Marcelo Clayton de Jesus e Sousa
Marcelo Clayton de Jesus e Sousa
Marcelo Clayton de Jesus e Sousa
São Paulo
2015
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São Paulo
2015
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FICHA CATALOGRÁFICA
Preparada pelo Serviço de Biblioteca e Informação
do Instituto de Física da Universidade de São Paulo
USP/IF/SBI-025/2015
3
À minha querida mãe, Isabel Cristina de Sousa, minha eterna gratidão por
ser meu exemplo de vida e acreditar nos meus sonhos.
4
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador e amigo, Prof. Dr. Ewout ter Haar, que me inspirou a refletir sobre
as novas tecnologias no ensino e acreditando em mim, compartilhou seu tempo e
conhecimento para que se fizesse concretizar este trabalho.
Aos meus irmãos, Michel, Marcos, Francisco, Rodrigo e Rafael (que eu tive a sorte
de que também fossem meus amigos), por me acompanharem nessa jornada do
conhecimento.
À Prof.a Dr.a Luciana Pranzetti Barreira, minha amiga (cunhada e irmã), por estar
sempre a disposição e me auxiliar imensamente na revisão deste trabalho.
Aos meus sogros, Domingos Barreira Neto e Lúcia Maria de Freitas Pranzetti, pelo
carinho, pela solicitude e por estarem com um notebook sempre a mão.
À Prof.a Dr.a Anne Louise Scarinci Peres, ao Prof. Dr. Ivan Ramos Pagnossin e ao
Prof. Claudio Hiroyuki Furukawa pelo valioso auxílio na elaboração do material
didático deste trabalho.
Ao Prof. Dr. Alberto Villani, à Prof.a Dr.a Jesuína L. de A. Pacca, ao Prof. Dr. Luís de
C. Menezes e ao Prof. Dr. Osvaldo F. Pessoa Junior, pelas aulas maravilhosas deste
curso que me inspiraram a inúmeras reflexões.
Aos meus amigos José Otávio Baldinato, Luís Gomes de Lima, Marcos Matsukuma,
companheiros de troca de saberes, inquietações e descontração nessa senda
acadêmica.
5
À minha filha Isadora e meu sobrinho Pedro Henrique, que pela graça da infância e
seus questionamentos nos fazem repensar a vida e o mundo.
À Banca, por promover criticas valiosas que me permitiram lapidar este trabalho.
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE FIGURAS
Figura 7 - Optical see-throug (AZUMA, 1997 apud KIRNER; ZORZAL, 2005) ..................... 53
Figura 8 - Vídeo see-through (AZUMA, 1997; PRINCE, 2002 apud KIRNER; ZORZAL, 2002)
............................................................................................................................................ 53
Figura 9 - Sistema de visão por vídeo baseada em monitor (AZUMA, 1997 apud KIRNER,
............................................................................................................................................ 55
Figura 12 - Livro em RA sobre o Sistema Solar (OKAWA; KIRNER; KIRNER, 2013) .......... 57
LISTA DE GRAFICOS
304) ..................................................................................................................................... 30
Gráfico 5 - Preparação para uso das Tics na graduação (FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA, p.
302) ..................................................................................................................................... 32
p. 313) ................................................................................................................................. 33
317) ..................................................................................................................................... 34
Gráfico 9 - Distribuição dos estudantes de 10 anos ou mais, por rede de ensino e condição
Gráfico 10 - Proporção de escolas, por tipo de computador (CGI, 2014, p. 138) ................. 38
Gráfico 12 - Proporção de escolas com conexão à Internet, sem fio, por região (CGI, 2014,
p. 141) ................................................................................................................................. 40
Gráfico 13 - Proporção de escolas, por velocidade de conexão à Internet (CGI, 2014, p. 141)
............................................................................................................................................ 40
11
Gráfico 14 - Proporção de professores, por motivos para levar o computador portátil para
Gráfico 22 - Sistema operacional executado nos smartphones dos ingressantes do CLC ... 76
12
LISTA DE TABELAS
tecnológico .......................................................................................................................... 78
Tabela 5 - Características dos desenhos dos 09 grupos sobre o que acontece no interior do
fio condutor.......................................................................................................................... 93
.......................................................................................................................................... 102
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................15
2. OBJETIVOS..........................................................................................................20
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................21
3.1. Teoria de mediação de Vigotsky.....................................................................21
4. AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO APLICADAS AO
ENSINO.....................................................................................................................24
4.1. Um resumo das políticas de inclusão das Tics no ensino brasileiro ...............24
4.2. Panorama atual da aplicação das Tics no ensino brasileiro ...........................29
4.2.1. Discussão sobre os dados apresentados nas pesquisas ............................45
5. O USO DAS SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS NO ENSINO DE FÍSICA........46
6. INTRODUÇÃO À REALIDADE AUMENTADA.....................................................49
6.1. Apresentação e revisão da RA .......................................................................49
6.1.1. Classificação dos sistemas de RA ...............................................................52
6.1.2. Usando simulações em RA..........................................................................55
6.1.3. A RA sem o uso de marcadores fiduciais ....................................................56
6.1.4. RA aplicada em diversos segmentos...........................................................56
6.2. Objetos de Aprendizagem .............................................................................60
6.2.1 Características dos Objetos de Aprendizagem.............................................61
6.2.2. Repositórios de Objetos de Aprendizagem..................................................63
7. METODOLOGIA ...................................................................................................64
7.1 . Referencial Metodológico ..............................................................................64
7.2. Análise da criação de um objeto virtual simulado para RA .............................64
7.2.1 O objeto virtual simulado desenvolvido: Características do Modelo Clássico
de Drude ................................................................................................................65
7.3. Instrumentos de coleta de dados....................................................................66
7.3.1. Caracterização do público-alvo....................................................................66
7.3.2. Averiguação sobre infraestrutura tecnológica existente...............................67
7.3.3. Aplicação prática da RA: uma intervenção com alunos do CLC da
USP/UNIVESP.......................................................................................................67
7.3.3.1.Instrumento de coleta de dados da intervenção de RA .............................68
14
1. INTRODUÇÃO
Desse modo, a Física que deveria levar o aluno a uma atuação mais efetiva e critica
na sociedade em que está inserido, acaba por se transformar em uma disciplina
comumente rotulada como maçante e difícil, a qual o aluno se vê obrigado a estudar
simplesmente porque está presente em exames vestibulares. Perde-se com isso a
oportunidade de despertar a curiosidade e a reflexão sobre a natureza dos
fenômenos.
