Osteomielite Crônica Com Periostite Proliferativa em Mandíbula: Relato de Caso
Osteomielite Crônica Com Periostite Proliferativa em Mandíbula: Relato de Caso
Osteomielite Crônica Com Periostite Proliferativa em Mandíbula: Relato de Caso
89-92 (Jun - Ago 2018) Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research – BJSCR
* Avenida Professor Sandoval Arroxelas, Edifício Oruam, 790, apartamento 202, Ponta Verde, Maceió, Alagoas, Brasil. CEP: 57036-420.
dr.pedrobmf@gmail.com
odontogênicos, fraturas e infecções não odontogênicas computadorizada de feixe cônico (CTFC) que
como causas da doença4. evidenciou em corte coronal (Figura 2) e axial (figura
Clinicamente, pode-se observar o aumento 3) aumento de volume ósseo para vestibular com várias
volumétrico regional, com consistência óssea, camadas, caracterizando aspecto típico de “casca de
assimetria facial e ausência de movimento. Há cebola”, além de rarefação óssea periapical do
possibilidade de o paciente desenvolver trismo e elemento dental.
linfonodos infartados. Seu diagnóstico é baseado,
primordialmente, em achados clínicos e radiográficos,
sendo imprescindível a análise radiográfica para
determinar o diagnóstico da patologia. Será observada
a presença de lesão radiolúcida difusa periapical
associada a um dente cariado com envolvimento
pulpar. Pode-se observar, também, a presença de
crescimento ósseo periostial em camadas na superfície
externa da cortical, possuindo semelhança a camadas
de “casca de cebola”5.
A fisiopatologia da OCPP envolve a disseminação
da infecção até ocorrer perfuração da cortical óssea,
que estimula a formação de tecido ósseo por parte do
perióste. Há períodos alternados de exacerbação e
remissão da infecção, causando danos repetitivos no
novo tecido gerado, o que resulta em várias camadas de Figura 1. Aspecto inicial com aumento de volume em região de
estrutura óssea. Histologicamente, apresenta fileiras corpo mandibular direito.
paralelas de osso trabécular reacional e altamente
celular com discreto infiltrado linfocitário, o sequestro
ósseo apresenta características típicas de necrose6,7.
O tratamento dessa doença baseia-se na remoção da
fonte de infeção ou fator etiológico, por meio de
exodontia ou tratamento endodôntico e
antibioticoterapia, o resultado, geralmente, é
satisfatório. Uma vez que a causa é removida o tecido
ósseo sofre remodelação gradual, restaurando a
simetria óssea. Entretanto, se a lesão for extensa, a
remodelação cirúrgica é indicada apresentando a
vantagem de entregar uma amostra para análise
Figura 2. CTFC corte coronal no pré-operatório.
histopatológica. Se uma reação periosteal semelhante
aparecer na ausência de uma fonte de inflamação
evidente, ou houver dúvida sobre o diagnóstico, a
biopsia é recomendada, pois diversas condições
neoplásicas podem resultar em um padrão semelhante,
tais como: Displasia Fibrosa, Sarcoma Osteogênico,
Sarcoma de Ewing, Exostose, Osteoma8,9.
2. CASO CLÍNICO
Paciente do sexo masculino, 10 anos de idade,
procurou a clínica odontológica do Centro
Universitário Tiradentes (UNIT) com sintomatologia
dolorosa no elemento 46, apresentou edema extra-oral
e relatou, também, episódios de febre. No exame extra-
oral, observou-se assimetria facial devido ao aumento
de volume na região de corpo de mandíbula no lado
direito, de consistência endurecida e limites bem
definidos, sem linfoadenopatia (Figura 1).
No exame intra-oral, apresentou restauração
insatisfatória com infiltração no elemento 46, mucosa
sem alterações de volume e cor. Foi realizada Figura 3. CTFC corte axial no pré-operatório.
radiografia periapical e notou-se lesão radiolúcida
apical sem delimitações. Para melhor avaliação da Com base nos achados clínicos e radiográficos, o
lesão e sua extensão foi realizada tomografia diagnóstico foi OCPP. O tratamento realizado foi a
exodontia do elemento 46 e antibióticoterapia com
amoxicilina 250mg/5ml, 5ml de 8 em 8 horas, por um rarefação óssea e remodelação óssea local. Não
período de sete dias. apresentando mais aspecto de ‘’casca de cebola’’.
É possível observar, também, melhora no quadro de
assimetria facial, sanando a queixa de estética do
paciente.
