HAMI - FIS - NEU - U1 - Livro Didático

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INTRODUÇÃO À FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL

89 minutos

 Aula 1 - Neuroanatomia

 Aula 2 - Neurofisiologia

 Aula 3 - Anamnese Neurológica

 Aula 4 - Avaliação fisioterapêutica neurofuncional

 Aula 5 - Revisão da unidade

 Referências

Aula 1

NEUROANATOMIA
Olá, estudante! Nos últimos anos muita inovação aconteceu na área da fisioterapia. O avanço
tecnológico proporcionou novas possibilidades de tratamento, e uma janela de oportunidades se abriu
para a utilização de novas ferramentas que impactam a recuperação funcional dos pacientes.

17 minutos

INTRODUÇÃO

Olá, estudante! Nos últimos anos muita inovação aconteceu na área da fisioterapia. O avanço tecnológico

proporcionou novas possibilidades de tratamento, e uma janela de oportunidades se abriu para a utilização
de novas ferramentas que impactam a recuperação funcional dos pacientes. Certamente a tecnologia
aplicada à fisioterapia neurofuncional mudou os paradigmas da recuperação dos pacientes e marca uma luta
contra a evolução das doenças degenerativas.
Pacientes neurológicos apresentam distúrbios envolvendo estruturas sensório-motoras e vegetativas com
consequente perda de função motora, que pode se apresentar em vários níveis de gravidade. Conhecer os

aspectos neurobiológicos por trás das lesões de natureza compressiva, degenerativa e traumática do sistema
nervoso é fundamental para a escolha correta das condutas que podem promover o aumento da eficiência
do movimento.
O conteúdo desta aula entrega informações relevantes acerca da neuroanatomia por trás da sensibilidade e

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do movimento, considerando seus processos de integração no nível do córtex cerebral. O estudo desta aula é
importante para que você defina o melhor tratamento para cada paciente, considerando as características do
quadro clínico e a neuroanatomia dos sistemas motores. Vamos iniciar nossos estudos!

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BASES ESTRUTURAIS DO MOVIMENTO

O sistema nervoso é responsável pela regulação das funções voluntárias e involuntárias, possibilitando a

interação com o meio externo (ambiente). A nossa percepção dos contextos à nossa volta inicia-se com a
chegada de informações sensitivas por meio dos receptores de nossa pele, músculos e articulações, ou de

receptores dos nossos sentidos especiais (visão, audição, olfato e paladar). Essas informações são integradas
no córtex cerebral, e assim podemos escolher reagir ou não a elas por meio do sistema motor.

O sistema nervoso, para estudo, pode ser dividido de acordo com critérios anatômicos, embriológicos e

funcionais. A divisão mais conhecida é a anatômica, e encontra-se esquematizada na chave a seguir.

Figura 1 | Divisão anatômica do sistema nervoso

Fonte: Machado e Haertel (2014, p. 13).

O sistema nervoso central (SNC) localiza-se dentro do esqueleto axial (cavidade craniana e canal vertebral), já
o sistema nervoso periférico (SNP) encontra-se fora desse esqueleto. Esta distinção, embora seja geralmente

utilizada, não é perfeitamente exata, pois a parte periférica é contínua com a central, e há, por exemplo,

gânglios que se localizam dentro do esqueleto axial (Machado; Haertel, 2014). O encéfalo é a parte do SNC
situada dentro do crânio, e a medula espinhal, também parte do SNC, encontra-se dentro do canal vertebral.

Os dois hemisférios cerebrais, porção maior e mais rostral do encéfalo, formam o telencéfalo e encontram-se

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unidos por uma larga faixa de fibras comissurais, que cruzam o plano sagital mediano, o corpo caloso. Cada

hemisfério cerebral tem cinco lobos; quatro deles apresentam a mesma nomenclatura dos ossos superiores a

eles: temos, então, o lobo frontal, o parietal, o temporal e o occipital. Além deles existe a ínsula, que é um
lobo localizado internamente a um sulco profundo disposto bilateralmente, o sulco lateral. A superfície, ou

córtex cerebral, apresenta depressões bem características chamadas de sulcos, e esses sulcos delimitam os

giros. Na região tomada por giros e sulcos há predomínio de corpos de neurônios, dendritos e axônios

amielínicos que conferem uma coloração acinzentada. Abaixo do córtex cerebral existe uma área subcortical,

ou centro branco medular do cérebro, com predomínio de axônios mielinizados, que são parte de neurônios
que associam áreas diferentes do córtex que descendem e ascendem do córtex e para o córtex,

respectivamente. Na região subcortical ainda é marcante a presença de núcleos (áreas de substância

cinzenta). Núcleos são aglomerados de corpos de neurônios no SNC. Na base do cérebro existem os

chamados núcleos da base, que são: o caudado, putâmen, globo pálido, claustrum, corpo amigdaloide e
núcleo accumbens. O diencéfalo, que se interpõe entre o telencéfalo e o tronco encefálico, e é formado por

tálamo, hipotálamo, epitálamo e subtálamo. O diencéfalo destaca-se como um centro de controle

neurovegetativo (hipotálamo) e relé de distribuição de informações sensoriais para o córtex (tálamo). O

tronco encefálico, parte caudal do encéfalo, situa-se ventralmente ao cerebelo, e é formado pelo

mesencéfalo, ponte e bulbo (de rostral para caudal). Na sua constituição estão corpos de neurônios que se
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agrupam em núcleos e fibras nervosas, que se agrupam em feixes denominados tratos, fascículos ou

lemniscos. Muitos dos núcleos do tronco encefálico recebem ou emitem fibras nervosas que entram na

constituição dos nervos cranianos, de 12 pares, dos quais 10 fazem conexão no tronco encefálico. O cerebelo

conecta-se ao mesencéfalo via pedúnculo cerebelar superior, à ponte via pedúnculo cerebelar médio, e ao

bulbo via pedúnculo cerebelar inferior. O cerebelo desempenha papéis fundamentais na manutenção
postural, tônus, equilíbrio, coordenação dos movimentos e aprendizagem motora, e estudos mais recentes

apontam para a contribuição em funções cognitivas (Machado; Haertel, 2014).

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BASES FUNCIONAIS DO MOVIMENTO

Em termos gerais, toda ação que executamos necessita dos sistemas motores. O movimento é orquestrado
pela ação coordenada das regiões periférica e central, moldado por um contexto e dirigido pela vontade do

executor. Podemos perceber a ação coordenada quando observamos as alterações nas estratégias de

movimento durante a caminhada no asfalto ou na areia da praia. As alterações são uma resposta a uma

informação sensorial diferente, portanto, o desempenho motor (eferência) e a sensibilidade (aferência) são

interdependentes. As informações sensoriais servem como substrato para o preparo do movimento, e são
integradas a todo momento alimentando de informações o sistema motor (Lundy-Ekman, 2000).

Mecanismos complexos e interdependentes regem o controle dos movimentos, que respondem e se

organizam diante das mais variadas condições ambientais.

Distúrbios do sistema sensório-motor e de suas conexões resultam em disfunções motoras nos mais diversos
níveis, que podem chegar à perda funcional.

A disfunção motora, sua evolução ou cronicidade, e a reaquisição das habilidades motoras de relevância para

o dia a dia fundamentam a fisioterapia neurofuncional (Huter-Becker; Dolken, 2008).

O uso antecipado de informações sensoriais na preparação de um movimento chama-se

feedforward (antecipação), e o uso de informações sensoriais durante e após o movimento para efetuar
correções é o feedback (retroalimentação). Uma contração aumentada de isquiotibiais antes de se atribuir

carga à articulação do joelho, que sofreu uma ruptura de cruzado anterior, é um exemplo de feedforward.

Essa contração caracteriza um mecanismo de adaptação por antecipação. A informação oriunda de

receptores da pele, visão, audição, vestibulares e propriocepção oferecem informação continua (durante e

após o movimento) que promove feedback para correções imediatas, caracterizando um mecanismo de
adaptação ao meio por retroalimentação (Huter-Becker; Dolken, 2008).

Os movimentos aprendidos se tornam automáticos e exigem pouca atenção consciente e esforço, são suaves

e se integram às condições do ambiente. A aparente ausência do esforço exige uma integração contínua do

processamento motor com a informação visual, somatossensorial, proprioceptiva e vestibular. A perda de

qualquer um desses elementos pode interferir na qualidade do movimento, por exemplo, os movimentos
sem o uso da visão são mais lentos e menos precisos; a perda da sensação somática interrompe o

posicionamento adequado dos membros; a perda vestibular interfere no equilíbrio. O movimento preciso e

harmônico exige informação visual, tátil e gravitacional (Lundy-Ekman, 2000).

