TCC Mestrado
TCC Mestrado
TCC Mestrado
Marilisa Baralhas
Botucatu
2008
Dedicatória
CDD 610.73069
(Shakespeare)
Sumário
Sumário
Resumo......................................................................................……….….. 13
Abstract......................................................................................……….….. 16
Apresentação.............................................................................……….….. 19
1 Introdução ……………………………………………….....……………….. 23
2 Objetivos................................................................................................ 38
3 Abordagens teóricas a respeito de acolhimento, de vínculo e de
humanização na perspectiva do trabalho na atenção básica................ 40
4 Metodologia ………………......…………………………………………….. 56
4.1 Caracterização do estudo………..…………………………………… 57
4.2 Instrumento de pesquisa ….…………………………….…………… 58
4.3 Local de estudo ……………………………………………..………… 59
4.4 Sujeitos ……..…………………………………………..……………… 62
4.5 Coleta de dados …………………………………….………………… 64
4.6 Referencial de análise de dados ………………….………………… 66
5 Análise dos resultados………….......………………….…………..……… 68
5.1 Caracterização dos sujeitos da pesquisa....….…………..………… 69
5.2 As representações dos ACS sobre o próprio trabalho …...........… 71
5.2.1 A percepção dos ACS sobre sua prática cotidiana e as
dificuldades em executá-la …………………………….......... 72
5.2.1.1 A determinação do vínculo como instrumento de
trabalho dos ACS ……………………………..……… 72
5.2.1.2 A prática voltada para as orientações sobre a
prevenção das doenças e a promoção da saúde.... 81
5.2.1.3 O cuidado ampliado dos ACS …………………….… 88
5.2.1.4 Carência de ações resolutivas no cotidiano dos 93
serviços ………….....................................................
5.2.1.5 A sobrecarga do enfermeiro ………………………… 100
5.2.1.6 A rejeição sentida pelos ACS ……………………….. 104
5.2.2 A importância do trabalho dos ACS para a população
assistida……......................................................................... 107
5.2.2.1 A dependência dos ACS …………………………….. 108
5.2.2.2 O ACS como ponte entre os usuários e os
serviços.................................................................... 113
Sumário
para a análise dos dados e a partir desta, emergiram dois temas e suas
trabalho dos ACS, a prática voltada para as orientações sobre a prevenção das
dos ACS para a população assistida; a dependência dos ACS e os ACS como
integralidade e eqüidade.
Community Agents (ACS) about their health practices, knowing the difficulties
faced by them in pursuit of the practice of daily assistance and reveal how they
identified the importance of own work for the population assisted. Data were
collected through a semi-structured with twelve ACS of four Basic Health Units
of the council researched. We use the thematic analysis of data for analysis and
from that, two themes emerged and their respective categories: 1) the
perception of ACS on their daily practice and the difficulties in executing it, the
the guidelines on disease prevention and health promotion, the extended care
of ACS, lack of remedial actions in the daily services, the burden of nurses and
denials of care to users of ACS and 2) the importance of work of ACS for the
users and services. The results showed that for the subject, the establishment
of ties with families and strengthening the credibility of users facing the work,
are essential to daily practice. The ACS consider the guidelines on disease
prevention and health promotion as the main and most relevant actions
burden of the nurses responsible for the team and the refusal of users to its
of the actions of health. The ACS realize the importance of the work for the
people assisted by mutual dependence among users and the ACS, but also the
role that exercise as a bridge between users and services. This study suggests
the need for holding such thematic and continuity of other studies to encourage
Abstract
desired consolidation of the principles of the SUS, especially with regard to the
inserção dos profissionais desta área na cultura, nos hábitos, nas crenças e na
ou desejo da comunidade.
a eles.
destinadas aos ACS, e esses, por sua vez, deparavam-se com diferentes
Único de Saúde, passei cada vez mais, a indagar sobre o que realmente era
Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para
Infância (UNICEF), cujo tema central foi “Saúde para todos no ano 2000”,
1990 por meio das Leis Orgânicas da Saúde 8.080 e 8.142. Essas leis
serviços do SUS, aparecem para realizar, além das consultas médicas, ações
definida:
menor complexidade. Muito mais que isso, ela deve atender a uma demanda
de referência e contra-referência.
produzir saúde9.
os serviços de saúde.
território nacional.
cuidado à saúde específico para cada situação, para cada família, podendo,
populações marginalizadas.
é que, enquanto o PACS pode ser composto de até 30 ACS (contando com um
para ser ACS: ser morador da área de atuação há pelo menos dois anos, ter
coletividade;
definida, a microárea;
planejamento da equipe;
cadastros atualizados;
disponíveis;
2002.
19 de outubro de 200614.
o ensino médio.
quanto pelo PSF, os ACS têm papel de propulsor de ações a serem efetivadas.
por falta de uma clara delimitação de suas atribuições, de modo que ele é
social.
Introdução 33
pelo fato de atuar na criação de vínculos com a comunidade que assiste, sem
tempo em certa proteção pela UBS, os ACS estão nas ruas, expostos às várias
a que o grupo dos ACS estão expostos, assim como as próprias manifestações
Introdução 34
sendo a principal atividade dos ACS, esta não é realizada com total efetividade,
profissional dos ACS, que têm buscado a construção da sua identidade, como
destacam que:
de contratualidade interdisciplinar;
direitos e;
saúde e requerem uma ação intersetorial mais efetiva, devido aos problemas e
com esses grupos, pode dificultar as ações dos agentes, pois esses podem
sobre o seu papel. É visível o desejo dos ACS, muitas vezes, de deter o
Introdução 37
Por outro lado, em algumas situações fica evidente o esforço dos ACS em
Mas provavelmente este setor apresenta-se com uma grande demanda e uma
ansiosos.
fato de que esta profissão ainda não é subsidiada por nenhum conselho ou
práticas de saúde.
direitos e deveres.
tornar benévolo, afável, tratável; fazer adquirir hábitos sociais polidos, civilizar
[...]”22.
termo é originário do latim vinculu, e está ligado a: “[...] tudo o que ata, liga ou
sociedade23.
sistema.
saúde24.
90; foi visto inicialmente como um conjunto de princípios que criticam o caráter
Abordagens teóricas a respeito de acolhimento, de vínculo e de humanização na 44
perspectiva do trabalho na atenção básica
humano, no seu ato de assumir uma postura mais solidária e respeitosa com
as queixas dos usuários em relação aos serviços são, de um modo geral, não
desrespeitados, desprezados”.
dependente de uma tecnologia que não pode ser vista apenas como um
dura. Ainda sob esse enfoque, Merhy28 discute que o território de tecnologias
leves não é campo exclusivo de um único profissional, porém deve servir como
base para atuação de todos. Ele defende que existe uma tendência dos
o compromisso de que tudo deverá ser feito para proteger e qualificar sua vida.
que este possibilitou uma ação reflexiva sobre a humanização das relações em
direito.
essência humana”.
utilizada nos discursos de saúde. Esta concepção diz respeito ao sujeito como
“[...] ser real, considerado como alguém que tem qualidades ou exerce ações”.
Abordagens teóricas a respeito de acolhimento, de vínculo e de humanização na 50
perspectiva do trabalho na atenção básica
própria história.
necessidades de saúde.
et al.34, o termo humanização vem sendo utilizado para retratar diversas ações
acesso. Ainda, observado pelas mesmas autoras, está o fato segundo o qual:
Abordagens teóricas a respeito de acolhimento, de vínculo e de humanização na 52
perspectiva do trabalho na atenção básica
ilustrado, por Gomes & Pinheiro37, que a estratégia do PSF sugere ações de
população.
sociedade atual, a não ser a custa de muito empenho. Isto porque, conforme
construídas, e que esta construção pode ser feita através dos diversos
usuário visto como paciente e não como sujeito ativo no processo de trabalho
apreensíveis por uma única disciplina, devendo, assim, afastar qualquer tipo de
pensamento reducionista.
apenas como uma diretriz do SUS, mas sim com uma “bandeira de luta”,
investigação.
descrita por Bardin47, fazendo a opção de focalizar uma das etapas da Análise
comportamentos e outros.
utilizado o gravador.
população assistida?
Metodologia 59
Marechal Rondon. Tem acesso a importante afluente do Rio Tietê em sua parte
km da hidrovia Tietê-Paraná.
pela cidade.
município.
termo de compromisso com relação Pacto pela Saúde, cujo objetivo, segundo a
Comunitários de Saúde (PACS), sendo uma para cada UBS, contando com
nas cinco UBS. Estes compõem as equipes de PACS, que recebem supervisão
programa.
para escolha dos sujeitos, foi considerado o seu tempo de trabalho junto ao
estabelecido que seriam entrevistados dois ACS de cada equipe. Com relação
ano.
abordagem.
uma reunião com todos para apresentação do projeto. Nessa ocasião, foi feito
entrevista.
disponibilidade desses, entrevistamos dois ACS de cada uma das quatro UBS.
a dez minutos.
encontrar dentro das UBS, uma sala privativa, onde não seríamos
interrompidos.
finalização da pesquisa.
