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Sociologia - O Trabalho e A Vida Económica

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O Trabalho e a Vida Económica

Anthony Giddens

Trabalho realizado por:


Joana Sousa; Maria Gabriela; Marisa Gama; Naíde Ferreira.
Docente: Célia Rodrigues

Leiria, 2024
Índice

Trabalho e a vida económica ............................................................................. 2


Experiência de Enrico e Rico ............................................................................. 3
O que é o trabalho? ............................................................................................ 3
Trabalho desempenha múltiplos papéis na vida das pessoas: .......................... 4
A atividade remunerada e a não-remunerada .................................................... 4
Referências ........................................................................................................ 9
Trabalho e a vida económica

Assim como tantos outros aspetos do nosso mundo social o trabalho e a vida
económica vêm sofrendo uma enorme transformação. A cada momento, parece
que estamos diante de declarações anunciando a "morte das carreiras", notícias
envolvendo fusões e reduções no tamanho de corporações e rumores
contraditórios a respeito do impacto da tecnologia da informação sobre o local
de trabalho. Porém, além de estudarem esses aspetos de domínio bastante
público dos padrões contemporâneos do trabalho, os sociólogos interessam-se
pelo modo como as mudanças no trabalho estão afetando a vida privada dos
indivíduos e das famílias.
Uma forma de compreendermos o alcance das mudanças na vida económica
atual é considerando as trajetórias de trabalho radicalmente diferentes que
surgiram no período de apenas uma geração. Foi o que fez o sociólogo Richard
Sennett, ao explorar recentemente os efeitos do trabalho contemporâneo sobre
o caráter pessoal.

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Experiência de Enrico e Rico

Sennett (1998) faz uma comparação e um contraste entre as vidas e as carreiras


de pai e filho, a fim de salientar a transformação na experiência do trabalho.
Há 25 anos, em um estudo envolvendo operários em Boston, Sennett redigiu o
perfil de Enrico, um imigrante italiano que trabalhou a vida inteira como zelador
em um prédio de escritórios do centro da cidade.
Enrico, um imigrante italiano, passou a vida como zelador em um prédio de
escritórios em Boston. Embora não gostasse das condições de trabalho
precárias e do baixo salário, ele encontrava dignidade em sustentar sua família.
Enquanto Enrico aspirava a uma vida melhor para seus filhos, seu filho Rico
conseguiu ascender socialmente, tornando-se um profissional bem-sucedido. No
entanto, apesar do sucesso financeiro, Rico e sua esposa Jeanette enfrentam
desafios como a falta de controle sobre suas carreiras e a perda de conexões
sociais e familiares devido a um estilo de vida nômade e focado no trabalho. Eles
percebem que, na sociedade moderna, as qualidades valorizadas no trabalho
nem sempre se alinham com as qualidades de um bom caráter, o que levanta
preocupações sobre o exemplo que estão dando aos seus filhos. Essa narrativa
ilustra as mudanças na natureza do trabalho e os desafios enfrentados por
indivíduos como Rico e Jeanette em um ambiente de trabalho cada vez mais
flexível e instável.

O que é o trabalho?

Para a maioria de nós, o trabalho ocupa um espaço maior da vida do que


qualquer outro tipo de atividade. É comum associarmos a noção de trabalho a
uma atividade maçante a um conjunto de tarefas que queremos minimizar e do
qual, se possivel, procuramos escapar. No entanto, há mais implicações no
trabalho do que nessa atividade maçante; não fosse assim, as pessoas não se
sentiriam tão perdidas e desorientadas ao ficarem desempregadas.
Como você se sentiria se imaginasse que nunca mais arranjaria um emprego?
Nas sociedades modernas, ter um emprego é importante para manter a
autoestima. Mesmo nos lugares em que as condições de trabalho são
relativamente desagradáveis, e as tarefas monótonas, o trabalho tende a

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representar um elemento estruturador na composição psicológica das pessoas
e no ciclo de suas atividades diárias.

