Três Pontos de Vistas Sobre Cônicas
Três Pontos de Vistas Sobre Cônicas
Três Pontos de Vistas Sobre Cônicas
SÃO CRISTÓVÃO – SE
SETEMBRO DE 2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA
PÓS-GRADUAÇÃO EM MATEMÁTICA
por
sob a orientação do
SÃO CRISTÓVÃO – SE
SETEMBRO de 2018
TRÊS PONTOS DE VISTAS SOBRE CÔNICAS
por
JOSÉ WILLIAM DE OLIVEIRA JÚNIOR
Banca Examinadora:
Agradeço a Deus em primeiro lugar, por me ter dado o dom da vida, além de força e perse-
verança para alcançar meus objetivos. Agradeço aos meus pais, José William de Oliveira e Maria
José da Silva Oliveira, pelo apoio incondicional. A minha irmã Juliana Maria da Silva Oliveira, um
anjo que Deus enviou para minha famı́lia. Agradeço a minha companheira Maria Daniele Ferreira,
pelo incentivo e paciência. Aos demais parentes paternos e maternos, que embora menos presentes,
sempre demonstraram total apoio. Agradeço imensamente ao meu orientador o Prof. Dr. Gerson
Cruz Araújo, e aos demais professores por compartilhar momentos de aprendizagem e alegria. Aos
meus amigos/irmãos de curso, companheiros firmes dessa caminhada e sem os quais este momento
não seria possı́vel. Agradeço, por fim, a todos os meus amigos e colegas professores.
Resumo
No presente trabalho, procurou-se investigar as cônicas nos contextos sintético, analı́tico e proje-
tivo, bem como conhecer algumas aplicações e propriedades dessas curvas. Na abordagem sintética,
foram enfatizados um pouco do aspecto histórico, os trabalhos feitos por Apolônio e Dandelin, uma
caracterização para retas tangentes e normais e as propriedades refletoras. Na abordagem analı́tica,
foram descritas as equações cartesianas, polares e paramétricas, como também as aplicações nas
Leis de Kepler. Na abordagem projetiva, foram trabalhados os conceitos de plano projetivo, ponto
projetivo, reta projetiva e aplicações projetivas para dar significado às cônicas no universo projetivo,
além disso foram demonstrados os Toeremas de Pascal e Brianchon.
In the present work, we tried to investigate the conics in the synthetic, analytical and projective
contexts, as well as to know some applications and properties of these curves. In the synthetic
approach, it was emphasized a lithe of the historical aspects, the works made by Apollonius and
Dandelin, a characterization for tangent and normal lines and reflecting properties. In the analytical
approach, the Cartesian, polar and parametric equations were described, as well as the applications
in the Kepler Laws. In the projective approach, the concepts of projective plane, projective point,
projective line and projective applications were used to give meaning to the conic in the projective
universe, in addition the Theorews of Pascal and Brianchon were demonstrated.
Introdução 1
1 Abordagem Sintética 3
1.3.1 Caracterização de tangentes e normais às seções cônicas pelo método de Dan-
delin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.5.1 Parábola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
1.5.2 Elipse . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.5.3 Hipérbole . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2 Abordagem analı́tica 40
i
2.1.3 Equação da hipérbole . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3 Abordagem Projetiva 69
3.1.3 Incidência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
3.2 Projetividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
3.2.1 Colineações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
3.2.2 Correlações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
ii
Lista de Figuras
1.16 Hipérbole . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
iii
1.18 Parábola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.20 Elipse . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
iv
1.40 Superfı́cie refletora elı́ptica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.2 Parábola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
2.3 Elipse . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
2.4 Hipérbole . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.12 Circunferência C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
3.1 Identificação de R2 em π . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
3.2 Elipse . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
3.3 Parábola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
v
3.4 Hipérbole . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
3.8 Reta CP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
3.9 Reta DR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
3.10 Reta AQ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
3.11 Reta AQ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
vi
Introdução
Nos escritos de Pappus de Alexandria (290-350 a.C.) foi atribuı́do ao geometra grego Aristeu
(370-300 a.C.) a publicação do primeiro tratado sobre as seções cônicas. Mais tarde, o astrônomo e
matemático grego Apolônio de Perga (262-190 a.C.) recompilou e aprimorou os resultados conheci-
dos até então sobre o assunto na sua obra Seções Cônicas. A denominação das curvas não foi devida
a Manaecmo. As curvas somente foram nomeadas na obra de Apolônio, mas os nomes parábola e
hipérbole foram usados antes dele. Foi Apolônio quem considerou as curvas como seções do cone
duplo, com o qual a hipérbole adquiriu outro ramo, tal qual como é conhecida hoje em dia. A obra
Seções Cônicas de Apolônio e os Elementos de Euclides constituem o apogeu da Matemática grega.
Já a motivação principal de Pierre de Fermat (1607-1665) na elaboração de sua obra Ad locos
planos et solidos isagoge (1636), no qual estabelece um sistema de coordenadas euclidiana (equi-
valente ao de Descartes), aconteceu quando restaurava a obra perdida de Apolônio, Plane Loci,
seguindo o delineamento feito por Pappus. De posse da teoria de equações de Fraçois Viète (1540-
1
1603), Fermat fez uso sistemático da linguagem algébrica para obter as demonstrações dos teoremas
enunciados por Pappus na sua descrição da obra de Apolônio. A aplicação da álgebra combinada
com a natureza particular dos lugares geométricos estudados em Plane Loci e as técnicas usadas nas
demonstrações dos resultados revelaram a Fermat que todos os lugares geométricos discutidos por
Apolônio poderiam se exprimir na forma de equações algébricas com duas variáveis, cuja análise,
usando a teoria de Viète, produziria as propriedades fundamentais do lugar geométrico assim como
a natureza da sua construção.
Além disso, a descoberta da Geometria Projetiva, por volta do século XV, respresentou um
caminho mais versátil para o estudo das cônicas em ”oposição direta”à rigidez e limitações da
Geometria Euclidiana. Os trabalhos pioneiros foram protogonizados por Girard Desargues (1591-
1661), em 1639 no âmbito do Brouillon Project d’une atteinte aux évenements des rencontres du
Cone avec un plan. Mas estes conceitos foram consolidados a partir da publicação em 1822 da obra
Tratado das Propriedades Projetivas das figuras, do matemático e engenheiro francês Jean-Victor
Poncelet (1788-1867). Nesta obra Poncelet utilizou uma linguagem semelhante a da geometria
analı́tica, oferecendo meios próprios para demonstrar as propriedades de que gozam as figuras
cônicas em um contexto projetivo.
Foi assim, que graças as diversas formas de entender e criar seções cônicas, que atualmente
estas podem ser aplicadas em diversas áreas do conhecimento. Por exemplo, as formas parabólicas
são muito usadas na engenharia de telecomunicações e na industria automobilı́stica. Já as formas
elı́pticas estão bastante presentes na área da saúde e na engenharia civil. Enquanto que as formas
hiperbólicas, são bem utilizadas na astronomia e em sistemas de localização.
Assim, a presente dissertação busca caracterizar as cônicas por diferentes formas. O primeiro
capı́tulo traz uma abordagem sintética, que na qual será abordado um pouco do aspecto histórico
destas curvas, como também os estudos feitos por Apolônio e Dandelin, além de uma caracterização
para retas tangentes e normais às cônicas, e por fim, mostrar as propriedades refletoras presente
em superfı́cies geradas por cônicas. Para isso, as referência principais foram [1] e [3]. O segundo
capı́tulo, mostra uma abordagem analı́tica, na qual será descrita as equações cartesianas, polares
e paramétricas das cônicas, como também sua ligação com as Leis de Kepler. Nesta, as referências
principais foram [1], [2] e [8]. Por fim, o terceiro capı́tulo, trará uma abordagem projetiva, em que
serão trabalhados os conceitos de plano projetivo, pontos projetivos, retas projetivas e aplicações
projetivas, a fim de dar significado às cônicas no plano projetivo, além disso, serão mostrados os
celebres teoremas de Pascal e Brianchon. As referências para esta abordagem estão principalmente
em [7] e [12].
2
Capı́tulo 1
Abordagem Sintética
Dessa forma, neste capı́tulo, será abordado o conceito de cônicas segundo um ponto de vista
sintético. Para isso, espera-se que o leitor esteja familiarizado com resultados mais gerais da
Geometria Euclidiana Plana, para isso veja [9]. Além disso, os resultados que serão mostrados são
puramente geométricos, o que fará com que o leitor tenha que, por vezes, se voltar a construção
geométrica indicada para melhor interpretar os resultados.
Por volta dos séculos V e VI a.C. tinha-se uma região denominada Jônia, situada na costa da
chamada Ásia Menor onde hoje é a atual Turquia. Segundo o grande historiador grego Heródoto
(485 a.C.), a cidade de Mileto foi o mais importante centro comercial da Jônia, donde emergiu o
que pode-se chamar de cultura grega. A Filosofia grega, centro da Filosofia Ocidental, caracterizou-
se pelo exercı́cio do pensamento e da linguagem, procurando entender os fenômenos da natureza
por meios de explicações organizadas e de cunho racional, fugindo de justificativas mitológicas,
resumindo, era a busca da verdade orientada pela razão.
3
Os jônicos mantiveram ao longo deste perı́odo contatos com diversas civilizações orientais em
especial com os babilônicos e os egı́pcios. A Matemática desenvolveu-se nesse ambiente cultural,
influênciada pelos processos práticos desenvolvidos por egı́pcios e babilônicos, que já eram capazes
de efetuar cálculos e medidas de ordem prática com grande precisão, mas adquiriu linguagem
própria a partir da evolução da Filosofia e da lógica no mundo grego que introduziu o método
axiomático com rigorosas provas dedutivas e o encadeamento sistemático de teoremas.
Por dados históricos, durante os 300 primeiros anos da Matemática grega deu-se o desenvol-
vimento de três linhas de estudo. A primeira linha deu-se no desenvolvimento do material que
acabou se organizando na monumental obra constituı́da de 13 livros denominada Os Elementos do
grande matemático grego Euclides (300 a.C.). Já a segunda linha de investigação ocorreu com o
desenvolvimento das noções relacionadas com infinitésimos, infinitos e processos somátorios. E a
terceira linha promoveu o desenvolvimento da geometria superior, ou seja, a geometria das curvas
e das superfı́cies sem a reta, a circunferência, o plano e a esfera. Esta última, a geometria superior,
se originou da tentativa de resolver os três famosos problemas:
3. Triseção do ângulo ou problema de dividir um ângulo arbitrário em três partes iguais, ilustrado
na figura [1.1(iii)].
As origens desses problemas são diversas e existem várias histórias que as explicam e foi das
várias tentativas de resolução desses problemas que desencadearam descobertas verdadeiramente
4
geniais na Matemática, dentre os quais as cônicas, aqui chamadas de parábola, elipse e hipérbole.
Estas estariam ligadas ao problema da duplicação do cubo, pois segundo os gregos Têon (335-395
a.C.) e Eutócio (480-540 a.C.), que citam o grande filósofo grego Aristósteles (384-322 a.C.) como
fonte, o problema teria sua origem ou no pedido de um oráculo da ilha de Delos por um altar com
o dobro do tamanho do volume, ou pelo desejo de duplicar o túmulo do filho do rei Minos, ambos
com o formato de um cubo.
É importante salientar que na Grécia antiga a palavra número era usada somente para os inteiros
e uma fração era considerada apenas uma razão entre números. Estes conceitos naturalmente
causavam dificuldades nas medidas das grandezas, já que as grandezas incomensuráveis não se
mostravam como uma razão. Assim no lugar de números, as grandezas passaram a ser associadas
a segmentos de reta e dessa forma, o conjunto dos números continuou discreto e o das grandezas
contı́nuas passou a ser tratado por métodos geométricos. Sendo assim, com esta nova álgebra
resolver significava construir. Por exemplo, a equação ax = bc significava encontrar a altura x de
um retângulo de base a que tivesse a mesma área do retângulo de dimensões b e c 1 .
Por este método geométrico, a geometria grega passou a ser a geometria da régua (não graduada)
e do compasso. Contudo, foi neste fato que residiu a importância do problema de duplicar o volume
de um cubo, pois ele não pode ser resolvido, a não ser aproximadamente, com tais instrumentos,
embora sirvam para a resolução de alguns problemas de construção. É necessário ser claro quanto
ao que é permitido fazer com régua e compasso. Com a régua permite-se traçar uma reta de
comprimento indefinido passando por dois pontos distintos. E com o compasso permite-se traçar
uma circunferência com centro num ponto dado passando por um segundo ponto qualquer dado.
Sendo assim, a solução da duplicação do cubo dependia da construção, com régua e compasso,
da raiz cúbica de dois. De fato, pois dado um cubo cuja aresta tem medida a, tem-se então que
seu volume tem medida a3 . Assim, como pretende-se determinar a medida da aresta de um cubo
√
de volume 2a3 , tem-se então que sua aresta terá medida a 3 2. No entanto, tal medida não podia
ser obtida somente com a utilização de régua e compasso, fato mostrado somente em 1837 por P.
L. Wantzel 2 .
O primeiro progresso real do problema da duplicação foi, sem dúvida, a redução do problema
feita pelo grande intelectual grego Hipócrates (440 a.C.) que propôs a construção de duas médias
proporcionais entre dois comprimentos de retas de comprimento a e 2a. Em uma notação moderna,
1
Ao leitor mais interessado nesta construção, ver [10].
2
WANTZEL, P. L. Recherches sur le moyens de reconnaitre si un Probl‘eme de G´eom´etrie peut se r´esoudre
avec la r‘egle et le compas. Paris: Journal de Math´ematiques pures et appliqu´ees, 1837. vol. 2, p. 366 - 372.
5
a x y
o problema é encontrar x e y, chamadas médias proporcionais, tais que x = y = 2a sendo a a
aresta original do cubo, conforme a figura (1.2).
Note que isso equivale a obter as soluções do sistema de qualquer par das três equações:
a x x y a y
= , = e = ,
x y y 2a x 2a
ou seja,
x2 = ay x2 = ay y 2 = 2ax
, e .
y 2 = 2ax xy = 2a2 xy = 2a2
Com isso, depois de Hipocrátes fazer sua redução, as tentativas subsequentes de duplicação
do cubo tomaram como caminho a construção de duas médias proporcionais entre dois segmentos
de reta dados. Um dos primeiros a se aproximar da solucão do problema foi o matemático grego
Menaecmo (380-320 a.C.), discı́pulo de Eudóxio (408-355 a. C.) da então Academia de Platão(348
a. C.), o primeiro a mostar que as cônicas são obtidas como seções de um cone quando cortados
por planos não paralelos a sua base.
Menaecmo introduziu as seções cônicas usando três tipos de cones obtidos pelo rotação de um
triângulo retângulo em torno de um dos seus catetos, cuja reta suporte era chamada o eixo do cone,
veja a figura (1.3). As curvas assim obtidas eram, originalmente, seções perpendiculares à geratriz
do cone de ângulo reto, agudo e obtuso, resultando respectivamnete em uma parábola, uma elipse
e uma hipérbole, de acordo com a figura (1.4).
Assim, Manaecmo percebeu a relação das proporções contı́nua de Hipocrátes nestas curvas e
que a solução estava associada um ponto comum a duas parábolas. O que não se sabe é como
Manaecmo produziu tais curvas. Sabe-se, no entanto, que para produzir pontos das curvas do tipo
y 2 = 2ax e x2 = ay utilizando régua e compasso, basta conhecer a construção da média geométrica
6
Figura 1.3: Classificação dos cones segundo o ângulo do vértice
7
de dois segmentos 3 . Logo, o segmento de comprimento y é a média geométrica dos segmentos de
comprimento x e 2a, como pode ser visto na figura (1.5), como também o segmento de comprimento
x é a média geométrica dos segmentos de comprimento a e y. Observe que esta construção não
permite traçar a curva com régua e compasso, mas sim vários pontos desta.
