Desejo - Isa Feijo
Desejo - Isa Feijo
Desejo - Isa Feijo
Brasil 2023
Copyright© Isa Feijó / Editora Calíope
Revisão: Antony Isidoro
Assistência e Capa: Jaqueline Brito
Diagramação: Isa Feijó
Todos os direitos reservados
Desejo
Alceu Valença
Vários anos atrás
Cauê:
Você é um tipo de stalker?
Alfa bonitão:
Todos os lúpus são
Cauê:
Eu deveria me preocupar?
Cauê:
Eu não?
Alguém precisa?
Cauê:
Nada de mal para mim? Querido, você chegou uns trinta anos atrasado
Cauê:
Podemos conversar sobre isso mais tarde
Cauê:
Quer vir mais tarde?
Isso fez o ômega sorrir, por mais que não tivesse admitido para as
amigas, estava muito ansioso para ver o alfa. Estava tentando ignorar as
palavras de Juliette, mas tinha algo bem lá no fundo de sua mente que se
perguntava se o problema não seria o contrário. Será que apenas um
encontro seria o suficiente para o ômega? E se ele quisesse mais?
Dimitri Barkov era o tipo de alfa pelo qual era quase impossível não
se apaixonar. Além de lindo, tinha um carisma que nunca tinha visto. Sabia
que quanto mais tempo ficasse perto dele, mais difícil seria ir embora.
Não queria dar a impressão de que estava desesperado pelo alfa,
mesmo que talvez estivesse um pouquinho, mas, se aquela era sua chance,
deveria aproveitar. Olhou no relógio, eram 18h30, mal tinha começado a se
arrumar, mas também queria vê-lo.
Cauê:
Se me der 30 minutos, estarei pronto
Cauê:
25
Cauê:
Tenho certeza de que conseguirá sobreviver, mas agora preciso
correr para estar bonito em apenas 25 minutos
Chelsea:
Gato demais!
Feliz transa de ano novo!
Juliette:
Você está lindo!
Se divirta!
Chelsea:
Aposto que ele vai
Hahahahahhahaha
Cauê:
Ainda está bebendo?
Juliette:
Juro que tentei controlar, mas perdi ela de vista por alguns minutos, e já
achou um grupo de irlandeses para fazer amizade
Cauê:
Boa sorte, porque agora vou me encontrar com o alfa bonitão
Juliette:
Se divirta, amanhã nos conte tudo
Chelsea:
😛
Aaron:
Seu tempo está acabando
— Melhor nos arrumarmos e nos encontrarmos com aqueles
enxeridos. — Dimitri suspirou.
Fernando:
Desculpa a demora, tem sido uma loucura. Consegui um voo para você
saindo do aeroporto de Roma às 19h40. Preciso que confirme se o pegará
até as 15h. Sua reserva no hotel se encerra às 16h, por isso, preciso que me
responda assim que puder
Cauê:
Obrigado pela ajuda, mas resolvi ficar em Roma mesmo
Mesmo sabendo que seu ômega ficaria, aquilo foi um alívio. Dimitri
beijou o pescoço de Cauê.
Fernando:
Tudo bem, mas Samer cortou as hospedagens na folga, então sua reserva se
encerra às 16h mesmo, desculpa
Vou mudar sua escala, em vez de no dia 4 você fazer aquele voo saindo de
Madrid, vou te colocar em voo saindo de Nápoles para Berlim, você pode
pegar o trem que fica mais cômodo. Te mando tudo por e-mail. Boa folga e
feliz ano novo
Cauê:
Obrigado, para você também
— Ótimo, agora vou ter que ver se o hotel tem como estender a
minha reserva e ainda vou pagar do meu bolso — resmungou guardando o
celular no bolso.
— Sabe que eu posso comprar o hotel inteiro para você, se quiser,
não é?
— Engraçadinho. — O ômega negou com cabeça rindo, mas pela
expressão do alfa, percebeu que não era brincadeira. — Sério?
— Você quer?
— Claro que não, o que eu ia fazer com um hotel?
— Você está falando isso para o dono de uma rede de hotéis? — O
alfa riu.
— Você é um bilionário, eu sou um pobre CLT.
— Um o quê?
— É coisa do Brasil, quer dizer que trabalho para alguém. Você que
é bilionário aqui. — Então o ômega arregalou os olhos, entendendo o que
tinha falado. — Você é bilionário, meu Zeus, transei com um bilionário.
— E espero que faça de novo. — Dimitri sorriu.
— E fiz de graça, deveria te cobrar por hora — Cauê falou
revoltado, fazendo o alfa rir alto.
— Contando com tudo que tenho em mente para fazer com você,
por hora te renderia muito dinheiro — provocou-o.
— Zeus, não sei se estou excitado ou ainda assustado com o fato de
você ser um bilionário.
— Por quê? — O alfa não se lembrava quando foi a última vez que
sorriu tanto. Talvez a resposta seja nunca.
— Me disseram que eu precisaria juntar um milhão por mês por mil
anos para ser bilionário. Eu nem sei como seria ter um milhão, imagina um
bilhão. Como é sua casa? Ela tem algo de diferente, tipo uma fonte de água
com gás ou carro mega caro em uma plataforma girando no meio da sala?
— Não, eu tenho dois apartamentos, e os dois são normais.
— Dois? Eu nem tenho uma quitinete.
— Um fica em Moscou, que é onde realmente moro, e outro fica
aqui, em Roma. Mas ele não está totalmente pronto, mal tem móveis. E,
mesmo quando ficar pronto, eu sempre fico no meu quarto na casa do
Vincenzo.
— Seu quarto?
— Tenho um quarto na casa de Vincenzo e outro na do Aaron, e eles
têm na minha. Foi uma promessa boba que fizemos adolescentes, mas ainda
cumprimos. Nenhum gosta de ser o anfitrião dos outros, mas gostamos de
sermos os hóspedes, assim podemos infernizar o dono da casa.
— Vocês parecem crianças, mas nem julgo, faria o mesmo com
minhas amigas se pudesse. Vem, vamos voltar para a casa, porque depois
dessa conversa realmente preciso beber.
Estar nos braços do alfa foi a única coisa que acalmou seu coração e
o fez dormir, mas logo ele acordou e não sabia o que fazer. Dimitri ainda
dormia tranquilo e Cauê achou muito injusto alguém ser tão lindo assim,
mesmo dormindo.
O ômega conseguiu se levantar e foi para o banheiro, ignorando a
leve dor no corpo. Precisava voltar para a academia se pretendia continuar
transando com Dimitri. Depois de usar o banheiro, ainda ficou se olhando
no espelho. O que faria?
Era oito horas da manhã do dia três de janeiro, em cinco horas teria
que partir e deixar o alfa para trás. Isso nunca tinha sido problemas,
ninguém valia mais que seu trabalho e seu esforço para chegar até ali. Mas
com Dimitri era diferente, era doloroso só cogitar essa ideia.
Quando seu ex-namorado tinha dito que, se assumisse os voos na
Europa, largando a América Latina, era para Cauê nem voltar, porque eles
tinham terminado, o ômega nem se importou. Fez as malas, despachou suas
coisas para casa da sua mãe e viajou com as amigas para comemorar a
transferência.
O ex quis voltar, passou semanas pedindo desculpas. Falava que eles
precisavam conversar, dizendo que Cauê não poderia jogar mais de um ano
de relacionamento fora desse jeito e perguntou se aquilo era realmente um
adeus, recebeu como resposta uma foto do ômega tomando café em Paris,
com a torre Eiffel ao fundo e a legenda “au revoir”.
Cauê:
Sei que é tarde aí, mas preciso desabafar
Tainá, você trocaria tudo por alguém?
Tainá:
Sua sorte é que cheguei de uma festa e estou fazendo algo para comer
Me diga o que seria esse “tudo” de que eu desistiria e quem seria o motivo
O ômega sorriu com a resposta da sua irmã, ele precisava muito dela
naquele momento.
Cauê:
Seu trabalho, a pessoa é seu soulmate
Tainá:
Sou professora de uma escola pública, que apesar de amar dar aula, não
recebe o suficiente. Então são poucas coisas que não me fariam desistir
Ainda mais sendo meu soulmate
Cauê:
Estou falando sério
Tainá:
Eu também, já viu quanto resta do meu salário depois de pagar as contas?
Nem eu, porque não sobra nada
Ele riu, queria poder abraçá-la. Sua mãe faria chá e um bolo, Tainá
seria a louca de sempre, mas o abraçaria e daria um grande conselho.
Tainá:
Seu alfa é seu soulmate?
Cauê:
Talvez?
Tainá:
É ou não é?
Cauê:
Sim
Juliette:
Calma, acabei de acordar. Do que você está falando?
Chelsea:
Claro que sim, vai lá, amigo, seja feliz!!!
Te amo e estou orgulhosa de você!!!
Cauê riu, mas não teve tempo de responder. Dimitri recebeu uma
ligação. Assim que viu o nome na tela do celular, sua expressão ficou
confusa e um pouco tensa. Ele se afastou para atender a chamada.
— O que houve com o husky?
— Não sei, uma tal de Tatiana ligou, e ele saiu desse jeito — Cauê
explicou, confuso. Vincenzo fez careta quando ouviu o nome. — O que foi?
— Tatiana é a prima dele. Se ela ligou, é provável que algo ruim
tenha acontecido.
— Dimi, o que foi? — Cauê perguntou quando o russo voltou com
uma expressão estranha.
— Preciso voltar para a Rússia agora mesmo, minha mãe sofreu um
acidente e está no hospital.
— Vamos com você — Vincenzo disse na hora.
— Não, vou sozinho, sabe como são. — O russo suspirou, irritado.
— Amor, eu preciso...
— Eu cuido das malas, você resolve nosso voo. Não se preocupe,
sou muito bom em fazer malas rápido. Tem ideia de quanto tempo
ficaremos? Não lavei todas as roupas que estão na minha mala, estou com
uma quantidade bem limitada, mas damos um jeito.
— Pode pegar as minhas, usamos quase o mesmo tamanho — Greg
sugeriu.
— Obrigado, isso me salva de passar vergonha.
— Cauê, você não...
— Não termina essa frase — o ômega avisou o russo. — Você não
pode falar tudo aquilo e me pedir para ficar com você para, no momento
que eu decido ficar, você ir para algum lugar sem mim. Não tem negociação
aqui, você não vai passar por isso sem mim. Irei fazer nossas malas e me
arrumar, você organiza nosso voo e, também, se arruma, então nós vamos,
ok?
Dimitri estava olhando nos olhos do seu ômega. Cauê não estava
brincando e nem hesitando. Ele tinha pegado nas entrelinhas que a família
de sangue de Dimitri não era algo com o que ele gostava lidar, então o
ômega não o deixaria sozinho com eles. O lobo no peito choramingou, ele
amava muito seu ômega.
— Certo. — Dimitri sorriu agradecido.
— Ótimo. — Cauê o beijou rapidamente e foi com Greg pegar
algumas roupas para a viagem.
Dimitri precisou de um segundo para se recuperar, ele que tanto
havia jurado cuidar de seu ômega, estava sendo cuidado por ele. Ele nunca
mais ficaria sozinho.
— Aí ela teve a ousadia de me chamar de “moreninho”. — Cauê
bufou, dramatizando a história. — Moreninho, acredita?
— Não gosta que te chamem assim? — Dimitri perguntou com um
sorriso no rosto. Estavam no voo para a Rússia, o ômega estava contando
coisas aleatórias sobre sua vida para distrair o alfa.
— Meu cabelo é preto, isso me faz ser moreno, então, se estiverem
falando da cor do meu cabelo, ok. Mas se estiverem falando da minha pele,
não. Não nasci com essa quantidade maravilhosa de melanina para alguém
me chamar de “moreninho”. — O ômega revirou os olhos. — Sou preto
com muito orgulho, e nada de “light skin”, “pardo” ou “caramelo”, é preto
mesmo. O máximo que aceito é mestiço por causa da minha ascendência
indígena.
— Nunca tinha pensado em todos esses termos — o alfa comentou.
Entendeu que precisava se atentar mais a esses detalhes. Sabia que seu
ômega tinha uma cultura totalmente diferente, mas as vivências dele
também eram opostas à sua.
— É que a maioria dos gringos já me consideram latino quando
explico que sou brasileiro. Mas “latino” não é uma etnia, somos diferentes
povos, com diferentes línguas e diferentes culturas.
— Realmente nunca me atentei a isso, mas vou corrigir. — O russo
entrelaçou os dedos ao do seu ômega.
Eles estavam no avião dos Ferraro, já que o dos Barkov estava em
Moscou. Dimitri não queria perder tempo esperando o avião. Eram nove
horas de voo de Moscou para Roma, não iria esperar esse tempo para ter
que passar mais nove horas indo de Roma para Moscou.
