Aula 01 Gestão e Planejamento Do Trabalho Docente

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GESTÃO E PLANEJAMENTO DO

TRABALHO DOCENTE
AULA 1 –
O TRABALHO DOCENTE
NA ESCOLA

Olá!

As discussões envolvendo temáticas a respeito da formação docente


não são recentes e acompanham avanços sociais, históricos e
econômicos. Ao longo da história educacional do país, foram criadas políticas
educacionais que representavam a visão de educação do governo e
trouxeram consequências para a instituição escolar e para o trabalho do
professor.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você verá como se deram algumas
transformações causadas pelas relações entre as implementações de
políticas educacionais e o trabalho docente. Ademais, vai estudar o papel do
professor na formulação e na execução das políticas educacionais, propostas
ao longo das últimas décadas, e algumas das principais políticas educacionais
relacionadas à formação de professores no Brasil.

Bons estudos!
1. AS ALTERAÇÕES NA POLÍTICA EDUCACIONAL

Com o advento da globalização e de alguns fenômenos econômicos,


agregaram-se também novas formas de organização escolar por meio de políticas
educativas reguladoras, bem como novas formas de articulação dos cenários local e
global.
O novo papel do Estado também descentralizou as exigências administrativas,
financeiras e educativas, influenciou a prática educativa nas suas responsabilidades
a realizar, tal como aponta Oliveira:

Tal descentralização veio acompanhada de processos de padronização de


procedimentos administrativos e pedagógicos, como meios de garantir o
rebaixamento dos custos da expansão do atendimento e redefinir gastos,
sem, contudo, abrir mão do controle central das políticas. Por meio dos
currículos centralizados, o livro e material didático, vídeos, programas de
computadores, a regularidade dos exames nacionais de avaliação e a
prescrição normativa sobre o trabalho pedagógico, observa-se relativa
padronização nos processos escolares (OLIVEIRA, 2007, p. 366).

Ademais, encontramos mudanças advindas da Lei de Diretrizes e Bases (LDB)


nº. 9.394/96 (BRASIL, 1996). Essa lei marca a conquista da ação escolar coletiva, na
qual os professores participam efetivamente do planejamento dos projetos
pedagógicos e políticos das instituições escolares e passam a trabalhar de forma
interdisciplinar os conteúdos do currículo. A avaliação é assim concebida como uma
escala contínua, com uma orientação diagnóstica, sumativa e formativa.
Com as mudanças significativas, identificamos outro setor que passou por
transformações notáveis: o setor administrativo e financeiro. Os líderes escolares têm
agora maior autonomia, flexibilidade e responsabilidade ao buscar recursos externos
As transformações afetam, diretamente, o trabalho pedagógico, “[...]
proveniente da combinação de diferentes fatores que se fazem presentes na gestão
e organização do trabalho escolar, tendo como corolário [uma] maior
responsabilização dos professores e [um] maior envolvimento da comunidade”
(OLIVEIRA, 2007, p. 367).
Para desburocratizar as instituições escolares, foram adotadas demandas de
descentralização com o objetivo de aumentar a eficiência e fortalecer o poder de
decisão dos gestores.
Temos, portanto, como exemplo a LDB nº. 9.394/96 (BRASIL, 1996), essas
demandas são apoiadas por referências ao Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) e ao Conselho de Educação. Então, pensando nessas mudanças, descobrimos
que, por um lado, há um quadro normativo que amplia a autonomia dos atores, mas,
por outro lado, o elemento governante também está se expandindo, indicando que,
apesar da maior autonomia, o papel do governo na regulação e condução da
educação também tem crescido. Como aponta Oliveira:

[...] Isso aumenta a responsabilidade do professor pelo sucesso do aluno e


expande o escopo e a competência dos profissionais. O desempenho dos
alunos é avaliado de forma abrangente e sistemática por meio de meios não
desenvolvidos no contexto escolar. Da mesma forma, são muitas as
exigências que esses trabalhadores devem cumprir como prova e as
exigências sobre sua capacidade de atender aos requisitos orçamentários,
legais, educacionais e políticos. Os professores são forçados a adotar
práticas e conhecimentos que antes não eram exigidos para o desempenho
de suas funções, e em muitos casos tais exigências são impostas aos
professores como resultado do aumento da autonomia e democratização das
escolas e de suas práticas. O trabalho docente incluirá, portanto, entre outras
coisas, atividades em sala de aula, reuniões educativas, participação na
liderança escolar e planejamento educacional (Oliveira, 2007, p. 367–368).

