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40329 Deteção Remota e SIG Jorge Medina 3.

Deteção Remota com RADAR

3. DETEÇÃO REMOTA COM RADAR

3.1 Introdução
A deteção remota com ondas micro inclui a forma ativa e a forma passiva. Como já vimos, a
região do espectro dos micro-ondas abrange comprimentos de onda que podem variar de 1
centímetro até 1 metro. Estes comprimentos de onda são grandes quando comparados com as
do espectro do visível e do infravermelho, razão pela qual apresentam propriedades que são
particularmente importantes em deteção remota. Devido aos seus grandes comprimentos de
onda, a radiação micro-ondas penetra e atravessa nuvens, neblina, nevoeiro, pó e chuva (fig.
3.1) já que não estão sujeitos à difusão atmosférica que afeta a radiação com comprimentos de
onda mais pequenos. Esta propriedade permite fazer deteção remota sob quase todas as
condições ambientais e atmosféricas, permitindo a aquisição de dados em qualquer momento.

Figura 3.1. A radiação micro-ondas penetra e atravessa a neblina, o nevoeiro, as nuvens, e a poeira, exceto chuva
muito forte.

A deteção remota passiva com micro-ondas é conceptualmente semelhante à deteção remota


térmica. Todos os objetos emitem energia com comprimentos de onda da região dos micro-
ondas, mas a sua quantidade e magnitude é geralmente muito fraca. Um sensor passivo deteta
a energia dos micro-ondas naturalmente emitidas dentro do seu campo de visão. Esta energia é
função da temperatura e da humidade do objeto ou superfície emissora. Os sensores passivos
são normalmente radiómetros ou “scanners” que funcionam da mesma maneira que os sistemas
antes apresentados, exceto no facto de necessitarem de uma antena para detetarem e registarem
as ondas micro.
A energia micro-ondas registada pelos sensores passivos (fig. 3.2) inclui a emitida pela
atmosfera (1), a refletida pelo solo (2), a emitida pelo solo (3) e a transmitida pelo subsolo (4).
Uma vez que os seus comprimentos de onda são grandes, a intensidade da energia disponível é
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baixa quando comparada com os comprimentos de onda do visível. Por isso o campo de visão
do sensor deve ser suficientemente amplo para poder detetar alguma energia e para que possa
registar um sinal desta. Por esta razão os sensores passivos de micro-ondas são caracterizados
por terem uma resolução espacial muito baixa.

Figura 3.2. Energia micro-ondas registada por um sensor passivo.

A deteção remota fazendo uso da energia micro-ondas registada por sensores passivos é
utilizada em vários campos de aplicação dos quais se destacam a meteorologia, a hidrogeologia
e a oceanografia. Olhando “para” a, ou “através” da, atmosfera, os meteorologistas usam a
energia micro-ondas passiva para medir os perfis atmosféricos e para determinar a quantidade
de água ou de ozono existente na atmosfera. Os hidrogeólogos usam a energia micro-ondas
passiva para medirem a humidade do solo, uma vez que a emissão micro-ondas é influenciada
pela taxa de humidade. As aplicações em oceanografia incluem a cartografia de placas de gelo
no mar, correntes, ventos superficiais, e ainda a deteção de poluentes como é o caso das
manchas de crude (hidrocarbonetos).
Os sensores ativos de micro-ondas (fig. 3.3) emitem a sua própria energia a fim de
“iluminarem” os objetos alvo e são divididos em duas categorias: os sensores que geram
imagem e os sensores que não geram imagem. O sensor ativo micro-ondas mais comum que
gera imagens é o RADAR. RADAR é as iniciais de RAdio Detection And Ranging, que quer
dizer deteção e telemetria (isto é, medir distâncias) por ondas rádio. O sensor transmite micro-
ondas (sinal rádio) em direção ao objeto alvo e deteta a parte retrodifundida do sinal, ou seja, a
resposta do objeto a essas ondas eletromagnéticas. A intensidade do sinal retrodifundido é
medido para diferenciar os objetos alvo e o tempo que demora entre a transmissão e a receção
do sinal permite determinar a distância (ou o alcance) a que se encontra o objeto alvo.

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Figura 3.3. Sensor ativo de micro-ondas.

Os sensores de micro-ondas que não geram imagens incluem os altímetros e os difusómetros.


Na maioria dos casos estes instrumentos traçam o perfil de um objeto alvo visado numa só
dimensão linear, em oposição aos sensores que geram imagens cujos perfis são bidimensionais.
Os radares altímetros transmitem pequenos impulsos de micro-ondas e medem o tempo que
demoram na ida e na volta até ao objeto alvo para determinar a distância a que se encontra do
sensor. Normalmente os altímetros estão dirigidos diretamente ao nadir sob a plataforma
podendo deste modo medirem a altura ou a elevação do objeto, se a altura da plataforma for
conhecida com rigor. Estes instrumentos são usados em aviões para determinar a altitude de um
objeto alvo, e em aviões e satélites para fazer cartografia topográfica e ainda para estimar a
altura da superfície do mar.
Os difusómetros são sensores que também não fornecem imagens. São usados para tomar
medidas precisas da quantidade de energia retrodifundida pelos objetos. A quantidade de
energia difundida depende das propriedades da superfície, como por exemplo a rugosidade, e
do ângulo de incidência das ondas no objeto. Por exemplo, as medidas de difusão sobre os
oceanos pode ser usada para estimar a velocidade dos ventos baseando-se na rugosidade da
superfície da água do mar. Os difusómetros obtidos do solo são utilizados para saber com
precisão a difusão proveniente dos diferentes objetos aí existentes e deste modo poder
caracterizar os diferentes materiais e tipos de superfícies.
Neste capítulo, serão abordados apenas os radares que geram imagens.
A grande vantagem dos radares ativos é poderem penetrar as espessas camadas de nuvens e na
maioria das condições atmosféricas, por muito pouco favoráveis que sejam. Uma vez que o
radar é um sensor ativo, pode ser usado em qualquer hora do dia ou da noite. Estas são as duas
principais vantagens do radar: captam imagens sob quaisquer condições atmosféricas e a
qualquer hora do dia ou da noite. É importante compreender que é devido ao diferente
funcionamento entre um sensor passivo e um sensor ativo, que faz com que uma imagem radar

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seja muito diferente e possua propriedades diferentes das imagens obtidas no intervalo do
visível e infravermelho do espectro eletromagnético. Estas diferenças permitem que os dados
de radar e os dados obtidos no espectro do visível se possam complementar permitindo obter
diferentes perspetivas da superfície da Terra uma vez que fornecem informações diferentes.
Algumas destas propriedades e diferenças serão analisadas ao longo deste capítulo.
A primeira experiência de transmissão de micro-ondas e sua resposta por diferentes objetos foi
realizada por Hertz em 1886. No início do século XX foram desenvolvidos os primeiros radares
para deteção de navios. Nas décadas de 1920 e 1930 foram ensaiados os primeiros radares
dirigidos ao solo para deteção de objetos à distância. Os primeiros radares usados durante a 2ª
Guerra Mundial possuíam um movimento rotativo e eram utilizados para deteção e
posicionamento de aviões e navios. Após a guerra, os radares aerotransportados com antena
lateral (SLAR – Side-Looking Airborne Radar) foram desenvolvidos pelos militares para
reconhecimento do terreno. Eram usados radares aerotransportados que obtinham uma imagem
de uma faixa de terreno ao longo do voo. Durante os anos 50 os militares melhoraram os SLAR
e desenvolveram o radar de elevada resolução SAR (Synthetic Aperture Radar). Nos anos 60
estes radares foram disponibilizados para fins civis e começaram a ser usados em aplicações de
cartografia civil. De seguida foram desenvolvidos vários sistemas de radar aerotransportados e
em satélites para fins cartográficos e monitorização do terreno.
Os fornos micro-ondas utilizam magnetómetros de banda “S” situada na gama de frequências entre os 2 e os 4
GHz, que correspondem a intervalos de comprimentos de onda entre os 15 e 7,5 centímetros. A rede metálica
utilizada no fabrico da porta é de tal forma “fina” (a malha é muito inferior a 7,5 cm) que age como se fosse uma
superfície metálica uniforme. Esta rede evita que as ondas micro se escapem para o exterior do forno e ao mesmo
tempo permitem boa visibilidade para o seu interior, permitindo deixar passar comprimentos de onda do visível,
que são bem mais pequenos.