Só que isso queria dizer que a companhia que os estavam atendendo
era a mesma que Cauê trabalhava. Se a fofoca do dia anterior já tinha
corrido solta, agora então que ele virou o assunto principal.
Enquanto fazia as malas, tinha ligado para Fernando, o responsável
por arrumar as escalas, e dito que não poderia trabalhar por aqueles dias.
Explicou que tinha tido uma emergência familiar e que não sabia quando
voltaria.
— Certo, mas vou tirar do seu banco de horas — o colega disse,
contrariado, já que teria que arrumar alguém para substituir o brasileiro em
tão pouco tempo.
— Tudo bem, me desculpa, acabamos de receber a notícia. — Até
sentia pelo seu colega, mas não o suficiente para desistir de ir.
— O que aconteceu? Preciso saber o que colocar na ficha.
— Minha sogra sofreu um acidente, estamos indo para o hospital —
respondeu ignorando o olhar zombeteiro de Greg, que o ajudava com as
malas.
— Eu soube que está namorando um lúpus — o outro murmurou. É
claro que ele sabia, todo mundo deveria estar sabendo.
Fernando até tentou pescar mais alguma informação para atualizar a
fofoca, mas Cauê não deu brecha. Terminaram as malas, o ômega tomou
um banho e ficou pronto, logo Dimitri apareceu para fazer o mesmo. Não
tiveram tempo de se despedir da família Ferraro, Cauê mandou mensagem
para as amigas no carro que os levava para o aeroporto avisando o que
estava acontecendo. As duas garantiram que o ajudariam no que
precisassem e ele ficou imaginando no que duas ômegas comuns,
comissárias de bordo, pobres como ele, poderiam ajudar uma família
bilionária russa de lúpus. Mas apenas agradeceu e prometeu mantê-las
informadas do que estivesse acontecendo.
— Fiquei pensando em como seria esse quarto, mas não entrei nele
— Cauê disse quando foram liberados para soltar o cinto e Dimitri o levou
para o quarto do jatinho.
— São muitas horas de voo, melhor descansar. — O alfa parecia
cansado, mas o ômega sabia que era o estresse.
— Que tal uma massagem?
— Eu aceito — respondeu, sorrindo de canto.
O quarto estava quente, em temperatura perfeita. Ele se deitou de
bruços na cama sem camiseta, Cauê se sentou sobre seu quadril e começou
a massagear as costas do alfa. Preferia que tivesse um óleo de massagem ou
creme, mas também preferia que um dos comissários que estava atendendo
o voo não fosse Edoardo, o mesmo que tinha discutido com ele por Dimitri.
E que agora nem olhava na sua cara, mesmo que tentasse manter a postura
profissional.
— Isso é bom — Dimitri murmurou.
— Que bom, nas minhas últimas férias estava entediado e fiz um
curso online de massagem, usei minha mãe de cobaia e ela adorou. No fim
achei divertido e acabei fazendo um curso técnico em EAD de
massoterapia. Tinha que treinar nas minhas amigas nas horas vagas. Agora
elas acham que sou o terapeuta particular delas.
— Não, agora você é o meu. — O russo riu.
A voz dele estava baixa, um pouco rouca. Seus olhos fechados e sua
expressão muito mais relaxada do que antes. Cauê passeou sua mão pelas
costas do alfa. A tatuagem que parecia um tribal descia pelos seus braços,
mas no centro das costas tinha um lobo o encarando de volta. O ômega
tinha ficado fascinado com aquele desenho, agora fazia muito mais sentido.
Dimitri era lindo e chegava a ser revoltante como seu cabelo era
sedoso. O alfa cheirava tão bem, era reconfortante, como uma volta para
casa. Mas uma casa que amava e era amado de volta. Não como o russo
parecia se sentir voltando para Moscou. Cauê não sabia o que tinha
acontecido com seu alfa, mas ele o ajudaria lidar com isso.
— Hoje não tem música? — Dimitri murmurou.
— Achei que estava dormindo — Cauê brincou.
— Quase, mas gosto quando você coloca música para ouvirmos. —
Esticou a mão e puxou o ômega para si, aninhando-o em seus braços.
— Hoje você vai conhecer o Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Depois
que eu te acostumar com forró, vai conhecer as melhores bandas do mundo.
Mastruz com Leite, Calcinha Preta, Aviões do Forró... Tenho muita coisa
para te apresentar.
Dimitri não estava entendendo muito bem, mas sorriu concordando.
Qualquer coisa com seu ômega seria boa.
Aaron:
Sim e sinto muito por você, husky, que não teve a mesma sorte que eu.
Harvey morreu, mas Irina ainda está viva
Vincenzo:
Lamento, husky
Mas podemos cortar o freio na próxima vez
Aaron:
Por que não matamos de uma vez?
Aproveitamos e matamos Kirill, nunca gostei dele
Dimitri:
E você gosta de alguém?
Aaron:
Vocês ainda estão vivos, não?
Vincenzo:
Isso foi uma declaração?
Até tirei print para deixar salvo, colocarei em um telão na minha próxima
festa de aniversário.
Aaron:
Para isso você precisa estar vivo até lá
Vincenzo:
Como se Luc fosse te deixar nos matar
Dimitri:
Você, matar você
Hoje eu não fiz nada
Vincenzo:
Somos um pacote, se um passa por algo, todos passam
Se Cane Pazzo quer me torturar, tem que fazer o mesmo com você
Dimitri:
Aaron, mata ele logo, por favor
Vincenzo:
Husky!
Aaron:
Como Cauê está lidando com sua vida em Moscou?
(Luc que quer saber, não me importo)
Vincenzo:
Já contou que ele terá que se mudar para Moscou e se tornar o ômega líder
do maior país da nossa sociedade?
(Eu que quero saber, mas Greg está atento para as fofocas)
Dimitri:
Temos conversado, sinto que Cauê evita algumas perguntas porque não
quer ouvir as respostas. Ele sabe que somos soulmates e lidou muito bem
com isso, mas não falamos abertamente do futuro
Aaron:
Já levou seu ômega para Moscou, agora é só mantê-lo aí
Dimitri:
Como?
Cárcere privado?
Vincenzo:
Não ligue, Cane Pazzo, o husky é novo nisso de ter soulmate
Sequestro é quase uma marca registrada dos lúpus
Aaron:
Você já fez a parte mais difícil que é convencer seu ômega a ir para perto
da sua família asquerosa. Agora o dê motivos para ficar
Se ele já sabe que são soulmates, já deve estar aceitando o fato. Seu ômega
me parece alguém muito inteligente, um pouco azarado de te ter como
soulmate, mas ele é perspicaz
Dimitri:
Como consegue tentar me motivar e me ofender na mesma frase?
Vincenzo:
É porque ele nos ama, mas tem dificuldade de verbalizar. Por isso nos
ofende como forma de mascarar o que realmente sente
Aaron:
Vocês são o fardo que tenho que carregar para ter Sergio e Lucia em minha
vida
Dimitri:
Eu não fiz nada!!!
Aaron:
Não mesmo, não teve uma conversa sincera com seu soulmate sobre o que
são um para o outro e como isso os impacta. É muito fácil falar que lúpus
podem reconhecer seus soulmates e não contar o que vem depois. Não
contou sobre como funciona as coisas em nossa sociedade e que não somos
o mar de rosas que ele vivenciou em Roma
E não me deixou matar seu primo!
Vincenzo:
Por mais bizarro que seja, Cane Pazzo tem razão. Cauê ficou conosco aqui
e é muito fácil ter a impressão que todos os lúpus são assim. Com tudo que
tem acontecido nos últimos anos e as mudanças que estão por vir, os únicos
lugares totalmente seguros e acolhedores são Itália e o Reino Unido. E
Edward nem é dono oficialmente daquele território
Temos a Coréia do Sul, já que Choi é aliado, mas lá temos que seguir suas
regras. Não é como no UK, onde são tão loucos quanto nós.
Dimitri:
Tem mais uma coisa que não contei
Expliquei para Cauê sobre o “Baba Yaga”
Aaron:
Explicou mesmo? Contou que já matou pessoas com acendedor de lareira?
Vincenzo:
Que implodiu um prédio?
Aaron:
Que amarrou três alfas a um carro e dirigiu por quilômetros?
Vincenzo:
Que já estrangulou alguém com o cabo do seu carregador e depois ficou
bravo quando teve que comprar outro porque ele parou de funcionar?
Dimitri:
Já acabaram?
Vincenzo:
Espera, tem mais um
Contou sobre quando colocou fogo dentro de uma loja inteira porque foram
preconceituosos com Gigio e Angelo?
Dimitri:
Posso falar agora?
Aaron:
Não, também tenho mais uma
Contou que muitas das coisas que contribuíram para que todos pensem que
sou um louco assassino foram feitas por você, mas eu assumi a culpa para
te livrar, o que te faz ser tão sanguinário quanto eu?
Vincenzo:
Cane Pazzo, você é um louco assassino
Husky, agora você pode continuar
Dimitri:
Não entrei em detalhes, mas tentei explicar que tenho esse lado obscuro.
Tentei ser o mais aberto sobre o assunto e claro sobre como é uma faceta
perigosa e que não gostaria que ele visse isso
Cauê está animado, porque quer conhecer o “Baba Yaga”
Aaron:
Eu disse que ele é o corajoso desse relacionamento
E, bem, não é como se você pudesse evitar uma parte sua. Eu sou um
impaciente com problemas com controle da raiva, você é alguém que tenta
se controlar o tempo até que explode. Vincenzo é Vincenzo, um sem noção
que provocaria a terceira guerra mundial por diversão
Vincenzo:
Um dia conseguirei
Mas, de novo é bizarro, Cane Pazzo está certo. Não se foge de quem é e
nem tente mascarar para seu soulmate. Se ele é o escolhido para você, ele
saberá lidar com seu melhor e pior
Dimitri:
Ele enfrentou Kirill logo que o conheceu
Vincenzo:
E VOCÊ FALA AGORA?
Todo esse tempo choramingando sobre o que fazer e sua família de merda e
não nos contou que seu ômega enfrentou o desgraçado do seu primo?
Cane Pazzo, ainda dá tempo de trocar o Husky por Cauê?
Aaron:
Sempre dá
Eu disse que o ômega era o mais corajoso desse relacionamento
Dimitri
Eu sou bom e gentil, só perco a cabeça às vezes
Vincenzo:
Você, literalmente, lavou a boca do idiota com água e sabão por ele dizer
“coisas ruins” sobre seu ômega. Onde está a gentileza nisso?
Dimitri:
Era água!
Cane Pazzo quase afogou a madrasta do Luc no vinho e ninguém está
julgando
Aaron:
Foi minha mãe que fez isso, eu quase afoguei o irmão mais novo e ele tinha
19 anos
Deu certo, Thierry disse que o pirralho imbecil está sendo mais respeitoso
Dimitri:
Claro, você quase arrancou a alma do corpo dele
Aaron:
Não tente virar o assunto sobre mim. Você que se tornou o Baba Yaga na
frente do seu ômega e agora está todo arrependido
Não sei por que, Cauê já mostrou que não é fraco e é mais corajoso que
você. Aposto que está lidando muito melhor com a situação
Vincenzo:
Como ele está?
Dimitri:
No quarto, conversando por videochamada com as amigas
Depois do que aconteceu fomos em algumas lojas comprar roupas para ele
suportar o frio russo. Ele agiu normal, mas assim que chegamos correu
para o quarto e se trancou lá
Vincenzo:
Então vocês não conversaram sobre o assunto?
Dimitri:
Não
Aaron:
Mon Loup disse para não se preocupar, porque ele deve estar fofocando
com as amigas sobre o que aconteceu
Vincenzo:
Greg disse para você se preocupar, nossos ômegas estão criando um grupo
de conversa, mas Gigio está nele
Dimitri:
Estou muito ferrado
O chamei para sair depois de visitar Irina no hospital, mas ele disse que
prefere ficar em casa, agora está sozinho no quarto
Espero que Cauê não tenha se assustado
Gigio:
O que está acontecendo agora?
Tiveram alguma notícia?
Luc:
Ainda não sei, Nico está falando com Julie, mas ela também não tem todas
as informações. Nenhum dos alfas que estão atrás deles está respondendo,
não sabemos de nada
Estamos chegando em Londres, Mon Loup está desesperado. Quase
quebrou o aeroporto porque não queriam nos deixar embarcar
imediatamente
Greg:
Por Zeus, quando isso aconteceu?
Luc:
Hoje à tarde, mas só soubemos agora
Cauê:
O que está acontecendo?
