Estudos em Direito Da Concorrencia
Estudos em Direito Da Concorrencia
experteditora.com.br
contato@editoraexpert.com.br
Prof. Dra. Adriana Goulart De Sena Orsini Prof. Dr. Julio Cesar de Sá da Rocha
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Universidade Federal da Bahia - UFBA
Prof. Dr. Carlos Raul Iparraguirre Prof. Dr. Marcelo Andrade Féres
Facultad de Ciencias Juridicas y Sociales, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Universidad Nacional del Litoral (Argentina)
Prof. Dr. Omar Jesús Galarreta Zegarra
Prof. Dr. Cèsar Mauricio Giraldo Universidad Continental sede Huancayo,
Universidad de los Andes, ISDE, Universidad Universidad Sagrado Corazón (UNIFE),
Pontificia Bolivariana UPB (Bolívia) Universidad Cesar Vallejo. Lima Norte (Peru)
Prof. Dr. Eduardo Goulart Pimenta Prof. Dr. Raphael Silva Rodrigues
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. Centro Universitário Unihorizontes
e PUC - MInas e Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Prof. Dr. Henrique Viana Pereira Prof. Dr. Rodrigo Almeida Magalhães
PUC - Minas Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG.
PUC - Minas
Prof. Dr. Javier Avilez Martínez
Universidad Anahuac, Universidad Prof. Dr. Thiago Penido Martins
Tecnológica de México (UNITEC), Universidad Universidade do Estado de
Del Valle de México (UVM) (México) Minas Gerais - UEMG
PREFÁCIO
APRESENTAÇÃO
Amanda Athayde
https://www.amandaathayde.com.br
https://podcast.direitoempresarialcafecomleite.com
SUMÁRIO
The midlife crisis of the antitrust goals: where does the Brazilian
Competition Authority stand among Harvard, Chicago and Neo-
Brandesianists? .........................................................................47
Amanda Athayde, Luiz Guilherme Ros
Concentrações Econômicas
(Atos de Concentração)
Condutas Unilaterais
Condutas Coordenadas
Política Pública de
Defesa da Concorrência
Amanda Athayde
5 FORGIONI, Paula A. Os fundamentos do antitruste. 7. ed. São Paulo: RT, 2014. p. 189.
6 FRAZÃO, Ana. A necessária constitucionalização do direito da concorrência. In:
CLÈVE, Clèmerson Merlin; FREIRE, Alexandre (Org.). Direitos fundamentais e jurisdição
constitucional. São Paulo: RT, 2014. p. 139-158.
17 SALOMÃO FILHO critica o que considera ser uma “paralisia do antitruste”, segundo
a qual estar-se-ia relegando ao direito da concorrência um tratamento meramente
prático e casuístico, procurando seus aplicadores interpretar caso a caso qual a
melhor aplicação e interpretação (geralmente econômica) da ideia de eficiência.
SALOMÃO FILHO, Calixto. A paralisia do antitruste, in. Estudos de Direito Econômico e
Economia da Concorrência – em homenagem ao Prof. Fábio Nusdeo. GABAN, Eduardo
Lolan. DOMINGUES, Juliana Oliveira (Org.). Curitiba: Juruá Editora, 2009. pp. 15-32.
18 FORGIONI aguarda “que, nos próximos anos, o CADE passe a efetivamente coibir
abusos de posição dominante e outras práticas bastante lesivas aos consumidores e à
fluência de relações econômicas”. FORGIONI, Paula A. Os fundamentos do antitruste. 7.
ed. São Paulo: RT, 2014. p. 125.
19 Sobre a diferenciação entre condutas coordenadas e condutas unilaterais: “A
classificação usualmente adotada pela literatura antitruste para a análise de condutas
anticoncorrenciais tem por critério inicial a caracterização da conduta como uma
prática coordenada entre as empresas (i.e., acordo) ou como uma prática unilateral
de apenas uma empresa. Condutas coordenadas ou unilaterais, por sua vez, podem
ser classificadas como (i) horizontais, quando envolvem empresas que atuam em
um mesmo mercado (i.e., se envolve concorrentes diretos) ou (ii) verticais, quando
afetam elos distintos de uma cadeia produtiva (i.e., empresas com relação fornecedor-
cliente)”. PEREIRA NETO, Caio Mário S.; CASAGRANDE, Paulo L. Direito concorrencial
– Doutrina, jurisprudência e legislação. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 80.
20 Essa consolidação pode ser vislumbrada, por exemplo, pela divulgação de
dois Guias de Análise pelo Cade. O primeiro deles foi o Guia de Análise de Atos de
Concentração Horizontal, e o segundo deles, bastante recente, o Manual interno da
Superintendência-Geral para atos de concentração apresentados sob o rito ordinário.
21 Sobre as investigações de cartéis internacionais pelo Brasil, sugere-se: ATHAYDE,
Amanda; FERNANDES, Marcela. A glimpse into Brazil’s experience in international
cartel investigations: legal framework, investigatory powers and recent developments
in Leniency and Settlements Policy, Concurrences Review n. 3-2016.
Amanda Athayde
Patrícia Jacobs
Amanda Athayde
30 Nesse sentido vide, exemplificadamente: (i) FRAZÃO, Ana de. O., Textos Ana Frazão,
série Jota: um antitruste para o Século XXI; (ii) BORGES, Rodrigo Fialho. Descontrole
de Estruturas: dos objetivos do antitruste às desigualdades econômicas; São Paulo,
2020. Tese de Doutorado para o Programa de Pós-graduação em Direito Comercial,
Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo. (iii) FOER, Albert Allen; DURST,
Arthur Durst. The Multiple Goals of Antitrust. The Antitrust Bulletin. 2018; 63(4):494-
508.https://doi.org/10.1177/0003603X18807808; (iv) HORTON, Thomas J. Rediscovering
Antitrust’s Lost Values. 16 U.N.H. L. Rev. 179, 2018. Disponível em: https://scholars.
unh.edu/unh_lr/vol16/iss2/27/; (v) HOVENKAMP, Herbert. Progressive Antitrust.
U. Ill. L. Rev. 71, 2018. Disponível em: https://scholarship.law.upenn.edu/faculty_
scholarship/1764/;Hovenkamp, Herbert. The Looming Crisis in Antitrust Economics.
Disponível em: https://awards.concurrences.com/en/awards/2021/academic-articles/
the-looming-crisis-in-antitrust-economics; (2021).
37 The adoption of the consumer welfare standard as antitrust’s lodestar has come with
numerous benefits that have reoriented antitrust jurisprudence over the last fifty years
to more effectively protect competition. At its core, the consumer welfare standard
provides a coherent, workable, and objective framework to replace the multiple, and
often contradictory, vague social and political goals that governed antitrust prior to
the modern era. By providing a disciplined framework for antitrust analysis, unified
under a singular objective, the consumer welfare model fosters the rule of law and
helps prevent arbitrary or politically motivated enforcement decisions. Similarly,
promoting the use of the consumer welfare approach by competition authorities
worldwide reduces the opportunity for enforcers to use their domestic competition
laws to pursue non-economic objectives, including a protectionist agenda that targets
U.S. and other foreign businesses. (…) By realigning antitrust under a singular objective
grounded in economics, the consumer welfare standard heralded the advent of the
modern antitrust revolution that squarely rejects populist desires to balance multiple
non-economic factors in favor of a consistent and coherent framework focused on
the straightforward, but elegant, question of whether a transaction or commercial
arrangement makes consumers better off. (WRIGHT, Joshua D; et al. Requiem for
a Paradox: The Dubious Rise and Inevitable Fall of Hipster Antitrust.Arizona State
Law Journal [51:0293], 2018. Disponível em: https://arizonastatelawjournal.org/wp-
content/uploads/2019/05/Wright-et-al.-Final.pdf;)
38 Como aponta Schrepel: “The destabilization of antitrust laws - The Legal Vagueness
Surrounding Moral Concepts. The second risk created by the moralization of antitrust
law is the creation of legal errors, whether type I or II. (…) This silence is most likely
explained by the fact that evaluating the morality of one behavior implies taking into
account what Richard Posner called “moral sentiment,” defined as “those emotional
reactions like pity or disgust that one experiences in certain situations and then
translates into moral approval or disapproval.” These concepts are uncertain for
most antitrust-related practices and, as a consequence, neither provide companies
with guidance on how to act in a given situation nor draw a roadmap for antitrust
authorities on how to create sound policies. (...) The Danger of Using Moral Concepts
in Legal Matters. We have seen that moral concepts are too vague to become legal
standards and that they are used to seek specific outcomes. (…) First, moral concepts
lead to the sanction of dominant positions rather than of actual abuses. (…) The third
significant risk associated with the integration of moral concepts into antitrust law
is related to the potential blindness it would cause for antitrust authorities. Turning
antitrust law into a moralizing tool will likely lead to more enforcement. After all, it is
inherent in the logic of populism that the elite must be punished.
44 Para maiores detalhes sobre a atuação de Lina Khan no FTC nos Estados Unidos e
suas discussões aportadas ao direito da concorrência, sugere-se: ATHAYDE, Amanda.
VETTORAZZI, Angelica. Concorrência para além das autoridades antitruste nos
Estados Unidos e no Brasil. Portal Jota, 11 jan. 2022.
45 A Ex Conselheira do CADE, Ana Frazão, produziu inúmeros textos em sua coluna
no Jota, denominada de Um Direito Antitruste para o século XXI.
Além dela, outros doutrinadores, especialmente Lina Khan, escreveram sobre o tema.
Nesse sentido vide: KHAN, Lina M. The Ideological Roots of America’s Market Power
Problem. The Yale Law Journal Forum, June 4, 2018. Disponível em: https://www.ftc.
gov/system/files/documents/public_comments/2018/08/ftc-2018-0048-d-0092-155250.
pdf; e KHAN, Lina M. Memorandum, September 22, 2021. Vision and Priorities for the
FTC.
46 CADE. Processo Administrativo 08012.006923/2002-18. Voto Vista do Conselheiro
Marcos Paulo Veríssimo. ABAV-RJ.
47 A regra de análise para infrações contra a ordem econômica pode se dar de duas
formas. A primeira, utilizada unicamente em condutas colusivas consiste em entender
que a prática é ilícita pelo seu próprio objeto, não havendo que se discutir os seus
efeitos no mercado. Por sua vez, em se tratando de condutas unilaterais, utiliza-se da
regra da razão. Embora as condutas unilaterais não sejam, em sua maioria, ilícitas, elas
podem configurar uma infração à ordem econômica se forem aptas a produzir efeitos
anticompetitivos no mercado. Segundo as normas integrantes do Sistema Brasileiro
de Defesa da Concorrência (“SBDC”), as restrições verticais são anticompetitivas quando
implicam a criação de mecanismos de exclusão dos rivais, seja por aumentarem as barreiras
à entrada de outras empresas, seja por elevarem os custos dos competidores; ou ainda quando
produtores, ofertantes ou distribuidores – com significativo poder de mercado – impõem
restrições sobre os mercados relacionados verticalmente ao longo da cadeira produtiva.
Para a comprovação destas práticas, a jurisprudência do CADE geralmente percorre
algumas etapas de análise de condutas para avaliar se o fechamento de mercado seria
uma estratégia factível e racional do ponto de vista econômico dos agentes envolvidos.
Esquematicamente, estas etapas consistem em avaliar: (i) Se o agente econômico
responsável pela prática detém posição dominante no mercado “de origem” e/ou no
mercado “alvo”, sendo que tal posição é presumida no caso de o agente deter market
share superior a 20% (vinte por cento), nos termos do art. 36, §2º da Lei nº 12.529/11;
(ii) Se a prática adotada pelo agente econômico seria suficiente para impor prejuízo a
seus concorrentes no seu mercado de atuação ou se projetar sobre os agentes atuantes
no mercado alvo; e (iii) Se, embora suficiente para limitar a concorrência, a prática
não poderia apresentar benefícios (“eficiências”) líquidos que possam superar seus
potenciais prejuízos à concorrência.
Amanda Athayde
1. INTRODUCTION
49 In the American Tobacco and Standard Oil decisions of 1911, the Supreme
Court had shifted the already ambiguous terms of the Sherman Act toward even
greater uncertainty. In the Standard Oil case, the court in effect determined that
only “unreasonable” restraints of trade were illegal tinder the Sherman Act, not all
such restraints. This “rule of reason,” as it came to be called, satisfied none of the
parties most directly concerned in the antitrust dehate. (…) More than anything else,
executives of both peripheral and center firms wanted certainty: a bright line between
legality and illegality. Many of them began to think that continuous administration of
economic policy by a regulatory commission was preferable to what they saw as the
spasmodic whims of individual judges. (McCRAW, 1984, p. 130 and 131)
50 See: BORK (1993, P.50) e HOVENKAMP (2018, P .93)
Clayton Act in 1914, significantly strengthening the Sherman Act. (SCHAPIRO (2015,
P. 715):
56 The exposition of the political-economic factors relevant to the approval of the
Sherman Act makes it possible to correctly outline the issue. First, it is quite evident
that the biggest concern with monopolies at that time was their negative economic
effects on the consumer. SALOMÃO (2007, P. 71)
57 Indeed, this legislation should be understood as the most significant legal document
to showcase the reaction against the concentration of power in the hands of a few
economic agents, and seek to regulate it. It should not be said that the Sherman Act
constitutes a reaction against economic liberalism, as it aimed precisely at correcting
distortions that were brought about by excessive capital accumulation, that is,
correcting the distortions created by the liberal system itself. Despite the contrary
opinion of part of the North American literature, the Sherman Act tried, at first,
to protect the market (or the productive system) against its self-destructive effects.
FORGIONI (2012, p. 65 e 66).
58 Taken as a whole, the antitrust laws were intended to preserve open markets and
enhance opportunity, prevent large firms from extracting wealth from producers and
consumers, and safeguard against extreme concentrations of private power. KHAN
(2018, P. 7)
59 The Sherman Act was passed in 1890, prior to the beginning of the Progressive Era,
and it reflected largely populist concerns. Although both Gilded Age populism and
progressivism tilted left in important respects, there were sharp differences between
them. Populism was to a much greater extent “politics in the raw,” with small business
and farmers being the principal interest groups seeking protection. The perceived
threats were big business, with a focus mainly on railroads and banks. Populism was
initially heavily agrarian, and only later became aligned with the much more urban
labor movement. As most populist movements, it was also quite anti-intellectual,
strongly suspicious of higher learning. (...) The first set of explicitly progressive
antitrust reforms were the Clayton Act and the Federal Trade Commission Act (“FTC
Act”), both passed in 1914 during Woodrow Wilson’s first term. HOVENKAMP (2018,
P. 77,78)
60 It is not the goal here to review all the schools of thought which have influenced
competition law, since it would be necessary to present other relevant positions, such
as the Austrian School, the Ordoliberal School, among others.
61 According to KHAN (2018, P.4): This is troubling because monopolies and oligopolies
produce a host of harms. They depress wages and salaries, raise consumer costs, block
entrepreneurship, stunt investment, retard innovation, and render supply chains and
complex systems highly fragile. Dominant firms’ economic power allows them, in
turn, to concentrate political power, which they then use to win favorable policies and
further entrench their dominance.
62 See: BAKER e SALOP (2017)
63 This view was strongly influenced by Louis Brandeis, former associate justice
of the North American Supreme Court. In this sense, GUIMARÃES, Marcelo C
explains. Is hipster antitrust really neo-Brandeisian? 2021. Available on: https://
www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/o-hipster-antitrust-seria-realmente-neo-
brandeisiano-05062021. To quote: It is evident that Brandeis’ thesis was based on
the assumption that the most important thing for competition is the structure of the
market, including the number of players, which is in line with the structuralist model
of the Harvard School.
64 See: WALLER (2019) e PITOFSKY (1979)
65 From the earliest days of antitrust laws in the United States, the promotion and
preservation of democracy was one of the goals of the drafters and supporters of state
and federal antitrust law. While the political content of antitrust law in the United
States has waxed and waned over the ensuing decades, competition law and policy
has always recognized the need for a pluralism of economic actors and interests.
(WALLER, 2019, P. 807)
66 As explained by BUCHAIN (2014, P.235), another school [Harvard School], called the
non-economic or public interest approach, argues that competition policy stems from
multiple values, which are not easily quantified nor can they be exclusively represented
and reduced to the objective concept of economic efficiency, this is because the
multiplicity of values reflected in the entire social culture and its institutions must be
received as elements of application for the defense of competition.
67 As also shown by BUCHAIN (2014, P. 248): Attempts to add so many objectives
into competition policy tend to generate an incorrect interpretation and a distortion
of its application. It is unlikely that a legislative framework will express clear and
economically accurate patterns of behavior in the competitive market when trying
to achieve different goals. On the contrary, laws of this nature can generate market
distortions and weaken the competitive proces.
68 BORK (1978, P. 133) explains: First, antitrust enforcement is a very costly procedure,
and it makes no economic sense to spend resources to do as much harm as good.
There is then a net economic loss. Second, private restriction of output may be less
harmful to consumers than mistaken rules of law that inhibit efficiency. Efficiency that
may not be gained in one way may be blocked because other ways are too expensive,
but a market position that creates output restriction and higher prices will always be
eroded if it is not based upon superior efficiency. Finally, when no affirmative case for
intervention is shown, the general preference for freedom should bar legal coercion.”
69 Critical to any coherent antitrust policy is administrability. Simply ticking off
concerns and assigning them to antitrust policy is worse than useless unless the
concerns can be tied to a coherent set of rules for determining liability and remedies.
For example, if we say that small-business protectionism should be an antitrust goal
then we must have antitrust rules for implementing it. A rule that simply says that in
every antitrust dispute the smaller firm or interests aligned with it should win would
drive the economy into the stone age. We would end up condemning mergers simply
because they reduce costs, above cost price cuts because smaller firms are unable to
match them, or cost-saving vertical integration because unintegrated firms cannot
claim the same cost savings. So where does one draw the line? One serious advantage
of an output-maximizing rule is that it provides a rational target to shoot at, although
one must not exaggerate the ease of implementation. (HOVENKAMP, 2018, P.109).
70 Faced with this excess of state intervention, the Chicago School came to understand
that the authorities ended up incurring two types of errors in their decisions. On the
one hand, there would be Type I errors, consisting of false acquittals, that is, illicit
conduct which is not repressed by the authority. On the other hand, there would
be type II errors, considered the worst by this school, which consisted of wrongful
convictions, that is, lawful and efficient conducts that ended up being condemned by
the authorities, resulting in false convictions.
71 According to SCHAPIRO (2018, P. 745): The fundamental danger that 21st century
populism poses to antitrust in that populism will cause us to abandon this core
principle and thereby undermine economic growth and deprive consumers of many
of the benefits of vigorous but fair competition. Economic growth will be undermined
if firms are discouraged from competing vigorously for fear that they will be found
to have violated the antitrust laws, or for fear they will be broken up if they are too
successful.
72 For further information on the discussion of game theory and rational economic
agents, see: ROS, Luiz Guilherme. Teoria dos jogos para celebração de acordos:
Uma análise das ações penais da Lava Jato [Game theory for agreement-making: An
analysis of the criminal proceedings in the Car Wash Operation]. 2021. Publisher:
WebAdvocacy.
73 It is conventional to call such “errors” in the application of the antitrust law as being
type I errors and type II errors. The Type I Error, or “False conviction”, consists of the
mistake of condemning a company for practices that are actually pro-competitive.
In turn, the Type II Error, or “False acquittal”, refers to the acquittal of a company
involved in anticompetitive practices.
than to correct its failures. Not by chance did this school understand
that vertical practices would be, for the most part, beneficial and
would have the power to maximize the well-being of the consumer.
Taking liberal values to the extreme, the Chicago School stated that
the State should not intervene in the economic domain to prevent
those conducts. Furthermore, it considered that even cartels should
not be seen as a long-term problem, as their instability74 and the
interest of other agents in maximizing wealth would lead to the end of
the collusive conduct.
Thus, the Chicago School considered the conception of the
Harvard School that concentration consisted in a market flaw naive.
For Chicago, market concentration was one more point to consider,
but in no way could it be the core of competition law. Through scholars
Robert Bork, Frank Easterbrook, Richard Posner, and Bowman Jr.,
the Chicago School consolidated the understanding that antitrust
law should focus exclusively on economic welfare through efficiency,
since, for them, competition is related to the ability to expand supply.
Furthermore, it argued that antitrust policy would not need to concern
itself with increasing purchasing power, as it would achieve this
objective indirectly, by prohibiting cartels and monopolies, focusing
solely on market efficiency.
In short, and unlike the structuralist school, the Chicago School
relied on two main assumptions: (i) the best antitrust policy available
in the real world to maximize efficiency was the one obtained from the
neoclassical price theory; and (ii) economic efficiency whose results
74 Its instability, on the other hand, is a consequence of the difficulties inherent in the
prolonged maintenance of illicit schemes with collective participation and, above all,
of the gains inherent in timely breaches and secret betrayals: if the illicit agreement
exists and, for example, one of the participants offers the good to eventual consumers
for a value lower than that agreed by the cartel, the latter can substantially increase its
earnings, even above those obtained by core agreement member. These two factors
represent the great difficulty and possibilities that open up to the leniency agreement.
In order to obtain confessions, it is therefore necessary to create a complex system of
incentives, which makes it more attractive for the offender to choose to confess and
stop earning the gains he had been obtaining through the practice of the infraction.
RUFINO (2015, 52)
75 As explained by BORK (1978, P.91) [t]he whole task of antitrust can be summed up
as the effort to improve allocative efficiency without impairing productive efficiency
so greatly as to produce either no gain or a net loss in consumer welfare.
76 According to FOX (2013, P.3) In 1980, American antitrust law had no “paradigm” in
the sense of loss or gain that could be calculated. Antitrust was guided by principles. It
was for diversity and access to markets; it was against high concentration and abuses
of power. Powerful firms were assumed to have incentives to use their power. AAG
Baxter introduced a new perspective and a paradigm. He did so most powerfully
through merger guidelines.3 The perspective was that business acts are usually
efficient (welfare increasing) and should be presumed so. The paradigm was that
mergers and conduct are not anticompetitive in the eyes of the antitrust law unless
they reduce consumer surplus.
77 According to BAKER (2017, P.19) Greater antitrust enforcement generally would
improve the distribution of income and wealth by reducing the impact of market
power, particularly if the agencies fully embrace the consumer welfare standard.
78 According to BOUSHEY (2021, P. 6) Basic economic theory demonstrates that when
firms have to compete for customers, it leads to lower prices, higher quality goods
and services, greater variety, and more innovation. (...) When there is insufficient
competition, dominant firms can use their market power to charge higher prices,
For decades, the use of the consumer welfare concept was the
main target of the antitrust law81 and allegedly provided greater legal
offer decreased quality, and block potential competitors from entering the market—
meaning entrepreneurs and small businesses cannot participate on a level playing
field and new ideas cannot become new goods and services.
79 According to BUCHAIN (2014, P. 235): Thus, for the reasoning which underpins
the economic approach, competition policy has the sole objective of maximizing
economic efficiency. According to this view, public policies regarding competition do
not admit the selection of sociopolitical objectives, such as the reduction of regional
inequalities and others that were designated in the Brazilian Constitution, rejecting
them as intrinsic to competition policy because they depend on the judgment of
subjective values and, therefore, are impossible to consistently apply to competition
law.
80 As brilliantly explained by ELZINGA (1977, p. 1194)
81 The adoption of the consumer welfare standard as antitrust’ s lodestar has come with
numerous benefits that have reoriented antitrust jurisprudence over the last fifty years
to more effectively protect competition. At its core, the consumer welfare standard
provides a coherent, workable, and objective framework to replace the multiple, and
often contradictory, vague social and political goals that governed antitrust prior to
the modern era. By providing a disciplined framework for antitrust analysis, unified
under a singular objective, the consumer welfare model fosters the rule of law and
helps prevent arbitrary or politically motivated enforcement decisions. Similarly,
promoting the use of the consumer welfare approach by competition authorities
worldwide reduces the opportunity for enforcers to use their domestic competition
laws to pursue non-economic objectives, including a protectionist agenda that targets
U.S. and other foreign businesses. By realigning antitrust under a singular objective
grounded in economics, the consumer welfare standard heralded the advent of the
modern antitrust revolution that squarely rejects populist desires to balance multiple
non-economic factors in favor of a consistent and coherent framework focused on
the straightforward, but elegant, question of whether a transaction or commercial
arrangement makes consumers better off. WRIGHT (2019, P.11).
82 As shown by HOVENKAMP (2018, P. 93): But a strictly followed consumer-welfare
approach, condemning a restraint or practice only when it realistically threatens an
anticompetitive output reduction, has one additional advantage: properly followed, it
gets antitrust out of the business of favoring particular special-interest constituencies
other than consumers themselves.
83 Antitrust jurisprudence went from being confused and ineffective to the
modern doctrine that can—and does— effectively protect consumers and prevent
anticompetitive business practices while allowing practices that are a normal part of
the competitive process and benefit consumers. (WRIGHT, Joshua D; et al, 2018, P.8)
84 As explained by SCHMIDT (2018, P.1) Hipster Antitrust is a terminology that was
coined by attorney Konstantin Medvedovsky in June 2017, having been popularized
with the help of former FTC advisor Joshua D. Wright.
85 As shown by SCHREPEL (2019, P.2): Romantics are taking over the antitrust law”
(…) Overall, the effectiveness of antitrust authorities should be enhanced by applying
reason to antitrust law rather than fears, feelings, or sentiments. The romance
must be taken out of antitrust. (...) Antitrust law is the subject of numerous debates
questioning its effectiveness in the digital age.
86 Como aponta SCHAPIRO (2018, P. 718 e 719): A number of progressive think tanks
and advocates have issued reports over the past two years documenting the decline in
competition in the American economy, linking that decline to increasing inequality,
and offering policy proposals to reinvigorate competition policy. The American
Antitrust Institute (2016), a respected organization long commit- ted to more effective
antitrust enforcement, published a report in June 2016 entitled “A National Competition
Policy: Unpacking the Problem of Declining Competition and Setting Priorities
Moving Forward”. This report lists three main symptoms of declining competition:
rising concentration, higher profits to a few big firms combined with slowing rates of
start-up activity, and widening inequality gaps. The report rather boldly claims (p.7):
“There is a growing consensus that inadequate antitrust policy has contributed to the
concentration problem and associated inequality effects’.
87 The previous articles in this series showed the need for Antitrust Law to take into
account other objectives than mere consumer protection, even more so when this
purpose is considered by the restrictive bias of the consumer welfare standard, in
the terms proposed by the Chicago School. (...) More than that, new approaches,
insofar as they go beyond the single-pointed vision of Antitrust Law, not only do not
ignore the need for consumer protection, but also seek to do so in an even broader
and more comprehensive way. effective, overcoming a series of problems related to
the restrictive criterion of maximizing consumer welfare. For this reason, criticisms
are pertinent in the sense that consumer protection must (i) be expanded, seeking to
redeem its commitments not only regarding lower prices, but also quality, diversity,
and innovation; and (ii) be effective, no longer content with mere presumptions and
conjectures, many of which depend on a series of variables in the long term, and must
be based on the real assessment of the impacts of the actions of the agents holding
economic power over consumers both in the short, medium, and long term. (FRAZÃO,
2018)
For this group of scholars, antitrust should concern itself not only with the effects of
anticompetitive conduct and concentrated market structures, but also with the effects
on social problems, which range from the effects of a more unequal society to the
harmful effects of climate change, passing by themes of “national interest” (whatever
that means). In this sense, the criticism made is that observing consumer welfare and
economic efficiency (ideas concerning the old Chicago school) would no longer be
sufficient antitrust policy objectives and these should change, in order to achieve the
welfare of the society, in a holistic way, incorporating a series of issues, such as equity
and worker welfare. (SCHMIDT, 2018)
88 According to KHAN (2018, P.6): Democrats, meanwhile, last year identified renewed
antitrust as a key pillar of their economic agenda, promising to “revisit our antitrust
laws to ensure that the economic freedom of all Americans—consumers, workers, and
small businesses—come before big corporations that are getting even bigger.”
89 At its core, the Hipster Antitrust movement calls for a total rejection of the
commitment to economic methodology and evidence-based policy that lies at the
heart of modern antitrust enforcement. The Hipster Antitrust movement would reject
Chicago School free marketers’ approach to antitrust just as readily as it would Post-
Chicago interventions. (…) These include a return to “big-is-bad” antitrust enforcement
based upon firm size without regard for effect on consumers, making presumptively
unlawful broad categories of mergers and acquisitions outright (e.g., all mergers
beyond a certain size threshold even in the absence of potential horizontal or vertical
issues), and abandoning the consumer welfare standard to take into account effects on
income inequality and wages. WRIGHT (2019, P. 5 e 8).
90 There are a few key principles that should animate the agency’s approach across
its work. First, we need to take a holistic approach to identifying harms, recognizing
that antitrust and consumer protection violations harm workers and independent
businesses as well as consumers. (KHAN, 2021, P.1)
91 Article 170. The economic order, founded on the appreciation of the value of human
labor and on free enterprise, is intended to ensure everyone a dignified existence, ac‑
cording to the imperative of social justice, with due regard for the following principles:
I – national sovereignty; II – private property; III – social function of property; IV –
free competition; V – consumer protection; VI – environment protection, which may
include differentiated treatment in ac‑ cordance with the environmental impact of
goods and services and of their respective production and delivery processes; (CA
42, 2003) VII – reduction in regional and social inequalities; VIII – pursuit of full
employment; IX – preferential treatment for small-sized enterprises organized under
Brazilian law and having their headquarter and management in Brazil. (CA 6, 1995)
have-started-to-care-about-income-inequality/2015/01/22/f1ee7686-a276-11e4-903f-
9f2faf7cd9fe_story.html
93 Brazil. Administrative Process n. 08700.011835/2015-02.
7. CONCLUSION
Amanda Athayde
Angélica Vettorazzi
Amanda Athayde
Isabella Accioly
desenvolvido por Zaleski102 revelou que empresas com alto market share
tendem a se beneficiar mais de processos políticos e de regulamentação,
enquanto aquelas com baixa participação de mercado contribuem
menos em tais processos. Nesse sentido, Zingales103 destaca que
a habilidade de exercer influências políticas cresce com o poder
econômico da empresa, e na mesma proporção cresce a necessidade
de tal exercício, com vistas a manter este poder. O autor apelidou esse
processo de “The Medici Vicious Circle” – ou o “Ciclo Vicioso Medici” –,
fazendo referência às ricas e poderosas famílias de banqueiros que
comandavam a Florência da Itália Renascentista104.
O relatório do Stigler Center de 2019105 mostra que os maiores
agentes políticos da atualidade podem ser o Google e o Facebook,
agentes com grande poder econômico. Esse mesmo relatório, ao
constatar o perigo que a concentração de poder representa para a
democracia, propõe, dentre outras soluções, o fortalecimento do
Direito Antitruste no que diz respeito ao controle de concentrações e
à adoção de medidas que reduzam o poder político das plataformas.
Essa pauta vem sendo inclusive destacada nos Estados Unidos, com as
pesquisas acadêmicas e os discursos da recém nomeada presidente da
Federal Trade Commission, Lina Khan.106
Até mesmo Robert Bork, um dos maiores defensores de um
menor escopo de intervenção do direito antitruste, reconhece que a
predação política é um método particularmente perigoso em razão de
107 BORK, Robert. The antitrust Paradox. New York: Free Press, 1993.
108 RIZZO, Alana de; VELASCO, Joel. As empresas conseguem migrar do crony
capitalismo para práticas íntegras de interação com o governo? In: Lobby desvendado:
Democracia, Políticas Públicas e Corrupção no Brasil Contemporâneo. 1. ed. São
Paulo: Record, 2018. p. 197.
109 PA nº 08000.024581/1994-11
110 PA nº 08700.000625/2014-08
111 RIZZO, Alana de; VELASCO, Joel. As empresas conseguem migrar do crony
capitalismo para práticas íntegras de interação com o governo? In: Lobby desvendado:
Democracia, Políticas Públicas e Corrupção no Brasil Contemporâneo. 1. ed. São
Paulo: Record, 2018.
112 BRASIL. Lei n. 12.259, de 30 de novembro de 2011. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12529.htm>. Acesso em: 20 jan. 2021.
Defesa da Concorrência
e Interfaces Jurídicas
Amanda Athayde
113 HUBBARD, Sally. How monopolies make gender inequality worse. Disponível
em: <https://www.forbes.com/sites/washingtonbytes/2017/12/20/how-monopolies-
make-gender-inequality-worse-and-concentrated-economic-power-harms-
women/?sh=5f119b3e1b11>. Acesso em: 3 fev. 2021.
114 PIKE, Chris. What’s gender got to do with competition policy? OECD On the
Level. 02 March 2018. Disponível em: <https://oecdonthelevel.com/2018/03/02/whats-
gender-got-to-do-with-competition-policy/>. Acesso em: 3 fev. 2021.
115 Para maiores detalhes sobre os debates conduzidos em novembro de 2018, sugere-
se: Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Global forum on
competition. Competition policy and gender. 2018, November 29th. Disponível em:
<https://www.oecd.org/daf/competition/gender-and-competition.htm>. Acesso em:
15 fev. 2021.
pelo perfil social”); (b) posição das mulheres nas empresas (“gênero
pelo perfil da oferta”); (c) mulheres e controle de condutas (“gênero
pelo perfil dos ilícitos concorrenciais”); (d) mulheres como grupo de
consumidoras (“gênero pelo perfil da compra”); (e) mulheres e controle
de estruturas (“gênero pelo perfil da definição de mercado relevante”);
(f) representatividade das mulheres no antitruste (“gênero pelo perfil
da representatividade”).
A respeito da discussão de gênero pelo perfil social (a),
discutem-se os entraves culturais, comportamentais e sociais
enfrentados pelas mulheres no acesso à educação, capital e mercado
de trabalho. Estimativas mostram que as mulheres ainda participam
menos que os homens do mercado de trabalho e, quando o fazem,
recebem salários significativamente menores121. Nesse sentido, de
forma ampla, a desigualdade de gênero é capaz de reduzir o padrão de
vida de uma população a um custo global de US$ 12 trilhões, ou 16%
da renda mundial122.
Nessa linha, WEICHSELBAUMER sugere – em uma teoria que
remonta a BECKER123 – que reformas estruturais que promovem o
desenvolvimento econômico (dentre elas as políticas de incentivo à
promoção da concorrência) reduzem o nível de segregação entre os
sexos numa sociedade124. De maneira bastante resumida, essa teoria
prega que existe certa tendência natural em algumas pessoas a se
envolver em práticas discriminatórias na contratação de somente
determinado “tipo” de pessoas. No entanto, as sociedades cujos
125 PIKE, Chris. What’s gender got to do with competition policy? OECD On the
Level. 02 March 2018. Disponível em: <https://oecdonthelevel.com/2018/03/02/whats-
gender-got-to-do-with-competition-policy/>. Acesso em: 3 fev. 2021.
126 Nesse sentido, ver: World Bank Group. India development update: unlocking
women’s potencial. 2017. Disponível em: <https://openknowledge.worldbank.org/
handle/10986/27545>. Acesso em: 4 fev. 2021.
127 Em relação ao tema, destaca-se a iniciativa Women on Board, a qual concede um
selo de boas práticas em ambientes corporativos às empresas que tenham pelo menos
2 (duas) conselheiras efetivas em seus quadros, de forma a incentivar e reconhecer
os benefícios desta diversidade ao mundo empresarial e à sociedade. Disponível em:
<https://wobwomenonboard.com/>. Acesso em 16 fev. 2021.
128 REIS JÚNIOR, Carlos Roberto da Rocha. Discriminação de preços por algoritmo:
preocupações concorrenciais. 2019. Monografia (curso de Direito). Faculdade de
Direito, Universidade de Brasília, Brasília.
129 Sobre o tema, destaca-se que, em 2011, o Tribunal de Justiça da União Europeia
proferiu decisão, proibindo a análise de prêmios de seguro baseada em gênero,
ocasionando um efeito econômico e concorrencial para o mercado. Nesse sentido,
ver: VILLELA, Camilla Costa. Concorrência e gênero: o impacto negativo dos prêmios
unissex no mercado de seguro sob a luz da experiência europeia. In: ATHAYDE,
Amanda; MAIOLINO, Isabela; SILVEIRA, Paulo Burnier da (Orgs). Comércio
internacional e concorrência: desafios e perspectivas atuais - Volume II. Brasília:
Faculdade de Direito – UnB, 2019.
132 No ano de 2018, o total de mulheres na área antitruste das consultorias e dos
escritórios de advocacia foi de 35% e 52%, respectivamente. Verificou-se, por sua vez,
que, no CADE, a representatividade de mulheres no total de servidores da área-meio
foi de 54% e da área-fim, de 43%. No entanto, apesar de 64% das promoções serem de
mulheres nos escritórios antitruste, apenas 50% delas são referentes aos cargos de
advogados sênior e sócios. Na mesma linha, as promoções de mulheres foram minoria
no CADE (33%) e sequer afetaram os cargos de liderança mais altos (DAS 5 em diante).
133 FOX, Eleanor. Antitrust: tracing inequality. Disponível em: <https://www.
competitionpolicyinternational.com/antitrust-tracing-inequality-from-the-united-
states-to-south-africa/>. Acesso em: 3 fev. 2021. Em tradução livre. No original: “A
notion of equality has run through antitrust (or competition) law since the beginning of
(antitrust) time. (...) It focuses particularly on equality of opportunity: keeping open
pathways for outsiders to contest markets on the merits”.
Amanda Athayde
Renan Cruvinel
134 A shorter version of this paper was prepared for the OECD Competition
Committee held in 29 November 2022. https://www.oecd.org/competition/director-
disqualificationand-bidder-exclusion-in-competition- enforcement.htm. This paper
in English presents some of the results of a full study which results to a recently
published book in Portuguese: ATHAYDE, Amanda et. al. Sanções não pecuniárias no
antitruste /organizaçãoAmanda Athayde. -- 1. ed. -- São Paulo: Editora Singular, 2022.
In such research, each of the nine papers includedin the book investigated the national
and international experience regarding the enforcement of a specific type ofpenalty
other than fines aiming at identifying the justification and rationale that led to the
authorities to imposethese non-monetary penalties in both contexts.
The research is intended not only to stimulate the search for more
efficient mechanisms to prevent and punish anticompetitive conduct
in Brazil, but also to establish a starting point so that legal scholars
and law enforcers around the globe can define if, when how and with
which nuances non-monetary sanctionscan and/or should be imposed
in the antitrust context.
KEY-WORDS: non-monetary sanctions; antitrust; director
disqualification; company debarment.
INTRODUCTION
135 This paper presents some of the results of a full study which results to a recently
published book: ATHAYDE, Amanda et. al. Sanções não pecuniárias no antitruste /
organização Amanda Athayde. -- 1. ed. -- São Paulo: Editora Singular, 2022. In such
research, each of the nine papers included in the book investigated the national and
international experience regarding the enforcement of a specific type of penalty
other than fines aiming atidentifying the justification and rationale that led to the
authorities to impose these non-monetary penalties in bothcontexts.
136 In this regard, see: Posner, Antitrust: cases, economic notes and Other materials 545-
572 (2d ed. 1981). Schwartz,Private enforcement of the Antitrust laws (1981); Landes,
Posner e Easterbook, Contribution Among Antitrust Defendants: A legal economic
analysis, e Fischel e Easterbrook, The Economic Structure of Corporate Law (1996),
among other papers.
137 The papers that raised the discussion are: Becker, Crime and Punishment: An
Economic Approach, 79 J. Pol.Econ. 169 (1968); Coase, The Problem of Social Cost, 3
J.L. & Econ. 1 (1960).
138 ATHAYDE, Amanda; OLIVEIRA, Renan Cruvinel de. Sanções não pecuniárias
no antitruste /organização Amanda Athayde. -- 1. ed. -- São Paulo: Editora Singular,
2022. Pp. 11-74. The authors verified increases in monetary sanctions imposed
by antitrust authorities, and assumed their insufficiency to deter anticompetitive
practices, to reach different perspectives to analyze non-monetary sanctions as means
to strengthen antitrust enforcement. The authors did not identify any studies that
demonstrated a correlation between an increase in monetary sanctions and an actual
decrease in the number of violations to the economic order.
