Unidade I (Direito de Família)

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Sumário

DAS ESPÉCIES DE FAMÍLIA .......................................................................................... 2


DO CASAMENTO................................................................................................................... 4
DAS ESPÉCIES DE CASAMENTO ............................................................................. 4
DAS ESPÉCIES EXTRAORDINÁRIAS DE CASAMENTO ................................ 5
NUNCUPATIVO ............................................................................................................. 5
PUTATIVO ....................................................................................................................... 5
AVUNCULAR .................................................................................................................. 6
CONSULAR ...................................................................................................................... 6
POR MOLÉSTIA GRAVE ............................................................................................ 6
POR PROCURAÇÃO .................................................................................................... 7
DA CAPACIDADE PARA CASAR .................................................................................... 7
DO PARENTESCO ................................................................................................................ 8
DOS IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS................................................................... 10
DO CONCUBINATO ....................................................................................................... 12
DAS CAUSAS SUSPENSIVAS ........................................................................................ 13
DA EFICÁCIA DO CASAMENTO .................................................................................. 14
DA INVALIDADE DO CASAMENTO............................................................................ 15
DA NULIDADE MATRIMONIAL ............................................................................... 15
DA ANULAÇÃO MATRIMONIAL .............................................................................. 16
DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE E DO VÍNCULO CONJUGAL ................. 17
DA SEPARAÇÃO .................................................................................................................. 18
DO DIVÓRCIO ...................................................................................................................... 18

AUTORIA: Renan Germano.

CHRISTO NIHIL PRAEPONERE


DAS ESPÉCIES DE FAMÍLIA

A família é uma instituição tão antiga quanto a civilização e possui


proteção do Estado nos termos da Constituição. Recentemente, o Direito de
Família assumiu os ideais da ideologia do Progressismo onde se entende que
o conceito tradicional de família é defasado e arcaico.

1) CASAMENTO

A principal e mais tradicional forma de constituir família é o


Casamento.1 Antigamente, entendia-se no Direito que a família era o
casamento entre um homem e uma mulher com o intuito de ter filhos.

2) UNIÃO ESTÁVEL

Também se reconhece como entidade familiar a União estável.2 Esta


entidade requer companheirismo e não possui prazo mínimo fixado por lei,
tornando subjetiva a avaliação de quando um namoro configurar-se-á numa
união estável.

3) FAMÍLIA MONOPARENTAL

A entidade que for constituída por qualquer um dos pais somente e de


seus descendentes é conhecida como família monoparental (“mono”, um; e
“parental”, de pais).

4) FAMÍLIA HOMOAFETIVA

A discussão se o art. 226 da CF/88 constituía um numerus clausus era


bastante aguerrida no início do século XXI. Os juristas tradicionais
afirmavam que era claro e certo que o legislador constituinte não queria
incluir os chamados “casais gays” nessa lista.

Por exemplo, um dos argumentos presentes é o fato de que no art. 226,


parágrafo 3, há o uso da expressão “entre o homem e a mulher”. Ou seja, se o

1 Art. 226, parágrafo 1. CF/88.


2 Idem, parágrafo 3.
legislador desejasse contemplar também os casais homossexuais, por qual
razão ele adotaria essa linguagem não-inclusiva?

Os juristas progressistas, no entanto, postulavam que isso seria uma


afronta aos direitos humanos e escolheram a prática do ativismo judicial via
STF que, em 2011, definiu como entidade familiar a família homoafetiva,
seja esta formada por dois homens ou duas mulheres, com ou sem filhos.

5) ANAPARENTAL

Essa entidade familiar, como seu próprio sugere, não possui a figura
dos pais, mas há um vínculo consanguíneo ou de afinidade, como, por exemplo,
dois irmãos ou primos em 1º grau morando juntos.

6) PLURIPARENTAL

Também denominada de Família Mosaico, a Família


Pluriparental possui mais de dois pais, sendo o mais famoso exemplo as
famílias islâmicas, onde pode haver até cinco pais (um pai e suas quatro
esposas).

