa de genes ômegas não respondeu.

Ao invés disso, puxou Jimin com as mãos em sua cintura, trazendo o corpo
menor para si, à medida que o Park deslizava as mãos de seu rosto para
rodear seu pescoço com os braços e, na ponta dos pés, para que driblasse a
pequena diferença de altura, pudessem tocar os lábios.

Beijaram-se apaixonadamente, como se pudessem confessar seus


verdadeiros sentimentos um pro outro, através daquele beijo. Beijavam-se
com desespero, grudando os peitorais, colando os corpos ao máximo, quase
como se um pudesse entrar dentro do outro. Estavam num cantinho mais
afastado do pessoal.

O beijo era tão intenso, que, se não estivesse escuro e a iluminação viesse
fraca e colorida dos fogos de artifício queimando o céu, poderia ser
considerado obsceno, principalmente por causa do ambiente cheio de
crianças.

Mas como ninguém os dava atenção — todos estavam preocupados em


desejarem "feliz ano-novo" uns aos outros e abraçarem-se contentes —, eles
permaneceram naquela troca de carinho e promessas silenciosas.
O beijo começou a ficar profundo demais, intenso demais. As línguas
molhadas escorregavam uma na outra de forma veloz, era quase impossível
parar. Jimin agarrou os fios de cabelo vermelhos do alfa entre seus dedos
grossos, suspirando nos lábios deste, que gemia contido contra sua boca
ávida, enquanto apertava sua cintura com possessão.

O menor então afastou os rostos alguns centímetros, findando o beijo,


enquanto engolia o ar com força, assim como Jungkook, os dois sem fôlego
após tudo.

Ainda com os rostos tão perto que podiam sentir a respiração um do outro
golpear a face, Jimin sussurrou em tom sôfrego:

— Não me deixe... Acredite sempre em mim, quando eu digo que estou


louco por você, Jungoo-ah. Você é perfeito pra mim... Por favor, fique
comigo...

O de cabelos cereja suspirou e fechou os olhos, encostando suas testas e


deslizando as mãos pela lombar do outro alfa.

— Então por favor, não me machuque, hyung — pediu com todos aqueles
sentimentos presos em seu coração. — Não me faça de bobo, não minta pra
mim. Eu quero tanto você...

O moreno abriu seus mirantes, encontrando Jeon com os dele ainda


fechados. Deslizou os lábios para a bochecha macia do namorado e beijou-o
ternamente ali. Em seguida, abaixou a cabeça e a encaixou no vão entre o
pescoço e a clavícula do mais novo, os juntando num abraço quentinho e
amoroso.

Ficaram assim, por minutos sem fim, apenas sentindo o corpo um do outro
nos braços; sentindo os batimentos cardíacos intensos contra a caixa
torácica, que sabiam ser ocasionado pela presença alheia.

Quando os dois alfas já estavam sorridentes e sentindo-se aliviados pelas


confissões mútuas, o celular do Park vibrou no bolso da calça. À
contragosto, ele afastou-se para atender, já que continuavam soltando fogos
ali e fazia muito barulho.
O lúpus se distanciou até um ponto mais silencioso, onde ainda ficava à
vista do namorado, que o acompanhava com o olhar, de forma séria.

Jungkook sabia quem era.

Ele viu de relance, quando Jimin puxou o telefone com a tela brilhante e o
nome de Taemin reluziu. O Park havia virado o aparelho de modo rápido,
fazendo sinal de que se afastaria, mas pedindo que o esperasse ali.

O de cabelos cereja permaneceu encarando-o intensamente, com um tanto


de raiva relampejando em seus olhos escuros. Esperava do fundo do
coração, que Jimin fizesse uma careta, que gritasse ao telefone com o outro,
que desligasse e fosse ficar com ele.

Mas o que viu, partiu sem coração mais um pouco.

Assistiu o rosto tenso de Jimin, se transmutar num sorriso sincero, enquanto


magicamente esquecia de sua presença e começava a jogar conversa fora
com o outro, passando a destra nos fios de cabelo lisos, enquanto olhava pro
céu, sempre sorrindo até os olhos fecharem-se e, vez ou outra, gargalhando.

Jungkook engoliu em seco e uma lágrima escorreu de seu olho. Sua intuição
nunca mentia.

Sempre soube que o amor doía. Via muitos alegarem que não era o amor
que machucava, mas sim as próprias pessoas que o faziam. Contudo, ele
não compartilhava desse raciocínio agora. Para ele, o amor machucava sim.
Quando se está apaixonado dessa forma tão intensa, não somente o que a
pessoa amada faz ou diz atinge seus sentimentos. O próprio sentimento em
si, é doloroso. Saber que você ama algo que pode ir embora de sua vida à
qualquer momento, é doloroso.

Então Jungkook secou a lágrima fujona, às pressas, já que o Park voltava


rapidamente até onde ele estava. Mas não foi rápido o suficiente. O alfa
lúpus percebeu.

— O que foi amor? — fez uma careta preocupada. — Fala pra mim, bebê...
— Era ele, não era? — Jungkook perguntou a voz fraca. — Quando Taemin
voltar pra Coréia, você vai voltar com ele, não vai?

O moreno sentiu o coração apertar, ao ver os olhinhos brilhantes magoados


de seu garoto. Então ele realmente sabia sobre Taemin e sobre o mesmo
estar fora do país. Suspeitava de onde a informação tinha saído, mas não
poderia culpar ninguém, apenas a si mesmo, por manter tantos segredos,
por puro medo da reação alheia.

Mas de qualquer modo, como diabos o ruivo podia estar pensando uma
coisa dessas? Ele não estava ouvindo tudo o que ele vinha dizendo e
declarando ao longo dos últimos dois meses?

— Jungkook-ah, Taemin é meu amigo há uma década. Ele apenas me ligou


pra desejar um feliz ano-novo e contar como andam as coisas lá no Japão.
Hey... — chamou tocando o maxilar definido, quando Jungkook virou o
rosto pro outro lado, fazendo birra.

— Me fala que você não está só passando um tempo comigo, Jimin... Me


fala que não sou seu novo passatempo, só até Taemin voltar do
estrangeiro... — o garoto disse agoniado e com a mandíbula trincada de
raiva, mas em tom pesaroso, enquanto mais lágrimas escorriam de seus
olhinhos grandes.

Jimin sorriu triste e secou as lágrimas fujonas da pele clara, antes de


encostar suas testas e olhar bem fundo em seus olhos, para dizer:

— Eu estou só com você. Quantas vezes preciso repetir que sou seu, Jeon
Jungkook? Eu sou completa e inteiramente seu. Só me separo de você, se
você não me quiser mais. Você pode entender? Taemin é só meu amigo e
nada além disso...

— Ele era seu submisso — simplesmente vomitou as palavras, não


aguentando mais guardá-las em seu peito. — Por que escondeu isso de
mim? Por que continua escondendo e omitindo, quando está mais que óbvio
que eu já sei tudo? Por que você me tira como bobo, hyung? Está fazendo
igual a eles... Como meus pais....
O lúpus arregalou os olhos, em choque. Era assim que Jungkook se sentia?
Era essa impressão que passava? Que o taxava de bobo?

— Por favor, não diga isso... — pediu sentindo seus olhos arderem. —
Jamais te magoaria ou te trataria como seus pais fizeram, por favor não me
acuse disso, Kook-ah. Dói — declarou choroso.

Jungkook suspirou e soltou um soluço do choro que travava na garganta.

— Então por que...?

— Exatamente porque eu queria evitar isso! — o moreno exasperou-se. —


Queria evitar que você se sentisse segunda opção, ou que pensasse que
estou com você, apenas porque Taemin está viajando. Não queria que você
pensasse, que propus que tivéssemos uma relação dentro do bdsm,
inicialmente, por estar sem ele. Você não vê como me sinto por você, uh?
Não sente como meu coração bate forte, toda vez que estamos juntos? —
declarou firme e com a voz alterada, enquanto puxava a destra grande do
ruivo e a posicionava em cima de seu peito, bem onde seu coração batia
nervoso e descontrolado, fazendo o peitoral duro vibrar. — Já te disse que a
única pessoa que realmente amei foi Taeyang e as coisas não acabaram
bem. Depois disso, fiquei tão magoado, que nunca mais consegui me deixar
levar por outra pessoa. Meus sentimentos eram rápidos e passageiros,
desapareciam em um punhado de semanas...

— Mas Taemin sempre estava ali com você — o ruivo teimou, mal
humorado, sentindo o ciúme corroê-lo.

— Porque Taemin aceitava o que eu era! Ele aceitava meus limites, minhas
condições. Ele aceitava estar comigo, enquanto ficávamos com outras
pessoas. Ele sabia que não passava de pura diversão, apenas de uma relação
fetichista, onde tirávamos proveito disso e nada além. Ele me viu chorar por
Taeyang e me viu chorar por você. Ele me ofereceu o ombro e...

— Porque ele é apaixonado por você, Jimin — o de cabelos vermelhos


declarou duro.
— Não é assim... — o Park negou, sacudindo a cabeça. — Taemin acha que
sente algo por mim, mas ele não sente de verdade. A real é que ele sempre
queria tudo o que Taeyang tinha, essa é a única coisa que o fazia pensar
sentir algo por mim. Mas ele não sente, Jungkook. Ele não sente mais,
porque ele sabe que não pertenço mais a Taeyang... eu pertenço à você.

Jeon resfolegou, tentando encontrar qualquer traço de mentira naquele rosto


malditamente perfeito. Não encontrou nada que fizesse seus instintos
soarem negativamente. Encontrou apenas angústia, sinceridade e... carinho.
Jimin o fitava de modo maravilhado, admirado e apaixonado. O alfa de
genes ômegas não era cego. Era teimoso, mas não cego.

— Não mente mais pra mim, hyung... Por favor, não mente mais pra mim.
Se quiser que isso dê certo, não me esconda mais nada... — pedia do fundo
do coração.

Jimin sorriu aliviado, sacudindo a cabeça e deu um beijo estalado em sua


bochecha direita. Outro na esquerda. Um na testa, outro no queixo. E então
começou a espalhar infinitos beijos por toda a pele exposta do alfa, que
acabou sorrindo em meio às lágrimas.

— Não vou mais mentir, meu amor. Prometo. Olha pra mim — e puxou o
queixo do outro pra cima, fazendo seus olhares se unirem. — Nada vai te
machucar, meu bebê.

Sim, eles estavam usando os mesmos figurinos de seus respectivos solos


da Speak Yourself tour: JK de conjuntinho rosa clarinho de Euphoria e
Jimin com aquela roupinha bicromática preta e branca de
Serendipity

Feliz 300k de views, yeyyy continuem espalhando a palavra.


Incandescente não é só uma fic metida à diferentona. Ela busca mudar
os esteriótipos ligado à comunidade lgbtq+, e faz uma crítica social.
Apreciem de modo mais profundo, procurem entender tudo oq falo nas
entrelinhas dessa história. Eu não sou a pessoa mais sábia do mundo,
mas tenho bastante experiência de vida e modos peculiares pra ensinar
e abrir a cabeça de gente mais nova e/ou menos experientes com
algumas coisinhas.

Por exemplo, quantos de vocês achavam que o passivo(bottom) numa


fic, precisava ter comportamento e aparência X, enquanto o ativo (top)
precisava ter tbm uma personalidade e aparência específicas? E
quantos de vocês tiveram esse esteriótipo enraizado e silencioso, se
partindo como um objeto de vidro fino, após incandescente?

Como parte da comunidade lgbtq+, eu tenho local de fala, por isso me


sinto tão na necessidade de abrir os olhos de todo mundo. Lembrem-se
sempre: preferências de leitura, todo mundo tem. Vc pode ter à
vontade. Eu mesma sou apaixonada por flex e principalmente
jk!bottom. O que não se pode, é basear o que uma pessoa ou
personagem pode/deve ser baseado no teu achismo. Nós somos pessoas.
Nós, lgbtq+ somos pessoas. Não estamos aqui pra servir a fetiches, nós
SOMOS PESSOAS. Então ponha a mão na consciência: você realmente
acredita e apoia o amor entre duas pessoas do mesmo sexo? Ou você
apenas aproveita a parte que te convém? Convido-os a questionarem-
se. Perguntem a si mesmos e sejam sinceros.

A desconstrução é dolorosa. Ela não é fácil. Machuca. Machuca a nós


mesmos e aqueles ao nosso redor. Mas ela precisa acontecer, ainda que
de forma lenta. E além de lenta, ela é infinita. Você vai precisar se
desconstruir todos os dias da sua vida, sobre diversas coisas diferentes,
até morrer. Escutem aqueles que clamam pela sua ajuda. Vamos nos
tornar pessoas melhores.

Até a próxima.

Nos vemos quando INC bater 400k rsrsrsrssrsrs (tô brincando, mas se
vcs quiserem, eu quero).

Não esqueçam da TAG no twitter: #JungkookBebêDoJimin


24| overdose

Tem avisinhos importantes lá embaixo. Leiam por favor

ESCRITO POR HowUdare

— QUEBRA DE TEMPO —

Jimin acordou realmente feliz naquela manhã. Ele e Jungkook tinham


aproveitado todo o dia anterior em uma sessão absurdamente gostosa. O de
cabelos cereja era tão safado, que o Park sentia que finalmente havia
encontrado alguém à altura.

Logo de início ele soube que Jeon era bom de cama, pra um senhor caralho.
Mas a paixão era realmente o melhor tempero pro sexo. E apaixonado como
estava, Jimin tinha certeza de uma coisa: Jeon Jungkook era a melhor foda
da sua vida. Ponto final.

Isso facilitava as coisas pra ele? Nem um pouco. Se pegava pensando que
se, talvez, um dia o garoto não o quisesse mais, ele entraria num estado
catatônico. Não veria mais graça em viver, basicamente. Por que onde
diabos encontraria alguém como Jeon Jungkook? O alfa de genes ômegas
era único. Exótico. Peculiar. Sua personalidade, sua aparência, seu cheiro,
sua foda. Tudo nele era diferente e ridiculamente perfeito para o Park.
Combinavam como as peças de um quebra-cabeças.

Jimin passara o decorrer do dia em seu notebook enviando alguns


currículos. Havia sido convidado a uma entrevista nos próximos dias, para
trabalhar na torre de controle de vôos do aeroporto internacional. Era do
outro lado da cidade, mas se tudo desse certo, ele estava mais que disposto
a aceitar o cargo. Possuía qualificação para a profissão, e o salário
certamente não era ruim. Ele estava animado. Principalmente porque
poderia voltar a fazer duas coisas que adorava: gastar dinheiro sem medo e
mimar o namorado com presentinhos. Não que tivesse deixado de fazer isso
em algum momento.
Mais uma coisa que fazia sua animação ir às alturas era que, naquele dia,
Jungkook tinha ido trabalhar de manhã, pra cobrir a folga de uma
funcionária. Isso significava que já já seu amorzinho estaria em casa e
ficariam juntos pelo fim da tarde e resto da noite. O Park só queria ficar
agarradinho com o namorado, talvez levá-lo até centro pra comerem algo
gostoso. Qualquer coisa ao lado do de cabelos cereja, era satisfatória.

Quando o sol estava prestes a se pôr, o lúpus saiu de seu quarto e desceu as
escadas, em busca do celular. Ia perguntar por mensagem, se já poderia
buscar Jungkook no trabalho — não que fosse necessário, mas ele adorava
ir buscá-lo. Dava uma sensação gostosa, e o bratzinho também adorava.
Vinham os dois bem alegrinhos de mãos dadas pela rua, subindo a ladeira.

Mas assim que chegou no andar de baixo, deparou-se com o avermelhado já


em casa. Sequer tinha ouvido o barulho da porta ou coisa assim.
Provavelmente porque estava ouvindo música.

— Jimin, preciso falar com você — o de cabelos cereja disse em tom calmo
e sério, sentado ao balcão que dividia a sala da cozinha.

O Park se pôs em alerta, imediatamente, ao ver seu aparelho celular sobre a


bancada, posicionado perto da mão de Jungkook. Engoliu em seco, mesmo
que não estivesse fazendo exatamente nada de errado ou sendo infiel, de
algum modo. Mas temeu pelas mensagens insistentes de Taemin.

O mais novo soltou o ar, um pouco mais forte que o normal, ao ter o lúpus
sentando-se no alto banco de madeira a sua frente, com a expressão
cuidadosa.

— Bebê, você sabe que já pedi pro Taemin parar de me chamar de


"Senhor", um bocado de vezes — foi metralhando. — Já até digitei
mensagens pra ele na sua frente, falando de você. O que quer que ele esteja
dizendo, é só provocação. Está sendo difícil pra ele, aceitar que você não é
só mais um irmão de coleira passageiro, mas sim meu namorado e único
submisso...

Jungkook revirou os olhos e bufou, já meio impaciente com aquele assunto.


— Quem disse que te chamei aqui, pra falar sobre esse otário? — perguntou
retoricamente. Então olhou em volta, capturou o aparelho do Park na destra
e o entregou para o mesmo. — Mas por falar no Diabo, ele já fez três
ligações e mandou um montão de mensagens, se você quer saber — revirou
os olhos outra vez. — Não gosto disso. Mas vou fingir que não é comigo. O
negócio que quero conversar, é outra coisa... — e tendo a atenção do mais
velho, ele jogou uma pequena chave prateada em cima do balcão.

— Onde você achou ela? — indagou o lúpus, de cenho franzido. — Essa


chave estava guardada em um lugar seguro. Estava mexendo nas minhas
coisas?

— Essa não é a chave original, é a cópia que estava com Hoseok hyung. A
chave original do meu apartamento continua com você, enfiada sabe-se lá
onde — respondeu direto. — Quero saber por que continua mentindo,
Jimin? — acusou impaciente.

— Mentindo sobre o quê? Não sei do que está me acusando agora... —


murmurou em tom de voz afetado.

Irritado de toda aquela ladainha do lúpus, Jeon se levantou do banco,


estapeando as próprias coxas de frustração, para então bufar alto e passar as
mãos pelos fios de cabelo tingidos e também pela face, antes de voltar a
encarar o outro.

— Você não consertou nada no meu apartamento, hyung! Nada! Eu já disse


que não faço questão nenhuma que você conserte coisa alguma, posso só
prender o sanitário no chão outra vez e remendar o que der, já está bom...

— O que você foi fazer lá dentro? — rebateu o outro, tentando fugir do


ponto principal. — Tem alguma coisa faltando pra você aqui em casa, pra
que tenha sido necessário ir até lá?

— Jimin, você tá de sacanagem? — o ruivo devolveu exasperado. —


Aquela é minha casa! Já fazem meses desde o cio, estamos em fevereiro e
meu apartamento continua do mesmíssimo jeito que deixamos ao sair!
Fazem dois meses e meio, hyung... O que está acontecendo? — finalizou
com a voz tristonha e cansada, só querendo entender o que diabos se
passava na cabeça do alfa lúpus.

— Eu... — o mais velho tentou responder, o olhar perdido, encarando tudo


ao seu redor, mas não conseguia decidir de uma vez, sobre expor seu íntimo
tanto assim ou não.

— Hyung, sei que você tá ruim de grana, tá legal? Você pode tentar pagar
de fodão o quanto for, mas qualquer imbecil consegue entender que, por
mais que você costumasse ganhar bem e tivesse uma boa poupança
guardada, já está desempregado há quase quatro meses. Provavelmente
você não gastou tudo de lá pra cá, mas obviamente reformar aquele
apartamento todo, vai fazer um rombo nas suas economias e te prejudicar. E
olha, não é como se o apê realmente precisasse de algo tão grande, como
uma reforma. A gente não quebrou nenhuma parede ou coisa assim. Foram
só uns objetos e... armários. E o vaso sanitário. Então, por favor, não insista
nisso. Não precisa ficar me enganando, dizendo que o apê já tá quase
pronto, pra me enrolar e ganhar tempo. É sério, não precisa...

— Não é só isso, amor — o moreno suspirou, vencido. — É que... —


bufou, sacudindo a cabeça, frustrado. — Eu não quero você longe de mim...
— confessou em tom choroso.

Jungkook ficou surpreso, arregalando levemente os olhinhos grandes.

— Jimin-ah... — e caminhou até o mesmo, parando entre suas pernas, para


então pegar o rosto afilado entre suas palmas. — Não vou estar longe de
você, só vou estar do outro lado da rua, seu doido — suavizou a voz.

— Eu sei... — o mais velho resmungou, puxando o tecido da camisa larga


do namorado entre os dedos, na altura da cintura, aproveitando para trazê-lo
para mais perto de si. — Mas você não vai estar dormindo do meu ladinho,
nem morando comigo, nem dependendo de mim e decidindo as coisas
juntos... é diferente. Você nem vai discutir comigo no mercado, sobre a
marca de amaciante que devemos comprar pra usar nas roupas de cama! —
E ah, essa era uma coisa que ele e Jeon faziam com frequência. Discutir
sobre as marcas de arroz ou sabão em pó. Pareciam uma casalzinho de
velhos.
— Realmente não 'tô te entendendo, hyung — o garoto admitiu
completamente confuso. — Nós estamos sendo forçados a viver uma
relação D/s 24/7, já que eu moro sob o seu teto e, mesmo que você já tenha
deixado claro não curtir uma relação dessas e tenhamos combinado que a
nossa não seria assim, você está dizendo que quer eu continue morando
aqui na sua casa, quando posso perfeitamente morar na minha e
continuarmos juntos a maior parte do tempo, já que moro, literalmente, no
prédio da frente; é só atravessar a calçada.

— Mas bebê... — resmungou. — A partir do momento em que nós


estivermos morando em locais diferentes, mesmo que vizinhos, a nossa
relação vai mudar — disse com a voz reclamona e manipuladora usual. —
E eu gosto do jeito que as coisas são agora... — terminou manhoso, com um
bico gigantesco no rosto bonito.

— É claro que vai mudar, enquanto moro aqui, nós vivemos uma vida de
casados, mas quando eu voltar pra minha casa, seremos mais como
namorados — respondeu de forma paciente. — E é isso que somos, não é?
Namorados. Não casados. Você não quer uma relação 24/7, e eu não quero
uma relação de total troca de poder. E você disse que uma relação 24/7 é,
necessariamente, de total troca de poder...

— Isso não importa, nós dois fazemos nossas próprias regras. Você pode
continuar morando sob o meu teto, podemos continuar tendo uma relação
24/7, mas onde você limita meu poder sobre você e...

— Jimin, por que? Por que você está cismado com isso? Você nem gosta de
uma relação tão forte dessas, você...

— Eu não gostava, Jungkook, do verbo passado, dá pra entender?! —


exclamou o moreno, aumentando o tom de voz, calando o outro. — Com os
outros eu não gostava... Mas com você, eu quero. Com você, eu quero tudo,
poxa... — e os olhinhos rasgados e a voz pidona do Park, estavam fazendo
o pobre Jeon quase derreter ali no chão e pular em seu colo, dizendo: "Ok,
eu caso! Me dê a aliança!"

— Hyung, você quer isso mesmo? De uma hora pra outra? Realmente? —
insistiu sério e nada convencido. — Não acha que estamos indo rápido
demais? Quero dizer, nos conhecemos e somos colegas à três anos, eu sei,
isso é um bocado de tempo, mas só ficamos pela primeira vez há pouco
mais de três meses e moramos debaixo do mesmo teto há pouco menos que
isso... — e sim, o pobrezinho vinha contando cada dia.

— Não 'tô entendendo aonde você quer chegar... — o moreno comentou à


contragosto.

— Estou querendo dizer que se a gente for com tanta sede ao pote assim, as
coisas podem acabar na mesma velocidade que começaram — disse tudo de
forma rápida e desengonçada, com uma expressão exasperada. — Você não
tem medo? Não tem medo de que... eu não sei... acabe tendo uma espécie
de "overdose de Jungkook", e termine enjoando de mim? Você disse que era
sempre assim... Que você ficava meio arriado pelos seus sub's, por um um
mês ou dois, mas que no terceiro, a magia simplesmente sumia. Eu não
quero ser mais um submisso passageiro, Jimin. Não quero acordar um dia e
te encontrar sentado na mesa, com cara de paisagem, e aí você me chamar
pra conversar e explicar que não dá mais, que acabou, que quer a coleira de
volta e...

— Jungoo-ah, por que é tão difícil de você entender que, isso tudo que já
contei sobre meus submissos passados, se aplicavam à relação D/s e apenas
ela? Eu não sou meramente seu dominador, tamer, mentor, ou como diabos
queira chamar. Sou seu namorado, droga! Isso não te diz nada? Nós temos
sentimentos um pelo outro, eu gosto de você, venero você, eu te a... — e
então se calou, arregalando os pequenos olhos, ao passo em que assistia
Jungkook se afastar três passos, com a expressão apavorada no rosto.

Eles ficaram se encarando, num clima totalmente tenso, os ouvidos zunindo


pelo silêncio repentino e constrangedor que se instalara entre os dois. Para
Jungkook, era como se o moreno tivesse o espetado com uma agulha, bem
na bunda. Para Jimin, era como se tivesse acabado de revelar o seu segredo
mais profundo, o qual não poderia, de modo algum, ser revelado naquele
momento. Quase tinha dado com a língua nos dentes.

Até que o mais velho pigarreou, desconsertado, e tentando retomar seu tão
precioso controle, fingiu que aquela última parte da conversa sequer havia
acontecido. Não iria dizer aquelas palavras pra Jungkook agora. Por mais
que seu interior estivesse simplesmente explodindo para dizê-las há
semanas.

Desde a pequena DR que tiveram na noite de ano novo, semanas atrás, por
causa de Taemin, Jimin tivera a mais intensa vontade de segurar o rosto do
mais novo entre as mãos e dizer: "Não seja idiota! Como posso querer
Taemin ainda, se eu amo você?" — mas sua racionalidade o impedira, por
sorte. Ele sabia que aquele não era o momento. Jeon poderia pensar que ele
estava dizendo aquilo apenas para convencê-lo ou qualquer coisa assim. E
agora, infelizmente, continuava não sendo o momento ideal. Precisava ter a
mais absoluta certeza se o que sentia era, verdadeiramente, amor. A paixão
queimava muito forte em seu peito, a ponto de nublar sua mente, era certo.

— Isso que você tá dizendo, em relação ao tempo, em relação a tudo estar


indo rápido demais... é uma grande besteira — o Park declarou confiante e
se aprumando no banco, vendo Jungkook soltar o ar e parecer mais
relaxado, de volta à questão principal da discussão. — Veja só, em pouco
mais de três meses desde que começamos a ficar juntos, já me vejo fisgado
por você, enquanto os dez anos que passei como parceiro de cios de
Taemin, nunca me fizeram sentir nada além de amor fraternal e, é claro,
atração física — disse sacudindo a cabeça de forma meio pensativa, o que
soou um tanto cômico.

Jeon ficou sem palavras. Seu único argumento era aquele. Ele não se via
realmente incomodado em viver com o Park, o outro não o fazia se sentir
um peso, nem uma visita ou coisa assim, pelo contrário; Jimin o consultava
pra todo o tipo de coisa que fizesse em relação à casa. "Você acha que devo
pôr o que na lista de compras?;" "Qual shampoo deveríamos comprar?;"
"Você prefere qual produto de limpeza?;" — Jimin o fazia absolutamente
sentir-se tão dono da casa quanto ele, então era mais que absolutamente
confortável conviver com o ex-militar.

Contudo, algo no interior do alfa, lhe dizia que eles estavam muito
apressados, e na experiência do ruivo, tudo que vinha fácil, ia embora mais
fácil ainda.

Bem, aquilo não queria dizer nada, era apenas uma superstição. As coisas
não aconteciam de forma padrão e linear, cada caso era um caso, mas pra
alguém tão paranoico quanto o Jeon, seria melhor prevenir do que remediar.

O mais novo queria ser cauteloso naquele momento crucial.

Enquanto Jimin, estava sendo absolutamente sentimental.

E isso era quase como uma inversão de papéis, já que Jungkook era do tipo
impulsivo e sem noção, que não media as consequências de nada, enquanto
o Park era do tipo cuidadoso, calculista e controlado. Só que claramente, em
se tratando daquela relação, nenhum dos dois se comportava realmente
como o esperado.

Um fato sobre a vida, é que as pessoas, de forma geral, nem sempre se


comportam do modo que deveriam, tampouco tomam decisões de acordo
com seu "perfil". Ocasionalmente, uma pessoa que é considerada
"certinha", toma uma atitude moralmente reprovável, enquanto que aquele
considerado "má companhia" pode perfeitamente agir de forma ética.

Pessoas não são como máquinas pré-fabricadas com determinadas reações


para cada situação. Pessoas são imprevisíveis. Humanos eram assim, e os
Lupinos o eram também. E era isso que fazia ambas as raças tão especiais.

— Realmente acho que deveríamos desacelerar um pouco as coisas,


hyung... — o garoto murmurou com a vozinha incerta.

Céus! Jeon queria ficar ali, do jeito que estavam, morando juntinhos. Queria
muito. Mas sua cabeça martelava e chegava a doer, de tanto que sua
consciência dizia: "Hey, isso está rápido demais. Ele vai enjoar de você.
Pegue o controle das coisas enquanto pode." Pobre Jungkook. Sempre tão
paranoico e acostumado à rejeição, que sequer conseguia aproveitar um
bom momento.

Jimin sentiu a frase do outro como um tapa na cara. Ele realmente não
esperava que o namorado fosse apontar aquelas coisas agora. Eles estavam
tão bem. E desde a situação do ano novo havia explicado melhor as coisas
pra Jungkook, embora não tivesse explicado exatamente a forma que tinha
terminado com Taemin — até porque isso não era exatamente da conta de
Jeon. Então se estava tudo bem, por que o garoto arrumava um problema
novo agora?

Foi aí que o Park se deu conta de que, talvez, ele o estivesse assustando.
Que talvez, o de cabelos cereja não fosse o elo mais fraco daquela relação:
ele é quem era. Park Jimin, o alfa lúpus em total controle de suas ações e
sentimentos, o grande dominador de alfas, agora era só um bobão
apaixonado, que tinha entregue seu coração tão blindado, nas mãos que um
garotinho imaturo e completamente doido das ideias.

Se o lúpus se arrependia? Talvez. Agora que estava se sentindo ser


rejeitado, então... mais ainda. Todavia, ninguém o havia feito sentir-se tão
bem e feliz, como Jeon Jungkook fazia. Então não era justo julgar o mais
novo, por não estar caindo de amores na mesma velocidade que ele. O ruivo
era mais jovem e menos preocupado com as coisas, menos responsável. Ele
parecia ser o tipo de pessoa que queria apenas viver e aproveitar a vida do
melhor modo que pudesse, e não alguém com metas e objetivos como o
Park. Certamente ter um compromisso tão sério com alguém, não era um
dos seus sonhos mais imediatos — pensou.

Então o moreno começou a imaginar que, provavelmente, estava exigindo


de Jungkook mais do que o garoto queria dar. Ou mais do que o outro
estava disposto naquele momento. E o lúpus odiava que fizessem aquilo
com ele, por que então o estava fazendo com Jeon? Não fazia sentido.
Estava sendo irracional. Seus sentimentos estavam nublando sua lógica. De
modo que empertigou-se e levantou o queixo. Havia decidido fazer o certo,
afinal.

— Vou te ajudar a arrumar suas coisas — e forçou-se a dar um sorriso


compreensivo.

[...]

— Vai chover bem feio hoje... — Jungkook comentou enquanto olhava pro
céu, ao atravessarem a rua carregando os montes de bolsas com suas coisas.
— Olha como 'tá cheio de nuvens cinzas...
— Oh... é verdade. Vai fazer frio, então — respondeu o outro. — Vou
dormir com você e te esquentar... — aproveitou-se.

Jeon o encarou por cima do ombro, enquanto digitava a senha no painel do


prédio, totalmente risonho.

— Você não perde uma chance, né? — provocou.

— Sou um homem que vai atrás do que quer... — rebateu o Park, dando de
ombros.

Os dois riram cúmplices, o clima entre eles um pouco mais ameno que
antes. Não iriam deixar uma decisão por precaução de Jungkook, se pôr
entre eles. Não era exatamente uma coisa ruim. As preocupações do mais
novo eram totalmente válidas, afinal.

— Minzy... Psiu psiu... — chamou o moreno, olhando em volta e segurando


a porta. Rapidamente o gato peludo correu por entre suas pernas, entrando
no prédio, atrás do de cabelos cereja.

— Ain, que preguiça... — Jeon resmungou assim que abriu a porta e viu a
bagunça na sala.

— Você ainda pode ficar lá em casa... — murmurou Jimin em seu ouvido,


implicante.

O ruivo revirou os olhos e pôs as bolsas no chão, teimoso. Foi em direção à


cortina caída dos trilhos e arrancou o resto dela dali, exibindo a claridade do
fim de tarde.

— Hyung, consegue arrumar os carretéis nos trilhos? — perguntou.

— Se você tiver pecinhas novas, acho que sim.

O garoto então pegou uma maleta embaixo da pia da cozinha, onde


guardava algumas ferramentas.

— Estão aqui. Vou dar um jeito lá no banheiro, enquanto isso.


E assim passaram boa parte das horas. Cada um arrumando um canto,
colando coisas quebradas, consertando tudo. Jimin varreu cada cantinho da
casa, e Jungkook seguiu passando pano em tudo o que podia. Haviam
levado uma boa quantidade de copos, canecas e pratos da casa do Park pra
lá também.

O lúpus ligou a geladeira na tomada e abriu a porta, enfiando garrafas de


água lá dentro.

— Oh... eu tenho que ir ao mercado antes que feche... — disse o mais novo,
olhando pro relógio da parede.

— Uhum... — o outro murmurou, fechando a geladeira, e caminhou pra


sala, como quem não queria nada. — Olha ali o que o Minzy está fazendo,
Jungkook! — exclamou com a face cômica, de olhos exageradamente
arregalados, apontando o dedo pro fundo do corredor. Jimin fingia mal pra
um cacete. Só um tapado como o Jeon, pra cair numa daquelas.

O avermelhado correu em disparada, e o mais velho se aproveitou para


capturar as chaves em cima do balcão e sair porta afora, trancando o ruivo
dentro do apartamento.

— Ei! — Jungkook gritou dando meia-volta, chegando bem na hora em que


o Park batia a porta na sua cara. — Jimin, volta aqui! — ralhou batendo os
punhos na madeira.

"Vou ao mercado e você espera aí" a voz abafada por trás da porta
respondeu.

— Você não pode gastar dinheiro! — Jungkook devolveu exasperado. —


São minhas compras, paboo-yah! Minhas!

"Até daqui à pouco, bebêzinho do hyung. Se comporte." zombou o outro.

Jeon grunhiu de raiva e saiu batendo o pé pela casa.

— Park Jimin, aquela cobra sorrateira... — resmungou enquanto colocava


água e ração pro gato, nos potinhos. — Ele sabe que não pode ficar
gastando assim, que porra ele tá querendo? — ia dizendo bravo, reclamando
para as paredes (e Minzy). — Imagina só se ele gasta o dinheiro todo e aí
não arruma um emprego, o que a gente vai fazer? Ele vai vir morar aqui?
Ou vou ter que sustentar ele? Ah, não! — disse arregalando os olhinhos. —
Não tenho dinheiro pra bancar um playboy desses, hum hum, nem pensar!
O sugar daddy aqui é ele, não eu... — reclamava enquanto carregava as
bolsas pro quarto. — Esse lúpus que não invente ideia. Vai ver só se eu não
ponho ele pra trabalhar numa lojinha de conveniência também... Não vou
sustentar ninguém não, euhein. Vê se pode?! Não tenho filho pequeno!

E o garoto continuou murmurando mil e uma reclamações, até abrir a


primeira bolsa de couro. Nela haviam roupas de Jimin, além de produtos de
higiene, cuecas, um par de chinelos e esse tipo de coisa.

"Tudo bem, ele é seu namorado. É lógico que vai deixar coisas dele na sua
casa, Jungkook. Não pira" repreendeu-se.

Deixou aquela bolsa de lado e abriu a segunda. E então um sorriso


despontou em sua face, todo bobo. Fuçando a bolsa, viu que o lúpus não
havia esquecido de algo essencial: seus brinquedinhos fetichistas.

Era mais como um kit básico de bdsm. Haviam dois pares de algemas de
couro vermelho, uma ball gag, uma venda, sua coleira vermelha de rebites
dentro de uma caixinha de veludo, a guia da coleira, também vermelha, uma
palmatória pequena de madeira, um chicotinho todo preto com a ponta
cortada em formato retangular, uma corda vermelha macia toda enrolada,
lubrificante, pomada para hematomas, um gel de massagem, um hidratante,
bolinhas tailandesas e, por último, uma flogger. Mas não uma flogger
qualquer: era um gato de nove caldas. O que basicamente era um flogger
com as tiras de tecido bem finos, quase como uma franja. Jungkook não
fazia ideia de qual seria a sensação dos açoites daquela ali, mas imaginou
que pela textura, provavelmente seria mais macio e menos cortante.
Coitadinho... estava pensando errado. Mas um dia ele seria corrigido.
Literalmente.

Sabendo que o dominador demoraria um bocado a voltar, pendurou uma


nova cortina na janela da sala, tomou banho e foi se deitar no quarto,
embaixo dos edredons. A noite tinha acabado de cair, e o céu parecia ainda
mais fechado. Preocupou-se que começasse a cair um temporal e o Park
pegasse chuva na rua. Principalmente porque sabia que o outro tinha muito
medo de trovões, e do jeito que o céu estava, tinha certeza que iam rolar
alguns, junto à tempestade que estava a caminho.

Pegou no sono enquanto assistia a uma de suas séries favoritas. Só acordou


quando sentiu beijinhos em seu pescoço, junto ao peso de um corpo em
cima do seu e o cheirinho familiar de sândalo do alfa lúpus.

— Voltei... — o outro murmurou ao pé do seu ouvido.

— Você é um bundão... — o avermelhado devolveu com a voz grossa de


sono, sentindo o Park rir em seu pescoço e então olhar para si de pertinho, o
rosto pairando acima do seu.

— É, mas o bundão aqui comprou mais ração pra Minzy, produtos de


limpeza, sabonetes, shampoo, espuma de barbear, gillettes, e muita, mas
muiiitaaa comida.

— Que comidas você comprou? — perguntou curioso, abraçando o


namorado pela cintura.

— Pães de forma, biscoitos salgados, biscoitos doces, leite de vaca, várias


caixas de cereais, barras de chocolate, leite de banana, pacotinhos de suco,
carne, muita carne, arroz, macarrão, mais carne, frango, queijo, muitos
m&m's e duas garrafas de vinho. Também trouxe dois engradados de
cerveja.

— Uau — disse surpreso. — Isso é muita comida. Você sabe que eu


cozinho mal, certo?

Jimin gargalhou e em seguida deixou um beijinho na testa do amado.

— Sei sim. Mas quem vai fazer comida pra você, sou eu. O neném precisa
de alguém pra cuidar dele, certo? — disse fofo.

— Humn... você está certo... — o alfa resmungou dando um risinho sem


jeito.
— De qualquer forma, comprei bastante comida congelada pra você
também. Tem refeição pronta, lasanha, torta salgada, empadão e um monte
de coisas. E também trouxe muitos lámens. Mas vou fazer comidinha pra
você, sempre. Não quero que se alimente mal — disse preocupado.

— Humn... você cuida tão bem de mim... — murmurou com a voz abafada
no pescoço do lúpus, onde começara a atacar com beijinhos manhosos. —
Como vou conseguir viver sem você depois?

O lúpus imediatamente arregalou os olhos e se afastou para encarar o outro


nos olhos.

— Que papo é esse de "ficar sem mim"? Tá dizendo que vai me dar um
fora? — indagou assustado, o peito batendo acelerado.

— Não foi isso que eu quis dizer — o mais novo respondeu com um bico.
— É que... nós não vamos ficar juntos pra sempre. Tudo um dia acaba... —
disse com o olhar baixo, sem querer encarar o outro.

— Sim, esse é o padrão — respondeu-lhe. — Mas saiba que, pra se ver


livre de mim, vai ter que me dar um pé na bunda, amor. Porque eu não me
vejo terminando com você, de jeito nenhum.

— Você sempre enjoa dos seus submissos... — resmungou teimosamente.

— Não enjoei de você, e olha que você já testou bastante a minha paciência
— zombou e em seguida apertou o nariz do garoto entre os dedos, rindo
fofinho.

E os dois ficaram se olhando, rindo e trocando carinhos, como bobos.


Bobinhos apaixonados, era isso que eram. Aquilo podia ser visto à
distância.

A chuva forte começou a bater na janela, fazendo um barulho forte e


estrondoso no ambiente. O garoto se levantou pra fechar a janela do quarto,
na mesma hora que um trovão e um relâmpago soaram. No mesmo minuto,
Jimin deu um pequeno pulinho de susto e se encolheu todo, com uma
carinha tão tensa, que Jungkook ficou todo derretido, ao mesmo tempo em
que sentiu-se preocupado.

— Hey, hey... Eu tô aqui, amor — o chamou, deitando novamente na cama


e o abraçando bem forte.

— Merda... — o moreno sibilou, abraçado ao namorado. — Hoje não é o


meu dia... Primeiro você abandona minha casa, e agora isso... — disse com
a voz reclamona cômica.

— Hey. Eu estou aqui com você, não estou? — o lúpus assentiu, parecendo
muito com uma criança. — O que aconteceu com você, Jimin-ah? Conta
pra mim... Quero te ajudar a superar isso, sim? Juntinhos... — disse
deslizando o nariz pelos cabelos do mais velho.

O lúpus suspirou e então deitou-se de lado no colchão, ficando bem de


frente pra Jungkook, os dois em mesma posição, fitando-se nos olhos.

— Quando eu era criança, meus pais trabalhavam na casa da família Min.

— Min de... Min Yoongi? — indagou curioso.

— Sim. Foi assim que conheci Yoongi hyung. O pai dele era um prefeito
que estava concorrendo pra ser reeleito. E ele vinha sendo bem perseguido,
na época. Meu pai era babá de Yoongi. E minha mãe, a motorista da
família.

— Qual a classe dos seus pais? Acho que nunca perguntei...

— Minha mãe é uma alfa. Meu pai, um beta. Enfim, eu e Yoongi éramos
um pouco parecidos. Crianças muito novinhas já se parecem, de modo
geral. Nós dois tínhamos a mesma altura, embora ele fosse mais velho que
eu, dois anos. Mas o corte de cabelo e a cor eram as mesmas. E nós temos
olhinhos pequenos.

— Fofos — Jeon comentou rindo, enquanto fazia um carinho nos cabelos


do namorado, para que este ficasse mais calmo. Ele apenas inspirou com
mais força e cerrou as pálpebras quando outro trovão estrondoso soou, mas
rapidamente se acalmou com os carinhos relaxantes do namorado.

— O negócio é que tentaram sequestrar Yoongi hyung. Os políticos da


oposição. Era um modo de de assustar o Senhor Min, pra que ele não
concorresse às eleições. Eu e Yoongi estudávamos na mesma escolinha. E
aí... você já deve imaginar.

O avermelhado franziu o cenho. Não estava conseguindo imaginar o que o


outro queria dizer. E vendo seu rostinho confuso, Jimin suspirou antes de
responder:

— Me sequestraram, Jungkook. Pensaram que eu fosse o Yoongi.

— Oh, caramba! — exclamou de olhos arregalados, e então deu um abraço


esmagador no namorado. — Hyung, sinto muito... Você deve ter sofrido
tanto, coitadinho... — murmurou amargurado.

— Sim. Foi daí que surgiu meu medo de trovões — respondeu retribuindo
abraço, mas logo em seguida os afastou pra que pudesse olhar em seu rosto
enquanto revelava. — Eu só tinha 5 anos. Foi um trauma muito forte. E os
sequestradores eram muito rudes. Eles puxavam meu bracinho magrelo com
muita força. Me deram apenas pão velho pra comer e água. Só consegui ir
ao banheiro, porque um dos caras não era tão ruim quanto os outros.
Lembro dele dizer "Hey, ele é só uma criança! Vai impedir o pirralho de
mijar?" - e aí os outros se convenceram. Foi horrível, Kook. Eu só chorava
e sentia medo e desespero o tempo todo — disse com os olhinhos
marejados. — Naqueles três dias, chovia muito. Tinha um vasculhante no
alto do quarto onde eles me trancaram. Era bem alto, eu não tinha como
fugir. Mas os trovões eram tudo o que eu ouvia. E eu estava passando por
um nervoso tão extremo, estando sozinho... Eu não consigo ouvir os trovões
e ficar tranquilo, até hoje. Eu só... sinto aquele medo arrasador, toda vez. É
como se eu estivesse lá de novo. Mesmo que eu esteja bem aqui, entende?

— Vem aqui... — Jungkook disse meloso, abraçando-o de forma


extremamente cuidadosa, como se Jimin fosse de porcelana e a qualquer
momento pudesse quebrar. — Estou aqui com você, hyung. Eu te protejo.
Nunca pense que deixarei acontecer qualquer coisa com você...
Jimin se segurou forte pra não derrubar algumas lágrimas, todo
emocionado. Mas respirou fundo e selou os lábios do outro, inalando seu
cheiro cítrico. O cheiro de Jeon sempre o acalmava. Olhar para seu rosto,
também.

— Eu sei... Muito obrigado por isso, amor.

— E como você saiu? — perguntou suavemente.

— Eventualmente eles descobriram que eu não era Yoongi. Não sei o que
eles fariam comigo, mas o Senhor Min pagou o resgate. Ele realmente me
salvou. E semanas depois os sequestradores foram presos. Tudo ficou bem.
Então Yoongi e sua mãe foram enviados pra morar em outro estado, longe
do Senhor Min. Ele não queria pôr a família dele e a minha, em risco. Eu e
minha família fomos junto. Meus pais só pararam de trabalhar, depois que
entrei pro exército. Comecei a ganhar bem, então comprei um restaurante
pra eles. E eles trabalham lá até hoje. Mas fica em Seul. Por isso quase não
os vejo.

— Eu não imaginava que fosse algo tão surreal assim... — o de genes


híbridos comentou. — Fico feliz que tenha me contado, hyung. Muito
mesmo. Agora posso cuidar melhor de você, certo?

— Sim, você pode — Jimin comentou com um sorriso bobo. — Você cuida
de mim e eu de você — disse apertando o nariz alheio, novamente.

Jungkook sorriu e subitamente mudou o assunto, propositalmente, para que


saíssem daquele campo delicado e voltassem à normalidade.

— Hyung, assiste a uma série comigo? É a minha favorita...

— Sobre o que é?

— Conta a história de um garoto medroso que começa a ver fantasmas,


porque ele tem um dom...

— É de terror? Eu não gosto de terror... — confessou sem jeito.

O outro riu de sua carinha assustada.


— Não, medroso... — zombou. — É de comédia. Só dá um leve medinho às
vezes. Mas é difícil. O protagonista é um bobalhão. Você morre de rir com
ele. O paspalho se apaixona pelo fantasma que assombra a casa da avó
dele.

— Isso me parece meio triste... Amar com alguém que você nunca poderá
ficar, nem mesmo tocar...

— Quem disse que eles não podem se tocar? O protagonista é um médium


sinistro. Ele pode tocar os fantasmas, como se fossem uma pessoa viva.
Eles podem transar!

O outro arregalou os olhos, surpreso.

— Eles transam? Um cara vivo e uma alma penada?

— Uhum... — comentou com a carinha maliciosa.

— Isso não é tipo... obscuro?

— Um bocado. Há consequências...

— E aí? — perguntou curioso.

— E aí que aconteceram consequências infernais, por assim dizer...

— Tipo o que? O garoto vai pro inferno ou algo assim?

— Se eu te contar, você vai dizer que é spoiler — respondeu o ruivo com


uma expressão de nojo e desdém. — Tem gente mais chata, que gente que
reclama de spoiler? Como se saber uma ou outra coisa que vai acontecer na
história, substituísse assistir a série toda... — revirou os olhos. — Gente
fresca...

Jimin riu da carinha que o avermelhado fez. Lhe parecia uma história
interessante, já que tinha um enredo peculiar misturado à comédia e ainda
rolava sexo explícito — o tipo favorito de atração para o alfa lúpus. Além
do mais, era importante dar atenção às coisas que o outro gostava. Então
decidiu que assistiria com ele. Seria uma nova paixão para dividirem entre
si.

— Vamos assistir, então. Mas só se você prometer assistir à minha série


favorita também. Ela é sobre um rei muito forte, o primeiro líder ômega de
uma monarquia. Ela é ambientada nos séculos passados. Os ômegas eram
proibidos de um montão de coisas, eram sempre tratados em posição
inferior. E aí esse rei... olha, ele é simplesmente incrível. Totalmente bom
em tudo o que faz, é duro, decidido, forte e ótimo estrategista. E ele precisa
lidar com uma fera assassina, que à cada 666 dias ataca o reino e devora
todo mundo. Então pra provar o quão bom ele era, o rei ômega captura a
fera...

— Oh, isso parece perigoso. Conta mais!

— Essa besta se transforma em gente. Ela é uma pessoa amaldiçoada. E aí


o rei ômega tem uma obsessão estranha por um rei antigo, de três gerações
antes da dele. O Rei Alfa, conhecido como Rei Bondoso.

— E esse alfa é a besta?

— Não posso te contar, você vai ter que assistir pra saber... — instigou. —
Tenho quase certeza que a obsessão do ômega pelo alfa, é por causa de
alguma ligação de lobos.

— Ah... como na lenda das almas gêmeas lupinas, não é?

— Uhum. Mas é só minha teoria. Nada disso foi dito na série.

— Fechado! Primeiro a gente assiste a minha e depois a sua série — e então


capturou o controle da tv, dando play, ao passo que o Park se aconchegava
em seu peito, todo encolhido.

Jimin amava ficar nos braços de seu alfa. Jungkook era grande e tinha o
peitoral forte e macio. Ele se sentia seguro ali. Como se Jeon fosse capaz de
defendê-lo do mundo. O via como alguém confiável pra quem pudesse
mostrar suas fraquezas.
— Vai ter o munch da The Cave, semana que vem. Aquele que te falei,
onde os membros da masmorra vão pra se conhecer fora do cenário...

— Quero ir. Vai me levar? — perguntou manhoso.

— Sim, coisinha fofa — disse deixando um beijinho no peito desnudo do


namorado. — E você vai com sua coleira social. Já escolhi uma, mas não
sei se você vai querer fazer...

— O que é?

— Pensei que a gente poderia fazer um furo igual na orelha, juntos. No


mesmo lado e com o mesmo brinco...

— Mesmo? — o alfa de genes ômegas perguntou maravilhado, levantando


o tronco para fitar o outro. — Eu quero. Quero muito!

— Você gostou da ideia? Então vamos fazer! — respondeu o outro,


contente. — Mas ainda acho pouco... Quero dizer, pra nós dois significa
muito, mas não é algo óbvio pra que os outros vejam. Então pensei em algo
bem clássico... Como um par de anéis — soltou cuidadoso.

Jeon arqueou uma das sobrancelhas, totalmente surpreso e incerto.

— Você quer me dar um anel... Tipo anel de namoro?

— Uhum. Mas o nosso significaria, além da nossa relação amorosa, a nossa


relação de Dominador e submisso...

Jungkook mordeu o lábio inferior, pensativo e analisando o lúpus. Aquilo


era muito. Não muito no sentido que ele ainda não estivesse pronto. Era
muito no sentido de que Jimin realmente gostava dele, tanto quanto dizia. E
isso deixou o ruivinho sem uma reação imediata, o que assustava o mais
velho. Este aguardava ansioso e temeroso pela resposta.

E após o que pareceu uma pequena eternidade, o de cabelos cereja sorriu e


selou os lábios alheios, intensamente.

— E então? — Jimin perguntou quando findaram o beijo.


— Eu quero, hyung. Quero muito — declarou docemente, com um
sorrisinho suave no rosto.

— Ah... — devolveu levando uma mão ao peito, dramaticamente. — Você


ainda vai me matar um dia, sabia?

— Você não pode morrer antes do meu rut, Jimin. Pode aguentando aí. Não
pode morrer, antes de me dar uma coisinha... — provocou malicioso,
deixando implícito sobre a que se referia.

— É isso que você quer, uh? — estalou um tapa na bunda do outro,


apertando-a em seguida, de modo dominante. — Depois que me foder é que
vai me largar?

Jungkook gargalhou e ainda aproveitou pra subir no colo do outro.

— Se toca. Depois que eu te comer, não vou querer outra coisa... Seu
gostoso — disse dando uma reboladinha.

— E isso significa que vai parar de dar pra mim, uh? — provocou dando
outro tapa na bunda durinha.

— Nem de brincadeira — rebateu. — Você fode gostoso demais pra que eu


me recuse à alguma coisa... — e então avançou nos lábios de seu homem,
novamente.

Jimin os girou no colchão, ficando entre as pernas do alfa, sem parar o


beijo, tomando o controle. Mas ao contrário do que Jeon pensava, o Park foi
parando as carícias.

— Que foi? — o ruivo perguntou contrariado. — Vamos transar!

O moreno riu se jogando pra todos os lados. Jeon não tinha mesmo filtro
nenhum. Era como uma criança, que dizia o que dava na telha, na hora que
queria.

— Agora não — disse rindo. — Nós temos uma série inteira pra assistir,
não? Duas, aliás. E confesso que ainda 'tô um pouquinho cansado de
ontem... você me deu um trabalho... — falou em tom malicioso.
— E daí? Eu sento em você...

— Não quero você no controle... você anda muito abusado — disse com os
olhos apertados.

— Então senta em mim!

— Jungkook! — exclamou rindo um bocado. — Espere até o rut. Se eu


estou cansado, vou ter que te deixar comandar. E daí é um passo pra você
tomar gosto pela coisa e querer me dominar também...

— Ah, hyung... eu sinto umas vontades, sabe...

— Não. Nem vem — respondeu resoluto.

— O que que custa me ensinar? — resmungou. — Você era um submisso...

— Não tente me manipular. Já falei que não.

— Mas... você quer dizer nunca? Tipo, uma carta fora do baralho? —
reclamou de cara feia.

Jimin suspirou, já de saco cheio. Jungkook era abusado, se ele provasse um


pouco de dominação, acabariam seus limites. Os dois provavelmente
acabariam se tornando um casal de switchers, as coisas ficariam confusas.

E Jimin realmente não curtia se submeter. Mas talvez pensasse no assunto.


Em ensiná-lo, um dia. Mas do seu jeito e com suas condições.

— Um dia, quem sabe... Mas não na nossa relação — estabeleceu. —


Apenas em uma sessão. Porque eu sou seu dominador e sempre serei. Você
não me domina. Eu domino você. Okay? É assim que gosto da nossa
dinâmica. E à qualquer momento que você se sentir insatisfeito, deve me
falar...

— Eu nunca pensaria em te dominar na relação, hyung. Nem sei como fazer


isso. Não tenho jeito, eu acho. Nem vontade. Mas no sexo... ando tendo
certas fantasias, de umas semanas pra cá... — comentou em tom maldoso e
bem sensual, a voz rouquinha.
— Então um dia eu ensino... num futuro bem, beeeem distante — prometeu
rindo. — Agora me dê o controle.

E então passaram o resto da noite vendo os episódios da série do médium e


do fantasma. Comeram e acabaram ficando tão cheios que nem rolou nada.
Dormiram abraçados, sentindo o cheiro um do outro. E Jimin pôde notar o
cheiro alfa do Jeon, ficando suavemente mais forte... O rut estava próximo.
E justo agora que Jungkook andava revelando desejos de trocar de lado. De
querer experimentar dominá-lo. Ah, Park Jimin estava fodido...

No melhor sentido da palavra.

Sim, os enredos das séries favoritas que os Jikook citaram, são de duas
fics minhas. Assombrado e 666, A BESTA. Sou sutil como um coice de
mula.

ATENÇÃOZONA aqui, gente. Vi que muitos de vcs ficaram meio


confusos no capítulo passado, com a capacidade olfativa aguçada da
JangMi.Todas as personagens no ABO são híbridas de humano e lobo, ou
seja, eles possuem genes animais. É algo presente em grande parte do reino
animal, o olfato aguçado. Lobos o tem, assim como cachorros.

Quem tá aqui, é porque AMA um Jikook!FLEX, certo??? Então


corram lá no Projeto JikookFLEXsquad - um perfil que criei com
outras amigas autoras, pra postar RESENHAS LITERÁRIAS de fics
Jikook Flex! Como os autores do wattpad raramente indicam se a fic é
flex ou não, nós vamos resenhar essas fanfics por lá! Além disso, cada
membro da staff tem sua própria listinha de indicações fics jikook!flex
no perfil - e futuramente iremos fazer uma lista única de fics jk!bottom
e uma de jk!top não esteriotipado, micão nem abusivo e,
principalmente BEM ESCRITOS kkkkk Além disso, vocês tbm
poderão mandar indicações de fics FLEX pra gente resenhar, incluindo
as suas <3 é uma ótima oportunidade de divulgação, além de poder
receber críticas construtivas que apontarão onde vc está acertando e
onde vem errando, pra que possa sempre melhorar - mas relaxem, pq a
gente pega leve! uhauahuauhaauh'
Sigam também o perfil do FLEX SQUAD no twitter! Ele não será
voltado pra indicações de fics, mas é uma fanbase Jikook, com fotinhos
e vídeos diários do nosso casalzinho de Busan <3 O user do tt é o
mesmo do wttpd: @ JikookFLEXsquad (exatamente como tá escrito, as
mesmas letras maiúsculas e minúsculas). Nós vemos por lá?

E AH, VIEWS EM HEARTBEAT!!!!!!!!

https://youtu.be/aKSxbt-O6TA
25| destroyer
ESCRITO POR HowUdare

Celular do Jungkook:

me ajuda! eu tô pirando! |

Hobi hyung fofinho :

| O que houve?

Hobi hyung ligando...

Chamada rejeitada

não me liga, idiota! ele vai ouvir... |

| A casa tem dois andares, porra

não estamos na casa do Jimin, estamos no meu apartamento |

| Ahh... e aí?

| conta logo, que nervoso, seu bosta

eu usei a chave que peguei com vc, pra vir aqui. e descobri que o jimin
não arrumou nadinha, hyung! nada! |

| Ah, JK. Não briga com o cara.


| Ele deve tá sem dinheiro, tá desempregado e ainda sustentando um
pequeno cracken, no caso, vc.

calado |

agora presta atenção |

eu confrontei ele. e aí falei que não queria que ele consertasse nada, que
a única coisinha que queria, era que ele parasse de mentir pra mim |

| Que vergonha, alfa dominator pego no pulo pela segunda vez

| Pq a 1a foi na the cave hahaha

| É só por isso que vc tá surtando, ou ele fez algo errado?

| Se ele tiver machucado o bebê, eu pego ele

pior!!! ele disse que tava escondendo isso, pq não queria que eu fosse
embora!!!!! |

ele não queria que eu deixasse de morar com ele, hyung!!! |

| Jungkook... Como diabos isso parece pior pra você, garoto?

| Vai à merda. Boa noite.

esperaaaaaaaa!!! tem mais! |

| Sem tempo, irmão 😴😴😴😴

hoseok, isso é sério! |

no meio do discurso pra me convencer, ele disse: |

"adoro vc, venero vc, eu te a..." |


ELE QUASE DISSE A PALAVRA COM A!!!!!!!! |

| PUTA QUE PARIU CARALHO MENTIRA???????????

viu como é sério? seu otário |

| E aí e aí e aí?????????

ele não chegou a dizer, só arregalou os olhos e se calou |

tb não dei mta abertura pra que ele fosse em frente, pq me assustei pra
um caralho |

e isso ficou bem explícito quando dei uns 20 passos pra trás... 😢 |

ok, foram só 2, mas vc entendeu |

| Ué Vc não gostou disso? quer dizer, vc ñ chegou nesse momento


ainda? Ñ sente o mesmo? Eu podia jurar q vc tava caidaço por ele

e eu tô, hyung :( |

mas vc sabe que estrago tudo em q ponho a mão... |

| Ah, neném, não fica assim, poxa 😩 Dessa vez pode dar certo. O jimin
parece um cara super correto. Já falei que os sentimentos dele por vc
transbordam pelo olhar. Dá pra ver à distância, que ele é louco por vc,
sabia?

mas eu tenho tanto medo de estragar tudo... TANTO! |

| Ok. Então chegamos à conclusão que vc o ama.

| Certo?
amo, eu acho... |

| JUNGKOOK!

não briga comigo, cuzão! fiquei nervoso, poxa >.< |

ai eu amo sim |

como não amar um cara lindo, fofo, cheiroso, que me trata como um
príncipe e é simplesmente a melhor foda de toda a minha vida
miserável???? |

eu amo, hyung. amo tanto que fico assustado... ;-; |

| Então pare de se auto-sabotar! Poxa, o cara falou que te ama...

| Ok, ele QUASE falou q te ama;

| Se vc não tivesse arregalado esses zoião que vc tem, e feito a cara de


desespero que tenho certeza que fez, talvez ele tivesse ido em frente.

| Mas nunca iremos adivinhar.

| Então faz o seguinte: tenta dar mais abertura pra que ele se sinta
confortável o suficiente pra se declarar.

| Pelo que yoongi fala, o Jimin tem o coração bem machucadinho 😔

| Então quando ele fizer... não dá uma de maluco, ok?

| Medo, todos nós temos. Mas entrar numa relação é isso. É entrar de
cabeça, mesmo sabendo que pode bater com ela no chão e abrir a cuca.

eu sei, hyung. não tenho medo de me jogar nisso. |

aliás, tô me jogando nisso faz é tempo ¬¬ |


mas nunca pensei que ele fosse corresponder assim |

e se ele tiver correspondendo mesmo, não sei, eu vo ficar doido, eu vo


fazer besteira, eu sempre faço merda qnd tô feliz e... |

| PARA!

| SÉRIO, PARA.

| VAI DAR TUDO CERTO.

| SEM PARANOIA.

| FAZ UMA MEDITAÇÃO!

😠😠😠 |

| É sério, JK. Sofrer por antecipação só dá problema, pq é assim q vc


mete os pés pelas mãos. Fica frio!

tá... vou tentar 😞 |

| Mais tarde passo lá na loja pra te ver e te dar um abraço, seu bebêzão

vc vai é roubar comida, q eu sei... sonso! |

| 😂😂😂 Te amo e até amanhã ❤

— Ele nem nega, esse cara de pau... — resmungou.


Jungkook bloqueou a tela do aparelho e suspirou. Apanhou a caneca de leite
quente, que esfriava em cima da mesinha de canto ao lado do sofá, para
então bebericar o conteúdo agora morno.

"Eu vou enlouquecer!" — gritou em sua mente.

Fazia um par de dias que havia voltado pro apartamento. E em nenhum


segundo sua cabeça parou de rebobinar a cena na casa de Jimin, onde o
mais velho quase disse que o amava. E se fosse verdade? Jungkook estava
ficando surtadinho.

Quando Jimin tentou ir pra casa naquela tarde, o ruivo não sabia como dizer
que o queria ali. Como explicar que havia batido o pé pra que morassem
separados, mas ao mesmo tempo ter a cara de pau de dizer que o queria ali,
junto a ele, em sua casinha simples? Que já tinha acostumado tanto com a
presença do lúpus, que dormir sozinho apertaria seu coração?

Sem chances de explicar aquilo sem parecer um paspalho. Em bons


momentos Jeon já se enrolava todo numa explicação, quem dirá se
contradizendo. Jeon estava num ponto que nem ele mesmo se entendia
mais. Park Jimin bagunçava sua cabeça, que já era um bocado
desorganizada, é claro.

O engraçado era que o rapaz não conseguia dormir. Tinha convencido Jimin
a dormir lá outra vez — usando sexo como artimanha — mas o lúpus já
havia pego no sono há horas, enquanto o mais novo continuava pilhado.
Não sabia bem se pelos pensamentos sobre a relação dos dois pairando em
sua mente, ou se porque estava próximo ao rut e suas substâncias hormonais
estivessem enlouquecidas.

Então buscou por seu notebook e sentou-se com ele no sofá, decidindo
estudar um pouco mais do universo que vivenciava agora. Já havia se
tornado uma prática. Pelo menos três vezes na semana, Jungkook se pegava
lendo e pesquisando bdsm mais a fundo. Já conhecia um bocado de
acessórios e o jeito certo de usá-los — mas dava mais atenção às descrições
sobre as sensações de cada um deles, afinal, ele é quem estaria na posição
de submissão; ele é quem teria os acessórios sendo utilizados em si, de
modo que precisava saber melhor sobre isso, do que a forma de utilizá-lo
em terceiros — porque Jimin provavelmente não o deixaria dominá-lo, nem
em um milhão de anos. O ruivo estava certo de que a promessa do outro,
sobre trocar as posições numa sessão um dia, haviam sido só para calá-lo, já
que o Jeon podia ser bem irritante quando cismava com algo.

Tinha clicado em um artigo sobre as peculiaridades de uma marca no bdsm.


Mas acabou não lendo, pois dormiu com o notebook ligado no sofá, todo
contorcido numa posição estranha de bruços. Só acordou com o peso de um
certo alfa em cima de si, que mordiscava sua nuca e sussurrava:

"Acorda, bebê do hyung..."

Jeon deu um sorriso gigante antes mesmo de abrir os olhos.

— Não acredito que me deixou dormir sozinho...— o Park murmurou


manhoso.

— Desculpa, fiquei sem sono...— o acerejado respondeu fazendo carinha


de coitado e se virando pra abraçar o namorado. — Bom dia...— e sentindo
o cheirinho de sabonete quando enfiou o rosto na curvatura de seu pescoço,
sussurrou: — Você já tomou banho, humpf... agora não posso te arrastar pro
chuveiro comigo — terminou com um bico.

— É uma ideia tentadora, mas preciso ir em casa me arrumar. Tenho uma


entrevista importante hoje — respondeu o moreno.

— Oh. Boa sorte, hyung. A vida de pobre não é pra você. Eu nasci pra ser
um Baby Boy, e você o meu Sugar Daddy...

O Park soltou uma gargalhada gostosa e encheu o rostinho inchado do outro


de beijinhos.

— Então por que você vive tentando escapulir dos meus mimos? —
perguntou curioso.

— Por que só quero ser mimado, se isso não te deixar morrendo de fome
depois — fez uma expressão exasperada, como se o outro lhe questionasse
o óbvio. — Mas com você trabalhando, é bom ir preparando a carteira.
Quero tudo o que mereço, tá ok? E eu mereço muita coisa... — terminou
com o nariz empinado.

O alfa lúpus precisou abafar a risada no peito do outro, pois seu corpo não
atendia muito bem aos comandos de equilíbrio, ao iniciar uma gargalhada.
Costumava ser um tanto escandaloso nesses momentos, sua postura quase
se esvaía.

— Certo. O bebê vai ganhar muitos mimos. O que você quiser, meu amor
— disse todo apaixonadinho. — Sabe que sou um bobão por você, né? Leve
todo o meu dinheiro.

— É melhor que seja mesmo... — murmurou com um risinho de lado. —


Não posso ser otário sozinho. — Eu estava estudando um pouco, antes de
pegar no sono... Li no blog de uma submissa, que uma relação de baby e
sugar daddy, não pode ser considerada bdsm... — disse confuso.

— Essa é a opinião dela — respondeu o experiente dominador. — A minha


é diferente. Eu vejo que numa relação de baby e sugar daddy puramente
econômica, o daddy está numa posição de dominação sobre a outra pessoa.
Não é exatamente uma dominação física ou psicológica, é econômica, se
trata de dinheiro. O baby não é obrigado a obedecê-lo, ele não tem prazer
em se pôr nessa posição de submissão, mas ele ainda assim fica sob o
comando financeiro do sugar daddy. Se ele não fizer o possível pra agradar
o daddy, não ganha suas recompensas e nem os seus mimos. Então, de um
ponto de vista mais técnico, pode ser considerado uma relação D/s, sim.
Mas na prática, nem tanto. É como a coisa dos brats. Muitos bdsmers mais
tradicionalistas acreditam que só possa existir o submisso tradicional e
obediente; que um brat, um sam ou um break me, não poderiam ser
considerados sub's. Eu penso diferente. Se eles estão todos numa posição de
submissão em relação a uma outra pessoa que os domina, esta é uma
relação D/s, sim. Mas é claro, cada um pensa como quiser... — E sua
expressão tinha certo ar de desprezo, como se não tivesse muita paciência
pra gente discordando dele.

E isso não passou batido aos olhos do de cabelos cereja. Deu um risinho
ladino e capturou a orelha de seu tamer entre os dentes, mordiscando
brincalhão, mais como um carinho e não com o objetivo de excitá-lo.
— Você fica um tesão quando age assim, todo superior, sabia? —
murmurou.

O moreno então encheu o rosto do namorado de beijos estalados, até


finalmente sair da casa, deixando Jeon sozinho.

[...]

— Ah, Namjoon, fala sério! — o avermelhado exclamou, exasperado.

— Fala baixo, pelo amor dos santinhos da lua! — o colega de trabalho


respondeu, tendo as bochechas um tanto coradas, enquanto olhava ao redor.

— Mas não tem ninguém aqui... — o ruivo sussurrou.

— Não importa. É da minha vida sexual que estamos falando...

— Eu não tinha previsto isso, você sabe — comentou meio desconfortável.


— Você e Jin hyung tinham tudo pra dar certo...

— Tínhamos, eu sei — bufou tristonho. — Mas... nossas personalidades


sexuais não batem. Nossos lobos praticamente tem repulsa um do outro —
confessou o beta.

— Você sabe que nós não temos exatamente um lobo interior, certo? É mais
como um instinto, não uma segunda personalidade...

— Todo mundo que frequentou, ao menos, o ensino fundamental, sabe


disso — o outro rebateu meio impaciente.

— Por que vocês não tentam algo pra... Apimentar? Pode funcionar. Tipo
umas algemas, umas roupas de látex, Jin hyung sentando em cima de você
e te enchendo de tapa na cara, até você implorar pra ele...

— Garoto! Muita informação. Não quero mais conversar com você. Vou lá
atrás conferir a lista de reposição de produtos. — E o beta foi para os
fundos da loja encarando Jungkook como se este fosse totalmente louco.
— Hmn... baunilhão — o alfa resmungou, apoiando o queixo na mão
magra e o cotovelo no balcão. E então começou a murmurar sozinho: — É
por isso que eu acho ele feio. De que adianta uma v line bem marcada e um
corpão todo gostoso, se age como um virjão? Fala sério...

Mas talvez tenha murmurado alto demais, já que Namjoon parou e cruzou
os braços no portal, encarando o Jeon com uma cara nada boa.

— Sabe, Jungkook, as pessoas não estão aí pra agradar seu senso estético.

— Eu sei! — exclamou revoltado. — Beleza é questão de ponto de vista,


está nos olhos de quem vê. E as pessoas que te veem, querem conversar
sobre peidos e arrotos e séries de tv, não sobre um livro super cult de
quatrocentos anos atrás — disse revirando os olhos. — Então você é feio,
porque é um chatão do caralho. Falou? Então falou. Tchau e benção, vai lá
fazer teu serviço...

Namjoon bufou e, de fato, fez o que o outro dizia. Não era de hoje que o
garoto dizia que ele era péssimo conversador. Não que o Jeon pensasse que
ele deveria mudar o jeito dele, afinal, aquele era o jeito dele, no fim das
contas. Era quem ele era. Mas ao menos deveria filtrar os interesses das
pessoas com quem conversava, e não ficar falando sobre assuntos
desinteressantes ao próximo. Falar era ótimo, mas saber ouvir era essencial.

Aquele começo de noite estava especialmente frio. Era primavera, mas uma
leve garoa caía lá fora, e o ar-condicionado da loja de conveniência estava o
fazendo tremer um bocado.

— Só queria estar em casa com meus pézinhos dentro das pantufinhas de


coelho, enquanto assisto Jimin hyung fazer comida pra encher meu bucho...
— sussurrou sozinho.

Seu suspiro de coitadinho foi cortado, quando um casal entrou rindo e


conversando animadamente na lojinha — um beta e um alfa, ambos
machos. Sentaram-se numa das mesinhas lá dentro — já que a garoa os
impedia de sentarem nas mesinhas lá fora — e começaram a beber sem
parar.
Mas durante as duas horas em que passou observando os namorados,
Jungkook sentiu-se triste. Via a marca exposta no pescoço do beta. O alfa
provavelmente também tinha uma, mas seu casaco de gola rulê impedia que
pudesse visualizar a pele da região. E isso era apenas um lembrete de que
ele e Jimin jamais poderiam ter aquilo. Uma marca. A mordida poderia ser
letal, quando não injetado o antídoto logo em seguida. E depois disso, elas
desapareciam, muito provavelmente, sendo rejeitadas por seus corpos.

Então a animação que sentira pela quase declaração de amor do lúpus, dias
antes, agora parecia pouca coisa. Não era realmente uma declaração, afinal.
E uma marca entre os dois, que conectaria suas mentes, também era
impossível.

Por que diabos não havia se apaixonado por um beta? Por que infernos não
conseguia se atrair por ômegas? Aquilo era um saco.

Ao fim do expediente, Jungkook estava todo caidinho. E pra piorar, Hoseok


havia mandando mensagem dizendo que precisava encontrar Yoongi, pois
estavam no meio de uma crise com Taehyung; e seu namorado não dava
nenhum sinal de vida desde que saíra de casa.

No caminho pro apartamento, o garoto fez algo que não fazia há algum
tempo: roeu as unhas. Jimin reclamaria um bocado, mas em parte era culpa
dele, veja só.

Perdido em pensamentos, sequer notou um grupinho de sujeitos mal


encarados que bebiam do lado de fora do bar da esquina, aproveitando que
a chuva havia dado uma trégua. Só se deu conta, quando, após passar pelo
pequeno grupo, ouviu claramente um deles sussurrar:

— Olha lá, a bizarrice ambulante... Um alfa com cheiro ômega... — e a


voz totalmente maldosa pertencia a um alfa mais menos de sua altura, com
cabelos platinados.

— Cara, ele deve ser marcado por um ômega, para de implicância... — viu
uma alfa fêmea de cabelos vermelhos dizer.
— Ah, fala sério, Gina! Você não vê esse esquisitão andando de um lado
pro outro com aquele alfa lúpus baixinho? Não seja inocente. São duas
aberrações, isso que são... — rebateu novamente o platinado.

E aí Jungkook não se aguentou de raiva. Deu meia volta e, a passos rápidos


e furiosos, prostrou-se fronte ao loiro, quase grudando seus narizes, os
cheiros alfas já se espalhando no ar, marcando território.

— 'Tá com algum problema comigo, irmão? — o acerejado rosnou. — A


gente resolve agora...

Sendo chamado pra briga, o outro avançou pra ele, mas a alfa ruiva e um
beta macho careca seguraram o amigo, puxando-o pra trás.

— Qual é, cara? Fica numa boa. A gente veio curtir e não arrumar confusão
na rua. Deixa o cara — a mulher falou.

O platinado tentou se debater, mas finalmente se deu por vencido, sob o


olhar ameaçador do Jeon.

— Não hoje, homo... Não hoje... — provocou, dando pra trás.

O acerejado sacudiu a cabeça em negativa e, lançando uma risada sem


humor e debochada, disse em alto e bom som:

— Babaca...

E foi embora, continuando seu caminho.

Ao chegar em sua calçada, notou as luzes frontais da casa do Park


apagadas. Significava que ele não estava em casa. O garoto começou a
entrar num misto de irritação e preocupação. Então entrou diretamente em
seu prédio.

Mas ao abrir a porta do próprio apartamento, deu de cara com algo que lhe
parecia a Disneylândia: havia um mar de sacolas e caixas de incontáveis
marcas, espalhadas em sua pequenina sala de estar — sem contar o grande
sofá preto aveludado em formato de "L", que ele só havia visto em lojas de
mobília caríssimas. De quem diabos era aquele estofado? Nunca teve
dinheiro pra comprar um daqueles.

E no meio do cômodo, havia um Jimin sorridente e cheiroso, usando uma


bermuda e camiseta casuais, com os fios negros molhados pós-banho, e
braços abertos.

Passando os olhos rapidamente pelo lugar, Jungkook avistou uma pilha alta
de cases de jogos em cima da estante abaixo da tv. Imediatamente arregalou
os olhos e correu até lá, ignorando Jimin — mas por uma boa causa;
precisava conferir se, de fato, haviam jogos novos ali.

E tinham.

Uns vinte.

— Jimin, Jimin, você é doido, doido, doido... — sussurrou desacreditado,


conferindo jogo por jogo. — Isso deve ter custado uma fortuna! Cada jogo
desses custa cem mil wons!

O Park então o abraçou por trás, sorrindo.

— Alguém disse que quando eu tivesse um emprego, poderia mimar meu


bebê o quanto quisesse... — sussurrou sugestivo.

O avermelhado arregalou os olhos e abriu a boca, surpreso.

— Oh, minha nossa. Minha nossa, cacete... — murmurou olhando ao redor,


deslumbrado; E então pegou o tamer no colo, subitamente. —
Yeeeeeeeeeeeeeeey! Parabéns, hyung! Parabéns, parabéns, parabéns!

— Garoto, me põe no chão — o lúpus disse sacudindo as perninhas no ar,


enquanto ria e tentava se segurar no tronco do outro, que surrupiava-lhe
selinhos.

— Me desculpe, coronel, mas terei que desobedecer — disse com um


sorrisão aberto, os olhinhos em formato de meia-lua.
Jimin não conseguia descer, então ficou distribuindo soquinhos brincalhões
no peitoral ridiculamente duro do outro alfa. Ah, malditos alfas. Por que
sempre tão fortes?

— Comprei um monte de roupinhas despojadas de adolescente gótico pra


você, do jeitinho que você gosta. E roupas de cama. E fronhas. E cortinas. E
um celular novo. E óculos de sol. E produtos de cabelo e perfumes
importados.

— Hyung! — o outro exclamou chocado, ainda com o namorado no colo,


que o fitava com olhos brilhantes.

— Nem o triplo de tudo isso, fazem jus ao que eu sinto por você, Kook-ah...
— declarou manso, encarando o acerejado no fundo dos olhos.

Jungkook lentamente o soltou, sem desconectar os olhares. De frente um


pro outro, segurou delicadamente o rosto anguloso do moreno em suas
palmas, e iniciou um beijo lento e intenso.

Sorrateiramente, o Park enfiou a mão no bolso da própria bermuda, tirando


a caixinha de veludo azul-marinho dali e enfiando a mão entre os dois, até
conseguir enfiá-la entre seus rostos, ao separar-se um tantinho do
namorado, interrompendo o beijo.

Os olhinhos do alfa mais novo brilharam e um sorriso infantil surgiu no


rosto bonito, capturando a caixinha da mão do outro. Ao abri-la, deparou-se
com um par de anéis prateados. Ambos tinham algo como um pequeno fio
cinza envolto e uma pequenina pedra brilhante.

— Esse tipo de anel se chama aliança cigana — o Park contou com um


sorriso doce. — Elas tem esse fio de ouro em volta. Ou pode ser de
qualquer material.

— Isso é um diamante? — o alfa indagou cutucando a pedrinha brilhosa.

— Uhum...
— Eu tenho um namorado e dominador rico e com um bom emprego, que
me dá jóias de presente, num dia de semana... — disse com uma falsa
expressão pensativa. — Acho que posso me acostumar com isso, sabe...

Jimin riu, cerrando as pálpebras pequenas tão forte e jogando a cabeça pra
trás, que ninguém poderia negar o quanto estava genuinamente feliz. E
assim Jungkook se pegou hipnotizado por aquele sorriso, aquele rosto, o
som daquela gargalhada. Antes que pudesse pensar muito, disparou em voz
baixa e sussurrada:

— Eu amo quando você fica feliz...

Aos poucos, o ex-militar foi cessando a risada, até encarar Jeon bem de
frente, face à face. Deslizou lentamente a língua entre os lábios grossos,
mirando o outro com a intensidade de mil sóis em brasa.

— Essa não é só uma jóia, Kook-ah... Não é um mero adorno. Esse é o


símbolo da nossa relação, nos dois âmbitos dela. Como dominador e
submisso. E como um casal de namorados — declarou deslizando o dedão
no rosto alheio, que o encarava atento. — Você é meu e eu sou seu. Nós nos
pertencemos de todas as formas que um casal possa se pertencer, e também
nos pertencemos dentro de um jogo psicológico fetichista, num tipo de
relação onde praticamos a dominação e submissão em busca de prazer e
satisfações mútuas, tanto sexuais quanto mentais. Você me serve e, em troca
disso, te dou tudo o que você exigir de mim. De corpo e alma.

Jeon mordeu o lábio fino, segurando a respiração. Aquilo tudo era tão
intenso. Do jeito que só via em filmes, livros e histórias antigas. Nunca
achou que esse tipo de coisa fosse verdadeira, no mundo real. Ninguém
amava tão intensamente assim e tinha a sorte de ser retribuído...

Esperava que Jimin dissesse que o amava logo. Do contrário, ele mesmo
explodiria nas próprias emoções e acabaria confessando tudo. Que o que
sentia pelo outro, era amor.

Mas ah, se tinha uma área onde Jeon Jungkook definitivamente se recusava
a ser submisso, era no amor. Não queria estar naquela posição: a de ser a
pessoa que ama mais. O elo mais frágil. Aquele que se declara primeiro.
Não, não. Precisava se segurar, até que o outro lhe dissesse as três
palavrinhas primeiro.

O mais jovem sorriu e pegou a aliança mais gordinha — porque claramente


o dedo de Jimin era mais gordinho que o seu —, vendo a frase "Você é o
meu amor" disposta em inglês, dentro do fio cinza. Sorriu com aquilo e a
colocou no dedo no namorado.

O moreno, por sua vez, encaixou a aliança ligeiramente mais fina no dedo
do acerejado e beijou a peça sob seu dedo, carinhosamente, entrelaçando
seus dedos e as mãos.

— Se eu sorrir mais um pouquinho, acho que vou rasgar minha cara... — o


lúpus sussurrou.

— Humn... talvez você possa rasgar outra coisa... — Jeon murmurou


malicioso. E então correu em direção ao quarto, sorrindo pro moreno de
forma marota por cima do ombro.

Dessa vez, quebraram o estrado da cama.

Isso que se pode chamar de amor destruidor.

Gimme the votinho

#JungkookBebêDoJimin
26| hellish munch

ESCRITO POR howudare

— O que você acha desse? — Jimin indagou segurando o pequeno brinco


prateado na altura da orelha, posicionando-se em frente ao espelho.

Jungkook estava logo atrás, observando atentamente o reflexo do Park e o


seu próprio.

— Eu gosto — declarou satisfeito, pegando o outro par do brinco e o


segurando na orelha, como o Park também fazia. — Mas hyung, e se
atrapalhar na cicatrização? Os furos ainda não estão cem por cento, é muito
recente...

— Acho que podemos arriscar — o moreno disse, já retirando o pequeno


brinco de bolinha que perfurava seu lóbulo, o qual havia sido utilizado
originalmente no furo, dias atrás.

Não deveriam estar mexendo na jóia agora, mas ah... Iriam para o munch da
The Cave, num dos melhores restaurantes da cidade. Todo mundo estaria lá.
E o lúpus queria deixar bem visível o quão avançada era sua relação com
seu submisso, a ponto de usarem anéis de casal e brincos combinando.

Até porque, Park Jimin não era idiota. Ele, mais do que ninguém, estava
ciente do quão atraente Jeon Jungkook era. De como seu cheiro era
formidável, de como suas expressões meigas e, quase sempre, fofinhas
como a de uma criança inocente, chamariam muito a atenção de outros
dominantes. Mas Jungkook era seu. E naquela relação, Jimin seria capaz de
sair na dentada com outros, como um lobo, para proteger o que lhe
pertencia.

Então pegou a pecinha brilhante, que consistia numa pequena e grossa


argolinha de aço inoxidável, onde finos e leves fios de prata balançavam
como franjinhas, e o encaixou na orelha. Ajudou o ruivo a trocar seu
acessório também e então os dois estavam prontos para o almoço com os
membros da masmorra.

Exceto pelos pés de Jungkook. O garoto quase saiu de casa com as pantufas
pretas de coelhinho. O par havia simplesmente se tornado um uniforme. O
acerejado não usava mais chinelos ou meias dentro de casa. Apenas as
pantufas que ganhara de presente de natal do lúpus. Toda vez que olhava
pra elas, lembrava-se de Jimin. E mesmo quando o moreno estava ao seu
lado, aquilo lhe dava uma sensação gostosa. Porque Park Jimin estava por
toda a parte, assim como ele estava por toda a parte da vida do outro.

— Gostou das botas? Estão confortáveis? — Jimin indagou observando o


namorado sentado no banco do motorista em seu carro preto lustroso.

Havia dado um par de botas de couro preto para Jungkook, porque além de
bonitas, pareciam muito gostosas de calçar. Junto a isso, o de cabelos cereja
usava uma camiseta branca de botões e mangas compridas, deixadas
desabotoadas intencionalmente, com parte da barra pra fora da calça preta
apertada, e a outra pra dentro, cobrindo o tronco de modo propositalmente
desleixado, casual.

Os cabelos estavam penteados diferente naquele dia. A franja comprida


estava partida ao meio; sua aparência estava simples e impecável, em
conjunto com o brinco que balançava seus fiozinhos prateados no ar.

Ainda que estivessem usando anéis e brincos combinando, como itens de


casal e claramente significativos sobre sua relação, Jimin enfeitou o
pescoço do ruivo com um fino cordão preto de veludo, com ilhóses
redondos por toda a extensão. Não passava de uma tira e não havia um
pingente nele. Aquilo era suficiente para que Jeon fosse facilmente
identificado como um sub, para os membros da Masmorra.

Os olhos grandes e puxados do mais novo estavam esfumados com uma


sombra terrosa de fundo vermelho, combinando com os fios cor de cereja,
levemente desbotados. Um tesão. E como desfecho, seu cheiro alfa estava
extremamente forte, Jimin quase sentia-se tonto. Seus feromônios
agitavam-se em resposta.
O lúpus, por sua vez, estava todo de preto, mas incrivelmente seu visual não
parecia pesado. Usava um par de botas e a calça similares a Jungkook, mas
sua camisa de botões era preta, perfeitamente abotoada nas mangas e
peitoral, a barra enfiada por dentro do cós; Os ombros eram enfeitados com
rebites de metal, dando um ar gracioso e simplista à peça.

Seus cabelos negros macios haviam sido recentemente cortados, estando


agora mais curtos e desbotados, deixando o Park com uma aparência mais
suave, os fios balançando com o vento que entrava pela janela. Vários anéis
prateados adornavam os dedos grossos, como habitualmente, e esses eram
seus únicos acessórios, além de um fino cordão de prata no pescoço pálido.

Os olhos pequenos estavam delicadamente maquiados com um esfumado


marrom escuro, deixando seu olhar mais profundo, mas nada pesado
demais, uma vez que ainda era dia.

— Conseguiu escolher seu nickname pra usar no nosso meio? — Jimin


indagou levemente curioso.

— Sim... Pensei em algo como Cherry Pie, mas preciso colocar a posição
no nome, certo? — o Park confirmou com um murmúrio. — Então, acho
que gosto de CherrySub.

— Ficou perfeito pra você — comentou o moreno, deslizando


despreocupadamente a canhota na coxa dura do namorado, enquanto este
dirigia. — Então, deixe-me te adiantar algumas questões de etiqueta —
aprumou-se no banco. — Não faça perguntas pessoais demais à ninguém.
Não pergunte aonde a pessoa trabalha, com o que trabalha, onde mora ou o
nome dela. Lá dentro, ela se chama como apresentar seu nickname. E ah,
muito cuidado pra não encostar em ninguém sem permissão. Coisas simples
como encostar num braço, podem ser consideradas rudes. Também não fale
muito alto. Se quiser se aproximar de alguém pra conversar, faça um elogio
que não seja muito invasivo e se apresente imediatamente após isso,
deixando claro o motivo pelo qual você está puxando conversa, e também
que você já tem um dominador.

— Algo tipo... "Oh, sua coleira é bonita. Sou um submisso também, pode
me chamar de Cherry. É a primeira vez que estou vindo a um munch com
meu dominador..." ?

— Exatamente assim. E daí você começa a conversa. Puxa perguntas. Mas


tenta sempre voltar suas questões ao bdsm, afinal, é isso que todos nós ali
teremos em comum. Não tenha medo de dizer que é um iniciante e que esta
é sua primeira relação. Muita gente vai se dispor pra te ajudar, pra
esclarecer dúvidas e tudo o mais. Claro, pode ser que alguém tente ser
maldoso ou tente se aproveitar. Mas é só você dizer que seu dominador está
ali, que a pessoa vai sossegar. Todo mundo evita confusão nos munch's.

— Mas você vai me deixar sozinho no meio dessa gente?

— Claro que não, amor. Mas você é livre pra rondar o local e ir
conversando com outras pessoas. Afinal, é pra isso que os munch's são
realizados. Pra que os membros que frequentam uma mesma masmorra se
conheçam e tenham uma certa intimidade entre si, como um grupo unido.

— Entendi... Escuta, como devo me referir aos outros dominadores, afinal?


Sei que muitos dominadores exigem serem tratados como "Senhor" por
todo e qualquer submisso, até mesmo por switchers. Você mesmo disse que
eu deveria tratar um dominador com mais respeito, quando a gente se
esbarrou na Play Party por acidente... — E então sorriu com a lembrança.

— Ah, sim... — o moreno sorriu também, meio sem jeito até. — Sabe, eu
costumava ser bem tradicional, antes de você. Achava inadmissível que um
bottom não se dirigisse a mim como "Senhor". E eu conseguia manipular o
submisso a me tratar como seus superior, apenas com o olhar...

— Você é um mala... — Jeon zombou. Recebeu um tapa brincalhão na


coxa.

— E naquele dia você me disse de cara: "Você não é meu dominador, não te
devo respeito." — imitou uma vozinha malcriada. — Juro que senti vontade
de te castigar imediatamente. E depois, quando se recusou a ser meu
submisso e entrou pra dentro do prédio, batendo a porta na minha cara, eu
pirei. É sério, sequer consegui dormir naquela noite... Precisei apelar pra
um calmante.
— Te deixei tão desesperado assim? — perguntou Jeon, divertindo-se com
as confissões do, agora, namorado.

— Aish... Eu não me sentia assim há muito tempo, Jungkook. Não estou


acostumado a ser rejeitado. Claro, alguns submissos fazem um pouco de
charme e ficam um tempo maior que o necessário só flertando e
negociando, antes de realmente aceitar servir um dominador. Mas você....
você me deixou inseguro. Pensei que me recusaria...

— E por que pensou isso, se quando nos encontramos na The Cave você já
sabia que eu tava a fim de você?

— Por vários motivos. O primeiro de todos, foi eu ter feito a burrice de ter
te dado um fora lá em casa. Sabia que tinha te deixado possesso com isso. E
em segundo, por causa de Hoseok. Se ele era seu amigo íntimo, pensei que
sua escolha seria ele como dominador, e não a mim. E quanto mais pensava
naquilo, mais agoniado eu ficava. Cheguei até a sonhar com você me
ignorando algumas vezes... — murmurou com um bico.

Sem segurar muito um risinho e o ego inflado, o de genes ômegas


respondeu:

— Sabe... Eu acho que se você não estivesse chateado com a coisa da sua
exoneração, naquele dia, provavelmente não teria dado em cima de mim.
Talvez tivesse batido a porta na minha cara e me mandado ir comprar o
achocolatado no mercado mesmo... — disse, virando uma esquina.

Jimin deu uma gargalhada gostosa, cobrindo a boca.

— Com certeza não, bebê — disse doce. — Assim que te vi na porta,


comecei a te provocar, pra te testar. Essa coisa de pedir açúcar emprestado é
uma tática velha...

— Mas eu pedi achocolatado! — exclamou, indignado. — Era pra disfarçar,


caramba.

O lúpus sorriu mais ainda.


— Ah, disfarçou bastante, com certeza — debochou e deu de ombros. —
Ainda assim, eu estava triste e você estava bem na minha frente, todo
cheirosinho e arrumado, flertando abertamente e sendo um doce. E quando
você confirmou que gostava de alfas, fiquei todo derretido. Sabe, não te
agarrei pra calar sua boca. Te agarrei porque achei que aquele era um sinal.
Sinceramente, não sei quanto tempo mais aguentaria não investir em você,
garoto. Era tão bonitinho você flertando comigo. Às vezes eu ficava até
arrepiado, se você quer saber. Toda vez que eu voltava do quartel, a
primeira coisa que pensava era: "Caramba, vou ter vários dias pra ir lá na
lojinha de conveniência e flertar com aquele pivetinho gostoso." Mas aí
voltei a raciocinar e um monte de coisas negativas veio na minha cabeça e
acabei te dispensando. Nunca me desculpei apropriadamente por isso, amor.
— Então o ex-coronel o encarou pesaroso. — Me desculpe, fui um idiota...

— Se eu não tivesse desculpado, a gente não estaria aqui, certo? Então


esquece isso. Eu entendo seus motivos, hyung.

O ruivo estacionou o carro na calçada, desligando o motor. Sorriu doce para


Jimin e o puxou para um beijo calmo, com gostinho de hidratante labial de
cereja, que ambos usavam nos lábios. Seus estômagos davam guinadas,
como se borboletas voassem lá dentro.

O Park caminhou até a entrada do restaurante, ao lado de Jungkook, mas


com o braço esquerdo envolto na cintura fina do mais alto, numa clássica
posição territorialista, mostrando aos demais que aquele homem era seu.

Entraram no estabelecimento informando uma palavra-chave à


recepcionista elegante na porta, vestida em um terninho preto. Jimin
explicou ao outro, que a mulher não fazia parte da The Cave, era uma
funcionária do restaurante — este que havia sido alugado especialmente
para o Munch, fechado apenas para os convidados, que ganhavam o acesso
na entrada, usando a palavra secreta informada no e-mail de convite
enviado por Kiko, aos membros da Masmorra.

O lúpus também contou que, provavelmente, a recepcionista pensava que


todas aquelas pessoas faziam parte de um clube de tênis ou algo assim, nada
muito peculiar como práticas fetichistas e sexuais extremas incomuns.
A primeira impressão de Jungkook, foi de que o evento parecia mais como
um almoço de família — uma família muito grande —, ou um churrasco de
domingo, talvez um aniversário. Era bastante comum e ninguém ali estava
vestido à caráter, em roupas fetichistas ou escandalosas demais. Era tudo
muito simples e despojado, assim como ele e o Park estavam vestidos.
Sentiu-se então mais confortável e menos nervoso.

— Ora, ora... Finalmente estou conhecendo o submisso que roubou o


coração do AlphaDome... — uma mulher de cabelos negros compridos
comprimentou. Jeon demorou uma pá de segundos para reconhecê-la: era a
alfa dominatrix, Kiko Watannabe, dona da The Cave. A mesma que o Jeon
havia assistido brincar com sua submissa, também alfa, dentro de uma das
salas de vidro, em sua primeira visita à Masmorra.

— Olá — respondeu o brat, acanhado. — É um prazer.

De perto, a domme era ainda mais bonita. Os olhos afiados e intensos


demonstravam forte dominância. O garoto sentiu até um arrepio. O olhar
dela era intenso demais, assim como o do Park e o de Min Yoongi.

— Igualmente. Vocês estão muito bem vestidos. Esses brincos combinando,


são o que estou pensando? — perguntou fitando o casal, com simpatia.

— Sim — Jimin respondeu com um sorrisinho malandro. E então levantou


a mão, mostrando o anel em seu dedo. O olhar de Kiko alternou-se entre as
mãos de ambos, dando um sorriso aberto.

— Mas este é um anel de noivado, ou...

Jungkook arregalou os olhos um bocado, as bochechas ficando


extremamente vermelhas. Levou a mão à nuca, desconsertado, enquanto
Jimin ria mais envergonhado que ele, tentando cobrir o rosto com as mãos
pequenas.

— Não seja assim, Kiko... — disse o ex-militar, rindo. — O anel e o brinco,


representam nossa relação D/s, assim como representam nossa relação
romântica. Mas não chegamos nesse estágio ainda. Estamos namorando.
Não precisamos de tanta pressa assim... — E então deslizou a canhota nas
costas do mais novo, suavemente acalmando-o.

— Bem... — ela riu, em tom brincalhão. — Agora entendo porque Jimin se


recusava a trabalhar na The Cave, como Dominator profissional. Você é
realmente uma graça... Qual é o seu pseudônimo, kokoro?

Vendo a expressão meio perdida do ruivo, Jimin explicou:

— Kokoro significa coração em japonês, a língua natal de Kiko.

— Oh... — o rapaz assimilou. — Escolhi ser chamado de Cherry, senhora.


Cherry Sub.

— Ah, muito bom. Combina com você, totalmente — sacudiu a cabeça. —


E é muito educado também, posso ver. Fico feliz que Jimin não tenha
desperdiçado minhas propostas de emprego à toa...

Antes mesmo de receber o olhar indagador de Jeon, o Park explicou-se:

— Kiko me convidou para trabalhar como dominador em sessões


particulares, na The Cave. Não envolveria sexo, só sessões de dominação
puras. Mas nós dois já estávamos juntos, então isso não era algo que eu
poderia fazer.

Jeon sentiu um alívio tremendo no peito. Não que pensasse que Jimin fosse
capaz de cometer tamanha traição, mas ainda assim, era bom ter a
confirmação de que o lúpus, de fato, respeitava a relação deles, e não só da
boca pra fora.

— Não acredito que você chegou primeiro... — uma voz soando levemente
entediada, disse atrás deles.

Viraram-se, encontraram Min Yoongi junto a Kim Taehyung — este último


parado um pouco atrás do dominador. Também usavam roupas casuais,
estando o alfa submisso totalmente vestido de branco, em roupas largas; Os
cabelos já não eram mais rosa-pastel, estavam bem desbotados e num tom
de loiro rosé suave — mais pra loiro que qualquer coisa.
— Hyung, que saudade de você... — o Park disse com uma vozinha tão
infantil, que se Jungkook não o conhecesse, teria estranhado.

O moreno deu um rápido abraço no amigo, mas o ômega não era muito fã
de contatos físicos, então foi empurrando Jimin pro lado, um pouco brusco,
enquanto resmungava. Mas o lúpus não se abalou, abraçou-o de novo e
permaneceu rindo, como uma criança pentelha.

Curiosamente, Jungkook deu uma espiada no Kim. Ele não parecia


incomodado com a proximidade de Yoongi com Jimin. Teve certeza então,
de que ele só via problema em sua amizade com Hoseok. Bom, isso
provavelmente devido ao fato de que Hoseok e ele foram parceiros de cio,
por anos, enquanto Jimin e Yoongi se conheciam desde crianças, sendo
criados como irmãos, nunca existindo nada que passasse desses limites
entre os dois.

— Oi... — murmurou o avermelhado, com educação.

— Oi — respondeu o outro alfa, seco e com a expressão neutra.

— Onde está Hoseok hyung? — Jeon indagou confuso.

Taehyung cruzou os braços na frente do peito, e se afastou levemente em


direção à geladeira de bebidas, sem nada responder.

— Hoseok e Taehyung andam brigando. Então Hobi preferiu não vir ao


munch hoje, pra não se estressar com ele — informou o ômega platinado.
— Principalmente porque você estaria aqui, Hobi sabia que isso deixaria
Taehyung mais arredio...

Jungkook revirou os olhos e bufou, cruzando os braços na frente do peito,


como seu aparentemente inimigo fizera momentos atrás.

— Não é por nada não, viu, mas esse seu submisso é um babacão. Fala
sério — disparou o brat.

— Taehyung é complicado — suspirou Yoongi, com uma expressão


cansada. — Ele é uma boa pessoa, um doce quando tudo corre do jeito dele.
Mas quando não... é uma bomba-relógio. Não culpo Hoseok por não
aguentar. Felizmente, sou um pouco mais paciente...

Jungkook ficou um tanto preocupado com o amigo. Até mandou uma


mensagem, perguntando se ele estava bem. Os três decidiram comer alguns
petiscos dispostos na enorme mesa de centro, enquanto Jimin o apresentava
pra basicamente todo mundo.

Jeon recebia tantos elogios, que suas bochechas ardiam. Elas ficavam
naquele tom rosa, que parecia bastante com sua bunda, depois de umas
palmadas do Park. E a sensação de ter o ego amaciado daquele jeito, era
deliciosa. No fundo, estava adorando receber toda aquela atenção, afinal,
era um exibicionista de primeira, embora também curtisse bastante
observar.

Em determinado momento, deixou que Jimin perambulasse sozinho pelo


restaurante com Yoongi, querendo deixar os amigos um pouco à sós, já que
estes não se viam há um tempo. Mas ele sequer teve tempo de ficar sozinho,
já que no minuto seguinte em que os dois foram para o terraço aberto do
restaurante, fumar cigarros, alguém parou ao seu lado e o encarou com
curiosidade.

Era um alfa de mesma altura que a sua, cabelos escuros com franjinha e
roupas casuais. Usava uma gargantilha bonita de veludo no pescoço, então
Jeon facilmente o reconheceu como sub. E aí o rapaz falou consigo,
finalmente:

— Acho que conheço você... É submisso do Hope, certo? Acho que você
entrou com ele na última Play Party lá na The Cave...

Oh. Agora ele lembrava. Vagamente, mas lembrava. Era o cara da portaria
da boate. No dia, ele trabalhava junto a uma fêmea alfa loira, toda vestida
em látex vermelho, da cabeça aos pés. Jungkook teve a impressão de tê-la
visto por ali, rapidamente, mas era quase irreconhecível sem a maquiagem e
usando apenas uma calça jeans e camiseta de botões.

— Na verdade... Hoseo... — Travou-se. Quase soltou o nome verdadeiro do


amigo. Xingou-se mentalmente, resistindo ao ímpeto de bufar de frustração.
— Digo, Hope. Na verdade, sou melhor amigo dele. — Agora diria certo:
— Meu dominador é... o AlphaDome.

— Whoa! — o outro devolveu de olhos arregalados e boca aberta, a


expressão aprovadora de admiração estampada no rosto. — O AlphaDome
é um excelente dominante. Você é um rapaz de sorte — sorriu gentil. — Eu
sou o Seung. Sou bottom. Trabalho na The Cave há uns dois anos. Você é
apenas bottom também, ou...

— Pode me chamar de Cherry. Você acharia estranho se eu te dissesse que


sou um brat? — indagou só um tantinho ansioso.

— Brat mesmo? Ou bratty sub?

— Tem diferença? — indagou confuso. Se sabia a diferença, não lembrava


agora, era muita informação. — Desculpe, é que sou novo nisso. Esse é
meu primeiro munch, e aquela Play Party foi minha primeira também...

— Ah, tudo bem, não esquenta. Eu ajudo. Então, é o seguinte: o bratty sub
é um submisso comum — disse puxando a cadeira e sentando-se
confortavelmente ao lado do Jeon, que o encarava atento e genuinamente
interessado. — Bratty sub é um submisso normalmente obediente, mas que
em uma ou outra ocasião, acaba se recusando a cumprir as ordens. Não por
prazer, mas por birra ou o que quer que seja. Como uma criança, sabe?
Mesmo filhos bonzinhos, tem seus momentos de rebeldia. Existem os
middle brat's também, são basicamente um meio-termo, entre serem
obedientes e malcriados. Já o puramente brat, é aquele que está em posição
de submissão, mas não aceita obedecer por obedecer. Esse não é o jogo
dele. O brat ama, verdadeiramente, provocar seu superior. Ele não quer se
deixar ser dominado, ele quer ser domado. Ele gosta de irritar porque...

— Porque acha atraente quando seu tamer fica irritado com ele —
completou o ruivo, com um sorriso.

— Isso — Seung confirmou com um sorriso bem amigável.

— Então, esse sou eu. Amo quando Ji- quero dizer, o AlphaDome, fica
irritadinho. A expressão dele é bem sexy, sabe? Ele é assim todo pitiquinho
e com aquelas bochechas gordinhas. Não dá pra sentir medo dele —
desatou a falar. — O que ele vai fazer, me dar um peteleco?

O outro alfa jogou a cabeça pra trás e caiu na gargalhada.

— Garoto, você... Minha nossa — tentava dizer, em meio a crise de risadas.


— Você é brat da cabeça aos pés! Já deu pra ver em cinco minutos de
conversa...

— Ah, é o que todos dizem... — riu Jungkook, com a língua entre os


dentes. — Escuta, me veio outra dúvida agora. É sobre os tipos de
submisso. E eu tô confuso com a coisa do SAM versus. BRAT.

— Oh, essa é uma dúvida clássica.

— Eu li que um SAM é um tipo de sub puramente masoquista. SAM é uma


sigla pra Smart Ass Masochist, certo? Significa "masoquista espertinho".
Então ele desobedece e faz de tudo pra pentelhar o dominador dele e
receber punições e castigos, tanto físicos quanto psicológicos, porque ele
aprecia a dor... — começou a linha de raciocínio.

— Sim, é resumidamente isso mesmo. Como você já deve saber, as relações


de dominação e submissão comumente tem nuances fortes de masoquismo
e sadismo e vice e versa, mas são dois institutos separados. Você pode ter
uma relação apenas D/s sem SM. Mas um SAM é necessariamente um
masoquista em submissão, que aprecia desobedecer justamente pra apanhar
ou sofrer castigos psicológicos.

— Hmnn... Bem, é que eu também provoco muito meu tamer, sabe? E eu


sou um "masoquistazinho de merda", como ele às vezes me chama. Gosto
da dor física moderada, sou apaixonado por chicotes, tapas, arranhões, um
pouco de humilhação e puxões de cabelo. E ao mesmo tempo, sou um
masoquista emocional fodido. Quando sofro por amor então, me sinto tão...
vivo. Eu não sei, é um tesão estranho... Às vezes me pego imaginando o
Jimi- merda! — sacudiu a cabeça, refreando-se a tempo — o AlphaDome.
Às vezes o imagino transando com outras pessoas. Quando eu me masturbo,
é nisso que penso, é com isso que fantasio. Mas morro de ciúmes dele.
Tipo, muito mesmo. Só de pensar nele com outra pessoa, sinto vontade de
me rasgar de nervoso...

— Isso é muito comum. Você já leu sobre o fetiche Cuckold?

— Humn... Não consigo me lembrar desse termo — foi sincero.

Estava sendo bastante simples conversar com o sujeito que só conhecera


realmente há quinze minutos atrás. Estava num munch de bdsm, afinal.
Ninguém ali era metido à tímido conservador ou algo assim. Todo mundo
que estava ali, conversava sobre questões ainda mais extremas. Jeon podia
ouvir um grupo de homens sentados numa mesa mais ao canto, falando
coisas bem explícitas e sujas, em tom de voz bastante altos.

Pessoas comuns, pessoas baunilhas, diriam que aquilo era um baixaria, uma
pouca vergonha. Mas para os membros da masmorra, era algo natural.

— Sabe como acontece nas casas de swing?

— Troca de casais?

— Sim. Num casal, um deles curte ver seu parceiro transando com outra
pessoa. Ou curte transar com um desconhecido, enquanto seu parceiro
assiste. Isso é o fetiche que chamamos de Cuckold. Cuckold é uma gíria pra
corno. Bom, não ser corno, realmente, afinal é uma prática consensual, no
fim das contas. Mas você concorda em assistir seu companheiro transando
com outra pessoa na sua frente, isso te excita. É diferente de simplesmente
tomar um chifre. Ser Cuckold, não significa ser traído realmente, já que é
tudo combinado entre o casal.

— Oh... minha nossa, será que tenho isso? — perguntou Jungkook, em


choque. — Mas só gosto de imaginar, sabe? Acho que se eu vir o... meu
alfa com outra pessoa, tenho um ataque do coração.

— Você pode tentar uma vez, só pra tirar a dúvida — deu de ombros. —
Mas quanto à questão do seu masoquismo emocional, ele é o que te faz
sentir tesão em imaginar seu dominador transando com outra pessoa.
Porque te dói pensar nisso, te machuca. Te dói imaginar ser trocado assim,
na sua frente. E a dor emocional alimenta seu fetiche. — E aí Seung bateu
palmas, como se tivesse chegado à conclusão de tudo. — Profundo, não?

— Muito! — Jeon devolveu, com os olhinhos arregalados. — Nunca parei


pra pensar muito nisso. Já vi o... AlphaDome numa sessão com outra pessoa
na minha frente. Naquelas salas de vidro...

— Nos aquários? Ele costuma fazer bastante seções exibicionistas...

Jeon sentiu seu peito se apertar e o estômago formigar. Aquela sensação de


ciúmes, ao ouvir tal informação, era sufocante. Mas ele sabia que bem no
fundo, ficava excitado com aquilo. Tendia a pensar que era apenas o reflexo
de seu psicológico fodido. Que era mais uma coisa na qual havia nascido ao
contrário. Mas agora, via que aquilo era uma coisa normal, um fetiche. Ele
não estava quebrado, não tinha vindo com defeito. Era só algo que o
excitava e fim. Não planejava pôr o fetiche em prática intencionalmente,
mas ao menos tinha uma boa base pra começar a pesquisar sobre isso agora

— Então, afinal... Sou um SAM ou um BRAT? — indagou o brat, um


pouco confuso com tanta informação nova.

— Me diga o que você acha. Ninguém pode te dizer o que você é, além de ti
mesmo. Pense nas características todas que te falei. Una elas e vá pelo
caminho lógico. É quase como um cálculo matemático. Vamos exercitar sua
mente... — instigou Seung.

— Humn... Um Sam, então, desobedece pra apanhar. Ele só quer apanhar,


ou sofrer. O brat não. O que motiva o brat à desobediência, é ver seu tamer
irritado. Ele só gosta de irritar o outro, não de... machucar a si mesmo,
embora ele possa ser masoquista também. Tudo depende da intenção, é
isso?

— Exatamente. Então você é um brat, porque sua intenção é irritar seu


tamer, não sofrer.

— Mas eu gosto um pouquinho de sofrer e apanhar, sabe... — Jeon


murmurou.
— Se é só um pouquinho, isso não te faz um Sam. E a coisa de você ser
masoquista, alimenta seu fetiche cuckold. Mas se em algum momento suas
motivações para desobediência mudarem, e você provocar pra apanhar e ser
punido...

— Então serei um Sam. É tipo à beira de um precipício, né?

— Quase isso — o outro riu.

— Sobre o que os garotinhos alegres estão conversando? — uma voz


brincalhona masculina em leve tom de deboche, disse próximo a eles.

— Oh, hyung! — Seung virou-se para encarar o homem de cabelos negros,


recém chegado. — Pensei que estivesse perdido nas calças daquela ômega...

O outro homem de olhos meio dourados sorriu brincalhão, jogando os


cabelos tingidos de preto pra trás, num movimento parecido com o que
Jimin costumava fazer. Mas nele ficava diferente. Não era um diferente
ruim, contudo. Era só... uma mistura estranha de sensação familiar, com
desconhecido, duas coisas opostas que se encaixavam nada
intencionalmente.

— Seung, Seung... Você continua negando sua paixão por mim. Por que não
admite logo?

O submisso balançou a cabeça, rindo da provocação do moreno.

— Cherry, este é o Tamer Helsing — apresentou o outro.

— Helsing? — indagou o ruivo. — Tipo como em Van Helsing?

— Sim, como em caçador de vampiros — o homem riu. — A diferença é


que caço bratzinhos safados e desobedientes, para discipliná-los e castigá-
los de um jeito bem gostoso... — disse maldoso, fitando o Jeon dos pés à
cabeça, com malícia.

Jungkook poderia ter se sentido desconfortável. Mas não sentiu. Pelo


contrário, sentiu seu ego inflar absurdamente sob o olhar do outro. Sentiu-se
como uma presa, e a sensação era fodida de boa. Segurou um sorrisinho de
canto, afinal, não podia corresponder a um flerte daqueles. Ele já tinha
dono, afinal. E não só isso, tinha um namorado por quem estava
perdidamente apaixonado.

Deste modo, piscou algumas vezes e olhou em volta, como para se


certificar de alguma coisa; De que Jimin não havia escutado aquilo. E ele
não escutou mesmo. Mas estava um tanto mais pra frente, ao pé da escada,
segurando uma taça de vinho escuro e encarando o tal Domador ao lado de
Jungkook, com o cenho franzido, enquanto Yoongi conversava
animadamente com outros pessoas no grupo em que estavam.

Jeon engoliu em seco e deu um sorriso amarelo. Observou melhor o novo


integrante da conversa: os cabelos eram tão pretos, que refletiam um brilho
azulado. Os olhos eram pequenos e rasgados, tão escuros que eram como o
mar à luz da lua. Tinha uma pele bastante pálida, nariz mediano, lábios
pequenos e um par de olhos dourados como ouro, como os de um
verdadeiro lobo. Usava uma roupa toda preta e um blazer vermelho de
cetim, muito elegante. Era um sujeito extremamente bonito e um tantinho
mais alto que Jungkook, cerca de cinco ou sete centímetros.

— Como sabe quando um submisso é do tipo brat? — indagou Jeon,


abusado.

— Bem, primeiro de tudo, pra mim, brats não são submissos. São apenas
bottons, estão em posição inferior, mas não se submetem. Se deixar
submeter e fazer malcriação, são coisas opostas — disse o dominador alfa,
apertando os olhos bem maquiados pro ruivo, analisando-o, mas com um
sorrisinho persistente no rosto, claramente gostando do que via.

— Eu discordo — Jeon se opôs. — Nós, brats, estamos em posição de


submissão, ainda que joguemos de modo diferente, em troca de nos
rendermos — disse direto e cheio de confiança, repetindo os ensinamentos
de seu dominante e mentor. — E essa coisa de bottom e top nem deveria ser
usada, porque ser bottom é o mesmo que ser passivo, e ser passivo não
significa ser submisso, assim como ser ativo não significa necessariamente
querer dominar — finalizou cruzando as pernas na cadeira.
O homem então riu, jogando a cabeça pra trás, e voltando com um sorriso
ainda maior no rosto, algo como... admiração.

— Esse é o segundo ponto. É fácil identificar um brat. Vocês encaram os


dominantes nos olhos — rebateu o tamer, o mirando provocadoramente. —
Vocês batem de frente, expõe opiniões e não tem medo do castigo ou
represálias. Soube que você era um dos meus, à distância. Sabe, eu poderia
domá-lo muito bem... — disse dando um gole na bebida em sua canhota.

O outro alfa, Seung, observava a tudo com interesse e um sorriso divertido,


como se estivesse prestes a buscar um balde de pipoca pra apreciar a
situação.

— Não preciso que você me dome, já tenho um ótimo domador, que é


também meu namorado e me trata com carinho respeito, além de fazer todas
as minhas vontades — respondeu o de cabelos cereja, com um sorriso
debochado.

O tamer riu com vontade, passando novamente a mãos pelos cabelos,


achando Jungkook divertidíssimo, parecendo ainda mais interessado no
garoto peculiar.

— Posso aceitar isso. É claro que uma jóia rara, como você, já teria sido
capturada — respondeu-lhe.

— Ele é o sub do AlphaDome... — intrometeu-se Seung, com um risinho na


cara. — Se eu fosse você, tirava o cavalinho da chuva...

— Oh... Então um dos Dominadores mais tradicionais e exigentes da The


Cave, rendeu-se a um malcriado? — disse o de olhos dourados, como se
pensasse em voz alta. — Isso não me parece propício. Dominadores como
ele, não aguentam provocações por muito tempo. Eles gostam de coisas
fáceis, de rendição....

— E você o conhece? É amigo íntimo de meu tamer? — indagou Jungkook,


com uma sobrancelha arqueada.
— Não. Eu e ele não temos opiniões muito parecidas, pra que apreciemos a
amizade um do outro. Mas conheço o estilo dele... Dominadores
tradicionais podem até flertar com o outro lado, experimentar um pouco da
malcriação. Mas uma hora eles se cansam. É muito trabalhoso. E então eles
tentam disciplinar um brat, forçá-lo a obedecer e a se tornar algo que não é.
É quase como cortar a língua de um falastrão, por ele se recusar a calar a
boca...

— Bem, se não o conhece, não fale sobre ele — alfinetou o ruivo. — Meu
namorado gosta do meu jeito, gosta das minhas imposições e eu o atiço o
suficiente com isso. Não se preocupe, estou em boas mãos — disse
levantando o queixo.

— Bem... — o Tamer devolveu rindo, ainda achando tudo aquilo muito


divertido, sem demonstrar sequer um mínimo de irritação com as falas
arrogantes de Jungkook. — Estou nisso há muito tempo, pra saber as
diferenças entre um Domador de verdade e um Dom comum. Mas saiba
que gostei muito de você, Cherry. Amo brat's e adoro alfas. Então, quando
as coisas não derem certo entre vocês, me procure. Estarei de braços abertos
pra te receber.

Jungkook deslizou a língua dentro das bochechas, tentado a retrucar. Mas


antes que pudesse formular uma frase boa o suficiente, Jimin já estava ao
seu lado, segurando-o forte pela cintura. O moreno deu um beijo em seu
pescoço, fazendo-o se arrepiar dos pés à cabeça.

Claro, Jeon estava sim gostando de ser cortejado pelo outro Domador, ele
era bonito, cheiroso — tinha aroma de menta —, charmoso e... um alfa.
Mas nada se comparava a Jimin, pois o ex-militar era quem tinha seu
coração e sua total devoção, de corpo e alma.

O ruivo não estava irritado com as investidas do tamer, afinal, quem ficaria
irritado com outra pessoa sedutora demonstrando interesse por si? Só um
louco. Mas não daria corda. Em respeito a Jimin, é claro.

— Vejo que fez amizades, bebê — o Park lhe falou, ignorando os presentes.
— Vamos pra casa? Quero ficar sozinho com você... — disse com a voz
rouca e provocante, fazendo o vermelho morder os lábios e fitá-lo safado.
— Oh, me desculpem — disse nitidamente fingindo notar os outros dois ao
redor, somente naquele momento. — Seung, como está? — deu um aceno
de cabeça. — Olá, Helsing.

Seung olhou pra baixo, meio envergonhado frente ao AlphaDome, como


um perfeito submisso faria. Já o outro tamer, foi mais adiante:

— Adorei conhecer o seu novo submisso, Alpha. Rapaz interessante, muito


divertido, devo dizer. Cuide bem dele — falou simpático e sem toda aquela
aura provocadora que usara com Jungkook poucos minutos atrás.
Provavelmente usava aquele jeitinho apenas com bottons, Jeon imaginou.

— Sim, encontrar meu Cherry foi a sorte grande. Ele é meu namorado e
estou o iniciando em nosso mundo — deixou claro o status da relação, que
ia além do BDSM. E então, propositalmente movimentou a mão com o
anel, próxima a de Jungkook, tendo acertado ao ver o olhar do outro tamer
passear entre as mãos de ambos, notando os anéis. — Vou me despedir da
Kiko e de alguns amigos e já venho te buscar, amor... — sussurrou no
ouvido do de genes ômegas.

— Bem, espero que possamos nos tornar amigos, Cherry — disse-lhe


Helsing, assim que Jimin saiu dali. — Tenho um bocado de experiência na
peculiar dinâmica tamer e brat, posso ser um bom mentor pra você. Não
leve minhas provocações a mal, não quis ser desrespeitoso — e sorriu,
mostrando uma fileira de dentes tão brancos e alinhados, que Jungkook se
viu um tanto hipnotizado pela aparência perfeita do cara. E aqueles olhos
dourados pareciam ímãs, não podia negar.

— Humn... Talvez — respondeu Jungkook. — Mas precisa prometer que


não vai tentar nada além disso...

— Não se preocupe — respondeu rindo. — A propósito, me chamo


Mingyu.

Jungkook quase respondeu dando seu nome de volta. Quase. Mas


rapidamente foi capaz de notar a jogada alheia.
— Não vou te dizer o meu nome. É cedo demais, alfa. Você precisa merecer
— brincou, dando um sorriso amigável.

Mingyu gargalhou novamente. Havia, de fato, ficado encantado pelo de fios


coloridos.

— Esperto... Uma jóia rara, como eu disse — elogiou. — Bem, você está
no chat da The Cave? — perguntou.

— Humn... ainda não — respondeu meio sem jeito, lembrando-se de já ter


visto o tal chat no aplicativo de conversas no celular de Jimin.

— Ah, não se preocupe — Seung foi quem respondeu dessa vez. — Você já
conheceu a Kiko, certo? — o Jeon sacudiu a cabeça em afirmativa. —
Então ela logo irá pedir seu contato ao seu Senhor, para adicioná-lo nos
grupos, tanto o grupo geral, quanto o de brat's. Esse é um grupo novo,
antigamente unia todos os submissos. Mas depois que Lady Kiko se
envolveu com alguns brat's, ficou encantada. E agora ela adora novos
bottons desse tipo na masmorra. Por isso fez um grupo especialmente pra
eles. Já já você entra e então vai poder conhecer mais alguns como você —
disse gentil.

— Então, quando você for adicionado, conversaremos melhor, Cherry —


avisou o tamer.

— Vamos? — disse Jimin, surgindo repentinamente, mais uma vez.

O garoto então se despediu dos novos conhecidos e saiu do restaurante,


junto ao namorado. Havia gostado dos dois alfas, pareciam divertidos e
dispostos a ensiná-lo várias coisas — a despeito das provocações do tal alfa
Mingyu.

Mas Park Jimin não compartilhava do mesmo pensamento. Dirigiu no


caminho de volta pra casa, em silêncio. Um silêncio que tentou ser
quebrado por Jungkook várias vezes, mas sem sucesso. O lúpus apenas lhe
respondia com "aham's", "humn's" e "talvez". E com isso, Jeon estava
ficando puto.
— O que foi, Jimin? Fala logo. Está me irritando. Por que você 'tá agindo
assim? O que eu fiz de errado? — disparou, ao entrarem com o carro na
garagem.

O moreno bufou, tentando inutilmente se conter.

— Não gosto daquele alfa. Não quero que fale que com ele — disse,
finalmente.

Jungkook passou meio minuto assimilando que o alfa sobre o qual ele
falava, era claramente o domador, o tal Helsing, não Seung. Arqueou uma
das sobrancelhas pro outro, com uma expressão desacreditada no rosto.

— Como assim "não quer que eu fale com ele"? Você mesmo disse que
nunca me proibiria de alguma coisa Jimin, isso é ultrapassar os limites...

— Mas eu não gosto dele! — estourou o ex-militar, com um olhar mortal e


bochechas vermelhas. — Esse cara dá em cima dos submissos dos outros e
Kiko sabe disso. Ela não bane ele da The Cave, porque nunca teve nenhuma
prova concreta, nenhum caso sério, nenhuma denúncia. Mas não quero você
com ele, 'tá legal?

Jeon apertou os olhos pro alfa lúpus. Pelas reações do Park, tinha uma boa
ideia de onde vinha sua inimizade, e não gostou nadinha daquilo, menos
ainda da reação totalmente contraditória dele, que jamais o tratara daquele
jeito, sempre alegando ser controlado demais pra ter alguma crise de
ciúmes.

— Ele já deu em cima de algum submisso seu, Jimin? — indagou sério. O


lúpus não se atreveu a olhá-lo, permaneceu fitando o vidro do para-brisa à
sua frente. — PARK JIMIN! — chamou alto, já irado, sentindo o ciúme
sufocá-lo como uma cobra que pula dando o bote.

— SIM! — o outro respondeu em mesmo tom bravo e, pela primeira vez,


perdendo as estribeiras.

Jimin tinha um autocontrole impressionante, mas ver o tamer tão próximo


de seu garoto, havia o deixado irado e absurdamente enciumado. Mal
conseguia se segurar. Antes era fácil, não tinha sentimentos românticos por
seus submissos, não os namorava, não era completamente louco por
nenhum deles, não tinha medo de perdê-los, como tinha medo de perder
Jeon Jungkook. Então era fácil controlar sua possessividade de alfa. Mas
agora... Tudo o que ele acreditava ser, parecia se quebrar bem em frente aos
seus olhos.

— Ele já deu em cima de Taemin? — insistiu o ruivo, tentando arrancar


informações.

Jimin bufou, mordendo o lábio. Merda! Por que tinha tocado no assunto?
Jungkook levaria aquilo para um outro lado, ele podia sentir.

— Já — respondeu somente.

O de cabelos cereja deu uma risada sarcástica, revirando os olhos, puto, e


então saiu do carro, batendo a porta.

Jimin rapidamente saiu também, para alcançá-lo, já sentindo o gosto


amargo do arrependimento. Ele não era assim. Jimin é controlado, sábio e
sensato. Se não pudesse mais controlar a si mesmo, como diabos controlaria
um submisso?

— Jungkook...

— Você não vai me proibir de nada! — devolveu o garoto, sentindo os


olhos arderem de raiva. — Eu não sou a merda do Taemin! — e então deu-
lhe às costas.

Estava enciumado por causa do ex-submisso do lúpus. Sua cabeça gritava


que as reações de Jimin, eram reflexos de suas memórias sobre Taemin,
sobre os ciúmes que provavelmente sentira do ex-sub com o tal Mingyu,
não sobre ele. E isso o magoou profundamente, tirando-o do sério, como
normalmente suas paranoias faziam mesmo.

Além disso, não gostava de ninguém lhe impondo ordens, dizendo com
quem podia ou não falar. Embora estivessem praticamente vivendo uma
relação 24/7 — ou quase isso —, ainda assim não viviam uma relação de
Total Troca de Poder, era uma dinâmica de Troca Parcial, Jungkook deixava
aquilo claro no acordo entre os dois, e Jimin o aceitava tranquilamente, pois
não era o maior fã de ter o controle total sobre a vida de alguém.

— Jeon Jungkook! — o outro chamou, puxando-o pelo pulso, fazendo o


ruivo girar de volta pra ele.

O de cabelos cereja encarou a mão do outro o apertando, com raiva notável


nos olhos, alternando-os entre o rosto do Park e a mão em seu pulso.

Jimin então logo se deu conta e o soltou, sentindo-se envergonhado por tê-
lo segurado daquele jeito, mas o havia feito por impulso, por medo de que o
mais novo entendesse as coisas errado, como sempre, e saísse dali,
deixando-o sozinho.

— Me desculpe.. — disse o moreno à contragosto, olhando pro pulso do


namorado. — Eu te machuquei? Não tive intenção, foi sem querer, agi por
impulso, me perdoe...

Jungkook cruzou os braços contra o peito, irritado. Aquele sentimento o


estava sufocando, parecia que ia explodir, com muito pouco. E não era
como se sua proximidade do cio alfa não estivesse o influenciando. Seus
feromônios estavam uma bagunça, e quando naquele período perto do rut, o
avermelhado ficava totalmente agressivo e estourado.

— Não machucou — respondeu de cara amarrada. — Se tivesse, eu teria te


devolvido com um soco.

Jimin apertou os olhos pra ele, ficando cada vez mais irritado. Qual era a
dele, afinal? Jungkook era mais ciumento que ele, deveria ser o primeiro a
entender como era sentir-se ameaçado. Estava certo de que, na situação
inversa, Jeon agiria ainda pior, faria um escândalo na frente de todos e não
esperaria até chegarem em casa.

— Por que você está agindo assim? Se você se incomodasse com minha
proximidade com algum submisso e me pedisse pra não dar trela pra ele, eu
certamente te respeitaria.
— Então se afaste de Taemin — testou.

O Park arregalou os olhos, desconsertado.

— Você sabe que Taemin é meu amigo, Jungkook. É diferente. Helsing não
é nada pra você, o conheceu não faz sequer um dia...

— Sabe, vou te deixar sozinho com os seus pensamentos hoje. Tente


repassar tudo o que aconteceu, o que você disse e a forma como disse. Se
você tivesse conversado numa boa, explicando suas desconfianças sobre
esse cara, eu poderia ter te obedecido...

— Jungkook, olha. Eu agi mal, sei disso. Me perdoe. Mas eu tô muito


enciumado. Acabei descontando em você. Foi difícil, quase nunca me
descontrolo, eu-

— Ah, nem vem com esse papo, Park! — ralhou. — Você só está agindo
assim porque tem rixa com o cara por causa do seu ex, não por mim. Pelo
ex! Pelo cuzão do Taemin — gritou, irado.

Só aí Jimin entendeu o que se passava na cabeça do outro. Então o


problema todo era que Jeon remetia tudo aquilo a Taemin. Sempre Taemin.
No fim de tudo, Jimin sempre esteve certo, afinal. Sempre sentiu que sua
antiga relação D/s com o amigo, causaria enormes atritos entre ele e o
amado. Era por isso que tinha escondido tudo, por isso que havia omitido a
relação D/s deles.

E era por isso também, que deveria ter contado de primeira. Era um cara de
quase trinta anos, afinal. Tinha experiência demais na bagagem, para saber
que numa relação, tudo sempre é descoberto. E que por mais que esconder
alguma coisa seja um ato lógico e racional, visando o bem, a merda toda se
tornava muito maior quando exposta. E ela sempre seria exposta, mais cedo
ou mais tarde.

— Jungkook... — tentou dizer.

— Não quero mais ficar com você hoje, Jimin. Só quero ficar com você,
quando passar minha raiva dessa tua cara sonsa. Se ela passar! — falou
levantando o indicador de forma acusadora no rosto do outro.

— Mas amor, estou pedindo desculpas! — o lúpus rebateu aumentando a


voz, que soava extremamente fina e indignada, os olhos pequeninos um
bocado arregalados. Não podia acreditar que uma coisa tão pequena havia
se transformado em algo tão grande. Jungkook não podia estar falando
sério, estava?

— Não.quero.saber. — retrucou Jeon, entredentes, quase num rosnado.

— Mas o seu rut deve vir amanhã, ou até hoje e..

— Já falei que não quero saber, Jimin! E tenha uma ótima tarde.
SOZINHO. Pensando nas coisas que fez — disse enfezado e saiu batendo o
pé, entrando pela porta da garagem, pra dentro da casa do moreno, mas
apenas para atravessar pela sala e sair pela porta da frente, indo pro seu
próprio apartamento.

O alfa lúpus permaneceu estático, tentando assimilar tudo o que tinha


acontecido. Como diabos os dois haviam chegado àquele ponto?

"Você não vai ter paciência com um brat" — foi o que todos os seus amigos
lhe disseram. — "Ah, ele vai testar sua paciência, não faça isso." — disse-
lhe Yoongi. — "Não vai durar." — avisou Kiko.

Mas eles não tinham razão. Embora Jimin se visse extremamente magoado
no momento, tinha plena certeza de que Jeon Jungkook fora a melhor coisa
que havia lhe acontecido em anos. Combinavam perfeitamente,
temperavam a vida um do outro na medida certa. Não se arrependia de ter
começado a relação entre eles, nem por um segundo.

O moreno sabia que tinha errado com o garoto, afinal. Não deveria ter
explodido daquele jeito, nem ter dito as coisas daquela forma. Não deveria
ter exigido que o rapaz se afastasse do outro tamer, pois isso era um abuso.
Não tinha direito de exigir que ele se afastasse de alguém.

Mas não era essa a irritação real do Jeon, era? Ao que tudo indicava, isso
fora apenas o estopim da briga. A real questão ali, eram os ciúmes de
Jungkook sobre Taemin; Porque achava que o Park tinha alguma espécie de
rixa com o tal Helsing, por terem disputado Taemin no passado, quando na
verdade, Taemin nunca sequer ficou com o sujeito, o Park nunca fora com a
cara dele o suficiente pra que emprestasse seu submisso — nenhum deles
— ao rapaz. Havia algo sobre Mingyu que incomodava Jimin, de uma
maneira que ele não sabia explicar.

No BDSM, se um dominante se sente atraído pelo sub de outro, ele pode


simplesmente pedi-lo emprestado ao Dom, e este, caso o submisso
concorde, o empresta — afinal, no bdsm os sub's possuem um conceito de
propriedade, diferente das relações baunilhas e, principalmente, as
românticas, onde ninguém é propriedade de ninguém.