Metodologia 66
analítico escolhido"47.
interpretação.
Metodologia 67
respectivas categorias:
dificuldades em executá-la.
ACS;
a sobrecarga do enfermeiro;
assistida.
serviço:
que todos os sujeitos da pesquisa eram do sexo feminino. Esse achado pode
ser justificado pelo forte predomínio de ACS do sexo feminino nas equipes do
local onde foi realizado o nosso estudo. No momento da coleta de dados, havia
também relevante ao fator idade está relacionado às ACS mais jovens e ao seu
seletivo realizado pelo município, a partir do ano de 2005, que determina, como
supletivo.
Análise dos dados 71
político e social, sendo necessário que ele tenha um grau de escolaridade mais
católica pode ser um fator determinado pela forte ligação anterior através do
dito anteriormente.
constatamos que este não foi inferior a um ano, conforme escolha dos sujeitos
do próprio trabalho para a população. Desta forma, a partir das narrativas dos
e verdadeira.
até intimidades, que são traduzidas pelos ACS em alguns momentos como
surpresa.
tão próximas e tão claras que todo o sofrimento alheio causa sensibilização”.
a prevenção.
seguir, a ênfase dada pelo ACS em realizar a visita, identificando esse espaço
“Aí quando você vai na casa pra ver uma pessoa hipertensa,
diabética. Aí você vai lá e já atende a família como um todo,
né? Aí você já olha dengue, leishmaniose, mais… o principal
pra mim é a família mesmo. A família, a gestante, a
criança…pra mim” (ACS 5).
ressalta que os ACS identificam como ganho para o seu trabalho, o fato de
as ações solidárias.
maioria dos ACS do nosso estudo terem tido tempo de experiência significativo
pessoas, com o bem-estar das famílias e com todas as questões que envolvem
sobre os seus limites, com relação à criação de vínculo, fato que os leva a
trabalho dos ACS, o fato de este morar na comunidade, daí a valorização dos
comunidade.
Análise dos dados 79
propicia, aos ACS, estímulos para que o trabalho seja desenvolvido através de
por parte dos agentes em estarem sempre por perto da comunidade, mesmo
Análise dos dados 80
população.
garantido, e sim algo conquistado. Ela defende que o fato de morar ou não na
comunidade.
vínculo não está assegurado pelo simples de fato o ACS morar na comunidade
solidariedade.
que, com essas ações, sentem-se mais úteis perante a pessoa e à família.
“Ah, eu acho assim que eu sou útil, que eu sou bastante útil,
porque a gente é útil para as famílias, porque qualquer tipo de
informação que você leve eles ficam tão gratos porque eles
são tão desinformados, desencontrados em situações assim,
uma pequena ajuda que a gente dá pra eles clareia a mente
deles. A visão de como se proceder, de como fazer” (ACS 4).
contato com a comunidade, podemos perceber, por seus relatos, que a luta
e a promoção da saúde.
passível de limitar ou, por outro lado, expandir esta ação educativa,
sistema de saúde difere de acordo com o grupo social, com as família e mesmo
quanto aos cuidados com a saúde, e sua relação com os serviços de saúde
poder aos profissionais para lidar com alguns de seus problemas de saúde.
com mais idade, eram mais resistentes a mudanças relacionadas aos conceitos
alheias. Os agentes, mais jovens, por sua vez, apresentavam-se mais abertos
nas suas falas, que, muito embora eles considerem importantes as referidas
por parte da comunidade. Não foi referido, pelos sujeitos acima, algum tipo de
sofrerem represália por parte dos usuários. Esta autora ressalta que, ao
das pessoas, sendo necessária uma grande mobilização, que não é apenas
efetivação desse processo, fatores que podem estar ligados à carga cultural, a
podemos destacar uma enfatização por parte destes, aos aspectos biológicos e
daqui três horas toma de novo, depois daqui três horas toma
de novo, o remédio não vai fazer efeito. Tem casas que você
tem que ir olha: você toma o remédio assim, você toma o
remédio assim, você toma o remédio assim. Tem que explicar,
se fala que é de doze em doze horas, eles pensam que doze
horas, eles têm que tomar assim o dia inteiro. Doze horas
naquele dia. Então você tem que explicar. E tem gente aqui
tem que explicar certas coisas também” (ACS 5).
preciso cumprir a meta diária, semanal e mensal, e que suas atividades são
enfermeira supervisora.
propõe, como meta para o agente, visitar mensalmente 100% das famílias
de trabalho dura, leve-dura e leve, na tecnologia leve, o autor elucida que ela é
e aceitação.
prática assistencial dos ACS, que ela seja conduzida pelos aspectos inter-
freqüentemente.
assim, não serem surpreendidos por situações que poderiam ser pensadas e
controladas anteriormente.
de saúde61.
ACS consideram a visita domiciliar uma atividade que exige planejamento, mas
parte dos profissionais da UBS é relatada como fator negativo e impeditivo para
podemos verificar:
serviço.
serviços de saúde.
no tradicional.
vista pelos ACS como um reflexo desse processo, sendo uma de suas
procura os serviços e não consegue acessá-los, seja pela falta de vaga, pelo
que ali ocorrem. São apresentadas, nas falas, situações em que os ACS se
necessidades.
insatisfação dos usuários em não conseguir acessar os serviços, fato que gera,
credibilidade das famílias pra com os ACS. Ainda nessa discussão, a autora
difícil, pois o vê com possibilidades de ação limitada. Ele percebe que faz parte
enfermidades da população.
“Eu tenho mesmo uma família que a moça, ela está numa
depressão profunda, e ela está tratando pelo convênio, mas eu
falei pra ela: você não quer ir para o SUS? Pra ver se tem um
jeito, porque já fazem vários… tempos que ela está assim. E
ela está no fundo do poço mesmo. Eu falei: quem sabe, você
no SUS você vai ter”. (ACS 7)
não se responsabilizar por suas ações, e sim pelo excesso de atividades que
para atender a todas as demandas que são trazidas pelos ACS e outras
“Eu sei que pra ela é difícil, que pra ela aqui tem muito mais
serviço, não dá pra ela fazer visita pra todos os pacientes...”
(ACS 5)
Análise dos dados 101
Comunitários de Saúde:
demanda referenciada;
domicílio e na comunidade;
máximo 30 ACS.
demandando grande parte do seu tempo para essas ações. Então é possível
“Estou com uma gestante que quer ver o capeta, mas não quer
me ver. Não conheço a mulher. Vi ela uma vez. Cadastrei. Ela
não quer passar os dados. Vou na casa dela e ela não me
atende... Pra mim parece que o meu serviço não está valendo
nada. Olha que eu fui lá, expliquei para ela. Falei pra ela do meu
serviço, que eu podia ajudar ela mais pra frente, quando o
neném tivesse nascido. Pra ver uma data de vacina, se tivesse
um remédio que ela tivesse que passar no médico eu trazia o
remédio pra ela. Mas mesmo assim, ela não quer… ontem eu
passei na casa dela o filho dela falou pra mim que estava de oito
meses já…e eu vi ela no primeiro mês, não vi mais!” (ACS 5)
Também foi observado no mesmo estudo, que esse fato ocorre com maior
famílias e aos equipamentos de saúde acessados por eles. Nos relatos abaixo
importância do seu trabalho para ele, para a sua família e para toda a
apresentados pelos sujeitos, que nos permitiu elucidar o modo como os ACS
os serviços.
Análise dos dados 108
elo muito forte entre os ACS e as famílias, podendo assim, ser esse um fator
usuário em relação ao agente, neste caso, torna-se parte do trabalho dele, que
Entretanto esse aspecto nos faz pensar que, na visão dos ACS
quanto mais tempo eles se dedicam às famílias, mais reconhecidos eles serão,
não estar muito distante do esperado pelo Ministério da Saúde, onde podemos
população, ainda haveria a solicitação dos serviços dos ACS, por parte dos
gratificação dos ACS pelo seu trabalho pode estar relacionada não só à
“Eu acho que eles ficam vulneráveis quando não tem o agente
comunitário de saúde” (ACS 11).
usuário do SUS. Porém, identificamos uma forte importância dada pelo ACS à
essa dependência.
por Peres53, ficou evidenciado, na fala dos ACS, que o paternalismo para com
outros fatores. Ele vivencia situações com as famílias, que são reconhecidas
por ele, pois faz parte daquela comunidade e sente uma grande aproximação
usuário e ACS foi entendida nesse estudo como primordial para a efetivação do
seu trabalho, fica explicitado na fala a seguir que ainda existem dúvidas a
Análise dos dados 114
hegemônico.