7) EUDEMONISTA

Nessa entidade, utiliza-se o conceito da Grécia Antiga chamado de


“Eudaimonia”, comumente traduzido como “Felicidade”.3 É a família formada
com a finalidade da felicidade humana hedonista.

Alguns juristas não reconhecem esse tipo de família. Outros, que a


defendem, chegam a dizer que não seria uma espécie de família, mas que seria
um gênero, pois a família tradicional e a família homoafetiva ambas possuem
como finalidade a felicidade.

3 Essa tradução é imprecisa e controvertida, especialmente porque a Eudaimonia não era


associada ao estilo hedonista de viver, mas especialmente à visão da filosofia aristotélico-
tomista sobre o prazer da aventura da busca pelo bem-maior.
DO CASAMENTO

O casamento é a união entre o homem e a mulher, nos termos da Lei.


No Brasil, não existe casamento senão o heterossexual, as outras espécies de
vínculos são equiparadas ao casamento, mas, na verdade, são uniões estáveis.
Há três escolas jurídicas que postulam sobre qual é a definição de casamento:
institucionalista, contratualista e mista ou eclética.

a) Institucionalista: É uma instituição, geralmente entendida pelos


juristas que apoiam essa teoria como um sacramento, que possui a
finalidade de regular a procriação humana.
b) Contratualista: É um mero contrato, que impõe direitos e deveres
aos contraentes.
c) Mista ou Eclética: Postula que, na sua formação, o casamento é
uma instituição, mas que se torna num contrato especial – pois é o
único contrato que é vitalício e gratuito, além de ser entre duas
pessoas com a mesma finalidade.

DAS ESPÉCIES DE CASAMENTO


Consideram-se casados quando houver manifestação conjugal perante
um Juiz de Casamentos, que deve os declarar como casados. O casamento
pode assumir três espécies, a saber: casamento civil, religioso com efeitos civis
e religioso.

O casamento civil estabelece plena comunhão de vida, assim como a


igualdade de direitos e deveres entre os cônjuges, e sua celebração é gratuita.

O casamento religioso com efeitos civis também é um casamento


civil, promovendo os mesmos efeitos que um celebrado somente no Cartório.
Deve ser realizado por uma autoridade competente e autorizada, como um
Padre, um Pastor etc., e registrado em registro próprio.4

O casamento religioso sem o assento civil no Cartório é equiparado


à união estável, mas este submete-se aos mesmos requisitos do casamento
civil, nos termos do termo do art. 1516.

4As autoridades religiosas espíritas não são reconhecidas para os efeitos do art. 1.515 CC/02,
não lhe sendo outorgado o direito de celebrar casamento religioso com efeitos civis.
DAS ESPÉCIES EXTRAORDINÁRIAS DE
CASAMENTO

Há outras espécies do casamento, tratadas como extraordinárias por


serem a exceção, a saber: nuncupativo, putativo, avuncular, consular, por
moléstia grave e por procuração.

NUNCUPATIVO
Em latim, a palavra “nunc” quer dizer “agora”, isto é, de imediato.5 Em
suma, é um casamento realizado em risco de morte. Antigamente, esse
casamento era chamado de “casamento in articulo mortis” ou “in extremis”.
Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco
de vida, não obtendo a presença da autoridade à qual incumba
presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o casamento ser
celebrado na presença de seis testemunhas, que com os nubentes não
tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo grau.

Art. 1.541. Realizado o casamento, devem as testemunhas


comparecer perante a autoridade judicial mais próxima, dentro em
dez dias, pedindo que lhes tome por termo a declaração de:

I – que foram convocadas por parte do enfermo;

II – que este parecia em perigo de vida, mas em seu juízo;

III – que, em sua presença, declararam os contraentes, livre e


espontaneamente, receber-se por marido e mulher.

PUTATIVO
O termo putativo refere-se a algo que foi falsamente suposto ou
atribuído à alguém. Numa definição mais técnica, é algo que, embora seja
ilegítimo, possui suposição de legitimidade pela presença de fundada boa-fé.

