Exegese NT - 1 - Conceitos Básicos

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Exegese do Novo Testamento

Exegese é a interpretação minuciosa de um texto bíblico,


jurídico ou literário. A exegese como todo saber, tem práticas
implícitas e intuitivas. A tarefa da exegese dos textos sagrados
da Bíblia tem uma prioridade e anterioridade em relação a
outros textos. Isto é, os textos sagrados são os primeiros dos
quais se ocuparam os exegetas na tarefa de interpretar e dar
seu significado. A palavra exegese deriva do grego exegeomai,
exegesis; ex tem o sentido de ex-trair, ex-ternar, ex-teriorizar,
ex-por; quer dizer, no caso, conduzir, guiar.
LÚCIA, Cláudia. Hermenêutica e Exegese - Princípios básicos. Disponível em: <http://claudialucia2007.blogspot.com/2007/11/hemenutica-exegeseprincpios-
bsicos.html>
Exegese e Hermenêutica
Para sustentar o alicerce da interpretação usa-se a
hermenêutica como metodologia da exegese bíblica. A
palavra “hermenêutica” origina-se do verbo grego
“hermeneuein” cujo significado é igual ao da exegese, ou
seja, “interpretar”. Contudo, deve-se deixar clara a
diferenciação entre um termo e outro. A hermenêutica bíblica
designa os princípios que regem a interpretação dos textos;
enquanto a exegese descreve as etapas ou os passos que
cabe dar em sua interpretação. Em síntese, a hermenêutica
apresenta as regras e a exegese é a prática destas regras.
Objetivo da Exegese
O processo de se fazer exegese e escrever um trabalho
exegético é determinado em parte pela(s) razão (ões) pela (s)
qual (is) se aborda determinado texto. Existem, basicamente,
três razões:
1. O trabalho sistemático com um livro bíblico inteiro.
2. A tentativa de solucionar as dificuldades num enigma bem
conhecido, ou numa passagem problemática (1 Co 7.14; 15.29
etc.)
3. A preparação do sermão ou estudo para o domingo
seguinte, ou para alguma outra atividade pastoral relacionada.
As tarefas da Exegese
Dentro do contexto teológico, a ênfase da exegese recai sobre
a interpretação de modos formais de explicação que podem
ser aplicados ao texto bíblico. Costuma-se dividir as tarefas da
exegese em três aspectos principais:
1) Redescobrir o passado bíblico, tornando-o compreensível
para a nossa época;
2) Entender a intenção que o texto teve em sua origem;
3)Verificar em que sentido opções éticas e doutrinais podem
ser respaldadas biblicamente para a atualidade.
O Papel do Espírito Santo na
Interpretação das Escrituras

 Revelação
 Inspiração
 Iluminação
Princípios de Interpretação Bíblica
Distanciamento devido a natureza
humana da bíblia:
Temporal
4000aC-
2000dC

Contextual

Linguístico

Autoral
Princípios de Interpretação Bíblica

Distanciamento devido a
natureza divina da bíblia:

Natural

Pecaminoso
Necessidade de Interpretação Bíblica

João Calvino: “Orar e labutar”.


Minimizar o distanciamento entre o
transcendente e o humano pela oração.
Minimizar o distanciamento devido os aspectos
humanos da bíblia pela labuta e pesquisa.
Elementos essenciais
para a interpretação
bíblica

LOGO
Elementos essenciais para a interpretação bíblica
 A bíblia é a palavra de Deus, portanto, ela é verdadeira.
 A bíblica contém a revelação de Deus para o homem. Ela
não revela tudo sobre Deus, mas revela o que Deus
estabeleceu como suficiente para que o homem o
conheça.
 Embora a bíblia seja verdadeira, não contendo erros nos
seus postulados, alguns elementos devem ser
considerados:
Erros dos copistas.
Os autores bíblicos não eram oniscientes, isto é, não
eram capazes de escrever o texto utilizando de uma
compreensão científica do mundo em sua volta.
Existem textos bíblicos de difícil compreensão.
As traduções da bíblia não são inerrantes.
Pressupostos para a interpretação bíblica

 A existência de Deus;
 Revelação progressiva;
 Inspirada por Deus (autoritativa);
 Historicidade (atos de redenção de Deus);
 Cristo é o centro das Escrituras;
 A Revelação de Deus foi fechada (cânon completo)
Critérios filosóficos para a Tradução bíblica

 Equivalência Formal (Interpretação literal).


Cl 3.12 Ἐνδύσασθε οὖν, ὡς ἐκλεκτοὶ τοῦ θεοῦ ἅγιοι καὶ
ἠγαπημένοι, σπλάγχνα οἰκτιρμοῦ χρηστότητα
ταπεινοφροσύνην πραΰτητα μακροθυμίαν,

Cl 3.12 Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e


amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade,
humildade, mansidão, longanimidade,

Ex.: Almeida Revista e Corrigida e Trinitariana.