3.2 Princípios Básicos


Como já foi mencionado, um radar (fig. 3.4) é basicamente um aparelho que mede distâncias.
É constituído por um emissor, um recetor, uma antena e um sistema eletrónico que permite
tratar e registar os dados. O emissor emite sucessivos impulsos curtos de micro-ondas (A) com
intervalos regulares que são concentrados num feixe (B) pela antena. O feixe do radar “ilumina”
lateralmente a superfície segundo um ângulo reto relativamente ao movimento de deslocação
da plataforma. A antena recebe a energia retrodifundida (C) pelos diferentes objetos iluminados
pelo feixe. Medindo o tempo que demora entre a transmissão e a receção do feixe é possível
determinar a sua distância ao radar e, por conseguinte, a sua posição. À medida que a plataforma

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se vai deslocando, a receção, registo e tratamento do sinal fornece uma imagem da superfície
em duas dimensões.

Figura 3.4. Radar

Ainda que tenhamos caracterizado a radiação eletromagnética do visível e do infravermelho


com base no seu comprimento de onda, o intervalo do micro-ondas do espectro eletromagnético
tanto pode ser caracterizado com base no comprimento de onda como com base na frequência.
A região correspondente ao micro-ondas do espectro eletromagnético (fig. 3.5) é bastante
extensa, na qual estão incluídos vários intervalos de comprimento de onda ou bandas,
normalmente identificadas por letras, já usadas durante a 2ª Guerra Mundial e que perdura até
aos dias de hoje. As bandas são:
Bandas Ka, K e Ku: comprimentos de onda muito pequenos, embora tenham sido
muito usados nos primeiros radares aerotransportados, atualmente não o são.
Banda X: muito usados nos sistemas de radar aerotransportados no reconhecimento
militar e cartográfico.
Banda C: muito comum em vários sistemas aerotransportados (CCRS Convair-580 e
AirSAR da NASA) e em sistemas espaciais - transportadas em satélites - (ERS-1 e 2 e
ainda RADARSAT).
Banda S: utilizado no satélite russo ALMAZ.
Banda L: usado no satélite americano SEASAT e no satélite japonês JERS-1 e ainda
no sistema aerotransportado da NASA.
Banda P: compreende os maiores comprimentos de onda radar, usados no sistema
aerotransportado experimental da NASA.

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Figura 3.5. A região correspondente ao micro-ondas do espectro eletromagnético.

A figura 3.6. mostra duas imagens radar da mesma área da superfície da terra (campos
agrícolas) obtidas com diferentes bandas radar. A primeira foi obtida por um radar com banda
C enquanto a segunda foi obtida com banda L. É possível observar diferenças importantes no
modo como os mesmos campos agrícolas surgem em cada uma das imagens. Estas diferenças
são o resultado da forma como a energia do radar interage com a vegetação dependendo do seu
comprimento de onda.

banda C

banda L
Figura 3.6. Duas imagens radar obtidas com diferentes bandas.

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A polarização da radiação eletromagnética é outra característica importante na emissão dos


micro-ondas. A polarização (fig. 3.7) representa a orientação do campo eletromagnético. A
maioria dos radares foi concebida para transmitir radiação micro-ondas com polarização
horizontal (H) ou vertical (V). Da mesma forma, a antena recebe tanto polarização horizontal
como vertical. Mas alguns radares foram concebidos para receber ambas. Deste modo existem
quatro combinações de polarização possíveis para a transmissão e a receção:
HH – polarização horizontal para a transmissão e para a receção;
VV - polarização vertical para a transmissão e para a receção;
HV - polarização horizontal para a transmissão e vertical para a receção;
VH - polarização vertical para a transmissão e horizontal para a receção.

Figura 3.7. Polarização da radiação eletromagnética.

As primeiras duas combinações são designadas polarizações paralelas porque, tanto a


transmitida como a recebida, são a mesma. As duas últimas são designadas polarizações
cruzadas porque a polarização transmitida e a polarização recebida são perpendiculares.
As quatro imagens de campos agrícolas obtidas com banda C que se observam na figura
3.8 mostram as diferentes respostas ao radar devido às diferentes polarizações. A terceira e
quarta imagem foram obtidas com polarizações paralelas (HH e VV, respetivamente), enquanto
a segunda foi obtida com polarização cruzada (HV). A primeira imagem mostra os três tipos de
polarização estando cada uma delas representada por uma cor primária (vermelho, verde e azul).
Tal como acontece com os diferentes comprimentos de onda, dependendo do tipo de
polarização emitido e recebido, a resposta obtida é o resultado da interação da polarização
emitida com os objetos alvos na superfície (neste caso, campos agrícolas) e respetiva radiação
retrodifundida recebida. Tanto o comprimento de onda como a polarização afetam o modo
como o radar “vê” a superfície. Desta forma, as imagens radar obtidas com diferentes
combinações de polarização e diferentes comprimentos de onda podem fornecer informação
diferente e complementar dos diferentes objetos alvo que se encontram na superfície da terra.
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Figura 3.8. Imagens de campos agrícolas obtidas com Banda C.

3.3. Geometria da visada e Resolução Espacial


A geometria da visada de um sistema radar (fig.3.9) é diferente dos sistemas óticos usados para
a captação de imagens no intervalo de comprimentos de onda do visível e limítrofes. Do mesmo
modo que nos sistemas óticos, a plataforma desloca-se segundo a direção de voo (A)
relativamente ao nadir (B) na vertical da plataforma. O feixe de micro-ondas é transmitido
lateral e perpendicularmente à direção de voo “iluminando” um corredor (C) que se encontra
deslocado de forma constante relativamente ao nadir. A distância ou dimensão do alcance (D)
é medida perpendicularmente à direção de voo, enquanto o azimute (E) se refere à dimensão
paralela à direção de voo. Esta “visão” lateral é uma característica de todos os sistemas de radar
tanto os aerotransportados como os transportados em plataforma satélite.

Figura 3.9. Geometria da visada (varrimento) de um sistema radar.

Dentro do corredor “lido” por varrimento (fig. 3.10), a zona mais próxima do nadir é designada
alcance proximal (A) enquanto a zona mais afastada do nadir é designada alcance distal (B).
O ângulo de incidência (fig. 3.11) é o ângulo entre o feixe do radar e a normal à superfície do
solo (A); o ângulo de incidência aumenta gradualmente desde a zona de alcance proximal para
a zona de alcance distal. O ângulo de visada (B) é o ângulo a partir do qual o radar “ilumina”
o terreno; na zona do alcance proximal a visada pode ser considerada como sendo mais abrupta

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quando comparada com a zona de alcance distal na qual a geometria da visada é mais rasante.
Para todos estes parâmetros, a antena do radar mede a distância radial entre o radar e qualquer
objeto alvo existente na superfície, designada distância oblíqua (C). A distância no solo (D)
é a verdadeira distância horizontal medida no solo, que corresponde a cada um dos pontos
medidos segundo a distância oblíqua.

Figura 3.10. Alcance proximal (A) e alcance distal (B). Figura 3.11. Ângulo de incidência (A), ângulo de visada
(B), distância oblíqua (C) e distância do solo (D).

Ao contrário dos sistemas óticos, a resolução espacial de um radar varia em função das
propriedades específicas da radiação micro-ondas e dos efeitos geométricos. Se para obter uma
imagem for usado um radar com abertura real (RAR - Real Aperture Radar) (usado como radar
de visada lateral), um simples impulso transmitido e respetivo sinal retrodifundido são
suficientes para formar a imagem. Neste caso, a resolução depende apenas da duração e
comprimento do impulso segundo a distância oblíqua (parâmetro C da fig. 3.11) e da largura
do corredor de varrimento segundo a direção do azimute (parâmetro E da fig. 3.9).A resolução
transversal ou alcance (fig. 3.12) depende da duração e comprimento do impulso (P). Dois
objetos alvo iguais existentes na superfície vão ser diferenciados na dimensão transversal se a
distância entre eles for maior do que a metade do comprimento do impulso. Por exemplo, na
figura 3.12, os objetos 1 e 2 não são identificados em separado enquanto os objetos 3 e 4 o são.
A resolução em distância-tempo permanece constante. Contudo, quando ela é projetada em
termos de distância do solo a resolução depende do ângulo de incidência. A resolução de
distância do solo decresce à medida que o alcance aumenta.

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Figura 3.12. Resolução transversal ou alcance.

A resolução longitudinal ou azimutal (fig. 3.13) é determinada pela largura angular do feixe
de micro-ondas emitido e pela distância oblíqua (parâmetro C da fig. 3.11). A largura do feixe
(A na fig. 3.13) é a medida da largura do feixe de iluminação. À medida que aumenta a distância
ao sensor, a resolução azimutal aumenta (tornando-se mais grosseira). Na figura 3.13, os objetos
1 e 2, que se encontram no alcance proximal do radar, são discernidos, enquanto os objetos 3 e
4, que se encontram no alcance distal, não o são. A largura do feixe do radar é inversamente
proporcional ao comprimento da antena (também referida como abertura), donde uma antena
comprida produzirá um feixe mais estreito e uma melhor resolução.

