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INTRODUÇÃO

Este texto trata-se de um itinerário espiritual descrito tanto na perspectiva do movimento


divino quanto na perspectiva da vida prática cotidiana, que lança um olhar particular no
caminho a ser percorrido pelo cristão, que possui iniciação com o sacramento e ritual do
batismo, atravessa o processo de conversão e maturidade progressiva, e culmina na sua
completude da vida.
A ênfase está na compreensão situacional da apresentação dos principais fatos do
cotidiano e as manifestações espirituais que marcaram a minha história, na tentativa de
desvendar o mistério da minha via particular de conversão que é a penitencia e a oração, revelo
experiências místicas que envolvem a vida cristã e todo o seu percurso, com os desafios próprios
de cada etapa, as crises, as paradas e as lentidões, que conduziu meu processo de crescimento
e amadurecimento humano, afetivo e espiritual.
Em todo esse Itinerário Espiritual é freqüente e inevitável o exercício constante e a busca
de profundidade na vida de oração, que ditou o meu ritmo, me conduziu ao planejamento das
metas interiores e ao avanço nos graus da vida contemplativa. Nessa vereda longa e muitas
vezes difícil de compreender, houve ascese e penitencias voluntária e involuntária, as quais eu
chamo de cruz, escolhidas pela divina providencia que me impulsionaram ao “êxodo” pessoal.
Assim, o texto narrativo esta organizado de forma cronológica, e elencam os principais
fatos da minha vida cotidiana em experiências com o sagrado, suas revelações e as
manifestações de Deus. As memórias de fé, de esperança e de amor nas experiências práticas
vividas ao longo dos trinta anos na espiritualidade da Renovação Carismática Católica - RCC
de Salvador. Apresento aspectos de lembranças da vida em família, comunidades e grupos de
oração, em que as experiências pessoais com o sagrado e o processo de socialização obtiveram
respaldo nos carismas e dons do Espírito Santo de Deus.
O trabalho (auto) etnográfico qualitativo e descritivo do texto autobiográfico e a
observação direta participante estão presentes no texto, o método de pesquisa foram os diários
espirituais escritos durante todo o percurso espiritual, que revelam meu processo de
subjetividade e autoconhecimento contínuos numa caminhada interior e atitude pessoal de
descoberta e intimidade com Deus.

1 Origem, Batismo e Infância.


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Nasci numa família de origem muito simples meus avos maternos a história de amor
deles é bem interessante, minha mãe contou que meu avo roubou Estelita da casa dos pais e
constituiu família levando-a para morar em Salinas das Margaridas. Durante sua convivência e
relacionamento tiveram dezoito filhos, a minha mãe é a caçula. Vôvo Epifanio tinha um sitio
em Salinas das Margaridas, no qual trabalhava com plantação na roça e pesca na maré, e minha
vóvo Estelita (figura 1) era dona de casa, trabalhava na cozinha fazia beiju para vender,
costurava redes e fazia artesanato de rendas. Mãe conta que eles se gostaram muito e se davam
muito bem, morreram velhos. Meu avô ficou paralitico e dizia antes de morrer que viria buscar
minha avó quando partisse para o céu, e nisso minha avó faleceu logo após a morte dele.
Meus avos paternos João e Antonia não viveram na mesma harmonia, que os maternos,
pois meu avó João alem de cometer violência domestica grave em minha avó, colocou os filhos
pra fora de casa bem jovens, pois minha avó ficou com problemas neurológicos devido as
agressões sofridas. Alem disso meu avô João era racista e não aceitava a escolha do meu pai
em casar com minha mãe. Cresci ouvindo esse conflito que se tornou alvo de muitas brigas,
ressentimentos e hostilidade entre as famílias.
Meus pais se conheceram, se apaixonaram e aos dezessete anos minha mãe casou-se
com ele grávida, embora não quisesse, por achar que ele mudou a forma de se relacionar com
ela, após o nascimento da primeira filha, mas atendeu ao pedido do meu avô que estava
adoentado e disse que queria morrer com pelo menos uma filha casada legalmente. Dessa união
nasceram doze filhos (sete mulheres e quatro homens), morreram três, um de aborto espontâneo
devido a uma rubéola, mais não deu para saber o sexo durante a gestação e dois nasceram
mortos prematuramente, sendo que todos os partos foram realizados por parteiras em no
município de Salinas, com exceção do meu que foi numa maternidade em Salvador.
Eu nasci quando minha mãe tinha trinta e quatro anos, às dez horas da manhã de parto
natural na maternidade Sagrada Família na cidade baixa em Salvador em 1974, portanto sou a
caçula de uma prole numerosa. A minha mãe perdeu a minha avó aos vinte e seis anos grávida
de minha irmã Selma. Sempre trabalhou muito, pois tinha uma vida difícil, como marisqueira,
cozinheira e ao vir morar em salvador no bairro de Brotas, aprendeu a fazer acarajé (figura 2),
ensinada por minha tia Iracir (figura 1) tornou-se baiana de acarajé.
Embora católica batizada e crismada, devido à influência de familiares ela passou a
freqüentar candomblé, a participar das festas religiosas e rituais numa casa de umbanda em
Brotas, a ponto de orientada por minha tia Iraci, mesmo a contra a sua vontade, colocou como

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minha madrinha de batismo infelizmente foi Nieta uma dona de candomblé, que minha mãe
colocou a pedido da minha tia Iracir, para agradecer favores feitos a família ao chegar a cidade
por volta do meado dos anos setenta.
O meu pai Claudemiro possuía porte robusto com um metro e oitenta, branco, altivo e
bem comunicativo possuía a personalidade forte, aprendeu a ler e escrever sem ir à escola, o
que mostrava ser muito determinado em seus objetivos. Cursou gastronomia e cozinha no Senac
e assumiu a profissão de cozinheiro (figura 3). Foi batizado na Igreja católica, contudo
freqüentava igrejas evangélicas e de outras denominações e ainda participou durante anos desse
candomblé, só desfez o laço quando passou a ser apenas evangélico, após a enfermidade do
glaucoma irreversível no inicio dos anos noventa e perder a visão total.
Muito resistente a consulta médica, a perda da visão foi um momento crucial em sua
vida, pois sabia da sua contribuição para o agravamento da doença. A intolerância se tornou
ainda mais visível ao freqüentar a igreja universal do reino de Deus e ser influenciado a retirar
de dentro de nossa residência as imagens que tinha da Igreja Católica e os objetos de culto
religioso do candomblé que minha mãe possuía, pois dizia que estava atrapalhando a sua cura.
Isso se tornou alvo de discussões e conflitos, a sua não aceitação da deficiência, o tornava ainda
mais agressivo para participar das campanhas promovidas pela igreja universal, em que doava
mensalmente quase todo a sua remuneração em troca de benefícios espirituais.
Então as influências espirituais eram muitas, o meu batismo na Igreja Católica ocorreu
aos dois anos de idade e meus pais me contaram que nessa mesma idade, apareceram vários
tumores em meu corpo que na época era chamado de furúnculo, precisamente na perna e no
braço, sendo necessária a internação imediata na qual a permanecia hospitalar durou cerca de
dois meses, devido à gravidade do caso. Após uma promessa do meu pai ao Senhor do Bom
fim no qual o pedido era a minha cura total, e tendo sido atendido, levou todos os filhos a missa
na Igreja da colina sagrada do Bom fim para cumprir a promessa. Restaurada a minha saúde,
ficou apenas a cicatriz em meu braço esquerdo, no qual foi feito o enxerto cirúrgico local.
Iniciei meus estudos aos sete anos numa escola pública próxima a minha casa e chorava
muito para não permanecer lá, quando não conseguia transcrever a lição do quadro para o
caderno, pois me achava muito lenta e por causa disso, despertava a impaciência das professoras
Osvaldina e Magnele, que me exortavam diante da turma e me tornava alvo de chacota dos
alunos, o que me fazia sentir agredida e não aceita no meu modo de ser, de acordo com
Durkheim apud Goffman (1985), “a personalidade humana é sagrada; ninguém pode violá-la
ou infligir seus limites, embora ao mesmo tempo, o maior bem consista na comunicação com

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os outros”. Minha saúde era muito frágil e constante minha ida ao médico para avaliações e
tratamentos, além disso, eu tinha a personalidade muito reservada, me abria para poucos e tinha
o temperamento bem explosivo, porém muito atenta a tudo que acontecia em torno de mim.
Tive poucos relacionamentos de amizade verdadeira na adolescência, mas que perduraram até
hoje, com muitas amigas entre elas destaco Vânia que me evangelizou e Ana Cristina, tínhamos
muitas afinidades como irmãs.
Eu possuía o aspecto físico bem franzino, alta e frágil (figura 4) e por isso fui alvo de
bullying entre parentes, familiares e colegas na escola, fato que me conduzia ao isolamento e
que de certa forma, me fez gastar mais tempo com o exercício da leitura e da escrita do que eu
gostaria ter gastado. Então de certa forma a leitura naquele período tinha se tornado um escape,
uma fuga, não por não gostar de ler, mas para me proteger.
Desde muito cedo me sentia atraída pelos livros, após o termino das aulas eu sempre ia
com algumas colegas para a sala de leitura, enquanto minha irmã mais velha voltava para casa,
minha mãe sempre me achou muito quieta, observadora e me diz isso até hoje que não sabe de
quem herdei o gosto pelos estudos. Minha infância foi muito saudável, eu era a menor que
participava de todas aquelas brincadeiras que passavam de geração a geração: garrafão,
pombinha branca, cantigas de roda, chicotinho queimado, carrinho de rolimãs, macaquinho
dentre outras que gerava socialização entre os filhos e pais dos meus vizinhos. Durante toda a
minha vida minha família sempre gostou de animais de estimação e tínhamos muitos gatos,
cachorros, periquitos, papagaio, coelho e até jabuti.

1.1 A paróquia São Gonçalo do retiro.

No decorrer da minha pré-adolescência e ginásio as leituras continuaram, eu era atraída


por histórias românticas como as de livros intitulados como Júlia, Bianca e vários livretos de
bolso da época. Eu e mais quatro meninas na época criamos um grupo de leitura em que
trocávamos livros e discutíamos os comportamentos dos personagens freqüentemente com
tanto entusiasmo que riamos de nós mesmos. Na escola sempre fui muito tímida na
apresentação de trabalhos diante da turma, então recebia criticas severas de algumas professoras
durante as apresentações. Isso me fez criar certo pânico ao me sentir observada e perceber os
olhares de ironia e desaprovação de alguns colegas durante as apresentações de trabalho no
colegial e em minha primeira graduação, chegando a sentir tremores, suor frio e sensação de
desmaio.

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Eram muitos os momentos de socialização em família, pois comemorávamos todos os
anos aniversários e datas especiais com festa, almoço, muita música e danças. Em algumas
delas podia perceber as praticas religiosas da cultura afrodescendente, misturada com as orações
católicas. Por exemplo, minha mãe dava caruru de sete meninos e me colocava entre os sete,
sempre era concluído com samba e cantiga de roda; ainda tinha trezena de santo Antonio
anualmente porque o meu irmão Edson Antonio, nós chamávamos de Edinho, tinha nascido no
dia de Santo Antonio de Pádua treze de junho, minha mãe só deixou de rezar após o falecimento
dele. Lembro-me que o altar era armado com caixotes de madeira que normalmente é utilizado
para transportar frutas e hortaliças, depois de limpos eram forrados de papel de presentes e
camurça, em formato de uma torre de babel, a imagem de Santo Antonio ficava no topo da
torre, convidávamos os vizinhos e parentes para cantar a trezena, minha irmã Nelma sempre se
emocionava com os cânticos, a casa ficava lotada de pessoas. Depois das orações e músicas
cantadas, servia o arroz doce, o bolo e o mugunzá aos convidados. Então, a imersão nesse
ambiente familiar religioso triplo e a mistura feita como o joio e o trigo me pareciam normais,
por causa da minha imaturidade e falta de conhecimento sobre religião.
O meu primeiro contato com a Renovação Carismática Católica ocorreu ainda o ginásio
numa escola pública, no bairro Beiru (nome de um escravo) onde morava, conheci Vânia no
final da década de oitenta éramos da mesma idade (13 anos) e estudávamos na mesma turma na
escola. Posso dizer que foi ela que me falou de Jesus Cristo, e falava de maneira tão próxima
que me despertou a curiosidade.
A partir desse contato freqüente comecei a perceber a diferença entre as três vertentes
religiosa que vivia a minha família e eu, pois ela explicou-me muito sobre a religião católica
sobre os sacramentos e sobre a missa. Como eu gostava de ler, o acesso a doutrina facilitou já
que tinha um acervo bem numeroso. E me fez o convite no inicio da década de noventa para
participar de um grupo de jovens que existia na paróquia São Gonçalo do retiro, chamado de
Esperança do Amor, que sem o conhecimento do pároco se reunia para viver a espiritualidade
da RCC que naquele tempo ainda não era aceito por todas as autoridades religiosas tradicionais.
Então clandestinamente, nesse grupo a maioria dos participantes eram católicos
carismáticos, estudantes e da mesma idade que eu o nome do coordenador era Osvaldo, ele
formava os demais membros através do ministério de pregação. Nessas reuniões alem de
rezarmos o terço e ouvir uma leitura do evangelho, tínhamos um momento de oração
carismática em que fluíam os dons de serviço da revelação, dom de ciência, sabedoria, profecia
e dom de línguas.

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Com isso, animada pelo novo que estava vivenciando com a experiência de Deus, e
sentindo paz durante os encontros no grupo de jovens (Esperança do Amor), passei a freqüentar
assiduamente e a almejar a comunhão do corpo de Cristo, já que embora batizada, não tinha
feito todos os sacramentos de iniciação cristã. Então aos dezessete anos comecei a fazer
preparação para a primeira comunhão e iniciei uma caminhada religiosa e espiritual, mim sentia
atraída a conhecer a história dos santos e da Igreja. Daí em diante, comecei a participar de vários
eventos católicos como: retiros fechados e abertos, seminários, formações humana, espiritual e
eclesial, eventos regionais e nacionais.
Com isso, dedicava muito tempo a Deus e ao apostolado, e minha mãe e familiares
começaram as queixas e cobranças minha da presença que antes era constante nos encontros da
família e acabou se tornando rara. De certa forma não tiro a razão deles já que a sede que de
Deus era muita, mas naquela época não tinha habilidade suficiente para gerenciar o tempo com
família e vida espiritual sem desfalcar um ou outro. No entanto, até isso Deus usou a meu favor,
pois foi um período longo de formação humana, espiritual e eclesial com repercussão até os
dias de hoje.
Uma das primeiras práticas de oração que aprendi a rezar foi o terço de Nossa Senhora,
em pouco tempo já sabia os mistérios de co e salteado, a segunda foi a rezar e cantar o Ofício
da Imaculada Conceição. Sentia a presença de Nossa Senhora sempre ao meu lado em várias
situações da minha vida, quando descobrir que nasci no dia em que se comemora um título
mariano (dia de N. Sra. Do Bom Conselho), fiquei ainda mais radiante e afirmo que nada de
bom acontece na minha vida sem passar pelas mãos dela, aos seus cuidados me confio
diariamente assim como Deus Pai lhe confiou seu filho Jesus.