Mas Helsing nunca pedia um submisso alheio emprestado; ele já partia


diretamente pro ataque e flertava abertamente, induzindo os submissos a
abandonarem seus Dom's pra ficarem com ele, e isso era uma afronta à
Liturgia — o que irritava Jimin profundamente, pois ele era sim, um
praticante mais tradicionalista, acreditava que os costumes e questões de
formalidade deveriam ser respeitados.

Jimin só era ciumento para com quem tinha sentimentos românticos.


Emprestava seus submissos todo o tempo, incluindo Taemin, assim como
pegava submissos emprestados de outros colegas da The Cave e era assim
que as relações D/s funcionavam, quando não haviam romance entre os
praticantes. O que era 99,9% das vezes.

Mas não ia com a cara daquele tamer. Jimin não sentia segurança ou
respeito vindos do cara, o que podia fazer? Era como uma espécie de sexto
sentido ou qualquer coisa assim. Ele não lhe parecia confiável e fim.

Além do mais, dominadores são obviamente territorialistas. Por conta das


características da classe alfa, estes também o são. Tanto que Jungkook,
mesmo sendo um submisso e não um Dom, age de forma territorial pra um
caralho, pois é alfa, no fim das contas.

A questão é que, as únicas vezes em que Jimin sentiu ciúmes


verdadeiramente na vida, foram com seus namorados. Não no bdsm. No
bdsm, seus ciúmes eram voltados exclusivamente a uma questão
territorialista — e ele aproveitava pra exercer sua dominância, ao fazer
certas exigências para emprestar seus sub's a outros dominantes, como
limitar as práticas a serem feitas, por exemplo.

Seu último relacionamento amoroso fora com o ex-noivo, Taeyang. Ali, não
era bem uma questão de território, mas sim sentimental, de sentir-se
ameaçado, de ter o coração partido. Jimin odiava sentir ciúmes, mas
Taeyang o provocava como o Diabo, adorava jogar. Depois disso, fodiam
bruto, com direito a tapas, mordidas, arranhões e puxões de cabelo.

O sexo do Park com o ex-noivo podia até ser baunilha, na maioria das
vezes, mas Taeyang adorava provocá-lo, com certa frequência.O beta,
sabendo do ciúme alfa do militar, tendia a flertar abertamente com outras
pessoas em sua frente, pois sabia que Jimin não faria nada em público,
nenhum tipo de escândalo; e era isso que acontecia. Quando chegavam em
casa, Jimin o fodia rude e depois torturava-o com sentadas violentas,
impedindo o beta de gozar, como castigo por suas provocações. Sempre
fora uma artimanha sua, afinal; negar o orgasmo à alguém, como forma de
mostrar que quem mandava ali, era ele. E inacreditavelmente, Taeyang
adorava. Mas aquele era o limite dele. Descobrir sobre as práticas
fetichistas do alfa, fora demais pro beta. Aquilo já era inaceitável, ao seu
ver. Era sujo, depravado demais, além dos limites.

Desde então, Jimin passou a detestar a coisa do ciúmes. Não que já tivesse
sido fã, algum dia, mas era um bom tempero pro sexo de sua relação
baunilha. Mas aquilo se tornou um trauma e ele não queria mais.

O ex-militar sabia que era ciumento. Mas também sabia se controlar.


Controlava-se com Taeyang, então por que não se controlaria com
Jungkook? Se tinha se controlado perfeitamente sobre Hoseok, por que
estava tão enciumado com Helsing?

Era simples: não se sentia realmente ameaçado pela relação entre Jungkook
e o beta Jung Hoseok, pois confiava na amizade dos dois, confiava que
Hoseok não seria realmente uma competição pelo coração do avermelhado,
então era sempre capaz de controlar seu ciúme em relação ao Jung. Com
Mingyu, era diferente. Não confiava no tamer. E ao ver Jeon com o cara que
ele não gostava, sentiu seu sangue ferver.
No fim das contas, ele não estava tão errado assim. Toda moeda tem dois
lados. Tinha se equivocado, num momento de descontrole, por conta de sua
inimizade para com o homem. Mas Jungkook também não era vítima
nenhuma ali. O garoto tinha feito tempestade num copo d'água e tinha posto
seus ciúmes irracionais à frente de tudo, mais uma vez, mesmo após Jimin
reconhecer o próprio erro. Os dois estavam errados, ambos tinham sua
parcela de culpa. Até porque, quando um não quer, dois não brigam.

Então, por que subitamente o mais velho se tornara o vilão?

— Calma, Jimin, essa é a primeira briga de verdade de vocês. Não é o fim


do mundo... — murmurou pra si mesmo, entrando em casa e sentando-se no
sofá de couro vermelho, alisando os cabelos negros, frustrado.

Mas se não era o fim do mundo, por quê sentia como se fosse?

E aí, rapeize. Ah, a foto do Mingyu tá lá no capítulo de apresentação da


fic. Tava tudo muito fácil, né? O que vocês acham que vai acontecer agora?
Quero teorias! E não esquece do votinho, mozaum

ATENÇÃO AQUI Vou indicar uma fic flex DO CARALHOOOO


pra vocês agora! Sei que um bocado de gente já ouviu falar dela no twitter,
mas alguns ainda não: ❝ POLEMIC ❞, da jiminkitsui Como o próprio
nome já revela, essa é uma fic babadeira. E tudo isso se deve aos
personagens principais: Jungkook acaba de se mudar para a capital, onde
ele conhece outros 5 garotos muito fora do padrão: um gay, um bi, um trans,
um drag queen assexual e um professor bissexual. É uma história que tenta
abordar os representantes de algumas das siglas do LGBTQ+, além de
trazer à tona assuntos importantes, como feminismo, distúrbios alimentares,
fanatismo religioso e etc. Tudo narrado através das descobertas de Jeon
Jungkook, que se apaixona pelo Jimin, e precisa lidar com todas essas
desconstruções, sendo filho de um pastor. Isso mesmo. Ai ai ai, já dá pra
ver que aí tem muuuuuito assunto pra rolar, né? Vão lá começar a ler o
hino! Ela tbm tem uma shortfic flex já terminada, chamada Fraternity
Boys, que é uma delicinha, aquele típico clichê dos melhores amigos
héteros se apaixonando e se descobrindo juntos Qualquer uma das 2, sei
que vocês não vão se arrepender! Pode ir tranquilooo ‼

Não se esqueçam de comentar na tag de INC ▶


#JungkookBebêDoJimin é muito importante pra mim, galero
Beijinhosss
27| master of puppets

#JungkookBebêDoJimin

Jung Hoseok estava cansado. As noites não eram mais pra dormir e os dias
eram inteiros dedicado ao seu trabalho. Um trabalho que fazia
mecanicamente, era claro. Não conseguia sequer se concentrar
apropriadamente.

Ah, mas ao menos poderia conversar com Jungkook hoje, não poderia? O
amigo estava perdido nos próprios problemas, mas tinha certeza que ao
longo da noite, provavelmente iria escutá-lo também.

Jeon não tinha muito jeito com as palavras, mas era bom de reclamação.
Todavia, nada disso fazia o mais novo alguém que não fosse bom em ouvir.
Era ótimo nisso, na verdade.

Quando o beta estacionou o carro na entrada do prédio do de cabelos


vermelho cereja, viu o Park parado na varanda da casa da frente, com um
cigarro entre os dedos pequenos, soltando fumaça branca pelos lábios.

Achou de bom tom ir até lá cumprimentá-lo. Embora não fossem amigos


íntimos, eram colegas na The Cave e o Jung sabia tudo sobre ele, afinal, era
namorado e submisso do melhor amigo do cara, além de ser ele mesmo
melhor amigo do namorado do ex-militar. Informações demais chegavam
até seus ouvidos, constantemente, era quase como se fossem amigos de
infância.

— E aí? — cumprimentou, parado na calçada.

— Oi, Hope — o ex-militar respondeu meio desanimado. Estava com


olheiras abaixo dos olhos. Nada absurdo demais como as dele, mas
demonstravam claramente uma noite mal dormida. — Ele já te chamou pra
fazer minha caveira, é?

Hoseok sorriu de leve, assentindo.


— Não quer me contar a sua versão logo? Assim fica mais fácil quando JK
despejar tudo em cima de mim e eu for aconselhar aquele pentelho
cabeçudo...

— Eu errei, Hoseok — suspirou cansado, dando mais um trago no cigarro.


— Mas ele errou também. Nós dois nos exaltamos. Fiquei com ciúmes dele
conversando com o Helsing, eu não gosto daquele cara.

— Oh... Eu também não vou muito com a cara dele — juntou-se. — Esse
alfa vivia dando em cima do Taehyung, quando estávamos juntos da
primeira vez. Da segunda, ele não se atreveu, mas acho que foi mais por
causa do Yoongi... As pessoas tendem a ter muito respeito (ou medo) dele.
Mas em compensação, Helsing já tentou sair com o Yoon um bocado de
vezes, também. Ele é do tipo que atira pra todos os lados e jura que pode
submeter até mesmo um dominador...

Jimin sorriu amargo.

— Yoongi hyung não gosta do jeito como ele se acha todo superior quando
se trata de brat's. Ele pensa que é, eu sei lá, um especialista? É um arrogante
— disse com uma expressão de desprezo. — A questão é que falei com o
Jungkook de maneira errada. Quer dizer, eu sou ciumento, sou um alfa,
afinal. Mas sempre soube me controlar. Mesmo nos meus namoros, que
nada tinham a ver com bdsm, sabia me controlar. Nunca fui de fazer
ceninhas em público ou gritar. Sempre fui mais do tipo vingativo...

— Então por que perdeu o foco dessa vez? — o beta indagou curioso,
sentando-se no degrau da escada, ao lado do Park.

— É que seu amigo, ele... — sacudiu a cabeça, exasperado. — Eu sou tão


louco por ele, Hoseok. Tanto. Não sei o que me deu. A questão é que já não
gosto desse cara, esse tamer. Talvez, se Jungkook estivesse falando com
qualquer outra pessoa, eu não teria reagido assim. Teria explicado de forma
mais racional, que me incomodava ele se aproximar daquela pessoa, ou
qualquer coisa do tipo...

— Ele disse que você tentou proibi-lo de falar com o cara.


— E foi aí que errei, errei rude. Sei que não tenho esse direito, e também
não sou esse tipo de pessoa. Acho que só... juntaram duas coisas ruins ao
mesmo tempo. Mas me desculpei. Reconheci meu erro o mais rápido
possível. Só que o Jungkook inventou alguma paranoia naquela cabecinha
vermelha, e cismou que isso tem algo a ver com o Taemin...

— Ah, Jimin... — Hoseok suspirou, entendendo. — Tudo o que envolver


minimamente o seu ex-sub, vai fazer o Jungkook pirar. Diria que esse é o
Calcanhar de Aquiles na relação de vocês — falou, compreensivo. — Sabe
que quando Taemin voltar do Japão, provavelmente sua relação com
Jungkook vai se tornar um inferno, não sabe?

— Claro que não! Taemin jamais faria isso. Ele é meu amigo, afinal. Ele
não vai fazer nada pra me magoar, sabe que estou apaixonado pelo
Jungkook...

— Não estou falando de Taemin... — E arqueou uma sobrancelha, com uma


expressão sugestiva, que logo o alfa entendeu.

— Oh... Jungkook é quem vai causar os problemas — o Park assimilou. —


Será que vai ficar tão ruim assim?

— Provavelmente você vai ter que escolher entre manter a amizade com
Taemin ou manter sua relação com Jungkook — deu ombros. — Estando na
mesma posição que você agora, bem... Eu escolhi o meu amigo — disse em
tom triste, mas resoluto, dando um suspiro.

— Oh. Yoongi hyung contou sobre isso. Sinto muito que você e Taehyung
tenham terminado — disse dando-lhe uma afagada no ombro, gentilmente.
— Taehyung me parece muito mais surtado que o Jungkook. Ele é mais
descontrolado, não é? Quer dizer, você e Jungkook poderiam ter ficado
juntos, se quisessem. Confesso que já tive ciúmes de você, mas se vocês
quisessem ficar juntos, ficariam. As famílias de vocês aprovariam.
Jungkook poderia voltar pra mansão dos pais e tudo...

— Eles não tem exatamente uma mansão — o beta riu.


— Ah, que seja! — contrariou com um bico. — Mas o negócio é que desde
que você começou a relação com Taehyung e Yoongi hyung, e Jungkook
começou a ficar comigo, vocês dois mal se viam, pra que Taehyung ficasse
tão arredio assim...

— Não consigo entender Taehyung... Não tente você também — Hoseok


negou com a cabeça. — Eu já desisti. Literalmente, desisti. Só espero que
ele não seja o idiota o suficiente pra estragar minha relação com o Yoongi
agora...

— Você sabe que agora que vocês romperam, é bem provável que ele faça o
Yoongi escolher entre vocês dois, certo? Ele certamente não vai suportar
que o Dom dele namore com ele e o ex, ao mesmo tempo.

— É isso que está me matando... — o switcher comentou com a voz triste,


quase sombria. — Sei que a escolha de Yoongi não será eu...

Jimin nada respondeu. Ele também sabia que a escolha do amigo de


infância seria pelo brat alfa, afinal. Não Hoseok. Yoongi era louco pelo
beta, mas o que sentia pelo Kim era um bocado mais intenso. Era coisa de
lobo. Todos sabiam daquilo, embora não falassem sobre.

— Isso não é justo — o ex-militar comentou. — Você tem seus próprios


problemas pra lidar agora, não deveria ter que lidar com os meus problemas
com Jungkook. Nos desculpe...

Hoseok sacudiu a cabeça em negativa, levantando-se e limpando a traseira


da calça com as mãos.

— Não se preocupe. Amigo é pra essas coisas. Quero dizer, nós dois não
somos amigos exatamente — franziu o cenho, apontando pra eles mesmos.
— Mas você sendo namorado do meu melhor amigo, e eu sendo namorado
do seu...

— É, eu sei. Sabemos coisas demais um do outro — o Park deu um sorriso


sincero. — É quase como se fôssemos amigos íntimos também.
— Então... amigos? — sugeriu o switcher estendendo a destra, todo
simpático.

— Amigos — o moreno sorriu, apertando a mão esticada do outro, trocando


tapinhas nos ombros um do outro.

— Hey, não se preocupe. Vou tentar limpar sua barra lá dentro, tá legal? O
pirralho é um cabeçudo teimoso, mas depois que a raiva passa, ele vem
como um cachorrinho caído do caminhão de mudanças, com o rabo entre as
pernas. Ainda mais depois que eu esfregar na cara dele, que também 'tá
errado.

— Estou torcendo pra que você consiga — Jimin suspirou.

Jung Hoseok sorriu abertamente, exibindo uma fileira de dentes brancos


bem alinhados e um sorriso no formato que coração, que fez o Park
realmente notar o quão bonito era o beta. Não costumava reparar demais
nele, se falavam como colegas, mas não tinham tanta proximidade ou
interesse pra tal.

— Agora vou lá pro apê. Meu bebê deve estar arrancando os cabelos fora.

— Ou, ou, ou... Que história é essa de seu bebê? — o lúpus fingiu-se de
indignado, em tom brincalhão. — Ele é meu bebê!

— Alfa, eu cheguei primeiro, 'tá legal? — rebateu Hoseok, em mesmo tom,


apoiando as mãos nos quadris.

— Mas a chupeta dele está lá na minha casa — disse como se essa fosse a
efetiva prova de que o dito "bebê" era seu, apontando pra dentro.

— Olha, colega — o beta retrucou, apoiando a canhota no ombro alheio. —


Vamos fazer assim: Agora que somos amigos, ele é nosso bebê e
compartilhamos a guarda, pode ser?

O Park apertou os olhos em sua direção, pra então assentir, dando um


sorriso suspirado, os olhinhos pequenos fechando-se como dois risquinhos.

— Posso aceitar isso, Switcher.


Então o Jung lhe deu um tapinha amigável e partiu para o prédio do amigo.

Ao subir as escadas, encontrou um Jungkook já emburrado, parado na porta


do apartamento, o aguardando como uma esposa traída.

— O que você dois tanto conversavam? Está se voltando contra mim, Jung
Hoseok? Está flertando com o inimigo, uh? — reclamou todo teatral.

O castanho gargalhou, o empurrando pra dentro da sala e fechando a porta.

— Então você estava como um fofoqueiro na janela, é?

— Não é fofoca se vocês estavam no meio da rua... — rebateu o ruivinho,


sacudindo os ombros pra cima e pra baixo, desdenhoso. — Agora vem fazer
a comida pra gente, tô com fome... — disse puxando o outro pra cozinha,
enquanto o largava atrás do balcão e se sentava do outro lado.

— Ei, por que não faz você mesmo? — Hoseok reclamou em tom
indignado completamente fingido, afinal, já esperava isso dele.

— Aigoo, hyung... — retrucou com um biquinho e cara de coitado. — É


que três meses com Jimin me mimando, me fizeram esquecer até mesmo
como fazer um arroz, sabe...

— Você é um sonso. — E o beta sacudiu a cabeça, começando a preparar a


comida e os drinks que passariam a madrugada bebendo.

Minzy, o gato frequentemente tratado no feminino pelo seu dono, esfregou-


se entre as pernas deste, sendo pego por Jungkook em seu colo logo em
seguida, para fazê-lo carinho embaixo do queixo peludo e nas orelhinhas.

— Oi neném do papai... Não te vejo desde de manhã... — disse com a voz


fofinha.

— Annyeong, Minzy, meu garoto! — cumprimentou Hoseok, puxando o


bichano pra seu colo. Imediatamente Jungkook fez um bico e uma carinha
contrariada.
— Vocês adoram jogar na minha cara que ele é menino... É difícil pra um
pai, tá legal? Eu criei minha garotinha com todo amor e carinho, pra
descobrir que ela era um rapaz. Mas até aí, tudo bem, se eu continuasse a
tratá-la como menina, ela seria uma. Eu podia ser feliz assim? Podia. Mas
nãaaao, você e o Jimin, aquele paspalhão, fazem questão de me contrariar
— e aí cruzou os braços na frente do peito, sendo malcriado como um
caralho.

— Oh, nos desculpe por tentar te trazer pro mundo real, e não pro
mundinho que você cria na sua cabeça, JK — ironizou, acariciando o
gatinho, que ronronava em seu colo.

— Então, como foi seu aniversário semana passada? Queria ter


comemorado com você... — Jeon disse então, mudando subitamente de
assunto.

— Não foi dos melhores. — O beta suspirou triste, e abandonou o gato no


chão, indo lavar as mãos na pia, pra começar a preparar a refeição. — Eu e
Yoongi ficamos juntos, saímos pra jantar e tivemos uma boa sessão.

— Você me parece triste. E o mala do Taehyung? Não estava junto?

— Eu e Taehyung... terminamos.

— Oh — o avermelhado arregalou os olhos. — Mas... você ainda está com


o Yoongi? Como é isso?

— Eu e Taehyung não estávamos dando certo. Mas eu e Yoongi ainda nos


damos bem. Criamos uma amizade muito forte. Às vezes acho que somos
mais amigos que amantes... — disse pensativo.

— Então o Yoongi e você estão juntos, e o Yoongi continua com o


Taehyung, certo?

— Uhum. Eu e Taehyung somos apenas irmãos de coleira, agora. Não sou


mais dominador dele. Nem namorado.

— Cara. Que chato. Por que vocês terminaram? O que o panaca fez?
— Olha... — o acastanhado suspirou, encarando o amigo. — Taehyung tem
muito ciúmes de você. Desde o começo, você sabe. Mas a coisa chegou
num nível insuportável e ele me fez escolher entre vocês dois. — Jungkook
arregalou os olhos um bocado, de boca aberta. — Mas por favor, não se
sinta culpado. Sei que é uma situação desconfortável pra todo mundo,
mas... Eu não iria abandonar meu melhor amigo, por namorado nenhum.
Você é minha família, JK.

O alfa ficou com os olhinhos marejados.

— Você também é minha família, hyung. A única que eu tenho — disse


meio choroso.

Após um tempo se encarando emocionados, Hoseok sacudiu o corpo,


tentando sair daquele clima emotivo.

— Bem, vai ser bem complicado no aniversário de Yoongi, daqui há alguns


dias. Vamos ter que dividir o dia, ou algo assim. Porque eu e Taehyung não
vamos conseguir ficar juntos num mesmo ambiente, sem discutir e estragar
o dia do Yoon, então... — bufou.

— Posso com falar o Jimin hyung, de repente a gente faz alguma coisa na
casa dele, sem aquele alfa cara de bunda... — Jeon referiu-se a Taehyung.

Hoseok gargalhou com a fala do outro. Zero papas na língua, como sempre.

— E você... Está pretendendo parar de birra com seu namorado, que dia?
Está demorando demais, você sabe. Seu birrento — Hoseok acusou.

— Ah, hyung, Jimin foi um cuzão, fala sério! Ele estava com ciuminho do
cara, só porque ele já deu em cima daquele bostinha do Taemin — disse
entredentes. — Não é ciúme de mim. É que ele não gosta do sujeito, porque
o cara tentou roubar o subzinho dele, que tem um cabelo loiro brilhante e
cheiro de patchoulli... — terminou resmungando, enquanto descruzava os
braços.

— Jimin disse isso? Com todas as letras? — Hoseok indagou duvidando,


com uma sobrancelha arqueada.
— Bom... não exatamente. Mas foi isso que deu a entender — respondeu o
ruivo, acanhado.

— Você 'tá de birra. Para de palhaçada.

— Yah! Agora ele fez sua cabeça, foi? Park Jimin, aquela cobra sorrateira!

— Jimin só me deu a versão dele. Agora quero que me dê a sua. Vou julgar
como um juiz imparcial. Sou neutro nessa história.

— Como assim, neutro? — Jeon questionou horrorizado, levando uma mão


ao peito, dramaticamente. — Você é meu amigo! Não dele. Sua obrigação é
ficar do meu lado, ok?

— Bem, tecnicamente sou amigo dos dois. Meio que acabei de combinar
com o Park, que somos amigos, então... foi mal.

— Jung Hoseok, você está jogando essa traição na minha cara? Bem assim,
na frente da minha salada?

Hoseok gargalhou alto, quase se engasgando com o pedaço de banana que


mastigava na boca.

— Olha, é sério. Fala logo a sua versão pra eu te ajudar. Pra ajudar vocês
dois, na verdade — disparou com a boca cheia. — Vocês são meu casal
favorito.

— Ok — resmungou Jeon, vencido. — Ainda não gosto dessa história. 'Tô


de olho, seu mercenário! — Então se ajeitou na cadeira, como se pronto pra
começar um discurso. — Ele não gosta desse tamer, o Mingyu...

— Esse é o nome dele? O nome verdadeiro do Helsing?

— Uhum — confirmou. — Continuando... Ele veio cheio de carinho me


puxar pra ir embora. Mas depois que entramos no carro, ele mudou
bruscamente. Ficou em silêncio, me respondia tudo monossilabicamente. E
aí eu estourei e perguntei qual era a dele. Então Jimin veio dizer que queria
me proibir de falar com o cara e sei lá o quê. Mas na verdade é porque esse
tamer já tentou roubar o Taemin dele — repetiu enfezado, cruzando os
braços na frente do peito, novamente.

Hoseok sacudiu a cabeça exasperado.

— Minha nossa, como você é um idiotão, JK. É claro que ele tem ciúmes
de você. O negócio é que quase nenhum dominador vai com a cara desse
Helsing. O cara atira pra todos os lados e não respeita os sub's
comprometidos. Além do mais, ele se acha o único capaz de saber lidar com
brats, é um sem noção.

— Como assim, "atira pra todos os lados"?

— Ele dá em cima de todo mundo, ué. Aposto que deu em cima de você. —
Jeon sentiu-se desconfortável, sob o olhar atento do outro, sem dizer nada,
movendo-se na cadeira. — Ah, fala sério! — o beta bateu com as mãos nas
próprias coxas, se dando conta. — Você flertou com ele?

— Quem não flertaria? O cara é um gostoso! E ele é educado! Ao menos


foi educado comigo. Ele não passou dos limites nem nada — defendeu-se.
— Mas poxa, achei que eu fosse especial, 'tava até lisonjeado. Quero dizer,
'tô namorando mas não 'tô morto, né? Fala sério. Onde 'tá escrito que depois
que a gente arruma um namorado, precisa odiar qualquer um dando em
cima da gente? Euhein. Minha única obrigação é recusar. Por respeito e
fidelidade. Não me olhe assim, não é como se eu quisesse ficar com ele
nem nada, mas é bom se sentir desejado, certo?

— Sim, você não está errado nisso. Mas olha, o Helsing realmente não
parece boa coisa. Jimin não está totalmente errado em querer você longe do
cara. Ele só meteu os pés pelas mãos e fez isso de maneira errada. E ele já
se desculpou, não já? Sei que já!

— Mas... mas ele não gosta do cara, por causa do cocôzão do Taemin! —
Jungkook teimou com uma criança birrenta.

— Não, Jungkook, porra, seu imbecil! Ele não vai com a cara desse tamer.
O cara já deu em cima do Taemin, do Taehyung, do Yoongi, até mesmo da
Kiko — Hoseok foi enumerando com os dedos finos. — Ele dá em cima até
de dominadores, simplesmente não tem rédeas e decoro, não respeita a
liturgia ou os bons modos. Se fosse outra pessoa se engraçando pro teu
lado, Jimin sentiria ciúmes de qualquer jeito, só que ele não estouraria
daquele modo. Ele só estourou porque era o Helsing com você. E olha,
Yoongi sempre me disse que Jimin é controlado com ciúmes, que nunca na
vida o viu fazer uma ceninha nem nada assim... Nem com aquele ex-noivo
endiabrado dele.

E ah, sim, Hoseok sabia tudo sobre a relação conturbada do Park com o ex-
quase-marido. O linguarudo Yoongi havia lhe contado tudo, mas o beta não
entraria em detalhes disso com o melhor amigo, afinal, era Jimin quem
tinha que definir o que ele queria que Jungkook soubesse sobre sua antiga
relação. Não cabia a si.

Jungkook suspirou, vencido, apertando o botão do liquidificador com as


bebidas misturadas com frutas, que o mais velho havia colocado ali. E
depois que desligou o aparelho, voltando a ter silêncio, finalmente falou:

— Acho que fui um pouco... injusto, então.

— É, foi sim. Agora vamos beber e encher a pança de comida, pra que eu
afogue minhas mágoas. Depois você se resolve com seu macho, 'tá legal?
Agora é hora de ajudar seu amigo.

[...]

— Hyung, é sério, essas imagens ficam vindo na minha cabeça o tempo


todo! — disse já meio alterado, bebericando a batida de frutas alcoólica
pelo canudinho que dava várias voltas antes de chegar na ponta.

— Ooh, Jeikei. Por essa eu definitivamente não esperava — Hoseok


respondeu um tanto chocado, o rosto suado e vermelho pelo tanto de batida
que já havia bebido. — Quer dizer, você é tão ciumento... Nunca pesquisei
muito sobre cuckold, mas sempre pensei que o pré-requisito pra esse
fetiche, era a pessoa não sentir ciúmes, mas sim prazer, em ver seu parceiro
transando com outro, enquanto ele assiste como um voyeur...
— É o que parece mais lógico — comentou jogando os cabelos cor de
cereja pra trás. — Mas eu andei pesquisando bastante esses dias, depois de
conversar com o Seung lá no munch, e descobri que, na verdade, a maioria
dos cuckolds são masoquistas emocionais, e o fetiche deles em ver seu
parceiro ficar com outra pessoa bem na sua frente, nasce da dor emocional
que a traição irá causar..

— Cara, isso é fodido. Que doideira!

— Hmn... você acha? — o garoto indagou meio acanhado. — Eu não acho


realmente estranho, quero dizer, quando penso nisso, em Jimin com outra
pessoa enquanto eu observo... É doloroso. Mas é uma dor estranha, que gera
uma angústia esquisita e faz meu pau formigar. Sabe? Eu me sinto meio
atiçado...

— Você pensa em pedir pro Jimin experimentar esse kink com você? —
perguntou curioso.

— Eu não sei. Provavelmente não. Eu sei lá, imaginar a coisa toda na minha
cabeça, é um tesão. Mas na prática, não sei não... Talvez eu brochasse e
começasse a chorar, no meio da casa de swing ². Imagina o mico?

— Jungkook? — o acastanhado riu com força, se jogando contra o sofá, já


que ambos estavam sentados aos pés do móvel, sobre o chão frio.

— Não ri de mim, seu bunda mole!

— Calma, bebêzão — Hoseok estendeu as mãos, em gesto de rendição,


com o copo na mão. — Não estou rindo de você, e sim da ironia que é isso.
Mas olha, por que você não tenta algo mais fácil primeiro, tipo um menáge
à trois?

— Sexo à três? Não acho que deve ser a mesma coisa.

— E não é. Mas num threesome, tanto você quanto seu parceiro, vão transar
com um "convidado". Então a possibilidade de sentir ciúmes e ficar
desconfortável, é bem menor do que você ficar de canto, apenas assistindo
o seu homem ficar com outra pessoa na sua frente — deu de ombros.
Jungkook pensou por um instante. Se alguém entendia bem de fodas em
trio, esse alguém era Jung Hoseok, afinal, não só havia namorado à três,
como também mantivera uma relação D/s à três com as mesmas pessoas.

— Você não sentia ciúmes quando o Taehyung ficava com o Yoongi? Ou o


Yoongi com o Taehyung? — o ruivo perguntou curioso, então. Estava
começando a ficar um pouco quente, com toda a bebida alcóolica, já um
pouquinho alterado e leve.

— No começo sim, muito. A primeira vez que vi o Yoongi hyung com o


Taehyung, minha nossa, eu quis morrer. Você não se lembra que eu cheguei
aqui às 11h da manhã, todo arranhado e roxo de chupões, querendo chorar
as pitangas?

— Você chegava aqui desse jeito com bastante frequência, seu safadinho...
— zombou. O outro riu da piadinha infame, sacudindo a cabeça em
negativa, mas sem reprovação no olhar, apenas humor.

— Justo — Hoseok admitiu. — Mas estou me referindo a vez em que eu te


liguei a madrugada toda, mas você estava dormindo. Foi quando o
Taehyung apareceu com uma coleira com as iniciais de Yoongi penduradas
num pingente enorme. E aí eu peguei três submissos na The Cave,
incluindo o Sung, e os levei pra um motel temático de BDSM. Aquele que
costumo ir sempre, já que não tenho uma masmorra em casa...

— Aaah, aquele perto da churrascaria que vende o melhor espetinho de


cordeiro, né?

— Uhum. Esse daí. — Levantou-se pra encher seu copo com mais bebida,
na bancada da cozinha. — Eu fiquei tão possesso, que fodi por nove horas
seguidas, com três sub's: uma mulher e dois caras, sendo que um deles era
ômega e me lembrava muito o Yoon, sabe? Era bem magrelo e branquinho.
Aish, fui tão sádico com o pobrezinho... E quanto mais eu machucava, mais
ele me dava aquele olhar sofrido e eu odiava. Eu queria vê-lo me fitar com
ódio, com desprezo, como o Yoongi fazia...

— Então por que você não ficou com um Dominador, ao invés de três subs?
— Jeon indagou confuso.
— Porque naquele dia, eu estava tão magoado que não me sentia à vontade
de me submeter à alguém. Queria apenas dominar, me sentir poderoso,
provar a mim mesmo que eu era o máximo e poderia ter quem quisesse nas
mãos.

— Uau. Intenso... Vivo me perguntando qual é a sensação. De dominar,


quero dizer. Eu sempre preferi me deixar ser controlado, sabe, só seguir o
fluxo das coisas. Liderar algo, é muita responsabilidade, deve ser
cansativo...

— E é. Não são flores — voltou a sentar-se de frente pro amigo, no chão.


— "Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades." já dizia o tio do
Homem-Aranha. Eu nem sei como tive fôlego de dominar tantas pessoas,
por tantas horas...

— Normal, ué, você é um beta — o de cabelos cereja deu ombros. — Sua


classe tem muito mais disposição pra horas ininterruptas de sexo, afinal,
vocês precisam aguentar os cios de ômegas e alfas. A natureza nunca erra.
Imagina que esquisito seria, se betas não aguentassem tanto assim...
Ômegas e Alfas teriam que, obrigatoriamente, passar os cios uns com os
outros, nunca com betas.

— É verdade, eu nunca tinha pensado nisso — o mais velho disse coçando


o queixo.

— Mas e aí, quando foi que você deixou de sentir ciúmes deles dois juntos?

— Sinceramente? Só aquele dia na The Cave, quando você foi comigo.


Naquele dia, eles dois não estavam mais juntos. E quando eles vieram me
dar explicações, dizendo que tinham feito aquela Cena juntos, mas que não
estavam em nenhum tipo de relação, eu percebi que não conseguiria
escolher entre um e outro dessa vez. E aí a gente começou a se agarrar ali
na parede e depois fodemos à três a noite toda, então... foi aí. Foi bem aí
que eu os vi juntos e não senti repulsa. Fiquei foi cheio de tesão, porque eu
estava incluso no meio. Eu desejava duas pessoas ao mesmo tempo, que me
desejavam de volta e se desejavam também entre si. Honestamente, é bem
mágico, se você quer saber. Você sente tudo em dobro.
— É, aposto que a raiva também — Jeon caçoou, vendo o amigo concordar
com a cabeça. — Mas então, se eu fosse fazer um threesome com o Jimin,
quem eu convidaria?

— Eu sou um ótimo candidato — o beta deu uma piscadinha zombeteira.


— Fala sério, não canso de imaginar como seria o Jimin todo mandão e
com aquele olhar superior, segurando nós dois pela guia da coleira e
mandando cada um chupar uma das bolas que ele tem embaixo daquela
pirocona grossa e.. Ouuuuch! — soltou um grito,. quando sentiu o pé do
Jeon acertá-lo no braço.

— Como você sabe que a rola do meu namorado é grossa, hein, seu talarico
raspa-canela? — disse em falso tom indignado, já meio bêbado.

— Ah, JK, fala sério — o switcher riu desesperadamente, engasgando-se


com a bebida. — O cara fazia sessões exibicionistas nas salas de vidro em
quase todas as festas, como eu não ia manjar aquela rolona dele? Eu só
nunca me joguei pra ele, por causa do Taemin; sabia que esse cara era
problema, então preferi nunca tentar nada com o Alphadome, mas falta de
vontade não foi — deu de ombros. — Seu namorado é gostoso e você
também, meu filho, aguenta!

Jungkook sacudiu a cabeça em negativa, gargalhando. Hoseok sempre


conseguia fazê-lo rir e sentir-se bem consigo mesmo. Era o tipo de amizade
que te dava três tapas na cara e te sacudia pelos ombros, te lembrando o
quão maravilhoso e único você é e o quanto você precisava ter ciência
disso.

— E você me confessa isso no mesmo dia em que resolveu me informar


que vocês dois agora são "amigos"? — apertou os olhos redondos pro
acastanhado, mas sem realmente se sentir incomodado.

— Ué, é só pra você ficar ligado... — provocou.

— Seu muquirana, fura-olho! — o ruivo grunhiu, brincalhão, subindo no


colo do beta, para tentar beliscar os mamilos do outro.
Um pouco alterados pela bebida alcóolica, que não era das mais suaves, as
coisas começaram a ficar um pouco alegres demais.

Acabaram caindo no chão, com os rostos bem próximos e ofegantes, até


que o famigerado olhar cheio de tensão se pôs entre os dois.

As bocas foram se aproximando, e então...

Os dois explodiram em gargalhadas frenéticas. Escancaram as bocas para


rir bem na cara um do outro, os rostos ficando vermelhos e as veias
saltando.

Jungkook foi o primeiro a rolar no chão e virar o rosto pro teto, se


escangalhando de rir.

— Por que isso pareceu tão nada a ver? A gente sempre se pegou, era de
boa...

— Eu não sei, mas eu também não consigo mais te ver com atração... —
Hoseok respondeu rindo, também olhando pro teto, com as mãos sobre a
barriga, tranquilo.

— Você acha que tem algo a ver com a gente estar mais próximos do que
nunca, ultimamente? — divagou.

— Provavelmente. Antes, você não fazia parte do meu mundo oculto, só me


ouvia falar sobre bdsm e minhas relações fetichistas, mas nunca podia
entender as coisas por completo. Agora, é como se a gente se entendesse
ainda mais que antes...

— Oh, que droga. Eu planejava me casar com você, se a gente chegasse aos
50 anos, solteiros — Jeon disse em falso tom de lamentação.

— Por que diabos eu chegaria aos 50, solteiro? — Hoseok retrucou,


indignado.

— Você, eu não sei. Mas eu, com certeza seria por causa do meu jeitinho
acalorado de lidar com as coisas. Sabe como é...
— Você quis dizer esse seu jeitinho pistolado, sem noção e difícil de lidar,
né, Jeikei?

— Cala a boca, macho — jogou a mão pro lado, desferindo um soquinho


leve no estômago do amigo, que fez uma atuação dramática de dor.

Uma coisa era fato: Jungkook e Hoseok jamais haviam transado fora dos
cios híbridos do alfa. Claro, não era incomum trocarem uns beijinhos
quando saiam pra clubes à noite, ou quando ficavam alterados demais pra
conseguir soletrar o próprio nome. Mas sexo ou qualquer tipo de pegação
mais animada, eles nunca tentavam. Não seria agora que o fariam. E,
aparentemente, nunca mais.

— Nossa, eu realmente não deveria beber longe de Jimin. Quer dizer,


quando eu bebo, fico com fogo no cu, como a maioria das pessoas. Imagine
só se esse pequeno momento que tivemos aqui, tivesse vingado. Porra, eu
teria acabado de trair meu namorado... — disse em tom preocupado. — Não
sou o tipo de cara cuzão, que briga com o namorado, e sai ficando com todo
mundo e depois usa a desculpa do "Nós estávamos dando um tempo."

— É, você tem mais vocação pra Rachel, do que pra Ross¹... — Hoseok
disse. — E eu seria um cuzão de fazer isso, algumas horas depois de
prometer ser amigo cara. Ah, o álcool mexe com a mente das pessoas,
realmente. Mas ao menos, agora a gente sabe que o clima entre nós se
evaporou por completo, depois de quase sete anos de amizade colorida —
deu de ombros.

— Bem observado, hyung. Ai, como eu vou chegar no Jimin agora..?

Hoseok arregalou os olhos.

— Como assim? Você vai contar isso pra ele? Por que? A gente nem fez
nada, só trocamos uns olhares, nossas bocas nem se encostaram, tá louco?
— disse tudo em tom alarmado.

— Não, idiota, não isso. Nem tem necessidade de contar uma coisa dessas,
é desnecessário. Nada aconteceu. Eu quis dizer ir lá me desculpar com ele,
pela nossa briga de semana passada, hyung. Isso realmente me fez perceber
o quanto eu tô amando esse cara...

— E você já não sabia? — o switcher indagou confuso. — Você já tinha até


me contado...

— Sim, eu já sabia que o amava. Mas acabei de perceber que jamais teria
coragem de traí-lo, com quem quer que fosse. Eu o amo tanto, que a à cada
dia mais, sinto que essa coisa é irreversível, e isso me dá medo...
Intensidade demais atrapalha. É a lei da vida. É sempre assim. Tenho
vivência.

— Ei, isso me lembra uma coisa... Seu rut alfa não é mais ou menos nessa
época?

— Sim. Mas está atrasado. Às vezes eu sinto uma leve quentura no corpo,
mas logo passa. É como se o cio estivesse ameaçando vir e não vem nunca.

— Pode vir à qualquer momento, então?

— Uhum.

— Então você vai dormir no sofá, né? Porque vai que você entra em rut de
madrugada e a gente 'tá dormindo lado a lado? Sei lá né, a gente pode ter
constatado que não sente mais atração um pelo outro, mas um cio é coisa
crítica...

— E quem disse que vamos dormir juntos? Você dorme no sofá! —


retrucou o acerejado.

— Não, não, não, eu sou visita. Você fica no sofá e eu na cama.

— Na-na-ni-na-não!

— E quem vai me impedir? Você? — Hoseok zombou.

— Euzinho!
— Então quero ver! — e aí o moreno se pôs de pé num pulo, correndo em
direção ao quarto.

— Volta aqui, seu mercenário, fura-olho, talarico, cuzão! — Jeon grunhiu,


correndo atrás do amigo.

[...]

Jungkook acordou suando. Estava com febre. Levantou cambaleando e foi


direto pro banheiro, olhando-se no espelho.

Era o cio? Não parecia. Não era o mesmo tipo de dor. Era só a febre, o
corpo quente e transpirante. Só aquela quentura sendo resfriada pelos poros,
através do suor. E seu rut estava um bocado atrasado, aparentemente. Já
devia ter começado há um punhado de dias.

Tirou as roupas e entrou debaixo do chuveiro gelado, pra aliviar. Depois


tomou dois comprimidos antitérmicos e decidiu ficar na sala e não fazer
barulho no quarto, já que um Hoseok muito triste e muito bêbado, dormia
esparramado em sua cama.

Depois de brigarem e decidirem no "ímpar ou par" quem ficaria com a


cama, Jungkook ganhou, mas deixou o amigo dormir no colchão ao pé do
móvel — o que não durou muito tempo, já que a onda do álcool fez o beta
entrar em prantos ao lembrar do término com Taehyung, e então subir na
cama pra ficar abraçado ao amigo mais novo, como um coala, triste, bêbado
e carente.

O alfa pegou o celular e sentou-se no sofá. Uma pequena garoa caía lá fora,
molhando as janelas de vidro, mas sem muito barulho. Isso o lembrava de
Jimin. Garoas podiam ser o início de tempestades, e estas sempre vinham
acompanhadas de trovões — o ponto fraco do alfa lúpus.

Ao desbloquear a tela, viu que haviam várias mensagens do Dom, cada uma
em um horário diferente. O mais velho enviava mensagens todos os dias,
mas a maioria o Jeon ignorava, e quando respondia, era pra fazer birra e
alongar a briga.
Maldito masoquistazinho emocional de merda.

No fundo, no fundo, estava adorando sofrer e fazer o outro sofrer junto,


como se fosse alguma prova de amor distorcida ou algo assim. Talvez, só
talvez, ele gostasse de ver Jimin sofrendo também. Talvez, fosse igualmente
um pouco sádico.

Hyung favorito

[22:13 PM]

| Por que está sendo tão mau, bebê?

[22:14 PM]

| Eu tô sofrendo, sabia?

[23:01 PM]

| Tô morrendo de saudade de você :(

[00:03 AM]

| Poxa, Kook. Já faz quase uma semana, para com isso, poxa 😭

[01:08 AM]

| Seu cio já passou? O que você fez? Tomou supressores?

[01:51 AM]

| Sei que você está com o Hope e não vai me responder agora. Mas acho
que ele também já conversou com você. Então, estou ansioso pra que
você venha até mim amanhã. Se você não vier, vou ficar muito bravo

[02:11 AM]

| Amoooooooooooor... eu tô com saudadinha do neném, que saco :<


[02:29 AM]

| Pq você continua me torturando, Jeon Jungkook? Vc também vacilou,


caramba. E o sádico aqui sou eu, eu quem deveria aplicar castigos, eu
quem deveria realizar torturas... Não você. Não estou gostando disso :(

[03:02 AM]

| Poxa, eu tô triste :/

Jungkook sorriu pra tela, como um bobo. Seria muito problema largar
Hoseok ali sozinho e sair na chuva?

Não, não seria.

Então colocou um casaco com capuz na cabeça e guardou o celular no


bolso, assim como sua coleira vermelha, que cuidadosamente pegou em seu
quarto, deixando o apartamento com a chave pra dentro. Ninguém entraria
ali, de qualquer forma.

Saiu do prédio e atravessou a rua, correndo pra escapulir da chuva fraca —


o que obviamente não funcionava, seu moletom ficara todo manchado com
as gotinhas de água.

Já na varanda de Jimin, tocou a campainha e esperou. Demorou um pouco


até que a porta se abrisse, revelando um alfa lúpus de cara amassada,
descabelado e de olhinhos semicerrados, que imediatamente se arregalaram
ao se dar conta de quem estava ali.

O Park então deu espaço pra que o outro entrasse, ficando assim
encurralado na porta, após fechá-la.

— Oi — o acerejado disse baixinho, segurando o sorriso já querendo


despontar em seus lábios. Caramba, estava com tantas saudades! Ficar sem
ver o outro de pertinho assim, enquanto alongava aquela briga, fazia parecer
tão mais importante vê-lo agora... Era como alguém que encontrava água,
após dias com sede no deserto.
— Oi — Jimin devolveu, fitando-o com cara de bobo. Também queria
sorrir, mas daria uma lição no bratzinho agora. Não podia deixar uma
malcriação daquele tamanho passar batida.

— Desculpe. Fui um imbecil, hyung — fez cara de coitado.

Jimin quase apertou aquelas bochechonas fofas.

Quase.

Mas resistiu bravamente.

— E pelo o quê você se desculpa exatamente? — perguntou sério e calmo.


— Por ter ter tido um ataque de ciúmes por cima do meu ataque de ciúmes,
por me deixar falando sozinho e sequer se dar ao trabalho de ouvir minhas
desculpas, mesmo que eu as tenha pedido menos de cinco minutos depois
de vacilar, ou de passar uma semana inteira me ignorando? — arqueou uma
das sobrancelhas bem feitas.

— Desculpa por tudo isso aí que você falou — disse olhando pros próprios
pés, sem coragem de fitar o namorado. — Principalmente por ter te
ignorado. Admito que senti certo prazer em fazer isso... Meu masoquismo
emocional é um pouco forte... E acabei de descobrir que meu sadismo
também — confessou de uma vez, finalmente levantando o rosto para ver as
reações do outro.

Jimin permaneceu um minuto inteiro em silêncio, olhando-o tão


intensamente no fundo dos olhos, que o garoto se sentiu constrangido.

— Tudo bem. Eu desculpo — o Dom respondeu somente.

Ficaram se encarando mais um bocado. E é claro, muito mais inclinado à


submissão de que à liderança, como era realmente, Jungkook esperava que
o moreno tomasse as rédeas e o beijasse, selando o acordo de paz.

Mas Jimin não o fez.

Então, após respirar fundo e morder os lábios, já sentindo-se embaraçado, o


de cabelos cereja avançou para beijar-lhe a boca e fazer o que o alfa lúpus
não fazia.

Todavia, seus lábios pousaram na bochecha esquerda do lúpus, que virou o


rosto pro lado, escapulindo de si.

Jeon ficou tenso e arregalou os olhinhos de jabuticaba, com uma expressão


perdida.

— Hyung..? — reclamou. Jimin iria rejeitá-lo?

O Park se voltou pra ele novamente e o afastou com leveza, indo pra longe,
até parar no meio da sala e encará-lo, com as mãos na cintura.

— Te perdoo depois do seu castigo.

— Ah não, Jimin... — o mais novo choramingou.

— Ao aceitar uma relação de dominação e submissão, você concorda com


os castigos e punições quando desobedece, Jeon Jungkook — fez questão
de lembrá-lo. — Você é muito espertinho e só quer as partes boas. Quer ser
mimado, ganhar presentes, comidinha feita, roupa lavada, carinho e, na hora
do sexo, quer ficar paradinho enquanto eu faço o trabalho todo...

— Ei!

— E eu gosto assim — o moreno o pausou, esticando a mão no ar, para


impedi-lo de interromper. — Contudo... As partes ruins fazem parte do
combo. A disciplina é o ponto principal. Nesse tipo de relação você
concorda em ser castigado quando desobedece sem querer, ou ser punido
quando o faz propositalmente pra magoar seu dominante. Então, o que você
acha que merece? — E apertou os olhos pro ruivo, testando-o.

Oh-oh. Jungkook estava fodido. Conseguia ver na expressão do Park,


exatamente o que ele estava pensando e a resposta que queria ouvir. Jeon
não merecia ser castigado... merecia ser punido; porque ele sabia que estava
errado e, mesmo assim, insistiu no erro.

Já conhecendo o dominador como conhecia, sabia que se tentasse aliviar


pro próprio lado, este ficaria bravo e o puniria. Mas se admitisse merecer
uma punição ao invés de um castigo, Jimin tomaria o caminho inverso,
apenas o castigaria, sendo mais brando.

— Eu fui um garotinho malvado e mesquinho — confessou Jungkook, com


uma vozinha fina, quase irreconhecível. Um sonso, se pode dizer.

— E..? — o Dominador instigou.

— E eu mereço ser punido — confessou à contragosto.

Um sorriso orgulhoso e satisfeito despontou no rosto anguloso do Park.

— Muito bem. Não irei te punir dessa vez, apenas castigá-lo, pra que saiba
que seu Senhor é piedoso. Vamos para a masmorra — ordenou e deus às
costas, subindo as escadas transparentes.

Jungkook começou a suar frio. O remédio já havia abaixado sua


temperatura corporal, sua transpiração agora tinha outro motivo: ansiedade
e o medo do desconhecido. Não sabia o que Jimin faria com ele em seguida,
e aquilo o atiçava.

Ao menos estava tranquilo por notar que aquele — ainda — não era seu cio,
já que se fosse, não poderiam praticar o BDSM naquele momento. Teriam
que se trancar em casa por alguns dias, e Jimin teria de satisfazer seu
período de procriação, mas sem utilizar-se das práticas de dominação e
submissão, por não haver perfeita sanidade em Jungkook.

Toda vez antes de terem uma sessão, Jeon se sentia do mesmo jeito. Aquele
era o efeito Park Jimin. Começou a sentir seu pênis flácido acordar,
enchendo-se, o sangue começando a circular freneticamente em sua pélvis.

— Vai me deixar sem gozar de novo, hyung? — perguntou com a vozinha


suave, quase humilde.

Ah, mas o tamer sabia que era tudo uma grande farsa. Jungkook era tão, tão
sonso...

— Vou fazer o que eu quiser e você vai aceitar caladinho — disse o fitando
por cima do ombro com um olhar de falso desprezo, abrindo a porta do
quarto onde ficava a masmorra. — Só quero que abra a boca pra gemer e
responder o que eu perguntar, fui claro, seu malcriado?

— Sim, meu senhor — respondeu Jeon, de cabeça baixa, enfiando as mãos


grandes dentro do bolso do casaco, mordendo o lábio, afobado.

Jimin então acendeu as luzes, agora em cores diferentes de antes.

— Azul? Trocou as lâmpadas vermelhas pelas azuis? — O ruivo indagou


surpreso.

— Eu te dei permissão pra falar, sua peste? — O mais velho rosnou, o


encarando irritadiço.

Jungkook se encolheu, arregalando os olhinhos brilhantes, pois sabia que


havia realmente saído da linha, embora os dois estivessem errados e
possuíssem sua parcela de culpa.

— Me desculpe, Jimin-ssi. Mas é que... Sabe, se nós dois erramos, por que
só eu estou sendo castigado? — questionou, mas sem audácia ou
arrogância.

— Porque você já me puniu, Jungkook. Você passou a semana toda me


punindo, se recusando a me responder, a me ver. Você me deu a punição do
silêncio. Agora é minha vez, pra ficarmos quites.

O de cabelos vermelho cereja deu um muxoxo quase inaudível, sabendo


que, realmente... Ele já havia punido um bocado o mais velho. Agora era o
momento da revanche.

O dominador fechou a porta e parou no meio do quarto, analisando o lugar,


provavelmente calculando bem o que faria, já que fora pego de surpresa.

— Tire a roupa toda — ordenou sem olhá-lo.

— Oh... mesmo? Gosto mais quando você tira ela, hyung. Pecinha por
pecinha... — Jeon provocou ardiloso, tentando se esquivar.
Jimin sugou o ar entredentes. Não, não estava perdendo a paciência. Estava
ficando excitado. Mais uma vez seu corpo provava o quanto, pela primeira
vez na vida, alguém conseguia instigá-lo através da teimosia. Sentiu seu
baixo abdominal repuxar, dando os primeiros sinais de excitação.

— Se oponha a qualquer coisa mais uma vez, e vou te punir de verdade. É


isso o que quer? — perguntou o ex-militar, se voltando pro sub, com uma
sobrancelha arqueada e um olhar mortal.

— Não, meu senhor.

— Então faça logo o que eu mandei. Agora.

Jungkook assentiu e retirou o casaco úmido. Depois, lentamente, abaixou a


calça de moletom. De canto de olho, sabia que Jimin o observava atento,
sem mover um músculo, apenas apreciando seu strip. Então removeu a
camisa branca, deixando o peitoral desnudo.

Viu as orbes escuras do Park se perderem em seu abdome trincado, como de


costume. Jimin amava os músculos definidos dele e ele sabia disso, amava
ser admirado pelo corpo bem construído.

Finalmente, Jeon tirou a cueca, revelando o pênis grande parcialmente


ereto, os pêlos crescidos da pélvis o deixando com uma aparência ainda
mais selvagem. O tamer lambeu os lábios.

— Você trouxe sua coleira? — o lúpus perguntou, recebendo um aceno


positivo do avermelhado, que enfiou a mão no bolso do casaco e retirou a
coleira vermelha de rebites dali de dentro. — Ótimo — disse tomando-a em
suas mãos para colocá-la no pescoço do submisso. — Agora vá até o
expositor e pegue a Spider gag, uma venda e um dildo. Escolha o que achar
melhor — mandou, apontando para o local com o queixo.

Jungkook, cada vez mais excitado, pegou todos os objetos exigidos,


trazendo-os para o lúpus, e aguardou novas ordens.

Jimin os atirou em cima da cama e então abriu a gaveta da mesinha de


cabeceira, capturando uma bisnaga de lubrificante e uma corda.
— Senta aí — o lúpus ordenou, e rapidamente o ruivo se acomodou sobre o
colchão macio.

O dominador então deslizou a corda em volta do tronco forte do garoto,


calmamente, restringindo os movimentos dos braços alheio, em várias
voltas. Deixou os pulsos unidos pra trás, de modo que Jungkook não
pudesse usar os braços pra nada.

Jeon o encarava curioso, e prendia a respiração, tenso e ansioso. Sentia uma


mescla de euforia, medo e excitação. Queria perguntar o que Jimin faria,
mas sabia que não teria resposta. Então ficou quieto, sabendo que seu
domador não faria nada odioso, com certeza ele iria gostar — ao menos até
.ser contrariado, quando o castigo viesse.

O mais velho o encarou com um sorriso claramente satisfeito, checando


seus nós na corda grossa, para então se afastar com o dildo e o lubrificante
nas mãos, já retirando as próprias roupas, levando menos de um minuto
para se pôr completamente nu.

— Sabe, Jungkook-ah... — começou a dizer com aquele tom debochado


sutil em sua voz melodiosa. — Eu não sei mais o que fazer pra te
disciplinar. Não parece que você deseja me foder tanto assim, não é, bebê?
Já que nunca obedece...

— Eu quero muito, meu senhor... — Jeon resmungou, tentando se explicar.

— Calado! — O moreno ralhou. — Já falei que só pra você abrir essa porra
de boca, quando eu mandar, não falei? Essa foi uma pergunta retórica —
disse rude.

— Sim senhor. Me desculpe — Jungkook abaixou a cabeça, constrangido, o


coração acelerado, mas absolutamente excitado, o pau desnudo começando
a inflar em velocidade recorde.

Ele pensava: "Sou tão bonzinho. Até mesmo quando meu alfa é um grosso.
É isso que tenho que aguentar e ainda assim dou a ele meu amor. Sou um
ser humano incrível. Isso é devoção de verdade." Ah, a forma como a
mente de um submisso trabalhava era sempre assim, egocêntrica, tendendo
a se pôr em uma posição de vítima, que lhe soava tão nobre, a ponto de
justificar seus impulsos, aceitando estar em posição inferior somente por
isso; para sentir-se melhor sobre si mesmo.

— Como eu dizia... Só vou te deixar me foder, quando você for bonzinho e


comportado o suficiente. Mas sabe qual o problema nisso tudo, amor? —
Jimin zombou, encarando o garoto fixamente, enquanto espremia uma boa
quantidade do líquido transparente lubrificante em dois de seus próprios
dedos estendidos. — O problema é que assim eu também sofro, entende?
Também fico com meu rabinho sedento, sem ter um pau bem gostoso
enterrado dentro dele... — instigou fazendo beicinho e uma fingida
expressão de coitado.

Jungkook sugou o ar, dilatando as narinas, sentindo o desespero se apossar


de si. Jimin não ia fazer o que ele estava pensando, ia? Ah, não. Esse seria o
auge da tortura. Mais do que no dia de sua primeira sessão. O ruivinho
começou a resfolegar, observando cada movimento do ex-coronel, com uma
carinha chorosa.

— Então, você sabe... — continuou o ex-militar, ajoelhando-se na poltrona


de couro preto, ficando de costas e fitando Jeon por cima do ombro. — Vou
ter que aliviar minhas vontades sozinho, já que você não colabora.

E com um sorriso oblíquo, Jimin se curvou pra frente, apoiando-se nas


costas da poltrona com a canhota, ao passo em que levava a destra com os
dedos lubrificados diretamente pra sua entrada exposta.

Jungkook soluçou, franzindo o cenho e mordendo o lábio. Seu pau já estava


tão duro, que era desesperador. E o pior de tudo, era que estava imobilizado,
incapaz de se tocar enquanto via o ex-militar dedar a si mesmo, preparando-
se para receber aquele consolo rosa de dezoito centímetros no próprio ânus,
que o havia feito escolher pessoalmente.

— Se arrepende, bebê? — sussurrou o alfa lúpus, provocador, a voz


arrastada, efeito das carícias que realizava com a ponta das digitais em suas
paredes internas. — Se você fosse um menino bonzinho, seriam seus dedos
aqui. E depois sua linguinha quente, me lambendo todo, antes de me foder
gostoso...
— Hyung... — Jungkook choramingou agoniado, remexendo o quadril,
impaciente, buscando qualquer maldito alívio. — Por favor...

— Isso, implora. Implora pra me foder — disse o domador. — Quero que se


humilhe e se arrependa amargamente, por não ser você aqui me comendo.

— Acho que vou morrer... — o mais novo dramatizou. — Vou dizer minha
palavra de segurança — resmungou, contrariado, fazendo o outro alfa
retirar os dedos de dentro de si mesmo, para fitá-lo desafiador.

— Pode dizer quando quiser. Você não vai me foder, do mesmo jeito —
declarou firme e perverso.

E então, com um sorrisinho delicioso de vingança na cara, o lúpus capturou


o dildo nas mãos e o melou de lubrificante, levando a glande de borracha
até seu buraquinho enrugado.

Ele pensava que, honestamente, aquela era sua última chance de disciplinar
o submisso abusado. Se penetrá-lo era o que o garoto mais queria, essa era
sua única e maior arma para forçá-lo a obedecer. Mas se nem assim o
maldito malcriado cedia, bem... Então ele não teria conserto.

E bem, o domador não se aguentava mais de vontade de se acabar no pau


do seu namorado e submisso. Já estavam juntos há quase quatro meses e
ainda não haviam se entregado cem por cento. Ele sentia aquela coisa
faltando, porque para o moreno, o sexo tinha poucos limites. Algo como
trocar as posições na hora de penetrar, era fundamental, e eles até agora não
haviam feito, única e exclusivamente por culpa do próprio Jungkook, que
não entrava na linha de uma vez.

O lúpus gemeu e mordeu o lábio carnudo, enquanto empurrava o brinquedo


lentamente pra dentro si, soltando gemidinhos de dor a cada centímetro lhe
rasgando.

Jungkook estava suando de novo. Sentiu uma gota grossa escorrer por uma
de suas têmporas, escorrendo de seu pescoço para o peitoral, passando pela
barriga, até se acumular ali, em seu umbigo. Estava quase hiperventilando.
Quando o de cabelos cereja viu o brinquedo entrar quase todo no ânus de
seu domador, ele grunhiu. Daria qualquer maldita coisa pra ser o seu pau no
lugar daquela porcaria de borracha. Tinha certeza que satisfaria seu homem
muito mais do que aquela merda.

Queria reclamar pra caralho. Mas o moreno já tinha ordenado duas vezes
pra que ele só falasse quando solicitado. Então o brat fez um esforço
sobrehumano para se manter com a língua dentro da boca.

De fato, Jimin era ótimo em torturá-lo sexualmente, não o dando o que ele
queria, pois ele não fazia por merecer. Jungkook nunca esteve em uma
relação assim, mas agora que estava, vivia se perguntando como não entrara
nisso antes. Sequer se imaginava mais em relações baunilhas. O BDSM era
seu destino, desde sempre. Lhe combinava perfeitamente.

E por mais que ser castigado e contrariado constantemente o fizesse passar


muita raiva, ainda eram aqueles joguinhos de poder e os embates de força
imaginários com seu dominador, que o instigavam até o limite do prazer,
pois exercitava sua mente.

Olhando para seu submisso malcriado por cima do ombro, Jimin começou a
movimentar lentamente o dildo dentro de sua entrada, gemendo
provocadoramente no processo.

O mais novo foi à loucura.

O Park podia ver de longe a cabecinha inchada do pau de seu garoto


brilhando de pré-gozo, ficando roxa e estrangulada, de tão duro o rapaz
estava, ao vê-lo masturbar-se analmente pra si.

Jimin estocava com o pênis de silicone em seu ânus, ao mesmo tempo em


que rebolava contra o brinquedo. Sobre uma coisa não tinha mentido:
estava realmente sedento por um pau gostoso socando seu rabo. Não
aguentava mais as malcriações de Jungkook, justamente porque esse era o
empecilho pra que ele pudesse se acabar de sentar naquela rola veiuda do
namorado abusado.
— Ai, bebê... Como eu queria que fosse você aqui dentro de mim... — disse
ronronando e fazendo expressões de prazer absurdamente pornográficas,
desafiando a sanidade mental do ruivinho sedento e desesperado.

Alguns dominadores acreditavam que gemer para um submisso, os


colocava em posição inferior. Como se não pudessem demonstrar prazer.
Para o Alphadome, era justamente o contrário: ele usava e abusava de
gemidos manhosos, pra despertar mais tesão ainda em seus submissos,
mostrando que o desejo era recíproco.

O mais novo choramingou outra vez, mordendo o lábio com tanta força,
que pensou estar prestes a arrancar um pedaço.

— Veja como cabe tudinho em mim, amor... — o moreno sussurrou. —


Olha como eu engulo tudo, até o talo... — enfiou o dildo todo, até a base,
dando um gemido dolorido. — Seu alfa é guloso, bebê... Imagina o que eu
não iria fazer com seu pau...

— Meu senhor, por favor, eu imploro, por favor, por favooooor, por
favooooor!!! — Jungkook grunhiu desesperado, sentindo seu tesão alcançar
a estratosfera, o pau latejando tão forte que doía.

— Você quer? — Jimin indagou com a voz manhosa, enfiando o caralho de


borracha mais veloz dentro de si. — Quer me comer, quer, amor? — disse
arrastado.

— Quero mais que qualquer coisa nessa vida, meu senhor, por favor... —
JK choramingou.

— Então por que não se comporta, amorzinho? Por que insiste em magoar
seu dominador? Eu não sou bom pra você, uh? — provocou mais.

— Hyung, por favor, por tudo o que é mais sagrado, não tô aguentando
mais... — Jungkook disse com uma voz sofrida e chorosa. Seu pau doía.
Doía de verdade. O pobre coitado parecia que ia explodir de tesão, porque
Jimin passivo pra ele, era como um sonho, um prêmio que ele precisava
conquistar, desesperadamente, mas não tinha forças para acatar o exigido
para tal conquista: comportar-se.
— Ahn.... Que gostoso... — o lúpus gemeu manhoso, ignorando o mais
novo, enquanto jogava a cabeça pra cima e se fodia mais rápido no dildo
rosa. — Ah... eu queria tanto gozar com o pau do meu bratzinho socando
fundo em mim...

— Meu senhor, eu faço o que você quiser, por favor! — Jeon gritou
agoniado.

Doido pra gozar e com um tesão infernal deixando seu corpo febril, Park
Jimin sentiu-se prestes a ceder.

Isso até ouvir o garoto murmurar:

— Cobra sorrateira...

E então o lúpus quase não pode acreditar. Não que fosse novidade Jungkook
chamá-lo assim ou soltar umas tiradas engraçadinhas e malcriadas. Mas
puta merda, um gesto de insolência justamente quando estava sendo
disciplinado? Aquilo era o cúmulo! Esse garoto ria na cara do perigo! Jeon
Jungkook definitivamente que não queria fodê-lo o suficiente, pelo visto.

O dominador então retirou o dildo do ânus e saiu da poltrona, caminhando a


passos rápidos e furiosos em direção a Jungkook, que arregalou os olhos.

— Engole essa merda, Jeon Jungkook! — o mais velho apontou o pênis de


borracha rosa em sua direção. — Vamos, engole! — rosnou montando em
cima do ruivo, que se contorcia, rindo e tentando fugir do brinquedo, o
qual já estava sendo arrastado em sua bochecha, à medida que Jimin
segurava seu maxilar com a outra mão, imobilizando-o, até que finalmente
enfiou o dildo em sua boca aberta.³

Jungkook, sem ter como como usar as mãos ou braços para se apoiar no
colchão, acabou perdendo o equilíbrio e caindo de costas, com o alfa lúpus
irado montado nele como se monta num touro bravo, enquanto movia o
brinquedo pra dentro e pra fora de sua garganta.

Quando viu que o acerejado começara então a engasgar, já que ria


divertidamente com aquela coisa enorme enfiada na goela, Jimin removeu o
dildo, atirando-o longe, vendo o rapaz tossir e ficar com o rosto quase tão
vermelho quanto os cabelos, enquanto engasgava e gargalhava ao mesmo
tempo.

— Vou acabar com sua marra, malcriado do caralho — rosnou.

O tamer desceu do colo do mais novo e o puxou pelo aro da coleira para
que este voltasse a se sentar, quando parou de tossir.

Com destreza, o moreno foi desamarrando os nós na corda, soltando os


braços musculosos do Jeon, finalmente deixando-o livre.

— Ponha a venda — disse Jimin, puxando-o para se levantar, enquanto


pegava a spider gag e a venda abandonadas no colchão. — Agora você vai
engolir uma rola de verdade.

Após ser obedecido e contemplar os olhos do Jeon serem cobertos pela


venda de tecido preto, o Park caminhou para detrás do brat, empunhando a
spider gag, para posicioná-la em seu rosto e fechá-la atrás da cabeça.

Sem poder ver coisa alguma e tendo a mordaça de aço — que parecia uma
aranha —, arreganhando sua boca, Jeon começou a sentir saliva escorrer
involuntariamente por seus lábios, sem poder controlá-la por conta da gag.

Sentia um arrepio gostoso com a respiração de Jimin em sua nuca, seus


pêlos se eriçavam, sem poder ver o que acontecia ao redor, sem poder
observar os próximos movimentos do Park. Era essa tensão que o bondage
proporcionava, ao restringir os sentidos: deixava o submisso como uma
presa, vulnerável e prestes a ser deliciosamente abatida.

— Ajoelhe-se.

Jungkook imediatamente obedeceu, com cuidado, sentindo as mãos do Park


o ajudarem a se equilibrar.

— Você não tem como dizer sua safeword, caso precise. Então se precisar
que eu pare, dê três tapinhas na minha coxa. Fui claro? Afirme com um
movimento de cabeça para 'sim' ou para 'não'.
Jeon fez o movimento pra cima e pra baixo, afirmativo.

— Muito bem, alfa. Agora vou foder sua boquinha toda, até o talo do meu
pau — declarou o dominador, com a voz absolutamente provocante e
rouquinha, masturbando-se, deixando que o de cabelos cereja pudesse ouvir
a fricção melada de sua mão punhetando o próprio pênis grosso.

Então Jimin o segurou pelos cabelos e deslizou a glande inchada na língua


do mais novo, suspirando audivelmente. Jungkook não podia mexer a boca,
a spider gag a transformava apenas num buraco para meter.

Jimin foi devagar, enfiando pedacinho por pedacinho do membro, e tirando,


apenas para acostumá-lo outra vez. Até que enfiou tudo, assistindo o garoto
se engasgar de primeira.

— Oh... pensei que fosse mais guloso, bebê. Não aguenta? — zombou.

Jungkook emitiu um grunhido — indecifrável, claro.

O alfa lúpus então voltou a deslizar seu caralho grosso na boquinha quente,
fodendo-a, literalmente, até o talo, deliciando-se com as engasgadas do
outro e suas lamúrias mudas.

Empurrava o quadril pra frente e pra trás, como se fodesse um cu. Forte,
bruto, sem delicadeza, apenas querendo gozar de uma vez.

Podia ver o cacete completamente duro do mais novo, abandonado entre


suas pernas — e aí pegou o exato momento em que o garoto tentou levar as
mãos até o próprio membro.

— Tsc, tsc, tsc... Nada de se masturbar, meu bem. Sem as mãos — ordenou,
o sadismo muito bem audível em sua voz delicada e provocadora, quase
sussurrada.

Então o moreno voltou a foder sua garganta, assistindo à saliva em


abundância escorrer pelos cantos da boca e queixo do garoto, molhando até
mesmo seu peitoral e também o chão.
Ah, sim, aquela era uma das coisas mais interessantes na spider gag: Como
ela fazia a pessoa se babar inteira, sem comando nenhum do próprio
corpo, totalmente submissa e à mercê do dominante.

Park fodia aquela boquinha com vontade, até sentir sua pélvis bater contra
os lábios finos arreganhados do alfa. Afastava-se de tempos em tempos, de
modo ritmado e bem contabilizado, pra que o brat pudesse respirar e não
causá-lo refluxo.

Jimin não duraria muito daquele jeito. Ia gozar como um condenado. E


então, em sua mente brilhante para maquinar castigos e torturas sexuais,
surgiu uma magnífica ideia...

Sorrindo apenas como próprio Diabo o faria ao vencer a batalha do


apocalipse, o alfa mais velho retirou-se da boca do submisso.

Decidiu tirar-lhe a mordaça, primeiramente. A venda, removeria depois.


Precisava deixar o ruivo sem nenhuma dica do que faria a seguir.

Ele sorria de orelha à orelha, bastante orgulhoso de si mesmo. Park Jimin


havia, inegavelmente, nascido para controlar o prazer e a mente de alguém.
Fazia de qualquer pessoa o seu fantoche. E ele era o mestre.

O dominador pegou uma pequena toalha no armário e efetivamente retirou


a spider gag do garoto, passando então a secá-lo, enquanto o ruivo movia os
lábios de um jeito engraçado, pois estavam dormentes e ele não era capaz
de senti-los imediatamente. Era provável que nem fosse capaz de falar por
alguns minutos, seu maxilar estava dolorido, ainda que a coisa toda não
houvesse durado sequer dez minutos.

— Levante-se — Jimin então deu as mãos a ele, ajudando-o a se pôr de pé,


já que continuava a não enxergar nada, com a venda nos olhos.

O Park o empurrou com força na cama, de bruços. Deitou-se por cima e


distribuiu beijos na nuca, descendo pela linha da coluna, vendo o
avermelhado se contorcer no colchão.
Violou a entrada absurdamente melada de lubrificação com a língua,
chupando-o e enchendo o aquele rabo de tapas estalados, que ressoavam no
silêncio do quarto espaçoso, adorando as reboladas que o submisso
malcriado dava em seu rosto, sujando toda sua face com o slick afrodisíaco.

— Ahhh... hyung... — o atrevido gemeu, puxando os lençóis, sentindo o


músculo aveludado estimular tão deliciosamente sua área sensível. Porra,
estava com um tesão do caralho! Tinha adorado a brutalidade do lúpus,
estava quase vendo estrelas de tanto prazer, a líbido estava quase
explodindo seu cérebro.

E aí foi virado de frente, rudemente, de súbito.

Jimin segurou o falo teso do alfa, masturbando-o enquanto deixava o ar


quente de seus lábios anteciparem-no, dado a proximidade de sua boca com
o membro rígido. Via o baixo abdominal de Jeon vibrar, as veias marcadas
ali por baixo da pele dando àquela parte do corpo uma aparência
extremamente sexy.

E sem muita demora, o domador abocanhou o pênis grande do namorado,


chupando-o com vontade, deslizando a língua pela fenda escorrendo pré-
porra, de novo e de novo e de novo, levando o outro à loucura. Este também
não gozava há um bom tempo. Não duraria dois minutos.

— Jimin-ssi... — o que se submetia ronronou, levando as mãos para o


cabelo do alfa, segurando os fios macios. — Eu vou... hyung... eu tô quase...
— suspirou.

O maldito lúpus estapeou sua destra, impedindo-o de tocá-lo. Começou a


sugar mais rápido, pra cima e baixo, enfiando o caralho do outro até o
fundo da própria garganta vez ou outra, e quando não, masturbava o resto
com a mão experiente.

Jimin pôde sentir o sangue correr rápido por baixo das veias do pau do
garoto, que latejava em sua língua. E foi aí que ele abandonou a felação no
membro alheio, fazendo soar o conhecido som de 'ploc' suave.
O corpo de Jungkook tremeu sob seu olhar, o cenho franzindo após o
abandono.

— Jimin-ssi, por favor.... De novo não, por favor.... — sussurrou como se


choramingasse, rebolando o quadril no ar, em busca de qualquer contato
contra seu cacete a ponto de bala, que havia acabado de ter o orgasmo
interrompido. — Você 'tá ficando previsível, sempre me negando o orgasmo
como castigo... — E após a declaração transbordando audácia, fez um bico
nos lábios macios.

— Calado — o Park disse em tom entediado, surpreendentemente. — Fica


de quatro — ordenou.

Imediatamente o ruivo deu um sorriso travesso e cheio de alívio. Jimin


finalmente o foderia, certo? Então deu um pequeno salto animado, pondo-se
com os joelhos e cotovelos apoiados na cama, todo esticadinho.

— Quer que eu empine mais? — provocou o mais novo. — Gosto de ficar


bem arreganhadinho pra você, meu senhor... — ousou ainda mais.

Ah, pobre coitado. Não importava o quanto conhecesse Jimin, ele nunca
esperava pelo pior que aquela mente suja e vingativa poderia aprontar.

Alheio às intenções do tamer — malignas, diga-se de passagem —, o mais


novo pode ouvir perfeitamente o outro caminhar até um dos armários e
remexer nos acessórios dentro dele. Foi só aí que um arrepio desconfortável
subiu por sua coluna, anunciando que as coisas poderiam não acontecer
exatamente como ele pensava.

— Jimin... — chamou cabreiro, com seriedade na voz.

O dominador se aproximou e desferiu um tapa ardido na lateral de sua coxa,


repreendendo-o.

— Demonstre respeito, porra! — bradou.

— D-desc-culpe, meu senhor — gaguejou. — Você não vai me bater para


me punir, vai? — E sua voz soou audivelmente temerosa, enquanto ele se
virava no colchão e sentava-se nele, ainda às cegas, os olhos vendados.

Atento, como sempre, o Park ficou tenso.

— Por que?

— Esse é um limite meu, senhor — Jungkook disse em voz baixa,


completamente acanhado. — Gosto que me bata pra me dar prazer, mas não
quero que me bata pra me punir. P-por favor.

Ainda que estivesse com os olhos tampados pela venda, e não pudesse ver
seu dominante, o de cabelos cereja tinha o rosto voltado pra baixo.

Jimin percebeu claramente então, que o submisso falava sério. Estava o


informando um limite seu. E assim como tudo em Jungkook, esse seu limite
também era oposto à maioria: enquanto surras faziam parte de castigos e
punições 99% das vezes, pra um masoquista ela seria prazerosa, então
machucar alguém que apreciava a dor, era um presente. Contudo, para
Jungkook, por mais que adorasse sentir sua pele açoitada em todo o lugar
por seu disciplinador, uma coisa ele não aceitava: tê-la sendo usada contra
si.

Ciente, Jimin apoiou um joelho na cama e segurou delicadamente a


mandíbula do namorado, aproximando-o do seu, o fitando atentamente,
ainda que este não o pudesse ver.

— Não se envergonhe em alertar claramente sobre seus limites, amor —


disse com a voz branda. — Mesmo que em meio a uma sessão, um castigo,
ou até uma punição. E nunca se desculpe por isso. É um direito seu, de se
negar a certas coisas, tudo bem? — Jungkook assentiu com um pequeno
menear de cabeça. — Ótimo. Eu nunca irei te punir ou castigar com
agressões físicas, sim? No máximo posso te causar uma leve dorzinha
genital, então? Como já faço normalmente? — perguntou.

— Sim, Jimin-ssi. Mas só um pouquinho. O suficiente pra eu parar, certo?

— Certo — respondeu-lhe. — Você confia em mim, bebê?


— Muito, meu senhor. Muito mesmo — disse em tom acanhado.

Jimin se deixou sorrir de lado, os olhos brilhando, já que o Jeon não poderia
ver as reações que sua declaração lhe causara.

— Confia mesmo? — quis repetir.

— Com a minha vida, hyung.

— Ótimo — se afastou com cuidado. — Agora volte pra posição que


ordenei.

Jungkook se virou no colchão e pôs-se de quatro novamente, dessa vez


empinando-se apenas um pouco. Aquela espera gerava uma ansiedade
tremenda, e ele sabia que era isso o que tornava tudo tão mais gostoso no
final.

Sentiu Jimin tocar seu pulso esquerdo e envolvê-lo em corda macia,


fazendo o mesmo com o direito e também seus tornozelos, o que impediria
que Jeon se movimentasse muito além daquilo.

— Amarrei as cordas no dossel da cama — Jimin avisou. — Você não vai


ter como sair dessa posição, no máximo poderá escorregar os joelhos no
colchão e ficar de bruços, entendeu?

— Sim, senhor.

— Bom menino.

Foi aí que Jungkook sentiu alguma coisa buscar passagem em sua entrada:
o dedo de Jimin. O dominador deslizou ele ali algumas vezes, antes de
enfiar mais um, e mais outro, dedando-o lentamente.

Após um pouco daquilo, o ruivo ouviu uma fricção molhada atrás de si, e
então um pau se enterrando lentamente nele. Mas não era o pau de Jimin.
Era um de borracha. Um dildo. Ele podia saber, porque um pênis de
brinquedo era sempre muito mais duro de que um caralho de verdade.
— Vai me comer com essa coisa falsa, ao invés de me foder de verdade? —
indagou, com manha. — Isso é maldade, hyung...

Foi aí que o Park desamarrou a venda de seus olhos, deixando-o ver tudo ao
redor. Após algumas piscadas pra se readaptar a luz azulada do quarto,
Jungkook virou o pescoço por cima do ombro, para que pudesse ver o que
quer que Jimin fazia.

E o que ele encontrou, o deixou no estado de mais puro choque: Jimin


subira em cima da cama também e, com um risinho, ficou de costas pra ele.
O dildo metido em seu rabo não era um dildo simples; era a porra de um
vibrador duplo. Dois pênis. Ao final da base de um, começava o outro.

"Oh, Deus." o garoto começou a rezar internamente. "Oh, minha nossa, eu


não vou aguentar, não vou, não vou..."

Com um sorriso vitorioso, o lúpus virou-se de costas pro sub, começando a


se pôr de quatro, como ele, as nádegas muito próximas uma da outra.

E então, segurando o dildo duplo, o moreno se penetrou com a outra ponta,


soltando um gemidinho ao se ver completamente cheio, de novo.

— Hyung, que diabólico... — comentou querendo sorrir. Porra, Jimin era


tão... Porra!

— Eu não mereço ficar sem ser passivo, porque meu bratzinho não
consegue se comportar, não é, bebê? — atiçou. — Então é assim que as
coisas vão ser, amor. Se você não me obedecer, a partir de agora, além de
não me foder, eu também não vou comer você. Vamos nos saciar apenas
com esse vibrador compartilhado — disse fitando o rosto do outro por cima
do ombro. E então ele ligou a vibração dos dildos, através do controle.

Imediatamente Jeon sentiu o músculo da bunda gostosa do Park em contato


com a sua, rebolando.

— Você vai me matar, Jimin-ssi... — resmungou.


— Mexa-se, querido. Mostre o que você pode fazer — o outro devolveu
com a voz sedutora.

Não foi preciso dizer duas vezes. Jungkook jogou o quadril pra trás e pra
frente, repetindo o ato lentamente e, aos poucos, foi aumentando a
velocidade.

Jimin fez o mesmo, os dois no mesmo ritmo lento que se acelerava


gradualmente. As bundas começaram a se chocar, primeiro com sons de
estalos suaves, depois mais ocos...

Até que se transformam em sons duros e altos, os dois movendo-se como


serpentes, cada um buscando o próprio prazer com vontade.

O vibrador duplo possuía uma ponta mais grossa e a outra mais fina, além
de as cabecinhas de borracha serem bem inchadinhas.

— Está sentindo, bebê? — o moreno perguntou em provocação. — O seu é


o mais grosso, porque sei que você gosta de ficar todo arregaçado. Já o
meu, é mais fininho, porque eu ando desacostumado... Oh-oh, como vou
aguentar tudo quando for o seu pau aqui, amor?

— Hmn... Jimin-ssi... — o garoto praticamente ronronou, empurrando seu


traseiro contra o do dominador, com ainda mais afinco. Seu cenho estava
franzido, a boca aberta escapulindo gemidos guturais, a cada vez que o
perfeitamente moldado pênis de borracha roçava seu ponto sensível. Aquela
era mais uma particularidade daquele sex toy: a falsa glande era levemente
curvada pra baixo, como um estimulador de próstata.

— Mais rápido, bebê... Seu alfa gosta de ser fodido com força, uh?

Jungkook ficou até zonzo. Apertou a corda em suas mãos, buscando melhor
equilíbrio, e passou a jogar o quadril pra trás ainda mais rápido, mais forte,
mais intenso. Aquilo era bom demais. Bom pra caralho. Uma delícia do
cacete. O garoto nunca tinha feito algo assim. O pensamento sequer havia
cruzado sua mente alguma vez. Sempre foi adepto do revezamento, e
quando não, era só porque seus parceiros se recusavam a serem penetrados
ou apenas penetrar.
Ah, Park Jimin era o rei da foda. O alfa lúpus não tinha medo de testar os
limites do prazer, não exitava em descobrir cada ponto erógeno do próprio
corpo e do corpo de seu parceiro. Pra ele, o céu era o limite. E era isso que
o fazia tão bom naquilo: o não medo de experimentar. E Jungkook sempre
lhe despertava essa gigantesca vontade de tentar de tudo, de uma forma que
submisso nenhum já havia lhe feito.

— Oh... Jungkook-ah... Que delícia... Porra! — Jimin gemeu grave,


jogando a cabeça pra trás e sentindo seu corpo queimar de excitação. A
cada roçada do dildo perto de sua próstata, o ex-militar lembrava o quanto
adorava fazer aquilo, ainda que a musculatura do ânus alfa, fizesse o
processo um bocado doloroso e incômodo no início.

— Me dá mais, hyung... Me dá mais, por favor, meu senhor... — o outro


grunhiu necessitado. Como diabos ele nunca havia feito aquilo antes? Era
maravilhoso. Os dois moviam o quadril de forma ritmada, tentando fazer o
brinquedo acariciar seu próprio ponto de prazer, e o movimento acabava
empurrando mais a outra ponta do dildo pra dentro do parceiro.
Trabalhavam em conjunto. Além do mais, as bundas se chocando davam
uma sensação gostosa. Principalmente sendo uma bunda tão volumosa
quanto a do lúpus.

— Aí! — o dominador resfolegou, levando a canhota pra trás e agarrando a


coxa direita de Jungkook. — Bem aí, amor! — e passou a rebolar mais
desesperadamente contra o quadril do outro.

— Puxa, meu senhor, como você consegue ser tão gostoso de todas as
maneiras? Você vai me deixar louco assim, Jimin-ssi... — ele sussurrou
com a voz entrecortada pelo esforço da foda.

— Vou gozar tão gostoso pra você agora, neném... — o lúpus disse alterado,
usando a destra para se punhetar rápido e forte, ao mesmo tempo em que se
empurrava pra trás, com intensidade.

Jimin sentiu a deliciosa pressão em seu ponto de prazer, junto a sensação de


preenchimento daquele ato naquela região do corpo. Seus ouvidos zuniram
e suas pálpebras pesaram. Com um gemido grosso, ele sentiu o orgasmo
chegar antes mesmo de ejacular.
Apenas segundos depois, o alfa lúpus se desfez, a própria porra melada
escorrendo entre os dedos e a palma, em quantidade abundante — afinal,
não se tocava a um certo tempo, havia bastante esperma guardado ali,
garantindo uma ejaculação intensa.

A sensação de gozar tendo a próstata estimulada, ao contrário do que


pessoas inexperientes possam pensar, é um tipo de orgasmo muito mais
mais forte que aquele advindo unicamente por estimulação peniana; O
alcance de prazer pelo pênis, faz vibrarem os nervos do baixo abdome e de
toda a região pélvica em si. Mas o orgasmo pela próstata era mais intenso,
as terminações nervosas do ânus deixando tudo mais sensível, a pressão do
contato na próstata retardando a ejaculação e fazendo o orgasmo durar mais
tempo. E o melhor de tudo, era que estimular aquela preciosidade não era
muito difícil: apenas 2 centímetros pra dentro, já podia ser encontrada.

Quando a última gota de sêmen escapuliu pela uretra do alfa lúpus, ele se
sentiu como se tivesse sido tombado. Era como se aquele orgasmo tivesse
sugado tudo de si, estava fraco, até um pouco sonolento.

Com suavidade, retirou o dildo vibratório de dentro si — a outra ponta


permaneceu vibrando ininterruptamente dentro de Jungkook.

— Não faz isso comigo de novo, Jimin-ssi, eu tô implorando — disse


sacudindo o quadril pra um lado e pro outro, desesperado. — Não me deixa
na vontade, por favooooor...

O lúpus deu uma risadinha divertida, enquanto limpava a mão gozada na


toalha, sentindo suas pernas fracas. Mas não, ele não deixaria Jungkook na
mão daquela vez, aquele não era o castigo.

— Não se preocupe, amor. Como você mesmo disse, já está se tornando


pouco criativo te negar um orgasmo, embora esse seja meu método favorito
de castigo — disse pegando outro objeto no armário.

Jungkook observou aquela coisa gigante na mão do alfa: parecia um


aparelho rotativo, como os utilizados para misturar milk-shake, mas na
verdade era apenas um massageador, num formato de microfone, do
tamanho de um antebraço; contudo, o chamado "Varinha mágica" não era
tão utilizado pra isso, e sim como um brinquedinho sexual.

— Ah, porra... — Jungkook grunhiu, enfiando a cara toda no travesseiro


para abafar seus resmungos. — Isso é tortura demais...

Jimin gargalhou com maldade, ligando o aparelho branco na tomada.


Composto por um cabo grosso e longo, e uma grande esfera vibratória
circular na ponta, o lúpus ligou o botão do aparelho, observando a pequena
esfera no topo começar a vibrar em sua potência mais forte.

— Não se atreva a gemer ou emitir qualquer palavra, neném... — o moreno


avisou, com a voz séria e provocadora, aproximando-se do garoto, ainda de
quatro na cama. — Se você gemer ou emitir qualquer som, vou ficar uma
semana sem falar com você ou te ver, exatamente como fez comigo — e sua
voz soou notavelmente sombria ao final da frase. Foi aí que Jeon engoliu
em seco, sabendo que o Dominador falava muito sério.

— Sim, senhor — o acerejado suspirou. — Vou obedecer.

Então Jimin posicionou a esfera vibratória bem na glande do pênis duro do


ruivo, pressionando-a entre o brinquedo e a barriga dele.

Jungkook crispou os lábios, deixando-os pálidos, tamanho o esforço para


não deixar escapulir qualquer barulho. Sua garganta vibrava junto, o som
rouco morrendo antes de chegar aos lábios. Aquilo era insano,
completamente insano! Que maldade do caralho, estimulá-lo com um
vibrador no ânus e outro na glande, e proibi-lo de gemer ou até mesmo
grunhir? Só uma mente perversa como a do maldito Park Jimin, era capaz
disso. Mas ah, o alfa malcriado sabia que merecia.

Jeon enfiou a cara mais fundo no travesseiro macio, que, para piorar sua
situação, tinha o cheiro gostoso de sândalo e musk (almíscar) de Jimin. A
vibração em sua glande e próstata simultaneamente, junto ao esforço de se
conter, causava uma sensação aguda nos nervos.

Jimin respirou fundo e começou a mentalmente contar:


"Um... Dois... Três... Quatro... Cinco... Seis..."

E com a maior calma do mundo, ele cantarolou em sua própria mente, até a
casa dos vinte:

"Vinte e sete... Vinte e oito... Vinte e nove..."

Ele sabia que era agora. Jungkook já estava desesperado pra gozar desde o
começo, só não tinha gozado antes, porque não podia se tocar, e o
movimento dos quadris dos dois balançando juntos, quando dividiram
aquele dildo, atrapalhava sua concentração, certamente.

"Trinta... Trinta e um..."

Ali estava. O de cabelos cor de cereja começou a deslizar os joelhos no


colchão, fazendo seu corpo descer e sair da posição de quatro, para ficar de
bruços, mas Jimin em momento algum vacilou e deixou que a varinha
mágica saísse do lugar; acompanhou o movimento cuidadosamente, vendo
o gozo branco do namorado pingar no lençol vermelho, antes mesmo que
seu corpo terminasse de cair ali.

Jungkook estava derrotado.

— Caralho... —. disse o alfa de genes ômegas, a voz entrecortada,


recuperando o fôlego, quando virou o rosto pro lado, sugando ar. Tinha ido
à nocaute. Porém, recebeu apenas o silêncio do lúpus, em resposta.

Jimin então desligou os dois brinquedos, retirando-os do contato com o


corpo de Jungkook, deixando-os descansar em cima da mesa de cabeceira,
para em seguida soltar os tornozelos e pulsos de Jeon das amarras, e este
imediatamente se deitou de barriga pra cima.

— Eu gostei... das luzes... — o mais novo puxou assunto. Mas outra vez,
Jimin não disse nada. Apenas limpou sua barriga suja de sêmen, pegou as
roupas do garoto no chão e começou a vesti-lo, exceto pelo casaco úmido,
pois não queria que seu bebê ficasse doente. Vestiu sua própria calça, sem
se dar ao trabalho de vestir uma camisa ou cueca.
— Vem... — disse puxando o namorado pela mão, este que parecia aéreo
como um bêbado, após gozar tão forte, tão rápido e tão gostoso.

— Fiquei com tanta saudade de você, meu hyungie... — Jeon declarou todo
manhosinho e grudento, rodeando o lúpus com os braços, descendo as
escadas, com o Park agarrado a ele. — Me desculpe de novo, eu sou um
idiotão. Juro que queria ser menos ciumento e explosivo — suspirou.

Jungkook só se deu conta do que estava acontecendo, quando pararam em


frente a porta.

— O que..? Por que..?

— Vá pra casa — Jimin ordenou.

— Mas e você?

— Eu vou dormir aqui.

— Está me expulsando?! — o submisso reclamou, indignado e com um


olhar assustado.

— Seu amigo está dormindo na sua casa. Não é educado fazer isso com a
visita. Ele vai ficar chateado se acordar e você não estiver lá. É isso que faz
com seus amigos? Abandona?

— Mas é o Hoseok! É só eu mandar uma mensagem pra ele, dizendo pra


passar aqui quando acordar, não tem nada demais, hyung. Quero dormir
com você... — reclamou fazendo um biquinho manhoso e as sobrancelhas
unidas.

Realmente, poderia fazer isso. Se Jimin tivesse pensado nisso antes, talvez
o fizesse. Daria seu castigo aqui mesmo, o pondo pra dormir num quarto
separado do seu. Mas bem, se acatasse a ideia de Jungkook, então estaria
fazendo o que ele queria, não era? E a ideia de seu castigo era totalmente
oposta a essa.

— Não — disse firme. — Você vai pra casa. Vai dormir sem mim. Esse é o
seu castigo — anunciou com um sorriso sádico nos lábios grossos, que se
curvaram pra cima, maldosos.

— Mas hyung?! — o vermelho teimou, dando quase um gritinho, tamanha


sua indignação. — E o meu aftercare?

— Sem aftercare também. Garotinhos malvados, não merecem


recompensas. Agora vá — Jimin despachou-o, abrindo a porta.

Jungkook passou pelo portal, com os olhos arregalados, sem acreditar no


quanto tinha se ferrado. Tinha se fodido todo. E manhoso como era,
grudento e que amava um skinship, achava insuportável a ideia de não ficar
agarradinho com seu homem depois de gozar.

— Você é muito ruim... — resmungou cruzando os braços fortes, que


pareciam querer explodir na camisa apertada. Jimin quase salivou com a
visão. Ah, como amava alfas machos fortes e bombados, eram deliciosos!

Mas sem se deixar abalar, o dominador se manteve firme:

— E mais uma coisa. Quero você e Hoseok aqui às 10h, pra tomarmos café
juntos.

— Mas dez é muito cedo! Não pode ser meio-dia?

— Dez horas em ponto, Jeon Jungkook! — exclamou sério. — Não dez e


cinco, nem dez e seis. Dez em ponto. E ai de você se não obedecer...

E então bateu a porta na cara do mais novo.

Simples assim.

É, Jungkook... ser um malcriado tinha seu preço. Estava mais ciente que
nunca daquilo agora, coitadinho.

[...]

— Ah, Jimin, você não sabe o quanto esse garoto resmungou — Hoseok
entregou o amigo. — Ele me acordou quando o sol estava começando a
raiar... — deu uma mordida em seu misto quente. — E aí ele começou a
reclamar, reclamar e reclamar. E tive que aguentar tudo isso de ressaca...

— Eu te dei remédio! — o mais novo grunhiu. — Era sua obrigação, tá


legal? Pra que serve um melhor amigo, se não pra perder o sono ouvindo
nossas lamúrias? Euhein. Você me fez passar a noite toda te ouvindo
reclamar daquele bostão do Taehyung!

Hoseok estava prestes a retrucar, mas Jimin o interrompeu pedindo que este
lhe passasse a manteiga.

— O que você acha Hoseok? — indagou o moreno, sentado à mesa de café.


— Foi um castigo à altura? Ou eu deveria ter pegado mais pesado com esse
malcriado? — disse com um ar brincalhão e zombeteiro.

— Ah, você é realmente bom em domar esse selvagem¹¹— elogiou o beta.


— Mas eu teria castigado mais, sabe? Porque olha, que audácia ele teve em
te dar gelo por uma semana inteirinha, rapaz...

— Cala essa boca, macho — Jeon sugeriu nada amigavelmente ao beta.


Mas sua cara bravinha e contrariada apenas fez o dominador e o switcher
caírem na gargalhada, rindo dele.

— O que? — o beta se fez de sonso. — Você pune o seu próprio


dominador, inverte as coisas, desrespeita a liturgia, e acha que ninguém vai
reparar nos teus abusos, é, alfa?

— Cuida da sua vida — retrucou o ruivo, apertando os olhos pro amigo.

— Tá legal, tá legal... Vamos conversar sobre algo que não envolva a


insubordinação de Jungkook... — interveio o Park, segurando o riso. —
Antes que ele resolva começar a 4ª guerra mundial aqui mesmo nessa mesa,
porque eu juro por tudo o que é sagrado, que não tenho mais nenhum
castigo ou punição na manga pra lidar com ele hoje...

— Ah, sim — Hoseok puxou assunto. — Jungkook disse que você está
trabalhando pertinho de mim. O que acha de almoçarmos juntos algumas
vezes? — sugeriu animado.
— Eu adoraria! — Jimin respondeu simpático, mas quando ia dar
continuidade à conversa, seu celular vibrou e tocou em cima da mesa.

O ex-militar franziu o cenho ao ver o nome e a foto na tela do aparelho,


assim como Jungkook, que encarou a tela do celular alheio com um
expressão impenetrável.

— É o Taemin — o moreno disse o óbvio. — Se importa se eu sair pra


atender? — perguntou atencioso.

— Claro que não — Jungkook sorriu doce. — Vai lá.

Jimin sorriu de volta, orgulhoso e uniu a canhota do submisso à sua,


deixando um beijo estalado nas costas da mão alheia, antes de sair da mesa
e sair pra varanda, na porta da frente.

Assim que o corpo esguio do alfa lúpus sumiu no corredor, Jungkook


fechou a cara, com uma expressão rancorosa no rosto.

— Eu bem percebi sua falsidade daqui, sonso... — o beta comentou


baixinho, bebericando seu café.

— Ai, esse Taemin, porra, ele me tira do sério! Todo dia essa porra, quando
não é ligação, são mensagens — grunhiu, puto da vida.

— Olha, tente pensar positivo, certo? De repente Taemin e Jimin agora


vivem uma relação como a nossa, sabe? Sem atração física ou qualquer
coisa dessa natureza... — sugeriu, dando de ombros.

— Há! — Jeon debochou, rindo de lado, cheio de sarcasmo. — Nem você


acredita nisso, hyung. Dez anos... Dez anos!

— Minha tia HangNi foi casada por quinze anos com o primeiro marido, e
ela se separou porque disse que ao longo dos anos foram perdendo o tesão
um pelo o outro, ué... Isso acontece.

Antes que o acerejado pudesse responder, Jimin voltou para a cozinha,


tomando novamente seu lugar, com uma expressão pensativa na face, o que
automaticamente deixou o mais novo em alerta.
— O que foi? — perguntou o ruivo ao Dom.

— Taemin disse que vai voltar mais cedo do Japão — disse então. — Ele
não explicou muito bem o motivo, mas ele não vai lecionar na academia de
dança até o fim do semestre, como tinha planejado. Não disse exatamente a
data, mas me pediu pra arrumar uma diarista pra limpar o apartamento dele
antes que ele volte.

— Hmn... — o mais novo murmurou, engolindo em seco. A desgraça vinha


mais rápido do que ele esperava. Acabou ficando em estado de choque,
fitando o próprio prato, com os olhos desfocados.

— Hey, amor... — sentiu a voz suave do lúpus ao pé do seu ouvido, e então


uma das mãos macias tocar o seu rosto, com delicadeza e doçura, puxando-
o para o fitar no fundo dos olhos negros. — Nada vai te machucar e nem
ninguém vai nos separar, bebê. Você sabe disso, não sabe? — o lançou um
olhar esperançoso.

Jungkook piscou um pouco atordoado, pondo seu raciocínio a todo o vapor.


Não importava se Taemin tentaria ir contra os dois, ele precisava confiar em
Jimin, caso contrário, por que estava com ele, afinal? Ele mesmo não havia
dito mais cedo, que confiaria sua vida ao Park?

Ademais, não poderia fazer como o irracional Taehyung, que dera um


ultimato ao namorado, fazendo-o escolher entre o melhor amigo de anos e
ele. Principalmente porque o Jeon sabia, bem no fundo, que o certo era
escolher o amigo, e que esse tipo de atitude era um pouco abusiva, dentro e
fora do BDSM, aliás. E também porque, ainda que Jimin escolhesse ele, ao
invés do amigo — e ele não fazia ideia realmente de qual seria a escolha do
lúpus —, ainda assim isso seria um grande erro.

Então, respirando fundo, ele se forçou a sorrir e a acreditar nas próprias


palavras:

— Eu sei, hyung. Eu confio em você.

Confiar em Jimin como seu dominador, ele confiava mesmo. Mas como
namorado? Havia confiança o suficiente naquela cabecinha insegura e
paranoica?

Imediatamente o Park partiu para um beijo apaixonado, que fez Hoseok


grunhir imitando barulhinhos de nojo.

— Ah, minha nossa, uma boiolagem dessas bem na frente da minha salada?
Que horror! — Fez uma careta brincalhona, fazendo o casal sorrir entre o
beijo e se afastar para encará-lo.

— Que salada você 'tá comendo, talarico? Isso aí é pão de forma, com
queijo e presunto... — retrucou.

— Aprende a brincar, seu selvagem! — deu-lhe um chutinho na canela e se


levantou pra levar o prato sujo pra pia.

— Então, hoje eu entro mais tarde e saio mais tarde também, amor — disse
o Park, acariciando os fios vermelhos no topo da cabeça de seu garoto. —
Mas antes de 00h chego em casa, ok?

— Uhum. Pode deixar, hyung. Vou te esperar.

— Vai ficar mesmo aqui em casa o dia todo?

— Sim, tô de folga e não tem nada pra fazer na minha, o Hoseok deu uma
organizada quando a gente acordou. E quando vocês saírem, vou tirar um
soninho, não dormi direito essa noite, né? — riu maldoso.

— Certamente — Jimin devolveu em igual tom, limpando a boca no


guardanapo de papel. — Hoseok-ssi, quer uma carona?

— Ah, com certeza! Estou muito sonolento pra dirigir, ainda — respondeu,
secando a mão no pano de prato.

— Até mais tarde, meu príncipe — o lúpus chamou com um novo apelido
carinhoso, antes de dar um beijo estalado na testa do namorado, e se
levantar da cadeira.

— Tchau, bebêzão — veio Hoseok, dando um beijo estalado no topo de sua


cabeça.
O Jeon ficou ali, dando tchauzinho pros seus dois caras favoritos do mundo,
antes de voltar a comer sua comida.

"Meu príncipe", essa era nova. E tinha o deixado todo derretido. Jimin era
tão carinhoso e atencioso consigo. Era tudo o que ele sempre havia
sonhado.

E dessa vez, ele decidiu de verdade: "Eu vou entrar na linha!"

Na era como das outras vezes, onde decidia se comportar, mas cinco
minutos depois, lá estava ele aprontando. Não, dessa vez ele faria de tudo
pra agradar seu alfa. Primeiro porque queria fodê-lo, e seu rut vinha por aí.
Segundo, porque de jeito nenhum ele aguentaria ficar só nos brinquedinhos
com o dominador — tinha sido absolutamente delicioso, era impossível
negar —, mas o que Jungkook queria mesmo era sentir a pele na pele, Jimin
se enterrando dentro dele e ele dentro do alfa lúpus. E em terceiro, ele
realmente queria mostrar pro dominador, que ele era a escolha certa, não
Lee Taemin.

Ele se levantou da mesa e se jogou no sofá da sala, com o celular em punho,


onde de pronto, digitou:

"Como ser um submisso bonzinho" — NAVER, pesquisar.

____________________________

¹ Referência a sitcom F.R.I.E.N.D.S

² Tipo de casa temática que propicia troca de casais e threesomes (não faz
parte do BDSM em si, mas as casas de swing são similares às masmorras
BDSM.)

³ Referência a Ômega Free, da YuraSugaLipidio

¹¹ Referência a Operação: ConquisTAE, da Jimindoim - que se tornou


simplesmente a minha fanfic favorita [momento boiola, muito boiola]

____________________________
Eu já devo ter dito isso antes mas, cês já repararam que eu nunca
digo exatamente qual a cor do Minzy, a gata que é gato? kkkkk é
porque quero deixar à escolha do leitor :3 o Minzy é da cor que você
imaginar ele. Eu mesma imagino de uma cor diferente à cada capítulo.

O próximo lemon é o tão aguardado jungkook!TOPS, rá! Porém,


ainda vai demorar mais alguns capítulos, não posso precisar
exatamente quantos, mas *spoiler alert* a primeira vez do jimin sendo
passivo pro jk não vai acontecer no cio, como cês acharam ♀

Quem acha que o 1º jk!tops de INC será numa sessão, comenta aqui.

😻 Quem acha que o 1º jk!tops de INC vai ser tbm uma primeira
transa romântica, comenta aqui.

Quem surtou com a briga de passivo dos jikook batendo bunda nesse
capítulo, dá um surto aqui kkkkkkkkkkkk

OS JIKOOK de INC agora tem twitter, IRRá! Fiz ontem. Sigam


os piticos e comentem a TAGzona da fic, sim? Eu ando muitíssimo
desmotivada, então ver que vocês gostaram da att e dos perfis dos
Jikook, vai me deixar muito, muito feliz

@ ALPHASDOMINATOR & @ cherrysubjk

Não se esqueça de votar no cap, pra marcar onde você parou na


leitura Até breve!
Puxa, o bratzinho se fodeu kkkkk
28| pity party

Surprise, mothafuckers!!!

#JungkookBebêDoJimin

— QUEBRA DE TEMPO —

— Sabe, parece que você tem um colar roxo no pescoço — Jeon escutou
Hwasa comentar despreocupada, enquanto limpava as mesas da loja. —
Senhor Bum não vai gostar nada disso.

— E o que ele tem que se meter na minha vida pessoal? Euhein — o ruivo
retrucou, contabilizando o dinheiro do caixa.

O que Jimin fizera na noite anterior consigo durante a sessão, fora uma boa
tortura sexual. Pra cada gemido que o garoto deixava escapar, o lúpus
chupava sua pele do pescoço com mais força. E ele havia adorado, claro.
Ficava um bocado orgulhoso ao ver as marcas feitas pelo outro. Era um
sentimento de orgulho. De posse. De pertencer a Park Jimin, de ser dele.

— Não é essa a questão. É que não pega bem exibir essas marcas no
trabalho, garoto — ela explicou pacífica. — Só... eu sei lá, põe uma echarpe
ou algo assim.

— Tá... — resmungou. — Amanhã faço isso. Já está quase na minha hora,


Namjoon hyung vai entrar no próximo turno.

— Eu sei — a alfa disse com um risinho, que não passou despercebido pelo
rapaz também alfa, que a encarou desconfiado.

— Desembucha! O que que tem entre você e o feioso?

— Yah! — disse em falso tom repreensivo. — Digamos que eu e Namjoon


estamos nos conhecendo...

— Mas vocês já se conhecem há anos — Jungkook retrucou inocente.


— Estamos nos conhecendo de forma mais íntima... — a mulher explicou
com a voz maliciosa.

— Você 'tá transando com o Kim? — Jeon indagou de olhos arregalados.

— É pra ser um segredo, fala baixo. Moonbyul está lá cima, e ela é


linguaruda.

— Ah, mas eu também sou linguarudo, você sabe...

— É, mas você vai prometer ficar com esse bico fechado, porque preciso
que você seja meu espião. Vai ficar de olho no Namjoon pra mim, pelas
próximas semanas. Quero saber se dá pra levar ele à sério, ou se ele ainda
vai ficar se engraçando com aquele seu amigo ômega...

— Ah, o Jin hyung? Pff... Duvido. Acabou a magia. Eles foram foder e foi
horrível. Jin hyung tá pegando uma alfa, prima da vizinha dele — deu com
a língua nos dentes.

— Eu adoro sua sinceridade, garoto — ela respondeu rindo.

— Juro que não entendo o que vocês veem no Namjoon hyung, ele é um
feio... — resmungou com um bico. — O cara só fala uns assuntos chatos,
parece um maconheiro com o cérebro derretido e...

— Jungkook, me poupe, 'tá legal? Todo mundo sabe que você tem raivinha
do Nam, por causa daquele dia...

— Não sei do que você está falando... — ele empertigou-se, todo fingido.

Hwasa estava bêbada na ocasião, todo mundo estava. Ninguém deveria


lembrar daquilo... Certo?

— Então vou refrescar sua memória — a morena disse cruzando os braços


na frente do peito, um risinho sarcástico enfeitando os lábios tingidos
costumeiramente com forte batom vermelho. — Eu, você, Moonbyul,
Namjoon e Duda, aquele ex-funcionário, na minha casa. Tinham cervejas,
vodka e alguns baseados, música eletrônica tocando e você muito doidão
rebolando no colo do Namjoon enquanto dançava...
— Eu nunca fiz isso! — Jeon arregalou os olhos, em choque. Mas na real,
só estava chocado que a colega lembrasse daquilo, porque tinha acontecido
mesmo e ele lembrava-se dolorosamente. Hwasa estava mais do que certa.

— Fez sim. E quando tentou beijar o Namjoon, ele desviou a cara pro lado.
Você passou a festa inteira achando que ele 'tava de cu doce, mas ele só não
queria ficar com você mesmo, porque tu é doidinho da cabeça...

Jeon abriu a boca pra retrucar, mas viu Jimin atravessando a rua pelo
paredão de vidro da loja de conveniências, então tratou de murmurar:

— Esquece esse assunto. É sério, Hwasa, isso nunca aconteceu!

A garota deu uma risada escandalosa, ao mesmo tempo em que Jimin


entrava na loja, todo sorridente.

— Oi — o ex-militar cumprimentou a morena, simpático, e aí se voltou


para o namorado: — Oi, neném — disse com um sorriso caloroso. — Por
que está com as bochechas vermelhas? — indagou.

— Nada não... — Jungkook murmurou, olhando rapidamente pra alfa, que


segurava o riso.

— Sei... — o lúpus devolveu desconfiado, mas logo deixando de dar


atenção àquilo. — Então, já pode ir embora?

— Uhum — o mais novo respondeu, retirando o avental e o guardando


embaixo da bancada. — Vamos. Tchau Hwa — disse sacudindo as
mãozinhas de forma fofa.

— Você é tão fofinho... — Jimin acusou, agarrando-o por trás e encaixando


o rosto em seu pescoço, enquanto caminhavam pro lado de fora.

— Não sou nada — resmungou, mas estava sorrindo.

— E quanto ao rut, Jungkook? — o moreno indagou, se pondo ao seu lado e


segurando a palma grande dele em sua mãozinha pequena. — Isso não pode
ser normal. Seu rut já deveria ter acontecido há duas semanas agora...
— Ah, relaxa. Não estou preocupado — disse sem dar importância.

— Olha... você passou mal depois do nosso único cio juntos...

— E daí?

— E daí que você tem genes ômegas...

— E...? — fez-se de rogado.

— E, que... Você não sabe mesmo onde estou querendo chegar? — o lúpus
indagou, exasperado, enquanto tirava as chaves do bolso.

— Jimin, meu filho. Eu não posso ficar grávido, se é isso que está
pensando. Sou Alfa e Macho...

— Não me referi a isso — o outro retrucou, revirando os olhos. — Estou


falando sobre a coisa dos seus genes ômegas... Eles mexem com seu corpo.
Algo deve estar errado. Por que não vamos ao médico?

— Eu não! Jimin, tenho horror a hospitais, você sabe o motivo.

— Mas 'tô preocupado com você, amor...

— Mas eu não estou preocupado comigo — teimou, esperando o Park


destrancar a porta da casa dele. — Se eu começar a passar mal realmente ou
algo assim, aí, talvez, eu vá até os caras de jaleco...

— Teimoso — o moreno bufou, abrindo a porta. — Aposto que quando


estiver morrendo, vou ter que sair correndo do trabalho pra te levar até o
médico — resmungou.

Jungkook sentiu seu celular vibrar no bolso da calça, enquanto entravam na


casa. Pegando o aparelho e desbloqueando a tela, encontrou algumas
mensagens, dentre elas, uma de Seung, o alfa submisso da The Cave com
quem havia feito amizade e já vinha batendo papo no chat desde então:

Seung sub (the cave):


| Claro que Seung é só apelido, bobão

| Um dia te conto meu nome e você me diz o seu, mas por hora, vamos
com calma hehe

| Olha só o que eu achei: o vídeo de uma Cena do seu Dom, lá na The


Cave. Ela é de alguns anos atrás... Não sei se devo te passar, porque
você pode ficar enciumado demais com o passado do AlphaDome. Mas
assim... já que chegamos à conclusão de que você é meio Cuckold, talvez
seja interessante. É um bom material pra punheta, pelo menos. Então
se você quiser...

O garoto mordeu a parte interna da bochecha, sentindo aquela sensação


estranha se apossar de seu estômago; Uma mistura de ciúme absurdamente
doloroso, que ao mesmo tempo lhe causava um certo tesão. Era um
sofrimento esquisito, porque aquele incômodo na verdade atiçava. O que
era contrário ao suposto.

Ele aguentaria ver aquilo? Bom, já tinha visto Jimin ficar com outra pessoa
em sua frente, não já? E de qualquer modo, aquele vídeo era de anos atrás,
então não deveria realmente ficar magoado em ver tal coisa.

Tomando uma decisão, digitou de volta:

é claro que quero ver! manda |

O novo amigo, que estava online, imediatamente lhe respondeu:

Seung sub (the cave):

| O masoquismo, meu pai kkkkk

| Aqui: [link]

| Mas olha, não suja pro meu lado não, hein, brat? Se você criar atrito
com seu Dom por isso, não é culpa minha. Não fala que fui eu que
passei.

e qual o problema se alguém souber que vc me passou isso? |


é algum vídeo secreto ou quê?|

Seung sub (the cave):

| Não é isso.... Se bem que, sim, é um vídeo que só quem consegue ver
são os participantes do chat da The Cave. Você precisa entrar com seu
login e senha, que a Kiko passou. E ele é protegido de downloads, não
tem como baixar.

| Mas é que... Ai, eu tenho medo do AlphaDome, ok? Ele me parece um


pouco assustador.

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
|

Minha nossa, você é um franguinho!

E cagão |

pó pó pó póooo |

O FRANGO SUBZINHO SE BORRA NAS CALÇAS |

— Vem, bebê. A gente precisa terminar de enfeitar os cupcakes da festa do


hyung — o Park chamou a atenção do outro.

— Oh. Tá legal — Jeon disse bloqueando a tela do aparelho e enfiando-o


no bolso, antes de seguirem em direção à cozinha. — De novo, por que a
gente não liga pra uma confeitaria e encomenda um bocado desses bolinhos
pra festa mesmo?

— Já disse — Jimin resmungou com um bico enorme nos lábios. — Yoongi


é meu hyung. Ele é o mais próximo que tenho de um irmão, e é tradição eu
fazer os cupcakes de chocolate com recheio de doce de leite no aniversário
dele.

Jeon esticou o rosto num sorriso, ao ver o mais velho com aquela expressão
fofinha que o fazia parecer um patinho filhote, com os lábios cheinhos
formando um adorável biquinho. Admirando a beleza de seu namorado e
dominador, o garoto pegou os confeitos pra começar a decorar os bolinhos
já assados em cima da bancada, distribuídos em vários formas.

— E se forem poucos? Quero dizer, seremos eu, você, Yoongi, Hoseok e


mais uns quarenta convidados do Min, né? São quase cinquenta pessoas.
Tem certeza que só cem bolinhos são suficientes?

— Bem, eu sei que o freezer tá atolado de vodca, cerveja e refrigerantes, vai


ser difícil a galera preferir comer — deu de ombros. — Quero dizer,
provavelmente o pessoal vai ficar bem bêbado, então ninguém vai querer
comer muita coisa, pra não passar mal.

— Dá tempo de a gente tomar um banhozinho juntos, antes do pessoal


começar a chegar? — perguntou o avermelhado, lambendo os dedos sujos
de glacê cor de rosa.

Jimin arqueou uma das sobrancelhas bem feitas, e lançou um sorriso sacana
ao namorado.

— Banho, dá. Mas se "banho" for um código pra foder no chuveiro, aí eu já


não sei... — disse rindo. — Ainda temos cupcakes demais pra enfeitar...

— Ai, hyung, qual é! — retrucou em tom brincalhão. — Yoongi e Hoseok


vão ser os primeiros a chegar, certamente. Deixa que eles terminam de
confeitar isso, vai...?

— Jungkook! — ele rebateu com certa indignação. — Não posso pedir ao


aniversariante que arrume a própria festa!

— Pode sim, ele vai comer e beber de graça, então pode perfeitamente
enfeitar esses negocinhos e encher alguns balões. Ou você está me dizendo
que mima seu amigo também? — o avermelhado disparou com as mãos na
cintura.

— E se eu mimar, o que tem?

— Mas quem tem que ser mimado sou eu! — reclamou com as bochechas
infladas e os olhinhos de jabuticaba arregalados. — Ele é um dominador.
Dominadores não tem que receber mimos de nada, euhein... — resmungou
com um biquinho infantil adorável.

O Park se pegou rindo, olhando a carinha contrariada do namorado. E é


claro, vê-lo fazendo pirraça era uma das coisas que mais deixavam o lúpus
excitado. Não que precisasse de muito. Jungkook já era gostoso e sexy o
suficiente, pra deixar o moreno cheio de fogo, só em encará-lo.

Limpando as mãos no pano de prato, o mais velho sorrateiramente deu a


volta na bancada e se pôs atrás da figura alta de Jeon, que permanecia
concentrando enfeitando os bolinhos com um pouco mais de força que
deveria, deixando-os com uma aparência um pouco destruída.

Jimin então segurou o garoto pela cintura e deslizou o nariz pequenino na


nuca bem aparada do brat, que imediatamente se arrepiou e jogou a cabeça
pra trás, fechando as pálpebras e deixando um suspiro escapar por entre os
finos lábios.

— Eu odeio gente mimada... — o moreno sussurrou, dando beijinhos no


ombro de Jeon, apertando o corpo do garoto entre os dedos. — Mas não
consigo dizer 'não' pra você, consigo?

Jungkook abriu um sorriso matreiro e lambeu os lábios, satisfeito. Virou-se


pro namorado e então esfregou o indicador sujo de glacê na boca carnuda
do mais baixo, sentindo nostalgia sobre o episódio do iogurte, acontecido
naquela mesma cozinha, meses atrás.

— Ora, ora... O jogo virou, não é mesmo? — o mais alto provocou,


referindo-se aos lábios do lúpus estarem sujos com o doce cremoso rosa,
assim como meses atrás o Park fizera consigo, esfregando danone de
morango em sua boca.

— De jeito nenhum. A diferença é que dessa vez vamos transar bem


gostosinho e você não vai sair daqui triste comigo... — Jimin respondeu em
tom rouco, avançando para um beijo quente no namorado, que
imediatamente agarrou seus fios com os dedos longos.
Sentindo o gosto doce entre o roçar de línguas molhadas, os suspiros
rapidamente foram substituídos por arfares pesados e ereções instaladas
dentro das calças, enquanto os alfas investiam um contra o outro, sedentos.

E então o barulho irritante do celular do Jeon começou a soar, vibrando na


mão do Park, que estava apertando sua bunda.

Ambos bufando, se afastaram pra que o mais novo atendesse à ligação


inconveniente.

O nome de Hoseok brilhava na tela. Jeon atendeu à chamada, ouvindo o


amigo informar que ele e Yoongi estavam saindo de casa e já estavam a
caminho. E depois de alguns "uhum", "tudo bem", "tá legal" e "até mais",
Jungkook desligou o aparelho e o abandonou na bancada, fitando o menor.

— Eles já estão vindo. Temos no máximo meia hora — reclamou com a


carinha triste.

— Dá pra fazer muita coisa em meia hora... — o moreno brincou em tom


malicioso.

— De você eu não duvido nada, Park — Jeon retrucou em igual tom. —


Então vamos ganhar tempo — declarou.

E de súbito se abaixou, pegando o alfa lúpus em seus braços e o apoiando


em seu ombro, virado com a barriga pra baixo.

— Yah! — o dominador exclamou, vendo à distância que estava do chão, e


as pernas de Jeon caminhando em direção às escadas. Dali, ele só conseguia
ver a traseira do namorado, e de ponta à cabeça. E não satisfeito, o
malcriado lançou um tapa de mão cheia na bunda empinada do moreno. —
JEON JUNGKOOK! — ele rosnou, abismado pela audácia.

— Relaxa, hyung. Você sabe que sou forte além da conta — o abusado
retrucou, subindo os degraus transparentes. — E além do mais, precisamos
poupar tempo.
— Garoto, a gente vai cair da escada, você é louco? — disparou
exasperado. — E o que me levar no colo, igual um homem das cavernas,
tem a ver com poupar tempo? — ralhou, invocado.

— Ah, hyung... Você vai ver.

E, de fato, trinta minutos foram até tempo demais. Quando Hoseok e o


aniversariante tocaram a campainha, o casal de alfas já estava de banho
tomado e prontinhos pra receberem os amigos. Bom, ao menos Jungkook
estava. Jimin tinha o belo costume de se atrasar como um noivo,
arrumando-se como se fosse a algum desfile de moda.

Então o Jeon foi quem desceu as escadas e recebeu os amigos, ainda com os
fios molhados — mas a maquiagem estava impecavelmente feita; Jungkook
possuía um talento para aquilo.

— Annyeong! — um animado Hoseok cumprimentou na varanda, com um


sorriso caricato na face e segurando duas enormes sacolas de aperitivos nas
duas mãos.

O beta usava uma camisa branca de botões aberta até metade do peito,
deixando a pele e as clavículas salientes à mostra, junto à sua coleira social,
com o pingente com a letra Y pendurado no pescoço fino, e uma calça jeans
toda rasgada, além de sapatos lustrosos e elegantes. Estava definitivamente
sexy e bem perfumado — com fragrância artificial, complementando seu
cheiro beta natural.

O mais novo deu espaço pra que o amigo entrasse na casa, dando-lhe um
beijo na bochecha antes de adentrar.

E então sobraram ele e Yoongi ali na porta, se olhando engraçado. O ômega


dominador vestia uma bermuda e camisa preta, um par de chinelos
confortáveis e um chapéuzinho de pescador encobrindo os fios
descoloridos. O ruivo arqueou uma sobrancelha pra ele, indagador.

— Sério que a gente fez uma super produção e você veio assim, como se
estivesse indo na feira? — disse em tom ameno e brincalhão.
O platinado deu de ombros, com as mãos nos bolsos.

— Ah, vou beber que nem um tanque bebe gasolina, então não quero
estragar nenhuma roupa cara quando eu começar a rolar pelo chão —
justificou-se o ômega de pele pálida.

Jungkook sorriu, mostrando os dentinhos de coelho, que o Min, não pela


primeira vez, reparava ser um bocado fofo. Jamais poderia julgar o Park por
se apaixonar por um meliante tão charmoso daqueles. Em seu lugar, teria
caído na lábia do brat, igualzinho. Até porque Min Yoongi caía fácil nas
graças de alfas abusados e encrenqueiros, e o namorado Kim Taehyung era
a maior prova disso.

O menor se assustou quando, num movimento rápido, o de cabelos cereja se


abaixou e capturou suas pernas, o pegando no colo, espalmando as mãos
grandes em sua bunda, pra ter apoio.

— Parabéns hyung! — o garoto cumprimentou, com um sorrisão na face e


uma expressão de quem estava adorando aprontar.

O ômega arregalou os olhos, surpreso, mas em meio segundo voltou a


expressão pra sua costumeira carinha entediada.

— Precisava me pegar no colo? — indagou.

— Não — o brat respondeu tranquilamente. — Mas fiz isso com Jimin


hyung mais cedo e ele só faltou infartar. Se bem que eu coloquei ele no
ombros, mas dá quase no mesmo. Gosto de ver dominadores irritados —
disse matreiro, caminhando com o menor no colo até a sala.

— Oh, JK... Você não tem medo do perigo, bebêzão... — Hoseok zombou,
encostado com o cotovelo na bancada, enquanto abocanhava um dos
cupcakes não terminados.

— Yah, quem disse que você já podia comer os doces? — o Jeon reclamou
indignado, soltando o ômega no chão imediatamente e correndo pra
arrancar o bolinho das mãos do amigo. Mas apenas pra levar a metade
restante à própria boca, estufando a bochecha enquanto mastigava.
— Ora, seu... — o beta resmungou mais indignado ainda, enquanto assistia
ao ruivo comer o doce que roubara de si.

— Fácil como roubar doce de criança — Jungkook ainda teve a pachorra de


zombar do amigo, com a boca cheia.

— Ohhhhh, Jiminie fez meus cupcakes! — o ômega loiro exclamou com os


olhinhos brilhando, para então entrar na cozinha, capturar um dos bolinhos
e comê-los animadamente.

— Bem, já vimos que os convidados não vão comer bolinhos... —


constatou o Jeon, pegando os confeitos pra terminar de enfeitar o restante,
sendo imitado por Hoseok e Yoongi, de pronto.

— Sabe, bratzinho... — comentou o ômega, em tom tranquilo. — Já que


meu namorado e o seu andam que nem duas mariazinhas fofoqueiras
conversando pelo chat o dia todo e sendo best friends forever, a gente bem
que podia ser amigo também, né? — propôs. — Quer dizer, a gente já meio
que passou do limite da intimidade, quando você me pegou no colo e
agarrou a minha bunda — disse como quem não quer nada.

— Ousado, JeiKei — riu o beta, enchendo a boca de granulados.

— Eles dois até saem pra almoçar juntos, todos os dias — continuou o
dominador, referindo-se a Jimin e Hoseok.

— Ah, é. Vocês agora trabalham pertinho um do outro, né? — Jungkook


falou.

— Uhum — confirmou o acastanhado. — E por falar em Jimin, olha só:


esse cara me deixou horrorizado esses dias. Vocês acreditam que ele pagou
seis mil wons numa garrafinha de água do Himalaia, que parecia um pau
pequeno?

O ruivo quase engasgou com a massa do bolo na boca, encarando o amigo,


de olhos arregalados: — Puta merda! Mas isso é mais caro que um
hambúrguer de fast-food!
— Ai, gente, deixa ele... — interveio Yoongi, sem demonstrar o menor
espanto. — É uma coisa dele, sabe? Jiminie gosta de esbanjar. Vocês tem
que ver os presentes de aniversário que ele tem o costume de dar... Uma vez
deu uma estátua de um deus hindu, pros ex-sogros dele, como presente de
bodas de rubi.

— Então espere só até ver o seu presente... — Jeon murmurou de boca


cheia. — Não sei onde ele vai parar. Jimin pensa que é um idol milionário
ou algo assim...

— Uma coisa que nunca entendi foi por que ele comprou uma casa nesse
bairro. Não que aqui seja um local de classe baixa, mas também não é lugar
de gente rica — divagou Hoseok.

— É que ele e o Taeyang iam pagar juntos — Yoongi respondeu com a


bochecha suja de glacê. — Jimin deu a entrada, e o Taeyang ia dividir as
parcelas com ele. Pra casa realmente ser dos dois, sabe? E Taeyang
trabalhava num escritório pertinho daqui, além dos pais dele morarem nas
redondezas também, então... foi por isso. Quando o cabeçudo pensou em
vender a casa, esse catarrento aí se mudou pro prédio da frente — apontou
pro alfa ruivo com o queixo. — Aí ele não quis mais sair. E demorou três
anos pra enfiar a língua na garganta dele, olha a perda de tempo... —
debochou.

— Hyung! — Jimin gritou animado ao pé da escada, e então foi até a


cozinha, dando a volta no balcão, para aí agarrar o amigo num abraço
apertado. Yoongi fingiu uma careta, só de implicância, mas estava adorando
o carinho. Ele sempre gostava, embora fingisse que não.

— Chega, chega, muita boiolagem pro meu lado, sai pra lá — resmungou o
loiro, afastando o Park.

Jimin estava praticamente como a personificação de atentado ao pudor:


usava calças e coturnos de couro preto, uma camisa cor vinho sem mangas,
cavada nas laterais e por isso deixando à mostra parte das costelas, os anéis
e pulseiras prateadas nos dedos e nada além disso. Simples e sexy pra um
caralho.
Jungkook também estava bem simples, todo vestido de preto, a blusa bem
grandona e larga, e a coleira fina de veludo preto, tão fina que parecia mais
um cordão, se não fosse tão apertadinha. A única coisa chamando a atenção
— além dos cabelos cor de sangue — eram os vários brincos de argola nas
duas orelhas — havia feito mais um par de furos em cada uma, somando
agora quatro brincos de cada lado, sendo um deles combinando com o de
Jimin, como brincos de casal.

— E aí, tavam falando do que? — o lúpus entrou na conversa, enquanto


pegava uma latinha de cerveja no freezer.

— Eu tava contando daquela garrafinha ridícula que você comprou, que


parecia um pênis de ômega, todo miudinho e que custava o preço de um
Mc' Lanche Feliz... — Hoseok alfinetou.

Jeon observou o Yoongi dar a volta na bancada e, com o queixo levantado e


a expressão altiva e dominante, colar seu corpo ao do beta, peitando-o, para
então dizer em tom contido, com a boca próxima a dele:

— E qual o problema com o tamanho do pau de um ômega? Você não


costuma reclamar do meu, quando eu te fodo forte, costuma? — provocou.

Jimin e Jungkook seguraram um risinho, assistindo à cena como se


estivessem vendo um episódio de novela.

— Talvez o senhor deva me relembrar porque seu tamanho é suficiente,


então... — respondeu abusadamente o switcher.

Jungkook ficou chocado com a resposta do amigo. Quando Hoseok e


Yoongi voltaram a ter uma relação, dessa vez como trisal, junto a Kim
Taehyung, ele havia pensado que o beta iria se comportar como um brat,
para agradar o ômega dominador, que no fundo era um puta domador. Mas
Hoseok explicara que não. Que a maior parte do tempo, ele e Yoongi
dominavam Taehyung juntos, e apenas quando estavam sozinhos, ele se
submetia ao ômega. E quando faziam, Hoseok continuava agindo como um
submisso comportado e obediente, pois sentia-se mais confortável assim. E,
segundo o mesmo, o dominador não se opunha, por já ter as malcriações do
Kim para lidar.
— Eu vou subir até o banheiro lá de cima e te mostrar uma coisinha — o
platinado disse firme e com a voz rouca. Até mesmo Jeon se arrepiou.
Aquela era uma voz tão dominante, que o deixara sem jeito e inclinado a
uma certa excitação. E com isso, o mais velho deles se retirou, subindo
tranquilamente as escadas.

— O que foi isso? — o ruivo perguntou. — Pensei que você continuasse a


ser o sub bonzinho...

— Talvez ele esteja se aventurando a ser um brat, como você — zombou o


Park, com um sorrisinho na cara, enquanto bebericava sua latinha de
cerveja. — Jeon Jungkook, definitivamente é má influência, Hope...

— Aish, não é o neném — respondeu o beta. — É que... Sabe, eu não quero


perder o Yoongi hyung. Mas me sinto tão aflito depois de meu rompimento
com Taehyung. Tenho tanto medo que Yoongi termine comigo, que...

— A gente entende — Jimin interrompeu, penoso. — Não precisa se


explicar. Vai lá, antes que Yoongi hyung decida te punir, ao invés de
castigar. Ele odeia esperar...

O Jung assentiu e subiu as escadas, atrás de seu dominador. E quando ele


desapareceu no andar de cima, Jeon bufou irritado, apoiando os cotovelos
no balcão da cozinha.

— Fala sério. Esse Taehyung é um cuzão! Sabe o que seria bom? Se ele
sumisse! Aquele cuzão ciumento do caralho...

— Você também é um ciumento do caralho — retrucou o lúpus, ainda


rindo.

— É, mas não sou um cuzão — resmungou o ruivinho.

— Não. Você é um fofinho... — declarou, o abraçando e lhe dando


beijinhos com a boca gelada e com gosto de cerveja.

— Ai, hyung, sua boca tá com gosto amargo... — reclamou com uma
careta.
Mas então os carinhos manhosos foram interrompidos pelo barulho
estrondoso da campainha.

— Vai lá atender os convidados, amor — pediu o Park. — Vou fazer a sua


batida de frutas com vodka, pra você ter coisa docinha pra beber, tá bom?
— e deu um último selar no bico do namorado.

O de cabelos cereja caminhou até a porta, todo felizinho e pronto pra festa
— isto é, depois que o aniversariante e seu amigo terminassem de trepar ou
que quer que estivessem fazendo no andar de cima.

Mas sua expressão animada murchou assim que abriu a porta e se deparou
com uma das pessoas mais desagradáveis e inesperadas possíveis:

— Vai ficar me olhando com essa sua cara feia ou vai me deixar passar?
Quero ver meu namorado — Kim Taehyung declarou, com um tom de
deboche na voz. Seus cabelos estavam num tom de rosa mais vívido,
provavelmente havia retocado. Combinava bem com a coleira de veludo
roxo, onde, dessa vez, apenas repousava o pingente com a letra "Y", e não
mais o "H" acompanhando. Usava um terno elegante, de cor rosa bebê,
tecido fluído e caimento largo, despojado. Combinando delicadamente com
o terno aberto, vestia uma camisa estampada de flores, com o fundo branco,
além de um par de brincos da CHANEL, que Jeon podia apostar custarem
mais que um mês de aluguel de seu apartamento.

Em desespero, o garoto respondeu:

— Ah, é... Espera um pouquinho aí, já volto — e bateu a porta na cara do


outro alfa.

— Jungkook! — ouviu o outro usar sua voz de comando, rosnada e irritada,


ao lado de fora.