Feito isso, as coordenadas do ponto P , interseção das curvas, dariam os meios proporcioanis x e
y procurados e, desse modo, teria-se uma solução aproximada do problema da duplicação do cubo,
conforme a figura (1.6).
Um brilhante estudo direcionado a caracterização de seções cônicas, foi realizado pelo ma-
temático e astrônomo grego Apolônio de Perga (262-190 a.C.) da então escola de Alexandria. Ele
3
A média geométrica de um conjunto de números positivos é definida como o produto de todos os membros do
conjunto elevado ao inverso do número de membros.
8
era conhecido como ”o grande geômetra”e sua obra mais notável foi sem dúvida a que se referiu às
seções cônicas, pois é considerada por muitos uma das principais obras cientı́ficas da Antiguidade.
Os dados da vida de Apolônio são escassos e quase todos de notas que aparecem nas introduções
dos diferentes livros de cônicas. Parece que estudou e passou muito tempo em Alexandria, o centro
do saber ocidental da época.
Apolônio em sua obra começou por definir um cone de maneira não muito usual, pois este não
teria que ser necessariamente reto, podendo ser oblı́quo: uma reta g de comprimento indefinido que
passa por um ponto fixo V , move-se ao longo da circunferência (não pertencente ao mesmo plano do
ponto V ) de centro no ponto O e raio OP , como mostra a figura (1.7). Desse movimento, resultam
duas superfı́cies verticalmente opostas, uma em relação à outra. O ponto fixo V representa o vértice
do cone, a reta traçada do vértice para o ponto O denomina-se eixo, a reta V P é uma geratriz e a
circuferência de centro O e raio OP é a base do cone.
Para Apolônio não eram necessárias restrições quanto a natureza do cone, mas sim a rigidez
posicional do plano que o corta, ou seja, de um tipo qualquer de cone (reto ou oblı́quo) pode-se
obter todas as três seções cônicas, simplemente variando a inclinação do plano que corta o cone,
tal plano será chamado de plano secante. Sendo assim, as caracterı́sticas das curvas resultantes das
seções cônicas estão em dois conceitos fundamentais que serão definidos mais adiante: diâmetro e
triângulo axial.
Para a dedução geométrica das três cônicas, Apolônio considerou um cone de eixo perpendicular
à base, ou seja, um cone reto, de vértice no ponto A e base circular contida num plano β. O cone
é cortado por um plano σ (que não contém o vértice A), gerando assim a curva C, como pode ser
visto na figura (1.8).
9
Figura 1.8: Estrutura geral para obter as seções cônicas
A seguir veja as caracterizações geométricas realizadas por Apolônio para a dedução das cônicas.
Para isso veja que se σ for paralelo a β, então C é uma circunferência. Por outro lado se σ não for
paralelo a β, então C resulta numa situação genérica mostrada na figura (1.8), em que:
• Os pontos A, B e C determinam um plano α que corta o eixo, sendo que o triângulo ABC é
chamado de triângulo axial;
• Os planos σ e α são concorrentes na reta d, reta esta que intersecta t0 no ponto G. A reta
d pode possuir várias posições, mas suponha, sem perda de generalidade, que intersecta a
geratriz AC no ponto D;
• Por um ponto genérico L do cone situado entre o vértice A e a plano β, traça-se então um
plano π paralelo ao plano β. Esse plano intersecta as geratrizes AB e AC nos pontos P e R
rescpectivamente. Já o segmento P R é um diâmetro da circunferência de interseção do cone
com o plano π;
10
• Traça-se pelo ponto L a reta p, paralela à reta t que intersecta o plano α no ponto M . Perceba
ainda que a reta p é a interseção dos planos σ e π. Observe também que o ponto M é comum
aos planos α, σ e π e que os pontos D, M e E são colineares por serem comuns aos planos σ,
π e α;
Sendo assim, veja que a reta p é perpendicular a reta d, pois p é paralela a t, mas t é perpendicular
a BC e BC é paralelo a P R. Com isso note ainda que na circunferência contida no plano π,
destacada pela figura (1.9), os triângulos retângulos LM R e P M L são semelhantes, já que possuem
os três ângulos internos congruente. Desta semelhança, tem-se a relação:
[M L]2 = M P · M R.
Proposição 1.1. Seja d o diâmetro da cônica C. Suponha d paralelo ao lado AC do triângulo axial,
conforme figura [1.10 (i)], então [LM ]2 = EH · EM , em que EH é um segmento perpendicular a
EM .
11
Demonstração. Veja que no triângulo ABC, destacado na figura (1.11), os segmentos EM e P R são
paralelos respectivamente aos lados AC e BC, o que faz com que os triângulos EM P , AP R e ABC
tenham a mesma medida nos respectivos ângulos internos, logo tais triângulos são semelhantes.
Sendo assim,
PM BC PR PM BC
= e = =
EM AC AP PE AB
e uma vez que,
MR PR − PM BC
= = e [M L]2 = M P · M R,
AE AP − P E AB
tem-se então,
[LM ]2 PM · MR PM MR BC BC [BC]2
= = · = · =
AE · EM AE · EM EM AE AC AB AC · AB
.
[BC]2
Como AC·AB é constante, toma-se EH, conforme figura [1.10 (ii)], tal que,
EH [BC]2 [LM ]2
= =
AE AC · AB AE · EM
e desse modo,
[LM ]2 = EH · EM
12
Figura 1.11: Diâmetro d da curva paralelo ao lado AC
segmento LM desse ponto. 4 . Sendo assim, o nome parábola é igual do grego paraboli que significa
aplicado
Agora veja na proposição abaixo, as condições necessárias para que a seção cônica C da figura
[1.12(i)] receba o nome elipse.
Proposição 1.2. Seja d o diâmetro da cônica C. Suponha que d intersecta ambos os lados do
triângulo axial nos pontos D e E de modo que os pontos D, E, M e G sejam colineares na reta
d e que uma reta que passa por A e é paralela a d, intersecta o plano β da base no ponto K, de
acordo com a figura [1.12 (i)], então [LM ]2 = EH · EM − EH 2
ED · [EM ] , em que EH é um segmento
perpendicular a EM .
Demonstração. Veja que no triângulo ABC, visto na figura (1.13), o segmento P R é paralelo ao
segmento BK e o segmento EG é paralelo ao segmento AK. Assim, tanto os triângulos EM P e
ABK, quanto os triângulos DM R e ACK são semelhantes, pois possuem a mesma medida nos
respectivos ângulos internos, logo
PM BK MR CK
= e = .
EM AK MD AK
E ainda usando o fato mostrado anteriormente que [M L]2 = M P · M R, tem-se que,
[LM ]2 MP · MR BK CK BK · CK
= = · = ,
EM · M D EM · M D AK AK [AK]2
BK·CK
e ainda usando o fato que [AK]2
é constante, tome EH, conforme figura [1.12(ii)], tal que,,
EH BK · CK [LM ]2
= = ,
ED [AK]2 EM · M D
4
Ao leitor mais interessado em como obter o segmento EM da equação [LM ]2 = EH · EM com régua e campasso,
consultar [10]
13
e uma vez que M D = ED − EM , tem-se,
EH
[LM ]2 = EH · EM − · [EM ]2
ED
14
de lados EH e ED, conforme figura [1.12 (ii)]. 5 . Assim, o nome elipse vem do grego ellipsi que
quer dizer falta.
Por fim, veja agora a proposição que indica as condições necessárias para a seção cônica C possa
ser chamada de hipérbole.
Proposição 1.3. Seja d o diâmetro da cônica C. Suponha que d intersecta o triângulo axial no lado
AB no ponto E, mas não intersecta o lado AC do triângulo axial, mas sim o seu prolongamento
EH
no ponto D, conforme figura [1,14(i)], então [LM ]2 = EH.EM + ED · [EM ]2 .
Demonstração. Veja que o segmento EM é paralelo ao segmento AK. Isso faz com que tanto os
triângulos EM P e ABK, quanto os triângulos DM R e ACK sejam semelhantes, pois possuem a
mesma medida nos respectivos ângulos internos, logo
PM BK MR CK
= e = .
EM AK MD AK
Assim, usando mais uma vez o fato que [LM ]2 = M P · M R, tem-se que,
[LM ]2 MP · MR BK CK BK · CK
= = · = ,
EM · M D EM · M D AK AK [AK]2
BK·CK
como [AK]2
é constante, tome EH, como o da figura (1.14(ii) tal que,
EH BK · CK [LM ]2
= =
ED [AK]2 EM · M D
e uma vez que, M D = EM + DE, tem-se então,
EM
[LM ]2 = EH · EM + · [EM ]2
ED
EH
Sendo assim, a equação [LM ]2 = EH · EM + ED · EM 2 , indica que a área determinada pelo
quadrado de lado LM pode ser determinada acrescentando a área do retângulo de dimensões EH e
EH
EM , o retângulo de dimensões ED · EM e EM . Dito de outra forma, o segmento EM de um ponto
L da cônica obtem-se ”aplicando”, por ”excesso”, ao segmento de reta EH, a área do quadrado de
EH
lado LM , sendo esse excesso o retângulo de lados ED · EM e EM , que é, por seu lado, semelhante
ao retângulo de lados EH e ED, conforme figura [1.14 (ii)] 6 . Logo, o nome hipérbole vem do
grego yperboli que significa excesso.
5
Ao leitor mais interessado em obter o segmento EH
ED
· EM da equação [LM ]2 = EH · EM − EH
ED
· [EM ]2 , com
régua e campasso, consultar [10]
6
Ao leitor mais interessado em obter o segmento EH
ED
· EM da equação [LM ]2 = EH · EM + EH
ED
· [EM ]2 , com
régua e campasso, consultar [10].
15
Figura 1.14: Proposição 1.3
Uma outra caracterização ao estudo de seções cônicas segundo uma abordagem sintética foi
realizado pelo matemático, soldado e professor de engenharia, o francês Germinal Pierre Dandelin
(1794-1847). Dandelin iniciou seus estudos em Matemática na École Polytechnique em Paris. Mais
tarde conseguiu uma vaga para lecionar no ensino superior na Universidade de Liége na Bélgica
onde foi promovido a coronel de engenharia. Se notabilizou pelo estudo das seções cônicas e trouxe
à tona elementos como focos, diretriz e excentricidade, conceitos que, ou não foram tratados com
muita importância por autores anteriores, ou que estiveram em obras que se perderam.
Dandelin considerou as seções de um cone circular reto de duas folhas por um plano π, de acordo
com a figura (1.15). Nesta figura, a reta g descreve o cone circular reto de duas folhas e a reta e
é o eixo do cone, sendo o ponto V a interseção das retas g e e. Toda reta que é obtida rodando a
reta g em torno da reta e é chamada geratriz do cone. Os ângulos de aplitudes α (0 < α < 90o ) e
(0 ≤ β < 90◦ ) são àqueles formados pelas retas g e e e pelas retas e e o plano π, respectivamente.
A cônica resultante da seção depende essenciamente de dois fatores: a amplitude dos ângulos α e
β e a posição do plano secante π em relação ao vértice V .
Para mostrar a explanação mencionada acima, veja os seguintes casos, que descrevem a situação
de cada seção cônica:
16
Figura 1.15: O cone segundo Dandelin
(i) Se o plano π é paralelo a reta e (α > β, β = 0), então a seção é uma hipérbole, conforme a
figura (1.16);
(ii) Se o plano π contém a reta e (α > β, β = 0), então a seção é um par de retas concorrentes,
também conhecidas como uma hipérbole degenerada, ilustrada na figura (1.17);
(iii) Se o plano π é paralelo a geratriz (α = β), então a seção é uma parábola, como mostra a
figura (1.18);
(iv) Se o plano π contém a geratriz (α = β), então a seção é uma reta, também chamada de
parábola degenerada, destacada na figura (1.19);
17
Figura 1.17: Hipérbole degenerada
18
(v) Se o plano π intersecta todas as geratrizes (α < β), então a seção é uma elipse, situação que
pode ser vista na figura (1.20);
(vi) Se o plano π contém o ponto V (α < β), então a seção é um ponto, também intitulado de
elipse degenerada, conforme a figura (1.21).
Para determinar os focos, Dandelin supôs a existência de esferas que se inscrevem no cone com
as seguintes condições:
• Todas as geratrizes do cone são tangentes às esferas de modo que estes pontos de tangência
formam circunferências;
• O plano π que determina a cônica é tangente às esferas, sendo que os pontos de tangência
desse plano com as esferas determinam os focos da cônica.
Dessa forma, se a cônica é uma elipse ou uma hipérbole, existem duas esferas S1 e S2 inscritas
no cone tangenciando tanto o cone, nas circunferências c1 e c2 , quanto o plano, π nos pontos F1 e
F2 , conforme a figura (1.22). E se a seção cônica for uma parábola, existe apenas uma esfera S1
19
que se increve no cone, tangenciando o cone apenas na circunferência c1 e o plano π no ponto F ,
de acordo com a figura (1.23). Os pontos F1 , F2 , F são chamados de focos das respectivas cônicas
e desempenham papel essencial na caracterização detas curvas.
Para determinar uma diretriz, considere a figura (1.24), na qual uma esfera S inscrita no cone
é tangente ao plano secante π que determina a cônica. Como a esfera S tangencia o cone numa
circunferência c, tome o plano τ que contém c. Os planos π e τ se intersectaram segundo uma reta
d, chamada de reta diretriz.
Já a excentricidade de uma cônica é um valor positivo que estabelece uma caracterı́stica
definidora para a própria seção cônica, ou seja, uma seção cônica com excentricidade é o conjunto
PF
de pontos P tal que se verifica a relação = PD, em que o ponto F é um dos focos e D é um ponto
20
Figura 1.23: As esferas de Dandelin: parábola
21
da reta diretriz d, em que P D representa a distância do ponto P a reta d, veja a figura (1.25).
PF
É possı́vel mostrar que a razão PD é constante, ou seja, o valor de está bem definido. Para
isso veja, ainda na figura (1.25), que ocorre:
PF cos(β)
Proposição 1.4. Se = PD, então = cos(α) .
PQ
cos(β) = ⇒ P Q = P D cos(β) (1.2)
PD
22
Perceba ainda que os segmentos P R e P F são tangentes à esfera nos pontos R e F respectiva-
mente, logo o triângulo P RF é isósceles de base RF . De fato o leitor pode facilmente verificar que
sendo P R e P F pendiculares ao raio da esfera, os ângulos da base RF do triângulo P RF tem a
mesma medida. Logo P R = P F e assim, pelas equações (1.1) e (1.2) tem-se que,
PF cos(β)
P F = cos(α) = P D cos(β) ⇒ = =
PD cos(α)
Deste modo, como na seção cônica os valores cos(α) e cos(β) são contantes, tem-se então que a
PF
razão PD é a mesma para qualquer ponto P da cônica. A depender do valor de a cônica poderá
ser uma parábola, elipse ou hipérbole, mas isso será tratado com maior clareza no próximo capı́tulo
mediante uma abordagem analı́tica.
Nos resultados a seguir, tem-se outras condições que abrangem o estudo de cônicas, voltado à
proposta de Dandelin.
Demonstração. De acordo com a figura (1.26), a reta V P é uma geratriz do cone, logo é tangente
às esferas S1 e S2 nos pontos T1 e T2 , respectivamente, então
P T1 = P F1 e P T2 = P F2
assim,
P F1 + P F2 = P T1 + P T2 .
P F1 + P F2 = K
Demonstração. De acordo com figura (1.27), a reta V P é uma geratriz do cone, logo é tangente as
esferas S1 e S2 nos pontos T1 e T2 respectivamente, então
P T1 = P F2 e P T2 = P F2
23
Figura 1.26: Proposição 1.5
assim,
|P F1 − P F2 | = |P T1 − P T2 |
24
Demonstração. Segue tanto da figura (1.18) como da figura (1.25), que se a cônica é uma parábola,
então α = β, logo
PF cos(β)
=e= = 1 ⇒ PF = PD
PD cos(α)
Veja agora as condições necessárias para que uma reta seja tangente e normal a uma seção
cônica, mas fazendo uso de conceitos trazidos por Dandelin, como focos e reta diretriz. Sabe-se
que uma reta (contida no mesmo plano que a seção cônica) é tangente a uma seção cônica em um
ponto P , se a reta, menos este ponto P , esteja totalmente contida na região exterior à seção cônica.
