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LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

ENEM 2016 REGULAR E PPL QUESTÕES GLOBAIS

QUESTÕES ANOTAÇÕES

ENEM 2016
1. (Enem 2016)
Esses chopes dourados
[...]
quando a geração de meu pai
batia na minha
a minha achava que era normal
que a geração de cima
só podia educar a de baixo
batendo

quando a minha geração batia na de vocês


ainda não sabia que estava errado
mas a geração de vocês já sabia
e cresceu odiando a geração de cima

aí chegou esta hora


em que todas as gerações já sabem de tudo
e é péssimo
ter pertencido à geração do meio
tendo errado quando apanhou da de cima
e errado quando bateu na de baixo

e sabendo que apesar de amaldiçoados


éramos todos inocentes.
WANDERLEY, J. In: MORICONI, I. (Org.).
Os cem melhores poemas brasileiros do século.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001 (fragmento).
Ao expressar uma percepção de atitudes e valores situados na
passagem do tempo, o eu lírico manifesta uma angústia sintetizada na
a) compreensão da efemeridade das convicções antes vistas como
sólidas.
b) consciência das imperfeições aceitas na construção do senso
comum.
c) revolta das novas gerações contra modelos tradicionais de
educação.
d) incerteza da expectativa de mudança por parte das futuras
gerações.
e) crueldade atribuída à forma de punição praticada pelos mais
velhos.

-1-
2. (Enem 2016)

Colcha de retalhos representa a essência do mural e convida o público


a
a) apreciar a estética do cotidiano.
b) interagir com os elementos da composição.
c) refletir sobre elementos do inconsciente do artista.
d) reconhecer a estética clássica das formas.
e) contemplar a obra por meio da movimentação física.

3. (Enem 2016)
Receita
Tome-se um poeta não cansado,
Uma nuvem de sonho e uma flor,
Três gotas de tristeza, um tom dourado,
Uma veia sangrando de pavor.
Quando a massa já ferve e se retorce
Deita-se a luz dum corpo de mulher,
Duma pitada de morte se reforce,
Que um amor de poeta assim requer.
SARAMAGO, J. Os poemas possíveis.
Alfragide: Caminho, 1997.

Os gêneros textuais caracterizam-se por serem relativamente estáveis


e podem reconfigurar-se em função do propósito comunicativo. Esse
texto constitui uma mescla de gêneros, pois
a) introduz procedimentos prescritivos na composição do poema.
b) explicita as etapas essenciais à preparação de uma receita.
c) explora elementos temáticos presentes em uma receita.
d) apresenta organização estrutural típica de um poema.
e) utiliza linguagem figurada na construção do poema.

-2-
4. (Enem 2016)
Sem acessórios nem som
Escrever só para me livrar
de escrever.
Escrever sem ver, com riscos
sentindo falta dos acompanhamentos
com as mesmas lesmas
e figuras sem força de expressão.
Mas tudo desafina:
o pensamento pesa
tanto quanto o corpo
enquanto corto os conectivos
corto as palavras rentes
com tesoura de jardim
cega e bruta
com facão de mato.
Mas a marca deste corte
tem que ficar
nas palavras que sobraram.
Qualquer coisa do que desapareceu
continuou nas margens, nos talos
no atalho aberto a talhe de foice
no caminho de rato.
FREITAS FILHO, A. Máquina da escrever: poesia reunida e revista.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.

