Capacidade Juridica Empresarial Do Menor

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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DE MOÇAMBIQUE

ESCOLA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO EM DIREITO EMPRESARIAL – CORPORATE GOVERNANCE

MÓDULO: Direitos Reais

TEMA: Capacidade Jurídica Empresarial do Menor

Docente:

Discente: Dércio Joel Uane

Maputo, Abril de 2023


Índice

Conteúdo
1. Introdução......................................................................................................................................1
1.1. Objectivos..............................................................................................................................1
2. Metodologia...................................................................................................................................2
3.1. Empresário.................................................................................................................................3
3.2. Empresa.....................................................................................................................................4
3.3. Capacidade de jurídica empresarial...........................................................................................5
3.4. Capacidade jurídica empresarial do menor................................................................................6
4. Considerações finais......................................................................................................................8

I
1. Introdução

A Capacidade Empresarial consiste na capacidade jurídica para o exercício da actividade


empresarial que nos termos do anterior Código Comercial em termos gerais, podia ser
exercida somente por pessoa singular com capacidade civil, ou seja, 21 anos.

No entanto, nos termos do Código Comercial aprovado pelo Decreto-Lei n°1/2022 de 25 de


Maio, possui capacidade para o exercício da actividade empresarial toda pessoa singular que
tenha completado 18 anos, que seja ou não residente em Moçambique, bem como as
sociedades empresariais, que tenham ou não sede estatutária em Moçambique.

Nos termos do referido diploma legal, excepcionalmente os menores de 18 anos podem ser
sócios ou accionistas de responsabilidade limitada, no entanto esta excepção só ocorre nos
casos em que o capital social da empresa se encontre integralmente realizado enquanto
perdurar a incapacidade empresarial do menor.

Por outro lado, enquanto durar a sua incapacidade empresarial, a participação do menor nos
orgãos sociais da sociedade ocorre por meio de um representante legal. O presente trabalho
visa discorrer sobre a capacidade jurídica empresarial do menor. para a sua execução, o
trabalho apresenta-se estruturado da seguinte forma: introdução, onde se descreve o propósito
do trabalho, seus objectivos e motivações, a metodologia adoptado para a execução do
mesmo e a revisão da literatura sobre a capacidade jurídica empresarial do menor no Direito
moçambicano.

1.1. Objectivos
Objectivo Geral
 Discorrer sobre a capacidade jurídica empresarial do menor na base da legislação
moçambicana

Objectivos Específicos
 Conceituar a capacidade e incapacidade jurídica na legislação moçambicana
 Explicar os termos de empresa e empresário na base legislativa
 Descrever a capacidade jurídica empresarial do menor

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2. Metodologia
Para cumprir os objectivos do estudo considerou-se mais apropriado optar pelo método
indutivo numa abordagem quali-quantitativa que Segundo BOGDAN (1994), tem como fonte
directa os dados no terreno, como resultado do contacto directo com realidade em que o
objecto se encontra. Para este autor, o instrumento chave da análise de investigação
qualitativa é o entendimento que o investigador tem da realidade e do contexto específico.

A pesquisa qualitativa, visto ser uma pesquisa descritiva, que considera que há um vínculo
indissociável entre o mundo objectivo e a subjectividade do sujeito que não pode ser
traduzido em números, baseada na interpretação dos fenómenos e a atribuição de
significados, sendo que não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas, e o ambiente
natural é a fonte directa para colecta de dados (GIL, 2008).

Será usada a pesquisa na medida em que, ajudará na descrição e interpretação de


determinados fenómenos in loco.

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3. Revisão da literatura

3.1. Empresário
De acordo com o Código Comercial aprovado pelo Decreto-Lei n.º 1/2022 de 25 de Maio,
Considera-se empresário quem exerce, profissional e habitualmente, actividade empresarial e
este pode ser individual; e a sociedade empresarial.

“É empreendedor quem exerce profissionalmente uma atividade econômica organizada para o


fim da produção ou da troca de bens ou de serviços”.

É correto afirmar que o empresário é um ativador do sistema econômico. Ele é o elo entre os
capitalistas (que têm capital disponível), os trabalhadores (que oferecem a mão de obra) e os
consumidores (que buscam pro dutos e serviços). Ainda pode-se dizer que o empresário
funciona como um intermediário, pois de um lado estão os que oferecem capital e/ou força de
trabalho e de outro os que demandam satisfazer suas necessidades (ARMELIN, 2022).

Empresário, em outras palavras, é a pessoa natural ou jurídica que exercita, de forma habitual
e organizada, determinada atividade econômica destinada à produção ou à circulação de bens
ou de serviços no mercado, tudo isso com o intuito de lucro.

Nesse sentido, Coelho (2008), elucida:


Empresário é a pessoa que toma a iniciativa de organizar uma
atividade econômica de produção ou circulação de bens ou serviços.
Essa pessoa pode ser tanto a física, que emprega seu dinheiro e
organiza a empresa individualmente, como a jurídica, nascida da
união de esforços de seus integrantes (COELHO, 2008).

