Geografia Física Geral II

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1 - GENERALIDADES

1.1 - Conceitos

A Climatologia estuda os fenômenos atmosféricos do ponto de vista de suas


propriedades estatísticas (médias e variabilidade) para caracterizar o clima em
função da localização geográfica, estação do ano, hora do dia etc.

Na ciência da atmosfera, usualmente é feita uma distinção entre tempo e clima, e


entre Meteorologia e Climatologia.

O tempo - Entende-se como um conjunto de valores que num dado momento e num
certo lugar, caracteriza o estado atmosférico. Assim, o tempo é uma combinação
curta e momentânea dos elementos que formam o clima, ou seja, é um estado
particular e efêmero da atmosfera.

O Clima, É um estado médio dos elementos atmosféricos durante um período


relativamente longo, tempo este não inferior a 30/35 anos, sobre um ponto da
superfície terrestre”.

Enquanto TEMPO é o estado momentâneo da atmosfera em determinado lugar, o


CLIMA é a sucessão ou o conjunto de variações desses estados médios (podendo,
logicamente, ocorrer anomalias) e que vai caracterizar a atmosfera de um lugar.

O clima é que determina se uma região é ou não habitável e sua vegetação natural;
num prazo mais curto, é o tempo que condiciona a segurança dos meios de
transporte, a forma de lazer, a dispersão de poluentes o desenvolvimento da
atividade agricola.

Para se determinar e caracterizar o clima de uma área é necessária uma longa série
ininterrupta de observações diárias dos “tempos”, algumas vezes por dia e, estas
observações nunca podem ser realizadas num período inferior a 30/35 anos.

Meteorologia - (do grego meteoros, que significa elevado no ar, e logos, que
significa estudo) é a ciência que estuda a atmosfera terrestre. Seus aspectos mais
tradicionais e conhecidos são a previsão do tempo e a climatologia.

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A Meteorologia no seu sentido mais amplo é uma ciência extremamente vasta e
complexa, pois a atmosfera é muito extensa, variável e sede de um grande número
de fenômenos. Contudo, certas idéias e conceitos básicos estão presentes em
todas as áreas da meteorologia. Esses conceitos mais gerais são abordados em
disciplinas tradicionais da Meteorologia: a Meteorologia Física, a Meteorologia
Sinótica, a Meteorologia Dinâmica e a Climatologia.

Meteorologia Física - estuda os fenômenos atmosféricos relacionados


directamente com a Física e a Química:

 Processos termodinâmicos,
 Composição e estrutura da atmosfera,
 Propagação da radiação eletromagnética e ondas acústicas através da
atmosfera,
 Processos físicos envolvidos na formação de nuvens e precipitação,
 Eletricidade atmosférica,
 reações físico-químicas dos gases e partículas.

Dentro da Meteorologia Física tem-se desenvolvido o campo da aeronomia, que


trata exclusivamente com fenômenos na alta atmosfera.

Meteorologia Sinótica - está relacionada com a descrição, análise e previsão do


tempo. Na sua origem era baseada em métodos empíricos desenvolvidos, seguindo
a implantação das primeiras redes de estações que forneciam dados simultâneos
(isto é, sinóticos) do tempo sobre grandes áreas. Atualmente utiliza os
conhecimentos gerados nas diversas disciplinas da Meteorologia, em especial a
Meteorologia Dinâmica.

Meteorologia Dinâmica - também trata dos movimentos atmosféricos e sua


evolução temporal, mas, ao contrário da Meteorologia Sinótica, sua abordagem é
baseada nas leis da Mecânica dos Fluídos e da Termodinâmica Clássica. É a base
dos actuais modelos atmosféricos de previsão do tempo nos principais centros de
previsão dos países desenvolvidos. Sua principal ferramenta é o computador. Com
a crescente sofisticação dos métodos de análise e previsão do tempo a distinção
entre a Meteorologia Sinótica e Dinâmica está rapidamente diminuindo.

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O campo da climatologia é bastante amplo e pode-se fazer subdivisões, com base
na escala dos fenômenos atmosféricos que são ressaltados. De acordo com a
escala, têm-se as seguintes divisões:

1. Macroclimatologia – relacionada com os aspectos dos climas de amplas áreas


da Terra e com os movimentos atmosféricos em larga escala que afetam o clima;

2. Mesoclimatologia – preocupada com o estudo do clima em áreas relativamente


pequenas, entre 10 e 100 km de largura (por exemplo, o estudo do clima urbano e
dos sistemas climáticos locais severos tais como os tornados e os temporais);

3. Microclimatologia – preocupada com o estudo do clima próximo à superfície ou


de áreas muito pequenas, com menos de 100 metros de extensão.

No estudo da climatologia são considerados três métodos fundamentais:

Climatologia analítica; que se baseia na análise estatística das características que


são consideradas mais significativas. Nela se estabelecem os valores médios dos
elementos atmosféricos e a probabilidade de que certos valores extremos são aí
alcançados.

A climatologia sinóptico; Consiste na análise da configuração dos elementos


atmosféricos no espaço tridimensional em umas horas concretas e sua evolução.
Ela está destinada a descobrir leis empíricas e aumentar o conhecimento sobre a
atmosfera.

Climatologia dinâmica; Fornece uma visão dinâmica e de conjunto das


manifestações cambiantes que se registam na atmosfera como uma unidade física.
Constitui numa explicação matemática da atmosfera mediante as leis da mecânica
dos fluidos e a termodinâmica.

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1.2 - Objecto de estudo da meteorologia e climatologia

Os fenômenos que tem como teatro a atmosfera podem ser estudados sob muitos
pontos de vista. A condensação do vapor d’água, a chuva, a descarga elétrica, o
relâmpago são fenômenos físicos cujo estudo pertence ao ramo da física que se
denomina de meteorologia. Esta se preocupa com a medida desses fenômenos,
determina as condições físicas em que são produzidos, investiga a natureza das
relações que existem entre eles e os factores que os condicionam e tenta prever a
repetição dos mesmos. Aí está toda a tarefa da meteorologia sob seu duplo aspecto,
estático e dinâmico: definição qualitativa dos fenômenos, pesquisa das leis, previsão.
Quando estudamos as variações geográficas da lâmina de água precipitada na
superfície do solo, quando comparamos as diferenças de ritmo de oscilação térmica
de uma região para outra, quando caracterizamos a atmosfera de um lugar pela
combinação dos meteoros, quando investigamos a relação entre esses factos e
outros factos geográficos tais com o distribuição dos vegetais, animais ou homens,
nós trabalhamos imbuídos de outro espírito. Fazemos climatologia, geral ou
descritiva conforme o caso. É claro que o meteorologista por uma tendência natural,
chega a se preocupar com a repartição geral dos meteoros. Da mesma forma,
evidentemente, o climatólogo não pode dar um passo sem utilizar os resultados
gerais e particulares da meteorologia. Nas relações que estabelece entre as
variações da precipitação e a altitude, ele reencontra leis físicas. Porém, esses
reencontros necessários, indispensáveis, não devem mascarar a dualidade dos
pontos de vista.

