Tese - Samuel Ribeiro Zaratim - 2020
Tese - Samuel Ribeiro Zaratim - 2020
Tese - Samuel Ribeiro Zaratim - 2020
Goiânia/2020
15/07/2020 SEI/UFG - 1440178 - Termo de Ciência e de Autorização (TECA)
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1. Iden ficação do material bibliográfico
[ ] Dissertação [ x ] Tese
3. Título do trabalho
A PERFORMATIVIDADE DAS QUADRILHAS JUNINAS: reminiscências da tradição e a espetacularização da dança
4. Informações de acesso ao documento (este campo deve ser preenchido pelo orientador)
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Casos de embargo:
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Obs. Este termo deverá ser assinado no SEI pelo orientador e pelo autor.
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13:05, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de
2015.
Documento assinado eletronicamente por SAMUEL RIBEIRO ZARATIM, Discente, em 15/07/2020, às 13:24, conforme
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PERFORMANCES CULTURAIS
DOUTORADO
SAMUEL RIBEIRO ZARATIM
Orientadora:
Prof.ª Dr.ª Izabela Maria Tamaso
Goiânia/2020
15/07/2020 SEI/UFG - 1398940 - Ata de Defesa de Tese
Ata nº 3 da sessão de Defesa de Tese de Samuel Ribeiro Zaratim que confere o título de Doutor em Performances Culturais, na
área de concentração em Performances Culturais.
Aos vinte e quatro dias do mês de junho de dois mil e vinte, a partir das dez horas, via webconferência, realizou-se a sessão
pública de Defesa de Tese intitulada “A PERFORMATIVIDADE DAS QUADRILHAS JUNINAS: reminiscências da tradição e a
espetacularização da dança”. Os trabalhos foram instalados pela Orientadora, Professora Doutora Izabela Maria Tamaso
(UFG) com a participação dos demais membros da Banca Examinadora: Professora Doutora Renata de Sá Gonçalves (UFF),
membro titular externa; Professora Doutora Patrícia Silva Osório (UFMT), membro titular externa, Professora Doutora Maria
Cristina de Freitas Bonetti (UEG), membro titular externa; Professor Doutor Sebastião Rios Corrêa Júnior - UFG, membro titular
interno, cujas participações ocorreram através de videoconferência. A Banca Examinadora reuniu-se em sessão secreta a fim de
concluir o julgamento da Tese tendo sido o candidato aprovado(a) pelos seus membros. Proclamados os resultados
pela Professora Doutora Izabela Maria Tamaso, Presidente da Banca Examinadora, foram encerrados os trabalhos e, para constar,
lavrou-se a presente ata que é assinada pelos Membros da Banca Examinadora.
Documento assinado eletronicamente por Izabela Maria Tamaso, Professora do Magistério Superior, em 24/06/2020, às
14:11, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.
Documento assinado eletronicamente por Renata de Sá Gonçalves, Usuário Externo, em 24/06/2020, às 16:00, conforme
horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.
Documento assinado eletronicamente por Sebas ão Rios Corrêa Júnior, Professor do Magistério Superior, em 24/06/2020,
às 17:11, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de
2015.
Documento assinado eletronicamente por Patricia Silva Osorio, Usuário Externo, em 24/06/2020, às 18:07, conforme
horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.
Documento assinado eletronicamente por MARIA CRISTINA DE FREITAS BONETTI, Usuário Externo, em 06/07/2020, às
19:30, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.
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Dedicatória
NÃO SEI
Cora Coralina
Agradecimentos
Aos meus sobrinhos Yane, Danilo, Renato, Rejane e Maria pela parceria
e solidariedade. Aos meus sobrinhos netos Matheus e Victor que vieram para
serem amados.
À minha orientadora Profª Drª Isabela Maria Tamaso por ter me acolhido.
À Profª Drª Vânia Oliveira, sou grato pelo início dessa caminhada.
Aos amigos Deborah Karla, Maria Aída, Dayanna, Andrea Naves, Mário
Vasconcelos, Fabiola Moreira pelo apoio, carinho e respeito profissional.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE ABREVIATURAS
APRESENTAÇÃO .......................................................................................... 15
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................... 32
Lista de Figuras
Lista de Quadros
Lista de Abreviaturas
APRESENTAÇÃO
1
É importante ressaltar tal qual fiz em 2014, que a Lei nº 12.390, de 03 de março de 2011, art.
2º, parágrafo único, define o quadrilheiro junino como “o profissional que utiliza meio de
expressão artística cantada, dançada ou falada transmitido por tradição popular nas festas
juninas” (ZARATIM, 2014, p. 96).
16
2
A ESEFEGO foi uma entidade autônoma na formação superior de Professores de Educação
Física do Estado de Goiás inaugurada em 1962. Foi incorporada pela Universidade Estadual
de Goiás – UEG, em 1999, instituída pela lei 13.456.
17
ambiente junino; não somente para mim, mas para o movimento junino em
Goiás. Antes mesmo da aprovação do processo seletivo do mestrado procurei
o Presidente da Federação das Quadrilhas Juninas do Estado de Goiás –
FEQUAJUGO, daquela gestão, o Sr. Alex Gomes Gontijo que me fez
importantes revelações para a estruturação do projeto de pesquisa.
3
Estes critérios avaliativos foram apresentados e analisados em Zaratim (2014, p. 83 – 87).
23
Tal qual nos orienta Clifford Geertz (2009), somos seres inacabados em
busca de significados. É importante observar que as vivências adquiridas no
decorrer da vida dos sujeitos são elementos importantes para a realização da
performance da cultura. Segundo o autor
John Dawsey (2016, p. 01) defende que é possível entender que “a ação
é frágil e efêmera, e, ao mesmo tempo, potencialmente poderosa, explosiva.
