Artigo 7
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Alexandra da Silva Dias (1); Henor Artur de Souza (2); Marcelo Cid de Amorim (3)
(1) Arquiteta e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Estruturas Metálicas/UFOP, alexandra.dias@ig.com.br
(2) DSc, Professor do Departamento de Mecânica – UFOP, Ouro Preto – MG., E-mail: henor@em.ufop.br Universidade
Federal de Ouro Preto, Escola de Minas, Departamento de Engenharia Civil, Campus Morro do Cruzeiro, Ouro
Preto/MG, CEP: 35400-000 Tel.: (31) 3559 1547
(3) DSc, Professor do Departamento de ciências administrativas e do ambiente – UFRRJ/ITR, Três Rios–RJ. E-mail:
mcid@ufrrj.br
RESUMO
Uma cobertura eficiente deve apresentar características tais como estanqueidade, resistência ao impacto,
leveza e durabilidade, além de propriedades térmicas adequadas às condições climáticas externas. Neste
estudo, tem-se como objetivo avaliar o desempenho térmico de sete diferentes tipologias de coberturas
metálicas utilizadas em galpões estruturados em aço, variando a sua geometria para oito zonas bioclimáticas.
O desenvolvimento do trabalho foi dividido em duas etapas: a primeira, investigativa, sobre galpões e
coberturas metálicas mais utilizadas no país e a segunda etapa, numérica, consistiu na realização de
simulações utilizando software Energy Plus. Os resultados obtidos mostraram que as tipologias de coberturas
que permitem ventilação natural apresentam melhor desempenho, independente da condição climática,
destacando-se a cobertura tipo shed transversal para condições climáticas de verão e lanternim duplo para
condições de inverno.
ABSTRACT
An effective roofing must provide features such as tightness, impact strength, lightness and durability in
addition to presenting appropriate thermal properties to external weather conditions. This study has been
carried out to evaluate the thermal performance of seven different types of metal roofing used in structured
steel sheds, varying its geometry to eight bioclimatic zones. There were two development stages for this
work: the first one, an investigative study of the most used types of sheds and metal roofs, and the second
one, which comprised numerical simulations on Energy Plus. The results showed that the types of coverages
that allow natural ventilation have better performance, regardless of weather conditions. They also highlight
the better performance of the transversally oriented shed for summer conditions and the double vent for
winter conditions.
2. OBJETIVO
Avaliar comparativamente o desempenho térmico de coberturas metálicas utilizadas em galpões estruturados
em aço, quanto à sua geometria, em oito zonas bioclimáticas brasileiras definidas na norma NBR 15220:
2005.
3. MÉTODO
O desenvolvimento do estudo proposto foi dividido em duas etapas: (a) a primeira, investigativa,
correspondeu a uma revisão bibliográfica sobre galpões e as tipologias de coberturas metálicas mais
utilizadas nestas edificações; (b) a segunda etapa, consistiu na realização de simulações numéricas para
avaliar comparativamente o desempenho térmico das diferentes soluções construtivas em coberturas
estruturadas em aço.
As etapas relevantes no processo de avaliação do desempenho térmico de uma edificação, por meio de
simulação numérica, abrangem principalmente a caracterização da edificação, a caracterização das condições
típicas de exposição ao clima, caracterização e configuração geométrica de todo sistema construtivo e a
caracterização do perfil de ocupação.
Tabela 1 – Zonas Bioclimáticas (ZB), cidades e a temperatura máxima e mínima nos dias típicos de verão e
inverno
Dia típico de verão Dia típico de inverno
Zonas Bioclimáticas Cidades Data Tmáx. ( C) Tmín. ( C) Data Tmáx. (oC) Tmín. (oC)
o o
N N
N N
Figura 3: telhado com lanternim duplo Figura 4: Telhado com lanternim simples
N N
N
Figura 7: Telhado plano
Para o modelo de galpão avaliado optou-se por uma edificação retangular de 20 x 48 m com um
pavimento e pé direito de 6 m. Sua estrutura possui pórticos planos, com perfis de alma cheia, espaçados a
cada 6 m. Para os materiais de construção utilizou-se: piso em concreto, fechamentos em bloco celular e
argamassa, portas em aço galvanizado, janelas em vidro simples e cobertura em telha termoacústica.
Na tabela 2 apresentam-se os materiais construtivos e suas propriedades termofísicas adotados nas
simulações, baseadas na norma NBR 15220 (ABNT, 2005).
Tabela 2 - Propriedades termofísicas dos materiais adotadas nas simulações
Propriedades/materiais Concreto Bloco celular Argamassa Aço Galvanizado Poliestireno
Condutividade (W/m.K) 1,75 0,16 1,15 55,0 30,0
Figura 1 - Evolução temporal da temperatura interna e externa- Figura 2 - Evolução temporal da temperatura interna e externa–
dia mais frio em Belo Horizonte (MG). dia mais quente em Belo Horizonte (MG).