Neste contexto, a Meteorologia se encarrega do estudo do tempo enquanto a


Climatologia tem o clima como objeto de estudo.

Meteorologistas e climatólogos podem fazer observações com os mesmos


instrumentos, sobre os mesmos fenômenos como a temperatura, por exemplo. Eles
elaboram séries registradas nos mesmos arquivos. Todavia, a apreciação da justeza
e sensibilidade dos aparelhos, a crítica matemática das séries, o estudo das
variações tendo em vista a previsão, tudo isso é essencialmente da alçada do
meteorologista.

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Ele é preparado para essa tarefa pois a sua formação é a do físico. Aos olhos do
climatólogo, a variação termométrica aparece primeiro como um elemento da
particularidade climática de um lugar ou de uma região.
Esta particularidade climática é, por sua vez, apenas um elemento das
características geográficas, as quais compreendem, ainda, a forma do terreno, as
águas, o mundo vivo. Ele tem constantemente presentes no espírito as relações da
interdependência entre esses elementos, relações que não se exprimem
absolutamente por fórmulas matemáticas. Se ele estiver, sobretudo, preocupado
com as relações do clima com os aspectos da vida, isto é, se ele é climatobiologista,
a formação do biologista lhe é indispensável.
Essas distinções são clássicas. Contudo, insistimos sobre elas porque, como diz
muito bem Morikofer, a climatologia atravessa um período de crise. A climatologia
clássica, à qual devemos obras magistrais, como a de Hann, foi, sobretudo, obra de
meteorologistas. Suas insuficiências se evidenciam claramente. As mesmas tiveram
consequências desagradáveis. Se a geografia botânica se desviou das
considerações ecológicas, a carência da climatologia não foi estranha a isso.
Agrônomos e médicos reclamam com insistência o retorno dessa disciplina a sua
verdadeira vocação. Essa orientação assume uma grande importância no momento
em que o progresso da navegação aérea coloca em primeiro plano a pesquisa da
previsão: o estudo da atmosfera não é objeto de uma disciplina única; as pretensões
do climatólogo são tão justificadas quanto as do meteorologista.

Foi dito mais acima que eles utilizam o mesmo material científico. Todavia, é
necessário colocar algumas reservas. É verdadeiro para o essencial. Porém todas as
categorias de observações não proporcionam exatamente a mesma contribuição
para ambos. Por exemplo, as observações relativas à alta e à média atmosfera, à
formação dos sistemas de nuvens, apresentam um interesse maior em meteorologia.
O climatólogo se atém mais à duração, à intensidade da nebulosidade porque esses
elementos exercem influência sobre o aspecto do tapete vegetal. Encontrar-se-iam,
facilmente outros exemplos.

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1.3 - História da climatologia e meteorologia

Desde sempre que o ser humano buscou compreender o ambiente em que vive pelo
facto deste condicionar seu modo de vida. Tal tentativa fez com que no decorrer dos
séculos sobras atribuídas às forças e entidades sobrenaturais se tornassem uma
ciência. Este foi o ocorrido com a Climatologia, pois de início eventos atmosféricos
como raios, trovões, chuvas, secas, ventos e etc. eram consideradas obras divinas
que podiam acontecer como benção ou maldição, tanto é que em algumas culturas
eram praticados rituais com oferendas que podiam variar desde frutas e culturas
acreditavam que se estas forças e entidades sobrenaturais estivessem satisfeitas
com as oferendas mandariam chuvas brandas ao invés de tempestades e secas.
Assim foi durante vários séculos ate que na Idade Antiga alguns filósofos gregos
começaram a observar o tempo de uma forma mais reflexiva a fim de entender o
como e o porquê de tais eventos do tempo. As observações feitas pelos filósofos
gregos só eram possíveis por que eles viajavam pelo Mediterrâneo e nestas viagens
eles podiam ver as variações na atmosfera de um lugar para outro. Dentre estes
filósofos estavam Hipocrates que escreveu Ares, Águas e Lugares, e Aristóteles que
escreveu Meteorológica. As obras destes e de outros filósofos foram de tamanha
importância já que muitas dessas idéias se tornaram bases para o conhecimento
da atmosfera na actualidade. Uma notável queda na produção intelectual ocorreu
quando o Imperio Romano fortaleceu seu poder sobre o mundo grego, isto porque o
império romano tinha seu foco volto na expansão territorial e não para o
conhecimento da natureza. Quando a religião cristã avançou sobre a Europa e se
tornou instituição religiosa oficial, houve uma grande queda no conhecimento da
atmosfera, pois após este acontecimento o conhecimento científico passou a ser
contestado pela igreja, desse modo a ciência ficou paralisada durante todo o
período do obscurantismo religioso da Idade Media (aproximadamente mil anos).
Esta fase de paralisia se deu até o Renascimento, período no qual Galileu Galilei
inventou o termômetro em 1593 e Torricelli inventou o barômetro em 1643. Apartir
desse período, avanços no conhecimento científico se tornaram muito mais
frequentes por que o capitalismo passou a exercer influencia sobre a produção
científica uma vez que esta era de suma importância para sua expansão. E pelo
facto de que muitos produtos comercializáveis tinham sua origem no campo o
conhecimento a respeito do clima era muito importante para que se pudesse ter a

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maior produtividade possível. Ate mesmo as duas guerras mundiais do século XX
tiveram auxílio do conhecimento da atmosfera visto que a preparação dos ataques
só era possível a partir da monitoração das condições atmosféricas das regiões a
serem atacadas. Depois que os períodos de guerra terminaram, foram criados
inúmeros aparelhos mais precisos em termos de análise da atmosfera devido ao
avanço técnico-científico oriundo dos investimentos das grandes nações que
estiveram em guerra a fim de se prevenir de futuros ataques. Os investimentos mais
consideráveis foram satélites meteorológicos que começaram a serem lançamentos
na década de 60. Tal fato permitiu que se estudasse a atmosfera de uma forma
muito mais detalhada e em escala global. Em 1950 foi fundada a Organização
Meteorológica Mundial (OMM) que dava continuação a O rganização Meteorológica
Internacional (OMI), fundada no século anterior.