Qualquer ato motor envolve uma sequência complexa de eventos. A atividade começa com uma decisão,
tomada na parte anterior do lobo frontal. A seguir, são recrutadas áreas de planejamento motor e depois os

circuitos de controle. Os circuitos de controle atuam modulando o movimento, pois regulam a atividade dos

tratos motores descendentes, e consistem no cerebelo e núcleos da base que enviam sinais para

interneurônios espinais e neurônios motores inferiores (NMIs). Os NMIs transmitem os sinais diretamente

aos músculos esqueléticos, que contraem suas fibras para produzir o movimento. Os tratos descendentes
são vias nervosas que entregam as informações de movimento do encéfalo aos NMIs da medula espinal ou

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tronco encefálico. Os neurônios cujos axônios seguem pelos tratos descendentes são os neurônios motores
superiores (NMSs). Há vias nervosas que controlam desde o movimento postural e motricidade grosseira até

a motricidade fina. O papel dos circuitos de controle é modular a atividade dos tratos descendentes,

refletindo na excitação ou inibição dos NMIs. Os circuitos de controle determinam parcialmente a contração

muscular. Nesse contexto, as informações sensoriais são cruciais para determinar os ajustes na atividade
motora (Lundy-Ekman, 2000).

LESÃO NEUROLÓGICA: OS DISTÚRBIOS MÚLTIPLOS

O paciente acometido por uma lesão ou doença neurológica apresenta inúmeros sintomas que vão desde
disfunções motoras e sensitivas até déficits perceptivos e cognitivos, que frequentemente estão combinados.

Esses problemas afetam a estrutura do corpo e a capacidade funcional para conduzir as demandas da vida

cotidiana em toda sua dimensão biopsicossocial. A gravidade das disfunções, além de refletir as

características fisiopatológicas da doença ou trauma, também reflete as condições de vida do paciente. Os


distúrbios múltiplos, e muitas vezes o contexto social no qual estão inseridos os pacientes, constituem um

enorme desafio para o fisioterapeuta neurofuncional. A hemiplegia, por exemplo, apresenta variações de

paciente para paciente, e o tratamento padronizado não traz resultados satisfatórios.

A lesão dos NMIs interrompe o fluxo de impulsos nervosos para a periferia e produz uma paralisia flácida, ou

seja, acompanhada por uma marcante hipotonia. Além disso, os reflexos superficiais e profundos ficam
deprimidos ou ausentes. Abalos ou fasciculações podem ocorrer, e por fim, instala-se uma acentuada perda

de massa muscular (atrofia) do músculo desnervado. A síndrome do NMI pode ser produzida por lesões do

SNC ou do SNP – no primeiro caso, os corpos celulares ou as radículas intramedulares são atingidas,

enquanto no segundo, os axônios que cursam pelos nervos periféricos são atingidos. Outra característica da

síndrome do NMI é a manifestação do déficit sensorial, paralisia e atrofia de forma segmentar, ou seja, as
anormalidades são limitadas à pele e aos músculos desnervados (Young; Young, 1998; Huter-Becker; Dolken,

2008).

Já as lesões que atingem os NMSs, em qualquer ponto da via motora descendente, conhecida como via

piramidal ou córtico-espinhal, cursam com uma sintomatologia bastante robusta. Os principais sinais da
síndrome do neurônio motor superior são o tônus muscular aumentado, com uma paralisia ou paresia do

tipo espástica (hipertonia elástica), reflexos profundos exaltados e uma resposta plantar superficial extensora

conhecida como sinal de Babinski. A distribuição da sintomatologia não é segmentar e atinge os grupos
musculares inervados pelos neurônios motores abaixo do nível da lesão (Young; Young, 1998).
Quando a lesão acomete os centros modulatórios da via piramidal, em especial os núcleos da base e

cerebelo, observamos quadros motores que são característicos. No caso da lesão cerebelar manifesta-se
hipotonia, déficit de equilíbrio e coordenação motora, já nas lesões dos núcleos da base observa-se a
presença de tônus flutuante e movimentos involuntários, anormais, repetitivos, e de distribuição pelos

segmentos corporais variável anormais (vermiformes, coreicos e balísticos).

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A lesão da via motora, quando ocorre em seu trajeto pela medula espinhal, em decorrência de traumas,
acidentes vasculares, doenças inflamatórias e tumores, pode resultar em perda funcional parcial ou total.
Quando o cenário é parcial a lesão atinge com maior frequência a parte central da medula, poupando a

periferia. Neste caso, a atividade motora e a sensibilidade associada aos segmentos inferiores (sacrais)
permanece intacta mesmo na fase aguda da lesão. Esse fenômeno é chamado de preservação sacral, e

geralmente prediz um bom prognóstico de recuperação.


Quando ocorre a secção completa da medula espinhal, aparecem, imediatamente, três anormalidades
funcionais nas partes do corpo supridas pelos segmentos medulares abaixo do nível da lesão: paralisia,

anestesia e arreflexia.
A arreflexia é resultado de um fenômeno chamado choque espinhal, caracterizado pela ausência de atividade

neural, devido à interrupção do controle dos centros motores superiores. Esse choque pode persistir por
dias, semanas ou meses. Após esse período aparece a resposta plantar extensora, hiperreflexia e ainda
espasticidade, e o clônus também pode surgir (Young; Young, 1998).

Figura 2 | Resposta flexora plantar: A. Normal; B. Em extensão (sinal de Babinski)

Fonte: adaptada de Young, Young e Tolbert (2018, p. 80).

Figura 3 | Clônus

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Fonte: adaptada de Young, Young e Tolbert (2018, p. 80).

Figura 4 | Espasticidade ou hipertonia elástica: fenômeno do canivete

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Fonte: adaptada de Young, Young e Tolbert (2018, p. 79).

Figura 5 | Padrão da hemiplegia espástica: hipertonia elástica

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Fonte: adaptada de Young, Young e Tolbert (2018, p. 78).

VÍDEO RESUMO

Olá, estudante! Neste vídeo, você verá a classificação anatômica do sistema nervoso e conhecerá um pouco
da sua estrutura e da relação de cada uma dessas estruturas com o movimento. Você também compreenderá
como as lesões do sistema nervoso, em especial as que acometem a via motora ou estruturas modulatórias

dessa via, podem produzir quadros sintomatológicos que interferem no controle dos movimentos.
Precisamos ter em mente que para definirmos objetivos realistas e condutas que nos permitam atingi-los é

necessário conhecermos as estruturas anatômicas por trás das lesões de natureza compressiva,
degenerativa, vascular ou traumática do sistema nervoso.

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 Saiba mais
Para aprofundar o estudo da neuroanatomia você pode consultar o site de Neuroimagem e
Neuropatologia da Universidade de Campinas – Unicamp. Nele, é possível encontrar um Atlas Básico de

Neuroanatomia, além de um Atlas neuropatológico.


Você também pode consultar a obra Neuroanatomia Aplicada, que aborda a neuroanatomia aplicada à

neuropatologia.
Bons estudos!

Aula 2

NEUROFISIOLOGIA
Quando observamos um paciente neurológico, durante uma avaliação, é impossível não refletirmos a
respeito de como essa lesão interfere e/ou interferiu no funcionamento do sistema nervoso desse
indivíduo.

18 minutos

INTRODUÇÃO

Quando observamos um paciente neurológico, durante uma avaliação, é impossível não refletirmos a
respeito de como essa lesão interfere e/ou interferiu no funcionamento do sistema nervoso desse indivíduo.

A coleção de sintomas e/ou sequelas que ele apresenta é resultado direto dessa interferência. O tecido
nervoso compreende basicamente dois tipos celulares que garantem a função básica de receber, processar e
enviar informações: neurônios e células da glia. Neurônios, quando não se encontram no bulbo olfatório,

hipocampo (giro denteado) e retina, não se dividem. Após o nascimento não são produzidos novos neurônios
nas áreas sensório-motoras; aqueles que morrem como resultado de programação natural, por efeito de

toxinas, doenças ou traumatismos jamais serão substituídos. Isso é válido para a grande maioria dos
neurônios do sistema nervoso central (SNC). Nesta aula, você aprenderá que o conhecimento da
neurofisiologia é fundamental para a escolha da propedêutica e conduta adequadas para a avaliação e

tratamento do paciente neurológico, uma vez que as lesões interferem nos aspectos neurofisiológicos que
regem o funcionamento do sistema nervoso.

BASES FUNCIONAIS DO MOVIMENTO

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Neurônios são células altamente excitáveis, que se comunicam com outros neurônios, músculos ou glândulas

usando uma linguagem elétrica, que é resultado da modificação do potencial elétrico de sua membrana
(Machado; Haertel, 2014). A inatividade dos neurônios é uma situação incomum. Um neurônio em silêncio
apresenta uma diferença de potencial elétrico entre as duas faces de sua membrana, diferença esta

conhecida como “potencial de repouso”, e reflete a diferença das cargas elétricas entre a face interna e
externa da membrana celular. A medida do potencial de repouso do neurônio situa-se entre -60 a -70 mV. O
que caracteriza o neurônio não é seu potencial de repouso, mas, sim, seu potencial de ação (PA). O PA é um

sinal elétrico que confere ao neurônio a capacidade de transmitir informação, e nesse fenômeno ocorre
inicialmente uma variação súbita e passageira da medida de potencial de repouso, que se torna positiva (40 a

50 mV). Essa é a chamada fase de despolarização, causada por uma súbita abertura dos canais de sódio
dependentes de voltagem existentes na membrana celular. Após o movimento dos íons sódio para dentro do
axônio, os canais de sódio aos poucos tornam-se inativos, o que faz cessar o fluxo de sódio e entrar em cena

o potássio. Os canais de potássio abrem-se lentamente, e a saída do potássio, de dentro da célula, restaura a
polaridade da membrana nos níveis de repouso. Assim que os canais de potássio dependentes de voltagem

se fecham, o potencial de repouso original da membrana é reestabelecido pela bomba de sódio-potássio –


mas durante um certo tempo ela permanece inexcitável, incapaz de gerar outros PAs: essa fase chama-se
período refratário, e ocorre pela inativação dos canais iônicos (Lent, 2004).

