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Reino Zulu

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Introdução

A palavra Zulu significa "céu" e vem do nome dado a um dos filhos de Malandela,
um chefe africano do século XVI, e sua esposa, Nozinja. Por volta de 1670, os
descendentes de Zulu KaMalandela começaram a se chamar amaZulu, "o povo-
povo do céu". A língua bantu que eles falam, que vem da união do prefixo ba (nós) e
da palavra ntu (seres humanos), é considerada uma das mais antigas da
humanidade, e também é uma das mais difundidas na África negra central e austral,
com quase quatrocentas variantes intimamente relacionadas. de acordo com as
regiões. O Estado Zulu, localizado na região sul da África, é um exemplo fascinante
de despotismo político e centralização do poder. Este trabalho explora a formação e
a estrutura política do Estado Zulu, com foco especial na liderança de Chaka Zulu, o
rei que unificou várias tribos menores para formar o reino Zulu. A história do Estado
Zulu é marcada por conflitos, conquistas e transformações políticas significativas. A
ascensão do Estado Zulu no século XIX, sob a liderança de Chaka, é um
testemunho do poder e da influência de um líder despótico. Chaka Zulu, através de
sua liderança militar e estratégica, conseguiu consolidar um império poderoso que
deixou uma marca indelével na história da África.

Este trabalho pretende analisar a dinâmica do poder no Estado Zulu, a influência de


Chaka e as implicações do despotismo político para o povo Zulu. Através de uma
análise aprofundada, buscando compreender melhor a complexidade e a
singularidade do Estado Zulu na história política africana.

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1. Localização temporal e espacial do Reino Zulu.
Falar do povo Zulu, não é falar do passado, mas do presente, de uma etnia que até
hoje continua a conservar as suas raízes. E a maior etnia da África do Sul, com uma
população entre 10 e 12 milhões de habitantes e presentes em outros países como
Zimbábue, Moçambique, Essuatíni e Lesoto. Atualmente, a maior parte dos zulus
vivem na província sul-africana de Kwazulu Natal. A região fica localizado no
sudeste da África, entre os maciços de Drakensberg e o Oceano Índico, conhecida
hoje em dia pelo nome de Zululândia de Natal, abrange uma superfície de cerca de
200 000 km.
Os Zulus surgiram da comunidade Nguni, um grupo etnolinguístico do qual fazem
parte hoje. A região de Kwazulu-Natal, era habitada por vários pequenos clãs e
grupos Nguni. Esses grupos migraram para essa região ao longo de vários séculos,
vindo de áreas mais ao norte da África Austral. O próprio clã Zulu se desenvolveu a
partir dessas interações e migrações, formando uma cultura e identidade distintas.

No entanto, a mudança de paradigma dentro desta tribo só começou a se


concretizar com a ascensão ao trono do primeiro grande líder, Chaka. Isso resultou
na unificação de todos os clãs zulus sob um mesmo regime político dentro da
confederação de tribos.

2. Fatores que estiveram na origem e na expansão da ascensão de


Chaka.
Chaka nasceu em 1787 fruto de uma relação ilegítima entre o chefe
Senzangakhona e uma mulher chamada Nandi. Esta foi a razão pela qual mãe e
filho foram rejeitados pelo seu povo e forçados a viver no exílio entre os Mthethwa,
na altura do reinado de Dingiswayo. Durante seu exílio, Shaka foi iniciado em um
regimento de combate, servindo como guerreiro sob o comando do Rei Dingiswayo.

Enquanto isso, com apenas vinte e três anos de idade, a reputação de Chaka
aumentou, assim como os registos das lendas, tanto seu destemor ao caçar animais
selvagens quanto sua grande proeza com a lança. Ao ouvir falar de seu sucesso,
Shaka foi chamado para as fileiras do exército do Rei Dingiswayo. O militarismo o
levou até a receber o apoio do chefe Dingiswayo para se tornar o príncipe sucessor.

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Este episódio marcaria o início da ascensão de Chaka ao poder. Por isso, após a
morte de Senzangakhona em 1816, Chaka se tornou o novo rei do estado Zulu,
com a ajuda de seu aliado Dingiswayo e de seu meio-irmão Ngwadi, assassinou
Sigujana, o herdeiro oficial de Senzangakhona. Chaka então se tornou rei do Reino
Zulu.