Figura 3.13. Largura do feixe emitido.

É possível obter melhores resoluções transversais utilizando dois pequenos impulsos, o que é
possível dentro de determinadas restrições de conceção. Podem ser obtidas melhores resoluções
longitudinais aumentando o comprimento da antena. Contudo, o comprimento da antena está
sujeito a limitações de transporte por parte das plataformas de transporte aéreo ou espacial. Para
os radares aerotransportados, o comprimento da antena está geralmente limitado a um ou dois
metros, enquanto para os radares transportados em plataforma satélite, as antenas podem ter 10
a 15 metros de comprimento. Para ultrapassar esta limitação, é utilizado o movimento para
diante da plataforma e ainda o registo e tratamento especiais do sinal retrodifundido para
simular uma antena mais comprida e deste modo aumentar a resolução longitudinal.

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Figura 3.14. Aumento da resolução longitudinal ou azimutal.

A figura 3.14 simula este processo. À medida que o alvo (A) é “iluminado” pelo feixe do radar,
os ecos (retrodifundidos) de cada um dos impulsos enviados, começam a ser registados. À
medida que a plataforma vai avançando, todos os ecos, por cada impulso enviado, provenientes
do objeto alvo vão sendo registados durante todo o período de tempo durante o qual o objeto
alvo está a ser “iluminado” pelo feixe. O momento em que o alvo deixa de ser iluminado pelo
radar determina o comprimento da antena simulada ou sintética (B). Os alvos posicionados no
alcance distal, para os quais o feixe é mais largo, vão ser iluminados durante mais tempo do
que os posicionados no alcance proximal. O alargamento do feixe combinado com o aumento
do período de tempo durante o qual o objeto alvo está a ser iluminado à medida que a distância
ao solo aumenta, equilibram-se de tal forma que a resolução permanece constante ao longo de
todo o corredor. Este método, utilizado para se obter uma melhor resolução azimutal ao longo
do corredor inteiro é chamado synthetic aperture radar, ou SAR. Muitos dos radares usados
em aviões e em satélites são deste tipo.

3.4. Distorção das imagens Radar


Tal como acontece para todos os sistemas de deteção remota, a geometria da visada de um radar
causa uma determinada distorção na imagem resultante. Contudo, existem diferenças
específicas características das imagens radar, devido à geometria de visada lateral estar
relacionada com o facto de o Radar ser fundamentalmente um instrumento que mede distâncias.
A distorção devido à escala oblíqua (fig.3.15) acontece porque o radar mede a distância dos
objetos obliquamente em vez de medir a verdadeira distância horizontal no terreno. Tal resulta
em variações de escala devido às posições proximal ou distal do objeto. Embora os objetos
alvos A1 e B1 tenham o mesmo tamanho no terreno, as suas dimensões aparentes são diferentes
(A2 e B2). Os objetos alcançados na posição proximal aparecem comprimidos relativamente

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aos distais. Com a ajuda da trigonometria é possível calcular a real distância no terreno a partir
da distância oblíqua desde que conhecida a altitude da plataforma.

Figura 3.15. Distorção devido à escala oblíqua.

A figura 3.16 mostra esta conversão para comparar uma imagem radar com inclinação
oblíqua (em altura), nas quais os campos agrícolas e estradas posicionadas na zona proximal
(lado esquerdo da imagem) estão comprimidas, e a mesma imagem convertida para a distância
do terreno (em baixo) com as estruturas e suas formas geométricas corrigidas.

Figura 3.16. Comparação da conversão.

Tal como nas distorções existentes nas imagens obtidas por câmaras fotográficas e por sensores
de varrimento, as imagens radar apresentam distorções geométricas devido ao deslocamento
do terreno. Tal como acontece no caso das imagens obtidas por sensores de varrimento, este
deslocamento é unidimensional e perpendicular à direção de voo. No entanto este deslocamento
acontece no sentido do sensor em vez de se alongar. Este deslocamento do terreno manifesta-
se sob duas formas: encurtamento (foreshortening) e sobreposição (layover):
Quando um feixe do radar incide na base de uma grande estrutura inclinada no sentido do radar
(uma montanha, por exemplo) antes de alcançar o seu topo, pode ocorrer foreshortening
(encurtamento), figura 3.17. Aqui, e uma vez que o radar mede distâncias oblíquas, a encosta
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(A até B) aparece comprimida e o comprimento da encosta fica incorretamente representada


(A´ até B´). A importância do encurtamento (foreshortening) varia dependendo do ângulo de
inclinação da montanha relativamente ao ângulo de incidência do feixe. Ocorre o máximo de
encurtamento (foreshortening) quando o feixe do radar é perpendicular à encosta de tal modo
que a base e o topo da mesma coincidem (C até D); o comprimento da encosta fica reduzida a
um comprimento zero na distância oblíqua (C´ até D´). A figura 3.18 mostra uma imagem radar
de um terreno montanhoso abrupto com o efeito encurtamento (foreshortening) importante.
As encostas encurtadas surgem mais brilhantes na imagem.

Figura 3.17. Foreshortening (encurtamento). Figura 3.18. Terreno montanhoso abrupto.

Outro tipo de deformação é o layover (sobreposição) que acontece quando o feixe do radar
incide no topo de um objeto elevado (B) antes de incidir na sua base (A), figura 3.19. O sinal
de retorno do topo é recebido antes do sinal de retorno da base. Como resultado, o topo do
objeto fica deslocado no sentido do radar relativamente à sua verdadeira posição no terreno e
“sobrepõe-se” à base (B´ a A´). Numa imagem radar o efeito layover (sobreposição) assemelha-
se bastante ao efeito foreshortening (encurtamento), Figura 3.19. Da mesma forma que o é para
o foreshortening, o layover é mais grave quanto menores forem os ângulos de incidência, nas
zonas proximais do feixe, e nas zonas montanhosas acidentadas.

Figura 3.18. Layover (sobreposição). Figura 3.19. Efeito layover .

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Estes dois efeitos, “foreshortening” e “layover”, criam sombras na imagem radar (fig. 3.20).
Estas sombras acorrem porque o feixe não é capaz de “iluminar” toda a superfície do terreno.
Estas sombras aparecem no sentido das zonas distais, por trás de objetos verticais ou encostas
muito inclinadas. Uma vez que o feixe do radar não ilumina a superfície, as regiões sombreadas
aparecem pretas numa imagem porque não há energia disponível para a retrodifusão. À medida
que o ângulo de incidência aumenta das zonas proximais para as zonas distais o efeito de sombra
aumenta segundo o feixe do radar que ilumina a superfície de modo a ser cada vez mais oblíquo.
A figura 3.21 mostra uma imagem com efeitos sombra de radar sobre o lado direito de uma
colina, que está a ser iluminada no lado esquerdo.

Figura 3.20. As superfícies assinaladas a vermelho estão Figura 3.21. Efeito de sombra radar.
completamente na sombra. As zonas pretas na imagem
estão sombreadas e não contêm qualquer informação.

3.5. Interação com o objeto e aparência da imagem


Numa imagem radar, o brilho de um determinado elemento é função da quantidade de energia
transmitida e que depois é “devolvida” para o radar após interagir com os objetos que se
encontram na superfície. A magnitude e intensidade desta energia retrodifundida dependem da
forma como a energia do radar interage com a superfície, que é função de algumas variáveis ou
parâmetros. Nestes parâmetros estão incluídas as características particulares do sistema de radar
(frequência, polarização, geometria de visualização, etc.) bem como as características da
superfície do terreno (tipo de cobertura vegetal ou urbana, topografia, relevo, etc.). Uma vez
que muitas destas características estão interligadas é impossível separar a contribuição
individual de cada uma delas na aparência dos elementos sobre as imagens radar. A variação
destes parâmetros pode ter um impacto sobre os resultados e podem influenciar os outros
parâmetros, afetando a quantidade de energia retrodifundida. Deste modo, numa imagem, o
brilho de um elemento é normalmente uma combinação de algumas destas variáveis. Contudo,
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podemos agrupar estas características em três categorias que controlam fundamentalmente a


interação da energia do radar com o objeto alvo:
- Rugosidade da superfície do objeto alvo
- Relação entre a geometria de visada do radar e a superfície
- A taxa de humidade e as propriedades elétricas do objeto
A rugosidade da superfície (fig. 3.22) de uma estrutura controla a forma como a energia
micro-ondas interage com a superfície do objeto e é geralmente o fator dominante, ou o que
mais contribui, na atribuição dos tons de cinza que se vêm numa imagem radar. A rugosidade
define-se como a variação média das asperezas da superfície, medida na ordem de grandeza dos
centímetros, em relação a uma superfície plana. A aparência rugosa ou suave de uma superfície
depende do comprimento de onda e do ângulo de incidência.

