Introducao A Teologia Pastoral 6

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TEOLOGIA PASTORAL

AULA 6

Prof. Heitor Alexandre Trevisani Lipinski


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, vamos estudar a pastoral da Igreja a partir de seus tópicos


essenciais. Apresentaremos uma contextualização histórica, a fim de verificar,
por meio do pensamento de alguns teólogos pastoralistas, o que eles entendem
pela ação pastoral da igreja. Em seguida, vamos abordar o tema da pastora
profética, que chama atenção para a dimensão de contextualização, tradução e
interpretação da palavra de Deus em diversas realidades.
Também veremos a relação da pastoral litúrgica em sua conotação
própria, de grande importância para as celebrações da Igreja. Por fim, vamos
abordar o tema da pastoral da comunhão e do serviço, na dimensão da
construção do reino de Deus.

TEMA 1 – DIFERENTES COMPREENSÕES DA AÇÃO PASTORAL NA HISTÓRIA


DA TEOLOGIA

No decorrer da história, a Igreja apresentou diversos modelos


eclesiológicos, que acarretaram diferentes maneiras de compreender a pastoral
da Igreja. A ação pastoral também se fundamenta em diversas diretrizes, que
apresentam a sua devida importância e significação no processo de
evangelização. Porém, como podemos agrupar as linhas fundamentais da ação
pastoral da Igreja?
Para tentar responder a essa questão, apresentamos brevemente, a
seguir, três diferentes concepções, de diferentes teólogos, que versam sobre os
eixos essenciais que compõem a ação pastoral na história da teologia.

1.1 Karl Rahner

Rahner é um dos mais relevantes e criativos teólogos da tradição católica


do século XX, tendo um papel de grande valia para o incentivo à abertura da
Igreja Católica às diversas tradições religiosas, com suas diferentes culturas, e
também a um diálogo com o mundo moderno. Podemos considerar que a sua
ideia fundamental (Rahner, 1969. p. 7) é a “abertura transcendental do homem,
espírito finito, para o mistério do ser absoluto”. Outra característica de sua obra
é que as temáticas estão sempre alinhadas em torno dos problemas do homem

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de hoje. Assim sendo, a sua teologia é bastante atual, ajudando a compreender
a existência humana em uma realidade carregada de secularismo e pluralismos.
Para Rahner, a missão da Igreja é o significado da ação pastoral (teologia
prática). É o anúncio, a evangelização, a caridade e o serviço. De acordo com o
teólogo, a pastoral da Igreja está relacionada à dimensão missionária, ao âmbito
da Palavra (proclamação do evangelho de diversas formas); à vivência da
caridade (atendimento as situações de carência das comunidades, expressão do
amor concreto); e também à celebração dos sacramentos (pelos quais a Igreja
comunica a própria ação de Deus).

A teologia prática tem como objeto próprio a vida total da Igreja ou, dito
de outro modo, a auto realização da Igreja em sua totalidade. Isto inclui,
por um lado, as distintas dimensões nas quais a Igreja auto realiza-se,
como, por exemplo, o culto litúrgico, o anúncio da Palavra, os
sacramentos, a catequese, a vida eclesial do indivíduo etc.; e, por outro
lado, os diferentes sujeitos desta auto realização: ministros, leigos,
comunidade local, grupos eclesiais, Igreja em geral etc. (Vigueras,
2004, p. 113)

Para Rahner, o objeto da teologia é tudo e todos na Igreja, ou seja, todos


os que são sujeitos dessa instituição. Seu objeto é tudo: a Igreja em todas as
suas dimensões.

1.2 Viktor Schurr

Este teólogo alemão, por meio de suas reflexões teológicas, afirma que a
Igreja tem três funções consideradas essenciais em relação à ação pastoral:
ensinar, com referência propriamente ao anúncio da Palavra de Deus; celebrar,
o que inclui as celebrações; e guiar, faceta ligada à ação do pastor que conduz
o seu rebanho para um lugar de vida plena.
Um dos principais aspectos da ação pastoral trazida pelo teólogo é a
importância da articulação da sempre velha e sempre nova mensagem
evangélica com as categorias de prática atuais e as formas institucionais de
nosso tempo. Schurr afirma que a missão cristã é anterior à ação eclesial; por
isso, está muito mais aberta ao conteúdo de compreensão. A dimensão menos
visível do pensamento de Schurr, nesse sentido, é a do serviço e da caridade.

