Globalização, Consumo e Cidadania

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Globalização, consumo e cidadania: o papel do movimento consumidor na era

globalizada

Autoria: Cintia Möller Araujo

• Resumo
O objetivo deste trabalho é discutir o caráter pluridimensional da globalização, com ênfase
nos reflexos deste fenômeno sobre a forma como passam a ser articuladas e conceituadas as
relações de consumo, abordando-se paralelamente, o princípio que serve de base ao modelo
neoliberal, a saber: a primazia da dimensão econômica.
Assim, diante dos novos horizontes que a globalização inaugura, questionaremos as teses que
preconizam a supremacia absoluta do mercado, e que defendem também a proposta de
dissociação necessária entre economia e política.
Adicionalmente, a partir da recusa em se aceitar a lógica inexorável do mercado, e sua (do
mercado) consagração como árbitro capaz de conferir e regular democracia e cidadania,
faremos uma análise da viabilidade do exercício da cidadania no ambiente mercadológico,
concluindo-se pela relevância do papel do movimento de consumidores na busca da
edificação de relações de consumo responsáveis, pautadas em princípios éticos, visando
sobretudo, transformar o consumidor em um protagonista ativo na luta pelos seus direitos.

1. Introdução
A globalização é um fenômeno emergente, um processo ainda em construção, movido por
uma combinação de motivações econômicas e políticas e que, até mesmo a própria ciência
econômica, disciplina que provavelmente mais se debruçou sobre o tema, reconhece o caráter
de novidade.
De fato, estamos vivendo num mundo que se transformou radicalmente nas últimas décadas,
refletindo uma realidade que não está suficientemente codificada e reconhecida, e na qual se
encontra presente, ainda que de forma subjacente, a idéia de ruptura.
Neste novo cenário de reorganização da economia mundial, em que se percebe também uma
nova configuração da sociedade contemporânea, as categorias e interpretações existentes já
não “dão conta” de fornecer explicações para se pensar esta totalidade complexa e
problemática, integrada e contraditória que é a globalização. Sem dúvida, a existência de
processos globais - que transcendem os grupos, classes sociais e as nações -, assinala com a
emergência de um sociedade global, provocando questionamentos e reflexões em busca de
novas teorias e conceitos para melhor decifrar este novo fenômeno.
É neste contexto, no qual muitos autores conferem primazia ao econômico, e em que
predomina a filosofia da liberalização dos mercados, que esta entidade – mercado - é
consagrada como o árbitro capaz de solucionar todos os desequilíbrios. Com efeito, vale a
pena refletir sobre a tendência de parte relevante da literatura que se ocupa de globalização,
de tratá-la de maneira facciosa e parcial, como uma espécie de “destino ou sina”, que todos
devemos aceitar com resignação, conforme critica ORTIZ a seguir: “ Tudo se passa como se a
expansão do mercado e da tecnologia obedecesse a uma lógica inexorável, levando-nos a nos
conformar com o quadro atual dos problemas que nos envolvem.”i. Este raciocínio é
sustentado e apoiado por vários atores interessados e envolvidos com as forças da
globalização, especialmente pelos representantes das transnacionais, que vão além, e
complementam este argumento, adicionando que o fenômeno da globalização tornaria
ultrapassado o conceito de Estado-nação, ao mesmo tempo em que as grandes corporações se
apresentariam como a referência mundial do modelo de realização econômica e política.
Desta forma, para este grupo: “Globalização torna-se sinônimo de modernidade. Tudo o que
não se encaixar dentro desse princípio é considerado suspeito, revelando um certo gosto de

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passado, de arcaico, algo condizente com os tempos remotos da humanidade (sic), ocultando
os interesses particulares dos grupos que a professam.” ii
Entretanto, e conforme apontaremos no decorrer do nosso trabalho, “nosso olhar” não se
restringiu a analisar simplesmente os desdobramentos da globalização no campo econômico.
Assim, e mesmo reconhecendo a forte inclinação economicista de uma parte significativa das
análises do fenômeno da globalidade, traduzidas em interpretações que tendem a reduzir a
sociedade global a um “locus” de trocas, no qual todos os movimentos são impregnados por
valores forjados no âmbito do mercado, insistiremos em destacar o caráter pluridimensional
da globalização, observando que seus efeitos se espalham para outras dimensões (sociais,
políticas, culturais, ecológicas, religiosas, geopolíticas, etc...).
Diante deste panorama, investigaremos as possibilidades da penetrabilidade dos ideiais de
cidadania na sociedade global, analisando também a crise dos Estados Nacionais, frente à
globalização. Além disso, examinaremos a tese de alguns agentes globais, que preconizam
que a economia deve ser progressivamente isenta de controle político, abordando a questão da
separação entre economia e política, e seus reflexos no que se refere à distribuição de poder
social e à promoção de justiça social.
No final, discutiremos os desafios do movimento de consumidores na era globalizada, bem
como os conceitos de cidadão-consumista versus cidadão-consumidor e a idéia de cidadania
democrática ou ativa.

2. Globalismo versus Globalidade ou Globalização


É possível conceituar globalização de inúmeras maneiras. Se recusarmos o procedimento
prevalecente, que reduz o fenômeno a uma única dimensão, notadamente a dimensão
econômica, então podemos utilizar a definição mencionada a seguir : “Globalização diz
respeito a todos os processos por meio dos quais os povos do mundo são incorporados em
uma única sociedade mundial, a sociedade global iii”.
Esses processos de interação exprimem, em última análise, a aceitação da interdependência
maior entre todos os atores envolvidos, e refletem uma ruptura drástica com as noções
convencionais de tempo e espaço, suscitando questionamentos sobre os desdobramentos da
globalização, não apenas na esfera econômica, mas também no campo social, político,
geográfico, histórico, geopolítico, demográfico, cultural, religioso, lingüístico, entre outros.
De fato, Ulrich BECK, estabelece uma distinção entre Globalismo e Globalidade ou
Globalização, destacando as ciladas que o primeiro termo – Globalismo, oculta e, conferindo
aos últimos – Globalidade ou Globalização, um caráter pluridimensional. Para BECK,
globalismo é uma das forças que atuam no desenvolvimento da Globalização. Traduz a
ideologia do império do mercado mundial, império este que substitui ele mesmo a ação
política, impondo às outras dimensões, relativas à ecologia, cultura, política, sociedade civil,
etc..., o domínio subordinador das forças de mercadoiv. Com efeito, podemos então interpretar
globalismo, como a ocorrência de um fenômeno que percebe a sociedade como um vasto e
complexo espaço de trocas, de uma tal maneira que, em todas as ações, movimentos e
relações sociais, tendem a prevalecer os valores constituídos no âmbito do mercado. É a
primazia do econômico, expressa na interpretação de que a história se constitui, unicamente,
na sucessão de um conjunto de sistemas econômicos.
No que se refere à Globalidade ou Globalização, BECK afirma também que “já estamos há
tempos vivendo em uma sociedade mundial, ao menos no sentido de que a idéia de espaços
isolados se tornou fictícia”v. Por isso, parece-nos cada vez mais impensável que um país ou
grupo, possa isolar-se dos demais, até porque, como o próprio autor menciona: “...daqui para
frente, nada que venha a acontecer no nosso planeta será um fenômeno espacialmente
delimitado, mas ao inverso: que todas as descobertas, triunfos e catástrofes afetam a todo o

