Tratamento de Emissoes, Agua, Residuos e Efluentes

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Tratamento de emissões,

água, resíduos e efluentes


Mariana Battochio

1ª Edição |Fevereiro| 2014


Impressão em São Paulo/SP
Tratamento de emissões,
água, resíduos e efluentes
Coordenação Geral Coordenação de Projetos
Nelson Boni Leandro Lousada

Professor Responsável Revisão Ortográfica


Mariana Battochio Célia Ferreira Pinto

Coordenadora Peda- Projeto Gráfico, Dia-


gógica de Curso- EAD gramação e Capa
Roseli Leal Ana Flávia Marcheti

1º Edição: Fevereiro de 2014


Impressão em São Paulo/SP

B335t Battochio, Mariana.


Tratamento de emissões, águas e efluentes. / Mariana
Battochio. – São Paulo : Know How, 2014.
000 p. : 21 cm.
Inclui bibliografia
ISBN : 978-85-8065-224-6
1. Emissões atmosféricas. 2. Resíduos sólidos. 3.Direito
das águas. 4. Tratamento de efluentes. I. Título.

CDD 628.3

Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353


Sumário
Apresentação 7

Introdução 11

Unidade 1 - Tratamento de emissões atmosféricas 19


1.1. Conceitos básicos sobre a ocorrência e efeitos
da poluição do ar
1.2. A política nacional sobre mudança de clima
1.3. Medidas de emissões atmosféricas e padrões de
qualidade do ar
1.4. Processos de controle da poluição e equipamen-
tos para tratamento das emissões atmosféricas
1.5. Sanções Penais
1.6. Monitoramento do ar
1.7. Equipamentos e métodos para determinação da
concentração de poluentes
1.8. Processos de controle da poluição e equipamen-
tos para tratamento das emissões atmosféricas
1.9. Instrumentos de planejamento para a preserva-
ção da qualidade do ar e mitigação de ruído
1.10. Projetos de sistemas de tratamento e controle
de emissões industriais
Questões
53
Unidade 2 - Resíuod sólidos
2.1. Gerenciamento de resíduos sólidos urbanos
2.2. Sanções penais e administrativas envolvendo a
má gestão dos resíduos sólidos
2.3. A limpeza urbana
2.4. Aspectos de valorização dos resíduos urbanos
2.5. Aterros sanitários
2.6. Incineração, Pirólise e Compostagem
2.7. Resíduos sólidos hospitalares
Questões

Unidade 3 - O direito das águas 83


3.1. Conteúdo fundamental do código de águas e a
qualidade das águas
3.2. A política nacional de recursos hídricos
Questões

Unidade 4 - Tratamento de efluentes 99


4.1. Origem dos efluentes líquidos e gasosos
4.2. Caracterização qualitativa e quantitativa
4.3. Sistemas de tratamento de efluentes líquidos
4.4. Reuso da água
Questões

Referências Bibliográficas 111


5
6
Apresentação

O objetivo dessa disciplina é transmitir um pa-


norama geral do tratamento das emissões atmosfé-
ricas, da questão que envolve os resíduos sólidos, do
direito das águas e do tratamento de efluentes.
A metodologia adotada emprega uma aborda-
gem crítica, holística, multidisciplinar e prática dos
temas, visando facilitar o aprendizado e despertar
seu interesse pelas questões ambientais.
Também, é importante esclarecer que estuda-
remos as emissões atmosféricas, os resíduos sólidos
e os recursos hídricos em conjunto, pois constituem
os maiores causadores de degradação ambiental, no
mundo moderno e globalizado.
Considerando que, hoje, a temática ambiental
e a utilização racional dos recursos naturais estão,
diariamente, em destaque na mídia, o poder público
tem voltado sua atividade de fiscalização para os as-
pectos da sustentabilidade.
Desta forma, para a atividade prática que en-
volve perícias, consultorias e auditorias, é de suma
importância o conhecimento da legislação ambiental
sobre as mudanças climáticas, o lixo urbano e a qua-
lidade das águas.
Convém ressaltar que o enfoque desta matéria

7
é voltado para a legislação e para a parte regulatória
dos temas, não adotando uma visão técnica.
Esperamos contribuir para seu desenvolvimen-
to profissional e acadêmico.

8
9
10
Iintrodução
O surgimento da preocupação com o
meio ambiente

Durante o Século XIX, com o advento da Re-


volução Industrial, surgiram problemas que atingi-
ram toda a população mundial, afetando a qualidade
de vida, a saúde e as condições de trabalho.
Em linhas gerais, com a massificação da produção
dos bens de consumo e com o exacerbado crescimento
das fábricas, conjugado com o uso irrestrito dos recur-
sos naturais, o meio ambiente passou a sofrer inúmeros
danos de difícil ou impossível reparação.
Entre esses danos ambientais advindos do uso
irresponsável dos recursos naturais, podemos citar a
contaminação das águas, a eliminação de algumas es-
pécies, a poluição atmosférica e as mudanças climáticas.
Infelizmente, todos esses problemas mundiais,
ainda hoje, não foram solucionados.
A soma destes problemas despertou nos gover-
nantes mundiais, e principalmente na Organização
das Nações Unidas – ONU uma preocupação com
o tratamento da proteção do meio ambiente.
Por esta razão, em 1972, na Suécia, na cidade
de Estocolmo ocorreu a Primeira Conferência Mun-
dial Sobre o Homem e o Meio Ambiente, com o
objetivo de discutir as questões ambientais presentes
no mundo todo, e apontar possíveis soluções para

11
compatibilizar o desenvolvimento econômico, com
a proteção dos recursos ambientais.
Neste momento, a ONU optou por cuidar de
mais uma tarefa: a proteção ambiental. Assim, foi
criado o Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente – PNUMA, com sede em Nairobi, no Qu-
ênia, para tratar da preservação do meio ambiente
dentro do sistema das Nações Unidas.
Em seguida, para comemorar os dez anos da
Conferência de Estocolmo, a ONU criou a Comis-
são Mundial Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvi-
mento, que publicou um relatório sobre as discus-
sões travadas ao longo de quase quatro anos.
Tal relatório é conhecido como Relatório Brun-
dtland, pois a presidência desta comissão ficou a cargo
da ex-primeira ministra da Noruega Gro Brundtland.
A publicação desse relatório trouxe, pela pri-
meira vez, um conceito de desenvolvimento susten-
tável, que conforme a ONU:

“O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que en-


contra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das
futuras gerações de atender suas próprias necessidades (...).”
“Na sua essência, o desenvolvimento sustentável é um proces-
so de mudança, no qual a exploração dos recursos, o direcio-
namento dos investimentos, a orientação do desenvolvimento
tecnológico, a mudança institucional estão em harmonia e re-

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forçam o atual e futuro potencial para satisfazer as aspirações e
necessidades humanas.”
Fonte: Portal Eletrônico da ONU no Brasil. “Relatório Brun-
dtland – Nosso Futuro Comum”.

Concluindo, podemos afirmar que desenvol-


vimento sustentável consiste em uma tentativa de
conciliar três fatores: (i) preservação ambiental, (ii)
crescimento econômico e (iii) justiça social.
Então, podemos entender que desenvolvimen-
to sustentável é a busca por um equilíbrio, deixando
de lado as visões extremistas que, apenas, atentam
à causa ambiental, ou aquelas que visam, exclusiva-
mente, ao desenvolvimento econômico das nações.
Outra conferência de suma importância para a
construção da regulação do ambiente foi a Confe-
rência “ECO 92”, também conhecida como “Cúpu-
la da Terra”, ocorrida na cidade do Rio de Janeiro,
no Brasil, em 1992.
Durante essa conferência, foram assinados do-
cumentos internacionais, onde os países assumiram
importantes metas de melhoria da condição ambien-
tal mundial:

13
Documentos internacionais assinados durante
a Conferência Mundial para o Meio Ambiente
e Desenvolvimento do Rio de Janeiro – ECO 92

1) Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Am-


biente e Desenvolvimento Sustentável: além de
Criar a Carta da Terra (documento internacional volta-
do à criação de uma ética ambiental global) estabeleceu
os princípios que devem reger o Direito Ambiental.
2) Agenda 21: corresponde a um plano de ações voltado
para a implementação do desenvolvimento sustentável.
3) Convenção sobre Diversidade Biológica: tratado
internacional que pretende proteger a biodiversidade
mundial e garantir o uso racional dos recursos genéticos.
4) Convenção do Clima: tratado internacional que
criou ações de combate às mudanças climáticas em
âmbito mundial. Criou a Conferência das Partes
(COP), um órgão encarregado de reunir-se periodi-
camente para discutir e criar ações de combate às
mudanças climáticas.

Em síntese, durante a ECO 92, os países dis-


cutiram formas de concretizar o postulado do de-
senvolvimento sustentável e avançaram na causa
ambiental, pois assumiram metas de adequação da
economia com a preservação ambiental.
Finalmente, precisamos recordar que recente-
mente, no ano de 2012, ocorreu, também, na cidade

14
do Rio de Janeiro, a Conferência conhecida como
“RIO+20”.
Apesar das críticas realizadas pela mídia, que
questionavam a inexistência de acordos ou assunção
de metas durante a conferência, houve avanço nas
discussões que envolvem a temática dos recursos
naturais.
Como resultado formal dessa conferência foi
delineado o seguinte conceito de desenvolvimento
sustentável: “O desenvolvimento sustentável é o
modelo que prevê a integração entre economia, so-
ciedade e meio ambiente. Em outras palavras, é a no-
ção de que o crescimento econômico deve levar em
consideração a inclusão social e a proteção ambien-
tal.” (Fonte: Portal Oficial da Conferência Rio+20.)
Assim, o desenvolvimento sustentável manteve-
-se como uma estratégia para a conciliação do cresci-
mento econômico dos países e a preservação do meio
ambiente em sua concepção original, pois buscou es-
tabelecer uma nova sociedade, para que as futuras ge-
rações tenham a mesma possibilidade de usufruir dos
recursos naturais que a nossa geração possui.
Atualmente, a preocupação com a utilização ra-
cional dos bens ambientais continua na pauta dos
governantes mundiais, pois essas questões afetam
diretamente a vida de toda população mundial.
Como exemplo da evolução das preocupações
ambientais, podemos citar a questão dos refugiados

15
ambientais, que constitui o fluxo de pessoas que são
obrigadas a deixar o seu país de origem, em razão
de questões climáticas que impedem a sua ocupação.
Calcula-se que os refugiados ambientais representam
cerca de 10 milhões de pessoas, havendo indicativos
de um aumento significativo nas próximas décadas.
Ainda, em relação à Economia dos países, toda
a produção mundial está sendo cobrada pela prote-
ção ambiental.
Neste sentido, há a imposição das regras previs-
tas pela ISO 14.0001, uma certificação internacional,
que visa assegurar a produção de determinada em-
presa, e deu-se com respeito às normas de proteção
ao meio ambiente.
Pelo exposto, com os avanços na proteção dos
bens ambientais e com a globalização dos meios de
comunicação, não há como evitar que as empresas
possuam uma responsabilidade socioambiental, e que
a população crie uma cultura para o consumo cons-
ciente, sob pena de sofrermos a escassez dos recursos
naturais, inviabilizando a vida humana no planeta.
Com o intuito de regular a proteção ambiental no
país, em 1981 foi editada a Lei n.º 6.938, que estabe-
lece a Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA.
Essa lei mais o artigo 225 da Constituição Fede-
ral Brasileira de 1988 apresentam quais são os princí-
pios que devem reger a proteção ambiental no país.
É muito importante uma rápida leitura prévia

16
desses dispositivos legais, para assimilar os conteúdos
que serão propostos nessa obra.
Ainda, a PNMA também criou o SISNAMA –
Sistema Nacional do Meio Ambiente, que é compos-
to pelos órgãos brasileiros responsáveis pela proteção
e melhoria da qualidade ambiental.
Dentre esses órgãos, o CONAMA – Conselho
Nacional do Meio Ambiente é o órgão consultivo e
deliberativo que vai assessorar e estabelecer normas e
padrões compatíveis com o meio ambiente, ecologi-
camente, equilibrado.
Desta forma, muitas das legislações que ire-
mos estudar são editadas pelo CONAMA, no uso
da sua competência estabelecida pela PNMA, no
artigo 6.º, inciso II.

17
Unidade 1
Tratamento de emissões atmosféricas

Caro(a)Aluno(a)
Seja bem-vindo(a)!