Nesse caso, há a boa-fé de achar-se casado, mas não houve um


casamento real. Por exemplo, se o nubente já é casado em outro estado, muda-
se para outro e, sem que ninguém lá o conheça, se passa por solteiro,
enganando a nubente, que tinha a boa-fé de achar-se casada. Nesse
casamento, o casamento é meramente putativo e não existe.

5 Por exemplo, há outra expressão jurídica que diz “ex nunc”, que significa “desde agora”.
AVUNCULAR
O casamento avuncular é aquele entre um tio e uma sobrinha ou entre
um sobrinho e uma tia, regulamentado pelo Decreto-Lei nº 3.200 de 1941.
Abaixo, na aula sobre parentescos, veremos com maiores detalhes essa
modalidade.

CONSULAR
Como seu nome sugere, é o ato nupcial realizado sob a jurisdição de um
consulado brasileiro. O ato será regido pelas regras locais e somente produzirá
efeitos com certidão emitida com a devida autenticação do cônsul brasileiro.
Art. 1.544. O casamento de brasileiro, celebrado no estrangeiro,
perante as respectivas autoridades ou os cônsules brasileiros, deverá
ser registrado em cento e oitenta dias, a contar da volta de um ou de
ambos os cônjuges ao Brasil, no cartório do respectivo domicílio, ou,
em sua falta, no 1º Ofício da Capital do Estado em que passarem a
residir.

O prazo de 180 dias acima é impróprio, portanto, caso não seja


respeitado, não haverá nenhum prejuízo para os nubentes e o ato terá efeito
ex nunc a contar da data do registro.

POR MOLÉSTIA GRAVE


Como a urgência é um pouco menor que o casamento nuncupativo, a
diferença é que nessa espécie, a autoridade judicial é trazida para realizar o
casamento. É suficiente recordar que o nuncupativo é “agora” ou “de imediato”
e que este é por uma moléstia que, embora grave, não é tão urgente.

Art. 1.539. No caso de moléstia grave de um dos nubentes, o


presidente do ato irá celebrá-lo onde se encontrar o impedido, sendo
urgente, ainda que à noite, perante duas testemunhas que saibam
ler e escrever.

§ 1º. A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir


o casamento suprir-se-á por qualquer dos seus substitutos legais, e
a do oficial do Registro Civil por outro ad hoc, nomeado pelo
presidente do ato.

§ 2º. O termo avulso, lavrado pelo oficial ad hoc, será registrado no


respectivo registro dentro em cinco dias, perante duas testemunhas,
ficando arquivado.
POR PROCURAÇÃO
Nessa espécie, um dos nubentes ou ambos não se fazem pessoalmente
presentes, mas são casados por intermédios de seu procurador, que deverá
portar instrumento público com poderes especiais. Essa prática era muito
comum na nobreza antiga, mas caiu em desuso, e surgiu porque as viagens
eram muito perigosas e, muitas vezes, os noivos saíam de seus países para se
casarem noutros e era importante que já fossem casados.

Um exemplo famoso é o nosso Imperador Dom Pedro II que se casou


por procuração no dia 30 de maio de 1843 em Nápoles, do Reino das Duas
Sicílias, quando, na verdade, estava no Império do Brasil e sua noiva, Dona
Teresa Cristina, na Itália.

Pode o nubente que não estiver em eminente risco de morte fazer-se


representar no casamento nuncupativo.

Art. 1.542. O casamento pode celebrar-se mediante procuração, por


instrumento público, com poderes especiais.

§ 1º. A revogação do mandato não necessita chegar ao conhecimento


do mandatário; mas, celebrado o casamento sem que o mandatário
ou o outro contraente tivessem ciência da revogação, responderá o
mandante por perdas e danos.

§ 2º. O nubente que não estiver em iminente risco de vida poderá


fazer-se representar no casamento nuncupativo.

§ 3º. A eficácia do mandato não ultrapassará noventa dias.

§ 4º. Só por instrumento público se poderá revogar o mandato.

DA CAPACIDADE PARA CASAR


A idade núbil, em nosso país, é de dezesseis anos, não se admitindo
nenhuma hipótese legal para a capacidade de se casar pretérita a data de
aniversário de 16 anos.

