0% acharam este documento útil (0 voto)
4 visualizações26 páginas

Revista Do Ensino - Palestras Sobre Português

Fazer download em pdf
Fazer download em pdf
Fazer download em pdf
Você está na página 1/ 26
Ano XVIII — N.° 195 ABRIL-JUNHO, 1950 REVISTA DO ENSINO DA SECRETARIA DA EDUCACAO SUMARIO. REDACAO: — 5.° Curso Normal Regional; A magni- fica sementeira dos Cursos de Feérias, palestras sobre Portugués, do professor Candido Jucd Filho (resumos), noticiario, — COLABORACAQ: — Mésica para crian- cas, Elza de Moura. — A orientacéo educacional na es- cola secundaria. Origens e Evolucéo, Amaro Xisto de Queiroz. — Aulas de Ciéncias Naturais, Como grupar os alunos, professor H. Marques Lisboa. — As regides polares da Psicologia, Ramos Cesar. — PAGINA PARA CRIANCAS: — 0 velho, osmenino e a mulinka, Mon- teiro Lobato. — TRANSCRICAO: — Vasto programa do levantamento do padrao pedagégico do ensino rural, noticiétio. — EDUCACAQ SANITARIA: — epra, do S. P. E. R., de Minas Gerais. BELO HORIZONTE — MINAS GERAIS — BRASIL Ano XVII — N.° 195 Abril - Junho, 1950 Revista do Ensino Da Secretaria da Educacao 5. Curso Normal Regional Na solenidade de instalagao do 5.° Curso Normal Regional e 4° de Aperfeigoamento de Professéres Rurais, realizada na Fazenda do Rosério no dia 5 de abril, o professor Abgar Renault, que presidiu a mesa como Secretario da Educagao, pronunciou, despertando calorosos aplausos e sob a mais viva atencao, o discurso que a seguir reproduzimos. A orac&o do preclaro educador é uma stimula brilhante dos objetivos do reerguimento do ensino rural, por S. Excia., empreendido, dando realidade a uma das preocupacées mais exaltantes e proficuas do Govérno Milton Campos. O DISCURSO DO PROFESSOR ABGAR RENAULT “As ceriménias do género desta devem abrir oportuni- dade para tomadas de posicdo e de consciéncia diante dos problemas com que se relacionam e ensejo para emendas, retificacdes e esclarecimentos. Por conseguinte, as palavras que nelas se pronunciem nao podem limitar-se a superficie retrica e sélta das aperéncias, sinao que devem ter raizes verticais e emergir do estudo, da meditagao e da seriedade, nutridas dos sais do nosso chao interior, para que possam ter o direito e a férga de despertar a consciéncia publica e incendé-la para os empreendimentos largos e duros, ditados ardentemente pela nossa grave realidade. A hora indicada em nossos mostradores nao permitem nenhum jégo, nenhuma leviandade, nenhuma demissao. Se ha qualquer vinculo entre as nossas consciéncias individuais 428 REVISTA DO ENSINO ea consciéncia coletiva deste pais, nao temos o direito de partir uprioristicamente em nenhuma direcao, nem de re- tornar cuminho depois de achado, gragas ao acaso ou aberto pelo punho aquele que convém. Exatamente porque nos falece tradigio fundada na ex. periéncia, no estudo e nas tée 's adquididas suadamente, nio podemos ater-nos 4 linha do nosso empirismo. O trato dos negocios da educagio néo exige apenas categoria in lectual, se niio também alma e coracao no esforco de cada dia, Jimenta a lampada incerta, Gracus a cssa orientagio do eminente Governador do Estado ¢ que foi possivel 4 Secretaria da Edueacao volver as vislas para a Minas Rural, a Minas ignorada e abandona- da ao-deus-dara, nfio para contemplala e deixar o pulso da liricas ou demagégicas, mas para atingir o problema das nossas populacdes rurais em seu plexo solar, imaginando e conjugando acées de natureza idéntica, semelhante ou diversa, mas todas conducentes ao mesmo porto, e destinando-se recursos habeis ao correto en- caminhamento de sua solucio. Os dois cursos que ora se inauguram sao vias diferen- tes lancadas na mesma direcao. air-se em palay Uma € um processo normal, em que o tempo nao é angustiado entre as margens apertadas dos expedientes de crise, ¢ as atividades marcham com as pausas naturais das cou: que devem crescer num _ ritmo seguro e sem paroxismos. 1 A outra via, que se desenvolve paralelamente a primei- va, C um processo de emergéncia, que, como tal, tem de ser um atalho no tempo, para ganhar-se rapidez ainda que a custa de perfcicao. Alias, nio ha pais nenhum que, num dado trecho de seu caminho hist6rico, nfio tenha necessitado de recorrer a solugées désse tipo. Nio é pois, para admirar que o Brasil nao possa prescindir de esforcos administrativos de igual natureza. O que causa espanto é nao nos havermos todos 20s, AO menos nds, os administradores, atingido a conclusado REVISTA DO ENSINO ‘de que 0 nosso pais necessita desesperadamente de formu- Jas de emergéncia, que cubram necessidades imediatas, im. provisando contactos entre hoje e amanhi, sem prejuizo, é claro, das construcdes langadas em térmos de solidez e duragiio. Utilizada por administradores capazes, uma férmula de emergéncia nao implica necessariamente acio paroxistica, descontinua e assistematica. Precisamente porque vem socorrer um estado de crise, tem de ser rapida para ser efi- caz, mas néio pode deixar de ser exata e ha de ser aplicada freqiientemente para produzir resultados animadores. ‘A educagiio no Brasil esta entre os problemas cujas so- lugdes exigem essas duas vias de acesso, e dentro da Area a ela assinada a educagio e o ensino elementar em zona ru- ral sfio as faces que compdem o yértice do desafio mais agu- do langado ao nosso desejo de ser como coletividade. Eis o que nos revelara um exame, ainda que rapido. Vejamos, por exemplo, o éxodo rural em nosso Pais. Nem por ser fendmeno geral, passa éle a ser menos assustador. De acérdo com o recenseamento de 1940, a populagiio brasi- Jeira assim se discriminaya: urbana, 10.900.000 habitantes; rural, 30.300.000. A estimativa de 1949, feita pelo I. B. G. E., assim se traduz: populacao urbana, 14.900.000; rural, 33.800.000. As diferencas para mais entre as duas classes s&o, respectivamente, de 4.000.000 e 3.300.000. Fica, assim, patente o deseqiiilibrio demografico do Pais nos tllimos oito anos. O aumento da populacdo dos campos, segundo verificaram os técnicos, é aparente, sendo produto do fator natalidade, que, nas zonas rurais, 6 mais poderoso que nas urbanas. Efetivamente, a populacio rural sofreu redu- cio de 73%, para 69%, em confronto com a urbana. Ora, no coméco do mesmo ano de 