LEGISLESCOLAR2023A - 2.2.2 O PNE Atual

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Legislação Escolar - Turma 2023A

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2.2.2 O PNE atual


A elaboração do atual PNE, que deveria ter vigência entre 2011-2020, ainda não foi concluída, encontrando-se em debate no Congresso Nacional.
Tal situação é preocupante, pois há um atraso de pelo menos três anos para se superar enormes desafios educacionais do País. O cenário é
delicado porque a aplicação do PNE anterior resultou num retumbante fracasso, como descreveremos brevemente a seguir.

Figura 1 - PNE
Fonte: MEC

O processo de elaboração do PNE 2001-2010 pautou-se pelo confronto de duas propostas: uma, do Ministério de Educação (MEC) e outra, da
sociedade civil por meio do Congresso Nacional de Educação (CONED). O centralismo foi uma das marcas da proposta do MEC, levada ao
Congresso Nacional em fevereiro de 1998. A exposição de motivos, assinada pelo então ministro Paulo Renato de Souza, ressaltava que o PNE
representava o:

[...] ponto culminante de um processo cujo objetivo permanente foi o de dotar o sistema educacional brasileiro de um conjunto de diretrizes e
metas que possam orientar e balizar a política educacional do país, com vista ao resgate de uma dívida historicamente acumulada. (SAVIANI,
2004, p. 91).

Saviani (2004) indicava então uma série de limitações da proposta do MEC, principalmente no tocante à participação financeira do Estado na
implementação do PNE. Para ele, era uma continuidade da política do MEC, uma compressão de gastos públicos e transferência de
responsabilidades para os estados e municípios, entidades privadas e filantrópicas.

Já o Plano Nacional de Educação – Proposta da Sociedade Brasileira – foi resultado de um longo processo de debate organizado por entidades
ligadas à educação que em boa parte estavam vinculadas ao Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública. Os debates realizados em todo o
território nacional foram consolidados no II CONED, realizado em novembro de 1997. Essa proposta de PNE foi incorporada na Câmara dos
Deputados pela bancada de oposição ao governo e apresentada no parlamento em fevereiro de 1998. Ela enfrentou uma maioria conservadora no
Congresso Nacional, resistente à realização das profundas mudanças educacionais que propunha.

Apesar do controle exercido pela maioria governista na tramitação do projeto de lei do PNE, a pressão social dos estudantes e profissionais de
educação produziu alguns avanços no PNE aprovado. Eles estão materializados mais claramente no tema “financiamento da educação”. Foi
aprovado o índice de 7% do PIB a ser gasto com educação até o final do Plano, previsto para dez anos. A conclusão da tramitação do PL n. 4.155/98
revelou uma grande distância entre a proposta da sociedade brasileira e a lei do PNE aprovada.

Os pequenos avanços inseridos na lei do PNE foram vetados pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso. Este admite que as medidas contidas na
lei aprovada no Parlamento referentes ao financiamento da educação contrariavam as determinações da área econômica do governo e sua política
de redução de gastos sociais. Dessa forma, justificou-se o veto à meta que previa atingir a aplicação em educação de 7% do PIB em dez anos.

No fim de 2010, ao final da vigência do PNE de 2001, verificou-se que as metas de atendimento para a educação infantil não foram atendidas: em
vez de 50% de atendimento em creches, havia-se chegado a 17%. Tanto que a mesma meta foi reeditada para o PNE seguinte. As metas
quantitativas de expansão da educação superior e da EJA também ficaram muito aquém do pretendido. E, sobretudo, não se atingiram as metas de
qualidade na escola pública, nem mesmo no ensino fundamental, que já foi praticamente universalizado.

Outro aspecto que contribuiu para o fracasso do último PNE foi o descompromisso da maioria dos estados e municípios que, não obedecendo ao art.
2º da Lei 10.172, deixaram de elaborar seus planos decenais de educação. Some-se a isso tantos outros que o fizeram, mas não o executaram.
Também a União acabou não assumindo a política de Estado (PNE) ao decretar e seguir o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), uma
política de governo. Portanto, foi no rastro de um PNE fracassado que se iniciaram os debates do atual plano. O desafio é maior porque há
necessidade de sistematizar estratégias que consolidem um sistema público de ensino com qualidade que proponha medidas que não foram
previstas ou cumpridas no PNE anterior.

