0% acharam este documento útil (0 voto)
5 visualizações7 páginas

313 Tema 1

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1/ 7

Lição 1 - Histórico da Higiene Ocupacional

A importância da higiene ocupacional reflete-se na preservação da vida e


da saúde dos trabalhadores. Apesar do reconhecimento e dos avanços desta
especialidade no Brasil, ainda é preciso evoluir muito para contribuir cada
vez mais com a conservação da saúde dos trabalhadores em nosso país.

Ao término desta lição, você deverá ser capaz de:


• Conhecer a história da Higiene Ocupacional no Brasil e no mundo
1. História da Higiene Ocupacional no Mundo
Aristóteles, filosofo grego, que viveu entre 348 a 322 a.C., se preocupou com as
doenças dos trabalhadores das minas e principalmente com a forma de evi-
tá-las. Já Hipócrates, o pai da medicina, que viveu entre 460 a 375 a.C., estudou
a origem das doenças dos trabalhadores das minas de estanho.

Mas o considerado “Pai da Medicina do Trabalho”, chamado Bernardino Ra-


mazzini, italiano que viveu entre 1633 a 1714, que publicou um estudo chama-
do “De morbis Artificium Diatriba” – As doenças dos trabalhadores, onde ele
descreve 50 profissões e as doenças relacionadas a elas, publicado em 1700
na Itália.

Depois veio a Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra (1760-1830), quan-


do a invenção da máquina a vapor proporcionou a produção em maior esca-
la, e os antigos estábulos de animais e galpões sem nenhum preparo foram
transformados em fábricas improvisadas, sem preocupação com a saúde dos
trabalhadores, pois não haviam normas de higiene e segurança.

O reconhecimento da existência de uma relação causal entre os fatores de


risco e a doença foi a chave no desenvolvimento da prática da Higiene Ocu-
pacional. O que Hipócrates, Ramazzini e outros estudiosos, até o século XX,
observaram sobre a existência de uma relação entre o trabalho e as doenças
são as bases da Higiene Ocupacional.

A Higiene Ocupacional na Europa foi gerada e ganhou força através do cres-


cimento da indústria química, passando então a ser considerada uma subdis-
ciplina da Medicina. Já nos EUA, a Higiene Ocupacional, antes de 1900, fazia
parte da disciplina Medicina Ocupacional.

6
Com o desenvolvimento da medicina a partir do século XX, identificaram-se
muitos casos de doenças derivadas do trabalho em indústrias e muitos casos
de doenças insidiosas crônicas, como a fibrose pulmonar.

Em 1913, os EUA deram os primeiros passos na investigação e controle da si-


licose na indústria da mineração. Esses estudos foram estendidos para a in-
dústria siderúrgica, mas, em razão da Primeira Guerra Mundial, esses estudos
foram diretamente afetados.

Com a Primeira Guerra, problemas relacionados ao chumbo, principalmente


na indústria da munição, foram se agravando. O serviço de saúde americano
voltou sua atenção especial a esta área, criando, assim, instituições e entida-
des de classe para realizar trabalhos e estudos em colaboração com universi-
dades e indústrias, impulsionando a Higiene Ocupacional.

Figura 1 - Indústria de munição

Em 1919, com a criação da OIT, foram desenvolvidos estudos e acordos inter-


nacionais na área de Higiene Ocupacional.

Nos anos 30 e 40, ocorreu grande avanço da Higiene Ocupacional nos Esta-
dos Unidos, estimulados por profissionais de Higiene Industrial formados em
escolas de engenharia e saúde pública da universidade de Harvard.

Em 1938, um grupo de higienistas industriais do serviço de saúde pública dos


EUA organizaram a Conferência Americana de Higienistas Industriais do Go-
verno (American Conference of Governmental Industrial Hygiennists – ACGIH),
objetivando a troca de ideias, experiências e técnicas para definir padrões na
área de saúde ocupacional, realizada anualmente.

7
Em 1939, foi fundada a American Industrial Hygiene Association (AIHA), por
profissionais envolvidos com a promoção da saúde, composta por químicos,
engenheiros e médicos.

Em 1943, os padrões foram compilados em uma tabela com o nome dos con-
taminantes e limites máximos permissíveis para 63 contaminantes atmosfé-
ricos.

