Aula Tema 6-Salmonella

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Gênero Salmonella: ecologia,

epidemiologia e virulência
2020-1
Profa Ingrid Annes

Profa Ingrid Annes Pereira


PLE 2020
CURSO DE NUTRIÇÃO
Características Gerais

⮚ Bastonetes Gram negativos: 2-3µm

Família Enterobacteriaceae: características


⮚ Fermentação da glicose
⮚ Redução de nitrato a nitrito
⮚ Ausência da enzima citocromo-oxidase
⮚ Resistência aos sais biliares
Habitat

Caracteristicas zoonóticas:
Trato Intestinal de Animais:
• Sangue quente (subespécie enterica)
e
• Sangue frio (outras subespécies)
Habitat
⮚ Distribuição dos sorovares
⮚ Associação
– Com homem: Typhi, Paratyphi A, Sendaï
– Com animais: Abortus-ovis (ovino), Gallinarum (aves),
Abortus-equi (cavalo) ...
– Ubiquitárias: Typhimurium.
– Preferências:
⮚Aves: Enteritidis, Hadar, Newport,
⮚Porcos: Derby,...
⮚Bovinos: Dublin, Panama, Montevideo,...
Resistência as condições físicas e
químicas
❖ Acidez
Ácido acético e ác. propiônico mais inibitórios
que ác. lático e ác. cítrico

❖ Tolerância ao sal
Salmoura (9%) e defumação: efeito limitado

❖ Irradiação gama
Dependente da dose no uso em alimentos de
origem vegetal e animal
Resistência as condições físicas e
químicas
❑ Temperatura
5 a 46ºC (ótimo 35 -37ºC )
Refrigeração: >28 dias- superfície de vegetais
Congelamento: pequeno número de células
❑ pH: 7.0 e 7.5 (extremos 3.8 - 9.5)
❑ Atividade hídrica: mínimo: 0,94 - ótimo: 0,99
❑ Atmosfera de crescimento :
Presença ou ausência do ar
Ligeiramente reduzido: Nitrogênio e 80% CO2.
Transmissão de Salmonella spp.
• Comensais e/ou patógenos
• Reservatórios: aves, suínos, bovinos,
répteis, roedores, cães, gatos, homem
• Alimentos:
Produtos de origem animal
Produtos de origem vegetal
Pessoa a pessoa
• Água
Taxonomia
Reino: Bacteria
Filo: Proteobacteria
Classe: Gamma Proteobacteria
Ordem: Enterobacteriales
Família: Enterobacteriaceae
Gênero: Salmonella (Lignieres 1900)
Espécies: S.bongori e S.enterica
Comitê sistemática ( WHO, 2016)
Nomenclatura de Salmonella
Gênero Salmonella (Duas espécies)
⮚hibridização de DNA: Diferenças nas sequências do rRNA 16S

⮚ Espécies subdivididas em 6 subespécies


S.enterica subsp. S.bongori subsp.
I: enterica bongori
II: salamae
IIIa: arizonae
IIIb: diarizonae
IV: houtanae
VI: indica

⮚ Sorovares >2.600 (esquema de Kauffmann-White)


Aproximadamente 60% subespécie enterica
S. subterranea – validada em 2005 (?)
Caracterização antigênica:
Estrutura antigênica de alguns sorovares de Salmonella:
Esquema de Classificação Sorológica de Kauffman and White
Antígenos flagelar
Grupos Sorovar Antígeno somático
Sorológico Ex. (O) Fase 1 Fase 2

A S.Paratyphi A 1,2,12 a 1,5

B S.Paratyphi B 1,4,(5),12 b 1,2


S.Typhimurium 1,4,(5),12 i 1,2
S.Heidelberg 1,4,(5),12 r 1,2
S.Agona f,g,s -
4,12
C1 S.Choleraesuis 6,7 c 1,5
S.Paratyphi C 6,7 (Vi) c 1,5
S.Thompson 6,7,14 k 1,5

C2 S.Newport 6,8 e,h 1,2

D1 S.Typhi 9,12 (Vi) d -


S.Enteritidis 1,9,12 g,m -
S.Dublin 1,9,12 (Vi) g,p -
S.Moscow g,q -
9,12
E1 S.Anatum 3,10, [15]. [15,34} e,h 1,6 11
Identificação-Nomenclatura
(Le Minor & Poppof, 2010)

Salmonella enterica subespécie enterica sorovar Enteritidis


ou S. enterica ser. Enteritidis
ou Salmonella Enteritidis
Estrutura antigênica: OD

