Desejo - Isa Feijo

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Isa Feijó

Brasil 2023
Copyright© Isa Feijó / Editora Calíope
Revisão: Antony Isidoro
Assistência e Capa: Jaqueline Brito
Diagramação: Isa Feijó
Todos os direitos reservados

É proibida a reprodução de qualquer parte desta obra, por qualquer


meio, sem a autorização da autora ou editora. Também é proibida a
distribuição desta obra por meio de PDF ou qualquer outra forma, que não
tenha sido escolhida pela autora ou editora do livro. Violação dos direitos
autorais é crime estabelecido pela lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184
do Código Penal.
Esta é uma obra de ficção, tanto a história quanto os nomes são de
criação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas ou
acontecimentos da vida real, são meras coincidências.
Selos Calíope
Para Naiane
Porque sempre acreditou e cobrou por esse livro
Quando a vida inventou o desejo
O desejo, num outro desejo, se transformou
O desejo não para, o desejo não cansa
É o moto contínuo que a vida inventou
O amor é movido a desejo
Essa vida cigana, o caminhador
O desejo não para, o desejo não cansa
É o moto contínuo que a vida inventou

Desejo
Alceu Valença
Vários anos atrás

Dimitri estava em seu quarto brincando com a coleção de carrinhos


que zio Sergio tinha dado de presente. Ele estava de castigo de novo porque
sua mãe se irritou com seu desempenho no treino, disse que o filhote não
levava os estudos a sério e só queria brincar.
Mas seu papa estava chegando da viagem que tinha feito para a
Noruega com Yelena, sua irmãzinha. Ele queria ter ido junto, mas sua
mamma o fez ficar. Seu papa iria resolver alguma coisa do clã Barkov, e
Dimitri tinha que ficar estudando. Pelo menos ele sabia que quando o papa
chegasse, ele estaria livre do castigo.
Aliás, ele deveria parar de chamar papa e mamma assim, eles eram
otets e mat’. Não era para ficar falando em italiano, ele não era um. Era
russo e deveria usar sua língua. Porém papa achava fofo e gostava de ser
chamado assim, então ele achava que tudo ficaria bem.
A porta do seu quarto se abriu, e ele sorriu, porque era o zio Sergio,
seu tio favorito. Até mais que o tio Vasily, irmão de sua mãe. Mas o filhote
estranhou, zio não sorria aberto e alegre como sempre, igual o sorriso de
Vincenzo, seu melhor amigo.
— Ciao, mio piccolo — o alfa adulto falou, aproximando-se do
filhote e se sentando ao seu lado.
— Ciao. — Dimitri se orgulhava muito por falar italiano muito bem.
Ele também estava aprendendo francês, por causa da zia Gabrielle, mamma
de Aaron, seu outro melhor amigo. — Cadê Vincenzo?
— Ele está no hotel com meu irmão, Peppe — o adulto falava
calmamente, como se estivesse tomando cuidado com as palavras que diria.
— Vim te buscar para encontrar com ele.
— Sim! — Dimitri sorriu animado. — Mas mamma me deixou de
castigo, ela vai deixar?
— Mia Lucia está falando com ela, vai ficar tudo bem — garantiu.
— Mas eu também estava pensando, que tal você ir para Roma conosco e
ficar um tempo lá? Gabrielle também levará Aaron, vocês podem passar as
próximas semanas brincando e estudando lá mesmo.
— Vou mudar de escola? — Dimitri perguntou, confuso.
— Só por um tempo, as coisas vão ficar complicadas, e sua mãe terá
muito com o que lidar. Por isso, vou te levar para morar comigo por esse
tempo, tudo bem?
— Claro. — O filhote estava confuso, mas ele amava ficar com os
Ferraro, então estava tudo bem. — Podemos esperar papa chegar? Eu quero
me despedir do papa e da Yelena.
Os olhos de Sergio se encheram de lágrimas, e ele puxou Dimitri
para seus braços, mantendo-o em um abraço forte e protetor.
— Mio piccolo, eu te juro, não importa o que aconteça, estarei aqui
por você. Você nasceu Barkov, mas tem o coração dos Ferraro. Eu te amo
como um dos meus filhos, porque para mim você é.
Dimitri agradeceu, mesmo sem entender. Ele amava os Ferraro e
sempre se sentia em casa quando estava com eles. Apesar de amar muito
sua mãe, ela era meio distante e ele percebia que ela dava muito mais
carinho para Yelena, do que para o filho mais velho. Seu papa compensava
sendo o melhor papa do mundo, mas zio Sergio era o segundo melhor.
Eles fizeram uma mala de viagem. Enquanto Dimitri colocava seus
brinquedos e pensava em como levaria seu videogame, Sergio separava
muitas roupas, já que ele sabia que o filhote ficaria com ele por mais do que
algumas semanas.
Dimitri nem questionou o tamanho da mala e a quantidade de coisas
que estavam levando. Ele só queria chegar ao hotel rápido para encontrar
Vincenzo. Estava com saudades, e os dois brincariam muito. O amigo
italiano tinha ganhado um skate no último natal, e esperava que tivesse
trazido.
Porém o filhote tomou um susto quando saiu do quarto e viu a
enorme agitação que estava sua casa. Tinha muito barulho, e muitas pessoas
corriam de um lado para o outro. Ele iria perguntar o que estava
acontecendo, mas ouviu um grito tão assustador, que gelou sua alma.
Era sua mãe que estava gritando e chorando, como se sentisse a pior
dor do mundo. Dimitri correu até seu quarto, ignorando quando Sergio e
outras pessoas o chamaram. Ele viu Irina caída de joelhos no chão,
chorando copiosamente, a ponto de soluçar e não conseguir falar.
— Mamma — ele a chamou do corredor, indo em sua direção.
Irina levantou os olhos para o filhote, mas o olhar fez Dimitri parar
no lugar. Por que ela o olhava com raiva e dor? O que ele tinha feito para
sua mãe olhá-lo como se o odiasse? A alfa se levantou e bateu à porta do
quarto, deixando o filhote parado do lado de fora.
— Venha — Sergio disse carinhosamente, pegando em sua mão e o
levando embora daquela casa.
Quando chegou ao hotel foi que Dimitri soube o motivo da agitação
e do choro de sua mãe. Papa e Yelena nunca mais voltariam para casa.
Atualmente

“Inspira... Um... Dois... Três... Expira”


Dimitri estava sentado na poltrona da sala de embarque, o
casamento de Edward e Luc Jones-Knight tinha sido muito divertido e a
festa havia durado dias, mas agora eles precisavam retornar para Roma a
tempo de passarem a virada de ano com a família Ferraro, ou Lucia Ferraro
iria matá-los.
— Tudo bem? — Vincenzo perguntou, sentando-se ao lado do
amigo.
— Sim, só fazendo o exercício de respiração — respondeu, e o
amigo não precisou perguntar nada.
Sempre que estava prestes a entrar em um avião, Dimitri precisava
fazer seus exercícios para não ter uma crise de ansiedade. Então, apesar de
todas as brincadeiras e provocações, Vincenzo se sentava com o amigo e
fazia os exercícios junto, até que ele se acalmasse e depois puxava algum
assunto aleatório, apenas para distraí-lo.
— De novo? — Dimitri perguntou, tomando um gole de sua água.
— Sim. — O italiano suspirou. — Quem diria que teriam tantos
jogos do Roma contra Juventus? Então já se prepare.
A eterna rivalidade entre Roma e Juventus dentro da família Ferraro
era famosa. Sergio, um torcedor fanático pelo Roma; Lucia, uma torcedora
fervorosa do Juventus, aquilo sempre acabava em briga, e quem estivesse
no meio se ferrava.
— Peguei café para vocês — Greg disse, chegando perto e se
sentando ao lado do marido. — Eles estão liberando a pista.
— Papa — Damiano disse, chegando até o pai —, mamma deu
chocolate para a gente!
Dimitri observou a família, Vincenzo e Greg se amavam, e era
nítido apenas pelo jeito que se olhavam. Eles tinham dois filhos, Annelise e
Damiano, crianças que o russo amava como seus filhotes. Nunca sentira
inveja, nem deles nem do outro amigo, a última parte do “Trio do Caos”
como eram chamados desde filhotes.
Aaron e Luc Lions tinham três filhos. Sophie, Chloé e Raoul, o
último sendo seu afilhado. Ele vivia no meio das famílias felizes e era grato
por isso, nunca havia se sentido de fora e, se só pensasse em se afastar um
pouco, Vincenzo e Aaron apareceriam em sua casa e o arrastariam de volta,
coisa que, literalmente, já tinha acontecido. Ele tinha um terno rasgado e
passou semanas com arranhões nas costas por ter sido arrastado por dois
quarteirões, como recordação.
Mas, pela primeira vez em toda a sua vida, seu lobo sentia falta de
ter alguém, e isso o incomodava um pouco.
Estavam na área privativa do aeroporto, onde os ricos esperavam
para embarcar em seus jatinhos. Annelise estava fazendo uma
videochamada com uma amiguinha que tinha feito no casamento que eles
foram, Damiano contava alguma coisa para seus pais, e Dimitri olhou em
volta, distraído.
Seu lobo estava bem ansioso, diferente de todas as vezes que ele
tinha de voar, ele parecia impaciente, talvez irritado. O alfa bebeu mais um
gole do seu café e, antes mesmo de a porta ser aberta e de ouvir as vozes, o
cheiro de cacau e maracujá chegou às suas narinas.
O aroma era delicioso, como de um doce saboroso, mas sem ser
adocicado demais. Na verdade, todas as nuances do perfume eram perfeitas
e fizeram o alfa olhar em volta, em busca da origem daquele cheiro.
Cinco comissários de bordo passaram por trás deles. Três
conversavam em uma língua que ele conseguiu reconhecer como português,
apesar de não entender muito bem
— O que foi, stronzo? Vai beber o café ou vai derrubar no seu colo?
— Vincenzo perguntou divertido. Realmente, Dimitri tinha ficado
paralisado segurando o copo a centímetros da própria boca.
— Eu... — Ele olhou em volta, tentando achar o grupo de
comissários de bordo, mas eles estavam entrando na área de funcionários.
— Você o quê?
— Meu soulmate...
— Onde? — Vincenzo e Greg olharam em volta, mas havia poucas
pessoas ao redor.
— Aqueles comissários que passaram, um deles fala português, ele
é meu soulmate.
— Eu vou tentar pegar informações — Greg disse. O ômega foi até
o balcão de atendimento, e Dimitri não sabia o que fazer.
— Como está? — o italiano perguntou.
— Bem, eu acho. Não esperava encontrar meu soulmate, pelo
menos não assim.
— Essas coisas sempre acontecem quando menos se espera. Eu
encontrei Greg em uma cafeteria, nos reencontramos logo depois por
coincidência. Mas até que você está calmo. Se fosse Aaron, já teria
invadido e trazido o soulmate carregado.
— Aaron encontrou Luc quando ele estava estagiando no
restaurante que frequentava, esperou que levassem o chef até a mesa dele e
só depois fez alguma coisa — Dimitri o lembrou.
— Não, ele ordenou que levassem o pobre ômega até sua mesa,
depois o encontrou em um bar e o sequestrou. E foi assim que o pobre Luc
entregou a alma para um demônio — o italiano terminou a fala com pesar.
— Ok, além do nosso voo, tem mais dois programados para sair
daqui a pouco. Então aqueles comissários vão atender essas três viagens —
Greg contava a informação. — Eu perguntei sobre o nosso. Quem
normalmente atende as nossas viagens são as mesmas betas, mas elas estão
de férias, então será um beta e um ômega. O atendente me disse que há dois
brasileiros e um português entre os comissários e que um dos comissários
que irá viajar conosco é brasileiro, então tem chances de ser ele.
— Você descobriu tudo isso nesse pouco tempo? — Dimitri
perguntou, surpreso.
— Eu sei, também estou orgulhoso — Vincenzo disse sorrindo,
abraçando o esposo.
— Esperamos que seu soulmate seja brasileiro, porque aí tem
chances de ele viajar conosco. Mas se for português teremos problemas
para encontrá-lo.
— O sotaque não é português, acho que ele é brasileiro — o russo
disse, pensativo.
— Vamos descobrir. — Vincenzo piscou para o amigo e foi para o
atendimento, deixando Dimitri desesperado.
— Ele não vai causar problemas — Greg tentou consolar o amigo.
— Não muitos, pelo menos.
— Informações sobre a tripulação que vai servi-los? — o atendente
perguntou, confuso.
— Sim, quero conhecê-los — o italiano respondeu.
— Perdão, senhor Ferraro, mas houve algum problema?
— Só quero conversar com eles antes de embarcarmos. Eu tenho
filhotes, preciso garantir que as necessidades de todos serão atendidas,
porque eles têm necessidades especiais. Aquela ali — ele disse, apontando
para a filha — é problemática. Sei que parece normal, mas precisa ter uma
paciência enorme com ela. Até já estou procurando uma instituição para
“crianças especiais”.
Annelise olhou revoltada para o pai e Greg colocou a mão no ombro
da filha a consolando.
— Certo, farei isso — o atendente respondeu, receoso, ainda
olhando de canto para Annelise. Ele falou um pouco ao telefone e depois se
virou de volta para Vincenzo. — Bianchi e Novaes estão vindo, eles são os
comissários que os acompanharão
— Ótimo. — Vincenzo sorriu satisfeito.
O coração de Dimitri bateu forte em seu peito. Seu lobo uivava com
a expectativa. Se seu soulmate não fosse um deles, teria que aderir ao Plano
B: invadir o local e não parar de procurar até encontrá-lo.
Revirou os olhos internamente, esse plano tinha o “selo Aaron
Lions” de aprovação.
Minutos depois a porta que indicava área restrita para funcionários
foi aberta e o cheiro de cacau e maracujá acertou Dimitri em cheio. Um beta
e um ômega andavam até o balcão tranquilamente, conversavam baixinho e
riram de algo.
Dimitri sabia que havia duas pessoas ali, mas nem chegou a olhar
para o outro, pois seus olhos estavam presos no ômega. Ele tinha cabelos
castanhos escuros levemente ondulados, sua pele era bronzeada e seus
lábios pareciam desenhados de tão perfeitos. Estava com o uniforme
completo da companhia aérea, que era um conjunto de terno escuro, mas
também usava óculos com armação vermelha, fazendo um contraste bonito.
O ômega conversou rapidamente com o atendente, que indicou
Vincenzo com a cabeça. Não foi preciso que o russo contasse para o italiano
qual era seu soulmate, já que Dimitri não conseguia parar de olhar para o
ômega.
— Olá, sou Cauê Novaes, e este é Edoardo Bianchi — o ômega
disse, estendendo a mão para Vincenzo, depois para Greg —, seremos os
comissários de vocês hoje.
— Perfetto! — Vincenzo exclamou feliz, apertando a mão do
ômega. — Aperto de mão forte, gosto disso.
— Vincenzo, por Zeus. — Greg suspirou. — Perdão pelo incômodo,
só queríamos conhecê-los, já que sempre voamos com as mesmas
comissárias. Sou Gregory, mas podem me chamar de Greg. Este é Dimitri
Barkov, estará conosco hoje.
— Olá — Dimitri disse com a voz um pouco rouca, estendendo a
mão para Cauê, que piscou algumas vezes antes de aceitar. Não foi
intencional, o alfa não queria dar em cima dele, não naquele momento. Só
estava difícil conter o lobo.
— Oi, er, olá, prazer em conhecê-lo — Cauê respondeu, aceitando a
mão estendida e o cumprimentando.
Dimitri não foi mal-educado, cumprimentou o outro que
acompanhava Cauê. Ele parecia tímido, mas tinha aquele brilho nos olhos
de interesse. Sem falsa modéstia, o russo sabia que, por sua aparência, ser
um alfa lúpus e seu status como líder da tradicional família Barkov, atraía
muitas pessoas. Desde a adolescência era impossível o “Trio do Caos” ir a
qualquer lugar sem chamar atenção ou ter alguém dando em cima deles,
colocando os números de telefone em seus bolsos ou fazendo “promessas
sujas”.
Chegava a ser cansativo porque, quando queria apenas se divertir,
era só ir para um bar qualquer e teria opções a vontade. Mas não dava para
passar disso, porque nunca tinha como saber quem estava interessado em
influência e dinheiro. Aquele comissário poderia ser uma pessoa
maravilhosa ou só mais um interesseiro.
— Querem nos passar alguma instrução específica? — Cauê
perguntou, o que fez Dimitri voltar sua atenção a ele.
— Claro, aquela ali é louca. Não falamos muito disso, mas ela é.
Cuidado com ela — Vincenzo indicou Annelise.
— Papa! — a alfinha exclamou, revoltada.
— O outro ali é viciado em doces, mas também não é confiável. Se
derem mole, ele desmaia o piloto e toma o comando do avião — Vincenzo
continuou falando, dessa vez apontando para Damiano, que sorriu
concordando.
— Tudo bem, ficaremos de olho — Cauê respondeu, segurando a
risada, já seu colega parecia confuso. — Pedirei um estoque extra de
chocolates para você, tudo bem?
— Sì! — Damiano concordou, gritando animado. — Gostei de você.
— Então vamos fazer um acordo? Você não desmaia o piloto e não
sequestra o avião, então separo a maior fatia de bolo de chocolate, cheio de
cobertura, só para você. Pode ser?
— Com raspas de chocolate? — Damiano negociou.
— Não sei se tem, mas, se não tiver, posso abrir um chocolate e
colocar em cima.
— Feito. — O pequeno alfa estendeu a mão para Cauê, que a
apertou, selando o acordo.
— Se você se comportar durante o voo, no final eu te dou um doce
típico do meu país, tenho certeza de que você vai gostar.
— Qual? — Os olhos do pequeno brilharam.
— Será surpresa, então tem que se comportar.
— Eu vou!
— Também vou ganhar? — Annelise perguntou, interessada.
— Claro. — Cauê sorriu. — Mas seu pai disse que eu deveria ficar
de olho em você, preciso mesmo?
— Ignore o papa, zio Gigio o chama stupido cane — a alfinha
respondeu.
— Cachorro estupido? — Cauê perguntou, confuso.
— Sim, zio Aaron é Cane Pazzo, padrino é Cane Freddo, mas o
chamam mais de “husky siberiano”.
— Mia cara, já não deu muita informação sobre nós? — Greg fez
carinho na filha.
— Não é como se ele não fosse descobrir em breve. — Ela deu de
ombros. — Ele é o padrino — Anne indicou Dimitri, que estava assistindo
à cena.
— Por que cão frio? — Cauê perguntou sorrindo.
— Nasci em São Petersburgo, mas, em minha defesa, nasci no
verão. Em agosto, chega aos 20ºC tranquilamente.
— Por favor, onde eu nasci 20ºC é quase uma nevasca. — O ômega
riu.
— De onde você é? — o russo perguntou. Seu lobo estava adorando
ouvir a voz de seu soulmate.
Cauê tinha um pouco de sotaque, mesmo com a pronúncia em
italiano e inglês sendo perfeita. Era tão gostoso ouvi-lo falando, que ele
poderia passar horas ali, conversando com o ômega.
— Longa história, mas, para resumir, sou do Ceará, um estado do
Brasil.
— Brasil, iremos em breve para lá — Vincenzo comentou.
— Tenho certeza de que irão adorar, mas não fiquem só no Rio de
Janeiro ou São Paulo. Meu país tem outros lugares muito bonitos.
— Algum lugar para recomendar? — o russo perguntou.
— O Nordeste em si é lindo, mas sempre vou puxar saco para meu
estado. Além de todas as belezas naturais e praias paradisíacas, temos um
dos maiores parques aquáticos da américa latina. — Cauê deu de ombros.
— Papa, podemos ir? — Damiano perguntou animado.
— Olha o problema que me arrumou. — O lúpus italiano riu. — Se
eu tiver que levá-lo, você vai junto.
— Claro, pagando as despesas, conte comigo. — O ômega riu, e
Greg negou com a cabeça. Pobre Cauê, achando que tudo aquilo era
brincadeira.
— Cane Freddo paga. — Vincenzo riu alto, batendo no ombro do
amigo, que sorria, concordando.
— Cauê, precisamos ir — Edoardo falou pela primeira vez. Ainda
olhava de canto para os dois alfas lúpus, não tinha como tirar os olhos
deles.
Mas Vincenzo estava com a mão na cintura do marido o tempo todo,
beijando seu rosto e pescoço. Ele não seria louco de dar em cima de um
lúpus casado, todos sabiam o quão loucos eles eram e não tinha ideia do que
aquele ômega poderia fazer com ele.
— Claro, vejo os senhores em breve — o brasileiro cumprimentou
os lúpus, trocando rápidos olhares com o russo, e voltou para a área de
funcionários.
Podia ser loucura, mas sentia os olhares daquele lúpus o seguindo
até que passou pela porta e o contato visual foi interrompido. Era óbvio que
ele reconhecia aquele sobrenome, não tinha como ser coincidência um alfa
lúpus russo com sobrenome Barkov não ser ligado a uma das mais
exclusivas e caras redes de hotel do mundo.
Os hotéis Barkov não eram encontrados em cidades comuns, nada
de Nova York, Londres, Tokio ou Sidney. Eles ficavam em lugares exóticos,
Camboja, Patagonia, Islândia, Malásia e outros. Uma vez ficou hospedado
em um desses hotéis, e ainda bem que era a companhia aérea que estava
pagando, porque, mesmo sendo o quarto mais barato e dividindo com um
colega, aquilo era luxuoso.
O chocolate que deixavam como cortesia no travesseiro era suíço, e
o restaurante do hotel era uma pequena filial do “Maison de Loup”, uma
cadeia de restaurantes renomada que tinha filiais em grandes cidades do
mundo. Ele nunca agradeceu tanto por um erro que o fez ficar em uma
cidade mais do que deveria. Como estava tendo um grande evento em
Reykjavik, não tinha mais hotéis disponíveis, o que obrigou a companhia
aérea a colocar a tripulação no hotel Barkov. Aquele final de semana, com
certeza, entrou nos melhores da sua vida.
— Não acredito que vamos trabalhar com dois lúpus! — Edoardo
disse do lado de Cauê.
— Não se anime, o voo dura cerca de duas horas — o brasileiro o
lembrou.
— Os dois são lindos. — Obviamente o outro ignorou.
Cauê suspirou enquanto terminava a papelada e se dirigiam para o
jatinho particular dos Ferraro. Era por isso que ele gostava de trabalhar com
Juliette e Chelsea, suas duas melhores amigas. Mas o chefe deles precisou o
escalar para substituir as duas betas que sempre trabalhavam com os
Ferraro. Era para o brasileiro estar de folga e encontrar
— Não acha? — Edoardo perguntou quando eles entraram no
jatinho, só então Cauê percebeu que estava ignorando o outro. Não é que
Edoardo fosse uma pessoa ruim, só era um pouco chato às vezes.
— Não sei, o que você acha? — Era sua tática para continuar uma
conversa da qual não tinha feito parte.
— Eu acho que sim, ele me olhou daquele jeito. — O outro sorriu
malicioso. Eles estavam verificando para saber se tudo estava certo para o
início da viagem.
O jatinho tinha dois conjuntos de poltronas duplas viradas uma de
frente para a outra, com um espaço para montar a mesa entre eles, e um sofá
do outro lado do corredor. Seguindo havia mais um conjunto de poltronas,
igual ao primeiro, e uma mesa com TV em cima. Pelo corredor ficavam a
galley, onde os comissários preparavam as refeições, o banheiro e dois
pequenos quartos.
Cauê até ficou curioso para ver os quartos, mas Edoardo já tinha
liberado, então não tinha por que fuçar. A família já estava entrando, e eles
foram recepcioná-los. Todos estavam acomodados, e eles só estavam
aguardando a liberação da torre para iniciar o voo.
O brasileiro olhou para o corredor, verificando uma última vez se
tudo estava certo, quando viu a família Ferraro acomodada em um dos
conjuntos de poltronas, mas o russo estava no outro, sozinho.
Ele não saberia explicar o motivo, mas vê-lo só e com aquela
expressão séria, quase perdida, fez seu coração se apertar. Dimitri respirava
fundo, olhando pela janela, sua mão apertava o braço da poltrona, e Cauê
entendeu. Debateu-se sobre o que fazer, poderia levar um fora, afinal não
dava para confiar muito em gente rica, mas seu coração mole venceu.
Enquanto andava pelo corredor, amaldiçoou o coração mole herdado
da sua mãe. Um dia ainda iria entrar em alguma situação da qual não teria
como escapar por culpa dele.
— Você tem medo? — Dimitri ouviu a voz que fazia seu lobo se
acalmar, mas seu coração estava disparado de um jeito, que talvez nem a
voz de seu soulmate o tranquilizasse. Ele abriu os olhos, e Cauê estava em
sua frente, olhando-o preocupado.
— Não, já passa.
— Tudo bem sentir medo, esse é o meu trabalho, mas sempre sinto
um gelo no estômago quando o avião está prestes a levantar voo ou pousar.
— Não precisa mentir para me acalmar — o russo tentou brincar,
mas estava contando suas respirações.
— Posso me sentar aqui? — Cauê indicou a poltrona vazia ao lado
de Dimitri. O lúpus apenas balançou a cabeça confirmando. — Sempre
brinquei com minha mãe, porque qualquer coisa ela já está orando para
Zeus. Mas era só me sentar no meu assento e prender o cinto, que já estava
“Senhor Zeus, tu é o senhor dos raios, o senhor do Olimpo, guia os meus
passos...” — falou dramaticamente, sentando-se ao lado do russo, que
sorriu.
— Não sou de rezar muito.
— Eu também não, nem acredito tanto assim em Zeus, mas, já que
estou no território dele, para que arriscar? — O ômega deu de ombros. —
Com o tempo, aprendi algumas técnicas que me ajudaram a lidar com o
medo.
— Como o quê? — Sua respiração ainda estava falhando, e seu
coração, disparado, mas seu lobo estava mais calmo.
— Primeiro, vamos fechar a janela. — O comissário de bordo se
inclinou por cima de Dimitri e fechou a janela. O cheiro de cacau e
maracujá era delicioso. O lúpus não se mexeu, mas inalou um pouco mais
forte, ele não precisava mais de ar, apenas do aroma do seu soulmate. — Eu
também achava que, se ficasse olhando para fora, me acalmaria mais
rápido. Mas nunca me ajudou, então se concentra em algo aqui dentro. O
que nos leva à segunda coisa.
— Qual?
— Quer segurar minha mão? — Cauê estendeu a mão Dimitri. —
Você está tendo uma crise de ansiedade, sei quanto é assustador. Segurar
minha mão não vai fazer o medo passar, mas vai te lembrar que você não
está sozinho. Estou aqui com você.
As palavras e o sorriso o acertaram em cheio.
Ele não estava sozinho.
Cauê estava com ele.
— Tudo bem — Dimitri respondeu, segurando a mão de seu
soulmate.
— Posso ficar aqui até brilhar o aviso que podemos desafivelar os
cintos e eu ter que parar de fingir que não tenho trabalho a fazer?
— Pode. — O russo riu do jeito engraçado do ômega. Mas ele sabia
que Cauê havia colocado como se ele estivesse pedindo, e não como se
fosse Dimitri quem precisava daquilo.
O avião estava andando pela pista, quanto mais rápido, maior ficava
aquela pressão no seu peito. Normalmente era muito bom em esconder o
que sentia, mas percebeu que naquele momento não precisava fingir, estava
tudo bem ter medo.
— Quando estou nervoso, começo a cantar em português, porque
nessas horas esqueço que falo inglês. Não se assuste.
— Tudo bem. — Dimitri respirou fundo, o avião estava levantando
voo. Quando levantava e quando pousava eram as piores partes. Claro, não
contando as turbulências.
— Na bruma leve das paixões que vêm de dentro. Tu vens chegando
pra brincar no meu quintal. No teu cavalo. Peito nu, cabelo ao vento. E o
sol quarando nossas roupas no varal — Cauê cantava, mas, mesmo que
Dimitri não entendesse uma palavra, já que era em português do Brasil, ele
prestou atenção em cada uma delas. — Tu vens, tu vens. Eu já escuto os
teus sinais.
— Parece ser uma música bonita — o russo comentou.
— Eu gosto muito dela, se chama Anunciação. — O ômega sorriu.
— Do que fala?
— Tem várias interpretações, acho que cada um sente de um jeito.
— O comissário deu de ombros. O alfa notou que ainda estavam de mãos
dadas, mas não comentou nada.
— Qual a sua interpretação?
— Acho que é sobre saber que encontrou algo muito bom na sua
vida, que tudo vai mudar para melhor e estar ansioso para isso.
— Gosto dessa interpretação.
— Gosta? — O ômega riu. — Você nem conhece a música.
— Mas te ouvi cantando, e isso me convenceu.
— Você fala algo em português? — Cauê sorria.
— Não, mas pretendo aprender. Aprendo rápido.
— Um russo falando português? — o provocou.
— No sé hablar, pero estoy listo para aprender — o alfa respondeu,
sorrindo de canto.
— Muy bien, estoy impresionado. — O ômega sorriu de volta.
— Tô com fome! — Damiano exclamou no outro conjunto de
poltronas.
— Não está, não — Vincenzo disse alto.
— Mas, papa...
— Não está com fome, ninguém está com fome! — o alfa falou do
seu assento, então levantou a cabeça o suficiente para enxergar Dimitri e
Cauê. — Ninguém está com fome.
— Isso foi um pouco assustador. — Cauê riu. — Tenho que voltar
ao trabalho.
— Entendo, obrigado por... você sabe.
— Obrigado por me ajudar a matar tempo de trabalho. Já volto com
seu café, signore Barkov. — O ômega piscou antes de sair de perto.
Dimitri engoliu em seco, “signore Barkov” ficou ecoando na sua
mente. Aquele ômega não tinha a menor ideia de quem estava provocando.
— E aí? — Vincenzo perguntou, sentando-se na frente do amigo,
mexendo as sobrancelhas.
— Por que vou falar, se tenho certeza de que escutou tudo?
— Escutei, sim, inclusive, seu coraçãozinho disparado se acalmando
enquanto ele cantava. — O italiano sorria. — Como está se sentindo?
— Bem, um pouco confuso, mas bem.
— Ele te faz bem, já gosto dele — Vincenzo falou sincero. — Ele
também parece forte, não abaixa os olhos quando fala conosco nem fica
pedindo desculpas. E gosta de provocar, muito importante isso.
— Já o analisou tanto assim? — Dimitri zombou, mas concordava
com tudo.
— O que acha que Greg e eu fizemos até agora? Estávamos
fofocando sobre seu ômega.
— Claro, porque vocês não têm suas próprias vidas nem seus
filhotes para cuidar. Não é?
— A sua é mais interessante no momento. — Vincenzo deu de
ombros, mas depois sorriu provocativo. — Signore Barkov?
— Não começa — o russo avisou.
— Vi no seu olhar, ele ativou aquela chavinha da loucura na sua
cabeça, não é? — O italiano riu.
— Por que ainda tento conversar com você?
— Porque só existem duas pessoas no mundo que te entendem de
verdade, e uma delas é um psicopata frio e perigoso, a outra sou eu. E,
também, sou o único disponível. Agora fala.
— Sim, meu lobo o quer muito, deixá-lo sair de perto de mim foi
quase doloroso. E meu lado dominador o quer tanto, que também doí. —
Dimitri respirou fundo. — Minha razão diz para ir com calma, mas meu
lobo parece que nem sabia que essa palavra existe até agora.
— Estou com seu lobo. Só não digo para levá-lo para um dos
quartos porque um é dos meus filhotes, e o outro é meu, não quero seus
fluidos corporais na minha cama. Porém, se precisar, levo Damiano e Lise
para o quarto comigo e com Greg. Colocamos algum filme bem alto, e você
e seu ômega se divertem no sofá. Ele é bem confortável para isso, não tanto
quanto uma cama, mas serve.
— Como você...? Que droga, nunca mais vou me sentar naquele
sofá. — Dimitri fez cara de nojo.
— Se nunca mais vai encostar em algum lugar em que transei com o
meu marido, tenho péssimas notícias para você. Melhor não pôr os pés em
nenhuma propriedade nossa. Temos dez anos de relacionamento e muita
criatividade.
— O dia em que encontrei meu soulmate era para ser um dos dias
mais felizes da minha vida, não me traumatize assim — o russo pediu,
fazendo o outro rir.
— Posso contar para Cane Pazzo ou quer adiar a desgraça que irá
acontecer na sua vida quando ele descobrir e vier para cá se vingar?
— Adiar o máximo que posso. — Dimitri respirou fundo. Aaron era
uma pessoa rancorosa, ele se vingaria, e com razão.
Só restava se preparar.

— Não acredito que você fez isso — Edoardo reclamou quando


estavam na galley do avião, deixando o café pronto.
— Fiz o quê? — Cauê perguntou, mas não estava se importando
muito. Como suspeitava, o bolo de chocolate não tinha raspas, então abriu
algumas embalagens de chocolates e estava os quebrando em pedaços.
— Você sabe do que estou falando.
— Não tenho a menor ideia nem sei se quero saber. — O ômega
colocou os chocolates picados em cima de dois pedaços de bolo. Depois
pensou e resolveu fazer mais um para a mãe deles.
— Se jogou em cima daquele alfa bonitão — o outro comissário
reclamou.
— Ah, isso. É, eu fiz.
— Então admite?
— Não foi bem assim, mas se você quer colocar desse jeito, ok. Não
vou discutir.
— Cauê!
— Edoardo, esse é um voo curto, só vim para ajudar, porque deveria
estar de folga. Não vou perder meu tempo discutindo com você. Eu
realmente o ajudei, entendo o que ele estava passando.
— Então faria o mesmo pelos filhotes? — O outro o olhou com
deboche, e Cauê respirou fundo, era um voo curto, precisava focar nisso.
— Sim, faria, como já fiz em outros voos. Mas os filhotes estavam
muito bem acomodados com os pais. Por isso, fui verificar o “alfa bonitão”,
que estava sozinho.
— Não é justo, você quebrou a regra.
— Mas é um idiota mesmo — Cauê murmurou em português. —
Que regra?
— Regra da amizade, eu vi primeiro, eu deveria tentar primeiro.
— Que merda de regra é essa?
— Você sabe, todo mundo sabe.
— Sei, não. E desde quando somos amigos?
— Cauê!
— Você nem teve coragem de falar com eles no aeroporto e agora
está vindo com história para cima de mim?
— Estava sondando o terreno — falou como se explicasse tudo, mas
só fez o brasileiro revirar os olhos. — O fato é que eu vi primeiro, então eu
deveria ficar com ele.
— A autoestima do branco europeu é impressionante — Cauê
zombou.
— O quê?
— Digamos que você realmente o tenha visto primeiro. O que tem?
Você não fez nada, nem tentou falar com ele. E quem disse que ele iria
querer ficar com você?
— Você sabe.
— Não sei, não. — O ômega cruzou os braços e encarou o colega.
— Você acha que ele se interessaria por você e não por mim, é isso? — Eles
se encaravam, Cauê estava sério e Edoardo um pouco sem graça.
— Latinos são todos dramáticos. — O beta bufou.
— Ah, é? Podemos até ser, mas sabe o que não somos? Trouxas.
Também não ficamos nesses joguinhos estúpidos de ensino fundamental. —
O brasileiro se virou e pegou os pedaços de bolo. — Eu não dei em cima
dele, mas agora vou.
O ômega saiu da galley e levou os pedaços de bolo para Damiano,
Annelise e Greg. Os filhotes ficaram muito animados e lhe agradeceram
muito. Damiano bateu palmas quando viu o chocolate por cima do bolo,
Greg agradeceu ao comissário e disse que realmente precisava.
Vincenzo e Dimitri sorriam um para o outro, era óbvio que tinham
escutado a conversa dos comissários de bordo, mesmo que eles tivessem
sussurrado para não chamar a atenção de ninguém.
— Se ele cumprir o que falou, já tem todo o meu apoio — Vincenzo
murmurou sorrindo, e Dimitri riu.
— Seus cafés. — Edoardo entregou as xícaras para os lúpus. Apesar
de agradecer educadamente, os olhos de Dimitri estavam em Cauê, que se
aproximava deles. — Espero que gostem.
— Nada como um café italiano — Vincenzo disse, saboreando o
líquido.
— Concordo que são bons, mas prefiro os de casa — Cauê
comentou, chamando a atenção de todos para si. — Meu país é um dos
maiores produtores de café do mundo, sabemos o que estamos fazendo.
— Sempre ouvi que o café brasileiro é um dos melhores do mundo
— Dimitri respondeu, então o brasileiro se virou para ele, sorrindo de canto.
— Italiano é bom, não tiro o mérito, mas brasileiro sempre será
melhor. Deveria provar. — O ômega sorriu provocador e voltou para a
galley.
— E o meu doce? — Damiano cobrou quando desembarcaram.
— Primeiro preciso saber se é alérgico a amendoim.
— Não, nenhum deles — Greg respondeu, os dois filhotes
esperavam com expectativa.
— Então peguem, se chama paçoquinha, é um doce de amendoim
bem típico do meu país.
— Parece estranho — Damiano disse olhando desconfiado para o
doce, que parecia uma rolha.
— Cheira bem. — Annelise deu de ombros. Mesmo que o doce se
esfarelasse um pouco, ela deu uma mordida. Imediatamente seus olhos se
arregalaram, e ela sorriu. — Isso é muito bom! Tem mais?
— Eu quero! — o irmão exclamou de boca cheia do doce.
— Meu Zeus, juro que eduquei eles. — Greg riu.
— Padrino — Annelise chamou Dimitri —, quando formos para o
Brasil, compra uma caixa de paço... Como é mesmo o nome?
— Paçoquinha. — Cauê riu da animação da menina.
— E quem disse que você vai para o Brasil? — Vincenzo perguntou
para a filha.
— Vou, sim, padrino vai me levar — ela respondeu.
— Olha no que você me meteu — o russo brincou, negando com a
cabeça.
— Você é um alfa lúpus, consegue dar conta — Cauê respondeu
rindo, então se virou para Greg. — Aqui, é um pacote pequeno, mas acho
que vai precisar.
— Grazie. — O outro ômega riu, vendo que no pequeno pacote
tinha mais daquele doce de amendoim.
Quando estavam prestes a pousar, Dimitri havia sentido aquela
ansiedade de sempre, mas dessa vez tudo parecia mais leve. Seu coração
ainda estava disparado, mas ele conseguia respirar.
— Não poderei me sentar com você, ou acho que meu colega vai me
dedurar para meu chefe por “atitude antiética”, já que não gosta muito de
mim — Cauê disse. Dimitri já estava pronto para dizer que aquele colega
poderia ir para a casa do caralho junto do chefe. Mas o ômega sorriu,
colocando a mão no seu ombro. — Mas não te abandonarei, pegue.
— Seu celular? — o russo perguntou confuso, pegando o aparelho
que já estava com o fone de ouvido conectado.
— A playlist que coloquei para tocar é feita com músicas que me
lembram de casa. Tem aquela que cantei e outras que eu amo, então acho
que pode te ajudar.
— Obrigado. — O olhar do russo foi do ômega para o aparelho em
sua mão. A tela indicava várias músicas, ele não entendia muito bem,
exceto pelas palavras que eram parecidas com o espanhol. — Confia
mesmo em deixar seu celular na minha mão?
— Estou te dando uma chance. — Cauê piscou para ele e voltou
para a galley.
Dimitri colocou os fones de ouvido e botou a música para tocar. Os
acordes do violão começaram, o russo sorriu, aquilo soava como algo
confortável, uma volta para casa. Para a surpresa do alfa, logo começou a
guitarra. Não era como estava acostumado, como se fosse uma música de
rock, era diferente e tinha elementos que não conhecia, mas ainda era
encantador.
O celular estava desbloqueado, ele sabia que não deveria, mas foi o
ômega que deu a ideia. Ele mandou uma mensagem para si mesmo para
salvar o contato do ômega e salvou o seu próprio. Tinha a chance de
procurar o que quisesse, mas não mexeu em mais nada, qualquer coisa que
quisesse saber sobre seu soulmate ele mesmo perguntaria.
Ou Aaron entregaria uma pasta com todos os dados de Cauê,
porque, assim que ele soubesse do nome, todos sabiam que ele faria isso.
— Amore, isso é muito bom — Greg disse, entregando uma
paçoquinha para o marido, que amou.
— Husky, vamos com você para o Brasil! — o italiano exclamou
animado depois de provar o doce.
— Não mesmo — Dimitri respondeu, cruzando os braços.
— Você e Cane Pazzo me infernizaram, agora é a sua vez. —
Vincenzo ria maldoso. — Diga-me, Cauê, onde posso comprar isso no
Brasil? É do seu Estado?
— Acho que tem no país inteiro. Inclusive, em junho temos uma
festa cultural com várias comidas típicas, a paçoquinha é uma delas, tem
diversos doces e até versões desse.
— Tem? — Damiano estava espantado.
— Sim, uma coisa que brasileiro faz bem é inventar diferentes
versões de comidas. Nem queira saber o que fizemos com seu strogonoff —
o ômega falou rindo para Dimitri, que sorriu.
— É tão diferente?
— Salada de repolho e picles? Por favor, nós melhoramos muito
esse prato. — Cauê sorria. — Conosco é arroz e batata palha.
— Batata palha? — Damiano perguntou, confuso.
— Sim, você vai amar quando comer. — O brasileiro sorriu.
— Ok, até eu quero ir para o Brasil — Greg comentou alegre.
— Vou ligar para Cane Pazzo, podemos fazer uma viagem todos
juntos — Vincenzo sugeriu como se fosse a melhor ideia de todas, e os
olhos de Dimitri se arregalaram de medo. — Cauê, você será nosso guia!
— Agradecido pelo convite, mas só ficarei hoje em Roma, depois
estarei uns dias de férias na Espanha e volto a trabalhar.
— Vai embora hoje? — Dimitri perguntou, preocupado.
— Se conseguir um voo, sim. Se não, só amanhã. — O ômega deu
de ombros. — Na verdade, era para já estar lá, peguei o voo de vocês
porque o comissário que deveria trabalhar nele passou mal. Apesar que
acho muito conveniente ele passar mal justo no dia trinta e um de
dezembro.
— Acho que precisamos ir — Greg anunciou do nada. — Cauê,
amei te conhecer e espero te encontrar em breve. Dimitri, te esperamos lá
fora.
— Amore, temos tempo ainda. — Vincenzo sorriu, e o marido o
olhou feio. — Certo, vamos, crianças.
— Não, Cauê é meu zio favorito agora — Damiano reclamou.
— Vou contar para o zio Angelo — Annelise cantarolou, seguindo
sua mamma. O irmão foi atrás reclamando.
— Isso não foi muito sútil. — Cauê riu baixinho.
— Não pode ficar em Roma? — O russo ainda estava preocupado.
— Combinei com duas amigas de passar a virada de ano com elas
na Espanha. Não tinha planos para ficar em Roma, mas, se algo interessante
aparecer, posso repensar. — O ômega sorriu malicioso.
— Como o quê? — O alfa tinha um sorriso de canto nos lábios.
— Se aproveitou a oportunidade, creio que me ligará em breve,
então podemos pensar em algo. Se não, é uma pena.
— Não conhece a regra de não provocar um lúpus? — perguntou em
voz baixa.
— Nunca fui muito bom em seguir regras.
As palavras acertaram Dimitri de novo, de um jeito que estava
difícil se controlar. Além de seu lobo, seu lado dominador gritava para levar
seu soulmate dali. O ômega sabia que tinha afetado o alfa, já que seu sorriso
malicioso aumentou. O russo podia pensar em diversas maneiras de fazer o
brasileiro seguir suas regras, cada uma mais deliciosa do que a outra.
Cauê passou a mão pelo blazer do russo. Mesmo sendo por cima da
camada de roupas, o alfa sentiu sua pele queimar com o toque. Ele segurou
a lapela do alfa, como se fosse um toque inocente, apenas um leve carinho.
Mas eles sabiam que era muito mais do que isso.
— Espero que nos vejamos em breve, signore Barkov.

Cauê tinha preenchido a papelada e estava pegando sua mala.


Duvidava que conseguiria um voo para Espanha, mas seu colega disse que
ligaria se tivesse alguma vaga. Chamaram-no para uma festa, mas não sabia
se aceitaria. Mesmo que a outra opção fosse passar a virada de ano sozinho
em um quarto de hotel, não era como se não tivesse feito isso várias vezes.
Edoardo não estava falando com ele, e Cauê sabia que não deveria
colecionar inimizades, principalmente no local de trabalho, mas, às vezes,
era impossível. Até podia ouvir a voz de Juliette, uma de suas melhores
amigas, dizendo que ele deveria ser menos impulsivo. Já Chelsea o
apoiaria.
Estava entrando no táxi que o levaria para o hotel, pensando em
ligar para suas amigas, quando seu celular tocou. O brasileiro riu alto
quando o identificador de chamada mostrou “Alfa bonitão ligando”.
— Alfa bonitão? Nunca te disseram que é feio ouvir a conversa dos
outros? — perguntou ao atender a chamada.
— Já me disseram para não fazer muitas coisas — Dimitri
respondeu, o ômega podia imaginá-lo sorrindo —, mas nunca dei muita
atenção.
— A que devo a ligação de um ilustre empresário?
— Quais os seus planos para hoje à noite?
— Depende, vai me convidar para algo?
Cauê sabia que estava sendo ousado, mas quem se importava?
Aquele alfa era Dimitri Barkov, o alfa mais gostoso que já tinha visto na
vida. Se aquele lúpus queria um pouco da sua atenção, não seria ele que
recusaria.
O ômega não tinha baixa autoestima ou insegurança com sua
aparência. Ele dizia que era realista, era bonito, mas não um modelo da
Gucci, e estava tudo bem. Até porque, como ele mesmo falava, para ser
modelo tinha que ser muito magro e ter uma dieta restrita, e ele mataria se
alguém tentasse tirar sua rapadura.
O fato é que ele sabia muito bem o que Dimitri queria com ele e era
o que ele também queria com o russo. Cauê não era do tipo romântico
sonhador que esperava encontrar a pessoa com quem passaria o resto da sua
vida. Essa pessoa era Tainá, sua irmã. Cauê só queria aproveitar a vida.
Aquela era a noite da virada de ano, então, se tinha uma noite em
que ele tinha todo o direito de se divertir, era aquela.
— Vou a uma festa, podemos chamar assim. Será na casa dos
Ferraro, quer ir comigo?
— Irei acompanhar Dimitri Barkov a uma festa na casa de Vincenzo
Ferraro? Isso parece interessante — brincou. Ele conhecia os vinhos dos
Ferraro, estavam entre os melhores do mundo. Então sairia com Dimitri e
ainda beberia vinho de graça, aquilo era perfeito.
O taxista arregalou o olho, ouvindo a conversa. Ele estacionou o
carro na frente do hotel e, quando o segurança informou que não poderia
parar ali, ele sussurrou algo, e o outro alfa olhou assustado para Cauê.
— Então isso é um sim? — o russo perguntou.
— Claro, apenas me passe o endereço — o brasileiro respondeu,
achando estranha toda a movimentação.
O taxista abriu a porta para ele, o segurança o conduziu para dentro,
e tinha uma recepcionista já o esperando na porta. Todos sorridentes e
solícitos. O que estava acontecendo?
— Passo no seu hotel às oito horas da noite — o lúpus falou. — Te
espero na recepção.
— E você sabe em qual hotel estou?
— Claro que sei. — O russo riu. — Descanse um pouco, te encontro
em algumas horas.
— Bem, quando dizem que todo lúpus é meio doido, não estão
brincando — murmurou depois de desligar.
— Signore Novaes — a atendente disse sorrindo —, sua reserva já
foi remanejada, te colocamos na suíte deluxe. Todos os itens do frigobar já
estão inclusos na sua diária, pode consumir sem problemas. Sua diária é all
inclusive.
— All inclusive? — o ômega perguntou, espantado. Sua companhia
não gastaria tanto dinheiro com ele.
— Sim, signore Barkov foi bem taxativo ao pedir que tudo estivesse
liberado para seu conforto.
— Ah, o signore Barkov disse isso? — Cauê perguntou com as
mãos na cintura.
— Sim, já deixamos tudo pronto. — A moça sorria, provavelmente
tentando ser o mais simpática possível. — Salvatore levará suas malas para
seu quarto, sua suíte fica no oitavo andar, número 84. Boa estadia.
— Obrigado — o ômega respondeu recebendo o cartão chave do seu
quarto.
Como o alfa sabia em que hotel ele estava hospedado e como tinha
conseguido mudá-lo de quarto tão rapidamente? Entre tê-lo deixado no
desembarque, assinado a papelada e pegado o táxi para o hotel, deveria ter
levado menos de duas horas. Como ele havia feito tudo aquilo?

Cauê:
Você é um tipo de stalker?

Alfa bonitão:
Todos os lúpus são

Cauê:
Eu deveria me preocupar?

Alfa bonitão (e stalker):


Você não

Cauê:
Eu não?
Alguém precisa?

Alfa bonitão (e stalker):


Desde que não façam nada de mal a você, ninguém precisa se preocupar

Cauê:
Nada de mal para mim? Querido, você chegou uns trinta anos atrasado

Alfa bonitão (e stalker):


Se me passar a lista de nomes, resolvo rapidamente isso

Cauê:
Podemos conversar sobre isso mais tarde

Alfa bonitão (e stalker):


Estarei ansioso por isso

O ômega negou com a cabeça, aquilo era muita loucura. Já tinha


recebido muita cantada de passageiros e não mentiria, já tinha saído com
alguns, sempre depois do voo concluído e antes de partir para o próximo
destino, não era louco de fazer isso enquanto estava no horário de trabalho.
Pensando bem, Dimitri tinha sido o primeiro com quem havia flertado
usando o uniforme.
— Uau! — exclamou, entrando no quarto.
O quarto era claro, com decoração elegante, mas moderna. A cama
era enorme e deveria ter uns seis travesseiros, Cauê nem sabia por que
alguém precisaria de seis travesseiros, mas estava amando. Também tinha
um pequeno closet, um banheiro com banheira, e o ômega sabia que
passaria pelo menos duas horas ali dentro.
O quarto tinha uma pequena mesa de escritório, poltronas, uma bela
TV na parede e a sacada dava vista para uma praça com fonte muito bonita.
Além de uma minicozinha com frigobar abastecido e até micro-ondas.
Apesar de tudo bonito e confortável, não eram coisas que ele usaria, já que
passaria só uma noite ali e, se Luna permitisse, nem seria a noite inteira.
Porém aquela bandeja de boas-vindas, cheia de comidas, chocolates
e frutas, além de sucos, ele aproveitaria muito bem.
— Buongiorno — o ômega disse quando as amigas atenderam a
videochamada.
— O quê? — Juliette perguntou, confusa.
— É “bom dia” — Chelsea explicou.
— Eu sei que é bom dia, quero saber o que ele está fazendo na
Itália. — A morena revirou os olhos.
— Ah. O que você está fazendo na Itália? — a ruiva perguntou.
— Já estão bebendo? — Cauê perguntou sorrindo, pegando mais
frutas.
— Talvez, mas hoje é nossa folga e último dia do ano, eu mereço!
— Chelsea disse, mostrando o copo de bebida e rindo. — Onde está?
— No hotel. — Ele deu de ombros.
— Não mesmo, conheço muito bem o hotel em que ficamos quando
estamos em Roma. O quarto não é desse tamanho, e acho que estou vendo
uma sacada ali — Juliette falou.
— Eu disse que era o hotel, não que é o mesmo quarto. — O ômega
sorriu de canto. — Tenho um encontro hoje.
— Vai nos abandonar por causa de um alfa? Nós combinamos que
passaríamos a virada de ano juntos — a morena reclamou.
— É com Dimitri Barkov. — Cauê sorriu.
— Barkov, tipo o hotel Barkov? — perguntou abismada, e o ômega
concordou com a cabeça. — O alfa lúpus?
— Sim.
— Vai na fé, que Luna te abençoe, aproveite muito e filma para
gente! — Chelsea exclamou.
— Não vou filmar nada. — Ele riu.
— Nem uma foto? Cauê, achei que fossemos amigos!
— Espera! Como você conheceu o Barkov? — Juliette os
interrompeu.
— Lembra aquele voo particular que não estava programado e
ninguém queria fazer, exatamente para não correr o risco de ficar preso em
algum lugar e perder as festas de fim de ano? Bem, como eu acabei
ficando...
— Sim, mas, até onde eu saiba, não temos contrato com as empresas
Barkov — Juliette respondeu. Ela era a mais calma e protetora do grupo,
estava estudando e tinha planos para sua carreira. Cauê e Chelsea tinham
certeza de que logo ela seria uma das gerentes.
— Não, mas temos com os Ferraro, e era um voo deles.
— Você conheceu Vincenzo Ferraro e Dimitri Barkov de uma vez e
ainda vai dar para o russo? Porra, que sorte do caralho! — Chelsea
exclamou.
— Sério, quanto você já bebeu? — Juliette perguntou para a amiga,
que fez sinal com a mão como se aquilo não fosse importante. — Os
Ferraro não pediram que sempre mantivessem a mesma equipe?
— Sim, mas as comissárias que atendem eles estavam de férias, e,
como era uma viagem rápida, aceitaram a troca. Eu deveria ter embarcado
naquele voo para Espanha, para encontrar vocês, mas o Samer estava
pirando porque, de última hora, o Tomer avisou que “estava doente” e não
poderia embarcar. Ele implorou que eu substituísse, até me deu um dia a
mais de folga.
— Samer devia estar desesperado mesmo — Juliette comentou, eles
conheciam o chefe, que não daria uma folga a mais se o caso não fosse
sério. — Mas e aí? Como foi?
— Eu entendi por que todo mundo tem medo de viajar com os
lúpus. O Ferraro mandou chamar Edoardo e eu só para nos conhecer antes
do voo. A Colby também estava em Londres, só que ela foi para outro
lugar, ela disse que, quando os lúpus não gostam de você, eles nem
explicam o motivo, só te cortam, e você não faz mais viagens com eles.
Então acho que ele queria nos conhecer para ver se éramos bons o bastante,
algo assim.
— Espera — Chelsea interrompeu —, quem estava com você era o
Eduardo ou o Edoardo.
— Edoardo, o italiano.
— Ai, não gosto muito dele. — A ruiva fez careta.
— Você entendeu que Cauê nos disse que conheceu dois lúpus e vai
sair com um deles? Por que o Edoardo, que sabemos que é chato, seria
importante na história?
— Chato e invejoso — Cauê cantarolou, bebendo um pouco do seu
suco. Isso foi suficiente para chamar a atenção das amigas, que exigiram
saber a fofoca inteira.
— Então o xenofóbico achou que o Barkov nunca ia te olhar porque
você é afro-latino, mas é o seu corpo que ele quer. Esses brancos têm uma
autoestima nojenta. — Chelsea negou com a cabeça, e os amigos a
encararam. Tanto Cauê, quanto Juliette eram brasileiros; ele, do Ceará; e
ela, do Maranhão. Chelsea era uma ômega ruiva da Austrália. — O quê?
Vocês sabem que só nasci em Melbourne por um erro de rota.
— Só se for erro de rota de Sydney para Melbourne, porque sua
família inteira é da Austrália há gerações — Juliette disse, revirando os
olhos, e Chelsea desdenhou.
— Vamos voltar o foco para Cauê? É ele que vai dar a noite para um
lúpus.
— Amém que seja a noite toda. — O ômega suspirou. Ele tinha ido
ao banheiro e colocou a banheira para encher. Ali tinha um pequeno frasco
de sabonete líquido para fazer espumas como cortesia, como só tomaria
banho ali uma vez, não tinha por que não usar tudo.
— Olha a foto desse alfa — Chelsea disse, mostrando fotos de
Dimitri que estavam no google —, não tem como ser soca-fofo.
— Você ensinou mais expressões brasileiras para ela? — Cauê
perguntou para Juliette, que suspirou.
— Desculpa, quando percebi já tinha escapado.
— Desistam, já falei que minha alma é brasileira, e vocês não têm
mais o que fazer! — a ruiva resmungou.
— Vamos voltar ao fato de que você vai sair com um lúpus? Aonde
vão?
— Ele falou que os Ferraro vão dar uma festa de final de ano, nós
vamos lá. — Cauê jogou o sabonete líquido e começou a tirar a roupa. Não
tinha problemas que suas amigas o vissem parcialmente nu, um já tinha
cuidado dos outros muitas vezes bêbados. — Vocês não têm noção do
quanto ele é bonito pessoalmente, bem mais que nas fotos. E é mais alto do
que pensei, e ele cheira tão bem, não sei como descrever o perfume. É forte
e envolve a gente. E a voz... Eu passaria dias conversando com aquele alfa,
só para sentir o cheiro e ouvir a voz dele.
— Duas horas de voo e já se apaixonou? — Juliette brincou.
— Não diria que me apaixonei, mas, dependendo de como a noite
for, não descarto a ideia. — Ele riu. Cauê entrou na banheira, deixando o
celular no suporte ao lado. — Eu poderia passar horas falando sobre ele e
não conseguiria descrevê-lo bem.
— Você realmente parece perto de se apaixonar.
— Se vocês conhecessem aquele alfa, não me julgariam.
— Não estou julgando, já trabalhei num voo em que estavam os
Lions, o alfa nem olha para o lado, parece que só enxerga o marido dele. Os
dois são lindos, se quisessem me chamar para um ménage à trois, aceitaria
na hora, mas ao mesmo tempo aquele alfa é um pouco assustador. Todos os
lúpus são intensos, então tome cuidado — a ômega morena pediu.
— Está tudo bem, meus planos são me divertir muito nesta noite e
amanhã embarcar para encontrar vocês. Então vamos passar o resto da
nossa folga fofocando sobre como Dimitri Barkov é na cama. — Ele riu.
— Mas e se ele não quiser só um encontro?
— Como? — Ele olhou confuso para a tela do seu celular. Por mais
que estivesse encantado com o alfa, tinha os pés no chão. Não estava
esperando por rosas e um pedido de namoro. Só queria se divertir.
— É o que acabei de falar, lúpus são intensos. Você sabe que
conheço algumas pessoas da família Moretto, do Brasil. Pelo que eu saiba,
quando eles demonstram interesse, de verdade, em alguém, não é para só
passar a noite e pronto.
— Não, não deve ser isso. — Ele negou, balançando a cabeça.
— E se for? — Chelsea perguntou.
— Não, acho que vocês estão exagerando.
— Sobre o que vocês conversaram? Você disse que trocaram
mensagens, sobre o que era? — a morena insistiu.
Cauê revirou os olhos, esperava esse comportamento de Chelsea,
que jurava encontrar o grande amor de sua vida umas três ou quatro vezes
por ano, no mínimo. Mas Juliette? O ômega enxugou as mãos e pegou seu
celular. Ele tirou print da conversa e mandou para o grupo de conversa com
as amigas. Elas que tirassem as próprias conclusões e percebessem que
estavam exagerando.
— Então ele falou que vai atrás de todo mundo que fez mal para
você? — Chelsea perguntou, bebendo mais daquela bebida colorida que
Cauê não tinha a menor ideia do que era.
— Mais ou menos, parece que foi mais em tom de brincadeira. Mas
ele é um lúpus, então nunca se sabe. — O ômega deu de ombros. Ficaria
naquela banheira até a água esfriar, depois tiraria um cochilo e começaria a
se preparar para sua noite.
— Fala o nome da minha tia! — a ruiva gritou do nada, assustando
até Juliette, que estava do seu lado.
— Quê? — Cauê perguntou, confuso.
— Dá o nome da minha tia para ele! Ela se chama Hazel Sampson,
mora em Perth, na avenida...
— Chelsea! Por que eu daria o nome da sua tia? Ela nunca fez nada
comigo.
— Mas fez para mim, e eu sou uma parte muito importante da sua
vida.
— E o que você acha que ele vai fazer?
— Não sei, vamos descobrir. — A ruiva sorria como se tivesse tido
uma ideia genial.
— Não, nem pensar — Juliette os interrompeu.
— Por quê?
— Os únicos lúpus que eu realmente conheço são o André e Bruno
Moretto, eles são primos da Alice Moretto, ela é tipo uma líder da família
ou algo assim. O importante é que já vi o André dizer que, se alguém
fizesse qualquer coisa ruim com a namorada, ele quebraria a pessoa ao
meio. Mexeram com Raquel, namorada dele, André e Bruno realmente
foram atrás, e não foi bonito. Então aprendi que, quando um lúpus fala algo,
ele cumpre.
— Mas eles eram namorados.
— Você está perdendo o ponto. — A morena bufou. — O que André
falou foi a mesma coisa que o seu lúpus te disse. E se, como eu disse, eles
cumprem o que falam, ele deve estar tão fascinado por você quanto você
por ele.
— Eu escutaria a Juliette se fosse você — Chelsea opinou —, sabe
que ela é mais inteligente que nós dois.
— Era para vocês me acalmarem, não me deixarem com mais
paranoias.
— Faz assim: relaxa, aproveita o encontro, se diverte em tudo que
puder, amanhã conversamos sobre como foi.
— Era esse meu plano original, mas você ficou enchendo minha
cabeça de coisas. — O ômega revirou os olhos. — Agora vou ficar
pensando nas mensagens e que ele que está pagando esse quarto para mim.
— Ele? — Chelsea arregalou os olhos. — Por que eu não encontro
um lúpus para mim? — choramingou.
— Cauê, mas se ele quisesse mais do que apenas um encontro, você
aceitaria?
— Se aquele alfa gostoso e milionário quisesse fugir para Las Vegas
para nos casarmos, eu aceitaria na hora e jogaria minha carteira de trabalho
pela janela assim que a aliança dourada estivesse no meu dedo —
respondeu como se a amiga fosse louca de pensar o contrário.
Por mais que todos rissem, ele não duvidava que fizesse mesmo.
Mas em que mundo Cauê Novaes se casaria com alguém como
Dimitri Barkov?
Cauê cumpriu seu planejamento, ficou na banheira o quanto pôde,
depois foi para a cama descansar. Deixou o quarto todo escuro e ligou o ar-
condicionado. Enquanto se deitava, riu de si mesmo. Quando era criança,
dividia um ventilador com sua irmã e seus pais, agora estava climatizando
seu quarto de hotel.
Dormiu a tarde toda, bem mais do que achou que faria. Teve um
sono tranquilo, mas um sonho estranho com uma noite de lua cheia, praia e
um lobo? Enfim, tomou um banho rápido no chuveiro só para acordar e
começou a pensar em sua noite. Abriu sua mala e ficou encarando suas
roupas, não tinha planejado ir para uma festa de lúpus milionários, então
não tinha uma roupa adequada. Mas teria que se virar com o que tinha.
Estava em pleno inverno europeu. Apesar de ser difícil nevar em
Roma, estava muito frio. Então tinha que ser uma roupa bonita, quente,
confortável e fácil de tirar, porque ele tinha grandes esperanças para o pós-
festa.
Alfa bonitão (e stalker):
Combinamos às 20h, mas acho um exagero, deveríamos mudar

Aquilo foi um pouco decepcionante, tanto que Cauê suspirou e se


sentou na cama. Sentiu-se um pouco idiota, porque estava empolgado
escolhendo roupas e ansioso por seu encontro, mas o alfa queria deixar para
mais tarde. Certo, a virada de ano era só à meia-noite, se eles se
encontrassem às 20h teriam, pelo menos, quatro horas juntos, mas achou
que valia esse tempo.

Cauê:
Quer vir mais tarde?

Alfa bonitão (e staker):


Mais tarde?
Estou tentando encontrar alguma desculpa para te buscar agora

Isso fez o ômega sorrir, por mais que não tivesse admitido para as
amigas, estava muito ansioso para ver o alfa. Estava tentando ignorar as
palavras de Juliette, mas tinha algo bem lá no fundo de sua mente que se
perguntava se o problema não seria o contrário. Será que apenas um
encontro seria o suficiente para o ômega? E se ele quisesse mais?
Dimitri Barkov era o tipo de alfa pelo qual era quase impossível não
se apaixonar. Além de lindo, tinha um carisma que nunca tinha visto. Sabia
que quanto mais tempo ficasse perto dele, mais difícil seria ir embora.
Não queria dar a impressão de que estava desesperado pelo alfa,
mesmo que talvez estivesse um pouquinho, mas, se aquela era sua chance,
deveria aproveitar. Olhou no relógio, eram 18h30, mal tinha começado a se
arrumar, mas também queria vê-lo.
Cauê:
Se me der 30 minutos, estarei pronto

Alfa bonitão (e stalker):


Consegue em 20?

Cauê:
25

Alfa bonitão (e stalker):


Ok, consigo lidar com isso, mesmo que tenha que passar esses cinco
minutos extras solitário e largado à minha própria sorte

Cauê riu alto, ele realmente estava gostando de conversar com o


alfa.

Cauê:
Tenho certeza de que conseguirá sobreviver, mas agora preciso
correr para estar bonito em apenas 25 minutos

Alfa bonitão (e stalker):


Não é como se você precisasse de muito esforço para isso
Estou ansioso para te encontrar

O ômega queria gritar, sentia-se em uma daquelas comédias


românticas da “Sessão da Tarde” em que o protagonista fazia uma viagem
para Roma, esbarrava em alguém por acidente e descobria que era sua alma
gêmea. Riu de si mesmo, mas se sentia feliz. Um sentimento de antecipação
vibrava no seu peito, mas de um jeito bom, como se soubesse que algo
incrível estava prestes a acontecer.
Olhou para o relógio e percebeu que não podia perder tempo, tinha
que se arrumar. Abriu sua mala e jogou tudo em cima da cama, tinha que ter
algo bom para usar. Quis se bater, porque tinha emprestado sua jaqueta mais
bonita para Juliette, já que pegaria de volta na Espanha, mas agora estava
em Roma a quase dois mil quilômetros de distância.
— Esse vai ter que servir — resmungou, pegando um blazer longo
que tinha. Não queria usar jeans logo no primeiro encontro, mas era o que
tinha, então combinou com uma cacharrel azul escura. — É, acho que vai
ficar bom.
Enfiou toda a bagunça dentro do guarda-roupa, não sabia se era para
aquele quarto que voltariam, então, para garantir, melhor deixar um pouco
arrumado. Passou desodorante, colocou as roupas e ajeitou o cabelo,
rezando para que este não o traísse justo naquele dia.
A cada minuto que passava, mais se sentia ansioso. Já havia tido
muitos encontros antes, nunca com um lúpus. Mas sabia que não era só o
fato de ser um lúpus, era aquele lúpus. Dimitri Barkov era do tipo que não
passava despercebido, que te fazia suspirar só por estar perto e que causaria
brigas pela sua atenção. Mesmo assim, ele era gentil e divertido, do tipo
perfeito para passar horas e horas conversando. E aquele corpo...
Cauê quis se bater, conhecia Dimitri havia algumas horas e já estava
todo apaixonadinho?
— Se controla, pelo amor de Luna — o ômega resmungou para si
mesmo. — É assim que a maioria dos filmes de terror envolvendo viajantes
começa. Tu não é protagonista burro para cair na lábia do russo sedutor e
acordar numa banheira cheia de gelo, sem um rim.
Pegou as duas opções de meia que tinha, um par laranja com
losangos brancos e outro listrado de verde e rosa. Cauê tinha uma enorme
coleção de meias coloridas, ele amava desde criança. Era até uma
brincadeira que tinha com sua mãe e irmã, sempre que elas achavam um par
com cor ou desenhos inusitados, compravam para ele. Toda vez que o
ômega voltava para Fortaleza, elas sempre tinham vários pares novos
esperando por ele.
— Hoje vamos de laranja — ele brincou.
A calça e a bota escondiam a meia, não que ele tivesse vergonha,
mas não queria perder tempo explicando por que nunca usava “meias
normais”. Olhou-se no espelho e gostou do resultado, até tirou uma foto e
mandou para as amigas.