Nesta primeira unidade, iremos estudar o tra-


tamento das emissões atmosféricas produzidas por
atividades que lançam gases, aerossóis e partículas,
durante o processo de queima de sua matéria-prima.
O principal objetivo é adquirir uma visão global
das legislações acerca do tema, dos padrões de quali-
dade do ar e de como se dá o monitoramente dessas
emissões pelos órgãos reguladores.
Em linhas gerais, a legislação mais importante
que devemos tratar é a Política Nacional sobre Mu-
dança do Clima, introduzida pela Lei n.º 12.187/2009
e regulamentada pelo Decreto n.º 7.390/2010, segui-
da das Resoluções CONAMA n.º 05/1989 e 03/1990,
que estabelecem padrões de qualidade do ar.
1.1. Conceitos básicos sobre a ocorrência e efeitos
da poluição do ar

Neste momento, será necessário consolidar o


conhecimento de alguns conceitos técnicos e jurí-
dicos, que envolvem o tema do meio ambiente e
das mudanças climáticas, para conseguirmos mais a
frente tratar dos assuntos que envolvem os padrões
de qualidade do ar e as emissões atmosféricas.
Com o intuito de regular o sistema climático
brasileiro, o Brasil editou legislações específicas, que
serão estudadas ao longo dessa unidade. Conforme
dito anteriormente, é de suma importância que no
decorrer do estudo essas legislações sejam consulta-
das, viabilizando uma melhor compreensão do tema.
Primeiramente, cumpre lembrar que os fe-
nômenos das mudanças climáticas, em especial o
aquecimento global, são causados pelo alto nível de
concentração de gases de efeito estufa - GEE na Ca-
mada de Ozônio.
A atmosfera da Terra é formada por um con-
junto de gases. Entre eles podem citar: (i) o nitrogê-
nio, (ii) o oxigênio, (iii) o vapor de água, (iv) o dióxi-
do de carbono, (v) o ozônio, (vi) o metano, e (vii) o
óxido nitroso, sendo os quatro últimos conhecidos
como GEE.
Convém expor a ponderação feita por Antônio
Carlos Porto Araújo (2010. P. 7), em relação ao fenô-

20
meno do efeito estufa:

A maior parte da irradiação que nosso planeta emite é absorvi-


da pelo vapor de água, pelo dióxido de carbono e outros “ga-
ses de efeito estufa”, que existem naturalmente na atmosfera.
Esses gases impedem que a energia passe diretamente da su-
perfície terrestre para o espaço. Em vez disso, processos in-
terativos, como a radiação, as correntes de ar, a evaporação, a
formação de nuvens e as chuvas, transportam essa energia para
altas esferas da atmosfera. De lá, ela pode ser irradiada para o
espaço. É bom que esse processo seja lento e indireto, porque
se a superfície terrestre pudesse emitir energia para o espaço
livremente, nosso planeta seria um lugar frio e sem vida, deso-
lado e estéril sem possibilidade de vida humana da forma como
conhecemos hoje. (...) Todo esse processo seria perfeitamente
equilibrado não fossem as atividades humanas sobre a Terra,
que contribuem com emissões adicionais de gases de efeito es-
tufa e, consequentemente, ampliam a capacidade de absorção
de energia, que naturalmente esses gases já possuem.

21
C - Parte da radiação infravermelha (calor) é refetida
pela superfície da Terra, mas não regressa ao espaço,
pois é refletida de novo e absorvida pela camada de
gases de estufa que envolve o planeta. O efeito é o
aquecimento da superfície terrestre e da atmosfera.

Cabe ressaltar que, visando solucionar os pro-


blemas relacionados ao efeito estufa e as mudanças
climáticas, diminuir o desmatamento das florestas
seria a alternativa mais eficaz e menos custosa.
Em relação aos conceitos adotados pelas legisla-
ções ambientais brasileiras acerca da proteção do meio
ambiente, a já mencionada PNMA, em seu artigo 3.º,
apresenta esses conceitos, que são fundamentais para
trabalhar-se com as questões ambientais:

I) Meio Ambiente: o conjunto de condições, leis, influências


e interações de ordem física, química e biológica, que permite,
abriga, e rege a vida em todas as suas formas;

22
II) Degradação da Qualidade Ambiental: a alteração adversa das
características do meio ambiente;
III) Poluição: a degradação da qualidade ambiental resultante de
atividade que direta ou indiretamente:

a) Prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;


b) Criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) Afetem desfavoravelmente a biota;
d) Afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) Lancem matérias ou energias em desacordo com os padrões ambien-
tais estabelecidos;

IV) Poluidor: a pessoa física ou jurídica, de direito público ou


privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade cau-
sadora de degradação ambiental;
V) Recursos Ambientais: a atmosfera, as águas interiores, super-
ficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o
subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.

Em seguida, em relação ao tema que envolve


as emissões atmosféricas, a Lei n.º 12.187/2009, que
instituiu a Política Nacional sobre Mudança do Clima
– PNMC, em seu artigo 2.º, apresenta os seguintes
conceitos básicos:

VI) Adaptação: iniciativas e medidas para reduzir a vulne-


rabilidade dos sistemas naturais e humanos, frente aos efeitos
atuais e esperados da mudança do clima;

23
VII) Efeitos adversos da mudança do clima: mudanças no
meio físico ou biota resultante da mudança do clima, que te-
nham efeitos deletérios significativos sobre a composição, resi-
liência ou produtividade de ecossistemas naturais e manejados,
sobre o funcionamento de sistemas socioeconômicos ou sobre
a saúde e o bem-estar humanos;
VIII) Emissões: liberação de gases de efeito estufa ou seus precurso-
res na atmosfera, numa área específica e num período determinado;
IX) Fonte: processo ou atividade que libere na atmosfera gás
de efeito estufa, aerossol ou precursor de gás de efeito estufa;
X) Gases de Efeito Estufa: constituintes gasosos, naturais ou antrópi-
cos, que, na atmosfera, absorvem e reemitem radiação infravermelha;
XI) Impacto: os efeitos da mudança do clima nos sistemas hu-
manos e naturais;
XII) Mitigação: mudanças e substituições tecnológicas que re-
duzam o uso de recursos e as emissões por unidade de produ-
ção, bem como a implementação de medidas, que reduzam as
emissões de gases de efeito estufa e aumentem os sumidouros;
XIII) Mudança do Clima: mudança de clima que possa ser di-
reta ou indiretamente atribuída à atividade humana, que altere
a composição da atmosfera mundial e que se some àquela pro-
vocada pela variabilidade climática natural observada ao longo
de períodos comparáveis;
XIV) Sumidouro: processo, atividade ou mecanismo que re-
mova da atmosfera gás de efeito estufa, aerossol ou precursor
de gás de efeito estufa; e
XV) Vulnerabilidade: grau de suscetibilidade e incapacidade
de um sistema, em função de sua sensibilidade, capacidade de

24
adaptação, e do caráter, magnitude e taxa de mudança e varia-
ção do clima a que está exposto, de lidar com os efeitos adver-
sos da mudança do clima, entre os quais a variabilidade climá-
tica e os eventos extremos.

Também, a Resolução CONAMA n.º 003/1990


estabeleceu que são padrões de qualidade do ar as
concentrações de poluentes atmosféricos que, caso
ultrapassadas, podem afetar a saúde, o bem-estar e o
meio ambiente em geral.
A mesma legislação estabelece que os poluentes
atmosféricos constituam qualquer forma de matéria
ou energia com intensidade, e em quantidade, con-
centração, tempo ou características em desacordo
com os níveis estabelecidos, e que tornem ou pos-
sam tornar o ar: i) impróprio, nocivo ou ofensivo
à saúde; ii) inconveniente ao bem-estar público; iii)
danoso aos materiais, à fauna e a flora; ou iv) preju-
dicial à segurança ao uso e gozo da propriedade e às
atividades normais da comunidade. Ainda, é extre-
mamente importante ter conhecimento dos seguin-
tes conceitos trazidos por essa Resolução:

I) Padrões Primários de Qualidade do Ar: são as concen-


trações de poluentes que, ultrapassadas poderão afetar a saúde
da população;
II) Padrões Secundários de Qualidade do Ar: são as con-
centrações de poluentes abaixo das quais se prevê o mínimo

25
efeito adverso sobre o bem-estar da população, assim como o
mínimo dano à fauna, à flora, aos materiais e ao meio ambiente,
em geral.

Cabe lembrar, ainda, que a própria Resolução


CONAMA n.º 003/1990 estabeleceu que os pa-
drões de qualidade do ar constituíssem o objetivo a
ser atingido mediante a estratégia de controle fixada
pelos padrões de emissões e deverão orientar a ela-
boração de Planos Regionais de Controle de Polui-
ção do Ar.
Por essa razão, convém saber que o artigo 23 da
Constituição Federal estabeleceu que a competência
para proteger o meio ambiente e combater a polui-
ção em qualquer de suas formas é comum da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Desta forma, deve haver cooperação entre os
entes federativos para a proteção do meio ambiente,
o que significa dizer que no caso da fixação de pa-
drões de emissões, devem os Estados e os Municí-
pios cooperar com a União para o estabelecimento
desses padrões.
Além desses conceitos legais e técnicos que são
importantes para o estudo da matéria que envolve o
tratamento de emissões atmosféricas, existem certos
termos adotados pelos órgãos ambientais, os quais
o conhecimento é imprescindível para trabalhar-se
com a matéria dos recursos ambientais. Então, a

26
nosso ver, é de suma importância para a atividade
prática, que envolve perícias e auditorias ambientais
ter conhecimentos básicos sobre licenciamento am-
biental e o Formulário de Emissões Atmosféricas.
O licenciamento ambiental é um dos instru-
mentos da Política Nacional do Meio Ambiente -
PNMA, sendo regulado pela Resolução CONAMA
n.º 237/1997, que apresenta as seguintes definições:

I) Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo,


pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização,
instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e ati-
vidades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efe-
tivas ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qual-
quer forma, possam causar degradação ambiental, consideran-
do as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas
aplicáveis ao caso;
II) Licença Ambiental: ato administrativo pelo qual o ór-
gão ambiental competente, estabelece as condições, restrições
e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas
pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar,
instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades uti-
lizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou, po-
tencialmente, poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma,
possam causar degradação ambiental;
III) Estudos Ambientais: são todos e quaisquer estudos re-
lativos aos aspectos ambientais relacionados à localização, ins-
talação, operação e ampliação de uma atividade ou empreen-

27
dimento, apresentado como subsídio para a análise da licença
requerida, tais como: relatório ambiental, plano e projeto de
controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico
ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área de-
gradada e análise preliminar de risco;
IV) Impacto Ambiental Regional: é todo e qualquer impacto
ambiental que afete diretamente (área de influência direta do pro-
jeto), no todo ou em parte, o território de dois ou mais Estados.

Por sua vez, o Formulário de Emissões Atmos-


féricas, podendo também ser chamado de Declaração
de Emissões Atmosféricas é exigido pelo IBAMA aos
empreendimentos e atividades que em sua operação
causem ou provoquem emissão de partículas, gases e
aerossóis, durante seu processo produtivo.
Após, fazermos essas considerações acerca dos
conceitos básicos sobre a ocorrência e efeitos da polui-
ção do ar, podemos prosseguir com o estudo das emis-
sões atmosféricas.

28
1.2. A POLÍTICA NACIONAL SOBRE
MUDANÇA DO CLIMA

A Política Nacional sobre Mudança do Clima –


PNMC foi instituída pela Lei n.º 12.187/2009 e inte-
gra o ordenamento jurídico brasileiro sobre Direito
Ambiental, em conjunto com a Política Nacional do
Meio Ambiente – PNMA (Lei n.º 6.938/198).
Essa legislação foi editada como forma de regu-
lar no ordenamento interno, a prevenção e o comba-
te ao fenômeno universal das mudanças climáticas,
através do estabelecimento de metas de redução de
emissão de gases de efeito estufa, com vistas a re-
duzir de 36,1% a 38,9% das emissões projetadas até
2020 (artigo 12).
O artigo 4.º desta lei bem sintetiza quais são os
objetivos e diretrizes da PNMC:

Art. 4.º. A Política Nacional sobre Mudança do Clima – PNMC visará:


I – à compatibilização do desenvolvimento econômico-social
com a proteção do sistema climático;
II – à redução das emissões antrópicas de gases de efeito estufa
em relação às suas diferentes fontes;
III – (vetado);
IV - ao fortalecimento das remoções antrópicas por semidou-
ros de gases de efeito estufa no território nacional;
V – à implementação de medidas para promover a adaptação à

29
mudança do clima pelas três esferas da Federação, com a parti-
cipação e a colaboração dos agentes econômicos e sociais inte-
ressados ou beneficiários, em particular aqueles, especialmente,
vulneráveis aos seus efeitos adversos;
VI - à preservação, à conservação e à recuperação dos recursos
ambientais, com particular atenção aos grandes biomas natu-
rais tidos como Patrimônio Nacional;
VII - à consolidação e à expansão das áreas legalmente prote-
gidas e ao incentivo aos reflorestamentos e à recomposição da
cobertura vegetal em áreas degradadas;
VIII – ao estímulo ao desenvolvimento do Mercado Brasileiro
de Redução de Emissões – MBRE.
Parágrafo único. Os objetivos da Política Nacional sobre Mu-
dança do Clima deverão estar em consonância com o desenvol-
vimento sustentável, a fim de buscar o crescimento econômico,
a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades sociais.

Desta maneira, as diretrizes e objetivos propos-


tos por essa legislação possuem caráter econômico,
social e ambiental, compatibilizando essas três es-
feras, com o intuito de alcançar o desenvolvimento
sustentável e uma economia verde.