139 In this regard, read, for example: MARTINS, Carlos Frederico Braga; SANTOS,
Rodrigo Victor dos. Direito concorrencial sancionador: análise das alternativas à
multa corporativa como forma de garantir o efeito dissuasório da pena. In: ATHAYDE,
Amanda; MAIOLINO, Isabela; BURNIER, Paulo (org.). Comércio Internacional e
Concorrência: desafios e perspectivas atuais. Brasília: Universidade de Brasília
Faculdade de Direito, 2019. v. 2.p.142-169.Availableat:https://c91ba030-1e79-4eb0-b196-
35407d130c35.filesusr.com/ugd/62c611_e9839ce5ebee4a28aa23c334d4023073.pdf
increase in the amounts of the fines imposed together with the (real or
theoretical) risk of incarceration of individuals involved in the conducts
has not been enough to prevent violations against the economic order,
which urges for the need to search for new non-monetary and no
incarceration means of sanction144 to ensure future deterrence.
apparent absence of correlation between the amount of fines and dissuasion, while
in the time period between 1969 and 2009 only 24% of cartel decisions imposed by
the Commission convicted at least one recidivistic defendant , in the period between
2006 and june 2011 the recidivism level was equally higher and was present in 40%
of decisions, even though the penalties imposed by the Commission had a spiked
increase in their amount. At last, the authors warn that the inefficacy of high-penalty
model has been addressed by several critiques in the international arena, leading to
an “increased international concern with the inefficacy of currently used antitrust sanctions,
since, inside a notion of general prevention, they should not only avoid recidivism, but also
disencourage the commission of antitrust violations, vigorously” In: MARTINS, Carlos
Frederico Braga; SANTOS, Rodrigo Victor dos. Direito concorrencial sancionador:
análise das alternativas à multa corporativa como forma de garantir o efeito
dissuasório da pena. In: ATHAYDE, Amanda; MAIOLINO, Isabela; BURNIER, Paulo
(org.). Comércio Internacional e Concorrência sobre GERADIN, Damien; SADRAK,
Katarzyna. “The eu competition law fining system: a quantitative review of the
commission decisions between 2000 and 2017”. Tilec discussion paper. 2017. desafios
e perspectivas atuais. Brasília: Universidade de Brasília Faculdade de Direito, 2019.
v. 2. p. 142-169. Available at: https://c91ba030- 1e79-4eb0-b196-35407d130c35.filesusr.
com/ugd/62c611_e9839ce5ebee4a28aa23c334d4023073.pdf sobre GERADIN, Damien;
SADRAK, Katarzyna. “The eu competition law fining system: a quantitative review of
the commission decisions between 2000 and 2017”. Tilec discussion paper. 2017.
144 OLIVEIRA, Renan Cruvinel de. Definindo Sanções Ótimas a Práticas Anticompetitivas
e Corruptas: a punição a indivíduos por meio de mecanismos alternativos. Revista
de Defesa da Concorrência - RDC, Brasília, v. 8, n. 2,p.144-163,dez.2020. Availableat:
https://revista.cade.gov.br/index.php/revistadedefesadaconcorrencia/article/
view/493. Last Accessed on : April 4, 2022..
145 COOTER, Robert; ULEN, Thomas. Law and Economics. Boston: Addison-Wesley,
2012, p. 469.
146 KOBAYASHI, Bruce H. Antitrust, agency, and amnesty: an economic analysis of the
criminal enforcement of the antitrust laws against corporations. George Washington
Law Review, v. 69, n. 5-6, pps. 715-744, 2001.
147 Ginsburg and Wright, however, ensure that there are no empirical evidences
suggesting that consumers anywhere are paying the costs of an overzealous cartel
hunting. GINSBURG, Douglas; WRIGHT, Joshua. Antitrust Sanctions. Competition
Policy International, Columbia, v. 6, n. 2, p. 3-39, 2010. Available at: https://www.
law.gmu.edu/assets/files/publications/working_papers/1060AntitrustSanctions.pdf.
Last Accessed on : 4 abril de 2022. p. No mesmo sentio, ver MARTINEZ, Ana Paula.
Repressão a cartéis: interface entre Direito Administrativo e Direito Penal. São
Paulo: Singular, 2013.
148 In our view, this concern is in line with an institutionalist view of social interests.
SALOMAO FILHO, Calixto. O novo Direito Societário. 4ª Ed. São Paulo: Malheiros,
Cap. 2 – “Interesse Social: a nova concepção”. SALOMÃO FILHO, Calixto. “Sociedades
Comerciais. Contratualistmo, institucionalismo e análise estruturalista do interesse
social”, In Teoria Crítico-Estruturalista do Direito Comercial – Obras Selecionadas,
São Paulo: Marcial Pons, 2015, pp. 159-172. NEDER CEREZETTI, Sheila C. A lei
de recuperação e falência e o princípio da preservação da empresa: Uma análise
da proteção aos interesses envolvidos pela sociedade por ações em recuperação
judicial 2009 (Tese de doutorado). Para maiores detalhes, recomenda-se ouvir o
podcast Direito EmpresarialCafé com Leite.#EP9.Available at :https://open.spotify.
com/episode/73wUWsZZsJCMwLRKfbmW0B?si=FhITWyAfSBe01KOKUu3j_w. Last
Accessed on : April 4, 2022.
149 According to Kobayashi, “Under optimal penalties theory, excessive expected
penalties must be avoided. The effects of higher than optimal penalties are collectively called
overdeterrence. Overdeterrence can result when socially efficient behavior is deterred, e.g.,
when the benefits of the deterred crime would have outweighed the costs. In addition, socially
efficient behavior can be deterred when there is a possibility of legal error, i.e., when the
criminal law is erroneously applied to legal behavior. Finally, higher than optimal penalties
induces corporations to make excessive expenditures on avoidance of sanctions, and detecting
violations by their agents. This latter cost is especially relevant when considering corporate
criminal liability”. KOBAYASHI, Bruce H. Antitrust, agency, and amnesty: an economic
analysis of the criminal enforcement of the antitrust laws against corporations.
George Washington Law Review, v. 69, n. 5-6, 715-744, 2001.
150 The concern over agency costs in the evaluation of optimal antitrust penalties also
brings attention to the fact that there is a distinction between the level of penalties
necessary for ideal dissuasion and the efficient allocation of such penalties over
corporations and individuals. The simple optimal antitrust penalty standard ignores
this distinction, and also many other complications, incorrectly, as it pushes an excess of
punishment. GINSBURG, Douglas; WRIGHT, Joshua. Antitrust Sanctions. Competition
Policy International, Columbia, v. 6, n. 2, p. 3- 39, 2010. Available at: https://www.law.
gmu.edu/assets/files/publications/working_papers/1060AntitrustSanctions.pdf. Last
Accessed on : April 4, 2022
151 One of the greatest proponents of the aforementioned structuralist school of
thought, in Brazil, is professor Calixto Salomão Filho. SALOMÃO FILHO, Calixto.
Direito concorrencial. Malheiros Editores, 2013. E SALOMÃO FILHO, Calixto. O
Novo Direito Societário: eficácia e sustentabilidade. Saraiva Educação SA, 2019.
Para maiores detalhes, ouvindo o próprio Professor Calixto, sugere-se o podcast
Direito Empresarial Café com Leite. #EP30. Available at: https://open.spotify.com/
episode/0bntEZ8NvnhO6jGLHqf96i?si=7hQ5Hr_cT6mfrQ7poN7oVQ. Last Accessed on
: April 4, 2022.
152 Forced controlling-interest alienation, for example, has been addressed by Ana
Frazão as an efficient measure against economic wrongdoing, since it modifies the
structure of the affected markets, by promoting the entrance of new players and
bringing fresh air into the market with new practices, at the same time, it ensures
the corporate continuity and the fulfillment of the corporate social purpose. (Ana
Frazao em FRAZÃO, Ana. Arquitetura da corrupção e as relações de mercado. JOTA.
2016). In this sense, Calixto Salomão and Fábio Comparato argue that controlling
shareholders, whether formally or empirically, must be punished in situations in
which the control is exerted disregarding the corporate social purpose, such as in
cases regarding unlawful conducts, by being deprived of such control, which must be
expropriated and granted to another businessperson. (COMPARATO, Fabio Konder;
FILHO, Calixto Salomão. O Poder de Controle na Sociedade Anônima. 6ª Ed. São
Paulo. Forense. 2014. p. 478)
153 SALOMÃO FILHO, Calixto. Teoria crítico-estruturalista do Direito Comercial.
São Paulo: Marcial Pons, 2015. p. 238.
154 According to Calixto Salomão, the economic theory acknowledges that players’
rationality naturally leads them to abuse. Given that Law isn’t able to discipline
economic power, because it is based on rules of conduct (focused on sanctioning
isolated actions, and also unable to discipline a continuous activity or a pattern of
behavior), corporate structure must then be disciplined by dominance relations. In
SALOMÃO FILHO, Calixto. Teoria crítico-estruturalista do Direito Comercial. São
Paulo: Marcial Pons, 2015. p. 241.
155 OLIVEIRA, Renan Cruvinel de. Definindo Sanções Ótimas a Práticas Anticompetitivas
e Corruptas: a punição a indivíduos por meio de mecanismos alternativos. Revista
de Defesa da Concorrência - RDC, Brasília, v. 8, n. 2, p. 144-163, December 2020.
Available at: https://revista.cade.gov.br/index.php/revistadedefesadaconcorrencia/
article/view/493. Last access on April 4th, 2022.
effects
158 Item I of article 38 of the Brazilian Law 12,529/2011 establishes the obligation to
release an extract of the condemnatory decision. That non-monetary penalty was
also identified in the international experience: European Union, the United States,
Canada, Japan, Australia, Uruguay, Argentina, and Colombia. Item II establishes
two combined penalties for the defendants, notably, the prohibition of contracting
with official financial institutions and the bidder exclusion at all levels of Brazilian
federation (federal, state, municipal and the Federal District). That non-monetary
penalty was also identified in the international experience: European Union
(especially in Germany, Spain and Portugal), the United States, Japan, South Korea,
Argentina and Chile. Item III provides for the possibility of the wrongdoer to be
enrolled in the National Consumer Defense Registry (Cadastro Nacional deDefesa do
Consumidor). That non-monetary penalty was not identified in any other jurisdiction.
Item IV “a” provides for the possibility of the antitrust authorities to recommend to
159 ATHAYDE, Amanda et. al. Sanções não pecuniárias no antitruste /organização
Amanda Athayde. -- 1. ed. - São Paulo: Editora Singular, 2022.
160 It is worth mentioning that the investigation was restricted to antitrust
administrative punishments, although other types of penalties, such as criminal, civil
In 36% (99 cases) of these cases, the antitrust authority imposed non-
monetary sanctions.
Graph 1 – Number of administrative proceedings judged
by CADE between 2012 and 2020 and number of cases in
which non-monetary sanctions were imposed
As for the type of conduct, most of the cases in which the non-
monetary sanctions set forth areimposed refers to cartel practices (50%
of the cases). After that is the practice of business conduct uniform
influence (40% of the cases) and, finally, the unilateral conducts (10%
of the cases).161
and administrative in other spheres, are briefly mentioned throughout the paper in
order to deepen the debate.
161 It is worth noting that there are cases in which there was the analysis of two
different anticompetitive practices, such as cartel and uniform commercial conduct,
thus, the non-monetary sanctions were considered in both groups.
Splitting the data according to each item, out of the 265 companies
penalized with an alternative sanction, 90 companies were punished
based on item IV, “b”; 60 on item VII of article 38 of the Brazilian
Competition Act; 38 companies on item III; 37 on item I; 29 companies
were penalized based on item II; 1 on item V; none on items IV, “a”,
and VI. Companies tend to be subjected to items IV “b” (not to grant
the wrongdoer installment payments of federal taxes owed by him or
to cancel, in whole or in part, tax incentives or public subsidies) and
VII (to impose any other necessary act or measure for the elimination
of harmful effects to the economic order), regarding non-monetary
sanctions imposed by CADE over the years.
In relation to individuals subjected to only one of the non-
monetary sanctions, 81 individuals were penalized based on item
III of article 38 of the Brazilian Competition Act; 53 on item IV, “b”;
37 individuals convicted on item II; 25 on item VII; 20 individuals
convicted based on item I; 10 on item VI; none on items IV, “a”, and
V. CADE, then, tend to impose to individuals items III (wrongdoer to
be enrolled in the National Consumer Defense Registry), IV “b” (not to
grant the wrongdoer installment payments of federal taxes owed by
163 ATHAYDE, Amanda. SCWARTZ, Debora. VERGARA, Sofia. Da pena não pecuniária
de publicação de extrato da decisão em jornais - inciso I do art. 38 da lei n. 12.529/2011.
In Sanções não pecuniárias no antitruste. Amanda Athayde (Org.). 1. ed. São Paulo:
Editora Singular, 2022. Pp. 75-118.
Moreover, interesting to note that the (i) sanction that provide for
a suggestion from CADE to the official financial institutes prohibition
of contracting is far beyond the antitrust field. That leads to the fact
that other authorities are not bounded by its decision. Therefore, it is
essential that any broad sanction that requires measures to be taken
by other authorities must be previously aligned so that the sanction is
enforceable.
As a reflection for international antitrust practice, considering
that jurisdictions such as European Union (especially in Germany,
Spain and Portugal), the United States, Japan, South Korea, Argentina
and Chile also have similar provisions to the (ii) sanction that provides
for the prohibition to participate in biddings (bidder exclusion), it is
possible to recommend best practices for this sanction:
Article 38, item III, of the Brazilian Competition Act may be applied in
cases where the underdeterrence is the main concern.
Although it is not the focus of the investigation here presented,
practical issues not consideredby CADE might also constitute a barrier
to the imposition of the non-monetary sanction of bidder exclusion.
Among these barriers, the antitrust authority should measure its
impact on the incentives for the wrongdoer to apply for an antitrust
leniency program. Also, the antitrust authorities should consider
typical concerns related to the imposition of administrative sanctions,
such as bis in idem, standard of proof, and conflict of competence,
which might lead to judicial review of their decisions.
As a reflection for international antitrust practice, it is interesting
noting that no other jurisdiction has similar provision. Despite being
a pioneering tool from the competition point of view and promising
for the fight against violations of the economic order, the absence of
bylaws regulating this official registry suggests a lack of priority with
respect to the registry to strengthen the enforcementof antitrust policy
and may be a sign that this sanction is outdated.
168 ATHAYDE, Amanda; BIEIRA, Bruno Rodrigues; ROCHA, Camila Pires da. Da
pena não pecuniária de não concessão de parcelamento de tributos federais ou de
cancelamento de incentivos fiscais ou subsídios públicos – inciso IV b) do art. 38 da
lei n. 12.529/2011. In: Sanções não pecuniárias no antitruste /organização Amanda
Athayde. -- 1. ed. -- São Paulo: Editora Singular, 2022. Pp. 241-270.
resources from being used for the wrongful conduct under analysis.
Some of the conducts reviewed by CADE were considered particularly
harmful due to advantages obtained from the violation in collusion
with the Public Authorities, which affected other legal spheres and
called fornon-monetary sanctions.
In the Brazilian experience, it turns out that one of the main
barriers imposed to the enforcement of such sanction is that the
recommendation that can only be put in practice by the Federal
Revenue ofBrazil (Receita Federal do Brasil – “RFB”), a different authority,
which similarly occurs regarding itemII and item IV, “a” of article 38 of
the Brazilian Competition Act, previously described.
The authors questioned RFB’s official understanding on CADE’s
recommendation. The answer was that RFB does not consider
CADE’s recommendation a sufficient reason for implementing such
restrictions, which demonstrates a clear misalignment between
the authorities. RFB informed that the law that grants the benefit
of tax installment expressly provides for the sanctions arising from
noncompliance with the precepts it establishes. In addition, it is
understood that any recommendation by CADE, by itself, does not
constitute grounds to reject requests for payment of tax debts in
installments or for cancelling tax benefits granted to wrongdoers.
In other words, as the authors conclude, the current wording of the
Brazilian Competition Act cannot even be implemented when it comes
to prohibiting the taxes payment in installments.
In this context, the authors suggest that CADE’s recommendation
should have greater adherence to the case and not have its imposition
justified by a generic objective of discouraging the adoption of
anticompetitive practices. Thus, it would be more coherent that the
imposition of this non-monetary sanction would be limited to situations
in which direct damage to public resources is demonstrated, such as
in situations involving bids carried out by public entities, for example.
Moreover, it is understood necessary an institutional alignment169
provides for such sanction in the country. The Brazilian Central Bank
(“BC”) as well as the Brazilian Securities and Exchange Commission
(“CVM”) may apply a sanction to disqualify an individual to act as
manager or board member for up to 20 (twenty) years. Similarly,
the Financial Activities Control Council (“COAF”) may apply
disqualification sanctions to individual for up to 10 (ten) years. Also,
it is possible that professional entities, based on sectoral private
autoregulation applicable to the wrongdoer’s job, prohibit him from
exercising exclusive activities of the relevant profession. The Brazilian
Competition Authority CADE has the competence to apply this type
of primary sanction, prohibiting individuals to conduct business on
its own behalf or as a representative of a legal entity for up to 5 (five)
years.
Image 4 – Primary and secondary effects of the sanction: prohibition to
conduct business on its own behalf or as a representative of a legal entity
171 ATHAYDE, Amanda; CAUHY, Bárbara De’Carli; ASSIS, Larrisa Salsano de. Da
pena não pecuniária de proibição de exercer comércio em nome próprio ou como
representante de pessoa jurídica – inciso vi art. 38 da lei n. 12.529/11. Sanções não
pecuniárias no antitruste /organização Amanda Athayde. -- 1. ed. -- São Paulo: Editora
Singular, 2022. Pp. 309-368.
given that many years out of the market could make the re-entry of a
professional unfeasible.
Applying the disqualification sanction would be relevant on
the underdeterrence perspective in as support to enforce antitrust
rules to individuals, and it may be an alternative to overdeterrence of
companies, whenever the circumstances of the case suggest that the
company did all its best efforts to prevent the wrongdoing, but still
the person performed it. As a reflection for international antitrust
practice, considering that jurisdictions also have similar provisions
to the (ii.2.) professional disqualification, it is possible to recommend
best practices for this sanction:
Image 6 – Any other necessary act or measure for the elimination of harmful
effects to the economic order
Those results suggest that, despite its broad wording, CADE has
not been creative when imposing it, which may be a result of the lack
of in-depth analysis of the impacts of possible measures on economic
activities, to the detriment of their effectiveness. This differs from
the experience in other jurisdictions, which effectively use a similar
provision to tailor maid the sanctions to the specificities tothe case, as
in the United States, European Union, Canada, Japan, and Australia.
It can be argued then that the general perspective grounds the
imposition of sanctions established under item VII of Article 38 of the
Brazilian Competition Act since, in the only decision that seems to
have diverted from the general trend of only imposing that defendants
cease the ongoingconducts, CADE banned future mergers and imposed
divestment obligations. On that occasion, CADE held that the market
structure, marked by cross-shareholdings between competitors and
vertically related companies, fostered and enabled the maintenance
of anti-competitive conduct. Therefore, the termination of those
structural relations was a key point of CADE’s decision.
177 According to Berle and Means, and later extended by other scholars, there was
a division, inside the corporate structure, of ownership and control. According to
them, due to the scattered nature of shareholding, at the beginning of the XX century,
Corporate Law structured tools that would allow handling over corporate leadership,
given that all shareholders could not exert leading power. In this regard, read BERLE,
A., & MEANS, G. The modern corporation & private property. Hartcourt: Brace &
World. 1932.
178 The “control prize” is an additional amount attributed to the controlling
shareholder’s shares, given that they grant the right to exert corporate control, which
is handed over to the buyer of the shares by the market. In such cases, there is an
anticipation of the future benefits that the company’s controlling role will provide.
179 ATHAYDE, Amanda; OLIVEIRA, Renan Cruvinel de. Sanções não pecuniárias no
antitruste /organização Amanda Athayde. -- 1. ed. -- São Paulo: Editora Singular, 2022.
Pp. 11-74.
180 In the “minor piercing of the corporate veil theory,” the companies’ assets’
autonomy is revoked, with the simple creditors’ losses.See: Fábio Ulhôa Coelho, Curso
de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 2009. V. 2, p. 74.
181 ATHAYDE, Amanda; OLIVEIRA, Renan Cruvinel de. Sanções não pecuniárias no
antitruste /organização Amanda Athayde. -- 1. ed. -- São Paulo: Editora Singular, 2022.
Pp. 11-74.
extent that it helps fulfill both the preventive and retributive purposes
of antitrust sanctions.182
On the other hand, however, the authors also argue that
limiting shareholders’ liability is undoubtedly an important tool
to foster productive investment because it reduces business risks
and legal uncertainty183. In this sense, increasing the exposure of
stakeholders’ assets ultimately hinders incentives to investments and
entrepreneurship, as well as reduces diversification of investments,
given that investors would lean towards investing in companies in
which decision-making could be monitored184. The discretionary
use of piercing the corporate veil threatens the principles of fairness
and risk assessment, as well as justice itself, leading to an increase in
transaction costs. A potential increasewould probably be passed on to
the final prices of goods and services185.
In this sense, the potential use of piercing the corporate veil
by CADE must be very cautious and exceptional, with extensive
reasoning, when abuses of the corporate veil are detected, in line
with Article 50 of the Brazilian Civil Code, altered by the Brazilian
Economic Freedom Act. The mere possibility of lifting the corporate
veil upon violations of the Law, violations of the bylaws, or articles
of association is redundant, given that whenever there is an antitrust
conviction, those criteria are automatically fulfilled. Besides, the
mere incapacity to pay back creditors should not be sufficient grounds
for lifting the corporate veil. That is also true to raise questions about
the sufficiency of bankruptcy or judicial reorganization for lifting the
corporate veil. Indeed, if the failing firm186 arguments do not generally
apply to mitigate sanctions, and should not be applicable to allow the
corporate veil tobe lifted.
186 Regarding the failing firm theory application in Antitrust, see, for example:
OLIVEIRA JUNIOR, Fernando Antônio Alves de. A empresa em crise e o direito da
concorrência: a aplicação da teoria da Failing Firm no controle brasileiro de estruturas
e seus reflexos no processo de recuperação judicial e de falência (mestrado). UnB.
2014. Available at: https://repositorio.unb.br/handle/10482/16424. Last Accessed on
April 4, 2022.; e GURGEL, Gabriela Silva de C. Brasil. O incremento da Failing Firm
Defense dentre os argumentos utilizados em julgamentos de operações econômicas
pela autoridade antitruste na pandemia do COVID-19 (Projeto de Iniciação Científica).
UnB. 2021. Available at: https://www.amandaathayde.com.br/orientacoesdepesquisa.
Last Accessed on April 4, 2022..
187 For this paper, those appointed by the corporate bylaws as administrators will
be seen as those responsible for conducting the company’s day-to-day business.
They are elected by the corporation’s general assembly, as stated in article 122, II, of
the CORPORATIONS ACT: “The general meeting has exclusive authority: II – to elect or
discharge corporation officers and auditors at any time, subject to the provisions of item II of
Section 142;” and article 132, III “An annual general meeting of shareholders shall be held
every year during the first four months after the closing of the fiscal year in order: III - to
elect the officers and the members of the statutory audit committee, if any;”. They must act
as representatives and administrators of a company and have an obligation to work
with care, loyalty, good faith, and diligence in all acts performed for the company’s
sake. Administrators may or may not be shareholders, as it is prescribed by article
146: “Individuals may be elected as members of the administrative bodies; the members of
the administrative council must be shareholders, while the directors residing in Brazil may,
or may not, be shareholders.”. Their nomination is ruled by article 149, as it follows:
“Council members and directors shall take up their appointments by signing an instrument
of appointment in the book of minutes of administrative council meetings or of the board of
directors’ meetings, as the case may be.”.
corporation endured, it would be expected that the company would file such claims
as a legal entity. However, the Law provides two possibilities in which an individual
must represent the corporation in the litigation. The first hypothesis is called
secondary replacement, which may happen when the corporation only files claims
within three months after an assembly meeting. In this specific case, any shareholder
may file claims. The second hypothesis is called original replacement. When the
general assembly decides not to file claims, the shareholders who own at least 5%
of the invested capital may file it. In antitrust, a company might refrain from filing
lawsuits when, for example, the wrongdoer is someone dear to the company – such
as current or former company administrators and controlling shareholders. Even if
the liability claims filed by a shareholder (paragraph 3) or a group of shareholders
(paragraph 4) are successful, the company’s positive results will be collected, not by the
shareholders who initiated the litigation. The plaintiff shareholders are only entitled
to be reimbursed for the legal costs. That is clearly stated by article 159, paragraph 5,
of the Corporations Act. COELHO, Fábio Ulhôa. Curso de Direito Comercial. Volume
2 (Direito de Empresa). São Paulo: Saraiva, 2007. P. 265.
191 FRAZÃO dedicates an important section of her book to the discussion about
administrators’ duties of loyalty and caution. FRAZÃO, ANA. Função social da empresa:
repercussões sobre a responsabilidade civil de controladores e administradores de S/
As. Rio de Janeiro: Renovar, 2011, pp. 332-404.
CONCLUSION
Amanda Athayde
Resumo
O presente artigo propõe, à luz da evolução da tradicional
visão antitruste dos supermercados varejistas, uma moderna análise
antitruste do setor. Busca-se superar a ideia de que os supermercados
figuram como agentes neutros de mercado, evidenciando que o poder
de mercado no varejo supermercadista pode impactar negativamente
na concorrência. Assim, o presente artigo estuda os supermercados
como plataformas de dois lados com características de gargalo à
concorrência. Nos termos da teoria da plataforma de dois lados, propõe-
se que os supermercados sejam analisados como prestadores de
serviços para consumidores finais e para os fornecedores, ressaltando
que esses dois grupos distintos dependem do supermercado para o
intermédio de transações, o que faz com que existam externalidades
indiretas entre os dois grupos e, consequentemente, confere poder de
barganha à plataforma. Por sua vez, nos termos da teoria dos gargalos
à concorrência, defende-se que o supermercado varejista detém um
poder monopolista de prover ou não o acesso de um grupo a outro. Tal
proposta, como este artigo busca demonstrar, traz consigo um novo
modo de compreensão das possíveis relações jurídicas dos agentes
no varejo supermercadista, tanto em suas relações verticais quanto
horizontais e diagonais.
Palavras-chave: Direito da concorrência; varejo supermercadista;
plataforma de dois lados; teoria do gargalo à concorrência
Abstract
This article proposes, in the light of the evolution of the
traditional vision of retail supermarkets, a modern antitrust analysis of
this sector, seeking to overcome the idea that supermarkets appear as
neutral agents of the market, hence the market power in supermarket
retailer can impact on the competition field. Thus, this article studies
the supermarkets as two-sided platforms with characteristics of the
competitive bottleneck. According to the two-sided platform theory,
the supermarkets should be analyzed as service providers for final
consumers and suppliers, noting that these two distinct groups
depend on the supermarket for the intermediation of transactions,
which means that there are indirect externalities between the two
groups and, consequently, confers bargaining power to the platform.
Furthermore, according to the theory of bottlenecks to competition,
it can be argued that the retail supermarket has a monopoly power to
provide access to one group or another. This proposal, as this article
seeks to demonstrate, brings with it a new way of understanding the
possible legal relationships of the agents in the retail supermarket, in
their vertical, horizontal and diagonal relations.
Keywords: Antitrust law; supermarket retailer; two-sided
platform; competitive bottleneck model
INTRODUÇÃO
197 O Guia de Análise Econômica dos Atos de Concentração Horizontal das Secretarias
de Acompanhamento Econômico (doravante “Seae”) e de Direito Econômico (doravante
“SDE”) encampava a visão, ainda que implícita, de que o poder de compra, como poder
compensatório, seria positivo para a concorrência, tratado como uma eficiência
da operação (BRASIL, 2001). No parágrafo 74, que trata da análise das eficiências
econômicas resultantes da operação, aponta-se que pode ser considerada eficiência
específica da operação a geração de um poder de mercado compensatório. Esse
posicionamento também parece ser adotado, por exemplo, nos Guias de Restrições
Verticais e de Acordos Anticoncorrenciais da União Europeia, em que o poder de
compra é sinalizado sob o viés positivo. O Guia de Análise de Restrições Verticais
da União Europeia avança um pouco ao mencionar, no capítulo relativo aos acordos
de gestão de categoria, a possibilidade de fechamento de mercado aos fabricantes
detentores de marcas independentes em decorrência das práticas dos supermercados
detentores de poder de compra relacionadas a acesso às lojas (COMISSÃO EUROPEIA,
2010a). Ainda na União Europeia, o Guia de Acordos Anticoncorrenciais da União
Europeia associa o termo “consumidor” ao termo “distribuidor” (atacadista/varejista),
implicitamente considerando-o como um intermediário neutro no mercado
(COMISSÃO EUROPEIA, 2004).
198 O Guia de Análise dos Atos de Concentração Horizontal (“doravante Guia H”)
ainda corrobora essa visão tradicional, em que pese dar um passo adiante e mostrar
atenção ao tema do poder de compra, com um capítulo específico subdividido entre
poder compensatório e poder de monopsônio (BRASIL, 2016).
199 Os principais motivos para levarem essa constatação pelos autores seriam: foco
das análises na oferta, em detrimento da avaliação sobre a demanda (compra);
participação na compra era considerada insuficiente para causar danos sobre o
mercado; desnecessidade de avaliação dos efeitos do poder de compra quando
comprovado o cartel; e celebração de Termo de Cessação de Conduta que resulta no
arquivamento do caso sem aprofundamento sobre o tema (RAGAZZO e MACHADO,
2013).
200 Essa informação também é corroborada pelas pesquisas de casos realizadas
por Berardo e Becker (2015, p. 95-106). “In the grocery sector, however, there is no record
of a decision or even an investigation for any type of horizontal conduct, such as collective
213 “It acts as a gatekeeper in managing shelfspace and selection and in deciding which
products should be marketed”; “Private labels emphasize the role of the trade as a gatekeeper.
The trade manages selection, pricing and display. The trade also obtains information on the
cost structure of products through the private labels. Considering all these things it may be
stated that private labels do not necessarily compete with branded products in a competition
neutral way.”.
215 Por “planogram” entende-se a representação gráfica do layout dos produtos de uma
categoria em determinada área (gôndola) da loja (ESPANHA, 2011, p. 93). Ademais,
pode ser entendida como a diagramação ilustrativa da localização dos produtos nas
gôndolas do varejista, a quantidade de espaço em que o produto será alocado e quantas
faces/exposições cada produto vai ter na ilha da categoria (AUSTRÁLIA, 2008, p. 337).
CONCLUSÃO
Amanda Athayde
218 Há, em síntese, duas coberturas básicas nas apólices D&O: (i) a cobertura A
(side a), na qual a seguradora se compromete a pagar, em nome do segurado, os
prejuízos financeiros resultante de determinado sinistro (art. 5º, caput, da Circular
SUSEP nº 553/2017); e (ii) a cobertura B (side b), na qual a seguradora se compromete a
reembolsar à sociedade tomadora os dispêndios realizados em benefício do segurado
diante de determinado sinistro (art. 5º, §2º, inc. II, da Circular SUSEP nº 553/2017).
Há, ainda, a cobertura C (side c), notadamente comercializada no mercado brasileiro
como uma cobertura adicional destinada às reclamações relacionadas aos valores
mobiliários.
219 ATHAYDE, Amanda. Manual dos Acordo de Leniência no Brasil: teoria e prática
– CADE, BC, CVM, CGU, AGU, TCU, MP. Belo Horizonte: Fórum, 2019, p. 30
220 Segundo o Ministério Público Federal, a fase ostensiva da operação iniciou em
17 de março de 2014, quando se deflagrou a “primeira fase” da operação. Disponível
em: http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/lava-jato/entenda-o-caso/entenda-o-caso.
Acesso em: 08 de junho de 2020.
Business Judgment Rule no Direito Brasileiro. Revista dos Tribunais. vol. 953, 2015, p.
51-74). Nesse cenário, a administração de sociedades anônimas se torna um desafio
complexo e com elevados riscos patrimoniais, mesmo diante de uma administração
leal e diligente.
223 Dados retirados do SES (Sistema de Estatísticas da SUSEP). Disponível em: http://
www2.susep.gov.br/menuestatistica/SES/premiosesinistros.aspx?id=54. Acesso em:
09 jun. 2020.
224 O mercado de seguros, em geral, é cíclico; e os termos hard maket e soft market
são usados para descrever esse fenômeno. O período de hard market é assim definido
pelo International Risk Management Institute: “in the insurance industry, the upswing
in a market cycle, when premiums increase and capacity for most types of insurance
decreases. Can be caused by a number of factors, including falling investment returns
for insurers, increases in frequency or severity of losses, and regulatory intervention
deemed to be against the interests of insurers”. Disponível em: https://www.irmi.com/
term/insurance-definitions/hard-market. Acesso em: 17 jun. 2020. Para descrever
esse ciclo de subscrição de seguros no ramo D&O, destaca-se a seguinte leitura:
BAKER, Tom; GRIFFITH, Sean J. Predicting Corporate Governance Risk: Evidence
from the Directors’ and Officers’ Liability Insurance Market. Chicago Law Review,
vol. 74, p. 506, 507. Disponível em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_
id=909346. Acesso em: 09 jun. 2019.
225 Uma das principais transformações na comercialização dessas apólices, após as
denúncias da Lava-Jato, foi a adoção de uma apólice com “riscos nomeados”, afastando-
se a apólice “all risks”: “Até então, o que prevalecia no mercado era uma apólice na
base ‘allrisks’. Isso significa que tudo aquilo que não está descrito explicitamente no
contrato como coberturas excluídas ou ações excluídas é passível de cobertura. Só que
com a explosão das denúncias da LavaJato e a recessão da economia, tudo começou
a ser questionado, e a Susep passou a apólice de ‘all risks’ para ‘riscos nomeados’,
determinando as coberturas.” BUENO, Denise. Lava-Jato provoca mudanças no D&O.
Jornal Valor Econômico, 21 mar. 2019. Disponível em: https://valor.globo.com/
financas/noticia/2017/03/21/lava-jato-provoca-mudancas-no-d-o.ghtml. Acesso em: 12
jun. 2020.
226 No dia 14 de outubro de 2016, a SUSEP publicou a primeira diretriz aplicável aos
seguros D&O, qual seja a Circular SUSEP n. 541. Não obstante, após diversas críticas
das seguradoras, a SUSEP publicou, no dia 23 de fevereiro de 2017, a Circular n. 546,
suspendendo por 90 (noventa) dias os efeitos da Circular n. 541. Desse modo, a Circular
SUSEP n. 541 sequer chegou a ter eficácia, pois as regras outrora estabelecidas somente
se aplicariam para a comercialização de apólices após o dia 01/06/2017 (art. 14).
232 Notadamente o custo de defesa é a cobertura mais importante nas apólices D&O.
Nesse sentido, destaca-se, por exemplo, a crítica de Ilan Goldberg relacionada à
redação dessa cobertura na Circular SUSEP n. 553: “Critica-se a posição adotada pela
mesma [SUSEP] quando afirma que ‘a garantia poderá abranger os custos de defesa’.
Ora, verificando-se que o custo de defesa é da essência do seguro D&O a norma deveria
ter imposto uma obrigação às seguradoras, jamais uma mera faculdade.” (GOLDBERG,
Ilan., Op. cit., p. 398).
233 A doutrina aponta que o seguro D&O possui 4 (quatro) tipos de exclusões.
Em relação às (i) exclusões subjetivas, as apólices D&O somente asseguram os
administradores e, eventualmente, as pessoas contratadas para a realização de atos de
gestão; (ii) em relação às exclusões temporais, verifica-se o seguro D&O é uma apólice
à base de reclamações, podendo estar sujeito, conforme a contratação, a cláusulas
de notificação, a prazos complementares e a prazos suplementares; (iii) já no que
tange às as exclusões causais, conforme disposto no texto, verifica-se que o seguro
D&O não assegura cobertura a atos de gestão praticados com dolo ou culpa grave na
235 Nesse sentido: “Em vez de antecipar os custos de defesa e determinar o direito à
repetição se, ao final, restar reconhecido o dolo do segurado, a cláusula determina a
sistemática inversa: demonstrada a condição — inexistência de dolo do administrador
por decisão final — a seguradora reembolsará os custos de defesa.” (GOLDBERG, Ilan.,
Op. cit., p. 507). Esse autor ainda traz um exemplo ilustrativo dessa cláusula em uma
apólice, na nota de rodapé 430. A legalidade dessa cláusula pode ser questionada à luz
da eficácia irradiante da presunção de inocência (art. 5º, inc. LVII, da Constituição
Federal).
236 Para ilustrar os modelos de cláusulas específicas de exclusão, destacam-se as
redações modelos da apólice padrão da ZURICH MINAS BRASIL SEGUROS S.A..
Disponível em: https://www.zurich.com.br/-/media/project/zwp/brazil/docs/do-cg/v-2.
pdf?la=ptr&hash=50CC11235914EAB29ABF7275A4617BEF. Acesso em 15 jun. 2020.
grave, nos quais não cabe celebração de Termos de Compromisso no BC).”. (ATHAYDE,
Amanda., Op. cit., p. 175)
240 Sobre a definição e importância do mutualismo no direito securitário, destaca-se:
“Ao efetuar o pagamento do prêmio relacionado a determinado contrato de seguro,
deve-se compreender que esta quantia será destinada a um fundo cuja administração
deverá ficar a cargo da seguradora. É justamente trabalhando com milhares de
pagamentos diferentes, classificados por ramos, grupos, entre outras diversas
variantes que as seguradoras terão condições de administrar as suas carteiras,
regulando e liquidando os sinistros cobertos. O mutualismo, assim, relaciona-se
diretamente com a chamada ‘Lei dos Grandes Números’, que remete ao cálculo
atuarial. A operação técnica do contrato de seguro é examinada a partir de grandes
grupos de segurados e de sinistros em série, o que permite ao subscritor do
risco analisar, com certa margem de previsibilidade, os acontecimentos futuros,
prevendo, portanto, as chamadas taxas de sinistralidade.” (GOLDBERG, Ilan.
Reflexões a Respeito do Contrato de Seguro. In: CARVALHOSA, Modesto. Contratos
Mercantis [livro eletrônico]. Coleção Tratado de Direito Empresarial, vol. IV. 1. ed.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, grifo nosso).
241 Art. 5º, da Circular SUSEP n. 553: “Art. 5º. [...] § 5º. A garantia poderá́ abranger
cobertura de multas e penalidades cíveis e administrativas impostas aos segurados
quando no exercício de suas funções, no tomador, e/ou em suas subsidiárias, e/ou em
suas coligadas.”. Do outro lado, deve-se destacar que a Circular SUSEP n. 553 restou
silente quanto à cobertura de multas criminais. Sobre a doutrina que busca suprimir
essa lacuna, sugere-se a seguinte obra: GOLDBERG, Ilan., Op. cit., p. 444-452.
242 Os Termos de Compromisso no Sistema Financeiro Nacional e no CADE não
exige a confissão quanto à matéria de fato, nem reconhecimento de ilicitude da
conduta analisada, conforme exegese do art. 11, §6º, da Lei n. 13.506/17 (BACEN); art.
11, §6º, da Lei n. 6.395/76 (CVM); e art. 183, do Regimento Interno do CADE. Nesse
sentido, em consideração sobre esse requisito na Leniência Antitruste, destaca-se:
“Primeiramente, cumpre ressaltar que a exigência contida no Regimento Interno
do Cade do reconhecimento de participação na conduta investigada — exigência
esta considerada legítima e confirmada pelos tribunais brasileiros — pode ser
interpretada como não representativa, necessariamente, de confissão formal nos
moldes criminais (prevista no artigo 64, III, ‘d’ do Código Penal e nos artigos 197 a
200 do Código de Processo Penal). Isso porque a confissão pressupõe o elemento
subjetivo do agente (culpa e/ou dolo), com o reconhecimento da imputação legal que
lhe é feita no crime, ao passo que o TCC exige simplesmente o reconhecimento de
participação nos fatos, sem esse elemento subjetivo. Trata-se, portanto, de forma
mais tênue de reconhecimento, que pode ser interpretada como resultante apenas
em efeitos administrativos, sem repercussões criminais imediatas. O reconhecimento
da participação na conduta investigada, em sede do TCC no processo administrativo,
portanto, não poderia ser processualmente utilizado como se confissão formal fosse
no processo criminal” (ATHAYDE, Amanda; DE GRANDIS, Rodrigo. Programa de
leniência antitruste e repercussões criminais: desafios e oportunidades recentes. In:
CARVALHO, Vinicius Marques de (Org.). A lei 12.529/2011 e a nova política de defesa
de concorrência. 1 ed. São Paulo: Singular, 2015. v.1. p. 287-304)
243 As condicionantes (iv) e (v) decorrem das exclusões do seguro D&O, conforme art.
6º, da Circular SUSEP n. 553: “Além de outras exclusões previstas em lei, o seguro de
RC D&O não cobre os riscos de responsabilização civil dos segurados em decorrência
de: I - danos causados a terceiros, pelos segurados, na qualidade de cidadãos, quando
não estiverem no exercício de seus cargos no tomador, e/ou em suas subsidiárias, e/
ou em suas coligadas, situação que se enquadra em outro ramo de seguro, o seguro
de responsabilidade civil geral (RC Geral); II - danos causados a terceiros quando no
exercício de profissões liberais, fora do exercício de seus cargos no tomador, e/ou em
suas subsidiárias, e/ou em suas coligadas, que são enquadrados em outro ramo de
seguro, o seguro de responsabilidade civil profissional (RC Profissional); III - danos
ambientais, que são enquadrados em outro ramo de seguro, denominado seguro de
responsabilidade civil de riscos ambientais (RC Riscos Ambientais).”.
