SOUSA, Antônio de

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SOUSA, Antônio de

* gov. RN 1907-1908; sen. RN 1908-1920; gov. RN 1920-1924.

Antônio José de Melo e Sousa Filho nasceu no engenho Capió em Papari, hoje Nísia
Floresta (RN), no dia 24 de dezembro de 1867, filho de Antônio José de Melo e Sousa e de
Maria Emília Seabra de Melo e Sousa.
Recebeu o diploma de bacharel na Faculdade de Direito do Recife em 1889. Em seguida foi
nomeado promotor de justiça na comarca de Goianinha (RN), e aí permaneceu de 1890 a
1892.
Foi candidato derrotado ao Congresso Constituinte estadual de 1891 na chapa organizada
por Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, líder do Partido Republicano do Rio Grande
do Norte. Ao lado de Pedro Velho, passou então a trabalhar pela deposição do governador
eleito Miguel Joaquim de Almeida Castro. Após a derrubada de Miguel Castro em 28 de
novembro de 1891, foi eleito deputado ao Congresso Constituinte estadual de 1892, que
elegeu Pedro Velho governador do estado (1892-1896). Entre 1892 e 1895 ocupou o cargo
de diretor geral de Instrução Pública. Em 1895 tornou-se procurador da República no Rio
Grande do Norte, mantendo o posto no governo de Joaquim Ferreira Chaves (1896-1900).
Em 1899 foi nomeado secretário de Governo, passando em 1900 a procurador geral, com
assento no Superior Tribunal de Justiça.
Em 23 de fevereiro de 1907, foi eleito governador em substituição a Manuel Moreira Dias,
que por sua vez, como vice-governador, substituía o titular Augusto Tavares de Lira, cujo
quadriênio acabava em 25 de março de 1908. Nesse período foi promulgada nova
Constituição para o estado, em que se ampliava o mandato do governador de quatro para
seis anos. Após passar o governo para Alberto Maranhão (1908-1914), foi eleito senador
pelo Rio Grande do Norte na legenda do Partido Republicano, ocupando a vaga deixada
pelo senador Pedro Velho, falecido em 1907. Foi reeleito em 1915 e participou das
comissões de Saúde Pública, de Estatística e Colonização, de Instrução Pública e de
Redação de Leis.
Em 1920 renunciou ao Senado para eleger-se governador do Rio Grande do Norte com o
apoio de Joaquim Ferreira Chaves (1914-1920), que havia desmontado todo o aparato que
permitira aos “pedrovelhistas” dominar a cena política do estado. Por sua vez, Ferreira
Chaves elegeu-se senador em seu lugar. Seu governo concentrou-se nas áreas da educação e
saúde pública. Na área da educação, construiu 54 escolas primárias, cuidando de espalhá-
las por todo o território do Rio Grande do Norte. Criou uma Escola Normal Primária na
cidade de Mossoró para melhorar a qualidade dos professores. Construiu o primeiro grupo
escolar do estado. Criou também na capital uma Escola Profissional, organizou a Escola de
Farmácia, primeiro estabelecimento de ensino superior no estado, e criou uma Escola
Elementar de Agricultura e Agronomia. Segundo Itamar de Souza, multiplicou por cinco as
matrículas no ensino primário e por seis a frequência.
Na área da saúde, reformou os serviços de Higiene e Saúde Pública. Criou o Serviço de
Profilaxia das Moléstias Venéreas e o Serviço de Profilaxia Rural. Instalou em Natal um
laboratório destinado a análises hospitalares, ao preparo de soros, vacinas e substâncias
injetáveis. Dotou a Repartição de Higiene e Saúde Pública de um necrotério aparelhado
para fazer autópsias. Construiu também um Posto Antiofídico. Passou ainda a destinar
cinco por cento de toda a renda ordinária do estado para a construção de obras contra os
efeitos da seca, a chamada “Caixa das Secas”.
Em 1923 tentou fazer de Elói Castriciano de Sousa seu sucessor, mas sua indicação foi
preterida em favor de Joaquim Ferreira Chaves, que apresentou pela terceira vez sua
candidatura ao governo. A iniciativa foi barrada, porém, pela chamada “facção do Seridó”,
que, reorganizada pelos deputados federais Juvenal Lamartine de Faria e José Augusto
Bezerra de Medeiros, e apoiada pelo presidente da República Artur Bernardes, destituiu
