Avaliação Psicológica - AVA

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Avaliação psicológica- AVA :

UNIDADE 1:

1.Avaliação psicológica: uma breve introdução

Avaliação psicológica
Entre as mais diversas áreas de atuação do psicólogo, destaca-se a avaliação psicológica como um conjunto de
procedimentos aplicados ao indivíduo com o objetivo de colher informações. Lins e Borsa (2017) destacam a
importância do profissional para se atentar ao cuidado dos instrumentos utilizados, uma vez que o uso de apenas
um teste ou procedimento pode propiciar a construção de inferências descontextualizadas em relação ao
indivíduo. Assim, não se quer dizer que a avaliação psicológica consiste em simplesmente corrigir os testes
psicológicos. Pelo contrário, é necessário salientar que os testes psicológicos são “agregados ao processo de
avaliação psicológica para se obter informações sobre o psiquismo do indivíduo” (LINS; BORSA, 2017, p. 12
apud ANACHE, 2011). Para tanto, vamos ressaltar um importante instrumento construído pelo Conselho
Federal de Psicologia – CFP – juntamente com os conselhos regionais para informar aos psicólogos sobre a
prática de regularização da avaliação psicológica com os seus devidos preceitos éticos. Assim sendo, o Conselho
Federal de Psicologia define a avaliação psicológica como:
É um processo técnico e científico realizado com pessoas ou grupos de pessoas que, de acordo com cada área de
conhecimento, requer metodologias específicas. Ela é dinâmica e constitui-se em fonte de informações de
caráter explicativo sobre os fenômenos psicológicos, com a finalidade de subsidiar os trabalhos nos diferentes
campos de atuação do psicólogo, dentre eles, saúde, educação, trabalho e outros setores em que ela se fizer
necessária. Trata-se de um estudo que requer um planejamento prévio e cuidadoso, de acordo com a demanda e
os fins para os quais a avaliação se destina.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013 É um processo técnico e científico realizado com pessoas ou
grupos de pessoas que, de acordo com cada área de conhecimento, requer metodologias específicas. Ela é
dinâmica e constitui-se em fonte de informações de caráter explicativo sobre os fenômenos psicológicos, com a
finalidade de subsidiar os trabalhos nos diferentes campos de atuação do psicólogo, dentre eles, saúde,
educação, trabalho e outros setores em que ela se fizer necessária. Trata-se de um estudo que requer um
planejamento prévio e cuidadoso, de acordo com a demanda e os fins para os quais a avaliação se destina.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013


De maneira resumida, destaca-se uma breve contextualização histórica do surgimento dos testes e da avaliação
psicológica. Lins e Borsa (2017) ressaltaram que esses procedimentos surgiram nas primeiras décadas do século
XX, na França. Os pesquisadores Alfred Binet e Theodore Simon divulgaram a versão originária da Escala
Binet-Simon de Inteligência, um recurso para verificar o “retardo mental”, um nome adotado na época. Durante
a I Guerra Mundial, utilizou-se a testagem psicológica para escolher os soldados mais aptos para o combate
(LINS; BORSA, 2017). Já, após a II Guerra Mundial, alguns testes psicológicos foram confeccionados para
avaliar os traços de personalidade, o desempenho do indivíduo no mercado de trabalho, o caráter, dentre outros
(LINS; BORSA, 2017). Sendo assim, os estudos sobre a avaliação psicológica foram se desenvolvendo ao longo
dos anos até os dias atuais.

Passos para a avaliação psicológica, competências e princípios éticos do psicólogo


Com base na Cartilha sobre Avaliação Psicológica (2013), elaborada pelo Conselho Federal de Psicologia,
alguns passos serão salientados para que o profissional se atente ao realizar a avaliação psicológica de um
indivíduo. Para tanto, é necessário que o psicólogo descreva quais são os propósitos da avaliação psicológica,
colhendo informações sobre o indivíduo ou o grupo dos quais serão analisados. Além disso, as coletas de
dados devem ser realizadas através dos instrumentos psicológicos como, por exemplo, entrevistas individuais
ou em grupos, dinâmicas, bem como observações através da escuta qualificada do profissional. Após o
levantamento das informações, é preciso agregar os dados coletados com a finalidade de indicar uma resposta,
respaldada através dos princípios éticos do código.

Para além dos passos seguidos pelo profissional, o psicólogo deve desenvolver algumas competências,
conforme exposto na Cartilha sobre Avaliação Psicológica (2013). Tais competências se referem ao
reconhecimento do “caráter processual da avaliação psicológica”, além de dominar as normas da avaliação
psicológica no Brasil. Não se pode esquecer que é necessário buscar capacitações ou qualificações para aplicar
e analisar os instrumentos psicológicos com o intuito de identificar a capacidade de “inteligência”, “memória”,
“atenção”, “emoção”, entre outros (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013, p. 15). Nessa
perspectiva, obter os conhecimentos necessários na área da psicopatologia é de fundamental importância para
identificar o desenvolvimento do indivíduo. A “validade, precisão e normas dos testes” são outros aspectos
necessários que o psicólogo deve se atentar para utilizar a avaliação psicológica. Sendo assim, buscar
informações sobre aplicação, levantamento e interpretação dos instrumentos da avaliação psicológica é de
fundamental importância para indicar um diagnóstico de tratamento e acompanhamento para o paciente. Por
fim, ressalta-se que o profissional saiba “elaborar documentos psicológicos” e “comunicar os resultados
advindos da avaliação” (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013, p. 15).

Em relação aos princípios éticos básicos, é importante salientar que o psicólogo deverá desenvolver a avaliação
psicológica de maneira responsável, isto é, os testes e os instrumentos utilizados durante o processo devem
possuir a parecer favorável do Conselho Federal de Psicologia e o profissional deve ser qualificado para esta
atividade. Além disso, é necessário possuir um ambiente favorável para a aplicação dos instrumentos
psicológicos, resguardando o sigilo profissional sem interferências de quaisquer outras pessoas. Os registros das
informações coletadas do indivíduo devem ser arquivados em locais seguros para que nenhum outro indivíduo
tenha acesso. Entretanto, os laudos ou pareceres psicológicos devem ser endereçados apenas àqueles que
necessitem da informação. Não se esqueça de que o profissional da área de psicologia não deve em hipótese
nenhuma capacitar profissionais de outras áreas, caracterizando a violação do código de ética (CONSELHO
FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013, p. 16-17).

FIQUE DE OLHO: Segundo o Conselho Federal de Psicologia, “a avaliação psicológica é um processo amplo
que envolve a integração de informações provenientes de diversas fontes, dentre elas, testes, entrevistas,
observações, análise de documentos. A testagem psicológica, portanto, pode ser considerada uma etapa da
avaliação psicológica, que implica a utilização de teste(s) psicológico (s) de diferentes tipos” (CONSELHO
FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013, p. 8-9).