A OMM é reconhecida desde 1951 como um órgão das Nações Unidas cujos
principais propósitos são o desenvolvimento de pesquisas científicas e a
observação ininterrupta da atmosfera, tais ações são possíveis devido a uma rede
mundial de informação meteorológica formada pelas várias estações meteorológicas
espalhadas pelo mundo. A internet proporcionou o acesso aos dados destas
pesquisas e observações meteorológicas de forma mais simples e com isso houve
um processo de popularização da climatologia, pois é de grande necessidade ter
conhecimento sobre as características da atmosférica no decorrer dos anos a fim de
se ter melhores condições para se planejar as ações das sociedades humanas
sobre o meio ambiente, mas também para auxiliar novas pesquisas que dependem
do conhecimento a respeito do clima. A Climatologia e a Meteorologia
permaneceram juntas por um longo período como único ramo do conhecimento da
atmosfera que teve início por volta do século VI a.C ate o século XVIII d.C. Entre os
séculos XVIII e XIX, houve uma sistematização desse conhecimento tudo graças às
ideias positivistas, o que teve um efeito de fragmentação do conhecimento gerando
ramos específicos. Com isso o ramo da Meteorologia ficou pertencendo ao campo
das ciências naturais e exatas cujo principal objectivo era estudar os eventos
isolados da atmosfera e o tempo atmosférico, ou seja, as características físicas e
químicas da atmosfera e com os dados obtidos poder prever quais serão os
próximos eventos atmosféricos. E após a Meteorologia ser sistematizada surgiu a
Climatologia, cujo principal objectivo era estudar a atmosfera e suas características

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juntamente com sua interação com a superfície terrestre no decorrer do tempo.
Tendo como uma de suas principais características da Climatologia é que ela está
no ponto de encontro entre a Geografia e a Meteorologia.

2 - ATMOSFERA TERRESTRE

A atmosfera, palco dos eventos meteorológicos pode ser descrita como uma
camada fina de gases, sem cheiro, sem cor e sem gosto, que envolve e acompanha
a Terra em todos os seus movimentos. Ela é composta de gases que se encontram
junto à superfície terrestre, tornando-se rarefeitos e desaparecendo com a altitude.
A atmosfera alcança uma altura (espessura) de cerca de 800 a 1.000 km, ligando-se
à Terra pela Força da Gravidade.

2.1 - Composição

A atmosfera é constituída por uma combinação de diversos gases, como o


Nitrogênio, o Oxigênio, os chamados Gases Raros (Argôn, Neôn, Criptôn e
Xenônio), o Dióxido de Carbono, o Ozônio, o Vapor d’água, o Hélio, o Metano, o
Hidrogênio, etc.

Além desses gases, encontram-se na atmosfera partículas de pó, cinzas vulcânicas,


fumaça, matéria orgânica e resíduos industriais em suspensão, os quais são
denominados de “aerossóis”, termo usualmente reservado para partículas materiais
que não seja água ou gelo. Os aerossóis são importantes na atmosfera como
núcleos de condensação e de cristalização, como absorvedores e difusores da
radiação e também como participantes de vários ciclos químicos. Os aerossóis
produzidos pelo homem são avaliados actualmente como sendo responsáveis por
30% dos aerossóis contidos na atmosfera. Contudo, destacam/se, de acordo com a
Tabela 2.1, especialmente nas camadas mais baixas o Nitrogênio (N2) e o Oxigênio
(O2), embora todos os demais desempenhem importante papel no balanço
atmosférico, pois absorvem, reflectem e/ou difundem tanto a radiação solar quanto a
“irradiação terrestre”.

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Tabela 2.1 Principais componentes gasosos, fixos e variáveis, da atmosfera
terrestre

COMPONENTES SIMBLO QUÍMICO % POR VOLUME DE AR CONCENTRAÇÃO EM


SECO ppm DE AR
FIXOS
Nitrogênio (N2) 78,084 −
Oxigênio (O2) 20,946 −
Argônio (A) 0,934 −
Neônio (Ne) 0,00182 ≤18,2
Hélio (He) 0,000524 5,24
Metano (CH4) 0,00015 1,5
Criptônio (Kr) 0,00014 1,4
Hidrogênio (H) 0,00005 0,5
VARIAVEIS
Vapor d’água (H2O) ≤4 −
Dióxido de carbono (CO2) 0,0325 325
Monóxido de carbono (CO) − <100
Ozônio (O3) − ≤2
Dióxido de Enxofre (SO2) − ≤1
Dióxido de nitrogênio (NO2) − ≤0,2
Fonte: Adaptado de Soares e Batista (2004)

2.2 - Estrutura

A composição e as condições físicas da atmosfera não são uniformes em toda a sua


espessura, mas variam de modo acentuado. Assim, a atmosfera se divide em
diversas camadas ou estratos superpostos. Evidências provenientes de
radiossondas, foguetes e satélites, indicam que a atmosfera está estruturada em
três camadas relativamente quentes separadas por duas camadas relativamente
frias com camadas de transição entre as cinco camadas principais denominadas
“pausas”.

Várias camadas foram reconhecidas dentro da atmosfera, porém, até agora, não há
uma concordância universal sobre sua terminologia e quantidade.

Geralmente são reconhecidas as seguintes camadas de acordo com a Figura 2.2:

 TROPOSFERA: É a camada mais baixa da atmosfera, estendendo-se até


mais ou menos 12 km. Esta camada se estende “a partir da superfície até a
altura de 14/16 km nas zonas equatoriais e até 8/10 km nas zonas polares,

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pois nessas últimas as baixas temperaturas promovem a contração dos
componentes atmosféricos”. Nela se passa a maior parte dos “meteoros”, ou
seja, os fenômenos ocorridos na atmosfera que podem ser aéreos ou
mecânicos (ventos), acústicos (trovão), aquosos (chuva), ópticos (arco-íris)
ou elétricos (raios). Contém cerca de 75% e a quase totalidade do vapor
d’água e dos aerossóis. Na Troposfera, a temperatura diminui a uma taxa
média de 0,6 ºC a cada 100 metros. O limite superior da Troposfera,
denominado Tropopausa, corresponde às zonas de temperaturas mais
baixas. Nota-se que sua posição em altitude, varia da mesma maneira que os
limites da Troposfera, sendo mais alta na região do Equador e mais baixa nas
regiões polares.