Ela tem as qualidades da passagem. E tem tudo a ver com realização”. Assim,
percebo que o comportamento dos sujeitos desta pesquisa é moldado pelas
referências de suas origens, as quais são interiorizadas por meio dos seus
contextos específicos e exteriorizadas nas suas representações pessoais. As
expressões subjetivas são exteriorizadas por meio das realizações
socioculturais produzidas no convívio do grupo ao qual o sujeito está inserido,
emergindo a vitalidade cultural que lhe caracteriza. Por conseguinte, no
cotidiano, o indivíduo experimenta momentos da performance quando assume
responsabilidades laborais, períodos de socialização (festas, comemorações,
encontros informais) ou de interpretação do seu eu na vida cotidiana 4.
4
No livro “A representação do eu na vida cotidiana” (2009), originalmente publicado em 1959,
Erving Goffman utiliza suas concepções sobre o teatro para refletir a respeito das relações
interpessoais na vida cotidiana, principalmente a interação face a face.
29
Simbora!!!
32
1 INTRODUÇÃO
5
Elucidação da noção de movimento junino na Apresentação desta tese.
35
Quem sou;
Fale sobre o seu grupo: relações internas e com a comunidade;
dinâmica de produção: direitos, deveres, avanços e desafios;
Interações com outros grupos juninos;
Relações institucionais: poder público, federação, entidades
privadas, economia e mercados;
Marcadores de diferença: sexualidade e gênero nos grupos
juninos
A percepção junina: o corpo, o lugar, a teatralidade, a
carnavalização, o espetáculo.
6
No caso desta pesquisa: Circuito Goiano de Quadrilhas Juninas; Arraial do Cerrado/GOIÁS
TURISMO; Circuito Centro-Oeste de Quadrilhas Juninas; Arraial Brasil (Brasília); Concurso
Nacional de Quadrilhas Juninas (cada ano é realizado em uma localidade diferente, salvo
algumas edições).
39
Fonte: googlemaps
A recepção nos dois grupos foi bem parecida com todos os grupos que
visito desde 2012. Semelhante também é a minha participação enquanto
pesquisador. Para este trabalho, na continuidade desta exposição, converso
com as lideranças explicando que permanecerei observando a rotina de seus
ensaios e que ao final, gostaria de conversar com alguns dos integrantes –
aqueles que por algum motivo, me chamariam a atenção para esclarecer
alguma inquietação. Assim mesmo, nas duas situações de campo, sempre eu
era apresentado a todo o grupo e era solicitado a falar algo. Procurava então,
explicar sobre o que estava fazendo ali, por vezes anotando o que eles faziam.
Aproveitava a oportunidade de acompanhar de perto as situações corriqueiras
vivenciadas pelos quadrilheiros, as quais poderiam revelar inúmeras
combinações de gestos e palavras não ditas. Então, buscava em tornar-me
familiar, anotando, filmando, fotografando, conversando e entrevistando.
7
Os grupos promovem festas e eventos para arrecadação financeira. Nestas ocasiões a troca
de experiências é constante, reverberando a partilha das práticas, saberes e socializações.
8
A Lei nº 13.018, de 22 de julho de 2014, institui a Política Nacional de Cultura Viva e
estabelece no Artigo 4º, Inciso I, os pontos de cultura como instrumento de política pública
cultural. O texto assim versa: “I - pontos de cultura: entidades jurídicas de direito privado sem
fins lucrativos, grupos ou coletivos sem constituição jurídica, de natureza ou finalidade cultural,
que desenvolvam e articulem atividades culturais em suas comunidades”.
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13018.htm; acessado em 15 de
julho de 2018 às 16:42hs)
47
9
A Lei Goyazes nº 13,613 tem por finalidade: “preservar e divulgar o patrimônio cultural,
histórico e artístico do Estado; incentivar e apoiar a produção cultural e artística relevante para
o Estado de Goiás; democratizar o acesso à cultura e o pleno exercício dos direitos culturais,
49
11
Delimitei o ano por ser tratar de um fenômeno social contemporâneo em constante
ascensão, transformação e infindáveis atualizações.
56
relações uns com os outros, que ajustadas pela ocasião socializadora, compõe
os festejos juninos.
Fonte: Fequajugo
grupo, das ações políticas, assim como das trocas econômicas, em virtude dos
festivais e das competições juninas.
12
O conceito de indústria cultural foi primeiro idealizado por Theodor Adorno e Max Horkheimer
(2002) no ano de 1947 no texto intitulado “A indústria cultural: o iluminismo como mistificação
das massas”. Nos anos seguintes Adorno prosseguiu com suas análises a respeito do conceito
de indústria cultural, na maioria das vezes agregando importantes noções a respeito do tema.
65
entendimento do material.
8. Estereotipagem – As mercadorias Uso igualitário de adereços
são construídas através de como apliques, chapéus, anáguas,
procedimentos simplificadores, que sapatos masculinos e femininos, etc.
funcionalizam o significado e reduzem Utilização de figurinos e
a complexidade contida no material cenários que complementam a
sujeito à atividade artística e mensagem a ser transmitida pela
intelectual. quadrilha.
Fonte: adaptado de Rudiger (2004, p. 194-195)
É oportuno assinalar que o valor cultural junino emerge por meio das
estratégias que o Fazer Junino opera nas espacialidades, atividades individuais
e ações coletivas, percorrendo a cultura popular, a indústria cultural, as
configurações dos festejos de junho e a espetacularização da festa e suas
interfaces.
72
3 O FAZER JUNINO
13
Reverberam-se nestas festas as comidas e as danças típicas do próprio festejo, assim como
a variedade musical regional que abrilhanta as celebrações.
14
No hemisfério sul, nesta mesma época do ano celebra-se o solstício de inverno, no qual
manifesta-se a noite mais longa do ano (AMARAL, 1998).
15
Vale ressaltar que mesmo diante dessa combinação cultural, a característica religiosa aliada
à religiosidade popular sempre foi a mola propulsora dos festejos juninos em alusão aos três
santos católicos do mês de junho: Santo Antônio no dia 13, São João no dia 24 e São Pedro no
dia 29.