2- Avaliação psicológica em diversos contextos da atuação do psicólogo

Psicologia clínica
Tomando como pressuposto os escritos propostos por Baptista, Filho e Borges (2017), a avaliação psicológica
no contexto da psicologia clínica passou a ser utilizada com maior frequência no Brasil a partir dos anos 1990.
Isso se deu, principalmente, pela possibilidade de o profissional colher determinadas informações que poderiam
subsidiar intervenções terapêuticas no sentido de proporcionar maiores benefícios aos pacientes ou clientes.
Porém, é importante destacar que o psicólogo deve dominar as técnicas com qualidade para utilizar esses
instrumentos. Para a clínica, a psicometria (métodos quantitativos em psicologia), o rapport (capacidade de
estabelecer empatia com o indivíduo) e a destreza de formular hipóteses diagnósticas são fundamentais para
que o psicólogo possa desenvolver esse processo com qualidade (BAPTISTA; FILHO; BORGES, 2017). Assim,
os autores ressaltam que “a psicologia clínica é uma área da psicologia que tem como objetivo a prevenção, o
diagnóstico e o tratamento do comportamento psicopatológico” (BAPTISTA; FILHO; BORGES, 2017, p. 384).
Diante dessa breve contextualização, pode-se dizer que a avaliação psicológica deve seguir cinco passos
fundamentais: o primeiro se refere à observação sistematizada, logo, a anamnese (histórico dos sintomas do
paciente), entrevistas (estruturadas, semiestruturadas ou abertas), aplicação de métodos projetivos (testes
psicológicos) e, por último, a testagem psicométrica (avaliação da personalidade e capacidade do indivíduo).
Para o melhor entendimento do estudante, cita-se como exemplo um paciente ou cliente que entra em contato
com o psicólogo para tratar sintomas relativos à depressão e à ansiedade. Ao receber o indivíduo no consultório,
o profissional se atenta para as vestimentas, a comunicação verbal e não verbal, estilos de vida do paciente,
obtendo algumas informações que devem ser anotadas. Além disso, ele passa a investigar quando surgiram os
primeiros sintomas da depressão e da ansiedade, em qual contexto e como o paciente lidou com a situação
naquele momento. No decorrer das sessões, o psicólogo passa a realizar entrevistas (estruturadas,
semiestruturadas ou abertas) com o propósito de conhecer o contexto familiar, social e a história de vida do
indivíduo. De acordo com o relato do paciente, o psicólogo pode optar ou não por aplicar testes que poderão
subsidiar a capacidade afetiva, cognitiva e comportamental do paciente. Por fim, é elaborado um projeto
terapêutico através das sessões psicoterápicas para que o paciente trate dos seus sintomas e possa construir
estratégias para lidar com a depressão e a ansiedade. Cabe ressaltar que, nesse caso, o paciente também deverá
fazer um acompanhamento psiquiátrico como um paliativo para que possa ajudá-lo a tratar dos seus sintomas.
Porém, ressalta-se que o uso de medicamentos sem o acompanhamento psiquiátrico e com o uso prolongado
pode afetar a capacidade cognitiva, motora e a memória.

Resumindo, os principais tópicos abordados nas entrevistas psicológicas consistem em obter informações sobre
a “descrição do problema”, a “situação atual de vida”, a “história de vida do paciente”, as “experiências
traumáticas”, o “histórico médico, psicológico e psiquiátrico”, o “status psicológico atual”, o “grau de abertura
do cliente diante do processo terapêutico”, as “metas que possui no processo terapêutico” e as “preocupações do
cliente” (BAPTISTA; FILHO; BORGES, 2017, p. 385). Aqui, vale destacar que as entrevistas realizadas de
maneira aberta possuem uma maior possibilidade de construir um vínculo terapêutico, distintamente das
entrevistas estruturadas – perguntas preparadas antecipadamente – ou semiestruturadas – perguntas elaboradas
para atingir um objetivo (BAPTISTA; FILHO; BORGES, 2017).
Os instrumentos podem ser utilizados para elucidar questões referentes ao funcionamento mental atual e
comparar o seu funcionamento com outra pessoa da mesma idade, buscando assim, conhecer os aspectos
cognitivos e emocionais do cliente/paciente (COHEN, 2012), e a partir daí estabelecer um plano de intervenção
e/ou encaminhamento. O agrupamento de testes que serão administrados na avaliação é chamado de bateria de
testes ou protocolo de testes. Dessa forma, muitos psicólogos clínicos possuem uma bateria padrão de testes
psicológicos, ou seja, um grupo de testes que geralmente avaliam a inteligência, um ou dois que avaliam a
personalidade e de acordo com a queixa buscarão compor a bateria com testes que avaliem construtos que
investiguem melhor a queixa. A escolha por um teste psicométrico e/ou projetivo deve estar pautada na
experiência e conhecimento do material.
BAPTISTA; FILHO; BORGES, 2017, p. 387-388

Os instrumentos podem ser utilizados para elucidar questões referentes ao funcionamento mental atual e
comparar o seu funcionamento com outra pessoa da mesma idade, buscando assim, conhecer os aspectos
cognitivos e emocionais do cliente/paciente (COHEN, 2012), e a partir daí estabelecer um plano de intervenção
e/ou encaminhamento. O agrupamento de testes que serão administrados na avaliação é chamado de bateria de
testes ou protocolo de testes. Dessa forma, muitos psicólogos clínicos possuem uma bateria padrão de testes
psicológicos, ou seja, um grupo de testes que geralmente avaliam a inteligência, um ou dois que avaliam a
personalidade e de acordo com a queixa buscarão compor a bateria com testes que avaliem construtos que
investiguem melhor a queixa. A escolha por um teste psicométrico e/ou projetivo deve estar pautada na
experiência e conhecimento do material.
BAPTISTA; FILHO; BORGES, 2017, p. 387-388
Para além do exposto, o psicólogo pode realizar entrevistas com familiares, amigos, investigar documentos ou
prontuários com o consentimento do paciente para colher as informações necessárias sobre o indivíduo. Diante
dos processos de avaliação psicológica, caberá ao psicólogo clínico realizar um relatório ou parecer psicológico
e fazer uma devolução, preservando os princípios éticos, através da sua boa comunicação com o paciente.

Psicologia organizacional e do trabalho


A psicologia organizacional e do trabalho teve origem nos laboratórios de psicologia experimental de
Wilhelm Wundt, em 1879, um psicólogo alemão, que dedicou seus estudos para compreender e analisar o
comportamento humano. Pereira (2017, p. 317) salienta que Wundt “estudou os problemas humanos no
trabalho, criando uma disciplina que pode ser identificada como organizadora dos fundamentos básicos da
psicotécnica, principal método de trabalho da psicologia industrial”. A partir dos anos 1980 e 1990, as empresas
brasileiras passaram a incorporar os profissionais da psicologia na área conhecida como Recursos Humanos,
buscando construir uma visão multidisciplinar (PEREIRA, 2017). Assim sendo, a inserção no mercado de
trabalho será um exemplo utilizado para que o estudante possa compreender o processo de avaliação
psicológica no contexto organizacional e do trabalho, visto que é necessário recrutar um indivíduo que possui o
perfil desejado pela empresa para assumir um determinado cargo.

Atualmente, as pessoas buscam oportunidades de trabalho através dos sites destinados a ofertar vagas,
cadastrando as experiências profissionais, as competências e as habilidades pessoais. Através do currículo, o
psicólogo convoca o candidato para uma entrevista preliminar, selecionando àqueles que possuem o perfil para
as próximas etapas. Aqui, cabe ressaltar que cada empresa planeja o recrutamento e a seleção de acordo com as
avaliações que julgam necessárias. Logo após uma entrevista preliminar, o candidato passa por dinâmicas de
grupo, realiza testes psicológicos, dentre outros processos designados de avaliação psicológica no contexto
organizacional. Por fim, uma determinada pessoa que possui o perfil da vaga enunciada assume o cargo.
Porém, a avaliação psicológica pode ser utilizada em diversos âmbitos no contexto organizacional e do
trabalho. A exemplo disso, pode-se ressaltar as avaliações institucionais realizadas pelas empresas para
mensurar o nível de satisfação dos clientes com o atendimento realizado, a avaliação de desempenho e para a
escolha de profissionais que serão treinados e desenvolvidos pela empresa.