 ESTRATOSFERA: A Estratosfera (região de estratificação) estendesse da


Tropopausa até uns 50 km. Nesta camada, a temperatura aumenta com a
altitude chegando a 17 ºC na Estratopausa. Outros autores como Ross
(1995), mencionam que na camada de ozônio a temperatura chega a 50ºC,
devido à absorção da radiação ultravioleta do sol, pelo ozônio (O3), que a
transforma em energia térmica. O ozônio é encontrado, em concentrações
variáveis dentro desta camada nas altitudes entre 20 e 50 km, com forte
concentração por volta dos 25 km de altitude. Por conseguinte, “a
Estratosfera possui em suas camadas superiores, uma fonte de calor, em
contraste com a Troposfera que é aquecida principalmente por baixo”. Ainda
de acordo com o autor, a temperatura da camada em geral, permanece
constante até os 25 km aumentando então lentamente até os 32 km, após o
que começa a aumentar rapidamente.
 MESOSFERA: Camada que se estende da Estratopausa até cerca de 80 km
de altitude, apresentando queda de temperatura de -3,5 ºC por quilômetro.
No seu limite superior (Mesopausa) observa-se a temperatura mais baixa da
atmosfera, cerca de -90 ºC. No que se refere à sua composição, a Mesosfera
contém uma pequena parte de ozônio e vapores de sódio, os quais
desempenham um importante papel nos fenômenos luminosos da atmosfera,
como as auroras.

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 TERMOSFERA OU IONOSFERA: Estende-se da Mesopausa até uns 500
km de altitude, sendo bastante rarefeita. Aqui, a atmosfera é muito afectada
pelos Raios X e pela radiação ultravioleta, o que provoca a ionização ou
carregamento elétrico. As camadas inferiores da Ionosfera, desempenham
um papel muito importante nas transmissões de rádio e televisão, já que
refletem ondas de diversos comprimentos emitidas da Terra, o que possibilita
sua captação pelas emissoras. O limite da superior denomina-se
Termopausa. Aqui, a temperatura aumenta com a altitude devido à absorção
da radiação ultravioleta pelo oxigênio atômico.
 EXOSFERA: Estende-se da Termopausa até uns 800 a 1.000 km de altitude.
Predominam os átomos de Hidrogênio e Hélio (mais leves).
Aqui, a atmosfera vai se rarefazendo, tendendo ao vácuo. A densidade
atmosférica é igual a do gás inter-espacial que a circunda. Ocorrem
elevadíssimas temperaturas e grande incidência de poeira cósmica.

Convencionalmente, estabeleceu-se o limite superior da atmosfera a uma altura


aproximada de 1.000 km sobre o nível médio do mar. Todavia, a maioria dos
cientistas, preferem considerar que o ar atmosférico chega a confundir-se com os
gases raros e com a poeira do espaço interplanetário. Neste caso, não existe um
limite preciso entre a atmosfera e este espaço.

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Figura 2.2 Características da atmosfera

Fonte: Adaptado de: Argentiére (1960); Viers (1975); Retallack (1977); Dominguez
(1979); Strahler (1982); Hardy et al (1983); Vianello e Alves (1991); Ayoade (2003) e
Soares e Batista (2004); Mendonça e Danni-Oliveira (2007).

2.3 - Massa

A atmosfera, sendo uma mistura mecânica de gases, exibe as características de


todos os seus componentes.

Sendo volátil, compressível e expansiva, sendo suas camadas inferiores muito mais
densas que as superiores.

A densidade média da atmosfera diminui a partir de 1,2 kgm -3 na superfície da Terra


até 0,7 kgm-3 na altura de 5.000 metros. Cerca da metade do total da massa da

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atmosfera está concentrada abaixo de 5 quilômetros. A pressão atmosférica diminui
logaritmicamente com a altitude acima da superfície terrestre. A pressão em um
ponto na atmosfera é o peso do ar verticalmente acima da unidade de área
horizontal centralizada naquele ponto”.

A pressão atmosférica média ao nível do mar é 1013,25 mb. Cada um dos gases na
atmosfera exerce uma pressão parcial independente dos outros.

Sendo assim, o nitrogênio exerce uma pressão de 760 mb, o oxigênio de 240 mb e
o vapor d’água de 10 mb ao nível do mar. A pressão exercida pelo vapor d’água
varia com a latitude e sazonalidade. Por exemplo, é de cerca de 0,2 mb sobre a
Sibéria setentrional, em janeiro, e mais do que 30 mb nos trópicos, em julho. Porém,
esta variação não é refletida no padrão da pressão na superfície total. De facto,
devido a factores dinâmicos, o ar em áreas de alta pressão é geralmente seco,
enquanto nas áreas de baixa pressão é usualmente húmido.

2.4 - Evolução da atmosfera terrestre

Como outras esferas do sistema Terra, a atmosfera, apresentou variações desde


sua formação.

A Terra foi formada há cerca de 4,6 bilhões de anos. Em um primeiro momento a


atmosfera terrestre era formada por remanescentes da nebulosa original da qual se
condensou o sistema solar. Há evidências de que nela predominavam o hidrogênio
e o hélio e havia muito pouca quantidade de dióxido de carbono (CO 2), metano
(CH4), amônio (NH3) e gases nobres.

Acredita-se que esta atmosfera inicial foi arrastada para fora da Terra á medida que
ela se condensava porque a proporção que existe hoje de gases nobres é muito
menor do que a que existe no Sol e nos grandes planetas (Júpiter e Saturno). Não
se sabe ainda como esta atmosfera inicial foi eliminada. Provavelmente terá sido
muito leve e se perdeu no espaço. Talvez foi arrastada para fora pelos ventos
solares como ocorre com os cometas que, ao se aproximarem do Sol, formam
caudas dirigidas para fora e constituídas por parte de sua matéria que é empurrada
para o espaço pelos ventos solares. Talvez a velocidade das moléculas fosse maior
que a velocidade de escape enquanto a Terra era muito mais quente.