1.3. Medidas de emissões atmosféricas e padróes de


qualidade do ar

A partir de agora, veremos quais são as medidas

30
de emissões permitidas pela legislação brasileira para
a adequação ao padrão de qualidade do ar exigido no
nosso país.
Desta forma, estes padrões de qualidade do
ar estão disciplinados na Resolução CONAMA n.º
003/1990 mencionada anteriormente.
Antes de analisarmos quais são as medidas le-
gais de qualidade do ar, devemos ter em mente que a
poluição atmosférica será sempre definida pela pre-
sença de certas substâncias poluentes no ar. Então, o
monitoramento do ar será realizado com o intuito de
verificar a sua qualidade de acordo com a presença
de certas substâncias na atmosfera.
Por essa razão, a Resolução CONAMA n.º
003/1990, em seu artigo 3.º, prevê regras para os po-
luentes padrões, que são: (i) as partículas totais em
suspensão, (ii) a fumaça, (iii) as partículas inaláveis, (iv)
o dióxido de enxofre, (v) o monóxido de carbono, (vi)
o ozônio e (vii) o dióxido de nitrogênio, a saber:

Art. 3.º. Ficam estabelecidos os seguintes Padrões de Qualida-


de do Ar:
I - Partículas Totais em Suspensão
a) Padrão Primário:
1- concentração média geométrica anual de 80 (oitenta) micro-
gramas por metro cúbico de ar.
2- concentração média de 24 (vinte e quatro) horas de 240 (du-

31
zentos e quarenta) microgramas por metro cúbico de ar, que
não deve ser excedida mais de uma vez por ano.
b) Padrão Secundário:
1 - concentração média geométrica anual de 60 (sessenta) mi-
crogramas por metro cúbico de ar.
2 - concentração média de 24 (vinte e quatro) horas de 150
(cento e cinquenta) microgramas por metro cúbico de ar, que
não deve ser excedida mais de uma vez por ano.
II - Fumaça
a) Padrão Primário:
1 - concentração média aritmética anual de 60 (sessenta) micro-
gramas por metro cúbico de ar.
2 - concentração média de 24 (vinte e quatro) horas de 150
(cento e cinquenta) microgramas por metro cúbico de ar, que
não deve ser excedida mais de uma vez por ano.
b) Padrão Secundário:
1 - concentração média aritmética anual de 40 (quarenta) mi-
crogramas por metro cúbico de ar.
2 - concentração média de 24 (vinte e quatro) horas de 100
(cem) microgramas por metro cúbico de ar, que não deve ser
excedida uma de uma vez por ano.
III - Partículas Inaláveis
a) Padrão Primário e Secundário:
1 - concentração média aritmética anual de 50 (cinquenta) mi-
crogramas por metro cúbico de ar.
2- concentração média de 24 (vinte e quatro) horas de 150
(cento e cinquenta) microgramas por metro cúbico de ar, que
não deve ser excedida mais de uma vez por ano.

32
IV - Dióxido de Enxofre
a) Padrão Primário:
1 - concentração média aritmética anual de 80 (oitenta) micro-
gramas por metro cúbico de ar.
2 - concentração média de 24 (vinte e quatro) horas de 365 (tre-
zentos e sessenta e cinco) microgramas por metro cúbico de ar,
que não deve ser excedida mais de uma vez por ano.
b) Padrão Secundário:
1 - concentração média aritmética anual de 40 (quarenta) mi-
crogramas por metro cúbico de ar.
2 - concentração média de 24 (vinte e quatro) horas de,100
(cem) microgramas por metro cúbico de ar, que não deve ser
excedida mais de urna vez por ano.
V - Monóxido de carbono
a) Padrão Primário e Secundário:
1 - concentração médio de 8 (oito) horas de 10.000 (dez mil)
microgramas por metro cúbico de ar (9 ppm.), que não deve
ser excedida mais de uma vez por ano.
2 - concentração média de 1 (urna) hora de 40.000 (quarenta
mil) microgramas por metro cúbico de ar (35 ppm.), que não
deve ser excedida mais de uma vez por ano.
VI - Ozônio
a) Padrão Primário e Secundário:
1 - concentração média de 1 (uma) hora de 160 (cento e ses-
senta) microgramas por metro cúbico do ar, que não deve ser
excedida mais de uma vez por ano.
VII - Dióxido de Nitrogênio
a) Padrão Primário:

33
1 - concentração média aritmética anual de 100 (cem) micro-
gramas por metro cúbico de ar.
2 - concentração média de 1 (uma) hora de 320 (trezentos e
vinte) microgramas por metro cúbico de ar.
b) Padrão Secundário:
1 - concentração média aritmética anual de 100 (cem) micro-
gramas por metro cúbico de ar.
2 - concentração média de 1 (uma) hora de 190 (cento e noven-
ta) microgramas por metro cúbico de ar.

Vale ressaltar que, em relação aos indicadores


de qualidade atmosférica, esse grupo de poluentes
consagrado pela Resolução CONAMA n.º 003/1990
é universalmente adotado, pois essas substâncias es-
tão diretamente ligadas aos efeitos ofensivos à saúde
humana e à degradação do meio ambiente.
Conforme visto anteriormente, no Brasil,
são estabelecidos padrões primários e secundários
de qualidade do ar (artigo 2.º da Resolução CONA-
MA n.º 003/1990).

1.4. Processos de controle da poluição e equipamen-


tos para tratamento das emissões atmosféricas

Desta forma, são determinados níveis máximos


toleráveis de concentração de poluentes na atmosfe-
ra e níveis desejados dessa concentração, visando ao

34
estabelecimento de metas de redução a curto, médio
e longo prazo.
É importante verificar que esta resolução esta-
belece que é de competência dos Estados o monito-
ramento da qualidade do ar (artigo 4.º).
Essa mesma resolução prevê em seu artigo 5.º
situações excepcionais, quando os níveis de qualida-
de do ar podem ser alterados visando prevenir grave
e iminente risco à saúde da população.
Então, nessas situações de emergência mesmo
os particulares que estejam observando corretamen-
te os padrões de qualidade do ar, podem ser obri-
gados a reduzir suas atividades, sem direito à inde-
nização estatal, com o intuito de manter a higidez
atmosférica da região.
Convém, ainda, lembrar que, no Brasil, a pre-
venção da qualidade do ar com o estabelecimento de
padrões primários e secundários é dividida em clas-
ses, ou seja, áreas territoriais distintas dentro do ter-
ritório nacional de acordo com os usos pretendidos.
Desta maneira, a Resolução CONAMA
005/1989, que disciplina sobre o Programa Nacio-
nal de Controle da Poluição do Ar – PRONAR esta-
belece as seguintes classes:

Classe I: áreas de preservação, lazer e turismo, tais como: Par-


ques Nacionais e Estaduais, Reservas e Estações Ecológicas,
Estâncias Hidrominerais e Hidrotermais. Nestas áreas, deverá

35
ser mantida a qualidade do ar, em nível o mais próximo possí-
vel do verificado sem a intervenção antropogênica.
Classe II: áreas onde o nível de deterioração da qualidade do
ar seja limitado pelo padrão secundário de qualidade.
Classe III: áreas de desenvolvimento onde o nível de deterioração
da qualidade do ar seja limitado pelo padrão primário de qualidade.

Histórico das Legislações Brasileiras acerca da Poluição At-


mosférica e estabelecimento de Padrões de Qualidade do Ar

Portaria do Ministério do Inte- Estabelece padrões de qualida-


rior de n.º 231, de 21.04.1976. de do ar e diretrizes sobre con-
trole da poluição do ar.
Resolução CONAMA n.º 18, Institui o Programa de Controle
de 06.05.1986. da Poluição do Ar por Veículos
Automotores – PROCONVE.
Resolução CONAMA n.º 05 de Institui o Programa Nacional
15.06.1989. de Controle de Qualidade do
Ar – PRONAR.
Resolução CONAMA n.º 03 de Dispõe sobre Padrões de Qualida-
28.06.1990. de do Ar previstos no PRONAR.
Resolução CONAMA n.º 08 de Dispõe sobre o Estabeleci-
06.12.1990 mento de Limites Máximos de
Emissões de Poluentes no Ar.
Resolução CONAMA n.º 340 Dispõe sobre a utilização de
de 25.09.2003 Cilindros para o Envasamento
de Gases que destroem a Cama-
da de Ozônio.

36
Resolução CONAMA n.º 382 Dispõe sobre o estabelecimento
de 26.12.2006. de Limites Máximos de Emis-
sões de Poluentes Atmosféricos.
Lei n.º 12.187/2009. Institui a Política Nacional sobre
Mudança do Clima – PNMC.

Por fim, convém pontuar que a Lei n.º


8.723/1993, que dispõe sobre a redução de emissão
de poluentes por veículos automotores, prevê no
artigo 15 que: “os órgãos ambientais governamen-
tais, em nível federal, estadual e municipal, a partir
da publicação desta Lei, monitorarão a qualidade do
ar atmosférico e fixarão diretrizes e programas para
o seu controle, especialmente em centros urbanos
com população acima de 500.000 (quinhentos mil)
habitantes e nas áreas periféricas sob influência dire-
ta dessas regiões”.
Assim, os Estados e os Municípios também
são chamados para atuar na proteção da qualidade
do ar, como o exemplo do município de São Paulo,
que instituiu o Programa de Inspeção e Manuten-
ção de Veículos em Uso, definido nas Lei Municipais
11.733/1995, 12.157/1996 e 14.717/2008.
Desta maneira, o Programa inspeciona todos os
veículos automotores que possuem registro no mu-
nicípio de São Paulo, através da Inspeção Ambiental

37
Veicular, visando controlar a emissão de poluentes
e melhorar a qualidade do ar na cidade, de acordo
com os limites de emissões estabelecidos na Portaria
009/SVMA 2013.

1.5. Sanções penais

Como vimos, o Brasil possui uma série de legis-


lações que estabelecem os padrões de qualidade do
ar e os níveis de emissões, que precisam ser respeita-
dos pelas atividades humanas.
Ocorre que, algumas vezes, esses níveis permi-
tidos de emissões são ultrapassados, havendo o des-
respeito aos padrões exigidos pelo Estado.
Neste momento, nasce ao Estado a possibilidade
de impor sanções aos transgressores, de modo que a
legislação criminal é utiliza para punir os criminosos.
A Lei das Contravenções Penais (Decreto-lei
n.º 3.688/1941) estabelece em seu artigo 38:

Emissão de fumaça, vapor ou gás.


Art. 38. Provocar, abusivamente, emissão de fuma-
ça, vapor ou gás, que possa ofender ou molestar alguém:
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois con-
tos de réis.

Como visto, a legislação brasileira acerca da pu-


nição criminal para emissões de gases não está atuali-

38
zada em relação à moeda utilizada no país. No entan-
to, continua em vigor, o que apenas causa a conversão
da pena de multa na moeda, atualmente, corrente.
Segundo Paulo Affonso Leme Machado (2011,
P. 570) provocar emissão “significa lançar na atmos-
fera os poluentes que possam ofender a saúde, a se-
gurança, a tranquilidade de alguém”.
O mesmo autor afirma que “não é qualquer
emissão que caracteriza a contravenção”. Desta for-
ma, para haver a configuração da contravenção pe-
nal de emissão de fumaça, vapor e gás, é necessário
que a quantidade emitida esteja regulamentada em
alguma legislação ambiental, ou, no silêncio do po-
der público, é necessário que haja a probabilidade
de ofensa ao ser humano, que pode ser constatada
através de perícia.
Como vimos, a Lei das Contravenções Penais não
pune de forma severa a emissão de poluentes atmosféricos.
Por sua vez, o Código Penal Brasileiro (Decre-
to-lei n.º 2.848/1940) trata os crimes que envolvem
o perigo comum de maneira mais rígida.
Quanto às emissões atmosféricas, é necessário co-
nhecer os seguintes crimes previstos no Código Penal:

Uso de Gás Tóxico ou Asfixiante


Art. 252. Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patri-
mônio de outrem, usando gás tóxico ou asfixiante:

39
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Modalidade Culposa.
Parágrafo único: Se o crime é culposo:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

Fabrico, Fornecimento, Aquisição, Posse ou Transporte de Ex-


plosivos ou Gás Tóxico, ou Asfixiante.
Art. 253. Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transportar,
sem licença de autoridade, substância ou engenho explosivo,
gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado à sua fabricação:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

A Lei n.º 9.605/98, que dispõe sobre as sanções


penais e administrativas derivadas de condutas e ati-
vidades lesivas ao meio ambiente, conhecida como
Lei de Crimes Ambientais, consolidou os tipos pe-
nais, que anteriormente eram previstos em legisla-
ções esparsas visando dar maior efetividade na puni-
ção desses delitos.
Convém atentar ao delito previsto no artigo 54
da referida lei, pois prevê punição para os agentes
que causem poluição de qualquer natureza:

Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais


que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana,
ou que provoquem a mortandade de animais, ou a destruição

40
significativa da flora:
Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1.º. Se o crime é culposo:
Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.
§ 2.º. Se o crime:
I – tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para ocu-
pação humana;
II – causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ain-
da que momentânea dos habitantes das áreas afetadas, ou que
cause danos diretos à saúde da população;
III – causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção
do abastecimento público de água de uma comunidade;
IV – dificultar ou impedir o uso público das praias;
V – ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou
gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacor-
do com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos:
Pena – reclusão, de um a cinco anos.
§ 3.º incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo ante-
rior, quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade
competente, medidas de precaução, em caso de risco de dano
ambiental grave ou irreversível.