Ferreira Chaves da chefia do partido, indicando José Augusto para governador.
Após passar o governo José Augusto em 1º de janeiro de 1924, foi nomeado consultor
jurídico do estado, cargo no qual se aposentaria em 1935. Após a Revolução de 1930 foi
secretário geral do estado na interventoria de Herculino Cascardo, ocupando o governo na
renúncia deste em 12 de janeiro de 1932 e assumindo ainda a administração do estado de 5
de fevereiro de 1932 a 11 de junho de 1932, até a chegada do interventor Bertino Dutra da
Silva. Foi também secretário geral do estado na interventoria de Mário Leopoldo Pereira da
Câmara, de 1933 a 1935, cobrindo diversas interinidades.
Além de político, Antônio de Sousa foi escritor, jornalista e intelectual. Publicou diversos
romances e contos sob o pseudônimo de Policarpo Feitosa, e várias de suas obras, como
Flor do sertão (1928), Gizinha (1930) e Alma bravia (1934) foram reconhecidas pela
crítica de seu tempo. Pelo menos um de seus contos, Um depósito de coisa fungível,
mereceu, depois de sua morte, divulgação nacional numa coletânea da editora Civilização
Brasileira que reunia textos escolhidos de autores brasileiros. Publicou ainda Sertaneja
(1899); Apontamentos e documentos (1902); Explicações elementares sobre a Constituição
Política do Rio Grande do Norte (1909); Encontros do caminho (1936); Os moluscos
(1938); Jornal de vila (1939); Gente arrancada (1941) e Dois Recifes (1945). Foi
publicado como obra póstuma Quase romance… quase memória (1969).
Como jornalista, foi durante longo tempo colaborador do jornal A República, onde
manteve, inclusive, uma coluna em francês chamada “Minuderies”. Foi também redator de
A República de 1891 até 1894, no período crucial para a consolidação no poder do grupo
organizado em torno de Pedro Velho, do qual o periódico servia de porta-voz. Retornou ao
posto de redator de A República de 1899 até o ano de 1907, quando, entre outras
colaborações, dedicou-se a uma intensa polêmica a respeito da “educação da mulher” sob o
pseudônimo de Policarpo Feitosa, contra as opiniões manifestadas então no Diário de
Natal. Foi ainda fundador e redator da Revista do Rio Grande do Norte, dedicada à
literatura, órgão do Grêmio Polimático entre 1898 e 1900.
Como intelectual, foi um dos fundadores do Grêmio Polimático em 1897, associação
literária da qual foi presidente. O grêmio reuniu então intelectuais como Augusto Tavares
de Lira, Auta de Sousa e Henrique Castriciano. Como diretor de Instrução Pública, em
1892, foi o responsável pela reativação da Biblioteca do Ateneu, colégio público de Natal, e
mais tarde pela sua elevação à condição de Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do
Norte. Foi ainda o descobridor do violonista Henrique Brito e o grande responsável pela
divulgação e pelo reconhecimento público da poetisa Auta de Sousa. No caso de Henrique
Brito, quando era governador do estado reconheceu o talento do violonista e destinou-lhe
uma bolsa de estudos para que aprimorasse seus conhecimentos musicais no Rio de Janeiro.
Nessa cidade, Henrique Brito viria a se tornar parceiro de Braguinha, Noel Rosa e
Almirante, e um dos fundadores do Bando dos Tangarás. No caso de Auta de Sousa, foi o
seu primeiro editor, publicando o livro Horto pela gráfica do jornal A República, e
chancelando-o por meio da indicação de editoria da Biblioteca do Grêmio Polimático. Foi
também o primeiro crítico de Auta de Sousa, exaltando seu merecimento literário por meio
das páginas de A República. Finalmente, foi sócio-fundador do Instituto Histórico e
Geográfico do Rio Grande do Norte e também criador da revista do Instituto.
Faleceu em Recife em 6 de julho de 1955.
Não se casou.

Renato Amado Peixoto

FONTES: CASCUDO, L. Governo; FERNANDES, L. Imprensa; MAGALHÃES


JÚNIOR, R. Conto; MÁXIMO, J. Noel Rosa; ONOFRE JÚNIOR, M. Salvados; SOARES,
A. Dicionário; SOUZA, I. República Velha.

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