Estrutura antigênica: 1,9,12: g,m : ---

1,9,12 : [f],g,m,[p] [t] : [1,7]


[ OD Fase 1 Fase 2
S.Enteritidis mais frequentemente encontrada: 1,9,12 e uma fase flagelar designada de “g,m”
Entretanto algumas cepas podem apresentar outros antigenos flagelares, sendo na primeira fase “f”, “p”
e/ou “t” e na segunda fase raramente amostras que possuem a estrutura “1,7”
Metodologia para isolamento de Salmonella
Ambiental Alimentar Espécime Clínico

Meio Seletivo Indicador


Pré-enriquecimento
Enriquecimento

Meios Seletivo Indicadores

Bioquímica Presuntiva - Triagem

Bioquímica Complementar

Caracterização Antigênica
Morfologia colonial de Salmonella spp.

Agar Agar Entérico


MacConkey Agar EMB Hektoen

Agar
XLD
Agar Salmonella-
Shigella
Salmonelose
❖ Tipos de Quadro Clínico
Gastrenterite, Septicemia, Febre Tifóide ou Entérica
❖ Patogenia (Intestino)
✔ Fase 1- colonização;
✔ Fase 2 - invasão → multiplicação (epitélio intestinal);
✔ Fase 3 - diarréia: perda de liquido e eletrólitos.

❖ Severidade da Infecção
Paciente X Microrganismo
Fatores de risco do hospedeiro
Interferem na severidade da
Adquirir a infecção infecção
❖ Idade
✔Condições sanitárias precárias
❖ Alcoolismo
✔Higiene pessoal
❖ Status imune
✔Ocupação profissional de risco
❖ Status nutricional
✔Contato com animais
❖ Imunodeficiências
✔Procedimentos invasivos
❖ Doenças crônicas
✔Cuidados clínicos inadequados
❖ Uso de antimicrobianos
✔Viagens a regiões com condições de
higiene precárias
❖ Fatores Genéticos
✔Água e alimentos: qualidade ❖ Dose infectante
✔Creches e asilos
✔Exposição à vetores
CASCATA DE PATOGENICIDADE:
SPIs, SSTIII,PROTEÍNAS EFETORAS, TRIGER AND
RUFLE, ANFAGOCITOSE, PARASITISMO
INTRACELULAR.
Imunidade e capacidade de transmissão:
❑ Algumas pessoas têm imunidade natural à Salmonella spp.

❑ Portadores crônicos apresentam quadro clínico leve ou


assintomático, mas carreiam o microrganismo.

❑ Portadores crônicos assintomáticos:


3% das pessoas infectadas com S.Typhi.

0,1% por Salmonella spp.

Período variável de algumas semanas a um ano.


Características clínicas na salmonelose
Dose Período de
Etiologia infectante incubação Sintomas clínicos Confirmação

3-60 dias; Febre, anorexia, dor de Isolamento de


S.Typhi 106 UFC usualmente cabeça, mialgia; pacientes, água
7-14 dias diarréia ou constipação e/ou alimentos

3-60 dias Febre, dor de cabeça, Isolamento de


S.Paratyphi
103 UFC mialgia; diarreia ou alimentos
A,B,C
constipação

6 h-10 dias; Diarréia, febre,cólicas Isolamento de


Salmonella
108 UFC usualmente abdominais pacientes e/ou
spp.
6-48 h alimentos
Salmonelose (Gastroenterite):
características clínicas
❖ Incubação: 6 -72h
❖ Características clínicas:
✔ Diarreia
✔ Cólicas abdominais
✔ Dor de cabeça
✔ Febre (38 a 39°C)
✔ Vômitos (variável)
✔ Mialgia
✔ Desidratação (crianças e idosos)
❖ Duração do quadro diarreico: 2 a 7 dias
❖ Complicações (bacteremia): artrite séptica,
osteomielite, meningite, pneumonia,
endocardite, pielonefrite, morte.
Evolução clínica: estimativa
⮚ 93% dos indivíduos não recorrem ao clínico;
⮚ 5% buscam apoio clínico;
⮚ 1.1% requer hospitalização;
⮚ 0.04 –0.1% evoluem para óbito.
Custo financeiro da salmonelose
• Estimativa anual WHO: US$ 58
milhões/ano

• Incidência global de DTA:

1.8 milhões de mortes

US$ 35 bilhões - custos clínicos e


perda de produtividade;

• Principais alimentos envolvidos: ovos,


aves e outros produtos cárneos, leite
e produtos lácteos e chocolate.

• Alimentos ingeridos crus ou


tratamento térmico insuficiente.