Por outro lado, diz-se que uma reta (contida no mesmo plano que a seção cônica) é normal a uma
seção cônica no ponto P , se for perpendicular a reta tangente neste ponto.
Assim, perceba nas proposições que seguem que a caracterização pra que uma reta seja tangente
a uma seção cônica, gera também uma qualificação para que uma outra reta seja normal a esta
mesma curva.
Proposição 1.8. Considere uma parábola de foco no ponto F e reta diretriz d. Seja P um ponto
qualquer desta parábola e o ponto D o pé da perpendicular à reta d passando por P . Se uma reta
t é a bissetriz do ângulo F
\ P D, então essa reta é a tangente à parábola no ponto P .
25
Demonstração. Observe que sendo a curva em questão uma parábola, pela proposição (1.7) tem-
se que F P = P D, além disso, por hipótese, t é bissetriz do ângulo F
\ P D, segue então que no
triângulo F P D, t é mediatriz de F D. Suponha que existe um ponto Q, diferente de P , na parábola
pertencente a t e D0 a projeção de Q em d, conforme figura (1.29). Assim, como D pertence a
mediatriz do segmento F D, tem-se então que F Q = QD, mas QD \ \0 , logo QD > QD0 ,
0 D > QDD
assim F D = QD > QD0 , uma contradição com a proposição (1.7). Portanto, Q é um ponto que
não pertence à parábola e P é o único ponto comum entre a parábola e a reta t, fazendo assim com
que esta reta seja tangente à parábola no ponto P .
Corolário 1.1. Considere uma parábola de foco no ponto F e reta diretriz d. Sejam P um ponto
qualquer desta parábola, o ponto D o pé da perpendicular à reta d passando por P e t a reta a
bissietriz do ângulo F
\ P D. Se uma reta n for perpendicular a reta t no ponto P , então a reta n é
normal à parábola neste ponto.
Demonstração. De acordo com a proposição (1.8) a reta t é tangente à parábola no ponto P , logo
como a reta n é perpendicular a reta t no ponto P , tem-se então que n é normal à parábola neste
ponto.
Proposição 1.9. Considere uma elipse de focos nos pontos F1 e F2 . Sejam P um ponto qualquer
desta elipse e E um ponto da reta determinada pelos pontos P e F1 , com P entre F1 e E. Se a
reta t é bissetriz do ângulo EP
\ F2 , então t é tangente à elipse no ponto P .
Demonstração. Seja D um ponto pertecente a reta determinada pelos pontos P e F2 tal que P D =
26
P F1 , como pode ser visto na figura (1.30). Como t é bissetriz do ângulo EP\ F2 , logo t também é
bissetriz do ângulo DP
\ F1 e então t é a mediatriz do lado DF1 no triângulo DP F1 . Suponha que o
ponto Q, diferente de P , pertença a elipse e que Q pertença a t, logo tem-se que DQ = DF1 , pois
Q pertença a t, que é a mediatriz do lado DF1 , mas pela desigualdade triângular
contradição com a proposição (1.5). Portanto, Q é um ponto que não pertence à elipse e P é o
único ponto comum entre a elipse e a reta t, caracterizando esta reta como tangente à elipse no
ponto P .
Corolário 1.2. Considere uma elipse de focos nos pontos F1 e F2 . Sejam P um ponto qualquer
desta elipse e E um ponto da reta determinada pelos pontos P e F1 , com P entre F1 e E. Considere
ainda que uma reta t seja bissetriz do ângulo EP
\ F2 . Se a reta n for perpendicular a reta t no ponto
P , então n é normal a elipse neste ponto.
Demonstração. De acordo com a proposição (1.9) a reta t é tangente à elipse no ponto P , logo
como a reta n é perpendicular a reta t no ponto P , tem-se então que n é normal à elipse neste
ponto.
Proposição 1.10. Considere uma elipse de focos nos pontos F1 e F2 e um ponto P desta hipérbole.
Se a reta t é a bissetriz do ângulo F\
1 P F2 , então t é tangente a hipérbole no ponto P .
27
Demonstração. Suponha, sem perda de generalidade que o ponto P está no ramo mais próximo
do foco F2 , conforme a figura (1.12) (caso o ponto P esteja no outro ramo a demosntração é feita
de forma análoga). Suponha ainda que o ponto Q, diferente de P , pertença a hipérbole e a reta
t. Considere o ponto A do segmento P F1 tal que P A = P F2 . Perceba que o triângulo AP F2 é
isósceles e a reta t é a mediatriz do segmento AF2 . Dessa forma como Q está em t tem-se que
QA = QF2 . Assim, segue da desigualdade triângular, aplicada no triângulo QAF1 , que
contradição, com a proposição (1.6). Portanto, Q é um ponto que não pertence à hipérbole e P
é o único ponto comum entre a hipérbole e a reta t, fazendo com que esta reta seja tangente à
hipérbole no ponto P .
Corolário 1.3. Considere uma elipse de focos nos pontos F1 e F2 e um ponto P desta hipérbole.
Seja a reta t a bissetriz do ângulo F\
1 P F2 . Se a reta n for perpendicular a reta t no ponto P , então
28
Demonstração. De acordo com a proposição (1.10) a reta t é tangente à hipérbole no ponto P , logo
como a reta n é perpendicular a reta t no ponto P , tem-se então que n é normal à hipérbole neste
ponto neste ponto.
Na primeira seção foi destacado o modo como os antigos gregos resolviam os problemas que
envolviam grandezas, ou seja, a técnica milenar de régua e compasso. Nesta seção, será visto como
pode-se proceder com tais recursos para o esboço dos pontos de uma seção cônica. Para isso,
vai-se utilizar dos conteúdos vistos na disciplina Geometria Euclidiana Plana, vista nos cursos de
graduação e no curso PROFMAT.
Veja primeiro os passos para a construção dos ponto de uma parábola de foco F e diretriz r:
Proposição 1.11. Se mover o ponto D ao longo da reta r, então obtem-se os pontos P da parábola
de foco F e diretriz r.
Demonstração. Veja na figura (1.32) que a medida do segmento P D representa a distância do ponto
P a reta r. Como o ponto P pertence a mediatriz do segmento F D, então este ponto é equidistante
aos pontos F e D. Logo, P D = P F e assim P pertence a parábola de foco F e diretriz r.
29
Figura 1.32: Proposição 1.11
• Trace a mediatriz do segmento DF2 e seja P o ponto onde ela intersecta o segmento DF1 .
r = F1 P + P D = F1 P + F2 P
30
Figura 1.33: Proposição 1.12
Lema 1.1. Se a reta r que passa por B e F2 não é tangente a C, então a reta s intersecta a
mediatriz m num ponto P .
Demonstração. Suponha que m não intersecta s num ponto P , logo m e s são paralelas, então
como BF2 é perpendicular a m, tem-se que BF2 é perpendicular a s no ponto B. Veja ainda que
BF1 é um diâmetro, logo BF2 é tangente a circunferência no ponto B. Portanto, pela afirmação
contrapositiva do que foi mostrado, a reta s intersecta a reta m num ponto P .
Demonstração. Suponha que F1 esteja entre B e P , de acordo com a figura (1.34). Como o triângulo
BP F2 é isósceles, tem-se que BP = P F2 . Assim,
31
P B = P F1 + F1 B = P F2 ⇒ P F2 − P F1 = F1 B
Muitas das aplicações das cônicas estão associadas às leis de reflexão em superfı́cies cônicas de
revolução, resultantes da revolução dos três tipos de cônicas em torno dos recpectivos eixos. No
caso de elipse o movimento de revolução gera um objeto chamado elipsóide, no caso da parábola
este movimento gera o parabolóide e para o caso da hipérbole, o hiperbolóide, veja na figura (1.35).
Conforme as leis da fı́sica clássica, os raios de luz e as fontes sonoras se propogam em linhas
retas e radialmente a partir de sua fonte. Além disso, se sua fonte estiver muito longe de seu destino,
estas ondas chegam a este local distante formando um feixe praticamente paralelo, a exemplo das
ondas de rádio e das fontes luminosas de corpos celestes bem distantes.
32
Figura 1.35: Superfı́cies de revolução de uma cônica
A reflexão da luz é um fenômeno que consiste no fato de a luz voltar a se propagar no meio de
origem, após incidir sobre um objeto. As leis de reflexão da luz, seja na superfı́cie plana, seja na
superfı́cie curva, podem ser enunciadas da seguinte forma:
• 1a Lei da Reflexão
O raio de luz refletido e raio de luz incidente, assim como a reta normal a superfı́cie pertencem
ao mesmo plano, ou seja, o raio de incidência ri , a reta normal n e o raio de reflexão rr são
coplanares, veja a figura (1.36);
• 2a Lei da Reflexão
Observe pela figura anterior, que a reflexão na superfı́cie curva é tratada de maneira análoga a
da superfı́cie plana, pois no ponto de incidência do raio é considerada a reta tangente a curva neste
ponto, reta esta pertencente ao mesmo plano que o raio e a reta normal n. Dito de outra forma,
nas superfı́cies curvas cada raio incidente é tratado pontualmente como em uma superfı́cie plana,
conforme a reta tangente neste ponto.
Além disso, observe que afirmação da 2a lei de reflexão equivale a dizer que os ângulos θi0 e θr0
tem a mesma medida, pois são ângulos complementares de ângulos de mesma medida.
33
Dito isso, acompanhe a seguir como estas leis de reflexão atual nas superfı́cies cônicas.
1.5.1 Parábola
Proposição 1.14. Se os raios de luz chegarem à uma superfı́cie parabólica, paralelamente ao eixo
de simetria, então estes serão refletidos para o foco, de acordo com a figura (1.37).
Demonstração. Sejam P um ponto qualquer da superfı́cie parabólica onde o raio incide e é refletido,
o ponto F o foco da parábola, a reta diretriz d, a reta r determinada pelos pontos F e P e a reta n
como sendo a reta suporte do raio de incidência. Veja que, por hipótese, a reta suporte n do raio de
incidência é parela ao eixo, logo esta é perpendicular a reta d. Considere ainda, o ponto D da reta
n como sendo pé da perpendicular baixada de P em relação a d, o ponto N também pertencente a
n em que P está entre D e N e os pontos. Por último, sejam a reta t bissetriz do ângulo F
\ PD e
os pontos de T e T 0 de t, tais que P está entre eles e T está no mesmo semiplano do ponto F em
relação à reta n.
Pela Proposição (1.8), a reta t é tangente a parábola no ponto P , além disso como t é a bissetriz
do ângulo F
\ P D, então tem-se que F[ PT = T\ P D. Perceba que como T\ 0 P N é oposto pelo vértice
34
Esta propriedade garante a convergência para um ponto, no caso o foco, de todos os raios rebe-
bidos em toda a superfı́cie parabólica, isto fornece diversas aplicações na Engenharia. Um exemplo
são as antenas parabólicas, veja a figura (1.38), em que o posicionamneto do receptor na haste
central encontra-se próximo ou exatamente no foco deste parabolóide. Assim, este posicionamento
implica que todo sinal recebido na extensão da supérfı́cie da antena é refletido diretamente para o
foco, ou seja, para o receptor.
O espelho parabólico também é usado em certos telescópios para refletir os raios de luz emitidos
pelos corpos celestes para um outro espelho ou uma lente. O telescópio Hale no Monte Pamolar na
Califórnia possui o maior espelho côncavo parabólico do mundo. Os espelhos côncavos parabólicos
apresentam maior nitidez em relção aos espelhos côncavos esféricos quando se trata de imagens de
objetos distantes.
35
1.5.2 Elipse
Proposição 1.15. Se a fonte de luz estiver situada no foco de um espelho elı́ptico, todos os raios
refletidos por este espelho se concentrarão no outro foco, conforme a figura (1.40).
Pela Proposição (1.9), tem-se que t é a reta tangente à elipse no ponto P , além disso perceba que
os ângulos F\ 0 \0 \0
1 P T e T P N tem a mesma medida, logo T P N = F2 P T , pois são opostos pelo vértice,
\
logo F a
1 P T = F2 P T . Portanto, é garantida a 2 Lei de Reflexão e então segue o resultado.
\ \
As consequências desta proposição indicam que todo sinal luminoso ou sonoro que irradia do
foco de uma superfı́cie refletora elı́ptica reflete para o outro foco. Na medicina, o espelho elı́ptico do
Litotritor é usado par o tratamento dos cálculos renais. Este aparelho faz com que as ondas sonoras
de choque criadas fora do corpo pelo aparelho, viajam através da pele e tecidos até encontrarem
cálculos mais densos, pulverizando estes partı́culas, como pode ser visto na figura (1.41).
Fato parecido acorre no sistema de iluminação que os dentistas usam, veja a figura (1.42). Veja
que são usado refletores elı́pticos como forma de concentrar o máximo de luz num ponto especı́fico
dos dentes do paciente.
Existe ainda os salões chamados de ”galeria de murmúrios”, na qual o teto tem a forma de um
elipsóide. Nestas se duas pessoas se colocarem nos focos e uma delas falar, mesmo que o som seja
36
Figura 1.41: Litritor e aparelho elı́ptico
37
extremamente fraco, a outra pessoa uovirá perfeitamente, ainda que a esta tenha grandes dimensões
e que haja outros ruı́dos, conforme a figura (1.43).
1.5.3 Hipérbole
Proposição 1.16. Se o raio de luz for dirigido a um dos focos de um espelho hipérbolico será
refletida em direção ao outro foco, veja no figura (1.44).
38
que a fonte luminosa esteja apontada para o foco F1 . Assim, considere o ponto N pertencente a
reta n no qual P está entre F1 e N e o ponto em r tal que P está entre R e F2 . Por fim, sejam a
reta t bissetriz no ângulo RP
\ N e os pontos T e T 0 em t, com P entre eles e T 0 no mesmo semiplano
do ponto N determinado pela reta r.
Pela Proposição (1.10), tem-se que t é a reta tangente à hipérbole no ponto P , além disso
\
perceba que os ângulos RP T 0 e T\0 P N tem a mesma medida, mas RP \ T0 = F
\ 2 P T , pois são opostos
\
pelo vértice, logo RP T0 = F a
2 P T . Portanto, segue o resultado pela 2 Lei de Reflexão.
\
A proposição indica que todo sinal luminoso ou sonoro que apontado para o foco de uma
superfı́cie refletora hiperbólica será refletido para o outro foco. O chamado telescópio de reflexão
utiliza esta propriedade uma vez que é constituı́do, basicamente, por dois espelhos: o maior, que é
parabólico, o outro menor, que é hiperbólico. Os dois espelhos estão dispostos de maneira que além
dos eixos coincidirem, o foco da parábola está no mesmo lugar que o da hipérbole, como mostra a
figura (1.45).
Assim, quando os raios de luz refletem no espelho parabólico, pela propriedade refletora da
parábola, eles são direcionados para o foco. Pórem, como o foco da parábola é o mesmo foco da
hiérbole, pela propriedade refletora desta, os raios de luz refletem no espelho hiperbólico e seguem
a direção pora o outro foco da hipérbole. Os raios de luz passam através de um orifı́cio no centro do
espelho primário, atrás do qual está uma lente-ocular que permite corrigir ligeiramente a trajetória
da luz, que chega finalmente aos olhos do observador ou à partı́cula fotográfica. A vantagem deste
telescópio consiste em possuir um comprimento menor do que os telescópios de refração, que são
de lentes elı́pticas, mas que possuem o mesmo poder de amplificação.