74
16
Como veremos a frente, o Movimento Folclórico no Brasil nos anos de 1950 tinham uma
atenção especial com os folguedos devido ao seu caráter dinâmico enquanto manifestação
popular. Os folguedos representavam a cultura popular, também entendida como uma
manifestação folclórica (CAVALCANTI, 2001; ABREU, 2003).
17
Esta mesma ludicidade absorvida pelas festas juninas observadas por Chianca (2007b) foi
também verificada por Zulmira Nobrega (2010) nas festas espetaculares de Campina Grande
(PB); Hugo Menezes Neto (2009) sobre as quadrilhas juninas do Recife (PE); Rafael Silva
Noleto (2016) em relação aos concursos juninos de Belém (PA), que analisa a questão de
gênero nas quadrilhas juninas; por mim (ZARATIM, 2014) sobre o processo de ressignificação
das quadrilhas juninas na cidade de Goiânia (GO); e por vários outros autores que pesquisam
as temáticas juninas no Brasil.
76
tradição. Alfredo Bosi (1992, p. 324) argumenta que caso um dia exista uma
teoria sobre a cultura popular brasileira ela teria ou “terá como sua matéria-
prima o cotidiano físico, simbólico e imaginário dos homens que vivem no
Brasil. Nele sondará teores e valores”.
19
Segundo Rios (2014) Antônio Ribeiro da Conceição, músico, escritor, compositor, poeta,
cordelista, repentista, ator e cantador, utiliza o nome artístico de Bule-Bule.
80
Ainda sobre a cultura popular Bosi (1992, p. 326) argumenta que “fica
implícito no termo popular que essa cultura é, acima de tudo, grupal, supra-
individual, garantia, aliás de sua perpetuação, que resiste à perda de
elementos individuais”. Neste contexto, a concepção sobre a cultura popular é
usufruída por diversas vertentes da cultura. Por vezes, mesmo diante das
transformações contemporâneas, o termo é empregado para indicar práticas
populares fomentadas pela indústria cultural.
20
Tal qual fiz na dissertação de Mestrado (ZARATIM, 2014), cito como arranjos populares
vinculados aos festejos juninos elementos simbólicos que perfazem os significados da
festança. A dinâmica da festa é baseada na multiplicidade popular e possibilita o uso de
diferentes modos de festejar os folguedos de junho no Brasil, religioso ou laico, ainda que
atualizados, independente da classe social. A exemplo disso: Santo Antônio ao ser celebrado é
por vezes sacrificado para atender aos pedidos das solteiras e dos solteiros, a fim de conseguir
um casamento; novenas também são realizadas em intenção aos Santos Juninos por
agradecimento a alguma graça alcançada; para a degustação, o milho é assado e a pipoca
estoura nas panelas de barro sobre os fogões a lenha; são erguidos nas festas juninas, o pau
de sebo para divertimento, e o mastro ou estandarte de São João para a devoção. Luciana
Chianca (2007b) afirma que as imagens postadas dos santos nestes estandartes são
valorizadas quando expostas nas portas das casas, como também indicam que naquela
localidade existe uma homenagem. No tocante ao pau de sebo a autora esclarece que é um
instrumento que viabiliza a demonstração da vitalidade de jovens participantes do São João.
Os mais audazes arriscam alcançar o topo destes mastros.
81
saber “do povo” são heterogêneos, abrindo-se num infinito leque de distintas
formas de ser”. A autora assevera que a cultura e o saber do povo:
21
Vale ressaltar que o conceito de indústria cultura foi revisto por Adorno em 1967, quando o
mundo passava por um processo de apreensão da transformação mecânica e tecnológica
alcançada nas décadas anteriores. Adorno e Horkheimer, em contato com a revolução
tecnológica americana, cunharam suas ideias envoltas pelos pensamentos desenvolvidos na
chamada escola de Frankfurt que teria como base cientifica o desenvolvimento de uma teoria
critica, a qual intencionava analisar as transformações e a alienação da sociedade industrial
moderna inspirada na reavaliação da teoria marxista.
86
Jânio Roque Barros de Castro (2012, p. 22) assevera que o São Joao é
comemorado “na casa, na rua, com a família, com amigos, em grupos, em
praças públicas ou em espaços festivos privados”, apesar das investiduras da
sociedade contemporânea na configuração espetacular da festa. O autor
assegura que os hábitos juninos “foram progressivamente urbanizados, sendo
que há elementos dos antigos costumes que foram reinventados”, baseados
nos aspectos lúdicos e culturais da festa. Castro (2012, p. 44), tal qual Chianca
(2007b) refere-se ao enfoque lúdico e cultural da festa acautelando que este
“em muitos aspectos, realça o passado como um pano de fundo ou na
perspectiva da estetização do espaço festivo”. Sendo assim, a prática festiva
do São João no presente, contextualiza-se conforme seus vínculos com as
festas juninas do passado somando-se aos apelos da indústria cultural, com
foco na lógica de mercado, no entretenimento contemporâneo e no lazer.
22
É importante observar que os instrumentos que caracterizam o ritmo do forró desde os seus
primórdios são a zabumba, o triangulo e a sanfona, instrumentos enaltecidos por Luiz Gonzaga
para propagar suas canções. Contudo, essa configuração passou por transformações e
atualmente conta com outros instrumentos, como a bateria e a guitarra elétrica.
23
Durval Muniz de Albuquerque Jr. (2001), colabora com o nosso debate ao trazer algumas
abordagens e temáticas a respeito da região onde Luiz Gonzaga nasceu, a qual influencia
sobremaneira as festas juninas, assim como o ícone nordestino. Em seu livro “A invenção do
nordeste e outras artes”, Albuquerque Jr, utiliza de obras de diversos autores e artistas que
descreveram o nordeste brasileiro para refletir sobre como aquela região foi apresentada ao
país. Desse modo, o autor percorreu diferentes períodos históricos e distintas concepções
teóricas que envolvia a literatura, a geografia e a história por meio de fontes eleitas por ele
como potencializadoras do real sentido nordestino.
92
24
Em seus primórdios, no inicio do século XX, as representações dos bois pautavam-se em
uma briga de maneira lúdica nos quintais, e nos últimos anos ganharam características
específicas sob as influências indígenas e andinas (CAVALCANTI, 2000).