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Apesar das várias teorias sobre a formação da segunda atmosfera, há um
consenso, quase que geral, de que ela tenha sido produzida em consequência do
esfriamento e consolidação do planeta. A Terra deve ter funcionado como um
sistema fechado e os componentes dessa nova atmosfera deveriam ter saído de
suas próprias entranhas.

Usa-se o termo degaseamento (eliminação pelo vácuo ou pelo resfriamento) para


descrever a formação da atmosfera dos planetas enquanto se esfriam e há expulsão
de gases da lava vulcânica quando se solidifica.

Quando a Terra iniciou sua consolidação a temperatura deve ter aumentado


tremendamente e o degaseamento deve ter começado a acelerar enquanto a
temperatura aumentava. Quando a superfície se solidificou, o planeta começou a
esfriar. O degaseamento diminuiu, mas não parou e este processo continua até hoje
através das erupções vulcânicas.

A análise dos gases desprendidos pelos vulcões actuais ainda não pode ser feita
com precisão porque os métodos actuais não eliminam totalmente a contaminação
da amostra por componentes gasosos da atmosfera. Porém, já se sabe que o gás
mais abundante em todos eles é o vapor d’água. Por exemplo, nos vulcões do
Havaí 79,31 % dos gases de erupção são constituídos por vapor d’água. Os outros
gases importantes das erupções são: SO2, CO2, CO, H2S, NO3 e CH4, os quais
variam suas proporções conforme o vulcão. Acredita-se que o SO2 e o NO3 sejam
sub-produtos do oxigênio e que não existiam na atmosfera primitiva. Entretanto, os
outros gases deviam ser componentes desta atmosfera durante o Arqueano por
emissão dos vulcões e degaseamento da Terra enquanto esfriava.

Esta segunda atmosfera era muito diferente da actual. Além da composição, a


mistura dos gases formava uma atmosfera redutora, ao contrário da atual, que é
oxidante. O oxigênio, se é que existia em estado livre, era em uma quantidade
mínima (traços) resultante da fotodissociação do vapor da água pela energia solar.

Em um determinado ponto do Arqueano, o qual durou mais de 2,5 bilhões de anos,


o esfriamento gradual da Terra chegou a uma temperatura que permitia a existência
da água em forma líquida. O vapor d’água atmosférico começou, em parte, a se

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condensar e a se acumular nas depressões da crosta sólida. Iniciou-se a formação
de lagos e mares e criou-se o ciclo hidrológico conhecido hoje.

A evaporação da água dos oceanos e a precipitação como chuva foi pouco a pouco
removendo o CO2 da atmosfera. A água que caía dissolvia as rochas, o CO2 reagia
com o cálcio para formar íons bicarbonatados que eram levados para o fundo dos
mares como carbonato de cálcio (calcário). Desta forma, a maior parte do CO 2 que
existia nessa atmosfera primitiva hoje está preso na forma de calcário, e somente
uma porção muito pequena ficou na atmosfera. Os sedimentos calcários mais
antigos que se conhecem são do Arqueano e se depositaram debaixo de água.

Nas zonas de subdução das placas tectônicas o calcário do fundo do mar é


continuamente reciclado para a astenosfera onde pelo calor e pressão muito
elevados o CO2 é liberado do calcário. Esse CO2 sai nas erupções vulcânicas, nos
gêiseres, fumarolas e outros lugares por onde o magma vem à superfície
degaseando para a atmosfera. A respiração dos seres vivos também produz dióxido
de carbono que vai para a atmosfera. Se não houvesse esta reciclagem, o processo
de intemperismo teria removido todo o dióxido de carbono da atmosfera em alguns
milhões de anos.

Durante o processo de reciclagem, o CO2 se reduziu a uma proporção muito


pequena (0,03%), e o nitrogênio da atmosfera primitiva passou a ser o constituinte
dominante da atmosfera sob a forma de N2 ou NH3.

Ele continua assim e representa 78,1 % do volume actual do ar. O efeito estufa do
CO2 e do vapor d’água fizeram com que a temperatura não baixasse muito e a água
fosse mantida em estado líquido sobre a superfície. Se não fosse esse efeito, ela
terminaria por se solidificar formando grandes lagos e mares gelados.

Na segunda atmosfera, sem O3 e O2 livre, a radiação ultravioleta não devia ser


filtrada pela atmosfera e chegava até a superfície da Terra. Os mares daquele
tempo devem ter sido muito ricos em gases dessa atmosfera primitiva, mas a vida,
que então se iniciava, só devia ser possível bem abaixo da superfície da água onde
esta radiação, que é letal às formas de vida conhecidas, não penetrava. Acredita-se
que bactérias e outras formas de vida anaeróbicas e fixadoras do nitrogênio deviam
estar a aparecer nos oceanos.

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Há evidências de que os organismos fotossintetizadores surgiram há pelo menos
3,5 bilhões de anos atrás. Eram cianobactérias (cianofíceas) mais abundantes em
rochas calcárias até o final do Pré-cambriano. Pela utilização da energia solar estes
organismos, da mesma forma que os atuais, obtinham sua energia a partir da água
e do CO2 eliminando o oxigênio. Acredita-se que a atmosfera no início não continha
uma quantidade apreciável de oxigênio porque o que era produzido seria usado nos
processos de oxidação. Começaram a se formar óxidos a partir de elementos ávidos
de oxigênio como, por exemplo, os óxidos de urânio e ferro. As maiores jazidas de
óxido de ferro que existem hoje são de rochas do Proterozóico e esta Era é
conhecida com o nome de Idade do Ferro.

Por este raciocínio supõe-se que até o término do Pré-cambriano toda a vida se
encontrava submersa por ser impossível sua existência na superfície devido à
radiação ultravioleta.

À medida que a produção de oxigênio aumentava e os elementos redutores eram


saturados, começou a se acumular oxigênio livre na atmosfera.

Alguns pesquisadores supõem que já havia oxigênio suficiente na atmosfera no


último bilhão e meio de anos, no Proterozóico superior devido ao aparecimento das
algas unicelulares e multicelulares. Este aumento de oxigênio permitiu o
aparecimento de organismos aeróbios e a proliferação da vida nos mares. Da
mesma forma, permitiu o desenvolvimento da camada de ozônio na estratosfera, a
qual é um filtro muito eficiente para a radiação ultravioleta.