1.3 Cassiano Floristán

Teólogo espanhol, Floristán nos lembra que a ação cristã, ou práxis cristã,
atualiza a práxis de Jesus, considerando a implantação do Reino de Deus em
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sociedade, mediante a construção do povo de Deus em estado de comunidade
cristã. Nesse sentido, é importante considerar que é indispensável expor uma
fundamentação do tríplice ofício de Cristo como profeta, sacerdote e rei,
representando um meio de análise da missão da Igreja (Floristán, 2002, p. 199).
O tríplice ofício, conforme explicita Floristán, tem sido entendido pela
Igreja a partir das funções pastorais, como: função profética do anúncio do
evangelho; função litúrgica marcada pela celebração do culto; e função caritativa
com o serviço libertador. Essa estruturação é apresentada pelo teólogo como
aspecto atual na dimensão da ação pastoral cristã.
Contudo, podemos verificar que a base da reflexão dos teólogos, em
suma, apresenta a compreensão do ministério de Cristo – que é profeta, ou seja,
refere-se à dimensão do anúncio da Palavra; pastor, aquele que integra, que
forma comunidades para o serviço; e sacerdote, que institui e promove
sacramentos.

TEMA 2 – AÇÃO PASTORAL COMO AÇÃO PROFÉTICA

A missão pastoral de evangelização está fundamentalmente relacionada


com a proclamação da Palavra àqueles que não conhecem Jesus Cristo ou que
sempre o recusaram. Todos as pessoas têm o direito de receber o Evangelho;
os cristãos, enquanto batizados, têm o dever de o anunciá-lo, sem excluir
ninguém.
A transmissão do Evangelho institui a missão profética da Igreja, devendo
ser realizada não como imposição de uma nova obrigação, mas como partilha
de uma alegria, indicando um horizonte maravilhoso, como a oferta de um
banquete desejável. A Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração.
A Igreja é a comunidade dos seguidores e seguidoras de Jesus Cristo.
Sua missão é continuar a missão de Jesus neste mundo. Neste sentido, ela é,
por natureza, missionária: nasce da missão de Jesus e nasce para continuar
essa missão. A missão não é uma opção, nem é tarefa de algumas pessoas,
mas caracteriza e faz a Igreja, sendo tarefa de todos os cristãos.
A missão da Igreja é a mesma de Jesus: anunciar a Boa Notícia do
reinado de Deus, que diz respeito à realização de sua vontade neste mundo. Os
sinais dessa realização aparecem na pregação e na prática de Jesus, sendo
narrados nos evangelhos, como a fraternidade, o perdão, o amor ao inimigo, a

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humildade, a simplicidade, o serviço e, sobretudo, a compaixão e a misericórdia
com os pobres, marginalizados e sofredores (Júnior, 2017).
Esse foi o grande Evangelho de Jesus, o principal ensinamento que a
Igreja tem para o mundo. Por essa razão, normalmente falamos da missão da
Igreja em termos de evangelização. Sua missão é profética; trata-se de fazer
com que o Reino de Deus esteja presente no mundo (Júnior, 2017).
Nesse sentido, a ação pastoral profética se refere ao anúncio da palavra,
à fascinação e ao conhecimento de Cristo. Anunciar Jesus tem por objetivo fazer
com que as pessoas o conheçam, que percebam a sua grandeza e se sintam
fascinadas – ou seja, é um processo de adesão à fé. Essa adesão conduz à
conversão pastoral, à mudança de vida após a proposta apresentada pelo
Evangelho. Aderir à fé é fazer parte do corpo eclesial da Igreja.
Assim, dois aspectos devem ser destacados:

Em primeiro lugar, precisamos levar a sério que a evangelização é missão de


todos nós. Ser cristão é ser incorporado a Jesus Cristo (corpo de Cristo) na
força e no poder do Espírito (templo do Espírito) e, assim, participar da vida
divina (povo de Deus). O batismo nos insere nesse dinamismo: somos
batizados “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. E esse dinamismo
deve se manifestar em nossa vida concreta: “quem diz que está com Deus
deve comportar-se como Jesus se comportou” (1 Jo 1,6). Essa é nossa missão.
Isso nos faz cristãos. Em segundo lugar, é importante lembrar que essa missão
acontece no dia a dia de nossa vida: em casa, com a vizinhança, no trabalho,
na Igreja, na política; no respeito e na acolhida a todas as pessoas e na luta
contra toda forma de preconceito e discriminação; no exercício do perdão que
vence o rancor, o ódio e a vingança; na honestidade nas pequenas e grandes
coisas; no zelo pela coisa público (não jogar lixo na rua, respeitar o trânsito,
não desperdiçar água, não se apropriar dos bens e dos recursos públicos etc.);
no cuidado com as pessoas que sofrem (doentes, idosos, enlutados,
desesperados etc.); da defesa dos direitos dos pobres e marginalizados (sem-
terra, sem teto, desempregados, encarcerados, mulheres, negros,
homossexuais, pessoas com deficiência etc.); na denúncia contra toda forma
de injustiça, preconceito e corrupção; na solidariedade e no apoio às lutas
populares; enfim, no esforço de ir se tornado, com e como Jesus, na força do
Espírito, uma pessoa boa que passa nesse mundo fazendo o bem (At 10, 38)
e, assim, ir ajudando a construir um mundo mais justo e fraterno, sinal vivo e
eficaz do reinado de Deus entre nós. (Júnior, 2017)

Essa é a herança que recebemos de Jesus. É o tesouro que temos para


oferecer. Aquilo que chamamos “missão” na vida em Igreja (catequese, círculo
bíblico, liturgia, festa de padroeiro etc.) constitui-se como meio de propor,
recordar, motivar e animar a prática missionária.
A Igreja, nessa dimensão, deve anunciar com gestos e palavras o amor,
a misericórdia e a justiça de Deus neste mundo, pois “Deus não reina quando se
fala, mas só quando se atua” (1 Cor 4,20). A missão profética deve resgatar e
semear as sementes do Verbo em cada cultura, em cada época, revelando a
cultura de solidariedade em vista da utopia de um novo céu e uma nova terra.

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TEMA 3 – AÇÃO PASTORAL COMO AÇÃO LITÚRGICA

A liturgia pode ser entendida como a celebração da história da salvação,


que tem como foco e plenitude o mistério pascal de Cristo (SC 5-6). “Deus quer
salvar e fazer chegar ao conhecimento da verdade todos os homens” – assim
inicia o número 5 da Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium, elaborada
em 1963 por Paulo VI, que versa sobre a Sagrada Liturgia.
Igreja impulsionada pelo Espírito Santo, se reúne e faz memória do
grande mistério de Jesus, escutando a Palavra e celebrando a eucaristia, na
certeza da presença de Cristo, pois ele está presente em sua Igreja, sobretudo
nas ações litúrgicas. No sacrifício da missa e sob as espécies eucarísticas, nos
sacramentos, na palavra, nos salmos, nos cantos e em muitos outros lugares,
Deus se faz presente.
A liturgia constitui uma ação sagrada, feita de sinais sensíveis, que nos
remetem à experiência do mistério de Cristo, de modo que é importante celebrar
a Liturgia das Horas (SC, cap. IV), o Ofício Divino das Comunidades, como
também o ano litúrgico (SC, cap. V), a música (SC, cap. VI), o espaço litúrgico e
a arte sacra (SC, cap. VII).
Pelo rito, participamos do mistério pascal, que nos faz morrer e
ressuscitar, dia a dia, em Cristo. Nossa vida e história são vida e história de
Cristo. A liturgia divina se comunica conosco pela memória que dela fazemos.
Afinal, de maneira sensível, em comunhão com todos os nossos sentidos,
enaltecemos as expressões simbólicas e culturais da comunidade humana que
celebra Deus. As ações simbólicas realizam aquilo que significam. Assim, em
verdadeiro diálogo amoroso, a comunidade celebrante, corpo místico de Cristo,
é santificada e, com profunda gratidão, glorifica o Senhor da vida e da história
(Fernandes, 2009).
Nesse sentido, consideramos que a Pastoral Litúrgica é uma atualização
da salvação, desejada por Deus e realizada por Jesus Cristo, em continuidade
por meio da ação do Espírito Santo na vida da Igreja. Ela é a ação celebrativa
da Igreja, que reúne a comunidade, santifica as pessoas e dá graças a Deus Pai
através de sinais, palavras, cantos, orações e símbolos.
O objetivo principal da pastoral litúrgica é promover a dimensão litúrgico-
celebrativa, fonte e cume da ação evangelizadora, tendo em vista a participação
consciente e ativa dos cristãos, por meio de expressões simbólicas adaptadas a