Trânsito
A Carteira Nacional de Habilitação – CNH – é um dos maiores anseios dos jovens ao completarem 18 anos.
Porém, o processo não é tão simples. Atualmente, além do investimento financeiro é preciso que o indivíduo
perpasse por diferentes processos e avaliações para obter êxito na retirada do documento. Assim sendo, o
primeiro passo consiste na avaliação médica e psicológica com o propósito de identificar se o indivíduo possui
condições biológicas, físicas e subjetivas para circular motorizado pelas ruas das cidades ou das grandes
metrópoles. Hoje, a avaliação psicotécnica passou a ser concebida por avaliação psicológica pericial. Assim
sendo, a psicologia do trânsito é definida:
como um estudo do comportamento humano nesse contexto, sendo objetivo da avaliação psicológica pericial
aprofundar o conhecimento de aspectos comportamentais, perceptivos, cognitivos e de tempo de reação dos
motoristas e futuros motoristas, visando, dessa forma, à diminuição dos índices de acidentes de trânsito
RUEDA; MOGNON, 2017, p. 411 apud ROZESTRATEN, 1981; RUEDA e LAMOUNIER, 2005
como um estudo do comportamento humano nesse contexto, sendo objetivo da avaliação psicológica pericial
aprofundar o conhecimento de aspectos comportamentais, perceptivos, cognitivos e de tempo de reação dos
motoristas e futuros motoristas, visando, dessa forma, à diminuição dos índices de acidentes de trânsito
RUEDA; MOGNON, 2017, p. 411 apud ROZESTRATEN, 1981; RUEDA e LAMOUNIER, 2005
A partir do texto “Avaliação psicológica no contexto do trânsito”, alguns aspectos importantes serão abordados
para a formação do psicólogo. O primeiro deles se refere à promulgação do primeiro Código Nacional de
Trânsito – Decreto-Lei nº 3.651 de 25 de setembro de 1941 – definindo o exame médico e o psicológico
(RUEDA; MOGNON, 2017). No ano de 1953, o exame psicotécnico tornou-se uma obrigatoriedade para retirar
a Carteira Nacional de Habilitação por determinação do CONTRAN (Conselho Nacional de Trânsito) com o
propósito de identificar os aspectos relacionados à personalidade e à atenção do cidadão. Contudo, Rueda e
Mognon (2017, p. 412) ressaltam que somente em 1998 é que a avaliação psicológica passou a envolver a “área
percepto-reacional, motora e nível mental, equilíbrio físico e habilidades específicas complementares”. Daí, a
mudança do termo psicotécnico para avaliação psicológica pericial. Em 2012, a Resolução nº 425 do
CONTRAN, juntamente com a Resolução 007/2009 do Conselho Federal de Psicologia, instituíram a avaliação
psicológica no contexto da psicologia do trânsito através de “entrevistas individuais, testes psicológicos,
dinâmicas de grupo, escuta e intervenções verbais” (RUEDA; MOGNON, 2017, p. 413).

Hospitalar A avaliação psicológica no contexto hospitalar segue, basicamente, os processos de entrevista e


testagem psicológica. Porém, cabe aqui ressaltar que cada contexto possui a sua peculiaridade e o psicólogo
deve ser capacitado para desenvolver essa tarefa com primazia. Para tanto, é preciso uma gama de estudos e
experiências profissionais para atuar nessa área.

Desde o reconhecimento da psicologia enquanto profissão, em 1962, os psicólogos já atuavam na área sem
muito reconhecimento. Entretanto, a partir da década de 1990, a psicologia hospitalar passou a trabalhar
questões relativas à integralidade da saúde, concebendo o paciente nas suas dimensões biológicas, psíquicas e
sociais, isto é, através de um modelo biopsicossocial, além de contar com uma equipe multiprofissional
(médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, psicólogos, terapeutas ocupacionais,
nutricionistas, entre outros). Schmidt, Bolze e Crepaldi argumentam que “nessas instituições, a principal (mas
não única) tarefa do profissional é avaliar e acompanhar intercorrências psíquicas dos usuários envolvidos em
procedimentos médicos, com vistas à promoção e à recuperação à saúde” (2017, p. 462). Assim sendo, o
psicólogo no contexto hospitalar possui a sua atuação através de atendimento psicoterápico individual ou em
grupo com vistas à promoção à saúde. Para o melhor entendimento do estudante, a cirurgia bariátrica será
utilizada como um exemplo para ilustrar a atuação da equipe multidisciplinar, abordando os aspectos
biopsicossociais e a promoção à saúde. Assim sendo, a coleta de dados através das entrevistas, observações,
testes psicológicos e dinâmicas de grupo são os procedimentos usados para a avaliação psicológica no
contexto hospitalar. Dessa forma, a equipe possui os subsídios necessários para a formulação do diagnóstico,
os encaminhamentos para os profissionais responsáveis e a construção de intervenções terapêuticas (SCHMIDT;
BOLZE; CREPALDI, 2017). Como se sabe, o indivíduo que se submete a uma cirurgia bariátrica possui uma
perda de peso considerável, fato que acarreta em mudanças físicas e psicológicas. Para tanto, é necessário
avaliar:

(I) história de vida do candidato, com análise de características cognitivas e de personalidade, eventos
estressores ao longo da trajetória desenvolvimental, padrões comportamentais, hábitos de saúde, questões
acadêmico-laborais, relacionamentos interpessoais, suporte social, estrutura e dinâmica familiar; (II)
investigação sobre aspectos concernentes à obesidade, incluindo tentativas prévias de redução de peso,
comorbidades, casos de sobrepeso/obesidade na família, comportamento alimentar e significados atribuídos à
ingestão de alimentos, imagem corporal e autoestima, fantasias relacionadas ao emagrecimento, expectativas
quanto ao procedimento cirúrgico e às transformações em diferentes dimensões da vida no pós-operatório, afora
possibilidades de manter longitudinalmente modificações nos padrões alimentares e de prática de atividades
físicas; (III) sintomas psicopatológicos graves ou fatores de risco associados a transtornos mentais, tais quais
ansiedade, depressão, abuso de substâncias, além de distúrbios alimentares, como bulimia, anorexia e
compulsão
(SCHMIDT; BOLZE; CREPALDI, 2017, p. 465 apud Conselho Regional de Psicologia do Paraná
CRP/PR, s.d.; Flores, 2014; Lucena et al., 2012).
Sendo assim, é importante que o psicólogo saiba discutir os casos para construir tratamentos a partir de uma
perspectiva particular para seus pacientes, contando com a equipe multiprofissional, além de dominar os testes
psicológicos que deverão ser aplicados a cada indivíduo, avaliando se ele possui condições para realizar uma
cirurgia e se adaptar às transformações físicas e emocionais (SCHMIDT; BOLZE; CREPALDI, 2017).
3- Observação e entrevista psicológica

Observação realizada pelo psicólogo


Ao caminharmos pelas ruas das cidades, frequentar estabelecimentos comerciais ou visitar familiares,
observamos uma série de funcionamentos peculiares da própria metrópole, do local ou do contexto familiar. Não
obstante, também, é possível observar vestimentas, gestos, comportamentos e expressões das pessoas que nos
fornecem informações se aquele indivíduo pode ser de confiança, honesto, entre outras características.

Partindo do estudo realizado por Nunes, Lourenço e Teixeira (2017) sobre avaliação psicológica, os autores
ressaltam quatro dimensões do processo de observação feita pelo psicólogo. O primeiro deles se refere à
possibilidade de testar uma teoria, isto é, observa-se como o indivíduo se comporta em situações distintas. O
segundo está relacionado com a observação experimental ou naturalista, ou seja, a observação de uma
situação em que o observador pode controlar, denominados de grupos de controle. Como exemplo de grupos de
controle, pode-se ressaltar aqueles indivíduos que são medicados e outros que recebem o placebo. Assim, é
possível observar quais os efeitos do medicamento nos indivíduos que pertencem a grupos distintos.

A terceira dimensão elencada pelos autores em relação à observação é conhecida por estruturada e não
estruturada. Para o exercício do psicólogo, a observação estruturada deve conter uma lista de tópicos dos
quais se deve atentar para colher informações do paciente. A não estruturada parte do princípio de que o
psicólogo marcará o primeiro encontro e observará o comportamento do indivíduo a partir do qual ele se
apresenta. Por fim, destaca-se a observação participante, que pressupõe uma relação entre o observador e o
observado em que o psicólogo pode angariar percepções de como a criança se relaciona com o outro, por
exemplo. Além disso, ressalta-se a observação não participante, em que o psicólogo pode observar o
comportamento de uma criança no recreio para colher dados para a avaliação psicológica (NUNES;
LOURENÇO; TEIXEIRA, 2017).

No entanto, cabe ressaltar que nem todas essas dimensões são passíveis da atuação do profissional, uma vez que
a quebra do vínculo ou confiança pode ocorrer a partir da invasão da privacidade da criança ou até mesmo do
adulto. Nesse sentido, cabe ao psicólogo se atentar para o exercício ético da profissão e estudar qual a
observação que mais se adéqua ao caso.

