A Crucificação de Jesus

Fazer download em txt, pdf ou txt
Fazer download em txt, pdf ou txt
Você está na página 1de 262

Frederick T. Zugibe, M.D, Ph.D.

crucificação

de Jesus As conclusões surpreendentes sobre a morte de Cristo na visão de um


investigador criminal

2ª edição

944y

ideia ação

N. PISAN

Este é um livro fascinante e envolvente. Odr. Frederick Zugibe utiliza sua


experiência de 35 anos como investigador criminal para determinar

como Jesus morreu. Evidencias coletadas em três continentes são cuidadosamente


organizadas para nos mostrar o formento fisico e psicológico que Jesus sofreu na
cruz.

A pesquisa do dr. Zugibe não tem paralelo na história. Sua obstinação e precisão
técnica no assunto o transformaram em um dos principais experts na crucificação de
Jesus.

Seu trabalho é realmente meticuloso, pois seus estudos vão do Jardim do Getsemani à
tumba onde Jesus foi colocado - e envolve muitas controvérsias sobre a
crucificação, como o tipo de cruz, a localização dos pregos e a causa precisa da
morte.

Dr. Zugibe faz também a análise mais profunda já feita até hoje sobre o Sudário,
desvendando mistérios da vestimenta com o uso da mais recente tecnologia e
colocando de lado falsos juizos sobre a peça, que há muito tempo tem obscurecido o
status desse artefato religioso tão reverenciado.

Inteligente e provocante, ACrucificação de Jesus providencia uma autopsia de Cristo


através dos séculos.

FREDERICK T. ZUGIBE. PhD, MD

crucificação de Jesus As conclusões surpreendentes sobre a morte de Cristo na visão


de um investigador criminal

ideia ação

©2005 - Frederick Zugibe

Publicado sob licença da New England Publishing Associates, Inc - USA

Titulo original em inglês The Crucifixion of Jesus: a forensic inquiry Direitos em


lingua portuguesa para o Brasil: Idéia & Ação-Tel. (11) 3873-2062
atendimento@matrixeditora.com.br www.matrixeditora.com.br OSOB Diretor editorial:
Paulo Tadeu Capa: Femanda Guedes Ilustrações: OUTS Capa: The Crucifixion de Gustave
Doré Contracapa: The Darkness at the Crucifixion de Gustave Doré Diagramação: Diogo
Shiraiwa Tradução: Paulo Cavalcanti Revisão: Adriana Parra Alexandre de Carvalho
Impressão e acabamento: Corprint Gráfica e Editora Ltda.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) SINDICATO NACIONAL DOS


EDITORES DE LIVROS, RJ.

Zugibe, Frederick T. (Frederick Thomas), 1928-

A Crucificação de Jesus: as conclusões surpreendentes sobre a morte de Cristo na


visão de um investigador criminal/ Frederick T. Zugibe;

[tradução Paulo Cavalcanti] - São Paulo: Idéia & Ação, 2008.

Tradução de: The Crucifixion of Jesus: a forensic inquiry Inclui bibliografia

1. Jesus Cristo-Crucificação. 2. Santo Sudário. 3. Patologia forense. 4.


Crucificação - Aspectos psicológicos. I. Titulo.

08-0045

CDD: 232.963

CDU: 232.963

ÍNDICE

Agradecimentos Introdução

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Parte 1

1: Getsemani

2:0 Flagelo Romano

3: Coroando um Rei

4: A Estrada para o Calvário.....

11

5: Crucificação

6: Jesus Chega ao Calvário..

7: Hipóteses de Asfixia......

131

8: Hipóteses de Ataque Cardíaco/Ruptura do Coração ........ 157 9: A Causa da Morte


de Jesus.......... 10: Sangue, Água e o Fim da Teoria do Desmaio 163 173

945 19 30 55

41 ±
69

88

Parte 2 UM MÉDICO-LEGISTA EXAMINA O SUDÁRIO

11: Introdução ao Sudário de Turim. 211 12: Descrição do Sudário........ 218 13:
História do Sudário....... 253 14: Conceitos Forenses e Interpretações Post
Mortem...................267 15: Estudos Tridimensionais do Sudário...... 290 16:
Técnicas Investigativas Aplicadas ao Sudário 302 17: Sustentação para a
Autenticidade 366 18: A Polêmica sobre o Carbono 14..... 389 19: Novos Avanços e o
Futuro do Sudário 20: A Via-crúcis Forense: uma Meditação. 418 432

Referências Bibliográficas

439

Parte 1:

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

AGRADECIMENTOS

G ostaria de agradecer a algumas pessoas muito especiais que foram importantes para
o sucesso do meu livro: à minha esposa, Catherine, que tem sido a força motriz de
todos os meus propósitos, que tem ficado ao meu lado nos momentos de altos e
baixos, constante fonte de inspiração e de inestimáveis conselhos nesses mais de 52
anos de casamento. Devo muito, também, a dois fantásticos padres que foram
fundamentais para meus estudos sobre a crucificação: padre Angelus Shaughnessey, da
Ordem dos Capuchinhos Franciscanos, e padre Peter Weyland, SVD*. Padre Angelus
motivou-me a continuar os estudos sobre a crucificação, incentivou-me a dar
palestras sobre o tema e providenciou material sobre as Escrituras. Padre Weyland,
também escultor e ferreiro, estimulou-me a realizar experimentos de suspensão, com
o intuito de elucidar algumas das controvérsias a respeito da asfixia, e até montou
uma réplica da cruz original para que eu fizesse esses experimentos. Meus
agradecimentos vão também para meu filho Fred, especialista em cardiologia, que me
assistiu nos primeiros experimentos,

"N. do T: Society of the Divine Word, ou "Sociedade da Palavra Divina".

10

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

quando era apenas um garoto, e para meu filho Tom, advogado e juiz, que participou
de todos os meus experimentos de suspensão. Agradecimentos especiais à minha filha
Theresa, que me assistiu em minha prática de medicina por mais de 25 anos e me
auxiliou em todos os meus experimentos de suspensão, e a seu marido, Steve
Mandracchia, advogado, que também participou de vários experimentos; e a meu filho
Kevin, um engenheiro mecânico que também me ajudou e ainda serviu como voluntário.
Sou grato, ainda, a meu amigo Barrie Schwortz, fotógrafo profissional, especialista
em imagens, webmaster do www.shroud.com, por me permitir usar as Figuras 2-4, 6-5,
12-1 A e B, 12-2, 12-4, 12-6, 12-7 e 18-2, por melhorar a qualidade de muitas de
minhas fotos e por seu valioso conhecimento e aconselhamento sobre a pesquisa a
respeito do Sudário. Gostaria de agradecer, ainda, a meu editor, senhor Matt
Harper. Sua meticulosa

revisão de cada parágrafo e suas inúmeras sugestões elevaram muito a qualidade do


livro.

INTRODUÇÃO

M eu interesse pela crucificação começou em 1948, quando eu estava na faculdade,


cursando biologia. Depois de uma discussão sobre um artigo publicado no Catholic
Medical Guardian, intitulado "A Causa Física da Morte de Nosso Senhor", escrito por
J. R. Whitaker, meu professor pediu que eu escrevesse o trabalho final do semestre
sobre o assunto, já que eu fora extremamente crítico em relação ao artigo.
Debrucei-me sobre tudo o que pude achar e escrevi um relatório de 30 páginas,
incluindo ilustrações e bibliografia. A pesquisa deu início a meus estudos, que vêm
durando minha vida inteira, sobre os aspectos médicos e científicos da
crucificação.

A investigação foi de longe a mais intrincada, intrigante e desafiadora experiência


de minha carreira. Como médico-legista chefe-patologista forense, tenho investigado
alguns dos casos mais complicados, surpreendentes, bizarros e cruéis, incluindo aí
homicídios, suicídios, mortes por uso de drogas, acidentes automobilísticos, mortes
suspeitas, casos de abuso infantil, envenenamentos e coisas do gênero. Nada disso
se compara aos detalhes intrincados que confrontei durante minha exploração sobre a
morte de Jesus. De certa forma, foi como se eu estivesse conduzindo uma autópsia ao
longo dos séculos. Este estudo

12

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

de uma vida inteira desafiou toda a minha carreira científica e meu conhecimento
médico nas áreas de patologia forense, medicina, cardiologia, anatomia, bioquímica,
psicologia, biofísica, fisica, ciência da computação, farmacologia, química
orgânica e não-orgânica e botânica.

The Cross and the Shroud", meu livro anterior, escrito em 1988, representou a
culminância de mais de 38 anos de pesquisa sobre os aspectos médicos da
crucificação e do Sudário de Turim. Desde a publicação desse trabalho, eu conduzi
novos experimentos sobre a crucificação. Assim, o corpo da literatura sobre o
assunto cresceu consideravelmente. Este novo livro representa a culminância de mais
de 53 anos - um novo olhar sobre a pesquisa a respeito dos aspectos médicos e
científicos da crucificação.

Em 1950, quando conheci o livro A Doctor at Calvary**, de Pierre Barbet, fiquei tão
envolvido que passei a dar palestras para várias platéias sobre o assunto. Contudo,
isso foi antes do meu ingresso na Universidade de Columbia para obter meu PhD em
anatomia humana, quando comecei a perceber que as observações e conclusões de
Barbet continham erros médicos e científicos. Por exemplo, os estudantes de
anatomia tinham um número de mnemônicos para memorizar várias estruturas anatômicas
em determinada ordem. Ao aplicar um desses mnemônicos no osso do pulso, percebi que
o espaço de Destot estava no lado oposto ao do pulso em que o Sudário de Turim
mostrava o ferimento. Comecei, então, a investigar a teoria de Barbet sobre o
polegar que faltava, suas hipóteses sobre asfixia, e mais. E foi então que percebi
que Barbet não havia aplicado os princípios do método científico em suas várias
hipóteses-requisito obrigatório na pesquisa científica. Ainda assim, suas
conjecturas foram publicadas em uma
"N. do T: "A Cruz e o Sudário", inédito no Brasil.

**N. do T: "Editado no Brasil sob o titulo A paixão de Cristo segundo o cirurgião,


Ed. Loyola, 1976.

INTRODUÇÃO

infinidade de compêndios, livros, revistas, documentários e filmes, além de terem


sido citadas ao infinito. Subseqüentemente, depois de exaustivos experimentos, pude
demonstrar que suas outras hipóteses também não eram viáveis.

Na ciência, especialmente em áreas especializadas de pesquisa, é preciso lembrar


que as coisas nem sempre são o que parecem ser. Isso é particularmente verdadeiro
na pesquisa sobre a crucificação e o Sudário, cuja literatura pertinente é
contaminada por indivíduos que escrevem coisas e dão depoimentos em áreas que não
são de seu conhecimento e por generalistas diletantes e bem-intencionados, mas que
simplesmente não têm conhecimento em área alguma.

Para minha grande decepção, minha pesquisa revelava que a literatura relacionada
com os aspectos médicos da crucificação e do Sudário estava inundada por uma
avalanche de artigos redigidos por indivíduos não-qualificados-incluindo
cirurgiões, radiologistas, clínicos gerais, psiquiatras, cientistas, estudiosos de
campos não relacionados e até mesmo leigos -, cujas conclusões se baseavam em
rumores e especulações, e não em resultados científicos, condição obrigatória
exigida pelos critérios do método científico de pesquisa. Além disso, descobri, ao
longo dos anos, que grande quantidade de artigos havia sido escrita por indivíduos
sinceros e repletos de boas intenções, mas que não possuíam a educação, o
treinamento e a experiência necessários para avaliar e interpretar as informações e
assim obter conclusões válidas. E também houve casos de pessoas que, inflamadas de
fervor religioso, chegaram a conclusões errôneas, ou seja, totalmente gratuitas.

Eu me deparei com isso em várias ocasiões. Kraemer (1992) pungentemente aponta:


"Quando aqueles sem o adequado treinamento em um campo particular são autorizados a
influenciar o progresso em determinada área (mesmo aqueles que têm excelente
treinamento em outra área qualquer), o problema não é que eles apenas produzam
mentiras, mas que essas mentiras podem impedir a procura da verdade nesse campo. É
vital, na pesquisa médica, que a ciência amadora seja

13

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

desencorajada, que o treinamento profissional apropriado ou supervisão em cada área


sejam exigidos antes que as propostas sejam aprovadas ou documentos sejam aceitos
para publicação." Comprovar conclusões válidas é a espinha dorsal da ciência, e
isso tem de ser deixado para os especialistas de suas respectivas áreas.

Patologia forense-que exige muitos anos de educação especializada e experiência-é a


especialidade médica que lida com os mecanismos e as causas de sofrimento e morte
devidos a circunstâncias violentas, como a crucificação. O patologista forense é um
detetive médico, um expert em reconstituições, cujo testemunho em juízo deve
oferecer alto grau de precisão médica. Sem dúvida, seu testemunho pode ajudar a
libertar um réu inocente ou a reinserir um assassino na sociedade.

A segunda seção deste livro discute o Sudário de Turim, uma relíquia extraordinária
que traz a imagem de corpo inteiro-frente e costasde um homem crucificado, e que
muitos acreditam ser a vestimenta que envolveu o corpo de Jesus depois que ele foi
removido da cruz. Além do aspecto religioso, a relíquia é valiosa para os
estudiosos, já que oferece informações importantes sobre o mecanismo da
crucificação. De sua descoberta, em 1349-quando esteve em poder de Geoffrey de
Charny, lorde de Lirey-, até os dias de hoje, o Sudário e sua autenticidade têm
sido motivo de muita controvérsia. Desde o começo já existia uma batalha entre os
crentes e os descrentes, mas essa rixa nunca foi tão furiosa como no dia 13 de
outubro de 1988, quando o Sudário foi testado por três renomados laboratórios
especializados em carbono 14 e o resultado divulgado apontou que a peça remontaria
aos tempos da Idade Média, mais ou menos no período 1260-1390 d.C. Ainda assim, os
mais sofisticados estudos feitos por renomados experts de várias disciplinas
científicas, que utilizaram técnicas e equipamentos de última geração, falharam em
explicar como a imagem foi criada. Todas as tentativas de recriar a imagem também
falharam. Além disso, como explicar os numerosos estudos, elaborados por outras
disciplinas, que sustentam sua

14

INTRODUÇÃO

autenticidade? Em minhas discussões sobre o Sudário, exponho ao leitor uma


avaliação aprofundada sobre a relíquia, uma crítica sobre as várias hipóteses
associadas e novas descobertas que podem alicerçar respostas que escaparam até a
cientistas e estudiosos da era espacial.

Finalmente, nesta nova edição, cito também algumas das recentes teorias e
descrições da crucificação de Jesus na cultura popular. O sucesso de bilheteria A
Paixão de Cristo, do produtor Mel Gibson, foi exaustivamente anunciado e
distribuído pelos quatro cantos do mundo não como um típico filme de Hollywood, e
sim como precisa recriação da crucificação de Jesus. Como o filme, na verdade, é
repleto de grandes erros, achei necessário discuti-lo no livro. Outra nova seção
critica o grande número de novos livros que tratam da chamada Teoria do Desmaio,
que proclama que Jesus não morreu na cruz.

Este livro representa minha procura pela verdade a respeito de dois dos mais
discutidos e debatidos tópicos no mundo. Tentei apresentar as informações e
argumentos que cercam a crucificação e o Sudário de maneira clara e imparcial.
Espero que o leitor possa emergir destas páginas com maior compreensão e interesse
crescente por esses assuntos.

Acima de tudo: seja leal contigo mesmo / E seguir-se-á, tal como a noite segue o
dia / Que então não poderás ser falso com nenhum outro homem.

Hamlet

15

{1} GETSÊMANI

Deus meu, eu clamo de dia, porém tu não me ouves; e de noite, mas não acho
descanso. Salmos 22:2

N a noite de Páscoa, na estrada que vai de Jerusalém a Betânia, em algum lugar além
do Vale do Cédron, nas escarpas ocidentais do Monte das Oliveiras, conhecido como
Getsemani (gath shemani, que significa "prensa de azeite"), ocorria um espetáculo
de significado monumental. Caminhando com passos vacilantes, Jesus de Nazaré
apareceu, profundamente entristecido, e com voz trêmula falou a seus apóstolos
favoritos, Pedro, Tiago e João: "A minha alma está triste até a morte; ficai aqui e
vigiai" (Marcos 14:34). Esse não era o Jesus que eles tinham visto em Sua
Transfiguração havia pouco tempo. Depois de um período de exaustão e repetidas
orações,

FIGURA 1-1

Agonia no Jardim. Jesus é assistido por um anjo. (Artista desconhecido)

20

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

ele olhou para o céu e disse: "Pai, se queres, afasta de mim este cálice; todavia,
não se faça a minha vontade, mas a tua'. E então apareceu um anjo do céu e lhe deu
forças. E, entrando em agonia, ele orou mais intensamente: e seu suor transformou-
se em gotas de sangue que caíram ao chão" (Lucas 22:42-44). Lucas, o autor da
passagem, era um clínico, um grego nativo da Antioquia, que escrevia nos distritos
de Acaia e Beócia. Ele era bem-educado, conhecia o idioma aramaico e estava
familiarizado com as culturas judaica e greco-romana. Concluíra seus estudos na
cidade de Tarso e era amigo íntimo de Paulo. Ele colheu informações de testemunhas
oculares e documentos e escreveu seu evangelho em 61 d.C., aproximadamente, embora
algumas fontes datem-no de 63 d.C. Lucas era um historiador preciso, com um texto
elegante marcado por cadência leve e vocabulário prodigioso. Parece estranho que
nenhum dos outros evangelhos contenha informação sobre o suor de sangue ou o anjo
consolador. Mas Lucas era médico, e, portanto, mais sensível a observações médicas
e científicas do que Mateus, Marcos ou João. Além disso, ele deve ter feito
perguntas às suas fontes e, assim, buscado precisão. Finalmente, muitos dos
primeiros escribas cristãos deliberadamente deixaram esse tipo de material de fora
de seus trabalhos pelo temor infundado de inimigos como Celso ou Porfirio, que
atacavam a credibilidade dos evangelhos. Mais tarde, quando esses temores foram
colocados de lado, numerosos códigos dos primeiros escritores foram resgatados, e
dessa forma não restou sombra de dúvida sobre a autenticidade da passagem de Lucas.

SUANDO SANGUE

As palavras de Lucas-"E seu suor transformou-se em gotas de sangue que caíram ao


chão" - têm atormentado racionalistas e teólogos por séculos. Lucas estaria
utilizando uma expressão alegórica e figurativa ou uma pessoa pode mesmo suar
sangue? Em primeiro lugar, não há razão para acreditar que Lucas quisesse usar suas
palavras em sentido figurado,

GETSEMANI

já que não existe significado algum inerente à expressão. Segundo as regras da


linguagem, uma expressão alegórica e figurativa não seria possível; não podemos
usá-la em novo sentido apenas pela polêmica em si. Por exemplo, "ele entornou o
caldo" ou "ele chutou o balde" são expressões figuradas com significados inerentes
que as pessoas relacionam a elas. Não é o que se dá com as palavras de Lucas. Em
segundo lugar, existe uma rara condição médica chamada hematidrose, também
conhecida como Sudorementus, Sudor Sanguineus, Suerdesatyouhemonhagiaperatem. A
condição é definida no Dicionário Médico Stedman como excreção de sangue ou
pigmentos de sangue através do suor. Algumas das primeiras referências a esse
fenômeno fisiológico incluem observações de Aristóteles: "Algum suor com suor
sanguinolento" (Hist. Animal III, 19). A hematidrose é também citada no livro de
Hobart Medical Language of St. Luke" (1882). Tanto o dr. Ryland Whitaker, em seu
artigo "A Causa Física da Morte de Nosso Senhor" (1935), quanto o dr. A. LeBec, em
seu "A Morte da Cruz" (1925), acharam diversos indícios sobre a hematidrose. LeBec
indicou que, em muitos casos, glóbulos vermelhos no suor foram revelados claramente
sob as lentes do microscópio.

Uma busca na vasta literatura médica revelou que um número significativo de casos
de hematidrose foram gerados por extremada reação de ansiedade motivada pelo medo.
A associação com o medo pode ser sentida de forma contundente em um estudo de J. H.
Pooley em 1884, com base em casos fundamentados. O estudo de Pooley incluía seis
casos, entre os quais o de um prisioneiro condenado que exibia essa condição
enquanto estava sendo levado para execução na guilhotina ou ao patíbulo para
enforcamento; o caso de uma mulher que foi vítima de tentativa de estupro e o caso
de um marinheiro que manifestou a condição durante violenta tormenta em alto-mar.
Nesta última situação, o aterrorizado marinheiro começou a suar sangue profusamente
e não conseguia falar

"N. do T: "A Linguagem Médica de São Lucas"

21

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

22 22

durante a tormenta; mas, quando a tempestade passou, o suor de sangue parou e sua
voz voltou ao normal. Em 1918, o dr. C. T. Scott descreveu um caso raro de uma
menina de 11 anos que vivia resguardada pelos pais, já que manifestava intenso
pavor de ataques aéreos. A criança passou a ter surtos freqüentes de hematidrose,
que começavam na fronte, uma semana depois de haver ficado extremamente assustada
com uma explosão de gás na casa ao lado, enquanto ela ainda estava na cama. Exames
de sua transpiração feitos no microscópio revelaram a existência de glóbulos
vermelhos e brancos. Em 1967, os doutores R. G. Gadzhieve A. M. Listengarten
estudaram um caso de hematidrose numa jovem que começara a suar sangue aos 19 anos.
Isso acontecia quando a paciente ficava nervosa, excitada, preocupada e assustada.

Casos de hematidrose foram relatados nos Estados Unidos por Mitchell, em 1880; na
literatura francesa, por Broeg, em 1907, e por Darier, em 1930; na literatura
russa, por Lavsky, em 1932, e por Gadzhiev e Listengarten, em 1962; na literatura
alemã, por Ledalius, em 1683, Tittel, em 1876 e Riecke, em 1923; na literatura
inglesa, em 1861, por Chambers, e em 1918, por Scott. O caso de Lavsky foi
associado com mudanças psicológicas e comportamentais. Na maioria dos casos,
glóbulos vermelhos foram observados na transpiração, logo após a análise
microscópica. Nenhum sangue ou outras anormalidades físicas foram encontradas nos
exames seguintes para justificar o fenômeno, e a desordem não parecia responder a
tratamento. Holoubek e Holoubek elaboraram um relatório contendo 76 casos e os
agruparam em indivíduos com doenças sistêmicas, menstruação irregular, esforço
excessivo, causas desconhecidas e origens psicogênicas (ocorrências simples,
recorrentes e estigmáticas). Eles concluíram que "os fatores psicogênicos presentes
em uma situação de medo extremo ou em um estado de contemplação mental intensa são
os fatores motivadores em amplo número de relatos".

GETSEMANI

FIGURA 1-2 UITAMEN

Diagrama da mão humana ampliada cem vezes:


a. epiderme (camada superior da pele)

b. duto de uma glândula de suor

c. glândula de suor, espiralada

d. fornecimento de sangue da glândula de suor

FIGURA 1-3 Foto microscópica da pele humana ampliada cem vezes

a. duto de uma glândula de suor b. área interior de uma glândula de suor c.


fornecimento de sangue em torno da glândula de suor

23

24

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

MEDO E HEMATIDROSE

Para entender como o medo causa hematidrose, é necessário aprender alguns fatos
médicos básicos sobre o sistema nervoso autônomo, a anatomia das glândulas de suor,
os efeitos da ansiedade e como se inicia a "reação lutar ou fugir".

O Sistema Nervoso Autônomo

O sistema nervoso autônomo consiste de uma divisão simpática (DS) e uma divisão
parassimpática (DP). Juntas, elas controlam várias funções do corpo, como a
freqüência cardíaca; os movimentos do trato gastrointestinal; o calibre das
válvulas sangüíneas; a transpiração; as contrações ou o relaxamento dos músculos da
bexiga urinária, da vesícula biliar e dos brônquios; a abertura e a contração das
pupilas; e a acomodação. Em termos práticos, as duas divisões podem ser
consideradas antagônicas, isto é, um sistema reage de forma oposta ao outro. Por
exemplo, a DS aumenta a freqüência cardíaca durante a excitação e a DP a diminui. A
DS ativa e a DP desativa as glândulas sudoriparas. A DS relaxa ou dilata a pupila
para que entre mais luz na penumbra e a DP contrai a pupila sob a luz solar direta,
para reduzir a quantidade de luz que entra no olho. A DS relaxa o olho para a visão
a distância e a DP o contrai para a visão mais próxima.

A Anatomia das Glândulas Sudoríparas

Existem dois tipos de glândulas sudoríparas: exócrinas e apócrinas. As glândulas


exócrinas são as principais glândulas do suor, e estão distribuídas por toda a
superficie do corpo; de acordo com vários estudos, somam cerca de dois milhões. São
menores que as glândulas apócrinas e têm formato tubular, localizando-se logo
debaixo da pele, como pode ser visto na Figura 1-2. Essas glândulas têm forma de
espiral e são interligadas por numerosos vasos sangüíneos, como mostra a Figura 1-
3. Os tubos são dutos que carregam o suor para fora da pele.

GETSEMANI

Efeitos da Ansiedade

A ansiedade é definida pelos doutores L. D. Adams e J. Hope como um fenômeno médico


que "designa um estado caracterizado por um sentimento subjetivo de medo e uma
inquieta antecipação (apreensão), comumente com um conteúdo tópico definido e
associado com as sensações fisiológicas do medo: falta de ar, sensação de
engasgamento, palpitações cardíacas, desconforto, alta tensão muscular, aperto no
peito, tontura, tremores, suor, rubor e sono fragmentado". Muito se tem escrito
sobre as bases fisiológicas e psicológicas dos estados de ansiedade, e muitos se
apegam à teoria de que a ansiedade é uma reação instintiva herdada do medo, uma
resposta interna a situações de perigo localizada em algum lugar do inconsciente.
Estudos recentes identificaram uma área do cérebro chamada amígdala como a "central
do medo". Quando essa central é alertada, ela manda um "alarme de defesa" para os
principais centros do cérebro; estes, por sua vez, repassam o alarme para as várias
estruturas do corpo, que desencadeiam os sintomas já descritos. Existem dois tipos
de ataques de ansiedade: o ataque agudo, que dura de alguns minutos a horas, e o
ataque crônico, que pode durar de horas a anos. O ataque agudo de ansiedade pode
provocar intenso medo de morrer, acompanhado de perda da razão, palpitações, suor,
tremores, sensação de engasgamento, palidez e falta de ar. Muitos indivíduos pensam
que estão sofrendo um ataque cardíaco. Esses ataques agudos são conhecidos no meio
médico como "ataques de pânico".

Indivíduos podem desenvolver ataques de pânico por várias razões físicas ou


emocionais. Ansiedade e depressão causam terríveis sentimentos de desconforto e
preocupação nas pessoas, freqüentemente incapacitando-as e atirando-as no estado de
pânico. A fadiga, por sua vez, é uma conseqüência do esforço de se lidar com o
medo. Alguns dos sintomas da ansiedade incluem irritabilidade, apreensão, insônia,
agitação, mudanças na freqüência cardíaca, tremor interno, palpitações,
incapacidade para se concentrar e perda de apetite. Indivíduos que

55 25

26

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

sofrem de ansiedade também podem reagir a qualquer estímulo inesperado. Um estado


de desesperança com freqüência imobiliza a pessoa ou desencadeia crises de choro
incontrolável. As pessoas que passam por esse estado de angústia mental apresentam
baixa autoestima, sentem-se rejeitadas ou melancólicas, tornam-se reclusas e exibem
extrema tristeza, desânimo, desespero, desencorajamento e falta de ambição.
Freqüentemente, ouvimos pessoas que enfrentam uma crise emocional, por doença grave
ou pela morte de um ente querido, relatarem que preferiam sentir dor física a
encarar a ansiedade mental pela qual estão passando. Algumas pessoas que não
conseguem lidar com seus temores podem apresentar tendências suicidas e, se isso
não for diagnosticado e tratado a tempo, os resultados podem ser desastrosos. Como
legista, autopsiei indivíduos que cometeram suicídio, acreditando ser portadores de
câncer ou outra doença grave, e o resultado da autópsia simplesmente revelou que a
doença não existia.

Lutar ou Fugir

O sistema do alarme de defesa, acionado pela "central do medo" no cérebro, é


conhecido como a reação de lutar-ou-fugir. O sistema nervoso autônomo é ativado na
tentativa de proteger o corpo de algum dano. Quando uma pessoa sente a aproximação
de um perigo, a reação lutar-ou-fugir é ativada, colocando o corpo em alerta total.
A divisão simpática do sistema nervoso central é ativada e um composto químico
similar à adrenalina, chamado catecolamina, é produzido, acelerando a taxa
cardíaca, contraindo os vasos sangüíneos para aumentar a pressão e desviando o
sangue da pele e de áreas não essenciais para o cérebro, a fim de aguçar a
percepção e permitir mais força e velocidade aos músculos das pernas e dos braços.
Esse desvio do sangue causa a palidez característica associada ao medo. As pupilas
se dilatam para que entre mais luz, possibilitando que a pessoa veja melhor ao seu
redor, o sangue é liberado para produzir energia adicional, a profundidade e a taxa
de respiração são aumentadas para

GETSEMANI

garantir o oxigênio adequado e vários sistemas, como o digestivo, são


desacelerados, para que a energia seja preservada. Quando o perigo passa,
dependendo de ter havido confronto ou retirada, a divisão parassimpática é ativada
e o oposto acontece. A taxa cardíaca diminui, a pressão sanguínea cai, o sangue
retorna à pele e aos vasos sanguíneos das glândulas que produzem o suor, a
respiração se torna mais leve, as pupilas se contraem e o sistema digestivo se
torna ativo.

HEMATIDROSE E O JARDIM DO GETSÊMANI

Entendendo como o sistema nervoso autônomo funciona, tendo uma idéia básica da
anatomia das glândulas sudoríparas e compreendendo o que é ansiedade e como a
reação lutar-ou-fugir é ativada, é possível aplicar esse conhecimento para entender
o mecanismo da hematidrose no Jardim do Getsemani. Eis o que aconteceu: a reação
lutar-ou-fugir foi iniciada pelas águas turbulentas de medo extremo, tristeza e
ansiedade que direcionavam o espírito de Jesus para os limites extremos de Sua
humanidade. "Minha alma está triste até a morte" (Marcos 14:34). A missão de Jesus
era clara e Ele era capaz de prever todo o espectro de sofrimento e morte que
estava por vir. Esse prelúdio produziu medo extremo e satisfez todos os critérios
médicos para que se iniciasse a resposta simpatética autônoma. O coração de Jesus
bateu forte em Seu peito, um suor frio se manifestou, Sua pele ficou empalidecida,
Suas pupilas se dilataram, Seus músculos se enrijeceram e Ele começou a tremer
durante toda a noite. O fato de que Jesus "caiu no chão e orou..." (Marcos 14:35)
foi uma indicação de sua fraqueza, já que era incomum um judeu ajoelhar-se durante
a oração. Jesus orou repetidamente. Essa reação severa foi seguida de uma reação
contrária desencadeada pelo sistema nervoso parassimpático, em resposta à aceitação
de Jesus de Seu destino. As Escrituras nos dizem: "Ele se retirou, ajoelhou-se e
rezou: 'Pai, se queres, afasta de mim este cálice; todavia, não se faça a minha
vontade, mas a tua'. Então, apareceu-Lhe

27 22

28

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

um anjo vindo do céu (Figura 1-1), deu-Lhe forças, e Ele, estando em agonia, orou
mais intensamente (Lucas 22:41, 42). A taxa cardíaca diminuiu, o corpo inteiro
começou a suar, Seus músculos relaxaram, a cor retornou à Sua face. Seus vasos
sangüíneos se dilataram, precipitando o sangue nos delicados capilares que
circundam as glândulas de suor (Figuras 1-2 e 1-3) e induzindo-os a irromper nos
dutos, misturando o sangue com a crescente quantidade de suor, projetada à
superficie da pele exatamente como foi descrito por São Lucas, o médico: "E seu
suor transformou-se em gotas de sangue, que caíram ao chão" (Lucas 22:43).

Em síntese, a explicação mais lógica para o fenômeno da hematidrose é a seguinte: o


extremo estado de ansiedade mental causado pelo pavor estimulou o centro do medo
(amígdala), que mandou um alarme geral para todos os centros do cérebro, evocando a
plena reação de lutar-ou-fugir. Essa reação durou horas, resultando em um estado

Cromohidrose: O conceito é de interesse académico, pois uma nova escola de


pensamento nos últimos anos atribui o fenómeno de suar sangue a uma condição
chamada cromohidrose, que se caracteriza pela secreção de suor colorido. A teoria é
completamente indefensável para se entender a hematidrose, mas é importante
discuti-la primeiro, antes de descartá-la. Os defensores dessa hipótese incluem
Shelley e Hurley. que a analisaram na literatura, citaram casos de cromohidrose e
sugeriram uma conexão com a hematidrose localizada, para assim explicar o
sangramento em estigmáticos. O dr. Rothman, em seu livro Physiology and
Biochemistry of the Skin", concordou que esse ponto era significativo e chegou a
sugerir que as palmas que sangravam da estigmática austriaca Theresa de
Konnersreuth poderiam ser explicadas pelo suor colorido. Admitiu, entretanto, que
isso era improvável no caso de Theresa de Konnersreuth, porque a ocorrência das
glandulas apócrinas nas palmas não seria possível, por razões filogenéticas e pelo
fato de ela nunca ter suado sangue pela palma das mãos. Ela mostrou marcas
hemorrágicas na parte de trás e da frente das mãos.

O professor Ewald, docente de Psiquiatria na Universidade de Erlangen, que observou


uma das vezes em que a estigmática sangrou, notou cascas de ferida cobrindo suaves
lesões hemorrágicas na parte de trás de suas mãos e pés, com lesões menores nas
palmas e solas, além de marcas perto do coração, na área do esterno. O fato não tem
relação com o fenómeno de suar. Shelley e Hurley se referiram ao hipopótamo, que é
conhecido por "suar sangue", mas na verdade ele segrega uma substância apócrina
vermelha e pegajosa quando está com raiva ou excitado. Eu contatei o professor C.
P. Luck, do Departamento de Fisiologia da Universidade e Escola Médica de Makere,
em Kampala, Uganda, que eu acredito ser um dos cientistas com o maior conhecimento
sobre as glándulas de suor do hipopótamo. Ele disse que o animal normalmente
segrega uma substância vermelha, mas não sempre, e que isso com certeza não se
restringe aos momentos de raiva, como foi apontado por Shelley e Hurley. E revelou,
também, que se trata de uma questão individual. Mas como o fenómeno acontece nos
hipopótamos, vasculhei toda a literatura médica e não fui capaz de achar um único
caso de pessoa com cromohidrose que tenha expelido uma secreção vermelha por
qualquer parte do corpo, especialmente o rosto.

*N. do T.: "Fisiologia e Bioquímica da Pele".

GETSEMANI

de exaustão total, que cessou abruptamente quando, depois que o anjo O reconfortou,
houve uma reação contrária e Ele aceitou Seu destino. Isso fez que seus vasos
sanguíneos se dilatassem e irrompessem diretamente nas glândulas de suor,
terminando por sair pela pele, exatamente como foi descrito por São Lucas. A
hematidrose é considerada um caso médico raro, mas a presença de ansiedade e
profundo pavor corresponde aos numerosos casos relatados na literatura médica
previamente indicada. A hematidrose no Getsemani foi o reflexo do extremo
sofrimento mental de Jesus.