Gigio:
Luc Jones-Knight, sua filha e Neil Khan-Payton foram sequestrados, não
temos atualização nenhuma
Greg:
Estávamos em Capri, mas já estamos voltando para Roma, deixaremos
Damiano e Lise com Lucia e vamos para Londres
Cauê:
Vou avisar Dimitri, creio que podemos chegar amanhã
Greg:
Gigio e Angelo cuidaram de tudo por aqui, não sabemos o que realmente
está acontecendo e quanto tempo levará para resolver essa situação
Gigio:
Luc, conseguiu mais informações?
Greg:
Luc?
Luc:
FAÇAM VINCENZO E DIMITRI LIGAREM PARA MON LOUP AGORA!
Greg:
Vincenzo está vindo, o que está acontecendo?
Luc:
Edward quebrou o Código!
Vincenzo:
Perdão, husky, meu filhote derrubou minha bola de cristal, que caiu e
quebrou, então não consigo adivinhar do que está falando sem que você
EXPLIQUE
Dimitri:
Stronzo!
Aaron tem razão, precisamos do maior apoio possível de fora do Conselho,
já que eles não nos apoiarão. Choi só estará do nosso lado porque somos
nós, qualquer outro ele deixaria morrer. Então já temos apoio de quase
toda Ásia, o que precisamos é focar em todas as famílias latino-americanas
e africanas. Faremos acordo com eles, conversaremos com Edward para
que chame alguns deles para o Conselho, investir em mais empresas deles
Vincenzo:
Minha distribuidora está disponível para qualquer coisa que eles produzam
e queiram exportar. Entraremos em uma enorme briga com as famílias
tradicionais, mas é o que eu digo, quanto mais caos, melhor
Dimitri:
Se todos soubessem que você é a verdadeira mente maligna entre nós três e
que adora fazer jogos e torturas mentais, não teriam tanto medo de Cane
Pazzo
Vincenzo:
Mas, como ninguém sabe, continuam achando que sou só um lúpus muito
divertido, debochado e que anda com dois loucos
Aaron:
A ideia do seu ômega é muito boa. Além de mais corajoso, é mais
inteligente do que você
Lions Bank está disponível para esses acordos, e não vejo problema
nenhum em conseguir que eles sejam os novos conselheiros. Edward
pretende trocar quase todos quando assumir e colocar mais diversidade
mesmo. Podemos garantir pelos menos dois lugares como conselheiros
Falei rapidamente com Edward, ele está muito cansado, devemos ir para
Wolf’s Castle em menos de uma semana. Eles só querem garantir que sua
filhote irá se recuperar bem. Então tudo precisa estar pronto antes de
chegarmos lá
Vincenzo:
Falei com Choi, Greg e eu já embarcamos, estamos indo para Seul onde
teremos uma reunião com ele. Adiantei um pouco do assunto, sem entrar
em detalhes, ele parece disposto a nos ajudar. Mas como ele detesta os
outros conselheiros tanto quanto nós, não é uma grande surpresa
Dimitri:
Nowak e seu grupo não existem mais, queimamos as propriedades, levamos
tudo de valor e entregaremos para as famílias das vítimas dele que
descobrimos. Yuri e Pasha estão apagando qualquer rastro dele, incluindo
qualquer ligação com a família do ex de Luc. Avisei nosso contato da
Interpol, tudo será registrado como vingança de um grupo rival
Alice Moretto está do nosso lado e falará com as famílias que têm contato
Vincenzo:
Matou todo mundo e ainda teve tempo de conversar com ela?
O que fez? Ligou entre um cadáver e outro?
Dimitri:
Cauê falou com ela, longa história, o importante é que estamos adiantados
nisso
Amanhã ligo para ela e para Zinaida Chidecasse, a alfa líder de Angola
Aaron:
Edward e Luc estão descansando, conversei com o resto do bando e
estamos nos preparando. Apesar de estar saindo como planejei, não tenho
certeza se tudo sairá como nos meus planos quando estivermos em Wolf’s
Castle. Mas não me importo em esmagar nossos inimigos como formigas
Vincenzo:
E quem se importa?
Se algumas gargantas precisam ser cortadas, faremos isso sem problemas
Cauê tinha acordado, mas Dimitri ainda dormia. Já tinha se passado
três dias. Eles tinham que fingir que tudo estava bem, mesmo que reuniões
secretas por videochamadas e planejamentos estivessem acontecendo.
Dimitri tinha conversado com Alice Moretto, que reiterou tudo o
que havia dito para Cauê. Explicou os motivos dela e, pelo que ouviu falar
de Edward Knight, gostava dele. Apoiaria no que pudesse e tinha entrado
em contato com outras famílias latinas. A cartada que, provavelmente, teria
um conselheiro sul-americano foi lançada. Alice disse que mesmo que não
fosse ela, esperava que a promessa fosse cumprida.
Ela também refez o convite para receber Dimitri e Cauê em sua
casa, o que deveria acontecer depois da viagem para Wolf’s Castle, caso
tudo saísse como o esperado.
Atualmente existiam dois conselheiros americanos no Conselho,
Santiago Pérez, da Colômbia, e Alejandro Hernandez, do México. Mas
nenhum se importou muito em trazer benefícios para a América Latina, só
pensando em seus próprios negócios. Ainda mais que Hernandez mal ficava
no México e a família Pérez vinha perdendo poder e influência, o que os
segurava ainda era o cargo de conselheiro. Mas era quase um consenso que
a família lúpus Torrado seria a nova líder do país, não de forma pacífica
como os Moretto tinham assumido o Brasil.
— Diga à Alfa Torrado que Vincenzo, Aaron e eu a apoiaremos para
assumir o cargo de líder do país. Seja na diplomacia ou no operacional —
Dimitri garantiu a Alice, que sorriu.
— Eu direi.
Eles sabiam o que a palavra “operacional” significava ali. E todos os
lúpus sabiam o que ter o “Trio do Caos” do seu lado na hora se lidar com
alguma coisa “operacional” realmente significava.
O russo também tinha conversado com Zinaida Chindecasse, a alfa
líder da família angolana. Alice e ela tinham ficado próximas, já que
planejavam diversos acordos que pudessem beneficiar tanto os dois países,
como boa parte da África e América Latina.
— Em uma ocasião normal, eu me manteria de fora. O Conselho
parece não se importar com meu continente inteiro, só se lembram de nós
quando precisam de algo — Zinaida disse na reunião por vídeo com
Dimitri,
— Sinto muito, não posso falar pelos outros conselheiros, mas meus
amigos e eu ficamos presos em nossas próprias lutas. Mudaremos isso a
partir de agora.
— Me encontrei com Edward Knight uma vez, antes mesmo de
assumir minha família. Conversei com ele em Londres, e ele me ofereceu
ajuda no que eu precisasse, foi o primeiro a fazer isso e cumprir. Por
intervenção dele, Aaron Lions veio até nós, e tivemos todo o investimento
de que precisávamos. Anos depois, tive alguns problemas. Edward mandou
alguns integrantes do seu bando, liderados por Liz Lopez, e tudo foi
resolvido. Tenho admiração por ele e farei de bom grado.
— Obrigado.
— Não sei o que o famoso “Trio do Caos” está planejando, mas sei
que será grande, talvez histórico. Vocês estão buscando por muito apoio,
porque sabem que precisarão. Isso me fez acreditar que o quer que esteja
acontecendo, é só o início de algo. Fazer parte da mudança que virá, me
agrada. Mas saiba que se não cumprirem sua parte no acordo, terá guerra.
— Lúpus não voltam atrás em suas promessas, você sabe disso.
Confesso que ficamos omissos, mas agora as coisas mudarão.
Sinceramente, nem eu sei direito o que Aaron está planejando, mas ele
sempre tem um plano, e confiamos nele.
— Sempre achei engraçada a ligação dele e de Edward. — Zinaida
sorriu. Ela era uma alfa muito bonita, pele retinta e o tipo de sorriso
impossível de não se admirar. — Todos dizem que são como irmãos, mas
me parecem mais pai e filho.
— Se Aaron fosse um pouco mais velho, até pediríamos que eles
fizessem teste de paternidade. — Dimitri sorriu. — Richard odeia como
eles são parecidos.
— Sinceramente, qualquer coisa que irrite Richard Knight me faz
muito feliz. — O sorriso de canto fez Dimitri entender por que Alice e ela
se tornaram amigas e que elas se dariam muito bem com o “Trio do Caos”.
Nesse meio tempo Cauê estava tentando aprender o máximo sobre
os costumes Barkov e até tinha aprendido novas frases em russo. Pelo
menos já conseguia mandar alguém ir se foder, o que, usando de base os
acontecimentos naquele jantar, seria útil.
Mas no momento o ômega estava deitado, seu alfa dormia tranquilo
com a mão em sua cintura. Os últimos dias foram tensos e cansativos,
apesar de se beijarem o tempo todo e terem momentos íntimos, não tinham
realmente transado e o brasileiro não conseguia pensar em outra coisa
quando seu corpo nu estava tão próximo do corpo nu e quente de Dimitri.
Devia ser muito errado pensar em sexo quando tudo aquilo estava
acontecendo, porque uma menina de seis anos tinha quase morrido... Se
bem que ela estava bem... Mas os pais teriam que arcar com as
consequências das escolhas para salvá-la... Eles estavam a oito horas de voo
de distância, faria diferença para eles?
— Luna — murmurou, ajeitando-se na cama.
Dimitri, ainda dormindo, também se ajeitou. Abraçou o ômega mais
apertado, seu peito pressionado nas costas do ômega. Tanto que o brasileiro
sentia cada respiração do russo. O problema é que o pau estava bem na
bunda de Cauê, que tentou pensar em qualquer outra coisa, mas sem
sucesso.
Será que Greg e Luc também passavam por isso?
— Bom dia — Dimitri murmurou, em português, com voz rouca.
Ele também estava aprendendo a língua do soulmate.
— Oh, minha Luna. — Cauê arrepiou com a voz do russo.
O alfa percebeu e sorriu, beijando a nuca do ômega, que tremeu um
pouco em seus braços. A pele dele já era bonita, mas assim, arrepiada e
sensível ao seu toque, era ainda mais. Ele não conseguia parar de tocar seu
soulmate.
Dimitri aproximou o rosto, passando seu nariz da base do pescoço
até a nuca do ômega, inalando o delicioso aroma de cacau com maracujá,
então beijou várias vezes o local. Seu lobo implorando para o marcar, mas
ainda não era o momento.
Sua mão fazia carinho na pele nua, passando por sua cintura,
abdômen, voltando para o quadril, então aquela bunda que o deixava louco.
— Dimi... — Cauê sussurrou, mordendo o lábio para não gemer.
Não tinham feito nada, e já estava assim.
— Estou aqui, amor — o alfa murmurou em seu ouvido, os dentes
raspando sua pele.
— Quero você — disse, rebolando um pouco, sua bunda
pressionando o pau do alfa, que já estava endurecendo muito rápido.
— Que bom — Dimitri suspirou, sua mão entre as pernas do ômega
—, porque eu sempre quero você.
A mão do alfa o acariciava, movimentando o pau do brasileiro,
construindo o prazer com delicadeza e atenção, mas não era isso que Cauê
queria. Queria áspero, duro, queria chorar com o prazer.
— O que foi? — O russo escondeu o riso com o bufo de frustração
do soulmate.
— Eu amo o Dimi, mas quero a outra versão.
Dimitri puxou o ômega, virando-os na cama rapidamente e ficando
sobre ele. Os rostos na mesma altura, os paus se tocando.
— Qual versão?
— O dominador — Cauê disse sem medo do olhar faminto que
recebia.
— Cuidado com o que pede — o alfa o avisou, beijando o pescoço
do seu soulmate.
— Não se preocupe, sou um garoto crescido, sei o que quero. — O
ômega mexeu o quadril, e os dois gemeram.
— Não diga isso quando não sabe o que virá.
— Então me deixe descobrir.
— Acabamos de acordar
— Nunca ouviu falar de sexo matinal?
— Sexo matinal é uma coisa, outra é fazer uma cena de BDSM. —
O alfa fez carinho em seu ômega provocador.
— E qual seria o problema?
— O maior deles é que você ainda não está acostumado com esse
estilo.
— Te disse que não é a primeira vez que... — a fala do ômega foi
interrompida pelos seus gemidos, pois o alfa segurava seu pau, acariciando-
o.
— Você não entendeu, amor. — Dimitri o puxou pelo cabelo,
fazendo-o arquear o corpo, deixando seu pescoço totalmente exposto. —
Você não está acostumado com o MEU estilo.
— Está com medo de eu me assustar ou de não conseguir me
dominar?