A grande mudança ambiental, de uma atmosfera redutora a outro oxidante, obrigou


os organismos anaeróbios a se refugiarem em ambientes pobres ou desprovidos de
oxigênio, que para eles é letal. Provavelmente houve um grande número de
extinções. Mas, como as bactérias raramente deixam registros fósseis e as
diferenças entre suas espécies e gêneros estão muito mais no tipo de metabolismo
do que na morfologia, não se pode avaliar a extensão de seu extermínio. Pela
comparação com os ambientes em que vivem hoje, pode-se supor que passaram a
viver nas águas profundas de lagos e mares e dentro de sedimentos não
consolidados.

16
Entretanto, somente muito mais tarde, no Siluriano médio (uns 140 milhões de anos
depois), aparecem no registro fóssil as primeiras formas de vida terrestres. Uma das
hipóteses é que não se havia formado ainda a camada de O 3 nem havia suficiente
O2 na atmosfera para filtrar eficientemente a radiação ultravioleta.

O início da vida na Terra e sua evolução criaram novos tipos de metabolismo que
tiveram um papel fundamental na modificação da atmosfera primitiva até chegar á
composição de gases que ela tem hoje. Se a vida não tivesse existido a atmosfera
estaria em equilíbrio dinâmico com as rochas da superfície e seria semelhante à do
Arqueano.

É possível conhecer se um planeta de qualquer sistema solar tem vida pela análise
de sua atmosfera. A presença de vida deslocaria o equilíbrio e a composição de
gases seria diferente da esperada pela análise das rochas da superfície.

3 - NOÇÕES DE COSMOGRAFIA

A Terra possui um formato denominado de GEÓIDE que se aproxima de uma


circunferência, não sendo perfeitamente circular, mas apresentando diâmetros
diferentes na faixa equatorial e na faixa polar. Este facto é resultado do movimento
de rotação do planeta, a uma velocidade de 1.670/km/h, que pela força centrífuga,
tende a salientar sua região equatorial.

Adotou-se como superfície de referência da Terra um elipsoide de revolução cujas


medidas principais são: raio equatorial 6.378,38 km, raio polar 6.356,912 km, raio
médio 6.371 km”.

Por isso, se diz comumente que a Terra é “achatada” nos pólos e “abaulada” na
faixa equatorial.

A Terra, como os demais planetas do Sistema Solar, está submetida às leis da


dinâmica celeste, realizando com isso, inúmeros movimentos no espaço orbital. O
movimento de rotação da Terra em torno de seu eixo é hoje de cerca de 24 horas
(média de 23 horas, 56 minutos e 4 segundos). Ela gira em torno do Sol em cerca
de 365 dias (média de 365 dias, 6 horas, 9 minutos e 10 segundos).

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A órbita de um planeta é o caminho percorrido por ele ao redor do Sol. As órbitas
são elipses mais ou menos alongadas. Para a órbita da Terra, o alongamento
desvia menos de 2% do círculo, ao passo que para Plutão e Mercúrio, o desvio é de
mais de 20%.

Os planetas giram inclinados em relação ao plano de sua órbita. O eixo de rotação


faz um ângulo de inclinação com o plano. Para a Terra, a inclinação entre o eixo de
rotação com o plano perpendicular à sua órbita é de 23,5º.

A inclinação do eixo de rotação é fixa enquanto o planeta percorre a sua órbita ao


redor do Sol. A inclinação faz com que ora um hemisfério, ora outro recebam mais
energia solar resultando no ciclo das estações do ano. Esta inclinação do eixo
terrestre é tão importante que está na origem da palavra clima: em grego, klima
significa inclinação.

Na Terra durante o verão, os dias são mais longos e durante o inverno os dias são
mais curtos, naturalmente, mais frios. Com isso tem-se em determinado lugar do
globo variação da radiação solar recebida durante as diferentes estações do ano.

O Sol culmina no zênite (representando maior ganho energético) em locais cuja


latitude é igual ao valor da inclinação do eixo da Terra (Figura 3.1). Assim, nos
Equinócios (21 de março e 23 de setembro) o Sol culmina no zênite sobre o
Equador, apresentando nestas datas, em todos os pontos da Terra, dias e noites
com a mesma duração. No Solstício de verão no hemisfério Sul e Solstício de
inverno no hemisfério Norte (21 de dezembro), o Sol culmina no zênite para a
latitude - 23,5º (sul), pelo facto dessa ser a maior declinação alcançada no
hemisfério Sul, essa latitude recebe o nome de Trópico de Capricórnio. De 23 de
setembro a 21 de março, o Sol culmina no zênite para locais de latitude sul. De 21
de março a 23 de setembro, o Sol culmina no zênite para locais de latitude Norte.
Em 21 de junho o Sol culmina no zênite para 23,5º (norte), latitude que define a
posição do Trópico de Câncer, tem-se assim, o Solstício de verão no hemisfério
Norte e Solstício de inverno no hemisfério Sul. Nas latitudes superiores a 23,5º o Sol
não culmina zenitalmente em dia nenhum do ano. Denomina-se região tropical
aquela compreendida entre as latitudes de 23,5º S e 23,5º N.

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Por conta ainda da inclinação do eixo da Terra, no hemisfério que está recebendo
menor quantidade de radiação solar (inverno), a luz solar só consegue chegar até
um determinado ponto da superfície, este ponto é exatamente, a subtração do valor
da inclinação (Figura 3.2), ou seja, 90º - 23,5º = 66,5º. Latitude esta, que caracteriza
o Círculo Polar. Com isso, a partir do Círculo Polar, no hemisfério que está no
inverno, a luz solar não consegue atingir a superfície, caracterizando 24 horas de
noite ininterrupta. Por outro lado, no hemisfério que está no verão, a partir do
Círculo Polar, o Sol não se põe, caracterizando 24 horas de brilho solar.

Para o hemisfério sul, no equinócio de primavera (23 de setembro), a duração do


dia é igual a da noite. Na primavera, a duração do dia aumenta, sendo máxima no
solstício de verão (21 de dezembro). Durante o verão, o dia passa a diminuir, mas
ainda é maior que a noite. No equinócio de outono (21 de março) novamente a
duração do dia torna-se igual a da noite. No outono, a duração do dia é menor que a
da noite e é decrescente até o solstício de inverno (21 de junho), quando sua
duração é mínima. No inverno, a duração do dia cresce, mas ainda é menor que a
noite.