Figura 1 | Gráfico do potencial de ação

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Fonte: Vanputte (2016, p. 377).

A informação, na forma de um potencial de ação, trafega pelo axônio do neurônio até alcançar sua parte
terminal, que por meio de sinapse transmitirá a informação a um neurônio, músculo ou glândula.
As sinapses podem ser químicas ou elétricas. Sinapses químicas são majoritárias no sistema nervoso dos
vertebrados. As sinapses elétricas ocorrem principalmente entre neurônios imaturos e destacam-se em sua

estrutura as junções comunicantes, que são resultado de canais iônicos especiais que formam poros de
grande diâmetro conectando dois neurônios. Por elas passam vários íons e até mesmo pequenas moléculas.
Nesse tipo de sinapse não há intermediários químicos, e por isso a transmissão é ultrarrápida (Lent, 2004). O
processo evolutivo envolveu a substituição de sinapses elétricas pelas químicas, o que favorece o
processamento de informações. Nas sinapses químicas, dois neurônios adjacentes apresentam um espaço

conhecido como fenda sináptica. Como a transmissão sináptica é unidirecional, a região sináptica da primeira
célula é o elemento pré-sináptico, e a região sináptica da segunda célula é o elemento pós-sináptico. O
elemento pré-sináptico tem vesículas sinápticas contendo neurotransmissores que se aglomeram nas
proximidades da membrana. Os potenciais de ação causam a liberação, na fenda sináptica, de uma certa
quantidade de neurotransmissores, e essas moléculas da fenda sináptica difundem-se até a membrana pós-

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sináptica, onde a informação de natureza química transforma-se em elétrica gerando um potencial de ação
pós-sináptico na membrana da segunda célula (Lent, 2004). O potencial de ação comanda a liberação dos
neurotransmissores e gera o potencial pós-sináptico, que pode ser do tipo despolarizante (excitatório) ou do

tipo hiperpolarizante (inibitório). As sinapses podem ser classificadas quanto à natureza dos seus elementos
em axodendrítica, axossomática, axoaxônica, dendrodendrítica e somatossomática; e quanto à sua
morfologia em sinapses assimétricas (com membrana pós-sináptica mais espessa que a pré-sináptica) e
sinapses simétricas (com membranas de igual espessura). Sabe-se que as assimétricas são funcionalmente
excitatórias, e as simétricas são inibitórias (Lent, 2014).

Os músculos esqueléticos funcionam estritamente sob comando neural por meio da sinapse entre o terminal
axônico do neurônio e a fibra muscular. Por essa razão, lesões neurais provocam paralisias e paresias. As
sinapses entre axônios e células musculares respondem pelos movimentos reflexos e voluntários. Os reflexos
são movimentos automáticos e estereotipados em resposta a um estímulo sensorial, e sua importância
reside em ser a base para a construção do movimento voluntário. O reflexo miotático é o mais simples de

todos, e é uma resposta involuntária de contração ao estiramento de um músculo antigravitário após


percussão de seu tendão. A percussão provoca um estiramento do músculo que estimula os fusos
neuromusculares. Na medula, estes fazem conexão com neurônios motores do tipo alfa que ativam
diretamente o músculo agonista, e em interneurônios inibitórios que diminuem a ativação do músculo
antagonista – a esse fenômeno nomeamos inibição recíproca. Esta proporciona a capacidade de realização de
um movimento voluntário harmônico e funcional (Lent, 2014).

Figura 2 | Inibição recíproca dos flexores e extensores de uma mesma articulação

Fonte: Bear (2017, p. 477).

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Um outro tipo de reflexo é o reflexo flexor ou de retirada, que ocorre quando um estímulo sensorial
frequentemente nociceptivo atinge uma das extremidades. Se o estímulo for forte e potencialmente lesivo,
todos os músculos flexores do membro estimulado podem ser acionados, e dessa forma ocorre o
afastamento brusco do estímulo – nesse caso, os receptores cutâneos do membro são estimulados, e na

medula esse estímulo é enviado para interneurônios excitatórios de vários segmentos medulares, que
promovem a contração simultânea de diferentes músculos flexores.

Figura 3 | Reflexo flexor de retirada

Fonte: Bear (2017, p. 478).

REFLEXOS E MOVIMENTAÇÃO VOLUNTÁRIA

Os reflexos são uma espécie de circuito básico capaz de ações motoras relativamente grosseiras que são
integrados aos movimentos voluntários e sobre os quais incidem múltiplas informações moduladoras
provenientes dos centros superiores.
Todo músculo apresenta certo grau de tensão, mesmo quando totalmente relaxado – a esse certo grau de

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tensão dá se o nome de tônus muscular. O tônus muscular é mantido graças ao arco reflexo. Podemos
perceber o tônus muscular em repouso durante a mobilização passiva de um membro (Huter-Becker; Dolken,
2008).
O reflexo de estiramento é um mecanismo de controle do tônus, e a falta de informação moduladora dos

centros superiores sobre ele pode resultar em hipotonia e hipertonia (espástica ou plástica) que cursam com
hiporreflexia e hiperreflexia, respectivamente. A hipertonia espástica pode ainda estar acompanhada de
clônus e fasciculações.
A lesão da via piramidal (1º neurônio motor ou trato corticoespinhal) ocasiona o fenômeno chamado de
liberação piramidal. Neste caso, essa via não é mais capaz de exercer modulação sobre os reflexos; eles se

tornam exaltados e ocorre um aumento da área reflexógena acompanhado de hipertonia do tipo espástica, e
ainda pode surgir clônus.
O clônus é sinal de lesão no SNC e é provocado por um estiramento rápido dos flexores plantares e flexores
de punho. Ocorre, por exemplo, quando o paciente está sentado na cadeira de rodas e sua perna afetada é
colocada de forma passiva e rápida sobre o descanso para os pés. Este movimento resulta no alongamento

brusco dos flexores plantares que provoca um estímulo do arco reflexo monossináptico (no qual o neurônio
sensorial faz sinapse diretamente com o neurônio motor). A consequência são contrações rítmicas dos
flexores plantares, manifestando-se por um tremor grosseiro do pé e da perna. O clônus pode manifestar-se
de forma esgotável ou inesgotável, e pode ser inibido com um alongamento lento, com vários segundos de
duração, dos flexores plantares (Huter-Becker; Dolken, 2008).

O sistema motor extrapiramidal (por definição as demais vias de controle motor que não a via piramidal) é
ativado antes mesmo da via piramidal. Os axônios do sistema extrapiramidal não acompanham o feixe
corticoespinhal. O sistema extrapiramidal compõe-se de fibras altamente ramificadas, que exercem uma ação
moduladora sobre os centros corticais e sobre as células do corno anterior da medula espinhal, ativadas pela
via piramidal. As células nervosas que compõem as vias extrapiramidais estão localizadas em diversas ilhas

de substância cinzenta, que se encontram espalhadas na substância branca da porção basal do cérebro.
Essas ilhas são chamadas de núcleos da base. Os núcleos da base caudado, putâmen e globo pálido têm
funções modulatórias sobre a motricidade. Os movimentos compensatórios automáticos, como o
deslocamento do peso corporal durante a marcha e os movimentos concomitantes dos braços, têm início no
sistema extrapiramidal (Huter-Becker; Dolken, 2008; Machado; Haertel, 2014). A perda de aferências

dopaminérgicas para o estriado (núcleo caudado e putâmen) ocasiona sintomas hipercinéticos, como
observado na doença de Parkinson, que se caracteriza por três sintomas básicos: tremor, rigidez e
bradicinesia. O tremor manifesta-se nas extremidades quando elas estão em repouso. A rigidez resulta de
uma hipertonia que afeta gradualmente toda a musculatura esquelética, e a bradicinesia manifesta-se por
lentidão e redução da atividade motora voluntária. Na doença de Parkinson a disfunção está na substância

negra e resulta em diminuição da dopamina nas fibras nigroestriatais; dessa forma, cessa a atividade
moduladora que essas fibras exercem sobre o movimento (Machado; Haertel, 2014). A formação reticular,
que são grupos de neurônios dispersos pelo tronco encefálico, também exercem função moduladora sobre a

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motricidade somática pelos seus tratos reticuloespinhais. Esses tratos são importantes para a manutenção da
postura e da motricidade voluntária da musculatura axial e apendiculares proximais. Para as funções
motoras, a formação reticular recebe aferências do cerebelo e das áreas motoras do córtex cerebral, e ainda
contribui com comandos motores descendentes gerados na própria formação reticular (Huter-Becker;

Dolken, 2008; Machado; Haertel, 2014).

Figura 4 | Integração do circuito do reflexo de estiramento. Os interneurônios espinhais coordenam as ações reflexas

Fonte: Kandel (2014, p. 688).