Nesse texto, a reflexão sobre o modo criativo aponta para uma


concepção de atividade poética que põe em evidência o(a)
a)

b)

c) corto as palavras

d)

e)

5. (Enem 2016)

-3-
A origem da obra de arte (2002) é uma instalação seminal na obra de
Marilá Dardot. Apresentada originalmente em sua primeira exposição
individual, no Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte, a obra
constitui um convite para a interação do espectador, instigado a
compor palavras e sentenças e a distribuí-las pelo campo. Cada letra
tem o feitio de um vaso de cerâmica (ou será o contrário?) e, à
disposição do espectador, encontram-se utensílios de plantio, terra e
sementes. Para abrigar a obra e servir de ponto de partida para a
criação dos textos, foi construído um pequeno galpão, evocando uma
estufa ou um ateliê de jardinagem. As letras-vaso foram
produzidas pela cerâmica que funciona no Instituto Inhotim, em
Minas Gerais, num processo que durou vários meses e contou com a
participação de dezenas de mulheres das comunidades do entorno.
Plantar palavras, semear ideias é o que nos propõe o trabalho. No
contexto de Inhotim, onde natureza e arte dialogam de maneira
privilegiada, esta proposição se torna, de certa maneira, mais perto
da possibilidade.
Disponível em: www.inhotim.org.br. Acesso em: 22 maio 2013 (adaptado).

A função da obra de arte como possibilidade de experimentação e de


construção pode ser constatada no trabalho de Marilá Dardot porque
a) o projeto artístico acontece ao ar livre.
b) o observador da obra atua como seu criador.
c) a obra integra-se ao espaço artístico e botânico.
d) as letras-vaso são utilizadas para o plantio de mudas.
e) as mulheres da comunidade participam na confecção das peças.

6. (Enem 2016)
Soneto VII
Onde estou? Este sítio desconheço:
Quem fez tão diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado;
E em contemplá-lo tímido esmoreço.
Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado:
Ali em vale um monte está mudado:
Quanto pode dos anos o progresso!
Árvores aqui vi tão florescentes,
Que faziam perpétua a primavera:
Nem troncos vejo agora decadentes.
Eu me engano: a região esta não era;
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera!
COSTA, C. M. Poemas. Disponível em:
www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 jul. 2012.
No soneto de Cláudio Manuel da Costa, a contemplação da paisagem
permite ao eu lírico uma reflexão em que transparece uma
a) angústia provocada pela sensação de solidão.
b) resignação diante das mudanças do meio ambiente.
c) dúvida existencial em face do espaço desconhecido.
d) intenção de recriar o passado por meio da paisagem.
e) empatia entre os sofrimentos do eu e a agonia da terra.

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7. (Enem 2016)
Antiode
Poesia, não será esse
o sentido em que
ainda te escrevo:
flor! (Te escrevo:
flor! Não uma
flor, nem aquela
flor-virtude em
disfarçados urinóis).
Flor é a palavra
flor; verso inscrito
no verso, como as
manhãs no tempo.
Flor é o salto
da ave para o voo:
o salto fora do sono
quando seu tecido
se rompe; é uma explosão
posta a funcionar,
como uma máquina,
uma jarra de flores.
MELO NETO, J. C. Psicologia da composição.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento).

A poesia é marcada pela recriação do objeto por meio da linguagem,


sem necessariamente explicá-lo. Nesse fragmento de João Cabral de
Melo Neto, poeta da geração de 1945, o sujeito lírico propõe a
recriação poética de
a) uma palavra, a partir de imagens com as quais ela pode ser
comparada, a fim de assumir novos significados.
b) um urinol, em referência às artes visuais ligadas às vanguardas do
início do século XX.
c) uma ave, que compõe, com seus movimentos, uma imagem
historicamente ligada à palavra poética.
d) uma máquina, levando em consideração a relevância do discurso
técnico-científico pós-Revolução Industrial.
e) um tecido, visto que sua composição depende de elementos
intrínsecos ao eu lírico.