§5º, inc. II, da Lei n. 6.385/76, e art. 82, inc. II, da Instrução CVM nº 607,
de 17 de junho de 2019). Dessa maneira, a partir das especificidades e
das condições da apólice, as “contribuições pecuniárias” — presentes
no TCCs junto ao CADE e no TCs junto ao BC — e as “indenizações” —
presentes apenas no TCs junto ao BC e à CVM — podem ser inseridas em
diferentes (sub)limites para fins de cobertura por parte da seguradora.
Imagem 1 – tipo de verba pecuniária contida nos termos de compromisso do
CADE, do BC e da CVM
244 Nesse sentido: “De fato, medidas ressarcitórias, ainda que dotadas de finalidades
intimidatórias, não podem, pura e simplesmente, ser tratadas como sanções
administrativas. Tal é o caso, por exemplo, de medidas fiscais gravosas e de tantas
outras que eventualmente ostentem apenas a aparência sancionatória, carecendo,
sempre, de algum de seus pressupostos, entre os quais assume vulto o elemento
finalístico ou teleológico. O que importa ressaltar, nesse contexto, é que as medidas
de cunho ressarcitório não se integram no conceito de sanção administrativa, pois
não assumem efeito aflitivo ou disciplinar, não ambicionam a repressão, mas sim
a reparação do dano, assumindo conteúdo restituitório, reparatório, submetendo-
se, nesse passo, a princípios próprios, específicos, mais próximos, naturalmente,
do Direito Civil.” (OSÓRIO, Fábio Medina. Direito administrativo sancionador [livro
eletrônico]. 2. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019, RB-2.1, grifo nosso)
245 Sobre a emergência de novos tipos de danos, na responsabilidade civil, dentre
os quais o dano social ou difuso, destaca-se: “[...] a nossa tese é bem clara: a
responsabilidade civil deve impor indenizações por danos individuais e por danos
sociais. Os danos individuais são os patrimoniais, avaliáveis em dinheiro — danos
emergentes e lucros cessantes —, e os morais — caracterizados por exclusão e arbitrados
como compensação para a dor, para lesões de direito de personalidade e para danos
patrimoniais de quantificação precisa impossível. Os danos sociais, por sua vez, são
lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de seu patrimônio
moral — principalmente a respeito da segurança — quanto por diminuição de sua
qualidade de vida. Os danos sociais são causa, pois, de indenização punitiva por dolo
ou culpa grave, especialmente, repetimos, se atos que reduzem as condições coletivas
de segurança, e de indenização dissuasória, se atos em geral de pessoa jurídica, que
trazem diminuição da qualidade de vida da população.” (JUNQUEIRA DE AZEVEDO,
Antonio. Por uma nova categoria de dano na responsabilidade civil: o dano social.
Revista Trimestral de Direito Civil, Rio de Janeiro, v. 5, n. 19, p. 216, grifo nosso). Nota-
se, portanto, que os danos sociais são difusos, nos quais as vítimas são indeterminadas
ou indetermináveis (vg., art. 6º, inc. VI, do Código de Defesa do Consumidor). Nesse
sentido: TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das obrigações e responsabilidade
civil. vol. 2, 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 504-515.
246 A título exemplificativo, destaca-se a decisão do colegiado da CVM, de
05.05.2020, na Apreciação de Proposta de Termo de Compromisso, no Processo SEI
i.
a apólice D&O destine cobertura para multas e penalidades
administrativas aplicadas às pessoas físicas (empregados ou
administradores segurados) e às pessoas jurídicas (sociedade
beneficiária).
Isto posto, didaticamente, a natureza jurídica das verbas
pecuniárias assumidas pelos compromissários nos TCs pode ser
exemplificada na tabela abaixo:
248 A CVM, conforme Parecer de Orientação n. 38, indica que entende que o Contrato
de Indenidade não é capaz de assegurar as indenização e despesas decorrentes de
atos dos administradores praticados: (i) fora do exercício das atribuições destes; (ii)
com má-fé, dolo, culpa grave ou mediante fraude; ou (iii) em interesse próprio ou
de terceiros, em detrimento do interesse social da companhia — incluindo neste
aspecto as indenizações decorrentes das ações sociais previstas no art. 159 da LSA
e ao ressarcimento do art. 11, § 5º, da Lei n. 6385/1976 (termo de compromisso com
a CVM). Disponível em: http://www.cvm.gov.br/legislacao/pareceres-orientacao/
pare038.html. Acesso em 15 jun. 2020.
and not the corporation’s interests. In this context, those Financial Director and
Vice President of the company A may exceptionally be liable for the unlawful acts of
other officers because they acted in connivance with them, as provided in Article 158
paragraph 1st of the Brazilian Corporation Law. […] This officer’s corporate liability
would be especially interesting if the Financial Director and the Vice President,
learning the antitrust violation, fail to consider the application of the company for the
Leniency or the Settlement Programs of the CADE. It is possible to understand that if
those corporate officers had taken action immediately upon notice of the wrongdoing,
company A could have reached CADE earlier and could have been granted full
immunity in the Leniency Program or at least a significant file reduction depending on
its arrival time to apply for a settlement.” (ATHAYDE, Amanda. Shareholders’ Damage
Claims Against Company Directors for Antitrust Violations? The Japanese Experience
and Possible Lessons to Brazil and Latin. In: DA SILVEIRA, Paulo Burnier (Coord.).
Competition Law and Policy in Latin America: Recent Developments. West Sussex:
Wolters Kluwer, 2017, p. 247, 248).
251 Em sentido semelhante, destaca-se o discurso do ex-procurador-geral adjunto
da Divisão Antitruste do Departamento de Justiça norte-americano (DOJ), Scott D.
Hammond, em palestra sobre Programas de Leniência realizada pelo International
Competition Network (ICN), no qual relata sobre os desafios na implementação de
efetividade a esses programas: “Creating a program on paper is the easy part. However,
implementing an effective leniency program — one that the business community
and the private bar have confidence in and will rush to take advantage of — is much
harder. Creating an effective leniency program is what I will talk about, and it is really,
in essence, the theme of this entire Workshop. How do you build a leniency program
that will cause a company to come forward and voluntarily report its participation
in a cartel that has gone previously undetected? What inducements and concessions
must a competition authority be willing to make to overcome the perceived risks and
costs to the company of reporting the violation? How do you create an enforcement
regime that causes management to conclude after it discovers a violation that it has
but one viable option — the company must self-report and cooperate or face certain
and severe penalties?” (HAMMOND, Scott D. Conerstones of an effective leniency
program. Justice News, Washington, D.C., nov. 22, 2004. Disponível em: https://www.
justice.gov/atr/speech/cornerstones-effective-leniency-program. Acesso em: 14 jun.
2020).
252 Segundo International Competition Network (ICN), haveria um consenso entre as
autoridades da concorrência de que há, ao menos, três requisitos para o sucesso/
efetividade de um Programa de Leniência: (i) alto risco de detecção dos ilícitos
pelas autoridades governamentais; (ii) o receio de punições severas e, por fim, (iii) a
transparência e previsibilidade em relação à negociação e ao acordo (ICN. Drafting and
Implementing an Effective Leniency Program. In: Anti-Cartel Enforcement Manual:
264 Arts. 762, 768 e 769 do Código Civil: “Art. 762. Nulo será o contrato para garantia
de risco proveniente de ato doloso do segurado, do beneficiário, ou de representante
de um ou de outro. Art. 768. O segurado perderá o direito à garantia se agravar
intencionalmente o risco objeto do contrato. Art. 769. O segurado é obrigado a
comunicar ao segurador, logo que saiba, todo incidente suscetível de agravar
consideravelmente o risco coberto, sob pena de perder o direito à garantia, se provar
que silenciou de má-fé.”.
265 Em relação às ferramentas regulatórias dispostas à seguradora na regulação
do risco, destaca-se a seguinte obra: BEN-SHAHAR, O.; LOGUE, K. D. Outsourcing
Regulation: How Insurance Reduces Moral Hazard. Law & Economics Working
Papers, paper 47, 2012. Disponível em: https://repository.law.umich.edu/cgi/
viewcontent.cgi?article=1157&context=law_econ_current>. Acesso em 10 nov. 2019.
Nesta os autores discorrem sobre algumas ferramentas regulatórias ex ante (i.
Underwriting Risk: Differentiated Premiums; ii. Deductibles and Copayments; iii. Refusal to
Insure; iv. Coaching Safer Conduct; v. Implementing Private Safety Codes; vi. Research and
Development of Safety Methods; vii. Motivating Government Regulation) e ex post regulation
(i. Claims Management; ii. Mitigation of Loss; iii. Exclusions; iv. Ex post Underwriting).
O objetivo dessa obra é estabelecer um diálogo entre duas concepções inerentes ao
seguro: por um lado, o conceito de moral hazard; por outro, a capacidade regulatória
das seguradoras. Em relação, especificamente, à ferramenta regulatória da refusal to
insure, os autores dispõem: “Some activities will not be undertaken without insurance,
either because people are highly risk averse or because insurance is mandated by law
or by contract. As a result, insurers have de facto control over access to some primary
activities, and can leverage this power to induce safer behavior. For example, insurers
often will not issue product liability coverage to a manufacturer who does not have a
system in place for maintaining quality control with respect to safety issues, or does
not have a program of safety testing its product. Likewise, liability insurers that cover
ski resorts require insureds to have their lifts periodically inspected by the insurer’s
safety experts as condition of obtaining a policy (which, it‐ self, is usually a condition
for getting a license to operate). A common type of refusal to insure is the cancellation
or rescission of, or the refusal to renew, an existing policy. For most property‐casualty
insurance policies, insurers under state law have 60 days to cancel a new policy for
any reason not explicitly prohibited by law, and the right to cancel or rescind the
policy anytime if the insured made a material misrepresentation on its application
on which the insurer relied. In addition, even if there is no misrepresentation in the
application process, insurers can cancel or decline to renew a policy if they determine
that an insured has engaged in some activity (or failed to take some safety measure)
that results in a material increase in the hazard insured. Finally, through the use
of exclusions, insurers refuse to insure particular risks—e.g., intentional ones—for
which coverage would destroy incentives for care.” (BEN-SHAHAR, O.; LOGUE, K. D..,
Op. cit., p. 110-112).
266 Sobre a análise da dissuasão do risco moral societário a partir das ferramentas
do seguro D&O: AGUIAR RODRIGUES, Matheus Vinícius. Seguro D&O e Contrato de
Indenidade: o controle do risco moral na responsabilidade societária. 2019. 170f.
Monografia (Graduação em Direito) – Universidade de Brasília, Brasília, p. 101-139.
267 Nesse sentido, sobre a necessidade de proteger o patrimônio do administrador
ao estimular uma cultura empresarial de inovação que admita o erro: “Há ainda um
último tempero nesse caldeirão de dificuldades que é administrar uma sociedade
anônima aberta: nas escolhas dos atos de gestão, o administrador deve ter uma boa
dose de aptidão ao risco. Empresa que não arrisca, não petisca. Diferenciar-se no
mercado e inovar no mundo dos negócios requer uma cultura empresarial que
admita o erro. Os administradores, na busca do que julgarem ser o melhor interesse
da sociedade, não podem ter medo de errar. Esse nível de aptidão de risco ao qual o
administrador escolherá se expor em uma decisão empresarial possui relação direta
com as garantias legais e facultativas que a sociedade e o ordenamento jurídico os
concedem na gestão societária.” (AGUIAR RODRIGUES, Matheus Vinícius., Op. cit.,
p. 59)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Amanda Athayde
Marcelo Guimarães
INTRODUÇÃO
Niva. Algorithmic Consumers. Harvard Journal of Law and Technology, Vol. 30, Number
2, Spring 2017. pp. 310.
277 Nos algoritmos tradicionais, desenvolvia-se um algoritmo com uma entrada e uma
saída, de modo que os dados ingressavam no computador e o algoritmo fazia o que era
preciso com eles, de modo que um resultado fosse produzido (DOMINGOS, op. cit., pp.
13, 29).
278 Nos algoritmos aprendizes, os dados e o resultado desejado ingressam no
computador, sendo criado o algoritmo que transforma um no outro (DOMINGOS, op.
cit., pp. 13, 29).
279 DOMINGOS, op. cit., pp. 13, 29.
280 OHLHAUSEN, Maureen K. Should We Fear The Things That Go Beep In the Night? Some
Initial Thoughts on the Intersection of Antitrust Law and Algorithmic Pricing. Remarks
da Acting Chairman da Federal Trade Commission na Antitrust in the Financial Sector
Conference. New York, 23 mai. 2017. Disponível em: <https://www.ftc.gov/system/
files/documents/public_statements/1220893/ohlhausen_-_concurrences_5-23-17.
pdf>. Acesso em: 20 jun. 2018.
281 VESTAGER, Margrethe. Algorithms and competition. Discurso proferido no
Bundeskartellamt 18th Conference on Competition, em Berlin, 16 mar. 2017.
Disponível em: <https://ec.europa.eu/commission/commissioners/2014-2019/
vestager/announcements/bundeskartellamt-18th-conference-competition-berlin-6-
march-2017_en>. Acesso em 12 mai. 2018.
289 EZRACHI, Ariel; STUCKE, Maurice E. Artificial Intelligence & Collusion: When
Computers Inhibit Competition. Oxford Legal Studies Research Paper No. 18/2015;
University of Tennessee Legal Studies Research Paper No. 267, posteriormente publicado
como EZRACHI, Ariel; STUCKE, Maurice E. Artificial Intelligence & Collusion: When
Computers Inhibit Competition. University of Illinois Law Review, Vol. 2017, No. 5,
2017. pp. 1775-1810. Este artigo também serviu de base para a seção respective do
livro EZRACHI, Ariel; STUCKE, Maurice E. Virtual Competition: The Promise and Perils
of the Algorithm-Driven Economy. Cambridge, Massachusetts: Harvard University
Press, 2016.
290 Nas palavras de Ezrachi e Stucke, a colusão passa de “smoke-filled hotel rooms” para
“vapor-filled data centers” (EZRACHI, op. cit., 2016, p. 29)
291 Para interessante estudo acerca da aplicação desses quatro cenários no Brasil,
veja COELHO, Maria Camilla Arnez Ribeiro. Algoritmos, colusão e “novos agentes”: os
quatro cenários de Stucke e Ezrachi sob a ótica da legislação antitruste brasileira. In
MACEDO, Agnes et al. (org.) Mulheres no Antitruste – Vol. I. São Paulo: Singular, 2018.
pp. 117-131.
292 Vejam-se algumas reflexões iniciais sobre a questão, com foco no direito brasileiro,
em: FRAZÃO, Ana. Algoritmos e Inteligência Artificial: Repercussões da sua utilização
sobre a responsabilidade civil e punitiva das empresas. Disponível em: <https://www.
jota.info/opiniao-e-analise/colunas/constituicao-empresa-e-mercado/algoritmos-e-
inteligencia-artificial-16052018>. Acesso em: 17 mai. 2018.
293 EZRACHI, Ariel; STUCKE, Maurice E. Virtual Competition: The Promise and Perils
of the Algorithm-Driven Economy. Cambridge, Massachusetts: Harvard University
Press, 2016.
294 BALLARD, Dylan I.; NAIK, Amar S. Algorithms, Artificial Intelligence, and Joint
Conduct. Competition Policy International, Antitrust Chronicle, Volume 2, Spring 2017.
pp. 29-35.
297 SCHWALBE, Ulrich. Algorithms, Machine Learning, and Collusion. Junho de 2018.
Disponível em: <https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=3232631>.
Acesso em: 07 fev. 2019.
the International and European Law, Economics and Market Integrations, Vol. IV, Issue
2, Dec. 2017. p. 6.
300 MEHRA, op. cit, 2016, pp. 1334-1337; OECD, op. cit. p. 14.
301 EZRACHI, op. cit., 2016, p. 23.
302 Idem. pp. 83-143.
303 OECD, op. cit., pp. 18-22; ŠMEJKAL, op. cit., pp. 3-4. Vale ressaltar, contudo,
que o impacto dos algoritmos sobre outros elementos facilitadores de cartéis,
como o número de agentes no mercado e as barreiras à entrada, ainda é ambíguo
(CAPOBIANCO, op. cit.).
304 SALCEDO, Bruno. Pricing Algorithms and Tacit Collusion. Pennsylvania State
University Working Paper, 2015. Disponível em: <http://brunosalcedo.com/docs/
collusion.pdf>. Acesso em: 15 mai. 2018; MEHRA, op. cit., 2016, pp. 1339-1351; OECD,
op. cit. pp. 33-35; ŠMEJKAL, Václav. op. cit. pp. 4-5.
305 EZRACHI, op. cit., 2016, pp. 29-30.
322 Ressalte-se que a obtenção dos dados dos consumidores ocorre por variadas formas
(como por meio de cartões de fidelidade, registros de compra, wi-fi, recognição facial,
sinais emitidos por smartphones), frequentemente sem o conhecimento das pessoas
(EZRACHI, op. cit., 2016, pp. 94-96).
323 Relembre-se que “preço de reserva” refere-se ao quantum que cada um dos
consumidores está disposto a pagar por cada produto ou serviço.
324 Invoca-se, nesse sentido, o surpreendente caso da Target, que rastreia os
consumidores por meio de programas de fidelidade, tendo descoberto em 2012 que
uma adolescente estava grávida antes de seu pai, com base em uma fórmula que levava
em consideração cerca de 25 produtos adquiridos (EZRACHI, op. cit., 2016, pp. 92-93).
325 EZRACHI, op. cit., 2016, pp. 90-96. Os autores ressaltam, porém, que a
discriminação perfeita não parece provável de ser implementada mesmo num futuro
próximo. Ora, para a determinação do preço de reserva seria necessário não apenas
o aceso a uma infinidade de dados das pessoas, mas também a previsão das decisões
das pessoas, que muitas vezes são variáveis e imprevisíveis. Assim, questiona-se se um
computador, por mais sofisticado que seja, será de fato capaz de determinar o preço
de reserva das pessoas.
326 KAHNEMAN, Daniel. Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2012. pp. 513-515; THALER, Richard H. Misbehaving: The Making of
Behavioural Economics. London: Penguin Books, 2016. pp. 257-260.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Amanda Athayde
Call of Duty: MW
Grand Theft Auto
The Sims 4 (EA) / Warzone (Acti-
V (Take Two)
vision Blizzard)
Counter-Strike: Glo-
FIFA 22 (EA) Fall Guys (Epic)
bal Offensive (Valve)
Forza Horizon
Fall Guys (Epic) Minecraft (Microsoft)
5 (Microsoft)
Tom Clancy’s
Call of Duty: MW / War- Tony Hawk’s Pro Skater
Rainbow Six: Sie-
zone (Activision Blizzard) 1+2 (Activision Blizzard)
ge (Ubisoft)
publicação de jogos para (i) PCs, (ii) consoles e (iii) dispositivos móveis. Além disso,
como se verá adiante, as conclusões da análise concorrencial seriam as mesmas
independentemente do cenário adotado.” Ato de Concentração nº 08700.003361/2022-
46 (Requerentes: Microsoft Corporation e Activision Blizzard, Inc.).
343 NEWMAN, John M. Antitrust in Attention Markets: Definition, Power,
Harm. University of Miami Legal Studies Research Paper No. 3745839. Disponível
em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=3745839
347 “We further find that publishers fail to leverage developers’ capabilities for
ongoing innovation as product innovativeness decreased post-acquisition. Lastly,
acquisitions create value through enhanced inter-firm coordination resulting in
higher quality products and increased sales performance.” Ishihara, Masakazu and
Rietveld, Joost, The Effect of Acquisitions on Product Innovativeness, Quality, and
Sales Performance: Evidence from the Console Video Game Industry (2002-2010)
(January 10, 2017). Disponível em: https://ssrn.com/abstract=2897264 ou http://dx.doi.
org/10.2139/ssrn.2897264
Amanda Athayde
354 A cláusula de non solicitation, assim como a de non compete, possui dois escopos:
(i) contratos empresariais: meio de garantir que o alienante de determinada empresa
ou ativo operacional não irá recrutar os empregados da empresa alienada, ou aliciar
os clientes dela; e (ii) contratos de trabalho: meio de garantir que um ex-funcionário
não irá contratar empregados ou clientes ao sair da empresa.
358 U.S. DEPARTMENT OF JUSTICE AND THE FEDERAL TRADE COMMISSION. Merger
Guidelines. Disponível em: https://www.justice.gov/d9/2023-12/2023%20Merger%20
Guidelines.pdf
Concentrações Econômicas
(Atos de Concentração)
Amanda Athayde
the future, it is imperative to delve into the past. This article seeks to provide
a framework of the predominant theories of harm surrounding the vertical
and conglomerate mergers, as outlined in the preliminary version of Cade’s
“V+ Guidelines” These theories encompass a range of aspects, including the
impact on input suppliers and customers, the potential to raise rivals’ costs,
and the implications for access to competitive information, along with the
examination of coordinated effects. This theoretical framework is further
bolstered by concrete examples illustrating how such concerns have been
assessed in the context of Brazil. Moreover, this article delves into the specific
challenges and considerations that conglomerate mergers pose, shedding
light on their distinctive characteristics and implications for competition.
In conclusion, this comprehensive analysis not only presents the historical
evolution of antitrust scrutiny in Brazil but also offers valuable insights into
the prospective outlook for addressing vertical and conglomerate mergers in
the country’s evolving regulatory landscape.
PALAVRAS-CHAVE: fusão vertical – fusão conglomeral – teoria
do dano – jurisprudência – Cade – Brasil.
KEY-WORDS: vertical merger – conglomerate merger – theory
of harm – case law – Brazilian Antitrust Authority – Cade.
INTRODUÇÃO
359 As concentrações horizontais já são objeto de Guia específico do Cade. Cade. Guia
de Análise de Atos de Concentração Horizontal. 2016. Disponível em: https://cdn.cade.
gov.br/Portal/centrais-de-conteudo/publicacoes/guias-do-cade/guia-para-analise-de-
atos-de-concentracao-horizontal.pdf.
360 Manual Interno da Superintendência-Geral para atos de concentração apresentados
sob o rito ordinário. 2017. Disponível em: https://cdn.cade.gov.br/Portal/centrais-de-
conteudo/publicacoes/guias-e-manuais-administrativos-e-procedimentais/manual-
interno-da-sg-para-casos-ordinarios.pdf.
361 CADE. Documento de Trabalho n. 006/2023. Fusões conglomerais: teorias do
dano e jurisprudência do Cade entre 2012 e 2022. Disponível em: https://cdn.cade.gov.
br/Portal/centrais-de-conteudo/publicacoes/estudos-economicos/documentos-de-
trabalho/2023/Documento-de-Trabalho-Fusoes-Conglomerais.pdf
362 DOJ e FTC. Merger Guidelines. 19.7.2023. Disponível em: https://www.justice.gov/
opa/pr/justice-department-and-ftc-seek-comment-draft-merger-guidelines
364 HOVENKAMP, Herbert. Federal Antitrust Policy: The Law Of Competition And Its
Practice. 3. ed. West Group, 2005, p. 551.
365 “Conglomerate mergers involve firms that are not product market competitors,
and which are not in a supply
relationship” (OECD. Roundtable on Conglomerate Effects of Mergers – Background
Note. 2020, p. 6).
366 “3. Two broad types of non-horizontal mergers can be distinguished: vertical
mergers and conglomerate mergers. [...] 5. Conglomerate mergers are mergers
between firms that are in a relationship in which is neither horizontal (as competitors
in the same relevant market) nor vertical (as suppliers or customers)”. (EUROPEAN
COMMISSION. Guidelines on the assessment of non-horizontal mergers under the
Council Regulation on the control of concentration between undertakings. Official
Journal of the European Union, 18 out. 2008.).
367 CHURCH, Jeffrey. Conglomerate Mergers. Issues In Competition Law and Policy.
ABA Section of Antitrust
Law, v. 2, 2008, p. 1503.
373 IANELLI, Vívian Salomão. Análise empírica dos atos de concentrações verticais:
como o Cade tem endereçado os efeitos unilaterais e coordenados em seus julgados?.
2019. 74 f., il. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Direito). Universidade
de Brasília, Brasília, 2019. p. 41.
374 BINOTTO, Anna. Efeitos conglomerados em concentrações econômicas:
caracterização e desdobramento. In: JESUS, Agnes M. et al. (Org.). Mulheres no
antitruste. São Paulo: Editora Singular, 2018. pp. 48 a 65.
375 CADE. Documento de Trabalho n. 006/2023. Fusões conglomerais: teorias do
dano e jurisprudência do Cade entre 2012 e 2022. Disponível em: https://cdn.cade.gov.
br/Portal/centrais-de-conteudo/publicacoes/estudos-economicos/documentos-de-
trabalho/2023/Documento-de-Trabalho-Fusoes-Conglomerais.pdf
Possibilidade de monitoramen-
to/verificação de desvios
379 Dentre os 242 processos consolidados, todos foram analisados pelo rito ordinário,
sendo que apenas 13 foram declarados complexos.
396 “De todo modo, apesar da relevância da Cryptera, a operação não é capaz de gerar
fechamento de mercado upstream ou downstream.”. 08700.003045/2016-26
397 “ I – possibilidade de fechamento do mercado de exames de medicina laboratorial
(downstream) para os demais prestadores de serviços de apoio a outros laboratórios,
impedindo ou dificultando a concorrentes não verticalizados o acesso a clientes; II –
possibilidade de fechamento do mercado de serviços de apoio a outros laboratórios
(upstream) para estabelecimentos de medicina diagnóstica concorrentes da empresa
verticalizada (ofertantes de exames de medicina laboratorial que não tenham
capacidade de processamento desses exames), impedindo ou dificultando o acesso
dos estabelecimentos independentes aos laboratórios de grande porte que oferecem
o serviço de processamento de exames.”. 08700.005609/2019-16
398 “se a Odontoprev, operadora de plano odontológico e detentora de empresas
de radiologia, fosse capaz, após a operação, de direcionar seus beneficiários para
prestadores próprios (a Clidec e a Papaiz), fechando o seu plano odontológico (e seus
respectivos beneficiários) para prestadores de serviços de radiologia concorrentes da
Clidec e da Papaiz”. 08700.010125/2012-12
399 “De toda forma, as Requerentes destacaram que não há previsão de exclusividade
no fornecimento de aço pela CSN à Armco, não havendo impedimentos para que a
Armco adquira o aço de outros fornecedores.” 08700.006539/2015-81
400 “fechamento do mercado downstream para concorrentes da Mexichem”.
08700.000756/2016-49
401 “Com base no exposto nessa seção, considerando a instrução realizada junto a
clientes e concorrentes, bem como a análise das informações disponíveis sobre o
mercado, é pouco provável que a entidade resultante da presente operação tenha
o incentivo de adotar uma estratégia de fechamento de mercado ou mesmo de
discriminação de concorrentes da Dell no mercado de servidores.”. 08700.003054/2016-
17
402 “Ao longo da instrução, alguns concorrentes oficiados levantaram preocupações
relacionadas ao reforço de poder de portfólio, que poderia, segundo arguido, levar a
um fechamento de canais de distribuição para outros concorrentes das Requerentes.”.
08700.006269/2016-90
409 Entre os (1) efeitos não coordenados/unilaterais estão aqueles que podem ser
decorrentes da atuação de uma única empresa, individual e unilateralmente. Seria
o caso de analisar se a empresa resultante da operação, com posição dominante,
poderia implementar determinadas práticas comerciais que teriam o efeito de
prejudicar o mercado. Recorda-se, como exemplo de práticas unilaterais, a exigência
414 Dentre os 242 processos consolidados, todos foram analisados pelo rito ordinário,
sendo que apenas 13 foram declarados complexos.
415 “ainda que a DCC passe a comprar apenas da Dow, a demanda direcionada para esta
seria irrelevante em termos de efeito ao mercado upstream e sem qualquer incentivo
para a Dow no sentido de elevar custos dos rivais da DCC no mercado downstream.”.
08700.000958/2016-91
416 Ato de Concentração MWM e Tupy. 08700.005611/2022-82.
419 Dentre os (1) efeitos não coordenados/unilaterais estão aqueles que podem ser
decorrentes da atuação de uma única empresa, individual e unilateralmente. Seria
420 De acordo com o Guia para Análise da Consumação Prévia de Atos de Concentração
Econômica do Cade as informações concorrencialmente sensíveis são informações
específicas (por exemplo, não agregadas) e que versam diretamente sobre o
desempenho das atividades-fim dos agentes econômicos. Conforme o referido Guia,
essas informações englobam dados específicos sobre: custos das empresas envolvidas;
nível de capacidade e planos de expansão; estratégias de marketing; precificação de
produtos (preços e descontos); principais clientes e descontos assegurados; salários
de funcionários; principais fornecedores e termos de contratos com eles celebrados;
informações não públicas sobre marcas e patentes e Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D); planos de aquisições futuras; estratégias concorrenciais, etc. CADE. Guia para
Análise da Consumação Prévia de Atos de Concentração Econômica do Cade. 2015.
Disponível em: https://cdn.cade.gov.br/Portal/centrais-de-conteudo/publicacoes/
guias-do-cade/gun-jumping-versao-final.pdf
421 Dentre os 242 processos consolidados, todos foram analisados pelo rito ordinário,
sendo que apenas 13 foram declarados complexos.
422 “A esse respeito, a conclusão a que se chegou foi de que esse aspecto parece já
ser objeto de tratamento adequado pelo das políticas comerciais e contratuais das
Requerentes.” 08700.005611/2022-82
423 Existência de salvaguardas contra a troca de informações concorrencialmente
sensíveis. 08700.001462/2022-82
424 Ato de Concentração Juntos Somos Mais – Tigre, Gerdau e Votorantim.
08700.002327/2018-78.
430 Dentre os (1) efeitos não coordenados/unilaterais estão aqueles que podem ser
decorrentes da atuação de uma única empresa, individual e unilateralmente. Seria
o caso de analisar se a empresa resultante da operação, com posição dominante,
poderia implementar determinadas práticas comerciais que teriam o efeito de
prejudicar o mercado. Recorda-se, como exemplo de práticas unilaterais, a exigência
de exclusividade, a recusa de contratar, a discriminação, a criação de dificuldades à
atividade de concorrentes, dentre outros.
431 Guia da Comissão Europeia para Concentrações Não Horizontais. Disponível em:
https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:52008XC1018(03)
432 IANELLI, Vivian Salomão. Análise empírica dos atos de concentrações verticais:
como o CADE tem endereçado os efeitos unilaterais e coordenados em seus julgados?.
2019. 74 f., il. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Direito). Universidade
de Brasília, Brasília, 2019. p. 48.
433 Ato de Concentração JBJ/Mataboi. 08700.007553/2016-83.
434 Ato de Concentração Editora Objetiva Ltda. (“Objetiva”); Editora Arqueiro Ltda.
(“Arqueiro”); Distribuidora Record de Serviços de Imprensa S.A. (“Record”); Editora
Planeta do Brasil Ltda. (“Planeta”); Editora Rocco Ltda. (“Rocco”) e ublibook Livros
e Papéis S.A. (“LP&M”) – e a DLD Distribuidora de Livros Digitais S.A. (“DLD”).
08700.004872/2013-94.
Possibilidade de monitoramen-
to/verificação de desvios
4. CONCLUSÕES
436 Dentre os 242 processos consolidados, todos foram analisados pelo rito ordinário,
sendo que apenas 13 foram declarados complexos.
Amanda Athayde
Julia Braga
438 (1) ATHAYDE, Amanda. Fusões verticais e conglomerais: O que são e como
isso pode impactar a atuação das empresas no Brasil? Portal Migalhas, 22.8.2023.
Disponível em: <https://www.migalhas.com.br/depeso/392130/fusoes-verticais-e-
conglomerais-o-que-sao-e-como-impacta-as-empresas>. (2) ATHAYDE, Amanda.
Fluxo de análise concorrencial de fusões verticais e conglomerais: o que muda? Portal
Migalhas, 28.8.2023. Disponível em: <https://www.migalhas.com.br/depeso/392490/
fluxo-de-analise-concorrencial-de-fusoes-verticais-e-conglomerais>. (3) ATHAYDE,
Amanda. Teorias do dano concorrencial em integrações verticais e conglomerais:
quais os riscos? Portal Migalhas, 4.9.2023. Disponível em: https://www.migalhas.
com.br/depeso/392957/teorias-do-dano-concorrencial-em-integracoes-verticais-
e-conglomerais. (4) Fechamento de mercado de insumos como teoria do dano
concorrencial em integrações verticais e conglomerais: o que analisar? Portal
Migalhas, 11.9.2023. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/393212/
fechamento-de-mercado-de-insumos-teorias. ATHAYDE, Amanda. (5) Fechamento
de mercado de clientes como teoria do dano concorrencial em integrações verticais
e conglomerais: o que analisar? Portal Migalhas, 18.9.2023. Disponível em: https://
www.migalhas.com.br/depeso/393687/teoria-do-dano-concorrencial-em-integracoes-
verticais-e-conglomerais (6) Elevação de custo de rivais como teoria do dano
concorrencial em integrações verticais e conglomerais: o que analisar? Portal
Migalhas, 25.9.2023. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/394061/
elevacao-de-custo-de-rivais-como-teoria-do-dano-concorrencial (7) Acesso e uso de
informações concorrencialmente sensíveis como teoria do dano concorrencial em
integrações verticais e conglomerais: o que analisar? Portal Migalhas, 2.10.2023.
Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/394483/acesso-e-uso-de-
informacoes-concorrencialmente-sensiveis (8) Colusão futura como teoria do dano
concorrencial em integrações verticais e conglomerais: o que analisar? Portal
Migalhas, 9.10.2023. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/394942/
colusao-futura-como-teoria-do-dano-concorrencial.
por exemplo, que a forte atuação do DOJ tende a gerar aumento nos
níveis de emprego e na folha de pagamento de funcionários441.
Nos termos da nova proposta de guia estadunidense, mercados
de trabalho são importantes mercados de compra (“important buyer
markets”), tendo um ato de concentração o potencial de, entre
outros, (i) eliminar a concorrência entre os players na contratação
de determinada categoria de trabalhadores; (ii) elevar os riscos de
coordenação entre os players do mercado de trabalho e (iii) incrementar
a posição dominante de um agente econômico.
Mais detalhadamente, o guia aponta que mercados de trabalho
frequentemente apresentam elevados custos de troca e atritos de
busca (search frictions), especialmente em razão do esforço que um
trabalhador deve fazer para encontrar, candidatar-se e adaptar-se a
um novo emprego. Além disso, há necessidades pessoais que podem
limitar ainda mais a mobilidade dos trabalhadores, tanto com relação à
ocupação desempenhada quanto à localização geográfica do trabalho.
É nessa linha que o guia aponta que mercados de trabalho tendem
a ser estreitos e, como resultado da limitada concorrência, diversos
danos ao trabalhador podem ser verificados – como, remunerações
mais baixas, progressão salarial mais lenta ao longo dos anos e piora
nos benefícios ou na qualidade do local de trabalho442.
Além disso, a proposta de atualização do guia vem depois
de a Corte do Distrito de Columbia, nos Estados Unidos, bloquear
443 A ação apresentada pelo DOJ centra-se nas alegações de poder de monopsônio, isto
é, no poder de compra da entidade combinada em relação aos direitos de publicação
de best sellers – e não em eventual poder de mercado relacionado à venda de livros
ao público. A ação visa a proteger principalmente os autores de livros best sellers,
embora também aponte para o fato de que a operação, em última instância, também
prejudica os leitores (i.e., consumidores) ao reduzir a “quantidade e variedade de
livros publicados”.
444 Vide Memorandum Opinion do United States v. United States v. Bertelsmann Se &
Co. KgaA et al.
Amanda Athayde
By the end of 2022, much was said about the proactive approach of
the United States Department of Justice (DoJ)450 involving interlocking
directorates.451 That resulted in the unprecedented resignation of
seven directors of five US companies from different sectors.452
This DoJ action was grounded on Section 8 of the Clayton Act.
According to its terms, interlocking directorates constitutes a per se
violation in the United States, except for three situations deemed to
be less risky, i.e., de minimis.453 After many years without intervention
450 See the United States Department of Justice (DoJ) official statement of October
19, 2022, available at: https://www.justice.gov/opa/pr/directors-resign-boards-five-
companies-response-justice-department-concerns-about-potentially. Accessed on
February 12, 2023.
451 Also known in Portuguese as “conselhos entrelaçados” (intertwined boards),
according to the definition adopted by Sérgio G. Lazzarini in LAZZARINI, Sérgio G.
Capitalismo de laços: os donos do Brasil e suas conexões. Rio de Janeiro: Elsevier,
2011.
452 About discussions on interlocking directorates in Europe, see: THÉPOT, Florence.
Interlocking Directorates in Europe – An Enforcement Gap? In: CORRADI, Marco;
NOWAG, Julian (org.), The Intersections between Competition Law and Corporate Law
and Finance. Cambridge: Cambridge University Press, 2021.
453 “(1) No person shall, at the same time, serve as a director or officer in any two
corporations (other than banks, banking associations, and trust companies) that
are (a) engaged in whole or in part in commerce; and (b) by virtue of their business
and location of operation, competitors, so that the elimination of competition by
agreement between them would constitute a violation of any of the antitrust laws (…)
in this area, the issue has caught the antitrust world’s eye again as
interlocking directorates was included as one of the eight priority
antitrust enforcement areas by the Federal Trade Commission (FTC)
in 2021,454 within a wider sphere of action attributed to the Neo-
Brandeisians, attributed to FTC chair, Lina Khan.
According to the Organization for Economic Co-operation and
Development (OECD), interlocking directorates can be harmful to
competition by facilitating the exchange of sensitive information and
the collusion/coordination between competitors explicitly or implicitly
(in case of horizontal interlocking), and causing market foreclosure
(in case of vertical interlocking).455
In order to shed light on the matter, we must first understand the
concept of interlocking directorates in the antitrust context (I). It will
be then possible to analyze the Brazilian context on this matter (II).
Conceptually speaking (I), under competition law, interlocking
directorate occurs when a person - or persons with direct kinship
456 For Ana Paula Martinez and Mariana Tavares: “historically, the competition
authorities’ concern has focused on the occurrence of the phenomenon within the
Board of Directors, but it can also involve members of the Fiscal Board (Conselho
Fiscal) and Executive Office (Diretoria).” MARTINEZ, Ana Paula; ARAUJO, Mariana
Tavares de. Aquisição de participações minoritárias em concorrentes e interlocking
directorates: aspectos concorrenciais. In MARTINEZ, Ana Paula (org.). Temas atuais
de direito da concorrência. São Paulo: Editora Singular, 2012, p. 18.
457 Thiago Reis further defines: “It is argued, for competition purposes, that
interlocking directorates refers to situations in which competitively related market
players have their management or supervisory bodies linked because of the
accumulation of positions, whether coincident or not, by the same person - or related
persons - or due to the unilateral or reciprocal representation in these bodies.” REIS,
Thiago Nascimento dos. Interligação decisória e o controle das estruturas no Direito
Brasileiro. Revista do Instituto Brasileiro de Estudos de Concorrência, Consumo e
Comércio Internacional - IBRAC, v. 26, pp. 53 - 71, 2014, p. 2.
458 RODRIGUES, Fernanda Sá. Análise dos Interlocking Directorates segundo a
legislação concorrencial brasileira. Faculdade de Direito, Universidade de Brasília
(UnB), Brasília, 2015, p. 20.
459 In general, the per se rule of Section 8 of the Clayton Act is only applicable to
horizontal interlocking.
460 About indirect interlocking, see MENDONÇA, Elvino de Carvalho et al. Interlocking
directorates e o Direito da Concorrência no Brasil: a prática entre rivais e seus aspectos
club or legal entity, except the one that originated or set up the SAF
(article 5, paragraph I of Law 14,193/2021).
Once the concept is understood, we move on to analyze the
Brazilian context on this matter (II).