A LESÃO DO NEURÔNIO MOTOR

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Os déficits motores centrais são resultado da lesão dos sistemas sensitivo-motor, e neste caso observamos

tanto sintomas classificados como negativos como a diminuição da força, comprometimento na execução de
movimentos independentes dos dedos ou sequenciamento anormal da ativação muscular, seja direcionada a

movimentos isolados ou alternados, seja sintomas positivos, como o aumento da resistência muscular ao
movimento passivo, exaltação dos reflexos proprioceptivos e a presença de reflexos patológicos, como o sinal

de Babinski. O déficit sensorial atinge geralmente a sensibilidade superficial e profunda, e as possibilidades


terapêuticas são voltadas para o tratamento das paresias/plegias, espasticidade, síndromes motoras

extrapiramidais e ataxia. Espera-se que com a experiência do movimento, a sensibilidade seja restaurada em
resposta à demanda motora (Huter-Becker; Dolken, 2008). A ataxia é a falta de coordenação motora ao

realizar movimentos voluntários, e é um dos principais sintomas que ocorrem quando a lesão neurológica
está localizada no cerebelo. Ela se manifesta principalmente nos membros, e quando observada durante a
marcha reproduz um padrão característico do indivíduo alcoolizado, chamado de marcha ebriosa ou atáxica.

O paciente com comprometimento cerebelar apresenta déficit de equilíbrio, incoordenação, hipotonia e


distúrbios de aprendizagem motora, e procura compensar o déficit de equilíbrio em pé aumentando a base

de suporte (Machado; Haertel, 2014). O mecanismo pelo qual o cerebelo controla o movimento envolve duas
etapas: uma de planejamento do movimento e outra de correção do movimento já em execução. O

planejamento do movimento é elaborado a partir de informações trazidas pela via córtico-ponto-cerebelar de


áreas do córtex cerebral ligadas a áreas de associação, que expressam a intenção do movimento. O plano

motor é então enviado às áreas motoras de associação do córtex cerebral. Essas áreas, que são as áreas pré-
motora e motora suplementar, associam os dados do plano motor do cerebelo com seus próprios dados,

resultando em um plano motor comum, que é colocado em execução através dos neurônios motores
espinhais que fazem parte do trato corticoespinal ou piramidal. Uma vez iniciado o movimento, ele passa a

ser monitorado pela via espinocerebelar, que por suas aferências sensoriais informa as características do
movimento em execução a fim de promover as devidas correções ao atuar sobre as áreas motoras e o trato
corticoespinal. Admite-se que o cerebelo compara as características do movimento em execução com o

planejamento motor, e promove correções e ajustes necessários para que o movimento ocorra da maneira
adequada (Machado; Haertel, 2014).

No caso de uma lesão nervosa periférica observa-se um quadro clínico mais simples, com deficiências
funcionais de natureza motora, sensitiva e neurovegetativa limitadas aos músculos e território cutâneo

desnervados pela lesão. Observa-se na dimensão motora fraqueza muscular, atrofia, hipotonia ou perda total
do tônus muscular, arreflexia ou hiporreflexia, e na dimensão sensitiva, parestesia, dormência, hipoalgesia ou

analgesia, hipoestesia ou anestesia (Siqueira; Martins, 2023).


A regeneração no SNP é efetiva, mas depende da integração de diversas etapas interdependentes que estão

relacionadas com numerosos acontecimentos celulares. Por esse motivo, a falha de qualquer dessas etapas
influencia o processo como um todo, justificando alguns resultados insatisfatórios observados clinicamente

(Siqueira; Martins, 2023).

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:
VÍDEO RESUMO

Olá, estudante! Neste vídeo, abordaremos como se processa a condução nervosa, o que são sinapses e a

importância dos reflexos para a movimentação voluntária.


Vamos falar também do quadro clínico das lesões dos neurônios motor superior, inferior e dos centros

modulatórios que agem sobre a via piramidal – cerebelo e núcleos da base –, e o que podemos esperar em
termos de recuperação espontânea nas lesões centrais e periféricas.

 Saiba mais
Para que você aprimore seus conhecimentos acerca dos conceitos de neuroanatomia e neurofisiologia
atrelados à neurociência básica, acesse o material intitulado Neurociências.

Em relação aos conceitos de neuroanatomia e neurofisiologia atrelados às disfunções neurológicas,


sugerimos a leitura do livro Neurociência Clínica e Reabilitação.

Bons estudos!

Aula 3

ANAMNESE NEUROLÓGICA
Olá, estudante! As numerosas complicações do paciente neurológico costumam ser complexas e
interdependentes.

19 minutos

INTRODUÇÃO

Olá, estudante! As numerosas complicações do paciente neurológico costumam ser complexas e


interdependentes. O profissional deve ter um olhar abrangente e conhecimentos sólidos a respeito dos

distúrbios neurológicos, a fim de poder oferecer para o paciente a melhor conduta que gere os melhores
resultados.

O principal papel do fisioterapeuta é a avaliação e o treinamento das funções motoras que fazem parte da
vida cotidiana do paciente. O paciente deve tornar-se capaz de retornar ao seu ambiente social e de trabalho

com o máximo possível de autonomia, e o exame realizado pelo fisioterapeuta representa o primeiro passo
do processo terapêutico. O objetivo da avaliação fisioterapêutica é aprofundar-se nas incapacidades,

deficiências, limitações e restrições do indivíduo, e de posse dessas informações escolher as condutas

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:
fisioterapêuticas adequadas, na expectativa de obter, como resultado, o máximo de independência funcional

do paciente.
Nesta aula vamos aprender alguns aspectos da avaliação fisioterapêutica neurofuncional com foco na

avaliação das funções cognitivas, marcha e equilíbrio.


Um bom resultado de tratamento depende de uma avaliação de qualidade que permita ao profissional traçar

condutas adequadas às necessidades do paciente. Bons estudos!

ANAMNESE NEUROLÓGICA

A avaliação do paciente neurológico procura responder questões importantes para a escolha das melhores

condutas, que devem ter como foco a melhora do desempenho motor do paciente em suas atividades
cotidianas. A conquista de autonomia é um dos principais objetivos do tratamento fisioterapêutico em
neurorreabilitação, e deve também contemplar a expectativa do paciente à sua realidade sensório-motora. As

expectativas serão atendidas no possível, considerando as características da doença, como a presença ou não
de sequelas e a cronificação ou progressão do quadro neurológico. Cabe ao fisioterapeuta dispor de um

conhecimento sólido da fisiopatologia da doença, ou a característica do trauma, para entender o reflexo


sobre o desempenho motor do paciente.

O primeiro passo de uma avaliação é a coleta de informações, momento em que se deve questionar o
paciente e seu acompanhante para obter todas as informações necessárias para traçar uma conduta de

qualidade
As informações a respeito das doenças pregressas e atuais, assim como as condições de vida do paciente,

exercem uma influência decisiva no tratamento. As medicações que o paciente utiliza podem interferir no
tratamento positiva ou negativamente; por exemplo, medicações para reduzir a espasticidade na dosagem

correta auxiliam o tratamento fisioterapêutico, enquanto uma dose elevada ou outros tipos de
medicamentos podem sedar o paciente.
A qualidade do tratamento é tão boa quanto o exame no qual ele se baseia.

É preciso considerar que múltiplos distúrbios exigem tratamento multidisciplinar. O fisioterapeuta pode e
deve lançar mão, se disponível, da documentação compilada de outros participantes do processo terapêutico,

como fisioterapeutas, médicos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, neuropsicólogos etc. Dessa forma,
a coleta de informações será mais profunda e eficaz. Todas as informações disponíveis que tenham influência

direta ou indireta nos sintomas do paciente são importantes.


A multidisciplinaridade não ajuda muito se não for considerada a interdisciplinaridade. Portanto, os objetivos

da reabilitação exigem uma organização adequada de toda equipe e um método de trabalho coordenado
entre os membros (Huter-Becker; Dolken, 2008).

A classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde (CIF) foi adotada pela Organização
Mundial de Saúde e seu objetivo é criar uma nomenclatura padronizada para descrever a funcionalidade e
incapacidade englobando os modelos médico e biopsicossocial. Sua aplicação é extremamente útil no

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:
contexto da interdisciplinaridade. A CIF divide sistematicamente a capacidade funcional do ser humano e o

seu comprometimento em vários componentes que se influenciam mutuamente (Huter-Becker; Dolken,


2008).

Figura 1 | Ciclo do processo de reabilitação considerando a CIF

Fonte: Luvizutto e Souza (2022, p. 3).

A exigência de testes padronizados e validados que demonstrem a eficácia e eficiência das intervenções

terapêuticas vem crescendo nos últimos anos em todas as áreas da assistência em saúde. A aplicação de
testes padronizados passou a ser um elemento importante do exame fisioterapêutico, do processo

terapêutico e da documentação que trata da evolução do paciente. O objetivo dos testes é avaliar resultados
e demonstrar de forma objetiva o êxito do tratamento, bem como compará-lo (Huter-Becker; Dolken, 2008).

Quadro 1 | Testes para avaliação do paciente neurológico nos domínios funcionais da cognição, marcha e equilíbrio, considerando as
dimensões da classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde (CIF)

Teste Função Dimensão da CIF

Miniexame do estado mental Estrutura e função


Cognição
(MEEM) Atividade e participação

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:
Avaliação de MoCA (Montreal Cognição Estrutura e função

Cognitive Assessment)
Atividade e participação

Exame da marcha baseado na


Marcha Atividade
observação

Teste de Tinetti Marcha e equilíbrio Atividade

Timed up and go Marcha e mobilidade Atividade

Escala de equilíbrio de Berg Equilíbrio e mobilidade Atividade

Teste de Romberg Equilíbrio Função e atividade

Short Physical Performance


Equilíbrio, mobilidade e marcha Função e atividade
Battery (SPPB)

Fonte: adaptada pelo autor de Huter-Becker e Dolken (2008).