O brilho no olhar do alfa deu a resposta que Cauê queria. Ele tinha
atingido o ego do lado dominador. Na mesma hora o russo se levantou e foi
até o closet, voltando rapidamente com algumas coisas na mão, que ele
deixou cair na cama.
— Na cama você me chama de mestre, entendeu? — perguntou,
segurando o rosto do seu ômega. Não de um jeito delicado, mas mostrando
quem mandava ali.
— Sim — respondeu, lambendo o lábio.
— Qual sua palavra de segurança?
— Avião.
— Tenha isso em mente, porque eu só paro depois das lágrimas.
Ele pegou o controle do ar-condicionado deixando a temperatura no
mais frio possível, sendo incômodo para o ômega. Quando Cauê tentou
puxar uma das cobertas, Dimitri as jogou para fora da cama. O brasileiro
não gostava de frio e o alfa sabia daquilo, por isso o russo gostou de ver a
pele arrepiada.
— Vou te deixar tão quente, que o frio não será mais um problema.
De joelhos, agora.
O ômega obedeceu prontamente. O alfa prendeu um pequeno plug
no pau do brasileiro, que não entendeu bem o motivo, até que o aparelho
começou a vibrar, enviando espasmos por todo o corpo.
— Você faz apenas o que eu mando, não pode se mexer sem minha
permissão, mesmo que seja um movimento pequeno. Mas, como estou
pegando leve hoje, vou te deixar gemer à vontade — o russo disse por trás
do ômega, seus corpos colados. O ômega suspirou concordando, mas o alfa
o segurou pelo pescoço, apertando um pouco e o fazendo engolir em seco.
— Não vai agradecer ao seu mestre? Acabei de fazer uma gentileza e você
não tem a educação de me agradecer?
— Obrigado... — gemeu, porque os dedos da outra mão estavam
rodeando sua entrada, penetrando devagar.
— Obrigado o quê?
— Obrigado, mestre. — Ofegou.
— Isso, bem melhor. — Beijou delicadamente o pescoço do ômega.
O que contrastava com o aperto no pescoço e os dedos o abrindo e
provocando.
O frio ainda era um incômodo, mas cada vez menor. O alfa estava
certo, o ômega se sentia muito quente. O plug preso em seu pau vibrava,
estimulando-o, mas não era o suficiente, precisava de mais. Era como se o
prazer fosse quase bom, mas faltasse algo. Uma pequena faísca, e entraria
em combustão, mas ela não vinha.
— Viu o que acontece quando se duvida de seu mestre? — Dimitri
murmurou quando se ômega começou a choramingar por mais.
— Por favor..., eu preciso...
— Eu sei do que precisa — o alfa o interrompeu.
Soltou o plug, mas o manteve em sua mão. Colocou lubrificante em
cima dele e aumentou a velocidade no máximo. Cauê pensou em tentar
fugir, mas era tarde demais. A mão em seu pescoço estava de volta,
mantendo-o no lugar. A mão com o plug envolveu seu pau, masturbando-o.
Se antes faltava algo, agora era demais.
Cauê estava de joelhos na cama, seu alfa atrás, com o corpo colado
no seu. O frio do quarto não incomodava mais, sua pele parecia estar
pegando fogo. A mão direita de Dimitri segurava o ômega pelo pescoço,
deixando a respiração entrecortada, apenas o suficiente para não desmaiar,
mas não o bastante para respirar direito. A mão esquerda masturbava Cauê,
o pequeno plug vibrando em velocidade alta, sendo pressionado contra o
pênis do brasileiro de modo quase punitivo.
As vibrações e os movimentos da mão do alfa, deslizando
facilmente pelo seu pau por causa do lubrificante, o pau do alfa raspando
em sua entrada, mas sem penetrar, e as coisas sussurradas no seu ouvido,
quase o faziam chorar.
— Por favor — implorava. Precisava gozar, sentia seu corpo
implodindo e queimando, precisava do alívio.
— Quer gozar? Mas não me pediu para te mostrar minha versão
Dom? Não queria sentir um pouco do que podemos fazer juntos? — o alfa o
provocava. A voz baixa e rouca, direto no ouvido. Os dentes e lábios pela
sua pele. — Não está se sentindo bem?
— Preciso... gozar... Eu... não... aguento... mais...
— Não aguenta? Então diga sua palavra se segurança e eu paro. Não
é isso que quer? Que eu pare?
— Não... Dimi...
— Quer algo de mim e nem me chama pela sua forma correta? — O
russo aumentou o movimento, o brasileiro gemia. Mas quando o ômega
estava no limite, diminuiu o ritmo, fazendo-o gritar frustrado e querer se
debater. — Fale direito comigo.
— Mestre! — Cauê exclamou ofegante.
— Bem melhor — o alfa disse de um jeito falsamente doce e beijou
os cabelos suados de Cauê. — O que meu lindo Sub quer?
— Gozar...
— E como você quer? Seja claro.
— Mestre, por favor, me foda até que eu goze! — exclamou com
raiva.
— Viu? Não é tão difícil.
Dimitri soltou o ômega, que caiu de bruços no chão. Cauê já estava
ofegante e mal tinha forças. Tentou se levantar, mas o máximo que
conseguiu foi se apoiar nos cotovelos.
O alfa admirou por um momento seu soulmate tão entregue e
obediente, mesmo a contragosto. As mãos espalmaram as nádegas perfeitas
e macias, a entrada brilhante de lubrificação, quase implorando para ser
penetrada. Inclinou-se e lambeu, sentindo o gosto do ômega que gemia e
ofegava, rebolando na língua do seu alfa, procurando por mais contato.
Por mais que o gosto do seu soulmate fosse inebriante, o objetivo ali
não era torturar seu ômega. Pelo menos não naquele dia. Então precisava
dar o que ele queria. Penetrou-o com cuidado, indo aos poucos, avançando
lentamente e assistindo cada segundo. Observar a entrada engolindo seu pau
era um show à parte, quase o fazia perder o controle.
Quando sentiu o pau do alfa totalmente dentro de si, Cauê voltou a
respirar. Dimitri fez um movimento pequeno e curto, só para testar se o
ômega estava bem, e teve um gemido de prazer como resposta. Então ele
começou a aumentar a velocidade e força, procurando e acertando
exatamente o ponto que fazia as lágrimas se formarem nos olhos ômega e a
respiração falhar.
Cauê não sabia dizer o quanto gemeu, gritou, ficou sem respirar e
ofegou. Era muita coisa ao mesmo tempo. Quando tentou tocar seu próprio
pênis, o alfa puxou as mãos do ômega e as segurou em suas costas,
fazendo-o ficar de cara no colchão.
Estava completamente entregue e à mercê do seu alfa. Tinha algo
muito excitante naquilo, o russo o imobilizou, podia fazer qualquer coisa
com ele, o usando para o prazer. O poder estava completamente e isso
aumentava o tesão.
— Você tem permissão de gozar — Dimitri disse, fazendo carinho
nas costas do ômega, que começou a agradecer, sem conseguir se controlar.
Ele gozou logo depois, soluçando de tão forte que foi. Sua testa
estava encostada no lençol, lutando para voltar a respirar. O alfa gozou,
respirou fundo e saiu do ômega com cuidado, deitando-se do seu lado e o
puxando para seus braços. Ficaram um tempo ali, enquanto as últimas
ondas de prazer iam embora.
— Se isso é o seu leve, temos que terminar nosso relacionamento
agora — o ômega murmurou, se aninhando ao alfa, que riu alto.
— Eu te avisei, você que continuou pedindo.
— Pedi uma amostra de como você é como dominador, não de como
é ser atropelado por caminhão — resmungou.
— Sinto muito, mas é difícil não me empolgar com você gemendo
meu nome.
— Você não parece sentir.
— É, não sinto. — O alfa o beijou.
Cauê acordou horas mais tarde, Dimitri tinha saído para resolver
algumas coisas e o ômega tinha combinado com Tatiana de sair um pouco.
Antes de deixar o ômega dormir, o alfa o fez se hidratar e se alimentar, ele
cuidava muito do soulmate, o que fazia o brasileiro sorrir.
Enquanto se vestia, depois de um bom banho quente para aliviar as
dores no corpo, trocou mensagens com as amigas e com as irmãs,
atualizando das fofocas. Até estava conversando com Levi, o ômega de
Alice, ele era um cara muito legal e como Cauê também era meio nerd, os
dois tinham virado amigos rapidamente.
— Garfield! — Dimitri exclamou, animado. O ômega tinha
mandado fotos da meia do dia, e o alfa fez questão de ligar para falar o
quanto achou bonito. Foram essas pequenas coisas, além do sexo
fenomenal, que ganharam o coração de Cauê.
Ah, claro, também tinha o fato de que eram almas gêmeas
escolhidas por Luna para ficarem juntos pela eternidade.
— Hoje me sinto como ele, preguiçoso e com vontade de voltar para
a cama.
— Também quer uma lasanha?
— Até aceito, mas queria mesmo era um baião de dois, com pargo
frito, um limãozinho e paçoca — o ômega disse, sonhando com a comida.
— Paçoca? — o russo tentou falar, o que brasileiro achou fofo. — O
doce?
— Não. — Riu. — No Ceará, a paçoquinha é o doce, a paçoca é um
tipo de farofa.
— Farofa? — perguntou confuso, o que fez o outro rir de novo.
— Esquece, quando formos para o Brasil, explico melhor.
— Falei com Boris e Efim, quando sairmos de Wolf’s Castle
podemos ir direto para o Brasil. Alice disse que devemos ir direto para São
Paulo para encontrá-los, ela convidou algumas famílias de outros países
para conhecermos.
— Acho que o nosso jantarzinho informal acabou de virar um
encontro diplomático. Mas temos que passar na Espanha antes.
— Sim, já falei com Vincenzo, nos encontramos em Manchester,
vamos para Wolf’s Castle juntos. Depois eles irão conosco para Espanha e
vamos para o Brasil.
— Você e Vincenzo junto do meu chefe, claro, por que não?
— Pense pelo lado bom, provavelmente Cane Pazzo não irá junto.
Tatiana levou Cauê para almoçar em seu restaurante favorito.
Apesar de não ter achado ruim, poucas coisas eram do tipo que ele comeria
de novo. Mas elogiou tudo para ser educado, deixando-a feliz consigo
mesma. Encontraram Aleksei, o assistente, que era um beta muito
simpático, e Cauê tinha gostado.
O beta entregou a ele o novo cartão de crédito. Era preto, com o
símbolo dos lúpus e o logo do Lions Bank. Aleksei explicou que era um
cartão internacional, podendo ser usado em quase todos os países. Falou de
mais vantagens e coisas assim, mas Cauê só reparou no nome escrito: Cauê
Barkov.
Era isso, ele era um Barkov.
O ômega de Dimitri Barkov.
Quando chegaram aos escritórios dos Barkov, Aleksei os levou para
o último andar. Ele estava explicando como ali era apenas o “centro de
operações” das empresas, mas tinham negócios espalhados pelo mundo
inteiro. O principal ramo era a mineração, era dali que vinha a maior parte
da fortuna, mas que a rede de hotéis tinha aumentado e muito o
faturamento, sem contar os investimentos menores.
Cauê até pensou em dar uma passada no escritório da administração
dos hotéis, ele era formado em hotelaria e turismo, talvez tivessem uma
vaguinha sobrando, já que o emprego de comissário não existiria em breve.
— Alfa Barkov está em reunião com Alfa Ivanov, da Bielorrússia.
Estão selando um acordo de paz e comercial — Aleksei explicou.
Em um corredor havia vários quadros com fotos de alfas, todos com
sobrenomes Barkov. Tatiana explicou que era a linha de sucessão dos
Barkov, cada foto era um alfa que foi líder da família.
Mesmo que sua foto fosse de cerca de dez anos antes, Dimitri
continuava tão lindo quanto no dia que havia sido tirada, talvez até mais.
Cauê sorriu com isso, ele era um alfa muito bonito e todo seu. A foto
anterior era de Irina, não aquela carcaça fria e arrogante, parecia alguém
feliz. Mesmo que não sorrisse para a foto, já que nenhum outro sorria, ela
tinha um brilho no olhar e uma leveza de quem gostava da vida.
— Essa foto foi tirada quando ela assumiu, ela era casada com tio
Rafail, pai de Dimitri. Não o conheci, mas meu pai disse que ela o amava
muito. Que ficou desse jeito depois que Rafail e Yelena morreram —
Tatiana contou.
— Não consigo imaginar a dor de perder seu soulmate e sua filha
pequena, imagino que isso deve te destruir por dentro. Mas não é desculpa
para passar décadas descontando toda sua raiva no outro filho. Ela nunca
entendeu que assim como ela perdeu quem amava, Dimitri perdeu todos de
uma vez, incluindo ela?