25
Para Câmara Cascudo (2010, p. 871-872), a toada “é uma canção breve, em geral de estrofe
e refrão em quadras”, e que “musicalmente, não tem o caráter definido e inconfundível da
moda caipira. Talvez porque, abrangendo várias regiões, a toada reflita as peculiaridades
musicais próprias de cada uma delas”.
96
26
Falarei mais adiante sobre o local de realização deste arraial – o Parque Mutirama.
98
27
Os locais para a estruturação deste Arraial sazonal era escolhido conforme as possibilidades
logísticas do ano em curso. Geralmente as questões politicas é que definiam o espaço festeiro:
Praça Cívica, Estacionamento do Estádio Serra Dourada, Centro Cultural Oscar Niemeyer.
Este evento foi patenteado por uma empresa privada que, com artifícios legais do mercado
cultural do Estado de Goiás, adiantou-se à Federação das Quadrilhas Juninas do Estado de
Goiás - FEQUAJUGO, entidade verdadeiramente idealizadora desta festa.
28
Segundo o site desse evento de cunho espetacular, o festival iniciou suas atividades em
Goiânia no ano de 2011 e hoje é realizado em diversas cidades brasileiras, como também no
Paraguai e Portugal. https://www.villamix.com.br/o-festival/, acessado em 14/07/2019, às
21:58hs.
99
Fonte: Fequajugo
Fonte: googlemaps
102
Fonte: googlemaps
29
Discuti o regulamento do Circuito Goiano de Quadrilhas Juninas de 2013, o qual mantém-se
como modelo para o ano de 2017 (ZARATIM, 2014).
105
Fonte: googlemaps
Figura 16 - Localização Geral das três etapas do Circuito Goiano de Quadrilhas Juninas 2017
Fonte: googlemaps
Por outra perspectiva, Hugo Menezes Neto (2009, p. 68) entende que os
concursos juninos não se resumem à “lógica capitalista da competitividade”,
mas também “estimula a participação, promovem interação, permitem a
experimentação de uma gama de sentimentos e sensações que perpassam a
rivalidade, mobilizam comunidades e dão visibilidade aos grupos”. Assim
mesmo, as inovações temáticas trabalhadas no ciclo junino e apresentadas nos
festivais juninos passam a configurar-se como disputas pela hegemonia no
universo do mercado cultural, que abrange as atividades contidas no Fazer
Junino.
30
Chianca (2007a), cita como exemplo de matuto, o personagem criado por Monteiro Lobato
em 1918 em seu livro Urupês – o Jeca Tatu – esta observação é igualmente encontrada na
dissertação (ZARATIM, 2014). Também refere-se ao Chico Bento de Maurício de Souza de
1961 e ao Jeca Tatu dos filmes de Amacio Mazzaropi. Faço igualmente esta observação em
2014.
111
mulher que não mora na povoação, que não tem instrução ou trato social, que
não sabe vestir-se ou apresentar-se em público”. O autor aponta alguns
elementos que caracterizam o caipira, o qual refere-se a diferentes tipos de
moradores do campo que pode ser uma pessoa envergonhada, tímida, sonsa,
esperta, pura, roceira, rude, cafona, ou provinciana que cultua as suas raízes
interioranas.
31
Tal qual nos alertou Bosi (1992).
112
32
Martins Pena, com “Um Sertanejo na Corte”, em 1833. Arthur Azevedo com “O Tribofe” em
1892 e o fazendeiro Gregório de Cocota em 1885, em parceria com Moreira Sampaio
(VENEZIANO, 2013, p. 185).
114
possibilidade de descontinuidades.
Para Maria Laura Cavalcanti (2001, p. 08) “as tradições são históricas”, e
nesta perspectiva são “criadas, desfeitas, retomadas e, sobretudo, a idéia de
tradição (e de seu par “moderno”) é, ela mesma, um valor trocado e
transformado em teias de relações sociais que precisam ser contextualizadas”.
Desse modo, a contextualização das práticas juninas na atualidade perpassa
pela atualização de suas tradições. Neste encadeamento de ideias, a
atualização da tradição junina é constituída nas formas de negociação sobre os
conteúdos a serem trabalhados pelos fazedores da cultura junina, bem como
pelos diálogos entre os diferentes tipos de interlocutores associados ao
contexto junino.
33
Luis Rodolfo Vilhena (1997) pesquisou o movimento folclórico brasileiro no período entre
1947 e 1964, momento em que um agrupamento de intelectuais da época esteve a serviço do
reconhecimento do folclore brasileiro. Segundo Vilhena, em 1947 foi organizada a Comissão
Nacional de Folclore (CNFL), no que lhe concerne, promoveu a criação das Comissões de
Folclore Estaduais com a mesma finalidade – a promoção e a defesa das manifestações
folclóricas, a fim de estimular empenhos para a pesquisa e a preservação do folclore nacional.
Vilhena analisa as ações dos folcloristas e as criticas recebidas por este grupo, que por sua
vez defendiam a descrição das práticas populares sem qualquer adesão às interpretações
cientificas que deveriam fortalecer o assunto em questão. Igualmente, os estudiosos
associados ao Movimento Folclórico entendiam a cultura popular como um objeto de pesquisa
capaz de explicar a identidade nacional.
119
34
As festas juninas no ambiente escolar têm várias finalidades, como: para fins de angariar
fundos; teatralizar o homem do campo; engrandecer a cultura estrangeira, como as festas e as
danças provenientes dos Estados Unidos (festa e dança country; quadrilha halloween, etc); e
várias atividades praticadas camufladas como ação pedagógica.
121
35
Balancê (Balancer) – Balançar o corpo no ritmo da musica; Alavantú (en avant tous)- todos
os casais vão para a frente; Anarriê (en arrière) - casais vão para trás; Returnê (returner)
Cumprimento 'vis-à-vis' - cumprimento frente a frente; Changê (changer/changez) -
trocar/troquem o par; Otrefoá (autre fois) - repete o passo anterior (BONETTI, 2015).