3. DISCUSSÃO
A Osteomielite Crônica com Periostite Proliferativa
(OCPP) é uma resposta do periósteo causada por uma
inflamação ou infecção de baixa virulência. Afeta,
geralmente, pessoas de até vinte e cinco anos de idade,
com maior predileção na mandíbula, sendo o primeiro
molar inferior infectado por cárie o dente associado a
Figura 4. (a) - Aspecto alveolar imediato pós-exodontia; (b)- casos de OCPP. A maxila é um sítio raro de
Elemento 46 removido. acometimento, sendo descrito apenas um caso em
maxila adulta6,10. O caso clínico relatado ocorreu em
paciente pediátrico, em concordância com a literatura
consultada. A alta atividade periostial mais exacerbada
em crianças, perante uma infecção de baixa
intensidade, justifica o aparecimento da lesão em
indivíduos jovens11. Quanto à localização, a alta
incidência no primeiro molar inferior é explicada por
ser um dos primeiros dentes a irromper na cavidade
oral e ficaria mais tempo exposto à atividade
cariogênica6,12.
Geralmente a análise clínica aliada a exames
complementares é suficiente para o diagnóstico da
lesão, sem necessidade de análise histopatológica. As
Figura 5. TCFC corte coronal no pós-operatório. radiografias oclusais e panorâmicas são descritas na
literatura como exames complementares mais
utilizados para o diagnóstico, no entanto, a tomografia
computadorizada de feixe cônico (TCFC) supera em
qualidade as radiografias bidimensionais5,7. No caso
descrito foi utilizada a TCFC, uma vez que ela
apresenta maior qualidade de imagem em três
dimensões. Utilizada em conjunto com o exame
clínico, ela supriu as necessidades do diagnóstico. Se
uma reação periosteal for identificada sem uma fonte
de inflamação evidente, a biópsia é recomendada para
diagnóstico diferencial1,5,6. A presença do primeiro
molar inferior cariado e com comprometimento pulpar
Figura 6. (a) . TCFC no pré-operatorio; (b) TCFC pós-operatório.
permitiu descartar a análise histopatológica.
Clinicamente, o diagnóstico de OCPP caracteriza-se
pela presença de dor, desconforto, edema de
consistência endurecida, linfoadenopatia regional,
assimetria facial, mucosa e pele de coloração normal,
associado à lesão inflamatória periapical, geralmente
oriunda de um dente desvitalizado6,11. Pode-se
observar, no caso apresentado, a doença em sua forma
mais comum, com todos esses sinais e sintomas
presentes.
O tratamento é direcionado à remoção da fonte de
infecção, podendo ser realizada através de exodontia ou
tratamento endodôntico, seguido de antibioticoterapia
Figura 7. Aspecto final do paciente, 150 dias após o tratamento. e, em alguns casos, remodelação óssea cirúrgica,
Após o tratamento, houve regressão da lesão, o quando necessário. Existe, também, a opção de terapia
paciente não relatou sintomas e foi possível observar, com oxigênio hiperbárico, utilizado em algumas
em novos exames de imagem (tomografia osteomielites dos maxilares, pois melhora a resposta
computadorizada de feixe cônico), a regressão da imunológica do paciente e produz angiogênese
microvascular por perfusão. Esse tipo de tratamento, no [10] Suma R, Vinay C, Shashikanth MC, Subba RVV.
entanto, tem um alto custo e há poucos aparelhos no Garre's sclerosing osteomyelitis. J Indian Soc Pedod
mercado para realizá-lo, fatores que tornam o Prev Dent. 2007; 25(5):30-33.
procedimento pouco viável7,9,11. A terapêutica [11] Singh D, Subramaniam P, Bhayya PD. Periostitis
ossificans (Garrè's osteomyelitis): An unusual case. J
empregada nesse caso foi a recomendada pela literatura Indian Soc Pedod Prev Dent. 2015; 33(4):344-6
com a exodontia do elemento dental cariado e
antibióticoterapia. O paciente não relatou mais [12] Tong ACK, Irene OL, Yeung KM. Osteomyelitis with
sintomas nem sinais de recidiva da lesão após o proliferative periostitis: an unusual case. 2006;
102(5):14–19.
tratamento, também não houve queixa em relação à
estética.
4. CONCLUSÃO
O diagnóstico da OCPP é primordialmente clínico e
radiográfico. A confirmação histológica será necessária
apenas em casos duvidosos em que não haja associação
de lesão periapical com necrose pulpar e o exame
radiográfico não indique de forma clara a expansão
cortical em camadas. Essa lesão está bem
fundamentada na literatura, geralmente os casos
correspondentes a ela são de fácil resolução e
apresentam bom prognóstico quando removida a causa,
seja por exodontia ou tratamento endodôntico em
conjunto da terapia antibiótica auxiliar, como
discorrido no caso clínico.
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