Entrevista psicológica
A entrevista psicológica, além de fornecer dados suficientes para as indagações realizadas pelo psicólogo, pode
oferecer subsídios para a observação dos pensamentos, sentimentos, emoções, comportamentos, intenções e
comunicação não verbal do paciente ou candidato. Nesse sentido, acredita-se que a observação pode ser
realizada juntamente com a entrevista com o propósito de não apossar de determinados espaços frequentados
pelo indivíduo. A observação nos mais diversos contextos pode significar uma invasão da intimidade da pessoa.
Um primeiro aspecto importante de ressaltar é que a entrevista estruturada é baseada em um roteiro fechado,
como no caso da anamnese, em que as perguntas são direcionadas para que o paciente responda de forma clara
e precisa. Por outro lado, o psicólogo pode construir um roteiro de entrevista semiestruturada. Isto quer dizer
que se tem um roteiro de perguntas que podem ser flexibilizadas a partir do relato do candidato ou paciente,
além de poder modificar a ordem das questões (NUNES; LOURENÇO; TEIXEIRA, 2017).

Para tanto, é necessário o domínio dessas questões por parte do psicólogo e a clareza do objetivo a ser alcançado
com esse instrumento. Nesse sentido, é importante investigar as crenças, opiniões, intenções, comportamentos
passados e atuais, sem induzir qualquer tipo de resposta. Além do mais, a condução da entrevista deve ser
realizada de maneira acolhedora. Se, em alguns momentos, for preciso utilizar o gravador, é necessário o
consentimento prévio do entrevistado com a assinatura de um documento.

FIQUE DE OLHO: Para saber mais sobre entrevista psicológica, sugere-se a leitura do artigo “Instrumentos de
avaliação psicológica: uso e parecer dos psicólogos” escrito por Sandra Padilha, Ana Paula Porto Noronha e
Clarissa Zanchet Fagan. Os dados completos da referência e para acesso, você encontra nas referências
bibliográficas no final desta disciplina.

4-Testes psicológicos e outros instrumentos de avaliação psicológica

Testes psicológicos
Apresentar os testes psicológicos no contexto da avaliação psicológica não é uma tarefa fácil, principalmente,
pelo fato de que esses instrumentos são caros para a aquisição de psicólogos recém-formados e, em segundo,
existe pouco investimento nessa área de pesquisa no Brasil. Consequentemente, os psicólogos passam a ter
conhecimento de um número ínfimo de testes psicológicos e a capacitação para o uso de tais instrumentos nem
sempre abrange o público de maneira satisfatória.

É um teste projetivo que consiste em apresentar


ao indivíduo dez figuras, ilustrando manchas de
Rorschach tinta. A partir das percepções, é possível
descrever as suas características de
personalidade
É um teste projetivo e consiste em solicitar à
criança ou adolescente o desenho de uma figura
Desenho da
humana. A partir da sua ilustração, é possível
figura humana
identificar algumas características da
personalidade.

É um teste projetivo e consiste em solicitar ao


candidato a continuação dos traços através de
desenhos. A partir do ilustrado, é possível
Wartegg
identificar características da personalidade,
assim como a relação que estabelece consigo
mesmo e com os outros.

É um teste utilizado para avaliar o funcionamento


visomotor (coordenação entre olho e mão),
Bender infantil
objetivando identificar alguns danos cerebrais e o
grau de maturação do sistema nervoso.

Escala de
É um teste utilizado para avaliar a capacidade
Inteligência
intelectual e o processo de resolução de
Wesch Crianças
problemas pelas crianças.
(WISC)
É um teste projetivo e consiste em apresentar
Teste de
figuras ao indivíduo para que ele relate histórias.
Apercepção
Assim, é possível identificar algumas
Temática (TAT)
características da personalidade.

É um teste utilizado pelas organizações ou


Teste de
empresas para recrutar candidatos a vagas. Ele
Inteligência Não
possibilita identificar as qualidades,
Verbal G36
conhecimentos e habilidades dos indivíduos.

Os estudos de Noronha et al (2005, p. 392) apontam que os seguintes testes psicológicos são os mais conhecidos
pelos estudantes de psicologia, porém eles nem sempre se sentem qualificados o suficiente para utilizá-los:

Aqui, é importante ressaltar que os testes utilizados para avaliação psicológica devem seguir os critérios
psicométricos regulamentados pelo Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos – SATEPSI. O uso de testes
considerados como desfavoráveis pela comissão é passível de penalidades éticas.

Jogos e desenhos
Os jogos e os desenhos são instrumentos de avaliação psicológica utilizados para colher informações sobre a
criança. Obviamente, elas não conseguem se adaptar às entrevistas abertas, estruturadas ou semiestruturadas,
muito menos submeter a testes que dependem de uma capacidade de raciocínio que não condiz com o
desenvolvimento adequado da criança. Por isso, os jogos passaram a ser instrumentos imprescindíveis para
estabelecer um vínculo com a criança, a fim de que ela possa se sentir confortável para falar da sua maneira
sobre os conflitos familiares, preocupações e aflições. Além disso, o psicólogo observará o comportamento
da criança, as habilidades psicomotoras, a construção das histórias e os vínculos estabelecidos com o
propósito de identificar se a criança possui alguma psicopatologia.
Unknown type: pending pending
Além disso, os desenhos também são instrumentos importantes para a avaliação psicológica, uma vez que se
observa a coordenação motora, assim como os aspectos relativos à família, escola e o contexto
socioeconômico e cultural. Porém, vale ressaltar que para avaliação psicológica infantil, é necessário realizar
entrevistas com os pais ou responsáveis, familiares que acompanham a criança e, caso preciso, com os
professores da escola ou de outras atividades com a finalidade de colher informações sobre a relação que a
criança estabelece consigo mesma, bem como com as demais. A partir do diagnóstico, é importante preparar
uma devolução aos pais com os possíveis encaminhamentos, caso seja necessário. Por exemplo, uma avaliação
neurológica ou psiquiátrica, um acompanhamento escolar ou psicopedagógico.
5- Questionário e inventário

Questionário
Para muitos, elaborar um questionário é uma tarefa fácil, uma vez que não se tem a mínima ideia de como as
perguntas podem ressoar na subjetividade de cada sujeito ou na indução de respostas. Para tanto, grupos de
trabalho, conhecidos por GT, são formados para discutir a escrita, a organização dos questionamentos, a
condução do psicólogo, bem como a sua abordagem e as formas de coletar os dados. Esse processo pode durar
dias ou até semanas e, muitas vezes, é realizado por uma equipe de profissionais qualificados.

Para tanto, é necessário saber o que se deseja investigar com a avaliação psicológica, qual o objetivo e,
inclusive, identificar a faixa etária, gênero, estado civil, entre outros, para facilitar o vínculo e a abertura do
indivíduo a responder os questionamentos. Sabe-se que os questionários são passíveis de manipulação por parte
dos indivíduos, uma vez que se sentem envergonhados em relatar determinados aspectos em poucos encontros.
Para tanto, é necessário um bom manejo do psicólogo para facilitar esse processo de abertura por parte do
avaliado. Após a construção do questionário, é necessário fazer um teste com um grupo de voluntários para
verificar se realmente as perguntas são acessíveis ao bom entendimento do avaliado e se existe algum equívoco
por parte do instrumento. Assim sendo, o questionário pode ser transformado ao longo dos meses para
determinados segmentos dos quais desejamos obter informações. Cita-se, como exemplo, questionários
realizados na avaliação psicológica com policiais militares e com agentes penitenciários. Esse instrumento deve
ser adaptado em relação ao contexto e o perfil do trabalhador.
Inventário
Os inventários psicológicos são, comumente, utilizados pelas empresas para selecionar os candidatos de acordo
com o perfil do cargo. Nos dias atuais, as empresas utilizam o Inventário Fatorial de Personalidade (IFP) com o
intuito de fazer uma triagem antes da aplicação dos testes psicológicos, uma vez que necessitam de maiores
recursos financeiros para esses instrumentos. Assim, somente aqueles que podem ocupar o cargo acabam
passando por esse processo de testagem psicológica. Com isso, o inventário se torna uma ferramenta mais
acessível para aplicar a um número maior de candidatos. Os principais aspectos abordados no IFP são:
​assistência;

​dominância;

​ordem;

​denegação;

​intracepção;

​desempenho;

​exibição;

​afago;

​mudança;

​persistência;

​agressão;

​deferência;

​autonomia;

​afiliação;
Este inventário é reconhecido pelo Conselho Federal de Psicologia e identifica possíveis fatores
comportamentais que o candidato possa ter na condução do seu trabalho no interior da empresa.