Seguindo os preceitos constitucionais – Art.214, já com os efeitos da Emenda Constitucional nº 59, o novo PNE começou a ser debatido pela
CONAE nas esferas municipais e estaduais, em 2009, e nacionalmente, em 2010. Vale lembrar que, diferentemente do PNE anterior, verificou-se um
ambiente de diálogo entre governo e sociedade, demonstrado, entre outras ações, na convocação do CONAE pelo MEC em abril de 2010 com ampla
participação da sociedade civil. Isso resultou na apresentação e tramitação, até o momento, de uma única proposta de PNE no Congresso Nacional.
Entretanto, o projeto de lei de iniciativa do governo (PL nº 8.035) só foi enviado ao Congresso Nacional em dezembro de 2010, inviabilizando sua
implantação em 2011. O projeto de lei consta de doze artigos e um anexo que contém vinte metas e as respectivas estratégias para atingir cada uma
delas.

Art. 2º
I – erradicação do analfabetismo;
II - universalização do atendimento escolar;
III – superação das desigualdades educacionais;
IV – melhoria da qualidade do ensino;
V – formação para o trabalho;
VI – promoção da sustentabilidade socioambiental;
VII – promoção humanística, científica e tecnológica do país;
VIII – estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção de produto interno bruto;
IX – valorização dos profissionais da educação; e
X – difusão dos princípios da equidade, do respeito à diversidade e da gestão democrática da educação.

O financiamento do PNE é tratado no art. 5º, que prevê uma possível revisão da meta de ampliação do investimento público a partir de uma
avaliação do mesmo no quarto ano de sua vigência. Já o Art. 6º assegura mecanismos de participação e controle social ao prever a realização de
duas conferências nacionais de educação sob a coordenação e articulação do Fórum Nacional de Educação. A gestão democrática é tratada no Art.
9º, que determina a aprovação de leis específicas nos níveis municipal, estadual e distrital.

Conforme o art. 7º, a responsabilidade pela execução das metas e a implementação das estratégias para alcançá-las caberá à União, estados e
municípios em regime de colaboração. O Art. 8º confirma essa responsabilização dos entes federados ao determinar a realização de planos
municipais, estaduais e distrital de educação, ou adequar os já existentes, em consonância com PNE, até um ano após a promulgação deste,
atentando-se, entre outros aspectos, à construção de sistemas educacionais inclusivos.

O Art. 10 determina que os entes federados deverão formular o seu plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e orçamentos anuais compatíveis
com as diretrizes, metas e estratégias do PNE e planos distrital, estadual e municipal a fim de assegurar a completa execução dos mesmos. Por fim,
no art. 11, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) é apontado como o instrumento avaliativo da qualidade do ensino e
acompanhamento da consecução das metas do PNE.

Como já assinalado, o anexo da proposta do PNE é composto por vinte metas com suas respectivas estratégias. Tais metas dissertam sobre a
ampliação da oferta de educação básica com vistas à sua universalização, considerando também os alunos com deficiência (metas 1 a 4);
alfabetização de todas as crianças até os oito anos de idade (meta 5); oferta de educação em tempo integral em até 50% das escolas públicas de
educação básica (meta 6); avanço nas avaliações do IDEB até 2021, nos ensinos fundamental e médio (meta 7); elevação da escolaridade da
população pertencente às classes populares na faixa etária de 18 a 24 anos e superação das diferenças na escolaridade média entre negros e não
negros (meta 8); erradicação do analfabetismo e redução em até 50% do analfabetismo funcional (meta 9); inserção de educação profissional em
pelo menos 25% das matrículas dos segundo e terceiro segmento da EJA e duplicação da oferta de educação profissional técnica de nível médio
(metas 10 e 11); as metas 12, 13 e 14 focam o ensino superior na elevação de matrículas na graduação, na qualificação do corpo docente desse
nível educacional, aumentando o percentual de mestres e doutores, além do crescimento da oferta de matrícula para a pós-graduação (mestres e
doutores); a valorização dos professores é objeto das metas 15 a 18 quando preveem a formação continuada com a graduação de todos os docentes
na área específica em que atuam e a extensão a até 50% dos professores da educação básica o nível de pós-graduação lato e stricto sensu (metas
15 e 16), elevação salarial com a aproximação do rendimento médio do magistério com mais de onze anos de escolaridade com outros profissionais
com instrução equivalente (meta 17) e construção de plano de carreiras em todos os sistemas de ensino (meta 18); a meta 19 prevê a aprovação de
lei específica nos diversos níveis da federação que regule com critérios técnicos a nomeação de gestores escolares, assegurando a participação da
comunidade escolar; finalmente, a meta 20 trata do financiamento da educação, elevando até 7% do produto interno bruto do país o investimento de
recursos públicos em educação.