Nesse contexto surge o professor a quem compete à árdua tarefa de modificar essa
situação e, para que isso ocorra, ele poderá buscar auxílio nas novas tecnologias e
linguagens presentes no mundo contemporâneo, a fim de ir além daquelas
presentes na educação tradicional, pautadas na oralidade e na escrita.
Prever que as TICs estejam presentes na formação inicial dos professores pode
favorecer que elas sejam utilizadas por esses profissionais para criar materiais
didáticos mais diversificados e auxiliar sua relação dialógica com os alunos e o
conhecimento científico. Assim, de acordo com os documentos apresentados (PCN,
2002; CONAE, 2010), verifica-se que existe uma tendência em promover o uso
dessas tecnologias no ensino; logo, não se trata de apologia as TICs, mas um
reconhecimento de seu potencial no auxilio à ação do professor.
No mundo contemporâneo a presença das TICs é tão disseminada que alunos e
professores tem acesso a diversos aparatos do universo digital como computadores,
17
como no ensino de Física, uma vez que permite ao usuário interagir com o objeto
virtual, rotacionando-o e transladando-o de maneira que se possa observá-lo de
maneira apropriada (Figura 022).
2
Fonte: <http://ckirner.com/apoio/lancaobliquo/> Acesso em janeiro 2015
19
2. OBJETIVOS
Hipótese:
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
nos homens, mas que são de origem biológica, caracterizadas por serem
determinadas por estimulação do meio.
Para Vigotsky (1998) as relações que homem desenvolve com o meio não se dão de
maneira direta, pelo contrário, ocorre de forma indireta, por meio elementos
mediadores: os instrumentos e os signos. Os instrumentos são elementos externos
ao homem e são criados com o objetivo de auxiliar o homem na prática de tarefas
especificas, como por exemplo, um machado que é criado para cortar madeira, ou
seja, permite ao homem promover mudanças nos objetos. Os instrumentos são
impregnados de significados culturais oriundos da atividade humana para qual foi
desenvolvido, segundo Leontiev (1978, p. 163):
O signo por sua vez age diretamente sobre o indivíduo, ou seja, é orientado
internamente. São tidos como instrumentos psicológicos, pois tem a função de
auxiliar o homem em suas atividades psíquicas. Segundo Vigotsky (1999, p. 70) “a
invenção e o uso de signos como meios auxiliares para solucionar um dado
problema psicológico (lembrar, comparar coisas, relatar, escolher, etc.) é análoga à
invenção e uso de instrumentos, só que agora no campo psicológico”
Para Oliveira (1997, p. 30) os “signos podem ser definidos como elementos que
representam ou expressam outros objetos, eventos, situações”.
A maneira como um signo age como elemento mediador se dá por meio da estrutura
de operações com signos que requer um elo intermediário na relação direta Estímulo
Resposta (SR) de uma ação, de tal maneira que ela não seja mais direta. Assim,
nessa situação o signo atua como um estímulo de segunda ordem no interior dessa
operação, criando uma nova relação entre S e R (VIGOSTKY, 2001), como mostra a
figura 01.
Para Vigotsky (1999, p. 54) essa relação configura um novo processo onde:
É comum a afirmação que as TICs devem ser aplicadas ao ensino, desde que
estejam pedagogicamente amparadas, contudo essas tecnologias estão realmente
disponíveis para uso no ensino? Existem políticas públicas que amparam o seu uso?
Como surgiram as políticas públicas de fomentação ao uso das TICs no Brasil e
quais são seus objetivos? É assim também para Internet? Essas questões são
importantes para aqueles professores que irão fazer uso das TICs e serão
brevemente apresentadas na primeira seção desse capítulo.
A segunda seção desse capítulo apresenta um panorama atual da infraestrutura
tecnológica no cenário escolar, sendo baseada em pesquisas que analisaram a
disponibilidade e o uso computador, assim como da Internet nas escolas; os locais
mais frequentes de uso; a velocidade de conexão da Internet; os softwares utilizados
pelos professores, entre outros.
Este capitulo servirá de respaldo para analisar se existe infraestrutura adequada nas
escolas para permitir o uso da RA.
Eric J. Hobsbawm (1977, p. 16) em seu livro A Era das Revoluções ao se referir as
palavras que surgiram na revolução que eclodiu entre 1789 e 1848, tais como
“industria”, “proletariado”, “ferrovia”, entre outras, diz que imaginar o mundo moderno
sem elas é uma maneira de medir a profundidade dessa revolução. Raciocínio
similar a esse pode ser aplicado em relação à Revolução Digital, pois palavras como
“download”, “internet”, “deletar”, “email” ou expressões como “copiar e colar”,
“exclusão digital” estão tão impregnadas em nosso cotidiano que sua ausência é
difícil de ser imaginada.
Uma análise dos computadores, protagonistas dessa Revolução Digital, permitirá
observar que quando tiveram seu poder de processamento, memória e capacidade
25
Embora as políticas públicas de incentivo e capacitação para o uso das TIC's nas
escolas públicas tenham sido implementadas no Brasil desde o início dos anos 80, é
conveniente analisar como esse quadro se apresenta atualmente, haja vista o
avanço dessas tecnologias, as condições de acessibilidade, a formação de
professores e a estruturação das escolas para utilizarem e comportarem as TICs.