2 Iniciação na RCC: Primeiro Seminário de Vida no Espírito Santo.

A imersão nesse universo Católico Carismático ocorreu através de um convite para


participar do Seminário de Vida no Espírito Santo, promovido pelo grupo Adonai que aconteceu
num final de semana dos anos noventa no Convento da Lapa em Salvador. Nesse seminário eu
experimentei na prática pessoalmente e com profundidade o amor de Deus como nunca tinha
experimentado na vida. O Deus que parecia tão distante e morava lá no céu tinha se tornado um
Deus próximo e bem intimo.
Lembro-me que a Igreja do Convento da Lapa estava lotada em torno de oitenta a cem
pessoas, maioria jovens, casais, crianças e idosos que tinham ido alguns por curiosidade, outros
impulsionados por necessidades pessoais e familiares. Era um final de semana que se iniciou

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numa sexta-feira a noite com uma proposta diferente das que eu tinha sido chamada antes.
Inicialmente eu fiquei um pouco desconfiada e pensava: será verdade mesmo? Cheguei até a
duvidar, no entanto ao longo das experiências que eu tive durante as orações nesse evento, meu
coração se abriu para a experiência do batismo no Espírito Santo. Eu dizia: eu quero
experimentar viver na prática para sentir se isso era verdade mesmo.
Ao longo do Seminário de Vida no Espírito Santo que iniciou numa sexta-feira a noite
no local estavam pessoas do grupo para recepcionar, uma banda com músicos e cantores
animando e acolhendo os que ali já estavam com dinâmicas e coreografias. Em seguida
começava a primeira pregação sobre a RCC e ao ser concluída iniciou-se uma oração em
português pelos participantes e equipes do evento. No sábado pela manhã ouvimos uma
seqüência de pregações com os temas do Kerigma sobre: o amor de Deus, salvação, pecado,
Senhorio de Jesus, falsas doutrinas e outras, cada pregação seguida de orações de amorização
e perdão em que os dons carismáticos de ciência e profecia, sabedoria e discernimento eram
freqüentes.
As orações em português nos estimulavam a abrirmos o nosso coração ao louvor a Deus,
foi algo tão novo e agradável o que eu sentia ali naquela experiência pessoal e profunda com o
próprio Deus, que se tornou tão marcante em minha memória os detalhes que recordo os nomes
dos pregadores: Cesar Augusto, Marcelo, Gérson e Meire todos que faziam parte da
Comunidade Católica Shalom e de alguns membros que ainda hoje encontro nos eventos. Foi a
primeira vez que ouvi o nome Shalom e percebia que realmente eles tinham algo de especial e
diferente na maneira de ser e viver que me atraia. Logo após as dezoito horas no inicio da noite
foi encerrado naquele dia em que o pregador Cesar Augusto enfatizou que o melhor momento
seria no domingo e que não era para ninguém faltar.
No domingo dia reservado ao batismo no Espírito Santo, vários membros do grupo que
serviam saíram de seus lugares para interceder, impondo as suas mãos nas pessoas que ali
estavam a fim de ser instrumento de Deus e colaborar com a sua ação de transformação de vida
orando pela cura interior. Durante o período da manhã, ocorreu uma oração bem longa chamada
de oração de cura interior que sucede cronologicamente, momento em que o ministrante, ora
em português e em línguas, clamando ao Espírito Santo a cura e libertação dos traumas que
trazíamos ao logo da nossa vida e que nos impedia de ser felizes, iniciava-se orando por cada
face da vida – concepção, vida uterina até os nove meses, nascimento, infância, puberdade,
adolescência, juventude, vida adulta e maturidade – ouviam-se muitos chorarem e até gritarem
com as revelações que aconteciam através dos dons carismáticos naquele momento.

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Já não eram somente eles que oravam, mas muitos após o batismo passaram a orar em
línguas e houve a eclosão de vários dons também com a efusão do Espírito Santo. A sensação
de céu era muito grande, pois algo de sobrenatural num clima de suavidade e paz transbordava
aquele espaço. Eu fiquei tão impressionada com o que via que não consegui orar em línguas e
nem tinha tentado desatei em chorar compulsivamente sem saber o que estava sentindo, eram
muitas as sensações ali, após o choro uma profunda paz invadiu meu ser. Ao final do dia, no
domingo foi reservado aos testemunhos dos participantes do seminário e muitas as graças
recebidas foram declaradas para os que experimentaram.
No final do seminário foi deixado um convite para prosseguir na experiência e
convivência de deixar ser guiado pelo poder do Espírito Santo, aprofundando no exercício dos
dons e carismas através de um grupo de oração que aqueles participantes formariam. Sai dali
na certeza que de fato Jesus não era um mito, ele realmente existe e está vivo e ressuscitado em
nosso meio. Ao longo do meu processo de experiência com Deus, percebi que abrir o coração
é a única condição para deixar Deus entrar e revolucionar o meu jeito de viver.
A mudança era evidente em meu vocabulário, nas vestimentas e no agir acabei me
tornando alvo de chacota, pois era chamada de “beata” pelas minhas irmãs, pois elas não
entendiam o que eu tinha experimentado.

2.1 O Grupo de oração Adonai

Ao dar o primeiro passo para receber a efusão dos dons e carismas na vida cristã e iniciar
na RCC, passando desde então a uma vivencia profunda de espiritualidade e mudança de vida
através do grupo daquele novo grupo Anuncia-Me, que se formou no seminário daquele fim de
semana, a reunião acontecia uma vez por semana para oração, formação doutrinária, humana e
espiritual. Esse grupo fechado fazia chamado Anuncia-me, fazia parte de um grupo aberto que
se chamava Adonai. Os eventos eram vários e constantes: vigílias, retiros, shows, jantares,
lazer, almoços.
Com isso, fomos motivados no grupo a orarmos para que Deus revelasse em qual
ministério deveríamos servir a outros irmãos, e assim, explicou cada ministério e o que fazia
eram os ministérios de Cura e aconselhamento, Pregação, Intercessão, Música, Palavra,
Acolhimento, Pastoreio e outros. No discernimento do meu ministério foi solicitada pela minha
pastora Claudia que eu orasse e pedisse a Deus para falar e eu assim o fiz na minha oração
pessoal. Senti que a voz de Deus ecoava música, mas me sentia tão tímida para ir a frente cantar
com tantas pessoas me olhando. A Claudia tinha me chamado para rezar pela confirmação do

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ministério e durante a oração o Espírito Santo mostrou a visualização de um teclado com duas
mãos tocando.
A partir daí passei a participar das reuniões do ministério de música que ocorriam as
sextas-feiras no jardim do Convento da Pupileira, com ensaios, formação própria para músicos
e cantores e orações. Durante o período neste ministério Deus começou a trabalhar minha
autoestima através de um livro de oração pessoal sobre a cura da auto-imagem. Eu que me
achava tão lenta naquele tempo, percebia a ação de Deus tão acelerada em minha vida. Muitas
foram as graças que recebi neste ministério, uma delas foi num momento de oração e libertação
em que cada membro se colocava no centro para receber oração, enquanto os outros oravam.
Neste ministério permaneci durante quase sete anos servindo em eventos por setor, participando
de retiros.
No grupo Adonai vivi muitos momentos intenso e profundos de oração carismática, um
deles foi marcante demais, estávamos todos nós, cerca de cinqüenta pessoas na capela das
Vitórias, onde nos reuníamos e o coordenador iniciou a reunião invocando a santíssima trindade
e cantando uma música ao Espírito Santo, preparando nosso coração para a oração de cura
interior, pediu que ficasse dois em dois, um orando e intercedendo pelo outro e pedisse que
Deus revelasse algo ao irmão por quem se orava. No momento em que Jailson o jovem na época
que orava por mim, me olhou para partilhar a moção que recebeu uma visualização do dom de
ciência (dom em que Deus revela um fato passado na vida da pessoa e onde Deus foi agir para
realizar obra de cura).
Ele ficou envergonhado, mas fez a partilha de que Deus mostrava uma chupeta durante
a oração e dava o entendimento de que naquele momento era iniciada uma obra profunda de
cura interior em mim começando na infância, pois eu tinha sido alvo de muitas critica por ter
usado chupeta durante muito tempo uns quatro anos de idade, e que as criticas havia causado
constrangimento em mim repercutindo ainda naquele momento que eu estava na vida adulta.
Ele perguntou desconfiado e sorrindo ao mesmo tempo se tinha lógica, a revelação, já que ainda
era iniciante do ministério de cura e libertação e talvez tivesse se confundido. Eu respondi
sorrindo muito tinha e que fui surpreendida pela ação de Deus, pois foi exatamente um dos fatos
que me ocorreu enquanto criança.
Prosseguindo na caminhada espiritual no meado da década de noventa após seis meses
de preparação doutrinária, recebi a unção do santo óleo da crisma, sacramento de confirmação
do batismo, na Capela Nossa Senhora das Vitórias na Pupileira, localizada na rua Joana
Angélica. De 1994 a 1997 permaneci participando de grupos de oração no Convento da

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Pupileira em Salvador participando de grupo de oração e oficinas de dons carismáticos a fim
de me colocar a serviço nos eventos da RCC para que outras pessoas também provassem dessa
experiência de pentecostes que eu tive.
Uma das passagens bíblicas que norteia toda a minha caminhada espiritual está no livro
de eclesiástico capitulo dois versículos de um a seis e fala da paciência:
“Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor,
e prepara a tua alma para a provação; humilha o teu coração, espera com paciência, dá ouvidos
e acolhe as palavras de sabedoria; não te perturbes no tempo da infelicidade, sofre as demoras
de Deus; dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que no derradeiro momento tua alma
te enriqueça. Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme, na humilhação, tem
paciência. Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a
Deus, pelo cadinho da humilhação. Põe tua confiança em Deus e ele te salvará, orienta bem o
teu caminho e espera nele. Conserva o temor dele até na velhice.”

3 A Comunidade Católica Shalom - CCS

Nascida da Renovação Carismática Católica e fundada por Moisés Azevedo Filho em


fortaleza no Ceará nos anos oitenta, a CCS possui um carisma próprio vocacional, um dom
divino dado pelo Espírito Santo para responder aos desafios contemporâneos, que foi
manifestado num encontro com o papa João Paulo II no Brasil, e atualmente integra as
chamadas Comunidades ou Fraternidades Novas.
Está presente em mais de dez países e em todos os estados brasileiros, na Bahia possui
missão em três cidades: Vitória da Conquista, Juazeiro e Salvador, nesta ultima possui mais de
vinte e cinco anos de atuação do carisma, estando atualmente com a casa própria Mãe de Deus
no bairro do Rio Vermelho e o prédio cedido pela arquidiocese no qual está o Centro de
evangelização Shalom.
A sua pertença é realizada é formada pelo primeiro Elo chamado de Vida, em que os
atraídos, deixam sua família, seu trabalho e tudo que possui para viver inteiramente a serviço
da Igreja. O segundo Elo é chamado de Aliança, na qual os seus membros são chamados a
deixar tudo sua casa, sua família e seus bens, para não somente usá-los em beneficio próprio,
mas também a serviço dos irmãos pela comunhão de bens, contudo os dois Elos fazem voto de
obediência, pobreza e castidade. Além desses outra forma de pertencer à comunidade é fazer
parte da Obra através dos grupos de oração e ministérios de serviço.

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A comunidade possui como tripler a unidade, a contemplação e evangelização, sua
espiritualidade é pautada na vida de oração e contemplação de Santa Tereza D’Ávila e vida de
ação e serviço de São Francisco de Assis, os dois constituem os seus santos baluartes. Segundo
TULI (2011), como uma comunidade carismática de louvor, vivenciamos na oração
comunitária este chamado em toda a sua potencia e plenitude, permitindo que o Senhor possa
nos curar e edificar através da ação do Espírito Santo, por meio do uso dos carismas (1 coríntios
12) e da abertura à sua unção e condução.”
No seio da comunidade convivem os irmãos chamados aos três estados de vida:
matrimônio celibato e sacerdócio, possui uma vida comunitária e missionária, e têm o objetivo
de anunciar o evangelho a todos os homens e mulheres, especialmente os mais distantes,
formando homens novos para um mundo novo. Foi à primeira comunidade no Brasil a obter da
Santa Sé o reconhecimento pontifício na Cátedra de São Pedro em 22 de fevereiro de 2007, o
que o significa que foram aprovados os seus estatutos com o seu estilo próprio de viver o
evangelho. Como afirma o seu significado o padre Silvio Scopel:

Segundo o nosso fundador, Moysés Azevedo, o


Shalom ter sido aprovado no dia 22 de fevereiro significa
que existimos para professar a fé de Pedro. Esse é o
sentido da nossa existência. Foi para isso que Deus nos
criou, que Deus nos constituiu essa família espiritual. O
motivo da existência do Shalom é professar a fé de Pedro.
(...) Essa é a fé de Pedro que nós somos chamados,
enquanto Shalom, a professar e a anunciar: “Tu és o
Cristo, o filho do Deus vivo!”.

O início da missão do Shalom em Salvador aconteceu durante a gestão episcopal do


arcebispo primaz do Brasil Dom Lucas Moreira Neves e já são mais de vinte e cinco anos em
missão na cidade. Assim, a Claudia Maria quando minha pastora naquele tempo fazia o
vocacional Shalom para discernimento da sua vocação e sentiu a necessidade durante uma
oração em que intercedia por mim de rezar pela minha cura interior pautando nas fazes da minha
vida uma oração cronológica. A CCS estava com sede no bairro da Ondina, ao chegar lá ela me
chamou para uma sala e juntamente com outra mulher que servia no ministério de cura
iniciaram a oração.
No decorrer da mesma a revelação da moção espiritual que o Deus mostrara era uma
criança que tinha um coração com chagas profundas que ainda sangrava por um fato que tinha
ocorrido na infância. O fato era que na idade de sete anos, minha mãe tinha feito um bolo e
repartiu entre os filhos, e disse para ninguém mexer no que tinha sobrado. Eu desobedeci, tirei

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um pedaço e comi novamente o bolo, por esse motivo levei uma surra de cinto, a minha irmã
Elma me tirou das garras da minha mãe gritando para parar.
Depois disso, eu adoeci ficando semanas sem comer, sem brincar e de cama, preocupada
minha meus pais levou-me ao pediatra que depois de fazer exames chegou à conclusão que eu
não tinha nada fisicamente, a questão era psicológica eu estava com melancolia, uma tristeza
profunda e perguntou a meus pais se tinha ocorrido algum fato grave naquele período comigo.
Minha mãe contou o ocorrido e o médico disse que então foi conseqüência disso, e que não era
mais pra corrigi um erro com uma agressão física, mas para usar o dialogo.
E a moção prosseguiu com uma profecia de cura na qual Deus foi naquele momento à
minha infância curar meu coração através do amor dele. A minha reação foi de um choro
demorado e compulsivo que ao terminar me deixou com uma sensação de paz interior muito
profunda. Sai dali pensando: como Claudia que eu tinha contato há pouco tempo e aquela
senhora que eu não conhecia, poderiam saber de um fato desses se não fosse revelado por Deus?
Esses fatos marcantes de oração me motivavam ainda mais a buscar uma espiritualidade
profunda e sólida ingressando nesta comunidade com participação durante anos nos grupos de
oração como: Sheliard (2001), Eféta (2003), Najide (2004), Duc in nautum (2006), e atualmente
no Pantocrator (2018). Em 1998, faltando dois anos para o Jubileu de 2000, ingressei no
vocacional na CCS em busca de discernimento da minha vocação, permanecendo ali como
aspirante por dois anos consecutivos em que fiz a experiência interna comunitária como Vida
e Aliança.
Atraída por uma vida de oração mais profunda e intensa na qual é necessário a vivencia
da palavra de Deus e para isso exercitamos o método da Lectio Divina, na qual segundo
BEZERRA (2009), pode ser utilizado qualquer trecho da Bíblia e utilizado quatro passos
simples: leitura, meditação, oração e contemplação, todos são dependentes entre si. Alem desses
quatro passos existe um último que é a vivência pratica da palavra e a recomendação para anotar
tudo em um diário espiritual, e foi esse o ponto que facilitou a lembrança de tantos
acontecimentos no inicio de minha vida espiritual.
Como havia mencionado anteriormente, em um retiro vocacional da comunidade de
Vida realizado em uma casa de praia em Vilas do Atlântico litoral de Salvador, fui chamada a
servir na cozinha com a Mônica, em um determinado momento de oração um dos irmãos
impondo as mãos sobre mim profetizou: a visualização de uma mulher ajoelhada diante da cruz.
O discernimento foi que aquela mulher era eu e que Jesus Cristo: “não te chamo apenas a

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contemplar o meu sacrifício na cruz, mas a ser crucificada comigo”. Dali em diante sentir que
a cruz (momento de dor e sofrimento) faria parte de toda minha vida.