Chelsea:
Gato demais!
Feliz transa de ano novo!

Juliette:
Você está lindo!
Se divirta!

Chelsea:
Aposto que ele vai
Hahahahahhahaha

Cauê:
Ainda está bebendo?

Juliette:
Juro que tentei controlar, mas perdi ela de vista por alguns minutos, e já
achou um grupo de irlandeses para fazer amizade

Cauê:
Boa sorte, porque agora vou me encontrar com o alfa bonitão

Juliette:
Se divirta, amanhã nos conte tudo

Chelsea:
😛

Olhou no relógio e ficou orgulhoso de ter se arrumado tão rápido.


Ainda teve tempo para escovar os dentes e dar uma última olhada no
espelho. Quando pegou o celular para avisar o alfa que estava pronto,
faltavam, exatamente, cinco minutos para as sete da noite, e alguém bateu à
sua porta.
Achou estranho, porque não tinha pedido nada, mas, quando olhou
pelo olho mágico, viu que era ele. Cauê abriu a porta, e Dimitri estava em
sua frente, encostado ao batente da porta, de braços cruzados e sorrindo. O
alfa usava roupas pretas, também tinha uma blusa de gola alta perfeitamente
ajustada ao seu corpo e um sobretudo preto. Porém, no bolso do peito, tinha
um lobo bordado em cinza.
— Você está lindo — o alfa disse, ainda sorrindo.
— Eu? Olha para você! — o ômega exclamou, fazendo o russo rir.
— Sei que falei que te esperaria na recepção, mas não resisti, queria
te ver logo.
— Tirando o fato de que agora estou um pouco preocupado com a
segurança deste hotel, estou bem com você falando que queria me ver —
Cauê respondeu, voltando para dentro do quarto para pegar seu blazer.
Dimitri sabia que não era exatamente um convite, mas não resistiu
em entrar no quarto. Respirou fundo, aquele lugar cheirava ao seu ômega e
era um aroma delicioso.
— Tudo bem? — o ômega perguntou.
— Tudo perfeito — o alfa respondeu.

— Não mesmo. — O ômega riu.


— Você duvida de mim? — O lúpus se fingiu ofendido, fazendo um
grande drama.
— Dimitri, hoje é dia trinta e um de dezembro, não tem como você
ter conseguido uma mesa em um dos melhores restaurantes de Roma sem
ter feito uma reserva antes.
— Mio caro, precisa entender que os lúpus conseguem tudo o que
querem — o russo respondeu, sorrindo de canto.
— Ou você roubou a reserva de alguém, ou já tinha reservado antes,
não tem como. — Cauê ainda ria.
Eles estavam no carro do russo, o que fez o ômega se perguntar se o
alfa tinha um carro em cada país que visitava. Dimitri tinha dado liberdade
para que o ômega colocasse qualquer música que quisesse. Em vez de
escolher as músicas tradicionais de final de ano, ele colocou Shakira.
— Não roubei a reserva de ninguém. — O lúpus riu abertamente. —
E não tinha planos de jantar fora. Aliás, zia Lucia disse que é bom termos
muito espaço no estômago para a ceia de ano novo.
— Zia quem?
— Lucia, a mãe de Vincenzo. — O lúpus riu de novo.
Ele estacionou na frente do restaurante e deu a volta para a abrir a
porta para o ômega. Cauê não estava acostumado com isso, tanto que,
quando o alfa saiu do carro, o ômega já estava abrindo a própria porta. Só
que percebeu o que o russo iria fazer e fechou rapidamente.
— Por que a mãe do seu amigo falou sobre a ceia? — perguntou
quando estavam entrando no restaurante. Um manobrista tinha corrido para
os atender, e todos os funcionários pareciam conhecer muito o lúpus,
porque o atendiam assim que o viam, abrindo portas e já os levando para
uma mesa com uma visão incrível da cidade.
— Mais tarde vamos à casa deles, para a virada de ano — o lúpus
respondeu tranquilamente.
— Eu achei que era uma festa comum, sabe, com bebidas e música,
não de família.
— Depois de entender como os Ferraro celebram algo, sua definição
de festas vai mudar. — O alfa riu.
— Buona notte, signore Barkov — o garçom disse solícito. —
Signore Angelo nos avisou que é uma noite especial. Querem o vinho
agora?
— Per favore — Dimitri respondeu. Ele sabia que sua família não
iria se conter e iria interferir, mas era legal o esforço para que que tudo
fosse perfeito.
O garçom serviu o vinho, desejou uma ótima noite e saiu, dizendo
que logo voltaria com as entradas. Cauê reconheceu aquela garrafa, custava
mais de 400 reais no Brasil, sorte que era o alfa quem estava pagando.
— Espero que goste, Angelo disse que esse seria o ideal. Mas, se
não gostar, podemos trocar — Dimitri disse, indicando a bebida.
— Está perfeito. — O ômega sorriu depois de provar a bebida. —
Não sou tão acostumado a beber vinho, ainda mais um tão caro.
— Quer outra coisa? Tem várias bebidas.
— Está tudo bem, este vinho é delicioso. E, também, não acredito
que aqui tenham as minhas bebidas preferidas.
— E quais são? — Dimitri perguntou, ele realmente queria saber
tudo sobre o ômega.
— Cachaça e tiquira — respondeu, rindo da confusão do alfa.
— Uma delas eu já ouvi falar, mas nunca provei. A outra, ti... tiki...
— Tiquira — Cauê disse sorrindo.
— Sim, essa, não sei nada sobre ela.
— As duas são do Nordeste, mas a cachaça é conhecida no Brasil
inteiro. Tiquira, infelizmente, não recebe o devido valor. São destiladas, a
cachaça é feita a base de cana de açúcar, e tiquira, a base de mandioca.
— Prefiro as bebidas destiladas, então, quando formos para o Brasil
você me apresenta elas.
— Claro, mas além das bebidas, você tem que provar a comida. Vai
amar tudo de lá — o ômega brincou, porque para ele era isso, uma
brincadeira. Sempre que conhecia alguém novo e falava que era do Brasil,
as pessoas exclamavam o quanto amavam o país, que queriam conhecer em
breve e pediam muitas dicas para o ômega, então não seria diferente agora.
— Sinceramente, já amo o que conheço de lá — o russo respondeu
sorrindo e bebeu um pouco do seu vinho.
— As entradas — uma voz feminina disse, colocando um lindo
prato com algumas bruschettas na mesa. Dimitri riu quando viu Donna os
servindo.
— Desde quando a principal chef do restaurante também trabalha
como garçonete?
— Desde que ela é casada com um ômega muito curioso que nunca
a perdoaria se não estivesse aqui fazendo com que tudo fosse perfeito para
você. — A alfa que os atendia riu.
— E para conseguir as fofocas, acredito. — Dimitri sorriu de canto.
— Zeus me livre de chegar em casa e não ter nada para contar. —
Ela deu de ombros. — Olá, sou Donna e serei eu que farei seu pedido.
— Ah, oi. — Cauê sorriu incerto. — Sou o Cauê.
— Tem alguma preferência? A cozinha está à sua inteira disposição.
— Bem, não olhei muito o cardápio e tudo está em italiano, então
estou meio perdido — o ômega respondeu, e Dimitri quis se bater por não
ter deixado uma coisa óbvia como essa ter passado. Precisava ser mais
vigilante às necessidades do seu ômega.
— Não se preocupe, pode escolher o que quiser — Donna garantiu
sorrindo. — Recomendo algo leve, porque, quando chegar na casa de Lucia,
ela irá te encher de comida, e não estou exagerando. Ela já está louca com
Vincenzo.
— O que o stronzo fez? — Dimitri perguntou.
— Damiano entregou que vocês pularam o almoço e que, como
estavam na festa de casamento dos Knight, não tiveram grandes refeições
durante esses dias — a alfa contou, e o lúpus fez careta. Cauê estava
perdido no meio, mas fingindo entender. Depois ele precisava perguntar
para o russo quem era toda aquela gente. — Você gosta mais de carne ou
massas?
— Tanto faz, mas se preciso comer algo leve, acho que massa, né?
— Ótima escolha, até porque Lucia está assando um javali para a
ceia — Donna respondeu tranquilamente, e os olhos do ômega se
arregalaram. — Recomendo Bucatini all’amatriciana, é uma massa
deliciosa e tem guanciale, que é parecido com bacon. Posso até colocar
uma dose extra para vocês.
— Parece ótimo.
— Quero o mesmo — o russo informou, e Donna sorriu maliciosa.
— Claro que quer, eu já volto com o pedido.
— Então — Cauê começou falar depois que a alfa se afastou —, ela
é a chef deste restaurante?
— Sim.
— E veio pegar nosso pedido? O que está acontecendo?
— Donna é casada com Angelo, o irmão mais novo de Vincenzo —
Dimitri explicou. Eles estavam provando as bruschettas, e o ômega nem
sabia mais se queria ouvir a explicação, de tão delicioso que aquilo era. —
Este restaurante é da família Ferraro.
— Ah, muita coisa fez sentido agora — Cauê comentou.
— Não quero te deixar desconfortável.
— Não deixou, só é meio confuso. Quando me convidou para sair,
achei que iríamos a algum bar e uma dessas festas de Réveillon que quase
todo mundo termina muito bêbado, não que iríamos a um dos melhores
restaurantes do país, seríamos atendidos pela própria chef e depois iríamos
a uma festa de família. Gostei muito deste lugar, e a entrada já é deliciosa, o
que me deixa ansioso pelo prato principal, mas tudo isso parece muito
íntimo.
— Provavelmente é — Dimitri disse, fazendo carinho na nuca do
ômega. — Eu quero que seja.
— Por quê? — o ômega sussurrou a pergunta, os dois estavam cada
vez mais próximos.
— Quero que essa noite seja perfeita, para que você nunca se
esqueça dela — o russo respondeu, inclinando-se e dando leves beijos no
pescoço do brasileiro, que suspirou.
— Está indo pelo caminho certo.
— Que bom, porque ela é só a primeira. — Dimitri raspou seus
lábios pela pele do pescoço do ômega, inalando o delicioso aroma de cacau
e maracujá.
— Por que você fala essas coisas? — Cauê perguntou, virando-se
para encarar o alfa. — Você sabe que, quando essa noite terminar,
estaremos em uma cama. Eu já quero transar com você, não precisa florear
e fazer promessas.
— Mas eu não quero só transar com você — o lúpus disse sorrindo
de canto, segurando o rosto do ômega com suas mãos. — Quero fazer amor
com você da forma mais verdadeira e intensa possível. Quero te amar como
você merece ser amado, cada parte sua, hoje e todos os outros dias que
vierem. Não quero ser um caso de uma noite que você lembra com
nostalgia. Serei aquele que sempre estará com você, pronto para realizar
cada desejo seu.
— Dimi...
— Gostei, pode me chamar assim quando quiser. — O lúpus sorria
malicioso, vendo como seu soulmate estava em suas mãos. E eles nem
tinham se beijado ainda.
— Por que não pulamos o jantar e a festa e voltamos para meu
quarto? — Cauê sugeriu quase choramingando.
O alfa riu baixinho e voltou a beijar seu pescoço.
— Teremos um delicioso jantar agora, depois iremos a uma bela
festa, veremos os fogos estourando na virada de ano, depois poderemos ir
para seu quarto de hotel, entendeu?
— Sim. — O ômega suspirou.
— E então te farei gozar quantas vezes eu quiser, até você estar
rouco de tanto gemer meu nome. Para que amanhã, cada vez que andar,
ainda se lembre da sensação do meu pau dentro de você. Te deixarei viciado
nessa sensação, mas prometo te fazê-la sentir quando quiser, desde que seja
um bom garoto para mim.
— Eu não sou um bom garoto — Cauê sussurrou.
— Eu sei — Dimitri murmurou com voz rouca no ouvido do ômega
—, mas vou adorar te ensinar a se comportar na cama.
— Vai me punir? — o ômega provocou.
— Em cada ocasião que eu achar necessário.
— Pelo visto, serão várias, já que parece ser um alfa muito exigente,
signore Barkov.
O olhar do russo escureceu, o que fez o sorriso malicioso do ômega
aumentar. Dimitri se perguntou, se o ômega tivesse noção de quem o alfa
realmente era e do que gostaria de fazer com ele, se Cauê recuaria nessa
provocação. Mas, vendo como o brasileiro sorria de canto e bebia seu vinho
calmamente, soube que não faria diferença nenhuma.
Enquanto Dimitri era um dominador natural, Cauê era um brat, um
submisso que o desafiaria o tempo todo. Talvez ele não soubesse disso
ainda, mas era. O alfa negou com a cabeça, sorrindo e pegando seu vinho,
não fazia muitas cenas com brats porque não era disciplinador, ele gostava
de ser obedecido, não desafiado.
Porém ali estava seu ômega, pronto para uma longa guerra que
ambos sabiam que o alfa ganharia. Tudo bem, Dimitri jogaria aquele jogo.
— Essa é a melhor comida que já provei — Cauê disse, saboreando
seu macarrão.
— Você tem a ousadia de dizer isso na minha cara, depois de ter me
contado que já se hospedou nos hotéis Barkov? — O alfa fez uma expressão
muito dramática de ofensa, o que fez o ômega ter que tapar a boca com a
mão para não rir tão alto.
— Não comi no restaurante podendo escolher qualquer coisa, foi a
companhia aérea que pagou a conta e me deu opções. Então, se quer minha
opinião sincera, me leve para uma estadia lá e pague meu jantar — brincou.
— Tudo bem.
— Tudo bem o quê? — o ômega perguntou, bebendo seu vinho.
Aquilo era tão bom, que, se não tomasse cuidado, já chegaria bêbado na
casa dos Ferraro.
— Vamos para um hotel Barkov.
— Agora? — Sorriu com a brincadeira.
— Não agora, amanhã — Dimitri falou casualmente, mas o ômega
quase se engasgou com o vinho. — Zia Lucia nunca nos perdoaria se não
almoçássemos com ela, então podemos ir depois do almoço, umas três da
tarde?
— Espera, como?
— Peço para Vincenzo emprestar o jatinho dele. O meu está na
Rússia, provavelmente, mas, se aquele italiano metido ficar enchendo o
saco, falo direto com zio Sergio.
— Você está mesmo falando de irmos para a Islândia, assim, do
nada?
— Por que não? A viagem dura menos de cinco horas, chegamos
antes das oito da noite, mas tem o fuso horário, então chegaremos um pouco
depois das seis. Ainda dará tempo de jantar.
— Zeus — Cauê sabia que começaria a rir de desespero —, você
está brincando?
— Não, podemos ir se você quiser.
— Se eu quiser?
— Cauê — Dimitri disse, pegando a mão do ômega. O brasileiro
percebeu que seu coração disparava com os toques e gostou demais de
ouvir seu nome saindo dos lábios do alfa —, sei que é difícil entender tão
rápido, mas você está com um lúpus agora. Não quero te assustar, nem
apressar as coisas, mas, quanto mais rápido entender isso, mais fácil fica.
— Minha amiga disse que vocês são “intensos”, mas acho que
subestimei.
— Sua amiga conhece lúpus?
— Sim, ela é amiga de dois Moretto. A mãe dela trabalhava na casa
de férias deles em São Luís. Ela disse que, ao contrário da maioria dos
patrões, os lúpus realmente tratam bem seus empregados. Juliette acabou
ficando amiga de André e Bruno.
— Eles são os primos da Alice, não é? — Dimitri perguntou. —
Alice é a líder da família Moretto.
— Acho que sim, mas não entendo como isso funciona.
— Toda família lúpus tem um líder. No caso dos Ferraro, é
Vincenzo; dos Lions, é Aaron; e da família Barkov, sou eu. A líder dos
Moretto é Alice. Eu a conheci há um tempo, gosto dela. Devo ter visto
André e Bruno duas ou três vezes, mas apenas quando os visitava em São
Paulo. Nunca viajei muito pelo Brasil, o que espero mudar agora.
— Sinto que você me dá muitas informações ao mesmo tempo para
me confundir. — Cauê riu baixinho.
— Quero muitas coisas com você, mas te confundir não é uma
delas. — O alfa sorriu.
— Uma coisa de cada vez, antes de voltarmos às conversas sexuais
— o ômega o avisou, fazendo o russo rir. — Não vamos para a Islândia, não
é?
— Apenas se você quiser. O restaurante que atende os hotéis Barkov
é o “Maison de Loup”. Uma das principais unidades deles fica em Paris,
que é bem mais perto que a Islândia. Porém tenho motivos para não querer
ir para a França neste momento, então a Islândia é a melhor opção.
— Você é louco. — O ômega riu.
— Em minha defesa, sou o mais normal dos meus amigos. — O
lúpus sorriu e ele amava como seu ômega o deixava sorrindo o tempo todo.
— Não sei como isso é possível.
— Vincenzo você já conheceu, e aquela era a versão controlada, ele
é milhares de vezes pior. E, para completar o trio, temos Aaron Lions, o
lúpus que é temido pelos lúpus. Eles são meus melhores amigos, algo como
os irmãos que nunca tive.
— Isso é fofo.
— Não, eles serão a causa da minha morte. Eles são loucos,
inconsequentes e desprezíveis. Gigio, primo de Vincenzo, nos batizou de
“Trio do Caos”, e esse apelido pegou, sempre nos chamam assim. Vincenzo
quase causou uma guerra por ficar debochando do líder da família chinesa.
Se Alfa Choi, líder da família coreana e da Ásia inteira, não tivesse
intervindo, a terceira guerra mundial teria acontecido.
— Não mesmo! — Cauê ria.
— É sério, ele não consegue calar a boca, mesmo que sua vida
dependa disso. Por isso que Greg o proibiu de viajar sozinho ou só com
Aaron, porque, se Aaron estivesse junto, não sei se Alfa Choi teria
conseguido evitar — Dimitri finalizou suspirando dramaticamente.
— E você é o santo entre eles? — o ômega debochou.
— Estou ofendido de pensar o contrário, sou muito calmo e
controlado. — O russo sorriu de canto.
— Então aquilo de “caçar todos que já me fizeram mal” era só
brincadeira? — provocou.
— Mio caro — Dimitri disse, entrelaçando seus dedos —, tudo que
um lúpus diz é exatamente o que ele quer dizer. Quando prometemos algo,
não tem volta, não mentimos ou enganamos. Somos sinceros, literais e
nunca quebramos uma promessa.
— Como prometeu que me fará gozar até me deixar rouco de gemer
sempre que eu quiser, quer dizer que irá cumprir?
— Desde que me obedeça na cama. — O lúpus sorriu de canto.
— Eu te disse, não sou bom em seguir regras.
O russo sorriu malicioso. Com uma das mãos, puxou o ômega para
mais perto, colando seus corpos. Com a outra, segurou seu pescoço,
encostando seus lábios no ouvido do outro.
— Fora da cama, serei seu maior companheiro. Te darei tudo que
quiser, realizarei cada desejo, te ajudarei a realizar cada sonho. Eu te darei o
mundo e te mostrarei como você é o único que realmente importa, aquele
que deve ser amado e adorado — Dimitri dizia baixinho, fazendo a pele do
ômega arrepiar. — Mas nossa cama será meu território, são as minhas
regras, e você as cumprirá, senão terá punições.
— E se eu quiser ser punido? — sussurrou.
— Então você encontrou o alfa perfeito para você, porque adorarei
ver minhas marcas na sua pele.
— Me mostre!
— Não. — Cauê riu.
O jantar tinha sido muito agradável, a comida era deliciosa, e eles
conversaram sobre muita coisa. Dimitri não queria confundir seu ômega de
propósito, mas Cauê tinha uma mente muito afiada, e o alfa queria que
fosse tudo com calma. Não queria assustá-lo, porque, apesar de brincar e
provocar, o russo tinha percebido que seu soulmate não se abria facilmente.
— Por favor — pediu de novo, e o ômega riu daquele olhar pidão.
— Isso foi golpe baixo — disse, apoiando-se no alfa e levantando
uma das pernas da sua calça, mostrando sua meia laranja com losangos à
mostra. — Pronto, já deu para ver.
— Não, queria ver mais. — Dimitri fez biquinho.
— Vai ficar querendo — provocou-o.
— Tudo bem, mais tarde vou tirar cada peça de roupa do seu corpo
mesmo. — O alfa teve a cara de pau de dar de ombros, como se estivesse
falando algo casual e não estivessem em uma praça lotada.
Depois do jantar, resolveram caminhar um pouco pela praça, haveria
uma comemoração de ano novo, havia barraquinhas e muitas pessoas na
rua. A decoração de Natal ainda estava lá, brilhando e servindo de cenário
para muitas fotos. O lugar parecia mágico, tinha música ao vivo e, em um
momento, o alfa pegou na mão do ômega o virando, como se eles
estivessem dançando.
Não tinham se beijado ainda, e Cauê não tinha entendido o motivo,
oportunidades não faltaram, mas o alfa desviava no último segundo e
beijava o canto da sua boca.
— Então você tem uma coleção de meias coloridas? — Eles tinham
parado para ver uma apresentação, Dimitri abraçou o ômega por trás,
mantendo-o aquecido e protegido em seus braços.
— Sim, coloridas, desenhos abstratos, animações, estranhas,
qualquer tipo que não seja monocromático — o ômega respondeu. — Em
cada país que visitamos, minhas amigas e eu sempre procuramos algumas
diferentes. Minha irmã e minha mãe passam o ano inteiro juntando e me
dão um pacote enorme no Natal.
— Elas parecem ser legais.
— Elas são incríveis, minha mãe lutou muito para que Tainá e eu
tivéssemos as melhores oportunidades. Quando assinei contrato para ser
comissário, ela chorou muito de felicidade, assim como quando minha irmã
se formou na faculdade.
— Gostaria de conhecê-las.
— Não mesmo. — Cauê se virou para o alfa. — Elas iriam te
mostrar fotos constrangedoras minhas na infância, contariam coisas que
ninguém deve saber. Minha mãe iria se sentir pessoalmente ofendida porque
você não conhece a culinária cearense e iria passar os dias te enchendo de
comida. Talvez você saísse de lá direto para o hospital.
— Não se preocupe, lúpus são resistentes. — Dimitri ria alto. —
Sua mãe se dará muito bem com zia Lucia.
— Ela é louca? Porque amo minha mãe, mas sanidade é uma coisa
que está em falta naquela casa.
— Drama?
— Uma vez tentaram roubar a casa do vizinho, minha mãe bateu no
ladrão com um chinelo! — o ômega exclamou revoltado, e o alfa gargalhou.
— Não, não estou brincando ou exagerando, ela fez isso. Quando a polícia
chegou, o ladrão estava com medo dela. Ele tinha uma faca, e minha mãe,
um chinelo. O vizinho até fez um churrasco de agradecimento para ela.
— Tem certeza de que sua mãe não é uma lúpus?
— Tenho, minha irmã e eu tivemos que fazer teste de gênero, nós
dois somos ômegas puros. Minha mãe é ômega com genes de beta.
— E seu pai? Você não falou dele.
— Meu pai é tranquilo, ele é casado e tem mais dois filhos com a
esposa. Vive em uma comunidade indígena com a família. Tento passar
alguns dias com ele quando volto para o Brasil, mas, como às vezes tenho
pouco tempo, é mais fácil ficar na capital do estado do que viajar para o
interior.
— Você tem traços mesmo, é mestiço?
— Sim, meu pai é indígena, e minha mãe é negra. Minha irmã e eu
somos essa mistura. — Ele apontou para si mesmo. — Vivemos ao redor da
comunidade por vários anos, meu pai sempre fez questão de que tivéssemos
acesso à nossa cultura e entendêssemos a importância dela. Tainá e eu nos
mudamos quando eu já tinha uns treze anos, depois da separação dos meus
pais. Mudamos para uma cidade maior, depois para Fortaleza, a capital do
Estado. Minha mãe achou que assim teríamos mais oportunidades de estudo
e trabalho. Mas falo com meu pai por telefone quase toda semana, adoro
minha madrasta e as pestes que são meus irmãozinhos. Minha mãe e minha
madrasta também se dão bem, minha mãe brinca que meu pai agora é
problema dela.
— Isso é muito legal.
— E sua família? Você também não falou sobre eles.
— Minha família é... complicada — o alfa disse, desviando o olhar
por um segundo.
— Tudo bem, se você disse que aquela era a versão controlada de
Vincenzo, deve ser complicado tê-lo na família mesmo. — Cauê deu de
ombros, assistindo à apresentação, e Dimitri sorriu, sabia o que ele estava
fazendo. — Mas me fale sobre o resto dos Ferraro, devo me preocupar com
algum? Tem alguma prima de coração quebrado e vingativa?
— O quê? Não! — O alfa voltou a rir.
— Que bom, porque já passei por isso e não quero passar de novo.
Quase fui deportado, e seria uma pena isso acontecer antes de voltarmos
para aquele quarto de hotel.
— Você não vai terminar essa história? Eu preciso saber o resto!
— Quem sabe? Fica para um possível segundo encontro.
— Para ter um segundo encontro, o primeiro tem que acabar. E não
me vejo te soltando em breve. — Dimitri beijou o pescoço do ômega, que
sorriu.
— Isso foi assustador e fofo na mesma intensidade, ainda estou
decidindo qual é mais forte.
O relógio da torre da igreja bateu, indicando que eram dez da noite.
O alfa suspirou, era hora de irem para a casa dos Ferraro. Ele amava sua
família com todo seu coração, mas, assim que pusessem os pés lá dentro,
não sabia quando teria seu ômega de volta. Ao mesmo tempo que estava
muito ansioso para Lucia e Sergio conhecerem seu ômega, estava com
medo de ser demais e que isso o assustasse.
— Temos mesmo que ir? Este lugar é lindo — Cauê comentou
quando voltaram para o carro do alfa.
— Podemos vir amanhã à noite, já que não quer ir para a Islândia,
ainda terá muita coisa acontecendo. Mas agora temos que ir para os Ferraro,
não podemos faltar à celebração deles.
— Por quê? — o ômega perguntou, ignorando aquela vozinha na
cabeça que dizia que ele não estaria ali amanhã à noite. Era para estar na
Espanha, com suas amigas.
— Se qualquer membro da família Ferraro faltar em qualquer data
festiva, é bom que tenha uma ótima desculpa, ou enfrentará a fúria de Lucia
Ferraro.
— Você não disse que Vincenzo é o líder da família?
— Sim, mas isso não impede zia Lucia de punir do jeito mais
doloroso que puder. Ela parece ser uma doce senhora, mas é cruel quando
quer — Dimitri lamentou dramaticamente, fazendo o ômega rir.
Durante o trajeto, Dimitri tentou preparar seu ômega para o que
viria, não queria que ele se assustasse e fugisse, o que fez Cauê rir. O
brasileiro tentou explicar que ele nasceu e foi criado no Brasil, então sabia
como reuniões de família podiam ser caóticas.
O que o ômega estava lutando contra era a sensação de
familiaridade que sentia. Tudo aquilo estava sendo uma loucura, mas estava
se divertindo tanto, que não conseguia pensar direito. Dimitri o tocava,
fazia sua pele se arrepiar, surrava promessas do que fariam mais tarde,
deixando-o ansioso pelo alfa. Ao mesmo tempo o fazia rir e se sentir
protegido e confortável.
Tudo isso era perigoso e fascinante.
— Ok — o alfa suspirou —, chegamos.
Assim que saiu do carro, o ômega pôde ouvir o som do mar. A casa
era muito grande e estava bem iluminada. Ainda tinha decorações de Natal
e várias luzinhas em volta. Quanto mais perto chegavam, mais alto ficava o
barulho de várias pessoas conversando e comemorando.
— Preparado? — Dimitri perguntou, estendendo a mão para o
ômega.
— Não sei, mas acho que não tem mais como voltar atrás. — Cauê
riu, aceitando a mão do alfa, que o guiou pela casa até chegarem a um pátio
cheio de pessoas.
Cauê esperava encontrar apenas a família Ferraro, imaginou que
seriam algumas pessoas brancas e refinadas, com roupas caras e taças de
champanhe na mão. Mas foi o total oposto.
Eram pessoas de diferentes etnias, estilos e idades. Em um canto
tinha dois alfas, um branco e um negro, meio abraçados, meio dançando, já
parecendo bêbados, enquanto outras pessoas tocavam violão e cantavam
músicas típicas italianas. Tinha uma enorme mesa cheia de comidas, e
parecia que a cada minuto mais alguém saía da cozinha trazendo mais
alguma travessa. Crianças corriam pelo gramado, e, mais à frente, tinha
uma enorme fogueira queimando.
— Bambino! — Uma ômega de cabelos claros apareceu e abraçou
Dimitri. — Estava com medo de que não chegasse a tempo.
— Perdonami, zia, questo è Cauê, mio soulmate — o russo disse,
indicando o brasileiro. Lucia se virou sorridente para o ômega, parecendo
verdadeiramente feliz.
— Benvenuto in famiglia, mio caro — falou com um enorme sorriso
e abraçando o ômega com força.
— Obrigado — Cauê respondeu um pouco incerto.
Ele podia não falar italiano, mas Dimitri tinha acabado de usar a
palavra “soulmate”?
— Zio Cauê! — Damiano correu e pulou, abraçando o ômega. —
Tem mais doce? Mamma não me deixou pegar mais.
— Sinto que você só gosta de mim por causa dos doces — brincou.
— Ciao padrinos — Annelise disse sorrindo.
Cauê olhou para Dimitri, o que estava acontecendo ali?
— Oi, que bom que chegaram — Greg os cumprimentou, junto
estava Vincenzo.
— Vamos, vamos apresentar seu ômega para a família — Lucia
disse, puxando Dimitri e Cauê pela mão.
— Boa sorte — Vincenzo os provocou.
Várias pessoas os abraçavam e diziam que estavam felizes de
conhecê-lo. Ofereciam comida e bebidas, e, quando percebeu, já tinha uma
taça na mão. Dimitri tentava ficar ao lado do seu ômega, mas era difícil
quando os Ferraro estavam tão empenhados em cumprimentar o novo
integrante da família.
— Vocês se atrasaram! — Angelo exclamou, vendo o alfa e o
ômega.
— Esse inconveniente é Angelo, o marido de Donna. — O russo
bufou, e o italiano desdenhou.
— Mas ainda falta uma hora para a virada de ano, por que nos
atrasamos? — Cauê perguntou, confuso.
— Porque eu preciso te dar meu presente. Vem, você precisa se
trocar — Angelo disse, pegando a mão do brasileiro e o levando consigo.
— Onde está indo com meu ômega? — Dimitri tentou impedir.
— Mamma, Dimitri está tentando impedir Cauê de participar das
nossas tradições! — o ômega italiano gritou.
— Que feio, husky, tentando excluir seu ômega! — Vincenzo negou
com a cabeça dramaticamente.
— O quê? Eu não fiz nada!
— Bambino, deixe seu ômega participar, ele é da família agora! —
Lucia respondeu com as mãos na cintura.
— Não se preocupe, eu vou com você — Greg murmurou para
Cauê, que estava com os olhos arregalados, sendo arrastado por Angelo até
um quarto.
— Aqui, este é meu presente para você — o ômega italiano disse,
entregando um pacote para o brasileiro enquanto Greg fechava a porta. —
Ali é o banheiro, pode se trocar lá.
— Hã? — Cauê abriu a embalagem, e era uma cueca boxer
vermelha, mas feita de renda.
— Angelo. — Greg passou a mão no rosto.
— Não é perfeita? Espero que seja seu número, porque precisei
adivinhar pela foto que minha esposa me mandou. Mas meu sogro trabalha
com alfaiataria, ele me ajudou a descobrir seu número — o italiano dizia
orgulhoso.
— Foto? Que foto?
— Cauê, aqui temos a tradição de usar roupa intima vermelha na
virada de ano. Tem que ser um presente de alguém, porque atrai sorte,
felicidade e amor. Olha. — Greg puxou um pouco a calça, mostrando o
elástico vermelho.
— Mas tem que ser de renda? — o brasileiro perguntou.
— Juro que é confortável e vai ficar lindo no seu corpo — Angelo
garantiu. — Seu alfa vai ficar louco.
— Ok — Cauê respondeu incerto.
Mas, bem, era seu primeiro dia ali, e já desrespeitaria as tradições?
Quis revirar os olhos mentalmente. “Primeiro dia”? Por quê? Pretendia ter
mais?
Rumou para o banheiro e trancou a porta, melhor nem pensar muito.
Já tinha aceitado que era melhor não ficar questionando, só seguir o fluxo.
O banheiro era ainda maior que o do seu quarto de hotel e pensou como
deveria ser boa a vida dos milionários.
Tirou a roupa, colocou a própria cueca dentro do pacote e o guardou
no bolso interno do seu blazer, afinal aquela era uma das suas melhores e
mais caras, não correria o risco de perdê-la. Colocou a cueca vermelha, não
era feminina, parecia uma boxer um pouco menor, seria normal se não fosse
o fato de ser feita de renda.
Riu de si mesmo ao perceber que estava de cueca de renda e meias
laranjas. Tirou as meias só para tirar uma foto no enorme espelho, mas já
colocou todas as roupas de volta, afinal ainda estava frio.
— Queria ver, mas Greg disse que seria indelicado. Porém, tenho
certeza de que ficou lindo — Angelo falou assim que o brasileiro saiu do
banheiro.
— Tirei uma foto. — Cauê deu de ombros, mostrando a foto para os
outros ômegas. Tinha acabado de enviar para as amigas mesmo, não se
importava de mais ômegas a verem.
— Dimitri vai ficar doido!!! — O italiano riu. — Mostra para ele
depois da meia-noite, porque mamma não vai deixar vocês irem embora até
depois das duas, e ele vai passar horas louco.
— Gosto da sua mente maligna. — O brasileiro riu.
— Ele? Espera até conhecer Gigio, aí saberá o que é o mal — Greg
respondeu quando saíram do quarto.
— Tudo bem? — Dimitri perguntou assim que seu ômega desceu as
escadas.
— Sim, Angelo realmente queria me dar um presente.
— Presente? — O alfa estava desconfiado.
— Sim, depois te mostro.
— Tudo bem — o russo respondeu, ainda sem entender.
— Sabe, sua família é legal, mas completamente louca. Gosto deles.
Aquilo fez Dimitri sorrir.
— Andiamo! — Lucia disse para a família.
Cauê riu o tempo todo. Mesmo não falando italiano, ele conseguiu
se comunicar muito bem com a família Ferraro. Fez desafio de shot com
Angelo, Kira, uma prima, Greg e Gigio, sendo este o campeão. Aliás, o beta
ficou muito feliz de o conhecer, dizia que finalmente estava livre e agora
tinha alguém para controlar Dimitri, a última peça do Trio do Caos que
ainda estava com as rédeas soltas.
— Ele é exagerado — o russo se explicou, mas não foi muito
convincente.
— Tive que ensinar Greg e Luc como domesticar aqueles cães vira-
latas sarnentos, mas pelo jeito você já nasceu com o instinto. Estou
emocionado. — O beta limpou uma lágrima imaginária.
Cauê não comentou como todo mundo tratava aquilo como
permanente, sendo que eles nem tinham se beijado ainda. Também não
tinha tido tempo de questionar Dimitri sobre ele ter usado a palavra
soulmate. Havia crescido com sua irmã acreditando em almas gemas e
diversas lendas sobre isso na comunidade indígena em que seu papai
morava.
— Posso tirar uma pequena dúvida? — perguntou para Greg, já que
tinha visto Vincenzo o chamar de soulmate, então o ômega saberia dizer se
para os lúpus tinha um significado diferente do que para os comuns.
— Claro, mas, se for perguntar se eles são loucos — falou,
indicando Vincenzo e Dimitri —, a resposta é um “sim” gigantesco.
— Bem, isso eu percebi. Mas é sobre como Dimitri me apresentou à
família.
— Ele te chamou de soulmate, não é? — Greg sorriu, já tinha
passado por isso.
— Você ouviu?
— Não, mas imaginei. Já estive no seu lugar. Quando se é criado
com os comuns e, de repente, é jogado no mundo lúpus, as coisas ficam
confusas. E nenhum integrante do Trio do Caos é conhecido por sua calma
e grande habilidade em comunicação.
— Devo ficar preocupado?
— Incrivelmente não. — Greg sorria compreensivo. — As coisas
vão ficar confusas e um pouco surreais, será difícil acreditar em tudo isso.
Mas juro que é verdade e tudo vai ficar bem. Não em paz, porque isso é
uma coisa que os lúpus, principalmente esses, não têm, mas ficará tudo
bem.
— Você só está me deixando mais confuso.
— Eu sei, me desculpa, mas quem tem que te explicar tudo isso é
Dimitri. Prometo que, depois que ele te contar, poderemos conversar e vou
tirar todas as suas dúvidas. Por enquanto, só aproveite a noite e se divirta.
A conversa terminou, porque já estava muito próximo da meia-
noite, e tinham que seguir as tradições. Lucia entregou uma romã para Cauê
e disse que era para dividir com Dimitri, depois piscou, batendo no ombro
do ômega.
— Já é quase meia-noite, vamos jogar as coisas pela janela — zio
Peppe chamou a todos, que começaram a pegar coisas de sacolas ou caixas
que estavam na sala da casa.
— Jogar coisas pela janela? — Cauê perguntou confuso.
— Existe uma tradição de jogar alguma coisa pela janela durante a
virada de ano, é para se livrar do passado e dar boas-vindas ao novo —
Dimitri explicou sorrindo
— Ah, ninguém avisou, não tenho nada velho para jogar.
— Joga o Dimitri, ele é velho — Vincenzo sugeriu.
— Sou quatro meses mais velho que você — o russo disse, jogando
uma azeitona no amigo.
— Mas é apodrecido por dentro! — o italiano respondeu,
escondendo-se atrás de seu ômega.
— Bambinos, agora não é momento, temos que garantir paz e
fortuna para o próximo ano — Lucia os repreendeu.
— Paz? Com o Trio do Caos? — Angelo riu e levou um tapinha da
mãe.
— Tem uma coisa que deixei guardada por um tempo para jogar,
acho que é o momento ideal — Dimitri disse pegando um embrulho em
papel pardo, que estava no fundo de uma das caixas.
— Um controle de videogame velho? — Cauê perguntou, confuso,
mas achando engraçada aquela tradição.
— Já que você não tem nada para se desfazer, podemos jogar esse
juntos, o que acha?
— Tudo bem. — O ômega entendeu que aquilo era importante para
o alfa, apenas não sabia o motivo ainda.
— Faltam dez segundos — Sergio avisou a família.
Dimitri segurou Cauê pela mão e o levou para a sala do primeiro
andar, alguns integrantes da família Ferraro estavam ali, incluindo
Vincenzo, Greg, Angelo e Donna. Eles se encostaram na proteção da
sacada, sorriam o tempo todo. Os dois seguravam o velho controle e,
quando faltavam apenas três segundos para a virada de ano, lançaram-no o
mais longe que puderam.
— Feliz ano novo. — Cauê sorriu para o alfa.
— Tenho certeza de que este será o mais feliz até agora — Dimitri
respondeu, segurando o rosto do ômega em suas mãos e encostando seus
lábios nos dele.
Era um beijo terno, macio, calmo, até que eles entreabriram os
lábios, e tudo mudou.
Foi necessária apenas uma pequena prova do gosto do ômega para
que o lobo de Dimitri rosnasse, querendo mais. Ele abraçou seu soulmate,
que envolveu seus braços no pescoço do alfa, ambos pareciam sedentos.
Cauê nunca tinha sentido aquilo, era uma necessidade quase brutal,
e eles estavam apenas se beijando. Tudo ao redor sumiu, a comemoração da
família no andar inferior, os fogos de artifício estourando, o barulho do mar.
Nada existia ali, apenas o alfa o beijando.
O ar começou a faltar, mas eles não se importavam. Dimitri tinha
seu soulmate nos seus braços, beijando-o, era isso que importava. Cauê não
tentou sair, não diminuiu o ritmo, pelo contrário, instigou o alfa, queria
mais. Os corpos estavam colados, não havia espaço entre eles. Mesmo sob
tantas camadas de roupas, eles sentiam como um queria o outro. Para
ambos, aquele momento era perfeito.
Eles não conseguiam dizer quanto tempo o beijo durou, mas foi a
ponto de os lábios ficarem inchados. Dimitri precisou fazer um esforço para
segurar o gemido quando viu os lábios de seu ômega brilhantes e inchados,
Cauê percebeu e sorriu de canto, provocando o alfa.
— A romã! — ouviram Angelo gritar, e o alfa revirou os olhos.
Cauê riu, mas foi para esconder um pouco da vergonha, tinha se
esquecido completamente das outras pessoas ali. Mas, olhando ao redor e
vendo como Vincenzo e Greg também se beijavam, notou que não tinha
sido só ele.
— Amassei um pouco. — Riu da fruta que ainda estava em seus
dedos, um pouco deformada.
Delicadamente, Dimitri segurou o punho de Cauê e levou a mão que
segurava a fruta entre eles. Olhando nos olhos do seu ômega, ele aproximou
sua boca da romã. O ômega o imitou, então, ao mesmo tempo, eles
morderam a fruta, sempre olhando um nos olhos do outro.
Um pouco do suco da romã escapou pelos lábios de Cauê. Com a
mão livre, o alfa segurou o rosto dele. Dimitri se inclinou e, com a ponta da
língua, lambeu as gotas que escaparam.
— Eu disse que esse ano seria feliz — murmurou e voltou a beijar
seu ômega.

— O que queria me mostrar? — Dimitri perguntou inocentemente, o


que fez o ômega rir. Cauê até tinha se esquecido da foto, mas já que o alfa
queria ver, seria rude em não mostrar.
A comemoração dos Ferraro continuava, mesmo que os filhotes
pequenos já estivessem dormindo. A família continuava comendo e
bebendo, cantando e dançando, contando histórias.
Eles precisaram de alguns minutos para voltar para perto do resto da
família, mas, ao encontrar Greg e Vincenzo, Cauê riu. O alfa italiano estava
terminando de arrumar suas roupas, e o ômega tentava arrumar o cabelo.
Fora que o brasileiro tinha certeza de que eles estavam saindo do banheiro.
— Quieto, husky — Vincenzo avisou o amigo, que riu.
Os Ferraro se abraçavam, e Lucia fez questão de que todos
comessem lentilhas, para que o novo ano fosse próspero.
— Bem, contando como anda minha conta bancária, preciso mesmo
— Cauê brincou.
— Não se preocupa, você já fez um investimento milionário —
Gigio respondeu rindo.
Eles estavam no banco do pátio, Vincenzo e Dimitri em um, Martina
e Donna em outro. Os alfas tinham puxado seus companheiros para seu
colo, eles estavam sentados ali, tomando vinho e conversando. O ambiente
era maravilhoso, e Cauê estava mesmo se divertindo. Ajudava que o russo
mantinha os braços à sua volta, sempre fazendo carinho ou beijando seu
pescoço.
— Milionário? Tente bilionário. — Vincenzo riu, batendo no ombro
do amigo, e Dimitri revirou os olhos.
Cauê arregalou os olhos, perguntando-se onde tinha se metido. Greg
riu e apertou seu ombro, confortando-o.
— Eu sei, isso assusta, mas você se acostuma — disse para o
brasileiro, que estava um pouco descrente dessa parte.
A praia dos Ferraro era particular, em algum momento algumas
pessoas resolveram ir até lá. Greg proibiu Vincenzo e Dimitri de se
aproximarem do mar. Disse que não queria que repetissem o que fizeram no
casamento dele. Vincenzo tentou argumentar que não aconteceria, já que a
culpa daquilo era do “Cane Pazzo”, mas o ômega não abriu discussão.
— É uma foto que tirei hoje, quando Angelo me deu o presente dele
— Cauê respondeu para Dimitri. Eles estavam sentados sobre uma toalha,
vendo o mar. Parte da família estava por perto, brincando ou se provocando.
— Foto? — Dimitri perguntou, desconfiado.
O ômega riu e mostrou a foto que estava no celular. Dimitri trincou
o maxilar e respirou fundo. Seu ômega, tão perfeito, estava quase nu, exceto
por uma peça de renda de vermelha, cobrindo sua intimidade, mas
marcando seu pau. A cor da peça contrastava com o tom de pele, tornando-
o ainda mais atraente.
— Tudo bem? — Cauê perguntou, fazendo-se de inocente.
— Preciso de um minuto para me controlar e não passar vergonha
na frente da minha família, depois vamos embora, e te mostro se está tudo
bem — o alfa respondeu em voz baixa.
— Ir embora e decepcionar zia Lucia? Ela disse que serviria café
com o bolo especial que fez para todos. Não podemos ir agora. — O ômega
sorriu, e o russo cerrou os olhos para ele.
— Zios! — Damiano disse, jogando-se em cima deles. Dimitri teve
que se ajeitar e se manteve atrás de Cauê o tempo todo, o que fez o ômega
rir.
O alfinha estava com sono e suado de tanto brincar, Annelise estava
em videochamada com a amiguinha que tinha feito no casamento dos
Jones-Knight, mas já coçava os olhos. Greg e Vincenzo levaram os filhos
para o quarto que tinha na casa dos avós. Cauê até ofereceu ajuda, o que fez
Dimitri cerrar os olhos de novo, mas não foi necessário.
— Me diz, Cauê — Lucia falou quando todos tomavam café —,
você gosta de futebol?
— Sou brasileiro, meio que está no sangue. — Ele deu de ombros.
— Não sou fanático e não acompanho mais, mas conheço um pouco. E,
sempre que tem Copa do Mundo, o espírito torcedor renasce.
— Torce para algum time? — a ômega perguntou, e Cauê achou
estranho como algumas pessoas prestavam atenção.
— Mamma! — Angelo disse em tom de aviso, mas a ela o
dispensou com a mão, como se não fosse nada.
— Torço para o Fortaleza, porque é o time da cidade em que eu
morava, mas, como eu disse, não acompanho tanto.
— Torceria para um time fora do Brasil? Um time europeu, por
exemplo?
— Sim, mas nenhum de Portugal ou Espanha, sou latino e tenho
trauma — ele brincou, fazendo os outros rirem. — Gosto do Manchester
City, mas gosto mais do estilo italiano. Sei que estamos em Roma, mas, de
todos, acho que prefiro o Juventus.
Lucia e vários outros membros da família gritaram de alegria,
comemorando. Outros lamentaram, como se tivessem recebido péssimas
notícias, a ponto de serem consolados por outros. Angelo consolava o pai, e
o padrasto de Greg consolava o marido.
— Sabia! No momento em que entrou nesta casa, eu soube! —
Lucia dizia alegre, abraçando Cauê.
— O que aconteceu? — o brasileiro perguntou para o russo, que
sorria.
— Zia Lucia te adotou oficialmente.
— Que bom, não é? — o ômega perguntou incerto.
— Escute, Cauê — Sergio Ferraro disse, suspirando —, sei que é
novo na nossa família, ainda posso te mostrar como mio Roma é muito
superior, então entendo, temos tempo. Mas saiba que, mesmo assim, você é
um de nós e te amamos por fazer nosso bambino feliz.
— Obrigado. — Cauê sorriu amarelo, sendo engolido pelo abraço
do mais velho.
— Pare de drama, Sergio — Lucia empurrou o marido e voltou a
abraçar o ômega. — Sei uno di noi adesso, amore mio.

Finalmente eles puderam sair, Greg e Angelo até tentaram ajudá-los


a sair mais rápido, mas Vincenzo e Gigio sempre atrapalhavam de
propósito, só para infernizar Dimitri. Greg teve que arrastar Vincenzo para
longe, e Martina conseguiu distrair o marido para que eles fossem embora.
— Vamos tomar vinho? — Cauê perguntou, Dimitri tinha saído da
casa dos Ferraro com uma garrafa, e aquela tinha aparência de ser ainda
mais cara do que aquela que tomaram no jantar.
— Acho que esta noite merece — o alfa respondeu enigmático.
Eles conversavam e riam, escondendo a antecipação do que fariam
em breve. Cauê tinha tomado tanto vinho, que não sabia como não estava
bêbado. Mas aí lembrou que tinha comido muito bem e tinha tomado vinho
de verdade, não aquelas coisas com aparência de suco de uva e procedência
duvidosa.
Chegaram ao hotel, ainda tinha muita gente nas ruas, comemorando.
Assim que entraram no elevador, a atmosfera em volta deles já começou a
mudar, antes era leve, agora parecia que havia eletricidade entre eles.
Dimitri passou o dorso do dedo pelas costas de Cauê, o ômega sentiu o
arrepio subindo pelo corpo.
Entraram no quarto, Cauê deixou seu blazer em cima cadeira e se
virou para o alfa, agradecendo internamente por ter jogado a bagunça
dentro do guarda-roupa. Dimitri respirou fundo, inalando o maravilhoso
aroma do seu ômega, cacau e maracujá era uma combinação que nunca
tinha parecido tão boa.
— Quer vinho? — o alfa perguntou sorrindo de canto e abrindo a
garrafa.
— Claro. — O ômega sorriu, sabendo que tudo aquilo era o início
de um jogo. Dimitri puxou seu ômega e o virou, prendendo-o contra a
parede.
— Você cheira muito bem — Dimitri disse passando seu nariz pelo
pescoço do ômega. — O melhor perfume que já senti.
— Não pegou uma taça para nós? — Cauê o provocou, seu corpo
preso entre a parede e o corpo do alfa. A perna de Dimitri entras as pernas
de Cauê, seus quadris se friccionando.
— Não preciso, tenho você — o alfa respondeu malicioso.
A garrafa de vinho estava em uma mão, com a outra ele segurou o
queixo do ômega e, com leveza, puxou-o um pouco para baixo, fazendo
com que o ômega abrisse a boca. O alfa virou um pouquinho de vinho na
boca de Cauê, deixando que escorresse pelos lábios.
— Não engula, não ainda — o russo sussurrou.
O alfa lambeu os lábios do seu ômega vagarosamente, sentindo os
arrepios que causava nele. Só então o beijou. Eles dividiam o gosto do
vinho, o beijo avançando até que não sobrasse nada que não fosse o gosto
do outro.
Eles se distanciaram apenas um pouco, os olhos do alfa brilhavam e
ele tinha aquele sorriso de canto que fez o ômega suspirar e antecipar o que
viria. Dimitri os conduziu até a cama, deixou a garrafa na mesa de
cabeceira, e tirou a própria jaqueta, deixando-a na cadeira próxima.
— Fique apenas com sua calça — disse para o ômega. Mesmo que o
tom de voz fosse calmo, a ordem estava implícita.
Cauê não sabia o motivo, ele não era de seguir ordens, mas o jeito
que o alfa falava o fazia querer obedecer. Dimitri ficou de braços cruzados,
mas sorria daquele jeito malicioso de quem sabia que mandava ali.
O ômega tirou quase toda sua roupa, ficando apenas de calça,
sentado na cama e sem saber o que fazer, esperando pela próxima ordem.
Aquele era um jogo do qual nunca tinha gostado, mas Dimitri o fazia querer
jogar e perder.
— Tão bom para mim... — O alfa acariciou o rosto do ômega.
O russo imitou o brasileiro, ficando apenas com sua calça. Amarrou
o cabelo com um laço de cabelo que estava no seu bolso, fazendo um coque
improvisado. O ômega tremia um pouco, ansioso pelo que estava por vir,
mas o alfa fazia tudo devagar, deliciando-se com o momento.
Dimitri pegou a garrafa de vinho e tomou um gole direto do gargalo,
depois ofereceu a Cauê, que confirmou com a cabeça. O alfa segurou em
seu queixo e o ômega já sabia o que fazer. Deixando que o líquido caísse
dentro de sua boca, mas sem o engolir, até que os lábios do alfa estivessem
sobre os dele.
— Você será minha taça e vai gostar disso, não é? — Dimitri
perguntou, sua mão deslizando pelo corpo do ômega, que gemeu baixinho.
A garrafa voltou para a mesa enquanto o alfa beijava o pescoço do
ômega, fazendo-o se deitar. As presas do alfa coçavam para marcar a pele
de seu soulmate, mas ainda não era o momento.
Os lábios do russo deslizaram até os mamilos do ômega. Sem aviso,
ele sugou o primeiro, e Cauê gemeu mais alto do que pretendia. Aquilo era
bom, chegava ao limite entre dor e prazer, o local estava sensível demais,
mas Dimitri o lambia, para aliviar um pouco, depois sugava de novo.
Ele passou para o outro mamilo, e o ômega ofegou, não sabia se
conseguia lidar com aquilo e era só o início, mal tinham se tocado e ainda
usavam calças. O que não impedia seu pau de estar completamente duro.
Dimitri passou para o abdômen do seu ômega, dando pequenas
mordidas, já que não poderia deixar sua marca ainda. Abriu a calça de
Cauê, deslizando o tecido e beijando cada novo pedaço de pele que
aparecia. Ele cumpriria a promessa de adorar cada parte do ômega.
— Lindo — Dimitri murmurou depois de descartar a calça do outro
no chão. Cauê estava deitado na cama só com aquela cueca de renda
vermelha.
O alfa deslizou suas mãos pelas pernas do ômega, chegando até o
tecido rendado, deixando seus dedos acariciarem a pele coberta, mas
voltando logo depois. O ômega estava se segurando para não choramingar,
precisava de mais.
O russo pegou a garrafa e virou um pouco do vinho no abdômen do
seu soulmate. A pele de Cauê se arrepiou com o líquido frio, mas logo a
língua quente do alfa estava de volta. A boca sugava o vinho, os dentes
raspavam na pele.
— Dimi...
— Gosto quando me chama assim — Dimitri disse, inclinando-se, e
sussurrou ao ouvido do ômega: — Gosto de saber que está tão entregue a
mim, que eu poderia, e vou, fazer o que quiser. Mas, não se preocupe, vou
cuidar muito bem de você, amore.
Ele derrubou um pouco de vinho nos mamilos do ômega, que já
estavam sensíveis e o fez choramingar. O alfa não foi piedoso, sugou de
novo, mesmo com a sensibilidade quase deixando doloroso, fazendo o
ômega morder sua mão para não gemer alto.
— Não, quero ouvir cada grito e gemido, porque eles são meus por
direito — Dimitri disse afastando a mão de Cauê do seu rosto.
— Isso... não... é justo... — o ômega ofegava.
— O mundo não é justo. — O alfa sorriu de canto. — Por exemplo,
não foi justo comigo saber que você estava usando isso e não poder fazer
nada. Você me provocou, não pode reclamar.
Então, como se para provar seu ponto, Dimitri beijou o pau do
ômega por cima da renda. Cauê gemeu, sentindo o calor da boca do outro,
mas não podia senti-la em sua pele.
Dimitri se ajoelhou na cama, ele ainda usava sua calça preta, mas a
abriu para dar mais espaço para o pau duro e dolorido. Cauê estava deitado,
vendo o alfa sobre si, o cabelo preso pelo coque, alguns fios escapando, as
tatuagens tomando o peito e descendo pelos braços. Uma das mãos
segurava a garrafa de vinho, a outra apertava a coxa do ômega.
Derrubou vinho no abdômen do ômega, deixando escorrer para
perto da renda. O alfa, sorrindo de canto, lambeu e sugou cada gota do
líquido. Sua língua deslizou por baixo da renda, usando sua mão para
abaixá-la um pouco, quase chegando no pau do ômega, que arfava. Mas
parou ali.
— Não, qual é? — Cauê choramingava, ele queria bater no alfa. —
Para com isso.
— Amore, ainda não entendeu que sou eu que mando aqui? —
Dimitri perguntou calmamente, puxando o cabelo de Cauê, fazendo-o expor
seu pescoço. Derrubou vinho ali e o lambeu. — Te avisei que aqui quem
dita as regras sou eu.
Dimitri beijou seu ômega, era feroz e ávido, os dois estavam
desesperados. Cauê se agarrou ao alfa, puxando-o para si, precisando de
mais contato. Qualquer que fosse.
O alfa se afastou e ficou de joelhos de novo, deixando a garrafa
sobre a mesa. Suas mãos estavam nas laterais da renda, queria ter
aproveitado a vista mais, mas agora não estava aguentando. Seus dedos se
enrolaram no tecido e foram o baixando, libertando o pau do ômega, que já
vazava.
— Cauê, olhe para mim — Dimitri ordenou. — Não faremos nada
demais hoje, mas eu não sou adepto de gentilezas, preciso que me diga uma
palavra de segurança.
— Sério que quer que eu pense em algo agora?
— Palavra de segurança, escolha.
— Zeus. — O ômega suspirou. — Avião, pode ser?
— Perfeito. — O alfa sorriu, então sua língua tocou o pau do
ômega, que gemeu.
A boca de Dimitri era quente, ele sabia usar a língua muito bem,
rodeando a glande e lambendo cada gota de pré-gozo. Ele não mentiu sobre
não ser adepto de gentilezas, sugava e lambia até quase levar o ômega ao
ápice, depois recuava.
Cauê queria gritar, ele queria gozar, precisava disso, mas não
importava o que fizesse, o alfa não cedia. Dimitri começou a lamber a
entrada do seu soulmate, deliciando-se no gosto da lubrificação, buscando
por mais.
— Se vira — mandou enquanto tirava a própria calça.
— Camisinha! — o ômega exclamou quando se lembrou, abrindo a
gaveta da mesa de cabeceira, pegando o pacote.
— Sério? — Dimitri debochou.
— Você é gostoso para caralho, mas não sou idiota de pôr a minha
vida em risco. Com camisinha ou nada de sexo — foi taxativo, esperando
que o alfa aceitasse. Senão, seria uma pena, mas teria que expulsá-lo do seu
quarto.
— Ok. — Suspirou. Deveria ter explicado que lúpus não tinham
doenças nem podiam engravidar fora dos cios, mas não perderia tempo
fazendo aquilo naquele momento. Depois conversaria com seu ômega.
Cauê sentiu a língua do alfa em sua entrada de novo, aquilo era tão
bom, que poderia gozar assim, mas queria mais e, quando percebeu, estava
implorando. A mão do alfa segurou no seu cabelo, e ele não sabia que
gostava daquele tipo de dor, até aquele momento. Talvez fosse porque era
com ele, e tudo com Dimitri era muito melhor.
Sentiu o alfa o penetrando, entrando devagar, de um jeito torturante,
queimando e o abrindo, mas era prazeroso. Quando o alfa estava todo
dentro dele, soltou a respiração que estava segurando. Teve menos de dois
segundos para se acostumar, quando ele começou a se mexer.
Dimitri sabia o que fazer, ele acertava o ponto certo, seus lábios
estavam na pele do ômega, beijando costas e pescoço. Cauê apertava tanto
os olhos, que sentia as lágrimas se formando nos cantos. Mal conseguia
respirar, gemia alto, e seu coração estava tão disparado, que não se
assustaria se parasse.
— Respire, amore, continue respirando enquanto eu te fodo como
você queria — o alfa sussurrou, e Cauê quase chorou.
O alfa mordeu seu ombro, e isso lhe deu uma vontade arrebatadora
de pedir que o marcasse. Ele queria sentir as presas perfurando sua pele,
queria que a mordida no pescoço fosse funda o bastante para que a cicatriz
fosse visível de longe. Ele queria carregar a marca do seu alfa.
Cauê mordeu o travesseiro para se impedir de falar algo, sua
respiração estava ofegante, e ele não confiava mais em si mesmo. Então
Dimitri o virou, sentando-se na cama e trazendo o ômega para seu colo.
— Quero te ver gozar, saber o que fiz com fiz com você — ele disse
com aquele sorriso de canto.
O ômega sentia que não tinha forças, o prazer o tinha consumido,
mas seu corpo continuava sozinho. Dimitri o penetrava, estocando sem
parar, e o ômega se apoiava nos ombros dele. O alfa passou seu polegar
pelos lábios de Cauê, que o sugou. O gemido de Dimitri foi seu fim, seu
ritmo estava errático, e sabia que não duraria mais.
— Goze para mim, amore — Dimitri ordenou, segurando o pescoço
do ômega.
Cauê fechou os olhos e permitiu se libertar.
Ele gozou como nunca tinha feito, e uma vozinha, lá no fundo da
sua mente, dizia que nunca mais teria outro alfa para ele. Apenas Dimitri o
faria se sentir assim de novo.
— Quer que eu te carregue? — o alfa perguntou, beijando o pescoço
do ômega.
— É isso ou me largar aqui, porque não tenho forças para andar —
Cauê respondeu manhoso, abraçando o pescoço de Dimitri, que riu
baixinho.
Eles estavam no chuveiro, era a terceira vez que o ômega gozava, e
ele não sentia ser capaz de fazer nenhum tipo de movimento. Sua garganta
realmente estava arranhando um pouco, e ele não conseguia acreditar que o
alfa havia cumprido até aquilo. Se os outros hóspedes ouviram, ele não
sabia, mas ninguém tinha ligado reclamando do barulho, mesmo eles tendo
feito muito.
— Vamos, você precisa descansar. — O russo fechou o chuveiro,
saiu do box com o ômega e o secou delicadamente, sempre o beijando ou
sussurrando o quanto o brasileiro era lindo.
— Eu gosto disso. — Cauê sorriu, mesmo com os olhos fechados.
— Durma, mais tarde temos que voltar para a casa dos Ferraro.
— Não, depois dessa maratona, preciso dormir uns dois dias. —
Cauê bocejou. O alfa os deitou na cama, aconchegando o ômega a si, coisa
que o brasileiro não reclamou nem um pouco.
— Se não aparecermos lá, zia Lucia é capaz de nos buscar — o alfa
respondeu fazendo carinho no seu soulmate.
— É, não ia ser legal ela nos encontrar enroscados, na cama e com
cara de pós-sexo. Só me lembra de tomar um relaxante muscular antes de
irmos.
O alfa riu e beijou seu ômega. Lúpus precisavam de menos tempo
de descanso do que os comuns. Mesmo que, aparentemente, Cauê não
tivesse nascido lúpus, assim que fosse mordido, seria considerado um. Por
enquanto ele precisaria descansar bastante, e o alfa daria isso a ele.
Dimitri fazia carinho em Cauê, mesmo depois de o ômega ter
dormido. O lúpus estava muito feliz, seu lobo vibrava de emoção no seu
peito. Seu soulmate era perfeito, inteligente, divertido, lindo, tinha se dado
tão bem com os Ferraro, que parecia que fazia parte da família havia
tempos.
Ele se inclinou e beijou a testa do ômega, que sorriu dormindo,
abraçado ao alfa. Dimitri finalmente tinha seu próprio mundo em seus
braços.
Quando Cauê acordou, várias horas depois, sentia-se um pouco
cansado, mas estava relaxado e feliz. Dimitri ainda dormia, estava atrás do
ômega e o abraçava. O brasileiro se aconchegou a ele, poderia dormir mais,
de tão confortável que estava.
Olhou no relógio digital perto da TV e já tinha passado do meio-dia.
Normalmente não dormia tanto, mas considerando todo o exercício da
madrugada, ninguém poderia julgá-lo. Lembrou que deveria mandar
mensagens para as amigas, mas se elas não estavam ligando o ameaçando
de morte por não dar notícias, queria dizer que elas mesmas não tinham
acordado ainda.
O ômega suspirou, novamente sonhou com praia a noite e um lobo
negro. O que será que isso queria dizer?
— Bom dia — Dimitri sussurrou no seu ouvido. A voz rouca de
quem acabou de acordar o fez se arrepiar. Ainda mais porque o alfa beijou
sua nuca.
— Bom dia. — Virou-se e o abraçou. — Nós acabamos de acordar,
como você pode cheirar tão bem?
Isso fez o alfa rir e o abraçar mais apertado.
— E como eu cheiro?
— É uma combinação do cheiro que fica nas folhas das árvores após
uma chuva junto do cheiro do mar — Cauê respondeu, inalando o aroma da
pele do pescoço do alfa.
— Isso foi bem específico — brincou.
— Eu gosto, traz sensação de conforto e paz, de lar.
— Gosto que se sinta assim — Dimitri raspou seus lábios nos lábios
do seu soulmate, que sorriu. — Você também cheira muito bem.
— E qual é o meu?
— Cacau e maracujá.
— Sério? Já tinham me dito que meu cheiro era doce e relaxante,
mas nunca ninguém definiu assim. — Cauê sorriu. — E qual é a sensação
que te dá?
— Que você é delicioso. — O ômega riu com a resposta e o alfa o
beijou.
— Podemos nunca mais sair desse quarto? — Eles estavam deitados
na cama, seus corpos entrelaçados, e se beijavam preguiçosamente, nada
podia ser mais perfeito do que aquilo.
— Infelizmente não, mas ainda podemos fugir.
— Hm, você está quase me convencendo. — Cauê sorriu entre o
beijo.
Ele podia ainda não acreditar em tudo aquilo, mas queria aproveitar
o máximo que pudesse. E, como Greg tinha tido, o melhor era relaxar e
deixar que as coisas acontecessem.
— O que faço para te convencer? — Dimitri se deitou sobre o
ômega, eles ainda estavam nus, seus corpos se esfregando.
— Apenas continua, está indo pelo caminho certo — gemeu quando
o alfa mordeu seu pescoço. — Dimi...
— Gosto quando me chama assim, faça isso sempre. — O alfa
voltou a beijá-lo.
Mas batidas na porta interromperam o momento.
— Você pediu algo? — o ômega perguntou.
— Não — o alfa respondeu, ainda beijando o pescoço e o ombro do
seu ômega. Bateram de novo, parecia urgente.
— Pode atender? — Cauê pediu, espreguiçando-se, não queria sair
dos braços do alfa, mas precisava se alimentar. Talvez depois pudessem
retomar de onde estavam. — Enquanto isso vou ao banheiro tomar um
banho rápido.
— Me espera, e vou para o chuveiro com você — Dimitri pediu,
ajudando seu soulmate a se levantar.
— Não, porque aí sei que não vai ser rápido, e eu preciso me
alimentar — respondeu rindo. — Vai logo.
— Mandão — o russo disse, mordendo o pescoço do ômega, que se
arrepiou inteiro.
Bateram à porta de novo, e Dimitri revirou os olhos. Seu soulmate
foi para o banho, então ele colocou sua calça, e estava bom, pretendia estar
sem roupas de novo em um futuro bem próximo. Mas, quando abriu a porta
e viu o sorriso de canto de psicopata, arregalou os olhos e fechou a porta na
hora.
— Droga! — resmungou, irritado, colocando rapidamente os
sapatos e procurando uma saída de emergência.
— Abra essa porta! — a voz maldosa soou do lado de fora.
— Vai se foder! — respondeu, juntando suas coisas e as de seu
ômega, precisavam escapar dali.
— Dimi? — Cauê perguntou, surpreso com o jeito do alfa. — O que
está acontecendo?
— Precisamos escapar, agora — falou, preocupado e irritado; seu
ômega estava só de roupão, e nem poderia admirar a beleza dele.
— E por quê? — O brasileiro ainda não estava entendendo nada.
— Porque o demônio veio nos buscar. — Suspirou e olhou pela
janela. — Acho que podemos escapar pela saída de incêndio.
— Hã?
— Quer as coisas desse jeito? Tem certeza? — a voz maldosa soou
do lado de fora da porta, assustando o ômega. — Não tenho problemas de
pôr essa porta abaixo.
— Quem é esse?
— Dimitri! Vou chegar até você de qualquer jeito, mesmo que tente
fugir. Facilite e abra essa porta — a voz ameaçou, batendo de novo. O
brasileiro estava com os olhos arregalados.
— Cane Pazzo! Está assustando meu ômega, seu imbecil! —
Dimitri gritou, e ouviram uma risada fria.
— Dimitri, por favor, quem é esse? O que está acontecendo? —
Cauê perguntou de novo. Ele não sabia se o alfa estava com problemas,
sabia que as disputas lúpus podiam ser cruéis e precisava entender o que
estava acontecendo para saber como ajudar.
— Husky, abre logo! — aquela voz o ômega conhecia, era
Vincenzo. Isso o deixou mais confuso. Por que o melhor amigo do alfa
estava com a pessoa que estava o ameaçando?
— Está frio aqui — ouviram uma voz delicada com sotaque francês
comentar, seguida de um espirro.
— Merda, agora ele vai mesmo derrubar a porta — Dimitri
suspirou. — Cane Pazzo por Zeus, não faça nada!
— Quem é Cane Pazzo?
— Lembra que falei do Trio do Caos? Aaron é o Cane Pazzo, a
terceira parte. Ele é desprezível, maquiavélico, mentiroso, arrogante e
louco. Não dê ouvidos a nada do que ele falar, se possível. Fique o mais
longe que puder. Aaron Lions não presta.
— Ele não é um dos seus melhores amigos?
— Só porque fiz algo muito grave na vida passada e Zeus está me
punindo.
— Seu tempo acabou, abra essa porta — Aaron ordenou.
— Vocês são todos loucos — Cauê disse, irritado com todo aquele
drama, e ele mesmo abriu a porta do seu quarto.
Não estava preparado para a pessoa que o encarava de volta. Era um
lúpus alto, com olhos da cor de gelo e cabelos loiros tão claros, que
pareciam platinados. Ele tinha um sorriso de canto que parecia um pouco
frio e assustador. E olhava de cima a baixo, claramente o avaliando.
Ao seu lado estava um ômega de cabelos castanhos e olhos verdes,
ele sorria e parecia muito simpático, quase feliz por estar ali. Do outro lado
estava Vincenzo, que ria de toda situação e, com ele, estava Greg, que
negava com a cabeça e tomava um café em um copo para viagem.
— Estou muito feliz por te conhecer — o tal Aaron comentou. —
Não me admira que você seja muito mais corajoso que o imbecil que,
infelizmente, é seu alfa.
— Cane Pazzo! — Dimitri esbravejou, ficando por trás de Cauê,
mantendo a mão na cintura do ômega.
— Per favore, é o primeiro dia do ano, vocês podem não se matar
hoje? — Greg pediu. — Cauê e Dimitri, se vistam, Lucia está nos
esperando para almoçar. Vocês não querem se atrasar para o primeiro
almoço do ano, não é?
— Não? — o ômega perguntou incerto, ainda confuso sobre tudo
que estava acontecendo.
— Oi, sou o Luc — o outro ômega, que tinha ficado quieto até
então, disse sorrindo. Ele devia ser o marido de Aaron.
— Oi, vou me vestir, e já conversamos.
— Oui, vamos te esperar lá embaixo. — Ele era doce. Aaron e
Vincenzo não ficaram felizes com aquilo, mas Greg puxou o marido, e
Aaron seguiu seu ômega.
— O que foi isso? — Cauê perguntou para Dimitri, depois de fechar
a porta do quarto.
— Greg ou Vincenzo me entregou, agora o demônio veio cobrar a
dívida dele. — O lúpus suspirou.
— Pode parar de falar em códigos?
— Aaron é um alfa maquiavélico e rancoroso, ele irá fazer da minha
vida um inferno e usará de qualquer artimanha baixa para te convencer a me
deixar.
— Ele é seu amigo, por que faria isso?
— Talvez eu tenha feito isso quando ele conheceu seu soulmate. —
Dimitri revirou os olhos. — Mas nada do que fiz será comparado ao que ele
fará. Cane Pazzo não conhece limites, até Hades tem medo dele.
— Por que você queria que o soulmate dele o abandonasse?
— Não queria que Luc o abandonasse, só queria irritar Aaron.
Normalmente ele é bem frio e calculista, mas é um idiota na mão do Luc.
Só a ideia de seu soulmate se afastar ou pensar algo de mal dele o deixava
apavorado. Foram meses divertidos. — Dimitri deu de ombros.
— E, mesmo você sabendo que ele é louco, o provocava?
— Claro, ele nunca me mataria. Talvez quebrasse alguns ossos, mas
nada fatal.
— Me dê um bom motivo para não te expulsar do meu quarto e ficar
longe de todos vocês — Cauê pediu, e Dimitri sorriu, aproximando-se do
ômega.
— Apenas um?
O alfa envolveu o ômega em seus braços, prendendo-o contra a
parede e o beijando. Cauê estava rendido em segundos, era muito difícil
conseguir pensar direito quando cada fibra do seu ser implorava pelos
toques do alfa.
O nó do roupão foi se desfazendo, até que Dimitri o puxou,
deixando o roupão do ômega aberto, o corpo nu roçando no seu, que estava
coberto apenas pela calça. Cauê suspirou entre os beijos, precisava voltar à
discussão, mas ali estava tão bom, que era difícil parar.
— Temos... eles... esperando...
— Não me importo com eles, só quero você — o alfa murmurou.
Nesse momento, o telefone do ômega começou a tocar,
interrompendo o momento, fazendo o russo bufar frustrado.
— Quem diria que eu teria um início de ano tão concorrido? —
Cauê murmurou, escapando para atender a ligação. — Merda, são minhas
amigas.
— Não quer falar com elas? — o russo perguntou, abraçando o
ômega.
— Elas vão me encher o saco. — Revirou os olhos, mas aceitou a
videochamada.
— Seu puto, até que enfim! Já parou de dar para o gost... — Juliette
parou de falar quando percebeu Dimitri.
— Desculpa, o que você estava falando? — Cauê provocou.
— Chelsea! — a morena gritou, assustando a todos. A outra amiga,
a ruiva apareceu no vídeo, ela estava com cara de sono, cabelo totalmente
bagunçado e passava um creme no rosto.
— O que foi, sua louca? Cauê... AH! — ela gritou quando viu o
russo.
— Esse é o Dimitri. Dimitri, essas são as duas loucas que chamo de
amigas — o ômega os apresentou.
— Oi, Cauê falou de vocês. — O lúpus sorriu para elas. Chelsea
quase gritou de novo, tapando a boca com a mão e quase colocando aquele
creme no olho, sem querer.
— Acho que você está ocupado, melhor te ligar depois — Juliette
falou.
— Sim, melhor — o brasileiro concordou. — Depois conversamos.
— Depois conversamos mesmo, quero saber de tudo — Chelsea
disse de maneira sugestiva, fazendo o alfa rir. O que fez as duas ômegas
arregalaram os olhos.
— Até mais tarde! — Cauê exclamou e desligou.
— Gostei delas. — Dimitri riu.
— Pelo jeito elas também gostaram de você — resmungou.
— Ciúmes?
— Não, estou apenas prevendo como vão me encher o saco para
saber de tudo. São duas fofoqueiras.
— Não faria o mesmo no lugar delas?
— Com certeza.
O alfa riu e beijou seu ômega. Dessa vez foi seu celular que apitou,
indicando uma mensagem.