A primeira informação que se obtém no exame é o estado de consciência do paciente, que pode ser avaliada
quantitativamente e qualitativamente pelo miniexame do estado mental (MEEM) e pela avaliação de MoCA. O

equilíbrio estático pode ser avaliado com a escala de equilíbrio de Berg e o teste de Romberg, e a avaliação da
marcha em termos qualitativos deve ser realizada por meio da observação por meio da comparação com o

padrão de marcha “normal”, ou em um laboratório de marcha com ajuda de equipamentos específicos. Em


termos quantitativos podem ser usados testes como Tinetti, Timed up and go e Short Physical Performance

Battery, que apontam o risco de queda em idosos (Huter-Becker; Dolken, 2008).

ELEMENTOS QUE COMPÕEM O EXAME FISIOTERAPÊUTICO

A anamnese obtida na entrevista com o paciente e/ou seu cuidador é o elemento inicial da avaliação
terapêutica.

Na anamnese devem ser obtidas informações como dados pessoais do paciente, o diagnóstico da doença,
informações acerca de seus antecedentes clínicos – dentre eles, doenças pregressas, sintomas atuais,

medicamentos em uso, exames médicos, antecedentes familiares (de doenças) e tratamentos que já foram
ofertados ao paciente no curso da doença ou trauma atual (seus resultados). Não devemos esquecer da

história social (família, condições de moradia, trabalho e lazer) e da queixa principal (Huter-Becker; Dolken,
2008).

A anamnese nos permite conhecer o paciente e verificar se há distúrbios da consciência, que podem ser de
natureza quantitativa e/ou qualitativa. Os distúrbios quantitativos distinguem o estado vígil da sonolência, do

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:
torpor e do coma. Os distúrbios qualitativos da consciência referem-se à orientação no tempo, espaço e em

relação a si mesmo (Huter-Becker; Dolken, 2008).


Na prática clínica, em se tratando dos distúrbios qualitativos da consciência, pode-se utilizar como teste de

rastreio o miniexame do estado mental (MEEM), porém deve-se usar outro instrumento para confirmação da
perda cognitiva em indivíduos que apresentaram escores abaixo das médias e/ou medianas. Um ponto

importante a se considerar é que o grau de escolaridade do paciente pode impactar o resultado do MEEM. O
Montreal Cognitive Assessment (MoCA) é também um instrumento de rastreio cognitivo rápido. Após
sucessivos aperfeiçoamentos em sua estrutura, a versão final desse instrumento representa um método
prático e eficaz na distinção entre desempenhos cognitivos de adultos com envelhecimento cognitivo normal

e adultos com déficit cognitivo. O MoCA é considerado um instrumento privilegiado na detecção precoce do
declínio cognitivo no idoso, sendo uma ferramenta que deve ter seu uso considerado em pacientes que
apresentam quadros demenciais (Freitas et al., 2010).

Uma versão resumida do Teste de Informação-Memória-Concentração (IMC) de Blessed pode avaliar a


memória e a concentração (Martins et al., 2021).

Após a coleta de informações iniciais e a análise das informações sobre a consciência do paciente, procede-se
com uma avaliação mais detalhada dos movimentos, utilizando escalas, testes e avaliações específicas. Esses

elementos desempenham um papel fundamental e essencial durante o exame. A avaliação motora abrange a
observação visual, a análise do tônus muscular, da força, do equilíbrio, da coordenação, dos reflexos, da

sensibilidade e da marcha.
A avaliação do equilíbrio é uma peça-chave do exame motor, pois sem o equilíbrio preservado são evidentes

as restrições de mobilidade. Existe um conflito óbvio entre estabilidade e mobilidade, que se resolve quando
somos capazes de manter o centro de massa dentro de nossa base de apoio.

De todos os sentidos que nos permitem conduzir com fluidez as atividades diárias, o senso de equilíbrio
parece ser aquele o que estamos menos conscientes. Ele impede que caiamos quando estamos em pé ou
caminhando, e nos confere os ajustes necessários para uma troca de posição ou caminhada (Luvizutto;

Souza, 2022).
O equilíbrio se deve aos órgãos vestibulares, na orelha interna, e à interação desses órgãos com os neurônios

do tronco cerebral. O sistema vestibular tem conexões fortes com o cerebelo e os centros autonômicos na
formação reticular (Luvizutto; Souza, 2022).

Os órgãos vestibulares detectam o movimento da cabeça e o codificam em sinais elétricos que são enviados
ao tronco cerebral e às estruturas neurais que controlam os músculos extraoculares, dos membros e

estabilizadores posturais. Os sinais elétricos também são enviados para os centros cerebrais superiores
responsáveis pelo processo de integração das informações (Luvizutto; Souza, 2022).

A avaliação do equilíbrio é fundamental no caso das cerebelopatias, vestibulopatias e no fenômeno das


quedas em idosos, e deve ser realizada com testes validados que permitam aferir sobretudo o risco de

quedas.
Alguns dos testes utilizados para avaliação do equilíbrio, coordenação e agilidade são os seguintes: teste de

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:
Tinetti, teste Timed up and go, provas de parada, escala de equilíbrio de Berg, teste de Romberg, Short

Physical Performance Battery, teste de alcance funcional e posturografia, que também pode ser usada como
treino de controle postural.

O teste de alcance funcional destina-se ao exame do equilíbrio em ortostatismo, e para sua aplicação o
paciente deve posicionar-se em pé, com a região lateral do corpo paralela a uma parede. Ele, então, levanta o

membro superior até 90° de flexão de ombro, mantém o punho em posição neutra e os dedos da mão em
extensão. Então, marca-se na parede o ponto que ele é capaz de alcançar quando assume esse

posicionamento. Em seguida, é solicitado ao paciente a inclinação do tronco para a frente até o ponto
máximo em que consegue manter-se em equilíbrio, e marca-se e mede-se as distâncias entre os pontos inicial

e final (Huter-Becker; Dolken, 2008).


Os resultados da avaliação inicial dão origem a uma hipótese terapêutica, na qual se fundamentam os
objetivos e as condutas do tratamento a curto, médio e longo prazos (Huter-Becker; Dolken, 2008).

A parte da avaliação física a ser aplicada ao paciente deve ser escolhida de forma a permitir ao fisioterapeuta:

conhecer os sintomas;

inferir um prognostico funcional;

individualizar o plano de tratamento;

monitorar os resultados;

mensurar os ganhos funcionais.

Dessa forma, os objetivos, condutas, prazos e períodos de reavaliação vão variar de acordo com os dados
obtidos na avaliação inicial (Huter-Becker; Dolken, 2008).

Figura 2 | Teste de alcance funcional

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:
Fonte: adaptada de Pires et al. (2020, p. 1).

AVALIAÇÃO NEUROFUNCIONAL: O EXAME DA MARCHA

O paciente com bons escores na avaliação cognitiva tem potencial de obter melhora na função motora
quando inserido em um programa de reabilitação. O programa de reabilitação baseia-se no reaprendizado

motor, que é fundamentado na capacidade do paciente de entender e executar uma instrução dentro de um
programa de treinamento.

A primeira informação que se obtém no exame é o estado de consciência do paciente. Entre outras funções, a
consciência consiste na capacidade do indivíduo de se orientar no tempo, no espaço, e em relação a si

mesmo. Por meio do diálogo com o paciente e observação dos seus movimentos, o terapeuta é capaz de
inferir se o paciente se encontra lúcido, sonolento, obnubilado ou comatoso, orientado ou desorientado no
tempo, localização e em relação a si. A aplicação dos testes de avaliação da consciência funcionará como

rastreio e medida para os déficits cognitivos (Huter-Becker; Dolken, 2008).


O equilíbrio é passo limitante para o funcionamento da mão. Quando o equilíbrio está ineficiente o paciente

não libera os membros superiores para alcance a manipulação, uma vez que os utiliza para segurar o corpo, e
quando em pé, pode apresentar oscilações exageradas do corpo capazes de resultar em queda. Para

compensar o déficit o paciente aumenta a base de suporte, afastando os pés, e mantém uma semiflexão

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compensatória de joelho, para aproximar o centro de massa da base de suporte e obter mais segurança e

estabilidade. A avaliação do equilíbrio estático e dinâmico deve ser feita com a aplicação dos testes sugeridos
em um ambiente livre de distrações e suficientemente amplo, e prezando pela segurança do paciente. A

marcha e a mobilidade devem ser avaliadas como parte do equilíbrio dinâmico, com o paciente em trajes de
banho. Inicialmente o examinador deve observar a marcha do paciente dentro de uma perspectiva global

para, em seguida, observar atentamente os detalhes, como os movimentos associados de membros


superiores (Sanvito, 2010).

Para identificar os distúrbios de marcha, é necessário conhecer as características do padrão de marcha dito
“normal” e saber descrevê-las com uma nomenclatura padronizada, assumindo que variações dentro do

padrão de normalidade podem ocorrer (Huter-Becker; Dolken, 2018).