Critérios filosóficos para a Tradução bíblica

 2) Equivalência Dinâmica.
Cl 3.12 Ἐνδύσασθε οὖν, ὡς ἐκλεκτοὶ τοῦ θεοῦ ἅγιοι καὶ
ἠγαπημένοι, σπλάγχνα οἰκτιρμοῦ χρηστότητα
ταπεινοφροσύνην πραΰτητα μακροθυμίαν,

Cl 3.12 Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e


amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de
humildade, de mansidão, de longanimidade.

Ex.: Almeida Revista e Atualizada e NVI.


1. Redescobrindo o passado bíblico

a) "Quem poderá se salvar?" Lemos em Mt 19.24-25 o


seguinte: "... é mais fácil passar um camelo pelo fundo de
uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.
Ouvindo isto, os discípulos ficaram grandemente
maravilhados e disseram: Sendo assim, quem pode ser
salvo?
Como explicar a admiração dos discípulos quando Jesus
asseverou a dificuldade de salvação do homem rico?
Naquela época a teologia corrente ensinava que a riqueza
era uma demonstração da benevolência de Deus. Ora se os
ricos que são abençoados por Deus dificilmente serão
salvos, então quem poderá se salvar? Assim, redescobrindo
o passado bíblico, podemos melhor explicar e compreender
a admiração dos discípulos.
1. Redescobrindo o passado bíblico

b) “Qual a relação do orvalho do Hermom com a União?”


"Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em
união! ... Como o orvalho do Hermom, que desce sobre os
montes de Sião; porque ali o Senhor ordena a bênção e a
vida para sempre. (Sl 133).
Não compreenderemos o brilhantismo desta mensagem se
desconhecermos a geografia bíblica. Na terra árida da
Palestina, o orvalho é sinal de vida e garante, apesar da falta
de chuva, uma boa colheita. O verso três do Salmo em
apreço se refere a situação da geografia e do clima de Israel.
Hermom está localizado na fronteira nordeste de Israel e é
coberto de neve, abaixo dele fica uma planície com montes
menores. Essa região é muito seca e vive constantemente
desértica.
2. Entendendo a intenção do texto

a) “Será que Zaqueu era ladrão?” Em Lc 19.8, lemos o


seguinte: "se em alguma coisa tenho defraudado alguém, o
restituo quadruplicado".
De acordo com a tradução em português ninguém pode
afirmar que o publicano Zaqueu era ladrão, pois a conjunção
“se” é condicionante. No entanto, o exegeta, ao verificar o
texto grego descobre que a conjunção grega “ei” deve ser
traduzida, dependendo do contexto, como: "já que" ou "visto
que" em lugar do termo “se”. Assim, exegeticamente, pode-
se dizer que Zaqueu, de fato, era corrupto.
2. Entendendo a intenção do texto

b) “Será que Jesus estimulou a má educação?” E não leveis


bolsa, nem alforje, nem sandálias; e a ninguém saudeis pelo
caminho" (Lc10.4).
Estas expressões de Jesus não devem ser normatizadas
para a prática da má educação. Jesus não estava ensinando
isso. Acontece que as saudações na época eram prolongadas.
Em síntese, devia-se inclinar o corpo um pouco para frente,
com a mão direita sobre o lado esquerdo do peito. Assim, o
ensino de Cristo aqui, é acerca de remir o tempo; “...a noite
vem, quando ninguém pode trabalhar” (Jo 9.4b).
3. Verificando bases éticas e doutrinais
a) "As mulheres não podem falar na igreja?" Em 1Co 14.34-35
lemos: “as mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é
permitido falar; mas estejam submissas como também ordena a lei.
E, se querem aprender alguma coisa, perguntem em casa a seus
próprios maridos; porque é indecoroso para a mulher o falar na
igreja”.

Usando 1Co 14.34-35, um biblista poderá argumentar que as mulheres devem


sempre manter silêncio na igreja. O exegeta, no entanto, descobrirá que este é
um argumento baseado em um tratamento seletivo da evidência, pois Paulo diz
três capítulos antes, que sob certas condições as mulheres podem falar na igreja
(1Co 11.2-16). Deste modo, segundo CARSON (1999) a exigência de silêncio
por parte das mulheres não traduz um conflito incompatível com 1Co 11.2-16,
onde vemos que, sob certas condições, as mulheres tem permissão para orar e
profetizar, porque o silêncio mencionado em 1Co 14.34-35 está limitado pelo
contexto: as mulheres devem conservar-se caladas quando há avaliação de
profecias, à qual o contexto se refere; de outra forma, elas estariam assumindo
um papel de autoridade doutrinária na congregação.
Regras de Interpretação
1. Mensagem Central da bíblia é a revelação de Deus
em Jesus Cristo (História da Redenção);
2. A bíblia é a sua melhor intérprete;
3. O Antigo Testamento é interpretado pelo Novo
Testamento;
4. O texto quer dizer o que o seu autor quis dizer
(intenção do autor);
5. O sentido literal deve ser preferido ao figurado;
6. Cada texto tem um único sentido (embora possa ter
várias aplicações na vida do leitor);
7. Todo texto deve ser entendido à luz de seu contexto.
Gêneros Literários - NT

O primeiro fator que se deve observar em qualquer


texto bíblico é elementar, mas é também crucial, pois
determina muito do restante. Em que tipo de literatura
você está fazendo exegese? O Novo Testamento é
composto, basicamente, de quatro tipos (gêneros):
Gêneros Literários - NT
1. Em sua maior parte, as epístolas, são compostas de
parágrafos de argumentos ou exortações. Aqui o exegeta
precisa aprender, acima de tudo, a mapear o fluxo do
argumento do autor, a fim de entender determinada frase ou
parágrafo.

