GRIZE 2020 LÓGICA Natural Demonstrar Provar Argumentar
GRIZE 2020 LÓGICA Natural Demonstrar Provar Argumentar
GRIZE 2020 LÓGICA Natural Demonstrar Provar Argumentar
ISSN 2237-6984
http://dx.doi.org/10.47369/eidea-20-3-2780
Jean-Blaise Grize
Universidade de Genebra, Suíça
Tradução:
Luci Banks-Leite
Universidade Estadual de Campinas
i A Revista EID&A agradece vivamente à Catherine Brun, diretora da Presses Sorbonne Nouvelle, por
autorizar a publicação da tradução do texto original “Le point de vue de la logique naturelle:
démontrer, prouver, argumenter”, presente na obra L’argumentation aujourd’hui - Positions
théoriques en confrontation, organizado por Marianne Doury e Sophie Moirand em 2004.
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Introdução
1 Nota das organizadoras da versão original: Para J.-B. Grize, cada vez que um locutor A produz um
enunciado, ele propõe uma esquematização a um interlocutor B, isto é, ele constrói um micro-
universo a partir da realidade tal como ele a percebe, mas igualmente tal como ele a reconstrói
para B. Esse micro-universo é uma reconstrução cognitiva do mundo (real ou fictício) que não
reflete as exigências de uma observação científica, mas depende da maneira como A se
representa a situação: o micro-universo construído pelo discurso é orientado, ou seja, é
organizado para B com o objetivo de obter certos resultados, certos efeitos. A esquematização
que A propõe a B é, portanto, efetuada em função da finalidade de A mas também das
representações que ele tem de B, das representações que ele faz de si ou quer dar de si mesmo e
das representações daquilo que ele fala (o tema T). Se as representações são conhecimentos que
se tem da situação, daquilo sobre o que se fala, de si mesmo e do outro (os universos de saberes,
de crenças ou de opiniões, das predisposições à ação), na materialidade verbal, são as imagens
de A, de B e de T que estão assim inscritas no fio do enunciado e que se pode identificar como
marcas de construção de uma esquematização.
2 N.T.: Éclairage no sentido figurado significa maneira de descrever, de dar a ver sob certa
perspectiva. No presente texto, o termo é traduzido ora por “iluminação”, ora por “foco de luz”.
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1 A ilação
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que ele faz uma refeição (“almoçar” = fazer a refeição do meio-dia), mas só
posso inferir que sua esposa está viajando. Isso vai depender
simultaneamente de certos pré-construídos ideológicos, do tipo “a mulher no
lar”, e do que eu conheço de meu amigo, de seu lar, de suas formas de viver
etc.
Neste caso, o que serviu como ponto de partida para minha inferência,
ou seja, a presença de meu amigo no restaurante, é o fato de tê-lo visto “com
meus próprios olhos” e eu não duvido disso. As coisas se complicam quando é
uma esquematização que fornece as bases da inferência. Ela propõe ao
destinatário relações entre objetos, mas deve também fazê-los passar por
fatos verdadeiros.
2 A verossimilhança
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contraditório com o respeito absoluto da vida; é que, dizia ele, o aborto não é
a interrupção da vida, mas um remédio para um atraso da menstruação. E a
tarefa de um médico...
A partir do momento em que ninguém tem nada mais a retrucar ao que
lhe é proposto, ou seja, no momento que ele aceitou o que lhe foi dito como
fatos e que esses fatos não provoquem nem incoerência nem não-coerência
nas suas representações, então pode-se considerar que ele está convencido.
Contudo não está necessariamente persuadido. Eu mesmo estou convencido,
não de que “Fumar é matar”, mas ao menos de que “Fumar é perigoso para a
saúde”. Nada tenho contra as estatísticas, mesmo se estas são ad hoc, e
nenhuma não-coerência aparece nas minhas representações. Eppure, eu fumo.
É que o grau zero de risco a correr não faz parte de meus valores e são estes
que devem intervir para conduzir à persuasão.
3 A Iluminação
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Referências
GRIZE, Jean-Blaise. Logique Moderne - I, II, III. Paris: Gauthier; Villars et Mouton, 1969,
1971, 1973.
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GRIZE, Jean-Blaise. Les deux faces de l’argumentation. In: FORNEL, Michel de;
PASSERON, Jean-Claude (orgs.). L’argumentation, preuve et persuasion. Paris:
Éditions de l’EHESS, 2002. p. 13-27.
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