1949, a populagdo rural dos Estados Unidos baixou ide 23% em 1940 a 19% apenas. O confronto com o-estrangeiro nao é satisfatério para nds. Uma das raras excegdes de que temos noticia em nos. so Pais é a regiao do norte do Parana, em que o fenémeno € precisamente oposto, segundo observacées e estudos do ilustrado professor Munhoz da Rocha, representante daqué- 430 REVISTA DO ENSINO Je Estado na Camara Federal. Informava éle, em impor- tante discurso pronunciado em julho de 1949: “E’ fato que ali presenciei freqiientemente a criagio de fazendas, prin- cipalmente de café, por pessoas de tradi¢ao de vida urba~ na, que sempre viveram nas cidades e que agora vao para o campo. E’ fendmeno inteiramente contrario ao normal, verificado em todo o Brasil: cidadaos de tradigaéo e educa- ¢fo para a vida urbana seguem para os campos, entregan- do-se 4 atividade rural, porque ali encontram recompen- sa imediata. Dai a complexidade do fenémeno do éxodo das populacées rurais para o campo; quando as condigdes favorecem, é 0 contrario que se observa. Ainda em maio tiltimo, percorri seis municipios da regiao e, ao contrario do que sempre acontece, néo me foi feita qualquer solicitagao de emprégo. Recebi, apenas, pedidos no sentido de traba- Ihar por construgdes de estradas de ferro, criago de agén- cias postais e telegréficas e de escolas rurais. Nao houve, repito um sé pedido de colocagao”. 0 que mais chamou a atengio do professor Bernhardt Siegel, da Universidade Stanford, em seus estudos sébre po- pulacées rurais no Brasil foi “a grande instabilidade das suas populacées estiticas”. “E” incontavel, diz éle, o nt- mero de pessoas que acorrem diariamente a certas vilas e ‘delas partem para outras dentro em pouco tempo. Esse fe- nomeno se tem traduzido em influéncias visiveis sébre os costumes, a religiao, as relagées sociais, a economia e a es. O que se observa facilmente como em geral nos paises latino-americanos, é a uniformidade do conceito de familia. Nas populacées rurais, os lagos entre os elementos da familia sfio mais es- treitos do que se observa em paises de origem nao latina. Com a influéncia da proximidade de cidades de alto nivel econémico, ésses lacos vio tendendo a romper-se”. O fenémeno é compésito, miltiplas as suas repercussdes no corpo social, as suas causas muito numerosas, sendo ocio- so incluir entre as primeiras 0 fato econdmico. Entretanto, niio é menos exato que niio ha problemas isolados, e os cir- culos viciosos que entre éles se armam causam perplexidade REVISTA DO ENSINO 431 a qualquer observador. Assim, se nao deixa de ser primario ou insensato querer afastar as condigdes econdmicas da pri- meira linha dos fatéres de nossas dificuldades, refugiria ao bom senso mais linear a idéia de que a elevacao do nivel daquelas condigdes independentemente da educac&o possa constituir sequer objeto do sonho mais descairado... A divisio do trabalho e a especializacdo das suas téc- nicas demandam naturalmente operarios especialistas. Mas como obter tais operarios sem a intervengdo dos instrumen- tos do ensino-elementar e, em muitissimos casos, do ensi- no de grau médio? Como obter aumento de produgdo, em quantidade e qualidade, sem dispér de tais operarios, em qualquer género de indistria, ainda a agraria, cuja a pro- dugao, sendo a base mais ampla da riqueza nacional, atin- giu 46,7% das nossas exportagdes em 1948, ntimero que re- presenta 6,5%, apenas do volume total da produciio do Pais no referido ano? E’ incompreensivel como nao se logrou criar ainda no Brasil um estado de espirito nacional dispésto a uma aciio intensa, vivaz, ininterrupta e sistematica em prél do mais terrivel dos nossos problemas de base. Somos rurais geo- grafica, histérica, espiritual, social e politicamente. Néio temos mais de 10% de nossa populac&io em zonas realmente urbanas. Entretanto, dos 35.769 quilémetros de vias fér- reas brasileiras, (dos quais Minas possui 8.450 quilometros e Sao Paulo, 7.519, isto é, 45,2% do total) praticamente nem um metro esta em zona rural. Seguindo tal exemplo, nem 2%, dos habitantes da mesma zona sao servidos de luz elé- trica e energia. nem dispée de médicos, pois dos 18.000 que existem no pais 62% estiio nas Capitais e 38% nas cidades do interior, sendo de assinalar que no Rio de Janeiro e na Capital de Sdo Paulo, onde estado localizados apenas 8% da nossa populacio, residem mais de 40% dos nossos médicos, e que em Sao Paulo, em cujo interior esta o maior ntimero, ha regides onde se conta um sé médico para 60.000 habitantes. Além disto, nado existe uma fossa ao menos por quilémetro quadrado. 432 REVISTA DO ENSINO O tom da rude paisagem nfo muda; verifica-se ndo estar em zona rural nenhuma dos 2.490 hospitais, centros médicos ou enfermarias, pelos quais, em 1942, passaram 8.743.925 pessoas, ao passo que apenas 3.186.558 se ma- tricularam em todos os estabelecimentos de ensino do Pais, mo mesmo ano. A nossa politica imigratéria revela a mesma cegueira diante da realidade nacional: de 1940 a 1944 entraram no Brasil 33.713 imigrantes e déste nimero ficaram no Rio de Janeiro e em Sao Paulo 88,69%. No campo da educacio o que vemos é 0 mesmo quadro aflito. Nao conseguimos oferecer ensino 4 metade das cri- ancas entre 7 e 12 anos. Das 6.700.000 criancas que com- punham, em 1945, a nossa populacdo escolar 3.500.000 nao tinham escola que freqiientar. De 1.000 criangas brasilei- ras entre 7 e 12 anos 462 nunca viram uma escola, 98 nao frequentam as aulas, embora matriculadas, 183 niio vao além do 1.° ano, apenas 83 concluem 0 2.