— Meu pai diz que desde o momento que ela soube do acidente, não
se importou com mais ninguém, como se tivesse morrido junto.
Ele tinha muito mais o que dizer, mas preferiu guardar para despejar
todo seu ódio por Irina no grupo com as amigas. Elas o entenderiam e,
mesmo que nunca tivessem encontrado a alfa, também a odiariam.
— O que é isso? — perguntou, apontando para a placa que tinha três
nomes e datas ao lado.
— São líderes que desistiram, suas fotos são retiradas, e seus nomes
vêm parar aqui.
— Sem honra e sem glória — Cauê comentou, achando aquilo um
grande exagero. Não sabia por que aqueles alfas tinham feito isso, mas
conhecendo as tradições e alguns membros da família, não julgava
ninguém.
— A reunião já está acabando — Aleksei os avisou.
Eles voltaram para a recepção daquele andar, sentando-se perto da
mesa do beta. Estavam conversando, Cauê contava algumas coisas sobre
seu país, quando uma porta se abriu, mas não era da reunião e nem era
quem ele esperava. Carolyn passava por eles, acompanhada de uma ômega
e do pai de Kirill.
— Trouxe essas coisas para Dimitri — Carolyn disse, apontando
para mesa de Aleksei, onde a ômega, que devia ser sua secretária, depositou
várias pastas. — Preciso da resposta até semana que vem.
— Perdão, senhorita Irons, mas Alfa Barkov tem uma viagem
marcada em poucos dias, depois continuará as férias que foram
interrompidas — o beta explicou.
— Mal chegou e já vai viajar. — Carolyn revirou os olhos
dramaticamente. — E quem cuidará disso?
— Posso colocar na lista de prioridades ou pedir para alguns
responsáveis pelo setor verificarem.
— Deixa, peço para Kirill resolver isso para mim — ela disse em
um tom arrogante.
— Senhorita, se não for algo relacionado a segurança, não é o Alfa
Kirill o responsável. Mas posso falar com...
— Eu resolvo isso — interrompeu ríspida. — Certeza de que Kirill
fará isso por mim.
— Com certeza — o pai dele concordou.
— Você não almoçou ainda? — Cauê perguntou, e todos olharam
para ele.
— O quê?
— Quando estou com fome também fico um pouco mais grosseiro
do que deveria. Então, se isso é fome, deveria comer alguma coisa antes de
achar que pode tratar alguém desse jeito. Agora, se não é fome, deveria
procurar terapia mesmo.
— Como se atreve a falar assim comigo?! — gritou, vermelha de
raiva.
Desde o jantar, não tinham tido nenhum tipo de interação com Irina
e Carolyn, e Cauê achou que foi pouco.
— Do mesmo jeito que você se atreveu a falar com ele desse jeito
estúpido.
— Mas ele é um beta que trabalha para os Bakov, eu sou da família.
Sabia que é dever de todos os lúpus trabalharem para que sua família
prospere? Mas como esperar que você saiba alguma coisa, sendo que...
— Por Zeus, cala a boca! — Cauê falou alto. — Parece um ganso
grasnando, chata pra caralho.
— O quê?
— É isso mesmo, chata pra caralho! — repetiu. Todos em silêncio
os olhando, a copeira e o faxineiro até fingiram trabalhar ali perto para
assistir. — Se todos trabalham para suas famílias, volta para a Irlanda do
Norte e deixa a gente em paz, que merda. Ninguém liga para você.
— Seu...
— Seu o quê? Ômega? Ômega do líder? Porque você se gaba tanto
de ser a pessoa que Irina come, mas o líder da família é Dimitri, e o ômega
dele sou eu! O que isso quer dizer?
— Que Cauê é o nosso ômega líder — Tatiana disse sorrindo.
Não era naquele ponto que Cauê queria chegar, ele só estava falando
que ele seria oficialmente da família, e Carolyn não. Mas, pela reação de
todos, como se todo mundo tivesse entendido ao mesmo tempo, incluindo o
próprio ômega, percebeu que era algo ainda mais sério.
— Não até que Dimitri o marque! — Carolyn se defendeu, ela
parecia em pânico.
— Se isso me garantir nunca mais te ver, entro nesse escritório
agora e consigo essa mordida.
— Ele não é oficialmente um lúpus até ser apresentado ao Conselho
— Maksim falou rapidamente, o que fez o sorriso do brasileiro crescer.
— Bem, estamos indo para lá. — A expressão de medo de Carolyn e
Maksim fizeram tudo aquilo valer a pena. — Aleksei, me explique, por
favor, como ômega líder, o que eu posso fazer?
— Bem, basicamente tudo. — O beta deu de ombros. — Alfa
Barkov é quem comanda tudo, a última palavra é dele, e, quando ele decide
algo, ninguém pode ir contra. Você sendo o ômega dele, isso te dá quase os
mesmos direitos.
— Ah, sério? — Cauê sorriu maldoso. — Por favor, pegue essas
pastas e veja se realmente são importantes. Se você achar que não são,
apenas jogue no lixo.
— Você não pode fazer isso. — Carolyn estava muito brava.
— E avisa que agora temos uma lei, qualquer pessoa que destratar
um funcionário dentro deste escritório será punida. Ainda não sei como,
mas será — o ômega falou, e os olhos da outra ômega se arregalaram de
raiva, mas ela não falou nada. Já sua secretária olhou de canto para a chefe.
— Por que parar dentro do escritório? Ninguém que trabalha para os
Barkov pode ser destratado. Nada de gritos, ofensas ou ameaças ou... ou...
— Isso se torna um caso lúpus — Tatiana sugeriu.
— Isso, um caso lúpus — o ômega concordou, sem ter ideia do que
significava.
A porta do escritório de Dimitri se abriu, de dentro saíram quatro
pessoas. Dimitri estava à frente, conversando com uma alfa de cabelos
acobreados e olhos verdes.
— Será um prazer ter sua família como nossa aliada, Alfa Ivanov.
— Dimitri apertou a mão da alfa, que assentiu.
— Espero que seja uma longa parceria. — A alfa sorriu
profissionalmente. Ela se despediu e foi embora junto do próprio assistente.
— Está acontecendo alguma coisa? — o lúpus perguntou para as
pessoas reunidas, seu tio, pai de Tatiana, era quem o tinha acompanhado na
reunião e também parecia curioso.
— Seu ômega está criando uma lei — Maksim falou, e Dimitri
olhou para Cauê. O alfa sorriu de canto, e o ômega deu de ombros.
— Bem, se sou o Ômega Barkov, melhor assumir o cargo logo.
— Tudo bem, Aleksei, você pode fazer com que essa lei seja de
conhecimento de todos? — Dimitri perguntou.
— Claro, com prazer — o beta garantiu.
— Essa eu conheço — Dimitri disse feliz. — É a que você colocou
para tocar quando nos conhecemos.
— Sim. — O ômega sorriu e beijou o alfa.
Estavam voando para Manchester, onde encontrariam Vincenzo,
Greg e Alfa Choi. De lá iriam para Wolf’s Castle, onde qualquer coisa
poderia acontecer. Edward tinha decidido ir até o Conselho, antes que o
Conselho fosse atrás dele. O que era uma atitude muito corajosa. O
problema é que o que tinha acontecido se espalhou pela sociedade lúpus.
Dimitri achava que Irons e os conselheiros que eram contra Edward ser o
líder haviam espalhado.
Óbvio que só contaram a parte que interessava para eles, então o que
todos sabiam era que Edward tinha quebrado o Código, uma coisa
inaceitável, ainda mais para o futuro líder. Se não fosse pelos acordos feitos
anteriormente, talvez o filho de Richard, mesmo que fosse inocentado,
nunca conseguisse assumir.
— A-nun-cia-ção — o russo falou com calma. Algumas palavras em
português eram difíceis, mesmo que ele fosse fluente em espanhol e
italiano.
— Muito bom. E essa?
— Desejo. — O alfa sorriu de canto, malicioso. — Gosto desse
cantor.
— Alceu Valença é patrimônio cultural brasileiro. Se tivermos um
filho, só não coloco o nome de Alceu porque o filhote já iria nascer com 65
anos e um plano de aposentadoria.
Dimitri riu alto e abraçou seu ômega. Ele o amava e amava como
tudo era simples e seguro com ele. Cauê o defenderia de um lobo raivoso,
faria planos para o futuro, iria provocá-lo sexualmente, cuidaria dele,
protegeria ele ou o distrairia para não ter uma crise de ansiedade, tudo
naturalmente e com um sorriso no rosto.
O ômega também entendia como tudo tinha mudado, só tinha se
passado quinze dias desde que conversou com o alfa pela primeira vez,
agora já planejavam seus filhotes. Seu pai dizia que quando tudo se
alinhasse, ele encontraria seu soulmate e tudo faria sentido. Ele estava
certo, com Dimitri, tudo fazia sentido.
— Essa cantora é a minha favorita.
— Pitty é favorita de todo mundo, não tem como não amar. — O
ômega se ajeitou contra seu alfa.
O jatinho dos Barkov era diferente daquele dos Ferraro. O de
Vincenzo era planejado para o conforto da família, o Barkov era como uma
sala de reuniões, tudo pensado no profissional. Pelo menos tinha um quarto
confortável, onde eles passaram a maior parte da viagem.
As comissárias eram de outra empresa, então Cauê não as conhecia,
mas elas eram bem profissionais e não davam em cima de seu alfa, o que
ele percebeu ser uma coisa constante. Se não tivesse certeza de que eram
soulmates, talvez ficasse um pouco inseguro, porque, em quase todos os
lugares aonde haviam ido, pelo menos uma pessoa tinha tentado flertar com
Dimitri.
Não que Cauê os julgasse, porque ele passou pela mesma coisa e
não se conteve. Mas o alfa não parecia notar, era como se o tempo todo, ele
só tivesse olhos para seu ômega. A única vez que o viu notar algo assim, foi
quando tentaram dar em cima de Cauê, aí sim, Dimitri percebeu bem
rápido.
Desceram em um pequeno aeroporto, não no Aeroporto de
Manchester, onde o ômega pensou que pousariam. Até iria fazer alguma
piada sobre como a vida dos ricos deve ser boa, mas se lembrou que tinha
um blackcard brilhante em sua carteira com seu nome gravado nele.
Era inverno, então estava frio, mas não era o frio da Rússia, então o
ômega já estava feliz. Compraram um chocolate quente para Cauê e um
café para Dimitri. Tiveram que esperar um pouco, mas logo o avião de
Vincenzo e Greg pousou.
— Estava com saudades, como está? — Greg perguntou para Cauê,
abraçando o outro ômega.
— Lidando com tudo, mas bem. Não surtei mais, pelo menos.
— Não conhece o significado de pontualidade? — Dimitri chutou a
perna de Vincenzo.
— Vai se foder, husky, agradeça por eu te dar carona no meu carro.
Deveria te deixar correndo atrás do pneu, seu cachorro velho — respondeu,
dando um tapa na cabeça do outro.
Dez minutos depois, outro avião pousou, e Alfa Choi desceu. Ele
devia ser apenas um pouco mais baixo que Vincenzo e Dimitri, mas isso
queria dizer que era mais alto do que os comuns. Usava uma blusa gola alta
preta e um sobretudo, também preto. Seus cabelos eram um pouco
compridos, a ponto de conseguir colocar atrás da orelha. Era sério, a ponto
de parecer misterioso.
Chelsea e Julitte, sendo as dorameiras que eram, iriam se apaixonar
por ele na hora. E, ao ver como funcionários e os poucos passageiros
daquele aeroporto reagiam com os três lúpus, elas não seriam as únicas.
— É isso toda vez — Greg comentou, indicando a plateia.
— Nunca diminui?
— Estou há mais de dez anos nessa, toda vez é isso. Não sei como é
na Ásia, mas Choi não pode andar pelo resto do mundo sem ter gente
suspirando. Mas o pior é quando junta Choi, Trio do Caos e Edward. — O
ômega revirou os olhos. — Como agora todos os envolvidos estão casados,
espero que melhore.
— Acha que vai parar?
— Não mesmo, se até em Sergio dão em cima, imagina deles. Mas,
agora temos um grupo de apoio. A esposa do Choi é muito educada e
tímida, ela nunca falaria nada. Mas o resto de nós não. — Greg sorriu de
canto.
Choi, Vincenzo e Dimitri se cumprimentaram, mas não
conversaram, já que tinham tempo de fazer isso na viagem para Wolf’s
Castle.
— Quando Irons saiu da Rússia? — Choi perguntou. Eles estavam
em uma limusine. Em um banco estavam Vincenzo e Choi, no da frente
Greg, Cauê e Dimitri.