Até o advento da Lei 13.811 de 2019, poder-se-ia casar antes da idade


núbil no caso de gravidez, mas a norma que permitia esse tipo de casamento
foi reinterpretada pela jurisprudência que, hoje, proíbe qualquer hipótese
antes dos 16.
No caso de não haver emancipação do nubente, requerer-se-á a
anuência de ambos os pais, podendo ser resolvido pela via cartorial. Se houver
divergência – um dos pais consente e o outro impugna –, a via cartorial não
será mais adequada e um juiz poderá determinar a questão.

Se houver a celebração do casamento, obrigatoriamente o regime de


bens será a separação total.

Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar,


exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes
legais, enquanto não atingida a maioridade civil.

Parágrafo único. Se houver divergência entre os pais, aplica-se o


disposto no parágrafo único do art. 1.631.

Art. 1.518. Até a celebração do casamento podem os pais ou tutores


revogar a autorização.

Art. 1.519. A denegação do consentimento, quando injusta, pode ser


suprida pelo juiz.

Art. 1.520. Não será permitido, em qualquer caso, o casamento de


quem não atingiu a idade núbil, observado o disposto no art. 1.517
deste Código.

DO PARENTESCO

Diz-se que duas pessoas são aparentadas quando possuem vínculo de


família, seja consanguíneo, civil ou por afinidade.

O parentesco consanguíneo é aquele que se dá entre duas pessoas que


compartilham a mesma origem genética, compartilhando ancestrais. Esse
parentesco, por sua vez, pode se dar pela linha reta ou pela linha colateral.

A expressão linha reta advém do fato de que, numa árvore genealógica,


os nossos ascendentes – pais, avós, bisavós etc. – e descendentes – filhos,
netos, bisnetos etc. – são listados ou acima ou abaixo, respectivamente. Isto
é, são listados em linha reta.

Já os colaterais, como nossos tios e primos, são listados ou à esquerda


ou à direita do ponto referencial. Por isso, estão em linhas laterais, colaterais
ou transversais.
Diz-se o parentesco civil aquele cujo vínculo nasceu de um contrato
civil distinto do casamento, como a adoção.

Art. 1.591. São parentes em linha reta as pessoas que estão umas
para com as outras na relação de ascendentes e descendentes.

Art. 1.592. São parentes em linha colateral ou transversal, até o


quarto grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem
descenderem uma da outra.

Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de


consangüinidade ou outra origem.

Art. 1.594. Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo


número de gerações, e, na colateral, também pelo número delas,
subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e descendo
até encontrar o outro parente.

No Direito Civil, há uma relação de graus de parentesco que afetam


muitas áreas de atuação do Direito. Contam-se os graus pelo mesmo número
de gerações vinculadas a partir do ponto referencial até o parente em
questão.

Por exemplo, o grau de parentesco que eu tenho com meu pai é o 1º grau
(pois é necessário pular somente uma geração para, na minha árvore
genealógica, eu chegar ao meu pai).

Enquanto o parentesco que eu tenho com meu irmão é o 2º grau (eu, 0


grau – meu pai, 1º grau – meu irmão, 2º) e com meu sobrinho ou tio é o 3º grau
(eu, 0 grau – meu pai, 1º – meu avô, 2º – meu tio, 3º).

O que chamamos de “primo legítimo” ou “primo de 1º grau” é, para fins


civis, nosso parente em 4º grau (eu, 0 – meu pai, 1º – meu avô, 2º – meu tio, 3º
– meu primo, 4º).

LINHA RETA LINHA TRANSVERSAL


1º GRAU PAI ou FILHO –
2º AVÔ ou NETO IRMÃO ou MEIO-IRMÃO
3º BISAVÔ ou BISNETO TIO ou SOBRINHO
4º TRISAVÔ ou TRINETO PRIMO EM 1º GRAU
5º TETRAVÔ ou TETRANETO PRIMO EM 2º GRAU
6º PENTAVÔ ou PENTANETO PRIMO EM 3º GRAU

Para fins civis, o parentesco civil finda no 4º grau. A partir do 5º grau,


não se considera mais que há parentesco. Caso um falecido deixe bens a
inventariar e não houver testamento, a herança poderá ser transmitida até o
limite legal do 4º grau. Se não houver nenhum candidato até o 4º grau, a
herança será tida como jacente ou vacante.