°, somente 174 con- cluem 0 curso. Ora, daquclas 6.700.000 criancas apenas 1.956.969 ha- bitam cidades; 4.800.574 moram em zonas rurais, e dés- tes somente 1.587.358 freqiientam escolas, e, ao passo que, Ras zonas urbanas, a poreentagem daquelas a quem se dei- xa de ministrar ensino ni vai além de 15,63%, nas zonas rurais o niimero se clevya a 66,93%. Em nosso Estado, a populacio rural era estimada a 1° de janeiro de 1949 em 5.865.258 habitantes. A populagio em idade escolar deve ser. portanto, de 879.829 criangas.. Désse total apenas 219.9; » OU seja 24,75%, recebem ins- trugio elementar. Esta floresta de niimeros hirtos compée uma paisa- gem realmente desoladora, que os governos conscientes e destemerosos da realidade devem revelar, sob pena de con- tribuirem para que a sombria verdade seja conhecida ape- nas de uns poucos e vedada, mediante altos vidros de visio unilateral, 4 massa que est4 do outro lado, impedida, por falta de esclarecimento, de acorrer com a sua colaboracio, que ¢ indispensavel de todo em todo, visto como o Estado REVISTA DO ENSINO 433 moderno é incapaz de cobrir sozinho téda a area em que tém de espraiar-se as suas atividades de “contréle”, de vi- gilancia e intervengao. Nao é, portanto, para suscitar as lamtrias e os prantos da incapacidade e do pessimismo que a realidade deve ser exibida, mas, para advertir, convocar e acender o didlogo entre a palavra e a acao, acendé-lo apaixonadamente, isto é, com a alma e o coragio, pois — como queria Goethe — as cousas sébre que se fala sem paixiio nao falem a pena de ser ditas. Srs. Profess6res-alunos. Jovens alunas. Em nome do excelentissimo senhor Governador do Es. tado, eu vos satido e apresento votos por que as vossas miéios encontrem nesta casa, novos meios de agiio, o vosso espiri. to novos estimulos para lutar e a vossa missao de sacrificio novos motivos de enobrecimento e de iluminagio”. A magnifica sementeira dos Cursos de Férias A titulo de ligeira, mas eloqiiente documentagao da abrangente eficiéncia dos Cursos de Férias instituidos na ges- tao do Secretdrio Abgar Renault, damos a seguir 0 resumo de trés palestras sébre Portugués, pronunciadas pelo profes- sor Candido Jaca Filho, no corrente ano., TERCEIRA PALESTRA, AOS 8 DE FEVEREIRO DE 1950 Tema: Sintaxe, Sintagmas e Oracées. O problema da Andlise ‘ As relagdes entre os elementos Frasicos constituem a # | Sintaxe. Os principais tépicos désse estudo sio: Concordancia, Regéncia, Ordem, Correlacio. Os elementos Frasicos, relacionando-se uns com outros, organizam-se em Elementos de ordem superior, que se cha- mam Oragées (ou Proposigées ou Sentengas) . Légicamente cada Oracfio é um Sintagma de sentido com- pleto, formado portanto de dois térmos: o Determinado ou Sujeito, e o Determinante ou Predicado. O verbo, ou encer- ra o Predicado (O homem trabalha), ou é mero elemento co- pulativo (0 homem é trabalhador). (Aristételes, Mason, Bally). Psicold icamente h4 dois tipos oracionais distintos, con- forme 0 verbo é ideativo, ou denotativo. E ésses dois tipos podem ainda fundir-se num treceiro. Ha pois oracées verbais (aquelas em que o verbo predomina), oracées nominais (em que prevalece um nome), e oragées mistas. (V. Texier. Essai de Grammaire Analytique; Brunot. La Pensée et la Langue). REVISTA DO ENSINO 435 O pronome “se” era no coméco apenas reflexivo, ou re- ciproco. Frases como “Aluga-se esta casa”, por absurdo que hoje nos pare¢a, exprimiam a principio uma reflexaio (Said Ali): revelavam o animismo, muito mais pronunciado entao. Como o tempo, entretanto, parecendo antinatural a re- flexfo, entrou a prevalecer a nogio de passividade. O “se” passou a tomar-se como particula apassivadora, e até o com- plemento da passiva comecou a usar-se: “Aluga-se esta casa por mim’. Nos tltimos tempos porém, sobretudo depois de Garret, ‘se” veio a adquirir valor de particula indeterminadora de uma das integracdes do verbo. Se o verbo tem duas integra- cdes, com o “se” passa a ter uma: “Alguém aluga esta casa”, Se tem uma integracéo, com o “se” passa a nao ter nenhu- ma: “Fulano vive”,. Se o verbo nao tem integracéo, nao se pode admitir a particula “se”: “Chove”. Desde que éste cri- tério veio a prevalecer, a particula “se” generalizou-se, e se liga até a verbos passivos:“ Quando se é estimado por essa gente...”. O fato de ter o “se” adquirido valor de indeterminagiio nado lhe prejudicou o valor reflexivo-reciproco. A ordem da oragao geralmente facilita a compreensao do texto: “Hon- ram-se as mulheres” (intedeterminagiio); “As mulheres se honram” (Reflexéio, ou Reciprocidade). Algumas vézes en- contramos ainda a particula “se” como apassivadora: “Este trabalho se faz por aprendizes”. (Nota — Chamamos “integracio” a qualquer elemento (sujeito, ou objeto), que complete o sentido do verbo. Ocor- re normalmente, se um verbo tem duas integracées, que, por- que perde o sujeito, passa a concordar com 0 primitivo obje- to. Por exemplo: “O relégio deu duas horas”. Se retirarmos a integragao — sujeito “O relégio”, a frase fica: “Deram duas horas”. O objeto classifica-se ent&io como sujeito, por definigiio, visto que sujeito é aquéle elemento com o qual o verbo concorda”. E’ portanto idiomatica a redugao de “Fu- lano aluga duas casas” a “Alugam-se duas casas”. 436 REVISTA DO ENSINO Alids toda integragio é sujeito, se tnica: “Sao duas ho- ras” ; “Choveram pedras”. A s6 possivel excecaio é para o ver- bo “haver”, no sentido de existir, e para “fazer” sem sinéni- mo: “Hd flores” ; “Faz dois meses”. Sabe-se porém, que estas excegées sé se vieram a confirmar no portugués moderno) ., QUARTA PALESTRA, AOS 9 DE FEVEREIRO DE 1950 Tema: Voz. Fonemas e Notas. Vogais e Consoantes. Grupos. Voz é 0 som produzido na glote pelo retesamento e apro- ximacio das cordas vocais, no momento da expiracéio (ou ins- piragio) do ar. A voz pode ser aguda (= alta), ou grave (= baixa)’ No primeiro caso a laringe cleya-se, a glote estreita-se, e com ésses movimentos as cordas se retesam mais. A altura tem a maxima importancia no canto. (Nota — No Portugués de Portugal, como no Castelhano e no italiano, “Laringe” é pa- Javra feminina, bem como “faringe” e “siriage”.. Preferimos manter o mesmo critério) . A voz pode ser forte (= ténica), ou fraca (= atona) A’ intensidade depende da maior ou menor pressio da corren- te aérea de que nos utilizamos. As palavras portuguésas tém normalmente uma silaba tonica. Pode ainda a voz ser oral, ou nasal. Isto corresponde a uma variacao de timbre (e volume), segundo as caixas de ressondncia que empreguemos para ampliar a voz. Os elementos frasicos sio, em ultima andlise, constitui- dos de silabas: e estas, por sua vez, se constituem de Fo- nemas. Os Fonemas poder ter qualquer altura, ou qualquer in- tensidade. Podem ser vozeados, ou niio vozeados (e neste caso tém-se chamado sem razio: sonoros, ou insonoros) . Em. yerdade, distinguem-se pelo yozeamento e pelo timbre. REVISTA DO ENSINO 437 As notas musicais podem apresentar qualquer intensida- de, ou qualquer timbre. Elas se distinguem pela altura. Na Silaba os Fonemas podem ser: vocdlicos (principais), ou consonantais (secundarios) . O Portugués tem duas séries de Fonemas vocalicos: a bi-labial radical, e a paginal. Da vogal mais fechada 4 mais aberta, em cada série, ha uma diferenca de sete graus. Assim, na prontincia carioca. Série bi-labial radical: 1° grau — u; 2.