Se não houvesse inclinação, e a Terra girasse com eixo perpendicular a órbita, os


dias e as noites seriam iguais dentro de cada faixa latitudinal e o clima seria
uniforme, porque o vento e a temperatura seriam uniformes dentro de latitudes
simétricas. “Isso faria com que as plantas ficassem restritas a faixas latitudinais
estreitas.

A variação da duração dos dias e noites de acordo com a latitude pode ser
observada na Tabela 3.1.

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Figura 3.1 Movimento de Translação da Terra, Solstícios e Equinócios

Fonte: Adaptado Strahler (1982)

Figura 3.2 Círculo de iluminação

Fonte: Strahler (1982)

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Tabela 3.1 Variação latitudinal da duração do dia no hemisfério sul

Fonte: Machado (2000)

Se o ângulo de inclinação da Terra fosse maior que 33,5º, os invernos polares e os


verões tropicais seriam muito mais fortes e haveria tempestades que chegariam a
extremos que não conhecemos”.

O ângulo de inclinação da Terra hoje, como dito, é em média 23,5º variando entre
um mínimo de 22,1º e um máximo de 24,5º. Como visto na Figura 3.3.

Esta variação cíclica, chamada de precessão axial, faz com que a radiação solar
recebida diminua ou aumente nas zonas polares através do tempo, tendo uma
freqüência de 41.000 e de 54.000 anos (Tabela 3.2).

Figura 3.3 Precessão axial da Terra

Fonte: Adaptado de: Salgado-Labouriau (1994)

21
4 - PRINCIPAIS ELEMENTOS DO CLIMA

4.1 Radiação solar e insolação

Existe uma diferença entre estes dois conceitos. Enquanto a insolação é a duração
do período do dia com luz solar ou a duração do brilho solar, a radiação solar é a
energia recebida pela Terra na forma de ondas eletromagnéticas, provenientes do
Sol. Ela é a fonte de energia que o globo terrestre dispõe.
A distribuição latitudinal da insolação (Figura 4.1), indica que as maiores
quantidades de insolação são recebidas nas zonas subtropicais sobre os principais
desertos do globo, graças à baixa nebulosidade em comparação com a região
equatorial. Os valores de insolação diminuem em direção aos Pólos, atingindo seu
mínimo em torno das latitudes de 70º – 80º no hemisfério Norte e de 60º – 70º no
hemisfério Sul. Esta diferença entre os dois hemisférios, é decorrente da maior
proporção de oceanos em relação aos continentes do hemisfério Sul, ou seja, maior
quantidade de água evaporando, significando maior nebulosidade.

Figura 4.1 Distribuição latitudinal da insolação anual

Fonte: Adaptado de: Ayoade (2003)

Radiação é uma forma de energia que emana, sob forma de ondas


eletromagnéticas, de todos os corpos com temperaturas superiores ao zero absoluto
(-273 ºC)”.

O Sol fornece 99,97% da energia utilizada no sistema Terra/Atmosfera, sendo direta


ou indiretamente responsável por todas as formas de vida encontradas no planeta.

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A cada minuto o Sol emite 56 x 1026 calorias de energia propagadas em todas as
direcções, no entanto a intensidade da radiação diminui inversamente ao quadrado
das distâncias do Sol, com isso o planeta recebe apenas dois bilionésimos da
energia que sai da fonte (SOARES e BATISTA, 2004).

Apesar de ser considerada como constante, as diferenças da incidência de raios


solares de acordo com as estações do ano promovem uma interferência nos valores
reais de energia (cal.cm-2. min-1) que chega à superfície como observado na
Tabela 4.1.

Tabela 4.1 Quantidade de energia (cal.cm-2.min-1) recebida pela Terra observados


nos dias 15 de cada mês no hemisfério Sul

Fonte: Soares e Batista (2004)

Além do aspecto inerente à distância, a radiação solar ao atravessar a atmosfera é


atenuada por 3 processos: difusão – espalhamento pelas partículas da atmosfera,
tais como gases, cristais e impurezas. “Uma parte dessa radiação difundida é,
portanto, devolvida ao espaço, enquanto que outra parte atinge a superfície e é
chamada de radiação difusa”; absorção – absorção seletiva por certos constituintes
atmosféricos para certos comprimentos de ondas, como por exemplo a absorção da
radiação ultravioleta pelo ozônio (O3); reflexão – a reflexão pelas nuvens depende
principalmente de sua espessura, estrutura e constituição.

Em média dos 100% da energia do Sol que chega à atmosfera, como visto na
Figura 4.2, cerca de 40% incidem sobre as nuvens e desse total são absorvidos 1%
e refletidos 25%, que se perdem para o espaço, chegando apenas 14% à superfície.
Dos outros 60% que incidem sobre áreas sem cobertura de nuvens, 7% são

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refletidos/difundidos por aerossóis, 16% absorvidos por gases atmosféricos,
chegando 37% à superfície. Destes 51% que chegam à superfície, subtrai-se ainda
5% que são refletidos por esta, com isso, tem-se que cerca de 46% da energia que
incide sobre a atmosfera é absorvida pela a superfície terrestre.

Figura 3.2 Esquema geral do balanço de radiação solar médio

Fonte: Adaptado de: Tubelis e Nascimento (1984)

É importante ressaltar, que a energia absorvida ou reflectida depende da superfície


onde incide a radiação, assim tem-se a importância de alguns conceitos, como:
Albedo (Tabela 4.2) indica a reflectividade total de uma superfície iluminada pelo
Sol. Absortividade (Tabela 4.3) que é a fração de energia incidente absorvida pelo
material.

Reflectividade sendo a fracção da energia incidente reflectida pelo material;


Transmissividade que é a fracção da energia incidente transmitida pelo material.

Estes coeficientes variam de 0 a 1, onde a soma dos mesmos é igual a 1, visto que
toda energia incidente sobre qualquer material deve ser absorvida, reflectida e/ou
transmitida. Emissividade (Tabela 4.3) é o coeficiente que indica a eficiência de um
corpo em emitir energia.