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cultura e à compreensão do povo. É, acima de tudo, a presença de Deus no meio
de nós.
Para entender a importância dessa pastoral, devemos inicialmente
compreender o significado de ação litúrgica e da pastoral litúrgica. A ação se
refere à própria celebração dos sacramentos, enquanto a pastoral é um conjunto
de ações a serviço da liturgia, como intermédio para o encontro com Cristo.
Fernandes (2009) nos mostra que a ação eclesial objetiva, de imediato, a
participação ativa, consciente e frutuosa dos fiéis na celebração, colaborando
para a edificação do corpo de Cristo, mediante a santificação das pessoas e o
culto a Deus. Na edificação do corpo de Cristo, a pastoral litúrgica colabora com
a edificação de toda a humanidade, pois “A celebração litúrgica coroa e comporta
um compromisso com a realidade humana… e com a promoção (9,4). Isso
significa que também os membros da pastoral litúrgica devem visar à
transformação do mundo em Reino de Deus” (Fernandes, 2009).
A pastoral litúrgica implica ainda cuidados com a preparação, a realização
e a avaliação das celebrações, com a formação do povo e dos ministros, além
da organização da vida litúrgica nos vários níveis eclesiais.

Figura 1 – Pastoral litúrgica no Brasil: setor da celebração, setor de canto e


música litúrgica e o setor do espaço litúrgico e da arte sacra

Créditos: Pmmart/Shutterstock.

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A pastoral litúrgica corresponde a um tríplice objetivo da liturgia: promover
celebrações autênticas, formação litúrgica e organização da vida litúrgica. Essa
pastoral tem elevada importância, pois nos coloca em proximidade com a
realidade profética de Jesus, nos preparando para viver intensamente a palavra
e a eucaristia, oferecendo a todos um encontro com Cristo, uma experiência de
Deus.

Figura 2 – Pão e vinho: símbolos do Corpo e Sangue de Jesus nas celebrações


eucarísticas

Créditos: Pixel-Shot/Shutterstock.

Os exemplos mais comuns da simbologia litúrgica são o pão e o vinho.


Eles são usados na celebração eucaristia para representar três gestos: trazer,
benzer (pronunciar a bênção) e partir, comer e beber juntos. Trazer simboliza
toda a vida do ser humano e do cosmo, colocadas sobre o altar, para serem
assumidas no sacramento da Páscoa do Senhor.
Bendizer e pronunciar a bênção refere-se à oração eucarística, que indica
o sentido profundo do que fazemos com o pão e o vinho: agradecemos o Pai,
recordamos a Páscoa do Senhor Jesus e participamos, assim, em profunda
comunhão no Espírito Santo, de sua vida, ressurreição e vitória sobre o mal e a
morte. A ideia de partir e beber juntos traz o seguinte simbolismo: o pão conota
subsistência, força para o caminho, repartição; já o vinho faz a festa, traz alegria,
provoca a sóbria embriaguez do Espírito, embora recorde também o sofrimento
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e a paixão. Quando comemos e bebemos juntos, entramos no dinamismo pascal
do Senhor; nos tornamos um só corpo, uma só carne.
Em suma, os objetivos da pastoral litúrgica referem-se à participação na
celebração e à formação dos membros do corpo de Cristo. A liturgia precisa
mostrar para as pessoas a relação que existe entre a liturgia e a vida.