Com base em pesquisas realizadas por órgãos nacionais e internacionais, que
avaliam as políticas educacionais, pode-se tecer um panorama atualizado do uso
das TICs no ensino público.
No âmbito nacional, foi realizada uma pesquisa pela Fundação Victor Civita que
investigou o uso do computador e da Internet em escolas públicas brasileiras no
período de 2007 a 2009. Tal pesquisa se deu por intermédio do Laboratório de
Sistemas Integráveis - LSI, do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos
da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, com a participação do Ibope
Inteligência, onde se analisaram 400 escolas de Ensino Fundamental e Médio das
capitais brasileiras.
Foram realizadas entrevistas via telefone com diretores de escola, ou alguém
indicado por ele, tendo por intuito de pesquisa "agrupar e mapear os tipos de uso
feitos nas escolas públicas e, depois do mapeamento, procurar entender quais
fatores mais contribuem para o uso dos computadores e da Internet de forma
pedagógica" (FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA, 2010, p. 294).
Os dados obtidos na pesquisa referentes à infraestrutura escolar revelam que 99%
das escolas pesquisadas possuem computadores funcionando. O número de
computadores presentes nas escolas pode ser observado no gráfico 01:
30
Gráfico 1 - Número de computadores nas escolas (FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA, 2010, P. 304)
Gráfico 2 - Localização dos computadores nas escolas pesquisadas (FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA, 2009, P.
43)
Gráfico 4 - Usuários de computadores e Internet nas escolas (FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA, 2010, p.
310)
32
Gráfico 5 - Preparação para uso das Tics na graduação (FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA, p. 302)
Quanto ao uso dos computadores, a pesquisa aponta haver uma grande variação
nos programas de computador utilizados, seja apenas pelos professores, seja pelos
professores com os alunos, mostrando predominância no uso de editores de texto
em ambos os casos, e baixa incidência no uso de softwares de programação e
modelagem 3D e simulações, conforme se observa no gráfico 06:
33
Gráfico 6 - Programas de computador mais utilizados (FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA, 2010, p. 313)
No que se refere aos principais problemas para o uso pedagógico dos computadores
nas escolas, a pesquisa aponta que em 44% dos casos os problemas decorrem da
falta de professores especializados em informática educativa e 39% dos problemas
está associado ao número insuficiente de computadores ou computadores
defeituosos, outros problemas apontados podem ser observados no gráfico 07:
Gráfico 7 - Problemas no uso pedagógico dos computadores nas escolas (FUNDAÇÃO VICTOR
CIVITA, 2010, p. 314)
34
Diversos outros fatores relacionados com o uso das TICs no ensino foram
investigados na pesquisa da Fundação Victor Civita e a análise dos dados obtidos
permitiu aos pesquisadores chegarem a diversas conclusões, entre elas “que apesar
dos dados levantados sobre recursos e infraestrutura serem favoráveis,
infraestrutura, formação de professores e problemas com acesso à internet são
apontados como os principais problemas para o uso pedagógico do computador”
(FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA, 2010, p. 327-328), outra conclusão obtida na
pesquisa é que “na maioria das escolas, as atividades que utilizam tecnologia e são
realizadas com os alunos têm pouca complexidade ou usam recursos simples”
(FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA, 2010, p. 328).
Além de pesquisas de âmbito nacional, pode-se utilizar também como referência
pesquisas de âmbito internacional, que analisam direta ou indiretamente o uso das
TICs no ensino, entre elas esta o Programa Internacional de Avaliação de
Estudantes - PISA que é um programa internacional de avaliação comparada
desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico –
35
OCDE que é aplicado a alunos na faixa dos 15 anos, e que tem por objetivos
fornecer indicadores de alta qualidade para o ensino, que viabilizem a elaboração de
políticas de melhoria do ensino básico.
As avaliações do PISA são trienais e abrangem três áreas do conhecimento, Leitura,
Matemática e Ciências, havendo maior destaque para uma destas áreas a cada vez
que o Programa é aplicado. Os resultados obtidos pelo PISA são interpretados
dentro do contexto de cada país, sendo que no Brasil compete ao Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - Inep sua coordenação. O
PISA, por meio da aplicação de questionários visa também avaliar as instituições de
ensino, analisando os diversos fatores presentes no cenário escolar que influenciam
nos resultados educacionais obtidos nas edições do Programa.
Segundo dados oriundos do Relatório Nacional PISA 2012 (BRASIL, 2012, p. 13),
foram avaliadas 767 escolas e 18.589 estudantes, pertencentes das 27 Unidades
Federativas do Brasil. Nesta edição do Programa, o Questionário da Escola, que é
preenchido por diretores de escola ou um responsável por ele indicado, apontou que
os recursos da escola que mais afetam o ensino, segundo o percentual de alunos
afetados, são (Tabela 01):
Pela tabela 01 pode-se observar que nas escolas brasileiras avaliadas, as condições
de informatização (computadores (54%), Internet (50%) e softwares (60%)) são
apontadas como aquelas cuja escassez ou inadequação afetam “De certa
forma/Muito” o ensino, perdendo apenas para os laboratórios de ciências. É
necessário ressaltar que tais recursos de informatização são de grande importância
na análise do PISA, sendo inclusive convertidos em índices que permitirão uma
correlação com o desempenho do estudante em matemática (PISA, 2012). Na
edição 2012 do Programa o Brasil apresentou ligeira melhora no desempenho de
matemática, 391 pontos, em comparação a edição de 2009, quando obteve 386
pontos, contudo, apesar da melhora não houve avanço no ranking, de forma que o
país caiu para 58ª posição em matemática, quando em 2009 ocupava a 53ª posição.