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planeta, e que devemos redirecionar e reorganizar nossas vidas e nossas ações em torno do
eixo global-localvi“
É por este motivo que o termo “sociedade mundial” pressupõe a ocorrência de relações
sociais que não estão integradas somente à política do Estado nacional, ou que não são mais
determinadas ou determináveis apenas por ela. No lugar da antiga noção de auto-suficiência,
temos conexões em todas as direções e uma intensificação da interdependência universal entre
as nações. Assim, ao mesmo tempo em que a globalização intensifica as relações de mútua
dependência para além das fronteiras nacionais, ela também fragmenta o poder de autoridade,
impondo novas relações de poder, nas quais fazem par aos governos, uma quantidade cada
vez maior de atores transnacionais, a saber: grandes corporações, organizações não-
governamentais, uniões nacionais, entre outros.
Deste modo, protegido por uma suposta aura despolitizada, o globalismo liberal prega a
execução das leis do mercado mundial, que tornam obrigatórias a desregulamentação na
escala nacional e a diminuição do Estado Social, e que conduzem, conseqüentemente, a uma
progressiva redução da amplitude da democracia. Entretanto, se partirmos da premissa da
existência da possibilidade de administrar e controlar algumas dimensões e efeitos da
globalização, em oposição às correntes que sustentam a necessidade de adaptação sem
questionamentos a este fenômeno, o grande desafio adicional consiste em se rejeitar o seu
encanto pretensamente despolitizado, até porque, são notórias e amplamente conhecidas, as
ações altamente políticas que a globalização desencadeia, apesar da mesma se apresentar de
forma apolítica
Na verdade, é manifesto que o globalismo envolve um projeto político subjacente, que inclui
uma extensa rede, constantemente renovada de atores transnacionais – OMC, Banco Mundial,
FMI, agências internacionais, grandes coorporações econômicas, entre tantos outros -, que
através de uma abordagem linear do fenômeno da globalização, privilegiam a esfera
econômica e em decorrência, os seus (dos referidos atores) interesses.
Cabe ressaltar entretanto, que a rejeição à tese da supremacia absoluta das forças de mercado,
e a incorporação de um projeto de ação política, não significa a renúncia à percepção de que a
sociedade mundial abriga relações sociais que já não estão mais subordinadas unicamente às
políticas do Estado Nacional. É óbvio que os Estados Nacionais sofrem interferências
cruzadas de atores transnacionais na sua soberania, e já não podem mais viver trancafiados,
alheios a esta multiplicidade de influências. Não obstante, acreditamos firmemente que estes
mesmos Estados Nacionais não necessitam renunciar às suas identidade e autonomia, como
condição para serem aceitos nesta nova ordem mundial.
Nesse sentido, insistimos que a sociedade mundial global não precisa ser, obrigatoriamente,
uma megassociedade nacional, que reune e dissolve todas as sociedades nacionais, num
movimento que se aproxima de algo similar a um processo de homogeneização. Ao contrário,
afirmamos nossa crença de que a referida sociedade mundial, possa ser um horizonte que se
caracteriza pela multiplicidade, pela não obrigatoriedade da existência de um poder
hegemônico subjugador, que decompõe necessariamente todas as outras forças ao seu redor.
Assim, nesse ambiente em que os esforços de diversos dos grandes atores globais estão
dirigidos para desmontar regulações em nível nacional, percebe-se a emergência em paralelo
de uma questão, suscitada pela febre de desregulamentações: a descentralização.
De fato, alguns Estados, seguindo os passos dos próprios atores globais, iniciam uma busca
por acompanhar a dinâmica do mercado, e tentam atuar em escalas descentralizadas, com
políticas e estratégias também descentralizadas. Emerge portanto, um movimento de
valorização da esfera local, que passa a ser percebida como um pólo potencial e promissor de
desenvolvimento econômico. Simultaneamente, surgem espaços plurais de representação da
sociedade civil, criam-se novas demandas, bem como novas possibilidades para a regeneração
de identidades locais. Contudo, sem desconsiderar os efeitos positivos que a ênfase na esfera

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local pode aportar, convém considerar também a dimensão de risco originária deste processo,
que pode ser expressa no aprofundamento das segmentações e disparidades, de maneira que
não se alteram, em termos macro, as formas pelas quais as desigualdades se processam.
Em síntese, concluímos que muitos dos efeitos deletérios da globalização econômica,
especialmente em Estados mais pobres e menos poderosos, podem ser diluídos e minimizados
se, esta mesma globalização, ao desencadear um processo de descentralização nestes Estados,
estimular direta ou indiretamente o florescimento de potencialidades criativas das práticas
sociais locais, num movimento progressivo de empowerment da esfera local. Entretanto, sem
a existência de um medida de eqüidade nas relações sociais, o localismo de ênfase
comunitário pode vir a contribuir para consagrar a prática de segregações e discriminações, e
portanto sacramentar o estado de desequilíbrio vii.