Não existe limite no parentesco por linha reta.

Diz-se o parentesco civil aquele cujo vínculo nasceu de um contrato


civil distinto do casamento, como a adoção.

Quanto ao parentesco por afinidade, é aquele cujo vínculo nasce do


enlace matrimonial entre os cônjuges. Por exemplo, minha sogra é minha
parenta por afinidade em 1º grau e meu cunhado em 2º grau.

Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do


outro pelo vínculo da afinidade.

§ 1º. O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos


descendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro.

§ 2º. Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do


casamento ou da união estável.

O dispositivo acima determina que o cônjuge ou companheiro podem


até excluir entre si os vínculos, mas não se exclui o vínculo entre genro/nora
e sogro/sogra. Uma vez sogro, para sempre sogro. Isso também se aplica aos
enteados e padrastos, cujo vínculo não é extinto.

Os cônjuges ou companheiros não são parentes entre si.

Para fins civis, consideram-se parentes afins até o 2º grau na linha


colateral, isto é, até os cunhados. Na linha reta, novamente, não existem
limites.

DOS IMPEDIMENTOS
MATRIMONIAIS

Os impedimentos matrimoniais advêm de normas de ordem pública,


podendo, portanto, ser arguidos por qualquer um que tiver ciência de alguma
causa impeditiva. É um instituto muito antigo, que antigamente era realizado
na fachada das Igrejas ou nas Praças Públicas, onde se proclamava que dois
noivos desejam se casar e quem soubesse de alguma causa impeditiva, que a
proclamasse.

Por isso, chama-se, às vezes, esse processo de proclamas matrimoniais


– os mais antigos também chamam de “correr os banhos”, pois é uma alusão
ao fato de que a habilitação para o casamento purifica a relação, banhando os
noivos.

Nesses casos, se qualquer particular souber, terá o direito de declarar,


desde que seja capaz. Se uma autoridade pública souber, terá o dever de
declarar.

As causas impeditivas são elencadas taxativamente no art. 1521, in


verbis:

Art. 1.521. Não podem casar:

I – os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural


ou civil;

II – os afins em linha reta;

III – o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com


quem o foi do adotante;

IV – os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o


terceiro grau inclusive;

V – o adotado com o filho do adotante;

VI – as pessoas casadas;

VII – o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou


tentativa de homicídio contra o seu consorte.

A penalidade destas hipóteses será a nulidade do ato nupcial. O


casamento será nulo de pleno direito, conforme o art. 1.548, inciso II.

Qualquer pessoa capaz poderá arguir a nulidade, a saber:

Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, até o momento da


celebração do casamento, por qualquer pessoa capaz.

Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver conhecimento


da existência de algum impedimento, será obrigado a declará-lo.
Em suma, podem se casar todos os parentes a partir do 3º grau, a saber
a partir da relação tio-sobrinha ou tia-sobrinho. O casamento entre um tio e
uma sobrinha chamamo-lo de casamento avuncular.6 Esta espécie é
regulamentada pelo Decreto-Lei 3.200/1941, que exige a aprovação de dois
médicos peritos e, não havendo concórdia entre eles, a nomeação de um
terceiro como perito judicial para desempatá-los.

Um emblemático caso de casamento avuncular foi o de Dom Pedro III


de Portugal com sua sobrinha Dona Maria I, sendo estes os pais de Dom João
VI e avós de D. Pedro I.

DO CONCUBINATO
Ressalte-se que todos os impedimentos matrimoniais são também
válidos para a união estável, exceto o inciso VI (casamento pretérito) e a
diferença de sexo entre os cônjuges.

Por isso, no Direito, temos o seguinte: o Casamento e o Concubinato,


este podendo ser puro ou impuro.7

O concubinato é pretérito, historicamente falando, ao casamento, mas


este último tornou-se a norma social por causa da influência da religião cristã
sobre nosso país. Nos tempos recentes, os doutrinadores do Direito de Família
evitam usar o termo concubinato para se referir ao concubinato puro,
pugnando pelo termo considerado “mais humano” de união estável.
Considera-se o termo “concubina” ofensivo e inadequado.