Em 1948, essas concentrações máximas permissíveis passaram a ser chama-


das de Limites de Tolerância, sendo utilizados até hoje como guia para atua-
ção dos profissionais da área de saúde dos trabalhadores em boa parte do
mundo, sendo incorporados na legislação americana e na de outros países.

Ainda em 1948, foi criada a Organização Mundial de Saúde (OMS), vinculada


à Organização das Nações Unidas (ONU), a qual estabeleceu políticas para a
saúde dos trabalhadores.

Neste mesmo cenário, EUA se destacou como a principal nação industrial


do mundo, e já com vasta experiência na Higiene Industrial, desenvolveu-se
desde os primeiros anos do século XX, e em conjunto com os demais países
industrializados, influenciou a OIT e sua agenda.

Em 1953, esses esforços resultam na Recomendação 97 da OIT sobre a prote-


ção dos trabalhadores, e ainda nesta década várias conferências foram reali-
zadas para uniformizar conceitos da Higiene Ocupacional.

Em 1957, ocorreu a reunião de Genebra, um marco, pois nesta reunião foram


estabelecidos os objetivos e o âmbito de atuação da Saúde Ocupacional. Sur-
giu, assim, a saúde ocupacional como modelo de atuação interdisciplinar,
com a organização de equipes multiprofissionais dando ênfase na higiene
industrial, assumindo um lugar de destaque na indústria dos países mais in-
dustrializados.

Em 1959, na Conferência Internacional do Trabalho, foi aprovada a recomen-


dação 112 sobre serviços de Medicina do Trabalho, e esta passou a ser refe-
rência internacional para o estabelecimento de legislações nacionais sobre
o tema.

Entre 1960 e 1970, nos países desenvolvidos, como Inglaterra, França Alema-
nha, Itália e EUA, surgiram movimentos sindicais representando as reivindi-
cações dos trabalhadores, eles exigiam a participação dos seus representan-
tes nas decisões sobre saúde e segurança.

A partir dos anos 70, o modelo de atuação da Saúde Ocupacional não conse-
gue mais atender a todas as necessidades, devido às mudanças dos processos
de trabalho, trazendo a terceirização da economia dos países desenvolvidos,
mudanças tecnológicas, transferência da indústria para os países do tercei-
ro mundo, automação e informatização como os principais aspectos que in-
fluenciaram essa defasagem da saúde ocupacional.

8
A partir dos anos 80, observa-se um avanço nos estudos toxicológicos, es-
pecialmente com relação a fatores de risco com potencial genotóxico1. Vários
limites de tolerância foram revisados, em razão destes estudos, e recomenda-
ções de organismos internacionais, visando a não utilização destas substân-
cias ou processos.

Nesta mesma década, em virtude do avanço da informática, a instrumenta-


ção utilizada na monitorização do ambiente de trabalho ganhou inúmeras
inovações com equipamentos de calibração automática, de fácil manuseio,
mas de custo ainda elevado.

Nos anos 90, verifica-se que, em razão da tendência do estabelecimento de


limites de tolerância cada vez menores, da descoberta de novas substân-
cias cancerígenas, entre outras situações que se apresentam nos ambientes
de trabalho, a Higiene Ocupacional iniciou uma nova forma de atuação por
meio de programas de prevenção.

2. História da Higiene Ocupacional no Brasil


Assim como em outros países, o Brasil utilizou-se de mão de obra escrava na
mineração e na agricultura, entre outras atividades econômicas, até o final
do século XIX. Por mais de 350 anos não existia outra forma de trabalho que
não fosse executada por escravos. Isso explica a falta de informações dispo-
níveis sobre as doenças relacionadas ao trabalho no Brasil até próximo o fim
da escravidão.

Entre 1880 e 1903, foram relacionadas algumas doenças nas fábricas de cha-
ruto e rapé, em fábricas de vela de sebo e trabalhos sobre intoxicação por
chumbo foram desenvolvidos na Universidade da Bahia, que são reconheci-
dos até hoje.

No início do século XX, Oswaldo Cruz realizou estudos e trabalhos voltados


ao combate às epidemias de “doenças infecciosas relacionadas com o traba-
lho”, tais como a malária e a ancilostomose, que incapacitaram e mataram
milhares de trabalhadores na construção de ferrovias, e a febre amarela nos
portos. Em 1910, Oswaldo dirigiu pessoalmente frentes de trabalho na ferro-
via Madeira-Mamoré.