UNIDADE 2:

1- Desenvolvimento histórico dos instrumentos de avaliação


Para que se compreenda a evolução da área da avaliação psicológica tanto no âmbito nacional quanto no
internacional, é importante revisitar as origens da psicologia como ciência. Este tópico irá tratar do
desenvolvimento dos estudos sobre os primeiros testes psicológicos, que foram a base para a consolidação
da avaliação psicológica como importante área da psicologia.

A noção de avaliar os fenômenos psicológicos remonta à própria história da psicologia moderna, com o
médico e cientista que foi considerado o pai da psicologia, Willhelm Wundt (1832-1920). Ele criou o
primeiro laboratório de estudos experimentais em psicologia na Alemanha e chamou a atenção de diversos
pesquisadores, que foram estudar com ele e fundaram seus próprios laboratórios posteriormente. Wundt se
utilizava de métodos experimentais no laboratório para estudar funções mentais simples como a percepção
e a sensação, e seus discípulos usaram o conhecimento de métodos e técnicas aprendidos com ele para
fundar o que mais tarde se chamou de psicologia aplicada (SCHUTZ; SCHUTZ, 2014).
A seguir serão apresentados alguns estudiosos cujos trabalhos foram decisivos para o desenvolvimento dos
instrumentos de medida em psicologia.
Continued
Galton e as medidas sensoriais
Galton foi um biólogo inglês que se dedicou a estudar as aptidões humanas por meio de medidas sensoriais,
tomando como referência a capacidade do indivíduo em discriminar o tato e os sons. Ele elaborou uma
série de testes em seu laboratório e coletou dados de mais de 9.000 pessoas. Para ele, quanto mais
inteligente fosse um indivíduo, mais alto seria o seu nível de funcionamento sensorial (SCHUTZ;
SCHUTZ, 2014).

Galton tinha como objetivo incentivar o nascimento de indivíduos mais aptos na sociedade e desestimular o
nascimento dos inaptos, sendo ele o responsável por cunhar a palavra “eugenia”, que advém do termo
grego Eugenes e significa ser de boa estirpe, dotado de qualidades hereditárias nobres (SCHUTZ;
SCHUTZ, 2014). Segundo Pasquali (2001), a grande contribuição de Galton para o desenvolvimento de
medidas psicológicas foi a criação de testes de discriminação sensorial, a criação de escalas e inventários
de atitudes, e o desenvolvimento e a simplificação de métodos estatísticos para os dados que coletava.
Continued
Cattell e os testes mentais
James Cattell foi um psicólogo americano, o primeiro a empregar a expressão teste mental, administrando
vários deles a seus alunos quando era professor na Universidade da Pensylvania. Cattell seguiu as ideias
de Galton ao elaborar testes para medir a habilidade motora, tempo de reação e capacidades sensoriais, ou
seja, tarefas mais elementares e menos complexas do que aquelas que hoje são avaliadas pelos testes
psicológicos. Seu interesse era no estudo das diferenças individuais (SCHUTZ; SCHUTZ, 2014).

Deve-se a Cattell também o início do ensino da análise estatística para os resultados dos estudos
experimentais. O uso de técnicas estatísticas permitiu que grupos maiores de pessoas fossem estudados,
em busca das características comuns a determinados grupos, em vez de avaliações individuais (SCHUTZ;
SCHUTZ, 2014). Embora Cattell tenha sido o precursor do teste mental, o movimento dos testes
psicológicos começou com outros pesquisadores. No início do século XX, houve um grande
desenvolvimento teórico e prático no campo da inteligência, como será apresentado a seguir.
Continued
Binet e o teste de inteligência
Alfred Binet (1857-1911) foi um psicólogo francês, autodidata, que introduziu de forma efetiva a medição
das habilidades cognitivas humanas, marcando o início dos testes de inteligência. Para ele, as diferenças
entre os indivíduos são consequência de funções mentais mais complexas, como a memória, atenção,
compreensão ou apreciação estética, e nesse sentido, afastou-se de seus antecessores ao defender a
avaliação de processos mentais superiores, contrariamente às funções sensório-motoras (ALMEIDA,
2002). Binet introduziu sua escala de inteligência em 1905, para ajudar a identificar crianças no sistema
escolar de Paris que poderiam ter dificuldades com a educação formal. Ele identificou as tarefas
intelectuais das crianças em diversas faixas etárias e desenvolveu um teste de inteligência composto por
30 problemas em nível crescente de dificuldade (SCHUTZ; SCHUTZ, 2014).

Mais tarde, em 1916, Lewis Terman desenvolveu uma nova versão do teste e lhe deu o nome de Escala
StanfordBinet, passando a adotar, a partir daí, o conceito de quociente de inteligência (QI), definido
com a proporção entre a idade mental (a idade que em média uma criança é capaz de realizar tarefas
específicas) e a cronológica. A Escala de Inteligência Stanford-Binet foi o padrão ouro para a medição da
inteligência por décadas, e o QI considerado uma medida global do potencial cognitivo de um indivíduo,
integrando em um único escore um conjunto heterogêneo de funções cognitivas (ALMEIDA, 2002).
Primeira Guerra Mundial e o avanço da testagem
Com o advento da Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos se viram diante do desafio de avaliar o
nível de inteligência de um grande número de recrutas, classificando-os e direcionando-os para atividades
mais adequadas. Inúmeros testes de avaliação da inteligência para aplicação em grupo passaram a ser
desenvolvidos por psicólogos, que também se voltaram para o desenvolvimento de testes para a avaliação
de características de personalidade. O uso dos testes psicológicos teve enorme aceitação nos Estados
Unidos em diversos segmentos da sociedade, principalmente no sistema educacional, que passou a adotar
o conceito de QI como parâmetro principal para determinar a colocação do aluno e seu desenvolvimento
(SCHUTZ; SCHUTZ, 2014).

Muitos testes começaram a ser criados nesse período, entretanto, alguns eram mal elaborados e sem as
evidências científicas necessárias. Assim, os testes que foram importantes no estabelecimento da
psicologia como ciência, começaram a ter sua validade questionada pela falta de comprovação de sua
eficácia, além de serem utilizados como única fonte de informação para a realização de diagnósticos
(BUENO & PEIXOTO, 2018). Esses questionamentos acabaram por recair sobre a capacidade da
psicologia como ciência em dar respostas válidas para a sociedade.
Continued
Avanços na análise estatística e a sistematização dos testes
Enquanto Binet desenvolvia o seu teste de inteligência, Charles Spearman, na Inglaterra, vinha ampliando o
uso dos métodos de correlação propostos por Galton. Foi Spearman quem elaborou as bases conceituais
para a análise fatorial, uma técnica utilizada para reduzir um grande número de variáveis a um conjunto
menor de fatores, e que se tornaria central para o avanço da testagem e da teoria dos traços (URBINA,
2006).
Spearman, um psicólogo britânico, foi pioneiro na aplicação da análise fatorial, uma técnica estatística que busca identificar padrões em grandes conjuntos de dados, para entender a estrutura da inteligência. Essa
análise tem como objetivo reduzir um grande número de variáveis a um número menor de fatores subjacentes, facilitando a interpretação dos dados. Sua contribuição foi crucial para o avanço de áreas como a testagem
psicológica e a teoria dos traços, que lidam com características de personalidade e habilidades cognitivas.

