Médio Oriente

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Teorias Filosóficas da Segurança Internacional, 4º Ano, I


Semestre. 2023/2024. Sobre o Médio Oriente e as suas (in) seguranças
Texto1: Neste volume, referimo-nos a uma das regiões mais perigosas e explosivas do mundo moderno –
o Médio Oriente (MO). De grande importância para a sua situação estratégica e seu petróleo é o facto de
durante muito tempo as potências estrangeiras (Império Otomano -Turquia; França, Grã-Bretanha e
Alemanha) terem nela fixado a sua atenção, o que significa que provocaram divisões étnicas (curdos,
xiitas, sunitas), religiosas (judeus, cristãos e muçulmanos) e políticas (democracias, ditaduras,
oligarquias; estados-teológicos...). Desde os anos 1960, as duas grandes superpotências – Estados Unidos
e União Soviética, viram-se cada vez mais envolvidos nos acontecimentos regionais.
O conflito na região MO centrou-se em três aspectos básicos: o primeiro concentra-se na constante
procura de autodeterminação nacionais, primeiro face aos turcos (Império Otomano) e depois face às
potências coloniais europeias (França, Grã-Bretanha e Alemanha), que as reocuparam como consequência
da Primeira Guerra Mundial e, por último, face aos países independentes que agora constituem o
Médio Otriente (Egipto; Israel; Jordânia; Líbano; Síria; Iraque; Irão; Arábia Saudita; Yemen (“Arábia
feliz”, i.e. por ser abençoada pelas chuvas que chegam aí a partir do Oceano Índico) do Sul e do Norte e
Estados do Golfo Pérsico – Kuwait; Bahrein; Catar, Emirados Árabes Unidos e Oman. Em todos estes
casos, o resultado foi a violência, por vezes, como guerrilhas e noutros como, recentemente, o terrorismo.
O emprego do terrorismo associa-se aos palestinanos, o que põe a manifesto o segundo aspecto básico: a
criação do Estado de Israel e a oposição árabe à sua existência (recorde-se da pretensão iraniana em varer
o Israel do mapa). Isso gerou uma série de guerras, muitas das quais adqueriram o carácter de conflitos
totais, com utilizações de tanques, aviões de guerra, e tecnologia militar fornecida pelas superpotências. O
terceiro aspecto tem a ver com as divisões religiosas dentro do mundo islâmico (xiitas, sunitas...). Nos
finais dos anos 1980, a propagação do fundamentalismo desde o Irão contribui para atiçar a persistência
da violência desde Líbano e havia desencadeado no Golfo Pérsico uma feroz e interminável guerra entre o
Irão e o Iraque (1980-1988). Este último conflito que comprometeu as potências estrangeiras pelas
ameaças que significa pelos administradores do petróleo, continha todos os elementos de uma crise
mundial (crise energética e suas consequências económicas).
Sem dúvidas, mantém-se as esperanças. Os esforços para alcançar a paz, especialmente entre Israel e os
países árabes conheceram alguns êxitos, e todavia, proseguem. Ao mesmo tempo, as superpotê
cias mostraram-se conscientes das crises do Médio Oriente (que liga 3 grandes continerntes: África, Ásia
e Europa) e sabem até onde podem chegar sem expôr a a sua própria segurança.
John Pimlott, in MESSAGER, Charles. Los Conflitos del Sieglo XX, ed. NORMA, p. 4.

