Textos - S11, Aula 1 (2ºs Anos)

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Texto 1 Nunca uma espelunca

A História de Lily Braun Uma rosa nunca


Chico Buarque Nunca mais feliz

Como num romance Texto 2


O homem dos meus sonhos Relato
Me apareceu no dancing de Vinícius Campos de Oliveira (ator de Central do
Era mais um Brasil, dirigido por Walter Sales)
Só que num relance
Os seus olhos me chuparam Tudo começou na verdade... f... com o meu
Feito um zoom irmão, meu irmão mais velho, né? Ele começou a
trabalhar no aeroporto Santos Dumont primeiro do
Ele me comia que eu, antes de mim, é... como engraxate, porque já
Com aqueles olhos
tinha uns outros... outros amigos ali da área...
De comer fotografia
Teve um momento, um dia, em que eu tava
Eu disse cheese
E de close em close dentro do saguão, e aí por um acaso o Walter Salles,
Fui perdendo a pose né?, o diretor do filme, ele tava... é... ia pegar uma
E até sorri, feliz ponte aqui pra São Paulo e... resolveu parar na
lanchonete pra fazer um lanche e ele era o último da
E voltou fila, mas, evidentemente, eu não sabia quem era o
Me ofereceu um drinque Walter Salles é... e eu.. mas eu o vi de longe..., no fi...
Me chamou de anjo azul no final da fila, “ah, vou chegar até perto desse rapaz
Minha visão pra ver se eu consigno engraxar o sapato dele, né?” e
Foi desde então ficando flou quando fui me aproximando eu percebi que ele tava
de tênis. E... eu falei “ah, bom, de tênis não... não dá
Como no cinema pra fazer o serviço, né?” E aí na hora que eu dei as
Me mandava às vezes
costas pra ir embora, eu parei pra pensar cinco
Uma rosa e um poema
Foco de luz segundos e falei “ah, acho que vou voltar lá e pedir
Eu, feito uma gema pra esse cara me pagar um sanduíche”. Foi quando eu
Me desmilinguindo toda voltei e perguntei se ele podia me pagar um
Ao som do blues hambúrguer, tal, uma Coca-cola. Ele falou “claro”. E,
aí, depois que ele terminou de comer, ele foi falar
Abusou do scotch comigo, né?, perguntar se eu queria... fazer um teste
Disse que meu corpo pra um filme. É... eu falei “ah, claro, tudo bem”, mas
Era só dele aquela noite eu não sabia o que era, né? Ele perguntou se eu
Eu disse please conhecia cinema, se eu já tinha feito alguma coisa. E
Xale no decote eu falei: “não, não sei o que que é. E eu nunca fui ao
Disparei com as faces cinema também, então não tenho do que cê... esteja
Rubras e febris
falando”. Ele falou: “bom, então se você puder ir
nesse lugar, nesse dia, nessa data, nesse horário, você
E voltou
No derradeiro show vai lá fazer um testezinho e a gente conversa
Com dez poemas e um buquê melhor”.
Eu disse adeus Eu voltei pra casa, contei pra minha a
Já vou com os meus história, a situação, ela não tinha entendido nada,
Numa turnê porque ela também não sabia o que era, não entendia
da coisa. Ficou superpreocupada porque era um
Como amar esposa momento em que.. é... tava muito forte a coisa de...
Disse ele que agora de... raptar crianças e aí vender os órgãos, essa coisa
Só me amava como esposa toda. Esse negócio tava saindo direto na mídia, e... aí
Não como star eu não fui. Simplesmente esqueci e os dias passaram,
Me amassou as rosas até que um dia, também fim de tarde, eu andando do
Me queimou as fotos
lado de fora do aeroporto, me para uma Kombi do
Me beijou no altar
lado e aí descem duas pessoas, perguntando se eu era
Nunca mais romance o Vinícius. E eu falei: “ah, sou, sou eu sim”. E, aí,
Nunca mais cinema que eles contaram a história do Walter: “A gente veio
Nunca mais drinque no dancing aqui a pedido do Walter, estamos o dia inteiro te
Nunca mais cheese caçando no aeroporto. Ele quer que você faça o teste”
e... foi quando tudo deu certo. Acabou dando certo e, – Vai ver que custa menos que engolir mosca
aí, a gente começou a filmar o Central, enfim, é... – disse a mãe.
antes de filmar eu conheci a Fernanda, claro, ensaiei E aconteceu. Contudo, ao invés de devorar o
um pouco com ela pra pegar intimidade e... foi singelo namorador, a aranha namorou e ficou
quando aconteceu o Central. enamorada. Os dois deram-se os apêndices e
dançaram ao som de uma brisa que fazia vibrar a teia.
Disponível em: Ou seria a teia que fabricava a brisa?