Although interlocking directorates are quite common in Brazil,464
CADE has few decisions on this matter. Moreover, interlocking
directorates are more often investigated in the structural control - a
trend also found in other jurisdictions. 465
In general, in the structural control, the existence of interlocking
directorates is seen as a feature that facilitates the exchange of sensitive
information between companies and is subject to specific competition
remedies.
The negotiation of remedies to mitigate competition concerns
involving interlocking directorates occurred in the following
concentration acts (merger deals): Case No. 08012.002335/00-43 (TAM /
464 Rafael Liza Santos and Alexandre Di Miceli da Silveira analyzed 320 companies
listed on Bovespa between 2003 and 2005 and concluded that 40% of the cases analyzed
involved some kind of interlocking (see SANTOS, Rafael Liza; SILVEIRA, Alexandre Di
Miceli da. Board Interlocking no Brasil: A participação de conselheiros em múltiplas
companhias e seu efeito sobre o valor das empresas. Revista Brasileira de Finanças, v.
5, n. 2, pp. 125–163, 2007, p. 17). Sérgio G. Lazzarini demonstrated, in its research, that
69% of Brazilian companies have one or more directors who also hold management
positions in other companies (see LAZZARINI, Sérgio G. Capitalismo de laços: os
donos do Brasil e suas conexões. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011, p. 104).
465 OECD. Antitrust issues involving minority shareholdings and interlocking
directorates. Competition Committee Policy Roundtables, 2008, p. 12.
466 Applicants: Varig S/A – Viação Aérea Rio Grandense and TAM – Transportes Aéreos
Meridionais S/A. Reporting Commissioner Celso Fernandes Campilongo. Clearance
with conditions on May 2, 2001. CADE approved the transaction on the condition of
execution of a behavioral remedy so as to include in the bylaws of the joint venture to
be formed a prohibition on the accumulation of management or supervisory positions
by persons common to the applicants and the joint venture.
467 Applicants: Mediobanca – Banca di Credito Finanziario S.p.A Intensa Sanpaolo
S.p.A, Sintonia S/A, Assicurazioni Generali S.p.A, and Telefónica S.A. Reporting
Commissioner Carlos Ragazzo. Clearance with conditions on April 28, 2010. CADE
established as one of the conditions of the Performance Commitment Agreement
(TCD) the prohibition on interlocking directorates between the companies. The
TCD also provided for quarantine periods that established that directors and board
members could not work in the other company during a certain period, even after
they leave the original company.
468 Applicants: Rumo Logística Operadora Multimodal S/A and ALL – América Latina
Logística S.A. Reporting Commissioner Gilvandro Vasconcelos Coelho de Araujo.
Clearance with conditions on February 19, 2015. The prohibition on interlocking
directorates was included in the Merger Control Settlement (ACC) negotiated as a
mechanism to prevent the exchange of sensitive information between the parties.
469 Applicants: VLI S.A and Fundo de Investimento do Fundo de Garantia por Tempo
de Serviço. Clearance without conditions on March 20, 2014.
470 Applicants: BRFS.A. and Minerva S.A. Reporting Commissioner Gilvandro
Vasconcelos Coelho de Araujo. Clearance with conditions on August 26, 2014. The case
was approved upon execution of an ACC, but it is not possible to conclude whether the
problems of interlocking directorates have been addressed.
471 Applicants: Compass Gás e Energia S.A. and Petróleo Brasileiro S.A. Reporting
Commissioner Luiz Augusto Azevedo de Almeida Hoffmann. Clearance without
conditions on June 29, 2022.
472 CADE has incidentally dealt with interlocking directorates in other merger deals,
such as in Case No. 08012.003886/2011-87 (Applicants: Novatec – Serviços Educacionais
Ltda., Instituto Grande ABC de Educação e Ensino S/C Ltda., and Anhanguera
Educacional Ltda.) and Case No. 08700.003553/2020-9 (Applicants: Hypera S.A and
Takeda Pharmaceuticals International AG).
473 Inquirer: Abílio dos Santos Diniz. Reporting Commissioner Ana de Oliveira
Frazão. Consultation judged on April 11, 2013.
474 As regards discussions involving the role of independent directors in the
enforcement of fight against cartels, see: CAMPELLO, Murillo; FERRÉS, Daniel;
ORMAZABAL, Gaizka. Whistleblowers on the board? The role of independent directors
in cartel prosecutions, 2015.
475 Complainant: City Council of Jahu/São Paulo. Respondents: Consladel Construtora
e Laços Detetores e Eletrônica Ltda., Ensin Empresa Nacional de Sinalização
e Eletrificação Ltda., Arco-Íris Sinalização Viária Ltda., Faconstru Construção,
Amanda Athayde
RESUMO
O artigo apresenta debate teórico internacional sobre riscos
concorrenciais das participações minoritárias indiretas de investidores
institucionais em concorrentes (common ownership). Investidores
institucionais têm incentivos para arrefecer a concorrência? Possuem
capacidade de ativamente influenciar as decisões, por meio de
instrumentos diretos (voto e voz), ou passivamente (ausência de ação)?
Há tais preocupações no Brasil? As autoras realizam breve pesquisa
empírica da experiência recente do Cade, e concluem que os critérios
de notificação e análise dos atos de concentração da Lei nº. 12.529/2011
não são suficientes (são ventríloquos). Ao final, sinalizam alternativas
para trazer luz ao tema no debate antitruste nacional.
PALAVRAS-CHAVE
Participações minoritárias indiretas; investidores institucionais;
fundos de investimento; Atos de Concentração; Cade.
KEY WORDS
Common ownership; institutional investors; investment funds;
merger control; Brazilian Competition Authority.
1. INTRODUÇÃO
478 Para fins do presente artigo, “investidores institucionais” são as pessoas jurídicas
com alto poder de investimento, quais sejam: fundos de investimento, fundos de
pensão e seguradoras. Contribuição do Brasil para a OCDE, “The Role of Institutional
Investors in Promoting Good Corporate Governance Practices in Latin America: The
Case of Brasil”, 2008.
479 De acordo com COMPARATO e SALOMÃO FILHO (2005), até a Lei nº. 6.404/1976,
faltava na legislação brasileira uma definição de poder de controle. O conceito previsto
pela lei possui inspiração na definição dada ao poder de controle pela legislação alemã,
de acordo com a qual, a existência de uma situação de controle é reconhecida não só
na hipótese de participação majoritária no capital votante, mas também quando uma
sociedade exerce influência dominante (“beherrshender Einfluss”).
485 Há diversos artigos, porém, que questionam a ideia de que a voz também possa
ser um canal direto de os investidores institucionais encorajarem a implementação
de condutas anticompetitivas das suas investidas (ROCK; RUBINFELD, 2017; ÇELIK,
ISAKSSON, 2014)
o art. 4º, §2º da Resolução 2/2012487, que deu lugar à Resolução 9/2014,
que restringiu a compreensão do que se considerava grupo econômico
no caso dos fundos de investimento.488 A nova mudança limitou o
número dos atos de concentração a serem notificados ao Cade, na
medida que restringiu as empresas que seriam englobadas no mesmo
grupo no cálculo do faturamento.489 Apesar de tal modificação, os
fundos sob a mesma gestão e o gestor do fundo continuaram como
informações a serem prestadas no formulário de notificação.490
Dentre as informações a serem apresentadas no formulário
de notificação, o fundo de investimento deverá indicar os grupos
econômicos a que pertencem as partes diretamente envolvidas na
operação e fornecer uma lista de todas as pessoas físicas ou jurídicas
pertencentes aos grupos econômicos, com atividades no território
nacional. Apesar da exigência de apresentar a estrutura societária do
491 Critérios: (a) o fundo envolvido na operação; (b) os fundos que estejam sob a
mesma gestão do grupo envolvido na operação; (c) o gestor; (d) os grupos dos cotistas,
conforme definidos no item II.5.1, que detenham direta ou indiretamente mais de
20% das cotas do fundo envolvido na operação; (e) as empresas controladas pelo
fundo envolvido na operação e as empresas nas quais o referido fundo detenha direta
ou indiretamente participação igual ou superior a 20% do capital social ou votante; e
(f) as empresas controladas pelos fundos que estejam sob a mesma gestão do fundo
envolvido na operação e as empresas nas quais esses fundos detenham direta ou
indiretamente participação igual ou superior a 20% do capital social ou votante.
492 Art. 4º, §1º da Resolução 2/2012Resolução 2/2012: I As empresas que estejam sob
controle comum, interno ou externo; II As empresas nas quais qualquer das empresas
do inciso I seja titular, direta ou indiretamente, de pelo menos 20% (vinte por cento)
do capital social ou votante.
493 A amostra considera os dados a partir de junho de 2012 tendo em vista que a Lei
nº. 12.529/2011 entrou em vigor a partir de 29 de maio de 2012.
494 A amostra considera os dados até setembro de 2014 dado que a nova redação da
Resolução 2/2012 do Cade entrou em vigor a partir de 1º de outubro de 2014.
495 Dentre estes 84 atos de concentração, 14 consubstanciavam aquisição/
consolidação de controle (16,6%), 61 tratavam de aquisição de participação acionária
sem aquisição/consolidação de controle (62,6%) e 9 refletiam outro tipo de operação
(10,7%). Dentre as 14 operações relativas a aquisição/consolidação de controle, 5
delas eram referentes ao mercado de incorporação imobiliária e os outros 9 a outros
mercados. Por sua vez, das 61 operações de aquisição de participação acionária sem
aquisição/consolidação de controle, 13 também estavam relacionadas ao mercado de
incorporação imobiliária, 5 de energia elétrica, 3 de hotelaria e 2 de saúde, sendo que
todos as demais 39 operações em mercados variados.
496 A amostra considera os dados a partir de outubro de 2014 dado que a nova redação
da Resolução 2/2012 do Cade entrou em vigor a partir de 1º de outubro de 2014.
497 A amostra considera os dados até setembro de 2017 dado que o mesmo foi
elaborado em outubro de 2017.
501 O caso foi julgado pelo CADE na sessão de julgamento do dia 28/06/2017, quando
se decidiu pela reprovação da operação. Fonte http://www.cade.gov.br/noticias/
aquisicao-da-estacio-pela-kroton-e-vetada-pelo-cade
502 Ver matéria publicada na revista Exame, em 01/07/2016. https://exame.abril.com.
br/negocios/quem-e-o-coronation-fundo-com-acoes-da-estacio-e-da-kroton/
503 Op. Cit.
5. CONCLUSÃO
504 Cf. matéria publicada em 19/02/218 no site Global Competition Review, “DG
Comp looking into common ownership, says Vestager”, disponível em: https://
globalcompetitionreview.com/article/1159160/dg-comp-looking-into-common-
ownership-says-vestager (Acesso em 04/09/2018).
505 Sobre a proposta de criação de safe harhours para o “common ownership”, ROCK e
RUBINFELD propõem que participações minoritárias abaixo de 15%, sem que haja
representatividade do investidor institucional no conselho de administração, seria
considerado seguro e não levantaria preocupações antitruste.( ROCK, RUBINFELD,
2017). Por sua vez, uma proposta mais restrita de safe harbour é proposta por O’BRIEN,
WAEHRER (2017). Essa proposta, porém, tampouco está imune a críticas: ELHAUGE,
2017.
ações que podem ser realizadas por meio de iniciativas das empresas
para evitar possíveis efeitos coordenados, a literatura internacional
sugere (ROCK, RUBINFELD, 2017) que os investidores institucionais
implementem uma política de compliance que minimize os riscos de
coordenação entre as investidas (ex. abstendo-se de discutir preços ou
variáveis concorrencialmente sensíveis que favorecem colusivos).
E no Brasil, como incluir então essa pauta de preocupação com
o common ownership na análise dos atos de concentração? A nosso
ver, não é possível evitar o debate, em que pese o mercado de capitais
brasileiro não possuir, ainda, estrutura notoriamente pulverizada, que
favorece a atuação dos investidores institucionais. Diante da análise
da legislação antitruste brasileira (Lei nº. 12.529/2011 e Resolução
9/2014) e da jurisprudência do Cade (evidenciada pela pesquisa
empírica conduzida pelas autoras), os critérios de notificação
mostraram-se insuficientes para a análise de atos de concentração
envolvendo participações minoritárias de investidores institucionais
em concorrentes. Talvez sejam, então, necessários parâmetros mais
rigorosos para os critérios de notificação e de análise dos atos de
concentração envolvendo investidores institucionais, para que os
investidores institucionais não ajam como ventríloquos passíveis de
disfarçar problemas antitruste advindos de participações indiretas
em concorrentes. No entanto, a nosso ver esse debate deve ser
multidisciplinar, e não circunscrito à seara antitruste. Isso porque, em
termos societários, por exemplo, é possível que esse mesmo fato gere
questionamentos sobre um possível abuso do direito de voto e/ou o
voto em conflito de interesses do investidor institucional (Art. 115 Lei
nº. 6404/76), já que tinha interesse em ambas as sociedades envolvidas
na operação de concentração econômica.
Dessa forma, esperamos que este trabalho seja um ponto de
partida para a discussão, que ainda se encontra incipiente no Brasil.
Entendemos ser imperiosa uma análise multidisciplinar sobre o tema
da participação minoritária indireta de investidores institucionais em
concorrentes (“common ownership”), aliando especialistas públicos
e privados da seara antitruste com outros do direito societário, do
Amanda Athayde
1. INTRODUÇÃO
510 CORDOVIL, Leonor. Gun Jumping or cartel: is Brazil prepared for this analysis?,
Competition Law and Policy in Latin America, Eleanor M. Fox and D. Daniel Sokol,
eds., Hart, 2009.
511 Lei n. 12.529/2011, que estrutura o “novo” Sistema Brasileiro de Defesa da
Concorrência e dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem
econômica, revoga os dispositivos da Lei n. 8.884/1994 e dá outras providências.
512 ANDERS, Eduardo Caminati; CORDOVIL, Leonor; DE CARVALHO, Vinícius
Marques; BAGNOLI, Vicente. Nova Lei de Defesa da Concorrência Comentada. São Paulo:
Ed. RT, 2012. p. 208.
513 Nos termos do artigo 54 da Lei n. 8.884/94, o sistema era facultativamente prévio e
a posteriori, de modo que as empresas poderiam submeter à análise do CADE o ato de
concentração previamente ou em até quinze dias da data de celebração do primeiro
documento vinculativo (artigo 98 do antigo Regimento Interno do CADE).
514 CORDOVIL, Leonor. Gun Jumping or cartel: is Brazil prepared for this analysis?,
Competition Law and Policy in Latin America, Eleanor M. Fox and D. Daniel Sokol,
eds., Hart, 2009.
515 Regimento Interno do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE).
Disponível em: <http://www.cade.gov.br/upload/Resolu%C3%A7%C3%A3o%20
1_2012%20-%20RICADE%20%282%29.pdf>.
em que a operação não tenha sido “fechada”. O objetivo é que seja mantida
a concorrência entre as partes em concentração e que se evite uma indevida
troca de informações ou integração prematura que possa prejudicar a
concorrência. Assim, a teoria do Gun Jumping encontra seu fundamento
em três textos legais.
O primeiro deles é a Seção 7A do Clayton Act, conhecido como Hart-
Scott-Rodino Antitrust Improvements Act of 1976 (HSR Act)517. Até
a entrada em vigor desse texto legal, os atos de concentração nos Estados
Unidos podiam se consumar sem que o governo tivesse a oportunidade de
questionar a legalidade da operação em juízo. Essa situação permitia que as
empresas em processo de concentração econômica se integrassem antes mesmo
da aprovação da autoridade competente, o que dificultava a imposição
de remédios antitruste efetivos pelas agências518 norte-americanas (FTC e
DOJ). Essa problemática é semelhante àquela vivenciada pelo CADE sobre
a égide da anterior Lei n. 8.884/1994 e seu controle posterior de estruturas.
Com a entrada em vigor do HSR Act, foi criado um mecanismo que
exige notificação prévia, às agências, do ato de concentração que esteja
inserido em uma determinada faixa de valor. Também foram proibidas
certas aquisições de ativos ou valores mobiliários com direito de voto em até
30 (trinta) dias, ou seja, durante um “período de espera”. Os objetivos desses
dispositivos eram preservar a habilidade de o governo questionar uma
operação potencialmente lesiva à concorrência, oportunizar às agências o
momento para obterem informações relevantes sobre a operação antes da sua
consumação e garantir a possibilidade de se impor um remédio antitruste
efetivo519. Estas também foram, de modo análogo, aspirações da alteração
legislativa promovida no Brasil, com o advento da Lei n. 12.529/2011.
O que o HSR Act passou a exigir, portanto, é que as partes mantivessem
suas operações separadamente, até a autorização da autoridade antitruste.
Nesse sentido, apesar de ser autorizada alguma coordenação prévia entre
517 Clayton Act 7A, 15 USC 18a: “[…] no person shall acquire, directly or indirectly, any
voting securities or assets of any other person, unless both persons (or in the case of a tender
offer, the acquiring person) file notification […] and the waiting period […] has expired […]”.
518 FTC e DOJ serão genericamente mencionadas como “as agências”.
519 ABA Section of Antitrust Law. Premerger Coordination: The Emerging Law of Gun
Jumping and Information Exchange. Chicago: ABA Publishing, 2006. p. 13.
523 Section 1 of the Sherman Act: “Every contract, combination in the form of trust or
otherwise, or conspiracy, in restraint of trade or commerce among the several States,
or with foreign nations, is declared to be illegal. […]”.
524 BLUMENTHAL, William. The Road to Omnicare: the evolution of antitrust standards
on premerger coordination. April 16, 2009. Disponível em: <http://media.straffordpub.
com/products/information-sharing-by-competitors-minimizing-antitrust-
liability-2010-01-12/speaker-handouts.pdf> (ultimo acesso em 10.03.2011).
525 Federal Trade Commission Act (Section 5). “Under this Act, the Commission is
empowered, among other things, to (a) prevent unfair methods of competition, and unfair
or deceptive acts or practices in or affecting commerce”.
que afetem o comércio. Ainda que de maneira menos incisiva que os demais
diplomas legais, ele também se aplica para impugnar quaisquer atividades
prévias à aprovação ao ato de concentração que sejam concorrencialmente
desleais e que configurem Gun Jumping.
Diante do exposto, observa-se que nesses três textos legais norte-
americanos existem dois focos principais de preocupação em relação ao Gun
Jumping. O primeiro diz respeito à troca de informações entre as partes,
preocupação esta que se justifica pelo risco de coordenação prejudicial à
concorrência no mercado. O segundo foco de preocupação é com a integração
prematura entre as empresas em processo de concentração econômica, que
se justifica pelo risco de as empresas em concentração econômica deixarem
de agir independentemente antes da aprovação da autoridade antitruste.
Para que se entenda como ambas as preocupações são verificadas nos
Estados Unidos, passa-se a uma análise da jurisprudência norte-americana
sobre a configuração ou não de Gun Jumping em sede desses três textos
legais.
533 Estados Unidos. United States v. Gemstar-TV Guide Int’l, Inc., 2003-2 Trade Cas.
(CCH) ¶ 74,082 (D.D.C. 2003) (No. 03-00198) (complaint), 13, 18, 20, 21, 23, 24, 25, 27,
28, 30, 33, 34, 44, 47, 48, 51, 64, 67, 68, 71, 77, 78, 88, 140, 141, 142, 143, 202, 210, 213,
216, 219, 221, 232, 248, 259, 272, 276, 292; (final judgment impact statement), 14, 16, 21,
23, 27, 29, 30, 37, 43, 46, 50, 51, 79, 81, 82, 83, 84, 85, 114, 115, 117, 140, 143, 144, 185,
191, 195, 196, 211, 213, 216, 219, 221, 225, 232, 239, 248, 276, 283. Apud ABA Section of
Antitrust Law. Op. Cit.
534 Estados Unidos. United States v. Input/Output Inc., 1999-1 Trade Cas. (CCH) ¶
72,528 (D.D.C. 1999) (No. 99-00912) (complaint), 13, 15, 18, 19, 21, 23, 25, 28, 36, 45, 51,
70, 132, 133, 134, 280. Apud ABA Section of Antitrust Law. Op. Cit.
535 Estados Unidos. United States v. Computer Assocs. Int’l, Inc., 2002-2 Trade Cas.
(CCH) ¶ 73,883 (D.D.C. 2002) (No. 01-02062) (complaint), 4, 13, 18, 23, 24, 25, 27, 30, 38,
39, 40, 41, 44, 48, 64, 67, 71 77, 78, 80, 85, 86, 87, 88, 134, 135, 136, 137, 138, 210, 213, 216,
219, 220, 221, 222, 235, 242, 243, 246, 251, 263; (final judgment and competitive impact
statement), 23, 29, 30, 31, 37, 38, 39, 40, 41, 45, 49, 63, 78, 81, 82, 84, 85, 87, 90, 114, 115,
117, 134, 137, 138, 139, 184, 188, 195, 196, 210, 213, 216, 219, 221, 225, 237, 239, 240, 242,
246, 263, 276, 283, 285, 287, 291. Apud ABA Section of Antitrust Law. Op. Cit.
536 Estados Unidos. United States v. Gemstar-TV Guide Int’l, Inc., 2003-2, Op. Cit.
537 Estados Unidos. United States v. Input/Output Inc., 1999-1, Op. Cit.
538 Estados Unidos. In re Insilco Corp., 125 F.T.C. 293 (1998), (complaint and decision
and order), 25, 26, 28, 29, 30, 31, 105, 106, 118, 119, 129, 130, 185, 188, 189, 190, 206,
201, 211, 213, 216, 219, 221, 225, 226, 232. Apud ABA Section of Antitrust Law. Op. Cit.
539 Pontue-se que alguns autores argúem ser inapropriado utilizar-se do HSR Act para
questionar uma troca ou transferência de informações entre as empresas, pois seria
necessário que dessa troca resultasse integração prematura antes do período de espera.
Segundo tal corrente doutrinária, isso só poderia ocorrer se a informação obtida
fosse utilizada para exercer controle e/ou influência nas operações da empresa a ser
adquirida, ou se restasse claro que a empresa adquirente tinha controle sobre aquela
a ser adquirida (ou seja, se já ocorreu integração prematura). Assim, argumentam que
seria mais adequado questionar a troca ou transferência de informações sob a égide
da Seção 1 do Sherman Act ou da Seção 5 do FTC Act. WHITENER, M. D. Remarks at a
542 Estados Unidos. In re Torrington Co., 114 F.T.C. 283 (1991) (complaint and decision
and order), 93, 101, 102, 103, 104, 106, 107, 110, 126, 127, 206, 174. Apud ABA Section of
Antitrust Law. Op. Cit.
543 Estados Unidos. In re Insilco Corp., 125 F.T.C. 293 (1998), Op. Cit.
544 Estados Unidos. In re Commonwealth Land Title Ins. Co., 126 F.T.C. 680 (1998)
(complaint and decision and order), 63, 101, 102, 111, 112, 118, 119, 121, 130, 131, 132,
290.
545 Bélgica. Bodycote International plc/HIT S.A., Decision of May 26, 1998, No. 98-
C/C-10, OG01/07/1998, 149. Apud ABA Section of Antitrust Law. Op. Cit.
546 Canadá. R. v. Béton Regional Inc., Federal Court Trial Division, No. T-58-95,
January 16, 1995, 151. Apud ABA Section of Antitrust Law. Op. Cit.
entre as partes. De acordo com a lei russa, as partes podem até transferir
empregados entre as empresas em processo de concentração econômica,
trocar informações e adotar outras condutas que configurem integração ou
controle prematuro, desde que não constituam um acordo anticompetitivo
em violação às regras russas de concentração554.
Em sede da União Europeia, a Regulação de Controle de Concentrações
adota o sistema prévio de notificação e proíbe a execução do acordo de
concentração econômica antes de uma decisão da Comissão Europeia que
declare a operação compatível com o mercado comum europeu. Antes da
aprovação, acordos prévios e cooperação entre concorrentes que se refiram
a níveis de preço, restrições quanto a investimentos ou produção, alocação
territorial e de clientes são considerados violação ao artigo 81 – atual artigo
101 do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE) –, que
trata das condutas anticompetitivas. Outra possível alegação de violação
ao artigo 81 diz respeito ao nível de troca de informações entre as partes em
processo de concentração econômica555.
ii. Cláusula que proíbe alterações materiais adversas (material adverse change
clause);
vii. Cláusula que permite à empresa adquirente promover emendas nos docu-
mentos organizacionais da empresa a ser adquirida;
viii. Cláusula que permite à empresa adquirente impedir que a empresa a ser ad-
quirida adquira outros negócios;
viii. Exigir a revisão ou aprovação das atividades ordinárias da empresa a ser ad-
quirida em áreas em que ambas concorrem;
xi. Presenciar reuniões com clientes ou reuniões internas da empresa a ser ad-
quirida;
i. Preço atual ou futuro, tabela de preço, política de preço, plano ou outros ter-
mos competitivos em relação a vendas;
viii. Licitações em que a empresa a ser adquirida participa ou que pretende par-
ticipar;
xii. Qualquer informação de negócio que pode ser usada para restringir a con-
corrência – ainda mais se a transação não se consumar;
xiii. Qualquer informação que concede uma vantagem competitiva ou que en-
coraja a empresa a alterar sua estratégia de negócios em detrimento dos consu-
midores;
ii. Informações agregadas ou antigas, que não revelam detalhes sobre clientes
específicos;
vi. Informações gerais sobre os produtos e suas linhas de produção, bem como
sobre as atividades gerais do negócio;
ix. Informações gerais sobre planos de saúde médico e dentário e outros dados
de recursos humanos que não sejam específicos dos empregados (como salários
e benefícios recebidos);
4. CONCLUSÃO
Condutas Unilaterais
Amanda Athayde
Cristianne Zarzur
Jackson Ferreira
1. INTRODUÇÃO
559 A Nota da OCDE de 2022 foi referenciada como um “Key Material” para as
discussões de 2023. Mais informações sobre o evento estão disponíveis no link: https://
www.oecd.org/daf/competition/interim-measures-in-antitrust-investigations.htm,
acesso em 1.3.2023.
560 Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil
do processo.
561 Art. 115 da Lei 12.529/2011: Art. 115. Aplicam-se subsidiariamente aos processos
administrativo e judicial previstos nesta Lei as disposições das Leis nºs 5.869, de 11
de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil, 7.347, de 24 de julho de 1985 [Lei da
Ação Civil Pública], 8.078, de 11 de setembro de 1990 7.347, de 24 de julho de 1985
[Código de Defesa do Consumidor], e 9.784, de 29 de janeiro de 1999 [Lei de Processo
Administrativo Federal].
562 No Brasil, fala-se em dano como “lesão irreparável ou de difícil reparação” (art.
84, caput, da Lei no. 12.529/2011).
563 Art. 84. Em qualquer fase do inquérito administrativo para apuração de infrações
ou do processo administrativo para imposição de sanções por infrações à ordem
econômica, poderá o Conselheiro-Relator ou o Superintendente-Geral, por iniciativa
própria ou mediante provocação do Procurador-Chefe do Cade, adotar medida
preventiva, quando houver indício ou fundado receio de que o representado, direta
ou indiretamente, cause ou possa causar ao mercado lesão irreparável ou de difícil
reparação, ou torne ineficaz o resultado final do processo. § 1º Na medida preventiva,
determinar-se-á a imediata cessação da prática e será ordenada, quando materialmente
possível, a reversão à situação anterior, fixando multa diária nos termos do art. 39
desta Lei. § 2º Da decisão que adotar medida preventiva caberá recurso voluntário ao
Plenário do Tribunal, em 5 (cinco) dias, sem efeito suspensivo.
580 Pertinente ao tema, Ana Sofia Monteiro, em artigo para o Valor, abordou o que
entende ser uma postura conservadora do CADE, entre 2015 e 2020, em relação a
medidas preventivas em geral, indicando que essa postura evitaria intervenções
excessivas e beneficiaria o mercado e os consumidores (Monteiro, Ana Sofia. A nova
era das preventivas no CADE. Valor, 16.4.2021, disponível em https://valor.globo.com/
legislacao/noticia/2021/04/16/a-nova-era-das-preventivas-no-cade.ghtml, acesso em
20.9.2022)
5. CONCLUSÃO
584 Art. 1º. Recomendar aos magistrados, com o objetivo de maximizar a segurança
jurídica e de impedir o comprometimento da política de defesa da concorrência,
prevista na Lei no 12.529/2011, que, sempre que possível, realizem a oitiva do órgão
de defesa da concorrência, em especial a sua Procuradoria Federal Especializada,
antes de concederem tutelas de urgência relacionadas a processos administrativos
em tramitação no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), assim
minimizando efeitos danosos decorrentes de eventual abuso do direito de demandar
Empre-
Mercados
Caso Nº do processo sas/partes Decisão
envolvidos
envolvidas
Instrumentos
Apuração de Ato de de pagamen- Indeferi-
Meta
WhatsA- Concentração nº to/ creden- mento (após
(Facebook)
pp Pay 08700.002871/2020- ciamento reconsid-
/ Cielo
34 (adquirência) eração)
de transações
Plataformas
Inquérito Ad- Plataformas
agregadoras
ministrativo nº Gympass / agregadoras Deferimen-
de acade-
08700.004136/2020- Total Pass de academias to parcial
mias de
65 de ginástica
ginástica
Associação
Inquérito Ad- Nacional de
Aplicativos
ministrativo nº Restauran- Delivery de Deferimen-
de delivery
08700.004588/2020- tes / Rappi comida to parcial
de comida
47 /iFood /
outros
585 A tabela traz uma seleção de casos recentes em que, na visão dos autores, o tema
das medidas preventivas e suas questões mais centrais e prementes, a exemplo dos
princípios abordados no presente artigo, puderam ser identificados de forma mais
emblemática. Além disso, muitos desses casos referem-se a mercados dinâmicos,
especialmente mercados digitais, exemplificando, assim, a complexidade adicional
que eles trazem na seara das medidas preventivas. A seleção não pretende, portanto,
ser uma listagem exaustiva dos precedentes recentes envolvendo medidas preventivas.
Todos os casos citados foram localizados em pesquisa no sistema de busca de
jurisprudência do CADE (https://jurisprudencia.cade.gov.br/resultado-pesquisa),
entre 20.9.2022 e 1.3.2023, utilizando-se o termo de busca “medida preventiva”.
Todos os processos são também localizáveis no sistema de pesquisa processual geral
do “SEI”, pelo critério de busca “Nº do Processo ou Documento”, na página: https://
sei.cade.gov.br/sei/modulos/pesquisa/md_pesq_processo_pesquisar.php?acao_
externa=protocolo_pesquisar&acao_origem_externa=protocolo_pesquisar&id_
orgao_acesso_externo=0 (acesso em 1.3.2023).
Serviços de
publicidade
e mercado
Pacotes de Procedimento Deferimen-
de venda de
incentivo a preparatório nº TVSBT / to (com
tempo/espaço
agências de 08700.000529/2020- Globo reversão
para publi-
publicidade 08 judicial)
cidade em
veículos de
comunicação.
Associação
Brasileira
Inquérito Ad- das Em-
Vouchers/
ministrativo nº presas de Indeferi-
vale-be- Vales-benefício
08700.001797/2022- Benefícios mento
nefícios
09 ao Trabalha-
dor – ABBT
/ iFood
Inquérito Ad-
Programas
ministrativo nº Heineken Deferimen-
de exclu- Cervejas
08700.001992/2022- / Ambev to parcial
sividade
21
Amanda Athayde
1. INTRODUÇÃO
586 O termo smart contract, cunhado por Nick Szabo no artigo intitulado “Smart
Conctracts”, publicado em 1994, foi conceituado à época como um protocolo de
transação computadorizado que executa os termos de um contrato (SZABO, 1994).
A definição é constantemente retrabalhada e, atualmente, inexiste consenso acerca
de sua exata conceituação. Entretanto, smart contract pode ser definido como a
manifestação digital de um contrato, no sentido de que o acordado entre as partes
é transformado em um código computacional auto-executável quando cumpridas
determinadas condições (SCHECHTMAN, 2019).
587 Enquanto nas transações indiretas faz-se necessário a existência de um
intermediário para realização de operações, nas transações diretas estas são realizadas
de modo direto entre os polos.
588 A blockchain pode melhorar o sistema de pagamentos. Primeiro porque, ao
reduzir o número de intermediários, diminui os custos. Ademais, a visibilidade
e imutabilidade do banco de dados geram maior confiança. Além disso, facilita
transações internacionais, as quais podem ser realizadas mais rapidamente
(MUSIENKO, 2019).
589 Os principais motivos para levarem essa constatação pelos autores seria o fato de
que, em que pese a blockchain promover avanços tecnológicos e institucionais, pode
viabilizar a prática de condutas anticompetitivas.
590 Segundo Forgioni, a venda casada ocorre nas hipóteses em que um sujeito
subordina a venda de um bem à aquisição de outro, ou à utilização de um serviço
(produto ou serviço vinculado, subordinado ou tied product). FORGIONI, Paula A.
Direito Concorrencial e Restrições Verticais. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2007, p. 245.
591 Expressão utilizada por Schrepel para elucidar o fato de que as atividades
realizadas na blockchain pública são visíveis pelos demais usuários.
592 A teoria da empresa foi desenvolvida pelo economista britânico Ronald Coase,
em seu artigo The Nature of the Firm, em 1937. Ao estudar a natureza da empresa e
suas características, o autor aduz que a organização das sociedades empresárias é
necessária para diminuir os custos de transação que recaem sobre o empreendedor.
O principal motivo para tanto é o fato de que nas sociedades empresárias há o
exercício de comando e controle, ou seja, o poder é exercido verticalmente.
593 Catalini e Tucker dispõem que a natureza descentralizada da blockchain
dificulta identificação da(s) entidade(s) para fins de responsabilização, pois a lei
antitruste baseia-se na premissa de que houve prévia delimitação da(s) empresa(s)
que executaram práticas anticoncorrenciais (CATALINI; TUCKER, 2018). Da mesma
forma, Østbye aduz que a incidência da referida legislação pressupõe a existência de
uma entidade responsável e a blockchain se diferencia da organização padrão das
empresas (ØSTBYE, 2017).
5. CONCLUSÃO
Amanda Athayde
1. INTRODUCTION
Deci-
Repre- Relevant
sion Conclusion Decision
sented Market
Year
2012 Employ Salt for The economic rationale of the con- Filing
chemi- duct was not demonstrated, ruling
cal use out the need for intervention by
CADE. Conditions facilitating the
re-entry of competitors in the event
of a price increase were verified.
2012 Petrobras Diesel Oil There was no analysis of the steps Filing
in São Luís of the Guide. CADE ordered the filing
(MA) and due to Petrobras’ offer structure, and
Araucá- the price reduction was the result
ria (PR) of logistical issues in the market.
2013 SPAL Soft drinks The economic rationale of the con- Filing
Indústria duct was not demonstrated, ruling out
de Bebi- the need for intervention by CADE
das (Sim- There are no barriers to entry,
ba Soft preventing the recovery of the
Drink) losses obtained during the pre-
dation period in the future.
606 The table above has been prepared based on the judgments under Law No.
12,529/2011. Prior to that, under Law No. 8,8884/1994, there were certain relevant
judgments involving the practice of predatory pricing. One of them is Administrative
Proceeding No. 08000.013002/95-97, in which Counselor Mércio Felsky chose to make
a price-cost comparison and concluded, in the end, that the prices charged by Labnew
were not below the average variable cost.
Deci-
Repre- Relevant
sion Conclusion Decision
sented Market
Year
2013 Dystar Indigo Blue A market with low barriers to entry, Filing
which prevents the enjoyment of
extraordinary future profits, en-
courages predatory pricing.
In view of the restrictive defini-
tion of the relevant market ad-
opted by the Rapporteur, Dys-
tar does not have a dominant
position in the market, ruling out
the characterization of conduct.
There are other companies in
the market with the capacity to
meet consumer demand. Dys-
tar filed for Judicial Reorganiza-
tion and Bankruptcy in 2009.
2017 Several Type C CADE did not follow the step-by-s- Filing
Pasteurized tep instructions of the Guide. There
Milk in the was condemnation of other con-
South of ducts, but not of predatory pricing.
Rio Grande SG-CADE understood that there
do Sul were not enough elements to prove
prices below cost. The accusation
is that the lower prices would have
been used to force the participa-
tion of players in the alleged cartel.
Deci-
Repre- Relevant
sion Conclusion Decision
sented Market
Year
607 https://content.mlex.com/#/content/1456133?referrer=search_linkclick
608 https://content.mlex.com/#/content/1424559?referrer=search_linkclick
609 Gomez, R., J. Goeree and C. Holt (2008), “Predatory Pricing Rare Like A Unicorn,”
Handbook of Experimental Economics Results, Vol. Volume 1, pp. 178-184, https://doi.
org/10.1016/S15740722(07)00022-4.
610 Capobianco, A. and H. Christiansen (2011), Competitive Neutrality and State-
Owned Enterprises: Challenges and Policy Options.
611 ATHAYDE, Amanda. MEDRADO, Renê. MARSSOLA, Julia. Subsídios, comércio
internacional e concorrência - Novos ventos na União Europeia e na OCDE e possíveis
impactos para o Brasil. Migalhas, 02 de Fevereiro de 2023.
612 International Monetary Fund (IMF), Organisation for Economic Co-operation and
Development (OECD), World Bank (WB) and Organization World Trade Union (WTO).
Subsidies, Trade, and International Cooperation, OECD Publishing, Paris. Apr. 2022.
Available at: https://www.oecd-ilibrary.org/trade/subsidies-trade-and-international-
cooperation_a4f01ddb-en
613 It is not to be confused here with the internal control mechanism of state aid of
the UniEU State Aid Law, implemented by the European Commission’s Directorate-
General for Competition. WTO rules on subsidies and EU state aid law are not
equivalent and differ substantially in scope and application. For a detailed analysis
of these differences, see LUENGO, Gustavo, Regulation of Subsidies and State Aids in
WTO and EC Law: Conflicts in International Trade Law, Kluwer Law International,
2006, and RUBINI, Luca.The definition of subsidy and state aid: WTO and EC Law in
comparative perspective. Oxford University Press, 2009.
614 European Union. Foreign Direct Investment (FDI). Available at: https://policy.
trade.ec.europa.eu/help-exporters-and-importers/accessing-markets/investment_en
615 IMF, OECD, the World Bank, WTO, Subsidies, Trade and International Cooperation,
April 2022. Available at: https://www.imf.org/en/Publications/analytical-notes/
Issues/2022/04/22/Subsidies-Trade-and-International-Cooperation-516660
616 In the original, “Merger Filing Fee Modernization Act of 2022”.
617 Read more at: White&Case, US Merger Filing Fees to Increase Dramatically for
Large Deals, 27 December 2022, available at: https://www.whitecase.com/insight-
alert/us-merger-filing-fees-increase-dramatically-large-deals
618 European Commission. Regulation on Foreign Subsidies. 2022. Available at:
https://competition-policy.ec.europa.eu/international/foreign-subsidies_en
619 It should be recalled that this does not cover the rules on State aid.EU State aid)
implemented by the European Commission’s Directorate-General for Competition
and therefore dealt with in the legal and institutional framework for competition.
620 OECD. Subsidies, Competition and Trade. 2022. Available at: www.oecd.org/daf/
competition/subsidies-competition-and-trade-2022.pdf
since for this type of conduct what matters is whether there was an
agreement between competitors. There are, however, new interfaces
that can be explored from this perspective of the intersection between
subsidies and competition.
A first point concerns the possibility of subsidies financially
strengthening economic agents to create, maintain or improve the
dominant position of certain economic agents.621 In other words, in a
market where the granting of credit is restricted, obtaining subsidies
can be shown to be an instrument for strengthening the market
position. An economic concentration operation, for example, can be
made feasible precisely based on the financial support of a subsidy,
distorting competition.
In addition, the existence of companies with “deep pockets” from
subsidies could be treated as a barrier to entry for other competitors
in the market, impacting, for example, analyses in investigations of
unilateral conduct and merger acts. This financial strength made
possible by subsidies can also be potentially anticompetitive, both
as an autonomous unilateral conduct, and as an analysis of skill and
incentive in economic concentrations, insofar as it enables strategies
such as predatory pricing (below cost, in general terms) for a given
period, offsetting revenue losses with higher prices in a future period.
or even in a different market than the predation product. In addition,
it should be borne in mind that, especially for state-owned companies
that benefit from subsidies, the objective of recovering revenue losses
during the predation period is not a precondition for the configuration
of the conduct, since there is not necessarily an objective of maximizing
the profits of these companies (simply because the losses are already
being compensated in the present).