3. A pluridemensionalidade da Globalização: ambigüidades, paradoxos e contradições


A globalização questiona uma premissa fundamental da primeira modernidade, a saber: o
nacionalismo metodológico. Assim, os contornos da sociedade mundial se sobrepõem
gradualmente aos contornos do Estado nacional. Dessa forma, emergem não apenas uma nova
diversidade de conexões e de formas de relacionamento entre nações – marcadas pela
interdependência universal -, mas também, um conjunto de novas relações de poder e de
concorrência.
Esta nova configuração de forças desencadeia, por um lado, conflitos e incompatibilidades
entre atores e unidades do Estado Nacional, e por outro, um processo de edificação de uma
comunidade transnacional. Paralelamente a esta nova ordem, ocorre a supressão das distâncias
e fronteiras, decorrente do surgimento das sociedades de informação e de conhecimento.
Segundo Ulrich BECK, estes movimentos retratam a transição do Estado Nacional para a era
transnacional, que se caracteriza pela substituição da estrutura monocêntrica de poder dos
Estados nacionais, por uma estrutura policêntrica de poder viii. Este processo de transição é
fruto da existência de uma ordem global permissiva, que se entrelaça com uma ordem
interestatal, viabilizando um sistema de dependências, e construindo redes de relações para
além dos domínios dos Estados Nacionais. Emergem portanto as duas faces desta sociedade
global: a sociedade dos Estados - cujos eixos continuam a ser as regras de diplomacia e do
poder nacional -, e o mundo transnacional, que “alberga a disparidade”, refletida nos seus
diversos e distintos atores, como companhias internacionais, Greenpeace, Anistia
Internacional, Banco Mundial, União Européia, OTAN, entre outros.
Entretanto, de acordo com Octavio IANNI, a economia-mundo capitalista, seja de alcance
regional, seja de alcance global, continua a articular-se com base no Estado-nacão, ainda que:
a) a soberania do Estado-nação passe a ser limitada pela interdependência dos Estados
nacionais e pela superioridade de um Estado mais forte sobre os outros; b) o conceito de
Estado-nação deixe de ser a unidade elementar desta economia-mundo capitalista, perdendo
assim, o privilégio e a supremacia de conferir (sozinho), sentido às ações políticas ix.
Neste contexto, que tem como pano de fundo as transformações do conceito de tempo e
espaço, e no qual ocorrem grandes alterações na própria esfera política, é obvio que o termo
soberania não mais incorpora a noção de ampla autonomia decisória, implicando sim numa
autonomia parcial. Simultaneamente a este processo, evidenciam-se formas inovadoras de
relacionamento, que expressam uma espécie de “entrelaçamento global” entre as nações, em
oposição a uma visão mais tradicional, de um mundo composto por um conglomerado
segmentado de sociedades nacionais e Estados-nações, em suas relações de interdependência
convencionais: colonialismo, imperialismo, multilateralismo entre outras. Assim, ainda que
nação e indivíduo continuem a ser muito reais, inquestionáveis e presentes, já não atraem a
primazia exclusiva das reflexões e, portanto, não são mais hegemônicos.

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Diante disso, nenhum Estado, nem mesmo o mais poderoso, pode arrogar-se uma autonomia
absoluta, o que não evita obviamente, que alguns Estados desfrutem de uma maior autonomia
que outros.
Com efeito, estas discussões reforçam o caráter pluridemensional do termo globalização, que
ora provoca em alguns um encantamento mágico, ao mesmo tempo em que inspira temor e
insegurança à outros. De fato, reconhecemos sobretudo que, globalização pressupõe um
rompimento violento com os modos de pensar, ser, sentir, agir e fabular convencionais.
Nesse sentido, vale a pena atentar para o alerta de Zygmunt BAUMAN, quando comenta
sobre os movimentos antagônicos e ambivalentes decorrentes do fenômeno globalização: “…
há muito mais coisas do que pode o olho apreender; revelando as raízes e conseqüências
sociais do processo de globalização…x.” Fica evidente portanto que os processos
globalizadores não tem os mesmos desdobramentos e efeitos, até porque, os usos do tempo e
do espaço são acentuadamente diferenciados e diferenciadores, o que determina
conseqüentemente, não apenas uma progressiva segregação espacial, mas também um
processo de crescente exclusão social.
Dessa forma, manifesta-se um dos muitos dilemas da política social na era da globalização:
enquanto que o desenvolvimento econômico escapa ao controle do Estado nacional (inclusive
devido à internacionalização do processo produtivo), suas conseqüências se acumulam nas
redes de captação do Estado do bem-estar social, visto que não ocorre paralelamente a este
processo, a internacionalização efetiva da questão social. A este respeito, é absolutamente
necessário ter em vista que a globalização incide de maneira profundamente desigual sobre os
Estados nacionais, uma vez que se observa que os mais poderosos tendem a aumentar sua
capacidade de influência, enquanto que os mais atrasados são forçados a atuar em condições
cada vez mais desfavoráveis. Daí porém, não se justifica a aceitação da irreversibilidade desta
tendência de aprofundamento do fosso entre Estados ricos e Estados pobres, nem muito
menos cabe acolher a tese de que, aos Estados menos favorecidos, só resta desistir do Estado
Nacional e confiar na boa vontade dos países ricos.
Assim, neste ambiente no qual referências, parâmetros e paradigmas são abalados, floresce
uma diversidade de teses, que se expressam em múltiplas metáforas, com a intenção de dar
conta, tentar explicar ou equacionar as novas realidades ainda não codificadas. Octavio Ianni
reflete a respeito desta proliferação de expressões descritivas e interpretativas sobre
globalização, observando que cada uma delas suscita “ângulos diversos de análise,
priorizando aspectos sociais, econômicos, políticos, geográficos, históricos, geopolíticos,
demográficos, culturais, religiosos, lingüísticos, etc…xi” Naturalmente, é possível reconhecer
esta procura por interpretações e possibilidades, relativas ao fenômeno da globalidade, quando
se depara com expressões como “aldeia global”, “fábrica global”, “cidade global”, “nave
espacial”, “nova babel”, entre outras. Elas revelam sobretudo, as controvérsias, antagonismos
e dilemas, referentes a uma realidade ainda fugidia ao horizonte das Ciências Sociais.
Sem dúvida, a formação da sociedade global provoca reflexões em busca de novos conceitos e
categorias, visto que as teorias científicas elaboradas com base nos princípios referidos à
sociedade nacional, não estão suficiente aparelhadas para apreender as atuais formas,
movimentos e especificidades deste contexto inovador. Diante desse novo horizonte aberto
pela globalização, emergem inúmeras tentativas de interpretação, que buscam se libertar de
alguns quadros de referência relativos à sociedade nacional, e tentam combinar elementos de
várias teorias, em formulações ecléticas, para finalmente, pensar a sociedade global com todas
as suas originalidades.
Dessa forma, entendendo-se que o paradigma clássico das ciências sociais foi construído para
pensar os movimentos da sociedade nacional, percebem-se as dificuldades em se refletir sobre
uma realidade que não está suficientemente codificada e reconhecida. Uma realidade que
descortina cenários, nos quais se manifestam novas relações, frutos de processos nascentes, e

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onde são edificadas estruturas, que não serão compreendidas e assimiladas com a simples
transferências de conceitos, categorias e interpretações, elaborados a partir das noções
tradicionais.
Percebe-se portanto que pensar globalização, requer um procedimento que necessariamente
envolve o entrelaçamento de várias ciências, e um transbordamento dos limites do
convencional diante de uma totalidade complexa e problemática, articulada e fragmentada,
integrada e contraditória. Assim, deparamo-nos com forças que alimentam tendências
integrativas e dissociativas, homogeneizadoras e diversificadoras. Forças que estimulam e
afirmam não só as singularidades ou identidades, mas que também desenvolvem
desigualdades e antagonismos.
De fato, as ambigüidades, contradições e paradoxos, que emergem quando se discute a
questão da globalidade, contribuem para evidenciar a problemática da diversidade. Ianni,
articula esta idéia quando afirma que “ … a globalização atinge as coisas, as gentes e as
idéias, bem como as nações, as culturas e as civilizações, e desde este momento está posto o
problema do contraponto globalização-diversidade, assim como diversidade e desigualdade,
ou integração e antagonismoxii.”
Adicionalmente, acredito que seria impensável refletir sobre globalidade, sem se questionar
também seus desdobramentos e implicações no terreno do humano, até porque, a dinâmica
desta sociedade global emergente - cartesiana e pragmática -, está fundada na intensificação
das relações entre a multiplicidade de indivíduos que compõem os diversos grupos, classes,
tribos, nações, culturas, entre outros.