SUMÁRIO DA RECONSTITUIÇÃO FORENSE

É extremamente importante perceber que o impacto total da agonia de Jesus no Jardim


não é geralmente reconhecido entre os cristãos. Seu significado reside não apenas
no fato de que Jesus passou por violento sofrimento físico durante o Caminho da
Cruz, mas que Ele também foi vítima de extrema angústia mental, que drenou e
debilitou Sua força física, até o ponto de total exaustão.

Para reconstruir o mecanismo e a causa da morte de Jesus e assim obter uma


compreensão mais precisa dos efeitos de cada fase da jornada do Getsemani ao
Calvário, o patologista forense deve examinar e reconstituir de forma crítica a
Paixão (os efeitos da hematidrose, o flagelo, a coroa de espinhos, a estrada para o
Calvário, a fixação e suspensão na cruz).
Durante a primeira fase da jornada, ocorrida no Jardim do Getsemani, a hematidrose
ilustra a gravidade do sofrimento mental de Jesus, um aspecto que não é reconhecido
quando Sua dor é contemplada. Os efeitos da hematidrose e da profunda ansiedade a
ela associada são fraqueza geral, depressão, pequena ou moderada desidratação e
discreta hipovolemia (baixo volume sangüíneo e de fluido) devidos ao suor e perda
de sangue - tudo isso deve ter enfraquecido Jesus antes de Sua crucificação.

29

{2} O FLAGELO ROMANO

Como pasmaram muitos à vista Dele - pois o Seu aspecto estava tão desfigurado que
não era o de um homem, e a sua figura não era a dos filhos dos homens. Isaías 52:14

P or volta das duas horas da tarde, logo depois da agonia no Jardim do Getsemani,
Jesus foi amarrado pelas costas e levado do local-por um grupo de funcionários do
templo e soldados romanos, através do vale do Cédron - até a casa de Caifás, o
supremo sacerdote, onde Ele seria apresentado ao Sinédrio logo pela manhã. Após um
interrogatório preliminar feito por Anás, sogro de Caifás, Jesus foi levado a uma
área de detenção, onde, de acordo com Lucas, "os homens que detinham Jesus zombavam
Dele e O feriam; e, vendando-lhe os olhos, perguntavam: 'Profetiza, então: quem foi
que te bateu?' E, blasfemando, diziam muitas outras coisas contra Ele" (Lucas
22:63-65). Nota: a extensão do açoitamento e a jornada através do Vale do Cédron
certamente contribuíram para a condição física de Jesus, já enfraquecido pela
hematidrose e a ansiedade aguda sofrida

O FLAGELO ROMANO

no Jardim do Getsemani. Horas depois, ao raiar do dia, fatigado e humilhado, Jesus


foi levado diante do Sinédrio, o mais alto conselho religioso da região, presidido
por Caifás.

O conselho era composto por altos sacerdotes, líderes do povo, fariseus eescribus.
O interrogatório, que consistia apenas no testemunho de Jesus, não atingia os pré-
requisitos necessários para a condenação segundo as leis judaicas. Estas exigiamo
depoimento de pelo menos duas testemunhas, e não apenas a palavra do acusado, para
que fosse expedida a sentença de morte. Caifás perguntou a Jesus: "És tuo Cristo, o
filho do Abençoado?". Jesus respondeu: "Eu sou. E vereis o Filho do homem assentado
à direita do Poderoso e vindo com as nuvens do Céu" (Marcos 14:62). Isso era tudo o
que eles precisavam ouvir; o Sinédrio rapidamente condenou Jesus à morte, sem mais
testemunhas, já que ao dizer que era filho de Deus, Ele estaria blasfemando. O
Procurador da Judéia, contudo, era a única pessoa com poderes para decretar a pena
de morte, e o Sinédrio sabia que a única chance de ela ser aprovada seria com base
política e não por meio de uma acusação religiosa. "Depois, conduziram Jesus da
presença de Caifás para a sala de julgamento" (João 18:28) para que se apresentasse
perante Pilatos. O pretório (sala de julgamento) era o local onde o pretor exercia
sua função, sobre o pavimento da fortaleza romana de Antônia, localizada na "mais
alta das colinas" (Flávio Josefo, A Guerra Judaica). A fortaleza era composta por
quatro torres, que circundavam um vasto local aberto. O sumo sacerdote e os
escribas levaram Jesus perante o Procurador da Judéia, Pôncio Pilatos, "E começaram
a acusá-lo, dizendo: Achamos este homem pervertendo nossa nação e proibindo de dar
o tributo a César, e dizendo ser, ele mesmo, Cristo, Rei"" (Lucas 23:2). "Alvoroça
o povo, ensinando por toda a Judéia, desde a Galiléia até aqui" (Lucas 23:5). Jesus
foi então levado para dentro. Pilatos entrou novamente no pretório e tomou seu
lugar na cadeira posta no centro do tribunal elevado e em forma de arco. Depois de
questionar Jesus, Pilatos afirmou que não podia considerá-10 culpado de crime
algum, muito menos de lesa majestade contra o governo de Roma. Pilatos até tentou
livrar-se da

31

32

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

situação, enviando Jesus para Herodes, mas este simplesmente o vestiu de maneira
pomposa e o mandou de volta. Pilatos ainda insistiu que Jesus não era culpado de
nada e não tinha intenção de matá-lo, dizendo que Ele não fizera coisa alguma digna
de morte. "Castigá-lo-ei, pois, e soltá-lo-ei" (Lucas 23:15-16). Ordenou então a
flagelação para apaziguar os sacerdotes e líderes do povo judeu, achando que, ao
verem Jesus num estado tão lastimável, eles ficariam satisfeitos. "Pilatos, então,
tomou Jesus e mandou açoitá-lo" (João 19:1). Mas o que é, verdadeiramente, a
flagelação? Como é executada e qual o efeito que tem sobre a vítima?

O QUE É FLAGELAÇÃO?

Oflagellatio romano, mais conhecido como flagelação ou açoitamento, era uma das
mais temidas de usualmente executado

FIGURA 2-1

O flagrum romano. Extremidades de couro com pesos de metal em forma de haltere.


Compare o formato desses pesos com as marcas de açoitamento no Sudário, na Figura
2-4.

todas as punições. Um castigo brutal e desumano, pelos soldados romanos, que usavam
um dos mais terríveis instrumentos da época, chamado flagrum, ou, nas palavras de
Horácio, "o horrível flagelo". A flagelação era um procedimento normal entre os
romanos antes da crucificação. Muitos acham que no açoitamento era usado um chicote
comum. De certa forma isso é correto, mas seria como comparar um choque elétrico a
um raio. Oflagrum era confeccionado de várias formas, sendo que a mais corriqueira
era a de um chicote de couro com três ou até mais extremidades também de couro, com
bolinhas de metal, ossos de carneiro (astragals) e outros objetos pendurados ao
final de cada uma (Figura 2-1). Esse tipo de flagrum é o mais compatível com as
descobertas relativas ao Sudário. As evidências indicam que o flagrum com várias
extremidades e suas esferas de

OFLAGELO ROMANO

chumbo (plumbatae) ou osso era usado principalmente nas crucificações. Em 1709, um


exemplar do flagrum romano, com várias extremidades e objetos em forma de haltere,
foi encontrado nas escavações em Herculaneum, antiga cidade romana destruída por
uma erupção vulcânica em 79 d.C.

Mais raramente, os pesos nas extremidades do flagrum eram pontiagudos e chamados de


scorpiones. Havia outros tipos de flagrum; www cuja estrutura trazia três
correntes; outro contendo pequenos objetos em forma de botões e, ainda, uma versão
mais rara e sofisticada, com vários pedaços de ferro ou zinco presos
intermitentemente, em intervalos, ao longo de cada tira de couro (mostrado no
baixo-relevo de uma estátua de Cibele no Museu do Capitólio, em Roma). Um tipo de
chicote mais simples, chamado scutica, também era usado.

Os romanos não tinham nenhuma lei que regulamentasse o número de golpes que
poderiam ser aplicados. Em compensação, era contra a Lei Mosaica exceder 40
chibatadas, e 39 era um número usualmente aplicado para estar de acordo com a lei.
Em muitos casos, a vontade dos executores determinava o número de golpes, muitas
vezes por diversão pessoal. Entretanto, quando eles não queriam que o crucarius
(avitima) sucumbisse muito rápido, administravam apenas alguns açoites antes da
crucificação. O número de chibatadas dependia também de quem era o indivíduo e da
natureza de seu crime. Quando o scoitamento era usado como forma de punição
capital, a vítima era espancada até a morte. Essa punição era também empregada como
forma de extrair informações de espiões, inimigos políticos e conspiradores. Quanto
maior o crime, mais intenso era o castigo com flagrum, exceto nos casos de
crucificação, nos quais, como já foi dito, não era intenção que o indivíduo
morresse muito rápido na cruz.

A ordem de Pilatos para que Jesus fosse açoitado de forma tão extrema foi baseada
em seu desejo de aplacar a multidão, pois tinha medo de que a massa o denunciasse
ao imperador ou que se iniciasse uma revolução. Foi claramente uma movimentação
política da parte de Pilatos, visto que

33

34

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

nem ele nem Herodes encontraram culpa em Jesus. A punição, porém, não aplacou
ninguém, já que mesmo quando Pilatos deu aos oficiais judeus a opção de libertar
Jesus ou um assassino e ladrão de nome Barrabás (Pilatos estava certo de que não
iriam querer um assassino entre eles, certamente iriam preferir Jesus, que já tinha
sido açoitado até os limites da Lei Judaica), a massa exigiu que Barrabás fosse
solto e Jesus crucificado. Por fim, Pilatos foi obrigado a pronunciar a sentença,
que foi irrevogável. Ibis ad crucem ("Tudeverás ir para a cruz").

COMO A FLAGELAÇÃO ERA EXECUTADA?

Embora a flagelação fosse realizada de várias maneiras, a vítima geralmente era


despida e presa pelos pulsos a um objeto fixo, como uma coluna rebaixada, forçando-
a a ficar curvada, o que facilitava o trabalho do carrasco. Um ou mais soldados
romanos eram escalados para iniciar o chicoteamento. O soldado ficava de pé ao lado
do prisioneiro com o flagrum na mão e, ao receber a ordem, lançava o instrumento de
couro para trás das costas, girava o pulso e golpeava as costas nuas do prisioneiro
como se fosse um arco. O peso do metal ou dos objetos feitos de osso nas pontas das
tiras de couro atingiam as costas e os braços, os ombros e as pernas, incluindo as
panturrilhas (Figura 2-2). Os pedaços de metal penetravam na carne, rasgando vasos
sanguíneos, nervos, músculos e pele. A manobra era repetida ininterruptamente, com
os soldados trocando de posição até atingir o número definido de chibatadas.

FIGURA 2-2 O ato da flagelação. A vítima era normalmente amarrada a uma coluna e
açoitada.

O FLAGELO ROMANO

OS EFEITOS FÍSICOS DA FLAGELAÇÃO

Você já recebeu um golpe na costela, como um soco ou uma bolada de beisebol? A dor
é extremamente intensa e pode durar semanas. A respiração se torna superficial, já
que uma inspiração profunda provoca dor. A isso se chama tensão nos músculos.
Dormir passa a ser um problema, porque a única posição confortável é deitar-se de
costas. Deitar-se do lado do ferimento é muito desconfortável, e, como a estrutura
das costelas é interligada, deitar do lado oposto coloca tensão em todo o conjunto,
ampliando o desconforto. Imagine a intensidade da dor se você receber numerosos
golpes violentos na costela com o flagrum, como foi descrito antes. Pacientes que
se machucam no tórax ou sofrem certos tipos de cirurgia, como a do aparelho
urinário, apresentam dificuldade para respirar e são periodicamente obrigados a
usar um aparelho chamado espirômetro, para assegurar que os pulmões inflem
totalmente e impedir que se contraia pneumonia.

Os efeitos da flagelação fazem o que foi relatado anteriormente parecer apenas uma
simples surra. Depois do açoitamento, aparecem no corpo da vítima enormes feridas
(com matizes de preto, azul e vermelho), lacerações, arranhões e inchaço,
basicamente ao redor das perfurações feitas pelo peso dos objetos ou scorpiones.
Sêneca fez referências às "horrendas contusões" nos ombros e no peito.
Freqüentemente, as costelas eram fraturadas. As vítimas esperneavam, se contorciam
em agonia, caindo de joelhos, mas eram forçadas a se levantar novamente, até não
poder mais. A respiração do açoitado era severamente afetada, porque os golpes no
peito causavam dores excruciantes toda vez que ele tentava recuperar o fôlego. Os
músculos intercostais, entre as costas e os músculos do peito, apresentavam
hemorragia, e os pulmões eram lacerados, freqüentemente colapsados -todos esses
fatores impunham à vítima extrema dor quando tentava respirar. Experimentos em
animais realizados pelos doutores R.A. Daniels e W. R. Cate mostraram que os golpes
no peito dos espécimes

35

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

causaram ruptura no espaço de ar do pulmão (alvéolos) e espasmos nos tubos de ar


(brônquios).

Recentemente, realizei autópsia em um jovem em boas condições físicas, que havia


sido espancado com um cinto e o fio de um abajur em forma de laço. Ele apresentava
hemorragia nos músculos intercostais (que ficam entre as costelas, na frente e
atrás) e nos músculos das costas e do tríceps (por trás da parte de cima dos
braços); incontáveis feridas e hemorragia nos pulmões; e pneumotórax (colapso dos
pulmões) (Figura 2-3 a-c). O açoitamento com flagrum é ainda mais grave do que com
um cinto e um fio de abajur, e resulta em fraturas nas costelas e ferimentos e
lacerações nos pulmões, causando sangramento nas cavidades do peito e pneumotórax
parcial ou total. Fraturas nas costelas eram comuns, dificultando a respiração.
Estudos recentes provaram que uma simples fratura nas costelas causaria a perda de
125 mililitros de sangue. Jorros de vômito, tremores, ataques e desmaios podiam
ocorrer a intervalos variados e, às vezes, de forma simultânea, durante o
procedimento. A vítima guinchava a cada golpe, normalmente implorando por
misericórdia. Períodos de intensa transpiração ocorriam intermitentemente. A vítima
era reduzida a uma massa de carne, exaurida e destroçada, ansiando por água. A
flagelação levou Jesus a um prematuro estado de choque. Nas horas seguintes, houve
um vagaroso acúmulo de fluido (efusão pleural) ao redor de Seus pulmões, causando
dificuldades na respiração. Pode ter havido laceração no fígado e no baço.

EVIDÊNCIA DE FLAGELAÇÃO NO SUDÁRIO

Uma análise do Sudário de Turim revela de forma contundente marcas de um objeto em


forma de haltere, atingindo a parte dianteira e traseira do tronco e chegando às
panturrilhas, mas poupando a cabeça, o pescoço e os braços, o que é consistente com
o tipo de flagrum usado. A relativa falta de marcas do açoite nos braços sustenta a
teoria de que
36

O FLAGELO ROMANO

eles tenham sido levantados acima da cabeça. O número de marcas de açoite


ultrapassa cem (Figura 2-4). Como foi observado anteriormente, os romanos não
tinham leis que regulavam o número de chibatadas que poderiam se administradas, mas
era contra a Lei Mosaica passar dos 40 golpes. É o que se lê em Deuteronômio 25:3:
"Até quarenta açoites lhe poderá dar, não mais; para que, porventura, se lhe der
mais açoites do que estes, teu irmão não fique degradado aos teus olhos". E em
Coríntios II, 11:24, "cinco vezes recebi quarenta açoites menos um". Então, a
estimativa de mais de cem chibatadas no Sudário entraria em conflito com o que diz
Deuteronômio 25:3? A resposta é simples. O flagrum era formado de três tiras;
assim, cada golpe causaria três marcas e 39 golpes somariam 117 lacerações. Se
fossem quatro extremidades no flagrum, bastaria multiplicar o número de golpes por
esse número.

As marcas em forma de haltere podem não ser evidências de machucados ou contusões,


como pensam alguns, mas, sim, marcas de pequenas quebras na pele, resultando em
"padrões de ferimento" muito parecidos com os que vemos na patologia forense. Esses
padrões em forma de haltere no Sudário são o resultado das impressões feitas pelo
sangue presente nas quebras de pele causadas pelos objetos do flagrum. Como esse
tipo de ferida produz muito sangue, os padrões na pele só poderiam ser vistos na
autópsia depois que os ferimentos fossem gentilmente lavados. Fotos ultravioleta
tiradas da parte traseira do Sudário de Turim ainda mostram numerosos arranhões,
que não poderiam ter sido vistos se o sangue não tivesse sido lavado do corpo.
Quando o corpo é lavado para ser enterrado, uma leve camada de sangue e soro flui
das feridas, deixando assim algumas marcas. Esse processo foi facilmente
reproduzido na autópsia. Ao se lavar o sangue acumulado nas feridas de vítimas de
acidentes de trânsito algumas horas após sua morte e, subseqüentemente, envolvendo
os corpos em tecido de linho ou toalha de papel, obtiveram-se marcas no tecido ou
na toalha (Figuras 14-3 a 14-6).

37

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

A.C.W.E.

FIGURA 2-3

01/888

Um espancamento nas costas de um jovem

a. a região das costas mostra as marcas de ferimentos feitas pelo cinto e pelo fio

do abajur

b. a cavidade torácica

mostra hemorragia

c. os pulmões entraram em

colapso e apresentam
hemorragia

(Material obtido no curso de uma investigação médica oficial e admitido como prova)

01/885

38

O FLAGELO ROMANO

FIGURA 2-4

Marcas de flagelação na parte de trás do Sudário de Turim. Relativamente bem


definidas, elas correspondem aos objetos em forma de haltere do flagrum (Cortesia
de Barrie Schwortz)

SUMÁRIO DA RECONSTITUIÇÃO FORENSE

Depois da flagelação, a condição de Jesus era relativamente grave. Ele estava


prestes a sofrer um choque traumático em razão dos ferimentos causados pelas
chibatadas - particularmente na caixa torácica e nos pulmões-e pelos maus-tratos
anteriores, na residência de Caifás. Além disso, um quadro de hipovolemia (baixo
volume de sangue) se desenvolvia por causa da baixa efusão pleural, da hematidrose,
das

39

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

40

pequenas hemorragias resultantes da flagelação, do vômito e da extrema


transpiração. É importante notar que, mais tarde, quando José de Arimatéia
requisitou o corpo de Jesus para o enterro, Pilatos demonstrou surpresa ao saber
que Ele havia morrido logo (Marcos 15:44-45). A morte precoce de Jesus pode, no
entanto, ser facilmente explicada se colocarmos tudo em perspectiva. A flagelação
foi particularmente brutal e, em minha opinião, não há dúvida de que a intensidade
do açoitamento foi a causa principal de Sua morte precoce. (Veja o Capítulo 9 para
uma discussão mais aprofundada sobre os diferentes tipos de choque e maior
compreensão de seus efeitos.)

Os primeiros estágios de hipovolemia (perda de líquido em circulação) e o choque


hipovolêmico poderiam ter causado fraqueza, cor acinzentada e suor abundante. É
importante notar que o brutal espancamento na caixa torácica poderia ter afetado os
pulmões e ocasionado a concentração de fluido no local. O fluido, misturado ao
sangue, deve ter aumentado algumas horas depois dos golpes no peito, dificultando a
respiração e causando dor extrema. O termo pulmão molhado traumático refere-se a
acúmulo de sangue, líquido e muco depois de um violento trauma no tórax.

{3} COROANDO UM REI


Ofereci as minhas costas aos que me feriam, e as minhas faces aos que me arrancavam
a barba; não escondi o meu rosto dos que me afrontavam e me cuspiam. Isaías 50:6

A "diversão" dos soldados começou logo após o brutal açoitamento, antes de Jesus
ser levado a Pilatos. Marcos relata: "Vestiram-no de púrpura e puseram-lhe na
cabeça uma coroa de espinhos que haviam tecido; e começaram a saudá-lo: 'Salve, Rei
dos Judeus'! Davam-lhe com um graveto na cabeça, cuspiam nele e, postos de joelhos,
o adoravam" (Marcos 15:17-19). Afinal de contas, Ele não reivindicara o título de
Rei dos judeus? Era tudo o de que os soldados precisavam. Eles chamaram seus
camaradas e criaram uma paródia da coroação de Jesus. O manto púrpura era a
vestimenta usada por reis e líderes logo após uma conquista militar. O manto, junto
com a coroa de espinhos, contribuiu para ridicularizar a posição de Jesus. Um falso
cetro feito de gravetos foi colocado em Suas mãos. Os soldados passaram pelo
Cristo, ajoelhando-se perante Ele, cuspiram

42

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

nEle, tiraram-Lhe o falso cetro e com ele golpearam Sua coroa de espinhos, e também
o nariz e a face, como se Lhe rendessem "homenagem". Seu rosto ficou arranhado e o
nariz machucado. É de lamentar que, a propósito da coroação de espinhos, a tradição
só mencione a humilhação grosseira a que o Cristo foi submetido, e não o sofrimento
físico que indubitavelmente Ele suportou. A maioria dos cristãos parece haver
esquecido o alto grau de dor física causado pela coroação de espinhos.

Para compreender os efeitos dessa modalidade de tortura, é necessário entender algo


sobre a natureza da planta usada na confecção da coroa e sobre a anatomia da região
da cabeça, além de uma explicação dos aspectos médicos relacionados.

FIGURA 3-1

Espinheiro-de-cristo sírio (Ziziphus spina-christi (L. Wild]). O desenho mostra os


espinhos rijos, desiguais e afiados na base de cada folha.

FIGURA 3-2

Espinho-de-cristo (Paliuris spina-christi [Mill]). Desenho de planta com padrão


similar ao Ziziphus spina-christi.

COROANDO UM REI

AS PLANTAS E A COROA DE ESPINHOS

A planta utilizada na confecção da coroa de espinhos tem sido objeto de muito


debate. Os mais renomados experts em botânica da Terra Santa, porém, restringiram
as espécies ao espinheiro-de-cristo sírio (Ziziphus spina-dhristi [L. Wild), também
conhecido como Rhamnus spinachristi (L. Wild) e Rhamnus nabeca (Forsk) (Figuras 3-1
e 3-3); ou espinhode-cristo (Paliuris spina-christi [Mill), também conhecido como
Paliuris aculeatus (Lam), Rhamnus paliuris (L. Wild) ou Ziziphus paliuris (L. Wild)
(Figura 3-2). As duas plantas são membros da família de plantas espinhosas
(Rhamnaceae) e muito parecidas entre si. O espinheiro-decristo sírio também é
chamado de dom, sidr ou nulok, e, de acordo com Moldenke, "cresce abundantemente
das planícies da Síria e do Líbano até Palestina, Arábia, Petraea e Sinai. Em carta
a mim endereçada, o dr. Michael Evenari, professor de Botânica da Universidade
Hebraica de Jerusalém, revelou que o espinheiro-de-cristo é uma espécie do norte do
Mediterrâneo. Pode ser achada na fronteira sul de Israel, chegando até a Samaria,
mas não é encontrada hoje em Jerusalém e cercanias. Ele afirmou também que é
bastante improvável que ela crescesse em Jerusalém na época de Cristo, mas admite
que ninguém pode ter certeza absoluta disso. Por outro lado, o dr. Evenari defendeu
que o espinheirode-cristo sírio era mais comum que o espinho-de-cristo e, portanto,
o candidato mais provável à coroa de espinhos. O botânico G. Post concorda com o
dr. Evenari, afirmando que o espinho-de-cristo não cresce em Jerusalém ou na
Judéia. Ele tem registros da planta em outras áreas da Terra Santa, incluindo
Nazaré, Galiléia, Jafa e Beirute. Na opinião que o grande Lineus defendeu na
Comissão Sueca Real Sobre a Bíblia, o espinheiro-de-cristo sírio foi a planta usada
na confecção da coroa. Autores como Tristrame Warburger, citados por Hegi, ao
contrário, argumentam que o espinho-de-cristo era comum em Jerusalém. Zohary
discorda de Hegi, reafirmando que o espinhode cristo não é uma planta da região do
Mediterrâneo. A maleabilidade

43

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

44

da planta talvez seja a razão da parcialidade de muitos autores em relação ao


espinho-de-cristo, mas ambas são morfologicamente muito semelhantes e, portanto,
compatíveis com a confecção da coroa.

Tanto o espinheiro-de-cristo sírio quanto caracterizados por espinhos rentes e


afiados, como descrito anteriormente (Figuras 3-1 a 3-3). Esses espinhos podem ser
entrelaçados na forma de um boné, ampliando a superfície de espinhos que entra em
contato com a pele. O espinheiro-de-cristo sírio é um arbusto cujo tamanho varia
entre 3 e 5 metros de altura e contém suaves galhos brancos com um par de rijos,
desiguais e recurvados espinhos na base de cada folha. As folhas, ovais e
elípticas, têm textura de couro, e contêm pequenas flores esverdeadas agrupadas.
Depois de várias tentativas fracassadas para tentar fazer o espinheiro-de-cristo
sírio crescer da maneira convencional usando várias misturas de adubo, eu
finalmente tentei a técnica aeropônica e obtive, com grande sucesso, uma planta de
tamanho médio semelhante a um cacto. A planta agora tem mais de 3 metros e possui
pequenos espinhos afiados (Figura 3-3). O espinho-de-cristo é um arbusto que atinge
entre 1 e 3 metros de altura. Contém um par de espinhos estipulares desiguais,
duros e afiados, um deles mais curvado e menor que o outro. As folhas apresentam
textura de couro e seu formato varia entre ovale redondo.

o espinho-de-cristo são

FIGURA 3-3

Espinheiro-de-cristo sírio (Ziziphus spina-christi) Close-up dos espinhos de uma


jovem planta cultivada pelo autor.

COROANDO UM REI

Outras Plantas Aventadas

Nos últimos anos, o dr. Avinoam Danin, professor de Botânica da Universidade


Hebraica, um expoente em botânica e especialista em plantas da Terra Santa; o dr.
Uri Baruch, palinologista (estudioso de pólen) na Israel Antiquities Authority e o
dr. Alan Whanger, professor emérito de Psiquiatria no Centro Médico da Universidade
de Duke, sugeriram que a Gundelia tournefortii foi usada na coroa de espinhos,
porque supostamente teriam achado grande quantidade de pólen da planta no Santo
Sudário. O dr. Vaughn Bryant Jr., especialista forense em pólen, professor de
Antropologia e diretor do Laboratório de Pólen da Universidade A & M do Texas, no
entanto, tem dúvidas sobre sua identificação. Ele argumenta que a pesquisa deles
não é definitiva porque se baseia em amostras de pólen que foram grudadas em fita
adesiva. Além disso, ele diz que os autores usaram apenas microscopia leve, em vez
de microscópio de varredura por elétrons ou microscópio de transmissão de elétrons,
para estudar com detalhes a estrutura da parede do pólen. A Gundelia tournefortii
(Figura 3-4), também conhecida como akkub e kardi, é membro da família dos cardos e
parente distante do girassol. É importante notar que se trata de uma planta que tem
acúleos e não espinhos; na verdade, um arbusto comum, que é visto em quantidade em
lugares desertos. A maior parte da planta é comestível e vendida para propósitos
culinários, especialmente entre os palestinos, em Jerusalém. Ela não é espinhosa. É
importante notar que nem o dr. Evenari nem outros botânicos renomados, que
estudaram as plantas da Terra Santa com o intuito de identificar o vegetal usado na
coroa de espinhos, consideraram a Gundelia tournefortii. Além disso, o dr. Moldenke
estava bem ciente da Gundelia, já que, junto com a Anastatica hierochuntica, ele
tentou identificar a planta "gulgal" ("roda" ou "coisa que rola") citada em Salmos
83:13 e em Isaías 17:13, mas nunca considerou a Gundelia material viável para a
coroa.

45

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

FIGURA 3-4 Gundelia tournefortii. Planta com acúleos afiados. Observe os aculeos.
Esta não é uma planta

Com apoio na patologia forense, eu discordo da teoria de Danin e Whanger sobre a


coroa. Na corte de um tribunal, o expert em patologia forense é quem responde se a
estrutura em forma de prego da Gundelia seria capaz de penetrar no couro cabeludo
e, assim, produzir o extenso sangramento observado no Sudário. Eu acredito que não.

espinhosa. Odr. Whanger me enviou um vídeo de uma experiência na qual um pedaço de


pele de galinha era perfurado pelos grandes pregos da Gundelia. Só que o
experimento não é válido, pois a pele de galinha é muito solta e fácil de ser
perfurada, diferentemente da pele do couro cabeludo, que é resistente e difícil de
ser atravessada. Além disso, por ser preso ao crânio, o couro cabeludo oferece
acentuada resistência à penetração. Por motivos clínicos, adquiri grande
experiência em injetar agulhas muito afiadas no couro cabeludo dos pacientes. Mesmo
assim, tive de aplicar uma quantidade de força incomum e direcionar a agulha em
ângulos precisos para que ela penetrasse a pele.

Para testar essa hipótese, nós inicialmente repetimos a experiência de Whanger, mas
logo a abandonamos, já que não era cientificamente aplicável. Em vez disso,
preparei uma experiência com amostras da Gundelia, tanto secas quanto frescas, que
me foram enviadas pelo dr. Danin. As plantas frescas foram embrulhadas em toalhas
de papel embebidas em uma substância salina, para mantê-las razoavelmente viçosas.
Usando os ferrões encontrados nas folhas e na flor (Figura 3-5a), fiz várias
tentativas para penetrar a pele da testa, a região da têmpora e a parte anterior do
crânio de um corpo de mulher, não reclamado, 35 anos, vítima de um acidente. A
primeira tentativa foi feita aplicando um robusto espinho da Gundelia como se fosse
uma seringa de injeção. Com o espinho seguro firmemente por dois dedos, em ângulo
ligeiramente inclinado, foi possível - usando

46
COROANDO UM RE

uma pressão muito forte - penetrar um pouquinho na pele. Só que, ao usar o segmento
da planta contendo três ou mais espinhos, para simular uma coroa, e aplicar pressão
forte - direta e em ângulo -, as partes espinhosas da Gundelia, tanto secas quanto
frescas, não penetraram no couro cabeludo. Quando aumentamos ainda mais a pressão,
os espinhos se curvaram ou se quebraram (Figura 3-5b), mal arranhando a superfície.
Isso sugere que uma coroa feita com a Gundelia poderia provocar um pequeno
sangramento, mas não no grau encontrado no Sudário, que revela que o cabelo e a
parte de trás da cabeça foram literalmente saturados com sangue. Os soldados
atingiram a cabeça de Jesus apenas com um graveto quando o ridicularizaram, mas
isso não causaria pressão suficiente para que Jesus sangrasse tanto. Mais tarde, o
dr. Whanger mandou um outro vídeo, em que ele e uma ajudante tentam penetrar seu
couro cabeludo com uma projeção espinhosa de uma Gundelia seca, que parecia bem
consistente. A ajudante segurou o espinho bem firme entre os dedos, dando força
para a haste e evitando que ela se dobrasse (se você cima da planta sem segurar a
haste de cada quebram-se facilmente ao serem pressionados tentou, então, novamente
penetrar o couro suave, usando uma técnica similar ao ato Praticamente não houve
sangramento. Apenas

FIGURA 3-5 Experiência com a Gundelia tournefortii.

a. Tentativa de penetrar o

couro cabeludo de uma

mulher branca adulta-cujo corpo não foi reclamado segurando as áreas

espinhosas firmemente, como se fossem uma seringa de injeção. Notem-se as

impressões no couro cabeludo.

em ângulo à direita. b. A mesma planta, com a pressão aumentada para tentar a


penetração. Note-se que, em vez de penetrar, as áreas espinhosas se dobram

pressionar a parte de espinho, eles dobram ou contra o crânio). Ela cabeludo, mas
de forma de aplicar uma injeção. um filamento de sangue

47

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

apareceu. Os achados dessa nova experiência foram inconsistentes com as evidências


encontradas no Sudário e, assim, desafiaram as hipóteses sobre a Gundelia.

É interessante saber que a acácia espinhosa (Acacia nilotica), que cresce


profusamente nas colinas de Jerusalém, emergiu recentemente como forte candidata a
matéria-prima da coroa. A Acacia é uma planta perene de notável durabilidade, que
produz flores brancas e vermelhas. Uma coroa de espinhos feita com essa planta foi
descoberta num sarcófago datado de 1189 d.C., pelo dr. Robyn Hewitt, um arqueólogo
de sítios bíblicos. O sarcófago continha os restos mumificados do "cavaleiro do
templo", cujo crânio fraturado tinha ao lado um pergaminho com a seguinte
inscrição: "Este homem salvou a coroa de espinhos das mãos dos infiéis." Havia uma
tradição no Oriente Médio de que a coroa fora feita com a Acacia. (É bom saber
disso, já que judeus e egipcios acreditavam que a Acacia simbolizava a
imortalidade.) Nenhum dos botânicos especializados em plantas da Terra Santa,
porém, colocou a acácia espinhosa como candidata a coroa de espinhos.

A popular planta perene conhecida como "coroade espinhos" (Euphorbia splendens ou


milii), que é vendida nos Estados Unidos na época da Páscoa e decora o jardim de
muitos cristãos, é freqüentemente citada como a planta usada na coroação. A
Euphorbia splendens é uma planta exuberante, com talos angulares e vivas brácteas
de cor escarlate, logo abaixo das flores verdadeiras. Em uma excursão à Crystal
Cathedral em Garden Grove, Califórnia, nos foi mostrada essa planta como sendo a
que fora usada na crucificação de Jesus. Naturalmente, eu corrigio guia, dizendo
que ela não tinha nada a ver com as plantas da Bíblia; que a Euphorbia splendens ou
milii era conhecida como a rosa de Madagascar, de onde provinha, e não existia na
Terra Santa na época de Cristo.

Zizyphus officinarum, conhecida como "jujuba", uma planta prodigiosamente


frutífera, também tem sido citada, mas foi igualmente descartada, já que, embora
seja cultivada na região, na verdade não é nativa da Palestina ou da Síria.

48

COROANDO UM REI

Outras plantas aventadas são a Koeberlinia spinosa, a Canotia holacantha (espinho


mojave), Holocantha emoryi e a Dalea spinosa. Os botânicos, porém, concluíram que
nenhum desses espécimes tem algo a ver com as plantas bíblicas usadas na coroa de
espinhos. Infelizmente, muitos devotos cristãos acreditam tenazmente que uma ou
outra dessas plantas foi usada para a coroa, e não se sensibilizam com os
argumentos contrários. A propósito, uma história interessante é contada pelo
renomado botânico F. Schwerin, que visitou o Getsêmani na primeira metade do século
passado. O monge encarregado apontou para um arbusto que ali crescia - uma planta
chamada Gleditsia tricanthos L (mais conhecida como espinheiro-da-virgínia) e disse
a Schwerin que era a planta usada na coroa. Schwerin informou ao monge que essa
planta era originária da América e desconhecida na época de Jesus. Mesmo assim, o
monge respondeu que duas peregrinas haviam trazido a planta num vaso e ele estava
mais inclinado a acreditar nas devotas que num mero botânico.

OS EFEITOS FÍSICOS DA COROAÇÃO COM ESPINHOS

Para entender os efeitos físicos da coroação com espinhos, deve-se ter o


conhecimento básico da inervação da região da cabeça e estar familiarizado com a
condição neurológica chamada neuralgia do trigêmeo.