— Não use voz de comando comigo, seu tosco! Se eu falei pra esperar,
você espera quietinho aí! — retrucou o ruivo, por trás da porta. E então
correu em disparada para a cozinha barulhenta, onde Jimin batia uma
mistura de frutas e vodka no liquidificador, preparando coquetéis.
— Bebê, me ajuda aqui a colocar esses guarda-chuvinhas nos copos... — o
lúpus pediu, antes de ver a cara de pânico do avermelhado. — Que foi? O
que houve? — perguntou alarmado.

— Taehyung está lá fora! E agora? O que eu faço?

— Ah, porra, que merda! — o menor rosnou, descontente. — Não podemos


deixá-lo entrar. Se Taehyung estiver nessa festa, vai estragar o dia do
Yoongi hyung. Ele e Hoseok não conseguem ficar num mesmo cômodo sem
discutir...

— Eu sei! — o mais alto grunhiu. — Principalmente se eu vier junto no


combo! Ele e Hoseok viviam brigando porque aquele cuzão tem ciúmes de
mim. O que a gente a faz?

O alfa malcriado de cabelos cor-de-rosa lá fora, tocou a campainha de novo,


mais escandalosamente e impaciente. Jeon rangeu os dentes.

— Afinal, como diabos ele descobriu sobre a festa hoje? — indagou o Park.
— Yoongi hyung ficou de ontem até hoje à tarde com ele, justamente pra
que pudesse passar a noite com o Hoseok. E Taehyung sabia que a divisão
era essa! Ele veio aqui de sacanagem...

— Oh... — o ruivo arregalou os olhos. E quando Jimin o mirou,


questionador, o garoto coçou a nuca, extremamente sem jeito. — Eu meio
que... postei uma fotinho no meu perfil, de você fazendo os cupcakes... —
confessou sem jeito. Sob o olhar repreensivo do lúpus, tratou logo de se
justificar: — Ah, hyung, o que eu podia fazer? Ele nem me segue! Como eu
ia adivinhar?

Jimin suspirou, cansado.

— Jungkook, o cara te detesta. Ele e Hoseok constantemente brigavam por


causa de você. Sério que não te passou pela cabeça, que Taehyung te
stalkeia? — Jungkook fez um biquinho e sacudiu a cabeça, em negativa. —
Olha, se a gente o expulsar, é capaz de ele fazer escândalo lá na porta e
começar a gritar o nome do Yoongi ou algo assim. E aí ele vai estragar tudo
do mesmo jeito. Então... eu tenho uma ideia. Talvez você não goste muito
dela...

A campainha soou novamente, insistente. O ruivo revirou os olhos, puto.


Taehyung estava testando sua paciência.

— Fala logo, Jimin!

— Lembra daquele episódio de Friends, que o pessoal faz uma festa de


aniversário pra Rachel, e aí convidam a mãe dela, só que o pai dela aparece
de surpresa também, sendo que eles dois estavam separados, e toda vez que
se viam começavam a brigar e deixavam tudo no maior climão?

— Uhum. E o que tem?

— Você não percebe aonde quero chegar?

— Não. Eu tô irritado, não consigo pensar direito — reclamou Jeon,


sacudindo a cabeça, com o rosto já vermelho de nervoso, igualmente os fios
de cabelo coloridos.

— Aigoo... — o lúpus estalou a língua no céu da boca. — Bem, pra que os


pais divorciados não estragassem a festa de aniversário da Rachel, o pessoal
decide fazer duas festas diferentes. Daí o pai dela fica na festa do
apartamento do Chandler, e a mãe na festa do apartamento da Mônica...

O ruivo apertou os olhos em resposta.

— E você sabe que isso não deu certo, né? Os pais dela acabaram se
encontrando no corredor do prédio, de qualquer forma, e aí começaram a
brigar e estragaram tudo...

— Ai, Jungkook, eu não tenho nenhuma ideia melhor! — ralhou. — Se


você tiver, fale agora. Caso não, vai tratando de entregar essas formas de
cupcake pro Taehyung e levar lá pra sua casa. Agora! Porque se ele apertar
minha campainha mais uma vez...

E a campainha tocou, estridente.


— É isso, chega. Eu vou socar a cara dele — o Jeon saiu batendo os pés
com força no piso e foi em direção à porta, decidido e com o sangue
fervendo de irritação, mas foi travado pelo Park, que o alcançou e se pôs em
sua frente.

— A gente não vai estragar a festa do hyung! Nem Taehyung e nem você
— disse entredentes. — Me ajuda! — E aí, respirando fundo, o menor abriu
a porta, pegando o Kim com o dedo a meio caminho da campainha.

— Até que enfim — o rosado resmungou, abaixando a mão.

— Sabe, Taehyung, isso é muito indelicado — o lúpus repreendeu,


cruzando os braços na frente do peito. Imediatamente o rosado abaixou os
olhos, fazendo um biquinho contrariado no rosto.

— É que eu pensei que esse daí 'tava tirando uma com a minha cara... — o
Kim apontou pro ruivo.

— Olha, a festa não é aqui. É no apartamento do Jungkook. E Yoongi


hyung ainda está a caminho. Então, se você for capaz de se comportar
civilizadamente na casa do meu namorado, que é o anfitrião da festa, você
pode ir. Caso contrário, você não vai participar — o moreno disse duro, o
tom repreensivo bem forte.

— Tá legal. Eu me comporto — o rosado murmurou a contragosto.

— Ótimo — retrucou Jungkook. — Vou buscar os tabuleiros e você vai me


ajudar a levar.

E então o ruivo despejou um bocado de travessas com cupcakes e os


confeitos nos braços de Taehyung — que pegava tudo de cara feia —, pra
que terminassem de enfeitar os bolinhos.

— Volta pra pegar mais coisa e deixa o Taehyung lá — Jimin murmurou


pro namorado, que assentiu e atravessou a rua, acompanhado pelo rosado.

— Por que a festa não vai ser na casa do Park? — questionou o Kim. — A
casa dele é maior e mais elegante...
— E você por acaso sabe como é a minha casa? — o ruivo devolveu
irritado.

— Não, mas sei que você não é nenhum ex-militar condecorado e com um
salário decente. A não ser que as lojinhas de conveniência estejam pagando
tão bem assim... — disse soberbo.

Jeon respirou fundo, repetindo mentalmente: "Não estragar a festa de


Yoongi hyung. Não estragar a festa de Yoongi hyung. Não estragar a festa
de Yoongi hyung."

— É, minha casa é minúscula. Provavelmente meu apartamento todo ainda


deve ser menor que o seu banheiro. Talvez você fique mais confortável indo
embora pra sua mansão, não acha? — e sorriu irônico.

O rosado rosnou baixinho.

— Posso aguentar. É aniversário do meu namorado, não posso faltar — e


então sorriu mais falso que o outro, que revirou os olhos e o deu as costas,
para subir as escadas de seu pequeno prédio.

Ao entrarem no apartamento minúsculo, Jungkook resistiu ao ímpeto de


empurrar o outro alfa pela janela, enquanto este passava os olhos pelo local,
com carinha de nojo. O ruivo queria socá-lo, depois enfiar a cabeça dele no
vaso e, aí sim, jogá-lo pela janela.

— Vou buscar o resto das coisas — Jeon avisou emburrado. — Termine de


enfeitar os cupcakes pro aniversário do seu namorado — enfatizou para que
o outro lembrasse que aquilo era pra agradar Yoongi, e não a ele.

O garoto atravessou a rua correndo, dando graças por poder se livrar do


Kim por alguns minutos, ao menos. E assim que entrou na casa do Park, se
deparou com ele e os outros dois, no meio da sala. Yoongi estava usando
uma roupa diferente — o presente de Jimin, composto num look inteiro de
roupa de grife.

— Isso quer dizer que você não vai mais beber, né? — indagou o mais novo
a Yoongi, meio chateado por ele.
— Infelizmente. Não posso estar bêbado se a quarta guerra mundial
começar, então posso me vestir mais arrumadinho — respondeu o
platinado, incomodado.

— Bem, vamos lá — Jimin disse batendo palmas pra chamar atenção. —


Hyung, leva a sacola de descartáveis, e Jungkook, leve alguns engradados
de bebida que caibam na sua geladeira.

E assim dividiram a festa em duas: uma no apartamento de Jungkook, algo


mais intimista, onde a maioria do pessoal intercalava em duplas para
partidas de videogame, desde jogos de tiro, aos de luta, de futebol, os de
música e todo o resto — os jogos novos que Jimin o tinha presenteado,
vinham bem a calhar agora.

Na casa de Jimin, a comemoração era tão animada quanto, com a sala


transformada numa pista de dança, onde ele e Hoseok inesperadamente
haviam se tornado a sensação da festa, parecendo até dançarinos
profissionais.

— Você fica muito gostoso nessa calça de couro, hyung — o Park sentiu os
lábios finos do namorado em sua orelha, segurando-o por trás e apertando
sua cintura, em meio à pista de dança improvisada, enquanto se moviam no
ritmo da música. Era um saco que ele e seu bratzinho só pudessem ficar
juntos um pouquinho, porque toda hora o garoto precisava voltar pra outra
festa.

Jimin sorveu o último gole da batida de frutas em seu copo, para então se
virar de frente pro namorado e envolver seu pescoço com os braços.

— Ei, gatinho... — murmurou com a voz já meio embolada e um risinho


sacana na face, sem parar de remexer os quadris. — Vem sempre aqui?

— Quase todo dia — respondeu o ruivo, entrando na brincadeira. — Já nos


vimos antes?

— Ah, antes eu não sei, mas a gente pode se ver nu lá meu quarto... —
propôs o moreno, em tom bastante safado.
Jungkook gargalhou e prensou o corpo do mais velho com mais força contra
o seu, apertando mais os dedos na cintura alheia.

— Não posso deixar meu apê sem supervisão, hyung, sabe disso... — falou
meio mole, o álcool fazendo efeito. — Yoongi está lá agora, e se ele quiser
vir pra cá, o apartamento vai ficar sozinho, não conheço nenhuma daquelas
pessoas...

— E daí? Se alguém quebrar ou roubar alguma coisa, eu compro tudo novo!


Te dou um apartamento inteiro!

— Precisamos conversar sobre esses seus gastos excessivos... — o mais


novo devolveu com falsa seriedade.

— Yah, nem vem com isso. O Dominador aqui sou, garotinho. Talvez eu
devesse controlar suas finanças, sabe... Talvez devesse cortar seu acesso às
contas. Um bocado de casais que frequentam a The Cave são assim...

— E aí como eu pagaria meus boletos, hein? — retrucou com uma


sobrancelha arqueada. O bêbado Jimin constatou que seu garoto ficava uma
gracinha fazendo aquela expressão, porque ficava a personificação da
malcriação. E aquilo era quente. Jungkook o instigava sendo abusado e
petulante pra cacete, como ninguém jamais havia conseguido.

— Você não vai pagar seus boletos. Eu vou pagar tudo pra você. E aí a
gente pode transferir o seu salário todo mês pra uma poupança. E um dia se
você precisar, vai ter um bom dinheirinho guardado. Por favor... — o lúpus
disse em tom que parecia um gatinho ronronando, enquanto encarava com
os olhinhos meio desfocados pela bebida. — Deixa eu cuidar de você, meu
bebê...

— Eu estou muito tentado a aceitar você como um sugar daddy de


verdade... — Jeon murmurou, com os olhinhos desfocados igual. — Mas
pode ser que eu escolha diferente quando estiver sóbrio, e você também.
Me pergunte de novo amanhã, quando a gente não 'tiver bêbado.

— Tá legal. Mas e quanto a minha outra proposta?


— Qual delas? — o acerejado murmurou com os lábios colados aos
carnudos do menor.

— Aquela da gente ir lá pra cima — sussurrou. — Eu tô doido pra deixar


você me foder, mas esse seu rut não chega logo e você também não quer ir
ao médico, então cansei de esperar — disse com a típica voz reclamona, o
rosto corado pela bebida.

— Aigoo... Isso é tão tentador... — o mais novo murmurou, deslizando as


palmas pra bunda redondinha do lúpus metida naquela calça de couro
apertado. — Eu não paro de fantasiar com você cavalgando em mim,
enquanto eu tiver todo amarrado, hyungie... — confessou manhoso.

— Então vamos agora... — insistiu o moreno, atacando o namorado com


um beijo de tirar o fôlego.

Mas foram interrompidos por Yoongi, que os cutucou. Estavam sendo


importunados vezes demais naquele dia. Talvez tivesse sido melhor não
terem inventado festa de aniversário nenhuma.

— Hey, você tava demorando, então desisti de esperar e vim pra cá, não
quero deixar o Hobi sozinho, ele tá bêbado e chateado — o ômega falou. —
Só tem mais quatro pessoas lá na sua casa, Jungkook. O Taehyung, aquele
casal do seu trabalho e um ômega altão, meio escandaloso. Acho melhor
você ir lá, porque tá meio climão, eu acho.

— Ah, merda! — Jeon grunhiu. — Deve ser o Jin hyung. O Nam a Hwasa
passaram lá na festa depois de saírem do expediente. Porra, deve tá o maior
climão mesmo. A Hwa é alfa, ela vai ser extremamente territorialista por
causa do Namjoon. Eu já volto.

E partiu em direção à sua casa, encontrando, realmente, as coisas meio


estranhas. SeokJin estava tomando uma cerveja long neck, enquanto
Hwasa, sentada no sofá ao lado de Namjoon, o fitava de rabo de olho.

— Koookoooo!!! — SeokJin saltou do banco ao lhe ver, tomando-o num


abraço apertado.
— Oi, hyung. Vamos lá no quarto comigo — chamou, deixando Taehyung
com o casal na sala, jogando video-game. — Desculpe, eu não sabia que a
noona ia aparecer, quando te chamei pra vir pra cá — declarou quando
fechou a porta do cômodo.

— Não tem problema. Eu 'tô de boa. Ela que tá me dando umas encaradas
tensas, porque, né... Vocês alfas, credo — respondeu o acastanhado.

— Então... realmente você e Namjoon hyung não tem mais volta nem nada,
né?

— Já disse que não. Eu tô até gostando daquela menina alfa que tô saindo.
Ela é bem dominante e controladora na cama, sabe? E minha nossa, eu fico
excitado pra um caralho.

— Qual foi a da sua incompatibilidade com o Nam? Você até agora não
explicou.

O ômega revirou os olhos.

— Ai, tá legal — disse vencido, dando mais um gole em sua garrafa. — Ele
é muito submisso. Tipo, muito. E se fosse só isso, okay né. Mas daí... Ele se
recusa a ser passivo.

— Oh... Ah, mas você curte ser passivo, então qual o problema?

— O problema é que eu prefiro meter, meu filho, que coisa! E ele veio com
aquele papo de que já que sou ômega, meu corpo é predisposto pra ser
penetrado e não sei o quê — fez uma careta. — Parecia tão inteligente, mas
no fim, é um idiota. Quero dizer, ele é bonzinho, inteligente, um amor de
pessoa. Mas é idiota. Um sexista. Classicista. Alfista. Como quiser chamar.

Jeon precisou cobrir a boca pra abafar a risada escandalosa que queria
soltar. Aquilo era tão imbecil. Biologia nada tinha a ver com aquilo. Dava
quem gostava de dar. Penetrava quem gostava de penetrar. Independente de
quem gostava mais de controlar ou se submeter, independente de ser alfa,
ômega ou beta, macho ou fêmea. Cada um deveria fazer o que mais lhe
desse prazer na cama e fim.
E okay um cara não curtir ser penetrado, mas querer convencer o parceiro
com o papo manjado e escroto de: "Ah, mas ômegas são biologicamente
preparados e mais aptos pra penetração" era o fim da picada. Jungkook
ouviu isso a vida inteira, de todos os alfas machos com quem saiu, e até de
alguns betas. Achava tão ridículo, que ria.

— Ai, esses caras, fala sério... — E então ouviu batidas na porta. Abrindo-
a, deparou-se com Hwasa ali.

— Hey, eu e Nam já vamos. O seu amigo de cabelo rosa já foi embora


também, então...

— O que? Taehyung foi embora? — o ruivo indagou de olhos arregalados e


aí correu pra sala, confirmando que o outro alfa havia mesmo ido embora
do apartamento, finalmente se cansando depois de ficar prostrado na frente
da TV após seis horas de festa. E se o Kim havia saído dali, então ele só
podia ter ido pra um lugar: a casa do Park. — MERDA! — o garoto
grunhiu. — Gente, sai, sai, sai, desculpe, mas vamos saindo, preciso fechar
o apê — avisou.

Na portaria, Hwasa e Namjoon seguiram o próprio caminho, mas Jungkook


arrastou SeokJin junto consigo. E assim que abriu a porta da casa de Jimin,
se deparou com uma cena que mais parecia o clímax de um episódio de
novela latina:

Taehyung estava de um lado e Hoseok do outro, os dois se confrontando,


com Yoongi no meio, como se tentasse apartar os dois.

— Fala logo pra ele, hyung! — exclamou o rosado.

— KIM TAEHYUNG — o platinado rosnou, parecendo furioso. — Eu já


disse pra você ir pra porra do carro, antes que eu te arraste até lá!

— E eu já falei que não vou! — rebateu o alfa, com a voz grave e séria,
alternando o olhar entre o ômega e o beta. — Ele fez a escolha dele,
Yoongi. Hoseok escolheu o amiguinho feioso dele ao invés da gente. Ele
não nos ama, hyung! Ele secretamente é apaixonado por aquele alfa cabeça
sangrenta!
Jungkook viu SeokJin o encarar com uma sobrancelha arqueada, como se
quisesse dizer: "Esse daí bebeu mais do que devia, né?"

— Eu já falei pra parar, Taehyung! Ou vou te punir por tanto tempo que...
— mas o dominador foi interrompido pelo beta.

— Não. Deixe ele dizer, hyung. O que tanto eu preciso saber?

— Eu e Yoongi hyung vamos nos marcar — o rosado finalmente disse.

Todos na sala — incluindo Jimin, que observava tudo no cantinho —


levaram uma mão aos lábios, chocados. Não haviam mais pessoas ali, além
dos seis. A festa já tinha acabado naquele meio tempo e todos os
convidados já haviam partido. No máximo umas dez pessoas ainda estavam
do lado de fora, conversando na calçada.

— O que? — o switcher indagou, num fio de voz.

— Não é assim... — Yoongi tentou justificar, mas parecia totalmente


cabisbaixo e até mesmo apreensivo, fitando o acastanhado.

— É assim, sim — intrometeu-se o Kim. — O lobo dele escolheu o meu,


Hoseok. Nós queremos nos marcar. Nossos instintos estão ansiando por isso
há um bocado de tempo. Só não fizemos antes, em consideração a você;
Porque só podemos marcar um ao outro e não queríamos que você se
sentisse excluído. Sabe o quanto foi difícil me controlar pra não marcá-lo
no meu último rut?

— Você vai marcá-lo? Uma marca normal, ou uma marca de bdsm, na


nádega? — Hoseok indagou sério ao seu dominante.

— Não tem nada decidido ainda — o platinado resmungou, sem jeito.

— É claro que vai ser na nádega esquerda, como manda a liturgia —


intrometeu-se novamente o alfa rosado. — É a nossa biologia. Todo mundo
sabe que não tem como fugir da marca. Quando os instintos anseiam por
marcar uma pessoa, mesmo fora da loucura cio, é porque essa pessoa é sua
combinação genética perfeita. E consequentemente todos os feromônios
fazem essas duas pessoas se apaixonarem. Porque a paixão é química e
biológica. Você sabe disso — disse duro.

E quanto à coisa biológica, era a mais pura verdade. Se os instintos lupinos


de Taehyung e Yoongi estavam os mandando marcarem-se, bem... Então
aquele era o fim da linha para Jung Hoseok. Não que ele não pudesse
continuar numa relação com os dois. A biologia da marca não os impediria
de amarem o beta também, mas após a mordida o laço entre os dois seria
extremamente forte, e Hoseok certamente não iria aceitar ficar de fora
naquilo; Ser o excluído daquela relação; O que era menos amado, menos
desejado, menos querido.

Claro, o ruivo sabia que, em se tratando dele e Jimin, provavelmente havia


algum erro, algum engano genético. A natureza nem sempre é perfeita.
Porque mesmo sem os genes ômegas — que ele tinha certeza serem a causa
do lobo de Jimin desejar marcá-lo, assim como o dele querer marcar a Jimin
—, ainda assim não podiam arriscar uma mordida um no outro. Mesmo
com os genes ômegas, Jeon ainda era um alfa. E a mordida de um alfa em
outro alfa, podia ser letal. Existia o antídoto, claro. Mas ainda assim, não
queriam pagar pra ver, porque aquilo podia dar muito, mas muito errado.

O de cabelos cereja suspirou triste, sabendo que o amigo estava pensando o


mesmo que ele. Que a sua relação acabava ali. E o garoto estava angustiado
de ver o melhor amigo que considerava tanto, ter seu coração partido assim,
bem na sua frente.

— Você deveria ter me contado antes, hyung — disse o beta ao seu


dominador, com a voz tão frágil e baixa, que eram de dar dó. Até mesmo
Taehyung pareceu titubear ao ver a expressão cabisbaixa do ex-namorado.

— Me desculpe, Hoseok hyung — o rosado então declarou, com a voz um


bocado mais suave. — Não é como se tivéssemos escolha. Mas mesmo que
tivéssemos, você já fez a sua. — E então se voltando pra Yoongi, avisou: —
Vou te esperar no carro, meu senhor — e saiu a passos rápidos dali. Ao
passar por Jungkook, este pôde jurar ver o alfa de fios cor de rosa com os
olhos marejados e o rosto se contorcendo no início de um choro. Então teve
certeza de que o sem noção tinha sentimentos, afinal, embora não deixasse
de ser um babacão.
— Hobi, por favor... — Yoongi disse em tom que parecia contido, mas sua
expressão denunciava seu real desespero.

— Vocês partiram meu coração — Hoseok disse a ele, com a voz


embargada e os olhos vermelhos, deixando a primeira lágrima escorrer de
seus olhos bonitos. Então levou os dedos longos até a própria nuca,
retirando o cordão com o pingente que tinha o formato da letra "Y", que era
sua coleira social e representava sua relação D/s com o ômega.

Com a mão vacilante em tremor, o beta entregou o acessório na canhota


pálida do platinado, que já não se segurava mais e debulhava-se em
lágrimas, mordendo o lábio inferior, tentando manter a postura, ainda que
claramente estivesse destruído por dentro. Seu submisso estava lhe
devolvendo a coleira, encerrando a relação ali. E ele sabia que o término
não era apenas sobre a relação D/s.

— ... Jagi... — o mais velho murmurou. — Vamos tentar arrumar isso... —


pediu com a voz baixinha.

Hoseok negou, sacudindo a cabeça, tristonho.

— Eu só quero que vocês sejam felizes. Vocês dois, Yoongi. Eu os amo. Do


fundo do coração — e então deixando um beijo sofrido na bochecha do
ômega, se afastou, indo em direção a porta, deparando-se com Jungkook e
SeokJin ali. — Obrigado pela festa, Kook. E Jin hyung, me desculpe não ter
conseguido falar com você. Vamos combinar de nos ver os três essa
semana, ok? Vou precisar de vocês — murmurou a última frase bem
baixinho. Os amigos assentiram e o abraçaram rapidamente, para então o
beta sair em disparada dali.

Jeon viu o Park caminhar finalmente em direção ao amigo ômega e acolhê-


lo num abraço reconfortante, o tórax do platinado sacolejando pela força do
choro forte que o acometia agora.

Seus olhares se encontraram e não precisaram dizer nada. Ambos


entendiam a necessidade que Yoongi tinha de ficar com o lúpus naquele
momento. Então Jungkook viu os dois amigos subirem as escadas pro andar
de cima.
Subitamente o efeito do álcool já não parecia tão forte assim. Jeon estava
estava meio alto, seu equilíbrio não era dos melhores, mas nada muito
absurdo.

— Será que não é melhor a gente ir atrás do Hoseok também? — indagou


SeokJin, aflito pelo amigo.

— Não... — o acerejado sacudiu a cabeça. — Ele vai preferir ficar sozinho


hoje, chorando escondido. Ele é assim, você sabe.

Jin bufou, sem ter o que fazer.

— E a gente, o que faz? — perguntou. — Cheguei no final da festa, nem


consegui ficar bêbado ou comer um docinho. Não queria ir embora...

— Você pode me fazer companhia. Sobrou bastante comida e bebida. A


gente leva pro quarto de visitas lá em cima e passa a noite vendo séries.
Jimin vai passar a noite toda consolando o Yoongi, tenho certeza.

— Beleza. Alguém precisa dispensar o Taehyung lá fora, né?

Jeon bufou, se dando conta.

— Eu faço isso. Bate lá na suíte do Jimin, primeira porta à direita. Pede pra
ele uma muda de roupas pra mim e outra pra você, e duas toalhas.
Aproveita e toma banho no banheiro do corredor ou no daqui de baixo,
enquanto isso. Pode ir pro quarto de visitas. Mas não o do fundo corredor!
O da frente da suíte do Jimin.

— O do fundo é a tal masmorra? — o acastanhado perguntou com uma


careta.

— É sim — o garoto riu da cara do amigo.

— Ai, que bizarrice do cacete... — o mais velho murmurou, dando às


costas.

Jungkook sacudiu a cabeça e foi pro lado de fora, vendo que o resto dos
convidados que estavam pela calçada, já haviam dispersado. Exceto por
Taehyung, ainda dentro do próprio carro, com o rosto vermelho de choro, as
bochechas molhadas e o olhar perdido. O ruivo então deu duas batidinhas
no vidro. O outro, pego de surpresa, rapidamente secou as lágrimas e
desceu a janela do automóvel.

— Onde está Yoongi hyung? — perguntou o rosado, em tom rude.

— Cara, é o seguinte: Yoongi está magoado. Diferente de você, ele


realmente amava Hoseok hyung. Então ele vai passar a noite aqui, com
Jimin.

— Você não sabe de nada! — rosnou o outro brat.

— Cara, realmente cheguei a acreditar que você tinha terminado com


Hoseok, puramente por ciúmes da nossa proximidade. E eu já te achava
cuzão por isso, mas agora te acho mais cuzão ainda — disparou, vomitando
as palavras, cheio de raiva, apoiando-se na porta do carro. — Qual a
necessidade de você ter vindo até aqui fazer essa cena toda? Não satisfeito
em massacrar o coração do meu amigo, você ainda quis platéia pra isso?
Você não podia deixar eles curtirem o aniversário juntos numa boa? Você
passou a madrugada, a manhã toda e parte da tarde com Yoongi hyung. Por
que Hoseok não podia ficar com ele ao menos essa noite? Isso foi baixo e
maldoso demais, até pra você...

— Você não tem nada a ver com isso! — o alfa de fios rosa rosnou irritado,
apertando o volante com tanta força, que os nós de seus dedos estavam
brancos.

— Uma ova, que não! Tudo o que envolver o meu melhor amigo, tem a ver
comigo! Vou te deixar uma coisa bem clara, Kim Taehyung — disse
apontando um dedo na face do outro, fazendo a cara mais assustadora que
podia —: Se você magoar meu hyung outra vez, eu vou arrastar tua cara no
asfalto, até você ficar sem pele! — rosnou, usando sua voz de comando.
Não que ela fosse fazer efeito no outro alfa, mas ainda assim, soava mais
assustadora.

O rosado apenas se contorceu numa careta e subiu o vidro da janela,


fazendo Jeon afastar as mãos apoiadas ali rapidamente, pra não ter os dedos
esmagados. E então partiu, acelerando o carro.

O ruivo levantou o dedo do meio, com as duas mãos, em direção ao carro


do alfa, torcendo pra que ele visse seu gesto feio pelo retrovisor.

— Cuzão do caralho... — resmungou, voltando pra casa irritadiço, ainda


meio cambaleante pelo tanto de batidas que tomara.

Olhou a bagunça pós-festa, e só de pensar que além de arrumar ali, teria que
arrumar seu apartamento também, lhe dava uma preguiça fora da conta.

Preguiçosamente caminhou até o som, desligando-o na tomada, assim como


desligou a tevê que reproduzia videoclipes psicodélicos, pra ajudar a galera
a ficar mais doidona enquanto bebia e dançava.

No silêncio, pôde ouvir o barulhinho de algo tocando. Um telefone. Vinha


da cozinha. Ele reconhecia o toque, definitivamente lembrava o celular do
Park. E a coisa de ouvir o telefone do namorado tocando quando ele estava
longe, já era como um filme de terror na sua cabeça. Não trazia lembranças
boas.

Seguindo o som, encontrou o aparelho na geladeira. Dentro da gaveta de


legumes, especificamente. O que só mostrava o quão alterado o lúpus havia
ficado naquela festa.

O garoto pegou o aparelho, bufando ao ver o nome de Taemin. Ah, dessa


vez ele atenderia, definitivamente soltaria umas poucas e boas para aquele
sem noção.

— Quem é? Isso são horas de ligar? — atendeu rude.

— Err... Esse não é o telefone de Park Jimin? — Taemin respondeu na


linha.

— É sim. Aqui é o namorado dele.

— Ah... o JungNugui, né?


Jeon quase rosnou. Algo lhe dizia que o outro errara seu nome na mais pura
sacanagem, aquele sonso do caralho. Nada tirava de sua cabeça que Lee
Taemin era uma cobra peçonhenta, que queria roubar seu namorado de si.

— É JungKook — corrigiu. — Jeon Jungkook. E não acho que isso seja


hora de ligar pros outros. São 4h da manhã! — ralhou, ainda em tom
contido, embora fosse clara a repreensão.

— Ah, foi mal. É que eu estava falando com Yoongi pelo celular dele,
minutos atrás, dando parabéns. Mas de repente o telefone desligou e só tá
dando fora de área até agora. Então tô ligando pro telefone do Jimin,
justamente pra falar com Yoongi. Sei que vocês estavam dando a festa de
aniversário aí na casa do Minnie...

— Ah... — o ruivo ajeitou a postura, sentindo-se meio bobo por ter dado
aquele pequeno ataque. — Olha, não é uma boa hora. Teve o maior drama
aqui na festa. Você sabe sobre a situação amorosa de Yoongi, né? — disse
pegando água na geladeira.

— Ah, sim. Vocês tiveram que fazer duas festas, pra que o tal Hoseok e o
psicótico do Taehyung não batessem de frente e estragassem tudo, certo?

— Uhum. Mas não deu certo. Aparentemente Yoongi e Taehyung tem uma
ligação de lobos. Eles querem se marcar...

— Whoooa! — o outro exclamou chocado na linha.

— Pois é. E aparentemente também, Taehyung achou oportuno revelar isso


a Hoseok hyung no fim da festa. Então os dois foram embora chorando, e
Yoongi está lá em cima chorando no quarto com Jimin também. Uma
bagunça, bolhas de meleca pra todos os lados.

— Ah, mas que merda. Queria estar aí pra poder ajudar...

— É. Mas não se preocupe, Jimin está tomando conta disso — respondeu


com a voz neutra.
— Ok. Vou ligar pra Yoongi amanhã então. Obrigado por me explicar,
Jungkook — dessa vez disse o nome certo. — Boa noite.

— Boa... — o garoto murmurou e encerrou a chamada, levando o copo de


água à boca, pensativo.

O que ele esperava que Taemin dissesse? Que gritasse: "O Jimin é meu e
vou tomá-lo de volta agora"? Certamente não. O cara tinha soado
preocupado com o outro amigo. E vendo o quão escrota era a situação
causada pelos ciúmes de Taehyung, e o quanto aquela coisa irracional e
doentia havia estragado uma relação cheia de amor entre os três rapazes, o
de cabelos cereja viu o quanto agia de modo irracional também. Sua última
briga com Jimin, semanas atrás, havia sido por algo parecido — e havia
tomado um puta castigo após isso.

Talvez... Talvez fosse o momento de se controlar. De realmente se controlar.


Não só controlar suas ações, mas também controlar seus pensamentos
ciumentos. Ele sabia que eram irracionais — embora nem sempre
infundados. Se Jimin quisesse estar com Taemin, estaria. Se Jimin quisesse
traí-lo, trairia. E provavelmente o lúpus faria tão bem feito, que seria bem
embaixo do seu nariz e ele sequer desconfiaria, agora estava convicto
disso.

Suspirando, o garoto tomou a decisão de nunca dar o tipo de vexame que


Taehyung dera naquela noite. De nunca, sob hipótese alguma, tentar magoar
o Park, na hora da raiva, como vira o Kim fazer com seu amigo. Não queria
magoar o amado nunquinha.

Porque era isso que Park Jimin era pra si. Seu amor. Então por que magoar
alguém que se ama tanto?

Seria chato engolir Lee Taemin, principalmente quando o ex-sub de Jimin,


o tal Wonho, havia lhe contado muitas coisas duvidosas sobre o caráter do
Lee. Mas ainda assim, o garoto era minimamente maduro pra saber que
toda história tinha dois lados. E que se Wonho tivera seu coração partido
por Taemin, certamente o via como o vilão da história... Só que na visão
real da coisa, ele podia não ser vilão algum.
Resignado, Jungkook então pegou seu próprio celular e buscou pelo perfil
de Lee Taemin, numa rede social — que já conhecia, afinal, já havia
stalkeado o cara um bocado de vezes, assim como Kim Taehyung
certamente fazia consigo.

No fim, adicionou o platinado em sua lista de amigos, esperando ter seu


pedido aceito. Sabia que o outro voltaria à Coréia à qualquer momento, e
seria insustentável manter as coisas numa boa, se continuasse tratando-o
como um oponente. Não queria que a problemática na relação do trisal se
repetisse entre ele, Jimin e Taemin. Principalmente porque não queria
perder o Park. E sabia que, assim como Hoseok fizera consigo, o lúpus
poderia escolher o amigo, ao invés dele. E aí as coisas ficariam feias.

Então, havia decidido fazer a coisa certa e agir de modo maduro. Lee
Taemin não parecia tão mau, afinal.

Esperava não estar enganado.

Preciso pedir um favor: não assumam os próximos acontecimentos de INC,


com base no que "está parecendo." Ninguém aqui é adivinho nem tá lendo
minha mente. Então eu tô implorando, pra não ver gente dizendo: "ai mas
vai ter threesome jikook + taemin c crtz, vo dropar a fic" ou "ai, com
certeza o jimin tá traindo o jk, olha só essas letras em itálico, vo dropar a
fic" pq eu sei tudo oq vai acontecer, como vai acontecer e o momento que
vai acontecer, belê? Você pode não entender oq eu tô querendo fazer, mas
eu entendo e isso basta kkkkkkk a gente ainda tem até o fim da fanfic pra
entender tudinho e as coisas se encaixarem, tenham paciência, pq se não
tiver, é melhor ler fic concluída, monas.

E os jikook de INC tretando com os jikook de assombrado no twitter?


kkkkkkkkkkkkkkkkk auge ♀ Segue eles
lá: @/ALPHASDOMINATOR, @/cherrysubjk e @/HauntedBoy90s
#JungkookBebêDoJimin

E as headers que @/jikooklladx fez no twitter, com quotes de


incandescente? SENSACIONAIS hahahaahah vou deixar uma aqui:
O JUNGKOOK DEPOIS DE ABRIR A PORTA E VER QUE ERA O
TAEHYUNG:

O TAEHYUNG:
até mais, consagrades!
29| quicksand

Não esquece de votar no capítulo pra marcá-lo como lido, pra você
não se perder na leitura ;)

#JungkookBebêDoJimin

— Sim... Assim, por favor, Jimin-ssi.... — o alfa gemeu necessitado,


fincando as unhas na cintura do dominador, que quicava cada vez mais
voraz em cima dele, rebolando o quadril e os glúteos redondos à cada
movimento intenso.

Os cabelos do platinado estavam espalhados sobre o colchão, lhe dando


uma aparência angelical, e a expressão sôfrega no rosto delicado tornava a
cena semelhante a um quadro erótico da Idade Média, perdido em prazer.

— Implora... Implora mais — Jimin ordenou, com a voz forte e altiva,


rosnada e entrecortada, por conta do esforço da foda. — Implora, filho da
puta! — estalou um tapa na face do submisso, que soltou um gritinho
dolorido e surpreso.

— Por favor, meu senhor, me deixa gozar... — choramingou, desesperado.


— Por favor, tira o anel do meu pau, tira...

— Não.

— Eu imploro, meu senhor...

Em câmera lenta, o rosto do dominador se virou pro lado, encontrando os


olhos do voyeur. Sorriu malicioso e abaixou o rosto na altura da face do
outro, pra deslizar a língua pela bochecha do submisso abaixo de si,
sentando nele com mais força, deliciando-se na expressão sofrida daquele
que os assistia, sentado na poltrona mais afastada.

— Era isso o que você queria, bebê? — o Park sussurrou em tom sádico,
fitando àquele nos olhos. — Queria me ver fodendo com esse escrotinho
bem na sua frente, uh?

Jungkook resfolegou e mordeu o lábio, com força. Sua garganta estava


fechada e nas bochechas estava o lastro molhado das lágrimas quentes e
silenciosas que, o tempo todo, deslizaram pela pele.

Cravou as unhas no braço do estofado de couro, contorcendo os dedos dos


pés, sentindo seu pênis duro latejar, caído sobre a barriga. Seu coração
doía, os olhos ardiam, sua mente estava afogada na mais pura agonia que
já tivera o desprazer de experimentar...

Exceto que, dessa vez, a dor era estranha e vergonhosamente prazerosa.

Nunca na vida se viu em estado tão contraditório quanto esse.

— Meu senhor... — o alfa platinado sussurrou na cama, o corpo se


contorcendo abaixo do Park, que sequer o encarava; seus olhos estavam
presos no voyeur de cabelos cor de cereja.

— Responda, Jeon Jungkook! — o lúpus rosnou, claramente irritado,


enquanto quicava com mais força no submisso embaixo dele. — Era isso o
que você queria? Ser um corninho manso, uh? Um frouxo que sente prazer
em ser humilhado e traído, debaixo do próprio nariz? — disse em tom
malvado.

Jungkook não aguentou mais. Chorando e com o rosto vermelho de raiva,


levantou da poltrona, batendo o pé. A coleira pesada em seu pescoço
parecia sufocá-lo.

— Chega! Solta ele, Jimin! Agora! — bradou.

Mas o moreno apenas sorriu com deboche, e então escondeu o rosto na


curva do pescoço do platinado. Este, pela primeira vez, olhou pra
Jungkook, no fundo dos olhos, fazendo o sangue do ruivo gelar enquanto
via o outro alfa abraçar o tronco do lúpus e deslizar as unhas por suas
costas.
— Eu te disse... Jiminie é meu — o submisso falou. E então sorriu de lado,
confiante, revirando os olhos logo em seguida, perdendo-se em um gemido
longo.

— Não! Jimin, solta ele! — Jungkook grunhiu, nervosos e agoniado. — Não


quero mais ver! VERMELHO!!! — gritou a palavra de segurança padrão.

O dominador continuava a foder com o sujeito. Ignorava Jeon como se


ignorasse a um fantasma. Era como se o ruivo agora lhe fosse invisível.

— Jimin, por favor... Eu disse a safeword! — o acerejado choramingou,


desesperado. Tentou ir pra cima do casal na cama, mas seus pés estavam
fincados no chão, como em areia movediça. — Por favor... — implorou com
a voz amargurada, as lágrimas rolando soltas pela face bonita. — Por
favor, eu te amo... Solta ele! Eu não aguento ver, não aguento!

Então os olhos do Park voltaram-se pra ele, o fitando com frieza, enquanto
diminuía o ritmo das sentadas em cima do outro, apenas para que pudesse
dizer com clareza:

— É uma pena... Pensei que fosse mais esperto, bebê. Taemin é meu há dez
anos... Você foi como todos os outros: apenas um passatempo. Eu posso
enjoar do meu TaeTae, de tempos em tempos... — deu um selo estalado na
bochecha do platinado. — Mas ele sempre será o número um pra mim... —
e sorrindo, beijou o alfa abaixo de si, apaixonadamente nos lábios.

Jungkook caiu de joelhos no chão, gritando. Suas cordas vocais quase


rasgaram, mas nenhum som saiu.

Ele socou o chão duro abaixo de si, e tentou se levantar, mas era como se
uma força invisível o puxasse pra baixo.

Seus olhos ficaram cada vez mais turvos, até que não pôde enxergar mais
nada; seu ser foi então, tomado por uma escuridão claustrofóbica.

De súbito, suas costas sentiram o impacto de algo duro e dolorido, fazendo


o acerejado, involuntariamente, soltar um grunhido de dor.
Continuava escuro ao seu redor, mas logo uma claridade forte e amarelada
surgiu acima de sua cabeça, fazendo-o apertar os olhos pela sensibilidade,
quando viu aquele rosto já conhecido pairando sobre o dele:

— Bebê? — as palavras saíram pelos lábios carnudos do Park, que portava


uma expressão preocupada na face sonolenta e inchada. A luz do abajour
atrás dele assemelhava-se a auréola de um anjo. — Oh, minha nossa, amor!
— grunhiu surpreso, quando puxou Jungkook pelos braços, levantando-o.

Sentindo a coluna pulsar de dor, o ruivo se deixou ser puxado pra cima da
cama, apoiando-se nas mãos macias do dominador, que passou a alisar seus
braços, as costas e o tronco, checando-o.

— Tá tudo bem? Você se machucou? Fala comigo! — Jimin comandou,


imperioso e em tom absolutamente preocupado, que transbordava carinho,
muito diferente do tom frio e provocador que saíra de sua boca bem
desenhada naquele sonho terrível.

Jungkook não respondeu; apenas se jogou do outro lado da cama, sentindo


o coração bater rápido, de um jeito doloroso. Parecia que a dor era sua
constante amiga. Nem mesmo os lençóis macios pareciam confortáveis sob
a pele de suas costas despidas.

Deus às costas pro lúpus, encolhendo-se no colchão e fitando a parede.


Soluços o tomaram, fazendo seu tronco dar solavancos que, em vão, o rapaz
tentou segurar.

— Jungkook-ah? — Jimin chamou insistente, com a voz mais suave e


muito mais preocupada. — Por que você 'tá chorando, amor? Por favor... —
abraçou o maior por trás, como se pudesse protegê-lo do mundo com seus
braços finos. — Bebêzinho, eu tô preocupado. Não chora... Já passou.
Hyung está aqui com você — deixou um selo na nuca bem aparada do mais
novo, que se aninhou mais a ele.

Jeon permaneceu em profundo silêncio, por mais bons minutos, enquanto


Jimin sussurrava palavras doces em seu ouvido, e acalmava-o com carinhos
no peito.
O abraço reconfortante foi, aos poucos, levando embora a tensão e angústia
no peito do de fios cor de cereja. O coração acelerado foi regulando as
batidas lentamente, até que apenas um pequeno aperto continuasse.

— Está mais calmo? — Jimin sussurrou com a voz baixinha, após um


tempo.

Jungkook, novamente, não respondeu. Não conseguia. Como poderia dizer


que tinha sonhado com aquilo? Como poderia explicar que, nos últimos
dias, havia assistido repetidamente o vídeo de uma Cena pública de Jimin
na The Cave com seu ex-submisso e eterno amigo, Lee Taemin?

Como explicaria que seu emocional problemático estava agora criando


imagens ainda piores e mais dolorosas que aquela já vista? Como diria para
o homem que todo santo dia lhe demonstrava amor, que em sua mente
deturpada, ele o via como um maldito traidor, a despeito de todos os seus
esforços?

Jungkook não tinha coragem. Não só porque isso deixaria Jimin puto da
vida, como o faria, com certeza, tomar uma implicância absurda de Seung,
o alfa submisso que costumava trabalhar como hostess nas festas da The
Cave, por tê-lo enviado o tal vídeo onde Jimin fodia e maltratava Taemin
sem dó nem piedade, em meio a uma multidão de voyeristas.

O ruivo sabia que deveria ter segurado mais sua maldita curiosidade. Sabia
que aquele fetiche recém-descoberto em assistir seu homem com outra
pessoa, poderia causá-lo uma dor maior do que ele podia ser capaz de
aguentar. Mas, teimoso, insistiu em assistir àquela coisa.

Agora, seu emocional estava em frangalhos. E sequer podia desabafar com


o namorado e dominador, pois sabia que este ficaria decepcionado consigo,
por não ter conversado com ele sobre o tal vídeo antes de assistir.

Suspirando, cansado, Jeon se virou no colchão, abraçando o Park de frente.


Este passou a alisar suas costas nuas, tendo-o dentro de seu abraço caloroso.

— Não precisa me contar se não se sentir confortável... — o lúpus


sussurrou pro amado, cheio de carinho. — Foi só um pesadelo. Hyung está
aqui. Eu cuido de você... Sempre vou cuidar. Você é o meu amor —
declarou com a voz baixinha e melosa.

Isso fez o coração do ruivo quase saltar pela garganta, agarrando a camisa
do pijama do namorado entre os dedos firmes, retribuindo o abraço com
mais força do que planejava.

— Au! Ai, ai, aiii, Jungkook-ah... — o mais velho grunhiu, desconfortável.


— Eu sou forte, mas não sou de ferro! Assim você vai me quebrar — falou
com a voz mudando para o tom reclamão usual, que sempre fazia seus
lábios se juntarem num biquinho fofo.

— Desculpe, hyung! — o ruivo falou, afastando-se rápido, para que


pudesse fitar o rosto do dominador. — É que... Ah, desculpa. Eu te
machuquei? — arregalou os olhos.

— Só um tiquinho... — o moreno respondeu fazendo um sinal de


"pouquinho" com o indicador e o dedão.

— Fofo — Jeon resmungou, abraçando-o de novo, dessa vez com cuidado.

— Você 'tá bem? Suas costas ainda estão doendo? — perguntou. — Eu


acordei com o barulho de você caindo no chão.

— Tá doendo um bocadinho, hyung — respondeu manhoso, sentindo-se


incrivelmente aliviado por ter acordado daquele pesadelo.

— Deita aí, vou fazer uma massagem no meu neném — ordenou.

Jungkook imediatamente obedeceu, sem contrariar. Deitou-se de bruços e


agarrou o travesseiro, esperando seu alfa cuidar de si, como sempre fazia.

Poucos segundos depois, o ruivo sentiu o peso de Jimin sobre sua bunda,
montado nele. As mãos macias e pequeninas deslizaram pela pele de suas
costas nuas, delicadamente, umedecendo a tez.

O acerejado sentiu o cheiro delicioso do óleo de massagem invadir o ar,


acalmando-o de imediato. Como se tivesse sido enfiado dentro de uma vibe
completamente relaxante e propícia.
— Tá doendo aqui? — Jimin indagou, apalpando-o perto do ombro.

— Não. Mais pra baixo.

— Aqui?

— Mais pra direita. Ai! Dói... — resmungou.

— Aigoo... Me deixa te levar no médico, só pra checar se não machucou


muito sério...

— Não começa, hyung — o ruivo retrucou, com a bochecha esquerda


amassada sobre o travesseiro macio.

— Mas, amor! — rebateu com a voz reclamona e indignada. — Você pode


ter distendido um músculo e...

— Não, Jimin. Você sabe que não gosto de hospitais...

— Mas quando você passou mal depois do cio, eu te levei e você não se
opôs.

— Foi diferente, eu 'tava passando tão mal, que pensei que fosse morrer.
Não acho que vou morrer agora.

— Não que você saiba! — o moreno devolveu.

— Jimin, tá doendo ainda. Você pode, por favor, continuar a massagem e


encerrar esse assunto, hein?

— Não — o lúpus respondeu, a negativa sendo referente a encerrar o


assunto, já que suas mãos já haviam voltado a massagear as costas doloridas
do namorado. — Você precisa ir ao médico, Jungkook. Se não for por ter
batido as costas no chão, vai ser pelo atraso de quatro semanas do seu rut...

— Vermelho! — Jeon grunhiu.

Imediatamente o Park ficou estático, com os olhinhos arregalados.


— Como é? — balbuciou.

— Isso mesmo que você ouviu, Park Jimin. Vermelho! — repetiu o


acerejado, convicto. — Estou dizendo minha palavra de segurança.

— E você tá usando ela pra quê? Não estamos numa sessão — respondeu
com certa indignação.

— Não é uma sessão, mas você está insistindo em algo que eu já disse que
não quero debater, mas que coisa!

Jimin bufou, inconformado, e saiu de cima do namorado, deitando-se


emburrado ao seu lado, fitando o teto.

— Hyung, não faz charme... — o Jeon pediu, com a voz manhosinha. — Tá


esquecendo que o bebêzão aqui sou eu, é?

— Não é charme, Jungoo-ah — o Park respondeu mais suave, encarando-o.


E foi aí que o mais novo abraçou sua cintura e o puxou mais pra perto. —
Eu fico preocupado com você. Por que é tão difícil entender? Eu quero você
com saúde. É meu dever como seu dominador e namorado.

— Hyung, não briga comigo não, poxa... Vamos ficar direitinho, hein? Eu
ainda tô mexido com o pesadelo... — manipulou.

Jimin imediatamente mudou de postura, abraçando-o de volta e reiniciando


as carícias nas costas do ruivo, o tendo num abraço.

— Foi um sonho muito ruim?

— Muito. Um pesadelo. Mas não quero falar dele, hyung.

— Tudo bem, bebêzinho. Você tá com fominha? Hyung prepara alguma


coisa pra você comer. Já 'tá quase na minha hora de acordar mesmo...

— Já está cedo assim? — o garoto retrucou preguiçoso.

— Sim. Essa semana peguei o primeiro turno, preciso sair às 6h, e já são
4h30.
— Ain... A gente nem vai se ver mais hoje, né? Quando eu sair do trabalho,
você já vai estar dormindo...

— Infelizmente sim, amor — deu-lhe um beijo no topo da cabeça de fios


tingidos. — Mas na sexta-feira você 'tá de folga, né?

— Uhum — balançou a cabeça em afirmativo, a bochecha esmagada contra


o peitoral duro do alfa lúpus.

— Então quando eu sair do trabalho, vou direto pra sua casa ficar com
você. E até lá, vou morrer de saudadinha...

— Hmmn... — o ruivo se apertou mais contra o namorado. — Você me


deixa muito boiola, Jiminie...

O moreno riu alto, se sacudindo, o peito reverberando com a gargalhada.

— Você também me deixa assim. Você é todo lindo, fofo, cheiroso, gostoso,
fofinho e teimoso... — suspirou. — Eu... — mas sua fala foi interrompida
pelo despertador, de forma brusca.

— Aiii, desliga isso, hyung! — reclamou, bicudo.

— Vamos pra cozinha comer — o lúpus chamou, se levantando e arrastando


o namorado consigo.

Jimin não tinha muito tempo a perder, e ainda precisava encarar um puta
trânsito no viaduto, pra que pudesse cruzar a cidade e chegar ao aeroporto
onde trabalhava como controlador de tráfego aéreo.

Mas isso não o impediu de ficar cheio de chamego com o Jeon na cozinha,
enquanto faziam o café, enquanto comiam, e enquanto ele se vestia no
quarto e o ruivinho fazia graça, deitado preguiçosamente na cama, o
chamando de volta pro emaranhado de lençóis; era tentador, mas o Park
realmente precisava ir trabalhar.

— Volte a dormir, neném. Se tiver algum pesadelo, ligue pra mim, tá bom?
— disse ao despedir-se do de cabelos cereja com um beijo carinhoso. — E
confere se o Minzy não ficou trancado aqui dentro, quando você sair.
— E se ele ficar, que diferença faz? Esse gato doido vive fugindo lá de casa
pra vir pra cá! — Jeon resmungou, indignado com seu bichano. — Minzy
está mal acostumado, pensando que a casa dele é essa casona de rico aqui...

— Mas essa é a casa dele — o lúpus rebateu. — Ele tem duas casas: a do
papai Jungoo' e a do papai Jimi'.

O mais novo apertou os olhos pra ele.

— Você não parece fofo com essa história de "papai Jungoo" e "papai
Jimin", parece só um sequestrador de filhos alheios, tá ok?

O moreno gargalhou pela, provavelmente, décima vez, só naquela manhã.


Era impressionante como o submisso malcriado era capaz de aumentar o
seu humor, com tão pouco. Apenas sendo ele.

Jeon Jungkook, maluquinho, pentelho e sem noção, era a pessoa mais linda
que Jimin já tivera o prazer de conhecer no mundo. E o dominador sabia ser
o maior sortudo, por ter sido capaz de fisgar o coração de um ícone.

Finalmente começando a ficar atrasado, despediu-se do ruivinho pálido,


deixando-o sobre sua cama, para então dirigir rumo ao trabalho.

[...]

— QUEBRA DE TEMPO —

Jungkook bateu os pés contra o piso liso, impacientemente, pela, talvez,


centésima vez. Odiava hospitais. Odiava com todas as forças. Não lhe
traziam boas lembranças. Especialmente aquele hospital em questão.

Olhou as placas brilhantes que indicavam as alas do gigantesco centro de


saúde. Em cada uma delas, o nome "General South Hospital" lhe dava
arrepios.

De todos os hospitais da cidade, aquele era o único onde o garoto podia ser
atendido gratuitamente, de toda a forma.
O alfa de genes ômegas não tinha plano de saúde ou condições de pagar por
um médico particular e arcar com o custo dos medicamentos que
certamente lhe seriam prescritos após aquela consulta.

Então que opção tinha, senão esperar na fila de atendimento do hospital que
seus pais trabalhavam e gerenciavam?

É. O atendimento gratuito tinha seu preço, e este era ligado aos pais do
rapaz.

Cada batida do ponteiro do relógio no alto da parede causava uma agonia


no de cabelos cereja. Queria entrar logo no maldito consultório e ficar longe
do corredor, onde poderia facilmente ser visto por alguém que o conhecesse
e fosse correndo avisar aos seus pais que o filho revolto estava ali — isto é,
se a recepção já não os tivesse informado.

Ou pior, os próprios pais poderiam vê-lo; seus fios coloridos de vermelho-


rosado flamejante chamavam atenção de longe, é claro. O garoto era quase
um ponto de referência em meio a multidão.

"Kang Sungin, consultório 203" a voz da recepcionista soou nos alto-


falantes, fazendo Jungkook grunhir e ranger os dentes de nervoso. Nunca
chegava sua vez e o rapaz já estava agoniado.

Mas se tinha uma coisa que o desesperava mais que um possível encontro
acidental e infeliz com seus pais, essa coisa era pedir que Jimin pagasse sua
consulta em outro lugar.

Isso porque o alfa ruivo estava apavorado sobre o que podia estar
acontecendo com seu próprio corpo; e não queria que Jimin soubesse do
que se tratava. E se fosse algum tipo de bizarrice ligada aos seus tão
odiados genes ômegas? Não queria ter que lidar com Jimin e isso ao mesmo
tempo. O lúpus sequer podia saber que o mais novo estava ali, ainda que ele
mesmo tocasse no assunto dia sim, dia não.

Pior: Jeon achava que, dependendo da peculiaridade do problema de saúde


desconhecido que vinha atrasando seu cio alfa, o Park poderia enxergá-lo de
modo diferente. Poderia sentir repulsa por si. E aquilo martelava tanto em
sua mente, que apenas contribuía pra seu nervosismo intenso, que fazia doer
o estômago e a cabeça girar.

Bateu o pé mais um bocado de vezes no chão, os braços cruzados, cenho


franzido e um bico gigantesco nos finos e belos lábios. Sentia-se como uma
bomba-relógio, prestes a explodir. As unhas, antes levemente crescidas pra
que pudesse arranhar a pele do Park, como este gostava, agora estavam tão
roídas que sentia as pontas dos dedos arderem em carne viva.

Mais quinze minutos se passaram. Pareceram três horas inacabáveis.


Deveria ter ido ao maldito médico antes, desde que notou o atraso do cio.
Mas não. Mesmo com Jimin o importunando sobre o assunto quase todo
dia, o rapaz fingia que aquilo não era um problema. Mas por dentro ele
sabia perfeitamente que podia significar algo realmente ruim.

Eram meados de maio. Seu rut deveria ter vindo ao final de fevereiro, no
máximo início de março. Faziam mais de dois meses. Já era quase tempo de
seu cio ômega agora — juntamente ao cio alfa de Jimin.

Nos últimos meses, ocasionalmente sentia febres e dores, exatamente como


a sintomática pré-cio. Mas o maldito rut nunca vinha. E isso vinha levando-
o a entrar em discussões acaloradas com o namorado e dominador.

De um lado, tinha Jimin insistindo que ele precisava ir ao médico; do outro,


Jungkook dizendo que não era pra tanto, e que o Park estava se
preocupando à toa.

Seu telefone tocou. O apelido carinhoso com o qual havia salvo o contato
do namorado brilhou na tela, junto ao emoji de lobo que acompanhava o
número.

O garoto mordeu os lábios, apreensivo. O ex-militar não costumava


telefonar naquele horário — o que apenas contribuía mais pro desespero do
bratzinho.

Levantou do banco e correu pro banheiro, em meio minuto. A ligação havia


sido cancelada e refeita duas vezes, o que significava que o alfa lúpus
insistiria em ligar até que conseguisse falar com ele.
Respirando fundo, o Jeon atendeu, em meio ao banheiro vazio e
completamente branco.

— Oi — disse tentando não tremular a voz.

— Bebê? Aonde você tá? — a voz do ex-coronel soou num misto de


curiosidade e preocupação.

O coração do ruivo saltou, mas foi de desespero.

— E-eu? Hmn... tô em casa, ué.

— Que casa? — a voz do outro soou desconfiada.

— Na minha, oras — mentiu com a cara mais deslavada que podia.

Dois segundos de silêncio do mais velho foram suficientes pra que


Jungkook suasse frio. E com razão. Porque logo em seguida, a resposta do
militar veio — e era mais assustadora do que o ruivo esperava:

— Que engraçado — disse sarcástico. — Você se mudou? Porque tô bem


aqui no seu apartamento e não tem ninguém. Nem mesmo o Minzy.

Jeon ficou estático. Tinha sido pego na mentira. E agora?

Olhou pra todos os lados. Queria fugir. Sair correndo. Se esconder embaixo
de um uma pedra, como o Patrick Estrela, do desenho 'Bob Esponja'.

Mas não havia escapatória, havia?

Além do mais, o acerejado era péssimo em mentir.

— Jungkook? — o Dominador chamou na linha, diante do silêncio alheio.


— Jeon Jungkook, aonde você está? — E a voz soou dura dessa vez.

O mais novo engoliu em seco. O que faria agora? Mentir não era uma
opção; dizer a verdade, tampouco. Ele precisava ter certeza que seu atraso
de cio não era nada demais, antes que pudesse revelar a causa ao namorado,
caso contrário, esconderia o problema, com toda a certeza.
Então apenas seguiu seus instintos. E geralmente seus instintos o levavam a
dizer merda:

— Ai, olha só, você tá me sufocando, Jimin! Não é esse o nosso combinado
nessa relação.

— Como é? — o dominador retrucou em tom claramente ofendido. — Você


só pode tá de piada com a minha cara...

— Tô falando sério, hyung — mentiu, com o coração batendo rápido e um


gosto amargo surgindo bem na garganta. — Eu me mudei da sua casa
porque queria um tempo sozinho. Mas todo santo dia você dorme no meu
apartamento ou me arrasta pra sua casa. Eu não gosto disso, ok? Eu não
gosto de me sentir vigiado e nem de ter que dar explicações à cada passo
que dou.

A cada palavra que saía de seus lábios nervosos, o ruivinho sentia como se
fossem adagas perfurando ele mesmo. Como uma cobra mordendo a língua
e se intoxicando com o próprio veneno — ainda que o status de cobra fosse
do Park, normalmente.

— Você está mentindo — o lúpus respondeu, categórico. — E você é


péssimo nisso. O que tá rolando, Jungkook? A gente combinou de parar de
esconder as coisas um do outro, lembra? — indagou com a voz mais suave.

Jeon engoliu em seco. Precisava ser mais crível. Além de não ser bobo, o
ex-militar também o conhecia como a palma da própria mão.

— Eu já disse, hyung. Se for pra me controlar assim, é melhor a gente dar


um tempo... — E é claro que suas intenções não eram realmente essas. O
mais novo queria apenas assustar o namorado com isso, pra que ele parasse
de fazer perguntas.

Mas em se tratando de Jeon Jungkook, o tiro sempre saía pela culatra.

— Como quiser — foi a resposta amarga do alfa lúpus, que imediatamente


encerrou a ligação.
Apenas quando Jeon notou a linha muda, foi que a ficha caiu. Jimin tinha
lhe dado um gelo daqueles. O que só podia significar uma coisa: ele estava
puto pra um santo caralho. E com certeza, magoado.

O ruivo fechou os olhos e respirou fundo, apertando o aparelho entre os


dedos magros. Tinha como piorar mais?

"Jeon Jungkook, consultório 207" a voz robótica nos alto-falantes soou lá


fora. Só isso foi capaz de, finalmente, tirar o garoto do transe em que havia
se metido.

Nervoso, ele enfiou o aparelho de volta no bolso da bermuda, e saiu em


disparada pelo corredor, em direção ao consultório.

Esbaforido, abriu a porta da sala 207. O médico levantou os olhos do


computador, encarando-o por cima dos oclinhos meia-lua em seu rosto. Não
era um olhar julgador, era apenas uma mirada curiosa.

A passos cuidados, Jeon sentou-se na cadeira acolchoada, frente ao médico


em seu jaleco branco. Não era um sujeito muito novo, mas também não era
velho, devia ter lá seus quarenta e poucos anos. Era um belo ômega, de
cheiro suave.

— E então. O que te trás aqui hoje, Senhor Jeon? — indagou o médico.

Jungkook se ajeitou na cadeira, apreensivo. E lembrar que teria que se


resolver com o Park depois, só agravava mais seu estado ansioso.

— Err... É que... Meu rut está atrasado.

O médico franziu o cenho e espiou Jungkook de cima a baixo.

— Cios de alfa não atrasam, apenas cio ômega, quando há gravidez ou


problemas no útero, ovários e esse tipo de coisa. Deixe-me ver seu
prontuário — disse se voltando ao computador, onde passou cerca de um
minuto absorvendo informações. Terminou a leitura com a boquinha aberta
em um pequeno "o".
— Sim. Eu tenho genes ômegas — o ruivo comentou em voz baixa e
entediada.

— Você é o paciente zero-zero.

Jeon se empertigou na cadeira.

— Sim. Fui a cobaia pros tratamentos de reversão de genes invertidos dos


Doutores Jeon — falou em tom de desprezo. — E não quero que meus pais
saibam que estou aqui — esclareceu com a voz firme.

O médico piscou um trio de vezes, desconcertado, fitando o rapaz.

— Tudo o que acontecer nessa consulta será privado, Senhor Jeon. É sigilo
médico-paciente. Mas não garanto que os Jeon's não saberão de sua vinda
ao hospital. Eles tem acesso à lista de pacientes. Seu nome está piscando na
tela da recepção agora mesmo — disse cuidadoso.

— Eu sei. É um risco que preciso correr. Se formos rápidos, quando eles


descobrirem já estarei fora daqui.

— Tudo bem — o médico assentiu. — Eu sou o Doutor Gong. Estudei seu


caso e de todos os outros que passaram pelo experimento científico, antes
de encontrarmos a cura dos genes invertidos. É um prazer conhecê-lo. Você
ainda tem cios ômegas?

— Sim, senhor. De ômega e de alfa, de três em três meses, intercalados.

— Qual foi seu último cio e a data dele?

— Foi um cio ômega, um heat. Aconteceu no finalzinho de novembro e


acabou no primeiro dia de dezembro.

— Entendo. Então seu rut deveria ter vindo entre o fim de fevereiro e início
de março, certo?

— Sim. Tem mais de dois meses de atraso. Já está quase na hora do heat
outra vez.
— O heat não deve vir, se o rut não vier primeiro, então ele deve atrasar
também — avisou. — A enfermeira colheu sua amostra de sangue antes da
consulta?

— Sim, senhor.

— Ótimo. Daqui a pouco o resultado deve aparecer no prontuário. Agora,


tire a camisa e deite-se na maca, Senhor Jeon.

O ruivo obedeceu, ficando apenas de bermuda sobre o colchonete. Viu o


ômega corar ao fitar seu abdome trincado e peitoral definido
completamente expostos, mas logo o médico sacudiu a cabeça e voltou a
expressão profissional.

O apalpou em toda a barriga, pôs o estetoscópio no peito, nas costas, no


estômago. Deu batidinhas por todo o abdome, perguntando se o paciente
sentia dor à cada toque, o que o Jeon negava tranquilamente toda a vez.

Até que um soquinho mais forte no pé da barriga, fez o garoto dar um


gritinho agoniado.

— Au! — sugou o ar entredentes.

— Dói aqui? — indagou com atenção, o médico.

— Sim... — Jungkook viu o outro encará-lo estranho, como se estivesse


genuinamente curioso.

— Com quem passou seu último cio ômega, Senhor Jeon?

— Humn... — engoliu em seco, temeroso. Não seria confortável dizer a um


desconhecido, sobre suas preferências sexuais.

— Não se preocupe Jungkook-ssi. Não estou aqui para julgá-lo ou levantar


questões morais — esclareceu, diante do silêncio do paciente. — Pouco me
importam suas preferências pessoais. E além disso, homossexualidade de
classes é mais que comum, especialmente em quem tem genes híbridos.
— Oh — murmurou surpreso. — Bem, eu... tenho uma relação com outro
alfa. Nós passamos meu último heat juntos.

— Que tipo de alfa? Um alfa comum ou um alfa lúpus? — arqueou


suavemente uma das sobrancelhas.

— Um lúpus — Jeon respondeu em voz baixa, ainda meio acanhado de


falar abertamente com o desconhecido sobre aquilo.

— Hmn... Interessante. Você sempre transou regularmente e passou cios


com alfas?

— Uhum. Alfas e betas. Não sinto atração pelo cheiro ômega, ele me dá
certa repulsa. Sem ofensas! — arregalou os olhinhos castanho escuros.

— Não fiquei ofendido — o mais velho riu suavemente. — Você costuma


ser passivo nos heats?

— Tem como não ser passivo em heat? Eu tenho até slick!

— Bom, já atendi pacientes alfas com genes ômegas, que não se deixavam
ser penetrados em heat — deu de ombros.

— E como eles faziam? — Jeon indagou curioso, os olhos ainda


arregalados.

— Eles usavam um vibrador anal, enquanto penetravam o parceiro — disse


simplista.

— Ah... Bem, eu... Eu gosto de ser passivo também.

— Você já sentiu um nó em sua traseira, se conectando ao nó peniano de


outro alfa macho? Ou ao nó vaginal de uma alfa fêmea?

— Nunquinha. Só o meu nó peniano se conecta ao nó de outras pessoas. Eu


não tenho isso na bunda.

O médico deu uma risada curta pela fala do outro, para então puxar um
carrinho com uma pequena máquina em cima, que parecia um super
computador.

— Senhor Jeon, este é um ultrassom. Vou precisar olhar o que está


acontecendo no seu baixo abdômen, então, por favor, abaixe um pouco sua
bermuda e o elástico da cueca.

Jungkook se alarmou imediatamente, sentando-se sobre o estofado.

— Eu estou grávido? — os olhos quase saltaram das órbitas.

Novamente, o médico gargalhou, dessa vez com mais força.

— Isso seria impossível, Jeon-ssi. Você é alfa e ponto. Seu útero não se
desenvolveu o suficiente pra isso.

— Mas há casos de mulheres alfas que engravidam! — rebateu em


desespero.

— Mas isso é porque elas são mulheres. E, biologicamente, os nossos


antepassados geravam filhotes através das fêmeas. Por isso, nossa raça
algumas vezes falha e possui algumas mutações, possibilitando assim que
uma alfa fêmea engravide acidentalmente. Mas homens alfas, ainda que de
genes mistos, não engravidam.

— Então o que tá havendo? Eu tô com apendicite ou o quê?

— Vamos ver isso agora. Deite-se na maca de novo, Jungkook-ssi.

O garoto obedeceu e, logo em seguida, o médico derramou um gel gelado


na ponta de uma pequena máquina que mais parecia um leitor de código de
barras, para então pousá-lo sobre o baixo abdominal do garoto.

Na tela do computador, aparecia uma imagem confusa, na cor preta com


pixels esverdeados, algo que Jungkook não conseguia entender, mas que o
médico observava atenciosamente, de cenho franzido.

— Interessante...
— Me diz que não tem um filhote aí... — o garoto murmurou, com uma
expressão apavorada.

— Não tem, não. Seus cios já atrasaram depois de passar algum


acompanhado de um alfa?

— Não. E nem com betas.

O Doutor Gong pareceu pensar por alguns momentos em silêncio.

— E você já passou heats com algum alfa lúpus antes? Ou esse foi seu
primeiro lúpus?

— Esse foi o único lúpus com quem dividi um cio. E ele estava no cio
também!

— Oh... — o médico arregalou os olhos. — Vocês usaram camisinha? Ou


você usa algum método contraceptivo?

— Bem, eu tomava anticoncepcionais quando passava meus cios com um


beta, pra que eu não o engravidasse quando ele fosse passivo. Mas aí parei
de tomar o medicamento, porque eu estava com um alfa macho, então... não
era necessário, né? Nem isso, nem camisinha...

— Entendo. Jungkook-ssi, você sabe que alfas lúpus tem uma capacidade
reprodutora três vezes mais intensa que a de um alfa comum, certo? Assim
como ômegas lúpus também tem capacidade reprodutiva mais forte que
ômegas comuns...

— Ai, meu pai! Eu tô grávido? — perguntou bobamente outra vez.

— Aigoo, já disse que isso não é possível, rapaz — o médico sacudiu a


cabeça. — Vou checar o resultado do seu exame de sangue e aí já vou te dar
o diagnóstico. Vista suas roupas e sente-se de novo lá na cadeira.

Enquanto Jeon se vestia, o médico sentou-se em frente ao computador em


sua escrivaninha, digitando um bocado de coisas, e lendo por quase cinco
minutos, até pigarrear e então voltar os olhos para o ruivo já sentado à sua
frente, que o encarava cheio de expectativa.
— Senhor Jeon, quando você passou pelo tratamento de reversão de genes...
Acredito que seu corpo tenha tentado lutar contra. Essa foi uma reação
natural nos primeiros pacientes que serviram como cobaia desse estudo
clínico, anos atrás. Seus genes ômegas resistiram à inversão, então digamos
que o efeito foi reverso: as características ômegas ganharam mais força.

— Eu virei ômega?! — Jungkook indagou assustado.

— Não. Mas o seu corpo é, internamente, mais ômega que alfa. Então, o
seu útero não atrofiou completamente, como deveria. Contudo, ele ainda é...
inóspito; Incapaz de gerar um filhote. Então, quando você passou o cio com
um alfa lúpus, que, além de ser o maior reprodutor da espécie, também
estava em cio, bem... Seu corpo tentou gerar um feto. Mesmo sem que haja
ocorrido a ligação dos nós.

— Eu tenho um filhote morto dentro de mim? — sussurrou, abismado.

Então era isso que o tinha feito passar mal, no dia seguinte ao fim do cio,
cinco meses atrás. Não se tratava de mero resfriado coisa nenhuma. Tinha a
ver com alguma bizarrice envolvendo seus genes ômegas.

— Não é um filhote. Não chega a ser sequer um feto. Não se preocupe. Mas
é que seu corpo está enviando a mensagem errada. Ele está agindo como se
você estivesse grávido, realmente. É por isso que seu rut não está vindo.
Contudo...

Jungkook sentiu-se ainda mais tenso.

— Contudo..?

— Senhor Jeon, você precisa terminar o tratamento de reversão de genes.

— Como é? — o garoto aumentou a voz duas oitavas, indignado.

— O estudo clínico de reversão de genes começou com você. Seus pais se


tornaram médicos ainda mais renomados, após o sucesso do estudo. Hoje
em dia, o tratamento funciona.
— Eu.não.quero — disse pausadamente, tentando controlar a súbita raiva e
memórias dolorosas sobre seu passado, surgindo em sua mente caótica.

— A tentativa do seu corpo de reproduzir um filhote, é apenas uma das


consequências da sua mistura de genes. O heat, a lubrificação, o cheiro
doce... Tudo isso pode acabar.

— Você fala como se fosse algo ruim... — o garoto resmungou, cruzando os


braços e fingindo que ele mesmo não considerava as características ômega a
pior coisa do mundo.

— Não é. Eu não digo sob essa ótica. Me refiro à questão de saúde. Seu
corpo entra em conflito consigo mesmo. Ele passa informações e comandos
opostos. E isso pode resultar em alguma doença séria. Sua vida pode ficar
em risco, entende?

— Sim, mas não é como se eu fosse morrer por isso...

— Talvez não agora. Mas pode ser que, recebendo a mensagem errada, seu
organismo se comporte de um jeito que não deveria. Pode te gerar muita
dor. Podem haver efeitos colaterais, como, por exemplo, um remédio pra
dopagem durante o cio não fazer efeito; sua voz de comando falhar; seu nó
peniano não se formar; a marca de um ômega ou beta ser rejeitada pelo seu
corpo, ou o seu corpo rejeitar a marca de um deles; Você, por acaso, já
sentiu vontade de marcar algum alfa?

O Jeon arregalou os olhos, outra vez. As córneas já estavam doloridas, de


tanto repetir o movimento.

— S-sim — confirmou, amedrontado.

— Aí está. Se num momento de descontrole, como num rut, você morde


outro alfa...

— Eu não vou fazer isso! Eu jamais faria algo pra machucar o meu Jimin!
— soltou, ainda que o médico não fizesse ideia do nome do alfa lúpus.
— Não conscientemente, é claro. Mas você nunca pode prever o tamanho
do descontrole e o instinto animal que seu cérebro será capaz, quando em
cio. E um acidente pode acontecer. Algo que você vai se arrepender
amargamente, e sabe disso.

Jungkook ficou calado. Ele sabia que o médico estava certo. Ele também
tinha lido sobre as conquistas científicas obtidas por seus pais no campo de
reversão de genes. E ele achava isso ótimo, realmente.

Contudo, ter sido a cobaia do experimento, mesmo contra a sua vontade,


além de as motivações de seus pais pra isso terem sido muito mais
preconceituosas do que pelo bem-estar da raça lupina, lhe deixava
profundamente magoado e rancoroso para com seus progenitores.

Não fora à toa que se desligara da família, cortando qualquer tipo de


contato com os mesmos, que, inicialmente, tentaram a todo custo impedi-lo
de se afastar, mas no fim, desistiram de fazê-lo ficar.

— Bem, eu vou te prescrever um remédio acelerador de cio. Ele funciona


em quarenta e oito horas. Aí seu rut vai começar — o médico disse, vendo o
silêncio do garoto.

— E o heat? Tá quase na época dele. Ele vai vir depois?

— Seu heat vai vir só três meses depois do rut. Isso vai mudar o seu período
de cios agora.

— Entendi. E depois?

— Bom, eu já te disse. Depois disso, será sua decisão dar continuidade ao


tratamento de reversão de genes. Eu, como médico, te aconselho a fazer.
Você será apenas um alfa normal, com ruts à cada seis meses, sem cheiro
doce, sem lubrificação anal e sem outros problemas de saúde advindos
disso.

Jungkook permaneceu em silêncio, pensativo. Tão pensativo que suas


sobrancelhas uniam-se, e o maxilar estava travado.
— Você não precisa decidir agora — retomou o médico. — Na verdade, o
tratamento só é eficaz se feito em período de heat, então... Você tem mais
ou menos três meses pra decidir — disse mexendo em sua gaveta. — Puxa,
acabou meu bloco de receitas. Vou até a recepção pegar um novo, espere
aqui.

Jungkook apenas assentiu, o tempo todo calado. Viu o médico se retirar de


modo rápido, enquanto sua mente estava a mil.

Aquilo não estava certo. Sentia-se como uma aberração. Sempre se sentiu.
Nos últimos meses, desde que começara uma relação com o Park, o lúpus o
fazia sentir-se tão querido e desejado, que ele quase esquecia de suas
peculiaridades genéticas.

Mas agora, sabendo que sua saúde ficava em risco, e que o certo a fazer era
completar a reversão de genes... Bem, ele estava empacado. Teria de rever
todos os conceitos que havia criado em sua mente, até ali. E agora, seu ódio
pelos genes ômegas era maior que nunca.

Após alguns minutos sozinho, sendo torturado pelos próprios pensamentos,


Jungkook ouviu o clique da porta re-abrindo.

Mas a pessoa que se pôs do outro lado da mesa, não era o médico; pelo
menos não o Doutor Gong. Era outro médico...

O novo homem de jaleco era um ômega esguio, de pouca altura e olhos bem
redondos. Tinha nariz fino e os lábios também, o maxilar bem definido e
másculo, quadrangular, muito belo em conjunto com o cabelo liso e escuro,
cortado em formato tigelinha.

Jungkook conhecia bem aquele rosto e aquele cheiro suave de Ylang-Ylang.


Tinha crescido tendo aquele olhar julgador direcionado a si.

No bolso esquerdo do jaleco, no alto do peito, havia a logo do General


South Hospital, além do bordado em azul escuro com o nome: "Dr. Jeon
Shin Kyung - Geneticista."
O médico deslizou a receita do remédio acelerador de cios que o outro
prometera, sobre a mesa, deixando-a na frente de Jungkook, que
imediatamente capturou o papel e o enfiou no bolso, levantando-se pra sair
dali num pulo, a cara amarrada e uma raiva crescente no peito.

— Mesmo, Jungkook? — o médico disse. — Nós não nos vemos ou nos


falamos há dois anos inteiros, e você continua de birra? Eu sou seu pai! Te
dei a vida!

— E quase tirou ela também! — o ruivo rosnou de volta, exasperado.

— Não seja exagerado — Dr. Jeon reprimiu o filho.

— Exagerado? — o garoto repetiu, em tom muitíssimo ofendido. — Você


se esqueceu de que ao final de cada sessão da sua porcaria de teste, eu
passava o resto do dia vomitando, com náuseas, dor de cabeça, dor de
estômago —

— Efeitos colaterais — o ômega respondeu, cortando sua fala. — Olhe


quantas pessoas você ajudou, Jungkook, Olhe quantas vidas nós estamos
salvando, graças ao tratamento de reversão de genes...

— Salvar vidas? — o mais novo grunhiu. — A única coisa que você e papai
queriam, era que eu não me relacionasse com outros alfas; Não estavam
pensando no meu bem, apenas no de vocês e na maldita descoberta
científica que tanto queriam!

— Você continua sendo um injusto — o pai ômega retrucou.

— E você continua um babaca! — o ruivo berrou de volta.

Imediatamente viu o pai inflar as bochechas e os olhos se arregalarem. E


então um tapa estalou em seu rosto, virando-o pro lado oposto.

Sentindo o lado golpeado esquentar, o acerejado voltou a encarar o pai, com


ainda mais ódio que antes.

— Você não tem o direito de me agredir! — disse com um rosnado alfa, a


voz de comando fazendo o médico ômega encolher-se, à contragosto. —
Nunca mais encoste a mão em mim! — terminou com o olhar frio,
imediatamente lhe dando às costas.

— Jun... — o pai chamou com a voz incerta, encharcada de


arrependimento. O rapaz se travou, mas não se virou para encarar o médico
outra vez. — Eu... Me desculpe. Eu não queria te bater e...

— Queria sim — interrompeu. — Não é como se fosse a primeira vez —


acusou, voltando pra ele.

— Eu não vim aqui brigar, filho. Eu só... Eu e seu pai sentimos sua falta —
tentou tocar seu ombro, mas Jungkook se esquivou. Sem jeito, o ômega
continuou: — Eu vi seu prontuário. Sabia que algo assim podia acontecer,
Jun. Por favor, nos deixe retomar seu tratamento. É a sua saúde que está em
risco aqui...

— Uau... — o garoto retrucou cheio de sarcasmo, agora sim se virando para


encarar o pai no fundo dos olhos. — Você realmente fica à cada dia mais
sonso...

— Não seja assim! — foi repreendido.

— O que você queria, pai? Sério, me diz — falou cruzando os braços em


frente ao peito, em pose claramente defensiva. — Queria que eu fosse o
filho perfeito? Um médico, macho alfa, casado com um belo e delicado
ômega, como você e seu alfa, humn?

— Nós só queríamos o seu bem.

— É, eu tô vendo. Inclusive.. — aproximou-se e, abusadamente, farejou o


ômega. — Você tem cheiro de beta. Vocês nem esperaram muito tempo, pra
ter um novo filhote, uh? — afrontou, sabendo que o cheiro beta suave vindo
do pai, se tratava de um feto em sua barriga.

Shin Kyung engoliu em seco e suspirou, parecendo procurar por palavras


para explicar aquilo.
— Eu perdi o último filhote. Por isso não te contei. Era um pequeno alfinha,
como você. E agora, nessa nova gravidez, estou apenas no segundo mês de
gestação. Não queria te contar e correr o risco de perdê-lo outra vez.

— Quando você pretendia contar, então? Quando o moleque estivesse se


formando na escolinha? — debochou.

— Você nem atende aos nossos telefonemas, Jungkook! — irritou-se.

— Isso é porque não quero falar com vocês! — ele gritou de volta.

O ômega suspirou e mordeu os lábios, tentando ter alguma paciência.


Conversar com o filho Jungkook sempre fora um embate, desde a
adolescência. Não conseguiam se entender de jeito nenhum. E com o
marido alfa não era diferente. Não eram como uma família; eram como
inimigos.

— Jun, olha... Não estou pedindo que nos entenda agora. Mas, por favor,
pense no tratamento. Você precisa fazer. Seu corpo tentou gerar um filhote!
Um alfa tentou conceber! Você não percebe o quão grotesco isso é?

Jungkook deu uma risada totalmente sem humor, seguido de um olhar


gélido ao pai.

— Sim, você está certo. Seu filho grotesco está de saída. Espero que você
não use seu novo filhote pra experimentos científicos, como fez comigo.

— Você sabe que eu só quis te consertar.

— Eu não estava quebrado! — rebateu putíssimo pra um santo caralho.

E então o garoto deu às costas, ouvindo a voz do pai ainda dizer: "Quando
você quiser melhorar é só vir até mim, filho. Nós estaremos aqui por você."
O que apenas o deixou mais magoado e indignado, pois o pai realmente
agia como uma vítima; um pobre pai que tinha um filho ingrato e rebelde.

Jungkook deixou o hospital, cabisbaixo e pensativo. Ao invés de pegar um


ônibus ou táxi, decidiu caminhar pra espairecer sua mente.
Mas apenas se viu sendo torturado pelos próprios pensamentos, e quando
deu por si, seus pés faziam a rota em direção à casa de Jung Hoseok.
Precisava desesperadamente ver o melhor amigo.

Levou um bocado de tempo pra chegar lá. A pé, era tudo muito demorado.
Caminhou por quase uma hora inteira, mas sequer teve noção do tempo, já
que sua mente estava totalmente perdida nos próprios problemas.

— Jungkook? O que faz aqui? — Hoseok disse ao abrir a porta, confuso


com a visita inesperada.

— Seus pais estão em casa? — perguntou, ao invés.

— Não, eu tô sozinho — o beta respondeu piscando rápido, um tanto


atordoado.

— Ótimo. Quero conversar — Jeon disse empurrando o amigo pro lado e


abrindo passagem pra dentro do duplex luxuoso dos Jung.

O acerejado foi indo escada acima, sem esperar nenhum tipo de resposta ou
convite. Demorou um bocado, até que ouvisse o amigo fechar a porta lá
embaixo, e seus passos apressados surgissem na escada.

— Jungkook, espera aí, é melhor você... — Hoseok tentou interromper, mas


o ruivo ignorou seu chamado, já girando a maçaneta da porta metida à besta
do quarto do mais velho.

E o que viu lá dentro, o fez arregalar tanto os olhos, que ele podia jurar que
dessa vez um vaso sanguíneo havia se rompido:

Em cima da cama cheia de travesseiros estava Kim Taehyung, com a pele


bronzeada desnuda, coberta apenas por uma cueca cor de rosa chiclete,
assim como os cabelos rosados, que caíam sobre os olhos grandes.

Os pulsos do alfa estavam presos ao dossel dourado da cama King Size por
uma gravata, e seus olhos vendados.

— Vem logo, meu senhor... — o Kim pediu com a voz rouca, sem se dar
conta de quem também estava ali, até que uma corrente de ar passou pelo
Jeon, levando seu cheiro até o outro, que farejou o ar e fez um careta
irritadiça. — O que esse cara tá fazendo aqui? — questionou, com um
rosnado, o cenho franzindo-se.

Jungkook, desacreditado e com a boca aberta, voltou-se ao amigo, com uma


expressão reprovadora:

— Você 'tá de sacanagem, Hoseok?

— Eu posso explicar! — o Jung defendeu-se, correndo até o submisso na


cama, rapidamente, para soltá-lo, pois claramente aquela sessão havia
acabado.

— Explicar o quê? — o Jeon rebateu. — Que eu acidentalmente abri uma


porta pro passado, é? Você é burro ou se faz? Bateu com a cabeça, seu
otário? — disse bravo.

— Eu não vou ficar ouvindo ladainha desse bosta! Manda ele embora,
Hoseok! Tô falando sério — Taehyung exigiu, raivoso, já solto das amarras
e sem a venda nos olhos.

— Gente, por favor... — Hoseok pediu com um resmungo.

Jungkook cruzou os braços na frente do peito, indignado, assim como


Taehyung também, de pé ao lado da cama.

— Hoseok, o cara só te faz sofrer! Ele te humilhou na frente de todo


mundo... — tentou refrescar a memória do beta.

— E isso é tudo culpa sua! — retrucou o rosado, de cara feia. — Eu não


precisaria me sentir ameaçado assim se não fosse por você colado no meu
beta como um carrapato!

— GAROTO, SE TOCA! — Jeon gritou de volta, irado. — EU E


HOSEOK HYUNG SOMOS MELHORES AMIGOS! NÓS NUNCA
TIVEMOS E NEM TEREMOS NADA ROMÂNTICO, SEU IDIOTA DO
CARALHO!
— Nunca tiveram? — Taehyung repetiu, desacreditado. — Nunca tiveram?
— repetiu outra vez, ficando mais bravo. — NUNCA TIVERAM, MEU
OVO! — bradou, com a voz grossa e assustadora, a face tomando a
coloração de um vermelho tomate.

— Ele é praticamente meu irmão, seu porra! — Jungkook retrucou.

— Você vai mesmo fingir que nunca se aproveitou dos sentimentos de


Hoseok por você, pra que ele te acudisse a todo o momento? Você só usa
ele, o tempo todo, Jungkook!

— Como é? — o acerejado rebateu, indignado.

— Taehyung, cala essa boca! AGORA! — o Jung ditou sério.

— Não calo não! Já chega! Tá na hora desse garoto ouvir umas verdades!
— e voltou-se ao Jeon. — Isso que você fez, não se faz! Você torturou
Hoseok hyung, mantendo ele perto de você e passando os cios com ele,
mesmo sabendo como ele se sentia em relação a você!

— Do que você 'tá falando, seu maluco? — Jungkook retrucou, sem


entender nada, apenas sentindo uma raiva crescente do outro alfa.

— Você não cansa de se fazer de desentendido? Hoseok te amava! O tempo


todo ele amou você, e tudo o que você fez foi usar e iludir ele, seu pau no
cu!

E após a declaração do rosado, tudo parou. Era como se até os pássaros


tivessem interrompido o canto, e o ar estivesse rarefeito.

Hoseok tinha a face lívida, os olhos arregalados e a boca aberta, em pânico,


fitando Jungkook; este, por outro lado, fitava o nada; sua expressão era
perdida, inocente.

— Como é? — Jungkook indagou, num fio de voz.

— JK, eu posso explicar! — o beta pediu aflito, vendo o Kim bufar pela
forma carinhosa como havia chamado o amigo.
— Hyung, isso é verdade? — o mais novo questionou com a voz baixinha,
quase sussurrada. Seu lábio estava trêmulo, e os olhinhos arregalados
começando a marejar. — Fala que não é verdade... Diz que esse cara é
doido...

— E-eu... — Hoseok calou-se. Não havia como fugir daquilo. — Me


desculpe, Kook — e abaixou a cabeça, pesaroso.

Jungkook, chocado, olhava de Hoseok pra Taehyung, com a face em


pânico, esperando desesperadamente que um deles gritasse que era
pegadinha. Que aquela era apenas uma brincadeirinha dos dois pra cima
dele.

Mas ninguém desmentiu nada, fazendo a ficha cair para o ruivinho.

— Hyung? — chamou sussurrado. — Você... Você me traiu — acusou,


chateado, com um bico nos lábios.

— Não, Jungkook... Não é assim, por favor, me escuta... — pediu, se


aproximando.

— Não me toca! — o ruivo afastou-se, nervoso. — Você nunca foi meu


amigo de verdade... Você só fingiu ser, pra ficar à espreita, esperando
qualquer momento de fragilidade, pra me conquistar sendo o bom moço!

— Não foi assim, Jungkook! Eu sou seu amigo, seu irmão! — defendeu-se,
agoniado.

— IRMÃOS NÃO SE APAIXONAM POR IRMÃOS! — o ruivinho


bradou, finalmente chorando. Tinha muita coisa ruim acontecendo no
mesmo dia, ele não conseguia mais aguentar. Seu emocional estava frágil
como nunca. Não bastava o pesadelo, as péssimas notícias médicas e o
encontro desastroso e desagradável com o pai. Descobrir a traição do
melhor amigo, a pessoa em quem mais confiava no mundo, era a gota que
faltava pro copo transbordar.

— Isso foi no começo, JK! Eu juro... Foi só no começo! Eu confundi as


coisas. Foi só uma paixonite rápida, depois ela passou e eu vi que te amava
como um irmão mais novo. Eu só queria cuidar de você e...

— Você é um mentiroso! Você me enganou! — Jungkook acusou, com uma


mágoa tão intensa, que era quase palpável. — Não acredito que você nunca
foi meu amigo, e só esteve todo esse tempo ao meu lado, por motivos
egoístas... — sacudiu a cabeça, reprovador. E embora a raiva em seu tom
fosse latente, a mágoa era ainda mais clara.

— Espere aí... — Taehyung se meteu, com uma expressão estranha. —


Você não sabia disso? Hoseok nunca te contou? — indagou de boca aberta.

— É claro que não sabia, seu idiota! Eu nunca teria mantido por perto uma
pessoa apaixonada por mim, sem intenção de correspondê-la! Isso não se
faz!

— E foi por isso que mantive tudo em segredo! — Hoseok retrucou,


nervoso, tentando se aproximar com as mãos estendidas, mas à cada passo
que ele dava, Jungkook recuava. — Jungkook-ah, eu não tinha opção. Eu
sabia que você não ia retribuir meus sentimentos e iria me afastar de você.
Mas eu não queria me afastar, queria ser seu amigo! Se não podia ter o seu
amor, queria ao menos sua amizade — justificou-se, emocionado.

— E aí você mentiu pra mim — o Jeon devolveu, com a voz sem humor. —
Mentiu e me tirou o direito de decidir. Parabéns por ser um egoísta do
caralho — e deu às costas, saindo do quarto.

— JEON JUNGKOOK! — o beta se atirou no corredor atrás dele,


chamando-o com certa raiva na voz. — Quem está sendo egoísta é você!
Está agindo como se eu ter me apaixonado fosse algum crime! Como queria
que eu agisse?

— QUERIA QUE TIVESSE FALADO A VERDADE! — Jeon gritou,


esbaforido. — Você sabe que odeio mentiras, Jung Hoseok. ODEIO!

— E aí o que? Eu deveria ser sincero e afastar você de mim?

— Quanto tempo, Hoseok? — o ruivo questionou com a expressão dura.


— Uh? — o beta indagou confuso.

— Quanto tempo você ficou apaixonado por mim?

O switcher engoliu em seco, apreensivo. Sabia qual era a resposta, e sabia


que ela não mudaria as coisas. Mas não podia mentir na cara dura, mais
uma vez, já que tinha certeza que Taehyung o desmentiria imediatamente,
pois tinha seguido atrás deles e os fitava com reprovação na face bonita.

Suspirando e sabendo que aquele seria o xeque-mate daquela briga,


confessou:

— Um ano. Eu estive apaixonado por você durante o primeiro ano em que


nos conhecemos.

Jungkook assimilou, respirando fundo pra tentar organizar seus


pensamentos. E sua resposta, foi como uma adaga no peito do beta:

— Aí está. Se quando se deu conta de que não tinha mais sentimentos


românticos por mim, você tivesse me contado, hyung... Tudo estaria bem.
Mas você mentiu. Como todos ao meu redor, você mentiu e me enganou,
me fez acreditar num amor falso...

— Mas eu te amo! — Hoseok correu ao seu encontro, finalmente sendo


capaz de tocá-lo, segurando o mais alto pelos ombros, ao pé da escada. —
Eu te amo como meu amigo, como meu irmão, meu confidente! Você é
como minha alma gêmea, Jungkook! E não é de um jeito romântico, por
favor, acredita em mim! Você é meu melhor amigo... — e a última frase,
disse chorando.

Jeon ficou em silêncio, sem conseguir encarar o rosto do moreno aflito. Não
havia sequer o som das respirações de nenhum dos três, no corredor
cumprido.

E com muito pesar, Jungkook finalmente declarou:

— Eu acredito que agora sejamos nada mais que amigos, hyung — e


finalmente olhou pra ele, bem fundo nos olhos castanhos. — Mas não sei se
posso perdoar sua mentira. Pelo menos não agora. Preciso ficar um tempo
sozinho.

E então o ruivinho, delicadamente, afastou os dedos magros do Jung de


seus ombros, podendo finalmente descer livremente as escadas e sair do
condomínio luxuoso, deixando um beta desesperado pra trás, que ainda
precisaria encarar um segundo round de discussões com seu submisso e ex
— ou talvez atual — namorado.

[...]

Jungkook definitivamente estava sozinho. Tinha brigado com Hoseok e


também com Jimin, e agora não tinha absolutamente ninguém para quem
pudesse desabafar e contar suas angústias.

O garoto precisava de colo e carinho, de alguém que o abraçasse e dissesse


que tudo ficaria bem. Que ele era forte, que aquilo tudo era só uma
confusão passageira, inerente à vida.

Mas estava sozinho. Ninguém cuidaria dele agora.

Ele sentiu-se como na adolescência, quando os pais o forçaram a participar


do projeto experimental de inversão de genes, e ele não tinha nem uma
pessoa a quem recorrer. Não tinha avós, nem tios que pudessem resgatá-lo,
pois todos em sua família eram muito afastados, e ainda que fossem
próximos, não se intrometeriam no poder decisório de seus pais.

Sendo assim, a primeira coisa que o ruivo fez ao chegar em sua rua, foi
correr pra casa do Park, pedindo colo. Ele sabia que o lúpus jamais o
negaria aquilo, mesmo que tivessem ficado em maus termos pela tarde.

A noite já tinha começado a cair, levando embora a claridade do sol quente.


A casa do ex-coronel estava escura, todas as janelas fechadas.

Jungkook usou sua chave para entrar, buscando pelo Park nos dois andares,
mas não achou ninguém. A toalha no banheiro ainda estava úmida, e o
cheiro de sabonete impregnava o cômodo, dando a perceber que o lúpus
tinha saído de casa há pouco.
Então Jeon correu pra garagem, encontrando-a vazia, tendo a certeza de que
o outro alfa também não estaria o esperando em seu apartamento, mas sim
que havia saído pra algum lugar — talvez até pra procurá-lo por aí, não
duvidava nada.

Atravessando a rua, o garoto discou o número do namorado no celular, que


chamou infinitas vezes, não sendo atendida a chamada.

Não ser atendido estava deixando Jungkook mais aflito que nunca, um bolo
estranho na garganta começando a se formar. Sua intuição estava a ponto de
bala, lhe dizendo que havia alguma coisa muitíssimo errada.

O ruivo entrou no apartamento, ainda com o celular grudado na orelha,


refazendo a ligação toda a vez que a chamada caía na caixa-postal.

Inquieto, ele andava de um lado pro outro, sentava no sofá da sala por três
segundos, antes de se levantar outra vez e começar a andar de um lado pro
outro novamente, sempre espiando o lado de fora pela janela, na esperança
de ver o Park chegar.

— Atende, Jimin, por favor, atende... — sussurrou com nervosismo,


arrancando a pele dos lábios, ao ponto de fazer um filete de sangue brotar.
— Au! Ai, merda, isso arde! — sugou o ar entredentes, abanando a boca.

O rapaz se enfureceu e atirou o celular no sofá, caminhando a passos duros


pro banheiro, onde tomou um banho demorado, e debulhou-se em lágrimas
por muito tempo.

Se secou e vestiu um pijama confortável — o mesmo pijama que usava toda


vez em que entrava em seu little space, um tecido listrado rosa e branco,
com estampadas de coelhinhos fofos espalhados.

Mas a despeito de seu emocional atordoado, o garoto não queria entrar em


seu papel de criança agora. Ele queria mesmo era conversar sobre suas
preocupações como um adulto com seu namorado, que era, pra si, muito
mais que isso: eles dividiam seus dias juntos. Viviam num estado de total
entrega e devoção um ao outro, um estado que ele jamais havia visto sequer
em pessoas casadas.
O que ele e Jimin tinham era único.

Foi por isso que ele teve certeza de que se explicasse ao Park sobre a
consulta mais cedo, e lhe contasse o que estava acontecendo com sua saúde,
Jimin o entenderia. Perdoaria a besteira que ele havia dito mais cedo, e
entenderia que não passava de uma mentira; que ele amava sim, estar todos
os dias com o lúpus, fosse na sua casa, fosse na dele; que não se sentia
sufocado em nada com o grude constante, que amava tê-lo ao seu lado todo
o tempo, e que se não fosse por seus trabalhos, ficariam mais tempo juntos
ainda.

Então Jungkook pegou o celular novamente, abandonado entre as


almofadas, para voltar a telefonar pro dominador.

Dessa vez, após míseros três toques, Jimin atendeu.

Exceto que aquela voz não era a dele.

— Oi — o som metálico saiu do alto-falante.

Jungkook franziu o cenho e sentiu o coração ir na boca, porque aquilo


parecia muito estranho, e seu sexto sentido parecia prever a grande merda
que estava por vir.

— Humn... Quem 'tá falando? Onde está o Jimin? — reuniu todas as suas
forças pra que pudesse responder sem falhar a voz.

— Oh, Jungkook-ah! — a pessoa do outro lado cumprimentou, com certa


animação e tranquilidade, fazendo Jeon reconhecer imediatamente a quem
pertencia aquela voz: — É o Taemin. Que bom falar com você — e a
revelação fez Jungkook começar a surtar, o coração martelando no peito e o
sangue gelando dentro das veias. — Jiminie está ocupado agora, não pode
atender.

Jungkook permaneceu em silêncio, estático. Seu corpo todo era incapaz de


se movimentar, era como naquele pesadelo: Seus pés pareciam fincados em
areia movediça, o impedindo de se mover. Estava congelado, como um
corpo perdido nas águas do Mar Atlântico.
Sua respiração começou a ficar rápida e errática. No silêncio do
apartamento, ele conseguia ouvir o próprio coração bater muito rápido na
caixa torácica.

— Err.. Oi? Você ainda 'tá aí? — a voz de Taemin soou pelos fones.

— S-sim — Jeon respondeu num sussurro.

— Bom, eu vou pedir pra ele te retornar a ligação mais tarde, 'tá?
Tchauzinho, Jungkook-ssi! — e encerrou a ligação com a voz animada.

Jungkook soltou imediatamente o telefone, como se o aparelho tivesse lhe


dado um choque nas mãos; este se chocou com o chão, num barulho alto,
mas Jungkook não deu atenção.

Começou a sentir-se hiperventilar. Suor brotava por seus poros,


rapidamente molhando o tecido do pijama, que precisou desabotoar, pra que
pudesse se refrescar, já que o calor crescente começara a causar-lhe uma
forte tontura, pontos pretos começavam a surgir em suas vistas, deixando-o
atordoado na penumbra do apartamento.

Ele se sentou no sofá caro, que o Park havia lhe comprado. Tirou a camisa e
a calça do pijama, ficando seminu em meio ao cômodo vazio. Não podia
desmaiar por causa de algo assim, certo? Não seria dramático a esse ponto...

Mas seu corpo lhe dizia o contrário. Era isso, então, que Doutor Gong havia
tentado lhe dizer. Os genes ômegas faziam uma bagunça em seu corpo,
enviando mensagens errôneas, que prejudicavam sua saúde.

E ele queria poder pensar melhor sobre isso, se não fosse sua mente
gritando pra ele, atordoada, sobre Jimin estar com Taemin.

O que diabos estavam fazendo juntos? O cara não deveria voltar do Japão
só na próxima semana, como Jimin lhe contara?

E por que infernos Jimin estava com o ex, justamente após uma briga feia
com o namorado? Ele não deveria estar em casa, esperando para confrontá-
lo e resolverem as coisas? Ele não deveria, ao menos, ter lhe mandado
mensagens ou tentado falar com ele, o dia todo, após a discussão ao
telefone?

Mas não havia sequer uma notificação do alfa lúpus em seu telefone.
Diferente de Hoseok, que já o havia enviado cerca de 102 mensagens de
texto e áudio, além de tê-lo telefonado quinze vezes seguidas, obrigando o
garoto a bloquear suas ligações.

Jimin sequer estava online em alguma das redes sociais.

Jungkook queria gritar de raiva e dor. Uma dor latente e flamejante, tão
incandescente quanto as sensações que o mais velho lhe causava na cama.

Ele pegou o celular do chão, notando infelizmente, sua tela rachada.


Digitou milhares de textos para o alfa lúpus, questionando-o, brigando, se
desculpando; Cada uma das vezes que apagava a mensagem e digitava um
novo texto, ele mudava a narrativa. Ia de acusador para culpado, em um
piscar de olhos.

Chegou a cortar superficialmente os dedos, ao teclar sobre a tela de vidro


quebrada.

O telefone apitou, com uma notificação nova. O coração do acerejado quase


saiu pela boca.

Tremendo, clicou nela, tendo um mal pressentimento quanto ao que veria


ali.

E mais uma vez, seus pressentimentos estavam certos.

Era a rede social de fotos de Taemin, a qual ele havia seguido no dia da
festa de Yoongi, depois de falar com o ex-submisso do Park ao telefone
daquela vez.

Era uma nova foto postada.

E ao ver o conteúdo da imagem, os olhos do ruivinho se encheram de


lágrimas:
Era uma foto de Jimin, sentado à mesa de um restaurante, com o queixo
apoiado na destra. Sobre a mesa, haviam candelabros com velas,
combinando perfeitamente ao estofado de couro onde estava sentado, e as
paredes vermelhas no fundo; era um restaurante elegante, e era claramente
um do tipo romântico...

Como se Jimin e Taemin estivesse em um encontro.

O rosto do Park portava uma expressão fofa, e os olhos fitavam a pessoa


por trás da câmera com admiração, um sorriso bonito no cantinho dos lábios
cheios... A mesma expressão que ele direcionava a si, costumeiramente.

Seu coração estilhaçou, como vidro quebrado. E como no pesadelo,


Jungkook se deixou tomar pela escuridão.

Vocês sempre souberam que tudo nessa fic tava bom demais pra ser
verdade, né? em algum momento as coisas iam virar de cabeça pra baixo
kkkk E se uma coisa eu posso adiantar, é que vocês vão passar muita raiva.

Só peço que, por favor, tenham paciência ao desenrolar da história. INC é


bem grande, e vai levantar muitas dúvidas acerca das personagens. Quem
era visto como vilão vai parecer mocinho, e quem era mocinho vai parecer
malvado... Eu adoro plot twist em cima de plot twist, então por favor,
confiem no meu trabalho como escritora, pq eu realmente sei muito bem oq
tô fazendo aqui.

Inclusive, eu fiz um índice de capítulos que faltam pra INC acabar, com
um roteiro de acontecimentos que precisam rolar em cada um deles, e
cheguei a 52 caps. Pode ser que tenha mais, ou tenha menos, mas agora
vocês sabem que falta um bocado pra gente se despedir dos nossos boiolas
de chicotinho.

Por fim, eu nem vou comentar sobre a apresentação do MMA, pq eu ainda


não assisti, acabei de acordar, só vi as coisas no twitter e já toco as perna
bamba mano'
E aaaaaah! Eu vou gravar um vídeo de comemoração aos 1M q
INC tá quase fazendo, e resolvi que o conteúdo dele será de perguntas e
respostas; Então vocês vão poder me mandar suas dúvidas sobre
BDSM & sobre sexo baunilha, a pseudo sexóloga aqui vai responder
tudinho, pq a experiência aqui é vasta, não nego kkkk Mandem suas
perguntinhas por aqui, nos comentários desse parágrafo e/ou na TAG
#JungkookBebêDoJimin ni twitter

INC ganhou sua primeira fanart aaaaaaaaaaaaa 😍 😍 A LissaRibeiro3 é


um amorzinho, desenha super bem, e me deixou super boiola Mto
obrigada pelo apoio e carinho que vc smp dá pra mim e pra minha
ficzinha
E a jikookllandx é outro neném, que vive dando mt mt mt carinho pra INC
e pra mim, me deixando fantasticamente boiola Ela fez essa edit fodaaaa
pra INC:
Até o capítulo 30! See ya ~
30| house of cards
Ok, foi no impulso. Então que seja.

#CobraSorrateira

Jimin sentiu os primeiros sinais de seu corpo despertando. E junto a isso,


pontadas fortes na cabeça e um enjoo incômodo.

O alfa lúpus abriu os olhos com dificuldade, por conta da dor e da luz que
entrava pela janela aberta. O sol era forte e claro demais pra suas íris
sensíveis.

Ele sentiu que estava deitado em uma cama macia, e aquele quarto lhe era
familiar, mas não era o seu. Girou no colchão, ainda sem abrir bem os
olhos. Estava sozinho na cama de casal. Sua companhia era apenas sua
ressaca.

Ao tentar se levantar, se deu conta do barulho forte de água caindo no chão,


não muito distante dali. Olhou pra porta do banheiro dentro do quarto,
sabendo que havia alguém lá dentro tomando banho, então.

Tentou lembrar do que tinha acontecido noite passada, mas sua cabeça doía
ao fazer tal esforço. Tudo o que recordava, era de ter brigado feio com
Jungkook, tomado um pé na bunda e atendido a uma ligação depois disso.

— O que diabos tô fazendo aqui..? — murmurou, olhando ao redor.

— Bom dia, lobinho! — uma voz animada cumprimentou, assim que a


porta do banheiro foi aberta.

O Park se virou para enxergar o dono da voz:

Lee Taemin.

Era claro. Seu cheiro forte de patchoulli impregnava a cama.


— Tá passando bem? — o submisso de cabelos platinados indagou. —
Você não 'tá com uma cara boa... — fez uma careta de pena.

Jimin olhou pra cama. Depois olhou pra si mesmo. E em seguida rolou os
olhos pra Taemin, fazendo cálculos mentais que deixariam confusos até os
mais brilhantes matemáticos.

Taemin tinha apenas uma toalha cobrindo a cintura, os cabelos claros


molhados e o peitoral descoberto, por onde escorriam gotículas de água, do
banho recém-tomado.

Já o Park, usava nada além de uma cueca úmida.

Muito ciente da própria nudez, pela primeira vez o lúpus se sentiu


constrangido. Ele não podia ter feito o que achava ter feito, poderia?

Em pânico, olhou ao redor outra vez. Aquela não era a casa de Taemin. Mas
isso também não queria dizer muita coisa.

— TêTê... — começou a dizer, um desespero crescendo, os olhos se


arregalando gradualmente. — O que... O que aconteceu ontem à noite? —
indagou com a voz fraca. Seu rosto ficava cada vez mais pálido e a náusea
cada vez mais forte.

— Você quer dizer antes ou depois de você ficar muito bêbado? — o loiro
riu-se, e deu às costas pra fuçar os produtos de beleza na cômoda.

— Tudo. A única coisa que me lembro, foi de... — ele preferiu não dizer os
termos em que estava com o namorado naquele momento. — Lembro de
atender a uma ligação do Yoongi hyung.

O outro alfa deu uma risadinha, o espiando por cima do ombro enquanto
passava desodorante.

— Isso aí. Os três mosqueteiros estão de volta, com muito álcool — sorriu
grande, mostrando os dentes brilhantes emoldurados pelos belos lábios
grossos.
— É sério, Tê. Eu não lembro de absolutamente nada — declarou
angustiado. — A gente... por acaso... dormiu junto?

Taemin rolou os olhos de Jimin pra cama, da cama pra Jimin, e deixou um
sorriso ladino enfeitar o rosto.

— Sim, meu senhor. Como sempre — deu de ombros e piscou


inocentemente.

Sentindo o coração acelerar e um frio arrepiar sua espinha, o moreno


indagou:

— E nós... A gente... Sabe...?

— BOM DIA BOIOLAS! — Min Yoongi abriu a porta num rompante,


cumprimentando os amigos com a voz mais alta que o necessário.

Imediatamente o Park levou a mão à cabeça, sentindo-a pulsar de dor.

— Hyung, fala mais baixo, por favor... — o lúpus sussurrou.

— POR QUE? — o ômega loiro gritou. — ESTÁ DE RESSACA? MAS


QUE PENA, IRMÃOZINHO! — zombou, divertindo-se como nunca.

E rapidamente este abriu a porta do armário e começou a procurar algumas


roupas ali dentro. Aquela era sua casa, afinal, ainda que tivesse dormido na
sala, e o Park em seu quarto.

A despeito das provocações do Min e da dor aguda em seu crânio, algo


afligia o ex-militar ainda mais do que isso.

Aterrorizado, ele voltou a fitar Taemin, que o encarava ainda com um


risinho nos lábios, parecendo divertir-se.

— Taemin... Me fale a verdade — ditou sério, no tom que geralmente


utilizava para dar ordens no quartel. — Nós... transamos ontem?

— Humn... Deixe-me pensar... — o outro alfa bateu o dedo indicador no


queixo, teatralmente. — Ontem, não. Quero dizer, depois de meia-noite já
seria hoje, então...

— TAEMIN! — o moreno exclamou, levantando da cama, com uma


expressão brava e desesperada na face bonita, segurando o Lee pelos
ombros, quase o sacudindo. — A gente transou ou não? Eu não consigo
lembrar de nada!

— Sério? — dessa vez foi Yoongi quem falou, se virando pros amigos alfas
com uma muda de roupas pendurada no ombro. — Não se lembra nem de
ter jogado seu celular no píer, pra testar se realmente era à prova d'água?

— Isso não parece comigo... — Jimin retrucou desconfiado.

— Oh... é verdade — o ômega fez uma falsa cara de choque. — Na real,


quem fez isso fui eu — e danou a rir, sendo acompanhado pelo outro loiro.
— Foi mal, mirradinho. Pode pegar o meu cartão e comprar um aparelho
novo pra você.

— Eu fiquei sem telefone a noite inteira? — indagou o Park, alarmado.

— Sim — Taemin deu de ombros, remexendo no armário de Yoongi, que


tinha seguido pro banheiro.

Com a confirmação, Jimin bateu com a mão na testa, amassando o próprio


rosto, frustrado. Ele não podia ter feito o que pensava que tinha feito. E
ainda ter ficado incomunicável durante a noite toda, bem... Isso com certeza
ia fodê-lo de uma forma nada agradável.

Ele sabia que Jungkook devia estar pirando. Sabia que o garoto tinha
inventado aquela história de tempo, porque alguma coisa havia acontecido,
e ele, teimoso como era, não queria abrir o bico.

Jimin estava disposto a esperá-lo em casa e confrontá-lo. Deus, ele quase


ligou o rastreador no celular do submisso, pra descobrir aonde este estava e
ir atrás dele! Mas preferiu respeitar a escolha do mais novo. Ele não poderia
invadir o espaço do ruivo assim. Queria saber a verdade por sua boca, e não
à força.
Sua cabeça estava cheia após a breve discussão com o namorado. E foi aí
que atendeu à ligação de Yoongi, o convidando pra ir no happy hour
daquele restaurante bacana à beira da praia, que tinha um píer bonito e uma
varanda acima do mar e das pedras.

Ele tinha estragado tudo? Havia realmente ficado tão bêbado a ponto de
transar com Taemin e trair Jungkook?

O lúpus então disparou para o banheiro atrás do Min, que se assustou ao ver
o amigo parado atrás da porta de vidro do box, o encarando com uma
expressão nada boa.

— Cara... Eu tô tomando banho. Se importa? — o loiro indagou com a


expressão ultrajada e um pouco de shampoo escorrendo pra dentro de seus
olhos abertos.

— Yoongi, eu transei com Taemin ontem à noite? Me responda, sem


brincadeiras! — bradou.

O outro alfa se pôs atrás dele, ainda risonho, mas começando a ficar
preocupado.

— Jiminie, você 'tá falando sério? 'Tá me deixando assustado — o Lee


declarou com estranheza. O moreno parecia realmente nervoso.

— Hyung! — o lúpus gritou novamente pra Yoongi, fazendo Taemin revirar


os olhos ao ser ignorado, e sair do banheiro.

— NÃO, JIMIN, MAS QUE CARALHOS! — o ômega ensaboado


respondeu, de olhos fechados enxaguando os cabelos descoloridos. — Se é
pra você beber e esquecer das coisas assim, é melhor tomar cházinho,
'falou?

Jimin até mesmo perdeu a força nas pernas. Sentou-se em cima do vaso,
com uma mão no peito e a outra na testa, sentindo um alívio absurdo tomá-
lo.
— Eu não traí ele — murmurou pra si mesmo. — Ah, puta merda, graças
aos céus, eu não estraguei tudo...

— Jimin — o outro entrou no banheiro novamente, com as mãos na cintura.


— Você realmente acha que ia se esquecer de uma transa comigo? Aigoo,
sinceramente, viu? — o loiro parecia chateado, fazendo um biquinho.

— Pode ficar tranquilo, mirradinho — Yoongi o tranquilizou. — Você só


sabia falar do Jungkook a noite inteira. Deixou o TêTe todo enciumadinho...
— provocou, desligando o chuveiro.

— Eu não fiquei com ciúme nada! — o alfa loiro retrucou, cruzando os


braços.

— O Jungkook vai fazer picadinho de mim, caras. Olhem bem pro seu
amigo aqui, porque essa é a última vez que vão me ver com vida — o lúpus
dramatizou.

— Eu ainda não consigo entender como esse brat mete medo em você...
Logo você — Taemin o fitou curioso.

— Ah, sim. Se prepara — o Min alertou, se enxugando com a toalha. —


Parece que ele e Hoseok tiveram uma briga feia ontem pela tarde, e
Taehyung 'tava no meio...

— Como assim? O que houve? — o lúpus se pôs em alerta.

Se o de genes ômegas havia brigado com ele e o melhor amigo no mesmo


dia, isso só podia significar uma coisa: mal humor em dobro. Jimin estava
completamente fodido.

— Parece que o Tae estava no meio de uma sessão com Hoseok, e o seu
namorado chegou lá de surpresa. Deu a maior confusão — o dono da casa
respondeu.

— Yoon, por que seu namorado estava tendo uma sessão com o ex de
vocês? — Foi Taemin quem perguntou.
— Humn... Longa história — o ômega bufou, os afastando para sair do
banheiro, sendo imediatamente seguido pelos dois.

— Que fim teve o meu celular, afinal? — Jimin questionou, procurando


pelo aparelho ao redor do quarto. — E aonde estão minhas roupas?

— Botei pra lavar — respondeu Taemin. — Você vomitou nelas — fez


careta.

— Seu celular 'tá lá embaixo, dentro de uma bacia de arroz cru, pra ver seca
a água — Yoongi informou. — A gente viu na internet que isso podia
funcionar, então... — deu de ombros, se vestindo.

— Ok. Então nada demais aconteceu ontem, além da gente ficar muito
bêbado, eu vomitar e meu celular se afogar na água. Certo?

— Uhum, desculpe ter te zoado — disse Taemin. — Oh, espere aí... —


disse com o dedo indicador pra cima, fazendo uma careta de esforço pra se
lembrar de algo. Até que arregalou os olhos e fez uma cara assustada. —
Ah, Jimin, não me mata não...

— O que você fez? — o lúpus perguntou com a voz séria e assustadora,


fechando a expressão. Taemin imediatamente se encolheu.

— É que... Eu...

— Fala logo! — o lúpus rosnou.

— Sabe quando você chegou no restaurante e eu já tinha bebido uns três


coquetéis e já tava meio alto, por você e o Yoon terem se atrasado? — o
Park apenas assentiu com um menear de cabeça curto. — Assim que você
chegou, a gente tomou mais umas duas doses. E então você teve que ir lá
fora buscar o Yoongi, porque tinha uma fila de espera quilométrica do lado
de fora, e não estavam deixando ele entrar...

— E...? — o moreno ficava cada vez mais tenso e ansioso.

— E que... Bem, seu celular tocou. Você tinha deixado ele em cima da
mesa, junto com a carteira e as chaves do carro. E eu meio que... Atendi seu
telefone — o alfa de fios platinados disse sem jeito.

— Quem era? — Jimin indagou, segurando a respiração.

Ele já podia adivinhar a resposta.

— Jungkook.

O dominador fechou os olhos e respirou fundo, esperando pelo pior.

— E o que você disse a ele?

— Hmn... Você tinha acabado de ir lá pra fora resgatar Yoongi na fila.


Então eu só disse que você estava ocupado naquela hora, e pedi pra que ele
ligasse depois. Quero dizer, não sabia se você tinha dito pra ele aonde ia, eu
não queria dizer besteiras. Sempre atendi ao seu telefone, isso nunca foi um
problema entre a gente... — o alfa parecia sem jeito e genuinamente aflito.
— Fiz mal? — perguntou com um sussurro.

— Se você conhecesse Jeon Jungkook, saberia que fez uma coisa péssima...
— foi Yoongi quem respondeu, com pesar.

— Jiminie, me desculpa. Eu não sabia, eu... — tentou se explicar,


desesperado.

— Tudo bem, TêTê — o lúpus o interrompeu. — Não foi sua culpa. Foi
culpa minha. E desse animal do Yoongi — rosnou pro amigo.

— Culpa minha por quê? — o ômega loiro retrucou indignado.

— Primeiro por ter chegado atrasado. Segundo, por não ter me dito que
Taemin estaria no restaurante. E terceiro, porque...

— Olha, Jimin, em defesa do Yoon, fui eu quem propus a surpresa. Quer


dizer, eu disse pra ele te chamar pra beber, sem avisar que eu já estava de
volta à Coréia. Eu até mesmo menti sobre a data que voltaria do Japão e
tudo o mais, fui eu quem planejou isso... — abaixou a cabeça, tristonho. —
Desculpe. Eu só queria fazer uma surpresa pra você...
— É isso aí — Yoongi continuou. — E eu não tenho culpa de ter me
atrasado! Fui de táxi, estava tentando ser responsável. Eu sabia que ia
encher a cara e não podia dirigir, como certas pessoas... — implicou.

Imediatamente o Park lembrou-se de seu carro. Mais uma coisa na lista de


problemas.

— A gente voltou de táxi? — perguntou.

— Uhum — os loiros responderam juntos.

— Então meu carro ainda está no estacionamento do píer — o lúpus


constatou. — Bem... — levantou-se, sentindo-se mais cansado que nunca,
como se sequer tivesse tido alguma noite de sono. — Eu preciso consertar
essa cagada toda. Vou tomar um banho e ir pra casa conversar com meu
namorado — suspirou, indo em direção ao banheiro.

Após um banho rápido, o lúpus vestiu qualquer roupa do armário do Min,


tomou um bocado de analgésicos e meio litro de isotônico. Não comeu
nada, estava nervoso demais pra isso, além do enjôo causado pela ressaca.

Apanhou seus pertences — incluindo o celular afogado — e deu um beijo


na bochecha dos dois amigos loiros, antes de deixar a casa do ômega e
tomar o primeiro táxi que passou em sua frente.

O caminho todo, o dominador tentava ligar seu aparelho de telefone, que


continuava sem resposta, o que só causava um pânico ainda maior em si,
sem poder se comunicar com o Jeon. Ele sabia que o garoto provavelmente
ia estar o esperando na sala de sua casa, com um tridente, pronto pra espetar
o seu rabo e enviá-lo ao inferno.

O Park desceu do táxi na frente do restaurante que fora na noite passada, e


buscou pelo seu carro no estacionamento. E ao entrar em seu veículo preto,
pôde sentir claramente o cheirinho de Jungkook que impregnava o couro
dos assentos da frente, fazendo o moreno se sentir mais merda do que
nunca.
Ele catou seu óculos de sol no porta-luvas e o encaixou no rosto, ligando o
motor e partindo dali com o carro.

No caminho, parou numa loja autorizada de telefonia, e deixou o celular no


conserto. O rapaz da loja deu-lhe 24h pra voltar e buscar o aparelho. E só
então o ex-militar seguiu caminho. Sabia bem que estava atrasando a volta
de propósito, pois sabia perfeitamente o que lhe aguardava ao chegar em
casa, e estava desesperado pra fugir daquilo.

Se tivesse um controle remoto, onde pudesse controlar os acontecimentos


de sua vida, ele com certeza pularia a discussão que teria com o namorado.
Odiava discutir com ele, com todas as forças. Amava ficar de bem com seu
bebêzinho, dando e recebendo carinho àquele que mais o fazia feliz.

Ele estacionou na calçada, rolando os olhos entre o prédio de Jungkook e


sua casa. Não fazia ideia em qual dos dois ambientes o ruivinho estaria,
então resolveu checar o apartamento do Jeon primeiro.

E ao subir as escadas, se deparou com Hoseok batendo na porta do garoto,


parecendo aflito.

— Hope?

— Oh — o beta virou-se pra ele, alarmado. — Jimin... Hmn... Como vai?

O lúpus o encarou desconfiado.

— Você 'tá estranho. O que foi? Fiquei sabendo que você e Jungkook
brigaram ontem. É isso?

— É... sim — o acastanhado pigarreou. — Mas não quero falar disso agora.
Preciso me resolver com JK primeiro. Você tem as chaves aí? Ele tomou
minha cópia há um tempo atrás.

— Sim, claro — o alfa enfiou a mão no bolso, e logo capturou a chave e os


pôs pra dentro.

Tudo estava no mais estranho silêncio. A janela e as cortinas fechadas, tudo


jazia em profunda escuridão, ainda que lá fora fosse quase metade do dia.
O beta afastou as cortinas e abriu as janelas, deixando a luz entrar na sala.
Os dois lupinos passaram os olhos ao redor do cômodo, e Jimin viu o
celular do Jeon jogado no sofá. Ele o apanhou e viu a tela rachada. Mordeu
o lábio, ficando mais apreensivo.

— Jungkook-ah? — chamou pelo namorado, tirando os óculos escuros e


entrando no corredor. O banheiro estava vazio, e a porta do quarto de
Jungkook, fechada.

Com cuidado, o dominador abriu a porta do quarto escuro, sendo recebido


pela lufada de ar frio do ar-condicionado. Tudo ali estava escuro e gelado,
mas sua visão lupina o permitia enxergar bem por ali.

Ele viu Jungkook enrolado em um pesado edredom, como um kimbap, todo


encolhidinho. Automaticamente os cantinhos de seus lábios repuxaram-se
num sorriso doce. Ele amava aquele garoto. Amava desesperadamente,
sequer conseguia negar aquilo pra si mesmo. Se Jeon o abandonasse, levaria
seu coração consigo.

Sentando na pontinha da cama, ele acariciou o braço do namorado,


carinhoso.

— Kook-ah...? Bebêzinho? — chamou suavemente.

O ruivo continuou imóvel, ressonando baixinho. O Park sentia o cheiro


forte de alfa emanar do garoto, mas era um cheiro contido, uma coisa
esquisita... Como se alguma coisa tentasse mascarar o aroma de bergamota
e cedro.

— Ele entrou em rut? — Hoseok indagou, parado ao pé da porta, farejando


o ar.

— Eu não sei — Jimin estranhou. — O cheiro não me parece certo.

O beta entrou no cômodo e abriu uma fresta da cortina, iluminando tudo.


Na mesma hora, os dois fitaram a mesa de cabeceira ao lado da cama. Além
do despertador e do abajour, havia meia garrafa de água e duas caixas de
remédio.
Jimin foi rápido em pegar uma das caixinhas, enquanto Hoseok pegava a
outra.

— Acelerador de cio — o Jung leu na embalagem, com o cenho franzido.


— Por que ele tomou um acelerador de cio, se você não estava aqui pra
satisfazê-lo?

O ex-coronel suspirou e mostrou a outra caixa de remédio em sua mão,


onde lia-se: Supressor.

— Ele acelerou o cio e se dopou? — Hoseok indagou, abismado. —


Jungkook odeia passar os cios dopado. Por que ele fez isso? Vocês... Vocês
brigaram? — perguntou cuidadoso.

Jimin suspirou e esfregou o rosto cansado e cheio de olheiras, levantando-se


da cama, para então fechar novamente a cortina, deixando que tudo voltasse
à escuridão.

— Vamos deixá-lo descansar. A gente conversa lá fora — declarou, saindo


do quarto e sendo imediatamente seguido pelo beta.

Jimin deu a volta no balcão da cozinha, e começou a fazer café. Era seu
vício diário. Precisava tomar várias canecas ao longo do dia, uma só não era
suficiente.

— Então... O que aconteceu? — perguntou Hoseok. — Eu vi os vídeos e as


fotos que Yoongi hyung postou. Até mesmo estranhei um pouco, porque o
Taemin 'tava junto, e se eu conheço bem o JK, ele não iria aceitar
tranquilamente você saindo com seu ex, sem ele por perto... Não que ele
possa mandar em você nem nada, mas...

— Você está certo. Ele realmente não ia gostar nada disso. Ele nem sabia
onde eu estava — suspirou, fitando a água fervendo na chaleira. —
Jungkook vai fazer picadinho de mim. Fiz uma burrada... — lamentou-se.

— Como assim? — o beta empertigou-se na cadeira. — JK não sabia que


você tinha saído pra beber com seu ex-submisso? Olha, se era pra manter
em segredo, vocês fizeram um péssimo trabalho. Tem, eu sei lá, uns dez
vídeos da farra de ontem postados no perfil do Yoongi. Fora as fotos...
Aliás, você parecia um meme em todas elas. E tinham até umas garotas com
vocês...

— Garotas? — perguntou confuso, e então sacudiu a cabeça. —


Provavelmente eram pessoas com quem nos enturmamos no bar. Sabe como
bêbados ficam amigáveis...

— Realmente — Hoseok deu uma risada curta. — Mas olha... Você não
deveria ter mentido pra ele. Jungkook odeia isso. Ele vai ficar muito puto, e
com razão. Sei que vocês não tem uma relação D/s de total troca de poder,
pra que ele te proíba de alguma coisa, e mesmo que tivesse, ele é o
submisso, você é quem mandaria nele. Mas isso foi vacilo, Park. Sabe como
seu namorado é...

— Eu sei — Jimin bufou, voltando a alisar o rosto de um modo bruto,


completamente frustrado. — Mas eu não fiz nada demais! Eu juro! Ele vai
acreditar em mim, não vai? — perguntou atônito.

— Isso eu não sei. Vai depender da sua história. Mas ele vai ficar ranzinza
por um bom tempo... Esse garoto gosta de remoer as coisas, não perdoa
fácil — disse com amargura, que não escapou aos olhos atentos do Park.

— Você parece dizer isso por experiência própria. O que aconteceu entre
vocês ontem?

Hoseok suspirou e encolheu os ombros, escorando-se no balcão que dividia


a sala da cozinha.

— Primeiro você precisa prometer que não vai ficar bravo comigo — ele
disse. — Não quero que você me odeie também, Jimin. Eu realmente gosto
de você, e de todo dia tentar te impedir de comprar um almoço caro, com
arroz de diamantes e cocô de galinhas de ouro — tentou descontrair.

— Eu não posso prometer isso — o lúpus riu fraco, pois começava a ficar
preocupado. — Mas prometo tentar entender o seu lado.

— Justo.
— E então?

Hoseok coçou a cabeça, antes de respirar fundo e começar a explicar as


coisas:

— Jungkook chegou lá em casa de surpresa. Ele parecia chateado com algo,


e querendo conversar. Só que o Taehyung estava comigo, lá no quarto,
pelado. A gente 'tava começando uma sessão — disse sem fitar o Park,
sentindo-se envergonhado. — Por favor, não me julgue. Eu só não consegui
resistir a ele. Sou louco por aquele filho da puta...

— Isso não é um problema meu, mas realmente acho que seria mais
saudável se você e Yoongi hyung se relacionassem sozinhos, sem
Taehyung. Aquele lá passa dos limites...

— É aí que mora o problema, Jimin — disse com a voz cansada. —


Taehyung age assim, porque tem motivos. Ele não morre de ciúmes do JK à
toa.

Jimin se empertigou, após derramar a água quente no filtro de café.

— Como assim? — disse desconfiado.

— Por favor, não fique com raiva de mim por isso, eu... Você, mais do que
ninguém, sabe o quanto JK é encantador. Ele é um garoto maravilhoso e...

— Você é apaixonado por ele? — o lúpus arqueou uma sobrancelha pra ele.

— Eu? Não! — o beta devolveu, com os os olhos arregalados. — Mas...

— Sabia que tinha um "mas"... — Jimin sacudiu a cabeça, decepcionado e


já esperando pelo pior, enquanto colocava o café pronto nas canecas.

— Mas já fui apaixonado por ele — e imediatamente teve a atenção do


dominador outra vez. — Lá no começo, sabe? Assim que a gente se
conheceu. Nossos pais nos apresentaram pra isso. Toda vez que eu ia lá no
hospital falar com meu pai, eu via Jungkook. Quando ia às festas do
hospital, ele sempre estava lá também. Eu o admirava de longe, ficava
encantado com o cheiro diferente que ele emanava, e na aparência fofa que
ele tinha. Você não é bobo, sabe que ele é lindo e chama atenção em
qualquer lugar. Não me culpe por isso, só um cego não ficaria encantado
pelo JK...

Jimin apertou o bule nas mãos, enciumado que só. Mas não disse nada,
continuou encarando o amigo que, nervoso, logo voltou a se explicar.

— Os pais de Jungkook começaram a convidar minha família pra jantar na


casa deles, com bastante frequência. E é claro, meu pai sempre me obrigava
a ir, mas não era como se eu fosse recusar também, já que era uma desculpa
pra ver o JK. Mas nossos pais não era nem um pouco sutis nas abordagens,
então sempre rolavam insinuações sobre um possível casamento entre eu e
ele, durante esses jantares. Numa dessas vezes, JK ficou tão constrangido e
incomodado, que pediu licença e foi pro lado de fora, chorar no jardim. Eu
fui atrás dele, preocupado, e acabamos conversando. Nossa amizade surgiu
dali.

— E quando a amizade surgiu, sua quedinha por ele acabou? — o Park


indagou, atento.

— Infelizmente não — o beta suspirou. — A gente começou a conversar


com frequência, a sair juntos, jogar vídeo-game, ir ao cinema, piscina,
parques... Tudo o que um casal de namorados faz, mas nada que dois
amigos não façam também — deu de ombros.

— E aí você se apaixonou realmente por ele, não foi? — Jimin entendeu.

— Sim — o outro balançou a cabeça em afirmativo. — Eu diria que foi


mais uma coisa platônica. Sabia que ele não iria corresponder, Jungkook se
apaixonava e desapaixonava por uma pessoa diferente à cada três meses, a
maioria não dava certo por causa das paranoias dele com o cheiro de
ômega.

— Ele sabia como você se sentia?

— Eu nunca tive coragem de contar. Eu nunca quis contar. JK ia se afastar


de mim, e eu não queria perder a amizade dele. Na verdade, eu estava okay
com o fato de que a gente nunca ia ficar realmente juntos. Eu só ficava ali,
esperando que meus sentimentos passassem, porque sabia que ele não era
minha alma gêmea nem nada. Nunca sequer senti vontade de marcá-lo, nem
mesmo nos ápices do cio dele.

— E quando você deixou de sentir isso?

