Sermão Das Dores de Maria - Paróquia Nossa Senhor

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Sermão das Dores de Maria

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 07/04/2020

SERMÃO DAS DORES DE MARIA

“Ó vós que passais, olhai e vede se há dor igual a


minha” (Lm 1,12)

Irmãos e irmãs,

Celebramos, neste dia santo, aquela que isenta de


todo pecado, se fez corredentora junto a seu Filho
Jesus. Ela sofreu na alma o que Ele sofreu na carne
pela salvação do mundo. Celebramos Maria, a
Senhora das Dores, Mãe da esperança cristã.

Como o profeta Jeremias, podemos dizer da Mãe de


Deus “Grande como o mar é tua dor e ninguém
pode consolar-te” (Lm 2,13), ó Senhora das Dores! Ao
contemplar suas sete dores, possamos chorar os
nossos pecados, causa de tão grande sofrimento, e
possamos, igualmente, reconhecer o quanto Deus
nos ama.

Queremos aprender contigo, Virgem Mãe, a dizer


sempre SIM aos desígnios de Deus; a conformar
nossa vida aos ensinamentos da fé; a enfrentar,
corajosamente, as provações e durezas da vida, sem
jamais esmorecer.

Maria sofre sua primeira dor ao apresentar seu


Filho no Templo de Jerusalém e consagrá-lo,
como primogênito, ao Senhor, em cumprimento à
Lei Mosaica. Diz-nos as escrituras que Simeão,
homem justo e piedoso, bendisse a Deus por aquele
menino a quem saudou como “Luz das nações e
glória para Israel”, para logo se dirigir à sua Mãe e
dizer-lhe que aquele menino “estava destinado a ser
causa de queda e seu erguimento para muitos em
Israel… e que uma espada de dor haveria de
transpassar a sua alma” (Lc 2,29-35).

De fato, tendo trazido ao mundo, em seu ventre


sagrado, por obra e graça do Espírito Santo, o Filho
eterno de Deus, Maria haveria de associar-se a Ele, o
Cristo Jesus, e à missão que recebera do Pai: de dar a
vida pela salvação do mundo. Precisamos aprender
de Maria: mesmo diante das adversidades da vida,
em tudo, fazer a santa vontade de nosso Deus e
Senhor.

Não demorou muito e Herodes, então governador


da Galiléia, quis matar o menino Jesus,
obrigando, assim, José e Maria, juntamente com o
menino, a fugirem para o Egito e viver em terra
estrangeira, por algum tempo, enfrentando as
durezas de quem, longe de casa, como migrante,
tem que, literalmente, recomeçar a vida. É sua
segunda dor.

Sinal luminoso da graça de Deus, Mulher forte que


coloca sua vida nas mãos de Deus, Maria assim se
solidariza com o sofrimento de tantos de nossos
irmãos e irmãs que não têm os seus direitos mais
elementares respeitados; vítimas das violências e
exclusões de uma sociedade injusta e desigual que
coloca no centro não a vida e a pessoa humana, mas
o lucro e o consumismo; que força, pelo mundo
afora, a migração de milhares de pessoas, a buscar
sobrevivência, proteção e dignidade, nem sempre
encontrando, na ordem dos países, as portas abertas
e, por vezes, nem mesmo os corações humanos.

Uma das mais comoventes cenas de ternura e dor,


nós a encontramos no Antigo Testamento, na
passagem em que o jovem Tobias é enviado pelo pai
para resolver negócios da família em terras distantes.
Tendo demorado tanto tempo para retornar, sua
mãe assim se lamentava: “Ai de mim, filho meu!
Porque te deixei partir, luz dos meus olhos!” (Tb 10,5).

Por mais terna e dolorosa que seja esta passagem,


não tem comparação, irmãos e irmãs, com a
realidade do Novo Testamento, narrando, qual
terceira dor, a perda do menino Jesus, sentida e
chorada pela mais santa das mães, a Virgem
Maria. Quanta amargura e queixa deixou escapar de
seu coração materno: Filho, teu pai e eu, aflitos, te
procurávamos!” (Lc 2,48)

Maria é diligente em procurar o seu Filho que estava


perdido, é a dor da Mãe das mães que se solidariza
com todas as mães aflitas a procurar pelos seus
filhos perdidos, muita das vezes, nos descaminhos
dos vícios deste mundo; é a dor da mãe que se
solidariza com a perda da pessoa amada.