In other words, in the practice of predatory pricing, to be able to
charge prices below its cost, the predatory company must be able to
621 At this point, it should be recalled that one of the elements considered in the
analysis of predation is the self-financing capacity of the practice. The provision of
public, external funding through subsidies (through subsidized credit or other forms
of subsidy) would enhance the possibility of predatory behavior.
internalize the excess costs and temporary losses resulting from the
unjustified reduction. The granting of subsidies allows the conduct of
predatory pricing to be sustained by the company without significantly
burdening it in the present, which is even more effective when the
company does not aim to maximize its profits, such as those benefited
by subsidies.622
In this OECD document from 2022, have been identified four
Challenges to integrating the analysis of subsidies from an antitrust
perspective: (i) determining the existence of subsidies is not trivial; (ii)
acquisitions with subsidies from state-owned enterprises may create
specific elements for the M&A transaction; (iii) subsidies may make
the determination of costs for predatory price analysis more complex;
(iv) in jurisdictions where recovery is a precondition for predation,
attention should be paid to the fact that subsidies from state-owned
enterprises may not be aimed at maximizing profits.
For the purposes of this article, we will initially focus on in the
challenge of (iii), that subsidies can make the determination of costs
for predatory price analysis more complex. It must be considered that
the competition authority needs to determine that the agent holding
a dominant position abuses its condition by charging prices below
costs. Thus, recognizing that the main difficulty in predatory pricing
investigations is to establish the cost that will be used as a basis for the
analysis, in cases involving subsidies, there is an additional variable.
That is, the difference between price and cost in cases involving
subsidies is the difference between price and cost that the company
would incur in a scenario without subsidies, i.e., with the “true” cost.
The Annex to CADE Ordinance No. 104/2022 presents a Guide
for the Economic Analysis of the practice of Predatory Pricing.623
622 In this sense, publication “Subsidies, Competition and Trade” of the Organization
for Economic Co-operation and Development (OECD). Available at: https://www.
oecd.org/competition/subsidies-competition-and-trade.htm. See also the article
“Subsidies, international trade and competition - New winds in the European Union
and OECD and possible impacts for Brazil”. Available at: https://www.migalhas.com.
br/depeso/381032/subsidios-comercio-internacional-e-concorrencia
623 CADE. CADE Ordinance No. 104/2022. Available at: https://cdn.cade.gov.br/Portal/
centrais-de-conteudo/publicacoes/normas-e-legislacao/portarias/Portaria70_2002.pdf.
4. FINAL THOUGHTS
Amanda Athayde
626 MORRISON, E.; TOWNLEY, C.; YEUNG, K. Big Data and Personalised Price
Discrimination in EU Competition Law. King’s College London Law School Research
Paper nº 2017-37, 2017. Disponível em: < https://poseidon01.ssrn.com/delivery.
php?ID=17302210111906709707109402711121077073&EXT=pdf> Acesso em 07 de
junho de 2019.
627 Ibid.
628 EZRACHI, A; STUCKE, M. E. The Rise of Behavioural Discrimination. European
Competition Law Review, 2016, volume 36, número 12. pp. 485-492.
636 MILLER, A. What Do We Worry About When We Worry About Price Discrimination?
The Law and Ethics of Using Personal Information for Pricing. Journal of Technology Law
and Policy, 2014, volume 19,. pp. 41-104.
637 MILLER, A. What Do We Worry About When We Worry About Price Discrimination?
The Law and Ethics of Using Personal Information for Pricing. Journal of Technology Law
and Policy, 2014, volume 19,. pp. 41-104.
640 MILLER, A. What Do We Worry About When We Worry About Price Discrimination?
The Law and Ethics of Using Personal Information for Pricing. Journal of Technology Law
and Policy, 2014, volume 19,. pp. 41-104.
641 EZRACHI, A. STUCKE, M.E. Virtual Competition – The promise and Perils of the
Algorithm-Driven Economy. Cambridge, Harvard University Press, 2016.
642 Ibid.
643 MORRISON, E.; TOWNLEY, C.; YEUNG, K. Big Data and Personalised Price
Discrimination in EU Competition Law. King’s College London Law School Research
Paper nº 2017-37, 2017. Disponível em: < https://poseidon01.ssrn.com/delivery.
php?ID=173022101119067097071570720380391005121077073&EXT=pdf> Acesso em 07
de junho de 2019.
644 O “multi-homing” ocorre quando os consumidores utilizam diversos servidores
para obter o mesmo tipo de serviço. O multi-homing é apontado como um fato que
tende a diminuir o poder de mercado, mas uma situação de multi-homing perfeito
é rara, devido à existência de custos de troca. Um exemplo de multi-homing é um
consumidor que utiliza tanto o WhatsApp quanto o Telegram (serviços de troca de
mensagens online), ou que assina simultaneamente o Netflix e o Amazon Prime
(serviços de streaming de vídeo).
648 Ibid.
649 MANKIW, G. Introdução à Economia. São Paulo, Cengage Learning Brasil, 6ª edição,
2013.
650 EZRACHI, A. STUCKE, M.E. Virtual Competition – The promise and Perils of the
Algorithm-Driven Economy. Cambridge, Harvard University Press, 2016.
654 MILLER, A. What Do We Worry About When We Worry About Price Discrimination?
The Law and Ethics of Using Personal Information for Pricing. Journal of Technology Law
and Policy, 2014, volume 19,. pp. 41-104.
655 EZRACHI, A; STUCKE, M. E. The Rise of Behavioural Discrimination. European
Competition Law Review, 2016, volume 36, número 12. pp. 485-492.
656 EZRACHI, A. STUCKE, M.E., op. cit.
4. CONCLUSÃO
e cada vez mais criativo, com base na sua própria experiência com o
tratamento dos dados e do propósito para o qual foi programado: a
maximização dos lucros dos varejistas662.
Esse processo dificulta a aferição da legitimidade das decisões
de precificação tomadas pelo algoritmo tanto do ponto de vista
econômico (isto é, a verificação da existência de relação entre o
preço definido e as condições de mercado), quanto de um ponto de
vista ético, considerando a possibilidade de repercussões sociais
negativas decorrentes de segmentações de consumidores com base
em informações sensíveis663. Além das devassas decorrentes de
acervos de dados exclusivos de um varejista específico, as companhias
que tenham intenção de implementar políticas discriminantes
podem obter novos insights e inferências sobre os comportamentos
de seus clientes cruzando dados provenientes de diferentes acervos,
caracterizando o fenômeno de “data fusion”664.
A questão que se impõe, nesse cenário, é a seguinte: como se
dará a responsabilização das práticas eventualmente ilícitas (seja pelo
Direito da Concorrência, seja pelo Direito do Consumidor, seja pelo
Direito da Proteção de Dados) implementadas por algoritmos?
Diante de tantas controvérsias, parece incontroverso que o
fenômeno precisa de mais atenção acadêmica, que exigirá análise
sob várias perspectivas jurídicas e políticas diferentes, até para
que fique claro os limites de cada uma das searas mencionadas no
Condutas Coordenadas
Amanda Athayde
669 Artigo 31. Esta Lei aplica-se às pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou
privado, bem como a quaisquer associações de entidades ou pessoas, constituídas de
fato ou de direito, ainda que temporariamente, com ou sem personalidade jurídica,
mesmo que exerçam atividade sob regime de monopólio legal.
671 HARRINGTON JR., Joseph E. Collusion in Plain Sight: firm’s use of public
announcements to restrain competition. ABA, June 2022, Vol, 84, Issue 2.
Disponível em: < https://awards.concurrences.com/IMG/pdf/alj22.pdf?103460/
d3ded543799c5510bd1383b6732c1a851cdd154ae7e9779c2b54f98b9f155ff2>.
672 KEPLER, John D., Private Communication Among Competitors and Public Disclosure,
71 J. ACCT. & ECON. 1, 1 (2021).
673 A lista exemplificativa de informações comercialmente sensíveis contempla:
1) custos das empresas envolvidas; 2) nível de capacidade e planos de expansão;
3) estratégias de marketing; 4) precificação de produtos (preços e descontos); 5)
principais clientes e descontos assegurados; 6) salários/benefícios de funcionários;
675 https://ec.europa.eu/commission/presscorner/detail/en/IP_16_2446;
https://www.gov.uk/government/news/cma-publishes-f inal-cement-price-
announcement-order
676 https://www.oecd.org/daf/competition/Unilateraldisclosureofinformation2012.
pdf
http://www.ftc.gov/os/caselist/0810157/100720uhaulcmpt.pdf; http://www.ftc.gov/os/
caselist/0510008/0510008c4160ValassisDecisionandOrder.pdf
Amanda Athayde
680 VERGARA, Sofia de Medeiros. Cartéis hub-and-spoke: o que são, quando estão
configurados e como enquadrá-los? Uma análise da experiência estrangeira e nacional
em termos quantitativos e qualitativos.
681 Voto do Conselheiro Relator João Paulo de Resende, SEI 0580229. Processo
Administrativo. Publicado em 15.04.2019.
682 Autoridade da concorrência. AdC fines three supermarket chains and a product
supplier for price fixing. Publicado em 26.04.2023. Disponível em: https://www.
concorrencia.pt/en/articles/adc-fines-three-supermarket-chains-and-product-
supplier-price-fixing
683 The Portugal News. ?130 million in fines issued to Portuguese supermarket chains:
The supermarkets were fined alongside Unilever, for taking part in a price fixing
Amanda Athayde
Bruna Piazera
Priscila Craveiro
1. NTRODUCTION
692 Grand Jury Practice Manual, of the United States Department of Justice Antitrust
Division. 2011. VII-50.
693 The current work is based on the conclusions of the paper written by ATHAYDE,
CRAVEIRO, and PIAZERA, (2017) and tries to analyze, based on the methodology
proposed, how the Brazilian Antitrust Authority has dealt with the discussion of a
single or multiple collusion in the Car Wash Operation.
694 In Brazil, there is no academic research on the topic, so the authors understand
that this is a relevant and contemporary issue to be discussed in the country. There
is an enormous amount of cartel investigations conducted by the Brazilian Antitrust
Authority – the CADE (Administrative Council of Economic Defense) - that may foster
this discussion, especially in bid-rigging cartels, such as those in the broader frame
of the “Operation Car Wash”. The “Operation Car Wash” is an ongoing investigation in
Brazil conducted by the Federal Public Prosecutors and the Federal Police alongside
with other government bodies, such as the Brazilian Antitrust Authority (CADE). It
initiated as a money laundering investigation and was expanded to cover allegations
of corruption and bid rigging. For official information, see: http://www.mpf.mp.br/
atuacao-tematica/sci/car-wash-case/car-wash-case-brasilia-april-2016.pdf.
695 The final deadline of the analysis is March 21st of 2022.
cartels and can provide legal certainty for those who eventually engaged
in the wrongdoing. Taking that into consideration, it is important to
expose how the different authorities deals with this dilemma.
697 The “same evidence test” was adopted by the U.S. Supreme Court in Blockburger
v. United States (1932), when the Court held that in order to define whether a single
conduct consisted of the violation of different statutory provisions, one must look
into whether there are different requirements of “proof of a fact” for each provision
(DURELL, 1978).
698 The “same transaction test” consists of blocking further prosecutions for crimes
emerging from a “transaction” (a specific set of facts) for which the defendant has
already faced trial (Minnesota Law Reveiw, 1981).
699 The Grand Jury Practice Manual of the Department of Justice Antitrust Division
consists in a single up-to-date source of legal and procedural guidelines for the
exercise of Grand Jury responsibilities.
700 Some of the cases described in this paper to present the US court experience
are the following ones: Braverman v. U.S., 317 U.S. 49 (1942); Kotteakos v. U.S., 328
U.S. 750, 750 (1946); Blumenthal v. U.S., 332 U.S. 539, 541 (1947); U.S. v. Palermo, 410
F.2d 468, 469 (7th Cir. 1969); U.S. v. Varelli, 407 F.2d 735, 739 (7th Cir. 1969); U.S. v.
Licausi, 413 F.2d 1118 (1969); State v. Louf, 314 A.2d 376, (1973);U.S. v. Richerson, 833
F.2d 1147, 1153 (5th Cir. 1987); U.S. v. Ghazaleh, 58 F.3d 240, 245 (6th Cir. 1995); U.S. v.
Maliszewski, 161 F.3d 992, (1998).
701 Recent cases have used a “totality of the circumstances” test to resolve the single/multiple
conspiracy question. This test requires the consideration of all of the available evidence to
determine whether there is one conspiracy or several. Grand Jury Manual, 1991, p. VII-54.
702 See Braverman v. United States, 317 U.S. 49 (1942).
the individuals to commit all the infringements for which they were
indicted.703 The Supreme Court upheld the ruling stating that a single
continuous offense had taken place According to the Braverman
rule, the number of conspiracies equals the number of agreements.
The terms of a given agreement however are usually inferred from
the evidence brought to trial and it is not uncommon that criminal
conspiracies are drawn over blurred lines.
In United States v. Palermo704, 1969, the defendants, including the
CEO Nick Palermo, were indicted for conspiring to violate the Hobbs
Act705, by forcing some construction company to subcontract Palermo’s
company in all his construction projects. The court ruled that there was
a general agreement involving Palermo and others to extort money
and even though the incidents took place across the years given the
single goal was to extort him as much money as possible. Thus, this
case was treated as a single conspiracy.
In United States v. Ghazaleh706, 1995, Reda Gazaleh and 10 others
were charged of conspiring to possess contraband with the intent to
distribute. The defendant claimed that the evidence showed that there
were two conspiracies: a Chicago-Lexington conspiracy and a Tampa-
Lexington conspiracy. The Court ruled that the co-perpetrators were
involved in a single conspiracy for the general purpose of cocaine and
marijuana distribution in Lexington, Kentucky, and the fact that the
defendant had two drug suppliers, one in Chicago and one in Tampa,
did not alter its single conspiracy nature.
703 The scope of a conspiracy is determined by what the parties agreed to do rather than by
how many overt acts were involved or what the objects of the agreement might have been.
Grand Jury Manual, 1991, p. VII-49
704 See U.S. v. Palermo, 410 F.2d 468, 469 (7th Cir. 1969). Available at: https://casetext.
com/case/united-states-v-palermo-2
705 The Hobbs Act establishes: “Whoever in any way or degree obstructs, delays, or affects
commerce or the movement of any article or commodity in commerce, by robbery or extortion
or attempts or conspires so to do, or commits or threatens physical violence to any person or
property in furtherance of a plan or purpose to do anything in violation of this section shall
be fined under this title or imprisoned not more than twenty years, or both”. Interference
with Commerce by Threats or Violence, 18 U.S.C. § 1951 (2017)
706 See U.S. v. Ghazaleh, 58 F.3d 240, 245 (6th Cir. 1995). Available at: https://casetext.
com/case/us-v-ghazaleh
707 See Kotteakos v. United States, 328 U.S. 750, 750 (1946). Available at: https://
casetext.com/case/kotteakos-v-united-states-regenboge-v-same
708 See Blumenthal v. U.S., 332 U.S. 539, 541 (1947). Available at: https://casetext.com/
case/blumenthal-v-united-states-7
709 Toys “R” Us, 126 F.T.C. (7th Cir.2000).
may be illegal per se, though the court did not use the term “hub-and-
spoke” itself. The case was considered a single conspiracy.
Recent case law has established the “rim requirement” to
prove a hub and spoke conspiracy as a single scheme involving all
the spokes and the hub710. Following the case law, what separates an
unlawful conspiracy facilitated through vertical relationships from a
lawful vertical agreement is proof of a horizontal agreement among
competitors. Therefore, in hub-and-spoke conspiracies, the latter
agreement is the “rim” that connects the spokes.
Specifically, in the scenario of antitrust infringements, the
Antitrust Resource Manual of 2017711 reinforces the need to determine
the scope of the conspiracy and the actors who participated in it. DOJ
already foresees the difficulty in determining what constitutes the
conspiracy, especially in price fixing and bid rigging cases.712
number of companies, “not only from an isolated act but also from a
series of acts or from continuous infringment”716.
In Cimenteries CBR and others v Commission717, 1994, a single
and continuous general agreement was demonstrated to the extent
that “each party whose participation in the Cembureau agreement is
established contributed, at its own level, to the pursuit of the common
objective by participating in one or more of the implementing
measures referred to in the contested decision”.
In JFE Engineering Corp., formerly NKK Corp., Nippon Steel Corp.,
JFE Steel Corp. and Sumitomo Metal Industries Ltd v Commission718, 1999,
the E.C. fined eight companies producing seamless steel tubes having
committed a single and continuous infringement by entering into two
agreements with competitors: one among European and Japanese
manufacturers and another solely among European manufacturers.
In its decision, the Commission first considered that the eight
investigated companies had reached an agreement, which, inter alia,
sought to ensure “mutual respect” for the allocated national markets.
Under such agreement, each company was prevented to sell ordinary
Oil Country Tubular Goods (OCTG) tubes and project pipelines for its
competitors’ domestic markets.
When reviewing the investigation concerning the alleged
cartel involving seamless steel tubes, the General Court decided that
although there were parallel connected agreements and that the
evidence showed all cartel members had or could have knowledge of
the it. Additionally, all cartel members complied with the core rules
of the agreement: the mutual respect for other members’ domestic
markets. The Court ultimately ruled for single violation despite the
existence of smaller groups within its dynamics.
Around 2000, the European Courts started narrowing its approach
on the “single and continuous infringement” doctrine, especially
in cases where a cartel lasted for a long period and conditions and
members varied.
In Quinn Barlo v. E.C.719, 2006, the Court vacated a conviction for
single and continuous infringement of the European Competition
Laws720 given the evidence of limited participation it had in the
collusion and the absence of an indication that the company was aware
and consented to the broader goals pursued by other cartel members.
Discussions on the “single and continuous infringement”
doctrine were also part of the decision’s rational for Trelleborg Industrie
SAS and Trelleborg AB v Commission721, 2009, concerning a cartel in the
marine hose market, in which the E.C. considered that a single and
continuous infringement happened from 1986 to 2007. Trelleborg
Industrie and Trelleborg AB challenged the decision before the
General Court, which held that the Commission erred in classifying
the infringement as continuous since there was no evidence of cartel
activities from May 1997 to June 1999 and therefore continuity could
not be presumed for this time lapse.
When reviewing the appeal, the Court confirmed Trelleborg
Industrie committed a single and repeated infringement from April
1986 to 13 May 1997 and from 21 June 1999 to May 2007 and that
Trelleborg AB committed a single and repeated infringement, from
March 28, 1996 to May 13, 1997, and from June 21, 1999 to May 2007. The
ruling considered the existence of evidence indicating a permanent
cartel structure for the referred period.
In Almamet GmbH Handel mit Spänen und Pulvern aus Metall722,
2009, the E.C. concluded that the main suppliers of calcium and
magnesium carbide for the steel and gas industries had infringed
European Competition Laws and had participated in a single and
719 Court Decision (Third Session) from November 30, 2011. Quinn Barlo Ltd, Quinn
Plastics NV and Quinn Plastics GmbH against E.C.. §150.
720 Article 81 EC and Article 53 of the European Economic Area (EEA) Agreement.
721 Available at: http://curia.europa.eu/juris/celex.
jsf?celex=62009TJ0147&lang1=en&type=TXT&ancre=
722 Available at: http://curia.europa.eu/juris/document/document.
jsf?text=&docid=131702&pageIndex=0&doclang=EN&m10
728 In Gas Insulation Switchgear (2007), the Court expressly excluded the need for the
criterion of complementarity to be fulfilled.
729 In Brazil, in the context of civil and administrative proceedings, there is a set of
legal provisions aiming to address situations where multiple facts are under discussion.
In this sense, parallel lawsuits may be jointly adjudicated in case of connection and
belongingness under Brazilian civil proceeding rules. Under Brazilian civil procedure
laws, connection takes place when parallel lawsuits have the same cause of action and
complaints. Under Brazilian civil procedure laws, belongingness takes place when
parallel lawsuits have the same parties but one of them is greater in scope in such a
way that the remaining ones can be deemed part of it. On the other hand, when there
is an asymmetry among the facts under discussion dismemberment is a possibility
for the civil, criminal and administrative spheres, which subsidizes the processing
of accusations against the defendants as multiple infringements. In criminal law, it
is possible to indicate two doctrines that can bring light to the question put under
discussion: the notions of continuous crime and permanent crime. In fact, the Brazil’s
Competition Law directly mentions the existence of continuous and permanent
practices in Article 46. We take the view that when continuity or permanence is
identified, under the terms criminal law doctrine, the set of facts under discussion
must be seen as a single violation. Notwithstanding, such parameters may not suffice
to solve the single versus multiple violations dilemma. In such cases, the below
mentioned parameters may be useful for interpreting the facts under the applicable
law.
730 The current paper does not consider that CADE necessarily uses the ten parameters
solely based on the methodology proposed by ATHAYDE et al (2017). However, as will
be shown below, after the analysis of the administrative proceedings initiated by the
Car Wash Operation, CADE has a similar methodology while facing this dilemma.
731 In Brazil, there is no academic research on the topic, so the authors understand
that this is a relevant and contemporary issue to be discussed in the country. There
is an enormous amount of cartel investigations conducted by the Brazilian Antitrust
Authority – the CADE (Administrative Council of Economic Defense) - that may foster
this discussion, especially in bid-rigging cartels, such as those in the broader frame
of the “Operation Car Wash”. The “Operation Car Wash” is an ongoing investigation in
Brazil conducted by the Federal Public Prosecutors and the Federal Police alongside
with other government bodies, such as the Brazilian Antitrust Authority (CADE). It
initiated as a money laundering investigation and was expanded to cover allegations
732 The levels of awareness must be considered in the moment of possibly imposing
sanctions.
Common Goal
AP
AP AP AP AP AP
08700.007
08700.002086 08700.007351 08700.006377 08700.6630 08700.007777
776/2016-
/2015-14 /2015-51 /2016-62 /2016-88 /2016-95
41
AP AP AP AP
AP 08700.003252
08700.003240 08700.003243 08700.001836 08700.001101
/2017-61
/2017-37 /2017-71 /2016-11 /2021-55
Common Goal Common Goal Common Goal Common Goal Global Goal
Common Goal
AP
AP 08700. AP 08700. AP 08700. AP 08700. AP 08700.
08700.
002086 006377 6630 007776 007777
007351
/2015-14 /2016-62 /2016-88 /2016-41 /2016-95
/2015-51
AP
AP 08700. AP 08700. AP 08700.
08700. AP 08700.003252
003240 001836 001101
003243 /2017-61
/2017-37 /2016-11 /2021-55
/2017-71
On the other hand, there are elements that suggest the existence
of multiple collusions when: (a) there are regulatory/technical barriers
that substantially influence the entry and maintenance capacity
of companies in the market, and the different groups of companies
operate in different markets; and (b) the supply of the product or
the rendering of the service is linked to the fulfillment of a certain
technical requirement (i.e. certifications in public tenders), but the
group actively competing is more limited or specific, suggesting a
quid pro quo arrangement (of compensations) between the companies
impossible.
In the eleven public cases, the General Superintendence of Cade
has defined the relevant market in ten cases and indicated that there
was no necessity for defining the product market in the administrative
proceeding n. 08700.007776/2016-41. The following table provides a
clear understanding of the fulfillment of this parameter proposed by
ATHAYDE et al (2017) on the public proceedings related to the “Car
Wash Operation”:
Product Market
Civil works
of railway
Civil
infrastruc-
works
Infrastruc- ture and
related to
ture and super-
Market for metro-
road trans- structure,
infra- politan
port civil special
structure train lines
works for works of
works and (stations,
the con- art and en-
services yards and
struction gineering Public bid for Civil works
for urban perma-
of the São services and airport infrastructure
requalifi- nent
Paulo Met- for the im- carried out by Infraero
cation and ways)
ropolitan plementa-
imple- used by
Strategic tion of the
mentation Com-
Road Sys- North and
of road panhia
tem Devel- South Rail-
corridors Paulista
opment road and
de Trens
Program the West
Metropol-
and East
itanos
Integration
Railroad
Geographic Market
AP
08700. AP 08700. AP 08700. AP 08700. AP 08700. AP 08700.
002086 007351 006377 6630 007776 007777
/2015- /2015-51 /2016-62 /2016-88 /2016-41 /2016-95
14
Brasília,
Lack of
Manaus,
defi- Lack of
Recife, Rio
nition definition Lack of defi- Lack of defi-
de Janei-
by the by the UHE Belo nition by the nition by the
ro, Belo
Com- Com- Monte Competition Competition
Horizonte,
petition petition Authority Authority
Fortaleza,
Au- Authority
Natal and
thority
Salvador
AP
08700. AP 08700. AP 08700. AP 08700. AP 08700.
003240 003243 001836 001101 003252
/2017- /2017-71 /2016-11 /2021-55 /2017-61
37
State
City of Sal- State of
of São Brazil Brazil
vador/BA São Paulo
Paulo
In all the eleven public cases CADE has mentioned the period of
the infringement as an objective requisite for defining a single cartel.
It is worth mentioning in this requisite, the lack of explanation in the
definition, especially considering that the General Superintendence
of Cade analyzes the cartel in phases. The totally absence of an
explanation indicates a difficulty to assess and give legal certainty
about how CADE is dealing with these parameters. The following table
provides a clear understanding of the fulfillment of this parameter
proposed by ATHAYDE et al (2017) on the public proceedings related
to the “Car Wash Operation”:
2009-
1998-2011 2009-2014 2007-2011 2007-2011 2007-2008
2011
2008 –
2000-
2011 and 2013-2014 2008-2010 2003-2007
2011
2014-2015
Participating Companies
AP
AP 08700. AP 08700. AP 08700. AP 08700. AP 08700.
08700.
002086 007351 006377 6630 007776
007777
/2015-14 /2015-51 /2016-62 /2016-88 /2016-41
/2016-95
Common Common
Same Same Common Core
Core Core
“hard core” remains. Nor is it necessary for all individuals to know all
the activities of cartelization and / or the role of all other individuals in
order to have a single collusion.
On the other hand, there are elements that suggest the existence
of multiple collusions when: (a) the main individuals of the collusion
vary according to the product or service submarkets, so that there
is no hard core decision making (whether it is to the person himself
or to the position held by the individual making the decision in the
companies) that coordinates, organizes, encourages anti-competitive
discussions and aggregates, depending on the specific circumstances,
other local companies, even though there is some overlap regarding
people of the highest echelon of companies.
In the eleven public cases, the General Superintendence of
Cade has defined this requisite as the following: in two cases there
were distinct individuals participating in the infringement during the
practice. In five proceedings there was a common core investigated
and in four cases there were the same individuals during the practice.
The following table provides a clear understanding of the fulfillment
of this parameter proposed by ATHAYDE et al (2017) on the public
proceedings related to the “Car Wash Operation”:
Participating Individuals
Distinct
Indi-
Common Common Common Common
viduals Same
Core Core Core Core
over the
practice
Distinct
Common Individuals Distinct Individuals
Same Same
Core over the over the practice
practice
Interconnection
AP AP
AP 08700. AP 08700. AP 08700. AP 08700.
08700. 08700.
002086 006377 007776 007777
007351 6630
/2015-14 /2016-62 /2016-41 /2016-95
/2015-51 /2016-88
Yes No No Yes No No
AP AP
AP 08700. AP 08700.
08700. 08700.
003240 001836 AP 08700.003252/2017-61
003243 001101
/2017-37 /2016-11
/2017-71 /2021-55
No No Yes No Yes
Interconnection
AP
AP 08700. AP 08700. AP 08700. AP 08700. AP 08700.
08700.
002086 006377 6630 007776 007777
007351
/2015-14 /2016-62 /2016-88 /2016-41 /2016-95
/2015-51
Petróleo
Eletro- Norte Different SEO- Petróleo
Brasilei-
nuclear Energia Clients BRAS/RJ Brasileiro S.A.
ro S.A.
AP
AP 08700. AP 08700. AP 08700. AP 08700.
08700.
003240 001836 001101 003252
003243
/2017-37 /2016-11 /2021-55 /2017-61
/2017-71
(I) Supe-
rinten-
dência de
Conser- Valec En-
vação genharia,
(I) Dersa.;
e Obras Cons-
(II) SIURB; CPTM/SP Infraero
Públi- truções
(III) Emurb
cas; (II) e Ferro-
SEMUT, vias S.A.
atual SU-
COM; (III)
CONDER
733 Which investigates a cartel in the market Road works, including at least the
construction, maintenance and repair works of highways of the Arco Metropolitano
Rodoviário do Rio de Janeiro
734 Which investigates a cartel in the market of Civil construction, modernization
and/or renovation services of sports facilities
735 Which investigates a cartel for the revitalization of Favelas in Rio de Janeiro
736 Which investigates a cartel in the Market of civil works related to metropolitan
train lines (stations, yards and permanent ways) used by Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos
5. CONCLUSION
Amanda Athayde
INTRODUÇÃO
737 As primeiras reflexões das autoras a respeito do tema foram realizadas em 2018.
(ATHAYDE, DOMINGUES e SOUZA, 2018)
738 Antitrust Chronicle. No Poace. CPI, May 2022. Disponível em: < https://www.google.
com/search?q=Antitrust+Chronicle.+No+Poace.+CPI%2C+May+2022.&rlz=1C1GCEA_
enBR1003BR1003&oq=Antitrust+UTF-8>. Acesso em 11 Mai. 2022.
739 Encontramos artigo de 1991 que trata das consequências das ações antitruste
nos EUA no mercado de trabalho e, por conseguinte, no bem-estar econômico. Veja-
se: “The Employment Consequences of the Sherman and Clayton Acts”, William F.
Shughart II and Robert D. Tollison. Journal of Institutional and Theoretical Economics
(JITE) / Zeitschrift für diegesamte Staatswissenschaft, Vol. 147, No. 1, The New
Institutional Economics New Viewson Antitrust (Mar. 1991), p. 38-52.
740 Isto se dá, por exemplo, pela via contratual (cláusulas de não concorrência),
pela concentração de poder de compra de mão-de-obra (poder de monopsônio) ou
colusiva (por acordos anticompetitivos entre empregadores), em possível prejuízo à
concorrência. (NAIDU, POSNER e WEYL, 2018, p. 6-8).
741 Como bem destacado pelo DOJ e pelo FTC, “[...] just as competition among sellers in
an open marketplace gives consumers the benefits of lower prices, higher quality products
and services, more choices, and greater innovation, competition among employers helps
actual and potential employees through higher wages, better benefits, or other terms of
employment. Consumers can also gain from competition among employers because a more
competitive workforce may create more or better goods and services”. (U.S. DOJ; FTC, 2016)
Segundo seus termos, uma abordagem holística deve ser tomada pelo
FTC para identificar danos, reconhecendo que ilícitos antitruste e
consumeristas prejudicam trabalhadores e negócios independentes,
além dos consumidores. (KHAN, 2021)
O tema também chama a atenção de autores clássicos do direito
concorrencial. Como exemplo recente, veja-se que, em janeiro de
2022, Herbert Hovenkamp publicou estudo em que questiona a
representatividade das condutas anticompetitivas no mercado de
trabalho na diminuição do bem-estar do trabalhador. Segundo o
texto, as condutas anticompetitivas que resultem em restrição do
mercado relevante dimensão produto são mais significativas em
termos de redução salarial e de tamanho do mercado de trabalho do
que aquelas que restringem o mercado relevante dimensão trabalho.
(HOVENKAMP, 2022, p. 14)
Recentemente, em março de 2022, o Departamento de Tesouro
dos EUA, com o apoio do Departamento de Justiça, do Departamento
de Trabalho e da Federal Trade Commission, editou um novo relatório
sobre a concorrência no mercado de trabalho. No documento, é
apresentada uma estimativa de que a ausência de concorrência causada
pela concentração de empregadores e as práticas anticompetitivas
por eles praticadas resultaram em salários aproximadamente
20% mais baixos, condições de trabalho precárias e ausência de
promoção para os funcionários. O relatório ainda demonstra que o
efeito da falta de poder de barganha do trabalhador (com o declínio
da sindicalização, por exemplo) é ainda mais significativo para
pessoas socioeconomicamente vulneráveis, como trabalhadores de
baixa renda, negros, mulheres e imigrantes. Além disso, para toda a
economia, o reflexo é de diminuição da inovação, aumento de preços
e menor crescimento econômico. O relatório trata também das
políticas do governo Biden para combater o declínio da concorrência
no mercado de trabalho, incluindo uma política que favoreça a plena
aplicação das leis antitruste nos mercados de trabalho, expandindo
as oportunidades de negociação coletiva, aumentando o salário
mínimo e estendendo a cobertura do seguro de saúde para aumentar
742 “1. São incompatíveis com o mercado interno e proibidos todos os acordos entre
empresas, todas as decisões de associações de empresas e todas as práticas concertadas
que sejam suscetíveis de afetar o comércio entre os Estados-Membros e que tenham
por objetivo ou efeito impedir, restringir ou falsear a concorrência no mercado interno,
designadamente as que consistam em: a) Fixar, de forma direta ou indireta, os preços
de compra ou de venda, ou quaisquer outras condições de transação; b) Limitar ou
controlar a produção, a distribuição, o desenvolvimento técnico ou os investimentos;
c) Repartir os mercados ou as fontes de abastecimento; d) Aplicar, relativamente
a parceiros comerciais, condições desiguais no caso de prestações equivalentes
colocando-os, por esse facto, em desvantagem na concorrência; e) Subordinar a
celebração de contratos à aceitação, por parte dos outros contraentes, de prestações
suplementares que, pela sua natureza ou de acordo com os usos comerciais, não têm
ligação com o objeto desses contratos”.
743 Na visão da autoridade de concorrência portuguesa, tais práticas se assemelham
a acordos de fixação de preços de compra ou divisão de mercado na compra de
insumos, ou até mesmo um cartel de compra. (AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA DE
PORTUGAL, 2021, p. 23-28)
744 A OCDE aborda acordos de fixação salarial, de não contratação, ou outros acordos
entre competidores para evitar a competição por trabalhadores, cláusulas de não
concorrência injustificadas nos contratos de trabalho e recrutamento predatório
visando impedir a entrada de concorrentes no mercado (OCDE, 2021, p. 2-3).
745 Professor Hebert Hovenkamp esclarece que a maioria das jurisdições com leis
antitruste define seu objetivo – bem-estar do consumidor – como baixos preços
ao consumidor. Sugere, entretanto, que uma melhor definição de bem-estar do
consumidor viria com a maximização da produção (“output”), que implicaria
consequentemente em menores preços. (HOVENKAMP, 2021, p. 2)
746 Ademais, as autoridades trabalhistas podem enfrentar o tema concorrencial por
meio da análise casuística da aplicabilidade de cláusulas de não concorrência e de
747 United States v. Jindal; United States v. Surgical Care Afiliates; United States v. Hee
et al.; United States v. DaVita, Inc.; and United States v. Patel et al.
748 Ademais, os hospitais acordaram que não contratariam anestesistas dos outros
membros do acordo. Sobre este ponto, a condenação dos hospitais foi de que,
apesar de o acordo não tem objetivo de restringir a concorrência, houve este efeito.
(AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA DE PORTUGAL, 2021, p. 25)
751 Nos termos do Guia Antitruste para RH do DOJ/FTC, “é provável que um indivíduo
viole as leis antitruste se ele ou ela concordar com indivíduo(s) de outra empresa em
negar o assédio ou a contratação de funcionários da outra empresa. Tradução livre
do original: “an individual likely is breaking the antitrust laws if he or she agrees with
individual(s) at another company to refuse to solicit or hire that other company’s employees”.
(U.S. DOJ; FTC, 2016, p. 3)
752 Restaurantes fast-food como Carl’s Jr. Burguer King, Pizza Hut, Domino’s e Mc
Donald’s têm - ou tinham - cláusulas de no-poach em seus contratos com os franqueados.
Também entre as franquias das academias de ginástica Curves e Anytime Fitness
vigora esse tipo de cláusula contratual. Como exemplo, temos uma ação coletiva
proposta por empregados da franquia de hamburguerias Carl’s Jr em 2017. Estes
empregados questionavam uma cláusula contratual imposta pelo franqueador a seus
franqueados impedindo que estes contratem supervisores de outros restaurantes
(HELTZER, DUBROW, et al., 2017).
755 As empresas firmaram acordo com o DOJ, em que não assumiram a ilicitude das
condutas, mas concordaram em cessar a prática. Em contrapartida, o DOJ deixou
de processar as empresas tanto civil como criminalmente, o que não impediu o
ajuizamento de ação coletiva proposta por empregados das duas empresas. Segundo
os termos dessa ação privada de reparação de danos, tais acordos de “No Poach” teriam
causado a diminuição da remuneração dos empregados, limitado a mobilidade dos
empregados e impedido a inovação (GLOBENEWSWIRE, 2018).
756 Inclusive contratos entre uma das empresas praticantes do cartel e recrutadores
externos (headhunters) previa que funcionários de determinada empresa não poderiam
ser recrutados. (AUTORITÉ DE LA CONCURRENCE, 2017, p. 45)
759 Veja-se mais sobre o tema em ATHAYDE, DOMINGUES e SOUZA, 2018, p. 79-80.
760 Nos termos do Guia Antitruste para RH do DOJ/FTC, as empresas não devem trocar
informações sobre sua política de recrutamento de empregados e/ou salários e outros
benefícios praticados (planos de saúde, estacionamento, auxílio-alimentação ou
refeição, auxílio-moradia, auxílio-transporte, entre outros). As trocas de informações
são consideradas lícitas se preencherem algumas condições, ou seja, quando: (i) forem
realizadas por uma terceira parte neutra; (ii) envolverem dados antigos; (iii) houver
uma junção das informações para proteção da identidade das fontes; (iv) existirem
fontes suficientes agregadas para prevenir que competidores possam identificar qual
seria a fonte em particular de cada uma das informações; (v) relacionadas a uma due
diligence prévia a um ato de concentração, com precauções prévias a serem tomadas
para evitar compartilhamento de informações. Por sua vez, as trocas de informações
sensíveis sobre termos e condições de emprego são consideradas potencialmente
ilícitas se forem periódicas e, especialmente, se tiverem o efeito de diminuir o valor
dos salários. (U.S. DOJ; FTC, 2016). Quanto ao item (v), tem-se que o impedimento de
compartilhar informações não afeta o direito das empresas de reunir informações
sobre empresas-alvo em operações de fusões, aquisições ou incorporações, desde
que sejam tomadas as devidas precauções para o compartilhamento de informações,
evitando o gun jumping. Tal compartilhamento é inclusive esperado, uma vez que o
comprador precisa ter acesso aos custos com funcionários da empresa-alvo A troca
de informações sensíveis sobre termos e condições de trabalho pode representar uma
conduta anticompetitiva no contexto em que é usada por empregadores para diminuir
e uniformizar salários de determinada categoria de empregados. Existem exceções a
essa proibição, quais sejam (i) um contexto de ato de concentração ou (ii) tratamento
específico prévio para retirar da informação o potencial de causar colusão.
CONTEXTO DE PANDEMIA
762 Em 2018, em nosso primeiro artigo sobre o tema, inclusive citado no Anexo da
Nota Técnica de Instauração do Inquérito Administrativo em questão, entendemos
que “O CADE, num possível caso de acordo entre concorrentes para restrição do
mercado de trabalho, poderia enquadrar referida conduta em seu artigo 36, incisos I
ou III. O inciso III, aumento arbitrário de lucros, poderia ser justificado pela diferença
existente entre o valor justo que deveria ser pago de salário ao empregado de um
mercado afetado pela conduta e o valor efetivamente pago, fruto desse arranjo entre
concorrentes. Já o enquadramento no inciso I deveria considerar que o mercado
em que a livre concorrência afetada é no mercado de trabalho dos profissionais
de determinada função. Também é possível que seja vista essa prática como uma
conduta comercial concertada nos termos do inciso II do § 3º do art. 36 da Lei n.
12.529”. (ATHAYDE, DOMINGUES e SOUZA, 2018, p. 83-84)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Amanda Athayde
na%20Lei%20n%C2%BA%2012.52911/TCC%20na%20Lei%20n%C2%BA%2012.529-
11.pdf>. Acesso em: 08 Mar. 2021. Consultora Pnud no Cade Carolina Saito.
770 “The challenge in attacking hard-core cartels is to penetrate their cloak of secrecy.
To encourage a member of a cartel to confess and implicate its co-conspirators with first-
hand, direct ‘insider’ evidence about their clandestine meetings and communications, an
enforcement agency may promise a smaller fine, shorter sentence, less restrictive order, or
complete amnesty” (OCDE. Fighting hard core cartels: harm, effective sanctions and
leniency programmes. Paris: OCDE, 2002. Disponível em: <http://www.oecd.org/
competition/cartels/1841891.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2018).
771 Para mais informações acerca das características de um Programa de Leniência
eficiente e efetivo, ver: ICN. Checklist for efficient and effective leniency programmes. ICN,
2017. Disponível em: <https://www.internationalcompetitionnetwork.org/portfolio/
leniency-program-checklist/>. Acesso em: 17 jul. 2020.