39
Capı́tulo 2
Abordagem analı́tica
A Geometria Analı́tica também denominada de Geometria Coordenada foi descrita pela pri-
meira vez na famosa obra Discours de la Méthode do filósofo, fı́sico e matemático René Descartes
(1596 -1650). Descartes, por vezes chamado de ”o fundador da Filosofia Moderna”e ”o pai da
matemática moderna”, obteve reconhecimento matemático com a publicação desta obra na qual
sugeriu a fusão da álgebra com a geometria. Neste contexto, conceitos da geometria são analisados
por meio de processos algébricos, ou seja, são utilizados métodos e sı́mbolos algébricos para repre-
sentar e resolver problemas geométricos. Sua importância está presente no fato de que estabelece
uma correspondência entre equações algébricas e curvas geométricas.
Dessa forma, neste capı́tulo, as cônicas serão vista do ponto de vista analı́tico. Assim, é ne-
cessário que o leitor tenha conhecimento dos conceitos básicos da Geometria Analı́tica plana, para
isso veja [2]. Além disso, alguns dos conhecimentos obtidos no capı́tulo 1 são pré-requisitos para
compreender alguns dos resultados que serão expostos.
Foi visto no capı́tulo 1 que cônicas são curvas planas obtidas por interseção de um cone circular
(neste caso reto) com um plano, como também foram mostrados resultados acerca do foco, reta
diretriz e excentricidade. Um destes resultados foi a Proposição (1.4) na qual afirma que sendo P
um ponto qualquer da cônica, F um de seus focos (ou o único) e D o ponto da reta diretriz d, tal
PF
que P D é perpendicular a d, tem-se então que PD = , em que ≥ 0 é o valor da excentricidade
associada a tal cônica.
40
Dessa forma, adotando um sistema cartesiano ortogonal de coordenadas xOy e considerando
que o ponto F tenha coordenadas F = (x0 , y0 ) e a reta d tenha equação d : ax + by + c = 0, tem-se
PF
que PD = pode ser reescrito algebricamente da seguinte forma:
p
(x − x0 )2 + (y − y0 )2
|ax+by+c|
= . (2.1)
√
a2 +b2
p |ax + by + c|
(x − x0 )2 + (y − y0 )2 = √ ⇔
a2 + b2
2
(x − x0 )2 + (y − y0 )2 = (ax + by + c)2 ⇔
a2 + b2
2
(x − x0 )2 + (y − y0 )2 = (kax + kby + kc)2 , com k 2 = .
a2 + b2
(x − x0 )2 + (y − y0 )2 = (px + qy + r)2 ,
em que,
p = ka
q = kb
r = kc
na qual,
A = 1 − p2
B = −2pq
C = 1 − q2
D = −2(x0 + pr)
E = −2(y0 + qr)
F = x20 + y02 − r2
Assim, a equação (2.2) é chamada de equação cartesiana geral de uma cônica e pode representar
desde pontos, retas e circunferências, até as cônicas, alvo deste estudo, mas isto será mostrado mais
adiante.
41
Agora veja que a forma caracterı́stica que identifica qual tipo de cônica se refere a equação (2.1)
está vinculada a escolha dos eixos coordenados e da constante positiva . De fato, considere um
sistema de coordenadas cartesianas ortogonais x0 O0 y 0 , no qual o eixo O0 x0 contém o foco F e o eixo
O0 y 0 coincide com a reta diretriz d, conforme figura (2.1).
Dessa forma, seja P = (x0 , y 0 ) um ponto da cônica e a distância OF = 2p. Note assim que a
equação (2.1) assume a forma,
p !2
PF (x0 − 2p)2 + (y 0 − 0)2
=⇔ = 2 ⇔
PD x0
Através da equação (2.3) e dependendo do valor dado a constante pode-se então deduzir a
forma padrão da equação cartesiana de cada cônica em função do parâmetro p.
Veja então a seguir a caracterização das três cônicas almejadas, de acordo com o valor imposto
à excentricidade .
42
(1 − 12 )x02 − 4px0 + y 02 = −4p2 ⇔
Assim, note que realizando uma translação de eixos coordenados de modo que ponto (p, 0) passe
a ser a origem, obtem-se um novo sistema de coordenadas cartesianas x00 O00 y 00 no qual:
0
x = x00 + p
.
y 0 = y 00
E dessa forma a equação (2.4) reduz-se, no sistema de coordenadas x00 O00 y 00 , à forma que é
chamada equação caracterı́stica de uma parábola, a saber:
y 002 = 4px00
Outro processo para a dedução a equação da parábola consiste em considerar uma parábola
qualquer em um sistema de coordenadas cartesianas xOy, conforme a figura (2.2) com as seguintes
caracterı́sticas definidas abaixo:
• Foco: o ponto F ;
• Diretriz: a reta d;
Assim, pondo F D0 = 2p, veja que segundo a Proposição (1.7), F V = F D0 = p, logo tem-se
que d : x + p = 0 e F = (p, 0). E então, sendo P = (x, y) um ponto qualquer da parábola fica
estabelecido também da Proposição (1.7) que,
p |x + p|
PF = PD ⇒ (x − p)2 + (y − 0)2 = √ ⇒
1+0
(x − p)2 + y 2 = (x + p)2 ⇒ x2 − 2px + p2 + y 2 = x2 + 2px + p2 ⇒
43
Figura 2.2: Parábola
Para a equação da elipse, considere novamente a equação (2.3). Veja agora que fazendo 0 <
e < 1, tem-se que 1 − e2 > 0, e então,
4p 0 y 02 −4p2
(1 − 2 )x02 − 4px0 + y 02 = −4p2 ⇔ x02 − x + = ⇔
1 − 2 1 − 2 1 − 2
2 2
y 02 4p2 y 02 4p2 2
2p 1 2p
x0 − + = − 1 ⇔ x 0
− + = ⇔
1 − 2 1 − 2 1 − 2 1 − 2 1 − 2 1 − 2 (1 − 2 )2
2
y 02 2p 2
2p
x0 − + = ⇔
1 − 2 1 − 2 1 − 2
2
2p
x0 − 1−2 y 02
2 + 2 = 1 (2.5)
2p √2p
1− 2
1−2
2p
Assim, fazendo então uma translação dos eixos coordenados de modo que ponto 1−2
,0 passe
a ser a origem, obtem-se um novo sistema de coordenadas cartesianas x00 O00 y 00 no qual:
0 2p
x = x00 + 1− 2
y 0 = y 00
44
E dessa forma a equação (2.5) reduz-se, no sistema de coordenadas x00 O00 y 00 , a forma carac-
terı́stica da equação de uma elipse,
x002 y 002
+ 2 =1
a2 b
2p
√
Em que a = eb= √2p e uma vez que 1 − 2 < 1 − 2 , tem-se que 2p
> √2p e assim
1−2 1−2 1−2 1−2
a > b.
Outro processo para a dedução da equação caracterı́stica de uma elipse consiste em considerar
uma elipse qualquer em um sistema de coordenadas cartesianas xOy, acompanhe na figura (2.3),
em que se tem as seguintes caracterı́sticas:
• Focos: os pontos F1 e F2 ;
• Excentricidade: e = ac ;
a
• Diretrizes: retas d1 e d2 perpendiculares à reta que contém os focos, e a uma distância e do
centro.
Assim, sendo P = (x, y) um ponto qualquer da elipse fica estabelecido de acordo com a Pro-
posição (1.5) que P F1 + P F2 = K, com K uma constante real positiva. Note ainda K = 2a, pois
sendo V1 um ponto da elipse, tem-se queV1 F1 + V1 F2 = 2a. Logo pela mesma Proposição (1.5),
tem-se que,
P F1 + P F2 = 2a, com a > c,
com isso
p p p p
(x + c)2 + y 2 + (x − c)2 + y 2 = 2a ⇒ (x + c)2 + y 2 = 2a − (x − c)2 + y 2 ⇒
45
Figura 2.3: Elipse
h p i p
(x + c)2 + y 2 = 4a2 − 4a (x − c)2 + y 2 + (x − c)2 + y 2 ⇒ a (x − c)2 + y 2 = a2 − cx ⇒
a2 x2 − 2a2 cx + a2 c2 + a2 y 2 = a4 − 2a2 xc + c2 x2 ⇒
x2 y 2
+ 2 =1
a2 b
E por fim, para a equação da hipérbole considere mais uma vez a equação (2.3), mas desta vez
tomando > 1, tem-se que 1 − 2 < 0, donde 2 − 1 > 0, assim,
4p 0 y 02 −4p2
(1 − 2 )x02 − 4px0 + y 02 = −4p2 ⇔ −x02 − x + = ⇔
2 − 1 2 − 1 2 − 1
2
y 02 −4p2
0 2p 1
− x + + 2 = 2 +1 ⇔
1 − 2 −1 − 1 2 − 1
2
y 02 4p2 2
0 2p
− x + 2 + 2 =− 2 ⇔
−1 −1 ( − 1)2
46
2
y 02 2p 2
2p
− x0 + 2
+ 2 =− 2 ⇔
−1 −1 −1
2
0 2p
x + 2 −1 y 02
− 2 + 2 = −1 ⇔
2p √2p
2 −1 2 −1
2
2p
x0 + 2 −1 y 02
2 − 2 = 1 (2.7)
2p √2p
e2 −1 2 −1
E assim, fazendo então uma translação de eixos coordenados de modo que ponto − 22p
−1
, 0
passe a ser a origem, obtem-se um novo sistema de coordenadas cartesianas x00 O00 y 00 no qual:
x = x00 − 22p
0
−1
y 0 = y 00
E dessa forma a equação (2.6) reduz-se, no sistema de coordenadas x00 O00 y 00 , à forma que é a
equação caracterı́stica de uma hipérbole,
x002 y 002
− 2 =1
a2 b
2p √2p .
Em que a = 2 −1
eb= 2 −1
Outro processo para a dedução a equação da hipérbole consiste em considerar uma hipérbole
qualquer em um sistema de coordenadas cartesianas xOy, veja a figura (2.4), com as seguintes
caracterı́sticas:
• Focos: os pontos F1 e F2 ;
• Excentricidade: e = ac ;
• Diretrizes: retas d1 e d2 perpendiculares à reta que contém os focos e que estão a uma distância
a
c do centro;
47
• Assı́ntotas: retas suportes s1 e s2 das diagonais do retângulo determinado pelos pontos V1 ,
V2 , V3 e V4 .
Assim, sendo P = (x, y) um ponto qualquer da hipérbole, fica estabelecido de acordo com a
Proposição (1.6) que |P F1 − P F2 | = K, com K uma constante real positiva. Note que K = 2a, pois
sendo V1 um ponto da hipérbole, tem-se que V1 F2 − V1 F1 = 2a. Logo, também pela Proposição
(1.6) tem-se que,
p p
(x + c)2 + y 2 + (x − c)2 + y 2 = ±2a ⇒
|P F1 − P F2 | = 2a, com a < c ⇒
p p h p i
(x + c)2 + y 2 = ±2a− (x − c)2 + y 2 ⇒ (x+c)2 +y 2 = 4a2 ± 4a (x − c)2 + y 2 + (x − c)2 + y 2 ⇒
p
∓a (x − c)2 + y 2 = a2 − cx ⇒ a2 x2 − 2a2 cx + a2 c2 + a2 y 2 = a4 − 2a2 xc + c2 x2 ⇒
x2 y 2
− 2 =1
a2 b
48
Perceba ainda que as retas assı́ntotas s1 : y = − ab x e s2 : y = ab x são as quais a hipérbole se aproxima
cada vez mais à medida que os valores de x ou y cresce ou decresce. Com efeito, considerando que
a hipérbole é simétrica em relação aos eixos x e y, tome a porção do 1o quadrante, ou seja, x > a
e y > 0, assim ,
y2 x2 b2 x2 − b2 a2 b2
2
= 2 − 1 ⇒ y2 = 2
⇒ y 2 = 2 (x2 − a2 ) ⇒
b a a a
s r
a2 a2
bp 2 2
b 2
b
y=± x −a ⇒y =± x 1− 2 ⇒y =±± x 1− 2
a a x a x
E assim fazendo lim y, temos que a hipérbole tende para o gráfico da reta y = ± ab x.
x→∞
Antes observe que se os coeficientes A e C são ambos nulos, tem-se que a equação (2.2) será
uma equação linear e então representa uma reta. Mas se os coeficientes A e C não são nulos, então,
como já foi dito, é necessário realizar uma rotação e/ou translação nos eixos coordenados de modo
a obter um novo sistema de coordenadas.
Para primeiro fazer a rotação dos eixos coordenados, suponha que (x, y) e (x̂, ŷ) as coordenadas
de um ponto P nos sistemas de coordenadas xOy e x̂Ôŷ, respectivamente, em que x̂Ôŷ é o sistema
resultante de xOy através de uma rotação de um ângulo θ, veja na figura (2.5). Desta forma,
observando tal figura, veja que os valores de x e y em função de x̂, ŷ e θ, pode ser dado da seguinte
forma:
x = OM = ON − M N = x̂ cos θ − ŷ sin θ
y = M P = M M 0 + M P = N N 0 + M 0 P = x̂ sin θ + ŷ cos θ
Agora veja como determinar a amplitude do ângulo θ necessário para uma mudança adequada
do sistema de coordenadas.
49
Figura 2.5: Rotação de eixos
Proposição 2.1. O ângulo θ necessário para mudança do sistema de coordenadas necessário para
eliminar o termo em xy da equação
Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F, B 6= 0
50
em que,
 = A cos2 θ + B cos θsenθ + Csen2 θ
B̂ = B cos(2θ) − (A − C)sen(2θ)
Ĉ = Asen2 θ − B cos θsenθ + C cos2 θ .
D̂ = D cos θ + Esenθ
Ê = −Dsenθ + E cos θ
Fazendo as substituições,
cotg2 θ − 1 A−C
cotg(2θ) = eλ=
2cotgθ B
tem-se que,
p π
cotg2 θ − 2λcotgθ − 1 = 0 ⇔ cotgθ = λ ± 1 + λ2 com 0 < θ <
2
Portanto, é garantido que a equação (2.9) possui duas soluções reais distintas e assim fica
provada a proposição.
Dessa forma, aplicando uma rotação segundo um ângulo θ a equação (2.2) fica reduzida a forma,
Para fazer a translação, lembre que, sendo (x, y) e (x, y) as coordenadas de um ponto P nos
sistemas de coordenadas xOy e xOy, respectivamente, em que xOy é o resultante de xOy através
de uma translação segundo um vetor (h, k), de acordo com figura (2.6). Pode-se então obter os
valores de x e y em função de x e y, a saber:
x = M P = M M 0 + M 0P = h + x
y = N P = N N 0 + N 0P = k + y
Sendo assim, pretende-se determinar as coordenadas do vetor (h, k) necessário para a mudança
dos eixos. Para isso considere dois casos: o primeiro caso será quando um dos coeficientes  ou Ĉ
51
Figura 2.6: Translação de eixos
é nulo; e o segundo quando ambos os coeficientes  e Ĉ não são nulos. Veja ainda que se ambos os
coeficientes  e Ĉ são ambos nulos, então a equação (2.10) representa uma reta.
Para o primeiro caso, suponha, sem perda de generalidade que o coeficiente  = 0, logo é feita
uma translação baseada na proposição a seguir.
Proposição 2.2. O vetor de coordenadas (h, k), necessário para uma translação de eixos em que
elimina os termos ŷ da equação,
Âx̂2 + Ĉ ŷ 2 + D̂x̂ + Ê ŷ + F = 0
com
E = 2Ĉk + Ê
.
F = Ĉk 2 + D̂h + Êk + F.
52
Perceba que os coeficientes  e D̂ invariantes nesta rotação.
Assim, para eliminar os termos y, deve-se ter E = 0 e, portanto, as equações do sistema (2.11)
ficam determinadas.