Apesar de sua aflição, a Mãe de Deus não se abateu,


não sossegou; voltou logo à procura de seu amado
Jesus, apoiada por José, seu santo esposo.
Precisamos aprender, com Maria, a buscar sempre
Jesus, a não perdê-lo de nosso coração, de nossa
vida.

Mais sofrimentos Maria haveria de passar na


configuração de sua vida à vida de seu Filho Jesus,
na obediência aos desígnios de Deus. Lembramos
agora, nessa quarta dor, a amargura que tomou
conta de seu coração, no caminho do calvário,
encontrando-se com seu amado Filho,
carregando pesada cruz às costas, todo chagado,
ensangüentado e caindo pelo caminho… Inocente,
Ele foi condenado à morte. Vai morrer para nos
libertar da morte, para nos dar vida, vai morrer pelos
nossos pecados.

Maria acompanha Jesus, seu Filho. Aonde vais,


mulher? Aqui ela não diz nada, sua alma está
transpassada por uma dor atroz, diante da ingratidão
e da violência humana… ela apenas caminha, vai ser
crucificada, em sua dor, com seu amado Jesus.

Ela sofria no seu coração de Mãe aquilo que Jesus


padecia na alma e no corpo. Mas ela não se deixou
levar pelo medo ou por um falso respeito humano,
como o fizeram os apóstolos e tantos a quem Jesus
só fizera o bem. Ela seguiu, perseverante e corajosa,
até o fim e dá, a todos nós, um belo exemplo, no
seguimento de seu Filho, de coragem, firmeza e
perseverança na fé.

Assim devemos fazer também nós, os irmãos/as de


Jesus, os filhos de Maria: viver com firmeza a nossa fé
até o fim de nossa vida. O tempo de dar os passos,
como convém, o tempo da conversão em vista do
Reino de Deus, é agora. Não dá mais para esperar.
Este é o tempo particular da graça de Deus para nós,
tempo de aprendermos com ela, a Mãe do salvador,
a Senhora das Dores, a jamais abandonar, em nossas
vidas, o seu Filho Jesus.

Sim, ó Mãe das Dores, se foi um duro golpe para o


seu coração materno ouvir, ver e sentir tudo o que se
passou com seu Filho Jesus, na rua da amargura, no
caminho do calvário, queremos, igualmente, sentir,
hoje, a dor de nossos pecados, causa de tão grande
sofrimento. Queremos, à luz da fé em teu Filho Jesus
e norteados pelo seu sublime exemplo, viver a
solidariedade para com os nossos irmãos/as em suas
muitas dores, comprometermo-nos com a vida
humana e a vida no planeta que clamam por
cuidado; comprometermo-nos a assumir, no serviço
misericordioso, os rostos sofridos de tantos irmãos e
irmãs, marcados pela pobreza e exclusão. Por vezes,
tão perto de nós, como outros Lázaros dos nossos
dias e deles nem nos damos conta.

Pouco depois esta dor se torna ainda mais profunda:


Jesus é crucificado entre dois ladrões e Maria
assiste à sua morte. É a quinta dor. Diz São
Jerônimo: “Quantas chagas havia no corpo do Filho,
tantas feridas no coração da Mãe”.

A constância heróica daquela Mãe que perde o seu


amado Filho Jesus é lição para todos nós a nos
ensinar a permanecermos firmes diante das cruzes e
dores de nossa vida; a não fugir, como os apóstolos,
mas levar com paciência as dores de cada dia; a
sermos constantes e fervorosos na prática das
virtudes e no cumprimento de nossos deveres; a
sermos solidários, a estarmos ao pé da cruz de tantos
crucificados hoje, vítimas das violências do mundo,
dos vícios, das drogas, dos conflitos armados, da
violência do trânsito, do consumismo desenfreado,
do submundo do crime, da exploração sexual, da
delinquência juvenil, das pestes…

Com o coração contrito, contemplemos agora a


sexta dor, a dor de Maria quando desceram o
corpo de seu amado Filho da cruz e o puseram
em seus braços. Como o profeta Jeremias, ante a
Jerusalém destruída, Maria parece dizer “Ó vós que
passais pelo caminho, olhai e vede se há dor
semelhante à minha dor” (Lm 1,12).