A inervação que permite a percepção de dor na cabeça é feita por ramos de dois
nervos principais: onervo trigêmeo, que supre essencialmente a parte frontal da
cabeça, e o grande ramo occipital, que abastece a parte de trás (Figura 3-6).
Somente uma representação esquemática da distribuição dos nervos é apresentada, já
que esses ramos se dividem de forma infinitesimal pela pele. Para apreciar essa
distribuição, pegue um alfinete e tente achar uma parte do seu couro cabeludo que
seja isento de dor. Você vai descobrir que a tarefa é praticamente impossível.
Estímulo ou irritação de ramos desses dois nervos principais causam dor.

49

50

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Por exemplo, se algum dos minúsculos ramos do nervo trigêmeo que suprem os dentes é
irritado, uma dor de dente é desencadeada, e todos nós sabemos como é esse tipo de
dor. É certamente difícil acreditar que a irritação de um "nervinho" tão pequeno
possa causar tamanha dor. Outra importante condição clínica associada com a
irritação do nervo trigêmeo é chamada de ticdouloureux ou major trigeminal
neuralgia. Descrita pela primeira vez por Fothergill em 1776, ela causa surtos
repentinos de uma dor penetrante, lancinante e explosiva nos lados direito ou
esquerdo da face, que podem durar de segundos a minutos, com períodos refratários
intermitentes. Embora seja típico que os pacientes fiquem livres da dor entre os
surtos, novos episódios dolorosos podem acontecer em sucessão tão rápida que a
sensação acaba perdurando. "Zonas de gatilho", ou áreas que desencadeiam dor, estão
presentes nos lábios e nos lados do nariz e podem ser ativadas por estimulo tátil.
Se uma dessas zonas é tocada ou atingida, um surto repentino de dor acontece e pode
até imobilizar o indivíduo. Pacientes descrevem essas dores como "facadas",
"choques elétricos" ou "golpes com atiçador de carvão". Durante o ataque, tiques ou
distorções no rosto podem ocorrer e os pacientes sofrem espasmos de absoluta
agonia. Toques suaves, movimentos faciais, o ato de mascar, falar ou golpes de ar
no rosto podem precipitar o ataque. A freqüência dos surtos aumenta quando existem
fadiga e tensão. Muitos pacientes têm tanto medo da dor que preferem ficar
imobilizados. De acordo com o dr. Robert Nugent, professor e presidente do
Departamento de Neurocirurgia da Escola de Medicina da Universidade de West
Virginia, e pioneiro no tratamento, "a neuralgia do trigêmeo é considerada a pior
dor que um ser humano pode sofrer. É tão devastadora que se torna insuportável sob
qualquer de suas diversas formas" (West Virginia University Newsletter, 1986).
Casos mais leves ou moderados às vezes respondem a certos tipos de medicamento como
carbamazepina, conhecido comumente como Tegretol, uma substância relativamente
tóxica que impede a condução dos impulsos da dor através dos nervos,

COROANDO UM RE

FIGURA 3-6

Diagrama da região da cabeça. Os ramos finos e de coloração clara são os nervos e


os mais escuros e grossos são os vasos sanguíneos. (Do Atlas de Anatomia Descritiva
de Sobotta. Fig. 56, com a permissão de Urban e Schwartzenberg. Munique, Alemanha).

51

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

52

mas o tratamento medicamentoso é freqüentemente insatisfatório. Em geral, os


narcóticos comuns não funcionam. Métodos para controlar a dor incluem injeções,
compressões do nervo, seccionamento do nervo por meio de cirurgia, injeção de
álcool no nervo, inalação de tricloretileno, eletrocoagulação, termocoagulação com
freqüências de rádio, e outras manipulações diretamente no nervo. Tratei uma série
de pessoas que sofriam de neuralgia do trigêmeo causada pelos mais diversos
motivos, e fiquei impressionado com a dificuldade encontrada para aliviar a dor.

A “COROAÇÃO” DE JESUS

Agora que conhecemos as características da planta usada para tecer a coroa de


espinhos e temos breve familiaridade com a anatomia da região da cabeça, com algum
aprofundamento no efeito de irritação dos nervos que suprem a percepção de dor
nessas áreas, vamos examinar os efeitos da coroa de espinhos durante a zombeteira
coroação de Cristo.
As Escrituras relatam que os soldados passaram por Jesus, tiraram o graveto de Suas
mãos e deram golpes com ele na coroa de espinhos (Mateus 27:30). É importante notar
que a coroa foi feita com o entrelaçamento dos espinhos na forma de um boné. Isso
permitiu o contato de uma quantidade enorme de espinhos com o topo da cabeça, a
fronte, a parte traseira e as laterais. Os golpes do graveto na cabeça de Jesus ou
nos espinhos irritaram os nervos e ativaram zonas nos lábios, do lado do nariz, ou
no rosto, causando dor intensa, similar a uma queimadura ou choque elétrico. A dor
era lancinante, atingindo as laterais do rosto e penetrando nos ouvidos. O
sangramento decorria da penetração dos espinhos nos vasos sanguíneos. A dor podia
cessar abruptamente, mas era reiniciada com o menor movimento nas mandíbulas ou
golpe de ar. O choque traumático do açoitamento brutal deve ter realçado as dores
paroxísmicas no rosto. Exacerbações ou retrações nos surtos de dor podem ter
ocorrido no caminho do

COROANDO UM RE

Calvário e durante a crucificação, ativados pelos movimentos de andar, cair ou pela


pressão dos espinhos na coroa, além dos muitos golpes e empurrões dos soldados.

EVIDÊNCIA DA COROA DE ESPINHOS NO SUDÁRIO

Considerando a grande quantidade de vasos sanguíneos existentes na cabeça e os


efeitos da coroação de espinhos, é óbvio que o sangue iria correr livremente pela
face de Jesus. Isso é evidenciado de forma dramática no Sudário de Turim, cujas
imagens revelam "riachos" e marcas de algo jorrando, saturando o cabelo e
escorrendo pela testa. A imagem frontal sugere acentuada saturação do cabelo com
sangue seco, fazendo com que ele permanecesse nos dois lados do rosto. Deve ser por
isso que Lavoie acredita que o homem do Sudário estava em posição ereta quando a
imagem do Sudário foi impressa. A parte de trás da cabeça também está saturada de
sangue. É importante repetir que a coroa de espinhos foi urdida no formato de um
boné e não de um aro (Figura 12-5). Marcas compatíveis com espinhos estão presentes
na testa e na nuca. Além dos ferimentos com a coroa de espinhos, os vários golpes
que Ele recebeu no rosto são evidentes no Sudário, particularmente na região da
testa, lado superior direito do lábio, mandíbula e nariz. O padrão tridimensional
nas imagens realçadas por computador revelam mais claramente uma separação na
cartilagem nasal - mas não uma fratura-e confirmam os ferimentos já citados (Figura
15-2). Para uma discussão mais completa das evidências sobre a coroa de espinhos no
Sudário, reporte-se ao Capítulo 12 e veja as 12-5.

Figuras 12-4 e

53

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

SUMÁRIO DA RECONSTITUIÇÃO FORENSE

A dor violenta causada pela neuralgia do trigêmeo e os múltiplos golpes na região


da cabeça de Jesus e na coroa de espinhos somaram-se ao trauma já recebido por
causa do espancamento brutal e da flagelação na casa de Caifás, aprofundando o
estado de choque traumático. Concomitantemente, a perda de sangue e suor por causa
da hematidrose, a transpiração abundante durante o acesso da neuralgia do trigêmeo,
a perda de sangue com a penetração dos espinhos e a transpiração e o vômito
causados pelas chibatadas somaram-se na evolução para o choque hipovolêmico. A essa
altura, já havia um acúmulo de fluido ao redor dos pulmões (efusão pleural) de
Jesus, que vinha se desenvolvendo vagarosamente em decorrência dos golpes no peito
durante a flagelação. Nesse ponto, Jesus estaria progressivamente mais fraco,
zonzo, pálido, com falta de ar, mal sustentando-se em pé, além de experimentar
surtos intermitentes de transpiração.

54

{4} AESTRADA PARA O CALVÁRIO

Então Pilatos saiu outra vez, e disse-lhes: "Eis aqui vo-10 trago fora, para que
saibais que não acho nEle crime algum." João 19:4-5

mestado lastimável, Jesus flagelado foi levado ao pretório pelos soldados. Seu
corpo estava cruelmente desfigurado e atormentado pela dor do terrível açoitamento,
Sua visão estava embaçada. Coberto de sangue por causa das lacerações, escoriações
e machucados que cobriam Seu corpo, Ele mal podia ficar de pé. Secreções e vômito
manchavam Seu rosto e a vestimenta. Pilatos contava com a compaixão e a
misericórdia dos judeus, mas eles não se compadeceram das lamentáveis condições de
Jesus e insistiram em que Ele fosse crucificado, dizendo: "Nós temos a Lei, e
segundo essa lei ele deve morrer, porque se fez Filho de Deus" (João 19:7). João
continua: "Ora, Pilatos, quando ouviu essas palavras, mais atemorizado ficou" (João
19:8). Pilatos decidiu libertar Jesus mesmo contra a opinião do povo, mas os judeus
se tornaram frenéticos e gritaram: "Se soltares

56

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

este homem, não és amigo de César; todo aquele que se faz rei é contra César" (João
19:12), e quando Pilatos perguntou: "Devo crucificar seu rei?", o chefe dos
sacerdotes respondeu: "Não temos rei, mas César" (João 19:15). Pilatos desistiu:
"Então o entrego para ser crucificado" (João 19:16). João relata: "Tomaram, pois, a
Jesus, e Ele, carregando a própria cruz, saiu para o lugar denominado Caveira, que
em hebraico se chama Gólgota" (João 19:16-17).

JESUS CARREGOU A CRUZ INTEIRA?

Antes de responder à indagação, é necessário saber mais sobre os diversos tipos de


cruz usados na crucificação (Figura 4-1). O tipo mais comum era a crux simplex,
composta de uma única estaca, em que as mãos eram amarradas acima da cabeça e os
pés eram presos abaixo (affixio). Existem várias referências ao uso desse tipo de
cruz, particularmente quando havia um número muito grande de pessoas a serem
crucificadas. Sobre o assunto, Flávio Josefo escreveu que o imperador Tito usava
apenas simples estacas fincadas no chão quando tinha de crucificar 500 judeus por
dia. A crux compacta era constituída de duas partes: base ou encaixe, também
chamado stipes ou staticulum, ea barra horizontal, também chamada patibulum ou
antenna. Existiam três variações da crux compacta.crux commissa, crucimmissa e
cruoc decussata. A crux comissa lembrava uma letra "T" maiúscula e era às vezes
chamada de Tou cruz tau. A crux immissa, também conhecida como crux capitata, é a
cruz convencional usualmente exibida nas igrejas e às vezes chamada de cruz romana;
sua base sustenta o patibulum (Figura 4-1). A crux immissa ou capitata é a que a
maioria dos artistas acredita ter sido usada para crucificar Jesus, provavelmente
por causa do relato de Lucas sobre a inscrição que ficava "acima dEle", exigindo,
portanto, uma extensão acima de Sua cabeça. As Escrituras relatam que o Titulus
Crucis ou título (plaqueta) foi afixado na cruz para detalhar a natureza do Seu
19:19).

crime: "Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus" (Marcos 15:26 e João


A ESTRADA PARA O CALVÁRIO

FIGURA 4-1 Tipos de cruz: a. crux simplex patibulum crux compacta patibulum T FFX
stipes stipes b.crux immissa e. cruz commissa d. crux decussata (simples estaca) ou
crux capitata (T ou cruz tau) (cruz de Santo André) (convencional)

Nossos experimentos de suspensão, em que utilizamos a crux commissa (cruz tau),


revelaram que havia espaço adequado para o titulus. Parece, então, que a cruz
romana foi invenção dos artistas. É também difícil acreditar que a cruz romana
possa ter sido usada nas crucificações. Ela é uma cruz complexa, que exigia muita
habilidade de carpintaria, já que o patibulum tinha de ser fixado de maneira
vigorosa na estaca. Para isso, um pedaço da parte superior da estaca era cortado,
permitindo que nela fosse pregada ou encaixada a barra horizontal.

Além disso, seria também muito difícil-em alguns casos, impossível -o crucarius
carregá-la, já que ela pesava de 80 a 90 quilos; ainda mais no caso de uma pessoa
que já tivesse sido açoitada antes da crucificação. E essa cruz parecia ser pouco
prática, pois seria necessário um número muito grande delas, tendo em vista que os
persas e os romanos ordenavam centenas e até milhares de crucificações de uma vez
só (veja o Capítulo 5). Essas crucificações em massa demandariam que muitas cruzes
fossem fabricadas antecipadamente, pois cada crucarius devia ser pregado com a cruz
ainda no chão, para que depois ela fosse erguida e fixada no solo - algo muito
complexo para ser feito de forma massiva. Além disso, a maioria das referências
históricas relata que as estacas já ficavam no chão, do lado de fora dos portões da

57

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Crosta de cálcioSuperficie articular para o osso cuboide

Talos de sustentaçãodireita

Sedimento ferroso calcário - Placa de acácia

Protuberância do

calcineo do osso direito Protuberância do calcaneo

do osso direito

FIGURA 4-2

-Talos de sustentação esquerda

Fragmento granulo-nodular da madeira

Diagrama do osso do calcanhar de um homem crucificado por volta de 7 d.C.,


encontrado na escavação Giv'at ha Mivtar do Bairro Judeu de Jerusalém. Note-se que
o prego ainda está presente, com a ponta dobrada. Um pedaço de madeira identificado
como sendo de oliveira está preso nessa ponta. Uma placa de madeira também aparece
sob a cabeça do prego. (Cortesia da Sociedade de Exploração de Israel e da senhora
Nicu Haas.)

cidade. Isso indica que o crucarius era pregado no patibulum, que seria então
inserido na cavidade retangular presente no topo da estaca. A terceira variação da
crex compacta é a crex decussata ou cruz em X, também chamada de Cruz de Santo
André, porque supostamente ela teria sido usada para crucificar Santo André em
Patrae. Entretanto, a Cruz de Santo André só aparece em documentos datados do
século X, e alguns historiadores duvidam de que ela tenha sido usada para
crucificar Santo André. Flávio Josefo, por sua vez, relata em A Guerra Judaica que,
durante o cerco de Jerusalém, os soldados romanos capturaram muitos judeus durante
a fugae, aborrecidos com sua inútil resistência, pregaram muitos deles em várias
posições diferentes, por puro esporte.

58

A ESTRADA PARA O CALVÁRIO

DE QUE TIPO DE MADEIRA ERA CONSTRUÍDA A CRUZ?

O tipo de madeira usado nas cruzes variava, dependendo do material disponível. Em


geral, a madeira era bem tosca e rústica. Josefo indicou que ela era tão escassa no
tempo de Cristo e no século I, que os soldados romanos viajavam longas distâncias
para obter madeira para sua maquinaria de guerra. Estudos micropaleobotânicos de
fragmentos de supostas relíquias da cruz verdadeira indicam que ela foi feita de
pinheiro. O estudo mais definitivo, no entanto, foi feito num fragmento de madeira
descoberto na ponta de um prego afixado ao osso do calcanhar (Figura 4-2) de um
homem crucificado por volta do ano 7 d.C., e que foi encontrado em escavações no
Bairro Judeu da cidade velha de Jerusalém em 1969-70.

O estudo paleobotânico desse pedaço de madeira o relacionou com a oliveira (Figura


4-2). Essa relação, no entanto, não pôde ser confirmada por um botânico da
Universidade Hebraica de Jerusalém, que usou um microscópio para fazer uma
varredura nos elétrons, já que a amostra era diminuta. Embora Yaden tenha concluído
que seria pouco provável construir a estaca da cruz usando a oliveira, pois seus
galhos são curvados e retorcidos, a árvore não pode ser totalmente descartada, já
que atinge uma altura de dois a três metros. Garza-Valdez declarou que descobriu
vários túbulos de carvalho (Quercus sp.) na fita adesiva que Riggi usou

FIGURA 4-3 deteriorado exposto na Capela Santa de Gerusalemme. Os caracteres


aparecem em aramaico, grego e latim. Acreditava-se ser o Relicário contendo um
titulus titulus original, trazido por Santa Helena no século III, mas estudos
recentes com radiocarbono o 1.074 d.C. dataram como sendo de 915 a

59

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

60

para levantar as fibras das áreas occipitais do Sudário, sugerindo que eles teriam
vindo do patibulum da cruz em que o homem do Sudário foi crucificado. O problema é
que Garza-Valdez é pediatra, e não botânico, e nenhuma confirmação sobre a
identificação dos túbulos de madeira foi feita por um botânico, assim como não foi
realizada tentativa alguma para determinar se as supostas espécies de carvalho
descobertas existiam na Terra Santa na época da crucificação de Jesus. Mas é
interessante saber que pólen de carvalho foi descoberto no Sudário. Veja o Capítulo
17 para mais informações.

O QUE É O TÍTULO?

O título, também conhecido como Titulus Crucis, era uma tábua com a descrição da
natureza do crime do crucarius, e era pregada na cruz logo acima da cabeça da
vítima. A tábua era carregada pelo condenado, geralmente pendurada ao pescoço, do
local da condenação até o do suplício na cruz. João escreveu: "E Pilatos escreveu
também um título, eo colocou sobre a cruz; e nele estava a inscrição: 'Jesus de
Nazaré, Rei dos Judeus'. Muitos dos judeus, pois, leram esse título, porque o lugar
onde Jesus foi crucificado era próximo da cidade, e estava escrito em hebraico,
latim e grego" (João 19:19-20). O sumo sacerdote implicou com o fato de que o crime
de Jesus estava escrito como sendo "Rei dos Judeus" e reclamou veementemente com
Pilatos, dizendo: "Não escreva 'O Rei dos Judeus', mas 'Este homem disse: Eu sou o
Rei do Judeus". Pilatos respondeu: "O que escrevi, escrevi" (João 19:21-22). Parece
que Pilatos já não estava preocupado com o que seria noticiado em Roma. As
Escrituras fazem referência ao fato de que havia "uma inscrição acima dEle" (Lucas
23:38), sugerindo que fora usada a crux immissa e não a crex commissa. Mas nossos
experimentos demonstraram que haveria espaço adequado para o título na crux

commissa

A ESTRADA PARA O CALVÁRIO

A Basílica de Santa Cruz de Jerusalém contém uma relíquia feita com a madeira da
nogueira, que mede 25 centímetros de comprimento por 14 centímetros de largura e
2,6 centímetros de espessura; supostamente, seria parte do Titulus Crucis de Jesus.
Ela contém três linhas de caracteres escritos em latim, grego e hebraico ou sírio-
caldaico. O artefato está muito danificado e foi descoberto em Jerusalém por Santa
Helena (mãe do Imperador Constantino), no começo do século III (Figura 4-3). Testes
recentes com C-14 indicam que ele dataria do período entre 915 e 1074 d.C.

Uma reprodução em escala natural do título foi feita usando como base essa relíquia
(Figura 4-4). Os caracteres foram escritos da direita para a esquerda. O uso das
três linguagens tem sido motivo de debate, já que existe apenas uma referência
bíblica sobre a inscrição ter sido feita em três línguas (João 19:20). Há
documentação, entretanto, que comprova que isso era realizado rotineiramente. Em A
Guerra Judaica, volume 5.2, o historiador Josefo afirma que lajes colocadas em
vários locais traziam avisos, alguns escritos em latim e outros em grego. No século
IV, o biógrafo Julius Capitolinus escreveu sobre um título com inscrições em grego,
aramaico, egípcio e persa, colocado no sepulcro do imperador Giorgianus Pius, que
morreu vítima de assassinato. Além disso, o livro Interpreter's Bible" esclarece
que havia um uso para as três línguas em Jerusalém. O latim era a língua dos
funcionários

LENDAS DA CRUZ - São inúmeras as lendas sobre a origem da cruz. Estou incluindo
algumas para o se do leitor. Na Alemanha, a lenda afirma que uma pereira cresceu e
produziu flores de cor vermelhose depois da morte de Cristo. Nos Estados Unidos,
dizem que as pétalas das flores da bela Cornus florida wood) são vermelhas e
retraidas para lembrar os ferimentos de Cristo. Na Polónia, eles atribuem a cruz ao
chapo, cujas folhas tremem com medo da vingança de Deus. Outra lenda relata que o
choupo protegeria as de raios, embora o álamo, a ele relacionado, não propiciasse
essa proteção. Uma lenda na Inglaterra que o arevinho foi usado para fazer a cruz
e, desde então, foi relegado à condição de erva daninha. Siamente, na Itália, a
clematite foi considerada a matéria-prima da cruz. A história conta que, na época
da ação, ela era uma árvore de grande porte, mas, depois, foi condenada a tornar-se
modesta trepadeira. Em paises, o carvalho, o amiciro e o pinheiro foram também
relacionados com a confecção da cruz. A ppi, acreditava-se que o pinheiro começara
a produzir espirais em forma de cruz depois da Crucificação.

Ndo T: "Biblia do Tradutor".

61
A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

FIGURA 4-4

Reconstrução de um titulus da reliquia exibida na Capela Santa de Jerusalém.

nazi wa An

administrativos, o aramaico era falado pelos judeus da época e o grego era a


linguagem do comércio internacional e da cultura. O fato de os caracteres das três
línguas serem escritos da direita para a esquerda sugere que algumas das relíquias
possam ser falsificadas. Muitos estudiosos, como Carsten Thiede-papirólogo,
autoridade e professor de Primórdios da História Cristã-, concordam em que a
escrita feita da direita para a esquerda seria correta em hebraico, mas seria
improvável que um falsificador cometesse o erro de escrever ao contrário em grego e
em latim. Sugeriu-se que, já que os judeus escreviam em hebraico, da direita para a
esquerda, o escriba talvez tenha escrito em grego e em latim da mesma forma, para
que as pessoas lessem o título com mais facilidade. Thiede e seu colega Matthew
D'Ancona acumularam evidências de que o Titulus Crucis data da época de Cristo e
teria sido levado para Roma por Santa Helena. Além disso, Michael Hessemann, autor
de The Relic of the Titulus Crucis", consultou vários e proeminentes especialistas-
em paleografia, epigrafia judaica, inscrições gregas, inscrições romanas na
Palestina, inscrições romanas em madeira, epigrafia cristã e papirologia - para
determinar a época do Titulus

"N. do T.: A Relíquia do Titulus Crucis

62

A ESTRADA PARA O CALVARIO

Crucis. Todos os experts o dataram do período entre os séculos I e IV, com a


maioria indicando o século I. Nenhum deles excluiu a possibilidade do século I.

Recentemente, essas opiniões foram desacreditadas por um relatório no qual consta


que o teste com o carbono 14 atribuiu uma data muito posterior ao Titulus. A
datação por carbono a princípio foi negada, com o temor de que pudesse destruir a
relíquia. Mas o Titulus Crucis foi recentemente liberado pelo prior da Basílica de
Santa Cruz para que fosse testado com o carbono. Seis amostras foram retiradas da
base do objeto por Francesco Bella e Carlo Azzi, do Departamento de Física da
Universidade de Roma, e testadas quinze vezes. Assim, eles obtiveram datas que
variavam de 915 a 1074 d.C. Eles publicaram os resultados no Radiocarbon Journal
(volume 44, 2002), sob o título "Datação do Titulus Crucis por C-14". Essa data,
porém, não foi confirmada por nenhum outro grupo, e duas questões vêm à tona. O
teste seria realmente válido, já que muitas reliquias foram datadas erroneamente
pelo C-14? O original teria sido trazido por Santa Helena, a mãe do imperador, e
subsequentemente roubado e substituído por uma imitação séculos depois?

CARREGANDO A CRUZ

Era cerca de meio-dia, e a viagem de Antônia ao Gólgota (Calvário) foi realizada em


uma das ruas principais, cuja extensão era de aproximadamente 8 quilômetros (Figura
4-5). Era uma estrada irregular e sem pavimento, cheia de crateras feitas pelas
carroças e burros de carga. Ao se aproximar dos muros da cidade, a estrada tornava-
se uma ingreme ladeira. O clima na época era quente e seco, e Jesus foi conduzido
pela rua principal carregando a barra horizontal da cruz, que pesava entre 22 e 27
quilos, em cima de um ou de ambos os ombros (Figura 4-6). Ele também carregou o
título (Titulus) em volta do pescoço, que seria pregado acima de Sua cabeça na
cruz. O exactor mortis (o soldado romano que liderava as crucificações) e sua
equipe de quatro escoltaram Jesus enquanto numerosos

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

soldados se alinharam pela rua para manter a ordem e coibir possíveis tumultos, já
que a massa hostil se apinhava, xingando e cuspindo em Jesus enquanto Ele passava.

A maioria dos estudiosos apóia a teoria de que somente a barra horizontal ou


patibulum, que pesava entre 22 e 27 quilos, era levada pelo crucarius ao local da
crucificação. Relatos na literatura indicam que os romanos tinham centenas, às
vezes milhares de estacas já prontas do lado de fora dos muros da cidade. O fato de
que a cruz no total pesava de 80 a 90 quilos e que o açoitamento causava extrema
fraqueza na vítima também dá mais força à teoria. O filme A Paixão de Cristo, de
Mel Gibson, mostra Jesus carregando a cruz inteira (veja o Capítulo 5

Figura 4-5

Mapa da estrada para o Calvário. O mapa mostra a área de Jerusalém e detalha o


caminho para o Calvário feito por Jesus (uma jornada de mais de 8 quilômetros).

ROAD SALADIN

STREET OF

Gordon's

Calvary

miah's Grotte

ST PAULS ROAD

CODFREY FOUILLON ST

Damascus G

STATUTE MILE

Holy Sepulcher QUARTER Wrackiable Hol

Museum

Herod's Gate

MOHAMMEDAN Bethesda

MAN ROAD

Church of the Scourging OLOROSA

Church of St.Anne

CHRISTIAN VA

Church of the
MAMILLA

Birket Satti Maryam

QUARTER

ROAD

CHRISTIAN ST

DAVID ST

TTFET OF THE

The Citadel Herod's Palace

CHAIN

David's Tower JEWISH

Wailing

BETHLEHEM

ARMENIAN

QUARTER

QUARTER

Church of the Pool

mition

(Divid's Tomb Cornaculum

Live Cute

ME OPHEL

ISRAEL

JERUSALEM

Chapel ri Galila

Church of the

Church of St. Peter Pont of Silou

Stephen's Tomb of the Virgin Gate

MOUNT MORIAN

Deme Dome
Golden Gatethsemane Church of the Chains of the Rock

Church of the Ascension

Tomb of Absalon Tomb of Zachariah

Gate of

Wall The Chain

Akan Stables

Mosque Loung

Temb

Gate

City of David

the Prophets

ESTAÇÕES DA CRUZ

Fountain the Virgin

REZEIGARS

Old Poo

HOUREDUCT

1-Jeune condenado à morte 3-Jesus ca pela primeira ver - 7-Ju obrigado 9-Jus ca
pela terce 10-Jesus despido 11- 12-Jesus more na cruz egar a cu heres de eu 13-
estado da cu 14-Jesus elevado para o sepulcro

OF HINOM

64

A ESTRADA PARA O CALVÁRIO

para uma crítica do filme), mas é improvável que a vítima fosse fisicamente capaz
desse ato.

Existem duas escolas de pensamento sobre a maneira como a barra horizontal era
carregada. A maioria dos estudiosos abraça o conceito de que cada extremidade do
objeto era amarrada nos pulsos e braços da vítima (veja a Figura 4-6), mas dessa
forma seria difícil equilibrá-la, por causa de seu peso e volume. O objeto muito
provavelmente era pendurado em apenas um dos ombros. Esse conceito é compatível com
o depoimento de Tertuliano, de que Jesus carregou Sua cruz no ombro. Alguns autores
interpretam que era a cruz inteira, pois tinham a impressão de que a barra
horizontal tinha de ser carregada nos dois ombros. Sindologistas (indivíduos que
estudam o Sudário) enxergam

Mapa de Jerusalém (Tradução) CHRISTIAN QUARTER BAIRRO CRISTÃO ARMENIAN QUARTER


BAIRRO ARMÉNIO MOHAMMEDAN QUARTER BAIRRO Mt Zion Monte Sião Mount of Olives Monte
das Oliveiras St Stephen's Gate Portão de Santo Estefano Dome of The Chain Domo da
Corrente MUCULMANO JEWISH QUARTER BAIRRO JUDEU Prophet Street Rua dos Profetas
Saladini Street Rua Saladini Church of The Tomb of The Virgin - Igreja da Tumba da
Virgem Church of The Ascencion Igreja da Ascensão Tomb of The Prophets Tumba dos
Profetas Gordon's Calvary Calvário de Gordon Jeremiah's Grotte Gruta de Jeremias
Church of St Anne Igreja de Santa Ana Church of The Scourging - Igreja do
Açoitamento Museum Muse Herod's Gate Portão de Herodes Wailing Wall Muro das
Lamentações Gethsemane Church - Igreja Getsemani Damascus Gate Portão de Damasco
The Citadel (Herod's Palace) A Cidadela (Palácio de Herodes) Dang Gate Portio Dung
Aksa Mosque Mesquita de Al-Aqua Nablus Road Estrada de Nablus Mount Moriah Monte
Moriah Jericho Road Estrada de Jericó Fountain of The Virgin Fonte da Virgem Via
Dolorosa Via Dolorosa Cornaculum) David's Tomb (Ceniculo) Tumba de Devi Street of
The Chain Rua da Corrente Valley of Kidron Vale do Cedron Dome of the Rock Domo da
Podra David Tower - Tome de Davi New Gate Novo Portio Church of The Holy Sepulcher
Igreja do Santo Sepulcro Solomon's Stables Estábulo de Salomão Jaffa Road Estrada
de Jafa Bethlehem Belém Valley of Hinnon Vale de Hinom Road of Mamilla Estrada
Mamilla Piscina do Sultão Capela Viri Galilaci Piscina de Betesda Piscina de Israel
Portão Dourado Sultan's Pool Chapel Viri Galilaei Pool of Bethesda Pool of Israel
Golden Gate Birkett Sitti Maryam Birken Sitti Maryam St Paul's Road Estrada de São
Paulo Tomb of Absalem Túmulo de Absalão Túmulo de Zacarias Tomb of Zachariah
Suleiman Road Estrada Suleiman Old Pool Piscina Velha Hezekiah's Pool Piscina de
Ezequiel Hezekiah Aquedut Aqueduto de Ezequiel Church of The Dormitions Igreja da
Assunção St Godfrey De Bouillon Rua Godfrey De Bouillon Zion Gate Portão de Sião
City of David Cidade de Davi David St Rua de Davi Christian St Rua dos Cristos

65

66

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

duas imagens nas costas do Sudário de Turim como evidência de que a cruz foi
colocada nos dois ombros e amarrada aos pulsos. Essa interpretação, porém, é
sujeita a debate, e o leitor deve ir ao Capítulo 12 para informações adicionais.

Os Efeitos Físicos de se Carregar a Cruz

Quando Jesus chegou ao local da crucificação, estava quase desfalecido, por causa
da severa exaustão causada pelo sofrimento físico e mental que lhe foi infligido no
Jardim do Getsemani, pelo brutal açoitamento no pretório e pela enervante,
lancinante dor causada pela coroa de espinhos. A exaustão foi acompanhada pela
falta de ar, pelo fluido pleural que estava lentamente se acumulando em Seus
pulmões e por um possível pneumotórax devido ao brutal açoitamento, além dos
efeitos da jornada ao Calvário.

O sol do meio-dia estava forte e o suor pingava do rosto e do corpo de Jesus. O


forte calor do sol e o peso da barra da cruz em Seus ombros irritados, considerando
a condição em que Ele se encontrava, causaram intensa fraqueza e tontura, fazendo
que Ele tropeçasse, se desequilibrasse e caisse. As Estações da Cruz (indicadas por
São Francisco de Assis) mostram Jesus caindo três vezes. Mas essa suposição não é
compatível com Seu estado clínico, porque, considerando-se Sua condição física, há
poucas dúvidas de que Ele tenha caído inúmeras vezes antes de chegar ao Calvário.
Era o exactor mortis o responsável por assegurar que o crucarius não morresse antes
de ser crucificado. A gravidade do estado de Jesus certamente era conhecida pelo
exactor mortis. Ele tinha receio de que Jesus não se levantasse novamente e não
conseguisse cumprir suas ordens; assim, ordenou a Simão de Cirene, um transeunte,
que carregasse o patibulum para Jesus. Durante o tempo em que Jesus carregou a
cruz, a extrema dor da neuralgia do trigêmeo irradiava-se por Seu rosto e couro
cabeludo toda vez que tropeçava e caía, e sofreu fortes dores em todos os Seus
músculos e juntas. Ele tinha cada vez mais dificuldade para se erguer cada vez que
ia ao chão, na tentativa de suportar o peso da cruz.

A ESTRADA PARA O CALVÁRIO

FIGURA 4-6

Carregando a cruz. O crucarius carregava a barra horizontal (patibulum) nos ombros


ou tinha o objeto amarrado nos braços (a e b), pois a estaca (stipes) já se
encontrava montada no chão, do lado de fora dos portões da cidade. Somente em raras
ocasiões a cruz inteira era carregada (c).

As vestes de Jesus estavam praticamente grudadas em Seu corpo por causa do sangue
coagulado nas feridas causadas pelo açoitamento. Segundo as normas romanas, a roupa
era removida durante o açoitamento, mas por causa das disposições judaicas a
vestimenta de Jesus foi mantida na jornada ao Calvário. As Escrituras nos contam
que os soldados fizeram apostas para ficar com Suas vestes (Marcos 15:24),
provavelmente porque a túnica constituía-se em uma única peça de tecido, o que a
tornava muito valiosa para ser repartida em quatro partes. Os dados rolaram, e foi
tarefa do vencedor remover a roupa de Jesus, já que agora pertencia a ele. Fico
imaginando como o soldado fez isso. Teria ele molhado o tecido para amolecer o
sangue coagulado, como os médicos e enfermeiras geralmente fazem ao remover uma
atadura grudada em um ferimento? Se nos lembrarmos de que o nome do jogo era dor,
então se torna claro qual foi o método usado. A roupa foi arrancada, causando
surtos de dor pelo corpo de Jesus. Todo mundo se lembra de quando um parente ou
amigo disse que a melhor maneira de se retirar uma bandagem é puxá-la de uma só
vez. Mesmo que a dor seja momentânea, pense em quão aguda ela seria se de repente
uma gigantesca gaze fosse removida da frente e das costas de seu corpo, incluindo
os braços.