Logo, após esta translação de eixos, a equação (2.10) fica reduzida, no sistema de coordenadas
xOy, a forma,
Ĉy 2 + D̂x + F = 0 (2.12)
Nesta forma, pode-se identificar mais facilamente qual figura tal equação representa. O leitor
pode verificar que:
• Se Ĉ e F tem o mesmo sinal e além disso D̂ = 0, então não existem pontos que satisfazem
tal equação, logo esta representa o conjunto vazio ;
Para o segundo caso, observe, na proposição logo a seguir a translação necessária para melhor
identificar qual curva representa a equação (2.10).
Proposição 2.3. O vetor de coordenadas (h, k), necessário para uma translação de eixos em que
elimina os termos x̂ e ŷ da equação,
Âx̂2 + Ĉ ŷ 2 + D̂x̂ + Ê ŷ + F = 0,
53
na equação (2.10), obtem-se,
Âx2 + Ĉy 2 + Dx + Ey + F = 0
com
D = 2Âh + D̂
E = 2Ĉk + Ê .
F = Âh2 + Ĉk 2 + D̂h + Êk + F
Pode-se assim, facilmente identificar que figura a equação (2.10) representa no novo sistema de
coordenadas. De fato, acompanhe:
• Se Â, Ĉ e F tem o mesmo sinal, então não existem pontos que satisfazem tal equação, logo
representa o conjunto vazio;
• Se  e Ĉ tem o mesmo sinal e F = 0, então o único ponto que satisfaz tal equação é o ponto
(0, 0), ou seja a equação representa um ponto;
• Se  e Ĉ possuem o mesmo sinal e F tem sinal oposto ao sinal deles, então a equação
representa uma elipse ou uma circunferência;
• Se  e Ĉ tem sinais opostos e F = 0, então tal equação representa um par de retas concor-
rentes;
Para primeiro realizar uma rotação de eixos, veja que segundo a Proposição (2.1), um dos ângulos
θ necessário para realizar a rotação adequada será:
1 5−5 1
θ = arcctg = arcctg(0) = 45◦ .
2 6 2
54
Logo, a equação (2.15) em um novo sistema de coordenadas x̂Ôŷ, terá a forma:
√
8x̂2 + 2ŷ 2 + 4 2ŷ − 4 = 0 (2.16)
Já para realizar a translação, a Proposição (2.12) indica que o vetor necessário para uma
translação adequada de eixos será:
√
(h, k) = (0, − 2).
y2
8x2 + 2y 2 − 8 = 0 ⇔ x2 + = 1.
4
Portanto, uma elipse em que seu eixo maior está sobre o eixo y.
Exemplo 2.2. A equação 4x2 − 4xy + y 2 + 32x + 34y + 89 = 0 representa uma parábola.
Exemplo 2.3. A equação 4x2 + 9y 2 − 40x + 36y + 100 = 0 representa uma elipse.
Para estabelecer uma caracterização de retas tangentes às cônicas, considere que o procedimento
geral para obter a equação da reta tangente num ponto P = (x0 , y0 ) de uma curva, consiste em
determinar o valor do coeficiente m da equação da reta r : y − y0 = m(x − x0 ), uma vez que
m = tg α é o coeficiente angular da reta tangente em P , conforme a figura (2.7). Assim, isolando
o valor de y na equação da reta e substituindo o resultado na equação da cônica, obtem-se uma
equação em x na forma,
Ax2 + Bx + C = 0, (2.17)
A esta última equação deve-se impor que ∆ = 0, já que deve ter apenas uma única solução.
B
Isso implica que x0 = − 2A .
b2 x2 + a2 y 2 = a2 b2 , (2.18)
55
Figura 2.7: Reta tangente a uma curva
com a, b > 0. As retas tangentes aos vértices V1 = (−a, 0), V2 = (a, 0), V3 = (0, b) e V4 = (0, −b) são
as retas verticais x = ±a, e as retas horizontais y = ±b. Em um outro ponto P = (x0 , y0 ) qualquer
da elipse, as retas tangentes obtem-se, através da substituição da equação da reta y = m(x−x0 )+y0
na equação (2.18). Assim, tem-se que uma equação da forma (2.17) em que,
A = b2 + a2 m2
B
E como deve-se ter x0 = − 2A , obtem-se,
x0 b2
y=− (x − x0 ) + y0
y0 a2
.
56
Considere agora uma parábola de equação ,
y 2 = 4px, (2.19)
com p > 0. No vértice V = (0, 0) a reta tangente é a reta vértical x = 0. Em um outro ponto
P = (x0 , y0 ) qualquer da parábola obtem-se, através da substituição da equação da reta y =
m(x − x0 ) + y0 na equação (2.19). Dessa forma, encontra-se a forma da equação (2.17) em que,
A = m2
B
E, assim, deve-se ter novamente que x0 = − 2A e então,
2(y0 − mx0 )m − 4p)
x0 = − ⇔
2m2
(y0 − mx0 )m − 2p
x0 = − ⇔
m2
2p
m = ,
y0
em que a equação da reta tangente à parábola no ponto P será:
2p
y= (x − x0 ) + y0 .
y0
b2 x2 − a2 y 2 = a2 b2 , (2.20)
com a, b > 0. Nos vértices V1 = (−a, 0) e V2 = (a, 0) as equações da reta tangente são as retas
vérticais x = ±a e para um outro ponto P = (x, y) qualquer da hiperbole as retas tangentes obtem-
se, novamente, através da substituição da equação da reta y = m(x − x0 ) + y0 na equação (2.20).
Deste modo, ganha-se forma a equação (2.17) em que,
A = b2 − a2 m2
B
E, assim como deve-se ter x0 = − 2A , tem-se:
57
Assim, a equação da reta tangente a hipérbole no ponto P será:
x0 b2
y= (x − x0 ) + y0
y0 a 2
.
Feito isso, a fim de relacionar os sistemas de coordenadas polares e cartesianas, faça com que
o pólo coincida com a origem do referencial cartesiano e o eixo polar coincida com o semieixo Ox,
conforme a figura (2.9).
Assim, veja que o ponto P tem coordenadas cartesianas (x, y) e coordenadas polares (r, θ) e
58
Figura 2.9: Relação entre coordenadas polares e cartesianas
Com isso, para determinar as equações polares das cônicas, considere dois casos:
• Primeiro caso: A diretriz d é perpendicular ao eixo polar, como pode ser visto na figura
(2.10).
Assim, para este caso, considere P um ponto qualquer da cônica de coordenadas polares (r, θ),
59
sendo F um dos focos. Considere ainda que p é diatância de F a reta d. Assim, tem-se,
P D = p − r cos θ, se a diretriz estiver à direita do foco F, veja a figura [2.10(i)];
P D = p + r cos θ, se a diretriz estiver á esquerda do foco, conforme a figura [2.10(ii)].
ou, equivalentemente,
p
r= (2.21)
1 ± cos θ
• Segundo caso: A diretriz d é paralela ao eixo polar, como ser notado pela figura (2.11).
ou, equivalentemente,
p
r= (2.22)
1 ± senθ
E portanto, a equação polar de uma cônica pode ter a forma de uma das equações (2.21) ou
(2.22). Além disso, como já foi dito, se = 1 a cônica é uma parábola, caso > 1 a cônica é uma
hipérbole e se por ventura 0 < < 1 a cônica é uma elipse.
60
2.3 Equação paramétrica de uma cônica
A parametrização de uma curva pode ser vista como o caminho de uma partı́cula, no plano, ao
longo de um intervalo de tempo, ou seja, a parametrização consiste em descrever cada ponto da
curva em função da variável t.
cos t = xr
x = r cos t
; t∈R⇔ ; t∈R (2.23)
sen t = yr y = r sen t
em que fazendo t percorrer os valores do intervalo [0, 2π), tem-se todos os pontos da circunferência.
Portanto, o sistema de equações (2.23) representa uma possı́vel parametrização da circunferência
C.
x2 y2
Com isso, sejam a elipse E de equação a2
+ b2
= 1 com centro na origem e a circunferência C’
de equação α2 + β 2 = 1 de raio 1 e centro na origem. Perceba que pelo sistema de equações (2.23),
tem-se,
α = cos t α = sen t
C0 : ; t ∈ R, ou C 0 : ; t ∈ R.
β = sen t β = cos t
Assim, note que,
x y
(x, y) ∈ E ⇔ (α, β) = , ∈ C 0.
a b
61
e assim obtem-se duas possı́veis parametrizações da elipse E:
x = a cos t x = a sen t
E: ; t ∈ R, e E : ;t ∈ R
y = b sen t y = b cos t
et + e−t et − e−t
cosh t = e senh t = , t ∈ R,
2 2
veja na figura (2.13) os respectivos gráficos destas funções. Perceba que os pontos (cosh t, senh t)
e (− cosh t, senh t) pertencem a hipérbole H0 , pois
Veja que variando t em R tem-se que x = cosh t (x = − cosh t) percorre todos os valores em
[1, +∞) (respectivamente, (−∞, 1]), enquanto y = senh t percorre todos os valores reais. Assim,
obtem-se uma parametrização para o ramo positivo, H0+ :
x = cosh t
t ∈ R, (2.24)
y = senh t
62
x2 y2
Considere agora a hipérbole H de equação a2
− b2
= 1 e a hipérbole H0 : α2 − β 2 = 1, pelas
equações (2.24) e (2.25) tem-se que,
α = ± cosh t
H0 : ; t ∈ R.
β = senh t
Desde muito cedo a humanidade já procurava entender os fenômenos astronômicos. A mitologia
grega, romana e de outros povos do passado colocavam seus deuses no céu e procuravam explicar
os fenômenos observados como manifestações divinas. Os filósofos da Grécia Antiga foram os que
pela primeira vez tentaram explicar os movimentos dos corpos celestes sem recorrer aos mitos e à
religião. Foram através de seus estudos que surgiram as primeiras descrições dos movimentos dos
planetas.
Somente no século XVI foram levantadas novas hipóteses sobre o universo com o astrônomo
polonês Nicolau Copérnico, que em sua obra sobre a revolução dos corpos celestes, afirmou que o
Sol é o centro do Universo e os seis planetas conhecidos descreveriam órbitas circulares em torno
do Sol. Mas foi com Galileu Galilei com a utilização de instrumentos ópticos nas observações
63
astronômicas que possibilitou obter melhores evidências a favor do sistema planetário heliocêntrico
de Copérnico.
Coube enfim ao astrônomo alemão Johannes Kepler, por volta de 1596, estabelecer de forma
definitiva como os planetas se moviam ao redor do Sol. Kepler herdeu de Tycho Brahe registros de
suas precisas observações possibilitando, após muito estudo, enunciar as três leis que descrevem o
movimento planetário.
A primeira Lei de Kepler afirma que: um planeta gira em torno do sol em uma órbita elı́ptica
com o sol em um dos focos. Para mostar esta afirmação considere que como a força gravitacional
exercida do sol sobre um planeta é bem maior que as forças exercidas por outros astros, pode-se
então desconsiderar todos os outros corpos do universo, exceto o sol e um planeta girando em torno
dele. Sendo assim, tome um sistema de coordenadas com origem no sol e seja → −r = r(t) o vetor
posição do planeta. Dessa forma, tem-se então que →
−
v =→
−
r0e→
−
a =→
−
r 00 são os vetores velocidade e
aceleração respectivamente.
Além disso, é necessario considerar duas leis propostas por Newton. A 2a Lei de Newton,
→
−
também conhecida como Princı́pio Fundamental da Dinâmica que diz que a força resultante F que
age sobre um corpo deve ser igual ao produto da massa do corpo m por sua aceleração →
−a , ou seja,
→
−
F = m→
−
a.
E a Lei da Gravitação Universal, na qual dois corpos atraem-se com força proporcional às suas
massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância que separa seus centros de gravidade,
ou seja,
→
− GM m → GM m →
F =− .−
r =− .−
u.
r3 r2
→
−
Em que F é a força da gravidade sobre o planeta, G a constante gravitacional, M e m as massas
do planeta e do sol respectivamente, r = ||→
−
r || e →
−
u = 1r .→
−
r.
→
−
Perceba ainda que igualando estas duas leis de Newton para F , tem-se que
→
− GM −
a = − 3 .→ r.
r
→
−
Assim, →
−
a é paralelo a →
−
r , com isso segue que →
−
r ×→ −
a = 0 e então,
d → →
− →
−
(−
r ×→
−
v)=→
−
r0×→
−
v +→
−
r ×→
−
v0=→
−
v ×→
−
v +→
−
r ×→
−
a = 0 ⇒→
−
r ×→
−
v = h,
dt
64
→
− →
−
em que o vetor h é um vetor constante. Assim, o vetor →
−
r = r(t) é perpemdicular a h para todos
os valores de t, logo o planeta está sempre em um plano que passa pela origem e é perpendicular a
→
−
h . Portanto, o planeta se move em um plano e sua órbita é uma curva plana.
Logo,
→
− →
− GM −
a × h =− 2 →
u × (r2 →
−
u ×→
−
u 0 ) = −GM →
−
u × (→
−
u ×→
−
u 0 ) = −GM (h→
−
u,→
−
u 0 i→
−
u − h→
−
u,→
−
u i→
−
u 0 ).
r
Mas perceba que h→
−
u,→
−
u i = 1 e h→
−
u,→
−
u 0 i = 0 assim,
→
− →
− →
− →
− →
−
a × h = GM →
−
u 0 ⇒ (→
− v0× h =→
v × h )0 = →
− −
a × h = GM →
−
u 0.
→
− →
−
v × h = GM →
−
u +→
−c .
em que →
−c é um vetor constante.
Para escolher um sistema de eixos coordenados coviniente com esta situação, ponha o vetor
→
− →
− →
− −
da base canônica k = (0, 0, 1) na mesma direção do vetor h . Veja assim que → −v × h e → u são
→
− →
−
perpendiculares a h , logo pela equação anterior o vetor c pertence ao plano XY . Assim, também
→
−
é oportuno por o vetor i = (1, 0, 0) na direção do vetor →
−c .
Em que c = |→
−c |, então
→
− →
−
h→
−
r ,→
−
v × hi 1 h→−
r ,→
−
v × hi
r= = . .
GM + c cos θ GM 1 + e cos θ
−
→
c
Sendo e = GM .
65
Logo,
h2 /GM eh2 /c
r= = .
1 + e cos θ 1 + e cos θ
h2
E pondo d = c , obtem-se,
ed
r= .
1 + e cos θ
Portanto, como a equação anterior representa a equação polar de uma cônica de foco na origem
e excentricidade e e a órbita de um planeta é uma curva fechada, tem-se então que esta curva
descreve necessariamente uma elipse.
A segunda Lei de Kepler conclui que: uma reta que liga o sol a um planeta, percorre áreas
iguais em intervalos de tempo iguais. Para mostrar isso, considere que a órbita do planeta seja uma
elipse no plano XY e que r = f (θ) seja uma função polar da órbita com o sol no foco O. Seja P0
a posição do planeta na posição t0 e P a posição no instante t ≥ t0 . Adote ainda θ0 e θ os ângulos
medidos no eixo x-positivo para OP0 e OP respectivamente.
Assim, usando a fórmula da área em coordendas polares, tem-se que a área percorrida por OP
no intervalo [t0 , t] é determinada por:
Rθ 1 2
Zθ d 2 r dθ
1 2 dA θ0 1
A= r dθ ⇒ = = r2 .
2 dθ dθ 2
θ0
Sendo assim, como θ depende do tempo, tem-se que pela regra da cadeia:
dA dA dθ 1 dθ
= = r2 .
dt dθ dt 2 dt
→
− →
− →
−
Veja agora que sendo →
−
r = r cos θ i + r sin θ j + 0 k , o seu versor é dado por:
→
− 1− →
− →
− →
−
u = →r = cos θ i + sin θ j + 0 k .
r
Logo,
d→
−u dθ →
− dθ →
− →
−
= − sin θ i + cos θ j +0k.
dt dt dt
E assim,
→
− d→
−u dθ →
− dθ →
− dθ →
−
u × = cos2 θ k + sin2 θ k = k.
dt dt dt dt
66
→
−
Tomando h o vetor constante obtido na demonstração da primeira lei, tem-se que,
d→
−
→
− 2 →− u →
− dθ →
− →
− dθ
h =r u × ⇒ h = r2 k ⇒ h = || h || = r2 .
dt dt dt
A terceira Lei de Kepler confirma que: o quadrado do perı́odo de revolução de um planeta é pro-
porcional ao cubo do comprimento do maior eixo de sua orbita. E para ver isso use as demonstrações
anteriores, ou seja, admita que a órbita planetária é dada pela equação
ed
r= .