Percebe-se, dessa forma, que da conceituação legal decorrem três elementos fundamentais à
figura do empresário, quais sejam, o caráter profissional, a forma organizada e a
economicidade da atividade praticada. O caráter profissional ou a profissionalidade se
caracteriza pelo exercício reiterado e permanente, isto é, não ocasional, da empresa. Por
organização da atividade, conforme sustenta Negrão (2003), entende-se a coordenação “de
trabalho alheio e do capital próprio e alheio”. Já em relação à economicidade, manifesta-se o
citado autor no sentido de ser econômica a atividade geradora “de riqueza e de bens ou de
serviços patrimonialmente valoráveis para o mercado consumidor” (NEGRÃO, 2003).

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Vale ressaltar que o conceito de empresário, a princípio, compreende a figura do empresário
individual (uma só pessoa física) e da sociedade empresária (pessoa jurídica com dois ou
mais sócios), que também pode ser denominada de empresário coletivo.

3.2. Empresa
Deve-se atentar para o fato de que a empresa é uma ideia originada no âmbito da economia,
tendo a sua noção amplamente desenvolvida por essa ciência, conforme expõe Bruscato
(2005):
Sob o ponto de vista econômico, a empresa é considerada como uma
combinação de fatores produtivos, elementos pessoais e reais,
voltados para um resultado econômico, encadeada pela ação
organizadora do empresário, ou seja, toda organização econômica
destinada à produção ou venda de mercadorias ou serviços, tendo,
como objetivo, o lucro (BRUSCATO, 2005).

Nada obstante, houve juristas que buscaram uma conceituação à parte, exclusivamente ligada
ao direito, mas que não alcançaram êxito nessa empreitada. Restou claro, dessa forma, que “a
noção jurídica de empresa está imensamente ligada à questão econômica”, não sendo possível
divorciá-las, conforme escreve Tomazette (2012):
Por tratar-se de um conceito originalmente econômico, alguns
autores pretendiam negar importância a tal conceito, outros
pretendiam criar um conceito jurídico completamente diverso.
Todavia, os resultados de tais tentativas se mostraram insatisfatórios,
tendo prevalecido a ideia de que o conceito jurídico de empresa se
assenta nesse conceito econômico, pois o fenômeno é o mesmo
econômico, sociológico, religioso ou político, apenas formulado de
acordo com a visão e a linguagem da ciência jurídica
(TOMAZETTE, 2012).

Há, todavia, que se direcionar o presente estudo para os pontos da definição econômica dessa
figura que verdadeiramente interessam ao direito. Aqui, de plano, destaca-se a teoria dos
perfis, de Alberto Asquini, que compreendia o fenômeno econômico empresa, no âmbito
jurídico, como poliédrico, isto é, assumindo múltiplos aspectos, de acordo com os distintos
elementos que ali se encontravam. Nessa concepção, a empresa não se apresentava a partir de
um conceito unitário, mas de acordo com quatro perfis por ele identificados: subjetivo,
funcional, objetivo e corporativo (NEGRÃO, 2012).

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No dispositivo normativo Decreto – lei nº 1/2002 de 25 de Maio, Considera-se empresa a
organização dos factores de produção promovida pelo empresário individual ou por
sociedade empresarial, voltada para a produção ou distribuição de bens e serviços, destinados
ao mercado e explorados com finalidade lucrativa.

Por sua vez, o código o seu artigo 3º, considera uma empresa comercial, toda a organização
de factores de produção para o exercício de uma actividade económica destinada à produção,
para a troca sistemática e vantajosa, designadamente:

a) Da actividade industrial dirigida à produção de bens ou serviços;


b) Da actividade de intermediação na circulação dos bens;
c) Da actividade agrícola e piscatória;
d) Das actividades bancárias e seguradora;
e) Das actividades auxiliares das precedentes.

Exceptua-se do disposto a organização de factores de produção para o exercício de uma


actividade económica que não seja autonomizável do sujeito que a exerce.

3.3. Capacidade de jurídica empresarial


Capacidade significa a aptidão que a pessoa tem de adquirir e exercer direitos. Pelo código
civil toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil; a incapacidade é a exceção, ou
seja são incapazes aqueles descriminados pela legislação (menores de 16 anos, deficientes
mentais).

A capacidade jurídica engloba: capacidade de direito (de gozo) mais a capacidade de


exercício (de facto).

Enquanto na Capacidade de Gozo esta coloca-se no plano abstracto da titularidade de


situações jurídicas, na Capacidade de Exercício estamos já no plano concreto de averiguar em
que medida certa pessoa pode exercer os direitos ou cumprir as obrigações que na verdade
lhe podem caber enquanto sujeito. Pode haver Capacidade de Gozo e não haver Capacidade
de Exercício.

Por oposto existe a Incapacidade Jurídica, que é a medida de direitos e vinculações de que
uma pessoa não é susceptível. Há pessoas que são titulares da Capacidade de Gozo, mas não
de exercício. Pode-se ter Capacidade de Gozo genérica e não ter uma Capacidade de
Exercício genérica, ex. menores.