3. As medidas que foram tomadas por Chaka para a reforma militar e


uma renovação estratégica do exército Zulu.
O facto de ter sido criado fora dos costumes do seu povo tenha lhe permitido ver as
limitações da sua estrutura política e, acima de tudo, do seu exército. Ele não
apenas aumentou consideravelmente o tamanho, mas também introduziu uma Série
de melhorias que modernizaram suas tropas para sempre. Uma das principais foi a
introdução de uma arma nova, a azagaia de cabo curto e uma lamina larga que
substituiu as lanças tradicionais, dando aos seus guerreiros uma enorme vantagem
contra as tribos inimigas no combate corpo a corpo. Por outro lado, ele aumentou
sua defesa graças aos grandes escudos ovais de pele de boi, que protegiam o
corpo do queixo aos pés. Para dar maior eficácia aos seus soldados, proibiu o porte
das sandálias que, segundo ele, atrasava as marchas.

Uma das reformas mais significativas foi a instituição de um exército permanente.


Chaka destacou uma parte da população que passou a especializar-se no ofício das
armas. Reestruturou os regimentos herdados do pai, constituídos por veteranos, e
treinou-os para novas formas de guerra: guerra total e de longa duração.

No plano organizacional, Chaka construiu uma hierarquia de patentes militares


baseada na idade. Os jovens eram recrutados aos 16 anos e sujeitos a uma
formação de dois a três anos, cada kraal (quartéis) tinha a sua frente um
comandante nomeado por Chaka, era coadjuvado por oficiais subalternos,
encarregados de unidades menores.

Chaka introduziu métodos de guerra mais lógica e sistemática como a formação de


ataque em arco de círculo, denominado de “cabeça de búfalo”. A formação “cabeça
de búfalo” consistia em três partes principais: Os Chifres: Eram os guerreiros mais
rápidos e ágeis, que se moviam em torno do inimigo em ambos os lados para cercá-

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lo e cortar suas rotas de fuga. A Cabeça: Era o centro da formação, composto pelos
guerreiros mais fortes e experientes. Eles avançavam diretamente para o inimigo
após os “chifres” terem cercado o inimigo. O Corpo: Era a reserva, composta por
guerreiros restantes que forneciam reforços onde necessário.

Esta estratégia permitiu aos Zulus cercar e dominar seus inimigos, contribuindo
significativamente para o poder e sucesso do Reino Zulu durante o século XIX.
Chaka abandonou a prática da guerra limitada e optou pela guerra “total” e pela
tática da terra queimada, que tinha por objetivo criar o vazio completo em torno do
inimigo.

Durante o reinado de Chaka, as mulheres também passaram a fazer parte da


estrutura militar. Elas eram encarregues de fornecer mantimentos e outros serviços
necessários às tropas.

O serviço militar terminava quando o guerreiro se casava, embora o rei devesse dar
previamente sua autorização. De facto, os soldados deveriam permanecer
celibatários até sua aposentadoria, para garantir seu compromisso total com a vida
militar.

4. Violência e construção

Os acontecimentos mais marcantes da história da África Austral no século XIX


andam todos ligados a uma série de guerras que afetaram comunidades inteiras,
num vasto movimento conhecido pelo nome de Mfecane (difacane em língua
sessoto, isto é, *movimento tumultuoso de populações"). (M`Bokolo, África Negra
p.81)
O autor Elikia M`Bokolo ao falar da violência e construção ele refere aos
acontecimentos mais marcantes da história da África Austral no século XIX em que
todos se encontravam ligados a uma série de guerras que afetaram comunidades
inteiras, num vasto movimento conhecido pelo nome de Mfecane, isto é, movimento
tumultuoso de populações. A violência era uma parte inerente da sociedade Zulu,
principalmente devido à necessidade de expansão e defesa do território. O rei
Chaka Zulu, um dos líderes mais famosos, é conhecido por suas táticas de guerra
inovadoras, que contribuíram para a conquista de vários territórios inimigos.

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A violência e a construção foram dois elementos cruciais na formação do Reino
Zulu. Enquanto a violência desempenhou um papel na expansão e defesa do reino,
a construção refletiu a rica cultura e tradições do povo Zulu.