4. Sociedade Global, relações de consumo e cidadania


A globalização econômica se caracteriza por mudanças tecnológicas de grande alcance e por
alterações não menos relevantes nos processos de trabalho e de produção, que associados à
aceleração do processo de internacionalização e de mundialização, intrínsecos ao capitalismo,
confirmam o triunfo da racionalidade da sociedade capitalista.
Essa consagração de um modo essencialmente racional e cartesiano de ser e pensar, da
calculabilidade do dever-e-haver, tem seus desdobramentos na dinâmica da sociedade
contemporânea, limitando “o estar junto” a uma única finalidade que é: o propósito de
produzir e consumir.
Diante desse cenário, percebe-se que o indivíduo não entra em relação com os outros como
pessoa, mas sim em função da produção e do consumo. Desta forma, determina-se uma
drástica redução do ser social ao ser econômico, e tudo aquilo que não se enquadra nesta
lógica, não tem qualquer visibilidade geral. De fato, em face deste contexto, capaz de produzir
até mesmo os objetos mais inúteis para satisfazer as novas necessidades imateriais do luxo, do
entretenimento, da distração (além daquelas necessidades inimagináveis, mas que podem ser
fabricadas quase que instântaneamente pela sociedade de consumo), as outras culturas,
fundadas na solidariedade, reciprocidade, e nos princípios de justiça social, perdem substância
e parecem heranças de um passado longínquo.
Essa percepção desconfortável, batizada por BAUMAN de impressão de que “ninguém
parece estar no controle agora”xiii, e que eu interpreto como “percepção de coisas fugindo ao
comando”, transmite a idéia do caráter indeterminado e fugaz da globalização, e situa os
conceitos de Globalidade e Universalidade em lados opostos. De fato, universalização
transmitia a esperança de se estabelecer uma ordem numa escala universal, com a finalidade
de tornar o mundo melhor do que fora no passado. Anunciava a intenção de expandir o bem
estar em escala global e de disseminar as oportunidades de vida para o maior número possível
de indivíduos, visando tornar semelhantes as condições de vida de todos xiv. Indiretamente,
acenava com a possibilidade de se aperfeiçoarem os direitos políticos dos cidadãos, através da

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construção de uma sociedade mais justa e solidária, diminuindo-se as desigualdades entre
grupos dominantes e grupos dominados.
Infelizmente nada desse conteúdo permaneceu no significado de globalização.
Contrariamente, as forças da globalização conferem primazia absoluta ao mercado e aclamam
o princípio da quantidade, que passa a permear todos os níveis da vida social, generalizando-
se com uma rapidez e velocidade inconcebíveis. Na época da globalização, o mercado impõe
e consagra sua lógica da quantidade em escala global, expressa na diversidade de mercadorias
globais produzidas, com o objetivo de estimular o consumo efêmero e volátil, suprindo e
satisfazendo necessidades reais e imaginárias múltiplas, que podem ser descartadas com um
piscar de olhos. Aliás o mercado incorpora e potencializa uma nova função: o de grande
distribuidor de ilusões, uma espécie de produtor de atrações e tentações, disponibilizando
bens e serviços, como se fossem verdadeiros objetos do desejo, para seduzir todos os
possíveis consumidores.
Dissemina-se portanto, a impressão de que o mercado é o agente capaz de conferir e regular
democracia e cidadania. Assim, em decorrência desta premissa, surge a quimera de que é
através da inserção no espaço mercadológico que se adquire não apenas o status de cidadão,
mas se encontra a ‘liberdade”, traduzida na capacidade do indivíduo poder exercitar e eleger
suas escolhas no mercado a todo momento, sem limitações. Assistimos portanto, a um
movimento que pretende reduzir o termo liberdade, à possibilidade de “ escolher entre 750
modelos de carros e caminhões, e um sem número de cores, que mudam anualmentexv.” Desta
forma, submerge a dimensão política do conceito liberdade, na medida em que se pretende
associar a ele, uma visão de caráter mais economicista.
Nesse contexto, o conceito de liberdade perde seu conteúdo político e se desvincula
progressivamente das idéias de justiça social. Passa portanto a ter uma dimensão
mercadológica, significando, predominantemente, a possibilidade de consumir uma
pluralidade de bens, e criando a ilusão da universalização das condições e possibilidades de
acesso ao mercado.
Percebe-se claramente que a despolitização velada, subjacente a idéia de livre mercado, está
associada à existência de forças que defendem que a economia seja progressivamente isenta
de controle político. Desse modo, a eliminação ou redução da influência da dimensão política
na sociedade contemporânea, permitiria a supressão das barreiras que dificultam a
consolidação de padrões de dominação impostos pelos Estados mais poderosos, facilitando o
florescimento de impulsos autoritários (camuflados).
Assinalamos pois, a existência de um conteúdo arbitrário e elitista, inerente à globalização,
que se revela extremamente ameaçador do desenvolvimento da democracia, uma vez que esta
tem como sustentáculo, a ação política dos cidadãos, grupos e Estados, ação esta que é diluída
por aquilo que pode ser denominado de afrouxamento dos freios: desregulamentação,
liberalização, flexibilidade, entre outros.
De fato, vive-se um contexto, cujo traço característico é a mercantilização, e onde tudo tende
a ser produzido, comercializado e consumido, na forma de mercadoria. Uma era em que o
conceito de cidadão se banaliza e se iguala ao de consumidor, e em que a liberdade se
equipara a possibilidade de adquirir uma diversidade de produtos disponíveis no mercado.
Neste cenário, tudo o que se consome e se produz pode e deve ser descartável, para dar lugar
a novas mercadorias, novas atrações, novas possibilidades. Uma espécie de era do consumo
Just in Time, marcado pela temporalidade.
Organiza-se pois, uma sociedade de consumo pós-moderna e globalizada, que assume uma
configuração diferente da sociedade dos nossos predecessores, pois precisa aliciar e recrutar
seus membros pela condição de consumidores. Em decorrência disto, impõe-se uma diretriz,
uma espécie de dever, que se traduz na imposição da necessidade de que seus membros
desempenhem o papel de consumidorxvi. Assim, o poder de compra torna-se uma referência,