122
36
Larissa Michelle Lara (2011) analisa as relações entre o sentido ético e estético que atuam
na composição das gestualidades do maracatu.
124
37
Mário de Andrade (1982) percorreu a região norte e nordeste do país e registrou diferentes
manifestações populares que privilegiavam as diversas expressões musicais, os cantos e os
bailados daquelas regiões.
127
Mário de Andrade (1982, p. 63) revela que “o boi dos bumbás é figura de
encantação” e demonstra sua especial atenção a este folguedo que ele mesmo
observou de perto. O autor explica como o boi se realiza e conclui que esta “é a
mais estranha, original e complexa das nossas danças dramáticas. É também a
mais exemplar” (ANDRADE, 1982, p. 54). A este respeito, Maria Laura
Cavalcanti (2004) faz uma interessante análise sobre as danças dramáticas de
Mário de Andrade e sua sensibilidade romântica em relação ao bumba meu
boi. A autora, que iniciou suas pesquisas sobre o Boi de Parintins no ano 2000,
como visto anteriormente, observa que “o Boi traz à cena de seu pensamento,
a um só tempo, a diferença, a ancestralidade e uma insinuante desordem que
desfaz continuamente esforços de ordenação e de satisfação” (CAVALCANTI,
2004, p. 70). Essa assertiva de Maria Laura nos remete ao caráter espetacular
em que este folguedo se realiza na contemporaneidade, em algumas partes do
país, semelhante ao que acontece com as quadrilhas juninas.
38
Entretanto, é prudente considerar também o enfraquecimento ou o esquecimento de outras
tantas manifestações populares culturais no Brasil. Tal fato pode ser observado nas
brincadeiras, jogos e danças tradicionais que caíram em desuso, devido às influências culturais
urbanas e ao acolhimento da modernização tecnológica, enquanto entretenimento e lazer.
39
Ouvi em um congresso em que participei com uma comunicação oral o termo: brodeirizaçao
das quadrilhas juninas. Uma alusão aos musicais da Broadway nos Estados Unidos.
130
40
Os quesitos avaliativos dos festivais juninos são julgados por uma comissão formada,
geralmente por profissionais selecionados por um edital. São critérios avaliativos: a coreografia,
a animação, a harmonia, o figurino, o tema, o repertório musical, a atuação do marcador e do
casal de noivos e em alguns casos a atuação das rainhas juninas (ZARATIM, 2014).
131
41
Cavalcanti (2013, p. 06) explica que esta avenida foi transformada em Passarela do Samba,
em 1984 e logo depois foi popularizada como sambódromo, resultado de um projeto do
arquiteto Oscar Niemeyer.
42
Em Goiânia, os desfiles das escolas de samba acontecem de maneira diminuta por falta de
incentivo governamental no fomento de politicas públicas voltadas à cultura, como também por
não contar com o interesse da iniciativa privada.
132
43
François Rabelais foi um escritor francês do século XVI que discorria sobre a cultura cômica
popular na Idade Média e no Renascimento.
134
44
Maquiagem, figurino, música, coreografia, cenário, iluminação, quadrilheiro, música e os
adereços.
137
45
A exemplo disso, no trabalho performático da Quadrilha Chapéu do Vovô em 2017, os
cavalheiros executam bate palmas e bate pés, fazendo uma alusão à dança de Catira. A
Caipirada Capim Canela também apresenta logo na entrada de sua ação performática deste
mesmo ano, uma evolução dos cavalheiros, lembrando o deslocamento dos catireiros durante
a performance.
138
46
Aludindo ao alerta de Bosi (1992) sobre as diversas culturas brasileiras.
139
47
Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski, escritor, filósofo, jornalista, romancista e pensador do
império russo. Em Problemas da Poética de Dostoiévski, Bakhtin (2002) destaca que o
conceito de polifonia e dialogismo, defendido por ele, era a característica inovadora de sua
obra, porquanto vai além da pluralidade de vozes. A polifonia e o dialogismo, também
preservam a individualidade de cada voz no diálogo e na coletividade.
140
48
O livro de Richard Schechner, Performances Studies: an introduction (2013) foi pouco
traduzido no Brasil. Desse modo, faço a tradução da maioria dos fragmentos retirados do livro
para esta reflexão. Alguns trechos requerem a conservação da versão original em Inglês.
141
49
Dados obtidos no site do Instituto Mauro Borges de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos
– IMB. http://www.imb.go.gov.br/. Acessado em agosto de 2019. Assim mesmo é importante
considerar que Minas Gerais sustenta uma forte presença na migração atual para o estado de
Goiás, considerando o fluxo migratório historicamente constituído por um grande contingente.
147
Fonte: youtube.com
50
Termo iniciado em 1988, por um Coletivo de Autores liderado por Carmen Lúcia Soares, no
campo de estudos da Educação Física.
160
A dança junina entendida como produto cultural apresenta, por meio dos
elementos que compõem as artes da cena e pela corporeidade do quadrilheiro,
expressões representativas dos acontecimentos corriqueiros do dia a dia.
Desse modo é possível observar uma tendência de ressignificação do campo
gestual tradicional, assim como o aprimoramento das habilidades corporais na
dança que tende a elaborar inovações estabelecidas pela prática.
Para Le Breton (2007, p. 07) existe uma preocupação social com o corpo
no sentido de tentar compreendê-lo a partir “das lógicas sociais e culturais que
envolvem a extensão e os movimentos do homem”. A própria objetivação da
práxis humana conduz à construção de sistemas figurados, no qual o símbolo é
elemento propulsor do saber local. Desse modo os sistemas simbólicos,
originados no tempo, no espaço e na prática cultural são emanados pelo corpo.