3.1 Consagração Totus Tus Marie.

Inicio do ano 2004 recebi uma carta de uma amiga missionária da CCS, com quem
costumava compartilhar sobre minha espiritualidade, comunicando que naquele momento eu
atravessava uma fase muito difícil na minha “peregrinação”. Confidenciei a ela o desgaste
espiritual que eu estava sentindo, a tibieza, seguida da tão chamada “noite escura dos sentidos”
denominada por São João da Cruz, e em reposta a carta, ela partilhava que tinha passado por
esse mesmo processo e que esse “estado” em que se encontrou só havia cessado após se
consagrar a Jesus cristo pela via de Nossa Senhora (Totus Tus Marie) pelo método do Tratado
de consagração de São Luís Maria Grignion de Monfort .
Segundo MONFORT (2003) “o essencial dessa devoção consiste no interior que ela
deve formar, e por este motivo, não será compreendida igualmente por todo mundo”. O
resultado dessa consagração foi um divisor de águas em minha vida, fazendo-me avançar na
espiritualidade e experiências com o mundo espiritual. Conforme está na encíclica da Vida
Consagrada inscrita pelo Papa João Paulo II “(...) a vida espiritual, considerada como vida em
Cristo, vida segundo o Espírito, se apresenta como um itinerário de crescente fidelidade, onde
a pessoa consagrada é guiada pelo Espírito e por Ele configurada com Cristo, em plena
comunhão de amor e de serviço na Igreja.”
Então para sair do estado de desolação e tibieza (doença espiritual que significa
mornidão) em que me encontrava, rapidamente comuniquei a minha orientadora espiritual que
compartilhou de ter feito essa consagração há pouco tempo e dos benefícios espirituais que a
mesma possui. Durante os trinta e três dias de exercícios espirituais para preparação da
consagração, enfrentei uma grande batalha espiritual dentro e fora de mim. São dois dias
preliminares; primeira semana de autoconhecimento, segunda semana da santíssima virgem
Maria, e a terceira semana de Jesus Cristo. Consagrei-me no dia 27 de junho de 2004 festa de
Nossa Senhora do Perpetuo Socorro. Feito isto, percebi as mudanças sensivelmente na minha
vida espiritual, era como se tivesse retirado uma venda dos meus olhos internos e externos, dali
em diante pude realizar ascese sem fazer tanto esforço e sem sentir fadiga, passando a viver
com mais leveza minha espiritualidade.

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Nesse mesmo ano, uma nova formação humana e espiritual chegou à comunidade:
tecendo o Fio de Ouro, um curso de autoconhecimento e cura interior inspirado por Deus a co-
fundadora Emmir Nogueira para formar os membros que participavam da comunidade e da
obra Shalom. Assim iniciei no segundo semestre de 2004 o curso oracional de
autoconhecimento à luz do Espírito Santo, que durou quatro meses e me proporcionou rever os
acontecimentos da minha história com o olhar da misericórdia de Deus e a reconstrução da
minha afetividade.
Durante uma confissão num mosteiro de São Bento, o padre me exortou e revelou que
eu precisava prosseguir com os estudos e cursar o nível superior. Passei a estudar em casa e na
biblioteca durante o ano de 2004, confiante de que se realmente fosse vontade de Deus pra mim,
passaria já que não tinha como custear um cursinho pré-vestibular. Fiz o vestibular na UFBA
fui aprovada na primeira fase ficando sem a vaga na segunda fase.
Depois fiz o ENEM e após o resultado me inscrevi nos processo seletivo para ver se
conseguiria ingressar nas faculdades, não sendo chamada na primeira fase, desanimei sem
acompanhar as demais fases seguintes do processo de seleção. Estando um dia em meu quarto
deitada na cama, escutei uma voz interior que dizia: “levante-se e ligue para o programa de
seleção, pois você foi aprovada”. Era tão forte que obedeci imediatamente, ao ligar realmente
tinha sido selecionada e em 2006 iniciei a vida acadêmica com aprovação no curso de
Administração numa instituição particular pelo Programa Universidade para todos - Prouni.
Não tenho a menor dúvida de que a aprovação para o nível superior esta diretamente ligada a
minha consagração a Jesus Cristo, já que pedia continuamente a Nossa Senhora essa graça
durante a reza do terço.
Então durante os anos de 2006 a 2009 ingressei na minha primeira graduação e comecei
a freqüentar num grupo Duc in nautum, que significa: lançai as redes em águas mais profundas,
específico para universitários na CCS. Uma das profecias que recebi durante um
acompanhamento espiritual na comunidade com a Maria Joseana:

“Alegrai-vos na presença do teu Deus, tu és a


escolhida. Eis que eu derramo sob vós o meu
Espírito para que não tenhas medo do novo que te
apresento. És como luz. Em ti ponho a minha
benção, minha graça e minha misericórdia. Não
deveis olhar para o passado, olhai para mim, para o
novo que te apresento, não deveis olhar para o
passado. Alegrai-vos, alegrai-vos, pois eu estou em
vós. Eu habito em vós, isso deve ser para vós motivo
de eterna felicidade. A minha presença em vós, a
minha presença. Creia em Mim, pois é o teu Deus
que te fala.”
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O contexto do bairro em que eu morava era extremamente perigoso, ocorriam muitas
brigas entre facções criminosas devido à guerra do tráfico de drogas, culminavam em
assassinatos e toque de recolher e por isso, os moradores viviam apreensivos. Minha mãe pediu
para eu desistir, pois só tinha aula no período noturno, mas sentia fortemente que a proteção de
Deus estava sob mim e me guardada e que Deus não queria que eu desistisse, mas sim que
confiasse nele. Dos vários episódios que presenciei no bairro durante minha primeira
graduação, os mais graves foram: ter a minha casa invadida duas vezes por bandidos que fugiam
da policia militar; presenciar ao sair de casa caminhando para o ponto de ônibus num fim de
tarde comum, um assassinato; e o terceiro foi a invasão de uma facção rival nas proximidades
à noite, momento em que eu voltava da faculdade para casa.
Nesse ultimo na volta pra casa já era comum meu sentimento apreensivo ao sair da sala
muitas vezes fora do horário, para poder chegar logo em casa, e no caminho faltando
aproximadamente seiscentos metros da minha casa, achei estranho o silêncio, como se algo
estivesse ocorrido, ao chegar à ponta da ladeira bastante íngreme que eu precisava descer dei
de cara com uma facção que havia dado toque de recolher a população invadindo o bairro.
Fiquei completamente gelada como se tivesse recebido uma anestesia, em meu coração pedi a
Virgem Maria que viesse e tomasse a frente naquele momento e que os homens que estavam
fortemente armados com metralhadoras e fuzis, não tivessem poder algum para me fazer mal.
Passei entre eles que permaneceram em silencio e me acompanhando com olhares, enquanto eu
descia a ladeira. Ao chegar a minha casa sentei estática numa cadeira, minha mãe que sempre
me esperava acordada se levantou para ir me ver, pois eu não respondia tamanho o impacto do
fato ocorrido, mais uma vez a bondade de Deus salvou a minha vida através da proteção de
Nossa Senhora.
Outro fato terrível que aconteceu durante a primeira graduação foi que em que fui a aula,
saindo de casa a tarde aproximadamente as dezesseis horas, minha casa ficava longe do ponto
de ônibus, então era preciso que eu subisse uma ladeira bastante íngreme e andasse ainda uns
trezentos metros para pegar o ônibus que me levava a faculdade. Nesse percurso antes de chegar
ao final de linha aconteceu que, enquanto eu ia subindo a ladeira veio um jovem em minha
direção a pouco de cinqüenta metros, tirou da cintura um revolver preto e disparou em direção
a um homem que estava jogando dominó com mais quatro a cinco amigos, lembro bem que
foram mais de três tiros, o posto policial ficava uns cinqüenta metros também. Os amigos

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caíram no chão mais não tinham sido o alvo, o homem baleado caiu sentado estático
agonizando, o jovem desceu a ladeira correndo comemorando o crime e dando tiro para o alto.
Ainda em estado de choque, tremia muito sem forças para correr, caminhei lentamente
com as pernas bambas até o final de linha a fim de pegar o ônibus, não tive coragem de voltar
pra casa e durante o percurso a caminho da faculdade liguei para uma amiga chamada Ângela,
pois precisava falar com alguém. Ela me ouviu e depois me aconselhou a rezar o terço da
misericórdia, eu nem sabia como rezava e ainda estava muito perturbada, ela me ensinou pelo
celular enquanto eu caminhava. Naquele instante comecei a rezar por aquela situação e pedi a
Deus misericórdia tanto pelo assassino quanto pela vitima.
Assim, fiquei conhecendo a devoção a Jesus misericordioso e a história de Santa Maria
Faustina Kowalska, conhecida como a Apóstola da Misericórdia de Deus, foi canonizada pelo
papa João Paulo II. Uma freira mística do século XX que tinha visões de Cristo sofredor ouviu
e atendeu o chamado de Jesus Cristo cumprindo sua missão de ser secretaria da misericórdia de
Cristo enviando a sua mensagem ao mundo inteiro.conforme o seu Diario número 1605 “Minha
filha, fica tranqüila, faz o que te mando.o meu pensamento está unido ao teu pensamento,
escreve portanto o que te vier a mente. És a secretária da Minha misericórdia. Eu te escolhi para
essa função nesta vida e na outra. Assim o quero, apesar de todas as adversidades que te
opuserem. Deves saber que a Minha predileção não mudará.” Após sua morte anos depois seu
corpo foi encontrado incorrupto e hoje a devoção da misericórdia Divina é considerada a ultima
devoção da espiritualidade católica, é a ultima tábua da salvação dos pecadores através desse
admirável atributo divino.
Durante o grupo de oração dos universitários a nova coordenadora a Carine Maria,
consagrada da aliança a cuidar dos membros e fomos sensibilizados a fazer o Projeto de Vida
Pessoal – PVP que foi indicado pela CCS como recurso desenvolvido pela Dra. Silvia Maria
Lemos, formada em medicina especialista em Neurologia como “um método para dar
continuidade a um trabalho pessoal, interior que necessita ser sustentado em colunas
referenciais, que se descobrem quando é exercitado o autoconhecimento.” Ele tem como
importância a necessidade de repensar condutas e construir ou reconstruir a vida em qualquer
dimensão, seja físico, emocional, social (relacional) e intelectual. Com isso pode-se identificar
os aspectos pessoais relacionados à vida de cada individuo abrindo-se a perspectiva de fazer
algo por si mesmo.
Finalizando o semestre viajei para ilha de Salinas das margaridas durante o verão para
passar uma temporada. Lá conheci um rapaz e começamos um relacionamento de namoro,

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retornando a Salvador trocamos contato e mantemos o namoro ainda inicial, embora ele fosse
evangélico nós dávamos bem, sem atritos. Ao retornar a vida acadêmica e rotina no grupo de
oração a Carine marcou um momento de oração comigo, nesse ano a casa da CCS ainda era no
Costa Azul na Pituba. Ao iniciar a oração que foi feita no primeiro anda numa varanda da casa
João Paulo II numa tarde ensolarada, ao iniciar com o sinal da cruz, seguida de uma oração em
línguas, vem à seguinte visualização:
Uma pessoa construindo um muro, esse muro estava ainda no inicio. Mostrava outra
visualização de um grande relógio em que eram marcadas as estações do ano e cada uma possuía
a sua beleza. O senhor Jesus falava no discernimento que essa pessoa era eu e que, o que eu
estava construindo não era vontade dele, mas da minha vontade. A Carine dizia Ilma eu não sei
nem quero saber o que você esta construindo, nem precisa me dizer, mas pare agora, pois Deus
não quer. Ele foi muito claro. E a oração foi finalizada com a passagem: “buscai o reino de
Deus e a sua justiça e tudo, mas vos será acrescentado.” Eu fiquei perplexa, pois não tinha
falado nada pra ela nem pra ninguém no grupo de o ração. No dia seguinte liguei para o rapaz
terminando tudo e pedir pra ele me esquecer sem dar nenhuma explicação. Ele perguntava o
que aconteceu Ilma o que eu fiz? Eu dizia nada, só não quero mais e pronto.
Minha via de conversão foi revelada durante oração com a Carine lá no Centro de
evangelização Shalom, Deus mostrava o caminho da penitencia e da oração e dizia que o
impossível eu iria consegui por esta via, realizar meus sonhos, desejos e que era a mesma vida
vivida pela Rainha Ester. Naquele momento a presença de Nossa Senhora era muito forte e foi
dito, pois a espiritualidade mariana sempre me acompanhou desde que eu nasci, a carismática
veio depois e me identifiquei de imediato.
Minha mãe nunca se opôs a nada do que eu participava ou vivia na espiritualidade da
RCC, pelo contrario sempre me ajudava financeiramente a estar nos eventos, pois ela me via
feliz. Então embora eu não concordasse com a participação dela no candomblé, sentia
profundamente que o mais sensato era apenas interceder sempre em oração, suplicando a Deus
sua libertação através do terço de Nossa Senhora. Então, ocorreu que estando em casa
juntamente com minha irmã Silvana, meu cunhado Julho e Samuel, minha mãe passou mal
caindo no banheiro tendo parada cardíaca, com o barulho de a queda, eu sair depressa da mesa
na qual estava estudando a fim de socorrer-la e ao vê-la estática com os olhos parados e abertos
me abaixei a fim de levantá-la e comecei a gritar chorando muito por Jesus e Nossa Senhora,
enquanto a Silvana pediu pra eu parar de fazer escândalo. Em poucos instantes ela voltou a si
e por um mistério de Deus, a partir desse fato, ela decidiu deixar de freqüentar o candomblé e

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aos poucos foi buscando por conta própria aproximação mais profunda com a oração do terço
e ofício de Nossa Senhora e hoje não participa de mais nada na religião afro.
Até aquele momento eu não compreendia a relação dos fatos, mas com o tempo percebi
que a mão de Deus estava por traz de tudo isso. Recordei-me que ela contou que por uma
providencia de Deus ou falta de atenção de funcionários na época o seu registro de nascimento
saiu com a data errada como que ela tinha nascido no dia 16 de julho data em que se comemora
a festa de Nossa Senhora do Carmelo e que por ela ter nascido no dia 17 de julho um dia depois
a minha avó colocou o nome dela Carmen Maria em homenagem a Nossa Senhora do Carmo.
Fiquei um afastada da Comunidade Shalom durante o ano de 2010 após minha colação
de grau, nos mudamos da casa em que morávamos devido a grande violência que lá permanecia,
passando a assumir um serviço na Igreja católica no ministério de música cantando as missas
durante quatro meses, mas sair por falta de adaptação ao serviço das pastorais, voltei a me
dedicar exclusivamente aos estudos para concursos.