— Cerca de um ano depois que fomos oficialmente apresentados. E não


tenho mais me sentido desse jeito desde então. Foi nessa época que conheci
uma alfa dominatrix, e decidi pagar por seus serviços. Ela me treinou muito
bem, e me ensinou tudo sobre o nosso mundo. Sempre convidei JK a
conhecer o BDSM também, mas ele era preguiçoso demais pra isso, não
tinha paciência de estudar e morria de vergonha de aparecer na boate. Até
que um dia ele aceitou. E foi por causa de você. Ele estava magoado com o
fora que você tinha dado nele, então acabou cedendo...

— E se não fosse por isso, hoje em dia a gente talvez nem se falasse... —
Jimin comentou, pensando alto, o olhar perdido na caneca de café quente.

— Ele realmente ficou sentido quando você o rejeitou lá na sua casa. Ele foi
todo arrumadinho e encantador na sua porta, com o truque do açúcar, que eu
e Jin hyung sugerimos que ele fizesse...

O alfa entregou uma caneca pro Jung, e começou a bebericar sua bebida.

— Então a briga de vocês foi por isso? Taehyung estava lá quando


Jungkook chegou, e deu crise de ciúmes?

— Mais ou menos. Jungkook nunca soube que minha aproximação inicial


com ele, tinha sido com essas intenções realmente. Ele sempre achou que
eu me aproximei dele por pressão do meu pai. Mas a real é que eu sempre
quis ter uma chance, porque 'tava caidinho...

Jimin pigarreou, incomodado, e o beta logo se deu conta que falava de um


modo meloso demais.

— Er, desculpe. De qualquer modo, JK não sabia disso, mas Taehyung sim.
E ele acabou acusando o JK de ter me usado durante todos esses anos,
mesmo sabendo dos meus sentimentos por ele, que Taehyung, inclusive,
não consegue entender que acabaram há muito tempo.

— Ele descobriu isso pela boca do Taehyung? — o lúpus arqueou uma


sobrancelha, surpreso. — Cara... Você 'tá fodido.

— Eu sei — o beta choramingou, apoiando a testa no balcão. — Ele vai


fazer churrasquinho de beta e alfa. Estamos fodidos com toda a certeza. JK
é duro na queda.

— Sim — o Park suspirou, já previamente cansado. — Eu vou ficar por


aqui, até ele acordar. Supressores de cio são fortes, devem deixá-lo apagado
por um dia inteiro após o fim do cio, então... Vou passar quatro dias aflito.
Vou avisar no trabalho que precisarei me ausentar.

— Mas JK está dopado...

— Eles não precisam saber — deu uma piscadinha, enfiando a mão no


bolso para apanhar seu celular. E aí se lembrou que o aparelho estava no
conserto. — Aigoo, estou sem telefone. Me empresta o seu?

O beta prontamente o emprestou o aparelho, e o lúpus informou sobre sua


ausência ao serviço, pelos próximos dias. Aproveitou o celular de Hoseok
para checar suas redes sociais, e quase caiu pra trás ao ver os vídeos que
Yoongi e Taemin haviam postado.

Era uma humilhação das brabas. Jimin cantando desafinado no karaokê.


Jimin escorregando no chão. Jimin rindo até cair da cadeira. Jimin se
engasgando com Soju. Jimin imitando uma bailarina. Jimin assoando
cerveja pelo nariz. Jimin...

— Ah, minha nossa... — o lúpus sussurrava desacreditado, enquanto via e


revia os acontecimentos da noite anterior na telinha, e só assim, sua
memória foi voltando aos poucos. Lembrou que até mesmo dormiu na cama
de Yoongi sozinho, depois que ele e Taemin o enfiaram embaixo do
chuveiro à força e removeram suas roupas vomitadas.
— Cara, você perdeu os limites. Deve ser o máximo quando você fica
bêbado... — Hoseok brincou.

— Jungkook não vai achar nada divertido — respondeu, lamentando-se.

[...]

Três dias inteiros se passaram, e Jungkook permanecia desacordado. Como


era comum durante as dopagens, às vezes ele tinha lapsos de semi-
consciência: abria os olhos e aceitava os goles de água que Jimin oferecia,
mas sem conseguir assimilar coisa alguma, logo voltava a apagar.

O Park pôde ter o vislumbre dos olhos violeta do rapaz, algo normal
durante o cio de um alfa comum, diferente dos alfa lúpus, cujos olhos
acizentavam-se em rut.

O cheiro de cedro e bergamota do ruivo deixou o moreno salivando pelos


dias todos, querendo possuí-lo, sem poder. Tinha esperado tanto por aquele
rut, e agora não podia satisfazer o seu alfa devidamente. Era frustrante.

Seu celular dera perda total. Teve que comprar um aparelho novo — que
faria questão de cobrar o valor ao maldito Min yoongi. Mas o lúpus fez
questão de consertar o de Jungkook, que agora repousava na mesinha da
sala, novinho em folha.

Na manhã do quarto dia, Jimin tinha despertado antes do sol raiar, ansioso.
Queria que o Jeon acordasse logo, queria poder explicá-lo tudo, dar um
banho nele, beijá-lo, senti-lo se aninhar a si e dizer-lhe o quanto o adorava.

O Park estava completamente louco por Jungkook, com saudades e


imensamente angustiado, tinha medo que ele não quisesse ouvi-lo ou não
acreditasse em sua versão da história, pois sabia muito bem como o garoto
provavelmente havia entendido as coisas. Seus pressentimentos não eram
bons.

Todos os dias, enquanto o Jeon esteve dopado, o Park dormiu na cama ao


seu lado. Hoje não fora diferente. Ele abraçou o submisso pela cintura, deu
milhares de beijos em sua nuca e ficou ali, perdido, cheirando o cangote do
namorado. O aroma alfa de Jungkook o inebriava. O fazia ver estrelas e
soltar suspiros frouxos.

À tarde, preparou uma boa comida e almoçou, guardando cuidadosamente


uma parte pra Jungkook, que acordaria faminto após quase quatro dias
desacordado e sem ingerir nenhum alimento, ele sabia.

A noite começava a cair, e Jimin estava deitado ao lado do Jeon novamente,


as pernas esticadas e levantadas, os pés apoiados na parede e o olhar
perdido no céu crepuscular que a janela aberta revelava. Não podia negar
sua ansiedade, era fato.

Sentiu a movimentação do ruivinho e seus bocejos. Imediatamente o lúpus


se pôs em alerta, sentando-se no colchão e observando o amado
atentamente. Jeon se espreguiçou e piscou os olhos, alisando o rosto com as
mãos grandes.

Em câmera lenta, seus olhos se encontraram e travaram um no outro. Os


olhos grandes do ruivo, antes violeta, agora se encontravam em puro tom de
castanho escuro, sombrios. Jimin portava uma expressão de pura ansiedade,
enquanto Jungkook...

Jungkook não expressava nada.

— Como você está? — o Park indagou com a voz baixa e cuidadosa,


apreensiva.

O mais novo desviou o olhar do dele e se levantou, alisando a cabeça.

— Bem — respondeu somente, antes de se levantar ir ao banheiro.

O moreno não sabia o que fazer, como começar a falar, se precisava esperá-
lo atacar primeiro para que pudesse se defender, ou se podia simplesmente
começar a se desculpar. Fazia tanto tempo que não se via naquela situação,
tendo que dar explicações e pedidos de desculpas sem que tivesse realmente
cometido algum erro.
Relacionamentos amorosos eram complicados, por isso Park Jimin os
evitava desesperadamente. Era um mestre em dominar, mas apenas um
bobo naquela coisa de amor.

Ele separou uma muda de roupas limpas e as deixou em cima da pia do


banheiro, pra que o outro pudesse se trocar; Foi até a cozinha e esquentou a
comida que havia separado, pondo-a sobre o balcão junto aos talheres, copo
e uma jarra grande de suco.

Quando Jungkook surgiu na sala, secando os cabelos crescidos, lá estava o


lúpus, sentado no banco alto, a coluna esticada, observando-o com
expectativa. Tudo nele gritava tensão, enquanto tudo em Jungkook berrava
silêncio.

E se Jimin tinha medo das explosões de raiva do Jeon, isso era porque ainda
não o tinha visto entrar naquele estado de silêncio mortal.

Até agora.

— Esquentei a comida pra você... — o dominador sussurrou. — Fiz hoje à


tarde...

Jeon rolou os olhos entre o homem e a comida, um par de vezes. Depois se


aproximou e sentou no banco de frente pro Park, ainda sem expressar coisa
alguma. Abandonou a toalha molhada no canto do balcão e pôs-se a comer,
faminto, e tomava o suco direto da jarra, sedento.

Jimin observava a tudo calado, mordendo os lábios. O silêncio do rapaz era


mais ensurdecedor que qualquer coisa; mal havia começado e já deixava o
moreno farto.

— Tá gostoso? — ele indagou. — Você deve estar com fome...

— Uhum — o ruivo respondeu de boca cheia, lhe dando uma rápida e fria
olhadela, para então voltar sua atenção ao prato.

Jimin coçou a nuca, angustiado. Nunca havia recebido um gelo daqueles de


Jungkook. Nunca havia o visto agir assim. Doía.
— Kook... Por que você se dopou? — finalmente achou a pergunta certa pra
começar.

O mais alto parou de mastigar e largou os talheres, imediatamente. Então o


olhou de verdade, pela primeira vez desde que havia acordado. Seu olhar
era duro, frio. Mas acima de tudo, magoado. Parecia capaz de arrastar
qualquer um para as profundezas de seus olhos negros e deixar que os
outros se perdessem por lá.

Jeon limpou a boca com as costas da mão, num movimento um tanto bruto,
antes de afastar o prato e tomar ar pela boca e nariz.

— Não queria atrapalhar o reencontro com seu submisso — disse


friamente.

Jimin suspirou longamente e fechou os olhos por um momento, antes de


abri-los outra vez.

— Ele não é meu submisso, Jungkook. Você sabe disso.

O ruivo então assentiu e se se levantou do banco, girando ao redor da sala.

— Aonde está meu telefone?

— Ali em cima — o Park apontou pra mesinha.

Jungkook capturou o aparelho e se pôs a fuçá-lo com atenção. Não disse


nada nada sobre a tela nova, embora a estivesse vendo.

E alguns segundos depois ele fixou os orbes no lúpus e clicou na tela, sem
olhar:

"Olha, Jungkook... " uma voz começou a soar pelo alto-falante do aparelho.
"Você realmente deveria questioná-lo. Mas eu não posso me meter, não
devo ser o portador das más notícias..."

Jungkook clicou no telefone outra vez, dando play em um novo áudio, da


mesma pessoa:
"Ele sempre manteve a relação com Taemin, nunca vi os dois separados.
Taemin era o submisso principal, um submisso fixo. Todos os outros eram
irmãos de coleira dele... Eu realmente estranhei que Jimin finalmente
tivesse o largado e estivesse dando exclusividade à outra pessoa..."

Deu play num terceiro áudio: "Eu realmente não queria me meter nisso,
mas é tão errado..."

— O que é isso? — o lúpus se alarmou, levantando do banco. — Essa é a


voz do WonHo. Sobre o que vocês andam conversando?

— Espere. Tem mais. Você já vai saber... — Jungkook disse misterioso e


impassível.

E então deu play no celular outra vez:

"Esses dias, Taemin veio puxar conversa comigo. Elogiou uma foto que eu
tinha postado com meu dominador... E então eu disse que esperava que ele
pudesse encontrar alguém bom pra si também. Quer dizer, até onde eu
sabia ele não estava mais com Jimin... E foi isso o que ele respondeu..."

O áudio encerrou e o ruivo respirou fundo, antes de dar play no último


áudio, dessa vez, com a voz de Lee Taemin:

"O que está dizendo, Won? Eu tenho Jimin. Você sabe o quanto ele é bom
pra mim." deu uma risadinha doce. "Você deve ter conhecido o Jungkook, o
novo sub dele. Eles estão namorando, sim. E como eu estivesse fora, Jimin
me pediu que o desse espaço pra preparar o terreno, entende? O tal
Jungkook é ciumento, não é do tipo que aceita dividir. Mas ele é novo no
BDSM, ainda não entende como as coisas funcionam. Então combinamos
que quando eu voltasse do Japão, nós seríamos apresentados. E aí o Jimin
vai contar pra ele que somos irmãos de coleira, bobinho. Ele só está sendo
cuidadoso com meu irmãozinho. Até parece que você não sabe o quão bom
Jimin é em manipular as pessoas. Ele consegue tudo o que quer. Jungkook
vai ter que aceitar, não existe outra opção. Sempre foi assim."

Ouvir aquele áudio outra vez, havia levado por água abaixo a frieza do
Jeon. Ele deixou as lágrimas silenciosas escorrerem pelo rosto, fitando o
moreno, que o encarava de volta com os olhos arregalados.

O garoto pegou o molho de chaves pendurado na lateral da porta e parou no


balcão, onde soltou duas chaves e as depositou sobre a superfície lisa na
frente do Park. Eram as chaves da casa de Jimin, que carregava consigo.

— Eu quero que você pegue todas as suas coisas e saia da minha casa. E
por favor, traga as minhas coisas que deixei na sua. Depois disso, quero que
suma da minha vida. Não quero que tente se aproximar de mim. É só isso
que peço, Jimin.

— O QUE? — o menor disse afinando e aumentando a voz, em choque. —


Você não não pode 'tá falando sério...

— Tô sim. Essa é a chave que te dei? — Jungkook pescou as chaves de


Jimin penduradas na parede, e foi logo tomando a sua.

— Jungkook, para com isso! — o outro tentou pará-lo, puxando seus


pulsos. Mas Jeon era mais forte e escapuliu com facilidade, terminando de
tirar a chave de seu apartamento do molho de chaves do Park. Sendo assim,
ele havia tomado a chave do seu apartamento de Jimin, e devolvido as
chaves da casa do Park a ele, pra que nenhum dos dois pudessem entrar na
casa um do outro à vontade.

— Eu quero que você vá embora.

— EU NÃO VOU! — o lúpus rosnou. — Você não pode simplesmente


acreditar em qualquer coisa que cria na sua cabeça, sem sequer me dar a
chance de explicar! Eu mereço mais que isso, Jungkook!

— Posso sim! — retrucou. — Não sou mais seu submisso, posso fazer o
que eu quiser. Nós não temos mais nada, Park Jimin. Agora vá embora — e
desviou do mais baixo, seguindo em direção ao quarto.

O moreno foi atrás, indignado. Tão indignado que sequer conseguia pôr em
palavras a sua indignação.

— Você... Jungkook... Dá pra você pelo menos me deixar explicar?


— EXPLICAR O QUE, JIMIN?! — se exaltou, a face avermelhando-se,
quando se voltou pra ele dentro do quarto. — Explicar que esse tempo todo
seu plano era esse? Que você nunca terminou com Taemin realmente? Que
você ia me forçar a aceitá-lo como irmão de coleira, achando que sou algum
idiota que aceitaria isso só pra não te perder? Eu não quero dividir você!

— Eu jamais faria isso! Por que você não confia em mim nem por um
momento? — o ex-militar rebateu, exasperado.

— VAI EMBORA! — o garoto bradou novamente.

— É tudo mentira! — Jimin devolveu, correndo pra alcançá-lo, mas Jeon se


esquivava. — Por favor, Jungkook, acredita em mim! Eu só tenho você! Por
favor, meu bebê, olha pra mim — forçou o outro a encará-lo unindo suas
testas e segurando-o firme pelo maxilar. — Eu não menti. Desde que
passamos o cio juntos, eu só quis você. Logo depois que você foi morar
comigo, eu pedi a coleira de Taemin de volta.

— E aonde está ela agora?

O moreno piscou um bocado de vezes, perdido, até entender.

— A coleira? Ele... Ele não me entregou.

Jungkook riu sem humor e o afastou de si, sacudindo a cabeça em negativa.

— Se fosse só uma coisa, Jimin... Mas não é. Tudo envolvendo vocês dois é
uma mentira. Ele te manda mensagens o tempo todo, te chama de 'meu
senhor', te dá as chaves do apartamento dele... Você até mesmo foi atrás
dele depois que pedi um tempo — disse com a voz dolorida.

— NÃO! — o outro bradou, desesperado. — Eu não fui atrás dele,


Jungkook, acredita em mim! Eu fui atrás de Yoongi hyung e...

— Chega. Não quero mais ouvir. Eu não posso mais, Jimin, eu não aguento
— e sua voz falhou consideravelmente, junto às lágrimas descendo de seus
olhos. — Vocês tem história demais juntos. Não quero passar essa relação
toda sob a sombra de um ex-submisso que sempre vai estar presente na sua
vida, no cargo de melhor amigo... Eu não quero ter que lidar com ele.

Jungkook havia pensado bastante durante a madrugada em que o Park se


divertia. O remédio acelerador de cio tinha o prazo máximo de 48h pra
funcionar, mas não demorou tudo isso. Em menos de dez horas, o rut o
tomou.

Mas o importante era que o remédio acelerador de cio tinha um efeito


colateral levemente alucinógeno, que havia permitido à mente de Jungkook
a raciocinar de um modo diferente. Ele raciocinou e enxergou as coisas de
um modo que não enxergava antes. E antes que pudesse adormecer com o
supressor, ele tomou uma decisão.

— Você não está à sombra de ninguém, meu amor. O que eu e você temos
não se compara à nada que tive com ele e nem com ninguém... — Jimin
disse emocionado, tentando se aproximar outra vez.

— Eu não posso, hyung — ele soluçou, angustiado. — Não posso lidar com
as pessoas que amo mentindo pra mim o tempo todo — sussurrou. Estava
firme no que havia decidido. E agora, sóbrio, longe dos efeitos do
acelerador e também do supressor, sua decisão continuava a mesma.
Independente de o Park ter boas desculpas e explicações pro que havia
ocorrido na noite anterior, ou não.

— Eu não minto pra você, bebê, olha pra mim... — resmungou, pidão.

— Eu não posso aceitar sua proximidade com Taemin — declarou, fazendo


o outro parar. — O tempo que vocês se conhecem, a relação que vocês tem,
a amizade...

— O que está dizendo? Você quer que eu corte relações com ele?

— Não — sacudiu a cabeça, com pesar. — Eu não posso exigir que se


afaste de alguém tão importante pra você assim. Isso não seria certo. E seria
hipocrisia minha, tendo Hosek na minha bagagem.
Ele havia chegado a muitas conclusões lógicas e morais, quando pensara
sobre aquilo.

— Então o que você quer dizer?

— Quero dizer que sua bagagem é demais pra eu aguentar.

Os dois ficaram em silêncio, se fitando com pesar. O Park deu dois passos
pra trás, confuso, tentando assimilar o que estava implícito nos dizeres do
Jeon.

— Você 'tá dizendo que não quer mais estar realmente comigo? Que não
pode aceitar o meu passado? — indagou com a voz fraca, falhada.

— Sim, hyung. Estou dizendo que não sou capaz de lidar com isso de
maneira madura. Simplesmente não posso, isso vai além dos meus limites.
Me desculpe... — sussurrou, de cabeça baixa.

O coração partido do ruivo agora sangrava. Doía mais do que tudo fazer
aquilo. Mas ele tivera tempo demais pra pensar e remoer toda aquela coisa.
E tinha se tocado que o problema era ele, não Jimin. O problema era ele,
não Lee Taemin. O problema era e sempre seria ele. A forma com a qual ele
não conseguia lidar com os próprios medos e inseguranças. O quanto a sua
falta de confiança nas pessoas destruía seu psicológico e, principalmente,
suas relações interpessoais.

Jungkook não era de esconder muita coisa, sequer sabia mentir. Eram raras
as vezes em que o fazia, pois apenas o fazia em momentos de extrema
necessidade — como esconder sua ida ao médico, por exemplo. Mas aquela
era uma coisa sua, afinal. O ruivo não tinha obrigação nenhuma de dividir
suas condições médicas com o namorado.

E o problema não era Taemin e Jimin, afinal. O problema era lidar com a
relação deles. Ficando sempre à sombra do que um significava pro outro, do
que haviam sido um dia e do que eram agora.

Jungkook se conhecia bem o suficiente pra saber que aquilo era demais pra
aguentar, sabia que jamais conseguiria lidar com aquilo numa boa. Se
conhecia bem demais pra saber que aquela sua cisma jamais os deixaria
viver em paz e harmonia. Sempre seria seu calcanhar de Aquiles.

E por isso, o alfa de genes ômegas agora tomava aquela decisão tão
extrema; era pensando em si, em Jimin, nos dois. Era pensando no bem de
ambos. Precisava ser sincero consigo mesmo e com o Park. Não poderia
prometê-lo tornar-se alguém que não era, esconder as emoções que sentia.
Simplesmente não conseguia.

E além de tudo, não poderia forçar Jimin a viver em uma relação cheia de
restrições, onde este não pudesse sequer interagir com suas amizades
livremente, caso quisesse manter a paz com seu namorado e submisso-nada-
submisso. Não era aquela relação que o Jeon queria ter, e sabia que o ex-
militar menos ainda.

Jungkook se deu conta de que o problema era ele e sua mente caótica,
problemática, imatura e bagunçada. Em qualquer relação que estivesse, o
problema sempre seria ele.

— Eu não quero mais, hyung — sussurrou, deixando as lágrimas caírem


livremente, os lábios tremendo. — Não importa o que foi mentira e o que
foi verdade... O problema aqui sou eu.

— Não, não, não... — o moreno repetiu, afobado, agarrando Jeon pela


cintura e encaixando seu rosto choroso no pescoço cheiroso do rapaz, que
não devolveu o abraço, mesmo querendo muito. — Você jamais será um
problema, Kook-ah... Você é o meu amor, o meu príncipe... Eu só quero
você... — disse com a voz trêmula, totalmente em pânico.

Jungkook engoliu em seco e tentou conter suas lágrimas, tentou retomar a


postura, mas era impossível. Estava totalmente quebrado. Ele não queria
fazer aquilo, mas precisava ser altruísta. Precisava abrir mão da sua
felicidade, em troca da felicidade do outro.

— Não torne isso mais difícil, hyung... — pediu com a voz baixa.

— Não faz isso, bebê... — o outro sussurrou de volta, agora olhando pra ele
nos olhos, firme. — Não destrói o que a gente tem. Eu não me vejo mais
sem você... — ele acariciou o maxilar forte do ruivinho. — Isso é tudo um
engano. Eu te juro, não fui atrás do Taemin pra me vingar de você, sequer
acreditei nesse seu pedido de 'tempo', sabia que tinha alguma coisa errada.
E eu só estive com você, desde o cio. Você sabe disso, Jungkook. Aquele
dia em que saí pra comprar leite e voltei com cheiro de outro alfa... Eu tinha
ido terminar com Taemin. Eu juro, só estive com você desde então...

— Eu não tenho como saber, Jimin — confessou. — Eu só não consigo


mais. Taemin sempre vai estar entre nós dois. E eu não posso suportar isso.
Por favor, entende o meu lado. Eu tô tentando arrumar as coisas...

— Arrumar o que, em nome dos deuses? — ex-coronel se alterou. — Você


acha que destruir nossa relação é arrumar alguma coisa?

— Estou prevenindo! É isso o que eu tô fazendo. Encerrando tudo, antes


que meu ciúme e minhas paranóias destruam todo o carinho que você tem
por mim! Eu não quero que a gente se odeie...

— Não há nada que você possa fazer, que me leve a te odiar, garoto —
disse em tom urgente, unindo suas testas.

— Tem sim — o acerejado teimou, resoluto. — E é isso o que vai


acontecer, se continuarmos juntos. Eu estrago tudo o que toco. Não fui feito
pra isso. Eu nasci com defeito, nasci quebrado...

— Não fala isso... Não diz isso de você... — o lúpus sussurrou, colocando o
dedo indicador frente aos lábios alheios.

— Eu já decidi, hyung — disse afastando a mão do outro de sua boca,


sentindo como se seu mundo estivesse caindo. — E eu preciso que respeite
minha decisão — sussurrou então.

Esse foi o golpe final. Era o que faltava para fazer o coração do lúpus se
partir em milhões de pedacinhos. Aquele coração duro, tão blindado, tão
resistente a tudo... Simplesmente estava se partindo em milhões de
partículas.
— Por que você não quer acreditar em mim, Jungkook-ah? — disse
chorando, as mãos tremendo e o coração acelerado. — Eu posso provar!
Posso provar que fui atrás de Yoongi hyung, e não de Taemin! Posso provar
que jamais estive sexualmente com ele depois de você!

— A questão não se resume a isso, como você não entende? — retrucou. —


A questão sou eu! Nós nunca vamos viver em paz, eu sempre vou
desconfiar de todos ao meu redor, incluindo você. Fui criado assim.
Aprendi a nunca confiar nas pessoas, sempre estive sozinho. Nunca pude
contar com meus pais, a única pessoa que eu julgava ter sido sincera
comigo sempre, era Hoseok hyung, e acabo de descobrir que ele traiu
minha confiança...

— Você não pode culpá-lo por ter te amado, só porque você não aceita a
pessoa incrível que é! — Jimin não se segurou e jogou a verdade na cara do
ruivinho.

O lúpus engoliu o choro, usando toda a sua força, para se manter firme
enquanto por dentro, tudo desmoronava, ruía, como um castelo de cartas.

— Eu o culpo por mentir pra mim! Hoseok nos deixou construir nossa
amizade em cima de uma mentira. Eu tenho problemas de confiança, e
vocês dois ainda mentem pra mim!

— Eu nunca menti pra você! — defendeu-se.

— 'Tá de sacanagem, Jimin? — o vermelho indagou retoricamente,


exasperado. — Realmente já se esqueceu que em momento algum você me
contou a natureza da sua relação com Taemin, realmente?

O menor quase se engasgou, tendo aquilo jogado na sua cara.

— F-foi completamente d-diferente! — gaguejou. — Eu tentei omitir no


começo, porque queria evitar que sua reação fosse exatamente essa...

— Deveria ter sido sincero comigo, Jimin. Isso só piorou as coisas... —


declarou com a voz cansada, alisando as têmporas com as pontas dos dedos.
— Jungkook... Não estrague tudo. Por favor, pensa bem... — tentou, uma
última vez, com a voz, o rosto e o corpo todo inteiramente aflitos,
desesperados, era nítido.

O ruivo o encarou por um tempo, parecendo lutar contra si mesmo.


Visivelmente uma batalha acontecia dentro de sua mente perturbada, mas
ninguém poderia lutá-la por ele. Nem mesmo o Park. Aquela era uma luta
que Jeon teria que enfrentar sozinho.

— Essa é a minha decisão, Jimin — o rapaz se levantou e foi até o quarto,


deixando o moreno petrificado no meio da sala por alguns minutos, até
voltar com duas bolsas nas mãos: a bolsa preta de couro, com seus
acessórios fetichistas, incluindo a coleira; e uma bolsa com todas as roupas
e pertences do Park, colocando ambas aos pés dele. — Me desculpe... —
murmurou, tentando conter o rosto vermelho de choro.

O ex-militar fitou as bolsas com seus pertences no chão, e entendeu que


estava sendo convidado a se retirar novamente. E só aí a ficha caiu.
Jungkook estava o dispensando por completo e definitivamente. Não só de
seu apartamento, mas de sua vida.

— Você partiu meu coração... — o ex-militar disse então a ele.

— Você também partiu o meu — o de fios cor de cereja respondeu-lhe,


igualmente magoado.

O castelo de cartas havia ruído.

vamos usar a tag #CobraSorrateira - porque a galera acha que


#JungkookBebêDoJimin é tag de interação, e atrapalha minhas buscas ;--;

tô bem insegura quanto a voltar a postar, especialmente pq eu to fazendo


isso no impulso, eu realmente não me sinto mais confortável aqui. mas
essas historias estao berrando pra sair da minha cabeça, e eu preciso fazer
isso, senão vou enlouquecer.
e ah, eu amo vocês. mesmo que eu exploda várias vezes. não acho q estaria
passando minhas historias 'pro papel' se vocês não estivessem aqui lendo.
então preciso ser mais agradecida ao meu total de 10 leitores kkkkkkk
muito obrigada, e me desculpem não ser o tipo de pessoa q cês esperam q
eu seja. eu não sou o bom tipo de pessoa pra se gostar, sou insuportavel
mesmo. mas continuem apreciando a história, é só oq eu quero e me
importo.

até mais. por favor, não esqueça de votar


31| guilty
Esse é meu presente de fim de férias pra vocês (e pra mim, também!) E
claro que eu tô chapada, se tivesse sóbria não tava fazendo essa doidera
kakakakak xau

Leiam devagar...

#CobraSorrateira

Jungkook rolou na cama, mais uma vez, e abraçou os joelhos contra o peito.
Chorar se tornara tão rotineiro, que já havia se acostumado com as
lágrimas. Elas escorriam de seus olhos até o travesseiro, o mesmo que
usava pra abafar seus soluços e o choro sofrido.

Se sentia um lixo. Um nada. Uma sacola plástica voando perdida com o


vento, apenas esperando os vários anos necessários pra se decompor. Essa
era uma boa comparação.

A chuva lá fora castigava os vidros da janela, fazendo um barulho forte. E à


cada trovoada, o garoto chorava mais. Chorava porque sabia que Jimin
certamente estaria sozinho e apavorado em seu próprio quarto. Chorava
porque sabia ter estragado a melhor coisa que já havia acontecido em sua
vida. Chorava porque se dera conta de que Park Jimin era seu grande amor.
Aquele que as pessoas diziam ser difícil de achar. Aquele que todos diziam
ser algo tão especial, que só acontecia uma vez na vida, e alguns sequer
tinham a oportunidade de vivenciar.

Quebrado. Jeon Jungkook sempre fora uma homem quebrado, e quando


parecia que não havia mais nenhum pedaço seu que pudesse ser partido, ele
rachava mais. Como uma caneca de porcelana remendada, colada e re-
colada em seus cacos partidos.

Sua vida parecia ter perdido o sentido. Era comum se sentir muito mal com
seus rompimentos amorosos, mas nunca tinha doído assim, nessa
magnitude. Nunca havia machucado tanto desse jeito.
Principalmente porque a decisão de rompimento havia partido dele, ao
constatar que o problema era ele mesmo; que jamais conseguiria ser feliz
com alguém, menos ainda com o Park, enquanto não mudasse seu gênio,
sua teimosia, seu ciúme sem sentido, que mais um pouco alcançaria um
patamar obsessivo.

Ele sabia que não era certo esconder sua possessividade atrás do BDSM.
Tampouco, justificá-la através de sua classificação alfa. Isso não era
saudável emocionalmente, nem pra ele, nem pro seu parceiro.

Assim os dias passaram. Primeiro um, depois dois, e então cinco, uma
semana, duas... O tempo se arrastava e fazia a dor dobrar de tamanho.

Jungkook havia assumido pra si mesmo que precisava de ajuda. Que


precisava aprender a controlar a própria mente. Mas naquele momento
apenas sentia tanta pena de si mesmo, que não conseguia fazer
absolutamente nada, não era capaz de tomar uma atitude e conseguir ajuda.
Estava inerte.

Era até incrível que conseguisse se levantar todo dia e ir trabalhar. Morava
sozinho, pagava o próprio aluguel, as contas, a comida, não tinha alguém
que pudesse segurá-lo naquele momento, então não podia se permitir falhar
com suas responsabilidades, de fato. E talvez fosse isto que o empurrasse da
cama todos os dias.

Todavia, Jeon parecia uma casca vazia. Todos os seus movimentos eram
robóticos e desanimados. Ele não sorria. Não conversava, não interagia. A
comida não tinha gosto. Era como se sequer respirasse. A vida havia
perdido a graça. Tudo tinha se tornado cinza.

Quando chegava do trabalho, tudo o que fazia era sentar-se ao pé da janela,


com uma caneca de chá em mãos, enquanto observava a fachada da casa do
Park, como um lunático. Até mesmo seus amados M&M's pareciam menos
saborosos que terra de parquinho.

Doía demais. Mas ele sabia que aquela era a decisão certa. Sabia ter sido
bom em reconhecer os próprios limites e não se forçar além do que podia.
Só não sabia se sua decisão havia, de fato, sido motivada internamente por
pura lógica, autopreservação e um vislumbre de maturidade, ou se havia um
quê de masoquismo emocional envolvido.

Jimin não estava em estado diferente. Estava como morto por dentro.

Sentava-se nas escadas da frente de casa e fitava por horas a fio a janela de
Jungkook. Já havia até mesmo perdido o controle e espiado o ex no
trabalho, se escondendo atrás da barraquinha de cachorro-quente do outro
lado da rua. Mas jamais deixava o ruivinho vê-lo. Não queria assustá-lo,
pois sabia que essa era uma atitude meio psicótica demais..

Ele também não sorria. Não conversava, não ria, não sentia. Buscava por
qualquer coisa que pudesse aliviá-lo. O que fosse necessário. E aí ficava
entorpecido, anestesiado.

Nas últimas semanas, havia se fechado em uma casca. Escondia-se de tudo


e todos ao seu redor, não queria demonstrar sua fraqueza. Não queria
mostrar o quanto seu coração era frágil. Estava acabado.

E assim, o álcool se tornou seu novo melhor amigo. Ele bebia sozinho em
casa, até que perdesse a capacidade de subir as escadas e apagasse no chão
da sala.

O lúpus não atendia a telefonemas. Não respondia a mensagens. Se


recusava a atender a porta. Dizia pra si mesmo que só responderia se fosse
Jungkook. Mas nunca era ele. O garoto, de fato, estava irredutível em sua
decisão. E Jimin nada mais podia fazer, se não, aceitá-la.

Além do mais, Jimin ignorava Lee Taemin, como o próprio Diabo fugindo
da cruz. Culpava a si mesmo, mas acima de tudo, culpava Taemin. Não
tinha gostado nada das coisas que ouvira saírem de sua boca a WonHo
naquele áudio.

Por que Taemin havia mentido? Estava com vergonha de ter sido trocado?
Queria sair por cima? Ou só queria estragar sua relação com o Jeon?

Pela primeira vez na vida, Jimin começava a se perguntar se todas as coisas


que diziam sobre o Lee por aí, eram verdades. Nunca duvidou do caráter do
amigo, que há dez anos era seu refúgio. O que todos viam de mau no loiro,
que ele não enxergava?

Os trovões eram ensurdecedores lá fora. Como uma chuva de verão, o sol


estivera forte, e a noite trazia muita água para refrescar.

Eram 2h da manhã, e o Park estava entorpecido, como em todos os dias.


Haviam tantas latas de cerveja e garrafas de vinho vazias espalhadas pela
sala, que mal podia andar sobre o chão sem que esbarrasse em algumas
delas.

Cada raio fazia seu coração dar um pulo assustado.

Ele queria enfrentar seus medos.

Foi então que, trocando os pés, o ex-militar apanhou sua garrafa de vinho e
saiu pra varanda. O vento castigava, jogando a chuva toda pra dentro. Ele
fechou a porta e se atreveu a descer as escadas, se deixando molhar
completamente, a camisa larga colando no tronco e os fios de cabelo
grudando na testa.

Deu um longo gole no gargalo, e se escorou no muro sob a chuva. Os


mirantes pequenos e avermelhados foram direto pra janela do Jeon. Estava
escuro, muita água caía, mas ele pôde enxergar perfeitamente a silhueta do
ruivinho no canto da janela, meio escondido por parte da cortina, tentando
se confundir com a escuridão do apartamento.

Sem a sobriedade que pudesse segurá-lo, o ex-coronel caminhou a passos


rápidos, atravessando a rua. Digitou a senha no painel numérico da portaria
do outro alfa, e entrou no prédio. Subiu as escadas correndo e, com o
coração acelerado, se pôs a bater freneticamente na porta do ruivo,
enquanto segurava a garrafa de bebida no punho.

— Jungkook-ah? — chamou, com a voz dolorida. — Por favor, me deixa te


ver... — quase sussurrou, mas sabia que o garoto estava ouvindo.

Não houve resposta. Não havia nada, apenas silêncio. Silêncio mortal,
doloroso, excruciante. Ser xingado de todas as coisas ruins possíveis seria
menos desesperador que aquele silêncio, pois era como se estivesse
sozinho. Sofrendo sozinho. Amando sozinho.

— Eu sinto tanto sua falta... — confessou, agoniado, com o rosto colado na


porta.

Do lado de dentro, Jungkook chorava copiosamente e segurava o anel de


namoro em seus dedos. Andava com ele pendurado em um cordão no
pescoço, escondido por baixo da roupa.

Ele queria, mais do que tudo, abrir aquela porta e pegar o ex-militar no
colo, trazê-lo pra dentro e beijá-lo contra a parede, como se nunca mais
fosse deixá-lo.

Mas não podia.

Acima de tudo, Jungkook sabia não ter forças para encará-lo e tampouco
resistir a ele. Não era capaz de rejeitar Jimin duas vezes. Somente vê-lo, o
faria jogar sua decisão pelo ralo.

Ele estava sendo sensato e honesto consigo mesmo e com o vizinho. Não
era saudável manter aquela relação, se o Jeon não fosse capaz de aceitar o
passado do outro. Dessa forma, eles jamais dariam certo juntos. Então era
melhor acabar com aquilo de uma vez.

O acerejado se escondeu novamente no quarto, tentando fugir de tudo.


Tinha quase nenhum autocontrole, e por isso estava muito tentado a se
render e cair nos braços do Park outra vez.

Jimin estava cansado de bater naquela porta. Colou o rosto nela e se


segurou no portal com os braços, tentando ouvir qualquer som lá dentro.
Mas tudo era silêncio, a não ser pelo barulho da chuva lá fora.

Ensopado, bêbado e magoado, ele voltou pra casa, se perguntando quando


diabos aquela maldita dor teria fim. Dormiu chorando. Acordou de ressaca.
Os olhos estavam tão vermelhos e pequenos, que enxergava tudo borrado.

Com muita dificuldade, se arrumou e foi trabalhar, mais um dia, destroçado.


[...]

Jungkook desceu do ônibus carregando as pesadas sacolas de mercado. As


compras que Jimin sempre fazia já estavam chegando ao fim, então
aproveitou seu dia de folga para repor a comida.

Virando a esquina onde morava, viu alguém parado na sua portaria,


clicando insistentemente no interfone. E aquela cabeleira rosa ele
reconheceria mesmo há metros de distância.

— O que você 'tá fazendo aqui? — perguntou, com cara de poucos amigos.

Kim Taehyung se virou, surpreso, e então deu uma olhadela no ruivo, de


cima a baixo.

— Eu... Hmn... Preciso falar com você.

— Tô ouvindo — retrucou o de genes ômegas.

Taehyung deu uma rápida revirada de olhos, impaciente.

— Podemos subir?

— Pra quê? Quer me assassinar longe das vistas de todos?

O Kim apenas arqueou uma das sobrancelhas, sem levar à sério.

— Me deixe te ajudar com essas sacolas... — tentou pegá-las das mãos do


mais novo, num inacreditável lapso de educação. Mas Jeon foi rápido em se
esquivar, como um gatinho arisco.

— Não preciso de ajuda, eu dou conta — disse, de nariz em pé. Empurrou o


alfa pro lado e digitou a senha no painel, destravando a porta. Depois fez
sinal pra que o outro fosse atrás dele.

Ao entrarem no apartamento, Jungkook colocou as sacolas na cozinha e


começou a desempacotar tudo, sem tirar os olhos do rosado, aguardando.

— Não vai fechar a porta? — o Kim perguntou com sua voz grave.
— Claro que não, não sou idiota. Se for me matar, é pra todo mundo escutar
— implicou.

Taehyung acabou se permitindo rir da audácia do garoto. Abriu a boca pra


responder, mas se pausou ao ter sua atenção roubada pela bolinha de pêlos
que subitamente aparecera se enroscando entre suas pernas, então se
abaixou para acariciar o bichano.

— Não encoste na minha gata! — Jeon ralhou. — Quero dizer, gato! Não
toca no Minzy!

— Por que? Eu não vou fazer mal a ele... Ela... Eu sei lá — deu de ombros.

— Minzy, se afaste desse alfa! Ele é inimigo, sua sonsa!

Taehyung riu outra vez, mesmo a contragosto. Jeon Jungkook era doidinho
demais da conta.

— Jungkook-ssi... — disse levantando-se. — Eu vim aqui pra me desculpar.

O ruivo parou absolutamente tudo o que fazia e encarou o outro alfa,


estático, os olhos arregalados e a boca aberta. Parecia que tinha levado um
tapa na cara, ao invés de um pedido de desculpas.

— Como é? Eu acho que esqueci de limpar o ouvido esses dias, tô meio


surdo...

— Não faça gracinhas — o Kim retrucou, revirando os olhos outra vez. —


Sei que errei no modo que te tratei e não me orgulho disso. Você sequer
sabia sobre Hoseok sentir ou já ter sentido alguma coisa além de amizade
por você. Eu... deixei meu ciúme subir à cabeça. Te vi como uma ameaça.

O ruivo fez um bico, e mesmo contrariado, deu toda sua atenção ao mais
velho.

— Eu... entendo. Não quer dizer que eu desculpe — murmurou.

— Não deveria ter te visto como uma ameaça, mas... Eu queria Hoseok por
completo. Não queria que eu e Yoongi hyung tivessemos que competir com
você...

— Isso nunca foi uma competição. Eu e Hoseok, nunca ia acontecer, seu


bocó.

— Eu não podia ter certeza disso. E além do mais, tinha medo de que
quando o AlphaDome te magoasse, você fosse querer usar Hoseok como
step.

Jeon se empertigou todo, atento.

— Por que tinha tanta certeza que Jimin me magoaria?

O outro deu de ombros, meio blasé.

— Porque é isso o que ele sempre faz. O AlphaDome tem uma certa...
fama. Troca de submissos com certa frequência, o único que permanece é
Taemin. Eu imaginei que fosse fazer o mesmo com você, não tinha por quê
ser diferente — foi sincero.

Jungkook se encolheu, sentindo um gosto amargo na garganta. E então


aproveitou a oportunidade para colher informações.

— Você... tem visto ele? Na The Cave e tal?

— Não. A última vez que vi Jimin, foi quando deixei Yoongi hyung aqui na
casa dele, semana passada. Não cheguei a vê-lo direito. Mas vi Taemin. Não
aqui. Na casa de Yoongi. Parece que o Park vem ignorando ele...

— Mesmo? — o ruivo soou esperançoso. Mas logo se recompôs, voltando a


portar uma expressão distante. — Bom, isso não é problema meu, na
verdade.

— O que houve entre vocês? Yoongi não me conta nada, só fica atendendo
às chamadas de Jimin durante a madrugada. Ele vai pro lado de fora e passa
horas conversando com ele ao telefone, com a voz mansa. E Taemin
também não sai da casa do Yoon, está sempre por lá...
— Eu queria te ajudar com toda essa curiosidade, mas não sou seu amigo
— o ruivo respondeu, implicante.

— Então você não me desculpa, realmente? — fez careta.

Jeon bufou, passando a mão pelos cabelos tingidos.

— Sim, desculpo. Eu seria hipócrita em te crucificar por não controlar o


próprio ciúme, sendo que eu mesmo não consigo fazer isso. Mas isso não
significa que eu esteja aceitando esquecer tudo e ser seu amigo. Perdoar não
é esquecer. É apenas aceitar que uma coisa ruim aconteceu, e seguir em
frente mesmo assim.

— Não espero que nos tornemos amigos. Continuo não gostando muito de
você, mas admito ter sido injusto — Taehyung explicou. — Só espero que
possamos nos entender, ficar num mesmo cômodo sem que queiramos nos
socar. Seu dominador é melhor amigo do meu, então é meio difícil a gente
conseguir se evitar. Precisamos aprender a nos aturar, pelo menos.

— Eu e Jimin não estamos mais juntos — disse com a voz sussurrada, para
então fingir dar atenção às sacolas .

Taehyung franziu o cenho por um segundo, antes de relaxar a face e abrir a


boca, assimilando.

— Oh... Agora tudo faz mais sentido. As visitas frequentes de Yoongi à


casa do Park, Taemin sendo ignorado... Vocês terminaram por causa dele?
— indagou, genuinamente curioso.

— Mais ou menos. O problema sou eu, na verdade. Mas não quero falar
disso com você — cortou.

— Tudo bem — o Kim fez sinal de rendição. — Posso só te dizer uma


coisa? O que quer que Taemin tenha armado, você precisa ignorar. Não é
novidade pra ninguém que frequenta a The Cave, o quanto esse cara é
ligado ao Jimin. Todos que já tentaram uma relação D/s com o AlphaDome,
dizem a mesma coisa: que Taemin neutraliza qualquer outro submisso que
possa ser uma ameaça. Então se ele tiver alguma coisa a ver com isso...
— Ele não teve. O problema sou eu — Jeon repetiu, odiando ter que dizer
aquelas palavras. — Precisa falar mais alguma coisa comigo? Tenho que
fazer comida agora...

— Oh, não, não. Era só isso. Podemos nos tratar com cordialidade a partir
de agora, certo? — o Kim confirmou.

— Sim. Cordialidade é a palavra.

— Então eu vou indo. Obrigado por me receber. Espero que consiga se


resolver com o Park. Boa noite, Jungkook-ssi — fez uma rápida reverência.

— Você também, Taehyung-ssi — murmurou antes que o outro alfa batesse


a porta.

[...]

— ACORDA! — Yoongi gritou pela, provável, centésima vez no ouvido do


Park.

Este fez uma careta e tampou o ouvido com o travesseiro, tentando


escapulir do amigo.

— Tô falando sério, Jimin. Que papo é esse de faltar ao trabalho por causa
de um pé na bunda? — o ômega indagou, com a voz reprovadora.

— Já disse que não foi isso — o alfa respondeu, com a voz grossa de sono.
— Eu tô de ressaca.

— Você 'tá de ressaca todos os dias. Já viu como 'tá sua sala e a cozinha? Lá
embaixo parece um cenário apocalíptico. Esqueceu o caminho da lixeira,
mirradinho?

— Como você entrou aqui? — Jimin murmurou, mal humorado.

— Eu roubei as chaves extras que você deixa na estante da sala, da última


vez que vim aqui — disse abrindo as cortinas, para propositalmente clarear
tudo e forçar o lúpus a levantar da cama.
— E por que diabos você roubou as chaves extras? — se enfiou embaixo do
edredom, teimoso.

— Pra que pudesse fazer o que tô fazendo agora: Te obrigar a levantar essa
bunda grande e parar de remoer o fora que o bratzinho te deu, seu banana!
— puxou as cobertas de cima dele, à força.

— Hyung, me deixa em paz...

— Não deixo não. Jimin, eu só te vi sucumbir assim uma vez... — disse se


sentando na beira da cama, e puxando o rosto do amigo pra que pudesse vê-
lo bem. — Você precisa falar com o TêTê.

— Não quero — virou de costas.

— Não importa. Você precisa. Tem que conversar seriamente com ele,
Jiminie...

— Eu não vou aguentar outra decepção, hyung... — sussurrou. — Tenho


medo do que posso descobrir.

— Não posso falar por ele. Mas você não pode e nem deve assumir nada.
Precisa ouvir a verdade diretamente dele. Vocês se devem isso.

— Você acha que TêTê teria coragem de fazer algo assim? De tentar me
separar de alguém, pra benefício próprio? — perguntou com a voz fraca.

O ômega ficou em silêncio, por um momento, tentando encontrar a melhor


forma de responder àquela pergunta.

— Eu acho que as pessoas passam um pouco dos limites morais aceitáveis,


quando se trata de amor.

— Essa é uma confirmação?

— Jimin, se arrume e desça. TêTê está lá embaixo esperando.

— Como é que é? — o moreno deu um pulo da cama, afobado. — Eu disse


que não queria falar com ele agora, hyung!
— Você sempre faz isso! Sempre foge dos problemas, tenta fingir que nada
está acontecendo. Acorda, Jimin! Você vai conversar com ele sim.

— Você tá se esquecendo que da última vez que nos forçou a ter uma
conversa fora de hora, como as coisas terminaram?

— E se eu não fizesse isso, você jamais teria tomado coragem pra dizer a
ele que queria terminar a relação D/s de vocês, pra ficar somente com
Jungkook — retrucou.

O Park grunhiu e puxou os cabelos. Seu rut estava perto, o deixando cada
vez mais irritadiço e agressivo. E a situação presente não ajudava em nada.

— E veja só como adiantou! Ele se recusou a aceitar que a gente não tinha
mais nada, e voltou pronto pra ser o irmãozinho de coleira do meu
namorado! — disse com um sarcasmo tão forte na voz, que o fazia soar
como alguém totalmente diferente da pessoa suave que era.

* flashback *

Jimin caminhava lentamente pela calçada suja, tragando meio sem vontade
o cigarro pela metade. Estava ansioso e era tudo culpa de Jungkook. Em
breve fariam sua primeira sessão de BDSM, e o Park já havia decidido
quais apetrechos e fetiches realizaria com seu novo submisso.

Claro, não tinha intenções de pegar muito pesado, o BDSM era como as
águas profundas do oceano atlântico, e pra quem não sabia respirar
embaixo d'água, o ideal seria permanecer na superfície aprendendo a
nadar por um tempo.

Contudo, após uma década de vivência das práticas fetichistas incomuns, o


Dominador há muito não ensinava alguém novo naquele meio, geralmente
os que transavam consigo já conheciam bem o bdsm, não sendo
necessárias muitas instruções de sua parte.

Queria que a primeira sessão de Jungkook fosse perfeita, porque até então,
o ruivinho permanecia apenas na expectativa. E se ele não gostasse? O
garoto claramente curtia ser domado pelo Park, mas e se ele não curtisse o
funcionamento da sessão? Ainda assim ele continuaria com o lúpus?
Aceitaria estar com ele como submisso ou como um namorado?

O ex-militar não fazia ideia, e recentemente notara que tinha medo de


descobrir. Não queria perder Jungkook como havia perdido Taeyang, seu
ex-noivo. Só de lembrar, já sentia o coração apertado. Andava sentindo
certas coisas pelo garoto, que iam muito além da coisa física, e sabia disso,
sempre soube. Estava tentando se auto-analisar para entender a própria
mente, mas não havia mais o que negar: estava ficando ridiculamente
apaixonado.

E esse fora o motivo pelo qual insistira tanto pra que o avermelhado se
tornasse seu submisso. Nunca havia corrido tanto atrás de uma relação
assim. Geralmente as pessoas que vinham até ele e não o inverso.

Mas Jungkook..? Ah, Jeon Jungkook era todo ao contrário e ainda tinha a
audácia de virar o ex-militar de cabeça pra baixo junto consigo.

Desde que o Jeon estava morando em sua casa, por terem quebrado todo o
apartamento durante o cio, Jimin sentia-se mais mexido pelo de cabelos
cereja. Faziam apenas alguns dias que o avermelhado se mudara para sua
casa temporariamente, e aquilo já estava o desconsertando.

O menino acordava com o rostinho inchado e fazendo birra por não querer
levantar, coçando os olhinhos e com um bico no rosto. O lúpus era
obrigado a dar alguns bons tapas estalados no traseiro durinho para que o
mesmo acordasse. E Jimin se praguejava por ficar mirando de forma tão
embasbacada aquela criaturinha linda. Sentia-se totalmente idiota. Nunca
havia se deixado levar por um submisso antes, ainda mais sendo um
novato. E se os seus sentimentos acabassem não sendo recíprocos?

Sempre sentira interesse pelo alfa, e todo aquele joguinho de "aceito ou não
aceito ser seu submisso" haviam-no deixado ansioso e dez vezes mais
interessado.

Sim, o bom e velho joguinho de fingir desinteresse ainda funcionava, e o


Jeon o havia pego de jeito com aquela coisa toda.
E quando Jungkook finalmente deu o seu grande "sim", o Park viu fogos de
artifício explodindo em sua mente, como numa maldita festa de ano-novo.

Faziam apenas alguns dias, cerca de uma semana inteira, mas o ex-tenente
vinha enrolando para contratar alguém para consertar o apartamento do
Jeon. Gostava tanto de tê-lo ali, debaixo de seus olhos, que não estava com
a mínima vontade de vê-lo voltar para a própria casa tão cedo. Não que
Jungkook soubesse disso.

Virando a esquina, o alfa viu os cabelos platinados de Yoongi pela parede


de vidro do estabelecimento comercial, e acenou para o outro, que
imediatamente saiu e foi para o lado de fora, encontrar consigo.

— Desde quando voltou a fumar, ô mirradinho? — o ômega perguntou,


arrancando a bituca de cigarro de sua mão e fumando ele mesmo.

— Sempre que fico realmente nervoso, você sabe. E para com essa coisa de
me chamar de mirradinho, Yoongi hyung, não estamos na oitava série —
respondeu com a voz resmungona.

Toda a pose séria e misteriosa de Park Jimin se esvaía quando na presença


de Yoongi, agindo como um ursinho resmungão. Eram amigos de infância,
então tendiam a agir como as duas crianças que foram um dia, quando se
juntavam.

— Então o negócio é sério? — o ômega perguntou estendendo a mão sem


dizer para o quê, mas Jimin sabia que era um pedido pelo maço de
cigarros. Então ele o entregou junto ao isqueiro, enquanto o platinado
punha um cigarro novo nos lábios.

— Por que eu abandonaria meu novo submisso todo gostosinho e sedento


em casa, às dez da manhã de um sábado, pra vir falar com você nessa
lanchonete que vende o pior sorvete do distrito? — respondeu com outra
pergunta, enquanto acendia o cigarro do amigo.

— Primeiramente, não fale mal do sorvete do Bong. Ninguém tem culpa de


você ser um sujeito amargo, que não aprecia doces — rebateu implicante, o
ômega. — Segundo... não sei o porquê de todo esse drama, Mirradinho, dá
um tempo.

— Eu não sei o que fazer, hyung, você deveria estar me ajudando —


respondeu o alfa, exasperado, com os olhos pequenos se arregalando
exageradamente e a boca carnuda aberta num de "o" em indignação.

— Garoto, é simples. Ou você encerra sua relação com o Taemin,


pressupondo que o Jungkook queira isso, ou você pergunta ao Jungkook, de
fato, se ele deseja que vocês dois sejam apenas... vocês dois — disse o
ômega, seriamente. — O que você não pode, é ser um imbecil e não contar
ao Jungkook sobre Taemin.

— Mas eu meio que já contei... — Jimin resmungou contrariado, passando


a mão pelos fios de cabelo e ajustando os óculos de sol na face.

— Não tente se esquivar, Park, você ainda não explicou pro garoto que o
Taemin é seu submisso há todos esses anos; nem que ele tem uma coleira
sua. Você só contou que passava os cios com alguém. Isso é uma traição,
sabia? — provocou.

Jimin arregalou os olhos e se virou chocado para o amigo.

— Do que você está me acusando, hyung?! — exclamou indignado e com


as bochechas infladas.

— Ai, mas que melação... — Yoongi resmungou, revirando os olhos. — Você


sabe que se Jungkook é seu submisso, é sua obrigação contá-lo que ele tem
um irmão de coleira e apresentá-los. Você sabe disso. Não precisa de mim
para lembrá-lo. O máximo que posso fazer, é te dar um peteleco na testa.
Não posso te bater, porque você é um alfa. Um alfa anão, mas um alfa.

— Você tem a mesma altura que eu, abestalhado — retrucou com um


pequeno rosnado irritado.

O ômega o conhecia de anos, e muitíssimo bem, falava aquele tipo de coisa


justamente para irritá-lo; e isso era porque o platinado achava Jimin a
criatura mais meiga da face da terra. As bochechas fofinhas, os olhos
pequenos, a voz manhosa, a obsessão por controle. Tudo em Jimin o fazia
fofo e caricato.

E é claro, por terem uma amizade de anos, o Min sabia que o alfa não agia
assim na frente de todo mundo. Park Jimin havia criado uma máscara
social, onde interpretava um papel de aparente seriedade. E embora fosse
sim, um cara maduro e sensato, o lúpus era uma pessoa extremamente
delicada e cuidadosa para com aqueles que amava.

— Mas eu sou ômega — respondeu Yoongi, provocando o moreno.

— E eu sou um alfa lúpus — rebateu com a voz reclamona usual, que usava
com os mais íntimos.

Jimin era muito diferente com as pessoas com quem tinha intimidade,
principalmente com as que ele não tinha nenhuma relação de D/s.
Entretanto, costumava sempre ser mais doce que de costume com Jungkook,
desde que se conheceram, talvez por terem criado um certo nível de
amizade ao longo dos anos.

E quando pensava nisso agora, notava que andava muito sério e puramente
sensual com o garoto. Talvez se mostrasse mais do seu lado meigo outra
vez, o de cabelos cereja se apaixonasse.

Mas era isso que queria realmente? Ter Jungkook apaixonado por ele? E se
estivesse apenas confuso? Só o tempo poderia dizer.

— Quer saber? Você deveria me agradecer — o ômega sorriu maldoso,


olhando para algum ponto atrás do Park. — Você poderá resolver o
conflito com Taemin agora mesmo — disse sorrindo venenoso.

— Você o chamou? — Jimin indagou, apertando os olhos, sem se virar para


ver se o outro estava, de fato, atrás de si.

Yoongi deu de ombros.

— Você veio aqui para pedir que eu fique na sua casa com meus submissos,
durante sua primeira Sessão com o Jungkook. Bem, só vou aceitar ser a
pessoa de confiança de vocês, se você resolver logo isso. Não vou
compactuar com essas coisas, Jimin. — Então o platinado lhe deu as
costas, entrando no estabelecimento novamente e abandonando o alfa
contrariado.

Jimin permaneceu estupefato. Ora, não estava traindo ninguém! Taemin


sabia de Jungkook e Jungkook sabia de Taemin. A única coisa que não
havia contado ao Jeon, era que Taemin não era apenas seu parceiro de
cios, mas sim seu submisso.

Era uma mentira para o bem da relação deles, porque tinha quase certeza
que Jungkook ficaria puto com aquilo e o abandonaria. Jimin não deixaria
aquilo acontecer de jeito nenhum. Gostava do ruivo. Gostava muito e já
fazia tempo, muito anterior ao dia fatídico em que teve sua condenação de
expulsão das forças armadas e acabaram tendo aquele momento na
cozinha.

Ficar com ele, havia apenas aumentado a coisa toda. Era como dar partida
num carro que já estava com o tanque cheio de gasolina.

Além do mais, ele e Taemin não ficavam juntos há um bom tempo. Já


faziam dois meses, mais ou menos. Desde antes de ficar com Jungkook pela
primeira vez.

E não era como se ele planejasse continuar com Taemin. Ora, se não ficava
com o cara há um par de meses, nesse meio tempo envolvera-se com
Jungkook, e agora estava apenas com ele, bem... na cabeça do Park, ele já
havia terminado com Taemin. Faltava apenas informar isso ao dito cujo.

Respirando fundo, o ex-militar foi se virando lentamente em direção à sua


traseira, podendo ver o outro alfa parado do outro lado da rua, esperando
o sinal fechar para que atravessasse.

O alfa platinado sorriu para si. Jimin sentiu-se um falso, sorrindo de volta.
Taemin era um de seus melhores amigos, além de tê-lo servido por um
bocado de anos. Além do mais, sabia que este achava sentir algo mais além
de amizade por si, e terminar a relação apenas faria magoá-lo.
Ainda mais sem saber até onde ia seu relacionamento com Jungkook.
Sequer tinha uma explicação plausível para aquilo, não era a primeira vez
que arranjava um novo submisso.

O problema era que, pela primeira vez, desejava que aquele submisso fosse
o único e não ficasse dividindo espaço com Taemin. Não queria submeter
Jungkook a isso. Principalmente porque sabia que dividi-lo com outras
pessoas, talvez impedisse o Jeon de enxergá-lo de forma romântica, e
porra! ele queria que Jungkook o visse daquele modo, não apenas como
algo sexual, embora sua proposta inicial tenha sido essa.

— Oi, lobinho! — o sub se aproximou com um sorriso que seria capaz de


ofuscar o sol, com o rosto levemente maquiado, cabelos feitos e uma
pequena gargantilha dada pelo dominador, essa menos trabalhada que a
coleira de couro que usavam nas práticas de bdsm. Mas ainda assim, era a
coleira que representava a relação dos dois. O que fez o moreno sentir-se
ainda pior.

O lúpus não deveria se sentir tão culpado assim, afinal, nunca teve e nunca
teria uma relação romântica com Taemin. Possuíam uma relação D/s, eram
parceiros de cio e eram grandes amigos. Nenhum desses aspectos o
impedia de se envolver romanticamente com outra pessoa. Taemin já tinha
até tido diversos namorados naquele meio tempo.

Principalmente porque o acordo entre ele e Taemin era bem claro aos dois:
eram solteiros e ficavam com quem bem entendessem, sem ter de dar
satisfações um ao outro.

Todavia, a coleira no pescoço do amigo era um lembrete de que havia uma


exceção àquela regra: o BDSM.

Quando Jimin decidia instituir uma nova relação D/s, precisava


obrigatoriamente pedir a anuência de Taemin, para que tivesse um novo
submisso além dele, caso contrário, nada feito.

Ele já havia falado sobre o vizinho alfa de cheiro doce para Taemin, que
somente rira bem na sua cara, por Jimin estar sendo feito de bobo pelo
outro alfa. E este já estava de comum acordo com a possibilidade do ruivo
vir a ser um novo irmão de coleira.

Taemin só não contava que o Park quisesse que Jungkook fosse o único
sub, e ele mesmo jogado pra escanteio.

O submisso se aproximou do menor e o abraçou carinhosamente, tendo o


abraço retribuído como de costume. Mas o ex-tenente sentia-se estranho,
com uma pitada de temor. Pensou que se tivesse o azar de Jungkook
aparecer por ali — afinal a sorveteria era bem próxima à rua de casa — e
o visse abraçando o outro alfa depois de abandoná-lo sozinho em casa, o
ruivinho enfezado não gostaria nada. Nada mesmo. Ainda que o Park não
tivesse presenciado nenhum episódio forte de ciúmes do de cabelos cereja,
ainda.

Entretanto, tudo na personalidade do alfa de genes ômegas gritava


"possessivo". E além do mais, ele também não era nada misterioso, mas
sim um enorme livro aberto, totalmente transparente para Jimin. Então este
tratou de desfazer o abraço disfarçadamente.

— O que o doido do Yoongi falou pra você? — perguntou ansioso o ex-


coronel.

— Oh, ele disse que você queria conversar sobre meu novo irmão de
coleira — respondeu risonho. — Quando você vai apresentar a gente
oficialmente, Jimin-ssi? Se me lembro bem de quando o vi lá na loja de
conveniência quando fui comprar as cervejas pra você, ele é bem
lindinho... E lá no clube confirmaram isso. Vou querer usá-lo também... —
provocou com a voz maldosa.

Jimin revirou os olhos. Taemin tinha a mania de transar com seus irmãos
de coleira, sempre. Não que o Park proibisse, na verdade até gostava.
Aquilo facilitava a aceitação entre eles, e rendia ótimos threesomes. Mas
com Jungkook não. Nem fodendo Jimin dividiria o alfa de cabelos
vermelhos com alguém. Jeon era seu e apenas seu. Bem, na verdade não
era ainda, mas faria ser, assim que terminasse com Taemin. Proporia a
exclusividade naquela relação, junto a um pedido de namoro implícito.
— Você foi ao clube? Tem só uma semana que voltou do Japão, Tê —
disfarçou, mudando o rumo da conversa.

— Mas você estava passando o cio com o novato, o que eu podia fazer? —
respondeu o outro, contrariado. — Eu precisava de um sexo quente e umas
boas chicotadas, o tempo que fiquei no Japão foi muito ocupado com
trabalho e sexo baunilha com aquele alfa, o MinHo.

— Eu disse pra você que esse Minho curtia alfas e tava te dando mole, mas
você nunca acredita no que eu falo... — devolveu o Park, revirando os
olhos, entediado.

— É, mas você disse que ele parecia um dominador, só que ele é bem
baunilha — Taemin respondeu encarando o chão e fazendo um biquinho.

— Pelo menos acertei a metade, ué.

— Você deveria comprar um sorvete pro seu sub, estou com tanto
calorzinho... — disse o mais alto, dramaticamente, enquanto se jogava de
forma teatral em uma das cadeiras do lado de fora.

— Por que está me dando ordens, Lee Taemin? — perguntou apertando os


olhos pro alfa.

— Não foi uma ordem, Jimin-ssi, foi apenas uma sugestão — e então piscou
um dos olhos para o lúpus, de forma falsamente inocente, como fazia
sempre.

Jimin revirou as orbes e riu, sacudindo a cabeça, antes de dar um tapa


estalado brincalhão na coxa do outro, e caminhar em direção à porta do
estabelecimento.

— Seu manipulador. Você tem sorte de ser bonzinho nas horas certas. Tô de
olho em você, tá doido pra virar um brat... — murmurou o Dom, lhe dando
às costas.

Assim que estava longe das vistas do sub, soltou o ar pesadamente,


procurando Yoongi com os olhos pelo local, e o encontrando comendo seu
sorvete de baunilha, despreocupadamente, como se não fosse o maior
causador de intrigas do universo.

— Eu quero enfiar sua cara dentro dessa taça de sorvete — declarou ao


ômega, exasperado.

— Bom, você pode tentar — o loiro rebateu, dando de ombros. — Mas


admita que facilitei a sua vida. É só caminhar até ele e dizer "Foi bom
enquanto durou, mas agora outro pirocão tem o meu amor."

Jimin continuou fitando o amigo, sem responder, com uma sobrancelha


arqueada. Min Yoongi era simplesmente impossível.

E diante do silêncio do alfa, Yoongi voltou a dizer:

— Ou você também tem a opção de levá-lo até Jungkook e explicar que


você não é de ninguém, você é de todo mundo. A escolha é sua, seja sábio,
pequeno gafanhoto.

— Eu acho que não quero mais ser seu amigo — o Park murmurou com um
biquinho típico de quando era contrariado.

— Você repete a mesma coisa há mais de vinte anos, alfa. Já não tem mais
o mesmo efeito, compreende? — alegou, debochado. — Mas veja só...
Como sou seu amigo, e sabendo de coisas que você ainda não sabe, acho
que você deveria perguntar ao TêTê, se tem algo que ele esteja
escondendo...

— Por que você não me conta logo? — devolveu, inconformado.

— Porque você sabe que esses foram os meus termos pra continuar sendo
seu amigo e amigo dele, quando vocês começaram a se comer. Eu avisei
que não escolheria entre vocês dois e que não contaria nada de um pro
outro, não sou garoto de recados. Agora vai lá — terminou dispensando-o e
voltou a dar atenção ao seu sorvete.

Jimin levantou da cadeira e foi até o balcão, pedindo o sorvete de coco,


com cobertura de morango e pedaços de nozes. Quando pegou a enorme
taça nas mãos e caminhou para o lado de fora, murmurou para si mesmo,
observando o sorvete colorido:

— Eu sei até a combinação do sorvete que ele gosta. Por que mesmo nós
não somos um casal? — se perguntou sinceramente, mas logo chegou à
conclusão —: Ah sim, porque eu nunca vi Taemin como algo além de um
amigo querido e uma boa foda. Como poderia esquecer? — bufou. — Eu
me odeio — e então parou de falar, ao se sentar na cadeira ao lado do alfa,
e lhe entregar o sorvete.

O submisso suspirou e deu um beijinho estalado na bochecha do moreno.


Antes de abocanhar a primeira colherada da sobremesa, declarou:

— Me conhece tão bem o meu Domzinho... — para aí com os lábios


gelados, selar Jimin novamente, dessa vez no pescoço.

O moreno permaneceu em silêncio, até sentir a língua fria deslizando por


sua pele, e aquilo lhe pareceu muito errado, pela primeira vez na vida. Se
afastando suavemente, encarou o submisso, de forma séria.

— Que foi? Tá bravo comigo? — o Lee perguntou com a voz suave, o


encarando com o cenho franzido. Jimin nunca havia rejeitado um carinho
seu.

— Tem algo que você não está me contando, Têtê.

— Yoongi é um fofoqueiro — resmungou.

— Ele não me disse nada, conheço você o suficiente para saber —


declarou. O que era mais ou menos verdade.

— Jimin-ssi, eu... — o alfa olhava para todos os lados, como se procurando


por algum motivo para sair correndo dali, mas não haviam desculpas.
Sequer conseguia encarar seu Dominador nos olhos. Esse era um dos
momentos que Taemin simplesmente entrava em seu sub space, ainda que
não estivessem dispostos a entrar no jogo naquele momento. Só que era
algo automático em sua relação com o Dom.
— Anda logo! — Jimin disse ríspido, como uma ordem, também entrando
em seu papel Dominador.

— Eu aceitei substituir um dos professores de dança lá na Universidade de


Nagoya, por um semestre inteiro — disse muito rápido, de uma vez só,
fitando o chão de forma temerosa.

— Oh — Jimin exclamou, meio surpreso. — Isso quer dizer que ficaríamos


seis meses separados e que eu passaria um cio sozinho, certo?

— Sim — o outro murmurou, levantando o olhar agora, com os olhinhos


tristonhos. — Mas se você não gostar, eu desfaço tudo, Jimin-ssi. Eu fico
aqui e...

— Tê, isso não é necessário. Eu jamais te impediria de uma experiência de


trabalho dessas, sabe que não sou assim...

— Eu sei, mas é que... Não quero te deixar meio ano com esse submisso
novato, sem que eu e ele nos conheçamos. Vai que esse garoto pensa que
pode roubar você de mim? Preciso marcar território!

Jimin engoliu em seco. Aquela era a hora. Precisava abrir o jogo com o
amigo e submisso, antes que tudo explodisse como uma bomba. Sabia como
Taemin poderia ser rancoroso quando queria.

— TêTê... eu precisava mesmo falar sobre isso com você. — O submisso


então o observou atentamente. — Yoongi te chamou aqui pra me encorajar
a fazer isso logo, mas é tão complicado... Mas, agora, com você dizendo
que vai ficar seis meses fora do país, talvez seja mais fácil, de qualquer
modo...

— Jimin, você tá me assustando — o loiro murmurou.

Piscando nervosamente e mordendo os lábios, o ex-militar finalmente


explicou:

— Eu quero a coleira de volta, Tê.


O sub arregalou os olhos em choque. E depois, mudou para uma expressão
de total descrença. Pedir a coleira de volta, era o ato mais solene de
finalizar uma relação D/s. E isso era tudo o que eles tinham. Uma relação
de dominação e submissão. Não era um romance. Não era um compromisso
amoroso. Era só um joguinho sexual que adornava aquela longa amizade
colorida.

— Vou fingir que não ouvi isso, Park Jimin. Meu sorvete está derretendo,
dá licença. — Então começou a abocanhar furiosamente a massa gelada,
com uma careta nada boa.

— Tê... — Jimin chamou pesaroso, segurando uma das mãos do alfa


delicadamente. — Eu ando sentindo algo diferente pelo Jungkook, você
sabe como sempre falei dele pra você, não é?

— E daí? Você passou anos só observando o esquisito de longe, e agora o


quê? Só porque ele tem curiosidade de descobrir sobre bdsm e tomar umas
chicotadas suas, você vai me dispensar? Eu estou com você há dez anos,
Jimin! Dez!

— Não é assim que se calculam as coisas. Nós ficamos pela primeira vez há
dez anos. Nós não estamos juntos desde então. Ou você tá esquecendo que
namorei e noivei com o Taeyang nesse meio tempo aí? — disse em tom de
sermão, com um leve toque de irritação na voz.

— Claro, porque eu nunca sou sua escolha principal, não é? — o Lee


devolveu, magoado. — Você sequer admite que foi um cafajeste de
primeira, quando deu em cima do meu melhor amigo e entrou num romance
com ele, me deixando de lado...

— Não acredito que você disse isso! — o Park resmungou desacreditado. —


Taemin, eu e você não tínhamos nada! Nós ficamos duas vezes e depois
viramos amigos. Só depois você me apresentou o Taeyang. E quando te
perguntei se seria um problema eu chamar seu amigo pra sair, você me deu
sua benção!

— Mas eu ainda não sabia que gostava de você! — quase gritou as


palavras.
— Você só me quis no momento em que Taeyang se mostrou interessado por
mim, não seja assim! Você e ele sempre tiveram essa amizade tóxica e
competitiva... Sempre queriam tomar as coisas um do outro!

— Por que você não consegue acreditar nos meus sentimentos, Jimin? —
rebateu com a mágoa extremamente aparente na voz. — Eu sempre estive
aqui por você. E sou seu amigo há mais tempo que isso...

— Eu sei disso tudo, TêTê. Mas você sabe que sempre te vi como amigo,
certo? Eu te amo, mas não de uma maneira romântica, você sabe. Não
posso te dar mais do que isso...

— Você vai perceber que me ama como eu te amo um dia, meu senhor... —
tentou apelar, chamando-o daquela forma.

— Taemin-ah, fazem dez anos! Pare de esperar qualquer coisa de mim, em


nome dos deuses, você sabe que não funciona assim — sussurrou
nervosamente, quase perdendo a compostura.

— Eu vou cancelar o contrato. Vou ligar pro reitor e avisar que não poderei
passar tanto tempo fora e...

— Você ao menos consegue se ouvir? Não pode deixar de aceitar uma


oferta incrível de trabalho, por causa de um cara — Jimin ralhou.

— Você não é só um cara! Você é o meu cara, o meu dominador... Eu não


posso perder você, Jimin-ssi... — murmurou manhoso, com lágrimas nos
olhos, apertando as mãos de Jimin contra seu rosto, e dando beijinhos nas
mesmas, de forma suplicante e completamente submissa.

Jimin odiava ver o rapaz assim. Era exatamente esse o motivo pelo qual
ficava adiando esse momento.

Quando Taemin viajou, fora no dia seguinte ao qual Jungkook declarou que
aceitava ser seu submisso. Imediatamente, a vontade de ficar apenas com
Jeon, tomou sua mente. Mas nunca havia feito isso antes. Sempre tivera
vários submissos, numa rotatividade intensa, contudo, Taemin sempre
estivera ali, simultaneamente.
Decidiu deixar aquilo pra lá, mas depois dos três dias de cio com
Jungkook, o lúpus teve certeza: queria ficar apenas com o ruivo. Ainda que
Jungkook não tivesse dito nada sobre querer ou não ficar apenas com ele.

— Tê, você é um cara maravilhoso. É inteligente, carinhoso, engraçado e


lindo. Você não tem que ficar aceitando essa miséria de sentimento que te
dou, que jamais passará disto e você sabe. Não quero te fazer infeliz. Mas
realmente me sinto diferente pelo Jungkook, de uma forma que não me sinto
desde o Taeyang. Por favor, Têtê, me entenda...

O submisso subitamente se levantou da cadeira, num rompante, com o rosto


vermelho e furioso, se exaltando de forma que raramente fazia, ainda mais
em se tratando de Jimin.

— Esse tal Jungkook sequer consegue te obedecer, você mesmo disse que
ele deve ser um brat! Ele vai te deixar desgostoso, Jimin. Não é disso que
você gosta, de ser contrariado, sabe disso — disse com a voz dura.

O ex-coronel se arrependeu amargamente de ter contado ao submisso sobre


Jungkook ser um provável brat, porque agora o rapaz se aproveitava da
informação para usá-la contra ele.

Não que aquilo o abalasse. Mas percebeu que não gostava nada de ver
alguém falando do seu Jeon, ainda que essa pessoa fosse Taemin. Então
observou o outro voltar a falar:

— Eu não ligo de você ficar com outras pessoas além de mim, não ligo de
termos uma relação aberta, simplesmente porque sei que você não se
apaixona por ninguém, e a pessoa por quem você mais chega perto de
sentir alguma coisa sou eu — disse cheio de certeza. — Você quer ficar
apenas com esse sujeito? Então fique. Não é como se você ficasse mais que
três meses com um mesmo sub. Sou o único que continua com você, Jimin.
Não importa o tempo que passe. E quando eu voltar, ficarei satisfeito em
continuar nossa relação, como sempre foi, e ajudar a curar seu tédio pós-
Jungkook.

— Taemin, não é assim. Mesmo se eu e ele não dermos certo, não quero
continuar essa relação com você, porque percebo agora o quanto é egoísta
de minha parte, sabendo que você...

— Chega. Nós não vamos terminar, vamos apenas dar um tempo, já que
estarei fora do país. Então nada mudou. Até o semestre que vem, meu
senhor.

E então o rapaz saiu rapidamente da sorveteria, caminhando por entre o


número crescente de pessoas na rua ensolarada.

O Park apenas ficou de boca aberta, chocado com a atitude exaltada e


desrespeitosa do outro, sem entender o que realmente acontecia. Taemin
iria embora de qualquer forma, mas e se quando voltasse, o amigo
aparecesse para estragar o que quer que ele tivesse com Jungkook?

Esfregando o rosto com as mãos, o Park se levantou da cadeira, de forma


cansada, sentindo então a mão de Yoongi em seu ombro.

— Eu sabia que quando o momento chegasse, seria difícil. Mas pra sua
sorte, eu fiz isso acontecer em um local público, então me agradeça... —
disse meio risonho, tentando descontrair.

— Te agradecer exatamente por que diabos? — o Park reclamou, irritado.


— Eu precisava prepará-lo primeiro, Yoongi, e não romper nossos laços
assim, de supetão. Agora, quando ele voltar de viagem, tenho certeza que
vai causar problemas entre mim e Jungkook!

— Porque do jeito que você é bobinho, teria terminado com o Taemin em


um local privado, e isso não o impediria de atirar mil e um objetos em
você. Ao menos em público ele se conteve. Aish, não consigo mesmo
entender como alguém que explode assim, consegue ser um submisso... —
murmurou pensativo.

O Min nunca havia se envolvido sexualmente com Lee Taemin, é claro,


contudo, já havia assistido a muitas Cenas de Jimin e Taemin juntos, além
de ser confidente de ambos há anos. Portanto, sabia de absolutamente tudo
sobre os dois rapazes, em diversos aspectos.
— De qualquer modo — o ômega continuou —, se você contar a verdade
sobre Taemin para o Jungkook, pouco importa o que ele vai fazer quando
voltar, vocês estão terminados de qualquer jeito...

Jimin passou as mãos pelo rosto, respirando fundo para tentar manter a
calma.

— Eu terminei com ele, hyung, mas ele não aceitou.

— E daí? O que importa é que você terminou.

— Não, não, Yoongi, você não tá entendendo — o moreno disse com a voz
nervosa. — Ele simplesmente levantou e disse que nada tinha mudado entre
a gente, que o fato de eu ficar com Jungkook não mudava nada, já que
nossa relação sempre foi aberta, sempre ficamos com outras pessoas. Ele
pensa que já que vai ficar seis meses fora, e eu nunca cheguei a ficar esse
tempo todo com um mesmo submisso além dele...

— Oh... — o ômega assimilou com os olhinhos pequenos arregalados. —


Ele não aceitou, porque acha que você vai terminar com o Jungkook antes
dele voltar, então terminar não valeria de nada. Cara... você tá fodido —
Yoongi apontou o óbvio.

— Obrigado, Sherlock — o alfa respondeu amargo. — E agora, o que faço?


Eu terminei, sim. Nós estamos terminados. Ele precisa entender isso.

— Não se preocupe, eu vou jogar a informação na cara dele muitas vezes,


uma hora ele irá aceitar. Não é como se desse pra estar numa relação de
qualquer natureza com alguém, sem a pessoa querer. Não é ele quem decide
se vocês continuam ou não. Na verdade, nem você. Quem decide é aquele
que não quer mais, e se você disse que não quer mais, então acabou.
Euhein, o Tê tá desequilibrado, coitado. Deixe ele absorver a informação
por um tempo, Jimin, a ficha vai cair. É que é difícil pra ele... O cara tá
com você há anos, te vendo ficar com deus e o mundo, na esperança de que
um dia você finalmente fosse se apaixonar por ele. Sempre avisei que daria
nisso, mas como sempre, vocês alfas, são uns teimosinhos de merda,
adoram estufar esses peitos como malditos pombos e dizer "Eu estou certo,
sou o dono absoluto da razão, um líder natural, blá, blá, blá"...
— De qualquer forma... — o Park interrompeu rindo soprado, por causa da
analogia a um pombo. — Preciso voltar pra casa agora, saí dizendo que
vinha comprar leite pra eu e Jungkook tomarmos café da manhã...

— E depois de comerem, vocês vão se comer? — o ômega indagou


levantando as sobrancelhas de forma cômica.

— Você continua falando como um adolescente, hyung, para com isso... —


Jimin rebateu rindo, empurrando o ombro do amigo. — Já falei que no dia
seguinte ao que Jeon foi morar lá em casa, ele tem estado doente, com um
resfriado. Todo dia o acordo pra que ele tome os remédios e melhore logo.

— Ora, e só por isso vocês não bateram nem uma punhetinha um pro
outro? O que é só um catarrinho, Jimin..? — zombou.

— Você é uma pessoa horrível, Min Yoongi... — o alfa riu, jogando o corpo
pra trás. — Ele está realmente mal, sentindo dores no corpo, sono em
excesso, esse tipo de coisa. Ele nem tem ido trabalhar...

— E você tá adorando cuidar dele que nem um bebê, não é verdade? —


provocou. — Isso alimenta o seu daddy kink.

Jimin abriu um sorriso largo e deu uma piscadinha brincalhona. Yoongi


então se virou de costas e passou a caminhar no caminho contrário.

— Aonde está indo? — perguntou o alfa.

— Embora, ué — o ômega respondeu, olhando por cima do ombro.

— E não vai se despedir? Não vai me dar nem um abraço? — gritou para
que o outro escutasse, já que estava distante.

— Ah, Jimin, fala sério... — Então parou e ambos ficaram se olhando,


como dois gatos se fitam antes de entrarem numa guerra de unhadas, para
o ômega então impulsionar o corpo e começar a correr de forma
engraçada, balançando os bracinhos.

Rapidamente Jimin correu atrás do loiro, gritando entre risos:


— Você não vai fugir do meu carinho, Min Yoongi! — E assim que terminou
a frase, o alcançou, abraçando o ômega por trás, colando as laterais dos
rostos. — Agora diga que me ama, e então poderá ir.

— Aish... — Yoongi revirava os olhos, bufando e fazendo careta. — Eu não


sou um submisso, não me dê ordens.

— Diga que me ama, seu ingrato, frígido, mau caráter... — Jimin disse com
a voz reclamona outra vez.

— AAAAAAAAAAAAAAAAH — Yoongi gritou balançando a cabeça, para


então se soltar bruscamente, virar-se, dar um beijo estalado na bochecha
do moreno e dizer contrariado: — Te amo! — E então sair correndo, sem
dar tempo de o alfa respondê-lo.

Jimin riu escandalosamente, quase perdendo o ar. Parando pra pensar,


sempre gostara de provocar Yoongi e obrigá-lo a fazer o que queria, desde
que eram mais novos. E Jimin era assim com todo mundo, gostava de
manipular, até ter o que queria.

Com esse raciocínio em mente, caminhou de volta para casa, pensando se


seria o caso de, talvez, ele sempre ter gostado de ser desobedecido, apenas
para depois dobrar aquele que o contrariava; Que, talvez, ele sempre tenha
sido um Domador nato, daqueles que conseguem convencer até o Diabo.
Não era à toa que seus testes de aptidão na adolescência, apontavam que
ele seria um ótimo advogado.

Mas de qualquer modo, graças a Yoongi, havia feito a coisa certa e


terminado sua relação com Taemin, antes de iniciar as coisas à sério com
Jungkook. Fariam sua primeira sessão de bdsm assim que o mais novo
melhorasse do resfriado, e se tudo corresse tão bem quanto havia ocorrido
no cio, Jimin lhe daria uma coleira. Já estava até mesmo comprada e
escondida em seu quarto.

Só de lembrar do acontecimento de meses atrás, o Park já sentia dor de


cabeça.
— Eu sabia que isso ia dar problema... Eu sabia! — disse em tom raivoso,
mirando o ômega. — Eu disse pra você que TêTê não tinha aceitado o
término! Mas você me convenceu de que ia me ajudar com isso, e não fez
nada!

— A relação é sua, não minha, mirradinho. Quantas vezes preciso repetir


que não tomo partido nas confusões de vocês dois? Vocês são meus
melhores amigos, eu sou neutro.

— Ótimo — grunhiu. — Então espero que você fique atento lá embaixo,


porque com a raiva que eu tô, tenho vontade de afogar Taemin na pia! — e
vestiu a primeira roupa que viu pela frente, sentindo ódio em cada um dos
seus poros.

Os dois amigos desceram as escadas rapidamente, com Jimin portando a


maior expressão de desgosto que conseguia.

Assim que viu o dominador, Taemin abandonou a grande sacola preta que
usava pra recolher as garrafas de bebida que o novo relaxado Park havia
deixado pela sala.

— Meu senhor... — disse com a voz mansa e o olhar submisso, de cabeça


baixa.

— Se me chamar assim outra vez, não vou mais ouvir você se explicar.

— Perdão — o alfa de cabelos loiros foi rápido em dizer. — Eu...


Precisamos conversar, Jimin-ssi. Sei que seu novo submisso rompeu a
relação de vocês, por se sentir ameaçado por mim. Mas eu nem estava aqui!

— Não é desse jeito que você vai me convencer — o moreno retrucou,


enfezado.

— Por que a gente não se senta? — o ômega tentou amenizar, fazendo sinal
pros dois amigos. Estava ali apenas pra mediar a situação, não tomaria
partido em nada.
Os três sentaram-se nas poltronas, e o Park encarava o ex-submisso de
braços cruzados, claramente bravo.

— Tudo o que eu fiz... Jiminie, eu fiz porque te amo. Eu espero por você o
tempo que for...

O moreno bufou e alisou as têmporas, já ficando cansado. Ele não sabia


mais o que fazer. Estava começando a ter certeza que a culpa de tudo era
sua. Jamais deveria ter permitido que aquela amizade colorida se
mantivesse por tanto tempo. Deveria ter levado à sério quando o amigo
dizia amá-lo. Mas Jimin sempre tivera tendência à fuga da realidade, a
negar as coisas óbvias, porque esse era o único jeito que sabia lidar com
conflitos.

— TêTê... Você causou todos os meus problemas com Jungkook, mesmo de


longe. As mensagens insistentes, a negação em aceitar o fim da nossa
relação D/s, as coisas que andou dizendo por aí...

— Você não deveria estar com ele! Fazem seis meses! Você nunca ficou
com uma mesma pessoa por tanto tempo assim! — o alfa retrucou, na
defensiva.

— E o que importa o tempo, Taemin? — devolveu enfezado. — Deixei bem


claro que queria terminar nossa relação há muito tempo, independente de
estar com Jungkook ou não! Por que você disse a WonHo que ainda era
meu submisso? Por que fez uma coisa assim?

— Porque eu não levei à sério! E eu sabia que Won contaria a ele! —


admitiu, os olhos marejados. — Quando você me contou que apresentou
eles dois, eu soube que WonHo ia amar fazer a fofoca. Ele me culpa por
vocês dois não terem dado certo e...

— Eu não posso acreditar no quanto você joga sujo! — o moreno


interrompeu, alarmado. — Era tudo verdade, então? Você seduziu WonHo
de propósito? Nunca teve intenção de amá-lo, você só queria tirá-lo do
caminho, pra que pudesse me ter só pra você? — O alfa loiro engoliu em
seco, e novamente passou a fitar o chão, desconsertado. — RESPONDA!
— o lúpus bradou com sua voz de comando, ainda que ela não surtisse
efeito em outro alfa, e viu o amigo ômega estremecer lá no cantinho do
cômodo.

Os olhos de Taemin encheram-se d'água, não podendo mais contê-la. O


rosto imediatamente avermelhou-se, apavorado.

— Isso não é justo, Jimin... — fungou, aproximando-se. — Por que você


nunca me escolhe? Por que nunca sou bom o suficiente pra você?

Finalmente o lúpus entendeu tudo, cristalino como água. Tudo aquilo o que
se negava a ver, preso em sua fuga cheia de negação. Era culpa dele, afinal.
Ele quem havia sido irresponsável em manter aquela relação com Taemin
ao longo dos anos.

Não deveria ter feito pouco caso dos sentimentos alheios. Deveria tê-los
levado à sério. Acabava de se dar conta de todo o sofrimento emocional que
havia causado ao submisso, e a tortura à qual o submetia, usando-o à bel
prazer, quando o coração do outro alfa o amava desesperadamente, e como
um bom submisso, aceitava todas as suas regras, os seus caprichos e
imposições. Tudo para que pudesse tê-lo para si, afinal, estar com ele e ter
que dividi-lo, certamente era melhor do que não tê-lo de modo algum, era
assim que a maior parte avassaladora de submissos pensava. Taemin
obviamente não pensava diferente.

— TêTê... — segurou o rosto choroso do mais alto, de forma carinhosa.


Este o encarou de volta cheio de expectativa. — Eu me enganei. Não
deveria ter te submetido a isso por tanto tempo. Eu deveria ter me afastado.
O que você quer, eu não posso te dar — disse firme. — Taeyang partiu meu
coração, e a única pessoa que foi capaz de entrar nele outra vez, foi
Jungkook. Eu queria te amar desse modo, Tê, eu juro — sorriu triste,
enquanto o outro chorava ainda mais. — Seria tudo tão mais fácil... Nós nos
conhecemos tão bem, combinamos tanto... Me sinto horrível. Acredite em
mim, nunca foi minha intenção te magoar. Eu te amo... — e a expressão
esperançosa do loiro o encheu de culpa. — Mas nunca te amei como você
ansiava. Eu te amo como meu grande amigo. E mesmo agora que Jungkook
não me quer mais, sei que não serei capaz de esquecê-lo tão cedo, Tê.
Aquele garoto... Aquele garoto é o amor mais forte e sincero que já senti em
toda a minha vida.
O platinado se entregou a um choro forte, trêmulo, que o impedia até
mesmo de respirar. Escondeu o rosto na curva do pescoço do Park, e rodeou
sua cintura com força, o corpo sacudindo pelo choro compulsivo.

Jimin o abraçou de volta, acariciando os cabelos claros, sentindo seu


coração apertar de angústia. Ele também estava sofrendo. Havia magoado
duas das suas pessoas favoritas no mundo. E era tudo culpa sua, por sempre
teimar em fazer as coisas do seu jeito. E agora eram as pessoas que amava,
que pagavam o preço de suas irresponsabilidades.

— P-por favor, não... Jimin-ssi, por favor, não m-me deixa — Taemin disse
chorando tanto, que mal era possível entender suas palavras. — Eu não fui
bom pra você? Sempre fui o seu sub bonzinho, o seu garoto, o seu alfa! —
disse com a voz abafada. — Ninguém vai te amar como eu... Ninguém vai
te servir com tanto empenho como eu. Taeyang nunca foi a pessoa certa pra
você, ele não te respeitava, não te merecia!

Subitamente a mente do moreno deu um estalo. Nunca havia pensado


naquela hipótese. Era assustadora demais. Era dolorosa. Mas agora, ela
estava ali, gritando em sua cabeça como um megafone.

— Taemin... — chamou, afastando-o o suficiente para que pudesse olhar


em seus olhos. — Você teve alguma coisa a ver com Taeyang ter descoberto
a minha bolsa de acessórios fetichistas? — indagou sério.

O Lee o encarou por um tempo, o choro ficando mais forte, e a culpa


estampada na face, até abaixar o rosto e deixar de encará-lo. Ele não
precisava dizer, Jimin sabia. Ele dolorosamente sabia disso agora.

— TêTê... — o Park disse choroso, o sentimento de decepção se alastrando


por suas veias. — Não... Não, por favor, me diz que você não fez isso... —
outra vez entrava em estado de negação. — Me diz que não foi você quem
destruiu o meu noivado... — vendo o outro permanecer em silêncio, se
desesperou. — LEE TAEMIN!

— ME PERDOA! — o outro alfa se jogou aos seus pés, agarrando suas


pernas e chorando com mais força que nunca. Era como se seu mundo
tivesse despencado. — Jiminie, me perdoa! Ele não te merecia, nenhum
deles merecia! Eu mereço você, ninguém é melhor pra você do que eu!
Tudo o que fiz, foi por amor! Precisava que você se desse conta de que eu
sou a pessoa certa pra você, Jiminie...

Agora era o mundo do Park que desabava. Não podia acreditar. O tempo
todo, Taemin era quem destruía seus relacionamentos. Era ele o causador
dos seus rompimentos, o responsável por apagar suas alegrias, sem que ele
se desse conta.

Se sentia traído. Traído pelo amigo em quem confiou por tantos anos. Se
sentia enganado. Mas ao mesmo tempo era incapaz de sentir ódio dele. A
culpa maior era sua, afinal. Era sua culpa que as coisas tivessem chegado
àquele ponto. Ele estava terrivelmente ciente disso agora.

Yoongi observava a tudo calado, sentindo pesar por ambos. Ele sempre
soube que aquele momento chegaria. O momento em que o coração de seus
dois amigos seria totalmente quebrado. Mas tinha os avisado um bocado de
vezes ao longo dos anos. Era uma pena que os malditos alfas não lhe
dessem ouvidos.

— Tê... — o ômega chamou. — Vem, eu te levo pra casa...

— Não! — o outro grunhiu, se agarrando mais a Jimin, ajoelhado aos seus


pés. — Jiminie, por favor, não me dispensa, não me abandona. Eu não
posso viver sem você! Meu senhor, você é tudo pra mim!

O lúpus chorava. Culpa, pena, remorso. Aquele misto de sentimentos o


atropelava como um trem descarrilhado, com força.

— Me desculpa, Tê. Eu não posso mais fazer isso.

— Não, por favor... Eu te amo, Minie, por favor... Me dá a chance de te


fazer me amar... Eu tô implorando, me deixa ficar com você! — grunhiu,
destruído.

O moreno sequer conseguia continuar a assistir aquilo. Ver o amigo se


anular completamente por ele, disposto a continuar consigo, mesmo depois
de tudo, mesmo sabendo que seu coração jamais fora e jamais seria dele.
Mesmo sabendo que Jimin amava outra pessoa agora, mais intensamente
que nunca.

O ex-militar sentiu-se um monstro, exatamente como da vez em que Dong


Taeyang rompera o noivado dos dois. Era exatamente a mesma sensação. A
de ter nojo de si mesmo. A de se dar conta de todo o mal que havia causado.

Com o coração partido outra vez, Jimin viu seu ex-submisso e ex-amigo ser
levado embora, aos prantos, destruído. Jimin seria capaz de se perdoar?

A nova lojinha da nebularae a @ nebulakpopstore no twitter, começou a


produzir mimos de Incandescente ❤ É só entrar lá. Até sábado ;)
32| the other face of the snake
#CobraSorrateira

10 anos atrás

Jimin desceu do táxi, batendo a sola dos coturnos bem engraxados no


concreto. Sentiu os olhares de todos os universitários, que papeavam na
porta daquela universidade, direcionarem-se curiosos pra si.

Ele segurou um sorrisinho de lado, e jogou a bagagem pesada por cima do


ombro, adorando toda aquela atenção. Essa era a melhor parte de quando
tinha folga na Academia da Força Aérea: sentir os olhares respeitosos,
admirados e desejosos sobre si e sua farda branca, ao sair na rua.

O uniforme branco bem alinhado, chamava a atenção por si só. Não


bastasse isso, seu corpo forte, pequeno e musculoso, ajudava um bocado.
Ele adorava o quanto sua bunda volumosa ficava bonita na calça branca
apertada, e em como o quepe branco o deixava sexy.

Pra um adolescente de quase 19 anos, no início da graduação para aviador


militar da Nova República Coreana Unificada, Jimin tinha tudo o que
podia querer, e estava no caminho pra ser algo ainda maior.

Ele atravessou o campus do qual era nada íntimo, buscando a lanchonete


da Universidade das Artes, onde o melhor amigo Yoongi vinha cursando
Música, e havia combinado que o estaria esperando.

Foi quando avistou, sentado à mesinha de plástico, perto de um elegante


chafariz, os cabelos tingidos de vermelho escuro do amigo, junto a um
outro rapaz de cabelos pretos e franjinha reta.

Sorrindo, Jimin se aproximou da dupla, e antes que estivesse em cima


deles, Yoongi já levantava da cadeira, num pulo.

— Pensei que tava vindo de ré, mirradinho! — provocou o ômega, como já


era de costume.
— Vai tomar no seu cu e me dá um abraço! — o alfa lúpus adolescente
devolveu.

— Eu não... — Yoongi implicou, cruzando os braços.

O Park suspirou e puxou o amigo contra a vontade, abraçando-o apertado


pra um caralho. Se Min Yoongi fosse uma panela, seria a de pressão.

— E aí, calouro. Me deixe ver o que fizeram com o seu cabelo... — Yoongi
já foi puxando o quepe branco da cabeça do militar. Jimin sorriu sem jeito,
e fez careta ao ter a cabeça de fios curtíssimos revelada. — Minha nossa...
Passaram máquina 1 em você! — o avermelhado danou a rir. —
Irmãozinho, o formato da sua cabeça é esquisito!

— Esquisito é o teu espírito, seu vampiro! — o moreno retrucou, puxando o


quepe de volta pra si. — Vai tomar um sol, a falta de vitamina D absorvida
pela pele causa degeneração cerebral, sabia? Por isso você tá assim...

O — naquela época — ruivo revirou os olhos, e então voltou-se ao seu


amigo moreno de franjinha, sentado ainda à mesa, observando, tímido e
calado, às saudações esquisitas do casal de amigos de infância.

— Ei, TêTê! Esse é o famoso Park Jimin! Jimin, este é Lee Taemin, meu
amigo do curso de dança.

O dançarino se levantou, com muita timidez, e cumprimentou o Cadete com


uma reverência.

— Prazer em conhecê-lo, Jimin-ssi. Yoongi hyung fala muito bem de você!

O Park sorriu e piscou um par de vezes, observando bem a figura esguia a


sua frente, para logo em seguida tomar a mão dele na sua, e, galante, selar
o dorso, dando-lhe um sorriso de lado.

— O prazer é todo meu, Taemin-ssi — devolveu com a voz macia, sedutora.

A brisa suave imediatamente levou o cheiro de patchoulli do novo


conhecido até suas narinas, revelando a classificação alfa de Taemin. E
Jimin já havia aceitado sua atração inegável pelo cheiro dos de mesma
classe que a sua, e experimentado uma foda alfa x alfa, da qual havia saído
extasiado.

— Ei, ei, ei! Se aquieta, seu Dom Juan do inferno! — Yoongi ralhou. —
Não caia nos encantos dele, TêTê. Sério, eu tô te avisando, Jimin é um
galinha.

Ignorando às provocações do amigo, o aspirante a aviador militar deu uma


piscadinha safada pro alfa Taemin, totalmente interessado. O cara era
bonito demais, e aquela timidez toda diante de si, causava um rebuliço na
libido do Park, e uma explosão deliciosa em seu ego. Ele adorava aquele
tipo de expressão inocente quase beirando o infantil, sentia-se atiçado,
fazia-o sentir-se alguém realmente importante e imponente.

— Então, Taemin-ssi... Você vai ao clube com a gente semana que vem?

— É claro que ele vai! — Yoongi respondeu pelo amigo, o abraçando de


lado. — Mas é você quem vai desenrolar a entrada dele na portaria — foi
logo dizendo.

— Quem vai estar na porta? A Thammy?

— Provavelmente.

— Então é mole. — Fez pouco caso. — Cara, esse campus é muito massa!
Sinceramente, o único defeito da Academia da Força Aérea, é ser em
regime de internato.

— Deve ser bem ruim ser adolescente e não poder curtir sua liberdade... —
Taemin comentou, puxando assunto.

— Eu não sou adolescente. Já vou fazer 19 anos! — o Park retrucou. —


Quantos anos você tem?

— Vinte.

— Oh... Você é mais velho... — assimilou, um tanto surpreso. Jimin não


gostava de ser sempre o mais novo entre os amigos, assim era mais difícil
ser respeitado, já que a cultura da sociedade em seu país definia hierarquia
por idade.

— Então, a gente vai comer ou quê? — Yoongi chamou a atenção dos


amigos, batendo palmas. — Eu tô com fome!

[...]

Yoongi e Taemin esperavam pelo Park na portaria da boate, ansiosos. E


dez minutos depois, o Cadete saía por uma portinha no canto,
desamassando suas roupas, limpando as marcas de batom roxo manchando
seus lábios, sendo seguido por uma alfa fêmea, com o batom borrado, logo
atrás.

— Bem... — ela sorriu, ao se posicionar na recepção, sorrindo meio


envergonhada. — BabyJ foi bem convincente. Vocês podem entrar — e
liberou o acesso dos três amigos pra dentro do clube. — Bem-vindos à The
Cave.

Naquela época, Jimin ainda insistia em ficar com fêmeas, quando estas
eram alfas. O corpo feminino não lhe parecia atraente, mas o aroma forte e
amadeirado, sim.

Os três entraram na boate escura, sendo agraciados pelo ar gelado,


escuridão, gelo seco, e as batidas graves da música sensual.

— Eu vou procurar meu Dominador. Já volto, não saiam daqui! — Jimin


avisou, se afastando e logo sumiu em meio à multidão.

— Isso não é meio que traição? — o inocente Taemin indagou ao amigo de


fios vermelhos. — O Dominador dele tá aqui dentro, e ele se agarrando
com aquela alfa lá na porta...

— Não. É tranquilo. A relação deles não é exclusiva, e também não é um


namoro. É só uma relação de Dom e sub, além do cara ser o mentor dele no
BDSM... — explicou o ruivo. — Agora vem, vamos dançar!

[...]
— Jimin, espera aí, eu preciso atender ao telefone! — o alfa disse, entre
risadinhas, tentando escapulir do corpo menor e mais pesado, em cima do
seu.

— Não! — o Cadete resmungou. — Meu pau tá duro, TêTê, meu pau é mais
importante que esse telefone...

— Não é não. Quem tá ligando é a minha mãe, ela sempre liga nessa
horário. Se eu não atender pra dizer que tá tudo bem, meus pais surtam e
pegam um jatinho de volta até aqui, imediatamente...

E aí se desvencilhou do amigo, com quem se agarrava no sofá, alcançando


rapidamente o telefone em cima da escrivaninha.

— Oi, mãe! Sim, tá tudo bem sim... Uhum, já comi. Não, mãe, não vou
trazer ômegas pra casa — revirou os olhos, vendo Jimin rolar de rir no
sofá. — Não, mãe, nem betas também. Sim, eu sei, camisinha e
contraceptivos quando estiver no cio. Eu não vou engravidar ninguém! —
afinou a voz, alarmado.

Taemin fitou a bolsa de couro aberta ao pé do estofado, e todos os


acessórios aparecendo pelo zíper aberto: Mordaças, cordas coloridas,
chicotes, palmatórias, algemas, vendas... Ele havia se interessado um
bocado pelas coisas que via na The Cave, quando ia com os amigos. E eles
iam com muita frequência. Então Jimin se ofereceu para experimentar com
ele.

O Park não era um dominador, era um submisso. Contudo, ele vinha


experimentando um pouco de dominação, secretamente, com seu próprio
DOM. E agora, ele experimentaria um pouco com Taemin também.

— Volta pra cáaaaaaa — Jimin resmungou, com sua típica voz reclamona,
que sempre usava pra manipular com aquela maldita fofura.

— Foi o palhaço do Jimin, não é nenhum ômega, minha nossa, mulher! Tá


bom. Mas eu não estou em rut! Tá legal. Uhum. Beijo. Também te amo.
Tchau. — E desligou o aparelho. — Mamãe mandou um beijo pra você, e
disse pra gente não engravidar ninguém — falou rindo.
— Então ainda bem que alfas não engravidam outros alfas — o lúpus
retrucou, com um sorriso sacana, enquanto puxava Taemin para seu colo.
— Então... Onde paramos?

[...]

9 anos atrás

Taemin acordou com o corpo dolorido. Encarou o quarto bagunçado, e a


luz do sol entrando pela janela de vidro, revelando as partículas de poeira
dançando no ar.

Ouviu uma fungada alta ao seu lado, e volveu-se para a pessoa deitada a
seu lado no colchão.

Jimin estava deitado de bruços, em um sono profundo. O corpo nu exibia as


nádegas brancas e redondinhas pra cima, e tanto elas, quanto as costas
estreitas do alfa lúpus exibiam vergões vermelhos de unhadas.

Taemin sorriu de lado, ao checar mais de perto as marcas feitas por ele no
corpo do moreno. E então observou o próprio corpo, cheio de manchas
roxas, arranhões e marcas de tapas. Jimin era praticamente um animal
completo na cama. E Lee Taemin havia adorado, assim como tinha
adorado a vez anterior, meses atrás, em que aquela amizade fora um pouco
além.

Jimin era, definitivamente, a melhor transa da sua vida.

Lembrando-se de flashes dos três dias de rut do militar, ele mordeu o lábio,
apreensivo. Ele queria marcar Jimin. Suas gengivas coçaram, as presas
lupinas querendo descer e rasgar as mucosas. Aquilo não seria possível,
seria? Um alfa comum, sentindo vontade de marcar um alfa lúpus?

Era impossível! Mas ele havia sentido.

Teria o Park, sentido tal necessidade também?

[...]
— Vocês vieram! — Taemin exclamou, todo contente.

— A gente não ia perder sua festa de aniversário, lobinho, tá doido? Que


tipo de amigo eu seria? — Jimin apontou, agarrando o amigo num abraço
apertado. — O atraso foi culpa do Yoongi hyung, que demorou três horas
se arrumando, pra no fim das contas, vir de cosplay da Noiva do Chucky!

— Jimin, se eu tivesse um copo de água, e você estivesse pegando fogo, eu


beberia a água — o ômega retrucou, tomando Taemin pra si, e dando-lhe
um rápido abraço de aniversário. Diferente do Park, ele não era lá muito
fã de contatos físicos exagerados.

— Ei, TêTê, já está bêbado? — perguntou o Cadete, olhando as pessoas ao


redor, dançando e se divertindo.

— Ainda não... Só um pouquinho — o alfa fez sinal com indicador e o


dedão unidos, de maneira cômica.

O Park caiu na gargalhada, se jogando pra trás.

— Meu Deus, você é uma coisa fofa, TêTê! — Jimin retrucou, apertando a
bochecha do amigo, que já tinha os olhos um tantinho caídos e um sorriso
frouxo nos lábios cheios. — Te amo. Feliz aniversário, hyung!

O alfa esguio sentiu suas bochechas corarem — sabia não ser pelo efeito
do álcool na corrente sanguínea, mas sim pela fala do amigo, que
constantemente mexia consigo e fazia suas pernas vacilarem.

— Ei, deixe eu apresentar meu outro melhor amigo a vocês! — Taemin


mudou de assunto, então.

— Que história é essa de outro melhor amigo? — o militar retrucou,


indignado, com uma expressãozinha cômica na face. — Você tá ouvindo
isso, Yoongi hyung?

— Relaxa cara, é um beta amigo dele de infância, tipo eu e você.

— E daí? — Jimin devolveu, enciumado. — Nós somos um trio, Lee


Taemin. Trio! Trio de 3, não de 4! Somos os três mosqueteiros!
— Com muito álcool, IRRA! — o aniversariante exclamou, meio
cambaleante, enquanto jogava uma dose de tequila goela abaixo. — Oh, ali
está! — Apontou pra alguém descendo as escadas —: Taeyang hyung,
venha aqui! Me deixe te apresentar os meus outros amigos!

[...]

— Então, tô bonito? — Jimin indagou, em pura excitação, dando uma


voltinha pros amigos.

Yoongi e Taemin avaliaram o look do militar de cima a baixo, antes de


soltarem muxoxos de aprovação.

— Vai lá, mirradinho, seu date está esperando. Divirta-se — o ex-ruivo, e


agora moreno, Min Yoongi, disse antes de voltar seu olhar ao computador.

O alfa lúpus sorriu satisfeito, e então girou os mirantes pra Taemin,


sentado no sofá, de onde encarava fixamente à tela da tevê, embora
estivesse nos comerciais.

— Ei, TêTê... — o militar sentou-se cuidadosamente ao seu lado, o fitando


com atenção. — Tem certeza de que tá tudo bem eu sair com o Taeyang?

O outro alfa piscou algumas vezes, antes de responder, com um sorriso


solto:

— Claro que tá tudo bem, lobinho! Eu já disse, divirta-se!

— Não é estranho pra você? — insistiu. — Mesmo, mesmo? Quero dizer, o


cara é seu melhor amigo de infância, e eu e você já tivemos um lance,
então...

— Tá tudo bem, Jiminie. É sério. Vai logo, não deixe ele esperando,
Taeyang hyung detesta atrasos — disse em tom de aviso, arqueando uma
sobrancelha.

— Tudo bem, então! — o Park se levantou do sofá rapidamente, batendo


palmas. — Me desejem sorte, caras! — E saiu porta afora.
Assim que o lúpus bateu a porta da casa do Min, o sorriso de Taemin
morreu. Ele cravou as unhas na parte interna do braço, com mais força do
que deveria.

Os olhos do ômega desviaram da tela do computador, e fitaram o amigo,


atentamente.

— Por que insiste em mentir, TêTê? — perguntou. — Por que não disse a
Jimin que não queria que ele saísse com Taeyang?

— Não sei do que você tá falando — o alfa fez pouco caso, levantando-se
do estofado. — Acho que vou dormir, tô um pouco cansado. Boa noite,
hyung.

— Não, senhor. Volta aqui — Yoongi comandou, com a voz séria. E


imediatamente o amigo obedeceu, como sempre fazia, não só por respeito
hierárquico, mas porque esse era o efeito de Yoongi e Jimin sobre ele,
desde sempre. Traziam à tona seu estado de submissão, até então,
desconhecido.

— Hyung... — o moreno gemeu, contrariado, e cruzou os braços na frente


do peito, bufando alto, fazendo os fios retos de sua franja bagunçarem. —
Já disse que tá tudo bem. Eu e Jimin nunca tivemos romance. A gente só
ficou duas vezes. Ele é meu amigo, Taeyang também. Se eles ficarem juntos,
vai ser ótimo.

— Você pode ser bom em manipular o Jimin, mas não a mim. Eu sei que
você tá mentindo, Tê. Te conheço como a palma da minha mão. Você gosta
dele.

— Engano seu — teimou. — Não é assim...

— Taemin — o ômega se levantou da cadeira, e parou em frente ao alfa,


olhando-o intensamente no fundo dos orbes puxados. — Já parou pra
pensar se eles dois se apaixonarem?

— Isso não vai acontecer. Jimin é... um espírito livre — rebateu. — Ele não
é do tipo que se prende à alguém por muito tempo. Eles vão ficar algumas
vezes, e logo Jimin vai enjoar.

— E se não enjoar? Pra tudo tem uma primeira vez. Não é porque Jimin
nunca se relaciona à sério com alguém, que isso não possa acontecer.
Porque vai acontecer, TêTê. Em algum momento ele vai se apaixonar, Jimin
não é arromântico nem nada, ele só vive ocupado com os estudos, e acaba
não tendo tempo pra romance, por isso ele acaba sendo galinha, como você
sabe...

— Tá legal, mas ele e Taeyang não tem nada a ver! — Deu um sorriso
debochado forçado. Porque ele não estava debochando, realmente. Ele
estava com medo, mas estava desesperado para ocultá-lo. — Conheço os
dois como a palma da minha mão. Eles não combinam. Isso não vai durar.
Taeyang é preconceituoso até mesmo com pessoas que se relacionam com
os de mesma classe. No segundo em que ele souber que Jimin também curte
alfas, ele vai se afastar...

— E se ele nunca souber? Jimin não espalha as preferências dele por aí,
sabe...

— Eles não vão ficar juntos, já disse. Não estou preocupado. E também não
estou apaixonado por ele. Jimin é meu melhor amigo, assim como você e
Taeyang. Agora, boa noite, hyung. Não fique a noite inteira no computador,
faz mal pra vista, especialmente a vista lupina. — E com um sorriso
forçado, subiu as escadas.

Min Yoongi esfregou o rosto entre as palmas, e sentou-se novamente em


frente ao computador, pensativo.

— Isso vai dar merda... — murmurou sozinho.

[...]

8 anos atrás

— Eu mal posso acreditar! — o Park exclamou animado, dando gritinhos


de excitação. — Eu arrasei na prova prática do T-25 Universal! Vocês tem
noção? Todo Cadete sonha com essa momento, desde o primeiro ano da
graduação!

— O que tem demais nesse "aviãozinho"? — indagou Taeyang, com os


braços rodeando o pescoço do, há pouco mais de um ano, namorado.

— Como assim "o que tem demais", amor? — o militar rebateu, em tom
quase indignado. — Você não ouve nada do que eu falo? O T-25 é a
primeira aeronave de instrução básica que a gente pilota na Academia de
Aviação! Até agora eu só tinha pilotado em simulados, tipo video-game. Eu
espero por isso desde meus tempos de calouro!

— Ele é assim mesmo, Jiminie... — provocou Taemin. — Taeyang só escuta


o som da própria voz. Diz a lenda que quando ele olha nos olhos de outra
pessoa, só enxerga o próprio reflexo. — Sorriu perverso.

— Ah, cala essa boca, bailarino! — retrucou o beta, se soltando do


namorado para capturar uma almofada no sofá, e atirá-la contra o rosto
do amigo.

[...]

7 anos atrás

— Ah, ocidentais são tão bonitos... — Jimin resmungou, com a boca cheia,
olhando pra tevê gigantesca na parede do Min, recostado dentro do abraço
do noivo, sentados no tapete felpudo.

— Também acho... Especialmente aquelas pessoas ruivas de olhos claros...


São tão diferentes — Taeyang comentou.

— Mesmo? Eu gosto muito de loiros. Os cabelos claros chamam tanta


atenção... Eu não consigo desviar os olhos — retrucou o Park.

Sentado no sofá, atrás do casal, estava Lee Taemin, emburrado. Mas ele
ouvia com atenção à conversa dos amigos.

Então um pensamento sombrio cruzou sua mente: "E se eu tivesse uma


aparência que ele gosta muito? Ele olharia de novo pra mim? Eu deveria
pintar o cabelo dessa cor?"

[...]

— Jiminie... Ei... Bebe um pouquinho de água, aqui — Taemin pediu,


entregando um copo cheio ao amigo, sentado à beira da janela, em seus
pijamas.

O Park encarava a rua lá fora, com o olhar desfocado. Não enxergava


nada realmente. Estava perdido em pensamentos dolorosos. As lágrimas
secas deixaram seus rastros em cada bochecha do militar, os olhos fundos,
e os lábios grossos rachados.

— Obrigado — ele sussurrou, apático e quase sem voz.

Taemin desviou o olhar pra porta do quarto, ao ver Yoongi e seus fios
recém-tingidos de azul, o fitarem do portal, chamando-o com o dedo.

O alfa deixou um beijo carinhoso no topo da cabeça do outro alfa, antes de


se afastar e ir até o corredor conversar com o Min.

— Como ele tá? — o azulado indagou em voz baixa.

— Na mesma — Taemin respondeu, desgostoso. — Ele não fala, não sorri,


não come, não bebe, só chora, o tempo todo.

— Dong Taeyang é um completo idiota! — Yoongi rosnou, irritado. — Juro


que se eu vir a cara dele na minha frente, eu desço o cacete nesse viado, até
ele não conseguir mais andar!

O Lee suspirou, abatido e pesaroso. Acima de tudo, ele sentia uma culpa
que corroía até o fundo de sua alma.

— E Jimin é outro idiota! — o ômega continuou, andando de um lado pro


outro, puxando os próprios fios de cabelo tingidos. — Quem é burro o
suficiente pra deixar uma mala cheia de acessórios fetichistas em casa,
sabendo que tem um noivo absurdamente preconceituoso? Por que ele não
escondeu isso? Não é como se ele estivesse usando, recentemente... Ele
podia ter deixado na minha casa! Esse idiota...
— Não fala assim dele, hyung — Taemin repreendeu. — Não foi culpa do
Jimin...

— Então foi de quem? — o ômega devolveu, exasperado.

"MINHA!" Taemin queria gritar. Ele havia, propositalmente, deixado cair a


mala aberta aos seus pés, quando ajudava Taeyang a empacotar as coisas
pra mudança, revelando os acessórios fetichistas depravados de Park Jimin
ao noivo.

Se ele soubesse o estado em que o Park ficaria com o rompimento da


relação com o beta, Taemin jamais teria feito aquilo. Tudo o que ele queria
era que Taeyang fizesse um escândalo, e Jimin pudesse enxergar quem o
beta realmente era: um preconceituoso fodido, egocêntrico, que apenas
olhava pro próprio umbigo, e julgava todo mundo ao seu redor.

Jimin não merecia alguém assim. Jimin era o homem mais maravilhoso que
Lee Taemin conhecia. Ele merecia alguém que fosse bom pra ele, que o
cuidasse, o servisse e vivesse totalmente devoto a ele, coisa que Dong
Taeyang jamais faria. A única preocupação do beta, era em terminar a
faculdade de Direito, e finalmente tornar-se sócio no escritório da
madrasta. Jimin era a última das preocupações na lista de prioridades
dele, e Taemin sabia disso.

Mas ao ver o estado catatônico no qual o militar havia entrado após o


rompimento do noivado com o outro, Taemin sofreu, internamente
amargurado pela culpa e remorso. Várias vezes se viu a ponto de confessar
o que havia feito a Jimin, mas morria de medo. Sabia que o militar jamais o
perdoaria. Sabia que perderia seu melhor amigo — e seu grande amor —
pra sempre.

Aquela era uma culpa que ele teria que carregar pro resto de sua vida.

[...]

Taemin, passou a mão pelos fios de cabelo recentemente platinados. O tom


quase branco contrastava bem com a sombra escura em seus olhos, dando-
lhe uma aparência sexy e selvagem. Havia feito aquilo por Jimin. Havia
descolorido os fios daquele jeito, na tentativa de conquistar o desejo do
Park. O militar finalmente estava solteiro, então era a sua chance de ter
Jimin pra si de vez.

Todavia, o platinado observou, mais no canto da pista de dança da boate,


Jimin trocar um beijo lascivo com dois submissos encostados na parede, ao
mesmo tempo. Desde que rompera o noivado, o militar parecia ter se
entregado à própria luxúria, como forma de escapulir do sofrimento.

O alfa revirou os olhos e bufou, voltando a dar atenção a sua garrafa de


cerveja. Ao menos Jimin já havia assumido pra si e pra todos, que não
gostava de mulheres, então o dançarino não precisava ver o amigo — por
quem era secreta e desesperadamente apaixonado — se amassando com
fêmeas por aí — o que já diminuía um bocado o número de pessoas com as
quais ele teria que lidar.

— Ei, TêTê! — ouviu a voz melodiosa do militar, antes de sentir os braços,


agora magros, por conta da perda de peso recente, o rodearem. — Vem
sempre aqui? — Mexeu as sobrancelhas de um jeito cômico, antes de soltar
uma risadinha escandalosa e alterada.

— Jiminie... Por que você me deixa sozinho, pra se agarrar com todo
mundo, poxa? Você é tão mau comigo... — Fez um bico manhoso.

— Oh, o lobinho quer atenção, uh? Por que você não aproveita pra ir à
caça? Já fazem anos que você frequenta a The Cave, e até agora não
arranjou um Dom fixo pra você!

— Por que quer tanto que eu arrume um Dom? É pra se livrar de mim? —
rebateu, chateado.

— Claro que não! É porque sei que você gosta da coisa... — o Park lhe
lançou um sorriso depravado. — E eu lembro muito bem o quanto você
gosta... — flertou, um pouco bêbado, referindo-se à experiência que os dois
compartilharam juntos, anos atrás, logo do início daquela amizade.

Taemin sentiu as bochechas queimarem, ao mesmo tempo que uma


excitação contorcia seu âmago.
— Não sei se gosto... Você só me deixou experimentar uma vez — disparou,
fitando os olhos rasgados do lúpus, intensamente. — Talvez eu precise de
uma confirmação...

Jimin mudou a postura, esticando a coluna e encarando o amigo com um


olhar diferente, mais intenso e menos brincalhão.

— Não seja por isso — ele respondeu, puxando o alfa mais alto pela mão,
para fora da boate, em direção à sua casa.

Naquela noite, Lee Taemin tornou-se, oficialmente, o submisso do


AlphaDome.

[...]

3 anos atrás

— Ai, TêTê, ele é tão lindooooooooo... — Jimin suspirou, rolando no tapete


da sala do amigo e submisso. — Ele tem um sorriso fofo, os dentinhos meio
pra frente, como um coelhinho, uma carinha inocente, os olhinhos
redondos, as sobrancelhas grossas e uma testa bonita... — Suspirou. — E
cara, você tem que ver aquele corpo... Que filho da puta gostoso do
caralho! Ele tem uma cinturinha tão fina... — disse com um rosnado. — Ah,
porra, se eu fodesse ele, poderia morrer feliz, é sério. Esse garotinho é meu
tipo ideal, completamente.

— Você tá apaixonado? — Taemin o encarou seriamente.

Jimin imediatamente travou, fechando o sorriso, e se apoiou com os braços


pra trás, para encarar o amigo sentado no sofá.

— Apaixonado? Não vá tão longe, TêTê. Sabe que eu não faço isso. Eu não
me apaixono.

— Não vai mais vender a casa? Vai continuar morando lá, só por causa
dele? E diz que não está apaixonado?

— Sim. Sim. E sim.


— E se ele não quiser ficar com você? E se ele não gostar de alfas? E se
vocês transarem, e depois ficar um clima estranho?

— Aigoo, TêTê, por que está tão preocupado com isso? — o militar disse se
levantando e enchendo sua xícara de café. — Está com ciúme? — Deu um
risinho brincalhão. E logo em seguida precisou fugir do controle remoto
sendo atirado em sua direção.

[...]

2 anos atrás

— Eu gosto mais do WonHo — declarou Taemin, acariciando os cabelos do


Park, que tinha a cabeça deitada em seu colo. — Qual o nome verdadeiro
dele mesmo?

— Lee Hoseok. Ele é bem gostoso, né? — o Tenente-Coronel soltou uma


risada safada, sorrindo pro submisso. — Mas e o Kai? Você já viu as Cenas
dele? Quando ele está como Dom, minha nossa, ele é incrível! Gostaria de
trocar conhecimento com ele. E quando ele encarna o papel de submisso...
— o militar lambeu os lábios, excitado. — É sério, só de pensar eu já fico
atiçado.

— Eu também acho ele maravilhoso. Pra mim, seria incrível ter um irmão
de coleira switcher. Porque, quando estivéssemos só eu e ele, ele poderia
me dominar. Mas me preocupo em relação à você. E se ele não for muito
obediente e te afrontar?

— Ele não parece desobediente, pelo contrário...

— Ainda prefiro WonHo.

— Então tentaremos o WonHo. — E deu-lhe um beijo na testa, se


levantando do estofado pra se espreguiçar.

Jimin foi até a cozinha, e em seguida voltou com uma caneca de café
quente em mãos, com uma expressão sonhadora no rosto bonito e anguloso.
— Sabe quem seria um irmão de coleira perfeito pra você? — disparou, de
repente. — Jeon Jungkook! — E deu um sorriso malicioso.

— O vizinho? — o Lee retrucou, sem emoção. — Ele parece baunilha, você


mesmo já disse. Tira isso da cabeça, lobinho.

— Aigoo, mas é tão, tão difícil... Você diz isso porque nunca viu ele. É
sério, TêTê, Jungkook é lindo demais! Ele é sexy e fofinho, ele... —
Suspirou, colocando a mão no lado esquerdo do peito. — Ele me deixa de
pernas bambas. Se eu não fosse tão controlado, já teria lascado um beijão
naquela boquinha gostosa dele... — disse com o olhar longe, perdido. — A
boca de Jungkook parece tãaaao apetitosa...

— Ele é abusado. Provocador. Malcriado. Respondão. E, claramente,


baunilha. Você já repetiu isso mil vezes, Jimin. Sai dessa, não vai rolar —
disse com certa irritação, mas que conseguia esconder bem através de um
tom meio brincalhão.

— Eu sei, eu sei... — o Tenente resmungou. — Mas não custa nada


imaginar, caramba. É só assim que posso tê-lo, de qualquer forma... Em
pensamentos. — Deu um gole em seu café, sentando-se no sofá outra vez.
— Sabe, anteontem eu fiquei tomando cerveja com ele na escada do prédio.
A gente começou a conversar depois do almoço, e só nos despedimos
depois que a noite virou madrugada. Eu adoro conversar com ele.
Jungkook tem uma personalidade tão divertida... É como se a gente se
conhecesse de outros universos...

Sentindo um gosto amargo na garganta, Taemin fingiu procurar alguma


coisa na estante da tevê, mas sua real intenção era esconder seus olhos
marejando, e um ciúme avassalador corroendo suas entranhas.

Ele já tinha visto aquilo acontecer uma vez. Com Taeyang. Foi exatamente
assim que começou. Por três meses, Taemin ouviu o Park devanear e se
rasgar em elogios por Dong Taeyang, até receber a brutal e destruidora
notícia de namoro dos dois. O Lee não aguentaria passar por aquele
inferno outra vez.
Já faziam 7 anos que o alfa se tornara submisso de BDSM do outro. Há 9
anos, ele se dispunha a ser o parceiro de cios do militar. Há 10, Taemin
vivia por Park Jimin, entregando-se e servindo a ele, como um devoto.
Quando diabos o AlphaDome perceberia que a pessoa certa pra ele estava
bem ali?

Eu espero que com isso vocês tenham conseguido entender as motivações


do nosso suposto "vilão". Ele não está isento de culpa, todavia, é uma
personagem digna de pena, não de ódio, capische? Ele sofreu, sofre e ainda
sofrerá por um grande amor não correspondido, pelo qual lutou com todas
as forças, e não teve êxito em conquistar.

VOTE #CobraSorrateira

Mas deixa eu falar de outra coisa: Se você tá aqui, é porque aguenta um


drama e uma leitura mais pesada, não tão clichê. Então leia Condenados,
da QueenOfLemon ☠ ☠ ☠ É uma das minhas fics favoritas!

Ela se passa num reformatório pra jovens criminosos. Jungkook é um


garoto inocente de apenas 15 anos, que tem a vida destruída ao ser
condenado pelo assassinato da namorada. Lá ele se envolve com alguns
detentos (e esses sim são criminosos de verdade), e o manda-chuva do
reformatório é Jimin, um molequinho bem perigoso e barra pesada,
que subitamente cria uma obsessão pelo novo detento.

É uma história DE CADEIA, gente, então quer for muito sensível e metido
à moralista, é melhor passar longe kkkkkk Mas quem conseguir entender
que os personagens são criminosos, e que agem como tal, se joga! É uma
leitura profunda, os personagens são intensos, é uma história bem mundo
real, sabe? Eu diria que ela tem essa mesma pegada de história adulta de
incandescente. Então é isto, leiam CONDENADOS! Puta livro do caralho!
33| fullgas

#CobraSorrateira

Jungkook se sentia vazio. Mas ao mesmo tempo prestes a pirar. Sem Jimin,
era como estar enfrentando seu próprio inferno particular. Nada ia bem.
Nada era feliz.

Se ele se arrependia de ter terminado a relação com o moreno? De modo


algum. Seu único arrependimento era não ter trabalhado suas paranoias e
sua falta de confiança, antes de se permitir se envolver com o ex-militar.

Em sua instropecção constante, o acerejado chegava à conclusão de que,


talvez, se já tivesse se consertado, se já tivesse arrumado seus defeitos, ele e
Jimin teriam dado certo. Isto é, se o dominador o amasse, de fato. Se a volta
de Taemin não fosse alterar em nada a relação dos dois.

Mas essas eram possibilidades que ele jamais poderia tirar a prova. Não
havia mais tempo. O castelo de cartas já havia ruído.

Perdido em suas próprias fantasias depressivas, Jeon sonhava com um


mundo perfeito onde ele e Jimin estariam juntos e felizes, tendo uma
relação saudável, livre de seus ciúmes e cheia de confiança mútua.

Em um mundo perfeito, Taemin ou pessoa alguma seriam uma ameaça, pois


Jungkook teria total segurança sobre a lealdade e os sentimentos do
namorado por si. Era uma utopia na qual ele se afogava.

— Eu te amo tanto, Jimin... — o garoto sussurrou para o nada, em meio à


escuridão de seu pequeno quarto, as palavras que nunca teve coragem de
falar ao lúpus.

As lágrimas finas e já familiares desceram de seus olhos, e ele sequer se deu


ao trabalho de secá-las, sabendo que ainda choraria algumas vezes mais ao
longo do dia. Era assim sua rotina, desde que seu mundo havia perdido a
cor.
As memórias dos quase seis meses juntos ficavam indo e voltando em sua
mente, repetindo as cenas de bons momentos, como num filme. E com isso,
ele se sentia torturado. Mas não queria apagar todas as lembranças. Afinal,
elas eram tudo o que tinha restado daquela relação.

Possuía a mais absoluta certeza de que os últimos meses haviam sido os


mais felizes de toda a sua vida conturbada. Nunca alguém o tinha dado
tanto carinho e cuidado. Nunca havia se sentido tão querido por alguém.
Tão amado. Ainda que o Park jamais houvesse lhe dito tais palavras, todas
as suas ações o fizeram sentir-se assim.

E ele lembrava de quando o ex-coronel quase o dissera as palavras mágicas.


E de como ele, como um idiota, havia recuado, assustado com a possível
declaração.

A verdade era que Jungkook nunca se achara digno de amor, e por isso
tinha medo de ser enganado. Não confiava nas pessoas. E não estava
acostumado a ser amado.

Então por que continuava postergando aquele sofrimento?

Porque o amava. Simples assim. Jeon Jungkook amava Park Jimin, e era
inaceitável levar o seu amor à beira do abismo. Aquele era o caminho de
todos os relacionamentos. Os problemas e as diferenças aumentavam com o
passar do tempo, fatores internos e externos se sobressaíam em meio ao
caos, e assim as relações se desgastavam.

Era assim as pessoas se cansavam umas das outras e a convivência antes


feliz, transmutava-se em algo sombrio, cheio de mágoa e rancor. E não era
assim que o rapaz queria que as coisas terminassem entre os dois. Queria
que se despedissem um do outro ainda com amor no coração, com boas
lembranças, com bons sentimentos.

E embora fosse doloroso como o inferno, se lembrar de cada minuto de


felicidade, e de cada pedacinho de céu que haviam provado juntos, saber
que havia sentido aquilo, fazia tudo valer à pena.
Jungkook agora conhecia verdadeiramente o amor e sabia disso. Havia
amado com todo o seu coração, e talvez continuasse amando pra sempre.
Mas era cedo pra dizer. Ficaram juntos por menos que seis meses, afinal. E
há um, não se viam mais. Talvez seus sentimentos fossem desproporcionais
ao tempo, fugazes como o amor ardente entre dois adolescentes
inexperientes.

Tudo era um grande talvez. E conviver com aquela incerteza o causava um


estado ansioso descomunal. Roía as unhas, a pele ao redor dos dedos,
tomava remédios se quisesse dormir. Era como se seu corpo não
funcionasse mais direito.

Aquela era uma noite fria. O ruivo se levantou da cama e meteu os pés nas
pantufas pretas de coelho que havia ganhado do dominador no natal
passado. Olhar pra elas lhe causava nostalgia, saudade. Mas ao mesmo
tempo servia como o lembrete físico de que aquilo tinha mesmo acontecido.
De que ele e Park Jimin haviam estado juntos, que mesmo por um período
efêmero haviam existido, como dois que se tornaram um. Como duas
pessoas que se pertenceram em quase todos os níveis que poderiam se
pertencer. Foram um do outro, por um breve momento. E Jungkook jamais
esqueceria disso.

Parado na frente do espelho do banheiro, ele fitou seu rosto bonito. Haviam
olheiras abaixo de seus olhos, e a despeito dos calmantes que usava pra
dormir; a face estava abatida. Os cabelos estavam desbotados, chegando ao
conhecido tom cor de salmão.

Ele não parecia bem e realmente não estava. Mas sua aparência bagunçada
não era nada, se comparada à sua bagunça interna.

Jeon ouviu seu celular tocar no quarto, e, imediatamente seu coração deu
um pulo, batendo tão forte que machucava o peito. Era sempre assim.
Qualquer notificação do telefone o deixava alarmado, porque em seus
desejos mais profundos, seria Jimin atrás dele.