No final do século XIX, ocorre o primeiro surto industrial no Brasil, concen-


trado nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, em 1920, ocorrendo em gran-
de semelhança quase cem anos depois que na Revolução Industrial na Ingla-
terra.

1. Genotóxico
Em genética, genotoxicidade é a capacidade de alguns agentes químicos de danificar a
informação genética no interior de uma célula.

9
Vários estudos faziam referências às más condições de trabalho, jornadas
prolongadas sem remuneração de hora extra, mão de obra feminina e infan-
til, e ocorrências de acidentes e doenças profissionais.

Durante esse período de industrialização em nosso país, a Higiene Ocupa-


cional, já praticada em países desenvolvidos como EUA e Inglaterra, não era
conhecida. E de maneira muito semelhante a esses países, as primeiras preo-
cupações com o assunto partiram de denúncias de trabalhadores, jornais da
época, do estudo de universidades, entre outros. A partir deste movimento
social e com influência direta das imigrações, que refletiam os movimentos
sindicais europeus, as lideranças conseguiram mobilizar a classe operária
para a grande questão social.

Em 1919, em decorrência destes movimentos, o Estado brasileiro intervém


nas relações de trabalho por meio de legislação específica, originando então
a Lei de Acidentes de Trabalho (decreto legislativo nº 3.754 de 15/01/1919). Po-
rém, essa lei não refletia os movimentos sociais, mas sim o movimento dos
empregadores, reunidos no Centro Industrial Brasil. Esta lei tinha com funda-
mento jurídico a teoria do risco profissional e previa a intervenção da autori-
dade policial em todas as ocorrências de acidentes do trabalho.

No início do século XX, o Brasil direcionou sua legislação e práticas nesse


campo à infortunística, que é a parte da medicina legal que estuda os infor-
túnios ou riscos industriais, acidentes e doenças profissionais e do trabalho.

A partir da primeira metade do século XX a Higiene Ocupacional, do ponto de


vista jurídico-institucional, encontra-se relacionada aos seguintes fatos:
• 1923 – foi criada a Inspetoria de Higiene Industrial e Profissional, junto ao
Departamento Nacional de Saúde, embrião do Ministério da Saúde, que
durou até 1930;
• 1934 – decretou-se a segunda Lei de Acidentes de Trabalho, através do
decreto nº 24.637 de 10/07/1934, sendo criada a Inspetoria de Higiene e
Segurança do Trabalho, no âmbito do Departamento Nacional do Trabalho,
do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Neste mesmo ano, o MTE
nomeou os primeiros “inspetores-médicos”, a fim de proceder a inspeção
higiênica nos locais de trabalho e estudos sobre acidentes e doenças
profissionais.
• 1938 – a inspetoria transformou-se em Serviço de Higiene do Trabalho
e, em 1942, a legislação do trabalho, que se encontrava dispersa e
redundante, foi agrupada e condensada na primeira Consolidação das
Leis do Trabalho – CLT, através do Decreto-lei nº 5.452 de 01/05/1943, que
incluía a Higiene e Segurança do Trabalho. Essa legislação foi baseada na
recomendação 112 da OIT, expressa no capítulo V da CLT.
• 1944 – foi formulada a legislação sobre acidentes do trabalho e
reformulada por meio do Decreto-lei nº 7.036.

10
Durante o governo Getúlio Vargas e após a reestruturação do estado, ficou
definida a atuação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, no campo
da higiene e segurança do trabalho, retirando da saúde pública suas funções
anteriores neste campo.

A partir da sua criação, o Ministério do Trabalho exerceu influência na forma-


ção de profissionais por meio da realização de cursos de Enfermagem, Medi-
cina, Engenharia e Segurança do Trabalho, ele gerou vários trabalhos práticos
e regulamentou a fiscalização da legislação.

Entre os anos 30 e 50, a higiene contou com os trabalhos realizados pelo De-
partamento Nacional de Produção Mineral, sendo alguns deles em conjunto
com o Ministério do Trabalho, nas minas de Minas Gerais, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul.