67

68

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

SUMÁRIO DA RECONSTITUIÇÃO FORENSE

Jesus já estava sofrendo por causa da fraqueza, da fadiga, do choque traumático e


hipovolêmico prematuro e intensa dor antes de Sua jornada ao Calvário, que foi
realizada em pleno sol ardente. Quando Jesus chegou ao Calvário, Ele já estaria a
ponto de desmaiar e perder o equilíbrio. É fácil presumir que Jesus se encontrava
num estado moderado de choque traumático e hipovolêmico em Sua chegada. Seus ombros
estavam traumatizados por terem carregado o patibulum e pelas diversas quedas ao
longo do caminho. O grau do choque traumático e hipovolêmico resultante do
açoitamento na casa de Caifás, obrutal açoitamento no pretório e a enervante,
lancinante dor causada pela coroa de espinhos foram agravados pelas múltiplas
quedas, com ou sem o patibulum em Seus ombros. Além disso, existe uma forte
evidência de que um de Seus pulmões tenha entrado em colapso e apresentava
hemorragia devido ao brutal açoitamento. O choque hipovolêmico se tornou
progressivamente pior, por causa da desidratação provocada pelo lento e contínuo
acúmulo de fluido ao redor de Seus pulmões causado pelas chibatadas e pelo
excessivo suor. Ele ainda teve intermitentes ataques de neuralgia do trigêmeo, que
acentuaram o grau do choque traumático.
Como patologista forense, achei extraordinário que Jesus tenha conseguido completar
a jornada até o Calvário nas condições em que se encontrava. Lá estava Jesus de
Nazaré, Rei dos Judeus, estendido nu no chão, num estado de extrema exaustão. Seu
corpo encontrava-se fustigado pela dor, e ainda assim Ele iria enfrentar o mais
ignominioso de todos os sofrimentos, a terrível crucificação.

{5} CRUCIFICAÇÃO

Quando O viram, os principais sacerdotes e os guardas clamaram, dizendo:


"Crucifica-O! Crucifica-O!". Disse-lhes Pilatos: "Tomai-O vós, e crucificai-0;
porque nenhum crime acho nEle."

João 19:6

A crucificação era uma forma bárbara de punição praticada pelos romanos, persas,
fenícios, assírios, babilônios, egípcios, gregos, selêucidas, cartagineses e
judeus. De acordo com Plinio, a crucificação foi inventada por um homem chamado
Tarquinius Priscus e começou a ser usada por volta de 260 e 160 a.C. Porém, a
literatura milenar indica que ela já estava presente no século VI a.C. A palavra
crucificação origina-se da palavra cruciare, ou seja, torturar, atormentar. Era um
destino infame reservado a traidores, escravos, assassinos cruéis, agitadores
políticos e religiosos, piratas, rebeldes e indivíduos que não possuíam direitos.
Acredita-se que os romanos aprenderam a técnica com os fenícios, por volta do
século III a.C. Cicero, no século I a.C., em suas orações contra Verres (II 5, 2-
67), citou a crucificação como "a mais cruel e atroz das punições"

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

(Crudelissimum eterrimumque supplicum) e tambéma "pioremais extremada punição de


escravos". Josefo a chamou de "a mais lamentável das mortes" (A Guerra Judaica, 7-
203).

A palavra "excruciante" é derivada de "crucificação" e literalmente significa "da


cruz". Era a retaliação suprema contra crimes políticos e militares, e muito
eficiente para manter a lei e a ordem.

A crucificação era disseminada antes do nascimento de Cristo e acreditase que seja


oriunda da Ásia, embora alguns historiadores creiam que tenha se originado na
região da Ásia Menor, com os assírios, fenícios e persas, por volta do século VI
a.C. Esses povos eram famosos por suas técnicas de tortura, que incluíam empalação,
fervura em óleo, afogamento, espancamento e crucificação. Algumas fontes indicam
que também era usada por hindus, assírios, citas, germanos, taurinos e númidas. A
crucificação era tão comum que, durante a revolta de escravos liderada por
Espártaco, em 73-71 a.C., cerca de seis mil de seus seguidores foram suspensos em
cruzes que se alinhavam no caminho entre Roma e Cápua. De acordo com Heródoto, em
The History of Herodotus", em 519 a.C., Dario I, rei da Pérsia, ordenou que três
mil oponentes políticos fossem crucificados, e Antioco IV, da Síria, condenou
judeus de Jerusalém ao açoitamento e à crucificação por terem infringido as leis.
De acordo com Josefo, Alexandre Jannaeus, o rei judeu, em 267 aC, mandou que
oitocentos oponentes fossem crucificados diante de suas esposas e crianças, as
quais logo foram massacradas enquanto os homens ainda estavam na cruz, e Publius
Quintilius Varus crucificou duas mil pessoas. E, segundo o historiador Flávio
Josefo (37-100 d.C.), cerca de 500 prisioneiros judeus eram crucificados por dia
pelo imperador Tito durante o cerco a Jerusalém, por volta de 66-70 d.C. É
interessante saber que, de acordo com recentes estudos do Pesher de Naum em
Pergaminhos do Mar Morto (Qumran
"N. do T.: A História de Heródoto.

**N. do T: Palavra hebraica que significa "interpretação".

70

CRUCIFICAÇÃO

gruta 4), os essênios, uma das seitas judaicas, realizavam crucificações pelo crime
de blasfemia ou idolatria. Alexandre, o Grande, crucificou duas mil pessoas no
cerco de Tiro.

Apesar dos milhares de crucificações, nenhuma evidência antropológica da prática


foi descoberta, com exceção de um caso isolado ocorrido na cidade velha de
Jerusalém em 1968, quando trabalhadores de construção acidentalmente encontraram
uma tumba judaica contendo mais de 30 esqueletos. Em um ossário que continha a
inscrição "Jehohanan o filho de HGQWL", havia um esqueleto de um jovem de cerca de
20 anos de idade que tinha sido crucificado com um prego de aço, ainda afixado ao
osso do calcanhar. A questão freqüentemente levantada é: por que não existe
evidência antropológica, já que ocorreram milhares de crucificações? Existem várias
razões para se explicar isso. De acordo com Joe Zias, que foi curador de
Arqueologia e Antropologia para o Israel Antiquities Authority de 1972 a 1997, os
pregos usados na crucificação tinham grande demanda, já que muitos acreditavam que
possuíam poderes mágicos e afastavam o mal, curavam enfermidades e serviam como
amuletos da sorte. Eles eram retirados dos mortos logo depois da crucificação e, em
muito casos, roubados das tumbas.

Sem a presença dos pregos, a crucificação não deixa sinais definitivos


patognomônicos nos espécimes antropológicos. Além disso, durante as crucificações
em massa, as vítimas eram retiradas da cruz e amontoadas em pilhas, para que os
animais selvagens e aves de rapina as devorassem, espalhando, assim, seus ossos.
Esses animais também se fartavam dos castigados enquanto eles estavam na cruz. É
importante notar que muitas vítimas de crucificações em massa não eram pregadas,
mas apenas amarradas na cruz, sem deixar sinais de que foram crucificadas. Os
pregos também eram constantemente reaproveitados para subseqüentes crucificações.

Josefo indica que os soldados pregavam as vítimas em diferentes posições por mera
diversão, raiva, sadismo, capricho ou ódio. Hengel

71

72

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

cita o testemunho de Sêneca sobre esse tópico: "Eu vejo cruzes lá, não de um
formato apenas, mas construídas de diversas maneiras; algumas têm suas vítimas com
a cabeça batendo no chão. Outras empalam suas partes íntimas e outras mantêm os
braços do condenado esticados no patibulum” (Hengel, 1977).

QUANDO A CRUCIFICAÇÃO DEIXOU DE SER PRATICADA?

A crucificação foi abolida pelo imperador Constantino no século IV, no ano 341 d.C.
Mesmo assim, ela foi praticada em várias ocasiões durante os séculos seguintes. A
professora Paola Ricca escreve que um documento exibido pelo professor Angelo
Gramaglia, do Seminário de Turim, mostra que, no século VII, durante as lutas entre
árabes e cristãos, estes últimos foram crucificados em massa da mesma forma que
Jesus, como sinal de desprezo. O professor Philip Jenkins, da Universidade da
Pensilvânia, relata que os muçulmanos europeus tinham conhecimento da crucificação
e a praticavam. Ele cita o exemplo do grande místico Sufi al-Hallaj, que foi
crucificado em Bagdá no ano de 922, e também sugere que "detalhes da crucificação
encontravam-se disponíveis para qualquer europeu que viajasse ao mundo islâmico
durante as Cruzadas". Um escriba árabe chamado el Sujuti escreveu sobre um jovem
turco que foi crucificado em 1247 em Damasco, Síria, e Thurston e Atwater
informaram sobre a crucificação de cerca de 25 padres das ordens dos jesuítas e
franciscancs em Nagasaki, Japão. De acordo com Ian Wilson, o revolucionáric
mexicano Emiliano Zapata teria crucificado latifundiários em postes telegráficos;
durante a Segunda Guerra, os nazistas teriam crucificado judeus no campo de
concentração de Dachau; e, mais recentemente, turcos se utilizaram da crucificação
como um meio para torturar seus prisioneiros políticos. A crucificação tem sido
correntemente reportaca no Sudão. Em 1993,

CRUCIFICAÇÃO

quando o papa João Paulo II fez uma visita ao país, ele referiu-se às práticas do
agressivo regime islâmico como "uma particular reprodução do mistério ocorrido no
Calvário".

Em 1998, dois padres em Cartum, Sudão, foram acusados de armar bombas numa
tentativa de interromper as celebrações que marcavam os eventos que levaram a
Frente Islâmica ao poder. Se condenados, os dois padres e outros 18 seriam
crucificados. Mas parece que a pressão de grupos internacionais de direitos
humanos, como a Anistia Internacional, conseguiu adiar o julgamento. O Código Penal
Sudanês impõe penalidades muito duras para vários crimes, incluindo execução ou
execução seguida de crucificação, com a mão direita e o pé esquerdo amputados.
Recentemente, troquei correspondência com um missionário de Délhi, India, que
visitou Nuba, no Sudão, e ele deparou com várias crucificações, podendo observá-
las. Ele me informou que um ministro chamado Revendo Aroon, da igreja anglicana,
parece ter sido uma das vítimas, mas ele, felizmente, se escondeu. Ele relatou que
as mãos das vítimas foram pregadas nos antebraços e concomitantemente amarradas, e
os pés foram pregados na estaca. Não havia suppedaneum (repouso para os pés). Elas
gritavam de agonia e muito sangue saía das mãos e pés até que elas morressem na
cruz. Quando o missionário tentou fotografar, o flash alertou a polícia, que
confiscou seu material e o prendeu. Felizmente, um amigo explodiu alguns fogos de
artifício para distrair as autoridades e ele fugiu.

Em reportagem na edição de 17 de setembro de 1998 do Electronic Telegraph, de


Londres, Christina Lamb escreveu que, segundo grupos de direitos humanos e grupos
cristãos, os cristãos egipcios têm sido sujeitos a horríveis rituais de
crucificação, além de estupros e outras torturas. O artigo relata que cristãos
copta eram capturados em grupos, e muitos eram pregados na cruz, espancados e
torturados com choques elétricos em seus órgãos genitais.

73

74 14

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

CERIMÔNIAS DE CRUCIFICAÇÃO

Mortificação por meio de "crucificações"

Todo ano nas Filipinas, durante a Páscoa, inúmeros voluntários participam da


"cerimônia de crucificação" para relembrar o sofrimento de Jesus. A cerimônia foi
vividamente mostrada em detalhes em um documentário da BBC. O evento começa com uma
procissão ao "local da crucificação", onde os voluntários são espancados com ramos
de madeira. Eles apanham até que suas costas fiquem cobertas do sangue resultante
das feridas e escoriações. Quando chegam ao "ponto da crucificação", deitam-se de
costas numa cruz colocada no chão, com seus braços estendidos. Anti-séptico é
aplicado em suas palmas e um prego fino, esterilizado, é pregado no centro de cada
palma. Então a vítima é colocada no patibulum com um rápido golpe. A cruz é
levantada e o voluntário fica de pé numa plataforma pequena e plana que foi presa à
cruz. Nada é colocado para prender os braços e mãos durante esse período, já que os
voluntários simplesmente permanecem de pé na plataforma. Depois de um curto período
de tempo, as mãos são libertadas do patibulum e os voluntários são colocados no
chão.

"Crucificações" de protesto

Nestes últimos tempos têm acontecido casos de crucificações realizadas para


protestar contra diversas condições sociais ou políticas. Em um desses casos, dois
presidiários que se encontravam encarcerados por mais de um ano foram
voluntariamente pregados pelas mãos em cruzes improvisadas no dia 11 de fevereiro
de 2004, na prisão Palmasola, na Bolívia. Os prisioneiros estavam protestando por
melhores condições de habitação, sentenças menos demoradas, condenações mais curtas
para aqueles que participassem de programas de trabalho, detenção doméstica para
presos com mais de 60 anos, pelo direito de serem informados sobre os crimes pelos
quais estavam sendo presos e assim por diante. Um colega levou a cabo as
crucificações, e

CRUCIFICAÇÃO

aproximadamente quatro mil prisioneiros deram total apoio ao protesto. Os dois


prisioneiros ficaram pregados por apenas alguns minutos, gritaram de dor durante e
depois do momento em que o prego entrou em suas mãos e foram levados para a
enfermaria, onde seus ossos quebrados foram tratados.

O MÉTODO ROMANO DE CRUCIFICAÇÃO

Os romanos consideravam a crucificação uma retaliação contra o crime. Era reservada


para provincianos, criminosos e escravos, sendo executada metodicamente, com a mais
completa perfeição. De fato, escravos eram sarcasticamente chamados de furcifers
("carregadores de cruz"). Em uma tradução feita por Ricciotti de Miles Gloriosus
(II, 4, 372-373), de Platão, um escravo relata: "Eu sei que a cruz vai ser minha
tumba. Lá jazem meus ancestrais, meu pai, avô, bisavô, trisavô". Por outro lado,
Cícero era de opinião que nenhum cidadão romano deveria ser crucificado. "Para um
cidadão romano, ser amarrado é uma contravenção. Ser golpeado é um crime, ser morto
é quase um parricidio, então, o que posso dizer se ele for pendurado na cruz? Não
existe epiteto para descrever algo tão infame" (Verrum, II, 5, 66). Mesmo assim, em
casos de alta traição ou crime contra o Estado, cidadãos romanos eram punidos com a
crucificação.

Os soldados romanos eram bem treinados na técnica. Geralmente, existiam equipes de


cinco soldados incumbidos da crucificação. A equipe era formada pelo exactor
mortis, um centurião, que era responsável por quatro soldados, chamados de
quaternio. Eles eram experts na arte da crucificação e cumpriam a tarefa com
facilidade e presteza. Como a crucificação era comum, não faltava experiência ao
time. Alguns tipos de tortura, como o açoitamento, eram um prelúdio comum à
crucificação, e, de acordo com Hengel (que cita várias fontes, incluindo Blinzler,
Hewitt, Plinio, o Velho, Lucanus, Sêneca, Galero e outros), era regra pregar mãos e
pés. Lucanus também afirma que as mãos eram
75

76

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

transfixadas durante a crucificação. O uso de pregos nas mãos e nos pés também é
apoiado na descoberta feita em 1968 de um judeu crucificado, que ainda tinha o
prego afixado no pé. O exactor mortis também se incumbia de verificar se a vítima
estava realmente morta e relatar o ocorrido ao procurador, que então preenchia a
declaração oficial de óbito.

Onde ocorriam as crucificações?

As colunas das cruzes (stipes ou staticulum) eram deixadas afixadas permanentemente


no chão de uma área elevada nos arredores da cidade, do lado de fora dos muros,
para que os crucificados ficassem expostos aos olhos de todos. Em Roma, a
crucificação acontecia no Campo Esquilino, do lado de fora das paredes sérvias,
onde os urubus esperavam pelos corpos dos crucificados. O mesmo padrão acontecia em
Jerusalém, onde os romanos armaram seu próprio local de execução do lado de fora
dos muros, numa região cheia de colinas chamada Calvário (latim: Calvarii) ou
Gólgota (aramaico: Gulgutha), ambos os nomes significando "caveira", por causa do
formato da colina. O local da crucificação era perto das tumbas, o que facilitava o
transporte e o enterro.

CONSTRUÇÃO DA CRUZ

Altura

As opiniões são contraditórias em relação ao tamanho do staticulum, porque


referências históricas aludem a cruzes altas e baixas. Dentre os romanos, cruzes
altas eram reservadas primariamente para criminosos especiais, que de alguma forma
houvessem desonrado um romano. Em geral, as cruzes romanas mediam em torno de 2
metros de altura, já que, em termos práticos, era mais fácil posicionar a barra
horizontal (patibulum), mais pesada por causa da vítima nela pregada, numa cruz
mais baixa. Assim também era mais fácil remover a vítima depois de

CRUCIFICAÇÃO

TITIT

FIGURA 5-1

Pregos romanos datados de cerca de 83 d.C. Estas são algumas amostras das sete
toneladas de pregos que foram escavadas pelo professor Richmond em uma fortaleza em
Inchtuthill, Escócia. (Pregos doados por Sir Geoffrey Ford, Instituto de Metais,
Londres.)

sua morte. Cruzes mais curtas também tornavam mais fácil o trabalho dos animais que
destroçavam os condenados. A opinião geral de que a cruz de Jesus era do tipo mais
baixo é apoiada pelo fato de que um graveto curto (Marcos 15:36) foi usado para
trazer o vinagre (posca) aos lábios do crucarius. O tamanho menor também é
compatível com os ferimentos no lado direito do Sudário de Turime permite o ângulo
correto de penetração, pela lança, no saco pericardial e no coração.

A sela
Também existe muita controvérsia a respeito do fato de a coluna da cruz conter uma
sela (sedile, pegma, cornu, chifre) que se projetava no meio da cruz, como foi
reportado por Cícero, "como um chifre de rinoceronte". A vítima era posicionada
nela para que o corpo tivesse algum apoio, a fim de minorar seu sofrimento (equitar
cruci, cavalgar a cruz). O sedile era usado principalmente quando os executores
queriam que a vítima permanecesse viva por mais tempo, às vezes dias seguidos. Sem
esse apoio, a vítima não sobreviveria por um período tão longo. Houve casos em que
alguns condenados permaneceram vivos na cruz por uma semana. Lipsius descreve o
caso de dois indivíduos que ficaram nove dias pendurados na cruz, mas é óbvio que,
sob uma

77 17

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

análise forense, eles não foram brutalmente açoitados, e obviamente foram


amarrados, e não pregados na cruz. É preciso lembrar, também, que Jesus foi
crucificado em um fim de semana sacrossanto. A crucificação se deu em um duplo
feriado religioso: o Pessach (Páscoa) eo Shabat (sábado).

A lei judaica proíbe que se deixe o crucarius na cruz de um dia para o outro. As
Escrituras dizem: "Se um homem tiver cometido um pecado digno de morte, e for
condenado à morte, e o tiveres pendurado numa árvore, o seu cadáver não deverá
permanecer toda a noite no lugar, mas o enterrarás no mesmo dia; porquanto aquele
que é pendurado é maldito de Deus" (Deuteronômio 21:22-23). Assim, seria pouco
provável que qualquer artifício para prolongar a vida de Jesus tivesse sido usado.

Suppedaneum

O suppedaneum, um suporte colocado embaixo dos pés e que é visto em muitos


crucifixos e pinturas, parece ser uma invenção de artistas, já que nenhuma
literatura faz menção a ele, e o objeto também nunca foi visto em cruzes antigas.

Pregos

Os pregos utilizados na crucificação na época de Jesus têm pouca semelhança com os


que são usados hoje em dia, convencionalmente, na carpintaria. Os pregos romanos
eram feitos de aço, cuja haste ia ficando gradualmente quadrada da cabeça à ponta.
Em 1961, em Inchtuthill, Escócia, em um local onde existia uma fortaleza romana
construída em 83 d.C., sete toneladas de pregos caseiros com formato quadrado
(quase um milhão deles) foram desenterradas por I. A. Richmond, professor de
Arqueologia do Império Romano em Oxford. Esses pregos variavam de tamanho, indo de
1 a 40 centímetros de comprimento. Eu tive a sorte de conseguir sete deles junto ao
Museu de Oxford (Figura 5-1).

78

CRUCIFICAÇÃO

Uma relíquia de grande interesse está exposta na Basílica de Santa Cruz de


Jerusalém, em Roma, Itália, supostamente descoberta por Helena, mãe do imperador
Constantino, por volta do começo do século III, e seria um dos pregos usados na
crucificação de Jesus. O prego tem 12,5 centímetros de comprimento, com uma haste
quadrada de aço que mede 9 milímetros na cabeça e vai afinando gradualmente até a
ponta, que mede 5 milímetros. A cabeça do prego tem o formato de uma cúpula, com
bordas estendidas, como em um sino. Um prego similar foi produzido pelo padre
Weyland e utilizado em nossos estudos experimentais (Figura 5-2). Esse prego tem
uma grande semelhança com aquele que foi descoberto durante a escavação Giv'at ha
Mivtar, na cidade velha de Jerusalém, em 1968. Esse prego media 11,5 centímetros e
estava afixado no osso do calcanhar de um judeu crucificado (Figura 4-2).

FIGURA 5-2

Prego de aço feito pelo padre Weyland usando a réplica de um prego exposto na
Capela Santa de Jerusalém, alegadamente trazido por Santa Helena, e que se acredita
ser um dos pregos usados na crucificação de Jesus. O prego também corresponde às
características daquele encontrado no osso do calcanhar

de um homem na escavação Giv'at ha Mivtar.

79

80 80

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

A barra horizontal e a suspensão

O método pelo qual a barra horizontal e a vítima pregada nele eram colocados no
poste ainda não é claro, e nenhuma referência definitiva sobre o processo foi
descoberta. Várias referências na literatura histórica sobre frases em latim como
ascendre crucem (ascender à cruz) e patibulum suffixus (segurem o patibulum)
poderiam indicar que o exactor mortise seu quaternio possuíam alguma técnica para
executar as manobras. Gorman sugere que dois membros da equipe de execução
levantaram cada extremidade do patibulum e um terceiro agarrou Jesus pela cintura
para que Ele ficasse de pé. Ele foi, então, posto de costas para o poste, enquanto
dois membros da equipe levantaram a barra horizontal até o alto, usando para isso
pedaços de pau, enquanto dois indivíduos seguravam Jesus pelo corpo. Outra
possibilidade é que uma corda tenha sido amarrada ao redor do corpo e o patibulum
foi erguido até o alto da estaca, enquanto dois homens ajudavam levantando as
extremidades da barra horizontal. Acredito que os executores deveriam ter algum
tipo de escada para fazer com que o condenado subisse de costas, enquanto dois
membros do quaternio erguiam a barra horizontal e um outro ajudava a vítima a
chegar ao último degrau. Ao chegar no topo, o patibulum era colocado no encaixe,
enquanto as pernas da vítima eram seguras pelos homens. Quando o sedile era usado,
a tarefa se tornava mais fácil, já que a vítima podia se apoiar nele enquanto o
patibulum era colocado no lugar e os pés eram pregados. Um sedile obviamente não
foi utilizado no caso de Jesus, por causa dos feriados da Páscoa e do Shabat, e
nenhum procedimento teria sido tomado para que sua vida fosse prolongada.

CRUCIFICAÇÃO

A PAIXÃO DE CRISTO DE MEL GIBSON

Quando eu soube que Mel Gibson tinha a intenção de fazer um filme historicamente
correto sobre a Crucificação, escrevi a ele oferecendo minha assistência. Incluí
minhas credenciais e o fato de que tinha estudado a Crucificação por mais de 52
anos. Não recebi resposta. Tive a impressão de que ele poderia não ter recebido a
comunicação, e talvez isso tenha acontecido, porém, mais tarde fui informado por um
amigo, que se encontrara com Gibson e sua equipe em Fátima, Portugal, um ano antes
de eu lhe ter escrito, que ele havia recomendado a Gibson que me contatasse.
Percebi que Gibson já tinha suas próprias idéias sobre como iria fazer o filme. Mas
fiquei profundamente desapontado quando vi a fita, já que, em minha opinião, a
produção era tipicamente "Hollywood" e repleta de erros. Eu espero pelo menos
ajudar as massas a compreender que Jesus foi terrivelmente castigado e passou por
um intenso sofrimento em reparação aos pecados do homem. Ao contrário de muitos
críticos, eu não acredito que o filme retrate o anti-semitismo. Acredito que Jesus
teve de sofrer e morrer em reparação ao pecado original cometido por Adão e Eva, e,
assim, os participantes não importam.

Infelizmente, o filme contém grosseiros erros médicos, científicos, históricos e


também relativos às Escrituras, muitos deles desconhecidos do público. Mas, antes
de se descrever os erros no campo da medicina e da ciência, é importante notar que
o filme falha em mostrar por que Cristo foi crucificado. A platéia não soube o
motivo por que Ele foi tão brutalmente torturado e levado à morte. Gibson tentou
ilustrar os eventos que levaram à crucificação por meio de flashbacks breves e
ineficientes. Essa é uma falha significativa do filme, já que nem todas as pessoas
estão cientes do contexto histórico da crucificação. Gibson falhou também ao deixar
de mostrar que Jesus experimentou não só a mais severa forma de sofrimento físico,
mas também a mais severa forma de sofrimento mental, no Jardim do Getsêmani. A
maioria dos

81

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

cristãos não percebe a angústia mental de Jesus, tão extrema que Ele chegou a suar
sangue. Eles não estão cientes de que Jesus se fragilizou ao ter uma visão
celestial que Lhe mostrou todo o sofrimento que estava por vir na expiação dos
pecados do homem. Isso trouxe a Ele uma alta carga de sofrimento físico e mental.
Em minha opinião, um filme melhor teria mostrado Jesus desfalecido nos braços do
anjo confortador que veio até Ele, de acordo com as Escrituras (veja a Figura 1-1).
O golpe no olho de Jesus, que o deixou inchado, com matizes de preto e azul, também
está em desacordo com as Escrituras, já que Ele não teria sido espancado no Jardim
do Getsemani.

Gibson retrata Jesus como uma pessoa fraca e assustada, o oposto dos relatos de
Lucas e Mateus, nos quais Jesus conclama que não devemos ter medo daqueles que
matam o corpo físico, além do Evangelho de João, que cita as palavras de Jesus: "O
perfeito amor elimina todo o medo". É importante entender que Jesus "escolheu"
morrer como um homem "físico", e não como um Deus, com todas as Suas
suscetibilidades.

Gibson usou aramaico e latim numa tentativa de transmitir autenticidade, mas deixou
de fora o grego, uma omissão importante. Ele obviamente não estava a par de que o
grego era a lingua franca da Terra Santa durante a época de Jesus. Era a língua do
comércio internacional e da cultura no século I na região oriental do Mediterrâneo.
A linguagem usada no templo era o hebraico, enquanto o aramaico era a língua comum
ente os judeus, e o latim era usado na lei romana. De acordo com João 19:20, o
titulus era escrito em grego, latim e hebraico (veja Figuras 4-3 e 4-4), mas o
titulus no filme só aparece escrito em latim e hebraico.

As informações de Gibson obviamente vieram das revelações de Catarina Emmerich,


conhecida como a Vidente de Dülmen, de Santa Brigite e de Maria de Agreda. Meus
estudos revelaram acentuadas discrepâncias em suas revelações, além daquelas feitas
por Marie Valtorta e outros. Por exemplo, Santa Brigite disse que Jesus foi pregado
em

82
CRUCIFICAÇÃO

posição ereta na cruz, com quatro pregos, enquanto Emmerich disse que isso
aconteceu no chão, com apenas três pregos. Numa recente edição da revista Time,
David Van Biema relata que um místico revelou a Maria de Agreda que Jesus levou
6.666 golpes no corpo e 110 na cabeça, foi picado pelos espinhos 110 vezes, teve 3
espinhos mortais aplicados em Sua testa e perdeu 28.430 gotas de sangue. Parece até
o computador de um anjo. É interessante saber que o Papa Clemente XIV proibiu a
continuidade do processo de canonização de Maria de Agreda, porque ela declarou em
seu livro que todos deveriam acreditar em tudo o que ela diz. Durante as
investigações para o processo de beatificação de Catarina Emmerich, experts alemães
estudaram os documentos e livros de seu biógrafo, Brentano, e chegaram à conclusão
de que apenas uma pequena porção do que foi publicado podia ser atribuído a ela.
Padre Peter Gumpel, um jesuíta alemão baseado em Roma e envolvido na causa dela,
recentemente confirmou isso e insistiu em que todos os escritos atribuídos a ela
vinham sendo descartados. O Catholic News Service publicou uma citação do Padre
Gumpel que dizia que Emmerich estava sendo julgada "não apenas pelo que ela
escreveu, mas, como sempre, por suas virtudes".

Em seu livro, A Dolorosa Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, Catarina Emmerich
relata que dois carrascos primeiro bateram em Jesus com "uma espécie de pau
espinhento, coberto com nós e farpas. Os golpes com esse pedaço de pau abriram sua
carne em pedaços. Seu sangue jorrou e manchou seus braços, Ele grunhiu, orou e teve
convulsões". Ela então relata: "Dois novos carrascos tomaram o lugar daqueles antes
mencionados [...], seus açoites eram compostos de pequenas correntes, ou correias
cobertas com ganchos de metal, que penetraram nos ossos e arrancaram pedaços de
carne a cada golpe". Ela continua: "Eles passaram cordas em Sua cintura, debaixo de
Seus braços e acima de Seus joelhos, e, depois de terem amarrado Suas mãos
fortemente nos anéis posicionados na parte superior do suporte, começaram a açoitá-
lo novamente, com ainda mais fúria que antes, e um deles atingia-

83

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

O constantemente no rosto com um bastão. O corpo de Nosso Senhor foi totalmente


destroçado-mas havia somente um ferimento". Essas revelações não são apenas
contrárias às Escrituras, mas também às descobertas no Sudário de Turim. No filme,
a cena em que Jesus é girado a fim de que se açoitasse a parte da frente do Seu
corpo também veio dos escritos de Catarina Emmerich em A Dolorosa Paixão, em que
ela disse: "A crueldade desses bárbaros ainda não estava satisfeita; eles
desamarraram Jesus, amarraram-nO novamente, desta vez de costas para o pilar [...],
e tornaram a açoitá-lo, com mais fúria que antes". Isso também é contrário às
Escrituras e às descobertas no Sudário. "Ofereci as minhas costas aos que me
feriam, e as minhas faces aos que me arrancavam a barba" (Isaías 50:6). O filme
também mostra a mãe de Jesus e Maria Madalena observando o açoitamento. Isso é
baseado nos escritos de Catarina Emmerich. As Escrituras relatam que somente os
soldados estavam no pretório para ridicularizar Jesus, e foi lá que se deu o
açoitamento. Se Jesus tivesse sido atingido 32 vezes com bastões e, em seguida,
durante 9 ou 10 minutos, fosse açoitado com um flagrum contendo tiras de couro ou
correntes com scorpiones (pedaços de osso ou metal, que no filme pareciam ser bem
afiados) nas extremidades, por corpulentos soldados em plena atividade, como se vê
no filme - lembre-se de que, segundo as visões de Catarina, vários nacos de carne
foram arrancados a cada golpe, e Seu corpo foi destroçado -, Ele teria morrido
muito antes de chegar à cruz. Lembre-se de que Ele já tinha sido açoitado na
residência de Caifás e brutalizado com a coroa de espinhos. Seria improvável Jesus
ter resistido a golpes tão brutais como os descritos por Catarina Emmerich e
dramatizados na produção de Gibson. Mesmo que isso tivesse acontecido, Ele não
poderia ter conseguido carregar uma cruz que pesava de 80 a 90 quilos, como pode
ser conferido no filme.

A representação do senhor Gibson de Jesus carregando a cruz inteira também tem


grande chance de ser historicamente inverídica. De acordo com a literatura
histórica, o crucarius carregava apenas a

84

CRUCIFICAÇÃO

barra horizontal, não a cruz inteira, já que as bases se encontravam no chão, do


lado de fora dos portões da cidade. Além disso, não existe nada nas Escrituras
apoiando a visão de Gibson de que Simão teria carregado Jesus em parte da jornada.
O filme também mostra Pilatos ordenando um brutal açoitamento - muito pior do que
aquele que usualmente precede a crucificação - para aplacar a multidão, assistindo
a tudo e ainda mostrando-se surpreso que Jesus tenha morrido tão rapidamente. Com
certeza, Pilatos teria entendido quão terrível era a condição de Jesus e não teria
ficado chocado com Sua morte prematura. No filme, os soldados esticaram o braço de
Jesus, deslocando-o, a fim de alinhar Sua mão com um orificio na cruz para que
pudessem pregá-Lo. Isso vai contra o que se descobriu no Sudário de Turim, já que
estimativas indicam que o homem no Sudário tinha perto de 1,80 m de altura. Não
seria necessário esticar os braços de um homem dessa altura. Sem contar que o
descanso para os pés (suppedaneum) na cruz, que aparece no filme, é uma invenção de
artistas modernos. Não há evidência para apoiar sua inclusão na cruz de Jesus. O
senhor Gibson também deixou de fora uma parte crítica do sofrimento de Jesus, que
foi o momento em que Suas mãos foram pregadas na cruz.

Apesar das minhas críticas, e apesar de toda a sanguinolência e brutalidade


detalhadas no filme, é importante enfatizar que Jesus, na verdade, padeceu ainda
mais do que foi mostrado. Quando os pregos perfuraram Suas mãos e pés, Ele sofreu
uma das dores mais terríveis que um homem pode conhecer, em virtude de ferimentos
nos nervos medianos das mãos e nos nervos plantares de ambos os pés, chamada
causalgia. Essa dor é tão brutal que, a não ser que algo seja feito imediatamente,
a vítima entra em profundo estado de choque. Tal dor pode ser comparada a uma
descarga de raio atravessando os braços e as pernas. Durante a Primeira Guerra
Mundial, ferimentos nos nervos medianos causavam tanta dor que até a morfina era
ineficiente, e os médicos tinham que seccionar o nervo ou injetar medicação no
nervo correspondente próximo à espinha, para evitar que a vítima entrasse

85

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

em choque. Uma pessoa afetada pela causalgia em apenas uma das mãos gritaria
intensamente em agonia; imagine-se, então, se ambas as mãos e os dois pés fossem
atingidos. E Jesus não grita em momento algum na versão de Gibson da Crucificação.

Outro erro é a enorme quantidade de sangue presente no chão, que, no filme, foi
limpo por Maria e Maria Madalena. A ciência forense não apóia essa descrição, e eu
acredito que foi feita apenas para efeito dramático.

Nas centenas de cenas de homicídio que investiguei ao longo dos últimos 34 anos,
tal acúmulo de sangue só aconteceu em casos de múltiplos esfaqueamentos, ferimentos
profundos etc. O filme também mostra sangue e água jorrando do peito de Jesus no
rosto de Maria e de um soldado quando Ele é atingido por uma lança. Isso é
cientificamente incorreto e não está de acordo com as Escrituras. Depois que a
lança penetra o peito, o pulmão entra em colapso com a entrada de ar, por causa da
pressão negativa na cavidade torácica. Isso faz com que a efusão pleural entre na
cavidade torácica. Quando a lança é retirada, sangue e plasma emanam suavemente do
ferimento no peito, como conseqüência do golpe na efusão pleural e da perfuração do
átrio direito do coração (veja o Capítulo 10).