Em 1927, Spearman desenvolveu sua teoria sobre a inteligência, fundamentada nos resultados obtidos por meio da análise estatística de testes de desempenho cognitivo. A principal ideia dessa teoria é a existência de
dois tipos de fatores que influenciam o desempenho em tarefas intelectuais: O
con
ceit
Fatores específicos: Além do fator geral, Spearman identificou que cada teste também mede fatores específicos, ou seja, habilidades ou conhecimentos que são únicos a esse tipo particular de tarefa e que não podem
ser generalizados para outros testes. Esses fatores são relacionados ao conteúdo ou à natureza do teste em questão. Por exemplo, uma pessoa pode ter um alto desempenho em um teste de matemática, mas esseo
resultado não necessariamente prediz seu desempenho em um teste verbal. Os fatores específicos, ao contrário do fator geral, são mais dependentes de processos de aprendizagem e treino, o que significa que podem de
Em 1927, Spearman desenvolveu a primeira teoria de inteligência com base em análise estatística de
ser desenvolvidos ao longo do tempo com a prática e a experiência. fator

gera
resultados. Para ele, a inteligência poderia ser definida como um fator geral (fator “g”), sendo esse o l,
ou
fator
conjunto de todos os testes, mas ao mesmo tempo como um fator específico a cada teste, o qual não "
g",
éa
poderia ser generalizado para todos os testes. Tais fatores teriam origem distinta, sendo o fator geral idei
a
cent
dependente de uma energia mental biológica e inata, e os fatores específicos dependentes da ral
da
teori

aprendizagem, ou seja, poderiam ser treinados (ALMEIDA, 2002; YATES et al., 2006). a
de
inteli
gên
cia
de
Spe
arm
an.
Ele
A partir dos trabalhos de Spearman sobre o fator geral de inteligência e o conceito de correlação estatística, acre
dita
va
foi desenvolvida a Teoria clássica dos testes, que apresentava as duas principais propriedades que,
por
trás
psicométricas dos instrumentos: a validade e a confiabilidade. No tópico sobre a fundamentação científica de
toda
s
dos testes psicológicos, esses e outros conceitos serão abordados com mais detalhes. as
habi
lida
des
cog
nitiv
as
(co
mo
A partir de 1930, os testes tiveram um crescimento importante nos Estados Unidos. As escalas de reso
lver
prob
inteligência Wechsler-Bellevue foram desenvolvidas no período em que o país entrou na Segunda Guerra lem
as
de
Mundial, utilizando análises estatísticas mais sofisticadas. As principais contribuições das escalas mat
emá
tica,
Wechsler incluíram muitas inovações técnicas (como escores de desvio-padrão) e a combinação de testes inter
pret

verbais e de execução em uma única escala (PADE, 2016). Posteriormente, as escalas Wechsler ar
text
os
ou
continuaram a ser testadas e aprimoradas, com a WISC - Wechsler Intelligence Scale for Children (1949), ente
nder

a WAIS - Wechsler Adult Intelligence Scale (1955) e a WPPSI - Wechsler Preschool and Primary Scale of con
ceit
os
Intelligence (1967) (ALMEIDA, 2002). As escalas Weschler ainda são amplamente utilizadas nos dias de abst
rato
s),
hoje, com a continuidade dos estudos de aprimoramento das propriedades originais do instrumento. exist
e
uma

cap
acid
ade
men
tal
gera
l
que
afet
ao
des
emp
enh
o
Em 1931, Thurstone afirmou que o desempenho intelectual dos indivíduos era explicado por habilidades
mentais primárias independentes entre si, em um conjunto de sete fatores: compreensão verbal, fluência
verbal, aptidão numérica, aptidão espacial, raciocínio, velocidade perceptiva e memória. A partir de sua
teoria, diversas baterias para avaliação de aptidões intelectuais foram elaboradas, como a Differential
Aptitudes Tests (DAT) e General Aptitude Test Battery (GATB) (ALMEIDA, 2002). Credita-se a
Thurstone a criação da análise fatorial múltipla, o que deu a base inicial para a psicometria, a teoria e a
técnica de medida dos processos mentais, segundo Pasquali (2009).
FIQUE DE OLHO: A psicometria, segundo Pasquali (2009), é um conjunto de técnicas utilizadas para
mensurar, de forma adequada e experimentalmente comprovada, um conjunto ou uma gama de
comportamentos que se deseja conhecer melhor. A psicometria auxilia o pesquisador a verificar se o teste
de fato mede o que se propõe a medir; além de demonstrar se a operacionalização do construto em itens de
fato corresponde a esse construto.
Não serão abordados em profundidade todos esses conceitos que dizem respeito às operações estatísticas. É
importante, no entanto, compreender que a evolução e o refinamento dos instrumentos de avaliação
psicológica se deram graças ao desenvolvimento de técnicas estatísticas e tecnológicas, úteis para a
validação das propriedades psicométricas dos testes e para a qualidade das análises de resultados. A partir
de agora, acredita-se que seja possível ampliar a perspectiva e conhecer o desenvolvimento tanto da área
de avaliação psicológica quanto dos seus instrumentos no Brasil e no mundo.

2- Desenvolvimento da avaliação e seus instrumentos no Brasil e no mundo

Conforme foi abordado, o uso de medidas para avaliar fenômenos e processos mentais esteve presente
desde o início da psicologia como ciência. Com a evolução das técnicas estatísticas, foi possível que os
psicólogos avançassem qualitativamente em suas teorias, principalmente sobre os dois grandes constructos
da inteligência e da personalidade, desenvolvendo concomitantemente instrumentos de avaliação com
maior qualidade. Dessa forma, será abordado, na continuação da unidade, o panorama da área de avaliação
psicológica no mundo e, mais especificamente, no Brasil.
Continued
Panorama da avaliação psicológica no mundo
Além do desenvolvimento dos testes de inteligência, uma grande gama de testes de personalidade e
psicopatologia passou a ser construída a partir da década de 1920. Esse período de guerra mundial
contribuiu para o aumento dos testes que visavam avaliar o funcionamento psicológico e emocional das
pessoas, expandindo o alcance e o papel das avaliações psicológicas para o campo da saúde (PADE,
2016).
Na Suíça, em 1921, um psiquiatra chamado Hermann Rorschach publicou um teste que consistia em 10
manchas de tinta que deveriam ser apresentadas ao examinando para que ele as interpretasse. Essa foi a
primeira técnica projetiva formal, e possuía um método padronizado para obter e interpretar as reações aos
cartões de tinta, analisando de maneira sistemática as respostas únicas de cada sujeito e que representam a
sua forma de perceber o mundo (URBINA, 2006). Desde então, o Teste de Rorschach recebeu diversas
atualizações, sistema de escores, normas atualizadas e critérios para a interpretação dos resultados.

Outro conhecido teste projetivo, o TAT – Teste de Apercepção Temática – foi introduzido em 1930 (PADE,
2016). As técnicas projetivas são até hoje utilizadas para acessar aspectos da personalidade dos
examinandos, que de outra forma ficariam encobertos. Por ter um sistema de interpretação mais
qualitativo e menos numérico, as técnicas projetivas são controversas no que diz respeito à sua validade,
embora seu uso seja significativo por psicólogos (URBINA, 2006). Inventários de personalidade também
tiveram grande desenvolvimento durante a década de 1940, com muitos refinamentos e perspectivas
teóricas diferentes na construção dos instrumentos. A análise fatorial foi crucial para o desenvolvimento
desses instrumentos, como o de Cattell, que utilizou a técnica para identificar os traços de personalidade
mais essenciais (URBINA, 2006). O conhecido teste MMPI - Minnesota Multiphasic Personality
Inventory – é até hoje amplamente utilizado e foi criado em 1940 com o objetivo de avaliar pacientes
adultos durante a rotina de cuidados psiquiátricos, assim como determinar a gravidade dos sintomas e dar
uma estimativa de mudanças (PADE, 2016).

Todo o conhecimento produzido nesse período promoveu a confiança necessária para que mais psicólogos e
pesquisadores trabalhassem no desenvolvimento de escalas e testes. Os governos dos países a nível
internacional, assim como as pessoas interessadas nos serviços clínicos e institucionais, começaram a
demandar que programas de graduação treinassem os psicólogos para desenvolver testes e novas
tecnologias para uso em avaliação em diferentes contextos. A habilidade dos testes em descrever o
comportamento de maneira precisa foi reconhecida, auxiliando a tomada de decisões em vários âmbitos
sociais.
Desenvolvimento da área de avaliação psicológica no Brasil
É notável que, no Brasil, os primeiros esforços para o desenvolvimento da área de avaliação psicológica
tenham ocorrido na primeira metade do século XX. Em 1924, por exemplo, houve a publicação do
primeiro livro brasileiro sobre testes psicológicos por Medeiros e Albuquerque, bem como a adaptação do
teste de inteligência de Simon-Binet, na Bahia, nesse mesmo ano. Além disso, contabiliza-se a
inauguração de centros de pesquisas como o Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP) e o
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Tais fatos surpreendem por terem ocorrido em um
momento em que a psicologia ainda era incipiente no país, revelando, contudo, ações que denotavam
interesse e expectativas de desenvolvimento da área de avaliação psicológica no país (NORONHA e
REPPOLD, 2010).