1 + e cos θ
h2 e
Em que ed = GM e e = GM . Sendo T o tempo necessário para que o planeta complete uma
revolução em torno do sol, tem-se que a área percorrida no intervalo de tempo [O, T ] é dado por
ZT ZT
dA 1 1
A= dt = hdt = hT.
dt 2 2
O O
Assim, 21 hT é a área limitada pela elipse. No entanto, a área de uma elipse cujo eixo maior de
comprimento 2a e eixo menor de comprimento 2b é dada por πab, logo
1 2πab
A = hT = πab ⇒ T = .
2 h
67
Além disso, sabe-se que da relção c = ea, tem-se que a distância d entre o foco e a diretriz é
dada por
a a a(1 − e2 )
d= − c = − ea = ⇒ ed = a(1 − e2 ).
e e e
4π 2 a3 h2 4π 2 3
T2 = 2
⇒ T2 = a .
h GM GM
4π 2
Pondo k = GM obtem-se, portanto,
T 2 = ka3 .
68
Capı́tulo 3
Abordagem Projetiva
Neste último capı́tulo, as cônicas serão trabalhadas segundo uma visão da Geometria Projetiva,
Geometria pouco explorada nos cursos de graduação e pós-graduação de Matemática. Assim, por
usar um modelo geométrico pouco usual e diferente do que foi usado anteriormente, esta última
parte do trabalho será abordado de maneira um pouco mais detalhada, pois antes de definir uma
cônica segundo uma visão projetiva, é necessário conhecer os conceitos de ponto, reta e plano
projetivo. Mas mesmo com um pouco mais de riqueza nos detalhes, o leitor terá que ter noções
de Geometria Analı́tica no espaço, veja em [2], além de conhecimentos introdutórios de Álgebra
Linear, para isto consulte [11] e de alguns resultados vistos no capı́tulo 2.
69
3.1 O plano projetivo RP2
Considere o conjunto obtido do R3 sem o vetor O = (0, 0, 0), ou seja, o conjunto R3 \ {O}.
Assim, um plano ax + by + cz = 0 em R3 \ {O} é um plano perfurado na origem.
Definição 3.1. Chama-se plano projetivo, RP2 , o conjunto quociente obtido de R3 \ {O}, com a
seguinte relação de equivalência, 1
Um elemento deste plano (uma classe de equivalência) é chamado de ponto projetivo ou sim-
plesmente ponto, denotado por uma letra minúscula com uma barra em cima, v. Dessa forma, v
é um subconjunto de R3 \ {O}, que pela relação de equivalência ∼ , é um conjunto dos múltiplos
não nulos de v, ou seja,
v = {λv; λ ∈ R e λ 6= 0}.
ψ : R3 \ {O} −→ RP2
v 7−→ ψ(v) = v
Para fins de notação sendo v = (v1 , v2 , v3 ) um vetor de R3 \{O}, ponha ψ(v) = v = (v1 , v2 , v3 ) =
(v1 : v2 : v3 ), em que a terna v = (v1 : v2 : v3 ) são chamada de coordendas homogêneas de v.
Para melhor entendimento do plano projetivo RP2 perceba que para cada classe de equivalência
v = (v1 : v2 : v3 ) ∈ RP2 pode-se determinar dois elementos na esfera unitária S2 ⊂ R3 \ {O} na
classe de equivalência de v, a saber,
1 1
u= v e −u=− v.
||v|| ||v||
Perceba que a divisão pela norma está bem definida, uma vez que ||v|| =
6 0. E como u e −u
são multiplos não nulos um do outro, então valem as igualdades v = u = −u. Dessa forma, tem-se
uma função projeção sobrejetora, que é a restrição da função projeção antes definida, ou seja,
ψ0 : S2 ⊂ RP2 −→ RP2
u 7−→ ψ0 (u) = u,
1
Uma relação de equivalência é uma relação binária entre elementos de um dado conjunto, que satisfaz as propri-
edades de reflexividade, simetria e transitividade.
70
tal que para cada ponto v o conjunto pré-imagem é formado por dois pontos de S2 ,
−1 1 1
ψ0 (v) = v, − v
||v|| ||v||
u ∼ v ⇔ u = v ou u = −v.
Portanto, pode-se ter um outro modelo de plano projetivo RP2 = S2 / ∼. Se for considerado somente
o hemisfério norte da esfera unitária,
a restrição da função projeção ψ0 : He3 ⊂ S2 −→ RP2 é sobrejetiva, mas não é injetiva, uma vez
que podem ocorrer duas pré-imagem de um ponto projetivo, u = (u1 : u2 : u3 ) por ψ0 :
Um grande cı́rculo ou reta elı́ptica é o conjunto obtido pelo interseção de um plano que passa
pela origem O com esfera unitária S2 . Dessa forma, considere a reta elı́ptica re3 ⊂ S2 como sendo
a interseção da esfera unitária com o plano z = 0. A imagem desta reta re3 pela projeção ψ0 é
chamada de conjunto de pontos ideais, I∞ , ou seja,
I∞ = {u ∈ RP2 ; u = (x : y : 0)}.
Assim, observe que a projeção ψ0 aplicada ao conjunto He3 \re3 estabelece uma relação biunı́voca
sobre RP2 \ I∞ , pois desta vez a injetividade é garantida. De fato, se u ∈ He3 \ re3 , então a pré-
imagem de u = (u1 : u2 : u3 ) por ψ0 será ψ0−1 (u) = {u}.
Sabe-se que grandes cı́rculos em S2 são equivalentes a retas na Geometria Euclidiana, no sentido
de que a menor distância percorrida entre dois pontos na esfera unitária se torna a menor possı́vel
quando o caminho tomado é uma das duas possı́veis direções de um grande cı́rculo que contém
estes dois pontos 2 .
2
ver ABREU, S. M.; OTTONI, J. E. Goemetria Esférica e Trigonometria Esférica Aplicadas à Astronomia de
Posição. Trabalho de Conclusão do Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional-PROFMAT. Universi-
dade Federal de São João del-Rei-UFSJ. Campo Alto Paraopeba: 2015, p. 16.
71
Definição 3.2. Um subconjunto r ⊂ RP2 é chamado de reta projetiva se r for a imagem de um
grande cı́rculo pela projeção,
ψ0 : S2 −→ RP2 .
Γη : η1 x + η2 y + η3 z = 0
Perceba assim que todo vetor normal λη com λ 6= 0 pertence a mesma classe η = {λη; λ ∈
R3 \ {O}} e, dessa forma, η determina um único plano Γη . Observe também que cada plano Γη
é determinado por um único η ∈ RP2 , com efeito, pois se Γη = Γη0 , então η = λη 0 , λ 6= 0, logo
η, η 0 ∈ η e então η = η 0 .
Logo, como a interseção de Γη com a esfera unitária S2 determina um único grande cı́rculo e
como todo grande cı́rculo pode ser determinado deste modo por um único Γη , tem-se que a reta
projetiva,
rη ⊂ RP2 ,
Sejam o plano projetivo RP2 e o conjunto de suas partes, P(RP2 ). Escolha o subconjunto
R ⊂ P(RP2 ) formado por todas as retas prjetivas.
Agora note que cada ponto projetivo η ∈ RP2 determina um único plano Γη , que por sua vez
determina um único grande cı́rculo Γη ∩ S2 , que por sua vez determina uma única reta projetiva rη .
Por outro lado, uma única reta projetiva, rη ⊂ RP2 é determinada por um único ponto projetivo η.
Com efeito, se rη = rη0 então, pelo que foi visto no final da seção sobre o plano RP2 , Γη ∩S2 = Γη0 ∩S2 ,
logo Γη = Γη0 e finalmente, η = η 0 .
rη ←→ η.
72
Assim, R será chamado plano projetivo dual e denotado por RP2∗ . Sendo RP2 um modelo
geométrico de RP2∗ . Portanto, para fins de notação quando, for conveniente, denota-se por uma
letra grega minúscula os elementos de RP2∗ , ou seja, no lugar de rη põe-se η.
3.1.3 Incidência
Diz-se que um ponto incide em uma reta se este ponto pertence a esta reta. Do mesmo modo,
um reta incide em um ponto se esta reta intersecta este ponto. Assim, após definir plano projetivo,
ponto projetivo e reta projetiva é interessante verificar alguns resultados sobre incidências. Primeiro
veja, na proposição que segue, um critério de incidência entre um ponto projetivo e uma reta
projetiva
Proposição 3.1. Dada uma reta projetiva rη ∈ RP2∗ e um ponto projetivo v ∈ RP2 . Então,
1 1
hv, ηi = 0 ⇔ ±v ∈ Γη ⇔ ± v ∈ rη = Γη ∩ S2 ⇔ v = v ∈ rη
||v|| ||v||
Também é necessário mostar que por dois pontos distintos existe um única reta que os contém.
Veja como isto pode ser verificado.
Proposição 3.2. Por dois pontos projetivos distintos v, w ∈ RP2 passa uma única reta projetiva,
a saber ,
rη ∈ RP2∗ , onde η = v × w.
v w
Pelo produto vetorial, obtem-se o vetor não nulo η = ||v|| × ||w|| do qual pode-se ter o plano
perfurado na origem, Γη . Usando o produto interno, tem-se,
v w
hv, ηi = ||v|| , η = 0 e ||w|| , η = hw, ηi = 0,
||v|| ||w||
73
logo v, w ∈ Γη .
Note que, Γη é o único plano de R3 que contém a origem e os pontos v e w, logo este determina
v w
a reta elı́ptica rη = Γη ∩ S2 . Como ||v|| , ||w|| ∈ rη , tem-se que,
v w
ψ0 = v e ψ0 = w.
||v|| ||w||
Para mostrar a unicidade suponha que exista uma outra reta projetiva rθ ∈ RP2∗ incidindo em v
v w
e w. Logo existe uma reta elı́ptica rθ = Γθ ∩ S2 , tal que ψ0 (rθ ) = rθ . Como os pontos ||v|| , ||w|| ∈ S2
e D E
v
, θ =0
D ||v|| E ,
w
||w||,θ = 0
v w
com θ o vetor nornal ao plano Γθ , tem-se então que ||v|| , ||w|| ∈ Γθ ∩ S2 .
v w
Assim, θ 6= 0 e θ ∈ ||v|| × ||w|| , logo existe λ ∈ R,com λ 6= 0 tal que,
v w
θ=λ ×
||v|| ||w||
.
v w
Logo, θ = ||v|| × ||w|| = η e, portanto, rη = rθ
Como já foi mencionado, o paralelismo entre retas não é verificado no plano projetivo, ou seja,
duas retas distintas sempre concorrem em um único ponto. Veja a demosntração deste fato.
η θ η θ
Observe que ||η|| , ||θ|| ∈ S2 e que ||η|| 6= ± ||θ|| , caso contrário η = λθ, com λ ∈ R, λ 6= 0 e então
η = θ.
74
Considere agora que v = η × θ, assim,
hη, vi = 0
hθ, vi = 0
v v
Pela aplicação projeção, tem-se que ψ0 ||v|| ∈ ψ(rη ) = rη e ψ0 ||v|| ∈ ψ(rθ ) = rθ , logo
v
ψ0 ||v|| ∈ rη ∩ rθ . Portanto, v ∈ rη ∩ rθ .
Para mostrar a unicidade suponha que exista w tal que w = rη ∩ rθ . Logo segue que
w η×θ η×θ
∈ rη ∩ rθ = − ,
||w|| ||η × θ|| ||η × θ||
.
w
Assim, w = λ(η × θ) para algum λ ∈ R e λ 6= 0. Portanto, w = ||w|| = η × θ = v.
Definição 3.3. Diz-se que três pontos projetivos u, v, w são colineares se existe uma reta projetiva
incidindo sobre estes.
Definição 3.4. Diz-se que três retas projetivas rη , rθ , rν são concorrentes se existe um único ponto
incidindo sobre estas.
Veja a seguir um critério que verifica se três pontos projetivos são colineares, como também para
identificar se três retas são concorrentes. Antes é necessário informar que o terno [u, v, w] representa
uma matriz, na qual os elementos das colunas são formados pelas coordenadas dos representantes
das classes u, v e w, respectivamente.
Proposição 3.4. Sejam u, v, w pontos projetivos distintos em RP2 . Tem-se que, u, v, w são coli-
neares se, e somente se, det[u, v, w] = 0.
Demonstração. Suponha que os três pontos projetivos são distintos, caso contrário a demosntração
é verificada trivialmente. Assim, dados u, v, w ∈ RP2 , tem-se que,
u v w u v w
u, v, w ∈ rη = ψ(rη ) ⇔ , , ∈ rη ⇔ , , ∈ Γη ⇔
||u|| ||v|| ||w|| ||u|| ||v|| ||w||
u v w u v w
, × = det , , =0⇔
||u|| ||v|| ||w|| ||u|| ||v|| ||w||
75
1 1 1
· · · det[u, v, w] = 0 ⇔ det[u, v, w] = 0
||u|| ||v|| ||w||
Proposição 3.5. Sejam três retas projetivas distintas rη , rθ , rν ∈ RP2∗ . Tem-se que as retas
rη , rθ , rν são concorrentes se, e somente se, det[η, θ, ν] = 0.
hη × θ, νi = 0 ⇔ hv, νi = det[η, θ, ν] = 0.
O espaço vetorial R2 pode ser identificado com qualquer plano Euclidiano utilizando um sistema
de eixos cartesianos. Já no plano projetivo este pode ser identificado como uma parte deste, neste
contexto o espaço R2 será chamado de plano afim. Na geometria afim não são considerados grupos
de congruência, nem noções de origem, extensão ou ângulos. Ela ocupa lugar intermadiário entre
a geometria euclidiana e a geometria projetiva.
(x, y) ←→ (x, y, 1)
Sendo assim, para cada ponto (x, y, 1) ∈ π ⊂ R3 \ {O} determina um único ponto em RP2 , ou
seja, (x : y : 1).
76
Definição 3.5. Chama-se plano afim o conjunto AP2 = {(x : y : 1) ∈ RP2 ; (x, y, 1) ∈ R3 }.
Note que qualquer ponto v = (x : y : z) ∈ RP2 , com z 6= 0, está no plano afim, pois v = xz , yz , 1
disso, note que o plano afim é o plano projetivo sem a reta ideal I∞ .
Definição 3.6. Chama-se reta afim a interseção de uma reta projetiva com AP2 .
Assim, verifique que qualquer reta projetiva intercepta a reta ideal I∞ , num único ponto, logo
segue que uma reta afim é uma reta projetiva menos o seu ponto ideal.
O plano afim dual é o conjunto formado por retas afins, será denotado por AP2∗ e uma reta afim
será indicada tanto por η ∈ AP2∗ , quanto por rη ⊂ AP2 , em que (η1 , η2 , η3 ) com η3 6= 0. Assim, o
plano afim dual pode ser identificado com o plano projetivo menos o ponto η = (0 : 0 : 1).
Perceba que, uma reta euclidiana l ∈ R2 fica determinada por um vetor normal n = (η1 , η2 ),
não nulo, e por um ponto no qual ela incide, p = (p1 , p2 ) ∈ l. Assim, a equação linear que define a
reta será:
l : η1 x + η2 y + η3 = 0,
em que o valor da constante η3 depende do vetor normal n e do ponto p. Para identificar o plano
R2 com a plano π ⊂ R2 , em termos de equação, π : z = 1, faz-se necessário identificar
Dessa forma, a reta l fica definida como uma reta s contida naquele plano horizontal.