Outra pesquisa, que visava mais especificamente analisar o uso da Internet em
escolas públicas e privadas foi realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE, por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio –
PNAD e os dados obtidos apresentam informações comparativas entre os anos de
2005 e 2011, mostrando que “dos 38,8 milhões de estudantes com 10 anos ou mais
de idade em 2005, 31,1 milhões eram de rede pública dos quais 24,1% utilizaram a
Internet”, já em 2011 esses números evoluem para 37,5 milhões de estudantes, dos
quais 29,2 milhões pertencem à rede pública de ensino e desses 65,8 % utilizaram a
Internet. Complementar a esse quadro, em 2005, dos 7,7 milhões de estudantes
pertencentes à rede privada, 82,4% fizeram uso da Internet, e em 2011 dos 8,4
milhões dessa rede de ensino o percentual apresentado de acesso a Internet foi de
96,2% (PNAD, 2013, p.38).
Gráfico 9 - Distribuição dos estudantes de 10 anos ou mais, por rede de ensino e condição de
utilização da Internet - Brasil 2005-2011 (PNAD, 2013, p. 38)
37
Gráfico 11 - Proporção de escolas por local de instalação de computadores 2010-2013 (CGI, 2014, p.
139)
Gráfico 12 - Proporção de escolas com conexão à Internet, sem fio, por região (CGI, 2014, p. 141)
Todavia, embora haja nas escolas públicas brasileiras conexão à Internet, sem fio,
ainda predomina como fator limitante a velocidade de conexão, conforme gráfico 13,
onde 55% das escolas contam com conexões com até 2Mbps e apenas 19% contam
com velocidades superiores a essa:
Gráfico 13 - Proporção de escolas, por velocidade de conexão à Internet (CGI, 2014, p. 141)
Segundo a Pesquisa TIC Educação 2013 (CGI, 2014) a velocidade de conexão pode
ser considerada como um dos principais fatores de limitações de infraestrutura das
escolas públicas, pois implica diretamente na capacidade de compartilhamento da
rede por diversos dispositivos de forma simultânea.
A pesquisa apontou também que os professores tem levado seus próprios
computadores portáteis para escola, sendo que o motivo mais apontado para essa
ação é o apoio as atividades pedagógicas, em 77% dos casos, enquanto que em
29% dos casos era para uso em atividades pessoais, conforme gráfico 14:
41
Gráfico 14 - Proporção de professores, por motivos para levar o computador portátil para escola (CGI,
2014, p. 146)
Ainda em relação aos professores, a pesquisa mostra (gráfico 16) que os tipos de
recursos da Internet mais utilizados por esses profissionais para preparo de aulas ou
atividades com alunos são: imagens, figuras, ilustrações e fotos (84%), textos
variados (83%) e questões de provas e avaliações (79%), enquanto que softwares
educacionais e podcasts são os menos utilizados, com 39% e 13%,
respectivamente.
43
Gráfico 16 - Proporção de professores, por tipo de recurso obtido na Internet para a preparação de
aulas ou atividades com alunos (CGI, 2014, p. 155)
A Pesquisa TIC Educação 2013 (CGI, 2014) também informa que 88% dos
professores de escolas públicas afirmam ter realizado alguma alteração no material
original que obtiveram na Internet para preparação de aula, o que indica postura de
autoria por parte desses profissionais, contudo, apenas 21% dos docentes
entrevistados informam ter publicado ou postado na Internet os conteúdos que
produziram.
Com relação ao uso das TICs por alunos de escolas públicas localizadas em áreas
urbanas, a Pesquisa TIC Educação 2013 aponta que 69% dos alunos possuem
computadores de mesa / desktop em casa, havendo também crescimento
significativo na presença de computadores portáteis / laptops ao longo dos anos,
indo de 18% em 2010 para 51% em 2013, conforme gráfico 17. A Pesquisa ressalta
que devem ser observadas as desigualdades regionais na presença de
computadores nas residências dos alunos, sendo maior o percentual nas regiões Sul
e Sudeste, 80% e 79%, respectivamente, e menor nas regiões Norte e Nordeste,
onde é pouco maior que a metade, 53 e 51%, respectivamente.
44
Gráfico 17 - Proporção de alunos, por tipo de computador existente no domicílio (2010-2013) (CGI,
2014, p. 158)
Tais vantagens podem propiciar uma ação mais ativa do aluno na exploração e
compreensão de modelos científicos, permitindo que ele possa analisá-los de
maneira mais dinâmica que a proporcionada pelos livros didáticos, que é
predominantemente estática, baseada em desenhos ou formulas matemáticas. As
simulações que permitem a alteração de valores das variáveis que descrevem o
modelo analisado possibilitam que os alunos possam compreender melhor como
elas estão relacionadas e de que maneiras elas modificam o sistema. De acordo
com Tavares e Santos (TAVARES; SANTOS, 2003, p. 134):
Segundo Tori (2010, p. 7) a RA pode ser exibida por meio de quatro técnicas,
baseadas em visão ótica ou visão por vídeo, são elas:
53
Figura 8 - Vídeo see-through (AZUMA, 1997; PRINCE, 2002 apud KIRNER; ZORZAL, 2002)
Figura 9 - Sistema de visão por vídeo baseada em monitor (AZUMA, 1997 apud KIRNER; ZORZAL,
2005)
A RA vem ganhando popularidade e possui uso nos mais diversos segmentos. Entre
suas aplicações estão procedimentos de manutenção e reparo de equipamentos
(HENDERSON; FEINER, 2007), publicidade (KIRNER, 2010), procedimentos
cirúrgicos (SIELHORST; TRAUB, 2004), mediação museológica (SILVEIRA;
BIAZUS, 2013), sistemas de rastreamento e orientação espacial (WAGNER &
SCHMALSTIEG, 2003), reconstrução virtual de templos em sítios arqueológicos
(VLAHAKIS; IOANNIDIS; KARIGIANNIS, 2002), jogos eletrônicos (PIEKARSKY &
THOMAS, 2002), projetos arquitetônicos (MEIGUINS et all, 2005), aplicativos para
dispositivos móveis (LAYAR, 2009) ( AURASMA, 2015), entre outras.