Análise dos dados 115
estas situações.
que os usuários depositam nele. Porém esse pode ser um fator responsável
própria vida.
“Às vezes querem dar até presente pra gente, né? Eu tenho
que falar que não eu só fiz o meu trabalho. Eu fiz o que eu
tenho que fazer. Eu recebo pra isso, não precisa se preocupar
com nada. Só de você me receber na sua casa, como você
recebe. Eu também fico agradecida porque eu tenho que
passar aqui todo o mês, mesmo que tiver tudo bem, que não
precisar de mim, mas eu tenho que vir, ver a família como
está, se vocês estão bem, se estão todos bem, se as crianças
estão na escola... Eu já fazia esse serviço assim mesmo sem
ganhar, a gente trabalhava na Pastoral na igreja, então eu já
fazia isso gratuitamente, o fato de acompanhar os doentes, os
Análise dos dados 116
“E ela é resistente… Briga com a mãe, briga com o pai, briga com
todo o mundo. Só comigo que ela não brigou ainda” (ACS 5).
por ela mediante esse ato, é possivelmente um fator responsável por estresse,
que na ótica dos ACS, há uma valorização sobre a importância do seu papel à
saúde e os usuários.
Considerações Finais 119
Considerações Finais 120
abandono e de doença.
relatos, ficou explícito que, sem a credibilidade e a confiança das famílias e dos
em relação aos usuários nos encanta e ao mesmo tempo nos preocupa, pois é
ações de saúde. Ficou evidenciado, neste estudo, que os ACS são capazes de
população, e então fica inaceitável que haja por parte de outros profissionais
usuário-paciente.
técnicas, o que já ocorre com eles em relação à pressão sofrida para contribuir
suas metas. Foi explicitado, através das falas dos sujeitos, que a relação entre
considerado pelos ACS como facilitador e articulador das relações dos usuários
com os demais membros da equipe da UBS e até com os próprios ACS. Além
disso, o saber clínico disposto pelo enfermeiro consegue, na visão dos ACS,
vista pelos ACS como aspecto dificultador do seu trabalho e, além disso, é um
desse processo, mas estão muito aquém, para responder questões mais
que considera melhor, e em que acredita, para dar conta das respostas jamais
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___________________________ _______________________________
Pesquisadora Entrevistado
Marilisa Baralhas
Rua da União, 28 Cep 16400-515
e-mail: baralhas@uol.com.br tel: 9739-0619
Apêndices 137
A. Dados de Identificação
B. Questões Norteadoras
ACS 1
1ª. QUESTÃO:
É o vínculo que o ACS tem com a família né? E esse respaldo que a gente está
dando entre as orientações quanto a prevenção, promoção. Esse elo também que
a gente faz entre a família e o serviço de saúde.
2ª. QUESTÃO:
A falta de respaldo que eu encontro junto aos profissionais de saúde da UBS,
porque a gente faz o trabalho casa a casa e quando eles vêm pra UBS eles
encontram dificuldade de atendimento, a falta de educação, a falta de vaga, são
mal tratados às vezes por profissionais de saúde como médico. Então esbarra
nisso o meu trabalho. Dificuldade…
3ª. QUESTÃO:
Eu acho que é de suma importância o papel do Agente Comunitário porque no que
diz respeito a prevenção, a promoção e o vínculo que ele é, acaba adquirindo com
o ACS, que eles ficam muito assim, dependente do ACS, as pessoas idosas que
eu mais acompanho, né? Então eles sentem falta quando a gente ta em férias ou
faz um trabalho fora, eles sentem muita falta.
ACS 2
1ª. QUESTÃO:
A minha importância, eu acho muito importante, deu leva às famílias a prevenção,
né? Prevenir sobre as doenças antes de acontecer, se não depois de acontecido a
gente vai fala, orienta, passa orientação tanto pra pessoa, pro paciente, como pra
família. A prevenção. Você tem que prevenir antes de acontecer, não é?
2ª. QUESTÃO:
As principais dificuldades, pra mim é e não é. É em partes assim: os acamados. Os
acamados porque não é que ela não queira. É muitos acamados pra enfermeira
cuidar e não dá tempo, né? Então assim, é isso daí o porém. Ai, é, não veio, já deu
o mês, não é que é muitos não dá mesmo pra ela da conta. Pra uma enfermeira
só não dá. E também a dificuldade é no balcão, o mau atendimento. As pessoas
não sabem explicar, orientar o paciente direito. O paciente já vem com problema,
chega aqui, toma né? Uma resposta, que coitado sai chateado. Porque a gente
que vai no dia a dia na casa a gente encontra, mais a gente vai indo com uma
conversa aqui, sabe explica, porque a gente sabe como é que é, e no fim, se trata
melhor e se precisa duma consulta, que não seja rápido, se for por uma coisa
assim que ela dá pra espera, a gente conversa com a diretora do posto, ela
carimba e a gente vai no balcão marca, mas no dia que pode, né? Mais… A
dificuldade ta tanto da enfermeira ir visita os acamados e no balcão o mau
atendimento.
Apêndices 139
3ª. QUESTÃO:
Ah, eu acho assim, que eu sou muito importante sim, porque eles passam a ter
confiança em mim, passando todos os seus problemas, que a gente acaba
resolvendo tudo os problemas deles numa simples conversa com eles ali. Então,
eu sou importante sim, porque eu to ali, eu to vendo o que ta acontecendo, o
problema daquela família. A família gosta muito do que eu faço e até fala que eu
estou demorando demais, mais não é. Uma vez por mês, só se ela precisa mais, a
família precisa mais, a gente volta várias vezes. Agora nisso eu me acho sim muito
importante fazer o meu trabalho. Eles passam, a conversar ali comigo, vai e eles
falam que eles gostam muito do meu jeito porque eu sei resolver o problema deles.
Confiança. Se eu falo assim brincando com eles assim, ah eu vou sair dessa área,
eles falam que vão fazer baixo assinado pra mim não sai.
ACS 3
1ª. QUESTÃO:
Olha, o que eu acho muito gratificante, assim como Agente Comunitário de Saúde,
é assim… O convívio com a população, com a comunidade. A gente torna assim
uma família na nossa microárea. É a gente sai de férias um mês a gente não tem
sossego, fulana chama, porque ali ela acostumou tanto que um mês faz falta.
Então importante assim pra mim, saber assim, por exemplo, lá na casa da Dona
Sebastiana, olha você estava de férias, o seu Joaquim quebrou a perna, meu
Deus, coitado. Então, não é o trabalho em si, é a família que a gente cria. É eu sou
suspeita falar né?… Eu gosto muito, eu gosto mesmo, eu vou de coração.
Você acha que esse vínculo é pra você… Não, é muito importante. É assim, a
gente se torna tão da família, que a gente não vai assim às vezes como uma
Agente Comunitária. A gente ouve tanta coisa, a gente sofre junto, a gente fica
sabendo… de tudo, como se fosse na nossa casa os problemas. Sabe às vezes, a
confiança adquirida é demais, porque às vezes uma mãe não fala um problema pra
filha… Não é amiga da filha, como é amiga da gente. Às vezes você chega numa
casa a pessoa fala assim: espera um pouquinho, minha filha vai trabalhar, eu
preciso conversar. Olha, eu estou assim com problema, eu acho que eu estou com
uma doença venérea, eu não entendo. Mas a senhora não fez o Papanicolaou, que
a gente insiste todo ano de fazer? Ah, eu fiz. Quando eu fiz não tinha nada, mas
agora estou vendo um negócio estranho. Então a gente vai marcar uma hora no
ginecologista, a senhora vai? Eu vou, olha, mas não deixa minha filha ficar
sabendo. Então a confiança… é muito bom. É muito gratificante, eu acho que…
por isso que eu falo que, o Agente Comunitário de Saúde, eu não. Eu acho que eu
já estou no fim de carreira, mas é uma coisa que nunca pode acabar. Está dentro
das casas pra pessoa poder se abrir… E o acompanhamento dos diabéticos,
gestante, o hipertenso… é muito importante. Às vezes, que nem você acompanha
uma criança, igual eu tenho na minha área. Eu acompanhei a gestante, porque ela
deficiente física, ela teve paralisia, teve uma gravidez terrível e aí ela teve nenê
prematuro. A Dra. S. fazia eu ir todo o dia lá… Ó vai todo dia ver se está
amamentando, e aí você segue a criança, segue a criança vai tendo um aninho.