A união estável, assim como o casamento, admite a espécie putativa.

Já o concubinato impuro não possui a mesma carga, sendo


geralmente referido por esse nome. O concubinato é definido como puro ou
impuro a partir do fator seguinte: é possível convertê-lo, em hipótese ideal,
em casamento?

Por exemplo, em regra, a união estável entre um homem e uma mulher


pode ser convertida em casamento, mas, por outras razões, não é convertida.
Desse modo, o concubinato aqui é tratado como puro, pois pode ser convertido
em casamento.

6 Avunculus: significa tio, em latim.


Nepotus: significa sobrinho.
7 Concubinato refere-se ao ato de “deitar-se”. Concubina literalmente quer dizer “aquela que

se deita”, sendo historicamente utilizado para se referir às amantes ou às mulheres num


status inferior a de uma esposa ou de uma consorte.
O concubinato impuro é aquele que não pode ser convertido em
casamento, como, por exemplo, o concubinato adulterino ou incestuoso. Estes
são ilegais, no sentido de que não podem ser reconhecidos pela Lei.

Existe apenas uma exceção à regra menciona, que é a sodomia ou o


casamento homoafetivo, pois este é considerado, no Brasil, uma união
estável e não um concubinato impuro, apesar de não poder ser convertido em
casamento.

Ademais, não se admite a constituição de mais de uma união estável


por vez. Se houver uma tal situação, uma união será considerada pura e a
outra, impura. A impura não terá direito algum, exceto se provada a
putatividade.

DAS CAUSAS SUSPENSIVAS


Diferentemente das causas impeditivas, as causas suspensivas não
impedem o matrimônio em si mesmo, mas somente suspendem o direito de
casar temporariamente.

Como são normas de ordem privada, somente interessados poderão


argui-las.

Art. 1.523. Não devem casar:

I – o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto


não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros;

II – a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou


ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da
dissolução da sociedade conjugal;

III – o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida


a partilha dos bens do casal;

IV – o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes,


irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou
curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não
estiverem saldadas as respectivas contas.

Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não


lhes sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I,
III e IV deste artigo, provando-se a inexistência de prejuízo,
respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa
tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente deverá provar
nascimento de filho, ou inexistência de gravidez, na fluência do
prazo.

Art. 1.524. As causas suspensivas da celebração do casamento


podem ser argüidas pelos parentes em linha reta de um dos
nubentes, sejam consangüíneos ou afins, e pelos colaterais em
segundo grau, sejam também consangüíneos ou afins.

Observe-se que a expressão aqui empregada é “não devem”, denotando


uma natureza mais branda do que as causas impeditivas. Os incisos I e III
suspendem o direito de casar quando o casamento for extinto, seja por viuvez
(inciso I) ou por divórcio (inciso III) até a partilha dos bens do casal.

O inciso II suspende o casamento para a viúva ou a mulher cujo


casamento foi nulo ou anulado por 10 meses, visando proteger o direito de um
possível futuro filho de saber quem é o seu pai. Aplica-se somente às
mulheres.

Nesse caso, a penalidade está prevista no art. 1.641 e será obrigatório o


regime de separação total de bens para os inobservantes das causas
suspensivas de casamento.

DA EFICÁCIA DO CASAMENTO

O vínculo nupcial produz como efeitos direitos e deveres entre os cônjuges


ou conviventes. A Lei e os bons costumes determinam que há direitos e
deveres entre o homem a mulher, isto é, entre casado e casada.