Neste mesmo período, vários pesquisadores brasileiros que haviam realizado


estágio nas escolas de Saúde Pública dos EUA voltaram ao Brasil e introduzi-
ram o ensino de Higiene do Trabalho nos cursos de Sanitaristas, ministrado
no Rio de Janeiro e, em São Paulo, posteriormente na Escola de Higiene e Saú-
de Pública da Universidade de São Paulo – USP.

Em 1934, iniciou-se na Escola de Higiene e Saúde Pública, em São Paulo, o


ensino da disciplina de Higiene do Trabalho e que durou até 1945.

Dessa forma, é possível verificar que, a exemplo do que ocorreu na Europa,


no Brasil a Higiene Ocupacional surgiu da Medicina, da Saúde Pública, com
os conceitos de Higiene e Segurança.

A partir de 1945, a Escola de Higiene e Saúde Pública foi reconhecida como


Faculdade de Saúde Pública e expandiu suas atividades, sendo um polo im-
portante para a disseminação em saúde ocupacional, com pesquisas, estudos
e estabelecimento de convênios com outras instituições.

Na década de 1960, o governo brasileiro, preocupado com os crescentes índi-


ces de acidentes e doenças do trabalho registrados no País, convidou técnicos
da OIT para estudarem as condições de segurança e higiene do trabalho no
Brasil, particularmente em São Paulo, em razão da rápida industrialização.
Assim, foi criado um centro de investigação sobre Segurança, Higiene e Medi-
cina do Trabalho, onde se apoiaram os organismos oficiais e os privados que
se dedicavam aos problemas da proteção dos trabalhadores.

Em 1966, a Lei nº 5.161, de 21 de outubro, foi criada a Fundação Centro Nacio-


nal de Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho – FUNDACENTRO, com
sede em São Paulo, destinada a realizar estudos e pesquisas pertinentes a Se-
gurança, Higiene e Medicina do Trabalho. A Fundacentro iniciou suas ativi-
dades em 1969.

Em 1973, formou-se a primeira turma do Curso de Medicina, Higiene e Segu-


rança do Trabalho.

11
Nos anos 70, surgiram várias instituições que contribuíram para a dissemina-
ção dos conhecimentos de Higiene Ocupacional, tais como Sesi nos estados
do Rio e São Paulo, Associação Brasileira de Prevenção de Acidentes, Serviço
Especial de Saúde Pública, e as Faculdades de Direito, de Engenharia e de Me-
dicina, ressaltando que várias delas continuam atuando até hoje.

Nos anos 80, surgiram outros centros de estudo sobre saúde e segurança do
trabalhador, com o Centro de Estudos sobre Saúde do Trabalhador e Ecologia
Humana (CETESH), ligado à fundação Oswaldo Cruz e à Escola Nacional de
Saúde Pública no Rio de Janeiro; o Departamento Intersindical de Estudos e
Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho (DIESAT), em São Paulo; e o
Instituto Nacional de Saúde no Trabalho (INST) da Central Única dos Traba-
lhadores (CUT).

Com a constituição de 1988, ampliaram-se no Brasil atribuições e responsa-


bilidades dos estados e dos municípios na área de Saúde e Segurança do Tra-
balhador, de maneira que os centros de referência de saúde do trabalhador
estaduais e as vigilâncias sanitárias passaram a ter competência para atuar
no Sistema Único de Saúde.

A partir de vários movimentos da sociedade brasileira, ocorreram mudanças


na legislação da área de Saúde e Segurança dos Trabalhadores, foram revisa-
das algumas normas regulamentadoras e priorizados programas de preven-
ção. Essas mudanças visavam à preservação da saúde e da integridade física
dos trabalhadores, com o surgimento por parte do Ministério do Trabalho dos
seguintes programas:
• Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA);
• Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional (PCMSO);
• Programa de Prevenção Ocupacional ao Benzeno (PPEOB);
• Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da
Construção Civil (PCMAT);
• Programa de Conservação Auditiva (PCA);
• Programa de Proteção Respiratória (PPR).
O PPRA em especial – o instrumento pela qual a Higiene Ocupacional, de for-
ma articulada com outros programas e com a participação dos trabalhadores,
– desenvolverá as suas ações por meio da antecipação, reconhecimento, ava-
liação e, consequentemente, do controle de riscos ambientais existentes ou
que venham a existir no ambiente de trabalho, levando-se em consideração a
proteção do meio ambiente e dos recursos naturais.

12

Você também pode gostar