57
Figura 14 - Livros texto com marcadores de RA no estudo de mecânica (CAMARGO; RAIMANN et all,
2010, p. 05)
59
Elaborar material didático inovador é uma tarefa bastante complexa, podendo por
vezes requerer conhecimento especializado como linguagens de programação,
edição de som e vídeo, entre outros. Essa dificuldade de criação faz com que a
reutilização desses materiais por outros professores e alunos seja considerada
quase que obrigatória, ainda mais quando impera no universo digital a ação de
compartilhar.
Compartilhar material didático digital é uma ação que está associada aos chamados
Objetos de Aprendizagem (OA) ou Learning Objects. O Comitê Learning Technology
Standards Committee (LTSC) do Institute Of Eletrical and Eletronics Engineers
(IEEE) define os OA como "qualquer entidade, digital ou não digital, que pode ser
utilizada para a aprendizagem, a educação ou treinamento" (LTSC, 2003, p. 06,
tradução nossa).
Na definição de Wiley (2002, p. 04) os OA são “qualquer recurso digital que pode ser
reusado para assistir a aprendizagem”. Pimenta e Batista (PIMENTA; BATISTA,
2004, p. 102) se referem aos OA como:
Macedo (2003, p.20) apresenta uma definição mais ampla quanto a construção e
formatos de OA:
Uma propriedade dos OA como entidades digitais é poderem ser veiculados pela
Internet, permitindo que possam ser acessados e utilizados simultaneamente por
inúmeras pessoas (WILEY, 2002).
Além do IEEE existem outros órgãos que visam a catalogação dos objetos de
aprendizagem como o projeto Ariadne (ARIADNE), o Learning Design do IMS -
Instructional Management Systems (IMS, 2006) e o SCORM - Sharable Content
Object Reference Model (SCORM, 2004), desenvolvido e distribuído pela Advanced
Distributed Learning (ADL), que permite facilitar seu reuso e sua busca em
repositórios.
7. METODOLOGIA
fluxo desses elétrons dará origem a uma corrente elétrica, definida como a taxa de
passagem de cargas, nesse caso elétrons livres, através da área da seção reta do
condutor, num dado intervalo de tempo (TIPLER, 2002).
Assim, sendo ∆Q a carga que passa por uma área A da seção reta do condutor, no
intervalo de tempo t, a corrente elétrica será:
I = ∆Q/∆t
Após a criação do objeto virtual simulado de RA, descrita no Item 7.2, a investigação
sobre o seu uso no ensino de Física ocorreu em uma intervenção didática onde essa
tecnologia foi utilizada para discutir o conceito de corrente elétrica com alunos do
CLC da USP/UNIVESP.
A intervenção ocorreu em uma aula (matinal) presencial da disciplina de
Eletricidade, ocorrida em 03/11/2012 (sábado) e ministrada por uma professora do
IFUSP. Participaram dessa aula 40 alunos, numa proporção equilibrada de homens
e mulheres. Antes do início da intervenção, os alunos foram cientificados que
estariam participando de uma pesquisa, bem como quais seriam os seus objetivos.
Durante toda intervenção, o pesquisador atuou como observador participante,
68
procurando ter a menor influência possível nos resultados, pois conforme BOGDAN
e BIKLEN (1994, p. 167) os pesquisadores qualitativos “sabem que nunca podem
atingir um nível de compreensão e reflexão que possa resultar notas puras, isto é,
notas que não reflitam a influência do observador”.
anexo 01 (questões 02 a 16), para responder a pergunta dessa pesquisa. Elas foram
inseridas no questionário veiculado aos alunos do curso de Licenciatura em Ciências
da USP/UNIVESP, na semana "zero" do curso ou de ambientação ao Ambiente
Virtual de Aprendizagem do curso.
Conforme discriminado no capítulo 7.3.2 - “Averiguação sobre infraestrutura
tecnológica existente” o questionário esteve disponível a uma população de 352
alunos ingressantes, dentre 198 mulheres e 154 homens, da qual 233 responderam
o questionário, ou seja, aproximadamente 66% da população investigada, percentual
esse que pode ser efetivamente maior, considerando que 28 alunos ingressantes
nunca acessaram o AVA. Uma comparação de taxas de resposta (NULTY, 2008)
aponta que para pesquisas em educação as taxas de resposta a enquetes online
entre 20 e 40% são típicas. Não é necessariamente verdade que taxas de respostas
altas significam resultados melhores, mas a taxa obtida, relativamente alta, quer
dizer que os resultados da enquete dessa pesquisa são representativos pelo menos
para a população de ingressantes ao CLC e pelas razões mencionadas no capitulo
4.2, também são para a população de docentes no sudeste do Brasil.
Os dados da pesquisa permitem observar que o público-alvo é uma população
diversificada, e a princípio, presumia-se que alguns indivíduos já atuavam na área
de ensino:
De modo geral, os dados obtidos nessa enquete, apontam que os alunos do CLC
possuem minimamente infraestrutura tecnológica para utilização de aplicações de
RA, contudo, a falta de conhecimento de linguagem de programação, necessária
para confeccionar ou customizar objetos virtuais simulados para uso em em RA,
pode fazer com que o aluno, futuro professor, necessite de um programador que
participe do processo de elaboração das simulações que serão utilizadas em RA, do
contrário dependerá da disponibilidade desse material em repositórios virtuais.
Os dados também permitem verificar que é grande a presença de smartphones junto
ao público entrevistado. Alguns recursos desse dispositivo, como por exemplo
câmera, acesso a Internet e aplicativos desenvolvidos especificamente para
Realidade Aumentada, o tornam um forte concorrente da tríade desktop, webcam e
monitor, principalmente por permitir maior liberdade de movimento quando do uso
dessa ferramenta tecnológica.