5. A questão do despotismo no Estado Zulu


Chaka ao assumir o poder despojou os antigos órgãos políticos fazendo com que o
conselho do chefe e os seus anciãos perdessem o seu poder, e o direito de se
reunirem. O despotismo resultou em uma estrutura social e política altamente
hierárquica. Onde o rei, como o líder supremo, tinha controle absoluto sobre as
decisões políticas e militares.

A incessável sucessão de vitórias militares sobre os povos inimigos expandiu o


reino além do que inicialmente se poderia imaginar. Chaka diminuiu gradualmente o
poder dos chefes menores, com reduções de privilégios, centralizando a autoridade
em sua própria figura. Por outro lado, apenas os guerreiros de maior confiança eram
designados chefes regionais, minimizando assim o risco de células rebeldes dentro
do próprio império. O próprio exército contribui-o para as tendências despóticas.
Com efeito, os soldados deviam absoluta obediência aos chefes e multiplicavam as
saudações que lhes dirigiam.

Um período de despotismo extremo foi a morte da mãe de Chaka, Nandi, em que


teve um impacto profundo no rei. A sua dor transformou-se em comportamento
errático e mortal. Ele impôs um longo período de luto em todo o reino, durante o
qual foram proibidos o consumo de leite, proibição absoluta de relações sexuais
durante um ano e todas as mulheres grávidas foram mortas. Qualquer pessoa que
ele considerasse não estar sofrendo o suficiente era executada.

O despotismo de Chaka teve um impacto significativo na formação do Reino Zulu,


mas também levou à sua eventual queda.

6. O movimento Mfecane
Na narrativa histórica da África Austral, o relato corrente dos fatos insiste sempre no
caráter devastador de uma série de operações militares de grande envergadura. O
processo desencadeado em 1818 permitiu a Chaka vencer em dois anos de conflito

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trezentos chefes cujos territórios foram integrados no Reino Zulu. Perante essa
poderosa máquina de guerra, muitas coletividades preferiram fugir, atacando à
passagem os seus vizinhos, aumentando a confusão e revolvendo o mapa étnico da
região.

O fenómeno conhecido como Mfecane não cessou com a morte de Chaka em 1828,
mas continuou sob o governo de seu sucessor Dingane (1828-1840), expandindo-se
para além das fronteiras do reino para fazer sentir a sua influência até Moçambique.

No Índico, o rio Limpopo e o rio Orange, o impacto do Mfecane foi determinante.


Instaurando um ciclo de violência, o exército zulu gerou na região uma turbulência
generalizada, resultando no colapso das estruturas sociopolíticas existentes, à
destruição das culturas e do gado, à fome que teria obrigado certos grupos a
praticar o canibalismo para sobreviver.

Numa perspetiva histórica dinâmica, o movimento assumiu também aspetos


positivos inegáveis. Houve uma reestruturação geopolítica da África Austral.
Registrou-se também uma passagem qualitativa de comunidades culturais frágeis
para autênticas nações, que apoiavam seu arcabouço político no exército. À
integração dos grupos mais vulneráveis, sob o comando de chefes que aspiravam a
edificar entidades políticas mais vastas e mais sólidas, seguindo o modelo zulu. O
Mfecane contribuiu por fim para modificar radicalmente as estruturas políticas e
militares da África Austral e para impor o modelo zulu, nomeadamente nos domínios
cultural e linguístico.

7. Causas que estiveram na origem do declínio do Reino Zulu


O declínio do Reino Zulu pode ser atribuído a uma série de fatores interligados.
Antes da ascensão de Chaka Zulu, a região já era palco de guerras entre tribos
africanas pela posse de terras. A expansão Militar e Reformas estabelecidos por
Chaka fortaleceram o exército Zulu e permitiram a expansão do reino. No entanto, a
constante necessidade de expansão e as campanhas militares contínuas também
desgastaram o reino e criaram ressentimento entre os povos conquistados.

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Um outro fator determinante do declínio do Reino Zulu foi o Conflito com o Império
Britânico. O crescimento do Reino Zulu o colocou em rota de colisão com o Império
Britânico. Durante a Guerra Anglo-Zulu na década de 1870, o reino enfrentou um
adversário com tecnologia superior e recursos mais abundantes. Apesar de vitórias
iniciais, como a Batalha de Isandlwana, o reino foi derrotado e dominado pelos
britânicos em 1879.