Ela tem em suas mãos o corpo de seu divino e


amado Jesus que assim terminara sua missão na
terra. Imaginemos o abismo desta dor em seu
coração de Mãe. É uma dor indescritível, tamanha a
crueldade com que agiram aqueles que crucificaram
o seu Jesus.

Contudo, em seu coração materno, em meio à


grande dor, só existe amor e amor verdadeiro; amor
como o amor de Deus que não poupou, mas
entregou seu Filho para a salvação do mundo.
Mesmo amor, na dor, tem a mãe que perdoa os
algozes de seu Filho e a todos nós pecadores, causa
deste sofrer. Em tudo, ela procurou espelhar-se em
seu Filho Jesus. Ela também perdoa como Ele fez na
cruz: “Pai, perdoai-lhes porque eles não sabem o que
fazem” (Lc 23,34).

Faze, o Mãe, fonte de Amor, que sintamos em nós


tua dor, para contigo chorar e encontrar, em teu
regaço, forças para servir, amar e perdoar as muitas
injúrias, calúnias e violências sofridas. Seja o nosso
coração como o teu, pronto em tudo para realizar a
santa vontade de Deus, segundo os desígnios de seu
coração compassivo e bom.

A última dor, irmãos e irmãs, é a dor da soledade.


Maria sofre a dor da solidão, a dor da saudade,
ficando sem Filho nem vivo e nem morto. Noite
dolorosa, noite triste, porque se ocultara o sol da
justiça e se eclipsara de dores o coração da Virgem
Maria.

Terrível golpe para quem é Mãe, sepultar o próprio


Filho morto. Quantas lembranças não terão passado,
naquele instante, na mente e no coração daquela
senhora! De quantas alegrias e dores terá ela
recordado da vida com seu Filho?… Doíam,
profundamente, no coração daquela Mãe os
estragos causados pelos crimes da humanidade,
causa da morte do seu Jesus, do seu Filho amado.

Mas ali não havia nem ódio, nem espírito de


vingança, nem se multiplicavam os muitos
“porquês”, como que a cobrar de Deus, o Pai celeste,
respostas diante de tantas adversidades e provações
da vida. No coração de Maria existia tão só amor e
compaixão. Amor de quem entregou totalmente sua
vida a Deus e compaixão de quem se solidariza a seu
Filho pela salvação do mundo, pela salvação de
todos nós.

Aprendamos com ela a amar e a servir; a viver com


mais desapego diante das coisas deste mundo, a
sermos perseverantes no bem e na fé – em tudo,
como ela nos ensina com a sua vida, em tudo, “fazer
o que Ele, seu Filho, nos disser” (Jo 2,5).

Senhora, ao terminar estas palavras, queremos


bendizer a Deus por tudo que sofrestes por nós,
ensinando-nos a coragem da fé de quem se confia a
Deus e se compromete com as dores do mundo e
da humanidade para que “todos tenham vida e vida
em plenitude” (Jo 10,10).

Guarda-nos, ó Mãe, sob teu manto sagrado. Cuida,


Senhora, de modo especial dos pequenos e pobres e
faze-nos instrumentos teus e de teu Filho para amar
e servir, como tu fizeste em todos os dias de tua vida.

Conceda-nos, Senhora, viver com fruto esta semana


maior, sobretudo o Solene Tríduo Pascal que se
aproxima, memória de nossa salvação – da Paixão,
Morte e Ressurreição de teu Filho Jesus, a alimentar
em nós a fé, a conversão dos pecados e o
compromisso de evangelizar como Igreja viva, a
partir de nossas famílias, verdadeira comunidade
eclesial missionária. Amém.

Nossa Senhora das dores, Mãe da esperança cristã –


rogai por nós!

Padre Marcelo Moreira Santiago

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