O ciclo normal da marcha se faz em duas fases: a fase de acomodação da posição, quando o pé entra em
contato com o solo; e uma fase de oscilação, quando o pé está elevado em relação ao solo. A maioria dos

problemas se faz aparente durante a fase de acomodação da posição, já que nessa fase ocorre a sustentação
do peso do corpo, que solicita grande esforço da musculatura do membro inferior (Hoppenfeld, 2004).

Alguns quadros neurológicos evidenciam padrões de marcha estereotipados, o que torna possível a
identificação do comprometimento por trás do andar disfuncional.

Alguns padrões de marcha estereotipados são:

A marcha atáxica (ou ebriosa), uma marcha vacilante com tendência de queda para ambos os lados.

A marcha parética, presente nas lesões do neurônio motor inferior, marcada por flacidez muscular
distribuída no território suprido pela inervação.

A marcha extrapiramidal ou parkinsoniana, com predomínio da rigidez muscular e postura em


semiflexão de joelhos, quadris, ombros e cotovelos (postura do esquiador).

A marcha miopática ou anserina, caracterizada pela hipotonia muscular da musculatura de membros

inferiores.

A marcha helicópode ou do paciente hemiparético, caracterizada pela espasticidade da musculatura

antigravitária de membros inferiores e o movimento de elevação do quadril na fase de oscilação.

VÍDEO RESUMO

No vídeo resumo da aula serão abordados aspectos importantes da avaliação neurofuncional: anamnese,

avaliação cognitiva e o exame do equilíbrio e marcha.


Assistindo ao vídeo você solidificará seus conhecimentos acerca da importância de cada um desses aspectos

da avaliação, e verá você de que forma eles podem impactar a definição dos objetivos e das condutas

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terapêuticas.

Vamos juntos nessa jornada!


Bons estudos!

 Saiba mais
Para que você aprimore seus conhecimentos a respeito da abordagem terapêutica neurofuncional com
base na Classificação Internacional de Funcionalidade e Incapacidade e Saúde (CIF), sugerimos a leitura

da olbra intitulada Reabilitação Neurofuncional: Teoria e Prática.


Para que você aprimore seus conhecimentos acerca da avaliação e do planejamento terapêutico

sugerimos a obra Fisioterapia em Neurologia.


Bons estudos!

Aula 4

AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NEUROFUNCIONAL


As numerosas complicações do paciente neurológico costumam ser complexas e interdependentes.

20 minutos

INTRODUÇÃO

As numerosas complicações do paciente neurológico costumam ser complexas e interdependentes. O

profissional deve ter um olhar abrangente e conhecimentos sólidos dos distúrbios neurológicos, a fim de
poder oferecer para o paciente a melhor conduta capaz de obter os melhores resultados.
O papel do fisioterapeuta é avaliar e treinar as funções motoras que fazem parte da vida cotidiana do

paciente. O objetivo deve estar centralizado na capacidade do indivíduo de retornar ao seu ambiente social e
ao seu trabalho com o máximo possível de autonomia. Nesse contexto, o exame realizado pelo fisioterapeuta

representa o primeiro passo do processo terapêutico e tem como objetivo revelar as incapacidades,
deficiências, limitações e restrições do indivíduo. O terapeuta, de posse dessas informações, estará habilitado

a escolher as condutas fisioterapêuticas adequadas para promover o máximo de independência funcional.


As abordagens em fisioterapia neurofuncional não podem estar dissociadas da capacidade funcional do

paciente, que deve ser avaliada cuidadosamente.


A proposta desta aula é continuar apresentando os elementos que compõem o exame fisioterapêutico

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:
neurofuncional, neste momento com foco na avaliação sensório-motora e da coordenação.

Você conhecerá os principais instrumentos de avaliação da capacidade funcional do paciente, com foco no
desempenho motor.

ELEMENTOS DE AVALIAÇÃO DO TÔNUS, FORÇA E COORDENAÇÃO.

A qualidade do exame fisioterapêutico define a qualidade da conduta e seus resultados.


A avaliação sensório-motora, embora deva ser orientada pela hipótese diagnóstica funcional, não deve

prescindir de elementos que permitam conhecer toda a capacidade funcional do paciente.


O exame da capacidade funcional envolve os seguintes elementos:

Avaliação da sensibilidade.

Avaliação da força muscular (prova de força muscular, manobras deficitárias e dinamometria).

Avaliação da amplitude de movimento (ADM) passiva e ativa (goniometria).

Avaliação do tônus muscular (escala modificada de Ashworth) e reflexos.

Avaliação da coordenação Motora (índex-nariz, índex-índex, calcanhar joelho)

Avaliação do controle postural e equilíbrio.

Avaliação do equilíbrio, mudanças posturais e marcha.

Para o exame da força muscular da mão podemos usar uma ferramenta específica chamada dinamômetro, e
para a avaliação de déficits motores menores dos segmentos corporais, podemos utilizar as manobras

deficitárias para os membros superiores (MMSS) e membros inferiores (MMII). A fraqueza muscular, quando
presente, expressa-se como uma incapacidade do paciente de manter o posicionamento dos segmentos
corporais contra a gravidade. Para comprometimentos maiores da força muscular, utiliza-se a prova de

função muscular para o grupo muscular ou músculo isolado, e a graduação da resposta se dá pela escala de
avaliação do déficit motor do Medical Research Concil (escala do MRC). A escala MRC varia de 0,

representando ausência de contração muscular visível ou palpável, a 5, representando movimento presente


contra resistência máxima.

Embora não apresente um padrão de resistência a ser aplicado, a escala MRC é amplamente usada nos testes
de funções e provas musculares.

Tabela 1 | Escala de avaliação do déficit motor Medical Research Concil (escala do MRC)

0 – Ausência de contração visível ou palpável

1 – Contração visível ou palpável

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:
2 – Movimento presente com eliminação da gravidade

3 – Movimento presente contra a ação da gravidade

4 – Movimento presente contra resistência **

5 – Movimento presente contra resistência máxima

**Pode-se considerar uma subdivisão do grau 4 em 4-, 4, 4+ (Huter-Becker; Dolken, 2008)


Fonte: adaptada pelo autor de Huter-Becker e Dolken, (2008).

Figura 2 | Manobra deficitária dos braços elevados

Fonte: Martins Jr. et al. (2016, p. 165).

Figura 3 | Manobra deficitária de Raimiste

Fonte: Martins Jr. et al. (2016, p. 166).

Figura 4 | Manobra da elevação dos MMII

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:
Fonte: Martins Jr. et al. (2016, p. 167).

Figura 5 | Manobra deficitária de Barré

Fonte: Martins Jr. et al. (2016, p. 168).

O exame da amplitude do movimento (ADM) é feito pela goniometria, e a mensuração deve ser do
movimento ativo e do passivo. Na medição da ADM, as condições anatômicas precisam ser consideradas,

como a presença de contraturas e deformidades. Mesmo que o paciente alcance a amplitude máxima, isso
não reflete sua capacidade funcional. Para avaliação da capacidade funcional recomenda-se o uso de escalas

que avaliem a dimensão da atividade disponibilizado na Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF)


(Huter-Becker; Dolken, 2008).

Figura 6 | Goniometria de flexão da coxa

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:
Fonte: Marques (2014, p. 42).

Figura 7 | Goniometria da flexão do braço

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:
Fonte: Marques (2014, p. 18).

Figura 8 | Goniometria da flexão da coluna lombar

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:
Fonte: Marques (2014, p. 60).

A avaliação da sensibilidade e motilidade nas lesões medulares exige o uso de uma ferramenta adicional: a
classificação neurológica padrão elaborada pela American Spinal Injury Association (ASIA). Essa classificação
atribui scores às dimensões motora (por meio de movimentos de músculos-chave) e sensitiva (representada

em um mapa de dermátomos), tornando possível determinar o nível neurológico da lesão e se ela apresenta
um padrão de manifestação completa ou incompleta. A lesão incompleta é representada pelo fenômeno da

preservação das raízes sacrais, mais inferiores e responsáveis pelo controle da musculatura do períneo, que
contém os esfíncteres anal e uretral.

Figura 9 | Classificação neurológica ASIA

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:
Fonte: ASIA (2002, [s.p.]).

É importante frisar que a pesquisa das disfunções de sensibilidade e motricidade se dá em um padrão de


distribuição das raízes nervosas em dermátomos e miótomos. Dermátomo é a área da pele suprida pelo

componente sensitivo de uma única raiz nervosa espinal, enquanto o miótomo é o grupo de músculos
inervado pelo componente motor de uma única raiz nervosa espinal. A maioria dos dermátomos e miótomos

se sobrepõem.
A avaliação do tônus muscular e dos reflexos é fundamental para entender o desempenho motor do

indivíduo.
A avaliação do tônus é feita com uma ferramenta que encontra aceitação universal e que classifica a
espasticidade em graus: a escala modificada de Ashworth. Sua aplicação envolve a movimentação passiva das

articulações com velocidade variável.

Tabela 2 | Escala modificada de Ashworth

0 – Tônus normal

1 – Resistência discreta no início e no fim do movimento

2 – Resistência discreta em menos de 50% do movimento

3 – Resistência acima de 50% do movimento

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:
4 – Resistência intensa, movimento passivo é difícil

5 – Rigidez em flexão ou em extensão

Fonte: Huter-Becker e Dolken (2008 p. 98).