Trabalho desempenha múltiplos papéis na vida das pessoas:

 Dinheiro: O salário é fundamental para atender às necessidades básicas,


e a falta de renda pode gerar ansiedade financeira.
 Nível de atividade: O trabalho oferece oportunidades para desenvolver
habilidades e aptidões, proporcionando um ambiente estruturado para
canalizar energias.
 Variedade: Mesmo que as tarefas sejam monótonas, o trabalho pode
oferecer um contraste com as atividades domésticas, o que pode ser
atraente para algumas pessoas.
 Estrutura temporal: O trabalho organiza o dia e proporciona um senso de
direção nas atividades diárias, evitando o tédio e a apatia em relação ao
tempo.
 Contatos sociais: O ambiente de trabalho é propício para fazer amizades
e participar de atividades sociais, ampliando o círculo social além do
ambiente doméstico.
 Identidade pessoal: O trabalho contribui para a identidade social e a
autoestima, especialmente para os homens, cuja contribuição económica
para o sustento do lar é valorizada.

A falta de emprego pode minar a confiança do indivíduo em seu valor social,


dada a importância desses aspectos do trabalho na vida das pessoas.

A atividade remunerada e a não-remunerada

Muitas vezes, estamos inclinados a pensar no trabalho como se ele equivalesse


ao emprego remunerado; porém, essa é uma visão muito simplificada. As tarefas
não-remuneradas (como o trabalho doméstico ou o conserto do carro avultam
na vida de muitas pessoas. Vários tipos de trabalho não se ajustam às categorias
ortodoxas do emprego remunerado.

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Grande parte do trabalho feito na economia informal, por exemplo, não possui
um registro direto nas estatísticas oficiais de empregos. O termo economia
informal refere-se às transações que ocorrem fora da esfera do emprego regular,
as quais às vezes envolvem a troca de dinheiro por serviços prestados, mas que
geralmente também envolvem a troca direta de mercadorias ou serviços.
Alguém que aparece para arrumar a televisão pode ser pago em dinheiro, sem
a emissão de nenhum recibo, nem um registro dos detalhes do serviço. As
pessoas trocam mercadorias "baratas" - ou seja, furtadas ou roubadas - com
amigos ou colegas por outros favores. A economia informal abrange não apenas
as transações em dinheiro feitas "às escondidas", como também muitas formas
de auto-suprimento realizadas pelas pessoas dentro e fora de casa. As
atividades do tipo “faça você mesmo” maquinário e as ferramentas domésticas
por exemplo, proporcionam mercadorias e serviços que, de outra forma, seriam
obtidos mediante pagamento (Gershuny e Miles, 1983). A atividade doméstica,
que, por tradição, tem sido executada principalmente pelas mulheres,
geralmente não é remunerada; entretanto, não deixa de ser um trabalho - em
geral, muito pesado e exaustivo. O trabalho voluntário, para casas de caridade
ou outras organizações, possui um papel social importante. Ter um emprego
remunerado é importante por todas as razões expostas anteriormente - porém a
categoria "trabalho" é ainda mais ampla.

O trabalho não se limita ao emprego remunerado; inclui também tarefas não-


remuneradas, como o trabalho doméstico. Grande parte do trabalho na
economia informal não é registado oficialmente, envolvendo transações de
dinheiro sem recibos ou trocas diretas de mercadorias e serviços. A economia
informal engloba atividades de auto-suprimento, como o "faça você mesmo" e o
trabalho doméstico não remunerado, que, apesar de não pagos, são trabalhos
pesados e desgastantes. O trabalho voluntário também desempenha um papel
importante na sociedade. Embora o emprego remunerado seja crucial por razões
financeiras, a noção de trabalho vai além disso, abrangendo uma variedade de
atividades remuneradas e não remuneradas