Aaron:
Seu tempo está acabando
— Melhor nos arrumarmos e nos encontrarmos com aqueles
enxeridos. — Dimitri suspirou.

— Coma mais! — Lucia disse, colocando mais carne no prato do


ômega, que riu. Já se sentia cheio, mas a família Ferraro pegava pesado.
Eles tiveram que se arrumar rapidamente, tomaram banho
separados, porque Cauê sabia o que aconteceria se fossem para o chuveiro
juntos. O ômega tentou escolher uma roupa legal, mas ficava difícil com o
alfa beijando seu pescoço e dizendo o quão lindo ele era o tempo todo.
Quando desceram para o saguão, Vincenzo, Greg, Aaron e Luc
realmente estavam os esperando. A recepcionista daquele dia e o
encarregado da bagagem estavam no balcão de atendimento, pareciam
tensos e tentando evitar olhar para os lúpus.
— Precisavam vir me buscar? — Dimitri perguntou irritado.
Aaron sorria daquele jeito maldoso, ele se levantou e foi ao encontro
deles, olhando diretamente para Cauê. Por mais que aquele lúpus fosse um
pouco assustador, o brasileiro não recuou. Ele estava de mãos dadas com o
russo, olhava de volta para o loiro e, mesmo que tremesse por dentro, não
demonstrou.
— Acho que gosto de você — Aaron disse, e aquilo era a última
coisa que o ômega esperava ouvir.
— Mon Loup é ótimo em ler as pessoas, então isso é um grande
elogio — Luc falou sorrindo.
— Ok, menos de dez minutos de interação. — Vincenzo suspirou,
entregando uma nota de 50 euros para o marido.
— Todos esses anos e ainda duvidam que Luc passa pano para
qualquer atitude do Aaron. — Greg negou com a cabeça. — Podemos ir?
Realmente estou com fome
— Claro, temos muito o que conversar com o ômega do nosso
querido amigo — Aaron respondeu de um jeito malicioso.
— Aaron, por favor — Dimitri pediu.
— Husky, você realmente vai pedir misericórdia para um demônio?
— Vincenzo riu. — O karma é delicioso.
— Desculpe, eles são sempre assim. Mas juro que você se acostuma
— Greg comentou enquanto eles saíam do hotel. Os funcionários pareceram
ficar aliviados. — Se ficar demais, nos avise. Luc e eu conseguimos segurar
a coleira por um tempo.
— Acho um pouco ofensivo quando me chama de cachorro —
Vincenzo opinou.
— Você criou o apelido “Cane Pazzo” e me chama de husky há
anos, então não é um pouco hipócrita da sua parte?
— Ele age como um cachorro louco, e você é da Rússia, sabe,
Sibéria fica na Rússia — o italiano falou como se fosse óbvio.
— Por que nunca fomos para a Sibéria? — Luc perguntou. —
Parece ser um lugar bonito.
— Luc, é a Sibéria, acho que é meio óbvio — Greg respondeu. Eles
andaram até uma limusine. Cauê só percebeu que iriam entrar nela, quando
Vincenzo abriu a porta para que seu ômega entrasse.
— Mas podíamos ir um dia — o francês comentou.
— Eu já fui, mas mal saí do aeroporto — o brasileiro falou
distraído, e os olhares se voltaram para ele. — Minhas amigas e eu sempre
pegamos voos que os outros estão recusando, e o voo para Sibéria pode ser
um pouco complicado, principalmente no inverno.
— Mon Loup, podemos ir no verão? — Luc pediu.
— Claro, mas minha mãe prometeu ao mini-bando que os levaria
para França neste verão. Temos que ver as melhores datas.
— Podemos ir em setembro, depois das férias, melhor para nós —
Vincenzo sugeriu, e seu marido suspirou derrotado. — Husky, você tem
hotel lá?
— Não, na Rússia tenho apenas em Moscou — Dimitri respondeu.
Ele mantinha o braço em volta de Cauê, de um jeito protetor.
— Então está na hora de fazer, não é? — o italiano provocou.
— Eu adoraria ter um restaurante lá. — O francês estava feliz com a
ideia, então seu alfa garantiu que Dimitri, assim que acabasse suas férias,
começaria o planejamento da próxima unidade dos Hotéis Barkov, fazendo
Dimitri revirar os olhos.
— Você é o dono do Maison de Loup! — Cauê exclamou.
— Oui. Bem, Matteo, Jake e eu. Você gosta do nosso restaurante?
— Só fui uma vez e sonho com isso, aquele lugar é incrível!
— Melhor que La casa dei lupi? — Vincenzo perguntou,
desconfiado.
— Deixa meu ômega em paz. — Dimitri chutou a perna do italiano.
— É claro que ele acha que o restaurante de Ma Lune é melhor que
o seu.
— Por favor, não comecem! — Greg pediu. — Eu juro, se ficarem
nessa, pegou Luc, Cauê e os filhotes, e vamos para o Brasil!
— Oui!
Enquanto a discussão se desenrolava, o celular de Cauê avisou que
tinha mensagem. Achou que era de uma de suas amigas, já que, conhecendo
sua mãe e irmã e o fuso horário, elas ainda estariam dormindo. Mas era de
Fernando, o colega que ficou de avisar quando conseguiria um voo para a
Espanha, para que pudesse encontrar Chelsea e Juliette.

Fernando:
Desculpa a demora, tem sido uma loucura. Consegui um voo para você
saindo do aeroporto de Roma às 19h40. Preciso que confirme se o pegará
até as 15h. Sua reserva no hotel se encerra às 16h, por isso, preciso que me
responda assim que puder

— Tudo bem? — Dimitri perguntou.


— Claro. — O ômega guardou o celular no bolso, precisava decidir
o que fazer.
De início sua ideia era ficar com o alfa e partir para a Espanha, mas
agora não sabia se queria continuar com o plano. Suas amigas e ele tinham
planos, talvez fosse errado desmarcar em cima da hora, apesar de achar que
elas entenderiam. Mas também tinha que ver o que o Dimitri queria, o sexo
podia ter sido incrível, mas não seria idiota na mão de ninguém.
O resto da viagem até a casa de Lucia e Sergio foi divertida, Cauê
riu muito da dinâmica do “Trio do Caos”. Em um momento, Aaron
perguntou qual era seu maior sonho, e o ômega não sabia o que responder.
— Talvez comprar uma casa para minha mãe.
— Mais, pode ser qualquer coisa, não importa o dinheiro — o loiro
insistiu.
— Cane Pazzo! — Dimitri rosnou.
— Minha irmã sempre sonhou em ter sua própria escola, então a
ajudaria com isso.
— Muito nobre da sua parte, pensar na sua família primeiro. Mas,
contando que pudesse realizar isso, o que iria querer para você? Qual é o
SEU desejo?
— Difícil essa. — Precisou pensar mais. — Gosto muito do meu
trabalho, mas gostaria de poder ficar mais perto delas.
— Certo, eu realizo isso para você. — Aaron sorriu perigoso, e
Vincenzo começou a rir.
— Como assim?
— Eu compro a casa para sua mãe, qualquer uma, não importa o
valor ou onde. Invisto na escola da sua irmã, não importa como a queira,
onde ou o material necessário. Me torno sócio dela, mas vocês dois cuidam
de tudo, que tal?
— Por que você faria isso?
— Para que você se mude para o Brasil e fique longe de mim — o
russo respondeu, irritado com o amigo, que sorria de canto.
— Não precisa ser o Brasil, pode ser qualquer país, menos a Rússia,
é claro.
— Quando você me disse que ele tentaria me convencer a me
afastar, achei que estava brincando. No máximo um pequeno suborno, mas
isso é loucura.
— Por favor, apenas o ignore — Dimitri pediu.
— Tudo bem, Cauê, eu entendo que, para seu azar, e nós sentimos
muito por isso, seu destino está ligado ao husky. Ofereço minha casa e a
proteção da família a você, pode ficar aqui o tempo que precisar enquanto
te ensinamos como é o mundo dos lúpus.
— Não se preocupe, tudo que for necessário ensinar para meu
ômega eu mesmo ensino — o russo quase rosnou. Cauê olhava de um alfa
para outro, assistindo à discussão.
— E o que fará quando suas férias acabarem? Vai levá-lo para perto
da sua família na Rússia? Confiará neles? — Aaron provocou.
— Se até você conseguiu, eu também consigo.
— Mas eu matei parte da minha família, fará o mesmo? — o loiro
respondeu, e os olhos de Cauê se arregalaram.
— Foi necessário — Luc garantiu para o brasileiro.
— Mas que droga! — Vincenzo esbravejou e deu mais uma nota
para Greg, que deu de ombros.
Eles chegaram à casa dos Ferraro e foram recebidos pela família.
Lucia estava muito feliz em ver Cauê e até lhe deu uma camiseta do
Juventus de presente, o que fez Sergio jurar que não ficaria assim e logo
encheria o ômega de presentes do “seu Roma”.
— Esse é meu zio Cauê — Damiano o apresentou para os filhotes
que tinham chegado. Duas eram filhas de Luc, uma alfa e uma ômega, os
outros eram filhos de amigos que estavam viajando com eles.
— É meu padrinho e do Raoul — Annelise disse e as crianças
soltaram um “O” como se tivessem entendido.
Que bom para eles, porque Cauê não estava entendo mais nada.
— Feliz ano novo, filho!
— Feliz ano novo, mãe.
— Estamos sentindo sua falta, quando vem nos visitar?
— Assim que eu puder, mas sabe que se eu pudesse, estaria aí. —
Cauê suspirou.
Tinha se afastado um pouco dos Ferraro para ligar para sua família
no Brasil. Amava sua irmã e sua mãe, sentia muita falta delas, mas todos
esses voos extras se transformavam em mais dinheiro que podia mandar
para elas. Tainá e ele tinham feito um pacto de trabalhar o que pudessem
para dar uma vida confortável para sua mãe. Foi graças a esse esforço dos
dois irmãos que dona Marieta pôde se aposentar sem ter que se preocupar.
— Sonhei com você, meu filho — sua mãe disse.
— Sonhou? Espero que tenha sido um sonho muito bom — brincou.
— Sonhei que era de noite, estava em uma praia e estava muito
feliz. E não estava sozinho, tem alguma coisa para me contar?
Cauê riu, sua mãe sempre tinha esses sonhos que entregavam ele e
sua irmã. Não tinha como mentir para dona Marieta, se eles não contassem,
as entidades que a acompanhavam contavam nos sonhos.
— Se quer saber, nesse momento estou de frente para uma linda
praia, estou em uma casa cheia de gente muito legal e me diverti muito
ontem à noite.
Era claro que ele não daria detalhes de tudo que tinha feito na noite
anterior.
— Que bom, estava com medo de que passasse a virada de ano
sozinho. Passou com quem?
— Com a família de um amigo. Eles me receberam, e foi bem legal.
A comida aqui é muito boa.
— Não melhor que a minha, tenho certeza — Marieta retrucou,
fazendo o filho rir. Se tinha uma coisa que ela tinha orgulho era de ser uma
cozinheira de mão cheia, e morria de ciúmes quando os filhos elogiavam
demais a comida de outra pessoa.
— Não, mãe, ninguém cozinha melhor que você.
— É bom mesmo — resmungou. — Sua irmã quer falar com você,
feliz ano novo e ligue quando puder. Estou com saudades, te amo filho.
— Também te amo.
— Maninho! — Tainá disse animada, pegando o telefone da mãe. —
Feliz ano novo!
— Feliz ano novo, monstrenga.
— Vou ignorar, porque quero saber da fofoca, com quem passou a
virada de ano?
— Com a família de um amigo.
— Não vem com essa, mamãe me contou do sonho. Não falei para
ela, mas, para você ter passado a noite com apenas uma pessoa, já deu para
entender o motivo de estar tão feliz. Quem era? Foi bom?
— Você é uma chata, sabia?
— Sim, claro, é meu papel como irmã mais velha. Me fala logo,
quem foi?
— É um alfa que conheci em um voo, podemos dizer que estamos
nos conhecendo, mas ainda não sei onde isso vai dar.
— Você gosta dele?
— Tainá, nós ficamos pela primeira vez ontem. Bem, tecnicamente
hoje, porque foi depois da meia-noite, mas você entendeu.
— Não perguntei se está apaixonado, perguntei se gosta dele. Ele é
legal com você?
— Muito, ele é gentil, inteligente, divertido, me trata muito bem e é
lindo. Tainá, você não tem noção do quanto ele é lindo.
— E o resto? Ele sabe fazer bem?
— Garota!
— Não dá uma de puritano agora, fala logo.
— Sim, muito. — Bufou, mas acabou rindo da irmã. — Não vou dar
nenhum detalhe enquanto a mamãe estiver por perto.
— Certo, consigo viver com isso. Mas estou feliz que você esteja se
dando uma chance de conhecer alguém legal, de viver o momento.
— Não exagera, não é como se eu nunca tivesse encontros.
— Eu sei que você tem, mas nunca descreveu nenhum alfa como
você descreveu esse com quem está saindo. Normalmente só me conta de
onde a pessoa é e se foi bom ou não. Esse você não poupou elogios.
Cauê mordeu o lábio, ele não tinha percebido isso. Estava tentando
pensar de um jeito leve, Dimitri era um alfa gostoso com quem havia tido
um encontro quente e acabaria por ali. Mas o fundo da sua mente gritava
que ele apenas estava tentando se enganar.
— Por favor, não pense demais — Tainá pediu.
— O quê?
— Te conheço muito bem, maninho, sei que se esse alfa mexeu com
você tanto quanto parece, você deve estar surtando internamente. Só viva,
sabe? Você faz tanto pelos outros, que está na hora de ser sua própria
prioridade.
— Sabe, te amo na mesma quantidade que te odeio — ele
resmungou depois de um tempo. Por mais que amasse Juliette e Chelsea
com seu coração, Tainá ainda era sua irmã mais velha, a pessoa que o
conhecia melhor que todo mundo.
— Eu também, maninho. — Ela riu. — Agora vai aproveitar a vida
e curta muito seu alfa. Talvez esse seja o seu ano, não sou a mamãe, mas
sinto que coisas boas estão por vir.
— Ok, Tainá Sensitiva, vai curtir o dia e não deixa a mamãe discutir
com a tia Beth. Sempre que elas ficam bêbadas nos churrascos de família,
discutem.
— Deixa comigo, te amo!
Cauê desligou a ligação e olhou para o mar. Odiava quando sua irmã
tinha razão, aquela intrometida. Estava muito bem tentando fingir que não
estava sentindo nada demais e que só estava se divertindo. Mas, não, Tainá,
tinha que chegar com essa conversa de sentimentos e o confundir.
Respirou fundo, a família Ferraro estava conversando e algumas
crianças brincavam pelo gramado. Cauê se afastou para falar com sua
própria família, mas resolveu se afastar um pouco mais, não dava para
conversar com as amigas ao alcance da super audição dos lúpus. Podia amar
Juliette e Chelsea, mas não confiava que elas não o fariam passar vergonha.
— Até que enfim! — Chelsea exclamou.
— Nos conte tudo — Juliette exigiu, pelo jeito a ligação estava no
viva voz.
— Foi a melhor noite da minha vida, era isso que queriam ouvir?
As duas gritaram tanto, que o ômega precisou afastar o aparelho do
ouvido. Olhou em volta, mas ninguém pareceu perceber, então tudo estava
bem. Enquanto as amigas comemoravam e gritavam coisas como “eu sabia”
ou “não tinha como um alfa desses socar fofo”, Cauê olhou para Dimitri.
Ele conversava com Sergio, Vincenzo e Aaron. Na mesma hora o russo
olhou para o ômega sorriu e piscou para ele, voltando a prestar atenção no
que o italiano mais velho falava.
— Estou muito ferrado — murmurou, calando as amigas no mesmo
instante.
— O que aconteceu? — Juliette perguntou, preocupada.
— Dá para se apaixonar em só um dia?
— Claro que sim! — Chelsea respondeu. — Paixão não tem a ver
com o tempo, é como você se sente perto da pessoa, tem a ver com química.
Ela pode surgir a qualquer momento.
— Juliette, você é a mais racional de nós, acha que é possível? —
Cauê perguntou, fazendo Chelsea bufar indignada.
— É difícil responder, mas concordo com Chelsea que é sobre
química. Então, se vocês se deram tão bem, a noite foi incrível e ele parece
ser tão legal, talvez você esteja se apaixonando.
— Não era a resposta que eu esperava — o brasileiro resmungou,
andando pela borda da praia.
— Nunca ouviu falar em amor à primeira vista? — Chelsea
perguntou.
— Nisso eu não acredito — Juliette opinou. — Acho que amor é
uma construção do relacionamento e que precisa de manutenção constante.
Tipo uma evolução da paixão. Até acho que Cauê pode estar se
apaixonando pelo alfa bonitão, mas amar é muito cedo.
— De um jeito estranho, isso conforta. — Cauê suspirou.
— Explica o que está acontecendo e podemos tentar te ajudar.
— Nem sei como explicar, é muito confuso. Quando estou com ele,
me sinto tão bem, de um jeito que nunca senti. Quando estou sem ele, só
quero voltar para os braços dele.
— Isso é fofo — Chelsea disse.
— Nos damos muito bem desde a primeira conversa, ele é super
atencioso, presta atenção em tudo que falo e sempre está preocupado se
estou confortável. Podemos conversar sobre qualquer coisa. Ele me
apresentou a família Ferraro, que, obviamente, é a família que considera
dele. Os Ferraro também o amam como filho, me adotaram, a mãe do
Vincenzo Ferraro me chamou para assistir a um jogo do Juventus no
camarote dela no estádio do time. Os amigos deles estão planejando uma
viagem para Sibéria e me incluíram, a família quer ir para o Brasil nas
férias e fazem questão de conhecer a minha família.
— Certo, qual o problema? — Juliette perguntou.
— Fernando me mandou mensagem, meu voo sai hoje à noite, tenho
menos de uma hora para confirmar se estarei nele ou não. Estou surtando,
porque não sei o que fazer.
— Que voo?
— Para a Espanha.
— E por que, cacete, você viria para a Espanha?
— Para encontrar vocês — respondeu, indignado.
— Você tem mais esses dias de folga e quer gastar aqui, e não com
seu alfa? — Chelsea perguntou revoltada.
— Eu não sei o que fazer, é esse o problema.
— Juliette, fala com ele, porque, se eu falar, vou xingar.
— Vocês dois, fiquem calmos, vamos conversar. Cauê, é sério que
depois de tudo que nos falou ainda está em dúvida? — Juliette perguntou.
— Dimitri te disse algo que te deixou inseguro ou que não gostaria de
passar esses dias com você?
— Não, pelo contrário, ele disse que adoraria me levar para
conhecer lugares legais na Itália. Até brincou que, quando acabasse esse
tempo, iria me convencer a ficar.
— Zeus — Chelsea disse, impaciente.
— Amigo, será que você não está criando motivos para não ficar aí
porque tem medo de viver algo muito bom e isso é um jeito de se proteger?
— Não, acho que não — respondeu, mas não estava muito confiante
na sua resposta.
— Então por que você iria abandonar a chance de viver algo incrível
para vir até aqui?
— Combinei de me encontrar com vocês, não é certo deixar de
cumprir o que combinamos porque conheci um alfa.
— Você está louco?! — Chelsea gritou revoltada, Juliette suspirou.
— Cauê, você está totalmente livre do nosso combinado, fique à vontade,
aproveite tudo que puder e sente muito nesse alfa!
— Chelsea! — O ômega revirou os olhos, mas riu.
— Ela tem razão, converse com ele, resolva o que tem que resolver,
aproveite muito e, no final desses três dias, decida como as coisas serão a
partir de agora.
— Vocês têm certeza?
— Eu te juro, se eu vir sua cara aqui, sem teu alfa, chuto sua bunda
de volta para Roma! — Chelsea esbravejou.
— Independentemente do que acontecer, nós te amamos e te
apoiamos. Fique aí e se divirta muito, nos mantenha atualizadas. Quando
esse tempo acabar, ainda estaremos com você — Juliette garantiu.
— Amo vocês. — Cauê sorriu.
— Nós também te amamos, agora vai dar! — Chelsea ordenou,
fazendo os outros rirem.
Ok, talvez elas tivessem razão, ele estava encontrando motivos para
fugir. Não era algo consciente, era um mecanismo para se proteger. Ele não
entendia direito o alfa, Dimitri agia como se tudo aquilo fosse certo, como
se fossem um casal. Ele tinha medo de acreditar e se decepcionar.
Dimitri Barkov era intenso, do tipo que poderia te consumir e Cauê
aprendeu desde pequeno a nunca brincar com fogo. Por ter nascido um
ômega preto e indígena, sempre teve que aprender a se defender e evitava
correr riscos desnecessários. Não que fugisse de desafios, ele os adorava,
mas nada que o comprometesse. E ser consumido pela tempestade que era
Dimitri era um desses riscos que o podia deixar totalmente destruído.
— Você está bem? — Dimitri perguntou se aproximando. Ele tinha
ficado preocupado em como o ômega estava pensativo.
— Nós estamos saindo, não é? — a pergunta pegou o alfa de
surpresa.
— Se quiser chamar assim, tudo bem.
— E como eu devo chamar? Era para ser um encontro, e estamos
aqui, quase 24hs depois, e sua família tem feito planos que me incluem para
viagens que acontecerão em alguns meses.
— Isso te assustou?
— Dimi, não gosto de enrolação, se tem algo para me dizer, por
favor, me diga logo — o ômega pediu. — Todos agem como se fosse
permanente, como se soubessem algo que eu não sei.
— Por mim, é permanente — Dimitri disse se aproximando mais do
ômega, o envolvendo em seus braços.
— Isso é loucura, você nem me conhece — Cauê resmungou, mas
se aninhou no abraço do alfa.
— Então me deixa te conhecer, me deixa te mostrar que somos
muito bons juntos.
— Eu deveria ir embora essa noite — o ômega sussurrou.
— Fica comigo, por favor — Dimitri pediu fazendo carinho no rosto
do seu soulmate.
— Mesmo que eu fique, são só três dias.
— É o suficiente. — O alfa o beijou.
— Para quê? — perguntou sorrindo.
— Para te provar que você nunca mais precisará partir.
— Não sei se isso é discurso de uma comédia romântica ou de um
assassino psicopata — o ômega provocou, fazendo o outro rir.
— O psicopata da família é o Cane Pazzo, mas, se o chamar assim,
Luc vai defender o cão do inferno com quem ele se casou.
— Vocês são tão amorosos uns com os outros.
— Isso somos nós sendo educados, às vezes parecemos lobos
raivosos. — O ômega riu, mas Dimitri achou melhor ainda não explicar que
aquilo não tinha sido uma metáfora.
Cauê abriu o aplicativo de mensagens e procurou pela conversa com
Fernando. Dimitri e o ômega ainda estavam abraçados, por isso o alfa pode
ler a conversa e leu enquanto seu soulmate digitava a resposta.

Cauê:
Obrigado pela ajuda, mas resolvi ficar em Roma mesmo

Mesmo sabendo que seu ômega ficaria, aquilo foi um alívio. Dimitri
beijou o pescoço de Cauê.

Fernando:
Tudo bem, mas Samer cortou as hospedagens na folga, então sua reserva se
encerra às 16h mesmo, desculpa
Vou mudar sua escala, em vez de no dia 4 você fazer aquele voo saindo de
Madrid, vou te colocar em voo saindo de Nápoles para Berlim, você pode
pegar o trem que fica mais cômodo. Te mando tudo por e-mail. Boa folga e
feliz ano novo

Cauê:
Obrigado, para você também

— Ótimo, agora vou ter que ver se o hotel tem como estender a
minha reserva e ainda vou pagar do meu bolso — resmungou guardando o
celular no bolso.
— Sabe que eu posso comprar o hotel inteiro para você, se quiser,
não é?
— Engraçadinho. — O ômega negou com cabeça rindo, mas pela
expressão do alfa, percebeu que não era brincadeira. — Sério?
— Você quer?
— Claro que não, o que eu ia fazer com um hotel?
— Você está falando isso para o dono de uma rede de hotéis? — O
alfa riu.
— Você é um bilionário, eu sou um pobre CLT.
— Um o quê?
— É coisa do Brasil, quer dizer que trabalho para alguém. Você que
é bilionário aqui. — Então o ômega arregalou os olhos, entendendo o que
tinha falado. — Você é bilionário, meu Zeus, transei com um bilionário.
— E espero que faça de novo. — Dimitri sorriu.
— E fiz de graça, deveria te cobrar por hora — Cauê falou
revoltado, fazendo o alfa rir alto.
— Contando com tudo que tenho em mente para fazer com você,
por hora te renderia muito dinheiro — provocou-o.
— Zeus, não sei se estou excitado ou ainda assustado com o fato de
você ser um bilionário.
— Por quê? — O alfa não se lembrava quando foi a última vez que
sorriu tanto. Talvez a resposta seja nunca.
— Me disseram que eu precisaria juntar um milhão por mês por mil
anos para ser bilionário. Eu nem sei como seria ter um milhão, imagina um
bilhão. Como é sua casa? Ela tem algo de diferente, tipo uma fonte de água
com gás ou carro mega caro em uma plataforma girando no meio da sala?
— Não, eu tenho dois apartamentos, e os dois são normais.
— Dois? Eu nem tenho uma quitinete.
— Um fica em Moscou, que é onde realmente moro, e outro fica
aqui, em Roma. Mas ele não está totalmente pronto, mal tem móveis. E,
mesmo quando ficar pronto, eu sempre fico no meu quarto na casa do
Vincenzo.
— Seu quarto?
— Tenho um quarto na casa de Vincenzo e outro na do Aaron, e eles
têm na minha. Foi uma promessa boba que fizemos adolescentes, mas ainda
cumprimos. Nenhum gosta de ser o anfitrião dos outros, mas gostamos de
sermos os hóspedes, assim podemos infernizar o dono da casa.
— Vocês parecem crianças, mas nem julgo, faria o mesmo com
minhas amigas se pudesse. Vem, vamos voltar para a casa, porque depois
dessa conversa realmente preciso beber.

— Quanto você ganha como comissário de bordo? — Aaron


perguntou do nada.
— Aaron! — Heidi, a amiga deles negou com a cabeça. — Me
perdoe pela falta de senso dele.
— Tudo bem. — Cauê estava achando toda a dinâmica lúpus muito
engraçada. — Recebo em dólar, meu salário é um pouco mais do que dois
mil, mas tem alguns bônus e benefícios.
— Certo — o loiro disse sorrindo de canto. — Estou me mudando
para Londres, mas tenho uma sede importante da minha empresa em Nova
York. Por isso, precisaremos fazer algumas viagens. Tenho um jatinho e
quero te contratar para trabalhar para nós.
— Hã?
— Cane Pazzo! — Dimitri rosnou, mas Aaron desdenhou.
— Te pago dez mil dólares por mês e te dou um apartamento em
Londres com todas as contas pagas, todos os meses. Você só trabalhará nos
dias que temos de viajar, o resto do tempo você pode fazer o que quiser.
Terá todos os benefícios de trabalhar para um lúpus e, como o jovem Jones-
Knight é o dono das melhores casas noturnas e bares de Londres, te dou um
passe VIP para esses lugares.
— Isso é brincadeira? — Cauê perguntou aturdido.
— Não, ele está falando sério — Jordan, um alfa que era amigo
deles, disse. — Também trabalho com ele, se aceitar, os benefícios são
excelentes.
— Se aceitar, mando abrir sua conta no Lions Bank agora, nesse
instante — Aaron avisou. — Só peço que more em Londres a partir de
agora.
— Maledetto cane! — Dimitri gritou.
— Bambinos, já estão brigando? — Lucia perguntou com as mãos
na cintura.
— Zia, Cane Pazzo está tentando contratar meu ômega para o levar
para Londres — o russo reclamou. Se o ômega ainda não estivesse muito
chocado com a notícia, teria achado fofo como os integrantes do temido
“Trio do Caos” pareciam apenas filhotes perto de Lucia Ferraro.
— No! Ninguém leva nosso piccolo daqui — Lucia respondeu
abraçando Cauê.
— Mamma, sabe que o husky mora na Rússia, não é? — Vincenzo
perguntou rindo.
— E daí? Mio bambino fica aqui — ela disse confiante.
— Aaron fez uma proposta de emprego muito boa, mamma, acho
que Vincenzo tinha que fazer uma melhor para garantir que Cauê fique —
Angelo opinou. Dimitri olhava raivoso para todos, já que não poderia
xingar a matriarca da família.
— Tenho uma ideia melhor — Aaron falou maldoso. — Se Cauê
não se importar, Vincenzo e eu podemos organizar nossas agendas para que
você trabalhe com as duas famílias, pago dez mil, Vincenzo mais dez mil.
— Vinte mil dólares por mês? — Cauê se engasgou.
— Com todas as despesas pagas — Vincenzo o lembrou. — Ainda
te deixamos escolher se quer morar em Roma ou Londres.
— Vocês são criaturas desprezíveis — Dimitri falou com raiva.
— Esse é apenas o início da minha vingança — Aaron disse,
sorrindo de canto.
— Ele é sempre assim? — Cauê perguntou para um dos alfas que
tinham vindo de Londres com Aaron e Luc.
— Não, normalmente ele é bem pior. Mas, como está com a família,
está mais tranquilo — Sam, o alfa, respondeu. — Você está no lucro, com
você ele está tentando te convencer a ficar por perto. Comigo ele estava me
testando e quase arrancou minha alma.
— Por quê?
Sam indicou seu filho, que devia ter cinco anos e andava de mãos
dadas com a filha mais velha de Aaron, a qual devia ter seis ou sete. A
pequena era uma alfa bem parecida com o pai e protegia o pequeno ômega
o tempo todo. Ele parecia estar machucado, já que mancava um pouco, ela
tinha paciência e o servia sempre que ele queria algo.
Teve um momento que os filhotes estavam brincando juntos e um
deles provocou Zack, o filho de Sam, por não conseguir correr como os
outros. Sophie, filha de Aaron, arrastou aquele filhote pela grama até Zack e
o obrigou a pedir desculpas para o pequeno ômega. Annelise a convenceu a
não machucar o tal filhote, já Damiano ria o tempo todo e a instigava a
continuar.
— O que eles são um do outro? — Cauê perguntou.
— Soulmates. — Sam suspirou. — Sabe, marcados pelo destino
para serem almas gêmeas.
— Tão novos?
— Também acho, mas, aparentemente, o destino não acha. Mas por
enquanto são só amigos, só no futuro que realmente terão algo. Agora eles
só sentem aquela necessidade quase física de estarem juntos, separá-los é
até pior. Quando somos adultos, conseguimos entender nossos sentimentos
e sabemos que esse “vazio” que fica quando nos afastamos dos nossos
soulmates é normal e temporário, mas eles são filhotes, é difícil entender.
— Realmente, fica mais fácil quando podemos conversar e explicar
as coisas. — Cauê sorriu, mas sua mente estava trabalhando a mil por hora.
— Mas não tem jeito de estarem errados? Porque sempre ouvi que
soulmates é para vida toda.
— Não, lúpus não erram isso. Não sou nascido lúpus, apesar de ter
genes. Mas vivo no meio há muito tempo, sou jurado e sou considerado um.
Mesmo assim, no momento que vi meu ômega, sabia que ele era meu
soulmate. É mais forte que nós, junto da certeza vem uma paixão quase
instantânea.
— Então não tem como errar mesmo, não é?
— Nunca, quando um lúpus encontra seu soulmate sabe que é para
sempre. É umas das coisas mais sagradas para os lúpus, encontrar seu
soulmate é considerado uma dádiva dos deuses.
— Que interessante — Cauê comentou. — Então quando um lúpus
apresenta outra pessoa como seu soulmate, é porque tem certeza de que ela
é e não tem como errar. São destinados a ficarem juntos?
— Sim. — Sam sorriu para o ômega brasileiro. Mas prestando
atenção na sua expressão, seu sorriso foi morrendo. — Dimitri não te
explicou nada disso?
— Não.
— Porra. — O alfa passou a mão pelo rosto. — Já tenho um
membro do Trio do Caos no meu pé, agora vou ter outro.
— O que foi? — Nico, o ômega de Sam, chegou até eles.
— Baby, ainda dá tempo de fugirmos? — Sam perguntou.
— Acho que não.
— Me fodi. — O alfa suspirou.
— Não se preocupe, não vou contar que você me disse — Cauê
assegurou.
— Pode até contar, mas espera uma semana, pelo menos, só até o
Eddie e Luc saíram do heat, aí tenho alguém para me defender — Sam
pediu.
Cauê não tinha aprendido o nome de todo mundo ainda, eram
muitos para se lembrar. Sabia que a família Ferraro era enorme, Vincenzo
tinha dois irmãos: Angelo, que era casado com Donna, e Serena, que no
momento estava no Canadá visitando a família da esposa, Amanda.
Aaron, apesar de ser da família Lions, tinha seu próprio pequeno
bando, como eles chamavam. Era casado com Luc e tinha três filhos.
Sophie, Chloé e Raoul, um bebê. Com eles estavam Heidi e Jake, e os filhos
Magnus e Mel, e Matteo e Jordan. Aaron, Heidi e Jordan trabalhavam
juntos, Luc, Jake e Matteo eram os donos do “Maison de Loup”.
Já Sam e Nico faziam parte de outro bando, que ficava em Londres.
Pelo jeito os nomes dos líderes desse bando eram Edward e Luc Jones-
Knight. Em um momento estavam conversando sobre esses dois e, pelo que
falavam, esse casal era do tipo para nunca se ter como inimigos.
Nico tentou convencer Cauê que o tal Luc Jones-Knight era uma
pessoa incrível que adoraria o conhecer, que esse ômega era um amigo
carinhoso e dedicado e que eles se divertiriam muito quando o brasileiro os
visitasse em Londres. No outro momento, Sam estava contando como o
mesmo Luc Jones-Knight tinha aberto um alfa com uma faca em um tal
“jogo” chamado Caçada, como ele tinha lançado bombas de fumaça em
inimigos para que seu bando os destroçasse (não explicou como) e como
tinha melhorado muito sua mira, agora conseguia dar tiros na cabeça dos
alvos em uma distância um pouco mais longa.
Cauê sorriu amarelo, talvez o Reino Unido não fosse um lugar que
pretendesse visitar em um futuro próximo.
— Zio, faz aquele doce gostoso, por favor — Damiano pediu.
— Paçoquinha?
— Si, per favore.
— Não sei se tem todos os ingredientes aqui.
— Nonna — Damiano chamou a avó, imediatamente Lucia foi ver o
que estava acontecendo —, zio Cauê falou que vai fazer doce brasileiro,
mas precisa comprar umas coisas, podemos comprar?
— Não foi bem isso que eu falei.
— Claro, amore mio, do que precisa? — Lucia perguntou alegre.
— Oh, posso ajudar? Adoraria aprender a culinária brasileira — Luc
pediu.
— Eu também — Jake disse, chegando até eles.
— Mas precisa de amendoim torrado, e nem sei onde comprar leite
condensado — o ômega respondeu, sem saber o que fazer.
— Não se preocupe, damos um jeito — Peppe, tio de Vincenzo,
garantiu.
— O que está acontecendo? — Dimitri perguntou para seu ômega.
A família já estava se mobilizando para comprar amendoim e leite
condensado. Eles perguntavam quanto precisaria e, como cada vez mais
pessoas pareciam interessadas, Cauê estava calculando de cabeça a
quantidade necessária.
— Eu não sei, isso saiu do controle — o brasileiro respondeu.
— Com esses lúpus você tem que tomar cuidado com o que fala —
Nico o aconselhou. — Eles se empolgam com tudo.
— Percebi. — Cauê suspirou.
Duas horas depois, Cauê estava na cozinha de Lucia, cercado dela,
Luc, Jake, Greg, Nico e mais alguns membros da família Ferraro,
explicando como fazer uma versão simplificada do tal doce de amendoim.
— Pronto, o que fazemos agora? — Luc perguntou, mostrando o
amendoim triturado.
Damiano, Annelise e Vincenzo tinham feito uma grande propaganda
do doce, agora a família inteira queria experimentar, então eles estavam
fazendo a receita aumentada várias vezes para que servissem a todos.
— Misturamos com o leite condensado e a manteiga — Cauê
instruía.
— Depois deixamos gelar por meia hora, não é? — Jake confirmou.
Não tinha espaço na geladeira, então tiveram que usar o freezer, Cauê
esperava que ficasse bom do mesmo jeito.
— Você deveria vir conosco para França — Luc sugeriu sorrindo.
— Dimitri, estão tentando convencer seu ômega a viajar sem você
— Greg o chamou.
— Cauê não vai viajar — Dimitri resmungou, ele passou a tarde
toda tentando reaver seu ômega, mas estava difícil.
— Não mesmo, mio piccolo tem que estar aqui amanhã à noite —
Lucia foi taxativa. — Tem jogo do mio Juventus, e ele vai comigo.
— Não perde para mim, mas perde para sua mãe — Aaron provocou
o russo.
— Considero isso uma dupla vitória — Vincenzo sorriu.

— Aqui. — Greg entregou um copo de água gelada para Nico.


— Está melhor? — Luc perguntou, preocupado.
— Sim, só foi um enjoo, já passou. — O ômega sorriu amarelo. —
Cauê, a culpa não foi do seu doce, estava delicioso. Foi alguma outra coisa
que comi.
— Acho que quem comeu foi seu alfa — Cauê brincou, e o ômega
empalideceu. — O quê? Era segredo? — perguntou, preocupado.
— Não, é que, bem, eu ainda não fiz o teste, então não sei.
— E por que não faz?
— Não sei, medo? — Nico parecia incerto.
— Olha, se aceita minha opinião, faça o teste logo. Se estiver, já
sabe o que é, vai aprender como agir e pode montar uma linda surpresa para
seu alfa. Se não for isso, precisa ir direto ao médico, porque não é normal
passar mal desse jeito.
— Hoje praticamente tudo está fechado, mas como vocês só irão
embora amanhã, depois do almoço, pode fazer o teste aqui — Greg sugeriu,
fazendo carinho nas costas de Nico.
— Não quero que Sam descubra, quero eu mesmo contar para ele,
se for positivo.
— Quer que eu compre? — Cauê perguntou. — Se pedir para
qualquer um da família, eles vão acabar contando uns para os outros. Já
percebi que todo mundo aqui é fofoqueiro. Sem ofensas.
— Não ofende, é verdade. — Greg deu de ombros.
— Amanhã cedo vou em alguma farmácia, você pode fazer o teste
no café da manhã — o brasileiro falou.
— Todos estamos hospedados na casa de Greg, fica mais fácil —
Luc apontou.
— Sim, encontro vocês lá, só me passar o endereço — Cauê
comentou, mas os outros ômegas o olharam divertido. — O quê?
— Onde acha que vai dormir essa noite? Ou as próximas? — Greg
perguntou sorrindo.
— No hotel?
— Sua reserva já foi encerrada e suas coisas estão sendo levadas
para minha casa.
— E como encerraram a minha reserva sem minha assinatura?
Como entrariam no meu quarto sem a chave? — Para mostrar do que estava
falando, o ômega tirou o cartão chave do bolso, mas isso só fez os outros
ômegas rirem.
— Você realmente precisa conversar com seu alfa e entender como
os lúpus agem. — Nico ria, parecendo bem melhor.
— Uma vez pedi um Subway para Mon Loup. Em vez de me
comprar um lanche, ele comprou um restaurante do Subway, para eu ter
quantos eu quisesse. — Luc deu de ombros, e Cauê arregalou os olhos.
— Acho que ninguém ganha do Luc britânico, Eddie passou tudo
para o nome dele, sem o Luc saber. Ele foi de não ter nada para milionário
em segundos — Nico falou, Greg e Luc concordaram com ele.
— Também assinei um papel sem ler direito, agora tenho uma casa
de veraneio nas Maldivas. — Greg suspirou.
— Esse é um comportamento padrão dos lúpus e eu tenho que me
preocupar ou são casos raros? — Cauê perguntou.
— Não é um comportamento padrão dos lúpus — Greg respondeu, e
o brasileiro respirou aliviado —, mas é dos nossos, incluindo o seu.
— Mas porque se preocuparia se seu alfa é muito rico e quer te dar
coisas? — Luc perguntou inocentemente.
— Amigo, divido um apartamento com duas amigas porque nenhum
de nós tem dinheiro para bancar um sozinho. Eu nem saberia o que fazer se
ganhasse uma casa de veraneio. Com que dinheiro pagaria os custos dela? E
como faz para limpar?
— Deixem-no, todos nós passamos por isso — Greg disse para os
outros, que concordaram. — Não se preocupe, Cauê, apenas se divirta e
aproveite sua folga.
— Todo mundo continua me dizendo isso, estou começando a ficar
desconfiado.
Nico estava melhor, então voltaram para junto do resto da família.
Cauê realmente estava tentando não deixar aquelas conversas estranhas
entrarem na sua cabeça, mas era difícil. Dimitri tinha o apresentado como
soulmate para os Ferraro, mas não dito isso diretamente para o ômega. Sam
disse que esse termo era algo sagrado para os lúpus. O que estava
acontecendo?
— Parece que toda hora que tento chegar até você, alguém te puxa
na direção oposta — Dimitri reclamou.
Mesmo que, teoricamente, não tenham ficado afastados mais do que
poucos metros, ainda era difícil não tocar no ômega. Queria poder ficar
abraçado a ele o tempo todo, levá-lo para fazerem passeios ou só ficarem
deitados na cama juntos. Óbvio que o sexo tinha superado todas as suas
expectativas, e o jeito como o ômega se rendeu a ele tinha acertado seu lado
mais possessivo e dominante. Mas se tivesse a chance de apenas ficar com
seu ômega aconchegado a ele, Dimitri seria o alfa mais feliz do mundo.
— Acho que eles gostaram de mim — Cauê brincou, aninhando-se
nos braços do alfa.
— Mais do que isso. — O russo beijou seu rosto. — Zia Lucia
permite apenas poucas pessoas na sua cozinha. Não gosta que mexam nas
suas panelas, mas permitiu que você cozinhasse e, principalmente,
comandasse.
— Foi só um doce simples.
— Amore, pode ser algo simples para você, mas para a família não.
Eles amaram você e estão com planos óbvios de te manter por perto.
— Vai rolar um sequestro? — Riu, aproveitando o carinho que o
alfa fazia.
— Zia Lucia não sequestra, faz chantagem emocional. Não posso
falar o mesmo de zio Sergio.
— Ele parece tranquilo — o ômega indicou o alfa mais velho, que
jogava dominó com as filhas de Angelo, fingindo estar revoltado por perder,
fazendo-as rir.
— Ele criou Vincenzo, Aaron e eu, que somos conhecidos por todos
os lúpus como “Trio do Caos”. Tivemos a quem puxar.
Aquilo fazia sentido, por isso Cauê estreitou os olhos para o
patriarca da família. Talvez Sergio fosse tão louco quanto suas crias, só
sabia disfarçar melhor.

— Olha como o husky está feliz! Estou emocionado, tantos anos


aguentando essa carcaça moribunda se arrastando pelos cantos — Vincenzo
falou, fingindo limpar uma lágrima imaginária.
— Vince! — Greg o repreendeu, mas ria como os outros.
— Depois eu te derrubo em um lago congelado, eu que estou errado.
— O russo bufou.
O Trio do Caos resolveu sair para jantar com seus soulmates, os
filhotes fariam uma festa do pijama na casa de Lucia, então os adultos
tinham a noite livre. Os amigos de Aaron também estavam aproveitando
para terem encontros com seus companheiros, era a noite de folga de todos.
— Não, sem lagos congelados — Greg avisou.
— Sempre existe um barranco por aí — Aaron opinou, bebendo seu
uísque. Apesar de estarem no restaurante dos Ferraro, que tinha uma linha
exclusiva de vinhos, nenhum deles estava bebendo isso.
— Cane Pazzo, era para estar do meu lado — Vincenzo reclamou.
— A única pessoa que defendo sempre é Ma Lune, vocês eu quero
que se fodam — o loiro respondeu calmamente.
— Ele nos ama tanto — Dimitri provocou, apertando a bochecha de
Aaron, que tentou apunhalá-lo com o garfo.
— Non, Mon Loup — Luc pediu para o marido. — Non quero que
sangue espirre no meu prato.
— Tudo bem. — O loiro beijou o rosto do ômega.
— Eu sei, eles são um casal estranho. — Vincenzo indicou os Lions.
Aaron revirou os olhos e Luc riu baixinho. — O cão do inferno se casou
com um lindo e doce anjo. Ninguém entende como aconteceu, mas é o que
é.
— Sinto muito, mas eles são assim o tempo todo. — Greg suspirou.
— Essa é a versão social deles, porque tem muita gente em volta, mas
espere até estarem sozinhos... Luc e eu não podemos tirar os olhos deles por
um minuto que estão aprontando algo.
— Oui, mas como são três e nós dois, era difícil, que bom que você
se juntou a nós. — O ômega loiro sorriu agradecido.
— O quanto você aprontou? — Cauê perguntou para Dimitri, que
sorriu, fazendo-se de inocente.
— Eles que me levaram a isso.
— Stronzo! — Vincenzo reclamou. — Lúpus não podem mentir!
— Então, Cauê, Dimitri falou que você é de família indígena —
Greg puxou assunto, já que conhecia aqueles três alfas e, às vezes, era
melhor só ignorar.
— Sim, meu pai é indígena, a comunidade dele criou um centro de
preservação da cultura do nosso povo, e ele é o líder do lugar. Morei lá por
boa parte da minha vida, só saí quando meus pais se separaram e minha
mãe quis morar mais perto da minha avó.
— Acho muito legal que nós três viemos de lares e culturas tão
diferentes — Luc comentou sorrindo. Ele e Greg tinham se aproximado
mais do brasileiro, já que no momento os três alfas estavam se provocando
e Aaron ameaçou esfaquear Dimitri. Vincenzo tinha acabado de lhe entregar
uma faca.
— Fale por vocês, vim de Chicago. Minha “cultura” é uma pizza
que mais parece uma torta e trânsito.
— Aquilo não é pizza — Vincenzo se intrometeu na conversa,
bufando, o que fez o marido revirar os olhos.
— Teoricamente tenho duas culturas. — Cauê riu. — Assim como
meu pai fez questão de que minha irmã e eu conhecêssemos a cultura
indígena, minha mãe fez o mesmo com a cultura afro. Então conhecemos
religiões, costumes, culinárias, essas coisas.
— Isso é lindo. — O francês sorriu. — Não vivi muito com a minha
mãe, mas ela me passou o amor pela culinária, me tornei chef por causa
dela.
— Nem olhem para mim, minha mãe me abandonou com meu pai
quando eu era pequeno. Então sem nada passado de mãe para filho aqui. —
Greg deu de ombros.
— O mesmo com meu pai. — Luc suspirou.
— Todo mundo tem família disfuncional aqui? Porque percebi que é
meio um padrão — o brasileiro comentou.
— Quase, mas alguns se salvam, como você e Vincenzo — Greg
brincou.
— Como Luc Jones-Knight diz, estamos criando nossas famílias
para que nenhum outro filhote saiba o que é ser abandonado. — O francês
sorriu.
— Vocês falam tanto desse ômega que não sei se fico animado para
conhecê-lo ou com medo.
— O bando londrino é um pouco caótico, mas é muito divertido.
Quando eles voltarem do heat vamos nos encontrar com eles,
provavelmente iremos para alguma casa noturna, dançar e beber — Greg
comentou.
— Tenho certeza que o dia que encontrá-los, irá se divertir muito —
Luc afirmou sorrindo.
Apesar de todas as provocações, não houve sangue ou ossos
fraturados, nem mesmo escoriações, Greg disse que foi um saldo muito
positivo. Os três casais andaram pela praça principal, onde algumas
apresentações aconteciam e além de existirem várias barraquinhas. Uma
coisa que Cauê não tinha notado na noite anterior era que as pessoas em
volta tratavam os três lúpus com muito respeito e, por consequência, seus
ômegas.
— Não, não precisa... No quero... Inferno, Greg, como diz “não
precisa” em italiano? — Cauê perguntou, fazendo o outro rir.
— Non è necessário — Greg disse para o vendedor da barraquinha
que vendia cannoli. Cauê estava tentando comprar o pequeno pacote com
quatro doces, mas o vendedor ficava dando mais dois de presente.
— Regalo per lui — o vendedor respondeu.
— Ele disse que é um presente para você.
— Mas... Quer saber? Tudo bem, agradece por mim. — Cauê
suspirou, pegando os pacotinhos a mais.
— Se divertindo? — Dimitri riu do seu ômega, que carregava os
doces.
— As pessoas são atenciosas até demais. — Bufou. — Sorte que
isso aqui é muito bom.
— É assim quando se vive com os lúpus. — O russo envolveu o
ômega em seus braços.
— Percebi, os ômegas ganham coisas o tempo todo e são
apresentados à família como soulmates sem saber — falou cínico, comendo
um dos doces. Dimitri fez careta, de quem sabe que foi pego.
— Acontece um pouco. — Deu de ombros.
— É muito cara de pau. — Cauê riu, Dimitri estava totalmente
apaixonado pelo som da risada do seu ômega.
Não beijar o ômega era quase impossível, o alfa queria ficar
abraçado o tempo todo, sentindo o aroma de cacau e chocolate. Queria tocar
e beijar a pele do seu ômega, mantê-lo seguro em seus braços.
Obviamente, Cauê notou o comportamento do alfa. Nunca tinha
gostado de ter namorados pegajosos, que ficavam abraçando o tempo todo,
afinal gostava muito de ter seu espaço. Mas se Dimitri nunca mais o
soltasse, talvez ele nunca reclamasse.
— Cansado? — Dimitri riu quando o ômega se jogou na cama.
— Essa cama é milhares de vezes mais confortável que a do hotel,
por que dormiu comigo lá?
Tinham ido para a casa de Vincenzo, Greg não tinha brincado,
Aaron e Dimitri tinham quartos ali, mas em pontas opostas da casa. O
quarto era uma suíte completa, a cama bem maior que a de qualquer hotel
ao qual tinha ido, e tinha uma banheira muito tentadora no banheiro.
— Você estava lá, por que eu ficaria aqui sem você? — o russo
perguntou distraído, o que fez o ômega sorrir.
Cauê realmente estava cansado, queria só tomar um banho rápido e
dormir, mas quando Dimitri o convidou para um banho de banheira, ele não
pôde resistir. O alfa tinha deixado a água na temperatura perfeita, o ômega
estava deitado em seu peito, recebendo a melhor massagem nas costas e
ombros que já tinha recebido na vida.
— Achei que estava me trazendo para mais uma sessão daquele
sexo destruidor, não para que eu recebesse uma massagem relaxante —
Cauê murmurou, fazendo o alfa rir.
— Prefere transar até não conseguir mais andar?
— Minha resposta para essa pergunta é sempre sim, então nunca
tenha dúvidas sobre isso. Porém essa massagem está tão boa que quase está
me fazendo gozar, então não sei se tem muita diferença. — Suspirou.
— Bom saber que te causo prazer, independentemente da situação
— sussurrou no ouvido do ômega, que se arrepiou inteiro. — Mas eu gosto
de cuidar de você, gosto que esteja confortável nas minhas mãos.
— Por quê?
— Como assim, por quê? — o alfa perguntou divertido.
— Em geral ninguém se importa, principalmente quando se trabalha
viajando tanto como eu ou você, já que sei que também precisa viajar para
cuidar dos seus negócios. Ultimamente sexo tem sido mais do tipo “foder e
cair fora”.
— Cauê — Dimitri disse, segurando o rosto do ômega, atraindo seu
olhar —, não vou “foder e cair fora”. Não sou um garoto irresponsável e sei
muito bem dar valor ao que tenho. Sexo é muito mais do que penetrar e
gozar, eu preciso conhecer seu corpo, cuidar dele, saber seus limites e
explorar cada um dos pontos de prazer. Seja com uma massagem em um dia
cansativo ou te fodendo até estar rouco de tanto gemer.
— Isso parece bom. — O ômega engoliu em seco quando a mão do
alfa começou a acariciar seu corpo.
— Eu te disse que vou adorar cada parte de você.
— Do meu corpo, você quis dizer, não é?
— Não, cada parte sua. Sua inteligência. — Beijou a testa do
ômega. — Seu humor. — Beijou um lado do rosto. — Seu sarcasmo. —
Mordeu de leve o queixo dele. — Cada parte da sua personalidade, mesmo
aquelas que ainda tem receio de me mostrar — disse, beijando o pescoço do
brasileiro. — Vou cuidar de você, te confortar quando for necessário e te
ajudar a extravasar quando precisar.
— E o que eu preciso agora? — sussurrou a pergunta.
— Precisa terminar o banho e descansar. — Dimitri sorriu com a
frustração do ômega.
— Tem certeza, signore Barkov?
— Já aprendeu como isso mexe comigo. — O russo sorria de canto,
malicioso. Sua mão deslizou do rosto, para o pescoço do ômega.
— Mexe? Não tinha percebido. — Sorriu cínico.
— Amore, não sou do tipo disciplinador, sou punitivo.
— Você é o que domina, não é? — provocou. O olhar do alfa
ficando ainda mais escuro. — É isso que você quer? Ser meu Dom?
— Tão perto do limite — Dimitri falou devagar, seu polegar
acariciando o lábio do ômega.
— Você não me respondeu. Quer ser meu Dom? Quer que eu me
submeta a você?
— Sabe o que isso significa?
— Posso não ser um praticante assíduo, mas sei o que significa, e,
digamos, não sou leigo no assunto. — Cauê acariciava as tatuagens do alfa.
O alfa inalou forte, de tudo, ele não esperava que seu ômega já
tivesse praticado. Achava que só teriam essa conversa mais para frente e,
quando tivessem, ele que explicaria tudo para seu soulmate e o ajudaria a
conhecer esse novo universo, para então descobrir se queria fazer parte ou
não.
Um ciúme cresceu rápido, era diferente imaginar que seu ômega já
teve uma vida antes dele. Mas saber que alguém já tinha domado seu
soulmate era o que o matava. Seu lado possessivo, aquele que tentou tão
bem esconder, veio à tona, junto de seu lobo, rosnando raivoso.
— Você já teve um Dom? — perguntou entre dentes, segurando a
nuca do ômega, que sorria atrevido.
— Não, nunca tive um, apenas participei de algumas cenas —
aquela resposta não acalmou o lobo de Dimitri, que ainda estava irritado. —
Então é isso, você quer ser meu dono?
— Não serei dono — Dimitri respondeu com aquele sorriso de canto
malicioso. — Serei seu mestre, o único que terá. Serei o dono de cada
gemido, de orgasmo e os terei quando eu quiser, e você, Cauê Novaes, é
todo meu.
— Vai... Vai... GOL!!!!
Lucia e Cauê gritaram e pularam, abraçando-se, comemorando o gol
do Juventus.
Era o segundo dia do ômega com os Ferraro, Lucia cumpriu o que
falou sobre levá-lo ao jogo. O brasileiro estava animado para ir ao estádio,
até tinha ganhado uma camiseta oficial do time. O jogo era no começo e
achou estranho já saírem um pouco após o almoço, mas quando só foi se
tocar que tinha algo errado, quando chegaram no aeroporto.
— Não íamos para o estádio? — perguntou, confuso.
— Vamos sim, mas o estádio fica em Turim — Dimitri explicou. —
É uma viagem rápida, cerca de uma hora.
— Zeus! — o ômega exclamou.
— Estou animado, faz muito tempo que não vou a um jogo. — Luc
sorriu.
Lucia tinha convencido vários dos convidados a irem com ela,
Sergio ficou resmungando o tempo todo e desejando que o time tomasse
uma lavada do adversário. Então formaram-se três grupos, os que ficaram
em Roma, os que foram para Turim e os que foram para França. Heidi,
Jake, Sam e Nico levaram os filhotes para casa da mãe de Aaron.
Inclusive, naquela manhã, Cauê tinha tentado escapar furtivamente
da cama para correr até uma farmácia, o que não deu certo. Dimitri acordou
no instante que o ômega saiu de seus braços. Mesmo que o brasileiro
tentasse convencê-lo a voltar a dormir, o alfa começou a se vestir. Já que
seu ômega precisava tanto comprar o que quer que fosse, ele iria junto.
Cauê achou muito fofo o jeito que o alfa esfregava os olhos de sono,
enquanto ainda estava acordando. Quando chegaram até a farmácia e o
ômega comprou três testes de farmácia diferentes, o alfa arregalou os olhos.
— Não se iluda, nem um lúpus conseguiria ser tão rápido — o
ômega brincou.
— Se não é para você, quem naquela casa precisa? — perguntou,
desconfiado.
— Não sei se posso te contar.
— Sabe que se não me contar, posso, simplesmente, te seguir e
descobrir para quem você entregou. Ou, contar para Aaron e ele fez o
trabalho por mim. — Dimitri deu de ombros, e Cauê revirou os olhos.
— Vocês lúpus acabam com a magia da situação — resmungou.
Nico fez os testes no quarto de Dimitri, afinal o alfa já sabia. Luc
estava com ele o tempo todo, e, quando o resultado foi positivo, os quatro
ômegas comemoraram em silêncio, já que não podiam contar a ninguém.
Nico queria fazer uma surpresa para Sam.
— Estão aprontando algo? — Vincenzo perguntou desconfiado
quando eles entraram na cozinha, para tomar café da manhã.
— Temos boas notícias? — Matteo, o beta e melhor amigo de Luc,
perguntou tomando uma boa dose de café.
— Ótimas — Luc respondeu. Matteo e Heidi sorriram, eles sabiam
qual era o assunto.
— Ou um de nós vai ter a melhor noite de sua vida ou está muito
ferrado — Jordan, marido de Matteo, comentou. Os outros alfas
concordaram.
Depois foram para o grande almoço na casa dos Ferraro, Cauê se
perguntou de onde vinha tanta comida, mas aí lembrou que todos ali eram
milionários e ele que era o pobre infiltrado. Tirou fotos e mandou para as
amigas, as bonitas da paisagem e comidas mandou para a mãe.
Foi aí que ganhou a camiseta de Lucia, onde ela tinha arrumado uma
camiseta oficial no dia 2 de janeiro de manhã, ele não tinha ideia. Talvez ela
só tivesse um estoque e dava de presentes para as pessoas que iam surgindo
na família.
— Não, não tem problema. Deixa seu pai sozinho logo no segundo
dia do ano — Jared, pai de Greg, disse dramático.
— Jay. — Vittorio, marido de Jared suspirou.
— Deixa eles, Jared, vamos ver nosso Roma enquanto esses
traidores renegam os pais! — Sergio exclamou.
— Saiam daqui, seus urubus — Lucia espantou os dois alfas.
— Divirtam-se — Gigio os provocou.
Gigio tinha um filhote um pouco mais velho que Annelise, que se
dava muito bem com os primos, então Annelise e Damiano ficaram com o
beta, enquanto os pais foram para Turim. Aaron não fazia questão nenhuma
de ir ao estádio de futebol assistir ao jogo, mas Luc quis ir, e ele não negava
nada ao seu ômega. Matteo e Jordan também foram, Jordan porque gostava
de futebol e Matteo porque gostava de beber.
Desde que entraram no aeroporto, Cauê tinha notado como a
expressão de Dimitri ia ficando mais séria, ele parecia cada vez mais tenso.
Ele ainda não sabia o motivo de ele ter medo de voar, mas não tinha
esquecido disso, por isso sabia que ele precisava se distrair.
— O bom de só viajar de jatinho é que nunca precisa usar o
banheiro de avião, não é? — Cauê perguntou do nada, pegando o alfa de
surpresa.
— Acho que sim.
— Não faça isso, é nojento. Nós tentamos segurar o máximo
possível, quando não dá mais e precisamos usar, vamos quase chorando.
Rezando para não ter turbulência.
— Por quê? — o alfa perguntou, divertindo-se com o ômega.
— Imagina você está lá, concentrado para não errar o vaso, mas não
querendo encostar em nada, no seu momento super vulnerável, e de repente
o avião começa a chacoalhar. — Para ilustrar o momento, ele começou a
balançar a mão, fazendo o russo rir.
Vincenzo, Lucia e Aaron estavam mais à frente. Quando ouviram
Dimitri rir, olharam para o alfa, o russo parecia estar se divertindo com a
história que seu ômega contava. Isso os fez sorrir, Dimitri merecia aquilo.
— Cauê?! — Um dos comissários de bordo que atenderiam o voo
dos Ferraro exclamou surpreso ao ver o ômega.
— Oi. — Sorriu amarelo.
— O que está fazendo?
— Estou neste voo.
— Vai trabalhar? — perguntou confuso.
— Não, de passageiro. — Suspirou. Depois daquele momento, todos
da companhia aérea saberiam que ele era convidado dos Ferraro.
— Algum problema? — Dimitri perguntou sério, abraçando seu
ômega. O toque era íntimo, não deixando dúvidas de que eram um casal.
O alfa, colega de trabalho de Cauê, arregalou os olhos. Seu olhar foi
da mão de Dimitri na cintura do ômega, até a expressão fechada do russo.
Ele deu uma desculpa e escapou dali. Ótimo, agora também saberiam que
ele estava saindo com um lúpus. Suspirou de novo.
— Quer ouvir música? — Cauê perguntou para seu alfa assim que
se sentaram nas poltronas.
— Vai cantar para mim de novo? — perguntou sorrindo.
— Posso pensar no seu caso.
Eles estavam nos seus lugares, presos apenas nas suas próprias
conversas, como se estivessem numa bolha onde só os dois existiam. Cauê
deu um dos seus fones de ouvido para o russo, eles mantinham as mãos
dadas o tempo todo. A música que começou a tocar era diferente da outra,
era mais lenta, apenas com violão. Devia ser uma balada romântica.
— Quando a vida inventou o desejo — Cauê cantava baixinho,
junto do intérprete da música —, o desejo, num outro desejo, se
transformou. O desejo não para, o desejo não cansa. É o motor contínuo
que a vida inventou
— Qual música é essa?
— Desejo, do Alceu Valença — respondeu. — É sobre desejo puro,
se renovando e continuando, sendo o que nos motiva a seguir.
— Como o nosso — Dimitri disse. Ele afagou seu ômega e o beijou.
Pela primeira vez, desde que era um filhote pequeno, mesmo que
ainda existisse lá no fundo da sua mente, o medo do avião não dominou o
alfa.