Não pretendo afirmar que nos grupos juninos haja uma transgressão às
convenções sociais nem a naturalização do diferente, mas provocar reflexões
sobre a inovação de concepções sobre a diversidade social no meio junino. A
temporalidade da prática festeira urbana permitiu o florescimento da condição
de ser do outro no ambiente junino, no qual a tentativa de perceber o diferente
é vivida em múltiplas situações. Tais tentativas não são absolutas, entretanto
entendidas como um processo que habilita a configuração da convivência e
interação entre os quadrilheiros durante a produção coreográfica entre damas e
cavalheiros (MENEZES NETO, 2009; NOLETO, 2016).
52
Neste caso refiro-me aos portadores de necessidades especiais – PNE; podemos encontrar
em alguns grupos juninos pessoas com deficiências auditivas, cognitivas e motoras.
53
Entre 1989 e início da década de 1990, Judith Butler, publica originalmente a obra
“Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade”, na qual o entendimento sobre
de gênero é analisado sob a ótica do campo social e não biológico.
54
Esta mesma composição binária também é demonstrada pelas combinações de cores nos
adereços e nas vestimentas dos quadrilheiros.
167
55
A maioria das instituições públicas e/ou privadas aderem à sigla LGBTTQI+, a qual é
designada para identificar lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, transgêneros e queer.
Entretanto, muitos grupos entendem que é necessário a criação de uma nova sigla para
abranger todas as representações das orientações sexuais e identidade de gênero dos
indivíduos, dentre elas cito: lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, transexuais, queer,
questionadores, intersexuais, assexuais, aliados, simpatizantes, pansexuais, e outras
especificações da diversidade humana.
56
Nas escolas, durante os festejos juninos, em algumas situações as professoras e alunas se
fantasiam de cavalheiros para dançar a quadrilha junina.
171
57
Fayga Ostrower (1920 – 2001) foi uma artista plástica brasileira, nascida na Polônia.
Igualmente atuou como pintora, desenhista, ilustradora, professora e autora de diversas obras,
dentre elas Criatividade e processos de criação, a qual utilizo nessa tese como reforço teórico.
174
58
Refiro-me as diretorias dos dois grupos, assim como coreógrafo, figurinista, costureiras,
maquiadores, marceneiros, serralheiros, cozinheiras, como também vários profissionais que
direta e indiretamente realizam a produção junina.
176
59
Grifo meu.
177
Assim, o Sr. Luisinho reitera que o Sr. Carlito é “a mente que sempre
propõe” e que sua função é a de “ter a sensibilidade para atualizar as ideias
dele”. Desse modo, observo que há na relação entre o Sr. Carlito e o Sr.
Luisinho uma distribuição de ofícios dentro do processo hierárquico da
Caipirada Capim Canela. A condução administrativa do grupo, com nuances de
informalidade por parte do Sr. Carlito, estabelece o tipo de participação nas
ações internas. Percebe-se que essa participação interna tem viés político, o
qual determina quem pode ser visto ou ouvido, pois sua ocupação é
ocasionada pela partilha do comum. Assim mesmo, nos grupos de quadrilhas
juninas, observa-se que a percepção do comum demonstra, em linhas gerais, o
compartilhamento entre tempos, ações coletivas e espaços. Dessa maneira,
esse compartilhamento está inserido na experiência dos quadrilheiros juninos,
à medida que dividem e ao mesmo tempo unem o que é percebido e vivido no
ambiente social. As ocupações dentro dos grupos juninos são capazes de
definir quem toma parte do comum.
Nesse contexto, penso nas elaborações de Jacques Ranciére (2010)
que analisa a Partilha do Sensível a partir das relações possíveis entre a
estética e a política, e que defende que há divisões e compartilhamentos das
experiências comuns.
60
O Sr. Luisinho lembra que essa temática foi trabalhada em 2008 em uma abordagem
diferente sobre o espantalho.
178
Tomaz Tadeu da Silva (2000, p. 74) nos diz que a identidade, aqui
entendida como característica, “só tem como referência a si própria: ela é
autocontida e autossuficiente”. O autor ainda pontua que “as afirmações sobre
diferença só fazem sentido se compreendidas em sua relação com as
afirmações sobre a identidade” (SILVA, 2000, p. 75). Assim sendo,
considerando os argumentos de Silva (2000) a Caipirada Capim Canela
procura não escapar do que o Sr. Carlito chama de “tradicionalidade junina”,
mesmo diante dos processos transformativos e dos motivos que os instigam.
Marcel Mauss (2003, p. 211) entende que as técnicas corporais são “as
maneiras como os homens de sociedade em sociedade, e de maneira
tradicional, sabem servir-se de seus corpos”. Nessa seara percebe-se então
que as técnicas corporais no movimento junino são transmitidas pela ação
tradicional de fazer e dançar quadrilha junina. Apesar dos movimentos
corporais serem alicerçados nas formas tradicionais da dança no plano
coreográfico, a fluidez desses movimentos é instigada pelo ritmo corporal, pelo
estimulo musical, pela atitude corporal, e pela tensão da correta representação
de uma temática diante de um público e de avaliadores.
O Sr. Carlito nos explica que o figurino das flores de girassol foi
inspirado “nas cores da própria flor de girassol, mas com detalhes de folhagens
188
nas mangas”. Ele ainda completa que tinha pontos brilhantes para “mostrar o
brilho que a flor de girassol tem; junto com o pano xadrez que representa a
parte tradicional do grupo”.
Patrice Pavis (2011, p. 231 - 232) afirma que a maquiagem “contém uma
série de informações” e que uma das suas funções é a de “teatralizar a
fisionomia”. Nesse sentido é admissível perceber que a maquiagem dos
espantalhos corteja com as experiências performáticas de cada quadrilheiro
junino neste enredo, à medida que essas experiências permitem a interação
com a personagem e com a audiência. As expressões performáticas advindas
desta caracterização na quadrilha junina Caipirada Capim Canela intencionam
em constituir uma representação expressiva da vida do campo com nuances de
espetacularização.