— Assim que recebeu a ligação, ontem. Deu tempo de ele chegar e
chamar outros conselheiros — o russo respondeu.
— Apenas os que estão de acordo com as imbecilidades em que ele
acredita — Vincenzo comentou.
— Irons só deixou de incomodar Grace quando eu interferi. — Alfa
Choi suspirou. — Deveria ter feito como Lions e ter tirado minha afilhada
daquele lugar. Quando Grace voltou para sua graduação, achei que não
tinha perigo, estava focado no nascimento do meu filhote mais velho. Então
ela me ligou contando sobre o casamento. Deveria ter me imposto contra,
falhei nessa parte.
— Grace estava tentando ganhar a aprovação do pai, todos sabem
como ele só tinha olhos para Edward e a deixou de lado por muito tempo.
Quando ela finalmente estava a enxergando, ela faria qualquer coisa —
Dimitri tentou consolar o outro.
— Agora ela encontrou a soulmate, já se rebelou também, só
conseguir o divórcio e tudo está bem — Vincenzo falou.
Cauê não estava entendendo nada, mas isso vinha acontecendo
desde que conheceu Dimitri. Greg disse que se ele tivesse entrado em um
momento “normal”, teria conhecido todos e aprendido naturalmente sobre
tudo do mundo lúpus. Mas ele chegou na sociedade lúpus já entrando no
meio de um furacão.
— É coisa de brasileiro, nem na hora de ficar rico, a gente tem paz.
— Cauê deu de ombros.
A viagem durou poucas horas, mas como o ômega estava nervoso,
pareceu bem mais. Em determinado momento, Dimitri pegou o próprio
celular, conectou o fone de ouvido e deu um dos lados para Cauê, que
aceitou sorrindo. A playlist que tocou era composta por todas as músicas
que o brasileiro tinha apresentado ao russo. Dimitri tinha pesquisado e
salvado todas, ele sempre as ouvia quando estava distante de seu soulmate.
Wolf’s Castle parecia cenário de filme, ainda mais com a neve
cobrindo parcialmente o gramado. Os raios solares batendo nos minúsculos
flocos de gelo presos as folhas, faziam o lugar parecer algo mitológico, o
cenário de um filme épico. Era um campo aberto entre rocha e muitas
árvores, uma construção enorme em estilo grego se erguia no meio, de um
jeito imponente.
— Tem mais gente do que pensamos. — Vincenzo indicou a
quantidade de carros pelo lugar.
— Abutres sempre serão abutres — Choi respondeu.
Antes mesmo de entrarem já era possível ouvir os muitos gritos,
uma grande discussão acontecia. Cauê viu que tinha um alfa no chão, ele
estava algemado, mas seus braços estavam em volta de um ômega, talvez
tentando protegê-lo. Alguns ômegas e alfas estavam de pé em volta,
protegendo-os.
Aaron estava à frente, encarando todos os outros lúpus. E, mesmo
que os adversários fossem um número muito maior, se fosse apostar, Cauê
diria que o lúpus loiro venceria aquela briga.
— Veja, Dimitri, começaram a festa sem nós — Vincenzo falou em
voz alta, chamando a atenção de todos.
— O que é isso? — Alfa Irons perguntou. Ele não esperava os ver
ali.
— Irons, se os deuses permitirem, será hoje que quebrarei os ossos
do seu corpo — o russo disse com raiva, esperando que finalmente pudesse
colocar as mãos naquele verme.
— Saiam da frente, já causaram o caos.
— E eu nem comecei ainda. — Aaron sorriu de canto.
— O que está acontecendo? — Cauê perguntou, desesperado.
Tudo aquilo tinha sido insano, o julgamento, o jeito feroz dos
envolvidos e como parecia que a maioria dos conselheiros fazia questão que
Edward fosse morto. Primeiro que Greg o puxou para ficar atrás daqueles
que protegiam Edward, ficando com Luc Lions e mais um ômega loiro de
língua afiada, que podia não ser brasileiro, mas tinha a alma de um.
Então Cauê percebeu que eles não estavam ali para serem
protegidos da confusão. Era para proteger o outro Luc, o Jones-Knight, e o
marido. Isso os colocava na linha entre a guarda e o acusado, mas como
eram ômegas, nenhum alfa tentaria algo.
E se tentassem, Cauê não tinha problema em usar a força.
Além de descobrir que Luc Lions tinha cara de anjo, mas podia ser
tão doido quanto o marido e não via problema nenhum em quebrar ossos
alheios, o brasileiro também entendeu por que aquele bando estava
desesperado para salvar seus líderes.
Edward e Luc Jones-Knight pareciam forças da natureza. Não era só
o fato de serem lindos, porque eram muito bonitos, mas tinha o jeito como
se olhavam ou se tocavam. Mesmo que você nunca tivesse ouvido falar
deles, no momento que os visse, saberiam que eram soulmates e se
amavam.
Luc era o ômega mais corajoso que já tinha visto. Ele não só
enfrentava e provocava os próprios conselheiros como também se impunha
contra eles. O ômega chamou um dos conselheiros, o tal Fehér, para a briga
na certeza de que ganharia. E Cauê não duvidava disso.
E, quando Luc fez Alfa Irons calar a boca, desmoralizando-o na
frente de todos, Cauê soube que precisava ser amigo dele. Dele e do loiro
que provocava e zombava de todos.
Edward tinha ficado mais quieto, deixou que seu ômega tomasse a
frente, apoiando-o. Porém, no minuto em que sentiu que algo ameaçava seu
soulmate, transformou-se de um modo assustador. O cara partiu as algemas
no meio como se não fossem nada. Algemas feitas para lúpus, e, mesmo
assim, ele era mais forte que elas. Isso quer dizer que tudo aquilo só estava
acontecendo porque ele havia permitido, porque, se quisesse realmente
brigar, teria feito. Do jeito que estavam, Edward, Aaron, Vincenzo, Dimitri,
Choi e o bando britânico poderiam ter derrubado o Conselho inteiro,
incluindo os guardas.
E quando Aaron entregou uma carta para o líder dos lúpus, onde a
filha mais nova, irmã de Edward, renunciava à linha de sucessão, a cara de
todos foi impagável. Se a tal Grace não assumisse o cargo no lugar de
irmão, contando que Edward não pudesse, o cargo de líder absoluto seria de
Aaron ou Choi. E Cauê já sabia que Choi estava irritado com todos, porque
Grace era a afilhada dele e sofreu alguma coisa a ver com um casamento.
— A ideia foi sua — Luc, o francês, sussurrou para Cauê.
— Minha? — perguntou, surpreso.
— Você falou que Irons queria que Grace assumisse por causa do
neto, marido dela. Mon Loup percebeu que ele manipularia essa situação a
seu favor. Então fez Grace desistir, para afetar Irons.
— Ah, que bom que ajudei.
O momento era sério, via expressões de angústia no rosto da maioria
que o cercava. Tanto que o bando britânico deixou claro que se Edward não
fosse absolvido, eles se retirariam da comunidade lúpus. Cauê nem sabia
que isso era possível, mas ninguém ali estava brincando.
De tudo o que estava acontecendo, da ferocidade, da tensão, do
desespero e da violência que aquilo foi atingindo, apenas uma coisa
realmente surpreendeu o ômega. Pelas histórias que tinha ouvido sobre
aquele bando e os próprios Edward e Luc, já esperava as pessoas mais fodas
do mundo, mesmo que tivessem superado suas expectativas.
Pelo jeito que o “Trio do Caos” agia, sabia que eles se apoiariam em
qualquer situação. Dimitri e Vincenzo gostavam muito do bando britânico,
mas Aaron realmente os amava. E Cauê entendeu a brincadeira sobre
Edward ser a cópia do padrinho. Então, se aquele alfa era tão importante
para Aaron, era importante para Dimitri e Vincenzo. E já esperava por isso.
Nem os conselheiros raivosos e alfistas o surpreenderam. Por sua
história de vida, lugar de origem, cultura, gênero e aspectos físicos, Cauê já
tinha se deparado com muitos alfas como aqueles. Escórias do mundo que,
infelizmente, possuíam poder e toneladas de arrogância.
O que realmente chocou o ômega foi saber que o líder, o alfa que
comandava todos os lúpus do mundo, que regia aquela comunidade, era pai
de Edward Knight e não estava fazendo nada para ajudar o filho. Aaron
estava ameaçando começar uma enorme guerra, Dimitri e Vincenzo
deixando claro que o apoiariam, que receberiam o resto do bando em suas
famílias. Choi até ofereceu ajuda para que eles se vingassem. O bando
disposto a qualquer coisa pelo seu líder, mesmo morrer por essa causa.
Anne, mãe de Edward, chorava e implorava para que absolvessem seu filho.
Richard ficou apenas lá, com cara de sofrimento, mas não falou ou
defendeu. Enquanto Edward poderia morrer por salvar a vida de sua filhote,
seu pai o assistia correr o risco de perder a sua sem fazer nada.
Foi triste pensar que se fosse seu alfa naquela situação, Irina
provavelmente o condenaria.
Porém tudo mudou quando Alfa Fehér, o lúpus húngaro, levantou-
se. Estavam discutindo qual seria a sentença, e ele decretou a punição. Mas
seus olhos estavam em Luc Jones-Knight, porque ele queria ver o ômega
sofrer.
— Arena — falou com um sorriso diabólico no rosto.
E foi aí que tudo ficou mais louco ainda.
Era um buraco enorme, tanto em profundidade, quanto em diâmetro.
Como um Coliseu escavado na terra e com pedras em volta. Dimitri e
Vincenzo levaram Greg, Cauê e Luc Lions com eles, abrindo espaço na
multidão e chegando até a mureta rochosa. Todos tentavam se empurrar,
para ver melhor a briga que acontecia lá embaixo, Dimitri perdeu a
paciência e empurrou algumas pessoas de perto.
Sam, aquele que Cauê tinha conhecido em Roma estava lá, junto do
bando. Todos estavam preocupados, a luta era injusta. Enquanto Edward,
Aaron e um alfa amigo de Edward, chamado James, estavam descalços e
sem camisa, naquele frio, e sem armas. Os guardas usavam uniforme
completo e cassetetes.
— Cadê o Neil? — Zyan, o alfa marido de James e de Neil, aquele
ômega loiro, perguntou desesperado. Enquanto a luta acontecia embaixo, os
do bando estavam procurando Luc e Neil, até que Charles, outro ômega,
apontou para um ponto da mureta de pedra.
— Luc vai cair!
Não houve tempo para nada. Max e Logan, um casal de ômega e
alfa, eram os mais próximos, tentaram ajudar, mas Luc caiu dentro da
Arena. Sendo salvo por Edward, que escalou as rochas até conseguir pular e
agarrar seu soulmate no ar.
— Isso é loucura, parem essa luta! — Vincenzo gritou para um dos
conselheiros.
— Como Aaron Lions está na Arena, o papel de executor é meu —
o alfa Fehér respondeu com um sorriso maldoso no rosto.
— Você é um inútil mesmo! — Dimitri falou para Richard, que
arregalou os olhos.
— Vai correr o risco de seu filho e seu genro morrerem? — Cauê
perguntou irritado e atônito. Muitos discutiam a volta, gritos de quem era
contra ou a favor da luta ser interrompida. Mas a decisão estava na mão do
alfa húngaro, que negou. — Entendo por que Edward gosta mais de Aaron.
— E quem é você? — Richard perguntou com raiva da audácia
daquele ômega.
— Meu soulmate. — Dimitri entrou na frente, todos estavam
irritados e tensos.
— Como meu alfa disse, sou o ômega dele. Mas também sou um
ômega que tem um pai incrível e sabe o que é ser amado por ele, coisa que
Edward nunca teve vindo de você. Que bom que ele tem Aaron! — o
brasileiro cuspia as palavras.
— Melhor sair daqui — Choi aconselhou Richard, que ainda estava
irritado, mas acabou cedendo.
— Não disse que poderia enfrentar o Conselho? Veremos se
sobrevive aos guardas — Fehér provocou Luc, que estava de mãos dadas
com Edward.
— Quando isso acabar, vou atrás de você! — o ômega respondeu,
encarando o húngaro.
Cauê não estava participando da luta, e seu alfa estava bem ao seu
lado, mas seu coração estava disparado como se fossem suas vidas que
estivessem em perigo.
— Tudo bem — Neil disse choroso para seu alfa, Zyan o abraçou
apertado e o beijou.
— Eu sei, só toma cuidado, por favor — Cat, outra ômega que
estava com eles, abraçou sua alfa, lágrimas escorriam dos seus olhos.
— Vince — Greg murmurou, segurando o casaco do seu alfa. O
italiano segurou o rosto do seu ômega e repetia o quanto o amava.