4 Grupo Amigos Canção Nova de Salvador - ACN

Em meados de abril de 2011 ingressei no grupo Amigos Canção Nova, embora ainda
participasse dos eventos da CCS, em julho conheci o Rodrigo numa tarde da misericórdia de
quinta-feira no Shalom e aos poucos iniciamos um namoro, que foi breve devido a minha
insatisfação. Mesmo buscando experiências novas em outro grupo de oração, nunca me afastei
totalmente da Comuniadade Shalom e sempre obtive respaldo nos momentos que mais
necessitei de apoio espiritual, como é possível notar ao longo do meu itinerário espiritual.
Então, ao orar descobri que ele possuía um espírito de confusão que o atormentava,
passei a orar mais por ele e ajudei a fazer a preparação para consagra-se a Nossa Senhora das
graças em novembro. O discernimento desse relacionamento me levou a experiências
espirituais profundas na oração pessoal e comunitária, auxiliada ainda pela coordenadora do
grupo (Duc in nautum) a Karline. Terminei o namoro, pois tinha certeza que não era a vontade
de Deus prossegui nessa relação, embora soubesse que o meu estado de vida é o matrimonio,
para esquecer passei a me dedicar mais aos meus estudos para concursos.
Nessa mesma ocasião recebi direção espiritual e de Naina, consagrada da Aliança, a
Comunidade Shalom estava situada no Costa Azul próximo a orla de Salvador. A oração foi
iniciada em uma sala no primeiro anda do centro de evangelização, no qual tinha apenas
algumas cadeiras, as janelas estavam abertas e por isso havia muita claridade no local, ela

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iniciou a oração invocando a santíssima trindade traçando sobre si o sinal da cruz e eu também.
Ela me orientou a retornar ao grupo da CCS a fim de caminhar espiritualmente lá.
No decorrer da semana, seguia com meu coração inquieto sentindo moções espirituais
constantes como um chamado de Deus a capela da CCS para adorá-lo e escutá-lo e queria
confirmar essas moções que era em relação a minha família. Com isso, pedir ajuda na oração
ao Jéferson coordenador do grupo Amigos CN para orar comigo num sábado à tarde antes de
iniciar o grupo, que se reunia aos sábados no Santuário de Nossa Senhora Aparecida no Imbuí.
Ele assim o fez e Deus dava a ele uma visualização de um baú cheio de flores. Ele me disse que
sentiu que o baú com as flores era a nova primavera de Deus que iria chegar a minha vida. Em
meu coração Deus dizia que algo iria acontecer e que causaria muita tristeza na minha família,
mas estava tão comovida por dentro que preferi não contestar.
No domingo bem cedinho aos vinte e cinco de setembro de 2011 meu pai completou o
seu ciclo e veio a falecer de acidente vascular cerebral - AVC. Enviei mensagem a esse meu
amigo que orou por mim e ele retornou com uma ligação dizendo que, na visualização não era
um baú, mas um caixão e que ele na pressa se confundiu e me disse que mesmo se tivesse sido
claro pra ele no momento da oração, ele não me falaria. Meu pai era um evangélico atípico,
pois ao contrário de tantos ele todos os dias as dezoito horas escutava e orava com a Ave Maria
e dizia que a mãe do rei só poderia ser a rainha. Logo após a sua morte, eu estava num momento
de adoração num retiro Reviver do Shalom e orava do meio da multidão que lá se encontrava,
quando o consagrado que conduzia a oração disse que havia ali muitos rezando por seus
familiares que tinha falecido e que a presença de Nossa Senhora naquele lugar era muito forte
dizendo que nenhuma alma se perderia por meio dela e meu coração pacificou.
Depois disso, sonhei com meu pai sofrendo num lugar cinzento meio nublado, era como
se estivesse pedindo ajuda, seu rosto apresentava muita dor e estava como que suportando o
que padecia nesse lugar. Era tão forte o sonho que parecia real ao acordar senti meu coração
impelido a fazer algo, aquilo que eu estava sentindo não era comum. Então fui ao encontro do
Frei Arenilton e contei a ele o que tinha acontecido, ele me disse que o sonho era Deus me
mostrando que meu pai estava no purgatório e precisava de muita oração, pediu pra orar pela
alma dele através do sacrifício eucarístico. Assim fiz conforme fui orientada e ainda hoje após
seis anos de seu falecimento, faço orações por sua alma quando vou a missa e através do terço
e rosário sei que a doutrina católica, declara que a igreja padecente (purgatório) é beneficiada
por essas orações.

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Em 2012 na avaliação médica que faço anualmente, descobri que estava com o útero
com cinco miomas volumosos e que segundo os médicos precisaria fazer uma cirurgia para a
retirada dos miomas e que corria o risco de perder o útero. Fiquei muito abalada com essa
notícia e segui procurando pelo SUS algum medico que pudesse realizar a cirurgia e preservar
o meu útero. Liguei e pedi orações a uma amiga e irmã de caminhada chamada Daiane, pedir a
ela que orasse por mim e tentasse ouvi o que Deus queria com o que eu estava vivendo. Ao
retornar a ligação para mim algum tempo depois, a passagem que Deus dava a ela foi a seguinte:
“satanás queria te peneirar mas eu roguei por ti”.
A Daiane parecia muito tensa só me partilhar e estava apreensiva e pediu para eu orar
mais. Embora preocupada, eu fiz isso o que ela havia me dito. Na ocasião estava participando
do grupo Amigos da Canção Nova e estava fazendo a devoção dos cinco primeiros sábados em
reparação ao Imaculado coração de Maria. Pedi orações aos irmãos pela minha cirurgia e após
andar um ano inteiro tentando achar que me operasse e fosse sensível e competente para não
retirar o útero, encontrei uma indicação da medica ginecologista na maternidade Climério de
Oliveira, que após me avaliar e conhecer o meu caso foi sincera e disse que ela não tinha
habilidade para faze minha cirurgia, pois seria muito delicada, já que o meu útero estava coberto
pelos miomas e fez a comparação de uma banana, na qual a casca seria os miomas e a gruta
seria o útero.
Ao perceber minha aflição ela me indicou a outro médico chamado Paulo que
trabalhava no hospital São Rafael e fazia mutirão anualmente para retirar operar mulheres de
baixa renda. Após conseguir a consulta com muito sacrifício, o médico me recebeu e diante dos
exames que eu tinha marcou a cirurgia para vinte e oito de fevereiro de 2013 no Hospital Dois
de Julho. Mim fortaleci com os sacramentos da unção dos enfermos, confissão e missa, pedi
que fosse uma ministra da eucaristia levar o corpo de Cristo para mim no hospital.
No ato da cirurgia meu anestesista ficou impressionado, pois não consegui adormecer,
eu tinha pedido em oração a Deus para dormir só após saber o resultado da cirurgia, era a
segunda cirurgia do mutirão naquele dia e era em torno de oito horas da manha. Eu estava muito
ansiosa, mas apesar disso a minha pressão não subiu. E o resultado da cirurgia foi um sucesso,
mesmo tendo sido delicada e que durante a mesma tenha surgido uma hemorragia que eles
conseguiram conter, esse detalhe o cirurgião me contou ao me avaliar na enfermaria, os miomas
foram retirados preservando totalmente meu útero.
Na volta para casa durante no pós-operatório ocorreu que, durante a madrugada
enquanto dormia, senti a presença de um demônio que proferia socos na área em que eu tinha

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sido operada, região pélvica. Eu sentia muitas dores e angustia com a presença daquele ser
próximo a mim, minha sensação era de total pavor. Eu comecei a gritar Nossa Senhora
imediatamente ela apareceu ao lado da minha cabeceira na cama, continuei a gritar São Miguel
Arcanjo e ele apareceu com a rapidez de um relâmpago e imediatamente o demônio se retirou.
Ao despertar e acender a lâmpada sentia muitas dores no local da cirurgia e que parecia ter sido
machucada a região pélvica e eu suava muito. Fiquei muito perturbada, pois se foi sonho, como
poderia estar sentindo dores que não tinha sentido antes? A sensação era de ter sido real e não
sonho precisava partilhar com alguém para me ajudar. Ao contar o ocorrido a uma amiga
também de caminhada espiritual e ela me disse que Deus estava me dando à graça de perceber
a luta no mundo espiritual. O período de alta (quarenta e cinco dias) em casa assistir muitos
filmes de santos: santa Teresinha do menino Jesus, Santa Rita de Cássia, São Francisco de
Assis, Santa Clara e outros santos, alem de outros filmes.
Fiz a experiência do dom de repouso no Espírito Santo num evento de cura promovido
no grupo de amigos CN, em que a consagrada da Comunidade Carismática Canção Nova
pregou sobre esse dom para nós na capela da Universidade Católica de Salvador- UCSAL, e
logo em seguida pediu que todos do grupo fizesse uma fila em direção a ela e a medida que ela
tocava nossa testa um por um íamos repousando no Espírito Santo.

Acampamento: Encontramos o Cristo – Aracajú

Durante um sorteio de uma rifa no grupo Amigos CN fui premiada com uma viagem
para ir ao evento “Encontramos o Cristo”, com os missionários da Canção Nova Padre Roger
Luis, Eliana Ribeiro e Thiago Tomé em Aracajú. Essa Turner com os missionários estava indo
em missão em vários estados do país e no local do evento lotou com cerca de aproximadamente
cinco mil pessoas. No decorrer das pregações ocorreram muitas curas e o padre Roger sentia
durante as pregações que deveria fazer um momento de “cura entre as gerações”, pois muitos
dos males que as pessoas estavam vivendo eram hereditários, com raízes de antepassados e era
necessário rezar com o Santíssimo exposto em adoração.
Ao ser iniciada a oração no período da noite, o santíssimo foi posto no altar e os três
missionários se colocaram de joelhos em adoração no palco e assim também todos que estavam
na parte de baixo das arquibancadas orando em português e em línguas. O padre Roger começou
a pedir curas e libertação a partir da primeira geração ate a décima quarta geração e todos
oravam em línguas no microfone e conduzia aquele momento.

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Começamos a escutar gritos e soluços de várias pessoas que estavam em adoração como
efeitos da oração e das graças que Deus derramava. Estava acontecendo grandes feitos ali
naquele momento, o padre dizia, pois Deus passava por cada geração fazendo libertações
espirituais e quebrando jugos hereditários. Ele proclamava de cima do altar curas de falsas
enfermidades nas famílias por causa de envolvimentos com falsas doutrinas em que o demônio
aprisionava muitas pessoas. O padre pediu que cada um rezasse e suplicasse a Deus por seus
familiares, pais, irmãos e parentes. Do altar ele proclamou que Deus fazia milagres por meio
das nossas orações e que as essas transformações iríamos perceber quando chegássemos a casa,
pois Deus mexia muito profundo nas famílias.
Naquele momento percebi que tinha acontecido algo espiritualmente falando em minha
família e que Deus preparava o meu coração para uma batalha espiritual. Ao chegar a casa
minha mãe me bota para fora e permanece sem falar comigo. No dia seguinte eu percebendo
que era manifestação diabólica devido a oração de cura entre as gerações feita pelo padre Roger
Luis, iniciei a oração do cerco de Jericó, indo a missa durante sete dias consecutivos,
comungando, rezando o Rosário e o Oficio da Imaculada Conceição.
No decorrer no Cerco de Jericó, ela iniciava sempre uma discussão e tentou me agredir
fisicamente, mas minha sobrinha Anne estava na hora e segurou-a passando as mãos pela
cintura para não permitir. Aos poucos a situação foi normalizando e a pacificação em casa, eu
fiquei como que estava doente durante os dias do cerco, sentia dores no corpo inteiro como se
tivesse recebido pancadas, mas mesmo assim permaneci indo as missas e fazendo as orações
finalizando com a compra de um quadro de Jesus misericordioso que comprei e pedi para o
padre benzer, ao chegar a casa entronizei-o ainda em oração.
Confiante na proteção de Nossa Senhora conforme diz a doutrina católica na aparição
em Fátima (1917) na qual a Mãe de Deus avisou que: “não há problema de ordem espiritual ou
material, pessoal familiar, nacional ou internacional, que não possa ser solucionado com a
oração do Terço”. Além disso, ela prometeu ao Beato Alan de La Roque e a todos que rezarem
o Terço:

“sua proteção especialíssima na vida, uma morte


feliz, a salvação eterna da sua alma, não morrerão sem os
sacramentos, não serão flagelados pela miséria, tudo
obterão por meio do Rosário, essa devoção será sinal
certo de salvação, o livramento do purgatório no dia em
que morrerem os que rezarem o Rosário, terão uma
grande gloria no Céu, e aos que propagarem a devoção
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do Rosário, serão socorridos em todas as suas
necessidades.” (AQUINO 2009)

Ao ser convidada para participar de um Cenáculo Mariano na capela de um órgão da


Igreja Católica juntamente com outras mulheres e irmãs de caminhada espiritual, logo ao sentir
algo forte dentro do meu coração que me dizia: “aqui será seu novo local de trabalho”. Não
comentei nada com ninguém, mas permaneci contente, já que estava precisando trabalhar.
Algum tempo depois fui indicada por uma pessoa de caminhada para a função administrativa e
chegando lá conheci a Larissa que me disse orar o terço diariamente e ter pedido a Nossa
Senhora pra enviar uma pessoa consagrada a ela não somente para trabalhar, mas para ajudá-la
na missão naquele local. Lá descobri fraude e desvio de dinheiro procurei um padre diretor
espiritual para conversar e dizer o que tinha descoberto, mas estava com a decisão dentro do
meu coração que iria sair imediatamente para não me envolver nesse problema.
Ele me orientou a não deixar o emprego, pois não era vontade de Deus, me disse para
permanecer trabalhando e tomando as devidas precauções. Assim fiz e passei a protocolar todo
tipo de material que entrava e saia do órgão. Isso causou o desconforto da pessoa que desviava
o dinheiro, começando uma perseguição pessoal contra mim. Como minha carteira ainda não
tinha sido assinada, a mulher que me contratou disse que o bispo tinha falado pra mandar
embora e apenas agradecer. Retornando ao meu diretor espiritual que ficou pasmo, recebi a
orientação para rezar a novena de Nossa Senhora do Desterro, pois a luta era espiritual e não
humana. Acessei a internet e encontrei a novena com a seguinte oração:
Ó Bem-aventurada Virgem Maria, mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo Salvador do
Mundo, Rainha do Céu e da Terra, advogada dos pecadores, auxiliadora dos cristãos,
desterradora das indigências, das calamidades, dos inimigos corporais e espirituais, dos maus
pensamentos, dos sonhos pavorosos, das ciladas, das pragas, dos desastres, bruxarias e
maldições, dos malfeitores, assaltantes e assassinos. Minha amada mãe, eu prostrado agora aos
vossos pés, com piedosíssimas lágrimas, cheio de arrependimento das minhas pesadas culpas,
por vosso intermédio imploro perdão a Deus infinitamente bom. Rogai ao vosso Divino Filho
Jesus, por minha família, para que ele desterre de nossa vida todos estes males, nos dê perdão
de nossos pecados e nos enriqueça de sua divina graça e misericórdia. Cobri-nos com o vosso
manto maternal ó divina estrela dos montes. Desterrai todos os males e maldições. Afugentai,
ó Senhora, de minha casa a peste e os desassossegos. Possamos por vosso intermédio, obter de
Deus a cura de todas as doenças, encontrar as portas do Céu abertas e convosco ser felizes por
toda a eternidade. Amém. Finalizada a oração conclui com sete Pai-nosso, sete ave-marias e um

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Credo ao Sagrado Coração de Jesus, pelas sete dores de Maria Santíssima, fazendo essa mesma
oração por nove dias, de preferência com uma vela acesa.
Durante essa novena enquanto deitava tentando descansar e dormir, sentia uma agonia
que me tirava a paz como se o meu corpo tivesse recebido vários golpes enquanto dormia e
cheguei a ficar de cama nos dias seguintes, podia perceber que algo espiritual acontecia no
transcorrer de toda a novena, eram forças espirituais em combate. Procurei saber se a outra
auxiliar administrativa como tinha sido a novena, ela não estava sentindo nada em termos
espirituais, o que muito me surpreendeu.
Depois de partilhar com ela, retornei ao meu diretor espiritual que me orientou a repeti-
la e me disse: “Não tenha medo filha, isso que você tem é um dom que Deus lhe deu, pois você
está mexendo com coisas seriíssimas do mundo espiritual, repita a novena”, assim fiz e quando
completaram sete meses eu e a Larissa fomos desligadas da empresa sem receber nenhum
beneficio e sem carteira assinada.
Nesse espaço de tempo meu diretor espiritual tinha ido à missão de evangelização e
assim só pude buscar meu confessor para orientar como agir. Estávamos sendo acusadas de
roubo e perseguidas nas redes sociais por pessoas que eram do convívio da coordenadora que
desviava recursos. Passei o caso para meu confessor no Santuário de Nossa Senhora da Piedade,
após orações em que sentia que não devia intimidar perante a autoridade eclesial a quem devia
obediência. Ele inspirado por Deus, diante da sua experiência de vida que possuía como
maestro, foi um advogado renomado de sucesso que acumulou riqueza, e renunciou tudo para
ser franciscano, me orientou a coloca na justiça e não temer, pois esse bispo precisava levar um
susto para se converter. Todos na minha casa eram contra essa reação a que fui orientada pelo
meu confessor, porem já tinha tido varias confirmações de que essa era naquele momento a
vontade de Deus. Sentia que tudo isso fazia parte das “podas” que Deus faria na minha vida
social e espiritual.
Enquanto trabalhava lá aconteceu que a presença do demônio era real naquele lugar,
pois ocorriam com freqüência infestações diabólicas (distúrbios causados pelos demônios em
casas, objetos e locais para atingir o homem), as portas internas do prédio abriam e fechavam
sem a colaboração humana e sem nenhum vento forte, ouviam-se barulhos contínuos sem que
outras pessoas estivessem nos andares de cima, o som de copos e potes de vidros sendo batido
um no outro. O porteiro relatava que no local aconteciam coisas estranhas, por exemplo: ele me
disse que um dia dormiu lá e ficou no térreo, só que durante a noite percebeu que a capela estava