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Tabela 4.2 Albedo de algumas superfícies

Fonte: Soares e Batista (2004)

Tabela 4.3 Absortividade (ondas curtas) e emissividade (ondas longas) de algumas


superfícies em relação à radiação total

Fonte: Fonte: Soares e Batista (2004)

A quantidade de radiação solar, bem como a insolação incidente sobre a superfície,


depende de alguns factores, como o período do ano (estações); período do dia
(manhã ou noite); latitude (nas latitudes entre 35º N e 35º S, ocorre excesso de
energia (Figura 4.3), pois a energia absorvida é maior que a irradiada ao espaço,
enquanto fora destas latitudes, há um déficit energético); cobertura de nuvens

Figura 4.3 Balanço energético da Terra

Fonte: Adaptado de: Ayoade (2003)

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A energia absorvida pela superfície terrestre em ondas curtas é reirradiada, através
de ondas longas, promovendo o aquecimento do ar atmosférico. A parte absorvida é
usada no aquecimento da superfície do Planeta (terras e água). Dessa forma, a
atmosfera (ou o ar) não é aquecida diretamente pelos raios solares, que passam por
ela, mas sim, pelo calor irradiado da Terra, ou seja, de forma indireta.

4.2 Temperatura

Por definição, calor é uma forma de energia que pode ser transferida de um sistema
para outro, sem transporte de massa e sem execução de trabalho mecânico.

A temperatura pode ser definida em termos do movimento de moléculas, onde


quanto mais rápido este movimento mais elevada a temperatura. Podendo ser
definida também tomando por base o grau de calor que um corpo possui. “A
temperatura é a condição que determina o fluxo de calor que passa de uma
substância para outra”. O calor desloca-se de um corpo de maior temperatura para
outro com menor temperatura. A temperatura de um corpo é determinada pelo
balanço entre a radiação que chega (ondas curtas) e a que sai (ondas longas) e
pela sua transformação em calor latente e sensível. “Calor sensível é o calor que se
detecta, estando associado à mudança de temperatura. Já o calor latente é o calor
que deve ser absorvido por uma substancia para que ela mude seu estado físico.

Dentro da Meteorologia, têm-se três modalidades principais de temperatura: do ar,


da água e do solo. Este importante elemento do clima sofre influência de diversos
factores, mas principalmente da altitude, latitude e dos efeitos da maritimidade e
continentalidade.

De forma geral, a temperatura diminui em função do aumento da latitude, ou seja, a


temperatura diminui à medida que se afasta do Equador, indo em direção aos Pólos.
Essa modificação na temperatura é basicamente decorrente de dois efeitos: a
primeira causa está ligada à forma como se dá a incidência dos raios solares na
superfície terrestre, que é “perpendicular” na faixa equatorial e de forma mais
oblíqua em direção aos Pólos. Destaca-se ainda, que a temperatura é mínima nos

pólos, não só porque os raios solares incidem com uma grande obliquidade, mas
também devido à grande capacidade de reflexão (albedo) da neve que cobre a

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superfície destas regiões. Menor absorção implicará em menor aquecimento do ar
atmosférico.

Leva-se em consideração, ainda, que a atmosfera tem uma espessura menor sobre
o Equador e maior sobre os Pólos, o que favorece uma incidência maior e mais
intensa na faixa tropical, e em especial, na faixa equatorial.

Por outro lado, têm-se a influência do factor altimétrico agindo sobre os valores
térmicos. De um modo geral, na Troposfera, a temperatura diminui à medida que se
aumenta a altitude. Em média, a temperatura do ar diminui cerca de 0,6 ºC para
cada 100 metros de altitude, sendo que esse gradiente pode variar de 1 ºC para
cada 105 metros quando o ar esta ligeiramente húmido até 1ºC para cada 200
metros quando o ar está saturado. Isto se dá, pois, a atmosfera é aquecida de forma
indireta, como dito, através do calor que é irradiado pela superfície e logo, tem-se
que as regiões mais aquecidas são aquelas em contacto mais directo com a “fonte”
de irradiação (a superfície terrestre e as águas).

Além disso, sabe-se que o ar é mais rarefeito nas regiões mais elevadas, e daí,
quanto menos ar, menor quantidade de calor possível de ser contida nesse ar, ou
seja, menor a temperatura.

Com isso, tira-se a seguinte conclusão: a hora em que há maior ganho energético
do Sol é justamente a hora do dia em que ele está mais próximo à superfície, ou
seja, a hora em que ele está à pino no horizonte (fazendo zênite), sendo esta hora o
meio dia (12:00 horas), e analisando os primeiros 2 metros de superfície como área
de maior actividade biológica, tem-se que o horário de maior temperatura do dia é
por volta de 14:00 horas. Por outro lado, sabendo-se que depois do pôr do Sol a
superfície perde sua fonte de energia e que, com isso, o ar começa a perder
temperatura culminando nos instantes anteriores ao primeiro raio solar do outro dia,
aí é atingida sua temperatura mínima, variando o horário de acordo com a época do

ano e latitude.

A influência dos factores continentalidade e maritimidade sobre a temperatura do ar,


se dá devido, basicamente, à diferença de calor específico entre a terra e as
superfícies hídricas.

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As regiões próximas à grandes corpos hídricos, apresentam temperaturas mais
regulares devido ao efeito amenizador das brisas e das correntes marítimas, mas
principalmente pela propriedade que tem a água de manter o calor absorvido por
mais tempo e misturá-lo a maiores profundidades que o solo. No continente, a partir
de determinada profundidade (aproximadamente 1,5 metros) a temperatura
mantém-se constante, ou seja, o solo tem uma capacidade menor de transportar
calor. Além disso, o calor específico da superfície terrestre (solo, rocha, vegetação)
é bastante diferente do da água.

O calor específico da água do mar é, por exemplo, cerca de 0,94, enquanto que o
do granito é 0,2. “No geral, a água absorve 5 vezes mais calor afim de aumentar a
sua temperatura em quantidade igual ao aumento do solo”.

Concluindo, regiões próximas à grandes corpos hídricos têm um gradiente térmico


menor que o de regiões longe destes corpos, visto que como a água ganha calor
mais lentamente, o perde lentamente também, assim, mesmo com o pôr do Sol, o ar
atmosférico apesar de parar de receber calor da superfície terrestre, continua
ganhando das superfícies hídricas.

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