• Barreiras comerciais.
Alguns fatos históricos sobre a salmoneloses
❑ Foi descoberta em 1855 por Theobald Smith em
porcos infectados pela Febre suína Clásica;
❑ Nomenclatura: Dr. Daniel Elmer Salmon;
❑ CURIOSIDADE!!!!
❑ Um desses casos foi Mary Mallon, cozinheira de
várias residências na cidade de New York, início
dos anos 1900.
❑ Trabalhou em sete residências, com 22 casos
clínicos e um óbito.
❑ Embora proibida de exercer a profissão,
empregou-se em outras residências,
ocasionando novos surtos.
❑ Faleceu em 1938 no isolamento a que foi
condenada em North Brother Island.
Febre Tifóide: Etiologia e Incidência
ETIOLOGIA
Salmonella Typhi e S.Paratyphi A,B,C
⮚ Dose infectante: 103 - 106 células;
⮚ Dose infectante: 106 - 108 células;
INCIDÊNCIA
• 26 milhões casos/ano e 200.000 óbitos/ano (WHO, 2011)
• Países emergentes em crianças <5 anos;
• Mais elevada em países do sul da Ásia

<10/100.000/ano

10-100/100.000/ano

100-1.000/100.000/ano

21,5 milhões de doenças


200.000 mortes

Impacto mundial da febre tifóide


Mecanismo de transmissão e
FATORES DE RISCO
⮚Transmissão: somente humana;
⮚Prevalência: áreas urbanas e reduzida em áreas rurais;
⮚Países industrializados: viagens para áreas endêmicas;
⮚<5% dos pacientes: portadores assintomáticos
através das fezes e urina por até uma ano (Nepal e India);
⮚Estimativa mundial de incidência: de cada cinco casos de febre tifóide um caso é de
febre paratifóide;

https://www.youtube.com/watch?v=2Q5NVkFmdB0
Mecanismo de transmissão e
fatores de risco
⮚ Principais fontes: água e/ou alimentos contaminados;
⮚ Segundo maior índice de transmissão: portadores crônicos
assintomáticos (países do subcontinente indiano e África).
Exemplos mais comuns de transmissão
✔Entre pessoas na mesma residência;
✔Através do uso de mesmo sabão;
✔Compartilhar alimentos no mesmo prato;
✔Comércio de alimentos em transportes coletivos.
Evolução da Febre Tifóide 2000-2015

14/10/2017 29
Capacitação no diagnóstico de patógenos emergentes para Laboratórios do Estado do Maranhão LACEN-MA /LRNEB-FIOCRUZ/CGLAB-SVS 12-16/10/2016
Virulência: adesão, invasão,
replicação, resistência aos mecanismos
de defesa e dano ao hospedeiro
Salmonella:
S.Abortusovis
S.Choleraesuis
S.Dublin
S.Enteritidis
S.Gallinarum
S.Pullorum
S.Typhimurium
Adesinas
Estas estruturas reconhecem
receptores presentes nas
células do hospedeiro, pelos
quais possuem tropismo.
Ainda, as adesinas possuem
capacidade de ativar
linfócitos B e neutrófilos, que
resulta em uma variedade de
respostas biológicas
incluindo proliferação celular
e secreção de citocinas

https://www.researchgate.net/publication/319710923_Computational_iden
tification_of_novel_potential_adhesins_of_Mycobacterium_tuberculosis_H3
7RV_and_their_experimental_validation/figures?lo=1
Adesinas fimbriais de Salmonella

A fímbria é um importante fator de virulência


exercendo interação bactéria-hospedeiro. Além
disso, as fímbrias têm um papel fundamental na
adesão às superfícies, persistência ambiental e
https://www.semanticscholar.org/paper/Bacterial-and-Viral-Infections-Nizet-
Esko/2f65532d585be25110e74109c5677a6baba0a2d3/figure/0 formação de biofilme

Salmonella possui fímbrias do tipo 1 (SEF 21), tipo 2, tipo 3, SEF


17, SEF 14, SEF 18, Fimbria codificada por plasmídeo (PEF),
Fímbria polar longa (LPF) e a BFP (bundle-forming pilus).
Regulados pelos genes: agf (aggregative fimbriae), que codifica a
fímbria SEF17 ou Tafi (thin aggregative fimbriae) ou lpfABCDE
(long polar fimbriae).
Mecanismo de invasão de Salmonella
Invasão (inv): Trigger and ruffling
Ilhas Genômicas (pathogenicity islands)
❖Grupos de genes de virulência são adquiridos por meio de
transferência horizontal;
❖Estes genes se encontram reunidos em Ilhas Genômicas
(SGI);