Texto 2: O ORIENTE MÉDIO E O MUNDO ÁRABE. A expressão Oriente Médio tomou-se corrente a
partir dos anos 40 deste século e introduziu-se, de súbito, no vocabulário político internacional para
designar uma área do globo terrestre de cerca de uma dezena de milhões de quilômetros quadrados e uma
população em crescimento explosivo cujas cifras ultrapassam a marca dos 200 milhões de habitantes.
Englobando os países que se situam entre o Mediterrâneo Oriental, o Mar Negro meridional e o Oceano
Índico, na faixa compreendida entre o golfo de Aden e os arredores do Golfo Pérsico, engloba o Vale do
Nilo, o Crescente Fértil, a península da Arábia, o planalto do Irão, a Ásia Menor e o Afeganistão. Na
Antiguidade, caracterizou-se por ter sido o berço de grandes civilizações: o Egito dos faraôs, a Assíria, a
Babilônia, a Pérsia, a Fenícia. Ao longo de milênios, foi terra de passagem, encruzilhada das rotas que
ligavam o Ocidente e o Oriente, sempre percorrida por invasores provenientes da Ásia Central ou do
continente que se passaria a chamar de Europa (Ocidente, i.e, que se opõe ao Oriente). Terra de impérios,
hoje desaparecidos, e de conquistadores, da Antiguidade aos Tempos Modernos, foi também sede das
religiões monoteístas, o Judaísmo, o Cristianismo e o Islão. Terra sobre a qual se sucederam, através dos
milênios, povos, culturas e civilizações as mais diversas, influências étnicas e culturais as mais variadas,
bem como sistemas de organização social e política diferenciados. Terra e povos que, aos poucos,
perderam o comando da história que construíram e foram submergidos por outras correntes históricas, da
Ásia Central ou da Europa. Daí a marca da decadência, do marasmo e do atraso que, sobretudo, nos
últimos séculos, carrega consigo a imagem do Oriente Médio na mentalidade do homem do Ocidente
capitalista, cristão e tecnicista dos nossos dias.
Mas se a expressão Oriente Médio é recente, a de Oriente Próximo predominou até princípios deste
século, distinguindo-o, assim, daquele Oriente mais longínquo, e ainda mais misterioso, o Extremo
Oriente, a Ásia do Pacífico, do velho Império Chinês e do Japão. Aplicava-se às terras e aos povos sob
domínio do Império Otomano que se instalou em Constantinopla no século XV, e por mais de um século
ameaçou a Europa. Contra os turcos que vinham da Ásia, muçulmanos convertidos, valentes na sua
agressividade guerreira e, nesse sentido, uma ameaça para a Europa cristã, uniram-se reis e papas. A
partir do século XVII, parecia debelado o perigo. No entanto, eles se instalaram no sudeste do continente,
dominando a Península Balcânica e o Mediterrâneo Oriental, os Estreitos de Dardanelos e Bôsforo, a Ásia
Menor, os vales do Tigre e do Eufrates, a Síria e a Palestina, a península da Arábia, cruzaram o estreito de
Suez e apoderaram-se do Nilo, estendendo-se sobre o Norte da África - o Maghreb - e exercendo o seu
protetorado até o atual Marrocos. Ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX, a presença dos turcos,
organizados sob a denominação de Império Otomano, e como Califado - ou seja, como organização
religiosa suprema dos muçulmanos - tornou-se cada vez mais incômoda aos Estados que se fortaleciam e
desenvolviam no continente europeu e, sobretudo, nas suas vizinhanças, como o Império austríaco
Habsburgo e o Império Russo moscovita. O controlo que exerciam sobre os povos balcânicos estendia-se
do Mar Adriático (a Iugoslávia de hoje – atual Croácia, Sérvia, Eslovénia, Bósnia, Macedónia...) ao Mar
Negro (Roménia e Bulgária), abrangendo a Grécia e a Tessália, Creta e Chipre. Dessa forma, dominavam
as rotas do Mediterrâneo Oriental e aquelas que conduziam ao Índico e à Ásia Central, bem como o Norte
de África, ou seja, o Mediterrâneo Meridional. A presença do Império Otomano na Europa constituiu-se,
pois, um problema a preocupar, de forma crescente, os governos europeus e transformou-se, ao longo do
século XIX, a partir de 1815, numa das questões fundamentais da política internacional, entrando na
linguagem diplomática daquele século como a Questão do Oriente.
O ponto crucial da chamada Questão do Oriente consistia para as chancelarias europeias em expulsar os
turcos da Europa. Sob sua dominação encontravam-se além dos gregos, albaneses, búlgaros e rumenos (os
principados da Moldávia e da Valáquia), várias comunidades eslavas, como os bosníacos, os sérvios, os
herzegovinos, o que provocava atritos permanentes com a Áustria, de um lado, e com o Império tzarista,
de outro. Na Ásia, tinham sob sua guarda os árabes, como expressão mais genérica, e a pequena multidão
de minorias que habitavam os diferentes territórios sob administração civil e religiosa otomana. Além do
mais, a guarda dos Estreitos Bôsforo e Dardanelos dava-lhes o controle sobre a entrada do Mar Negro da
mesma forma como a do estreito de Suez era fundamental como acesso ao Mar Vermelho, ao golfo de
Aden e ao Oceano Índico. No século da expansão do capitalismo, das lutas nacionalistas européias, do
militarismo e da diplomacia do prestígio, por parte dos Estados da Europa, não é dificil compreender que
em torno dos problemas otomanos se desenvolveram disputas diplomáticas e conflitos armados. Foi no
bojo dessas competições que surgiram as questões balcânicas (formação das nacionalidades e dos Estados
que se libertaram da dominação turca), a questão do Egito e da construção do Canal de Suez (na segunda
metade do século XIX) e a ocupação do Norte da África (Tripolitânia i.e, Líbia, Tunísia, Argélia e
Marrocos), como parte da política imperialista européia do período. Da mesma forma, elas traduziam a
decadência do Império turco, a ponto de ser este denominado na época de "O Homem Doente da Europa",
cujo fim estaria próximo, tratando-se apenas de saber como apressar sua morte.
LINHARES, Maria Yedda (1992 [1982]). O Oriente Médio e o Mundo Árabe, ed. Brasiliense, 3ªed., pp. 10-14

Questão: Face aos cenários históricos, geoestratégicos, religiosos, políticos e económicos do MO,
como podemos entender o significado da segurança nessa região?

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