A incoordenação é um elemento de destaque nos quadros neurológicos cerebelares e recebe o nome de

ataxia, que etimologicamente se origina do grego “a” = sem, e “taxis” = ordem, designando a falta de
organização dos movimentos. A ataxia é um sinal clínico frequentemente presente, mas não exclusivo das

afecções cerebelares. Os testes de função cerebelar índex-índex, índex-nariz, calcanhar-joelho, marcha em


tandem e o sinal de Romberg são úteis e amplamente utilizados na avaliação das ataxias – nas quais, ao

fechar os olhos, os movimentos solicitados pelos testes de coordenação pioram muito.

O CHOQUE MEDULAR – A FLACIDEZ INSTAURA-SE PÓS LESÃO DO NEURÔNIO MOTOR SUPERIOR

(NMS)

Quando os comandos motores descendentes são interrompidos por uma lesão aguda do neurônio motor
superior, os neurônios motores inferiores ficam temporariamente inativos e instaura-se uma hipotonia – a

essa fase dá-se o nome de fase de choque espinhal. Nessa fase o neurônio motor superior deixa de exercer
controle sobre o inferior, que então deixa de transmitir informação e instala-se um quadro sensitivo motor de

fraqueza ou paralisia, hiporreflexia ou arreflexia, hipotonia ou atonia.


Após a recuperação do choque, os interneurônios e os neurônios motores inferiores retomam a atividade,

porém sem a modulação dos neurônios motores superiores, então o tônus muscular tende a aumentar, e o
paciente apresentará o fenômeno do canivete, que na avaliação modificada de Ashworth pontua de 1 a 3 a

resistência no início do movimento que cede progressivamente, como um canivete. O estiramento rápido de
um tendão muscular também pode levar à presença de clônus, que são contrações musculares involuntárias,
rápidas e repetidas, presentes em déficits neurológicos de origem central. O alongamento lento é o único

meio de suprimir o clônus e inibir o reflexo miotático, e também pode ser utilizado antes ou depois do treino
de uma função com o objetivo de potencializar o desempenho do paciente.

A classificação da ASIA é um elemento a mais, padrão-ouro para avaliação da função motora e sensitiva nos
pacientes com lesão medular. É um datasheet que deve ser preenchido a partir da testagem da força, de

músculos-chave e da sensibilidade à picada de alfinete e ao tato leve. A classificação da ASIA permite apontar
se a lesão medular foi completa ou incompleta. A lesão incompleta apresenta melhores prognósticos em

resultado de uma melhor capacidade funcional do paciente para completar um programa de reaprendizado
motor.
Caso uma lesão neurológica comprometa o cerebelo, o paciente mostrará incoordenação nas provas de

função cerebelar, com dismetria e tremor de intenção nas provas índex-nariz, índex-índex e calcanhar-joelho.

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A avaliação das funções cerebelares também envolve o exame da diadococinesia (capacidade da realização

de movimentos rápidos, repetidos e alternados), e deve-se observar frequência, ritmo, precisão, regularidade
e fatigabilidade da movimentação. A disdiadococinesia é quando os movimentos observados são irregulares e

desarmoniosos. Uma discreta diferença no lado dominante pode ser considerada normal. Os distúrbios da
diadococinesia podem ser observados também em distúrbios extrapiramidais (envolvendo núcleos da base),

déficit motor por lesão da via piramidal e nos distúrbios da sensibilidade profunda.
Na disfunção cerebelar, as relações entre músculos agonistas e antagonistas estão desordenadas. Nesse

caso, a resposta de freio ou parada pode ser anormal quando se retira a oposição a um movimento. Exemplo:
o examinador impede a flexão total do cotovelo resistindo ao movimento segurando o antebraço do paciente,

no caso da liberação repentina do antebraço pelo terapeuta, a resposta normal é a parada rápida do
movimento, sem modificar a amplitude do movimento. No paciente com uma cerebelopatia não ocorre a
interrupção do movimento de flexão, e o paciente desvia o membro para o alto, ou o movimento corre o risco

de atingir sua face. Esse teste é conhecido como prova do rebote ou teste do rechaço. Na aplicação desse
teste é necessário cuidado para que o paciente não atinja sua face em caso de uma resposta positiva.

A APLICAÇÃO DA AVALIAÇÃO NEUROFUNCIONAL

O exame sensorial e motor tem por objetivo avaliar as vias transmissoras de informações conscientes. O
principal objetivo do exame sensorial e motor é detectar alguma disfunção de sensibilidade e da motilidade e,

se houver, o tipo, localização e gravidade. Os sintomas precisam apresentar alguma coesão com o diagnóstico
médico.

Na dimensão do tato discriminativo observa-se o senso de localização, limiares táteis, discriminação entre
dois pontos, tato simultâneo bilateral e grafestesia (capacidade de perceber a escrita de palavras ou números

sobre a pele estando de olhos fechados). Já em relação à propriocepção. devemos avaliar a sensação de
movimento articular, posição articular e vibração. Sentidos combinados também podem ser avaliados
testando a esterognosia, que é a capacidade de identificar e reconhecer objetos pela percepção tátil, sem o

uso da visão (Lundy-Ekman, 2007).


Segundo Lundy-Ekman (2007), devemos considerar alguns cuidados na testagem da sensibilidade e

motricidade para tornar mais fidedigna a avaliação.

A testagem deve ocorrer em um ambiente tranquilo e livre de distrações.

O paciente deve estar em uma postura estável e segura, e ciente dos objetivos de cada testagem.

Durante a testagem da sensibilidade a visão do paciente deve ser bloqueada.

Os estímulos devem ser aplicados próximo ao centro dos dermátomos testados.

O tempo entre os estímulos deve ser irregular para evitar que ocorra predição do estímulo.

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A comparação entre lado direito e lado esquerdo deve ser considerada.

A classificação da ASIA deve ser utilizada para pacientes com lesão medular.

A avaliação do tônus o classifica em graus, de acordo com a resistência oposta aos movimentos passivos. A

resistência é dependente da velocidade, portanto, para a testagem do tônus deve ser feito o movimento
passivo articular com velocidade variável. Se a resistência é uniforme em toda a trajetória do movimento,

observa-se uma hipertonia do tipo rigidez, encontrada no paciente com Parkinson. A graduação, quando
existe espasticidade, deve ser realizada com a escala modificada de Ashworth.

A disfunção cerebelar reflete uma interrupção da integração entre o feedback sensitivo e a produção motora.
A perda do sentido de posição articular pode produzir uma incoordenação, que piora com o fechamento dos

olhos. Se um teste de função cerebelar é positivo unilateralmente, então suspeita-se de uma síndrome
cerebelar ipsilateral, que geralmente é causada por desmielinização, doenças vasculares, trauma, tumores ou
abcessos. Se os testes são positivos bilateralmente, suspeita-se de uma síndrome cerebelar bilateral, que

pode ser causada por consumo de álcool, desmielinização ou doenças vasculares (Cipriano, 2012).
O cerebelo é responsável também pelo equilíbrio, e se considerarmos apenas as aferências, o equilíbrio

depende da integridade da propriocepção, da visão e da função vestibular. Se duas destas funções estiverem
preservadas, o equilíbrio é mantido.

O paciente com lesão cerebelar apresenta, além do déficit de equilíbrio, que na maioria das vezes impede-o
de caminhar ou ficar em pé, impossibilidade da postura em tandem e da marcha em tandem. Ocorrem

alterações de fala, perda de destreza manual e tremores durante o movimento, que refletem mais uma
dismetria do que uma movimentação involuntária. Essa dismetria pode ser observada nos testes de

coordenação (índex-índex, índex-nariz e calcanhar-joelho).


Um ponto não menos importante é que a ataxia não é um fenômeno exclusivo das cerebelopatias, também

existem a ataxia sensitiva, que envolve a perda das aferências proprioceptivas do tronco e membros, e a
ataxia do lobo frontal, que envolve um dano do lobo frontal e cursa com uma sintomatologia similar à da
síndrome cerebelar hemisférica (Martins Jr., 2016).

Figura 10 | Prova cerebelar: índex-nariz

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Fonte: Martins Jr. et al. (2016, p. 157).

Figura 11 | Marcha em tandem

Fonte: Martins Jr. et al. (2016, p. 146).

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Figura 12 | Romberg sensibilizado em tandem

Fonte: Martins Jr. et al. (2016, p. 157).

A menor capacidade de gerar força muscular e uma diminuição no volume muscular são consequências

comuns das lesões do neurônio motor. A diminuição (paresia) ou perda da força muscular (plegia/paralisia) é
comumente descrita pela sua distribuição que pode se apresentar monoplegia (um membro), hemiplegia

(antímero esquerdo ou direito), paraplegia (MMII) e tetraplegia (MMII e MMSS).