TEMA 4 – ação pastoral como ação comunitária

Você já parou para pensar se um verdadeiro cristão consegue viver uma


vida sozinho com Deus? Certamente a resposta é não, pois o cristianismo não
permite uma vida sozinha, fechada. Como cristãos, somos convidados a ser
Igreja; quanto mais intimidade com Jesus, mais próximo estaremos dos nossos
irmãos.
Nesse sentido, a forma como demonstramos a nossa intimidade com
Deus também está relacionada com a comunhão com os irmãos. Em 1 Jo 1:7,
encontramos a seguinte citação: “Se, porém, andarmos na luz, como ele está na
luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu filho,
nos purifica de todo pecado”.
Assim, por que a ação pastoral deve ser uma ação comunitária? Qual a
importância de estar em comunhão? Pois bem, Deus não nos fez para que
vivêssemos sozinhos. Ele quer que vivamos juntos, quando diz que somos
família, membros do mesmo corpo. Não importa quão bem você faça as coisas:
se você é individualista e não tem comunhão com a Igreja, está fora da vontade
de Deus. Sem comunhão, somos um tijolo fora da construção, um membro fora
do corpo, um soldado perdido no campo de batalha.
A ação comunitária da Igreja traz segurança espiritual, pois é melhor
sermos dois do que um. Aí reside a importância de a Igreja ser uma só
comunidade, em comunhão, pois a sua ação pastoral será realizada de modo
eficaz, com força e resiliência:

É melhor ter companhia do que estar sozinho, porque maior é a


recompensa do trabalho de duas pessoas. Se um cair, o amigo pode
ajudá-lo a levantar-se. Mas pobre do homem que cai e não tem quem
o ajude a levantar-se! E se dois dormirem juntos, vão manter-se
aquecidos. Como, porém, manter-se aquecido sozinho? Um homem
sozinho pode ser vencido, mas dois conseguem defender-se. Um
cordão de três dobras não se rompe com facilidade. (Eclesiastes 4,9-
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A Igreja, enquanto corpo de Cristo, é responsável por expressar Jesus.
Por isso mesmo, em Mt 18, 19-20 Ele descreve: ““Em verdade também vos digo
que, se dois entre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa
que, porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai, que está nos céus.
Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio
deles”.
Não estar em comunhão com Cristo e com a comunidade é ficar longe da
presença do Senhor. Existem certas ações e pedidos que só serão atendidos se
realizados juntos, em concordância, em comunhão. Um exemplo disso parte do
próprio Jesus, que não realizou a sua missão completamente sozinho, pois
sempre esteve em companhia de discípulo e seguidores.
Em Jo 17, 21, Jesus pede ao Pai que os irmãos sejam um, assim como
Ele e o Pai são um: “A fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim
e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me
enviaste”. Assim, de certo modo, podemos estabelecer que o mundo somente
crerá verdadeiramente em Jesus se nós, cristãos, vivermos uma vida de
comunhão e unidade (comunidade).
Em comunhão, conduzimos mais pessoas para o reino de Deus. Jesus
disse que seríamos reconhecidos como discípulos se tivéssemos amor uns pelos
outros: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns
aos outros” (Jo 13, 35).
A pastoral da comunhão e do serviço, trabalhada a partir dos três
ministérios atribuídos a Jesus (sacerdotal, profeta e pastor), revela uma relação
muito íntima, pois a comunidade cristã é sempre uma comunidade em missão,
pautada na dimensão do serviço – portanto, não é fechada em si mesma.
A missão da Igreja promove vitalidade para a comunidade. Porém, para
que isso ocorra, ela necessita ser uma “casa de comunhão”. “A Igreja como casa
é vista como lugar de ternura, onde todos somos irmãos que caminham juntos e
devemos afeto mútuo, um querer bem que tire toda a apatia à dor alheia, onde
todos somos filhos do mesmo Pai celeste, superando a superficialidade de
relações mecânicas e frias” (Schmidt, 2021, citado por Erpen, 2021).
Estar em comunhão, em comunidade, em Igreja, nos remete a pensar na
Trindade, no amor que transborda e é comunicado a todas as criaturas. A
comunhão é essencial na vida cristã, pois ela garante eficácia para a verdadeira
pastoral.