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repleta de pessoas orando numa linguagem que ele não compreendia. Então assustado ele se
levantou e foi deitar-se no ultimo andar e não conseguiu dormi mais naquela noite.
Esse fato era recorrente, pois quase todos relatavam episódios estranhos como este, um
dia estava lá eu e outra mulher que estava grávida e trabalhava como voluntária. Nós ouvíamos
um barulho terrível como se fosse um monstro ou bicho horripilante que estava por perto, pois
causava pavor. Eu sentia que era um demônio que estava rosnando, mas não falei nada a ela
por estar grávida. Ela me perguntou: Ilma o que é isso? Você está escutando? Eu respondi:
estou ouvindo. Saia às catorze horas ao dar meu horário, peguei a bolsa e me despedir, ela me
disse que também iria, pois estava com medo de ficar ali sozinha. Eu penso que os demônios
agiam muito naquele local devido a essas coisas erradas que aconteciam lá dentro do órgão que
tinha a missão de levar formação a todas as dioceses do Brasil.
O bispo passava maior parte viajando em missão e não aparecia por lá só
ocasionalmente, me sentia perseguida e maltratada naquele lugar, era como se estivesse
atrapalhando os planos daquela mulher, então fui demitida sem a carteira de trabalho assinada
e sem receber nenhum direito trabalhista. Meu coração estava inquieto e fui orar pedindo a Deus
discernimento e sabedoria para agir conforme a vontade dele, como não consegui marcar com
meu diretor espiritual, pedi ajuda ao meu confessor, que me orientou a por na justiça e disse
que o bispo precisava levar um “susto” a fim de tomar consciência do que vinha acontecendo
naquele lugar.
Fiz conforme ele orientou, eu e a Larissa sofremos muitas perseguições e ameaças, mas
permanecemos firmes em oração e chegando o bispo de viagem informamos a ele o que ocorreu
e que já estávamos com a audiência agendada. Durante a conversa citei que o fato de
permanecermos tanto tempo trabalhando e ter nossos direitos negligenciados eram um pecado
dos pecados graves que bradam os céus, exortado no catecismo da Igreja Católica que
fundamentava na sagrada escritura, quando os trabalhadores não recebem seu salário. Ele
silencioso pediu perdão e demonstrou lamentar o ocorrido e não saber o que realmente estar
acontecendo por conta da sua missão ao passar mais tempo em outros estados e países a serviço
da Igreja.
Com isso, a audiência trabalhista foi conciliatória e tomei conhecimento mais tarde que
o arcebispo reuniu os párocos na diocese e todos os responsáveis pelos órgãos de serviço na
Igreja para regularizar a situação de todos os funcionários, caso existisse irregularidade na
admissão. Mais tarde o órgão foi transferido para a UCSAL, sendo afastada a mulher que seguia

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a frente dele e a sua antiga sede foi cedida a Comunidade Católica Shalom para ser o centro de
evangelização.
Diante de tantas lutas espirituais fui inspirada do ano de 2014 o ano do Rosário diário
em minha “caminhada” espiritual como devoção prioritária para combater o mal. Com o meu
desligamento definitivo do grupo de oração anterior, por não estar me proporcionando uma vida
de oração adequada, mas a uma convivência impregnada de uma mentalidade social
competitiva e negociante na qual o irmão se torna uma grande ameaça na vida comunitária. Por
causa disso, a construção de vínculos duradouros e resistentes tinha se tornado cada dia mais
desafiante ali, ao invés de “criar pontes” sentia-me cada vez mais o “abismo” da indiferença e
hostilidade.
No ano seguinte comecei fazer pós-graduação em Gestão de Pessoas, no final do curso
apareceu um nódulo tireoidiano em mim. Eu nem tinha percebido, embora sentisse a dificuldade
de beber algo, estando num domingo para participar da missa, uma pessoa que estava na
recepção, me abordou e comentou que eu estava com um bócio e era preciso ir ao médico.
Fiquei tão assustada que na segunda-feira fui para um clinico geral particular que me deixou
em pânico ao apalpar e perceber um nódulo misto, embora não fosse a especialidade dele, me
encaminhando para o endocrinologista.
Ao chegar lá ainda muito assustada, uma enfermeira me perguntou por que eu estava
tão tensa e se tinha alguém na família com histórico de câncer? Respondi que não, mas estava
assim devido o que o medico clinico geral me disse. Ela pediu para eu me acalmar e disse que
ele foi muito imprudente de falar algo que ele não tinha conhecimento. Após ser atendida pela
especialista, fui encaminhada para fazer a biopsia após confirmação do nódulo benigno e iniciei
um tratamento de alcoolização para esvaziamento do nódulo a fim de evitar uma cirurgia de
alto risco. Esse tratamento doloroso e difícil durou cerca de dois anos.
Recebi pelo meu anjo da guarda um livramento num dia de sábado em que antes de ir
para a aula de pós-graduação fui ao santuário da piedade bem cedinho umas seis e meia para
fazer o ultimo sábado da reparação ao imaculado coração de Maria. Devoção iniciada em 2014
e repetida consiste em que, os cinco primeiros sábados do ano em reparação a Imaculada
Conceição (dogma de fé). Essa devoção originou-se da aparição de Nossa Senhora de Fátima
aos três pastorinhos e consiste em que em 1925 a Virgem Santíssima apareceu a Lúcia e pediu
pra estabelecer a devoção ao Imaculado Coração de Maria, cercado de espinhos por causa das
ofensas a ela que é a mãe de Deus. São cinco sábados por causa das cinco ofensas: contra a

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imaculada conceição, a virgindade, a maternidade divina, ao ensinar as crianças a ter desprezo
a mãe de Deus e a quinta é a ofensa aos seus ícones.
Chegando lá estava muito deserto a praça da piedade, no ponto de ônibus tinha dois
jovens um rapaz em pé e uma jovem sentada com os livros nas mãos pareciam estudantes. Do
outro lado da rua estava um vendedor de ambulante que tinha acabado de chegar pra vender
cachorro quente. Eu senti necessidade de sentar, pois já estava cansada e também ainda com
sono até a abertura do santuário para a missa das sete horas, quando me desloquei e fui em
direção à menina, ouvi um sussurro no meu ouvido: não sente. Fiquei muito apreensiva sentir
que iria acontecer algo ruim naquele momento e comecei a andar de um lado para o outro
procurando estar atenta. Quando der repente apareceu um homem branco, forte parecia ter um
metro e oitenta e uns cinqüenta anos com uma faca peixeira grande de cabo branco nas mãos.
Ele foi em direção à menina que estava sentada e fez o movimento de que iria esfaqueá-la
segurando-a no braço.
A minha reação foi sair correndo atravessando a rua em direção ao carro do vendedor
de cachorro quente, o rapaz parou um taxi que ia passando na hora entrou e foi embora, a menina
coitada gritava socorro chorando e tentando se desviar da agressão. Apareceu um senhor não
sei de onde que segurou o agressor por traz e ai a menina saiu correndo com os livros nas mãos
chorando e gritando, enquanto isso o homem não conseguiu conter o homem com a faca por
muito tempo e ele escapou e saiu correndo em direção a menina. Não sei como isso terminou,
mas ainda estava em estado de choque e tremendo com as mãos geladas ao entrar na Igreja.
Quando acalmei meu coração durante o Oficio da Imaculada Conceição que normalmente é
rezado antes da missa e percebi que meu anjo da guarda havia me livrado daquele agressor, pois
eu iria sentar ao lado da menina e com certeza quem o agressor iria atacar era eu.
No decorrer do tratamento da tireóide fui indicada para trabalhar numa pequena empresa
familiar no ramo de cursos para corretores. Ao completar sete meses pedi demissão devido à
influencias espirituais que percebia no ambiente em que o diretor tinha me dito que era da
maçonaria e que a mulher e a filha eram espíritas e começaram a impor que antes de começar
o trabalho que eu fizesse com ela uma oração espírita, me recusei e sai da empresa.
A partir disso, resgatei minha autonomia diante das situações conflitantes e passei a
corrigir percursos sociais, profissionais e afetivos desgastantes. Depois das auto-avaliações
decidi ser gentil comigo mesma e me afastar de pessoas e terminar relacionamentos que
aparentemente pareciam bons, mas que eram ruins e destrutíveis, pois sugavam minhas energias
e ameaçavam meu estado emocional freqüentemente despertando tensão e estresse.

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Diante de tantas revelações e entendimentos de quase tudo que me acontecia, resolvi
diminuir um pouco o ritmo da vida espiritual, evitando participar de eventos religiosos, grupo
de oração e dos irmãos com os quais costumava sair, somente iria à missa aos domingos e faria
confissão quando necessário.
Passei a deixei a oração de lado por algum tempo para perceber se era o estresse dessa
caminhada que acabou deixando meus sentidos tão aguçados. Depois de algum tempo de
descanso sonhei que estava na missa e que no momento da comunhão eu me dirigia à fila para
receber Cristo eucarístico, ao chegar minha vez o padre colocava em minha mão cinco hóstias
e eu arregalava os olhos nervosos para ele e dizia: padre só pode ser uma. O padre me respondia
coma todas essas minha filha, Deus te ama. Ao despertar fiquei sem entender o sonho, só vim
compreender no momento da confissão no Santuário da Piedade: filha minha menina você está
afastada de Deus não é? Ele te ama! Deus te ama! E por mais que você se esconda Ele vai te
encontrar. Percebi que Deus estava no controle de tudo e que eu precisava viver a minha missão
nesse mundo e não deveria rejeitar o entendimento do mundo espiritual que Ele estava me
proporcionando.
Com a Divina Providencia o Papa Francisco inaugura em dezembro de 2015 o inicio do
Ano Jubilar da misericórdia na IC, que perduraria no ano seguinte com uma graça especial na
vida sacramental para todos os cristãos católicos que estavam enfrentando algum tipo de
enfermidade seriam agraciados com a experiência da proximidade com o mistério da paixão de
nosso Senhor Jesus Cristo, o recebimento da indulgencia e uma experiência profunda com a
misericórdia de Deus, então durante o tratamento de alcoolização procurei o sacramento da
unção dos enfermos.

5 Retorno à Comunidade Católica Shalom

O meu coração almejava por uma vida de oração, contemplação e serviço ministerial
autentica, na qual me impulsionasse a viver a vida comunitária e fraterna. Então, o fato que
marcou o meu retorno definitivo a CCS em de 2015 precisamente setembro me inserir num
retiro de cura interior na CCS chamado de: Curados para amar. Nesse retiro participaram em
torno de trinta pessoas, na sua maioria mulheres e casais, fomos sensibilizados a orar no
“deserto” por nossa historia de vida desde a concepção, vida uterina, infância, juventude até a
vida adulta e maturidade. Eu tinha sido aprovado numa segunda graduação no curso de ciências
sociais que resolvi cursar, por causa de um convite recebido para coordenar uma ONG, no

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entanto desisti do convite mais prossegui no curso, embora o contexto da faculdade fosse
totalmente hostil ao cristianismo.
Durante o retiro recebemos um diretor espiritual que nos ajuda orando por nós, dentre
as várias situações que oramos uma delas foi que no momento da oração com a Terezinha,
consagrada da comunidade, Deus falava em profecia: “Não tenhas medo, eu mesmo te
defenderei. Eis que te envio como ovelha no meio de lobos.” E dava a passagem da bíblia do
livro de Daniel capitulo três, em que os dos três jovens que foram jogados na fornalha
sobreviveram por terem sido fies a Deus.
Ela me orientou a utilizar o louvor como arma diante de todas as lutas sejam elas
espirituais ou humanas, a buscar a adoração ao santíssimo, e estar sempre em estado de graça,
me explicou que tudo o que eu estava vivendo era batalha espiritual e que Deus me deu esse
dom de “hipersensibilidade espiritual” não era loucura da minha cabeça e nem estresse. Alem
disso, me disse que esse dom só pode ser retirado de quem possui através de um ritual do
exorcismo por um Bispo e que era melhor eu aprender conviver com ele e usá-lo a serviço dos
irmãos. Esse é um dom que Deus concede a poucos e que Deus me concedeu pela sua
predileção por mim e sua eleição por mim.
Isso pacificou meu coração, pois estava determinada a abandonar a faculdade se preciso
fosse para guardar a minha fé, com a percepção em seguida da oração conscientize-me o quanto
nada é por acaso e como é reto o caminho que Deus me conduz, alem de ter sido ressaltado que
Ele tinha um propósito por traz desse fato, que ainda continuo discernindo, mas sabia que
embora não estivesse num local mais fácil para mim, estava no local no qual Deus me quer.
Esse retiro foi importantíssimo já que me fez reler a ação e obra de Deus em mim e revigorou
minhas forças na renovação do batismo no Espírito Santo.
Deus possui uma pedagogia espiritual para cada filho seu e embora muitas vezes não a
entendamos, pois as revelações são parciais na medida do meu caminhar e acompanhadas de
um grande mistério, sempre exigindo confiança plena nele. E que a questão das pessoas terem
inveja de mim está no fato delas perceberem graças dadas por Deus em minha vida que eu nem
sempre percebo. E que a causa dos meus sofrimentos não é meu irmão, mas a maneira com que
eu tenho vivido reagido e ordenado para o pecado esses acontecimentos, que precisam ser
ordenados para o amor.
Como a instituição estava em greve, durante o semestre sem aula procurei fazer uma
avaliação médica que a mesma determina para os estudantes e percebia que um cisto na mama
esquerda tinha crescido e me incomodava. Nessa avaliação numa consulta no SMUB com a

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ginecologista Marioni, em que foi descoberto segundo nódulo na minha mama esquerda.
Durante o exame fiquei assustada, mas segundo a médica que me tranqüilizou era benigno, e
me encaminhou para a mastologista.
Embora fosse discernido que deveria retornar a caminhada espiritual na CCS, eu apenas
seguia participando dos eventos abertos promovidos nela, mais ainda não tinha retornado ao
grupo de oração e estava somente indo vez em quando a oração do Rosário a cada quinze dias
aos sábados na Capela do Iguatemi.
Numa outra ocasião após a comemoração da defesa do TCC da pós-graduação, fui a
uma festa em família, e ao ser questionada por uma mulher parenta que entrou para a família
há pouco tempo sobre a finalização dos meus estudos, respondi que sim mais que faria uma
nova graduação na UFBA, pois tinha sido aprovada no curso. Ela ficou perplexa com a notícia
e embora não ter me dito mais nada, senti ao dar as costas e voltar para casa que algo aconteceu
e ouvi ecoar numa revelação que tive ao voltar a minha casa a frase: essa mulher não esmorece.
Daí em diante foi quase três semanas sem consegui dormir, rezando com dificuldade
como que estivesse lutando com uma força invisível, sentia que era algo espiritual. Ao encontrar
uma irmã de caminhada num sábado, fui informada que o meu diretor espiritual celebraria uma
missa naquele domingo próximo na minha comunidade e antes faria oração de cura e libertação.
Ao chegar à comunidade de São Felipe, o padre já estava no altar e iniciou a oração de cura e
libertação, eu estava sentada do meio pro fundo nos bancos, ele proclamou uma moção
espiritual descrevendo que tudo o que eu estava sentindo através do dom de discernimento dos
espíritos:

“tem uma mulher aqui que a algumas semanas não esta


conseguindo dormir, pois lançaram sobre você um espírito
de desanimo por causa da inveja que você desperta nessa
pessoa. Esse espírito vai sair agora em nome de Jesus Cristo
e nunca mais retornará.”