Ele parou no meio do corredor, pondo a mão no peito. Não era justo que a
mera possibilidade de ouvir a voz do dominador, o fizesse quase gritar de
animação. Mas não era Jimin. Nunca era. E ele, racionalmente, agradecia
por isso. Não teria forças para rejeitar o moreno uma outra vez e sabia
disso.

O ex-militar vinha respeitando bem o seu espaço. Tentara ligar pro ex-
namorado todos os dias na primeira semana, mas na segunda não houveram
mais ligações. Houve o dia em que Jimin bateu à sua porta, bêbado, em
meio à chuva. E o Jeon se sentiu muito perto de ceder, mas foi firme e
segurou a decisão.

Ele atendeu ao celular, com o coração batendo acelerado, ao ver que se


tratava de um número restrito.

— Alô? — falou, com a voz fraca.

Só que ninguém disse nada.

Ele apenas ouviu a respiração do outro lado da linha. E Jungkook a


reconhecia, embora não obtivesse resposta.

Deitado no chão da masmorra, Jimin olhava pro próprio celular, após


encerrar a ligação silenciosa de poucos segundos. Seu coração estava
apertado, após ouvir a voz rouquinha de Jungkook dizer "alô".

Ele sentia tanta saudade, que não era mais capaz de aguentar. Doía bem na
sua alma, e aquela dor nunca passava, mesmo após um mês inteiro do
término da relação.

Jimin queria dá-lo espaço, queria que o garoto pensasse melhor, que
voltasse atrás, que se desse conta que ele o aceitava mesmo com todos os
seus defeitos, que não esperava que ele fosse perfeito, mas que com o
tempo amadurecessem juntos. Que construíssem aquele amor juntos, e
aprendessem a ser pessoas melhores um pelo outro.

Porque se de uma coisa o Park estava certo, era de que jamais desistiria de
Jungkook por vontade própria. Jamais desistiria dos dois.

Mas Jungkook havia desistido. E isso magoava o mais velho tão fortemente,
que ele era incapaz de insistir ou tentar convencer o garoto do contrário.
Sentia-se rejeitado.

O moreno se perdeu por segundos infinitos no papel de parede de seu


telefone: uma foto dele e de Jungkook, cheios de chamego, se olhando
como se vissem o mundo inteiro nos mirantes um do outro. Tudo naquela
foto e em suas expressões gritava "amor", e isso ninguém poderia negar.

Se martirizando, Jimin abriu a galeria de fotos, enquanto bebericava uma


garrafa de whisky, direto do gargalo. Sequer se dava mais ao trabalho de
usar copos.

Até mesmo as fotos safadas do ruivinho pelado, posando em expressões e


posições nada castas, o faziam suspirar de saudade, não de excitação. Havia
perdido boa parte de seus vídeos e fotos com a perda do celular antigo, mas
alguns ficaram salvos no armazenamento online, então pôde recuperá-los.

Mas nenhuma das fotos desavergonhadas que compartilharam durante o


relacionamento, mexia mais com o Park do que uma em especial:

Jungkook olhando pra câmera, sorridente, os dentinhos avantajados à


mostra, o narizinho franzido, ruguinhas ao redor dos olhos, os cabelinhos
num tom de rosa claro bem desbotado e uma expressão doce de criança
feliz.

Aquela foto representava a forma que o Park o enxergava. Aquele era o seu
menino, o seu alfa, o seu amor, seu eterno bebêzinho.

Já alterado, o ex-militar bloqueou o telefone e o abandonou no chão, dando


mais um gole na boca da garrafa, antes de voltar a deitar no piso frio da
masmorra e encarar o teto branco que refletia a luz azulada.

Jungkook fora o único submisso a usar aquela masmorra. Estar ali, era o
mais perto de Jeon e suas memórias com ele, que o lúpus poderia chegar.

Muitas das roupas do ruivinho ainda estavam espalhadas pela casa do ex-
coronel, e este não fazia a menor questão de devolvê-las. Aqueles eram os
seus lembretes do tempo em que Jeon Jungkook fora seu. Eram a prova de
que o garoto não era produto de sua imaginação, mas sim alguém que ele
amou com toda a intensidade que podia.

E ainda amava. Ah, se amava.

Assim como o Jeon, Jimin sabia que seria impossível esquecê-lo tão cedo.
A distância parecia tornar aquele sentimento ainda mais forte, e o Park se
culpava por tê-lo perdido.

Jimin se culpando de um lado, Jungkook do outro.

O lúpus havia passado todo o seu rut dopado. Além de não ter o alfa de
genes ômegas para satisfazê-lo, não havia clima. Seu coração estava
partido, e nada o impediria de pensar obsessivamente no quanto queria
aquele que partiu seu coração, ali consigo. Queria Jungkook, e apenas ele.

As lágrimas vieram, e o moreno se sentiu farto daquilo, cansado de se fazer


de forte, cansado de reprimir sua tristeza, de tentar anestesiá-la. Dessa vez,
chorou de soluçar, arranhando o chão com a ponta das unhas um tanto
crescidas, querendo descontar sua dor em alguma coisa, qualquer coisa.
Mas não havia nada.

Ele chorava não só por Jungkook, mas por Taemin também. Sentia que
havia falhado, falhado como amigo, como namorado, e como dominador
com os dois submissos. Sentia, pela primeira vez na vida, que não era digno
e nem responsável o suficiente para ter a vida de alguém em mãos. O
pensamento sombrio de que ele deveria se aposentar do BDSM, rondava
sua mente. Um erro seu, e duas pessoas saíram feridas, além dele próprio.

Se não fosse tão controlado, já teria arremessado milhares de garrafas nas


paredes, socado espelhos e atirado coisas pela janela. Porque era assim que
se sentia por dentro: enlouquecido.

Entretanto, seu exterior se contentava em permanecer em silêncio, pouco


vendo a luz do dia ou interagindo com pessoas mais que o necessário. Ele
entorpecia seus sentimentos com álcool, até que pudesse apagar, e
finalmente, não sentir mais nada.
[...]

— Se quiser já pode ir, Jungkook — Namjoon lhe disse, arrumando alguns


produtos nas prateleiras.

O garoto olhou o relógio na parede e suspirou, apático, enquanto acariciava


a aliança de prata que carregava pendurada em um cordão no seu pescoço,
símbolo de sua relação com Jimin..

— Ainda faltam quinze minutos pro fim do meu turno.

— Não tem problema. Hoje não tá tendo nenhum movimento mesmo. Vai
pra casa. Você não anda bem... — o amorenado comentou, preocupado.

— Tá legal — o mais novo concordou, cabisbaixo, tirando o avental.

— Ei... Aconteceu algo muito ruim? Você parece de luto.

— Se eu falar, você vai me achar um frouxo. Então é melhor não.

— Terminou com o militar? — o Kim arqueou uma sobrancelha, mas sua


expressão não era debochada, e sim pesarosa.

Jungkook fitou o chão, envergonhado. Detestava admitir que algo


considerado tão fútil, como o término de um namoro, fosse forte o
suficiente para deixá-lo tão abatido. Principalmente porque já havia passado
pouco mais de um mês inteiro. Só que então sacudiu a cabeça suavemente,
confirmando.

— Eu já imaginava. Ele nunca mais veio te buscar no fim do expediente —


Namjoon suspirou, sereno. — Não vou perguntar o que aconteceu, mas... É
algo que possa ser resolvido? Honestamente?

— Não — respondeu, triste. — Pelo menos não em um futuro próximo. O


problema é relacionado a mim. O problema sou eu. E eu não me vejo
mudando tão cedo, pra que a gente possa dar certo, sem que eu e meus
defeitos arruinemos tudo.
— Diz isso por que você não quer mudar, ou por que você não sabe como
mudar? — o beta arqueou uma sobrancelha.

Jeon pensou por um momento.

— Eu realmente não sei como mudar.

— Sei que você acha meus assuntos profundos demais, "coisas chatas de
nerd", como repete sempre, pra implicar comigo — Namjoon deu uma
risadinha curta, sendo acompanhado pelo alfa —, mas é bom ter alguém
com quem conversar sobre essas coisas, sabe? Alivia a tensão interna.

Jungkook ficou todo emotivo e deixou uma lagriminha escapulir, secando


rapidamente com a manga do casaco.

— Sabe... — o beta tornou a falar. — Eu tenho uma prima psicóloga. Ela


sempre me incentivou a buscar terapia pra aprender a lidar com os meus
conflitos internos. Psicólogo é um profissional de saúde mental, e todo
mundo precisa cuidar da própria mente, se não, é sua mente que te derruba.
Nada tem mais poder pra te destruir do que você mesmo.

— Você acha que eu deveria? Quer dizer, procurar um psicólogo, você


sabe...

— Acho não, tenho certeza. Faça isso, Jungkook, vai ser melhor pra você.
Não gosto de te ver tão tristonho assim, e aposto que você mesmo também
deve odiar. — Sorriu fraco. — Quer um abraço? — Namjoon indagou.

— Obrigado, feioso — murmurou, segurando um risinho de lado, entre


lágrimas.

E então Namjoon o puxou pelo ombro lhe deu um rápido abraço de urso,
terminando com tapinhas fracos nas costas, antes de ir pra dentro do
estoque.

Quando Jungkook se virou pra saída, deu de cara com um rosto conhecido:

Cabelos castanhos na altura dos olhos, rosto comprido, nariz pequeno, olhos
grandes e boca em formato de coração.
Jung Hoseok.

— Você não vai me ignorar pessoalmente, como ignora às minhas


mensagens, né? — o acastanhado questionou, esperançoso.

— Hoseok, eu tô cansado... — suspirou, sacudindo a cabeça.

— Por favor, conversa comigo — suplicou. — Eu tô sentindo saudade,


caramba. Eu preciso do meu melhor amigo...

O desbotado viu naquele rosto, sua casa. Hoseok era sua família. Era seu
porto-seguro. Estar sem ele e sem Jimin, ao mesmo tempo, era como
quebrar as duas pernas, porque aqueles dois eram suas pessoas favoritas no
mundo.

Se lembrou então, das palavras de Jimin para si: "Você não pode culpá-lo
por te amar." e ele soube que o Park estava certo. Hoseok merecia ser
ouvido, pelo menos. Não merecia ser crucificado, como um criminoso, por
ter se apaixonado ou escondido aquilo dele.

Sabendo que aquela seria uma noite longa e difícil, Jungkook olhou ao
redor e pegou a garrafa de champagne mais cara da loja.

— Vamos? — chamou o amigo.

Hoseok encarou a garrafa e o ruivinho, franzindo o cenho.

— Por que não pega algo mais barato? Champagne é pra festividades...

— E eu lá vou pagar alguma coisa? — o Jeon devolveu, encarando-o como


se o outro fosse um idiota.

O mais velho assimilou e então os dois saíram da loja, em direção ao


apartamento.

[...]

O barulho da campainha era ensurdecedor. Principalmente aos ouvidos


sensíveis de um lupino de ressaca.
Jimin levantou-se aos tropeços, derrubando uma garrafa de cerveja — por
sorte, vazia — esquecida no chão de seu quarto. Já devia ter se acostumado
a desviar das latas e garrafas espalhadas pelo chão, já que acordava daquele
jeito todos os dias.

Caminhou segurando a cabeça dolorida e apertando os olhos. Pegou o


celular e a garrafa vazia, e desceu as escadas, mal humorado.

A campainha continuava a tocar insistente e alta, então o moreno


abandonou o que tinha em mãos no balcão da cozinha, e abriu a porta sem
sequer conferir de quem se tratava.

Se arrependeu amargamente.

— SURPREEEEEESAAAAAAAA! — o casal parado à porta gritou


animado, com sorrisos enormes nos rostos.

Já Jimin, parecia um corpo atropelado. Estava descabelado, fedendo a


álcool, usando roupas maltrapilhas, a cara amassada e tinha um mau hálito
de matar.

O homem beta parado no portal foi o primeiro a abraçá-lo apertado,


sacudindo seu corpo com tanta força, que o ex-militar se sentiu dentro de
uma batedeira.

— Pai... Mãe... — Jimin murmurou, desacreditado. — O que vocês estão


fazendo aqui? Deixaram o restaurante sozinho?

— O restaurante está em boas mãos, temos ótimos funcionários, meu bem,


não se preocupe... — o beta, Park ChinHae, declarou, entrando na casa. Era
baixinho, tinhas os olhos rasgados e o narizinho largo, assim como o filho.

Jimin encarou a mãe alfa, Park Saem, elegante em seus salto altos, que
nunca tirava, sequer pra ir ao banheiro. Ela usava o mesmo terninho de
sempre, marcando a cintura — ela reclamava de ser muito reta, ao contrário
do marido beta, que tinha um corpinho violão.
A mulher era um tanto alta, mais alta que o filho e o marido, era certo. E os
saltos a deixavam ainda maior. O cabelo comprido, negro como a noite, era
preso sempre do mesmo modo: um rabo de cavalo comprido e brilhoso.

Ao contrário do filho, ela tinha olhos grandes e nariz fino, mas seus lábios
carnudos eram idênticos, além dos dedinhos e coxas grossas, como Jimin.

— Que saudade do meu pitiquinho! — ela falou em tom animado,


abraçando Jimin com tanta força, que o lúpus deu um leve gemido de dor.
— Por que você fede à bebida? — indagou, entrando na casa.

Jimin fechou a porta, saindo de seu transe assustado, e correu pra sala, onde
os pais largavam as bagagens. E então precisou lidar com o pai beta
observando cada cantinho da sala, com uma expressão desacreditada na
face, e as mãos na cintura.

— Jimin, o que é isso? — o homem se alarmou, ao ver a zona de guerra que


parecia aquele lugar. — Você deu alguma festa?

Sem ter nenhuma desculpa melhor do que aquela, o ex-coronel se adiantou


e começou a catar as dezenas de latas e garrafas espalhadas pela sala.

— Não foi bem uma festa, paizinho — mentiu na cara dura —, só chamei
alguns amigos pra cá ontem à noite, pra beber e... jogar vídeo-game.

A alfa Saem olhou em direção à tv e franziu o cenho, confusa.

— Mas que vídeo-game? Não tem console nenhum aqui...

O filho engoliu em seco, os pensamentos acelerando como uma máquina


velha que fazia barulho.

— Ah, sabe o que é... — coçou a nuca e deu um sorriso forçado, sem graça.
— É que quem providenciou o console foi o Jungkook, meu vizinho ali do
prédio da frente.

— Não acha que está fumando demais? — ChinHae apontou pros vários
cinzeiros cheios de bitucas apagadas nas mesinhas. — Você por acaso está
tentando morrer antes do tempo?
— Paizinho... — Jimin murmurou, cansado. Seus pais não deveriam ver
aquela bagunça. Não deveriam vê-lo daquele jeito, acabado, desleixado, no
fundo do poço. Por que diabos eles não avisaram que estavam vindo pra
cidade?

— Pitiquinho — disse a mãe, se aproximando e segurando o rosto do


delicado do filho entre as mãos grandes. — O que está havendo? Você não
nos engana, sabe disso, certo? Você só fuma quando está estressado, e
nunca foi bagunceiro, sempre foi muito disciplinado. Eu só te vi beber em
excesso assim uma vez...

— Nem se atreva a dizer o nome daquelezinho, Park Saem! — o beta


resmungou, com desdém.

— Paizinho, eu já superei Taeyang há muito tempo. Não é um problema


dizer o nome dele.

— Não importa, falar de coisa ruim, atrai! — retrucou.

A alfa suspirou e sacudiu a cabeça, ignorou o marido e voltou sua atenção


ao filho.

— Não ligue pra ele, sabe como ChinHae é dramático. Nós estamos aqui
pra cuidar de você, pitiquinho. — E deu um beijo na bochecha de Jimin,
limpando a mancha de batom logo em seguida, com os dedos roliços
adornados de unhas azuis. — Agora vá lá pra cima tomar um banho e ficar
cheirosinho, uh? Eu e seu pai vamos limpar isso aqui. — O empurrou em
direção às escadas, dando um tapa estalado na traseira do mais baixo.

— Mãezinha, não precisa. Deixe que eu cuido disso...

— Vai logo — ela disse firme, apontando pras escadas transparentes.

Sem muita alternativa, o lúpus obedeceu. Aproveitou pra apagar as luzes da


masmorra e fechar sua porta com a chave, de modo que seus pais não
acabassem descobrindo o quarto acidentalmente. Ficariam muito
impactados com o show de bizarrices.
Jimin tomou um banho demorado e um remédio pra ressaca. Somente
desceu pro primeiro andar, quando secou os cabelos e ficou apresentável o
suficiente pros pais.

Encontrou a sala arrumada, os sacos pretos de lixo na porta, e os pais


fazendo comida na cozinha.

— Ei, não precisa disso! Vamos pedir comida pelo telefone... — ele disse,
com a voz reclamona.

— E por que a gente pediria comida de restaurante, se somos os donos de


um? — devolveu o beta ChinHae, cortando legumes. — Nenhuma comida é
melhor que a nossa, meu bem. Não está com saudades da minha comida? —
apertou os olhos pro filho.

A alfa Saem tossiu e zombou, murmurando pro filho:

— Dar ré, abortar missão, pi pi pi!

Jimin gargalhou, vendo o beta bater com o pano de prato na mulher.

— É claro que eu estava com saudades — Jimin respondeu. — E não era só


da comida. Era disso. De vocês dois aqui comigo — disse estendendo os
braços pra abraçar os dois pais ao mesmo tempo.

— Mas é um pitiquinho mesmo! — a alfa disse apertando suas bochechas e


balançando o rabo de cavalo enorme, de um lado pro outro.

— Onde está Yoongi? Chame ele pra almoçar com a gente! — o beta
declarou animado.

— Yoongi hyung está trabalhando nesse horário. Mas podemos visitá-lo no


final de semana.

— E Taemin? — indagou Saem, com um sorriso. — Taemin é tão delicado,


bonito e educado! — suspirou. — Um alfa pra ninguém botar defeito!

Jimin se fez de rogado, deu às costas e fingiu procurar por algo na


geladeira. Não tinha como explicar a situação com Taemin, nem em um
milhão de anos. Então ele sabia que teria apenas que sorrir e acenar.

— Ah, se eu tivesse vinte anos a menos, Taemin não me escaparia... —


disse ChinHae.

— Pai! — Jimin repreendeu, arregalando os olhos.

— Eu sou velho, mas não sou cego! — retrucou o beta.

— Mãe! — grunhiu, pedindo ajuda à alfa.

— Ignore seu pai — disse Saem —, eu faço isso — deu de ombros. — Por
que não o chama pra almoçar com a gente, então? Eu sempre vejo os vídeos
e as fotos que ele posta na internet. TêTê é um excelente dançarino! Uma
estrela! Ele já voltou do Japão, não já? Vimos a foto que ele postou de
vocês três juntos um dia desses... Os três mosqueteiros! — a mulher disse
contente.

— Hmn... Ele também está trabalhando agora, mãezinha — inventou. — Eu


não quero dividir vocês com ninguém, caramba.

— Ai, que ciumento... — provocou a mulher.

— Esse é o maior defeito de vocês, alfas — retrucou o beta. — Sempre


querem a atenção de tudo e todos só pra vocês. Hum — bufou, desdenhoso.

— E não era você que 'tava ainda agora se rasgando em elogios pro meu
amigo alfa, que tem metade da sua idade? — Jimin rebateu. — Você não vai
falar nada sobre isso, mãezinha? Ele disse essas coisas bem na sua frente!
— arregalou os olhos e inflou as bochechas, em estado de pura indignação.

— Eu deveria me incomodar? — zombou Saem. — Seu pai está tão velho,


que quando ele se agacha, os ossos dele estalam. Tenha dó. Além do mais,
Taemin nunca olharia pra essa peça de museu. Ainda mais tendo uma
versão mais nova e mais bonita dele, bem aqui — apertou os braços do
filho.

Jimin se engasgou com a própria saliva. Seus pais não sabiam de suas
preferências sexuais. Não sabiam sobre seus gostos por alfas e betas,
somente. E, principalmente, não sabiam sobre sua amizade colorida com o
amigo Taemin. Então, aquela insinuação era absurda demais.

— Isso não seria possível, mãezinha — disse sorrindo amarelo,


completamente tenso. — Taemin é alfa e eu também.

— E o que tem? — ela indagou, o encarando atentamente.

Jimin, quase suando frio, sentou-se à mesa e deu atenção à caneca de água
quente onde colocaria seu café solúvel.

— Somos apenas amigos — disse então.

Seus pais ficaram um momento em silêncio, e o moreno os viu trocarem


olhares significativos; o que apenas o deixou cabreiro demais.

— Você não perde esse vício em café? — o beta trocou de assunto. — Seus
dentes vão ficar amarelos e isso ainda vai te causar uma gastrite, sabia?

— Mas essa é a minha primeira caneca do dia! — Jimin retrucou, com a


voz reclamona usual.

A família reunida permaneceu conversando por uma hora inteira, enquanto


os pais contavam as várias novidades pro filho e terminavam de fazer a
comida. Contaram sobre os artistas que visitaram o restaurante, contaram
sobre as fofocas entre os funcionários, sobre os novos cardápios, sobre as
peripécias do novo cachorro — que deixaram com a vizinha, enquanto
viajavam —, além da reforma da casa.

Jimin estava, pela primeira vez, genuinamente feliz. A visita dos pais estava
acontecendo em boa hora — a despeito da surpresa tê-los feito verem o que
não deviam. Contudo, Jimin precisava daquilo. Andava indo de mal a pior,
triste, desleixado, amargurado. Curar um coração partido, não era mole.
Estar com seus pais, tão amados, era como receber um edredom cheiroso e
quentinho, após uma noite de frio.

— Saem, querida, fique de olho na panela — disse o beta. — Vou levar


nossas malas pro quarto de hóspedes e tomar um banho rápido.
Jimin permaneceu conversando com a mãe — e aproveitou a ausência do
pai pra fazer mais café —, quando o barulho alto da campainha os
interrompeu.

O ex-militar se levantou pra atender à porta, com uma certa de confusão


estampada na face. Nunca foi de receber visitas, nunca mesmo. E não havia
nenhuma mensagem ou ligação perdida em seu novo celular, de alguém
avisando que o visitaria.

Ansioso pra saber quem era, o moreno abriu a porta sem verificar pelo olho
mágico, outra vez. E seu coração quase pulou do peito, quando se deparou
com Jungkook ali.

Os cabelinhos escorridos estavam mais compridos do que lembrava.


Estavam desbotados, e um bom centímetro de raiz preta havia crescido. O
rostinho bochechudo parecia cansado, mas o filho da mãe continuava lindo,
mesmo usando apenas uma bermuda e camiseta lisa simples, acompanhadas
de um par de chinelos.

— Kook-ah... — chamou com a voz quase falhada. Seus olhos brilharam


como se visse ouro. Jimin constatou, mais uma vez, que quando se tratava
de Jeon Jungkook, ele ficava mais mole que uma banana. Mal fazia jus à
sombra de dominador e militar duro.

— Desculpe incomodar, hyung — o desbotado disso acanhado, roendo a


unha do dedão. — Mas por acaso viu o Minzy? Ele não aparece em casa há
três dias. Eu tô preocupado. Ele por acaso apareceu por aqui?

Se o gato estivesse em sua frente agora, o Park encheria-o de beijos. Porque


era graças a ele que o lúpus podia ver o rostinho do homem que amava,
bem de pertinho, pela primeira vez em semanas. Semanas sofridas.

— Não o vi hoje, mas ele estava por aqui ontem de manhã, quando sai pra
trabalhar — respondeu. — Eu dei até um pouco de ração a ele. Quer que o
leve pra você, se ele aparecer por aqui de novo?

— Ah, não precisa — o garoto sacudiu as mãos na frente do corpo. — Ele


deve estar bem, se ontem estava por aqui. Só fiquei com medo de que algo
ruim tivesse acontecido.

Ah, Jungkook tinha ido até ali na maior contravontade. Se não estivesse
realmente preocupado com Minzy, jamais teria ido até a porta do Park, pois
ele sabia que ver o militar de pertinho outra vez mexeria com sua cabeça, e
enfraqueceria sua decisão e autocontrole já deliberadamente frágil.

— Gatos se apegam muito à casa onde moram. Ele deve estar um pouco
confuso, depois de ter morado um tempo aqui... — explicou o moreno, todo
suave e gentil.

— Hmn... sim. De qualquer forma, não precisa dar comida pra ele, Jimin.
Você pode enxotá-lo lá pra casa, quando ele aparecer pra incomodar...

— Minzy não me incomoda — retrucou, um pouco chateado. — Ele é


minha única companhia às vezes.

Jungkook ia responder, mas um certo beta baixinho de meia-idade e cabelos


molhados apareceu atrás do Park, arreganhando a porta e o encarando de
cima a baixo.

— Quem é o rapazinho bonito? — questionou, com um sorriso simpático.

— Esse é Jungkook... Meu... Vizinho — disse o Park.

— Oh, o do vídeo-game?

O Jeon franziu o cenho, com a expressão perdida. Abriu a boquinha pra


negar, mas Jimin foi mais rápido:

— Sim, paizinho, o que emprestou o vídeo-game pra festa de ontem —


sorriu amarelo e deu ao ruivo um olhar suplicante, que o garoto logo
entendeu.

— Aposto que bebeu todas, como você. Ele parece mesmo de ressaca —
disparou ChinHae.

Jimin ficou completamente sem jeito com a fala do pai. E Jungkook,


pobrezinho... O rosto estava muitíssimo mais vermelho que seus cabelos
desbotados.

— Olha, vocês deixaram uma bagunça por aqui — o beta tornou a falar. —
Aposto que você ainda nem comeu — disse ao Jeon —, igualzinho a esse
daqui — cutucou o filho na cintura.

O de genes ômegas, impactado e entrando em pânico, sequer conseguia


formular uma frase. Jamais havia pensado em conhecer os pais de seu — ex
— dominador.

Primeiro porque o casal nada sabia das preferências sexuais do filho.


Segundo, porque o rapaz nunca imaginou que Jimin levasse aquele
relacionamento tão à sério assim. Normalmente a família apenas era
apresentada ao par romântico dos filhos, quando havia um noivado e,
consequentemente, um casamento a caminho.

— E-eu tô b-bem, Senhor Park. Ia comp-p-rar um lámen agorinha m-


mesmo — disse gaguejando, todo nervoso.

— Lámen? Um alfa não pode viver de lámen! Venha, você vai almoçar
conosco.

Imediatamente Jungkook e Jimin arregalaram os olhos, os dois entrando em


pânico. Se estivessem juntos ainda, como um casal, aquela seria uma
péssima ideia, pois poderia acabar expondo o segredo de Jimin aos pais. E
estando separados, era uma ideia pior ainda, uma vez que o clima entre eles
ficaria estranho demais.

Todavia, Jimin estava desesperado de saudades. Ele faria qualquer maldita


coisa, pra que pudesse ficar um pouco na presença do homem que amava.

E foi esse desespero que fez o moreno dar um passo pra trás e convidar o
Jeon a entrar.

— Vem. Você pode aproveitar e procurar o Minzy — disse ao ex.

Se houvesse ali um chão de areia, Jungkook já teria cavado um buraco de


dez metros de profundidade e se enfiado dentro dele. O pobre coitado
arregalava tanto os olhos, que causava dor no nervo óptico.

— Hmn... Er... Não precisa, eu tô bem, eu gosto de lámen. E Minzy vai


voltar pra casa qualquer hora... — Jeon tentou fugir.

— Menino, quer fazer o favor de entrar logo? — o beta ChinHae disse com
a mão na cintura, achando um absurdo ter sua comida rejeitada. Park
ChinHae era muito sério quanto aos seus dons culinários, desde quando
trabalhava como cuidador de crianças.

O Jeon procurou os olhos do ex-tenente, em desespero, num último pedido


de ajuda pra sair daquela situação. Mas o safado lúpus evitou encará-lo, fez
cara de paisagem, recusando-se firmemente a ajudá-lo. Aquela era uma má
ideia, mas Jimin precisava matar aquela saudade dele. Não podia mais se
controlar, estava ficando louco.

— Venha... — o pai de Jimin puxou o ruivinho pelo cotovelo, o jogando pra


dentro, finalmente. O Jeon entrou tropeçando. — Olha, meu bem! —
chamou a esposa, indo pra cozinha. — Esse é o vizinho de Jimin. O que
emprestou o vídeo-game ontem. O chamei pra almoçar conosco, o
pobrezinho também está de ressaca — foi logo dizendo.

— Oh, é um prazer! — a alfa disse, secando as mãos no pano de prato. —


Eu sou Park Saem — fez uma reverência educada.

— Jeon Jungkook — o garoto devolveu o cumprimento. E então ficou


encarando a mulher com a maior cara de bobo e a boca aberta, por meio
minuto.

Já acostumado àquele tipo de reação de seus amigos ao conhecerem sua


mãe, Jimin disparou, com um risinho de lado:

— Tá escorrendo aí no cantinho...

— Uh? O que 'tá escorrendo? — Jungkook balbuciou.

— A baba, no cantinho da sua boca — e deu um sorriso zombeteiro.


Se o de genes ômegas já estava sem jeito antes, agora ele parecia prestes a
explodir de constrangimento.

— E-eu... Eu não queria parecer estranho... Eu... Me d-desculpe — fez uma


reverência desengonçada à mulher.

— Ah, não se preocupe — Jimin o tranquilizou, numa pose despreocupada,


com as mãos dentro do bolso da calça de moletom. — Todo mundo reage
assim à minha mãe.

— Ela é linda, não é? — disse o beta, a abraçando. — Ela sorriu pra mim,
trinta e dois anos atrás, e BAM! Eu já estava caidinho aos pés dela...

A alfa riu até ficar vermelha, e então depositou um selar no topo da cabeça
do marido.

— Vamos comer! — ela declarou, batendo as palmas.

Os quatro se sentaram ao redor da mesa, e o próprio Jimin fez questão de


servir seu ex-submisso. E enquanto comiam, o alfa lúpus agia exatamente
como quando estavam juntos: dava comida em sua boca, toda hora, como se
alimentasse a um bebê. O que apenas contribuía pra deixar o ruivinho mais
constrangido. Era normal que amigos dessem comida na boca um do outro,
mas pra qualquer um que visse a cena, aquilo estava exagerado demais pra
ser considerado fraternal.

— Jimin, para com isso — ele murmurou, quando os Park mais velhos
estavam ocupados conversando um com o outro. — Eu não sou seu bebê!

O moreno o encarou de cima a baixo e, com uma expressão convencida,


rebateu:

— É sim. Pra mim, sempre vai ser... — e não conseguiu sequer esconder o
tom meloso na voz sussurrada.

Jungkook segurou um grunhido impaciente e mastigou a comida, sem


alternativas.

Se seu coração havia disparado com a fala do lúpus? Muita coisa.


— Então, Jungkook-ssi — disse a alfa, Saem. — Quantos anos você tem?

— Quase vinte e seis — respondeu.

— Com o que você trabalha? Tem namorado? — intrometeu-se ChinHae.


— Ah, mas é claro que tem. Um rapaz bonito como você, não fica sozinho.
Aposto que há um montão de ômegas e betas caindo aos seus pés! E alfas
também!

Jungkook engasgou verdadeiramente, fazendo voar comida de sua boca,


tendo Jimin que bater em suas costas para ajudá-lo.

— Hmn... Eu trabalho na lojinha de conveniências aqui da esquina —


respondeu quando se recuperou do engasgue, os cantinhos dos olhos ainda
lacrimejando e as bochechas queimando. — E não, eu não tenho namorado
— comentou afetado, sem refrear uma rápida olhadela no lúpus, ao dizer a
última parte.

ChinHae, de súbito, segurou delicadamente o pulso do Jeon e aproximou o


nariz dali, fungando.

— Interessante. Você é marcado por um ômega? — perguntou.

E essa pergunta, era aquela que fazia Jungkook querer morrer. Era o cheiro
ômega mesclado ao aroma alfa, que fazia as pessoas ficarem tão confusas
sobre ele. E geralmente, horrorizadas.

— Não — Jimin se meteu. O ruivo tensionou e fitou o ex-coronel. —


Jungkook tem genes ômegas, mesmo sendo alfa.

— Oh! Que exótico! — reagiu Saem, abrindo um sorriso surpreso e sincero.

— Como isso funciona? Você tem os dois cios? Pode engravidar? —


perguntou ChinHae, com nada além de curiosidade no rosto maduro, tão
igual ao do filho.

— S-sim — Jeon respondeu, sentindo o ex-namorado apoiar a canhota em


sua coxa e dar um leve apertão, como se o estivesse passando alguma
segurança para falar do assunto. — Tenho heats e ruts, alternados. Mas não
posso engravidar. Sou um alfa, afinal — murmurou.

— Minha prima alfa uma vez engravidou de um ômega — comentou


ChinHae.

— Isso é porque ela é fêmea — Jungkook explicou. — Às vezes acontece.


Mas pra um alfa macho é impossível de acontecer, mesmo com genes
híbridos.

— Oh... — o casal disse em coro. Até mesmo Jimin.

Os quatro ficaram em silêncio por alguns segundos. E então Saem puxou


mais assunto.

— Eu morria de medo de engravidar. Às vezes passavam casos de alfas


fêmeas grávidas na tv, e eu ficava horrorizada, porque... Vai que acontecia
comigo?

— É, o trabalho sobrou pra mim — disse o beta. — Filho, não me leve a


mal, mas carregar você na barriga, foi uma tortura. Você era muito pesado!

— Pai! — o lúpus grunhiu, desconsertado.

Jungkook não conseguiu segurar o riso, e quase cuspiu o suco que bebia.

— Eu só tô dizendo a verdade, oras! — ChinHae insistiu. — Você nasceu


com quase seis quilos e ainda tinha um cabeção!

— Minha cabeça não é grande! — o dominador retrucou, indignado, de


olhos ridiculamente arregalados, bochechas estufadas e um bico imenso nos
lábios; o que só causou em Jungkook uma crise de risos ainda maior, que
ele sequer era capaz de disfarçar.

— Sua cabeça não é grande agora, mas acredite quando digo: você nasceu
cabeçudo — declarou o beta.

E todos caíram na risada — com excessão de Jimin, que cruzou os braços


em frente ao peito, birrento. Tão birrento quanto Jungkook costumava ser
com ele.

— Eu agradeço pela refeição — o Jeon declarou, limpando a boca no


guardanapo. — Foi muito gentil da parte de vocês — sorriu educado. —
Mas agora preciso voltar pra casa. Tenho um bocado de coisas pra fazer...

— Oh, tudo bem, querido — respondeu o beta. — Nós adoramos te


conhecer! Qualquer amigo do nosso filho, é nosso amigo também — e se
levantou pra dar um abraço amigável no convidado, sendo imitado pela
esposa.

Jungkook fez algumas reverências, mas antes que pudesse sair da cozinha,
Jimin se levantou e o segurou delicadamente pelo braço.

— Podemos conversar rapidinho? — perguntou. Sua expressão era pidona,


um biquinho inconsciente formado nos lábios cheios, e os olhos brilhando,
o que fez o Jeon ser incapaz de recusar.

— S-sim, hyung — respondeu.

— Vamos lá em cima — disse o ex-militar, puxando-o escada acima.

Assim que entraram no quarto do Park, este fechou a porta, encurralando


Jungkook contra ela.

— Como você está? — perguntou com a voz sussurrada, fitando


atentamente o rosto alheio.

— Estou ótimo — o desbotado mentiu, tentando se fazer de forte. —


Realmente muito bem.

Mas essa, definitivamente, não era a resposta que o moreno esperava. Ela o
fez murchar como um balão de festa. Até mesmo seus ombros se
encolheram, na mais pura decepção. Não que quisesse ouvir que o mais
novo estava sofrendo, mas queria saber se o rompimento estava sendo tão
ruim pra ele, quanto vinha sendo pra si.

— Oh... que bom. E Hoseok? Fizeram as pazes?


— Sim, já fazem alguns dias. Você estava certo. Eu não posso culpá-lo por
sentir, menos ainda por ter omitido isso de mim. Ele fez o que achava
melhor pra nossa amizade — confessou, com a voz tímida.

Jimin deu um aceno de cabeça, em entendimento.

— E o cio? Você teve o heat?

— Não — o mais novo sacudiu a cabeça. — Meus cios terão períodos


diferentes agora, por causa do acelerador. O heat só virá três meses após o
rut, então ainda faltam uns dois meses.

— Você foi ao médico, pra conseguir aquele acelerador?

— Hmn... Sim.

— Por que não me deixou te levar? O que o médico disse?

— Porque não tinha necessidade, Jimin — respondeu, impaciente em voltar


naquele assunto. Fora isso que os levara até ali, afinal. Até o rompimento
doloroso. Tinha sido o estopim pra tudo. — E não era nada demais. Só mais
um efeito colateral dos malditos genes ômegas. — E claro, omitiu mais da
metade da história.

Omitiu a parte em que os espermas potentes do alfa lúpus haviam tentado


fecundá-lo, e que então sua parte ômega confundira seu corpo, enviando a
mensagem errada, que embora não o tivesse engravidado, por ser algo
impossível, havia bagunçado seus ciclos; que de certa forma, era um pouco
culpa do moreno e sua capacidade reprodutiva intensa.

Omitiu também o encontro catastrófico com o pai ômega, e o


aconselhamento médico de que terminasse o tratamento de reversão de
genes, pois sua saúde correria riscos por isso.

— Eu... Passei meu rut dopado também — o Park revelou, meio sem jeito,
mas sem deixar de encará-lo intensamente, como de costume. — Eu
preferia ter passado com você — disparou.
Jimin gostaria de dizer mais que isso. Gostaria de puxá-lo pela cintura com
uma das mãos e agarrar seus cabelos com a outra, enquanto roçava seus
lábios nos dele e deixava suas respirações se mesclarem. E queria dizer-lhe
o quanto ainda o desejava, em como o amava e o queria consigo outra vez.
Que aquela separação forçada era insuportável, e que ele não aguentava
mais ficar sem o seu bebê.

E então não disseram mais nada. Não podiam dizer. Eram tantas coisas que
queriam declarar um pro outro, que sufocava. As palavras engasgavam,
morriam na garganta.

Jungkook desejava dizer que gostaria de ser outra pessoa, e que a única
coisa os impedindo de ficarem juntos, era ele mesmo. Ele e seus defeitos.
Ele e sua falta de maturidade pra controlar o próprio ciúme. Ele as
paranoias, que de tão reais pra si, transformavam sua mente em seu próprio
inferno particular.

E queria dizer também, que por mais que seu coração acreditasse que Jimin
dissera a verdade sobre ter encerrado a relação com Taemin há tempos, e
sobre não tê-lo procurado aquela noite por vingança, sua mente duvidava.
Sua maldita mente problemática não conseguia confiar em ninguém.

E pensar que aquela traição era verdade, machucava quase tanto como se
tivesse certeza de ela ter realmente ocorrido.

Já Jimin, queria dizer-lhe que se sentia afundando sem ele. Que sentia-se
infeliz, vazio, sem amor. Que queria Jungkook e todos os seus defeitos de
volta, que queria tê-lo todos os dias em seus braços, fosse num dia bom ou
ruim. Que mal conseguia acreditar no quanto sua vida e o seu eu pareciam
ter virado de cabeça de pra baixo, com a ausência do ruivinho malcriado.

Mas Jimin tinha medo da rejeição. Não era só Jungkook que se sentia
frustrado diante disso. O ruivo possuía um histórico de rejeições, por conta
dos genes ômegas, a começar pela rejeição dos pais. E embora Jimin
sempre conseguisse tudo o que queria, quem queria, e quando queria, a
rejeição do ex-noivo Taeyang havia deixado marcas profundas em sua alma.
Jimin queria poder se confessar ao Jeon ali, e pedi-lo que voltasse pra ele.
Mas Jungkook não estava se demonstrando arrependido de tê-lo
abandonado. Dissera que estava ótimo, até. E por isso o ex-militar deduziu
que, provavelmente, Jungkook já o estivesse superando.

O próprio Hoseok, que era amigo de anos do rapaz, havia lhe dito que
Jungkook sempre fora de se apaixonar e desapaixonar por várias pessoas,
com certa frequência. De três em três meses, ou algo assim. E então o alfa
lúpus percebeu que, talvez, ele tivesse sido apenas mais um na vida do
ruivo.

E essa constatação doía como o inferno.

Perdidos no rosto um do outro, com a cabeça fervilhando de vozes e


sentimentos ruins os sufocando, eles se aproximaram mais do que
deveriam. Foi um ato inconsciente, mas seus corpos pareciam atrair um ao
outro como ímã. Um magnetismo forte demais.

Jungkook sabia que se o Park chegasse perto o bastante, ele não seria capaz
de rejeitá-lo. Era muito fraco pra isso. Era viciado demais naquele alfa
lúpus, em seu cheiro, seu toque, no calor de sua pele...

Suas respirações estavam se chocando, tamanha a proximidade. Os dois já


tinham os olhos começando a cair, à espera do contato entre as bocas cheias
de saudade uma da outra.

E então voz de Saem veio alta, ao pé da escada transparente, fazendo-os se


afastaram súbita e imediatamente, :

— Ei, tem um gatinho aqui! Acho que é o seu gatinho, Jungkook-ssi! Iti,
você também é um pitiquinho... — a mulher disse ao felino, provavelmente
fazendo carinho nele.

Os alfas se encararam sem jeito, e então aprumaram a postura,


desconsertados com o que quase havia acontecido ali, não fosse o chamado
de Saem lá embaixo.

Já com a mão na maçaneta, Jungkook disse:


— Você tem pais maravilhosos, hyung. Tem muita sorte — e deu-lhe um
sorriso triste, antes de sair do quarto.

Jungkook desceu as escadas um tanto avoado, ainda zonzo com aquele


momento no quarto. Encontrou o casal brincando com seu gatinho, que
correu pra si, assim que o viu, e o rapaz imediatamente o pegou no colo.

— Ei, fugitiva. Sua casa é do outro lado da rua, viu? — disse à Minzy. —
Não seja uma interesseira. Sei que a casa de Jimin hyung é maior e mais
bonita, e que ele te compra com ração cara. Mas seu pai sou eu, tá legal?
Sua sonsa!

— Espere... — disse Saem, confusa. — É uma fêmea? Eu podia jurar que


era macho!

— Eu também — ChinHae concordou, abismado. Ele arregalava os olhos e


fazia um biquinho exatamente como Jimin, o que não passou despercebido
aos olhos do Jeon, que achou aquilo fofo.

— Ah, é que... Eu não sabia o sexo dele até uns meses atrás. Achava que
era menina — explicou, meio sem graça. — Foi Jimin hyung quem me
disse que era um rapazinho. Mas como gatos não falam com a gente, eu não
tenho como saber se Minzy prefere ser um garoto ou uma garota. Então o
chamo tanto no masculino, quanto no feminino, porque meu filho pode ser
o que ele quiser.

— Oh, isso é ótimo! — respondeu Saem, sorrindo grande. — Gosto dessa


mente aberta da juventude.

— Obrigado, mais uma vez, pelo ótimo almoço. Agora eu já sei porque
Jimin é uma pessoa tão boa. Foi um prazer conhecê-los — Jungkook
agradeceu uma última vez, fazendo uma curta reverência com o gato no
colo.

— Volte mais vezes! — disse a alfa.

E então Jungkook se retirou, com um último sorriso simpático, em direção à


saída.
O que ele não esperava era ser puxado pra trás, quando alcançou a varanda.
Menos ainda ver o beta ChinHae ali, fechando a porta e ficando ao lado de
fora consigo. E a expressão do homem era bastante séria, totalmente
diferente da expressão calorosa que usara lá dentro.

Jeon, transparente como era, foi incapaz de esconder seu rosto surpreso e
temeroso. E Minzy ter pulado bruscamente de seu colo, não ajudou em
nada.

Ele e o beta observaram o gato atravessar a rua e entrar no prédio da frente.


E só aí o homem abriu a boca.

— Essa camisa é sua? — perguntou, estendendo uma camisa de botões


preta com estampas do Patolino. — Seu cheiro está impregnado nela.

Sem nem ter tempo de pensar no que poderia vir a desenrolar daquilo,
Jungkook automaticamente puxou o tecido pra si.

— Oh, sim. Eu não lembrava que tinha deixado ela aqui... — comentou
mais pra si mesmo, do que para o outro. E só então sua ficha caiu: como
diabos explicaria o motivo de ter um pijama seu na casa do vizinho?

— Eu sabia — o beta respondeu, apertando os olhos pra ele. — E nem


adianta dizer que esqueceu ela ontem. Tem uma porção de roupas suas
espalhadas nessa casa. E eu sei que são suas, por causa do seu cheiro
mesclado.

Jungkook engoliu em seco. Seus olhos dobraram de tamanho e a pele clara


ficou ainda mais pálida. O que ele faria agora? Não tinha sequer uma
desculpa plausível para aquilo. E não era surpresa nenhuma, que o garoto
era terrível em mentir.

— Eu não estou julgando nada — ChinHae tornou a falar, diante do silêncio


assustado do mais novo. — Eu e Saem sempre desconfiamos das
preferências sexuais do nosso filho por alfas. — E tal declaração fez o Jeon
arregalar ainda mais os olhos grandes, o deixando com uma expressão
absolutamente cômica.
O beta riria de sua expressão, se não estivesse tão preocupado em
confrontar o garoto alfa. Precisava ser rápido, antes que alguém notasse que
eles estavam conversando sozinhos ali fora.

— Mas veja bem, Jungkook-ssi. Eu só vi meu filho ficar desleixado assim,


uma vez na vida. Só o vi fumar como uma fábrica e beber mais que
cachorro no verão, quando aquelezinho partiu o coração dele.

O desbotado fez uma careta confusa, e o beta logo esclareceu:

— Você sabe de quem estou falando. Do ex-noivo. Dong Taeyang. Não


gosto de falar o nome dele — fez cara de nojo. — Então conheço meu filho
muito bem, pra saber quando ele está sofrendo por um coração partido. Eu
imaginei que fosse alguma coisa com Taemin. Eu e minha esposa sempre
desconfiamos de que havia uma relação maior que amizade entre eles.

E com isso, Jungkook sentiu-se extremamente incomodado. Seu ciúme


queimava tanto, que sentia os olhos arderem querendo chorar com a mera
menção de um relacionamento entre Jimin e Taemin. O que apenas
comprovava, uma vez mais, que o garoto jamais conseguiria lidar com o
passado do Park com o ex-submisso.

E imediatamente, ele teve a confirmação de que havia tomado a decisão


certa com aquele rompimento. Ele e Jimin não podiam ficar juntos.
Jungkook não servia para aquela relação. Não servia pra Jimin. Talvez
jamais servisse pra alguém.

— Entretanto... — ChinHae continuou. — Eu só precisei te olhar por meio


segundo, pra entender que o responsável pelo estado destruído do meu
Jimin, não é por causa do Lee. É por causa de você.

Jungkook deu dois passos pra trás, um pouco assustado. Do jeito que o
homem falava, parecia que estava prestes a ameaçá-lo de morte.

— Eu só vou te dizer uma coisa, Jeon. Meu filho é um homem incrível. Eu


o criei, o conheço como a palma da minha mão. Ele é um rapaz direito. É
honesto. Cavalheiro. Respeitoso. Não sei o que aconteceu entre vocês, e
também não é da minha conta. A única coisa que sei, é que meu filho está
no fundo do poço, e isso foi o suficiente pra fazer eu e minha esposa virmos
correndo até aqui cuidar dele. Yoongi pareceu muito sério quanto ao estado
de Jimin, quando falou com a gente no telefone, e ele estava certo. Não
quero ver meu filho assim. Não o quero sofrendo. Então, se estiver apenas
brincando com ele, é melhor que você suma, Jungkook. Se não tem
intenção de fazê-lo feliz ou aceitá-lo como ele é, suma da vida dele — disse
duro. — Meu filho não merece ser magoado desse jeito outra vez.

E após aquela declaração, o beta abriu a porta e se pôs pra dentro, lançando
uma última olhada significativa ao garoto.

Esqueci de avisar que os perfis dos Jikook de INC estão de volta ao twitter,
sendo administrados por mim e pela thedevilsdolly! Essas contas novas tem
os mesmos users anteriores (cherrysubjk & ALPHASDOMINATOR)
mas foram criadas do zero, então quem já seguia, precisa ir lá seguir de
novo. Abraços ;)
34| pleasure comes from pain

#CobraSorrateira

Mais uma manhã onde Jungkook acordou se sentindo pior do que nunca.
Não bastasse a fossa pós-término com o Park, toda a culpa que sentia com
isso, suas questões de saúde e a importante decisão que precisava tomar
quanto ao tratamento de reversão e genes, agora havia mais um incômodo
pra lista:

Os pais de Jimin.

Mais especificamente o pai beta, ChinHae.

Jungkook entendia o lado do homem, afinal, qual pai que ama o filho e não
o defende com unhas e dentes? De certo modo, ele sentia até inveja.

Inveja porque seus pais nunca foram assim. Nunca o defenderam, pelo
contrário: sempre assumiram que a culpa era dele, que ele era o errado da
história, em qualquer situação, antes mesmo de saber o que estava
acontecendo realmente.

E ChinHae estava certo, afinal. Se o filho vinha bebendo além da conta,


fumando em excesso e se descuidando com as coisas ao seu redor por causa
do fim de uma relação amorosa, como havia alegado, era bom que o Jeon
continuasse firme em sua decisão. Que permanecesse longe do lúpus, que
realmente o evitasse, pois só assim os dois poderiam superar o fim do
romance. Caso contrário, Jungkook estaria apenas o machucando mais. E o
ruivo era o único masoquista emocional ali.

Especialmente depois de perceber, mais uma vez, que era incapaz de ouvir
o nome de Lee Taemin, sem sentir seu coração doer e uma raiva furiosa se
alastrar por todo o seu corpo. Aquele ele era seu lembrete do porquê ele e
Jimin não dariam certo juntos.
E era seu amor pelo dominador, que o fazia ser altruísta o suficiente para
romper com ele, pelo bem do Park.

"Eu deveria procurar ajuda de um psicólogo?" um dia ele se perguntou. A


resposta era positiva, ele assumia. Mas não tinha tempo e nem dinheiro para
bancar as consultas. Por isso, Jeon precisaria lidar com aquelas questões
sozinho, como sempre fizera em toda a sua vida.

Por agora, Jeon sabia que estava machucando Jimin. Todavia, estava certo
de que o moreno o esqueceria, eventualmente, assim como havia superado o
ex-noivo e todos os outros romances que já havia tido. Era assim que as
coisas eram. Ninguém era insubstituível. Amores vem e vão.

E se sua relação com o Park já não era mais saudável, na maior parte por
culpa dele mesmo e de seu psicológico fodido, então Jungkook estava
sendo mais que maduro e racional ao encerrar o romance entre eles. Era
isso ou dragar Jimin consigo pro seu abismo de angústias; o que não era
justo, realmente. Jimin tinha uma mente saudável, afinal. Não merecia
adoecer junto com ele.

O que poderia fazer, no fim das contas? Ele somente poderia controlar a
forma como agia em relação aos seus sentimentos ruins — em especial, o
ciúme —, se fosse capaz de controlar a própria mente. Mas, infelizmente,
era o inverso que acontecia: sua mente que o controlava.

Ainda assim, isso nada impedia o ex-submisso do AlphaDome de se sentir


um lixo após a conversa com ChinHae. Embora não tirasse sua razão e
entendesse suas motivações, uma parte dele se sentia triste de que o pai do
moreno não tivesse gostado dele.

Ou pelo menos era assim que tinha parecido.

E não ser aprovado pelos pais da pessoa que ama, é um pé no saco. Mesmo
que Jungkook não tivesse a menor intenção de reatar a relação.

Ficar reprisando a conversa desconfortável com o ex-quase-sogro era mero


capricho de seu masoquismo emocional, incapaz de deixá-lo em paz.
Embora não fosse o masoquismo em si, que o tivesse levado a terminar a
relação com o dominador, se torturar com lembranças e pensamentos que
geravam angústia era como alimento pro seu fetiche. E mesmo que não
quisesse, ele sentia algum prazer nisso. Pra ele, amor era dor. E o prazer,
vinha da dor.

Fitando o teto de seu pequeno quarto, o garoto permaneceu por bons


minutos se martirizando, como já era sua rotina.

Um bocado de tempo depois, Jungkook se levantou, almoçou e se aprontou


para o trabalho. Conversou um pouco ao celular com Seung, o amigo alfa
submisso da The Cave. Ele não falou muito de Jimin, mas já havia contado
sobre o fim da relação e as motivações pra ela.

Então os dois conversaram mais sobre aleatoriedades e BDSM. Jungkook


permanecia disposto a continuar naquele meio, afinal, não havia se
aventurado naquele universo apenas por causa do Park. O fizera porque
havia gostado. Porque se interessava naquilo há um bocado de tempo.

Mas no momento, o Jeon não se sentia nem um pouco no clima para voltar
a frequentar a The Cave. Não queria que os membros da masmorra
pensassem que ele já estava à caça de um novo dominador pra si, tão logo
rompera com o AlphaDome.

Jeon sabia que, eventualmente, tanto ele quanto o lúpus seguiriam em frente
e envolveriam-se com outras pessoas, fosse em relações baunilhas, fosse no
BDSM. Ele só não sentia essa necessidade agora. Tudo era muito recente,
seu amor por Jimin continuava intacto. Talvez até mais forte que antes — o
que era péssimo pra ele.

Ocupado em digitar em seu aparelho, Jungkook não prestou muita atenção


ao abrir a porta do prédio. E foi só quando pisou na calçada, que uma rápida
olhadela na casa do Park o fez petrificar no lugar.

Taemin. Taemin estava na maldita casa, parado na varanda, conversando


alegremente com os pais de Jimin, que de longe, já dava pra ver que o
adoravam.
Na calçada, estava Min Yoongi, com seus cabelos platinados bagunçados
pelo vento, mexendo em alguma coisa dentro de um carro, provavelmente o
dele próprio.

Com pressa, Jungkook subiu o capuz de seu casaco sobre a cabeça,


agradecendo aos céus por ter se vestido todo de preto naquele dia, já que
assim era mais difícil de alguém reconhecê-lo, principalmente Jimin.

Caminhando a passos duros e rápidos, o garoto ficava reprisando em sua


mente a imagem de Taemin: os cabelos ainda mais claros que o de Yoongi,
o corpo esguio de ombros largos e quadris estreitos, os braços pouco
definidos aparecendo pela manga curta da camiseta.

Ele tentou se acalmar... Tentou se convencer de que, bem... Taemin ainda


era melhor amigo de Jimin. Eles dois e Yoongi eram como os três
mosqueteiros, Jimin já o havia lhe dito uma vez. Mas ainda assim... Depois
de tudo... Ainda assim o ex-coronel continuava a mantê-lo por perto.

Então, não mais conseguindo controlar seus pensamentos, sua cabeça


explodiu. Quis morrer. Maldito Park Jimin, filho da puta!

O ruivo trincou o maxilar com tanta força, que doía. Apertava os olhos pra
segurar as lágrimas que queriam descer, e respirava pela boca, tentando
controlar a respiração errática. Mas acabou se encostando no muro de
tijolos da esquina, onde apoiou as mãos nos joelhos e pôs-se a chorar,
magoado.

Fez um esforço descomunal, outra vez, pra tentar se convencer de que


Taemin provavelmente só estava ali por causa do Senhor e da Senhora Park,
até porque o ex-militar sequer estava ali, aparentemente.

Ou ao menos lidar com o fato de que Taemin e Jimin eram grandes amigos,
e sempre seriam.

Mesmo que o áudio que o Lee tivesse mandado a WonHo, alegando nunca
ter terminado com Jimin, fosse a maior prova de que ele era um grande
mentiroso manipulador do caralho.
Jimin deveria estar puto com Taemin, não deveria? Se o alfa havia
realmente mentido sobre nunca ter terminado a relação D/s com Jimin,
então o lúpus deveria estar bravo com ele, certo? Ele deveria estar
desgostoso com o amigo, afinal, que amizade era aquela onde o outro
queria destruir seu relacionamento? Em especial, se tratando de uma
relacionamento que o fazia tão feliz?

Quando pensou nisso, ligando os pontos, Jungkook abriu a boca, chocado.

— Jimin realmente mentiu pra mim. Ele nunca deixou de ser o dominador
de Taemin... Se Taemin tivesse mentido naquele áudio, Jimin estaria
absolutamente bravo com ele, não o recebendo alegremente em sua casa...
— murmurou pra si mesmo.

Jungkook se agachou no cantinho e amassou o rosto com as mãos grandes,


tentando se recuperar daquele baque, a qualquer custo. Precisava trabalhar.
Já estava dez minutos atrasado. Mas não poderia entrar na loja naquele
estado, de modo algum, pegaria mal.

E aí, com vinte minutos de atraso, foi que o Jeon conseguiu se recompor,
embora não houvesse muito o que fazer quanto ao rosto inchado e os olhos
vermelhos pós-choro.

Ele passou o resto do dia assim. Acabou se empenhando em organizar as


coisas no estoque, e deixou que Hwasa ficasse na frente da loja, atendendo
aos clientes.

Ao menos ficar no estoque o poupava de ter que encarar outras pessoas e se


esforçar desumanamente para segurar a cara de choro que não deixava seu
rosto em momento algum.

Estava se torturando com as conclusões que havia tirado e a certeza sobre


elas.

E acima de tudo, estava possuído de ódio. Sentia tanta, tanta raiva do Park
naquele momento, que gostaria de arrancar os olhos dele e amassar entre as
palmas.
— Ei... O que houve? — ouviu a voz de Namjoon atrás de si, o encarando
preocupado.

E foi então que o ruivo caiu no choro ainda mais intenso, de cabeça baixa e
com o tronco tremendo. Namjoon foi rápido em abraçá-lo, apoiando a
cabeça de fios recém-tingidos em seu ombro. Deixou que Jeon chorasse em
silêncio, apenas o oferecendo apoio enquanto deslizava as mãos em suas
costas, confortando-o.

— Eu sei que agora parece o fim do mundo, Kook-ah... — o moreno disse a


ele, com a voz calma e suave. — Mas vai passar. Isso eu posso te prometer.
Até uva passa... — e deu uma risadinha sem graça.

Na mesma hora, Jungkook levantou o rosto do ombro dele, pra fitá-lo com
uma expressão mista entre desespero e uma risada contrariada. O que
diabos aquele cara estava falando?

— Feioso! — xingou, dando um tapa leve no ombro do colega, que riu um


bocado, fechando os pequenos olhos.

— Ah, qual é, funcionou! Eu te fiz rir. Olha aí o sorriso!

— É, olha aqui a bolha de meleca também... — murmurou o ruivo,


passando a mão no nariz vermelho e entupido.

— Foi por isso que eu não fiquei com você — o beta subitamente disparou,
ganhando a atenção e uma expressão indignada do alfa. — Não porque eu
não te ache atraente, mas sim porque nós somos muito diferentes. Você é
muito intenso, Kook. E eu sou muito leve, desligado, viajado. Sou como
água. E você é como fogo.

— Pensei que fosse porque você me acha doido — o garoto retrucou, sério.

— Podemos resumir assim — Namjoon sorriu mais um tanto.

Eles ficaram sorrindo um pro outro, o clima ficando mais leve, de certa
forma. E então os dois acabaram se encarando demais.
O Kim jamais negaria a beleza daqueles olhos grandes e expressão infantil
do garoto de sobrancelhas grossas.

E Jungkook só chamava Namjoon de feioso, por dentro. Porque por fora,


aquele rosto triangular definido e o narizinho de botão era um charme. O
jeitinho desastrado era uma gracinha também. E o cara ainda tinha um par
de pernas longas e coxas grossas, definidas. Era uma delícia de olhar.

O ruivo se sentia tão sozinho... Já fazia um mês e meio. E ainda que tivesse
voltado às boas com Hoseok e tivesse com quem desabafar, além dele e de
SeokJin, o garoto se sentia acabado.

Sentia-se só, emocionalmente falando. Enquanto achava que Jimin sofria


por ele tanto quanto ele sofria pelo dominador, seu coração ficava menos
machucado. Mas saber que tudo não passava de uma mentira, e que,
provavelmente o máximo que Jimin sentia era culpa, bem... Era realmente
angustiante.

Era como se nunca mais alguém fosse desejá-lo. Como se nunca mais
alguém fosse amá-lo.

Além de tudo, Jeon se sentia traído. Traído pelas mentiras do Park. E só de


se lembrar de como ele parecia sincero ao iludi-lo, como o fitava
diretamente nos olhos, em como chorava por ele, Jungkook se sentia
indignado.

Sentia-se carente, acima de tudo, pois era difícil perceber que aquele amor
era possivelmente uma mentira.

O ex-coronel havia aceitado aquele término fácil demais, o ruivo bem


desconfiara. Havia insistido em procurá-lo apenas algumas vezes. Talvez
não fosse amor, ele pensava. Jimin nunca disse àquelas palavras a ele,
embora tivesse claramente chegado muito perto uma vez.

Talvez o moreno jamais fosse amar alguém além de Taeyang, e sua relação
com Taemin nunca fosse ter um fim, justamente porque o submisso era o
único que conseguia aceitar aquilo. Que conseguia permanecer ao lado do
dominador, sem exclusividade e sem amor, recebendo apenas o que o lúpus
podia oferecer: uma amizade colorida e muito carinho.

E foi assim que, contra todas as expectativas, os dois colegas se viram numa
bolha.

E as bocas se tocaram.

Não foi um beijo urgente, tampouco fogoso. Foi um beijo suave, carinhoso.

Jungkook levou as mãos à cintura do beta, enquanto este segurava seu rosto
entre as palmas, beijando-o delicadamente.

Os lábios de Kim Namjoon eram muito diferentes dos do Park, a começar


pela grossura. Enquanto os do dominador o chupavam com força, os do
beta eram suaves, pareciam estar querendo acariciá-lo, e não possuí-lo.

Era diferente do que estivera por meses acostumado, mas era muito bom.
Era reconfortante, embora nada familiar.

E Jungkook percebeu que precisava daquilo. Precisava de um beijo pra se


sentir vivo outra vez. Pra sentir que sua vida continuava, independente de
Jimin. Que ele ainda era alguém, mesmo sem o dominador. Que ele ainda
existia e era um cara maravilhoso, que podia conquistar quem diabos
quisesse. Não havia apenas aquele ex-militar metido à besta no mundo.

Foi um beijo demorado. Nenhum dos dois queria parar. E apenas pararam
quando faltou-lhes ar.

Se distanciado lentamente, eles se fitaram, e então sorriram um pro outro.


Não de um jeito romântico ou sexual, mas sim de um jeito brincalhão e um
tanto acanhado.

— Interessante sua forma de consolar os amigos... — Jeon brincou.

Namjoon abaixou a cabeça, envergonhado, rindo sem jeito.

— É que você tava muito bonitinho com essa carinha de choro. Você é fofo
— deu uma apertada em sua bochecha. — Vai passar, Jungkook-ah. Falo
sério — disse sábio. — Mas se você quiser acelerar as coisas, sabe o que
precisa fazer, né?

— Como assim? — o alfa devolveu, confuso.

— Curar um coração partido, sozinho, leva muito tempo. Então não fique
sozinho.

— Você quer dizer que eu deveria...

— Sair com outras pessoas — deu de ombros. — Dê bons passeios,


conheça gente nova, beije muito na boca, tenha noites de sexo avassalador
com pessoas que só vai ver uma vez na vida. Comigo sempre funciona. E
não deixe de buscar um psicólogo pra desabafar.

Jungkook o fitou como se tivesse acabado de descobrir o segredo o


universo, embora ele meio que já soubesse disso. Mas até aquela manhã,
não havia se sentido nem um pouco a fim de seguir adiante ainda.

Até ver Taemin na casa do Park. Até entender que o ex-militar não parecia
muito preocupado com seu suposto amigo tendo mentido sobre a relação
deles por aí.

E até concluir que Jimin era um mentiroso.

— Você está certo — Jeon respondeu. — Esse foi o melhor conselho que
recebi, na verdade. Ei, até que sua nerdice não é tão ruim assim.

Namjoon gargalhou e deu uma piscadinha matreira.

— Tá vendo aí? Todo mundo precisa de um Kim Namjoon como amigo.


Aliás... Não vai ficar um clima estranho entre a gente, né? Foi só um beijo...

— Ah, não, claro que não! — Jungkook foi rápido em concordar, sacudindo
os braços na frente do tronco. — Nada mudou. Mas... Você não tava saindo
com a Hwasa?

— Nossa relação é aberta, agora — o beta explicou. — Às vezes é melhor


assim, do que se desgastar por ciúmes. Vocês alfas são muito possessivos...
Jungkook pensou naquilo por um momento. E se ele e Jimin tivessem uma
relação aberta?

Mas não precisou de mais que um minuto ponderando aquilo. Ele jamais
conseguiria dividir o lúpus com ninguém. Por mais cuckold e masoquista
emocional que fosse, imaginar Jimin com outra pessoa o instigava. Mas daí
a realmente permitir que o cara que amava se relacionasse sexualmente com
outras pessoas, já era demais.

"Nem fodendo." ele concluiu. Era melhor que ficassem separados.

Os dois rapazes se viraram pra escada, após ouvir o barulho de passos


subindo os degraus. E então o barrigudo Senhor Bum, o chefe, surgiu no
topo, com uma expressão séria demais na cara.

— Namjoon... Eu preciso falar com Jungkook a sós. Pode nos dar licença?
— pediu.

— Claro, senhor — o beta respondeu e deu um aceno de cabeça ao Jeon,


antes de descer as escadas.

— Que surpresa, Senhor Bum. Você quase nunca vem aqui.

— Sente-se. Eu vim até aqui pra falar com você.

Meio tenso, Jungkook se sentou na cadeira em que estava antes, enquanto


seu chefe sentava-se na cadeira em frente a ele.

— Eu vi uma coisa... — disse Bum. — Uma coisa que me deixou


extremamente magoado. E um pouco desacreditado também.

Jungkook permaneceu o encarando, sem fazer a menor ideia do que se


tratava.

— Jeon, eu serei direto, ok? Eu instalei câmeras na loja recentemente.

Imediatamente o ruivinho arregalou os olhos e sentiu o coração acelerar de


nervoso. Ah, não... Aquilo não podia acontecer justo agora. Ele sabia que
pegar produtos da loja sem pagar, frequentemente, o fariam se foder em
algum momento. Mas ele estava mais do que certo de que não havia como
Senhor Bum descobrir coisa alguma, até porque todos os funcionários
furtavam alguma coisa. Até mesmo Namjoon, que embora não levasse nada
pra casa, costumava comer algum docinho da loja, todo dia.

— Eu vi, Jungkook. Eu vi você levando aquela garrafa de champagne. Eu


vi você comendo miojos que nunca pagou, todos os dias. Eu vi os pacotes
de M&M's. Eu gostaria de dizer que estou com raiva, mas estou apenas
decepcionado. Quando você chegou aqui, você não tinha nada. Não tinha
experiência alguma no currículo, nenhuma graduação, nada. E eu te dei
uma vaga no meu estabelecimento, porque te achei muito simpático, e eu
queria alguém assim pra atender aos clientes. Mas eu não quero alguém que
vá me roubar — disse severo.

Jungkook não foi capaz de dizer nada. Sequer respirava. Estava totalmente
congelado, em pânico.

— Eu não vou denunciá-lo à polícia — Senhor Bum suavizou a voz. — Sei


que na juventude a gente faz algumas coisas sem pensar direito nas
consequências. Mas infelizmente terei que demiti-lo, Jeon.

O alfa mordeu o lábio e deixou as lágrimas voltarem a escorrer por suas


bochechas cheias. Ele sequer podia se defender, porque era sim, culpado.
Ele sabia e Senhor Bum também.

— Me desculpe — o garoto balbuciou, entre as lágrimas. — Me desculpe,


de verdade, Senhor Bum. Eu não sei nem o que dizer. Estou muito
envergonhado — e então se levantou e ajoelhou no chão, encostando a testa
no piso, numa reverência que implorava perdão.

O velho, então, disse em tom pesaroso:

— Eu espero que você possa amadurecer e tirar uma lição disso, Jungkook.
Vou buscar os papéis da demissão pra você assinar.

[...]
— Jimin, vamos! — Yoongi resmungou, insistente, puxando a manga da
camisa do Park, como uma criança. — Não tô te falando pra ficar com
ninguém, apenas vamos ao clube beber e nos distrair!

— Hyung, eu não 'tô no clima — o alfa repetiu pela quinta vez.

— Beber sozinho em casa não é mais saudável que beber na The Cave! Ao
menos por lá, você vai estar rodeado de pessoas que gosta e com quem pode
conversar abertamente.

— Eu não quero! — resmungou. — Além do mais, eu não quero


proximidade com o Taemin, e aposto que ele vai estar lá. Eu tô bem
chateado com ele, sabe disso...

— É só a gente não chamar ele, ué! TêTê vai entender, outro dia eu vou
com ele e sem você. Pronto. Nada mais justo.

Jimin bufou e sacudiu a cabeça, negando-se outra vez.

— Mirradinho — Yoongi insistiu —, até a Kiko já mandou mensagem pra


mim, dizendo que se eu não te levar junto, ela não vai me deixar entrar!

— Você sabe que ela não vai fazer isso. É só pressão psicológica pra me
convencer a ir — retrucou, fazendo pouco caso.

— Jimin... — o ômega suspirou.

— Além do mais, meus pais estão aqui. Eu não vou deixá-los sozinhos em
casa, pra ir à boate com você. Seria bem escroto com eles...

— Seus pais foram ao cinema há quinze minutos. Vão ficar até tarde na rua,
com certeza vão rodar pela cidade toda. Pare de arrumar desculpas! Você
quer é ficar em casa sentindo pena de si mesmo e remoendo o pé na bunda
que Jungkook te deu! Supera, Jimin, já faz mais de um mês!! Acorda!

— Seis semanas, pra ser exato — o moreno resmungou. — É tão fácil pra
você dizer, você nunca precisou ficar de luto pelo fim de uma relação!
Quando terminou com Hoseok, tinha Taehyung! E vice-e-versa! Você pula
de uma pessoa pra outra, pra não dar tempo de sofrer — acusou.
— Olha quem fala... Você está sendo injusto. E eu terminei com Taehyung,
em definitivo — disse a contragosto.

— Como é?

— Acabou, só isso. Eu não me sinto mais tão confortável com as práticas


que ele quer. Taehyung não é um brat, como a gente pensava. Taehyung é
um break me.

O Park arregalou os olhos, chocado.

— Então aquele babaca do Helsing estava certo, quando te disse isso aquela
vez?

— Uhum — o ômega confirmou. — Rape Play sequer é o fetiche mais


contraditório que Taehyung tem. Ele quer ser física e emocionalmente
forçado a tudo. É desgastante. Faz eu me sentir mal. Eu gosto sim de um
malcriado, mas até certo ponto. E Taehyung tem me feito extrapolar os
meus limites. Ele tem alguns traumas de infância, e gosta de ser submetido
à força, como modo de encarar esses traumas. É o jeito dele de superar os
problemas que teve. Mas eu realmente fico desconfortável em ajudá-lo com
isso. Não sou o Dom certo pra ele. Então a gente conversou e percebeu que
não estava mais funcionando. Eu não o satisfazia mais e nem ele a mim.
Então acabou.

— Mas e a coisa de se marcar? Vocês não tinham até mesmo decidido isso?

— A vontade passou — deu de ombros.

— Eu tô um pouco chocado demais pra emitir alguma opinião — devolveu


o moreno, abismado.

— Então pense sobre isso, enquanto se arruma pra The Cave!

[...]

— Por que tudo acontece comigo? — Jeon choramingou, sentado à mesa do


restaurante onde tomava café com Hoseok e SeokJin, alguns dias mais
tarde.
— Ué? Você ainda pergunta, porra? — disse o ômega SeokJin, com uma
expressão de espanto. — Você provoca as coisas, garoto! Você furtava um
milhão de coisas da lojinha, e achava mesmo que nunca ia ser castigado por
isso?

— Pega leve, hyung — pediu Hoseok.

— Não me refiro a isso — Jeon explicou-se. — Eu falo do timing, sabe?


Quando as coisas ruins acontecem comigo, parece que é tudo de uma vez
só. Sempre é assim. Quero dizer, o universo só pode me odiar! Sou um
azarado!

— Então por que caralhos não pensou nisso antes de roubar aquele
champagne? — retrucou o Kim.

— Eu tô me sentindo muito culpado — disse Hoseok, com um careta


pesarosa. — Se eu não tivesse aparecido lá na loja aquela noite, você não
teria pego a garrafa... E eu nunca pagava pelos lámens e cervejas também,
de qualquer modo.

— Você não teve nada com isso, hyung, fica tranquilo — Jeon respondeu.
— Mas sinceramente, que azar do caralho! Primeiro meu rut atrasa, depois
eu acabo sendo babaca com o Jimin porque precisava esconder à ida ao
hospital, aí eu dou de cara com meu pai, recebo a notícia de que preciso
voltar a fazer tratamento, aí aquela bosta ambulante do Taemin volta, o
Jimin mente pra mim, e aí você também — apontou pro beta, que se
encolheu na cadeira com isso. —, o pai de Jimin me odeia, e ainda por cima
sou pego roubando no trabalho! O que mais falta acontecer? Será que
quando estiver chovendo, um raio vai cair na minha cabeça?

— Veja por essa lado — interpôs Jin. — Pelo menos você conseguiu beijar
a boquinha do Nam, depois de tantos anos, seu safado — brincou.

— Eu preferia não ter minha vida indo ladeira abaixo, do que beijar ele.
Nenhum beijo paga todas essas desgraças, meu filho.

— Nem mesmo um beijo do Park? — o ômega provocou.


— Nem um beijo do Park — Jungkook foi assertivo.

— As coisas vão se acertar, uma de cada vez, JK — disse o beta. — A


começar pelo trabalho. Amanhã a gente monta alguns currículos pra você,
de acordo com as diferentes áreas onde você possa arrumar emprego. E aí
você vai procurar um novo trabalho, com calma. Não precisa se desesperar,
só fazem alguns dias que você foi demitido...

— Já tem mais de uma semana! Se meu dinheiro acabar, eu vou morar no


olho da rua! Ou pior, vou ser obrigado a voltar pra casa dos meus pais. Esse
seria o auge da humilhação e infelicidade...

— Não vai chegar a isso, JK. Eu vou te ajudar com o apartamento e as


contas, vou pagando tudo até você se reerguer. Sabe que sempre estou aqui
pra você.

— Por que você não pede pros seus pais te arrumarem um emprego no
hospital, hein? — SeokJin o questionou. E isso fez os outros dois amigos o
encararem como se tivesse dito a coisa mais absurda do mundo. — Que foi,
seus fodidos? Jungkook não vai precisar morar com eles de novo, nem ter
uma relação além da profissional. E não é como se ele fosse trabalhar
diretamente com os médicos. Ele pode trabalhar no almoxarifado, na
farmácia, na recepção, na cantina, qualquer coisa assim...

— Não vou me dar ao trabalho de responder isso. Aish, sinceramente... — o


Jeon sacudiu a cabeça pra um lado e pro outro, e foi dar atenção à sua
comida. Era cara, gostosa e de graça, já que os amigos estavam pagando a
parte dele.

— Isso não vai ser necessário — Hoseok repetiu. — Você vai arranjar outro
emprego. Eu vou checar com o RH da empresa onde trabalho, se tem
alguma vaga pro seu nível de graduação. E mesmo se tudo der errado, eu
saio da casa dos meus pais e alugo um apartamento de dois quartos, pra
você vir morar comigo.

— Essa seria uma opção agradável... — Jungkook disse, com um biquinho.


— Mas você iria precisar tomar cuidado com seus submissos e namorados
malucos. Aliás, eu contei que Taehyung veio até minha casa se desculpar?
— Como é? — SeokJin arregalou os olhos, abandonando o celular no qual
sempre estava vidrado.

— Tô sabendo sim — respondeu o beta. — Ele meio que tentou usar isso
como barganha pra comprar o meu perdão. Mas... Eu não aguento mais
lidar com ele. Sinceramente, não acho que o ame mais tanto assim. Esfriei
completamente.

Jeon viu o ômega fitar Hoseok com olhos apertados, até dar um tapa na
mesa, assustando a todos:

— Tem alguma coisa que você não está contando, beta. Abre esse caralho
de bico!

E o Jung, de fato, estava escondendo algo. Sem jeito, ele coçou a nuca e
largou a xícara sobre o píres, tentando achar um jeito de explicar aquilo.

— Tenho conversado bastante com Yoongi hyung. Esses dias ele disse que
ele e Taehyung terminaram, por certos motivos. E não parece realmente ter
volta.

— Ué, eles não iam se marcar e tudo? — indagou o Jeon, curioso.

— Não vão mais.

— E você já tá todo se querendo pro ômega dominador, né? — Jin


implicou. — Doido pra ficar com essa bundinha vermelha...

Jungkook encarou o beta, de forma acusadora também, esperando sua


resposta.

— Digamos que nunca deixamos de ser amigos. Mesmo quando Taehyung


queria forçá-lo a romper todos os laços comigo. O que era uma hipocrisia,
já que Taehyung aparecia na minha casa de surpresa e mandava mensagens
dizendo estar com saudades, com bastante frequência.

— Por que você nunca me contou isso? — Jungkook perguntou, indignado.


— Porque eu sabia o que você ia dizer. E eu não te queria buzinando no
meu ouvido.

— Tá, mas e aí? Você vai voltar com o Min? — o ruivo questionou
novamente.

— Não. Eu disse que nunca nos afastamos, só isso. Como amigos, eu acho.
Ou algo assim. Ele me chamou pra curtir na The Cave esses dias. Mas eu
tinha uma reunião na manhã seguinte, então recusei. Tô com vontade de
sair hoje, mas queria sair com vocês. JK está precisando espairecer... —
voltou a bebericar o seu chá.

— Eu acho uma ótima ideia. Minha alfa adora sair pra dançar, e a gente
curte muito quando bebemos juntos — declarou o Kim.

— O namoro dos sonhos — riu-se o beta.

SeokJin já estava namorando uma alfa fêmea há alguns poucos meses, e ela
aparentemente atendia às suas expectativas sexuais, como não ocorrera
entre ele e Namjoon. Ele costumava gostar mais de ser aquele que
penetrava no sexo, embora mais submisso, e a tal alfa o dava exatamente o
que ele queria.

— Até uns dias atrás, eu diria que não estava preparado pra isso. Mas
honestamente... Depois de ver aquela cobra do Taemin na casa do Jimin...
— bufou, irritado. — Me sinto bem mais inclinado a isso.

— Já faz quase dois meses, JK. Eu também acho que você deveria seguir
em frente. Eu adoro o Jimin, mas se você decidiu realmente que não quer
mais estar com ele, quaisquer que sejam os seus motivos... Tá na hora de
dar o próximo passo. Vai ser melhor você se adiantar, do que ficar
remoendo isso, e do nada, ver que Jimin superou você e está com outra
pessoa, quando você menos esperar. Principalmente se essa pessoa for o
Taemin, porque você sabe que existe essa possibilidade — Hoseok foi
sincero.

— Concordo com esse caralho — Jin acenou, sem tirar os olhos do celular.
[...]

Jungkook clicou, mais uma vez, no contato de Seung — o alfa submisso


que trabalhava na The Cave e havia se tornado seu amigo, quando Jimin o
levara ao Munch.

Por trabalhar na masmorra, Seung estava por lá sempre, e não apenas


esporadicamente.

Por isso, o malcriado se via entre a cruz e a espada, pensando sobre ligar ou
não pro colega, e perguntar se Jimin voltara a frequentar a boate, somente a
título de curiosidade. Sua cabeça não parava de pensar nisso, desde o dia
em que saíra pra um café da manhã com Hoseok e SeokJin.

Estaria Jimin o superando com outros submissos da masmorra? Ou, pior:


estaria Jimin e Taemin outra vez numa relação D/s? Jungkook se
martirizava com aquela pergunta.

Se Yoongi havia feito um convite a Hoseok, significava que ele estaria


frequentando a boate, por esses dias. E solteiro. Portanto, sua companhia
provavelmente seria o Park. Ou Taemin. Ou ambos, já que eram um trio de
amigos inseparáveis, supostamente.

Jungkook não precisava saber disso, mas queria saber. Seu masoquismo
emocional urgia pra que ele se martirizasse mais. Que descobrisse novas
mentiras de Jimin, que assistisse a mais vídeos do lúpus em cenas com
outros submissos, que descobrisse o que o outro andava fazendo.

E ele tentava justificar aquela urgência em sofrer, convencendo a si mesmo


de que aquilo o ajudaria a superar Jimin mais rápido. Que quanto mais
coisas negativas soubesse sobre o dominador, mais decepcionado ficaria e,
com isso, seu amor se apagaria cada vez mais.

O problema era que quanto mais mágoa, mais intensamente a chama


daquele amor queimava. Aparentemente Jeon não havia entendido ainda,
que para ele, o sinônimo de amar era sofrer, e que isso se devia ao seu
masoquismo psicológico.
Deveria, de uma vez por todas, aceitar aquele sentimento de uma vez, para
que pudesse ser capaz de controlá-lo. Precisava controlar seus impulsos
masoquistas, caso contrário, o masoquismo dominaria a ele.

E se deixando controlar por aquilo, mais uma vez, o garoto finalmente ligou
pra Seung.

— Oi, minha cerejinha! — o outro o saudou na linha.

— Oi, hyung — disse ao alfa que, agora, sabia chamar-se Kang Seung-
Woon e ser sete anos mais velho que ele.

— Poxa, pensei que você fosse vir a The Cave esses dias, caramba!

— Eu não sei se me sinto muito pronto... Não quero dar de cara com o Ji...
O AlphaDome — mentiu. E só conseguia mentir, porque era ao telefone, e
assim o outro alfa não teria como notar sua expressão contraditória.

— Ai, Kook... — o outro suspirou na linha, chamando-o pelo apelido, já que


agora sabia seu nome também.

— Na verdade, é por isso mesmo que tô ligando — empertigou-se, quase


acreditando na própria mentira. — Jimin tem aparecido por lá? Quer dizer,
preciso saber se a barra vai estar limpa, pra que eu possa aparecer
tranquilamente... — E começou a andar de um lado pro outro,
nervosamente, em sua sala de estar.

— Infelizmente, ele tem vindo sim, amigo. E com o mesmo submisso de


sempre.

O Jeon estancou no lugar.

— Taemin? — perguntou com a voz quase inaudível.

— Esse é o nome dele? O conheço por aqui apenas como o eterno


submisso do AlphaDome. O nick dele é Min sub — disse com a voz meio
pesarosa, sabendo que certamente o ruivinho se magoaria um bocado com
aquilo.
— Como ele é? — Jungkook indagou, com o coração pulando rápido no
peito. Ainda havia um fio de esperança em si, lá no fundo, de que fosse
outra pessoa. Qualquer pessoa. Menos Taemin.

— Na verdade... — disse cuidadoso. — Eles... Eu os vi se agarrando outro


dia na boate, Jungkook. Me desculpe. Não queria ser eu a contar isso,
mas... Você realmente deveria saber. Isso não é justo. E eu gosto muito de
você, não quero te ver enganado. Meu senso de justiça fala muito alto.

Jungkook ficou em silêncio, atordoado demais pra dizer qualquer coisa. Era
mais um confirmação da ideia de que o Park mentira pra ele, que nunca
havia sido seu Dominador somente, pois sempre mantivera a relação D/s
com Taemin por baixo dos panos e que, agora, estava junto com ele
novamente, como Dominador e submisso.

E por mais que uma relação de namoro e uma relação BDSM fossem
institutos distintos, ainda assim ele era seu namorado. Se o ex-militar havia
lhe prometido exclusividade e fidelidade tanto na relação D/s, quanto no
namoro, deveria cumprir com sua palavra.

Diante do silêncio do ruivo, o outro alfa suspirou na linha, e voltou a falar:

— Quando entrei no BDSM, minha primeira Domme era uma safada


mentirosa. Ela sempre dizia que me amava, que estava apaixonada por
mim, que eu era o único pra ela, mas pelas minhas costas, mantinha
encontros casuais com vários outros submissos. Eu tinha fama de corno na
antiga masmorra que frequentava. Foi por isso que saí de lá, aliás. Ela me
deixou humilhado frente a todos os outros membros. Todos os dominadores
que se interessavam por mim, achavam que poderiam me fazer de idiota,
como ela fez. Então eu realmente tenho um problema sério com isso.

— Você tem certeza que eram eles? — o garoto sussurrou, com os olhos
cheios de lágrimas.

— Sim — Seung suspirou. — Eu conheço bem a aparência dos dois, e


mesmo que não conhecesse, Dom Suga estava bem ao lado deles,
conversando com algumas pessoas, então...
Jungkook tentou segurar a primeira lágrima querendo escapulir. Tentou
como o inferno, mas a maldita transbordou em seu olho e escorreu pela
face.

— Por favor, não se martirize com isso, Jungkook — Seung pediu com a
voz aflita, após o silêncio do outro. — Eu sei que tem toda a coisa do seu
masoquismo emocional, mas use esse conhecimento pra outros propósitos.
Pra te ajudar a superar o AlphaDome, por exemplo. Sei que dói, mas tenha
em mente que ele foi o seu primeiro Mentor nesse mundo. Você ainda é um
bebê no BDSM, tem muito o que aprender e explorar. Você vai conhecer
novos dominadores, que serão bons e honestos com você. Vai encontrar
alguns péssimos também, mas com o tempo você aprende a identificá-los.
Preciso desligar agora, porque vou dirigir. Qualquer coisa, pode me ligar,
ok? Se quiser conversar ou chorar, ou até mesmo me encontrar pra encher
a cara, vou estar aqui. Até mais!

— Tudo bem — o garoto tentou controlar a voz. — Muito obrigado, hyung.


Obrigado mesmo, por não esconder as coisas de mim.

— Por nada. É isso que amigos fazem. Use seu conhecimento com
sabedoria — e encerrou a ligação.

Jungkook caiu em um choro sofrido e silencioso. Ele podia imaginar


perfeitamente Taemin e seus cabelos platinados, com os braços ao redor de
Jimin na boate escura, enquanto este o segurava firme pela cintura, do
mesmo modo que fazia consigo.

Mesclada à tristeza, Jeon encheu-se de raiva. Chorava lágrimas de ódio.

Mais uma facada em seu coração machucado. Mais uma decepção. Mais
uma mentira. Mais uma traição.

Mesmo que ele e Jimin não tivessem mais uma relação, e ambos fossem
livres pra ficar com quisessem nos últimos meses, o Jeon se sentia traído.

Traído porque o Park jurara de pés juntos, que não tinha e nem teria mais
nada com Taemin. E lá estava ele outra vez, nos braços daquele que era
justamente a causa das paranoias e ciúmes de Jungkook, que agora sequer
pareciam tão absurdas assim.

Jimin era falso e mentiroso.

Assim como Taemin.

Os dois se mereciam, realmente, eram duas cobras, foi o que o ruivo


pensou.

Mas agora a sua dor se transformara em ódio. Ele queria vingança.


Mostraria ao alfa lúpus, que este havia brincado e iludido a pessoa errada.

Secando as lágrimas com um movimento brusco, Jungkook arrancou o


cordão que carregava a aliança prateada em seu pescoço, atirando-a longe.
E em seguida, discou o telefone de Hoseok, que atendeu após alguns
toques:

— Fala, Jeikei.

— Quando a The Cave vai estar aberta? — perguntou com o maxilar


trincado.

— Na próxima sexta-feira, eu acho. Por quê?

— Nós vamos pra lá.

[...]

— Aqui, coloque sobre a cabeça — a alfa Saem disse estendendo uma bolsa
de água quente ao filho, sentado de qualquer jeito sobre a poltrona da sala.

— Obrigado, mãezinha — respondeu o lúpus, com a voz baixinha, por


causa da dor de cabeça que havia ganhado de presente da ressaca.

A mulher suspirou e se sentou na outra poltrona, de frente pro filho.

— Pitiquinho, o que 'tá acontecendo com você? — e sua voz não emitia
nada além de carinho e preocupação genuína. — Seu pai estava certo, ao
dizer que nós só te vimos assim uma vez na vida, e foi quando rompeu o
noivado com Dong Taeyang. Você não é indisciplinado assim, meu filho.
Nunca foi desorganizado, nunca foi de beber todos os dias, a ponto de
passar mal no dia seguinte. Eu preciso que você se abra comigo...

Jimin suspirou, cansado.

— Vai passar, mãezinha — respondeu sem encará-la.

— Disso eu já sei. Quero saber quem partiu seu coração desse jeito, e por
que infernos você, ao invés de estar tentando consertar isso, fica se
afogando em bebida.

— Eu me afogo em bebida justamente pra consertar meu coração partido —


respondeu, desgostoso.

A mulher suspirou, penosa, encarando o estado destruído do filho sobre o


pequeno sofá.

— Foi Taemin? Estava notável o clima desconfortável entre vocês dois


naquele dia em que ele e Yoongi vieram aqui almoçar comigo e seu pai, e
você chegou do trabalho...

Jimin arregalou os olhos pra mãe, chocado com a pergunta.

— Não me olhe assim — ela disse. — Você e ele nunca foram bons em
esconder que tinham um relacionamento que ia além de amizade. Por favor,
Jimin, nós não somos idiotas. Você e ele viviam com o cheiro um do outro
impregnado no corpo.

O Park mais novo separou os lábios, em choque.

— Voc-cês s-sabiam?

— Qualquer um com olfato era capaz de saber. Agora me diga. Foi ele?
Vocês estão juntos há anos, aposto que essa fase vai passar e vocês vão se
resolver...
— Não é Taemin, mãezinha... — esclareceu, após se livrar do choque
inicial. — Na verdade, eu e ele não estamos em bons termos, realmente. É
por causa dessa nossa... amizade colorida, ao longo dos anos, que meu
relacionamento acabou. Eu tinha uma pessoa que amava e ainda amo muito.
Mais do que amei Taeyang, se quer saber.

— E imagino que essa pessoa não tenha sido capaz de aguentar sua
proximidade com alguém com quem você se relacionou sexualmente por
anos, e que permanece em sua vida como amigo íntimo, estou certa?

— Sim, como sempre, você está. — E sorriu triste. — Eu não sei o que
fazer... Até mesmo pensei em eliminar completamente Taemin de minha
vida, pra não perder o...

— Jungkook — ela completou, quando a fala do outro morreu. E o filho a


encarou assustado, novamente.

— Se sabia que era ele, por que perguntou sobre Taemin primeiro? E como
você sabe que é ele? Não vá me dizer que sentiu cheiro de alguma coisa,
porque isso seria impossível. Quando você e papai conheceram Jungkook,
nós já estávamos separados há semanas.

— Digamos que sim e não — disse, recebendo um olhar confuso do lúpus.


— Seu pai sentiu o cheiro mesclado dele nas roupas que estavam
espalhadas pela casa e no cesto de roupas do banheiro do corredor. É um
aroma inconfundível, você sabe. E somado a isso, ficou bastante claro pra
gente, que havia algo entre vocês, naquele dia. Você o tratava como um
jarro de porcelana, dando comida na boca, se movendo ao mesmo tempo
que ele, o encarando o tempo todo... E seus olhos sempre foram muito
sinceros, pitiquinho. Quando você não gosta de alguém, seu olhar de
desprezo é claro. E quando gosta, o brilho em seus olhos é tão forte, que
parece como o céu estrelado...

— Não precisa ser tão poética — ele retrucou com uma risada, que fez sua
cabeça doer e uma careta de dor se formar na face bonita. — Bastava dizer
que minha boca aberta babando pelo Jungkook, deixa claro que sou
apaixonado por ele.
— Essa seria uma forma mais simples de dizer, sim — Saem admitiu rindo
junto. — Você não está aposentado compulsoriamente da aeronáutica, como
disse pra nós, não é? — O olhou com pesar, deixando o sorriso em seus
lábios morrer. — Se seu desligamento fosse devido a problemas de saúde,
você estaria recebendo aposentadoria do governo, e não trabalhando na
torre de controle de vôos do aeroporto...

Jimin abaixou os olhos, envergonhado.

— Sim. Um dos meus subalternos no quartel, com quem eu costumava


pegar muito pesado, por ser extremamente indisciplinado, acabou me vendo
no.... Me vendo numa boate, com outro alfa.

E é claro que o rapaz não diria à mãe, sobre seu subalterno ter presenciado
uma Cena de BDSM sua com Taemin na The Cave. Suas práticas fetichistas
eram algo privado, que não tinham a menor necessidade de serem
compartilhadas com os pais, independente das opiniões destes virem a ser
positivas sobre o assunto.

— Então você foi exonerado, por se envolver com outros de sua classe? —
ela indagou.

— Sim. Foi exatamente isso. Não tô aposentado coisa nenhuma —


suspirou. — Me desculpe não ter contado antes, mãezinha. Mas você
entende que era algo que eu não podia simplesmente dizer, certo? — A
encarou atentamente.

— Eu entendo — ela respondeu doce. — O que não entendo, foi por que
você escondeu sua sexualidade de mim e do seu pai por quase trinta anos,
pitiquinho. Nós nunca fomos preconceituosos...

— Mas não tinha como ter certeza da reação de vocês, mãezinha. E eu não
queria arriscar. Não queria criar um atrito, por algo que dizia respeito
somente a mim, e sobre o qual eu não tinha opção de escolha — justificou-
se.

— Ainda assim... E se você quisesse se casar com um alfa? Com Jungkook,


por exemplo. O que você faria? Não convidaria seus próprios pais pro
casamento?

— Claro que não! — retrucou em tom indignado, sentando ereto na


poltrona. — Eu teria que revelar tudo pra vocês, eventualmente. Mas
também existia a chance de eu me casar com um beta, talvez. Então não
queria revelar isso pra vocês, até que fosse estritamente necessário.

— Bem... já passou — tranquilizou o filho. — O importante é que você


saiba que eu e seu pai te aceitamos, de qualquer modo. Não temos o menor
problema com isso. Eu mesma já sai com dois ou três alfas na juventude.
Mas não era minha praia, então preferi ficar apenas com ômegas e betas —
deu de ombros.

— Mãezinha! — o ex-militar devolveu, chocado.

— Mas você ainda não explicou sobre você e o seu vizinho — continuou, o
ignorando. — Ele realmente partiu seu coração?

— Sim... — o lúpus respondeu, imediatamente ficando cabisbaixo. — Ele


tinha muito ciúme do TêTê. E TêTê provocava...

— E você deixava? — indagou, espantada. — Você permitia que Taemin


provocasse mais ciúmes em seu namorado?

— Mas é claro que não! A verdade é que eu só... fechava meus olhos pras
verdadeiras intenções de Taemin — admitiu, forçosamente. — Você sabe
como a amizade dele com Taeyang sempre foi tóxica. Eles competiam por
absolutamente tudo. E em relação a mim, não foi diferente. Então, quando
TêTê dava todos os indícios de que me amava, eu só tentava ignorar e
esperava que um dia ele percebesse que aquilo estava longe de ser amor,
que era apenas o ego competitivo dele querendo algo que já havia
pertencido a Taeyang.

— E era? — ela arqueou uma das sobrancelhas.

— Não — sorriu triste, soltando as costas na poltrona, confortável. — Ao


que tudo indica, Taemin realmente me ama, desde sempre. Só agora eu
enxerguei verdadeiramente como ele se sente e o que eu representava pra
ele. TêTê é completamente devoto e submisso a mim, do fundo da alma.
Então quando eu estava com Jungkook, Taemin agia sutilmente pelos
cantos, tentando nos separar.

— E Jungkook terminou com você?

— Sim — grunhiu. — Ele não quer ficar perto de mim, de jeito nenhum.
Mas a minha escolha sempre foi e sempre será ele, mãezinha. Infelizmente,
eu nunca amei Taemin desse jeito, nunca senti nada nem perto de romântico
por ele. Era uma amizade colorida muito forte, mas nunca houve romance.
E eu pensava que ele aceitava realmente àquela relação aberta.

— Mas não é muito plausível trocar uma amizade de anos, como a de


vocês, por um namoro. Ainda que você ame muito esse Jungkook, como
disse que ama... Isso não te soa meio desleal com Taemin, que sempre
esteve ao seu lado?

— Eu não escolhi nesse sentido. Não acho que seria capaz de abandonar o
meu melhor amigo por exigência de namorado algum. Mas decidi me
afastar de Taemin, por estar magoado com os vacilos dele, e também pelo
bem dele próprio. Até então, eu nunca havia notado o quão tóxico sou pra
ele, entende? TêTê jamais vai conseguir superar esse amor que sente por
mim, enquanto continuarmos próximos. Só que agora Jungkook não quer
mais estar comigo, de jeito nenhum. Porque ele sabe que Taemin sempre
estará entre nós, e sempre será o motivo de nossas brigas, das desconfianças
dele comigo... E que por isso a gente nunca vai viver em paz — suspirou,
cansado.

— Então ele te dispensou por um motivo nobre.

— Foi bastante altruísta, na verdade. E isso só me faz amá-lo mais —


apertou os olhos, tristonho. — Ele sabia que isso ia desgastar tanto nossa
relação, que transformaria todo o nosso amor em ranço. Então ele me
deixou. Me deixou porque não queria que a gente se odiasse — disse com a
voz sussurrada, encarando o nada, perdido na lembrança do dia em que seu
mundo havia desmoronado.
— Ele parece um menino bom — Saem respondeu, sorrindo pequeno. —
Ele te encara com aqueles olhinhos grandes, e é como se estivesse vendo a
coisa mais importante do mundo, é nítido... Ele se move ao seu redor, como
o sol orbitando o "Planeta Jimin". — E ficou um minuto em silêncio. —
Mas se você disse que precisa se afastar de Taemin, pra que ele supere o
amor que sente por você, já que nunca será correspondido... Por que
continua saindo com ele, Jimin? Eu sei que foi ele quem te trouxe pra casa
semana passada. Eu estava na cozinha, bebendo água de madrugada,
quando vi vocês entrando. Você mal conseguia andar, de tão bêbado. O
garoto precisou te arrastar escada acima.

O Park mais novo bateu com a mão na testa, e a desceu pelo rosto, com
certa força. Havia tanto arrependimento envolvido, que não cabia em si.

— Foi um deslize...

— Estava mais pra uma avalanche.

— Nem me fale... — riu amargo. — Realmente, eu estava podre de bêbado,


mal conseguia me pôr de pé. Taemin, literalmente, me carregou até aqui.
Nós estávamos bebendo em uma boate, com Yoongi hyung. Quero dizer, eu
estava bebendo com Yoongi. Taemin apareceu de surpresa, e colou em nós,
como um carrapato. Eu fiquei irritado, e acabei bebendo mais do que
deveria. E eu 'tava tão magoado e carente, por causa de Jungkook... Já
faziam semanas desde o rompimento, e ele não demonstrava nem um
mísero sinal de que voltaria pra mim — bufou. — Então Taemin se
aproveitou. Ele sabia que eu estava fraco e fora de mim. E aí ele me
agarrou.

— E você não reagiu?

— Sim, mãe — respondeu triste. — Foi só um beijo. Estar bêbado não


ajudou nada nesse momento. Meu corpo já conhece o toque de Taemin, e eu
estava fraco, não pude reagir tão negativamente quanto gostaria, mas eu não
cheguei a corresponder — confessou, chateado, pois sabia que se estivesse
sóbrio, Taemin possivelmente não teria conseguido sequer sentir o gosto de
sua língua. — Depois que consegui me desvencilhar dele, ele me convenceu
a me trazer em casa. E eu não pude recusar, já que mal me aguentava em pé,
não podia dirigir e talvez desmaiasse no táxi.

— Por isso Taemin não ficou aqui, e foi embora logo depois de te dar banho
lá em cima?

— Sim — balançou a cabeça, em afirmativo. — Eu disse pra ele que aquilo


'tava errado, que me agarrar num momento sem lucidez da minha parte era
baixo até pra ele, e eu não podia fazer isso com Jungkook.

— O que Jungkook tem a ver com isso? Vocês não estão mais juntos desde
antes de eu e seu pai chegarmos aqui, ou eu entendi errado?

— Sim, mãezinha, eu estou solteiro, sim. Quero dizer, não devo mais nada a
Jungkook agora, sou livre pra ficar com quem bem entender. Mas ficar
justamente com Taemin, só prova que Jungkook estava certo em sentir tanto
ciúmes dele e considerá-lo um oponente. Claro que eu jamais teria ficado
com ele se eu e Jungkook ainda estivéssemos juntos, porque eu nunca o
trairia, fosse bêbado ou sóbrio. Mas eu estava completamente fora de mim,
amargurado e, física e psicologicamente fragilizado...

— Não estou te julgando, piquitinho. Isso é normal. Acredito que até


mesmo necessário, se você quisesse tirar a prova sobre quem você
realmente queria. Não vejo como uma prova de que o Jeon estava certo,
mas sim a prova de que é ele quem você ama de verdade, porque se não
amasse, teria ido em frente com Taemin aquela noite, não acha?

— Não importa bem o que eu acho. O que importa é o que Jungkook vai
achar, quando souber disso. E se eu tinha alguma esperança de que ele se
arrependesse e voltasse pra mim, ela acaba de morrer, porque Jungkook
nunca vai me perdoar por isso...

— Mas você não correspondeu realmente ao beijo de Taemin,


correspondeu? Então por que pretende contar a Jungkook? Isso não é
realmente necessário, vocês não estão juntos, não tem a menor obrigação de
contar sobre isso... — ela franziu o cenho.
— Não, não correspondi. Quando me cansei de empurrá-lo, só deixei que
ele continuasse, enquanto fiquei parado fazendo cara feia, até que ele se deu
conta e me soltou — suspirou, cansado, encarando a mãe. — E sim, preciso
contar sobre isso a Jungkook. Eu comecei nosso relacionamento com
mentiras. Quando comecei a ficar com ele, ele sabia que eu tinha um
parceiro de cios, e que este era Taemin. Não era exatamente um problema,
porque o melhor amigo de Jungkook também costumava ser parceiro de
cios dele, e setenta e cinco por cento da população acaba usando o melhor
amigo pra isso. Só que eu escondi dele que minhas relações sexuais com
Taemin não aconteciam somente no cio. Achei que se escondesse o fato de
que a gente transava sempre, na verdade, isso impediria que Jungkook
sentisse ciúmes da minha amizade com ele. Esse foi meu primeiro erro, o
primeiro de vários, porque Jungkook sempre soube. Ele não é bobo.

— Ainda não entendo porque você se acha na obrigação de contar a ele...


Você não beijou Taemin por querer.

— Não vou contar isso a ele, apenas por contar, não o devo satisfações
agora. Porém, se milagrosamente nós voltássemos, bem... Eu teria que
contar, porque não seria certo recomeçar nossa relação com mentiras e
omissões outra vez. Mas como eu disse, não tenho mais esperanças, então...

A alfa se levantou, sentou no braço da poltrona onde o filho estava, e o


abraçou como podia, segurando a cabeça de Jimin contra seu peito,
enquanto acariciava os cabelos negros dele.

— Talvez seja melhor assim, pitiquinho... Alguns amores não nasceram pra
durar... Nada é eterno. O que importa é que durante o tempo que durar, seja
intenso e verdadeiro o suficiente pra ter valido à pena.

— Ainda não devolvi nenhuma das roupas dele que ficaram aqui em casa,
porque preciso sentir o cheiro dele comigo... Eu o amo tanto, mãezinha... E
agora estraguei tudo de vez... — apertou a cintura da alfa, e deixou uma
lágrima escorrer, mordendo o lábio agora trêmulo.

— Shiiiu, não fale assim! Dadas as circunstâncias, o que você podia fazer?
Você estava fraco, bêbado e de coração partido, meu filho. Mesmo que você
tivesse correspondido ao beijo. se não fosse Taemin, seria outro...
— Não seria um problema se tivesse sido outro. Podia ter sido qualquer
maldita pessoa, menos ele... — disse sentindo as lágrimas rolarem
livremente pelas bochechas, molhando a camisa da mãe.

— Pelo menos você conseguiu arranjar forças pra rejeitá-lo, e depois


mandá-lo embora daqui, antes que fizesse uma besteira maior, como transar
com ele — ela apontou. — Bêbado como você estava, seria difícil resistir
pra sempre, já que Taemin é um corpo conhecido, um cheiro familiar...

— Não importa... — o alfa disse, entre lágrimas. — Jungkook jamais irá me


perdoar. Definitivamente, eu perdi o amor da minha vida, pra sempre — e
se deixou despejar toda a sua tristeza nos braços de sua progenitora.

Vota
35| eyes on fire

#CobraSorrateira

Jungkook observava fixamente a água tingida de vermelho-escuro empoçar


o chão de azulejos brancos e descer pelo ralo.

Estava ansioso pra ver o resultado final de seus cabelos. Hoseok havia
cortado e pintado pra ele, especialmente pra que o Jeon pudesse chamar a
maior atenção possível na The Cave.

Quando a água saiu transparente, desligou o registro e saiu do box,


enrolando-se na toalha felpuda. Era completamente diferente das toalhas
furadas que tinha em casa. Ali, na casa de Hoseok, era quase como tomar
banho em um hotel quatro estrelas.

Espiou seu reflexo no espelho e viu, apreensivo, os fios recém-aparados da


nuca, a raiz preta crescida, e as pontas num tom de vinho muito escuro. Por
um minuto, pensou que pudesse ter dado tudo errado, e ele ter ficado
moreno outra vez.

Então ligou o secador na tomada da pia. Aos poucos, os fios foram


revelando-se em tom de vermelho profundo, sob os jatos de ar quente, e não
mais o cereja aberto de antes. A raiz escura ia gradativamente ganhando cor
vermelha até as pontas. A metade inferior da cabeça estava raspada curta,
em um undercut estiloso.

Modelou os fios de um modo diferente também: a franja agora bicuda, e


não mais reta, foi jogada de lado, deixando metade a testa à mostra. Feliz
com o resultado, saiu com a toalha enrolada na cintura, diretamente pro
quarto de Hoseok, onde o amigo, deitado na cama e concentrado no celular,
demorou dois segundos para desviar os olhos pra ele, e então levantar do
colchão num pulo.

— WHOOOOOOA, JK! — o beta exclamou com um sorriso animado. —


Eu sou realmente bom nisso, ficou excelente! — disse com uma mão
cobrindo a boca aberta, e a outra tocando os fios brilhantes do amigo.

— Sim, hyung, eu também gostei muito! — respondeu. — Jimin vai se


roer!

O moreno bateu palmas, gargalhando.

— Hoje todos os membros da masmorra vão se ajoelhar pra você passar,


anota o que tô falando.

— Qual estilo fica melhor? — Jeon perguntou, se olhando no espelho


enorme da parede ao lado da cama. — Acha que devo ir mais provocador,
sem camisa e tal, como daquela vez?

— Não, acho que hoje você deveria ir bem elegante. O que acha de um
terno? — o switcher foi andando em direção ao seu closet.

— Não vai ficar formal demais? — o ruivo indagou, seguindo-o.

— Claro que não, é um visual comum em masmorras, principalmente em


dominadores. Mas você não vai usá-lo todo engomadinho, de gravata e
alinhado. É só deixar os primeiros botões da camisa social abertos. E o
terno tem que ser daqueles bem justinhos e que marcam bem a cintura.... —
murmurou remexendo em seus cabides.

— Oh, eu gostei desse aqui! — Jeon puxou um blazer preto, todo enfeitado
com paetês também pretos e muito brilhantes, na parte frontal, que davam à
peça uma textura diferente.

— Experimenta os que você quiser. Vou tomar banho, pra gente não chegar
lá tarde. Ali na cômoda tem algumas coleiras, escolha alguma — e foi pro
banheiro.

Jungkook vestiu uma cueca preta apertadinha, a calça social, bastante justa,
marcando suas coxas grossas e musculosas, a camisa social branca por
dentro do cós da calça, com os primeiros botões abertos, como o amigo
indicara, exibindo o início do colo e todo o pescoço.
Ele escolheu uma coleira de veludo grossa, na cor preta, e enfeitou as
orelhas com várias argolinhas prateadas, algumas com franjinhas, deixando
o visual totalmente charmoso. Por fim, vestiu o blazer de paetês e pôs um
sapato social lustroso, encarando o resultado final no reflexo. Faziam dois
meses que não se arrumava. Os mesmos dois exatos meses em que havia
terminado a relação com o Park.

— Ah, eu tô uma delicinha! — sorriu matreiro, antes de fechar a expressão,


e dizer pro espelho —: Você vai se arrepender amargamente do que perdeu,
Park Jimin.

— Com certeza! — Hoseok deu força, saindo do banheiro de toalha. — Vou


me vestir rapidinho, minha roupa já tá separada.

Enquanto o beta se arrumava, Jeon passava maquiagem. Alguns minutos


depois, lá estavam os dois, entrando num táxi, ambos deslumbrantes.

Hoseok naquela noite estava inclinado à submissão, e por isso, usava uma
fina gargantilha preta de pano, com um pequeno aro de metal no meio.
Escolhera uma calça e camiseta pretas também, além de um coturno, na
mesma cor. A única coisa se destacando em cor diferente era o blazer
vermelho escuro com a lapela preta de cetim.

A viagem até a The Cave era rápida, e os amigos conversavam


ansiosamente no banco de trás. Jungkook já havia roído as unhas até o
sabugo, nervoso sobre como as coisas correriam àquela noite.

Ele já tinha todo um plano pra provocar o Park e mostrá-lo que este havia
brincado com o alfa errado.

A seu pedido, Hoseok havia marcado de encontrar Yoongi na boate, o que


tornavam maiores as chances do ex-militar aparecer também — junto a,
provavelmente, Lee Taemin, já que aparentemente eles estavam juntos outra
vez.

Mas de uma coisa Jeon tinha certeza: ele talvez pudesse até se magoar,
vendo algo que não gostaria — leia-se Jimin com Taemin. — Mas ele se
jogaria também nos braços do primeiro ou primeira alfa ou beta que se
atirasse pra si. E faria questão de esfregar isso na cara de seu ex-dominador.

Ele já tinha uma pessoa em mente, que havia confirmado à ida à boate
aquela noite também, quando o perguntou pelo chat da The Cave.

Jeon tinha ciência, claro, de que aquela era uma atitude totalmente imatura
e irracional, na qual o tiro poderia sair pela culatra, e levá-lo a deixar a
boate naquela noite mais magoado do que ao entrar. Mas seus sentimentos
não eram racionais. Sua mágoa recém adquirida pelo ex-militar menos
ainda.

Ele faria o seu melhor para atingir Jimin com a mesma intensidade com a
qual o outro o atingira. E que se fodesse se aquilo faria seu ex-Dom odiá-lo,
no fim de tudo. Dessa vez, Jimin merecia, ele pensava. No fim, separar-se
do amado pra evitar que os dois se odiassem, não havia sido eficaz.
Acabariam assim, de qualquer forma.

O taxista os deixou na porta do prédio comercial, onde entraram e seguiram


pro estacionamento do subsolo, onde havia a entrada da boate.

O ruivo estava com o coração batendo a mil por hora, num misto de euforia
e ansiedade. Nunca pensou que a vingança poderia ser tão excitante. Se
vingaria pelos malditos dois meses em que sofrera como um desgraçado
pelo ex-namorado, enquanto este andava por aí às boas com Taemin, se
beijando nas masmorras e almoçando junto com sua família.

Atrás da primeira porta dupla acolchoada, na recepção, estava Seung, como


da primeira vez em que o Jeon entrara naquele lugar. Este usava uma
camiseta e calça preta simples, mas a coleira de couro branco era o que se
destacava. Seung sempre usava coleiras daquela cor, e Jungkook já havia
notado isso através das suas fotos do submisso nas redes sociais e no chat
da The Cave, além de tê-lo conhecido com ela.

— Cherry! — o alfa chamou, contente, se aproximando para abraçá-lo. —


Estou surpreso de você ter vindo — comentou com um biquinho.

— Eu não perderia por nada — Jeon devolveu dando um sorriso oblíquo.


— Realmente achei que depois daquilo — cochichou —, você não ia querer
aparecer aqui nunca mais...

— Cheguei à conclusão que não posso evitar dar de cara com ele, já que
somos vizinhos — referiu-se a Jimin. — Então vou mostrar toda a minha
reciprocidade ao AlphaDome — disse cheio de sarcasmo, que o outro
submisso logo entendeu.

— Você é vingativo, brat — Seung disse sorrindo com certa admiração. —


Qualquer coisa, vem me chamar aqui fora. Vou tentar escapulir e ir lá
dentro dançar um pouco com você. Quero ver o poder desses quadris —
brincou.

Jeon despediu-se do amigo e entrou na masmorra, assim que Hoseok


terminou de pagar suas entradas e também trocar cumprimentos amigáveis
e flertadores com o de coleira branca. Tinha certeza que aqueles dois já
haviam fodido com força, e o ruivo quis ser uma mosquinha pra ter
assistido.

Assim que as portas duplas se fecharam atrás dos dois amigos, o som da
música ficou mais alto, as batidas graves fazendo seus corpos vibrarem e
rodeando-os numa bolha sensual, proporcionada pelo ritmo darkwave.

Dessa vez, era Jungkook a própria cobra sorrateira. Estava pronto pra
encontrar sua presa e dar o bote. Ele checava a aparência até mesmo dos
seguranças posicionados em cada canto da casa — alfas machos e fêmeas
enormes e altos, todos musculosos. Qualquer um era seu alvo. Hoje ele
estava decidido a não sair daquela boate sozinho.

O ruivo se aproveitava de estar esbanjando beleza e sensualidade naquela


noite em particular, flertando com absolutamente todos os que olhavam pra
si com algum interesse. Ele sorria ladino, mordendo os lábios,
absolutamente provocador e... irresistível.

Que Deus tivesse piedade de Park Jimin, pois Jeon Jungkook não teria. O
jogo tinha virado. Seria olho por olho, dente por dente.
E Hoseok estava certo: os membros da masmorra só faltavam ajoelhar aos
pés do alfa de cheiro exótico. Os submissos o encaravam embasbacados, e
os dominadores demonstravam-se completamente atiçados.

Os dois amigos caminharam direto pro bar — tinham intenções de ficarem


no primeiro andar da masmorra, onde havia a pista de dança, e não fariam
parte de nenhuma Cena lá em cima. Por isso, hoje poderiam aproveitar o
máximo de êxtase que o álcool pudesse proporcionar.

E, é claro, os olhos do alfa não paravam de buscar por duas coisas: aqueles
que queria neutralizar — ou como gostava de pensar, os "inimigos", Lee
Taemin e Park Jimin —, e sua carta na manga: O orgulhoso alfa domador
de brats, Mingyu, mais conhecido como Helsing.

Hoseok o entregou uma cerveja, e então os dois entraram na pista de dança,


movendo-se sensualmente junto com as batidas intensas da música.

Os dois flertavam com todos ao redor, enquanto exibiam-se na dança,


ondulando os quadris com uma sensualidade que mexia com a cabeça até
dos mais conservadores.

Empurravam os cabelos pra trás e deslizavam as mãos pelos próprios


corpos, provocantes. Jogavam as cabeças pra trás e giravam os pescoços,
após bebericarem suas cervejas geladas.

Foi quando o primeiro caçador da noite se aproximou do ruivo: uma alfa


um pouco mais baixa que ele, de cabelos pretos como a noite, num corte
reto na altura do queixo, usando roupas de látex e botas de salto fino. Ela
chegou junto, enlaçando o pescoço dele com os braços, dançando.

Jungkook levou as mãos à cintura fina apertada pelo corselet da Domme, e


esta deslizou a ponta do nariz em sua bochecha, antes de sussurrar em seu
ouvido:

— Seu cheiro é delicioso...

E com isso, o Jeon se sentiu nas nuvens, o ego batendo nas alturas. A
morena então se virou de costas pra ele, rebolando e pressionando as
nádegas na pélvis do malcriado, que imediatamente ficou excitado,
apertando ainda mais forte a cintura da fêmea.

Eles dançaram juntos até o fim da música, quando a alfa se afastou pra ir
buscar uma bebida, e nesse meio tempo, um beta macho o agarrou por trás.
Era Jungkook quem tinha um pau pressionando sua bunda agora, e bastou
uma rápida olhada no cara, por cima do ombro, pro garoto decidir que havia
adorado a sensação.

Quando a alfa voltou, não se deixou abalar pelo concorrente: abraçou o


Jeon de frente, enquanto também flertava com o beta de trás.

Jungkook bebeu rapidamente o gim com água tônica que a morena o havia
oferecido, na intenção de entrar mais no clima da boate. As luzes coloridas
cortando o escuro, o gelo seco circulando os corpos, tudo ao redor deixava
o clima erótico e pesado.

Sentiu a língua úmida do beta na lateral esquerda de seu pescoço, o que o


fez suspirar e virar a cabeça pro lado contrário, deparando-se com a visão
de Hoseok tendo a bunda agarrada por uma ômega fêmea de cabelos azuis,
que dançava com ele.

E não demorou muito, o ruivo sentiu a alfa também começar a chupar seu
pescoço com a língua quente, ela de um lado, e o beta de outro.

O garoto se sentiu desejado e excitado como há muito não sentia, se


permitindo fechar os olhos pra aproveitar melhor o momento.

Ele beijou ambos. Primeiro a dominadora, depois o dominador, e então os


dois ao mesmo tempo, num beijo triplo safado. Era uma pena que Jimin
aparentemente ainda não estivesse ali pra presenciar, ele pensou consigo
mesmo.

E então logo enjoou daquilo ali, daqueles dois. Sem parar de dançar, foi até
Hoseok, e, depois de espantar a ômega que dançava com o amigo, puxou o
Jung pro andar de cima, pra que pudessem dar uma espiada nas Cenas que
rolavam por lá.
Subiram a escadaria atapetada com as mãos vazias, já que era proibida a
ingestão de álcool no segundo andar.

Jeon correu os olhos pela pequena multidão, buscando seus alvos com
atenção, mas acabou perdendo-se em um palco modesto mais à frente, onde
uma submissa, deitada sobre um tecido plástico esticado em cima de um
divã, recebia de bom grado as gotas de cera coloridas da vela sendo
derretida sobre seus mamilos, pelo dominador.

O ruivo já conhecia aquele fetiche, era um dos mais básicos e simples de se


realizar: o Wax Play — brincadeira com cera de velas. E, claro, já sabia que
aquelas não eram velas comuns, mas as velas específicas para a realização
do fetiche, feitas à base de parafina pura ou cera vegetal, cujo ponto de
fusão era baixo e, consequentemente, não causavam queimaduras na pele,
apenas esquentava o suficiente para tornar aquilo prazeroso.

Ele notou então, que o dominador não derramava a cera aleatoriamente


sobre o corpo da sub, mas sim que criava padrões de desenho na tez alheia,
como se estivesse pintando um quadro conceitual e cheio de cores em seu
corpo. Era esteticamente belíssimo.

Subitamente, sentiu um corpo se colar ao seu, por trás, e lábios sussurrarem


em seu ouvido:

— Então você não me deu um bolo... — a voz disse, brincalhona.

Jungkook virou-se pra trás, encontrando quem já esperava, reconhecendo o


aroma alfa:

Helsing.

Embora ele ainda não tivesse sido capaz de identificar as notas do cheiro
alheio, por estarem em meio à muita gente, ainda assim sabia de quem se
tratava, antes mesmo de fitá-lo.

Helsing cheirava à menta.


— Não lembro de ter marcado um encontro — Jeon respondeu brincalhão,
sorrindo de lado.

— Você me perguntou se eu vinha, e eu disse que sim — disse o tamer, bem


humorado. — E aí falou que a gente se veria por aqui... Pra mim, soou
como um encontro — deu de ombros. — E o que importa é isso. Eu até me
arrumei especialmente pra você — atiçou, abrindo os braços pra se exibir.

Estava lindo de morrer, como era de se esperar. Helsing usava uma camisa
branca de gola alta embaixo de um sobretudo preto e calças escuras bem
apertadas. Os cabelos negros estavam armados num topete arredondado e
elegante, e os olhos rasgados maquiados em sombra escura.

— É só isso que tem pra mim? — o garoto zombou.

— Você é um provocadorzinho barato, não é? — devolveu, sorrindo safado.

O Jeon deu de ombros, mordendo o lábio, sedutor.

— Espero que não se incomode. Eu não mudo por ninguém. — Deu uma
piscadinha.

— Não me incomo. Eu adoro.

— Jeikei... — aproximou-se Hoseok. — Boa noite, Helsing — direcionou-


se ao tamer, com um educado e frio aceno de cabeça. — Vamos lá pra
baixo? Quero beber mais.

— Claro — respondeu Jungkook. — Vamos? — chamou o outro alfa, que


prontamente os seguiu pro andar de baixo.

— Devo admitir que fiquei surpreso com o seu convite nada disfarçado —
Mingyu conversou, galante. — Imagino que um certo brat esteja disponível,
pra que tenha se unido a mim. O AlphaDome jamais deixaria um
brinquedinho dele sozinho comigo...

— É um pouco óbvio que não pertenço mais a ele — retrucou o garoto, sem
se deixar abalar, pelo contrário: abriu um sorriso malicioso e encarou
Mingyu intensamente e dos pés à cabeça, na maior cara de pau.
— Isso significa que agora tenho o caminho livre pra te conquistar?

— Significa que você pode tentar... — o ruivo respondeu, abusado.

Os três compraram garrafas de Soju e entraram na pista de dança. Hoseok


imediatamente foi recepcionado outra vez pela ômega de antes — que
Jungkook desconfiava já ser conhecida do beta —, então Helsing e ele
começaram a dançar juntos.

Não era preciso muita enrolação, os dois sabiam pra quê estavam ali.
Jungkook queria usá-lo como modo de atingir o alfa lúpus, magoá-lo do
mesmo jeito que o ex-coronel havia o magoado, em seu ponto fraco: Se o
de Jeon era Taemin, o do Park era Mingyu.

E não era realmente um esforço, Jungkook facilmente se via preso nos


orbes dourados e misteriosos do outro alfa, que dançava colado consigo,
quase roçando os narizes, com uma mão em sua cintura e a bebida na outra.

— Você rebola realmente bem... — Helsing murmurou com a voz rouca em


seu ouvido.

— E você? Não quer me mostrar o que sabe fazer também?

O Domador sorriu pro malcriado, e virou-se de costas, os deixando na


mesma posição que Jeon estivera com a Dominatrix mais cedo. Uma
música lenta começou e foi perfeita pra que o moreno o instigasse, roçando
a bunda lentamente em sua pélvis.

Mingyu segurou as mãos de Jungkook ao redor de seu corpo e as direcionou


para as próprias coxas, conduzindo o caminho, fazendo o ruivo deslizar as
mãos grandes sobre suas pernas e quadril, enquanto o fitava por cima dos
ombros.

— Não duvide de mim, brat... — sussurrou, sorrindo afetado. — Sou


bastante esforçado quando quero, principalmente sobre as coisas que já
quero há muito tempo...

E Jungkook adorou aquela indireta. Deixava seu ego inflado, nas alturas.
— Eu não duvido... — devolveu, em igual tom, ao pé do ouvido alheio. —
Na verdade, estou doido pra ver mais...

Foi quando os olhos atentos do de genes ômegas capturaram, um pouco


mais adiante, duas cabeleiras platinadas, abrindo caminho pra eles entre a
multidão.

E então Min Yoongi e Lee Taemin vieram ao seu encontro.

Primeiro, Yoongi cumprimentou Hoseok com um abraço, aparentemente


amigável, e então se virou pro ruivo, o fitando num misto de surpresa e
reprovação muda, ao notar que o mais novo estava com os braços ao redor
de Helsing.

— Jungkook... Não esperava vê-lo por aqui. Hoseok não comentou que
você vinha.

— Oi, hyung. Resolvi de última hora — mentiu com um sorriso, trocando


um aperto de mãos com o ômega. E era mais que óbvia a sua mentira, Jeon
não sabia mentir. E sem conseguir se segurar, disparou —: Quem é esse
com você? — se fez de sonso.

— Oi, eu sou o Taemin — o próprio fez questão de dar um passo à frente e


se apresentar. — Mas aqui na The Cave, me chame de Min sub. Então, você
é o famoso Jungkook?

— Ao vivo e a cores — respondeu sorrindo de modo superior. E ele não


deixou de notar o olhar avaliador do inimigo sobre si, e em como os olhos
de Taemin faíscaram pra si, ainda que o sorriso do platinado fosse amigável
e até mesmo meio flertador.

E então, pela visão periférica, Jungkook notou um corpo conhecido parado


no bar, de costas pra eles, usando apenas uma camiseta neutra, calça e
coturnos, tudo na cor preta. Seu coração bateu rápido, e com muito esforço
pra manter a expressão tranquila, deu às costas pra Taemin, e disse a
Helsing:

— Vou ao bar pegar uma tequila. Quer que traga pra você também?
— Que cavalheiro — o tamer brincou, sorrindo. — Traga uma cerveja pra
mim, mas coloque sua bebida na minha comanda — disse o estendendo o
papel. — Deixe as bebidas por minha conta.

E lá estava aquele maldito sorriso de dentes incrivelmente brancos e


perfeitamente alinhados, que fizeram Jungkook babar internamente por ele,
quando se conheceram. Não poderia ter pessoa melhor para fazer ciúmes
em seu ex-dominador, do que Mingyu, não só por isso, mas também porque
o alfa não parecia ser do tipo que ficaria ressentido em ser usado pro mal.

E não ficaria mesmo. Mingyu não era um cara sentimental. Se uma pessoa
queria usá-lo para atingir outrem, bem, que se fodesse. Ele era quem sairia
no lucro, provavelmente ganharia. Era assim que sua mente funcionava, e
ele estava mais do que ok com isso. Não era como se ele estivesse
romanticamente interessado no Jeon, de qualquer modo.

Lançando um olhar superior e claramente falso a Taemin, Jeon sorriu e se


esquivou, indo pro bar.

Sonso, escorou-se na bancada há apenas três passos de Jimin, fingindo não


vê-lo.

— Duas doses de tequila e uma cerveja, por favor — pediu cortês ao


bartender.

Meio segundo depois, já podia sentir Jimin virar a cabeça pra si, e o olhar
do lúpus queimar sobre ele, que, com firmeza, continuava a fingir não vê-
lo.

— Jungkook-ah? — o mais baixou chamou, já se aproximando enquanto


apertava um copo de whisky na destra.

Fingido, ganhando exatamente a reação que queria, o ruivo fez uma cara
surpresa ao encará-lo, partindo os lábios.

— Oh, hyung! Que surpresa. Nem tinha te visto aí... — e fez pouco caso,
capturando sua dose de tequila.
O Park olhou nervosamente pra pista de dança, aflito.

— Você viu o... Err... Yoongi hyung? — perguntou tenso.

— Vi sim — respondeu, dissimulado. — Ele e o TêTê — fez questão de


enfatizar, com um sorriso irônico.

Imediatamente, o ex-coronel arregalou os olhos.

— Jungkook-ah, eu não estou com ele! Vim com Yoongi hyung, mas
encontramos Taemin na entrada, ele faz isso toda vez...

— Uhum, tanto faz — fez pouco caso outra vez, revirando os olhos, antes
de lamber o montinho de sal que havia posto no próprio pulso, e em seguida
virar a pequena dose de tequila pra dentro da boca.

— É sério, bebê... — sua voz soava desesperada, realmente. — É por isso


que tô aqui no bar sozinho. Não quero mais ficar perto do Taemin! Ele
nunca vai superar o que sente por mim, se eu continuar por perto, e, além
disso, ele foi um péssimo amigo ao dizer aquelas mentiras sobre mim ao
WonHo...

— Claro, claro — retrucou depois de chupar o pedaço de limão no balcão.


— Mas você deveria redefinir o que considera "perto". Quero dizer, eu acho
que a boca dele na sua garganta, como vocês estavam final de semana
retrasado, não é exatamente ficar afastado... — disse, cheio de sarcasmo.

O lúpus arregalou os olhos, chocado.

— O que? — perguntou aumentando a voz.

Jungkook não podia já saber do maldito beijo que recebera de Taemin na


boate, poderia?

— Você é só um mentiroso de merda — o Jeon fechou a cara e cuspiu as


palavras, deixando sumir a falsa expressão tranquila de antes. — Tenho
nojo de você, Jimin. NOJO! — bradou, e então jogou a segunda dose de
tequila pra dentro, sem nem lamber o sal antes.
— Não! Jungkook, por favor, me deixa explicar...

— Não quero ouvir mais as suas mentiras — disse agarrando a cerveja que
pegara pra Mingyu. — Só não se esqueça de que tudo o que vai, volta. — E
se afastou, indo pra pista de dança.

Jimin saiu em seu encalço, puxando-o pelo cotovelo e fazendo o garoto


girar no eixo, no meio da multidão.

— Jungkook, para com isso! — disse quase gritando. O lúpus estava se


sentindo tão aflito, que tinha a sensação de estar sentindo a pressão baixar.
— Até quando vai me torturar assim? Eu não quero mais ter proximidade
alguma com Taemin, eu e você podemos ficar juntos numa boa! Me deixa te
explicar as coisas, me deixa esclarecer tudo e...

— Eu quero é que você vá se foder! — Jeon rosnou, absolutamente puto e


lacrimejando. — Você podia ter ficado com qualquer pessoa, Jimin, menos
com ele! Você é falso e eu não quero mais te ver na minha frente, não quero
mais nem ouvir o teu nome! — e girou pra frente, novamente.

Mas Jimin se apressou e pôs-se à sua frente, barrando o caminho, segurando


o ruivo pelos ombros.

— Jungkook, por favor, vamos sair daqui e conversar! — implorou.

— Não! — gritou por cima da música. — Tudo o que acontecer a partir de


agora, foi você quem provocou, alfa! Tenha em isso em mente! — e com
um empurrão de força comedida, ele se afastou do ex e caminhou direto pra
Mingyu.

Sem acreditar no que via, Jimin estancou no lugar, assistindo a uma das
cenas mais dolorosas de sua vida:

Jungkook dançando provocantemente com Helsing, os quadris colados, de


frente um pro outro, as pernas se entrelaçando, as mãos na cintura e no
pescoço um do outro, rindo como se fossem o mais novo casal contente da
boate.
O sangue de Jimin ferveu, seu corpo começou a esquentar e a tremer de
ódio, tristeza e... medo; Medo do que Jungkook poderia fazer. Ele avistou
Yoongi e Hoseok sentados à mesa mais no canto, e nem sinal de Taemin —
o que foi o único alívio naquele momento.

O lúpus partiu em direção ao casal de amigos, pisando no chão com força.


Se jogou no banco de couro, ao lado de Hoseok, fazendo ele e Yoongi se
calarem com o susto, e então bradou:

— Por que você deixou ele fazer isso, Hoseok? Por que trouxe Jungkook
aqui pra isso? — disse, revoltado.

— Primeiro de tudo, eu não tenho poder sobre Jungkook — o beta


devolveu, fechando a cara. — Segundo, ele tem tanto direito de estar aqui
quanto você. E terceiro, você é um vacilão do caralho, agora arque com as
consequências! Quando eu te disse pra não magoá-lo, não era por mim, era
por você mesmo. Ele é vingativo, e agora você tá fodido, meu amigo!

Jimin tentou responder, mas sequer tinha palavras para aquilo. Atordoado
era a única palavra que o definia bem.

Puto, o dominador saiu do lado de Hoseok, se jogou no banco de couro de


frente pra ele, e então tomou a cerveja que Yoongi bebia. Precisava se
controlar como nunca antes, estava sentindo-se por um triz de perder seu
precioso controle, ir até Jungkook e arrancá-lo dos braços de Helsing, que
nada disfarçadamente o encarava de longe, com um sorrisinho vitorioso nos
malditos lábios.

Jimin virou a cerveja pra dentro, de uma vez só, fulminando Jeon e Mingyu
com o olhar. Ele poderia soltar raio lazer pelos olhos.