SUMÁRIO FORENSE DE A PAIXÃO DE CRISTO DE MEL GIBSON

No final, existem oito pontos principais nos quais o filme falha em mostrar com
exatidão como foi a Crucificação de Jesus. Em primeiro lugar, a fita omite o
terrível sofrimento mental de Jesus no Jardim do Getsemani, que já Oteria deixado
debilitado. Segundo, a lancinante dor no rosto causada pela neuralgia do trigêmeo
decorrente dos efeitos da coroação também foi totalmente negligenciada. Além disso,
o severo espancamento (32 vezes) com bastões seguido por quase dez minutos de
brutal açoitamento (frente e costas, com um flagrum contendo afiados scorpiones,
executado por

86

CRUCIFICAÇÃO

soldados corpulentos e bem-dispostos) já teria causado a Sua morte depois

de vários golpes. E, mesmo que por um milagre Jesus tivesse sobrevivido a isso, Ele
teria experimentado extrema dificuldade para respirar, sufocando a cada tentativa
de inspirar e ofegando. Além disso, uma pessoa nessas condições não poderia ter
carregado uma cruz que pesava entre 80 e 90 quilos. Também totalmente ausente está
o efeito da fixação dos pregos nos pés e nas mãos. Isso teria provocado uma
condição médica chamada causalgia, uma das mais terríveis dores que pode sofrer o
ser humano, levando a vítima a gritar, em extrema agonia. O suppedaneum (descanso
para os pés) mostrado no filme é uma invenção de artistas do século passado, e não
cabe em uma representação realística da Crucificação. Ao contrário do que é visto
no filme, o fenômeno "sangue e água" não acontece como se o material fosse
espirrado, mas escorre suavemente da ferida quando a lança é retirada, pois a
efusão pleural que circunda os pulmões diminui em razão do colapso do órgão.
Finalmente, a grande quantidade de sangue que Maria Madalena e a mãe de Jesus
limparam do chão é inconsistente com os ferimentos causados.

87

{6} JESUS CHEGA AO CALVÁRIO

Tomaram, pois, a Jesus; e Ele, carregando a Sua própria cruz, saiu para o lugar
chamado Caveira, que em hebraico se chama Golgota. Ali O crucificaram, e com Ele
outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio. João 20:17-18

esus foi levado ao local da crucificação e despido de Sua vestimenta externa (uma
manta) e da túnica que estava por baixo. Ele ofegava e apertava o peito cada vez
que respirava - resultado do brutal açoitamento. Cada movimento repentino do Seu
peito e as sacudidas dos soldados traziam-Lhe uma dor insuportável. Jesus, então,
foi jogado ao chão e colocado de costas com Seus ombros e braços estendidos na
barra da cruz, enquanto o resto do corpo permanecia no chão. Um dos executores
segurou Seu peito, e outro, as Suas pernas, para que um terceiro pudesse pregar
Suas mãos na cruz. Isso sem dúvida provocou uma dor excruciante em Seu peito e
dificultou Sua respiração, fazendo com que Ele gritasse de agonia e se debatesse
contra os soldados com toda a força. Enquanto era mantido no chão, cada braço era
separadamente estendido a força, para que ficasse paralelo à barra
JESUS CHEGA AO CALVÁRIO

horizontal da cruz. Um prego longo, quadrado, enferrujado e com formato de tacha


feito de aço e medindo em torno de 12 centímetros foi pregado na palma da mão, na
área carnuda abaixo do polegar, contra a cruz. A dor deve ter sido brutal, como se
raios atravessassem seus braços, fazendo que Jesus contorcesse o tronco e emitisse
gritos penetrantes. O processo foi repetido na outra mão, causando ainda mais dor.
Então, dois membros do esquadrão de execução provavelmente amarraram as
extremidades da barra da cruz, enquanto um terceiro membro agarrava Jesus pela
cintura, colocando-O de pé. Eles O apoiaram no poste, em uma espécie de plataforma,
e dois homens ergueram a barra horizontal, enquanto outros dois seguravam Jesus
pelas pernas. Então, inseriram essa travessa num encaixe no topo da estaca. Eles
curvaram os joelhos de Jesus até que Seus pés ficassem acomodados na cruz e em
seguida os pregaram. Novamente, Jesus deve ter gritado de dor no momento em que
cada pé foi pregado. "Transpassaram-me as mãos e os pés. Posso contar todos os meus
ossos" (Salmos 22:16-17). Depois de crucificarem Jesus, dividiram seu manto em
quatro partes, mas como a túnica não estava rasgada, fizeram uma aposta pela sua
posse em vez de dividi-la. "Repartem entre si as minhas vestes, e sobre a minha
túnica lançam sortes" (Salmos 22:18).

A LOCALIZAÇÃO DO FERIMENTO NA MÃO

Palma, pulso ou antebraço?

Uma das maiores controvérsias em torno da Crucificação trata da localização


anatômica dos ferimentos nas mãos de Jesus como resultado de ter sido pregado à
cruz. Até o começo da década de 1930, cristãos devotos acreditavam que os pregos
tinham atravessado a palma das mãos de acordo com os textos das Escrituras
(Zacarias 13:6; Salmos 21:16, 17; Lucas 24:39; João 20:20-27). Historiadores do
passado, como Lipsius, escreveram que as mãos foram transfixadas na crucificação, e

89

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

FIGURA 6-1

Cristo crucificado e Judas enforcado. Painel de um esquife de marfim, cerca de 420


d.C., no Museu Britânico. Note o prego na palma da mão. (Com a permissão dos
curadores do Museu Britânico.)

crucifixos mais antigos, como o de marfim, datado de 420 d.C., que se encontra no
Museu Britânico (Figura 6-1), e o que está no portal de madeira de Santa Sabina, em
Roma, datado da primeira metade do século V, mostram os pregos no centro das
palmas. Estudiosos da crucificação, como Hengel, escreveram que, nos tempos
romanos, era regra pregar o crucarius nas duas mãos e nos pés.

Porém, em 1932, na Exposição do Sudário de Turim, o dr. Pierre Barbet, um conhecido


cirurgião de Paris, proclamou que o prego penetrou no pulso e não na palma da mão,
já que ela não poderia suportar o peso do corpo. Ele turvou as águas ainda mais ao
afirmar que o prego penetrou uma área específica do pulso, chamada espaço de
Destot, onde, segundo ele, o objeto atingiu o nervo mediano, fazendo que o polegar
se retraísse para a palma. Essa novidade se espalhou como fogo pelo mundo todo até
os tempos atuais, com uma infinidade de artigos na imprensa, documentários de TV,
revistas, livros, capítulos em livros, etc., muito embora as suposições de Barbet
fossem baseadas em mera especulação. Ele chegou a essa conclusão depois de notar
que o Sudário de Turim parecia mostrar os ferimentos perto do pulso, nas costas da
mão; conduzindo uma única e indefensável experiência utilizando um braço amputado;
e levando em consideração a revelação da Virgem Maria para Santa Brigite, que
dizia: "As mãos do meu filho

90

JESUS CHEGA AO CALVÁRIO

foram penetradas no ponto onde o osso é mais sólido." Mais tarde, ele desenvolveu
outra suposição, a de que somente um prego penetrou ambos os pés, ignorando
totalmente a revelação de Santa Brigite, conforme a qual cada pé teria sido
perfurado separadamente. Padre Weyland, famoso escultor e religioso, resumiu
competentemente a situação: "Conjecturas e teorias que não são apoiadas por
experimentos realistas sempre me deixaram indiferente."

Antes de investigarmos as hipóteses de Barbet sobre a mão, é importante que façamos


uma breve leitura sobre as características principais da anatomia da mão e do
antebraço, o que é básico para o entendimento de sua estrutura em relação com a sua
fixação na cruz.

ANATOMIA DA MÃO

É importante que o leitor acompanhe o diagrama durante esta discussão. A palma é a


frente da mão, e não inclui os dedos. Essa área contém uma estrutura triangular
fibrosa chamada aponeurose palmar, com o grosso das fibras acomodado em bandas
paralelas e algumas fibras transversais correndo perpendicularmente a elas (Figura
6-2). Embora as fibras transversais ofereçam algum apoio, as fibras paralelas não
poderiam suportar um corpo pendente caso um prego penetrasse a região. Outra
estrutura de apoio, na base dos dedos, são os ligamentos transversais do metacarpo.
A pele da palma da mão é grossa e colada firmemente à aponeurose palmar, em
contraste com as costas da mão, onde a pele é solta e flexível. Existem, porém,
fibras dos músculos e tendões na parte de trás da mão que provêem força e
integridade estrutural.

A proeminência que se estende pela mão da base do polegar ao pulso é chamada de


eminência tenar. Se você tocar a ponta do polegar na ponta do dedinho, vai notar um
profundo sulco na base da eminência tenar, chamado sulco tenar. Um feixe do nervo
mediano vindo do pulso passa por esse sulco (Figuras 6-2 a 6-4). O pulso, ou
carpus, é

91

Ramo cutáneo do nervo radial para ay área tenar lateral

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Ramo palmar cutaneo do nervo mediano

Ramo palmar cutáneo do nervo ulnar

Tendão palmar longo

Ligamento carpal volar

Músculos tenares
Ramo motor do nervo mediano ao tenar mediano

Osso pisiforme

Artéria ulnar

Músculos hipotenares

Aponeurose palmar

Fibras do músculo aderente à derme

Aponeurose palmar-

Artérias e nervos digitais Ligamento metacarpal superficial transversal

Ramos cutáneos do. nervo ulnar ao 5° dedo

FIGURA 6-2

Palma da mão. O tendão palmar longo é uma estrutura similar a uma corda descendo do
pulso. Note que o nervo mediano é sempre localizado adjacente à lateral do polegar
desse tendão e corre para a palma ao longo do sulco tenar. Note também a aponeurose
palmar, uma ampla faixa cujas fibras correm paralelamente aos dedos. Ilustração de
Frank Netter. (Cortesia do Grupo Farmacêutico Ciba, copyright © 1957.)

92

JESUS CHEGA AO CALVÁRIO

Palmar longo

Nervo mediano"

ulnar

Artéria radial

Trio radial Radial flexivel do carpo Flexor longo do polegar

Tendões sublimes e profundos de flexão na bursa

Região dos dois tendões

Flexor ulnar do carpo Nervo ulnar Artéria ulnar

Duo mediano

Ligamento volar do

carpo virado para trás

Ligamento transversal do carpo-

Músculo oponente do polegar

Músculo abdutor curto do polegar


Ramo flexivel do

polegar

Abdutor do polegar

Trio ulnar

Músculo flexor do quinto dedo Oponente ao quinto dedo

Dupla mediana

Arco superficial palmar arterial

Palmar longo- Nervo mediano

Flexor longo do

Trio radial

Ligamento volar do carpo

polegar na bursa radial-

Radial flexivel do carpo-

Músculo abdutor do quinto dedo

Músculos lumbricais

Tendões sublimes e] profundos de flexão na bursa ulnar

Artéria radial-

Região dos

dois tendões

Artéria ulnar

6232

Nervo ulnar

Flexor ulnar do carpo

Trio ulnar

Pronador quadrado

Rádio

Método simples de demonstração da configuração dos tendões sublimes no pulso

FIGURA 6-3

Ulna

Mão e pulso. Esta é uma camada mais profunda da mão e do pulso, incluindo o nervo
mediano e seus ramos e os oito pequenos ossos carpais da área do pulso. Ilustração
de Frank Netter (Cortesia do Grupo Farmacêutico Ciba, copyright © 1957.)

93

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Artéria radial-

Ramos da divisão profunda do nervo ulnar aos músculos interosseos e aos lumbricais
3 e4

Músculos lumbricais de cabeça para baixo

Triquetral-

Músculo pronador quadrado

Ramo volar da artéria radial do carpo

Rádio-

Ramo superficial da artéria radial" Gancho de sustentação daligação transversa do


carpo Músculo oponente do polegar-

Nervo ulnar (nervos que abrem os dedos) Artéria ulnar

Artéria do ramo volar do carpo

Tendões flexiveis do ulnar do carpo

Ramos dos nervos medianos aos músculos tenares e aos lumbricals 1 e 2

Ramo abdutor do polegar Ramo flexivel do polegar Abdutor do polegar-

Ulna

Osso pisiforme

Vasos volares do carpo

Músculo abdutor do quinto dedo

Ramo profundo do ulnar e divisão profunda do nervo ulnar dedo

Músculo flexor curto do quinto

Músculo oponente curto do quinto dedo metacarpicas

Artérias volares

Artérias volares do dedo

Ligamentos profundos tranversais metacarp

Lunar

Rádio-
Ulna

Navicular (escafoide)Lunato

Osso multiangular grande-

Osso multiangular menor-

Rádio Tubérculo

Triquetral

-Pisiforme

Abd

de Lister

Navicular

Pisiforme-

Mult.gr.

Hamato-

Hamato

Ext

Opp

Capitato

Add

Mult. menor

Capitato

Músculo abdutor do

quinto dedo

Aspecto volar

Primeiro tendão lumbrical -Tendão volar interósseo

Aspecto dorsal

Ramo ab. pol. -Interósseo

Interosseo volar

dorsal

Atalho do tendão para a'capa'do dedo


FIGURA 6-4

Ext-Externo Abd Abdutor Opp Oposto Add-Adutor Ramo ab. pol. Ramo abdutor do polegar
Mult, menor Osso multiangular menor Mult. gr. Osso multiangular grande

Mão e pulso. Esta é uma camada ainda mais profunda da mão e do pulso. Note o tendão
palmar longo. O nervo mediano sempre corre no lado do polegar desse tendão. Os
ossos carpais são agora mais fáceis de identificar. Ilustração de Frank Netter.
(Cortesia do Grupo Farmacêutico Ciba, copyright © 1957.)

94

JESUS CHEGA AO CALVARIO

FIGURA 6-5

Imagem do ferimento na mão encontrada no Sudário, padrão de bifurcação. Esse é o


machucado mostrado na parte das costas da mão. O padrão de bifurcação foi resultado
do fluxo de sangue nos dois lados da protuberância estilóide ulnar em razão da
mudança de posição e não por causa das duas posições assumidas pelo crucarius.
(Cortesia de Barrie Schwortz.)

composto de oito pequenos ossos, detalhados nas Figuras 6-4e6-9, todos eles
firmemente presos uns aos outros por ligamentos entrelaçados que provêem força a
essa área.

A região da extremidade dos ossos do antebraço (rádio e ulna) é extremamente forte,


porque as extremidades dos dois ossos são adjacentes e conectados por poderosos
ligamentos. Além disso, a força da região do carpus e outras estruturas acima dele
providenciam reforço adicional a essa área. Já que a literatura está saturada com
as hipóteses infundadas de Barbet, é importante explorá-las para saber por que são
indefensáveis.

95

96

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

HIPÓTESES DE BARBET

HIPÓTESE 1: O homem do Sudário foi pregado na área do pulso chamada espaço de


Destot e não na palma da mão.

Depois que Barbet concluiu que os pregos enfiados na palma da mão não poderiam
suportar o peso do corpo, ele procurou por uma área mais forte. Depois de alguns
experimentos, concluiu que o homem do Sudário foi pregado na área do pulso chamada
espaço de Destot e não na palma da mão. Citando seu livro, A Doctor at Calvary:
"Descobre-se que no meio dos ossos do pulso existe uma área livre circundada pelos
ossos capitato, semilunar, triquetral e hamato. Nós conhecemos esse espaço tão bem
que está de acordo com o trabalho de Destot..." (Barbet, 1963). Infelizmente, isso
não pode ser verdade, porque esses quatro ossos localizam-se na região do pulso
pertencente ao dedo mínimo (ulnar) e não na região do polegar (radial), como é
mostrado no Sudário! Olhe para a imagem do ferimento na mão para confirmar isso.
Note que a imagem do ferimento na mão no Sudário é, sem dúvida, na região radial
(polegar) do pulso (Figura 6-5).
Tendo ganho um título de Mestre e o de PhD em Anatomia Humana, em adição ao meu
título de Doutor em Medicina, e tendo lecionado anatomia geral para estudantes de
medicina, o erro de Barbet me atingiu como uma tonelada de tijolos. Mesmo assim,
dei a ele o benefício da dúvida e cuidadosamente chequei para ver se o espaço
poderia ter relação com o local representado no Sudário, emergindo no ponto em que
Barbet sugere. Mas, depois da verificação, descobri que anatomicamente não havia
possibilidade de que tal conexão pudesse ser feita.

Embora algumas pessoas possam acreditar que Barbet simplesmente cometeu um erro ao
nomear os ossos do pulso, eu não creio que isso tenha acontecido. Primeiro, em Les
Cinq Plaies du

JESUS CHEGA AO CALVÁRIO

FIGURA 6-6

2.

4.

5-

Diagrama do pulso por Barbet, de seu livro Les Cinq Plaies du Christ, mostrando o
espaço de Destot.

11

I ΠΛΗ

12

1. Espaço livre 2. Rádio 3. Ulna 4. Escafóide 5. Capitato 6.Trapézio 7. Trapezoide


8. Semilunar 9. Piramidal 10. Pisiforme 11. Hamato 12. Metacarpal 13. Primeira
falange

Christ, livro que Barbet escreveu em 1937, 13 anos antes de Doctor at Calvary, ele
incluiu um diagrama do pulso (Figura 6-6) mostrando o espaço de Destot ladeado
pelos ossos capitato, semilunar, triquetral e hamato no lado do pulso referente ao
ulnar (dedo mínimo), e não no lado radial (polegar), como está representada a
ferida no Sudário. Isso pode ser confirmado em qualquer livro de anatomia. Eu
incluí uma tabela que fornece nomes equivalentes aos ossos que formam o espaço de
Destot (Tabela 1, página 98). Em segundo lugar, no mesmo livro há uma foto de um
cadáver que Barbet pregou em uma cruz, e a ilustração mostra que os pregos estão,
na verdade, no lado do pulso relativo ao dedo mínimo (ulnar) e não no lado do
polegar (radial) (Figura 6-7).

"N. do T.: "As Cinco Chagas de Cristo".

97

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

TABELA 1

Nomes equivalentes para os ossos quem compõem o espaço de Destot

LIVRO OSSO 1 OSSO 2 OSSO 3 OSSO 4 Doctor at Calvary Hamato Semilunar Capitato
Triquetral Le cinque plaies Os crochu Semilunar Grande Osso Piramidal du Christ
Ciba Symposia Hamato Luniforme Capitato Triquetral

Diagrama de nomes equivalentes dos ossos que compõem o espaço de Destot. Isso foi
incluído para converter os nomes dos ossos carpais de um sistema a outro, para
evitar confusão, já que muitos artigos utilizam nomes diferentes.

Em terceiro, Barbet pediu a Villandre, o mestre da escultura, que talhasse um


crucifixo de acordo com "as informações precisas" que The haviam sido passadas.
Isso foi feito, para completa satisfação de Barbet, e, como pode ser visto na
Figura 6-8, o prego está no lado do pulso referente ao dedo mínimo.

Barbet cometeu outro grave erro, clamando que, quando ele enfiou o prego no espaço
de Destot, cerca de metade ou dois terços do tronco do nervo mediano foram
rompidos. Isso não é anatomicamente possível, porque o nervo mediano não está
localizado na área do espaço de Destot, mas corre na área do pulso referente ao
polegar e ao longo do sulco tenar até a palma da mão. Um jeito fácil de localizar o
nervo mediano do seu pulso é dobrá-lo para a frente. Você vai notar uma estrutura
firme, como se fosse uma corda, projetando-se externamente. Esse é o tendão palmar
longo. O nervo mediano corre ao longo desse tendão do lado do polegar, não do dedo
mínimo. Obviamente, Barbet estava danificando o nervo ulnar, que corre na área do
espaço de Destot.

Onde o ferimento poderia ter sido feito para ser compatível com o Sudário? Antes de
respondermos a essa questão, lembre-se de que a imagem do ferimento mostra as
costas da mão e representa apenas a saída do prego, não a sua entrada. Então, não
sabemos especificamente por onde o prego entrou!

98

JESUS CHEGA AO CALVÁRIO

FIGURA 6-7

Cadáver suspenso na cruz por Barbet, de seu livro Le cinq plaies du Christ. Note
que o prego se encontra no lado do pulso relativo ao ulnar (dedo mínimo) e não no
lado radial (polegar), onde o ferimento na mão é mostrado no Sudário.

Em primeiro lugar, o prego não poderia ter entrado no espaço de Destot, porque está
no lado errado do pulso. Segundo, não poderia ter entrado no centro da palma,
porque ele não teria saído no local do ferimento que a imagem do Sudário de Turim
aponta. Em terceiro lugar, não poderia ter entrado no espaço entre o rádio e a
ulna, porque não teria saído onde é mostrado no Sudário. Isso faculta apenas duas
possibilidades.

1-O prego poderia ter entrado no pulso no lado referente ao polegar (radial), ou
seja, na área do pulso oposta ao espaço de Destot. Ele poderia ter passado através
de um espaço criado por outros quatro

99

100

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

ossos carpais-o navicular, o semilunar, o grande multiangulareo capitato-,


emergindo onde o Sudário mostra. Essa é uma área muito forte, e o tronco do osso
mediano provavelmente teria sido danificado por esse caminho.

2-O prego poderia ter entrado na parte superior da palma da mão - não no centro da
palma. Essa área é também tão robusta quanto o espaço de Destot ou a área radial.
Um prego entrando nessa região poderia emergir no local detalhado no Sudário.

Para localizar essa área, abra suas mãos, com as palmas voltadas para cima. Você
vai notar proeminências volumosas estendendo-se pela mão a partir da base do
polegar. Essas massas são chamadas de músculos da eminência tenar (veja Figura 6-
2), os quais produzem a flexão dos polegares (ou seja, estes se curvam em direção
às palmas). Estenda seu polegar até a ponta do dedo mínimo. Um sulco profundo
chamado sulco tenar é visto na base da proeminência que se estende a partir da base
do polegar. Se um prego é direcionado para esse local, a alguns centímetros de onde
o sulco começa no pulso, com a ponta em um ângulo de cerca de 10 a 15 graus em
direção ao pulso e ligeiramente voltada para o polegar, o prego iria se inclinar
para uma área criada pelo osso metacarpal do dedo indicador e pelo capitato e ossos
inferiores multiangulares do pulso, que eu chamei de área Z (Figura 6-9).
Demonstrei esse caminho há mais de 44 anos, no laboratório de dissecção de anatomia
humana (Figuras 6-10 e 6-11).

Para confirmar esse caminho, uma surpreendente ocorrência, de monumental


significado, teve lugar em uma de minhas investigações forenses, em meu local de
trabalho. Descobri um ferimento de defesa na mão de uma jovem que tinha sido
brutalmente esfaqueada por todo o corpo. A reconstituição forense revelou que ela
tinha erguido a mão para tentar proteger o rosto do horrendo massacre. Um exame
mais detalhado do ferimento revelou que a mulher foi esfaqueada no

JESUS CHEGA AO CALVÁRIO

FIGURA 6-8

O crucifixo de Villandre. Retirado do livro A Doctor at Calvary, de Barbet. O prego


está no lado ulnar (dedo mínimo) do pulso e não no radial (polegar), onde o
ferimento na mão é detalhado no Sudário. Barbet deu "informação precisa" a
Villandre.

FIGURA 6-9

rádio

ulna

multiangular inferior

-triquetral

metacarpal

Espaço de Destot

hamato

capitato

área Z

Espaço de Destot e a área Z. Ilustração de Frank Netter (cortesia da Companhia


Farmacêutica Ciba,
1957).

101

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

102

FIGURA 6-10

Prego atravessando a palma (frente). Um prego (réplica daquele encontrado na Figura


5-2) é direcionado através do sulco tenar de uma mão, em um laboratório de
dissecção, em um ângulo de 10 a 15 graus, inclinado em direção ao pulso. O prego
passa através da área Z (veja o texto), emergindo na área mostrada no Sudário.

FIGURA 6-11

Prego na parte de trás da palma. O prego da Figura 6-10 emerge no mesmo local do
ferimento na mão notado no Sudário.

sulco tenar, na palma da mão; a faca tinha passado pela área Z e a ponta saiu na
parte de trás do pulso, exatamente como é visto no Sudário (Figura 6-12). Raios X
da área mostraram que não havia evidência de ossos quebrados!

O Monsenhor Alfonso Paleotto, o arcebispo de Bolonha, que acompanhou São Carlos


Borromeo dos Alpes até Turim, em 1598, e que fez a primeira descrição do Sudário, a
princípio ficou estupefato quando notou que o ferimento parecia estar no pulso, e
não no meio da mão, como é relatado na profecia de Zacarias: "O que são esses

JESUS CHEGA AO CALVÁRIO

ferimentos no meio de suas mãos?" (Zacarias 13:6). Ele também reportou que São Tomé
acreditava que os ferimentos encontravam-se no meio das mãos. Além disso, ele
indicou que o aparente machucado no pulso estava em desacordo com a profecia de
Davi: "Eles perfuraram minhas mãos." Ele então argumentou que o peso do corpo
"teria rasgado as mãos, de acordo com os experimentos feitos pelos pintores e
escultores que usavam cadáveres como modelos para as suas obras". E citou uma das
revelações de Santa Brígida, em que a Virgem Maria lhe disse: "Perforatae fuerunt
Filiomeo manus in ea parte in qua os solidius erat" (as mãos do meu Filho foram
perfuradas na parte onde o osso é mais sólido"). Ele concluiu, então, que os
romanos não enfiaram o prego no meio da palma, perfurando a mão de um lado a outro,
mas devem ter feito isso de forma oblíqua, em direção ao braço, e o prego deve ter
emergido na área carpal, como é mostrado no Sudário. É importante saber que Barbet
criticou duramente a hipótese de Paleotto, dizendo que seria "anatomicamente
impossível". Mas era Barbet quem estava incorreto, e Paleotto, na pista certa.

Embora posicionar o prego no lado radial do pulso (o lado do pulso que o Sudário
mostra) não possa ser excluído como possível

FIGURA 6-12

Facada através da palma da mão (ferimento de defesa). Uma jovem ergueu sua mão para
tentar se proteger de um cruel ataque. Note o ferimento na área da palma, no sulco
tenar. A faca passou pela área Z, emergindo no mesmo local que se observa na imagem
do ferimento da mão no Sudário.
103

104

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

caminho, a parte superior da palma é a localização mais plausível, pelas seguintes


razões:

1. A região da palma é o local em que a maioria dos cristãos ao longo dos séculos
acredita que se deu o ferimento.

2. O caminho através da região superior da palma é muito forte e anatomicamente


correto.

3. O caminho termina exatamente onde o Sudário mostra a imagem do ferimento.

4. Na literatura antiga, Lipsius e outros autores, pintores e escultores relataram


e representaram mãos transfixadas na crucificação.

5. Está de acordo com as Escrituras: "Olhai as minhas mãos e os meus pés, que sou
eu mesmo" (Lucas 24:39) e "Ele mostrou-lhes suas mãos e seu lado...". Depois Ele
disse a Tomé: "Chega aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos..." (João 20:20-27),
"eles perfuraram minhas mãos e pés" (Salmos 22:16).

6. Assegura-se que nenhum osso foi quebrado, de acordo com João 19:33, 36; Salmos
34:20; Números 9:12 e Êxodo 12:46.

7. Isso explica o aparente prolongamento dos dedos no Sudário de Turim, devido à


compressão do prego nessa área.

É interessante que não se sabe de nenhum estigmático que tenha tido ferimentos no
pulso antes da hipótese de Barbet. Além disso, a legitimidade dos estigmáticos pós-
Barbet que tiveram ferimentos nos pulsos, como o padre italiano Gino Buresi e o
padre americano Brussis, foi recentemente contestada. Alega-se que aparentemente,
Brussis procura os refletores e supostamente está registrado no Guinness, o livro
dos recordes, como a pessoa que permaneceu em uma roda-gigante por mais tempo do
que qualquer outra.

JESUS CHEGA AO CALVÁRIO

8. É o local em que a maioria dos estigmáticos através dos séculos antes do dr.
Barbet - exibiu seus ferimentos. Entre eles estão São Francisco de Assis, Padre
Pio, Teresa de Konnersruth, Santa Catarina de Sienna, Catarina de Ricci, Louise
Lateau e Maria Esperanza.

Os Polegares Desaparecidos

Por décadas, um dos grandes pontos usados pelos defensores da autenticidade do


Sudário foi a ausência dos polegares. A expressão "Será que um falsificador poderia
ter imaginado isso?" foi cunhada por Barbet quando ele postulou que o polegar que
falta no Sudário devia-se ao ferimento no nervo mediano, causado pela passagem do
prego, que acabou estimulando o nervo, fazendo que o polegar se recolhesse para a
palma da mão. Essa frase foi citada várias vezes em livros, artigos de revistas,
palestras etc. Tornou-se uma "lorota do Sudário: A interpretação de Barbet,
contudo, é incorreta, e existe uma explicação simples que separa o fato da ficção.
A razão pela qual os polegares não são visíveis no Sudário é que a sua posição
natural, tanto em um morto quanto em uma pessoa viva, é na frente e ligeiramente do
lado do dedo indicador. Isso é facilmente demonstrado quando você estende os braços
para a frente, com as mãos relaxadas. Note que seus polegares estão abaixo e por
trás do dedo indicador. Cruze os pulsos e observe que os polegares estão escondidos
atrás dos indicadores. Observei isso em meu dia-a-dia como médicolegista ao longo
de mais de 34 anos, em indivíduos falecidos que são regularmente levados ao nosso
necrotério envoltos em panos ou lençóis, com seus pulsos cruzados e freqüentemente
amarrados um ao outro. Os panos que cobrem os corpos nunca ficam em contato com os
polegares. Em todos os casos, os polegares encontram-se numa posição na frente e
ligeiramente do lado dos dedos indicadores. Portanto, a explicação de Barbet é
incorreta por duas razões: 1) o nervo mediano não passa pelo espaço de Destot, e 2)
mesmo que passasse e fosse ferido, não haveria flexão do polegar. O dr. Lampe
relata que, na ruptura do nervo mediano, "dá-se a inabilidade para flexionar o
polegar, o indicador e o dedo médio: Isso foi confirmado no caso descrito
anteriormente, de uma mulher que foi esfaqueada na área Z da mão enquanto tentava
se defender. Embora o nervo mediano tenha sido machucado e a faca saído no ponto
exato onde o Sudário mostra a imagem do ferimento da mão, o polegar não se

recolheu para a palma.

105

106

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

HIPÓTESE 2: O polegar que falta no Sudário deve-se a um ferimento no nervo mediano


por causa da passagem do prego.

Barbet indicou que cada vez que o prego atravessava o espaço de Destot, o nervo
mediano era seccionado pela metade ou em dois terços, fazendo que o polegar se
recolhesse para a palma. Isso é indefensável por duas razões. Primeiro porque, como
demonstramos antes, o nervo mediano não passa pelo espaço de Destot, mas corre no
lado oposto (polegar ou lado radial) do pulso, junto ao tendão palmar longo. Mesmo
se o nervo mediano fosse ferido, causando um estímulo mecânico, como Barbet
declarou, isso não faria com que o polegar fosse recolhido para a palma da mão.

Odr. Ernest Lampe, um dos principais cirurgiões do mundo com especialização na mão,
ao discursar sobre ferimentos no nervo mediano, em seu livro Surgical Anatomy of
the Hand", relata que quando o nervo é seccionado "ocorre a incapacidade de se
flexionar o polegar, o indicador e o dedo médio". Isso me foi confirmado por dois
outros cirurgiões especializados em reconstrução da mão.

HIPÓTESE 3: As palmas das mãos não vão aguentar o peso do corpo.

De acordo com Barbet e legiões de jornais, artigos de revistas, documentários,


livros e artigos de internet baseados em suas hipóteses, as palmas são incapazes de
agüentar o peso do corpo. Barbet se baseou nisso em um único e inválido
experimento, quando introduziu um prego no centro da palma da mão de um braço
recém-amputado e pendurou, no cotovelo, um peso de 40 quilos. Ele descobriu que o
prego rasgou a mão depois de cerca de dez minutos, com agitação. Acrescentou a isso
cálculos matemáticos derivados da fórmula de tensão

"N. do T: "Anatomia Cirúrgica da Mão".

JESUS CHEGA AO CALVÁRIO


para um homem suspenso em um ângulo de 65 graus, que ele indicou resultar em um
impacto de aproximadamente 94 quilos. Sua conclusão é incorreta. O problema com
essa e outras hipóteses de Barbet é que elas nunca foram sujeitas aos princípios do
método científico, o que é indispensável para validar ou modificar uma hipótese.

Vamos analisar cuidadosamente a terceira hipótese de Barbet, em duas formas, e


assim mostrar por que ela é indefensável. É muito importante, porém, que primeiro
revisemos a fórmula de tensão, já que é essencial para determinar a validade da
hipótese de Barbet. Então, vamos sujeitar a hipótese aos princípios do método
científico e, subseqüentemente, demonstrar na prática que a experiência de Barbet
com o braço amputado não é válida.

A FÓRMULA DE TENSÃO - Para começar, é essencial notar que essa fórmula vai
determinar apenas a força de tração ou força de tensão, em quilos, nas mãos e
braços durante a suspensão com as pernas pendendo livres (ou seja, sem que o pé
esteja escorado na cruz). Ela não pode ser aplicada se os pés estiverem apoiados na
cruz. A fórmula de tensão determina a tração (força) exercida em cada mão. A
aplicação dessa fórmula indica que o valor dessa tração ou força é uma função do
ângulo dos braços com a estaca da cruz. Por exemplo, se a vítima pesa 175 libras
(80 quilos) e suas mãos e braços estiverem suspensos num ângulo de 65 graus com a
vertical e suas pernas estiverem suspensas livremente, haveria uma tração de 207
libras (94 quilos) em cada mão. É importante realçar que a fórmula de tensão só se
aplica à suspensão livre, isto é, sem apoiar o pé no stipes (estaca).

107

108

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

O Método Científico

O método científico é definido como "os princípios e processos empíricos de


descoberta e demonstração considerados característicos de ou necessários para a
investigação cientifica, geralmente envolvendo a observação de um fenômeno, a
formulação de uma hipótese relativa ao fenômeno, experiências para demonstrar a
verdade ou falsidade da hipótese e a conclusão que valida ou modifica a hipótese"
(Microsoft Bookshelf, 1988).

Para dar início ao método científico, existe uma observação inicial ou uma idéia
que leva à coleta de dados. Uma hipótese é então formulada e experimentos são
desenvolvidos para obtenção de evidências que sustentem a hipótese. Os resultados
são cuidadosamente analisados para determinar se a hipótese é válida ou não e se
outras experiências são necessárias. Os resultados são publicados ou submetidos a
outros cientistas para avaliação e confirmação. É importante saber que o filósofo
francès Denis Diderot escreveu, em 1753: "Existem três meios principais para
adquirir conhecimento que se encontram disponíveis para nós: observação da
natureza, reflexão e experimentação. A observação coleta fatos; a reflexão os
combina; o experimento verifica o resultado da combinação. A nossa observação da
natureza deve ser diligente, a nossa reflexão, profunda, e os nossos experimentos,
exatos. Nós raramente vemos esses três meios combinados; e, por essa razão, os
gênios criativos não são comuns" (Denis Diderot, On the Interpretation of Nature",
n. 15, 1753).

Estes quatro princípios - observação, hipótese, experimentação e conclusão devem


ser seguidos, e é de vital importància que os fundamentos do método científico
sejam meticulosamente seguidos na investigação científica, para evitar que sejam
disseminadas conclusões inválidas, baseadas em hipóteses derivadas de observações
não testadas.

*N. do T.: Editado no Brasil sob o titulo Da Interpretação da Natureza e Outros


Escritos, pela Ed. Iluminuras.

A tração nas mãos e braços de um indivíduo pendurado numa suspensão livre é


calculada determinando-se a força de tensão (P) como função do ângulo dos braços
com a vertical (P= W÷ 2 cose). Na Figura 6-13, P representa a tração ou tensão nos
braços, Wé o peso do corpo e Xé o equilíbrio. Assim, Pcose + Pcose-W-Pou W 2 cose.