Agora um ano e onze meses a criança não anda, já mandei fisioterapia. Eu
cheguei lá… mas porque essa criança não ta andando? Olha o meu marido vive na
droga e eu deficiente, como eu vou levar lá no Salesiano? Agora eu to
conseguindo fazer a fisioterapia domiciliar… É umas coisas assim que você deita
tranqüila…Sabe e a gente sofre junto. Você lembra no curso que eu te falei: me
ensina eu escrever Alzhaimer, que eu escrevi errado. Eu perdi aquela pessoa, ela
morreu. Então a gente sofre. De tanto a gente ficar junto, parece a mãe. Ó ontem a
tarde eu estava num velório, de uma que nem era da minha área, só ia levar
medicamento, né? Ajuda… E a gente sofre como se fosse um da família.
Apêndices 140
2ª. QUESTÃO:
Bom, a maior dificuldade é você tentar educar o morador. Com essa epidemia da
dengue que está tendo em Lins, é uma coisa triste, porque mesmo na nossa
micro-área que você passa todo o mês, o mês que a gente entra olha, agora com
nós fizemos o arrastão, nós só estamos orientando. Mas nós como conhecemos
nossa micro-área, a gente já sabe que numa determinada casa, você não pode só
orientar, você tem que dar uma disfarçadinha e dar uma entradinha. Mesmo com o
arrastão, a gente tem que dar uma olhadinha naqueles quintais que a gente
conhece. Porque está difícil educar a população.
Pra que eles mudem o comportamento? Muda, porque hoje eles botam
reciclados e a gente vai pro arrastão tiramos tudo, e a gente volta, ta a mesma
coisa. Então, uma das dificuldades é essa: educar a população. E a dificuldade
que a gente também tem, é assim, a gente queria ajudar, coisas que a gente vê
que o SUS oferece e que tudo se torna muito difícil.O acesso? Chegar até lá, isso
é difícil também… E…
Alguma outra questão? Não eu acho assim, a dificuldade maior, é ver assim que
a gente não tem uma…, um respaldo mesmo. Se a gente tivesse aqui uma pessoa
pra gente conversar. Nós temos aqui, a assistente social que agora é uma
maravilha, a A. tenta ajudar… E… é difícil. E a falta de médico também, às vezes
a gente vai na área vê a pessoa doente, a gente tenta ajudar. No balcão a gente
encontra muito…
Quando você está perante a uma situação desta, o que você sente? Eu corro
atrás, pergunta pra Z., que ontem era nove e meia da noite eu tava falando como
marido dela, porque a mulher teve paralisia facial… Um remédio eu encontrei aqui
no posto o outro eu não achei, aí eu fico atrás da Z., ela fica atrás de remédio pra
mim não vai achar Benerva eu acho outro com os mesmos sais, com outro nome.
É assim correr atrás. Às vezes o papel do Agente Comunitário é ter dó e comprar
o remédio, tirar do bolso, chegar… e como a gente vive em comunidade na igreja,
fala gente tem fulana que está precisando de uma cesta básica, tem pessoa que
está precisando de fralda, mobiliza a população pra ajudar a gente naquele caso.
E a sorte que a gente está numa micro-área tão boa que a gente já está a tantos
anos que a gente consegue.
3ª. QUESTÃO:
O meu trabalho, olha depois de tanto tempo que a gente ta, a gente percebe a
importância do nosso trabalho pra eles, pelo o que eu te falei, da gente estar de
férias e eles sentirem muita falta. De mandar ligar, mandar perguntar e de falar dá
uma vontade de botar uma faixa de seja bem vindo. Isso é gratificante, mas
também na… A gente encontra muito hipertenso, muito diabético que não tem
acompanhamento e a pessoa vive mal e a hora que a gente fala: não vamos no
médico fazer um acompanhamento, e depois já é dependente da insulina, a gente
consegue aquele aparelhinho. A importância da moça, da enfermeira. Olha na hora
que a gente chega com a enfermeira numa casa, é difícil você não ouvir: um anjo
chegou, de tão carente que a população é, tantos problemas. Então, assim às
vezes você pega uma… que nem desse que eu falei do menininho, você sabe que
a mãe é uma deficiente, que não anda, grávida. Então, ali ela demonstra aquela
Apêndices 141
confiança, parece que a hora que a gente chega pra falar o pouco que a gente
sabe, a atenção que ouvem. É lógico que na nossa profissão tem muitos ossos
também a gente ouve muito não, né? Mas mais gratificação do que… A gente até
ouve falar que não se vive mais sem você eles falam. Nunca fomos chamadas de
Agente Comunitária, é as moças da dengue. Pegou, não tem como… ficou.
ACS 4
1ª. QUESTÃO:
Eu acho que tudo é importante, uma coisa completa a outra. Eu acho que as
visitas assim no dia a dia são bastante importante, principalmente, bom no meu
ponto de vista que são os acamados, doentes, né? E eu gosto assim muito de
trabalhar com as gestantes, porque se nesse tempo não passar as informações
corretas, passa em branco né? Sem todas as informações.
O que é ser Agente Comunitário de Saúde para você? Ah, eu acho assim que
eu sou útil, que eu sou bastante útil, porque a gente é útil para as famílias, porque
qualquer tipo de informação que você leve eles ficam tão gratos porque eles são
tão desinformados, desencontrados em situações assim, uma pequena ajuda que
a gente dá pra eles clareia a mente deles, a visão de como se proceder, de como
fazer. Eu acho que nós somos importantes, né? Eu acho que a gente é bastante
útil. Eu amo o que eu faço.
2ª. QUESTÃO:
Ah! Os obstáculos são bastante, porque até um certo ponto a gente consegue
caminhar, depois a gente é barrado, porque dali pra frente não tem o que fazer e
como fazer e às vezes fica parado né? O que a gente começa e precisa assim de
outras Secretarias, de outras né? Pra poder funcionar, pra poder ir pra frente o
nosso trabalho muitas vezes a gente precisa de outras Secretarias e muitas vezes
não acontece isso.
Você tem algum exemplo? Às vezes a pessoa que precisa de um médico né?
Vamos supor assim, que precisa de uma especialidade, demora bastante, é
complicado né? Igual os programas que eles arrumam também, que a Prefeitura
faz, aqueles programas. A gente encaminha, vai atrás e às vezes não é resolvido,
é parado por ali. A gente vê o sofrimento das pessoas né? O quanto é duro, vai,
volta, vai, volta. A gente fica… Eu fico meio deprimida, porque por não poder
ajudar mais, né? Porque são obstáculos que às vezes não tem fim, não tem, não
dá pra ir. A gente não tem pernas pra ir até lá. A gente não pode né? Fazer...
Sem solução o problema. E a gente fica triste. Eu aprendi uma coisa muito boa
com o Dr.A., ele sempre falava: G. você não pode ficar assim, as coisa são assim
mesmo. Precisa né? Ter paciência, tudo resolvido. Mas tem situações que
precisava ser de imediato né?
3ª. QUESTÃO:
Ah, quando a gente passa as orientações, quando a gente chega na casa leva as
informação pra eles assim correta. Quando a gente não sabe, a gente busca essa
informação e volta lá na casa não você pode proceder assim, assim, assim dessa
maneira, vai dar certo, vai ser o melhor caminho pra você e que eles recebem
essa luz, eles ficam muito feliz, eles ficam contente, porque às vezes fica meio
parado não sabe como proceder, como fazer. Como se fosse uma luz, né? Pra
eles, né? Eles agradecem e eles ficam muito agradecidos. Ficam felizes. Às vezes
Apêndices 142
querem dar até presente pra gente, né? Eu tenho que falar que não eu só fiz o
meu trabalho. Eu fiz o que eu tenho que fazer. Eu recebo pra isso, não precisa se
preocupar com nada. Só de você me receber na sua casa, como você recebe. Eu
também fico agradecida porque eu tenho que passar aqui todo o mês, mesmo que
tiver tudo bem, que não precisar de mim, mas eu tenho que vir, ver a família como
está, se vocês estão bem, se estão todos bem, se as crianças estão na escola. Só
de vocês também passarem essas informações, que a gente tem que passar né?
Para a coordenação, a gente também fica feliz, fico agradecida, e fico mais feliz de
ajudar a resolver o problema né? Às vezes eles pensam sabe que a gente pode
estar recebendo alguma coisa em troca e a gente deixa bem claro que não, que a
gente ganha pra isso, pra fazer esse serviço de levar a informação, de está
orientando, eu acho que… eles falam bastante. Eu já fazia esse serviço assim
mesmo sem ganhar, a gente trabalhava na Pastoral na igreja, então eu já fazia
isso gratuitamente, o fato de acompanhar os doentes, os acamados. Então é uma
coisa que eu gosto de fazer sabe? Quando as pessoas precisam a gente pode de
estar ajudando e com o trabalho ficou melhor ainda, né? Ficou tudo de bom.