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um marco, pois na medida em que os indivíduos passam a ser avaliados por aquilo que irão
(poder) comprar, tem início um movimento de exclusão social dissimulado.
É lógico entretanto que, a diferença entre viver na nossa sociedade e na que imediatamente a
antecedeu, não pode ser reduzida simplesmente ao ato de consumir, até por que, nenhuma das
duas sociedades pôde dispensar seus membros de produzir mercadorias voltadas ao consumo.
Segundo BAUMAN, a diferença fundamental entre uma e outra sociedade, reside na ênfase e
nas prioridades que ambas elegeram, e nos efeitos destas prioridades, na política, cultura, vida
individual, etc. Vale lembrar por exemplo que, nos primórdios da sociedade moderna, as
reflexões predominantes convergiam para o questionamento da relação homem-trabalho-vida,
e a preocupação essencial era se o homem trabalhava para viver, ou vivia para trabalhar. Na
sociedade de consumo pós-moderna e globalizada, o dilema sob o qual nos debruçamos passa
a ser: a consideração sobre se é necessário consumir para viver, ou se o homem vive para
poder consumirxvii.
Com efeito, neste ambiente premido pelas forças da globalização, os hábitos devem ser
alterados continuamente, reforçando-se seu caráter volátil e evitando-se sua “perigosa
cristalização”. Naturalmente, nesta sociedade de consumo massificada e saturada de
informação, marcada pelo imediatismo, pela efemeridade, na qual os bens devem satisfazer de
imediato, sem provocar questionamentos e aprendizados, ocorre a consagração do
instantâneo: necessidade instantânea, prazer instantâneo, hábitos instantâneos. Dessa forma, o
tempo determinado para o consumo, e para a satisfação decorrente deste consumo, deve ser
reduzido ao mínimo, e isto só se verifica num ambiente no qual os vínculos e associações são
cada vez mais instáveis, e onde os consumidores são estimulados a não concentrar seu desejo
por muito tempo em qualquer objeto.
Com base no que foi exposto, depreendem-se as características nucleares desta sociedade, que
cultua o esquecimento, ao invés do aprendizado, e que valoriza o estado de mudanças
constantes: a volatilidade, a orientação expressa para o futuro e a ausência de solidariedade.
Assim em meio a essa pressão internalizada, essa combinação de compulsão e movimentos
contínuos, com a busca e dissipação de desejo, emergem os consumidores, manifestando suas
opções, num exercício disfarçado de liberdade de escolha.
Iniciamos a conclusão do nosso argumento reafirmando que, a separação entre economia e
política, e a proteção da primeira contra a intervenção regulatória da segunda, resulta na perda
de força e influência da política como um agente efetivo, capaz de promover justiça social,
desenvolver redes de solidariedade, e estimular uma distribuição mais igualitária de poder
social. Desta forma, e observando o empenho de alguns agentes econômicos globais que se
apresentam disfarçadamente apolíticos, e que pretendem que o padrão predominante seja
determinado pela conduta dos mercados, reafirmamos ser de fundamental relevância o papel a
ser exercido pelos organismos e instituições ligados à proteção do consumidor, visando não
apenas despertar a consciência crítica dos cidadãos, mas também estimular a propensão à ação
política destes mesmos cidadãos. Este projeto pressupõe contudo, um processo de educação
política dos cidadãos, voltado para a construção de uma cidadania mais reflexiva, que busca
sobretudo a participação política, até porque, como dizia Hannah Arendt “ a liberdade é a
liberdade para a participação política... ou então não é coisa nenhumaxviii.” Por isto, diante
deste cenário, marcado pela inexistência tanto de cidadania quanto de democracia para uma
grande parcela da população, percebe-se que o maior desafio de todos os interessados na
complexa questão dos direitos dos consumidores consiste em, identificar quais as questões
relevantes que devem ser argüidas, debatendo-se inclusive, as premissas supostamente
inquestionáveis do nosso modo de vida.

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5. O movimento dos consumidores na era globalizada: reivindicações e desafios
Se considerarmos o período que vai desde o final do século XIX até os dias atuais, e
observarmos as conexões entre a evolução das relações de consumo e a do capitalismo, torna-
se mais fácil perceber as motivações que deram origem e impulsionaram o surgimento do
movimento de proteção dos consumidores nos diversos países.
Nas nações do Primeiro Mundo, a proteção do consumidor começou a surgir como um
subproduto da busca de regulação para as práticas suspeitas de competição, e da tentativa de
equacionar problemas ligados à área de saúde, notadamente alimentos e remédios.
Já nos países periféricos (dentre eles o Brasil), a questão do consumidor evolui de maneira
distinta - e mais tardiamente do que nos Estados Unidos e Europa -, dadas as profundas
diferenças existentes no contexto político, social, cultural, econômico, entre estes grupos de
países. Assim, nos países do Terceiro Mundo, as primeiras reflexões sobre a proteção do
consumidor rivalizavam-se, e ainda hoje rivalizam-se, com alguns do graves problemas
estruturais, como a pobreza, analfabetismo, mortalidade infantil, entre outros destes países.
Desta forma, para melhor entender a evolução do movimento de consumidores no mundo, e
com base nas diferenças de estágio em que se encontram o movimento de consumidores nos
países desenvolvidos e subdesenvolvidos, utilizaremos a metodologia proposta por Gisela
TASCHNER, que divide este processo evolutivo em 4 (quadro) estágios, mencionados a
seguirxix.Lembramos entretanto que, os países desenvolvidos (notadamente os Estados Unidos
e posteriormente alguns países europeus), refletem e articulam sobre esta questão, mesmo que
indiretamente, desde o final do século XIX, enquanto que os países do Terceiro Mundo
começam a se mobilizar em torno desta temática somente a partir da década de 1970.
a) Final do século XIX até 1929
Neste estágio, o conceito “consumidor” não existe como categoria social, pelo menos
aparentemente. A proteção do consumidor acontece como uma conseqüência das medidas
destinadas a regular o comércio. Deste modo, o consumidor não é o target principal das
políticas de regulação do mercado, e as medidas que eventualmente o protegem, não o fazem
propositadamente.
b) Dos anos 30 ( New Deal) até o princípio dos anos 60.
Este período revela o aparecimento deste novo ator social – o consumidor -, ao mesmo tempo
em que se registra a emergência da consciência da necessidade de se promover a proteção do
indivíduo em suas relações de consumo.
Aparecem nesta fase as primeiras associações preocupadas com a questão do consumidor
(Consumer´s Research – 1929; Consumers Union – 1936), mas a esfera de proteção do
consumidor ainda não alcança autonomia, não existindo ainda uma política que trate desta
especialidade.
Em 1960, surge a IOCU – International Organization of Consumer´s Union, que se torna
depois um órgão consultivo da UNESCO
c) Meados de 1960 – 1970
Nesta época ocorre o pico do consumerismo, simultaneamente à concentração da regulação. A
questão do consumidor assume relevância, passa a fazer parte da agenda governamental,
influenciada também pelo crescimento do aparato referente à legislação social do Estado.
Paralelamente, tem origem neste período, o aparecimento da maior parte da legislação do
consumidor atualmente existente.
No Brasil, surgem na década de 70, as primeiras preocupações com a questão do consumidor,
em meio a um processo de modernização que introduz novas problemáticas como:
embalagens inadequadas, propaganda enganosa, produtos adulterados, etc.
d) Dos anos 80 até os dias atuais
No primeiro mundo, durante os anos 80, os consumidores ainda estavam amparados pelas
legislações. Entretanto, a recessão ocorrida em função do choque do petróleo, a crise do

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Estado de Bem Estar social e a ascensão do modelo neoliberal - que prega entre outras ações,
a desregulamentação e a redução do papel do Estado-Nação -, acabaram por impactar
negativamente a evolução das políticas de proteção do consumidor em todo o mundo,
provocando o declínio do consumerismo como uma questão política nacional.