° grau — 0; 3° grau — 6; 4° grau nada; 5.° grau — 6; 6° grau — nada; 7.° grau — a (como por exemplo na palavra “mau”). Série paginal: 1° grau — i; 2° grau — 2; 3° grau — 6; 4° grau nada; 5.° é; 6° grau — 4; 7° grau — 4. (Em “antes” temos exemplo de abertura em 6.° grau; e em “caso”, abertu- ra em 7.°). Certos idiomas, como o Francés e o Alemfio tém Fone- mas bi-articulados, isto é, em que a béca toma a conformagaio necessaria a articulaciio bi-labial e paginal, ao mesmo tem- po.. Série bi-articulada: 1° grau — ii; 2° grau — nada; 3.° grau — 6 (em “boeuf”) ; 4.° grau — nada; 5.° grau — oe (em “soeur”) . No Portugués notam-se duas bi-articuladas (também chamadas “indecisas”). Com abertura em 6.° grau — e (co- nhecide como e — mudo, existente em Portugal na prontin- cia normal); e em 7° grau — A (como em “ela”). Na pro- niincia corrente brasileira o “e”) imprdpriamente dito mudo, nao existe., No mesmo grau em que se articulam “u” e “i”, articu- lam-se “u” e “i” (As letras grifadas, “u” e “i”, devem ter um til sobreposto) . Ao todo ha portanto quatorze vogais correntes no Brasil. Quanto as consoantes portuguésas, com que coincidem absolutamente as brasileiras, podemos enumerar as seguin- tes dezenove: = Explosivas: 3 bi-labiais — p, b, m; 4 apicais — t, d, 1, n; 2 paginais — £ (em “milha”), fi (em “minha”); 2 radi- eais — k, g (em “gota”); 438 REVISTA DO ENSINO Tremulantes: 1 apical — r (em “caro”); 1 radical — R (em “carro”, freqiientemente ouvida em vez de (rr) apicais) Pricativas: 2 dentais — f, v; 2 apicais — x (em xa. rope), j; e 2 paginais — ¢, z. Duas not a : 1" — O (1) é na verdade um fonema com- Posto: eum (d) que se faz anteceder de uma prerressonan- cia. Dai sucede que, em fim de silaba, no Portugués (como no Inglés) éle se reduz 4 simples prerressonancia. 2* _O (r) é em nossa lingua a tinica consoante que pode geminar- Se; os que tém o habito de gemin4-lo (naturalmente de con- formidade com os preceitos fonéticos), nao usam munca o (R), e vice-versa. No Portugués ha grupos vocalicos (ditongos, e tritongos) © consonantais, ; Ditongos e tritongos se compéem de vogal predominan- te, e vogal ou vogais secundarias. Estas tiltimas sao sempre Gi), (itil), (u), (u-til). Segundo nos parece essas vogais secundarias nao podem ser confundidas com as semi-consoantes (ou semi-vogais) que se encontram em linguas irmis. _Os verdadeiros ditongos siio decrescentes na maioria. Muitos dos ditongos crescentes ou resultam das necessidades métricas, ou revelam certo descuramento da pessoa falante.. QUINTA PALESTRA, AOS 10 DE FEVEREIRO DE 1950 Tema: Fonografia e Ortografia Evidentemente, as letras do alfabeto latino sio muito poucas para figurar os diversos fonemas que se conhecem em qualquer das modernas linguas novi-latinas. O Portu- gués normal apresenta, pelo menos, trinta e trés fonemas., O Francés, mais ainda. Nao é portanto de admirar que, para representa-los to- dos, se tenham as linguas atuais socorrido de sinais diacriti- cos, e digrafos (ou combinacées de duas letras) ., REVISTA DO ENSINO 439 Nalguns casos conhecem-se até os trigrafos. Dai o problema ortografico, que é mais ou menos com- plexo aqui ou ali.. Muito embora se nos afigure simples, a questao ortografica nao teve solucao satisfatéria nem no Ita- liano, nem no Provengal, nem do Castelhano. No Francés entdo..-, No Castelhano as letras B e V, como G (antes de E, ou I), e J — sé se distinguem etimoldgicamente; e nas ‘Américas ha graves outras confusdes em torno do C e S, LU e Y, etc., ao timbre vocalico; ee No Portugués o numero de Fonemas vocilicos (14) esta em demasiada desproporgaéo com o das Letras vogais (que sio 5, depois que se aboliu o Y). Para os Fonemas conso- nanticos (19) teriamos um bom ntmero de Letras consoan- tes se algumas nfo bisassem nos mesmos valores” Um alfa- beto adrede inventado para as conveniéncias portuguésas seria excelente, se nao trouxesse graves complicagées, como seja a de insultar a lingua, como acontece com o Russo. O uso de diacriticos, nio resolveu as nossas dificuldades, tanto mais que a éles incumbe também assinalar em cada vocdbulo a sua silaba ténica. A atitude de Goncalves Viana impondo em diversas hipé- teses 0 critério filolégico nao foi senio uma complicagao que se enraizou. = Se hoje se escrevem as palavras de modo mais ou menos uniforme, é forgoso reconhecer: 1° que nfo ha essa uniformidade de Portugal para 0 Brasil, em conseqiiéncia de habitos que se implantaram 14 ou aqui; 2° que a nossa escrita nfo espelha com fidelidade a prontincia que tém os vocdbulos, principalmente no tocante 32 que o fato de sabermos a prontincia exata de um vocabulo nfo nos assegura a certeza de o grafarmos com corregiio. Dai a necessidade de estudos de Ortoépia, de Prosédia, ¢ mais prépriamente, de Ortografia mesma. 