Ninguém tinha falado nada, como se fosse apenas uma conversa por
olhares, e Cauê estava perdido. Mas tinha uma sensação de aperto no
coração.
— Amor — Dimitri chamou, beijando-o terno —, eu te amo. Amo
muito. Prometo que depois viajaremos para onde quiser, podemos fazer o
que quiser, vamos nos casar e ter nossos filhotes.
— Dimi, o que está acontecendo? — o ômega perguntou,
desesperado. Seu alfa tirou seu casaco e o entregou para seu soulmate.
— Preciso fazer isso, me perdoa. Aaron é meu irmão, não podemos
deixá-lo sozinho nisso.
— Você vai entrar lá? Não! Por favor, fica aqui.
— Amor, presta atenção. — O russo segurou o rosto de seu ômega,
assim como Vincenzo tinha feito com Greg. — Você é a melhor coisa da
minha vida, nunca amei ninguém até te conhecer. Se estou vivo é porque
tinha esperanças de te encontrar. Não vou desperdiçar nem um segundo de
ter comigo. Agora preciso ir àquela arena, chutar a bunda de alguns lobos e
voltarei para você. Porque nada no mundo me separaria de você.
— Se você morrer, vou mandar as entidades da minha mãe e do meu
pai caçarem sua alma! Então é bom mesmo que volte para mim para eu
surtar com você, depois te beijar! — Cauê disse com lágrimas nos olhos, e
sorriu. — Eu te amo.
— Eu sempre estarei com você, meu amor — Dimitri prometeu e
beijou seu soulmate.
— Choi — Vincenzo disse, olhando para o alfa, que apenas
concordou com a cabeça.
Greg, Cauê e Luc ficaram um do lado do outro, cada um segurando
os pertences de seu respectivo alfa. Lágrimas escorrendo pelo rosto,
tremendo de medo, um apoiando o outro.
Greg entregou o chocolate quente que Luc tinha feito para Cauê,
quando o brasileiro se juntou a eles no deque da casa dos Ferraro. Tinham
explicado que todos que assumiam como conselheiros tinham uma casa em
Wolf’s Castle. Mas Dimitri e Aaron não usavam a deles, sempre ficando na
casa dos Ferraro.
— Eles estão dormindo também? — Cauê perguntando bebendo um
gole da bebida quente, todo aquele calor era muito bem-vindo.
— Oui, eles precisam descansar bem. Mon Loup tem estado
estressado há dias, ele fez tudo que pode para evitar o pior e ainda teve que
lutar na Arena. — Luc suspirou. — Ainda passamos no hospital para
vermos como todos estavam.
A luta havia terminado, e eles tinham sido vitoriosos. Os últimos
adversários se renderam, Edward foi inocentado, para desgosto de muitos.
Apesar do último susto que o alfa britânico deu em todos, agora todos
estavam a salvo e logo voltariam para suas casas. Edward passaria aquela
noite no hospital e teria alta, seu ômega estava ao seu lado. Já o “Trio do
Caos” se recusou a ficar lá, e agora os três estavam, praticamente,
desmaiados em seus quartos.
— Bem, pelo menos todos do nosso lado estão vivos — Greg falou.
— O resto resolvemos com o tempo.
— Sabe, vocês me prometeram que, quando eu encontrasse Luc
Jones-Knight, seria muito divertido. Não me diverti muito, não — Cauê
comentou, fazendo os outros rirem. — Sério, terei pesadelos com aquelas
cenas por anos.
— Non sei se consola, mas nunca vi nossos alfas daquele jeito,
então non é comum ser assim. Hoje eles estavam diferentes.
— Como demônios? Porque é o que todos pareceram naquela arena.
Principalmente nossos alfas, Edward e Luc. Sinceramente, nunca vi um
ômega lutar daquele jeito. Luc parecia um tipo de deus da guerra. Ele lutou
a maior parte com sua forma humana e matou vários, acho que ele nem sabe
quantos matou ou tem noção do que fez. E quando se transformou em lobo
fez a limpa — Cauê disse, lembrando-se do menor lobo dentro da Arena,
mas fazia tanto estrago quanto os Aaron ou Edward.
— Luc non tem ideia do que realmente faz, ele sempre pensa que
está agindo normal ou fazendo pouco. Mon Loup disse que, quando Edward
e Luc entenderem como são fortes, teremos os líderes mais poderosos da
história.
— Estou muito feliz que escolhemos o lado certo dessa briga. —
Greg deu de ombros, e os outros concordaram. — E você os defendeu sem
os conhecer.
— Amigos dos meus amigos são meus amigos — Cauê respondeu
sorrindo. — Mas estava com tanta raiva daquele alfa não defender o filho,
que quando vi, já tinha falado. Depois que me lembrei que ele era o líder e
eu podia estar arrumando problemas.
— Se alguém quisesse arrumar problemas, essa era a noite, ninguém
ia se importar se algo acontecesse. — Greg sorriu. — Pelo menos temos
nosso grupo de apoio agora. Infelizmente, essa não é a primeira e nem será
a última vez que nos reunimos porque aqueles três entraram em uma briga.
— Lembra a vez que brigaram na Grécia e voltaram um mês depois
porque acharam que não tinham batido o suficiente naqueles alfas? — Luc
suspirou, e Greg revirou os olhos.
— Devíamos, além do grupo de apoio, ter férias remuneradas. —
Cauê suspirou.
— É uma boa, pelo menos uma vez por ano, viajamos só nós três.
Sem alfas, sem filhotes. Só nós três, fingindo que eles não estão nos
seguindo e vigiando cada passo nosso. — Greg sorriu.
— Duas vezes por ano — Luc sugeriu.
— A primeira tem que ser para o Brasil, vamos em junho para pegar
o São João, uma das maiores festas culturais do meu país. Vocês vão amar
— Cauê falou animado. — Até diria para irmos mês que vem no Carnaval,
mas acho que nossos alfas infartariam com isso. Não quero antecipar o
encontro de ninguém com Zeus.
— Não nesse ano, mas espera uns dois para eles se acostumarem
com essa ideia — Greg respondeu. — Temos que fazer “viagens” calmas
até lá, quando eles baixarem a guarda, vamos para o Carnaval.
— Falaremos que são férias para descansarmos, que não queremos
nada agitado. — Luc riu. — Tem que ser território de outros lúpus para eles
ficarem calmos, então um dia contamos que nossa próxima viagem é para o
Brasil.
— Eles vão descobrir tarde demais. — Cauê sorriu, e os três ômegas
bateram suas canecas de chocolate quente como se fizessem um brinde.
— Lions! — Choi falou em voz alta, chamando-o.
— Merda — Aaron resmungou, Dimitri e Vincenzo sorriram como
o Gato de Cheshire, de Alice no País das Maravilhas.
Eles estavam indo embora de Wolf’s Castle. O bando britânico
estava na casa dos pais de Zyan, que moravam na antiga casa dos Lions,
para se despedir deles e das mães de Edward e James. A casa era enorme,
extravagante e com capacidade para acomodar todos do bando, mas Maggie
e Omar, pais de Zyan, tinham-na feito se tornar aconchegante como um lar
devia ser.
Dimitri, Cauê, Vincenzo e Greg iriam para a Espanha. O brasileiro
tinha que resolver sua situação no trabalho, depois seu alfa e ele iriam para
o Brasil, enquanto os outros dois voltariam para Roma. Aaron e Luc tinham
ido apenas se despedir, pois voltariam para Londres com o resto do bando.
Mas Choi, que iria para o aeroporto com Vincenzo e Dimitri,
aproveitou a situação para resolver uma pequena pendência com Lions. Ele
o socou no rosto, forte o bastante para fazê-lo cambalear para o lado, sendo
amparado por Luc, já que Vincenzo e Dimitri explodiram em risadas.
— Doeu mais do que eu esperava, andou malhando? — o loiro
perguntou, massageando o maxilar.
— Nunca mais mexa com minha afilhada — Choi o avisou.
— Eu não mexi, apenas sugeri que, se ela abdicasse do direito de ser
a líder, seria melhor para todo mundo. Agora ela tem mais tempo para a
soulmate, não recebe ordens diretas do Conselho, irei investir no projeto de
sua ômega, e, mais importante, ela não faz mais parte da família Knight.
Deveria me agradecer, agora ela é uma Choi — Aaron respondeu, sorrindo
de canto.
— Tem razão, Grace pode usar o sobrenome Knight, mas é uma
Choi. E sabe como lido com meus assuntos — o alfa coreano disse sério.
— Não se preocupe, nunca tive e nem terei mais interesse nela, foi
apenas um evento pontual e necessário. E não faça drama, ela não foi
ameaçada e está perfeitamente bem. Na verdade, até parecia mais aliviada
quando saí.
— Mon Loup — Luc o repreendeu. — Alfa Choi, Grace está bem,
fiquei junto deles por toda a conversa, para garantir. O que ela precisa agora
é resolver seu divórcio para se casar com a sua soulmate.
— Resolverei isso — Alfa Choi garantiu. Como todos no planeta,
ele foi mais doce e compreensivo com Luc.
— Cane Pazzo levou um direto na fuça! — Vincenzo gargalhava.
— Ah, o karma. — Dimitri também ria.
A viagem de volta a Manchester foi mais calma. Dimitri e Cauê
ouviram música quase o tempo todo, Vincenzo e Greg conversaram com
seus filhotes. Choi também falou com os seus, o brasileiro achou
interessante como o Alfa Choi, sempre tão sério, sorria e era amoroso com
seus filhos, parecendo realmente interessado e rindo do que conversavam.
Mesmo não entendendo quase nada, Cauê viu que era uma família feliz.
O voo para Espanha durava apenas duas horas, os alfas dormiram
boa parte do tempo, ainda estavam se recuperando. Cauê aproveitou o
tempo para mostrar fotos e vídeos do carnaval para Greg. Os dois riam
combinando a viagem.
Como estavam no jatinho dos Ferraro, eram seus colegas de trabalho
que estavam atendendo o voo. Uma delas era Maribel, que era muito
simpática, conversou e brincou com Cauê. O outro era Michel, que não
chegou perto do ômega brasileiro e o olhava o julgando.
— CAUÊ! — o brasileiro ouviu seu nome ser gritado assim que
desembarcaram.
Juliette e Chelsea estavam esperando por ele. Elas tinham um cartaz
escrito “Bem-vinda, Rapariga”. O ômega riu alto com isso e foi até elas,
que correram para o abraçar. Os três falavam em português, muito rápido,
muito alto, de assuntos diferentes, fazendo perguntas e nem esperando pelas
respostas.
— Cadê seu alfa? — Chelsea perguntou empolgada
— Pelo amor de Luna, se comportem, ou eu mesmo mato vocês. E
olha que agora eu posso! — Cauê as avisou, mas elas desdenharam. —
Dimi, essas são minhas amigas, Juliette e Chelsea.
— É um prazer conhecê-las. — O russo sorriu e estendeu a mão
para as duas ômegas, mas elas travaram, olhando para ele.
— Enfiaram a educação no cu? — o brasileiro resmungou em
português.
— Ah, sim, perdão — Juliette foi a primeira a responder, ela apertou
a mão do alfa, que já estava ficando preocupado. — Nos perdoe, foi só a
surpresa, também estamos felizes em te conhecer, Cauê fala muito de você.
— Muito mesmo. — Chelsea sorriu maliciosa, e o amigo a ameaçou
com o olhar.
— Seu alfa é, digamos, diferente pessoalmente — Juliette comentou
em português, Dimitri olhou confuso para Cauê, que sorriu amarelo.
— Ele não fala português, mas cuidado com o que falam — o
ômega tentou avisar.
— Ele é mais gostoso, né? — Chelsea brincou, e Juliette concordou,
Cauê bateu a mão na testa.
— Ah, “gostoso”. — Dimitri riu. — Obrigado.
— Ele fala espanhol e italiano, suas mulas. Então consegue entender
algumas coisas. — Cauê bufou indignado, e as duas ficaram vermelhas de
vergonha.
— Ciao, amigas do nosso Cauê! — Vincenzo disse animado, já
cumprimentando as duas ômegas.
— Sério mesmo? Vai dar dessa comigo? — Dimitri perguntou,
revoltado.
— Tenho dez anos para descontar, então ainda tem muita coisa. —
O italiano sorriu maldoso.
— Rapariga? — Greg leu o cartaz, ficando confuso. — Cauê, por
que suas amigas estão te chamando de garota?
Greg:
Tudo em paz mesmo? Nenhuma confusão?
Cauê:
Nada, tudo tranquilo
Luc:
Vocês já foram embora?