Em suma, essas são as sanções que podem ser


aplicadas pelo poder público, em relação às emissões
atmosféricas que não respeitem os níveis estabeleci-
dos em nosso território.

41
1.6. Monitoramento do ar
Após, verificarmos como são estabelecidos e
quais os padrões de qualidade do ar, que são adota-
dos em nosso país, iremos estudar como é realizado
o monitoramento da qualidade do ar atmosférico.
Conforme vimos, a Resolução CONAMA n.º
003/90 estabeleceu em seu artigo 4.º, que “o monito-
ramento da qualidade do ar é atribuído aos Estados”.
Desta maneira, cada Estado irá determinar atra-
vés de legislação específica como será desenvolvido
o monitoramento das atividades, que lançam po-
luentes atmosféricos capazes de alterar o padrão de
qualidade do ar.
É cediço que este monitoramento da poluição
do ar deve ser realizado por técnico devidamente
habilitado; capaz de captar, compreender e acompa-
nhar a situação dos recursos ambientais, que estão
sendo afetados pelo processo produtivo.
O objetivo do monitoramento da qualidade at-
mosférica corresponde ao apresentado no artigo 2.º
da PNMA (Lei n.º 6.938/81), qual seja “a preserva-
ção, melhoria e recuperação da qualidade ambiental
propicia à vida, visando assegurar, no País, condições
ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses
da segurança nacional e à proteção da dignidade da
vida humana”.

42
A título de exemplo, no Estado de São Paulo, a Companhia
Ambiental do Estado de São Paulo – CETESB possui uma rede
de monitoramento com estações móveis, que registra ininterrup-
tamente as concentrações dos poluentes na atmosfera.
Em seguida, com base nos dados coletados, é disponibilizado dia-
riamente um boletim com a situação do ar nas últimas 24 horas.
Para conhecer melhor o método utilizado para a determina-
ção dos poluentes consulte o portal eletrônico da CETESB,
disponível em: http://www.cetesb.sp.gov.br/ar/Informa??es-
-B?sicas/23-Redes-de-Monitoramento.
Outro exemplo que podemos citar é o do Estado do Rio de
Janeiro, que através do Instituto Estadual do Meio Ambiente –
INEA monitora a qualidade do ar para determinar o nível de
concentração de poluentes presentes na atmosfera, de modo a
subsidiar ações governamentais para o controle de emissões.
Para maiores informações sobre este monitoramento acesse o
portal eletrônico do INEA, disponível em: http://www.inea.
rj.gov.br/fma/qualidade-ar.asp#monitoramento

Em linhas gerais, o monitoramento dos padrões


de qualidade do ar será realizado pelo Estado através
de sua companhia ambiental, com a finalidade de co-
letar dados sobre a situação climática de sua região,
visando ao estabelecimento de plano de ações para
preservar e restaurar a qualidade do ar.

43
1.7. Equipamentos e métodos para determinação da
concentração de poluentes

Para que seja realizado o monitoramento do ar,


surge a necessidade de utilização de equipamentos
específicos e métodos para estabelecer-se a quanti-
dade de poluentes presentes na atmosfera.
Com efeito, os métodos de amostragem e aná-
lise de poluentes presentes no ar serão definidos por
Instruções Normativas.
Nesta linha, a Resolução CONAMA n.º 003/90,
que estabelece padrões nacionais de qualidade do ar,
além de elencar poluentes padrões, também se pre-
ocupou em estabelecer métodos específicos para a
averiguação dos poluentes na atmosfera (artigo 3.º).
Assim, os métodos adotados de acordo com a
substância poluente são os seguintes:

Partículas Totais em Suspensão Método de Amostrador de


grandes Volumes ou Método
Equivalente
Fumaça Método da Refletância ou Mé-
todo Equivalente
Partículas Inaláveis Método de Separação Inercial/
Filtração ou Método Equivalente
Dióxido de Enxofre Método de Pararosanilina ou
Método Equivalente

44
Monóxido de Carbono Método do Infra-Vermelho não
Dispersivo ou Método Equivalente
Ozônio Método da Quimioluminescên-
cia ou Método Equivalente
Dióxido de Nitrogênio Método da Quimioluminescên-
cia ou Método Equivalente

Essa Resolução, além de determinar os méto-


dos de emissão por classe de poluentes, ainda es-
tabeleceu que essa metodologia referencial, precisa
ser aprovada pelo INMETRO – Instituto Nacional
de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
ou pelo IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Am-
biente e dos Recursos Naturais Renováveis.

1.8. Processos de controle da poluição e equipamen-


tos para tratamento das emissões atmosféricas

Acerca desse tema, é muito importante o co-


nhecimento da Resolução CONAMA n.º 267/90,
que proíbe o uso de substâncias que destroem a ca-
mada de ozônio.
Em linhas gerais, a proibição foi iniciada em 1.º
de janeiro de 2001, estando válida para todo o ter-
ritório nacional. A vedação envolve a utilização de
substâncias controladas especificadas nos Anexos A
e B do Protocolo de Montreal sobre Substâncias que
destroem a Camada de Ozônio.

45
No mesmo sentido, a Resolução CONAMA n.º
340/03, dispõe sobre a utilização de cilindros para
o vazamento de gases, que destroem a Camada de
Ozônio.
Desta maneira, conforme artigo 1.º desta lei
fica proibido o uso de cilindros pressurizados des-
cartáveis, que não estejam em conformidade com as
especificações dessa resolução.
O principal objetivo é evitar a liberação de
substâncias controladas na atmosfera, estabelecendo
o recolhimento e coletas adequadas, para que não
ocorram danos ambientais, que colaborem para a
ocorrência do fenômeno das mudanças climáticas.

1.9. Instrumentos de planejamento para a preserva-


ção da qualidade do ar e mitigação de ruído

Com o intuito de conservar a qualidade do ar


e diminuir os ruídos advindos das atividades indus-
triais, estão nascendo novas tecnologias de produ-
ção em matéria de energia e transporte. A título de
exemplo, podemos citar a energia eólica e os veícu-
los híbridos.
Em relação à poluição sonora, a Resolução CO-
NAMA n.º 001/90 estabeleceu critérios, padrões e
diretrizes para que a emissão de ruídos, em decor-
rência de quaisquer atividades industriais, comerciais,
sociais ou recreativas, inclusive as de propaganda po-

46
lítica, não interfira na saúde e no sossego público.
Assim, essa legislação disciplinou que são pre-
judiciais à saúde e ao sossego público, os ruídos com
níveis superiores aos considerados aceitáveis pela
Norma NBR-10.151.
Cumpre ressaltar que o nível sonoro é medi-
do em decibel (dB), através de aparelhos específicos
de medição. O objetivo é tentar estabelecer qual é
a sensação que o ruído causa no ouvido humano.
Ainda, cabe lembrar que a Resolução CONAMA n.º
001/90 trouxe critérios para a execução de projetos
de construção, ou de reformas de edificação e para a
emissão de ruídos por veículos automotores.
Também, é necessário conhecer as disposições
da Resolução CONAMA n.º 002/90, que institui o
Programa Nacional de Educação e Controle da Po-
luição Sonora, denominado “SILÊNCIO”.
Desta forma, este programa será coordenado
pelo IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Am-
biente e dos Recursos Naturais Renováveis, contan-
do com a participação de Ministérios do Poder Exe-
cutivo, órgãos estaduais e municipais.
Em relação ao Programa Silêncio, é necessário
conhecer os dispositivos, que estão elencados do ar-
tigo 1.º da referida Resolução:

Art. 1.º. Instituir em caráter nacional o Programa Nacional de Educa-

47
ção e Controle da Poluição Sonora – SILÊNCIO com os objetivos de:
a) Promover cursos técnicos para capacitar pessoal e controlar os pro-
blemas de poluição sonora nos órgãos de meio ambiente estaduais e
municipais, em todo o país;
b) Divulgar junto à população, através dos meios de comunicação dis-
poníveis, matéria educativa e conscientizadora dos efeitos prejudiciais
causados pelo excesso de ruído;
c) Introduzir o tema “poluição sonora” nos cursos secundários da rede ofi-
cial e privada de ensino, através de um Programa de Educação Nacional;
d) Incentivar a fabricação e uso de máquinas, motores, equipamen-
tos e dispositivos com menor intensidade de ruído, quando de sua
utilização na indústria, veículos em geral, construção civil, utilidades
domésticas etc;
e) Incentivar a capacitação de recursos humanos e apoio técnico e lo-
gístico dentro da polícia civil e militar, para receber denúncias e tomar
providências de combate para receber denúncias, tomar providências
de combate para receber denúncias e tomar providências de combate
à poluição sonora urbana em todo o Território Nacional;
f) Estabelecer convênios, contratos e atividades afins com órgãos e
entidades que, direta ou indiretamente, possa contribuir para o desen-
volvimento do Programa SILÊNCIO.

Em relação à poluição sonora, ainda é neces-


sário saber que a medição do ruído é feita segundo
o procedimento disciplinado na mencionada Nor-

48
ma da Associação Brasileira de Normas Técnicas –
NBR 10.151.
Quanto aos efeitos adversos causados pelo ru-
ído, Paulo Affonso Leme Machado (2011. P. 636)
expõe que um estudo da Organização Mundial de
Saúde constatou os seguintes sintomas: “perda de
audição; interferência com a comunicação; dor; in-
terferência no sono; efeitos clínicos sobre a saúde;
efeitos sobre a execução de tarefas; incômodo; efei-
tos não específicos”.
Por essas razões, faz-se necessária a regulação e
o estabelecimento de padrões, para que a emissão de
sons não seja abusiva e prejudicial à saúde humana.

1.10. Projetos de sistemas de tratamento e controle


de emissões industriais

A regulação da poluição industrial surgiu no


Brasil com a publicação do Decreto-Lei n.º 1.413/75,
que controla a poluição do meio ambiente provoca-
da por atividades industriais.
Essa legislação estabelece medidas que foram
definidas pelos órgãos federais competentes visando
que a instalação de indústrias, no país, promova atos
de gestão preventiva e corretiva aos inconvenientes
da contaminação do meio ambiente.
Em seguida, a Lei n.º 6.803/80 estabeleceu zo-
neamento industrial específico para áreas críticas de

49
poluição. O intuito desta legislação é a criação de
zonas destinadas à instalação de indústrias, compati-
bilizando suas atividades à proteção ambiental.
De acordo com José de Sena Pereira Jr., “tanto o
Decreto-Lei n.º 1.413/1975, como a Lei n.º 6.803/1990,
foram concebidos em decorrência dos graves proble-
mas de poluição do ar em regiões densamente indus-
trializadas, entre as quais Cubatão, em São Paulo. Eles
estabelecem regras para a localização de áreas indus-
triais e as limitações de uso em seus entornos, e não
tratam especificamente de limites de emissão”.
Em remate, essas são as legislações mais rele-
vantes em relação ao controle da poluição industrial
por fontes fixas.

50
Questões
1. O que são os padrões de qualidade do ar?

2. Diferencie os padrões primários e secundários


de qualidade do ar.

3. Conceitue poluente atmosférico, apontando a le-


gislação que o define.

4. Explique de maneira sucinta o fenômeno do efei-


to estufa.

5. Aponte quais sanções penais podem ser aplica-


das àqueles que não respeitam os padrões de emis-
sões atmosféricas.

51
Unidade 2
Resíduos sólidos

Caro(a)Aluno(a)

Seja bem-vindo(a)!

Nesta segunda unidade, iremos estudar a regula-


ção dos resíduos sólidos no país.
É muito importante a leitura da Lei n.º
12.305/2010, que institui a Política Nacional de Re-
síduos Sólidos, compreendendo quais são seus objeti-
vos, instrumentos, como funciona a gestão integrada
e gerenciamento do lixo no Brasil.
2.1. Gerenciamento de resíduos sólidos urbanos
Antes de tudo, convém entender o conceito de
resíduos sólidos proposto pela Lei n.º 12.305/2010,
que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos -
PNRS, no artigo 3.º, inciso XVI:

Art. 3.º. Para os efeitos desta Lei, entende-se por:


(...)
XVI – resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descar-
tado resultante de atividades humanas em sociedade, cuja destinação
final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder,
nos estados sólidos ou semissólido, bem como gases contidos em re-
cipientes e líquidos, cujas particularidades tornem inviável o seu lan-
çamento na rede pública de esgoto ou em corpos d’água, ou exijam
para isso soluções técnicas ou economicamente inviáveis em face da
melhor tecnologia disponível.