Considerando que o próprio processo de ensino-aprendizagem já apresenta


muitas dificuldades e desafios para os profissionais envolvidos, a introdução de outras
atribuições complica ainda mais a situação. Além de que, “[...] esses novos modelos
de organização escolar expressam muito mais um discurso sobre a prática do que a
própria realidade” (VAILLANT, 2012).
As exigências da política de reforma educacional, portanto, não levam em conta
que a formação de professores não envolve a reestruturação das relações de trabalho
pedagógico-administrativas, nem que esses profissionais sofrem com condições
salariais desfavoráveis ou precárias condições estruturais de trabalho.
Pesquisadores que estudam essas mudanças apontam que a reforma educacional
está voltada para a organização do trabalho instrucional nas instituições escolares:
como é feito o planejamento, as relações entre o controle e a autonomia, a
coletividade, as formas avaliativas internas e externas, os recursos disponibilizados e
os resultados alcançados (DUARTE, 2006).
Assim, também é importante considerar outros aspectos como o contexto da
comunidade local em que a escola está inserida, representantes da comunidade,
alunos e pais. Deve-se considerar que a “[...] A atividade final do professor é o aluno,
o ato pedagógico de ensinar e formar é direcionado ao aluno, o aluno pode ser
considerado o objeto do trabalho do professor” (VAILLANT, 2012).
Quando a política educacional se estende a esse tema, atua-se para além do
processo de ensino-aprendizagem. Segundo Shiroma e Evangelista, o docente passa
a ser considerado um profissional que:

[...] Possui experiência e habilidades organizacionais. Condições que ajudam


os alunos a encontrar, organizar e gerenciar seu conhecimento. Entre outras
coisas, instrumentos que permitam aos alunos ingressar na sociedade da
informação, além de participar da política educacional por meio da formulação
e implementação da política educacional. Seja atencioso, autônomo, criativo
e aberto a mudanças. Desenvolver ensino formal e a distância e uma vasta
lista de atributos (SHIROMA; EVANGELISTA, 2004, p. 531-532).

Por meio dessas novas responsabilidades dos professores, decorrentes da


política pública de reforma educacional, observa-se a existência de autonomia na
tomada de decisões sobre as demandas específicas do cotidiano, tais como: seleção
de temas a serem abordados, projetos a serem desenvolvidos e sugestões para o
enfrentamento de questões da comunidade escolar. O problema é que com essa
autonomia vem uma demanda por resultados que sobrecarrega os profissionais que
já enfrentam muitos desafios no dia a dia.

1.1 O papel do professor

Antes de prosseguir com a investigação sobre o papel do professor nessas


formulações e implementações, destacamos que esse profissional é essencial em
todos os aspectos e dimensões que fazem parte do campo educacional.
Os desafios do ensino no mundo de hoje incluem processos de ensino-aprendizagem
em sala de aula, participação em atividades colaborativas e comunicação com pais e
membros da comunidade escolar. A disposição sobre as ações de promoção desse
plano envolve:

[...] estimular a participação e a consulta de profissionais da educação, alunos


(as) e seus familiares na formulação dos projetos político-pedagógicos,
currículos escolares, planos de gestão escolar e regimentos escolares,
assegurando a participação dos pais na avaliação de docentes e gestores
escolares (BRASIL, 2014, documento-online).