— Ei, mirradinho, vai com calma — alertou Yoongi, tentando tomar a


garrafa das mãos do moreno, que desviou agilmente.

De súbito, Taemin surgiu, inexplicavelmente sem camisa, usando apenas a


calça de couro preta apertada, os sapatos e uma coleira no pescoço — que
ainda era a que havia ganho de Jimin, e recusado-se a devolver.
— Vem! — o submisso platinado segurou o AlphaDome pelos pulsos,
fazendo-o se levantar do banco e ficar em pé na pista de dança. — Põe a
mão na minha cintura! — disse pro Park, que estava completamente
confuso. — Você não pode sair por baixo, Jimin! Não vê o que esse garoto
está fazendo? Ele quer te atingir!

E sem conseguir raciocinar muito sobre o certo a se fazer, realmente, o


moreno acabou aquiescendo. Pôs as mãos na cintura do outro alfa, mas
sequer o fitou. Os mirantes estavam presos em Jungkook e Mingyu, como
se estivesse enfeitiçado.

Quando o Jeon viu o lúpus dançando — ou fingindo dançar com Taemin —


o mais puro ódio acendeu dentro de si. O garoto inspirou o ar tão forte, que
sentiu os pulmões arderem.

Mingyu, que não era bobo nem nada, sabia das intenções do ruivinho ali, e
pouco se importava. Ele já não era o maior fã do AlphaDome, de qualquer
modo, então ser usado para aqueles fins pelo ex-sub do cara, era muito
tranquilo pra si, até porque, ele estava doido pra usar e abusar de Cherry
também, de fazê-lo seu mais novo brinquedo. Fazia tempo que não se sentia
tão atraído por um brat assim.

Então Helsing aproveitou para encoxar Jungkook por trás, sob a mira
violenta do Park, que não desviava o olhar de cima deles por nada,
claramente ignorando Taemin, com quem dançava.

O Jeon sentiu o outro alfa apertar sua cintura com posse, ao mesmo tempo
em que esfregava o pau em sua traseira e começava a chupar forte a pele de
seu pescoço lívido.

Tendo o Park exatamente onde queria, Jungkook levou um dos braços pra
trás e segurou os cabelos de Mingyu, fazendo aprofundar mais os chupões e
lambidas em seu pescoço. Com o rosto virado na direção de Jimin, o ruivo
se deixava ser quase completamente dominado, enquanto desafiava o ex-
militar com os orbes incisivos.

Jimin, por sua vez, mal podia se aguentar. Apertou a cintura nua de Taemin
entre os dedos, fulminando o de genes ômegas com o olhar.
E, petrificado, viu Jungkook beijar o outro tamer por cima do ombro,
lascivamente, dando até mesmo pra ver as línguas se enroscando fora das
bocas.

— Foi por isso que você me trocou, Jimin? — indagou Taemin, com mágoa
clara na voz grossa. — Você não conseguiu me amar em dez anos, mas em
cinco meses se apaixonou perdidamente por um crianção imaturo, que só
sabe te desrespeitar e que tem ainda audácia de te afrontar desse jeito,
dentro da The Cave, que é praticamente sua segunda casa?! — atiçou, como
uma verdadeira cobra, que destruía tudo e todos que ousassem se pôr em
seu caminho.

Finalmente o platinado recebeu a atenção do Park, que desviou o olhar da


cena dolorosa que era ver o ruivo se atracando com aquele cara odioso bem
na sua frente, e fitou o rosto do amigo alfa, atordoado.

— Me beija, meu senhor... — Taemin pediu com a voz manipuladora. —


Mostra pro malcriado, que o que ele faz, você consegue fazer pior...

— Não vou te usar assim — o moreno respondeu, decidido.

— Eu não me importo! — o Lee retrucou, colando os peitorais um no outro,


agarrando-se ao seu ex-dominador como se agarrasse-se a um bote salva-
vidas em alto mar. — Me beija, Jimin-ssi... — disse o encarando no fundo
dos olhos. — Me faz seu outra vez, como sempre fomos... Eu sou seu,
sempre serei seu, meu senhor... — e encostou seus lábios nos do ex-coronel.

Contudo, Jimin foi rápido em espalmar as mãos abertas no peito do alfa e


afastá-lo, dessa vez o fitando com raiva. Ainda estava sóbrio o suficiente
pra impedir, dessa vez.

— Mas que porra, Taemin?! Você precisa parar! Eu não aguento mais você
se humilhando dessa forma! Isso já ultrapassou todos os limites saudáveis,
tanto pra você, quanto pra mim. Eu amo Jungkook! Eu amo aquele imbecil
do caralho, e não importa se eu e ele vamos ter volta ou não, não quero
mais estar com você, essa relação já acabou, fim de história! Você não é
mais o meu submisso, e em nome da nossa amizade, estou cortando laços
com você em definitivo, até que você possa se curar desse amor doentio!
— Jimin! — o alfa grunhiu em retorno, as lágrimas descendo dos olhos
castanhos, a expressão atordoada, enquanto via o ex-militar se desvencilhar
de suas tentativas de agarre, e caminhar decidido em direção ao Jeon.

A multidão de corpos suados dançantes ia abrindo espaço, à medida que o


alfa lúpus passava, sem que ele sequer precisasse empurrá-los. Todos ao
redor notavam o que estava acontecendo e pararam pra prestar a atenção no
desfecho que, ao que os olhos em chamas do dominador demonstravam,
provavelmente terminaria em confusão.

Jungkook estava beijando profundamente Mingyu, quando sentiu um novo


par de mãos segurá-lo pelo tecido do blazer, e afastá-lo do mais alto,
bruscamente.

— Você vem comigo — o Park rosnou pra ele, segurando firme no tecido do
terno.

Jungkook sequer conseguiu responder, tão chocado ficara. Ele jamais havia
imaginado tal reação de Jimin, pelo contrário: estava preparado para assistir
ao outro beijando Taemin bem ali, na sua frente, e ter seu coração partido
outra vez — ou talvez até mesmo sentir seu maldito fetiche em ser corno
entrar em combustão ao presenciar aquilo.

Jimin começou a puxar Jeon em direção à saída, e o garoto o seguiu sem


resistência, apenas porque estava alarmado demais pela reação claramente
impulsiva do moreno; e ele sabia que Jimin quase nunca cedia aos próprios
impulsos, era o senhor do controle.

Abrindo caminho entre a multidão, os dois finalmente chegaram à recepção,


onde Seung os encarou com surpresa e confusão, dando um olhar
significativo ao Jeon, como se o perguntasse se ele precisava de ajuda.

E então o ruivo finalmente teve alguma reação, e puxou o tecido de sua


roupa de volta, fazendo o ex-militar travar no caminho, voltando-se pra ele.

— Você não tem mais esse direito, Jimin! — grunhiu, pouco se importando
em dizer o nome verdadeiro do alfa, ali na ante-entrada, onde o som era
muito mais baixo, e os seguranças os encaravam atentamente, preparados
para separá-los caso as coisas ficassem feias.

E ao notar o olhar dos mesmos, Jimin se afastou apenas dois passos do


garoto, e empertigou-se, retomando a postura.

— O que você tá fazendo, Jungkook? — gritou daquele jeito sussurrado,


com o rosto muito próximo ao do malcriado, pra que a discussão entre os
dois não fosse ouvida pelos outros.

— Eu tô seguindo em frente com a minha vida, assim como você! —


retrucou, em mesmo tom.

— Seguindo em frente? — sibilou, putíssimo. — Seguindo em frente com a


porra do Helsing?

— Você sempre segue em frente com a merda do Taemin, e nunca consegue


se desvencilhar dele! Você não tem moral pra dizer nada de mim!

— Eu não estou com a porra do Taemin, quantas vezes vou ter que repetir
esse inferno?

— Todos os seus relacionamentos dão errado por causa desse cara, como
você consegue ser tão cego?! Até como amigo, ele fode a sua vida! —
perguntou em tom indignado, aumentando um pouco a voz.

O Park respirou fundo e olhou ao redor, de modo automático, conferindo se


haviam muitas pessoas prestando atenção àquela discussão acalorada entre
ele e seu ex-sub — cena que jamais havia sido estrelada por Jimin, em todo
o seu tempo como membro daquela masmorra.

Mas é de Jeon Jungkook que estamos falando, afinal. O garoto que, desde o
começo, foi capaz de chutar o autocontrole de Jimin pra escanteio, fazendo-
o quase enlouquecer.

— Eu não tô mais omisso quanto a isso, Jungkook! Já sei o que Taemin fez
e ainda faz, estou ciente das ações dele e da minha culpa nisso tudo
também!
— E mesmo assim, continua grudado a ele como a porra de um
sanguessuga! — Jeon rosnou, daquele jeito sussurrado, que tentava
controlar sem sucesso.

— Estou evitando ele, acredita em mim!

— De novo, acho que você deveria rever seus conceitos de "afastamento",


porque não dá pra se afastar com a língua enfiada na garganta dele, e o pau
dentro do rabo dele também! — acabou gritando. Seu autocontrole já não
era muito confiável, e estando com seu juízo alterado pelo álcool, era até
incrível que o ruivinho não estivesse criando uma cena ainda maior.

— EU NÃO TRANSEI COM ELE, PORRA! — Jimin gritou de volta, com


o rosto vermelho e uma veia saltando sob a pele da testa, perdendo as
estribeiras por causa de Jungkook, pela segunda vez naquela relação. Jeon o
levava ao limite, e Jimin odiava isso.

— Mentiroso! — devolveu, com os olhos marejados, estando mais emotivo


que de costume, por causa da bebida. — Eu nunca mais vou acreditar em
você, Jimin, nunca mais!

— Eu não menti pra você! Eu quero te explicar tudo, mas você não me
deixa!

O ruivo soltou o ar com força, que nem havia notado prender. E então olhou
ao seu redor. Olhou realmente:

Os seguranças todos na porta prestando atenção à discussão, o próprio


Seung os fitando com preocupação no rosto bonito, e enfim, o Park, com
uma expressão tão atordoada e inédita na face, que fez o Jeon enxergar
exatamente o que a relação entre eles estava se tornando.

Ele se sentiu extremamente envergonhado, como nunca antes. Abriu e


fechou a boca um bocado de vezes, antes de finalmente conseguir organizar
suas ideias e declarar:

— Olha o que a gente tá fazendo, hyung... — disse baixinho, substituindo


sua fúria por um tom cheio de pesar. — No que estamos nos
transformando? Isso já não é mais saudável. Estamos nos tornando tóxicos
um pro outro... — constatou, cheio de tristeza, pois aquela situação era
justamente a que ele queria evitar, mas sua impulsividade o havia levado até
lá, de qualquer modo.

— Meu bebê... — o moreno disse em tom de voz necessitado, segurando o


maxilar do garoto entre as mãos, num toque carinhoso, enquanto se
aproximava ainda mais dele, quase unindo suas testas. — Nossa relação
sempre foi saudável. Estarmos separados é que não é saudável, você não
vê? Não percebe que essa separação forçada é o que vai fazer a gente se
odiar? — E o encarou no fundo dos olhos, com urgência.

— Não, Jimin... — respondeu soprado. — O que vai fazer a gente se odiar,


sou eu. Eu sou o defeito, eu sou o problema — sacudiu a cabeça, se auto-
reprovando. — E você ter ficado de novo com Taemin, é simplesmente... O
fim da linha.

Jimin arfou, agoniado, já prevendo as próximas palavras do garoto. Palavras


que ele sabia que o machucariam mais que adagas afiadas em seu peito.

— Você podia ter ficado com qualquer pessoa, Jimin, qualquer uma, menos
ele... — e sua voz saiu chorosa.

— Me perdoa... — e o ex-militar deixou escapulir uma lágrima, esforçando-


se ao máximo pra não desabar em meio ao caos que havia se instalado entre
os dois. — Eu sei que errei feio nisso, outra vez, sei que esse foi o cúmulo e
que piorei uma situação que já estava horrorosa, mas eu... Jungkook, eu
imploro, me perdoa. Eu tava bêbado e carente, e acima de tudo, estava
sentindo tanto, tanto, tanto a sua falta... Eu não correspondi. Eu não
correspondi aquele beijo — e então sua voz falhou, por causa do choro que
queria explodir de seus olhos.

— Mesmo assim... — Jeon sussurrou em resposta, sentindo seu rosto arder


e os olhos começarem a encher. — Eu entendo perfeitamente os motivos
que te levarem até Taemin outra vez, mas... Você realmente fez algo...
Imperdoável. Não posso perdoar e esquecer disso, Jimin, eu nunca vou estar
numa boa com isso... — e seu choro passou a cair livremente agora. Já não
podia mais segurar todos aqueles sentimentos pesados dentro de si, pois era
como envenenar-se com eles.

O ex-coronel caiu num choro profundo e intenso, junto a ele. Apertou mais
o rostinho bochechudo entre suas mãos, com firmeza, e uniu as testas,
roçando os narizes, amargurado.

— Não fala isso... — pediu. — Por favor, não fala isso, meu príncipe... Eu
te amo. Eu te amo demais, Jungkook, por favor... — finalmente confessou,
e sua voz permanecia naquele tom urgente, ainda que saísse
inevitavelmente quebrada.

Ele viu algo mudar no olhar do Jeon. Ele via o garoto lutar contra si mesmo
após aquela declaração de amor explícita, ao que este começou a chorar
com mais força.

— Eu também te amo, hyung — devolveu. — Eu te amo com o todo o meu


coração, mais do que já amei qualquer um nessa droga de vida... —
soluçou. — Mas a gente estragou tudo — falou, por fim.

— Então acabou? Você está me dizendo que acabou pra sempre? — o


moreno indagou em tom agoniado.

Mesmo com dificuldade pra respirar em meio às lágrimas, Jimin o beijou.


Uniu seus lábios de modo terno, suave e... triste. Profundamente triste.

O Park podia sentir como se seu coração sangrasse por dentro. Nada era tão
doloroso quanto aquilo.

Jungkook então, delicada e cautelosamente, segurou os pulsos do lúpus com


suas mãos grandes, devolvendo o selar cheio de intensidade, antes de
afastar as mãos dele de si e tomar espaço.

Desolado, Jimin falhou em engolir o choro pesado, e sentiu a necessidade


de ir embora dali, esconder-se sozinho na escuridão de seu quarto, sumir.
Por isso, se aproximou outra vez e deixou um selar na testa de fios cor de
vinho — que ele reparara tão bem o novo visual, até mesmo no escuro,
sentindo toda a dor de ter Jeon e sua beleza deslumbrante tão perto de si,
mas sem poder tê-lo.

Por fim, sem forças, Park Jimin se afastou completamente e deu às costas,
indo embora daquele lugar; entrou no primeiro táxi que apareceu —
agradecendo aos céus por ter sido responsável e não ter ido de carro, pois
mesmo se não tivesse bebido, estaria incapaz de dirigir o automóvel
naquele estado.

Jungkook encontrou o olhar penoso de Seung sobre si, então o garoto abriu
a portas acolchoadas da recepção do clube e correu pro estacionamento no
subsolo, onde se agachou atrás de um dos carros e se deixou desmoronar.

Passou minutos ali, meia hora ou talvez até uma hora inteira, como poderia
saber? Estava tão imerso no próprio sofrimento, que demorou a sentir um
par de mãos delicadas segurando seus pulsos, tentando afastá-las do rosto
que escondia.

Em meio às lágrimas, Jeon se deparou com Mingyu, que o fitava


preocupado.

— Ei, Cherry... Me deixe te ajudar.

O garoto demorou meio minuto fitando aquele rosto bonito do outro alfa,
até conseguir falar.

— J-J... Jun... Jungkook — revelou. — Meu nome verdadeiro é Jungkook.

O mais alto suspirou e deslizou o dedão por seu rosto, secando suas
lágrimas.

— Olha... Eu não sou lá muito sentimental — disse Mingyu. — Mas,


assim... É isso mesmo o que você quer? Ferir o AlphaDome? Realmente
quer isso? Porque se você achar que essa relação não tem mais volta, ok,
vamos em frente. Não sou muito bom em dar conselhos, geralmente não
ligo muito pras pessoas a esse ponto. Mas odeio ver um cara bonito chorar.
Ainda mais por amor. Então... Se você ainda tiver qualquer esperança de
um dia voltar com o AlphaDome, é melhor que você vá atrás dele agora.
O Jeon abriu os lábios, em choque com a fala do tamer. Ele não deveria
estar o aconselhando assim. Deveria ser um cafajeste de primeira, não
deveria? Fora esse um dos motivos pelo qual Jungkook o havia escolhido
para aquela missão: Helsing não se importaria em prestar-se aquele papel de
ser usado. Helsing deveria apenas ficar à espreita pra se aproveitar, não
deveria?

— Por que você está me dizendo isso? — Jungkook indagou, fungando. —


Você não deveria, eu sei lá... Aproveitar pra ficar comigo? Por que você
está praticamente me jogando de volta pros braços dele?

O alfa deu um sorriso sarcástico e revirou suavemente os olhos dourados.

— Porque me parece que você tem sentimentos fortes demais pelo


AlphaDome. Sabe, eu não gosto muito dele, ele se acha muito superior a
mim, e isso me irrita. Honestamente, quando você ama alguém, e na hora da
raiva tenta machucá-lo... Você sai machucado junto. Então... É isso o que
você realmente quer?

Jungkook piscou os olhos algumas vezes, atordoado. Rapidamente as


palavras de Helsing inundaram sua mente. Seus pensamentos tornaram-se
caóticos, mas ainda assim, havia uma voz que sobressaía em sua cabeça. E
ela dizia: Você não está preparado para esquecer Jimin, não está preparado
para desistir desse amor agora, seu grande imaturo do caralho!

E aí sua mente se acendeu como a porra de uma lâmpada 100 watts. Taemin
realmente não era uma ameaça.

E a prova disso, não era Jimin ter dito que o amava, finalmente.

A prova mais que concreta, era que o ex-coronel o havia visto beijar
Helsing bem na sua frente, e teve a oportunidade de dar o troco, beijando
Taemin. E contra todas as expectativas, ele não o fez.

Taemin nunca seria competição. Era ao Cherry sub que o dominador queria,
e somente a ele.
Jungkook se levantou rapidamente, desengonçado, e Mingyu fez o mesmo.
Olhando embasbacado pro outro alfa, ele sacudiu a cabeça, com um sorriso
desacreditado no rosto.

— Você é um cara legal... Isso é uma surpresa.

O moreno sorriu, sarcástico, outra vez.

— É, eu tenho meus momentos. Aposto que deve ter ouvido bem mal de
mim por aí, certo? A maior parte são verdades. Estou pouco me fodendo
pras relações D/s alheias, dou em cima de todo mundo, foda-se — disse
direto.

— Então por que se preocupou com a minha? — indagou, confuso, quase


sorrindo.

O de olhos dourados deu de ombros.

— Porque a sua relação com o AlphaDome não é somente uma relação D/s,
é? — Arqueou uma sobrancelha.

Jungkook sacudiu a cabeça em negativa, mordendo o lábio.

— Foi o que eu pensei — o moreno sorriu. — Então... — disse tirando sua


chave do bolso. — Tá a fim de uma carona, alfa?

Jungkook mal respondeu. Assim que o barulho da trava eletrônica do carro


soou pelo estacionamento, o garoto correu naquela direção, com Mingyu
liderando o caminho.

Os poucos minutos de volta pra casa foram torturantes. A pele em volta de


seus dedos estava em carne viva, de tanto roer as unhas.

Quando o carro subiu a ladeira e estacionou na calçada de Jungkook, ele


pulou pra fora do carro e deu a volta, dando uma última parada do lado de
fora da porta do motorista.

— Muito, muito obrigado, Mingyu! Sério, se não fosse por você eu...
— Garoto, vai logo, antes que eu mude de ideia e invente pelo menos uns
dez motivos pra você não voltar com o AlphaDome e ficar comigo. Vá! —
E deu um sorrisinho de lado, antes de disparar com o carro.

Jeon sorriu de volta, genuinamente contente e completamente eufórico.

Ele observou a entrada da casa de dois andares do ex-militar, e respirou


fundo. Era agora ou nunca. Ou consertava àquela merda de vez, ou perdia
Jimin de uma vez por todas. E não seria pra Taemin, ele agora estava certo
disso; seria por ele mesmo.

E então confirmou qual era sua decisão, mesmo que tomada há poucos
minutos atrás, de forma absolutamente impulsiva.

E imediatamente correu em disparada para a casa do Park, subindo as


escadas da varanda.

[continua...]

#CobraSorrateira

VOTE

Os visuais na The Cave:


36| our catastrophe

#JungkookBebêDoJimin + #CobraSorrateira

Jungkook observou a entrada da casa de dois andares do ex-militar e


respirou fundo. Era agora ou nunca. Ou consertava àquela merda de vez,
ou perdia Jimin de uma vez por todas. E não seria pra Taemin, ele agora
estava certo disso; seria por ele mesmo.

E então confirmou qual era sua decisão, mesmo que tomada há poucos
minutos atrás, de forma absolutamente impulsiva.

E imediatamente correu em disparada para a casa do Park, subindo as


escadas da varanda.

— JIMIN! — bateu na porta, vezes seguidas, assim como tocou


desesperadamente a campainha. — JIMIN HYUNG! — começou a gritar
em todas as janelas, batendo nos vidros, andando de um lado pro outro,
tentando ver o lado de dentro da casa. — JIMIN-AH!

Ele ouviu um barulho vindo por detrás da porta, e seu coração se agitou,
batendo rápido. Jungkook quase podia escutar as malditas batidas.

A porta se abriu, finalmente. Jeon parou de respirar. E o ex-coronel o


encarou confuso, de cenho franzido e olhos vermelhos, a face ainda
molhada pelas lágrimas.

— Seus pais estão em casa? — o mais novo perguntou, agitado.

— Não, saíram pra dançar salsa. Por quê? — o moreno retrucou, com a face
ainda contorcida em uma mescla de confusão e incredulidade.

Sem responder, o ruivo empurrou o ex-namorado pra dentro, batendo a


porta e encurralando o alfa lúpus na parede do corredor. Estava mais que
lúcido agora, a ansiedade tremenda e o vento ricocheteando seu rosto pela
janela do carro havia deixado-o completamente sóbrio.
Jimin ficou estático, de boca aberta. Mas foi apenas por um segundo.
Porque logo em seguida, Jungkook disparou a resposta:

— Por isso — e puxou o rosto do Dominador entre as palmas, chocando


seus lábios nos dele rápida e intensamente.

Jimin demorou mais meio segundo pra assimilar e devolver o beijo. E


quando o fez, as línguas se enroscaram uma na outra, sedentas. O beijo fez
soar estalos altos, e os ofegos dos alfas se misturaram à sonoridade erótica
do ósculo.

Sem demorar muito, o moreno puxou o Jeon pela cintura e trouxe o corpo
maior pra mais perto do seu, chocando as pélvis e os peitorais duros. As
mãos cheias de anéis do ex-coronel apertaram a cintura fina do garoto, com
posse, reivindicando para si o que sempre fora seu, por direito.

O dominador sabia, aquele rapaz era dele. Podia enxergar claramente que
Jungkook o pertencia; mas não mais do que Park Jimin pertencia a ele. Era
tão de Jungkook, de corpo e alma, quanto Jungkook era dele.

Eles se batiam pelas paredes do curto corredor da entrada, agarrando-se


com desespero. As bocas coladas uma na outra, quase não os permitia
respirar.

E por isso, quando afastavam os lábios minimamente para que pudessem


trocar a posição do beijo, os dois suspiravam, ofegantes e cheios de
saudade.

Jeon foi empurrado contra o concreto, enquanto tinha os lábios finos


atacados pelo outro com alvoroço, mas ele também não deixava barato:
fazia contra-força, empurrando Jimin pra trás, fazendo o lúpus bater de
costas contra a parede oposta, retribuindo o beijo lascivo, enquanto
apalpava todas as partes possíveis do corpo menor, ao passo em que este o
alisava de volta, de modo selvagem.

Jimin também não sentia mais os efeitos do álcool. A única coisa nublando
sua mente era o choro, que agora, começava a ser substituído por uma
ereção crescente.
As línguas rapidamente desceram de forma vulgar e molhada pelo pescoço
um do outro, sugando, mordendo e lambendo, famintos. As peles tão
clarinhas certamente ficariam cheias de marcas roxas antes do amanhecer,
dado a falta de delicadeza nos toques de ambos.

Jungkook queria se jogar nos braços daquele homem, e depois se ajoelhar


aos seus pés, o pedindo perdão, nem que fosse por toda a eternidade. Os
dois haviam errado tanto... Era como se um deles chutasse o pau da barraca,
e o outro rasgasse a lona.

Querendo de volta seu precioso controle, o ex-coronel empurrou o


bratzinho pra trás, girando o corpo maior em seu eixo, virando-o de costas
pra si, fazendo a bochecha do ruivo se colar na parede gélida, enquanto o
lúpus prensava o rapaz contra o concreto, deslizando seu membro semi-
duro na bundinha alheia empinada.

Jeon gemeu grave ao sentir a dureza do mais baixo se esfregando nele,


causando-lhe arrepios de tesão. Ah, que saudade fodida ele estava de sentir
o moreno o tocando e dominando daquele jeito! Graças aos céus estava
sóbrio de novo pra que pudesse sentir aquilo direito, sem o torpor da
embriaguez.

Jimin deslizou o nariz pela nuca bem aparada, inalando o aroma de ameixa
e maçã se sobrepondo ao cheiro alfa do mais novo. Mordiscou a pele
levemente suada do ex-namorado, segurando os pulsos do rapaz ao lado do
corpo. Mas o ruivo soltou a canhota e a levou para trás, apertando a bunda
do Park entre os dedos fortes. O moreno não reclamou, estava desesperado
pelos toques do outro, saudoso e necessitado.

— O que você quer de mim, Jungkook? — murmurou rente ao seu ouvido,


como um suave rosnado, que expressava ameaça, mas também um desejo
intenso. — Pare de brincar comigo...

O garoto então se soltou e volveu-se de frente pro lúpus, encarando-o firme


nos olhos rasgados.

— Eu quero... — Jungkook resfolegou, o coração acelerado no peito. — Eu


vim implorar pra que você me aceite de volta — disse, deixando a primeira
lágrima escapulir, começando a cair num choro silencioso, tentando
desesperadamente controlar sua voz. — Você é o amor da minha vida,
hyung. Eu não aguento mais ficar sem você. Não aguento saber que desisti
de nós dois tão fácil, sem lutar o suficiente... Mas não posso mudar as
coisas e nem voltar ao passado. Então, por favor, me perdoa, Jimin... Por
favor... — Sem vergonha alguma implorou.

O alfa lúpus, diante de tais palavras, já não conseguiu mais se segurar.


Começou a chorar igual, sentindo sua pele formigar. Sua respiração ficou
descompassada, e uma alegria eufórica passou a abrir caminho dentro dele,
mesclando-se à tristeza e um tesão insano, instalando o perfeito caos dentro
de si.

Porque esse era o efeito de Jeon Jungkook nele: bagunçava tudo e trazia a
catástrofe, mas também surgia como a luz do sol após a tempestade.

Aquele garoto era seu grande amor. Sentia por ele todo o tipo de amor que
poderia sentir: amor de namorado, de amigo, de irmão, de pai pra filho, de
lobo pra lobo. Amava-o incondicionalmente e em todos os aspectos
possíveis.

— Eu só queria que você tivesse confiado mais em mim, Jungkook... E no


nosso amor — sussurrou, tristonho e absolutamente emocionado.

— Eu sei, hyung, sou um imbecil! Juro que vou tentar controlar meus
impulsos, minhas desconfianças, minha imaturidade... Você não me deu
enormes motivos pra desconfiar de você, você sempre foi bom pra mim! —
o ruivo exclamou, jogando as mãos pro alto. — E eu vi... Eu vi que Taemin
quis te beijar. Mas mesmo me vendo beijar o Helsing na sua frente, você
não retaliou, não se vingou. Você teve o maior motivo do mundo pra jogar
tudo pro alto e me dar o troco, mas você não fez, hyung. Então... Eu vejo
agora. Eu sou sua escolha. Eu sempre fui sua escolha.

— É o que venho dizendo há, o quê? Sete, oito meses? — o moreno não
conseguiu segurar algum sarcasmo na voz.

Jeon suspirou, amargurado e ansioso. Sentia como se pudesse sufocar de


nervoso.
— Vou entender se você não conseguir mais confiar em mim, se não quiser
mais me ter por perto, eu vou... Eu causei isso, eu... — foi se atropelando
nas palavras.

— Shiii... — o moreno se aproximou a passos rápidos, calando seus lábios


com o indicador pressionado sobre eles. — Nós dois fomos culpados,
Jungkook. Não é justo que você tome a culpa só pra você, quando eu
poderia muito bem ter aberto os meus olhos pra verdadeira face de Taemin.
Teria poupado nós dois e ele, de todo o sofrimento. Eu deveria ter te
passado mais segurança, deveria ter respeitado os seus medos. Eu deveria
saber, deveria ter feito melhor...

Ele secou o rosto de Jungkook com os dedos, segurando a face bonita entre
as palmas, deixando seus olhos se perderem em tamanha beleza. Jeon tinha
um efeito em si, que o moreno jamais imaginara que alguém teria um dia.
Era inexplicável e simplesmente impossível de correr contra. E ele não
queria correr contra.

Ele uniu sua testa a do ruivo, o encarando cheio de carinho.

— Você ainda não respondeu, hyung... — Jungkook murmurou baixinho, os


rostos bem próximos, os lábios quase se tocando. — Você me perdoa? Você
me aceita de volta? Eu faço qualquer coisa, eu juro, qualquer maldita
coisa...

Jimin sorriu um tanto tristonho, mas ainda assim, seu coração estava cheio
de alívio.

— Bebêzinho... Eu te amo tanto, que não sou capaz de te esquecer, nem em


um milhão de anos. E não somos dois adolescentes, embora, às vezes,
possamos agir como eles. Mas o quero dizer, é que não estamos no ensino
médio, um beijo em outras pessoas não significa tanta coisa assim.
Machucou, é claro. Machucou muito, Kook-ah. Você quis me ferir, mas não
tiro sua razão. Talvez, se tivesse no seu lugar, eu poderia ter feito o
mesmo...

— Não teria não — Jeon sorriu triste. — Você não é imaturo como eu,
hyung...
— Okay, eu só estava tentando aliviar pro seu lado. — Sorriu fraco. — Mas
ainda assim... Um beijo não é o suficiente pra destruir o que a gente tem. O
que a gente tem é forte demais... Você sente isso também, não sente?

— Sinto — confessou, emocionado e querendo sorrir de felicidade. — É


claro que eu sinto, Jimin... Você é o amor da minha vida, não me ouviu
dizer?

O Park sorriu grande, deixando lágrimas escapulirem de seus olhos


rasgados, simultaneamente. O moreno se preparou pra beijar o garoto de
novo, mas então se pausou, tomando uma expressão um tanto mais séria.

— Você... Você só beijou o Helsing, não foi? Você... Não transou com ele
antes nem nada assim, certo?

— Claro que não, hyung! — o mais novo retrucou, alarmado.

— E com outras pessoas? Ficou com outras pessoas nesses mais de dois
meses que ficamos separados?

— Hmn... — O sub mordeu o lábio, ficando tenso. — A gente precisa falar


disso agora?

— Sim, Jungkook — endureceu a voz. — E sem mentiras!

— Você sabe que não sei mentir, hyung... — resmungou, fazendo um


biquinho fofo e infantil.

Jimin quase sorriu com a expressão do garoto, mas estava tenso demais pra
saber sobre aquilo, seu coração apertava de angústia.

— Conta logo, Jungkook. Esse é o momento. Se vamos voltar, precisamos


esclarecer as coisas, precisamos de sinceridade e diálogo, pra que não
acabemos destruindo tudo o que a gente tem. Sei que fui eu quem começou
com as omissões, mas aprendi minha lição. Mentira tem perna curta. E
omitir as coisas, não dá certo, uma hora a verdade vem à tona e deixa tudo
mais complicado do que se as coisas fossem esclarecidas antes.
— A gente vai começar a falar cem por cento da verdade agora? Posso
esperar isso de você? De verdade, hyung? — indagou, apreensivo.

— Sem mais segredos, amor. Pra nenhum de nós dois. — Foi assertivo.

— Ok. — Ele respirou fundo, tomando coragem. — Eu beijei duas pessoas


hoje na The Cave, além do Helsing. — Viu o Park segurar a respiração,
encarando-o de cenho franzido,. — E... eu meio que beijei o Namjoon
hyung também.

Aí sim o ex-tenente arregalou os olhos.

— Por que? Ele não tava namorando a sua colega, Hwasa?

— Mais ou menos. Eles estão numa relação aberta, parece. Namjoon não
gosta muito de drama, ciúmes e essas coisas. Mas de qualquer forma, foi
meio que um beijo de consolação. Eu tava chorando muito, depois de ver o
Taemin aqui na porta, com seus pais e o Yoongi, daí...

— Oh — o moreno fez uma expressão surpresa. — Sei que dia foi. Taemin
e Yoongi hyung vieram aqui em casa almoçar com os meus pais, mas eu
não estava. Quando cheguei do trabalho e dei de cara com o TêTê... — fez
um bico, desgostoso. — Quero dizer, Taemin... ficou o maior climão. Quero
dizer, eu não podia envolver meus pais na história, proibi-los de encontrar
Taemin e etc... porque o nosso problema era particular. Meus pais não
precisavam ser metidos nisso.

— Eu entendo... — murmurou, e então seus olhos brilharam. — Então...


Você não estava com ele esse tempo todo, hyung?

— Claro que não! — o moreno rebateu indignado.

— Nem como amigo?

— Não, Jungkook, nem como amigo. Yoongi me forçou a confrontar


Taemin, e ele confessou tudo o que fez. Eu fiquei decepcionado, porque
Taemin não é assim, mas eu fiz ele se tornar nisso...

— Não pode se culpar pelas escolhas dele, Jimin...


— Posso, sim. A culpa não é toda minha, é claro, mas não posso negar
minha parcela. Eu contribui pra tudo o que aconteceu. Um bom dominador
e um bom amigo teria percebido as coisas antes da merda toda estourar. —
Ficou pensativo por um minuto, mas logo recobrou a postura. — Mas e a
quanto às outras duas pessoas que você beijou na The Cave? Eu não estava
vendo, então não foi pra se vingar de mim...

— Foi sim, de certo modo. Sabe como sou impulsivo e rancoroso. Eu


estava frustrado e com uma sede de vingança absurda, então só... Acabei
me deixando levar.

— E é por isso que você precisa controlar essa impulsividade, Jeon


Jungkook... — disse em seu famoso tom repreensivo.

— Eu sei, hyung — fez biquinho, olhando pra baixo, envergonhado.

O moreno também fez um bico desgostoso e contrariado. Era claro que não
havia gostado nada de saber que a boquinha do seu garoto andara beijando
outras por aí, e naquela mesma noite. Mas como ele mesmo havia dito,
beijos não eram o suficiente pra acabar com a relação dos dois.

Jungkook tinha quase 26 anos, e ele quase 30. Beijos só significavam


grande coisa quando se estava na escola. Àquela altura da vida, nem tanto,
tendo em vista que não fora uma traição, e eles estavam realmente
separados há um par de meses.

Park estava bravo e magoado, com toda a certeza. Mas ele não era do tipo
orgulhoso. Jimin era sensato, racional a adorava gastar tempo analisando
meticulosamente as coisas.

E por conta disso ele se conhecia bem o suficiente pra saber que perdoava
Jungkook ter beijado outras pessoas para irritá-lo. Não fora uma traição,
não estavam juntos afinal.

Era isso ou ficar sem Jungkook.

Então o que ele poderia fazer, se o seu maior desejo do mundo nos últimos
dois meses, era ter o ruivinho de volta pra si? Ele deveria fazer exatamente
o que? Reprimi-lo? Rejeitá-lo? Isso seria uma traição a si mesmo.

É claro, as coisas não ficariam por isso mesmo. Como namorado, Jeon
Jungkook estava perdoado. Mas como submisso, bem... Coitadinho. O
Alphadome tinha planos perversos para castigar aquele malcriado. Deveria
puni-lo, na verdade. Mas talvez, só talvez, Park Jimin andasse muito frouxo
nos últimos tempos, por conta de um certo bratzinho de cabelos cor de
cereja... Ou melhor, cor de vinho.

Torcendo os lábios, o coronel suspirou, cansado, e sacudiu a cabeça,


decidido a esquecer daquilo.

— Promete que vai me contar depois sobre a coisa do hospital? As coisas


relacionadas a sua saúde não são da minha conta, por isso você tem total e
completo direito de esconder, se quiser... Mas eu queria muito saber, amor.
Eu me preocupo com você, mais que qualquer pessoa no mundo.

— Eu... Quero pensar sobre isso. Posso ter um tempo? — perguntou,


incerto.

— Claro, bebê. Claro que sim. — O ex-militar sorriu pequeno.

Embalados por uma bolha imaginária só deles, os dois se fitaram


intensamente, perdidos na face um do outro.

Conversavam pelo olhar.

E seus olhares repetiam tudo o que seus lábios já haviam gritado.

Como se numa dança bem ensaiada, Jungkook uniu as bocas outra vez.

As peles finas dos lábios se encontraram com saudade e gostinho de choro,


mas não importava.

E a partir dali, o beijo não tinha mais aquela urgência. Era devagar, lento,
delicioso.

Os grunhidos sendo soltos pela garganta de cada um ao sentir a textura da


língua um do outro de novo, eram a maior prova do quanto a intensidade do
sentimento era mútuo. Desde sempre. Como se estivessem predestinados a
ser, desde outros universos e dimensões de existência paralelas.

As mãos do Jeon foram até a cintura do moreno, puxando-o mais pra si.

Jimin o encostou contra a parede, ainda segurando aquele rostinho choroso


entre as palmas quentes.

Não eram mais os toques brutos com os quais estavam tão acostumados,
não havia a urgência e o fogo de se terem logo, pois, naquele momento, eles
sabiam que não iriam a lugar algum. Não havia pressa.

As línguas seguiram um ritmo lento e absolutamente intenso. Os estalos


ficaram mais altos, as bocas suspirantes, os corpos movendo-se um contra o
outro com a delicadeza de uma serpente, como numa dança sensual.

As mãos se tocaram carinhosas e depois deslizaram pelos fios de cabelo um


do outro, como se imitassem os movimentos alheios, espelhando-os. As
palmas deslizaram pelas peles, arrepiando as penugens, causando algo que
pareciam descargas de um prazer suave, mais espiritual do que visceral. Os
toques eram sentidos de forma diferente da usual... Havia um sentimento
apaixonado forte acompanhando o carnal.

Jimin alisou o peitoral forte e musculoso de seu alfa, sentindo os músculos


por baixo da camisa fina, subindo e descendo as mãos da barriga até o
pescoço longo, onde o segurava sem apertar; inalou deleitosamente o cheiro
frutado mesclado ao amadeirado, aquela combo, que tanto lhe enchia a boca
d'água.

Jeon quase derretia nos braços do homem que o dominava. Tocava seus
braços rígidos, os ombros estreitos, e as costas bem trabalhadas, por onde
seguia a linha bem marcada da coluna, num toque leve por cima da camisa;
era como se pudesse enxergar aquele corpo através do tato, tão bem o
conhecia. Suas mãos invadiram a pele por baixo da roupa do Park, roçando
as pontas dos dedos na tez.

O moreno suspirou e, ofegante, abandonou os lábios finos do brat, para


marcar a pele cheirosa do pescoço branquinho. Sentindo a carícia, Jeon
apertou o corpo do ex-coronel mais contra si, mordendo o lábio enquanto
sentia aquele formigamento delicioso que a língua do Park causava ali, e no
quão insana era a sensação do contato da mão pequena de Jimin em seu
pescoço, apenas o envolvendo, como se pra segurá-lo no lugar e impedi-lo
de ir derretendo até o chão.

De repente, estavam se fitando, sem fazer ou dizerem nada. Apenas se


encarando.

E nos dois pares de olhos puxados havia tanto carinho e amor


transbordando, que era como uma carícia mental. Um afago no fundo da
alma.

— Eu te amo muito, Jeon Jungkook... — o mais baixo sussurrou rente aos


lábios do outro, fitando-o como a estrela mais brilhante do céu. Do seu céu.

— Eu espero mesmo... — o ruivo murmurou. — Porque eu ia ficar muito


puto se o destino me fizesse amar tanto alguém como amo você, um tantão
assim — abriu os braços, infantilmente —, e não ser correspondido na
mesma intensidade.

Jimin deu uma risada gostosa, acariciando os cabelos vermelho-escuros do


rapaz, agora em tom mais escuro que o cerejinha anterior.

Jungkook era tão perfeitinho...

— Tão fofo... Tão precioso... — sussurrou pra ele então, sem querer mais
esconder sentimento algum.

— Você é mais precioso... — retrucou o mais alto, manhoso.

— Então sou o segundo mais precioso, porque o primeiro é você. Você é o


meu mundo inteirinho, bebê... O amor da minha vida também. Nunca amei
ninguém, como amo você.

E após trocarem um sorriso doce, voltaram a beijar-se, profundamente.

Estavam tão felizes naquele momento. Independente de todos os caminhos


que os haviam levado até ali. Finalmente estavam juntos outra vez. E não
precisavam comunicar-se em palavras, pra entenderem que sentiam-se
exatamente da mesma forma um pelo outro. E que nunca mais se afastariam
daquele modo.

Sutilmente, o ruivo foi levando o corpo do Park pelo corredor, os dois


beijando-se, de olhos fechados. E Jimin sequer fazia questão de abrir os
mirantes e saber pra onde estava sendo levado, pois confiava em Jeon, de
olhos fechados. Literalmente.

O moreno caiu sentado no sofá, e logo teve Jungkook sentado em seu colo,
apertando seus fios de cabelo, enquanto o beijava, suspirante.

Os toques continuavam lentos, mas o ar ficava cada vez mais quente.

O próprio ruivo afastou os troncos rapidamente para retirar o blazer e a


camisa que vestia, e jogá-los pra longe, voltando a beijar o amado com
fervor, ficando apenas com a coleira negra que usava no pescoço,
enfeitando o tronco.

— Jungkook-ah... — o moreno afastou os lábios brevemente, buscando o


olhar do garoto com o seu. — E como será agora? Você vai continuar sendo
ciumento, inseguro, essas coisas não mudam da noite pro dia... E por
enquanto, Taemin não será uma ameaça, mas e se eu quiser perdoá-lo e ter a
amizade dele de novo? Não quero que isso seja um problema, não quero
que esteja voltando comigo só porque sabe que me afastei dele...

— Não, hyung — respondeu, seguro. — Eu confio em você. Eu finalmente


pude ver com meus próprios olhos, que Taemin não é uma ameaça pra mim,
não é um concorrente. Eu vou me controlar, Jimin-ah. Não vou mentir e
dizer que não irei mais sentir ciúmes, mas vou me controlar, poxa. Eu juro!

O Park permaneceu o encarando com atenção e preocupação na face bonita


de maxilar afiado. Ele procurava a verdade naquele rosto infantil do amado,
tentando encontrar qualquer resquício de hesitação.

— Eu vejo agora... — o ruivo tornou a falar, quando não obteve resposta do


outro. — Eu vejo agora, Jimin, isso que a gente tem, não é somente da
minha parte. Eu sinto de você também. Eu sinto o seu amor. Eu sinto aqui
— e pôs a destra grande por cima do peito de Jimin, no lado esquerdo, em
cima de seu coração. — Então meu ciúme não vai fazer sentido algum,
sabendo que você me ama tanto quanto eu te amo. Não quero ficar longe de
você nunca mais...

O ex-coronel sentiu os olhos marejarem novamente e as bochechas


esquentarem, antes de sorrir, tão feliz, que era como se sentisse a onda de
uma droga sintética forte. O amor de Jungkook era isso, não era? Pura
euforia.

— Você está pronto pra me perdoar e seguirmos em frente? — Jimin


indagou, o fitando profundamente. — Você será meu namorado e... meu
submisso, novamente?

Jungkook sorriu grande, sentindo até mesmo o rosto aquecer.

— Eu sou completamente seu, Park Jimin. E serei pra você, o que você
quiser que eu seja.

Jimin precisou contar mentalmente até três, pra controlar seu bendito
coração agitado que martelava forte dentro do peito.

— Eu não quero que o aconteceu se repita, bebê. Quero estar numa relação
D/s e romântica com você, tendo a segurança de que não vamos nos ver
nessa situação dolorosa de novo... Eu sofri muito, Jungkook. E sei que você
também. Nós dois erramos...

— Eu prometo, hyung, por favor, acredita em mim...

— Não. Não é isso que quero dizer. Tenho certeza que você quer que a
gente dê certo, e que você quer controlar seus ciúmes... Mas as coisas não
funcionam assim. Não basta boa vontade. Às vezes a gente precisa de ajuda
externa...

— O que quer dizer? — o mais novo sussurrou, confuso.

Jimin mordeu o lábio inferior, ansioso. Não queria que Jungkook


interpretasse mal o que ele iria dizer. Mas precisava falar. Aquele momento
era decisivo, e definiria todo o futuro da relação deles.

— Eu quero muito, muito mesmo, voltar com você, bebê — o moreno


deslizou a destra pelo rosto másculo do bratzinho. — Mas tenho uma
condição.

— Eu faço o que você quiser — Jeon devolveu rápido, com os olhinhos


levemente arregalados.

Jimin sorriu fraco, encarando-o com atenção e doçura.

— Se a gente voltar... Eu e você vamos fazer terapia de casal.

Eles ficaram um minuto em silêncio. Jimin, apreensivo, mordendo a pele do


lábio; Jungkook, raciocinando no significado daquelas palavras.

— E eu não tô dizendo que você é doido, nem nada assim — o Park


adiantou-se, um tanto afobado, ao se dar conta das milhares de
possibilidades de interpretação que a cabecinha geniosa de Jungkook
poderia criar. — Mas é que numa relação, confiança e diálogo são a base de
tudo. Isso não é papo furado de terapeuta, é somente a verdade. E eu nunca
desconfiei de você, nunca achei que você fosse me trair ou algo desse tipo...
Mas nós dois temos muito bloqueios em nosso diálogo. Sentimos medo de
dizer a verdade em algumas situações, por medo de como o outro vai reagir,
e tudo acaba virando uma grande confusão, que poderia ser evitada apenas
com uma conversa aberta e sincera.

Jungkook continuou fitando o ex-coronel, com atenção, mas seu rosto não
parecia transparecer as emoções daquela vez. Isso porque, o garoto estava
congelado, parado no tempo, enquanto sua cabeça raciocinava a todo vapor.

— Jungkook-ah? — Jimin chamou com a voz sussurrada, após muitos


segundos de tensão. — Você não diz nada, tô ficando preocupado...

O ruivo piscou um punhado de vezes, assimilando. Era como a última


amarra se soltando na cabeça do submisso.
— Sim, hyung. Eu concordo, vamos fazer terapia juntos — disse. — Eu já
tinha pensado em fazer terapia sozinho, na verdade. Tenho muitos traumas
que preciso curar. Vou fazer o possível e o impossível pra cuidar da nossa
relação, como se cuida de uma plantinha recém-nascida. Quero regar a
plantinha todos os dias, checar se ela está pegando o solzinho dela e tudo o
mais...

Jimin sorriu, e junto ao sorriso, sentiu descerem lágrimas pelos cantinhos de


seus olhos. Eram lágrimas de felicidade.

— É recém-plantada, não recém-nascida, amor... — gargalhou,


genuinamente contente. Sentira uma saudade fodida desse jeitinho doido do
namorado. — Então... Nós vamos fazer terapia. Nós dois. Vamos fazer isso
dar certo, Jungkook.

O ruivo sorriu, concordando, e então beijaram-se outra vez, com uma


delicadeza e profundidade sem igual. Jimin pressionou a cintura fina do
alfa, enquanto este arranhava sua nuca e puxava seus cabelos com força. Os
estalos do beijo vagaroso encheram o ambiente, e cada mero toque na pele
um do outro, arrepiava como se já estivessem sem roupas.

Jimin apertou as coxas grossas, o quadril e as nádegas do brat, com posse,


recebendo reboladas do outro sobre si, em resposta. Era impossível pro Park
disfarçar a dureza já instalada em suas calças.

Mas não só tesão, como amor irradiava da pele do dominador. Ele queria
possuir Jungkook, mas queria mais ainda naquele momento, que o mais
novo o possuísse. Queria dele a única coisa que ainda não tinha...

— Faz amor comigo — Jimin murmurou, com os lábios rentes ao do outro.


— Faz amor comigo, me beija, me toca.... Me fode, bebê.

O ruivo arregalou os olhos e separou os lábios, afastando seu rosto um


tanto, pra observar melhor a face alheia.

— Mesmo? Você realmente... Mesmo, hyung? Não brinca comigo! Olha,


meu coração até dispara! — Pôs a mão pequena do outro sobre a lateral
esquerda de seu peito, provando ao lúpus que, sem exageros, apenas à
menção àquilo fazia seu coração quase sair pela boca.

Jimin repuxou um sorriso na lateral dos lábios, fazendo uma expressão que
poderia ser considerada bem cafajeste, de tão safada e cínica, mudando da
água pro vinho, terrivelmente dual, como era de costume.

— Sim. Eu não tô brincando, Jungkook. E não quero dominar você dessa


vez. Até porque, a gente bebeu um pouco e...

— Eu não tô bêbado! — o garoto foi rápido em dizer. — Só fiquei um


pouco alto e emotivo na hora da raiva, mas já passou, eu tô sóbrio! Quer
que eu levante e faça um quatro com a perna? — tentou se afastar para o
fazer, mas Jimin o apertou mais contra si, travando-o.

— Não precisa, neném. Eu também não bebi muito, não cheguei a ficar
alterado, e se tivesse, já teria passado. Mas não quero restringir seus
movimentos. Quero que você tenha liberdade pra agir e me tocar como bem
entender...

— Vai me deixar te dominar? — Jeon perguntou, boquiaberto, ao que o


lúpus deu uma gargalhada apressada.

— Ei, não vá tão longe. Eu não disse nada sobre me submeter à você. Já
falei que vou pensar nesse assunto... Mas não quero te dominar hoje, quero
transar baunilha. Entende? Quero fazer amor...

Sem se deixar abalar, afinal, Jeon não tinha nenhum desejo absurdo de
dominar o parceiro, apenas de experimentar, por curiosidade, ele sorriu,
acariciando a nuca do brat tamer.

— Eu quero, Jimin-ah. Quero agora. — E voltou a beijar o moreno,


eufórico.

Mas o beijo logo foi rompido, quando o dominador o empurrou pro lado no
sofá e se levantou, o fitando com um risinho safado.

Maldito sorriso cafajeste! Fazia o coração de Jungkook derreter.


Ele só não percebia que costumava espelhar todos os movimentos de Jimin,
dando sua própria versão daquele sorriso ladino, e que o efeito no moreno
era o mesmo: coração acelerado, pernas bambas e algo pulsando forte entre
elas.

— Vem — Jimin o puxou pela mão, em direção às escadas.

O garoto o seguiu animado, mas demoraram três vezes mais de tempo pra
terminar de subir os degraus, uma vez que, atiçado e eufórico pra um santo
cacete, o Jeon não parava de puxar o quadril do Park pra trás e esfregar seu
pau duro contra a bunda dele, fazendo o mesmo ter de segurar-se no
corrimão vermelho incandescente.

E Jimin não podia negar: estava se derretendo com aqueles toques. Talvez
deixar o bratzinho tão livre não fosse tão ruim assim. Afinal, ele já estava
mais do que acostumado a tê-lo lhe tirando o poder um bocado de vezes.

Entraram no quarto e o mais baixo ligou a caixinha de som na cômoda,


enquanto Jungkook começava a desabotoar a calça, esbaforido.

— Ei, ei, ei... — repreendeu o lúpus. — Não tão rápido, garotinho.

Então ele deu play em uma melodia de batida sensual, tirou a própria
camisa, depois a calça, e aí sentou-se na cama, só de cueca vermelha, se
apoiando com os cotovelos pra trás, exibindo o corpo bonito e bem
trabalhado.

— Quero que tire a roupa pra mim de novo. Como daquela vez... — Jimin
declarou com aquela voz sussurrada rouquinha, que deixava o pau do Jeon
apontando pro teto.

O garoto ficou perdido e travado em seus movimentos, por um momento.

— Tipo... um strip, de novo?Com dancinha sexy e tudo?— indagou.

O dominador apenas assentiu lentamente com a cabeça, passando a língua


provocadoramente por entre os lábios grossos.
— Mas eu não sei dançar assim, hyung... Sabe que se eu rebolar, vou
parecer uma britadeira — murmurou com um meio-bico risonho. —
Daquela vez eu não dancei, então te poupei dessa vergonha...

Jimin quase cuspiu saliva, ao se contorcer numa risada.

— Não precisa rebolar, bebê. Só tire a roupa bem devagar, enquanto olha
pra mim. Não tire os olhos de mim... — comandou, voltando à seriedade,
aos poucos.

Jeon mordeu o lábio, excitado. E não precisou ouvir mais nada. Sem
camisa, tirou os sapatos, e com os botões já abertos da calça, desceu
lentamente o zíper, para depois brincar suavemente com a borda da calça
social. Os mirantes arredondados fitavam fixamente aos rasgados do Park,
que o encarava de volta, segurando o lábio entre os dentes, cheio de tesão.

Devagarzinho, o mais novo empurrou a barra da calça pra baixo, com o


tecido travando um pouco entre as coxas musculosas, mas logo caindo no
chão, sem mais dificuldades. Ele se pôs um passo pro lado, livrando-se
totalmente da peça.

Suas mãos magras deslizaram pelo próprio abdome, sabendo muito bem
como jogar aquele jogo, provocando o — agora e novamente — namorado,
até o limite. A canhota acariciou a nuca bem aparada, enquanto a destra
apertou o próprio pau teso, por baixo do tecido da boxer preta, ao passo em
que Jimin fazia o mesmo, porém, acariciando-se por cima da cueca
vermelha.

Jungkook brincou um pouco com o elástico da cueca escura, para então


virar-se de costas e, fitando o outro por cima do ombro, deslizar o tecido
pernas abaixo, todo empinadinho com a coluna arqueada, revelando
primeiramente a bunda pequena e durinha. Viu Jimin ofegar, e então voltou-
se de frente, alisando o próprio falo grande e pesado.

— Você gostou, hyung? — sussurrou, em um tom que era tão sexy, quanto
brincalhão. — Quer que eu tire a coleira também?

— Não. Venha aqui e tire minha cueca — o moreno respondeu, ao invés.


Imediatamente o Jeon se aproximou da cama e enfiou os indicadores no
elástico vermelho da peça alheia, deslizando-a facilmente pelas pernas
bonitas do ex-coronel, assistindo ao pau grosso e teso pular pra fora,
emoldurado por uma fina camada de pelos escuros na pélvis.

— Você disse que não queria me dominar agora, Jimin — falou, em tom de
flerte, o sorriso ladino jamais deixando seus lábios, nem os do ex-militar. —
Então por que está me dando ordens? — resmungou, com uma sobrancelha
arqueada, como o perfeito malcriado que era, se encaixando entre as pernas
abertas do moreno.

O Park agarrou a nuca do outro com a destra e deslizou no colchão,


deitando-se apropriadamente e puxando Jeon para si.

— Eu mandei, mas não disse que era pra você obedecer — afrontou.

E mais nenhuma palavra foi dita. Colaram as bocas famintas, clamando


uma pela outra. Esse beijo era duro, rápido, com as línguas indo fundo nas
bocas. O Park arranhou as costas do garoto, deslizando-as da altura dos
ombros até a bunda.

Jungkook, por cima, esfregou os dois pênis duros um contra o outro,


gemendo entre o beijo, e adorando a ardência das unhadas na pele. Seus
beijos desceram pro pescoço cheiroso do alfa lúpus, embriagando-se no
aroma almiscarado. E como há algum tempo não acontecia, seus instintos o
faziam querer marcá-lo, as gengivas coçando.

Por isso, tentando conter o desejo, ele mordiscou o pescoço branquinho,


rebolando o quadril contra o do Park, enquanto este apertava sua bunda com
posse, puxando-o mais pra si, como se quisesse unir os corpos mais do que
a física permitia.

Jimin ondulava o quadril abaixo de Jungkook, sentindo, inevitavelmente,


seu pau latejar e sua entrada piscar, contraindo-se em busca de algo que a
preenchesse. Estava sedento por aquilo. Então puxou o avermelhado pelos
cabelos, afastando o rosto dele de seu pescoço.
— Me prepare, alfa — ordenou, abrindo mais as pernas ao redor do outro,
convidativo.

Jungkook imediatamente obedeceu, descendo lambidas molhadas pelo


peitoral do dominador, onde aproveitou para chupar os biquinhos marrons
eriçados, amando ver a pele do alfa lúpus se arrepiar sob seus beijos nada
castos. Rodeava a auréola e o bico com a língua, antes de sugá-los pra
dentro da boca e mordiscar a pontinha com os dentes de coelho, fitando o
moreno dali de baixo, com seus olhinhos curiosos e naturalmente inocentes.

O mais novo voltou a deixar a trilha de beijos e lambidas pelo abdome


trincado do parceiro, passando a língua na glande do pênis duro caído sobre
a barriga de Jimin, para logo em seguida ignorá-lo e beijar a parte interna de
uma das coxas do alfa.

O lúpus rebolou contra o colchão, querendo desesperadamente fechar os


olhos, mas sem o fazer, de modo que não pudesse perder aquela imagem
gloriosa que era o rosto do bratzinho entre suas pernas. Tão fodidamente
quente! Era como um quadro erótico.

Ele sorrateiramente pegou o tubo de lubrificante na mesinha de cabeceira,


antes de entregá-lo a Jungkook, que permanecia perdido entre suas coxas,
agora beijando e sugando a pele do outro lado da virilha, empenhado em
fazer o namorado sentir prazer.

— Você parece tão inocente me olhando daí... — Jimin ronronou. — Eu


amo o quanto você consegue ser exatamente o oposto disso. — Sorriu
safado, sendo imitado pelo mais novo.

— Ai, hyung... É que você é tão delicioso... — o garoto disse, manhoso,


subindo o tronco para colar seu peitoral no do moreno, e beijar-lhe a boca
avidamente.

Sua mão segurou um pouco abaixo da própria glande, deslizando-a pela


fenda exposta do Park, que resfolegou e interrompeu o beijo.

— Ei... Sem lubrificante não, bebê. Eu não tenho lubrificação natural, nem
a musculatura anal preparada pra isso...
— Eu sei, hyung. Não vou meter sem te preparar primeiro — fez um
biquinho fofo. — Eu só quero roçar um pouquinho aqui... — esfregou mais
a cabecinha do caralho teso nas pregas alheias. — Porra, eu tô tão ansioso
pra te comer! — grunhiu, exasperado.

— Então pare de enrolar — devolveu o moreno, direto. — Fode logo.


Quero sentir você, meu malcriado...

Jungkook voltou à posição anterior, se pondo entre as pernas do mais velho,


onde despejou um pouco de lubrificante transparente em seu dedo do meio,
antes de deslizá-lo suavemente no buraquinho enrugado do Park, e então
adentrá-lo devagar com o dígito.

Jimin mordeu o lábio, tensionando o corpo, de leve. Mas logo relaxou, ao


sentir a ponta do dedo alheio roçar sua próstata, direto ao ponto. Oh, aquela
era uma surpresa mais que agradável: Jungkook sabia exatamente o que
estava fazendo, e tal constatação permitiu que o moreno relaxasse mais.

O Jeon espalhou mais um pouco do gel melado na entrada anal do Park,


antes de penetrá-lo com o segundo dedo, agora entrando e saindo da
cavidade, intercalando com a pressão que fazia com as digitais naquela
partezinha mais inchada e áspera dentro do outro.

O ruivo então deslizou suavemente a língua nos testículos doloridos do alfa,


sem parar os movimentos de seus dedos, antes de sugar as bolas com
delicadeza pra dentro da boca, uma de cada vez, ouvindo o gemido de
aprovação do dominador.

A glande do lúpus expelia pré-sêmen, fazendo seu cheiro almiscarado ser


ainda mais intenso dali, enlouquecendo Jungkook. Seus instintos
reconheciam Jimin como seu par genético ideal, desde o começo, e era por
isso que o contato entre os dois sempre pegava fogo.

Inserindo já o terceiro dedo, massageou as paredes internas do parceiro,


enquanto sua língua dançava da base do pau alheio até a glande molhada,
indo e voltando, provocando-o em demasiado, sem abocanhar o membro
pulsante de uma vez.
— Você também é um sádico de merda, não é? — Jimin grunhiu, excitado,
ao perceber a demora proposital do outro.

— Claro que não — Jeon mentiu, com um sorriso sacana enfeitando os


lábios finos. — Você só precisa ter mais paciência, hyung... Não era você
quem gostava de torturar antes de foder?

— Filho da puta! — ele respondeu, dando uma risada curta, que tão logo
transformou-se num gemido lânguido, quando o ruivinho girou os dedos
dentro de si com mais velocidade. — Fode logo, Jungkook! — reclamou.

— Só vou obedecer porque quero ser um bom menino pra você... —


zombou, subindo o tronco. E então encaixou a glande molhada na entrada
lubrificada. — Ah... Finalmente... — disse com um suave murmúrio,
enquanto deslizava a cabecinha na entrada exposta, outra vez, pronto para
penetrá-la.

Observando atentamente aos seus sexos unidos, Jungkook teve a visão


privilegiada do ânus alheio engolindo seu caralho, pedacinho por
pedacinho, pouco a pouco, antes de se ver completamente dentro dele, até
sua pélvis encostar na polpa da bunda arreganhada do dominador.

Seu membro sensível sentiu o aperto inexplicavelmente delicioso, as


pulsadas das paredes internas do lúpus, sua pélvis queimando e ardendo de
tesão e a própria euforia que se apossava de si, fazendo seu coração bater
rápido demais da conta.

Estava dentro de Jimin, finalmente!

— Bem que você disse que aguentava muito, hyung... — sibilou com um
sorrisinho ladino, ao vê-lo engolir tudo até o talo.

Jeon começou a sentir o suor brotar por todos os seus poros. Porra, estava
dentro de Jimin! Estava o fodendo! Sua pressão quase abaixava com aquela
fodida sensação. Ele sequer sabia pôr em palavras. Jimin era tão
apertadinho, quente e pulsante... Ou era seu cacete que latejava tanto ali
dentro?
Com calma, deu a primeira estocada, retirando-se quase completamente,
para entrar outra vez, até o fundo.

— Porra... — Jimin xingou mudo, sem som, apenas movendo os lábios,


enquanto soltava o ar pesadamente pela boca, sentindo aquele misto de dor
e tesão insano.

Outra estocada, dessa vez até a metade, apenas para se pôr para fora e voltar
indo mais fundo. O ex-militar apertou o corpo de Jeon contra si, deslizando
seus pés pelas panturrilhas do mais novo.

— Hyung... — o ruivinho quase ronronou, com uma caretinha de tesão.


Escondeu seu rosto na curvatura do pescoço do dominador, para aí começar
a estocá-lo num ritmo um pouco mais rápido.

Jimin mordeu o ombro esquerdo do Jeon — sem cravar as presas lupinas, é


claro. — apenas para descontar o prazer em alguma coisa, ao mesmo tempo
em que arranhava suas costas e apertava aquela bunda durinha e malhada
em suas palmas abertas, sentindo o garoto entrar e sair deliciosamente de
dentro de si.

E, inevitavelmente, se viram perdidos no balanço dos corpos quentes.


Estavam tão apertados no abraço um do outro, que os mamilos eriçados se
roçavam, de um jeitinho delicioso, assim como a barriga trincada do Jeon
deslizava no pau duro e sensível do Park, caído entre seus abdomes.

O ex-militar tinha o cenho franzido e o lábio inferior preso entre os dentes.


Ele já sabia que ser fodido pelo Jeon seria muito gostoso, mas imaginar era
bem diferente de fazer. Por isso, ele sentia o garoto entrar em sair de si,
repetidamente, e seu coração batia acelerado, uma queimação se alastrava
por toda a pélvis, e aquele lugarzinho de prazer dentro dele parecia pronto
pra explodir, afinal, Jungkook metia mais gostoso do que o moreno poderia
ter imaginado em todos os seus sonhos mais eróticos. Nada fazia jus aquilo.
Aquele pau grande, grosso e cheiroso, o estava deixando alucinado.

— Mais forte, bebê... — sussurrou, quase fôlego. — Fode mais... — E em


seus lábios macios, brotou o sorriso mais perverso e maldoso possível.
Park Jimin, aquela bendita cobra sorrateira...

Ele não queria suave, queria bruto.

Jungkook emitiu um grunhido indecifrável pela garganta, antes de estocar


mais rápido, alcançando um ritmo perfeito, que fazia os dois alfas
perderem-se em prazer.

Ele metia com atenção, ainda que afogado nas próprias sensações, pois
precisava desesperadamente ter a certeza que seu hyung estava gostando,
afinal, qual seria a graça, pra um submisso, em não agradar o seu
dominante? E Jungkook era, naturalmente, submisso aquele homem
deslumbrante.

A entrada do próprio ruivo pulsava, escorrendo slick aos montes, desejando


também ser penetrada. Talvez um vibrador ali resolvesse... Mas decidiu que
hoje não. Hoje seria só sobre foder Park Jimin, insanamente.

Com isso, o garoto acelerou seus movimentos penetrando o namorado com


mais intensidade e velocidade, mais fundo, mais forte, com menos cuidado,
mas sem deixar de mirar a próstata do alfa lúpus, que ele já sabia bem
encontrar.

— Isso... Assim, bebê... — disse Jimin, deixando as mãos descansarem no


colchão, os braços abertos. E, em seguida, cruzou um tornozelo no outro,
prendendo o quadril de Jungkook entre suas pernas, assistindo ao seu
garoto trabalhar em cima dele.

Jimin disse que queria transar baunilha, mas ver o ruivinho usando uma
coleira simples de veludo enquanto o fodia, era excitante demais.

O de cabelos cor de vinho tirou o rosto do pescoço cheiroso do outro, para


unir seus narizes, roçando as pontinhas, enquanto suas bocas não se
encostavam, mas as línguas se provocavam molhadas fora das bocas.

Espiando as mãos do Park com as palmas viradas pra cima sobre o colchão,
o de genes ômegas deslizou a canhota pelo braço alheio, até seus dedos se
entrelaçarem. O toque das palmas quentes era prazeroso, de um jeito
carinhoso, romântico e apaixonado.

De fato, estavam fazendo amor naquela cama que começava a ficar


bagunçada.

Perderam-se no olhar um do outro, enquanto fodiam de mãos dadas. Seus


olhos transmitiam todas as mensagens mais profundas. Aquele amor era
surreal. Aquela combinação de corpos, o modo como seus suores se
misturavam, em como seus cheiros combinavam-se no ar, parecia fazê-los
transcender naquele momento.

Era visceral.

— Eu te quero tanto, Jimin... — falou em tom sussurrado e ofegante, com


um olhar apaixonado. — Você vai me deixar louco...

— Eu te quero mais... — o mais velho praticamente ronronou, com aquele


seu tomzinho provocador, usando sua mão livre pra acariciar o maxilar
marcado do garoto.

Quando Jungkook pôs a língua pra fora, tentando beijá-lo outra vez, Jimin
foi rápido em capturar o músculo molhado entre seus lábios grossos,
chupando-o como um pirulito.

O ruivo gemeu do fundo da garganta, fazendo até mesmo seu peito vibrar,
até o som de estalo de sua língua sendo abandonada soar.

— Hmn... Adoro quando você faz isso, hyung... — disse, ao ter a língua
liberada.

— Isso o que? — o outro fez-se de rogado. — Chupar sua linguinha, bebê?

— Sim — ele respondeu com um sorriso sacana, enquanto metia gostoso.


— E quando você fala no diminutivo também. Faz mais. Por favor.

O Park sorriu e levantou um pouco a cabeça do travesseiro, capturando


outra vez a língua do garoto entre seus lábios, chupando-a com gosto, e
embebedando-se nos grunhidos e arfares do Jeon, que acelerava o ritmo das
estocadas dentro dele.

— Bebê... Sabe o que eu quero? — sibilou, entre suspiros, recebendo a


atenção admirada do ruivo apaixonado em cima de si. — Quero que você
me pegue por trás...

Exatamente como quando o ex-tenente pediu para ser fodido, minutos atrás
na sala, o Jeon arregalou os olhos, surpreso, diminuindo um bocado o ritmo
de suas estocadas.

— H-hyung? Mesmo? — perguntou. E o alfa lúpus apenas assentiu,


sacudindo a cabeça lentamente pra cima e pra baixo, sorrindo safado.

Deus, Park Jimin poderia ser mais sem vergonha? A safadeza daquele cara
era inexplicável.

— Mas nada de puxar cabelo — alertou, começando a afastar Jungkook e


levantar o tronco. — E nem de dar tapa na minha bunda. Nenhum
movimento de dominação. Você já terá o controle demais ao me ter
embaixo de você. Fui claro?

— Sim, meu senhor... — o ruivo respondeu em automático, com os olhos


brilhando e em tom apaixonado. Era mesmo caidinho e boiola por Park
Jimin, a ponto de reagir àquilo como reagiria a uma confissão de amor. E o
submisso sabia que, para Jimin, dá-lo tanto poder assim, confiando que ele
se controlaria, mesmo quando era um malcriado de primeira, era uma
confissão implícita do quanto confiava nele, e se sentia confortável em se
expor assim pra si e somente a si.

Lentamente, o moreno foi se virando sobre o colchão, ficando de costas pro


bratzinho, que o observava em êxtase e ansiedade, sem tirar os olhos do
corpo bem esculpido.

O ex-coronel se manteve de bruços e puxou dois travesseiros abandonados


sobre a cama, para colocá-los embaixo de si, e descansar o quadril sobre
eles, ficando com a bundinha redonda bem arrebitada para ser fodida pelo
namorado.
Jeon quase salivou quando viu a pele branca brilhar sobre a fraca luz da
suíte. Ele desceu beijos pela coluna arqueada do dominador, de forma
devota, antes de afastar as polpas da bunda alheia e meter sua língua no
orifício lubrificado, adorando a resposta do Park: gemidos sôfregos e
reboladas do quadril contra seu rosto.

O ruivo fez questão de chupá-lo por um bom tempo, entrando e saindo com
a língua macia, rodeando tudo ao redor, enchendo-o de saliva com suas
carícias molhadas. E logo seu cacete duro voltou a se enfiar entre as carnes
alheias, estocando agora vagarosamente, mas com intensidade.

Apoiou as palmas com firmeza no colchão, e chocou o quadril contra o do


alfa lúpus, batendo a pélvis contra as nádegas fartas. E quanto mais barulho
fazia, mais excitados os dois ficavam.

Ele tentava ir devagar e fundo, mas qual o propósito, se o próprio alfa lúpus
pervertido queria bruto?

O quarto tinha som e cheiro de sexo.

A posição tinha o ângulo perfeito para que a glande do pênis pudesse


massagear a próstata do moreno, e Jungkook focava nisso enquanto comia o
namorado, acelerando as investidas.

Ele não queria somente ter prazer como ato, e sim sentia uma necessidade
absurda de agradar o Park, de servi-lo e mostrá-lo o quão bom podia ser pra
ele. Por mais malcriado e provocador que fosse, Jeon Jungkook tinha a
submissão intrínseca ao seu eu.

Por isso, o submisso fazia movimentos de quadril insanos, rebolando com o


pau dentro da bunda alheia, dando o seu melhor para acertar o ponto de
prazer dentro do dominante. Estalava a pélvis em sua traseira, com fervor,
fodendo exatamente como o outro queria.

Suor começava a brotar e pingar de suas peles, mesclando-se.

A mistura de seus cheiros afrodisíacos tomava o ar, deixando-o denso.


O cheiro de sândalo do alfa lúpus sufocava deliciosamente as vias aéreas do
meio ômega, ao passo em que a fragrância de almíscar/musk parecia relaxá-
lo e prendê-lo num feitiço.

Já notas amadeiradas do Jeon entorpeciam os sentidos do ex-tenente,


enquanto o cheirinho doce de ameixa e maçã causava-lhe uma ardência nas
gengivas e na garganta, seus instintos sempre dando indícios de que ele
precisava marcar aquele homem como seu e somente seu.

Além disso, Jimin queria segurar seus instintos de comando e dominação.


Estava indo bem até ali. Mas isso era negar a própria natureza. Ele estava
ali pra dominar. E vendo o Jeon, por cima do ombro, em cima dele e com
aquela coleira, ah... pobre alfa lúpus; ficava a ponto de bala, de tão
excitado.

Então, subitamente empurrou o rapaz, sequer dando-lhe tempo de ter


alguma reação, antes de atirá-lo de costas no colchão e montar sobre ele,
tomando o controle e sentando sobre o caralho ereto do ruivinho.

O lúpus espalmou as mãos pequenas e os dedos adornados de anéis de prata


no peitoral inflado do namorado, apoiando-se para quicar em cima dele. Na
primeira sentada, suas nádegas estalaram na pélvis do ruivo, que apertou o
lençol com força entre os dedos longos, revirando os olhos, e com a boca
aberta, buscando ar.

Jimin estava brincando com a sua sanidade. E não surpreendentemente,


Jungkook queria chorar. Claro, era aquilo que o tamer mais costumava fazer
com ele: deixá-lo com tanto tesão, a ponto de, literalmente, fazê-lo
derramar lágrimas de prazer.

E estando completamente imóvel pra assistir ao mais velho quicando


animadamente em seu pau, o alfa híbrido se sentia à beira de um abismo.
Talvez enlouquecesse definitivamente naquele minuto. Aquela era a visão
dos seus sonhos, nos últimos três anos e meio.

— Ahhh... Que pau gostoso, bebê... — o moreno gemeu manhoso e safado


em cima de seu submisso, o olhar penetrante e afiado sobre o do outro,
desafiando-o. — Olha como o hyung fica duro em te sentir dentro dele, uh?
— provocou, com a vozinha aveludada, apontando pro próprio membro
teso e esticado. — Você é tão grande, neném...

Jeon grunhiu; fincou as unhas no colchão com mais força, rebolando o


quadril com mais avidez, nada muito sutil. Jamais imaginou que ter Jimin
se empalando nele daquele jeito fosse ser a coisa mais incrível de todas. Era
bem melhor do que na sua imaginação, fato.

O Park levou as mãos para trás, apoiando as duas palmas nas coxas de
Jungkook; os pés, apoiou no colchão, ficando todo abertinho em cima do
amado. Aí, com uma posição mais firme, rebolou com destreza sobre o
caralho do outro, buscando a própria próstata com seus movimentos
perigosos. Queria sentir a cabecinha inchada e molhada atingindo aquele
lugarzinho gostoso dentro de si. Queria gozar só com o cacete do namorado
malcriado dentro dele.

Jimin, para torturá-lo, subia e descia o quadril vagarosamente, sabendo que


o olhar de Jungkook estava vidrado no próprio pau sendo engolido pelo
rabo apertado de seu Dom. O mais novo delirava, ao ver sua piroca com as
veias inchadas sumindo pra dentro do alfa. Nunca tinha fodido um alfa
macho na vida. Nunquinha.

Bom, talvez não estivesse fodendo realmente ninguém, uma vez que era o
lúpus quem se empalava em seu pênis; não era ele quem metia. Mas fazia
alguma diferença? — Jeon pensou. E chegou à conclusão de que não, não
fazia. Era seu pau dentro de Jimin, afinal. Não importava se quem
comandava os movimentos era ele, o que importava era que seu namorado,
aquele cara fodidamente gostoso e sensual, estava se acabando em seu sexo,
como fogos de artifício em festa de ano-novo. Era fodidamente
maravilhoso. A sensação era quase transcendental.

O ruivo não conseguia desviar o olhar daquela visão gloriosa de ser


engolido. Mas invocando toda a força dentro de si, o garoto desviou os
olhos para o resto do corpo do Park, subindo lentamente os mirantes pela
pélvis enfeitada pela leve penugem negra cuidadosamente aparada,
enquanto o pau grosso e ridiculamente duro do lúpus balançava no colo, à
medida em que este quicava em cima dele.
Jungkook mordeu o lábio e inalou o ar com força. Sua mente estava
nublada, confusa. Sua virilha formigava e todo o ar em seus pulmões
parecia comprimido. Ia gozar pra cacete, ah, se ia.

— Hyung... por favor, eu quero gozar... — implorou, com a voz aflita.

— Quer, é? — Jimin zombou. — O quanto você quer? — usou sua


frasezinha provocadora de sempre.

— Muito, meu senhor — respondeu o garoto, imediatamente.

Pro caralho aquela coisa de foda baunilha. Nada sobre aqueles dois poderia
ser baunilha.

O Park passou a quicar mais rápido na pélvis do outro, com tanta força e
velocidade, que ocasionava em estalos das peles se chocando pelo quarto. E
não deixava de encarar seu submisso nos olhos, se embebedando nas
sensações que o olhar luxurioso do garoto sobre si, lhe causava.

— Por favor, Jimin-ssi... — pediu mais uma vez, a voz soando quase como
a de um gatinho ronronando.

— E aonde o meu neném quer gozar, uh? — o ex-militar indagou com a


voz rouca.

E, sem pensar duas vezes, Jungkook respondeu:

— Onde o meu senhor quiser.

Viu os olhos de Jimin brilharem e a boca grossa se repuxar em um sorriso


aprovador e satisfeito.

— Tão bonzinho, o meu garoto, não é? — o mais velho falou, agora


rebolando no pau duro alheio, e evitando, a todo custo, deixar seus olhos
revirarem de prazer, ao que sentia a cabecinha do pênis de Jungkook roçar
sua próstata quando conseguiu o movimento perfeito do quadril ali no topo.
— Fala pra mim, aonde você quer... Eu deixo você gozar na minha
boquinha ou no meu cuzinho...
Era agora que Jungkook ficaria louco. Palavras chulas disferidas em
diminutivo pelos lábios convidativos do moreno, eram um golpe mortal pro
ruivinho.

Atordoado e quase gozando só com as palavras de seu dono, do homem a


quem pertencia de todas as formas que se podia pertencer à alguém, o de
cabelos cor de vinho respondeu:

— Dentro de você, hyung — declarou com a voz quase falhando. — Deixa


eu gozar dentro de você, meu senhor...

Outra vez as orbes afiadas de Jimin brilharam misteriosas. Ele sentia um


arrepio percorrer sua coluna e um ardência queimando em sua virilha.

Ter Jungkook completamente domado era dolorosamente gostoso. Nada no


mundo se comparava à sensação de submetê-lo, fosse o fodendo, fosse se
fodendo nele, mesmo quando o dominava não intencionalmente, mas era
algo natural à dinâmica dos dois.

Frente a Jimin, Jeon ansiava por se submeter, enquanto o Park, frente ao


submisso, ansiava dominá-lo e tê-lo sob o seu poder. Deus, a sensação era
tão viciante quanto a de uma droga.

Park Jimin não conseguia mais se imaginar sem aquela sensação, sem
aquele sentimento. Não queria perder Jungkook nunca mais na vida.

Pronto para dar ao seu alfa o que ele queria, Jimin continuou engolindo
entre suas bandas toda a espessura do sexo alheio, sentindo a pequena dor
deliciosa de ser arrombado. Essa era uma das raras dores que o dominador
gostava, uma vez que era completamente sádico, e nada masoquista.

Ao que os minutos incansáveis iam passando, os estalos foram ficando mais


bruscos. Jimin sentava forte, era quase como se o estivesse dando uma
surra. Seus movimentos eram rápidos e certeiros, o quadril subia e descia
com maestria, ele comandava aquela transa como um maestro comanda
uma orquestra.
Ele se curvou pra frente e apoiou as mãos uma em cada lado da cabeça de
Jeon, que observava seu rosto, com uma expressão sedenta e anuviada.
Sorrateiramente, deslizou um das palmas para o pescoço do submisso,
envolvendo o pescoço suado e envolto na gargantilha fina, com a destra.
Pressionou os dedos nas laterais, de leve, num pedido silencioso, os olhos
oblíquos querendo testá-lo.

— Posso? — perguntou baixinho, com a voz suave, que em nada


combinava aos movimentos brutos de sua foda.

— Sim, hyung — suspirou.

— E se você quiser que eu pare? — testou. Mas Jungkook tinha sido bem
treinado, afinal.

— Faz, hyung... — pediu, expondo mais o pescoço pro alfa lúpus. — Se eu


me sentir desconfortável, dou três tapinhas na sua coxa, como a gente faz
pra pedir arrego no judô.

Jimin assentiu, orgulhoso, pois o havia ensinado bem; e então apertou com
um pouco mais de força a jugular do submisso malcriado, dificultando-lhe a
respiração, mas ainda sem cortar a entrada de ar pela boca e nariz.

Um, dois, três...

Afrouxou o aperto, permitindo que o rapaz respirasse livremente.

O Park sorriu satisfeito e então voltou a dar atenção às reboladas no


membro alheio. Se movia sentindo a carne pulsante massagear seu interior
quente. Era insano de tão bom.

As mãos grandes e delicadas do alfa de genes ômegas pressionaram sua


cintura.

O domador apertou, outra vez, com força controlada, o pescoço magro em


sua palma, assistindo atentamente à expressão do garoto, ao ser privado do
ar, contando agora quatro segundos, antes de afrouxar o aperto e vê-lo
inalar o ar pelo nariz e garganta, o peito subindo e descendo mais rápido.
Os dois se fitavam diretamente, o Dom atento às expressões de seu sub.
Quando este parecia pronto novamente, lhe dava um sinal apenas com o
olhar, de que Jimin poderia seguir em frente. O Park então o fazia, voltando
a apertar os dedos em volta do pescoço macio, impedindo a passagem de ar
pela garganta. Era um um aperto dolorido, mas cuidadoso, nada que
pudesse quebrar um osso, por exemplo, apenas privá-lo do ar.

Jungkook sentia seu baixo ventre pinicando de tesão, quando o moreno o


enforcava, era insano. Quando o ar começava a fazer falta, sua visão
embaçava e o canal interno de Jimin massageando seu caralho ao mesmo
tempo tornava aquilo brutalmente delicioso, e seus dedos apertavam mais a
cintura do ex-tenente.

Tão delicioso que o deixava muito, muito próximo de gozar. Tudo dentro
dele formigava. Quando o Park liberava sua traquéia e o sub engolia o ar
com força, a sensação de alívio era ainda mais instigante: causava uma onda
de prazer tortuosa.

Jimin era definitivamente o maldito deus do sexo. Nem em seus sonhos


mais obscuros, Jungkook imaginou encontrar alguém que o desse tanto
prazer assim.

Ter o ex-coronel lhe subjugando, machucando, maltratando, fodendo bruto,


para em seguida enchê-lo de carinhos, afagos e palavras doces, cuidando de
si como ele ansiava ser cuidado, era a coisa mais deliciosa do mundo. Pela
primeira vez na vida, Jungkook se sentia perfeitamente realizado.

Quando ele pensava em seus castigos, sentia certa excitação. Mas quando
pensava em suas punições, ahhh! Ficava triste em ter seu Domzão tão bravo
com ele, como da vez em que fora punido sem aftercare. Puxa, era tão
melhor obedecer o seu dono, e receber seu prêmio, ao final de tudo; pois
nada era um prêmio maior para si, do que agradar ao seu alfa, e vê-lo
orgulhoso de si... A não ser, talvez, por vê-lo irritado e bruto. Talvez isso o
instigasse mais que qualquer coisa.

Definitivamente Jeon Jungkook vivia no limite entre servir e provocar. Um


submisso do tipo bratzinho safado e atentado mais nato.
Jungkook então levou as mãos para as costas do lúpus, acariciando-as, para
depois arranhá-las ao passo em que estocava pra cima, assistindo ao Park
quicar em cima dele, ganhando uma visão absolutamente pornográfica.

Aproveitando que o garoto estava encarregado das estocadas, Jimin se viu


livre pra usar as duas mãos, podendo agora enforcá-lo com uma, enquanto
tampava seu nariz com a outra. A ardência das unhas do garoto deslizando
em suas costas, bem como ele gostava, estava o deixando louco de tesão.

Outra vez, seus dedos roliços apertaram a garganta alheia, parcialmente


coberta pela gargantilha simples, enquanto a outra mão tapava o nariz e a
boca do Jeon, que, a despeito de sua privação de ar, acabava estocando-o
com mais vigor, quase desesperado.

Um, dois, três, quatro, cinco...

O dominador soltou a garganta e afastou a mão do rosto do ruivo, que


buscou por ar imediatamente, como se acabasse de chegar à superfície após
um mergulho.

Um sorriso surpreso e deliciado surgiu nos lábios do malcriado, claramente


aprovando a sensação daquele breath play.

Observando cuidadosamente a expressão do namorado, Jimin tornou a


sufocá-lo e engasgá-lo, dessa vez por um pouco mais de tempo.

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete...

A falta de ar causava uma agitação desesperada no submisso. Era aí que


suas unhas arranhavam com mais selvageria as costas do Domador. Seus
sentidos ficavam confusos, quase como um gato arisco ao ser enfiado na
água. A agonia gerava dor. E a dor era sinônimo de prazer para qualquer
masoquista. O medo de sufocar era um tempero apimentado.

Jimin sentia o hálito quente do outro em sua palma, e a sensação de poder


se alastrava por suas veias. O prazer do controle o atingia em ondas fortes,
fazendo sua pele toda arder, dos pés à cabeça, até seu âmago.
E então, uma vez mais, o Jeon pôde respirar, engolindo o ar com desespero.
O alívio enviava choques de prazer pelos seus nervos, e com isso, seu
quadril movia-se mais frenético pra cima, as unhas cravando-se na pele do
dominador com mais afinco; Este abaixou mais o tronco, até que seus rostos
ficassem na mesma altura, os dois encarando-se de perto.

— Nunca mais faça o que fez, Jeon Jungkook — rosnou, entredentes,


quicando em seu colo, enquanto segurava o pescoço do outro em sua destra,
mas sem apertar dessa vez. — Nunca mais termine comigo... Ou quando
você voltar, eu vou te punir tão forte, que você nunca mais vai esquecer. —
E seu tom parecia bravo. Tão bravo, que Jungkook sentiu um arrepio na
espinha, cheio de medo. E ele sabia que aquele medo o instigava ainda
mais.

— Porra... — grunhiu, com a voz afinando consideravelmente. — Eu vou


gozar...

— Então vem, seu malcriado do caralho. Me enche de porra! — o ex-


militar lhe disse ainda em tom irritado, com os rostos bem próximos.

As mãos do tamer apertaram o pescoço do brat, mais uma vez, privando seu
cérebro do oxigênio. Este percebia, pelo olhar de Jimin, o quão cuidadoso
este estava sendo com aquilo.

Embora não parasse de deslizar sobre seu pênis, o lúpus estava


perfeitamente concentrado em suas expressões, extremamente atento a elas
e não ao pau dentro dele. Era admirável o seu controle.

Dessa vez, Jimin passou cerca de dez segundos o asfixiando.

E então uma sensação de euforia tomou Jungkook e seu corpo todo. Ao


mesmo tempo e, contrariamente, ele sentia seu coração desacelerar as
batidas, enquanto a artéria carótida era pressionada; até outra vez ser
liberada, inalando o ar com força, respirando rápido, tentando engolir todo
o ar do qual fora devidamente privado.

Jimin se sentia tão poderoso ao fazer aquilo... Era tão excitante! Era como
um dos seus santo-graal's dos fetiches. O ápice da dominação: ter tanto
poder sobre seu submisso, ao ponto de comandar quando ele poderia ou não
respirar.

Era perigoso, claro. Mas Jungkook confiava nele. E o dominador não se


deixava levar pelo prazer, a ponto de esquecer a contagem de tempo ali,
pelo contrário. Seu corpo se movia até mesmo mecanicamente sobre o pau
alheio, uma vez que não se atentava à penetração, mas sim ao
enforcamento, à pressão de suas mãos no pescoço do outro, às expressões
deste, à coloração de suas bochechas, o movimento de seus olhos,
revirando-se de prazer. Sua atenção ali era redobrada, tendo o maior
cuidado e destreza possíveis, para que o play prosseguisse de modo seguro
e satisfatório para ambos.

Novamente o Park apertou o pescoço do alfa híbrido, privando-lhe do ar,


uma última vez, enquanto sentava muito acelerado sobre ele, deslizando sua
entrada pulsante pelo caralho sedento.

Fechando os olhos, Jungkook viu estrelas. Quase literalmente falando. Na


escuridão de suas pálpebras cerradas, círculos coloridos dançavam, como
era típico da falta de ar. Seu cérebro parecia apertado, por conta da pressão
que a falta de oxigênio fazia na cabeça.

E então chegou ao seu clímax. Com um gemido lânguido, Jungkook se


desfez dentro do alfa, sentindo todo o seu corpo vibrar. Espasmos atingiram
seus músculos, lançando choques pelo corpo. Sua porra começou a sair sem
parar, inundando o rabo do alfa lúpus, que, ao sentir-se cheio, largou o
pescoço do outro.

Pra Jeon, era como se ondas de calor o atingissem brutalmente, o suor


brotando de todos os poros, a pele inteira ardendo, enquanto seu caralho
latejava dentro daquele interior apertado, seu sêmen todo sendo liberado
lentamente, a visão embaçada.

Tudo dentro de Jeon queimava. Parecia que seu cérebro estava sendo
comprimido. Era um prazer indescritível, como a explosão de uma estrela
em supernova. Era como se todos os membros de seu corpo se
desmontassem, e logo após, se juntassem de novo.
E o ex-militar, ao sentir o gozo quente e molhado o encharcando, gemeu
excitado, com os lábios separados e a boca seca. Liberou então o pescoço
de Jungkook do aperto, este que sugou o ar com força, enquanto esporrava
dentro cuzinho apertado do ex-coronel.

O lúpus também estava quase lá. Quase. E sentir a porra quente do


namorado dentro de si, era tão, tão, tão gostoso que quase doía. Mas o pau
do ruivinho diminuiria rapidamente, agora que tinha gozado. E o Park não
podia ficar na mão.

Então, quando Jungkook fechou os olhos e suspirou totalmente relaxado,


Jimin entendeu que sua onda de prazer chegara ao final. Com isso, estava
seguro de poder mudar a posição.

Ele foi diminuindo as reboladas em cima do brat, até que Jeon terminasse
de gozar. Quando percebeu a explosão de prazer do outro se apagar, ergueu
o quadril, levantando do colo do sub, sentindo um vazio incômodo, quando
o pau melado do outro abandonou sua cavidade, caindo pesadamente por
sobre a barriga do dono, enquanto de sua entrada escorria a porra quente do
alfa.

O Park engatinhou até ficar com a pélvis na altura do rosto de Jeon,


masturbando o próprio caralho duro pingando pré-gozo, na frente do rosto
dele.

E o ruivinho, quando abriu os olhos, deparando-se com aquela visão, sorriu


deleitoso. Porra, como amava aquela piroca grossa! Como amava aquele
corpo, adorava aquele homem, era quase como um devoto. Queria devorar e
desbravar cada pedaço de pele do corpo alheio. Jimin era a coisa mais
deliciosa que já havia tido na vida.

— Abre a boquinha, amor... — o ex-coronel disse em tom de voz rouco e,


como sempre, autoritário, segurando o próprio falo teso pela base. — O
hyung vai foder sua garganta agora...

Sentindo cada célula de seu corpo explodir de tesão, o mais novo separou
os lábios e pôs a linguinha abusada pra fora, o encarando safado, obediente
e ansioso, louco para sentir o sabor e a textura deliciosa da pele fininha do
pênis veiudo em seu músculo aveludado, louco para deslizar a língua por
toda a extensão saborosa.

Já Jimin, ao segurar o próprio membro ereto pela base, direcionando a


glande já roxa, de tão estrangulada, para a língua alheia esticada pra fora da
boca, ficou insano com o olharzinho ansioso e beirando o inocente que o
submisso lhe dava.

Deus, era tão excitante!

Justamente quando ele pensava que as práticas extremas o levariam ao


máximo de prazer sexual que alguém poderia ter, descobriu que, ter isso
com alguém por quem estava apaixonado, além de ser alguém cuja
aparência e cheiros lhe eram absurdamente instigantes, foi que Jimin
descobriu que não sabia nada.

O que Jungkook lhe oferecia, mesmo sem saber, era a novidade e satisfação
mais gostosas que pode imaginar algum dia. Estava amarrado
emocionalmente a ele. Totalmente entregue.

Logo o pau grosso do Park se enfiou na boquinha quente, estocando-a


rápido e fundo, deliciando-se nos sons do engasgue do submisso.

E deslizando lentamente sua extensão pela boquinha macia do ruivo safado,


era quase como atingir o nirvana. Aquele era um novo nível de prazer e o
Park estava ciente disso.

Posicionou as mãos na parede encostada na cama, apoiando-se, e os joelhos


um de cada lado da cabeça de fios vermelhos. Passou a meter fundo naquela
garganta, certo de que seu experiente garoto já sabia como relaxá-la, para
não engasgar de primeira e deixá-lo deslizar bem dentro dela.

Com os movimentos repetidos, os cantinhos dos olhos de Jungkook


derrubaram lágrimas, devido ao esforço de aguentar todo aquele pau
forçando sua goela. E aquilo excitava o Park ainda mais. Aquela era uma
das visões mais eróticas que poderia ter: aquele par de olhinhos redondos
curiosos, lacrimejando por ter de abrigá-lo tão fundo.
Puxou os fios ruivos entre seus dedos curtos, descontando o prazer que
sentia, no couro cabeludo alheio.

E Jungkook, ao sentir a franja sendo puxada e sua garganta fodida com


força, percebeu seu pau querendo endurecer de novo.

Foi sentindo toda a sua extensão ser coberta e abrigada pela boquinha
quente, a glande inchada tocando a úvula, e os sons sufocados que Jeon
automaticamente emitia, que o tamer gozou, de olhos fechados, sabendo
que nenhuma gota sequer encostaria na língua do sub: tudo lhe desceria,
literalmente, goela abaixo.

Seu orgasmo lançou ondas de prazer que irradiaram do baixo abdome pelas
coxas e tronco, passando pelas pernas e pés, peito e cabeça, até terminar
queimando na ponta dos dedos.

Seu corpo todo tremeu e travou, deixando o ex-militar imóvel sobre o


submisso, por longos segundos.

E depois Jimin desabou na cama, ao lado do outro, as respirações de ambos


erráticas, os peitos subindo e descendo em busca de ar, as peles brilhando
de suor, os músculos ardendo de cansaço. E o bratzinho ficava ainda mais
lindo com o corpo todo nu e suado, exceto pela coleira preta enfeitando o
pescoço.

O ex-coronel passou meio minuto encarando o teto, com os olhos


desfocados.

Jeon tossiu por alguns segundos; depois rolou no colchão e abraçou o Dom
de lado, inalando o cheiro almiscarado diretamente da pele da bochecha
deste.

Este fechou os olhos, deleitoso, e deslizou a canhota pelo quadril do rapaz.


Depois se virou de lado na cama, para que ficassem se encarando de frente.

— Você tá bem? Vou lá embaixo buscar água pra você, bebê...


E, finalmente se recuperando, Jungkook sorriu safado, para aí responder,
com a voz fraquinha:

— Engasgar com seu pau na minha garganta, é a asfixia mais deliciosa,


hyung... — falou baixinho.

Jimin sorriu, extasiado, levando a destra para a nuca do garoto, enquanto a


alisava.

— E você não sabe o quanto fico feliz de ouvir isso. De saber que satisfaço
meu garoto, do jeito certo... — o moreno sussurrou, olhando fundo naqueles
olhos redondos e negros de pedra ônix. — Eu te amo.

— Você vai dizer toda hora? Assim vou ficar mal acostumado... — Jeon
sorriu, brincalhão. Mas não era como se estivesse realmente incomodado,
pelo contrário: se pudesse, ouviria aquela frase sair dos lábios carnudos do
Park um milhão de vezes, sem cansar, parecia um sonho.

— Eu te amo. Eu te amo, te amo, te amo, te amo! — E o Park deu um beijo


na pontinha do nariz do namorado.

Seus corpos cansados se encontraram num abraço apertado, trocando as


posições, para que Jungkook fosse a parte de fora, e Jimin a de dentro
daquele abraço, a coxa direita do moreno circulando o corpo do outro.

E assim ficaram por um bom tempo, enquanto a mão aberta do Jeon


acariciava a lateral da coxa grossa do Park agora, num carinho singelo; Já a
mão de Jimin tratava de acariciar carinhosamente o rosto alheio, quase
como se Jungkook fosse uma porcelana fina e delicada, que a qualquer
momento poderia quebrar, se a perdesse de vista por um momento.

— Hyung... Nós vamos fazer amorzinho assim mais vezes, né? Com você
deixando eu te foder... — fez uma expressão pidona, arrancando um sorriso
do Park.

— Claro que vamos, meu príncipe... Eu quero você de todos os jeitos


possíveis... E não é como se adiantasse te manipular a me obedecer com
isso... — Estalou a língua nos dentes e fez uma careta reprovadora
engraçada e brincalhona.

— Isso quer dizer que o grande Alphadome desiste de me disciplinar? — o


Jeon retrucou, matreiro.

Jimin sorriu falsamente e olhou o garoto de cima a baixo, antes de disparar:

— Vai sonhando.

Eles sorriram e roçaram os narizes, num beijinho de esquimó.

— Jimin... Daqui a vinte minutos a gente pode foder de novo?

[...]

Minutos depois, o ex-tenente posicionou um copo com água em frente à


boca do ruivo, ajudando-o a hidratar a garganta maltratada pelo
sufocamento e o boquete.

Após isso, descansou o copo na mesinha de cabeceira e, imediatamente, se


pôs a alisar a pele branca do pescoço alheio que, agora, encontrava-se cheia
de marcas rosadas pela pressão do enforcamento. Certamente viria a ficar
marcado nos próximos dias. Precisava cuidar disso. Aquela era a hora de
cuidar do seu bratzinho.

Enchendo o rosto do namorado de beijinhos, Jimin o levantou, empurrando-


o em direção ao banheiro, onde deu banho no mais novo e tomou o seu
próprio. Secou-se com uma toalha e depois usou outra para enrolar
Jungkook como um bebê, com aqueles os braços ridiculamente musculosos
presos por dentro do tecido felpudo.

E o ruivo não poderia estar gostando mais. Foi se deixando ser levado de
volta pro quarto, andando de costas, enquanto o lúpus o segurava num
abraço e distribuía beijos bobos em todo o seu rosto.

De frente para a cama, o Park removeu a toalha que cobria o avermelhado,


fazendo-o sentar-se no colchão. O moreno capturou um óleo de bebê e o
espalhou nas duas palmas, antes de se agachar no chão frio, em frente ao de
cabelos vermelhos, que o fitava atentamente.

Cuidadoso, o Dom deslizou as mãos hidratadas pelo braço direito do ruivo,


massageando-o.

Jungkook fechou os olhos, para melhor sentir os carinhos, com um


sorrisinho insistente e feliz no cantinho dos lábios. Adorava o quão gentil e
delicado eram os toques de Jimin no aftercare.

Haviam começado com uma transa baunilha, mas no fim das contas,
acabaram fodendo bruto, valendo-se de práticas incomuns dentro do
BDSM, como sempre faziam, pois era assim que eles gostavam, já era algo
intrínseco a quem eram e à dinâmica que gostavam entre si.

O mais velho fez o mesmo procedimento no outro braço do sub, depois no


peitoral e nas costas, deixando a pele macia com cheirinho de rosa
mosqueta.

Massageou com cuidado o pescoço de Jungkook, atento aos murmúrios


doloridos dele quando pressionava a região enforcada. Estava obviamente
dolorido e aquilo era de praxe.

Levantou-se e pegou um gel para contusões, na gaveta, além de um pacote


de balas para a garganta, entregando uma nas mãos de Jeon.

— Chupa essa balinha, amor. Ela faz bem pra garganta. É pra que ela não
fique muito machucada pelo Choking — explicou, colocando-a na boca do
ruivo, que a capturou com a língua. — Você vai ter que beber muita água
também, ok? Precisa hidratar as cordas vocais. Sua garganta deve ficar
doloridinha por um dia ou dois. Vai me dizendo tudo o que você for
sentindo, tá bem? — E com um sorriso genuíno na face, deu um beijo
estalado na bochecha gordinha do submisso.

— Tem gostinho de melancia! — Jungkook disse com os olhinhos


arregalados, ao que descobria o sabor da bala. — Ai, que gostosa... adoro
melancia. Gosto de coisas vermelhas, sabe... Pena que é cara, então eu
quase não como.
— Mesmo? Melancia é minha fruta favorita — comentou o lúpus. — Faz
um tempo que não compro também, acabo só comendo a balinha — riu
leve. — Vou comprar melancia pra mim e pro meu bebê... — prometeu com
a voz doce, fazendo carinhos nos cabelos úmidos do namorado. — Agora
deita com a cabeça nos travesseiros, neném.

E Jungkook prontamente obedeceu. Viu Jimin engatinhar no colchão e se


deitar, pondo a cabeça em seu peito, um braço rodeando sua cintura fina, e a
coxa direita jogada por cima de seu corpo novamente, os dois nus e
limpinhos, cheirando a sabonete.

Relaxado, Jungkook deslizou a destra pelos cabelos molhados de seu tamer,


sentindo este deixar novos beijinhos em seu pescoço. Os dois sorriam de
orelha à orelha.

— Muito obrigado, Kook-ah — o lúpus disse suave, levantando um pouco


o tronco, para fitar o ruivo. — Obrigado por me servir, por me obedecer,
por me dar carinho e por ser meu bebê outra vez.

Jungkook sorriu torto, daquele jeitinho adorável que costumava fazer


quando ficava sem jeito, marcando a linha de expressão na lateral do buço.

— Você gosta mesmo? — perguntou. — Gosta tanto assim que eu seja seu?
— disse se movendo no colchão, fazendo com que seu corpo ficasse deitado
de lado, e o de Jimin também, um de frente pro outro, as pernas ainda
atreladas.

O Park sorriu bobo e levou a mão à nuca do mais novo, acariciando


suavemente.

— Eu amo você e amo que você seja meu — respondeu dolorosamente


honesto. — E eu sou tão seu, quanto você é meu. Sou todinho seu, Jeon
Jungkook. Não me deixe mais... Por favor.

O de cabelos vermelho-escuros não conseguiu se segurar e sorriu grande, os


dentinhos de coelho ficando perfeitamente à mostra, as ruguinhas nos
cantinhos dos olhos aparecendo e as bochechas ardendo. E num movimento
rápido, tascou um beijo na boca do lúpus, que acabou sorrindo em meio ao
ato súbito e doce.

— Você é tão carinhoso comigo, hyung... — comentou, mas tentando não


soar tão afetado.

Jimin o encarou por um bocado de tempo, antes de erguer o corpo e sacudir


a cabeça em negação, ficando deitado por cima de Jeon, de frente um pro
outro.

— Você não percebe, o quanto sou louco por você? Como me tem nas
mãos, uh? — murmurou, deslizando a ponta do nariz afilado, no nariz
grande do mais novo. — Entende de uma vez, que eu tô' irreversivelmente
apaixonado por você, seu pentelho malcriado... — provocou rindo.

Jungkook gargalhou, todo bobo, e deu um tapa na bunda do Park, que riu
mais ainda.

— Acho bom você não estar me iludindo, hyung... — murmurou


brincalhão.

— E eu acho bom você não estar me iludindo, alfa — devolveu o lúpus. —


Não brinque com meu coração... Porque ele é seu. Completamente seu —
disse ficando sério e encarando o sub nos olhos, de forma intensa.

Jungkook então suspendeu a cabeça do travesseiro e alcançou os lábios do


ex-militar, segurando-o pela cintura e os envolvendo num beijo lento e
profundo, que tinha como objetivo passar todo o sentimento que
transbordava em seu peito, através da carícia.

Jimin delicadamente segurou o maxilar do garoto entre seus dedos, para que
pudesse comandar o beijo, e ficaram ali por minutos a fio, naquele
momento gostoso, sem malícia. Apenas beijando, as línguas se acariciando,
se sentindo. Os corações batendo dentro do peito, acelerados. As pontas dos
dedos deslizando sobre as peles quentes e arrepiadas, pelo toque um do
outro.
— Jimin... — o ruivo chamou, entre seus lábios, recebendo atenção. —
Você não vai me castigar ou... punir, né? Por causa do que eu fiz? —
indagou com a expressãozinha apreensiva de coitado.

O moreno abriu um sorriso extremamente lento, tão sádico, que era quase
como o gato Cheshire.¹

— Vamos conversar disso mais tarde, amor. Agora quero recuperar o tempo
que perdi sem você... — e voltou a beijá-lo.

Mas Jungkook sabia que era uma ameaça velada... Ou uma promessa
velada. Sim, certamente a segunda opção. E constatar aquilo o deu um puta
frio na barriga.

Contudo, logo seu medo foi afastado, ao se perder nos lábios do ex-coronel.

Park Jimin e Jeon Jungkook se pertenciam. Os dois alfas eram,


definitivamente, um do outro.

Uma pessoa sempre será uma pessoa inteira, e não meia pessoa, para que
apenas se sinta completa com outra.

Todavia, quando longe um do outro, Jimin e Jungkook sempre sentiam


como se tivesse algo faltando... Era saudade. Era amor. Era a falta do
amado junto a si. Agora, estavam completos.

E aquela paixão havia chegado a um ponto que seria impossível voltar atrás.
Dali pra frente, tudo seria mais intenso do que nunca, estava claro.

Não importavam as chuvas e tempestades que fossem os atingir a partir


dali. Eles aguentariam. As estruturas daquela relação, já estavam fincadas
no solo, como a estrutura de uma enorme casa. Ela poderia tremer, mas
jamais desabaria.

E aquela era uma certeza, nas mentes de ambos. Finalmente encontraram


seus devidos lugares. E estes, eram nos braços um do outro.

Mas ainda precisariam lidar com as consequências do tempo separados.


Aquele era só o começo...
------------
¹ Gato Cheshire :. "o gato que ri", de Alice no País das Maravilhas.

Vota aí, INC máfia!


Ouvi dizer que eu tava enganando todo mundo com o flex da fanfic, hmn...
entendi kkkkkkkkkkk Aqui é flex, poaaaaaaaar! Jimin ainda vai dar muito
essa bunda, quem gostou bate palma, quem não gostou, paciêeeenciaaa ;) -
mas as próximas fodas terão um jm beeeem powerbottom e um jkzinho sub
safado.

Lembram o vídeo de perguntas e respostas sobre BDSM que prometi lá no


final do cap29? Pois bem, aqui está (ignorem a pobreza estética do vídeo,
foi um martírio gravar isso kkkkkkkk)

https://youtu.be/n7nQ5cWgva0

Pausa pra choro por essa fanart muuuito fofaaaaaaaaa feita


pela minminbunji em referência ao capítulo "Jimin's little baby" 😍 estou
boiola demais!
até mais <3
#CobraSorrateira
37| one step ahead
Jungkook acordou com o som de água caindo no chão. Preguiçoso, rolou na
cama e se enfiou mais pra dentro das cobertas, não querendo acordar.
Estava cansado. Havia passado a madrugada anterior inteira transando com
o namorado.

E ah, Jimin tinha tirado seu couro.


Pobrezinho. Seu corpo estava exausto de tanto foder. O pau estava dolorido,
assado. Jimin não havia brincado nenhuma das vezes em que dissera estar
louco pra sentar gostoso no caralho do namorado. E naquela noite, ele
simplesmente decidiu recuperar todo o tempo perdido.

O quarto fora apenas o primeiro lugar onde mataram a saudade um do


outro. O recém-reatado casal havia fodido em absolutamente todos os
cantos possíveis.

E sim, correndo o risco de serem pegos pelos pais de Jimin, ao chegarem de


supetão em casa, voltando da tal salsa — e isso somente havia tornado todo
aquele sexo de reconciliação infinitamente melhor; o medo de serem pegos
gerava uma expectativa, apreensão e um tesão ainda maior pro casal
fetichista.

Virando-se no colchão, Jeon viu a luz suave por baixo da porta do banheiro
da suíte, onde o ex-militar tomava banho. E então algo falou mais alto que
seu sono: tesão.

“Foda-se o cansaço” pensou. Era só deixar Jimin dominá-lo, não oferecer


resistência e nem tentar uma briguinha de poder, como sempre fazia, que
não se cansaria em nada. Jimin cuidaria de tudo. Como cuidara a
madrugada inteira.

O corpo do avermelhado reclamava um bocado, dolorido em todos os


lugares. Marcas vermelhas e hematomas arroxeados começavam a surgir
pela tez pálida, embora ele ainda não a tivesse checado.
Ainda assim, havia passado tanto, tanto tempo sem Jimin, sem tocar o seu
corpo, sem sentir o cheiro de sua pele, aquele aroma almiscarado com
sândalo, sem poder olhá-lo nos olhos e babar naquela aparência suave e
expressões completamente sexys… Jungkook queria tê-lo até não poder
mais.

Jeon já havia amado outras vezes. Já havia desejado intensamente. Já havia


ficado louco por alguém. Mas nunca, nenhuma vez, havia sido tão forte e
intenso quanto nesta. Nada se comparava ao que ele sentia por Park Jimin.
Talvez a demora em conquistá-lo tenha apenas amplificado os sentimentos
que, lentamente, foram florescendo dentro de si.

Sorrindo matreiro, afastou as cobertas pesadas e saltou da cama, indo direto


ao banheiro. Afastou a porta devagar e entrou na banheira vazia, onde o
Park, de pé, enxaguava os cabelos embaixo do chuveiro morno.

— Bom dia, hyung — murmurou com a voz rouquinha, rodeando a cintura


do outro, por trás, com seus braços fortes e musculosos.

— Bom dia, bebê — o moreno respondeu, se virando de frente pra ele, com
um sorriso preguiçoso moldando os lábios grossos.

Jungkook devolveu um sorriso bobo.


Jimin, por sua vez, deu-lhe um beijinho doce na ponta do nariz, delicado
como nunca.

— O que quer fazer hoje? — perguntou-lhe, empurrando o ruivo pra


debaixo d’água, enquanto começava a esfregar a esponja com sabão no
corpo mais alto.

— Posso escolher qualquer coisa? — Arqueou uma sobrancelha, sorrindo


cafajeste.

— Não pede pra foder, amor. Meus pais chegaram pouco antes do dia
clarear, então com certeza vão dormir o dia inteiro e… você sabe, nós dois
não somos muito silenciosos na cama — exibiu um sorriso de canto.

— Ontem você não parecia preocupado com eles… — provocou.


O de cabelos negros sorriu pequeno, curvando a boca de lado, admirando
seu garoto bem ali, de onde jamais deveria ter saído: junto de si.

— Foi diferente. Saber que meus pais podiam chegar a qualquer momento
gerava medo e expectativa. Saber que eles estão no quarto da frente,
ouvindo os sons da nossa foda é completamente diferente. Não é excitante.
— Negou com a cabeça. — É desconfortável. E sem noção. E também meio
nojento. — Fez uma caretinha fofa, franzindo o nariz.

— Então eu quero passar o dia inteirinho com você, hyung. Quero matar a
saudade… — o mais novo disse imediatamente, aproveitando-se da careta
do outro para apertar seu nariz, como se faz com uma criança.

O lúpus sorriu e afastou o rosto, enquanto continuava a ensaboar o corpo


musculoso do namorado.

— E você achou que seria diferente? — rebateu, em tom brincalhão.

O moreno já havia terminado o próprio banho quando Jungkook entrou no


banheiro, de modo que se ocupou somente de ensaboar cada partezinha do
corpo do seu amor, cheio de cuidado e carinho. Ele massageou a cabeça de
fios vermelhos com um shampoo caro e cheirosinho, e depois enxaguou
todo o corpinho alto, forte e musculoso do Jeon; enquanto o Park era só um
pitiquinho pra mãe alfa, Jeon era um pitiquinho pro namorado.

— Hoje vou cuidar de você — o mais velho avisou, fechando o registro de


água, enquanto puxava a toalha pendurada na parede ao lado de fora. Secou
os cabelos cor de vinho do namorado, e depois secou o corpo forte,
cuidadosamente, enquanto este o observava com com os olhinhos brilhantes
e atentos.

Jeon estava sentindo alívio em cada poro do seu ser. Ter Jimin cuidando
dele daquele jeito era tão prazeroso! Era a mesma sensação de receber um
abraço quentinho. Em especial, depois de tanto tempo sem ele e seus
carinhos, tendo que se virar sozinho naquela vida fria e solitária. Ah, a vida
sem Park Jimin era tão cinza, sem cor...
Depois, o lúpus secou o próprio corpo e cabelos, antes de sair do banheiro e
puxar o namorado pela mão, enrolando-o na toalha como um bebê — o que
era cômico, já que Jungkook era mais forte e mais alto que o Park.

Voltaram pro quarto e o ex-militar sentou o submisso sobre a cama, onde o


vestiu com uma de suas cuecas, uma de suas camisas e um de seus shorts
curtos confortáveis.

Não pôde deixar de admirar as marcas pós-sexo no corpo do Jeon. Eram


bonitas. Deixavam o Dominador orgulhoso. Elas lhe davam a sensação de
posse sobre seu submisso. De fazer a ele o que bem entendesse, uma vez
que ele lhe pertencia. E mais gostoso ainda, era ter a certeza de que o garoto
também sentia prazer em ter aquelas marcas em si.

— Tá dolorido, amor? Te deixei todo marcado… — E então pôs-se a


pentear o cabelo do namorado, enquanto ele mesmo permaneceu nu sentado
atrás do ruivo, na cama.

— Só um pouquinho — Jeon sacudiu a cabeça, de olhinhos fechados,


apreciando o momento, sentindo o pente deslizar por entre seus fios de
cabelo úmidos. — Mas eu gosto, você sabe. É a lembrança da nossa noite.
É uma dor gostosa. E as marcas me deixam… Hmn… — Abriu os olhos,
espiando o tamer por cima do ombro. — As marcas me fazem sentir como
se eu fosse realmente seu…

— “Como se fosse?” — Jimin arqueou uma sobrancelha, desafiador.


O ruivo sorriu de lado, com sua costumeira expressãozinha matreira.

— “Como se”, não, desculpe… Eu sou seu, Jimin — corrigiu-se.

Os dois olharam-se profundamente por um momento, ambos com aquela


sensação deliciosa de satisfação dentro de si. Eles viviam o BDSM em sua
forma mais crua, de fato. Não eram só as brincadeirinhas na hora da foda.
Não eram só os acessórios usados, os fetiches praticados, quem ficava por
cima ou por baixo, quem tomava decisões. Era uma questão de ser. Ser e
apreciar o que eram juntos e seu lugar na vida um do outro.
— Hoje é domingo — Jungkook comentou, enquanto ainda tinha os cabelos
molhados desembaraçados. — Eu queria sair pra comer com você, fazer uns
programinhas de casal, mas os restaurantes vão ficar cheios, né?

— Certamente. Mas já vou ligar pra um deles e reservar uma mesa pra
gente jantar mais tarde, depois de pegar um cineminha, talvez. O que acha?
— O Park ofereceu em tom suave.

— Humn… Eu acho ótimo. Mas, assim… — começou, cuidadoso. — Eu


meio que não tenho dinheiro. E nem emprego — soltou, tentando enxergar
o moreno pelo canto do olho, sem voltar-se pra trás.

Jimin não se abalou. Continuou a pentear os cabelos um tanto ressecados e


recém-tingidos do amado.

— Eu nunca te deixo pagar nada, de qualquer forma — respondeu o


moreno, então.

Com aquela resposta, o Jeon voltou-se pra trás de vez, para que pudesse
olhar bem no rosto do ex-coronel, com uma expressão confusa, os olhinhos
redondos levemente arregalados em surpresa, e um pequeno bico na boca
bonita.

— Eu perdi o emprego. Não vai falar nada?

— O que eu posso dizer? — ele suspirou. — Eu já sabia. E sei o motivo.


Você estava ciente que uma hora isso ia acontecer. — Mas não disse em
tom de sermão, apenas de modo resignado.

Jungkook passou a mão nos cabelos já penteados e levantou-se, puxando o


moreno junto com ele.

— Eu não sei bem o que fazer agora, hyung — confessou. — Depois do


terceiro mês sem pagar aluguel, vou ser despejado.

— Não vai chegar a tanto, não se preocupe.

Jimin fez um rápido carinho em sua bochecha e deu um beijo carinhoso no


ombro esquerdo do rapaz, antes de se afastar para escolher uma muda de
roupas pra si mesmo.

— Você sabe que eu e Hoseok vamos te ajudar com dinheiro. E na pior das
hipóteses, você sempre pode vir morar comigo. A proposta ainda está de pé.
Desde o começo — disse, direto, mas tentando manter uma pose
descontraída, quando, por dentro, quicava de ansiedade, desesperado pra
que o alfa dissesse “sim, eu aceito!”.

— Oh… Mesmo, hyung? — o ruivo retrucou, com o rostinho esperançoso.


— Hoseok também se ofereceu pra dividir um AP comigo, mas
honestamente, morar com você parece mais agradável… Muito mais
agradável. — Deu um sorrisinho que era, ao mesmo tempo, sacana e
envergonhado.

O moreno imediatamente levantou os olhos pro garoto, com uma perna pra
dentro da calça de moletom branca e a outra perna ainda fora, quase
perdendo o equilíbrio e caindo no chão, desengonçado.

— Tá falando sério? Você quer morar comigo? — Vestiu a calça de


qualquer jeito. — Eu já pedi uma vez e você recusou, Jungkook-ah… Não
esmaga meu coração assim de novo… — declarou num tom misto entre
reclamação e seriedade.

— Antes eu neguei essa possibilidade, porque a gente tava tão no começo


dessa relação, que eu tinha medo de você enjoar de mim… — Montou um
biquinho lindo nos lábios rosados, que fez o Park quase perder a linha e
agarrar o garoto pra esmagá-lo num abraço apertado.

— Uhum… — o Park foi se chegando pra perto, depois de todo vestido de


branco em um conjunto de calça moletom e camiseta lisa. — Vamos deixar
claro que morar junto comigo significa: Sexo todo dia, chamego todo dia,
dormir juntinho todo dia… — Enlaçou-lhe a cintura. — Basicamente o que
a gente já faz desde o primeiro dia de relacionamento. — Sorriu, divertido.

— Não mentiu — Jeon concordou, alisando os braços do ex-militar, sem


deixar de notar, incomodado, que eles pareciam mais finos, pois claramente
o moreno havia perdido peso. — Sabe, eu tava pensando… Eu não posso
passar o resto da minha vida como balconista de loja. Quer dizer, esse tipo
de trabalho paga muito mal, e viver é muito caro. Tem que pagar aluguel,
comida, luz, água, telefone, internet… — Foi enumerando nos dedos. — E
olha que isso é só o básico. Então, ultimamente tenho pensado numa coisa...

— Qual? — Jimin fitou-o com atenção genuína.

— Tô pensando em voltar a estudar. Em me graduar em alguma coisa, pra


poder ter um salário melhor, futuramente. Porque eu não tô ficando mais
novo com o tempo, é lógico. A tendência é piorar, só ladeira abaixo.

Jimin afastou-se um pouco para encará-lo melhor, com a expressão de


surpresa mesclada à aprovação na face bonita.

— Eu acho essa ideia ótima! — declarou, de imediato. — Mas é só uma


ideia, dessas que dão e passam, ou é algo que você realmente está decidido
a fazer?

— Bem, é por isso que tô falando com você — respondeu, meio acanhado.
— Sei que se eu vier morar aqui, você não vai querer que eu pague nada,
então… Se for assim, posso pagar a mensalidade do curso com o salário do
meu próximo emprego. Quando eu conseguir um, é claro. O que pode ser
amanhã, como pode ser daqui há um milhão de meses. — Revirou os olhos,
cansado, só de imaginar.

— Kook-ah, mas é claro que sim! E tem mais, eu posso pagar as


mensalidades da faculdade também e…

— Ei, ei, ei, não se anima tanto não, projeto de sugar daddy — brincou. —
Ainda quero ser relativamente independente. — Empinou o nariz. — E
você não é mais um militar, não ganha tão bem assim, se aquieta. Deixa que
com a faculdade, eu me viro. Basta você me alimentar, me vestir e me dar
um teto. E, claro, me dar amorzinho, carinho e atenção, se não o bebê fica
triste. — Deu um sorriso sapeca.

O Park riu contente e morrendo de amores, pra logo em seguida atacar o


rosto do ruivinho com beijocas estaladas.
— Ai, droga, eu tô tão feliz... — disse baixinho, fitando o namorado, quase
desacreditado. Depois de tanto sofrimento, de tanta dor, não só estavam
juntinhos de novo, como iam dar um passo adiante naquela relação. — Que
cursos você tem em mente? — murmurou, curioso, ao afastar-se de leve. —
Acho que a gente nunca conversou sobre isso…

— Eu tava pensando em alguma coisa voltada pras artes. Mas isso pode não
ser muito efetivo pra ganhar dinheiro, então eu pensei em, sei lá... Educação
física, por exemplo — deu de ombros. — Vai ser fácil arrumar trabalho
como personal trainer, tem academia em tudo quanto é canto…

O ex-militar o encarou de cima a baixo, zombeteiro.

— Personal trainer? Jungkook, qual é, você não aguenta dar duas voltas
correndo no quarteirão!

Dessa vez, foi o mais novo quem o olhou de cima a baixo, afastando o
moreno de si, com pouca força, fingindo-se indignado.

— Nem vem, hyung! Você sabe que eu gosto de malhar, todo dia eu tiro um
tempinho pra fazer agachamento, flexão, abdominal…

— É, mas um personal trainer não fica só nisso — rebateu. — Você precisa


dominar exercícios aeróbicos também. Da última vez que te chamei pra
correr, você fez charminho e se fingiu de morto! Se você fosse meu
subalterno no quartel, coitadinho… — Ele sacudiu a cabeça, imaginando.
— Ia pedir pra sair antes mesmo da formatura!

O garoto ficou pensativo por dois segundos, antes de disparar a rir, dando-
se por vencido.

— É, você tá certo, Generalzinho.

— Que papo é esse de “generalzinho”? Eu fui Tenente-coronel, garoto!

— Tanto faz — deu de ombros. — Mas você também não é o Rambo¹ não,
tá legal?
— Não mesmo, eu estava bem acima dele. A Aeronáutica tem cinco níveis
hierárquicos, e eu já estava no quarto maior patamar. Era um Oficial
Superior. Faltava pouco tempo pra eu me tornar um General, na verdade. —
Fez uma suave expressão chateada. Mas rapidamente sacudiu a cabeça e
afastou o pensamento nostálgico. — Bebê… — o moreno aproximou-se
sorrateiro, outra vez. — Eu fui militar a minha vida toda. Se tem uma coisa
na qual sou bom, são exercícios físicos. Ou você acha que eu ficava só
pilotando aviãozinho? — Arqueou uma sobrancelha, como se desafiando o
outro a contestar.

E, é claro, Jungkook o fez:

— Hyung… — Fez uma expressão de seriedade. — Eu não esqueci das


vezes em que você pediu minha ajuda pra abrir potes de picles, de
maionese, de cerejas… E também quando, nas raras vezes em que te
acompanhei na academia, você pedia pra eu te levantar pra que você
alcançasse a barra de musculação lá no alto...

O moreno jogou a cabeça pra trás, se escangalhando de rir, pra então se


voltar pra frente, com o rosto vermelho.

— Amor, esse truque é tão velho. Pobrezinho, tão inocente… — disse


acariciando o rosto do mais alto, que o fitava com um ponto de interrogação
na cara. — Eu fingia que não conseguia abrir as embalagens, eu fingia que
não podia carregar sacolas pesadas, fingia que não sabia trocar a lâmpada…
— explicou. — E aí eu pedia pra você fazer, porque assim eu amaciava seu
ego, bobinho. — Sorriu, apertando o queixo alheio.

— Ah… — O ruivo abriu a boca. — Sua cobra sorrateira! — disparou.

Novamente, o Park se curvou de tanto rir, divertindo-se.

— Ai, eu tava com tanta saudade disso, neném… — declarou com um olhar
sonhador, para então estalar um beijo carinhoso na bochecha do mais novo.
— Vem, vamos tomar café. Já passou da hora do almoço, na verdade. Mas a
gente janta mais tarde, depois de ir ao cinema.
E o puxou pela mão, pra que pudessem sair do quarto e descer as elegantes
escadas suspensas de LED.

— Eu tava planejando já ter tudo pronto, mas você acordou rápido


demais… — disse Jimin, ao chegarem na cozinha, onde o Jeon ficou
impressionado ao ver a mesa toda arrumada, mas sem nenhuma comida.

O Park ligou a cafeteira, e o som da bebida coando preencheu a casa


silenciosa. Ele pegou o próprio celular esquecido na bancada e fez uma
ligação:

— Boa tarde. Eu pedi um kit de café da manhã, com bolo confeitado de


chantilly e M&Ms, já faz uns… — olhou pro relógio da parede. —
Cinquenta minutos. Ainda não chegou. Uhum… Ok. Então o entregador já
deve estar próximo. Obrigado. — E encerrou a ligação.

— Você pediu isso tudo só por causa de mim? — Jungkook sorriu grande,
se aproximando e segurando o moreno pela cintura.

— Claro que sim — respondeu o lúpus, com a voz resmungona, fazendo


aquele bico fofo de contrariedade.

Jungkook sorriu e deu um beijinho na ponta do nariz pequeno do outro,


para então murmurar em tom apaixonado:

— Já disse que te amo muito hoje?

— Hoje ainda não. Então pode dizer — Jimin sorriu.

— Eu te amo muito… — o ruivinho quase ronronou, provocando o Park,


enquanto roçava seus lábios nos dele.

— Eu te amo mais…

Prestes a se perderem em mais um beijo, a campainha soou alta, e os dois


se sobressaltaram, separando-se.

— É a comida. Põe o café na mesa, já volto.


Jimin lhe deixou um beijinho na testa, antes de se afastar.

Pouco depois, lá estavam os dois desfazendo a cesta grande de comida


pronta, enquanto espalhavam os alimentos pela mesa.

— É muita coisa, hyung, minha nossa… Estava planejando chamar


convidados pra tomar café com a gente, é? — brincou, arregalando os
olhos redondos pra cada comida hiper calórica que via.

— Claro que não, ninguém toma café à uma e meia da tarde, bebê — riu-se.

— Ah, e os seus pais? Devemos deixar uma parte pra eles comerem quando
se levantarem, né? — falou, enquanto desembalava os alimentos e os
dispunha sobre a mesa arrumada.

— Naah… Podemos comer tudo. Meus pais gostam de comer o que eles
mesmo cozinham. É uma questão de ego, por serem donos de restaurante e
acharem um desperdício gastar dinheiro em comida pronta. — Deu um
suave revirar de olhos, descontraído.

— Ainda é muita comida só pra nós dois, hyung — o ruivo comentou,


abocanhando, faminto, um pedaço de bolo.

— Comprei tudo isso, porque sei que você é gulosinho. — Limpou um


pouco do chantilly sujando a lateral dos lábios do ruivinho, que já
mordiscava tudo o que via pela frente, pra experimentar.

— Eu não como tanto assim — ele resmungou com a boca cheia de bolo.

Jimin sorriu e sacudiu a cabeça pra um lado e pro outro, tentando não cuspir
o café quente que bebericava.

— O que é isso aqui? — Jungkook indagou, segurando o último item dentro


da cesta: uma garrafinha minúscula colorida muito suspeita.

— Isso é pra mim — o ex-coronel tomou a garrafinha de sua mão e logo


abriu a tampa, despejando o conteúdo todo dentro de sua caneca de café
fumegante.
— Isso é licor! Por que você tá bebendo isso no café da manhã, Jimin? —
questionou, preocupado, de cenho franzido. — Não se bebe álcool uma
hora dessas! — ralhou, preocupado.

— Bem, já são dez da noite em algum lugar do mundo — o moreno


retrucou, com ironia, antes de beber seu café batizado.

Jungkook queria reclamar. Queria arrancar a xícara da mão pequena do


namorado e despejar o líquido todo na pia. Mas sabia que não tinha o
direito de fazer aquilo, e além de tudo, precisava pegar leve, se controlar,
pensar antes de agir. Eles tinham acabado de retomar a relação, fazia menos
de 24h, Jeon não podia começar com confusão.

Então o mais novo decidiu fazer vista grossa. Talvez fosse só um costume
que Jimin tivesse adquirido nos últimos meses, afinal. Era só um licor de
cereja, pra dar mais sabor ao café. Não havia necessidade de se alarmar.

Por isso, ele resolveu deixar pra lá e mudar de assunto. Acusar o ex-coronel
de ter virado alcoólatra ou algo do tipo, apenas causaria uma discussão.

— Então, você concorda mesmo de a gente morar junto e eu voltar a


estudar? Você gostaria de ter um namorado universitário? — puxou assunto,
flertando.

— Universitário, uh? — Jimin sorriu maldoso. — Acho sexy. Eu vou poder


esperar suas aulas encerrarem pra poder te foder escondido na sala vazia?

— Hyung! — rebateu, gargalhando e sacudindo, as ruguinhas ao redor dos


olhos redondos aparecendo. — Deixa de ser safado. Se formos pegos, vai
manchar meu histórico acadêmico.

— Eu suborno o pessoal da direção.

— A gente pode ser preso por atentado violento ao pudor!

— Ah… Então melhor não. Poxa… — o moreno fez uma falsa expressão
de tristeza. — Já tava fantasiando com você de óculos e uniforme,
segurando uns livrinhos, enquanto eu te empurrava de bruços na mesa do
professor e te fodia gostosinho.

— Sabe… — Jungkook se levantou e sentou-se no colo do Park,


suavemente. — Universitários não usam uniforme, hyung. — E riu da
expressão de besta do outro. — Mas se seu fetiche é me ver assim, então
podemos providenciar isso.

— Mesmo? Você quer? — o dominador devolveu, alisando com a malícia


as coxas grossas do namorado em seu colo.

— Sim. Sinto falta de age play. E a gente nunca brincou mudando a idade
de sempre, né? Eu só faço o bebêzinho arteiro de três anos… — referiu-se
às várias ocasiões durante o relacionamento, onde fizeram a brincadeira.

— Não sabemos se você vai se identificar como Teen, você curtiu ser um
Little desde o primeiro momento…

— Ah, eu não era muito diferente do que sou agora, quando adolescente. —
Deu de ombros, acariciando a nuca do moreno, enquanto mastigava um
biscoito amanteigado.

— Você quer dizer debochado e espevitado? — Jimin arqueou uma


sobrancelha, implicante.

— Isso mesmo — o ruivo confirmou, empinando o nariz. — Mas eu era


mais tímido. Bem mais tímido, na verdade, mas só com quem eu não
conhecia bem.

— Humn… Gosto da ideia. Você teria que se comportar desse jeito, então.
Ah, eu quero, Vamos fazer! Mal posso esperar pra ter você todo
envergonhadinho e obediente, desviando os olhinhos, com as bochechas
coradas e o cabelo suado grudando na testa, enquanto eu te fodo na mesa…

— Por que você que vai ser o ativo? E se eu quiser que você me amarre na
cadeira com a minha gravata, e sente no meu pau até eu gozar, Professor
Park? — Cruzou os braços, fingindo-se de bravo, mas era uma brincadeira
com fundo de verdade.
Jimin encarou o submisso malcriado, com uma expressão de seriedade
perfeita, antes de rolar os olhos por ele, de cima a baixo, e dizer:

— Porque quem manda aqui sou eu — provocou. — Eu sou o dominador,


você o submisso. Você sendo obediente ou não, eu continuo ditando as
regras, amor. Quem decide a ocasião em que você será passivo ou ativo, sou
eu.

Jungkook abriu e fechou os lábios um punhado de vezes, totalmente sem


resposta.

— Hyung… Você… V-você… — gaguejou, desacreditado, de um jeitinho


fofo que beirava uma indignação infantil.