Como podemos notar, resíduos sólidos nada


mais são do que o lixo produzido diariamente por
nós após o consumo, uso e descarte de tudo aquilo
que não nos tem mais utilidade.
Como sabemos cada tipo de substância possui
o seu descarte adequado para que não haja danos ao
meio ambiente. Por essa razão, a PNRS criou instru-

54
mentos para a gestão integrada dos resíduos sólidos,
como, por exemplo, a coleta seletiva, os planos de
resíduos sólidos, os inventários, acordos setoriais,
entre outros.
Em relação ao gerenciamento de resíduos só-
lidos urbanos, a PNRS o conceitua como “conjun-
to de ações exercidas, direta ou indiretamente, nas
etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamen-
to e destinação final ambientalmente adequada dos
resíduos sólidos e disposição final, ambientalmente,
adequada dos rejeitos, de acordo com o plano muni-
cipal de gestão integrada de resíduos sólidos, ou com
plano de gerenciamento de resíduos sólidos, exigi-
dos na forma desta Lei”.
Em outras palavras, o gerenciamento dos re-
síduos sólidos compreende as seguintes etapas: (i)
a geração, (ii) o armazenamento, (iii) o transporte e
(iv) a destinação final ambientalmente adequada.
Podemos pontuar como principais preocupa-
ções, em relação aos resíduos sólidos nas grandes
cidades, o volume exacerbado da produção de lixo
pela população e a destinação incorreta, que está, di-
retamente, ligada à poluição dos rios, do ar e a con-
taminação do solo.
Desta forma, algumas das soluções propostas
pela PNRS seriam o estabelecimento de padrões
sustentáveis de produção e de consumo, a recicla-
gem, a disposição ambientalmente adequada e a lo-

55
gística reversa.
Conforme artigo 9.º da PNRS, as diretrizes de
gestão e gerenciamento de resíduos sólidos devem
respeitar a seguinte ordem de prioridade:

Não Geração > Redução > Reutilização > Reciclagem > Tra-
tamento dos Resíduos Sólidos > Disposição Final Ambiental-
mente Adequada dos Rejeitos.

Respeitando essa ordem de prioridade, o geren-


ciamento dos resíduos será organizado através dos
planos de resíduos previstos no artigo 14 da PNRS:

• Plano Nacional de Resíduos Sólidos: elaborado pela União


com coordenação do Ministério do Meio Ambiente (artigo 15
da Lei n.º 12.305/2010);
• Planos Estaduais de Resíduos Sólidos: elaborados pelos Esta-
dos como condição para obtenção de recursos da União (artigo
16 da Lei n.º 12.305/2010);
• Planos Microrregionais, de Regiões Metropolitanas ou Aglo-
merações Urbanas: disciplinados pelo §2.º do artigo 16 da Lei
n.º 12.305/2010;
• Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos:
elaborados pelos Municípios e pelo Distrito Federal como con-
dição para obtenção de recursos da União (artigo 18 da Lei n.º
12.305/2010);
• Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos: disciplinados
pelo artigo 20 e seguintes da Lei n.º 12.305/2010.

56
Desta forma, o gerenciamento dos resíduos só-
lidos urbanos será exercido através da cooperação
entre União, Estados, Distrito Federal, Municípios,
regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas e
estabelecimentos comerciais.
Faz-se necessário atentar que o poder público,
o setor empresarial e a coletividade são responsáveis
pela efetividade das ações voltadas para assegurar a
observância da PNRS.
Por essa razão, a PNRS instituiu no seu arti-
go 30, a responsabilidade compartilhada pelo ciclo
de vida dos produtos, de modo que os fabricantes,
importadores, distribuidores, comerciantes, consu-
midores e titulares dos serviços públicos de limpeza
são responsáveis pela destinação adequada e logísti-
ca reversa dos resíduos utilizados por suas ativida-
des, formando uma cadeia de responsabilidade.
Para a atividade prática envolvendo o mane-
jo dos resíduos sólidos, é fundamental conhecer as
proibições postas pela PNRS, nos artigo 47 a 49:

- lançamento de resíduos ou rejeitos em praias, no mar ou em


quaisquer corpos hídricos;
- lançamento in natura a céu aberto, excetuado os resíduos
de mineração;
- queima a céu aberto ou em recipientes, instalações e equipa-
mentos não licenciados para essa finalidade;
- nas áreas de disposição final de resíduos, é vedada a utilização

57
dos rejeitos dispostos como alimentação;
- nestas áreas, é vedada a catação, a criação de animais domés-
ticos e a fixação de habitantes;
-importação de resíduos sólidos perigosos e rejeitos;
-outras formas vedadas pelo poder público.

Em linhas gerais, essas são as principais dispo-


sições legais em relação ao gerenciamento dos resí-
duos sólidos urbanos.

2.2. Sanções penais e administrativas envolvendo a


má gestão dos resíduos sólidos

Em relação às punições administrativas, Paulo


Affonso Leme Machado (2011. P. 623.) pondera que:

No Estado de São Paulo, no caso de serem contrariadas as nor-


mas legais pertinentes a controle da poluição do solo poderá
ser cominada a pena de multa de quatro vezes a seis vezes o
maior salário mínimo vigente no Estado e interdição temporá-
ria, ou definitiva do estabelecimento ou intervenção, conforme
o caso (art. 601, VI, b, do Decreto n.º 52.497, de 21.7.1970).
No mesmo sentido a regulamentação vigente no Estado do
Rio Grande do Sul, onde a multa é de sete a dez vezes o maior
salário mínimo vigente no País (art. 818, VII, b, do Decreto
n.º 24.430, de 24.10.1974). Pela Lei 6.205, de 29.4.1975, em

58
substituição à correção pelo salário mínimo, o Poder Executivo
Federal estabeleceu sistema especial de atualização monetária.
O Decreto federal 3.179/99, em seu art. 41, prevê a multa de
R$ 1.000,00 (um mil reais) a R$ 50.000.000,00 (cinquenta mi-
lhões de reais) para quem “lançar resíduos sólidos, líquidos ou
gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacor-
do com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos”
(inciso V).
As infrações previstas pelas legislações estaduais e federais não
inibem as Prefeituras municipais de também legislarem sobre
a matéria, desde que não invadam as normas já estatuídas, dis-
pondo em contrário. As posturas municipais, portanto, pode-
rão ampliar as situações infracionais, a elas cominando penali-
dades adequadas. (grifo nosso)

Em relação à punição criminal da má gestão


dos resíduos sólidos, aplica-se o mesmo tipo penal
visto na unidade anterior, que abrange a poluição de
qualquer natureza, previsto no artigo 54, caput, da
Lei 9.605/1998 que diz: “causar poluição de qual-
quer natureza em níveis tais que resultem ou possam
resultar em danos à saúde humana, ou que provo-
quem a mortandade de animais ou a destruição sig-
nificativa da flora: Pena – reclusão, de um a quatro
anos, e multa”.
Ainda, o próprio artigo 51 da PNRS prevê que:

59
Art. 51. Sem prejuízo da obrigação de, independentemente da
existência de culpa, reparar os danos causados, a ação ou omis-
são das pessoas físicas ou jurídicas que importe inobservância
aos preceitos desta Lei ou de seu regulamento sujeita os infra-
tores às sanções previstas em lei, em especial às fixadas na Lei
9.605 de 12 de fevereiro de 1998: “dispõe sobre as sanções
penais e administrativas derivadas de condutas e atividades de-
rivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá
outras providências” e seu regulamento.

Deste modo, também estão sujeitas à Lei de


Crimes Ambientais as infrações penais contra a ges-
tão, ambientalmente, adequada dos resíduos sólidos

2.3. A Limpeza urbana

O tratamento adequado dos resíduos sólidos


urbanos é de suma importância para que o ambiente
urbano seja saudável e sustentável, produzindo uma
política urbana capaz de atingir o bem-estar dos ci-
dadãos e o equilíbrio ambiental.
Por questões de saúde pública, higiene, bem-
-estar, qualidade de vida da população são necessá-
rios e que serviços de primeira necessidade, como
o caso do saneamento básico e da limpeza urbana,
funcionem adequadamente para o desenvolvimento
das funções sociais da cidade.

60
Por se tratar de um assunto de interesse do po-
der local que envolve a prestação e a organização de
serviço público, a limpeza urbana fica sob a compe-
tência dos Municípios, conforme disciplina o artigo
10 da PNRS:

Art. 10. Incumbe ao Distrito Federal e aos Municípios a gestão


integrada dos resíduos sólidos gerados nos respectivos territó-
rios, sem prejuízo das competências de controle e fiscalização
dos órgãos federais e estaduais do Sisnama, do SNVS e do Su-
asa, bem como da responsabilidade do gerador pelo gerencia-
mento de resíduos, consoante o estabelecido nesta Lei.

Ademais, cabe ressaltar que com a nova discipli-


na trazida pela PNRS, que visa proteger a saúde públi-
ca, a qualidade ambiental e a gestão integrada dos resí-
duos sólidos; os serviços de limpeza urbana tornam-
-se essenciais para a obtenção de um gerenciamento
ambientalmente adequado dos resíduos sólidos.
De acordo com a Lei 11.445/2007, que estabe-
lece diretrizes nacionais para o saneamento básico,
a limpeza urbana e o manejo dos resíduos sólidos
compõem o conjunto de serviços, infraestruturas e
instalações operacionais de saneamento básico.
Com efeito, essa legislação em seu artigo 3.º,
inciso I, alínea b, conceitua da seguinte forma, a lim-

61
peza urbana e o manejo dos resíduos sólidos:
Limpeza Urbana e Manejo de Resíduos Sólidos:
conjunto de atividades, infraestruturas e instalações ope-
racionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e
destino final do lixo doméstico, do lixo originário da var-
rição, limpeza de logradouros e vias públicas.
Como se nota, a limpeza do lixo urbano adota
as mesmas etapas utilizadas para o gerenciamento
de outros resíduos sólidos: (i) a geração, (ii) o arma-
zenamento, (iii) o transporte e (iv) a destinação final
ambientalmente adequada.
Sobre o serviço público de limpeza urbana, o
artigo 7.º da Lei 11.445/2007 dispõe:

Art. 7.º. Para os efeitos desta Lei, o serviço público


de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos
urbanos é composto pelas seguintes atividades:
I – de coleta, transbordo e transporte dos resíduos
relacionados na alínea c do inciso I do caput do art.
3.º desta Lei;
II – de triagem para fins de reuso ou reciclagem, de
tratamento, inclusive por compostagem, e de dispo-
sição final dos resíduos relacionados na alínea c do
inciso I do caput do art. 3.º desta Lei;
III - de varrição, capina e poda de árvores em vias
e logradouros públicos e outros eventuais serviços
pertinentes à limpeza pública urbana.

62
Cumpre, ainda, apresentar a classificação dos
resíduos de limpeza urbana e dos resíduos sólidos
urbanos, proposta pelo artigo 13 da PNRS:
Resíduos de Limpeza Urbana: os originários da
varrição, limpeza de logradouros e vias públicas e
outros serviços de limpeza urbana;
Resíduos Sólidos Urbanos: (i) resíduos domi-
ciliares (os originários de atividades domésticas em
residências urbanas) e (ii) resíduos de limpeza urba-
na (originários de varrição, limpeza de logradouros e
vias públicas e outros serviços de limpeza urbana).
Após, conceituarmos os resíduos urbanos e sua
limpeza, será necessário entender como se dá a sua
gestão integrada de modo a compatibilizar a preser-
vação do meio ambiente urbano com os problemas
de crescimento demográfico, de geração exacerbada
de resíduos e a maneira adequada de realizar a sua
coleta e destinação final.
É evidente que com a publicação da PNRS
houve um enorme avanço nos serviços de limpeza
urbana. Isto porque ela veio organizar toda a ope-
ração no trato dos resíduos sólidos, de modo que o
manejo urbano também foi aprimorado.
De acordo com os termos desta lei, a gestão in-
tegrada de resíduos sólidos corresponde a um “con-
junto de ações voltadas para a busca de soluções
para os resíduos sólidos, de forma a considerar as
dimensões políticas, econômica, ambiental, cultural

63
e social, com controle social e sob a premissa do de-
senvolvimento sustentável”.
Considerando que, atualmente, o Brasil encon-
tra-se em um período de crescimento econômico, as
atividades industriais, de infraestrutura e o progresso
tecnológico acabam dificultando, mas não impedin-
do, a implementação da gestão integrada de resíduos.
Por essa razão, a destinação final de resíduos
sólidos urbanos no Brasil é, em sua maior parte, ina-
dequada, conforme mostra o gráfico a seguir.

Fonte: FILHO. 2012. P. 375.

Com o intuito de reverter esse quadro, a PNRS


estabelece metas e diretrizes para que o poder públi-
co, o setor privado e a população cooperem para a
melhoria do manejo de resíduos sólidos no Brasil.