1) Encargos: são assumidos por ambos, de acordo com sua condição,


qualquer que seja o regime patrimonial. Os consortes devem concorrer
para o sustento da família e da educação dos filhos.
2) Planejamento familiar: é um termo moderno para se referir ao
direito de contracepção.
3) Uso de sobrenome: Os consortes podem, qualquer um, assumir o
sobrenome do outro. O STJ entende que os consortes podem trocar,
acrescentar ou retirar, por se tratar de direito da personalidade. A
maioria dos cartórios atualmente entende que somente é permitido
acrescentar, não trocar nem retirar.
a. Perda do direito ao sobrenome: O consorte perde o direito
de usar o sobrenome do outro quando houver culpa pelo divórcio,
caso seja requerido pelo cônjuge inocente e se a alteração não
acarretar grave dano ou prejuízo, nos termos do art. 1.578.
4) Fidelidade: os consortes devem respeitar o Princípio da Monogamia
e as regras culturais, religiosas e pessoais estabelecidas no ato nupcial.
5) Vida em comum: os consortes devem viver juntos.
6) Assistência mútua: enquanto direito, é o direito de obter assistência
financeira, espiritual, psicológica e afetiva do outro; e enquanto dever
é a obrigação de assistir as necessidades financeiras, espirituais,
psicológicas e afetivas do outro.
7) Sustento, guarda e educação dos filhos: nenhum consorte poderá
se eximir das obrigações advindas da geração da prole, devendo cada
qual, na medida de sua condição, prover, sustentar e educar os filhos.
8) Respeito e consideração: enquanto direito, significa que não posso
ser humilhado; e enquanto dever, significa a obrigação de amar e zelar
pelo outro, especialmente na frente dos filhos.

DA INVALIDADE DO CASAMENTO
(art. 1.548 a 1.564)

Para o reconhecimento da nulidade, necessariamente far-se-á uma ação


judicial, não cabendo extrajudicialidade.

DA NULIDADE MATRIMONIAL
O casamento será nulo na hipótese do art. 1.548, inciso II, a saber: por
infringência de alguma hipótese de impedimento matrimonial.

Não incidirá o regime de bens, pois o casamento nunca existiu. Nesses


casos, o contrato de casamento civil será nulo de pleno direito, significando
que os efeitos da sentença que reconhece a nulidade serão ex tunc.

A propositura da ação que peticiona a decretação da nulidade


matrimonial poderá ser promovida por meio de ação direta por qualquer
interessado ou pelo Ministério Público. Não se prescreve o direito de interpor
uma ação de nulidade, pois essa hipótese atinge interesse público.
DA ANULAÇÃO MATRIMONIAL
O casamento será anulável nas hipóteses previstas no art. 1.550, art.
1.551, art. 1.552 e art. 1.553. Nesse caso, não o ato que torna o casamento
anulável não é tão grave como os atos acima referidos.

Todas as hipóteses aqui atingem meramente o interesse privado,


portanto, há prazo para a propositura da ação de anulação.

Debrucemo-nos sobre as hipóteses:

1) De quem não completou a idade mínima para casar-se;


2) Do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu
representante legal;
3) Por vício de vontade, nos termos do art. 1.556 a 1.558;
4) Do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o
consentimento;
5) Realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente
soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação
entre os cônjuges; e
6) Por incompetência da autoridade celebrante.

Não se anulará o casamento, mesmo sem a idade núbil, que resultou


gravidez, conforme art. 1.551.

Se não houver gravidez, o menor que não atingiu a idade núbil poderá
confirmar o seu casamento com autorização de seus representantes legais, se
necessária, ou com suprimento judicial.

A propositura da ação de anulação do casamento dos menores de


dezesseis anos será requerida por: 1) pelo próprio cônjuge menor; 2) por seus
representantes legais; e 3) por seus ascendentes.

Sobre a incompetência, a doutrina entende que poderá ser relativa –


por exemplo, um Juiz Criminal, ao invés de um Juiz da Vara de Família e
Registro Civil, celebrando o casamento civil – ou absoluta – alguém que não
possui absolutamente nenhuma autoridade para casar alguém.

O casamento também poderá ser anulado por erro essencial quanto à


pessoa do cônjuge. Os erros essenciais estão elencados, em numerus clausus,
no art. 1.557. São os seguintes:
1) O erro que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama,
sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne
insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;
2) A ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua
natureza, torne insuportável a vida conjugal; e
3) A ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável
que não caracterize deficiência ou de moléstia grave e transmissível,
por contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro
cônjuge ou de sua descendência.8

Os efeitos da sentença que reconhece a anulação serão ex nunc.

DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE E
DO VÍNCULO CONJUGAL
(art. 1.571 a 1.582)

O vínculo contraído pela celebração do casamento é de difícil dissolução,


podendo ser dissolvido somente nos casos previstos em Lei.

O fim da sociedade conjugal importa o fim de todos os direitos e deveres


inerentes ao vínculo conjugal9 e esta sociedade termina nos casos seguintes:
1) pela morte de um dos cônjuges; 2) pela nulidade ou anulação do casamento;
3) pela separação judicial;10 e 4) pelo divórcio.

No caso de morte, o viúvo chamar-se-á de cônjuge supérstite.

8 O STJ também expandiu o entendimento esse dispositivo para a impotência, assim como
a frigidez feminina, pois o comércio carnal é um dos direitos conjugais.
Em suma, existem duas situações de impotência: a) esterilidade; e b) incapacidade física
de desempenhar o ato conjugal.
9 Os direitos que subsistem é o direito ao sobrenome nupcial e o direito de alimentos. Em

regra, também extinguir-se-á o Direito Sucessório entre os cônjuges.


10 A separação judicial foi extinta por uma decisão do STF. Esse artigo foi tacitamente

revogado. Dever-se-á converter em divórcio.


No caso de validade, o casamento somente poderá ser dissolvido pela
morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio e, presumindo-se vida no caso de
ausência nos termos da Lei.

DA SEPARAÇÃO
Antigamente, o instituto jurídico disponível para a dissolução do
casamento era o desquite, também chamado de separação. No julgamento
do Recurso Extraordinário 1.167.478, o STF entendeu que a separação
judicial e extrajudicial são institutos incompatíveis com a Constituição e seus
princípios norteadores.

A separação dava-se de forma consensual ou litigiosa.

A separação consensual é aquela que se dá por consentimento mútuo,


necessitando estarem casados por mais de um ano.

A separação litigiosa ou judicial é aquela na qual não há consentimento


mútuo, necessitando a decretação da separação por um juiz, sendo necessário
haver violação dos deveres conjugais ou a vida em comum ter se tornado
insuportável.

É requisito a separação de corpos há, pelo menos, um ano.11

DO DIVÓRCIO
Com o advento da Lei 14.441 de 2.007 e a EC 66 de 2010, restou
consolidado no nosso ordenamento jurídico a possibilidade do divórcio como
mais proveitosa para os consortes que desejam dissolver o seu vínculo nupcial.

No divórcio, não tem limite máximo de divórcio, não é necessária a justa


causa e não há prazo mínimo.

11Separação de corpos ou separação de fato significa que os consortes já se encontram


em diferentes domicílios, independentemente do seu estado civil.
Com a separação, como o vínculo não era extinto, os separados, se
voltassem a se relacionar, voltariam a estar casados. No divórcio, o vínculo é
extinto e caso deseje voltar a se casar com a mesma pessoa, deve realizar outro
casamento.

O divórcio se dá por via judicial ou extrajudicial.

O divórcio extrajudicial é aquele que se dá pela via cartorial, na


presença de advogado, sendo inscrito em Cartório e averbado no assento do
registro de matrimônio, com dois requisitos:

1) Consenso total: isto é, o consenso sobre todas as questões


conjugais; se houver uma contenda sequer, não é cabível o divórcio
extrajudicial. Por causa desse requisito, como há consenso total, é o
único caso no Direito onde o advogado pode representar ambas as
partes. E também por isso é chamado de Divórcio Consensual.
2) Que não haja filho menor ou incapaz.

O divórcio judicial possuirá como parte legítima os cônjuges e, sendo


um deles incapaz, poder-lhe-á representar o seu curador, o ascendente ou o
irmão. O descendente não é parte legítima.

No caso de existência de filho menor ou incapaz, não é cabível, mesmo


que haja consenso total entre os cônjuges, pois é necessária a manifestação do
Ministério Público sobre o acordo, se houver, ou sobre a situação, quando
aquele inexistir.

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