O Projeto Político-Pedagógico tornou-se obrigatório por meio da LDB, que


estabelece em seu artigo 12: a “[...] determinação de os estabelecimentos de ensino,
terão a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica” (BRASIL,
1996).
As agências assumem um papel mais autônomo e participativo e começam a
refletir, planear e implementar medidas concebidas em conjunto. Envolver os
professores nos PPPs é uma oportunidade de conhecer melhor a realidade das
instituições de ensino. Isso permite que eles criem teorias educacionais e as
implementem em seu trabalho diário e se percebam como membros envolvidos no
desenvolvimento educacional. É importante destacar que esse documento “[...]
estabelece princípios, diretrizes, propostas de organização, sistematização e
avaliação das atividades desenvolvidas por um estabelecimento educacional como
um todo” (FELÍCIO, 2010, p. 147).
Após descrever o papel dos professores na formulação e implementação de
políticas educativas no âmbito do PPP e PNE, será discutido algumas das funções
desses profissionais. Entre suas funções, destaca-se o objetivo de promover o
desenvolvimento global de seus alunos, além de apoiá-los no exercício de seus
direitos de cidadania
Também colabora com líderes escolares em atividades que apoiam "o
fortalecimento de culturas institucionais democráticas e a intervenção no desenho,
implementação e avaliação de políticas educacionais locais e nacionais para melhorar
o aprendizado dos alunos e o desenvolvimento de habilidades e competências ao
longo da vida” (FREITAS, 2011).
Portanto, podemos identificar três dimensões que abarcam o trabalho docente,
abrangendo alunos, gestores e políticas educacionais. Este último refere-se à atuação
dos professores na formulação, implementação e avaliação de políticas, com base na
análise das necessidades sociais da comunidade e do próprio equipamento escolar,
mas que é fundamental para o envolvimento de todos nas abordagens, discussões e
debates que levam às decisões educacionais, administrativas e financeiras.

Esses papéis podem ser assumidos por professores dotados de


competências profissionais, éticas e interpessoais, educados, qualificados e
que se sintam prontos para assumir novos papéis de protagonista. Eles veem
a si mesmos e suas escolas como parte de uma parceria com outras partes
interessadas para garantir que os alunos aprendam mais e melhor, que as
escolas sejam administradas de forma colaborativa e que as políticas locais
e nacionais reflitam as necessidades de desenvolvimento de suas
comunidades e sociedades e que essas necessidades sejam efetivamente
atendidas. A partir dessa visão do papel do professor, reinterpretar e restaurar
sua centralidade requer reconhecer que são muitos os fatores que
determinam o desempenho, e que esses fatores interagem e se influenciam.
Entre eles: formação inicial, desenvolvimento profissional dos titulares,
condições de trabalho, saúde (FREITAS, 2011, s/p).
Outro aspecto importante a ser mencionado é que essas mudanças, advindas
das reformas do ensino na execução de políticas educacionais pelos docentes,
trouxeram como uma das consequências a separação “[...] entre a concepção e
execução do trabalho educacional” (VAILLANT, 2012).

Essa sensação de distanciamento fez com que os professores perdessem a


autonomia, se sentissem desanimados e impotentes no processo de ensino
e aprendizagem. O trabalho do professor está atrelado ao desempenho do
aluno, que está diretamente relacionado à distribuição de verbas,
treinamentos e métodos voltados para a melhoria da eficiência dos
equipamentos escolares. Isso faz com que as escolas deixem de priorizar a
dimensão social e retornem à dimensão técnica com o objetivo de alcançar
bons resultados (FREITAS, 2011, s/p).
Muitas críticas a essas questões vêm de professores e educadores que são
influenciados diretamente por sua prática e que se sentem atores em cenários
desconectados da realidade local e responsáveis por resultados que não
dependem apenas de sua atuação. Um estudo conduzido pela pesquisadora
Linda Darling Hammond descobriu que, além do desempenho individual do
professor, existem variáveis que influenciam os resultados educacionais,
incluindo:
– Fatores escolares, tais como tamanho das turmas, escolhas curriculares,
tempo de ensino, disponibilidade de especialistas, tutores, livros,
computadores, laboratórios científicos, e outros recursos;
– Experiência anterior de escolaridade e docentes, assim como outros
aspectos das experiências mais atuais
– Tais como oportunidades de aprendizagem profissional e planejamento
colaborativo; – Cultura de pares e desempenho;
– Diferencial de ganhos e perdas na aprendizagem de verão (férias);
– Fatores domésticos, tais como capacidade dos pais no auxílio aos trabalhos
para casa, segurança com a alimentação e moradia, e apoio ou abuso físico
e mental; e
– Necessidades individuais dos estudantes, saúde e assistência (FREITAS,
2011, s/p).