ACS 5
1ª. QUESTÃO:
O que eu acho mais importante? Eu acho…Pra mim o mais importante é ver os
pacientes, que é assistido por mim, mais …Tudo né? Aí quando você vai na casa
pra ver uma pessoa hipertensa, diabética, aí você vai lá e já atende a família como
um todo, né? Aí você já olha dengue, leishmaniose, mais… o principal pra mim é a
família mesmo. A família, a gestante, a criança…pra mim. Porque dengue a gente
passa a informação né? Mas eu acho que a gente tem que correr atrás da saúde
mesmo dos pacientes da gente.
Quando você fala a família, que você acha importante a família, aí você falou
dos aspectos que você observa na família. Existe mais alguma outra coisa
que você gostaria de acrescentar? É igual quando a gente chega pra fazer uma
visita, você chega, você fala: hoje eu vou fazer oito, dez visitas. Aí você chega e
faz uma, porque… você chega… hoje eu fiz uma. Cheguei na casa, a pessoa
estava precisando conversar, ela foi pra Bauru porque ela está indo fazer cirurgia
no olho. Então eu fiquei lá, eu fiz uma casa! Foi o que eu consegui fazer! Eu me
planejei pra oito e fiz uma, porque… porque ela queria conversar, queria me contar
tudo o que aconteceu com ela. Aí ela me mostrou o quintal, aí ela falou pra mim
arrumar saco pra ela, era pra mim dar recado pro neto dela, e eu fiquei lá… um
tempão! Eu planejo uma coisa e sai totalmente diferente. Então não adianta falar
aí… trabalhar igual uma máquina. Eu falo pra todo mundo não adianta você ser
uma máquina. Você tem que trabalhar… quando eu sair pra trabalhar, faço o tanto
que der pra mim fazer, porque eu não sou agente da dengue, eu sou agente de
saúde!. É o que eu priorizo. É o que eu acho né?
2ª. QUESTÃO:
Eu nunca tive dificuldade, mas agora eu estou tendo. Eu estou com um gestante
de doze anos… Estou com uma gestante que quer ver o capeta, mas não quer me
ver. Não conheço a mulher, vi ela uma vez, cadastrei, ela não quer passar os
dados, vou na casa dela ela não me atende. Mas o resto nunca tive dificuldade.
São só essas duas mesmo.
Apêndices 143
E isso representa o que para você? Pra mim parece que o meu serviço não está
valendo nada. Olha que eu fui lá, expliquei para ela. Falei pra ela do meu serviço,
que eu podia ajudar ela mais pra frente, quando o neném tivesse nascido. Pra ver
uma data de vacina, se tivesse um remédio que ela tivesse que passar no médico
eu trazia o remédio pra ela. Mas mesmo assim, ela não quer… ontem eu passei
na casa dela o filho dela falou pra mim que estava de oito meses já…e eu vi ela
no primeiro mês, ano vi mais! E outra coisa também, nós não somos Agentes de
Saúde… quando a gente entrou a gente não podia marcar consulta para nos
pacientes da gente, que é idoso, que é hipertenso, que é cadastrado… só que
agora a gente está sendo barrado. Isso afeta, porque você chega na casa quando
a gente começou passar você podia fazer, você sabia o que você podia fazer.
Agora as pessoas falam: Ah você pode? Ah não posso porque não está podendo
mais. Com que cara você fica? O outro pedaço ficasse a desejar. O ano
passado… Igual a vacinação, o ano passado, acabou a campanha, tem assim as
outras pessoas que não tem sessenta anos, mas tem menos saúde, podia tomar.
A minha neta… faz quatro anos que ela toma. Esse ano a A.P. falou que ela não
ia tomar. É indicado pelo médico, a Dra. Z. já deu a carta. Falou para ela tomar
sexta-feira. É muita burocracia! Tanto de a gente sair daqui, ir lá pra escola. Ali é
apertado? A gente sabe que é. Só que os pacientes da gente procura a gente
aqui… e aí? Vai procurar a gente aonde? Aqui a gente está sendo barrado
demais, mas só aqui… todas as UBS não tem um monte de agente de saúde,
porque só aqui… que estão querendo barrar a gente? Eu não acho justo a gente ir
para a escola. Tanto que as vezes eu falo pra Helena… porque não dá. Eu sei que
pra ela é difícil, que pra ela aqui tem muito mais serviço, não dá pra ela fazer visita
pra todos os pacientes, mas pra nós… o nosso relatório fica aqui, a gente vai levar
os nossos relatórios pra onde? Pra escola? Não tem jeito. Mas pra mim o que está
sendo pior mesmo é essas duas gestantes… Como que eu oriento uma pessoa
que está… ela tem anemia. Aquela anemia de pessoa escura, como é?
Falciforme? Falciforme? Ela tem anemia falciforme, tem que tomar, sulfato
ferroso e… aquele outro… como é que chama?
Ácido fólico? Ácido fólico. Deu uma infecção super brava na bexiga dela, ela não
tomou o remédio. Eu já fui na casa dela… Eu passo na casa dela um dia sim um
dia não. E ela é resistente… Briga com a mãe, briga com o pai, briga com todo o
mundo. Só comigo que ela não brigou ainda.
3ª. QUESTÃO:
Bom, pra mim é quando eles chegam em mim e fala: muito obrigado, deu certo!
Só isso! Pra mim não precisa mais nada! Eles falam assim: no final do ano eu vou
te dar um presente. Eu falo assim: não quero nada… você pedindo pra Deus pra
mim está ótimo, pra mim continuar do jeito que eu estou, louca, né? É importante.
É igual se você pede alguma um negócio pra mim. Eu vou lá… se não der pra eu
fazer hoje, eu tento fazer amanhã. Aí você chega em mim e fala: Mônica obrigada!
Não precisa mais nada. É o agradecimento, só isso… não quero mais nada de
ninguém. Eu graças a Deus sou reconhecida no meu trabalho, sou meio chata,
sou louca. O povo gosta de mim. Você foi na minha área, você sabe.
O que é ser Agente Comunitária de Saúde pra você? (Silêncio). Eu gosto de
ser agente, né? (Silêncio). Sei lá, pra mim ser agente quer dizer tanta coisa.
(Silêncio).
Tem alguma coisa que resume tudo o que você faz? O que é estar com as
famílias, o que é estar com as pessoas? É fácil, é difícil? Não, não é fácil. Não
é fácil não. Mas, também não assim aquele bicho de sete cabeças que não sabe
contornar. Pra mim, ser agente comunitário você tem que ter várias coisas. Você
tem que ter perfil, né? Ter ética, não sair daqui e falar ali na casa do vizinho o que
aconteceu na casa do outro. E gostar do que faz. Eu gosto. Quando você gosta,
Apêndices 144
você gosta, quando você não gosta, não tem jeito. Eu gosto do que eu faço. Eu
sou briguenta, sou, mas eu gosto. Porque ah, você leva o remédio, aí você fala
assim: você toma o remédio assim, assim, de oito em oito horas. Igual a gente
estava conversando aqui com a moça da farmácia. Eles pensam que oito horas,
de oito em oito horas, é tomar agora e daqui três horas toma de novo, depois
daqui três horas toma de novo, o remédio não vai fazer efeito. Tem casas que
você tem que ir olha: você toma o remédio assim, você toma o remédio assim,
você toma o remédio assim. Tem que explicar, se fala que é de doze em doze
horas, eles pensam que doze horas, eles tem que tomar assim o dia inteiro. Doze
horas naquele dia. Então você tem que explicar. E tem gente aqui tem que
explicar certas coisas também. Ser agente de saúde eu acho que tem que gostar
principalmente… tem que lidar com… doenças, internação, aborto. Minha
gestante está grávida de novo, aquela uma, está de quatro, vai fazer quatro
meses. Sabe aquela uma que eu falei pra você no curso, que ela já estava de
novo meses e ela foi pra ter neném e o neném estava morto. Ela está de quatro
meses!
ACS 6
1ª. QUESTÃO:
É assim, no dia a dia, eu acabo assim ajudando sem problema de alguma forma
ou de outra, né? Principalmente as pessoas mais carentes e são menos
informadas. É… Pode dar um exemplo? Por exemplo, tem… agora que eu estou
nesta área nova, tem idosos que estão comprando remédio, sendo que assim pelo
SUS é de graça e eles compram remédio. Porque os filhos é… trabalham não tem
tempo, por algum motivo, compram na farmácia lá os remédios deles, né? Passam
uma vez por ano no médico deles, já sabem que tem que tomar a medicação pra
pressão alta e vão e não… né? Às vezes reclamam porque… os idosos reclamam
que ganham pouco e tudo mais, né? Então a gente acaba ajudando de uma forma
ou de outra, a gente acaba descobrindo muita coisa, né? Que eles… problemas
deles e a gente está sempre procurando ajudar.