É neste último estágio que nos deteremos, focalizando especialmente os países do Terceiro
Mundo e a importância que assume a questão da associação da dimensão política à econômica
para estes países, não somente no sentido de permitir a construção de uma visão mais ampla
da realidade social, mas também para possibilitar o enfrentamento dos efeitos negativos da
globalização e da filosofia neoliberal associada a este fenômeno.
De fato, o modelo neoliberal que fornece embasamento teórico ao fenômeno da globalização,
impacta todos os países em geral, mas incide de forma desigual sobre nações ricas e pobres,
refletindo-se de forma mais severa sobre estas últimas. Assim, os países menos desenvolvidos
se vêem obrigados a abrir seus mercados para o exterior, e a adotar políticas econômicas mais
rígidas, para serem aceitos na nova ordem mundial em vigor.
Este modelo, que elege o mercado como paradigma, preconiza que esta “entidade chamada
mercado” é o árbitro que deve equacionar todos os desequilíbrios. Com efeito, consagra-se a
tendência de maior liberalização do comércio mundial, emergem as corporações
transnacionais (algumas até mais poderosas que os próprios governos), num ambiente que
favorece os interesses de grandes grupos econômicos, em detrimento dos direitos dos
cidadãos consumidores, especialmente nos países mais pobres.
Nestas condições, qualquer proposta de construir uma sociedade mais solidária e justa, de
viabilizar um modelo de desenvolvimento sustentável, é uma possibilidade cada vez mais
remota. Com efeito, como conseqüência deste movimento de forças, crescem a
marginalização, a exclusão e as injustiça sociais, paralelamente à efetivação do processo de
desmantelamento das políticas sociais, voltadas para saúde, educação, habitação, serviços
públicos, entre outros.
Do ponto de vista das relações de consumo, neste modelo neoliberal, o espaço destinado para
o cidadão-consumidor exercer a cidadania não é a arena política, mas o mercado. Dessa
forma, o próprio mercado subverte a concepção de cidadania, uma vez que este conceito passa
a ser percebido como a inserção do indivíduo no espaço mercadológico.
Tudo isto tem conexões com uma das grandes temáticas abordadas pelos defensores do
neoliberalismo, a saber, o debate sobre a necessária diminuição da importância do papel do
Estado-nação – que têm sido o maior protetor dos direitos e liberdades dos cidadãos. Fica
claro pois, que modelo liberal pressupõe, ainda que de forma subliminar, uma tendência à
eliminação de direitos dos cidadãos, tendência esta muito evidente no campo dos direitos do
consumidor.
Diante desse quadro, o maior desafio dos movimentos de consumidores, especialmente nos
países do Terceiro Mundo, passa a ser, não somente a luta pelo desenvolvimento de uma
consciência crítica e de relações de consumo em que os indivíduos não sejam atores passivos
(e sim protagonistas ativos), mas também o de identificar quais as questões relevantes a serem
debatidas. Assim, como mencionou Marilena Lazzarine - coordenadora executiva do Instituto
de Defesa do Consumidor (IDEC), na IV Conferência Regional da Consumers International,
ocorrida no Panamá em 1999, não se trata apenas de fornecer informações aos consumidores
sobre quais produtos/serviços estão dentro das normas especificadas e aprovadas, mas
também, refletir sobre estas normas, bem como sobre as novas tecnologias, padrões e
parâmetros que nos são impostos. Neste sentido, Lazzarine recomenda que: “o papel das
organizações de consumidores seja também o de formar / resgatar valores; expressando
interesses coletivos, assumindo um protagonismo na criação de uma nova identidade social
que inverta esse processo, questionando os valores criados por esse modelo injusto.xx” Em

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suma, um projeto que visa transformar o consumidor-consumista em consumidor-cidadão, de
modo que ele perceba o ato de consumo como um ato responsável, inspirado numa ética
social, e assim, atue com um agente transformador da realidadexxi. Esta perspectiva, que
propõe uma alteração no escopo do movimento consumidor, reconhece por exemplo, que os
países menos desenvolvidos precisam sim acelerar o crescimento do seu consumo -
especialmente se esse incremento for o resultado da incorporação ao mercado, das camadas
menos favorecidas da população -, mas não necessitam, obrigatoriamente, trilhar os mesmos
rumos dos países desenvolvidos. Podem por exemplo, recusar-se a adotar técnicas de
produção que provoquem efeitos deletérios no meio ambiente, preservando-o dos riscos
advindos de processos produtivos considerados controvertidos. Fica ainda uma lição que deve
ser extraída das organizações mais experientes, que é a consideração da realidade e momento
históricos de cada nação, por parte das lideranças do movimento de consumidores dos
diversos países.
De fato, tudo indica que os movimentos de defesa dos direitos dos consumidores do mundo,
atingem um novo estágio, no qual o foco da questão deixa de ser única e exclusivamente
“consumir mais ou menos”, e passa a ser, a busca de um modelo de consumo diferente,
voltado para o desenvolvimento humano. Em suma, um projeto que pressupõe um resgate
e/ou formação de valores que visa edificar uma nova identidade social
No que se refere especificamente a esta temática de recuperação ou a retomada de valores,
cabe aqui refletir também sobre sua relação com algumas tendências que estão ocorrendo no
ambiente macro. Ao analisar o discurso dos atores globais - que sustentam a necessidade de
separação entre política e economia -, percebemos que, notadamente em países do Terceiro
Mundo e que estão em fase de consolidação democrática, esta idéia de dissociação entre estas
disciplinas, tem encontrado um fértil terreno de desenvolvimento, até porque, se procedermos
a uma análise detalhada da evolução histórica de alguns destes países, identificamos indícios
da contaminação deletéria da segunda (economia) pela primeira (política), sob a forma de
práticas patrimonialistas e/ou prevalência de interesses particularistas.
No caso brasileiro por exemplo, reconhecemos que esta herança patrimonialista, estimula uma
associação negativa, quase que simultânea, do termo política com a noção de política
patrimonial, uma espécie de “reino da arbitrariedade e do favor”, onde o público e o privado
se confundem. Entretanto nossa história mais recente, especialmente nos últimos 10 a 20
anos, assinala com a emergência de esforços do aparelho estatal para romper com este legado
retrógrado, num movimento pendular e tenso entre uma cultura burocrática impessoal e
racional, e uma cultura patrimonialista e personalista.
Assim, consideramos que o resgate do conceito verdadeiro de política, especialmente no que
se refere ao Brasil, passa pela percepção de que a arena política é o locus no qual se debatem
e questionam as relações de poder, e onde se confrontam as ideologias. Em síntese, o lugar em
que se busca o equilíbrio das forças dos diversos atores de uma sociedade: partidos,
movimentos sociais, sindicatos, ONGs, Estado, empresas etc, e no qual se exercita o
compromisso do horizonte de médio a longo prazo.
Dessa forma, e considerando que é no interior da arena política que florescem e são debatidas
questões como: eleições, desequilíbrio econômico, distribuição de renda, conflitos sindicais,
disputas partidárias, justiça social, entre tantas outras discussões, acreditamos ser fundamental
a integração entre política e economia (ao contrário do que pensam alguns teóricos da
globalização econômica), para que não se sucumba às tentações de conferir primazia às
premissas econômicas, classificando-as como fatores determinantes nos processos de decisão
que ocorrem no âmbito da sociedade global.
Os reflexos deste projeto de integração da política e economia no movimento dos
consumidores são evidentes, na medida em que ele (projeto) estimula a construção de relações
de consumo mais equilibradas, responsáveis e solidárias, permitindo conferir uma dimensão