440 REVISTA DO ENSINO Como elemento auxiliar para a exata leitura de textos, tém-se inventado diversos sistemas de figurar a proniincia, por meio de simbolos fonéticos ou fonogramas. i Aquele que tem atualmente maior aceitacio é o da As- sociacao Internacional de Fonética, resultante de trabalhos de muitos fonetistas, entre os quais se contam o portugués Gongalves Viana, 0 francés Paul Passy, o alemio Wilhelm Victor, e o inglés Daniel Jones. O método Toussaint — Lan- genscheidt tem estado em yoga na Alemanha. Mas ambos apresentam o inconveniente de requerer matrizes especiais para as gravacdes tipograficas. : Para obviar a ésse tropéco, podem-se criar sistemas de figuracées com os préprios caracteres latinos correntes, ufi- lizando novas convencées, quais sejam aquelas que acima fomos promovendo, & medida que iamos expondo 0 quadro de fonemas, luso-brasileiro. Quando as letras devam valer por fonogramas, convém que aparecam entre barras [], ou entre parénteses (). Também, porque os acentos devem ser indicacao de tim- bres vocilicos, os sinais marcadores de silaba ténica convém que ocorram antes dela, assim: [4’mérikA].. Mas pode-se convencionar, dado que o ntimero de paroxitonos é dominan- fe, que s6 sejam assinalados os proparoxitonos ¢ os ox{to- nos: ["cabia, cAbia, cébi’4], isto é, sabia, sabia, sabia. A falta de acento ténico num monossilabo é indicio de atonicidade (mag, *mac], ou sejam: mas, més. Musica para criangas Exza pe Moura H4 um aspecto muito importante na vida das criancas © que parece desprezado nas escolas primarias. Despreza- do nao é bem o térmo. Desconhecido é 0 que se ajusta ao caso. Trata-se da educagao artistica da crianca. Muito se tem falado sébre educagao integral, mas a realidade nao corres- ponde 4 ieoria. A crianga é artista nata. Resta-nos fazer vibrar essa sensibilidade aguda que ha na alma infantil. Se a tendén- cia artistica nao for despertada e guiada, estiola. Vale a pena fazer uma experiéncia com os nossos peque- nos, no campo magnifico da musica. E a experiéncia tor- nar-se-a, cedo, uma atividade normal. Em 1947, orientando no Grupo Escolar “Flavio dos San- tos” as classes de 3.° e 4.° anos, iniciamos um novo género de atividades: organizamos concertos para as classes sob a nos- sa orientacao. Nao podia supor que ésses momentos musicais seriam tlio bem acolhidos, tao apreciados pelas criangas, notando-se que a maioria delas nunca féra a uma audicao dessa netureza. O interésse pela musica foi além da nossa espectativa. Quatro concertos foram oferecidos as criangas. Deva acrescentar que ésses concertos nfo tomavam tempo, e o preparo era 0 mais simples possivel. A duracio de cada au- digdo variava de 30 a 40 minutos. . 442 REVISTA DO ENSINO Como o Programa dependia i Ta de canto Maria Reatcene ie peace para as interpretacdes vocal e liter4ria, ee duas professéras. Era o que de mais no género. : Nao possuimos salio de festas; por isso, os concertos re: lizavam-se ao ar livre, tendo Por teto o azul cobalto d : ae o Patio, por platéia, enquanto as varandas servia Beta lerias. Era um singular teatro o nosso. poe ee As criangas, nos dias de concérto, saiam das sal. duzindo suas cadeiras e, com bastante cantadas as mtsicas dos mestres. y Se fdssemos atender A vontade dos alunos, sd um concérto mensal ¢ sim tédas as semanas. : Como foi dito, quatro concertos foram apresentados. 0 Primeiro focalizou a figura maxima da miisica liric: Jeira — Carlos Gomes, com 0 seguinte programa: 1) Biografia de Carlos Gomes; 0 0 trabalho s6 afetaya simples podia hayer las, con- conférto, ouviam en- n&o teriamos ‘a brasi- 2) “Quem sabe?” — canto; 3) Algumas palavras sébre “O Guarani”; 4) Protofonia de “O Guarani” — piano; 5) “O Guarani” — Balada — canto. ___A biografia apresentada era ligeira, focalizando o que impressionasse a crianca; fatos concretos e interessantes. Nada ficava sem explicacio e, antes dos ntimeros cantados ¢ tocados, era feita uma interpretacio, um esclarecimento. sim é que as criancas ficaram sabendo em que circunstan- cias foi composta a canciio “Quem sabe?”, conheceram a his- téria da Opera “O Guarani”, iniciando pela protofonia. Aprenderam a distinguir a épera da opereta e souberam o significado e a situacg&o da Balada. Tudo em pouco tempo e com palavras simples. A protofonia empolgou o auditério. Através das composicées, as criangas revelaram-se. Mais elogiiente, porém, foi a atitude delas durante o concérto: en- cantamento, siléncio profundo. Uma crianca assim se ex- pressou sobre a protofonia: “... escutamos o canto da passa- rada na floresta ¢ o cicio das arvores”. Qutra comenta: “gos- REVISTA DO ENSINO 443 tei muito porque achei aquela musica lindissima. O que mais apreciei foi quando D. Aparecida estava tocando e os passa rinhos cantavam e pulavam de galho em galho”. Uma ter- ceira diz: “D. Aparecida tocou piano e prestei bem atencio; parecia que ouvia os cantos dos lindos passarinhos” . © segundo concérto foi dedicado a Chopin, com o pro- grama seguinte: 1) Alguma coisa sébre a vida de Chopin; 2) Explicagio sobre mazurca — como era dancada; 3) Mazurca em si bemol — piano; 4) Uma palavra sobre o Estudo em mi maior; 5) Estudo em mi maior (Tristesse eternelle) canto; 6) Valsa em dé sustenido menor — piano; 7) Explicagao sébre o Prelidio em ré bemol (Prelidio da Géta d’Agua) ; 8) Preliidio em ré bemol — piano. A crianca é artista e disso temos prova. A turma escu- teu em siléncio e prestou ateng&o ds misicas. Foi comove- dora a reaciio das criancas, quando acabaram de ouvir o Pre- lidio da Géta Dagua. Exigiram da pianista uma repeticio Isso nos leva a concluir: o nosso poyo nao tem cultura artisti- ca por falta de oportunidade. E’ interessante ler os pensamentos infantis sébre a mé- sica. Ha idéias notdveis: umas reveladoras de espiritos alta- mente emotivos, outras cémicas, algumas absurdas, mas tédas notaveis. Um menino, um dia, trouxe-me uma revista trazendo uma reportagem sébre Cornell Wilde, 0 Chopin do filme “A’ noi- te sonhamos”. O menino acreditava ser aquéle o verdadeiro Chopin. Desmanchei a confusio e prometi-Ihe uma pagina sébre o poeta do piano. Dei-lhe o livro “Grandes misicos na infancia”, na pagina sébre Chopin. O menino voltou de- pois muito contente: lera trés vézes a pagina indicada. O concérto seguinte foi dedicado a Schubert, com o pro- grama: 1) Alguma coisa sébre Schubert; 2) Serenata — canto; 444 REVISTA DO ENSINO 3) Momento musical — piano; 4) A rosinha do campo — canto; 5) Marcha militar — piano; 6) Tu és a esperanca — canto. A ultima audicao do ano foi organizada com muisicas dos concertos anteriores, sem biografias e nem explicagdes. A. criangas deveriam identificar as mtsicas € os autores. ns E’ interessante not 6 : ssa ar que tédas as music: ram reconhecidos. oer Para essa ultima apresentac’ 40, 0 programa foi inte: 1) Carlos Gomes — gieeduinte “O Guarani” — abert ii 2 ura — ; HE Gee i piano; 2) Carlos Gomes — “Quem sabe?” — canto: 3) Chopin — Prelidio em ré b. — Piano; 4) Chopin — Estudo em mi maior — canto; 5) Schubert — Marcha Militar — piano; 2 Schubert — Serenata — canto. ae oo foi a mais linda experiéncia na minha carreira. i