As metas para as etapas e modalidades da educação básica retomam as quantidades do PNE anterior. Houve mais atenção à qualidade com a
introdução de metas no número de escolas em jornada integral e a evolução do IDEB no ensino fundamental e ensino médio e a focos mais claros
na educação especial, na educação de jovens e adultos e na educação profissional de nível médio. Em geral, houve consonância com as resoluções
da CONAE, com exceção dos temas financeiros - 7% do PIB e não 10% - e silêncio quanto às novas fontes de financiamento.

A tramitação foi conturbada e muito longa na Comissão Especial da Câmara, que acabou aprovando os 10% do PIB. No Senado, onde se encontra
desde outubro de 2012 sob o nome de Projeto de Lei da Câmara nº 103, deverá sofrer novas mudanças em três comissões.. Enquanto isso, dois
anos se passaram sem plano, os investimentos estacionaram ao redor de 5% do PIB e os estados e municípios se fazem de surdos à exigência
constitucional de terem seus planos, à espera da votação do PNE. Ao mesmo tempo, na educação superior e profissional federal se fizeram grandes
avanços de 2006 a 2012, duplicando as matrículas na primeira e triplicando na segunda, embora sem plano nem um regime claro de colaboração
com os outros entes federativos. É verdade que o governo não espera passivamente a aprovação do PNE para começar a executar algumas
estratégias. Por exemplo, em novembro de 2012 foi lançado o plano nacional de alfabetização aos oito anos que é objeto da meta 5.
A valorização dos profissionais da educação é um ponto forte, prevendo-se a formação em nível médio e superior de todos, mas com piso salarial
somente para os do magistério. Há espaço para avanços no Senado, mas ao preço de novos atrasos no PNE e nos planos subnacionais.

Bem, podemos afirmar que todas as tentativas de implantação de um Plano de Educação verdadeiramente nacional fracassaram no decorrer de
nossa História. Do lançamento do manifesto dos pioneiros da educação em 1932, passando por outros períodos de nossa República no século
passado, até o desfecho do PNE 2001/10 foram frustradas as oportunidades de a sociedade brasileira organizar sua educação de forma a assegurar
a todos um ensino público de qualidade, democrático, voltado à construção da cidadania e capaz de ser um instrumento de formação tecnológica e,
por conseguinte, uma alavanca de desenvolvimento do país.

Enquanto isso, as classes mais abastadas escolhem o caminho da escola privada, já ultrapassado pela maioria das nações desenvolvidas da
Europa, América do Norte e Ásia. Como não repetir os fracassos anteriores e dotar a sociedade brasileira de um plano educacional que inclua todos
os brasileiros com qualidade e definitivamente salde essa dívida com nosso povo?

Como você estudou no módulo 5 do bloco pedagógico, a sociedade é dividida em classes sociais. Estas têm interesses diferentes entre si e há uma
constante disputa no interior da sociedade e nos diversos espaços do estado pela hegemonia, ou seja, pela capacidade de um segmento social
dirigir toda a sociedade conforme seus interesses de classe. Historicamente, somos dirigidos por uma elite (grandes empresários, fazendeiros,
banqueiros etc.) que, em função da consolidação de suas reivindicações, marginalizou-se boa parte das classes populares tornando nosso país um
dos mais desiguais do mundo.