Para esta condição climática (ZB-03) observa-se nos resultados que todas as diferentes configurações
de coberturas apresentaram comportamento térmico semelhante. Para a condição climática de inverno, dia
mais frio do ano, alcança-se a condição de conforto em grande parte do dia, ficando abaixo apenas em parte
do período noturno. Já em relação à condição climática do dia mais quente do ano as temperaturas ficam fora
da faixa de conforto ao longo do período diurno. Este comportamento pode ser explicado pela alta inércia
térmica do aço e por ser a cobertura o componente que mais recebe radiação solar durante o dia.
Quando comparados os desempenhos térmicos das diferentes tipologias de cobertura, os resultados
apontam um melhor desempenho para o telhado tipo shed transversal, para a situação climática de verão
(Figura 2) e lanternim duplo para a de inverno (Figura 1), aproximando-se mais da zona de conforto. O
melhor desempenho para as duas situações deve-se a presença de aberturas nas faces verticais do telhado,
oito aberturas para o shed transversal e quatro para o lanternim duplo. Estas aberturas facilitam a ventilação
natural do ambiente, estabelecendo trocas de ar entre o meio externo e interno.
Nas figuras 3 e 4 são apresentados os resultados das simulações para o município de Brasília (DF) e
nas figuras 5 e 6 para o município de Campo Grande (MS), zonas bioclimáticas 4 e 6, respectivamente . O
clima de ambas as cidades é caracterizado por duas estações bem definidas: invernos frios e secos e verões
quentes e úmidos. Em Brasília, a temperatura média anual é de 21 oC e a média de umidade relativa é de
75% podendo chegar a 20% no inverno.
Figura 3 - Evolução temporal da temperatura interna e externa– Figura 4 - Evolução temporal da temperatura interna e externa–
dia mais frio em Brasília (DF). dia mais quente em Brasília (DF).
Figura 5 - Evolução temporal da temperatura interna e externa– Figura 6 - Evolução temporal da temperatura interna e externa–
dia mais frio em Campo Grande (MS). dia mais quente em Campo Grande (MS).
As zonas bioclimáticas 4 e 6 (Figuras de 3 a 6) apresentam resultados semelhantes quanto ao
desempenho térmico das tipologias de coberturas, nas duas situações climáticas, dia mais quente e mais frio
do ano. Observa-se um melhor desempenho telhado curvo no dia típico de verão e da cobertura com
lanternim duplo no dia típico de inverno. O bom desempenho do telhado curvo deve-se à geometria da
cobertura que possibilita a incidência de radiação solar em dias frios em várias direções e também a uma
maior eficiência do mecanismo de convecção de calor interno em dias quentes.
Figura 7 - Evolução temporal da temperatura interna e externa– dia Figura 8 - Evolução temporal da temperatura interna e externa–
mais frio em Curitiba (PR). dia mais quente em Curitiba (PR).
Figura 9 - Evolução temporal da temperatura interna e externa– Figura 10 - Evolução temporal da temperatura interna e externa–
dia mais frio em Santa Maria (RS). dia mais quente em Santa Maria (RS).
Nas figuras 7 e 8 apresenta-se os resultados das simulações para o município de Curitiba (PR), zona
bioclimática 01. Seu clima é caracterizado por invernos amenos e úmidos com temperatura média de 13 oC
no mês mais frio e no verão, a temperatura média fica em torno de 21 oC.
Nas figuras 9 e 10 apresentam-se os resultados das simulações para o município de Santa Maria (RS)
(ZB-02). Seu clima é caracterizado por baixas temperaturas anuais, verões úmidos e invernos secos.
Nestas zonas bioclimáticas (ZB-01 e ZB-02), no dia mais frio do ano, as temperaturas internas estão
totalmente fora da faixa de conforto, no entanto, duas configurações geométricas proporcionaram uma
melhoria no conforto da edificação: o lanternim duplo e o shed transversal. No dia mais quente do ano,
quando comparados os resultados do desempenho térmico das diferentes tipologias de cobertura em relação
ao limite das temperaturas de conforto, os resultados apontaram um melhor desempenho dos telhados sem
aberturas para ventilação natural (Telhado plano, curvo e de duas águas).
A justificativa mais adequada para explicar o melhor desempenho das coberturas com sistema de
ventilação, mesmo no dia mais frio do ano, é a influência do transporte de calor e das interações dinâmicas
de outras variáveis climáticas, como a vento e a umidade presente na atmosfera, sobre a temperatura interna
do ambiente.
Nas figuras 11 e 12, apresentam-se os resultados das simulações para o município de Manaus (AM)
(ZB-08). Seu clima é caracterizado por temperaturas quente o ano todo, sem períodos de frio no inverno.
Temperatura média anual de 33,9 oC e úmida relativa de 76%.
Nas figuras 13 e 14 apresentam-se os resultados das simulações para o município de Porto Nacional
(TO) (ZB-07). Seu clima é caracterizado por temperaturas elevadas no verão e amenas no inverno, reduzida
amplitude térmica e duas estações bem definidas no ano: úmida e menos úmida.