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A Incapacidade de Gozo não admite suprimento, enquanto que a Capacidade de Exercício é
suprível. A Incapacidade de Gozo reporta-se à titularidade de direitos e vinculações de que
uma pessoa pode gozar. Neste campo não é viável suprir uma incapacidade.

Na Incapacidade de Exercício está em causa a impossibilidade de certa pessoa que é titular de


um determinado direito, exercê-lo pessoalmente. No entanto, já é viável a outra pessoa que
venha a exercer esse mesmo direito em conjunto com o incapaz, ou em substituição deste. A
ideia de suprimento é sempre inerente à ideia de Capacidade de Exercício.

No âmbito empresarial, pode ser empresário comercial toda a pessoa singular, residente ou
não residente, ou pessoa colectiva, com sede estatutária no País ou não, que tiver capacidade
civil, sem prejuízo do disposto em disposições especiais.

3.4. Capacidade jurídica empresarial do menor


Qualquer pessoa pode exercer a atividade empresarial, desde que esteja em pleno gozo da sua
capacidade civil, e não esteja impedida por lei.

O artigo 10º do código comercial, salienta que pode ser empresário comercial toda a pessoa
singular, residente ou não residente, ou pessoa colectiva, com sede estatutária no País ou não,
que tiver capacidade civil, sem prejuízo do disposto em disposições especiais.

A participação do menor em actividades empresariais, é prevista pelo artigo 17º do Decreto-


lei nº 1/2022 de 25 Maio, devendo este participar como sócio ou acionista:

1.O menor, que não tenha completado dezoito anos de idade, pode
ser sócio ou accionista de responsabilidade limitada, desde que o
capital social se encontre integralmente realizado e assim se
mantenha enquanto perdurar a incapacidade empresarial. 2. A
participação do menor nos órgãos da sociedade, enquanto durar a sua

incapacidade empresarial, é feita através do seu representante legal.

No entanto, o artigo 10º do Código Comercial, prevê a participação do menor em actividades


empresariais, desde que devidamente autorizado.

A autorização do menor para o exercício da actividade empresarial pode ser concedida pelos
pais, desde que tenham a guarda do menor, pelo tutor ou juiz na falta de um dos

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representantes (Tutor ou pais) ou quando entender conveniente e oportuno aos interesses do
menor.

A autorização para o exercício da actividade empresarial deve ser outorgada por escrito,
podendo o instrumento de autorização limitar os poderes ou impor condições para o seu
exercício, indicar o ramo da actividade a ser explorado pelo menor, fixar prazo de validade da
autorização e, mesmo quando concedida por tempo determinado, pode ser revogada, a
qualquer altura, pelo outorgante, salvaguardados os direitos adquiridos de terceiros.

Não havendo fixação de prazo de validade nem limitação de poderes, presume-se que a
autorização tenha sido concedida por tempo indeterminado, ficando o menor habilitado para a
prática de todos os actos próprios da actividade empresarial.

Para produzir efeitos em relação a terceiros, o instrumento de autorização e a sua revogação


devem ser registados na entidade competente para o registo comercial.

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4. Considerações finais
O Direito é uma ciência social aplicada, voltado para várias questões sociais da realidade
humana. A sociedade está em constante desenvolvimento e, consequentemente, a legislação
tende a acompanhar tal evolução.

A legislação moçambicana, em regra, não que um menor exerça uma capacidade empresarial,
a não ser que se trate de menor emancipado.

Desde a última alteração do Código Comercial, a sociedade já se desenvolveu e sofre


constantes transformações e, ora, a maioridade e capacidade civil, deve ser reavaliada sob o
ponto de vista do qual é verificado se há discernimento e compreensão sobre os atos que
estão sendo praticados, se é possível conferir a maturidade a um indivíduo menor como
também as justificativas de não considerar esse menor apto a desempenhar os atos
empresariais.

O novo código comercial prevê que Poderá ainda exercer actividade empresarial o menor de
idade, que seja maior de dezoito anos, desde que devidamente autorizado

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REFERÊNCIAS

ARMELIN, Danylo Augusto. Direito empresarial / Danylo Augusto Armelin. – Londrina:


Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2022.

ANTÔNIO, Terezinha Damian. Direito empresarial: livro didático / Terezinha Damian


Antônio ; design instrucional Marcelo Tavares de Souza Campos, Marina Melhado Gomes da
Silva. – Palhoça : UnisulVirtual, 2022. 286 p. : il. ; 28 cm.

BRUSCATO, Wilges Ariana. Empresário individual de responsabilidade limitada. São


Paulo: Quartier Latin, 2005. p. 94.

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. 12. ed. ver. e atual. São Paulo: Saraiva,
2008, 1 v: direito de empresa. p. 63.

NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. 3. ed. reform. São Paulo:
Saraiva, 2003. 1 v. p. 46-47.

TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2012, 1 v:
Teoria Geral e Direito Societário. p. 36.

Decreto-lei nº 1//2002 de 25 de Março, que aprova o novo código comercial

Código comercial - actualizado

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