⮚ IP podem ser transferidos por


conjugação ou transdução para outras
bactérias

⮚ Bactérias não virulentas podem se


tornar em virulentas em apenas uma
etapa
O que são Ilhas de Patogenicidade (IP)

⮚ São fragmentos de DNA inseridos no cromossoma que abrigam


genes que codificam para proteínas envolvidas na virulência

⮚ A aquisição parece ocorrer através da transferência horizontal

⮚ Tem frequentemente um conteúdo de GC que difere do restante


do cromossoma

❖Invasão do hospedeiro e crescimento


intracelular estão diretamente ligadas a
genes localizados nas Ilhas de Patogenicidade
(SPI)
Ilhas Genômicas (pathogenicity islands)
O que são Ilhas de Patogenicidade (IP)
⮚ Estão ausentes nos genomas de microrganismos não virulentos
⮚ Estão associados a elementos genéticos móveis: integrases, sequências de
inserção e plasmídeos
⮚ A maioria esta localizada próxima ou adjacente aos genes RNA-t
⮚ Possuem teor de G-C diferentes do resto do cromossoma bacteriano
⮚ São instáveis e às vezes podem sofrer excisão do cromossoma bacteriano

IP no cromossoma de bacteria
patogênica

Cromossoma de bacteria
avirulenta
Representação da Ilha de Patogenicidade em
Salmonella enterica
SPI-1: invasão, SST-III, proteínas efetoras

SPI-2: sobrevivência em fagócitos e vesículas citoplasmáticas

Especifica dos sorovares Typhi, Paratyphi e Dublin. Contem genes de


virulência que codifica Ag capsular Vi, proteina efetora SopE, genes de
mobilidade do DNA, indicando ser mosáico adquirido em diferentes
momentos por transferência horizontal de material genético.
Sistemas de secreção (SST)
Muitas bactérias como Shigella e Salmonella utilizam sistemas
de secreção, também chamados injectisomas, para transferir
proteínas de virulência para as células eucarióticas.
DEFINIÇÃO
Aparato que consiste de um anel que promove uma
contínua via de ligação entre membrana interna e
externa incluindo o peptidoglicano.

✔Tipos I, III e IV: transporte direto do citosol para superfície das


células bacterianas e meio externo;
✔Tipo II e V em duas etapas: em primeiro lugar para o periplasma
através do sistema Sec ou Tat antes de atingir a superfície da
célula.
✔Exceção no tipo IV: toxina da tosse convulsa, secretada em dois
passos e libertada para o meio extracelular.
Comparação de modelo
Comparative structural estrutural
models de injectissoma
of injectisomes e flagelo
and bacterial flagella.

Bo Hu et al. PNAS 2015;112:1047-1052


Oliveira et al., 2013.
⮚ SPI-5: codificam para proteínas efetoras. T6SS
⮚ Uma vez no interior da célula, as proteínas
efetoras interagem com domínios de
proteínas e por meio da fosforilação ou
transferência de resíduos promovem uma
série de reações, levando a modificações no
citoesqueleto de actina da célula
hospedeira, possibilitando sua entrada,
escape de sistema de defesa no interior de
fagossomos, morte e outras alterações
celulares permitindo a proliferação
intracelular de Salmonella sp.
⮚ SPI-6: operon fimbrial saf.
⮚ SPI-7: antígeno capsular Vi e a proteína
efetora SpoE, importante para o processo de
internalização da bactéria.
⮚ SPI-8: produção de bacteriocinas.
⮚ SPI- 9 codifica um sistema de secreção do
tipo I.
⮚ SPI-10: fímbria SEF.
⮚ SPI- 11:sobrevivência da salmonella no
interior do macrófago, contribuindo para a
infecção sistêmica.
Transferência de Plasmídeos de
virulência:
sobrevivência e o crescimento nas
células do sistema reticulo
endotelial, como baço e fígado.
Operon spv: severidade da
enterite e desestabilização do
citoesqueleto.

https://www.nextpng.com/pt/transparent-png-szrss

http://microbiologybook.org/Portuguese/chapter_8_bp.htm
Evolução da virulência em enterobactérias
Figure 2. Events in the evolutionary history of Salmonella bongori and S. Typhi, a phenotypically and
evolutionarily distant member of S. enterica.
Enterocolite

https://pt.slideshare.net/gildocrispim/4
https://pt.wikipedia.org/wiki/Enterocolite_necrotizante -enterobacterias-
salmonellashiguellayersinia
OBRIGADA

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