Figura 11 - Evolução temporal da temperatura interna e externa– Figura 12 - Evolução temporal da temperatura interna e externa–
dia mais frio em Manaus (AM). dia mais quente em Manaus (AM).
Figura 13 - Evolução temporal da temperatura interna e externa- Figura 14 - Evolução temporal da temperatura interna e externa–
dia mais frio em Porto Nacional (TO). dia mais quente em Porto Nacional (TO).
Observa-se pelos resultados (Figuras de 11 a 14), comparando-se o desempenho térmico dos galpões
com diferentes tipologias de cobertura, que as coberturas em shed transversal apresentam melhores
resultados, nas duas situações climáticas, nas duas regiões bioclimáticas (ZB-08 e ZB-07). As altas
temperaturas e umidade são atenuadas pelo maior número de aberturas na cobertura que auxiliam na
ventilação natural da edificação.
Nas figuras 15 e 16 apresentam-se os resultados das simulações para o município de Niterói (RJ)
(ZB-05). Seu clima é caracterizado por verões quentes e invernos moderados. Temperatura média de 22,6 oC
com ausência de estações secas, apenas reduzindo as chuvas no inverno.
Figura 15 - Evolução temporal da temperatura interna e externa– FIGURA 16 - Evolução temporal da temperatura interna e
dia mais frio em Niterói (RJ). externa–dia mais quente em Niterói (RJ).
Quando comparado o desempenho térmico dos galpões com diferentes tipologias de cobertura o
telhado tipo shed transversal apresenta melhores resultados no dia mais quente do ano (Figura 15) e o telhado
cm lanternim duplo no dia mais frio do ano (Figura 16). Deve-se a este fato ao maior número de aberturas
nas coberturas atenuando às altas temperaturas médias e a baixa amplitude térmica anuais, aproximando-se,
nestes casos, mais da zona de conforto.
No geral, o galpão com coberturas compostas por lanternim duplo apresentou melhor desempenho
térmico para quase todas as regiões bioclimáticas, nos dias típicos de inverno, exceto para as cidades de
Manaus e Porto Nacional, onde a coberturas em shed transversal mostrou-se mais eficiente, devido
principalmente a temperatura e umidade elevadas destas cidades durante todo o ano.
No quadro 1 relaciona-se as coberturas que apresentaram melhor desempenho térmico, para as duas
condições climáticas analisadas.
Quadro 1 – Desempenho térmico das coberturas em função da condição e zona climáticas.
Cidades Coberturas com melhor desempenho térmico
Dia típico de verão Dia típico de inverno
Belo Horizonte (MG) Telhado em shed transversal Telhado com lanternim duplo
Brasília (DF) Telhado curvo Telhado com lanternim duplo
Campo Grande (MS) Telhado curvo Telhado com lanternim duplo
Curitiba (PR) Telhado curvo Telhado com lanternim duplo
Manaus (AM) Telhado em shed transversal Telhado em shed transversal
Niterói (RJ) Telhado em shed transversal Telhado com lanternim duplo
Porto Nacional (TO) Telhado em shed transversal Telhado em shed transversal
Santa Maria (RS) Telhado curvo Telhado com lanternim duplo
5. CONCLUSÕES
Não é possível definir um único telhado como sendo o mais eficiente para todas as situações climáticas,
comprovando a afirmativa que um mesmo volume de espaço interior com geometrias de coberturas diversas
apresenta comportamentos térmicos globais diferentes, dependendo do local onde a construção está inserida.
As diferenças de comportamento térmico entre as diversas geometrias de cobertura analisadas
intensificam-se quando combinadas com aberturas que auxiliam na ventilação natural do ambiente. Estas
aberturas proporcionam a renovação do ar, podendo ocasionar ganho ou perda de calor, dependendo da
diferença entre a temperatura do ar interno e externo.
De forma geral, pode-se concluir que entre as coberturas sem aberturas para ventilação, a tipologia
em arco foi a de melhor desempenho e que mais se aproximou da faixa de conforto nas condições climáticas
de verão, sendo mais eficiente que o telhado plano e o de duas águas. Atribui-se a este resultado a influência
da inclinação do telhado sobre o condicionamento térmico ambiental no interior da edificação, quanto maior
a inclinação menor a influência da radiação na temperatura interna e melhor a circulação de ar na edificação
por diferença de pressão. O telhado em arco apresenta-se mais eficiente termicamente, pois sua geometria
exige grandes raios de curvatura, favorecendo as trocas térmicas por convecção.
Para o telhado que utiliza a ventilação natural como estratégia de resfriamento, por meio do efeito
chaminé, pode-se considerar que em dias quentes, a cobertura shed transversal foi o que apresentou melhor
desempenho térmico e em dia frio foi o telhado com laternim duplo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Engenharia Civil), Escola de Engenharia de São Carlos, USP, São Carlos, 2006.
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SILVEIRA, W. J. Habitação de interesse social em Florianópolis (SC): Critério para definição de cobertura. In: Encontro
Nacional sobre Tecnologia no Ambiente Construído, Porto Alegre, 2004.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao apoio financeiro da FAPEMIG e da CAPES.