Figura 3.22. Rugosidade da superfície.

Considera-se uma superfície “lisa” quando a variação vertical é muito mais pequena do que o
comprimento de onda do radar. Quando a variação vertical é da ordem de grandeza do
comprimento de onda, a superfície tem aparência rugosa. Portanto, uma dada superfície aparece
mais rugosa sempre que o comprimento de onda diminui e mais suave sempre que o
comprimento de onda aumenta. Uma superfície lisa (A) gera uma reflexão especular de energia
incidente (geralmente com direção oposta ao recetor) e em consequência, só uma pequena
quantidade de energia retorna ao radar (fig. 3.23). Numa imagem radar as superfícies lisas
aparecem como regiões em tons mais escuros. Uma superfície rugosa (B) reflete energia em
todas as direções (ocorre difusão) e uma parte importante de energia é retrodifundida para o
radar (fig. 3.23). Numa imagem radar as superfícies rugosas aparecem com tons mais claros. O
ângulo de incidência em combinação com o comprimento de onda também têm um papel
importante na rugosidade aparente de uma superfície. Para um determinado comprimento de
onda e uma dada superfície, a superfície aparenta ser mais lisa à medida que o ângulo de
incidência aumenta. Então, à medida que nos afastamos no corredor de varrimento, da zona
proximal para a distal, menos energia é retrodifundida para o sensor e a imagem torna-se cada
vez mais escura.

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Figura 3.23. Superfície lisa (A) e superfície rugosa (B).

Já abordámos a relação existente entre ângulo de incidência e a geometria da visada e a maneira


como as variações deste ângulo podem afetar o sinal que volta ao radar. Ainda assim, para
compreender a relação entre a superfície (geometria, rugosidade e humidade) e a tonalidade da
imagem, a utilização do ângulo de incidência local é a mais apropriada. O ângulo de incidência
local (fig. 3.24) é o ângulo medido entre o feixe do radar e a linha perpendicular à inclinação
no ponto de incidência (A). Então, o ângulo de incidência local tem em conta o pendor local do
terreno relativamente ao feixe do radar.

Figura 3.24. Ângulo de incidência local (A).

Em terreno plano, o ângulo de incidência local é idêntico ao ângulo de visada (B) do radar, que
não acontece caso se trate de um terreno acidentado. Geralmente, os declives com inclinação
perpendiculares ao sentido do radar têm ângulos de incidência locais pequenos, causando um
forte sinal retrodifundido para o sensor, o que resulta numa tonalidade mais brilhante na
imagem radar.
Como o conceito de ângulo de incidência local o demonstra, a relação entre a geometria da
visada e a geometria da superfície têm um papel importante na maneira como a energia do radar
interage com os objetos e gera o correspondente brilho na imagem. As variações na geometria
de visada acentuam e aumentam a topografia e o relevo de diferentes maneiras, como por

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exemplo, podem ocorrer diversos graus de foreshortning (encurtamento), layover


(sobreposição) e escurecimento dependendo do pendor da superfície, sua orientação e forma.
A direção de visada ou ângulo de aspeto do radar (fig. 3.25) descreve a orientação do feixe
transmitido pelo radar em relação à direção ou alinhamento de elementos lineares na superfície.
A direção e sentido da visada pode influenciar de maneira significativa a aparência dos
elementos numa imagem radar, sobretudo quando o terreno está organizado em estruturas
lineares (tais como campo de cultivo ou cadeias de montanhas).

Figura 3.25. Direcção da visada ou ângulo de aspeto.

Se a direção de visada é quase perpendicular à orientação da estrutura (A), uma grande porção
de energia incidente será refletida para o sensor e esta estrutura aparecerá em tons muito
brilhantes. Se a direção da visada é mais paralela em relação à orientação do elemento (B) uma
menor quantidade de energia será devolvida ao sensor e este elemento aparecerá em tons mais
escuros. Numa imagem, a direção da visada é importante para aumentar o contraste entre os
diferentes elementos. É importante ter uma boa direção de visada em regiões montanhosas de
forma a minimizar efeitos tais como layover (sobreposição) e escurecimento. A aquisição de
imagens resultantes do uso de diferentes direções de visada podem melhorar a identificação de
elementos com a ajuda de diferentes orientações relativamente ao radar.
Os objetos que possuam superfícies lisas formando um ou mais ângulos retos, podem formar
uma reflexão em canto (fig. 3.26) se os “cantos” estiverem face à direção geral da antena do
radar. Uma superfície em ângulo reto força a energia do radar a ser retrodifundida diretamente
para a antena devido a uma dupla (ou múltipla) reflexão. Os refletores com forma de canto e
diversas formas angulares complexas são frequentes em zonas urbanas (por ex.: edifícios e
pavimentos, pontes e outras estruturas construídas pelo homem). Refletores naturais com forma
em canto também podem existir tais como blocos isolados de rocha de grandes dimensões,
falésias ou vegetação cortante verticalmente à água. Em todos os casos, os refletores em canto
aparecem como objetos muito brilhantes assim como outras estruturas construídas
artificialmente (fig.3.27).
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Figura 3.26. Reflexão em canto. Figura 3.27. Imagem radar de uma cidade.

A presença, ou ausência, de humidade afeta as propriedades elétricas de um objeto ou de um


meio. As variações nas propriedades elétricas influenciam a absorção, a transmissão e a reflexão
da energia micro-ondas. Então, a taxa de humidade vai influenciar o modo como os objetos
alvo e as superfícies refletem a energia proveniente de um radar, bem como a sua aparência na
imagem. Em geral, a reflexividade e o brilho numa imagem radar aumentam com o crescendo
da taxa de humidade. Por exemplo, superfícies como solos e vegetação aparecem mais
brilhantes quando estão molhadas do que quando estão secas.
Quando um objeto alvo está molhado, a difusão proveniente da sua parte superior (difusão da
superfície) é o dominante. O tipo de reflexão (desde especular a difusa) e a magnitude
dependem da rugosidade aparente do material face ao radar. Se o alvo está muito seco e a
superfície aparenta ser suave, a energia do radar pode ser capaz de penetrar abaixo da superfície,
quando a superfície é descontínua (por ex. floresta com folhas e ramos) ou contínua (por ex.
solo, areia ou gelo). Em determinadas superfícies, comprimentos de onda maiores podem
penetrar mais profundamente do que comprimentos de onda menores.
Se a energia do radar for capaz de penetrar a parte superior da superfície, pode ocorrer difusão
volúmica. A energia radar difundida por um volume ou meio é constituída por reflexões
provenientes de diferentes componentes (ou diferentes camadas) que compõem o volume (fig.
3.28). Por exemplo, numa floresta a difusão pode ser devida às folhas ou aos topos das árvores,
de outras folhas e ramos posicionadas mais abaixo e ainda dos troncos e do solo. Uma difusão
volúmica aumenta ou diminui o brilho de uma imagem de acordo com a quantidade de energia
difundida para o exterior do volume em direção ao radar.

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Figura 3.28. Energia radar difundida por um volume.

3.6. Propriedades das imagens radar


Todas as imagens radar contêm alguma quantidade daquilo a que chamamos radar speckle
(salpicaduras). Este efeito manifesta-se com aspeto textural granulado de “sal e pimenta” nas
imagens (fig. 3.29). Este efeito é o resultado da interferência aleatória, construtiva e destrutiva,
produzida pela difusão múltipla que ocorre em cada célula de resolução. Uma superfície
homogénea, como por exemplo um grande campo coberto de erva (fig. 3.30), sem este efeito,
a imagem apareceria em tons muito claros (A). Mas a reflexão proveniente de cada folha de
erva no interior de cada célula de resolução produz pixels mais claros e outros mais escuros do
que a média (B), de modo que o campo parece “salpicado”.

Figura 3.29. Radar speckle: efeito salpicado de “sal e pimenta”. Figura 3.30. Campo coberto de erva.