772 CADE. Documento de Trabalho “TCC na Lei 12.529/2011”. Fev. 2021. Disponível
em: < https://cdn.cade.gov.br/Portal/centrais-de-conteudo/publicacoes/TCC%20
na%20Lei%20n%C2%BA%2012.52911/TCC%20na%20Lei%20n%C2%BA%2012.529-
11.pdf>. Acesso em: 08 Mar. 2021. Consultora Pnud no Cade Carolina Saito.
773 ATHAYDE, Amanda; FONSECA, Marco Antonio. TCCs em casos de cartel no CADE:
meios de obtenção de prova ou pactos de ajustamento de conduta? Portal Jota, 24
dezembro 2020. Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/tccs-
em-casos-de-cartel-no-cade-24122020. Acesso em: 11 abr. 2021.
com TCCs celebrados do que casos sem nenhum TCC. O mesmo autor
aponta que, dos 59 acordos de leniência antitruste celebrados entre
2015 e 2019, 26 (44%) propiciaram a celebração de, pelo menos, um
TCC posterior.
Diante do exposto, é possível concluir que os acordos de
leniência antitruste criam ambiente favorável para a negociação e
celebração de TCCs antitruste, que são acordos do tipo second best no
direito concorrencial brasileiro. Assim, acordos de leniência e TCCs
antitruste são importantes ferramentas da política de combate a cartéis
não só quando considerados isoladamente, mas também quando
apreciados pelo prisma de sua interrelação, evidenciando, com dados
empíricos, a hipótese inicial deste trabalho de que a combinação
entre os instrumentos representa a pipoca com guaraná no antitruste
brasileiro.
Essa constatação no contexto antitruste mostra-se relevante
diante da sua possível replicação para outras searas do Direito
brasileiro, diante da comparação entre os acordos de leniência e os
acordos do tipo second best em suas respectivas legislações776. No
Sistema Financeiro Nacional, há previsão de que o Banco Central
(BC) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) podem celebrar
acordo administrativo em processo de supervisão (artigo 30 da Lei nº
13.506/2017) e termo de compromisso (artigo 11 da Lei nº 13.506/2017
e artigo 11, §5º, da Lei nº 6.385/1976). Na prática, entretanto, somente
foram celebrados termos de compromisso. Já na Lei Anticorrupção
(Lei nº 12.846/2013), pode-se celebrar apenas acordo de leniência, sem
a existência de instrumentos de acordo do tipo second best. A experiência
empírica do Cade evidencia que a existência simultânea desses dois
tipos de acordos cria uma combinação ótima para a persecução de
ilícitos na seara antitruste, de modo que a replicação desse modelo de
incentivos para outras áreas, com as devidas adaptações para que se
amoldem à especificidade de cada matéria, pode ser útil à persecução
776 Para maiores informações a respeito dos demais Acordos de Leniência no Brasil
e seus respectivos acordos second best, sugere-se ATHAYDE, Amanda. Manual dos
Acordos de Leniência no Brasil Teoria e Prática. 1. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2019.
Amanda Athayde
781 BRASIL. Tribunal Regional Federal (1ª Região TRF-1). Apelação Cível nº
2002.34.00.001802-8. Relator: Osmane Antonio Dos Santos. Julgado em: 16 jul. 2013.
e-DJF1: 19 ago. 2013. JusBrasil, 2013. Disponível em: <https://trf-1.jusbrasil.com.br/
jurisprudencia/24028084/apelacao-civel-ac-200234000027983-df-20023400002798-3-
trf1>. Acesso em: 24 out. 2018; BRASIL. Tribunal Regional Federal (1ª Região TRF-1).
Agravo de Instrumento nº 2007.01.00.059730-8. Relator: Luciano Tolentino Amaral.
Julgado em: 28 abr. 2008. e-DJF1: 19 maio 2008. JusBrasil, 2008. Disponível em: <https://
trf-1.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/984114/agravo-de-instrumento-ag-59730-df-
20070100059730-8?ref=serp>. Acesso em: 24 out. 2018.
782 “In the U.S., from the Division’s perspective, the goals of cartel settlements are to: 1)
receive cooperation; 2) […] create and sustain momentum in its investigations; and 3) resolve
cartel cases quickly without the need for litigation. […] The specific types of cooperation a
pleading corporation is required to provide to the Division are specified in the plea agreement
and usually include providing documents and witnesses (including those located abroad) to
assist the Division in its investigation.” (O’BRIEN, Ann. Cartel Settlements In The U.S.
And EU: Similarities, Differences & Remaining Questions. Disponível em: https://
www.justice.gov/atr/speech/cartel-settlements-us-and-eu-similarities-differences-remaining-
questions)
785 “Since the Commission’s settlement procedure is set up with the goal of obtaining
procedural efficiencies, rather than inducing cooperation or creating momentum in its
investigations, an “everyone or no one” approach is appealing from the Commission’s
viewpoint because a hybrid settlement will not achieve the procedural efficiencies the
Commission hopes to gain through settlement.” (O’BRIEN, Ann. Cartel Settlements In The
U.S. And EU: Similarities, Differences & Remaining Questions. Disponível em: https://
www.justice.gov/atr/speech/cartel-settlements-us-and-eu-similarities-differences-remaining-
questions)
Amanda Athayde
INTRODUÇÃO
786 Por exemplo, o direito antitruste moderno não comporta a visão de que as
empresas devem treinar apenas seu setor de vendas para identificar possíveis práticas
anticoncorrenciais. Até mesmo o RH precisa de um suporte jurídico-concorrencial
para a tomada de decisões. (TORPEY e FAHEY, 2015, p. 1)
787 A autoridade antitruste japonesa vem estudando o tema desde 2015. Ver mais
em: Japan Fair Trade Commission. Report of Study Group on Human Resource
and Competition Policy Disponível em: < https://www.jftc.go.jp/en/pressreleases/
yearly-2018/February/180215.html>. Acesso em 12 de abril de 2018.
788 “From the outset, the difficulty in applying the antitrust concept to organized labor
has been that the two are intrinsically incompatible. The antitrust laws are designed
to promote competition, and unions, avowedly and unabashedly, are designed to limit
it. According to classical trade union theory, the objective is the elimination of wage
competition among all employees doing the same job in the same industry. […] the
policy against restraint of trade must condemn the very existence of labor organizations,
since their minimum aim has always been the sup- pression of any inclination on the
part of working people to offer their services to employers at different prices. Indeed,
the initial reaction of the common law was to brand the concerted activities of labor
unions, even those we today would term primary strikes, as criminal conspiracies. If
labor organizations were to be legitimated despite our usual policies favoring wide-
open competition, it would have to be on the basis of other, quite different societal
values. By the time the Sherman Antitrust Act was passed in 1890, the courts had come
to recognize the existence of those other, collective values, and had generally accepted
the legality of peaceful strikes by employees against their employer for such purposes
” (ANTOINE, 1976, p. 603-631)
as higher wages and shorter hours.
789 Encontramos artigo de 1991 que trata das consequências das ações antitruste
nos EUA no mercado de trabalho e, por conseguinte, no bem-estar econômico. Veja-
se: “The Employment Consequences of the Sherman and Clayton Acts”, William F.
Shughart II and Robert D. Tollison. Journal of Institutional and Theoretical Economics
(JITE) / Zeitschrift für diegesamte Staatswissenschaft, Vol. 147, No. 1, The New
Institutional Economics New Viewson Antitrust (Mar. 1991), p. 38-52.
800 Ou seja, numa análise per se não há necessidade de análise aprofundada pela regra
da razão sobre seus efeitos anticompetitivos, pois eles são presumidos. O Guia aponta
como exceções à regra per se os casos de contratos de colaboração e de joint ventures,
desde que o acordo seja necessário para que exista a colaboração interempresarial.
Nesses casos, a regra da razão deve ser aplicada. (U.S. DOJ; FTC, 2016, p. 3)
801 Nos termos do Guia Antitruste para RH do DOJ/FTC, “an individual likely is breaking
the antitrust laws if he or she agrees with individual(s) at another company about employee
salary or other terms of compensation, either at a specific level or within a range”. US/DOJ;
FTC, 2016, p. 3.
804 Nos termos do Guia Antitruste para RH do DOJ/FTC, “é provável que um indivíduo
viole as leis antitruste se ele ou ela concordar com indivíduo(s) de outra empresa em
negar o assédio ou a contratação de funcionários da outra empresa. Tradução livre
do original: “an individual likely is breaking the antitrust laws if he or she agrees with
individual(s) at another company to refuse to solicit or hire that other company’s employees”.
(U.S. DOJ; FTC, 2016, p. 3)
805 As partes em acordos bilaterais eram Apple e Google, Apple e Adobe, Apple e
Pixar, Google e Intel e Google e Intuit.
Adobe Systems, Inc., et al.). (U.S. DISTRICT COURT FOR THE DISTRICT
OF COLUMBIA, 2011) Segundo a investigação iniciada em 2010, não
havia qualquer justificativa razoável de colaboração entre as empresas
sem o conhecimento de seus empregados. (NEIDERMEYER, 2018, p.
3). Nestes casos, não houve alegação de que os produtos ou serviços
oferecidos pelas empresas competiam entre si, mas sim que os
acordos resultaram em diminuição das oportunidades de carreiras dos
profissionais de alta tecnologia e, por conseguinte, impactavam em
seus salários de modo não razoável (LINDSAY, STILSON e BERNHARD,
2016, p. 6).
Em 2012, a eBay também foi processada por acordos de “no-
poach” ou “no cold-calling” celebrados com a Intuit 806(U.S. v. eBay,
Inc.). No acordo informal realizado entre executivos sêniores, entre
2006 e 2011, as empresas acordavam não recrutar empregados uns
dos outros, mesmo se procurados pelos funcionários da concorrente.
Esses acordos não eram públicos, nem mesmo para os empregados
das duas empresas (U.S. DISTRICT COURT FOR THE NORTHERN
DISTRICT OF CALIFORNIA, 2014). Após as ações propostas pelo DOJ,
várias ações privadas de reparação de danos contra as empresas
de tecnologia (Adobe, Apple, Google, Intel, Intuit e Lucasfilm) se
seguiram, tendo se concluído que os acordos secretos combatidos
pelos casos prejudicaram a competição entre empregados qualificados
dessas empresas, diminuindo sua mobilidade. Intuit, Lucasfilm e Pixar
celebraram acordos no valor de 20 milhões de dólares, e as demais
empresas fizeram acordo no montante de 415 milhões de dólares para
a reparação de danos causados pela conduta praticada (LINDSAY,
STILSON e BERNHARD, 2016, p. 6-7).
No ano de 2010, o DOJ abriu nova investigação contra as
empresas Lucasfilm e Pixar (United States v. Lucasfilm Ltd.). As
empresas acordaram entre si, sem informar aos seus empregados,
que (i) evitariam oferecer empregos a funcionários uma da outra;
(ii) informariam eventual oferta de trabalho a um empregado da
806 A Intuit não foi processada no caso em questão por já ter assinado acordo para
cessar a prática de no-poach em 2011 no caso United States v. Adobe Systems.
807 Este foi o primeiro acordo com o DOJ relativo a no poach após a edição do Guia
de RH. A opção do DOJ foi de não processar criminalmente as empresas porque os
acordos iniciaram e tiveram fim antes da edição do Guia. Acordos que tenham iniciado
ou continuado a valer desde outubro de 2016 têm maior chance de serem perseguidos
criminalmente (ARTEAGA e STELLA, 2018).
808 Restaurantes fast-food como Carl’s Jr. Burguer King, Pizza Hut, Domino’s e Mc
Donald’s têm - ou tinham - cláusulas de no-poach em seus contratos com os franqueados.
Também entre as franquias das academias de ginástica Curves e Anytime Fitness
vigora esse tipo de cláusula contratual. Como exemplo, temos uma ação coletiva
proposta por empregados da franquia de hamburguerias Carl’s Jr em 2017. Estes
empregados questionavam uma cláusula contratual imposta pelo franqueador a seus
franqueados impedindo que estes contratem supervisores de outros restaurantes
(HELTZER, DUBROW, et al., 2017).
809 Curves e Anytime Fitness vigora esse tipo de cláusula contratual. Segundo estudo
recente realizado por Krueger e Ashenfelter (2018, p. 1-4), 58% das maiores empresas
franqueadoras dos EUA possuem cláusulas de no-poach, que impedem que um
franqueado possa contratar funcionários de outra loja da mesma rede.
810 A vendedora acordou com suas antigas subsidiárias que não contratariam
profissionais (com salários superiores a 50 mil dólares anuais) umas das outras num
período de oito meses após o desinvestimento.
(iii) haja no mínimo cinco participantes reportando os dados sobre os quais cada
estatística divulgada é baseada, nenhum dado individual provido represente mais de
25% em uma base ponderada dessa estatística, e qualquer informação disseminada
seja suficientemente agregada de tal forma que não permitiria que os destinatários
identificassem os dados. preços cobrados ou compensação paga por qualquer
provedor em particular. (tradução livre). (U.S. DEPARTMENT OF JUSTICE; FEDERAL
TRADE COMMISSION, 1996)
816 Em linhas gerais, isso significa a assinatura de acordos de confidencialidade e a
limitação das pessoas que têm acesso às informações sensíveis sobre remuneração e
benefícios de empregados (“clean team”), e a avaliação das informações do “mercado
de trabalho a jusante” ou “mercado relevante dimensão trabalho” por advogados
antitruste antes de seu compartilhamento. (DEVLIN e JACKSON, 2018, p. 5).
817 “Por Gun Jumping entende-se a teoria que se presta a analisar a suposta conduta
anticompetitiva praticada em sede de controle de estruturas, decorrente, sobretudo,
da troca indevida de informações e/ou da integração prematura entre as empresas em
processo de concentração econômica”. (ATHAYDE, 2012, p. 58-59). No Brasil, o CADE
publicou um guia que sugere procedimentos para diminuição do risco de consumação
prévia de atos de concentração econômica. (CADE, 2015)
prévia de atos de concentração econômica
818 Como exemplo de combate ao compartilhamento de informações sensíveis nos
EUA, tem-se o caso U.S. v. Utah Society for Healthcare Human Resources, de 1994 que
já exploramos acima (no item II.1), em que além de combinação de salários (wage-
fixing), eram trocadas informações sobre orçamento para pessoal e planejamento de
futuras remunerações dos enfermeiros.
822 Esse tipo de conduta ocorre em entidades de classe ou sindicatos, como se viu
no PA n. 08000.011520/1994-40 – Comitê de Integração de Entidades Fechadas de
Assistência à Saúde (CIEFAS) v. Associação Médica Brasileira (AMB) em Alagoas.
“[...] As provas que foram consideradas pelo CADE como suficientes à caracterização
da conduta foram: (i) Ofício subscrito pelas Representadas, dirigido aos Diretores
das Cooperativas de Trabalho, empresas de Seguro Saúde e Medicinas de Grupo,
no qual informam as decisões das deliberações da AGE de 7 de junho de 1994; (ii)
Comunicado da Sociedade Alagoana de Radiologia emitido em 23/05/1994 no qual
informa deliberação de AGE que determinou a “paralização de todos os serviços de
imagem e radioterapia em Maceió, para os convênios que não acatarem a Tabela da
AMB”; e (iii) Ofício assinado pelos presidentes das Representadas, informando que
os procedimentos deveriam seguir tabela referencial única e que esta deveria ser
confirmada, sob pena de suspensão do atendimento dos conveniados com relação a
todos os serviços médicos, inclusive hospitalares. [...] O Plenário do CADE, decidiu por
unanimidade [...] pela caracterização da conduta das Representadas como infrativa à
ordem econômica, [...] determinou a abstenção, a partir da publicação da decisão, de
elaborar e divulgar quaisquer tabelas de preços, ou qualquer outra informação sobre
preços dos serviços médicos e hospitalares, entre seus associados, como também
de influenciá-los de qualquer outra forma que possa resultar na uniformização de
conduta entre os ofertantes destes serviços. (DOMINGUES e GABAN, 2016, p. 512-513).
No mesmo sentido: PA n. 08000.010318/1994-73 – Comitê de Integração de Entidades
Fechadas de Assistência à Saúde (CIEFAS) v. Associação Médica Brasileira (AMB) em
Brasília, DF. PA n. 08000.011518/1994-06 – Comitê de Integração de Entidades Fechadas
de Assistência à Saúde (CIEFAS) v. AMB em Sergipe. PA n. 08012.002153/2000-72 –
Associação dos Médicos de Santos (AMS) v. UNIDAS – União Nacional das Instituições
de Autogestão em Saúde (antiga CIEFAS – Comitê de Integração de Entidades Fechadas de
Assistência à Saú- de) et al. Cf: DOMINGUES; GABAN, 2016, p. 523-526.
823 “Na definição do mercado relevante antitruste, limita-se o conjunto de empresas
que geram forças competitivas frente a aumentos de preços pelas empresas em
foco, ou seja, aquelas que participaram de um ato de concentração ou processo
administrativo. Este mercado relevante apresenta dimensões de produto e espaço.”
(DEPARTAMENTO DE ESTUDOS ECONÔMICOS DO CADE - DEE, 2010, p. 3)
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
824 Da mesma maneira, são muito mais comuns as condutas anticompetitivas e os atos
de concentração analisados tenham como foco principal o bem-estar social ligado aos
efeitos ao consumidor, sobretudo verificando a variação dos preços dos produtos, do
que a salários de empregados ou a sua possibilidade de mudança de empregador.
825 As autoridades dos EUA já perceberam a existência desses “upstream labor
markets” (mercados de trabalho a montante), que se opõem à tradicional análise dos
“downstream good markets” (mercados relevantes de produtos a jusante) (DEVLIN e
JACKSON, 2018, p. 5).
Amanda Athayde
Mylena Matos
838 Global Competition Review. Leniency Applications are “not going up”,
says DG Comp Official. Disponpivel em: https://globalcompetitionreview.
c o m /ar t i cl e/ 1 1 5 9 2 1 9 / l e n i e n c y- appl i c a t i o n s - are - % E 2 % 8 0 % 9 C n ot - go i n g -
up%E2%80%9D-says-dg-comp-official?utm_source=Law+Business+Research&utm_
medium=email&utm_campaign=9196583_GCR+Headlines+21%2F02%2F2018&dm_
i=1KSF%2C5H44N%2CPBZBAX%2CL7VHZ%2C1#.Wo3yOb4QbWs.email.
839 Vide www.cade.gov.br, na Aba “Cade em Números”.
840 Segundo o “Guia: Programa de Leniência Antitruste do Cade”, fl. 20: “24. Qual a
diferença do Acordo de Leniência para o Termo de Compromisso de Cessação (TCC)?”
“O Acordo de Leniência é instrumento disponível apenas ao primeiro agente infrator
a reportar a conduta anticoncorrencial entre concorrentes ao Cade (art. 86, p. 1o, I da
Lei n. 12.529/11) (...) e cujos os benefícios são tanto administrativos quanto criminais
(art. 86, p. 4o c/c art. 87 da Lei n. 12.529/11). O TCC, por sua vez, é acessível a todos os
demais investigados na conduta anticompetitiva (art. 85 da Lei n. 12.529/11), gerando
benefícios na seara administrativa, mas sem previsão de benefícios automáticos na
seara criminal (...)”.
841 Nesse sentido, sugere-se a leitura de HARRINGTON Jr., Joseph E., CHANG,
Myong-Hun. When can we expect a corporate leniency Program to result in fewer cartels?
2015. Disponível em: <http://assets.wharton.upenn.edu/~harrij/pdf/Leniency_01.15.
pdf>. p. 3.
Eduardo Frade
Diogo Thomson
Amanda Athayde
1. INTRODUÇÃO
fornecedores. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa.”. Essa sanção pode, ainda,
ser aumentada de um terço até metade se o crime causar grave dano à coletividade,
for cometido por um servidor público ou se relacionar a bens ou serviços essenciais
para a vida ou para a saúde.
853 A respeito dos avanços e desafios do Programa de Leniência brasileiro, sugere-se:
ATHAYDE, Amanda. FIDELIS, Andressa. Nearly 16 years of the Leniency Program in
Brazil: Breakthroughs and challenges in cartel prosecution. CPI Antitrust Chronicle,
v.3, p.39 - 45, 2016.
Por sua vez, nesses 5 anos da Lei 12.529/2011 é possível notar uma
mudança substancial quanto à nacionalidade dos cartéis investigados,
já que mais de 80% dos Acordos de Leniência passa a tratar de cartéis
nacionais (80% no todo nacional e 6% em parte nacional).
Figura III
855 A partir de 2007, ainda sob a vigência da Lei 8.884/94 começou a se consolidar
na jurisprudência do CADE um maior rigor nas multas aplicadas a cartel. Dentro
de um espectro previsto de 1 a 30% do faturamento bruto, previsto na legislação
vigente, verifica-se, sobretudo a partir do julgamento do cartel dos vigilantes (PA nº
08012.001826/2003-10) um mínimo de 15% para cartéis, alíquota esta que deveria ser
agravada para os líderes do cartel e que foi sendo gradativamente aumentada até
atingir o patamar mais alto no caso do cartel dos Peróxidos (PA nº 08012.007818/2004-
68). A mesma gradação ocorreu nas multas para os administradores (que são baseadas
na multa da pessoa jurídica), assim como se passou, também, a aplicar outras penas,
como, por exemplo a de proibição de licitar. Após o advento da Lei 12.529/11, mesmo
com a alteração da base de cálculo para 0,1 a 20% do faturamento bruto no ramo de
atividade, o que poderia parecer uma redução in abstrato das multas, a jurisprudência
manteve o patamar alto das condenações por cartel, considerando hoje, como patamar
base 15% para cartéis clássicos (vide, p.ex., o disposto no Guia de TCC do CADE).
esta alteração, em reforço, outra inovação da Lei 12529/11, que foi alçar
ao patamar legislativo o dispositivo normativo que permite ao Cade
propor, via regimento, normas complementares para a negociação e
celebração dos TCC´s, abrindo-se assim, espaço para que o próprio
Cade decida seus requisitos de conveniência e oportunidade.858 Por
fim, a nova estrutura, que uniu Cade e SDE em um único órgão, o
“Super Cade”, também foi fundamental para o aperfeiçoamento do
modelo. Isto porque na Lei 12.29/11 fica claro que os TCCs podem ser
firmados pelo Cade como um todo, o que, naturalmente, inclui tanto
SG como Tribunal859.
Todas estas mudanças trazidas pela Lei 12.529/11, aliadas
à experiência anterior do Cade com TCCs em casos de cartéis,
permitiram que, em março de 2013, um ano após a entrada em vigência
da Lei, o CADE editasse a Resolução nº 5, alterando o seu Regimento
Interno, trazendo normas complementares sobre TCC, sobretudo em
relação aos TCCs em cartéis. O que norteou a Resolução foi justamente
a necessidade de se incentivar um novo modelo de acordo em cartéis,
voltado à colaboração com a instrução (e não somente pay-to-go) e que
pudesse ser negociado pelo órgão instrutor (Superintendência-Geral),
tendo como incentivo, em contrapartida, a previsão expressa de
descontos na contribuição pecuniária (que na Lei 12.529/11 continuou
sendo exigência obrigatória nos casos de cartel) por colaboração e
pelo momento processual.
Além disso, de maneira geral, a exigência de reconhecimento
de participação na conduta investigada para todo os TCCs em casos
de cartel, sejam negociados na Superintência-Geral com colaboração,
seja no Tribunal do Cade, bem como o arquivamento do processo com
relação ao compromissário também apenas quando do julgamento
final do processo administrativo, delimitou de maneira definitiva o
TCC em cartel como efetivo mecanismo de enforcement, complementar
ao Acordo de Leniência.
Figura VIII
Figura IX
Figura X
868 Chama a atenção neste sentido o caso do cartel da carga aérea (PA nº
08012.011027/2006-02), caso de cartel internacional e que nas diversas autoridades que
o investigaram tiveram em média 5 acordos posteriores à leniência que continham
colaboração com as investigações e no Brasil, cujas empresas envolvidas eram as
mesmas que haviam fechado acordos no exterior, nenhuma empresa havia acorrido
ao CADE para celebrar TCC até a edição da Resolução. Apenas após a publicação da
Resolução é foram firmados alguns acordos no caso e já na fase de julgamento final
pelo Tribunal do CADE.
4. CONCLUSÃO
Amanda Athayde
Ana Frazão
1. INTRODUÇÃO
876 É o que dispões o art. 6º da Lei n.º 13.303/2016, in verbis: “O estatuto da empresa
pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias deverá observar
regras de governança corporativa, de transparência e de estruturas, práticas de
gestão de riscos e de controle interno, composição da administração e, havendo
acionistas, mecanismos para sua proteção, todos constantes desta Lei”. A referida
Lei, no que concerne às práticas de governança exigidas, determina a criação e
divulgação de um Código de Conduta e Integridade (art. 9º, §1º), de um “canal de
denúncias que possibilite o recebimento de denúncias internas e externas relativas ao
descumprimento do Código de Conduta e Integridade e das demais normas internas
de ética e obrigacionais” (art. 9º, §1º, inciso III), de “mecanismos de proteção que
impeçam qualquer espécie de retaliação a pessoa que utilize o canal de denúncias” (art.
9º, §1º, inciso IV), realização de treinamentos periódicos sobre o Código de Conduta a
seus empregados (art. 9º, §1º, inciso VI), análise de pré-qualificação de fornecedores
com a exigência de consulta ao Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas (art. 37) e
presença da matriz de riscos como cláusula contratual (art. 69, inciso X).
877 O seguro de crédito à exportação provê cobertura da União para operações
de crédito à exportação contra riscos comerciais, políticos e extraordinários para
quaisquer bens e serviços exportados a partir do Brasil. Encontra previsão legal na
Lei nº. 6.704/1979
878 Para maiores informações: <http://www.fazenda.gov.br/noticias/2017/dezembro/
em-evento-sobre-anticorrupcao-sain-apresenta-medidas-para-fortalecer-seguro-
de-credito-a-exportacao>; <http://www. camex.gov.br/noticias-da-camex/1946-
definicao-de-diretrizes-para-o-sistema-de-compliance-do-seguro-de-credito-a-
exportacao>; <http://www.fazenda.gov.br/noticias/2016/maio/sain-apresenta-novos-
procedimentos-de-compliance-a-exportadores>; e <http://www.sain.fazenda.gov.
br/assuntos/credito-e-garantia-as-exportacoes/compliance-no-seguro-de- credito-a-
exportacao>.
879 Lei Estadual do Rio de Janeiro nº. 7.753/2017, que dispõe sobre a instituição do
Programa de Integridade nas empresas que contratarem com a Administração Pública
do Estado do Rio de Janeiro e dá outras providências. O Programa de Integridade consiste,
no âmbito de uma pessoa jurídica, no conjunto de mecanismos e procedimentos internos de
de/SharedDocs/Publikation/EN/Leitlinien/Notice%20-%20Leniency%20Guidelines.
pdf?__blob=publicationFile&v=5>. Acesso em: 11 abril 2018.
888 Ressalva-se, porém, o fato de que, por vezes, o CADE tem celebrado Termos
de Compromisso de Cessação (TCCs) com empresas investigadas que contêm
como cláusulas do acordo a instituição de programas de compliance. Para maiores
informações sobre o TCCs, sugere-se a leitura do Guia de TCCs do CADE. Disponível
em: <>. Acesso em: 16 de abril de 2018.
891 SNYDER, Brent. Compliance is a Culture, Not Just a Policy. Remarks as Prepared
for the International Chamber of Commerce/ United States Council of International
Business Joint Antitrust Compliance Workshop. New York, Sept. 2014.
892 Dentre as possíveis formas de autorregulação, o modelo de autorregulação regulada
(ou, na doutrina anglo-saxônica, self-regulation) é a mais comum e importante forma
de manifestação da participação privada no processo regulatório, sendo destacados
três possíveis modelos para sua implementação: delegated self-regulation, devolved-self-
regulation e cooperative self-regulation. A autorregulação regulada é caracterizada pela
intervenção dos entes privados no processo de regulação, de forma subordinada aos
fins de interesse público estabelecidos pelo Estado. Este, titular do direito de regular,
recorre às empresas para que colaborem com a elaboração de normas. Neste sentido,
ver mais em: OGUS, Anthony. Self-regulation, in PARISI, Francesco (org.) Production
of Legal Rules. Encyclopedia of Law and Economics, 2ª ed. Edward Elgar, vol. 7, 2011.
bem coloca STUCKE893, deve ser uma grande frente a ser explorada,
a fim de se buscar uma mudança nos valores e práticas empresariais,
por meio da criação de uma nova cultura empresarial, baseada na
ética e no cumprimento das normas legais. Mesmo que a regulação
pelo Estado e suas multas continuem tendo papel essencial894, veja que
o Estado já não é capaz de, por si só, garantir um mercado livre de
práticas anticoncorrenciais, atos de corrupção e ilícitos financeiros,
i.e. condutas ilegais e antiéticas.
Cada vez mais se torna claro, portanto, que a adesão e o
comprometimento voluntário dos agentes econômicos é crucial
para o efetivo e eficaz combate à tais ilegalidades. Neste ponto, os
programas de compliance como instrumentos de autorregulação
ganham grande destaque na medida em que, como defendem RILEY e
SOKOL895, o enforcement tradicional, por si só, não é capaz de produzir
o comprometimento com a lei que os programas de compliance
pretendem construir. A aplicação de sanções, por si só, não consegue
alcançar a percepção de moralidade do comportamento que está
sendo regulado ao meramente colocar um preço no descumprimento
das normas. De acordo com os autores, há então a necessidade de tirar
o debate do papel do Estado e voltá-lo às necessárias mudanças dos
valores sociais. A autorregulação e, especificamente, o compliance,
procuram fazer parte da construção dessa cultura de respeito
893 STUCKE, Maurice. Search of Effective Ethics & Compliance Programs. Journal of
Corporation Law. v. 39, n.4, 2014. p. 771-772. Disponível em: <https://cclg.rutgers.edu/
wp-content/uploads/39JCorpL769.pdf>. Acesso em: 12 abril 2018.
894 FRAZÃO (em FRAZÃO, Ana (Org.). Constituição, Empresa e Mercado. Brasília:
Faculdade de Direito - UnB, 2017, p. 18. Disponível em: <http://www.docs.ndsr.
org/livrogecem.pdf>. Acesso em: 12 abril 2018) ressalta que para que haja um real
engajamento dos agentes do mercado nessa cruzada ética é crucial que o Estado
promova os devidos incentivos. Daí porque, para a autora, a extensão e a eficácia
da autorregulação dependem necessariamente da heterorregulação (a regulação
tradicional do Estado). Nas palavras da autora, “Com efeito, a autorregulação apenas
faz sentido se a sua eficácia puder ser atestada e monitorada. Consequentemente, a
mera adesão a um programa de compliance não deixa de ser um protocolo de boas
intenções, as quais dependerão de certo tempo para a comprovação da sua eficácia”.
895 RILEY, Anne; SOKOL, D. Daniel. Rethinking Compliance. Journal of Antitrust Law,
p. 45. Disponível em: <http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2475959>
Acesso em: 12 abril 2018.
896 Idem.
897 SIEBER, Ulrich. Programas de “compliance” en el Derecho Penal de la empresa: Una
nueva concepción para controlar la criminalidad económica. In: OLAECHEA, Urquizo;
VÁSQUEZ, Abanto SÁNCHEZ, Salazar. Homenaje a Klaus Tiedemann. Dogmática
penal de Derecho penal económico y política criminal. v.1., p. Lima: Fondo, 2001. p.
205-246.
898 FRAZÃO, op. cit., 2017, p. 17 e 18.
899 FRAZÃO, Ana (Org.). Constituição, Empresa e Mercado. Brasília: Faculdade de
Direito - UnB, 2017, p. 18. Disponível em: <http://www.docs.ndsr.org/livrogecem.pdf>.
Acesso em: 12 abril 2018
5. CONCLUSÃO
908 O dilema do prisioneiro, jogo que simula o impasse entre cooperar e trair, se
estrutura da seguinte maneira: dois criminosos, A e B, são presos e interrogados
separadamente. A polícia não possui provas suficientes para os condenar, então
oferece a ambos um acordo: (i) se um dos criminosos trair e o outro permanecer em
silêncio, o que traiu sai livre e o silente cumpre 10 anos de prisão; (ii) se ambos ficarem
em silêncio (cooperarem entre si), serão condenados a 1 ano de prisão cada; e (iii)
se ambos traírem, cada um leva 5 anos de prisão. Logicamente, o melhor resultado
conjunto a ser obtido pelos criminosos seria se os dois quedassem silentes, pois
assim ambos serão soltos. Porém, o melhor resultado individual (para um prisioneiro
apenas e não para outro) é a traição: caso “A” traia e “B” não, “A” sairá livre; se “A” trai
e “B” também, “A” pegará uma pena menor.
909
910 Para maiores discussões a respeito do assunto, sugere-se a leitura de artigos
anteriores destas autoras: ATHAYDE, Amanda. Can shareholders claim damages against
company officers and directors for antitrust violations? The Japanese experience and possible
lessons to Brazil. in, Competition Law and Policy in Latin America: recent experiences.
Paulo Burnier da Silveira (Org.). Editora Kluwer, 2017, 244. FRAZÃO, Ana. Dever de
diligência: novas perspectivas em face de programas de compliance e de atingimento
de metas. Portal Jota, 15 de Fevereiro de 2017. Disponível em: <http://jota.info/
colunas/constituicao-empresa-emercado/dever-de-diligencia-15022017>. Acesso em
16 de Abril de 2018.
911 Ver FRAZÃO, Ana. Arquitetura da corrupção e as relações de mercado: Somente uma
mudança institucional profunda pode gerar frutos consistentes e duradouros. Portal
Jota, 30 de Maio de 2016. Disponível em: <http://jota.info/artigos/arquitetura-da-
corrupcao-e-relacoesde-mercado-30052016. >. Acesso em 16 de Abril de 2018.
Amanda Athayde
INTRODUCTION
912 J. M. Connor, Price-Fixing Overcharges: Revised 3rd Edition (February 24, 2014).
Available at SSRN: http://ssrn. com/abstract=2400780 or http://dx.doi.org/10.2139/
ssrn.2400780.
913 M. Levenstein, V. Suslow and L. Oswald, International Price-Fixing Cartels and
Developing Countries: A Discussion of Effects and Policy Remedies, Cambridge:
National Bureau of Economic Research, 2003. Available at: http://www.nber.org/
papers/w9511.pdf.
914 J. M. Connor, Latin America Cartel Control (March 14, 2008). Chapter XIV pp.
291–324, in Competition Law and Policy in Latin America, E. M. Fox and D. D. Sokol
(eds.), Oxford: Hart Publishing (July 2009). Available at SSRN: http://ssrn.com/
abstract=1156401 or http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.1156401.
915 J. M. Connor, The Rise of Anti-Cartel Enforcement in Africa, Asia, and Latin
America (January 6, 2016). Available at SSRN: http://ssrn.com/abstract=2711972 or
http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.2711972.
916 For the purposes of this paper and due to limitations of our research, we will
consider as international cartel investi- gations only the ones in which the alleged
violations are international in a geographic sense and have alleged poten- tial effects in
Brazil. They include cartels that operated nationally, but were part of an international
agreement. They do not include national cartels with one or more offenders located
outside Brazil.
917 All the numbers presented in this paper were extracted from CADE’s proceedings
and information, and aggregated by the authors. They have been updated to April 30,
2016. Any inaccuracy is the authors’ responsibility only.
Within the same time frame (i.e., from 2000 to April 2016),
27 leniency agreements regarding either fully or at least partially
international cartels allowed the initiation and/or the continuation
of the international cartel inves- tigations (see figure 4 below), and
44 settlement agreements were signed related to international cartel
proceed- ings (see figure 5 below).
However, challenges associated with the investigation of this
kind of violation still need to be dealt with by the Authority.918 As the
numbers indicate, only 14 of the 43 proceedings against international
cartels resulted in a formal final decision by CADE’s Tribunal919 by April
918 In these cross-border violations, companies and individuals involved are typi-
cally located in different countries, all around the world, as well as are most of the
evidences and the witnesses, making it difficult to the authorities to get together all
the pieces of the puzzle. Besides, language barriers and procedural obstacles can also
represent a great burden when dealing with transnational investigations.
919 At the end of each investigation, CADE’s General Superintendence (hereafter “SG/
CADE”), which is the investigative body, issues an opinion either on the condemnation
or the closing of the case and submits it for judgment by CADE’s Tribunal (which is the
final decision body).
920 By convicted, we also considered the proceedings closed after a settlement. By
closed, we also considered cases that are still under investigation, but already had
their international part closed.
921 According to Art. 70 of Law 12,529/2011, in “the decision initiating the admin- istrative
proceeding, the respondent shall be notified so that, within thirty (30) days, he presents a
defense and specifies the evidence to be produced, and pres- ents the complete qualifications of
up to three (03) witnesses. The initial notice shall contain the entire contents of the decision
approving the initiation of the administrative proceeding and representation, as the case
may be.” In case of international cartels, individual defendants residing outside Brazil
also have to be notified. The exact location of foreign individuals is often an obstacle
for the Authority, especially when they are former employees of the companies being
investigated or when they live in countries with personal data protection laws that
forbid the employers to provide their addresses.
922 This tendency of prosecution against individuals is also verified in the United States,
for instance. According to the Deputy Assistant Attorney General of the Department
of Justice, Brent Snyder, “During the 1990s, the Antitrust Division prosecuted almost equal
numbers of individuals (476) as corporations (480). From 2000–2009, we prosecuted more
than twice as many individuals (453) as corporations (220). And during the most recent five-
year period, we pros- ecuted almost three times as many individuals (352) as corporations
(123).”B. Snyder, Individual Accountability for Antitrust Crimes, Remarks as Prepared
for the Yale School of Management—Global Antitrust Enforcement Conference, Feb.
19, 2016.
923 In order to resort to international legal cooperation mechanisms, based in Mutual
Legal Assistance Treaties or reciprocity agreements, it is usually required a certified
or official translation of the proceedings documents into the requested country official
language. Specific requirements related to the translation are those of the requested
country.
CADE’s main investiga- tory powers. In the second and third sections,
the authors describe CADE’s Leniency Program and Settlement Policy,
respectively, which are the two main pillars of Brazilian international
cartel investigations. In the last section, the authors present their final
considerations about the issues discussed in the paper.
924 In the administrative area, the Brazilian Competition Law (Law No. 12.529/2011)
is the legislation governing the prosecution. The administrative prosecution focus on
companies and individuals that agree, join, manipulate or adjust with competitors, in
any way, on one of the following market variants: (i) the prices of goods or services
individually offered; (ii) the production or sale of a restricted or limited amount of
goods or the provision of a limited or restricted number, volume or frequency of
services; (iii) the division of parts or segments of a potential or current market of
goods or services by means of, among others, the distribution of customers, suppliers,
regions or time periods; or (iv) the prices, conditions, privileges or refusal to participate
in public bidding. Those acts will be considered administrative violations in Brazil
under any circumstance if they have as an objective or may have, regardless of fault,
even if not achieved, one of the following effects: (a) to limit, restrain or in any way
injure free competi- tion or free initiative; (b) to control the relevant market of goods
or services; (c) to arbitrarily increase profits; and (d) to exercise a dominant position
abusively. Law 12.529/2011 (Brazilian Competition Law), Article 36, § 3º, I. Available
at: http://www.cade.gov.br/assuntos/internacional/legislacao/law-no-12529-2011-
english-version-from-18-05-2012.pdf/view
925 In the criminal area, the Brazilian Economic Crimes Law (Law No. 8.137/1990,
Article 4, II) is the legislation governing the prosecution. The criminal prosecu- tion
focus only on the individuals that reach an agreement, compromise, adjust- ment or
alliance among offers aiming at one of the following objectives: (a) arti- ficially fixing
prices or quantities sold or produced; (b) regional control of the market by a company
or group of companies; (c) or control of a distribution or supply network, detrimental
to the competition. Those acts of the individ- uals face a penalty in Brazil of two to
five years of imprisonment and fines, and the prosecution is charge of the Public
Prosecution Service—either by the State Prosecutors or the Federal Prosecutors.
competition authorities around the world. Since 2000, Brazil has had
a well-structured and strong Leniency Program930 as well as the power
to request search and seizure warrants.931 Additionally, in 2012, Brazil
acquired the power to make unannounced inspections,932 and in 2013 it
introduced a major change in its Settlements Policy,933 which resulted
in an impressive increase in the use of this investigative tool.