E o padre continuou com a oração em línguas e em português a proclamar várias


libertações e curas para a assembléia que orava com ele. Eu saio de lá perplexa por saber quem
tinha feito isso, e a partir daí comecei a por essa pessoa em minhas orações no Rosário pedindo
a Nossa Senhora por sua conversão e a silenciar sobre os meus projetos, afinal ninguém inveja
aquilo que não sabe.
Pensando em descansar um período depois das minhas lutas no inicio do Ano Mariano
(2016) instituído pelo Papa Francisco, participei dois dias do Reviver, retiro espiritual, que
ocorre durante o período do carnaval promovido pela mesma comunidade, ao me dirigir a
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confissão o padre me exortou que eu estava rodeada de pessoas negativas e que era para me
dedicar mais a vida de oração, e evitar os efeitos da inveja que eu atraia nas pessoas onde
trabalhava. Nesse retiro busquei também o ministério de oração e aconselhamento, durante a
oração em que uma consagrada da aliança orava por mim, ocorreu às seguintes moções e
exortações:

“Viver o sobrenatural, acolha tudo como vontade de Deus.


Confiança absoluta em Deus. Retornar a vida de oração e
espiritualidade. Minha filha não viva o racional, mas o espiritual.
Eis que vou fazer obra nova, a qual já surge não a vedes”
lembrando a passagem bíblica do livro de Isaias 45,19.

A consagrada me disse ainda: “você precisava voltar a “caminhar” na comunidade


Shalom, pois Deus quer você conosco”. Ao sair dali fui à capela ficar em adoração ao
Santíssimo sacramento e sentia uma paz tão profunda, mas ao mesmo tempo sentia que algo de
muito grave estava para acontecer e Deus estava me preparando. Eu pensava comigo mesma,
não pode ser comigo, já que estou fazendo esse tratamento tão dolorido na tireóide, poderá ser
com algum familiar, tinham pessoas enfermas em minha casa.
Durante a semana santa fui para o retiro aberto próprio pra esse tempo de espiritualidade
que a CCS promove, no segundo dia que era a sexta feira da paixão, estava junto com a como
comunidade para viver o dia em silencio e oração, no momento da adoração ao santíssimo
sacramento, eu estava sentada num dos bancos da Igreja de Nossa Sra. Da Conceição no
comercio, a igreja estava repleta de pessoas e a consagrada que conduzia a oração com o
santíssimo sacramento exposto para adoração e louvor, teve a moção espiritual na qual Deus
mostrava pra ela corações rebeldes que estavam ali relutando para não aceitar a sua cruz. Eu
entendia que era comigo que Deus falava, que eu era uma das pessoas, pois sentia-me muito
cansada físico, psíquica e espiritualmente por causa de tudo que eu estava vivendo naquele
tempo. Embora com tanto cansaço eu escutei uma instrução interior que sentia ter origem em
Deus na qual me orientava, me sentia impelida a obedecer aquela voz que ecoava dentro de
mim.

5.1 Segundo Seminário de Vida no Espírito Santo.

Entrei em contato com Naina e perguntei se ela soubesse de algum evento oracional que
eu pudesse participar me falasse, pois estava precisando. Ela me envia uma mensagem pela rede

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social dizendo que haveria um encontro de todos os grupos da comunidade, mas que eu não
poderia participar, pois era reservado. E mais uma vez me convidou a voltar ao grupo de oração
do Shalom e disse que no final de semana seguinte teria um Seminário de vida no Espírito
Santo, promovido pela Comunidade Católica Shalom no Santuário Nossa Senhora Aparecida
no Imbuí, mas que ela não estaria presente.
Sentia-me impelida a ir ao evento e chegando lá não conhecia ninguém, já que a
comunidade sempre se renova os membros devido à missão da vocação. Pensei é melhor não
conhecer mesmo, me sinto mais a vontade. Durante o acolhimento o clima era bastante
agradável, tinha umas trinta pessoas no Maximo e dava para conhecer durante o evento quase
todos. Eu pedia em oração uma graça especial para Deus e sentia que ele me concedia, comecei
a louvar, pois meu coração estava tão cansado que somente o louvor poderia me retirar da
exaustão que estava vivendo, as “noites escuras” ditas por São João da Cruz e a aridez espiritual
que Santa Tereza falava.
Quando a adoração foi iniciada a procissão do santíssimo percorria cada pessoa, o padre
parava diante de cada um e começava a oração em línguas, havia vários servos de seminários
orando pelos participantes e quando se aproximou de mim, veio uma consagrada que me impôs
as mãos e profetizou:

“Eu te atrai até aqui para que tu repouses em mim. Eu


conheço as tuas lutas e tua dor. Sempre estive e estou
sempre ao teu lado. Coragem. Mim entrego todo a ti, tu
te entrega toda a mim. Confie em mim.”
Eu desabei em lágrimas e soluços naquele momento, não conseguia controlar, o cansaço tinha
se desfeito e me sentia leve e amada por Deus como nunca tinha me sentido antes. Havia
acontecido algo instantâneo dentro de mim que eu não conseguia explicar, estava me sentindo
muito bem física e psicologicamente.
No segundo dia mais outro momento de adoração com Jesus cristo exposto no
sacramento no altar, sentia um chamado novo em que Cristo me convidava a unir a cruz me
ofertando a ele pela salvação das almas, e depois de ouvi a segunda profecia, não tive mais
dúvida de que eu estava com câncer de mama. Mais uma vez os consagrados saíram impondo
as mãos individualmente e orando por nós participantes. E Deus falou em segunda profecia:

“Eu te amo com um amor muito especial. Eu quero te ver


sorrir e feliz. Tudo o que você está vivendo é para o seu
crescimento. Eu quero transformar sua vida. Confie em

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mim. Eu sempre estou com você. Eu nunca te deixo
sozinha.”

Durante aquela semana recebi uma ligação da minha sobrinha Emanulle e passei a
partilhar o que vivi no final de semana, ela me disse que era coisa da minha cabeça e que era
conseqüência da minha preocupação, me disse para descansar e esperar o resultado dos exames
que demoraria uns dois meses para sair. Prosseguir dando continuidade as atividades e aulas na
faculdade.
Nesse período a minha família estava já preocupada com Samuel meu sobrinho de treze
anos que estava tendo crises de esquizofrenia além de problemas espirituais, havia dois anos
sem contato com ele, meu diretor espiritual frei Arenilton, então resolvi procurar o telefone que
ele tinha me dado pra ver se ainda geraria contato. Nesse dia enviei uma mensagem pelo
whatssap informando o que meu sobrinho estava passando e pedindo ajuda a ele. Fui
surpreendida com a resposta da mensagem dele na qual dizia: “Você precisa muito de oração
de cura minha filha”. Em resposta disse não ser eu o motivo do contato, mas meu sobrinho.
Ele foi bastante enfático, você precisa de muita oração filha, eu quero que participe das
missas de curas na Igreja de Nossa Senhora do resgate com frei Paulo até quando eu retornar
ao Brasil, pois viajarei amanhã em peregrinação e ficarei fora umas duas semanas. Pronto se
eu tinha alguma duvida do que experimentei no Seminário naquele fim de semana, nesse
instante acabaram-se todas elas, mesmo sem ter recebido o resultado da biopsia.
Assim fiz conforme ele me orientou e durante o seu retorno marquei pra receber oração
e orientação espiritual na Igreja Imaculada Conceição de Periperi, onde ele era o vigário. Em
uma das missas de cura as cinco e meia da manhã na Igreja do resgate entregar em oração todo
esse tempo de luta contra essa enfermidade, pedindo a Deus muita coragem e força e que a
vontade dele se cumprisse em minha vida: senti muita alegria, Deus me capacitando para
enfrentar a situação com o dom da fortaleza. Foi o dia do encerramento do cerco de Jericó, Deus
estava agindo.
Em vinte e sete de setembro recebi o diagnóstico pela medicina de que estava com
câncer de mama, estava acompanhada de minha sobrinha Nislane e ao ser chamada a paciente
informou que tinha que entrar sozinha, sem acompanhante. Lá fui eu ao escutar meu nome,
entrei na sala da mastologista cirurgiã Doutora Thais Argolo no Sican e sentei. Percebi que algo
tinha dado, pois ela olhou pra mim e ao manusear o prontuário ficou procurando uma forma de
começar a falar. Notei também que na folha estava escrito um nome estranho, ai fiquei

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completamente gelada. Ao iniciar a médica disse que a noticia infelizmente não era muito boa,
pois o resultado tinha sido o diagnostico de câncer na mama direita.
Silenciei profundamente, como se passasse em minha mente naquele instante todas as
“palavras de profecias”, “palavra de ciência” que recebi durante um ano em minha caminhada
nas orientações espirituais, experimentei um turbilhão de emoções, sensações e sentimentos
dentro de mim! Questionava Deus dizendo em silencio dentro de mim: pra que isso Senhor?!
Perguntei calmamente a medica: e qual será o passo agora? Ela ficou silenciosa me olhando e
disse: isso mesmo florzinha muita tranqüilidade nessa hora, o câncer tem cura sim.
O primeiro passo é fazer a cirurgia com mastectomia total, mas não se preocupe, pois
faremos a reconstrução da sua mama tudo pago pelo SUS. Depois disso faremos um estudo do
tumor e veremos os outros procedimentos de acordo com os resultados. Em seguida me disse
que me encaminharia com a papelada para o hospital Aristides Maltês para a marcação da
cirurgia e que também atendia lá caso eu quisesse ser operada por ela. Eu estava em estado de
choque, como no momento em que me deparei com uma gangue ao voltar da aula próxima a
minha casa.
Aguardei e ao sair da sala ainda estava em estado de choque e não conseguia esboçar
nenhuma reação fui encaminhada a assistente social, psicóloga e a enfermeira. Minha sobrinha
afirmou deu benigno não foi? Eu respondi que não, ela demonstrou um semblante com a
expressão de surpresa e susto. A sensação era que tinha recebido uma anestesia que me deixou
impactada, eu não conseguia chorar, nem gritar, nem expressar coisa alguma naquele momento
que não fosse silêncio.
Ao olhar que já era noite já passavam das 18 horas dei um simples olhar no céu e desatei
um choro sufocado e angustiante, minha sobrinha me abraçou. Não sabia descrever naquele
momento o que sentia. Ao chegar a minha casa já contida pelas emoções e em silêncio ouvi
minha mãe perguntar da cama, pois ela já estava deitada: como foi a consulta o que disse a
médica? Eu respondi: deu câncer e relatei o que tinha que ser feito de forma prática. Ela
levantou e sentou-se na cama e disse que não acreditava e tornou a perguntar se era verdade o
que eu tinha respondido. Perguntou o que eu iria fazer no dia seguinte, respondi que iria a aula
normalmente, pois a vida continua e que só iria ao hospital marcar a cirurgia e fazer os exames
que faltam no dia que a enfermeira disse e pedi a ela que contasse aos meus irmãos.
Refletir comigo mesma que precisava dominar a notícia da enfermidade e não deixar
que ela me dominasse e para isso precisava dar sentido a toda essa cruz, vivendo-a unida
intimamente ao mistério do sacrifício de cristo crucificado. Mas uma certeza me deixava em

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paz, viva ou morta é a Jesus Cristo que pertenço! Renovei os votos da minha consagração. Não
havia histórico de câncer em minha família, não que eu soubesse. O médico que me atendeu
antes da biopsia tinha me feito tantas perguntas e dito que não sabia explicar se o diagnostico
confirmasse, pois eu não estava no perfil.
Não era uma boa notícia, então não sai espalhando, mas duas amigas em diferentes
situações pareciam saber de alguma forma. Uma mora em Maceió e não sabia que eu estava
vivendo esse momento dramático, tinha enviado um áudio com um refrão numa música
evangélica que pronunciava quase as mesmas palavras da profecia das duas adorações no
seminário. O refrão era assim: “Quando você sentir medo do seu lado eu estou e é bom que
você saiba que eu sinto a tua dor. Nunca, nunca se esqueça que o mar posso acalmar e que eu
sei o tempo certo da vitória te entregar. Esse tempo é necessário pra te amadurecer e depois tem
novidade pra você. Eu cuido de ti, eu cuido de ti. Descansa em mim. Comece a sorrir. O que eu
tenho é bem melhor, pois só eu sei do amanhã, então recebe um abraço meu, pois da tua vida
cuido Eu.” A outra experiência de oração foi com minha amiga Larissa que me enviou outro
áudio comentando que ha algumas semanas durante a oração do Rosário sentiu Nossa Senhora
pedir a ela pra interceder por mim, durante o grupo dos Rosários na Capela do Iguatemi, e que
colocou no coração dela que eu precisava de muita oração.
Então com a confirmação biomédica de que eu estava com câncer de mama, busquei a
orientação espiritual com Frei Arenilton e acolhi as recomendações e o entendimento dele como
expressão da vontade de Deus para mim naquele momento. Foram às seguintes instruções para
viver o percurso que chamo de “vale da sombra da morte”: “em nossa vida só acontece aquilo
que Deus permite, na vida de um consagrado mais ainda, foi assim com a vida dos santos e será
com a nossa; É preciso abrir-se e lançar-se na graça de Deus; Oferecer a enfermidade pela
salvação da sua alma, pois o mais importante é ir para o céu! Carregamos a cruz não só por nós,
mas também por outras almas, a vida dos eleitos de cristo sempre foi marcada pelo sofrimento;
Procure “desapegar-se” do corpo, porque o nosso corpo pertence a Deus, se ele pediu uma
mama, que seja assim. Deus faz o que quiser com a nossa vida. Aceite, esse é o primeiro passo
para a cura; Apegue-se a Nossa Senhora peça a ela a cura e o consolo; Se fortaleça interiormente
para a luta; Continue com as atividades normais na faculdade, não tranque o curso; Tudo isso
não é fácil, mas é preciso passar pela cruz. Não busque mais respostas e justificativas para
entender os acontecimentos em sua vida, apenas se lance no mistério e aceite, pois não devemos
indagar os caminhos pelos quais Deus nos conduz.”