JESUS CHEGA AO CALVÁRIO

Quando os braços são suspensos diretamente acima da cabeça, existe uma distribuição
igual da metade do peso do corpo em cada um dos braços, porque só existe uma força
vertical. Quanto maior o ângulo que os braços criam com a vertical, maior a tração
ou tensão em cada braço, já que um vetor horizontal ou força age proporcionalmente
a cada aumento do ângulo. Se um indivíduo pesa 175 libras e os braços estão num
ângulo de 65 graus com a vertical, a fórmula seria:

P-175°/2 cos0-87,5 1/cos 50-87,5 1/4.227-207 libras

A Tabela 2 mostra os efeitos de se modificar o ângulo de um indivíduo cujo peso é


de 175 libras. Note que, no ângulo da crucificação, o qual determinamos
experimentalmente que é de cerca de 60 a 70 graus, existe uma tração de 175 a 256
libras (80 a 115 quilos) em cada braço, que é maior que o peso do corpo. Note que
em 60 graus a tração em cada braço equivale ao peso total do corpo.

Será que as palmas das mãos agüentam o peso do corpo? Vamos avaliar a terceira
hipótese de Barbet submetendo-a ao método científico. A primeira parte do método
científico, ou seja, observação, foi aplicada por Barbet quando ele notou que a
imagem do ferimento no Sudário se encontrava na região do pulso e não na palma da
mão, como geralmente é mostrado em crucifixos e pinturas. Ele tentou fortalecer
esse exame com a observação de que a aponeurose palmar (veja a Figura 6-2) não
parece ser forte o suficiente para suportar o peso do corpo caso o prego tivesse
atravessado a palma da mão. Baseado nessas duas observações, ele formou a hipótese
de que as palmas das mãos não suportariam o peso do corpo se as mãos fossem
pregadas na barra horizontal da cruz. Para provar sua hipótese, ele montou um
experimento inválido, no qual enfiou um prego na palma da mão de um braço recém-
amputado (sem nenhum histórico clínico quanto à condição do braço), suspendeu um
peso de 88 libras (cerca de metade

109

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

TABELA 2

FORÇA DE TENSÃO NOS BRAÇOS Angulo do braço Tração em cada com a vertical mão em
libras 0 87 10 89 20 93 30 101 40 114 45 124 50 136 55 153 60 175 65 207 70 256 75
338 80 504 83 718 85 1.004 87 1.672 88 2.507 89 5.014

Nota: Tensão em libras exercida em cada mão de um individuo pesando 175 libras, de
acordo com o ângulo de cada braço com a vertical.

do peso de uma pessoa de 176 libras) no cotovelo e descobriu que o prego rasgou a
mão em dez minutos, tendo-se sacudido o conjunto. Ele juntou isso a cálculos
matemáticos derivados da fórmula de tensão para um homem suspenso em um ângulo de
65 graus, e indicou que resultariam em uma força de tração de cerca de 207 libras
(94 quilos) em cada mão. Ele então concluiu que as palmas das mãos não agüentariam
o peso de um crucarius.

As palmas das mãos não podem ser excluídas, porque a experiência de Barbet com o
braço amputado é inválida. Vamos ver por quê. Em

110

JESUS CHEGA AO CALVÁRIO

primeiro lugar, a conclusão de Barbet foi baseada na fórmula de tensão, que é


aplicável somente a uma pessoa suspensa livremente, cujas mãos estão atadas na
barra horizontal da cruz e os pés não estão presos à estaca. A experiência de
Barbet só seria aplicável a uma pessoa em suspensão livre. Em segundo lugar, a
experiência de Barbet foi baseada na suspensão de um único braço amputado (um
caso), o que é estatisticamente insignificante, e não houve reprodução do
experimento, tornando-o inválido nesse aspecto. E, por último, o braço
provavelmente estava gangrenado, já que amputações são executadas, em geral, quando
existe comprometimento vascular causado por obstrução arterial ou severo trauma
local. Se esse fosse o caso, os resultados do experimento seriam prejudicados,
porque em face de uma obstrução vascular os tecidos seriam menos resistentes à
força. Barbet, porém, não enxergou outras possibilidades, e considerou
insignificante o papel das pernas em relação à força de tração das mãos.

FIGURA 6-13

Representação matemática da força de tensão. É importante notar que a tração em


cada mão é igual ao dobro do co-seno do angulo que os braços fazem com a estaca
(stipes) dividido pelo peso do corpo. Essa fórmula só é aplicável quando as pernas
estão pendendo livres, e não pode ser empregada se os pés estiverem presos à
estaca.

Qual é o montante da tração nas mãos quando os pés estão presos à estaca? Embora
não haja dúvida de que a hipótese de Barbet com respeito à tração nas mãos quando
os pés estão presos seja indefensável, o método científico exige que os princípios
sejam cumpridos para que

111

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

112

se possa testar a confiabilidade de qualquer investigação científica. Para isso,


aplicamos os métodos científicos e simulamos uma crucificação em uma cruz
experimental. A seguir há uma discussão sobre nossos experimentos.

A Cruz Experimental OBSERVAÇÃO

Durante nossos experimentos de suspensão, observamos que a dor nos braços e ombros
foi intensa quando nossos voluntários foram erguidos sem um suporte para os pés
(Figura 6-14) e notadamente reduzida quando os pés se encontravam seguros (Figura
6-15). Observamos, também, que Barbet aplicou a fórmula de tensão para determinar o
montante da tração nas mãos, embora ela seja aplicável somente no caso da suspensão
pelos braços sem que os pés estejam presos. Além disso, notamos que Barbet usou
apenas um braço amputado para chegar a suas conclusões, o que é estatisticamente
inválido. Finalmente, as condições do braço não foram divulgadas (a indicação usual
para amputação é gangrena). Essas observações levaram à seguinte hipótese.

HIPÓTESE-As experiências de Barbet com o braço amputado não são aplicáveis à


suspensão na cruz quando os pés estão presos à estaca. A fórmula de tensão é
aplicável somente se a vítima está totalmente suspensa pelas mãos, com as pernas
pendendo livres. A tração nas mãos e braços durante a suspensão é notadamente
diminuída quando os pés estão presos à estaca, porque as pernas absorvem grande
parte da tensão.

JESUS CHEGA AO CALVÁRIO

EXPERIENCIA

A primeira fase de nossa experiência foi conduzida para determinar a exata tração
em cada mão durante a suspensão quando os pés estão pendendo livres, quando os pés
estão presos à estaca separadamente e quando eles estão presos um em cima do outro.

Foi necessário executar nossas experiências em uma cruz que possibilitasse uma
correspondência com o ângulo presumível dos braços de Jesus com a estaca, que
possibilitasse uma maneira de prender as mãos na barra horizontal sem comprimir os
pulsos e que permitisse que os pés ficassem apropriadamente presos à estaca. Uma
vigorosa cruz com uma estaca de 2,34 metros de altura, uma barra horizontal medindo
2 metros de largura e uma base segura com um ângulo de aço reforçado foi construída
pelo falecido padre Peter Weyland, um renomado escultor, ferreiro e sindonologista.

Nas crucificações verdadeiras, a barra horizontal era colocada no chão, os braços


das vítimas eram esticados em cima dela e as mãos pregadas, enquanto membros da
equipe de crucificação seguravam-nas. Para simular isso, uma série de pequenos
buracos numerados foi perfurada na barra horizontal em cada lado da estaca, em
pequenos intervalos, para permitir as diferentes envergaduras dos braços, já que a
reprodução do ângulo apropriado iria depender das variações individuais das
estruturas dos ombros e braços. Cada furo foi feito num ângulo ligeiramente para
baixo, de frente para trás, permitindo que longos pregos fossem inseridos nos
buracos apropriados de trás para a frente, numa posição que evitasse
escorregamentos (Figura 6-16).

Numerosos voluntários foram recrutados para nossos estudos. No final, quatro


voluntários do sexo masculino foram selecionados, porque pesavam entre 80 e 90
quilos e seus braços pendiam em um ângulo de 65 graus com a estaca e seus joelhos
dobravam-se em um ângulo de 120 graus, de acordo com o critério de Barbet. Cada
voluntário subiu numa mesa com as costas para a estaca e esticou os braços
paralelamente

113

114

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

à barra horizontal para encontrar o buraco numerado correspondente à extensão de


seu braço.

SEGURANDO AS MÃOS-Luvas de couro especiais foram manufaturadas e usadas para


prender as mãos nos orificios da barra horizontal correspondentes à extensão dos
braços dos homens. Esses punhos de couro podiam ser colocados ao redor de uma mão
enluvada sem comprometer o fornecimento de sangue a essa área, e providenciavam um
orificio entre os dedos que podia ser encaixado sobre cada prego da barra
horizontal (veja a Figura 6-16). Essas peças de couro foram firmemente presas às
mãos.

SEGURANDO OS PÉS-Uma série de orifícios numerados, com pequena distância entre si,
foi perfurada ao longo dos dois lados da estaca, numa extensão de 60 cm, na região
dos pés/pernas - para que um cinto especial pudesse ser colocado em diferentes
níveis, correspondendo a diferenças individuais na altura, para que assim os pés
ficassem seguros e firmemente apoiados na estaca.

A TRAÇÃO EXATA NAS MÃOS DURANTE A SUSPENSÃO-Dois Aferidores de Distensão Digital


Programável Omega (DP-25S) com a precisão +/de 0,03% (muito alta) foram presos por
cabos a duas hastes de aço inoxidável pertencentes a conversores de energia com uma
abertura em cada extremidade e uma capacidade para 500 libras cada (Figuras 6-17 ae
b). Os medidores foram totalmente programados e calibrados antes da suspensão. A
extensão de cada conversor media de olho a olho cerca de 10,16 centímetros. Um olho
de cada conversor de energia foi grudado a uma corda de náilon na parte de trás de
cada luva e cada um dos outros olhos foi preso aos pregos na barra horizontal. A
mesa foi gentilmente removida e cada voluntário pôde ser suspenso por completo. As
leituras foram obtidas dos aferidores e gravadas. Então, um ajudante dobrou os
joelhos dos voluntários e deslizou seus

JESUS CHEGA AO CALVÁRIO

FIGURA 6-14

Voluntário suspenso sem suporte para os pés. Todo o peso do corpo se concentra nas
mãos e nos ombros, causando muita dor. Mas não há dificuldade para respirar.

FIGURA 6-15

Voluntário suspenso com suporte para os pés. Há um grande alívio para as mãos e os
ombros, com uma pressão maior nas pernas quando os pés estão seguros.

FIGURA 6-16

Close-up da luva. Ela tem uma abertura na base dos dedos para receber o prego que é
inserido no patibulum, no ponto correspondente à extensão do braço do voluntário.

115

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

50.01

FIGURA 6-17

Aferidor de Distensão Digital Programável Omega. Usado para medir a força de tração
em cada mão.

calcanhares contra o stipes até que as solas dos pés ficassem na cruz no ponto mais
baixo possível e os pés permanecessem seguros nesse nível (Figura 6-18). Isso foi
repetido com um pé em cima do outro. As leituras foram retiradas dos aferidores e
gravadas. Os resultados dessa experiência são mostrados na Tabela 3.

CONCLUSÃO
Esses estudos validam totalmente a hipótese e também demonstram que a palma da mão
poderia agüentar um peso superior a 225 libras ou 102 quilos (por extrapolação). O
experimento também substancia o fato de que a fórmula de tensão não é aplicável
quando os pés estão presos à estaca, já que, nesse caso, boa parte da tensão é
exercida nas pernas. Sempre tive muitas reservas quanto ao experimento de Barbet
com o braço amputado, já que ele só o fez uma vez e, ainda assim, usando apenas um
braço. Amputações de braço são muito raras na medicina, e acontecem principalmente
quando existe gangrena por causa da obstrução do fornecimento vascular causado por
doença ou grave circunstância traumática. Em casos como esses, os tecidos
isquêmicos

116

JESUS CHEGA AO CALVARIO

TABELA 3 TRAÇÃO NAS TRAÇÃO NAS PESO DO VOLUNTARIO COM A ESTACA ANGULO MÃOS EM LIVRE
MÃOS SUSPENSÃO TRAÇÃO NAS MÃOS COM SUPORTE EM SUSPENSÃO (EM LIBRAS) (EM GRAUS)
LIVRE (MEDIDA PARA OS PES PESO+2 (COS) (EM LIBRAS) EM LIBRAS) (EM LIBRAS) 204 65
238/239 241 78/79 190 65 221/222 225 72/73 180 65 209/210 213 69/70 174 65 202/203
206 66/67

ofereceriam menos resistência que os tecidos normais, e os pregos, assim,


dilacerariam as mãos com mais facilidade. Porém, mesmo se Barbet estivesse correto,
quanto ao fato de que um peso de 88 libras (40 quilos), após cerca de dez minutos
de movimentação, poderia dilacerar as mãos, a cruz experimental mostra que é
possível que indivíduos que pesam acima de 225 libras (100 quilos)-por
extrapolação-podem ser pregados pelas palmas em um ângulo de 65 graus com a estaca,
sem que haja laceração, se ambos os pés forem presos à estaca, individualmente ou
um posicionado sobre o outro. Realmente, existe pouca dúvida quanto ao fato de que
as palmas das mãos conseguem segurar um peso muito acima de 100 quilos.

FIGURA 6-18 Voluntário suspenso com medidor de tensão. O aferidor de distensão


digital programável é inserido nas luvas. O medidor mostra o peso em libras.

117

118

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

O FERIMENTO NA MÃO NO SUDÁRIO DE TURIM

A localização da imagem do ferimento na região do pulso no Sudário foi usada ad


infinitum para validar sua autenticidade, por causa da falsa informação, largamente
disseminada, de que as palmas das mãos não suportariam o peso do corpo. Já que
nossas experiências demonstram que as palmas aguentam um peso de pelo menos 100
quilos, e já que o peso estimado do homem no Sudário está entre 75 e 80 quilos, a
presença da imagem do ferimento na área do pulso no Sudário não deveria ser usada
para apoiar ou refutar a autenticidade. Além disso, como já foi notado antes, as
crucificações eram realizadas de várias formas. Isso é comprovado pela descoberta
dos restos do esqueleto de um judeu crucificado, datados de cerca de 7 d.C.,
encontrado num ossuário durante a escavação Giv'at ha Mivtar. Um arranhão no osso
rádio - aparentemente causado pela fricção e concomitante compressão do prego -
sugere que o homem tenha sido pregado entre os ossos rádio e ulna, no antebraço
(Figura 6-19). Essa área tem uma força incomum e é usada rotineiramente, em
matadouros, para pendurar gado, porcos e outros animais. Além disso, a vítima tinha
sido pregada na lateral dos calcanhares, com o prego ainda presente (Figura 6-20).
Sêneca escreveu: "Eu vejo cruzes lá, não de um formato apenas, mas construídas de
diversas maneiras; algumas têm suas vítimas com a cabeça batendo no chão. Outras
empalam suas partes íntimas e outras mantêm os braços do condenado esticados no
patibulum." De acordo com Blinzler e Hewitt, citados por Hengel em seu livro sobre
a crucificação, era regra os romanos pregarem as vítimas nas mãos e nos pés. Isso
era feito nas palmas, com ou sem auxílio de cordas, nos pulsos - entre os ossos
rádio e ulna, no antebraço - e em outras regiões da mão, caso a vítima se debatesse
muito. Em recentes casos

JESUS CHEGA AO CALVÁRIO

FIGURA 6-19

FIGURA 6-20

Osso rádio de um homem crucificado em 7 d.C.

a. Um arranhão causado por fricção está presente no osso rádio, no local indicado
pela seta. presumivelmente produzido pela inserção do prego.

b. Detalhe de a.

e. Comparação da área do arranhão no osso rádio com um osso rádio normal e a ulna.
Da escavação Giv'at ha Mivtar. (Cortesia da Sociedade de Exploração de Israel.)

Osso do calcanhar de um homem crucificado em 7 d.C. ainda com o prego. Descoberto


na escavação Giv'at ha Mivtar. Note o acúmulo da grossa camada calcária. (Cortesia
da Sociedade de Exploração de Israel e da senhora Nicu

Haas.)

119

120

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

de crucificação ocorridos no Sudão, as vítimas foram pregadas nas palmas com cordas
amarradas em torno dos pulsos para garantir maior apoio (veja o Capítulo 5).

OS EFEITOS FÍSICOS DE SE PREGAR AS MÃOS

Aperte com força o punho de sua mão direita e dobre o pulso para a frente. O tendão
palmar longo vai sobressair no centro da frente do pulso em 90% dos indivíduos.
Esse tendão é usado anatomicamente para localizar o nervo mediano, que fica no seu
lado direito (veja as Figuras 6-2 a 6-4). Note como esse nervo corre pelo pulso e
se encontra com uma via junto com o sulco tenar, como foi descrito antes.

Os efeitos médicos de se pregar as mãos na barra horizontal, ato realizado pelo


exactor mortis e pelo quaternio, seja pela área Z, seja pelo lado radial do pulso
ou pela palma, seriam essencialmente os mesmos. O nervo mediano seria ferido,
causando uma dolorosa reação chamada causalgia, cuja descrição clássica foi feita
por Mitchell, Morehouse e Keen, em 1864, com referência aos ferimentos sofridos
durante a Guerra Civil. Essa síndrome era comumente vista durante os anos de guerra
em soldados feridos no nervo mediano e em outros nervos periféricos. A doré incomum
e descrita como intermitente, com uma sensação de queimadura que é tão intensa que
o mínimo contato físico, como colocar uma roupa ou a passagem de uma corrente de
ar, provoca completa tortura. A condição é agravada com movimento do corpo,
perturbação, barulho ou emoção. A dor atravessa os braços como se fosse um raio
elétrico. O paciente passa a evitar qualquer contato e começa a segurar o braço de
uma forma particular. Essa condição pode destruir completamente a disposição do
indivíduo mais estóico. Um estudo feito por Slesser revelou que a dor piora com o
aumento da temperatura e nenhum dos pacientes consegue tolerar os raios solares. Um
profuso suor nas palmas também acompanha a síndrome. Mesmo fortes analgésicos são
ineficientes em muitos casos. A cirurgia

JESUS CHEGA AO CALVARIO

é freqüentemente requerida para seccionar o nervo simpático e aliviar ador. Antes


desse tratamento, inúmeros indivíduos se tornaram viciados em analgésicos e muitos
cometeram suicídio. As vítimas de causalgia freqüentemente entram em estado de
choque se a dor não for controlada

Além disso, o próprio ato de ser levantado com a barra horizontal e colocado no
encaixe no topo da estaca traria ainda mais dor, em razão da tração das mãos contra
os pregos. A alta temperatura e a exposição ao sol aumentariam ainda mais o
sofrimento. O levantamento da barra horizontal teria provocado uma dor brutal a
Jesus e um aumento no grau do choque traumático.

OS EFEITOS FÍSICOS DE SE PREGAR OS PÉS

Uma área de controvérsia entre os estudiosos da Crucificação e do Sudário não é se


os pés de Jesus foram pregados, mas sim se Seus pés foram pregados separadamente
usando-se dois pregos, ou se um pé

FIGURA 6-21

Reconstituições de um homem crucificado em 7 d.C. feitas por Haas. Reconstituições


inicial e final estabelecidas de acordo com as escavações Giv'at ha Mivtar.
(Cortesia da Sociedade de Exploração de Israel e da senhora Nicu Haas.)

a. Crucificação na “posição aberta" (reconstituição inicial)

b. Crucificação com pernas unidas (reconstituição final)

121

122

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

foi fixado em cima do outro usando-se apenas um prego. É interessante saber que,
apesar de nenhum dos Evangelhos especificamente relatar que os pés foram pregados,
eles informam que nenhum osso foi quebrado (João 19:33 e 36; Salmos 34:20; Números
9:12; Êxodo 12:46). Isso também está de acordo com o fato de que seria extremamente
difícil pregar um pé em cima do outro sem fraturar nenhum dos ossos, especialmente
usando pregos grandes e fortes, como o encontrado na escavação Giv'at ha Mivtar
(veja as Figuras 5-2 e 6-20).

Como já foi dito anteriormente, as revelações de Santa Brigite indicam que os pés
de Jesus foram fixados com dois pregos. Em outras épocas, os pés eram pregados lado
a lado, e Gregório de Tours, no século VI, escreveu: "Quatro Pregos (mãos e pés)".
Outros escritores da antiguidade, incluindo São Gregório Nazianzen, São Bonaventura
e Santo Anselmo, porém, parecem dar apoio à teoria dos três pregos, e muitos
sindologistas que estudaram o Sudário de Turim defendem a idéia de que um pé foi
posto sobre o outro. Isso por causa da estranha posição na impressão do Sudário,
com a ponta do pé direito avançando para dentro e com o pé esquerdo parecendo
ligeiramente menor. Mas isso não passa de especulação, por causa do efeito do rigor
mortis e da quebra incompleta do rigor. Eu já presenciei muitos casos de rigor
mortis em minhas investigações de cenas de crime e também antes de realizar
autópsias, em que nós rotineiramente temos de rompê-lo. O dr. Gambesia, um médico
americano, abraça a incomum e hipotética teoria dos dois pregos, dizendo que um
prego perfurou a área do metatarso de um pé enquanto um segundo prego atravessou a
frente do tornozelo eo calcanhar. Mas existe pouco suporte para essa teoria.

Quando Haas examinou o osso do calcanhar do esqueleto de Giv'at ha Mivtar, ele


assumiu que um prego havia penetrado os dois calcanhares e reconstituiu a
suspensão, como indicado na Figura 6-21. Porém, usando raios X, Zias e Sekeles
reavaliaram os estudos de Haas e descobriram que o prego atravessou apenas um osso
(Figura 6-22).

JESUS CHEGA AO CALVÁRIO

Suas reconstituições indicaram que a vítima foi posicionada na estaca com as pernas
separadas, tendo cada pé pregado nas laterais da cruz.

Houve também relatos a respeito de vítimas de crucificação que foram pregadas


através dos tendões de Aquiles, que são os tendões largos e poderosos localizados
na parte posterior dos pés. Porém, quando se considera o grande número de
crucificações praticadas, parece mais provável que, na maioria dos casos, cada pé
foi pregado separadamente e rente à cruz, e não um pé pregado sobre o outro, já que
é notadamente mais fácil pregá-los em separado. As chances de os ossos serem
quebrados seriam bem menores, e isso corresponderia aos antigos relatos cristãos. É
interessante que as descrições artísticas de pinturas e estátuas mostrando um pé em
cima do outro só começaram a aparecer no século XI. A praticidade de dois pregos é
demonstrada pela seguinte manobra. Deite-se numa superfície plana e flexione os
joelhos. Note que as solas de seus pés estão junto ao assoalho. Agora, peça a
alguém que segure seus pés, nessa posição, e tente levantálos. Você vai perceber
como é difícil libertar os pés. Agora flexione os joelhos, coloque um pé em cima do
outro e peça a alguém que segure seus pés. Note como seu ajudante vai ter
dificuldade

para segurá-los.

Se você aplicar o mesmo princípio à crucificação, vai perceber que, depois que as
mãos estivessem presas, o executor simplesmente dobraria os joelhos da vítima e,
talvez, de início amarrasse seus pés na estaca.

FIGURA 6-22 Osso do calcanhar de um homem crucificado em 7 d.C. depois da remoção


do prego. Abertura no remanescente de osso de calcanhar descoberto na escavação
Giv'at ha Mivtar depois da remoção do prego. (Cortesia da Sociedade de Exploração
de Israel e da senhora Nicu Haas.)

123

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

FIGURA 6-23

Reconstituição de um homem crucificado em 7 d.C. feita por Zias e Sekeles.


(Cortesia da Sociedade de Exploração de Israel.)
FIGURA 6-24

Posição dos pés durante a crucificação. As solas dos pés permanecem rente à estaca
pelo fato de os joelhos estarem ligeiramente curvados.

124

JESUS CHEGA AO CALVÁRIO

Seria relativamente fácil pregar o pé com o apoio direto da estaca e possibilitar


que os pregos entrassem sem quebrar nenhum osso. Por outro lado, seria extremamente
difícil segurar um pé sobre o outro de um homem se debatendo, sem um apoio firme, e
enfiar neles um prego, sem quebrar nenhum osso, pois para isso o alinhamento dos
pés teria que ser perfeito.

Em nossas experiências com a cruz, demonstramos como o pé seria acomodado


facilmente na estaca se fossem usadas amarras (Figura 6-24). Nossos voluntários
também comunicaram que os pés pareciam estar praticamente colados na cruz nessa
posição. Também há suporte para a hipótese do uso de quatro pregos no Código Sírio
de Rábula (586 d.C.), segundo o qual os pés seriam pregados diretamente na estaca.
Gregório de Tours também fala de quatro pregos.

Wilson e Schwortz manifestaram dúvida quanto ao fato de os pés serem pregados


diretamente na cruz, porque "é óbvio para qualquer um que existe uma diferença na
força da impressão deixada pela parte mais baixa da perna direita do homem do
Sudário, se comparada com a da esquerda, e, da mesma forma, com os próprios pés
etc.". É claro que eles não estão muito familiarizados com as manifestações do
rigor mortis. Quando o homem do Sudário foi retirado da cruz, o rigor mortis já
tinha sido quebrado nos braços e nas pernas, numa tentativa de achatar o corpo para
que ele fosse acomodado no Sudário. Eu já quebrei o rigor mortis de centenas de
defuntos antes da autópsia, e essa interrupção do rigor pode se manifestar de uma
forma bastante irregular, particularmente se ele já tomou conta do corpo todo. Os
pés, obviamente, permanecem em rigor total ou parcial, mantendo sua posição, o que
explica a impressão no Sudário. É impossível determinar exatamente como os pés do
homem foram posicionados na cruz a partir das impressões no Sudário, mas háboas
razões para se acreditar que eles foram pregados separadamente e acomodados rente à
estaca.

125

126

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

O SUPPEDANEUM

A insistência de muitos autores em que um suporte para os pés ou suppedaneum-visto


em muitos crucifixos e pinturas- foi necessário deriva da conclusão de que Jesus
provavelmente precisou desse suporte para erguer seu corpo a fim de poder respirar
e, assim, evitar asfixia, uma teoria que não é mais defensável. É interessante
notar que o suporte para os pés parece ser invenção de artistas, pois em minhas
pesquisas na literatura antiga não encontrei nenhuma menção a ele, e as cruzes
anteriores (Figura 6-1) também não o apresentam.

Nossas experiências, no entanto, detalhadas na parte do livro que trata da causa da


morte (Capítulos 7 a 10), demonstraram que amarrar as solas dos pés junto à estaca
possibilita um firme apoio ao corpo, provando que o suppedaneum era desnecessário.
Essas experiências servem para corrigir a falsa idéia de que o suppedaneum era
necessário.

ATANDO OS PÉS ÀS ESTACAS Com Correias

Em nossas experiências de suspensão usando correias para prender os pés à estaca,


os voluntários, depois de um curto período pendurados na cruz, sentiram cãibras na
panturrilha e nos músculos das coxas e seus pés adormeceram. Formigamento também
foi notado, e depois de dez minutos os membros começaram a esfriar. Arqueamento do
corpo a fim de se estender as pernas era comum durante a suspensão (Figuras 6-25 e
6-26), para que se obtivesse alívio da caibra nos músculos das pernas, já que não
era possível erguer o corpo, como vai ser demonstrado no Capítulo 7.

JESUS CHEGA AO CALVÁRIO

Com Pregos

Nas crucificações reais, os pés eram pregados na cruz dobrando-se os joelhos da


vítima e deslizando seus pés na estaca (segurando-se ou não os pés pelos tornozelos
com uma corda) para que as solas ficassem estendidas antes de os pregos entrarem.
Os efeitos de se pregar os pés são similares àqueles observados quando se pregam as
mãos, como já foi discutido antes, já que ramificações dos nervos plantares seriam
atingidas. Esses nervos bifurcam-se nos pés, com um feixe em cada lado dos ossos
metatarsais, e mesmo um pequeno ferimento já resultaria na síndrome da causalgia,
como descrito anteriormente para o caso das mãos.

Os Efeitos de se Pregar os Pés

A dor da causalgia nos pés de Jesus teria sido extrema, com o prego pressionando os
nervos plantares, da mesma forma que se deu com o nervo mediano durante a
perfuração das mãos. Mesmo o menor movimento daria início a dores queimantes,
contínuas e lancinantes. Depois de um curto período na cruz, as fortes cãibras, o
adormecimento e o esfriamento da parturrilha e das coxas, causado pela compressão
devido à flexão dos joelhos, teriam forçado Jesus a arquear Seu corpo numa
tentativa de esticar as pernas. Isso se daria periodicamente, por todo o tempo em
que Ele permaneceu na cruz.

SUMÁRIO DA RECONSTITUIÇÃO FORENSE

Jesus estava em estado de prematuro choque traumático e hipovolêmico quando chegou


ao Golgota. As brutais dores provocadas pelos pregos em suas mãos e pés somaram-se
a todas as lancinantes dores causadas pela causalgia proveniente dos nervos
medianos e plantares, ao severo trauma na caixa torácica, ao trauma no pulmão e
alta possibilidade de pneumotórax e hemorragias pulmonares decorrentes do brutal
açoitamento, às dores da neuralgia do trigêmeo e à perda de fluidos por

127

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

FIGURA 6-25

Suspensão experimental na cruz. Posição típica de suspensão. O voluntário é


constantemente monitorado durante o procedimento.

128
FIGURA 6-26 Suspensão experimental na cruz, com arqueamento. A posição arqueada èra
picamente assumida para aliviar a tensão nos ombros e para estender as pernas a fim
de aliviar as caibras.

130

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

causa da crescente efusão pleural. O suor abundante e a perda de sangue devem ter
aumentado o Seu grau de choque, causando-Lhe tontura e falta de ar. Seu batimento
cardíaco se acelerou e Seu coração iria bater fortemente contra o peito para
compensar a perda de fluido e o grau de choque. A dor também seria acentuada por
causa da profunda fadiga. Monheim escreve: "Um fator importante no limiar da dor de
um paciente é a fadiga. Já foi definitivamente provado que um paciente que se
encontra descansado e teve uma boa noite de sono antes de um acontecimento
desagradável vai ter uma resistência maior à dor do que aquele que está extenuado".
Como você sabe, Jesus ficou de pé durante quase toda a noite depois de sua agonia
mental no Jardim do Getsemani, e sofreu uma série de episódios traumáticos. Depois
de tudo isso, ele se encontrava extremamente exaurido, experimentando dores ubíquas
e num estado de choque crescente.

Asdores deviam ter sido implacáveis e brutais, causando severa sensação de


queimadura em todo o Seu corpo. Todos os implacáveis fatores conhecidos estiveram
presentes para agravar a condição, incluindo movimento do ar, os raios solares, o
calor, a pressão dos pregos em constante atrito com os nervos e o movimento do
corpo na cruz. Ao contrário do velho ditado que diz que "se uma pessoa estiver com
uma dor no corpo, basta atingi-la em outro local que ela vai esquecer a dor
original", os pacientes que sofrem de dores múltiplas experimentam um efeito de
ampliação da dor em vez de um mero efeito aditivo.

{7} HIPÓTESES DE ASFIXIA

Quanto mais aprendemos sobre ciência, mais percebemos que seus maravilhosos
mistérios são todos explicados por umas poucas leis simples tão interligadas e tão
dependentes umas das outras, que vemos a mesma mente animando todas elas. Olympia
Brown, 1835-1900

E xistem várias teorias sobre o mecanismo e causa da morte de Jesus, mas as três
que merecem atenção incluem asfixia, causas relacionadas ao coração (ataque
cardíaco ou ruptura do órgão) echoque. Exaustivas investigações forenses em meu
laboratório com meticulosas experiências foram conduzidas para determinar a
validade de cada uma das hipóteses.

A hipótese de asfixia, também referida como hipótese de sufocação, é a mais


propagada como causa de morte na crucificação. É citada em revistas, periódicos,
jornais, livros e documentários, e é, infelizmente, baseada somente na especulação
e na repetição. Não havia sido confirmada pelo método científico, até o momento em
que o autor a investigou. O propósito deste capítulo é apresentar a hipótese de
asfixia

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

e mostrar por que ela é cientificamente indefensável, com base em experimentos e


outras evidências científicas.
A hipótese de asfixia sustenta que a posição na cruz é incompatível com a
respiração, já que o ar ficaria preso no pulmão na inspiração (ao inalar o ar),
obrigando a vítima a erguer o corpo para conseguir respirar. O repetido ato de
levantar e abaixar o corpo iria continuar até a exaustão, e assim a morte ocorreria
por asfixia (sufocamento). Essa hipótese, porém, é baseada em teorias formuladas a
priori e não a posteriori, e se mostrou indefensável quando testada empiricamente.

A asfixia é um estado químico e fisiológico que resulta da incapacidade de se obter


o oxigênio adequado para o metabolismo das células e para eliminar o excesso de
dióxido de carbono. A teoria da asfixia ou sufocamento foi proposta pela primeira
vez por LeBec, em 1925. Ele teorizou que o posicionamento da vítima na cruz, com os
braços erguidos, imobilizaria o peito, tornando a expiração difícil e, assim,
sufocando a pessoa. Isso foi apoiado por Hynek em 1936, que reportou "morte
resultante de edema nos pulmões. A causa direta da morte de Cristo foi
sufocamento". Foi, no entanto, Barbet quem refinou essa teoria e lhe deu maior
impeto ao apresentá-la de uma forma simples e atraente. Ele formulou, então, a sua
hipótese: a de que o crucarius tinha de se alternar em duas posições na cruz, uma
"caída" e outra ereta. A definição de Barbet para a posição "caída" refere-se a uma
descida da posição horizontal (braços paralelos à barra horizontal) para cerca de
65 graus, com os joelhos dobrados em um ângulo de cerca de 120 graus, e a postura
ereta caracteriza-se por uma elevação para uma posição de cerca de 70 graus. Barbet
teceu a hipótese de que na posição caída o crucarius seria incapaz de exalar, sendo
obrigado a tomar impulso com os pés para expelir o ar dos pulmões (posição ereta),
e, quando ele não podia mais se levantar, morria por asfixia.

Porém, aquilo que parecia uma análise convincente não foi baseado em fato
científico. As suposições de Barbet envolvem três pontos que ele acreditava que
seriam evidências para fundamentar suas hipóteses:

132

HIPÓTESES DE ASFIXIA

1) Enforcamentos do exército austro-germânico e nos campos de concentração de


Dachau, 2) o padrão de bifurcação correspondente à imagem do ferimento da mão no
Sudário, e 3) o crurifragium (skelokopia), o ato de se quebrar as pernas.

BARBET: EXPLORADO E REFUTADO

Enforcamentos do Exército Austro-Germânico e nos Campos de Concentração de Dachau

Hynek tentou confirmar as alegações de LeBec com uma observação que ele fez
enquanto servia no exército austro-germânico na Primeira Guerra Mundial. Hynek
testemunhou o enforcamento de soldados condenados pendurados pelos pulsos com seus
pés pouco acima do chão. Os soldados tinham que se erguer para expelir o ar dos
pulmões. Depois de um curto período, ocorreram violentas contrações de todos os
músculos, causando severos espasmos. O indivíduo torturado tinha extrema
dificuldade para expirar, causando a asfixia. Isso durava cerca de dez minutos, e
logo depois ele era retirado da forca. Barbet reforçou as observações de Hynek com
o depoimento de dois prisioneiros do campo de concentração de Dachau, que também
testemunharam o enforcamento de um condenado de modo similar. Os prisioneiros
recordaram que o condenado tinha dificuldade para respirar e continuamente erguia o
corpo num esforço para tomar fôlego, até que ficou muito exausto e morreu por
asfixia.