Baseado nesses fatores que se mostraram associados ao desempenho dos


alunos, conclui-se que a responsabilidade pelos resultados dos exames não deve ser
exclusiva dos professores. Considerando essa premissa, deve ser um esforço comum
pensar em medidas educacionais, administrativas e financeiras para promover uma
educação de qualidade.
É essencial que todas as partes envolvidas no processo de ensino-
aprendizagem estejam cientes de suas responsabilidades e das normas e diretrizes
nacionais que se aplicam em diferentes áreas. Acima de tudo, para que os professores
possam desempenhar o seu papel na formulação e implementação da política
educativa, é necessário que as suas opiniões sejam ouvidas, levadas em conta e
avaliadas, tanto em termos de remuneração como de condições adequadas ao
desempenho das suas funções.
Rastreando as práticas educacionais nas últimas décadas, observa-se
mudanças significativas provocadas por mudanças nas relações industriais,
tendências econômicas e pensamento governamental sobre os objetivos da educação
na sociedade. As instituições escolares, no mundo de hoje, não são mais espaços de
conteúdos educativos, mas ambientes democráticos para formar a cidadania, o
desenvolvimento integral, estimular a introspecção e respeitar a diversidade,
preservando a identidade e a cultura e moldando a vida comunitária com base em
valores e princípios éticos. Um exemplo dessa percepção encontra-se no relatório da
Comissão Internacional sobre Educação no Século XXI, que destaca os seguintes
princípios como fundamento da educação:

- Aprender conhecimentos combinando um conhecimento geral


suficientemente amplo com a possibilidade de estudo aprofundado de um
número menor de assuntos. H.: Aprenda a aprender para se beneficiar das
oportunidades de aprendizagem ao longo da vida.
- Aprender a fazer para adquirir não só qualificação profissional, mas, de
forma mais ampla, habilidades que permitam enfrentar situações diversas e
trabalhar em equipe. Além disso, a aprendizagem é possível voluntariamente
de acordo com contextos locais ou nacionais, ou formalmente graças a
desenvolvimentos que alternam formação e trabalho, no contexto da
variedade de experiências sociais ou profissionais oferecidas a jovens e
adolescentes.
- Aprender a conviver, entender melhor os outros, reconhecer conexões,
empreender projetos conjuntos e estar preparado para lidar com conflitos
- Respeitar os valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz.
- Aprender a desenvolver a melhor personalidade possível, capacitando-os
para agir com maior capacidade de autonomia, julgamento e
responsabilidade pessoal. Para atingir esse objetivo, a educação deve levar
em consideração o potencial pleno de cada indivíduo. Memória, raciocínio,
senso estético, capacidade física, capacidade de comunicação (BRASIL,
2014).

Ao analisar os princípios inerentes à educação, surge a indagação: terá a


formação docente se ajustado para capacitar os professores diante das diversas
transformações? Com a finalidade de viabilizar a aplicação efetiva desses
fundamentos em ambiente escolar, é imprescindível que o docente adquira uma
formação que fomente habilidades para desempenhar uma prática reflexiva e crítica,
a qual o engaje nos processos de ensino-aprendizagem alinhados às tendências
educacionais globais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei n. 13.005, de 25 de junho de 2014.


Aprova o Plano Nacional de Educação – PNE e dá outras providências. Brasília,
DF, 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2014/lei/l13005.htm. Acesso em: 12 jun. de 2023.

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de


1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF, 1996.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 12 jun.
de 2023.

DUARTE, A. M. C. O processo de trabalho docente na educação básica: a análise dos


pesquisadores da Rede Estrado. Revista de Ciências Humanas, v. 6, n. 2, p. 239–
252, jul./ dez. 2006.

FELÍCIO, H. M. S. O papel do professor/pesquisador na construção do projeto político-


pedagógico no ensino superior. Olhar de Professor, v. 13, n. 1, p. 145-153, 2010.

FREITAS, L. C. Responsabilização, meritocracia e privatização: conseguiremos


escapar ao neotecnicismo? In: Seminário de Educação Brasileira, 3., 2011.

OLIVEIRA, D. A. Política educacional e a re-estruturação do trabalho docente:


reflexões sobre o contexto latino-americano. Educação & Sociedade, v. 28, n. 99, p.
355–375, 2007.

SHIROMA, E. O.; EVANGELISTA, O. A colonização da utopia nos discursos sobre


profissionalização docente. Perspectiva, v. 22, n. 2, p. 525-545, jul./dez. 2004.

VAILLANT, D. Construcción de la profesión docente en América Latina:


tendencias, temas y debates. Serie Documentos, Chile, n. 31, dic., 2012.

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