Na medula espinhal, as informações somatossensoriais são integradas a comandos motores descendentes

para gerar o movimento. A rede de interneurônios age de maneira flexível na produção de contrações
musculares. Um grupo de músculos inervados por um único nervo espinhal constitui um miótomo, e há
movimentos associados a miótomos específicos, como mostrado na tabela a seguir:

Tabela 3 | Movimentos associados a miótomos específicos

Miótomo Movimentos

C5 Flexão de cotovelo

C6 Extensão de punho

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C7 Extensão de cotovelo

C8 Flexão da extremidade do dedo médio

T1 Abdução do dedo

L2 Flexão do quadril

L3 Flexão do joelho

L4 Dorsiflexão do tornozelo

L5 Extensão do hálux

S1 Flexão plantar do tornozelo

Fonte: Lundy-Ekman (2007, p. 165).

VÍDEO RESUMO

Neste vídeo você conhecerá mais algumas ferramentas do exame neurofuncional: as ferramentas de

avaliação sensório-motora, do tônus muscular e da avaliação da coordenação motora. Esses pontos são
cruciais para faazer uma avaliação neurofuncional eficaz e eficiente. Vamos juntos nessa jornada?

Bons estudos!

 Saiba mais
Para saber mais a respeito do exame neurológico em lesão medular, sugerimos a leitura da obra

Condutas Práticas em Fisioterapia Neurológica.


Para conhecer mais acerca da avaliação da função cerebelar, leia o livro intitulado Semiologia

Neurológica.
Bons estudos!

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Aula 5

REVISÃO DA UNIDADE
10 minutos

AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA

Nesta revisão, você verá que pacientes neurológicos apresentam distúrbios múltiplos que podem

comprometer a motilidade, a sensibilidade, a cognição e as emoções. O conhecimento da anatomia e


fisiologia do sistema nervoso torna possível compreender a dimensão fisiopatológica de um evento adverso

que o acomete. As lesões de natureza traumática, degenerativa, infecciosa, compressiva ou vascular


produzem um padrão sintomatológico que corresponde à perda da função atribuída à área que foi lesada.

Por exemplo, em um paciente que sofreu um acidente vascular cerebral em território de artéria cerebral
média direita, vemos um padrão de comprometimento sensório-motor que corresponde à área irrigada por

esse vaso, nesse caso, o paciente apresenta uma hemiparesia esquerda, já que a via é cruzada, de
predomínio braquial, pois a artéria cerebral média direita irriga a face súpero-lateral do hemisfério direito,

região que afeta principalmente os neurônios da área motora primária que projetam seus axônios para o
membro superior. A perda dos neurônios motores superiores produz um quadro sintomatológico de
liberação piramidal, em que se observa a perda da influência modulatória sobre os NMIs.

Já quando uma lesão afeta os neurônios motores inferiores, presentes no corno anterior da medula espinhal,
plexos e nervos, observamos uma sintomatologia marcada pela hipotonia, hiporreflexia ou arreflexia, e

atrofia de moderada a grave.


A compreensão da neuroanatomia e da neurofisiologia é a base para que você proceda com o exame

fisioterapêutico.
Os elementos que compõem o exame fisioterapêutico neurofuncional são a anamnese, composta pela

entrevista com o paciente, cuidador/tutor e resultados de exames complementares e de outros profissionais;


o exame da capacidade funcional – força muscular, amplitude de movimento, tônus muscular, coordenação –;

testes de avaliação funcional – escala de equilíbrio e teste de alcance funcional –; e observação dos
movimentos – análise de marcha e movimentos involuntários – do paciente.

Você verá que nem todos os pacientes necessitarão do exame fisioterápico completo, e o fisioterapeuta deve
considerar as questões e os testes que lhe parecerem indicados diante do quadro clínico, sintomatologia e
queixas referidas pelo paciente ou observadas pelo profissional.

Para o exame, deve-se utilizar escalas e testes validados e evitar a subjetividade na coleta dos dados. O
exame produz um diagnóstico funcional que deve considerar a Escala Internacional de Funcionalidade,

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:
Incapacidade e Saúde (CIF).

Um bom exame neurofuncional constitui a base para definir objetivos terapêuticos e escolher a melhor
conduta de tratamento.

REVISÃO DA UNIDADE

Olá, estudante!
As numerosas complicações do paciente neurológico são complexas e interdependentes, mas o

conhecimento do fisioterapeuta acerca da neuroanatomia e da neurofisiologia, além de como se processa o


movimento no contexto das potencialidades e restrições do aparelho osteomuscular, direcionam um exame

neurológico eficaz. O exame deve ser permeado pela objetividade, com o uso de escalas validadas e ancorado
na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF).
Vamos assistir a um breve vídeo de revisão, em que veremos como conduzir uma avaliação neurológica

eficaz.
Bons estudos!

ESTUDO DE CASO

Para contextualizar sua aprendizagem, imagine que você é fisioterapeuta em um ambulatório de fisioterapia
e está recebendo uma nova paciente para avaliação. O nome dela é Cristina, e ela chega acompanhada por

um cuidador e um familiar.
Cristina é uma mulher com 68 anos. Há um mês, enquanto tomava seu café da manhã, ela subitamente
perdeu o controle sobre a parte direita de seu corpo e da face. Caiu no chão, mas não perdeu a consciência.

Foi encaminhada para o hospital, onde passou cinco dias internada. Seu diagnóstico foi acidente vascular
cerebral isquêmico em território de artéria cerebral esquerda. Ela foi encaminhada para o ambulatório de

fisioterapia, pois a dificuldade motora permanece.


Em uma conversa inicial com a paciente, você percebe que ela apresenta-se lúcida, não fala

espontaneamente, não repete, não lê e nem escreve, mas a compreensão está preservada. Um familiar lhe
esclarece que Cristina tem um distúrbio de comunicação; compreende tudo. mas tem dificuldade de achar as

palavras certas quando quer se comunicar.


A imagem a seguir ilustra a tomografia computadorizada (TC) cranioencefálica simples (sem o uso de

contraste iodado) da paciente, demonstrando uma área ovalada hiperdensa na região frontal ipsilateral
esquerda.

Figura 1 | TC cranioencefálica simples

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Fonte: Parchen et al. (2006, p. 3).

 Reflita
Em relação ao caso de Cristina, você deve refletir acerca de quais elementos da avaliação neurofuncional
você deve aplicar à paciente, e de que forma você deve proceder a coleta de dados, já que ela apresenta

um distúrbio de linguagem. É importante que você classifique o déficit motor da paciente, que
corresponde ao diagnóstico funcional. Reflita também acerca do distúrbio de linguagem que Cristina

apresenta. Ele decorre de algum comprometimento de uma área específica? Em termos de área
específica da lesão, você também deve pensar na distribuição vascular da artéria cerebral média: de que
forma a lesão dessa artéria compromete o funcionamento cerebral?

RESOLUÇÃO DO ESTUDO DE CASO

Olá, estudante!
Você, como profissional fisioterapeuta, deverá coletar os dados da anamnese questionando o cuidador ou

acompanhante, já que a paciente apresenta um distúrbio de linguagem chamado afasia de broca, resultado

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do comprometimento da área de broca, no hemisfério esquerdo e que recebe irrigação da artéria cerebral

média. Devem ser coletados dados como goniometria ativa e passiva, força muscular com graduação pela
escala MRC e avaliação do tônus pela escala de Ashworth. O equilíbrio e marcha podem ser avaliados pelo

teste de Tinetti, Timed up and go, escala de equilíbrio de Berg, teste de Romberg e Short Physical
Performance Battery. As funções cerebelares podem ser avaliadas pelo teste índex-índex, índex-nariz,
calcanhar-joelho e teste do rechaço. Uma avaliação da marcha mais criteriosa pode ser feita em um
laboratório de marcha.

É importante que você conduza a avaliação considerando a Classificação Internacional de Incapacidade,


Funcionalidade e Saúde (CIF) para entender como o prejuízo motor afeta a funcionalidade no contexto das

atividades que o paciente realizava e em sua participação social. A CIF torna possível a multidisciplinariedade
e interdisciplinaridade entre os elementos que compõem a equipe de reabilitação da Cristina.
Como o paciente apresenta um AVC em território de artéria cerebral média, os neurônios localizados na

região supero-lateral perderam irrigação; logo, a área motora primária perdeu irrigação sanguínea e a lesão
encontra-se no neurônio motor superior do trato corticoespinhal ou piramidal. Instaura-se primeiramente a

essa lesão um quadro motor no hemicorpo afetado, evidenciando fraqueza muscular, hipotonia ou atonia
(flacidez muscular), hiporreflexia ou arreflexia, e aumento da amplitude de movimento passiva.

Posteriormente, instala-se um quadro de hipertonia do tipo elástica ou espasticidade, hiperreflexia com


aumento da área reflexógena, sinal de Babinski, e pode ocorrer clônus. O predomínio dos sintomas é

braquial, já que os neurônios que fazem a inervação do membro inferior também recebem sangue da artéria
cerebral anterior. Você verá que o diagnóstico funcional é uma hemiparesia direita com predomínio braquial.

Caso já tenha instaurado a espasticidade, o diagnóstico é uma hemiparesia espástica direita com predomínio
braquial.

Lembre-se de conduzir a avaliação em um local sem barulho e distrações, e que reavaliações devem ser
conduzidas no mesmo ambiente, de forma a repetir as condições originais das primeiras medidas obtidas.
Reavaliações devem ser conduzidas em períodos específicos, e são necessárias para verificar a evolução do

paciente e a eficácia do tratamento.

RESUMO VISUAL

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Aula 2

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Imagem de capa: Storyset e ShutterStock.

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