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mais ampla a estas relações. Com efeito, altera-se também a amplitude dos objetivos dos
movimentos pelos direitos do consumidor, que passam a refletir não apenas sobre o consumo
das camadas mais privilegiadas da população - que precisam de informação independente e
confiável -, mas incorporam também, a tarefa de lutar pela inclusão do segmento formado
pelos excluídos, fruto das injustiças sociais, procurando assim, resgatar sua dignidade e
permitir sua inserção no mercado.
De fato, esta proposta de associação entre as duas disciplinas – economia e política - , tem a
intenção manifesta de evitar a compreensão equivocada e parcial da realidade, contribuir para
fomentar o equilíbrio de forças dentro da sociedade, além de estimular a transformação de
todos os indivíduos em consumidores-cidadãos, conscientes de seu poder e responsabilidade
para edificar relações de consumo que se pautem em valores e princípios éticos.
Assim, especialmente no Brasil, em meio a um contexto de democratização do Estado e da
sociedade, emerge fortemente alicerçado nos ideais de justiça social, o desafio de se buscar
um modelo de cidadania democrática ou ativa, que como lembra Maria Vitória
BENEVIDES, pressupõe uma concepção diferente do conceito conservador de cidadania
passiva, em que o papel do cidadão era reduzido ao de eleitor, ao de contribuinte, em suma, ao
do indivíduo obediente às leis. A idéia de cidadania ativa, em oposição à visão mais
tradicional, incorpora uma dimensão mais ampla e abrangente, na qual o cidadão é um agente
que exige a igualdade através da participação, da criação de novos direitos, novos espaços, e
da possibilidade de novos sujeitos políticos, novos cidadãos ativosxxii.Fica evidente então que,
a mera declaração da existência de direitos não é suficiente para determinar e estimular a
cidadania ativa. É preciso que se construa também, uma espécie de sentimento que Vera
TELLES denomina de “um sentido de pertencimento” dos indivíduos de uma coletividade -
sem o qual não se vivencia a verdadeira cidadaniaxxiii. E a partir deste movimento de
valorização da verdadeira cidadania, que vai se constituir uma base para a reivindicação de
ampliação do acesso às oportunidades, bem como de redução de todas as formas de
desigualdade entre os cidadãos, gerando reflexos importantes na proteção do consumidor.
Diante deste contexto, acreditamos firmemente que doravante, o movimento dos
consumidores mundial terá que ser:
• mais político, no sentido de provocar intervenções de maior amplitude política, “sem
contudo deixar de ser técnico, independente, ético e responsável xxiv.
• articulado com outros movimentos sociais.
• Mais amplo, isto é, vinculado também às demandas básicas da sociedade – direitos à
saúde, alimentação, educação, etc -, com a finalidade de estabelecer novos modelos de
organização, nos quais os direitos do consumidor se somem à busca de outros direitos de
cidadania.

6. Considerações Finais
Tentaremos retomar o fio inicial da nossa argumentação, que pretendia reforçar o caráter
pluridimensional da globalização, recusando-nos a aceitar: a natureza superior da dimensão
econômica, bem como o fundamentalismo de mercado.
Assim, apesar da forte inclinação economicista de uma parte relevante da literatura que se
ocupa da globalização, tratando o fenômeno de forma parcial e destacando algumas de suas
características mais superficiais - como a exuberância da técnica e a aura de modernidade-,
insistimos em acolher a tese que reafirma seus (da globalização) efeitos distintos e
heterogêneos nas diversas sociedades.
De fato, rejeitamos a visão linear e simplista que associa globalização à liberalização
econômica e à desregulamentação compulsórias, anunciando inclusive o fim do Estado nação.
Por isso, não vemos razão em adotar o argumento que acolhe a lógica inexorável do mercado,
nem em promover a sua consagração como árbitro capaz de solucionar todos os

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desequilíbrios. Da mesma forma, é evidente para nós, a armadilha que constrói a impressão de
que o mercado é o agente capaz de conferir e regular democracia e cidadania.
Em contrapartida, também nos recusamos a aceitar a premissa de que é impossível a interação
entre cidadania e consumo, sustentada com base no argumento de que estamos diante de
universos excludentes, e por isto, não há possibilidade alguma de conciliação.
A constatação da existência de grandes dificuldades para se harmonizar consumo e cidadania
é inegável. Entretanto, aceitar com passividade esta situação significa não somente,
conformar-se com o quadro atual de problemas, mas consentir com sua continuidade,
reconhecendo que não existe possibilidade de se definir conexões entre mercado e relações de
consumo cidadãs. A própria existência do Movimento de consumidores, demonstra que é
viável a praticabilidade de cidadania no ambiente mercadológico, bem como a construção de
relações de consumo pautadas em princípios éticos.
Desse modo, e tomando como referência Renato ORTIZ, acreditamos ser possível abordar a
questão consumo – cidadania de uma outra maneira, que procura matizar alguns dos aspectos
acima mencionados, sem contudo ignorar as ambigüidades inerentes a ela. A adoção desta
metodologia, que nos permite rejeitar a tese da “impenetrabilidade do consumo pelos ideais
democráticos”, mas não oculta as dificuldades de conciliar ética cidadã com relações de
consumo, acena adicionalmente com um meio termo, uma vez que vislumbra a possibilidade
da existência de um espaço para que a cidadania também seja exercida no mercadoxxv. De
fato, constatamos que via pressões e reivindicações expressas pelo Movimento dos
Consumidores, é possível limitar as injustiças e estimular práticas responsáveis de consumo.
Neste sentido, remetemo-nos novamente a ORTIZ, reproduzindo o trecho a seguir, para
ilustrar que os cidadãos-consumidores, através da mobilização das organizações de proteção
do consumidor, podem se contrapor à lógica pragmática do mercado, e exigir o cumprimento
de determinados direitos relacionados a um padrão de atendimento e a uma expectativa
consolidada:

“..as classes trabalhadoras e os miseráveis, excluídos, ou parcialmente incluídos, no


universo do consumo. Pode-se considerar que eles tenham o direito de adquirir certos
produtos básicos. (sic) Ocorre deste modo uma reivindicação política cuja configuração se
insere diretamente no contexto do mercado. Ou ainda: algumas minorias, ao se apropriarem
de objetos e signos veiculados socialmente, conseguem, em determinadas circunstâncias,
articulá-los a suas demandas particularizadas. Ressemantizados, eles exprimem uma
vontade coletiva alheia à lógica dominantexxvi.”