A enquete permitiu observar que ainda é minoritário o uso de smartphones e
aplicativos no estudo de alguma disciplina. O mesmo se pode dizer da RA e seus
aplicativos. Isso pode estar associado ao fato de se tratar de uma tecnologia
relativamente nova e que ainda será melhor explorada no futuro. Todavia, embora
80
Tais objetos virtuais simulados podem ser obtidos em repositórios virtuais ou então
ser criados ou customizados por um professor. Ocorre que é muito difícil encontrar
em repositórios, objetos virtuais que simulem modelos científicos complexos e que
ainda possam ser utilizados em aplicações de RA, assim, até que tal situação se
modifique é provável que o professor se depare com a tarefa de criar esses objetos.
Softwares livres de Realidade Aumentada, como o ARToolkit ou Flartoolkit, além de
não apresentarem custos, permitem que os objetos virtuais sejam criados em
linguagem VRML, podendo ser elaborados em editores de texto, como o Bloco de
Notas, ou então em editores de modelagem 3D gratuitos.
A criação de objetos virtuais por meio de editores de texto pressupõe conhecimento
prévio em linguagem VRML, pois nesse caso não há visualização direta do que se
está criando, somente a programação por linhas de comando. Nesse caso, um
professor de Física que não tenha tido acesso a alguma disciplina de programação
em sua graduação enfrentaria grande dificuldade nesse caso.
A linguagem VRML foi desenvolvida para uso na Internet sendo possível utilizar
plugins que permitam visualizar os objetos virtuais criados em um navegador Web.
Nesse trabalho optou-se por utilizar o plugin Cortona 3D Viewer desenvolvido e
distribuído gratuitamente pela empresa Parallelgraphics, que permite inspecionar o
objeto virtual em 3 dimensões.
A experiência prática dessa pesquisa permite considerar que para um professor sem
conhecimentos de programação em VRML pode ser mais vantajosa a utilização de
softwares de modelagem tridimensional ao invés de editores de texto, pois esses
primeiros, em sua maioria, permitem criar os objetos virtuais em um ambiente
tridimensional e possuem também, em sua maioria, formas primitivas (cubo, cilindro,
cone, esfera) predefinidas que podem ser combinadas entre si, facilitando a ação do
usuário no processo de construção. Esses softwares permitem alterar as
características do objeto virtual (material, textura, entre outras) e do cenário
(iluminação, ponto de vista, nível de detalhes, cor de fundo, entre outras), bem como
realizar transformações (translação, rotação e escala) de maneira mais simples, por
vezes por meio de ferramentas pré-definidas e não obrigatoriamente por meio de
scripts de programação. A seguir são apresentados alguns softwares de modelagem
tridimensional que foram utilizados nessa dissertação, e em seguida será discutido
as facilidades e dificuldades que um professor leigo em programação se depararia
na confecção de objetos virtuais para uso em RA:
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Em suma, conclui-se que para criar um objeto virtual que represente um modelo
científico de alta complexidade será necessário para o professor ter conhecimento
avançado em linguagem VRML. O uso de softwares de modelagem tridimensional
pode realmente ajudar o professor nesse processo de criação de objetos, mas eles
são pouco intuitivos para aqueles que não possuem nenhum conhecimento em
VRML.
Nenhum dos softwares utilizados nesse trabalho possui alguma limitação para
produzir objetos virtuais em VRML, à limitação estará antes em seu usuário que
necessitará aprender como utilizar as ferramentas oferecidas nesses programas da
maneira que atenda as suas necessidades.
Dos softwares utilizados, o Flux Studio e o Vivaty foram softwares que permitiram a
criação de objetos virtuais básicos e estáticos de forma mais simples, sem
necessitar recorrer a tutoriais ou apostilas, estando ao alcance de um professor leigo
em programação, que deseje desenvolver aplicações de RA.
Por fim, tendo em vista as dificuldades apresentadas na elaboração de um objeto
virtual que represente fielmente um modelo científico, chega-se a conclusão que um
professor leigo em programação possa recorrer ao auxílio de especialistas em
programação no processo de criação. Caberá então ao professor orientar esses
especialistas quanto aos conceitos que regem o modelo científico a fim de que o
objeto virtual a ser criado seja ao máximo fidedigno.
Nesse trabalho foi adotada como meta a elaboração de um objeto virtual que
representasse o modelo de Drude para condução elétrica, por acreditarmos que
existam dificuldades para os alunos compreenderem os conceitos que regem esse
modelo. Contudo, por conta das deficiências em linguagem VRML desse mestrando
isso não foi possível, assim foi necessário o apoio da equipe do Centro de Ensino e
Pesquisa Aplicada (CEPA) do Instituto de Física da Universidade de São Paulo que
criou o objeto virtual necessário para o uso da Realidade Aumentada.
Definiu-se neste trabalho que o objeto virtual a ser criado para uso na Realidade
Aumentada deveria representar o modelo de Drude para condução elétrica, pela
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Além disso, também foram inseridos botões extras que permitem ao aluno remover
as bordas de contorno da representação do fio; remover de cena o objeto virtual;
visualizar o objeto virtual em tela cheia e, por fim, inserir som ao objeto virtual.
O menu de opções do objeto virtual contem também um contador de elétrons por
unidade de tempo e quando a opção de som é acionada no objeto virtual um ruído é
emitido para cada elétron que atravessa uma determinada seção transversal do fio,
permitindo que o aluno possa estimar qual o valor da corrente elétrica que percorre o
fio.