When it comes to international cartels, Brazil usually relies
intensively, even though not exclusively, on Leniency and Settlements
Agreements. In addition, the Authority often resorts to the use of
decisions and settlements from other jurisdictions as an investigative
resource. Moreover, international cooperation with other antitrust
author- ities is being intensified. For instance, when a case origi- nates
from a leniency agreement, international cooper- ation is commonly
established if the leniency applicant provides SG/CADE with a waiver,934
either procedural or full, which may continue during the entire
proceeding. Finally, informal cooperation to exchange impressions
and non-confidential information about the case is usual too.
Through the use of all of these instruments, Brazil has
investigated some of the most well-known international cartels, such
930 Law 12.529/2011 (Brazilian Antitrust Law), Articles 86 and 87, and CADE’s Internal
Rules Articles 197 to 210. For further information, check the English version of
the draft of CADE’s Guidelines on the Leniency Program: http://www. cade.gov.br/
acesso-a-informacao/participacao-social-1/contribuicoes-da-socie- dade/arquivos/
guidelines-cades-antitrust-leniency-program.pdf
931 Law 12.529/2011 (Brazilian Antitrust Law), Article 13, VI, d).
932 Law 12.529/2011 (Brazilian Antitrust Law), Article 13, VI, c).
933 Law 12.529/2011 (Brazilian Antitrust Law), Article 85 and CADE’s Internal Rules
Articles 179 to 196. For further information, check the English version of the draft
of CADE’s Guidelines on the Settlements in Cartel cases: http://www. cade.gov.br/
acesso-a-informacao/participacao-social-1/contribuicoes-da-socie- dade/arquivos/
guidelines_tcc.pdf
934 CADE does not share information from a leniency agreement with antitrust
authorities of other countries, except if the leniency applicants and/or recipients
expressly allow the sharing of the provided information with the authorities of other
jurisdictions (waiver). The waiver can involve both formal aspects (proce- dural
waiver) and material aspects of the investigation (full waiver).
961 For the purpose of this paper, “leniency” refers to full immunity, amnesty or
reduction in fine in the case CADE is already aware of the reported violation but still
doesn’t have enough evidence against the candidate. According to article 86, paragraph
4, of Law No. 12.529/2011, combined with article 208 of the Internal Rules of CADE,
once CADE’s Tribunal declares that the leniency agreement has been fulfilled, the
leniency recipients will benefit from: (i) admin- istrative immunity under Law No.
12.529/2011, in cases in which the leniency agreement’s proposal is submitted to
CADE’s General Superintendence when this authority was not aware of the reported
violation; or (ii) a reduction by one to two-thirds of the applicable fine under Law No.
12.529/2011, in cases in which the leniency agreement’s proposal is submitted to the
SG/CADE after this authority becomes aware of the reported violation.
962 S. D. Hammond. Cornerstones of an Effective Leniency Program. In: ICN Workshop
on Leniency Programs, Sydney, 2004, pp. 22–23. Available at: http:// www.justice.gov/
atr/speech/cornerstones-effective-leniency-program.
963 According to the Brazilian Competition Law, there are six cumulative require-
ments to apply for a leniency agreement, which are the following: “(i) the company
must be the first in with respect to the violation reported or under investigation; (ii) the
company and/or individual must cease its participa- tion in the violation reported or under
investigation; (iii) when the agree- ment is proposed, CADE’s General Superintendence must
not have sufficient evidence to ensure the conviction of the company and/or the individuals;
(iv) the company and/or individuals must confess the wrongdoing; (v) the company and/
or individual must fully and permanently cooperate with the investigation and the
administrative proceeding, and attend, at their own expenses, whenever requested, at all
procedural acts, until a final decision is rendered by CADE on the reported violation; and (vi)
the cooperation must result on the identification of the others involved in the violation and
the collection of evidentiary informa- tion and documents of the offense reported or under
investigation.”
964 “According to article 86 of Law No. 12.529/2011, the government body respon- sible
for negotiation and execution of Leniency Agreements is [SG/CADE]. CADE’s Tribunal does
not participate in the negotiation and/or execution of Leniency Agreements and is only
responsible for issuing a final decision as to whether or not the agreement has been fulfilled,
at the time of the judgment of the administrative proceeding (art. 86, paragraph 4, of Law
No. 12.529/2011). Although arts. 86 and 87 of Law No. 12.529/2011 do not expressly require
the participation of the state and/or federal Prosecution Services for entering into a Leniency
Agreement, CADE’s consolidated experience shows that, in light of the criminal repercussions
of a cartel, the Prosecution Service should be invited to co-sign, as it is the competent entity to
bring criminal charges and initiate a public criminal action. Hence, the state and/or federal
Prosecution Services can participate in the agreement as an interested party, in order to grant
greater legal security for the leniency recipients and facilitate the criminal investigation
of the cartel.” In this sense, the administrative and the criminal investigations are
independent in both spheres, including in international cartel investigations.
965 In Brazil, Article 46 of Law No. 12.529/2011 provides for a five-year limitation
period determined either from the date when the anticompetitive practice took place
or, in the event of a permanent or continued violation, the date on which it ceases. In
situations where the conduct investigated under the Antitrust Law is also a criminal
violation (such as cartels), the limitation period is twelve years, applied both to the
Criminal Public Prosecutor and to CADE.
966 An addendum to the leniency agreement means signing of a document to include
individuals to the original leniency agreement. “It should be noted that an Addendum to
the Leniency Agreement will be possible only upon the fulfill- ment of the requirements for
execution of a Leniency Agreement, such as having participated in the conduct, confessing
the wrongdoing, and collaborating with the investigations, and as long as the SG/CADE does
not have sufficient evidence to ensure a conviction.”
967 For “mixed” cartels, we refer to those investigations in which the alleged viola-
tion operated both domestic and internationally.
968 Before the entry into force of the Law No. 12.529/2011 (Brazilian Competition
Law), the law governing the competition issues was the Law No. 8.884/1994.
970 In 2015, for example, CADE received 244 new claims of anticompetitive conducts
and opened 37 formal proceedings to investigate them, among which only a few were
originated from the leniency agreements. This means that the Brazilian Competition
Authority not only relies on leniency applications to pros- ecute cartels.
971 English version of the draft of CADE’s Guidelines on the Leniency Program:
http://www.cade.gov.br/acesso-a-informacao/participacao-social-1/ contribuicoes-da-
sociedade/arquivos/guidelines-cades-antitrust-leniency-pro- gram.pdf
and paying a pecu- niary contribution. The TCC, unlike the leniency
agree- ment, does not offer any automatic criminal benefits.972
Until 2013, there were few cartel cases in which TCCs were
actually used since the regulation of the instrument did not provide
enough incentives for the Authority and for the defendants to settle.
On the one hand, the TCC did not require an obligation on the
defendants’ part to cooperate with the investigations, making it less
attrac- tive for the Authority to settle when there was enough evidence
for a conviction. On the other hand, there were no clear rules on how
the amount of the pecuniary contribution would be defined, making
it less attractive for defendants to settle due to a lack of legal certainty
about the outcomes of the negotiations.
In 2013, however, CADE changed its Settlement Policy.973The
goal was to make TCCs more similar to leniency agreements in terms
of incentives and thus to encourage companies and/or individuals
involved in cartel cases to cooperate with the Authority when they
were not the first in and therefore did not qualify for a leniency
agreement.974Accordingly, more stringent requirements were
established to sign a TCC in a cartel investigation. To settle in such a
case, defendants now have not only to (i) cease their involvement and
(ii) pay a pecuniary contribution, but also to (iii) admit the practice that
is being investigated, and, in order to have greater financial benefits,
they have to (iv) cooperate with the investigations by providing
evidence and/or explaining, translating and supplying details about
documents and information.
972 Since the TCC does not generate automatic benefits in the criminal sphere, the
Prosecution Service does not participate in the agreement and may bring criminal
action against the parties to the TCC. Nevertheless, if the person interested. in entering
into a TCC with CADE also wishes to concurrently negotiate a cooperation agreement
with the Prosecution Service and/or the Federal Police, then SG/CADE can assist in the
interaction with the Prosecution Service and/or Federal Police, and the negotiation
and execution of any agreements will be up to the discretion of such authorities.
973 Article 179 and following of Cade’s Internal Rules.
974 As explained above, in Brazil, only the first one to contact the Authority is eligible
to a leniency agreement.
975 The Department of Justice of the United States uses the expression “cooperation
discounts” to refer to the “discount slots” mentioned in this paper.
976 Before 2008, there wasn’t any TCC signed on cartel investigations.
977 It is relevant to note that the number of TCC’s subscribers had an even bigger
increase, given that, after the entry into force of the new Settlement Policy, companies
and their employees can sign the TCC jointly, what was not an option before.
FINAL OBSERVATIONS
979 English version of the draft of CADE`s TCC Guidelines on cartel investiga-
tions:http://www.cade.gov.br/acesso-a-informacao/participacao-social-1/
contribuicoes-da-sociedade/arquivos/guidelines_tcc.pdf
980 According to Brazilian Law (Article 37), antitrust infringements subjects the ones
responsible to the following fines, among other penalties: (i) in the case of a company,
a fine of 0.1% to 20% of the gross sales of the company, group or conglomerate, in
the last fiscal year before the establishment of the admin- istrative proceeding, in
the field of the business activity in which the violation occurred, which will never
be less than the advantage obtained, when possible the estimation thereof; (ii) in the
case of the administrator, directly or indirectly responsible for the violation, when
negligence or willful misconduct is proven, a fine of 1% to 20% of that applied to the
company or to legal entity; (iii) in the case of other individuals or public or private
legal entities, as well as any association of persons or de facto or the jure legal entities,
even if temporary, or unin- corporated, which do not perform business activity, not
being possible to use the gross sales criteria, a fine between fifty thousand reais and
two billion reais.
Amanda Athayde
Rodrigo de Grandis
RESUMO
O Acordo de Leniência Antitruste, previsto no Brasil nos artigos
86 e 87 da Lei nº 12.529/2011, concede imunidade total ou parcial em
relação às penas administrativas e criminais aplicáveis àquele que
confessar e colaborar com as investigações, trazendo informações
e documentos que permitam à autoridade identificar os demais
coautores e comprovar a infração. As repercussões criminais imediatas
desse acordo são a suspensão do curso do prazo prescricional e o
impedimento a oferecer a denúncia, sendo que, ao final do processo
– ou seja, quando declarado o cumprimento do acordo –, ter-se-á a
extinção da punibilidade. Nesse contexto, o presente artigo visa a
apresentar algumas das discussões recentes acerta da repercussão
criminal do Acordo de Leniência Antitruste. Qual seria a abrangência
dos crimes contidos na imunidade criminal do artigo 87 da Lei nº
12.529/2011? Ademais, como compatibilizar e coordenar o Acordo
de Leniência Antitruste com outros instrumentos de colaboração
premiada previstos na legislação brasileira, especialmente aqueles
recentes da Lei de Organizações Criminosas (Lei n.º 12.850/2013) e da
Lei Anticorrupção (Lei n.º 12.846/2013)? Ainda, haveria a possibilidade
de celebrar um acordo de colaboração diante de infrações relacionadas
à Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/92)? Por fim, quais
seriam as repercussões criminais do Termo de Compromisso de
Cessação (TCC) celebrado no Cade e algumas maneiras de também se
1. INTRODUÇÃO
989 Lei 12.529/2011, Art. 36º “Constituem infração da ordem econômica, independentemente
de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam
produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados: I - limitar, falsear ou de
qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa; II - dominar mercado
relevante de bens ou serviços; III - aumentar arbitrariamente os lucros; e IV - exercer de forma
abusiva posição dominante. (...)§ 3o As seguintes condutas, além de outras, na medida em
que configurem hipótese prevista no caput deste artigo e seus incisos, caracterizam infração
da ordem econômica: I - acordar, combinar, manipular ou ajustar com concorrente, sob
qualquer forma: a) os preços de bens ou serviços ofertados individualmente; b) a produção
ou a comercialização de uma quantidade restrita ou limitada de bens ou a prestação de um
número, volume ou frequência restrita ou limitada de serviços; c) a divisão de partes ou
segmentos de um mercado atual ou potencial de bens ou serviços, mediante, dentre outros, a
distribuição de clientes, fornecedores, regiões ou períodos; d) preços, condições, vantagens ou
abstenção em licitação pública”.
990 Lei 8.137/1990, Art. 4º “Constitui crime contra a ordem econômica: I - abusar do poder
econômico, dominando o mercado ou eliminando, total ou parcialmente, a concorrência
mediante qualquer forma de ajuste ou acordo de empresas; II - formar acordo, convênio,
ajuste ou aliança entre ofertantes, visando: a) à fixação artificial de preços ou quantidades
vendidas ou produzidas; b) ao controle regionalizado do mercado por empresa ou grupo
de empresas; c) ao controle, em detrimento da concorrência, de rede de distribuição ou de
fornecedores. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa.”. Essa sanção pode, ainda,
ser aumentada de um terço até metade se o crime causar grave dano à coletividade,
for cometido por um servidor público ou se relacionar a bens ou serviços essenciais
para a vida ou para a saúde.
992 Lei 8.666/93. “Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas
em lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade:
(...) Art. 90. Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro
expediente, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com o intuito de obter, para
si ou para outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação: (...) Art.
91. Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a Administração, dando
causa à instauração de licitação ou à celebração de contrato, cuja invalidação vier a ser
decretada pelo Poder Judiciário: (...) Art. 92. Admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer
modificação ou vantagem, inclusive prorrogação contratual, em favor do adjudicatário,
durante a execução dos contratos celebrados com o Poder Público, sem autorização em lei,
no ato convocatório da licitação ou nos respectivos instrumentos contratuais, ou, ainda,
pagar fatura com preterição da ordem cronológica de sua exigibilidade, observado o disposto
no art. 121 desta Lei: (...) Art. 93. Impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer
ato de procedimento licitatório: (...) Art. 94. Devassar o sigilo de proposta apresentada
em procedimento licitatório, ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo: (...) Art.
95. Afastar ou procurar afastar licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou
oferecimento de vantagem de qualquer tipo: (...) Art. 96. Fraudar, em prejuízo da Fazenda
Pública, licitação instaurada para aquisição ou venda de bens ou mercadorias, ou contrato
dela decorrente: I - elevando arbitrariamente os preços; II - vendendo, como verdadeira ou
perfeita, mercadoria falsificada ou deteriorada; III - entregando uma mercadoria por outra;
IV - alterando substância, qualidade ou quantidade da mercadoria fornecida; V - tornando,
por qualquer modo, injustamente, mais onerosa a proposta ou a execução do contrato: (...)
Art. 97. Admitir à licitação ou celebrar contrato com empresa ou profissional declarado
inidôneo: (...) Art. 98. Obstar, impedir ou dificultar, injustamente, a inscrição de qualquer
interessado nos registros cadastrais ou promover indevidamente a alteração, suspensão ou
cancelamento de registro do inscrito: (...)”
993 Art. 288 “Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade
se a associação é armada ou se houver a participação de criança ou adolescente.”.
994 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Crime Organizado, Aspectos Gerais e Mecanismos
Legais. 5a Ed. São Paulo: Ed. Atlas, 2015. p. 174.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, a qualquer título, promove, sem autorização
legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior, ou nele mantiver depósitos não declarados
à repartição federal competente.”
1000 Código Penal. “Homicídio simples Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a
vinte anos.”
1001 Código de Processo Penal “Art. 76, II: A competência será determinada pela conexão:
II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou
para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas.”
1002 Código de Processo Penal “Art. 76, III: quando a prova de uma infração ou de
qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração.”
1003 A doutrina brasileira tem destacado que, em geral, os crimes da Lei n.º 8.666/1993
tutelam a moralidade administrativa, a lisura e a regularidade das concorrências e,
em alguns casos específicos, como sucede com o tipo penal do art. 90, protege-se
também a igualdade e a competitividade do certame. Nesse sentido: GRECO FILHO,
Vicente. Dos crimes da lei de licitações, São Paulo: Saraiva, 1994, p. 16; COSTA JÚNIOR,
Paulo José da. Direito penal das licitações: comentários aos arts. 89 a 99 da Lei n. 8.666, de
21-6-1993. 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2004, p. 19.
1004 FIANDACA, Giovanni; MUSCO, Enzo. Derecho penal, parte general, Bogotá-
Colombia: Editorial Themis, 2006, p. 676.
1005 “Ao contrário do que ocorre com os ilícitos penais relacionados a cartel, a assinatura de
um acordo de leniência com o Cade não afasta a incidência de sanções para o signatário com
relação a outros ilícitos administrativos, o que pode diminuir a atratividade do instituto,
especialmente em caso de cartel em licitações.”. MARTINEZ, Ana Paula. Repressão a
cartéis: interface entre Direito Administrativo e Direito Penal. São Paulo: Ed. Singular,
2013. p. 280.
1017 BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo penal, 3ª edição, revista e atualizada, São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 453.
1018 Discute-se doutrinariamente se a colaboração premiada seria exclusiva dos
delitos perpetrados sob o contexto de uma organização criminosa - ou ainda sob uma
das hipóteses definidas no art. 1º, § 2º - caracterizada nos termos do art. 1º, § 1º, da
Lei n.º 12.850/2013, ou poderia aplicar-se sobre toda e qualquer modalidade delitiva.
Cezar Roberto Bittencourt e Paulo César Busato sustentam que a colaboração incide
exclusivamente sobre as condutas penais relacionadas às organizações criminosas,
haja vista tratar-se de norma incriminadora. BITTENCOURT, Cezar Roberto. BUSATO,
Paulo César. Comentários à lei de organização criminosa, Lei n. 12.850/2013. São Paulo:
Saraiva, 2014, p. 124-125. Em sentido oposto, assinala Gustavo Badaró que a colaboração
processual delineada na Lei de ORCRIM não ficará restrita ao âmbito da criminalidade
organizada, na exata medida em que inexiste peculiaridade ou especificidade nas
outras condutas delituosas que justifique tratamento diverso. BADARÓ, Gustavo
Henrique. Processo penal, Op. Cit., p. 453. Esclarece Badaró, no ponto: “Não é, pois, um
caso de lex specialis derrogat generali. O que inspira a indigitada regra é a necessidade
de maior cuidado e preocupação com o risco de erro judiciário, quando a fonte de
prova é um coimputado. E isso não é diferente se o agente colaborador participa de
organização criminosa, de tráfico de drogas, de lavagem de dinheiro ou de crime
contra o sistema financeiro nacional” (Op. Cit., p. 453).
1019 Sob a óptica processual penal, as informações fornecidas pelo agente colaborador
ingressarão na ação penal, na maioria das vezes, por intermédio da oralidade. Assim,
dar-se-ão as informações por ocasião do interrogatório, se o colaborador também
vier a ser imputado, ou durante a instrução processual, ouvindo-se o colaborador na
condição de testemunha anômala. É imperioso, contudo, segundo observa Gustavo
Badaró, que, dado o seu caráter de prova oral, será da essência do ato a sua produção
sob contraditório judicial, “assegurando-se o direito à perguntas e reperguntas das partes
e, em especial, daquele que foi delatado. Sem isso, resta inviabilizado o direito à prova do
delatado, no caso, o direito de se defender provando”. BADARÓ, Gustavo. Processo penal.
Op. Cit., p. 457.
1022 MENDONÇA, Andrey Borges de, Roteiro de Colaboração Premiada, São Paulo:
Mimeo, 2012.
1023 No sentido da existência de dois pedidos principais quando de uma ação de
improbidade administrativa: “primeiramente, o pedido de que o juiz reconheça a conduta
de improbidade (pedido originário, de natureza declaratória); depois, o pedido de que, sendo
procedente a ação, sejam aplicadas ao réu as respectivas sanções (pedido subsequente, de
natureza condenatória)”. CARVALHO FILHO, Jose dos Santos. Direito Administrativo. 24
ed. São Paulo: Ed. Lumen Juris, 2011.
3. CONCLUSÃO
1029 Global Competition Review. CADE receives award of Agency of the Year – Americas
(15.05.2015). Disponível em: <http://globalcompetitionreview.com/> e <http://www.
cade.gov.br/Default.aspx?3df00108190ee220ea58eb471f28 > (último acesso em
18.07.2015).
1030 MARTINEZ, Ana Paula. Repressão a cartéis: interface entre Direito Administrativo
e Direito Penal. São Paulo: Ed. Singular, 2013. p. 280.
1031 SNYDER, Brent. Leniency in Multi-Jurisdictional Investigations: Too Much of
a Good Thing?, 06.07.2015. Disponível em: <http://www.justice.gov/atr/public/
speeches/315474.pdf> (último acesso em 18.07.2015).
Amanda Athayde
1032 Essa definição de cartel vem sendo usualmente utilizada pela Secretaria de Direito
Econômico em suas Notas Técnicas e também nas cartilhas de difusão da cultura da
concorrência. Nesse sentido também afirma HOVENKAMP, para quem “cartel é um
acordo entre empresas concorrentes para reduzir sua produção aos níveis acordados
ou vender a um preço acordado”. Tradução livre de “A cartel is na agreement among
otherwise competing firms to reduce their output to agreed upon levels, or sell at an agreed
upon price”. HOVENKAMP, H. Federal Antitrust Policy: the law of competition and its
practice. St. Paul: West Group, 1999. para. 4.1.
uma das propostas; e (d) divisão e/ou alocação de mercados por áreas
ou grupos de consumidores.1033
Considerado a mais grave lesão à concorrência dentre as condutas
anticompetitivas, o cartel prejudica seriamente os consumidores ao
aumentar preços e restringir a oferta, tornando os bens e serviços mais
caros ou indisponíveis. Além disso, tal conduta limita artificialmente
a concorrência e traz prejuízos à inovação, por impedir que outros
concorrentes aprimorem seus processos produtivos e lancem novos
e melhores produtos no mercado. O resultado é a perda de bem-estar
do consumidor e, no longo prazo, a perda da competitividade da
economia nacional. Os objetivos primordiais da persecução de cartéis
são, assim, a cessação da conduta, a compensação das vítimas e a
dissuasão de práticas similares no futuro.
Segundo a OCDE, os cartéis geram um sobrepreço estimado
entre 10% e 20% comparado ao preço em um mercado competitivo,1034
causando perdas anuais de centenas de bilhões de reais aos
consumidores. A literatura econômica também é unânime em apontar
que os efeitos líquidos do cartel à sociedade são sempre negativos.
Ademais, a experiência em jurisdições com grande tradição antitruste
é uníssona na constatação de que os prejuízos à economia são sempre
significativos, e qualquer modelo teórico de livro-texto aponta como
lição básica os prejuízos líquidos na alocação ineficiente dos recursos
produzidos na sociedade pelos cartéis. O Sistema Brasileiro de Defesa
da Concorrência (SBDC) também presume os efeitos negativos à
sociedade decorrentes de acordos de cartéis.1035
No Brasil, a persecução aos cartéis encontra fundamentação
legislativa no artigo 1º, “caput”, da Lei nº 8.884/94 (artigo 1º, “caput”,
1042 YU, Yinne. The impact of private international cartels on developing coutries.
Stanford University, 2003, p. 3. Disponível em: < http://economics.stanford.edu/files/
Theses/Theses_2003/Yu.pdf >. Acesso em: 02.12.2011.
1043 DoJ. Antitrust Division. International Competition Policy Advisory Committee.
Final Report, 2000. Disponível em: <http://www.justice.gov/atr/icpac/finalreport.
html>. Acesso em: 02.12.2002.
1044 YU. The impact of private international cartels on developing coutries, 2003,
p. 6.
1048 Para um estudo aprofundado sobre o tema ver: SUSIGAN, Wilson. Indústria
Brasileira, origem e desenvolvimento. São Paulo: Hucitec, 2000, p. 25-46.
1049 Não uma tradução direta. O sentido buscado é o desenvolvimento de uma solução
não padrão e específica às circunstâncias.
1050 SABEL, Charles. “Bootstrapping Development: Rethinking the Role of Public
Intervention in Promoting Growth”. In: http://law.wisc.edu/gls/documents/lands_
canons/bootstrapping_development_sabel.pdf
1051 No referido caso, a empresa Du Pont havia sido acusada de tentar monopolizar
o mercado de celofane. Por outro lado, a Du Pont argumentou que havia grande
elasticidade cruzada da demanda entre o celofane e outros papéis para embrulhos.
Assim, em razão disto, a Du Pont passaria a ter apenas 17% do mercado, o que
demonstrava a inexistência de poder de mercado e, portanto, a impossibilidade de ter
monopolizado o mercado. De acordo com alguns doutrinadores, o erro da Suprema
Corte foi ter utilizado o teste do monopolista hipotético em um caso de investigação de
prática anticoncorrencial, já que antes da prática anticompetiva, não havia a referida
elevada substitutibilidade entre celofane e outros papéis. Aliás, foi justamente o
aumento do preço do celofane que teria possibilitado a reconceituação do próprio
mercado relevante.
1057 FORGIONI, Paula A. Os Fundamentos do Antitruste. 4. ed. São Paulo: RT, 2010, pp.
144/145.
1058 Eros Grau e Paula Forgioni sustentam que o administrado comprometer-se-ia a
fazer cessar imediatamente a prática, sem confessar matéria de fato ou reconhecer
eventual ilicitude (Compromisso de Cessação e Compromisso de Desempenho na Lei
Antitruste Brasileira. O Estado, a Empresa e o Contrato. São Paulo: Malheiros, 2005, pp.
232/233).
1059 GRAU; FORGIONI. Compromisso de Cessação e Compromisso de Desempenho
na Lei Antitruste Brasileira, 2005, p. 231.
1060 Processo Administrativo nº 08012.004897/2000-23.
1061 Processo Administrativo nº 08012.004702/2004-77.
1065 A ICN tem por objetivo a troca de experiências e melhores práticas em defesa da
concorrência, bem como fomentar a cultura de defesa da concorrência em países em
desenvolvimento e prestar assistência às agências mais jovens, criadas recentemente.
A rede promove estratégias de convergência, referentes aos procedimentos e forma
de tratamento dos casos, visando à geração de benefícios tanto para empresas
nacionais e internacionais, quanto para as agências antitruste, por meio de uma
política de concorrência internacional inequívoca. Site oficial da ICN: < http://www.
internationalcompetitionnetwork.org/>.
1066 International Competition Network: Cartel Working Group – Subgroup 1
– General framework: Co-operation between Competition agencies in Cartel
investigations. Sixth Annual ICN conferente, Moscow, Russia (May 30 – June 1,
2007). Disponível em: <http://en.fas.gov.ru/netcat_files/Analitical%20materials/MKS/
Report%20on%20Co-operation%20between%20competition%20agencies%20in%20
cartel%20investigations.pdf>. Acesso em: 02.12.2011
1069 OCDE, Fighting hard core cartels, 2002, p. 72. Disponível em:
<http://www.oecd.org/dataoecd/49/16/2474442.pdf>. Acesso em: 02.12.2011.
1070 Ainda que, na esteira da jurisprudência do CADE, não seja necessário provar a
ocorrência desses prejuízos aos consumidores para condenar o cartel, já que seus
efeitos deletérios são presumidos (Voto Vogal do então Conselheiro Luiz Delorme
Prado no Processo Administrativo nº 08012.004599/1999-18).
1071 OCDE, Hard Core Cartels: Recent Progress and Challenges, Paris: 2003, p. 8.
1072 LEVENSTEIN; SUSLOW; OSWALD. Contemporary International Cartels and
Developing Countries: Economic Effects and Implications for Competition Policy,
2003, p. 40. Disponível em:
<http://ageconsearch.umn.edu/bitstream/14590/1/wp03-10.pdf>. Acesso em:
02.12.2011.
1073 LEVENSTEIN; SUSLOW; OSWALD. Contemporary International Cartels and
Developing Countries, p. 50.
Amanda Athayde
forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos,
ainda que não sejam alcançados: I - limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar
a livre concorrência ou a livre iniciativa; [...] IV - exercer de forma abusiva posição
dominante. § 3º As seguintes condutas, além de outras, na medida em que configurem
hipótese prevista no caput deste artigo e seus incisos, caracterizam infração da
ordem econômica: II - promover, obter ou influenciar a adoção de conduta comercial
uniforme ou concertada entre concorrentes;
1087 A preocupação histórica do sistema brasileiro de defesa da concorrência com
condutas anticompetitivas no bojo de associações e sindicatos é evidenciada pela
publicação da Cartilha SDE de combate a cartéis em associações e sindicatos. 2009.
Disponível em: < https://www.abitam.com.br/site/download/cartilha_sindicatos.pdf>.
1088 Art. 31. Esta Lei aplica-se às pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou
privado, bem como a quaisquer associações de entidades ou pessoas, constituídas de
fato ou de direito, ainda que temporariamente, com ou sem personalidade jurídica,
mesmo que exerçam atividade sob regime de monopólio legal.
1090 HARRINGTON JR., Joseph E. Collusion in Plain Sight: firm’s use of public
announcements to restrain competition. ABA, June 2022, Vol, 84, Issue 2.
Disponível em: < https://awards.concurrences.com/IMG/pdf/alj22.pdf?103460/
d3ded543799c5510bd1383b6732c1a851cdd154ae7e9779c2b54f98b9f155ff2>.
1091 KEPLER, John D., Private Communication Among Competitors and Public
Disclosure, 71 J. ACCT. & ECON. 1, 1 (2021).
1092 A lista exemplificativa de informações comercialmente sensíveis contempla:
(i) custos das empresas envolvidas; (ii) nível de capacidade e planos de expansão;
(iii) estratégias de marketing; (iv) precificação de produtos (preços e descontos); (v)
principais clientes e descontos assegurados; (vi) salários/benefícios de funcionários;
1094 https://ec.europa.eu/commission/presscorner/detail/en/IP_16_2446;https://www.
gov.uk/government/news/cma-publishes-final-cement-price-announcement-order
1095 https://www.oecd.org/daf/competitionUnilaterasclosureofinformation2012.pdf;
http://www.ftc.gov/os/caselist/0810157/100720uhaulcmpt.pdf; http://www.ftc.gov/os/
caselist/0510008/0510008c4160ValassisDecisionandOrder.pdf.
Ações Privadas em
Reparação Cível
Amanda Athayde
Carolina Trevizo
RESUMO ESTRUTURADO
Contextualização: Apesar de a Lei nº 14.470/2022 endereçar
algumas das dificuldades enfrentadas no âmbito do private
enforcement no direito concorrencial brasileiro, trouxe consigo novas
dúvidas sobre aplicabilidade da nova lei no tempo, pois não consagrou
em seu texto uma norma de direito intertemporal que regulasse essa
questão. Em quais hipóteses, em que momento e como aplicar a Lei
nº 14.470/2022 ou a lei antiga nas ações indenizatórias por danos
concorrenciais (“ARDCs”) já extintas, ainda pendentes, e que ainda
não foram iniciadas? A resposta a tais perguntas sobre a aplicabilidade
imediata da Lei nº 14.470/2022 poderá determinar a viabilidade das
ARDCs ou tornará o processo menos oneroso/mais compensatório
para as vítimas.
Objetivo: O artigo tem como objetivo analisar como se dará a
aplicabilidade das disposições novas da Lei nº 14.470/2022.
Método: As autoras analisaram a natureza das novas normas
trazidas pela Lei nº 14.470/2022, classificando-as como de direito
material e processual. A partir disso, examinaram as hipóteses de
aplicação dessas disposições nas ARDCs já extintas, ainda pendentes,
e que ainda não foram iniciadas.
Resultado: Verificou-se que as ARDCs pendentes são o foco
das maiores controvérsias de aplicabilidade da Lei nº 14.470/2022,
STRUCTURED ABSTRACT
Conceptualization: Law No. 14,470/2022 was enacted to address
some of the difficulties faced in the context of private enforcement in
Brazilian antitrust law. At the same time, however, difficulties began
to be arise about the applicability of the new law over time, as it did
not enshrine in its text a rule of intertemporal law that regulates this
issue. The difficulty is even greater in the numerous competition
damage claims (“ARDCs”) pending in the Brazilian Judiciary, in which
the matters addressed by the new law are being discussed. Indeed,
the proposed analysis is extremely important since the immediate
applicability of the new law could determine the viability of these
ARDCs or make the process less burdensome/more rewarding for the
victims.
Objective: The article aims to analyze how the applicability of
the new provisions of Law nº 14.470/2022 will take place.
Methodology: The authors analyzed the nature of the new
provisions introduced by Law nº 14.470/2022, classifying them
as substantive and procedural law. From this, they examined the
INTRODUÇÃO
1098 “O direito processual é, assim, do ponto de vista de sua função jurídica, um instrumento
a serviço do direito material: todos os seus institutos básicos (jurisdição, ação, exceção,
processo) são concebidos e justificam-se no quadro das instituições do Estado pela necessidade
de garantir a autoridade do ordenamento jurídico. O objeto do direito processual reside
precisamente nesses institutos e eles concordarem decisivamente para dar-lhe sua própria
individualidade e distingui-lo do direito material” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO,
2006, 46).
1099 “As normas de direito material são aquelas que indicam quais os direitos de cada
um. Por exemplo, a que diz que determinadas pessoas têm direito de postular alimentos
de outras é material: atribui um interesse primário ao seu titular. As normas de processo
são meramente instrumentais. Pressupõe que o titular de um direito material entenda que
ele não foi respeitado, e recorra ao Judiciário para que o faça valer. O direito material pode
ser espontaneamente respeitado, ou pode não ser. Se a vítima quiser fazê-lo valer com força
coercitiva, deve recorrer ao Estado, do que resultará a instauração do processo. Ele não é um
fim em si mesmo, nem o que almeja quem ingressou em juízo, mas um meio, um instrumento,
para fazer valer o direito desrespeitado. As normas de direito processual regulamentam o
instrumento de que se vale o Estado-juiz para fazer valer os direitos não respeitados dos que
a ele recorreram.” (GONÇALVES, 2011, p. 36)
1100 Entendemos que o art. 47, §4º da Lei nº 14.470/2022 trata de norma processual
devido à sua clara finalidade de impulso processual das ARDCs. O dispositivo
esclarece, desde logo, que não se pode presumir o repasse do sobrepreço, atribuindo
o ônus de provar esse tipo de defesa ao réu, vez que tratar-se-ia de fato extintivo do
direito à parte autora.
1101 “[...] a tutela de evidência, por sua própria natureza, pressupõe ação já ajuizada, pois
é através da dedução da pretensão posta em juízo e da análise dos documentos apresentados
que é possível avaliar se o direito do autor é, de fato evidente” (THEODORO, 2016, p. 379)
danos, que pode ocorrer após ação penal (art. 200, CC/02),1111 após a
decisão condenatória final do CADE,1112 ou quando da celebração ou
rescisão do contrato.1113
Caso o (3.1.1.ii) processo esteja pendente no momento da
entrada em vigor da lei nova (i.e., a ação tenha sido ajuizada até
15/11/2022, dia anterior à entrada em vigor da Lei nº 14.470/2022), o
prazo prescricional aplicável é o da lei antiga, ou seja, 3 (três) anos
(art. 206, §3º, V, CC/02).
Se extrai da jurisprudência do c. STJ que inexiste direito
adquirido a prazo prescricional em curso (mas apenas expectativa
de direito), cabendo às partes se submeterem ao regimento jurídico
novo. Segundo a Corte Especial, a contagem do novo prazo, por
óbvio, só tem início com a entrada em vigor da inovação legislativa.
A jurisprudência, no entanto, estabelece 2 (duas) exceções para a
incidência do prazo definido pelo novo diploma legal: (i) se o prazo
de prescrição aplicável anteriormente já tiver se consumado; ou (ii) se
a ação já tiver sido ajuizada antes da entrada em vigor da lei nova.1114
Recentemente, a Terceira Turma do STJ analisou a prescrição de
pretensão de reparação de dano concorrencial decorrente de conduta
anticompetitiva no Recurso Especial nº 2.095.107/SP, referente a uma
ação ajuizada em 2016, e entendeu que se aplicava ao caso dos autos
a regra prevista no art. 206, §3º, V, do CC/02, que define a prazo de
prescrição de 3 (três) anos. Isso porque “quando da entrada em vigor do
1115 STJ, REsp nº 2.095.107/SP, Terceira Turma, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
DJe 06/10/2023.
1116 “Em relação à prescrição, a Lei nº 14.470/2022 é clara quando se trata de ações de
indenização por danos concorrenciais que sejam derivadas de decisão condenatória do
Cade (ações follow-on). Nesses casos, a prescrição é de cinco anos a partir da publicação
do julgamento final do processo administrativo pelo Cade. [...] Para as ações stand-alone de
reparação de danos posteriores à Lei nº 14.470/2022, há quem defenda que o prazo
prescricional de cinco anos estabelecido na Lei nº 14.470/2022 continua sendo aplicado, com
a mudança apenas do termo inicial da prescrição. Por outro lado, há também quem defenda
que, em não havendo decisão condenatória do Cade, a melhor orientação não viria da Lei
nº 14.470/2022, mas sim do julgado do STJ, ao determinar a aplicação da regra geral de três
anos estabelecida no artigo 206, § 3º, V, do Código Civil.” (ATHAYDE et al., 2023)
1117 ARDCs baseadas em uma condenação prévia do CADE.
1118 “[…] 4. A prescrição da pretensão de natureza reparatória de dano oriundo de infração
à ordem econômica possui regulamentação na Lei nº 12.529/2011, que teve sua redação
alterada pela Lei nº 14.470/2022. O prazo aplicado antes da alteração legislativa era o da
regra geral para fins de reparação civil extracontratual prevista no art. 206, § 3º, inciso
V, do Código Civil, ou seja, 3 (três) anos. A nova lei ampliou o prazo prescricional para 5
(cinco) anos e estabeleceu regras específicas para sua contagem, conforme redação do art. 46-
A, caput e parágrafos, da Lei nº 12.529/2011. [...] 7. O termo inicial da contagem do prazo
prescricional para as ações follow-on, conforme dispõem os §§ 1º e 2º do art. 46-A, inicia-se
apenas com a ciência inequívoca do ilícito. A lei esclarece que a ciência inequívoca se refere à
publicação da decisão definitiva do CADE reconhecendo o ilícito.” (STJ, REsp nº 2.095.107/
SP, Terceira Turma, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 06/10/2023)
1119 ARDCs ajuizadas diretamente no Poder Judiciário, para comprovar conduta
anticoncorrencial que não foi objeto de investigação ou condenação do CADE.
4. CONCLUSÕES PRELIMINARES
Amanda Athayde
Gianvito Ardito
de exceção à regra geral do artigo 189 do CC/02, para que não seja
cometida injustiça ao se punir a vítima por uma negligência aparente,
já que não há inércia quando há absoluta falta de conhecimento do
dano.
O STJ entendeu, ainda, que em ações de indenização por danos
concorrenciais stand alone, em que não há decisão condenatória do
CADE, o termo inicial da prescrição seguirá a regra aplicada para
ações de indenização por danos extracontratuais (b.2.), ou seja, que
é o momento em que o ato ilícito causador do dano é propriamente
conhecido pela vítima. Quanto às ações de follow-on, o julgado deixa
claro que o termo inicial da prescrição seria a decisão definitiva do
Cade.
Em segundo lugar, a decisão do STJ trata também dos diferentes
tipos de prazo de prescrição, já que até então havia dúvida acerca
da aplicação do prazo trienal ou quinquenal. Nos termos do voto do
ministro relator, as ações reparatórias têm natureza extracontratual e,
portanto, nos termos da jurisprudência do STJ, o prazo prescricional
é de três anos (artigo 206, § 3º, V, do Código Civil).
Em terceiro lugar, ainda que não seja o foco da decisão do STJ,
é preciso destacar as ponderações contidas na decisão a respeito da
inexistência de correlação entre a caracterização de cartel e a ocorrência
de danos individuais deles decorrentes: “a revelação do cartel, enquanto
instituto do direito concorrencial, não induz, necessariamente à afirmação
de ocorrência dos danos individuais referidos”. E, ainda, “do mesmo modo,
a afirmação de que o cartel não se verificou não significa, por si só, que as
condutas investigadas não possam ter causado prejuízos às empresas nas
transações obrigacionais”. Tais afirmações estimulam o ajuizamento de
ações de reparação de danos por condutas concorrenciais, mesmo
sem ter havido decisão condenatória do Cade, ao mesmo tempo em
que exigem responsabilidade daqueles que se dizem vítimas de cartel.
Ainda que esse argumento fosse explorado por empresas e vítimas,
o STJ não havia dito isso de forma tão clara, não havendo qualquer
menção a esse assunto na Lei nº 14.470/2022.