-5-
8. (Enem 2016)
Pérolas absolutas
Há, no seio de uma ostra, um movimento ainda que imperceptível.
Qualquer coisa imiscuiu-se pela fissura, uma partícula qualquer, diminuta
e invisível. Venceu as paredes lacradas, que se fecham como a boca que
tem medo de deixar escapar um segredo. Venceu. E agora penetra o
núcleo da ostra, contaminando-lhe a própria substância. A ostra reage,
imediatamente. E começa a secretar o nácar. É um mecanismo de defesa,
uma tentativa de purificação contra a partícula invasora. Com uma
paciência de fundo de mar, a ostra profanada continua seu trabalho
incansável, secretando por anos a fio o nácar que aos poucos se vai
solidificando. É dessa solidificação que nascem as pérolas.
As pérolas são, assim, o resultado de uma contaminação. A arte por vezes
também. A arte é quase sempre a transformação da dor. [...] Escrever é
preciso. É preciso continuar secretando o nácar, formar a pérola que
talvez seja imperfeita, que talvez jamais seja encontrada e viva para
sempre encerrada no fundo do mar. Talvez estas, as pérolas esquecidas,
jamais achadas, as pérolas intocadas e por isso absolutas em si mesmas,
guardem em si uma parcela faiscante da eternidade.
SEIXAS, H. Uma ilha chamada livro.
Rio de Janeiro: Record, 2009 (fragmento).
Considerando os aspectos estéticos e semânticos presentes no texto,
a imagem da pérola configura uma percepção que
a) reforça o valor do sofrimento e do esquecimento para o processo
criativo.
b) ilustra o conflito entre a procura do novo e a rejeição ao elemento
exótico.
c) concebe a criação literária como trabalho progressivo e de
autoconhecimento.
d) expressa a ideia de atividade poética como experiência anônima e
involuntária.
e) destaca o efeito introspectivo gerado pelo contato com o inusitado
e com o desconhecido.

9. (Enem 2016)
Primeira lição
Os gêneros de poesia são: lírico, satírico, didático, épico, ligeiro.
O gênero lírico compreende o lirismo.
Lirismo é a tradução de um sentimento subjetivo, sincero e pessoal.
É a linguagem do coração, do amor.
O lirismo é assim denominado porque em outros tempos os versos
sentimentais eram declamados ao som da lira.
O lirismo pode ser:
a) Elegíaco, quando trata de assuntos tristes, quase sempre a morte.
b) Bucólico, quando versa sobre assuntos campestres.
c) Erótico, quando versa sobre o amor.
O lirismo elegíaco compreende a elegia, a nênia, a endecha, o epitáfio e
o epicédio.
Elegia é uma poesia que trata de assuntos tristes.
Nênia é uma poesia em homenagem a uma pessoa morta.
Era declamada junto à fogueira onde o cadáver era incinerado.
Endecha é uma poesia que revela as dores do coração.
Epitáfio é um pequeno verso gravado em pedras tumulares.
Epicédio é uma poesia onde o poeta relata a vida de uma pessoa morta.
CESAR, A. C. Poética, São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

-6-
No poema de Ana Cristina Cesar, a relação entre as definições
apresentadas e o processo de construção do texto indica que o(a)
a) caráter descritivo dos versos assinala uma concepção irônica de
lirismo.
b) tom explicativo e contido constitui uma forma peculiar de
expressão poética.
c) seleção e o recorte do tema revelam uma visão pessimista da
criação artística.
d) enumeração de distintas manifestações líricas produz um efeito de
impessoalidade.
e) referência a gêneros poéticos clássicos expressa a adesão do eu
lírico às tradições literárias.

10. (Enem 2016)


A partida de trem
Marcava seis horas da manhã. Angela Pralini pagou o táxi e pegou sua
pequena valise. Dona Maria Rita de Alvarenga Chagas Souza Melo
desceu do Opala da filha e encaminharam-se para os trilhos. A velha
bem-vestida e com joias. Das rugas que a disfarçavam saía a forma
pura de um nariz perdido na idade, e de uma boca que outrora devia
ter sido cheia e sensível. Mas que importa? Chega-se a um certo ponto
e o que foi não importa. Começa uma nova raça. Uma velha não
pode comunicar-se. Recebeu o beijo gelado de sua filha que foi
embora antes do trem partir. Ajudara-a antes a subir no vagão. Sem
que neste houvesse um centro, ela se colocara do lado. Quando a
locomotiva se pôs em movimento, surpreendeu-se um pouco: não
esperava que o trem seguisse nessa direção e sentara-se de costas
para o caminho.
Angela Pralini percebeu-lhe o movimento e perguntou:
A senhora deseja trocar de lugar comigo?
Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza, disse que não,
obrigada, para ela dava no mesmo. Mas parecia ter-se perturbado.
Passou a mão sobre o camafeu filigranado de ouro, espetado no peito,
passou a mão pelo broche. Seca. Ofendida? Perguntou afinal a Angela
Pralini:
É por causa de mim que a senhorita deseja trocar de lugar?