Tabela 5 - Características dos desenhos dos 09 grupos sobre o que acontece no interior do fio
condutor
Grupo 07: “Os elétrons livres se movem dentro do filamento e colidem com os
átomos da estrutura cristalina de cobre, promovendo agitação das moléculas
e gerando calor e acendendo a lâmpada”
O uso da RA teve início nos últimos 20 minutos de aula. Inicialmente havia sido
programada a aplicação da Avaliação Diagnóstica 01 antes do uso da RA para
averiguar as concepções prévias que os alunos possuem sobre corrente elétrica,
contudo, dada a brevidade do tempo, a avaliação foi entregue para os alunos
concomitantemente ao uso da RA.
Na intervenção, para propiciar o uso da RA já estavam preparados os seguintes
materiais e equipamentos: um notebook com o software FLARToolkit e com uma
webcam móvel; um projetor conectado ao notebook; um telão e um conjunto de
marcadores-cubo, sendo que a versão em madeira seria utilizada pelo professor e a
versão em papel pelos alunos.
Os alunos foram preliminarmente apresentados, de forma suscinta, ao conceito de
RA, seu funcionamento e sua infraestrutura. De maneira geral, quase todos os
alunos desconheciam a RA, muito embora, tenham observado marcadores em
revistas ou na Internet.
A intervenção manteve a discussão sobre o que acontece no interior de um fio
condutor. Nessa etapa esse mestrando e seu orientador (observador participante da
aula) auxiliaram a professora em sua ação com os alunos, mais especificamente na
apresentação do circuito real (figura 22) com o marcador fixado a ele. Primeiramente
o circuito foi fechado para que os alunos observassem a lâmpada acendendo, após
foi pedido que eles olhassem para o telão pois o circuito real seria capturado pela
webcam e então seria possível ver no telão o objeto virtual que representa o que
ocorre no interior do fio.
Os alunos demonstraram grande entusiasmo ao observar o objeto virtual ser
posicionado sobre o circuito e pareceram impressionados com a RA, mantendo os
olhares fixos para o telão.
Foi possível por meio do menu de ferramentas da RA, reduzir ao máximo a opção
intensidade do campo elétrico e mostrar para os alunos o que ocorre no interior do
fio quando na ausência de campo elétrico aplicado: os elétrons livres se mantêm em
movimento aleatório proveniente da agitação térmica, chocando -se com os íons
fixos da estrutura cristalina do fio. No circuito real essa situação ocorria quando a
chave que fecha o circuito estava aberta, ou seja, a lâmpada não acendia.
Variando a opção intensidade do campo elétrico, os alunos observaram que os
elétrons livres, além de manterem o movimento de origem térmica, também se
deslocavam do pólo negativo para o pólo positivo, ou seja, no sentido oposto ao
96
A Avaliação Diagnóstica 01 era composta por 04 imagens das quais o aluno deveria
escolher duas que considerava melhor representar uma analogia para corrente
elétrica e justificar sua escolha.
As imagens dessa avaliação foram escolhidas para analisar qual a concepção prévia
o aluno apresentava do conceito de corrente elétrica, se para eles a corrente elétrica
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Observa-se pelas ocorrências das duplas de imagens que para maioria dos alunos,
24 deles, a analogia dos rios é a que melhor representa o conceito de corrente
elétrica, ou seja, associam a corrente elétrica a uma espécie de fluído. Somente 02
alunos escolheram conjuntamente as duas imagens que representam a corrente
elétrica como o movimento de elétrons. Analisando-se isoladamente as escolhas das
imagens verificou-se que: a figura A foi escolhida 30 vezes; a figura B foi escolhida
32 vezes; a figura C foi escolhida 12 vezes e a figura D foi escolhida 07 vezes.
Assim, predominou como escolha de analogia para corrente elétrica o movimento
turbulento de um fluído. Entre as justificativas para a escolha das imagens estão:
Figura B: “A imagem oferece uma boa analogia, pelo fato dessa “fluidez” que
é a corrente elétrica e as pedras como os átomos presentes na estrutura
oferecendo uma certa resistência. Porém, um dos nossos maiores “erros” ou
falhas da analogia é o fato de a água não representar de forma ideal a
corrente elétrica e o movimento um tanto aleatório dos elétrons.”
3
Figura 26 - Representações do modelo clássico de corrente elétrica
3
Fonte: Figura A: ALVARENGA, Beatriz G.; LUZ, Antônio Máximo R., Física, Volume 3,Editora
Bernardo Alvares S.A.
Figura B: HEWITT, Paul G., Física Conceitual, 9ª Edição; tradução Triente Freire Ricci e Maria Helena
Gravina, Artmed Editora S.A., 2002, Reimpressão 2007.
Figura C: ALVARENGA, Beatriz G.; LUZ, Antônio Máximo R., Física, Volume 3,Editora Bernardo
Alvares S.A.
Figura D: Grupo de Reelaboração do Ensino de Físíca. Leituras de Física: GREF-Eletromagnetismo /
Para ler, fazer e pensar 1 a 6 - Versão Preliminar, Disponível em
http://www.if.usp.br/gref/eletro/eletro1.pdf , acesso em 29/10/12
Figura E: Animação PHET disponível em: http://phet.colorado.edu/pt_BR/simulation/circuit-
construction-kit-ac , acesso em 28/10/12.
101
Pela tabela 07 podemos observar que a figura E apresenta 15 votos para o conceito
Excelente muito acima da figura C, segunda mais pontuada, que para o mesmo
conceito apresenta apenas 04 votos. Essas duas figuras, bem como a figura D
apresentam votos bem distribuídos ao longo de todos os conceitos, diferente das
figuras A e B que apresentam maior incidência de votos no conceito Ruim.
Interessante analisar que as figuras C e E apresentam em seu circuito uma lâmpada
acesa o que pode ter influenciado os votos dos alunos nos conceitos Bom, Muito
Bom e Excelente pelo fato de ter sido realizada uma atividade no Pólo São Paulo em
que os alunos precisavam desenhar um circuito contendo uma lâmpada.