2. Os evangelhos são compostos de perícopes, unidades


individuais de narrativa ou de ensino, que são de tipos
diferentes, com características formais distintas, e que foram
inseridas em seus contextos pelos evangelistas.
Gêneros Literários - NT

3. Atos é basicamente uma série de narrativas curtas que


relacionadas formam uma narrativa maior entremeada de
discursos.

4. O livro de Apocalipse é basicamente uma série de visões


cuidadosamente elaboradas e entretecidas de modo a
formar uma narrativa apocalíptica completa.
OS MÉTODOS EXEGÉTICOS
Os métodos mais conhecidos são o fundamentalista, o
estruturalista e o histórico-crítico.
1. O Método Fundamentalista
Originou-se nos Estados Unidos após a Primeira Guerra
Mundial. Seu objetivo era o de salvaguardar a herança
protestante ortodoxa contra a postura crítica e cética da
teologia liberal. Esse método tende a absolutizar o sentido
literal da Bíblia.
Seu aspecto positivo reside na seriedade com que encara a
revelação de Deus, a inerrância bíblica, o nascimento virginal
de Cristo, a ressurreição corpórea, a expiação vicária e a
historicidade dos milagres.
OS MÉTODOS EXEGÉTICOS
2. O Método Estruturalista
É empregado como análise sincrônica da Bíblia. Enxerga o
texto como estrutura e organização que produz sentido para
além da intenção do seu autor. Este método procura
responder as seguintes perguntas: “Como funciona o texto?
Como produz seu sentido? Que se passa no texto em si?”
Como aspecto positivo destaca-se que o estruturalismo
educa para uma leitura atenta do modo como o texto foi
escrito (análise literária) e o que realmente está escrito no
texto (análise das formas). Não obstante é um método de
difícil assimilação, alto grau de complexidade e que apresenta
propostas bastante diversificadas.
OS MÉTODOS EXEGÉTICOS
3. O Método Histórico-Crítico
É o mais usado em análises diacrônicas da Bíblia. Surgiu como
uma crítica contra a interpretação alegórica da Bíblia na Idade
Média, em favor, sobretudo, de um aprofundamento do seu sentido
literal. Trabalha com fontes históricas procurando acompanhar a
evolução histórica dos diversos estágios que formaram estas
fontes.
O método caracteriza-se por ser racional e questionador. UWE
WEGNER (2001), citando Troeltsch, fundamenta os princípios que
regem as análises históricas em três pressupostos principais: a
crítica, a analogia e a correlação. A aplicação desses pressupostos
às tradições bíblicas e teológicas, implica uma revolução do nosso
modo de pensar em relação à Antiguidade e à Idade Média
OS MÉTODOS EXEGÉTICOS
4. Método Histórico-Gramatical
O Método Histórico-Gramatical estabelece que a bíblica
inequivocamente contém o relato histórico dos fatos, não cabendo,
portanto, ao leitor a crítica à veracidade dos eventos e conteúdos,
descritos na bíblia, pois em sua essência ela corresponde a Palavra
do próprio Deus. Dessarte, utilizaremos como base bibliográfica o
Manual de Exegese Bíblica de Gordon Fee e Douglas Stuart, bem
como o Manual de Metodologia de UWE WEGNER, que aborda o
“Método Histórico-Crítico”. Contudo, levando-se em consideração o
aspecto histórico e autoritativo do texto Sagrado, dentro de uma
perspectiva conservadora, optamos pela metodologia empregada por
Stuart e Fee, somada a algumas ferramentas indispensáveis de
outros métodos.
O PROCESSO METODOLÓGICO
1. Identificação e análise do contexto histórico geral;
2. Identificação e análise do contexto literário;
3. Delimitação da passagem;
4. Familiarização com o parágrafo/perícope
5. Tradução literal da passagem;
6. Análise de variantes e crítica textual;
7. Identificação e análise da estrutura da passagem;
8. Identificação e análise gramatical;
9. Identificação e análise semântica das principais palavras
10. Identificação e análise lexical;
11 Identificação e análise do contexto bíblico mais amplo;
12. Identificação e análise do contexto teológico mais amplo;
13. Revisão da pesquisa à luz de literatura secundária;
14. Análise Teológica;
15. Homilia/Releitura (Contextualização/Aplicação);
16. Redação final (Tradução Final).

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