Faltavam dois minutos para terminar a partida, Juventus estava


ganhando de três a zero, era quase impossível o outro time ganhar. Eles
estavam no camarote que Lucia tinha no estádio, havia serviço de comida e
bebidas o tempo todo. Mas ela e Cauê não tiravam os olhos do campo,
comemoravam e vibravam com o time.
— Você não disse que “não gostava tanto assim” de futebol? —
Dimitri o provocou.
— Sou brasileiro, nos coloque na frente de um jogo e veja a
competitividade surgir. Sabia que torcemos tanto para outros brasileiros,
que nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, quando descobriram que numa luta
de boxe entre dois estrangeiros, o juiz era brasileiro, começaram a torcer
por ele?
— Pelo juiz? — O russo riu.
— É sério, tem vídeos disso na internet, somos muito competitivos.
— O ômega deu de ombros.
O apito final soou, a partida tinha sido encerrada e a torcida do
Juventus comemorava.
— Mio Juventus não decepciona! Nunca decepciona! — Lucia
gritava balançando sua camiseta. — Fodam-se vocês! Roma squadra di
merda!
— Mamma, Juventus nem jogou contra o Roma! — Vincenzo
exclamou.
— Não importa, Roma é um time de merda, como aqueles! Solo mio
Juventus é um time de verdade! — ela exclamava.
— São por coisas assim que nunca podemos sair com ela depois de
jogos — Greg explicou.
— O jogo do Roma já acabou? De quanto aqueles imbecis
perderam?
— Na verdade, estão ganhando de um a zero — Jordan respondeu,
olhando no celular.
— Droga!
— Eles estão ganhando por apenas um gol, Juventus ganhou por três
— Matteo observou e a ômega voltou a sorrir.
Depois do jogo, Lucia foi conversar com seus amigos da diretoria
do time, os outros foram para fora do estádio. Havia vários bares e
restaurantes à volta, muitas pessoas na rua comemorando e outras indo
embora tristes.
— Imbecis — Aaron rosnou quando esbarram em Luc. O ômega
estava se divertindo tanto, que não estava ligando, mas seu alfa estava
protetor.
— Podemos ficar aqui. — Vincenzo indicou o lado de fora de um
dos bares. Eles esperariam Lucia, porque depois todos iriam para o
aeroporto, alguns tinham que voltar para Roma, outros iriam para Paris.
Fazia cerca de quarenta minutos que estavam ali, os ômegas e o beta
tinham ido ao banheiro e estavam voltando. Os alfas estavam na rua,
Vincenzo tinha encontrado alguns amigos da família e tudo parecia bem.
A confusão começou muito rápido, havia pessoas bêbadas por perto,
alguém reclamou de cerveja derramada, então virou uma coisa de torcidas.
Mesas foram viradas e algumas pessoas tentaram sair da frente. Alguém
derrubou algo em um dos alfas que tinha começado a confusão e, por algum
motivo, ele pensou que foi Matteo ou Luc que o tinha acertado.
— Cuidado! — Vincenzo gritou, mas o alfa já estava perto demais
dos dois.
Antes mesmo que Aaron, que era um dos lúpus mais rápidos que
existia, chegasse até eles, Cauê girou o corpo e acertou um chute bem no
peito do alfa que estava tentando atacá-los. Sem parar o movimento, ele fez
algo parecido com virar estrela, colocando uma mão no chão e a outra perna
acertou a cabeça do agressor, que caiu no chão desnorteado.
Quando se endireitou, todos o olhavam surpreso. O alfa ainda estava
caído no chão, mas Aaron Lions pisava em seu pescoço. A briga tinha
parado, as pessoas estavam com medo, abriu-se um círculo ao redor deles.
Os italianos reconheceram Vincenzo e souberam que tinham se metido com
os lúpus.
Mesmo assim, era para Cauê que os lúpus olhavam.
— O que foi? — o ômega perguntou.
— Desde quando você luta assim? — Vincenzo perguntou,
espantado.
— Sei lá, desde os cinco anos? — Deu de ombros.
— Por que não nos disse? — Greg estava do seu lado, sorrindo.
— Contei que minha mãe fez questão que eu tivesse contato com a
cultura afro, assim como meu pai fazia com a cultura indígena. Acho que só
não especifiquei que isso quer dizer que luto capoeira desde a pré-escola.
Mas, bem, um ômega tem que aprender a se defender, vocês não acham? —
Cauê perguntou para Luc, Greg e Matteo.
— Está brincando? — Vincenzo riu. — Esses dois têm carinha de
bonzinhos, mas são assassinos frios.
— Não exagere. — O marido revirou os olhos. — Normalmente só
estou limpando a bagunça que você cria.
— Aaron — Dimitri disse de modo frio, o loiro o olhou sorrindo de
canto. Eles se conheciam bem demais para saber o significado de cada tom
de voz. Dimitri estava furioso, aquele alfa no chão era um dos responsáveis
pela briga. Mesmo que tudo tivesse durado segundos, queria dizer que ele
havia colocado seu ômega em risco, e o russo não toleraria isso. — Mate-o.
— Não! — Vincenzo interferiu, e o loiro revirou os olhos. — Não
acho que devemos matar alguém na frente do seu ômega, no segundo dia
dele conosco.
— Desde quando se importa com esses imbecis? — Aaron
perguntou revoltado, seu pé ainda na garganta do alfa, que gemia de dor.
— Não me importo com ele, mas me importo em voltar para casa
hoje à noite! — o italiano exclamou.
— Nós vamos voltar, quem não vai é ele — o loiro insistiu.
— Vocês são inacreditáveis — o lúpus italiano reclamou.
— Ah, é ruim, não mesmo? — Greg zombou do marido.
— Matamos ou não? — Jordan perguntou. Ele segurava um dos
outros envolvidos na confusão.
— Sim — Aaron e Matteo opinaram.
— Não! — Vincenzo e Greg exclamaram.
— Non perguntem para mim — Luc disse, negando com a cabeça.
— O que acha? — Dimitri perguntou para Cauê.
O alfa estava sério, de um jeito perigoso. O ômega sabia que deveria
estar com medo, porque, se pensasse bem, o alfa realmente estava
assustador. Tanto que quando se aproximou do ômega, pessoas que os
assistiam recuaram com medo. Mas Cauê engoliu em seco, porque estava o
achando muito sexy.
— Matar? Bem, acho que não, talvez quebrar uma perna ou...
— Ok — Aaron respondeu, imediatamente quebrando a perna do
alfa no chão, que gritou e chorou de cor.
— Não quis dizer literalmente, mas tudo bem. — Cauê suspirou.
— Eles são sempre literais — Matteo comentou, ele ainda estava
bebendo sua cerveja.
A polícia chegou, mas não precisaram dar muitas explicações.
Vincenzo apenas o cumprimentou e explicou o que aconteceu, nada mais
precisou ser dito, e os alfas que começaram a confusão foram levados. Cauê
até pensou que precisaria se explicar, ele era um ômega imigrante que tinha
agredido um alfa, a culpa cairia nele primeiro, mas não foi isso o que
aconteceu. Os oficiais pediram desculpa pelo transtorno e tudo acabou ali.
— Os deixei sozinhos por menos de uma hora — Lucia disse com as
mãos na cintura, negando com a cabeça.
Já no aeroporto, o ômega percebeu que os colegas de trabalho o
olhavam de longe, até ficavam naqueles pontos de aeroporto que todos
usavam para observar os passageiros e fofocar deles. Mas, no caso, Cauê
era o alvo da fofoca. Isso o fez suspirar, sabia que logo teria uma bela dor
de cabeça, principalmente quando chegasse nos ouvidos de seu chefe.
— Você está bem? — perguntou para Dimitri, que estava mais
calado do que o normal.
— Nunca passei por isso.
— Briga de torcida? Se for, sugiro nunca ir para o Rio de Janeiro em
dia de jogo do Flamengo contra o Fluminense.
— Não isso — Dimitri respondeu sorrindo de canto. Ele amava
como seu ômega fazia de tudo para aliviar o ambiente. — Nunca tive um
ômega, muito menos o vi em uma situação de perigo.
— Nunca teve um ômega? Você não me parecia virgem. — Ele se
fez de chocado, o que fez o outro rir. Eles estavam no aeroporto, quase
entrando no avião e o alfa não precisou respirar fundo para se controlar,
Cauê encarava isso como vitória.
— Transei com muitos ômegas, betas e até alguns alfas, mas nunca
nenhum foi meu. Nunca mantive alguém para mim ou senti que realmente
queria. Tive relacionamentos passageiros, dos quais nem me importei muito
com o fim. Mas te ver em um lugar que corria perigo me deixou muito
irritado.
Irritado não seria bem a palavra que usaria, mas não queria explicar
para seu ômega que tinha sentido uma raiva homicida. E aquela “chavinha”,
que seus amigos tanto falam, quase tinha sido virada em sua cabeça.
Esperava, sinceramente, que nunca estivessem em posição onde
Cauê corria perigo real. O ômega já tinha mostrado que poderia se defender,
o problema não era esse. Era que Dimitri se conhecia, ele poderia ser pior
que Aaron.
— Uau, vai jogar sua vida sexual superativa e interessante na minha
cara? — Cauê se fingiu de ofendido, Dimitri riu de novo. O ômega
realmente gostava de ouvir a risada do alfa.
— Não era esse o ponto.
— Só quero te lembrar que não era atrás de mim que aquele alfa
estava vindo, então nunca corri risco nenhum. Inclusive, fui eu que o
derrubei, então, salvei o dia.
— Sim, você salvou. — Dimitri sorriu e beijou seu soulmate.
Sempre zombou da loucura de Aaron, mas se fosse para cima do seu
ômega que aquele alfa estava indo, ele não teria feito pior.
— Agora você vai conhecer a rainha, deusa, a maior e melhor
cantora de todas, Pitty — Cauê falava, colocando as músicas da tal cantora
para ouvirem. De novo estava dividindo fones de ouvido e de mãos dadas
durante a viagem.
Dimitri gostou do som, as melodias eram do tipo que ele gostava e a
cantora era muito boa, mesmo que ele ainda não entendesse o idioma. Mas,
o que realmente importava, é que nunca pensou que quando encontrasse seu
soulmate, iria se sentir tão livre.
O medo ainda existia, mas estava tão sufocado pela presença
radiante de seu ômega, que não encontrava frestas para o dominar. Na única
vez que achou que a ansiedade viria à tona, Cauê o distraiu contando, de um
jeito dramatizado, algumas aventuras que viveu com suas amigas.
O alfa nunca tinha se sentido tão livre quanto no momento em que
entregou seu coração para seu soulmate.

— Tenho uma última proposta, por enquanto — Aaron falou para


Cauê. Ele, Luc, Jordan e Matteo estavam embarcando para Paris. Dimitri
estava quase o chutando até a França.
— Qual? — O ômega riu do russo.
— Você disse que batalhou muito para crescer na sua carreira, que
pensa em tentar uma promoção e sabe que sua amiga será gerente um dia.
— Sim, por quê? — perguntou desconfiado.
— Eu abro uma companhia aérea e coloco vocês dois, e a outra
amiga, como diretores.
— O quê?
— Aaron! — Dimitri gritou, irritado.
— Cane pazzo se superou! — Vincenzo gargalhava.
— Espera, isso é brincadeira? — Cauê ainda estava aturdido.
— Não, lúpus não podem mentir nem voltar atrás em suas
promessas. Estou te prometendo abrir uma companhia aérea, pequena no
início. Posso te colocar como sócio, suas amigas serão as gerentes.
— Amigas não, só Juliette. Chelsea não sabe nem gerenciar a
própria vida — o brasileiro o corrigiu, mas não estava conseguindo pensar
direito.
— Aaron, você não tem limites? — Dimitri estava espumando de
raiva.
— E alguém aqui tem? — o loiro retrucou, a maioria dos envolvidos
negou com a cabeça. — Você só está com raiva porque tive a ideia
primeiro, está todo choroso pensando no que fazer quando o tempo acabar,
que precisa contar tudo para ele e o convencer a ficar, que nem pensou no
óbvio. Se ele tem que ir embora por causa do emprego, é só dar um muito
melhor aqui.
— Funcionou comigo — Vincenzo comentou, Greg bateu no braço
do marido.
— Eu não sei o que falar... Isso é brincadeira?
— Aaron só brinca com Luc e com os próprios filhotes. — Matteo
apertou o ombro do ômega, que não sabia o que pensar.
— Preciso começar o orçamento prévio? — Jordan perguntou.
— NÃO! — Dimitri respondeu, empurrando Aaron para a área de
embarque. — Vai embora, seu demônio dos infernos!
— Foi tão divertido, nos encontramos em Londres? — Luc
perguntou sorridente.
— Acho... Não sei... Sim? — Cauê olhou confuso.
— Ele precisa de um momento, mas nos vemos em breve — Greg
respondeu.
— Até mais — Matteo e Jordan se despediram.
— Por que vamos para Londres? — Vincenzo perguntou. Dimitri
estava tentando dar um mata-leão em Aaron, que estava se esquivando.
— Vamos levá-lo para as baladas de lá. — O marido deu de ombros.
— Coisas de ômega e beta! — Matteo gritou rindo.
— Não mesmo! No! — Vincenzo negou efusivamente.
— Não passarei por isso de novo — Aaron avisou bravo.
— O que são “coisas de ômega e beta”? — Cauê perguntou.
— Nada! Porque vocês não vão participar — Vincenzo respondeu,
estavam voltando para o carro.
— Do que estão falando? — Dimitri perguntou, suas roupas
estavam um pouco amassadas, porque quase tinha rolado pelo chão com
Aaron.
— Não participei da última vez — Greg disse, revoltado.
— E nem vai dessa.
— Eles estão falando de algo chamado “coisas de ômega e beta”,
não sei o que é, mas Matteo falou que vai me levar junto — Cauê explicou.
— Ah, sei o que é. — Dimitri sorriu. — Você não vai.
— E por quê? — Agora era Cauê que estava revoltado.
— Porque seu alfa é um velho, pessoas velhas não podem passar por
grandes estresses porque podem morrer do coração. É isso que quer? Ficar
viúvo antes de se casar? — Vincenzo perguntou. Dimitri chutou sua perna.
— Ignore-os, quando chegarmos a Londres conversamos com o
bando de lá — Greg disse para Cauê.
— Nunca mais iremos para Londres, estou riscando Edward Jones-
Knight da minha lista de aliados.
— Ele é dramático, todos os italianos são, os lúpus mais ainda. —
Greg suspirou, ignorando o marido.
Quando chegaram à casa de Lucia para buscar os filhos de
Vincenzo, Lucia saiu do carro já contando a todos o que tinha acontecido.
Primeiro fez questão de jogar na cara do marido que seu time tinha ganhado
de três a zero. Depois contou da pequena confusão e de como Cauê
nocauteou o agressor.
— Não foi bem assim — o ômega tentou explicar, mas ninguém
mais estava o ouvindo.
— Padrino, me ensina a lutar assim? — Annelise pediu, sendo
seguida pelos filhotes. O que piorou quando o ômega mostrou vídeos de
capoeira e todos ficaram encantados em como parecia uma dança.
Dimitri salvou seu ômega em algum momento, era uma noite muito
fria do início de janeiro, mas eles resolveram andar pela praia. Estavam de
mãos dadas, conversando e resolveram se sentar. O ômega estava entre as
pernas do alfa, sendo abraçado e protegido do frio.
— Sabe, para um husky siberiano, você é bem quente — comentou,
fazendo o outro rir.
— Amanhã você tem que ir embora — Dimitri falou baixo, era o
elefante branco do qual eles não queriam falar, mas sabiam que teriam que
enfrentar em algum momento.
— Sim — Cauê murmurou, aninhando-se ainda mais ao alfa.
— Estou conseguindo te convencer ou preciso me esforçar mais? —
brincou.
— Nunca pare de se esforçar — respondeu atrevido, causando risos.
O alfa beijou seu pescoço, o que fez o ômega suspirar. — Por que você quer
que eu fique?
— Agora está pronto para conversarmos sobre isso? Você desviou
do assunto antes.
— Estou a menos de vinte e quatro horas de ir embora, se tem
algum momento para me decepcionar, é agora.
— Eu nunca decepcionaria você, não intencionalmente. Se ficar,
Cauê Novaes, prometo o meu máximo para te fazer feliz a cada dia.
— Lúpus não quebram suas promessas — repetiu as palavras de
Aaron.
— Nunca e, mesmo que isso fosse uma opção, nunca quebraria
nenhuma promessa feita a você.
— Por quê?
— O que conhece do mundo dos lúpus?
— Só o que todo mundo sabe, tem uma comunidade indígena de
lúpus há algumas horas de viagem de onde eu morava, mas nunca
interagimos. Juliette disse que prefere os lúpus aos comuns. Ela é a pessoa
mais sensata que conheço, então, se ela gosta dos lúpus, eu também gosto.
— Me lembre-se de a agradecer. — O alfa o beijou de leve. —
Lúpus têm a dádiva de poder reconhecer seus soulmates, nós os
encontramos e sabemos quem são. Meu lobo e eu te reconhecemos, você é a
alma destinada para a minha, e eu, para você.
— Como isso é possível?
— Já ouviu aquela lenda da deusa Luna?
— Claro que sim, sou devoto de Luna, não de Zeus. Aquele barbudo
nunca me inspirou confiança — resmungou.
— Por quê? — perguntou sorrindo.
— Zeus não cuidou nem dos próprios filhos, um teve uma vida feliz,
o resto todo se fodeu. E querem que eu confie que ele vai cuidar de mim?
Prefiro Luna, se apaixonou por um humano, mas todo mundo faz merda.
Teve filhos lobinhos e uma vida feliz. Ela amou os filhos, eles cresceram e
cuidaram dos seus descendentes e assim por diante.
— Se eu te disser que os lúpus são os descendentes de Luna,
acredita em mim?
— Da deusa? — perguntou, desconfiado.
— Essa história é mais uma fábula bonita para explicar como os
lúpus surgiram, em vez de contar sobre os anos de evolução dos shifters e a
seleção natural fazendo sua parte, onde nós sobramos. Mas é quase isso.
— Quando você disse “Meu lobo e eu te reconhecemos”, quis dizer
lobo mesmo, como nas histórias? Sabe, com presas, focinho e rabo?
— E rabo? — Riu.
— Sabe, completo — respondeu exasperado.
— Sim, lobo completo.
O ômega ficou quieto, pensativo por um tempo. Não é que as lendas
do seu povo estavam certas? Pessoas se transformando em lobos existiam.
— Ok — suspirou —, acho que preciso de uma garrafa de vinho
antes de continuarmos essa conversa.
— Dimi...
Cauê ofegou, seu rosto contra o travesseiro, suas mãos presas na
cabeceira da cama com seu cachecol, o suor escorria pelo seu corpo, a
venda o impedia de ver. Dimitri gostava de observar seu ômega assim,
devastado na cama, tremendo, implorando para parar ao mesmo tempo que
pedia por mais.
— Eu... não... aguento...
— É só me dizer sua palavra se segurança — o alfa sussurrou em
seu ouvido.
O plug vibrava na entrada do ômega, tocando seu ponto sensível,
deixando-o no limite, mas o alfa o puxava de volta sempre que seu
soulmate estava quase gozando, fazendo-o chorar. Cauê tinha marcas pelo
corpo, seus mamilos estavam tão sensíveis que seu corpo se arrepiava só de
os encostar no lençol da cama.
Na casa de Vincenzo, o russo tinha poucas coisas para usar nessas
ocasiões, mas seu apartamento em Moscou estava bem-preparado. Estava
enlouquecendo pensando em tudo que poderia fazer com seu ômega.
— Não... — o ômega disse orgulhoso. Ele nunca desistia, isso só
atiçava o lado dominador do alfa.
— Então não preciso parar — respondeu, rindo maldoso,
aumentando a velocidade da vibração.
— Porra! — Cauê gritou em português.
O alfa se inclinou e beijou as costas do seu ômega, seu soulmate era
perfeito, ainda mais gemendo seu nome manhoso. Sabia que estava
hiperestimulando Cauê, mas não tinha pegado pesado, tinha sido leve só
para ir o acostumando. O ômega só estava suado, com o rosto vermelho,
com várias marcas de chupões e mordidas, pele arrepiada e sensível e
implorando para gozar.
— Vou gozar sem você. — O ômega rosnou com raiva, seu corpo
tenso e tremendo com mais uma investida do plug.
— Amore, você não vai fazer nada sem mim, porque, como eu já
disse — Dimitri explicava calmamente, girando o plug e fazendo o ômega
ofegar de novo —, eu que mando aqui.
— Não me chame de amore! — o ômega disse com raiva, fazendo o
alfa rir de novo.
— E por que não? Não é isso que você é? — perguntou retirando o
plug e ficando atrás do ômega, pronto para penetrá-lo.
— Sou brasileiro, porra, me chama de AMOR, em português mesmo
— Cauê esbravejou com raiva, mesmo assim o lobo no peito de Dimitri
uivou, mas não era fome, era amor, ele estava rendido por Cauê.
Ele penetrou o ômega de uma vez, o que pareceu aplacar a raiva
dele. O ritmo era intenso desde o início, não tinha por que privar seu
soulmate de gozar. Cauê gemia, usando o travesseiro para abafar os sons. O
suor escorria pelo rosto e suas costas. O alfa parecia ter lido seu manual de
instruções, porque sabia fazer exatamente tudo de que ele precisava.
Cauê não conseguiu avisar que gozaria, nem tinha forças para isso.
Estava concentrado demais em se manter respirando, porque eram muitos
estímulos e o prazer só aumentava, de um jeito quase sufocante. Sentia que,
se não gozasse, tudo acabaria. Era uma necessidade crua, e, quando veio, o
prazer era tanto, que quase doía, mas de um jeito bom. Então vinha a paz, e
se via imerso em ondas de prazer gostosas, que relaxavam seu corpo inteiro.
A entrada do ômega o apertou até o limite da dor, o que fez o alfa
acelerar seus movimentos. Os gemidos do seu soulmate, que o próprio nem
parecia estar ciente, empurraram-no à sua libertação. Dimitri gozou e
precisou de uns minutos respirando, tentando voltar ao normal. Tudo com
Cauê era intenso, bem mais do que com qualquer pessoa que já tenha
estado.
E ele amava isso.
— Tudo bem, amor? — Dimitri perguntou soltando os pulsos do
ômega e tirando sua venda. Cauê sorriu bobo, ainda ofegante, com o
apelido.
— Cheguei perto de conhecer Luna pessoalmente — murmurou.
— Você foi perfeito — o alfa disse beijando o rosto do seu ômega.
Muitos Doms não gostavam do after care, apenas faziam o
necessário para que os subs ficassem bem. Dimitri não entendia, para ele
sexo era muito mais que a penetração e gozar. O sentimento de antecipação,
as preliminares, provocações, o ato e o pós formavam um conjunto, por isso
gostava de dar atenção a cada detalhe do processo.
Só que com Cauê era diferente, ele não fazia porque era importante,
não era porque gostava das cenas. Era porque era seu ômega ali, a pessoa
que ele já amava, que adorava. Ele cuidava, limpava e adorava o corpo de
seu ômega.
A conversa na praia durou por mais um tempo, Dimitri até se
espantou em quão compreensivo o ômega estava sendo. Ouvindo o alfa
contar sobre os lúpus e não surtando, como normalmente os comuns faziam.
Mas Cauê apenas riu.
— Somos de culturas muito diferentes, a de vocês é totalmente
baseada em Zeus, meu povo prefere Luna. Crescemos aprendendo coisas
diferentes. O máximo que tudo isso me prova, é que meu povo sempre
esteve certo e são os comuns daqui que não sabem nada sobre a vida. — O
ômega deu de ombros, fazendo o alfa sorrir.
Não é que Cauê não estava tentando dificuldade de assimilar tudo
aquilo, óbvio que quando ele aceitou pegar um voo extra não esperava
encontrar uma família de lúpus e descobrir que era soulmate de um alfa
lúpus russo gostoso, bilionário e que podia se transformar em lobo. Quem
aceitava aquilo de boa?
Quase podia ouvir a voz de Chelsea dizendo “Alfa lúpus gostoso e
bilionário, qual o problema em lidar com um pouco de pelo pela casa?”.
Juliette a repreenderia, mas concordaria com alguns pontos. Já sua irmã
pararia de ouvir na parte do “soulmate”.
Por isso não tinha muito o que conversar. Ele se sentia atraído por
Dimitri de um jeito que nunca se sentiu por ninguém. Já conhecia muito
bem as lendas sobre soulmates, não negaria que aquilo poderia ser verdade.
O que restava saber era como fazer dar certo.
Às 14 horas, precisava estar no trem em direção a Nápoles, não
sabia quando poderia voltar para Roma ou ir para Moscou se encontrar
Dimitri. Não podia pedir que o russo ficasse viajando para sempre o
encontrar onde quer que estivesse.
Então resolveu aproveitar o que pudesse, caso fosse sua última noite
com ele, queria que fosse para nunca esquecer. Agora estava sendo cuidado
pelo alfa, sentindo-se relaxado e feliz, aninhando-se ao russo e tentando
ignorar o fato de que não estaria em seus braços na noite seguinte.
Seu coração acelerou quando percebeu que estava tendo muito mais
problemas em sair de perto de Dimitri do que aceitar que ele podia se
transformar em um lobo gigante.
— Você está bem, amor? — o russo perguntou, preocupado, quando
seu ômega mudou a expressão relaxada para tenso.
— Quando eu verei o lobo? — o ômega perguntou. — Não posso
aceitar ser soulmate de um alfa que pode virar um lobo sem conhecer o
lobo.
— Isso é um requisito importante? — Dimitri riu aliviado de como
seu ômega estava encarando tudo bem.
— Depende do lobo, estou esperando que seja um lobo imponente.
Se for parecido com um dingo, saiba que farei bullying com você.
— Não sou um dingo — o alfa respondeu, rindo. — Acho que a
espécie mais parecida seria um lobo da Tundra, mas negro.
— Ok, só um minuto — o ômega respondeu pesquisando no celular.
— Uau, são bonitos.
— Espécies de lobo não tem muito a ver com os lúpus, apenas
usamos de referência. Por exemplo, Vincenzo é um lobo marrom, mas
Angelo é um lobo parecido com o ibérico, com tons de cinza e bege. É
quase aleatório. Em toda a história dos lúpus, Aaron e Luc são o único casal
que sei que os lobos são iguais. Ambos são lobos brancos.
— Ainda bem que eu não posso me transformar em um. Sou
brasileiro, era capaz de vir um lobo guará. Já pensou você, um enorme lobo
negro correndo do lado de um guará? Ia ser muita humilhação para todos os
envolvidos.

Estar nos braços do alfa foi a única coisa que acalmou seu coração e
o fez dormir, mas logo ele acordou e não sabia o que fazer. Dimitri ainda
dormia tranquilo e Cauê achou muito injusto alguém ser tão lindo assim,
mesmo dormindo.
O ômega conseguiu se levantar e foi para o banheiro, ignorando a
leve dor no corpo. Precisava voltar para a academia se pretendia continuar
transando com Dimitri. Depois de usar o banheiro, ainda ficou se olhando
no espelho. O que faria?
Era oito horas da manhã do dia três de janeiro, em cinco horas teria
que partir e deixar o alfa para trás. Isso nunca tinha sido problemas,
ninguém valia mais que seu trabalho e seu esforço para chegar até ali. Mas
com Dimitri era diferente, era doloroso só cogitar essa ideia.
Quando seu ex-namorado tinha dito que, se assumisse os voos na
Europa, largando a América Latina, era para Cauê nem voltar, porque eles
tinham terminado, o ômega nem se importou. Fez as malas, despachou suas
coisas para casa da sua mãe e viajou com as amigas para comemorar a
transferência.
O ex quis voltar, passou semanas pedindo desculpas. Falava que eles
precisavam conversar, dizendo que Cauê não poderia jogar mais de um ano
de relacionamento fora desse jeito e perguntou se aquilo era realmente um
adeus, recebeu como resposta uma foto do ômega tomando café em Paris,
com a torre Eiffel ao fundo e a legenda “au revoir”.

Cauê:
Sei que é tarde aí, mas preciso desabafar
Tainá, você trocaria tudo por alguém?

Estava na sacada do quarto, usando uma calça de moletom e a blusa


do alfa, sentado em uma das cadeiras, aproveitando a brisa. Estava muito
frio, mas precisava daquilo para pensar. Racionalmente sabia que não
poderia ficar, mas seu coração parecia se quebrar com a ideia de partir.

Tainá:
Sua sorte é que cheguei de uma festa e estou fazendo algo para comer
Me diga o que seria esse “tudo” de que eu desistiria e quem seria o motivo

O ômega sorriu com a resposta da sua irmã, ele precisava muito dela
naquele momento.

Cauê:
Seu trabalho, a pessoa é seu soulmate

Tainá:
Sou professora de uma escola pública, que apesar de amar dar aula, não
recebe o suficiente. Então são poucas coisas que não me fariam desistir
Ainda mais sendo meu soulmate

Cauê:
Estou falando sério

Tainá:
Eu também, já viu quanto resta do meu salário depois de pagar as contas?
Nem eu, porque não sobra nada

Ele riu, queria poder abraçá-la. Sua mãe faria chá e um bolo, Tainá
seria a louca de sempre, mas o abraçaria e daria um grande conselho.

Tainá:
Seu alfa é seu soulmate?

Cauê:
Talvez?

Tainá:
É ou não é?

Cauê:
Sim

Seu celular começou a vibrar na mesma hora e ele revirou os olhos.


Era óbvio que ela ligaria para saber da fofoca completa.
— Como assim?! — ela gritou.
— Não posso te dar todos os detalhes agora, mas lúpus sabem
quando acham seus soulmates, e Dimitri me achou.
— Exatamente como nas histórias?
— Tai, não posso te contar tudo agora, mas juro que quando for para
o Brasil te explico tudo o que eu puder. Mas estou surtando agora e preciso
de ajuda.
— Ok, qual o problema?
— Em menos de cinco horas tenho que ir embora, voltar a trabalhar
e sei lá qual será meu destino. Mas isso quer dizer que vou ter que deixá-lo
e está me matando por dentro só pensar em ficar longe.
— Óbvio que você está se sentindo assim. Você está cogitando
deixar um pedaço da sua alma para trás. Cauê, é como se você estivesse
prestes a dilacerar parte de quem é.
— Não é assim também.
— Acho que está tanto tempo no meio desses europeus, que
esqueceu da sua origem — zombou dele. — Seja nas crenças do povo do
papai ou nas crenças das entidades da mamãe, você sabe que encontrar seu
soulmate significa. Luna te abençoou com esse presente e você está com
medo. Entendo o medo da mudança, mas se agarre na sua fé.
— É diferente acreditar do que viver. — Suspirou. — Desistir do
que lutei tanto para conseguir?
— E por que tem que desistir? Pare de ser dramático, esse é o meu
papel nessa família.
— O que eu faço?
— Você quer ser comissário, certo? Não existem companhias na
Rússia? Ou alguma só de lúpus?
— Ontem o amigo do Dimitri se ofereceu para abrir uma companhia
aérea só para eu trabalhar com ele. — Não ia explicar sobre toda
provocação.
— Então, qual o problema?
— Não sei, não quero depender de ninguém. E se eu me arrepender?
— Maninho, você tem suas economias. Se precisar usar para voltar
para casa, use e nós te ajudaremos em tudo. Caso as coisas deem errado, o
que eu duvido, você sempre pode recomeçar. Sabe o que papai sempre diz.
— A vida é um ciclo de finais e recomeços, se está preso muito
tempo dentro de um ciclo, quer dizer que está se impedindo de viver uma
nova história — Cauê repetiu as palavras do pai.
— E vamos deixar claro que isso se refere a histórias e empregos,
não para amores. E tem muita diferença entre “estar preso” e “estar
vivendo” um ciclo.
— Eu entendi — resmungou.
— Só para me certificar que você não vai usar como desculpa em
algum momento. Fique com seu alfa e viva o que for. Para o bem ou mal,
você tentou e não precisa passar a vida pensando no que seria se tivesse
tentado.
— Sinto que você tem muita confiança nele, mas nem conhece
Dimitri.
— Depois que você me contou sobre ele, pesquisei. E posso estar
muito animada de ter um alfa lúpus bilionário que ocupa a oitava posição
como solteiro mais cobiçado do mundo de acordo com várias revistas.
— Oitava? Como assim?
— Também achei injusto, colocaram uns príncipes e alfas ligados a
famílias reais na frente. Quem se importa com um conde de Edimburgo? —
Tainá bufou.
Cauê ficou em silêncio, ele tinha ficado bravo com aquela lista.
Primeiro que não se deveria categorizar pessoas, isso as desumanizava. Era
retrógrado e ofensivo. Segundo: oitavo? Em que mundo Dimitri Barkov era
o oitavo alfa mais cobiçado do mundo? Segundo lugar ainda seria pouco. E,
terceiro e mais importante: era o seu alfa!
— Já sabe o que fazer? — Sua irmã riu baixinho.
— Talvez... — resmungou.
— Sabe que te amo e te apoio em tudo, não é?
— Eu sei, mesmo sendo essa provocadora do caralho.
— Não esqueça de vir apresentar seu alfa para a mamãe, assim que
der. Estou morrendo de sono, então vou dormir, qualquer coisa me ligue.
— Boa noite, sua inútil — murmurou, fazendo-a rir. — Te amo,
obrigado.
— Sempre que quiser, maninho.
Eles desligaram, Cauê queria se bater, coração idiota, não era para
ser ele que decidia as coisas. Abriu o grupo de conversas com suas amigas,
elas ainda deveriam estar dormindo, mas mandou a mensagem mesmo
assim.
Cauê:
Se eu não embarcar no voo mais tarde e nem nos próximos, vocês ainda
vão me amar?

Seu nariz estava gelado e já tinha suportado frio demais. quando


entrou no quarto, Dimitri estava sentado na cama, encostado na cabeceira,
mexendo distraidamente no celular. O alfa o olhou e sorriu, deixando o
aparelho de lado. Cauê suspirou, ele não tinha mais dúvidas.
Deitou-se na cama e se aninhou no alfa, que o envolveu em seus
braços. Dimitri beijou seu rosto e fazia carinho no rosto do ômega. Ele não
falava português, mas pescou algumas palavras que eram parecidas com
espanhol. Percebeu que soulmate precisava de espaço para decidir algo e o
respeitou, ainda mais por saber que tinha algo a ver com ele.
— Tudo bem? — perguntou, beijando-o.
— Agora está — Cauê respondeu, suspirando entre os beijos.
— Quer conversar?
— Agora não, preciso de beijos e café.
— Posso providenciar os dois — respondeu sorrindo.
Depois de um tempo se beijando, eles desceram para a cozinha.
Vincenzo, Greg e Annelise estavam lá, tomando o café da manhã. Greg
disse que Damiano estava desmaiado na cama, mas que deveria acordar em
algum momento, pelo menos era o que esperava.
— Então, Dimi me contou sobre ser um lúpus — Cauê comentou.
— Sobre os soulmates ou a parte peluda?
— Tudo.
— Zeus, até que enfim, eu não aguentava mais desviar do assunto
ou não poder xingá-los. Luc passou o tempo todo se segurando para não
fazer comentários, porque o tadinho sempre entrega os segredos. — Greg
suspirou dramaticamente. — O aniversário de Sergio está chegando, eles
sempre fazem uma grande fogueira e os lúpus fazem uma corrida como
lobos. Você fica comigo e Gigio, assim que eles saírem podemos fofocar.
— Estou escutando — Vincenzo avisou. — Amore, sabe nosso
pacto, nada de não me contar as fofocas.
— Como que eu vou te contar as fofocas sobre você? — Greg negou
com a cabeça.
Eles resolveram ficar na casa de Vincenzo, Annelise queria aprender
capoeira. Mesmo Cauê não sendo um mestre, estava ensinando alguns
movimentos, mas falou sobre a filosofia. Os olhos da alfinha brilhavam e
ela estava empolgada. Quando Damiano acordou e os viu praticando, quis
fazer parte na hora.

Juliette:
Calma, acabei de acordar. Do que você está falando?

Chelsea:
Claro que sim, vai lá, amigo, seja feliz!!!
Te amo e estou orgulhosa de você!!!

Cauê riu, mas não teve tempo de responder. Dimitri recebeu uma
ligação. Assim que viu o nome na tela do celular, sua expressão ficou
confusa e um pouco tensa. Ele se afastou para atender a chamada.
— O que houve com o husky?
— Não sei, uma tal de Tatiana ligou, e ele saiu desse jeito — Cauê
explicou, confuso. Vincenzo fez careta quando ouviu o nome. — O que foi?
— Tatiana é a prima dele. Se ela ligou, é provável que algo ruim
tenha acontecido.
— Dimi, o que foi? — Cauê perguntou quando o russo voltou com
uma expressão estranha.
— Preciso voltar para a Rússia agora mesmo, minha mãe sofreu um
acidente e está no hospital.
— Vamos com você — Vincenzo disse na hora.
— Não, vou sozinho, sabe como são. — O russo suspirou, irritado.
— Amor, eu preciso...
— Eu cuido das malas, você resolve nosso voo. Não se preocupe,
sou muito bom em fazer malas rápido. Tem ideia de quanto tempo
ficaremos? Não lavei todas as roupas que estão na minha mala, estou com
uma quantidade bem limitada, mas damos um jeito.
— Pode pegar as minhas, usamos quase o mesmo tamanho — Greg
sugeriu.
— Obrigado, isso me salva de passar vergonha.
— Cauê, você não...
— Não termina essa frase — o ômega avisou o russo. — Você não
pode falar tudo aquilo e me pedir para ficar com você para, no momento
que eu decido ficar, você ir para algum lugar sem mim. Não tem negociação
aqui, você não vai passar por isso sem mim. Irei fazer nossas malas e me
arrumar, você organiza nosso voo e, também, se arruma, então nós vamos,
ok?
Dimitri estava olhando nos olhos do seu ômega. Cauê não estava
brincando e nem hesitando. Ele tinha pegado nas entrelinhas que a família
de sangue de Dimitri não era algo com o que ele gostava lidar, então o
ômega não o deixaria sozinho com eles. O lobo no peito choramingou, ele
amava muito seu ômega.
— Certo. — Dimitri sorriu agradecido.
— Ótimo. — Cauê o beijou rapidamente e foi com Greg pegar
algumas roupas para a viagem.
Dimitri precisou de um segundo para se recuperar, ele que tanto
havia jurado cuidar de seu ômega, estava sendo cuidado por ele. Ele nunca
mais ficaria sozinho.
— Aí ela teve a ousadia de me chamar de “moreninho”. — Cauê
bufou, dramatizando a história. — Moreninho, acredita?
— Não gosta que te chamem assim? — Dimitri perguntou com um
sorriso no rosto. Estavam no voo para a Rússia, o ômega estava contando
coisas aleatórias sobre sua vida para distrair o alfa.
— Meu cabelo é preto, isso me faz ser moreno, então, se estiverem
falando da cor do meu cabelo, ok. Mas se estiverem falando da minha pele,
não. Não nasci com essa quantidade maravilhosa de melanina para alguém
me chamar de “moreninho”. — O ômega revirou os olhos. — Sou preto
com muito orgulho, e nada de “light skin”, “pardo” ou “caramelo”, é preto
mesmo. O máximo que aceito é mestiço por causa da minha ascendência
indígena.
— Nunca tinha pensado em todos esses termos — o alfa comentou.
Entendeu que precisava se atentar mais a esses detalhes. Sabia que seu
ômega tinha uma cultura totalmente diferente, mas as vivências dele
também eram opostas à sua.
— É que a maioria dos gringos já me consideram latino quando
explico que sou brasileiro. Mas “latino” não é uma etnia, somos diferentes
povos, com diferentes línguas e diferentes culturas.
— Realmente nunca me atentei a isso, mas vou corrigir. — O russo
entrelaçou os dedos ao do seu ômega.
Eles estavam no avião dos Ferraro, já que o dos Barkov estava em
Moscou. Dimitri não queria perder tempo esperando o avião. Eram nove
horas de voo de Moscou para Roma, não iria esperar esse tempo para ter
que passar mais nove horas indo de Roma para Moscou.
Só que isso queria dizer que a companhia que os estavam atendendo
era a mesma que Cauê trabalhava. Se a fofoca do dia anterior já tinha
corrido solta, agora então que ele virou o assunto principal.
Enquanto fazia as malas, tinha ligado para Fernando, o responsável
por arrumar as escalas, e dito que não poderia trabalhar por aqueles dias.
Explicou que tinha tido uma emergência familiar e que não sabia quando
voltaria.
— Certo, mas vou tirar do seu banco de horas — o colega disse,
contrariado, já que teria que arrumar alguém para substituir o brasileiro em
tão pouco tempo.
— Tudo bem, me desculpa, acabamos de receber a notícia. — Até
sentia pelo seu colega, mas não o suficiente para desistir de ir.
— O que aconteceu? Preciso saber o que colocar na ficha.
— Minha sogra sofreu um acidente, estamos indo para o hospital —
respondeu ignorando o olhar zombeteiro de Greg, que o ajudava com as
malas.
— Eu soube que está namorando um lúpus — o outro murmurou. É
claro que ele sabia, todo mundo deveria estar sabendo.
Fernando até tentou pescar mais alguma informação para atualizar a
fofoca, mas Cauê não deu brecha. Terminaram as malas, o ômega tomou
um banho e ficou pronto, logo Dimitri apareceu para fazer o mesmo. Não
tiveram tempo de se despedir da família Ferraro, Cauê mandou mensagem
para as amigas no carro que os levava para o aeroporto avisando o que
estava acontecendo. As duas garantiram que o ajudariam no que
precisassem e ele ficou imaginando no que duas ômegas comuns,
comissárias de bordo, pobres como ele, poderiam ajudar uma família
bilionária russa de lúpus. Mas apenas agradeceu e prometeu mantê-las
informadas do que estivesse acontecendo.
— Fiquei pensando em como seria esse quarto, mas não entrei nele
— Cauê disse quando foram liberados para soltar o cinto e Dimitri o levou
para o quarto do jatinho.
— São muitas horas de voo, melhor descansar. — O alfa parecia
cansado, mas o ômega sabia que era o estresse.
— Que tal uma massagem?
— Eu aceito — respondeu, sorrindo de canto.
O quarto estava quente, em temperatura perfeita. Ele se deitou de
bruços na cama sem camiseta, Cauê se sentou sobre seu quadril e começou
a massagear as costas do alfa. Preferia que tivesse um óleo de massagem ou
creme, mas também preferia que um dos comissários que estava atendendo
o voo não fosse Edoardo, o mesmo que tinha discutido com ele por Dimitri.
E que agora nem olhava na sua cara, mesmo que tentasse manter a postura
profissional.
— Isso é bom — Dimitri murmurou.
— Que bom, nas minhas últimas férias estava entediado e fiz um
curso online de massagem, usei minha mãe de cobaia e ela adorou. No fim
achei divertido e acabei fazendo um curso técnico em EAD de
massoterapia. Tinha que treinar nas minhas amigas nas horas vagas. Agora
elas acham que sou o terapeuta particular delas.
— Não, agora você é o meu. — O russo riu.
A voz dele estava baixa, um pouco rouca. Seus olhos fechados e sua
expressão muito mais relaxada do que antes. Cauê passeou sua mão pelas
costas do alfa. A tatuagem que parecia um tribal descia pelos seus braços,
mas no centro das costas tinha um lobo o encarando de volta. O ômega
tinha ficado fascinado com aquele desenho, agora fazia muito mais sentido.
Dimitri era lindo e chegava a ser revoltante como seu cabelo era
sedoso. O alfa cheirava tão bem, era reconfortante, como uma volta para
casa. Mas uma casa que amava e era amado de volta. Não como o russo
parecia se sentir voltando para Moscou. Cauê não sabia o que tinha
acontecido com seu alfa, mas ele o ajudaria lidar com isso.
— Hoje não tem música? — Dimitri murmurou.
— Achei que estava dormindo — Cauê brincou.
— Quase, mas gosto quando você coloca música para ouvirmos. —
Esticou a mão e puxou o ômega para si, aninhando-o em seus braços.
— Hoje você vai conhecer o Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Depois
que eu te acostumar com forró, vai conhecer as melhores bandas do mundo.
Mastruz com Leite, Calcinha Preta, Aviões do Forró... Tenho muita coisa
para te apresentar.
Dimitri não estava entendendo muito bem, mas sorriu concordando.
Qualquer coisa com seu ômega seria boa.

— Então você conseguiu — Edoardo disse. Claramente se


controlando para não xingar Cauê, já que, teoricamente, ele era o cliente.
— Por favor, não comece.
— Tudo bem, eu espero minha vez — o outro disse de modo
petulante.
— Não terá “sua vez”, ele é meu alfa, supere isso — Cauê disse
entredentes.
Afastou-se rapidamente antes que fizesse qualquer besteira. Tinham
acabado de chegar em Moscou, não podia estapear o colega de trabalho e
atrapalhar Dimitri de ver a mãe. Também não sabia explicar de onde o
ciúme possessivo tinha vindo, mas não suportaria ouvir Edoardo falar do
SEU alfa de novo.
— O que ele te falou? — Dimitri perguntou preocupado, não tinha
gostado da expressão do seu ômega.
— Ele é só um idiota, vamos.
— Ele te ofendeu?
— Não. — Suspirou. — Apenas insinuou que estaria na fila
esperando a vez dele de ficar com você.
— Então ele me ofendeu.
— Como assim?
— Sou um lúpus, “insinuar” que vou trair ou deixar meu soulmate
de lado para ficar com outras pessoas é uma ofensa para nós. Traição não é
uma coisa que toleramos, por isso dizer que poderíamos fazer isso, é
ofensivo. Quer que eu fale com ele? Posso pedir para que nunca mais
atenda os Ferraro.
— Não precisa, é só ego ferido, uma hora ele supera.
— Certo, mas não gosto disso — Dimitri disse, colocando o braço
pelo ombro do seu ômega. Suas malas estavam sendo levadas para o carro
do russo. — Se ele falar algo de que você não goste, me avise.
— Não se preocupe, se ele me encher o saco, eu me resolvo. Sou
filho da ômega que deu uma surra em um bandido com chinelo, tenho a
quem puxar.
Dimitri riu e beijou o rosto do seu ômega. Pessoas que estavam em
volta olharam surpresas. Se Cauê achou que em Roma eles eram
reconhecidos por causa de Vincenzo, em Moscou era muito pior. Parecia
que a maioria tinha um misto de medo e respeito por Dimitri, sempre saindo
da frente e os olhando enquanto passavam.
— Al'fa Barkov — o motorista disse quando se aproximaram do
veículo.
A cidade parecia linda, mesmo que ali estivesse muito mais frio do
que em Roma. O brasileiro agradecia muito a Greg por ter emprestado
tantos casacos pesados. Quando olhou a temperatura, descobriu que estava
-7ºC. Dimitri falou que assim que as coisas estivessem resolvidas, sairiam
para comprar roupas para o ômega, mas Cauê preferia comprar uma
passagem de volta para o Brasil.
— Só vamos deixar nossas malas e preciso pegar algumas coisas —
Dimitri disse quando chegaram a um prédio com aparência luxuosa.
— Você mora aqui?
— Na cobertura — o russo disse colocando uma chave no painel do
elevador, acendendo o visor e mostrando que ele já estava perto. O
motorista ficou na garagem esperando enquanto eles levavam as malas.
Dentro do elevador tinha poucos botões, eles não precisaram apertar
nenhum. Assim que as portas se fecharam, o elevador começou a se mexer,
indo direto para o último andar. O alfa mantinha seu braço em volta do
ômega, mas parecia pensativo.
Quando as portas se abriram, Cauê se segurou para não exclamar
nada, o elevador dava direto no hall do apartamento e, logo depois, era a
sala do alfa. Sem paredes e portas, o elevador parava dentro do
apartamento.
— Já mandei uma mensagem para o administrador do prédio
pedindo sua chave, deve chegar amanhã ou depois — Dimitri falou,
guiando o ômega pelo apartamento, que era muito maior do que a casa de
sua mãe. Calculando, talvez o apartamento que dividia com suas amigas
tivesse o tamanho do hall, sala e cozinha daquele lugar.
A sala era bem clara, decorada com tons de branco, cinza e apenas
uma parede escura. O sofá era em L, mas enorme, devia caber umas onze
pessoas ali, além das poltronas. Conseguia ver as enormes portas de vidro
que davam para uma grande sacada, coberta de neve no momento.
— Quer comer algo? — o alfa perguntou, mostrando a cozinha,
totalmente equipada e decorada em preto e branco. Cauê pensou que sua
mãe faria a festa ali.
— Claro, não tive coragem de comer a comida que Edoardo serviu,
fiquei com medo do molho especial que ele poderia ter colocado. Me
mantive à base de saco de amendoim e os chocolates que achei. — Dimitri
estava esquentando duas porções da sopa que pegou da geladeira, quando
olhou estranho para seu ômega. — O que foi?
— Não gosto de saber que alguém pode ter feito algo para te
prejudicar, você ficou sem comer por medo de que aquele imbecil tivesse
feito algo com sua comida. E eu não reparei.
— Ei, estou apenas sendo o dramático de sempre. E não se cobre
por algo que não tem nada a ver — o ômega disse, chegando mais perto do
seu alfa e o abraçando. — Você está sob muito estresse, não tente colocar
mais preocupações em cima.
— Sei que dei a ideia de que sou um alfa calmo e bom — Dimitri
suspirou, abraçando e beijando o rosto do seu ômega —, mas eu não sou.
Posso ser tão ruim e louco quanto Aaron. Tenho medo de perder o controle,
te assustar e você ir embora.
— Acabei de atravessar o continente, que nem é o meu, para vir
para um país, que não conheço mais ninguém e nem falo o idioma, só para
ficar com um alfa que conheço há três dias. Podemos chegar à conclusão de
que normal, também não sou. — Deu de ombros, fazendo o alfa sorrir. —
Pode ser algo egoísta, mas não fazendo nada de ruim com as pessoas que
amo, não me importo muito.
— Eu nunca feriria alguém importante para você — respondeu,
fazendo carinho no seu ômega.
— Nem os doguinhos, porque eu gosto de doguinhos. — Cauê
sorriu, e Dimitri riu alto.
— Tudo bem, não vou ferir os doguinhos — tentou imitar o ômega,
que riu também.
O micro-ondas apitou, e eles retiraram a sopa. Até que Cauê gostou,
tinha carnes e vários legumes, a cor era quase marsala por causa da
beterraba. Depois de dar uma olhada na geladeira, decidiu que se fossem
ficar ali por mais tempo, teria que achar um mercado que vendesse comida
brasileira urgentemente.
— Podemos ir — Dimitri disse, voltando para a sala. Ele tinha
trocado seu casaco, usava o sobretudo com o lobo e usava um anel com
uma pedra cinza escuro. Ele entregou para Cauê um sobretudo parecido
com o seu e um colar com uma pedra igual do anel do alfa. — Use, por
favor.
— Ok — disse, já colocando. O casaco era bem quentinho, Cauê
estava até agradecido. — O que significa tudo isso?
— São os símbolos da família Barkov. — Suspirou quando entraram
no elevador, de novo, o alfa teve que usar a chave. — Minha família é
muito tradicional, todas as famílias têm símbolos lúpus, a maioria só usa em
momentos especiais, mas a minha usa o tempo todo. Meu anel significa que
sou o alfa líder dos Barkov.
— Uau! E esse colar? — o ômega perguntou, brincando com o colar
que usava.
— Que você é meu ômega e deve ser respeitado por toda a Rússia
como ômega do líder.
Na mesma hora Cauê soltou o colar, aquela não era a resposta que
esperava.
Não foi necessário falar nada, apenas entraram no carro e o
motorista sabia onde os levar. Cauê ficou se perguntando se o funcionário
ficou esperando o tempo todo no carro ou havia uma salinha na garagem
para que os motoristas ficassem esperando por seus chefes bilionários. Ele
esperava que sim.
— Estamos indo encontrar minha família, não queria te apresentar
desse jeito a eles. — Dimitri estava sério, mas fazia carinho na mão do
ômega o tempo todo.
— Não se preocupe, sei que é um momento delicado e não tenho
expectativa nenhuma. O importante é saber como sua mãe está.
Ele achou estranho o alfa não comentar sobre a mãe estar no
hospital. E, assim que chegaram, não ter ido direto vê-la. Porque, se
recebesse uma ligação de Tainá dizendo que a mãe tinha sofrido um
acidente e estava em uma maca, era capaz de o ômega voltar nadando para
o Brasil. E, assim que pisasse em solo brasileiro, correria para o hospital.
Dimitri parecia querer adiar a visita, tinha passado primeiro
apartamento e até oferecido comida. Cauê realmente estava com fome, mas
só aceitou porque percebeu que o alfa precisava de um tempo para respirar.
Não era difícil saber que Dimitri não queria estar ali, desde que
tinham embarcado o sorriso sincero e relaxado tinha mudado. Ele ainda
sorria feliz para o ômega, mas só para ele. E, enquanto estava na casa dos
Ferraro, viu Lucia e Sergio se referirem aos seus filhotes incluindo Dimitri,
como se tivessem quatro filhos, não três. Aaron era um sobrinho, mas
Dimitri era um filho.
O hospital era um enorme complexo totalmente branco com uma
placa em cima que, obviamente, Cauê não conseguia ler. O motorista
contornava o local, entrando em um estacionamento que parecia ser
privativo.
— Irá parecer horrível se eu disser que não me importo muito com o
estado de saúde de minha mãe? — Dimitri sussurrou a pergunta, parecia
vulnerável, como se estivesse com medo do julgamento do ômega.
— Se dissesse isso sobre Lucia, eu acharia horrível — Cauê
respondeu. O alfa encarou o brasileiro, que sorriu e fez carinho no russo. —
Não sei a história que viveu aqui, mas sei que família é onde tem amor. Eu
sei que você tem isso em Roma, aqui eu não sei como as coisas são.
— Já tive, mas não mais — o alfa murmurou.
— Bem, agora eu estou aqui — o ômega respondeu e o beijou. —
Preciso que saiba que existem poucas coisas que conseguiriam mudar a
opinião que tenho sobre você.
— Só não mexer com os doguinhos, e tudo fica bem? — Dimitri
brincou, e Cauê riu do sotaque.
— Eu diria que minha família também está inclusa, depois dos
doguinhos, na minha lista de prioridades. Mas também tem uns frutos
podres que não faço muita questão. — Suspirou dramaticamente.
O alfa estava muito agradecido por Cauê estar ali, não saberia como
lidar sem ele. Provavelmente Vincenzo ou Aaron o teriam acompanhado.
Então seu dia seria Vincenzo revirando os olhos e fazendo comentários
sarcásticos sobre sua família ou Aaron ameaçando matar alguém. Pelo
menos manteria sua mente ocupada para não ligar para as merdas que viria.
— Minha família é complicada, alguns deles podem acabar não
sendo bons com você — Dimitri finalmente disse o que estava remoendo.
— Racistas xenofóbicos? — Cauê perguntou naturalmente. Ele
conhecia esse tipo de família europeia branca e muito rica. Algumas delas
realmente achavam que eram mais especiais que as outras pessoas.
— Não, eu acho que não. Sinceramente, não me surpreenderia se
alguns fossem, mas nunca disseram nada que me fizesse pensar isso deles.
— Então qual o problema?
— Você é meu soulmate.
— Vão me odiar por isso?
— Alguns não gostam que eu seja o alfa líder, eles não aceitam que
tenho “ideias liberais” e não me importo com muitas tradições. Nunca
aceitei nenhum tipo de casamento arranjado ou entrei em disputas de
territórios desnecessárias. Somos donos da Rússia inteira, não tem motivo
para querer aumentar nossa jurisdição. Me rejeitam pelas minhas ideias,
mas não rejeitam todo o dinheiro que vem delas.
— Vincenzo disse que, desde que você assumiu a família, as ações
das empresas de vocês aumentaram, que sua família se tornou “ainda mais
bilionária” por sua causa. Mesmo assim, não gostam de você?
— Eu consegui todos os novos acordos comerciais, eu cresci o
“império Barkov”, como eles chamam. Mas me recusei a viver como eles
queriam, por isso não importa. Tenho um primo chamado Kirill, ele é o
sobrinho favorito de minha mãe. Algumas pessoas fazem campanha que
Kirill deveria assumir como líder, não eu.
— Filho da puta! Quem são essas pessoas? — Cauê perguntou,
irritado.
— A principal delas é minha mãe.
— Bem, então não é ela que é uma filha da puta, você que é! — o
ômega exclamou sem pensar, arregalando os olhos depois que percebeu. —
Sem ofensas.
— Sem ofensas? — Dimitri sorriu com a sinceridade de seu ômega.
— Não, na verdade, estou querendo ofendê-la, e muito. Minha mãe
já ameaçou bater em uma prima porque ela disse que minha irmã estava
parecendo uma cuiara. E olha que ela estava mesmo parecendo.
— Cuiara? — Dimitri perguntou, confuso.
— É um rato, minha irmã tinha umas orelhonas, meio
desproporcionais. Agora está bonita, mas antes... Digamos que a puberdade
fez bem para ela.
Dimitri começou a rir, tanto que até o motorista se assustou. Eles
estavam dentro do carro, mesmo o veículo já tendo estacionado na vaga
privativa dos Barkov. O lúpus ria, puxou seu ômega e o beijou. Ele já o
amava e agradecia a Luna por ter Cauê com ele.
— Se alguém falar algo para você, qualquer coisa que você não
goste, não importa o lugar ou quem for, me avise. Por favor.
— Não se preocupe, se alguém for racista ou xenofóbico comigo,
todo mundo vai saber. — Cauê sorriu de canto. Se não era de levar desaforo
para casa, imagina agora que estava com um alfa lúpus
Entraram no hospital de mãos dadas, Dimitri já estava sério de novo.
As pessoas pareciam mais surpresas de ver o ômega ao seu lado do que o
alfa. Cauê não se importou, já tinha se acostumado a ser uma das únicas
pessoas pretas no lugar. Mas a surpresa não era pela sua pele, era por estar
acompanhando Dimitri Barkov.
Alguém do alto escalão do hospital se aproximou, tentando sorrir
profissionalmente. Ele os conduziu para o andar correto, dando atualizações
sobre o estado de saúde de Irina Barkov. A alfa estava em uma estrada
quando o carro derrapou no gelo. Ela colidiu com outro carro, e os dois
bateram no guard rail. Apesar de o acidente ter sido feio, ela era uma lúpus
e, por isso, ficaria bem. Pelo menos foi o que Dimitri disse, já que ele tinha
que traduzir a conversa, que estava acontecendo em russo.
Foram encaminhados até uma ala específica, ela tinha o símbolo dos
lúpus em cima das portas duplas. Lá dentro era diferente do resto do
hospital, parecia quase um hotel de luxo. Tinha a recepção e um longo
corredor com várias portas. Todas identificadas, mas o ômega não
conseguia ler nenhuma. Ele decidiu que se matricularia no primeiro curso
online de russo que encontrasse.
O quarto era grande, a maca era alta e deveria ter quase o dobro do
espaço que uma comum. Deitada nela estava uma alfa, ela era alta, mas não
tanto quanto Dimitri. Deveria ter a idade de Lucia, mas não passava aquele
ar matriarca da família. Parecia uma grande empresária, fria e calculista.
Seu cabelo era castanho claro, caindo em leves ondas pelos seus ombros.
Seus olhos verdes, quase amarelados, emoldurados por cílios escuros. Ela
era bonita, mesmo tão séria, mas não se parecia em nada com Dimitri.
Podiam até ter o formato dos olhos ou do nariz parecidos, mas, se
tivesse que chutar, Cauê diria que ela era apenas uma parente, não a mãe de
seu alfa. Havia mais gente no quarto, mas todos se calaram quando eles
entraram.
— Demorou — Irina foi a primeira a falar algo.
— Pelo menos eu vim — Dimitri respondeu frio, ainda estavam
falando em russo.
— E quem é esse? Algum brinquedinho?
— Cuidado com suas palavras, este é Cauê, meu soulmate.
O ômega não falava russo, mas reconheceu a palavra soulmate e
como todas as pessoas se assustaram com ela. Uma moça, deveria ter cerca
de vinte e cinco anos foi a primeira a se aproximar, ela abraçou Dimitri e
falaram algo rápido, ela parecia a única realmente feliz em o ver.
— Amor, essa é minha prima, Tatiana — Dimitri a apresentou em
inglês, para alívio do ômega.
— Oi. — Ele sorriu.
— Estou muito feliz em te conhecer — Tatiana falava sorrindo, o
sotaque forte a deixava fofa. Ela também era uma alfa, tinha grossos
cabelos ruivos que desciam em ondas por suas costas e olhos verdes.
— Esses são meus tios Vasily e Maksim, minha tia Yuliya, Liev, um
conselheiro e amigo da família, e Kirill, meu primo. Quero que todos
conheçam meu soulmate, Cauê. Ele é brasileiro e ainda não fala russo, mas
sabe muito bem inglês. — O recado era óbvio, todos deveriam falar em
inglês para deixar o ômega mais confortável.
— Esqueceu de me apresentar? — Irina perguntou em russo.
— Não achei que seria necessário, já que é óbvio quem você é —
Dimitri respondeu em inglês. Cauê não tinha entendido o que ela tinha
falado, mas sabia que estava provocando o filho.
— Não sabia que meu primo tinha encontrado seu soulmate —
Kirill falou, olhando diretamente para o ômega.
— O importante é que agora sabe, não é? — Cauê perguntou,
fingindo-se de inocente. Dimitri sorriu de canto, e os olhos de Tatiana se
arregalaram, mas ela parecia estar gostando.
— Acho que não sabe como agimos por aqui — o primo respondeu.
— Não, ainda não sei. Mas perguntarei tudo para meu alfa. Caso eu
faça algo errado, ele me avisará. — O sorriso do ômega ainda estava lá.
— Algum problema, Kirill? — Dimitri perguntou, envolvendo seu
ômega com o braço, de um jeito protetor.
— Claro que não, primo.
— Que bom, sabe como nós, lúpus, ficamos quando encontramos
nossos soulmates.
Os dois ficaram se encarando, a tensão entre eles era tão forte, que
quase podiam tocá-la.
— Parem com isso. Dimitri, você...
— Em inglês — o alfa interrompeu Irina.
— Seu ômega está em nosso território, ele que tem de aprender...
— Você fez que todos nós usássemos o inglês dentro de casa porque
sua namorada só falava essa língua. Não seja hipócrita e não precisa
disfarçar seu preconceito — Dimitri falava em inglês, para que Cauê
entendesse.
O rosto de Irina ficou vermelho de raiva. Ela fuzilou Cauê com o
olhar, como se fosse culpa do ômega. Mas o brasileiro não recuou. Já tinha
enfrentado muita gente babaca, ela não era a primeira e nem a última.
— Não fale assim com sua mãe — Yuliya pediu, tentando acalmar
as coisas. Mas usando o inglês.
— Não vim para discutir, mas não aceitarei que meu soulmate seja
desrespeitado. Não estou disposto a aguentar merda nenhuma, não importa
de quem venha. E, se o comportamento desrespeitoso de qualquer um,
Barkov ou não, for direcionado ao meu ômega, vocês serão recordados do
porquê de eu ser conhecido como Baba Yaga.
— Não precisamos chegar a extremos — Vasily disse. Pela
proximidade com Tatiana, Cauê entendeu que era o pai dela.
— Não ache que pode me ameaçar — Irina falou, tentando se
controlar.
— Não ache que pode me enfrentar — Dimitri devolveu. — Vim
saber como está, mas não preciso perder meu tempo com seus ataques de
birra.
Cauê estava um pouco surpreso com a atitude e expressão de
Dimitri. Certo que estavam juntos só há três dias, mas ele nunca
demonstrou ser menos do que engraçado e gentil. Ok, teve a vez depois do
jogo do futebol que ele estava disposto a matar o alfa que quase agrediu
Luc e Matteo, mas não o julgava.
O ômega quis revirar os olhos mentalmente, já estava igual a Luc,
passando pano para as atitudes do seu alfa.
— Ah, temos visitas — uma voz soou atrás deles. Uma ômega com
cabelos castanhos claros entrou. Ela falava inglês também. — Olá, Dimitri,
que bom que conseguiu interromper suas férias e ver como sua mãe está. —
Apesar da frase gentil, Cauê sentiu o veneno. Imediatamente não gostou
dela. — E quem é esse?
— Cauê, essa é a namorada da minha mãe, Carolyn Irons. — Pelo
tom de voz, Dimitri também não gostava dela. — Carolyn, esse é meu
soulmate, Cauê.
— Seu soulmate? — ela perguntou, surpresa. Carolyn trocou olhares
com Irina, nenhuma estava gostando da presença do ômega ali. E ele nem
tinha começado a dizer o que pensava delas.
— Estamos todos cansados, talvez seja melhor descansarmos e
amanhã conversamos — Vasily tentou de novo. Ele parecia disposto a
manter a paz.
— Sim, Dimitri acabou de chegar de uma longa viagem. Ele e seu
ômega precisam de boas horas de sono. Amanhã tudo estará melhor —
Yuliya concordou.
— Tetya Irina, volto amanhã cedo para saber como a senhora está —
Kirill beijou a mão de Irina, que concordou. Cauê queria revirar os olhos,
tudo parecia tão teatral.
— Ficarei com moya lyubov' — Carolyn disse, pegando na mão de
Irina —, tudo bem?
— O quê? Achou que eu ficaria? — Dimitri fez cara de desprezo. —
Estarei na minha casa, caso precisem de mim. Amanhã passo em algum
momento para te ver, mat’.
— Quanta gentileza — Irina respondeu sarcástica.
— Cauê, seu nome é diferente. De onde é? — Tatiana perguntou
rapidamente.
— Sou brasileiro — respondeu. Eles estavam andando pelo corredor
do hospital em direção a saída. O que o ômega agradecia.
— Um latino? — Maksim, o tio que tinha ficado quieto até o
momento, perguntou espantado, de um jeito que Cauê não tinha gostado.
— Bem, é onde o Brasil fica, não é? América Latina.
— Muitos alfas não gostam de ômegas impertinentes — Kirill
comentou enquanto desciam as escadas.
— O único alfa que preciso que goste de mim é o meu. O resto
consigo lidar. — O ômega deu de ombros.
— Comigo você não precisa se preocupar. — Dimitri sorriu de
canto.
— Quando vai apresentar seu ômega para a família? — Yuliya
perguntou animada. — Podemos organizar um grande jantar na mansão.
— Ainda não pensei nisso, tenho outras coisas para resolver e
preciso fazer compras com Cauê. Ele não está preparado para o frio de
Moscou.
— Podemos fazer compras juntos — Tatiana disse empolgada. —
Estava pensando em procurar meu vestido para o casamento de Annya
amanhã.
— Quem? — Cauê perguntou, confuso.
— Uma de nossas primas, ela se casa no fim do mês — Dimitri
explicou.
— Se lembra de que deve realizar o casamento? Ou sua agenda
apertada não permitirá? — Kirril o provocou.
Eles estavam do lado de fora do hospital, nevava e fazia muito frio.
Era noite e só tinham a iluminação dos postes de luz do estacionamento.
Dimitri se virou rapidamente, segurando o primo pela gola do casaco e o
batendo contra a parede.
— Não me provoque, nasekomoye — Dimitri rosnou irritado. —
Estou cansado do seu comportamento. Se quer resolver as coisas comigo,
então vamos de uma vez. Quer ir para a Arena?
— Achei que estaria mais calmo depois de encontrar seu soulmate.
— Encontrá-lo apenas me deu mais certeza que preciso esmagar
insetos como você. Mas já que não quer me enfrentar. — O lúpus soltou o
primo, que cambaleou, sendo amparado por outros da família. — Ou para
de ser um covarde e me desafie de uma vez ou cale sua boca. Não tenho
mais tempo para seus joguinhos.
Dimitri conduziu Cauê de volta para o carro. Lá dentro o alfa
suspirou e passou a mão pelo rosto, não queria perder a paciência na frente
de seu soulmate. Enquanto estavam em Roma tudo estava perfeito, estava
conquistando seu ômega, mostrando a boa vida que teria ao seu lado. Mas
tudo tinha desandado em Moscou e tinha muito medo de que isso assustasse
Cauê.
— Então — o ômega comentou depois de alguns minutos de
silêncio —, Baba Yaga? Por que você seria o bichão papão?
— Conhece a história? — perguntou surpreso.
— Não, mas assisti a John Wick. Ótimo filme, por acaso.
Poderíamos assistir.
— Quando quiser.
— Podemos começar a assistir hoje, mas sei que estaremos tão
cansados que quando cairmos na cama, dormiremos antes mesmo de
roubarem o carro do Keanu Reeves — Cauê disse, admirando um pouco da
paisagem lá fora, Moscou parecia ser um lugar bonito para passear. — Por
que seu apelido é Baba Yaga?
— É uma longa e sangrenta história, não acho que queira saber de
tudo. Então, resumindo, eu...
— Ow, pode parar aí, nada de “resumindo”. Quero cada detalhe, até
os sangrentos. Principalmente eles.
Isso fez Dimitri sorrir e puxar seu ômega para beijá-lo.
— Prometo te explicar tudo em casa, responderei qualquer pergunta
que quiser.
— Acabou de dizer para um fofoqueiro que ele pode saber de tudo?
— o ômega brincou.
Em nenhum momento o motorista falava com eles, o que Cauê
achou muito estranho. Mas sabia que eles tinham essa cultura de ninguém
se meter na vida de ninguém.
Foram direto para o chuveiro, era para ser um banho rápido, mas
ficaram abraçados embaixo da água quente. Dessa vez não houve
insinuações ou provocações. Apenas ficaram abraçados, fazendo carinho
um no outro e trocando beijos leves. Dimitri precisava saber que não estava
sozinho, ele tinha seu soulmate em seus braços agora.
— Frio da porra! — Cauê resmungou quando saíram do banho.
— Eu preciso aprender português. — Dimitri riu.
Ele tinha buscado sanduíches, então ficaram embaixo da coberta
comendo e conversando coisas bobas. O quarto era preto com detalhes em
branco, a decoração combinava muito bem e a cama era enorme e
confortável. Cauê não tinha entrado no closet ainda, mas tinha medo de se
perder ali dentro. A TV na parede era tão grande, que ele achava que era
maior que ele mesmo.
— Sabe que pode mudar o que quiser, não é?
— Hã?
— A decoração, percebi que estava reparando nela — Dimitri
comentou, deixando seu prato na mesa de cabeceira.
— Mudar? Está linda. Se deixar na minha mão, é capaz de eu encher
de fotos por todos os lados e colocar umas carrancas para afastar os maus
espíritos. O problema é que, pelo que vi, afastar maus espíritos quer dizer
que parte da sua família não vai conseguir mais entrar aqui.
— Então, talvez eu precise de algumas — o alfa respondeu rindo.
— Minha mãe sabe onde encontrar ótimas. Só nunca poderíamos
trazê-la aqui, ou ela vai encher a casa de crochê, você vai piscar e vai ter até
capa de crochê nessa TV enorme.
— Estou ansioso para conhecê-la. — O russo sorriu. — Ela e sua
irmã.
— Eu não, aquelas loucas vão tentar me constranger. — Cauê
suspirou dramaticamente, colocando seu prato na cabeceira da cama e se
virando para a alfa. — Agora vamos à história, Baba Yaga?
— Tudo bem. — Respirou fundo, se deitando e aninhando seu
ômega. — Lúpus nascidos recebem treinamento desde pequenos, como
temos mais força e agilidade, temos que aprender a nos controlar. Também
temos nosso lobo, ele precisa ser treinado e temos que gastar energia. Em
uma criação ideal, esses treinos aconteceriam de acordo com a idade e
desenvolvimento do filhote. Mas não é assim com os Barkov. Minha mãe
sempre exigiu de mim excelência em tudo, as melhores notas, melhores
tempos, melhores resultados. Se eu tirasse 9.8 em uma prova que valia 10,
já não era mais digno.
— Sinto muito — o ômega sussurrou, fazendo carinho no alfa.
— Ela nem sempre foi assim, era exigente, mas não me odiava.
Éramos uma família feliz, ela, eu, meu pai e minha irmãzinha. Por ser do
Conselho dos Lúpus, tínhamos que ir muito para Wolf’s Castle, a capital
mundial dos lúpus. Meu pai ficou amigo de Lucia, que também tinha um
bebê da minha idade. Logo depois, Gabrielle teve seu filho mais velho,
então nós três, mesmo sendo muito pequenos, ficamos amigos.
— O Trio do Caos. — Cauê sorriu, imaginando três filhotes, dois de
três anos e um de um ano, brincando e aprontando.
— Acabamos ficando mais próximos, meu pai me falava que eu
gostava mais de Vincenzo e Aaron do que de qualquer outro filhote da
minha família. Exceto Yelena, minha irmãzinha, eu a amava muito. O
quarto dela sempre foi do meu lado meu, quase toda noite eu ia para lá para
ela não ter medo do escuro. Prometia que a protegeria do bicho papão e
Yelena me achava um herói.
O ômega continuava fazendo carinho no seu alfa, já estava
imaginando para onde essa história iria e sentia muito por ele.
— Foi um acidente de avião. Yelena, meu pai e a tripulação
morreram na hora. Eu ainda era pequeno, não tinha completado nem dez
anos. Sergio apareceu em minha casa uma tarde, dizendo que me levaria
para passar alguns dias na casa dele. Fiquei animado, porque iria encontrar
meus melhores amigos, fiz minha mala e estava feliz. Mas vi minha mãe
chorando, tentei chegar até ela e ela me rejeitou. Naquele dia meu pai e
minha irmã morreram, mas também perdi minha mãe.
— É por isso que tem crises de ansiedade quando entra em um
avião? — perguntou carinhosamente.
— Ficava imaginando o que eles passaram, o que viram, como se
sentiram. Ficava pensando em minha irmã chorando de medo e eu não
estava lá por ela. — Suspirou. — Pode parecer loucura, porque já faz
décadas, mas ainda sinto o mesmo aperto no peito.
— Não é loucura, eu te entendo — o ômega garantiu, beijando o
rosto do alfa.
— Quando você se sentou do meu lado e me deu a mão, foi a
primeira vez que estive em um voo e consegui pensar em outra coisa.
Quando fomos para Turim, foi a primeira vez que não senti como se meu
coração fosse parar de bater. — Dimitri acariciou seu soulmate e o beijou.
— Sei que tudo que está acontecendo parece loucura e se não tivéssemos
que ter vindo para Moscou, eu teria feito com mais calma. Não esperava te
arrastar para tudo isso tão cedo.
— Nunca gostei de nada em doses homeopáticas. — Cauê deu de
ombros. — Ainda estou muito perdido em muita coisa e nem sei bem o que
somos ou como será daqui para frente. Mas, por mim, você nunca mais vai
se sentir desse jeito.
— Obrigado — o alfa murmurou e de novo o beijou.
— Volta para história, onde você se tornou o Baba Yaga? — Cauê o
impediu de aprofundar o beijo, o que fez o russo bufar revoltado.
— Aaron também tinha muitas questões com o pai, então Sergio nos
levava para sua casa em Roma e passávamos todo o tempo de folga. Todas
as férias, recessos, feriados, aniversários. Qualquer memória boa que eu
tenha a partir dos dez anos, foi vivida com eles. Mas, quando tinha que estar
aqui, tinha que viver sob as regras da minha mãe. Ela me tirou dos treinos
dos filhotes, tive que treinar com os adultos desde antes de conhecer meu
lobo. Tudo que eu fazia não era bom o bastante e qualquer coisa, mesmo
que não fosse minha culpa, a fazia me tratar como decepção. A primeira
transformação em lobo de um alfa nascido lúpus é após o primeiro rut.
Mesmo eu sendo seis meses mais velho que Vincenzo, ele teve o rut antes
de mim. Consequentemente, se transformou em lobo primeiro, e isso a fez
ficar irritada comigo, a ponto de eu ser castigado.
Cauê apertou os lábios para não dizer nada, porque se começasse a
falar, não pararia. Ele queria voltar para aquele hospital e encher a cara
daquela alfa de tapas. Dimitri sorriu de canto, seu ômega era muito
expressivo e mesmo em silêncio, ele conseguia demonstrar o que estava
sentindo.
— Continue — o brasileiro pediu.
— Por um tempo, bem mais do que deveria, tentei ganhar a
aprovação dela. Desde muito cedo ia em missões com meus tios, assumi
responsabilidades que não deveria, entrei em batalhas e lutei com lobos
muito maiores do que eu. Até cheguei a cogitar entrar na guarda de Wolf’s
Castle, mas como era o único herdeiro da alfa líder, eu seria o próximo
líder. Vincenzo e Aaron me diziam que o que eu estava fazendo era loucura.
Nem tinha entrado no ensino médio, mas já tinha entrado em campos de
batalha mais vezes do que podia pensar. Até que um dia percebi que era
inútil e apenas desisti.
— O que houve?
— Era o início das férias de verão, Sergio e Lucia tinham vindo para
cá me buscar para passar as férias em Roma. Todos sabiam que eu passava
mal em voos, por isso eles não me deixavam viajar sozinho. Eu tinha
acabado de chegar de uma missão, estava muito machucado e tinha uma
ferida nas costas. Quando Lucia me viu, meio que surtou. Começou a gritar
e brigar com todo mundo por terem me deixado participar de algo assim
com catorze anos. Ela enfrentou minha mãe e começou a gritar com ela,
Irina estava tão irritada, que Sergio teve que proteger a esposa. Ele avisou
que, se ela falasse algo contra Lucia, ele iria para cima. Isso quase virou
uma guerra entre as famílias. Eles me levaram e cuidaram de mim, Lucia
não queria me deixar voltar de jeito nenhum. Isso me fez entender que não
deveria perder meu tempo tentando agradar Irina, ela não era minha família.
— Sinto muito que tenha passado por tudo isso e fico feliz por ter
tido os Ferraro com você — Cauê disse delicado, fazendo carinho no rosto
do alfa. — O que aconteceu depois.
— Fiquei em Roma até estar bem. Depois Vincenzo, Aaron e eu
inventamos um tipo de intercâmbio. Passamos um ano morando em Roma,
um ano em Moscou e um ano nos Estados Unidos, na casa de cada um. Foi
divertido, teoricamente era para aprendermos diferentes culturas e essas
coisas. Na verdade, foi só aprontar juntos. Quando moramos nos Estados
Unidos convencemos a família de Vincenzo que Gigio deveria morar
conosco na casa dos Lions. Não que ele quisesse, mas ele acabou indo.
— Por isso que ele estava tão feliz de se livrar de vocês. — O
ômega riu.
— Ele nos ama, agressão e ofensas são a linguagem de amor dele.
Pelo menos conosco. — Dimitri deu de ombros, fazendo seu soulmate rir
ainda mais. — Depois disso me formei no ensino médio, estudei direito, fiz
meu mestrado e doutorado. Para a infelicidade da minha mãe e de alguns
membros da família, me tornei o líder e representante dos Barkov no
Conselho Lúpus.
— Conselho que eu ainda não faço ideia do que é. Mas cadê o cerne
da história? Cadê o Baba Yaga?
— Você vai insistir nisso para sempre?
— Aparentemente estou em um relacionamento com alguém cujo
apelido é bicho papão, óbvio que quero saber.
— Depois de todo o abuso emocional, coisa que eu não sabia que
estava passando na época, aprendi a me controlar mais. O tempo todo tento
ser calmo, brinco, provoco meus amigos, sou carinhoso com minha família
e tento ser educado com todos. Porém, se algo passa do meu limite, é como
se eu deixasse de ser eu e me tornasse aquele soldado que fui treinado para
ser. Não sinto nada, nem uma emoção, por isso me chamam de Baba Yaga,
porque pode ser assustador. Vincenzo fala que tenho uma chave na minha
cabeça e quando ela gira, deixo de ser Dimitri para ser Baba Yaga.
— É errado eu querer te ver assim? — perguntou, sorrindo
malicioso.
— Queria dizer que espero que você nunca veja, mas ontem percebi
que meu limite com tudo que tenha a ver com você é muito baixo. Eu
estava disposto a matar aquele alfa que quase agrediu vocês.
— Ele quase agrediu Luc e Matteo, quantas vezes tenho que repetir
isso? — Cauê revirou os olhos. — Eu que nos defendi.
— E muito bem, fiquei impressionado.
— Meu cordão é amarelo-roxo, sou um nível abaixo de professor.
Só não me tornei mestre porque tive que ir embora do Brasil. Luto desde os
cinco anos. Também treino jiu jitsu brasileiro, mas é porque é a única coisa
que vem do meu país naquela ilha que moro. Maiorca não me dá muitas
opções. — Deu de ombros. — Voltando ao assunto, tenho que conhecer seu
lobo e o Baba Yaga.
— O lobo posso te mostrar amanhã mesmo, faria hoje, mas acho
que já tivemos muitas emoções para o mesmo dia. Baba Yaga evitarei ao
máximo.
— Não torne isso um desafio, eu te disse que sou competitivo. —
Cauê sorriu. Dimitri segurou o rosto do seu ômega com as mãos, ele nunca
imaginou que poderia amar tanto alguém.
— Te prometo fazer de tudo para me controlar para que você nunca
veja meu lado obscuro.
— Não te prometo me controlar para te fazer perder o controle e ver
seu lado obscuro — o ômega respondeu, sorrindo provocador.
Vincenzo:
Deslizou no gelo e sofreu um acidente?
Não foi algo assim que aconteceu com o pai de Cane Pazzo?