LISPECTOR, C. Onde estivestes de noite.


Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980 (fragmento).

A descoberta de experiências emocionais com base no cotidiano é


recorrente na obra de Clarice Lispector. No fragmento, o narrador
enfatiza o(a)
a) comportamento vaidoso de mulheres de condição social
privilegiada.
b) anulação das diferenças sociais no espaço público de uma estação.
c) incompatibilidade psicológica entre mulheres de gerações
diferentes.
d) constrangimento da aproximação formal de pessoas
desconhecidas.
e) sentimento de solidão alimentado pelo processo de
envelhecimento.

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ENEM/PPL 2016
1. (Enem/PPL 2016)
Anoitecer
A Dolores

É a hora em que o sino toca,


mas aqui não há sinos;
há somente buzinas,
sirenes roucas, apitos
aflitos, pungentes, trágicos,
uivando escuro segredo;
desta hora tenho medo.

[...]

É a hora do descanso,
mas o descanso vem tarde,
o corpo não pede sono,
depois de tanto rodar;
pede paz morte mergulho
no poço mais ermo e quedo;
desta hora tenho medo.

Hora de delicadeza,
agasalho, sombra, silêncio.
Haverá disso no mundo?
É antes a hora dos corvos,
bicando em mim, meu passado,
meu futuro, meu degredo;
desta hora, sim, tenho medo.
ANDRADE, C. D. A rosa do povo. Rio de Janeiro: Record, 2005 (fragmento).

Com base no contexto da Segunda Guerra Mundial, o livro A rosa do


povo revela desdobramentos da visão poética. No fragmento, a
expressividade lírica demonstra um(a)
a) defesa da esperança como forma de superação das atrocidades da
guerra.
b) desejo de resistência às formas de opressão e medo produzidas
pela guerra.
c) olhar pessimista das instituições humanas e sociais submetidas ao
conflito armado.
d) exortação à solidariedade para a reconstrução dos espaços urbanos
bombardeados.
e) espírito de contestação capaz de subverter a condição de vítima dos
povos afetados.

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2. (Enem/PPL 2016) Os que fiam e tecem unem e ordenam materiais
dispersos que, de outro modo, seriam vãos ou quase. Pertencem à
mesma linhagem FIANDEIRA CARNEIRO FUSO LÃ dos geômetras,
estabelecem leis e pontos de união para o desuno. Antes do fuso, da
roca, do tear, das invenções destinadas a estender LÃ LINHO CASULO
ALGODÃO LÃ os fios e cruzá-los, o algodão, a seda, era como se ainda
estivessem TECEDEIRA URDIDURA TEAR LÃ imersos no limbo, nas
trevas do informe. É o apelo à ordem que os traz à claridade,
transforma-os em obras, portanto em objetos humanos, iluminados
pelo espírito do homem. Não é por ser-nos úteis LÃ TRAMA CROCHÊ
DESENHO LÃ que o burel ou o linho representam uma vitória do nosso
engenho; TAPECEIRA BASTIDOR ROCA LÃ sim por serem tecidos, por
cantar neles uma ordem, o sereno, o firme e rigoroso enlace da
urdidura, das linhas enredadas. Assim é que LÃ COSER AGULHA
CAPUCHO LÃ que suas expressões mais nobres são aquelas em que,
com ainda maior disciplina, floresce o ornamento: no crochê, no
tapete, FIANDEIRA CARNEIRO FUSO LÃ no brocado. Então, é como se
por uma espécie de alquimia, de álgebra, de mágica, algodoais e
carneiros, casulos, LÃ TRAMA CASULO CAPUCHO LÃ campos de linho,
novamente surgissem, com uma vida menos rebelde, porém mais
perdurável.
LINS, O. Nove, novena: narrativas. São Paulo: Cia. das Letras, 1998.