2ª. QUESTÃO:
Silêncio. Ah, nem sempre a gente tem o apoio, né? Que a gente pelo menos acha
que deveria ter né? Aqui na unidade, por exemplo, é… a gente encontra muitas
dificuldades nessa unidade. Dificuldades, a gente é… Um idoso que a gente
encaminha pra cá, muitas vezes ele não é bem atendido e tudo que acontece… A
gente coloca a nossa cara lá na rua e então tudo de mau que acontece nos somos
os primeiros a estar ali ouvindo, as coisas, as primeiras queixas, né? O mau
atendimento, uma mal acolhida, nós somos os primeiros a estar ouvindo essas
queixas, né? E… são essas dificuldades, não tem retorno do nosso trabalho. Não
sei se você entendeu?
O que isso significa pra você? Eu fico frustrada, eu acho que o meu trabalho
não está sendo bem… não está sendo reconhecido. E deixa de dar andamento
também no processo. Às vezes é uma coisa até simples e o idoso fica andando
tanto… e não tem né? Silêncio.
O que isso causa em você? Olha… a gente fica chateada, revoltada. As vezes é
uma coisa simples que poderia ser resolvido com papel, com poucas palavras e
de repente, né? Uma coisa que ficou… a pessoa o tempo todo andando… A gente
pensa mais assim nos idosos, porque eu adoro idoso, né? Eu amo eles. E às
vezes, eles já têm aquela vida sofrida e as vezes a gente quer ajudar… Silêncio.
Apêndices 145
3ª. QUESTÃO:
Silêncio. Ah, quando eles conseguem alguma coisa, né?. Um encaminhamento
que foi… bem sucedido né? Que ele teve respaldo. Então eles vêm e agradecem
a gente. E as palestras também é muito gostoso, e eles… vê o carinho deles pela
gente. Nessa sexta-feira da… nessa palestra da leishmaniose para as crianças,
eles falaram: tia… Olhando assim pra gente: eu gostei tanto! E é bom… depois a
gente encontrou uma mãe e a mãe falou, a mãe da criança que estava na
palestra: ele chegou contando em casa e do bichinho da leishmaniose, o que tem
que fazer e então… As crianças eles gravam e passam isso depois, né?
Mais alguma outra consideração? No caso da dengue e da leishmaniose, né? A
gente bate muito nisso com as pessoas, né? Aí o pratinho que eles ou furaram,
né? E está lá com terra, né? Isso pra mim é uma forma de, né?… Eles
entenderam o meu trabalho, né? E eles estão respeitando, né? Eu acho
bonitinho, quando eu chego lá, está tudo… Os pratinhos com terra, os que não
estão com terra, eles falam: olha eu furei! Eu acho super legal!
E o que é ser Agente Comunitária de Saúde pra você? Então, estar levando
informação, sobre… é… prevenção das doenças, das coisas que estão
acontecendo aí, né? Exames preventivos, estar levando essa informação para as
pessoas mesmo. Do meu jeito assim eu tenho conseguido passar, as informações
e o que a gente acha necessário para aquela determinada família.
ACS 7
1ª. QUESTÃO:
Mais importante... é o vínculo que a gente tem com a família, né? São sete anos,
que a família tem muita confiança, ela é capaz de falar coisas assim que você
nem imagina que a pessoa vai te falar, né? Você leva até um susto. Fala: nossa!
Está confiando isso, né? Pra mim... Então eu acho mais importante é o vínculo.
2ª. QUESTÃO:
Barreiras? (Silêncio). Ah... Às vezes você não conseguir assim, resolver o
problema daquela família, de você num... Sabe? Tem aquela barreira assim, não
tem jeito, você não consegue... Tem muita dificuldade. Porque apoio a gente tem,
né? Mas não é tudo que a gente consegue resolver, né? Então...
Seria a questão da continuidade do seu trabalho? É… E às vezes também a
gente tem dificuldade nas famílias que tem, por exemplo, convênio médico. Eu
tenho mesmo uma família que a moça, ela está numa depressão profunda, e ela
está tratando pelo convênio, mas eu falei pra ela: você não quer ir para o SUS?
Pra ver se tem um jeito, porque já faz vários tempos que ela está assim. E ela está
no fundo do posso mesmo. Eu falei: quem sabe, você no SUS você vai ter…?
Porque o CAPS ele está, né? Já assim capacitado, pra tratar. Então eu estou
tentando… Esse aí é o meu dilema, agora dessa semana foi esse. É uma
dificuldade! Eu estou tentando que ela queira vir mesmo para o SUS, pra gente
conseguir que… ela sai desta!
Apêndices 146
3ª. QUESTÃO:
A gente faz né? As nossas… né? Conversa com as famílias, tem as visitas, tudo…
E a pessoa mesmo fala pra gente, né? Agora a campanha de Papanicolaou, é…
está sendo muito importante, as mulheres estão vindo, porque está abrindo pra
elas num horário que elas não trabalham, e a gente está avisando elas estão
agradecendo muito… E elas sentem falta. Eu fiquei afastada, fevereiro, depois
março, né? Da metade, pra estar trabalhando só na dengue. Entrei de férias,
então eles iam na minha casa, perguntar né? Se eu tinha saído, e agora minhas
visitas, estão assim… estão sendo longas, porque eles querem falar tudo, né?
Esse tempo perdido, e elas gostam muito, agradecem muito mesmo!
Agradecem o seu trabalho? É o meu trabalho, de ter agente. Elas falam que a
gente é o anjo da guarda delas… Então é muito importante!
ACS 8
1ª. QUESTÃO:
É poder ajudar as pessoas, né? Poder ajudar as pessoas… é… apesar assim, de
ser importante você estar levando as informações e tudo…, mas quando você
pode ajudar de uma maneira mais eficaz, assim…
Estar nas casas? Nas casas, nas orientações, ou quando a pessoa mesmo
conversa com você e se abre de um problema ou outro.
Ajudar para você é o mais importante? Mais importante, né? Porque às vezes a
gente fica tão preocupada assim, com o número de visita, tem que fazer… tem
que fazer… Mas não é um trabalho mecânico. Você tem que ver que ali o
importante é a pessoa… né? Fundamental a pessoa… que não é o numero da tua
família, mas sim uma família mesmo.
Isso é o essencial para o trabalho de Agente? É… Porque assim, se você vai lá
e faz aquela visita relâmpago, entendeu? Só despeja as coisas para a pessoa,
olha o quintal e tudo e vai embora… sei lá… pra mim… né? Não ia ser um
trabalho bom. Você tem que ver se… se a pessoa… é… entendeu, ou se a
pessoa está com outro problema… Por exemplo, você vai na casa, está tudo
impecável lá, você não tem muito assunto, mas se a pessoa está com problema,
por exemplo, de depressão, ou um problema entre casal, alguma outra coisa e
você pode estar ajudando, as vezes simplesmente escutando… então o seu
trabalho foi válido… não é? Porque se não tem nada de dengue, não tem nada de
leishmaniose, não tem HA, não tem DIA, não tem nada. Você entra e sai…
vazia… Não é importante?
2ª. QUESTÃO:
É a aceitação da pessoa, né? Ela querer te atender… né? Porque eu encontro
isso na minha área em algumas casas, assim que não querem me atender,
mesmo depois de tanto tempo, né? Quatro anos e pouco… e a pessoa não quer te
receber… ou fecha toda casa pra te atender só no quintal, entendeu? Então essa
é a maior dificuldade. Você tem que ficar pedindo todo o mês para entrar,
entendeu? Já tem uma que: Ah! É você. Tudo bem, entra…Você já entra pela
sala, já sai pela cozinha e já vai no quintal, pronto! Está resolvido, né? Mas não…
Apêndices 147
fecham a porta mesmo, prendem o cachorro dentro de casa… pra você não entrar.
Então é duro…
A maior barreira que você encontrou foi essa? É essa. Mesmo depois de tanto
tempo. E eu tenho gente, é incrível! Que abre o vitrô, te olha, fecha o vitrô e não te
atende. Isso joga você lá embaixo, auto-estima, você fica frustrada, você acha que
o seu trabalho… além de não estar sendo reconhecido… não tem o porque, né?
Isso é complicado. Isso te… baqueia bastante, pelo menos pra mim.
3ª. QUESTÃO:
Quando você vê o retorno, né? Por exemplo, se é uma casa muito suja, se tem
bastante… você vê que vai melhorando, mês após mês, entendeu? Ou quando a
pessoa te solicita, sendo que você já passou na casa dela, e ela te chama por
algum motivo ou outro, que você realmente se sente útil… não só pra você marcar
uma consulta, ou tentar alguma coisa, mas alguma coisa dela mesmo, entendeu?