64
A respeito da nova sistemática da PNRS em
relação à limpeza urbana, Carlos R. V. Silva Filho
(2012, p. 379) explica que:
O modelo de gestão integrada de RSU (Resí-
duos Sólidos Urbanos) previsto pela PNRS, a cargo
dos municípios e do Distrito Federal, deverá cobrir
integralmente o fluxo de resíduos, com a plena uni-
versalização da coleta e viabilização da destinação
ambientalmente adequada e sustentável da totalida-
de dos materiais descartados. A esse novo proces-
so deverão ser adicionados esforços de redução na
geração diretamente conectados com medidas de
reutilização, os quais deverão ser agregados às ações
de separação e reciclagem, permitindo a recupera-
ção dos materiais e da energia contida nos resíduos,
por meio de processos de tratamento, com a poste-
rior disposição dos rejeitos em aterros sanitários, os
quais deverão também proporcionar a recuperação e
o aproveitamento do biogás gerado nessas unidades,
o que possibilita, inclusive, a mitigação da emissão
de gases de efeito estufa (GEE), com a consequente
contribuição para a redução dos efeitos de aqueci-
mento global.

65
Fonte: FILHO. 2012. P. 375.

2.4. Aspectos de valorização dos resíduos urbanos

Como vimos, a limpeza urbana é de suma im-


portância para a salubridade da vida na cidade, para a
estética urbanística e para efetiva implementação da
PNRS. Para tanto, é necessário que os resíduos sóli-
dos urbanos sejam reduzidos, reciclados e reutiliza-
dos, visando o melhor aproveitamento dos resíduos
sólidos urbanos.

66
Por essa razão, foi criado o Sistema de Valorização dos Resídu-
os Sólidos, que visa, justamente, reaproveitar os resíduos que
teriam como destinação final os aterros sanitários.
O principal intuito deste Sistema de Valorização de Resíduos
é transformar os resíduos urbanos em novas fontes de maté-
rias-primas, com o objetivo, em longo prazo, de transformar a
produção regular de resíduos sólidos em um processo autos-
sustentável, através da reutilização.
Em relação a este tema, é importante conhecer alguns dos con-
ceitos apresentados pela PNRS, nos incisos do artigo 3.º:

Com a implementação efetiva desses instru-


mentos previstos na PNRS é possibilitado ao Poder
Público e a toda coletividade o alcance do aproveita-
mento racional dos resíduos, proporcionando quali-
dade de vida na cidade.

2.5. Aterros sanitários

De início, cabe conceituar e diferenciar aterros


sanitários e lixões.
Os aterros sanitários constituem a forma ade-
quada de destinação final para os resíduos sólidos.
Nestes locais, há uma técnica de disposição que per-
mite o menor impacto ambiental no descarte das
substâncias que não possuem mais utilidade para a

67
sociedade: o aterramento dos resíduos sólidos.
Desta forma, o método utilizado nos aterros
sanitários envolve o armazenamento do lixo no pró-
prio solo, ocorrendo uma operação periódica onde
os resíduos são cobertos por terra e outras substân-
cias.
É certo que todo este procedimento exige o
monitoramento adequado da área, uma seleção ri-
gorosa da sua localização e o preparo que antecede a
operação do aterro sanitário.
Cabe informar que a técnica do aterramento é
considerada simples, mas eficaz quanto ao descarte
dos resíduos e rejeitos produzidos pela população;
em especial quando o poder público não dispõe de
recursos técnicos e financeiros para o tratamento de
seus resíduos sólidos.
Por sua vez, os lixões constituem maneira com-
pletamente inadequada e irregular para o descarte
dos resíduos sólidos, gerando inúmeras adversidades
à salubridade do meio ambiente afetado, inclusive
contaminação da área.
Em linhas gerais, nos lixões, os resíduos são
despejados sem nenhuma espécie de controle: o des-
carte é realizado a céu aberto, sem a devida imper-
meabilização do solo e sem critérios técnicos.
Vale lembrar que outros instrumentos previstos
na PNRS também devem ser adotados para a dispo-
sição dos resíduos, como a reciclagem, a reutilização

68
e a logística reversa.
Isto porque, apenas a utilização de aterros sani-
tários não seria suficiente para a disposição de todos
os resíduos advindos das grandes concentrações ur-
banas, vez que os aterros não possuem técnica para o
aproveitamento energético dos rejeitos depositados.
A Lei da PNRS prevê no artigo 54 que as ati-
vidades dos lixões deverão ser encerradas até o ano
de 2014:

Art. 54. A disposição final ambientalmente adequada dos rejei-


tos, observado o disposto no §1.º do art. 9.º, deverá ser implan-
tada em até 4 (quatro) anos após a data de publicação desta Lei.
Por sua vez, o artigo 9.º dispõe:
Art. 9.º. Na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve
ser observada a seguinte ordem de prioridade: não geração, re-
dução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos
e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.
§1.º Poderão ser utilizadas tecnologias visando à recuperação
energética dos resíduos sólidos urbanos, desde que tenha sido
comprovada sua viabilidade técnica e ambiental e com a im-
plantação de programa de monitoramento de emissão de gases
tóxicos aprovado pelo órgão ambiental.

69
Com efeito, após essa data estabelecida pela
PNRS todos os estabelecimentos de disposição ina-
dequada de resíduos que se encontrem em funciona-
mento deverão ser compulsoriamente fechados pelo
poder público.
Como exemplo de bom funcionamento, pode-
mos citar o Aterro Bandeirantes, localizado próximo
a capital do Estado de São Paulo, desativado em 2007.

Aterro Bandeirantes

Conforme matéria veiculada na revista Época


em 03.01.2012:

70
O LIXO QUE VIRA ENERGIA E CRÉDITO DE CAR-
BONO – Aterro Bandeirantes, em São Paulo, foi fechado em
2007. Mas, os 40 milhões de toneladas de lixo enterradas lá,
podem ser usadas para gerar energia.

Na superfície, uma paisagem bucólica, com grama verde, pe-


quenos morros e algumas árvores de pequeno porte. Quem
vê o campo, às margens da rodovia dos Bandeirantes, em São
Paulo, não imagina que debaixo do gramado estão enterradas
mais de 40 milhões de toneladas de lixo, espalhadas pelos 140
hectares do Aterro Bandeirantes. O aterro, administrado pela
empresa Loga, funcionou entre os anos de 1979 e 2007. Nesse
período, recebia metade de todo o lixo produzido diariamente
em São Paulo.
O destino final do lixo orgânico é ainda um grande problema
no Brasil. Todos os dias, mais de 190 mil toneladas de lixo são
levadas para aterros, ou pior, lixões, em todo o país. A Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) diz que os governos têm
até 2014 para acabar com todos os lixões, uma tarefa nada fácil,
já que pelo menos metade dos municípios do país ainda destina
seus lixos para lixões.
O técnico da Loga Álvaro Mitsuo Seriguti, que trabalha na ad-
ministração do aterro, diz que a grande diferença entre lixões e
aterros é que os aterros tratam o lixo para evitar contaminação
do lençol freático ou da atmosfera. Isso porque o lixo de de-
compõe, gerando o chorume, um líquido poluente, e gás, prin-
cipalmente metano, que polui e é 20 vezes pior para o clima da
Terra do que o gás carbônico. A preocupação com o metano é

71
tanta que não se pode, por exemplo, plantar árvores de grande
porte no terreno do aterro, pois as raízes atingiriam os resíduos
e poderiam liberar o metano na atmosfera.
Para capturar esse gás, o aterro Bandeirantes tem 400 pontos
de captura, que retiram o metano que se forma com a putrefa-
ção do lixo, debaixo da terra, e leva para a Usina Termelétrica
Bandeirantes. A usina, administrada pela empresa Biogás, apro-
veita esse metano, transformando o gás do lixo em eletricidade:
a usina tem capacidade de fornecer energia elétrica para até 300
mil pessoas.
A Biogás faz parte de um programa de crédito de carbono.
Como o metano seria liberado na atmosfera, caso a usina não
existisse, poluindo o ar e contribuindo para o fenômeno do
aquecimento global, a usina e a prefeitura recebem dinheiro
por evitar essas emissões. O ganho é duplo: financeiro, para
a cidade e para a empresa, e ambiental para a sociedade. An-
derson Alves da Silva, coordenador da Biogás, diz que, sem a
usina, 80% do metano do aterro simplesmente sairiam para a
atmosfera. Com a usina, apenas 0,01% polui o ar. "Só nesta
manhã, por exemplo, nós deixamos de emitir até o momento
300 toneladas de CO2 equivalente", disse.
Fonte: Reportagem de Bruno Calixto para Revista Época.

Ainda, é interessante conhecer o caso do Ater-


ro Mantovani, onde a contaminação do solo gerou
graves problemas de saúde para a população local.

72
Conforme notícia disponível no site da CE-
TESB – Companhia Ambiental do Estado de São
Paulo, sobre o Aterro Mantovani:

(...) Esta é uma das maiores áreas contaminadas registradas na


CETESB. Dados atuais apontam a existência confirmada de cer-
ca de 326 mil toneladas de resíduos industriais no local.
Localiza-se no município de Santo Antônio de Posse, região
de Campinas, em área rural (Sítio Pirapitingui), com vizinhança
constituída de sítios (Santa Adélia, Dois Irmãos, Santo Antônio e
São José), onde moram aproximadamente 35 pessoas.
Teve suas atividades encerradas em 1987, por exigência da CE-
TESB. Operaram no local dois aterros de resíduos industriais:
o Aterro Mantovani e a CETRIN, que receberam resíduos de
cerca de 75 (setenta e cinco) empresas localizadas nos Estados
de São Paulo e do Rio de Janeiro, parte das quais multinacionais.
A CETESB mantém, desde 1986, o monitoramento da quali-
dade das águas subterrâneas e superficiais da região próxima
aos aterros. Em 2001, o monitoramento executado pela CE-
TESB evidenciou a contaminação do poço de abastecimento
de água de um dos sítios vizinhos.
O proprietário do Sítio Pirapitingui e dos empreendimentos
foi condenado em 1995 pela Justiça a pagar indenização pelo
dano ambiental. Recentemente, o valor desta indenização foi
arbitrado em R$ 90 milhões.
Até o ano de 2000, a CETESB concentrou suas ações admi-
nistrativas sobre o proprietário dos empreendimentos, que ale-

73
gava não dispor de recursos financeiros para a execução das
medidas necessárias ao diagnóstico e remediação da área.
Em 2000, a CETESB e o Ministério Público Estadual decidi-
ram convocar as empresas que haviam depositado resíduos no
local para assumirem sua parcela de responsabilidade sobre a
contaminação.
Em 2001, a CETESB autuou as empresas que utilizaram o
Aterro Mantovani, exigindo a adoção de medidas para a solução
do problema, uma vez que o proprietário dos empreendimentos
não reunia condições de resolvê-lo sozinho.
Fonte: Banco de Notícias do Site da CETESB. Disponível em:
http://www.cetesb.sp.gov.br/noticentro/004/12/17_aterro.pdf

Fonte: Leandro Leal. Pirólise. Info Escola.

74
O próximo método de disposição dos resíduos
sólidos que merece ser pontuado é a compostagem.
Através desse processo biológico, o lixo é transforma-
do em matéria orgânica, que pode ser utilizada como
adubo para o solo. Assim, são utilizados microrganis-
mos, no interior de um depósito próprio com o obje-
tivo de controlar a decomposição do resíduo.
Cumpre ressaltar que o procedimento da com-
postagem não pode ser utilizado para qualquer espé-
cie de resíduo sólido, apenas para resíduos orgâni-
cos, que não possuem qualquer tipo de contamina-
ção química perigosa.
Como vimos, essas soluções ambientais repre-
sentam alternativas eficientes para a substituição da
disposição em aterros sanitários, considerando as
dificuldades locacionais, que envolvem esse tipo de
destinação final dos resíduos sólidos.

2.7. Resíduos sólidos hospitalares

Conforme classificação apresentada pelo artigo


13 da PNRS, os resíduos de serviços de saúde são
“os gerados nos serviços de saúde, conforme defi-
nido em regulamento ou em normas estabelecidas
pelos órgãos SINAMA e do SNVS”.
Desta forma, é muito importante que esses re-
síduos possuam uma destinação, manejo e disposi-
ção adequadas, considerando o alto risco de conta-

75
minação da população.
Outra definição legal, sobre os resíduos prove-
nientes de serviços de saúde, está expressa no artigo
1.º, da Resolução CONAMA n.º 283/2001, que dis-
põe o tratamento e disposição final dos resíduos de
serviços de saúde:

I – Resíduos de Serviços de Saúde são:


a) aqueles provenientes de qualquer unidade que execute ativi-
dades de natureza médico-assistencial humana ou animal;
b) aqueles provenientes de centros de pesquisa, desenvolvi-
mento ou experimentação na área de farmacologia e saúde;
c) medicamentos e imunoterápicos vencidos ou deteriorados;
d) aqueles provenientes de necrotérios, funerárias e serviços de
medicina legal; e
e) aqueles provenientes de barreiras sanitárias.