— “Você”, não. Senhor — corrigiu, com a expressão fechada. — Respeite


agora. Não vou mais pegar leve com você. — Estalou um tapa forte na
bunda do Jeon, que deu um pulinho alarmado e um gemido fino de dor
mesclado à excitação.

— Para com isso! Você sabe que me deixa com muito tesão quando fica
rude! — E em seguida, avançou pros lábios do Dom, sedento.

Jimin tentou escapulir, mas o garoto era mais forte, e logo tratou de segurar
os braços do alfa lúpus, tascando-lhe um beijo na boca, de onde sentiu o
saborzinho suave do licor de cereja misturado ao café amargo.

Com isso, o Park mordeu o lábio do outro com certa força, fazendo-o se
afastar num pulo.

— Seu canibal! — Jeon riu safado, tocando o lábio dolorido com a ponta
dos dedos. — Agora vamos foder. Quero te comer!

— Não — o ex-militar respondeu duro, mas só por fingimento, pois


vontade não lhe faltava pra sentar gostoso na rola grande do ruivinho, como
fizera a noite toda.

— Então me fode, hyung… — Mordeu o próprio lábio, provocador. — Me


fode gostoso, como só você sabe fazer…
Jimin suspirou, tentando puxar e soltar o ar com atenção, já que o havia
perdido com a fala do outro, de tanto tesão. Sua mente zuniu. Por isso ele
apertou a coxa do mais novo, que rebolou em seu colo, para em seguida
puxar seus cabelos vermelhos pra trás, com força moderada, no topo da
cabeça, onde mais doía.

— Ou você me obedece por bem, ou vai obedecer por mal. — Puxou mais
forte, forçando a cabeça do mais novo para trás.

E inevitavelmente, o ruivo sorriu e rebolou, passando a língua entre os


lábios, com a coluna arqueada e os fios de cabelo presos pela mão pequena
e firme do outro.

— Então me obriga… — ele grunhiu, excitado.

Ah, ali estava a dinâmica bruta de dominação e submissão dando às caras


entre os dois outra vez, fazendo desvanecer a delicadeza e o romantismo de
momentos atrás.

Enquanto a persona atrevida de Jungkook era muito similar ao seu eu


submisso, a personalidade dominadora do Park no jogo era totalmente
diferente da pessoa doce e carinhosa que o moreno tinha em seu dia à dia.

— Esse é o jogo que você quer, seu malcriado? Uh? — Soltou o cabelo
alheio e estalou outro tapa na bunda do rapaz, que deu um pulinho de
imediato.

— Sim… Meu senhor… — suspirou. — Fode… Fode, por favor…

O pau do bratzinho já começava a ficar duro. E o do alfa lúpus também não


estava diferente, pelo contrário: começava a, lentamente, latejar dentro das
calças, esquentando entre as pernas.

— Eu quero te comer… — o moreno grunhiu. — Mas eu também quero te


dar tanto, mas taaanto…

— Então faz, hyung… — murmurou, suspirante. — Faz o que quiser


comigo, meu senhor.
— Puta merda... — Jimin rosnou, respirando rápido. — Senta na porra da
mesa! — ordenou.

O ruivo sorriu com a língua entre os dentes, como o malandro que era, e
afastou as coisas na pontinha do móvel, sentando-se sobre a superfície em
seguida, de pernas abertas e de frente pro Park.

— Hmn… — o Dom se levantou, alisando as coxas do rapaz, enquanto


este rodeava seu quadril com as coxas musculosas. — Eu não sei se eu te
como… — Simulou uma estocada. — Ou se te dou... — Estocou
novamente. — Ah, mas que porra!

— Então faz os dois, faz... — Jungkook praticamente ronronou, a voz suave


e necessitada, suspirante.

Quando os lábios do ex-coronel estavam prestes a alcançar a pele macia do


pescoço alheio, um pigarrear alto e teatral soou por toda a cozinha, fazendo
os dois alfas alarmarem-se, pela segunda vez no dia, afastando-se de pronto,
portando expressões assustadas e culpadas.

Park Saem e Park ChinHae — a mãe alfa e o pai beta de Jimin,


respectivamente —, os encaravam do outro lado da bancada da cozinha,
com expressões distintas; a mulher, parecia meramente sem jeito, enquanto
o macho tinha uma expressão absolutamente reprovadora.

— Bom dia, mãezinha, paizinho — o moreno murmurou, também


desconsertado. — Nos desculpem. Por um momento esqueci que vocês
estavam aqui... — disse, coçando a nuca.

— Tudo bem, querido — falou Saem —, a casa é sua — finalizou,


sentando-se à mesa, em um dos lugares vagos. — Bom dia, Jungkook-ssi. É
um prazer revê-lo — sorriu simpática.

— Ah, sim, também é muito revê-la, senhora Park — ele balbuciou,


sentando-se de volta em sua cadeira, ao passo em que Jimin fazia o mesmo,
assim como ChinHae, todos acomodando-se ao redor da comida posta.
O olhar do beta queimava sobre Jungkook, deixando o pobre alfa
terrivelmente desconfortável. Não havia se esquecido de quando o pai do
namorado o encurralara na porta, pra dá-lo um ultimato: que voltasse pra
Jimin de uma vez por todas, ou que o deixasse em paz, pra sempre. O ruivo
havia ficado sentido com o Park mais velho, entretanto, concordava com ele
e entendia sua preocupação para com os sentimentos e o psicológico do
filho.

Querendo encerrar o clima estranho, Jimin puxou conversa:

— Eu achei que vocês fossem acordar mais pro fim da tarde, já que
chegaram em casa só de manhã. A noite de salsa foi legal?

— Ah, sim! — a mulher, Saem, respondeu. — Foi muito agradável. Eu e


seu pai dançamos tanto, que ficamos os dois com bolhas nos pés, não é,
querido? — Voltou-se ao marido, enchendo as canecas de café de ambos.

Mas ChinHae não sorriu. Continuou fitando Jungkook, de olhos apertados,


fazendo o garoto se encolher na cadeira.

— Jeon — o homem disparou então —, quais são as suas intenções com o


meu filho? — despejou, na lata.

Os três alfas na mesa fitaram o beta com olhos arregalados pela súbita
indelicadeza.

— Paizinho!

— Nada de paizinho! — retrucou o mais velho, ao seu filho. — Quero


saber se o senhor Jeon decidiu levar essa relação à sério e te fazer feliz, ou
se veio aqui só pra se aproveitar de você por uma noite, bagunçar a sua
cabeça e depois dar o fora de novo!

— Pai… — Jimin ia começar um sermão, mas Jungkook foi rápido em


tomar a frente.

— Não quero brincar com o seu filho, senhor Park — disse então, com
seriedade. — Nós conversamos muito ontem à noite e…
— Conversaram? — ele retrucou. — Não pareciam estar conversando,
quando eu e Saem chegamos em casa. Parecia mais uma luta de MMA
dentro daquele quarto! — Foi venenoso.

Imediatamente as bochechas de Jungkook arderam, e os olhos, já


arregalados, saltaram mais ainda. O garoto queria cavar um buraco no chão
e deslizar pra dentro dele. Os Park haviam, então, escutado os sons das
fodas brutas do casal, noite passada, ele se dava conta. Que vergonha!

— Pai, pára com isso! — Jimin reclamou, contrariado. — Por que está
agindo assim? E além do mais, vocês chegaram em casa quase de manhã.
Eu e Jungkook nos resolvemos durante a noite. Não tem nada de anormal
em passar as horas seguintes fazendo sexo de reconciliação!

— Jimin! — foi Jungkook quem retrucou, desesperado. Se a Terra um dia


fosse explodir, ele esperava que fosse naquele exato momento, pra que
pudesse escapar daquele debate sinistramente desconfortável. Não se sentia
estranho em se mostrar ou falar sobre assuntos daquele tipo na frente de
outras pessoas, mas eram os pais do seu namorado ali, caramba!

— Não ligue pro seu pai, Pitiquinho — intrometeu-se Saem. — Ele só está
sendo superprotetor e ridículo. — Fez uma cara nada boa pro marido beta.

— Eu não estou sendo ridículo! Nós vimos o estado que Jimin ficou durante
essa separação. E, como eu te disse aquele dia, Jeon-ssi, se for pra ficar
fazendo meu filho de bobo, é melhor que suma da vida dele, de uma vez por
todas! Já não basta o que ele sofreu por causa daquelezinho...

O ruivo estava embasbacado e magoado com o tom do sogro, mas antes que
pudesse responder qualquer coisa, Jimin levantou-se, irado.

— Já chega! Pai, você sabe o quanto te respeito mais que qualquer um


nesse mundo, e sabe o quanto apreciei que vocês dois tenham vindo cuidar
de mim num momento difícil. Mas eu não vou tolerar esse tipo de grosseria
com o Jungkook. Isso está além dos limites, e o senhor não tem esse direito!
— declarou, engrossando a voz, mas sem gritar, mantendo ainda o respeito,
de algum modo.
Aquele era o tom do Tenente-coronel Park Jimin, que costumava usar no
quartel com os seus superiores; porque, claro, quando se tratava de seus
subalternos, era grito atrás de grito. O Alfa lúpus era duro na queda.

O pai o escaneou com os olhos levemente arregalados e uma expressão


desacreditada.

— Está vendo, Saem? Não faz sequer um dia que está de volta com esse
rapaz, e já está se virando contra a própria família! — disse à esposa.

A mulher suspirou e pediu desculpa aos dois mais novos com o olhar, antes
de voltar-se ao marido:

— ChinHae, você está sendo ridículo. Quer parar? Jimin é nosso filho, mas
estamos na casa dele. E como ele e Jungkook levam a relação é, também,
um problema deles. Jimin está certo, você está passando dos limites! E
ainda está deixando o Jungkook desconfortável. Mas que falta de
delicadeza!

Com esse comentário, Jeon encolheu-se ainda mais.

Já ChinHae cruzou os braços na frente do peito, contrariado, com um bico


do tamanho do mundo na face.

— Podemos, agora, tomar café em paz? — indagou Jimin, voltando a


sentar-se em sua cadeira.

Alguns segundos de silêncio desconfortável se passaram, até que o ruivinho


disparou, cabisbaixo:

— Eu… Eu acho melhor não atrapalhar vocês. Vou terminar de tomar café
em casa — falou em voz baixa, desanimado e com o olhar caído.

— O que? — Jimin grunhiu. — Não! Jungkook, não precisa ficar chateado,


meu pai é só muito protetor e…

— Não, hyung, é sério. Você não os vê há muito tempo, e não quero que
briguem por minha causa. Seria injusto. Seus pais te amam muito, e se eu
tivesse pais amorosos como os seus, jamais brigaria com eles pra defender
ninguém. Especialmente alguém que está no erro, como eu — murmurou,
cheio de vergonha e em tom acuado.

ChinHae fitou o filho com um olhar triunfante que dizia: “Viu só?”

O Park mais novo travou o maxilar e segurou o pulso do namorado, que já


se levantava para sair.

— Não vai não, bebê. Por favor… — encarou-o apelativo.

O de cheiro doce engoliu em seco. Era uma situação extremamente


constrangedora, ele mal podia suportar.

E então, ChinHae declarou:

— E lá vai ele fugir outra vez — acusou.


Todos os outros trocaram olhares tensos. E a próxima coisa que Jungkook
fez foi fazer um bocado de reverências de despedida, desengonçado, e virar-
se para a saída.

— Jungkook — o dominador chamou, com a voz séria, fazendo o vizinho


voltar-se pra ele, receoso. — Comece a arrumar as suas malas e a
encaixotar tudo.

O alfa mais novo piscou os olhos, atordoado, esquecendo-se, por um breve


momento, do que haviam decidido minutos atrás, na suíte do moreno.

— Por que? — indagou, sob o olhar atento dos outros Park’s.

— Ora, por quê? — o ex-Coronel fez-se de rogado. — Nós vamos morar


juntos, não vamos? Decidimos isso essa manhã. — E imediatamente seus
pais expressaram surpresa nas faces maduras, mas sem nada dizer, ao passo
em que o Jeon ficava pálido como um pedaço de papel. — Se você tem
certeza do que quer, então não há motivo pra atrasar a mudança. Devemos
começar hoje mesmo. Entre em contato com o seu locador, avisando sobre a
quebra no contrato de aluguel. — Deu-lhe um risinho de canto.

O ruivo sentiu a pressão baixar e, por um pouquinho, não caiu estatelado no


chão frio. Algo na expressão do moreno lhe dizia que ele se meteria em um
grande problema se recuasse. Mas usando uma força que sequer sabia de
onde havia tirado, balbuciou:

— Sim, hyung. Pode deixar. Podemos começar a mudança hoje mesmo, se


você quiser. — E então, piscando desconsertado, fez mais uma educada
reverência, com o rosto quase pegando fogo, e disparou pelo corredor, porta
afora da casa do Park. Ou melhor, de sua futura casa.

[...]

O alfa lúpus entrou no pequeno apartamento do namorado, cuja porta


fechada não estava trancada à chave, sendo imediatamente recebido pela
explosão de música alta e a visão do ruivinho musculoso fazendo
polichinelos, animadamente.

— Oi, hyung! — ele cumprimentou com um sorriso, enquanto pulava


abrindo e fechando as pernas, ao mesmo tempo em que também abria e
fechava os braços, batendo palmas, em frente à TV da sala, que exibia um
personal trainer ditando os exercícios.

O moreno sorriu de canto, sentindo aquela coisa gostosa no peito toda vez
que via seu amorzinho, especialmente ao se dar conta de que o humor dele
não tinha ficado irritadiço, defensivo e nem melancólico com o
desentendimento com seu pai, na casa do outro lado da rua, um par de horas
atrás.

— Por que não está arrumando as coisas, como te pedi? — perguntou


suavemente, enquanto abaixava o volume da TV.

— Ah, Namjoon hyung disse que vai separar algumas caixas de papelão pra
mim, à noite vou lá na lojinha buscar. — E então mudou a série de
exercícios pra de agachamentos, subindo e descendo os glúteos durinhos no
ar.

— Namjoon, é? — o moreno fez uma suave expressão desgostosa,


enciumado.

O Jeon percebeu e parou o exercício por um momento, preocupado.


— Isso te incomoda muito, hyung? Eu... Eu não queria desfazer a amizade
com ele, mas se você for se sentir mal com isso, eu posso evitá-lo... O beijo
realmente não foi nada demais, poxa, acredita em mim... — resmungou
com um biquinho fofo.

O Dominador apenas sacudiu ligeiramente a cabeça e soltou um suspiro


profundo.

— Não, meu amor. Eu já te disse que não sou assim. Posso ter dado a
impressão oposta quando surtei de ciúmes por causa do DOM Helsing...
Mas eu ainda não acho certo limitar as pessoas com quem meu submisso
pode falar. Respeito quem prefere fazer assim e quem aceita estar numa
relação desse tipo, mas não é o que entendo ideal. Eu só estou enciumado.
Vai passar...

— Eu te amo e só quero você! Juro juradinho, você é tudinho pra mim,


Jimin! — o outro disparou, os olhinhos um tanto esbugalhados.

O Park sorriu suave, encarando-o com ternura.

— Eu sei, neném. Eu sei... Posso ir colocando suas roupas na mala, então?


— o moreno mudou de assunto, rodeando os ombros do garoto, por trás,
que voltava a fazer seus agachamentos.

Mas o Jeon não parou o exercício por isso. Deixou o namorado se pendurar
em suas costas, enquanto ele continuava a fazer seus agachamentos,
flexionando os joelhos, agora com um grande peso a mais.

— Não é melhor a gente fazer… a mudança… depois que seus… pais…


forem... embora? — perguntou, com a respiração dificultada pelo esforço
físico.

Jimin, ainda pendurado em suas costas, destacou:

— Eles já vão amanhã, justamente pra não atrapalhar a mudança. Não


precisa mais se preocupar com meu pai, aliás. Ele não te odeia, só tinha
medo de você ficar indo e voltando comigo. Agora que falei que vamos
morar juntos, ele está satisfeito, porque sabe que você tá me levando à
sério.

— Mesmo? — o mais novo retrucou, parando de se mover, e imediatamente


Jimin escorregou de cima dele, pousando delicadamente os pés no chão.

— Uhum. Não se preocupe, bebê. — Pôs a mão carinhosamente em seu


rosto. — Tá feliz agora? — disse, olhando-o com ternura.

— Tô sim. — Jeon sorriu doce. Alcançou o controle da TV no sofá e


desligou o aparelho. — Vou tomar outro banho, tô suadinho. — Fez careta.
— Quer ir escolhendo minha roupa?

— Evidente — o lúpus sorriu de lado. E quando o ruivo se virou em direção


ao banheiro, recebeu um tapa estalado na bunda, que o fez dar um pulinho e
um sorriso sapeca.

O ex-Coronel foi até o quarto pequeno do Jeon e escolheu rapidamente um


conjuntinho de bermuda e camiseta brancas pro namorado, combinando
com as suas próprias roupas. Sorriu satisfeito ao contemplar as peças
escolhidas em cima da cama do ruivo, junto a uma cueca boxer cor creme,
para então abandonar o cômodo e voltar à sala.

Jimin estava nas nuvens. Feliz como nunca. A sensação de ter Jungkook de
volta era um alívio indescritível. Ele não seria capaz de pôr em palavras,
nem se tentasse.

Mas não podia negar aquele pequeno desconforto no peito, toda vez que sua
mente o bombardeava com as memórias da noite anterior. As memórias de
antes da reconciliação.
Sim, as imagens de Jungkook o encarando com fúria e beijando aquele
outro alfa na The Cave, o estavam sufocando, desde que acordara.

Mas o ex-Tenente estava, bravamente, fazendo o seu melhor para reprimi-


las. Ele já sabia que seria assombrado por aquelas cenas, durante um bom
tempo — talvez até pra sempre.
Embora ele e Jungkook não estivessem mais num relacionamento há dois
meses, e pudessem ficar com quem quisessem, havia doído. E ainda ia doer,
por mais um longo tempo.

Ele não queria tocar no assunto. Se havia perdoado Jungkook por aquilo
tudo — uma vez que sabia que este não estivera realmente movido por
racionalidade quando o magoara —, não havia necessidade de ficar
cutucando a ferida — o que não significava esquecer. Perdoar e esquecer
eram coisas completamente diferentes.

Perdoar era saber que uma coisa ruim acontecera mas lidar com ela tendo a
consciência de que não havia modo de se voltar ao passado e desfazer os
erros, somente aceitá-los e encontrar um bom modo de lidar com eles, de
forma que estes não machucassem mais.

Todavia, ainda era cedo — cedo demais — pra que pudesse evitar que
aquelas memórias não incinerassem brutalmente o seu peito.

Fora por isso que o moreno decidira anestesiar-se tão logo acordara, com
álcool. Era aquilo que usava para amortecer seu sofrimento, desde que se
entendia por gente, especialmente naqueles dois meses de fossa.

Ele sabia que aquilo não parecia bonito pra quem via de fora. Mas o Park
sempre fora dono do próprio nariz. Sempre responsável demais — por si
mesmo e pelos outros. Por isso, ele sabia perfeitamente o que estava
fazendo.

Incomodado com a possibilidade de ter aquelas imagens se repetindo em


sua mente o tempo todo, estragando seu dia com o Jeon, ele decidiu que
precisava se entorpecer um pouquinho mais.

Rodeou a bancada que dividia a sala da cozinha, e remexeu em todos os


armários, até encontrar o que procurava: uma garrafa de vinho Sauvignon
blanc.

Enquanto procurava por uma taça grande nas louças de Jungkook — o que
ele sabia não ter, mas que esperava ter esquecido alguma sua por ali —, não
ouviu a porta do banheiro se abrindo, nem os passos do Jeon indo até o
quarto e depois caminhando até a sala.

E quando virou-se de frente pra bancada, deu um pulo de susto.

— Jungkook! Mas que caralhos… — Levou à destra ao peito, alarmado, o


coração batendo rápido.

— Se assustou? — Jeon o encarou com os olhos negros oblíquos e


desconfiados, vestido em seu conjuntinho branco, apenas os fios vermelho-
escuros destoando junto ao prateado de seus diversos brincos nas orelhas.

— Me assustar? Por quê? — balbuciou. — Não tô fazendo nada errado…


Por que me assustaria? — Sorriu amarelo.

O ruivo estendeu a mão e tomou pra si a garrafa de vinho branco ainda


fechada sobre o balcão.

— Você não vai beber isso agora, mocinho. Se quiser, mais tarde a gente
pode encher a cara. Não agora. Não são nem quatro da tarde ainda! —
ralhou.

— Mas… — o alfa lúpus arregalou os mirantes pequenos, pronto pra se


opor, totalmente contrariado.

— Mas nada. Nem vem — Jeon foi assertivo, o fitando de olhos apertados.
— Sei que você gosta de beber além da conta, General…

— É Tenente-coronel — resmungou, com um biquinho. Mal parecia o


dominador daquela relação agora.

Jeon deu um suave revirar de olhos.

— Que seja. Mas você não vai beber isso a essa hora. E fim de papo. —
Rodeou a bancada e enfiou a garrafa de bebida dentro da geladeira. —
Agora, será que você pode assistir um filminho comigo e me dar atenção?
Eu quero ficar de chameguinho com você! — disse em tom muito sério,
arrancando um sorriso contido do moreno, que amolecia pra ele com
facilidade.
— Tudo bem, bebê — concordou, abraçando o corpo maior que o seu, e
aproveitando-se pra sentir o cheiro docinho de ameixa e maçã em sua pele
limpinha. — Mas só um pouquinho. Vou levar meus pais na estação de
trem, mais tarde. Você vem comigo? Prometo que meu pai não vai dizer
nada ruim pra você, já conversei com ele…

— Nah… — Jeon sacudiu a cabeça. — Esse é o momento de vocês. Não


quero ficar de intruso. Enquanto você estiver lá, eu vou levando algumas
das minhas coisinhas pra sua… Quer dizer, pra nossa casa. — Sorriu
fofinho, fazendo o coração do Park quase derreter. — E a gente pode deixar
o cinema pra amanhã. Hoje a gente cozinha alguma coisa, ou pede uma
pizza.

Jimin apoiou a cabeça no ombro do mais novo, alisando suas costas.

— Esse sofá vai ficar lá na nossa sala. Ele é mais confortável que o meu. —
Analisou o estofado de veludo preto que havia dado de presente ao Jeon,
poucos meses atrás.

— E o que você vai fazer com o sofá de couro vermelho?

— Sei lá. Posso colocá-lo na masmorra... Ou enfiar ele naquele espaço


embaixo da escada. Ali parece um lobby, né?

— Verdade… — Jeon assentiu, pensativo na decoração de sua mais nova


casa. — Quando a gente fizer festinha, vai ser mais um lugar pra galera
relaxar. Boa ideia. Mas e quanto a minha cama e o resto dos meus
eletrodomésticos? — murmurou, pensativo.

— Você pode vender na internet e deixar o que der desmontado na garagem.


— Afastou-se um pouco para pegar a mão do garoto e puxá-lo pro quarto,
mas algo chamou sua atenção ao fitar os dedos do outro. — Kook-ah…
Onde tá a sua aliança?

O ruivo empalideceu, imediatamente. E transparente como era, não pôde


disfarçar o par de olhos redondos arregalados, pego no pulo.
Mas Jimin somente alisou seu rosto, carinhosamente, o fitando com
suavidade.

— Se você tiver vendido porque precisou de dinheiro, tá tudo bem, neném.


Eu vou entender.

— Hmn… — o ruivo murmurou, mordendo o lábio, apreensivo. — Não foi


isso não. Eu… Quando descobri que você tinha se agarrado com aquele
bosta do “TeTê” — disse o nome com desprezo —, eu atirei o anel longe.
Aqui na sala mesmo, por sorte. Então deve tá enfiado em algum buraco.
Talvez atrás do sofá. Quando a gente for esvaziando o apartamento, vai
encontrar.

O moreno não se chateou; não com a coisa do anel. Mas a maldita situação
que queria empurrar pro fundo de sua mente, juntamente às cenas de
Jungkook beijando outra pessoa em sua frente, começou a infernizar o seu
juízo, como já era esperado.

— Me desculpa, bebê — o encarou tristonho. — Me desculpa por não ter


dado atenção ao seu ciúme. Por mais que Taemin fosse meu amigo, aquilo
foi um desrespeito. Eu não deveria…

— Hyung, pára — o garoto o abraçou, carinhoso. — Você não fez nada


errado, realmente. Eu é que fui totalmente insensato, infantil e me deixei
mover pela raiva… — murmurou.

— A gente tinha combinado que a culpa era de nós dois, certo? Então não
vamos falar assim. — E acariciou os cabelos tingidos de seu amorzinho. —
Amanhã eu vou procurar aquele terapeuta pra nós. Vai dar tudo certo —
prometeu. — A gente vai ficar juntinho. E bem. É o que eu mais quero no
mundo — disse, fitando-o como se visse a constelação inteira frente a si.

Jeon sorriu docemente, os olhinhos brilhando.

— É o que eu mais quero também, hyung. E vou me esforçar ao máximo


pra isso dar certo. Você é realmente o meu maior amor. Eu nunca amei
alguém assim. E não tava brincando quando disse que quero ficar com você
pra sempre. De verdade — confessou.
E sorrindo, cheios de amor no peito e transbordando nos olhares, eles
beijaram-se com paixão, deliciando-se no aroma no um do outro.

[...]

— Isso, mas puxa um pouquinho mais pra esquerda — Min Yoongi disse
em tom autoritário, sentado na sala da casa de Jimin (ou melhor, na casa de
Jungkook e Jimin), poucos dias depois de toda a confusão na The Cave e a
consequente volta do casal de alfas esquentadinhos.

O ômega loiro e pálido levou o gargalo da garrafa de cerveja aos lábios,


despreocupadamente, apoiando os cotovelos nas coxas, estando sentado de
pernas abertas no braço de uma das poltronas da sala de estar bagunçada.

— Ei! — Hoseok virou-se pra ele, descendo do banquinho, após firmar o


quadro na parede. — E você, fez o que? A gente tá aqui pra ajudar com a
mudança do casalzinho. Você, até agora, só bebeu cerveja, sentou aí e me
deu ordens, hyung — resmungou, com as mãos na cintura.

— Nada que eu não faça sempre — Yoongi sacudiu os ombros, fazendo


pouco caso, juntamente a sua costumeira expressão de paisagem.

Hoseok bufou, num misto entre irritação e divertimento, sacudindo a cabeça


em negativa, antes de caminhar até a cozinha e ir buscar pra si uma garrafa
de cerveja gelada.

A porta da sala se abriu num rompante, enquanto Jimin e Jungkook


atravessavam-na, carregando o sofá de veludo preto, cada um segurando em
uma ponta, os músculos inflando por debaixo dos tecidos das camisas, as
peles vermelhinhas e úmidas de suor por todo o trabalho pesado daquele
dia.

Menos de uma semana depois de reatarem e decidirem dividir o mesmo teto


como um casal mais sério, a mudança já estava quase no fim. Começaram
com os pertences pessoais do Jeon e deixaram as mobílias pro final.

— Vaza daí, ômega! — o ex-Coronel disparou ao amigo, caminhando de


costas ao carregar suspenso o sofá espaçoso nos braços, junto ao namorado.
— É pra já, Mirradinho — o loiro retrucou, se levantando de onde estava,
liberando espaço pra que os alfas acomodassem o sofá preto de veludo ali
do lado.

Espiando o estofado com atenção, ele disparou, após mais um gole em sua
bebida:

— Agora essa casa vai ficar com menos cara de bordel.

— Minha casa não parecia um bordel antes! — o moreno retrucou,


indignado.
.
— Claro que parecia. Quem põe um sofá de couro vermelho na sala de
casa? — ele devolveu, observando os alfas descansarem o móvel no local
escolhido.

Jimin resmungou, aproximando-se do amigo, apenas para tomar-lhe sua


garrafa e sorver dela o líquido, sedento. Aquela era uma tarde ensolarada e
quente. Somado ao esforço físico de carregar móveis e pertences pesados
do apartamento do outro lado da rua pra lá, o calor e a sede só aumentavam.

— Então… Casadinhos, uh? — Jung Hoseok disse em tom brincalhão,


escorando-se na bancada da cozinha, por onde podia ver claramente todo
mundo na sala, enquanto bebia despojadamente da sua própria garrafa de
cerveja.

Jungkook, que até então secava a testa suada com a barra de sua camisa
preta de algodão, levantou o olhar, sorrindo radiante pro amigo. O brilho de
sua aliança prateada recém-encontrada fora refletido pela luz do sol de fim
de tarde entrando pela janela da sala, quase cegando o beta.

— Tá com inveja porque eu tô casando, enquanto você vai ficar pra titia?
— Implicou.

— Vai se foder, vai! — o switcher devolveu, rindo. — Você tem sorte de ter
encontrado o Jimin. Esse cara é um anjo, só por aturar você. A vaga dele no
céu tá garantida, assim como a minha.
— Ah… Eu não deixava — instigou o malicioso ômega loiro, divertindo-se
com o arranca-rabo dos amigos.

— Hyung… — Jungkook sacudiu a cabeça, ainda com o sorriso brincalhão


nos lábios finos. — Eu tô muito feliz hoje, você não vai me irritar. Pode
xingar mais. — Deu ombros.

— E desde quando você se irrita com xingamentos? — disparou Jimin,


intrometendo-se. — Você adora, safado. — E aproximando-se do ruivo,
estalou um tapa na bunda durinha, assistindo a este dar um pequeno pulinho
e devolver a ele um olhar entediado, de sobrancelha arqueada. — Não me
olhe com essa cara de malcriado. Vai fazer um sanduíche pra mim, anda —
brincou, estalando outro tapa no mesmo lugar.

Jungkook o fitou de cima a baixo, e ao invés de obedecer — coisa que não


faria mesmo se o outro estivesse a sério — tomou a garrafa de cerveja de
suas mãos, virando o líquido dentro do vaso de plantas enorme recém
adquirido em conjunto pelo casal, disposto no canto da sala.

— Jungkook! — o ex-militar ralhou, os olhos pequenos dobrando de


tamanho. — Vai deixar a planta bêbada! Por que fez isso?

— Primeiro: a planta é de plástico. Eu falei pra você ontem, três vezes. Mas
você 'tava bêbado e esqueceu — o rapaz retrucou. — O que nos leva ao
segundo item: você está bebendo demais. E eu já falei que não vou deixar e
ponto final.

— Não é justo, é só uma cerveja e tá todo mundo bebendo! — interrompeu,


um tanto indignado.

— Terceiro... — o ruivinho continuou, impassível, ignorando a fala do


outro. — Eu não sou a sua mãe. Quem faz comida pra mim aqui, é você.
Vai lá você e faz seu sanduíche, abusado.

Hoseok quase se engasgou em sua cerveja. Precisou abandonar a bebida no


balcão, se contorcendo de rir, em seu típico jeito escandaloso, enquanto
tentava inutilmente cobrir a boca.
Já Min Yoongi, embora soubesse que a discussão era bem humorada, sabia
perfeitamente dos costumes destrutivos do ex-Tenente, que, vez ou outra,
voltavam à superfície, e se fazia necessário alguém para ajudar o alfa a pôr
de volta os pés no chão, afinal, Jimin raramente se descontrolava com
alguma coisa, mas em compensação quando o fazia… as coisas ficavam
complicadas. Era um cabeça dura.

— Ah… Cadelizado pelo próprio submisso — o loiro comentou, em tom


ameno e divertido. — Isso é algo delicioso de visualizar.

— Ah, vai se foder você também — Jimin resmungou, antes de se jogar


com tudo no sofá de veludo macio, capturando seu celular no bolso da
bermuda.

Jeon então resmungou:

— Jimin, nem o meu Tio Zé, que foi alcoólatra por quinze anos, bebia licor
no café da manhã…

O moreno suspirou e preferiu não discutir. Ele sabia que o namorado estava
certo. De fato, quando começava a beber, nao queria mais parar. E não era
nada saudável beber nas quantidades que ele vinha bebendo nos últimos
dois meses.

Ainda que tivesse voltado a beber por culpa do término com Jungkook, ter
voltado com ele não o impedia de sentir vontade de beber. Infelizmente,
tornara-se um hábito. E quando pensava na euforia e leveza trazida pela
falta de lucidez induzida pela bebida, ele só queria mais e mais. Um dia sem
ficar doidão era um dia um tanto sem graça.

Entretanto, ele sabia que estava errado.

— Vou pedir comida — disse o lúpus então, mudando de assunto. — O que


vocês querem comer?

— Ahhh, eu ando com desejo de pizza… — comentou Hoseok.


— Que desejo o quê, você não tá grávido — implicou o loiro. — E Jimin só
come pizza daquele restaurante italiano caríssimo de Cheong-dong; eu não
vou pagar por isso, nem fodendo… Parece até que eles usam queijo de ouro
e farinha alucinógena, pra vender uma pizza cara daquele jeito. Se foder…
— resmungou, voltando a beber sua cerveja gelada.

— Ah, é, eu esqueci que Jimin tem essas manias terríveis de gente rica…
— o beta retrucou.

— Lembrando que o quer que ele vá pedir, vamos todos dividir o valor,
hein! — disse o Jeon. — O Senhor Coronel e eu aqui, combinamos que ele
precisa aprender a controlar as finanças. Ele não é mais o Tenente-coronel
fodão da Aeronáutica, e eu vou entrar na faculdade agora, então não
sabemos se em algum momento vou precisar ficar sem trabalhar ou se vou
dar conta de trabalhar e estudar ao mesmo tempo em algum momento, por
isso vamos nos precaver. Aliás… Agora sou eu quem vai controlar os
gastos da casa, sabiam? A gente decidiu isso ontem, na nossa reunião de
moradores. No caso, eu e ele, porque só moramos nos dois, vocês sabem.

Os dois amigos se voltaram pro ruivo, curiosos, enquanto o ex-militar


sequer se deu ao trabalho, compenetrado em escolher algo do cardápio em
seu telefone, ainda que atento à conversa.

— Eu literalmente nunca vi um submisso ser o responsável pelas contas da


casa — comentou o Jung.

— Eu menos ainda — corroborou o ômega. — Mas acredito que no caso do


Jimin seja necessário. Ele agora ganha um terço do que ganhava na
Aeronáutica, mas continua gastando como se fosse filho do presidente...

— Hyung… — o dito cujo fitou o amigo de infância, ao desviar os olhos da


tela de seu aparelho. — Você ganha mesada do seu pai até hoje. Sem local
de fala — acusou.

— Por isso mesmo. Eu tenho a loja de vinis, então só gasto o que lucro com
ela. O dinheiro do meu pai, guardo na poupança. Eu tenho um planejamento
que você já conhece: quero ter três filhos. Todos eles vão estudar nas
melhores escolas e nas melhores universidades. Por isso eu economizo o
máximo que posso.

— Haja cu pra parir — comentou o Jeon, abismado. — Já parou pra pensar


se você tivesse tudo isso de filho com o Taehyung? Iam ser três pequenos
demônios no mundo! Ainda bem que vocês terminaram...

— Aaaaaaah, eu quase esqueci! — Alarmou-se Hoseok. — Eu descolei


uma entrevista de emprego pra você, JK.

— Sério? Onde?

— Na Stigma. Sabe, aquela multimarcas de roupas de grife…?

Jungkook forçou a memória, mas não lembrou de nada com exatidão.


Aquele era um nome familiar, mas nem tanto. Então só deu de ombros.

Do outro lado da sala, Yoongi quase engasgava, mas o olhar pedinte que
Hoseok o lançava, fizera o ômega manter-se calado.

— Posso marcar a entrevista pra essa semana? — indagou o beta.

— Com certeza! — o garoto retrucou, animado. — Mas é pra qual tipo de


cargo?

— Auxiliar. O CEO precisa de um segundo secretário, além do que ele já


tem. Um só não tá dando conta.

— Mas pra isso não precisa ter experiência na área ou alguma graduação
específica? — Jeon retrucou, de olhos arregalados e cara de idiota.

— Claro que precisa, mas não é como se você fosse ter que fazer algum
trabalho grandioso. É só preparar café, agendar reuniões, organizar e-mails,
marcar entrevistas com a mídia, essas coisas que qualquer um pode fazer…
Mas é um trabalho pesado. Por isso você, sendo jovem, é uma boa opção.
Vai ter mais gás.

— Mas devem ter pessoas com mais experiência nisso concorrendo à essa
vaga, né? — assimilou, cabisbaixo.
— Ei, não se preocupe, eu indiquei você, porque esse cargo exige sigilo
sobre muitas coisas relacionadas aos negócios da empresa. Então eles
precisam de alguém confiável. Tem termo de confidencialidade pra assinar
e tudo. Pra que você não venda informações privilegiadas à concorrência,
entende? Por isso é mais importante um secretário confiável, do que um
com experiência. O CEO é um conhecido meu…

— Conhecido tipo como? — indagou curioso.

Hoseok se travou por um par de segundos, mordendo o lábio, mas um aceno


encorajador de Yoongi o ajudou.

— Alguém do BDSM — revelou então.

Jungkook bufou, revirando os olhos.

— Isso vai dar problema. É melhor não.

Imediatamente Jimin levantou a cabeça, também meio desacreditado com a


ideia aparentemente nonsense do Jung:

— Eu também não acho uma boa ideia, não. Especialmente se for alguém
da The Cave. Jungkook não pode trabalhar com alguém que saiba tanto
sobre a vida privada e sexual dele, e vice e versa. Como ele vai se portar
sabendo que o chefe curte foder amarrado e tomar cuspida na cara, ou algo
do tipo? Você tá doido?

— Ei! — Hoseok retrucou, indignado. — Vocês acham que eu arranjaria


esse tipo de situação? Confia em mim, bicho!

O ex-Coronel sentiu o celular vibrar em suas mãos, desviando os olhos


rapidamente pro aparelho. Havia uma mensagem de Yoongi. Ele encarou o
amigo sentado quase ao seu lado, que fazia uma careta e alguns sinais
discretos pra que ele conferisse o conteúdo da mensagem, enquanto Hoseok
e o Jeon continuavam discutindo sobre o assunto, sem dar atenção a eles.

Jimin abriu as mensagens então:


Bro [às 17h03]:
É o Taehyung.
Relaxa.
E fica de boca fechada, pro doido N surtar e se recusar a ir.
Bro [às 17h04]:
Essa pode ser a melhor oportunidade da vida dele, Jimin.
Convença seu submisso, ALPHASDOMINATOR! Vc anda mt frouxo
com esse grandalhão abobalhado...
Assim, só dizendo 😉😋

Jimin desviou os lumes castanhos do telefone e encarou o amigo,


assimilando. De jeito nenhum Jungkook daria certo trabalhando para o
Kim, mas não custava nada tentar.

Então ele se levantou e pôs-se ao lado do ruivo, circulando sua cintura com
o braço:

— Ei, bebê. Pensando melhor, acho que você poderia tentar. Tem toda a
coisa da confiança e do contrato de confidencialidade… Parece seguro.

— Mas…

— Tenta — disse dando-lhe um olhar significativo. Daqueles em que unia


os lumes, deixando-os presos numa conexão impossível de explicar.

E foi assim que Jungkook, quase como se estivesse hipnotizado, murmurou,


abobado, piscando os olhos redondinhos:

— É… Posso tentar, né…?

[...]

A viagem era longa, a sede da empresa ficava há cinquenta minutos do


bairro de Jimin e Jungkook, de carro. O ex-militar estava trabalhando, então
Hoseok estava levando o amigo para a entrevista de emprego.

Jeon tagarelou o caminho todo, sedento por mais informações, as quais o


Jung se esquivava com certo desespero. Era difícil mentir pra alguém
desconfiado como o ruivinho.

Estacionaram na frente de um arranha-céu espelhado, imponente em meio


ao cinza da cidade.

A primeira coisa que Jungkook pensou, foi que pra estar nos andares mais
altos daquele lugar, essa pessoa deveria ser dona do mundo. Ele nunca foi
ganancioso, nunca deu tanta importância assim ao dinheiro, mas isso se
devia a sua anterior realidade de garotinho rico da elite coreana. O ruivo já
provara o suficiente da classe baixa, pra que não gostasse mais tanto dela
assim. Experimentara por quase sete anos, pra ser exato. Desde que havia
abandonado a casa dos pais médicos.

— Vou te esperar aqui — anunciou o beta, torcendo pra que o humor do


amigo estivesse num bom dia. — Boa sorte, JeiKei. Fighting!

Jungkook sorriu e, tropeçando nos próprios pés, atravessou a rua e entrou


no prédio gigantesco. Teve o corpo escaneado pela máquina na mão de um
dos seguranças, que liberaram sua passagem.

O primeiro andar era enorme, ocupava todos os metros quadrados daquele


quarteirão. Era um prédio largo, afinal. E naquele térreo, haviam sofás
belíssimos e elegantes, acompanhados de estátuas de arte de gosto exótico
demais, além de pôsteres de capas das mais diversas revistas, cujos modelos
principais vestiam-se dos pés à cabeça com roupas das diversas grifes que a
transnacional trabalhava.

Stigma era a principal responsável por revender as maiores marcas de luxo


do mundo, além de ter suas próprias linhas também. Haviam sedes da
empresa e pontos da Stigma nas principais capitais do mundo.

E por isso, Jungkook estava tão ansioso, que tremia dos pés à cabeça.
Aquela era uma oportunidade grande. Enorme. Algo que ele só seria capaz
de conseguir outra vez na vida, se fosse com a ajuda desprezível dos pais.

Ele disparou meio cambaleante até o centro redondo da recepção, onde


haviam três recepcionistas, dois homens e uma mulher, que mais pareciam
modelos de passarelas, tão belos e elegantemente vestidos. Não conseguia
farejar bem seus aromas, em meio ao monte de pessoas que andavam por ali
apressadas, de um lado pro outro.

— Boa tarde — disse depois de limpar a garganta, portando uma expressão


séria e profissional (havia aprendido com seus pais). — Tenho uma
entrevista com o CEO, marcada pra duas horas.

— Bem-vindo, senhor…? — a recepcionista fêmea devolveu.

— Jeon. Jeon Jungkook.

— Muito bem — ela sorriu belamente. — Me empreste sua identidade,


Senhor Jeon, pra que eu possa liberar sua entrada e fazer seu crachá.

Jungkook a entregou o documento e sentou-se em um daqueles sofás


caríssimos, que davam dó de encostar, pra não deixar a marca da sua bunda
no estofado.

Em menos de dez minutos, a mulher o chamou novamente, prendendo um


crachá em seu pescoço e devolvendo-o seu documento. Ela o deu instruções
e liberou o acesso ao elevador.

A sala do chamado “CEO Kim” ficava no último andar do arranha-céu, no


topo, de onde se podia ver absolutamente toda a cidade, pelas paredes
espelhadas.

Quando as portas metálicas se abriram, Jungkook não se assustou com a


altura, mas percebeu que a maioria dos funcionários passavam o mais longe
possível das paredes de vidro, e os que tinham mesas naquele pátio,
simplesmente trabalhavam de costas pra elas, evitando olhar lá pra fora.
Jeon achou um desperdício. Era bem destemido naquele sentido. Se fosse
trabalhar ali, faria questão de ficar vendo as pessoas como formiguinhas lá
embaixo.

Seguiu até a sala principal, que era uma ante-sala da sala do CEO, vendo
duas escrivaninhas, uma de cada lado da porta. A da esquerda estava
arrumadinha demais e um tanto vazia. Não parecia que havia alguém
usando-a naquele dia. Já a mesinha da direita, estava abarrotada de amostras
de tecido, uma pilha de revistas, canetas, documentos e uma maquete por
cima do notebook — que parecia uma maquete de passarela, com alfinetes
coloridos nas laterais, carregando nomes. Certamente era o mapa de
assentos de algum desfile cheio de celebridades, Jungkook assumiu.

E atrás de toda aquela bagunça, estava uma ômega baixinha de cabelos


curtos, na altura da orelha. Tinha feições ocidentais, olhos muito azuis,
cabelos preto-azulados com duas mechas brancas na frente, como a
Vampira dos X-Men. Estilosa.

Ela se levantou, afobada, e veio falar com Jungkook, que a vendo de perto,
podia reparar nas olheiras fundas sob a pele clara da assistente.

— Você é o Jeon? — ela indagou parecendo nervosa, os olhos rodavam por


todo o corpo do alfa, de cima a baixo, ao mesmo tempo em que olhava
todas as coisas ao redor, quase como se precisasse ter olhos em todos os
lugares.

Ela tinha cheiro de chocolate e café, duas coisas que Jungkook gostava, mas
que ali, combinadas, fazia seu nariz franzir em leve desgosto. Cheiro ômega
o deixava realmente enjoado.

— Sim, sou eu. Vim fazer a entrevista com o CEO…

— Senhor Kim vai te entrevistar agora, mas antes — ela abriu bem os olhos
claros e segurou Jungkook pelos ombros, o assustando um bocado pela
urgência em sua expressão. — Preste bem atenção, novato — disse séria. —
Não me importa o que você é ou o que você faz, mas vai entrar naquela sala
com toda a confiança do mundo e fazer aquele homem contratá-lo! Você é
minha última chance! Está vendo isso aqui? — Ela apontou pro próprio
rosto, falando de forma agoniada. — Isso são os quatro meses que estou
sem dormir! Vê a minha mesa? — Apontou pra escrivaninha bagunçada. —
Esse é todo o trabalho que preciso fazer. Eu tenho hora pra chegar e não
tenho hora pra sair. Sabe por quê? Porque ninguém aguenta trabalhar pro
Kim! Vê aquela mesa vazia? — Apontou para a da esquerda. — É como
uma mesa amaldiçoada. Ninguém que se senta nela, permanece neste cargo
por muito tempo. E sabe quem se ferra com isso? Eu! Porque todo o
trabalho sobra pra mim! Tive que passar a noite de natal aqui, pelo amor de
Deus! — ela grunhiu, dizendo tudo em um tom sussurrado meio raivoso,
pra que somente o ruivo apavorado pudesse ouvir. — Ei, não faz essa cara
não. — Ela pôs um dedo acusador em frente ao rosto de Jungkook. — Essa
é a expressão de pavor que eu faço pra mim mesma todos os dias. Minha
vida depende de você conseguir esse cargo! E se você não durar, eu
descubro onde é sua casa e te mato enquanto dorme — ameaçou, da forma
mais perigosa que podia.

Mas o negócio é que pra uma magricela de 160 cm, em pé sobre saltos de
bico fino e embalada por um vestido tubinho preto que marcava seus ossos
da bacia, ela parecia tão assustadora quanto um cachorrinho pinscher.

Jungkook sequer teve a oportunidade de perguntar a ela seu nome, pois logo
a ômega já estava com o telefone no ouvido, dizendo:

— Senhor Kim, o último candidato, Jeon Jungkook, está aqui fora


aguardando. Posso mandá-lo entrar? — E um segundo após, ela desligou o
telefone e apontou pra porta, sibilando entredentes —: Eu sei arrombar
casas. — Uma nova ameaça que julgava ser assustadora.

Foi só então que o Jeon fitou a porta toda. E viu o nome pendurado em uma
placa brilhante presa na madeira:

Kim Taehyung — Diretor Presidente

O sangue do ruivo gelou. Os olhos quase saltaram da cavidade.


Kim Taehyung? O maldito Kim Taehyung, ex-submisso e namorado de
Yoongi e Hoseok? O mesmo sujeito que o detestava e em quem ele tinha
ameaçado desfigurar a face no soco?

Sentindo um misto de choque e decepção, ele encarou a ômega baixinha,


que abria um frasco de comprimidos e despejava alguns direto na boca.

— O que foi, alfa? Entra logo nisso daí! — ela rosnou, o empurrando.

Sem ter pra onde correr, Jungkook girou a maçaneta, se pondo pra dentro.
Antes de fechar a porta, ficou travado frente a ela.
O CEO estava sentado atrás de sua mesa sobre uma enorme poltrona de
couro, de costas pra si, observando a vista lá fora, pela enorme parede de
vidro de sua sala.

— É mau educado não dizer bom dia, Jungkook — o outro disse, ainda de
costas pra si.

Só aí o Jeon acordou de seu transe e se aproximou, cruzando os braços na


frente do peito, completamente emburrado.

— Isso não se faz, Taehyung! Não se brinca com coisa de emprego! Você
sabia que eu era o candidato, então por que diabos marcou essa entrevista?
Só pra poder tirar uma com a minha cara, é? Eu gastei uma grana nessa
porcaria de terno novo, só pra impressionar o diretor e conseguir a vaga!
Pra chegar aqui e descobrir que o CEO é justo você? — Foi despejando
tudo, fulo da vida.

E então Taehyung girou a cadeira, ficando de frente pra ele. O outro alfa
estava sentado de modo desleixado, os braços apoiados na lateral na
poltrona. Usava uma camiseta branca de botões gordos, junto a um terno
estampado totalmente colorido e vibrante, uma mistura de cores; tinha
verde, amarelo, roxo, vermelho, laranja e azul.

O diretor usava também uma correntinha de prata no pescoço e um brinco


com pingente de meia-lua na orelha esquerda.

Os cabelos estavam um tanto ondulados e bicolores: o lado esquerdo em


tom de rosa-pastel, e o direito em tom de loiro pastel.

Jeon podia apostar que o preço de todas as peças no visual daquele alfa,
somadas, eram superiores a meio ano de aluguel da sua kitchenette.

Excêntrico sequer começava a descrever Kim Taehyung.

— Olhe bem pra mim, Jungkook — disse sério, deixando sua pose ereta e
altiva, antes de se levantar da poltrona e começar a perambular pela sala
espaçosa. — Você acha mesmo que sou do tipo que brinca com trabalho? Se
eu fosse assim, acha que estaria aqui onde estou? Comandando a maior
multimarcas de grifes bilionárias ao redor do mundo, sendo dono de todas
as salas deste prédio, responsável pela vida de mais de cem mil funcionários
da Stigma? Você é um pouco burro… — Sorriu debochado, enfiando as
mãos nos bolsos do terno colorido.

Aos poucos, Jeon foi descruzando os braços, mas ainda de lábios franzidos.
O Kim apontou para a cadeira em frente a sua mesa, convidando-o
silenciosamente a sentar-se.

Totalmente desconfortável e sem desfazer o bico pesado nos lábios, o ruivo


sentou-se desconfiado, e logo Taehyung voltou ao seu lugar também, na
poltrona de frente pra ele.

— Bem, Jungkook-ssi — começou, cruzando as mãos sobre a mesa. —


Você, de fato, não tem a experiência ou a escolaridade exigida pra este
cargo...

Jeon começou a abrir a boca para protestar, mas o amorenado estendeu a


palma aberta entre eles, pedindo silêncio pra continuar:

— Mas, ainda assim, preferi te entrevistar. Foi uma boa ideia de Hoseok.
Ninguém aguenta o trabalho deste cargo. E você não vai precisar ter algum
conhecimento específico pra realizá-lo. A parte mais técnica, por assim
dizer, fica nas mãos da Senhorita Kincaid, lá fora. A pobre coitada está
atolada com funções de secretário assistente, quando deveria cumprir
apenas as funções de secretária principal.

Taehyung não parecia tão arrogante e arisco agora. Talvez fosse o ambiente.

— Então…? Eu tenho chance?

— Bem, você sabe fazer café, buscar comida, enviar e-mails, preencher
planilhas e fazer ligações?

— Claro que sim.

— Então está contratado. Você começa na segunda.

Jungkook piscou os olhos grandes, atordoado e sem palavras.


— O que? Como? Fácil assim?

— Sim.

— Não há nada mais que precisa me perguntar? Estudar meu perfil? Fazer
testes comportamentais?

— Eu já sei tudo o que preciso sobre você — o empresário o interrompeu.


— Agora, escreva neste papel quanto você recebia na lojinha onde
trabalhava. — O entregou um post-it amarelo junto a uma caneta bonita.

Jeon, timidamente, e ainda desconfiado, escreveu o valor de seu último


salário no papel, sob a mira atenta do diretor. Este deu um sorriso satisfeito,
e lhe disse:

— Ótimo. Lhe pago três vezes esse valor, e você ainda pode escolher, uma
vez por mês, um look completo das marcas que revendemos, como cortesia.
Isso, claro, pra te ajudar a se vestir bem, não gosto que meus funcionários
trabalhem maltrapilhos, temos uma imagem a manter. Afinal, esta é uma
companhia de moda.

Os olhos do mais novo arregalaram-se tanto, que ressecaram.

— Três vezes esse valor? Três vezes? — indagou, chocado.

— Sim — Taehyung deu de ombros. — Por que? Acha pouco? Não posso
te pagar mais do que pago à Senhorita Kincaid. Hoseok deve ter lhe
explicado sobre o contrato de confidencialidade também, certo?

Jeon piscou os olhos, o corpo estático. Ele estava tão chocado quanto um
ávido leitor ao chegar no plot twist da história.

— Você já pode ir. — Taehyung o dispensou. — Vá até o 9º andar pra pegar


a lista de documentos que precisa trazer, e faça a leitura do seu contrato
com o advogado do RH. Você precisa chegar todos os dias, às 9h. O horário
de saída oficial é às 18h, mas não pros secretários do CEO. Vocês ficam
enquanto eu ficar. Eu pago o valor das horas extras em dobro. De acordo?

O garoto gaguejou um pouco, antes de murmurar:


— Sim, senhor.

Era simplesmente bizarro que “senhor” tivesse saído de seus lábios,


referindo-se a Kim Taehyung, e de modo tão automático. Parecia que a
alma de Jungkook tinha saído do corpo e estava assistindo à coisa toda de
fora.

O Kim fez um suave movimento de mão, dispensando-o. Mas com a mão


na maçaneta, Jeon se voltou pra ele uma última vez:

— Por que está fazendo isso? Você não me suporta, ainda que a gente tenha
meio que "feitos as pazes". Nosso acordo de paz não parecia tão grandioso
assim. Sabe que isso não vai fazer Hoseok hyung voltar correndo pros seus
braços, não sabe?

— Estou ciente. Obrigado por me informar. Nos vemos na segunda. Vista


uma roupa elegante. — E dispensou-o mais uma vez.

[...]

— Estou completamente chocado — Jimin declarou, com as mãos na


cintura. — Honestamente, não sei se acredito que ele esteja fazendo isso
pela bondade de seu coração…

— Com o salário que ele vai me pagar, vou poder me dar ao luxo de
guardar uma poupança, sabia? Um mês de trabalho na Stigma, equivale a
três meses de trabalho na lojinha. Não me importam as motivações daquele
insuportável. Eu preciso ficar com esse emprego.

— Você percebeu que vai ter que abaixar a cabeça e se submeter a ele,
certo? E que se ele te humilhar, você vai ter que engolir as palavras e
aceitar… Taehyung só submete no sexo, e ainda assim, somente depois de
ser derrotado. Ele literalmente nunca abaixa a cabeça. Yoongi diz que às
vezes ele parece um maldito e teimoso dominador...

— Já pensei nisso. Não importa, hyung. Ao menos com ele sendo meu
chefe, consigo refrear meus impulsos de partir a cara dele. — Deu de
ombros.
— Espero realmente que isso dê certo. Eu tô assombrado, bebê. Quando
Yoongi falou, eu pensei "O que diabos eles pensam que tão fazendo?"

O próprio Jungkook também se perguntava aquilo. Trabalhar pra Kim


Taehyung? Como aquilo poderia dar certo?

Entretanto, uma coisa havia voltado aos eixos em sua vida, e serviria-lhe
como uma espécie de calmante: Jimin era dele outra vez.

Jeon sentia que havia perdido dois preciosos meses sem o amado, mas
agora que o tinha pra si outra vez, a relação parecia ainda mais brilhante.
Estavam morando juntos, vivendo como um verdadeiro casal...
Conversavam muito, riam muito, transavam pra cacete…

E então ele agradeceu ao universo, que finalmente pudesse ter um pouco de


paz, ainda que por um breve momento.

VOTA, por favorzinho

#CobraSorrateira

1. RAMBO: Personagem militar combatente de série filmes de ação de


mesmo nome.
38| 5 things i love about u

Vota aí, nunca te pedi nada

— Agora, Jungkook: diga cinco características positivas no Jimin.


Características positivas pra você. Incluindo aspectos da aparência, da
personalidade, ou até mesmo do sexo — declarou a terapeuta, de pernas
cruzadas, um cotovelo apoiado no joelho e o rosto apoiado na palma,
sentada à poltrona do consultório de cor bege e marrom, atenta.

Tudo ali era de madeira maciça, e passava uma sensação de conforto; como
uma cabana de férias na floresta. Proposital. Assim como a escolha de
roupas da experiente terapeuta de classe beta, que tinha cabelos acobreados
em cachos suaves e usava roupas sóbrias em tons pastéis, passando
delicadeza até mesmo em seus movimentos de mãos ou um mero jogar de
cabelos.

O ruivo pigarreou e encarou o namorado, cuidadosamente, avaliando-o


antes de tudo. Especialmente sua persona mais submissa, ainda que
desobediente, estava ali. Sabia que na terapia poderiam falar sobre
absolutamente tudo, aberta e sinceramente, mas algo dentro dele ainda o
forçava a pedir a autorização do Park com o olhar.

Quanto mais tempo passava, mais Jeon Jungkook se submetia ao parceiro.


Era simplesmente natural. Quanto mais apaixonado ficava, quanto mais
tempo passavam morando juntos —, verdadeiramente como um casal, e não
como da vez em que ficara hospedado na enorme casa como um mero
convidado —, mais o cherrysub se punha em uma posição de total entrega
ao ex-militar. Sentia necessidade de pedir sua opinião para absolutamente
tudo.

No fim das contas, não eram castigos, punições e a disciplina, capazes de


encoleirar o alfa rebelde de fios vermelhos. A única coisa capaz de colocá-
lo no cabresto, era a absoluta entrega e idolatria que sentia pelo ex-militar.
Jimin o ganhava. O conquistava. Fazia por merecer cada um dos suspiros
apaixonados que o Jeon emitia pra si.
E o Park não poderia negar o quanto adorava a mais nova submissão do
namorado. Ele continuava malcriado e de língua afiada, mas aparentemente
seu respeito pelo Alphadome como autoridade suprema era claro. Ele
estava, aos poucos, achando o equilíbrio entre sua selvageria antes
indomável, e seu eu de total entrega.

— Diz pra ela, bebê... — pediu o moreno, com a voz suave, acariciando a
mão grande do de genes ômegas, que descansava em cima da própria coxa.
— Eu também estou curioso. — Sorriu doce.

— Mesmo? — o ruivo sorriu bobo. — Não sabe as coisas que mais admiro
em você? — Deu um sorriso de lado, galanteador.

— Tenho meus palpites — o dominador ronronou em resposta, deixando a


cabeça de fios sedosos cair de lado contra o encosto do sofá, as mechas de
fios escuros cobrindo parcialmente os olhos rasgados.

— Bem... — o submisso respirou fundo. — Eu realmente gosto de como


você se parece fisicamente. Você é muito lindo, hyung. E muito gostoso.
Sou todo boiolinha por você — murmurou.

O ex-Coronel sorriu fofinho, apertando a ponta do nariz alheio, brincalhão.

— A segunda coisa — Jeon continuou — é que eu amo o quão


compreensivo e calmo você é comigo. A gente não daria certo, se você
fosse doido das ideias também... Com dois doidos juntos, a coisa já vira um
hospício. — Sorriu com os dentinhos avantajados à mostra, enquanto o
lúpus alisava as costas de sua destra, carinhosamente.

— Ei... Você não é doido. É só um pouco esquentadinho e paranoico.

— Se você diz... — o ruivo deu de ombros, suave. — A terceira coisa é


que... Hmn... — Ele girou os olhos entre a terapeuta e o ex-Tenente, um
tanto envergonhado. — Você é muito bom de cama, hyung. — Sua voz saiu
meio sussurrada, como se contasse um segredo. — Tipo, muito bom
mesmo. O melhor que já tive. — E contra a sua vontade, as bochechas
coraram.
Jimin se jogou pra trás, dando uma gostosa gargalhada, enquanto suas mãos
pequenas e macias apertavam a destra do namorado. Precisou secar os
cantinhos dos olhos, antes de voltar a dar atenção ao sub.

— A quarta... Bem... É muito bom que você seja rico, pra me dar quantos
M&M's vermelhos eu quiser — o mais novo admitiu, com uma expressão
risonha. O que só causou no menor, um riso ainda mais escrachado, com
uma gargalhada mais alta.

— Eu não sou "rico". Só tenho uma condição financeira um tanto tranquila.

— É. Tá legal... — o ruivo debochou, sacudindo a cabeça, desacreditado,


porém sem teimar. — Me deixe terminar. A quinta e última coisa é que
você sempre respeita muito o que eu quero. Mesmo quando o que quero é
algo contrário aos seus próprios desejos... Você não deveria me dar tanta
moral assim. — Suspirou. — Hyung, eu te amo muito, sabia? Você é
perfeito em tudo... — Fez um biquinho. — E sinto muito por eu ser um
idiota...

— Você não é idiota — o outro devolveu, fitando-lhe de modo apaixonado.


— Você é o meu amor. — E aquela era justamente a frase estampada do
lado interno das alianças caras que o casal usava, desde os primeiros meses
de namoro. Jimin havia mandado cravar aquela frase no par, depois de
muito pensar em algo que fosse sincero pra descrever o que sentia pelo ex-
vizinho, e era exatamente aquilo.

Ele estendeu a mão e afastou uma mecha de fios coloridos da frente do


rosto alheio.

— Bem, Jimin... Se o que Jungkook diz é a realidade, você deveria levar


mais em consideração suas próprias vontades. Se toda a vez que Jungkook
quiser alguma coisa e você fizer a vontade dele, ele será como uma criança
mimada. — O de genes ômega se encolheu no sofá, sob o olhar pesado da
terapeuta. — Além do mais, fazer as vontades de quem ama, passando por
cima dos próprios desejos, não é prova de amor, e menos ainda saudável.
Você precisa mudar um pouco a postura quanto a isso. Tudo é um
equilíbrio. Entende o que quero dizer?
— Sim, senhora. — O moreno assentiu, com um meio sorriso educado. —
Você está certa. E eu meio que já sabia disso.

— Você consegue dizer por quê faz todas as vontades dele, então, mesmo
sabendo que não é o vantajoso pra nenhum dos dois? — E a beta dizia
aquilo de modo tão delicado, que era como o rufar de uma brisa na
primavera.

O ex-militar bufou suavemente. Não de irritação, mais como cansaço e


resignação.

— Eu... Acho que se eu for muito duro com ele, posso perdê-lo — admitiu,
a contragosto, fitando o chão de madeira, sem se voltar para o namorado.

Enquanto isso, Jungkook o fitava surpreso, com a boquinha meio aberta e


os olhos redondinhos arregalados. Jimin tinha medo de perdê-lo? O garoto
sentiu o coração palpitar. Porra, ele amava tanto aquele homem...

— Bem, Jimin, não é como se você fosse precisar tratá-lo como um de seus
subalternos do quartel. — Ela deu um sorriso divertido. — Apenas imponha
mais limites. Caso contrário, Jungkook pensará que nada do que ele fizer
poderá fazer você se afastar, entende? Mesmo que de forma inconsciente,
ele poderá sentir-se inclinado a sempre testar os seus limites, testar até onde
vai o seu amor e... a sua paciência.

O Park aquiesceu, com um menear de cabeça e uma rápida olhadela em


Jungkook. Este tinha um bico do tamanho do mundo nos lábios bem
desenhados, o olhar baixo e uma perfeita expressão de criança arteira ao
tomar um sermão depois de aprontar. Nada muito diferente do que ele era
na realidade, fato.

— Agora, Jimin... Diga a Jungkook as suas cinco coisas favoritas sobre ele
— ordenou a terapeuta, ciente da expressão contrariada do ruivinho, mas
sem se deixar abalar.

— Essa é fácil. Posso dizer o triplo disso...


— Não será preciso. — A mulher riu. — Diga somente cinco. Vai precisar
ter outras guardadas na manga, pro exercício que vou passar ao final da
consulta.

— Tudo bem — ele concordou, virando-se de frente pro Jeon, as mãos


voltando a ficar entrelaçadas. Elas achavam seu caminho uma pra outra
constantemente, e muitas vezes era uma ação inconsciente de ambas as
partes. — A primeira: você é a coisinha mais fofa desse mundo, Kook-ah.
Quando te olho, quero te apertar todinho e encher de beijinho!

— Ah, caramba... Isso é fofo demais pra eu suportar — a terapeuta


murmurou baixinho, em tom divertido, ao que desviou o olhar para a janela,
meio constrangida, meio amolecida, com a doçura do casal.

— Foi você quem mandou... — Jimin resmungou, divertido.

— Certo, certo... — Ela se virou de novo pra eles, com um sorriso suave. —
Justo.

— Qual a segunda coisa, hyung? — o ruivo grunhiu ansioso, arrumando-se


no sofá, todo encolhidinho com os joelhos pra cima.

— A segunda é que você é muito engraçado. Seu jeitinho me faz sorrir o


tempo todo, e eu nunca me sinto entediado quando tô com você.

O Jeon sorriu mordiscando o lábio, ao que apertou rapidamente a bochecha


gordinha do lúpus entre os dedos, brincalhão:

— É só olhar pra mim que você sorri. Eu gosto disso — ele devolveu com
um sussurro a última frase, e com um olhar admirado e orgulhoso de si
próprio. Porque sim, basicamente ele vivia para fazer o Park sorrir.

— A terceira é a nossa relação D/s. Você me motiva de um jeito diferente.


Sabe, dez anos fazendo isso já vinha deixando as coisas um tanto sem
graça. Mas com você, definitivamente achei o submisso perfeito. Nunca
imaginei que fosse aderir à indisciplina, mas fico tão excitado com essa
nossa dinâmica! — Jimin grunhiu meio divertido, inflando as bochechas,
que coloriam-se um tom rosa suave.
A terapeuta os observava do canto, presos na própria bolha romântica,
enquanto os avaliava em silêncio, os olhos afiados.

— A quarta, hmn... — Ele sorriu presunçoso e levantou o nariz para fitar o


mais novo daquele seu jeito intenso. — Você é gostoso pra caralho, bebê.
Seu rostinho fofo e esse corpão todo musculoso, ah... Eu passo mal... — O
fitou descaradamente, de cima a baixo.

— Hyung! — Jeon gargalhou, cobrindo a boca.

Muitos casais tendiam a despejar os problemas na primeira consulta e a


ficarem remoendo acontecimentos passados. Entretanto, aquele casal era
diferente. Eles haviam contado resumidamente como fôra a relação, o
rompimento e a reconciliação, mas Jungkook era o único que se mostrava
envergonhado e profundamente arrependido ao tocar no assunto.

Já Jimin, bem... Dava para perceber o treinamento militar intrínseco no


lúpus. Ele não parecia frio, mas parecia excelente em esconder sentimentos,
mascará-los, embora confessasse uma coisa ou outra, porém de modo muito
simplório. E a profissional, então, teve certeza do que se tratava, naquele
momento...

— Ótimo. Agora diga a quinta e última, Park.

Ele olhou o ruivinho profundamente nos orbes redondos.

— Eu amo muito você, neném. — E estalou um beijo no dorso da mão de


Jungkook, que sorriu bobo em resposta.

— Essa não pode ser a última coisa. — O ruivo murmurou suave, com um
tantinho de indignação brincalhona em sua voz. — A quinta coisa que você
ama em mim, não pode ser me amar!

— Ah, sim... Desculpe. — O moreno mordeu o lábio, fitando o namorado.


— A quinta é que eu amo o seu jeitinho de falar. Às vezes você fala como
um bobo, em outras como um nenê contrariado, mas ainda assim, você
sempre parece uma coisinha fofa. Mesmo quando fala algo pra me irritar,
não me irrito com o modo como você fala, embora, sim, eu me irrite com o
conteúdo de suas sentenças um bocado de vezes... — E apertou a bochecha
do garoto.

— Muito bem! — A terapeuta sorriu. — Vejo que os dois tem perfeita


atração mútua, uma vida sexual animada, usam fetiches pra extravasar de
forma saudável, não exageram na inclusão do BDSM em todos os aspectos
da vida a dois, sabem separar, apreciam a companhia alheia e há muito
carinho dos dois lados. Eu não vejo muitos casais que se tratam tão bem
assim após um recém rompimento conturbado.

Imediatamente à menção do rompimento, Jungkook retesou na poltrona,


abraçando os próprios joelhos, ao que abaixou o olhar, incomodado.

Já Jimin, expressou um desconforto claro, movendo-se no sofá enquanto


fingia abotoar o paletó já abotoado, incomodado.

— Entretanto... — ela sinalizou. — Mesmo com todo esse carinho e amor


explícitos, os dois ainda possuem forte insegurança. Não em relação ao que
sentem, mas sim em relação ao que o outro sente por si. Especialmente por
ser uma relação muito carnal, o que é bem comum durante o primeiro ano,
nenhum dos dois parece seguro de que o outro irá permanecer depois que o
fogo inicial acabar. Então vou passar um exercício simples a vocês: quero
que, todo dia antes de irem dormir, e todas as manhãs ao darem bom dia,
vocês verbalizem uma qualidade do outro. A graça é que quando
terminarem de dizer todas coisas óbvias, terão de ser mais criativos pra
todos os dias encontrarem uma qualidade nova e admirável pra falar. Isso
vai mostrar ao parceiro todas as coisas que o atraem no outro. — Ela espiou
o relógio na parede e tirou os óculos elegantes. — Espero ouvir os
resultados na próxima sessão.

Após despedidas leves e simpáticas, o casal se retirou do consultório, de


mãos dadas.

A terapeuta então deixou o sorriso ir diminuindo aos poucos, ao que


empunhava uma caneta elegante na destra, e anotava na ficha dos pacientes:

"Jimin está reprimindo sentimentos. Ele quer desesperadamente perdoar


Jungkook pelo rompimento e pela ceninha vingativa na boate, porque sabe
que é esse tipo de comportamento que esperam dele: nunca perder o
controle, sempre andar na linha. Preciso fazê-lo expressar o que realmente
está pensando, antes que exploda num momento ruim. Controle de danos
pode ser muito mais complicado que prevenção..."

[...]

O telefone tocava insistente, e a luzinha amarela fazia os olhos do mais


novo funcionário da Stigma arderem.

— Ramal 07, Jeon Jungkook falando — ele disse, apertando o headphone


preso em sua orelha. — Sim, é o escritório do Senhor Kim. Do que se trata?
Me desculpe, não estou autorizado a passar as ligações direto pra ele, a
não ser quando forem de pessoas específicas. Você pode deixar o seu
contato e o assunto, que entregarei o recado.

O telefone voltou a piscar, e um sonzinho irritante soava na linha, indicando


uma nova chamada.

— Espere só um momento, preciso atender a outra linha. Ramal 07, Jeon


Jungkook falando. Não, eu já enviei essa planilha há três horas. Claro que
não, eu calculei e recalculei os números, conferi os códigos de referência,
as quantidades, os modelos, tudo. — A pessoa do departamento de pedidos
gritava na linha, fazendo a cabeça do mais novo latejar. — O quê?
Impossível!

Já não bastassem os efeitos colaterais de um supressor fortíssimo e


extremamente caro que havia tomado para que pudesse passar o cio sem
estar inconsciente e conseguir trabalhar, ter milhares de pessoas gritando
com você pelo telefone e pessoalmente, ainda o fariam ter uma enxaqueca
daquelas.

— Não, EunJi-ssi, eu mandei tudo direitinho, com certeza foi alguma coisa
errada que você fez aí! O e-mail está bem aqui na minha frente! —
Bufando, ele reabriu a planilha enviada. E como um baque, percebeu que
não, EunJi do departamento de logística não havia feito algo errado. Ele era
quem tinha feito.
"Puta merda, caralho, inferno!" ele grunhiu mentalmente, sem poder dizer
em voz alta. Passara a manhã toda e parte do seu horário de almoço
preenchendo a planilha com os manequins, modelos, cores e números de
referência de peças que precisavam ser enviadas à cada loja daquela região.
Mas, desatento, havia colocado uma pilha de papéis em cima do teclado do
computador, o que acabou causando a completa bagunça, e consequente
destruição da planilha enviada.

— Jeon-ssi, apenas me mande outra cópia! — EunJi, do departamento de


logística, grunhiu na linha.

— Cópia? Que cópia? — perguntou, alarmado.

— A cópia da planilha! Você salvou o documento antes de me enviar, não


salvou? É só mandar a cópia. Mas anda logo, preciso disso até o fim do
dia!

Jungkook engoliu em seco. Passou a língua na parte interna da bochecha e


virou o rosto pro teto, sentindo seus olhos arderem e as lágrimas querendo
saltar dos olhos. O camuflador de heat que permitia a passagem do período
fértil sem que o usuário precisasse ficar dopado e inconsciente, causava
efeitos colaterais fortes: estava emotivo, mal humorado ao extremo e
desatento.

Não era à toa que o camuflador era tão caro, e de uso pouco comum entre o
público. Uma vez que tal remédio era muito mais forte que um supressor
comum e permitia que o usuário permanecesse consciente durante o
período, sem liberar seu cheiro afrodisíaco com toda a potência, acabava
fazendo uma bagunça nos hormônios. Só era indicado em casos extremos,
onde o usuário tivesse algum compromisso realmente importante e não
pudesse estar dopado na ocasião.

Além do mais, Jungkook suava como uma torneira aberta, e mesmo com o
ar-condicionado fazendo a ante-sala congelar, o garoto parecia um
espetinho de carne lupina virando churrasquinho no inferno. Era um
resquício do heat, embora não sentisse as dores. E pra piorar, o remédio não
estava sendo capaz de camuflar seu cheiro ômega o suficiente naquele dia.
Um mês havia se passado rápido demais, mas Jeon ainda sentia como se
houvesse sido uma eternidade naquele lugar. Ao menos, o salário gordo
fazia valer à pena. E muito. Ele tinha planos bem específicos para seus dois
primeiros salários.

— Jungkook! Jungkook! — Dedos de pele bronzeada estalaram em frente


ao seu rosto, chamando sua atenção.

Levantando o olhar, Jeon deparou-se com um Taehyung muito impaciente


em frente à sua mesa.

O CEO usava um terno colorido, de corte assimétrico e tecido plástico, num


estilo muito futurista. Kim Taehyung era o tipo de alfa que não passava
despercebido em lugar nenhum.

— Por que não atende à minha linha direta? Estou te mandando me entregar
as amostras de tecido há quarenta minutos!

— Tecidos? Que tecidos? — perguntou, piscando rápido, embasbacado, a


perfeita face de um idiota perdido.

— Jungkook... — Ele alisou a testa. — Nem brinque com isso. Quero as


amostras de tecido na minha mesa quando eu voltar do meu café da tarde —
disse o alfa, ajustando na cabeça um chapéu elegante de cor púrpura
berrante, como uma berinjela.

Taehyung definitivamente amava coisas coloridas. Se fossem


desconhecidos, e o Jeon o visse na rua, jamais desconfiaria de seus fetiches
e os trajes de couro que usava para realizá-los na masmorra de BDSM.

— E vê se dá um jeito nesse cheiro. Tá muito forte — o empresário


declarou, franzindo o nariz.

— O que posso fazer, Taehyung? Tomei um camuflador injetável, mas não


está escondendo o cheiro direito, nem controlando a temperatura do meu
corpo!
— Eu não sei, passa um perfume! Pede um bloqueador de aroma na
farmácia! Dá seu jeito! Você deveria ter me avisado que seu cio estava
próximo, eu teria te liberado pra que pudesse passar dopado em casa, ou
sabe-se lá com quem!

— Eu quis ser um bom funcionário! — retrucou, desacreditado da falta de


empatia de seu mais novo chefe para com seu esforço.

— Um bom funcionário não trabalha exalando cheiro afrodisíaco que tira a


atenção do chefe!

— E eu lá tenho culpa do meu cheiro te deixar excitado? Não sou ômega


nem beta, caramba, que diferença faz? Você nem se atrai por alfas...

— Eu não me atraio por alfas, mas o cheiro que você solta é de ômega, me
deixa com a boca seca e com crise de ansiedade. Dá um jeito nisso! Pede
um bloqueador de aroma na farmácia, já disse, dá.o.seu.jeito! — falou
pausadamente, dando-lhe às costas em seguida, para ir em direção à saída
da ante-sala. — E não esqueça das amostras de tecido na minha mesa! —
Finalmente se retirou, deixando o Jeon sozinho com o barulho ensurdecedor
do telefone da outra secretária, que estava em algum outro andar do
edifício, buscando alguma coisa que ele sequer lembrava o que era.

Soltando um gemidinho choroso, Jungkook retirou o headset da orelha e se


levantou, indo até a mesa do outro lado da sala, onde clicou no botão de
viva-voz do telefone da colega de trabalho, ao mesmo tempo em que a
ômega baixinha e magricela entrava na ante-sala, às pressas, e toda
esbaforida, com várias sacolas nas mãos — com as quais ele não pode
ajudar, pois estava anotando o recado da pessoa na linha em um post-it.

Ao desligar, Jungkook notou a pasta pesada que ela havia jogado sobre a
mesa dele, fazendo a madeira leve estremecer.

— O que é isso? — perguntou.

A ômega o encarou como se ele fosse idiota.

— O livro de amostras de tecido. Onde você tá com a cabeça?


Jungkook suspirou, cansado. Aquele trabalho não era brincadeira. Não era à
toa que pagava bem. Na lojinha ele não precisava fazer muita coisa,
mentalmente falando. Chegava a ser monótono, em comparação, embora
tivesse uma carga horária mensal mais extensa. Mas no escritório de Kim
Taehyung, sequer podia ouvir os próprios pensamentos, de tão corrido e
tumultuado que era.

Ao fim do dia, Jeon se sentia fraco. Seu corpo estava pesado e molenga, a
coluna doía, os pés também, assim como sua cabeça. A visão estava
embaçada e seu estômago ardia de fome, não pudera comer mais nada até o
fim do expediente, nem depois dele, pois precisou passar duas horas e meia
além de seu horário refazendo a maldita planilha pra enviar ao setor de
logística.

Ele desceu pelo elevador, se apoiando na parede. Até ali as coisas eram de
vidro. Qualquer um com fobia de altura, certamente desmaiaria ao ter que
descer um edifício daquele tamanho, em um elevador de vidro, que permitia
a vista de toda a cidade e do mar abaixo da ponte colorida ligando aquele
distrito ao vizinho.

Jimin o esperava no lobby, sentado sobre um dos elegantes sofás, e o


avermelhado não pôde deixar de reparar em como o Park simplesmente
combinava com o lugar perfeitamente. Da aparência geralmente grosseira
comum em militares, Jimin não compartilhava. Possuía aparência delicada e
angelical, a despeito do olhar afiado e um bocado intimidador.

— Oi, bebê — ele cumprimentou com a voz rouquinha, abraçando o maior


pela cintura, ao dar-lhe um beijo estalado na bochecha macia. — Tá muito
cansadinho?

— Se um caminhão me atropelasse, eu estaria mais feliz — o submisso


murmurou em resposta, manhoso.

O ex-Tenente sorriu, achando graça, mas preocupado com o namorado, que


durante todo o primeiro mês de serviço com Kim Taehyung, vinha sendo
mais parecido com um zumbi do que com a pessoa espirituosa e enérgica de
sempre.
Era preocupante, claro, mas o lúpus sabia que era somente um período de
adaptação. Logo Jungkook se acostumaria com a nova rotina e tudo voltaria
ao normal. Continuariam sem muito tempo pra ficarem juntos, exceto pelos
finais de semana, mas agora que moravam na mesma casa, dividiam todos
os momentos livres, como um verdadeiro casal, e isso era ótimo para os
pombinhos apaixonados.

— Tá com fome? Quer comer fora? — perguntou-lhe, abrindo a porta do


carro pro mais novo, que parecia não ter forças sequer pra esticar as mãos à
maçaneta.

— Hmnn, hyung... — grunhiu, fazendo uma caretinha. — A gente pode


comer em casa? Eu tô tãaao cansado... — bocejou, o que somente
confirmava seu estado exaurido.

— Claro. Tudo o que meu bebê quiser. — Sorriu, deixando-lhe um selar na


testa e colocando o cinto de segurança no alfa, antes de fechar a porta do
carona e dar a volta no carro pra entrar pelo lado do motorista.

Claro que Jimin se lembrava da consulta com a terapeuta, duas semanas


atrás. Lembrava-se perfeitamente sobre ter que impor limites a Jungkook, e
não ceder a todos os seus caprichos, do contrário, o garoto sempre se
rebelaria, mesmo que de modo inconsciente, pensando ser incapaz de
perdê-lo. Mas aquele ainda era o tipo de mimo que o Park poderia dá-lo,
sem extrapolar os limites.

— Seu cheiro está muito forte, amor. O camuflador não está funcionando?
— indagou, curioso e preocupado.

O ruivo bufou, de olhos fechados e com testa encostada na janela, todo


esparramado no banco do carona.

— Sim. Acredita que Taehyung teve a audácia de reclamar do meu cheiro?


Me fez comprar um neutralizador de aroma na farmácia e tudo. Aquele
babaca! Eu querendo mostrar que priorizo meu trabalho, e ele me tratando
como um irresponsável. Tudo por causa desses malditos genes ômegas... —
murmurou a última parte.
Atento ao tráfego, o moreno lhe deu uma rápida olhadela apreensiva.
Odiava quando o Jeon se referia aos genes híbridos daquele jeito.

— Não fale assim, bebê. Já disse que não gosto quando fala de si mesmo
desse jeito. Eu te amo exatamente do jeitinho que você é. Absolutamente
tudo sobre você, me faz te amar completamente, e qualquer característica
que fosse tirada de você, seria como te tornar uma pessoa totalmente
diferente. — E então o encarou profundamente nos olhos escuros, ao
terminar a frase exatamente no momento em que parou num sinal.

Por mais linda que fosse a declaração do alfa lúpus, Jeon engoliu em seco.
Jimin não sabia que ele precisava reverter os genes ômegas. Não sabia que
ele teria de mudar o seu cheiro, os cios, a lubrificação e vários outros
aspectos que acompanhavam sua parte ômega. E se o Park deixasse de amá-
lo quando ele mudasse? E se sem o aroma ômega, ele não o atraísse mais?
Só de pensar naquilo, era desesperador, e por isso o garoto fugia daquele
assunto, como o Diabo fugindo da cruz.

Jungkook não tinha forças para ficar sem Jimin novamente. Sabia que
entraria em uma depressão profunda, antes de conseguir voltar a viver sem
ele. Não criara uma dependência emocional, pois sabia que poderia sim,
viver sem o Park, mas não queria. Era vazio demais, doloroso demais.

Sua mente cansada então lhe disse que talvez fosse melhor arrancar de uma
vez aquele band-aid. Doeria, mas seria de uma vez. Então ele encarou
atentamente o ex-militar, se desencostando do vidro da janela, no momento
em que o Park engatava a marcha e voltava a acelerar com o veículo.

— Você realmente adora minha parte ômega tanto assim, ou só fala isso pra
fazer eu me sentir bem comigo mesmo? — questionou, ansioso.

O ex-coronel o espiou rapidamente, sem poder tirar os olhos da estrada por


muito tempo, mas franziu o cenho, estranhando a pergunta.

— Por que pergunta isso? Semana passada mesmo, antes de dormir, eu


disse que uma das minhas coisas favoritas sobre você, são suas
características ômegas, amor. — Alisou a coxa esquerda do rapaz.
— Eu sei, é que... — Ele mordeu o lábio, desviando os olhos curiosos pra
fora da janela. — Você não gosta de ômegas. Não faz sentido — murmurou.

— Não tenho capacidade pra explicar a parte científica, porque nem eu


entendo, neném. Biologia e genética não são o meu forte. Mas não é o seu
aroma ômega isoladamente que me excita, mas sim o aroma ômega
mesclado ao alfa. É exótico. Diferente. Ninguém tem o cheiro assim. Já
topei com uma ou outra pessoa de genes híbridos, mas nenhuma me excitou
pelo aroma. Só você. Você é especial pra mim, Jungkook.

O garoto então se virou preguiçosamente pra ele, com um meio sorriso


brincalhão no rosto másculo.

— Isso parece papo de galanteador.

— Está funcionando? — o mais baixo entrou na brincadeira, arqueando as


sobrancelhas, comicamente.

Eles gargalharam suavemente, por um momento, até as risadas irem


cessando e Jeon respirar fundo, se preparando pro que precisava dizer.

— E se... E se eu deixasse de ser parte ômega, Jimin? Como você ia se


sentir?

— Você não vai.

— Supondo que sim — insistiu. — Supondo que eu fizesse o tratamento de


reversão de genes, e passasse a ser um full alfa. De genes cem por cento
dominantes. Você ainda ia me querer do mesmo jeito? Eu ainda seria
atraente pra você?

O moreno piscou um punhado de vezes, cismado.

— Que tipo de conversa é essa? Se estiver pensando em fazer aquela


maluquice de tratamento, saiba que eu não vou deixar! — E então, se
remexendo desconfortável sobre o banco, murmurou —: Não que meu
poder sobre suas decisões se estenda tanto assim, mas não vou assistir você
se pondo em perigo à toa — disse com um biquinho contrariado e cara de
bravo.

Jeon suspirou, preparando o terreno pra dar a notícia.

— E se eu tivesse que fazer, hyung? E se permanecer com os genes híbridos


fosse a parte perigosa, e não ao contrário? — indagou aflito, mordendo a
parte interna das bochechas.

O moreno então estacionou o carro na porta de casa, puxando o freio de


mão, antes de virar o corpo pro namorado, e o espiar com apreensão.

— Você quer dizer alguma coisa, Jungkook? Porque me contar desse jeito,
aos poucos, está me deixando nervoso. Não gosto disso. Diz logo de uma
vez. Tem algo a ver com dia que você esteve no hospital e aconteceu... tudo
aquilo? — referiu-se ao dia que ensejou o rompimento da relação.

O ruivo suspirou pesado e soltou o ar, cansado, engolindo em seco, antes de


tirar o cinto de segurança e voltar-se pra Jimin, no banco do motorista.

— Sim — sussurrou, amuado, o olhar baixo. — Eu descobri que o motivo


dos meus atrasos de cio, são devido aos genes mesclados. Meu percentual
de genes alfas é maior que os ômegas, claro, mas a quantidade dos
recessivos ainda é alta demais. Ainda há mais genética ômega em mim, do
que deveria.

Notando a expressão perdida e absolutamente confusa do moreno, ele se


lembrou que este não era bem da área de biológicas, nem era como ele, que
vinha de uma família de médicos. Então decidiu explicar de uma forma
mais detalhada, ainda que leiga:

— Sabe, um alfa pode ser full alfa, quando 100% de seus genes são
dominantes. Mas a maior parte dos alfas tem algum percentual de genes
recessivos, ou seja, genes ômega. Algo em torno de 1% a 15%; Lembra
disso, das aulas de genética na escola?

O Park franziu o cenho, pensativo. Aquilo era genética básica lupina. Ele
lembrava de modo falho, mas estava acompanhando o raciocínio, sim.
Então assentiu com um aceno leve de cabeça, instigando o outro a
continuar, com um olhar.

— Ok. Então, você consegue entender que qualquer percentual de genes


recessivos acima de 15% num alfa, começa a ser um problema, certo? —
Jeon continuou. — Se minha classe é alfa, eu não deveria ter mais que esses
15% de genes ômegas... Mas tenho 37%, Jimin. Trinta e sete! Eu sou quase
a porra de uma zebra, que ninguém sabe se é branca com listras pretas, ou
preta com listras brancas. — Bufou.

Com isso, o clima tenso deu uma suavizada, porque, é claro, pra Jimin, o
Jeon era a pessoa mais engraçada do mundo inteiro, e quando o garoto saía
com pérolas daquele tipo, o ex-Tenente só faltava engasgar na própria
saliva. Ele até tentou segurar o riso, mas não conseguiu. Precisou morder o
lábio pra se conter, ainda gargalhando.

— Enfim... — o ruivo, que sorria em igual tamanho, foi se esforçando pra


voltar à seriedade. — Por isso tenho tantas características ômegas, ainda
que meu corpo seja realmente de alfa.

— Deixe-me ver se me lembro sobre essa coisa genética direito. Quando


uma pessoa tem genes ômegas e alfa, de um modo mais equilibrado, é aí
que a classe é beta, certo? Tipo, 50% x 50%?

— Isso. O percentual pode variar em 6%, mais pra alfa ou mais pra ômega,
mas passando disso, é híbrido. Como eu — explicou. — Porém, como o
percentual entre genes recessivos e dominantes no DNA é quase
equiparado, faz com que eles enviem mensagens confusas e opostas ao meu
corpo. E isso é extremamente perigoso pra minha saúde. Desde me
descontrolar em cio e acabar mordendo um alfa, a... Meu corpo pensar em
ser capaz de engravidar.

— Espera... — Jimin rumorejou, assustado e estático. — Você engravidou?!


Por isso não teve o rut como deveria, daquela vez?!

— Não. Bem, não literalmente falando. Sou um macho alfa, afinal. O


negócio é que... Foi como uma gravidez psicológica. Sabe quando um
ômega começa a pensar que está grávido, e então tudo no corpo dele
começa a mudar, como se ele, de fato, estivesse esperando um bebê? A
barriga cresce, as mamas começam a dar leite, o apetite aumenta, mas, no
fim, o útero dele está vazio...?

— Você teve gravidez psicológica? Queria tanto assim ser pai? — o lúpus
grunhiu, assustado e em choque.

— Ai, não, Jimin, presta atenção! — retrucou, impaciente. — Eu não pensei


que estava grávido, mas o meu corpo achou que sim. O médico explicou
que isso foi devido a um conjunto de fatores que fizeram meu corpo se
enganar: ter genes ômegas em quantidade acima do ideal, estar em período
de procriação e ter acasalado sem proteção com um alfa lúpus como você,
que tem capacidade reprodutora mais intensa que alfas comuns, e que
também estava em período fértil, e especificamente tendo sido passivo,
bem... Tudo isso junto, fez com que meu corpo achasse que havia sido
fecundado. Eu não comecei a dar leite nem nada, até porque seria
impossível. Mas meu corpo começou a receber sinais confusos dos genes
recessivos, que eram completamente contrários aos meus genes dominantes.
Então meu rut não conseguia chegar, de jeito nenhum, porque minha parte
ômega estava bloqueando, pra proteger a porra de um filhote que nem
existia!

Jimin o fitou por um bocado de tempo, perplexo. Ele mal podia acompanhar
o raciocínio, mas era extremamente alarmante. A situação de genes híbridos
era, realmente, bizarra. Ele entendia agora, o porquê Jungkook havia
escondido aquilo dele e reagido tão mal ao telefone, ensejando toda a briga
entre os dois e as consequências fervorosas advindas dela.

Ainda assim, ele não entendia onde o Jeon queria chegar.

— Mas... Então você tem que reverter os genes ômegas, ou é algo


opcional? Seu corpo ficar confuso quanto a isso, não me parece tão
perturbador assim. É alarmante, claro. Mas você não tem como engravidar
de qualquer forma, seu útero é atrofiado, não é? O de todo homem alfa é.
Só fêmeas alfas que, vez ou outra, acabam desenvolvendo a musculatura
uterina...
— Não é uma opção — o ruivo sussurrou. — Resumidamente, eu posso,
tipo, morrer, se não consertar esses genes logo. Agora diz que não sou uma
aberração...? — resmungou, mal humorado.

Jimin piscou os olhos um tanto de vezes, atordoado. Era muito, mas muito
mais sério do que ele pensava. Se Jeon corria risco de vida, ele não queria
sequer imaginar a possibilidade de alguma coisa acontecer ao seu ruivinho
pentelho. Ele morreria junto, se algo acontecesse ao seu amor.

Foi pensando naquela possibilidade angustiante, que o ex-Coronel, com


uma expressão sombria e muito, mas muito séria, se voltou pra Jungkook:

— Quando vai fazer esse tratamento? Você já sabe disso há três meses e não
fez nada até agora. O que pensa que está fazendo? — grunhiu, entredentes.

— Eu tô... Pensando sobre isso, hyung. Isso é grande. Muito grande. Da


mesma forma que não fazer nada é irresponsável, fazer alguma coisa
também pode ser perigoso. Já passei por isso uma vez. Eu te falei, lembra?
Sobre meus pais. Eles foram os médicos responsáveis por desenvolver esse
tratamento. Mas a cobaia deles fui eu. E me lembro perfeitamente do quão
desconfortável era o procedimento. Era como... Quimioterapia. Eu sentia
náuseas, meu cabelo caía, perdia peso consideravelmente, porque não sentia
apetite... Era desgastante, hyung. Não sei se tenho psicológico pra passar
por isso de novo — confessou, cabisbaixo.

O lúpus então, subitamente, abriu a porta do motorista e pulou pra fora do


carro, dando a volta no veículo para abrir a porta de Jungkook. E assim que
puxou o garoto pra fora, circulou o corpo maior que o seu num abraço
apertado, grudando o nariz em seu pescoço, e inalou o cheiro mesclado que
a pele quente do rapaz emanava. Um cheiro majoritariamente ômega, de
ameixa e maçã, por conta do cio, mas que cujas notas fortes amadeiradas de
bergamota e cedro figuravam como um fundo ácido e altivo.

— Não quero perder você, Jungkook — disse com o nariz colado na pele
alheia, a voz abafada. — Então, por favor, faça o que tiver que fazer pra
ficar saudável logo. Eu vou estar ao seu lado o tempo todo, cuidando de
você, bebê. Não vou te abandonar.
O acerejado sentiu o coração palpitar e o abraçou apertado de volta,
praticamente cobrindo o tronco do alfa mais baixo entre seus braços fortes.

Jimin poderia ser mais perfeito que aquilo? Sua experiência de vida o dizia
que ninguém no mundo poderia ser daquele jeito, mas ali estava o Park,
sendo a pessoa mais doce, sensata, carinhosa, prestativa, bonita, sexy,
educada e... Ah, Deus.

O cara não tinha um defeito.

Correção. Tinha sim. Seu defeito era fingir não enxergar pessoas e situações
ruins ao próprio redor, e agir como se nada demais estivesse acontecendo,
como se todos fossem perdoáveis e bem intencionados. Era isso. Park Jimin
podia ser um safado de carteirinha quando se tratava de sexo e fetiches, mas
era muito inocente quanto à podridão das pessoas.

Suspirando, o garoto se afastou minimamente do namorado, para fitá-lo nos


olhos, pois precisava ter certeza daquilo.

— Jiminie... — murmurou. — E se depois do tratamento, eu mudar demais


pra você?

O moreno afastou-se mais, o encarando com confusão estampada na bela


face de queixo afilado.

— O que quer dizer?

— As coisas que você ama em mim, sabe? O cheiro de ômega, a


lubrificação... Vou perder tudo isso, Jimin — o mais novo se lamentou. — E
se a falta disso mudar a forma que você me vê? E se eu mudar pra você e
não for mais atraente...?

O ex-Coronel seguiu encarando-o com a face séria e sobrancelhas unidas,


por um par de segundos infinitos, como se estivesse congelado — o que,
inevitavelmente, deixava Jungkook atemorizado. Isso até o lúpus soltar uma
gargalhada desacreditada e girar os olhos pro céu estrelado, caminhar a até
a outra ponta da calçada, num giro, e aí voltar com tudo pra cima do Jeon,
estalando os peitorais um no outro, ao que agarrava a face assustada do
outro entre suas palmas e selava seus lábios com força.

Após o beijo estalado, o Park se afastou, e ainda segurando o rosto do


garoto entre as mãos, declarou, com os olhos brilhando:

— Como você é bobo, Jungkook! Você é um bobo!¹

— O que...? — o mais alto ficou atordoado, sem entender a explosão do ex-


Tenente.

— Como pode achar que a mudança do seu cheiro, ou uma lubrificação —


fez uma careta engraçada — poderiam mudar o modo como me sinto por
você, hein? Está brincando? Está tirando sarro de mim?

— Eu não! Minha preocupação é genuinamente séria, hyung! Respeita, tá


legal? — resmungou, apertando a cintura do Park entre seus dedos longos,
ao que este acariciava os dois lados de seu rosto.

— Bobo! — repetiu, divertido. — Você está interpretando o que eu disse


sobre te amar do jeitinho que você é, de maneira totalmente invertida,
Jungkook. Aigoo, você e essa mania de ser todo ao contrário! Por acaso é
do signo de aquário, hein? Nasceu na data errada? — Brincou.

— Minha preocupação é bastante válida! — o ruivo fez biquinho e cruzou


os braços na frente do peito, contrariado.

— Quando digo que não mudaria nada em você, é porque não mudaria
mesmo. Eu amo até os seus defeitos. Amo você. A sua personalidade, a sua
essência, o seu coração. — E colocou a mão aberta sobre o lado esquerdo
do peito do namorado. — Eu amo quem você é aqui. — Pressionou a palma
sobre o peito do alheio.

— Mas você disse que qualquer característica que fosse tirada de mim, seria
como me tornar uma pessoa totalmente diferente, hyung. Disse agorinha!

— Mas eu não quis dizer desse jeito!


— Mas minhas características ômegas são uma das suas coisas favoritas. —
Teimou. — Você mesmo acabou de dizer!

Jimin puxou o rosto dele pra si e deu três selares no bico armado.

— Isso é uma tecnicalidade. Sim, eu falo pra fazer você se sentir melhor
consigo mesmo e pra te ajudar no processo de aceitação do próprio corpo.
Não significa que eu esteja mentindo. Eu realmente te amo como você é
agora, mas não vou deixar de te amar se você mudar em algumas coisas,
Jungkook. Posso amar todas as versões de você. — Acariciou-lhe a
bochecha, suavemente, e uniu suas testas. — Não sei mais o que fazer pra te
deixar seguro quanto aos meus sentimentos. Eu só quero te dar todo o meu
amor, e te deixar seguro de que eu sou tão seu, quanto você é meu —
grunhiu. — Mas aí, vem a terapeuta e diz que estou te mimando demais,
que assim você vai achar que nunca vai me perder e aí começar a passar dos
limites por isso... É tão complicado! — disse, afinando a voz, daquele seu
jeito resmungão usual.

— Eu não acho que ela quis dizer desse jeito... — O ruivo murmurou,
repetindo a frase anterior do Park. Ele estava se segurando pra não sorrir de
orelha à orelha, especialmente quando seus olhos já começavam a ficar
marejados, o suor brotando na pele quente do cio camuflado.

O ex-militar então se deu conta, e encarou o outro, com um sorriso bobo.

— É... As coisas podem sempre ser interpretadas de diferentes formas —


entendeu.

Jeon não conseguiu reprimir um bocejo, que acabou por afastá-los e quebrar
um pouco do clima. Mas já estavam há uns bons minutos tendo aquela
conversa na calçada da entrada da garagem, e o garoto estava realmente
exausto. Por isso, ele deu um último beijo no topo da cabeça do Dominador
e o puxou pelas mãos, pra dentro de casa. Não se deram ao trabalho de
colocar o carro pra dentro da garagem.

O ruivo foi tomar banho na frente, enquanto Jimin fazia macarrão na


cozinha. Mas quando este subiu as escadas, equilibrando dois pratos e duas
taças nas mãos, além da garrafa de vinho tinto embaixo do braço, doido pra
ter um jantarzinho romântico com o namorado, acabou o encontrando
adormecido sobre a cama de casal da suíte que compartilhavam, usando um
pijama quentinho, os cabelos molhados sobre o travesseiro, e deitado num
ângulo muito esquisito, todo torto, mas o qual o lúpus foi incapaz de
consertar, com pena de acordá-lo, já que sabia o quanto Jungkook andava
cansado.

Suspirando, um tanto tristonho, mas entendendo perfeitamente a situação,


ele depositou as coisas que carregava consigo sobre a cômoda, para que,
com as mãos livres, cobrisse seu amorzinho. Ele afastou as mechas de fios
vermelhos úmidos de testa alheia e depositou um selar suave na pele
quente, onde deslizou a pontinha do nariz e sussurrou:

— Eu te amo demais, meu amor.

Depois, o ex-militar desceu as escadas, guardou o que era pra ser o prato de
Jungkook na geladeira e deu algumas garrafadas no seu, antes de abandonar
a comida inacabada e sentar-se na sala, com sua garrafa inteira de vinho e
um filme na TV.

[...]

Jungkook franziu o cenho, desgostoso e enojado, ao ouvir mais um barulho


de vômito vir do banheiro da suíte. Era cedo da manhã, e ainda faltavam
quinze minutos pra que seu celular fosse despertar, mas ele, infelizmente, já
estava de pé. Isso porque, há dez minutos atrás, Jimin se levantara, num
rompante, fazendo-o despertar, ao que não pôde se impedir de ver o alfa
lúpus se contorcer pra vomitar do lado de fora da cama.

Agora, o moreno vomitava no banheiro, enquanto Jungkook terminava de


limpar o chão do quarto, sonolento, ranzinza e preocupado. Ele sabia que
Jimin estava passando mal, por ter bebido um litro e meio de vinho sozinho
aquela noite. Havia visto a garrafa no lixo, ao ir na área de serviço buscar
um esfregão e produto de limpeza pra limpar o chão do quarto vomitado.

Jeon se levantou do piso e carregou o esfregão de volta pro andar de baixo,


suspirando aliviado de poder se livrar, ao menos por alguns minutos, dos
barulhos lá em cima. Lavou as mãos no banheiro do primeiro andar e pegou
o celular do namorado beberrão, jogado sobre o balcão da cozinha, por
onde ligou pra farmácia e pediu um kit anti ressaca, com remédios
analgésicos, antiácido e isotônicos.

O problema era que ele não conseguiria trabalhar tranquilo e dar atenção ao
seu ofício, enquanto estivesse preocupado com o namorado vomitando as
tripas pra fora, em casa. Então, ele suspirou e buscou o número de Jung
Hoseok na lista de contatos do celular do ex-Coronel. O amigo atendeu
somente na segunda tentativa, o que era entendível, em razão do horário
cedo.

— Jimin? O que houve? Aconteceu alguma coisa com o Jeikei? — o outro


indagou, alarmado, a voz sonolenta.

— Oi, hyung. É o Jungkook. — Ele ouviu o amigo suspirar aliviado na


linha.

— Que que tá pegando?

— Escuta... Você acha que o Taehyung vai se irritar muito se eu precisar


faltar ao trabalho hoje?

Minzy surgiu aos seus pés, enroscando-se entre seus tornozelos, ao que
miava pedindo comida. O garoto abaixou-se para despejar no pote a ração
cara que o ex-militar comprava pro gato, e aproveitou pra fazer carinho
atrás das orelhinhas fofas do bichinho.

— Isso depende. Você está morrendo? Há algum osso quebrado? Está


vomitando? Taehyung odeia vômitos.

— Eu não, mas o Jimin sim — lamentou. — Não consigo fazê-lo parar de


beber, hyung. Pelo amor de Deus, é quinta-feira de manhã e o cara tá de
ressaca!

— E o plano que o Yoongi te ensinou, de beber junto com ele, pra controlar
a quantidade? — indagou, deixando escapulir um bocejo.
— Eu tô fazendo! Mas é que ontem acabei dormindo antes do jantar, e aí
ele aproveitou pra beber uma garrafa de vinho toda sozinho.

— Vinho Tinto?

— Pior. Branco.

— Oh... Ele deve estar realmente mal. Vinho branco é mais forte. —
Suspirou. — Bom, eu posso falar com o Taehyung por você, se quiser...
Explico que o Jimin está doente e...

Só que então, Jungkook pôde distinguir claramente, ao fundo na ligação, a


voz grossa do odioso chefe dizer, em tom alarmado: "O quê? Ele já quer
faltar? Diga que irei matá-lo! Me faça parecer malvado!"

Um minuto de silêncio após isso se seguiu. Hoseok, calado na linha. Com


toda a certeza, em pânico; Taehyung também se calou, e mal se podia ouvir
alguma respiração através da ligação.

Já Jungkook, encontrava-se estático, de olhos arregalados e boca aberta,


encarando o nada. E assim permaneceu, por severos segundos. Até se dar
conta do acontecia ali:

— JUNG HOSEOK!!! — bradou, inconformado. — Eu não acredito que


você já está com ele de novo! Não é possível! — Arregalou ainda mais os
olhos, desacreditado. — Um mês, cara. Um mês que o sujeito deu uma de
bom samaritano e me arrumou um emprego, e você já entrou nas calças
dele outra vez? Por isso eu não queria aceitar o trabalho! Você é um
abestalhado! Já esqueceu o que ele te fez? O modo como te tratou? O
inferno que esse palhaço gosta de fazer?

— Olha, JK... — disse com a voz cansada. — Eu sei me cuidar, tá legal?

— Você não sabe nada! Vou esfregar a cara do Taehyung no...

— Jungkook! — ele chamou. — Eu te amo, aprecio que se preocupe


comigo e queira comprar minhas brigas, mas, por favor, só fica quietinho
dessa vez, sim? Deixe que me resolvo Taehyung. Não quero que vocês
comecem a se estranhar de novo e perca seu emprego. Caramba, JK,
trabalhar pro Tae é uma oportunidade incrível pra você, bicho! Por favor,
só... não estrague isso.

— Inaceitável! — o ruivo retrucou, batendo o pé no chão. — Eu sabia que


ele só queria me dar esse emprego, pra fazer você ir correndo até ele outra
vez!

— JK, é sério. — Suspirou na linha, uma vez mais. — Eu... Eu meio que já
estava com Taehyung de novo, quando ele me disse pra oferecer o emprego
à você.

Agora sim Jeon estava tendo uma síncope.

— JUNG HOSEOK!!!

Até mesmo Minzy se assustou e afastou-se do dono, por causa do grito.

— Ai, não grita! — resmungou o beta. — Olha, sei que deveria ter te
contado antes, mas é que... JK, eu não sabia que a gente ia ficar esse tempo
todo junto. Achei que tinha sido só uma recaída. E aí depois duas recaídas.
E então três, quatro, cinco...

— Ahh, hyung... — ele grunhiu, se arrastando pra cozinha, pra que pudesse
preparar um café. — Olha, assim fico numa posição delicada. Porque, se
Taehyung te machucar daquele jeito outra vez, vou ficar tão bravo, que irei
amarrá-lo na mesa daquele escritório metido à besta e encher ele de
porrada!

— Hmn... Isso deveria ser um meio de castigo? — Hoseok retrucou com a


voz incerta. — Porque Taehyung definitivamente gostaria disso.

— Oh. — Jeon se deu conta. — É verdade. Bem, então eu faria alguma


coisa bem ruim com ele. Derramaria café nos croquis da nova coleção da
Stigma! É isso. Pronto! Avise pra ele! O deixe ciente do perigo!

O beta deu uma risadinha suave na linha, divertindo-se com o amigo.


— Não se preocupa, JK. Eu já disse. Sei me cuidar. Por favor, mantenha o
seu emprego. Quero muito isso pra você.

— Não prometo nada — devolveu, ligando o fogo. — Mas e aí? Yoongi


sabe disso que tá acontecendo aí? Porque eu vou contar!

— Se ele sabe? — Deu um risada sem humor. — Ele puniu o Taehyung a


noite toda, com um cinto de castidade no pinto, enquanto fodia comigo na
frente dele. O pobrezinho tá com o pauzinho dolorido...

— Pauzinho? Taehyung tem cara de ser pirocudo!

Hoseok gargalhou ao telefone.

— Não vou dizer pra você qual o tamanho do pau dele. Ele é seu chefe
agora — declarou, em tom divertido.

— Eu já vi, lá na The Cave, quando você me levou, seu otário. Só não me


lembro.

— Se não lembra, então não viu.

— Que seja — retrucou, com um estalar de língua no céu da boca. — Mas


escuta, hyung... Quanto à coisa do Jimin... Eu tô realmente preocupado. Isso
é culpa minha. — Ele escorou-se à beira da pia, fitando o chão de um modo
melancólico, enquanto Minzy fazia manha, se espreguiçando pra chamar
sua atenção e ganhar mais carinho. — Se eu não tivesse surtado de ciúmes e
terminado com ele à toa...

— Seu ciúme não era tão descabido assim, JK. Sabe disso.

— Mas mesmo assim! Eu agi mal. Machuquei ele! Prometi que jamais o
faria sofrer, e veja só onde estamos agora... — lamentou.

— Todo mundo pode surtar às vezes, neném. Não fica assim. O importante
é que vocês estão bem agora, e mais felizes do que eu já vi ao longo de todo
esse tempo. A coisa da bebida é, infelizmente, uma das consequências com
as quais terão que lidar. Mas vocês vão passar por isso. Assim como
passaram pelo rompimento mais sofrido que já vi na vida, diga-se de
passagem — brincou. — Sério, Jungkook. Só cuide bem dele e diga que vê-
lo desse jeito te deixa triste. Tente usar um pouco de tática psicológica
hoje. Cuide dele, mas mostre que está decepcionado. Não é pra brigar, é
pra fazê-lo sentir que quando age desse modo, te afeta também.

— Tática psicológica é só um nome chique pra manipulação, você sabe —


comentou, ao que passava o café no coador.

— Essa é só uma ideia. Pensa nela. Jimin não vê o exagero na bebida


como um problema. Você deve fazê-lo ver, Jungkook. Antes que seja tarde
demais e o cara tenha que visitar o AA².

— Tá legal. E quanto ao cuzão do Taehyung? Avisa pra esse otário, que


preciso faltar. Manipula você também! Ele não pode me demitir!

Hoseok riu, tranquilo.

— Pode deixar. Ele não vai. Se precisarem de ajuda, é só me ligar, JK.

Assim que encerraram a chamada, Jeon ouviu o barulho da campainha soar,


e então correu pra atendê-la. Eram os remédios que havia encomendado na
farmácia.

Ele então subiu de volta pro quarto, carregando a sacolinha e duas canecas
de café preto.

Jimin estava deitado na cama, o corpo suado, a mão na testa e os olhos


fechados. Usava uma camisa social de botões aberta, uma cueca e um
somente um pé do par de meias. A outra estava jogada ao seu lado no
colchão.

— Por que tá vestido assim? — Jeon indagou, depositando as canecas e a


sacolinha sobre a mesa de cabeceira, pra fechar melhor as cortinas do
quarto e manter o breu.

— Porque preciso ir trabalhar... — o moreno resmungou, com a voz


dolorida.

— Não, não, hyung. Você não vai pro trabalho assim.


— Já estou acostumado. Tá tudo bem. — Mas sua voz saíra tão fraquinha,
que era difícil acreditar que o cara não era uma espécie de paciente terminal
esperando a morte.

— Taehyung me deu folga. Vou cuidar de você... — Jeon sussurrou,


abrindo a garrafinha de isotônico, para em seguida afastar o braço do Park
do próprio rosto e fazê-lo sentar.

— Não, bebê... — ele gemeu. — Não pode prejudicar o seu trabalho por
uma ressaca minha. Pode ir, posso me cuidar.

O ruivo sacudiu a cabeça, em negativa.

— Já disse que vou ficar. — Suspirou, fitando o outro com pesar. E


lembrando-se das últimas palavras de sua conversa ao telefone com
Hoseok, ele decidiu agir. — Estou muito decepcionado com você, hyung —
declarou.

Primeiro, o alfa lúpus piscou algumas vezes, desnorteado. Depois, o


encarou de um jeito envergonhado.

— Eu sei, amor. Mas foi só uma garrafa de vinho e...

— Não, Jimin. Não é assim que funciona. Hoje é só uma garrafa de vinho,
amanhã são duas, depois três, e aí quando a gente for ver, vai estar
arrumando briga na rua, faltando ao trabalho, ficando violento,
descuidado...

— Eu não tô virando alcoólatra, pára com isso. — Ele fez um bico, bebendo
o isotônico, à contragosto.

— Não é, mas pode virar. Vício é coisa séria. Logo você, que é sempre tão
controlador, não consegue controlar os próprios anseios. Todo viciado
começa de algum lugar. A Doutora Kam estava errada. Não vou esperar pra
ver qual o seu limite.

— Jungkook... — ele grunhiu. Mas não conseguiu rebater mais nada. Não
era possível.
Ele sabia que o alfa, além de certo, estava preocupado consigo. E acima de
tudo, Jimin sabia que era fácil se descontrolar com aquilo. Especialmente
por não poder falar sobre o que o motivava a beber.

E o que o motivava a beber?

Bem, era óbvio: Jungkook.

A cena na The Cave o causava uma angústia sem tamanho; uma sensação
ruim no pé da barriga. Sim, ele perdoava. Mas não conseguia esquecer, de
jeito nenhum. Por mais que tentasse expulsar a memória de sua mente,
diariamente ela voltava para assombrá-lo. Em um momento estava à mesa
com o namorado, e então este lhe dava um olhar que parecia similar ao que
havia lhe dado na The Cave e, BAM! A maldita memória dolorosa voltava
com tudo.

Beijos, realmente, não eram suficientes para acabar com a relação e amor
que nutria pelo Jeon. Ele ainda queria, mais que tudo na vida, continuar
aquela relação com o ex-vizinho. Jungkook era o grande amor de sua vida.
O que ele sentia pelo ruivinho não chegava sequer à metade do que uma vez
sentira por Taeyang. Entretanto, ter visto, ter presenciado o tal beijo, havia
sido traumatizante em muitos níveis. Porque, por mais que estivessem
separados na ocasião, em seu coração Jungkook continuava a ser dele, ao
mesmo tempo em que se sentia de Jungkook. Por isso, tinha a sensação de
ter sido traído, embora não houvesse acontecido nenhuma traição, de fato.

Era complicado demais, e o ex-militar não sabia lidar com aqueles


sentimentos e nem conhecia um modo confortável de falar sobre eles. Por
isso apenas fugia. Bebia pra esquecer, desviava do assunto nas consultas,
não queria voltar a tocar na ferida, pois sabia que se a cutucasse demais,
nada de bom sairia dali.

Todavia, Jimin era o tipo de pessoa que, quanto mais reprimia as coisas,
pior ficava quando estourava depois.

Então ele fitou o namorado, enquanto bebia o isotônico. Jungkook e seus


olhinhos brilhantes como duas jabuticabas escuras e arredondadas. Os
cabelinhos pintados num tom de vermelho vívido contrastando com a raiz
escura e a pele pálida. Os lábios bem desenhados e a pintinha abaixo da
boca, assim como outra semelhante que figurava na ponta do nariz
avantajado. Jimin não podia olhar pra ele agora, sem sentir aquela dorzinha
mesclada ao amor puro e genuíno que sentia.

Ao mesmo tempo, entretanto, um alívio percorria eu ser, quando se


lembrava dos dois meses angustiantes que passara longe dele. E mesmo
aquela dor de ter se sentido traído pelo ruivo, era melhor do que a dor que
estar sem ele.

Resignado, então, o ex-Tenente engoliu o remédio pra dor e enjoo que o


namorado lhe oferecia, e levantou-se da cama, aos tropeços, para mudar
suas roupas para um pijama confortável. Sentia-se, além de tudo, culpado
por estar fazendo o Jeon faltar ao trabalho para cuidar dele. Mas também
sabia não estar posição de recusar, e tampouco Jeon o obedeceria. Era
teimoso como o cão.

Cerca de quinze depois, o ex-militar sentiu o enjôo diminuir, melhorando


um bocado, embora ainda estivesse debilitado.

Então desceu a passo leves até a cozinha, onde Jungkook, cuidadosamente,


cortava legumes e os despejava numa panela grande e fumegante.

Jimin inspirou profundamente, sentindo o aroma delicioso da sopa abrir-lhe


o apetite.

Ele sorriu doce e se aproximou sorrateiramente do namorado, por trás,


envolvendo suas mãos na cintura fina do ruivo, que arrepiou e sentiu aquela
velha onda de eletricidade gostosa ao ter contato com o amado.

Se aconchegando ao corpo maior do alfa de genes ômegas, Jimin murmurou


com a boca em seu pescoço:

— Eu amo como você cuida de mim. Sempre fui o responsável, o


encarregado, o que cuidava de todos, a âncora. Mas até eu preciso ser
cuidado, nos meus piores momentos. E você cuida tão bem de mim, meu
bebê...
Jungkook travou, assimilando as palavras do outro. Sorriu, cheio de
carinho, e voltou-se frente pra ele, abandonando a faca na pia.

— Esse é o seu item de hoje, da lista de coisas que ama no Jungkook?

— Sim, bebê. Posso falar mais um bocado, se quiser. — E sorriu todo


bonitinho, os olhos pequenos fechando-se como duas fendas, espremidos
entre as pálpebras e as bochechas gorduchas.

O ruivo sacudiu a cabeça, risonho, deixando que as ruguinhas se formassem


ao redor de seus olhos, dando-lhe aquela costumeira aparência fofa.

— Minha vez — disse, passando os braços pelos ombros do moreno. — Eu


amo que você sempre esteja aqui pra mim, como sempre estou aqui pra
você. E sempre vou estar, hyung — sussurrou, deslizando os dedos longos
pelos fios escuros do alfa lúpus.

Jimin sorriu, afetado com as palavras do Jeon.

— A coisa da bebida... Você está certo — admitiu. — Nós estamos juntos.


Moramos juntos. Tudo o que eu faço afeta você, e vice e versa. Vou
começar a controlar a bebida. Prometo. Tem minha palavra, Jungkook.

— Mesmo? — o ruivo indagou com os olhinhos redondos um tanto mais


arregalados.

— Sim. — Ele sacudiu a cabeça em afirmativa, cheio de certeza. — Não


quero deixar mais nada ficar entre nós. Todos os problemas vão ser
resolvidos com conversa, sinceridade e, bem... Com alguém cedendo. Dessa
vez serei eu. Na próxima pode ser você. Mas precisamos ser adultos quanto
a isso, amor. Sem segredinhos. Sem teimosia. Sem orgulho. Podemos agir
assim? Temos um trato?

Jungkook sacudiu a cabeça com veemência, animado.

— Pode confiar em mim, hyung! Não quero mais ficar sem você... Aqueles
dois meses foram como uma amostra grátis do inferno. Não quero ficar sem
você nunca mais!
Jimin sorriu e esfregou a ponta do nariz no pescoço alheio, ao que Jeon o
tomava num abraço de urso, deslizando as mãos grandes por suas costas.

— Eu te amo... — sussurrou o ex-militar, contra o pescoço macio e cheiroso


do submisso malcriado.

Jeon sorriu, como há tempos não sorria. Sentiu o coração palpitar, errático,
e uma sensação de paz atingir o seu âmago. Tudo estava, finalmente, se
encaixando no lugar. Como deveria ser.

[...]

— Então, Jimin... O que te traz aqui hoje, fora do seu dia normal de
consulta? — A terapeuta, Doutora Kam, indagou ao alfa, um minuto após
este sentar-se na poltrona à sua frente, três semanas após a primeira
consulta. Ela portava uma expressão convidativa, ainda que por trás da
simpatia e cordialidade, seus olhos atentos e estudiosos sobre o paciente.

O Park fitou o consultório todo decorado em madeira e tons pastéis,


entendendo a função de calmaria que a decoração lhe passava.

— Jungkook não sabe que estou aqui — ele disparou.

— Por quê? — Ela segurou o queixo com as mãos.

— Porque preciso falar com você sozinho.

— Então me diga.

— Eu o perdoei. De todo o meu coração, perdoei que tenha tentado me ferir


com outra pessoa. Mas enquanto o racional me diz que eu não deveria me
importar com isso... Meu peito arde toda vez que lembro da cena. E minha
mente não pára de repetir aquilo em flashes. É como estar infinitamente
preso numa sessão de filme ruim...

— É compreensível. Sua mente está montando gatilhos. Talvez seja por ser
recente. Talvez porque você não tenha perdoado realmente...
— Eu perdoei! — disse firme. — Mas perdoar não é esquecer, então...
Apenas não consigo parar de lembrar.

A terapeuta o estudou por um momento.

— Talvez você queira tanto perdoar, que se convenceu disso, mas no fundo,
ainda não tenha conseguido. Isso se relaciona com seu exagero na bebida.
Não acha?

Jimin piscou os olhos, atordoado.

— O que posso fazer então? Eu não... Eu não quero me corroer com isso,
até chegar ao ponto de não querer mais estar com Jungkook. Eu o amo de
todo o meu coração. Jungkook é o amor da minha vida. Não quero estar
sem ele outra vez... — E as palavras quase engasgaram em sua garganta.

— Você precisa encontrar seu próprio modo de superar o que viu, Jimin. E
não vai ser bebendo até ficar inconsciente. Não tenho uma resposta certa
pra isso. É um trabalho mental que você terá que fazer, constantemente.
Você precisa se perguntar: "Por que me sinto assim?". Pense nisso por um
momento e tente responder.

O ex-Coronel bufou, consternado.

— Eu... Me sinto... Traído. Deixado pra trás. Como se ele tivesse me feito
de bobo — confessou. — Porque... De todas as pessoas, nunca imaginei que
justo ele, a quem baixei a guarda, pudesse me magoar daquele jeito,
pudesse usar minha fraqueza contra mim.

— Então talvez isso tenha mais a ver com você, do que com Jungkook.

— Como assim? — Ele franziu o cenho.

— Seu ego. Seu ego foi ferido, quando teve seu submisso o inferiorizando.
Isso pode ter abalado sua confiança em si mesmo. E sua mente insiste em
fazê-lo recordar do acontecimento, para convencê-lo disso.

Ele balançou a cabeça lentamente, absorvendo a informação.


— Então eu estava certo. Não devo revelar meus pensamentos sobre isso a
Jungkook. Apenas iria fazê-lo sentir-se culpado e angustiado, como
sempre... É algo que preciso resolver internamente. É um problema meu.

— Não é bem isso que quero dizer. Você não pode esquecer que, a maior
parte dos atritos no seu relacionamento com ele, nascem da falta de diálogo
dos dois. Vocês precisam manter a sinceridade que vem usando nas últimas
semanas. Não volte a esconder coisas. Apenas diga a ele, explicitamente,
que esses pensamentos insistentes não são culpa dele, e que você está
trabalhando nisso, internamente. Talvez Jungkook se esforce ainda mais em
te passar segurança. E isso pode ajudar.

— Eu... Irei conversar com ele sobre isso, então. — O moreno se levantou
da poltrona, sentindo-se um pouco mais leve. — Não estou acostumado a...
expressar meus sentimentos, tão abertamente assim — disse sem jeito. —
Mas me sinto bem com isso. É como dividir um pouco do peso.

A beta sorriu, calorosa.

— É pra isso que, majoritariamente, a terapia funciona, Jimin. É sobre


dividir o peso de suas angústias, com alguém que não irá julgá-lo. É sobre
expor suas fraquezas, suas feridas, e então esperar que ao expô-las, elas
diminuam de tamanho e você aprenda a lidar com elas. É sobre ter alguém
que poderá apontá-lo a direção correta, quando estiver olhando na direção
errada.

[...]

Jungkook fitou os peixinhos em seu novo aquário. A sala de estar inteira


parecia azulada, agora que o enorme aquário havia sido instalado na parede.

Aquilo fora ideia dele, claro. Jimin sequer tentou contrariá-lo. Disse-lhe
apenas: "A casa também é sua. Faça o que lhe agradar."

Bem, agora os alfas eram pais de 27 peixinhos coloridos, nadando de um


lado pro outro no paredão vermelho, escondendo-se entre pedras e corais de
cores vibrantes.
Quadros coloridos e divertidos enfeitavam as paredes recém pintadas de
vermelho cereja, assim como os cabelos do mais novo, que podia pagar por
um retoque de raízes toda a semana no salão agora, sem ter que se dar ao
trabalho de fazer sozinho ou com a ajuda de Hoseok.

O video game do ruivo ficava permanentemente na estante da sala, e as


centenas de cases de jogos tomavam conta do móvel, empilhadas umas
sobre as outras.

Por cima do balcão era possível ver a cozinha bagunçada — por culpa do
Jeon — e sobre a pia jazia a antiga xícara de porcelana branca que fora
usada como peça-chave pro início daquela relação. A mesma que o de
genes ômegas usara para pedir açúcar ao vizinho e houvera esquecido ali,
sendo usada pelo ex Tenente-coronel às escondidas, por todo aquele tempo.
Agora ele não a escondia mais. Fazia questão de usá-la todos os dias,
mesmo sendo uma xícara simples. Mas era claro o valor sentimental da
louça pra si — o que Jungkook achava um amor, ficava todo derretido.

Entretanto, observar os peixinhos nadadores não estava lhe tirando a


angústia da conversa que havia tido com o Park, na madrugada anterior.

Jungkook sentia-se cheio de culpa, a despeito dos pedidos do namorado, de


que não se sentisse assim.

O ruivo então apoiou-se com os cotovelos sobre a bancada da cozinha,


ainda espiando o paredão do aquário, desolado.

— Eu sou um idiota... Não mereço Jimin. Quase 26 anos, e continuo sendo


um imaturo emotivo do caralho, que se deixa levar pelo emocional, ao invés
de agir com racionalidade...

Ele sacudiu a cabeça, exasperado, e bufou, alisando o rosto, cansado.

Foi tirado do transe, quando o moreno apareceu na cozinha, só de cueca, os


cabelinhos pretos bagunçados em várias direções e o rosto delicado todo
amassado de sono, dando-lhe uma aparência mais meiga que de costume.
Porque era assim que o ex-Coronel se parecia, quando estava de guarda
baixa: tão fofo quanto um ursinho de pelúcia; o que era diferente de quando
estava totalmente desperto, e seu olhar cortante e intenso intimidava até os
maiores alfas do mundo.

— Bom dia, amorzinho do hyung... — Ele murmurou após um bocejo


preguiçoso, agarrando o namorado por trás, ao que esfregava o rosto no
ombro esquerdo do ruivo. — Por que está com essa carinha triste? Diz pra
mim, que o hyung vai bater muito em quem deixou meu nenê triste...

Jeon riu fraquinho, alisando as palmas do ex-militar que deslizavam em seu


peito.

— É sobre o que conversamos ontem, Jimin...

O Park imediatamente retesou o corpo e girou o namorado de frente pra si,


o rosto em alerta, preocupado.

— Não. Não, Jungkook. Já disse que é um problema meu. É algo que


preciso lidar internamente.

— Mas é culpa minha, eu causei isso, eu... — resmungou.

— E eu te amo — cortou. — Te amo mais que qualquer coisa no mundo, e


vou fazer o que for necessário, pra superar essa coisa ruim. Já disse, não
vou deixar que nada me separe de você outra vez. — Foi firme.

Jeon mordeu o interior das bochechas, pensativo, remoendo as palavras do


ex-coronel.

— O que eu posso fazer pra te ajudar a perdoar isso, hyung? — murmurou


cabisbaixo. — Por que não me pune pelo que fiz?

— Porque não posso te punir por terminar comigo, amor... — disse em tom
dolorido, e deslizando as mãos pequenas pelo rosto do namorado. — Eu já
tinha tudo planejado, mas isso vai soar como vingança. Pode ser abusivo, de
certo ponto de vista...

— Eu quero isso, Jimin. O que você quiser fazer, eu concordo, mesmo que
eu não vá gostar. — O ruivo então o fitou com olhos urgentes. — Quero
que me puna. Pode ser até só um castigo. Se bem que, não sei se
funcionaria da maneira correta, mas... — Bufou, cansado. — Você precisa
fazer alguma coisa, hyung. Alguma coisa que apazigue o que está sentindo
aí dentro. — E alisou o lado esquerdo do peito do lúpus. — Por favor...
Quero que volte a sentir o efeito que tem sobre mim. Você me domina. Eu
sou seu. Você é a melhor coisa que eu poderia ter. E eu não te trocaria por
nada e nem ninguém, Jiminie... — disse emocionado.

Jimin segurou uma pequena lágrima querendo escapulir, e então voltou a


abraçar o corpo maior contra o seu, escondendo o rosto no pescoço alheio.

— Eu vou pensar em alguma coisa, bebê... Prometo. Isso vai passar.

E Jimin estava certo. Passaria. Não havia nada no mundo mais predestinado
a dar certo do que eles dois. Jimin e Jungkook. Desde outras dimensões,
dentre os diversos paralelos de existência nas camadas do universo.

1. Referência ao filme TITANIC.

2. AA: Alcoólicos Anônimos - famoso grupo de ajuda a alcoólatras.

Vou deixar aqui uns memes que o JK fez pro JM, no backstage desta fanfic

"Park Jimin em: O Poderoso Domzinho"


#CobraSorrateira
LIVRO DE INCANDESCENTE E EDITORA EUPHORIA
Calma aí, larguem essas pedras! Não é att mas é algo ainda mais incrível
que isso!

Quem me acompanha nas outras redes sociais sabe que eu abri uma editora
de livros voltada à publicação de fanfictions LGBTQIA+ de vários fandons
(começando por Bangtan). Todas as obras são adaptadas para versões com
personagens originais, é claro.
Lembram quando abri a venda do livro da minha fanfic ASSOMBRADO,
em junho? Pois bem. Eu o fiz justamente para arrecadar um dinheirinho
para abrir a EDITORA EUPHORIA, um projeto que vem sendo trabalhado
desde o comecinho do ano com minha amiga Mafê, mas que, infelizmente,
precisei dar continuidade sozinha.

Então, além de vir aqui convidar vocês a conhecerem minha editora linda e
cheirosa, também vim avisar que este é o motivo das minhas faltas de att e,
bem... VIM AVISAR TAMBÉM QUE, EVIDENTEMENTE,
INCANDESCENTE SE TORNARÁ UM LIVRO FÍSICO!

O intuito dessa publicação é saber quantos de vocês teriam interesse em


comprar os livros de INCANDESCENTE. Ele será dividido em uma
duplinha ou, no máximo, em trilogia, e o VOLUME I terá a pré-venda
aberta mais ou menos na metade do ano que vem. O preço do
VOLUME I tem previsão de, no máximo,R$ 50, além do FRETE
adicional entre R$ 13 e R$ 20. E tudo vai poder ser pago em boleto ou
cartão de crédito, até mesmo parcelado! IRRA!

COMENTA AQUI COM UM "EU QUERO" (mas só se você realmente


vai poder comprar, pois essa é uma pesquisa de público oficial para a
publicação de INC) ☀

E aaah, não esqueçam de seguir a EUPHORIA lá no twitter e instagram! Tá


rolando uma gincana valendo um LIVRO 1 de ASSOMBRADO de
presente até dia 20/09
twitter @/euphoriaeditora
instagram @/editoraeuphoria

bjinho no popô
39| as if it's your first
#CobraSorrateira

O alfa de estatura mediana e olhos rasgados atravessou o corredor da clínica


de tratamento psicológico a passos leves, batendo os coturnos de sola
grossa no chão de marfim brilhoso e aparentemente límpido. Estava vestido
em uma jaqueta de couro preta, combinando graciosamente com os cabelos
pretos tão escuros, que reluziam em tom azulado. Jimin normalmente não
deixava os fios sedosos crescerem muito, por conta do quartel, mas, agora,
sua franja repartida ao meio batia em uma altura abaixo das maçãs bem
desenhadas do belo rosto anguloso, enquanto a nuca permanecia em
tamanho curto, num corte assimétrico, que somente servia para deixá-lo
mais fodidamente bonito. Havia feito aquele corte pela manhã, a pedido do
namorado.

Jungkook, Jungkook, Jungkook. O que Park Jimin não fazia para agradar
àquele pivetinho? O garoto já era dono de seu coração. Era dono de tudo em
sua vida. E a 'premissa era recíproca: Jungkook era completamente dele.

Sentindo-se leve após uma sessão com a terapeuta, vinha contando a ela,
nas últimas semanas, muito mais do que sobre seus sentimentos por
Jungkook: havia se aberto sobre a saudade da família, sobre como se sentia
uma criança na presença deles, e como sentia-se impotente por não poder
cuidar daqueles que amava e assumir o controle das coisas, quando não
andava tão apto nem para cuidar de si mesmo. Porque Park Jimin era assim:
cuidava do namorado, da gata que era gato, dos amigos, do trabalho, da
casa... Mas cuidar de si mesmo era complicado, às vezes. Especialmente
quando ficava triste.

Todavia, no fim, a conversa havia se voltado para seu relacionamento com


Jungkook, é claro.