Às vezes querer contar algum problema, né? Isso você vê que… que você está
sendo útil, que a pessoa precisa de você. Porque eu acho muito frustrante você
passar, por exemplo, eu tenho cento e cinqüenta e cinco e ninguém… falar nada,
né? Não saber de nada que você faz, ou não poder contar com você pra nada, aí
fica, né? Invisível, né? Mas se te chama… se… Ou quando você, por exemplo,
quando a gente sai pra mutirão, fala: puxa vida você sumiu, o que aconteceu,
achei que tinham tirado você daqui! Você faz falta! Isso é importante! Acho que é
o melhor quando a pessoa sabe… te dar presentinho… é gostoso também (risos).
ACS 9
1ª. QUESTÃO:
Bom, o que eu considero mais importante, é… são as visitas mesmo, a atenção
que a gente dá a cada família, o elo de ligação que nós somos entre a população
assistida e a UBS, é… como…o que mais que eu vou dizer…
Você falou elo de ligação…? É o elo… porque nós… nós somos considerados
como elo de ligação entre a população e a Unidade Básica de Saúde. Então
assim, eu acho importante esse elo que nós temos, porque nós estamos num
lugar privado, que é a casa de cada morador, e ali a gente tem a liberdade de
tanto levar as informações e de trazer as informações pra a unidade de saúde.
Então eu acho mais importante na prática, são as visitas domiciliares mesmo e
esse elo de ligação que a gente tem com a família e a gente pode estar trazendo
pra unidade e levando da unidade pra eles. Promoção da saúde, prevenção… e o
vínculo que a gente cria com a família.
2ª. QUESTÃO:
Ah… além da aceitação, dependendo do morador, que não são todos que tem
boa aceitação, que assim, eu encontro muito assim, que a pessoa acha que ela
tem convênio, ela não precisa ser cadastrada, principalmente como gestante, é a
maior dificuldade que eu tenho é de cadastrar gestante que tem convênio, que ela
acha que ela não vai precisar da unidade. Ah eu vou todo o mês no meu médico
então eu não vou precisar. Então assim, além da aceitação às vezes é o respaldo,
que às vezes a gente não tem muito respaldo. Não só daqui da unidade. Assim,
às vezes a gente leva todo o atendimento que tem aqui na unidade e as vezes a
hora que a pessoa chega aqui, a pessoa vem aqui e não encontra tudo o que a
Apêndices 148
3ª. QUESTÃO:
Eu acho que é muito assim pela gratidão que eles tem. Que depois que nós
fizemos aquele curso de… do primeiro módulo de técnico de agentes, que foi todo
aquele direitos que todos os usuários do SUS tem, que nós levamos aquilo e que
eles achavam que todo o trabalho, tudo o que eles recebiam de unidade, de
entidade, assim, era um favor que eles faziam. E que na verdade não é assim. De
todo o conhecimento que eles tem uma gratidão muito grande, a gente tem… É
muito gratificante, a gente fazer e a gente tem esse retorno. Pelo menos eu no
meu trabalho, tudo o que a gente faz. Desde de um remédio que você leva,
quando o acamado precisa, alguma coisa. A gratidão que eles tem assim… é
demais. Na minha opinião o que mais… o que mostra mesmo que é importante eu
estar ali, que eu penso um dia em sair, o que eu penso que ali eu sou importante
e que ali eu vou fazer falta. Que eles têm gratidão mesmo pelo trabalho que a
gente faz.
Como eles manifestam essa gratidão? Ah! Sabe, os primeiros contatos que
tinha, dependendo você não conseguia nem entrar. Agora faz três meses que eu
estou nessa área nova, tem gente que me espera na calçada. Que eu vou
começar a quadra do outro lado, que eu vou… aí tem uma senhorinha mesmo,
são duas, é a mãe e a filha, elas ficam me esperando no portão, pra ver que hora
que eu vou entrar. Sabe, isso… nossa! Pra gente é ser reconhecido! Sabe, a hora
que você chega eles conversam demais. Sabe, já quer que você entra, não fica te
recebendo ali no portão, nada. E aí onde eu estou agora, nossa! Pra mim, falei
pra Eliane que agora eu estou no céu! É uma gratificação enorme. O pouco que a
gente faz!
Apêndices 149
ACS 10
1ª. QUESTÃO:
O mais importante (silêncio). Bom, o mais importante é assistir as famílias né?
Porque tem pessoas mais humildes, tem aquelas mais bem de vida, que tem
entendimento, são estudadas, mas acho que todas têm suas necessidades, né?
Assim, algumas que não tem conhecimento da UBS, que às vezes está precisando
de um médico, de um remédio, não sabe até aonde encontrar, aonde chegar né?
Eu acho que isso é o mais importante…
E dentro do que você falou o que seria o papel do agente comunitário de
saúde? E como vocês costumam dizer que o agente comunitário é o elo entre a
comunidade, né? E o SUS, não só a UBS, o SUS né? No geral, porque a gente leva
eles aonde precisa chegar.
E o que seria esse elo? Assim, é como eu acabei de falar. Ta lá o idoso, ta doente,
ta sozinho, ta carente eu chego até ele, converso, vejo a necessidade dele naquele
momento, né? E procuro fazer o que ele está precisando. Se é de um médico, eu
tento levar ele até o médico. Se é de um remédio, eu tento trazer o remédio até ele.
Se é de conversar, as vezes é só conversar, as vezes precisa né? A gente fica ali,
conversa… passa o tempo… Eu acho que é isso, o mais importante pra mim.
2ª. QUESTÃO:
A maior barreira é também em relação as pessoas idosas. Assim, principalmente as
que vivem sozinhas. Num gostam de abrir a porta pra gente, tem medo de ser um
ladrão, não conhece o trabalho, né? Até você explicar o que que é o seu trabalho,
ele entender, leva tempo, né? Eu acho que essa é a maior barreira. Tem as
pessoas também que tem convênio médico, que acha que não precisa do SUS, não
precisa do agente comunitário, né? Não gostam de deixar a gente entrar…
Alguma outra dificuldade, obstáculo? Não, pro meu a barreira é essa mesmo. As
pessoas estarem entendendo o nosso trabalho, né? Que a gente tem que fazer o
trabalho, que tem que ser daquele jeito, né? Às vezes quer que a gente passa
correndo… Ah, eu to com pressa, fala rapidinho! Mas não pode ser assim, não tem
como ser, né? Rapidinho… Eu acho que essa é a maior barreira. E das pessoas
que tem convênio, que acha que não precisa do agente comunitário, que acha que
o agente comunitário só ta ali pra marcar consulta e pra levar no posto, só isso… eu
acho que é essa!
3ª. QUESTÃO:
Em geral assim, na satisfação da pessoa, né? Você vê os resultados positivos, você
vê que fez um trabalho bem feito, que a pessoa… Ah não sei… ela passa a gostar
de você, às vezes ela num queria você ali. Ela tinha problemas, vocês foram
convencendo ela. Aí você vê resultado disso na pessoa, ela passa a ter você como
aliado dela, né? Está sempre te procurando… Oh, você pode fazer isso pra mim?
Você ganha um amigo, né? Eu penso assim.
Essa importância é manifestada? Sim, eu tive caso assim, de uma vizinha pra
outra, né? Uma vizinha… ela meio que estava resistente… Não eu tenho convênio,
não quero! Aí a outra vizinha foi e falou: Não, mas o trabalho dela é muito
importante! Eu não conhecia, mas eu gosto dela, porque ela fez isso pra mim! E ela
está sempre passando, às vezes eu estou sozinha a gente conversa, eu passo o
tempo! Eu achei um resultado positivo, um vizinho passando pro outro, né? Levando
conhecimento pro outro vizinho!
Apêndices 150
ACS 11
1ª. QUESTÃO:
O planejamento, né? Que tenha plano A e plano B, porque assim muitas vezes,
quando eu saio pra fazer as visitas, né? Eu planejo uma coisa e aí de repente me
deparo com outra situação na área, né? Ou alguém até me para, né? Então o
planejamento é bem importante no cotidiano, né? E as visitas, né? E… estar
sempre disposta, né? Independente do que acontece em casa, né? Separar as
coisas que acontecem em casa, né? Do trabalho, porque é… é assim, você
precisa, né? Estar centrada naquilo, senão você nem consegue captar a
necessidade daquela … daquela pessoa que você vai visitar.
Quando vai visitar? É porque, assim ter… como eu posso falar… desenvolver um
laço de confiança, né? Porque desenvolvido esse laço de confiança acredito que
tudo que eu passar pra ele, ele vai sentir… vai confiar naquilo e vai ter o desejo de
fazer, por mais que é mudança de hábito. Mudança de hábito não é fácil, mas se
você tiver uma convicção daquilo que você estiver falando, firmeza e demonstrar
carinho pela pessoa e preocupação, interesse, eu acho que você vai ter um
retorno melhor do seu trabalho.