O efeito salpicado é um tipo de ruído que degrada a qualidade da imagem e pode fazer com que
a interpretação (visual ou digital) seja mais difícil de fazer. Então, normalmente é preferível
reduzir este efeito salpicado antes da interpretação e análise das imagens. A redução deste
efeito salpico pode ser conseguido de duas formas:
− Processamento multi-imagem
− Filtragem espacial

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O processamento multi-imagem consiste na divisão do feixe radar (A) em vários sub-feixes


(no exemplo da figura 3.31, cinco) mais estreitos (1 a 5), ou seja na aquisição de várias imagens
distintas duma mesma cena (cinco imagens neste exemplo). Como o nome sugere, cada sub-
feixe proporciona a sua própria imagem da cena “iluminada”. Cada uma destas imagens
também está sujeita ao efeito salpico, mas fazendo a soma e a média de todas as imagens para
a obtenção de uma imagem final, acaba por reduzir o efeito salpico.

Figura 3.31. Processamento multi-imagem.


Enquanto o processamento multi-imagem é efetuado durante a aquisição dos dados, a redução
de salpico via filtragem espacial é efetuada sobre a imagem através de um tratamento digital
da imagem no computador. A redução de salpico por filtragem espacial consiste em extrair e
mover uma janela com um determinado número de pixels (p. ex. 3x3 ou 5x5) sobre cada pixel
na imagem. A filtragem é feita aplicando um cálculo utilizando os valores dos pixels da janela
(por exemplo, calculando a média dos valores) e substituindo o pixel correspondente da imagem
resultante pelo resultado da operação matemática. A janela é deslocada um pixel de cada vez,
nas linhas e nas colunas, até que a imagem inteira seja convertida. Calculando a média de uma
pequena janela em torno de cada pixel, obtém-se um efeito de suavização que reduz a
salpicadura da imagem. A figura 3.32 mostra uma imagem radar antes (à esquerda) e depois (à
direita) da redução do salpico usando um filtro com a média. O valor da mediana de todos os
pixels sob o efeito de movimento da janela também é usado para reduzir o salpico. Outros
métodos de filtragem mais complexos também podem ser usados para reduzir o salpico das
imagens procurando minimizar o efeito de suavização dos dados.

Figura 3.32. Imagem radar antes e depois da redução do salpico usando um filtro com a média.

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Tanto o processamento multi-imagem como a filtragem espacial reduzem o salpico em


detrimento da resolução, uma vez que ambos basicamente suavizam a imagem. Tendo em
consideração o campo de aplicação em que a imagem irá ser usada bem como o grau de detalhe
desejado, será determinante para o nível de redução de salpico a ser efetuado. Se a aplicação
requere detalhes finos e elevada resolução, pouco ou nenhum processamento multi-imagem ou
filtragem espacial deve ser efetuado. Se, pelo contrário, se deseja uma imagem de baixa
resolução para uma aplicação em cartografia, por exemplo, então estas técnicas de redução do
salpico da imagem são mais apropriadas ou mesmo aceitáveis.
A distorção oblíqua já abordada na secção 3.4 constitui uma outra propriedade particular das
imagens radar. Os elementos posicionados na zona de alcance proximal são comprimidos em
relação aqueles que estão posicionados na zona de alcance distal por causa da não linearidade
de escala das distâncias. Para a maioria das aplicações é preferível que a imagem radar esteja
num formato que corrige esta distorção para permitir o cálculo de verdadeiras distâncias entre
os objetos. Esta requere uma conversão da imagem tendo em consideração a distância ao solo.
Esta conversão pode ser feita pelo processador radar antes da criação da imagem ou após a
aquisição dos dados transformando a imagem. Na maioria dos casos, esta transformação não é
mais do que uma estimativa, por causa das complicações introduzidas pela variação do relevo
e da topografia.
Uma antena radar transmite mais energia na zona central do feixe emitido, ou seja, transmite
mais energia para a parte central do corredor varrido do que para as zonas de alcance proximal
ou distal. Este efeito é conhecido como padrão da antena (antenna pattern) resultando numa
retrodifusão mais forte na parte central do corredor do que nas laterais. Combinado com este
efeito do padrão da antena, a quantidade de energia “devolvida” para o radar decresce
dramaticamente à medida que a distância aumenta. Estes efeitos combinam-se para produzirem
uma imagem cuja intensidade (tonalidade) varia da zona proximal para a zona distal do corredor
de varrimento (fig. 3.33). Um processo conhecido como correção do padrão da antena pode
ser aplicado para produzir uma tonalidade uniforme média através do corredor de forma a
facilitar a interpretação visual.

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Figura 3.33. Imagem na qual a intensidade (tonalidade) varia através da imagem.


A extensão de níveis de brilhos que um sistema de deteção remota pode distinguir está
relacionada com a resolução radiométrica (secção 2.5) e é referida como “dynamic range”.
Enquanto os sensores óticos utilizados em satélites como o LANDSAT e SPOT produzem 256
níveis de intensidade, os sistemas radar podem diferenciar até 100.000 níveis! Uma vez que o
olho humano apenas pode discriminar cerca de 40 níveis de intensidade de cada vez, é
demasiada informação para ser interpretada visualmente. Até mesmo para um computador
comum é demasiada informação. Então, a maioria dos radares regista e processa os dados
originais na forma de 16 bits (65.356 níveis de intensidade) que são depois reduzidos a 8 bits
(256 níveis) para poderem ser interpretados visualmente e digitalmente por computador.
A calibração é um processo que garante que o sistema radar e os sinais por ele medidos sejam
consistentes e o mais precisos possível. Antes da análise, a maioria das imagens radar requerem
uma calibração relativa. Este processo de calibragem corrige as variações conhecidas na
antena e nos sistemas de resposta, e garante que as medidas uniformes e repetitivas sejam
possíveis. Esta operação permite efetuar com toda a confiança comparações relativas entre a
resposta dos elementos numa mesma imagem, e entre outras imagens. No entanto, se forem
necessárias medidas quantitativas precisas, representando a energia verdadeiramente refletida
pelas diversas estruturas e objetos alvo, ou ainda para fins comparativos, então são necessárias
calibragens absolutas.
A calibração absoluta é um processo muito mais laborioso do que a calibração relativa. Ele
tenta ligar a magnitude do sinal registado com o verdadeiro valor de energia retrodifundida a
partir de cada célula de resolução. Para o conseguir, são necessárias medidas detalhadas das
propriedades do sistema radar e também medidas quantitativas das propriedades da dispersão
de objetos específicos. Estes últimos são normalmente obtidos usando dispersómetros
colocados no terreno, como descrito na secção 3.1. Também podem ser colocados no terreno
aparelhos chamados transportadores antes da aquisição dos dados, usados para calibrar a
imagem. Estes aparelhos recebem o sinal radar, amplificam-no e enviam-no de volta

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(retrodifundem-no) com uma determinada intensidade. Conhecendo a intensidade deste sinal


na imagem, a resposta das outras estruturas pode ser obtida por extrapolação.

3.7. Aplicações radar avançadas


Para além da aquisição e utilização de dados radar normais, existem três aplicações específicas
que merecem ser mencionadas.
A primeira é o stereo radar (imagens radar estereoscópicas) que é semelhante ao conceito de
cartografia estereográfica apoiada em fotografia aérea (descrita na secção 2.7). São obtidas
pares de imagens radar estereográficas (fig. 3.34) duma mesma região mas com ângulos de
visada/incidência diferentes (A), ou com direções opostas (B). Contrariamente às fotografia
aéreas nas quais o deslocamento é radial no sentido dos bordos a partir do nadir (lugar que se
encontra na vertical da câmara), as imagens radar apresentam um deslocamento somente na
direção paralela à visada. Os pares estereoscópicos obtidos em direções opostos (isto é, uma no
sentido norte e a outra no sentido sul) podem apresentar contrastes significativos e serem
difíceis de interpretar visual e digitalmente. Em regiões montanhosas, este efeito será ainda
mais pronunciado porque as sombras dos lados opostos das estruturas eliminam o efeito estéreo.
As imagens estereoscópicas obtidas a partir do mesmo lado (A) têm vindo a ser utilizadas há já
vários anos na interpretação, em campos de aplicação como, silvicultura (florestas), geologia e
na construção de mapas topográficos. A radargrametria é, à semelhança da fotogrametria nas
fotografias aéreas, a partir de imagens radar estereográficas, usada para obter distâncias
medidas no terreno e variações de cotas, utilizadas por exemplo em cartografia e topografia.

Figura 3.34. Imagens radar estereográficas.