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É nesse sentido que afirmamos que a Igreja, em toda a sua dimensão
pastoral, precisa ser um lar, onde são criados laços e vínculos de fé e amor. Um
lar, como bem sabemos, necessita da colaboração de todos. Ninguém pode ser
indiferente ou alheio, já que cada um é uma pedra da construção. Assumir essa
postura indica uma proximidade relacional entre as pessoas, criando uma
“koinonia” (do grego, comunhão) entre os fiéis, que não são mais anônimos, mas
conhecidos, próximos e familiares (Schmidt, 2021, citado por Erpen, 2021).
Nesta grande casa, que é a Igreja, é preciso abrir as portas para acolher
irmãos e irmãs, pois vivemos em um mundo individualista, indiferente, em que o
medo e a violência predominam. A Igreja como casa é espaço de encontro com
Deus, que se dá na celebração da Palavra, na vivência fraterna, no serviço e na
caridade, revelando a plena beleza de Deus.
O encontro com Deus é intermediado pela comunhão com os irmãos. O
amor que une é o mesmo amor que leva ao serviço. Somos todos discípulos de
alguém que pautou toda a sua vida no serviço, e por isso devemos ser espelhos
e propagar a vida cristã – não uma vida pensada em privilégios, mas na busca
da solidariedade e do serviço ao reino de Deus.

TEMA 5 – AÇÃO PASTORAL COMO SERVIÇO À IGREJA

Pensando na ação pastoral e em sua relação com o serviço, percebemos


que se trata da verdadeira maneira de pensar a comunidade em uma perspectiva
cristã. A pastoral, enquanto essência, busca criar comunidades, reunindo os
seguidores de Cristo para aprofundar a fé e incentivar, mutuamente, uns aos
outros, realizando a realidade de missão, de serviço.
Retomando a nossa reflexão, podemos considerar que o serviço é a
dimensão essencial da vida cristã, pois todos somos discípulos daquele que veio
para servir. Jesus disse: “Entre vós sou como aquele que serve” (Lucas 22, 27).
Desse modo, como verdadeiros seguidores de Jesus, precisamos também
seguir o exemplo deixado por Ele.

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Figura 3 – Celebração do lava-pés: maior sinal da doação de Cristo e exemplo
de serviço a ser seguido por toda a Igreja

Crédito: Zvonimir Atletic/shutterstock.

O servir está pautado na ação de ajudar aqueles que necessitam de


auxílio. O serviço cristão é amor genuíno; é mais do que um sentimento, é
missão. Precisamos estar dispostos a servir, não importa qual seja a classe, a
idade ou a condição social. Quando a mãe de dois de Seus discípulos pediu a
Jesus que Ele honrasse seus filhos em Seu reino, Jesus respondeu: “Todo
aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; e, qualquer que
entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo” (Mateus 20, 26-27).
A ação pastoral da Igreja nos chama para servir. Essa ação pode ser
realizada de diferentes maneiras, dentro e fora da Igreja. Quando ajudamos uns
aos outros, estamos servindo a Deus. Ao servir, também aumentamos nossa
capacidade de amar e nos tornamos menos egoístas. Precisamos lembrar
sempre que Deus disse que aqueles que vivem com Ele devem amar e servir
Seus filhos.
O serviço em prol do próximo pode ser realizado em casa com a família,
com os vizinhos, com os colegas de trabalho, com os mais necessitados da
comunidade, entre outros. Precisamos procurar meios de ajudar os filhos de