O Alto-Comissário britânico, Sir Henry Bartle Frere, emitiu um ultimato ao rei zulu
Cetshwayo com condições humilhantes, incluindo a desmobilização do exército zulu
e a supervisão do reino por um agente da coroa. Cetshwayo, sem intenção de
enfrentar os britânicos, não pôde aceitar os termos e não respondeu ao ultimato, o
que levou à invasão britânica e ao subsequente declínio do reino. Após a derrota na
guerra, o exército Zulu foi desmembrado e o reino foi dividido entre várias chefias.
Essa fragmentação enfraqueceu ainda mais o poder central e a coesão do Reino
Zulu.

Esses fatores, combinados, levaram ao declínio do Reino Zulu, marcando o fim de


sua soberania e a transição para o controle colonial britânico.

8. A posição dos europeus perante a Africa no século XIX


As explorações na África durante o século XIX foram frequentemente consideradas
marcos importantes, mas, na realidade, pertencem mais à história intelectual,
política, social e diplomática da Europa do que à própria África. É evidente que os
africanos não tinham o sentimento de serem "explorados" ou "descobertos". A
perceção dos povos sobre os exploradores variava conforme a conceção do mundo,
preconceitos e estereótipos associados ao estrangeiro que encontravam pela
primeira vez.

Inicialmente, as explorações eram realizadas por indivíduos isolados, evitando o uso


de armas e buscando conquistar a simpatia das pessoas que encontravam. Com o
tempo, surgiram verdadeiras expedições, mobilizando várias dezenas de homens
pesadamente carregados. Essas grandes caravanas não hesitavam em abrir
caminho à força.

No meio do século XIX, surgiu na Europa um tipo particular de homem: o


"especialista" ou "profissional" da África, incluindo exploradores, soldados e

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missionários. Os relatos de exploração, como o de Stanley no Zambeze (publicado
em Londres em 1865), frequentemente promoviam a ideia de que uma colónia
europeia seria um benefício inestimável para a África intertropical, mesmo que essa
perspetiva estivesse envolta em preconceitos e visões limitadas.

Os europeus com uma visão negativista e racista, viam os africanos como homens
que se desenvolviam no estado selvagem. "A população está mergulhada no mais
baixo estado de degradação simultaneamente mental e moral, a um ponto tal, que é
impossível aos cristãos dos nossos países formar uma ideia precisa da dimensão
das trevas em que se encontram mergulhados os seus espíritos.” (M`Bokolo, África
Negra p.321)
Pretendendo apoiar-se na ciência, este racismo encontrou naturalmente o seu foco
de expansão nas sociedades científicas, dos quais os membros eram na sua
maioria adeptos do poligenismo. Neste aspeto tanto os monogenistas como os
poligenistas estavam de acordo quanto à inferioridade dos negros.

Conclusão

Em conclusão, a história do Reino Zulu é uma narrativa de ascensão e queda,


marcada por lideranças fortes, inovações militares e um impacto cultural duradouro.

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O legado de Chaka Zulu, em particular, destaca-se como um exemplo de liderança
poderosa e transformadora, capaz de unificar diversas tribos e estabelecer um reino
que desafiou as maiores potências da época. As reformas militares e a
centralização do poder sob Chaka foram fundamentais para a expansão do reino,
mas também contribuíram para a sua eventual vulnerabilidade a forças externas,
como o Império Britânico.

A história do Reino Zulu é também um lembrete da complexidade da história


africana, que não pode ser reduzida a simples narrativas de conquista ou
subjugação. É uma história de resiliência, adaptação e persistência cultural, onde o
povo Zulu continua a manter suas tradições e identidade até os dias atuais. O
estudo do Reino Zulu oferece lições valiosas sobre o poder, a política e a identidade
que ressoam muito além das fronteiras da África Austral.

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Fontes bibliográficas

Charles River Editors. (2021). The Zulu War and Boer War: The History and Legacy
of the Conflicts that Cemented British Control of South Africa.

M’Bokolo, E. (2011). África Negra: história e civilizações, Tomo II (Do século XIX aos
nossos dias). Salvador: EDUFBA; São Paulo: Casa das Áfricas.

Charles River Editors. (2021). The Zulu War and Boer War: The History and Legacy
of the Conflicts that Cemented British Control of South Africa.

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