<http://www.museudapessoa.net/pt/conteudo/ A aranhiça levou o namorado a visitar a sua
historia/a-carta-itinerante-3085>. Acesso em: 2 out. 2015. colecção de teias, ele que escolhesse uma, ficaria
prova de seu amor.
Texto 3 A família desiludida consultou o Deus dos
A infinita fiandeira bichos, para reclamar da fabricação daquele
de Mia Couto espécime.
Uma aranha assim, com mania de gente? Na
sua alta teia, o Deus dos bichos quis saber o que
A aranha, aquela aranha, era tão única: não poderia fazer. Pediram que ela transitasse para
parava de fazer teias! Fazia-as de todos os tamanhos humana. E assim sucedeu: num golpe divino, a
e formas. Havia, contudo, um senão: ela fazia-as, mas aranha foi convertida em pessoa. Quando ela, já
não lhes dava utilidade. O bicho repaginava o mundo. transfigurada, se apresentou no mundo dos humanos
Contudo, sempre inacabava as suas obras. Ao fio e ao logo lhe exigiram a imediata identificação. Quem era,
cabo, ela já amealhava uma porção de teias que só o que fazia?
ganhavam senso no rebrilho das manhãs. – Faço arte.
E dia e noite: dos seus palpos primavam – Arte?
obras, com belezas de cacimbo gotejando, rendas e E os humanos se entreolharam, intrigados.
rendilhados. Tudo sem fim nem finalidade. Todo o Desconheciam o que fosse arte. Em que consistia?
bom aracnídeo sabe que a teia cumpre as fatais Até que um, mais-velho, se lembrou. Que houvera
funções: lençol de núpcias, armadilha de caçador. um tempo, em tempos de que já se perdera memória,
Todos sabem, menos a nossa aranhinha, em suas em que alguns se ocupavam de tais improdutivos
distraiçoeiras funções. afazeres. Felizmente, isso tinha acabado, e os poucos
Para a mãe-aranha aquilo não passava de mau que teimavam em criar esses pouco rentáveis
senso. Para quê tanto labor se depois não se dava a produtos – chamados de obras de arte – tinham sido
indevida aplicação? Mas a jovem aranhiça não fazia geneticamente transmutados em bichos. Não se
ouvidos. E alfaiatava, alfinetava, cegava os nós. lembrava bem em que bichos. Aranhas, ao que
Tecia e retecia o fio, entrelaçava e reentrelaçava mais parece.
e mais teia. Sem nunca fazer morada em nenhuma.
Recusava a utilitária vocação da sua espécie. Texto 4
– Não faço teias por instinto. Tragédia brasileira
– Então, faz porquê? de Manuel Bandeira
– Faço por arte.
Benzia-se a mãe, rezava o pai. Mas nem com Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de
preces. A filha saiu pelo mundo em ofício de infinita idade,
teceloa. E em cantos e recantos deixava a sua marca, Conheceu Maria Elvira na Lapa — prostituída, com
o engenho da sua seda. Os pais, após concertação, a sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e
mandaram chamar. A mãe: os dentes em petição de miséria.
– Minha filha, quando é que assentas as patas Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num
na parede? sobrado no Estácio, pagou médico, dentista,
E o pai: manicura... Dava tudo quanto ela queria.
– Já eu me vejo em palpos de mim… Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita,
Em choro múltiplo, a mãe limpou as lágrimas arranjou logo um namorado.
dos muitos olhos enquanto disse: Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra,
– Estamos recebendo queixas do aranhal. um tiro, uma facada.
– O que é que dizem, mãe? Não fez nada disso: mudou de casa.
– Dizem que isso só pode ser doença Viveram três anos assim.
apanhada de outras criaturas. Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado,
Até que se decidiram: a jovem aranha tinha Misael mudava de casa.
que ser reconduzida aos seus mandos genéticos. Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua
Aquele devaneio seria causado por falta de General Pedra, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Vila
namorado. A moça seria até virgem, não tendo nunca Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado,
digerido um machito. E organizaram um amoroso Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos,
encontro. Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado
de sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros,
e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal,
vestida de organdi azul.

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