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Deus como podemos. Se tivermos talentos, precisamos usá-los também para o
serviço.
Nesse âmbito, também temos oportunidades de servir na Igreja. Afinal, o
propósito maior da comunidade eclesial é nos oferecer oportunidades de ajudar
uns aos outros. Os membros da Igreja servem fazendo a obra missionária,
aceitando encargos, realizando visitas a outros irmãos e prestando outros
serviços na Igreja.
A ação pastoral da Igreja é comunhão, é amor, é serviço. Ela nos remete
ao entendimento de que os cristãos devem viver na gratuidade, ou seja, não
devemos viver pensando apenas em nós mesmos, mas também no reino de
Deus, agindo em benefício de um contexto mais amplo: a transmissão do amor
e a construção de uma sociedade mais justa e fraterna, colaborando para a
edificação do Reino de Deus.

NA PRÁTICA

A ação pastoral da igreja se apresenta em diferentes dimensões:


profética, litúrgica, de comunhão e também de serviço. Sobre esta última,
procure ler na Bíblia as seguintes citações, observando se na paróquia de que
você faz parte esses entendimentos estão presentes: Mateus 20:20-28; Marcos
10:35-45; Colossenses 3:23–24 e Gálatas 5:13.

FINALIZANDO

Concluindo a nossa reflexão, é importante fazer referência a três papas e


alguns documentos publicados por eles, pois eles versam sobre a vida em Igreja.
O primeiro é o Papa João Paulo II, na carta Enciclica Redemptoris Missio, que
trata da validade permanente do mandato missionário, abordando os âmbitos do
diálogo inter-religioso.
O papa João XXIII, quando publica a carta Encíclica Pacem in Terris,
dirigida a todo mundo católico e a todas as pessoas de boa vontade, mostra que
a ação pastoral da Igreja não deve se empenhar pelo reino de Deus de modo
solitário, pois é preciso se unir a todos que já se empenham.
Outro documento importante é a carta Encíclica Laudato Si, publicada
pelo Papa Francisco. Nela, o pontífice ressalta a importância de cuidar com o

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planeta, dirigindo-se a todos que habitam nele e evidenciando que a ação
pastoral deve ser realizada em comunhão, nos mais diversos âmbitos.

REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada Ave-Maria. 141. ed. São Paulo: Editora Ave
Maria, 2001.

ERPEN, J. A Igreja como uma casa de comunhão. Vatican News,10 mar. 2021.
Disponível em: <https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2021-03/igreja-
como-casa-de-comunhao-padre-gerson-schmidt.html>. Acesso em: 22 set.
2021.

FERNANDES, I. V. Equipes de Liturgia: funções e modo de atuação. Revista


Vida Pastoral, São Paulo, 2009.

FLORISTÁN, C. Teologia practica: teoria y práxis la accion pastoral.


Salamanca: Ediciones Sigueme, 2002.

JÚNIOR, F. de A. É missão de todos nós... Dom Total, 09 nov. 2017. Disponível


em: <https://domtotal.com/noticia/1205951/2017/11/e-missao-de-todos-nos/>.
Acesso em: 22 set. 2021.

PAULO VI. Constituição conciliar Sacrosanctum Concilium: Sobre a Sagrada


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<https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-
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2021.

RAHNER, K. Teologia e Antropologia. Tradução de Hugo Assman. São Paulo:


Paulinas, 1969.

VIGUERAS, A. Que cabe à Igreja fazer hoje? A concepção de Teologia Prática


em Karl Rahner. Perspectiva Teológica, v. 36, p. 99-124, 2004. Disponível em:
<http://periodicos.faje.edu.br/index.php/perspectiva/article/download/464/887>.
Acesso em: 22 set. 2021.

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