2ª. QUESTÃO:
OIha! Sinceramente... (pausa e risos), até hoje não tive muita dificuldade. No
começo, quando eu comecei a trabalhar foi o relacionamento, né? Com a equipe,
mas depois quando eu me senti e quando eles se sentiram também, e eu fiquei
mais tranqüila, pude desenvolver um trabalho assim, que não tenho dificuldades
assim pra… e mesmo se tenho, eu tento burlar elas. Mas assim, a minha
microárea é perto, né? Da UBS, as pessoas sempre me receberam muito bem,
né? Até quando eu estava substituindo outra pessoa, não tive muita dificuldade.
É… às vezes a falta de conhecimento, né? Que pode dificultar, mas assim eu
sempre estou tentando buscar pra estar já sabendo das coisas, né? Mas assim, as
pessoas, muitas… acho que uma dificuldade é que as pessoas não acreditam
muito no atendimento aqui da UBS, né? Então… aí você vai levar uma informação,
a pessoa fala: Ah, mas aquele posto lá, né?… Então, essa eu acho que é a
principal dificuldade, que não tem muita credibilidade. Está mudando, né? Mas
assim, às vezes passa de pai pra filho, de avó pra neto, então é isso. Isso interfere
um pouco, um pouco. Porque as pessoas não dão o retorno, né? Por exemplo, o
Papanicolaou, há muito tempo atrás… Agora não, agora já está assim, bem mais
fácil. Só que tem muita gente que eu passo lá e falo todo o mês: Olha vai fazer,
que agora não precisa marcar! O pessoal fala: Mas eu já fui tão mal tratado! Às
vezes marcava eu chegava lá e não me atendia! Né? Mas está mudando bastante.
Tanto é que assim, esse mês mesmo eu mandei acho que quinze mulheres pra
passar no ginecologista. Sabe aquela coisa assim, que tem mais acesso, você não
precisa ficar pegando fila, de vez em quando a gente pode marcar. Mas assim,
elas estão vindo mais, né. Então está assim, mais tranqüilo. Aos poucos está
dando pra mudar, mesmo porque o atendimento aqui está melhorando muito, né?
Apêndices 151
3ª. QUESTÃO:
Pegando o gancho da outra pergunta, porque muita gente não gosta de vir aqui
pro posto, né? Ou não tem costume ou até por meios culturais assim, acredita
mais em outros, né? Meios, mas assim, quando tem o Agente Comunitário de
Saúde, né? A gente começa assim, a mostrar como que é, principalmente mostrar
o SUS, né? Quando eu mesmo descobri como era o SUS, eu comecei a falar pra
eles, a falar das facilidades, das coisas que eles podem ter mais acesso e alguns
ficam mais animados, né? O que mais…? Me torno assim, uma ponte mesmo
assim entre a população e a unidade.
Isso é manifestado? Oh, essa semana mesmo eu tive uma experiência. Eu
estava ajudando eu uma outra microárea, aí passou uma mulher que já foi… que
era de uma microárea minha, eu visitava ela. Ela estava muito nervosa, passou
por mim e falou: Ah, aquele posto… porque eu preciso de uma consulta… e não
fui atendida! Eu falei assim: O que você queria fazer no posto? Aí ela falou: Eu
precisava de um medicamento que só tem na saúde mental! E hoje não tem
consulta! Aí eu expliquei pra ela, que realmente na saúde mental é só com… eu
expliquei pra ela… o funcionamento, o fluxo daqui, como funciona aqui o posto,
né? Mas ela… ela estava nervosa. Ela queria assim, encontrar uma coisa. Ela
mesmo sabia, que tinha que ter a receita, marcar uma consulta, e ela queria pular
essa barreira. E eu acho que tendo alguém fora daqui, que esteja representando a
UBS lá fora, faz com que as pessoas se sintam mais esclarecidas, do
funcionamento daqui. Eu estando passando lá, não é por panos quentes, mas é
esclarecer mais, é pra incentivar um pouquinho mais, né? Isso eu estava fora da
minha área, mas eu tenho segurança de falar: Olha! De defender também aqui,
né? Porque eu sei que as pessoas aqui se esforçam muito pra atender. E muitas
vezes as pessoas saem daqui achando que a gente não está fazendo nada, que o
funcionário não está fazendo nada, mas não é.
E o quando o agente de saúde não pode estar? Complicado, né? Esse mês eu
já assim, eu já fiquei pensando em muita gente. Então quando eu estava fazendo
minhas visitas, eu já falei: Esse mês eu não vou vir, se precisar de alguma coisa…
vai lá! Principalmente os diabéticos e os hipertensos. Porque assim, até mesmo
final de semana, às vezes eu fico pensando… (risos). Eu quero cuidar da minha
cabeça… né? Então assim, dá a sensação que eles estão vulneráveis, sabe? É
essa sensação que eu tenho. Assim, né? Às vezes a gente está indisposto, sair de
casa, pra trabalhar, e não está disposto pra trabalhar, mas mesmo assim você faz
por amor a eles. As vezes a assistente social vem com aquele papelzinho e fala:
Ah você entrega esse encaminhamento? Da vontade de não entregar, porque as
vezes é coisa tão fora da sua área, só que a gente pensa naquelas pessoas que
estão esperando a muito tempo, então… é isso. Eu acho que eles ficam
vulneráveis quando não tem o agente comunitário de saúde. Mesmo porque a
gente consegue detectar onde tem mais necessidade, aonde está em risco. Então
é isso, eu acho que…
ACS 12
1ª. QUESTÃO:
O que é importante é esse convívio que a gente tem com as famílias, né? Que às
vezes você está tão desanimada e uma palavra que você tem de uma pessoa,
você já muda totalmente, né? Aí você imagina assim: Nossa eu achei que o meu
problema fosse tão grande e o daquela pessoa é bem maior! Fora o apoio que
você tem. Principalmente quando você pega uma pessoa de idade, eles te dão
Apêndices 152
uma força muito grande, né? Tem os altos e baixos, mas os pontos positivos são
maiores, graças a Deus do que os negativos. Então a parte que eu gosto é isso,
quando eu encontro pessoas de idade e eles conversam muito, tem uma
experiência de vida muito grande pra passar pra gente. É muito gratificante.
O que significa pra você estar com as famílias? Nossa! É assim, eles
depositam em nós uma confiança grande, a partir do momento que eles abriram o
portão ali e deixa a gente entrar. Então isso é muito significativo, né? É muito
importante isso daí. É uma responsabilidade minha de pegar as informações
deles, né? Trazer pra cá. A confiança que eles tem, é muito importante isso.
2ª. QUESTÃO:
Olha! Às vezes a gente, que nem… às vezes a gente cai num desanimo, né? Eu
estava comentando com a Helena que eu estava um pouco desanimada. Perante
as dificuldades, porque às vezes você encontra pessoas que são… nossa! Que te
deixam lá embaixo, no chão! Que não quer abrir a porta, você sabe que ele está
ali, mas ele não quer abrir a porta. Quando abre te trata com uma má educação
fora do comum. Eu falo pra ela assim: Isso pra mim é o fim! Né? E isso acaba
comigo e com as outras também! E isso acaba me desanimando. Né? E você acha
que isso nunca acontece, mas acaba… Eu estava até comentando com a Helena,
ou eu decido pela faculdade ou pelo trabalho! Porque não está dando não é muita
coisa pra minha cabeça e fora as pessoas que a gente encontra que não tão nem
aí. Mas ao mesmo tempo viu um que te deixa lá em baixo, você encontra cinco,
seis lá que te… que te aceita, que te recebe muito bem, que fala que é importante,
né? Então isso é gratificante, isso é muito bom. Fora isso…?
3ª. QUESTÃO:
Quando tem essa troca, né? Quando tem uma troca e aí você vê que está dando
resultado. Quando você pega o problema dele lá e traz pra cá. E isso né? Tem
uma troca, tem um respaldo, né? Então aí sim você vê que tem resultado. As
vezes desanima também quando, você traz o problema pra cá e fica parado. Aí dá
vontade de desistir. Porque eu acho que o meu trabalho não está sendo bem
realizado. Então eu chego aqui, trago algum problema e não dá pra resolver.
Nossa! Isso pra mim… Eu não tenho cara… eu não tenho cara de voltar na casa
do morador e falar que não tem jeito, que não deu em nada.
Eles manifestam de alguma forma que você é importante? Nossa! E como!
Eles falam assim: O que seria de nós se não tivesse você! Às vezes nem pra levar
um remédio, ou pra pegar o cartãozinho pra marcar uma consulta. Tem pessoas
que são tão carentes de diálogo, que às vezes a sua companhia ali, a sua
presença ali, pra eles, eles já ganharam o mundo!
Anexo 153
Anexo 154