Jeon também tinha suas sessões à sós com a terapeuta, e não havia um só
dia em que não saísse com o nariz grande tão vermelho como o de um
palhacinho — era um chorão e nem podia negar.
Enquanto descia o elevador espelhado, que tocava uma música relaxante ao
fundo, Jimin vinha pensando na conversa de momentos atrás, a qual o havia
levado a, finalmente, tomar uma decisão, sobre um certo assunto:

"— Eu tenho pensado nas opções — disse a ela, observando distraidamente


as nuvens brancas e delicadas no céu azul, pela janela. — Ele tem esse
fetiche, sabe. E se gente fizesse isso com alguém insignificante, que nunca
mais veríamos na vida, não sei se seria bem um problema...

— Sexo à três pode ajudar a eliminar o medo da perda. Se trouxesem uma


terceira pessoa pra uma sessão de sexo casual... — a terapeuta divagou. —
Pode ser que, inconscientemente, vocês dois conseguissem entender que a
relação que têm é forte o suficiente para permanecer depois disso. Minha
opinião é que, sendo uma relação com um teor sexual muito forte, vocês
dois acabam ligando suas emoções demais a esse aspecto...

O Park sorriu, inevitavelmente sentindo algum alívio, mas antes que


pudesse falar, a mulher endureceu a expressão e pôs a palma em frente ao
rosto.

— Porém... Isso também pode estragar tudo. Pode ser muito arriscado,
Jimin. Especialmente em se tratando de dois ciumentos extremamente
monogâmicos como vocês dois.

O ex-coronel murchou, voltando ao seu estado anterior de confusão.

— Mas... Ele disse que sonhou com isso! Três vezes, só nas últimas duas
semanas! — resmungou, com um bico do tamanho do mundo e uma carinha
contrariada.

— E você? Você sonha com isso? — Doutora Kam arqueou a sobrancelha,


a expressão impassível e levemente debochada.

O moreno mordeu o lábio, refletindo, tentando organizar seus pensamentos.

— Quanto mais ele fala disso, mais me força a pensar na hipótese. Por
conta disso, me peguei fantasiando sobre — confessou. — Jungkook tem
trabalhado muito, o que nos deixa com muito pouco tempo juntos. Então,
pra me satisfazer, atualmente preciso apelar com certa frequência pra... —
Ele revirou os olhos. — Masturbação. E nesses momentos, eu visualizo a
cena...

— E como é, na sua fantasia?

— Interessante, na verdade. Mas fantasio como um ménage. Com nós dois


participando disso, não como Jungkook fantasia, onde ele é apenas um
voyeur. Não gosto da ideia de deixá-lo apenas observando, enquanto fodo
com outro homem. Isso me causa incômodo.

— Por quê?

— Porque sinto como se o estivesse traindo.

— Só por isso, ou há algo a mais?

— Também porque não sei como podem ser as reações de Jungkook após
fazermos isso. Quero dizer, e se ele surtar de ciúmes e começar a se corroer
com isso, a ponto de se arrepender depois que já tiver acontecido? Isso
poderia acabar o deixando mais ciumento e inseguro. Mesmo que seja um
fetiche dele, não sou muito confiante com suas reações. O garoto é
temperamental, você sabe.

— Então você acha inviável ficar com alguém na frente de Jungkook? Acha
que ele não pode aguentar os reflexos disso depois, e nem você?

— E-eu... — Revirou os olhos. — Eu acho que não. Definitivamente não.


Por isso penso que não preciso ficar com alguém sozinho. Nós podemos
fazer isso. Eu e ele. Juntos, entende? Sem que ele seja somente um voyeur,
mas sim um participante.

— Você dividiria ele com alguém? — Foi impassível e direta, outra vez.

Jimin bufou.

— Bem, esse seria o justo. E não é como se eu fosse sentir um ciúme


avassalador, nesse caso. Até porque, diferente de Jungkook, sempre tive
total segurança sobre os sentimentos dele por mim. Sei que ele me ama
tanto quanto eu o amo.

— Você diz diferente em que aspecto?

— Na segurança. Jungkook não confiava tanto no meu amor assim.


Pensava que eu poderia deixá-lo a qualquer minuto, que poderia trocá-lo
por outra pessoa. Enquanto eu, sempre soube perfeitamente bem que ele me
amava completamente, mas que o amor dele não o impediria de me deixar,
pois na luta entre seu amor e suas paranoias, as paranoias sempre
venciam. A única coisa capaz de nos separar, sempre foi ele mesmo.

— Jungkook sempre teve dificuldade em entender que era alguém digno de


amor. É compreensível devido ao histórico familiar que ele tem. Mas já se
passaram alguns meses desde que vocês reataram e começaram as
consultas. E você disse tudo isso no verbo passado. Acha que Jungkook
mudou, de algum modo?

— Sim. — Ele sorriu, orgulhoso. — Jungkook sabe que o amo. Agora ele
entende que não irei deixá-lo. Entende de verdade, e não tem mais
necessidade de me testar a todo momento.

— Então, você agora tem segurança, também, que se fizerem uma sessão
fetichista com outra pessoa, as coisas correrão bem?

— Sim. Se ele participar, e não apenas assistir, não teremos um resultado


negativo.

— E você? Não acha que será afetado?

— Já estou mais do que acostumado a fazer sexo com mais de uma pessoa
ao mesmo tempo...

— Está acostumado a dividir seus submissos, mas já tem experiência


dividindo seus namorados? — E ao ver o Park mudar a expressão superior
para uma mais desconfortável, Kam fez uma pose triunfante. — É diferente
quando tem sentimento, Jimin.
O ex-tenente respirou fundo e segurou o que seria um novo revirar de
orbes.

— Se eu ficar com alguém sozinho e deixá-lo de voyeur, é certo que


Jungkook vai surtar com isso em algum momento. Ele tem o fetiche, mas
não tem sangue frio o suficiente pra isso — repetiu o argumento.

— E você tem? — ela retrucou. — O sangue frio, quero dizer.

Jimin se indignou, em um primeiro momento, mas logo em seguida, seus


músculos relaxaram e ele se recostou na poltrona macia do consultório
bege.

— Sabe, você é um saco quando começa a fazer perguntas. Acho que te


odeio. — Deu um sorrisinho brincalhão.

— Eu não estaria fazendo meu trabalho direito se não me odiasse. — Ela


sorriu de volta, em mesmo tom.

— De qualquer modo, minha resposta é: não. Não tenho sangue frio para
vê-lo transar com outra pessoa... Pelo menos não se eu não estiver junto. E
também não me sentiria confortável em transar com alguém, tendo
Jungkook de voyeur. Me sentiria um traidor. E eu, jamais, em hipótese
alguma, faria isso com o amor da minha vida. Mesmo a pedido dele.
Porém, se for uma coisa dividida, justa, não acho que seria um problema...

— E se ele achar que você está dando mais atenção ao convidado do que a
ele?

— Difícil. Isso não vai acontecer. Ninguém prende mais minha atenção que
ele. E eu seria incapaz de desejar ou dar mais atenção a alguém, que não
Jungkook. Isso não é sobre mim, é sobre nós. Especialmente se fizermos
uma vez só, apenas para ele experimentar estar com mais de uma pessoa
ao mesmo tempo... Ele disse que nunca fez isso.

— E quem te garante que Jungkook vai querer uma vez só? Quem te
garante que ele não vai insistir por isso mais vezes, até um dia surtar e
começar a sentir ciúmes da terceira pessoa?
— Vai ser minha condição.

— Ele não é do tipo que obedece ou cumpre com a própria palavra...

Jimin sorriu um pouco, ao lembrar da expressão sapeca do Jeon. Maldito


Jeon... Tão forte, tão alto, tão fofo e gostoso...

Sacudindo a cabeça, para espantar a imagem erótica mesclada a um


romantismo exacerbado, que surgia na cabeça do ex-militar toda vez em
que pensava no namorado e submisso, ele encarou fixamente a profissional,
com um sorriso lateral nos lábios fartos.

— Parece que você quer me convencer a não fazer. O que é totalmente sem
sentido, já que no começo da sessão, disse que poderia ser saudável...

— Você já superou ter visto Jungkook beijando outro homem na sua frente,
daquela vez? — ela disparou.

Nesse momento, Jimin murchou completamente, lembrando da cena. Essa


era a fonte da incerteza ainda não revelada.

Mingyu enroscado em Jeon. No seu Jeon. Os dois se atracando no meio da


pista da The Cave, como se suas vidas dependessem daquilo. O sentimento
claustrofóbico que o atingiu, ao ver tal coisa. O coração pesado. A dor, a
mágoa, a fúria. O sentimento de impotência, e em com seu mundo parecia
ter caído. E o descontrole que imediatamente o tomara. Jeon tinha errado
muito feio, mas Jimin havia sim, o perdoado. Entretanto, perdoar e
esquecer eram coisas bem diferentes...

— Vou ser franca com você, Jimin. — Kam chegou mais pra frente na
poltrona, apoiando os cotovelos nas coxas e cruzando as mãos. — Se quiser
fazer isso para experimentar uma coisa nova com Jungkook, pode dar
certo. Mas se estiver fazendo isso para fazer as vontades dele, como
sempre, isso não vai ser nada bom. Se sua motivação for uma vingança por
tê-lo visto beijar outro na sua frente, pior ainda. Então, você quer? Quer
para extravasar um fetiche, experimentar algo novo? Quer porque quer se
vingar daquele dia? Ou você quer porque Jungkook quer?
— Eu... — Ele pensou por um momento. — Ainda não tenho certeza. Quer
dizer, eu quero equilibrar as coisas. Mas não é uma vingança contra
Jungkook. Definitivamente não é esse o meu sentimento. Não é vingança
que desejo. Vingar implica machucá-lo, e não sinto a menor vontade de
machucá-lo. Somente de agradá-lo, não é óbvio?

— É claro que é. Mas é justamente esse o motivo que me leva a querer que
tome uma decisão apenas depois de considerar todos os ângulos e
possibilidades. Pense novamente: o que sente, quando se imagina fazendo
sexo com Jungkook e outra pessoa ao mesmo tempo?

Os cabelos cor de cobre da terapeuta tinham um brilho interessante sob a


luz do consultório, e Jimin, por algum motivo, acabava entregando tudo o
que ela pedia, quando fixava os olhos naquela cor. Talvez fosse porque o
acobreado era o mais perto de vermelho naquele lugar. E vermelho lhe
lembrava Jeon. E Jeon lhe lembrava conforto.

— Quando penso nisso... Em nós dois tendo prazer com outra pessoa... —
Ele ficou pensativo, por um par de segundos. — Me parece excitante. Como
se eu e Jungkook compartilhássemos um segredo só nosso.

— Ótimo. — Ela deu um pequeno sorriso aprovador. — Agora se imagine


fazendo o que Jeon pediu. Se imagine dominando alguém, enquanto seu
namorado assiste como um voyeur, como um mero expectador. O que você
sente?

— Já disse. — Fez uma careta, torcendo a boca. — Me sinto sujo. Como se


o estivesse machucando. Eu vejo a dor nos olhos dele e ela não me agrada.
Não dessa forma. Sempre fui um dominador sádico, como novento por
cento dos dominadores são. Mas com Jungkook é diferente. Eu não tenho
prazer em machucá-lo emocionalmente. É delicioso machucá-lo
fisicamente, é claro, porque ele geme de um jeito gostosinho e ainda pede
por mais... — disse com um olhar sonhador, e a terapeuta segurou um
risinho. — Mas isso não é como ver a dor de um submisso ao ser açoitado.
Não é uma dor prazerosa. É uma dor... de verdade. Como a que o fiz sentir,
com toda a coisa do Taemin. — E a encarou com uma expressão um tanto
pidona, como se esperando que ela lhe desse a resposta.
— Eu não posso te dizer o caminho, Park. Só posso te mostrar as direções.
Você escolhe em qual delas vai seguir. — Deu de ombros.

— Como posso descobrir, se não tentar?

— Conhecendo a si mesmo. Você se conhece?

— Claro que sim! — rebateu, de pronto.

— Tem certeza?

— Não tente me deixar confuso, eu conheço o seu jogo, Doutora Kam... —


Ele sorriu outra vez, relaxado. Mas subitamente sentiu uma coisa negativa.
— Ei, você não está tentando me dizer, sem realmente dizer, que Jungkook
não quer isso, é?

— Você sabe que não é assim que funciona. O que Jungkook divide a sós
comigo, é protegido pelo sigilo médico-paciente. — Ela revirou suavemente
os olhos, mas falava muito a sério. — O que você sente quando pensa nisso,
Jimin?

Ele suspirou, pela quarta ou quinta vez, só naquela sessão.

— Humn... A sensação que tenho é de um pouco de medo.

— Essa é normal. Qualquer um pensando nisso, sentiria. Sente mais


alguma coisa, além de medo óbvio?

— Eu diria que... Um frio na barriga. Mas um frio bom.

— E...?

— E... — Ele segurou um sorriso e desviou o olhar rapidamente, antes de


concluir: — E uma vontade fodida de fazer algo gostoso com ele. Nossa
vida sexual é... deliciosa. É uma aventura. E gosto de experimentar as
coisas com ele. Quer dizer, eu achava que já sabia tudo, e realmente sei,
mas com o Kook é... como se fosse a primeira vez.
— Certo. Então responda ao questionamento inicial: Você quer mesmo
fazer isso, ou acha que quer fazer isso? Enquanto o achar estiver incluído
em suas afirmativas, significa incerteza. E tomar decisões com incerteza,
pode gerar arrependimentos posteriores. Então, você quer?

— Eu quero.

— Então tem sua resposta. — Ela falou em tom que encerrava o assunto.

Mas Jimin precisava continuar. Ainda havia um ponto não revelado:

— Só tem mais uma coisa: quando penso nisso, imagino um alguém em


específico. Um alguém que anseio, mais do que nunca, colocar em seu
devido lugar... — disse, com cuidado.

— Quem?"

Jimin estava leve como uma pluma, meramente porque havia decidido: ele
queria. Queria porque seria gostoso. Queria porque seria uma experiência
nova pra Jungkook. E queria porque, quando pensava muito a fundo, sabia
que as estruturas daquela relação estavam tão firmemente fincadas em solo
estável agora, que fazer aquilo não os abalaria. Ao menos não se fosse do
jeito e com os limites que o Park desejava — o que não batia exatamente
com o que Jeon havia proposto, mas era ainda melhor, uma vez que oferecia
baixos riscos ao relacionamento, daquele modo.

O aviador pescou o celular no bolso da jaqueta de couro e releu suas


mensagens com Jungkook, de horas atrás:

|| que saco, por que não pode esperar eu chegar em casa pra contar?

Porque quero saber. AGORA. ||

|| hyung.... eu vou ficar de pau duro. o banheiro é longe sabe que o capet...
quero dizer, o taehyung não me deixa usar o banheiro dele. quem dirá pra
tocar punheta.
Mas eu não deixei você tocar punheta. Só ordenei que me contasse do
sonho.||
AGORA, Jeon Jungkook. SEU SENHOR ESTÁ MANDANDO. ||

|| não dá!

A-G-O-R-A ||

|| ai, que cacete...


|| tá legal. era um alfa de cabelos pretos e ombros largos, bem alto. Mais
alto que eu e você. Não que você seja alto, mas, enfim, você sabe...
pitiquinho

Sem enrolações. Vá direto ao ponto. ||

|| você é insuportável. sua sorte é que eu te amo, sabia? 😓


|| enfim... eu não tinha como ver se ele era alfa ou não, mas no sonho sabia
que era, embora não tivesse cheiro de nada no ar pra detectar. Aí ele tentava
se levantar, mas você empurrava ele de volta...

E? ||

|| e aí você lambia ele, da barriga até o pescoço, mas quando chegava na


boca, afastava. o cara ficava todo sedento, mas você ficava olhando pra
mim, com um sorriso sacana, enquanto eu batia punheta mais rápido e
acenava rápido com a cabeça.

Você acenava, tipo... Me dando autorização? ||

|| é. lembro que queria MUITO que você beijasse ele, mas você sacudia a
cabeça e abaixava até a virilha do alfa. depois lambia o pau dele, várias
vezes, sem chupar. e o cara choramingava, pedindo por favor, pra você
colocar ele na boca, mas você só sorria, daquele jeito filho da puta, e não
chupava ele nunca...

E quem era o cara, afinal? ||


|| não faço ideia. o rosto dele era meio.... não sei, eu via, mas agora é como
se fosse um borrão.

A gente só sonha com rostos conhecidos. ||


É cientificamente impossível sonhar com um rosto inventado. ||

|| eu sei lá, deve ser algum cara daquelas bandas de j-rock que a gente tava
zoando noutro dia.

Mas e aí? Depois disso o sonho acabou? Eu não fodi com ele? ||

|| nah... você engoliu ele todo, até o talo. aí eu acelerei a punheta, mas fechei
os olhos pra gozar. depois daí, você já sabe...

Você acordou todo gozado, e sujou o lençol todo de porra e lubrificação


da sua bundinha gostosa ||

|| ai, jimin, cala essa boca!


|| fiquei de pau duro, seu pilantra!
|| manda nudes agora, pra eu tocar uma no banheiro!

Não. ||

|| ahhh, hyung, qual é! eu fui bonzinho! obedeci e contei o que você queria!

Sim, depois de me fazer perguntar a manhã inteira, me torturando de


curiosidade!!! ||

|| eu estava atrasado pro trabalho! taehyung vai viajar, queria que eu


chegasse mais cedo! sabe disso!

Que pena!!! Tchau, bebê. ||

|| jimin, cuzão, volta aqui!!!


|| ai, que saco :(
|| quer saber? eu não preciso mesmo!
|| tenho vários vídeos seus aqui, me chupando, me comendo e dando pra
mim.
|| otário!
|| sabe, você não disse o que ama em mim, hoje... dá pra vir aqui dizer, pelo
menos?

Claro que disse! Falei que amo essa pintinha no seu nariz, e que eu
queria morar nela... ||
Abestado! ||

O lúpus sorriu, imaginando o rostinho furioso de Jungkook, depois de ter


sido deixado falando sozinho e de pau duro, no meio do expediente.

As portas do elevador se abriram e, distraidamente, o Park caminhou em


direção à saída, seguindo o caminho sem olhar para a frente, um caminho já
muito bem decorado.

Entretanto, quase se chocou com uma figura de estatura quase como a sua, e
demorou cerca de dois segundos inteiros para balbuciar:

— T-taemin?

Ao vivo e a cores, ali estava: seu ex-amigo e ex-submisso.

O rapaz tinha, agora, os cabelos pintados de preto, e usava uma roupa


simples, comum, somente uma calça jeans e camisa de mangas na cor
creme, além de um par de tênis. Ele parecia totalmente sem jeito, porém tão
surpreso quanto o mais baixo.

— Jimin-ah... O que... — Ele olhou pra todos os lados, como se buscasse


por uma porta de fuga.

— O que faz aqui?

— Eu... Err... — O submisso pareceu sem jeito. Até que, após alguns
segundos infinitos tentando buscar uma desculpa, ele só suspirou e abaixou
os ombros, numa postura vencida. — Tô fazendo terapia.

— Oh. — Jimin estava surpreso. Muita coisa. — Eu também. Eu e


Jungkook. — Piscou algumas vezes, desconsertado.
Era estranho encontrar Taemin, depois de tudo. Eram tão próximos, de
tantos modos, e agora eram apenas como conhecidos.

— Jungkook está aqui? — O olhar do rapaz se levantou, procurando pelo


ruivo no hall espaçoso da recepção do prédio da clínica.

— Não. Hoje foi minha consulta sozinho. Em uma semana eu venho com
ele, na outra separado. — Ele encarou o ex com atenção, estudando-o.
Tinha se decepcionado muito com o Lee, mas é claro que jamais deixaria de
se preocupar com ele ou começaria a desejá-lo mal.

Taemin fitava o chão, depois as coisas ao redor, mas não encarava o Park
nos olhos. Até que, subitamente, o mirou com atenção, e disparou, quase
como num sussurro:

— Você... Você está feliz, Jimin-ah?

— Muito, Tê. Muito mesmo. — Não era como se quisesse jogar aquilo na
cara do rapaz, não o fez por maldade. Apenas foi sincero demais.

Ele viu Taemin se encolher, levemente, e fitá-lo por trás das mechas de
cabelo escuro.

— Que bom. Eu, sinceramente, fico aliviado de ouvir isso. Tive medo de
que... Minhas interferências tivessem estragado tudo entre você e Jungkook.
— O rosto dele foi, subitamente, se avermelhando. E Jimin reconheceu
aquela expressão tão familiar: Taemin estava envergonhado.

— Mesmo? De coração? — perguntou seriamente.

O Lee sacudiu a cabeça, com um pouco de urgência, pra cima e pra baixo.

— Sim. Eu não... Você sabe que eu não fazia essas coisas exatamente pra te
ver mal, eu só... Não conseguia enxergar que... Não era a melhor opção pra
te fazer feliz. E nem você pra mim.

Jimin arregalou um pouco os olhos pequenos, surpreso.


— Uau. Esse é um ótimo avanço. Um grande avanço. Há quanto tempo está
fazendo esse tratamento? Minha psicóloga é boa, mas a sua.... Uau.

Taemin riu suavemente, iluminando o rosto bonito.

— É o Doutor Chang. Ele é ótimo. É bem compreensivo e tem uma energia


boa... Me sinto acolhido. — Sorriu. Um sorriso de verdade. Puro. Um
sorriso suave.

— Engraçado... Minha terapeuta me faz querer atirá-la pela janela, às vezes,


de tanto sarcasmo... — comentou.

Taemin o mirou com um pouco mais de lentidão, passando os olhos pelo


rosto do Park.

— Seu cabelo tá diferente. Gostei, ficou mais jovial.

— Você também ficou legal moreno. Sabe que prefiro os loiros, mas... —
provocou, brincalhão, tomando um tapinha no ombro, de um risonho
Taemin, que fechava os olhos ao sorrir, exatamente como ele.

Aos poucos, os sorrisos e a conversa fiada foram morrendo, e os dois ex


amigos se encararam apreensivos.

— Eu espero que um dia... Um dia eu possa pedir desculpas, pessoalmente,


a Jungkook. Sei o quanto machuquei esse garoto e... me sinto tão, tão
culpado.... — Ele abaixou o olhar, retraído.

— Sim... Um dia. Jungkook tem o coração bom demais, Tê. Ele é muito
empático.

— Espero que um dia você possa me perdoar também... Em alguns.... anos,


talvez.

Jimin o encarou, um pouco surpreso, outra vez. Taemin parecia


extremamente mudado. Até seu jeito de falar era um pouco menos enérgico
que antes, mas não parecia uma mudança ruim. Era mais ou menos como
uma parede, que precisava ser descascada, emassada e lixada, antes de se
aplicar uma tintura nova, pra que ela ficasse bonita outra vez.
— Sim... Um dia, Tê. Eu espero que você possa se amar, antes disso. E que
não se anule nunca mais, por ninguém, e nem que passe por cima da própria
moral, para ter aquilo que deseja. Porque o que é pra ser seu, vai ser. — Ele
sorriu gentil.

— Eu... conheci uma pessoa — o maior disparou, se súbito, após inspirar


uma boa lufada de ar, como se tomando coragem.

— Mesmo? — O aviador ficava cada vez mais surpreso com tantas


mudanças em um par de meses sem falar com o, agora, moreno.

— Uhum... — Lee deu um sorrisinho bobo e seus olhos brilharam. — Ela é


uma nova professora lá do estúdio. Ela dá aula de balé. É a ômega mais
cheirosa que já senti... Você sabe como adoro morango. — Sorriu de um
jeito sonhador, os olhos âmbar se perdendo, sem foco, imerso na própria
memória. — Ela é tão magra e pequeninha, mas é tão mandona! Tem a
energia de um pelotão inteiro. — Abriu um sorriso ainda maior, mostrando
os dentes brancos.

Jimin não pôde evitar sorrir também, sentindo um certo orgulho pela
felicidade do ex amigo que, por dentro, ainda amava do mesmo jeito de
sempre, embora ainda não conseguisse perdoá-lo por todo o mal feito, e
nem conseguiria tão cedo.

— É algo sério ou...

— Ainda não. Ela terminou um noivado, há meio ano atrás. O cara era meio
cuzão e saiu com a amiga dela. Então ela se mudou pra cá, pra recomeçar.

— E você está incluído nesse recomeço? — Jimin sorriu matreiro,


arqueando uma sobrancelha, de um jeito meio confidente, como nos velhos
tempos, totalmente interessado no assunto, afinal, ainda se preocupava com
o Lee, era evidente.

— Bem... — o mais alto deu de ombros, com um sorrisinho frouxo e


bochechas vermelhas. — Eu espero ser. Quer dizer, ela me trata tão bem,
que... É como se... Como se fosse minha melhor amiga. Sinto como se a
gente se conhecesse há tanto tempo quanto conheço você. — Ele suspirou.
— Ela é incrível, Jimin. Totalmente o meu tipo de mulher. É decidida,
engraçada, bonita, tem pulso firme, ama as mesmas coisas que eu... Sabe,
tenho aprendido muitas coisas com ela, não é só com o Doutor Chang.

— Mas... Ela te corresponde? — indagou, preocupado que Taemin estivesse


confundindo as coisas outras vez.

— Sim! — respondeu, piscando os olhos, quase desacreditado. Sua


expressão era absolutamente sonhadora. — Ela me quer, Jimin. Ela me quer
romanticamente! Ela se declarou, com todas as letras. — Mordeu o lábio,
com uma felicidade gritante estampada no rosto.

— Meu coração se aquece em saber disso. — O Park amoleceu. — De


verdade. Mesmo com tudo o que aconteceu, eu ainda quero o seu bem.

— Eu sei, Jimin... Eu sei. — Murchou um pouco o sorriso.

— Bem. Espero que você vá com calma dessa vez. E que seja honesto em
suas ações.

— Ah, estamos indo com bastante calma, na verdade. A gente nem transou
ainda. Já conversamos sobre isso, mas nunca aconteceu. Não por falta de
vontade, só não pareceu o momento certo. E eu quero que seja mágico,
sabe? Que seja algo carinhoso. Não me lembro da última vez em que fiz
amor com alguém, e não só uma foda... — Foi interrompido pelo próprio
celular vibrando no bolso da calça jeans. Atrapalhado, ele pegou o aparelho
e atendeu, com certa urgência: — Oh, doutor Chang! Já estou subindo,
estou aqui na recepção... É que encontrei alguém e... — Ele olhou
rapidamente para o Park e desviou. — Sim, eu conto aí em cima. — E
desligou. — Bem, tenho que ir. — Apontou pra trás de si, por cima do
ombro. — Foi bom te ver, Jimin... e saber que está feliz.

Jimin sorriu pequeno, mas em seu peito, sentia um calorzinho de satisfação


e orgulho, pois sabia que, a partir de agora, quando inevitavelmente
pensasse em Taemin, seu coração não apertaria com uma imagem dolorosa
onde o amigo estava sentado em um quarto escuro, chorando de saudades
dele, mas sim teria a imagem de um Taemin de sorriso frouxo e satisfeito
com a própria vida.
— Também estou feliz de vê-lo bem.

O mais alto então foi andando até o elevador e, antes de entrar pelas portas
abertas, indagou, apreensivo:

— A gente... se vê por aí? Quero dizer, você não vai fingir que não me
conhece, caso a gente se esbarre e você estiver com o Jungkook, certo? Eu
vou entender se sim, é claro, mas...

— Não, Tê. A gente se vê por aí. E se cumprimenta. Pode deixar. — Sorriu


suave outra vez.

Taemin então sorriu de volta e entrou no elevador, sumindo de suas vistas.

Jimin seguiu seu caminho, sentindo algo bom no peito: alívio.

Quando entrou no carro, enviou uma mensagem para Jungkook,


imediatamente:

Você não vai acreditar em quem acabei de ver... ||

A mensagem não chegou, então presumiu que o namorado estivesse


ocupado no trabalho. Já eram quase três da tarde. Então o moreno foi pra
casa, aproveitar o restinho de seu dia de folga, e fazer uma comida gostosa
pra que Jungkook pudesse jantar com ele quando chegasse em casa.

Ele estacionou na garagem e, assim que desligou o motor, ouviu um barulho


de louças se espatifando dentro de casa, seguido de um grito alto do Jeon:

— VOLTA AQUI, LELECO, SUA PESTE!!!

Em seguida, ouviu um latido.

— O que diabos...? — o ex-tenente murmurou.

Intrigado e, inevitavelmente, preocupado, o Park pulou pra fora do carro


preto, sem nem mesmo trancar as portas, e disparou pra dentro de casa,
buscando a origem de toda a algazarra.
Assim que passou pelo portal, viu uma coisa branca subir como um borrão
pelas escadas de luz vermelha, o que o fez arquear uma sobrancelha e
caminhar com um pouco menos de pressa até a sala, enfiando as mãos nos
bolsos da calça, com uma expressão pensativa.

Deparou-se com Jungkook agachado no chão, usando a mesma roupa de


mais cedo, a qual o próprio Park havia escolhido pra ele, enquanto o garoto
tomava banho. Ele estava de meias, o sapato abandonado na porta da frente,
e uma pilha de pastas com papéis coloridos jazia em cima da estante da
sala. O Jeon esfregava um pano no chão molhado, onde existia uma poça de
água misturada com ração — de um saco plástico enorme rasgado no chão.
Parecia que O Taz Mania havia passado por ali.

— Um: O que é aquela coisa enorme que acabei de ver subir as escadas?
Dois: De quem é? E três: O que diabos ele está fazendo na nossa casa?

— Ah, cara.... — o ruivo choramingou, com uma caretinha desesperada,


levantando do piso molhado. Sua calça estava molhada nos joelhos, e
tinham grãos de ração colados na roupa também. — Eu odeio Kim
Taehyung! — disparou com um bufar exausto.

O Park o analisei por dois segundos, notando que o submisso ficava


engraçado com aquela camisa verde limão e os cabelos vermelhos. Era
chamativo e exótico. Como ele.

— Esse cachorro é dele?

— Sim! Você viu o tamanho? Ele parece um cavalo!

— Responda à pergunta três.

Jeon franziu o cenho, e pensou por um momento, antes de disparar:

— Eu virei babá do doguinho. — Revirou os olhos. — A Stigma está


abrindo uma filial nova na Rússia, então Taehyung vai passar o mês inteiro
lá. E, é claro, como o grande cuzão que é, ele me forçou a ficar de babá do
cachorro.
— Como você vai trabalhar e cuidar dele ao mesmo tempo? — indagou,
confuso e exasperado.

— Vou trabalhar em casa. Home office. — Deu a Jimin um olhar


cabisbaixo. — Mas, olha... Pelo menos a gente vai passar mais um
tempinho junto, né? — Foi se aproximando, manhoso, abandonou o tecido
no chão e puxou as lapelas da jaqueta de couro do Park.

— Sim, vamos sim... Eu, você e aquele pônei lá em cima — retrucou com
sarcasmo, mas envolvendo a cintura fina do maior com os braços.

— Ah, não seja estraga prazeres. — Empurrou o moreno, de leve. — E


você ficou gato demais com esse cabelo, hyung. Quero te lamber igual um
sorvetinho. — E sorriu com os dentinhos avantajados à mostra.

— Eu sei. — O Park devolveu, convencido, com um sorriso galante. —


Escuta, o cachorro dele não era uma coisinha miúda? Um Spitz alemão ou
algo assim?

— Ele tem dois. — E fez um bico do tamanho do mundo. — Ai, sabe, não
sou pago pra isso... O bicho vai destruir a casa!

— Então... O nome dele é Leleco? — perguntou.

Jeon sacudiu a cabeça, em negativa.

— Não. Mas eu chamo de Leleco, porque esse bicho é lelé da cuca.

— Você está chamando o cachorro alheio por outro nome? — o moreno riu,
exasperado. — Não é à toa que ele não te obedece.

— Ele não me obedece porque é um mimado, filho de Lúcifer!

Jimin riu ainda mais, tendo que se apoiar na bancada que dividia a sala da
cozinha, pra que não perdesse a força e fosse ao chão, como sempre ao
gargalhar intensamente.

— Então ele meio que se parece com você. — Sorriu de lado, triunfante.
O ruivo abriu a boca um trio de vezes, mas não tinha uma resposta para
aquilo, porque seu dominador estava certo. Ele e o cachorro eram um pouco
parecidos.

— Qual é o nome dele, realmente? — indagou Jimin, aos risos.

Com um bico contrariado, Jeon respondeu:

— Oliver Elio. Por causa do livro "Call me by your name"...

— O nome dos dois personagens principais, juntos num só?

— É. Que cara sem noção... — Sacudiu a cabeça, de um lado pro outro. —


Vê lá se eu vou chamar um cachorro de Oliver Elio? Tenha dó!

Aos risos, Jimin catou o pano do chão e buscou um rodo na cozinha, para
limpar a sujeira que o cachorro havia feito.

— Vai tomar banho e põe essa roupa na máquina. Você fede à ração. — Fez
careta.

O ex-coronel limpou tudo, com cuidado, e depois colocou um pote grande


de água fresca e outro de ração, lado a lado, no chão da cozinha. Deixou a
porta da área de serviço aberta, com uma parte coberta com jornal, torcendo
pra que o animal fosse educado e fizesse cocô somente por ali, caso
contrário, ah, seria um problema.

Depois de tudo, retirou a jaqueta e arregaçou as mangas da camisa para


cozinhar. Fez uma panela de tteokbokki e arrumou a mesa.

Jungkook logo desceu as escadas, secando os ruivos cabelos molhados com


a toalha, vestindo nenhuma camisa, somente uma bermuda tactel. Na outra
mão, ele puxava o cachorro labrador pela coleira. E assim que o soltou, o
bicho correu em disparada para o sofá, onde se acomodou, depois de girar
algumas vezes, procurando a posição perfeita.

— Minzy vai odiar isso... — o acerejado resmungou, antes de sacudir a


cabeça, exasperado.
Por um momento, o Park se perdeu naqueles músculos. Os braços de Jeon
eram fortes demais pra um cara magro. Os ombros eram bem definidos. O
peitoral era estufado. E ah, aquela barriguinha lisa com a cintura fina, o
fazia babar, toda a maldita vez...

— Está mais forte? Você nem anda malhando! Como pode estar ficando
maior? — indagou com alguma indignação.

Jeon sorriu, matreiro, mostrando os dentinhos de coelho, e abandonou a


toalha no encosto da cadeira.

— É que ganhei cinco quilos. Não tenho muito tempo de almoçar, então
como muito fast-food, porque é o que tem nos arredores da Stigma. E
quando chego em casa, você também me entope de comida... Sem falar que
na frente do prédio tem uma ajhuma vendendo bolinhos de chocolate com
nozes e, caramba! Eu como todo dia, quando Taehyung me obriga a ir lá
buscar um pra ele!

— Oh... Então, você engorda e fica mais gostoso. — Sacudiu a cabeça,


exasperado. — Ninguém é perfeito, mas você exagera...

Jeon deu uma risadinha abobada, os cantinhos dos olhos repuxando.

— Muito obrigado por levantar minha autoestima. Você é o melhor Domzão


e namorado do país — disse divertido.

Jimin pôs uma das mãos nos quadris, segurando uma colher de pau na
outra.

— Do país?

— Ah, sabe como é, nunca conheci os dominadores de outros lugares pra


saber...

Rapidamente o menor estalou a colher de pau, sem muita força, no braço do


namorado, que fingiu uma careta de dor e caiu na gargalhada.

— Abusado... — Jimin resmungou, e encheu os pratos com tteokbokki,


antes de sentar-se à mesa, sendo acompanhado pelo Jeon.
— Sabe, Taehyung disse que eu deveria fazer um curso online — puxou
assunto.

— Não existe curso de educação física online. Nenhum curso de saúde é


online. Existe? — Franziu o cenho.

— Não. Eu teria que estudar outra coisa. Algo a ver com administração, ou
com moda, ou contabilidade, logística, marketing, relações públicas,
qualquer coisa que dê pra ser aproveitada na Stigma. Mas não acho que
aguento estudar e trabalhar ao mesmo tempo, especialmente agora. Eu tô
sempre tão cansado... — murmurou, antes de mastigar um pouco de
comida.

— Estudar é sempre bom, mas você precisa ter qualidade de vida, senão
enlouquece. — Foi a opinião do Park. — O que Doutora Kam acha disso?

— Ainda não falei com ela. — Bebeu um gole de refrigerante.

— Viu a mensagem que mandei pra você?

— Uhum. Vi quando fui tomar banho — respondeu de boca cheia. — Quem


você encontrou?

— Taemin.

Imediatamente o garoto parou de mastigar. Os jeotgarak quase caíram de


sua mão, a qual havia parado a centímetros da boca, como se ele houvesse
paralisado.

— Ele disse que... — continuou o dominador — disse que espera que você
e eu possamos perdoá-lo um dia. Ele está fazendo fazendo tratamento na
mesma clínica que a gente, só que com um terapeuta diferente.

— Ah — foi só o que o garoto respondeu, voltando a mastigar o tteokbokki,


dessa vez sem muita vontade.

— Te incomoda? Sei que é um grande risco de acabarmos esbarrando com


ele por lá, mas nossa psicóloga é tão boa, e eu consigo me abrir com ela,
não seria bom pra nós, mudarmos...
— Eu sei, Jimin. Não quero que mude. Eu não disse nada. — E voltou a
encher a boca de comida. Ele tentava fazer uma expressão despreocupada,
mas era nítido que estava um pouco emburrado.

— Kook-ah... — O moreno procurou sua mãos sobre a mesa, e entrelaçou


seus dedos nos dele.

— É sério, Jimin, eu fico um tiquinho enciumado, sim. Mas se você quiser


perdoá-lo e quiser voltar a ser amigo dele, não vou te impedir, nós já
estabelecemos os limites da nossa relação, e não tenho direito de dizer com
quem você pode ou não pode falar e...

— Jungkook, eu não me sinto preparado para perdoá-lo agora.

— Ok, mas... Eu só quis dizer que você não tem que esperar meu aval nem
nada assim, se quiser ficar de boa com ele.

— Eu não.... Não estou exatamente de mal. Sabe, a gente até bateu um


papo. Contei que estava muito feliz ao seu lado. E ele, aparentemente, ficou
aliviado de não ter estragado as coisas entre nós. E também contou que
conheceu uma garota...

— Mesmo? — O rapaz aí o encarou, surpreso, os olhos redondos um


tantinho arregalados.

— Sim. Uma ômega, bailarina. Ele parece estar ficando apaixonado. E,


acredite, nunca o vi falar de alguém com tanta cafonice assim... — Sorriu
brincalhão, e Jungkook o acompanhou.

Jeon tinha o coração puro demais pra desejar que Taemin vivesse sofrendo.
O fato de saber que ele estava superando o Park, e que talvez pudesse ser
feliz com alguém que realmente o amasse, era um ideia agradável. Até
porque, assim o dito cujo talvez não tentasse se intrometer em sua relação
com Jimin outra vez.

Mas, subitamente, o acerejado pensou em uma coisa.


— Você não acha que tem a chance de ele ter inventado essa pessoa, né?
Pra te fazer ciúme ou te testar?

O Park pensou por um segundo, e aí respondeu, resoluto:

— Naaah... Eu nunca senti ciúmes dele desse jeito, e ele sabe disso. Além
do mais, você tinha que ver o rosto dele, ficando todo vermelho e
envergonhado falando dela...

— Ah, então, parece correto. — Se aliviou. E aí se lembrou de outra coisa:


— Ei, você foi um sacana hoje de manhã, sabia? Se eu fosse seu dominador,
iria te castigar!

Jimin caiu na gargalhada, mais uma vez naquela tarde, jogando o corpo
todo pra trás, e quase caiu da cadeira.

— Deus sabe o que faz — falou, como se fosse a sério.

— Você é um otário! — retrucou. — Eu tinha fotos suas no meu celular, de


qualquer modo... — Deu de ombros.

Jimin cruzou as pernas e segurou um sorriso de lado, retorcendo o rosto em


uma expressão de puro divertimento, enquanto soltava a mão de Jungkook.

— E então, por que está reclamando?

— Porque você quis me deixar na mão! Literalmente não mão! — o garoto


devolveu com um grunhido.

— E no que você pensou enquanto tocava uma no banheiro, hein, bebê? —


devolveu, com a voz maliciosa e aveludada, encarando o outro com
lascívia.

Jeon o fitou de um jeito meio ressabiado.

— Você sabe no que pensei. — Engoliu um pouco mais de comida.

— Pensou em mim, fodendo outro cara na sua frente? — E assim que disse
isso, ele tomou os jeotgarak de Jungkook, indicando que, a partir daquele
momento, ele daria comida ao maior.

— Sabe que sim... — Jeon murmurou, desviando o olhar, mas aceitando de


bom grado que Jimin o desse a comida na boca.

— E como foi, na sua imaginação? — provocou mais. Na verdade, não era


bem uma provocação. Jimin queria mesmo era sondar o terreno.

— Gozei em 2 minutos. Dois mesmo. Eu botei aquele nosso vídeo pra


rodar... Aquele em que você tá sentando em mim e filmando tudo pelo
espelho...

— Aquele vídeo de 5 minutos?

— Sim. Quando deu o minuto 2, eu gozei.

— Então você gozou vendo o vídeo, não pensando em mim com outro cara.
— Deu mais comida a ele.

— Ah, eu pensei sim — confessou, de boca cheia. — Meu rosto quase não
aparece no começo do vídeo, por causa do ângulo. Então imaginei que era
outro cara ali, comendo você.

— Então você me imaginou sentando em outra pessoa... Interessante.

Jeon revirou os olhos, entediado, e deu um gole no refrigerante em seu


copo.

— Ainda não sei porque você fica insistindo em saber detalhadamente


desses meus sonhos de corno, ou no que eu penso quando me masturbo.
Não é como se a gente fosse levar isso em frente, de qualquer modo —
resmungou, após engolir a bebida.

Jimin se empertigou na cadeira, atento.

— Você fala como se a gente nunca tivesse feito isso só por causa de mim,
sendo que você também vive indeciso e é um ciumento! — defendeu-se.
— É que... — O ruivo estalou a língua nos dentes, chateado. — Eu não sei
como meu ciúme vai aparecer. Não sei se... Se eu vou surtar, sabe? Acho
que depende muito de quem for a pessoa. Tenho certeza que se for alguém
que a gente nunca mais vai ver, eu fico numa boa. Não vou enxergar a
pessoa como uma ameaça.

— Você anda falando sobre isso com a Doutora Kam, não é? — perguntou,
com um risinho, ao perceber que a ideia que o garoto tinha sobre a pessoa
que possivelmente poderia participar daquilo, era a mesma concepção que a
dele: alguém com quem os dois não fossem ter muito convívio
posteriormente.

— Claro que sim. — Jeon sorriu de volta, divertido. — Você também?

— Uhum. — Levou um pouco de comida à boca, mastigou e engoliu, antes


de continuar: — Primeiro, ela pareceu me convencer de que seria bom.
Depois, começou a negativar tudo...

— Ela fez a mesma coisa comigo! — Jungkook gargalhou. — Que


mulherzinha malandra!

— Sim! — Jimin concordou, divertindo-se. — Mas na real, o que ela quer é


fazer com que a gente veja os dois lados, enxergue todos os ângulos e
possibilidades, antes de tomar qualquer decisão e fazer qualquer coisa.

— Bem... Você quer fazer isso? Anda pensando na possibilidade? —


indagou, curioso, encarando o namorado atentamente.

— Claro que sim, Jungkook. Qualquer fetiche que você me revele, eu passo
um tempo remoendo e analisando a possibilidade de experimentá-lo com
você. Uma das melhores partes da nossa relação é essa.

— E... o que anda mais inclinado a escolher? — Jeon o fitou com uma
carinha submissa, quase como um cachorrinho ao ser pego fazendo
baderna, pelo seu dono.

— Eu penso que... Talvez... Se fizermos isso direito... Sabe, sem que só eu


fique com uma pessoa, mas sim que nós dois fiquemos com ela... Pode ser
que ninguém se sinta culpado ou traído depois — declarou.

— Oh... É uma boa observação. Se eu ficar somente de voyeur, isso pode


acabar me fazendo... Sabe...

— Ficar banana da cabeça depois, e sentir que foi traído?

— Sim. — Ele sorriu leve, mas de um jeito culpado. — Mas se eu também


participar ativamente, quero dizer... Vai ser mais justo. Não vou poder ter
ciúmes, se eu também tiver fodido com o cara.

— Foi exatamente o que pensei. — O moreno se sentiu satisfeito com a


conclusão.

Um silêncio se seguiu após tudo, e Jeon voltou a dar atenção ao seu prato
de tteokbokki. Jimin também deu mais uma garfada na refeição, mas sem
tirar os olhos miúdos do namorado, analisando-o sorrateira e discretamente.
Precisava encontrar qualquer indício de chateação ou contrariedade no rosto
dele, que o indicasse que o rapaz era contra a ideia, apesar de ser uma ideia
realmente dele, desde o começo. Mas não encontrou nenhum sinal negativo.
Por isso, disparou, enfim:

— Então... Acho que podemos fazer isso, qualquer dia desses — finalmente
declarou.

Jungkook parou de comer, imediatamente, e o fitou com os olhos grandes,


abobado, a boca meio aberta.

— Mesmo? — o menino perguntou de novo, afobado.

— Sim. Se você realmente quiser... — Jimin sorriu suave. — Mas tenho


uma condição. Duas, na verdade.

— Manda brasa!

— A primeira, é que você precisa prometer que não vai insistir pra fazer
isso mais vezes.

— Mas e se a gente gostar?


— Uma vez só, Jungkook. Se for muito bom, a gente pode fazer outras
vezes, com pessoas diferentes. Mas não quero que você insista, se ver que
não estou a fim.

— Tá legal. Posso aceitar isso. Não quero te forçar a fazer nada, sabe
disso... Você que gosta de me mimar — resmungou.

O ex-militar sacudiu a cabeça, ignorando a última parte.

— A segunda condição é... Bem, você ainda sente vontade de experimentar


dominação?

Jungkook quase engasgou. Os olhos esbugalharam um tanto e a garganta


fechou.

— Tá brincando, né? Você vai me deixar dominar você e outro cara ao


mesmo tempo? — indagou, exasperado.

— Claro que não, bobinho. Não seja tão inocente. — Sorriu, sacudindo a
cabeça. — A segunda condição, é que o nosso convidado fique na posição
de submisso, pra que possamos dominá-lo juntos. Eu vou te orientar e te
ensinar. Não quero que você se submeta a outra pessoa. Não suporto a ideia
de vê-lo se curvar a alguém que não eu. Você é meu, Jungkook. Só meu.
Não é? — disse daquele jeitinho possessivo e arqueou uma sobrancelha.

O acerejado sorriu de lado, plenamente contente.

— Eu não poderia ser de mais ninguém, amando você como amo, meu
senhor. — Seu tom era manhoso e submisso, do jeitinho que Jimin gostava.
E ele o fazia de propósito, para agradar seu alfa.

Não resistindo ao charme e manipulação do mais novo, o Park sorriu de


volta, satisfeito.

— Então... Vamos encontrar alguém que participe disso. Um homem alfa ou


beta, de preferência um cara grandão, porque você sabe que gosto de
pessoas com aparência forte.
— Ei... — Jeon fez uma carinha meio cabreira. — Você veio com esse papo
de Taemin hoje... Não está pensando nele como uma possibilidade, né?
Porque juro que mato você, bem morto! Vai virar um fantasma, como o cara
daquela série assombrada que eu gosto!

Jimin ficou perdido entre rir e querer dar um cascudo no garoto.

— Você tá me tirando de maluco? É claro que Taemin não é uma opção,


Jungkook. Nunca foi! E nem é só porque você não gosta dele, mas também
porque isso faria mal a ele. É uma problemática dupla. Eu jamais tocaria em
Taemin com você. Se quer saber, depois de vê-lo hoje, apenas tive mais
certeza de que jamais o tocarei de novo, mesmo que eu e você nos
separemos, em algum momento. Não gosto mais da ideia de me envolver
com ele.

— Ah, finalmente enjoou — alfinetou.

— Garoto, cala essa boca. — O menor se levantou e recolheu os dois pratos


vazios, levando-os até a pia. — Enfim. Essas são minhas condições. Você e
eu, dominando um cara, alguém com quem não tenhamos contato frequente.
De acordo?

— De acordo! — respondeu, animado. — Então, onde a gente arruma esse


cara? Contratamos um garoto de programa?

Jimin o fitou, estarrecido, as palmas apoiadas atrás do corpo, na pia.

— Não gosto de pagar por esse tipo de coisa. Qual a graça, se não houver a
caça, o convencimento e a conquista?

— Oh. — Jeon piscou os olhos, algumas vezes, assimilando. — Onde o


encontraremos, então?

— Na The Cave, é claro. Nós não vamos lá com tanta frequência, e ignorar
alguém de lá é muito fácil — disse com uma expressão de obviedade no
rosto delicado. — Agora, se me der licença, vou ali conhecer melhor o
nosso hóspede, Oliver Elio. — E deus às costas, saindo da cozinha.
— É Leleco!

[...]

Era terça-feira de manhã. O sol estava forte, mas o vento era fresco na
praia. O cheirinho de mar era gostoso, e o os grãozinhos de areia morna
envolvendo os dedinhos dos pés dos dois alfas, era muito relaxante.

Jungkook se inclinou na cadeira de praia e capturou a latinha de cerveja em


cima da mesa de plástico, sorvendo a cevada gelada como alívio para a
garganta seca.

— Mal posso acreditar que estou na praia, no meio da semana! — falou,


maravilhado.

Ele fitava as gaivotas, os jetskis, as pequenas lanchas no horizonte e a


fortaleza militar no lado extremo direito da praia, em uma construção
imponente, por trás de seus óculos escuros, sentindo uma paz e
tranquilidade que só a natureza proporcionava. Por causa dos óculos, ele
mal podia ver, mas tanto ele quanto o ex-coronel já tinham a pele desnuda
levemente rosada pela exposição ao sol.

— A gente podia vir aqui em todas as minhas folgas, né? — Jimin


comentou, bebericando de sua latinha também.

— Acho que sim. Mas o pós-praia é cansativo e dá muito sono. Não acha?

Jimin deu de ombros e amassou sua latinha vazia, antes de acariciar o


cachorro labrador deitado ao lado deles, fitando o horizonte, em um de seus
breves momentos de quietude.

— Me dá dinheiro pra comprar outra cerveja — falou, ao invés, e estendeu


a mão para o namorado, esperando.

Jungkook o fuzilou com os olhos, antes de dizer, alto e sonoro:

— NÃO.

— Jungkook!
— Você já bebeu duas, Jimin, sai pra lá!

— Mas eu quero!

— E a gente já combinou que querer não é poder! — retrucou o mais novo.


— Você perde a linha com bebida e perde a linha com dinheiro. Sabe que
agora quem cuida das finanças sou eu, você é muito irresponsável com
isso...

— Eu não sou irresponsável com nada, garoto! Só não sei a hora de parar,
às vezes... — resmungou.

— E é por isso que combinamos que eu decidiria isso, a partir de agora.

Jimin cruzou os braços na frente do peito, com um bico do tamanho do


mundo nos lábios, parecendo uma criança.

— Sabe o que está parecendo? — Jeon provocou. — Um bratzinho!

— Sei que concordei com isso no começo, mas não estou gostando nada.
Está fazendo eu me sentir impotente! Sabe que preciso ter o controle das
coisas... Sou o dominador dessa relação e...

— Jimin, olha só... — O ruivo retirou os óculos de sol do rosto e o encarou


irritadiço. — Você é a pessoa mais responsável que conheço, mas quando se
trata de beber e gastar dinheiro, você é um sem noção!

— Não precisamos mais controlar os gastos, você está trabalhando e


ganhando bem! A gente tinha combinado isso quando você tinha decidido
fazer faculdade, antes de entrar na Stigma...

— É, mas como posso confiar em te deixar cuidar das finanças, se quando


me viro, você corre pra beber?

— Jungkook, é só uma cerveja! — retrucou, incomodado.

— Com você nunca é só uma cerveja. Mas quer saber? — Ele pegou a
carteira de dentro da mochila em cima da mesa e a abandonou no colo do
mais baixo. — Faz o que achar melhor. É um adulto, no fim das contas. E
eu não sou seu dominador, também não gosto de agir como se nossas
posições estivessem trocadas. Queria você cuidando de mim, mas isso fica
difícil quando sei que não posso confiar em você nessa coisa da
responsabilidade financeira e na bebida. — Ele falava tudo muito sério, e
havia uma mágoa escancarada em seu rosto de maxilar largo e definido. —
O que mais incomoda, é saber que não estou te fazendo feliz o suficiente
pra que pare de beber e fugir da realidade...

— O que? Jungkook, você...

— Vou brincar com o Leleco. — Jeon o interrompeu e levantou da cadeira,


puxando o cachorro de pêlo bege junto consigo em direção à água.

Jimin continuou sentado, de cara amarrada, observando os cabelos em tom


desbotado do ruivo brilharem sob o sol cálido. Haviam dias em que os dois
pareciam estar no paraíso, tudo era muito tranquilo e divertido. Em outros,
discutiam de manhã até a noite, dormiam virados de costas um para o outro
na cama, apenas para, sorrateiramente, irem se aproximando pela
madrugada e acordarem pela manhã colados um ao outro, como se nada
tivesse acontecido.

Viver com Jungkook era como uma montanha-russa, cheia de altos e


baixos, mas não era como se fosse ruim ou anormal. Todas as relações eram
um pouco assim. As pessoas tinham humores variáveis, ora estressadas, ora
tranquilas e apaziguadoras. E estava tudo bem, desde que as pequenas
discussões não terminassem com algum exagero.

Jimin encarou o forte militar no canto direito da praia. Era um tanto


doloroso olhar pra lá e lembrar de tudo o que havia perdido. Especialmente
o motivo pelo qual havia perdido. Aquilo era incômodo. E ele percebeu que,
talvez, estivesse sentindo aquela ânsia em se embriagar um pouco por causa
das sensações que estar perto do forte lhe causavam.

O moreno fitou o namorado então, pulando de um lado para o outro na


margem da água, enquanto jogava uma peteca pra cima, iludindo o cachorro
sobre entregar o brinquedo a ele. Jimin sorriu, vendo que tudo o que ele
queria estava bem ali. Não importavam os altos e baixos, nem importavam
os acontecimentos passados. Aliás, perder o cargo pelo qual batalhara tanto,
desde novinho, era avassalador, sim, mas se isso não tivesse acontecido, ele
divagava que, talvez, nunca tivesse ficado com Jungkook, afinal, só estava
em casa no dia do pedido de empréstimo da xícara de açúcar graças a sua
exoneração do quartel.

E aí ele se deu conta de que, sim, alguns males vinham pro bem. E que sim,
Jungkook estava certo em tentar limitá-lo naquele momento da vida, porque
queria protegê-lo de si mesmo, além de proteger a relação que tinham, já
que ela finalmente estava nos trilhos.

"Você cuida de mim e eu cuido de você", era o que Jungkook sempre lhe
dizia, desde os mais primórdios dias daquela relação.

Ele se levantou da cadeira, sem mais daquela sensação negativa em não


estar no comando. Porque, por enquanto, realmente não estava, Jungkook
segurava as rédeas da relação, mas era nítido que ele apenas o fazia
enquanto Jimin botava a cabeça no lugar. E o Jeon era o doce mais doce do
mundo, apenas por isso.

Jimin caminhou segurando um sorriso abobado, até alcançar a peteca caída


na areia, antes que o cachorro pudesse alcançá-la. Jungkook o fitou,
imediatamente, e assistiu ao ex-coronel jogá-la longe e Leleco ir buscá-la.
Logo depois, o lúpus aproximou-se dele, cauteloso.

— Kook-ah... Me desculpa — murmurou.

Jeon o encarou enviezado, esperando mais alguma coisa.

— Desculpa, bebê. — O moreno o puxou pela cintura, deixando seus


corpos semi desnudos unidos. — Sei que você não queria estar nessa
posição, de ter que controlar o nosso dinheiro e ficar de olho na quantidade
de bebida que eu bebo. Não era pra ser assim. Era pra que você pudesse
ficar relaxado, enquanto eu cuido de você, já que você o submisso aqui...

— Era sim. — Jeon fez um biquinho fofo, um olharzinho infantil


completando a pequena carranca.
— E também sei que isso é necessário. Eu fico mentindo pra mim mesmo,
que só quero beber pra me divertir um pouco, mas a verdade é que estou
sim, chateado...

— Por quê? — o garoto indagou, preocupado.

— Estamos ao lado de um forte militar. E não me traz sensações boas, olhar


pra lá. Eu me lembro de tudo o que perdi e isso me entristece.

— Hyung... — o de cabelos cereja pareceu surpreso. Levou uma das mãos


até os fios escuros do ex-coronel e afastou algumas mechas do rosto bonito,
para enxergá-lo melhor. — Eu não sabia que você se sentia assim. Só
escolhi esse pedaço da praia, porque aqui as ondas são baixinhas, então não
teria problema do Leleco se afogar ou algo assim... Me desculpe, eu não
sabia. — Seus olhinhos curiosos exalavam arrependimento.

— Não foi culpa sua, bebê. — O moreno o trouxe mais pra perto e deixou
um beijo estalado no pescoço quentinho do alfa mais alto.

— Mas eu deveria saber...

— Não deveria, não. Eu nunca falo sobre não ter superado minha
exoneração.

— Mas é uma coisa óbvia, eu acho — retrucou, sem jeito. — Quer dizer,
você fez aquilo a sua vida toda. Era um emprego bom, e você já tinha se
acostumado a um certo padrão de vida que...

— Não é só isso, amor. É que... — O menor fitou o mar, com o olhar


perdido, as mãos ainda apoiadas na cintura fina do ruivinho. — Eu e você
sofremos um bocado pelo preconceito das pessoas. — Voltou a encará-lo.
— É doloroso saber que perdemos tanta coisa por isso. Perdi o meu
emprego, e você a sua família. Isso não deveria acontecer. Por que as
pessoas se importam tanto com quem a gente transa ou com quem a gente
ama? No que isso influencia na vida delas, se é algo tão pessoal? O mundo
é tão fodido!
Alarmado e com o coração pesado, Jungkook viu o dominador desviar os
olhos para o horizonte, outra vez, tentando disfarçar os olhos pequenos e
negros que enchiam-se d'água. O próprio Jeon sentiu os olhos arderem ao
pensar naquelas coisas. Eles quase não falavam sobre aquilo, mas era um
fardo que dividiam juntos. De algum modo, era algo que os aproximava,
como se dividissem um segredo.

— Sabe, hyung... — ele murmurou, mudando de posição e abraçando o


namorado por trás, os dois fitando o horizonte agora, juntos. — O mundo
não é perfeito. Ele é realmente fodido e tem muito mais coisas ruins do que
boas, eu acho. Só o fato de que a raça humana inteira foi exterminada por
ela mesma, é algo difícil de engolir e continuar vivendo com tranquilidade,
como se nossa existência tivesse propósitos além da autodestruição.

Jimin se aconchegou mais contra ele, e entrelaçou seus dedos curtos nos
dedos longos do garoto, que rodeava seus ombros, num abraço por trás, o
queixo encostado no topo da cabeça do ex-militar.

— Não acho que nossa existência tenha propósito mesmo — o de fios


vermelhos prosseguiu. — Acho que somos um acaso do universo. Mas não
é por isso que precisamos focar só na parte ruim, sabe? Precisamos
aproveitar que estamos aqui, que estamos vivos, e fazer valer à pena.

Jimin deu um sorriso suave,e o movimento do rosto fez uma lágrima saltar
do olho e escorrer pela bochecha farta.

— Você parece bem mais maduro agora, do que há alguns meses atrás,
quando começamos isso tudo — disse com evidente orgulho em seu tom de
voz e também em seu coração.

Jungkook deu de ombros e o abraçou mais forte, como se pudesse ser ele a
sua fortaleza.

— Eu aprendo com você e você comigo. E a gente aprende com o mundo


também. A dor ensina muita coisa, mas a felicidade também. Agora, por
exemplo, sei que sou alguém digno de ser amado, hyung. Você me amou. E
mesmo quando te magoei propositadamente, você ainda me amou e me
perdoou de todo o coração. — Ele girou o dominador pelos ombros,
fazendo-o ficar de frente para si e de costas para o mar. — Eu aprendi a me
amar, quando vi que você, o cara mais incrível que conheço, me amou. —
Ele franziu o cenho, se perdendo por um momento na própria mente. —
Teve o Hoseok também. Ele também é incrível e se apaixonou por mim.
Então, se dois caras incríveis me amaram tanto, deve ter algo de bom sobre
mim, afinal.

— Eu fico tão orgulhoso de ouvir isso.... — Jimin sorriu bobo, o encarando


com ternura, e alisou a bochecha do rapaz.

— Então... Que tal pensarmos que, ao invés de termos sido castigados pelo
universo, as coisas ruins aconteceram no meio do caminho só para nos
trazer até aqui?

— Quer dizer um pro outro? Que se você não tivesse todo aquele trauma
com os pais, não moraria sozinho, lá nossa rua, e se eu não tivesse sido
abandonado pelo meu noivo, prestes a me casar, e nem expulso da
aeronáutica, a gente não teria ficado junto?

— Uhum. — Sacudiu a cabeça em afirmativa, suavemente. — Nós somos


um acaso, Jimin. E como todo acaso, qualquer pequena variação no
percurso leva a um resultado diferente. Então, desde que estou muito feliz
nesse momento, com você, e de bem com a vida, eu não mudaria nada do
que aconteceu comigo, até agora.

Jimin sorriu grande, se sentindo confortável com o raciocínio do amado,


uma vez que ele também pensava daquele mesmo jeito. Havia chegado
àquela conclusão enquanto observava o alfa brincar com Leleco na areia.

O cachorro então correu de volta pra eles, após todo aquele tempo. Havia se
ocupado em esconder a peteca num buraco bem fundo que cavara na areia.
Balançando o rabo, animado, e com a língua grande pra fora, ele os tomou
num susto quando deu um pulo e se levantou nas duas patas traseiras,
apoiando as patas da frente no peitoral do Park.

— Uou, espere aí, Oliver. Você é um pouco forte demais. — Jimin alisou o
rosto do bicho, sorrindo ao ter a mão lambida. E o cachorro voltou às quatro
patas e mostrou a direção onde havia escondido a peteca, voltando o rosto
pra lá e latindo engraçado, como se uivasse, pra depois voltar a encarar o
casal, o rabo sem parar de mexer, agitado, de um lado pro outro.

— Eu já disse que é Leleco, cara! — Jeon resmungou, exasperado.

Jimin o encarou, tão exasperado quanto.

— Jungkook, o cachorro não é seu! É do Taehyung!

— Não importa! Enquanto estiver comigo, é Jeon Leleco!

— Minha nossa, você está se apegando a ele... — o fitou um tanto penoso.


— Kook-ah, não faz isso. Sabe que precisa devolver o doguinho...

— Por quê? Taehyung tem outro!

— Mas é dele!

— Não quero saber — retrucou, e aí se voltou para o labrador. — Vamos,


Leleco! Vamos procurar a petequinha, neném! — E foi se afastando, junto
com o cachorro, na direção que este conduzia.

Jimin sacudiu a cabeça e o foi andando atrás, mais devagar, até parar alguns
passos distantes, ao que o cachorro começava a pular e cavar determinado
ponto da areia. Ele encarou Jungkook, com uma expressão sonhadora,
vendo, bem na sua frente, o motivo que o fizera fixar tanto sua atenção no
vizinho, desde o primeiro momento em que haviam se visto: Jeon era
singular. Uma peça rara.

— Você é a pessoa mais incrível do mundo — inesperadamente declarou,


os cabelos escuros voando ao redor do rosto.

Abaixado na areia, Jeon parou de cavar com o cachorro e fitou o namorado


ali de baixo, com um sorriso mais brilhante que o sol.

— Nós somos mais incríveis juntos.

Mais tarde, quando o sol se punha e Jungkook assumia o volante do carro


para levá-los de volta para casa, e Jimin ia no banco de trás, para impedir
que o cachorro labrador saltasse pelas janelas, o aviador enviou uma
mensagem ao amigo Yoongi:

Quanto quer que eu te pague pra convencer Taehyung a dar Oliver


Elio a Jungkook? ||

[...]

O Jeon, como sempre, estava cansado. A despeito de seu trabalho estar


acontecendo momentaneamente em casa, naquele dia havia precisado ir até
o escritório, trabalhar no lugar de Kincaid, a assistente de Taehyung, já que
a ômega baixinha havia pego uma baita gripe. Com Taehyung na Rússia, e a
assistente doente, não houveram opções, além de Jungkook ir até a empresa
e passar o dia lá.

Mas ao menos, naquele dia, tinha ficado algum tempo rabiscando desenhos.
Ele gostava de fazer alguns croquis, baseando-se nos croquis de Taehyung e
nos outros tantos que chegavam à sua mesa para serem enviados ao chefe.
Consertava o que achava ruim nos esboços que via, adicionava pontos mais
bonitos, cores, e mudava os tecidos que não caíam bem.

O legal, era que podia somente fingir estar trabalhando, quando estava
apenas fazendo desenhos pra si e guardando-os no fundo da gaveta. O
tempo passava mais rápido e era mais divertido. Estava aprendendo a
administrar melhor o trabalho, no fim das contas. Fazia tudo o que era
necessário e ainda lhe sobrava algum tempo pra se divertir com seus
rabiscos. Não achava que alguém no mundo usaria as roupas que ele
desenhava, e por isso dava asas à própria criatividade, sem se importar se
alguém acharia aquilo bonito ou não.

Mas especialmente, naquele dia, haviam muitos croquis que precisava


escanear e enviar ao Kim, sobre a nova coleção. Todavia, conhecendo o
gosto do chefe, Jungkook acabou fazendo algumas alterações em certos
modelos, em segredo, valendo-se do fato de que não havia ninguém ali com
ele, na ante sala da diretoria. E, bem, ele iria enviá-los a Taehyung sem
dizer nem uma palavra sobre aquilo, simplesmente porque sabia que
aqueles pequenos detalhes fariam o CEO dispensar todos os modelos
propostos, como se fossem lixo, e fazer os estilistas ficarem de cabelos em
pé em ter que começar tudo do zero.

Os estilistas, por outro lado, também não ficariam sabendo, já que


Taehyung costumava alterar os desenhos, de qualquer forma. Deste modo,
todos pensariam que as alterações eram do próprio Kim. A coleção seria
aprovada, ninguém teria que refazer tudo, ninguém teria dor de cabeça ou
vontade de assassinar Kim Taehyung naquele mês, pelo menos.
Silenciosamente, Jeon Jungkook seria o salvador da pátria. Ou melhor, da
Stigma.

Quando as portas metálicas do elevador se abriram, ao fim do dia, Jeon se


arrastou como um moribundo pelo hall de entrada já um bocado vazio. Por
sorte, era sexta-feira. Não precisaria ir trabalhar na Stigma amanhã, caso
Senhorita Kincaid permanecesse indisposta.

Quase não reparou na figura esguia de cabelos negros e olhos dourados,


sentada em um dos sofás caríssimos do lobby, até que esta saltou em sua
frente, interrompendo seu caminho.

— Ora, ora, quem é vivo sempre aparece... — disse o alfa animado e com
um sorriso mostrando a fileira de dentes brancos bem alinhados.

— Oh... Mingyu — respondeu, piscando rápido, totalmente surpreso. — O


que... O que você 'tá fazendo aqui?

— O que você está fazendo aqui? Eu trabalho nesse prédio.

— Mesmo? Você é funcionário do Taehyung? — indagou, abismado.

— Funcionário do "Diabo veste Prada"? — Riu zombeteiro. — Não, graças


a Deus. Sou sócio dele, o que é um pouco menos pior. Imagino que a
premissa seja válida pra você, entretanto...

— S-sim. Sou o novo assistente dele — confirmou com murmúrio


abismado.
Porra, de todas as pessoas do mundo, ele tinha que encontrar justo Mingyu
ali? E pior, sendo sócio do seu chefe?

— Espere... — Ele franziu o cenho. — Se você é sócio do Kim, então quer


dizer que... É meu chefe também? — Acabou terminando com um grunhido
assustado, os olhos redondos cor de pedra ônix dobrando de tamanho.

— Não, relaxa. — Fez um suave gesto com a destra. — Você é funcionário


direto do Kim. Não sou eu quem paga seu salário. Adoraria te explicar
como funcionam as atribuições de cada um dos 19 sócios dessa empresa,
mas, sabe... Você tem me ignorado desde a última vez na The Cave, quase
dois meses atrás. Te liguei várias vezes, mas como não atendeu, supus as
coisas entre você e o Alphadome tivessem se acertado e que seu Dono
tivesse te proibido de falar comigo. O que é totalmente esperado, claro... Eu
faria o mesmo.

— Jimin não me proíbe de nada, ele não tem tanto controle sobre mim,
desse jeito — o ruivo respondeu, meio desconsertado, acabando por soltar o
verdadeiro nome do outro, sem nem se tocar. — Eu só não acho que seria
respeitoso ficar trocando mensagens com o cara que beijei na frente dele...
Você sabe que te usei para magoá-lo. Manter contato com você, depois de
tudo, seria cruel.

E logo o garoto começou a espiar através das portas de vidro, em busca do


carro preto do Park ao lado de fora. Jimin viria encontrá-lo, a empresa
ficava muito longe de casa, e sempre que dava, o ex-militar ia buscá-lo na
Stigma.

Mas se seu namorado estivesse vendo-o papear com seu nêmesis, aaah!
Aquilo não daria em boa coisa. Aquela coisa toda ainda era recente demais
pra que pudessem agir friamente sobre ela. E Jimin ficava particularmente
mexido com a questão "Mingyu", ele sabia.

— Espera... — Jeon franziu o cenho. — Se você e Taehyung se conhecem,


vocês já se viram na The Cave, não é?

— Evidente. — O moreno parecia estar se divertindo ao ver as engrenagens


imaginárias na cabeça de Jungkook se movendo a todo o vapor. —
Taehyung foi meu Mentor.

O acerejado arregalou tanto os olhos redondos, que as córneas doeram. Os


lábios partiram-se formando um "O" chocado.

— Mas... — murmurou, sem acreditar ou assimilar naquilo que ouvia. —


Taehyung não gosta de alfas!

Mingyu sorriu, divertindo-se.

— Eu disse que ele foi meu Mentor, não meu submisso.

— Mas como ele treinou você, se ele é sub? Sub's não treinam
dominadores, normalmente... Claro que ele é do tipo "break me", e isso é
bem oposto à submissão, claro, mas... Ah, eu tô confuso.

— Isso é tudo ladainha. Muitos dominantes entram nesse mundo desse


jeito, conhecendo um submisso que o ensina como dominá-lo, porque o
submisso quer isso, então ele precisa mostrar como quer que aconteça... É
bem simples, na verdade. E bem mais flexível.

Ah, aquilo realmente acontecia, mas não havia sido o caso de Mingyu... Ele
somente não contaria ao Jeon sobre seus primórdios no BDSM junto a
Taehyung. Ele nunca contava a ninguém.

— Whoa!

— A propósito, não diga a ele que te contei, mas... — Mingyu se


aproximou um pouco e cochichou perto de seu ouvido: — Taehyung era um
dominador, antes de perceber que gostava mais do joguinho ser "quebrado"
— segredou. E era tudo o que seus lábios diriam.

Do outro lado da rua, Park Jimin apertava o volante entre os dedos roliços,
com mais força do que precisava. Aliás, não precisava de força alguma, o
carro estava desligado, estacionado entre uma fileira de outros de mesma
cor, majoritariamente.

O ex-coronel espiava por trás do vidro fumê, a entrada do prédio da


empresa. A notícia sobre Kim Mingyu ser sócio da Stigma e ex-aprendiz de
Taehyung já havia chegado aos seus ouvidos dias atrás, pelo próprio
Taehyung, que ao saber sobre os acontecimentos da The Cave através de
outros membros da masmorra, fez questão de informar ao Dominador, com
o intuito de não gerar nenhuma surpresa a ele e a seu submisso, assim como
para impedir uma possível futura situação onde tivesse que abrir mão de seu
mais novo secretário. Ele precisava muito de Jungkook naquele momento,
pois o trabalho precisava ser feito e ninguém aguentava muito tempo. O
ruivinho podia não ser um gênio e ainda vacilar um bocado de vezes, mas
vinha aprendendo suficientemente rápido, o que para o CEO já era
suficiente, por hora.

Entretanto, Taehyung não informara sobre Mingyu ao seu empregado.


Informara somente ao Dominador deste, prezando pela cordialidade da
cultura BDSM, presumindo que fosse de Jimin alguma decisão sobre, sem
saber que os limites da relação entre este e Jungkook não eram bem assim,
nesse nível de dependência.

Foi falhando miseravelmente em seu autocontrole, que o ex-Coronel desceu


do carro e caminhou a passos comedidos pra dentro do lobby, as mãos
dentro dos bolsos da calça social, numa pose descontraída, quando por
dentro estava fervendo de ciúmes. Ele controlava a expressão irritadiça,
camuflando-a com um sorrisinho de lado, convencido, ao repetir
mentalmente que Jungkook era seu, que o amava, que confiava nele e
ninguém poderia mais separá-los; já haviam superado aquela fase.

Assim que foi se aproximando da dupla, viu o de cabelos vermelhos


arregalar os olhinhos redondos e entrar em visível pânico. Dessa vez, o
sorriso do ex-Tenente se abriu naturalmente.

Droga, o Jeon era tão fofo! Ele alternava os orbes expressivos entre si e o
outro brat tamer, num desespero conflitante.

— Oi, bebê. — Jimin murmurou com a voz rouquinha, ao se aproximar o


suficiente, puxando-o pela cintura para um beijo carinhoso, com direito a
mordidinhas no lábio inferior e uma fungada no pescoço, ao que ignorava
completamente Mingyu.
— H-hyung... — o garoto gaguejou, ainda saltando os olhos entre os dois
alfas.

— Alphadome... Ou melhor, Jimin. Boa noite — o outro cumprimentou


com a voz suave como seda, um sorriso sedutor no rosto bonito.

O ex-militar se virou pra ele, como se o estivesse vendo agora — óbvio


fingimento —, e o fitou com uma expressão superior e convencida.

— Hmn... MinSoo, não é?

Ah, Jimin era de fato uma cobra bem sorrateira.

— Mingyu — corrigiu o de olhos dourados, sem alterar a expressão


amigável. — Espero que não tenhamos maus sentimentos entre nós.
Respeito a relação amorosa de vocês. — Sorriu galante.

O Park fitou seu oponente de cima a baixo, com uma sobrancelha arqueada,
não querendo sair da pose superior, mas ao mesmo tempo cheio de
curiosidade sobre o terceiro alfa ali. Especialmente por ser a primeira vez
na vida que o olhava com tanta atenção. Sabia que Mingyu nunca respeitava
relação alguma, mas segundo Jeon o havia contado, o desrespeito do alfa de
olhos dourados não se estendia às relações amorosas, somente as de BDSM,
às quais ele claramente não levava tão à sério.

— Não. Não há nenhuma inimizade por aqui. Quero dizer, não mais. —
Deu de ombros. — Eu e meu submisso estamos morando juntos.
Planejamos nos casar oficialmente em breve. Estamos muito seguros sobre
nossa relação agora. Aquilo que vocês tiveram na The Cave foi como a
despedida de solteiro dele. Não é, bebê? — Foi sarcástico, mas fingiu
seriedade.

Ele não tinha conversado coisa alguma sobre casamento com Jungkook,
mas aquele ciúme formigando debaixo da pele o havia feito dizer aquilo. E,
bem, embora a motivação não fosse das mais corretas, era lógico que aquele
era o seu desejo mais profundo: ter Jungkook como seu, de todas as
maneiras possíveis.
Sua frase só fez o avermelhado arregalar os olhos e separar os lábios,
surpreso, sem saber se Jimin falava a sério, ou se somente dizia aquilo para
alfinetar Helsing. O coração do garoto palpitou, falhando nas batidas.
Porque aaah... Se Jimin quisesse casar com ele, casar de verdade, com
cerimônia e tudo, ele diria sim, vinte vezes seguidas. As leis militares até
podiam proibir relações amorosas e sexuais entre os de mesma classe, mas
não as leis civis.

— Oh. — Mingyu piscou os olhos, surpreso. — Imaginei que as coisas


estivessem indo bem, mas não tão bem assim. — Sorriu sincero. —
Imagino que Jungkook tenha lhe contado sobre eu tê-lo deixado na sua casa
aquele dia, depois de aconselhá-lo a corrigir as coisas com você...

Jeon observava a tudo calado. Era quase como uma criança observando a
um duelo de titãs, prestes a explodir. Ele não se atreveria a dar um pio
sequer. Aquela testosterona masculina em conjunto aos feromônios alfa
sendo exalados pelos dois ali, faziam seu lado ômega encolher-se, ainda que
a face alfa permanecesse altiva. Ele sacudiu a cabeça, voltando ao foco: o
pequeno embate entre o cara que amava e o cara que usara para atingi-lo em
seu momento mais sombrio.

— Sim, Jungkook comentou — disse o Park. — Suponho que eu deveria te


agradecer pela benfeitoria? Acho que você já teve um agradecimento
adiantado ao se atracar com o meu alfa previamente... — alfinetou, sorrindo
venenoso.

Mingyu jamais perdia a pose, enquanto o Jeon visivelmente engasgava,


com a carinha levemente assustada e tendo a cintura agarrada pelo braço
firme do namorado. O mais alto dos três sorriu ainda mais aberto e
confiante.

— Touché — murmurou, divertido. — Vocês vão à The Cave hoje? É festa


fechada ao público curioso, mas é uma parceria com a Sin Soul, aquela
masmorra do outro lado da cidade. Ou seja, muita carne nova no pedaço...

Jimin sorriu ameno, usando sua melhor fachada de simpatia.


— Pra você, que está solteiro, é uma boa oportunidade de encontrar
bratzinhos pra infernizar — alfinetou mais uma vez, sorrindo maldoso. —
Pra mim e meu submisso, é uma ótima oportunidade de dar um pouco de
prazer a alguns voyeurs e ensinar como se faz. — Ele então se voltou pra
Jungkook, com os olhos semicerrados e uma expressão luxuriosa no rosto.
A mesma expressão sexy que usava nas sessões. A mesma expressão que
fazia o Jeon cair em seus joelhos. — O que acha, bebê? Eu, você, uma sala
de vidro e todo o tipo de sacanagem que pudermos fazer em frente à mais
de trezentas pessoas...

Os mirantes de Jungkook dobraram de tamanho. Ele engoliu em seco.


Somente o olhar do seu dominador já o deixava todo molinho e sedento.
Aquele olhar, somado ao tom de voz rouquinho, as palavras insinuativas e
mais a possibilidade de se exibir como propriedade do AlphaDome, em
frente a tantas pessoas... Jeon resfolegou e sacudiu a cabeça em afirmativa,
um tanto afobado.

— Sim, hyung.

— Sim, o quê? — O moreno retrucou em provocação, com um sorriso


lateral nos lábios cheios.

— Sim, vamos à The Cave. — E esquecendo-se momentaneamente de


Mingyu ali, disse com a voz mais afetada: — Vou adorar ser seu
brinquedinho na frente de todo mundo hoje...

Jimin então passou os olhos por Jungkook inteiro, de cima a baixo,


mordendo os lábios antes de abrir um sorriso aprovador e só aí girar os
olhos pra Helsing:

— Nos vemos mais tarde, então? — disparou para o outro tamer, com um
sorrisinho vitorioso na boca.

Mingyu abriu um sorriso ainda maior e mais malicioso, ao dar um aceno de


cabeça e devolver:

— Mal posso esperar.


[...]

Jungkook observou o ex-militar se aprontar com muito esmero para aquela


noite. O viu se maquiar em frente ao espelho banheiro, através do blindex
do chuveiro, enquanto tomava banho. Algo lhe dizia que Jimin estava
aprontando algo muito maior do que apenas uma sessão exibicionista com
ele na sala de vidro, podia sentir.

Secando-se com a toalha, Jeon saiu do banheiro, um pouco depois do Park.


O encontrou no quarto, usando uma calça de couro com a braguilha aberta,
ainda sem camisa. Sua pele recém-bronzeada de praia parecia ainda mais
sensual, e os músculos de seu abdome estavam particularmente marcados
aquela noite.

— Você passou maquiagem aí também? — indagou ao moreno, com um


sorrisinho surpreso, ao notar que os gominhos do Park haviam sido
maquiados para aparentarem mais definição.

Pego no flagra, Jimin confessou:

— Sim. Vamos nos mostrar em frente a centenas de pessoas. Preciso estar


impecável e em minha melhor forma. Quer que eu faça em você também? É
uma técnica que utilizam nos filmes...

— Nos pornôs? — Arqueou uma sobrancelha.

Jimin gargalhou.

— Em qualquer filme, Jungkook. Toda vez que um ator ou atriz precisam


aparecer nus em frente às câmeras, a maquiagem é utilizada no corpo
também, para fazê-los parecer que têm músculos mais definidos.

— Então eu quero! Faz em mim! — declarou, arrancando a toalha pra fora


do corpo e, com isso, revelando a pélvis que acabara de depilar, deixando
tudo lisinho.

O Park sorriu suavemente, se divertindo com as reações do namorado. Ele


apreciava cada pequeno gesto do garoto, como um pai orgulhoso da
personalidade engraçada do filho.

— Se seque direito, e depois fazemos isso.

Demoraram algumas horas de arrumando, ambos querendo estar com a


aparência impecável para aquela noite. Estariam, literalmente, sob os
holofotes — não no sentido de câmeras, mas sim no sentido de luzes. Os
aquários ficavam no segundo andar, sobre um tablado mais alto no piso, o
que os colocaria perfeitamente às vistas de todo mundo no 2º andar, mesmo
de quem estivesse do outro lado do salão, e não grudado em frente às salas
de vidro para observar.

O dominador escolheu atenciosamente as vestes de Jungkook — adorava


ver o garoto usar calças que evidenciassem as pernas longas e coxas
grossas, combinadas a um blazer de corte elegante. Ele próprio se vestira
tão elegante quanto, mas parecia mais um daqueles agentes secretos em
missão, usando um belo par de coturnos e um harness atravessado no
peitoral. Aquele modelo de roupas lhe caía bem, é claro. Fazia-o parecer
bem mais musculoso do que realmente era.

Enquanto Jungkook terminava de arrumar os cabelos, de modo que o


caimento dos fios tingidos ficassem milimetricamente perfeitos, Jimin foi
até a masmorra ao lado do quarto e capturou seus acessórios favoritos,
guardando-os na pequena mala de mão. Pegou uma das coleiras reservas na
estante — uma coleira grossa e preta de couro grosso, que ele e Jungkook
quase não utilizavam, e que o mais velho lembrava-se de ter comprado em
um pet-shop; era uma verdadeira coleira para cachorros, e não uma coleira
feita originalmente para ser usada como fetiche. E ele sorriu maldoso ao
pensar no pescoço que planejava rodear com ela. Não esqueceu da guia de
aço.

"— Quando penso nisso, imagino um alguém em específico. Um alguém


que anseio, mais do que nunca, colocar em seu devido lugar... — disse à
terapeuta, com cuidado.

— Quem? — perguntou doutora Kam.

— Mingyu.
A mulher franziu o cenho, um pouco confusa, antes de um lampejo de
compreensão perpassar seu rosto delicado e a beta assimilar.

— O homem que Jungkook usou para feri-lo?

— Sim. — Ele torceu os lábios. — Vê como minha mente é problemática?


— O Park ainda mantinha dentro de si aquele pequeno trauma. Aquela
pequena acusação crítica vinda de seu ex-noivo, sobre ele ser um cara com
desejos sexuais conturbados e uma mente doentia. Vez ou outra, aquilo o
corroía.

A psicóloga o encarou com leveza, antes de retrucar:

— Discordo. Mas primeiro preciso saber sua motivação. Até pouco tempo
atrás, você sentia uma mágoa forte ao lembrar-se de Jungkook com esse
alfa, Mingyu...

— Ainda sinto, mas é estranho. É como se... — Ele suspirou, buscando


palavras. — É como se houvesse uma urgência em provar a Jungkook que
eu sou melhor que Mingyu.

— E acha que a melhor forma de mostrá-lo isso é em um ménage à tróis


com os dois? Não acha perigoso? Não acha que isso pode ser como
entregar Jungkook de bandeja nas mãos desse tal Mingyu?

— Não — respondeu de imediato, sem sequer pestanejar. — Eu confio no


meu taco. — Deu um sorriso convencido. — Depois de tudo o que
aconteceu, hoje sei, mais do que nunca, que Jungkook é tão apaixonado por
mim, quanto sou por ele.

— Então por que ainda precisa provar a ele que é melhor que Mingyu?

— Ego — revelou, com um dar de ombros um tanto blasé.

— A despeito da sua segurança quanto aos sentimentos românticos de


Jungkook por você, é evidente que ele sente atração física pelo dito cujo.
Isso não te assusta?
— Um pouco. Mas isso só aflora essa vontade absurda de colocar Mingyu
no lugar dele.

— E você diz que não é vingança? — Ela deu um sorrisinho descrente.

Jimin piscou vagarosamente, três vezes, com uma inocência claramente


fingida, antes de dizer:

— Não é uma vingança, de fato. Mas Mingyu precisa ser disciplinado.


Alguém precisa colocá-lo no lugar dele. — E sorriu maliciosamente. — Ele
vai se arrepender daquela audácia... De ter me afrontado. De ter tentado
tirar de mim o meu alfa, namorado e submisso.

— E como planeja fazer isso?

— Não consegue advinhar? — E sorriu de lado. Um sorriso como o de um


vilão de filmes. O vilão que todos caíam de amores, pela genialidade do
filho da puta."

Ah, enganava-se qualquer um que pensasse que Jimin era sempre bonzinho.
Por trás de todo o amor e delicadeza voltadas a Jungkook, ainda havia um
gênio do mal. Park Jimin era uma cobra sorrateira. E seu veneno, quando
direcionado a outros que não seu namorado, era sempre letal.

Mais tarde, já arrumados em trajes condizentes com o evento e a caminho


da boate fetichista, dentro do carro, Jungkook roía as unhas. Jimin havia
colocado o som extremamente alto, o que o maior sabia ser proposital para
evitar uma conversa.

A face do ex-aviador da aeronáutica, entretanto, era aparentemente


tranquila. Ele parecia relaxado demais para quem estava prestes a encontrar
alguém que julgava ameaçador para si. Além disso, evitava encarar o mais
novo, ainda que o ruivo não tirasse os olhos dele. E em sua experiência com
o moreno, Jeon sabia que quando o Park evitava olhá-lo, era porque queria
esconder alguma coisa.

— Jimin, o que diabos você 'tá armando? — finalmente questionou.


O moreno sorriu de lado, o espiando rapidamente pela visão periférica,
enquanto passava pelos sinais abertos da cidade grande vibrando naquela
sexta-feira à noite. Virou a esquina e deslizou o carro para dentro do
estacionamento coberto da boate, pôs a marcha em ponto morto, puxou o
freio de mão e tirou a chave da ignição, desligando o carro, pra só aí se
virar para o namorado, com uma expressão misteriosa, mas sem responder
coisa alguma.

— Você quer me castigar na frente dele, né? — Jeon tentou adivinhar, e


apertou os olhos.

Jimin sorriu de lado, safado e maldoso.

— Não, bebê. Você sabe que isso não seria correto, embora você merecesse
sim, ter sido punido com greve de sexo e um cinto de castidade por
semanas, sabia? Por ter tentado me machucar. Mas, além de não estarmos
juntos quando fez isso, seria um castigo pra mim também, ficar sem tocar
esse seu corpo perfeito e sem ter a sua foda gostosa, por isso deixei passar.
Até porque, como conversamos, soaria como uma vingança....

— Pára de enrolar com essa bajulação e me diz qual o seu plano. —


Espremeu os olhos na direção do Park outra vez. E aí, se deu conta então:
— Vai aproveitar pra marcar território? Você tá doido pra se vingar do
Mingyu...

— Não é vingança — retrucou aquela verdade. Não era vingança... Era


somente um método disciplinar. Ele precisava disciplinar Mingyu. Dá-lo
uma liçãozinha... — Só quero colocar as coisas no lugar e mostrar quem é
que manda. Mas a forma que quero marcar território é bem diferente da que
você está pensando...

Jungkook o fitou por severos segundos, pensativo. Ele pensou na questão


interna com a qual o Park vinha lidando, sobre tê-lo visto beijar o cara bem
na sua frente, no intuito de magoá-lo. E, bem, se fosse o Park, o Jeon com
certeza iria gostar de marcar território na frente do outro, mostrá-lo que, a
despeito de ter estado com ele, seu namorado voltara para si e agora era
novamente seu; que havia ganho aquela batalha.
Então Jeon chegou à conclusão de que aquela era a ocasião perfeita pra que
Jimin exorcizasse os próprios demônios. Dominá-lo e exibi-lo como seu,
em frente a tantas pessoas, no que poderia chamar de seu "habitat natural",
e especialmente em frente a Mingyu, o homem que Jimin enxergava como
seu opositor, poderia ser, basicamente, como um um antídoto para as
lembranças infernais que o lúpus tinha do amado beijando o outro domador
em sua frente. Afinal, Jeon havia atingido seu ego ao fazer aquilo. E, bem, o
ruivo sabia que:

Mingyu pouco se fodia em ser usado ou qualquer coisa assim. O cara era
quase zero por cento sentimental.

Ele não ficaria nem um pouco mexido ou enciumado em ver o Jeon ser
dominado na frente dele pelo Park. Mingyu não daria uma foda.

O fato de Mingyu não dar uma foda, não influenciaria na sensação de poder
que isso daria ao ex-militar, Jeon sabia bem disso.

Pensando nisso, o ruivo assimilou que ninguém sairia ferido ou magoado.


Não dessa vez. Era um pouco infantil e territorialista, claro, mas como um
alfa, sabia que era algo inerente à natureza de sua classe, então não podia
julgar. Ele engoliu em seco, mais uma vez, antes de declarar, com firmeza:

— Eu quero o que você quiser, meu senhor.

— Não, Jungkook. Você precisa querer também. Se isso for te deixar


desconfortável, ou você achar que Mingyu ficará magoado e não quiser
feri-lo, vou entender...

— Bem, não é um problema. Mingyu não vai ligar pra isso, você sabe bem.
Ele vai ser o primeiro na fila para nos assistir, eu aposto. Ele é um safado.
Mas estou preocupado com você. Tem certeza que não vai dar em
confusão? Tem certeza que isso vai te atrapalhar a... Sabe, superar aquilo
que fiz com ele na sua frente? — Mordeu o lábio, apreensivo.

— Sim. Eu só quero que ele saiba que você é meu. E que ele nunca mais se
atreva a tentar tirar você de mim.
— Mas ele já sabe, hyung — contrapôs.

— Quero que saiba mais. — O Park sorriu satisfeito e, alisando a coxa do


namorado, deu-lhe um beijo no pescoço, arrepiando a penugem fina que
cobria seu corpo. — Além do mais, Taehyung me disse que Mingyu é um
dos sócios que mais viaja, quando há a abertura de novas filiais da Stigma
em outros países, pois ele fala sete línguas diferentes...

— Espera. — Jeon o encarou, confuso. — Você já sabia que Mingyu era


sócio na Stigma? Desde quando vem conversando tanto com aquele capeta
em forma de gente? — referiu-se ao chefe.

Jimin sorriu suave, exibindo um sorriso culpado.

— Desde que você foi trabalhar pra ele, Taehyung entrou em contato
comigo. Disse que, para respeitar a liturgia, estava me informando sobre os
riscos que haviam, sobre meu submisso trabalhar na empresa, quando um
dos sócios era "alguém de quem eu queria mantê-lo longe".

— Por que ele não disse logo pra mim?

— Porque ele não queria que você desistisse. Mingyu não trabalha no
mesmo setor que você, vocês mal se encontrariam, isto é, se chegassem a se
encontrar alguma vez...

— Acha que Mingyu me esperou no lobby de propósito? — murmurou


pensativo, roendo a unha do dedão.

Jimin afastou delicadamente o dedo do garoto da boca, pois gostava que


Jungkook deixasse as unhas longas o suficiente para arranhá-lo durante suas
fodas. Uma das poucas dores que o ex-militar gostava de sentir, além da dor
de ser penetrado.

— Eu armei pra que ele estivesse ali quando você saísse — disse com muita
tranquilidade, ao que o Jeon arregalou os olhos, perplexo.

— Como diabos fez isso? — grunhiu, estático.

O moreno apenas gargalhou de modo travesso, sem responder à pergunta.


— Como eu disse, Mingyu normalmente viaja quando há a abertura de
novas filiais da empresa em outros países... Taehyung vai na frente, por ser
o sócio majoritário. E depois que as coisas estão encaminhadas, outro sócio
vai substituí-lo... — Ele fitou o Jeon, esperando o rapaz se dar conta.

Jeon tinha uma expressão engraçada no rosto, aquela de quem faz um


esforço grande demais pra pensar.

— Não sabe aonde quero chegar? — Jimin insistiu.

Jeon continuou pensativo, daquele jeito engraçado. E quase meio minuto se


passou, até que o garoto abrisse bem os olhos puxados e soltasse um
grunhido:

— Não! Não acredito! — Ele pôs a mão na frente da boca, de um jeito


cômico e caricato, como só ele era capaz de fazer, levando Jimin ao
extremo do riso. — Você não tá falando sério, Park!

— Depende. Sobre o que acha que estou falando? — Fez-se de sonso, mal
conseguindo manter um tom sério, enquanto segurava as risadas, sem muito
sucesso.

— Você não quer que Mingyu assista à nossa sessão, quer que ele participe
dela! Quer que a gente faça aquele menáge com ele!

— E o que te fez chegar a essa conclusão, bebê? — continuou debochando,


virando tronco de de frente para o maior, dentro do carro.

— Mingyu vai substituir Taehyung na Rússia, ao fim do mês. O que


significa que, bem... Não vamos precisar olhar para ele, tão cedo. E como
eu já fiquei com ele, você acha que fazê-lo se submeter a nós dois, ao
mesmo tempo, irá fazê-lo sentir que tudo foi só um jogo, e que você é
aquele orquestrando as peças no final. Você quer fazê-lo se sentir
humilhado, ao se submeter a você... Acertei?

Jimin gargalhou, sentindo o rosto queimar um tanto em pura vaidade. Ele


sabia que fazer aquilo seria simplesmente sensacional. E sabia que, se
Helsing era tão bom dominante quanto gostava de explanar aos quatro
ventos, então perceberia, de imediato, suas motivações. Caberia a este,
aceitar ou não. O Park contava com o desejo insano que sabia que Mingyu
tinha por seu namorado e... bem, por ele também. Afinal, quem diabos
resistiria a Park Jimin? Ninguém, até hoje. Jimin sabia bem do poder que
tinha. Era um confiante filho da puta.

— Gosto de como você entende as coisas, mesmo que demore um pouco


pra assimilar. — Deu-lhe uma piscadinha. — Ah, eu adoro humilhações
punitivas. Farei Mingyu se sentir humilhado ao se submeter a você. É
massacrante pro ego de qualquer dominante, se deixar submeter,
especialmente pra alguém que ele conhece como submisso... E
consequentemente, como inferior.

— Só tem um probleminha nesse seu plano perfeito, "gênio"... — Jeon


disparou, com sarcasmo. — Mingyu não só é um dominador, como é um
dominador de brats. Ele gosta da briga, da afronta. Nem fodendo que ele vai
aceitar fazer desse jeito. Só vai aceitar, se puder me dominar... ou submeter
você. Ele vai ver isso como um desafio!

— Bebê... — O moreno alisou a coxa esquerda do garoto, em sua mão


pequena adornada de anéis. — Você me conhece, não é? Sabe o quanto
posso ser persuasivo.

— Ele não vai aceitar isso, nem se você estiver com o pau dele na boca —
teimou, categórico.

Jimin gargalhou, achando divertido.

— Sabe, falar assim só vai me instigar mais ainda...

— Você é o cara mais convincente e sedutor que conheço, só não acredito


que Kim Mingyu possa ser dominado. — Deu de ombros.

— Mas você esqueceu de um detalhe, amor... — Ele sorriu sarcástico. —


Eu sou a porra do Alphas Dominator.

E após o que pareceu uma frase premonitória, Jimin abriu a porta do carro e
saltou para fora, levando consigo a mala de mão, onde jaziam os acessórios
a serem usados na sessão que fariam. Logo foi acompanhado pelo Jeon, que
insistentemente se recusava a acreditar na possibilidade de sucesso daquela
empreitada.

O som abafado atrás das portas acolchoadas da The Cave fazia o corpo dos
alfas vibrarem, totalmente energizados pela atmosfera quente e meio
vampiresca que o estabelecimento e os frequentadores ofereciam. Era quase
como entrar um universo paralelo, onde tudo era sedutor e absolutamente
erótico. Era como sair do mundo real e entrar em um livro de Anne Rice —
e é claro que Jimin seria o maldito vampiro Lestat.

Jeon encarou rapidamente seu reflexo nos vidros dos carros estacionados. O
cabelo vermelho e a coleira combinando em mesma cor destacavam muito
bem, como sempre, a palidez da pele e o negrume das roupas.

Jimin, por outro lado, era sempre monocromático quando em suas visitas à
masmorra, além dos cabelos escuros e com o novo corte assimétrico, vestia-
se de preto da cabeça aos pés, destacando apenas o prateado dos anéis e das
orelhas recheadas de brincos e piercings, os quais vinha aumentando, junto
ao Jeon. Em breve não haveria mais espaço em suas cartilagens.

Jimin andava na frente, enquanto Jungkook se mantia um passo atrás, nunca


se posicionando em frente a ele. O garoto já praticava BDSM havia tempo
suficiente para saber as sutilezas com as quais devia se portar naquele
ambiente, em sua posição inferior. Andar sempre atrás de seu dominador
era uma delas.

— Vocês estão de volta mesmo... — Seung, o conhecido recepcionista da


The Cave, murmurou, surpreso, ao vê-los se aproximar da entrada.

— Com inveja? — Jimin retrucou, afiado.

Seung revirou teatralmente os olhos e tocou sua já conhecida coleira


branca. Se antes sentia-se um tanto intimidado por Park Jimin e sua aura
superior, agora já não era mais assim. O via como o namorado babaca de
seu amigo. Aquele em quem precisava ficar de olho, para que, ao menor
sinal de deslize, pudesse massacrar para defender o outro. Seung havia
criado um sentimento de proteção em relação ao Jeon, empático ao seu
anterior sofrimento.

— Não preciso disso, AlphaDome. Estou muito contente e realizado com a


relação que tenho. — Deu-lhe um sorriso amarelo pela provocação. E aí se
virou ao ruivo: — Como está, cerejinha? Não te vejo desde aquele dia...

— Nós viemos aqui duas vezes depois disso — Jeon contou —, mas você
não estava.

— Ah, sim, estive de férias. — Sorriu. — Ele está te tratando bem? — Deu
uma olhadela desconfiada ao Park.

— Ele nunca me tratou mal... — Jeon devolveu, com uma vozinha perdida
e um tanto sem jeito, afinal, se Seung vinha pensando assim do Park, o mais
novo imaginou que, talvez, ele tivesse induzido o colega a pensar assim.

— Sei... Só quero saber se ele agora está só com você, sabe... — Seung
continuou encarando o ex-coronel de modo desconfiado.

— Pra sua informação, Seung — interrompeu o Park —, eu sempre estive


apenas com Jungkook. O deslize daquele dia com Taemin foi algo à parte,
especialmente porque eu estava bêbado, e eu e Jungkook estávamos
terminados. — Ergueu o queixo, com superioridade. — E não estou
gostando das suas insinuações. Está sendo desrespeitoso. Você e eu já nos
conhecemos há muito tempo pra que me trate assim...

— Não sou seu inimigo, AlphaDome — ele retrucou. — Mas gosto muito
de Jungkook, desenvolvi um carinho por ele. E sim, eu e você nos
conhecemos há muito tempo. Tempo suficiente para saber que você nunca
pára com um submisso só. Então, só estou checando. Esse garoto é um
doce, e não merece ser magoado.

Saindo de trás do balcão, o alfa se aproximou do moreno e sibilou, meio


ameaçador:

— Se você magoá-lo de novo, eu queimo seu filme na The Cave. E você


sabe que, depois da Kiko, eu sou a pessoa mais influente daqui.
Jimin suspirou, mas não estava com raiva. Na verdade, ele até gostava que
o cara estivesse pronto para defender Jungkook, com unhas e dentes. Era
meio fofo e demonstrava que ele realmente havia gostado da amizade do
garoto. Então, suavizando a expressão, Jimin entrelaçou seus dedos nos de
Jeon, com a mão que não estava ocupada segurando a mala.

— Não se preocupe, Seung. Se eu estiver dando a Jungkook metade da


felicidade que ele me dá, então ele é o cara mais feliz do mundo, depois de
mim. — E dando um sorriso grandioso para o recepcionista, puxou o ruivo
para dentro da boate.

Eles passaram pelos seguranças e se deixaram envolver pelas batidas do


som eletrizante. Antes de se jogarem na pista de dança, porém, Jimin
guardou a mala na chapelaria, para que pudesse estar com as mãos livres,
enquanto não chegava o momento da sessão exibicionista que faria.

Sabendo que Yoongi e Hoseok ainda não haviam chegado, o casal foi para a
pista dançar, aproveitar o momento. Rapidamente foram seduzidos pelos
ritmos do rock nu metal, gótico e industrial que tocava na pista escura,
movimentada pelos corpos quentes, todos vestidos em roupas absurdamente
espalhafatosas, como sempre.

Os dois dançavam colados, ora um de frente pro outro, com as testas


coladas e os quadris balançando sensualmente, ora com um deles
esfregando a traseira na pélvis do outro, de um jeito provocador. Por ser
mais baixo, na maior parte das vezes o alfa lúpus preferia ficar na frente e
ter a bunda pressionada pelo pau semi desperto do Jeon, colado atrás dele,
ao que este se ocupava de sugar a pele de seu pescoço, incansavelmente.

Diferente da maior parte dos dominadores, Jimin amava ter as marcas de


Jeon sobre si, tanto quanto amava deixar as suas no submisso malcriado.
Compartilhavam uma relação de total entrega e equilíbrio, especialmente
nos últimos tempos. A tempestade havia passado. Agora, restava a
calmaria.

— Jimin-ah... — o acerejado sussurrou, ao pé do ouvido, um tanto


apreensivo. — Tem certeza que quer fazer isso? A gente pode achar outra
pessoa, não precisa ser o Helsing...
O moreno se virou pra ele, sem parar de dançar. Seu rosto estava leve e
relaxado, e não haviam indícios de contrariedade em seu rosto.

— Amor... Nunca estive tão firme. Eu quero ele. Quero abatê-lo, dominá-lo.
Quero mostrá-lo que sou mais poderoso que ele...

— Mas isso pode acabar mexendo com você de um jeito ruim. Você detesta
o cara... — argumentou, com preocupação muito plausível.

— Por isso mesmo. — Jimin sacudiu a cabeça. — Vou colocá-lo no lugar


dele.

— E vai fazer isso como vingança?

— Não — rebateu, com uma pequena gargalhada. — É só o tesão


descontrolado que sinto ao ter alguém batendo de frente comigo. Sabe, eu
não gostava desse tipo de coisa, mas aprendi a gostar, depois que comecei a
ficar com você...

Jungkook riu, franzindo o nariz.

— Realmente te transformei num bendito brat tamer... Não sente saudades


de uma submissão completa? — indagou, em tom curioso.

— Não. — O Park negou com a cabeça. — Você é meu novo conceito de


diversão favorita...

Eles trocaram um rápido beijo, entre sorrisos e mordiscadas nos lábios.

— Agora diga... — falou Jeon. — Diga aquilo que sei que está se
segurando pra confessar...

— O quê? — o outro o encarou em pura confusão.

— Você sabe. Sobre Mingyu.

Jimin continuou confuso. Jungkook revirou os olhos, em puro divertimento.


— Mingyu é gostoso — disse ao dominador. — É um insuportável, mas é
gostoso. Ele é tudo o que você gosta: é alfa, bem mais alto que você, é
forte, musculoso, tem cara de safado e é um provocador do caralho...

Jimin não conseguiu prender o riso, jogando a cabeça pra trás e segurando-
se nos ombros do namorado.

— Você já pensou se você dois tivessem parado de implicar um com o outro


antes? — o acerejado continuou. — Talvez ele tivesse se submetido a você,
e hoje seria seu bratzinho! Você teria se apaixonado por ele... — Seu tom
não era ciumento, era leve e brincalhão. Era impossível sentir ciúmes de
Jimin com Mingyu. Sabia que o Kim jamais seria uma ameaça, nem em um
milhão de anos.

— Jungkook... — O puxou pra perto, pela lapela do blazer, e encostou os


lábios em seu ouvido: — Eu não teria me apaixonado por ninguém além de
você.

O mais alto rasgou o rosto em um sorriso enorme. Automaticamente


circulou os ombros de seu dominador com os braços e esfregou o nariz no
topo da cabeça dele, subitamente tímido, sentindo um calorzinho gostoso no
peito.

— Eu adoro o quanto nós somos safados e proporcionalmente românticos


— brincou, a voz abafada nos fios de cabelo do menor.

Jimin sorriu e o abraçou mais forte, alisando as costas largas do garoto,


carinhosamente. Fechou os olhos e se aconchegou mais a ele, amando o
formato daquele corpo e o modo como os dois se encaixavam.

— Nunca estive tão feliz — murmurou.

Jungkook se afastou um pouquinho, para encará-lo. E, sem dizer nada,


segurou delicadamente o rosto dele entre suas palmas grandes e beijou os
lábios cheinhos, suavemente. Compartilharam uma sensação ainda mais
gostosa que antes. Um êxtase puro.
Apenas se afastaram quando os tapinhas de cumprimento de Hoseok e
Yoongi os atingiram, com ânimo.

— Mirradinho, você é tão boiolinha por esse pirralho! — Foi assim que o
Min cumprimentou o melhor amigo, com a provocação costumeira.

— Ah, cala a boca! — retrucou, divertido, antes de puxá-lo para um abraço.


— Ei... — disse ao se afastarem. — Está com um cheiro diferente. Meio...
alfa? — Fungou o melhor o amigo, que rapidamente o afastou com um tapa.
— Que foi?

— Isso é coisa da sua cabeça — o loiro respondeu.

Hoseok o encarou enviezado e, nitidamente, mudou a expressão pra uma


risonha ao cumprimentar o Park. E então Yoongi fez cara de paisagem, ao
cumprimentar Jungkook.

Jimin acabou deixando o assunto de lado. Sabia que o aroma alfa não era de
Taehyung, mas também não era de sua conta.

Os quatro amigos conversaram e beberam um pouco — Jeon e Park


limitando-se apenas à água e energético, uma vez que entrariam em sessão
mais tarde.

Um pouco perto das duas da manhã, o olfato aguçado de Jimin sentiu o


familiar aroma de menta ao seu redor. Cutucou o namorado na cintura, e os
dois viraram-se na direção do cheiro. Em meio aos corpos suados, Helsing
abria caminho entre a multidão, a figura alta de quase um metro e noventa
se destacando. Ele se aproximou, já com um sorriso carismático no rosto —
e extremamente sacana.

Hoseok e Yoongi se fitaram, apreensivos. Não sabiam o que o casal de


amigos planejava, então pensaram que o brat tamer vinha ao encontro deles
com o intuito de provocar. Naturalmente, estranharam mais ainda quando
Mingyu os disparou um sorriso e cumprimento cordiais:

— Boa noite. — Os dentes brancos e bem alinhados o davam uma


aparência iluminada. E além de tudo, seu sorriso tinha um formato bonito.
— Boa noite, Cinderela — disse o Jeon, com um sorriso de lado. — Está
atrasada. Perdeu o sapatinho no caminho?

Mingyu sorriu grande, jogando o rosto pro alto, antes de descê-lo e fixar os
mirantes dourados na estatura menor de Jimin, que estava, visivelmente o
encarando com uma malícia descarada, que surpreendeu a todos —
incluindo o próprio Kim.

— Você realmente deveria controlar melhor esse brat, AlphasDominator. —


Arqueou uma sobrancelha. — Vê só como ele me provoca?

— É a natureza dele. Não há nada que eu possa fazer. — E ao dizer aquilo,


Jimin tinha um sorrisinho convencido no rosto.

Encarando Mingyu naquele momento, suas certezas foram fortificadas:


queria destruir Mingyu, sim, mas de um jeito bastante erótico. Algo havia
mudado dentro dele, após tanta reflexão sobre o assunto. O Kim não era
mais enxergado como um oponente, mas sim como uma presa que queria
desesperadamente abater para provar à selva inteira quem era o verdadeiro
alfa comandante.

— Sabe, do mesmo jeito que dominadores detestam ser afrontados,


domadores amam uma provocação. Então, por favor, não me excitem
deliberadamente... — o mais alto disse em tom sedoso e galanteador. Ele
podia até respeitar as relações românticas alheias, e não flertar com gente
comprometida àquele ponto, mas ficava difícil se controlar quando sentia os
olhares do outro tamer e seu brat o mirarem com uma nada disfarçada
lascívia. Ele não estava entendendo bem o que estava acontecendo ali, mas
não podia negar, nem por um segundo, que estava adorando.

— Sabe o que eu acho? Que você daria um ótimo bratzinho safado... —


Jimin maldosamente anunciou, com um sorriso de lado.

Junto a eles, Hoseok e Yoongi se fitaram com os cenhos franzidos. Eles não
estavam entendendo absolutamente nada, e suas expressões denunciavam
certo desespero para descobrir o que acontecia.
Mingyu gargalhou alto, totalmente desacreditado que aquilo estava sendo
dito. Não era a primeira vez que ouvia aquilo na vida, mas era a primeira
vez em muito tempo...

Desde que se iniciara no BDSM como um submisso.

Ninguém na The Cave sabia daquilo, e ele, até então, pretendia não deixar
que soubessem... A menos, até que uma proposta tentadora demais fosse
feita. O único que sabia, claro, era Taehyung, mas não era como se ele
comentasse por aí. Entretanto, era algo relativamente implícito. Todo
mundo testava uma coisa diferente, até encontrar o próprio caminho e
entender os próprios gostos com clareza. E qual caminho seria melhor,
senão, testando?

Mingyu passou a língua entre os lábios finos e encarou o Park de cima a


baixo. Ele não era o maior fã do cara. O via como um oponente, desde
sempre. Mas, ah, não podia negar... O AlphaDome era um puta gostoso do
caralho. Já havia visto diversas Cenas do cara, e, com isso, sabia bem como
era aquele corpinho nu. O foderia sem pensar duas vezes. Sentaria gostoso
nele também. E ao pensar naquilo, salivou, de imediato, sentindo-se
subitamente mais atraído do que nas outras vezes.

Uma tensão sexual forte demais começou a tomar o ar — o que somente


contribuía ainda mais para a confusão de Yoongi e Hoseok, que observavam
a tudo estarrecidos.

— Nem em seus maiores sonhos, AlphaDome — respondeu somente, com


um sorrisinho afrontoso.

Jimin o encarou igualmente, e insistiu, jogando suas cartas. E, ah, Park


Jimin era um jogador nato. Um dos melhores.

— Tem certeza? — indagou, com a voz macia como pluma. — Todo


mundo experimenta um pouquinho, em algum momento. Nunca foi
dominado, Helsing?

Claro, Jimin não sabia de nada. Estava apenas blefando. Nem mesmo
Yoongi e Hoseok sabiam sobre aquilo, pois Taehyung jamais tocara no
assunto. Mais foi o suficiente para fazer o alfa maior engasgar.

— E-eu não...

E o seu gaguejar foi certeiro para o Jeon:

— Não acredito! — o de fios cor de cereja levou a destra aos lábios,


surpreso e eufórico. — Você também já foi um subzinho! Jimin estava
certo! — disparou.

— O que? Não! — Helsing tentou negar, com um olhar levemente


assustado. — O que andou dizendo a ele, dominator? — grunhiu. — O que
quer que tenham lhe dito, é mentira!

Jimin sorriu, suavemente, ficando mais cheio de si à cada segundo. Havia


acertado na mosca. Seus sentidos nunca falhavam, era um fato.

— Eu não sei de nada. Só disse a Jungkook que posso fazer qualquer um se


curvar a mim. Até mesmo os mais assustadores alfas. Incluindo
dominadores e tamers rigorosos. Sabe, tenho experiência nisso. Não é à toa
que meu nick é esse... Dominador de Alfas. — E sorriu cheio de charme.
Um charme que, nunca, nem em um milhão de anos, se imaginara
oferecendo a Mingyu. Mas, bem, as coisas mudavam.

— Você jamais me dominaria — o mais alto rebateu, voltando à sua pose


superior e abandonando o susto inicial. — Aposto que poderia te colocar
aos meus pés — afrontou.

— Discutível. — Jimin respondeu, convicto. E então, observou bem os


braços fortes do maior, que, por sorte, usava uma camisa sem mangas
naquela noite, exibindo os músculos definidos, embora não muito grandes.
— Você malha? Seus braços são tão fortes... — E lá se foi a cobra
sorrateira, discretamente apertar os braços do outro alfa com os dedos
macios. — Olhe, Jungkook — chamou, com a voz sedosa. — Ele tem um
corpo realmente bonito. Aposto que aguenta muita coisa...

Sendo chamado pra ação, imediatamente o Jeon se aproximou e, com um


sorriso maldoso, aprendido com o namorado, espalmou e deslizou as mãos
pelo peitoral duro do brat tamer.

— Sei... Não tive a oportunidade de experimentar, mas tenho certeza que


ele aguenta bem. — Foi chegando mais perto.

Praticamente horrorizados, Yoongi e Hoseok se afastaram um bocado, e


começaram a cochichar no canto.

Já Mingyu, se iluminou. Deu-se conta de que aquilo não era brincadeira,


nem coisa da sua cabeça. Cherry sub e AlphasDominator estavam, de fato,
flertando com ele. O estavam alisando. Aquilo era um convite aberto e
claro.

— Ah, eu aguento bem, é claro... — devolveu, safado. — Posso pôr vocês


dois no lugar, se quiserem.

Jeon encarou o namorado com um sorriso cúmplice. E então falou:

— O único que precisa ser colocado no lugar aqui, é você, Mingyu. — E


escorregou o joelho suavemente por entre as pernas alheias.

O Kim ficou definitivamente perplexo. Estava esperando aquela atitude de


Jimin, que era um dominante como ele. Não do bratzinho maldito de
cabelos cereja. Isso fê-lo perder momentaneamente a fala, tentando
assimilar o que realmente acontecia ali.

Ele sentiu as mãos pequenas, porém firmes do Park descerem e apertarem


sua cintura, por trás, de forma insinuante. E logo o nariz pequeno deste
deslizar por seu pescoço — e o lúpus precisou ficar nas pontas dos pés para
isso, por ser quase quinze centímetros mais baixo; o Kim não podia ver,
entretanto, senão, teria rido e feito piada do fato de ter um homem menor
que ele tentando seduzi-lo de modo dominante. Mas ao contrário disso, o
maior se arrepiou com o nariz de Jimin em sua pele. Podia sentir sua
excitação crescendo. O casal o estava encurralando, e ele podia entender
perfeitamente pra quê.

— Esse é algum tipo de jogo? — Colocou um sorriso abusado na cara,


tentando parecer confiante. Mas estava perdendo facilmente o controle e
sabia bem disso. Contudo, quem poderia culpá-lo? Não era uma luta justa.
Eram dois contra um, afinal. E ah, Jimin e Jungkook eram sedutores pra um
caralho.

Mingyu, normalmente, era aquele que seduzia. Quase não se deparava com
pessoas que pudessem subjugá-lo daquele modo, ainda mais com aquela
facilidade. Precisava admitir que estava um bocado surpreso e um tantinho
assustado com a novidade inesperada.

— Comigo, é sempre um jogo, alfa — o mais velho dos três respondeu. —


E, acredite, você vai adorar me ver vencer...

— Eu não perco jogos, lúpus — retrucou. — Eu os ganho. Eu comando.

Ele sabia que não comandaria nada, aquilo estava óbvio. Sequer tinha
coragem de tentar virar o jogo, tão arrebatado estava. Era como se os dois
ali fossem seus primeiros. Estava desnorteado, pego de guarda baixa.
Aquilo era surrealmente inesperado.

— Kook-ah... — o ex-coronel chamou, recebendo a atenção imediata do


namorado, os dois se fitando por cima dos ombros de Mingyu. — Por que
não busca uma garrafinha d'água pro Helsing? Nosso alfa parece estar com
sede... — Sua voz permanecia aveludada, e algo mínimo em seu tom fez
seu garoto entender que ele queria um momento a sós com o outro alfa.

Mordendo o lábio e segurando um sorriso ansioso, Jeon assentiu e afastou-


se lentamente dos dois, indo em direção ao bar da masmorra.

E assim que ele desapareceu, Jimin foi, suavemente, dando a volta pelo
corpo alto do Kim, até que estivesse frente a ele, os rostos muito perto. O
mais baixo tinha o queixo elevado, para que pudesse enxergar o outro nos
olhos e passar toda a sua autoconfiança e superioridade através do olhar
intenso que possuía. E Jimin ficava particularmente mais intenso e atraente
com os olhos bem maquiados em sombra escura, como estava naquela
noite.

Os alfas se mediram dos pés à cabeça, quase como se num filme de


faroeste, enquanto Jimin mexia o corpo no ritmo da música darkwave, o
quadril rebolando sensual e lentamente, roçando aquela coisa já pouco
adomercida em suas calças na coxa do maior:

— O que está armando, Alphas Dominator? — indagou o de olhos


dourados, um sorriso sacana e falsamente despreocupado moldando os
lábios bonitos.

— Por que pensa que estou armando alguma coisa? — este retrucou,
desabotoando lentamente a gola da camisa social preta que vestia,
capturando o olhar firme do outro alfa, botão por botão.

— Não somos íntimos, mas conheço sua fama. Já vi alfas grandes e fortes
se submeterem a você. Já vi dominadores caíram aos seus pés. Sei o poder
que tem. Mas não vou me render a você, não sabe? Se quiser, é você quem
vai se ajoelhar pra mim. — Arqueou uma sobrancelha, provocador ao
extremo, a voz sussurrada. Mas a confiança em sua voz era forçada, e Jimin
a reconhecia de longe.

Por isso, o Park jogou a cabeça pra trás e riu com escárnio, escandaloso.

— Não vê que tenho um alfa suficientemente gostoso pra dar conta do


recado? — Sua voz também foi provocadora, flertiva, como se banhada em
mel.

— Porque sempre me olha com um despeito escondido por trás de falsa


cordialidade. Isso pra mim significa tensão sexual mascarada.

— Você é mesmo um convencido.

— Convencido, não. Apenas confiante. — Piscou um dos orbes, galante. —


Você me quer aqui pra fazer parte do seu joguinho. — Ele entendeu então.

— Algo contra? Se for a favor, será excelente que fique. Mas se não, fale
agora ou cale-se para sempre — zombou.

— Por que eu ficaria contra? Isso me parece um evento atrativo. — Deu um


sorriso de lado.
— Eu tenho apenas uma regra, alfa. Ninguém domina meu homem. Meu
homem é só meu. E se quiser fazer parte disso, terá que se render a ele...

— Como? — Helsing piscou os olhos um bocado de vezes, parando de


dançar.

Aquela parte, embora um tanto óbvia, ele ainda não havia sacado. Tinha
pensado que as provocações de Jungkook eram apenas seu humor afiado e
comportamento corriqueiro de malcriado. Não que o rapaz estivesse
disposto a trocar de lado naquela noite.

Ele fitou o ex-militar com a expressão aturdida. Se submeter a Jimin era


compreensível. Mas a Jungkook? Não fazia o menor sentido.

— Podemos dominá-lo juntos — insistiu, os olhos dourados dobrando de


tamanho, evidenciando surpresa e um tanto de desespero. — Eu não vou
tentar de ultrapassar e nem transgredir suas regras. Apenas seguirei você e...

— Não quero — o mais baixo devolveu, a voz ainda em um tom açucarado


e casual. — Você é o único aqui que precisa ser disciplinado, Helsing. Por
que mais eu faria isso? — E ao dizer tais palavras, roçou os lábios cheios
nos de sua presa, provocando da melhor forma que sabia fazer.

Mingyu cerrou rapidamente as pálpebras e revirou os orbes delicadamente,


puxando o ar pelas narinas — o que não foi uma boa ideia para seu
autocontrole, pois o movimento de inspiração fez com que o aroma de
almíscar e sândalo do Park lhe surrasse por dentro, combinado
deliciosamente ao cheiro alfa de bergamota e cedro do Jeon, que ficara
impregnado neles dois.

Chegava a ser desesperadora a vontade que sentia de jogar Jimin contra a


parede e fodê-lo até que este implorasse pra gozar. Ah, maldito AlphaDome
filho da puta... Helsing nunca duvidara do que o cara poderia fazer, mas ele
nunca havia sido alvo dos desejos daquele baixinho. Estar na mira de um
conquistador talentoso, era muito difícil pra um safado de carteirinha como
ele. E ah, Mingyu não se importava aonde precisava chegar para conseguir
o que queria. E ele queria Jimin, agora, tanto quanto queria Jungkook.
Os alfas trocaram mais um bocado de farpas mescladas a um incomum jogo
de flerte, enquanto Jimin nada sorrateiramente deslizava a ponta dos dígitos
no membro semi ereto que Mingyu escondia dentro das calças. Este
apertava a cintura do mais baixo com força, tentando desesperadamente se
controlar. Mas Mingyu não era do tipo que resistia a provocações. Não. Ele
era do tipo que as convidava e apreciava. Como um sedento, ele se afogava
nelas. Eram seu combustível.

Demorou um pouco pra que Jungkook voltasse, e quando o fez, entregou a


garrafa aberta ao de olhos dourados, antes de dar seu próprio gole e encoxar
seu dominador por trás, deixando-o entre ele e Mingyu.

As pontas dos fios vermelho-cereja estavam úmidas, coladas na testa,


enquanto o pescoço seco exibia a conhecida coleira vermelha de rebites,
que tanto usava em suas sessões com o mais velho. Tinha começado a suar
de ansiedade nas têmporas.

Ele deixou alguns selares molhados na lateral do pescoço do Park, enquanto


fitava Mingyu demorada e provocadoramente nos olhos, ao passo em que
deslizava as mãos pelas laterais das coxas do lúpus.

— Então, Mingyu... — Jimin continuou. — Jungkook serve somente a


mim. E eu costumo ser muito bondoso com o meu bebê. O encho de mimos,
dou a ele tudo o que quer, como forma de agradecer sua submissão. E meu
garoto quer experimentar um pouco de dominação... — Ele sorriu maldoso,
ao que sabia que o Jeon oferecia um sorriso abusado para o terceiro alfa ali.
— É evidente que eu não posso ser seu objeto de teste. Então, escolhemos
você. Eu preciso te dar uma lição, e Jungkook precisa experimentar uma
coisa.

— Você só pode estar brincando se acha que vou aceitar isso... — o moreno
resmungou, um tantinho irritadiço, porque, diferente de suas palavras, ele
sabia que aceitaria. Ele queria foder com os dois. E faria o que fosse
preciso para tê-los como mais uma de suas conquistas.

— Não há outro modo, Gyu... — foi o Jeon quem falou, com seu sorriso
matreiro habitual, que persistia moldando os lábios finos. — Sabe, Jimin é
um dominador muito bonzinho. Ele vai te dar um bom corretivo e você vai
gostar...

— Ele, tudo bem — o cara respondeu, para a surpresa de todos. — Mas


você, não. Você é submisso! Um bratzinho!

— E você também. — Jeon debochou, saindo de trás do Park para se pôr na


traseira de Mingyu, o encoxando. — Vamos lá, Helsing... Você sabe que
quer. Você quer nós dois. E nós dois queremos você.

— Não assim... — insistiu, teimoso, tentando manter seu orgulho.

— Bem, é uma pena, então. — Jimin declarou, se afastando do corpo maior.


— Eu e Jungkook estamos indo escolher uma sala de vidro pra brincar essa
noite. Caso mude de ideia, sabe onde nos encontrar... — E entrelaçou os
dedos nos do namorado, o puxando pra longe. Mas antes de dar às costas
totalmente ao de olhos dourados, ele sorriu de lado, com certo deboche, e
lançou: — Essa é uma oferta de uma vez só, Helsing. Ela não irá se repetir.
Então, pense bem se seu orgulho vale tanto assim. — E com uma
piscadinha, se retirou, puxando o ruivo consigo, e deixando pra trás um
Mingyu perturbado, apertando a garrafa de água gelada entre os dedos
magros.

Os alfas cortaram a multidão, até chegar ao pé da escadaria de mármore


coberta com tapete vermelho. Subiram os degraus com certa excitação, mas
a passos moderados, até que chegassem ao topo, no segundo andar da casa.

Jeon puxou o namorado para trás pela mão, de modo que chamasse sua
atenção e este se virasse para si. Ao fazê-lo o ex-tenente o fitou, atento:

— E agora, o que a gente faz? — indagou o ruivo. — E se ele não quiser?


Não fomos muito insistentes... — Fez um bico decepcionado. — Não é
melhor voltarmos lá pra baixo e tentarmos mais? Beija ele! De repente,
assim Mingyu fica mais atentado e...

Jimin sorriu, divertido, e puxou o namorado grandalhão pela cintura, unindo


seus corpos. E ao sentir o pênis semi desperto do lúpus roçando nos seu,
Jeon não resistiu a um pequeno suspiro.
— Sente como estamos? — o ex-militar indagou, naquela voz suave e
sedutora, que era totalmente automática quando entrava em seu estado
psicológico de total dominação. Fazia parte daquela sua persona. —
Helsing está exatamente como nós. Sedento. Aposto que as bolas doem por
dentro da cueca. Ele quer, Jungkook. E está na cara dele, que quando quer
alguma coisa, ele não se importa sobre quais meios o fará para conseguir.
Ele vai se render. Só nos resta aguardar...

— Oh. Mas e se ele demorar muito e a gente já tiver acabado?

— Não se preocupa. A gente começa devagar. — E então puxou o


namorado pela mão outra vez, indo em direção a uma das salas de vidro.

Jimin falou com dois seguranças que rodeavam o aquário escolhido,


avisando-os de que deixaria Jungkook arrumando o cômodo, enquanto ele
ia até a chapelaria buscar sua mala de acessórios. Demorou menos que dez
minutos, e o AlphaDome já estava de volta. Percebeu que já haviam
voeyeurs ao redor, observando o garoto forte de cabelos cereja lá dentro,
atrás das paredes de vidro, mudando os móveis de lugar — a cruz de santo
andré, as correntes presas ao teto, a cadeira de tortura sexual e o divã —,
arrumando tudo para que pudesse aplicar seus fetiches da maneira que
queria.

Não se fingiu de cego ao ver Hoseok e Yoongi no meio da pequena


multidão curiosa, pelo contrário, deu-lhes uma piscadinha, ao que estes o
devolveram expressões de questionamento nos rostos.

Jimin sorriu satisfeito, e avisou aos seguranças que se Helsing surgisse, era
o único com permissão para entrar.

Ele se colocou dentro do aquário e retirou o harness, antes de desabotoar a


camisa, botão por botão, até que o tecido estivesse no chão. Jungkook o
observou, sem saber muito o que fazer, mais ainda assim, maravilhado.
Adorava assistir ao corpo magro e de músculos definidos do lúpus se livrar
das roupas. Havia algo no modo como ele se movia, que deixava aquilo
tudo sensual demais. E ah, aquela maquiagem no abdome o deixava mais
forte e rígido.
Jimin observou a quantidade de pessoas a postos, do lado de fora da sala de
vidro. Ver o submisso do AlphaDome lá dentro os fizera se interessar pelo
aconteceria ali, de imediato. E agora, ver o próprio AlphaDome ali, os
trouxera de vez para os arredores.

Jimin sorriu de lado, adorando aquela atenção. Um de seus fetiches mais


brutais e constantes, era aquele: se exibir, ser assistido, aclamado e
admirado.

Ele mirou o submisso e ordenou, suave, mas intensamente:

— Tira tudo.

Tropeçando de leve, Jeon obedeceu, tirando peça por peça, até que estivesse
totalmente nu, como viera ao mundo. Ele respirou fundo e girou os olhos
pelas paredes de vidro, encontrando os olhares desejosos sobre sua figura
forte e esbelta... Especialmente em seu caralho semi ereto e depilado,
pesando entre as pernas grossas e firmes, desnudo, assim como a bunda
pálida e pequena, porém bem desenhada e redondinha.

Por um momento, ele se constrangeu, mas não durou sequer meio segundo.
Logo a seguir, a sensação de ser desejado lhe atingiu em cheio. Seu ego foi
amaciado e sentiu o pau endurecer um tanto mais, consideravelmente.

Ele buscou os olhos de Jimin, que o devolveu aprovação nos mirantes


pequenos.

— Ajoelhe-se — comandou.

Segurando um sorriso, Jeon caminhou até estar frente à frente com o lúpus,
e se por nos próprios joelhos, após deslizar suavemente até o chão. Seus
nervos formigavam numa ansiedade absolutamente elétrica. Estava sendo
invadido por uma libido absurda. Mal podia acreditar que fariam aquilo na
frente de tanta gente. Não conseguia parar de pensar na inveja que as
pessoas sentiriam dele... e do Park também. Ele sentia aqueles olhares.
Sabia que estava sendo desejado, de todas as formas. Se pudesse ouvir
aqueles pensamentos, sabia exatamente as coisas que escutaria. E aquilo
para si era afrodisíaco.
Ele encarou Jimin, de baixo, com um olhar rendido e submisso. Mas Jimin
estava olhando lá pra fora, enquanto um sorriso convencido pintava seu
rosto...

O menor abaixou o olhar para ele, com um sorriso muito presunçoso na


boca carnuda.

— Eu disse a você — foi o que falou, antes de levar as mãos até o pescoço
do namorado e destravar o fecho da coleira vermelha.

E assim que Jeon sentiu o peso da peça de couro e rebites abandonar seu
pescoço, franziu o cenho e, rapidamente olhou para trás, na direção da
entrada da sala de vidro...

Seus olhos encontraram a figura do segurança abrindo a portinhola e


permitindo a passagem de uma figura alta de braços fortes, portando uma
expressão resignada.

— Parabéns pela conquista, AlphaDome. — Kim mingyu declarou com


certo amargor, enquanto caminhava decidido até o centro da sala, onde o
casal estava, e se abaixar, até que seus joelhos encontrassem o chão ao lado
do Jeon e encará-lo com certa ternura. — Eu sou todo seu.

Helsing estava pronto para o abate.

21.615k de palavras, então precisei encerrar por aqui. Na próxima, cês já


sabem o que vai acontecer.

Respondam à pesquisa de público pros livros de INC no cap anterior, por


favor, nenês. É importando pra precificar o livro, ok?

Volto em breve.

NÃO ESQUEÇAM DA TAG:

#COBRASORRATEIRA
Table of Contents
Title Page
TRAILER + CAST 🃏
AVISOS DE CONTEÚDO
01| curious
02| about discipline
03| hotter than hell
04| why don't ü?
05| dress code
06| choker
07| alphadome
08| caught in despair
09| dominated
10| teach you
11| i wanna
12| a deal
13| primitive
14| bondage
15| purple pride
16| cat dealers
17| jimin's little baby
18| playing with fire
19| punishment
20| brat vs. brat
21| chastisement
22| freak on a leash
23| nothing's gonna hurt you, baby
24| overdose
25| destroyer
26| hellish munch
27| master of puppets
28| pity party
29| quicksand
30| house of cards
31| guilty
32| the other face of the snake
33| fullgas
34| pleasure comes from pain
35| eyes on fire
36| our catastrophe
37| one step ahead
38| 5 things i love about u
LIVRO DE INCANDESCENTE E EDITORA EUPHORIA
39| as if it's your first

Você também pode gostar