Nos últimos dez anos, com a ascensão ao Palácio do Planalto de governos populares, houve avanços sociais importantes que significaram a retirada
de milhões de brasileiros da pobreza absoluta, a diminuição do desemprego, o aumento da renda salarial e a extensão de programas de inclusão
social. No entanto, ainda é longo o caminho para a construção de um país para todos.

Dentro de uma estratégia de desenvolvimento nacional que dê oportunidades para o conjunto da sociedade brasileira, a construção de um sistema
educacional público e de qualidade é um pilar fundamental. E daí a importância de um plano nacional de educação que construa, consolide e
mantenha esse sistema público de ensino.

Pelo menos dois fatores contribuíram para que o último PNE fracassasse: o financiamento insuficiente e a negligência da maioria dos estados e
municípios que não elaboraram seus planos decenais de educação. Isso não pode ocorrer novamente, sob pena de jogarmos no lixo uma
oportunidade histórica.

Pois bem, uma das divergências entre o plano do governo e o aprovado na CONAE é qual a porcentagem do PIB – produto interno bruto, que reflete
toda a riqueza no país – deve ser aplicada na educação. O primeiro apontou 7%, enquanto o segundo 10%. É verdade que o governo avançou e
vem buscando fontes que possam sustentar o investimento de 10% na educação. Um exemplo é a aplicação dos recursos provenientes da
exploração do petróleo do Pré-sal na educação. Além das resistências a essa proposta no Congresso Nacional, cabe saber quando tais recursos
estarão disponíveis. Já deveríamos estar no terceiro ano de vigência do PNE, são urgentes os aumentos de financiamento não só na rede federal
como nas estaduais e municipais, cujos governos poderiam estar arrecadando e aplicando em educação muitos tributos, que hoje são sonegados ou
têm isenção legal. Está provado que as pessoas com mais capacidade contributiva são as que menos pagam os impostos dos quais derivam as
verbas para a educação pública.

A sociedade civil precisa entrar em cena de forma mais vigorosa para pressionar o governo e o parlamento e assim assegurar os 10% no
financiamento do PNE. Isso significa redistribuição de recursos e fim de privilégios que certamente afetarão setores privilegiados que têm forte
representação no Congresso Nacional. Mas não existem atalhos para a conquista de recursos necessários para revolucionar a educação brasileira.
Outro aspecto importante para que o PNE tenha êxito é assegurar mecanismos que forcem os gestores estaduais e municipais a construir seus
planos decenais de educação. Tais planos já podem ser feitos, mesmo antes da conclusão do PNE. A colaboração entre União, estados e municípios
é fundamental para que um sistema educacional universalizado e de qualidade seja erguido.

Lembra-se de que em outros módulos do presente curso você já foi chamado a atuar de forma mais participativa para mudar a realidade educacional
do seu local de trabalho e de sua cidade? Está aí uma boa oportunidade: cobre, apoiado pelo Conselho Escolar de sua Escola, do Secretário de
Educação, do prefeito e da Câmara de Vereadores a elaboração do plano decenal de educação do seu município. Esta é uma das formas de você
atuar para mudar a realidade educacional de sua cidade. Lutemos para que o atual governo, que dá continuidade aos dois mandatos do presidente
Lula e é identificado com as causas populares, se esforce para a aprovação de um PNE que consiga resgatar essa enorme dívida social do estado
brasileiro com o seu povo, construindo sistemas educacionais nas três esferas de governo que propiciem educação pública de qualidade para todos.

Referência:
SAVIANI, Dermeval. Da nova LDB ao novo plano nacional de educação: por uma outra política educacional. 5. ed. São Paulo: Autores
Associados, 2004.

Este material foi baseado em:


PACHECO, Ricardo Gonçalves; CERQUEIRA, Aquiles Santos. Legislação Escolar. Universidade Federal de Mato Grosso/Rede e-Tec: Mato
Grosso, 2013.

Última atualização: terça, 10 ago 2021, 17:22


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