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6 Caminho de cura interior

Fiz a escolha de retornar ao caminho de cura interior durante a quimioterapia, para poder
conseguir compreender melhor o processo pelo qual eu estava passando, e neste itinerário Deus
começou a realizar uma obra de paciência em mim, um chamado a desacelerar a perceber o que
antes não percebia devido às pressas, a buscar mais a quietude, a oração e ao recolhimento
interior, a alimentar a minha alma, perceber que muitas vezes eu fazia as coisas certas por
motivações erradas. Este chamado a sair da vida social agitada que me lançava para fora de
mim o tempo inteiro e me causava desgaste emocional. Eu tinha negligenciado o espaço que
era de Deus em minha vida e precisei devolver-lo a quem pertencia por direito na dinâmica do
meu cotidiano. Como confirma BRANDÃO (2015) ser loucura abandonar as luzes do Alto, já
que somos tão ofuscados, e ainda queremos contrariar os desígnios de Deus sobre nós,
claramente traduzidos na obediência e nos acontecimentos da vida! Cavamos assim o nosso
aniquilamento e arriscamos a salvação eterna!
Neste caminho procurei descobrir o que me tornou responsável nesse processo de
adoecer, e isso me conduziu a um período de autoconhecimento profundo para o enfrentamento
da doença. Revelado em um dos atendimentos de cura interior que o motivo do câncer de mama
ter surgido foi os sentimentos despertados durante o relacionamento com cotidiano com
algumas pessoas, tendo sido este o ponto da mutação, decidi buscar apoio psicológico para
melhor obter sucesso no tratamento e evitar uma reincidência da doença, já que Deus havia me
exortado.
Precisei corrigir as rotas erradas e sair do “palco” para ir aos “bastidores” descobrir o que
me causou desequilíbrio e reaprender a maneira de mim relacionar com Deus, comigo mesma,
com as pessoas, com as coisas e com o criado. A voltar a escutar a voz interior que eu precisava
obedecer, a voz ecoa dentro e não fora de mim, mas tinha sido sufocada em algum período da
minha vida por tantos desafios e tribulações e conseqüentemente deixei de ouvir Deus para
ouvir outras vozes, que não me levou ao crescimento, a uma boa conduta e não me fez bem, ao
contrário ao ouvi-las fui distanciada do projeto original de Deus.
Para voltar à fecundidade interior percebi que era preciso retornar e retomar esse projeto
de vida em vista da aliança que tenho com Deus, a buscar o olhar de dentro por ter me perdido
fora, a exercitar o autoconhecimento, e a intimidade com Deus na vida oracional foi o ponto de
retomada mais importante. A vida disciplinada de oração pessoal e estudo bíblico me ajudou a
compreender o melhor o processo que eu estava vivendo a fim de colaborar com a graça divina

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para a minha cura não só física mais também espiritual, deixando-me conduzi por Deus e
concomitantemente devolver a ele o centro da minha vida.
A qualidade da minha vida passou a depender do quanto preciso ouvir a voz de Deus
que ecoa dentro de mim, passei a cortar os excessos, limitar o acesso, ocupar-me comigo mesma
para curar as marcas interiores que no decorrer da vida vão sendo feitas. E para isso, era
necessário a abertura do coração para Deus, a fim de me “libertar das escravidões” ou
dependências afetivas de relacionamentos inadequados, e buscar uma maneira mais saudável
para me relacionar, pois a reconstrução teria que ser feita por dentro. Como afirma o padre
Robert Degrandis: “A cura interior é a cura do homem “por dentro”; a mente, à vontade, a
memória, as emoções, o intelecto, a imaginação, enfim, os “sentimentos da alma”. É a luz de
Jesus Cristo, o Espírito Santo, que nos transforma que nos refaz na imagem e semelhança de
Nosso Senhor Jesus Cristo.”
Compreendi que Deus é quem manda, e que como diz Santa Faustina em seu Diário
espiritual nº 33 “Jesus querendo purificar uma alma, utiliza os instrumentos que quer.” No dia
em que fui internada para fazer a cirurgia pedi ao padre Renato Minho para ir ao hospital para
que eu recebesse os sacramentos da confissão, unção dos enfermos e o Corpo de Cristo. O
estacionamento lá é reservado apena para os funcionários e médicos, ele pediu ao porteiro para
entrar com o carro e me ligou, eu pedi pra sair e avisei o que faria e ali dentro do carro dele
recebi os sacramentos e a benção de Deus.
Antes de ministrar-los ele me perguntou como eu estava me sentindo e respondi que a
minha vontade era sair quebrando tudo que estava ao meu redor, tamanha era a agonia da minha
humanidade, mas ao mesmo tempo tinha algo dentro de mim que domava meus sentimentos e
pacificava meu coração, realmente eu estava vivendo uma luta interior muito grande, o padre
ficou com os olhos arregalados me olhando como se estivesse assustado com a minha resposta.
Na tarde daquele dia rezei o Rosário e fiquei em paz, na enfermaria ao ser dirigida ao
meu leito, encontrei outras pacientes que estavam bem ansiosas, conversei com elas e uma delas
me disse ter medo do que poderia enfrentar após a cirurgia. Disse a ela que não ficasse
preocupada que deixasse tudo nas mãos de Deus e que o melhor seria viver um dia de cada vez
ou um desafio a cada dia e confiar a N. Senhora, que é mãe e mulher e mãe sabe o que estávamos
sentindo. A paciente me disse que tinha esquecido o terço em casa mais como o meu leito ficava
ao lado do dela, ela acompanhava comigo a reza do terço.
No dia seguinte bem cedinho após minha higiene pessoal a cirurgia foi realizada (08 de
novembro de 2016), num ambiente e o clima descontraído com música e dança da equipe

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(cirurgiã, anestesista e enfermeira) em volta de mim, desejando entre si muito axé o que marcou
aquele momento. Em seguida respondi várias perguntas ao anestesista com a finalidade dele ter
certeza que realmente eu era a paciente. Durante a cirurgia sabia que ocorreria a mastectomia
radical, na qual se retira o músculo total da mama, e também a possibilidade do esvaziamento
axilar em que retira todos os linfonódulos.
Diante da grande demanda no hospital público e da data da minha cirurgia chocar com
de outra paciente, a minha mastologista cirurgiã me comunicou que eu decidiria se adiaria ou
deixaria para fazer a cirurgia plástica depois, me deixando ciente do risco que eu estava
correndo caso optasse pela primeira alternativa, pois o tempo é considerado fator fundamental
para chegar à cura da doença. Depois da alta médica, ao me observar no espelho, o choque foi
tanto que fiquei muito impactada, a imagem era tão forte repercutiu no meu psicológico e
emocional, muito estranho me observar sem a mama, realmente foi uma mutilação. Tinha a
consciência que o seio sempre foi visto como símbolo da sexualidade feminina e que continua
sendo bastante valorizado no corpo da mulher na sociedade contemporânea, mesmo sabendo
que adiante viria a possibilidade da reconstrução mamaria isso me perturbou.
O esvaziamento axilar deixou conseqüências irreversíveis já que para a medicina ainda
não tem solução e por isso é considerado uma deficiência física. Sabia que o meu corpo não
seria mais o mesmo, depois da mutilação da mama, sobrou apenas uma enorme cicatriz em
torno de doze centímetros na mama direita e outra cicatriz na mama esquerda no qual foi feito
o quadrante para retirada de outro tumor. A minha auto-imagem transformada de maneira
agressiva diante da realidade da doença e esforçava-me para agir naturalmente com o meu corpo
ao tomar banho, ao me vestir após a retirada dos curativos do local, e busquei equilíbrio para
superar essa mutilação na certeza que seria apenas uma fase.
Com o passar do tratamento a minha auto-imagem foi sendo reconstruída, procurei
meditar que ser mulher é muito mais que possuir duas mamas, a dimensão estética do meu
corpo mudou positivamente à medida que perdi o apego exagerado que eu estava dando a ele,
incomparável com a cura que teria e a continuidade dos meus sonhos e projetos. Foi
fundamental reconstruir valores e ressignificar a ausência da mama imposta pela enfermidade
durante todo o tratamento a fim de melhorar minha condução no tratamento e obter melhor
qualidade vida.
Retomando sobre o esvaziamento axilar que foi feito para prevenir uma metástase
futuramente, devido ter encontrado célula em um dos linfonólodos do braço direito, o que
caracterizou que essa célula já tinha migrado para a axila. Esse processo gerou conseqüências

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que afetaram o meu desempenho e a execução das minhas atividades diárias, pois limitou o
movimento dos braços alem de causar desconforto, dor e dormência durante o pós-operatório
sendo necessário fazer fisioterapia por tempo indeterminado para a reabilitação. As seqüelas
deixadas por esse procedimento mudaram completamente a minha rotina, pois teria que tomar
cuidados como - não dormir em cima do braço para evitar o inchaço e crescimento do mesmo
já que os linfonolodos (o sistema linfático age para filtrar e defender o organismo contra
infecções porem pode disseminar para outros órgãos alguns tipos de câncer) e por isso, foram
retirados totalmente deixando o braço direito desprotegido e sem defesa.
O uso temporário do dreno (retirado após dez dias) e das próteses mamaria (feitas por
minha irmã Selma) no pós-cirúrgico modificaram também a minha posição para dormir. O uso
da prótese mamaria na substituição a mama retirada, me proporcionou desconforto
inicialmente, mas com o passar do tempo e durante o dia, com a cicatrização dos cortes feitos
sentir maior conforto para executar movimentos com segurança e naturalidade.
As novas adaptações e condições de vida como a fisioterapia, e a socialização com
outras pacientes na convivência semanal me auxiliou na reorganização da vida e minimizou os
impactos psicológicos causados pelo tratamento, afinal eu não era a única que estava passando
por esse processo e fazer os exercícios em grupos proporcionou troca de experiências, ações de
solidariedade como a doação de perucas e lenços para evitar a desistência do tratamento.
Como a intercessão de Nossa Senhora, através da oração do terço e do rosário que
sempre foram constantes em minha vida, trouxe consolo e paz para passar pelas dores
provocadas pela medicação da quimioterapia, principalmente durante as brancas que me
deixaram literalmente debilitada na cama. Tinha a certeza dentro de mim que tudo iria passar,
assim, trouxe à memória a promessa de Fátima 1917: “Não há problema de ordem material,
pessoal, familiar ou espiritual, nacional ou internacional que não seja solucionada com a oração
do terço”. Era freqüente nos corredores do hospital ao ir às consultas com o médico ver
pacientes orando com o terço na mão ou trazendo-o enrolado no braço, no pescoço, nas cadeiras
de rodas e macas.
Um fato marcante que aconteceu no dia que recebi alta, na saída do hospital ao pegar o
taxi juntamente com minhas duas irmãs, uma delas esqueceu no taxi a sacola que continha todos
os documentos do hospital (cartão, papel da alta, identidade), só lembrei-me do motorista do
taxi porque percebi ao entrar no taxi que ele tinha um terço de madeira no pescoço, e só eu
percebi isso. Uma passageira encontrou a sacola e falou com ele, ele veio trazer em casa. Senti
que o terço no pescoço do motorista foi um sinal de que Nossa Senhora estava conduzindo tudo.

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Nem consigo imaginar o problema que daria para ser receber atendimento caso, aqueles
documentos não tivessem sido devolvidos. Uma maneira bem simples e prática de viver a
“consagração a Jesus cristo” através de Maria é recitar duas jaculatórias que menciono várias
vezes durante o dia “eu vos pertenço Santíssima Virgem, salvai-me” e a outra é “Sou todo vosso
e tudo que tenho vos pertence ò meu amável Jesus por Maria vossa mãe santíssima”.
A retomada do caminho de oração pela cura interior passei por nove atendimentos com
Claudia Fonseca que duraram um ano e cinco meses. Nesse percurso foi necessário exercitar o
perdão, a humildade, a tolerância, a renúncia diante da vida cotidiana tão dinâmica que não
tornava em nada a fase de eu, uma mulher com câncer de mama, monótona.
Eu comparo a quimioterapia a uma “tempestade”, na qual Jesus cristo me convidou a
passar nesta “barca” da vida para atravessar para outra “margem”. Durante essa passagem
muitos foram os desafios que enfrentei dentro e fora de mim, para chegar do outro lado da
margem mais madura, mais leve e mais livre. Para combater essa “tempestade” chamada câncer
de mama, foi necessário passar por uma prova de resistência difícil, no qual foi arrastando tudo
de ruim como as células cancerígenas e os ídolos que eu cultuava sem noção, mas também, tudo
de bom como os cabelos, as unhas, a força física, a imunidade e tantas outras coisas.
Os cuidados cotidianos são muitos durante o tratamento, são varias advertências como
não ficar próxima de pessoas gripadas e nem na multidão então precisei deixar de ir às missas
dominicais por todo o tratamento, assistia pelo TV e recebia a comunhão quando o ministro da
eucaristia ia me levar. Habitualmente tinha que usar uma máscara para me proteger, até em casa
mesmo, evitar ambientes fechados, contato com fumantes e animais de estimação, beber três
litros de água no mínimo, só se alimentar com comida feita do dia, evitar receber visitas em
casa. A minha família sentia dificuldade para adaptarem-se a todos esses preceitos médicos
cotidianos, pois mexia nos hábitos diários deles como evitar produtos de limpeza fortes demais
já que a medicação possui um alto grau de toxidade.
Outra questão foi com os irmãos de caminhada espiritual, fiquei surpresa com tantas
manifestações de falta de fé nos olhares, palavras e comportamento quando me encontravam de
lencinho na cabeça. A queda dos cabelos marca profundamente o choque de estar de câncer,
principalmente quando pegava ônibus, algumas mulheres ficavam me olhando dava pra
perceber o pânico delas, os cochichos, os sinais me apontando, umas vinham-me dizer que
tinham passado e que eu também ia sobreviver, outras falavam alto fulano não vai consegui,
pois é muito fraca. Os efeitos colaterais nas quatro vermelhas foram leves, sentia muita fome e

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comia aos poucos a cada duas horas conforme a recomendação médica e por causa da dieta
alimentar acabei ganhando peso, o que muito me alegrou.
Apesar de estar vivendo um drama, o bom humor também esteve presente, não fiquei
desfigurada como imaginava ficar, ao contrário as pessoas diziam que não parecia estar com
câncer de mama, principalmente quando comecei a usar a peruca. Aumentou o assedio dos
homens, um pedido de namoro inusitado fato que me deixou com a minha auto estima elevada
e me fez sentir viva. Imersa na espiritualidade, tapei os olhos e ouvidos para não ser
influenciada por tantos comentários, o foco era concluir o tratamento e mais nada.
A experiência quando termina os ciclos é realmente de um “nascer de novo” no qual
tomei consciência do crescimento e maturidade que essa prova dolorosa me deixou. Crescir na
fé e na confiança absoluta em Deus, já que do ponto de vista da biomedicina não se podia
garantir nada, pois a medicação possui um alto grau de toxidade e a capacidade de agressão ao
corpo é inevitável variando apenas a cada paciente de acordo com seu estágio. As dores que
senti foram generalizadas nas quimioterapias brancas, meu recurso foi ofertar a Jesus Cristo me
unindo à sua dolorosa paixão na cruz.
O que deu sentido ao meu sofrimento foi à união a Jesus Cristo e a sua causa, ofertando
todas as dores físicas e na alma que o câncer de mama me afetou durante esse caminhar no vale
da sombra da morte. Infeliz e incrivelmente foi perceber que neste processo existiu pessoas que
por algum motivo ignorância, por falta de instrução ou maldade quiseram tornar-lo ainda mais
difícil. Como a relação com o meu médico oncologista não começou bem, por causa da demora
do resultado da biopsia do material enviado, atrasou o início tratamento, ele me responsabilizou
por isso me disse que poderia ter feito algo e não fiz. Eu me sentir responsável pelo atraso por
algum momento, sair muito agitada da consulta, mas pensei: quem tem o controle da minha
vida e de tudo que me acontece é Deus, orei e fiquei em paz.
Ao chegar a casa e ligar para o laboratório a menina verificou pelo meu nome e ainda
não estava pronto. Ao perceber minha angustia com a demora a funcionaria disse: se apegue a
Nossa Senhora, não fique nervosa, ela vai te ajudar. No dia da consulta com o oncologista na
qual soube que teria que fazer quatro quimioterapias quatro vermelhas e quatro brancas oito no
total. Enfrentei um médico muito irônico ao me informar sorrindo de forma sarcástica que eu
faria a primeira sessão de quimioterapia e que com menos de vinte dias meu cabelo ia cair
completamente. Ai perguntou de forma bem sarcástica sorrindo o que eu achava disso.
A queda dos cabelos foi o meu segundo momento de tomar consciência que realmente
estva enfrentando uma doença grave e muito agressiva. Em que traz conseqüências como dor

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no couro cabeludo, devido uma inflamação nos folículos pilosos e com isso ocorre à queda dos
cabelos. Esse foi um momento muito triste pra mim, pois tinha feito tratamento durante um ano
para o cabelo crescer e quando ele chegou ao tamanho desejado veio o diagnostico de câncer.
Então ao receber o resultado da biopsia após a cirurgia, decidi ir cortando aos poucos eu mesma,
fiz um chanel, e após os vinte dias da primeira quimioterapia vermelha eu mesma durante uma
madrugada “cortei Joãozinho” diante do espelho no banheiro.
O estigma social que a doença carrega fez também que muitas pessoas próximas se
afastassem a ponto de eu pensar que essas pessoas pareciam acreditar ser o câncer transmitido
pelo contato. Como eu precisava de um abraço nesses momentos de olhar de afeto me dizendo
estou contigo, essa foi uma experiência de grande “abandono” que vivi e lancei-me nos braços
de Jesus que foi abandonado por alguns dos seus discípulos no momento da sua paixão. O uso
dos lencinhos para proteger a cabeça do vento, do sol e dos mosquitos me atraiu os olhares de
piedade e temor para mim, aumentava ainda o estigma da doença, pois sinalizava que eu estava
careca e que não teria muito tempo de vida.
A conseqüência mais grave que obtive do tratamento foi infecção e inflamação
localizada nas unhas das mãos e nos pés, fato que causou muito sofrimento e que precisou que
eu tomasse quarenta e nove antibióticos para combater. Nesse episodio não conseguir consulta
com o oncologista, como estava insatisfeita com a maneira que ele me tratava, no final do
tratamento da quimioterapia, fiz o pedido na coordenação das enfermeiras para a troca do
médioco. Os dois primeiros exames de sangue que antecederam a quimioterapia eu fiz no
hospital, como moro muito longe e teria que ir de táxi, o que me traria muitas despesas, fui
orientada a fazer numa clinica próximo de casa.
Nesta clinica ocorreram episódios desagradáveis: deparei-me com algumas técnicas de
enfermagem com total despreparo para o atendimento. Uma delas durante o exame não
conseguiu aspirar à quantidade de sangue suficiente para encher a seringa; outra tremia a mão
e mostrou inabilidade total alem de ter espetado minha veia; e a última me furou na veia mais
não conseguiu faze com que o sangue entrasse na seringa. Após o primeiro episódio fiz
reclamação e mesmo assim sucederam os outros e escolhi outra profissional de enfermagem
que me tratou bem e foi eficiente.
Minha imunidade caiu três vezes retardando o tratamento da quimioterapia, o que era
pra acabar em torno de seis meses, acabou em nove meses. E infelizmente encontrei pessoas na
família que tentaram tornar esse momento ainda mais difícil, desistindo de me acompanhar no
tratamento e querendo tirar proveito dessa situação, mas Deus como tinha dito lá no Seminário