facil de ser levada a efeito, pois nado exigiu preparativos, nem houve perda de tempo. Een tao pouco trabalho, proporcionamos as criangas iosos momentos espirituais, nos domini i ais, minios dz 2 = pleta arte — a Musica. ee E’ uma atividade ade que os grupos podem reali Ya pena experimenté-la. y colar acs A orientacao educacional na escola secundaria ORIGENS E EVOLUCAO Amaro Xisto DE QuEmoz Se nos permitem um paradoxo, comecaremos afirman~ do que a orientac&o educacional sempre existiu e que, no entanto, ainda nao existe. Desde o dia em que o primeiro educador compreendeu a profunda verdade aristotélica de que cada homem é um microcosmo, foram assentados os pi- Jares sébre os quais se haveria de edificar, no futuro, a ori- entacdo educacional que, apesar dos magnificos resultados que tem colhido, principalmente nos EE. UU., onde o pro- blema é estudado com um interésse surpreendente, ainda nao atingiu a sua fase final de completa organizaciio siste- matizada. As idéias centrais da orientaco educacional ja se en- contram em Platio, Aristételes, Santo Agostinho, Santo To- maz de Aquino, Pascal, Rousseau, Henri Mackenzie, Lysan- der Richards, e muitos outros filésofos e educadores moder- nos. Mas as primeiras realizagées de cunho pratico pare- cem ter sido, realmente, as da “Civil Service House”, de Boston, fundada em 1901 por Meyer Blomfield, onde Parsons realizou as primeiras andlises de profissées e ‘procurou as- sentar métodos para o diagnéstico de aptidées especificas. £m abril de 1908, inaugura éle o “Boston Vocation Bureau”, cujos trabalhos tanta projecdo iriam alcancar nos EE. UU. e na Europa. (Theobaldo Mirando Santos “Nogdes de Histéria da Educagiio, Sio Paulo — 1945. Cia. Editora Na- 446 REVISTA DO ENSINO cional. J. M. Brewer Educaci i — caci i York, 1932. Macmillan. Pag. 140 ie) eee Idem —. History of Vocatio: i nal Guidance, Ni Harper Brothers U. S. Office of Educational Bo aeee nes nal Information and Guidance Service” — Washinene 1940, Miscelianeous Publications. oe en A Universidade de Harvard abriu os Pprimeiros curso: eo onenliete educacional em 1911; a Universidade da C: : eee em 1914, ea de Colimbia, em 1916. 0 se ce gresso de orientagao educacional de que se tem cia reuniu- e em Boston em 1910. (J. M. Brewer aes of Vocational Guidance”, New York, 1942 — ates Hoes “Frank Pars ii u i : res eno ee a Vocational) — New York, J. M. ver — ocati ae : Brewer — The Vocational Guidance Movement”, 916, New York, Macmillan, pag. 20, seguintes) i O° vi i i h aod ee mais consideravel que conhecemos da acho educacional teve ori 1 E rigem, assim, ni See eve OUgs + nos trabalhos S a pelo grande pioneiro Frank Parsons, no alvorecer éculo. Embora diretamente preocupado com os pro blemas relati ncaminhamento jovens para a vos 20 en in] j hamento dos jovens aa onal, logo que deixassem a escola pri- ieee - i P ano saiie esbogara. De qual- ean ae gies ! ° & tlo é que a idéia de orientar, como rea- ao ca aa eats formais do ensino da época, eae 3 ag a pur esse atender de modo eficiente As ne- a ne ae e de ajustamento social de menor grau, os euieaaere’ pe a es qooucstonel guidance” é pela primeira vez eee ee de ae num editorial da revista “Ele- ae, 3 eacher”, ainda no sentido estrito do auxi- fo que a escola pudesse representar na direcgio dos jévens para o traba g i Lee ie i segundo suas capacidades (J. M. REVISTA DO ENSINO H. P. VYitson — “Geting a Rid of a Piece of Educational Rubgish” — Teachers College Recurd, 36. Columbia Univer- sity, 1934”) . Tentativa da mais completa definigao devia aparecer, dois anos mais tarde, no trabalho de Trumaz Kelley, “Edu- cational Guidance”, e que lhe serviu como tese de doutorado. De modo breve, as idéias ai sustentadas cifravam-se no pri cipio de que, se devemos orientar os jovens para determina- do género de trabalho, devemos, preliminarmente, orienté-los em seus estudos. O assunto que se lhes preste, nesse caso, sera orientagaio educacional. O limitado conceito de Kelley correspondia, aliés, a uma feigdio prépria da organizacio escolar nos EE. UU. Muitas escolas secundirias, ja nessa época, dividiam o seu curso em dois ciclos. Com o primeiro ciclo, articulavam-se diferentes estudos para a indtstria, 0 comércio e a agricultura. Have- ria, assim, ao seu término, escolha a fazer. Além disso, den- tro do préprio curso, justamente para a verificacio de apti- ddes € de seu encaminhamento, numerosas disciplinas se apresentavam, aos alunos, como optativas. O mais que em outros paises, onde o curso secundario tivesse um sé plano, ou curse téenico, essa situagio de flexibilidade haveria de impor As escolas americanas 0 encargo de auxiliar os jovens na escolha do caminho que mais Ihes pudesse convir. ‘A situacdo era similar, também nas universidades, que ja apresentavam uma parte comum de estudos de cultura geral, o “college”. Dentro déle, verificadas as capacidades individuais, é que se deve operar a orientacaéo do mogo estu- dante para um dos diversos cursos profissionais. Dai, a exis- téncia, nésses centros de estudos, de servigos de informacaio e de aconselhamento dos alunos, os chamados “counserling” ou “students personnel work”. Tais servicos tém permanecido e crescido com essas de- nominacées originais, nos colégios ¢ universidades. Nas es- colas secundarias devia prevalecer, porém, o nome de “edu- cational guidance”, “school guidance” ou, simplesmente “guidance”. 