No trecho, retirado do conto Retábulo de Santa Joana Carolina, de


Osman Lins, a fim de expressar uma ideia relativa à literatura, o autor
emprega um procedimento singular de escrita, que consiste em
a) entremear o texto com termos destacados que se referem ao
universo do tecer e remetem visualmente à estrutura de uma trama,
tecida com fios que retomam periodicamente, para aludir ao trabalho
do escritor.
b) entrecortar a progressão do texto com termos destacados, sem
relação com o contexto, que tornam evidente a desordem como
princípio maior da sua proposta literária.
c) insinuar, pela disposição de termos destacados, dos quais um forma
uma coluna central no corpo do texto, que a atividade de escrever
remete à arte ornamental do escultor.
d) dissertar à maneira de um cientista sobre os fenômenos da
natureza, recriminando-a por estar perpetuamente em desordem e
não criar concatenação entre eles.
e) confrontar, por meio dos termos destacados, o ato de escrever à
atividade dos cientistas modernos e dos alquimistas antigos,
mostrando que esta é muito superior à do escritor.

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3. (Enem/PPL 2016)
Do amor à pátria
São doces os caminhos que levam de volta à pátria. Não à pátria
amada de verdes mares bravios, a mirar em berço esplêndido o
esplendor do Cruzeiro do Sul; mas a uma outra mais íntima, pacífica e
habitual uma cuja terra se comeu em criança, uma onde se foi
menino ansioso por crescer, uma onde se cresceu em sofrimentos e
esperanças plantando canções, amores e filhos ao sabor das estações.
MORAES, V. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1987.

O nacionalismo constitui tema recorrente na literatura romântica e na


modernista. No trecho, a representação da pátria ganha contornos
peculiares porque
a) o amor àquilo que a pátria oferece é grandioso e eloquente.
b) os elementos valorizados são intimistas e de dimensão subjetiva.
c) o olhar sobre a pátria é ingênuo e comprometido pela inércia.
d) o patriotismo literário tradicional é subvertido e motivo de ironia.
e) a natureza é determinante na percepção do valor da pátria.

4. (Enem/PPL 2016)
Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,

e faz o gesto com a mão.


O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.

O poema de Adélia Prado, que segue a proposta moderna de


tematização de fatos cotidianos, apresenta a prosaica ação de limpar
peixes na qual a voz lírica reconhece uma
a) expectativa do marido em relação à esposa.
b) imposição dos afazeres conjugais.
c) disposição para realizar tarefas masculinas.
d) dissonância entre as vozes masculina e feminina.
e) forma de consagração da cumplicidade no casamento.

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5. (Enem/PPL 2016)
Descobrimento
Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De sopetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.
Não vê que me lembrei que lá no norte, meu Deus! Muito
longe de mim,
Na escuridão ativa da noite que caiu,
Um homem pálido, magro de cabelos escorrendo nos olhos
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.
Esse homem é brasileiro que nem eu...
ANDRADE, M. Poesias completas. São Paulo: Edusp, 1987.
, de Mário de Andrade, marca a postura
nacionalista manifestada pelos escritores modernistas. Recuperando

problematiza a representação nacional a fim de


a) resgatar o passado indígena brasileiro.
b) criticar a colonização portuguesa no Brasil.
c) defender a diversidade social e cultural brasileira.
d) promover a integração das diferentes regiões do país.
e) valorizar a Região Norte, pouco conhecida pelos brasileiros.