Cauê:
Não, ainda estamos nos despedindo de algumas pessoas no trabalho, mas
vamos daqui a pouco
Gigio:
Isso explica a “tranquilidade”
Greg:
Ok, depois que chegarem no hotel, você nos avisa se tudo foi tão tranquilo
mesmo
Cauê:
Por quê?
Vocês estão me assustando
Gigio:
Você é o ômega de um dos integrantes do Trio o Caos, é impossível não
acontecer nada
Luc:
Vai ficar tudo bem, você se acostuma
Cauê:
Estamos indo para o hotel
Greg:
E o que aconteceu nesse meio tempo?
Cauê:
Vocês têm razão, nada mais de paz
Gigio:
Bem-vindo ao mundo lúpus
— Mãe!
Cauê abraçou apertado sua mãe, os dois tinham lágrimas nos olhos,
mas a da de Marieta, mãe de Cauê, escorriam pelo rosto. Ela fazia carinho
no filho, beijava seu rosto, dizia o quanto o amava, abraçava de novo e
repetia o ciclo enquanto o ômega ria e tentava responder que também a
amava.
— Mãe, me deixa abraçar o pirralho — Tainá pediu, conseguindo
ter acesso ao irmão. — Tá com uma cara ótima, aposto que tem se divertido
muito — disse com malicioso, fazendo-o rir.
— Vai se ferrar. — Ele a empurrou de leve, mas os dois riram e
abraçaram de novo. — Mãe, Tainá, esse é Dimitri, meu alfa. Ele ainda não
fala português, mas está começando a entender um pouco.
— Oi — Tainá cumprimentou em inglês, e Dimitri agradeceu a
Luna por ter mais alguém com quem podia se comunicar sem passar
vergonha.
Eles tinham chegado no Brasil no dia anterior, mas tinham ido para
São Paulo, encontrar com Alice Moretto. Ela era uma alfa bonita, com
sorriso contagiante. Pele branca e cabelos castanhos claros. Seu ômega,
Levi, tinha cabelos e barba castanhos. Eles eram divertidos, depois que toda
aquela tensão tinha passado.
Alice organizou um grande churrasco de boas-vindas e Cauê quase
chorou vendo toda aquela comida boa, incluindo várias do seu estado.
Juliette e Chelsea estavam junto, Cauê e Juliette tiveram que conter
Chelsea, que queria provar tudo, misturando um monte de coisa que com
certeza a faria passar mal.
André e Bruno fizeram uma festa quando encontraram Juliette, ela
tentou explicar o que tinha acontecido. Eles riram de como a história era
doida e Cauê teve que concordar com eles. Os dois ficaram animados
quando ela contou que juraria para os lúpus e tentaram convencer os três
ômegas a jurarem para os Moretto, o que fez o russo revirar os olhos.
— Ótimo, mais concorrência — resmungou. Cauê sorriu e beijou
seu rosto. Mas, pelo jeito que Bruno estava encantado com Chelsea, talvez
não houvesse concorrência nenhuma.
Dimitri e Alice tiveram uma conversa em particular. O russo
agradeceu o apoio e explicou o que realmente tinha acontecido. A brasileira
entendeu e disse que, apesar de não ter filhotes, tinha sobrinhos e primos
mais novos e faria algo parecido por ele. Também agradeceu a sinceridade,
o que Edward tinha feito, dar seu sangue para sua filhote que era uma
comum, despertando seu lobo, era algo para não ser comentado. O tipo de
coisa que quem sabia, não deveria falar. Mas Dimitri contou para a Alice
para mostrar que eram parceiros e podiam confiar um no outro.
A alfa apresentou as alfas Paola Torrado, da Colômbia, Roxana
Parra, do Chile, Mariana Veja, do Uruguai, entre outros. Não era o
momento de conversas políticas, mesmo que acordos tenham ficado
implícitos e futuras reuniões aconteceriam.
Cauê surtou quando dois dos seus cantores favoritos se
apresentaram no churrasco, cantando as músicas que o ômega amava.
Dimitri até ficou com medo de que ele passasse mal. Depois um grupo de
pagode muito famoso no país se apresentou. O ômega tentou ensinar seu
alfa a dançar, o que acabou com os dois rindo e se beijando.
Na hora de dormir, Cauê estava elétrico, falando sobre aquele dia,
como tinha sido incrível e que ele tinha amado tudo. Ele já adorava Alice,
poderia ir pessoalmente a Londres implorar para que Edward e Luc a
aceitassem nessa "reestruturação" da sociedade lúpus, como Aaron
chamava. Aparentemente, a partir de agora, eles seriam bem próximos dos
Moretto. Inclusive era uma pena não poderem ficar mais tempo, porque
queria jogar videogame com Levi.
O russo só ouvia, concordava e ria da animação do ômega. Dimitri
sabia que faria qualquer coisa pela felicidade de Cauê e Alice tinha sido
muito esperta em fazer o evento sobre ele. Porque tinha ganhado a lealdade
do alfa.
No dia seguinte foram ao aeroporto, mal tomaram café da manhã,
Cauê estava ansioso para ver sua família. Juliette e Chelsea foram para o
Maranhão, visitar os pais da brasileira. Juliette estava revoltada, porque
André e Bruno resolveram as acompanhar. André estava com Raquel, sua
noiva, e Bruno interessado em Chelsea. Ela ficaria todos aqueles dias com
dois casais.
Eles não poderiam ficar muitos dias, já que o alfa teria que voltar
para realizar o casamento de sua prima, então queria aproveitar o tempo que
tivessem. Os planos de Cauê eram ficar grudado em sua mãe e sua irmã,
visitar seu pai e, se algum parente quisesse o ver, que fosse até sua casa.
Mas quando chegou em casa, boa parte da sua família estava lá. Sua
mãe tinha organizado um almoço surpresa com todas as suas comidas
favoritas. Até Raoni, seu pai, Maiara, sua madrasta e seus irmãos tinham
ido. O ômega conversou com sua madrasta, em um canto, porque ele tinha
levado presentes para seus pais, madrasta e irmãos, e uns genéricos para
familiares. Então daria os presentes bons depois, para ninguém ficar de olho
em cima. Ela riu e concordou.
— Então, você está com o meu menino — Raoni falou sério e
Dimitri olhou para Tainá, pedindo ajuda.
— Pai, ele não fala português. — A ômega revirou os olhos.
— Mas, se quer casar com um brasileiro, tem que aprender —
resmungou. — Quer se casar, não é? Porque não vou deixar filho meu ser
feito de idiota. Ainda mais na mão de gringo.
— Ele quer saber se vocês vão se casar. — Tainá suspirou.
— Sim, assim que Cauê quiser — respondeu, confirmando com a
cabeça, para o sogro entender.
— Dimi disse que é o Cauê que está enrolando.
— E no que trabalha? Tem dinheiro para dar uma boa vida para o
meu menino?
— Ele é advogado. — Ela segurou a risada para responder, eles não
tinham contado a ninguém quem realmente era o noivo do irmão, e seus
familiares não se importaram de pesquisar.
— Não é de porta de cadeia, né? Não quero meu filho metido nisso
— o pai resmungou irritado, Tainá não se conteve e começou a rir.
— O que está acontecendo? — Cauê perguntou.
— Não sei, seu pai perguntou se vamos nos casar, confirmei, depois
disso sua irmã não traduziu mais nada.
— Pai, deixa meu namorado em paz!
— Noivo — Tainá o corrigiu.
— Mas eu preciso saber como é o alfa com quem meu filhote vai se
casar!
— Deixa eles em paz, Raoni. Por coisas assim, eu me separei de
você. Maiara é uma santa de te aguentar — Marieta brigou.
— Também acho, porque tem horas... — Maiara negou com a
cabeça. Marieta apertou delicadamente o ombro da outra, em sinal de apoio.
— Mas ele vai se casar com nosso menino.
— Estava no terreiro ontem, e disseram que Dimi é a pessoa enviada
por Luna — Marieta o interrompeu. — Vai discutir com as entidades?
— Não — resmungou, contrariado.
— Quem disse? — Dimitri perguntou, confuso, depois de Cauê
traduzir a conversa.
— As entidades, e ninguém discute com as entidades.
Já tinham se passado algumas horas, a família do ômega continuava
na mesma animação, comendo, conversando e, de acordo com Cauê,
fofocando e falando mal dos outros. A todo momento alguém ia até o alfa
tentando conversar com ele e Dimitri achava engraçado. Normalmente as
pessoas faziam mímicas exageradas e falavam muito alto, como se
aumentar o tom de voz fosse fazê-lo entender melhor.
— Eu não entendi uma coisa — o alfa disse, já era hora do café da
tarde, e as tias de Cauê resolveram fazer bolo de macaxeira. Eles estavam
sentados no sofá, comendo. Dmitri tinha certeza de que Marieta e Lucia se
tornariam melhores amigas assim que se encontrassem.
— O quê?
— Por que seus primos ficam me chamando de “alemão”? Eles não
sabem que sou russo?
A pergunta foi tão inocente, que Cauê sorriu e o beijou.
Ele amava Dimitri com todo o seu ser.
— Quer ir para o quarto? Eu vou com você — o ômega perguntou
um pouco mais tarde.
— Não, não quero ser mal-educado — Dimitri respondeu, tentando
esconder o bocejo.
— Mal-educado? Tio Jorge está dormindo no sofá e de boca aberta
— Cauê indicou o tio, sentado com a camisa aberta, cabeça caída de lado e
dormindo de roncar.
— O que foi? — Marieta perguntou, e o filho explicou que o alfa
estava com sono. A diferença de fuso horário entre a Rússia e o Brasil era
de cerca de dez horas. — Escolhe uma rede e se deita, filho.
— Percebeu que ela o adotou como filho? — Tainá brincou.
— Não precisa.
— Vem logo. — O ômega o puxou pela mão.
A casa ficava em um bairro bem afastado do centro e tinha um
terreno de tamanho bom. Na frente, onde deveria ser a garagem, Marieta fez
um grande jardim, cheio de plantas e flores que Dimitri nunca tinha visto,
mas era bonito. Na parte de trás, onde era a área de serviço, havia três redes
presas. Duas estavam desocupadas, uma tinha os primos de Cauê jogando
algo no celular.
— Sua família não vai ficar brava que você não está com eles?
— Duas horas depois de chegarmos, eles já nem lembravam de
mim. — O ômega riu, deitando-se na rede com o alfa.
O balanço da rede e os carinhos do seu soulmate, fizeram o alfa
dormir, mesmo estando preocupado em ser mal-educado. O ômega trocou
mensagens com as amigas e riu da foto que Juliette mandou, já que estava
entre os dois casais. Ela disse que Chelsea e Bruno ainda não tinham ficado,
mas, como dariam uma volta em uma feirinha à noite, não duvidava que
isso mudaria.
Duas horas depois o alfa acordou assustado com o barulho, mas o
ômega o acalmou. Sua família só tinha resolvido ligar o karaokê. Quando
estava tarde e boa parte da família estava indo embora, Marieta disse “Mas
já? É cedo ainda”, e a família resolveu ficar para o jantar.
— Hi — uma das primas falou, ela devia ter dez ou onze anos.
— Hello. — Dimitri sorriu.
Apesar de ter um pouco de dificuldade no inglês, ela estava disposta
a falar com o alfa. Ele a elogiou pelo empenho, disse que estava se saindo
muito bem e deu algumas dicas, que ela adorou. Depois disso todas as
crianças queriam falar com o russo, que tomou um susto, mas achou
divertido, mesmo que tivesse que decifrar algumas das palavras.
— As entidades nunca erram — Marieta disse, beijando o rosto do
filho. — Luna sempre acerta.
— Sempre. — Cauê sorriu.
Vincenzo:
Achei injusto. Quando visitamos a família do mio amore, é só prédios,
trânsito e aquela coisa que chamam de pizza
Pizza de Chicago jamais será uma pizza de verdade!
Aaron:
Quando visitamos a família de Ma Lune, só tem uva e parreiras por todo
lado, mas o husky ganhou praias paradisíacas
Dimitri:
E uma das melhores comidas que já provei na minha vida
Juliette:
O lado bom é que ele está tentando ganhar “minha benção”, então está
fazendo tudo que quero
Cauê:
Mas você já gosta dele
Juliette:
Eu adoro a família dele e ele. Minha melhor amiga estar namorando um
alfa que sei que a respeita e gosta dela de verdade, ainda mais sendo um
amigo antigo, é incrível. Duas partes da minha vida se unindo
Porém ele não precisa saber de cara, ainda mais se posso tirar vantagem
disso
Gigio:
Cauê, quando aparecer, explique isso para nós, por favor
Todos estamos confusos
Cauê:
Explicar o quê?
Acabamos de chegar em casa, o que houve?
Greg:
Os Barkov declaram guerra contra a família Ivanov para conquistar a
Bielorrússia