448 REVISTA DO ENSINO eo ie aon imediato désses servicos seria o do aconselhamen. e 2 e os estudos, tendo-se em vista as aspiragées Profissio- a Bes reconhecimento dos problemas de desajustamen. a esc€ncia, € 0 progresso d x lc é los estudos da psicologi eee sociologia, por um lado, como, por outro, o Saas. : aed da capacidade educativa do lar, especialmente ae ieado nas grandes cidades, haveriam de dar-lhes muito maion desenvolvimento e complexidade. ae ie on efeito, vinham aquéles estudos pér em relévo a ao ‘ancia do desenvolvimento da Personalidade de cada , €, conseqiientemente, a necessid: Q 2 ssidade de se tornar eatemente, o en- ae adaptado a cada individuo, segundo suas condicées es. ial i everi igh é Bs a ae ne ease perder a feicio despersonalizado. ira de informagao e simples gindsti ; eut gindstica mental, ta ua lenieisas nas grandes escolas secundarias, onde o mae acabava sendo apenas um nome ou um numero (Henri Bou. chet. “Op. Cit.”, pag. 50 acy ii i cress ae f segs. Aracy Muniz Freire — “op. Aulas de Ciéncias Naturais Como grupar es alunos Prof. H. Marques Lissoa Certa professdra perguntou-me como poderia ela, ao yoltar a seu Grupo no interior do Estado, dividir a classe em turmas, sendo s0, isto é, nao acompanhada, como aqui, por trés colegas. Se a professéra em questiio tivesse observado como uma s6 bandeirante, ou um so chefe escoteiro, promove trabalhes complicados, excursdes distantes, competigées desportivas, etc., saberia que a administracdo de muitas criangas é tare- fa bem facil, se elas estiverem distribuidas em grupos de simpatia reciproca e se forem chefiadas por lideres volunta- riamente escolhidos pelos préprios subordinados. Nao é por gésto meu que as professoras-alunas estao ago- ra trés em cada classe, sem contarmos com a profess6ra do Grupo Escolar; seria preferivel ter uma tinica mestra assis- tindo A classe; mas... Alguém aqui poder apresentar-me um plano realizAvel para colocar tédas, uma por classe ? Passando a mimicias sdbre a informag&o pedida, vou servir-me, como de costume, da sabedoria alheia e bato agora a porta da professéra americana Kate Wofford em seu livro: “Q Ensino nas Pequenas Escolas” (Escolas Rurais) . Sao magnificos os seus conselhos para profess6ras que recebem alunos, nao sé de 4 categorias, mas até de 6, pois nas classes americanas sio admitidos desde 6 até 12 anos de idade. Como arrumé-los em escola de uma sala sé e de uma profess6ra sé ? 450 REVISTA DO ENSINO Prelimniarmente, entende a professéra Kate que con- yém conhecer bem os alunos e suas familias, para saber como grupé-los por tendéncias semelhantes ou correlatas; assim, além dos testes de inteligéncia, de leitura e escrita, deve ha- ver provas de atitudes sociais com os companheiros, de com- portamento fora da escola e mesmo no seio da familia. Quando tédas as criangas tém aproximadamente a mes- ma idade o problema podera ser simplesmente o de unir os que manifestam simpatias reciprocas, ou os que tém presenca ou auséncia de certas habilidades (surégs, miopes, ete.), ou critérios outros; nfo se pode, porém, desprezar a idade fisiolé- gica (retardados) ¢ a idade social (puberdade, ete) . ‘Vejamos um caso de uma escola de sala, tendo um gal- pao anexo, mas regida por dois professéres, que entretanto, eram procurados indiferentemente pelos alunos, que éles guiavam como se féssem sdmente um. (Pag. 72). “Era uma grande sala, com mesas removiveis; havia em separado um — Studio — em que se pintava, desenhava e se faziam trabulhos de madeira, modelagem em argila, constru- Goes, dramatizacdes e qualquer tipo de TRABALHO ATIVO”. “Nao havia descriminagio de alunos para éste ou para aquéle professor, nem qualquer divisio dos alunos em dois grupos, havia muito alunos e muitos grupos e 0 programa funcionava como se existisse sé um professor”. “Quando 0 nimero de alunos atingiu a noventa, foi ain- da admitido mais um e ficaram entio os alunos separados em trés graus: primario, intermediério e adiantados. Os alu- nos, que ndo podiam ser enquadrados em algum désses gru- pos, obtinham instrucSo individual. Quando o ntmero se clevou a 125, sentiram os mestres a necessidade de um crité. rio melhor para classificacio. “Sea ianca tina a idade mental de 14 anos e a idade cronolégica de 10 anos, tomayam a média e a classificavam como 12 anos Havia alunos desde 5 até 16 anos, e isso cria uma multpilicidade de problemas, mas para 0 professor mo- derno a situagdo oferece muitas vantagens. A heterogeneida- de do grupo, em uma sé sala, mais do que em qualquer outro REVISTA DO ENSINO 451 | tipo, oferece uma situagio de democracia, de igualdade para viver e aprender sem o preconceito de categorias sociais”.. Vejamos um caso em que a classificacdo simplesmente pela idade cronolégica seria um érro. z : “Henrique, aluno de nove anos de idade, tem a idade mental de 12 anos; é socialmente bem desenvolvido, prefere a companhia dos rapazes de pelo menos 12 anos; tem boa co- ordenagiio em jogos esportivos, mas n&o em trabalhos ma- puais de construcio; 1é bem os livros preferidos por alunos mais velhos do que éle; é fraco em aritmética ¢ sua eserita é pobre, impacienta-se com toda a espécie de material artistico e entende que a modelagem em argila, feita pelo seu grupo em idade, é uma infantilidade”. “Em uma escola de tipo classico, estaria éle no terceiro ano e provavelmente seria “uma crianca problema”... Em uma pequena Escola rural éle esta felizmente ajustado, por- que a organizacio foi adaptada ds suas necessidades. Ele 1é com o grupo — A —, os estudos sociais realizados no grupo — B — e os seus manuscritos séio feitos com o grupo — C — Freqiientemente participa das atividades em conjunto de to- dos os alunos. Em resumo, Henrique, como as outras erian- cas muito ativas, nessa pequena escola, achou o seu lugar de acOrdo com sua habilidade ¢ feigiio de e: irito” . : Além dos trés grupamentos em primdrios, médios e adian- tados, ou mesmo quatro grupos, pode tornar-se necessaria uma sub-divisio em turmas, ou grupos plisticos, em que os alunos podem mudar um pouco de companhia. : A profess6ra procura descobrir, tanto quanto possivel a satide da crianca, seus interésses especiais, habilidades, ne- cessidades ¢ experiéncias. Com isso a professéra val se habic litando a futuras subdivisées. Um exemplo nos dara idéia objetiva do problema. ie “ Q distrito n. 54 de Lockport organizou uma subdivisdo til que passou a ser recomendada nao a varias escolas maiores. que se mostrou tio tH sé para as escolas rurais, como par: A classe foi dividida em 4 grupos: A — B — C — D. O grupo — D — para as criancas de 6 e7 anos; — C para as de 8 a 9 anos; — B — para as de 10 a 11 anos e —A — 452 REVISTA Do ENSINO para as de 11 e 12 anos. As criancas podem passar Py a em cada seccAo, passando pee ae ara a subdivisa 6 as suas habilidades; lain idéia oo = pe igdo do ano fica atenuada. Elas trabalham pee a equipes do que por classe e h4 pelo menos duas equipes nee &rupo, portanto, pelo menos, 8 subdivisdes na classe, ue No grupo — D — ha de inicio: a) ples; Bas Sea fee e interpretam frases mais adiantadas, pede aos de 6 anos que observem: 1°) — a vida no lar; 2° na escola; e 3° Aos de 7 anos, a vida na | o interésse dessa gentinha rural é principalmente para os animais, as fazendas, etc., por isso as figuras ou os eccri. tos so sobre animais ¢ os cuidados que merecem. Outra subdivisdo pode ser a dos que se interessam pelas constru- goes, casas novas e velhas, histérias sobre casas, os que gos- tam de trabalhar com as maos, fazendo construgées. Outra equipe pode se formar pelos que se interessam Dor essas coisas ¢ também pelas pessoas responsaveis pela casa e pelos animais. Vejamos agora como a autora busca motivos para os tra- balhos didrios — (Pag. 90). 