Com efeito, lança-se a possibilidade de que a interação entre cidadania e consumo possa abrir
espaços para práticas de consumo, que incluam valores de solidariedade, fomentando políticas
emancipatórias, em busca da diminuição das desigualdades. Resgata-se deste modo, a
discussão sobre a incorporação das minorias, excluídos e marginalizados, o que nos remete a
questão da eqüidade, isto é, ao debate sobre o acesso a oportunidades.
Contudo, e voltando a temática principal que pretendia discutir a viabilidade de relações de
consumo cidadãs, gostaríamos de reafirmar que, ao concordarmos que cidadania também
pode ser exercida no espaço mercadológico, até porque, segundo Renato ORTIZ, devemos
pensá-la como “um conjunto de valores que se atualizam em espaços diferenciados – na
política, no cotidiano, nos meios de comunicação, na vida pública, enfim, no consumoxxvii,
não estamos pressupondo, nem mesmo admitindo, que o mercado é o lugar da realização da
cidadania. Sem esta importante ressalva, incorremos no risco de acolher a tese que dispensa a
ação política dos cidadãos, conferindo ao “mercado” status de agente legitimado para regular
cidadania e democracia, habilitado portanto, a equacionar todos os desequilíbrios existentes
na sociedade.

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Notas:
i
ORTIZ, Renato. Um outro território. Ensaios sobre mundialização. São Paulo. Editora Brasiliense, 1994, p.20.
ii
ORTIZ, Renato. Um outro território. Ensaios sobre mundialização. São Paulo. Editora Brasiliense, 1994, p.21.
iii
M.Albrow, citado por IANNI em Teorias da Globalização, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1999, p.248.
iv
Ver BECK, Ulrich. O que é globalização? Equívocos do globalismo. Resposta à globalização. São Paulo,
Editora Paz e Terra, 1999, p. 27-29
v
BECK, Ulrich. O que é globalização? Equívocos do globalismo. Respostas à globalização. São Paulo, Editora
Paz e Terra, 1999, p. 29
vi
BECK, Ulrich. O que é globalização? Equívocos do globalismo. Respostas à globalização. São Paulo, Editora
Paz e Terra ,1999, p.31.
vii
Ver TELES, Vera. Sociedade Civil, direitos e espaços públicos. In: VILLAS-BOAS, Renata (org.).
Participação popular nos governos locais. São Paulo, POLIS, 1994, P. 46.
viii
Uma boa discussão sobre este tema pode ser encontrada in BECK, Ulrich. O que é globalização ? Equívocos
do globalismo. Respostas à globalização. São Paulo. Editora Paz e Terra, 1999, p. 72.
ix
IANNI, Otávio. Teorias da Globalização. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1997, p.39-40
x
BAUMAN, Zigmunt. Globalização: As conseqüências humanas . Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1999,
p. 7
xi
IANNI, Otávio. Teorias da Globalização. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1999, p. 16.
xii
IANNI, Otávio. Teorias da Globalização. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1999, p. 251
xiii
BAUMAN, Zigmunt. Globalização: As conseqüências Humanas. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor Ltda,
1999, p. 66
xiv
BAUMAN, Zigmunt. Globalização: As conseqüências Humanas. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor Ltda,
1999, p.67.
xv
ORTIZ, Renato. Um outro território. Ensaios sobre mundialização. São Paulo, Editora Brasiliense, 1994,
p.160
xvi
BAUMAN, Zigmunt. Globalização: As conseqüências humanas. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor Ltda,
1999, p.88.
xvii
BAUMAN, Zigmunt. Globalização: As conseqüências Humanas. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor Ltda,
1999, p.86- 93
xviii
Hannah ARENDT, citada por BENEVIDES in Democracia e cidadania. IN: VILLAS-BOAS, Renata (org.).
Participação popular nos governos locais. São Paulo, POLIS, 1994, p. 19
xix
Para maiores informações sobre a trajetória da Proteção do consumidor, ver TASCHNER, Gisela.
Globalization, Consumer Behaviour and Local Marketing: The case of Consumer Protection in Brazil. Paper
apresentado no BALLAS em 1999, U.S.A, New Orleans.
xx
Ver Marilena LAZZARINE in Seminário Internacional sobre o Consumidor no Contexto da Globalização.
1997, julho, São Paulo, p.5
xxi
Ver maiores detalhes sobre os desafios e diretrizes do movimento de consumidores na atualidade, em texto
editado a partir da fala de Marilena Lazzarine, Diretora do Idec – Instituto de Defesa do Consumidor, na IX
Conferências Regional da Consumers International, em 1999, Panamá.
xxii
Para maiores esclarecimentoss sobre o conceito de cidadania democrática ou ativa ver in BENEVIDES,
Maria Vitória. Democracia e Cidadania. IN: VILLAS-BOAS, Renata (org.).Participação popular nos governos
locais. São Paulo, POLIS, 1994. p.14
xxiii
Uma boa discussão sobre cidadania e emergência da sociedade civil pode ser encontrada in TELLES, Vera.
Sociedade Civil, direitos e espaços públicos. IN: VILLAS-BOAS, Renata.(org.). Participação popular nos
governos locais. São Paulo, POLIS, 1994, p.44.
xxiv
Ver maiores detalhes sobre os desafios e diretrizes do movimento de consumidores na atualidade, em texto
editado a partir da fala de Marilena Lazzarine, Diretora do Idec – Instituto de Defesa do Consumidor, na IX
Conferência Regional da Consumers International, em 1999, Panamá.
xxv
Para pesquisar sobre possibilidades de conexão entre cidadania e consumo, ver ORTIZ, Renato. in Um outro
território. Ensaios sobre a mundialização. São Paulo , Editora Olho D´água. 1997, p.133-135
xxvi
A propósito do movimento de consumidores e seu papel na afirmação das possibilidades de penetrabilidade
dos ideiais de cidadania no mercado, ver ORTIZ, Renato. Um outro território. Ensaios sobre a mundialização.
São Paulo, Editora Olho D´água. 1997, p. 134
xxvii
Uma boa discussão sobre os espaços nos quais a cidadania pode ser exercida, ver ORTIZ , Renato. Um
outro território. Ensaios sobre a mundialização. São Paulo. Editora Olho D´água, 1997, p.135.

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