Assim, além de conceituar essa categoria de


resíduos, essa legislação prevê a obrigatoriedade do
responsável pelo estabelecimento, que produz esses
resíduos de apresentar um Plano de Gerenciamento
de Resíduos de Serviços de Saúde, a ser aprovado
pelo órgão ambiental competente.
Ademais, esse plano deverá ser elaborado por
um responsável técnico devidamente registrado em
conselho profissional.
Considerando a necessidade de aprimoramento
da Resolução CONAMA n.º 283/2001, foi editada

76
a Resolução CONAMA n.º 358/2005, dispondo
igualmente sobre os resíduos de serviços de saúde.
Cabe salientar que uma das principais inovações
trazidas por esta resolução são os seguintes concei-
tos dispostos no artigo 2.º, nos seguintes incisos:

III – Estação de Transferência de Resíduos de Serviços de Saú-


de: é uma unidade com instalações exclusivas, com licença am-
biental expedida pelo órgão competente, para executar transfe-
rência de resíduos gerados nos serviços de saúde, garantindo
as características originais de acondicionamento, sem abrir ou
transferir conteúdo de uma embalagem para a outra;
X – Resíduos de Serviços de Saúde: são todos aqueles resul-
tantes de atividades exercidas nos serviços definidos no art.
1.º desta Resolução que, por suas características, necessitam de
processos diferenciados em seu manejo, exigindo ou não trata-
mento prévio à sua disposição final;
XI – Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saú-
de – PGRSS: documento integrante do processo de licencia-
mento ambiental, baseado nos princípios da não geração de
resíduos e na minimização da geração de resíduos, que aponta
e descreve as ações relativas ao seu manejo, no âmbito dos ser-
viços mencionados no art. 1.º desta Resolução, contemplando
os aspectos referentes à geração, segregação, acondicionamen-
to, coleta, armazenamento, transporte, reciclagem, tratamento
e disposição final, bem como a proteção à saúde pública e ao
meio ambiente;

77
XII – Sistema de Tratamento de Resíduos de Serviços de
Saúde: conjunto de unidades, processos e procedimentos que
alteram as características físicas, físico-químicas, químicas ou
biológicas dos resíduos, podendo promover a sua descaracte-
rização, visando à minimização do risco à saúde pública, à pre-
servação da qualidade do meio ambiente, à segurança e à saúde
do trabalhador;
XIII – Disposição Final de Resíduos de Serviços de Saúde: é
a prática de dispor os resíduos sólidos no solo, previamente,
preparado para recebê-los, de acordo com critérios técnico-
-construtivos e operacionais adequados, em consonância com
as exigências dos órgãos ambientais competentes;

Após vermos esses conceitos trazidos pela nova


Resolução do CONAMA disciplinando a disposição
dos resíduos de saúde, é importante esclarecer que
cabe aos geradores de resíduos e ao responsável
legal, o gerenciamento desses resíduos desde a sua
geração até a disposição final, atendendo requisitos
ambientais e de saúde pública.
Em adição, cabe a responsabilização solidária
de todos aqueles, pessoas físicas e jurídicas que, di-
reta ou indiretamente, causem ou possam causar de-
gradação ambiental, em especial os transportadores
e operadores das instalações de tratamento e dispo-
sição final desses resíduos.
Em remate, o mais importante em relação aos

78
resíduos hospitalares é que eles devem ser acondi-
cionados atendendo às exigências legais referentes
ao meio ambiente, à saúde e à limpeza urbana.

79
80
Questões
1. Aponte qual o conceito legal de resíduos sólidos.

2. O que é logística reversa?

3. Qual a diferença entre lixões e aterros sanitários?

4. Quais são as etapas do gerenciamento dos resídu-


os sólidos?

5. Conceitue a responsabilidade compartilhada pelo


ciclo de vida dos produtos.

81
Unidade 3
O direito das águas

Caro(a)Aluno(a)

Seja bem-vindo(a)!

Nesta terceira unidade, iremos analisar o ramo


do Direito que regulamenta a tutela dos recursos hí-
dricos, denominado Direito das Águas.
Em linhas gerais, há duas legislações de rele-
vância para o entendimento da matéria: o Código de
Águas e a Política Nacional de Recursos Hídricos.
3.1. Conteúdo fundamental d código de águas e a
qualidade das águas

O Decreto n.º 24.643/1934 que instituiu o Có-


digo de Águas no Brasil pretendeu regular o uso in-
dustrial das águas, ressaltando que, naquele momen-
to histórico, o país vivia um momento de crescimen-
to econômico e expansão das indústrias.
Essa legislação é dividida em duas partes: a pri-
meira trata das águas em geral e de seu domínio; en-
quanto a segunda parte irá abordar o aproveitamen-
to dos potenciais hidráulicos, envolvendo a geração,
transmissão e distribuição de energia.
Em relação ao domínio das águas, o Código de
Águas estabelece três categorias de águas: (i) as águas
públicas de uso comum, (ii) as águas comuns e (iii) as
águas particulares.
As águas públicas de uso comum são aquelas
previstas no artigo 2.º desta lei:

Art. 2.º. São águas públicas de uso comum:


a) os mares territoriais, nos mesmos incluídos os golfos, baías,
enseadas e portos;
b) as correntes, canais, lagos e lagoas navegáveis ou flutuáveis;
c) as correntes de que se façam estas águas;
d) as fontes e reservatórios públicos;
e) as nascentes quando forem de tal modo consideráveis que,
por si só, constituam o "caput fluminis";

84
f) os braços de quaisquer correntes públicas, desde que os mes-
mos influam na navegabilidade ou flutuabilidade.

Por sua vez, as águas comuns estão disciplina-


das no artigo 7.º do Código de Águas, como as “co-
muns, as correntes não navegáveis ou flutuáveis e de
que essas não se façam”.
Ainda, as águas particulares, conforme o artigo
8.º desta lei são enquadradas como:

Art. 8.º. São águas particulares, as nascentes e


todas as águas situadas em terrenos que também o
sejam, quando as mesmas não estiverem classifica-
das entre as águas comuns de todos, as águas públi-
cas ou as águas comuns.

Além dessas classificações, outras são adota-


das quando do estabelecimento de padrões de quali-
dade.
Como explica Édis Milaré (2011. pág. 590) a
respeito das legislações sobre padrões de qualidade
das águas:

(...) “a Resolução CONAMA 357/2005 clas-


sifica as águas superficiais doces, salobras e salinas
do território nacional, e a Resolução CONAMA
396/2008 classifica as águas subterrâneas. Ambas
definem os padrões de qualidade de cada uma dessas

85
classes, segundo os usos preponderantes, que se lhes
quer dar. O enquadramento dos corpos de água nes-
sas classes é feito não necessariamente no seu estado
atual, mas sim nos níveis de qualidade que deveriam
ter para garantir os usos a que se pretende destiná-
-los, o que exige um controle de metas visando a
atingir, de modo gradual, os objetivos do enquadra-
mento.

Desta maneira, para a atividade prática que en-


volve os recursos hídricos, é necessário conhecer os
padrões de qualidade das águas que estão disciplina-
dos nessas duas legislações.
Em linhas gerais, a Resolução CONAMA n.º
357/2005 classifica os corpos de água e dá diretrizes
ambientais para o seu enquadramento, enquanto a
Resolução CONAMA n.º 396/2008 dispõe sobre a
classificação e diretrizes ambientais para o enquadra-
mento das águas subterrâneas.
Em relação à proteção constitucional dada às
águas, o artigo 26 da Constituição Federal estabe-
leceu que: “Incluem-se entre os bens dos Estados:
I – as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes,
emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso,
na forma da lei, as decorrentes de obras da União
(...)”.
Ainda, o artigo 20 da Magna Carta estabelece:
“São bens da União: (...) III – os lagos, rios e quais-

86
quer correntes de água em terrenos de seu domínio,
ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limi-
tes com outros países, ou se estendam a território es-
trangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos
marginais e as praias fluviais; (...) VI – mar territorial;
(...) VIII – os potenciais de energia hidráulica; (...)”.
Deste modo, podemos afirmar que as águas
interiores superficiais, que não estejam localizadas
no território de algum Estado pertencem à União,
enquanto as águas subterrâneas pertencem sempre
serão estaduais.
Por essa razão, o artigo 21, inciso XII, b, da
Constituição Federal prevê que cabe à União explo-
rar diretamente ou mediante concessão, permissão
ou autorização, os serviços e instalações de energia
elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de
água, em articulação com os Estados, onde se situam
os potenciais hidroenergéticos.
Sobre esse aproveitamento, o Código de Águas
irá discorrer a partir do artigo 34, que assegura “o
uso gratuito de qualquer corrente ou nascente de
águas, para as primeiras necessidades da vida, se
houver caminho público que as tornem acessíveis”.
Finalmente, convém ressaltar que o Código de
Águas de 1934 criou uma principiologia que envolve
a valoração e o aproveitamento racional das águas, o
que hoje nos permite a cobrança pelo uso da água.
Os dispositivos do Código de Águas, que esta-

87
belecem a possibilidade de reconhecer o valor eco-
nômico da água são os seguintes:

• Artigo 36, parágrafo 2.º: “o uso comum das águas pode ser
gratuito ou retribuído, conforme as leis e regulamentos da cir-
cunscrição administrativa a que pertencem”.
• Artigo 43, caput: “as águas públicas não podem ser derivadas
para as aplicações da agricultura, da indústria e da higiene, sem
a existência de concessão administrativa, no caso de utilidade
pública e, não se verificando esta, de autorização administra-
tiva, que será dispensada, todavia, na hipótese de derivações
insignificantes”.
• Artigo 139, caput: “o aproveitamento industrial das quedas
de águas e outras fontes de energia hidráulica, quer do domínio
público, quer do domínio particular, far-se-á pelo regime de
autorização e concessões instituído neste Código”.
•Artigo 178: “no desempenho das atribuições que lhe são
conferidas, a divisão de Águas do Departamento Nacional da
Produção Mineral fiscalizará a produção, a transmissão, a trans-
formação e a distribuição de energia hidroelétrica, com o trí-
plice objetivo de: a) assegurar serviço adequado; b) fixar tarifas
razoáveis; c) garantir a estabilidade financeira das empresas.”

88
Assim, através dessa gestão das águas trazida
pelo Código de Águas, é permitido, hoje, ao Poder
Público estabelecer a cobrança pelo uso da água,
como forma de fomentar o uso racional deste recur-
so e dar ao usuário uma indicação do valor da água.
Como conclusão, o Código de Águas foi o
primeiro diploma legal a regulamentar a gestão das
águas no país e prever o aproveitamento do seu po-
tencial hidráulico, estabelecendo a possibilidade da
cobrança pelo uso da água. Por sua vez, as normas
do CONAMA n.º 357/2005 e 396/2008 vão estabe-
lecer os padrões mínimos de qualidade da água.

3.2. A Política nacional de recursos hídricos

A Lei n.º 9.433/1997 que instituiu a Política Na-


cional de Recursos Hídricos – PNRH e criou o Siste-
ma Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
veio complementar a proteção da água no Brasil.
É fundamental conhecer bem quais são os fun-
damentos, objetivos, diretrizes e instrumentos da
PNRH, bem como o funcionamento do Sistema
Nacional de Gerenciamento.
De início, o artigo 1.º estabeleceu os fundamen-
tos desta legislação:

Art. 1.º. A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se


nos seguintes fundamentos:

89
I – a água é um bem de domínio público;
II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;
III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos
hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais;
IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar
o uso múltiplo das águas;
V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implemen-
tação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;
VI – a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada
e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e
das comunidades.

Como de nota, a água não é um bem dominical,


ou seja, um bem que integra o patrimônio privado do
poder público. A água é um bem de domínio público
necessário para a sadia qualidade de vida no planeta.
Também, é estabelecido como fundamento
desta legislação o reconhecimento da água, como
bem de domínio público integrante do rol dos bens
ambientais que são protegidos pelo artigo 225 da
Constituição Federal, de modo que a água é também
um bem de uso comum do povo.
Em seguida, os objetivos da PNRH estão esta-
belecidos no artigo 2.º, como sendo:

I – assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponi-


bilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos res-

90
pectivos usos;
II – a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, in-
cluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimen-
to sustentável;
III – a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críti-
cos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos
recursos naturais.

Depois, no artigo 5.º são listados os seguintes


instrumentos para a implantação da Política Nacio-
nal dos Recursos Hídricos:

I – os Planos de Recursos Hídricos;


II – o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo
os usos preponderantes da água;
III – a outorga dos direitos de usos de recursos hídricos;
IV – a cobrança pelo uso de recursos hídricos;
V – a compensação a municípios;
VI – o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.

Dentre esses instrumentos, merece destaque a


outorga de recursos hídricos, disciplinada pelo 11 da
PNRH, que é o instrumento hábil para o controle
do uso da água pelo poder público.
Então, outorga que será exigida para os se-
guintes usos da água: captação de parcela da água
existente em um corpo de água para consumo final,
extração de água de aquífero subterrâneo, lançamen-

91
to em corpos de água de esgotos e demais resíduos,
entre outros.
Neste ponto, impende saber que independem
de outorga as seguintes atividades definidas no arti-
go 12 da PNRH:

• O uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades


de pequenos núcleos populacionais, distribuídos no meio rural;
• As derivações, captações e lançamentos considerados insignificantes;
• As acumulações de volumes de água consideradas insignificantes.