Segundo Pasquali e Alchieri (2001), houve um grande entusiasmo pela área de avaliação psicológica no
Brasil no período que coincidiu com o funcionalismo americano pós-guerra, porém o declínio começou a
ocorrer entre as décadas de 1960 e 1970, devido em especial à falta de qualificação dos professores
universitários sobre esse tema em cursos de psicologia no país, somado à baixa produção científica na
área. Assim, o desenvolvimento da avaliação psicológica no país ficou estagnado por quase três décadas.

A criação de centros e laboratórios de pesquisa em avaliação psicológica ligados a programas de


pós-graduação em universidades, a partir da década de 1980, bem como a publicação de uma revista
científica especializada sobre o tema, suscitou novo interesse na área, elevando gradualmente a
qualificação de docentes e pesquisadores. Nesse sentido, houve o reforço também do Conselho Federal de
Psicologia, com a Resolução nº 25 /01 de 2001, que definiu e regulamentou o uso, a elaboração e a
comercialização de testes psicológicos, aprimorando os procedimentos de avaliação psicológica. Essa
resolução foi reformulada em 2003 e, depois disso, recebeu diversas atualizações, sendo a mais recente de
agosto de 2018, estando em consonância com os avanços na área da avaliação psicológica nas últimas
décadas (PADILHA, NORONHA e FAGAN, 2007).

Vale ressaltar, ainda, que a criação de duas sociedades científicas representativas da área de avaliação
psicológica, promovendo eventos dedicados ao debate sobre os caminhos da avaliação psicológica no país,
contribuiu imensamente para o seu avanço. São elas a Associação Brasileira de Rorschach e Métodos
Projetivos (ASBR), fundada em 1993, e o Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (IBAP), fundado
em 1997.
3-Fundamentação científica dos instrumentos de avaliação psicológica
Como já foi exposto anteriormente, a psicometria diz respeito a um conjunto de técnicas utilizadas para
mensurar, de forma adequada e experimentalmente comprovada, uma gama de comportamentos que se
deseja conhecer melhor. Essas técnicas, em última instância, auxiliam o pesquisador a verificar se o teste
de fato mede o construto que se propõe a medir, como afirmou Pasquali (2009). De maneira geral, a
psicometria tem como objetivo explicar o sentido que têm as respostas dadas pelos sujeitos a uma série de
tarefas de um teste, o que é chamado de itens. A fundamentação científica na construção de um teste é,
portanto, crucial em diversas etapas de seu desenvolvimento, de maneira que vários cuidados devem ser
tomados pelo pesquisador para que o teste, ao final, apresente bons critérios de validade.

A primeira etapa para a elaboração e o desenvolvimento de um teste psicológico deve ser a definição
operacional de um construto. Um construto pode ser um processo psicológico – depressão, ansiedade,
motivação, autoeficácia, resiliência, entre outros – ou uma característica dos indivíduos. Para isso, é
fundamental que o pesquisador empreenda uma revisão bibliográfica extensa da literatura sobre o
construto que deseja medir, a partir da qual ele vai fazer suas escolhas teóricas. Por exemplo, um construto
amplo como o estresse apresenta diversas vertentes teóricas que explicam e conceituam suas fases, por
isso, é importante que o pesquisador tenha em mente qual a teoria de base que vai seguir para a elaboração
e o desenvolvimento dos itens do seu instrumento.

Depois de elaborada a versão inicial do instrumento, com a construção dos itens que o compõem, o mesmo
deverá ser avaliado por um grupo de especialistas na área de avaliação do teste. Por exemplo, um teste
neuropsicológico deve ter a sua primeira versão avaliada por profissionais especialistas em
Neuropsicologia. Após a análise e sugestões dos especialistas, o instrumento poderá ser modificado e
aprimorado até chegar à versão que irá ser testada em uma amostra de sujeitos, a população-alvo.

De acordo com as considerações do Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos – Satepsi, contidas na


Resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP) nº 009, de 25 de abril de 2018, os principais
parâmetros psicométricos para a construção de testes psicológicos são: (1) evidências de precisão /
fidedignidade; (2) evidências de validade; e (3) sistema de correção e interpretação dos escores. A seguir,
será feita uma explanação sobre cada um desses parâmetros.
Evidências de precisão / fidedignidade
Um teste psicológico é sempre um esforço de unir em um instrumento um conjunto de comportamentos
observados a respeito de um determinado construto. Entretanto, essa elaboração pode sofrer influência de
erros, chamados de erro de medida. Segundo Andrade e Valentini (2018), quanto maior for o erro de
medida, menor será a precisão dos escores do teste. Assim, logicamente, a utilização de instrumentos
cujos escores são pouco precisos pode acarretar em maior chance de erros de diagnóstico.

Algumas fontes de erros que podem afetar os escores de um indivíduo na realização de um teste são as
condições de testagem do examinando, o formato do próprio instrumento e as diferenças entre avaliadores.
Por exemplo, se um indivíduo responde a um teste psicológico sob alguma circunstância de estresse
pessoal, isso pode alterar o seu padrão de resposta. Condições da testagem, como a estrutura do local onde
se aplica o teste (condições de luminosidade, mobiliário e temperatura), assim como as diferenças
subjetivas entre os avaliadores (características pessoais, maior rigidez ou flexibilidade na aplicação), são
outros elementos que podem acarretar em imprecisão na estimação dos escores (ANDRADE;
VALENTINI, 2018).

Tais flutuações podem ser medidas por um procedimento chamado teste-reteste. O teste-reteste consiste na
seleção de uma amostra de sujeitos para que o mesmo teste seja aplicado em dois ou mais momentos
distintos, respeitando um intervalo de tempo suficiente para que não haja efeitos de memória. O
teste-reteste é útil para construtos que não sofrem variação em intervalos de tempo, como por exemplo, a
personalidade ou a inteligência. Para construtos que podem sofrer variações ao longo do tempo, como o
estado de ansiedade ou nível de estresse, o teste-reteste pode se tornar ineficiente (ANDRADE e
VALENTINI, 2018).

O formato do teste é outra fonte potencial de erros, tanto na forma como no conteúdo dos seus itens. É
esperado que os itens de um teste sejam o mais consistente entre si e reflitam de fato os aspectos
psicológicos do indivíduo, produzindo resultados precisos. O nível de consistência interna é um
coeficiente que mede a precisão dos itens de um teste: valores próximos de um significam maior precisão
do instrumento. Segundo a Resolução do CFP (009/2018), a avaliação dos indicadores de precisão varia
ente C (insuficiente) e A+ (Excelente), sendo um teste considerado excelente quando apresenta dois ou
mais estudos com indicadores superiores a 0,80.
Entretanto, para ser considerado aprovado, um teste precisa ter indicadores de precisão acima de 0,60. Cabe
ao profissional psicólogo verificar os indicadores de precisão de um instrumento e selecioná-lo de acordo
com o grau de importância daquele resultado no contexto de sua avaliação (ANDRADE e VALENTINI,
2018).

Evidências de validade
De acordo com o Standards for Educational and Psychological Testing, a busca por evidências de validade
dos testes psicológicos é condição fundamental para o seu desenvolvimento e avaliação (AERA et al.,
2014). Como já foi dito anteriormente, entende-se por validade a capacidade de um instrumento medir
aquilo a que se propõe a medir.

Atualmente, pode-se afirmar que existem cinco fontes de evidências de validade dos testes, segundo a
última versão do Standards for Educational and Psychological Testing (AERA, 2014):

Relaciona o conteúdo dos itens do


Evidências baseadas no
teste e o construto que pretende
conteúdo do teste
medir.

Procura pistas dos processos


Evidências baseadas no cognitivos necessários para que o
processo de resposta examinando responda um
determinado item.

Busca o grau de adequação da


Evidências baseadas na
relação entre itens do teste e o seu
estrutura interna
fator (variável-latente).
Investiga relações com outras
variáveis, com outros testes que
Evidências baseadas na relação supostamente meçam o mesmo
com outras variáveis construto ou construtos
relacionados, e com variáveis que
meçam construtos diferentes.

Relaciona o teste às consequências


Evidências baseadas nas
de suas utilizações que podem ser
consequências da testagem
tanto desejadas quanto indesejadas.