Sr. Carlito nos esclarece que “a ideia inicial era apresentar um girassol
gigante ao fundo” e que posteriormente conversou com o Sr. Luisinho a
respeito da sua ideia para que os dois planejassem o que seria feito. Então o
Sr. Luisinho juntamente com o Sr. Carlito imaginaram que as flores e os
espantalhos teriam que “acordar em um jardim junto a um painel. Mas esse
painel tinha cores, tinha uma vida” e deveria “fazer dançar” (Sr. Luisinho,
194
Caipirada Capim Canela). Assim, o Sr. Carlito reitera que “as ideias são
compartilhadas com o grupo” e alguns ajustes, supressões ou adições de
elementos cênicos “sempre acontecem”.
o Carlito é uma mente que não para e assim, todos os dias ele
imaginava algo tridimenscional e eu passei pra ele e falei: olha,
eu quero um jardim! Ele falou: deixa comigo! Falei! Eu vou
confiar né; eu acho que ele tem uns dias a mais de quadrilha
do que eu e pra isso ele gosta de fazer; e ai ele fez bem feito.
Eu não sabia do painel, e ele falou: não venha, eu quero
mostrar quando estiver pronto; eu falei, é melhor, deixar a
mente pensante e eu cuido da minha parte e ele não interferiu;
e a parte dele foi cenário; ai um dia eu cheguei lá para o ensaio
na quadra, e o cenário montado, um jardim, e ele brincando
com a iluminação; eu falei: cara, simples, mas era isso que eu
queria. Talvez se eu tivesse que idealizar não tinha feito; ele
idealizou e projetou; e é algo que todo mundo elogiava
bastante a ideia, mas isso saiu da mente dele em uma imagem.
Ele falou: eu consigo projetar essa imagem dessa forma, com o
sol nascendo e como você disse. Eu quero assim, eu quero
dessa forma, e ele fez uma leitura e veio com aquele cenário
pronto. E foi algo que a gente gostou bastante (Sr. Luisinho,
Caipirada Capim Canela).
A gente tem que levar essa qualidade. Inclusive até teve ano
da gente dar curso dentro do nosso grupo, justamente pra
gente mostrar esse padrão de qualidade pra implementar; a
gente deu uma palestra sobre administração pros dançarinos
da quadrilha, porque a gente tem que ter essa levada do
produto cultural que é a quadrilha junina; então quadrilheiro é
200
E tem sido com essa visão administrativa que o Sr. Cristiano busca
implementar os processos técnicos de produção cultural do seu grupo,
baseado na criatividade e na obtenção de mão-de-obra especializada. O
plantel profissional que mantém contato produtivo com a Quadrilha Chapéu do
Vovô conta com profissionais da costura, da iluminação, da maquiagem, da
serralheria, da marcenaria, do artesanato, da decoração, da atividade física,
dentre outros.
Sr. Cristiano declara que até 2015 os grupos poderiam contar com as
leis de incentivo à cultura, promovidas pelo Governo do Estado de Goiás e
Prefeitura de Goiânia. Segundo ele, a partir de 2016, os grupos juninos, assim
como outras manifestações da cultura popular do Estado de Goiás tiveram que
buscar por outras vias de financiamento, as estratégias para viabilizar a
dinâmica da produção cultural goiana. Neste contexto é importante observar
que, devido as dificuldades financeiras vividas pelo grupo, o Sr. Cristiano
afirma aproveitar também a mão-de-obra dos profissionais que participam da
Quadrilha Chapéu do Vovô igualmente como dançarinos.
62
Um detalhe importante sobre a Quadrilha Chapéu do Vovô é que a relação familiar e o grau
de parentesco alicerça a continuidade do grupo. O próprio nome do grupo confirma sua origem
202
Sendo assim, podemos notar no início desta fala do Sr. Valdeir que os
saberes culturais da Quadrilha Junina Chapéu do Vovô são conduzidos através
da comunicação geracional e relações de parentesco. Nesse mesmo viés,
percebe-se que o Sr. Valdeir estabelece uma relação entre o conhecimento
popular, o conhecimento familiar e a busca pelo conhecimento sistematizado
em 1984, em uma figura paterna, o Vovô, Sr. João Evangelista. Tal qual observei em 2014 é
comum encontrar nos grupos de quadrilhas juninas da região metropolitana de Goiânia a
relação de parentesco (ZARATIM, 2014).
203
Sr. Valdeir completa que seu avô, o Sr. João Evangelista dizia que “a
beleza das quadrilhas estava nas mulheres”. Nesta similitude entre a mulher e
as flores, a metáfora utilizada revela na ação performática, significados que
simbolizam a beleza, o perfume, a resistência e a sensualidade que o Sr.
Valdeir atribui às mulheres nas quadrilhas juninas. Simbolicamente, o
205
pensamento do Sr. Valdeir diz respeito à relação teatral realizada entre autor e
personagens. Mais ainda, percebe-se uma noção de simultaneidade entre um
código cultural (a mulher-flor) e a perspectiva sociocultural sobre a condição da
mulher no imaginário junino.
Vovô Florista” (Sr. Cristiano, Quadrilha Chapéu do Vovô). Assim, o Sr. Cristiano
completa que:
Nesta circunstância cito Pavis (2011, p. 169), o qual afirma que “o olho
do espectador deve observar tudo o que está depositado no figurino como
portador de signos”. Acerca do figurino 2017, o Sr. Valdir assegura que “pensa
muito no público” e que tem alguns critérios pessoais para pensar em como a
indumentária poderia ser criada.
209
63
Pareceu-me que a Carol tinha descoberto algo na sua própria fala e continuou em
gargalhadas.
212
A primeira vez que o grupo utilizou uma banda foi no Concurso Nacional
de Quadrilhas Juninas promovido pela Confebraq na cidade de Belém, Estado
64
A Quadrilha Junina Babaçu é um grupo de Quadrilha Junina da cidade de Fortaleza, Estado
Ceará fundada em 1989. É comum, nos estados do nordeste brasileiro, os grupos de
quadrilhas juninas serem denominados de “Junina”. Também, as bandas que acompanham os
grupos de quadrilhas juninas são conhecidas no nordeste como “Regional”.