Ambas as observações são muito interessantes, mas somente seriam válidas quando
aplicadas a indivíduos cujos braços estão suspensos diretamente acima da cabeça e
as pernas pendendo livres. Além do mais, isso não é aplicável de forma alguma à
suspensão na cruz; seria como comparar maçãs com laranjas. Nessa circunstância, as
mãos estão suspensas acima da cabeça e suportam o peso do corpo. É uma situação
totalmente diferente daquela em que uma pessoa fica suspensa em um Angulo de 60 a
70 graus, com os pés presos a uma estaca. Barbet até

133

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

baseou sua hipótese num ângulo de 65 graus com a estaca e os pés presos. Isso
também é confirmado pela fotografia de um cadáver que Barbet pregou na cruz (veja a
Figura 6-7) e pelo crucifixo de Villandre (Figura 6-8).

Uma tentativa de confirmar a teoria da asfixia foi feita por Moedder, um


radiologista austríaco de Colônia, que suspendeu estudantes de medicina pelos
pulsos numa barra horizontal, usando ataduras, com suas mãos acima da cabeça,
separadas cerca de um metro. Em poucos minutos, os estudantes ficaram pálidos, sua
capacidade vital diminuiu de 5,2 para 1,5 litro, com a respiração tornando-se
superficial, a pressão do sangue caiu e houve um aumento da pulsação. Se os
estudantes pudessem descansar por dez minutos, alternando com três minutos de
suspensão, eles poderiam agüentar por mais tempo. Moedder concluiu que o colapso
ortostático (falha circulatória em virtude da suspensão dos braços acima da cabeça)
ocorreria dentro de seis minutos se os estudantes não pudessem descansar. Essa
experiência também não tem relação com a crucificação, já que as mãos estavam
suspensas acima da cabeça e não no ângulo da crucificação, de 65 a 70 graus. Os
resultados das experiências de Moedder meramente confirmaram que haveria
dificuldade para respirar se o crucarius fosse suspenso pelas mãos acima da cabeça
a uma distância de menos de um metro entre elas e suas pernas pendessem livres. A
respeito disso, é importante lembrar que Jesus foi suspenso por várias horas, não
por alguns minutos; Suas mãos não estavam separadas por menos de um metro uma da
outra acima de Sua cabeça; e Seus pés estavam presos à cruz.

Padrão de Bifurcação

O segundo ponto que Barbet usou numa tentativa de provar sua hipótese foi o fato de
que a imagem do ferimento da mão no Sudário (veja a Figura 6-5) revela um aparente
duplo fluxo de sangue, com um ângulo de cerca de 5 graus. Ele alegou que isso
demonstra que o ar ficava preso na inspiração, fazendo com que o homem no Sudário
se

134

HIPÓTESES DE ASFIXIA

erguesse para respirar, causando, assim, uma mudança do ângulo do fluxo de sangue
que emanava do ferimento no pulso e representando as duas posições que Jesus teria
assumido para poder respirar enquanto estava na cruz. Barbet postulou que Jesus
estava impossibilitado de expirar (expulsar o ar), como foi observado nos
prisioneiros do exército austro-germânico e em Dachau, pois o ar ficava preso na
inspiração (introduzir ar nos pulmões). Por conseguinte, ele teve que se erguer,
com ajuda dos pés, para expelir o ar de Seus pulmões. Essa interpretação do padrão
de bifurcação é totalmente ridícula, porque a imagem do ferimento na mão que mostra
esse padrão encontra-se nas costas da mão, não na frente. Por que isso
interessaria? Muito simples. A parte de trás da mão é pressionada contra a barra
horizontal da cruz pelo prego. Qualquer quantidade de sangue que pudesse escapar
formaria uma grande mancha nas costas da mão. Além disso, não deve ter havido
sangramento, porque o enorme prego teria selado o ferimento; os braços estariam
acima da cabeça, obstruindo o fluxo venoso, e a pressão sangüínea estaria baixa por
causa do estado de choque.

O padrão de bifurcação do ferimento do pulso não se deve ao fato de inclinar e


retesar o corpo, como foi presumido por Barbet, porque experiências revelam que o
ângulo do pulso não muda quando o corpo é retesado. Os braços sempre se curvam nas
articulações laterais, entre os ossos rádio e ulna e os ossos proximal e carpal e,
ocasionalmente, nos ombros (veja a Figura 7-5). Além disso, se os pulsos tivessem
sido mesmo pregados, particularmente com um prego quadrado, eles estariam
firmemente fixados, impedindo qualquer mudança no ângulo.

Existe alguma explicação para o padrão de bifurcação? Talvez. Quando coágulos na


área do pulso causados por ferimentos a bala, facadas e em acidentes de automóvel
são perturbados, "riachos" de sangue correm dos ferimentos. É possível que, quando
o prego foi removido do pulso de Jesus, um coágulo ou sangue seco foi perturbado,
fazendo com que o sangue escorresse durante a remoção da cruz. O

135

136

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

sangue poderia ter escorrido pelos dois lados da protuberância do estilóide ulnar,
criando o padrão visto no Sudário (consulte o Capítulo 14, na parte "Ferimento da
Mão", para uma discussão completa).

QUEBRAR AS PERNAS

O ato de quebrar as pernas, chamado skelokopia ou crurifragium, foi o argumento


final a priori de Barbet para apoiar sua teoria de que Jesus teria morrido por
asfixia. De acordo com Barbet, se as pernas estivessem quebradas, o crucarius
estaria impossibilitado de se erguer para respirar. Essa é uma hipótese atraente,
considerando o fato de que os romanos quebraram as pernas de dois bandidos que
foram crucificados um de cada lado de Jesus, o qual foi poupado disso, pois já
estava morto: ".. mas quando eles chegaram a Jesus e viram que Ele já estava morto,
não quebraram Suas pernas" (João 19:33).

Ocrurifragium foi cabalmente demonstrado nos restos do esqueleto do homem


crucificado em 7 d.C. (Figura 7-1). Essa evidência refuta a hipótese de Barbet de
que as pernas da vítima foram quebradas para evitar que ela se erguesse para
respirar, porque, se você analisar cuidadosamente a reconstituição final feita por
Haas (Figura 6-21) ou por Zias e Sekeles (Figura 6-23), vai notar que o corpo já
estava numa posição totalmente erguida. Zias e Sekeles, porém, sugerem que a
interpretação de Haas de que os ossos quebrados seriam indicação de crurifragium
não deve ser correta, porque as quebras estão situadas em ângulos diferentes,
indicando que devem ter ocorrido após a morte. A interpretação deles é meramente
especulativa, e, sob o aspecto forense, seria mais consistente com o fato de a
vítima receber mais de um golpe em diferentes ângulos. O ritual do crurifragium era
comumente executado quando a vítima se encontravaà beira da morte, como uma espécie
de golpe de misericórdia para apressar o processo, causando um severo choque
traumático e hemorrágico. Isso era levado a cabo enquanto a vítima estava na cruz
ou logo depois de sua remoção. Uma única fratura em um osso femoral (o osso da
coxa) pode

A ESTRADA PARA O CALVÁRIO


FIGURA 7-1

Crurifragium na tibia e na fibula. As pernas do homem crucificado da escavação


Giv'at ha Mivtar foram quebradas. (Cortesia da Sociedade de Exploração de Israel e
da senhora Nicu Haas).

resultar na perda de dois litros de sangue, e mais de quatro litros serão perdidos
se os dois ossos femorais forem fraturados. A quebra das pernas causaria uma grave
hipovolemia, acrescida à perda de sangue e de fluidos corporais por causa do
açoitamento, da hematidrose e do suor excessivo, além da perfuração dos pés e mãos,
do tempo na cruz etc. Em alguns casos, uma volumosa embolia pode ocorrer,
resultando em morte rápida. Como o crucarius já se encontrava em severa condição de
fraqueza por causa do choque, a acentuada hemorragia resultante da fratura dos
ossos das pernas e a violenta dor iriam aprofundar o nível do choque traumático e
hipovolêmico, com conseqüente queda na pressão sanguínea e rápido congestionamento
nas extremidades inferiores, resultando em perda da consciência, coma e morte.
Historicamente, acredita-se que a skelokopia era executada em todos os crucarius,
incluindo aqueles que usavam sedile (sela) e ficavam suspensos por longos períodos
de tempo. Certamente, quebrar as pernas das vítimas que tinham o sedile como apoio
seria contraditório, já que esse procedimento era adotado para que não pudessem se
erguer a fim de respirar. O crurifragium tinha uma segunda função - prevenir que a
vítima se arrastasse depois da remoção da cruz se ainda estivesse viva e, assim,
evitar que fosse devorada por animais selvagens. É interessante que há muitos que
acreditam que as pernas eram quebradas para agradar ao público.

137

138

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

A VALIDADE DA HIPÓTESE DA ASFIXIA

É interessante, também, notar que o cirurgião P. J. Smith, amigo de Barbet,


discordou dele quanto à causa da morte. Barbet só incluiu a opinião do amigo no
final do livro, no Apêndice II-um lugar obscuro, com certeza. O doutor Smith
declarou: "Eu sou da opinião de que existe uma notável evidência de que Cristo
morreu de falha cardíaca, por causa do extremo choque causado pela exaustão, dor e
perda de sangue. Quanto à asfixia, ou falha respiratória, como preferimos denominá-
la, o autor acha que isso aconteceu porque os músculos respiratórios se tornaram
rígidos na inspiração devido à queda do tronco para a frente, afastando-se da seção
vertical da cruz, dificultando a habilidade para expirar e assim esvaziar os
pulmões do dióxido de carbono. Essa teoria não é apoiada por algumas das evidências
indicadas no livro" (Barbet, 1937).

Embora as refutações de cada uma das hipóteses de Barbet proferidas anteriormente


devessem impugnar suas teorias sobre a asfixia, alguns podem vê-las como mais um
argumento a priori. Por esse motivo, como requer o método científico, um argumento
a posteriori ou experimental foi desenvolvido para esclarecer a controvérsia de uma
vez por todas. Um extenso protocolo experimental foi desenvolvido utilizando-se
voluntários humanos com idades variando de 20 a 35 anos. Eles passaram por exames
físicos e valores de repouso foram obtidos, incluindo eletrocardiograma de doze
derivações, pulsação, pressão sanguínea, exame com estetoscópio (capacidade vital e
valores oximétricos), gases do sangue arterial e química sangüínea. Áreas do tórax
foram depiladas, a pele foi preparada e eletrodos cardíacos foram colados no peito
e ligados a instrumentos de testar o estresse que monitoraram os padrões do
eletrocardiograma e os batimentos cardíacos tanto durante o período de descanso
quanto durante a suspensão e providenciaram faixas de eletrocardiograma
automaticamente durante o procedimento (Figura 7-2). Um instrumento medidor de
pressão sangüínea contendo duplos transdutores foi

HIPÓTESES DE ASFIXIA

enrolado em volta da parte superior do braço e os cabos foram presos a uma unidade
de medição eletrônica de pressão para obter dados referentes aos períodos de
descanso e suspensão. Um oxímetro auricular (Figura 7-3), que permitiu leituras do
nível de oxigênio no sangue antes e durante a suspensão, foi preso a cada orelha.

A EXPERIÊNCIA

A cruz usada nestas experiências foi montada da mesma forma que a cruz utilizada
nos experimentos de suspensão discutidos no capítulo anterior.

Instruções e precauções

Antes de ser amarrado à cruz, cada voluntário foi instruído a nos informar
imediatamente sobre dificuldades para respirar, qualquer tipo de dor, cãibras nos
músculos ou qualquer outro problema que estivesse experimentando.

Cada voluntário subiu numa pequena escada ou numa mesa e seus braços foram
esticados na barra horizontal de forma que se encontrasse o orificio numerado
correspondente à extensão de seu braço. Os parafusos foram, então, inseridos nesses
orificios e as luvas protetoras foram colocadas por cima deles. A escada ou mesa
foi gentilmente retirada e o corpo pôde ficar totalmente suspenso. Os joelhos,
então, foram dobrados deslizandose os calcanhares contra a estaca, até que as solas
dos pés ficassem bem firmes, no ponto mais baixo possível, e os pés foram amarrados
exatamente nesse ponto usando-se as cintas (Figura 6-24).

Um carrinho de emergência completo, com desfibrilador, medicamentos para o coração,


equipamento de intubação, reanimador manual* etc. estavam à mão para garantir a
segurança do voluntário.

"N. do T.:.Insuflação pulmonar manual.

139

140

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Indivíduos foram posicionados um de cada lado do voluntário para o caso de


emergência (mas isso nunca aconteceu nas diversas experiências de suspensão).

Métodos e resultados ÂNGULO DE SUSPENSÃO

Fotografias foram tiradas dos voluntários, incluindo os ângulos exatos criados


pelos braços com a vertical (stipes ou staticulum) da cruz. Os ângulos foram
medidos nas fotografias, revelando uma variação individual que ia dos 65 aos 70
graus.

FIGURA 7-2

Monitor cardíaco e gravador eletrônico de pressão sanguínea. Um painel de


eletrocardiograma (ECG) e gravador (unidade branca na parte inferior da foto, que
fornece impressões das faixas do ECG a cada 30 segundos). Uma unidade eletrônica de
pressão sanguínea (instrumento retangular acima do ECG).

FIGURA 7-3

Oxímetro auricular. A saturação de oxigênio é gravada durante a suspensão.


(Fotografia: cortesia da Waters Corporation.)

HIPÓTESES DE ASFIXIA

FIGURA 7-4

Suspensão experimental na cruz,

visão lateral. A foto mostra o espaço entre o corpo e a cruz durante a

suspensão.

OBSERVAÇÕES VISUAIS

Uma surpreendente observação feita em todos os voluntários suspensos foi a de que


as costas não se apóiam na estaca da cruz, mas ficam afastadas dela, deixando um
espaço (Figura 7-4). Uma fascinante postura, arqueada, era assumida periodicamente
durante a suspensão, com o topo da cabeça flexionado contra a estaca, de forma que
chegava a tocá-la (Figura 6-26). Havia dois motivos para que essa posição fosse
assumida: aumentar o ângulo dos joelhos para aliviar a tensão ou cãibras na
panturrilha e aliviar a forte pressão nos ombros e braços. Até onde eu pude
determinar, essa posição arqueada nunca foi reportada antes, e foi tão
surpreendente que decidi entalhar um crucifixo e fazer vários desenhos. Além disso,
durante toda a suspensão, os voluntários constantemente deslocavam seus corpos e
assumiam novas posições, para tentar aliviar as cãibras e a tensão de seus ombros,
braços, pernas e joelhos. Contrações musculares eram comumente notadas na parte

141

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

superior dos braços, nos músculos do peito e nas coxas em quase todos os
voluntários, particularmente depois de 10 a 15 minutos de suspensão. Alguns
voluntários queixaram-se de formigamento nas mãos, nos braços e em algumas áreas
onde ocorria contração muscular.

O peito permaneceu firme e a respiração abdominal (diafragmática) tornou-se


evidente. Houve um aumento na taxa respiratória, que se tornou aparente depois de 4
minutos, gradualmente aumentando de intensidade, cerca de duas a três vezes além do
normal, e parecia diminuir depois de 7 a 8 minutos. Os rostos dos voluntários
pareciam um tanto corados depois de 5 a 7 minutos, indicando que houve suficiente
circulação de sangue na região da cabeça. Não houve evidência de cianose (coloração
azulada nos lábios e unhas), e os indivíduos não apresentavam dificuldades
respiratórias. Uma acentuada manifestação de suor tomou conta de vários voluntários
depois de 6 a 8 minutos de suspensão. A intensidade variava de indivíduo para
indivíduo, e em alguns casos a perspiração ensopou os voluntários, cujo suor
pingava dos dedos dos pés e chegou a formar uma poça no chão. Isso aconteceu mesmo
apesar do fato de as experiências terem sido conduzidas em uma sala equipada com
ar-condicionado (21°C).

QUEIXAS SUBJETIVAS
Foi pedido a cada voluntário que apresentasse suas queixas subjetivas sobre o que
haviam experimentado durante todo o procedimento da suspensão, incluindo dores,
localização das dores, sentimentos psicológicos, dificuldade para respirar e assim
por diante. A queixa mais comum referia-se à forte tensão nos ombros; rigidez, dor
e cabras nas panturrilhas; ou dor nos joelhos, pés e pulsos. Todos os indivíduos
estavam informados quanto à sua respiração e indicaram que o peito estava um tanto
rígido. A respiração se tornou abdominal e as inspirações eram curtas, com
expirações mais longas. Não foi reportado, no entanto, nenhum caso de dificuldade
na respiração, em nenhum estágio da suspensão. Em alguns casos raros, respiração
espasmódica foi

142

HIPÓTESES DE ASFIXIA

observada na área diafragmática durante os primeiros minutos de suspensão, mas logo


voltou ao normal. Em todos os casos em que o voluntário sentiu que parecia haver
dificuldade para respirar, isso se deu no começo do preocedimento, e desapareceu
logo em seguida, durante a suspensão. Essa sensação não se repetiu durante as
suspensões subseqüentes. Isso foi entendido pelos voluntários como uma reação
psicológica devido ao medo no começo do procedimento de suspensão, que desapareceu
ao longo da experiência e nas suspensões seguintes. Alguns indivíduos relataram que
o procedimento de suspensão era enervante, e alguns experimentaram um ligeiro
sentimento de pânico, que desapareceu quando lhes foi assegurado que estavam bem e
que seriam colocados no chão assim que pedissem. As dores nas extremidades e nos
ombros variavam de pessoa para pessoa, dependendo do desenvolvimento físico dos
indivíduos. Houve dores e dormência nas pernas e braços de alguns voluntários, e
uns poucos sentiram como se seus ombros estivessem sendo deslocados antes de os pés
serem amarrados. Outros sentiram mais dor na parte inferior dos braços; outros, nos
bíceps, tríceps e músculos deltóides dos braços e ombros. Foi muito interessante
notar que, em muitos indivíduos, os braços estavam rígidos no começo do
procedimento, mas ficaram flácidos depois de alguns minutos. Alguns indivíduos
reclamaram de dormência no antebraço, que desapareceu ao longo da suspensão. Outros
voluntários indicaram que suas pernas ficaram frias abaixo do joelho depois de 12 a
15 minutos, mas isso foi aliviado com o arqueamento do corpo.

EFEITOS NO SISTEMA RESPIRATÓRIO

AUSCULTAÇÃO-Os pulmões se encontraram límpidos com a auscultação (audição com


estetoscópio) e não houve evidência de nenhum som patológico durante todo o
procedimento de suspensão.

143

144

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

saturação de oxigênio no sangue é um teste importante para determinar se o


indivíduo suspenso na cruz está obtendo a quantidade adequada de oxigênio. Se a
saturação de oxigênio diminuísse significativamente com o tempo na cruz, isso iria
confirmar que o indivíduo estaria obtendo oxigênio insuficiente nos pulmões e,
assim, daria suporte à teoria de asfixia. Por outro lado, se o nível de oxigênio
permanecesse constante ou aumentasse, o inverso seria verdadeiro. A quantidade de
oxigênio no sangue foi determinada durante a suspensão por um aparelho chamado
oxímetro auricular (Figura 7-3), que mede a absorção de luz pela hemoglobina
(componente que carrega o oxigênio no glóbulo vermelho) em duas diferentes
freqüências de luz e fornece um valor direto do porcentual da saturação de oxigênio
do sangue nas artérias todo o tempo. O oxímetro auricular foi preso à orelha do
indivíduo na cruz, como indicado na Figura 7-3. Esse instrumento contém uma lâmpada
que esquenta a orelha, dilatando as arteriolas (pequenas artérias), de forma que o
fluxo sanguíneo é tão rápido que ocorre muito pouca desoxigenação nos capilares.

SATURAÇÃO DE OXIGÊNIO NO SANGUE-A

Os resultados desse estudo revelaram uma crescente saturação de oxigênio em cada


caso. Um exemplo das descobertas num caso típico de suspensão revelou que o nível
do controle de saturação (leitura antes da suspensão) ficou em torno de 97% e subiu
para 99,5% em 15 minutos durante o procedimento. Isso foi perfeitamente explicado
pelo fato de que os voluntários começaram a hiperventilar logo depois de terem sido
suspensos, porque a posição na cruz causa um ligeiro decréscimo nas capacidades
vitais (determinado pelos nossos estudos espirométricos).

QUOCIENTE RESPIRATORIO (QR) - O quociente respiratório é obtido dividindo-se o


volume de dióxido de carbono emitido pelos pulmões pelo volume de oxigênio
absorvido em um minuto, e reflete um excesso no metabolismo durante o período de
esforço. O consumo de

HIPÓTESES DE ASFIXIA

oxigênio, a saída de dióxido de carbono e o volume total de ar respirado foram


determinados tanto durante o descanso quanto depois de 12 minutos de exercício,
coletando-se o ar expirado do voluntário numa bolsa de Douglas, a qual contém
válvulas que permitem que o ar inspirado entre por uma abertura e o ar expirado
seja coletado através de outra, permitindo sua medição por um analisador de dióxido
de carbono, um analisador de oxigênio e um medidor de volume de gás. Os resultados
dessa experiência revelaram um aumento significativo do quociente respiratório,
consistente com a acentuada atividade muscular. Uma grande quantidade de dióxido de
carbono foi liberada pelos pulmões, em razão do aumento dos níveis de ácido láctico
provocado pelo aumento da atividade muscular, resultando em um déficit de oxigênio
nos músculos.

ATIVIDADE RESPIRATÓRIA E VENTILATÓRIA - A ventilação do pulmão (respiração) aumenta


proporcionalmente ao grau de atividade muscular, ao aumento na temperatura do
corpo, à queda no nível de oxigênio, ao aumento do dióxido de carbono, ao aumento
do ácido láctico, aos reflexos das inúmeras juntas do corpo e aos impulsos dos
centros cerebrais superiores produzidos por fatores emocionais. Os voluntários
apresentaram uma hiperventilação aumentada durante os primeiros 6 minutos, que
chegou a um estado estacionário de cerca de duas a três vezes maior que o normal,
em cerca de 8 minutos. A capacidade vital (máximo volume de ar que pode ser
expelido dos pulmões depois de uma inspiração total) mostrou um decréscimo depois
de 2 a 4 minutos e permaneceu constante dai para a frente.

VOLUME DO ÁCIDO LÁCTICO - O ácido láctico do sangue aumentou progressivamente cerca


de três vezes e meia em relação ao normal 15 minutos depois da suspensão. Essa é
uma indicação da acentuada atividade muscular em razão da falta de oxigênio nos
músculos. O aumento inicial de ácido láctico é um poderoso estimulante
respiratório, que causa

145

146
A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

hiperventilação como objetivo de aumentar o suprimento de oxigênio. Deve-se


perceber, no entanto, que o aumento do ácido láctico não significa necessariamente
que o nível de oxigênio no sangue esteja baixo, já que, mesmo em condições naturais
de circulação sanguínea, o suprimento de oxigênio, embora grande, não pode ser
aumentado para satisfazer à demanda de trabalho do músculo. Sem contar que dobrar
os joelhos interfere na circulação das pernas, tornando o transporte de oxigênio
para os músculos bem difícil. As contrações musculares também utilizam bastante
oxigênio, aumentando o seu débito.

EFEITOS NO CORAÇÃO E NOS VASOS SANGUÍNEOS

AUSCULTAÇÃO-A auscultação do coração revelou ligeiro aumento dos batimentos


cardíacos, mas nenhuma evidência de murmúrios, palpitações ou outras anormalidades
rítmicas, exceto pelo registro ocasional de extrasistole (batidas ausentes) benigna
em alguns casos. Eles foram confrontados com os resultados do eletrocardiograma
(ECG).

PRESSÃO SANGUÍNEA - Quando a pressão sangüínea de um indivíduo é registrada, são


fornecidos dois valores, um alto e um baixo. O alto equivale à pressão sistólica,
ou seja, a pressão nas artérias durante a contração do coração, e o baixo é a
pressão diastólica, ou pressão do sangue quando o coração relaxa. No geral, a
pressão diastólica normal está abaixo de 90 (recentemente reduzida a 80), e a
pressão sistólica fica abaixo de 140 (recentemente reduzida a 130). A pressão
sanguínea aumentou durante a suspensão em todos os indivíduos testados, mas a
resposta máxima variou de pessoa para pessoa e pareceu relacionada ao nível de
condicionamento cardiovascular. A maioria dos voluntários experimentou elevação na
pressão sangüínea de cerca de 20% a 30%, a qual se manteve relativamente estável
durante as suspensões. Alguns voluntários sentiram um aumento incomum na pressão
enquanto se mantinham suspensos. Eles foram retirados da cruz antes do final da
experiência e sua pressão sanguínea foi monitorada até que chegasse ao nível
normal. É interessante notar que a pressão diastólica

HIPÓTESES DE ASFIXIA

estava acima de 90 em um número significativo de indivíduos. Os batimentos


cardíacos acelerados podem ser facilmente explicados pelo aumento da pressão
diastólica, já que quando ela é aumentada no coração, ela se torna menos receptiva
aos impulsos que estimulam o nervo vago, o qual desacelera os batimentos cardíacos.
A pressão sanguínea aumenta por causa da aceleração dos batimentos cardíacos.

MONITORAMENTO ELETROCARDIOGRÁFICO - O ECG revelou tremores musculares em muitos


voluntários, devido às contrações nos músculos, mas não houve evidência de qualquer
anormalidade mais séria indicando falta de oxigênio no coração (isquemia) ou
anormalidades rítmicas. Houve um surto ocasional de taquicardia (batida acelerada)
em alguns indivíduos e contrações ocasionais ventriculares e atriais prematuras e
benignas.

PRODUÇÃO CARDÍACA-O pulso aumentou progressivamente em todos os voluntários, mas o


grau do aumento foi variado. Na maioria dos indivíduos, como na resposta relativa à
pressão sangüínea, o grau de aumento dependia da condição física dos voluntários. O
pulso chegou a 175 nos primeiros 2 minutos nos indivíduos que não possuíam
condicionamento físico. O pulso também era influenciado pelo estado psicológico dos
indivíduos, com a excitação liberando adrenalina, de acordo com a reação "lutar-ou-
fugir", como já foi explicado no capítulo sobre o processo de suar sangue. Nesses
indivíduos, o medo relativo aos procedimentos causou um acentuado aumento do pulso,
mas em suspensões subseqüentes o aumento foi significativamente menor, por causa de
seu condicionamento físico. O aumento da freqüência cardíaca durante o procedimento
de suspensão aconteceu por causa da liberação de adrenalina motivada pelo estresse,
pelos efeitos das contrações musculares causados pela liberação do dióxido de
carbono, pelo aumento da atividade física, aumento da temperatura e presença da
respiração diafragmática - que no começo é um tanto insuficiente, mas com o tempo
acaba tornando-se muito eficaz.

147

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

QUÍMICA SANGUÍNEA

Amostras de sangue foram recolhidas antes, durante e depois da suspensão para


determinar os níveis de ácido láctico (explicado anteriormente), transaminase
glutâmica oxalacética (TGO), transaminase glutâmica pirúvica (TGP), desidrogenase
láctica (DHL), creatinina fosfoquinase (CPK) e isozimas de CPK e DHL. Houve um
acréscimo de duas vezes e meia na TGO, acima de cinco vezes na CPK do músculo
esquelético e um ligeiro aumento na DHL, e nenhum acréscimo na quantidade de TGP.
Esses aumentos são reflexo da acentuada atividade do músculo esquelético causada
por contrações musculares, e não são indicações de danos ao músculo cardíaco, já
que as isozimas cardíacas da CPK indicaram aumento somente devido ao músculo
esquelético. Os gases do sangue arterial estavam dentro dos limites normais. Não
houve evidência de acidose respiratória.

RESULTADOS DA EXPERIÊNCIA

1. O ângulo dos braços com a estaca foi diferente entre os indivíduos, com uma
variação de 64 a quase 70 graus.

2. Não houve evidência visual de dificuldades respiratórias durante a suspensão.

3. Subjetivamente, cada voluntário afirmou que não teve nenhum problema


respiratório, nem durante a inspiração nem durante a expiração, refutando, assim, a
hipótese da asfixia.

4. Uma queixa comum foi um sentimento de rigidez no peito e um pouco de dor nas
pernas entre 8 e 15 minutos após o início da suspensão. Quando isso aconteceu, foi
permitido aos voluntários que endireitassem as pernas arqueando o corpo.

148

HIPÓTESES DE ASFIXIA

5. O teor de oxigênio no sangue, determinado pelos testes de gás no sangue e pelo


oxímetro, ou aumentou ligeiramente ou permaneceu constante. Tanto a observação
visual quanto os testes com o espirômetro determinaram que isso era resultado da
hiperventilação, com a respiração abdominal começando depois de 4 minutos, numa
taxa duas ou três vezes acima da normal.

6. A maioria dos voluntários começou a suar depois de 6 a 10 minutos.

7. A freqüência cardíaca elevou-se a 170, mas não houve arritmias, exceto por uma
ou outra batida irregular. Houve algumas freqüências mais altas, que chegaram a
180, mas diminuíram logo que os voluntários superaram o medo inicial. A pressão
sanguínea aumentou em vários graus, dependendo do estado de condicionamento do
voluntário. O eletrocardiograma mostrou somente tremores musculares e prematuras
contrações benignas nos átrios e nos ventrículos, mas nenhuma anormalidade cardíaca
significativa.

8. As costas dos voluntários nunca tocaram a cruz. A dor nos ombros ou nas pernas
fez que muitos deles arqueassem seus corpos, de forma que o topo da cabeça tocasse
a estaca, aliviando, então, a dor nas panturrilhas, joelhos, ombros e pulsos
(Figura 6-26).

EXPERIÊNCIAS ADICIONAIS

Posição na Cruz

Essa experiência preliminar foi conduzida para determinar se a posição na cruz


assumida por nossos voluntários correspondia à postura "caída" sugerida por Barbet.
O procedimento foi necessário para evitar que se comparassem laranjas com maçãs.
Nossos voluntários foram suspensos pelas mãos, envolvidas pelas luvas, enquanto um
ajudante dobrava seus joelhos e deslizava seus calcanhares na estaca até que as
solas dos pés

149

150

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

ficassem grudadas na cruz, no ponto mais baixo possível da estaca, com os pés
seguros por uma cinta. Isso foi repetido com um pé em cima do outro. Foi importante
estabelecer nossas condições da mesma maneira que Barbet, para podermos provar ou
refutar sua teoria da asfixia.

RESULTADOS: Os voluntários utilizados nessa experiência permaneceram numa posição


de 65 graus em relação à estaca, e seus joelhos foram dobrados num ângulo de 120 a
122 graus. Barbet descreveu a posição caída como sendo a descida da horizontal
(braços paralelos à barra horizontal) a um ângulo de cerca de 65 graus, com os
joelhos dobrados em um ângulo de cerca de 120 graus. Essas posições correspondem
diretamente à posição caída idealizada por Barbet.

Endireitando o Corpo

Essa experiência foi conduzida para determinar se era possível endireitar o corpo,
como foi proposto por Barbet. Já que a posição dos nossos voluntários correspondeu
aos critérios indicados por Barbet (estabelecidos na experiência anterior), foi
pedido aos voluntários selecionados que endireitassem o corpo. Foi-lhes dito que
tentassem empurrar os pés contra as amarras, com toda a força possível, como se
suas vidas dependessem disso. A experiência foi repetida com um pé em cima do
outro.

RESULTADOS: Alguns voluntários tentaram muitas vezes. Nenhum daqueles que


permaneceu suspenso conforme os critérios postulados por Barbet foi capaz de
endireitar o corpo, não importando o esforço nem quantas vezes tentou fazê-lo.
Aparentemente, isso se deve ao fato de que, quando os pés estão presos à estaca, ou
um em cima do outro, e os joelhos dobrados, o alcance de movimentos se torna bem
limitado, impossibilitando o ato de endireitar ou empurrar o corpo. É óbvio também
que seria impossível endireitar o corpo a partir da chamada "posição caida", já que
os braços do crucarius estavam muito estendidos. Além disso, a experiência
demonstrou que, se voluntários que estavam em boas
HIPÓTESES DE ASFIXIA

condições físicas não conseguiram empurrar o corpo para se endireitar, por mais que
tentassem, seria improvável que uma pessoa machucada e exaurida, particularmente
sentindo uma dor extrema e pregada pelas mãos e pelos pés, conseguisse obter forças
para endireitar o corpo.

Assim, não importa quanto tempo o crucarius permaneceu na cruz ou quais as


condições físicas em que ele estava, porque não é possível endireitar o corpo, como
foi proposto por Barbet. É importante enfatizar, também, que mesmo que isso fosse
possível, não haveria razão para tal, simplesmente porque não existe problema para
respirar na posição "caída". Essa experiência repudiou completamente a teoria de
esticar e inclinar o corpo proposta por Barbet. Além disso, é interessante notar,
do ponto de vista da patologia forense, que em um caso de crucificação real, os pés
e mãos estariam extremamente inchados e doloridos pelo fato de estarem pregados à
estaca e à barra horizontal, respectivamente, ambos piorando com o tempo. Qualquer
pressão feita contra os pregos nos pés seria completamente intolerável.

É interessante notar que o professor Baima Bollone repudiou a hipótese de asfixia


com base no fato de que Jesus não poderia falar se Ele estivesse com falta de
oxigênio, e é sabido que Ele fez isso várias vezes enquanto esteve na cruz. Esse é,
porém, um argumento fraco, já que alguém poderia dizer que Jesus falou toda as
vezes em que endireitou o corpo para respirar.

Padrão de Bifurcação

Essa experiência foi conduzida para determinar se o padrão de bifurcação na área do


pulso no Sudário representa a posição "caida" eo endireitamento do corpo durante a
crucificação, como foi proposto por Barbet.

Évastamente disseminado na literatura sobre o Sudário que o padrão de bifurcação no


ferimento da mão apóia a hipótese de Barbet quanto à posição "caída" e o
endireitamento; um braço da bifurcação representa a posição "caida", eo outro a
posição ereta. Quanto a isso, uma experiência foi conduzida para determinar se o
ângulo dos pulsos iria mudar durante

151

152

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

as posições ereta e caída de acordo com o padrão de bifurcação (Figura 6-5), e, se


fosse o caso, determinar o grau de mudança. Utilizamos seis voluntários cujos
braços foram suspensos num ângulo de 65 graus em relação à estaca e os joelhos
foram dobrados a 120 graus, conforme descrito por Barbet. As mãos foram amarradas
fortemente à barra horizontal e os pés à estaca. O processo foi repetido com um pé
em cima do outro. Foi solicitado aos voluntários que tentassem se endireitar,
conforme a hipótese de Barbet, como se suas vidas dependessem disso. Porém, como já
foi demonstrado na experiência anterior, nenhum voluntário conseguiu o feito, por
mais que tentasse. Então, levantamos cada voluntário pelas coxas enquanto
pressionávamos seus joelhos (Figura 7-5a) e observamos se houve uma mudança no
ângulo dos pulsos como Barbet postulou.