Ou seja, em resumo:
PRIMEIRAS CONCLUSÕES
Amanda Athayde
Isabela Maiolino
1122 Sobre o assunto, ver artigo escrito por Amanda Athayde, Andressa Lins
Fidelis e Isabela Maiolino, de título “Da Teoria À Realidade: O Acesso A
Documentos De Acordos De Leniência No Brasil”, publicado no livro Mulheres
no Antitruste – Volume I, disponível em: https://docs.wixstatic.com/ugd/7a78d2_
d373ca0c81564b9193d0c6d0d8bc9f61.pdf
1123 Nesse sentido, destacam-se as discussões em 2015 realizadas no
âmbito da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), Relationship Between Public And Private Antitrust Enforcement.
Note by the Secretariat. Disponível em: http://www.oecd.org/officialdocuments/
publicdisplaydocumentpdf/?cote=DAF/COMP/WP3(2015)14&docLanguage=En.
2015; e o documento produzido pela International Competition Network (ICN) em
2007, Interaction Of Public And Private Enforcement In Cartel Cases, disponível em:
http://www.internationalcompetitionnetwork.org/uploads/library/doc349.pdf.
1127 Destaca-se que os Conselheiros João Paulo Resende e Cristiane Alkmin rejeitaram
as propostas de TCC e votaram contra a homologação.
1128 OCDE. Relationship Between Public And Private Antitrust Enforcement.
Alemanha. Disponível em: http://www.oecd.org/officialdocuments/
publicdisplaydocumentpdf/?cote=DAF/COMP/WP3/WD(2015)21&docLanguage=En.
2015.
1129 OCDE. Relationship Between Public And Private Antitrust Enforcement.
Reino Unido. Disponível em: http://www.oecd.org/officialdocuments/
publicdisplaydocumentpdf/?cote=DAF/COMP/WP3/WD(2015)8&docLanguage=En.
2015.
1130 Guia: Termo de Compromisso de Cessação para casos de cartel. Maio de 2016.
Atualizado em setembro de 2017. Disponível em: http://www.cade.gov.br/acesso-a-
informacao/publicacoes-institucionais/guias_do_Cade/guia-tcc-atualizado-11-09-17
1131 Guia para Programas de Compliance. Janeiro de 2016. Disponível em: http://
www.cade.gov.br/acesso-a-informacao/publicacoes-institucionais/guias_do_Cade/
guia-compliance-versao-oficial.pdf
Amanda Athayde
Isabela Maiolino
RESUMO
O presente artigo analisa os casos de cartéis nos quais foram
celebrados acordos de leniência e que foram objeto de julgamento
pelo Tribunal Administrativo do Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (Cade) até dezembro de 2017, a fim de mapear
o entendimento da autoridade acerca da concessão de acesso a
documentos obtidos por meio de Acordos de Leniência. Chegou-
se à conclusão de que não houve mudança no padrão de acesso
a documentos e informações referentes à Leniência ao longo do
tempo, mesmo após a realização da primeira consulta pública sobre
a regulamentação do acesso à documentos de acesso restrito, em
dezembro de 2016.
Palavras-chave: leniência; reparação de danos; Cade; cartel;
confidencialidade.
ABSTRACT
This article analyzes the cartel cases in which leniency
agreements were signed and that were tried by the Administrative
Council for Economic Defense (Cade) Tribunal until July 2018. The
paper intends to map the authority’s understanding on the granting
1. INTRODUÇÃO
1138 Estudo indica que, até 2011, pouco mais de vinte ARDC haviam sido ajuizadas no
País. Outra pesquisa de 2015 aponta um crescimento de 450% no número de acórdãos
proferidos no bojo de tais ações entre os anos de 2009-2011 (quatro acórdãos) e 2012-
2014 (22 acórdãos). MACHADO, L. A. Programas de leniência e responsabilidade civil
concorrencial: o conflito entre a preservação dos interesses da leniência e o direito à
indenização. Revista de Defesa da Concorrência, v. 3, n. 2, 2015. p. 116.
1139 O Guia – Termo de Compromisso de Cessação para casos de cartel do Cade,
conceitua o TCC da seguinte forma: “Previsto no art. 85 da Lei nº 12.529/2011, o
Termo de Compromisso de Cessação (“TCC”) consiste em uma modalidade de acordo
celebrado entre o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (“Cade”) e as
empresas e/ou pessoas físicas investigadas por infrações à ordem econômica a partir
da qual a autoridade antitruste anui em suspender o prosseguimento das investigações
em relação ao(s) Compromissário(s) de TCC enquanto estiverem sendo cumpridos os
termos do compromisso, ao passo que o(s) Compromissário(s) se compromete(m) às
obrigações por ele expressamente previstas”.
1140 Disponível em: <https://bit.ly/2QIZ1nA>.
1148 Existência de sigilo definido por lei, informação relativa à atividade empresarial
cuja divulgação possa representar vantagem competitiva a outros agentes econômicos,
segredos de empresas, faturamento, clientes e fornecedores, custos de produção,
dentre outras.
1149 Cf. art. 86, §9º, da Lei nº 12.529/2011: “Considera-se sigilosa a proposta de
acordo de que trata este artigo, salvo no interesse das investigações e do processo
administrativo”.
1150 Cf. art. 241, §§ 1º e 2º, do Ricade: “A proposta receberá tratamento sigiloso e
acesso somente às pessoas autorizadas pelo Superintendente-Geral.” e “Nos casos de
proposta escrita, esta será autuada como sigilosa e nenhum de seus dados constará do
sistema de gerenciamento de documentos do Cade.”
1151 Modelo de Acordo de Leniência encontra-se disponível no site do Cade: <https://
bit.ly/2LFomPo>.
1180 Vale observar que um dos gerentes de carga internacional da Varig foi condenado
a reparar os danos causados pelo cartel estimados em R$ 378,9 milhões, conforme
sentença proferida em 29 de janeiro de 2014 pela Juíza Fernanda Afonso de Almeida,
da 27ª Vara Criminal de São Paulo. Tal decisão evidencia a preocupação com a
reparação civil, tal como apontado por Souza (2014).
3.12. SIGILOSO
3.13. SIGILOSO
4. CONCLUSÃO
Amanda Athayde
1. INTRODUCTION
1190 For the purpose of this article, officers and directors are regarded as the ones
appointed in the company’s by-laws as responsible for carrying out the company’s day-
to-day business operations. They are elected by the General Shareholders` Meeting,
according to Article 122 (II) of the Brazilian Corporation Law: “The general meeting has
the exclusive authority: II – to elect or discharge corporation officers and auditors at any
time, subject to the provisions of item II of Section 142” and Article 132 (III): “An annual
general meeting of shareholders shall be held every year during the first four months after the
closing of the fiscal year in order: III – to elect the officers and the members of the statutory
audit committee”. They have to act as agents and trustees for the corporation, and have
the duty to act with care, loyalty, good will and diligence in all acts done on behalf of
the corporation. The officers and directors may, or not, be shareholders, as provided
in Article 146: “Individuals may be elected as members of the administrative bodies; the
members of the administrative council must be shareholders, while the directors residing in
Brazil may, or may not, be shareholders.”. Their appointment is regulated in Article 149,
as follows: “Council members and directors shall take up their appointments by signing an
instrument of appointment in the book of minutes of administrative council meetings or of
board of directors’ meetings, as the case may be.”.
1191 For instance, recently a shareholder sued Google’s holding company board in
California state court accusing company leadership of violating European antitrust
laws and breaching fiduciary duties to investors with its restrictive Android licensing
terms (Case Robert Jessup v. Larry Page et al., case number CIV538782, in the Superior
Court of the State of California, County of San Mateo).
officers and directors. Those individuals may face this type of lawsuit
by a breach of its fiduciary duties of loyalty and diligence1192, and if
the shareholder derivative suit is successful, the triumphs go to the
corporation.
Thereby, this article proposes some possible corporate causes
for action of the shareholders against the corporate officers and
directors in the case of antitrust violations. First, when the corporate
officers and directors personally practiced the antitrust wrongdoing.
Second, when the corporate officers and directors are conniving
with other officers and/or directors who practiced the antitrust
wrongdoing and fail to take action – for example, failing to apply
for leniency or settlement. Third, when the corporate officers and
directors are negligent to prevent the wrongdoing. For this purpose,
Section II presents the Japanese experience in shareholders derivative
actions in the antitrust context. Hereupon, Section III points out
some ways through which those lawsuits could be implemented in
Brazil, according to the Brazilian Corporation Act. Finally, Section IV
proposes conclusions and launches some debates.
1192 FRAZÃO dedicates an important part of its book to develop on the duties of
loyalty and due care of the corporate officers. FRAZÃO, Ana. Função social da empresa:
repercussões sobre a responsabilidade civil de controladores e administradores de S/As. 2011.
pp. 332-404.
1193 Japan. Companies Act. Act. N. 86 of July 26, 2005.
1194 Article 423(1) of the Companies Act in Japan: “(1) If a director, accounting advisor,
company auditor, executive officer or accounting auditor (hereinafter in this Section referred
to as “Officers, Etc.”) neglects his/her duties, he/she shall be liable to such Stock Company for
damages arising as a result thereof.”.
1195 Article 847(3) of the Companies Act in Japan: “When the Stock Company does not file
an Action for Pursuing Liability, etc. within sixty days from the day of the demand under the
provisions of paragraph (1), the shareholder who has made such demand may file an Action
for Pursuing Liability, etc. on behalf of the Stock Company.”
1196 A shareholder must continuously hold a corporation’s shares for a period of six
months in order to file a derivative shareholder action.
1197 RAMSEYER, J. Mark; NAKAZATO, Minoru. Japanese law: An economic approach.
University of Chicago Press, 1999. p. 264.
1198 KAWAI, Kozo; SHIMADA, Madoka; HEIKE, Masahiro. Chapter 16. Japan. The
Private Competition Enforcement Review. 5th Ed. Law Business Research, 2012. p. 251.
Available at: <http://www.jurists.co.jp/en/publication/tractate/docs/PCER_Fifth.pdf >.
1199 SIMON VANDE WALLE. Private Antitrust Litigation in the European Union and
Japan: A Comparative Perspective. Maklu, 2013. pp. 123-126.
1200 The derivative shareholder action was filed against Sumitomo Denko, in the cartel
on optical fiber cable case. Apud KAWAI, Kozo; SHIMADA, Madoka; HEIKE, Masahiro.
Chapter 16. Japan. The Private Competition Enforcement Review. 5th Ed. Law Business
Research, 2012. p. 251. Available at: <http://www.jurists.co.jp/en/publication/tractate/
docs/PCER_Fifth.pdf >.
1201 WALLE. Idbem. p. 124, footnote 49.
1202 There were cases where the Japanese officers and directors decided to settle,
paying non-negligible amounts (ranging from 80 to 230 million yen), such as in the
bid-rigging cases on steel sigh-way bridge construction orders, on the construction
of a new subway line in Nagoya. WALLE. Idem. According to WEST: “Following
a 1993 reduction of filing fees, the number of shareholder derivative suits filed in Japan
has increased dramatically, creating a database from which to study litigation incentives.
This Article shows that most plaintiffs in Japan lose, few suits settle, settlement amounts
are low, and, as in the United States, shareholders do not receive direct stock price benefits
from suits. Most derivative suits in Japan, as in the United States, can be explained not
by direct benefits to plaintiffs, but by attorney incentives. But derivative suits, like most
things in life, have more than one source of causation. The residuum of suits not explained
by attorney incentives is best explained by a combination of (a) non-monetary factors such
as altruism, spite, and social concerns, (b) corporate troublemakers (sokaiya), (c) insurance,
and (d) close corporation fights. I also find that many derivative actions “piggyback” on
government enforcement actions in Japan, which, especially given the lack of information
available to shareholders and low white-collar crime enforcement rates, raises interesting
questions regarding the relationship of public and private enforcement. These findings
suggest that the difficult and messy issues of derivative suits are not unique to the relatively
“litigious” or “attorney-centered” United States, and instead simply are endemic to the
derivative suit mechanism.”. WEST, Mark D. Why shareholders sue: The evidence from
Japan. Michigan Law and Economics Research Article No. 00-010, 2000.
1203 JFTC. Optical Fiber Cable Case. Cease and Desist Orders and Surcharge Payment
Orders against Manufacturers of Optical Fiber Cable Products. Available at: <http://www.
jftc.go.jp/en/pressreleases/yearly-2010/may/individual-000021.html>.
because they (a) had overlooked the cartels, (b) had not established
truly effective compliance systems to prevent cartels beforehand, (c)
had not established effective compliance systems relating to leniency
applications, and (d) had not applied for leniency. The shareholders
sought payment of around 6.7 billion yen (around 630 million dollars),
which corresponded to the penalty imposed on the company by the
JFTC. 1204
A subsequent suit was brought in 2012 by shareholders against
company’s officials of Sumitomo Electric in the automotive wire
harnesses case. In that case, the shareholders alleged negligence of
the officers and directors even though the company was successfully
the leniency applicant in this case.1205 During the process, the court
issued an order to produce some of the evidence the JFTC obtained
during the investigation1206, which enhanced the shareholders claim.
Finally, in 2014, the Osaka District Court combined both
lawsuits and mediated a settlement. According to its terms, twenty-
two ex-officials agreed to recover 520 million yen (around 5 million
dollars) to the company for their negligence. This was the highest ever
settlement amount for a shareholder derivative suit in Japan, justified
by their failure to prevent and/or report the cartel activities in those
two cases.1207
1204 In this context, the Osaka District Court even ordered the JFTC to submit
documents in relation to the shareholder derivative suit. SHIMADA, Madoka; TANAKA,
Nobuhiro. The Osaka District Court orders the Japan Fair Trade Commission to submit
documents in relation to a shareholder derivative suit (Sumitomo Electric), 15 June
2012, e-Competitions Bulletin Japan Antitrust, Art. N° 72453. Available at: <http://www.
concurrences.com/Bulletin/Special-Issues/Japan/A-Japanese-district-court-orders-
72453?lang=en>.
1205 JFTC. Wire harness and related products Case. Cease and Desist Orders and
Surcharge Payment Orders to participants in bid-rigging conspiracies for automotive wire
harness and related products. Available at: < http://www.jftc.go.jp/en/pressreleases/
yearly-2012/jan/individual-000462.html>.
1206 SHIMADA, Madoka. NAKANO, Sumito. Japanese Leniency Program: issues to be
considered. CPI Antitrust Chronicle, Sept. 2015. p. 5.
1207 Nikkei Asian Review. Sumitomo Electric to get record payout from ex-officials, May
8yh, 2014. Available at: <http://asia.nikkei.com/Business/Companies/Sumitomo-
Electric-to-get-record-payout-from-ex-officials>.
1208 Brazil currently investigates those two cartel cases which were the basis for
the shareholders derivative actions in Japan. The optical fiber cable investigation:
Brazil. CADE. Administrative Proceeding (PA) No. 08012.003970/2010-10 and
08700.008576/2012-81. The wire harnesses investigation: Brazil. CADE. Administrative
Proceeding (PA) No. 08700.009029/2015-66).
1209 Brazil. Corporation Law. Law 6.404/1976.
1210 Article 186 (I) of the Corporation Law in Brazil: “An officer shall not be personally
liable for the commitments he undertakes on behalf of the corporation and by virtue of action
taken in the ordinary course of business; he shall, however, be liable for any loss caused
when he acts: I - within the scope of his authority, with fault or fraud; II - contrary to the
provisions of the law or of the bylaws.
1211 Article 158 paragraph 1st. An officer shall not be liable for unlawful acts of the other
officers, except when acting in connivance with them, when neglecting to investigate
such acts or when, despite knowledge of them, he fails to take action to prevent such
acts. A dissenting officer shall be exempt from liability when he makes his dissent to be
recorded in the minutes of a meeting of the administrative body, or, if this is.”.
company in case the stock company does not file the appropriate
action for pursuing liability within three months.1212 This lawsuit may
be brought even if the general meeting of the company decides not
to institute proceedings, since any shareholder representing at least
five percent of the capital may file the derivative lawsuit, according to
paragraph 4th of Article 1591213. If the damages are finally recovered, it
shall be transferred to the corporation and not to the shareholder who
initiated the suit, but the expenses incurred with the lawsuit would be
reimbursed, as provided in Article 159 paragraph 5th.1214
The article proposes that in Brazil corporate officers and
directors may face shareholders derivative suits claiming corporate
liability for antitrust violations at least in three situations.
1212 Article 159 paragraph 3rd of the Corporation Law in Brazil: “Article 159. By a
resolution passed in a general meeting, the corporation may bring an action for civil liability
against any officer for the losses caused to the corporation’s property. Paragraph 3. Any
shareholder may bring the action if proceedings are not instituted within three months from
the date of the resolution of the general meeting.”.
1213 Article 159 paragraph 4th of the Corporation Law in Brazil: “Should the general
meeting decide not to institute proceedings, they may be instituted by shareholders
representing at least five per cent of the capital.”.
1214 Article 159 paragraph 5th of the Corporation Law in Brazil: “Paragraph 5. Any
damages recovered by proceedings instituted by a shareholder shall be transferred to the
corporation, but the corporation shall reimburse him for all expenses incurred, including
monetary adjustment and interest on his expenditure, up to the limit of such damages.”
1215 In the administrative sphere in Brazil, article 37 of the Brazilian Competition Law
(Law 12.529/2011) states that antitrust infringements subjects the ones responsible
to the following fines, among other penalties: (i) in the case of a company, a fine of
0.1% to 20% of the gross sales of the company, group or conglomerate, in the last
fiscal year before the establishment of the administrative proceeding, in the field of
the business activity in which the violation occurred, which will never be less than
the advantage obtained, when possible the estimation thereof; (ii) in the case of the
administrator, directly or indirectly responsible for the violation, when negligence or
willful misconduct is proven, a fine of 1% to 20% of that applied to the company or
to legal entity; (iii) in the case of other individuals or public or private legal entities,
as well as any association of persons or de facto or the jure legal entities, even if
temporary, or unincorporated, which do not perform business activity, not being
possible to use the gross sales criteria, a fine between fifty thousand reais and two
billion reais. Without prejudice to the penalties set forth in Article 37 of this Law, when
so required according to the seriousness of the facts or public interest, one or more of
the penalties stated in article 38 may be imposed: publication in newsarticles of the
extracts from the conviction; ineligibility for official financing and for participation in
biddings; recommendation to the respective public agencies for compulsory license,
denial of installment payment of federal taxes, company divestiture, transfer of
corporate control, sale of assets or partial interruption of activity, the wrongdoer be
provided from carrying on trade for a period of five years, among other penalties.
1216 In the criminal sphere in Brazil, Article 4 of the Brazilian Economic Crimes Law
(Law 8.137/1990) states that the individuals face a penalty in Brazil of two to five years
of imprisonment and fines for cartel conduct.
1217 Article 155 of the Corporation Law in Brazil: Duty of Loyalty “An officer shall serve
the corporation with loyalty, shall treat its affairs with confidence and shall not: I - use any
commercial opportunity which may come to his knowledge, by virtue of his position, for his
own benefit or that of a third party, whether or not harmful to the corporation; II - fail to
exercise or protect corporation rights or, in seeking to obtain advantages for himself or for
a third party, fail to make use of a commercial opportunity which he knows to be of interest
to the corporation; III - acquire for resale at a profit property or rights which he knows the
corporation needs or which the corporation intends to acquire. Paragraph 1. An officer of a
publicly held corporation shall also treat in confidence any information not yet revealed to
the public, which he obtained by virtue of his position and which may significantly affect the
quotation of securities, and shall not make use of such information to obtain any advantages
for himself or for third parties by purchasing or selling securities. Paragraph 2. An officer
shall ensure that the provisions of paragraph 1, above, are not infringed by a subordinate
or third party enjoying his confidence. Paragraph 3. Any person detrimentally affected in
a purchase or sale of securities contracted contrary to the provisions of paragraphs I and 2,
above, may demand indemnity from the person responsible for the infringement for losses
and damages, unless the person was aware of the information at the time the contract was
made. Paragraph 4 Any officer who may receive any confidential information not yet revealed
to the public shall not make use of such information to obtain any advantages for himself or
for third parties by purchasing or selling securities”
1218 VASCONCELOS, Pedro Pais de. A participação social nas sociedades empresárias.
Coimbra: Almedina, 2006. p. 205.
1219 Article 156 of the Corporation Law in Brazil: Conflict of Interests “An officer shall
not take part in any corporate transaction in which he has an interest which conflicts with an
interest of the corporation, nor in the decisions made by the other officers on the matter. He
shall disclose his disqualification to the other officers and shall cause the nature and extent of
his interest to be recorded in the minutes of the administrative council, or board of directors’
meeting. Paragraph 1. Notwithstanding compliance with the provisions of this article,
an officer may only contract with the corporation under reasonable and fair conditions,
identical to those which prevail in the market or under which the corporation would contract
with third parties. Paragraph 2. Any business contracted otherwise than in accordance with
the provisions of paragraph 1, above, is voidable and the officer concerned shall be obliged to
transfer to the corporation all benefits which he may have obtained in such business.”
1220 FRAZÃO, Ana. Função social da empresa: repercussões sobre a responsabilidade civil
de controladores e administradores de S/As. 2011. p. 336.
1221 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei das Sociedades Anônimas. São Paulo:
Saraiva, 2003. III. p. 331.
1222 CLARK, Robert Charles. Corporate Law. New York: Aspen Law & Business, 1986.
p. 41.
1223 According to article 86, paragraph 4, of the Brazilian Competition Law (Law No.
12.529/2011) combined with article 208 of the Internal Rules of CADE, once CADE’s
Tribunal declare that the Leniency Agreement has been fulfilled, the leniency
recipients will benefit from: (i) administrative immunity under Law No. 12.529/2011,
in cases in which the Leniency Agreement’s proposal is submitted to CADE’s General
Superintendence when this authority was not aware of the reported violation; or (ii)
a reduction by one to two-thirds of the applicable fine under Law No. 12.529/2011,
in cases in which the Leniency Agreement’s proposal is submitted to the SG/CADE
after this authority becomes aware of the reported violation. For further information
on the Brazilian Guidelines on Leniency Program: <http://www.cade.gov.br/upload/
Guidelines%20CADE’s%20Antitrust%20Leniency%20Program.pdf>.
1224 According to article 85 of the Brazilian Competition Law (Law No. 12.529/2011)
combined with article, For further information on the Brazilian Guidelines on Cease
and Desist Agreement for cartel Cases: <http://www.cade.gov.br/upload/Guidelines_
TCC.pdf>.
1225 The settlement is Brazil is called TCC, which is the Portuguese acronym for
“Termo de Compromisso de Cessação”, i.e., Cease and Desist Agreement.
wrongdoing (first situation), but also against the Financial Director and
the Vice-President who were conniving with the Commercial Director
and who did not take any action upon notice of the anticompetitive
practice (second situation).
1226 Article 153 of the Corporation Law in Brazil: Duty of Diligence. “In the exercise of
his duties, a corporation officer shall employ the care and diligence which an industrious and
honest man customarily employs in the administration of his own affairs.”
1227 DÍAZ ECHEGARAY, José Juis. Deberes y Responsabilidad de los Administradores de
Sociedades de Capital. Elcano (Navarra): Editorial Aranzadi: 2006. p. 118. Apud FRAZÃO,
Ana. Função social da empresa: repercussões sobre a responsabilidade civil de controladores
e administradores de S/As. 2011. p. 352.
1228 CORDEIRO, Antonio Menezes. A lealdade no direito das sociedades. 2007.
1234 CLARK, Robert Charles. Corporate Law. New York: Aspen Law & Business, 1986.
p. 123-124.
1235 The lack of the duty of loyalty is subject to a full analysis of the merits of the
officer’s acts. According to NUNES. NUNES, Pedro Caetano. Responsabilidade civil dos
administradores perante os accionistas. Coimbra: Almedina, 2001. p. 24.
1236 RIBEIRO, Renato Ventura. Dever de diligência dos administradores de sociedades.
São Paulo: Quartier Latin, 2006. p. 227.
4. CONCLUSION
1237 Article 927 of the Brazilian Civil Code. “Art. 927. If a party, through an unlawful act
(articles 186 and 187), causes a damage to another party, he is obliged to pay compensation.
Sole paragraph. There will be a duty to compensate, irrespective of negligence, when
specifically stated by the law, or when the activity performed by the party who caused the
damage implies, by its nature, a certain risk to third parties”.
1238 Article 186 of the Brazilian Civil Code. “He who by voluntary action or omission,
negligence or recklessness, violate law and harm others, even if only moral, commits an
unlawful act.”.
1239 Article 187 of the Brazilian Civil Code. “It also commits an unlawful act the holder
of a right that, in practice it clearly exceeds the limits imposed by their economic or social
order, good faith or in morals. To use a power, right harm someone brings legal effect as a
duty to indemnify.”.
was one of the penalties imposed. This case would be especially sharp
if the shareholders, pursuant to above-mentioned Article 187, allege
that the officer or director violated the economic order and exceeded
the limits imposed by the social function of the company1240, embodied
with the understanding that the company not only is imposed by
limitations and abstentions, but also has duties and obligations due to
its social independence.1241
The shareholders may as well claim moral damage. According
to Article 52 of the Brazilian Civil Code, the rights of personality are
applicable, insofar as appropriate, to the legal entities the protection
of the person. The Brazilian Superior Court of Justice (“STJ” in its
Portuguese acronym) also prescribes, in the Summary Statement 227,
that the legal entity may suffer moral damage. FRAZÃO argues that it is
unequivocal that an act of disloyal management violates the company’s
credibility.1242 Considering the fact that an antitrust condemnation in
Brazil made by CADE’s Tribunal is public and attracts great media
attention, the notice that the company was convicted and sentenced
to pay severe fines represents a significant damage to the company’s
reputation. It would be feasible for the companies’ shareholders in
Brazil to target the officers and directors for the moral damages caused
due to the antitrust violation.
In conclusion, corporate officers and directors in Brazil should
be personally concerned with the antitrust violations in its company.
Not only because of the administrative and criminal prosecution,
but also due to their possible corporate liability as provided in the
Brazilian Corporation Act (Law 6404/1976).
1240 COMPARATO, Fábio Konder. Estado, empresa e função social. Revista dos
Tribunais, v. 732, p. 38-46, 1996.
1241 FRAZÃO, Ana. Função social da empresa na Constituição de 1998. Revista Direito,
Estado e Sociedade, n. 29, 2014.
1242 FRAZÃO, Ana. Função social da empresa: repercussões sobre a responsabilidade civil
de controladores e administradores de S/As. 2011. p. 342.
Amanda Athayde
INTRODUÇÃO
1248 Sobre as causas do difundido uso das ações privadas de ressarcimento por
danos concorrenciais nos EUA, soma-se, além do amplo discovery, o treble damages
(ressarcimento triplicado por danos concorrenciais), a responsabilidade solidária dos
autores da conduta anticompetitiva, bem como a existência de prazos prescricionais
favoráveis aos autores das ações, as quais apresentam caráter compensatório e
punitivo.
1249 Freedom of Information Act, 5 U.S.C., § 552. Disponível em: https://www.justice.
gov/sites/default/files/oip/legacy/2014/07/23/foia-final.pdf (acessado em 30.08.2016).
1250 Federal Rules of Criminal Procedure. Disponível em: https://www.
federalrulesofcriminalprocedure.org (acessado em 30.08.2016).
1251 Federal Rules of Civil Procedure. Disponível em: https://www.
federalrulesofcivilprocedure.org/frcp/ (acessado em 30.08.2016).
1252 Plea agreements são acordos disponíveis para as partes que não puderam celebrar
o acordo de leniência total com o DOJ. Ver Scott Hammond (DOJ) em sessão do Comitê
de Concorrência da OCDE, disponível em https://www.justice.gov/atr/speech/us-
model-negotiated-plea-agreements-good-deal-benefits-all.
1253 Discovery stay é o instrumento processual solicitado pelo DOJ para proteger
a integridade das investigações sobre prática de cartel. O stay pode ser referente a
documentos ou para colheita de depoimentos, sendo que os do segundo tipo costumam
ter longos períodos de duração. Ver Lerner, K. e Friedman, E. (2014).
1259 Ver Jones Day Commentary “Federal Jury Returns Verdicts in Rare Price-Fixing
Trial of Global Liquid-Crystal Displays Conspiracy” (Abril, 2012), http://www.jonesday.
com/federal_jury_returns_verdict/.
1260 Considera-se “privileged” informações referentes a determinadas comunicações
entre cliente e advogado, bem como documentos de trabalho elaborados pelos
advogados do próprio DOJ e pelos advogados dos proponentes do Acordo de Leniência
ou plea agreement.
1261 In re Rubber Chems. Antitrust Litig. 486 F. Supp. 2d 1078, 1080 (N. D. Cal. 2007).
1262 Air Cargo Shipping Services Antitrsut Litigation No. MD-06-1775 (E.D.N.Y. Dec. 19,
2011).
1263 Ver Antitrust Division Manual, pág. III-101.
1268 “Directive on Antitrust Damages Actions”, Diretiva 2014/104/EU, disponível em: http://
eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32014L0104&from=DE.
As principais alterações abordaram, dentre outros temas: (a) acesso a evidências;
(b) a responsabilidade solidária ou individual; (c) os prazos prescricionais; (d) o
instrumento de defesa dos compradores indiretos chamado “passing on defense”; (e) a
quantificação do dano; (f) a responsabilização consensual das disputas; e (g) o efeito
das decisões locais.
1269 Segundo os critérios estabelecidos pelo art. 5º da Diretiva da Comissão Europeia,
os tribunais, ao avaliarem um pedido de acesso a materiais de prova, devem considerar:
(i) a medida em que o pedido de indenização é fundamentado em factos e elementos
de prova que justificam o pedido de divulgação dos elementos de prova; (ii) o âmbito
e os custos da divulgação, em especial para os terceiros interessados; e (iii) se os
elementos de prova cuja divulgação é requerida contêm informações confidenciais,
em especial no que respeita a terceiros e quais os procedimentos adotados para
proteger tais informações confidenciais.
1270 Cf. artigo 2(16) da Diretiva: “leniency statement” é qualquer comunicação oral ou
escrita apresentada voluntariamente por uma empresa ou uma pessoa singular, ou em
seu nome, a uma autoridade da concorrência, ou um registo dessa comunicação, que
descreve as informações de que essa empresa ou pessoa singular tem conhecimento
sobre um cartel e o papel que a mesma nele desempenha, elaborada especificamente
1272 A Diretiva 2014 limitou, em seu artigo 11, a regra geral responsabilidade
solidária, como forma de harmonizar os interesses do enforcement público e privado.
O artigo 11(4) definiu então que os beneficiários da imunidade serão responsáveis
apenas perante os seus adquirentes ou fornecedores diretos ou indiretos, sendo
que a responsabilidade perante outros consumidores lesados apenas ocorrerá se a
reparação integral não puder ser obtida das outras empresas implicadas na mesma
infração.
1273 The Communication of Confidential Information under the Competition Act, 10
de outubro de 2007. Disponível em http://www.competitionbureau.gc.ca/eic/site/cb-
bc.nsf/eng/03597.html#s7_1.
1274 Id. As exceções a essa política são as seguintes: (a) informações cuja divulgação é
determinada por lei, (b) informações cuja divulgação é necessária para o exercício dos
poderes investigativos do Bureau ou de outra agência governamental, (c) nos casos
em que a parte concorda com a divulgação ou ela própria já publicou a informação,
e (d) nos casos em que a divulgação é necessária para evitar a prática de algum
crime grave. O Comunicado de 2007 também afirma que a autoridade canadense
não disponibilizará informações a autoridades estrangeiras sem o consentimento da
parte, e que tomará todas as medidas cabíveis para garantir a confidencialidade das
informações recebidas em sede de acordo de leniência.
1279 Dentre as razões apontadas para o baixo uso das ações privadas de ressarcimento
por danos concorrenciais no Brasil são listadas, pelo menos, as seguintes: (i) a ausência
de uma cultura de reivindicação de danos por parte dos consumidores lesados no
Judiciário; (ii) elevados custos e morosidade do litígio judicial, somados, por vezes,
a falta de familiaridade do Judiciário brasileiro com a matéria concorrencial;
(iii) indefinição quanto ao termo inicial da prescrição para ajuizamento da ação;
e, principalmente, (iv) dificuldades em obter evidências e em fornecer análises
econômicas e legais complexas comprovando o nexo causal entre a conduta e o dano
sofrido (OCDE, 2015, Contribuição do Brasil).
1280 Cf. art. 2º, V, Lei nº 9.784/1999 c/c art. 5º, LX, CF/88.
1281 Cf. art. 5º, §2º do Decreto nº 7.724/2012.
1282 Cf. art. 23, VIII, da Lei nº 12.527/2011.
1283 Exceto mediante waiver do signatário da leniência ou do compromissário do TCC
e a anuência da SG.
1284 Este artigo analisou as seis decisões do Cade em Processos Administrativos
oriundos de Acordos de Leniência até abril de 2016. Após esta data, outros quatro
foram julgados pelo Plenário do Tribunal do Cade: (vii) Cartel Internacional de TPE –
Processo Administrativo nº 08012.000773/2011-20, Acordo de Leniência celebrado em
17/12/2010. Processo julgado em 31/08/2016; (viii) Cartel de Plásticos ABS – Processo
Administrativo nº 08012.000774/2011-74, Acordo de Leniência celebrado em 17/12/2010.
Processo julgado em 14/09/2016. O processo principal foi desmembrado no Processo
Administrativo 08700.009161/2014-97, julgado em 14/09/2016; (ix) Cartel internacional
Leniência: (i) cartel dos vigilantes do Rio Grande do Sul (2007); (ii)
cartel internacional dos peróxidos (2012); (iii) cartel internacional
de cargas aéreas (2013); (iv) internacional de mangueiras marítimas
(2015); (v) cartel internacional de perborato de sódio (fev/2016); e (vi)
cartel internacional dos compressores (mar/2016).
Observa-se que nos três primeiros casos, quando do julgamento
do caso pelo Tribunal, nas respectivas versões públicas dos votos,
houve transcrição de diversos trechos dos documentos da busca e
apreensão e também de documentos do Acordo de Leniência. Já o
termo de celebração do Acordo de Leniência em si, o Histórico de
Infrações e algumas provas colhidas em sede de busca e apreensão
se encontram em apartado de acesso restrito às representadas no
processo. Em todos os casos, ao longo do processo, os representados
tiveram acesso à integra das informações e materiais oriundos dos
Acordos de Leniência e TCC.
Por sua vez, na investigação referente ao cartel de mangueiras
marítimas (2015), evidencia-se clara preocupação do Cade com o
enforcement privado, possivelmente influenciada pelas recentes
discussões sobre o tema na seara internacional. O Conselheiro Relator,
quando do julgamento, afastou as preliminares de confidencialidade
suscitadas pelas representadas e buscou ponderar a disponibilização
de informações e documentos de leniência e de TCCs versus o fomento
às ações privadas de reparação por danos concorrenciais. Na versão
pública do voto, transcreveu-se trechos de confissão de conduta dos
TCCs e do Histórico da Conduta do Acordo de Leniência1285. Segundo
o voto, após o julgamento do caso, o termo de celebração do Acordo
de Leniência, bem como demais documentos anexos apresentados
pelo beneficiário, poderiam ser disponibilizados a terceiros, em razão
1301 “(...) [T]rata-se do limite a partir do qual entende-se haver elementos probatórios
suficientes, de modo que a possibilidade de interferência nas investigações e no sucesso de
seu resultado se esvai, não mais se justificando a restrição à publicidade (...)Em síntese, o
sigilo do acordo de leniência não pode se protrair no tempo indefinidamente, sob pena de
perpetuar o dano causado a terceiros, garantindo ao signatário do acordo de leniência favor
não assegurado pela lei.” (grifo próprio). Id., pág. 8-9 do voto.
1302 Cf. art. 49, caput e § único do art. 49 c/c art. 86, §11, da Lei nº 12.529/2011.
celebração dos acordos; (Fase II) instrução; e (Fase III) decisão final
pelo Plenário do Tribunal do Cade.
Durante a Fase I, propôs-se a manutenção da regra do sigilo total da
proposta de Acordo de Leniência, dos anexos ao acordo e de quaisquer
documentos apresentados pelo beneficiário da leniência, tal como a
proposta de TCC, os termos do acordo, do andamento processual e de
todo processo de negociação1305. A manutenção do sigilo é da própria
essência dessa fase, sob pena de frustrar, preliminarmente, a tentativa
de cooperação com a autoridade antitruste.
Uma vez celebrado o Acordo de Leniência e iniciada a instrução
processual, inicia-se a Fase II. Durante essa fase, já podem ser
disponibilizadas versões públicas de Notas Técnicas, mas para
preservar possíveis medidas investigativas, como uma eventual medida
de busca e apreensão, todos os documentos e informações oriundos
do Acordo de Leniência e TCC (i.e., termo de celebração do AL, versão
confidencial do TCC, Aditivos, Apêndice da Prova Documental e
demais anexos, tal como o Histórico da Conduta) são, via de regra,
mantidos em apartado de acesso restrito, nos termos dos arts. 44, §2º e
49 da Lei nº 12.529, de 2011, arts. 52 a 54 do Regimento Interno do Cade,
arts. 22 e 23, VIII da Lei nº 12.527, de 2011, e art. 5º, §2º do Decreto nº
7.724, de 2012 1306. Esse tratamento também é mantido quando o caso
é remetido pela SG para decisão pelo Tribunal do Cade, dado que o
posicionamento da SG não é vinculante e o Conselheiro-Relator ainda
pode realizar instrução complementar1307, caracterizando-se instrução
processual, de modo a exigir as mesmas cautelas1308.
1305 Cf. art. 85, §5º e 86, §9º da Lei nº 12.529/2011 c/c arts. 179, §3º, 200, §1º e 207,
RICADE.
1306 Cf. os art. 44, §2º e 49 da Lei nº 12.529, de 2011, arts. 52, 53 e 54 do Regimento
Interno do Cade, arts. 22 e 23, VIII da Lei nº 12.527, de 2011, e art. 5º, §2º do Decreto
nº 7.724, de 2012.
1307 cf. art. 11 da Lei nº 12.529, de 2011.
1308 Vale notar, a nosso ver, que a entrega do relatório circunstanciado pela SG ao
Tribunal não pode ser comparada ao oferecimento de denúncia na seara criminal –
tal como sugerido pela decisão do STJ supramencionada. Parece-nos mais apropriado
comparar a denúncia com o julgamento do Tribunal Administrativo, por representar,
tal como no MP, a palavra final da autarquia sobre a existência ou não de ilícito.
poderiam ter sido obtidos de qualquer outro modo senão por meio
da colaboração no âmbito de Acordo de Leniência e de TCC, que não
poderiam ter sido obtidos de qualquer outro modo senão por meio da
colaboração no âmbito dos Programas de Leniência e de TCC; e/ou
documentos e informações (a) de acesso restrito nos termos da Lei de
Defesa da Concorrência1310; (b) que constituam segredo industrial1311,
(c) relativos à atividade empresarial de pessoas físicas ou jurídicas
de direito privado cuja divulgação possa representar vantagem
competitiva a outros agentes econômicos e demais hipóteses de sigilo
previstas na legislação1312 e (d) que constituam hipóteses previstas no
Ricade1313. Esse acesso restrito é justificado, na opinião das autoras,
pelo risco à condução de negociações, a atividades de inteligência1314
e à própria efetividade dos Programas de Leniência e de TCC do Cade.
Ademais, a nosso ver duas outras propostas são importantes
para que se tenha um conjunto adequado de incentivos a fim de se
encontrar o ponto ótimo na articulação entre a persecução pública e
privada aos cartéis.
Primeiro, que a análise de eventuais pedidos de acesso a
documentos seja realizada considerando uma ampla gama de aspectos,
tais como a legitimidade do requerente, os fatos e fundamentos
específicos que embasam o requerimento, a razoabilidade e a
proporcionalidade do requerimento, a fase processual da investigação
no Cade, a manutenção do nível de confidencialidade pelo requerente,
a necessidade de preservação da investigação e da identidade do
colaborador, a necessidade de preservação da política nacional de
combate às infrações contra a ordem econômica, notadamente
dos Programas de Leniência e de TCC do Cade, a necessidade de
1315 “Guidance on the CMA’s approval of voluntary redress schemes” (2015) sobre
o mecanismo de reparação voluntária (“voluntary redress scheme”) da Competition
and Markets Authority – CMA. Disponível em: https://www.gov.uk/government/
uploads/system/uploads/attachment_data/file/408333/Draft_guidance_-_CMA_
voluntary_redress_schemes.pdf. Ver “The Competition Act 1998 (Redress Scheme)
Regulations 2015. Disponível em: http://www.legislation.gov.uk/uksi/2015/1587/
contents/made. Por meio desse mecanismo, tanto o signatário da leniência quanto os
demais participantes da conduta anticompetitiva podem submeter, voluntariamente,
um plano de ressarcimento para aprovação do CMA. Se aprovado, o autor da conduta
4. NOTAS FINAIS