1.° — Experiéncias de pratica de repouso em casa e na escola. 2° — Experiéncias para inculcar habitos de limpeza do corpo e das roupas. 3.° — O alméco — como alimento quente e como reuniao social. €quipe (ou turma) dos que léem coisas muito sim- — no reereio; localidade em que vivem. 4° — Experiéncias de conservacao dos alimentos e de seus constituintes. 5.° — A satide e as possibilidades recreativas da Jocali- dade. 6.° — Experiéncias sébre higiene: abuso do alcool, fumo, comidas, etc. ee bre acidentes de transito, envenenamento por pi- eadas de animais, etc. REVISTA DO ENSINO 453 8° — Observacées sébre insetos inimigos e amigos do homem. E : ot 9° — Pescarias e observagdes sobre a vida aquitica. 10. — Realizacées democraticas na classe: clubes, meren- das, auditdérios, etc. a : 11. — Observagées sébre os interésses e habilidades in- dividuais em mitsica, danga, pintura, literatura, jogos des- portivos, cinema, etc. i A lista é enorme, limito-me por isso a éste resumo e pas- so a buscar um caso de programa planejado para um dia: Trabalhos sem intervengio do mestre até as 9,30. i Grupo C — Subgrupo I — Observacies e relatério sébre os animais da fazenda local. Subgrupo IL a Fazer uma planta baixa de um depésito de queijo (queijeira) . J Grupo B — Subgrupo I — Ler os trabalhos s6bre os pri- meiros exploradores das rochas, os diversos tipos de solo, ete. Grupo A — Trabalhar em parte com um dos subgrupos B e em parte com o outro subgrupo. 2 As 9,30 comega o trabalho sob as vistas diretas do mestre a subturma do grupo B. As 10 horas o mestre estuda com a subturma I o assunto da queijeira (mercearia) medidas em pés, polegadas, ete. (dinheiro) . As 11,30, passa éle para a IT subturma do Grupo C: exer- cicios de matematica. As 11,40 trabalha com a turma A. : © mestre volta a trabalhos diretos com o grupo C 4s 14,30. Com o grupo B as 15 horas. Com 0 grupo A as 15,30. fe Ha outros exemplos no livro em questao que bem merece consulta (pag. 102). Passarei agora a apalisar um problema especial de ciéncias naturais. A NUTRICAO: A razio primeira da escolha feita pela professéra fas ter notado alguns meninos mal nutridos e ser a questao de 454 REVISTA DO ENSINO alimento e de interésse instrutivo para todos e quase dispen- sam motivacao, pois somente alguns tépicos, como o das Vi- tami precisam perder seu aspecto metafisico, constituin- ula a ser dourada. O problema foi dividido em muitas partes. Aqui cito as me parecem mais aplic4veis em nosso meio: 1« — Procurar ler informagées sébre: Porque 0 corpo precisa de alimentos — Como veri- essas necessidades. Que alimentos sfo necessaérios; como verificar as s de cada um Como planejar um cardd4pio com vegetais verdes, tas, leite, ovos, etc. =) Como sao digeridos cs alimentos. ©) Como ganhar péso. orque lavar as mfios antes das refeicdes, comer de tigar bem. Porque exigir alimentos sempre limpos. Nao lambiscar fora de horas e que fazer se a fome ar horas estabelecidas para alimentacio. A arte da linguagem: crever cartas de convite, agradecimentos, etc. Escrever relatérios. zer o registro de experiéncias. rever historias. matizar o estudo da nutricSo. Fazer capas para os livros. Vreparar quadros de boletins. Fazer um mapa de alimentos. Aritinéticn, Fazer registox de experiéneias. Figurar o cunto dos alimentos, ete. i#das as tarcfas, o mestre deve cooperar com os giiendo-os va oxcolha das que estiverem mais de 0 gfnio © habilidade de cada um. respeito de vim grupamento e diregdo ideais, ha nesse pesines minncionaa, magnificas de clareza, que sinto REVISTA DO ENSINO nao poder transcrever integralmente (pag. 166 a 172). Ha um trecho que Jembra a pratica de uma cérte de justica, de que siio juizes os préprios estudantes, como Leon Renault estabeleceu no Instituto Jodo Pinheiro, quando o organizou e dirigiu. Nio resisto 4 tentacao de transcrever pelo menos o que se diz A pag. 172, onde se mostra como os préprios alunos zolaboram na boa organizagio do programa e na disciplina. Um inspetor escolar foi visitar certa Escola Rurale a professéra teve que sair com éle para um compartimento anexo, conversaram mais de meia hora e o inspetor estranhou nao notar barulho na classe e finalmente perguntot “A senhora tem uma auxiliar tomando conta da classe?” A professéra disse que nao, e pediu-lhe que fdsse obser- var a classe. Os alunos estavam sentados em grupos, com o material preciso para os trabalhos e os livros necessirios empiihados nas mesas. Todos trabalhavam. Uma das meninas do oita- vo grau reunira 0 pessoal do primeiro grau e contava-ihes uma historia. Uma outra, jA mais velha, ocupava-se com © pessoal do segundo grau, em um canto, dando-Ihes o tradi- cional exercicio de taboada em cartGesinhos usados freqiien- temente pelas criangas em seus brinquedos ou no armazém (mercearia) . O inspetor admirado perguntou: “Como sabem éles 0 que tém de fazer ?” A mestra explicou: “Os grupos de alunos mais velhos e@judaram-me ontem a planejar o programa para hoje, e as duas meninas, com os menores, siio as chefes de tais grupos. S4o muito ciosas de suas responsabilidades”. ‘O LABORATORIO (Pag. 180 e seguintes) . Aos 8 anos ja a crianca pode trabalhar em labonatério, néio para fazer descobertas, mas para fazer verificagdes, nao dispensando, entretanto, a assisténcia do mestre. Este deve, por exemplo: 1° — Colocar ao alcance o material que tera de ser usado. 2° — Dispor de longas mesas de trabalho (prateleiras) .

Você também pode gostar