Por fim, é necessário salientar os objetivos e ór-


gãos integrantes do Sistema Nacional de Gerencia-
mento de Recursos Hídricos.
Quanto aos objetivos, o artigo 32, da PNRH
pontua os seguintes objetivos: (i) coordenar a gestão
integrada das águas; (ii) arbitrar administrativamente
os conflitos relacionados com os recursos hídricos;
(iii) implementar a Política Nacional de Recursos Hí-
dricos; (iv) planejar, regular e controlar o uso, a pre-
servação e a recuperação dos recursos hídricos; e (v)
promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos.
Ademais, em relação aos órgãos que integram
o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, o artigo 33 estabelece:

Art 33. Integram o Sistema Nacional de Gerenciamento de Re-


cursos Hídricos:

92
I – o Conselho Nacional de Recursos Hídricos;
I – a Agência Nacional de Águas;
II – os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Dis-
trito Federal;
III – os Comitês de Bacia Hidrográfica;
IV – os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Dis-
trito Federal e municipais, cujas competências relacionem-se
com a gestão de recursos hídricos;
V – as Agências de Água.

Em suma, esses são os principais aspectos prá-


ticos estabelecidos pela Política Nacional de Recur-
sos Hídricos, que regulamenta o uso da água em
nosso país.

93
94
Questões
1. Aponte quais as categorias de águas estabele-
cidas no Código de Águas.

2. Quais são os fundamentos para a cobrança


pelo uso da água?

3. Aponte os objetivos da Política Nacional de Re-


cursos Hídricos.

4. (Ministério Público/MA – 2009). O teor do artigo


1.º da Lei n.º 9.433/1997 (que institui a política na-
cional de recursos hídricos e dá outras providências),
tem os seguintes fundamentos:

a) que a água é um bem de domínio privado;


b) que a água é um recurso natural limitado sem va-
lor econômico;
c) que a água é um bem de domínio público, dotado
de valor econômico;
d) que em situações de escassez, o uso prioritário
dos recursos hídricos é na indústria e para a desse-
dentação de animais;
e) que a gestão dos recursos hídricos deve ser cen-
tralizada na iniciativa privada, sem a participação do
Poder Público.

95
5. (Ministério Público/MG – 2010). A respeito do regi-
me jurídico da água, considere as seguintes proposições.

I - A água é um bem de domínio público.


II - O valor econômico da água é reconhecido ex-
pressamente pela lei.
III - A lei recomenda a cobrança pelo uso dos recur-
sos hídricos, mesmo que subterrâneos.
IV - O direito à água tem natureza jurídica de direi-
to fundamental, incumbindo ao Estado assegurar o
acesso livremente a esse recurso ambiental essencial.

Pode-se concluir que estão CORRETAS:


a) Apenas as proposições I e II.
b) Apenas as proposições II e III.
c) Apenas as proposições I, II e IV.
d) Todas as proposições.

96
97
Unidade 4
Tratamento de efluentes

Caro(a)Aluno(a)

Seja bem-vindo(a)!

Nesta quarta unidade, iremos analisar como é


regulado o tratamento dos efluentes no Brasil.
Serão revisitados conceitos trazidos na unidade
anterior sobre Código de Águas e PNRH, compati-
bilizando com as condições e padrões de lançamento
de efluentes, estabelecidos na Resolução CONAMA
n.º 430/2011.
4.1. Origem dos efluentes líquidos e gasosos
Recorrendo às palavras do jurista Édis Mila-
ré (2011. pág. 595), sobre o período de edição do
Código de Águas Brasileiro: “o Brasil ia deixando
de ser um país essencialmente agrícola. A indústria
expandia-se e era de sobremaneira necessário disci-
plinar os serviços públicos de luz e força, até então
concedidos por Municípios e por Estados”.
Desta forma, com o nascimento e desenvolvimen-
to das atividades industriais no país, nasceram proble-
mas relacionados à proteção dos recursos ambientais.
Os bens ambientais, necessários para a qualidade
de vida no planeta e para a dignidade da pessoa huma-
na, passaram a ser reconhecidos como bens finitos, de
modo que se impõem o uso racional para viabilizar
sua utilização pela presente e pelas futuras gerações.
Por essa razão, o poder público foi obrigado a
adotar normas e padrões de qualidade ambientais,
principalmente em relação aos seus recursos hídricos.
Como é sabido o Brasil, é um país que possui
água em abundância. No entanto, a má qualidade da
água no sudeste, a sua escassez no nordeste e as al-
tas quantidades de lançamentos de efluentes pelas
indústrias e atividades portuárias, fizeram com que
o poder público adotasse um plano de gestão dos
recursos hídricos para impor seu uso racional.
Assim, muitas legislações brasileiras dispõem

100
sobre a proteção da água, como um bem comum
de toda população. Iremos nos ater às legislações
federais, vigentes indistintamente para todo o país,
para que possa ser transmitido um panorama geral
da proteção hídrica no Brasil.
A principal legislação a ser estudada é a Resolu-
ção CONAMA n.º 430/2011, que estabelece condi-
ções e padrões de lançamento de efluentes.
Cumpre ressaltar, também, a Lei 9.984/2000,
que criou a Agência Nacional de Águas – ANA.
A ANA é uma autarquia federal vinculada ao
Ministério do Meio Ambiente, que vai disciplinar e
implementar a Política Nacional de Recursos Hídri-
cos, fiscalizando o uso da água e definindo as con-
dições de operação do uso da água. Considerando
a importância deste órgão, é necessário o estudo da
legislação que instituiu essa agência reguladora.
Em adição, o Decreto 5.440/2005 define os
procedimentos de controle e da qualidade das águas
de sistemas de abastecimento e a Lei n.º 9.966/2000
dispõe sobre a prevenção, controle e fiscalização da
poluição causada por lançamento de óleos e outras
substâncias nocivas.
É importante conhecer essas legislações, pois
suas disposições são fundamentais para compreen-
der e trabalhar com a matéria que envolve o trata-
mento de efluentes.
Como vimos, durante o período brasileiro de

101
industrialização, os danos e degradações do meio
ambiente levaram o poder público a criar uma regu-
lamentação para a utilização dos recursos hídricos,
visando à sua preservação.
Com a publicação da Resolução CONAMA n.º
430/2011, que estabeleceu padrões de lançamentos
de efluentes. Os efluentes foram conceituados no ar-
tigo 4.º, inciso V, como:

V – Efluente: é o termo usado para caracterizar os despejos


líquidos provenientes de diversas atividades ou processos.

Por essa razão, os efluentes podem ser líquidos


ou gasosos. No plano internacional, a emissão de
efluentes líquidos foi regulamentada pelo Protocolo
de Annapolis, que disciplina o lançamento de esgoto
sanitário ao mar. Já, a emissão de efluentes gasosos
foi regulada pelo Protocolo de Kyoto, através do es-
tabelecimento de padrões de emissões atmosféricas,
conforme visto na unidade 01.
Neste momento, iremos nos ater aos efluentes
líquidos, vez que estamos analisando a poluição que
envolve os recursos hídricos.

4.2. Caracterização qualitativa e quantitativa

Através da caracterização qualitativa e quanti-


tativa das condições dos recursos hídricos é possível

102
se determinar quais são as reais condições da água.
A análise qualitativa da água vai buscar estabe-
lecer a conformidade ou não da qualidade hídrica,
com os padrões exigidos pelos órgãos ambientais.
Assim, o que se busca é a avaliação das substâncias
que estão compondo a água.
Por outro lado, a análise quantitativa vai envol-
ver a coleta de dados numéricos. Ou seja, vai exami-
nar toda a composição hídrica para detectar se há
algum desequilíbrio ou contaminação.
Desta forma, os efluentes que são resultantes
de atividades domésticas, industriais ou rurais são
analisados através desse método, para que possam
ser encaminhados para tratamento adequado ou dis-
postos na natureza, caso não haja risco de contami-
nações ou danos ao meio ambiente e à população.
O principal objetivo da caracterização qualitati-
va e quantitativa é verificar se há conformidade com
os padrões de qualidade das águas estabelecidos nas
legislações pertinentes.
Também, se buscar evitar graves danos am-
bientais e de saúde pública, que podem advir do não
tratamento dos resíduos hídricos que não estão em
conformidade com as condições sanitárias exigidas.

4.3. SISTEMAS DE TRATAMENTO DE


EFLUENTES LÍQUIDOS

103
O tratamento de efluentes líquidos envolve as
seguintes fases: (i) o pré-tratamento, (ii) o tratamen-
to primário, (iii) o tratamento secundário e (iv) o tra-
tamento terciário de lodos.

• Pré-tratamento: nesta etapa, são retirados os ma-


teriais sólidos grosseiros. São utilizadas grelhas e
crivos grossos para que os resíduos com dimensões
maiores sejam retirados. O intuito é separar a água
dos materiais em suspensão.
• Tratamento Primário: nesta fase, é realizada a neu-
tralização e a equalização dos efluentes, através da
utilização de produtos químicos. Posteriormente,
são fragmentadas as partículas líquidas e sólidas.
Neste momento, são removidos os micropoluentes.
• Tratamento Secundário: nesta fase, do tratamento
é retirada toda a matéria orgânica através de proces-
sos bioquímicos aeróbicos e anaeróbicos. Pode ser
simulado o processo de decomposição ou utilizada a
fermentação mecânica.
• Tratamento Terciário de lodos: essa etapa final
do tratamento pretende conseguir atingir remoções
adicionais de resíduos e poluentes. Nessa fase, é en-
cerrado o tratamento antes de o recurso hídrico ser
destinado para a recirculação. Portanto, as maiores
preocupações, neste momento, envolvem a filtração,
a absolvição química, a remoção da cor, eliminação
da espuma, entre outros. Nesta hora, o volume do

104
lodo deve ter sido reduzido significativamente.

Estes sistemas de tratamento de efluentes pos-


suem duas características que devem ser considera-
das na escolha da melhor técnica: (i) o arranjo físico
e (ii) o perfil hidráulico.
Através do estudo de viabilidade do arranjo fí-
sico será analisado como as atividades de tratamento
desenvolver-se-ão, qual a melhor localização para o
maquinário, qual a linha de produção será utilizada e
outras preocupações, que envolvem as questões físi-
cas do tratamento.
Por outro lado, a análise do perfil hidráulico
pretende regular o comportamento dos fluídos, das
substâncias líquidas, que serão modificadas no siste-
ma de tratamento.

4.4. Reusi da água

Com o intuito de evitar a escassez dos recursos


hídricos, o poder público incentiva o reuso da água,
visando assegurar a presente e as futuras gerações a
possibilidade da utilização deste bem ambiental de
vital importância para a vida humana.
Essa reutilização pode ocorrer de diversas ma-
neiras. É possível que seja utilizada a água da chuva
para limpezas, é viável a utilização de água não potá-
vel para irrigação, entre outras possibilidades.

105
Conforme informações disponíveis no endere-
ço eletrônico da CETESB, são propostas as seguin-
tes modalidades de reuso da água:
A reutilização de água pode ser direta ou indire-
ta, decorrentes de ações planejadas ou não:
- Reuso indireto não planejado da água: ocorre
quando a água, utilizada em alguma atividade huma-
na, é descarregada no meio ambiente e novamente
utilizada a jusante, em sua forma diluída, de maneira
não intencional e não controlada. Caminhando até
o ponto de captação para o novo usuário, a mesma
está sujeita às ações naturais do ciclo hidrológico (di-
luição, autodepuração).

- Reuso indireto planejado da água: ocorre quando os efluen-


tes, depois de tratados, são descarregados de forma planejada
nos corpos de águas superficiais ou subterrâneas, para serem
utilizadas a jusante, de maneira controlada, no atendimento de
algum uso benéfico. O reuso indireto planejado da água pres-
supõe que exista também um controle sobre as eventuais no-
vas descargas de efluentes no caminho, garantindo assim que
o efluente tratado estará sujeito apenas a misturas com outros
efluentes, que também atendam ao requisito de qualidade do
reuso objetivado.
- Reuso direto planejado das águas: ocorre quando os efluentes,
depois de tratados, são encaminhados diretamente de seu pon-
to de descarga até o local do reuso, não sendo descarregados
no meio ambiente. É o caso com maior ocorrência, destinan-

106
do-se a uso em indústria ou irrigação.

Desta forma, a realização da reciclagem da


água em diversas atividades pode constituir um ins-
trumento importante para a implementação do uso
sustentável dos recursos hídricos.

107
108
Questões
1. Aponte qual o conceito legal de efluentes.

2. Qual a natureza jurídica e as competências exerci-


das pela Agência Nacional de Águas – ANA?

3. Cite as fases de tratamento de efluentes líquidos.

4. Explique, sucintamente, no que consiste o reuso


da água.

5. No que consiste o reuso direto planejado das águas?

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110
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