A tabela 08 apresenta a figura D com 15 votos para o conceito Excelente, muito
diferente do que ocorreu no Pólo São Paulo, onde essa figura recebeu apenas 01
voto para esse conceito. Em contrapartida, as figuras A, B e E apresentam em
média 12 votos para o conceito Ruim. Interessante também comparar o resultado da
figura E com o Pólo São Paulo, pois enquanto nos demais Pólos (Piracicaba,
Ribeirão Preto e São Carlos) essa figura teve baixa conceituação, conceito Ruim,
em São Paulo foi a figura com conceituação mais elevada, conceito Excelente. Essa
diferença pode estar relacionada com os exemplos utilizados pelos professores que
103
aplicaram as aulas presenciais, contudo, não se pode afirmar nada a esse respeito
pois não foram acompanhadas as aulas nos demais pólos.
Para entender melhor a conceituação dada para cada figura é preciso analisar as
justificativas apresentadas pelos alunos na segunda questão da Avaliação
Diagnóstica 02. Conforme dito anteriormente, na segunda questão, os alunos
deveriam escolher duas ou mais figuras as quais havia aplicado os critérios de
conceituação (Ruim, Regular, Bom, Muito Bom e Excelente) e justificar os motivos
por ter atribuído tal conceito a elas, apresentando quais as vantagens, as limitações
e as concepções erradas ou confusões que essas imagens poderiam induzir ao
aluno. Assim para analisar essas justificativas foram criados 4 critérios de
pontuação, baseados em como o aluno relacionou as figuras com o conceito de
corrente elétrica e com o modelo de Drude. São eles:
O objetivo dessa avaliação era saber de que forma os alunos poderiam contribuir
para melhorar a definição de corrente elétrica da Wikipédia. Que termo(s)
estaria(am) impreciso(s) ou errado(s) na definição? Por que estaria(am) errado(s)?
Como você o(s) substituiria?
Frase 01: “Eu diria que não é bem um fluxo "ordenado" de partículas, já que
os elétrons vão colidindo um aos outros, embora realmente estejam, como um
todo, caminhando em direção ao outro pólo vagarosamente.”
Frase 2: “O termo ordenado não condiz com o movimento real das cargas no
interior do condutor elétrico. Esta semana estudamos sobre o assunto, e
podemos observar que as cargas estão em agitação aleatória, mas que todas
elas sofrem atração simultânea do campo magnético, que pode induzir o uso
incorreto do termo "ordenado"
Frase 1: “Acho que esta bem definida, não encontrei erro ou imprecisão no
texto do wiki.”
diferentes Pólos. Infelizmente, não temos como saber quantos destes alunos
conseguiram de fato usar essa tecnologia.
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9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
conhecimento do aluno, seja por falta de indicação dos professores. O mesmo vale
para aplicativos de RA desenvolvidos para smartphones. Esse estudo aponta que
menos de 20% dos alunos entrevistados do CLC conhecem a RA, e desses, apenas
16% disseram ter utilizado algum aplicativo de RA para smartphone. Considera-se,
portanto, que o desconhecimento da RA decorra do fato de ser uma tecnologia
relativamente nova que vem aos poucos se disseminando nos diversos segmentos
sociais, tendo a princípio maior aplicação na propaganda. Além disso, o fato da RA
estar presente nos smartphones poderá contribuir para sua popularização, dada a
disseminação desses dispositivos na sociedade.
Vale ressaltar que existem inúmeros aplicativos de RA para smartphones,
específicos para cada sistema operacional (Android, IOS, Windows Phone, entre
outros). Alguns desses aplicativos, como o Layar, não necessitam de marcador a ser
rastreado pela câmera, o que gera maior liberdade para o usuário, aumentando sua
sensação de imersão quando do uso dessa tecnologia. Em suma, considera-se
neste trabalho que os smartphones serão grandes aliados no uso da RA no ensino,
permitindo que alunos tenham acesso a essa tecnologia dentro e fora da sala de
aula, entretanto, para que isso ocorra será necessário que as aplicações de RA
sejam devidamente disponibilizadas na Internet e, acima de tudo, que seja
repensado o uso desse dispositivo em atividades de ensino e aprendizagem, uma
vez que existem leis ou decretos estaduais que regulamentam o uso desse
equipamento nos ambientes escolares.
A investigação da infraestrutura tecnológica dos alunos do CLC permitiu também
avaliar a fluência tecnológica desse público, ou melhor, o nível de conhecimento que
esses alunos possuem sobre softwares, recursos da Internet, sistemas operacionais,
entre outros. Foi constatado que os entrevistados informaram possuir “muito”
conhecimento sobre editores de texto, email e programas de busca, enquanto
consideraram como “nada” ou “pouco” o que sabem sobre linguagem de
programação e simulações.
A falta de conhecimento de linguagens de programação tem implicações no uso da
RA, principalmente quando se pretende criar ou customizar uma simulação que
representará um modelo científico. Essa conclusão foi alcançada na investigação
quanto às dificuldades que um professor “típico”, sem conhecimento em
programação, se depara nesse processo de criação. Os softwares gratuitos e
proprietários de modelagem em 3D que foram utilizados neste estudo permitiram
114
10. BIBLIOGRAFIA4
AZUMA, R.; BAILLOT, Y.; BEHRINGER, R.; FEINER, S.; JULIER, S.; MACINTYRE, B.
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21, 6 (Nov/Dec 2001), 34-47
4
De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6023.
118
BOGDAN, R.C.; BIKLEN, S.K. Dados Qualitativos. In BOGDAN, R.C.; BIKLEN, S.K.
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Porto: Porto Editora, 1994. P.147- 202.
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2013.
120
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Darmstadt. Germany, 2002
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VIGOSTKY. The Genesis of Higher Mental Functions. In: WERTSCH, James V. (Ed.)
The concept of Activity in Soviet Psychology. New York: M.E. Sharpe, 1981.
11. ANEXOS