FIQUE DE OLHO: O conhecimento sobre evidências de validade de um teste está em constante


atualização. Para considerar que um teste apresenta evidências de validade satisfatórias, o mesmo deve ser
avaliado em inúmeros estudos e com populações diferentes. O artigo de Andrade e Valentini (2018) traz
em uma linguagem acessível as principais diretrizes utilizadas para a construção dos testes psicológicos no
Brasil, de acordo com a Resolução CFP nº 009/2018.
Sistema de correção e interpretação dos escores
O sistema de correção e interpretação dos escores é uma parte importante da utilização dos testes
psicológicos, portanto, deve ser criteriosa para que a análise dos resultados do examinando não fique
comprometida. De forma geral, a proposta de um bom sistema de correção é a transformação de escores
brutos em informações mais interpretáveis (ANDRADE e VALENTINI, 2018).

O sistema de correção que toma como referência a amostra normativa é chamado de sistema referenciado da
norma, e é o mais utilizado. Diz respeito à comparação dos escores brutos de um indivíduo com a
população da qual ele foi retirado. Por exemplo, em uma escala que mede autoestima em adolescentes, só
saberemos se o examinando tem uma autoestima acima ou abaixo da média se tomar como referência o
escore médio de autoestima nessa população.

4-Conceito de teste psicológico


Teste psicológico
O teste psicológico, segundo Urbina (2006, p. 11-12), “é um procedimento sistemático para a obtenção de
amostras de comportamento relevantes para o funcionamento cognitivo ou afetivo e para a avaliação
destas amostras de acordo com certos padrões”.

De acordo com a definição de Hutz (2015, p.12), o teste psicológico é “um instrumento que avalia (mede ou
faz uma estimativa) construtos (também chamados de variáveis latentes) que não podem ser observados
diretamente”. Alguns exemplos de construtos na psicologia são altruísmo, inteligência, otimismo,
ansiedade, entre outros.

Os testes psicológicos, portanto, são ferramentas que auxiliam o psicólogo a obter informações de forma
precisa e sistematizada, para fazer inferências sobre determinada característica ou comportamento de uma
pessoa. Para que seja uma ferramenta eficaz, o teste psicológico deve ser usado de maneira hábil e
apropriada pelo psicólogo, que deve estar preparado tanto técnica quanto teoricamente para a sua
aplicação e interpretação. O psicólogo despreparado, ao fazer uso dos testes, pode produzir informações
irrelevantes, anular resultados com interpretações equivocadas, e até mesmo prejudicar pessoas,
rotulando-as ou negando-lhes oportunidades (URBINA, 2006).

Todos os testes psicológicos necessitam de padronização, caso contrário, seus resultados não terão validade
científica. A padronização dos testes se refere primeiramente à forma de administração do mesmo, assim
como aos procedimentos necessários para a sua avaliação e interpretação de resultados. Uma segunda
forma de padronização dos testes diz respeito às suas normas, ou seja, à compilação dos resultados de um
grupo de indivíduos no processo de desenvolvimento do teste. O desempenho coletivo dessa amostra
normativa passa a ser o padrão de referência para outros indivíduos que responderem ao teste depois de
sua padronização (URBINA, 2006).
Todas as informações sobre a aplicação e a padronização dos testes estão contidas no seu manual, assim
como as tabelas da amostra normativa (que é a população que foi usada como referência para as futuras
aplicações), que são geralmente divididas por faixa etária e, às vezes, por sexo. Isso porque, a depender do
construto que está sendo avaliado, o desempenho do indivíduo pode mudar de acordo com a sua faixa
etária (HUTZ, 2015).
Usos atuais dos testes psicológicos
Atualmente, os testes psicológicos são mais sofisticados e embasados metodologicamente, e sua aplicação
destina-se a uma variedade de contextos e situações nas áreas: escolar, clínica, ocupacional, hospitalar,
esportiva, entre muitas outras. Segundo Urbina (2006), o uso dos testes pode ser dividido em três
categorias:
Outra utilização importante dos testes psicológicos está relacionada à avaliação da eficácia de um programa
de intervenção. Por exemplo, medir as habilidades sociais de adolescentes com um teste específico antes e
após um programa de intervenção para ampliar o repertório de habilidades sociais com duração de oito
semanas (HUTZ, 2015).

Quando é necessário utilizar


critérios para selecionar, alocar,
classificar, diagnosticar, e
conduzir processos com
indivíduos, grupos ou
organizações. Os testes em caso de
ara a tomada de decisões tomada de decisões devem ser
utilizados dentro de uma estratégia
mais detalhada e minuciosa, que
leve em conta o contexto particular
de cada avaliação, para que não
seja a única ferramenta disponível
para a busca de informações.
Testes são muito empregados em
diversos campos de pesquisa em
psicologia, sendo muitas vezes
desenvolvidos em trabalhos de
Em pesquisas psicológicas
dissertação e tese. São úteis para
coletar dados sobre traços afetivos,
cognitivos e comportamentais de
diferentes populações.

Esta forma de uso acontece com


mais frequência em psicoterapia e
aconselhamento, de forma
Para autoconhecimento e
individualizada, para que o
desenvolvimento pessoal
paciente/cliente tenha acesso a
informações que promovam o seu
crescimento pessoal.

Quanto à sua classificação, alguns documentos de diretrizes internacionais apresentam definições diferentes
para os testes. Segundo os Standards for Educational and Psychological Testing (AERA et al., 2014), por
exemplo, são seis categorias de testes psicológicos: (I) cognitivos e neuropsicológicos; (II) família e casal;
(III) problemas comportamentais; (IV) comportamento social e adaptativo; (V) personalidade; e (VI)
vocacional. No Brasil, a Resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP) nº 009, de 25 de abril de
2018, a nomenclatura teste foi - 20 - utilizada para incluir escalas, inventários, questionários e métodos
projetivos/expressivos (ANDRADE; VALENTINI, 2018).
5- Testagem e avaliação psicológica

Testagem psicológica
O uso dos testes psicológicos é uma das ferramentas disponíveis ao psicólogo para realizar uma avaliação
psicológica. A testagem psicológica usada de maneira isolada vai produzir como resultado apenas a
interpretação de um determinado teste, segundo os escores do indivíduo. Porém, os resultados de um único
teste psicológico não são suficientes para que o psicólogo tome decisões, faça inferências ou aponte
diagnósticos a respeito de um indivíduo ou grupo.

Por esse motivo, é imprescindível que o uso da testagem seja sempre realizado dentro de uma situação
contextualizada, como parte de um processo de coleta de dados mais amplo, para que o psicólogo tenha
condições de responder a uma demanda inicial. Também é importante salientar que o psicólogo que realiza
uma avaliação psicológica, se assim decidir e com base em uma sustentação teórica adequada, não é
obrigado a fazer uso de testes psicológicos, visto que existem outras ferramentas de avaliação que ele pode
utilizar, como será visto a seguir.
Continued
Avaliação psicológica
De acordo com o Art. 1 da Resolução nº 009/2018 (CFP, 2018), a avaliação psicológica pode ser definida
como um processo estruturado de investigação de fenômenos psicológicos, composto de métodos, técnicas
e instrumentos, com o objetivo de fornecer informações para a tomada de decisão, no âmbito individual,
grupal ou institucional. Assim, de acordo com essa definição, é possível perceber que a avaliação
psicológica é composta por elementos que se complementam, sendo o uso dos instrumentos psicológicos
uma entre outras técnicas, como a entrevista e a observação.

A avaliação psicológica pode ser empregada em diferentes contextos e traz inúmeros benefícios à
sociedade, tendo um importante papel na tomada de decisões tanto a nível individual quanto institucional,
inclusive orientando ações em políticas públicas desenhadas no contexto macrossocial (ANDRADE e
VALENTINI, 2018). Por isso, a seriedade na elaboração de instrumentos, nas práticas de testagem e na
formação do profissional avaliador é de suma importância para o uso ético e eficaz dos resultados de uma
avaliação psicológica.
Principais diferenças entre testagem e avaliação psicológica
Urbina (2006) resume de forma bastante clara e didática as principais diferenças entre testagem e avaliação,
de acordo com aspectos inerentes a ambas as situações, conforme pode ser visualizado na tabela abaixo.

Referências Bibliográficas, unidade 2


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