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de vida no Espírito Santo, nunca me deixaria sozinha, e providenciou outras pessoas para me
acompanhar até a conclusão do ultimo ciclo.
No tratamento da radioterapia foi possível perceber que aproximadamente seis da manhã
se formam filas em cada setor de tratamento no hospital, com os pacientes sozinhos ou com
seus acompanhantes alguns levam bancos flexíveis para sentar, pois o atendimento se inicia por
volta das sete horas da manhã. Durante a espera na fila e em meio ao calor por falta de ar
condicionado nos corredores alem da pouca iluminação, as pessoas tentam se aproximar umas
das outras, se olham e se apresentam umas contam logo a sua historia e outras perguntam como
descobriu a doença, qual é o tipo do câncer e quanto tempo já esta nessa luta. Notam-se pessoas
com terços nas mãos, medalhas no pescoço, lendo bíblias e outros orando e pregando em alta
voz e entregando uma mensagem num panfleto. Os próprios pacientes comunicam o que estão
vivendo e onde buscaram forças para continuar o tratamento e chegar até ali.
A sala de espera da radioterapia fica no terceiro subsolo, tem um formato da letra L de
cabeça pra baixo com cadeiras plásticas semi acolchoadas. A primeira sala tem duas TVs e três
consultórios onde os médicos atendem e outro em que as enfermeiras trabalham, a segunda
menor uma TV e um bebedouro, alem de portas e janelas de vidro que permite observar outros
espaços e jardins no interior do hospital o ar condicionado é sempre muito forte. Os
recepcionistas que encaminham os pacientes até os técnicos para a radioterapia ficam
trabalhando no centro entre uma sala e outra. As salas internas ao setor em que se faz
radioterapia são três no total, o ar condicionado é tão forte que os técnicos cobrem os pacientes
para que estes não fiquem se mexendo evitando que o acelerador sai da posição para atingir o
local da célula cancerígena. A maca em que os pacientes se deitam é bem estreita e alta podendo
ser manejada por um controle remoto, parece um robô faz um barulho semelhante a uma cirene
e o paciente tem a sensação que vai ser empresado, causa certo pânico. Como é um tratamento
diário e seqüente de segunda a sexta possibilita o conhecimento gradual e constante entre os
pacientes que estão nessa etapa, e por causa do encontro diário foi possível conhecer a história
de outras pacientes que como eu lutavam para sobreviver ao tratamento.
As trinta sessões de radioterapia foram muito angustiantes, pois um tratamento que
iniciou em dezembro de 2017 só foi concluído quinze de fevereiro de 2018, por causa do
acelerador (máquina) quebra várias vezes retardando o tratamento, são trinta pacientes em cada
máquina por turno, o que causa sobrecarga, já que a oferta é maior que a procura, no período
em que fiz só existiam três máquinas no hospital para todos os pacientes que precisam fazer a
radioterapia.

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É um tratamento menos agressivo se comparado a quimioterapia, mas vi muitas
pacientes com seios rachados e sangrando devido a agressividade do tratamento, que causa dor
na região das mamas, ardência, coceira e formigamento alem de ficar bastante escuro o local,
como se tivesse causado queimaduras graves. Percebe-se a pressa de cada paciente que fica
feliz ao escutar o seu nome ser chamado no microfone para se dirigir a sala da radioterapia, mas
nota-se também a tristeza e frustração quando ocorrem atrasos devido à lentidão da máquina e
mitos pacientes são dispensados ficando apenas aqueles que são escolhidos pelos técnicos por
critérios que não são informados aos demais pacientes.
Todos os pacientes têm hora marcada no cartão e é chamado aproximadamente naquele
horário para a sessão da radio. Enquanto na sala de espera ficam vários pacientes na sua maioria
mulheres conversando seus casos e histórias, partilhando suas lutas diárias e trocando
informações entre risos, brincadeiras e gargalhadas. É possível perceber a solidariedade entre
todas, pois não trocam somente informações, trocam receitas, batons, cremes, frutas que ao
concluir o tratamento mantém o contato ainda que morem em outra cidade ou estado.
Nessa luta descobri que durante todo esse itinerário primeiro que: Deus quis que eu
lutasse; segundo confiasse plenamente nele; e terceiro não desperdiçasse nada, nenhum
aprendizado. A jornada rumo à cura é longa e durante a caminhada se encontra muita
incompreensão de pessoas que não entendem as emoções que a paciente enfrenta, pois todas as
alterações físicas e emocionais fazem parte do tratamento. Com o final da radioterapia terminou
o tratamento em um período de um ano e três meses, com todas as células cancerígenas mortas,
encerrando o tempo difícil para todo paciente que enfrenta o câncer, uma doença crônica, que
se tratada corretamente no estagio inicial é possível obter a cura completa.
Tomei consciência daquilo que me faz bem, aprendi a descansar desligar-me das redes
sociais e ouvir a voz interior, me recolhendo e evitando estar demais com outras pessoas para
ser mais profunda comigo mesma. De uma forma bem brusca a quimioterapia me proporcionou
isso, pois a recomendação é não ficar em lugares muito cheios de gente para não pegar bactérias
e vírus que possam causar doenças que no paciente oncológico pode ser fatal devido à queda
da imunidade.
Com o retorno definitivo para a Comunidade Católica Shalom - CCS, ingressei no grupo
Pantocrator em abril do ano mencionado acima e iniciei um tratamento de cura interior com a
ministra de Oração e aconselhamento. Muitas mudanças ocorreram no Shalom após minha
saída, uma delas foi o “Caminho da Paz” em que ao participar do Seminário de Vida no Espirito
Santo, dá-se continuidade um período de aproximadamente um ano de formação bíblica e

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oração pessoal com o Enchei-vos na fase do Kerigma; a seguinte vem a fase da Filoteia em que
se inicia uma amizade com Deus sob os moldes de Santa Tereza D’Avila; a terceira fase é
chamada de Metanóia; a quarta Martíria; e a quinta fase é Koinônia. Cada fase é marcada por
um retiro de mudança de fase espiritual. Embora tendo muito tempo de caminhada espiritual
decidir iniciar tudo de novo já que meu entendimento é que tinha “nascido” novamente após o
termino do tratamento do câncer de mama, e estou no final da fase Filotéia.

6.1 O Ministério: oração e aconselhamento.

Tantos pastores que ao longo da minha caminhada espiritual cuidaram de mim, chegou
o momento de ser fiel no novo ministério e cuidar daqueles que Deus me confiou sem deixar
que se percam. “de graça recebeste, de graça daí”. A demanda é grande e ao perceber a mudança
na minha espiritualidade inclusive no uso dos carismas e dons de serviço, o dom da
“hipersensibilidade espiritual” na observação dos fatos além do natural e a movimentação dos
seres espirituais, tudo me lançava a servir especificamente neste ministério para ser um canal
de cura e libertação na vida dos irmãos e ajudá-los nas lutas espirituais.
A função deste ministério de acordo com TULI (2011) é acolher, escutar, orar direcionar
e aconselhar os irmãos que buscam esse apoio espiritual, sendo necessário que o ministro tenha
algumas atitudes básicas como: experiência pessoal com Deus, misericórdia, abertura aos
carismas, vivencia carismática, comunhão com a palavra e a doutrina da Igreja, postura de fé e
autoridade em Jesus Cristo, vida de louvor, fidelidade a Deus e ao seu povo, iniciativa,
dedicação, doação, despojamento, vida comunitária e grupo de oração, escuta, sigilo e
amadurecimento na fé.
A atenção é muito importante também, para perceber os detalhes enquanto ministro, e
com o câncer de mama sair da correria do dia a dia para um “êxodo” pessoal através da vida de
oração e serviço comunitária. Muitas coisas mudaram como o meu novo olhar franciscano para
as coisas simples e belas feitas por Deus, e que muitas vezes passam despercebidas, por causa
da agitação social, dos barulhos diversos no ambiente. Tenho o privilégio de encontrar
pequenos animais que são comuns na localidade da casa onde vivo num bairro em que a
natureza se faz muito presente, é possível ver diariamente bichos como sarigué, cameleão,
grilos, sapos, rãs, micos, vaga-lumes e outros tantos. Os sons emitidos por eles que antes me
irritavam, hoje passou a ser como música aos meus ouvidos, pois descobrir neles a beleza do
que é estar viva.

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Mesmo tendo compromissos na comunidade Shalom no serviço aos irmãos através deste
ministério, iniciei junto com a radioterapia, um tratamento de homoniterapia, em que preciso
fazer uso de uma medicação contínua no mínimo cinco anos a fim de evitar a reincidência da
doença, e que traz várias conseqüências para meu corpo como em qualquer outra mulher. Isso
me fez buscar estratégias de autocontrole para ter uma melhor qualidade de vida, como
caminhadas na orla de Salvador, pilates e psicoterapia para identificar e compreender
sentimentos e emoções além de, não me sobrecarregar e buscar equilíbrio na vida pessoal e
comunitária.
Durante esse tempo obtive várias experiências com o meu anjo da guarda no momento
da adoração ao santíssimo sacramento. Eu estava na capela da casa João Paulo II na adoração
num dia de terça-feira quando sair da aula na UFBA em torno de meio dia. A comunidade de
vida tinha concluído a manhã de oração e eu fiquei sozinha até as catorze horas, quando chegaria
alguém para me substituir. Eu sentei numa das cadeiras que fica na capela e fiquei olhando par
o santíssimo sacramento, foi então que percebi sensivelmente que o meu anjo da guarda estava
prostrado completamente em adoração. Imediatamente levantei-me e fui para o centro da capela
e lancei-me no chão em adoração com os braços abertos em formato de T com a cabeça por
terra.
A seguinte experiência forte foi durante um acompanhamento de cura interior, em que
a Claudia Fonseca ao me orientar numa das salas da casa João Paulo II, coloca duas cadeiras
uma de frente pra outra. Eu percebia que durante a conversa que tivemos, o olhar dela estava
direcionado para o meu lado esquerdo, quando antes que eu perguntasse o porquê ela estava
olhando tão fixamente, ela se adiantou e me disse: Ilma tem um anjo enorme do seu lado
esquerdo. Eu sorri e perguntei a ela: é meu anjo da guarda ou São Miguel Arcanjo? Ela
respondeu: seu anjo da guarda. Eu disse que tenho o hábito de sempre conversar com ele e
sorrimos.
Enfim as revelações e experiências com o mundo espiritual foram muitas e nunca me
imaginei está servindo neste ministério de cura e libertação, mais tem sido alem de um combate
espiritual, pois como diz a Bíblia não é contra homens e mulheres que lutamos, mas contra os
principados e potestades desse mundo tenebroso. A cura seja ela física, emocional ou espiritual
passa sempre pelo perdão a nós mesmos, aos nossos irmãos e a Deus, no qual o relacionamento
é restaurado ao longo do processo de acordo com a abertura do coração ao projeto de Deus,
alem de passa ainda pela vida sacramental (Batismo, Eucaristia, Crisma, unção dos enfermos e

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a penitência ou confissão) são pontos essenciais de cura estabelecidas pelo próprio Cristo autor
de toda cura como mostra o padre e terapeuta internacional DEGRANDIS (1991).

CONCLUSÃO

O que me fez perseverar nesse caminho espiritual foi à certeza de estar sendo conduzida
pelas mãos de Deus, em momentos cruciais em minha vida, em que minha espiritualidade,
crenças e religiosidade foram determinantes para que eu chegasse até aqui, acumulando
experiências pessoais profundas nesses trinta anos de caminhada cristã. O valor das memórias
que me acompanham nessa longa jornada, me faz ler a minha vida com o coração repleto de
gratidão e louvor a Deus que por sua infinita misericórdia me escolheu para si num chamado
particular de vida carismática.
Atravessando contextos tão desiguais pude perceber o quanto frágil sou e consciente de
estar a caminho de uma maturidade que espero ter tempo de vida para alcançar, sigo em busca
de crescimento espiritual e abandono no projeto que Deus escolheu para mim. Na vida o
caminho da maturidade é único, assim como o tempo pra alcançá-lo, passa por escolhas
responsáveis feitas com liberdade interior. O tempo inteiro me encontro com meus defeitos e
imperfeição, mas o levantar após cada queda me faz perceber que é assim que se deve seguir,
o aprendizado é inevitável e mostra que nada está pronto e que em tudo podemos melhorar já
que a vida é mutável.
Quem duvidar de minhas vivencias espirituais convido a me acompanhar e experimentar
os mesmos processos que fiz, para perceber o que é mergulhar numa vida espiritual autentica,
passando pelo autoconhecimento à luz de Deus e poder do Espírito Santo, e a escrever sobre
elas a partir de sua própria perspectiva. Nisso, consiste uma marcha com segurança que evita
cair na fantasia espiritual, na ignorância das ações dos espíritos, e para chegar à certeza que a
mão de Deus está no curso de todos os acontecimentos da própria vida.
Não finalizo esse texto tendo a pretensão de saber de tudo o que me acontece, nem de
ter desnudado a minha alma nas estrelinhas, há muito que preciso conhecer do mundo espiritual

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e das vivências humanas também, mas sigo na esperança de está cumprindo uma missão pela
qual fui escolhida, ao partilhar as experiências do meu cotidiano e testemunhar as situações que
me fortaleceram neste itinerário. Não sei completamente quais são os desígnios de Deus a meu
respeito, apenas sigo seus sinais e com confiança absoluta que tudo o que nesta vida me
acontece me favorece ainda que me fira, creio firmemente que toda a sua misericórdia e
consolação hão de me acompanhar até onde ele quiser que eu chegue. Portanto sigo esperando
ciosamente o cumprimento de suas promessas para minha vida, pois todas elas são de paz e
prosperidade.

REFERENCIA

AQUINO, Felipe Rinaldo Queiroz de. O SOCORRO DE DEUS PARA AS AFLIÇÕES DA


ALMA. 3ª Ed. Lorena: Cléofas, 2009.

BÍBLIA SAGRADA. Tradução dos originais mediante versão dos monges de Maredsours
(Bélgica) pelo Centro Bíblico Católico. Editora Ave Maria, 87ª edição, São Paulo.1992.

BEZERRA, José Ricardo Ferreira. FELIZES OS QUE OUVEM A PALAVRA DE DEUS.


Orando com a palavra. Edições Shalom, Aquiraz, Brasil 2009.

DEGRANDIS, Paul Robert. INTRODUÇÃO À CURA INTERIOR.


https://www.rs21.com.br/site/padreeduardo/introducao-a-cura-interior-de-pe-robert-degrandis/
18/03/2019.

DEGRANDIS, Paul Robert. CURA ENTRE GERAÇÕES: uma viagem intima atraves do
perdão. Tradução de Dom Cipriano Chagas. 30ª edição. editora Louva a Deus 2012.

GOLFFMAN, Erving. A REPRESENTAÇÃO DO EU NA VIDA COTIDIANA. Tradução de


Maria Célia Santos Raposo. Petrópolis, Vozes, 1985.

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