6. (Enem/PPL 2016)
Receitas de vida por um mundo mais doce
Pé de moleque
Ingredientes
2 filhos que não param quietos
3 sobrinhos da mesma espécie
1 cachorro que adora uma farra
1 fim de semana ao ar livre
Preparo
Junte tudo com os ingredientes do Açúcar Naturale, mexa bem e deixe
descansar. Não as crianças, que não vai adiantar. Sirva
imediatamente, porque pé de moleque não para. Quer essa e outras
receitas completas?
Entre no site cianaturale.com.br.
Onde tem doce, tem Naturale.
Revista Saúde, n. 351, jun. 2012 (adaptado).
O texto é resultante do hibridismo de dois gêneros textuais. A respeito
desse hibridismo, observa-se que a
a) receita mistura-se ao gênero propaganda com a finalidade de instruir
o leitor.
b) receita é utilizada no gênero propaganda a fim de divulgar exemplos
de vida.
c) propaganda assume a forma do gênero receita para divulgar um
produto alimentício.
d) propaganda perde poder de persuasão ao assumir a forma do gênero
receita.
e) receita está a serviço do gênero propaganda ao solicitar que o leitor
faça o doce.

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7. (Enem/PPL 2016) O último longa de Carlão acompanha a operária
Silmara, que vive com o pai, um ex-presidiário, numa casa da periferia
paulistana. Ciente de sua beleza, o que lhe dá certa soberba, a jovem
acredita que terá um destino diferente do de suas colegas. Cruza o
caminho de dois cantores por quem é apaixonada. E constata, na
prática, que o romantismo dos contos de fada tem perna curta.
VOMERO, M. F. Romantismo de araque. Vida Simples, n. 121, ago. 2012.

Reconhece-se, nesse trecho, uma posição crítica aos ideais de amor e


felicidade encontrados nos contos de fada. Essa crítica é traduzida
a) pela descrição da dura realidade da vida das operárias.
b) pelas decepções semelhantes às encontradas nos contos de fada.
c) pela ilusão de que a beleza garantiria melhor sorte na vida e no
amor.
d) pelas fantasias existentes apenas na imaginação de pessoas
apaixonadas.
e) pelos sentimentos intensos dos apaixonados enquanto vivem o
romantismo.

8. (Enem/PPL 2016)

Na campanha publicitária, há uma tentativa de sensibilizar o público-


alvo, visando levá-lo à doação de sangue. Analisando a estratégia
argumentativa utilizada, percebe-se que
a) a exposição de alguns dados sobre a jovem procura provocar
compaixão, visto que, em razão da doença, ela vive de maneira
diferente dos demais jovens de sua idade.
b) a campanha defende a ideia de que, para doar, é preciso conhecer
o doente, considerando que foi preciso apresentar a jovem para gerar
identificação.
c) o questionamento seguido da resposta propõe reflexão por parte
do público-alvo, visto que o texto critica a prática de escolher para
quem doar.
d) as escolhas verbais associadas à imagem parecem contraditórias,
pois constroem uma aparência incompatível com a de uma jovem
doente.
e) a campanha explora a expressão da jovem a fim de gerar comoção
no leitor, levando-o a doar sangue para as pessoas com leucemia.

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9. (Enem/PPL 2016)

A técnica da décollage, utilizada pelo artista Mimmo Rotella em sua


obra Marilyn, é um procedimento artístico representativo da década
de 1960 por
a) visar a conservação das representações e dos registros visuais.
b) basear-se na reciclagem de material gráfico, contribuindo para
sustentabilidade.
c) encobrir o passado, abrindo caminho para novas formas de fazer
plásticas, pela releitura.
d) fazer conviver campos de expressão diferentes e integrar novos
significados.
e) abolir o trabalho manual do artista na confecção das imagens
recontextualizadas.

10. (Enem/PPL 2016)

A escultura do artista construtivista Amílcar de Castro é


representativa da arte contemporânea brasileira e tem o traço
estrutural marcado por elementos como
a) o corte a dobra.
b) a força e a visualidade.
c) o adereço e a expressão.
d) o rompimento e a inércia.
e) a decomposição e a articulação.

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