A radargrametria é usado para avaliar a altura das superfícies no terreno (cotas). Um outro
método mais avançado é a interferometria. A interferometria é possível graças ao estudo da
variação de fase das ondas eletromagnéticas. Suponhamos que temos duas ondas com o mesmo
comprimento de onda (e a mesma frequência), mas que o ponto de partida de uma delas esteja
deslocado relativamente à outra. O deslocamento entre os pontos correspondentes sobre estas
duas ondas (A) chama-se diferença de fase (fig. 3.35). Os sistemas interferométricos (fig.
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3.36) utilizam duas antenas paralelas, separadas por uma pequena distância, que registam o
sinal de retorno de cada célula de resolução. As duas antenas podem estar na mesma plataforma
(como acontece nos sistemas espaçotransportados SARs), ou então os dados podem ser obtidos
a partir de duas fases com o mesmo sensor, como acontece em alguns radares montados em
aviões e em satélites. Medindo com exatidão a diferença de fase entre dois sinais
retrodifundidos (A), a diferença de comprimento percorrida pode ser calculada com uma
precisão da ordem do comprimento de onda (isto é, centímetros). Sendo conhecida a posição
da antena relativamente à superfície da Terra, é possível determinar a posição (e elevação) da
célula de resolução.

Figura 3.35. Duas ondas. Figura 3.36. Sistemas interferométricos.


A diferença de fase entre as células de resolução adjacentes está ilustrada no interferograma
da figura 3.37, no qual as cores representam a variação de alturas. A informação contida num
interferograma pode ser utilizada para derivar a informação topográfica e produzir uma imagem
a três dimensões das alturas do terreno (fig. 3.38).

Figura 3.37. Interferograma. Figura 3.38. Imagem em três dimensões.


O conceito de polarimetria radar já foi abordado na secção 3.2. Como o seu nome sugere, a
polarimetria estuda a discriminação das polarizações que um sistema radar pode emitir e
receber. A maioria dos radares transmitem radiação micro-ondas com uma polarização
horizontal (H) ou vertical (V). Da mesma forma, recebem o sinal retrodifundido de apenas
uma destas polarizações. Os radares com polarização múltipla (multi-polarization radars) são
capazes de transmitir polarizações H e V, e podem receber em modo paralelo ou cruzado (HH,

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HV, VH e VV em que a primeira letra corresponde à polarização de transmissão e a segunda à


polarização de recção). Os radares polarimétricos são capazes de transmitir e de receber
polarizações horizontais e verticais. São capazes de receber e tratar as quatro combinações de
polarização: HH, HV, VH e VV. Cada um destes canais de polarização tem uma sensibilidade
diferente às propriedades e características da superfície. Assim, a disponibilidade de
polarizações múltiplas melhoram a identificação e a discriminação entre os elementos. Para
além de registar a magnitude (ou seja, a força) do sinal de retorno para cada polarização, a
maioria dos radares polarimétricos são também capazes de registar informação sobre a fase do
sinal de retorno. A fase do sinal pode ser usada para melhor caracterizar a “assinatura”
polarimétrica dos diferentes elementos que constituem a superfície.

3.8. A polarimetria do radar

3.8.1. Introdução à polarização


A polarização da radiação representa uma propriedade essencial na propagação e difusão da
radiação micro-ondas. A polarização de uma onda eletromagnética (EM) representa a posição
do vetor campo elétrico num plano perpendicular à direção da propagação. Enquanto o
comprimento do vetor representa a amplitude e a velocidade de rotação do vetor corresponde
à frequência da onda, a polarização é dada pela orientação da forma do padrão traçado pela
ponta do vetor.
A forma da onda da tensão (voltagem) dum campo elétrico duma onda eletromagnética pode
ser previsível (a onda é polarizada) ou aleatória (a onda é não polarizada), ou uma combinação
das duas. No último caso, o grau de polarização exprime a relação entre o poder polarizado e o
poder total da onda. Por exemplo, uma onda sinuosa monocromática com uma frequência
constante e uma amplitude estável representa uma onda inteiramente polarizada (fig. 3.39).

Figura 3.39. Exemplos de polarizações horizontais (a preto) e verticais (a vermelho) duma onda eletromagnética.

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Muitos radares são concebidos de forma a transmitirem a radiação micro-ondas em polarização


horizontal (H) ou vertical (V). Esta onda transmitida, quer seja em polarização H ou V, pode
gerar uma onda retrodifundida com diferentes polarizações. Chamamos polarimetria radar à
técnica que analisa a combinação entre estas polarizações.
Podemos combinar as polarizações das ondas transmitidas e recebidas utilizando os parâmetros
H e V cuja inter-relação está bem definida. Esta é a razão pela qual os sistemas que transmitem
e recebem estas duas polarizações lineares são normalmente utilizadas. Com este tipo de radar,
existem quatro combinações de polarização transmissão-receção:
HH – transmissão e receção horizontais
VV – transmissão e receção verticais
HV – transmissão horizontal e receção vertical
VH – transmissão vertical e receção horizontal
As duas primeiras combinações de polarização são referidas como “polarização paralela” já que
as polarizações de transmissão e receção são as mesmas. Por outro lado, as outras duas
combinações de polarização são referidas como “polarização cruzada” uma vez que as
polarizações de transmissão-receção são ortogonais entre si.
Os sistemas radar podem ter uma, duas ou mesmo quatro combinações de polarização de
transmissão-receção. Exemplos de alguns tipos de sistemas radar:
Polarização simples HH ou VV (eventualmente HV ou VH)
Bipolarização HH e HV, VV e VH, ou HH e VV
Polarização alternada HH e HV alternando com VV e VH
Polarimétrica HH, VV, HV e VH
Os termos “polarização em quadratura” e polarimetria integral” também podem ser usados
como sinónimos de “polarimétrica”. Num radar polarimétrico, a medida da fase relativa entre
os canais é um parâmetro muito importante. Nos outros tipos de radar, a fase relativa pode ou
não ser medida. No satélite ENVISAT está presente um modo de polarização alternada para a
qual a fase relativa é medida. No entanto a fase principal HH-VV não tem qualquer significado
devido ao lapso de tempo que decorre entre as medições.
Na figura 3.40 vemos imagens de terrenos agrícolas obtidas com banda C que mostram a
dependência da resposta do radar relativamente à polarização. As duas imagens de cima foram
obtidas com polarização paralela (HH na da esquerda e VV na da direita) enquanto a imagem
inferior esquerda foi obtida com polarização cruzada (HV). A imagem direita inferior é o
resultado visual da composição coloridas das três anteriores (neste caso, HH vermelho; VV
verde; HV azul).
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Figura 3.40. Exemplo de como diferentes polarizações (HH, VV, HV e composição colorida) acentuam
diferentes aspetos duma zona agrícola.
Tanto o comprimento de onda como a polarização afetam a forma como um radar “vê” os
elementos de uma cena. Por conseguinte, as imagens radar obtidas com diferentes combinações
de polarização e comprimentos de onda podem fornecer uma informação diferente e
complementar. Além destas, a combinação de três polarizações numa composição colorida
permite extrair informação suplementar sobre as características da superfície observada.

3.8.2. Informação polarimétrica


A matriz de dispersão descreve sobretudo como um alvo radar, ou os elementos à superfície,
difundem a energia eletromagnética. Podem, contudo, ser derivados de outras formas de
polarização polarimétrica tais como imagens sintetizadas ou assinaturas de polarização.

3.8.2.1. Síntese da polarização


Para determinar a resposta de um alvo ou a matriz de difusão podem ser utilizadas duas
polarizações ortogonais, geralmente de transmissão-receção lineares H e V, de um radar

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polarimétrico. Conhecida a matriz de difusão é possível calcular a resposta do alvo para todas
as combinações possíveis de polarização transmissão-receção. Este cálculo que ilustra o poder
e flexibilidade do radar com polarimetria integral é designado síntese de polarização.
Com a ajuda da síntese de polarização, é possível criar uma imagem para melhorar a
detetabilidade de elementos selecionados, como por exemplo a deteção de navios no oceano.
Para encontrar a melhor combinação de polarizações transmissão-receção são calculadas as
assinaturas de polarização de um barco e do oceano para cada polarização. A combinação de
polarização de transmissão-receção que maximiza a razão do poder de retrodifusão é
subsequentemente utilizada para aperfeiçoar a detetabilidade das embarcações. Este
procedimento é designado “acentuação do contraste polarimétrico” ou a utilização de um “filtro
polarimétrico adaptado”.