215
Entretanto, tudo isso depende dos ajustes realizados nos ensaios, o que
requer disponibilidade das agendas dos componentes da banda e de como a
negociação foi feita. Sendo assim, a banda deve estar disponível para um certo
número de ensaios e igualmente para as apresentações. Sr. Valdeir, enquanto
marcador nos informa que sua maior preocupação é “o entrosamento com o
vocalista da banda”. É imprescindível que um ouça o outro para que as
narrativas sejam completadas conforme o idealizado.
quadrilha “não é de uma hora para outra”. É preciso vários anos para
desenvolver a liderança dentro do grupo e “ter facilidade para isso”. O Sr.
Valdeir ainda observa que quando passou a ser marcador de quadrilha “não
tinha uma noção tão grande assim da dimensão do que era o marcador”.
Para Patrice Pavis (2011, p. 27), o teatro não está aprisionado ao texto,
mas constituído por diversas espacialidades incutidas na “arte da
representação”. Nesse contexto, acolhendo as ideias de Pavis (2011) a
temática junina constitui-se no escopo da arte representação. Assim, inferimos
que ao agrupar elementos teatrais em conexão com a quadrilha junina
tradicional que pautava no casamento da roça, a temática junina passa a
constituir-se atualmente como uma dança teatralizada com efetiva participação
de novos personagens65.
Vale aqui ressaltar o papel das Rainhas nas Quadrilhas Juninas. Estas
personagens são representações atualizadas decorrentes das quadrilhas
juninas matutas conhecidas como as rainhas do milho. Chianca (2006, p. 79)
65
É comum encontrar enredos que retratam a vida do cangaceiro Lampião e seu bando,
juntamente com sua amada Maria Bonita.
221
66
Grifo meu.
225
afirma que o cortejo atinge “uma importância prática bem maior que a da
representação propriamente dramática”, porquanto é concebido por inúmeras
formas de composição. De acordo com o Sr. Carlito da Caipirada Capim
Canela, “o cortejo serve para o dançarino ficar mais tranquilo, pois o
nervosismo toma conta de todo mundo”. O Sr. Cristiano da Quadrilha Chapéu
do Vovô, também reitera a fala do Sr. Carlito e completa:
Esta vinheta, que é igual para todos os grupos que adentram a área de
competição tem 30 segundos de duração e versa assim: “Esta quadrilha é
afiliada a Federação das Quadrilhas do Estado de Goiás – FEQUAJUGO. Seja
você também um afiliado. Agora sim! Chegou a nossa vez!” (Regulamento do
Circuito Goiano de Quadrilhas Juninas 2017 – FEQUAJUGO). Neste contexto,
o último verso (Agora sim! Chegou a nossa vez!) é sempre falado por todos os
quadrilheiros presentes, em coro, em alto e bom tom. Pavis (2011, p. 73) define
coro como “um grupo homogêneo de dançarinos, cantores e narradores, que
toma a palavra coletivamente para comentar a ação, à qual são diversamente
integrados”. É bem isso o que acontece! Penso eu.
227
cena”, o espetáculo em si, aquilo que se permite e que deve ser visto,
apreciado, aplaudido”. O espaço cênico para a II Etapa do Circuito Goiano de
Quadrilhas Juninas foi realizado no Clube dos Bancários, no Setor Itatiaia, local
onde a Caipirada Capim Canela realizou todos os ensaios para a temporada
2017.
68
É importante pontuar que esse modelo de Espaço Cênico é seguido em todas as três etapas
do Circuito Goiano de Quadrilhas Juninas.
230
69
Material informativo distribuído pelos grupos de quadrilhas juninas à imprensa e ao corpo de
jurados.
232
70
Papel picado conhecido como chuva de prata, muito usado nas performatividades juninas.
234
71
“Esta quadrilha é afiliada a Federação das Quadrilhas do Estado de Goiás – FEQUAJUGO.
Seja você também um afiliado. Agora sim! Chegou a nossa vez!”(Regulamento do Circuito
Goiano de Quadrilhas Juninas 2017 – FEQUAJUGO).
240
flores. Nesse instante, seus trajes ainda não representam a realeza junina, mas
sua presença enquanto quadrilheira é estabelecida no próprio cerne do
acontecimento performático.
Figura 53 - A primavera
- Não sou justiceiro e nem cangaceiro, sou homem das flores e dos
amores. Sou filho da flor, meu nome é Capitão Fulô!
Assim, sentir a presença do público e ser visto por ele promove relações
afetivas que convergem entre si. Então, a verdade cênica produzida na relação
entre quadrilheiro junino e audiência, cria elementos capazes de alcançar a
eficácia performática do grupo junino performativo. Desse modo a construção
coreográfica da Quadrilha Junina Chapéu do Vovô, busca promover junto ao
espectador a confiança nas suas habilidades performativas ao dançar e
teatralizar a forma contemporânea de apresentar a quadrilha junina.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Menezes Neto (2009, p. 134) afirma que “das quadrilhas juninas, saem
profissionais em potencial formados na prática e conhecedores de uma técnica
própria para trabalhos de coreografias, maquiagem, encenação, artes plásticas,
figurinos e cenários”. Sendo assim, o processo de ensino e aprendizagem
também acontece no ambiente quadrilheiro, compreendendo o sentido
educacional e o profissional. A transmissão de saberes nas quadrilhas juninas
modernas se articula baseada na elaboração de estratégias de produção e
processos de criação. A partir da prática no interior dos grupos, observa-se a
formação de profissionais de diferentes segmentos laborais: costureiras,
carpinteiros, serralheiros, maquiadores, iluminadores, coreógrafos, pintores,
bordadeiras, sonoplastas e outros. Há uma transação técnico-mercadológica
que converte mão-de-obra não especializada em situações de aprendizagem
profissional promovidas pelos grupos juninos.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Cia das Letras, 1992.
SITES
ANEXOS
72
OBS: Os grupos Juninos Filiados a Fequajugo – Luar do Sertão (Aparecida de Goiânia),
Tradição e Ritmo e Fogaréu (Goiânia), Brilha São João (Indiara) não participaram do Circuito
Goiano de Quadrilhas Juninas 2017.
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