Por outro lado, uma reta em R3 fica determinada pela intersecão de dois planos em R3 , neste
caso, um plano vertical (perpendicular ao plano z = 0) e outro plano horizontal, a saber
η1 x + η2 y + η3 = 0
s:
z−1=0
Mas existem infinitos planos que interceptados pelo plano π : z = 1 determinam a mesma reta
s, mas entre tantos planos é preferı́vel àqueles que contém a origem, mais precisamente o plano
Γη : η1 x + η2 y + η3 z = 0, em que η = (η1 , η2 , η3 ) um vetor normal ao plano.
Agora perceba que sendo l, l0 ∈ R2 retas paralelas, mas não coincidentes, tem-se que suas
equações assumem a forma,
l : η1 x + η2 y + η3 = 0
77
l0 : η1 x + η2 y + η30 = 0,
com η3 6= η30 . As retas afins determinadas por elas são, respectivamente, η = (η1 , η2 , η3 ) e ν =
(η1 , η2 , η30 ), elementos de AP2∗ . Para calcular o ponto de interseção das retas afins, deve-se utilizar
o método estabelecido para o cálculo de interseções de retas projetivas, ou seja,
Mas perceba que este ponto é um ponto ideal que não pertence ao plano afim. Assim, retas
euclidianas paralelas determinam retas afins que também não se interceptam na plano afim e, dessa
forma, o ponto p é o chamado ponto de fuga o qual, aparentemente, retas paralelas se encontram.
3.2 Projetividades
3.2.1 Colineações
Definição 3.7. Uma colineação é uma aplicação bijetiva ψ : RP2 −→ RP2 que preserva colineari-
dade.
Segundo esta definição se u, v e w são pontos projetivos colineares, então as imagens ψ(u), ψ(v) e ψ(w)
são também pontos projetivos colineares. Veja na proposição que segue, que uma colineação é in-
duzida por um operador linear em R3 .
Demonstração. Seja v ∈ RP2 , logo v 6= (0, 0, 0). E sendo A invertı́vel segue que A(v) 6= (0, 0, 0).
Logo, o elemento A(v) ∈ RP2 está bem definido.
Seja agora v, u ∈ R3 , tais que v = u. Sendo assim, existe um número real λ 6= 0 tal que u = λv,
logo levando em conta que A é um operador linear em R3 , tem-se
78
Perceba ainda que
A(v) = A(u) ⇒ A(v) = A(u) ⇒
A(v − λu) = 0 ⇒ v = λu ⇒ v = u.
Além disso, dado u ∈ R3 \ O, tem-se que existe v ∈ R3 \ O tal que u = A(v), logo u = A(v) =
A(v). Assim, para todo u ∈ RP2 existe v ∈ RP2 tal que u = A(v). Portanto, segue que a aplicação
A é injetiva e sobrejetiva.
E por fim para mostrar que A é uma colineação, suponha que u, v e w são pontos projetivos
colineares. Pelo critério de colinealidade, visto na Proposição (3.4), tem-se que det[u, v, w] = 0,
logo
det[A(u), A(v), A(w)] = det[[A][u, v, w]] = det[A]det[u, v, w] = 0.
Segue então que os pontos projetivos A(u), A(v) e A(w) são colineares. E assim, aplicação A é uma
colinearidade.
Perceba ainda que o operador inverso de um operador linear invertı́vel é também um operador
linear invertı́vel. E também perceba que a composição de operadores lineares invertı́veis também
é um operador linear invertı́vel. Diante disto, pode-se dizer que a inversa de colineação é uma
colineação e a composta de colineações é uma colineação. Além disso, se A é um operador linear
invertı́vel em R3 e u, v ∈ R3 \ O, tem-se que A(u) = v se, e somente se, A−1 (v) = u, logo
−1
A(u) = v ⇔ A (v) = u.
79
v e A(e3 ) = w, a matriz canônica do operador linear é a matriz [A] = [u, v, w]. Quando o conjunto
{u, v, w} forma uma base de R3 , o operador linear A é invertı́vel. A construção de colineações
procede-se da mesma forma, porém com um grau de liberdade menor, pois é necessário prefixar o
valor da colineação em quatro pontos projetivos, três a três não colineares. Veja na proposição que
segue.
Proposição 3.7. Sejam u, v, w e t pontos de RP2 não colineares três a três. Então existe uma
colineação A : RP2 −→ RP2 induzida por um operador linear invertı́vel A : R3 −→ R3 , tal que
Mais ainda o operador linear é definido pela matriz [A] = [k1 u, k2 v, k3 w], onde k1 6= 0, k2 6= 0 e k3 6=
0 são as constantes
det[t, v, u] det[u, t, w] det[u, v, t]
k1 = , k2 = , k3 =
det[u, v, w] det[u, v, w] det[u, v, w]
Além disso, se um outro operador linear invertı́vel B : R3 −→ R3 define a mesma colineação que
A, então B(x) = A(x) para todo x ∈ RP2 , ou seja, B ≡ λA.
Lembre que para qualquer p ∈ RP2 vale a igualdade p = kp, sendo um escalar k 6= 0. Logo, a
fim de cumprir a exigência que A(e1 ) = u, A(e2 ) = v, A(e3 ) = w, tem-se,
A(e1 ) = (k1 u1 , k1 u2 , k1 u3 )
A(e2 ) = (k2 v1 , k2 v2 , k2 v3 )
A(e3 ) = (k3 w1 , k3 w2 , k3 w3 )
Para determinar o valor dos ki s, põe-se A(1, 1, 1) = (t1 : t2 : t3 ). Dessa forma, a condição
A(1, 1, 1) = (t1 , t2 , t3 ) leva ao sistema de equações lineares expresso na forma matricial da seguinte
80
forma,
t1 k1 u1 k2 v1 k 3 v1 1
t2 = k1 u2 k2 v2 k 3 w2 1
t3 k1 u3 k2 v3 k 3 w3 1
u1 v1 w1 k1
= u2 v2 w2 k2 ,
u3 v3 w3 k3
e como det[u, v, w] 6= 0, o sistema possui única solução e pela regra de Cramer obtem-se os
valores k1 , k2 , k3 como no enunciado.
Agora veja que se B(x) = A(x) para todo x ∈ RP2 , então B(x) = λA(x), λ 6= 0. Assim,
[B] = λ[A] e então B ≡ λA para algum escalar λ 6= 0.
0
Proposição 3.8. Sejam dois conjuntos de pontos projetivos {u, v, w, t}, {u0 , v 0 , w0 , t } tais que
três pontos quaisquer de cada um dos conjuntos não são colineares. Então existe uma colineação
A : RP2 −→ RP2 induzuda por um operador linear invertı́vel A : R3 −→ R3 , tal que
0
A(u) = u0 , A(v) = v 0 , A(w) = w0 , A(t) = t .
Além disso, se um outro operador linear invertı́vel B : R3 −→ R3 define a mesma colineação que
A então B ≡ λA para algum escalar λ 6= 0.
Demonstração. Veja que é possı́vel construir colineações C : RP2 −→ RP2 e D : RP2 −→ RP2 tais
que,
Agora, como a inversa de uma colineação é uma colineação e a composta de duas colineações é
−1
também uma colineação, então a aplicação D ◦ C é a colineação procurada.
Foi mostrado que um operador linear invertı́vel em R3 induz uma colineação. A recı́proca
deste fato também é verdadeira e constitui o Teorema Fundamental da Geometria Projetiva. Para
mostra-ló será necessário dois lemas, o primeiro afirma que o único automorfismo do corpo dos
Reais é a aplicação identidade, já o segundo classifica todas as funções do R2 nele próprio que
aplica retas em retas.
81
Lema 3.1. Seja f : R −→ R é uma aplicação não identicamente nula, tal que para quaisquer x e
y reais valem as igualdades:
a) f (x + y) = f (x) + f (y)
Então, f (x) = x.
1a Observação Note que f (a) = 0 se, e somente se, a = 0. Com efeito, as igualdades f (0) =
f (0 + 0) = f (0) + f (0) implicam que f (0) = 0. Suponha, por absurdo, que exista a 6= 0 tal que
f (a) = 0. Então
x x x
f (x) = f a = f (a)f = 0f = 0.
a a a
Isto significa que f é identicamente nula, uma contradição.
3a Observação Afirma-se que f (1) = 1. De fato, para qualquer x real tem-se que f (x) =
f (1x) = f (1)f (x), portanto, f (x)(f (1) − 1) = 0. Como f não é identicamente nula, existe x0 tal
que f (x0 ) 6= 0. Logo, f (1) = 1.
4a Observação Naturalmente, f (x2 ) = [f (x)]2 para quaisquer x, pois f (x2 ) = f (xx) = f (x)f (x).
Fixe x real. Para n = 0 a afirmação é verdadeira pelas observações iniciais. Assuma que a
afirmação é veraddeira para n > 0. Veja que
Para n < 0 utilize o fato da função ser ı́mpar, f (nx) = f ((−n)(−x)) = −nf (−x) = (−n)(−f (x)) =
nf (x). O que completa a demosntração desta afirmação.
82
n
Afirmação 2 Para quaisquer r = m, com n ∈ N e m ∈ N∗ e ainda x ∈ R, tem-se que
n n
f mx = m f (x).
n n m
Afirmação 3 f m = m para todo racional n.
Veja,
n n n n
f =f 1 = f (1) =
m m m m
.
Afirmação 4 f preserva a ordem, isto é, x < y então f (x) < f (y).
Seja x > 0. Como existe a > 0 tal que a2 = x, tem-se que f (x) = f (a2 ) = [f (a)]2 > 0. Assim,
se x < y, então 0 < y − x. Pelo visto, 0 < f (y − x) = f (y) − f (x) e então, f (x) < f (y).
Para concluir a demonstração do lema, suponha que exista x0 tal que f (x0 ) 6= x0 . Sem perda
de generalidade assuma f (x0 ) < x0 . Saba-se que dados dois números reais distintos, existe um
racional entre eles. Assim, escolha a racional tal que f (x0 ) < a < x0 . Como f preserva a ordem
e a é racional, tem-se que a = f (a) < f (x0 ), uma contradição. Logo, f (x) = x para qualquer x
real.
Lema 3.2. Seja B uma função biunı́voca tal que B : R2 −→ R2 , com B(O) = O. Se B aplica retas
euclidianas em retas euclidianas então B é um operador linear invertı́vel.
Demonstração. O termo ”aplica retas em retas”significa que a imagem de uma reta Euclidiana está
contida numa reta Euclidiana.
Assim, sejam l1 e k retas tais que B(l1 ) ⊂ k. Suponha, por absurdo, que exista um ponto q ∈ k,
mas q ∈/B(l1 ). Neste caso, como B é biunı́voca existe um único ponto q0 tal que B(q0 ) = q. É
claro que q0 ∈/l1 . Seja l2 uma reta que contém q0 e é perpendicular a l1 em q1 ∈ l1 . Como B
aplica retas em retas e B(q0 ), B(q1 ) ∈ k estão em B(l2 ) ⊂ k. Agora, dado um ponto qualquer p
de R2 , ele pertence a uma reta l que intercepta l1 ∪ l2 em pelo menos dois pontos, chamados de p1
e p2 . Novamente, como B(p1 ), B(p2 ) ∈ k segue que B(l) ⊂ k. Isto mostra que B(R2 ) ⊂ k. Uma
contradição, pois B é sobrejetiva. Portanto, só existe a reta l1 tal que B(l1 ) = k.
83
Seja agora, l1 e l2 retas paralelas. Pelo que foi visto, suas imagens B(l1 ) e B(l2 ) são retas
distintas. Suponha, por absurdo, que exista um ponto de interseção p ∈ B(l1 ) ∩ B(l2 ). Sendo
assim, a pré-imagem B −1 (p) tem pelo menos dois pontos, um em cada reta paralela, contradizendo
a hipótese de B ser biunı́voca. Portanto, imagens por B de quaisquer duas retas paralelas são duas
retas paralelas.
A hipótese de ser uma base implica que v e w não são nulos e não colineares. Sejam l1 e l2 as
retas distintas que concorrem na origem e tais que v ∈ l1 e w ∈ l2 . Sendo assim, {v + w} = l10 ∩ l20 ,
em que l10 é a reta que passa por w e é paralela à reta l1 , enquanto l20 é a reta que passa por v e é
paralela à l2 . Veja ainda que, B(O), B(v) ∈ k1 = B(l1 ) e B(O), B(w) ∈ k2 = B(l2 ).
Como k1 e k2 são retas distintas, tem-se que β = {B(v), B(w)} é uma base de R2 , pois nenhum
vetor é nulo e são não colineares. Agora, as retas k10 = B(l10 ) e k20 = B(l20 ) são retas que passam,
respectivamente, por B(w) e B(v) e são paralelas, respectivamente, a k1 e k2 . É claro {B(v) +
B(w)} = k10 ∩ k20 . Por outro lado, {B(v + w)} = B(l10 ∩ l20 ) = k10 ∩ k20 , portanto, B(v + w) =
B(v) + B(w).
Para mostrar que f é biunı́voca suponha, por contradição, que f (x0 ) = f (x00 ) para x0 6= x00 ou
que não exista x ∈ R tal que f (x) = x0 para algum x0 ∈ R. Sendo assim, teria-se respectivamente
C(x0 , y) = C(x00 , y) para (x0 , y) 6= (x00 , y) ou não existiria (x, y) ∈ R2 tal que C(x, y) = (x0 , y)
para algum (x0 , y) ∈ R2 . Contradições, pois C é uma aplicação biunı́voca. A demosntração que
84
g é biunı́voca é similar. Além disso, como C(O) = O, C(e1 ) = e1 e C(e2 ) = e2 tem-se que
f (0) = g(0) = 0, f (1) = 1 e g(1) = 1. Isto conclui a demonstração da afirmação.
Afirmação 3 As funções coordenadas de C(x, y) = (f (x), f (y)) são aditivas, ou seja, f (x1 +
x2 ) = f (x1 ) + f (x2 ) e g(y1 + y2 ) = g(y1 ) + g(y2 ).
Assim pelo visto, f (x) = x = g(x). Logo, C(x, y) = (f (x), g(y)) = (x, y), encerrando a
demonstração do Lema.
Teorema 3.1 (Teorema Fundamental da Geometria Projetiva). Toda colineação ψ : RP2 −→ RP2
é induzida por um operador linear invertı́vel A : R2 −→ R2 .
Demonstração. Seja ψ : RP2 −→ RP2 uma colineação. Sem preda de generalidade, assuma que
ψ preserva a reta ideal I∞ e fixa o ponto (0 : 0 : 1). Caso isso não ocorra, considere os pontos
projetivos não colineares três a três,
e construa a colineação D : RP2 −→ RP2 induzida por um operador linear do R3 tal que
85
Logo, a composta D ◦ ψ : RP2 −→ RP2 é uma colineação que fixa o ponto (0 : 0 : 1) e preserva
a reta ideal, pois fixa dois de seus pontos, quais sejam (1 : 0 : 0), (0 : 1 : 0).
Suponha que a colineação ψ está sob as condições descritas acima. Sendo assim, ψ aplica
biunı́vocamente o plano afim no plano afim. Isto permite definir uma aplicação B : R2 −→ R2 via
identificação afim, estabelecendo que
Como ψ é uma aplicação biunı́voca do plano afim que aplica retas afins em retas afins, a
identificação afim aplica retas Euclidianas em R2 em retas afins e como (B(0, 0) : 1) = ψ(0 : 0 :
1) = (0 : 0 : 1) é imediato concluir que B aplica retas Euclidianas em retas Euclidianas, é biunı́voca
e fixa a origem O ∈ R2 .