Aaron:
Sim e sinto muito por você, husky, que não teve a mesma sorte que eu.
Harvey morreu, mas Irina ainda está viva

Vincenzo:
Lamento, husky
Mas podemos cortar o freio na próxima vez

Aaron:
Por que não matamos de uma vez?
Aproveitamos e matamos Kirill, nunca gostei dele

Dimitri:
E você gosta de alguém?

Aaron:
Vocês ainda estão vivos, não?

Vincenzo:
Isso foi uma declaração?
Até tirei print para deixar salvo, colocarei em um telão na minha próxima
festa de aniversário.

Aaron:
Para isso você precisa estar vivo até lá
Vincenzo:
Como se Luc fosse te deixar nos matar

Dimitri:
Você, matar você
Hoje eu não fiz nada

Vincenzo:
Somos um pacote, se um passa por algo, todos passam
Se Cane Pazzo quer me torturar, tem que fazer o mesmo com você

Dimitri:
Aaron, mata ele logo, por favor

Vincenzo:
Husky!

Aaron:
Como Cauê está lidando com sua vida em Moscou?
(Luc que quer saber, não me importo)

Vincenzo:
Já contou que ele terá que se mudar para Moscou e se tornar o ômega líder
do maior país da nossa sociedade?
(Eu que quero saber, mas Greg está atento para as fofocas)

Dimitri:
Temos conversado, sinto que Cauê evita algumas perguntas porque não
quer ouvir as respostas. Ele sabe que somos soulmates e lidou muito bem
com isso, mas não falamos abertamente do futuro

Aaron:
Já levou seu ômega para Moscou, agora é só mantê-lo aí

Dimitri:
Como?
Cárcere privado?
Vincenzo:
Não ligue, Cane Pazzo, o husky é novo nisso de ter soulmate
Sequestro é quase uma marca registrada dos lúpus

Aaron:
Você já fez a parte mais difícil que é convencer seu ômega a ir para perto
da sua família asquerosa. Agora o dê motivos para ficar
Se ele já sabe que são soulmates, já deve estar aceitando o fato. Seu ômega
me parece alguém muito inteligente, um pouco azarado de te ter como
soulmate, mas ele é perspicaz

Dimitri:
Como consegue tentar me motivar e me ofender na mesma frase?

Vincenzo:
É porque ele nos ama, mas tem dificuldade de verbalizar. Por isso nos
ofende como forma de mascarar o que realmente sente

Aaron:
Vocês são o fardo que tenho que carregar para ter Sergio e Lucia em minha
vida

Dimitri:
Eu não fiz nada!!!

Aaron:
Não mesmo, não teve uma conversa sincera com seu soulmate sobre o que
são um para o outro e como isso os impacta. É muito fácil falar que lúpus
podem reconhecer seus soulmates e não contar o que vem depois. Não
contou sobre como funciona as coisas em nossa sociedade e que não somos
o mar de rosas que ele vivenciou em Roma
E não me deixou matar seu primo!

Vincenzo:
Por mais bizarro que seja, Cane Pazzo tem razão. Cauê ficou conosco aqui
e é muito fácil ter a impressão que todos os lúpus são assim. Com tudo que
tem acontecido nos últimos anos e as mudanças que estão por vir, os únicos
lugares totalmente seguros e acolhedores são Itália e o Reino Unido. E
Edward nem é dono oficialmente daquele território
Temos a Coréia do Sul, já que Choi é aliado, mas lá temos que seguir suas
regras. Não é como no UK, onde são tão loucos quanto nós.

Dimitri:
Tem mais uma coisa que não contei
Expliquei para Cauê sobre o “Baba Yaga”

Aaron:
Explicou mesmo? Contou que já matou pessoas com acendedor de lareira?

Vincenzo:
Que implodiu um prédio?

Aaron:
Que amarrou três alfas a um carro e dirigiu por quilômetros?

Vincenzo:
Que já estrangulou alguém com o cabo do seu carregador e depois ficou
bravo quando teve que comprar outro porque ele parou de funcionar?

Dimitri:
Já acabaram?

Vincenzo:
Espera, tem mais um
Contou sobre quando colocou fogo dentro de uma loja inteira porque foram
preconceituosos com Gigio e Angelo?

Dimitri:
Posso falar agora?

Aaron:
Não, também tenho mais uma
Contou que muitas das coisas que contribuíram para que todos pensem que
sou um louco assassino foram feitas por você, mas eu assumi a culpa para
te livrar, o que te faz ser tão sanguinário quanto eu?

Vincenzo:
Cane Pazzo, você é um louco assassino
Husky, agora você pode continuar

Dimitri:
Não entrei em detalhes, mas tentei explicar que tenho esse lado obscuro.
Tentei ser o mais aberto sobre o assunto e claro sobre como é uma faceta
perigosa e que não gostaria que ele visse isso
Cauê está animado, porque quer conhecer o “Baba Yaga”

Aaron:
Eu disse que ele é o corajoso desse relacionamento
E, bem, não é como se você pudesse evitar uma parte sua. Eu sou um
impaciente com problemas com controle da raiva, você é alguém que tenta
se controlar o tempo até que explode. Vincenzo é Vincenzo, um sem noção
que provocaria a terceira guerra mundial por diversão

Vincenzo:
Um dia conseguirei
Mas, de novo é bizarro, Cane Pazzo está certo. Não se foge de quem é e
nem tente mascarar para seu soulmate. Se ele é o escolhido para você, ele
saberá lidar com seu melhor e pior

Dimitri:
Ele enfrentou Kirill logo que o conheceu

Vincenzo:
E VOCÊ FALA AGORA?
Todo esse tempo choramingando sobre o que fazer e sua família de merda e
não nos contou que seu ômega enfrentou o desgraçado do seu primo?
Cane Pazzo, ainda dá tempo de trocar o Husky por Cauê?

Aaron:
Sempre dá
Eu disse que o ômega era o mais corajoso desse relacionamento

Dimitri estava lendo as mensagens e revirou os olhos. Seus amigos


eram muito dramáticos. Estava esperando por Cauê e Tatiana, eles tinham
ido a uma loja de doces perto do escritório dos Barkov. O alfa teve que ir lá
para reorganizar sua agenda, já que teria que resolver algumas coisas.
Queria ter ido com seu ômega, não se sentia bem o deixando por aí,
mesmo que fosse apenas uma caminhada de alguns metros. Confiava em
Tatiana, era a pessoa daquele país inteiro que mais gostava. E Cauê se
mostrou capaz de se proteger sozinho. Mesmo assim, queria estar perto
dele.
Estava descendo as escadas para o primeiro andar, lá teria vista do
amplo saguão e poderia ver quando seu ômega e sua prima chegassem.
Estava confirmando uma reunião com Faina Ivanov, a líder da família que
comandava a Bielorrússia, quando ouviu vozes altas.
— O que está acontecendo? — perguntou para Aleksei, seu
assistente, que também parecia confuso.
— Não tenho a menor ideia, Alfa Barkov — o beta respondeu.
Então uma voz, no meio das vozes altas, chamou atenção. Ele nem
entendeu o que o ômega tinha dito, mas reconhecia a voz do seu soulmate.
Dimitri se aproximou da proteção e olhou para o saguão. Um alfa russo
discutia com Cauê. Tatiana estava no meio tentando resolver a situação,
enquanto seu ômega estava de braços cruzados e sorria debochado.
Dimitri respirou fundo, bloqueou seu celular e o guardou no bolso.
Seu esforço para que seu soulmate nunca conhecesse seu lado obscuro tinha
sido por nada. Era hora de Cauê conhecer Baba Yaga.
Um dia que começa com seu possível namorado se transformando
em um lobo negro gigante bem na sua frente não poderia ser normal. Então
Cauê se sentiu um tolo por não ter imaginado que algo como aquilo poderia
acontecer.
Quando acordaram, o ômega ainda estava naquele pós-sono gostoso,
com preguiça, enroscado nos braços do alfa e se perguntando se realmente
precisavam sair daquela cama. Por ele, poderiam passar semanas trancados
dentro do apartamento e não reclamaria. Mas aí sua bexiga traidora
começou a incomodar muito e, enquanto ia ao banheiro, seu alfa buscou
café para ele.
— Sei que o café da manhã brasileiro é muito diferente, tentei fazer
algo o mais parecido possível para você se sentir em casa — o russo disse,
trazendo uma bandeja para o quarto.
— Isso é pão com manteiga? — o ômega perguntou sorrindo. Na
bandeja tinha dois cafés, leite, pães com manteiga, algumas frutas e algum
tipo de bolinho.
— Não é o tipo de pão que vocês normalmente comem, mas era o
que eu tinha que chegava mais perto.
— Isso é perfeito, obrigado. — Cauê sorriu e beijou o alfa. — Isso
lembra um pouco pão de queijo.
— Se chama Sirniki, é bem popular aqui, é feito com queijo cottage.
— É gostoso, um pouco diferente do que estou acostumado, mas é
bom.
O fato de o alfa ter se preocupado em fazer um café da manhã o
mais parecido possível com um brasileiro, para que o ômega se sentisse em
casa, tinha acertado seu coração. Era uma das coisas mais doces que já tinha
visto e sentia que aquela linha entre paixão e amor que suas amigas tinham
mencionado estava bem tênue agora.
Mas isso também trazia questões que ele não queria pensar no
momento. Ser soulmate de um lúpus, principalmente um líder, pelo que
estava entendendo, significava que tinha que viver no território dele.
Dimitri era russo, o líder do país, isso significava que teria que se mudar
para a Rússia?
Não queria responder à pergunta naquele momento, até porque não
sabia qual seria sua resposta. Como escolher entre abandonar sua vida e
seus planos ou abandonar seu alfa?
— Agora? — Dimitri riu.
— Sim, aproveita que você está só de cueca mesmo. — Cauê mexeu
as sobrancelhas, fazendo o alfa rir.
Eles já tinham tomado café, e o ômega estava pedindo para ver o
lobo. O alfa ria, negando com a cabeça, mas saiu da cama e tirou a cueca. O
ômega estava rindo também, fazendo piadas maliciosas, até seu alfa dar
lugar a um gigantesco lobo negro.
— Caralho! — exclamou.
Com medo, aproximou-se do lobo. Ele era muito maior do que
imaginou. Seus pelos eram tão escuros, que chegavam a ter reflexo da luz,
brilhando um pouco. Os olhos também eram tão negros quantos os pelos,
mas isso fez Cauê sorrir. Mesmo com a aparência feroz, garras e presas
afiadas, os olhos eram os do seu alfa.
— Estou num misto de apaixonado e assustado. — O ômega sorriu,
passando sua mão por entre os pelos negros. Dimitri se levantou nas patas
traseiras, colocando as dianteiras nos ombros do soulmate e lambendo seu
rosto. De pé era ela maior que Cauê e ele nem era um ômega baixo. — Ok,
agora estou assustado.
O ômega se desequilibrou e caiu na cama. O lobo deu a volta,
passando seu focinho no pescoço do brasileiro, para ter certeza de que seu
soulmate estava bem e não estava bravo com ele. Quando o ômega riu, o
lobo começou a lamber seu rosto animado.
— Calma aí — Cauê disse, tentando empurrar o lobo para longe,
mas falhando. Além de Dimitri ser maior e mais forte, o ômega ria tanto
que estava sem forças.
— Esqueci a quantidade de banhos que brasileiro tomam — Dimitri
comentou um pouco mais tarde, quando os dois estavam no chuveiro.
— E se quer continuar dividindo a cama comigo, é bom acompanhar
o meu ritmo — o ômega o avisou.
— Ei, eu tomo banho todo dia
— E vai continuar assim. Sem banho, sem sexo — Cauê foi
taxativo, fazendo o outro rir. — E espera irmos para o Ceará para ver se a
quantidade de banhos por dia não sobe.
— É muito quente lá, não é? — perguntou abraçando seu soulmate.
— Não podemos ir no verão, porque tenho medo de que o husky
siberiano passe mal. — O brasileiro sorriu.
— Nunca mais te deixo perto de Vincenzo — Dimitri resmungou
antes de beijar seu soulmate.
O beijo se aprofundou, eles se seguraram mais apertado, os corpos
nus e molhados se esfregando. Em pouco tempos estavam duros, Dimitri
usou um pouco de sabonete líquido para masturbar os paus dos dois juntos.
Cauê sempre amou mãos grandes e ele amava as mãos de seu alfa.
A boca do alfa deslizava pelo pescoço do ômega, ele queria tanto o
morder e marcá-lo como seu, que chegava a doer. Seus dentes raspavam na
pele sensível. O ômega gemia e ofegava, o alfa estava aumentando a
velocidade, além de sua mão, os paus se esfregavam. A respiração no seu
ouvido e a boca de Dimitri na sua pele estavam o deixando muito perto do
limite.
— Um dia, em breve, minha marca estará no seu pescoço e todos
saberão que você é meu — o alfa sussurrou. — Você vai me deixar te
marcar, não vai?
— Sim, signore Barvok.
O alfa beijou seu soulmate de um jeito quase punitivo pela
provocação. Ele aumentou os estímulos e Cauê mal conseguia respirar. Seus
braços estavam nos ombros de Dimitri e não sabia se era para segurá-lo,
empurrá-lo ou para se segurar, já que não tinha mais forças. Mal respirava,
o prazer se formando e explodindo sem que conseguisse pensar.
Dimitri segurou o rosto do ômega, vendo-o fechar os olhos e gozar,
a respiração ofegante e os lábios inchados do beijo. Gozou com aquela
imagem, porque era assim que gostava, seu ômega totalmente entregue.

Infelizmente para o ômega, tiveram que sair do apartamento quente


e confortável. Dimitri tinha que ir para o escritório dos Barkov e ele
precisava comprar roupas novas. Pelo que tinha entendido, passaria mais
dias em Moscou do que pensava e ali estava um frio que parecia chegar aos
ossos. Se não fosse por Greg ter emprestado aquelas roupas, já teria virado
um picolé sabor Brasil horas atrás.
O alfa fazia o ômega usar o colar e sobretudo com emblema do lobo
por cima de suas roupas. Tinha entendido que era importante e não
pretendia tirar. Já não conhecia ninguém e nem falava o idioma nativo, não
seria louco de deixar de usar algo que o identificava.
Tinha olhado algumas frases em russo no google tradutor, a única
coisa que tinha conseguido aprender foi “Gde nakhoditsya tualet”, que
queria dizer “Estou procurando o banheiro”. Bem, pelo menos não teria
uma incontinência urinária.
— Aaron disse que ordenou que seu cartão fosse feito
imediatamente. Deve chegar até sexta — Dimitri comentou distraído
enquanto saíam do apartamento.
— Meu cartão?
— Sim, do banco Lions.
— Eu não tenho conta lá.
— Ah — o lúpus disse com um sorriso culpado —, todos os lúpus
têm conta lá, não é obrigatório, mas é muito mais fácil. Como é meu
soulmate, também ganha uma. Até porque você precisa ter acesso aos meus
cartões. Mas Jordan vai cuidar pessoalmente da sua cartela de ações e
investimentos.
— Que cartela de ações de investimentos? Eu mal tenho dinheiro
para comprar um apartamento, como vou investir?
— Por que você não tem dinheiro? — Dimitri perguntou, confuso,
já estavam no elevador. De novo estavam sozinhos, isso fez o ômega se
perguntar se não morava mais ninguém ali.
— Pai pobre, mãe pior ainda. — Deu de ombros.
— Não é isso, você ganha bem e era solteiro sem grandes dívidas.
Divide o apartamento com duas amigas, e a maioria das suas viagens
consegue de graça por causa da empresa. Mas sempre diz que não tem
dinheiro, por quê?
— Mando quase todo dinheiro que posso para mãe, para ela
terminar de pagar a casa e reformar.
— Gasta todo o seu dinheiro nisso? — Dimitri não estava julgando,
só queria entender.
— Não é gasto, é investimento — respondeu entrando no carro. O
motorista silencioso já estava começando a irritar. — Mãe trabalhou demais
para dar o melhor para Tainá e eu. Então nós estamos garantindo uma vida
tranquila para ela, agora que se aposentou. E meus planos serão voltar a
morar lá quando eu me aposentar. Tainá também pensa assim, mas irei
expulsá-la.
— Falta muito para terminar de pagar?
— A casa é financiada, talvez nossos netos terminem de pagar. Mas
estamos tentando adiantar as parcelas para que, quem sabe, nossos filhos
paguem a última prestação.
— Vou falar com Heidi sobre isso.
— Heidi?
— Sim, até falaria com Aaron, mas ele vai passar a tarefa para ela
de qualquer jeito. Melhor cortar caminho.
— Como assim...? Você vai pagar a casa? — perguntou,
assombrado. — Sei que é bilionário e tal, mas não acha um exagero? Não
quero que se sinta pressionado a fazer algo assim. Minha irmã e eu estamos
dando conta, não precisa... se bem que você é bilionário, então nem vai
fazer diferença na sua conta. Você ganha em rublo russo ou euro?
— Euro. — Dimitri sorria, vendo se soulmate perdido em
pensamentos.
— Ainda é euro — Cauê murmurou. — Bem, se você sentiu em seu
coração de fazer isso, quem sou eu para impedir?
— Então posso conversar com Heidi?
— Claro, por que não faria? — O ômega sorriu, e o alfa começou a
rir, abraçando seu soulmate e o beijando.
Os escritórios dos Barkov ficavam no centro de Moscou, era um
prédio que deveria ter seis ou sete andares e ocupava boa parte do
quarteirão. Feito de mármore preto e vidros escuros. Em cima das portas
tinha o símbolo dos lúpus esculpido em metal. Assim que passavam por
elas, entraram em um grande saguão. Tinha sofás perto das janelas, um
longo corredor ao fundo e à direita uma escada de madeira que lembrava as
que vemos nos castelos de filmes. O chão do saguão era de mármore branco
com o símbolo da família Barkov em cinza escuro.
— Alfa Barkov — um beta alto, de cabelos castanhos e óculos,
dirigiu-se a Dimitri com respeito.
— Amor, esse é Aleksei, meu assistente — Dimitri o apresentou.
— Prazer em conhecê-lo, Ômega Barkov.
— Ah, oi. — Cauê sorriu amarelo, sem saber o que fazer.
— Minha prima já chegou?
— Senhorita Tatiana está com o pai, os esperando. Como pediu,
reorganizei sua agenda, Alfa. Todos com quem falei ficaram mais do que
felizes em adiantar as reuniões para essa semana. O presidente Kedrova
convidou o senhor e seu ômega para um jantar informal em sua casa, na
próxima sexta à noite.
Cauê arregalou os olhos, o presidente da Rússia estava os
convidando para um “jantar informal” na residência presidencial. E Dimitri
ainda respondeu com um suspiro entediado. Como se aquilo fosse só mais
um compromisso chato e rotineiro. Era um PRESIDENTE!
— Mais alguma coisa? — o alfa perguntou.
— O médico de sua mãe ligou. Ela está se recuperando bem e deve
ter alta em três dias.
— Ótimo. — Dimitri revirou os olhos.
— Cauê! — Tatiana correu para cumprimentar o ômega assim que
chegaram no primeiro andar. — Estou com muita vontade de comer
vatruchka, vamos comigo?
— Comer o quê?
— Olá, priminha, também estou aqui — o alfa a provocou.
— Eu sei que está, meu querido primo, mas meu pai precisa
conversar com você e sei que tem uma longa lista de afazeres. Mas, no
momento, quero comer vatruchka e, quem sabe um pedaço de bolo de leite
de pássaros.
— Leite de pássaros? Como assim?
— É uma receita típica daqui, fazemos principalmente para os
filhotes, como se fosse algo mágico e especial — Dimitri explicou.
— E é, ele inverte a quantidade de bolo e recheio, tudo isso coberto
de glacê de chocolate — Tatiana disse sorrindo.
— Ok, me ganhou. — O ômega sorriu.
Dimitri não ficou muito feliz em se soltar do seu soulmate. Pelo
jeito, o alfa realmente pretendia manter Cauê do seu lado o tempo todo,
incluindo o tempo no escritório. Enquanto o tio do alfa o conduzia para
alguma conversa sobre planos e territórios, Cauê saiu com Tatiana.
Estava muito frio e ele não estava aguentando. Ou comprava roupas
realmente preparadas para o frio russo, ou morar ali seria um grande
problema. Quis revirar os olhos mentalmente, morar? Desde quando isso
tinha se tornado uma possibilidade?
Assim que tivesse uma oportunidade, falaria com suas amigas.
Precisava da empolgação de Chelsea e a sensatez de Juliette.
— Qual o nome disso? — Riu ao perguntar para Tatiana, que
explicava todos os doces na vitrine.
— Tchak-tchak.
— Por Luna, eu não tenho maturidade para isso — respondeu,
negando e respirando fundo. — E esse?
— É bolo Praga.
— Parece gostoso.
Eles ficaram ali por um tempo, Cauê realmente gostou dos doces.
Não eram como os de sua casa, mas alguns eram gostosos. Voltaram para o
escritório, estavam conversando e rindo. O ômega tinha comprado alguns
para levar para casa, daria a desculpa que também era para seu alfa, mas
pretendia comer a maior parte.
O problema começou logo depois que passaram pela porta e
chegaram às escadas. Cauê esbarrou em um alfa, nenhum dos dois estava
prestando atenção e o esbarrão aconteceu.
— Me desculpe — o ômega pediu, abaixando-se para pegar a sacola
dos doces. O encontro havia sido tão forte, que ele tinha derrubado. Só
esperava que tudo estivesse intacto.
O alfa, que já parecia irritado, assim que o ouviu falar em inglês,
pareceu ter sua raiva duplicada. Ele disse algo em russo que, mesmo não
entendendo o idioma, a forma como foi falada foi suficiente para o fazer
entender que estava sendo ofendido.
— Eu não... não entendo... — Cauê tentava explicar, fazendo
mímica junto das palavras, mas o alfa parecia ficar ainda mais irritado. —
Mas, que porra! Eu não entendo o que você está falando.
Aquele alfa deve ter falado algo sério, porque Tatiana entrou no
meio, falava rápido e parecia brava. Ela apontava para Cauê repetidamente
e o outro dava de ombros, claramente não se importando. Quando o alfa se
aproximou de Cauê, o ômega já se preparou, se ele viesse para cima, o
brasileiro meteria um soco no nariz para aquele alfa deixar de ser besta.
— Vai à merda! — Cauê falou e em português, mesmo que ninguém
mais entendesse. — Toma no cu, velho louco.
Parece que ter ouvido português piorou muito a situação, e ele
estava disposto a gritar na cara de Cauê o que quer que fosse. Aquilo estava
irritando muito o ômega. Lidar com esses ricos metidos era coisa do
trabalho e ele estava de folga, então não tinha obrigação nenhuma.
Mas, antes que qualquer outra coisa fosse feita, uma sombra negra
pulou por sobre a proteção do primeiro andar e caiu de pé no saguão. Ainda
com o sobretudo balançado da ação e os cabelos com o movimento, Dimitri
foi até o alfa. O lúpus parecia totalmente bem, como se não tivesse feito
qualquer esforço, mas seu rosto não demonstrava emoção nenhuma.
— Meu soulmate não entendeu nada do que você falou, mas, para
seu azar, eu entendo — falou para o outro alfa de um jeito frio, sem emoção
nenhuma na voz.
Tatiana negou com a cabeça e recuou, ficando ao lado do ômega. O
outro alfa começou a falar o que eram óbvias desculpas, mas foi necessário
apenas um olhar de Dimitri para que o outro se calasse.
— Em inglês, para que meu soulmate escute suas tentativas
patéticas de desculpas.
— Eu não quis ofender, ele me empurrou, e eu tentei falar com ele
— o alfa dizia em um inglês que, mesmo com sotaque, era perfeito.
— Ah, o filha da puta estava me entendendo, só quis me fazer de
palhaço — Cauê murmurou, irritado.
— Não, não foi isso! — Os olhos do alfa foram de Cauê para
Dimitri. — Foi apenas uma bobagem, um pequeno erro de comunicação.
— Entendi, claro. Creio que houve um erro de comunicação. —
Dimitri sorriu frio.
— Sim, houve — o outro alfa repetiu, sentindo-se confiante e
olhando desdenhoso para Cauê.
Então Dimitri o agarrou pelo pescoço e bateu o alfa contra a parede.
Cravou suas unhas na pele do outro, a ponto de começar a cortar, e apertava
tanto, que o outro mal conseguia respirar. O russo estava sério, sem
expressão, empurrou ainda mais o alfa contra a parede e o ergueu, fazendo-
o ficar na ponta dos pés.
Dimitri o puxou e o bateu contra a parede três vezes, sangue
escorreu pela lateral da cabeça e o barulho de um dos cotovelos do alfa
batendo contra a parede também foi alto. O alfa batia no braço de Dimitri,
estava desesperado tentando puxar o ar e com, claramente, muita dor.
— Você não entendeu como as coisas funcionam — Dimitri disse
com sua voz fria. — O que meu ômega quiser, ele terá. Se ele te mandar
pular, apenas pergunte a altura e obedeça. Se ele estiver no seu caminho,
você que desvia. Entendeu?
— Sim... Sim... — o outro só conseguiu responder porque o russo
liberou o aperto, mas apenas o suficiente para a voz passar.
— Não estou convencido — Dimitri murmurou e, ainda o segurando
pelo pescoço, arrastou o alfa pelo corredor.
Tatiana, Cauê e Aleksei correram atrás, as outras pessoas estavam
espantadas, mas ninguém se intrometeu. Dimitri arrastou o alfa até o
banheiro, entrando com ele se debatendo. Ele tinha deixado o alfa cair no
chão e continuou caminhando, puxando-o pelo pescoço.
O alfa implorava coisas em russo e inglês, mas Dimitri parecia não
ouvir, como se ele nem estivesse ali. Não era o alfa carinhoso, era uma
máscara gélida e sem expressão.
Dimitri colocou a toalha de mão dentro da pia e abriu a torneira. A
toalha tapou o ralo, então a bacia da pia começou a encher. Ele arrancou o
suporte do sabonete líquido e despejou quase metade na boca do alfa, que
se debatia, quase afogando com o sabão líquido. Então afundou a cabeça do
alfa dentro da pia. Puxando de volta e afundando por vários segundos.
— Chamou meu ômega de sujo, então resolvi lavar sua boca com
sabão — o lúpus falou frio, despejando mais sabonete na boca do alfa.
Ele tentou se soltar, debateu-se, implorou, virou o rosto, mas nada
adiantava. Seus olhos já estavam vermelhos devido ao esforço, à privação
de oxigênio e ao sabonete nos olhos. Quando estava quase desmaiando,
Dimitri o jogou no chão e fechou a torneira. Mesmo que houvesse mais
pessoas assistindo, ninguém falou nada. O alfa no chão estava
semiconsciente, tossia e parecia precisar de um médico urgente.
Dimitri, de um jeito muito calmo, foi até outra pia e lavou suas
mãos, usando outra toalha para secá-las. Depois foi até seu ômega.
— Vamos embora?
Aaron:
Até que durou muito
Só as pessoas de fora que acreditam que você é um alfa bom e gentil

Dimitri
Eu sou bom e gentil, só perco a cabeça às vezes

Vincenzo:
Você, literalmente, lavou a boca do idiota com água e sabão por ele dizer
“coisas ruins” sobre seu ômega. Onde está a gentileza nisso?

Dimitri:
Era água!
Cane Pazzo quase afogou a madrasta do Luc no vinho e ninguém está
julgando
Aaron:
Foi minha mãe que fez isso, eu quase afoguei o irmão mais novo e ele tinha
19 anos
Deu certo, Thierry disse que o pirralho imbecil está sendo mais respeitoso

Dimitri:
Claro, você quase arrancou a alma do corpo dele

Aaron:
Não tente virar o assunto sobre mim. Você que se tornou o Baba Yaga na
frente do seu ômega e agora está todo arrependido
Não sei por que, Cauê já mostrou que não é fraco e é mais corajoso que
você. Aposto que está lidando muito melhor com a situação

Vincenzo:
Como ele está?

Dimitri:
No quarto, conversando por videochamada com as amigas
Depois do que aconteceu fomos em algumas lojas comprar roupas para ele
suportar o frio russo. Ele agiu normal, mas assim que chegamos correu
para o quarto e se trancou lá

Vincenzo:
Então vocês não conversaram sobre o assunto?

Dimitri:
Não

Aaron:
Mon Loup disse para não se preocupar, porque ele deve estar fofocando
com as amigas sobre o que aconteceu

Vincenzo:
Greg disse para você se preocupar, nossos ômegas estão criando um grupo
de conversa, mas Gigio está nele
Dimitri:
Estou muito ferrado
O chamei para sair depois de visitar Irina no hospital, mas ele disse que
prefere ficar em casa, agora está sozinho no quarto
Espero que Cauê não tenha se assustado

— Gostoso para caralho! — Cauê disse para as amigas. Estava


falando em português para que Dimitri não tivesse chance de ouvir e
entender.
— Gostoso que nível? — Chelsea perguntou.
— Nível Soldado Invernal.
As duas gritaram e ele riu. O ômega estava enrolado em um dos
grossos cobertores do alfa, sentado em uma das cadeiras que ficavam na
sacada do apartamento. O lugar era fechado com vidro, mas tinha uma vista
quase panorâmica da cidade no fim da tarde.
As amigas estavam encantadas pela paisagem, mas queriam saber
das fofocas. E Cauê não tinha poupado detalhe nenhum, até tinha feito uma
boa descrição de algumas atividades sexuais, o que fez Chelsea
choramingar que também queria um lúpus.
— Eu te disse que lúpus são assim — Juliette comentou depois de
Cauê contar o que tinha acontecido no escritório dos Barkov. — Te falei o
que André e Bruno fizeram.
— Vai jogar na cara? — Ele revirou os olhos.
— Até parece que não me conhece — a morena desdenhou.
— Tem uma enorme diferença entre saber que ele poderia fazer e
ver isso acontecendo. Deve ser errado e que Luna me perdoe, mas ele
estava tão gostoso macetando porrada naquele alfa que me xingou.
— Queria ter visto. — Chelsea fez biquinho.
— Foi tão do nada, que nem pensei em filmar. Mas se acontecer de
novo, eu tento. O mundo precisa ver isso.
— Não se preocupe, pelo que sei dos lúpus, ele vai fazer de novo. E
nem deve demorar.
— Como tem certeza? — o brasileiro perguntou.
— Lúpus são protetores, ameaçar os ômegas deles é, praticamente,
pedir pra morrer. E como você não aquieta a bunda em lugar nenhum, vai
arranjar briga logo. Então seu alfa vai intervir.
— Agora pronto. — O ômega revirou os olhos.
— Juliette tem razão, Cauê, você é bem barraqueiro — Chelsea
concordou.
— Olha quem fala, você brigou na fila do supermercado por causa
de um pote de sorvete! — ele exclamou.
— Era o último! — ela se defendeu.
— Ouviu o que falei? Você já está brigando — Juliette disse com
aquele olhar de “eu avisei”, o ômega bufou. — Só se segura para não causar
um incidente internacional.
— O máximo que farei é ser expulso daqui por chutar a cara da mãe
e da madrasta do Dimi. Duas fía de rapariga, a mãe fica o tratando mal e a
madrasta me olhou de cima abaixo, me julgando. Mas estou tentando me
conter, ele vai visitar a mãe no hospital e falei que prefiro ficar em casa.
— Fez bem, pega mal socar a cara da sogra logo no início do
relacionamento, espera um pouco. Mas temos uma coisa ruim para te
contar.
— Por Luna, o que foi?
— Fernando disse que Samer está muito bravo com você. Melhor
você resolver isso logo — Juliette o aconselhou.
— Resolver o quê? Não tirei minha licença ainda, minhas férias já
venceram, e tenho um monte de horas no banco para descontar. Samer só
está sendo o idiota de sempre.
— Ninguém duvida disso, mas sabe que ele vai fazer da sua vida um
inferno só para se vingar. Ele sabe que você está namorando um lúpus,
parece até que te chamou de “garimpeiro” e “alpinista social”. — Chelsea
suspirou.
— Ele que vá tomar no cu, minha vida pessoal não é da conta dele.
Se ele me encher o saco, já peço demissão.
— Se você pedir demissão, nós também temos que pedir — a
australiana disse triste.
— E por quê? — Juliette perguntou revoltada.
— Não podemos nos separar, onde Cauê for trabalhar, temos que ir
junto. Já que ele está mudando para a Rússia, podemos pesquisar
companhias aí. Talvez trabalhar direto com os lúpus atendendo os voos
dele.
— Sobre isso — Cauê sorriu amarelo —, o amigo do Dimi, o alfa
dos Lions, se ofereceu para abrir uma pequena companhia e nós sermos os
gerentes dela.
— Você está brincando? — elas perguntaram aturdidas.
— Não, no início eu achei que ele estava brincando. Mas hoje de
manhã eu recebi um e-mail do assistente dele com um monte de cotação de
preços. Ele sugeriu que a sede da empresa fosse em Londres ou Roma, nem
contei para o Dimi ainda.
— Você aceitou? — Juliette perguntou cautelosa.
— Ainda não respondi.
— POR QUE NÃO? — A morena estava irritada. — Cauê José
Novaes, seu idiota, estamos aqui nos matando de trabalhar para um chefe
narcisista e burro, você tem essa oportunidade e não sabe o que fazer?
— Sim?
— Chelsea, cancela nossos voos para amanhã, vamos pegar um voo
para Moscou e encher nosso amigo de porrada!
— A gente pode mandar o Samer ir à merda e depois nos demitir?
— Chelsa perguntou sorrindo.
— Calma — Cauê pediu.
— Que calma o quê?! — Juliette ainda estava revoltada. — Vamos
encarar os fatos, você é o SOULMATE do alfa bonitão. Vão viver juntos, se
casar, nós seremos as madrinhas e tudo mais. Você só está com medo de
admitir que também se sente desse jeito e sabe que assim que tiverem essa
conversa, será real e não tem como voltar atrás.
— Mas e se der errado?
— Aí deu, vai fazer o quê? Nos mudamos de novo, podemos voltar
para o Brasil, recomeçamos, voltamos para a companhia que trabalhávamos
quando estávamos lá. Mudamos de área, não é como se não tivéssemos
feito coisas assim antes.
— E me levam junto, não é? — Chelsea perguntou com biquinho.
— Claro que sim, você é nosso chaveiro australiano — a brasileira
respondeu. — Cauê, agora você vai ter essa conversa com a sua versão
russa do Soldado Invernal, vai falar todos os seus medos, vão conversar
direito, se acertar, decidir onde morar e vamos nos mudar.
— Vamos? — Cauê perguntou sorrindo.
— Se você acha que vou te deixar em algum país sem nós, está
louco. Toda vez que tiro o olho de você e Chelsea, vocês aprontam alguma
coisa. — Juliette bufou.
— E não se esqueça de filmar ele fodão!
— Eu amo vocês.
— Também te amamos, agora vai logo!

— Oi — Cauê disse, entrando na cozinha, onde o alfa estava


servindo comida em dois pratos.
— Já ia te chamar para jantar. — O russo sorriu. — Pedi stogonoff,
o verdadeiro, para você provar.
— Parece bom, pelo menos cheira bem. — O ômega sorriu.
— Tudo bem? Você ficou no quarto por horas — Dimitri perguntou
um pouco receoso. Os dois estavam sentados na pequena mesa cozinha,
ignorando a enorme mesa na sala de jantar.
— Precisava conversar com as minhas amigas. — Ele suspirou,
dando uma garfada na comida. — Ok, isso é estranho, mas não é ruim.
— Um gostoso estranho? — O alfa sorriu.
— Sim. — Cauê riu.
— Como eu?
— Não, você é só gostoso. — O ômega beijou o rosto do alfa. —
Meu gostoso.
— Seu? Sabe o que isso quer dizer?
— Sim, que eu sou seu também e agora preciso saber o que fazer. —
Suspirou. — Me desculpe por evitar falar disso, precisava de tempo para
aceitar.
— Não peça desculpas, eu queria ter te dado mais tempo. Tirei
algumas semanas de férias e quando nos conhecemos estava fazendo planos
para te levar em alguma praia paradisíaca e te explicar tudo com cuidado.
— No fim acabou me trazendo para Sibéria. — O ômega riu. —
Sempre fui muito direto, estive em constante modo de sobrevivência.
Nunca tive tempo para parar e pensar. Superava uma etapa e já estava na
luta para alcançar a outra. Trabalhava para pagar os cursos que precisava
fazer, batalhei muito por testes e entrar como comissário. Saí de Fortaleza,
me mudei para Recife, depois São Paulo, passei um tempo no México,
voltei para o Brasil. Tudo procurando oportunidades melhores, então
consegui esse emprego e tive que me mudar para Maiorca, que é onde estou
morando agora. Não estou falando que vivi para o trabalho, me diverti e
muito, minhas amigas e eu sempre saímos e festejamos.
— Informação demais — Dimitri resmungou, fazendo Cauê beijar
seu rosto. — De modos completamente diferentes, fizemos o mesmo.
Lutamos e sobrevivemos. Nunca me prendi a ninguém porque não achei
alguém que se encaixasse na minha vida. Tenho prioridades muito claras e,
tirando quando encontrasse meu soulmate, não deixaria ninguém me
desviar do meu caminho.
— É exatamente isso. — O brasileiro suspirou. — Quando se tem
um trabalho como o meu, é difícil ter um relacionamento, então nunca me
preocupei com isso. Porém com você sinto que é diferente, só a ideia de ir
embora dói.
— Sabe que se quer continuar como comissário, te dou todo o
apoio, não é? — perguntou, segurando a mão dele. — Posso voar para te
encontrar ou mandar o jatinho te buscar.
— Mandar o jatinho me buscar? — Ele riu e abraçou o alfa. — A
questão é que não quero sair de perto de você. Nunca achei que fosse dizer
isso, mas posso mudar de emprego.
— Se eu pudesse, me mudava com você. Podíamos até ir para o
Brasil, qualquer lugar que queira. Infelizmente estou preso aqui, mas se
escolher ficar, farei o que quiser. Pode montar um negócio para você, vir
trabalhar comigo ou não fazer nada. Podemos nos mudar para o lugar que
escolher, pode redecorar esse apartamento inteiro, eu não me importo. Só
quero que seja feliz.
— Vou pensar em algo. — O outro riu e o beijou de novo.
— Estava pensando, para não ficar sozinho, podemos trazer sua
família e suas amigas para morar aqui.
— Conosco? Nem pesar! — Cauê negou dramaticamente, fazendo o
outro rir. — Tirando mãe, o resto é um bando de urubu. No máximo uma
kitnet há uns quarteirões de distância. Mas mãe nunca se mudaria de lá,
Tainá ficaria com ela. Então sobra Juliette e Chelsea, mas saiba que elas vão
encher o saco.
— Acho que podemos lidar com isso. — Dimitri sorria feliz.
Tinha muita coisa nas entrelinhas, a principal era que seu ômega
ficaria com ele. Seu soulmate estaria em seus braços, havia o aceitado, e
eles passariam a vida juntos. Isso fazia seu lobo uivar de felicidade.
— Falei com Heidi — o alfa comentou enquanto arrumavam a
cozinha. Ele tentou explicar que não precisavam, pois tinham uma
empregada que viria no dia seguinte e faria isso, mas o ômega não aceitou e
quis deixar tudo limpo.
— Ela vai comprar a casa da minha mãe?
— Não, Cane Pazzo ouviu e já está finalizando os papéis de compra
do imóvel. Provavelmente ele tentará alguma chantagem emocional para te
convencer a se mudar para o Reino Unido. — Dimitri negou com a cabeça.
— Mas não acredite nele.
— Certo, tentarei me manter forte. — Riu.
— Cane Pazzo não tem limites, podemos esperar qualquer coisa
dele e de Vincenzo.
— Falando nisso, me adicionaram em um grupo de conversa
chamado “Grupo de apoio às vítimas do Trio do Caos”, quer me dizer
alguma coisa?
Cauê tinha conseguido pedir sua licença do trabalho, eram apenas
dez dias. Mas como deveriam ir para Londres na próxima semana, após o
tal jantar com o presidente, resolveram aproveitar e passar no escritório da
companhia na Espanha, para resolver sua situação de trabalho. Já estava
surtando com esse jantar, ainda mais que Dimitri contou a Vincenzo e
Aaron sobre eles irem para Espanha e Luc e Greg estavam organizando uma
excursão.
A mãe de Aaron tinha pessoalmente ligado para Cauê, convidando-o
para passar uns dias em sua casa. Disse que poderiam passar uns dias em
Paris para fazer compras. Que estava muito feliz que Dimitri tivesse
encontrado seu soulmate e já tinha ouvido coisas maravilhosas sobre Cauê.
O ômega nem sabia como ela tinha conseguido seu número e
depois, quando procurou fotos dela na internet, considerou-a quase uma
deusa. Gabrielle Lions era linda e elegante.
Lucia era outra que ligou todos os dias para saber como seus
“bambinos” estavam. Brigou com Dimitri para se alimentarem melhor e
disse que qualquer coisa que eles precisassem, pegariam um avião e iriam
até a Rússia, para mostrar àquela vecchia mucca a não mexer com seus
filhotes.
No momento estavam se arrumando para jantar na Mansão Barkov,
onde parte da família morava. Cauê achava super cafona colocarem o nome
da família e tudo. “Escritório Barkov”, “Mansão Barkov”, o que mais teria?
“Banheiro Barkov”? “Vaso sanitário Barkov”?
— Hoje é rosa neon — Dimitri comentou sorrindo, vendo as meias
que Cauê tinha escolhido.
— Um pouco de cor para ver se melhora os ânimos — brincou.
— Amor, nem se fossemos fantasiados de Sol aquilo iria melhorar.
Cauê gostava muito quando Dimitri o chamava de amor. Ele estava
tentando ensinar o russo a falar português, Dimitri já conseguia falar
“amor”, “te amo”, “por favor”, “gosto disso”, “gostoso” e “quero te foder”.
O ômega deu de ombros, prioridades eram prioridades.
Sua chave do elevador tinha chegado, Dimitri explicou como
funcionava. O elevador só funcionava com a chave e ele iria direto para o
andar do qual ela pertencia, não parando em nenhum mais. Os funcionários
do prédio usavam sempre o outro elevador, que dava na área de serviço. E
ele tinha descoberto que os motoristas realmente tinham uma sala de
descanso na garagem.
Durante a ida para casa de Irina, Cauê ficou tocando músicas em seu
celular e falando dos cantores. Dimitri prestava atenção mais na
empolgação do ômega do que na música em si, que era completamente
diferente do que estava acostumado. Mas se seu ômega gostava, ele
também.
— Essa é a Mastruz com Leite, é bem importante. É tipo a mãe do
forró eletrônico. Quando ninguém acreditou, eles foram lá e criaram uma
banda de forró. Não um grupo, uma banda com guitarra, baixo e essas
coisas. Então a gente tem que respeitar, entendeu?
— Sim. — O alfa sorria.
— Quando voltarmos para casa, vou achar o DVD deles no Youtube
e te ensinar a dançar forró — falou confiante, mas o alfa apenas riu.
Assim que chegaram na casa dos Barkov, Dimitri percebeu o que
ômega fez, distraiu-o pelo caminho inteiro para que não ficasse nervoso.
Cauê era incrível, e o alfa o amava.
— Sejam bem-vindos — Carolyn disse abrindo a porta quando eles
chegaram. Dimitri detestava como ela se sentia a anfitriã. — Dimitri, meu
tio está aqui.
— Que pena que não me avisaram, eu nem teria vindo se soubesse
— o alfa respondeu com um suspiro, entregando seu casaco para o
funcionário. Cauê viu o funcionário usando os casacos deles para esconder
a risada.
— Por favor, não seja rude. Respeite...
— A casa da MINHA família? — Dimitri a interrompeu, e ela ficou
contrariada, saindo na frente.
— Qual é a história? — Cauê perguntou. Precisava saber o motivo
pelo qual deveria odiar Carolyn.
— Eu odeio a família dela, os Irons. Eles já foram a família líder,
mas perderam o título para a atual e ainda não superaram. O tio dela é o alfa
líder da família, não faz parte do Conselho, mas possui certa influência. Ele
já entrou no meu caminho, de Aaron, Vincenzo e, principalmente, Edward,
muitas vezes. Carolyn é namorada da minha mãe há muitos anos. Irina não
quer se casar porque meu pai era seu soulmate e acha que seria algum tipo
de desonra. Ela perderia um pouco da imagem de alfa austera que tem e
imagem é tudo para ela. Carolyn mora aqui e age como se fosse dona de
casa e meu pai e Yelena nunca tivessem existido. Ela quer mandar nos
outros e acha que namorar a minha mãe a fez ser a “ômega líder”. Mas esse
título era do meu pai, que era soulmate da minha mãe, nunca será de
Carolyn.
— Certo, não gostamos dela nem da família.
Tudo naquela casa era enorme, parecia caro e sem alma. Cauê não ia
comentar nada para ofender, mas se seu alfa dissesse para morarem ali, nem
os crochês de sua mãe resolveriam. A mesa de jantar era a maior que o
ômega já tinha visto. As poucas pessoas da família Barkov que já tinha
conhecido estavam lá, mas tinha muito mais gente.
Dimitri o apresentou como seu ômega e a maioria se levantou para
cumprimentá-lo, exceto Kirll, Carolyn e Irina. Um alfa de cabelos grisalhos
se aproximou, os instintos do ômega gritaram que ele não era bom, por isso
mal encostou nele.
— Esse é o Alfa Irons — Dimitri o apresentou. Não por cortesia, já
que mandaria tranquilamente o mais velho tomar no cu, mas para seu
soulmate saber quem ele era.
— Um prazer em conhecê-lo — Irons falou, mas seu olhar maldoso
dizia outra coisa. — Que bom que encontrou seu soulmate, Dimitri. Quem
sabe pode seguir em frente.
— Sua percepção de seguir em frente é deturpada. Não preciso
esquecer das pessoas que mais amava para seguir meu caminho — Dimitri
respondeu rispidamente.
— Mas não aceita que minha querida sobrinha é a nova ômega
dessa casa — provocou baixinho.
— Você não é o alfa que quase foi líder, mas sua família perdeu o
direito, e agora fica circulando ao redor dos conselheiros tentando ser
importante, mas nem do Conselho é? Porque isso também não é seguir em
frente — Cauê perguntou sorrindo falso. Algumas pessoas tomaram seus
drinques para esconder o sorriso.
— Vejo que se merecem. — Irons rosnou.
— Você não faz ideia. — Dimitri sorriu maldoso.
— Sentem-se. — Irina falou alto.
Ela estava na cabeceira da mesa, de um lado Carolyn, de outro
Kirill. Onde ela estava sentada seria o lugar de Dimitri, mas ele não iria
brigar, nem queria estar ali. O jantar foi servido, eram diversos pratos
típicos russos, Cauê não conhecia quase nada, mas Dimitri e Tatiana
estavam ao seu lado, prontos para lhe ajudar e explicar qualquer coisa.
— Seu sotaque é engraçado, de onde é? — Carolyn perguntou com
um falso sorriso. Cauê suspirou, já conhecia aquela história.
— Do Brasil.
— Verdade. Seu sotaque é um pouco carregado, às vezes é difícil
entender. E você também não fala russo.
— Não, ainda não — Cauê respondeu, segurando o braço de
Dimitri, ele podia resolver aquilo. — Você é fluente em inglês e russo?
— Sim, nasci na Irlanda do Norte e aprendi russo por causa de moya
lyubov. — Para enfatizar, pegou na mão de Irina, sorrindo para ela.
— Que legal. Nasci no Brasil, por isso, falo português. Também sou
fluente em inglês, espanhol e catalão. Além da língua nativa do meu povo.
Fora isso, falo um pouco de francês e sei algumas frases em italiano,
alemão, romeno, japonês e coreano. Mas vou aprender russo, por causa do
meu soulmate. — Cauê exibia o mesmo sorriso que Carolyn tinha segundos
antes. — Você e Irina são soulmates?
— Não — Carolyn respondeu azeda.
— Sério? Que pena, combinam tanto.
O jantar não foi ruim, apenas estranho. Cauê sorriu falsamente o
tempo todo, mas, por debaixo da mesa, fazia carinho na mão do seu alfa,
acalmando-o. A maior parte da família Barkov era legal e tinha muito
orgulho de Dimitri, era só aquele pequeno clã que não gostava dele. Toda
vez que Irina, Carolyn ou Kirill abriam boca, Cauê precisava se segurar
muito para não revirar os olhos.
A esposa de uma das primas de Dimitri estava contando empolgada
sobre como a construção de uma escola, que estava sendo financiada pelos
Barkov, estava chegando ao fim e já iniciariam outras naquele mesmo ano.
Era um projeto do próprio Dimitri, construía creches e escolas para os
filhotes de seus funcionários que trabalhavam em empreendimentos dos
lúpus que ficavam em lugares de difíceis acessos, como os campos de
mineração. Assim as famílias não precisavam ficar separadas e todos
estavam seguros.
— Confesso que a ideia veio do que Edward Jones-Knight faz em
seu território — Dimitri disse com um sorriso tímido, mas orgulhoso.
— Ele não possui um território — Irina falou alto, interrompendo a
conversa.
— Não oficialmente, mas quem seria louco de contestar? — Dimitri
respondeu calmo, bebendo seu kompot, uma bebida russa que lembrava um
pouco um suco, mas tinha um preparo bem diferente.
— Alguém deveria — Kirill opinou. — Um território tão grande e
tão importante na mão de alguém que não fez nada para merecê-lo, é
ridículo. Wolf’s Castle, a capital de nossa sociedade, fica na Inglaterra.
Deixar a capital desse país para um bando de perdidos, é perigoso.
— A fama de Knight corre por todo Reino Unido — Tio Vasily
tentou ajudar. — Sendo afilhado do Alfa Lions, não me admira.
— Ainda sim é perigoso. — Kirill bufou. — Qual a proteção que ele
oferece caso tentem atacar Wolf’s Castle?
— Pelo que conheço dele, Edward tende a ser temperamental e
impulsivo. Nem sei o que será de nós quando ele assumir como líder. Seria
muito melhor que sua irmã, Grace, assumisse. Ela é muito mais ponderada,
educada e segue nossas tradições — Alfa Irons comentou.
— O fato de ser casada com seu neto é só coincidência — Dimitri
falou irônico. — Acha mesmo que se Grace assumisse como líder, seu neto
seria o ômega líder dos lúpus?
— Melhor Anthony, que foi criado para isso, do que um ômega
desrespeitoso, prepotente, que saiu de qualquer buraco e não tem respeito
nenhum por nossos costumes.
— Não conheci o tal ômega de Edward Knight, mas pelo que ouvi,
apenas lamento por esse casamento. — Carolyn suspirou dramaticamente.
— Meu primo seria um ômega líder muito melhor.
— Quantas vezes ele lutou pelos ômegas? — Cauê perguntou por
impulso. Ele nem conhecia Luc Jones-Knight e estava o defendendo.
Esperava que Greg e Luc Lions estivessem certos e esse ômega britânico
fosse mesmo um cara incrível.
— O quê? — Carolyn perguntou confusa.
— Você disse que seu primo seria um ômega líder muito melhor,
mas eu sei que Luc, marido do Edward, defende a independência e
reconhecimento dos ômegas, o que eu acho uma causa muito importante. Se
o seu primo seria uma escolha melhor, o que ele defende?
Ficou um silêncio no lugar, Dimitri sorria orgulhoso do seu
soulmate.
— Ômegas não deveriam lutar por nada — Irons disse entredentes.
— Não tem umas leis que os lúpus seguem? — Cauê se fez de
confuso.
— O Código de Conduta dos alfas — seu alfa falou. Dimitri tinha
conversado com seu ômega sobre isso no dia anterior.
— E qual a primeira regra?
— Ômegas são sagrados, por isso, devemos protegê-los — Iron
respondeu.
— Mas, se somos sagrados, não deveriam nos respeitar e nos
escutar? Porque a questão é essa, vocês estão agindo como querem, e não
respeitando nosso direito de escolha. Por isso, acho que o Luc britânico é
incrível, ele quer nos dar a escolha.
— O ômega líder tem que saber seu lugar, pensar e agir de forma
calma, cuidar de todo seu clã e apoiar seu alfa. Não agir como um bárbaro e
entrar em disputas — Carolyn disse irritada.
— E como você sabe? Você não é uma — Cauê respondeu sorrindo
irônico. — E, pelo que eu saiba, nunca será.