Podemos definir o trabalho, quer seja ele remunerado ou não-remunerado, como


a execução de tarefas que requerem o emprego de esforço mental e físico, cujo

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objetivo é a produção de mercadorias e serviços que satisfaçam as
necessidades humanas.
Uma ocupação, ou um emprego, consiste no trabalho executado em troca de um
ordenado ou salário regular. Em todas as culturas, o trabalho é a base da
economia. O sistema económico consiste em instituições que cuidam da
produção e da distribuição de mercadorias e serviços.
Tendências do sistema ocupacional
O trabalho está sempre incrustado no sistema económico mais amplo. Nas
sociedades modernas, esse sistema depende da produção industrial. Como foi
enfatizado em outros trechos deste livro, a indústria moderna difere em um
aspecto fundamental dos sistemas pré-podemos de produção, os quais
baseavam-se, sobretudo, na agricultura - a maioria das pessoas trabalhava nos
campos ou cuidava de rebanhos. Já, nas sociedades modernas, apenas uma
ínfima proporção da população trabalha na agricultura, e a própria lavoura
tomou-se industrializada sendo administrada, em grande parte, por intermédio
de máquinas, e não por mãos humanas.
A própria indústria moderna está em constante transformação - a mudança
tecnológica é uma de suas principais características. A tecnologia refere-se ao
aproveitamento da ciência nos maquinários com o intuito de atingir uma
eficiência produtiva maior. A natureza da produção industrial também varia em
relação a influências sociais e económicos mais amplas. Se considerarmos o
sistema ocupacional dos países industrializados durante o século XX, podemos
enxergar esse fenómeno com bastante clareza: mudanças na economia global
e avanços tecnológicos provocaram transformações profundas no tipo de
trabalho que realizamos.
O trabalho, remunerado ou não, envolve a execução de tarefas físicas e mentais
para produzir bens e serviços que atendam às necessidades humanas. Uma
ocupação implica trabalho em troca de um salário regular. Em todas as culturas,
o trabalho é fundamental para a economia, que consiste na produção e
distribuição de bens e serviços. Nas sociedades modernas, o trabalho está ligado
à produção industrial, que difere significativamente dos sistemas agrícolas pré-
modernos. A agricultura moderna é altamente mecanizada e depende menos de
mão de obra humana. A indústria está constantemente mudando, impulsionada

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pela mudança tecnológica e influências sócio económicas mais amplas, como
mudanças na economia global e avanços tecnológicos.

No início do século, o mercado de trabalho era dominado pelos empregos de


produção na manufatura, mas, com o tempo, houve um deslocamento para os
cargos de colarinho- azul (branco) do setor de serviços (veja as Figuras 13.1 e
13.2).

Em 1900, mais de três quartos da população empregada desempenhavam


atividades manuais (de produção). Desses, 28% eram trabalhadores

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profissionalizados, 35% semiprofissionalizados e 10% não-profissionalizados.
Os empregos profissionais e os de colarinho-azul (branco) somavam um número
relativamente pequeno. Até a metade do século, os trabalhadores manuais
representavam menos de dois terços da população que fazia parte da mão-de-
obra remunerada, e o trabalho não-manual havia apresentado uma expansão
semelhante.
Um censo da população do RU foi realizado em 1971, e outro em 1981. Ao longo
desse período, houve um declínio na proporção de pessoas em ocupações de
produção de 62% para 56% (no grupo dos homens), e de 43% para 36% (no
caso das mulheres). Os cargos profissionais e gerenciais ocupados pelos
homens aumentaram em até 1 milhão. Até o ano de 1981, havia 170 mil homens
a menos exercendo atividades de rotina de colarinhos-brancos, mas 250 mil
mulheres a mais em empregos desse tipo. O declínio dos empregos manuais
correspondeu diretamente à diminuição das proporções das pessoas envolvidas
na indústria manufatureira. Em 1981, houve uma redução de 700 mil homens e
420 mil mulheres no trabalho manufatureiro em relação a 1971.
Essas tendências ainda são percebidas atualmente, mas, até certo ponto, se
estabilizaram. Um Labour Force Sut~vey (Levantamento da Força de Trabalho)
realizado pelo governo em 1998 mostrou que apenas 25% dos homens e 10%
das mulheres trabalhavam na indústria manufatureira, percentuais que
demonstram um contraste evidente com a disparada no número de pessoas
empregadas nos serviços financeiros e empresariais: em 1981, apenas 10% dos
homens estavam empregados nesse setor, mas, até 1998, esse percentual havia
subido para 16%. Entre as mulheres, houve um aumento de 12% (em 1981) para
19% (em 1998).
Existe um debate considerável em tomo dos motivos que levaram a essas
mudanças. Aparentemente, há várias razões. Uma delas é a introdução contínua
de um maquinário capaz de poupar trabalho, o que, nos últimos anos, culminou
com a difusão da tecnologia da informação na indústria. Outro motivo é o
crescimento da indústria manufatureira fora do Ocidente, especialmente no
Extremo Oriente. As indústrias mais antigas das sociedades ocidentais sofreram
grandes cortes em função de sua inabilidade para competir com os produtores
mais eficientes do Extremo Oriente, que possuem custos de mão-de- obra mais
baixos.

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Referências

GIDDENS, Anthony (1997), “O trabalho e a vida económica “In Sociologia,


lisboa: Gulbenkian. Pp. 374-389.

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