3.2.2 Correlações
Seja uma aplicação bijetiva entre os planos projetivos ρ : RP2 −→ RP2∗ , possuindo a propriedade
de colinearidade dual, ou seja, se u, v ew são três pontos projetivos colineares então ρ(u) = η, ρ(v) =
µ e ρ(w) = ν são retas projetivas concorrentes. Tais aplicações e suas inversas são chamadas de
correlações.
86
Demonstração. A colinealidade e a concorrência estão relacionados por
Pelo Teorema Fundamental da Geometria Projetiva, cada correlação é induzida por um operador
linear invertı́vel de R3 e este operador é único a menos de uma multiplicação por um escalar diferente
de zero. Assim, dado um operador linear invertı́vel A : R3 −→ R3 , a correlação induzida por A é a
aplicação:
A∗ : RP2 −→ RP2∗ , A∗ (v) = A(v).
Recorde ainda que A∗ (v) e rA∗ (v) tem o mesmo significado, indicam a m esma reta projetiva. Por
outro lado, a inversa da correlação induzida por A é a correlação induzida pelo operador A−1 , ou
seja,
A∗ : RP2∗ −→ RP2 , A∗ (η) = A−1 (η).
Definição 3.9. Uma aplicação polar é uma correlação simétrica A∗ : RP2 −→ RP2∗ , e uma
aplicação pólo é uma correlação simétrica A∗ : RP2∗ −→ RP2 .
Uma propriedade relevante de operadores simétricos invertı́veis é que seu operador inverso
também é simétrico e [A−1 ]t = [A−1 ]. Assim, a inversa de uma polaridade é uma polaridade e ao se
definir uma polaridade induzida por um operador A fica subentendido que são as duas aplicações,
polar e pólo.
87
Demonstração. Segundo a equações de incidência
t
hA−1 (η), A(v)i = hη, A−1 ◦ A(v)i = hη, A−1 ◦ A(v)i = hη, vi = hv, ηi.
Definição 3.10. Quando v ∈ rA∗ (v) diz-se que o ponto projetivo v é autoconjugado, ou seja,
hv, A(v)i = 0. Em outras palavras v pertence ao seu polar.
Definição 3.11. Quando A∗ (η) ∈ rη diz-se que a reta projetiva η é autoconjugada, ou seja,
hA−1 (η), ηi = 0. Dito de outra forma a reta projetiva incide em seu pólo.
Proposição 3.12. Uma reta projetiva rη contém no máximo dois pontos autoconjugados associados
a uma aplicação polar A∗ : RP2 −→ RP2∗ .
Demonstração. Sejam v e w dois pontos autoconjugados e distintos sobre a reta rη . Assim, sendo
rA∗ (v) e rA∗ (w) são retas distintas e qualquer ponto do plano Γη ⊂ R3 é uma combinação linear dos
dois vetores v e w. Portanto, os pontos da reta projetiva rη são expressos na forma u = sv + tw,
em que s e t são números reais não nulos simultaneamente. Pela equação de autoconjugação tem-
se que hv, A(v)i = 0 = hw, A(w)i. Suponha, por absurdo, que u0 = s0 v + t0 w seja um ponto
autoconjugado em rη . Assim, pela bilinearidade do produto interno e a simetria, A = At ,
0 = hu0 , A(u0 )i
Como s0 6= 0 e t0 6= 0 então, hv, A(w)i = 0, significando que v ∈ rA∗ (w) , mas v é autoconjugado,
então v ∈ rA∗ (v) , logo
v ∈ rA∗ (w) ∩ rA∗ (v) .
Pelo fato de A ser simétrica tem-se também que hw, A(v)i = 0, significando que w ∈ rA∗ (v) . E
assim, novamente pela autoconjugação,
Mas duas retas projetivas incidem em um único ponto. Logo, v = w, uma contradição, já que
assumiu-se que estes pontos eram distintos. Portanto, não existe um terceiro autoconjugado na
reta projetiva rη .
88
3.3 Cônicas em RP2
Uma cônica em R2 é uma curva obtida pelo transporte, via identificação afim, da interseção
de um cone e o plano horizontal Γe3 : z = 1. A projeção de um cone (menos o seu vértice, que
neste caso será sempre origem O), no plano projetivo é uma curva C denominada cônica em RP2 .
Entenda melhor pelas figuras (3.2), (3.3) e (3.4).
x2 y2 z2
Note que a equação de um cone é dado por C : a2
+ b2
− c2
= 0, tal que os parâmetros a, b e c
a b
são todos positivos e as razões c e c destes parâmteros são as inclinações da geratriz deste cone
com os planos x = 0 e y = 0.
C : hv, A(v)i = 0.
é chamado de quádrica.
89
Figura 3.3: Parábola
90
Esta equação polinomial associa-se a um operador linear simétrico A : R3 −→ R3 , tal que
O Teorema Espectral para Operadores Simétricos, afirma que todo operador simétrico possui
uma base ortonormal de autovetores, ou seja, que matriz do operador é diagonalizável 3 . Sendo
assim, para que o operador linear simétrico seja invertı́vel, tem-se necessariamnete que seus autova-
lores sejam todos não nulos. Além disso, em Álgebra Linear diz-se que um operador simétrico com
todos os autovalores positivos é dito positivo e vale a condição hv, A(v)i > 0 para todo vetor não
nulo v. Neste caso, o operador linear simétrico produz uma quádrica (degenerada) que se reduz
a um ponto, a origem. Caso parecido ocorre com um operador linear com todos os autovalores
negativos, vale a inequação hv, A(v)i < 0 para todo v 6= O. E também para este caso a quádrica
correspondente reduz-se a um ponto 4 .
Assim, a fim de não cair não situações descritas acima, é interessante a partir de agora, consi-
derar as quádricas provinientes de operadores lineares A de R3 que satisfaz as seguintes condições:
• Simétricos;
O conjunto solução CA em R3 da quádrica cujo operador linear associado está sob as condições
acima é chamado de cone em R3 . E assim, o cone associado a matriz A, utilizando a condição de
incidência entre ponto e reta, será:
Portanto, a projeção ψ : R3 \ {o} −→ RP2 , ψ(v) = v, aplica o cone CA (menos sua origem)
numa curva sobre o plano projetivo, chamada de cônica projetiva, ou simplemente, cônica.
3
ver em AR06 p. 226
4
ver BARBOZA, D. F.; MELO, W G. Álgebra Linear II. CESAD-UFS. Aracaju: 2011.
91
A interseção do cone CA com o plano Γe3 , produz os três tipos de curvas em R2 , via identificação
afim, chamadas de cônicas: elipse, parábola e hipérbole.
Numa definição mais técnica, uma cônica CA é o conjunto do pontos projetivos autoconjugados
em relação a aplicação polar A∗ : RP2 −→ RP2∗ . Dito de outra forma, a cônica é o conjunto de
pontos que satisfazem a condição v ∈ rA∗ (v) , isto é,
Observe que o conjunto CA não depende do representante do ponto projetivo tomado, pois se
hv, A∗ (v)i = 0 e λ 6= 0 então hλv, A(λv)i = λ2 hv, A∗ (v)i = 0.
E dessa forma, uma cônica pode ser classificada a depender da sua interseção com a reta ideal,
veja novamente as figuras (3.2), (3.3) e (3.4). Diz-se, assim que uma cônica CA é:
Estas são as três possibilidades para a interseção coma reta ideal pois, segundo a Proposição
(3.12) uma reta projetiva possui no máximo dois pontos autoconjugados.
Verifique que o determinante da matriz é diferente de zero. Assim, pode-se então garantir que
[A] define uma correlação A∗ : RP2 −→ RP2∗ ,
A∗ (x : y : z) = (x − y + 3z : −x + y + 5z : 3x + 5y − 2z).
. Além disso, os autovalores de A são distintos de zero e não tem o mesmo sinal. Assim, o conjunto
no qual hv, A(v)i = 0 não é vazio. Logo, da condição hv, A(v)i = 0 tem-se a equação homogênea
x2 − 2xy + y 2 = (x − y)2 = 0.
92
Portanto o ponto ideal v = (x : y : 0) pertence a CA se, e somente se, x = y, ou seja, C ∩ I∞ =
{(1 : 1 : 0)}. Logo, existe pelo menos um ponto autoconjugado e assim, CA é uma parábola.
Dito isso, deseja-se saber quais os pontos do (x, y) ∈ R2 que através de indentificação afim
pertence a cônica? Para responder a esta pergunta, considere o ponto v = (x : y : 1) ∈ RP2 e exiga
que este pertença à cônica CA , isto é, que suas coordenadas satisfaçam à equação de incidência.
Assim, obtem-se a parábola em R2 ,
CA : x2 − 2xy + 6x + y 2 + 10y − 2 = 0.
A∗ (x : y : z) = (3x + y : x − y : −z)
. Além disso, seus autovalores são distintos de zero e não possuem o mesmo sinal, garantindo que
o conjunto hv, A(v)i = 0 não é vazio. Logo, de hv, A(v)i = 0 tem-se a equação homogênea
CA : 3x2 − y 2 + 2xy − z 2 = 0.
Logo C ∩ I∞ = {(1 : −1 : 0), (1 : 3 : 0)} e então, C é hipérbole. E fazendo a identificação afim destes
pontos, tem-se a equação da hipérbole em R2 ,
CA : 3x2 − y 2 + 2xy − 1 = 0.
A Geometria Projetiva começou a ganhar vida a partir do século XV, quando os artistas do
Renascimento encontraram dificuldades em dar aos seus quadros uma aprarência naturalista, tal
93
qual a visão humana. Um dos que foram decisivos para a consolidação deste ramo da Matemática foi
o matemático, fı́sico, inventor, filósofo e teólogo católico Blaise Pascal (1623-1662). Além disso, ele
contribuiu fortemente para a criação da teoria das probabilidades. Em Fı́sica, estudou a mecânica
dos fluı́dos, e esclareceu conceitos sobre pressão e vácuo. Foi ainda o criador de uma das primeiras
calculadoras e de estudos sobre o método cientı́fico. Aos 16 anos encontrou alguns dos invariantes
projetivos (incidências e colinearidades) entre diferentes objetos da Geometria Projetiva, fato que
ficou conhecido como o celebre Teorema de Pascal ou Teorema do Hexagrama Mı́stico. Um artifı́cio
corriqueiro na Geometria Projetiva está em encontrar uma figura mais simples que a original e
homóloga a ela, estudar as suas propriedades que são invariantes por projeções e seções e assim
obter propriedades da figura original, veja a figura (3.5). Para mostar o Teorema de Pascal será
usado teoremas da Geometria Euclidiana e o Teorema de Menelaus. Veja, então a seguir o Teorema
de Menelaus que será usado como resultado para a demonstração Teorema de Pascal.
Teorema 3.2 (Teorema de Menelaus). Seja um triângulo ABC, e uma reta transversal que corta
os lados AC, BC e AB, ou o seus prolongamentos, nos pontos E, D e F , respectivamente. Então
BF AE CD
· · = 1.
AF EC DB
Inversamente, se E, D e F são pontos sobre os lados AC, BC e AB do triângulo ABC tais que
BF AE CD
· · = 1.
AF EC DB
94
Então, E, D e F são colineares.
A demonstração deste Teorema está em [12] (p. 70-73). Assim, agora para a demonstração do
Teorema de Pascal, primeiro veja nas figuras (3.6) e (3.7) a ilustração deste resultado na elipse e
na hipérbole. No entanto, a demonstração seguira para hexágonos inscritos em uma circunferência,
uma vez que, se o Teorema for verdadeiro para hexágonos inscritos em cı́rculos e como as cônicas
são projeções de cı́rculos, então o resultado será válido para hexágonos inscritos em cônicas 5 .
5
GARBI, G. G. A rainha das ciências: um passeio histórico pelo maravilhoso mundo da Matemática. São Paulo:
Editora Livraria da Fı́sica, 2006.
95
Teorema 3.3 (Hexágrama Mı́stico de Pascal). Seja ABCDEF um hexágono inscrito em uma
cônica, então os pontos de interseção dos três pares de lados opostos, ou de seus prolongamentos,
são colineares e reciprocamente.
Considere, agora a reta CP que intersecta as retas dos lados do triângulo XY Z, conforme a
figura (3.8). Pelo Teorema de Menelaus, pode-se escrever:
XP ZC Y B
· · = 1. (3.1)
P Z CY BX
De maneira análoga, considere a reta DR que intersecta as retas de lados do triângulo XY Z, como
na figura (3.9). Aplicando novamente o Teorema de Menelaus, tem-se que
ZD Y R XE
· · = 1. (3.2)
DY RX EZ
Finalmete, a reta AQ que intersecta as retas dos lados do triângulo XY Z, como na figura (3.10).
E assim , mais uma vez pelo Teorema de Menelaus, obtem-se,
ZQ Y A XF
· · = 1. (3.3)
QY AX F Z
96
Figura 3.9: Reta DR
97
Lembrando das propriedades métricas na circunferência, tem-se as igualdades
XA · XB = XF · XE
YB·YA=YC ·YD
ZD · ZC = ZE · ZF,
as multiplicações acima ficam reduzidas,
XP Y R ZQ
· · .
ZP RX QY
E assim, finalmente, está última equação satisfaz o Teorema de Menelaus para o triângulo XY Z,
logo P , R e Q são colineares.
Na geometria projetiva existe uma ideia especulativa chamada de princı́pio de dualidade que sig-
nifica que todo enunciado as palavras ponto e reta podem ser trocadas (com as devidas adaptações)
dando origem a novos resultados. Por exemplo, tanto na Geometria Projetiva, quanto de Geometria
Euclidiana tem-se que dois pontos distintos quaisquer determinam uma única reta, pelo princı́pio
de dualidade este resultado propõe que quaisquer duas retas distintas determinam um único ponto,
fato válido na Geometria Projetiva. Perceba que, pelo que foi visto na seção sobre plano proje-
tivo RP2 , as coordendas homogêneas de um ponto representa uma reta que o liga à origem, logo
entende-se que daı́ se origina tal princı́pio.
Na segunda parte os três pontos de interseção dos pares de lados opostos, passam a ser as três
retas de interseção dos pares de vértices (pontos) opostos, ou seja, os três diagonais que ligam
os vértices opostos. E por fim, tem-se que os pontos são colineares, passam a ser as retas são
concorrentes.
Teorema 3.4 (Teorema de Brianchon). As diagonais determinadas por pares de lados opsotos
de vértices de um hexágono circunscrito a uma cônica são concorrentes em um ponto (ponto de
Brianchon).
98
Demonstração. Sejam U , V , W , U 0 , V 0 , W 0 os pontos de tangência do hexágono ABCDEF cir-
cunscrito à cônica. Por sua vez, estes pontos determinam um segundo hexágono U V W U 0 V 0 W 0
agora inscrito na cônica dual (constituı́da pelas retas de tangência à cônicas original), conforme a
figura (3.11).
Pelo Teorema de Pascal, existe uma única reta (a reta de Pascal) que incide sobre os três pontos
de interseção dos pares de lados opostos do hexágono inscrito. No plano projetivo dual RP2∗ , estes
três pontos são as três diagonais que ligam os três pares de vértices opostos do hexágono circunscrito
e a reta de Pascal é o ponto onde estas três diagonais concorrem.
99
Referências Bibliográficas
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MAT, 2a Edição. Rio de Janeiro: Editora da Sociedade Brasileira de Matemática, 2017.
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fissional em Matemática em Rede Nacional, Universidade Federal de Santa Catarina. Santa
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Castro. Vol 2. 6a Edição. São Paulo: Editora Cengage Learning, 2011.
[9] BARBOSA, J. L. M. Geometria Euclidiana Plana. Rio de Janeiro: Editora SBM, 2005.
[10] WAGNER, Eduardo. Construções Geométricas. Rio de Janeiro: Editora SBM, 2007.
100
[11] HEFEZ, Abramo; FERNANDEZ, Cecı́lia S. Introdução à Álgebra Linear. Coleção
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[12] GONÇALVES, T. S.. Uma Introdução à Geometria Projetiva para o Ensino fun-
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101