O jantar tinha encerrado, mas todos estavam na sala de estar. Tia


Yuliya mandou servir o café, numa tentativa de desanuviar o ambiente. As
conversas estavam tranquilas, mas nada profundas. Tatiana ficou ao lado de
Cauê o tempo todo, ela o chamava de herói. Outros o parabenizaram pela
coragem de dizer o que eles sempre quiseram falar, mas Cauê não chamava
isso de coragem. Juliette tinha razão, ele nem pensava direito antes de se
meter em um barraco.
O celular do ômega começou a notificar várias mensagens e ele se
assustou. Como ninguém estava mexendo no celular, também o ignorou,
mas o aparelho vibrava tanto no seu bolso, que se afastou para olhar.

Gigio:
O que está acontecendo agora?
Tiveram alguma notícia?

Luc:
Ainda não sei, Nico está falando com Julie, mas ela também não tem todas
as informações. Nenhum dos alfas que estão atrás deles está respondendo,
não sabemos de nada
Estamos chegando em Londres, Mon Loup está desesperado. Quase
quebrou o aeroporto porque não queriam nos deixar embarcar
imediatamente

Greg:
Por Zeus, quando isso aconteceu?

Luc:
Hoje à tarde, mas só soubemos agora

Cauê:
O que está acontecendo?

Gigio:
Luc Jones-Knight, sua filha e Neil Khan-Payton foram sequestrados, não
temos atualização nenhuma

Greg:
Estávamos em Capri, mas já estamos voltando para Roma, deixaremos
Damiano e Lise com Lucia e vamos para Londres
Cauê:
Vou avisar Dimitri, creio que podemos chegar amanhã

Greg:
Gigio e Angelo cuidaram de tudo por aqui, não sabemos o que realmente
está acontecendo e quanto tempo levará para resolver essa situação

Gigio:
Luc, conseguiu mais informações?

Greg:
Luc?

Eles mandavam mensagem, mas o ômega francês não respondia.


Cauê tentou calcular o fuso horário. Era mais de nove da noite, mas com o
fuso horário não seria tão tarde em Londres, seriam nove horas de voo, mas
poderiam chegar ainda na manhã do outro dia.
Cauê viu Dimitri do outro lado da sala, ele conversava com alguns
primos ria de algo. Mas quando o lúpus viu a expressão de terror do seu
soulmate, atravessou o salão na hora.

Luc:
FAÇAM VINCENZO E DIMITRI LIGAREM PARA MON LOUP AGORA!

Greg:
Vincenzo está vindo, o que está acontecendo?

Luc:
Edward quebrou o Código!

— O que foi? — Dimitri perguntou, preocupado.


— Ligue para Aaron, agora — Cauê disse com os olhos arregalados.
Ele podia estar com os lúpus havia pouquíssimo tempo e nem se
considerava um, mas sabia que aquele Código era sagrado.
— O que está acontecendo? — o russo perguntou conduzindo seu
ômega em direção às escadas e puxando seu celular.
— Eu não sei bem — o ômega respondeu e mostrou a conversa no
celular.
— Merda! — Dimitri exclamou. O alfa segurou no braço do seu
soulmate, levando-o rapidamente escadas acima, chegando a um longo
corredor.
— Aaron não atende — a voz de Vincenzo saía do celular do russo,
ele estava em videochamada com o italiano.
— Estou mandando mensagens para Luc, mas ele não está
visualizando — Cauê disse. Ainda não tinha noção do que estava
acontecendo, mas estava assustado. Era óbvio que todos estavam em
pânico.
— Nem as minhas. — Greg deveria estar perto de Vincenzo. —
Gigio está falando com Matteo, ele disse que está uma confusão, mas não
está no mesmo carro que Luc. Matteo, Jordan, Jake e Heidi estão levando
os filhotes para a casa de Julie.
Dimitri entrou no seu antigo quarto. Apesar de ainda estar como no
dia que saiu, não tinha personalidade nenhuma. Era apenas um quarto
decorado de azul e cinza, sem fotos ou pertences pessoais que indicassem
que alguém vivia ali. Uma grande cama, escrivaninha, poltrona, cadeira e
duas portas, uma do closet e uma do banheiro. Um quarto frio e impessoal,
assim como se sentia quando morava naquela casa.
— Ele está ligando — a voz de Vincenzo saiu baixa. Dimitri foi
mais rápido e aceitou a solicitação do loiro.
Aaron estava em um carro, por isso estava um pouco escuro. Seu
cabelo sempre perfeitamente alinhado estava bagunçado e seus olhos
avermelhados. Sua respiração estava entrecortada, como se estivesse se
controlando. Luc estava do seu lado. Seu nariz vermelho indicava que tinha
chorado e seus olhos estavam brilhantes de lágrimas.
— Preciso de ajuda — Aaron disse por fim. Até sua voz estava
diferente.
— Nos conte o que houve e o que podemos fazer — Dimitri falou.
Cauê acompanhava tudo, estavam sentados na antiga cama do seu
alfa. O russo segurava sua mão, e o ômega fazia carinho, tentando dar todo
apoio que podia. Cauê não tinha intimidade com ninguém ali, exceto seu
alfa. Ter se dado bem e gostado deles não queria dizer que eram amigos
íntimos, mas ele sentia a dor deles. Não sabia quem eram Edward e Luc
Jones-Knight, mas também queria os ajudar.
— Luc, Liv e Neil foram sequestrados, o bando seguiu o rastro. Luc
conseguiu entrar em contato com o lobo de Edward, e o bando os achou. —
A voz de Aaron mostrava como estava destruído. — Mesmo Luc lutando
bravamente até o bando chegar, Liv foi baleada e quase morreu.
— Cazzo! — Vincenzo exclamou.
— Como ela está? — Greg perguntou, ele também parecia estar
quase chorando.
— Perdeu muito sangue, precisava de uma transfusão. Liv é alfa
com genes lúpus, ela precisaria de outro alfa com genes lúpus. O único do
bando é Sam, que está comigo, mas não chegaríamos a tempo, então
Edward teve que fazer uma escolha.
— Ele doou o próprio sangue — Dimitri completou a frase com
pesar. — Liv é uma alfinha com genes lúpus latentes que nem chegou perto
da puberdade. Ele pode ter despertado o lobo dela.
— O Conselho só precisava de uma desculpa, vão pedir a cabeça
dele — Vincenzo murmurou.
— Mas ela está viva, não é? — Cauê perguntou. — O importante é
isso, o resto damos um jeito.
— Não é tão simples...
— Não! Cauê está certo — Aaron interrompeu a explicação de
Vincenzo. — Temos que garantir que Edward escape disso.
— Podemos ir até Londres, chegaremos de manhã — Dimitri
propôs.
— Sim, estamos a caminho de Roma, de lá iremos direto para
Londres. Chegaremos ainda de madrugada — Vincenzo disse.
— Não venham ainda, preciso que façam algumas coisas. — Aaron
respirava fundo, tentando se acalmar
— Qualquer coisa — Dimitri garantiu.
— Ainda está monitorando Nowak? — a voz de Aaron tinha
mudado para algo mortal.
— Claro, assim como combinamos — o russo respondeu.
— Preciso que Baba Yaga o encontre e o mate. Destrua tudo, ele,
seus homens e sua casa. Não pode sobrar nem resquício que o ligue até o
que aconteceu em Londres. Fique com o dinheiro dele, doe, queime, não
importa. Apague a existência de Nowak.
— Farei nesta noite — Dimitri prometeu. Cauê estava ao lado, de
olhos arregalados, mas não falou nada.
— Vincenzo, vá até a Coreia do Sul, informe pessoalmente Choi do
que está acontecendo. Ofereça qualquer acordo, ele precisa estar do nosso
lado. Se necessário, abro mão de parte dos negócios que temos na Ásia e
passo para ele.
— Choi pode parecer frio e distante, mas sabe que ele nunca viraria
as costas para nós, principalmente para Edward — Vincenzo falou, e Aaron
concordou com a cabeça.
— Preciso que ele e os líderes das famílias asiáticas concordem
conosco. A maior parte do Conselho será contra, então temos que focar no
apoio de fora, o máximo que pudermos. — O loiro suspirou.
— As famílias asiáticas não seriam loucas de irem contra Choi, mas
pedirei uma reunião com todas e explicarei a situação — o italiano garantiu.
— Entrarei em contato com Alice Moretto, ela tem influência em
toda a América Latina, principalmente nos países da parte Sul. Os Moretto
têm ascendido, é importante o apoio deles.
— Juliette é amiga dos primos dessa Alice — Cauê comentou. —
Vou pedir que ela adiante o assunto.
— Alice é bem protetora com os seus, saber que tem um brasileiro
entre nós a convencerá mais rápido — Aaron disse, pensativo. — Verei
como Edward e Luc estão e irei prepará-los.
— Sabe que terá que puni-lo, o que fará? — Vincenzo perguntou.
— E como posso puni-lo por salvar a vida de sua filhote? O que eu
faria por Sophie? Provavelmente muito pior.
— Aaron, Irons está aqui — Dimitri disse, e a fúria se acendeu no
olhar do loiro. — Irritante como sempre, tentando provocar.
— Ele até disse que era uma pena que Luc fosse o ômega líder, que
deveria ser o neto dele — Cauê comentou.
— Merda, tinha me esquecido desse verme. Usará isso para tentar
tirar Edward da linha de sucessão — o lúpus francês esbravejou. — Não
podemos perder tempo o matando agora, preciso garantir que a família dele
não tenha acesso ao cargo.
— E como fará? Grace ainda é oficialmente casada com ele —
Vincenzo o lembrou.
— Convencerei Grace Knight a abandonar a linha de sucessão.
— E como conseguirá isso? — Dimitri perguntou.
— Usando o ponto fraco que todos nós temos — Aaron disse, e
Dimitri olhou de canto para seu ômega.
O ponto mais fraco de um lúpus era também seu ponto mais forte,
seu soulmate.

— Foi extremamente rude sair assim — Carolyn disse quando


entraram no salão.
— Tatiana, Boris, Efim e Olga, temos uma missão — Dimitri disse
em voz alta, chamando a atenção de todos e ignorando a namorada de sua
mãe. — Preparem as equipes, temos que sair em uma hora. Tatiana, ligue
para Yuri e Pasha, temos um alvo sob monitoramento há semanas, hoje
temos que eliminá-lo.
— Certo. — A prima obedeceu na hora, ligando para alguém. Os
outros chamados saíram, estavam mandando mensagens e ligando,
provavelmente obedecendo a ordem de Dimitri.
— Sou um dos diretores de segurança e não sei de missão nenhuma!
— Kirill exclamou.
— Você não é nada, apenas um verme irritante que estou de saco
cheio de aguentar — Dimitri falou alto, quase gritando e assustando a
maioria. — É uma pena, priminho, porque é inteligente e tem ótimos
instintos, mas se aliou ao lado errado dessa briga. Agora se tornou uma
marionete na mão de Irina, mas não tenho tempo para o drama de vocês. A
não ser que seja para me desafiar, não fale comigo.
— Dimitri, falei com Yuri, tudo está sendo preparado — Tatiana
disse. — Em meia hora todos já devem estar na base.
— Levarei meu soulmate para minha casa e os encontro lá.
— Você não sairá daqui até explicar que besteira toda é essa. —
Irina entrou na frente de Dimitri.
— Saia da minha frente!
— Não.
— Eu mandei sair — Dimitri ordenou. Estava irritado e preocupado,
não iria mais perder tempo com ela.
— Respeite...
— Cale a sua boca — ele interrompeu Carolyn, que recuou
assustada. — Você não faz parte desta família e nunca fará.
— Calma, vamos embora — Cauê sussurrou, segurando o braço do
seu alfa.
— Não pode agir assim na minha casa — Irina exigiu.
— Você está louca? — Dimitri estava se controlando para não
estourar. — Eu sou o líder dessa família e te deixei continuar com esse
teatrinho patético apenas para não me encher o saco. Você não decide mais
nada, você não tem mais opinião. Essa casa é minha, se eu quisesse te
colocava para fora junto da sua namoradinha inútil e sanguessuga. Mas
nunca obrigaria meu soulmate, que eu amo, a viver nesta catacumba
amaldiçoada.
— Você...
— Eu sou Dimitri Arseny Barkov, líder da família Barkov e
conselheiro lúpus. Você é apenas uma sombra do que já foi, Irina. Não tem
mais poder nenhum e sei que odeia que todo o poder que tinha, veio para
minhas mãos e não para seu querido sobrinho. Nunca vou entender por que
me odeia tanto, mas saiba que eu não te odeio. Como Aaron diz, para não
gostar de alguém, essa pessoa tem que ter algum tipo de importância e você
não passa de um nada!
— Me respeite! — Irina gritou, enraivecida.
— Você nunca fez nada para ter o meu respeito! — Dimitri
respondeu irritado. — Sempre agiu como uma narcisista arrogante e...
O tapa que a alfa deu no rosto dele foi forte o bastante para o
barulho ecoar pelo lugar. As poucas pessoas que assistiam se assustaram,
mas ninguém falou nada. Irina estava transtornada de raiva, apontando e
gritando para o filho. Porém, quando Dimitri virou seu rosto para ela, o
olhar dele era tão furioso, que, pela primeira vez, a alfa recuou.
Dimitri ainda estava em silêncio, seu maxilar trincado, o olhar era
puro ódio. Até mesmo Irina entendeu que tinha ultrapassado algum limite.
O clima do lugar estava pesado, a tensão era quase palpável e o resto da
família estava com medo. Mesmo que tudo tivesse acontecido em poucos
minutos, pareciam horas.
O russo deu um passo à frente, seu lobo rosnando no seu peito, Irina
recuou outro. Kirill foi o único que chegou mais perto da tia, em uma
tentativa de protegê-la, mesmo que todos soubessem que segurar Dimitri
era quase impossível. Irina engoliu em seco, ninguém da família, exceto o
sobrinho, estava perto. Mesmo Alfa Irons e Carolyn recuaram.
As histórias sobre Baba Yaga eram quase uma lenda sussurrada,
alguns achavam que era exagero, outros apenas rezavam para nunca
encontrar Dimitri naquele estado.
Mas, antes que Irina ou Dimitri pudessem falar algo, a alfa foi
atingida no rosto, recuando com o impacto. Ela olhou aturdida, mas Cauê
chutou seu peito, se não fosse por Kirill a segurá-la, teria caído no chão.
Mas o brasileiro não saiu do lugar, continuava na frente de seu alfa, pronto
para socar sua sogra de novo e defender seu soulmate.
— Vai se foder, sua filha da puta! — o brasileiro gritou. —
Narcisista do caralho! Acha que, depois de tudo que fez, ainda tem o direito
de encostar a mão nele? Eu vou encostar a minha mão na sua cara e te
quebrar inteira, sua...
— Como ousa?! — Irina gritou com Cauê, que riu dela.
— Quer vir pra cima? Vem, então, sua corna. Vem, quebre o Código
e me ataque, vou adorar chamar Aaron Lions especialmente para te quebrar
inteira. Vem! Isso se ele tiver chance, porque vou adorar dar uma sova nessa
sua cara de rato, sua...
— Está louco? — Kirill perguntou, aturdido e irritado.
— Vai se foder também! — gritou e chutou o saco do alfa, que
ofegou de dor, apoiando-se na parede. — Não é o “fodão”? Então vem,
filha da puta!
Dimitri agarrou seu ômega pela cintura e o puxou para trás, bem na
hora que Cauê estava indo para cima de Irina, que, por acaso, estava
recuando, tamanha a fúria do ômega.
— Não, me solta, me deixa resolver isso de uma vez! — o brasileiro
gritava. Dimitri os conduziu até a parede oposta, prendendo o ômega entre a
parede e ele. Cauê ainda estava irritado, gritava e esperneava, querendo sua
chance de acabar com Irina e quem mais se colocasse no seu caminho. —
Me solta! Eu vou quebrar...
— Eu te amo — Dimitri segurando o rosto do brasileiro entre suas
mãos. — Eu te amo muito, obrigado.
— Também te amo. — Cauê sorriu, visivelmente mais calmo.
— Não podemos perder tempo com eles agora, tenho que te levar
para casa e sair para matar alguns alfas, mas eu te amo muito.
— Romântico. — O brasileiro riu.
Dimitri beijou seu soulmate e se virou para sair. Sua família o
olhava espantada. Kirill ainda estava com dor e Carolyn abraçava Irina.
Cauê tinha razão, todos ali se mereciam.
Os carros pararam alguns metros antes da propriedade. Tatiana
mostrava no tablet as imagens de dentro da casa, Pasha tinha hackeado o
sistema de segurança. Oton Nowak era uma traficante internacional e o
causador de tudo aquilo. Ele encomendou o grande roubo que Ronan, o ex-
marido de Luc Jones-Knight, tinha se envolvido. E ele que havia colocado
um alvo em Luc, ele que havia ordenado aquela emboscada nas docas, que
havia pressionado Colin Walker a fazer merda. Por culpa dele, Liv tinha se
ferido.
Nowak possuía mais duas propriedades em cidades próximas de
Moscou, todas elas seriam invadidas ao mesmo tempo e destruídas.
Enquanto Pasha hackeava o sistema de segurança, Yuri hackeava todo o
sistema bancário. Todo o dinheiro e ações do traficante estavam sendo
enviadas para uma conta do Lions Bank. Yuri estava destruindo todos os
rastros da existência de Nowak, em alguns dias, seria como se aquele nunca
tivesse existido.
— A luz foi apagada e o gerador desativado — a voz de Pasha soou
no fone no celular. Ela e Yuri eram ômegas e irmãos, gênios dos
computadores que trabalhavam para os Barkov.
— Tudo liberado — Boris avisou.
— Quero Nowak para mim, quem quiser alguma presa para caçar
depois, a amarre no portão — Dimitri avisou, e todos concordaram. —
Depois de limparmos o lugar, todos os eletrônicos devem ser destruídos, se
acharem algo de valor levem para a van. Por fim, quero esse lugar em
chamas, não pode restar nada.
Todos saíram dos carros, as ordens eram claras. Caminharam até o
portão, o alfa que estava de guarda nem teve chance de falar algo antes de
ser derrubado com um tiro no pescoço, caindo em uma poça de seu próprio
sangue.
O russo continuou seu caminho, o vento cortante e zunia alto.
Estava tão frio que se fosse um comum, poderia ter hipotermia, mas era um
lúpus. Olhou seu relógio, era quase meia-noite, mas as pessoas estavam
acordadas na propriedade de Nowak. Melhor, gostava de ver o medo nos
seus olhos antes de matá-los. Não tinha graça quando estavam dormindo.
Os muros altos não queriam dizer nada, nem o portão fechado.
Tatiana, como a ginasta que era, escalou o muro e correu por ele. Sua mira
certeira derrubou os poucos guardas que viu. Dimitri forçou o portão que,
mesmo reforçado, não resistiu.
Cachorros raivosos vieram correndo, isso deve ter alarmado as
pessoas dentro da casa. Dimitri apenas apontou para as laterais e os que o
acompanhavam concordaram, sabendo o que fazer, correndo e sumindo na
escuridão. Os cachorros rosnaram e ameaçaram atacar o lúpus, que não se
importou.
Quando o primeiro cão avançou, o lobo no peito do russo rosnou.
Parecia que os cachorros podiam escutar os lobos, já que os cães se
assustaram e choramingaram. Dimitri abriu o portão e deixou que eles
fugissem na noite.
— Parado! — alguém gritou, apontando uma arma para o lúpus, que
não parou de andar. A pessoa não estava sozinha, mas aquele alfa foi o
único a pisar fora da varanda para mirar. Dois tiros vieram do muro,
acertando o alfa, que foi lançado para trás, sangue espirrando na neve.
Dimitri avançou sobre as pessoas, ele era muito mais rápido,
praticamente não tiveram tempo de se preparar ou revidar. Eram quatro
alfas, Dimitri socou o primeiro, atirou no rosto do segundo, desviou de um
ataque, girou o corpo puxando o terceiro e atirando três vezes em seu
abdômen e peito. O primeiro tentou agarrá-lo, mas jogou o terceiro em cima
dele e atirou algumas vezes nas costas do mesmo. Os tiros atravessaram o
corpo já sem vida e atingiram o primeiro alfa.
Em um minuto, todos estavam mortos, sangrando pelo chão.
O russo não esboçou reação nenhuma, tinha atirado sete vezes, mais
oito e teria que trocar o pente de munição. Chutou a porta, arrebentando-a,
mas não entrou. Escondeu-se atrás da parede enquanto os tiros voavam ali.
Foram muitos, diferentes pessoas e diferentes armas. Esperou o primeiro
que saísse para verificar e atirou em seu rosto.
Usando o corpo desse alfa de escudo, entrou na casa jogando o
corpo contra os atiradores, podendo atirar em outros. Rolou pelo chão para
escapar, esbarrando no cabo que deveria ser da internet, aquilo servia.
Arrancou-o da parede, causando barulho.
A casa estava completamente escura, sendo iluminada apenas perto
da janela pela parca luz da Lua, mas Dimitri era um lobo, com a visão
muito melhor. Enrolou o cabo na garganta de um alfa e o puxou para trás,
estrangulando-o. Tiros voaram a esmo, mas eles não viam nada e poderiam
se acertar.
Dimitri sabia onde Nowak deveria ter se escondido, mas precisava
do olho ou polegar de um dos seus comandantes. Gritos vinham de todos os
lados, os Barkov tinham entrado na casa, isso queria dizer que ao redor já
estaria limpo.
O lúpus soltou o alfa sem vida no chão e caminhou por entre a
confusão. Efim esfaqueava um alfa, Dimitri se abaixou do seu lado e, com
sua própria faca, retirou o olho do alfa que sangrava. Como ainda estava
vivo, gritou um pouco, mas Efim fez o favor de cortar sua garganta para
interromper o barulho incômodo.
O globo ocular estava sangrando, por isso o limpou na manta que
ficava no sofá. A confusão, apesar de menor, ainda ocorria à sua volta.
Tiros, gritos e pessoas morrendo. Os Barkov reviraram a casa, colocando o
que julgavam importante em saco, quebrando o resto.
Dimitri trocou o pente de sua arma, enquanto caminhava. Desceu as
escadas, mas antes de chegar no porão, derrubou uma estante falsa e deu de
cara com uma porta secreta. Socou a tampa do teclado e a puxou. Só abriria
com verificação de retina, por isso colocou o olho na frente, sendo lido pelo
laser. Quando a porta destrancou, soltou o olho no chão e pisou nele.
Oton Nowak, o temido traficante internacional, que nem a Interpol
tinha conseguido pegar, estava quase se mijando de medo. Sentado em um
canto, falando e prometendo coisas que Dimitri não fazia questão de prestar
atenção. Seria muito fácil levantar sua arma e atirar, um tiro na testa e tudo
aquilo acabaria, mas também acabaria a diversão muito rápido.
Cerca de vinte minutos depois, o lobo negro perseguia sua presa.
Nowak corria entre as árvores, respiração pesada com tanto frio. Mesmo
que o alfa não fedesse a medo, o que fedia e muito, ainda seria fácil seguir
seu rastro pelas pegadas na neve. Dimitri não fez barulho, o som de suas
patas no solo branco era quase nulo.
Quando Nowak, com lágrimas nos olhos, nariz vermelho e pele
machucada de frio, olhou para trás, só teve tempo de ver a enorme fera
negra pulando sobre ele. As presas e garras de Dimitri rasgaram a carne do
alfa.
O sangue escorria, colorindo de vermelho a neve. Roupas, pele e
carne rasgados e abertos, órgãos à vista e até ossos estavam quebrados. O
lobo negro era furioso e não media força. Ele não parou até ser quase
impossível reconhecer quem era aquela pessoa.
Os barulhos entre as árvores indicavam que não estava sozinho,
animais selvagens os observavam, à espera que Dimitri terminasse para
aproveitar o lanche gratuito. Com um último olhar sem expressão ou
sentimento, o lobo foi embora. Deixando que os animais selvagens
terminassem seu trabalho.
Cauê andava de um lado para outro no apartamento. Já tinha deitado
na cama, tentado assistir à TV, desligado a TV, tomado um banho, feito
pipoca, tentado assistir a um filme na TV da sala e desistido disso também.
Andou pelo apartamento e até descobriu onde eram os quartos de Vincenzo
e Aaron.
O único momento em que conseguiu parar um pouco foi quando
contou para suas amigas o que estava acontecendo. Não sabia se podia ter
feito isso, achava que não, mas, bem, ele nunca tinha dito que era bom em
guardar segredos.
— Quer que eu mande mensagem para André e Bruno? — Juliette
perguntou. Elas deveriam estar dormindo, mas acordaram quando ele ligou
e agora estavam conversando preocupadas, tentando acalmá-lo.
— Acho que sim, Dimi disse que precisa do apoio da prima deles.
— Imagina a cara deles, não nos falamos há mais de mês, do nada
eu aviso que está tentando confusão no mundo lúpus, do qual eu não faço
parte. — Juliette suspirou, mas estava mandando mensagens.
— Isso tudo é muito doido. — Chelsea bocejou. Elas estavam
tomando café para aguentar. — O que farão depois?
— Não tenho a menor ideia. Greg me disse que em breve teremos
que ir para Wolf’s Castle.
— E a menina? Teve atualização de como ela está?
— Luc disse que está a salvo, mas que irá demorar um pouco para
se recuperar. Nem consigo imaginar como foi para os pais dela a verem
morta na frente deles. — Cauê negou com a cabeça, tentando não pensar
naquilo.
— Seus planos de ir para as casas noturnas de Londres já eram, não
é? — Juliette brincou. — Nada de viagens para aproveitar baladas, bares,
praias paradisíacas ou qualquer outra coisa.
— Quando acho que os humilhados serão exaltados, somos
humilhados de novo. Brasileiro não tem sorte. — Revirou os olhos. — Mas
a filhote está bem, posso beber depois.
— Contou para sua mãe do seu alfa? — Chelsea perguntou.
— Nem precisei, Tainá já tinha me entregado, aquela traidora. Mãe
quer conhecê-lo e, como ninguém consegue ficar de boca fechada, já contou
para minha madrasta, que já falou para o meu pai. Ele me mandou
mensagem chateado porque eu não tinha contado.
— E aí?
— Inventei que faria surpresa para todos, que levaria Dimi
diretamente para ele conhecer, que Tainá que estragou tudo. Que só contei
para ela, porque Dimi e eu estamos comprando presentes para todos e eu
precisava saber o número de roupa dos meus irmãozinhos.
— Colocou a culpa toda nela? — Chelsea riu.
— Claro, ela me entregou, então virei a mesa. Meu pai me entendeu,
ficou do meu lado e disse que foi uma pena minha irmã ter estragado a
surpresa, mas me passou todas as informações dos meninos, agora tenho
que comprar presentes para eles. Onde que vou comprar roupas para duas
crianças indígenas na Rússia?
— E quando vai se demitir? — Juliette perguntou. — Samer já
perguntou várias vezes de você.
— Deve ser paixão incubada, não é possível. — Revirou os olhos.
— Se contarmos isso para seu alfa, será que Samer perde alguns
dentes? — a australiana questionou.
— Dentes? Ele perde a vida. Cauê acabou de contar que Dimitri o
deixou bem trancado dentro do apartamento para ir matar alguém com
tranquilidade. — A morena negou com a cabeça.
— Dimi disse que teremos de ir para o Reino Unido muito em
breve, mas não sei o dia. Depois que resolverem toda essa confusão, vou até
o escritório da companhia e resolvo isso.
— Não esquece de nos avisar quando for, queremos estar lá —
Juliette o lembrou, e ele suspirou.
Conversaram um pouco mais, mas elas tinham que descansar, já que
ainda teriam que trabalhar naquele mesmo dia. Cauê andou pelo
apartamento de novo, pegou mais uma blusa, agora uma de seu alfa, e
roubou chocolates. Tentou assistir a mais alguma coisa e voltou para uma
das suas séries brasileiras favoritas, “Entre Tapas e Beijos”.
Estava rindo das loucuras da Andréa Beltrão e da Fernanda Torres,
quando seu celular tocou. Achou que era uma das amigas, mas o número
era desconhecido. O estranho era que o código indicava que a ligação vinha
de São Paulo, no Brasil.
— Alô?
— Cauê Novaes? — a voz feminina perguntou.
— Depende, quem está falando?
— Perdão pelos meus modos, me chamo Alice Moretto, sou a líder
dos Moretto. Meus primos me contaram o que está acontecendo e que o
famoso Trio do Caos queria meu apoio.
— Ah, meio que é isso, sim. Mas é melhor falar com Dimitri, ele
saiu agora, mas já volta.
— Falarei com ele, mas achei melhor conversar primeiro com você.
— Comigo? Sem querer ofender, nem sou um lúpus.
— Ainda não, mas, pelo que Bruno me contou, você é soulmate de
Dimitri Barkov, certo?
— Sim.
— Então logo passará por todo aquele procedimento chato e
constrangedor de se apresentar ao Conselho e se tornará um de nós.
— Chato e constrangedor? — Engoliu em seco.
— Se bem que só a mordida já deve bastar. Enfim, queria saber
como está?
— Aqui está uma confusão, não tenho todas as informações.
— Não, Cauê, quero saber como VOCÊ está.
— Eu? Por quê?
— Sinceramente, não ligo muito para essas disputas europeias. Um
monte de alfas gananciosos brigando por território e poder. Estou muito
mais preocupada em reconstruir o que destruíram aqui e elevar os lúpus do
meu país. Porém sei que ter o Trio do Caos como aliado é algo que pode me
ser muito útil, principalmente porque envolve o futuro líder, o qual tenho
expectativas que me ajude em várias mudanças. Mas, acima de tudo, sou
muito protetora com meus conterrâneos. Se tem um brasileiro envolvido, no
caso você, me motiva ainda mais.
— Ah, isso é bem legal.
— A família Barkov está te recebendo bem? Alguém fez algo contra
você?
— A maioria é bem legal, mas a mãe de Dimi é uma vaca arrogante,
não confio muito nela, não. Tem também a namorada dela, Carolyn Irons,
que riu do meu sotaque. Claramente xenofóbica.
— Irons? Ela é algo do Alfa Irons.
— Sobrinha, mulher insuportável. Falando nele, estava aqui,
também é péssimo. Não me ofendeu direto, mas acho que só porque Dimi
estava comigo, senão teria falado bosta.
— Bom saber. Tem mais alguma coisa que quer contar?
— Acho que não, tem o primo de Dimi, mas é um idiota manipulado
pela Irina. Um chute no saco, e já estava choramingando.
— Você o chutou? — Cauê podia ouvir o riso na voz dela.
— Sim, também soquei e chutei Irina. Estavam gritando com Dimi,
e perdi a cabeça. Acabei de pensar que, talvez, não devesse ter contado tudo
isso. Mas, bem, já foi. Fazer o quê?
— Gosto da sua sinceridade. Por favor, peça para seu alfa me ligar.
O apoiarei no que precisarem, falarei com outros líderes da América do Sul.
Nós e as famílias africanas somos esquecidos pelo Conselho. Se tiver uma
chance de mudar algo no futuro, vou me agarrar a ela.
— Não se preocupe, Dimi pensa do mesmo jeito. Tenho certeza de
que podemos conversar e chegar ao melhor acordo.
— Obrigada, Cauê, sinceramente gostei de você. Venham para o
Brasil o mais rápido possível, sejam meus convidados. Podemos ter um
jantar ou uma festa para te apresentar aos Moretto.
— Estou necessitado de comidas brasileiras, carne de sol, feijoada,
couve refogada, maionese, sarapatel, churrasco, cuscuz, tapioca... — o
ômega disse sonhador. — Se tiver um Alceu Valença, Zé Ramalho, Fagner
ou Lenine tocando, eu agradeço.
— Claro, verificarei a agenda deles e trago quem estiver disponível.
— O quê? — Engasgou-se. Não tinha sido isso o que ele quis dizer.
— Assim que marcarem a data da viagem, me avise. Foi muito bom
conversar com você.
— O mesmo — balbuciou enquanto desligava.
Ficou olhando para o telefone, o que tinha acontecido?

Estava deitado na cama, assistindo a mais um episódio da série,


enrolado no cobertor, quando ouviu a porta ser aberta. Sentou-se assustado,
se não fosse seu alfa, não teria como fugir e nem tinha com o que se
defender. Mas então sentiu o cheiro de casa e sorriu.
Pulou da cama e correu quarto fora, Dimitri estava subindo a escada
que dava para o corredor dos quartos. Ele sorriu quando viu o ômega e
Cauê se jogou em seus braços, não se preocupando se podiam cair. Mas não
tinha problema, o alfa nunca deixaria que algo ruim acontecesse com seu
ômega.
— Você está bem? — Cauê perguntou.
— Agora estou. — Dimitri sorriu, mas parecia um pouco cansado.
— Vem, um banho quente resolve quase tudo.
O ômega o puxou para o banheiro e o alfa se deixou ser conduzido.
Cauê colocou a banheira para encher, estava louco para usá-la, aquele
momento parecia perfeito. Fez carinho em Dimitri e começou a tirar suas
roupas dele devagar.
O russo estava atento a todos os movimentos do soulmate. Mesmo
sendo muito lindo e sexy, e tendo aquele sorriso de canto no rosto, ele
estava apenas cuidando de si e isso emocionou o alfa.
Cauê foi delicado, fez carinho e beijou o rosto de Dimitri várias
vezes, eles entraram na banheira e relaxaram um pouco. O ômega estava
deitado no peito do alfa e fazia carinho. Dimitri entrelaçou os dedos com os
de Cauê, a diferença de tons de pele deles era óbvia, e o alfa a achava linda.
Como yin e yang, noite e dia, um equilíbrio perfeito.
— Falei com meu pai, minha irmã me entregou, agora ele quer te
conhecer. — Cauê suspirou. Ele estava fazendo aquilo de distrair o alfa.
Dimitri não sabia se ele fazia isso conscientemente, mas o ômega sempre
cuidava dele.
— Depois de resolvermos tudo isso, podemos ir para o Brasil,
merecemos uma viagem de férias sem sermos interrompidos por algum
drama.
— Depois de resolvermos isso, temos que resolver a questão sobre
meu emprego, aí podemos viajar — o ômega o corrigiu e o alfa escondeu
seu rosto no cabelo do soulmate. Ele tinha um sorriso feliz no rosto.
— Preciso pedir sua mão para seus pais?
— Não se atreva a me fazer passar por essa vergonha. — O
brasileiro semicerrou os olhos para o russo, que riu. — Se bem que a mãe é
capaz de me trocar por uma garrafa de tiquira e duas de cachaça.
— Aparentemente, Lucia me trocaria por você a qualquer minuto.
— Não leve para o lado pessoal, é que é muito difícil não me amar
— Cauê provocou, dando de ombros. Dimitri o abraçou apertado e beijou
seu rosto várias vezes.
— Devo concordar com isso.
— Óbvio que deve — o ômega respondeu, virando-se e ficando
sentado no colo do alfa. Cauê abraçou Dimitri pelo pescoço, as mãos do
russo acariciavam as costas de seu soulmate.
— Creio que nunca terei como expressar como você é importante e
tudo que fez por mim, mas eu te amo com tudo que sou. Vou passar minha
vida te provando isso — o alfa sussurrou, observando os olhos brilhantes de
seu ômega.
— Isso é um pedido de casamento estranho? — O brasileiro riu.
— Talvez. — O russo sorriu e encostou seus lábios nos de Cauê. —
Também é uma promessa.
— Menos de dez dias não é muito cedo para um pedido de
casamento? — Apesar de brincar, Cauê não conseguia parar de sorrir.
— Te esperei por muitos anos, não quero esperar mais nem um
minuto. Você é meu soulmate e quero passar o resto da minha vida com
você. Acordar e dormir com você todos os dias.
— Então melhor saber que sou um péssimo colega de quarto, ronco
mesmo e não nego, ladrão de cobertas e tenho espasmos durante a noite, vai
levar uns chutes.
— Tudo bem, consigo lidar com isso. — O russo sorria tanto quanto
o brasileiro.
— Vai ter que aprender português, porque às vezes fico cansado e
não quero pensar em outro idioma. Quero poder xingar alguém de féla da
puta, e não de son of a bitch. Em inglês não tem o mesmo brilho.
— Já estava nos meus planos, mas vou me dedicar para aprender
mais rápido.
— Eu falo alto, rápido, sou fofoqueiro, minhas amigas vão saber de
tudo, inclusive já sabem do seu excelente desempenho sexual. Sou
barraqueiro, normalmente arrumo briga sem pensar, outras é porque quero
mesmo e posso mudar de humor mais rápido do que troco de roupa.
Também como bastante, sou preguiçoso, tenho gosto duvidoso para filmes e
programas de TV. Aparentemente meu caráter também é, porque sei que
saiu daqui para matar algumas pessoas, mas o que me importa é que voltou.
Então, tô de boa com a violência, desde que não seja direcionada a mim ou
quem amo.
— Isso é para me fazer desistir? — Dimitri perguntou rindo
baixinho.
— Não, é para você estar ciente de todos os termos de uso, para não
reclamar depois.
Dimitri riu alto e beijou seu soulmate, ele nunca estivera tão feliz,
mesmo no meio do caos. Eles terminaram o banho, mesmo que demorassem
porque não conseguiam parar de se beijar. Mas como a água começou a
esfriar, saíram da banheira e foram para cama, deitados debaixo das
cobertas, com as pernas enroladas, tocando-se e se beijando.
— Ah, Alice nos convidou para jantar na casa dela quando formos
para o Brasil. Será que não tem problema levar Juliette e Chelsea junto? —
Cauê comentou.
— Espera, quem nos convidou?
— Alice.
— A Moretto?
— Sim, ela é bem simpática, gostei dela — respondeu distraído.
— Quando falou com ela? — perguntou aturdido.
— Ah, verdade, esqueci de contar. Ela me ligou, queria saber como
eu estava e se todo mundo me tratou bem aqui. Posso ou não, depende da
sua reação, ter falado mal de algumas pessoas.
— Amor, por favor, conte a história do início.
— Claro, outro defeito, me perco no que estou falando. Então, eu
disse que Juliette é amiga do André e do Bruno. Contei para ela o que
estava acontecendo, ela mandou mensagens para eles dizendo que tinha
acontecido alguma coisa, não contou o que era, mas que o Trio do Caos,
especificamente você, queria falar com Alice sobre apoio e tal. Eles
perguntaram como ela sabia de tudo isso, e ela disse que eu, o melhor
amigo dela, era seu soulmate. Ela passou meu número para eles, que devem
ter passado para Alice, que me ligou.
— Eu só passei algumas horas fora.
— Algumas horas para um brasileiro, principalmente um
nordestino, são suficientes para causar estrago. — Cauê deu de ombros.
Dimitri entendeu que aquele era um daqueles momentos que é melhor só
aceitar e seguir em frente.
— E o que ela falou?
— Perguntou o que eu te disse, conversamos um pouco sobre isso.
Ela disse que gostou de mim, que sempre apoia os brasileiros, então ficaria
do meu lado. Que já aceitaria apoiar vocês e que tem contato com as
famílias sul-americanas e, pelo que entendi, africanas. Ela quer mudar
algumas coisas e ter vocês e o futuro líder como aliados é importante.
Concordo com ela, o poder lúpus está muito centrado na Europa, não é à toa
que a Ásia é, praticamente, isolada.
— Como assim?
— Você me falou dos conselheiros, de doze, quantos não são
europeus? Quantos são de outra etnia que não seja branca? As lutas que a
América Latina tem são diferentes das africanas, que são totalmente
diferentes das europeias. Quando tratam tudo da mesma forma, ignoram as
necessidades de todos. Deveriam fazer algum tipo de acordo com esses
países, entender melhor do que cada um precisa.
— Você acabou de mudar tudo! — Dimitri disse animado.
— Para melhor? — perguntou rindo.
— Sim, muito. — O russo beijou seu soulmate e pegou o celular.
Dimitri:
Cauê acabou de me dar ideia de como conseguirmos o máximo de famílias
nos apoiando

Vincenzo:
Perdão, husky, meu filhote derrubou minha bola de cristal, que caiu e
quebrou, então não consigo adivinhar do que está falando sem que você
EXPLIQUE

Dimitri:
Stronzo!
Aaron tem razão, precisamos do maior apoio possível de fora do Conselho,
já que eles não nos apoiarão. Choi só estará do nosso lado porque somos
nós, qualquer outro ele deixaria morrer. Então já temos apoio de quase
toda Ásia, o que precisamos é focar em todas as famílias latino-americanas
e africanas. Faremos acordo com eles, conversaremos com Edward para
que chame alguns deles para o Conselho, investir em mais empresas deles

Vincenzo:
Minha distribuidora está disponível para qualquer coisa que eles produzam
e queiram exportar. Entraremos em uma enorme briga com as famílias
tradicionais, mas é o que eu digo, quanto mais caos, melhor

Dimitri:
Se todos soubessem que você é a verdadeira mente maligna entre nós três e
que adora fazer jogos e torturas mentais, não teriam tanto medo de Cane
Pazzo

Vincenzo:
Mas, como ninguém sabe, continuam achando que sou só um lúpus muito
divertido, debochado e que anda com dois loucos

Aaron:
A ideia do seu ômega é muito boa. Além de mais corajoso, é mais
inteligente do que você
Lions Bank está disponível para esses acordos, e não vejo problema
nenhum em conseguir que eles sejam os novos conselheiros. Edward
pretende trocar quase todos quando assumir e colocar mais diversidade
mesmo. Podemos garantir pelos menos dois lugares como conselheiros
Falei rapidamente com Edward, ele está muito cansado, devemos ir para
Wolf’s Castle em menos de uma semana. Eles só querem garantir que sua
filhote irá se recuperar bem. Então tudo precisa estar pronto antes de
chegarmos lá

Vincenzo:
Falei com Choi, Greg e eu já embarcamos, estamos indo para Seul onde
teremos uma reunião com ele. Adiantei um pouco do assunto, sem entrar
em detalhes, ele parece disposto a nos ajudar. Mas como ele detesta os
outros conselheiros tanto quanto nós, não é uma grande surpresa

Dimitri:
Nowak e seu grupo não existem mais, queimamos as propriedades, levamos
tudo de valor e entregaremos para as famílias das vítimas dele que
descobrimos. Yuri e Pasha estão apagando qualquer rastro dele, incluindo
qualquer ligação com a família do ex de Luc. Avisei nosso contato da
Interpol, tudo será registrado como vingança de um grupo rival
Alice Moretto está do nosso lado e falará com as famílias que têm contato

Vincenzo:
Matou todo mundo e ainda teve tempo de conversar com ela?
O que fez? Ligou entre um cadáver e outro?

Dimitri:
Cauê falou com ela, longa história, o importante é que estamos adiantados
nisso
Amanhã ligo para ela e para Zinaida Chidecasse, a alfa líder de Angola

Aaron:
Edward e Luc estão descansando, conversei com o resto do bando e
estamos nos preparando. Apesar de estar saindo como planejei, não tenho
certeza se tudo sairá como nos meus planos quando estivermos em Wolf’s
Castle. Mas não me importo em esmagar nossos inimigos como formigas
Vincenzo:
E quem se importa?
Se algumas gargantas precisam ser cortadas, faremos isso sem problemas
Cauê tinha acordado, mas Dimitri ainda dormia. Já tinha se passado
três dias. Eles tinham que fingir que tudo estava bem, mesmo que reuniões
secretas por videochamadas e planejamentos estivessem acontecendo.
Dimitri tinha conversado com Alice Moretto, que reiterou tudo o
que havia dito para Cauê. Explicou os motivos dela e, pelo que ouviu falar
de Edward Knight, gostava dele. Apoiaria no que pudesse e tinha entrado
em contato com outras famílias latinas. A cartada que, provavelmente, teria
um conselheiro sul-americano foi lançada. Alice disse que mesmo que não
fosse ela, esperava que a promessa fosse cumprida.
Ela também refez o convite para receber Dimitri e Cauê em sua
casa, o que deveria acontecer depois da viagem para Wolf’s Castle, caso
tudo saísse como o esperado.
Atualmente existiam dois conselheiros americanos no Conselho,
Santiago Pérez, da Colômbia, e Alejandro Hernandez, do México. Mas
nenhum se importou muito em trazer benefícios para a América Latina, só
pensando em seus próprios negócios. Ainda mais que Hernandez mal ficava
no México e a família Pérez vinha perdendo poder e influência, o que os
segurava ainda era o cargo de conselheiro. Mas era quase um consenso que
a família lúpus Torrado seria a nova líder do país, não de forma pacífica
como os Moretto tinham assumido o Brasil.
— Diga à Alfa Torrado que Vincenzo, Aaron e eu a apoiaremos para
assumir o cargo de líder do país. Seja na diplomacia ou no operacional —
Dimitri garantiu a Alice, que sorriu.
— Eu direi.
Eles sabiam o que a palavra “operacional” significava ali. E todos os
lúpus sabiam o que ter o “Trio do Caos” do seu lado na hora se lidar com
alguma coisa “operacional” realmente significava.
O russo também tinha conversado com Zinaida Chindecasse, a alfa
líder da família angolana. Alice e ela tinham ficado próximas, já que
planejavam diversos acordos que pudessem beneficiar tanto os dois países,
como boa parte da África e América Latina.
— Em uma ocasião normal, eu me manteria de fora. O Conselho
parece não se importar com meu continente inteiro, só se lembram de nós
quando precisam de algo — Zinaida disse na reunião por vídeo com
Dimitri,
— Sinto muito, não posso falar pelos outros conselheiros, mas meus
amigos e eu ficamos presos em nossas próprias lutas. Mudaremos isso a
partir de agora.
— Me encontrei com Edward Knight uma vez, antes mesmo de
assumir minha família. Conversei com ele em Londres, e ele me ofereceu
ajuda no que eu precisasse, foi o primeiro a fazer isso e cumprir. Por
intervenção dele, Aaron Lions veio até nós, e tivemos todo o investimento
de que precisávamos. Anos depois, tive alguns problemas. Edward mandou
alguns integrantes do seu bando, liderados por Liz Lopez, e tudo foi
resolvido. Tenho admiração por ele e farei de bom grado.
— Obrigado.
— Não sei o que o famoso “Trio do Caos” está planejando, mas sei
que será grande, talvez histórico. Vocês estão buscando por muito apoio,
porque sabem que precisarão. Isso me fez acreditar que o quer que esteja
acontecendo, é só o início de algo. Fazer parte da mudança que virá, me
agrada. Mas saiba que se não cumprirem sua parte no acordo, terá guerra.
— Lúpus não voltam atrás em suas promessas, você sabe disso.
Confesso que ficamos omissos, mas agora as coisas mudarão.
Sinceramente, nem eu sei direito o que Aaron está planejando, mas ele
sempre tem um plano, e confiamos nele.
— Sempre achei engraçada a ligação dele e de Edward. — Zinaida
sorriu. Ela era uma alfa muito bonita, pele retinta e o tipo de sorriso
impossível de não se admirar. — Todos dizem que são como irmãos, mas
me parecem mais pai e filho.
— Se Aaron fosse um pouco mais velho, até pediríamos que eles
fizessem teste de paternidade. — Dimitri sorriu. — Richard odeia como
eles são parecidos.
— Sinceramente, qualquer coisa que irrite Richard Knight me faz
muito feliz. — O sorriso de canto fez Dimitri entender por que Alice e ela
se tornaram amigas e que elas se dariam muito bem com o “Trio do Caos”.
Nesse meio tempo Cauê estava tentando aprender o máximo sobre
os costumes Barkov e até tinha aprendido novas frases em russo. Pelo
menos já conseguia mandar alguém ir se foder, o que, usando de base os
acontecimentos naquele jantar, seria útil.
Mas no momento o ômega estava deitado, seu alfa dormia tranquilo
com a mão em sua cintura. Os últimos dias foram tensos e cansativos,
apesar de se beijarem o tempo todo e terem momentos íntimos, não tinham
realmente transado e o brasileiro não conseguia pensar em outra coisa
quando seu corpo nu estava tão próximo do corpo nu e quente de Dimitri.
Devia ser muito errado pensar em sexo quando tudo aquilo estava
acontecendo, porque uma menina de seis anos tinha quase morrido... Se
bem que ela estava bem... Mas os pais teriam que arcar com as
consequências das escolhas para salvá-la... Eles estavam a oito horas de voo
de distância, faria diferença para eles?
— Luna — murmurou, ajeitando-se na cama.
Dimitri, ainda dormindo, também se ajeitou. Abraçou o ômega mais
apertado, seu peito pressionado nas costas do ômega. Tanto que o brasileiro
sentia cada respiração do russo. O problema é que o pau estava bem na
bunda de Cauê, que tentou pensar em qualquer outra coisa, mas sem
sucesso.
Será que Greg e Luc também passavam por isso?
— Bom dia — Dimitri murmurou, em português, com voz rouca.
Ele também estava aprendendo a língua do soulmate.
— Oh, minha Luna. — Cauê arrepiou com a voz do russo.
O alfa percebeu e sorriu, beijando a nuca do ômega, que tremeu um
pouco em seus braços. A pele dele já era bonita, mas assim, arrepiada e
sensível ao seu toque, era ainda mais. Ele não conseguia parar de tocar seu
soulmate.
Dimitri aproximou o rosto, passando seu nariz da base do pescoço
até a nuca do ômega, inalando o delicioso aroma de cacau com maracujá,
então beijou várias vezes o local. Seu lobo implorando para o marcar, mas
ainda não era o momento.
Sua mão fazia carinho na pele nua, passando por sua cintura,
abdômen, voltando para o quadril, então aquela bunda que o deixava louco.
— Dimi... — Cauê sussurrou, mordendo o lábio para não gemer.
Não tinham feito nada, e já estava assim.
— Estou aqui, amor — o alfa murmurou em seu ouvido, os dentes
raspando sua pele.
— Quero você — disse, rebolando um pouco, sua bunda
pressionando o pau do alfa, que já estava endurecendo muito rápido.
— Que bom — Dimitri suspirou, sua mão entre as pernas do ômega
—, porque eu sempre quero você.
A mão do alfa o acariciava, movimentando o pau do brasileiro,
construindo o prazer com delicadeza e atenção, mas não era isso que Cauê
queria. Queria áspero, duro, queria chorar com o prazer.
— O que foi? — O russo escondeu o riso com o bufo de frustração
do soulmate.
— Eu amo o Dimi, mas quero a outra versão.
Dimitri puxou o ômega, virando-os na cama rapidamente e ficando
sobre ele. Os rostos na mesma altura, os paus se tocando.
— Qual versão?
— O dominador — Cauê disse sem medo do olhar faminto que
recebia.
— Cuidado com o que pede — o alfa o avisou, beijando o pescoço
do seu soulmate.
— Não se preocupe, sou um garoto crescido, sei o que quero. — O
ômega mexeu o quadril, e os dois gemeram.
— Não diga isso quando não sabe o que virá.
— Então me deixe descobrir.
— Acabamos de acordar
— Nunca ouviu falar de sexo matinal?
— Sexo matinal é uma coisa, outra é fazer uma cena de BDSM. —
O alfa fez carinho em seu ômega provocador.
— E qual seria o problema?
— O maior deles é que você ainda não está acostumado com esse
estilo.
— Te disse que não é a primeira vez que... — a fala do ômega foi
interrompida pelos seus gemidos, pois o alfa segurava seu pau, acariciando-
o.
— Você não entendeu, amor. — Dimitri o puxou pelo cabelo,
fazendo-o arquear o corpo, deixando seu pescoço totalmente exposto. —
Você não está acostumado com o MEU estilo.
— Está com medo de eu me assustar ou de não conseguir me
dominar?
O brilho no olhar do alfa deu a resposta que Cauê queria. Ele tinha
atingido o ego do lado dominador. Na mesma hora o russo se levantou e foi
até o closet, voltando rapidamente com algumas coisas na mão, que ele
deixou cair na cama.
— Na cama você me chama de mestre, entendeu? — perguntou,
segurando o rosto do seu ômega. Não de um jeito delicado, mas mostrando
quem mandava ali.
— Sim — respondeu, lambendo o lábio.
— Qual sua palavra de segurança?
— Avião.
— Tenha isso em mente, porque eu só paro depois das lágrimas.
Ele pegou o controle do ar-condicionado deixando a temperatura no
mais frio possível, sendo incômodo para o ômega. Quando Cauê tentou
puxar uma das cobertas, Dimitri as jogou para fora da cama. O brasileiro
não gostava de frio e o alfa sabia daquilo, por isso o russo gostou de ver a
pele arrepiada.
— Vou te deixar tão quente, que o frio não será mais um problema.
De joelhos, agora.
O ômega obedeceu prontamente. O alfa prendeu um pequeno plug
no pau do brasileiro, que não entendeu bem o motivo, até que o aparelho
começou a vibrar, enviando espasmos por todo o corpo.
— Você faz apenas o que eu mando, não pode se mexer sem minha
permissão, mesmo que seja um movimento pequeno. Mas, como estou
pegando leve hoje, vou te deixar gemer à vontade — o russo disse por trás
do ômega, seus corpos colados. O ômega suspirou concordando, mas o alfa
o segurou pelo pescoço, apertando um pouco e o fazendo engolir em seco.
— Não vai agradecer ao seu mestre? Acabei de fazer uma gentileza e você
não tem a educação de me agradecer?
— Obrigado... — gemeu, porque os dedos da outra mão estavam
rodeando sua entrada, penetrando devagar.
— Obrigado o quê?
— Obrigado, mestre. — Ofegou.
— Isso, bem melhor. — Beijou delicadamente o pescoço do ômega.
O que contrastava com o aperto no pescoço e os dedos o abrindo e
provocando.
O frio ainda era um incômodo, mas cada vez menor. O alfa estava
certo, o ômega se sentia muito quente. O plug preso em seu pau vibrava,
estimulando-o, mas não era o suficiente, precisava de mais. Era como se o
prazer fosse quase bom, mas faltasse algo. Uma pequena faísca, e entraria
em combustão, mas ela não vinha.
— Viu o que acontece quando se duvida de seu mestre? — Dimitri
murmurou quando se ômega começou a choramingar por mais.
— Por favor..., eu preciso...
— Eu sei do que precisa — o alfa o interrompeu.
Soltou o plug, mas o manteve em sua mão. Colocou lubrificante em
cima dele e aumentou a velocidade no máximo. Cauê pensou em tentar
fugir, mas era tarde demais. A mão em seu pescoço estava de volta,
mantendo-o no lugar. A mão com o plug envolveu seu pau, masturbando-o.
Se antes faltava algo, agora era demais.
Cauê estava de joelhos na cama, seu alfa atrás, com o corpo colado
no seu. O frio do quarto não incomodava mais, sua pele parecia estar
pegando fogo. A mão direita de Dimitri segurava o ômega pelo pescoço,
deixando a respiração entrecortada, apenas o suficiente para não desmaiar,
mas não o bastante para respirar direito. A mão esquerda masturbava Cauê,
o pequeno plug vibrando em velocidade alta, sendo pressionado contra o
pênis do brasileiro de modo quase punitivo.
As vibrações e os movimentos da mão do alfa, deslizando
facilmente pelo seu pau por causa do lubrificante, o pau do alfa raspando
em sua entrada, mas sem penetrar, e as coisas sussurradas no seu ouvido,
quase o faziam chorar.
— Por favor — implorava. Precisava gozar, sentia seu corpo
implodindo e queimando, precisava do alívio.
— Quer gozar? Mas não me pediu para te mostrar minha versão
Dom? Não queria sentir um pouco do que podemos fazer juntos? — o alfa o
provocava. A voz baixa e rouca, direto no ouvido. Os dentes e lábios pela
sua pele. — Não está se sentindo bem?
— Preciso... gozar... Eu... não... aguento... mais...
— Não aguenta? Então diga sua palavra se segurança e eu paro. Não
é isso que quer? Que eu pare?
— Não... Dimi...
— Quer algo de mim e nem me chama pela sua forma correta? — O
russo aumentou o movimento, o brasileiro gemia. Mas quando o ômega
estava no limite, diminuiu o ritmo, fazendo-o gritar frustrado e querer se
debater. — Fale direito comigo.
— Mestre! — Cauê exclamou ofegante.
— Bem melhor — o alfa disse de um jeito falsamente doce e beijou
os cabelos suados de Cauê. — O que meu lindo Sub quer?
— Gozar...
— E como você quer? Seja claro.
— Mestre, por favor, me foda até que eu goze! — exclamou com
raiva.
— Viu? Não é tão difícil.
Dimitri soltou o ômega, que caiu de bruços no chão. Cauê já estava
ofegante e mal tinha forças. Tentou se levantar, mas o máximo que
conseguiu foi se apoiar nos cotovelos.
O alfa admirou por um momento seu soulmate tão entregue e
obediente, mesmo a contragosto. As mãos espalmaram as nádegas perfeitas
e macias, a entrada brilhante de lubrificação, quase implorando para ser
penetrada. Inclinou-se e lambeu, sentindo o gosto do ômega que gemia e
ofegava, rebolando na língua do seu alfa, procurando por mais contato.
Por mais que o gosto do seu soulmate fosse inebriante, o objetivo ali
não era torturar seu ômega. Pelo menos não naquele dia. Então precisava
dar o que ele queria. Penetrou-o com cuidado, indo aos poucos, avançando
lentamente e assistindo cada segundo. Observar a entrada engolindo seu pau
era um show à parte, quase o fazia perder o controle.
Quando sentiu o pau do alfa totalmente dentro de si, Cauê voltou a
respirar. Dimitri fez um movimento pequeno e curto, só para testar se o
ômega estava bem, e teve um gemido de prazer como resposta. Então ele
começou a aumentar a velocidade e força, procurando e acertando
exatamente o ponto que fazia as lágrimas se formarem nos olhos ômega e a
respiração falhar.
Cauê não sabia dizer o quanto gemeu, gritou, ficou sem respirar e
ofegou. Era muita coisa ao mesmo tempo. Quando tentou tocar seu próprio
pênis, o alfa puxou as mãos do ômega e as segurou em suas costas,
fazendo-o ficar de cara no colchão.
Estava completamente entregue e à mercê do seu alfa. Tinha algo
muito excitante naquilo, o russo o imobilizou, podia fazer qualquer coisa
com ele, o usando para o prazer. O poder estava completamente e isso
aumentava o tesão.
— Você tem permissão de gozar — Dimitri disse, fazendo carinho
nas costas do ômega, que começou a agradecer, sem conseguir se controlar.
Ele gozou logo depois, soluçando de tão forte que foi. Sua testa
estava encostada no lençol, lutando para voltar a respirar. O alfa gozou,
respirou fundo e saiu do ômega com cuidado, deitando-se do seu lado e o
puxando para seus braços. Ficaram um tempo ali, enquanto as últimas
ondas de prazer iam embora.
— Se isso é o seu leve, temos que terminar nosso relacionamento
agora — o ômega murmurou, se aninhando ao alfa, que riu alto.
— Eu te avisei, você que continuou pedindo.
— Pedi uma amostra de como você é como dominador, não de como
é ser atropelado por caminhão — resmungou.
— Sinto muito, mas é difícil não me empolgar com você gemendo
meu nome.
— Você não parece sentir.
— É, não sinto. — O alfa o beijou.