3.8.2.2. Assinatura da polarização


Devido a múltiplas polarizações das ondas incidentes e das ondas difundidas e dos quatro
números complexos da matriz de difusão, é conveniente simplificar a interpretação do
comportamento de difusão utilizando um diagrama tridimensional chamado “assinatura da
polarização” ou “diagrama da resposta da polarização”. Este diagrama representa uma forma
prática de visualizar as propriedades de difusão de um objeto-alvo.
Como mostra a figura 3.41, os eixos dos x e dos y da assinatura de polarização representam os
valores da elipticidade (-45º a +45º) e da orientação (0º a 180º) do campo elétrico da onda
eletromagnética incidente, enquanto o eixo dos z exprime o valor do poder da retrodifusão. Este
último pode ser calculado, para cada polarização incidente possível, a partir de uma mesma
polarização de transmissão-receção (assinatura da polarização paralela) e das polarizações
ortogonais de transmissão-receção (assinatura da polarização cruzada).
A figura 3.41 mostra as assinaturas de polarização de dois alvos elementares, uma grande esfera
de condução ou um canto triedro refletor. Para ambos os alvos, a polarização da onda
retrodifundida demora o mesmo que a transmitida, mas com uma mudança de sinal da
elipticidade para cada reflexão (ou no caso de uma polarização linear, uma mudança do ângulo
de fase de 180º entre Eh e Ev). Como consequência, a esfera e o refletor triedro comportam-se
em refletor “impar”, uma vez que produzem uma e três reflexões respetivamente.

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Assinatura da co-polarização Assinatura da polarização cruzada


Figura 3.41. Assinaturas de polarização duma grande esfera de condução.
P=Poder, O=Orientação (graus), E=Elipticidade (graus)

Para objetos-alvo mais complexos, a assinatura de polarização apresenta-se sob diferentes


formas. O refletor em canto diedro e a dispersão de Bragg na superfície do oceano são dois
exemplos interessantes. No caso do refletor diedro, a assinatura da polarização paralela mostra
dois picos que caracterizam os refletores “pares”. Pelo contrário, a resposta da dispersão de
Bragg é semelhante à reflexão simples duma esfera, com exceção dum valor de retrodifusão da
polarização vertical superior à da polarização horizontal.

3.8.3. Dados de calibração


Nos sistemas radar polarimétricos, é essencial efetuar uma calibração dos dados, porque a
informação utilizada apoia-se nas relações de amplitude e nas diferenças dos ângulos de fase
das quatro combinações de polarização de transmissão-receção. Assim, uma calibração
imprecisa faria uma má interpretação dos mecanismos de difusão, e então não haveria qualquer
vantagem em usar a polarização.
A calibração é efetuada pela combinação dos parâmetros do sistema radar e da análise de dados.
Por exemplo, obteríamos uma resposta modelo de um refletor em canto triedro somente se os
quatro canais do sistema radar mostrassem o mesmo ganho, se não existisse qualquer diferença
de fase dependente do sistema entre os canais e se não houvesse qualquer perda de energia de
um canal para o outro.
Para obter os parâmetros do sistema radar, os ganhos e as fases dos canais deveriam
corresponder o mais possível. No caso da concordância de fase, o trajeto do sinal deveria então
ser o mesmo para todos os canais. Estes sinais de calibração são geralmente tidos em conta
aquando a conceção do sistema para ajudar na verificação da concordância dos canais.
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Quanto à análise dos dados de receção, eles permitem medir e corrigir os efeitos da
concordância dos canais, da intermodulação e do ruido. Para além da análise dos sinais de
calibração internos, são utilizados os sinais de alvos conhecidos, tais como os refletores em
canto, os recetor-transmissores ativos, para calibrar alguns destes parâmetros.

3.8.5. Aplicações polarimétricas


De momento, os dados polarimétricos de radares do tipo “Synthetic Aperture Radar” têm-se
limitado a alguns sistemas SAR experimentais aerotransportados e à missão da nave SIR-C.
Com estes dados, os cientistas têm pesquisado numerosas aplicações e têm mostrado que a
interpretação de um determinado número de características de uma cena é melhorada quando o
radar opera em modo polarimétrico. O lançamento do RADARSAT-2 fará com que os dados
polarimétricos estejam disponíveis numa base operacional e o uso de tais dados tornar-se-á cada
vez mais rotineiro e sofisticado.
De seguida estão listadas algumas aplicações para as quais os dados SAR polarimétricos têm
demonstrado ser muito úteis.
Agricultura: na identificação de diferentes tipos de culturas, na monitorização da
qualidade das culturas, na medição da humidade no solo, na identificação do tipo de trabalho
aplicado no solo e nos resíduos da cultura.
Silvicultura (florestação): na identificação de zonas de clareira e de elementos lineares,
na estimativa de biomassa, na identificação de espécies florestais e na cartografia de “cicatrizes”
causadas pelo fogo.
Geologia: na cartografia geológica.
Hidrologia: na monitorização de zonas húmidas e na cobertura da neve.
Oceanografia: na identificação de gelo no mar, na medição dos ventos costeiros de fluxo
e refluxo e na medida de inclinação da onda.
Transporte marítimo: na deteção e classificação das embarcações (navios).
Zona costeiras: na identificação da linha litoral costeira, na cartografia do substrato, na
deteção de camadas hidrocarbonadas e na cartografia da vegetação.

3.9. Radares aerotransportados versus espaçotransportados


À semelhança de outros sistemas de deteção remota, um sensor radar que regista imagens pode
ser instalado numa plataforma aerotransportada ou num satélite. Dependendo da utilização final
da imagem, existem vantagens num e outro dos dois tipos de plataforma. Qualquer que seja a
plataforma usada, os radares “Synthetic Aperture Radar” (SAR) têm como vantagem uma

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resolução espacial que é independente da altitude da plataforma. Assim, é possível ter uma boa
resolução em qualquer uma das plataformas, aerotransportadas ou espaçotransportadas.
Ainda que a resolução espacial seja independente da altitude, a geometria de visada e o feixe
podem ser fortemente afetados por uma variação de altitude. Às altitudes operacionais dos
aviões, um radar aerotransportado deve cobrir uma grande amplitude de ângulos de incidência
(até 60 ou 70 graus de inclinação), para cobrir uma faixa de 50 a 70 km (fig. 3.41). Como vimos
nas secções anteriores, o ângulo de incidência tem um efeito importante sobre o sinal que é
refletido nas superfícies dos objetos e na forma como aparece na imagem. As características
das imagens, tais como o efeito de camadas e o sombreamento, estão sujeitos a grandes
variações por causa da grande variação de ângulos de incidência. Os radares espaciais são
capazes de contornar alguns destes problemas de geometria visual já que operam a altitudes que
são mais de 100 vezes superiores às dos radares aerotransportados. A altitudes de algumas
centenas de quilómetros, os radares espaciais podem adquirir imagens sobre faixas comparáveis
às dos radares aerotransportados, mas numa mais pequena gama de ângulos de incidência (entre
5 e 15 graus). Desta forma é possível uma “iluminação” mais uniforme e uma redução daquelas
variações indesejáveis que são devidas à geometria de visada (fig. 3.42).

Figura 3.41. Geometria de um radar aerotransportado. Figura 3.42. Geometria de um radar espaçotransportado
Ainda que os radares aerotransportados, devido à geometria que a lhes está associada, sejam
mais sensíveis a problemas com a imagem, eles são mais flexíveis no que respeita à capacidade
de aquisição dos dados a partir de diferentes ângulos e direções de visada. Otimizando a
geometria para um terreno em particular, ou adquirindo uma imagem a partir de mais do que
uma direção, alguns destes efeitos podem ser reduzidos. Além disso, um radar aerotransportado
é capaz de obter dados em qualquer lugar a qualquer hora (desde que as condições atmosféricas
permitam o voo). Um radar espaçotransportado não tem esta flexibilidade porque a sua
geometria de visada e o horário para aquisição de dados estão controlados pela sua órbita. No
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entanto, os radares montados em satélites têm a vantagem de poderem adquirir imagens mais
rapidamente de grandes áreas do que os aerotransportados, com uma geometria de visada
consistente. A frequência desta cobertura pode não ser tão grande quanto a de um radar
aerotransportado, mas dependendo dos parâmetros orbitais, a flexibilidade da geometria de
visada e a área geográfica de interesse, um radar espacial pode ter um período de revisita de um
dia.
Tal como com qualquer avião, um radar aerotransportado está sujeito a variações de velocidade
e a quaisquer outros movimentos a ele associados, bem como às condições meteorológicas.
Para evitar erros daí resultantes (erros de artefacto) ou erros de posicionamento como resultado
das variações aleatórias no movimento do avião, o sistema radar deve utilizar um sistema de
navegação e telemetria sofisticado e um tratamento de imagem avançado para os compensar.
Geralmente estes sistemas permitem corrigir a maioria das variações do movimento, exceto as
mais extremas (como é o caso das turbulências). Os radares espaçotransportados não são
afetados por este tipo de movimentos. Na verdade, a sua órbita é geralmente muito estável e a
sua posição pode ser calculada com grande precisão. No entanto, tendo em conta outros efeitos,
tais como a rotação e a curvatura da Terra, para os radares montados em satélites têm que ser
feitas correções geométricas nas imagens, para que o posicionamento geométrico dos elementos
estudados, posicionados sobre a sua superfície, seja o apropriado.