Cauê acordou horas mais tarde, Dimitri tinha saído para resolver
algumas coisas e o ômega tinha combinado com Tatiana de sair um pouco.
Antes de deixar o ômega dormir, o alfa o fez se hidratar e se alimentar, ele
cuidava muito do soulmate, o que fazia o brasileiro sorrir.
Enquanto se vestia, depois de um bom banho quente para aliviar as
dores no corpo, trocou mensagens com as amigas e com as irmãs,
atualizando das fofocas. Até estava conversando com Levi, o ômega de
Alice, ele era um cara muito legal e como Cauê também era meio nerd, os
dois tinham virado amigos rapidamente.
— Garfield! — Dimitri exclamou, animado. O ômega tinha
mandado fotos da meia do dia, e o alfa fez questão de ligar para falar o
quanto achou bonito. Foram essas pequenas coisas, além do sexo
fenomenal, que ganharam o coração de Cauê.
Ah, claro, também tinha o fato de que eram almas gêmeas
escolhidas por Luna para ficarem juntos pela eternidade.
— Hoje me sinto como ele, preguiçoso e com vontade de voltar para
a cama.
— Também quer uma lasanha?
— Até aceito, mas queria mesmo era um baião de dois, com pargo
frito, um limãozinho e paçoca — o ômega disse, sonhando com a comida.
— Paçoca? — o russo tentou falar, o que brasileiro achou fofo. — O
doce?
— Não. — Riu. — No Ceará, a paçoquinha é o doce, a paçoca é um
tipo de farofa.
— Farofa? — perguntou confuso, o que fez o outro rir de novo.
— Esquece, quando formos para o Brasil, explico melhor.
— Falei com Boris e Efim, quando sairmos de Wolf’s Castle
podemos ir direto para o Brasil. Alice disse que devemos ir direto para São
Paulo para encontrá-los, ela convidou algumas famílias de outros países
para conhecermos.
— Acho que o nosso jantarzinho informal acabou de virar um
encontro diplomático. Mas temos que passar na Espanha antes.
— Sim, já falei com Vincenzo, nos encontramos em Manchester,
vamos para Wolf’s Castle juntos. Depois eles irão conosco para Espanha e
vamos para o Brasil.
— Você e Vincenzo junto do meu chefe, claro, por que não?
— Pense pelo lado bom, provavelmente Cane Pazzo não irá junto.
Tatiana levou Cauê para almoçar em seu restaurante favorito.
Apesar de não ter achado ruim, poucas coisas eram do tipo que ele comeria
de novo. Mas elogiou tudo para ser educado, deixando-a feliz consigo
mesma. Encontraram Aleksei, o assistente, que era um beta muito
simpático, e Cauê tinha gostado.
O beta entregou a ele o novo cartão de crédito. Era preto, com o
símbolo dos lúpus e o logo do Lions Bank. Aleksei explicou que era um
cartão internacional, podendo ser usado em quase todos os países. Falou de
mais vantagens e coisas assim, mas Cauê só reparou no nome escrito: Cauê
Barkov.
Era isso, ele era um Barkov.
O ômega de Dimitri Barkov.
Quando chegaram aos escritórios dos Barkov, Aleksei os levou para
o último andar. Ele estava explicando como ali era apenas o “centro de
operações” das empresas, mas tinham negócios espalhados pelo mundo
inteiro. O principal ramo era a mineração, era dali que vinha a maior parte
da fortuna, mas que a rede de hotéis tinha aumentado e muito o
faturamento, sem contar os investimentos menores.
Cauê até pensou em dar uma passada no escritório da administração
dos hotéis, ele era formado em hotelaria e turismo, talvez tivessem uma
vaguinha sobrando, já que o emprego de comissário não existiria em breve.
— Alfa Barkov está em reunião com Alfa Ivanov, da Bielorrússia.
Estão selando um acordo de paz e comercial — Aleksei explicou.
Em um corredor havia vários quadros com fotos de alfas, todos com
sobrenomes Barkov. Tatiana explicou que era a linha de sucessão dos
Barkov, cada foto era um alfa que foi líder da família.
Mesmo que sua foto fosse de cerca de dez anos antes, Dimitri
continuava tão lindo quanto no dia que havia sido tirada, talvez até mais.
Cauê sorriu com isso, ele era um alfa muito bonito e todo seu. A foto
anterior era de Irina, não aquela carcaça fria e arrogante, parecia alguém
feliz. Mesmo que não sorrisse para a foto, já que nenhum outro sorria, ela
tinha um brilho no olhar e uma leveza de quem gostava da vida.
— Essa foto foi tirada quando ela assumiu, ela era casada com tio
Rafail, pai de Dimitri. Não o conheci, mas meu pai disse que ela o amava
muito. Que ficou desse jeito depois que Rafail e Yelena morreram —
Tatiana contou.
— Não consigo imaginar a dor de perder seu soulmate e sua filha
pequena, imagino que isso deve te destruir por dentro. Mas não é desculpa
para passar décadas descontando toda sua raiva no outro filho. Ela nunca
entendeu que assim como ela perdeu quem amava, Dimitri perdeu todos de
uma vez, incluindo ela?
— Meu pai diz que desde o momento que ela soube do acidente, não
se importou com mais ninguém, como se tivesse morrido junto.
Ele tinha muito mais o que dizer, mas preferiu guardar para despejar
todo seu ódio por Irina no grupo com as amigas. Elas o entenderiam e,
mesmo que nunca tivessem encontrado a alfa, também a odiariam.
— O que é isso? — perguntou, apontando para a placa que tinha três
nomes e datas ao lado.
— São líderes que desistiram, suas fotos são retiradas, e seus nomes
vêm parar aqui.
— Sem honra e sem glória — Cauê comentou, achando aquilo um
grande exagero. Não sabia por que aqueles alfas tinham feito isso, mas
conhecendo as tradições e alguns membros da família, não julgava
ninguém.
— A reunião já está acabando — Aleksei os avisou.
Eles voltaram para a recepção daquele andar, sentando-se perto da
mesa do beta. Estavam conversando, Cauê contava algumas coisas sobre
seu país, quando uma porta se abriu, mas não era da reunião e nem era
quem ele esperava. Carolyn passava por eles, acompanhada de uma ômega
e do pai de Kirill.
— Trouxe essas coisas para Dimitri — Carolyn disse, apontando
para mesa de Aleksei, onde a ômega, que devia ser sua secretária, depositou
várias pastas. — Preciso da resposta até semana que vem.
— Perdão, senhorita Irons, mas Alfa Barkov tem uma viagem
marcada em poucos dias, depois continuará as férias que foram
interrompidas — o beta explicou.
— Mal chegou e já vai viajar. — Carolyn revirou os olhos
dramaticamente. — E quem cuidará disso?
— Posso colocar na lista de prioridades ou pedir para alguns
responsáveis pelo setor verificarem.
— Deixa, peço para Kirill resolver isso para mim — ela disse em
um tom arrogante.
— Senhorita, se não for algo relacionado a segurança, não é o Alfa
Kirill o responsável. Mas posso falar com...
— Eu resolvo isso — interrompeu ríspida. — Certeza de que Kirill
fará isso por mim.
— Com certeza — o pai dele concordou.
— Você não almoçou ainda? — Cauê perguntou, e todos olharam
para ele.
— O quê?
— Quando estou com fome também fico um pouco mais grosseiro
do que deveria. Então, se isso é fome, deveria comer alguma coisa antes de
achar que pode tratar alguém desse jeito. Agora, se não é fome, deveria
procurar terapia mesmo.
— Como se atreve a falar assim comigo?! — gritou, vermelha de
raiva.
Desde o jantar, não tinham tido nenhum tipo de interação com Irina
e Carolyn, e Cauê achou que foi pouco.
— Do mesmo jeito que você se atreveu a falar com ele desse jeito
estúpido.
— Mas ele é um beta que trabalha para os Bakov, eu sou da família.
Sabia que é dever de todos os lúpus trabalharem para que sua família
prospere? Mas como esperar que você saiba alguma coisa, sendo que...
— Por Zeus, cala a boca! — Cauê falou alto. — Parece um ganso
grasnando, chata pra caralho.
— O quê?
— É isso mesmo, chata pra caralho! — repetiu. Todos em silêncio
os olhando, a copeira e o faxineiro até fingiram trabalhar ali perto para
assistir. — Se todos trabalham para suas famílias, volta para a Irlanda do
Norte e deixa a gente em paz, que merda. Ninguém liga para você.
— Seu...
— Seu o quê? Ômega? Ômega do líder? Porque você se gaba tanto
de ser a pessoa que Irina come, mas o líder da família é Dimitri, e o ômega
dele sou eu! O que isso quer dizer?
— Que Cauê é o nosso ômega líder — Tatiana disse sorrindo.
Não era naquele ponto que Cauê queria chegar, ele só estava falando
que ele seria oficialmente da família, e Carolyn não. Mas, pela reação de
todos, como se todo mundo tivesse entendido ao mesmo tempo, incluindo o
próprio ômega, percebeu que era algo ainda mais sério.
— Não até que Dimitri o marque! — Carolyn se defendeu, ela
parecia em pânico.
— Se isso me garantir nunca mais te ver, entro nesse escritório
agora e consigo essa mordida.
— Ele não é oficialmente um lúpus até ser apresentado ao Conselho
— Maksim falou rapidamente, o que fez o sorriso do brasileiro crescer.
— Bem, estamos indo para lá. — A expressão de medo de Carolyn e
Maksim fizeram tudo aquilo valer a pena. — Aleksei, me explique, por
favor, como ômega líder, o que eu posso fazer?
— Bem, basicamente tudo. — O beta deu de ombros. — Alfa
Barkov é quem comanda tudo, a última palavra é dele, e, quando ele decide
algo, ninguém pode ir contra. Você sendo o ômega dele, isso te dá quase os
mesmos direitos.
— Ah, sério? — Cauê sorriu maldoso. — Por favor, pegue essas
pastas e veja se realmente são importantes. Se você achar que não são,
apenas jogue no lixo.
— Você não pode fazer isso. — Carolyn estava muito brava.
— E avisa que agora temos uma lei, qualquer pessoa que destratar
um funcionário dentro deste escritório será punida. Ainda não sei como,
mas será — o ômega falou, e os olhos da outra ômega se arregalaram de
raiva, mas ela não falou nada. Já sua secretária olhou de canto para a chefe.
— Por que parar dentro do escritório? Ninguém que trabalha para os
Barkov pode ser destratado. Nada de gritos, ofensas ou ameaças ou... ou...
— Isso se torna um caso lúpus — Tatiana sugeriu.
— Isso, um caso lúpus — o ômega concordou, sem ter ideia do que
significava.
A porta do escritório de Dimitri se abriu, de dentro saíram quatro
pessoas. Dimitri estava à frente, conversando com uma alfa de cabelos
acobreados e olhos verdes.
— Será um prazer ter sua família como nossa aliada, Alfa Ivanov.
— Dimitri apertou a mão da alfa, que assentiu.
— Espero que seja uma longa parceria. — A alfa sorriu
profissionalmente. Ela se despediu e foi embora junto do próprio assistente.
— Está acontecendo alguma coisa? — o lúpus perguntou para as
pessoas reunidas, seu tio, pai de Tatiana, era quem o tinha acompanhado na
reunião e também parecia curioso.
— Seu ômega está criando uma lei — Maksim falou, e Dimitri
olhou para Cauê. O alfa sorriu de canto, e o ômega deu de ombros.
— Bem, se sou o Ômega Barkov, melhor assumir o cargo logo.
— Tudo bem, Aleksei, você pode fazer com que essa lei seja de
conhecimento de todos? — Dimitri perguntou.
— Claro, com prazer — o beta garantiu.
— Essa eu conheço — Dimitri disse feliz. — É a que você colocou
para tocar quando nos conhecemos.
— Sim. — O ômega sorriu e beijou o alfa.
Estavam voando para Manchester, onde encontrariam Vincenzo,
Greg e Alfa Choi. De lá iriam para Wolf’s Castle, onde qualquer coisa
poderia acontecer. Edward tinha decidido ir até o Conselho, antes que o
Conselho fosse atrás dele. O que era uma atitude muito corajosa. O
problema é que o que tinha acontecido se espalhou pela sociedade lúpus.
Dimitri achava que Irons e os conselheiros que eram contra Edward ser o
líder haviam espalhado.
Óbvio que só contaram a parte que interessava para eles, então o que
todos sabiam era que Edward tinha quebrado o Código, uma coisa
inaceitável, ainda mais para o futuro líder. Se não fosse pelos acordos feitos
anteriormente, talvez o filho de Richard, mesmo que fosse inocentado,
nunca conseguisse assumir.
— A-nun-cia-ção — o russo falou com calma. Algumas palavras em
português eram difíceis, mesmo que ele fosse fluente em espanhol e
italiano.
— Muito bom. E essa?
— Desejo. — O alfa sorriu de canto, malicioso. — Gosto desse
cantor.
— Alceu Valença é patrimônio cultural brasileiro. Se tivermos um
filho, só não coloco o nome de Alceu porque o filhote já iria nascer com 65
anos e um plano de aposentadoria.
Dimitri riu alto e abraçou seu ômega. Ele o amava e amava como
tudo era simples e seguro com ele. Cauê o defenderia de um lobo raivoso,
faria planos para o futuro, iria provocá-lo sexualmente, cuidaria dele,
protegeria ele ou o distrairia para não ter uma crise de ansiedade, tudo
naturalmente e com um sorriso no rosto.
O ômega também entendia como tudo tinha mudado, só tinha se
passado quinze dias desde que conversou com o alfa pela primeira vez,
agora já planejavam seus filhotes. Seu pai dizia que quando tudo se
alinhasse, ele encontraria seu soulmate e tudo faria sentido. Ele estava
certo, com Dimitri, tudo fazia sentido.
— Essa cantora é a minha favorita.
— Pitty é favorita de todo mundo, não tem como não amar. — O
ômega se ajeitou contra seu alfa.
O jatinho dos Barkov era diferente daquele dos Ferraro. O de
Vincenzo era planejado para o conforto da família, o Barkov era como uma
sala de reuniões, tudo pensado no profissional. Pelo menos tinha um quarto
confortável, onde eles passaram a maior parte da viagem.
As comissárias eram de outra empresa, então Cauê não as conhecia,
mas elas eram bem profissionais e não davam em cima de seu alfa, o que
ele percebeu ser uma coisa constante. Se não tivesse certeza de que eram
soulmates, talvez ficasse um pouco inseguro, porque, em quase todos os
lugares aonde haviam ido, pelo menos uma pessoa tinha tentado flertar com
Dimitri.
Não que Cauê os julgasse, porque ele passou pela mesma coisa e
não se conteve. Mas o alfa não parecia notar, era como se o tempo todo, ele
só tivesse olhos para seu ômega. A única vez que o viu notar algo assim, foi
quando tentaram dar em cima de Cauê, aí sim, Dimitri percebeu bem
rápido.
Desceram em um pequeno aeroporto, não no Aeroporto de
Manchester, onde o ômega pensou que pousariam. Até iria fazer alguma
piada sobre como a vida dos ricos deve ser boa, mas se lembrou que tinha
um blackcard brilhante em sua carteira com seu nome gravado nele.
Era inverno, então estava frio, mas não era o frio da Rússia, então o
ômega já estava feliz. Compraram um chocolate quente para Cauê e um
café para Dimitri. Tiveram que esperar um pouco, mas logo o avião de
Vincenzo e Greg pousou.
— Estava com saudades, como está? — Greg perguntou para Cauê,
abraçando o outro ômega.
— Lidando com tudo, mas bem. Não surtei mais, pelo menos.
— Não conhece o significado de pontualidade? — Dimitri chutou a
perna de Vincenzo.
— Vai se foder, husky, agradeça por eu te dar carona no meu carro.
Deveria te deixar correndo atrás do pneu, seu cachorro velho — respondeu,
dando um tapa na cabeça do outro.
Dez minutos depois, outro avião pousou, e Alfa Choi desceu. Ele
devia ser apenas um pouco mais baixo que Vincenzo e Dimitri, mas isso
queria dizer que era mais alto do que os comuns. Usava uma blusa gola alta
preta e um sobretudo, também preto. Seus cabelos eram um pouco
compridos, a ponto de conseguir colocar atrás da orelha. Era sério, a ponto
de parecer misterioso.
Chelsea e Julitte, sendo as dorameiras que eram, iriam se apaixonar
por ele na hora. E, ao ver como funcionários e os poucos passageiros
daquele aeroporto reagiam com os três lúpus, elas não seriam as únicas.
— É isso toda vez — Greg comentou, indicando a plateia.
— Nunca diminui?
— Estou há mais de dez anos nessa, toda vez é isso. Não sei como é
na Ásia, mas Choi não pode andar pelo resto do mundo sem ter gente
suspirando. Mas o pior é quando junta Choi, Trio do Caos e Edward. — O
ômega revirou os olhos. — Como agora todos os envolvidos estão casados,
espero que melhore.
— Acha que vai parar?
— Não mesmo, se até em Sergio dão em cima, imagina deles. Mas,
agora temos um grupo de apoio. A esposa do Choi é muito educada e
tímida, ela nunca falaria nada. Mas o resto de nós não. — Greg sorriu de
canto.
Choi, Vincenzo e Dimitri se cumprimentaram, mas não
conversaram, já que tinham tempo de fazer isso na viagem para Wolf’s
Castle.
— Quando Irons saiu da Rússia? — Choi perguntou. Eles estavam
em uma limusine. Em um banco estavam Vincenzo e Choi, no da frente
Greg, Cauê e Dimitri.
— Assim que recebeu a ligação, ontem. Deu tempo de ele chegar e
chamar outros conselheiros — o russo respondeu.
— Apenas os que estão de acordo com as imbecilidades em que ele
acredita — Vincenzo comentou.
— Irons só deixou de incomodar Grace quando eu interferi. — Alfa
Choi suspirou. — Deveria ter feito como Lions e ter tirado minha afilhada
daquele lugar. Quando Grace voltou para sua graduação, achei que não
tinha perigo, estava focado no nascimento do meu filhote mais velho. Então
ela me ligou contando sobre o casamento. Deveria ter me imposto contra,
falhei nessa parte.
— Grace estava tentando ganhar a aprovação do pai, todos sabem
como ele só tinha olhos para Edward e a deixou de lado por muito tempo.
Quando ela finalmente estava a enxergando, ela faria qualquer coisa —
Dimitri tentou consolar o outro.
— Agora ela encontrou a soulmate, já se rebelou também, só
conseguir o divórcio e tudo está bem — Vincenzo falou.
Cauê não estava entendendo nada, mas isso vinha acontecendo
desde que conheceu Dimitri. Greg disse que se ele tivesse entrado em um
momento “normal”, teria conhecido todos e aprendido naturalmente sobre
tudo do mundo lúpus. Mas ele chegou na sociedade lúpus já entrando no
meio de um furacão.
— É coisa de brasileiro, nem na hora de ficar rico, a gente tem paz.
— Cauê deu de ombros.
A viagem durou poucas horas, mas como o ômega estava nervoso,
pareceu bem mais. Em determinado momento, Dimitri pegou o próprio
celular, conectou o fone de ouvido e deu um dos lados para Cauê, que
aceitou sorrindo. A playlist que tocou era composta por todas as músicas
que o brasileiro tinha apresentado ao russo. Dimitri tinha pesquisado e
salvado todas, ele sempre as ouvia quando estava distante de seu soulmate.
Wolf’s Castle parecia cenário de filme, ainda mais com a neve
cobrindo parcialmente o gramado. Os raios solares batendo nos minúsculos
flocos de gelo presos as folhas, faziam o lugar parecer algo mitológico, o
cenário de um filme épico. Era um campo aberto entre rocha e muitas
árvores, uma construção enorme em estilo grego se erguia no meio, de um
jeito imponente.
— Tem mais gente do que pensamos. — Vincenzo indicou a
quantidade de carros pelo lugar.
— Abutres sempre serão abutres — Choi respondeu.
Antes mesmo de entrarem já era possível ouvir os muitos gritos,
uma grande discussão acontecia. Cauê viu que tinha um alfa no chão, ele
estava algemado, mas seus braços estavam em volta de um ômega, talvez
tentando protegê-lo. Alguns ômegas e alfas estavam de pé em volta,
protegendo-os.
Aaron estava à frente, encarando todos os outros lúpus. E, mesmo
que os adversários fossem um número muito maior, se fosse apostar, Cauê
diria que o lúpus loiro venceria aquela briga.
— Veja, Dimitri, começaram a festa sem nós — Vincenzo falou em
voz alta, chamando a atenção de todos.
— O que é isso? — Alfa Irons perguntou. Ele não esperava os ver
ali.
— Irons, se os deuses permitirem, será hoje que quebrarei os ossos
do seu corpo — o russo disse com raiva, esperando que finalmente pudesse
colocar as mãos naquele verme.
— Saiam da frente, já causaram o caos.
— E eu nem comecei ainda. — Aaron sorriu de canto.
— O que está acontecendo? — Cauê perguntou, desesperado.
Tudo aquilo tinha sido insano, o julgamento, o jeito feroz dos
envolvidos e como parecia que a maioria dos conselheiros fazia questão que
Edward fosse morto. Primeiro que Greg o puxou para ficar atrás daqueles
que protegiam Edward, ficando com Luc Lions e mais um ômega loiro de
língua afiada, que podia não ser brasileiro, mas tinha a alma de um.
Então Cauê percebeu que eles não estavam ali para serem
protegidos da confusão. Era para proteger o outro Luc, o Jones-Knight, e o
marido. Isso os colocava na linha entre a guarda e o acusado, mas como
eram ômegas, nenhum alfa tentaria algo.
E se tentassem, Cauê não tinha problema em usar a força.
Além de descobrir que Luc Lions tinha cara de anjo, mas podia ser
tão doido quanto o marido e não via problema nenhum em quebrar ossos
alheios, o brasileiro também entendeu por que aquele bando estava
desesperado para salvar seus líderes.
Edward e Luc Jones-Knight pareciam forças da natureza. Não era só
o fato de serem lindos, porque eram muito bonitos, mas tinha o jeito como
se olhavam ou se tocavam. Mesmo que você nunca tivesse ouvido falar
deles, no momento que os visse, saberiam que eram soulmates e se
amavam.
Luc era o ômega mais corajoso que já tinha visto. Ele não só
enfrentava e provocava os próprios conselheiros como também se impunha
contra eles. O ômega chamou um dos conselheiros, o tal Fehér, para a briga
na certeza de que ganharia. E Cauê não duvidava disso.
E, quando Luc fez Alfa Irons calar a boca, desmoralizando-o na
frente de todos, Cauê soube que precisava ser amigo dele. Dele e do loiro
que provocava e zombava de todos.
Edward tinha ficado mais quieto, deixou que seu ômega tomasse a
frente, apoiando-o. Porém, no minuto em que sentiu que algo ameaçava seu
soulmate, transformou-se de um modo assustador. O cara partiu as algemas
no meio como se não fossem nada. Algemas feitas para lúpus, e, mesmo
assim, ele era mais forte que elas. Isso quer dizer que tudo aquilo só estava
acontecendo porque ele havia permitido, porque, se quisesse realmente
brigar, teria feito. Do jeito que estavam, Edward, Aaron, Vincenzo, Dimitri,
Choi e o bando britânico poderiam ter derrubado o Conselho inteiro,
incluindo os guardas.
E quando Aaron entregou uma carta para o líder dos lúpus, onde a
filha mais nova, irmã de Edward, renunciava à linha de sucessão, a cara de
todos foi impagável. Se a tal Grace não assumisse o cargo no lugar de
irmão, contando que Edward não pudesse, o cargo de líder absoluto seria de
Aaron ou Choi. E Cauê já sabia que Choi estava irritado com todos, porque
Grace era a afilhada dele e sofreu alguma coisa a ver com um casamento.
— A ideia foi sua — Luc, o francês, sussurrou para Cauê.
— Minha? — perguntou, surpreso.
— Você falou que Irons queria que Grace assumisse por causa do
neto, marido dela. Mon Loup percebeu que ele manipularia essa situação a
seu favor. Então fez Grace desistir, para afetar Irons.
— Ah, que bom que ajudei.
O momento era sério, via expressões de angústia no rosto da maioria
que o cercava. Tanto que o bando britânico deixou claro que se Edward não
fosse absolvido, eles se retirariam da comunidade lúpus. Cauê nem sabia
que isso era possível, mas ninguém ali estava brincando.
De tudo o que estava acontecendo, da ferocidade, da tensão, do
desespero e da violência que aquilo foi atingindo, apenas uma coisa
realmente surpreendeu o ômega. Pelas histórias que tinha ouvido sobre
aquele bando e os próprios Edward e Luc, já esperava as pessoas mais fodas
do mundo, mesmo que tivessem superado suas expectativas.
Pelo jeito que o “Trio do Caos” agia, sabia que eles se apoiariam em
qualquer situação. Dimitri e Vincenzo gostavam muito do bando britânico,
mas Aaron realmente os amava. E Cauê entendeu a brincadeira sobre
Edward ser a cópia do padrinho. Então, se aquele alfa era tão importante
para Aaron, era importante para Dimitri e Vincenzo. E já esperava por isso.
Nem os conselheiros raivosos e alfistas o surpreenderam. Por sua
história de vida, lugar de origem, cultura, gênero e aspectos físicos, Cauê já
tinha se deparado com muitos alfas como aqueles. Escórias do mundo que,
infelizmente, possuíam poder e toneladas de arrogância.
O que realmente chocou o ômega foi saber que o líder, o alfa que
comandava todos os lúpus do mundo, que regia aquela comunidade, era pai
de Edward Knight e não estava fazendo nada para ajudar o filho. Aaron
estava ameaçando começar uma enorme guerra, Dimitri e Vincenzo
deixando claro que o apoiariam, que receberiam o resto do bando em suas
famílias. Choi até ofereceu ajuda para que eles se vingassem. O bando
disposto a qualquer coisa pelo seu líder, mesmo morrer por essa causa.
Anne, mãe de Edward, chorava e implorava para que absolvessem seu filho.
Richard ficou apenas lá, com cara de sofrimento, mas não falou ou
defendeu. Enquanto Edward poderia morrer por salvar a vida de sua filhote,
seu pai o assistia correr o risco de perder a sua sem fazer nada.
Foi triste pensar que se fosse seu alfa naquela situação, Irina
provavelmente o condenaria.
Porém tudo mudou quando Alfa Fehér, o lúpus húngaro, levantou-
se. Estavam discutindo qual seria a sentença, e ele decretou a punição. Mas
seus olhos estavam em Luc Jones-Knight, porque ele queria ver o ômega
sofrer.
— Arena — falou com um sorriso diabólico no rosto.
E foi aí que tudo ficou mais louco ainda.
Era um buraco enorme, tanto em profundidade, quanto em diâmetro.
Como um Coliseu escavado na terra e com pedras em volta. Dimitri e
Vincenzo levaram Greg, Cauê e Luc Lions com eles, abrindo espaço na
multidão e chegando até a mureta rochosa. Todos tentavam se empurrar,
para ver melhor a briga que acontecia lá embaixo, Dimitri perdeu a
paciência e empurrou algumas pessoas de perto.
Sam, aquele que Cauê tinha conhecido em Roma estava lá, junto do
bando. Todos estavam preocupados, a luta era injusta. Enquanto Edward,
Aaron e um alfa amigo de Edward, chamado James, estavam descalços e
sem camisa, naquele frio, e sem armas. Os guardas usavam uniforme
completo e cassetetes.
— Cadê o Neil? — Zyan, o alfa marido de James e de Neil, aquele
ômega loiro, perguntou desesperado. Enquanto a luta acontecia embaixo, os
do bando estavam procurando Luc e Neil, até que Charles, outro ômega,
apontou para um ponto da mureta de pedra.
— Luc vai cair!
Não houve tempo para nada. Max e Logan, um casal de ômega e
alfa, eram os mais próximos, tentaram ajudar, mas Luc caiu dentro da
Arena. Sendo salvo por Edward, que escalou as rochas até conseguir pular e
agarrar seu soulmate no ar.
— Isso é loucura, parem essa luta! — Vincenzo gritou para um dos
conselheiros.
— Como Aaron Lions está na Arena, o papel de executor é meu —
o alfa Fehér respondeu com um sorriso maldoso no rosto.
— Você é um inútil mesmo! — Dimitri falou para Richard, que
arregalou os olhos.
— Vai correr o risco de seu filho e seu genro morrerem? — Cauê
perguntou irritado e atônito. Muitos discutiam a volta, gritos de quem era
contra ou a favor da luta ser interrompida. Mas a decisão estava na mão do
alfa húngaro, que negou. — Entendo por que Edward gosta mais de Aaron.
— E quem é você? — Richard perguntou com raiva da audácia
daquele ômega.
— Meu soulmate. — Dimitri entrou na frente, todos estavam
irritados e tensos.
— Como meu alfa disse, sou o ômega dele. Mas também sou um
ômega que tem um pai incrível e sabe o que é ser amado por ele, coisa que
Edward nunca teve vindo de você. Que bom que ele tem Aaron! — o
brasileiro cuspia as palavras.
— Melhor sair daqui — Choi aconselhou Richard, que ainda estava
irritado, mas acabou cedendo.
— Não disse que poderia enfrentar o Conselho? Veremos se
sobrevive aos guardas — Fehér provocou Luc, que estava de mãos dadas
com Edward.
— Quando isso acabar, vou atrás de você! — o ômega respondeu,
encarando o húngaro.
Cauê não estava participando da luta, e seu alfa estava bem ao seu
lado, mas seu coração estava disparado como se fossem suas vidas que
estivessem em perigo.
— Tudo bem — Neil disse choroso para seu alfa, Zyan o abraçou
apertado e o beijou.
— Eu sei, só toma cuidado, por favor — Cat, outra ômega que
estava com eles, abraçou sua alfa, lágrimas escorriam dos seus olhos.
— Vince — Greg murmurou, segurando o casaco do seu alfa. O
italiano segurou o rosto do seu ômega e repetia o quanto o amava.
Ninguém tinha falado nada, como se fosse apenas uma conversa por
olhares, e Cauê estava perdido. Mas tinha uma sensação de aperto no
coração.
— Amor — Dimitri chamou, beijando-o terno —, eu te amo. Amo
muito. Prometo que depois viajaremos para onde quiser, podemos fazer o
que quiser, vamos nos casar e ter nossos filhotes.
— Dimi, o que está acontecendo? — o ômega perguntou,
desesperado. Seu alfa tirou seu casaco e o entregou para seu soulmate.
— Preciso fazer isso, me perdoa. Aaron é meu irmão, não podemos
deixá-lo sozinho nisso.
— Você vai entrar lá? Não! Por favor, fica aqui.
— Amor, presta atenção. — O russo segurou o rosto de seu ômega,
assim como Vincenzo tinha feito com Greg. — Você é a melhor coisa da
minha vida, nunca amei ninguém até te conhecer. Se estou vivo é porque
tinha esperanças de te encontrar. Não vou desperdiçar nem um segundo de
ter comigo. Agora preciso ir àquela arena, chutar a bunda de alguns lobos e
voltarei para você. Porque nada no mundo me separaria de você.
— Se você morrer, vou mandar as entidades da minha mãe e do meu
pai caçarem sua alma! Então é bom mesmo que volte para mim para eu
surtar com você, depois te beijar! — Cauê disse com lágrimas nos olhos, e
sorriu. — Eu te amo.
— Eu sempre estarei com você, meu amor — Dimitri prometeu e
beijou seu soulmate.
— Choi — Vincenzo disse, olhando para o alfa, que apenas
concordou com a cabeça.
Greg, Cauê e Luc ficaram um do lado do outro, cada um segurando
os pertences de seu respectivo alfa. Lágrimas escorrendo pelo rosto,
tremendo de medo, um apoiando o outro.

Greg entregou o chocolate quente que Luc tinha feito para Cauê,
quando o brasileiro se juntou a eles no deque da casa dos Ferraro. Tinham
explicado que todos que assumiam como conselheiros tinham uma casa em
Wolf’s Castle. Mas Dimitri e Aaron não usavam a deles, sempre ficando na
casa dos Ferraro.
— Eles estão dormindo também? — Cauê perguntando bebendo um
gole da bebida quente, todo aquele calor era muito bem-vindo.
— Oui, eles precisam descansar bem. Mon Loup tem estado
estressado há dias, ele fez tudo que pode para evitar o pior e ainda teve que
lutar na Arena. — Luc suspirou. — Ainda passamos no hospital para
vermos como todos estavam.
A luta havia terminado, e eles tinham sido vitoriosos. Os últimos
adversários se renderam, Edward foi inocentado, para desgosto de muitos.
Apesar do último susto que o alfa britânico deu em todos, agora todos
estavam a salvo e logo voltariam para suas casas. Edward passaria aquela
noite no hospital e teria alta, seu ômega estava ao seu lado. Já o “Trio do
Caos” se recusou a ficar lá, e agora os três estavam, praticamente,
desmaiados em seus quartos.
— Bem, pelo menos todos do nosso lado estão vivos — Greg falou.
— O resto resolvemos com o tempo.
— Sabe, vocês me prometeram que, quando eu encontrasse Luc
Jones-Knight, seria muito divertido. Não me diverti muito, não — Cauê
comentou, fazendo os outros rirem. — Sério, terei pesadelos com aquelas
cenas por anos.
— Non sei se consola, mas nunca vi nossos alfas daquele jeito,
então non é comum ser assim. Hoje eles estavam diferentes.
— Como demônios? Porque é o que todos pareceram naquela arena.
Principalmente nossos alfas, Edward e Luc. Sinceramente, nunca vi um
ômega lutar daquele jeito. Luc parecia um tipo de deus da guerra. Ele lutou
a maior parte com sua forma humana e matou vários, acho que ele nem sabe
quantos matou ou tem noção do que fez. E quando se transformou em lobo
fez a limpa — Cauê disse, lembrando-se do menor lobo dentro da Arena,
mas fazia tanto estrago quanto os Aaron ou Edward.
— Luc non tem ideia do que realmente faz, ele sempre pensa que
está agindo normal ou fazendo pouco. Mon Loup disse que, quando Edward
e Luc entenderem como são fortes, teremos os líderes mais poderosos da
história.
— Estou muito feliz que escolhemos o lado certo dessa briga. —
Greg deu de ombros, e os outros concordaram. — E você os defendeu sem
os conhecer.
— Amigos dos meus amigos são meus amigos — Cauê respondeu
sorrindo. — Mas estava com tanta raiva daquele alfa não defender o filho,
que quando vi, já tinha falado. Depois que me lembrei que ele era o líder e
eu podia estar arrumando problemas.
— Se alguém quisesse arrumar problemas, essa era a noite, ninguém
ia se importar se algo acontecesse. — Greg sorriu. — Pelo menos temos
nosso grupo de apoio agora. Infelizmente, essa não é a primeira e nem será
a última vez que nos reunimos porque aqueles três entraram em uma briga.
— Lembra a vez que brigaram na Grécia e voltaram um mês depois
porque acharam que não tinham batido o suficiente naqueles alfas? — Luc
suspirou, e Greg revirou os olhos.
— Devíamos, além do grupo de apoio, ter férias remuneradas. —
Cauê suspirou.
— É uma boa, pelo menos uma vez por ano, viajamos só nós três.
Sem alfas, sem filhotes. Só nós três, fingindo que eles não estão nos
seguindo e vigiando cada passo nosso. — Greg sorriu.
— Duas vezes por ano — Luc sugeriu.
— A primeira tem que ser para o Brasil, vamos em junho para pegar
o São João, uma das maiores festas culturais do meu país. Vocês vão amar
— Cauê falou animado. — Até diria para irmos mês que vem no Carnaval,
mas acho que nossos alfas infartariam com isso. Não quero antecipar o
encontro de ninguém com Zeus.
— Não nesse ano, mas espera uns dois para eles se acostumarem
com essa ideia — Greg respondeu. — Temos que fazer “viagens” calmas
até lá, quando eles baixarem a guarda, vamos para o Carnaval.
— Falaremos que são férias para descansarmos, que não queremos
nada agitado. — Luc riu. — Tem que ser território de outros lúpus para eles
ficarem calmos, então um dia contamos que nossa próxima viagem é para o
Brasil.
— Eles vão descobrir tarde demais. — Cauê sorriu, e os três ômegas
bateram suas canecas de chocolate quente como se fizessem um brinde.
— Lions! — Choi falou em voz alta, chamando-o.
— Merda — Aaron resmungou, Dimitri e Vincenzo sorriram como
o Gato de Cheshire, de Alice no País das Maravilhas.
Eles estavam indo embora de Wolf’s Castle. O bando britânico
estava na casa dos pais de Zyan, que moravam na antiga casa dos Lions,
para se despedir deles e das mães de Edward e James. A casa era enorme,
extravagante e com capacidade para acomodar todos do bando, mas Maggie
e Omar, pais de Zyan, tinham-na feito se tornar aconchegante como um lar
devia ser.
Dimitri, Cauê, Vincenzo e Greg iriam para a Espanha. O brasileiro
tinha que resolver sua situação no trabalho, depois seu alfa e ele iriam para
o Brasil, enquanto os outros dois voltariam para Roma. Aaron e Luc tinham
ido apenas se despedir, pois voltariam para Londres com o resto do bando.
Mas Choi, que iria para o aeroporto com Vincenzo e Dimitri,
aproveitou a situação para resolver uma pequena pendência com Lions. Ele
o socou no rosto, forte o bastante para fazê-lo cambalear para o lado, sendo
amparado por Luc, já que Vincenzo e Dimitri explodiram em risadas.
— Doeu mais do que eu esperava, andou malhando? — o loiro
perguntou, massageando o maxilar.
— Nunca mais mexa com minha afilhada — Choi o avisou.
— Eu não mexi, apenas sugeri que, se ela abdicasse do direito de ser
a líder, seria melhor para todo mundo. Agora ela tem mais tempo para a
soulmate, não recebe ordens diretas do Conselho, irei investir no projeto de
sua ômega, e, mais importante, ela não faz mais parte da família Knight.
Deveria me agradecer, agora ela é uma Choi — Aaron respondeu, sorrindo
de canto.
— Tem razão, Grace pode usar o sobrenome Knight, mas é uma
Choi. E sabe como lido com meus assuntos — o alfa coreano disse sério.
— Não se preocupe, nunca tive e nem terei mais interesse nela, foi
apenas um evento pontual e necessário. E não faça drama, ela não foi
ameaçada e está perfeitamente bem. Na verdade, até parecia mais aliviada
quando saí.
— Mon Loup — Luc o repreendeu. — Alfa Choi, Grace está bem,
fiquei junto deles por toda a conversa, para garantir. O que ela precisa agora
é resolver seu divórcio para se casar com a sua soulmate.
— Resolverei isso — Alfa Choi garantiu. Como todos no planeta,
ele foi mais doce e compreensivo com Luc.
— Cane Pazzo levou um direto na fuça! — Vincenzo gargalhava.
— Ah, o karma. — Dimitri também ria.
A viagem de volta a Manchester foi mais calma. Dimitri e Cauê
ouviram música quase o tempo todo, Vincenzo e Greg conversaram com
seus filhotes. Choi também falou com os seus, o brasileiro achou
interessante como o Alfa Choi, sempre tão sério, sorria e era amoroso com
seus filhos, parecendo realmente interessado e rindo do que conversavam.
Mesmo não entendendo quase nada, Cauê viu que era uma família feliz.
O voo para Espanha durava apenas duas horas, os alfas dormiram
boa parte do tempo, ainda estavam se recuperando. Cauê aproveitou o
tempo para mostrar fotos e vídeos do carnaval para Greg. Os dois riam
combinando a viagem.
Como estavam no jatinho dos Ferraro, eram seus colegas de trabalho
que estavam atendendo o voo. Uma delas era Maribel, que era muito
simpática, conversou e brincou com Cauê. O outro era Michel, que não
chegou perto do ômega brasileiro e o olhava o julgando.
— CAUÊ! — o brasileiro ouviu seu nome ser gritado assim que
desembarcaram.
Juliette e Chelsea estavam esperando por ele. Elas tinham um cartaz
escrito “Bem-vinda, Rapariga”. O ômega riu alto com isso e foi até elas,
que correram para o abraçar. Os três falavam em português, muito rápido,
muito alto, de assuntos diferentes, fazendo perguntas e nem esperando pelas
respostas.
— Cadê seu alfa? — Chelsea perguntou empolgada
— Pelo amor de Luna, se comportem, ou eu mesmo mato vocês. E
olha que agora eu posso! — Cauê as avisou, mas elas desdenharam. —
Dimi, essas são minhas amigas, Juliette e Chelsea.
— É um prazer conhecê-las. — O russo sorriu e estendeu a mão
para as duas ômegas, mas elas travaram, olhando para ele.
— Enfiaram a educação no cu? — o brasileiro resmungou em
português.
— Ah, sim, perdão — Juliette foi a primeira a responder, ela apertou
a mão do alfa, que já estava ficando preocupado. — Nos perdoe, foi só a
surpresa, também estamos felizes em te conhecer, Cauê fala muito de você.
— Muito mesmo. — Chelsea sorriu maliciosa, e o amigo a ameaçou
com o olhar.
— Seu alfa é, digamos, diferente pessoalmente — Juliette comentou
em português, Dimitri olhou confuso para Cauê, que sorriu amarelo.
— Ele não fala português, mas cuidado com o que falam — o
ômega tentou avisar.
— Ele é mais gostoso, né? — Chelsea brincou, e Juliette concordou,
Cauê bateu a mão na testa.
— Ah, “gostoso”. — Dimitri riu. — Obrigado.
— Ele fala espanhol e italiano, suas mulas. Então consegue entender
algumas coisas. — Cauê bufou indignado, e as duas ficaram vermelhas de
vergonha.
— Ciao, amigas do nosso Cauê! — Vincenzo disse animado, já
cumprimentando as duas ômegas.
— Sério mesmo? Vai dar dessa comigo? — Dimitri perguntou,
revoltado.
— Tenho dez anos para descontar, então ainda tem muita coisa. —
O italiano sorriu maldoso.
— Rapariga? — Greg leu o cartaz, ficando confuso. — Cauê, por
que suas amigas estão te chamando de garota?

Estavam hospedados em um hotel cinco estrelas, com vista


panorâmica de Madrid. Juliette e Chelsea quase enlouqueceram quando
descobriram que também teriam um quarto ali. Ficariam apenas dois dias,
um para descansar e sair um pouco, o outro para resolver toda a questão
burocrática do emprego.
— Claro que vou junto — Dimitri disse enquanto tomavam banho
para jantarem com os amigos.
— E por quê? — o ômega perguntou, ele estava lavando os cabelos,
mas seu alfa tirou suas mãos dali e substituiu pelas suas.
— Porque eu sou seu advogado e qualquer questão legal, eu que
resolvo.
— E quais seriam as questões legais? Eu só vou entregar minha
carta de demissão e assinar o fim do contrato. — Cauê estava de olhos
fechados, a massagem era muito boa e sabia que o alfa estava fazendo isso
para distraí-lo.
— Antes de você assinar, lerei para saber se está certo e que você
recebe o que merece.
— Sei, é claro que isso não é justificativa para estar no mesmo
ambiente que o meu chefe, do qual eu reclamei várias vezes, não é? —
perguntou desconfiado, o russo estava enxaguando seu cabelo.
— Claro que não — respondeu com um sorriso malicioso.
Dimitri capturou os lábios de seu ômega em um beijo lento, eles
sorriam, as mãos deslizando pelo corpo um do outro. Mas aí o beijo se
aprofundou, Cauê suspirou, precisava de mais contado. O alfa rosnou,
pressionando seu corpo contra seu ômega, prendendo-o contra a parede. Já
estavam duros, os paus deslizando um contra o outro.
Os dedos do alfa massagearam a entrada do soulmate, provocando,
testando, fazendo-o gemer baixinho entre os lábios. Não foi preciso dizer
nada, eles se conheciam só pelo olhar e pelos toques. Dimitri virou Cauê,
deixando o ômega de frente para a parede, usando suas mãos para se apoiar.
Ele tinha aquele sorriso de satisfação enquanto o alfa o penetrava devagar.
Dimitri beijava o pescoço do soulmate, usando aquela pele perfeita
para abafar seus gemidos. As estocadas começaram vagarosas, lentas, mas
fortes. Mas a calma durou pouco, e o barulho das peles se batendo ecoava
pelo banheiro.
Quando gozaram, o ômega encostou o rosto no azulejo frio,
enquanto voltava a respirar normalmente. Tinha o sorriso preguiçoso de
pós-sexo, quando ainda se sente os efeitos do prazer.
— Te amo — o alfa murmurava, beijando todo pedaço de pele do
soulmate que estivesse em alcance.
Tinham um jantar marcado, por isso tiveram que se arrumar rápido.
Cauê não se importava se desmarcassem e ficassem só no quarto. Mas era a
única noite lá, já que na noite seguinte já iriam para o Brasil.
— Seu chuveiro demorou para ligar? — Chelsea perguntou confusa,
tentando entender o motivo de eles terem se atrasado alguns minutos.
— Sim, exatamente isso, aí o banho demorou um pouco para
acontecer — respondeu na cara de pau.
— Comigo aconteceu o mesmo — Greg disse complacente. — E
depois que esquenta demais.
— Realmente, esquentou muito depois — Cauê respondeu, e eles
sorriram cúmplices.
O restaurante era lindo, com iluminação para cada mesa, dando um
ar mais intimista e a comida deliciosa. Cauê gostou de ver suas amigas
soltas, rindo. Pessoas muito importantes de sua vida estavam se dando bem
e se tornando amigas, isso o deixava feliz.
Exceto quando aquelas cobras que se diziam amigas começaram a
entregar seus podres e contar segredos.
— Ah, então ele namorou o alfa que trabalha no escritório da
companhia? — Dimitri perguntou interessado na história que aquelas duas
falsas contavam.
— Não foi bem um namoro — o brasileiro tentou explicar.
— Não mesmo, ele só iludiu o pobre alfa, que achou que um dia
eles se casariam e teriam filhotinhos, para ser chutado logo depois. —
Chelsea riu.
— Por favor, nós saímos por três meses e ele queria que eu
conhecesse a mãe dele. — Cauê revirou os olhos.
— Você não estava só há quinze dias com Dimitri, quando socou a
cara da mãe dele? — Greg o provocou.
— Coisas diferentes, alfas diferentes.
— Então, esse alfa estará lá amanhã? — Dimitri sorria de canto.
— Sim, ele trabalha no mesmo escritório que o Fernando, aquele
que cuida das escalas — Juliette explicou.
— Amore, mudanças de planos, vamos com eles — Vincenzo disse
sorrindo.
— Não mesmo, temos compromisso.
— Per favore, amore — o italiano insistiu.
— Você que marcou com aqueles produtores de vinho — Greg
respondeu e Vincenzo bufou revoltado. Ele queria ver o caos.
— Nem acredito que vamos mesmo pedir demissão. — Juliette
sorriu.
— Nem acredito que vocês, exceto o husky sarnento, vão morar em
Roma! — Vincenzo comemorou. Ele pediu a melhor garrafa de vinho e
ficou ofendido quando o garçom deu duas opções, um vinho Ferraro e um
de outra marca. — Acreditam nisso? Ele disse que esse outro se iguala a um
Ferraro!
— A garrafa do outro custa dois mil euros. — Greg pesquisou no
celular.
— O café mais caro do mundo é feito de grãos que foram engolidos
e saíram nas fezes de um bicho que parece um guaxinim. E o quilo custa
quinhentos dólares, então preço não quer dizer qualidade — Cauê opinou.
— Eu gosto de café, mas nunca beberia algo que foi digerido e excretado.
— Eu adoro esse ômega. — Vincenzo sorriu.
— Sem querer interromper o assunto, mas por que vamos morar em
Roma? — Juliette perguntou. — Achei que iríamos para Rússia.
— Não, vamos para Roma, vocês vão trabalhar para os Ferraro — o
italiano garantiu.
— Só o ignore, ele nunca foi bom da cabeça — Dimitri disse.
— Por que você o chama de husky e chama o outro amigo de
cachorro louco? — Chelsea perguntou animada. Ela estava aproveitando o
vinho muito caro.
— Não fiquem com essas caras, elas vão saber daqui a pouco —
Cauê comentou para os lúpus, que já iriam inventar alguma desculpa. — E
o “daqui a pouco” é daqui a pouco mesmo. Assim que chegarmos ao hotel,
vou fofocar com elas e já entregar todos os segredos dos lúpus.
— Posso ir junto? — Greg perguntou sorrindo, e o brasileiro
concordou.
— Amor, só pode contar se elas aceitarem jurar para o Código e
fazer parte da nossa comunidade. Tudo que acontece na sociedade é
segredo, isso não pode vazar — Dimitri sussurrou, preocupado.
— Não se preocupe, por uma boa fofoca elas juram lealdade até
para Hades — o brasileiro respondeu.
— Qual o nível da fofoca? — Juliette perguntou
— Lembra quando descobrimos que nosso instrutor estava pegando
o gerente, aí o marido do instrutor pegou o diretor, fez eles serem demitidos
e ainda contou para a esposa do gerente, que o botou para fora de casa?
— E tem como esquecer? — Chelsea sorriu.
— A que tenho para contar deixa essa parecendo quando seu irmão
mais velho estava roubando os chocolates da sua mãe e colocando a culpa
na sua irmãzinha. — Cauê deu de ombros e as duas arregalaram os olhos.
— Nós precisamos sair mais vezes juntos. — Greg riu.
— O que eu faço? Tem algum protocolo ou só tenho que falar
“aceito” e estou dentro? — Chelsea perguntou.
— Espera, quais os benefícios? — Juliette interrompeu a amiga.
— Vocês farão parte de uma família lúpus, terão que seguir nossas
regras, independentemente das leis dos comuns — Dimitri respondeu um
pouco confuso. — Viverão conosco, trabalharão em empresas lúpus...
— Viver com vocês? Literalmente? Até o lance de proteção, de
dinheiro, ômegas serem sagrados?
— Sim.
— Só nos diz o que fazer! — Juliette afirmou, e Chelsea concordou
com a cabeça. Dimitri achou engraçado e olhou para seu soulmate, que deu
de ombros de novo.
— Serão convidados por uma família...
— Como líder dos Ferraro, convido vocês a fazerem parte da minha
família — Vincenzo falou rápido, e o russo o olhou revoltado.
— Sério?
— Você que demorou. — O italiano sorriu provocador.
— Vocês vão gostar de Roma — Greg comentou feliz. — A comida
é maravilhosa, temos sempre alguma comemoração acontecendo, e temos
muitas empresas, vocês podem escolher no que querem trabalhar. Mas
tenho certeza de que Aaron irá prosseguir com aquela ideia de abrir uma
companhia área lúpus, caso queiram.
— Uau, isso é tão... uau! — Chelsea exclamou.
O resto do jantar se passou com Greg explicando várias vantagens
dos lúpus, Juliette perguntando tudo o que conseguia se lembrar, Cauê e
Chelsea contando histórias constrangedoras um do outro. E Vincenzo e
Dimitri se provocando, a ponto de Vincenzo ligar para Aaron e contar que
tinha convidado as amigas de Cauê para serem de sua família, fazendo o
loiro se juntar ao italiano provocando o russo.
Cauê cumpriu o que falou, assim que chegaram ao hotel foi com
Greg para o quarto de Chelsea e Juliette. Dessa vez ele contou toda a
história com os detalhes que não podia falar antes. E o que não sabia
explicar, Greg entrava e falava sobre.
— Lobo? Gigante? Não, isso tem que ser brincadeira — Juliette
murmurou, espantada. Tanto ela quanto Chelsea estavam com os olhos
arregalados.
— É verdade, mas como Cauê e eu não somos nascidos lúpus não
temos como provar. Mas posso ligar para Luc e pedir para ele se
transformar — Greg sugeriu, já que a morena parecia estar desconfiando da
sanidade deles.
— Oi — Luc Lions disse quando atendeu a videochamada. Ele
estava no seu quarto, seu filhotinho pequeno dormia na cama ao seu lado.
— Pode fazer um favor para nós? — Cauê pediu. — Minhas amigas
não estão acreditando que nascidos lúpus se transformam em lobos, você
pode fazer isso?
— Agora? — Ele riu, e eles concordaram com a cabeça.
— Nossa, ele é lindo — Chelsea murmurou enquanto Luc apoiava o
celular no travesseiro e tirava sua camiseta de pijama. — CARALHO!
O doce ômega com sotaque francês que tinha atendido a ligação se
transformou em um grande lobo branco diante dos olhos deles. Na tela do
celular, no caso. O bebê na cama começou a resmungar, então o lobo subiu
na cama e passou seu focinho pelo pescoço do bebê, que se acalmou.
— Ma Lune? — Um alfa chegou perto, parecia ter saído do banho,
já que seu corpo estava úmido. Usava uma calça escura e secava seus
cabelos loiros claros com uma toalha. — O que está fazendo?
— Greg e Cauê pediram para me transformar para suas amigas
verem — o ômega respondeu ao voltar para a forma humana.
Imediatamente seu alfa o cobriu com a toalha.
— E acho que viram mais do que precisava — o loiro resmungou.
— Mon Loup. — Luc riu e pegou o celular. — Agora elas
acreditam?
— Vou perguntar depois que a alma das duas voltar para o corpo —
Cauê respondeu.
Chelsea e Juliette estavam paralisadas e sem falar nada. O brasileiro
só não sabia se realmente era por causa do lobo branco ou por causa do
casal seminu na tela.

O escritório principal da companhia área ficava em um grande


prédio no centro da cidade. Tinha vários setores divididos em diversos
andares, mas Cauê sabia para qual ir. Juliette e Chelsea tinham trazido seus
uniformes e coisas que a empresa tinha fornecido para usar no trabalho.
Não precisava devolver tudo, mas faria.
Enquanto passavam pela recepção, sentiu um pouco de nostalgia,
realmente tinha gostado de trabalhar. Foi graças a essa oportunidade que
conheceu lugares incríveis e encontrou pessoas maravilhosas,
principalmente seu alfa. Não estava triste por encerrar aquele ciclo, tinha
amado trabalhar lá, mas não fazia mais sentido com quem era, então
seguiria para a próxima fase da sua vida.
Estava no elevador, com seu alfa e suas amigas, sorriu com a
imagem refletida. De mão dadas com o amor da sua vida, prestes a o
apresentar para sua família e seguir para um futuro que nunca imaginou,
mas ainda estaria acompanhado de suas melhores amigas. Como se fosse
um lembrete que um novo começo não queria dizer que precisava
abandonar quem era.
— Vai mesmo? — Riu quando o alfa não soltou sua mão e entrou
com ele, para falar com o chefe.
— Cauê. — Fernando sorriu o vendo, mas tomou um leve susto com
o lúpus. — Soube que vai nos deixar.
— A fofoca corre rápido mesmo — o brasileiro brincou. — Vim
entregar minha carta de demissão.
— Viemos. — Chelsea o corrigiu.
— Então é verdade, perderemos nosso melhor comissário? — um
alfa brincou, entrando na sala. Dimitri olhou para Juliette, que concordou
com a cabeça. Cauê quis bater nos dois
— É, né? Que coisa — o brasileiro interrompeu o que quer que suas
amigas fossem dizer, porque as conhecia. — Temos de entregar nossos
uniformes para você, não é, Cameron?
— Sim, aqui, por favor — o outro respondeu indicando uma sala. —
Perdão, senhor, mas só funcionários podem entrar. Você terá que esperar.
— Não mesmo — Dimitri respondeu calmamente.
— Ele é nosso advogado. — Chelsea sorriu.
— E noivo do Cauê, claro, além de ser um alfa lúpus — Juliette
disse passando por Cameron, batendo amigavelmente no seu ombro. — Boa
sorte o mantendo longe.
Depois disso a conversa foi tranquila, Cameron ficou o mais distante
de Cauê, que até agradeceu. Dimitri não falou nada, apenas quando foi
perguntado algo. Manteve-se encostado à parede, observando, mas era
impossível ignorar sua presença.
Depois de mais algumas burocracias, eles só tinham que entregar a
carta para o chefe e assinar o encerramento do contrato. Cauê sabia que
Samer era um alfa muito difícil de lidar, que iria tentar dar alguma lição de
moral e humilhar os ômegas. Mas assim que o chefe abriu a porta, deu de
cara com Dimitri e seu rosto ficou branco.
— Sou Dimitri Barkov — o russo disse sério, estendendo a mão
para Samer, que engoliu em seco, mas apertou a mão do outro. — Sou
advogado, meu noivo e suas amigas vieram se desligar da empresa. O RH
me passou uma cópia, não concordo com algumas coisas e já fiz as
alterações necessárias. Você só precisa assinar e podemos seguir com
nossas vidas.
— Sim, claro, eu vou, bem, vou ler.
Samer leu o contrato e apertava seus lábios toda vez que lia uma das
alterações. Com elas Cauê, Juliette e Chelsea não receberiam nenhum extra
que não fosse justo, até abriram mão de algumas coisas que não faziam
questão, mas a empresa não poderia tirar vantagens deles.
— Sim, está um pouco diferente do que fazemos normalmente —
Samer tentava soar simpático, mas obviamente estava com raiva.
— Tudo está baseado nas leis trabalhistas desse país. Se quiser,
como dois deles são brasileiros, posso fazer outro documento me baseando
nas leis brasileiras — Dimitri sugeriu.
— Não, não precisa — o outro negou imediatamente, suspirou
dramaticamente e assinou os papéis, pegando suas cópias.
— Que bom que nos entendemos. — O russo sorriu, provocando.
Cauê estava bem feliz, não precisou abrir a boca, não fez nada, mas
seu chefe o olhava como se pudesse matá-lo. E o melhor, ele também não
podia fazer nada.

Greg:
Tudo em paz mesmo? Nenhuma confusão?

Cauê:
Nada, tudo tranquilo

Luc:
Vocês já foram embora?

Cauê:
Não, ainda estamos nos despedindo de algumas pessoas no trabalho, mas
vamos daqui a pouco

Gigio:
Isso explica a “tranquilidade”

Greg:
Ok, depois que chegarem no hotel, você nos avisa se tudo foi tão tranquilo
mesmo

Cauê:
Por quê?
Vocês estão me assustando

Gigio:
Você é o ômega de um dos integrantes do Trio o Caos, é impossível não
acontecer nada

Luc:
Vai ficar tudo bem, você se acostuma

Cauê achou que era exagero, estava se despedindo de uma das


recepcionistas. Eles estavam quase indo embora, e não tinha acontecido
nada, então podia ser que algumas vezes tivesse paz, sim, os outros que
podiam ser dramáticos.
Mas, então, Samer apareceu e segurou em seu braço.
Dimitri, Chelsea e Juliette estavam mais à frente e não viram
quando o alfa puxou o ômega, fazendo-o dobrar o corredor, fugindo da vista
de todos. Samer estava bravo e fazia ofensas, mas Cauê não estava
prestando atenção.
— Eles realmente estavam certos — murmurou perplexo. — Nunca
mais vou ter paz.
— Está me escutando? — perguntou bravo.
— Infelizmente sim, mas não estou prestado atenção nenhuma, seu
idiota. Me solta! — Puxou seu braço e passou a mão pelo rosto.
Acreditou que tudo que tinha acontecido até então era porque, como
Greg tinha dito, tinha aparecido justo no meio do furacão. Mas não, essa era
sua nova vida. O Trio do Caos atraía o caos mesmo, não era só um apelido
engraçado.
— Seu moleque...
— Moleque? — Cauê ficou revoltado. — Sei que tenho a cútis bem
cuidada e a melanina ajuda a manter o ar jovial, mas não sou moleque, não.
Sei muito bem que estou fazendo da minha vida. Você é só um alfa
medíocre, tendo crise de meia idade e frustrado com a vida. Não vem
despejar suas frustrações em mim, não.
Pensando bem, talvez Cauê também sempre atraísse o caos, mas só
houvesse percebido agora. Porque ele sempre se metia em confusões,
principalmente pelo gênio calmo que tinha. Sabia que a vida de Luc Lions
também não tinha sido fácil antes de Aaron. Conversaria com Greg, talvez
soulmate de lúpus já viessem com defeito de fábrica que os fazia sentir
como se não se adequassem ao mundo dos comuns.
— O que esperar de alguém vindo de um país sujo de terceiro
mundo? É claro que iria abrir as pernas para o primeiro rico que
encontrasse. Além do visto, também pega dinheiro dele.
— Me chamou de puta na minha cara? — O brasileiro começou a rir
da ousadia.
— É, ele fez — Dimitri disse atrás deles.
Samer arregalou os olhos de medo, e Cauê sorriu.
Juliette e Chelsea apareceram atrás dele, também espantadas, mas
Chelsea foi rápida em chamar todos para perto. Cauê revirou os olhos, mas
nem julgava, se fosse ele, faria o mesmo. Quem quer perder o chefe
arrogante e abusivo levando uns socos?
— Sabe que sou um lúpus? — o russo perguntou para Samer, que
engoliu em seco e concordou com a cabeça. Ele começou a tentar dar
desculpas, mas Dimitri o interrompeu de novo. — E sabe que Cauê é meu
ômega? Mesmo assim o ofendeu?
— Não, eu...
Dimitri o socou, sangue pingou na camisa perfeitamente branca do
outro. O russo estava daquele jeito sem expressão, então Cauê ficou atento,
não queria que ele se excedesse. Samer era um racista xenofóbico, merecia
uma boa surra, sim, mas nada que atrasasse sua viagem para o Brasil, pois
estava com saudade de casa.
— Se não aprendeu a ter educação, eu te ensino — Dimitri disse
para Samer, segurando-o pelo pescoço e socando seu estômago repetidas
vezes.
Bateu a cabeça do alfa contra um quadro de vidro que dizia que
aquela empresa era a melhor para se trabalhar. Rachando o vidro e o
sujando de sangue. Depois o jogou no chão e o chutou algumas vezes.
— Ok, agora deu — Cauê disse, aproximando-se do seu alfa e
encostando em seu ombro. — Está tudo bem.
Dimitri o olhou com aquele olhar perdido por menos de um
segundo, então seu lobo reconheceu seu ômega, uivando feliz. O russo
abraçou seu soulmate, inalando o cheiro gostoso de maracujá e cacau.
— Agora podemos ir? — o ômega perguntou.
— Podemos. — O alfa suspirou.
— Seu babaca! — Chelsea gritou para Samer, que ainda estava no
chão, sangrando. Então ela virou o resto da sua garrafa de água nele. — O
quê? Eu só queria contribuir.

Cauê:
Estamos indo para o hotel

Greg:
E o que aconteceu nesse meio tempo?

Cauê:
Vocês têm razão, nada mais de paz

Gigio:
Bem-vindo ao mundo lúpus
— Mãe!
Cauê abraçou apertado sua mãe, os dois tinham lágrimas nos olhos,
mas a da de Marieta, mãe de Cauê, escorriam pelo rosto. Ela fazia carinho
no filho, beijava seu rosto, dizia o quanto o amava, abraçava de novo e
repetia o ciclo enquanto o ômega ria e tentava responder que também a
amava.
— Mãe, me deixa abraçar o pirralho — Tainá pediu, conseguindo
ter acesso ao irmão. — Tá com uma cara ótima, aposto que tem se divertido
muito — disse com malicioso, fazendo-o rir.
— Vai se ferrar. — Ele a empurrou de leve, mas os dois riram e
abraçaram de novo. — Mãe, Tainá, esse é Dimitri, meu alfa. Ele ainda não
fala português, mas está começando a entender um pouco.
— Oi — Tainá cumprimentou em inglês, e Dimitri agradeceu a
Luna por ter mais alguém com quem podia se comunicar sem passar
vergonha.
Eles tinham chegado no Brasil no dia anterior, mas tinham ido para
São Paulo, encontrar com Alice Moretto. Ela era uma alfa bonita, com
sorriso contagiante. Pele branca e cabelos castanhos claros. Seu ômega,
Levi, tinha cabelos e barba castanhos. Eles eram divertidos, depois que toda
aquela tensão tinha passado.
Alice organizou um grande churrasco de boas-vindas e Cauê quase
chorou vendo toda aquela comida boa, incluindo várias do seu estado.
Juliette e Chelsea estavam junto, Cauê e Juliette tiveram que conter
Chelsea, que queria provar tudo, misturando um monte de coisa que com
certeza a faria passar mal.
André e Bruno fizeram uma festa quando encontraram Juliette, ela
tentou explicar o que tinha acontecido. Eles riram de como a história era
doida e Cauê teve que concordar com eles. Os dois ficaram animados
quando ela contou que juraria para os lúpus e tentaram convencer os três
ômegas a jurarem para os Moretto, o que fez o russo revirar os olhos.
— Ótimo, mais concorrência — resmungou. Cauê sorriu e beijou
seu rosto. Mas, pelo jeito que Bruno estava encantado com Chelsea, talvez
não houvesse concorrência nenhuma.
Dimitri e Alice tiveram uma conversa em particular. O russo
agradeceu o apoio e explicou o que realmente tinha acontecido. A brasileira
entendeu e disse que, apesar de não ter filhotes, tinha sobrinhos e primos
mais novos e faria algo parecido por ele. Também agradeceu a sinceridade,
o que Edward tinha feito, dar seu sangue para sua filhote que era uma
comum, despertando seu lobo, era algo para não ser comentado. O tipo de
coisa que quem sabia, não deveria falar. Mas Dimitri contou para a Alice
para mostrar que eram parceiros e podiam confiar um no outro.
A alfa apresentou as alfas Paola Torrado, da Colômbia, Roxana
Parra, do Chile, Mariana Veja, do Uruguai, entre outros. Não era o
momento de conversas políticas, mesmo que acordos tenham ficado
implícitos e futuras reuniões aconteceriam.
Cauê surtou quando dois dos seus cantores favoritos se
apresentaram no churrasco, cantando as músicas que o ômega amava.
Dimitri até ficou com medo de que ele passasse mal. Depois um grupo de
pagode muito famoso no país se apresentou. O ômega tentou ensinar seu
alfa a dançar, o que acabou com os dois rindo e se beijando.
Na hora de dormir, Cauê estava elétrico, falando sobre aquele dia,
como tinha sido incrível e que ele tinha amado tudo. Ele já adorava Alice,
poderia ir pessoalmente a Londres implorar para que Edward e Luc a
aceitassem nessa "reestruturação" da sociedade lúpus, como Aaron
chamava. Aparentemente, a partir de agora, eles seriam bem próximos dos
Moretto. Inclusive era uma pena não poderem ficar mais tempo, porque
queria jogar videogame com Levi.
O russo só ouvia, concordava e ria da animação do ômega. Dimitri
sabia que faria qualquer coisa pela felicidade de Cauê e Alice tinha sido
muito esperta em fazer o evento sobre ele. Porque tinha ganhado a lealdade
do alfa.
No dia seguinte foram ao aeroporto, mal tomaram café da manhã,
Cauê estava ansioso para ver sua família. Juliette e Chelsea foram para o
Maranhão, visitar os pais da brasileira. Juliette estava revoltada, porque
André e Bruno resolveram as acompanhar. André estava com Raquel, sua
noiva, e Bruno interessado em Chelsea. Ela ficaria todos aqueles dias com
dois casais.
Eles não poderiam ficar muitos dias, já que o alfa teria que voltar
para realizar o casamento de sua prima, então queria aproveitar o tempo que
tivessem. Os planos de Cauê eram ficar grudado em sua mãe e sua irmã,
visitar seu pai e, se algum parente quisesse o ver, que fosse até sua casa.
Mas quando chegou em casa, boa parte da sua família estava lá. Sua
mãe tinha organizado um almoço surpresa com todas as suas comidas
favoritas. Até Raoni, seu pai, Maiara, sua madrasta e seus irmãos tinham
ido. O ômega conversou com sua madrasta, em um canto, porque ele tinha
levado presentes para seus pais, madrasta e irmãos, e uns genéricos para
familiares. Então daria os presentes bons depois, para ninguém ficar de olho
em cima. Ela riu e concordou.
— Então, você está com o meu menino — Raoni falou sério e
Dimitri olhou para Tainá, pedindo ajuda.
— Pai, ele não fala português. — A ômega revirou os olhos.
— Mas, se quer casar com um brasileiro, tem que aprender —
resmungou. — Quer se casar, não é? Porque não vou deixar filho meu ser
feito de idiota. Ainda mais na mão de gringo.
— Ele quer saber se vocês vão se casar. — Tainá suspirou.
— Sim, assim que Cauê quiser — respondeu, confirmando com a
cabeça, para o sogro entender.
— Dimi disse que é o Cauê que está enrolando.
— E no que trabalha? Tem dinheiro para dar uma boa vida para o
meu menino?
— Ele é advogado. — Ela segurou a risada para responder, eles não
tinham contado a ninguém quem realmente era o noivo do irmão, e seus
familiares não se importaram de pesquisar.
— Não é de porta de cadeia, né? Não quero meu filho metido nisso
— o pai resmungou irritado, Tainá não se conteve e começou a rir.
— O que está acontecendo? — Cauê perguntou.
— Não sei, seu pai perguntou se vamos nos casar, confirmei, depois
disso sua irmã não traduziu mais nada.
— Pai, deixa meu namorado em paz!
— Noivo — Tainá o corrigiu.
— Mas eu preciso saber como é o alfa com quem meu filhote vai se
casar!
— Deixa eles em paz, Raoni. Por coisas assim, eu me separei de
você. Maiara é uma santa de te aguentar — Marieta brigou.
— Também acho, porque tem horas... — Maiara negou com a
cabeça. Marieta apertou delicadamente o ombro da outra, em sinal de apoio.
— Mas ele vai se casar com nosso menino.
— Estava no terreiro ontem, e disseram que Dimi é a pessoa enviada
por Luna — Marieta o interrompeu. — Vai discutir com as entidades?
— Não — resmungou, contrariado.
— Quem disse? — Dimitri perguntou, confuso, depois de Cauê
traduzir a conversa.
— As entidades, e ninguém discute com as entidades.
Já tinham se passado algumas horas, a família do ômega continuava
na mesma animação, comendo, conversando e, de acordo com Cauê,
fofocando e falando mal dos outros. A todo momento alguém ia até o alfa
tentando conversar com ele e Dimitri achava engraçado. Normalmente as
pessoas faziam mímicas exageradas e falavam muito alto, como se
aumentar o tom de voz fosse fazê-lo entender melhor.
— Eu não entendi uma coisa — o alfa disse, já era hora do café da
tarde, e as tias de Cauê resolveram fazer bolo de macaxeira. Eles estavam
sentados no sofá, comendo. Dmitri tinha certeza de que Marieta e Lucia se
tornariam melhores amigas assim que se encontrassem.
— O quê?
— Por que seus primos ficam me chamando de “alemão”? Eles não
sabem que sou russo?
A pergunta foi tão inocente, que Cauê sorriu e o beijou.
Ele amava Dimitri com todo o seu ser.
— Quer ir para o quarto? Eu vou com você — o ômega perguntou
um pouco mais tarde.
— Não, não quero ser mal-educado — Dimitri respondeu, tentando
esconder o bocejo.
— Mal-educado? Tio Jorge está dormindo no sofá e de boca aberta
— Cauê indicou o tio, sentado com a camisa aberta, cabeça caída de lado e
dormindo de roncar.
— O que foi? — Marieta perguntou, e o filho explicou que o alfa
estava com sono. A diferença de fuso horário entre a Rússia e o Brasil era
de cerca de dez horas. — Escolhe uma rede e se deita, filho.
— Percebeu que ela o adotou como filho? — Tainá brincou.
— Não precisa.
— Vem logo. — O ômega o puxou pela mão.
A casa ficava em um bairro bem afastado do centro e tinha um
terreno de tamanho bom. Na frente, onde deveria ser a garagem, Marieta fez
um grande jardim, cheio de plantas e flores que Dimitri nunca tinha visto,
mas era bonito. Na parte de trás, onde era a área de serviço, havia três redes
presas. Duas estavam desocupadas, uma tinha os primos de Cauê jogando
algo no celular.
— Sua família não vai ficar brava que você não está com eles?
— Duas horas depois de chegarmos, eles já nem lembravam de
mim. — O ômega riu, deitando-se na rede com o alfa.
O balanço da rede e os carinhos do seu soulmate, fizeram o alfa
dormir, mesmo estando preocupado em ser mal-educado. O ômega trocou
mensagens com as amigas e riu da foto que Juliette mandou, já que estava
entre os dois casais. Ela disse que Chelsea e Bruno ainda não tinham ficado,
mas, como dariam uma volta em uma feirinha à noite, não duvidava que
isso mudaria.
Duas horas depois o alfa acordou assustado com o barulho, mas o
ômega o acalmou. Sua família só tinha resolvido ligar o karaokê. Quando
estava tarde e boa parte da família estava indo embora, Marieta disse “Mas
já? É cedo ainda”, e a família resolveu ficar para o jantar.
— Hi — uma das primas falou, ela devia ter dez ou onze anos.
— Hello. — Dimitri sorriu.
Apesar de ter um pouco de dificuldade no inglês, ela estava disposta
a falar com o alfa. Ele a elogiou pelo empenho, disse que estava se saindo
muito bem e deu algumas dicas, que ela adorou. Depois disso todas as
crianças queriam falar com o russo, que tomou um susto, mas achou
divertido, mesmo que tivesse que decifrar algumas das palavras.
— As entidades nunca erram — Marieta disse, beijando o rosto do
filho. — Luna sempre acerta.
— Sempre. — Cauê sorriu.

Dimitri achou que iriam para um hotel, mas Marieta se recusou e as


tias de Cauê falaram que se vai visitar a mãe, tem que dormir na casa da
mãe. Ele não entendeu muito bem a lógica. Como a antiga cama do ômega
era de solteiro, eles acabaram dormindo em dois colchões de solteiro
colocados no chão.
Estava tão quente, que o alfa não se importou. Cauê deixou dois
ventiladores ligados sobre eles e, mesmo assim, o russo teve um pouco de
dificuldade para dormir. Agora entendia melhor porque seu ômega
reclamava do frio da Rússia, tinha crescido em lugar muito quente. Mas
Tainá e Cauê disseram que não estavam com tanto calor, normalmente era
pior.
Acordaram com cheiro de café coado, na mesa havia café, cuscuz,
bolo e pão. A culinária era bem diferente do que estava acostumado, mas
estava amando tudo. E, assim como Lucia, Marieta sempre tentava
convencê-los a comer mais.
— Podemos ir no meu carro — Tainá reclamou.
— Olha o tamanho do meu alfa, olha o tamanho do seu carro! —
Cauê exclamou. — Mal cabe, você, mãe e eu.
— Mas, filho, vai ficar gastando dinheiro pedindo carro em
aplicativo?
— Mãe, Dimitri pode comprar os carros do aplicativo, o aplicativo e
até a gente.
O russo estava sentado, assistindo à discussão, comendo seu cuscuz
e escondendo a risada. Estava se divertindo muito mais do que achou.
No fim, Cauê ganhou a discussão e alugaram um carro, Tainá que
dirigiu. Cauê queria um carro grande para que pudessem buscar os
irmãozinhos mais novos. Marieta sugeriu Maiara para o passeio, mas deixar
Raoni de fora. Dimitri só queria um carro com ar-condicionado.
Nos próximos dias eles passearam pela cidade, visitaram pontos
turísticos, foram à praia, que foi uma das atividades preferidas do alfa. Cauê
ficava o tempo todo reforçando o protetor solar no alfa, para que ele não se
queimasse. Dimitri até poderia explicar que era muito difícil que isso
acontecesse, porque mesmo tendo pele sendo muito branca, ele ainda era
um lúpus. Mas gostava dos carinhos, então apenas deixou o ômega fazer o
que quisesse.
Em um dos dias tinham marcado de ir à praia com alguns amigos
antigos de Cauê e Tainá. Quando chegaram, todos estavam boquiabertos,
olhando para o lúpus.
— Oi — Cauê os cumprimentou. — Esse é Dimitri, meu alfa.
— Olá. — Ele sorriu educado, estava se esforçando para aprender
português.
— Sabia que você estava namorando um gringo, mas não sabia que
era um gringo assim — uma das amigas de Tainá disse.
— Vai dar em cima do namorado do meu irmão na nossa cara? —
Tainá se fez ofendida, e a amiga começou a pedir desculpas, mas
continuavam a olhar para o russo, que suspirou. Ele era um lúpus,
infelizmente estava acostumado com isso.
— Sabiam que Dimi é lúpus? E sabe o que isso quer dizer? — Cauê
perguntou com as mãos na cintura. — Que também serei, então não vão
testar minha paciência justo agora, que posso dar na cara de todo mundo,
não é?
— Desculpa — alguém murmurou, e voltaram a conversar.
Tudo estava bem, então resolveram ir para a água. Dimitri nem tinha
pensado em levar roupa de banho, por isso, compraram no dia anterior.
Cauê o convenceu a usar um short de praia masculino que não era muito
comprido. Mas o objetivo era esse, porque o ômega adorava observar e
tocar as coxas de seu alfa.
Só que, quando Dimitri se levantou e tirou a camiseta, ficando só
com aquele short preto, muita gente em volta parou para olhar. O russo não
estava prestando atenção, apenas estava fazendo um coque com seu cabelo.
Então ele estava ali, mexendo no cabelo, braços fortes flexionados, coxas
grossas, tatuagens pelo peito e costas, descendo pelos braços.
— Uau! — uma pessoa exclamou.
— Sim, “uau” — Cauê disse, orgulhoso. — Mas é o meu “uau”.
Algumas pessoas daquele grupo falavam inglês, então foi mais fácil
para Dimitri interagir, mesmo que ele estivesse mais interessado nas
comidas. O visual do lugar era incrível, o russo tirou algumas fotos e
mandou para os amigos.