3.10. Sistemas radar aerotransportados e espaçotransportados


Para ilustrar de forma mais clara as diferenças entre radares aerotransportados e
espaçotransportados, vamos brevemente descrever alguns sistemas representativos de cada tipo,
começando pelos sistemas aerotransportados.
O sistema Convair-580 C/X SAR (fig. 3.43) desenvolvido e explorado pelo “Canada Center
for Remote Sensing” (Centro Canadiano de Deteção Remota) foi um dos sistemas mais
utilizados na pesquisa experimental das aplicações SAR avançadas no Canadá e no mundo,
particularmente na preparação de sistemas radar SAR montados em satélites. Este sistema foi
transferido para o “Environmental Canada” em 1996 para a pesquisa de derrames de petróleo e
outras aplicações ambientais. Este sistema funciona em gama C (5,66 cm) e em banda X (3,24
cm).

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Figura 3.43. Convair-580 C/X SAR


O sistema STAR (Sea Ice and Terrain Assessment) -figura 3.44- explorado pela “Intera
Technologies Limited” de Calgary, Alberta, atualmente “Intermap Tecnologies”, foi um dos
primeiros sistemas SAR utilizados comercialmente em todo o mundo. Tanto o STAR-1 como
o STAR-2 operam em banda X (3,2 cm) com polarização HH em dois modos de resolução. A
cobertura do feixe varia entre 19 e 50 km e com resoluções entre 5 e 18 m. Foram inicialmente
concebidos para a monitorização de gelo no mar (uma das principais aplicações dos radares no
Canadá) e para a análise de terrenos. A capacidade de os radares poderem operar dia e noite,
sob todas as condições meteorológicas, tornaram-nos ideais para a monitorização de gelo nas
águas costeiras do norte do Canadá. O STAR-1 foi também o primeiro sistema SAR a fazer o
tratamento dos dados a bordo do avião e a oferecer a transmissão de dados em tempo real para
estações à superfície.

Figura 3.44. STAR (Sea Ice and Terrain Assessment)


A NASA (National Aeronautics and Space Administration) tem sido, desde há vários anos, uma
pioneira na pesquisa de sistemas multiespectrais SAR com polarização múltipla. O JPL (Jet
Propulsion Lab) na Califórnia, sob contrato, tem operado vários sistemas avançados. O sistema
AirSAR (fig. 3.45) é um SAR polarimétrico que funciona em bandas C, L e P, podendo recolher
dados em todas as combinações de polarização (HH, HV, VH, VV). Os dados provenientes do
sistema AirSAR podem ser completamente calibrados para permitir a extração de medidas
retrodifundidas. A resolução espacial do sistema AirSAR é da ordem dos 12 metros em alcance

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e em azimute. O ângulo de incidência varia de zero, no nadir, até 70 graus, no ponto mais
afastado. Esta capacidade de adquirir dados com frequências e polarizações múltiplas e também
numa vasta gama de ângulos de incidência, permite que sejam realizadas múltiplas experiências
em investigação.

Figura 3.45. Sistema AirSAR


Com a modernização e os sucessos obtidos com os radares aerotransportados, a montagem de
radares em satélites foi o passo seguinte de forma a complementar os sensores óticos já
existentes nos satélites em funcionamento. O SEASAT (fig. 3.46), lançado em 1978, foi o
primeiro satélite civil de deteção remota a incluir um sensor SAR. Este SAR funcionava na
banda L (23,5 cm) com uma polarização HH. A geometria de visada foi fixada entre 9 e 15
graus, com uma faixa de 100 km de largura e uma resolução espacial de 25 metros. Esta abrupta
geometria de visada foi principalmente designada para a observação dos oceanos e do gelo no
mar, mas também foram igualmente captadas importantes quantidades de imagens de áreas
continentais. No entanto, os pequenos ângulos de incidência aumentavam os efeitos de
encurtamento (foreshortening) e sobreposição (layover) nas áreas continentais com relevo mais
acentuado, limitando a sua utilização nestas áreas. Embora o satélite estivesse operacional só
durante três meses, foram o suficiente para demonstrar o potencial dos radares
aerotransportados.
Perante o sucesso obtido com o SAR do SEASAT, e aproveitando o impulso dado pelos
resultados encorajadores dos SAR aerotransportados, a Agência Espacial Europeia (ESA-
European Space Agency) lança o ERS-1 em julho de 1991 (fig. 3. 47).
O ERS-1 tinha a bordo um radar altimétrico, um radiómetro de infravermelho, uma sonda de
micro-ondas e um radar ativo com ondas micro na banda C (5,66 cm). É um instrumento flexível
que pode ser usado como retrodifusómetro para medir a refletividade da superfície do oceano,
bem como a velocidade e a direção dos ventos de superfície no mar. Pode também ser utilizado
como SAR (synthetic aperture radar), captando imagens com uma faixa superior a 100 km de
largura, com ângulos de incidência que variam entre 20 e 26 graus, e uma resolução de
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aproximadamente 30 metros. As polarizações de transmissão e receção são verticais (VV) que,


combinado com um ângulo de visada abrupto, fazem do ERS-1 um sistema sensível à
rugosidade da superfície. O período de revisita (repetição do ciclo) do ERS-1 pode, ajustando
a sua órbita, variar de 3 a 168 dias, dependendo do modo de operacionalidade. Geralmente o
ciclo é de 35 dias. Um segundo satélite, o ERS-2, foi lançado em abril de 1995 e tem os mesmos
sensores ativos micro-ondas que o ERS-1. A principal utilização do ERS-1 tem sido a
monitorização e a pesquisa em oceanografia. Ele foi o primeiro satélite radar a proporcionar à
comunidade mundial de deteção remota o acesso generalizado aos dados espaciais SAR. As
imagens fornecidas por estes dois satélites têm sido usadas nas mais diversas aplicações
oceanográficas e continentais. Tal como no SEASAT, os ângulos de incidência abruptos
limitam a sua utilização em alguns campos de aplicação continentais por causa dos efeitos da
geometria da visada.

Figura 3.46. SEASAT Figura 3.47. ERS-1


A Agência Nacional de Desenvolvimento Espacial do Japão (NASDA- National Space
Development Agency of Japan), lançou o satélite JERS-1 em fevereiro de 1992 (fig. 3.48).
Para além de incluírem dois sensores óticos, o JERS-1 tem um SAR na banda L (23,5 cm) que
opera em polarização HH. A largura da sua faixa é de aproximadamente 75 km, com uma
resolução espacial de 18 metros, tanto no alcance como no azimute. A geometria do JERS-1 é
um pouco menos extensa que as dos satélites SEASAT e ERSs. A meio do seu feixe, o ângulo
de incidência é de 35 graus. Então, as imagens do JERS-1 são um pouco menos sensíveis à
geometria e aos efeitos do terreno. O grande comprimento de onda da banda L do JERS-1
permite uma grande penetração de energia radar na vegetação e noutros tipos de superfície.
A deteção remota com sistemas SAR espaçotransportados deu um passo importante com o
lançamento do satélite RADARSAT a 4 de novembro de 1995 (fig. 3.49). O projeto
RADARSAT, dirigido pela Agência Espacial Canadiana (CSA- Canadian Space Agency), foi
construída sobre o desenvolvimento de tecnologia e aplicações em deteção remota no Centro

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Canadiano para a Deteção Remota (CCRS- Csanada Center for Remote Sensing) depois dos
anos 70.

Figura 3.48. JERS-1 Figura 3.49. RADARSAT


O RADARSAT inclui um SAR com banda C (5,6 cm) com polarização HH, com um feixe de
radar variável o que permite várias opções de geometria de imagens numa faixa corredor com
500 km de extensão (fig. 3.50). O feixe pode avariar entre 35 e 500 km de largura com uma
resolução de 10 até 100 metros. A geometria de visada também é flexível, com ângulos de
incidência variando de menos de 20 até mais de 50 graus. Ainda que o ciclo da sua órbita seja
de 24 dias, a flexibilidade do seu feixe variável permite ao RADARSAT “ver” uma região com
uma grande frequência adquirindo dados capazes de serem usados numa grande variedade de
aplicações geográficas. A órbita do RADARSAT é otimizada para frequentes coberturas desde
latitudes médias até às regiões polares e é capaz de registar imagens diárias de toda a região
Ártica e permite “ver” imagens de qualquer região do Canadá em três dias. Mesmo nas latitudes
equatoriais é possível obter uma cobertura completa em seis dias utilizando a corredor mais
largo de 500 km.

Figura 3.50. Várias opções de geometria de imagens.

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