Vincenzo:
Achei injusto. Quando visitamos a família do mio amore, é só prédios,
trânsito e aquela coisa que chamam de pizza
Pizza de Chicago jamais será uma pizza de verdade!

Aaron:
Quando visitamos a família de Ma Lune, só tem uva e parreiras por todo
lado, mas o husky ganhou praias paradisíacas

Dimitri:
E uma das melhores comidas que já provei na minha vida

Então o russo mandou uma foto dele e de Cauê comendo camarão.

Os dias no Brasil estavam acabando, Dimitri tinha entendido por


que seu ômega amava tanto aquele lugar. Tinham passeado em diversos
lugares, visitado parentes, dormido no chão quase todos os dias, comido
muito e se divertido.
Passaram dois dias na comunidade indígena que Cauê nasceu. O
russo foi apresentado a alguns rituais e aprendeu coisas sobre aquele povo.
Até ganhou um colar feito por uma das mulheres mais velhas da
comunidade.
— Você é um lobo e um homem — ela disse para ele, colocando o
colar no seu pescoço. — Duas formas do mesmo ser.
— Sim — respondeu sem entender como ela sabia. Ninguém ali era
lúpus ou pareciam ter contato com um.
— Vejo sua alma. — Ela sorriu para ele, passando a mão sobre a
pedra vermelha, presa ao colar. — Não é um humano, como nós, é um ser
de duas formas. Você sofreu muito em silêncio, a fera no seu peito chorou
sem ninguém ver, mas agora ela tem motivos para ser feliz.
— Nós dois temos. — Sorriu, olhando Cauê brincar com os irmãos
mais novos.
— Ela vai voltar.
— Ela quem? — perguntou confuso.
— Quando for a hora, aquela que foi embora muito cedo, vai voltar
para você. Do jeito certo dessa vez — a velha senhora garantiu.
E, mesmo que nenhum dos dois tivessem dito o nome, Dimitri sabia
de quem ela estava falando.
— Você está bem? — Cauê perguntou preocupado com a expressão
do seu alfa.
— Não estive, mas agora vou ficar — respondeu enigmático, mas
sorrindo com a confusão do seu ômega, depois o beijando. — Eu te amo.
— Também te amo, mesmo todo misterioso. — Sorriu, aceitando o
beijo.
O último dia dele no Brasil era próximo do aniversário de um dos
primos do ômega. Por isso, a família fez um grande churrasco para
comemorar e se despedir de Cauê e Dimitri.
— Quantos primos você tem? — o alfa perguntou, confuso.
— Não tenho a menor ideia. De repente surge alguém, e mãe diz
que é um primo, filho de fulano. Normalmente eu nem sei quem é fulano.
— O ômega deu de ombros.
Eles tinham se despedido do pai de Cauê no dia anterior. O alfa quis
ter uma conversa séria com Dimitri sobre suas intenções com seu filho. Mas
a seriedade do momento se perdeu, já que Tainá ou Cauê precisavam
traduzir as respostas, o que resultava em Tainá rindo de alguma coisa ou
Cauê brigando com o pai.
Dimitri tentou manter a expressão séria, mas, na verdade, estava
achando divertido. Raoni estava mesmo disposto a assustar o russo, mesmo
Dimitri sendo mais alto, mas forte e um lúpus. Então deu créditos ao outro
pela coragem. Apenas aceitou o que ele falou e jurou proteger Cauê com
sua própria vida.
— Se soubesse que você é um assassino treinado... — Cauê
murmurou, negando com a cabeça. — Bem, era capaz de quererem
encomendar uns assassinatos e pedirem desconto de família.
O churrasco estava acontecendo na casa da tia, mãe do filhote que
fazia aniversário. Dimitri perguntou o que dar de presente, a mãe do
aniversariante disse que o menino gostava de futebol, então sugeriu uma
camiseta do Fortaleza Esporte Clube. O russo exagerou, comprou o
uniforme completo oficial, bola e ingressos para o próximo jogo para a
família toda.
— Você acabou de os fazer descobrir que é rico. — Cauê negou com
a cabeça, enquanto o filhote gritava com os presentes, declarando que Dimi
era o melhor tio do mundo.
— Bem, nós dois somos. — Dimitri sorriu e beijou seu ômega.
— Poxa, meu aniversário foi mês passado, não podiam ter se
conhecido antes? — Tainá brincou.
— Escolha o que quiser — o russo falou tranquilamente.
— Teu sonho não era ver a Aurora Boreal? Vamos para Sibéria com
os amigos do Dimi. Acho que você pode ir — Cauê sugeriu, e o alfa
concordou.
— Vocês estão brincando? — perguntou, atônita. — Minha Luna!
— pulou e abraçou o irmão e cunhado. — Amo vocês! Dimi, você é o
melhor!
— Ei, a ideia foi minha.
— Mas é ele que vai pagar.
Na hora do Parabéns, o primo de Cauê deu o primeiro pedaço do
bolo para Dimitri, que ficou sem entender o que aquilo significava, mas
aceitou sorrindo. Quando o seu ômega explicou que a tradição do primeiro
pedaço era para alguém muito especial, o alfa sorriu orgulhoso. Conversou
com os pais do filhote e deu mais um presente, um ano na melhor escola de
futebol da cidade. Eles agradeciam sem parar.
Foi um pouco depois que uma confusão começou na rua, um casal
discutia aos berros. O alfa parecia bêbado, e a esposa, uma beta, chorava. A
maioria saiu no portão para ver o que estava acontecendo. Aparentemente
também estava acontecendo uma comemoração na casa deles, o marido
bebeu demais e gerou uma discussão.
— Suyane, passa aqui para dentro — Regina, a mãe do
aniversariante, gritou para a vizinha.
— Não se intromete! — o bêbado gritou.
— Agenor, você já bebeu demais, vai descansar. Suyane, vem se
acalmar aqui — Paulo, o marido de Regina, disse, tentando acalmar a
situação.
— Eles que se resolvam. Briga de marido e mulher, ninguém mete a
colher! — um parente do tal Agenor gritou de volta.
— Vai se foder, alfista do caralho — Cauê respondeu. A vizinha de
sua prima tinha marcas roxas no braço, uma marca vermelha no rosto e
chorava muito. — Vem aqui, vem tomar uma água e se acalmar. Ele não vai
te fazer mais nada.
— Ela não vai pra lugar nenhum. — O marido a segurou. — E cala
a boca, sua puta.
— Filho da puta... — Cauê ia para cima do alfa, mas Dimitri o
segurou. O russo andou até o alfa.
Sem falar nada, Dimitri olhou para a mão do alfa, que segurava o
braço da esposa. O outro entendeu, mas zombou, falando coisas que o lúpus
não entedia. Dimitri deu um tapa no rosto do outro, com o dorso de sua
mão. Foi tão violento, que Agenor caiu de cara no chão. A esposa não caiu
porque Cauê a segurou, imediatamente a tirando de perto.
Houve aquele momento de silêncio, todos encarando a cena. Agenor
olhou em volta, algumas pessoas cobriam as bocas, escondendo as risadas.
Ele se sentiu humilhado, levantou-se rápido e puxou uma arma, apontando
direto para Dimitri. As pessoas em volta gritaram e correram, Agenor
gritava ofensas, mas Dimitri o encarava com tédio.
— Amor — Cauê era um dos únicos que não tinham fugido, estava
na calçada, de braços cruzados, junto da irmã, que meio que se escondia
atrás dele —, mate-o, por favor. Ninguém gosta de abusadores.
Tainá arregalou os olhos para o irmão, mas Dimitri concordou.
Agenor tentou atirar, mas o russo desviou muito mais rápido do que
o outro conseguiu entender. Dimitri agarrou a mão que segurava a arma,
empurrando-a para cima. Com a outra mão, socou o alfa várias vezes.
Depois torceu o braço do outro, fazendo-o soltar a arma e chutando seu
peito, fazendo-o rolar pelo chão.
— Onde tem um terreno vazio? — Dimitri perguntou para seu
ômega enquanto pegava a arma do chão e tirava as munições.
— Essa rua é sem saída, termina um terreno baldio. — Cauê indicou
o caminho. — Vou mandar mensagem para Alice contando que está
matando alguém, avisar por cortesia.
— Obrigado. — O alfa sorriu de canto.
Dimitri segurou o alfa no chão pelo tornozelo e o arrastou pela rua
de asfalto quente, não se importando com gritos e as tentativas do alfa se
soltar. Na vez que encheu sua paciência, virou-o com brutalidade, acertando
seu rosto no chão, deixando-o quase inconsciente.
Chegou no terreno, continuou o arrastando até o mato alto, então
pisou no pescoço. Pressionou até sentir os ossos sendo esmagados e os
olhos ficarem totalmente vermelhos. Sua primeira ideia era arrancar a
cabeça do alfa, mas tinha muitas crianças não lúpus por perto, não queria
traumatizar ninguém. Por isso o deixou no terreno vazio, longe dos olhos de
todos.
Suspirou, não teve diversão, mas pelo menos era um abusador a
menos no mundo.
Então, tudo bem.
Voltou para a casa da família de Cauê, algumas pessoas da família
do defunto começaram a gritar e reclamar. Gritaram que a culpa era da
esposa agredida, mas Cauê socou o primeiro que fez isso. O segundo tentou
brigar, então Dimitri apenas o empurrou e ninguém mais fez os enfrentou.
A polícia chegou logo depois, mas a primeira coisa que fizeram foi
identificar quem eram os lúpus e se apresentarem para Dimitri.
— Alfa Barkov, a família Moretto nos ligou. Pedimos desculpas
pelo incômodo, sinto muito por tudo isso ter atrapalhado a festa de sua
família. Iremos resolver tudo isso o mais rápido possível e manteremos uma
viatura na rua para evitar complicações. De novo, pedimos perdão para o
senhor e seu ômega.
Dimitri não tinha entendido muito bem o que eles tinham falado,
mas como Cauê concordou, ele fez o mesmo. Os policiais acompanharam
Suyane de volta para casa e parte da família do falecido foi presa por serem
cúmplices de agressão. Os agentes a levaram para o hospital, onde sua
família a encontraria. O IML levou o corpo do defunto, tudo resolvido em
minutos.
— Dimi é lúpus, eu disse para vocês — Cauê falou quando entraram
e todos os olhares estavam voltados para eles. — Essas coisas acontecem.
— Então ele pode, sabe, matar qualquer um? — uma tia perguntou.
— Mais ou menos.
— Como funciona? Tenho uma pequena lista — um primo falou, e
parte dos parentes ficou animada.
— Eu também.
— Na minha só tenho dois nomes.
— Na minha é só minha sogra, tenho prioridade.
— Ei, ninguém vai usar meu namorado de assassino particular! — o
ômega respondeu revoltado.
— Olha o que eu tenho aqui para todo mundo se acalmar! —
Marieta disse orgulhosa, mostrando duas garrafas, uma tinha um líquido
transparente, e a outra, um roxo, que o alfa achou bonito.
— O que é isso? — o russo perguntou.
— Cachaça e Tiquira. Nem sei de onde minha mãe arruma essas
coisas. — Cauê suspirou.
— Venha, Dimi, Cauê disse que você nunca provou Tiquira. Você
vai adorar!
— Só a mãe para descobrir que o genro é um assassino e o encher
de cachaça. — Tainá riu.
— Cuidado, essa é muito forte — o ômega avisou, e lúpus sorriu.
— Sou russo, lembra? — brincou, pegando o copo com líquido
roxo.
Virou todo o conteúdo do copo de uma vez e não esboçou reação
nenhuma, a família gritou e comemorou, brincando com ele e colocando
mais uma dose. Mas Dimitri sentiu o álcool rasgar a garganta, aquilo era
mesmo forte.
Ele tinha adorado.
— Mãe!
— O quê? Só mais um potinho. — Marieta colocou mais um pote
enorme em cima da mesa. — É para fazer lanchinho durante a viagem.
Cauê e Dimitri embarcariam para a Rússia naquela tarde. Era para
se encontrarem com Juliette e Chelsea, mas como Bruno resolveu
acompanhá-las, iriam direto para a Espanha, para resolver a mudança.
Juliette queria morrer porque ficaria mais tempo de vela, já que Bruno e
Chelsea estavam juntos.
O ômega tinha acordado naquela manhã e teve uma surpresa, além
de seu alfa não estar do seu lado. Descobriu que Dimitri e Marieta
acordaram cedo e foram à feira, depois no mercado juntos. Como uma
brasileira que não fala nenhuma outra língua e um russo que não fala
português tinham se entendido, Cauê não sabia.
O fato é que além de irem as compras, Marieta o ensinou a cozinhar,
principalmente cuscuz, que tinha se tornado uma paixão para ao alfa.
Também tinham comprados sacos enormes de farinha de milho flocada, o
ingrediente principal do cuscuz.
— Para garantir. — O alfa sorriu travesso.
Sorte que eles viajavam de jatinho particular, o ômega nem queria
imaginar como seria explicar tudo aquilo para alfandega. Era capaz de
serem acusados de tráfico de cuscuz.
Mas Marieta não parou só no cuscuz, ela fez diversas comidas e
separou todo em grandes potes para eles levarem na viagem. Era tanta
coisa, que precisaram comprar uma enorme caixa térmica para levar tudo.
— De onde a mãe tira tanto pote? — Tainá perguntou, assustada
com a quantidade de comida.
— Você que mora aqui, deveria saber.
— Ela é compulsiva, como que eu vou controlar. Ela tem uma
coleção inteira de potes de vaca. Quem usa conjunto de potes de vaca? —
Tainá perguntou e ela tinha um ponto.
— Nem acredito que já vão embora. Vou sentir tanta falta do meu
filho — Marieta disse abraçando Dimitri, que a abraçava de volta, mesmo
com a grande diferença de altura.
— O filho ainda sou eu — Cauê disse com as mãos na cintura. Mas
Dimitri e Marieta fizeram sinal com a mão, mostrando que o que ômega
estava falando, não era importante.
A viagem até Moscou era muito longa, o voo durava mais de catorze
horas. Contando com o fuso horário, saíram às duas da tarde do Brasil e
chegariam, mais ou menos, às dez da manhã em Moscou. Por isso Marieta
inventou de fazer diversos “lanchinhos” para eles. Mas Cauê encheu a caixa
de gelo e esperava que tudo chegasse intacto no seu destino.
Resolveram almoçar perto do aeroporto, para ter esses últimos
momentos em família e ser mais fácil embarcar. Tainá brincou que sentiria
mais falta do carro chique que tinham alugado por aqueles dias, do que do
irmão.
— Temos um último presente para vocês — Cauê anunciou antes de
saírem. — Tainá não deveria ganhar, mas Dimitri é muito bonzinho.
— Por isso que ele é o preferido da família — a irmã respondeu,
mostrando a língua.
— Para você — o russo disse em português, entregando um
envelope para Marieta, que já estava emocionada e agradecendo, dizendo
que não precisava, sem nem ter aberto e lido os documentos.
— Não estou entendo, o que isso quer dizer?
— Mãe, eles pagaram todo o financiamento da casa. Agora ela é sua
— Tainá disse aturdida, lendo o documento.
— Minha Luna. — Marieta estava espantada. — Não, isso deve
estar errado. É muito dinheiro.
— Bilionário. — Cauê apontou para Dimitri, depois para si. —
Noivo do bilionário.
— Mas... Mas...
— Mãe, nós te amamos. Você lutou muito por Tainá e eu. É mais do
que justo. A partir de agora você pode ter tudo que quiser. Dimitri pediu
para o amigo abrir uma conta no Lions Bank para cada uma de vocês e
vamos depositar um bom dinheiro. É para você usar com você. Faça todas
as viagens que quiser, compre o que quiser, construa um quarto só para seus
potes.
— Meu menino — Marieta disse com lágrimas nos olhos e
abraçando forte o filho.
— Não precisaria ter nossos documentos para abrir uma conta
bancária? — Tainá perguntou para Dimitri, depois de o agradecer várias
vezes.
— Aaron é o dono — explicou. — E ele já tinha os documentos de
vocês três assim que Vincenzo contou que eu tinha encontrado meu
soulmate.
— Como assim?
— Coisa de lúpus. — Deu de ombros. — Ah, seu presente.
— Ainda dá tempo de fingir que ela não vai ganhar nada — Cauê
brincou.
— Você só precisa ir nessa concessionária, na próxima segunda,
com seus documentos e buscar seu carro — Dimitri disse tranquilo,
entregando um cartão para Tainá. Parecia que ele estava falando de algo
banal, enquanto ela estava paralisada.
— É sério?
— Claro, maninha, mesmo você sendo um pé no saco, a gente te
ama.
— Obrigada! Obrigada! Obrigada! Luna não me deu um marido
rico, mas me deu um cunhado bilionário, o que é melhor ainda!
— Oxe! — Cauê exclamou.
Deixaram as malas no aeroporto e foram almoçar, foi um pouco
choroso e cheio de risadas. Dimitri e Marieta encontraram um jeito próprio
de se comunicar, ele e encantado pela ômega e ela já o considerava seu
filhote mais velho.
— Tem tiquira? — Cauê riu quando estavam na sala do embarque.
— Claro, cachaça e tiquira — o russo garantiu. Ele estava levando
várias garrafas, tanto para presente como para si. E já tinha feito planos com
Marieta para voltar em breve.
O aniversário da sogra era em março e o sonho dela era conhecer
alguns lugares na África. Dimitri já tinha mandado mensagem para Zinaida,
que respondeu que ficaria alegre em recebê-los em Angola.
— Lúpus ficam bêbados? Porque estou na dúvida se quero ver o
Trio do Caos ou com medo que o mundo não sobreviva a isso.
— Temos alta resistência, então é praticamente impossível. Neil é
irlandês e eu russo, nós dois testamos muito essa teoria. — O alfa riu.
— Não sou um lúpus nascido, mas quando me tornar um, também
ganho resistência? Isso seria muito útil. — Cauê mexeu as sobrancelhas,
fazendo o russo rir. Então se beijaram.
O ômega estava conversando com Juliette por mensagem. Ela
mandou um “SOS” seguido de uma foto fingindo que estava vomitando,
atrás Bruno e Chelsea fazendo skincare dentro do jatinho dos Moretto, que
os levava para a Espanha.

Juliette:
O lado bom é que ele está tentando ganhar “minha benção”, então está
fazendo tudo que quero

Cauê:
Mas você já gosta dele

Juliette:
Eu adoro a família dele e ele. Minha melhor amiga estar namorando um
alfa que sei que a respeita e gosta dela de verdade, ainda mais sendo um
amigo antigo, é incrível. Duas partes da minha vida se unindo
Porém ele não precisa saber de cara, ainda mais se posso tirar vantagem
disso

— Amor, temos um problema e talvez nos atrasemos — Dimitri


disse frustrado. — Fizeram confusão na escala e mandaram nosso
comissário para outro voo. Estão tentando encontrar alguém.
— Eu posso fazer, me contrate como um freelancer — sugeriu. —
Ainda tenho minha documentação.
— Não quero que trabalhe, quero você comigo naquele quarto a
viagem inteira.
— Se eu for o comissário do nosso voo, só termos nós dois e o
piloto, trancados na cabine.
— Tem razão, é uma ótima ideia!
Dimitri se afastou para resolver isso e Cauê riu. Houve uma
resistência, mas ninguém diria não a um lúpus. Ainda mais esse lúpus sendo
Dimitri Barkov.
— Preciso te dar todas as instruções? — o ômega perguntou quando
entraram na aeronave.
— Preciso que sente comigo para eu te beijar até você estar
suspirando meu nome — o alfa sussurrou no seu ouvido.
— Não que isso seja muito difícil.
Estavam sentados em seus lugares, aquela pressão ainda existia no
seu peito, mas não era nada que incomodasse o alfa. Seu soulmate estava
segurando sua mão e falando coisas aleatórias para o distrair. O lobo no
peito uivava feliz.
Dimitri tinha uma certeza avassaladora de que, mesmo que tivesse
havido um erro e Cauê não fosse seu soulmate, ainda se apaixonaria por ele
e o escolheria.
— Por que vocês só viajam de jatinho? — Cauê perguntou quando
entraram no quarto da aeronave. — Claro, além de serem bilionários e
poderem gastar todo o dinheiro que quiserem.
— Tem diversas razões — Dimitri respondeu, tirando sua camiseta e
se deitando com seu ômega. — Para os comuns somos, como você disse,
bilionários. Eles sempre pensam que podem fazer alguma coisa conosco e
sair impunes. Uma vez tentaram sequestrar Lise da escola, quando ela era
pequena.
— Luna, o que aconteceu?
— Vincenzo sempre está sorrindo e é muito divertido, mas quando
mexem com sua família, não é bonito. — O russo beijou o pescoço do
ômega, que suspirou. — E Lise é minha afilhada, então, precisei ajudar.
— Ajudar, claro, tipo confortar a família.
— É, quase isso. — Dimitri sorriu perigoso e beijou seu ômega.
O russo não iria explicar que Vincenzo prendeu os sequestradores de
sua filhote dentro de um porão e mexeu tanto com suas mentes, que um
deles acabou se matando. Nem como o italiano podia ser tão violento
quando Aaron e ele. Ou as coisas que o Trio do Caos fez com os outros.
Cauê e Dimitri estavam se beijando, o russo puxou a camiseta do
seu soulmate fora e beijou todo seu ombro, pescoço e desceu para os
mamilos. Ele adorava provocar seu soulmate até que ele estivesse sensível
demais para o toque e excitado demais para parar.
Já estavam completamente nus, suas ereções se esfregando,
lentamente. Os gemidos eram absorvidos em meio aos beijos. Dimitri
queria muito lamber e preparar seu soulmate, mas Cauê também queria
chupar seu alfa. Durante a estadia do Brasil, mal puderam fazer alguma
coisa sexual, por isso, estavam querendo tirar o atraso.
O russo estava sentado na cama, com as costas na cabeceira, seu
ômega entre suas pernas, o chupando e lambendo. A boca de Cauê era
quente, seus lábios percorriam a extensão de seu pau, a língua provocando a
fenda e os dentes raspando de leve, apenas para o deixar mais sensível.
O ômega queria deixá-lo louco, a beira do seu limite e estava
conseguindo. Dimitri estava se segurando para não dominar porque Cauê
tinha pedido para fazer uma coisa que queria. O alfa deixou, mesmo que o
consumisse por dentro não o virar na cama e o foder como queria.
Cauê ergueu os olhos para Dimitri, sorrindo provocando, o pau do
alfa escapando por entre seus lábios inchados e brilhantes de saliva. Dimitri
colocou uma mão na nuca do ômega e o puxou para si, seus rostos a
centímetros. Em momento nenhum Cauê perdeu o sorriso malicioso.
— Já se divertiu? — Dimitri perguntou com sua voz rouca de tesão.
— Ainda não fiz o que queria, só aproveitei o momento. — Cauê
riu, sentando-se no colo do seu alfa, rebolando em cima do pau.
— E o que você quer? — O alfa suspirou quando seu pau penetrou o
ômega. Cauê transformando o momento em uma lenta e deliciosa tortura.
O ômega se ajeitou no colo de seu alfa, fazendo os dois gemerem.
Os braços de Cauê estavam em volta do pescoço de Dimitri e as mãos do
russo seguravam a cintura do brasileiro. Cauê olhava nos olhos de Dimitri e
sorria.
— Quero que me morda.
— Você tem certeza? — Dimitri perguntou. Primeiro ficou atônito,
depois sorriu aberto, feliz.
— Nossos corpos já pertencem um ao outro, agora quero que nossas
almas também pertençam. Quero ter sua marca no meu pescoço e quero que
todos saibam que Dimitri Barkov é meu alfa.
— Ciumento — murmurou, beijando e mordiscando o pescoço do
seu ômega. — Você já é meu, não precisa da marca, você sabe, não é?
— Só me morde e me fode, na ordem que quiser e quantas vezes
quiser. — Cauê riu.
O russo sorriu de canto, aquele jeito perigoso, devorador. Segurou a
cintura do seu ômega com mais força, quase punitivo. Seu quadril se
movimentava rápido, acertando o ponto certo e indo tão fundo, que Cauê
precisou se segurar no alfa.
Ele mal conseguiu respirar ou pensar, seu prazer se formou, mas
uma mão apertou a base do seu pênis não o deixando gozar. O ômega
choramingou e se debateu, ele precisava gozar, estava tão perto, mas o alfa
não deixava.
A mão liberou seu pênis, mas grudou no cabelo de Cauê, puxando
para o lado e dando livre acesso ao seu pescoço. O ômega choramingava,
sua respiração entrecortada, não sendo o suficiente.
— Por favor..., Mestre...
— Eu te amo tanto — murmurou contra a pele do ômega, seus
dentes raspando, antecipando a mordida. Seu lobo uivava de ansiedade e
sua gengiva ardia para que o mordesse.
— Também... te... amo...
Cauê gritou quando as presas perfuraram sua pele. No primeiro
segundo foi uma dor confusa, mas depois foi como se prazer líquido fosse
injetado em suas veias e percorresse seu corpo.
Gozou tão forte, que ficou rouco de gemer. Sua visão ficou toda
branca e deitou o rosto no ombro do seu alfa. Dimitri gozou quase ao
mesmo tempo que seu ômega. Cauê estava com olhos fechados, respiração
ofegante, lábios inchados, cabelo bagunçado e aquele sorriso preguiçoso
nos lábios.
O alfa deu uma olhada na mordida, talvez tenha a deixado um pouco
mais do que precisava, mas era uma linda mordida e estava orgulhoso dela.
A lambeu e o ômega se arrepiou.
Quando já estavam deitados, enrolados nos lençóis, Cauê dormindo
que o alfa entende o que o ômega fez. Ele marcou o amor da sua vida, a
alma predestinada como sua, em uma viagem de avião. Em um momento
que antes era de medo, agora era amor.
Conhecia vários ômegas incríveis, guerreiros e inteligentes, mas
Luna o presenteou com o melhor de todos eles.
— Tinha esquecido que tinha que usar todo isso — Cauê resmungou
quando chegaram ao apartamento.
Deixaram as malas no subsolo para que o pessoal do prédio as
levasse para o apartamento, mas Dimitri fez questão de levar a caixa
térmica e a bolsa com as bebidas. Assim que entraram, já guardou tudo.
Algumas coisas eles comeram durante a viagem, mas tinha tanta coisa, que
devia ter comida para umas seis ou sete pessoas.
— Coloca meu celular para carregar, por favor — Dimitri pediu
enquanto guardava cuidadosamente suas bebidas. Ele estava tão animado,
que o ômega riu daquilo.
O celular do alfa estava totalmente descarregado, mas o seu ainda
tinha um pouco de bateria. Quando abriu as mensagens, tinha várias no
grupo com Gigio, Greg e Luc.
— Realmente, paz é uma coisa que não temos — murmurou. Só
esperava que ninguém tivesse morrido dessa vez. Nem estivesse perto
disso.

Gigio:
Cauê, quando aparecer, explique isso para nós, por favor
Todos estamos confusos

Cauê:
Explicar o quê?
Acabamos de chegar em casa, o que houve?

Greg:
Os Barkov declaram guerra contra a família Ivanov para conquistar a
Bielorrússia

— Porra! — exclamou e voltou correndo para a sala do


apartamento. — Dimi!
Dimitri estava olhando para o próprio celular, ele estava sério, mas
de um jeito bravo. Apesar de Cauê não ter medo dele, entendia por que os
outros tinham.
O telefone do alfa estava explodindo em mensagens e ligações
perdidas, não conseguia acompanhar tudo, mas viu uma de Tatiana que fez
seu sangue gelar. Então o aparelho começou a tocar, e a tela mostrava que
era Faina Ivanov.
— Você mentiu para mim! — ela gritava raivosa.
— Eu não...
— Mentiroso! Lúpus não deveriam poder mentir e você me
enganou! Você olhou nos meus olhos, apertou minha mão, me fez baixar as
defesas e nos atacou!
— Ivanov, eu nunca faria isso! — ele gritou de volta. — Acabei de
chegar das minhas férias, mas estou indo me encontrar com minha família
para descobrir o que está acontecendo!
— Se isso for verdade, sua família é a coisa mais suja e traiçoeira
que existe. Eu recebi uma rosa em nome do Líder dos Barkov minutos antes
de uma das minhas ser atacada. — Ela estava irritada e soava magoada. E
tinha razão para isso. — Seu presidente mesquinho apoia sua família, você
entende o que estão fazendo? Criando uma guerra e trazendo os comuns
junto para fazer pressão.
Sua cabeça soou um alarme de perigo, eles tinham ido longe demais.
— Faina, preste atenção, se os Barkov fizeram tudo isso, eu
resolverei. Nem que tenha que ficar do seu lado na guerra, trarei meus
amigos e te apoiaremos. Vocês não estarão sozinhos.
— Espero que desta vez cumpra sua promessa — Faina disse antes
de desligar.
— O que aconteceu? — Cauê perguntou. Sua alfa parecia tremer de
raiva.
— Ninguém me atende! — exclamou irritado, mas se controlando
para não assustar seu ômega. — Vou para a Mansão dos Barkov, melhor
você ficar aqui. As coisas ficarão feias.
— Nem pensar, eu vou junto.
— Amor, isso...
— Eu já bati na sua mãe e no seu primo, posso fazer de novo — o
brasileiro disse, colocando seu casaco. — Melhor, vou fazer isso de novo.
Dimitri segurou na mão do seu ômega em agradecimento silencioso.
Não houve conversas, cada um mexendo no seu próprio celular. O
ômega se arrependeu de não ter levado um power bank como seu alfa tinha
feito. A bateria do celular estava acabando, mas ele avisou o que estava
acontecendo, e a última mensagem que viu era de Luc e dizia “Estamos
indo para a Rússia”.
Mesmo que eles saíssem naquele minuto, ainda demoraria muito,
chegariam de madrugada, provavelmente. Mas tudo bem, ele seria o apoio
do seu alfa até que os outros chegassem. Estava segurando a mão de Dimitri
e não soltaria.
Bem, exceto para socar a cara de alguém.
Entraram na casa não dando tempo de nenhum empregado os
receber. Dimitri estava puro ódio, então apenas saíam da sua frente. Na sala
de estar tinha alguns familiares, eles abaixaram os olhos quando o viram,
envergonhados.
Mas não eram eles que o alfa queria, continuou andando até chegar
na sala de jantar, onde estava havendo uma reunião aos gritos.
— Se acalme, Tatiana — Irina ordenou, massageando sua têmpora,
como se tudo aquilo fosse apenas uma chateação.
— Vocês declararam uma guerra! GUERRA! Passaram por cima das
ordens de Dimitri! Como irão explicar isso a ele?
— Estava me perguntando isso, como irão me explicar? — Dimitri
falou alto, chamando a atenção de todos.
A maioria se levantou de suas cadeiras em pânico. Encaravam
Dimitri como uma criança assustada pega fazendo alguma coisa errada.
Tatiana foi até o primo e Cauê, com lágrimas nos olhos.
— Tomamos uma decisão na sua ausência — Irina, que não tinha e
levantado, foi a primeira a falar.
— Não, vocês passaram por cima da minha ordem.
— Quando você se ausentou, eu me tornei o líder — Kirill disse,
levantando-se e indo até o primo. — Avaliei nossas opções, e essa foi a que
eu considerei mais vantajosa.
— Vantajosa? — Dimitri riu sem humor e socou o primo. —
Vantajosa para quem? Criar uma guerra por território? Somos o maior país
do mundo, temos diversos territórios fora daqui e acha que precisamos
demais? Vai matar inocentes por isso? Fará com o que nossos morram por
causa do ego de vocês?
— Não é bem assim. E sabe que somos muito bem treinados...
— Não fale como se você for estar no campo de batalha, porque
nenhum de vocês estarão! — Dimitri estava cada vez mais frio. Não era o
alfa sorridente, era Baba Yaga, e assustava os outros. Mesmo Kirill, que
tentava manter a pose, mas mexia os dedos freneticamente, ansioso e com
medo.
— Dimitri...
— Cale a boca Irina! — ele ordenou a ela, que se assustou com o
tom de voz. — Criaram uma guerra que não lutarão, não morrerão, mas
ficarão com as glórias. Isso acaba aqui e quero todos fora.
— Não pode fazer isso! — alguém exclamou.
— Posso fazer o que eu quiser, eu sou o líder — respondeu irônico.
— Voltaremos atrás com essa declaração.
— Um lúpus nunca volta atrás com sua palavra. Manchará nossa
honra — o pai de Kirill protestou.
— Enfia a honra no cu! — Cauê gritou de volta. — Matar gente que
merece eu entendo, mas inocentes? Por quê?
— O presidente está de acordo.
— Ele é um maluco psicopata, igual a vocês!
— Esse assunto é para os alfas, devemos saber o nosso lugar.
Principalmente alguém que nem é da família — Carolyn disse para Cauê,
que revirou os olhos.
— Duas coisas. Primeira: — Cauê disse, puxando a gola da blusa e
mostrando sua mordida — sou mais da família que você. Segunda...
Agarrou Carolyn pelo cabelo com uma mão, puxando com força, a
ponto de ela gritar de dor. Com a outra mão bateu várias vezes no seu rosto,
até ter marcas vermelhas. Soltou-a, e ela caiu para trás, gritando e chorando.
Cauê se abaixou, ela tentou recuar, mas ele a agarrou pelo cabelo de
novo. Segurou seu rosto com força, fazendo-a encará-lo. Carolyn até tentou
chutá-lo, mas ele se ajoelhou sobre sua perna.
— Estou muito cansado de você — falou para ela. — Nunca mais se
atreva a falar comigo, muito menos tentar me dizer onde é o meu lugar.
Meu lugar é onde eu quiser. E, se eu quiser te quebrar inteira, vou fazer
isso. Essa parte você entendeu?
— Sim — murmurou.
— Quando me vir, abaixe os olhos, não fale comigo, não respire
perto de mim. Não me importo com seu sobrenome, com o meu, com quem
te fode. Eu vou cortar sua garganta se me encher o saco de novo.
Cauê se levantou, todos os olhos estavam sobre ele, mas apenas
Dimitri sorria orgulhoso.
— Seu ômega é um bárbaro! — Irina gritou, consolando Carolyn.
— Foda-se? — Cauê perguntou.
— Hipocrisia sua, sendo que armou uma guerra pelas minhas costas
— Dimitri respondeu.
— Dimitri, sei que está irritado, e tem razão. Muitos de nós não
concordam com isso, mas não temos o que fazer agora. Já houve a
declaração, foi assinado um acordo com o presidente dos comuns — Tio
Vasily disse com pesar.
— Você estava comigo quando fiz acordos de paz.
— E fui contra a guerra, mas não tem o que fazer. Kirill era o líder,
não poderíamos ir contra o líder.
— Pai, não — Tatiana murmurou, negando com a cabeça.
— Vocês foram contra mim, mas não puderam ir contra Kirill?! —
gritou e a maioria abaixou a cabeça. — Inacreditável.
Dimitri passou a mão pelo rosto, sabia que estava prestes a implodir,
como Sergio tinha chamado algumas vezes, ou virar a chave, como
Vincenzo falava. Tentava manter a sanidade, mas a sentia escorrendo pelos
dedos e sentia aquele torpor tomando conta do seu corpo.
A voz que sempre dizia que ele não se encaixava ali, que não era um
deles, que nunca seria o bastante, que ali não era seu lugar voltou com
força. A voz gritava “Você não pertence aqui”
— Está tudo bem — Cauê murmurou, segurando sua mão. —
Estamos juntos.
O lobo uivou concordando, então Dimitri suspirou. A voz estava
certa, ele não pertencia àquele lugar. Nunca tinha sido e nunca seria um
Barkov. Era o filho adotado de Lucia e Sergio Ferraro, irmão de Vincenzo e
Aaron, o “filho mais velho” de Marieta.
Era o alfa do ômega Cauê Novaes, e isso que era importante.
— Não sou um Barkov, não é? Nunca consegui ser bom o bastante
para vocês — falou sem emoção, cansado de tudo aquilo.
— Dimitri, não é isso... — sua tia tentou falar.
— Pare com seu drama! — Irina a interrompeu. — Está agindo
como um garoto mimado.
— Mimado por quem, mãe?
— O quê? Como assim? — Ela foi pega de surpresa.
— Quem me mimou? Você nem olha na minha cara há décadas.
Instruiu a todos que não poderiam me dar carinho, para que eu não me
tornasse fraco. Me fez treinar com os adultos, porque eu precisava
“crescer”. Então, me responde, mat’, quem me mimou, já que ninguém
podia demonstrar afeição por mim?
— Você... Você... — gaguejou.
— Estou esperando, quem me mimou? Quem me transformou em
alguém que só reclama? Fui o alfa mais jovem a terminar todo nosso
treinamento, o mais jovem a ir às missões. Fiz o faturamento da nossa
família aumentar, bancando os luxos de todos, estou no Conselho. Semanas
atrás entrei na Arena e saí perfeitamente bem, o que todos sabem, mas
apenas Tatiana entrou em contato comigo. Onde que eu te desrespeitei?
Onde que eu falhei?
— Suas escolhas...
— As minhas escolhas? Aquelas que garantiram que todos
estivéssemos tão confortáveis? Aquelas que nos fizeram ser reconhecidos
com respeito? Essas escolhas?
— Vocês e seus amigos trazem desgosto a nós! — Irina gritou,
lágrimas raivosas escorrias pelo seu rosto.
— Não fale dos meus amigos, Aaron e Vincenzo foram quem me
mantiveram vivo quando você deixou que eu morresse! — gritou de volta.
— Acha que nunca ouvi você sussurrando que preferia que eu tivesse
morrido naquele acidente, em vez do meu pai e da minha irmã? Eu ouvi
toda maldita vez!
As pessoas em volta estavam com os olhos arregalados, a maioria
parecia não saber daquilo. Até havia alguns olhares julgadores para Irina.
Cauê se surpreendeu com o fato de que Kirill era um destes. Parecia que ele
finalmente tinha visto sua tia como ela realmente era.
— Você não sabe como foi! — Irina explodiu.
— E como eu saberia? A primeira coisa que fez foi se livrar de mim
— Dimitri respondeu, olhando-a nos olhos o tempo todo. — Me tratava
como se a culpa da morte deles fosse minha.
— Vai chorar sobre isso de novo? — Ela revirou os olhos e se
afastou, limpando os olhos. Mas não o encarou novamente.
— Eu era uma criança! Tinha perdido parte da minha família e
precisava de você, mas você me jogou para fora como se eu fosse um nada.
Passou anos me tratando como lixo!
— Está agindo como um filhote mimado! — esbravejou, parecia ser
o único argumento que tinha.
— Vai insistir nisso? — Dimitri repetiu em voz baixa. Não havia
mais gritos ou menções de briga, foi como se ele, finalmente, tivesse
desistido. — Falarei para zia Lucia que está criticando a criação dela.
— Criação dela? — Irina perguntou, confusa.
— Sim. Se acha que me tornei um mimado, foi porque zia Lucia e
zio Sergio falharam em algo da minha criação. Não acho que ela irá gostar
disso, mas entendo que vocês têm diferentes visões sobre educar sua família
— ele parecia tranquilo, como se estivesse falando algo banal, o que
surpreendeu a todos.
— Do que está falando?
— Sei que ajudou a criar seus sobrinhos, mas, como os pais deles
estão vivos, não sei se é a mesma coisa. Talvez quando você tiver seus
próprios filhos, possa debater esse assunto com zia Lucia. Ainda assim,
você é alfa, e ela é ômega, os pesos na criação dos filhotes são diferentes.
— Pare de falar bobagens, você é meu filho.
— Não.
— O quê?
— Não sou seu filho, nunca fui e nunca serei. Depois que fiquei
órfão, fui adotado por Lucia e Sergio Ferraro. Sou um deles.
— O que está dizendo?
— Kirill — Dimitri se virou para o primo —, você ganhou, eu
desisto.
— Do que está falando? — Irina entrou na sua frente, todos que lhes
assistiam estavam confusos e assustados.
Menos Cauê, que sorria, apoiando seu alfa.
— Estou facilitando as coisas para vocês. Você sempre achou que
Kirill era melhor, mais forte, mais inteligente e com melhor visão sobre os
negócios da família do que eu. Passei minha vida tentando ser o melhor que
podia para ter sua validação em algo, coisa que nunca consegui nem
conseguirei.
— Não faça drama — a alfa disse, mas não estava mais confiante.
— Não é drama, apenas desisto. — Dimitri foi até o primo, que os
observava. Tirou o anel do seu dedo, o anel que representava a liderança de
todo o clã Barkov, seu direito por linhagem e o entregou para o primo. —
Isso é seu.
— Dimitri...
— Não quero ouvir mais nada. Você sempre quis isso. Cresceu
tentando provar que é melhor, tem o apoio de parte da nossa família,
inclusive de Irina. Eu que sempre fui o errado, insisti em tomar um lugar
que achei que fosse meu.
— Você é o líder, o nosso líder — Tatiana sussurrou.
— Apenas porque sou o único herdeiro biológico de Irina. Se não
fosse, não seria o escolhido — Dimitri respondeu a prima com carinho.
— Tem certeza? — Cauê perguntou, segurando o braço do seu alfa.
— Eu te amo, você me mostrou quem eu sou de verdade e que posso
ser feliz. Quero viver isso, quero estar apenas com pessoas que amo e me
amam. Você me fez entender que eu tenho o direito de ser feliz e não seria
aqui, fingindo ser quem não sou.
— Também te amo, vou te apoiar em qualquer decisão — o ômega
disse com lágrimas nos olhos.
O russo sorriu, fazendo carinho no seu rosto.
— Pare com esse teatro! — Irina estourou, gritando, assustando
algumas pessoas. — Você sempre faz de tudo para chamar atenção.
— Vai se tratar, sua idiota! — Cauê enfrentou a alfa, Dimitri teve
que o segurar para que o ômega não a socasse de novo. — Sua frustrada do
caralho! Você odeia Dimitri porque sabe que a culpa pela morte do seu
marido é sua!
Ficou um silêncio, e todos olharam para eles. Até Dimitri estava
confuso.
— O que você falou? — Os irmãos de Irina tiveram que a segurar
para que ela não fosse para cima do ômega.
— Trabalhei com aviões por muito tempo, eu sei como funciona.
Para um cair, precisa acontecer uma série de erros. Seu marido estava em
uma missão dos Barkov, no seu lugar! Você o mandou para aquela viagem.
O avião era seu, você não fez a manutenção correta. Você não conferiu a
habilidade dos pilotos. Você quis que fosse uma viagem rápida, não é? Mas
deu tempo de o avião abastecer corretamente?!
Cauê gritava as perguntas, e, a cada uma delas, Irina se debatia
menos, até ficar parada ali, destruída, a expressão de culpa e dor cada vez
mais evidente.
— Pare... — implorou.
— Por quê? Torturou meu alfa por décadas, mas não aguenta ouvir
que, se você tivesse prestado mais atenção, Rafail e Yelena ainda estariam
aqui? — Cauê riu sem humor. — Quem é a fraca?
— Eu não sabia que poderia acontecer, só depois explicaram...
— Todo esse tempo, você sabia a causa do acidente e nunca contou?
— Dimitri perguntou, sua voz estava baixa. Seus tios soltaram Irina, que
caiu de joelhos, chorando. — Você passou anos me fazendo me sentir
culpado por algo que era sua culpa.
— Não...
— Passei anos tendo crises de ansiedade e pânico! Me impedi de
viver muita coisa, porque sentia que tinha abandonado minha irmãzinha.
Você me fez desejar que eu tivesse morrido no lugar deles, quando a causa
foi só “você não sabia que poderia acontecer”?
Irina estava destruída no chão, chorando sem parar, soluçando a
ponto de seu corpo tremer.
— Quero que todos prestem atenção — Dimitri falou alto,
chamando a atenção de cada um ali presente. — Eu, Dimitri Arseny
Barkov, líder da família Barkov, renuncio a toda a minha família.
As pessoas começaram a murmurar, algumas até pediam perdão,
outras imploravam para que reconsiderasse. Irina ainda estava chorando, e
Kirill parecia ter sido atropelado.
— Calados! Meu ômega e eu não fazemos mais parte desta família.
Amanhã irei até o escritório e retirarei todas as minhas coisas. Podem tirar
minha foto da parede e bloquear todos os meus acessos. Espero,
sinceramente, nunca mais ter que encontrar nenhum de vocês. Exceto
Tatiana, você é a única que vale amar.
— Vou com vocês — a alfa disse com lágrimas nos olhos.
— Ainda não sabemos para onde vamos. — Dimitri fez carinho no
rosto da prima.
— Pode vir. Podemos não saber para onde vamos, mas será melhor
do que aqui. — Cauê sorriu.
— Carolyn, avise seu tio que não tenho mais nenhuma obrigação
com sua família, posso matar todos vocês — o russo disse tranquilo.
— E eu posso começar por você — Cauê completou. Ela ficou ainda
mais branca e recuou. O ômega tirou seu colar e o jogou em Kirill,
acertando seu rosto. — Para você entregar para seu ômega. E diga que
desejei boa-sorte para essa criatura, porque irá precisar.
Saíram da casa de mãos dadas, o caos estava instaurado lá dentro,
mas eles não se importaram. Dimitri se sentia preso em um torpor, como se
nada fosse real, mas, ao mesmo tempo, era inundado por um alívio.
— Dimitri, por favor, espere. — Eles se viraram e viram Kirill
correndo até eles. — Preciso te pedir perdão.
Dimitri sorriu compreensivo, então socou o primo, derrubando-o
contra o carro, e sangue escorrendo pela lateral da boca.
— Tem fetiche em levar socos do meu alfa? — Cauê perguntou,
cruzando os braços. — Porque ele só faz cena comigo, então é melhor
desistir.
— Não é isso — Kirill respondeu, endireitando-se e limpando o
sangue. — Primo, me perdoe, eu não tinha ideia...
— Do quê? De como eu era tratado? Do que acontecia? Não,
“primo”, você sabia, mas era conveniente. Agora é sua vez. Você é o líder e
vai ter que lidar com toda aquela merda. Boa sorte sendo o novo culpado
por tudo.
Cauê e Dimitri entraram no carro e foram embora para nunca mais
voltarem para a Mansão Barkov.

Entraram no apartamento, Dimitri foi direto ao seu bar, serviu-se de


duas doses de tiquira e engoliu de uma vez. Cauê tirou seus casacos,
revoltado.
— Estou me sentindo o João Grilo, fica rico, fica pobre. — O
ômega bufou, jogando-se no sofá.
— João quem? — o alfa perguntou, sentando-se ao lado do seu
soulmate.
— João Grilo, do Auto da Compadecida. Não te mostrei? Por Luna,
se alguém descobrir, posso perder minha carteirinha de nordestino.
O alfa riu e beijou o pescoço do seu ômega. Tinha muita coisa para
fazer e muito a decidir. Logo enviaria mensagens para Aaron e Vincenzo.
Por enquanto precisava respirar um pouco e pôr a cabeça no lugar.
— E agora? — Cauê sussurrou a pergunta.
— Temos que decidir para onde vamos e o que faremos. — Dimitri
suspirou.
— Quer saber? Não precisa se preocupar! — o ômega disse
confiante, abraçando o braço do seu alfa e entrelaçando seus dedos. —
Vamos resolver isso, temos muitas opções.
— Temos? — o alfa perguntou, sorrindo de canto, apenas para saber
onde aquilo iria parar.
— Sim, podemos voltar para a Fortaleza e morar com a mãe por um
tempo, até nos estabilizarmos. Tenho certeza de que Alice pode ter um
emprego para nós, e, mesmo que não tenha, podemos começar nosso
próprio negócio.
— Como o quê? — Estava tentando se manter sério, sua sorte era
que o ômega estava tão perdido em pensamentos, que não reparou.
— Podemos abrir uma escola de idiomas, nós dois somos fluentes
em vários.
— Claro, uma escola de idiomas.
— Sim. — Ele sorriu. — Posso voltar a trabalhar na primeira
companhia em que entrei como comissário, voltar a fazer voos domésticos
dentro do Nordeste. Mãe gosta de cozinhar, talvez possamos ir para esse
lado.
— Tinha pensado em ficar na Europa mesmo, mas o Brasil ainda é
uma opção boa.
— Podemos, sim. Podemos falar com Vincenzo ou Aaron. Quando
conversei com o Luc, o britânico, ele me convidou para as casas noturnas
deles. Talvez tenha um emprego para mim, trabalhei com muita coisa para
pagar meus estudos. O que importa é que vamos passar por essa juntos.
— Não te afeta que tenhamos que mudar nosso padrão de vida?
— Nem tive tempo de me acostumar, mas se tivesse tido mais um
mês, estaria chorando agora — brincou, então beijou seu alfa. — Não
importa onde vamos recomeçar ou como vamos, o importante é que
estaremos juntos. Eu te amo, e nada vai mudar.
— Eu também te amo. — Dimitri sorriu, segurando o rosto do seu
ômega e o beijando. — Mas preciso te contar uma coisa.
— O quê? — Cauê sorria confiante, mesmo achando que eles
perderam tudo. Isso fazia o coração do alfa aquecer e deixava seu lobo feliz.
— Não somos mais bilionários, mas ainda somos milionários.
— Hã?
— Sou advogado, lembra? Cuido do setor jurídico tanto do Grupo
Ferraro quanto do Lions Group, sou advogado pessoal dos meus amigos e
seus ômegas. Tenho muito dinheiro investido e sou sócio em outros
negócios. Todos estão no meu nome, não no da minha família, porque fiz
com meu dinheiro.
— Mas não temos que escolher para onde ir e o que fazer? — Cauê
perguntou, um pouco revoltado, o que fez o outro rir.
— Não quero morar mais neste país, então precisamos decidir para
onde mudar. Como serei advogado em tempo integral, o mais fácil seria
morarmos em Londres ou Roma. E temos que escolher para qual família
jurar, Lions, Ferraro ou, até mesmo, a Jones-Knight.
— Você disse que teremos que mudar nosso padrão de vida.
— Sim, teremos que dividir o jatinho com alguém. — Suspirou
dramaticamente.
— Nossa, isso, sim, é difícil, agora terei que repensar sobre nosso
relacionamento.
— Eu te amo — Dimitri sussurrou e beijou seu ômega.
Foram para o banho, porque Cauê disse que necessitava de um para
limpar as energias negativas. Comeram um pouco do que Marieta tinha
mandado e foram para cama, estavam muito cansados.
Dimitri sonhou com a senhora da comunidade indígena, ela sorria e
lhe dava uma flor vermelha. Também disse que agora tudo ficaria bem.
Mas, considerando que acordou com tapas no seu rosto, não sabia
qual era a definição de “bem” daquela velha.
— Que porra...?
— Acorda, husky! — Vincenzo gritou.
Dimitri abriu os olhos confuso, Aaron e Dimitri e estavam em seu
quarto, seu ômega não estava à vista.
— Se veste logo, estamos te esperando lá embaixo — Aaron o
avisou.
— O que estão fazendo aqui? — perguntou frustrado. Olhou para o
relógio e percebeu que havia dormido por várias horas.
— Viemos te resgatar, princesa. Agora se arruma — o loiro avisou,
e o russo revirou os olhos.
Cauê estava na cozinha com os outros ômegas, fofocando sobre o
que tinha acontecido. O brasileiro estava esquentando os pratos que Marieta
tinha feito e Luc parecia encantado com eles. Tentando entender cada
tempero e pesquisando como era a preparação.
— Que bebida é essa? — Vincenzo perguntou, mostrando uma das
garrafas.
— Tiquira, é do Brasil. A transparente do lado é cachaça.
— Cheira forte — o italiano disse, inalando, então encheu um copo
e bebeu.
— Não... Já era.
— Cazzo! — ele exclamou, fazendo careta. — Isso é mais forte que
o cheiro.
— Essa é a mais forte que tem, tem mais álcool que vodca — Cauê
explicou.
— Posso provar? — Luc pediu. Seu marido levantou a sobrancelha
e o ômega riu. — É roxinha, bonita.
— Não vão beber tudo — Dimitri avisou, descendo as escadas.
— Até eu quero provar — Greg comentou.
— Cuidado com o que desejam. — Cauê riu.
Pegou copos para todo mundo e colocou doses iguais para os alfas e
doses bem menores para os ômegas. Tirando Dimitri, que já estava se
acostumando, todos fizeram caretas, até mesmo Aaron.
— Não acho que tiquira se precise tomar igual a vodca — o
brasileiro comentou, bebericando do seu copo.
— Você avisa agora? — Greg reclamou
— Cachaça eu já conhecia, mas essa é nova — Vincenzo disse,
enquanto eles se serviam da comida de Marieta. — É feito por algum lugar
específico ou a receita está aberta?
— Não, é algo regional. Existem diversos tipos — o ômega
brasileiro respondeu.
— Perfetto! — Vincenzo exclamou animado. — Estava estudando
abrir uma nova sede para fabricação e bebidas, podemos começar com essas
duas.
— Não — Cauê, falou e todos olharam para ele.
— O quê? — o italiano perguntou confuso.
— Não, não pode — o brasileiro repetiu. — Vocês não podem pegar
a receita de uma bebida típica de uma região do meu país, que faz parte da
expressão cultural de uma comunidade, e começar a produzir na Europa
lucrando em cima. Isso é apropriação cultural.
O ômega encarava o lúpus italiano, que estava sério. Todos sabiam
que, por mais sarcástico ou debochado que Vincenzo fosse, ele tinha um
ótimo faro para negócios. Se ele tinha se entusiasmado com aquelas
bebidas, é porque já tinha pensado comercialmente e sabia que era
vantajoso.
Desde que assumiu o comando da família Ferraro, o alcance e os
lucros do Grupo Ferraro já tinham quase duplicado. Ele sabia fazer muito
bem o seu trabalho e sempre conseguia o que queria. Agora ele queria
aquelas bebidas.
— Então, o que me sugere? — perguntou para Cauê.
Aquilo fez o ômega suspirar aliviado, não queria entrar em uma
briga com Vincenzo. Além de gostar muito dele, era um dos melhores
amigos do seu alfa. Não queria colocar Dimitri no meio de uma disputa.
Ainda mais naquele momento.
— Compre a produção de produtores locais ou monte uma
cooperativa.
— Em vez de produzir, eu distribuo — Vincenzo ponderou a ideia.
— O marketing seria excelente, além da bebida de qualidade, o
grupo Ferraro estaria investindo na região — Greg opinou, e Cauê se sentiu
grato pelo apoio. — Poderíamos fazer como fizemos em parceria com
Thierry no vinhedo dele, na França. Construímos a estrutura, inclusive uma
escola próxima. A irmã do Cauê é psicopedagoga, ela pode cuidar de toda
essa parte.
— Gosto da ideia — o lúpus italiano comentou, pensativo.
— Só lembra que é uma cooperativa, é uma parceria sua com
produtores locais. O crédito é deles — o brasileiro falou, e Vincenzo riu,
concordando com a cabeça.
— Tutto bene. — Vincenzo estendeu a mão para Cauê, que apertou,
selando o acordo. — Gosto de como você negocia, tenho o lugar perfeito no
Grupo Ferraro para você.
— Acho que já sabemos para onde vamos — Dimitri comentou, e
seu soulmate sorriu para ele.

Assim que entraram na casa dos Ferraro, Lucia abraçou os dois e


não queria soltar. Até Sergio teve problemas para chegar até eles. A família
Ferraro fez um grande jantar para recebê-los e passaram boa parte do tempo
xingando cada Barkov existente.
Tatiana tinha ido com eles, ela também tinha renunciado à sua
família. Na manhã seguinte a toda a confusão, ela chegou no apartamento
do primo, com olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. Pediu perdão
por não ter impedido o que tinha acontecido e jurou sua lealdade a Dimitri,
mesmo ele dizendo que não precisava.
Greg e Luc tinham ficado com Cauê o ajudando na mudança. O
ômega nem tinha muita coisa lá, mas não queria ir ao escritório do Barkov
ver o que iriam aprontar. O Trio do Caos chegou tranquilo, com as coisas de
Dimitri, dizendo que tudo tinha ocorrido bem. Mas Greg soube que Kirill
tinha “sofrido um acidente”, por isso tinha adiado em algumas semanas
suas próximas reuniões.
Edward e Luc também tinham ido para Roma, prestar apoio para
Dimitri, até ofereceram que eles se juntassem à sua família, mas foram
interrompidos por Lucia.
— No, no. Eles são Ferraro! Sempre foram, sempre serão — ela
disse, cortando qualquer chance de discussão sobre o assunto.
Juliette, Chelsea e Bruno chegaram naquele mesmo dia. O brasileiro
se trancou com as amigas em um quarto e contou tudo para elas. Quando
disse que morariam em Roma, não na Rússia, as duas comemoraram muito.
— Graças a Zeus, eu não iria aguentar aquele lugar! — Juliette
exclamou.
— Iria virar um picolé australiano. — Chelsea suspirou.
— E aquela conversa de “iremos aonde você for”? — Cauê
perguntou, cruzando os braços.
— Nós vamos, mas, se puder ser em um país mais perto, mais
quente e sem comida estranha, nós agradecemos.
— Só queria dizer que quero participar do “Meus lúpus, minha
vida”, porque até agora só vocês se deram bem — Juliette disse com as
mãos na cintura, e os três riram.
Mas, logo depois, quando saíram do quarto, deram de cara com
Tatiana. Os olhos da alfa brilharam quando ela viu a brasileira.
— Tenho uma teoria de que, quando você é soulmate de um lúpus,
você acaba sendo atraído para o outro soulmate de outro lúpus, criando um
vínculo de amizade — Luc, o britânico, comentou.
— Isso faz muito sentido — Luc, o francês, disse, pensativo.
— Ou ninguém bate bem da cabeça, maluco atrai maluco — Cauê
falou, e os outros ômegas riram, concordando.
Dimitri e Cauê ficaram com Vincenzo e Greg até a casa deles ficar
pronta. Quem amou isso foram Lise e Damiano, que adoravam o zio
brasiliano. As coisas ficaram loucas por um tempo, como o fato de eles
terem apoiado a família Ivanov e terem ganhado a guerra.
Richard Knight não queria aceitar a troca de conselheiros, mas o
próprio Dimitri renunciou, agora Kirill era conselheiro representante da
família. Edward disse que era para ele aproveitar, porque, assim que
assumisse, Kirill sairia, e Dimitri voltaria, mesmo ele não sendo o líder da
sua família.
Coisa que Vincenzo tentou mudar, porque como Dimitri era, agora
oficialmente, filho de Lucia e Sergio, e ele era mais velho que Vincenzo, ele
deveria ser o líder. Aaron disse que entendia e fazia muito sentido,
Vincenzo estava certo. Dimitri teve que apelar para Sergio, Lucia e Greg,
implorando por ajuda para impedir.
— O que acha? — Dimitri perguntou para seu ômega, seria a
primeira noite na casa nova.
— É perfeita. — Cauê sorriu.
— Tudo é perfeito com você. — O alfa beijou seu ômega.
Seu lobo concordava, depois de muito tempo, finalmente tudo
estava perfeito.
Dimitri:
Já estou chegando

Cauê sorriu com a mensagem e respondeu apenas com um "Ok,


estamos te esperando".
— Papai está chegando, vamos deixar tudo pronto — o ômega falou
para Gael, seu filhotinho de dois anos, que bateu palmas só de ouvir uma de
suas palavras favoritas do mundo.
A vida nesses quatro anos havia sido louca, mas incrível. Eles
moravam em Roma e trabalhavam com os Ferraro. Além do emprego
normal, tinham se tornado, de certa forma diplomatas em nome dos Jones-
Knight. O ômega ainda viajava muito para outros países, com menos
frequência de quando era comissário, mas podia aproveitar mais.
A cada dois ou três meses, via sua mãe e sua irmã. Ou elas iam para
Roma, ou eles viajavam para o Ceará. Aaron tinha cumprido a promessa, e
o Trio do Caos abrira uma companhia aérea especializada para lúpus.
Juliette que a dirigia, e Tatiana a ajudava na gerência. Chelsea cuidava da
logística, e Bruno, do financeiro. Cauê estava presente quando podia e era
um dos responsáveis pelos treinamentos.
No começo até achou que seria um negócio pequeno, mas eles
cresceram bem mais do que esperavam e estavam indo muito bem. Como
tinha se tornado um serviço muito exclusivo, chamou atenção de outros
bilionários e milionários, tanto que Juliette avaliava o cliente, e ela escolhia
se iriam ou não fechar negócio.
Cauê já havia tido muitos momentos felizes na vida, mas agora
sentia que era feliz. Colocou a comida na mesa, e seu filhote lhe levou uma
colher, sendo de grande ajuda. Era véspera de aniversário do seu alfa e
estavam fazendo um jantar surpresa, só sua pequena família, já que no dia
seguinte teria a grande e rotineira comemoração na casa de Lucia e Sergio
Ferraro.
Verificou novamente se tudo estava certo, o presente especial estava
guardado no quarto. O carro parou na entrada da casa, e Cauê pegou Gael
no colo.
— Surpresa! — exclamou quando o alfa entrou. Dimitri sorriu e,
mesmo depois de quatro anos, o coração do ômega ainda disparava.
— Papa! Papa! — Gael batia palmas e queria o colo do pai.
— Obrigado — o russo sussurrou, beijando rapidamente seu ômega,
já que tinha um filhotinho animado e impaciente querendo sua atenção. —
Pronto, peguei você.
Ele brincou com o filho, jogando-o para cima e fazendo cócegas. O
filhotinho ria, depois abraçou o pescoço do pai. Gael era esperto e
sorridente, um lindo alfinha, que adorava sentir o cheiro dos pais.
Não foi necessário dizer nada, ele chamava Sergio e Raoni de
vovôs, Lucia e Marieta de vovós. Quando contaram a todos que estavam
esperando um filhote, foi uma grande festa, os dois lados comemoraram.
Cauê soube que Tatiana contou para a família Barvok, porque vários
ligaram parabenizando, alguns até foram visitá-lo, como faziam às vezes.
Irina não falou nada, nem quando soube da notícia por Tatiana, nem
para eles. Gael nasceu em Roma num ninho que Lucia fez no antigo quarto
de Dimitri, na casa dela. Marieta, Tainá, até mesmo Raoni e Maiara, com
seis filhos, estavam lá. Além dos Ferraro e de Aaron e Luc.
Uma semana depois do nascimento, receberam um presente enviado
por Irina, era um conjunto de roupas para o bebê com o símbolo dos Barkov
e um pequeno urso. Cauê nem pensou, jogou sal em tudo e descartou na
lareira acesa. Não queria aquela energia em seu filhote.
Dimitri e todos os outros concordaram com ele.
Agora seu filhotinho estava com dois anos, muito saudável e
brincalhão. Eles estavam jantando e o russo estava muito feliz, Cauê tinha
feito as comidas nordestinas favoritas de seu marido. Quatro anos depois, e
Dimitri ainda continuava viciado em cuscuz e tinha passado isso para Gael,
que sempre tomava café da manhã com o pai.
— Isso ficou lindo, você é um artista! — Dimitri exclamou ao ver o
desenho do filho. Na verdade, era só um monte de rabiscos coloridos, mas o
filhotinho amou o elogio e deitou a cabeça no ombro do pai.
— Coloque-o no berço — Cauê pediu horas mais tarde.
Era verão na Itália e eles gostavam de ficar na varanda do quarto,
tomando um vinho e conversando.
— Mas ele gosta de dormir no meu colo — resmungou, beijando a
cabeça do filhote adormecido.
— Se ele não estiver no berço, não posso dar seu presente especial,
que está no quarto.
— Sinto muito, filho, prioridades são prioridades. — Dimitri
suspirou dramaticamente.
Cauê riu baixinho e foi para o quarto esperar pelo alfa.
Estava sentado na poltrona da varanda, olhando a Roma noturna.
Sempre visitava Brasil e o amava, mas amava morar naquele lugar e ter a
vida que construíram.
— Pronto para meu presente — brincou, abaixando-se ao lado do
ômega e o beijando.
— Não se anime tanto — provocou.
— Eu te amo muito. — Dimitri o beijou. — Quer que eu pegue um
vinho?
— Não posso agora — Cauê respondeu, então pegou uma caixa de
presente vermelha e entregou para seu alfa. — Feliz aniversário, meu amor.
— Sabe que você é o meu maior presente. — Dimitri sorria feliz, os
últimos quatro anos tinham sido tão felizes que faziam os anos anteriores se
tornarem apenas borrões na sua história.
— Cancelei nossos planos para seu rut — o ômega disse sorrindo
— Por quê? — perguntou, confuso.
— O presente!
— Mandão. — Riu.
— Tenho que aproveitar para mandar agora, antes que estejamos na
cama. — Cauê sorriu de canto, vendo aquele brilho no olhar do alfa surgir.
Mas a atenção de Dimitri se voltou para a caixa que abria. Tinha um
lobo preto de pelúcia, mas não era o que Gael havia ganhado quando
nasceu, o da caixa era novo. Tinha um envelope e algo vermelho envolto
em papel seda.
Ele tinha ideia do que seria, mas não queria ter expectativas até abrir
o envelope. Foi lendo que aquele sorriso feliz e aquelas lágrimas se
formaram nos seus olhos.
— Vamos ter mais um bebê? — apesar de soar como uma pergunta,
era quase uma oração.
— Veja o outro presente — respondeu, fazendo carinho no seu alfa.
— "Garotinha do papai"? — Os olhos do alfa arregalaram. As
palavras escritas em português no body vermelho fizeram os olhos de
Dimitri brilhar.
— Pelas minhas contas, Yelena deve nascer em dezembro.
Podíamos tê-la no Brasil, no calor, em vez do inverno daqui. O que acha?
— Yelena? — o alfa sussurrou a pergunta, e o ômega sorriu,
concordando. Ele mesmo estava segurando as lágrimas. — É, acho que é
um bom plano.
— Sempre tenho ótimos planos. — Riu.
O alfa se ajoelhou na frente de Cauê, ficando entre suas pernas,
fazendo carinho na barriga e dando beijos repetidos.
— Você já é muito amada, princesa, muito mesmo. Seu papa é um
pouco ciumento, mas louco por você, seu irmão e sua mamma. E você tem
muita sorte, tem a melhor e mais inteligente mamma do mundo.
— Dimi — Cauê murmurou, lágrimas escorrendo pelo rosto. Ele se
inclinou e beijou o alfa. — Feliz aniversário, meu amor.
— Minha vida é feliz, porque eu tenho você e nossos filhotes —
Dimitri respondeu sorrindo e fez uma das coisas que mais amava fazer no
mundo.
Beijar seu soulmate.
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