RESULTADOS: Nós notamos, em todos os testes, que não houve mudança no ângulo dos
pulsos; em vez disso, na maioria dos casos, os braços dobraram-se nas articulações
laterais entre o rádio e a ulna e os ossos carpais proximais (Figura 7-5b), e em
alguns casos eles se dobraram nos cotovelos. Essa experiência demonstrou que não é
possível endireitar o corpo a partir da posição "caída", refutando, assim, a
hipótese de Barbet de que o padrão de bifurcação era prova de que o crucarius
assumiu duas posições. A experiência demonstrou também que, mesmo se o crucarius
pudesse se endireitar, não haveria mudança no ângulo do pulso, refutando essa parte
da hipótese de Barbet.

Apesar dos fatos citados, ainda existem aqueles que propagam as hipóteses de Barbet
de que o crucarius teve de assumir duas posições na cruz-a "posição caída", em que
o ar é preso na inspiração, e a posição mais ereta, a fim de expirar, e quando não
fosse mais possível esticar o corpo, a vítima morreria asfixiada.

HIPÓTESES DE ASFIXIA

FIGURA 7-5

Suspensão assistida para verificar o ângulo do pulso a fim de demonstrar a


curvatura na junta do pulso.

a) Já que não é possível que o voluntário se levante por conta própria, ele é
ajudado, para que o ângulo da mão na região do pulso possa ser observado.

b) Essa experiência revela que não houve mudança no ângulo do fluxo sanguíneo no
pulso, mesmo se o voluntário tivesse conseguido se levantar por conta própria.

Resultado das Experiências Adicionais

1. Comparar os enforcamentos do exército austro-húngaro e os acontecidos no campo


de concentração de Dachau com a crucificação é como comparar maçãs e laranjas, já
que a suspensão com as mãos diretamente acima da cabeça e as pernas pendendo livres
é completamente diferente de ser suspenso com os braços em ângulo de 60 a 70 graus
com a estaca e com os pés presos à cruz.

153

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

2. O padrão de bifurcação se encontra nas costas da mão, que ficaram adjacentes à


barra horizontal. Essa posição iria criar uma nódoa, e não dois fluxos de sangue em
um período superior a seis horas.

3. As experiências demonstraram que não há mudança no ângulo da mão durante o


endireitamento do corpo. Houve uma dobra nas articulações laterais dos ossos
rádio/ulna com os ossos carpais proximais.

4. O ato de quebrar as pernas não foi praticado para impedir o crucarius de


endireitar o corpo para que pudesse respirar, como mostrado no esqueleto da
escavação Giv'at ha Mivtar.

5. O mais importante: nossos voluntários não tiveram dificuldade para respirar


quando suspensos utilizando os mesmos critérios indicados por Barbet (braços a 60
graus e parte de trás dos joelhos a 120 graus), e seus testes de gases no sangue,
oximetria auricular e outros testes respiratórios mostraram oxigenação normal ou um
pouco aumentada por causa da hiperventilação.

6. Outro fato que derruba a hipótese da posição "caída" e do endireitamento é que


os pés se tornariam progressivamente inchados e extremamente doloridos por causa
dos enormes pregos atravessados neles, tornando impraticável qualquer impulso
contra os pregos.

Infelizmente, os escritos a respeito do Sudário e da Crucificação são inundados por


informações errôneas formuladas por indivíduos desqualificados e cientistas cujos
textos estão totalmente fora de sua área de especialização. Um exemplo típico é o
comentário feito pelo advogado F. Tribbe, a despeito de todas as evidências
citadas, no livro Portrait of Jesus, de 1983. Os comentários estão nas páginas 108
e 109, e parece que circularam amplamente: "Usando o método de suspensão por mais
de

154

HIPÓTESES DE ASFIXIA

45 minutos, Zugibe não encontrou sinais de asfixia ou problemas respiratórios


significativos. No entanto, as fotografias mostram que ele deu aos seus voluntários
um suporte para os pés, por meio do qual eles aparentemente poderiam se erguer para
facilitar a respiração. Ele não comenta esse ponto, que seria um desvio
significativo da situação usada por Moedder." O sólido apoio para os pés ao qual
ele se refere são as cintas, e, como as experiências demonstraram, nenhum
voluntário foi capaz de sair da "posição caída", pelo fato de que o limite de
movimentação para o endireitamento havia sido excedido.

SUMÁRIO DA RECONSTITUIÇÃO FORENSE

1. Os resultados desses estudos desmentem esmagadoramente a teoria da asfixia como


causa da morte.

2. Não existe dificuldade para respirar na posição da cruz.

3. A posição dos voluntários na cruz foi completamente compatível com os critérios


postulados por Barbet.

4. Os testes de oximetria auricular, gases do sangue e testes respiratórios


complementares mostram evidências de que o nível de oxigênio permaneceu normal ou
aumentou.

5. Não é possível endireitar-se a partir da "posição caída" como postulado por


Barbet, pois o limite de movimentação para o endireitamento foi excedido, o que
impede qualquer tipo de movimento ou impulso nesse sentido.

6 É óbvio que seria virtualmente impossível endireitar o corpo a partir da "posição


caída", já que os braços do crucarius estariam muito estendidos.

155

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

7. O padrão de bifurcação não representa a posição "caída" e o endireitamento do


corpo, como foi proposto por Barbet, porque não houve mudança no ângulo dos pulsos.
Em vez disso, na grande maioria dos casos, os braços se dobraram nas articulações
laterais entre os ossos rádio/ulna e os ossos carpais proximais, e, em alguns
casos, dobraram-se nos cotovelos. Isso também é apoiado pelo fato de que o padrão
de bifurcação aparece nas costas da mão, onde o contato com a barra horizontal da
cruz teria criado uma mancha e não revelado dois fluxos de sangue perfeitos.

8. Considere que o crucarius já tinha sido brutalmente espancado e se encontrava


num estado de choque ao ser pregado à cruz, e que ele teria que se endireitar pelo
menos 4 mil vezes durante as seis horas na cruz para criar uma taxa respiratória
normal de 12 respirações por minuto - a taxa normal varia de 12 a 16. Mesmo que
fosse apenas uma respiração por minuto, ele teria que se erguer pelo menos 360
vezes.

Eu apresentei todas essas questões de forma clara para que todos contemplassem se o
crucarius, Jesus, seria fisicamente capaz de se erguer para respirar em um período
de várias horas enquanto suspenso na cruz, como proposto por Barbet. Será que uma
pessoa em estado de choque traumático e hipovolêmico, que já tinha sido espancada
na casa de Caifás (o sumo sacerdote); tinha passado por uma extrema ansiedade, a
ponto de sofrer hematidrose; tinha sido brutalmente açoitada com o flagrum; sofrido
neuralgia do trigêmeo por causa da coroa de espinhos; tropeçado e caído por cerca
de 800 metros, carregando uma barra horizontal de madeira que pesava de 50 a 75
libras, ao longo de parte do caminho; que foi, então, perfurada nas mãos e pés com
grandes pregos na região dos nervos medianos e plantares e suspensa numa cruz,
poderia repetidamente forçar seus pés e mãos inchados e doloridos contra os pregos
para tentar respirar, em um período de várias horas? Eu acho que não!

156

{8} HIPÓTESES DE ATAQUE CARDÍACO/ RUPTURA DO CORAÇÃO

Vocês não percebem quão necessário é um mundo de dores e conflitos para que uma
inteligência seja escolada e transformada numa alma?

John Keats

Po eriodicamente, aparecem artigos na mídia ou na literatura sobre o Sudário


afirmando que Jesus teria morrido ou de ataque cardíaco ou em razão de uma ruptura
no coração. A primeira sugestão de que Jesus teria morrido devido a condições
relacionadas ao coração foi reportada no começo do século XIV, quando Santa
Brigite, uma mística e padroeira da Suécia, teve uma visão de que Jesus havia
morrido de ruptura do coração. Mas será que Santa Brigite não estaria usando a
expressão alegórica "coração partido" para relatar a imensa tristeza de Jesus por
causa dos pecados do homem e não um coração fisicamente rompido?

158

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Em 1874, um médico de Edimburgo chamado William Stroud aventou a teoria do coração


rompido em seu Treatise on the Physical Cause of the Death of Christ', no qual
postulou que, depois que o coração é rompido, o sangue flui para o saco que
circunda o coração, chamado pericárdio, onde o sangue se divide entre soro (água) e
coágulos após a morte. O clero engoliu essa hipótese porque sugeria que Jesus teria
morrido de "coração partido" pelos pecados e ingratidão do homem. Artigos
opinativos baseados em especulação, contra e a favor, apareceram depois da hipótese
de Stroud e continuaram até o século seguinte. Um dos mais importantes foi escrito
em 1935, pelo dr. Ryland Whittaker, um padre jesuíta e médico, que apoiou Stroud,
pois achava que essa era a única teoria que podia explicar como sangue e água
saíram do lado de Cristo. Em 1978, o professor Ugo Wedessow, da Universidade de
Milão, Itália, postulou que Cristo poderia ter sofrido um infarto do miocárdio
horas antes de ter morrido, causado pelas torturas às quais havia sido submetido.
Ball apoiou a hipótese do coração rompido, porque opinou que a sobrecarga do
músculo cardíaco teria aumentado em razão de múltiplos fatores, e o crescente
esforço para respirar teria rompido a parede livre do coração. Em março de 1982,
odr. Luigi Malantrucco, na época chefe do departamento de radiologia do Hospital
Fatebenefratelli, em Roma, reportou que Jesus teria morrido de ataque cardíaco, mas
sem apresentar qualquer comprovação. A mais recente hipótese, de acordo com uma
resenha dos Arquivos Apollo (www.cin.org/archives), é a do professor Luigi Baima
Bollone, do Instituto de Medicina Legal da Universidade de Turim. Em seu livro The
Last Days of Christ", ele indicou que Jesus morreu de ataque cardíaco resultante de
um coágulo de sangue que

N. do T.: "Tratado sobre a Causa Fisica da Morte de Cristo".

**N. do T: "Os Últimos Dias de Cristo".

HIPÓTESES DE ATAQUE CARDIACO/RUPTURA DO CORAÇÃO

teria obstruído a artéria coronária (trombose coronária), fato que ele atribui a
exaustão, desidratação, baixo nível de oxigênio no sangue, estresse psicológico,
incluindo medo e frustração, açoitamento, agonia na cruz e asfixia em pequeno grau.
No entanto, o professor Bernard Knight, um renomado patologista forense e ex-
diretor do Instituto de Medicina Forense de Cardiff, País de Gales, comentando a
teoria de Bollone, relatou: "Os dados são muito escassos para afirmar que Jesus
morreu de ataque cardíaco e asfixia ou se ele morreu num tempo mais rápido que o
normal para uma crucificação. Cientificamente, se você não tem nenhum dado básico,
não pode tirar conclusões. É como dizer que a Lua é feita de queijo verde."

Antes de criticar essas hipóteses, é importante obter um conhecimento básico da


anatomia, fisiologia e patologia do coração.

O CORAÇÃO: CONSIDERAÇÕES ANATOMICAS E PATOLÓGICAS

Omúsculo cardíaco recebe oxigênio e nutrientes através de dois grandes vasos: as


artérias coronárias esquerda e direita (Figura 8-1). Se uma dessas artérias vem a
ser bloqueada ou criticamente obstruída, de forma que sangue contendo oxigênio e
nutrientes não consiga passar, áreas do coração à frente do bloqueio vão morrer,
resultando em um ataque cardíaco. A área do músculo cardíaco (miocárdio) que morre
é chamada de infarto, assim, infarto do miocárdio é o sinônimo para ataque
cardíaco. A causa do bloqueio em um ataque cardíaco é quase sempre uma condição
chamada aterosclerose, um tipo de arteriosclerose (endurecimento das artérias) que
envolve a túnica interna da artéria (intima). A aterosclerose é um processo
inflamatório em que uma substância gordurosa e semelhante a um mingau chamada
ateroma é depositada no revestimento interno da parede arterial, estreitando
progressivamente a passagem. Coágulos sangüíneos, ou trombose coronária, também
podem bloquear o coração.

159

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

INFARTO DO MIOCÁRDIO (ATAQUE CARDÍACO)

Artéria pulmonar

Auricula

Auricula direita

Artéria
Aorta

esquerda

Placas

oclusivas

coronária

Artéria

coronária

direita

esquerda

ÁREA DO

Ventriculo

INFARTO

direito

LOCAL

DA OCLUSÃO

Ventriculo

FIGURA 8-1

esquerdo

Diagrama detalhando um ataque cardíaco. Se uma artéria coronária se torna


bloqueada, o músculo cardíaco suprido por essa artéria vai ficar privado de
oxigênio e nutrientes, e um ataque cardíaco (infarto do miocárdio) vai acontecer.

Uma complicação rara de ataque cardíaco é a ruptura do coração. Isso geralmente


ocorre em indivíduos que sofreram um ataque cardíaco silencioso, dores no peito que
acreditaram ser decorrentes de problemas digestivos ou de outras causas, ou um
trauma direto no coração; assim, a vítima não é instruída a permanecer na cama e
ficar em repouso absoluto. No decorrer da semana ou pouco depois do ataque
cardíaco, um processo de amolecimento do músculo cardíaco ocorre em razão da morte
do tecido muscular, e o coração tenta se curar formando um denso tecido
cicatricial. É durante esse período de suavização que o músculo cardíaco, na área
do infarto, é particularmente suscetível a ruptura. Se o paciente não descansar nos
primeiros dias depois do ataque cardíaco, o aumento da pressão pode romper o tecido
amolecido, fazendo que o sangue seja bombeado para fora do coração diretamente no
saco que circunda o órgão. Essa condição é chamada de ruptura do coração com
tamponamento. De acordo com o livro Pathology of the Heart", de Gould, a ruptura do
músculo cardíaco pode ocorrer

"N. do T: "Patologia do Coração".

160
HIPÓTESES DE ATAQUE CARDIACO/RUPTURA DO CORAÇÃO

um dia (muito raramente) ou quatro semanas depois do ataque, mas é mais comum
durante a primeira semana, com um tempo médio de ocorrência de sete dias.

REFUTANDO A HIPÓTESE DA RUPTURA DO CORAÇÃO

A ruptura do coração em uma pessoa jovem e saudável é extremamente rara. É muito


improvável que Jesus tenha sofrido um ataque cardíaco, porque Ele tinha apenas 33
anos de idade, e uma disfunção na artéria coronária é incomum em uma pessoa tão
jovem. Embora hoje em dia nós presenciemos ataques cardíacos em indivíduos dessa
faixa etária, antes não era assim. Somente a partir da metade do século XX é que
passamos a notar problemas cardíacos em indivíduos dessa faixa etária, por causa
dos "luxos" da civilização, incluindo alimentação com alto teor de gordura e
repleta de carboidratos, fast-food, obesidade, falta de exercício físico, aumento
do estresse, consumo de cigarros etc. Além disso, aterosclerose e infartos do
miocárdio eram extremamente raros naquela parte do mundo, particularmente na época
de Jesus, e só aconteciam em indivíduos mais idosos. Além disso, Jesus permaneceu
na cruz no máximo por seis horas. Se Ele tivesse sofrido um ataque cardíaco,
levaria mais de um dia depois do ataque para que o músculo amolecesse o suficiente
para permitir a ruptura do órgão. Além do mais, as Escrituras não relatam nenhuma
doença do gênero adquirida antes da Crucificação. Ele já teria que estar com as
artérias coronárias seriamente bloqueadas e teria que ter sofrido infarto do
miocárdio e trombose pelo menos um ou dois dias completos antes de ser suspenso na
cruz. E, mesmo que Cristo tivesse sofrido um infarto do miocárdio no Jardim do
Getsemani como resultado do severo estresse ou por causa do açoitamento que se
seguiu, o tempo decorrido após o infarto teria sido insuficiente para que o músculo
amolecesse e o sangue atravessasse a parede do órgão. Da mesma forma, mesmo que o
brutal

161

162

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

açoitamento no peito tivesse causado algum dano ao coração, de tal

gravidade que promovesse um ataque cardíaco em função do comprometimento da


circulação de sangue no músculo cardíaco, o tempo seria insuficiente para que
houvesse a ruptura. Gostaria de acrescentar que minhas opiniões nessa área da
medicina são ratificadas pelo meu conhecimento e experiência em cardiologia,
somados às minhas credenciais como patologista forense, as quais incluem o cargo de
diretor de pesquisa cardiovascular na Administração de Veteranos dos Estados Unidos
(Pittsburgh); membro da Faculdade Americana de Cardiologia; e autor de dois livros,
vários capítulos de livros e 28 documentos científicos na área de cardiologia. Para
resumir, a hipótese da ruptura cardíaca como a causa da morte de Jesus deve ser
descartada e relegada aos arquivos de hipóteses infundadas, porque é algo
totalmente sem fundamento dos pontos de vista médico e científico.

{9} A CAUSA DA MORTE DE JESUS

A ciência é definida por uma busca cuidadosa, disciplinada e lógica de conhecimento


em todos e quaisquer aspectos do universo, obtido por meio do exame da melhor
evidência disponível e sempre sujeito a correção e melhorias depois da descoberta
de melhores evidências. O que sobra é mágica. E isso não funciona. James Randi
D eterminar a causa da morte de Jesus é algo relativamente complexo e requer
reconstituição forense de cada fase da jornada do Getsemani ao Calvário, como se
fosse um Caminho da Cruz forense. A reconstituição teria que incluir a hematidrose;
o espancamento na casa de Caifás, o sumo sacerdote; o açoitamento; a coroação com
os espinhos; a viagem ao Calvário; a fixação na cruz; e a suspensão na cruz. A soma
de todas essas informações deve ser avaliada para que se possa determinar a
natureza e a extensão do sofrimento de Jesus e, assim, chegar à causa de Sua morte.

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Quando examinamos meticulosamente cada fase do sofrimento de Jesus, começando no


Getsêmani e terminando no Calvário, não resta muita dúvida de que ele morreu como
conseqüência de choque. Para entender o mecanismo desse tipo de morte, é necessário
que conheçamos os principais tipos de choque.

CHOQUE: CONSIDERAÇÕES GERAIS

Ochoque, por definição, é um complexo de anormalidades fisiológicas causadas por


uma variedade de processos de enfermidades e ferimentos. É causado pela perfusão
inadequada do órgão (circulação através dos órgãos) e má oxigenação dos tecidos. A
perfusão adequada depende do funcionamento correto do coração, dos pulmões e vasos
sangüíneos. Certos fatores iniciais causam a redução do volume de sangue em
circulação, que por sua vez causa a diminuição do retorno venoso ao coração. Isso
diminui a quantidade de sangue bombeada pelo coração, reduzindo o fluxo para os
tecidos. Os sintomas incluem pulso fraco e acelerado; aumento da taxa de
respiração; menor pressão sangüínea; pele fria e pegajosa; ansiedade; apatia;
náusea; falta de fôlego etc.

Existem vários tipos de choque no campo da medicina, incluindo choque traumático,


hipovolêmico, cardiogênico, anafilático, séptico, neurogênico (vasogênico) e
psicogênico. No estudo da crucificação, vamos nos concentrar no choque hipovolêmico
(choque de baixo volume) e no choque traumático (choque por ferimento).

Choque Hipovolêmico

Ochoque hipovolêmico (choque de baixo volume) é marcado por uma significativa queda
no volume de sangue, decorrente de hemorragia ou perda de fluidos corporais
(diarréia, vômito, queimaduras etc.), causando uma queda na pressão sanguínea,
constrição dos vasos sanguíneos periféricos e um aumento na taxa cardíaca como
forma de compensação,

19 164

A CAUSA DA MORTE DE JESUS

É estimado que a redução de aproximadamente um quinto do volume de sangue pode


causar choque hipovolêmico. Quando Jesus disse "Eu tenho sede" (João 19:28-30), não
há dúvida de que isso foi uma grosseira subestimação. Ele estava privado de
líquidos desde Sua última refeição, a Santa Ceia, e sofreu perda de líquidos por
causa do suor excessivo, do trauma no peito (efusão pleural), da hemorragia
decorrente do açoitamento, da cravação dos pés e mãos, hematidrose etc.

A água é tão básica para a sobrevivência que os indivíduos reagem de forma


inapropriada e violenta quando são privados dela. Pessoas que sofrem de
desidratação podem perder todo o senso de racionalidade, e a sobrevivência se torna
o foco principal da mente. A agonia associada à sede é claramente retratada em
artigos escritos por LeBec (Catholic Medical Guardian, outubro, 1925), que citou um
escriba árabe, el Sujuti, que em 1247 descreveu um jovem turco que estava sendo
crucificado em Damasco: "Sua principal agonia era sede. Uma testemunha me contou
que ele olhava constantemente para os lados e implorava que lhe dessem água."
McGee, um geólogo americano que estudou largamente os efeitos da sede em indivíduos
sofrendo de privação extrema de água em áreas desertas, distinguiu cinco estágios
pelos quais o indivíduo passa antes de chegar à morte (como foi citado pelo dr. J.
R. Whittaker em um documento lido em 1935 perante a Associação São Lucas, em
Londres). Ele sugeriu que, no primeiro estágio, existe uma secura na boca e na
garganta, acompanhada de um forte desejo pelo líquido. Essa é a experiência comum
da sede normal, ea condição pode ser aliviada, como a prática indica, com um pouco
de água ou por meio do próprio fluxo de saliva, de certa forma. No segundo estágio,
a saliva e o muco na boca começam a secar, e a garganta se torna pegajosa e
"apertada". Há uma sensação de secura nas membranas mucosas. O ar inspirado parece
quente e a língua gruda nos dentes e no céu da boca. Um "nó" aparece na garganta e
o indivíduo começa a engolir em seco continuamente para tentar desfazer essa
wensação. De acordo com McGee, durante os três últimos estágios "as

165

166

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

pálpebras endurecem em cima dos globos oculares, produzindo um olhar fixo, a ponta
da língua se torna rígida e amortecida e a pobre vítima tem visões de piscinas
límpidas e riachos cintilantes".

Choque Traumático

O choque traumático (choque por ferimento) é resultado de um machucado extremamente


sério. Esse choque é classificado como choque hipovolêmico quando uma significativa
hemorragia acontece como conseqüência de um ferimento físico. Porém, é mais
prudente discutir o choque traumático separadamente, já que ele também pode ocorrer
como conseqüência da dor, sem hemorragia expressiva. A presença da dor sem um
evento traumático estimula certos mecanismos nervosos no cérebro, fazendo que haja
queda na pressão sanguínea e redução do fluxo de sangue nos tecidos. Jesus perdeu
muito sangue e fluidos, além de ter sofrido dores excruciantes.

RECONSTITUIÇÃO FORENSE

Para que se possa chegar à mais provável causa da morte de Jesus, é essencial que
se examinem, na seqüência, todos os eventos, do Getsemani ao Calvário. A extrema
agonia mental exibida no Jardim do Getsemani teria causado alguma perda no volume
de fluido circulante (hipovolemia), tanto por causa do suor como por causa da
hemaditrose, e teria provocado acentuada fraqueza. O bárbaro açoitamento com o
flagrum composto de tiras de couro contendo pesos de metal ou pedaços de osso nas
pontas teria causado penetração na pele e trauma nos nervos, músculos e pele,
fraturas nas costelas ou deslocamentos das costelas e da cartilagem, lacerações,
infiltração de sangue através dos espaços intercostais e da musculatura das costas
e do tórax, escoriações, ruptura alveolar (espaços de ar nos pulmões) e, muito
provavelmente, colapso de um pulmão (pneumotórax), reduzindo a vítima a uma
condição exaurida e deplorável.

A CAUSA DA MORTE DE JESUS

Em um curto espaço de tempo,teria ocorrido uma inflamação no saco do coração,


denominada pericardite, a qual se manifesta por meio de dores agudas e cortantes no
peito. Surtos de vômito, tremores, ataques e desmaios ocorreriam em intervalos
variados durante os acontecimentos. A vítima teria gritado em agonia a cada
chibatada, sempre implorando misericórdia. Períodos de extremo suor também teriam
acontecido intermitentemente. A vítima teria sido reduzida a um exausto e deformado
pedaço de carne ansiando desesperadamente por água. Ela iria respirar rápida e
superficialmente, já que a respiração normal causaria dor insuportável, em razão da
pressão dos pulmões lacerados contra as costelas fraturadas. Ele teria tido
calafrios, suor abundante, convulsões freqüentes e um desejo incontrolável por
água. Sua pele se teria tornado fria e pegajosa e Sua tez estaria acinzentada. A
diminuição da pressão sanguínea teria causado tontura e Sua freqüência cardíaca se
tornaria fraca, porém acelerada. Nesse ponto, teria havido uma perda significativa
de sangue e fluidos, além da extrema dor, implicando o princípio do choque
traumático e hipovolêmico.

Experiências feitas com animais por Daniels e Cate mostraram que golpes no peito
dos bichos resultaram em ruptura nos espaços que retêm ar no pulmão (alvéolos) e
espasmos nos tubos de ar (brônquios). Além disso, o termo pulmão traumático molhado
refere-se ao acúmulo de sangue, fluido e muco proveniente de um grave trauma
(ferimento) no peito. Tenney e Primrose também concluíram que Jesus teria
experimentado choque traumático. Embora eles não mencionem choque hipovolêmico,
podem ter considerado a hemorragia e a perda de fluidos como parte do trauma.

A irritação do nervo trigêmeo e do nervo occipital maior do couro cabeludo,


provocada pela coroa de espinhos feita com o espinheirode-cristo sírio (Ziziphus
spina-christi)-especialmente depois que Ele foi atingido várias vezes pelos
soldados com pedaços de pau -, teria causado dores lancinantes no couro cabeludo e
na face. Essas dores cessariam intermitentemente, apenas para começar de novo, mais

167

168

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

devastadoras, cada vez que Ele era atingido com um cetro, ou cada vez que caía no
caminho para o Calvário, e toda vez que era empurrado pelos soldados. A respiração
ou mesmo os movimentos da caminhada Lhe teriam provocado dor. Isso se teria somado
ao estado de choque traumático induzido pelo açoitamento. A estrada ingreme e
vertiginosa para o Gólgota, o sol ardente, o ato de carregar a barra horizontal da
cruz nos ombros por um curto período, as freqüentes quedas e golpes que sofreu
também teriam contribuído para o choque traumático e hipovolêmico. A efusão pleural
(líquido ao redor dos pulmões) teria aumentado gradualmente depois do brutal
açoitamento e começado a comprometer a respiração. A hemorragia nas costelas
fraturadas e as lacerações nos pulmões teriam contribuído para a hipovolemia.

Ao mesmo tempo, a tensão na parede do tórax (respirando superficialmente, para


evitar movimentos das costelas que causariam muita dor cada vez que os pulmões se
inflassem) teria resultado em crescente choque traumático. Os enormes pregos de
aço, quadrados, enfiados nas duas mãos teriam danificado os ramos sensoriais do
nervo mediano, produzindo dores horríveis, conhecidas na medicina como causalgia.
Os pregos nos pés também teriam promovido as excruciantes dores da causalgia.

Tudo isso teria causado um choque traumático adicional e hipovolemia. As horas na


cruz, com o peso do corpo sustentado apenas pelos pregos nas mãos e pés, teriam
causado episódios de dor agonizante toda vez que o crucarius se mexesse. Esses
acontecimentos e as aterrorizantes dores no peito por causa dos açoites teriam
piorado o estado do choque traumático e hipovolêmico, bem como a crescente efusão
pleural, o edema pulmonar, o excessivo suor induzido pelo trauma e pelo calor do
sol. O crucarius teria que arquear Seu corpo todo, pressionando a cabeça com a
coroa de espinhos contra a estaca (veja a Figura 6-26) numa tentativa de endireitar
as pernas e aliviar um pouco as caibras nas panturrilhas e nos braços. A pressão de
Sua cabeça contra a estaca teria reativado os tormentos da neuralgia do trigêmeo.

A CAUSA DA MORTE DE JESUS

Os eventos patofisiológicos que levaram à morte de Jesus ocorreram como resultado


desses acontecimentos e dos choques traumático e hipovolêmico. O choque,
independentemente de sua causa, é definido como "... uma constelação de síndromes
caracterizadas por baixa perfusão e insuficiência circulatória, levando a uma falta
de equilíbrio entre as necessidades metabólicas dos órgãos vitais e o fluxo de
sangue disponível" (Robbins e Cotran, 1979, p. 183). O choque é "um estado de
perfusão inadequada de todas as células e tecidos, que a princípio leva a um dano
hipoxêmico (falta de oxigênio) reversível, mas se for suficientemente prolongado ou
grave, causa dano irreversível a células e órgãos, e, às vezes, leva à morte do
paciente" (Robbins, Cotran e Kumar, 1984, p. 112). Essa definição apresenta um
complexo leque de fatores, reações compensatórias e diversos interrelacionamentos
muito complexos para serem incluídos aqui.

Durante a crucificação, o corpo tenta compensar os primeiros sintomas de choque


usando processos químicos e nervosos para constringir os vasos sangüíneos e
aumentar a freqüência cardíaca, causando, dessa forma, um aumento da pressão
sangüínea e da produção cardíaca, na tentativa de manter a perfusão adequada e a
oxigenação dos órgãos vitais. Há também mecanismos compensatórios que fazem que os
rins conservem o volume de plasma e promovam um deslocamento de fluidos dos
capilares para os vasos sangüíneos principais. A imobilização do corpo na estaca
causa falha circulatória hipostática, já que o retorno da circulação dos membros
inferiores depende muito da gravidade e dos efeitos da contração muscular depois
que o sangue é bombeado pelo coração para essas áreas. Por causa dos joelhos
dobrados e da transfixação das mãos e pés na cruz, órgãos como fígado e rins se
tornam ingurgitados de sangue.

Durante a suspensão na cruz, Jesus teria experimentado uma progressiva perda de


plasma nos espaços pleurais (ao redor dos pulmões) e em espaços teciduais como os
calcanhares; invasão de sangue nas partes inferiores do corpo; e contínuo suor
causado pelos raios

169

170

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

fortes do sol do meio-dia, pelo calor produzido pela atividade muscular aumentada e
pelas respostas hipotensivas (baixa pressão sanguínea) do corpo à dor e hipovolemia
(baixo volume de fluido). Como não houve tentativa de repor os fluidos ou de cessar
a dor, os mecanismos compensatórios teriam chegado a um ponto de saturação. Eu
detalhei conclusões e resultados de uma pesquisa e discuti as teorias sobre asfixia
e ruptura do coração num artigo chamado "Morte por Crucificação", que apresentei em
um dos mais exigentes e prestigiosos fóruns de patologia forense do mundo - A Seção
de Patologia Forense no 35° Encontro Anual da Academia Americana de Ciências
Forenses, em Cincinnatti, Ohio, no dia 19 de fevereiro de 1984. O leitor deve se
reportar a esse artigo, que mais tarde foi publicado no Canadian Society of
Forensic Science Journal", vol. 17 (1983): 1-13, para uma discussão mais
aprofundada sobre os mecanismos de choque envolvidos na crucificação, dede o início
até a morte.

Pode ser interessante saber que os doutores Angelino e Abrate, escrevendo em


Sindone, concluíram que a morte na crucificação se deve aos choques traumático e
hipovolêmico, e que o dr. William Edwards, da Clínica Mayo, recentemente citou
hipovolemia como a causa da morte na crucificação, e relatou isso no Jornal da
Associação Americana de Medicina. O falecido professor Alan Adler, PhD, uma
autoridade na química da porfirina, reconhecido internacionalmente e que investigou
exaustivamente o Sudário, me informou, por meio de uma carta (5/11/1984), que
estudou minhas descobertas, e indicou que seus achados de um alto grau de
substâncias biliares no Sudário apóiam a conclusão de que a morte foi decorrente de
choque traumático.

Como já mencionei antes, no capítulo sobre asfixia, um cirurgião e amigo íntimo de


Barbet, o dr. P.J. Smith, discordou da teoria de Barbet sobre a morte por asfixia e
opinou que a morte de Jesus teria sido por

"N. do T.: Jornal da Sociedade Canadense de Ciência Forense.

A CAUSA DA MORTE DE JESUS

causa de choque. Barbet, porém, não fez nenhuma referência a ele na parte principal
de seu livro, A Doctor at Calvary, mas inclui a opinião do amigo no Apêndice II.
Dessa forma, o dr. Smith é assim citado:

"Eu sou da opinião de que existe uma notável evidência de que Cristo morreu de
falha cardíaca, por causa do extremo choque causado pela exaustão, dor e perda de
sangue. Quanto à asfixia, ou falha respiratória, como preferimos denominá-la, o
autor [referindo-se a Barbet] acha que isso aconteceu porque os músculos
respiratórios se tornaram rigidos na inspiração devido à queda do tronco para a
frente, afastandose da seção vertical da cruz, dificultando o ato de expirar e
assim esvaziar os pulmões do dióxido de carbono. Essa teoria não é apoiada por
algumas das evidências indicadas no livro

A Causa da Morte de Jesus

Se eu tivesse que estabelecer a causa da morte de Jesus, em minha função oficial de


médico-legista, o atestado de óbito conteria a seguinte descrição:

Causa da Morte: parada cardíaca e respiratória, em razão de choque traumático e


hipovolémico, resultante da crucificação.

POR QUE JESUS MORREU TÃO CEDO?

José de Arimatéia, um respeitado membro do conselho, que também procurava o reino


de Deus, tomou coragem e foi a Pilatos reclamar o corpo de Jesus. Pilatos ficou em
dúvida se Jesus estava morto, e chamou um dos centuriões para perguntar se Ele
havia mesmo morrido. Quando recebeu do centurião a confirmação, ele cedeu o corpo
de Jesus. (Marcos 15:43-45).

Pilatos pareceu surpreso com o fato de Jesus ter morrido tão cedo, e certamente
isso foi baseado em sua vasta experiência, depois de ter ordenado inúmeras
crucificações. Em minha opinião profissional,

171

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS
porém, a razão da morte aparentemente prematura de Jesus originase no brutal
açoitamento ao qual Ele foi submetido (pelo qual Pilatos foi responsável, a fim de
tentar aplacar a multidão) e em outros ferimentos recebidos durante Sua jornada do
Getsemani ao Calvário. O açoitamento de Jesus foi particularmente violento. Lembre-
se de que Pilatos não encontrou nenhuma evidência de que Jesus havia cometido algum
crime e, assim, não poderia justificar Sua crucificação. Ele o mandou para Herodes,
que o despachou de volta. Então, num último esforço, Pilatos ordenou o perverso
açoitamento, numa tentativa de acalmar a multidão. Jesus foi duramente açoitado,
causando sérios danos aos pulmões, costelas e à estrutura do corpo, levando-o a um
estado de choque prematuro, manifesto por meio de extrema fraqueza, tremores,
provável colapso do pulmão, ataques e desmaios. Adicione se a isso, ainda, a
angústia mental, a coroa de espinhos, o ato de carregar a barra horizontal da cruz
e todo o processo de crucificação. Assim, qualquer pessoa com algum conhecimento de
patologia forense ou medicina de emergência ficaria espantada ao saber como Ele
agüentou por tanto tempo, sem se surpreender com Sua morte relativamente rápida.

172

{10} SANGUE, ÁGUA EO FIM DA TEORIA DO DESMAIO

Então um dos soldados furou o lado de seu corpo com uma lança e de lá saíram sangue
e água. João 19:34

O fenômeno "sangue e água" descrito por João tem sido há muito tempo foco de
controvérsia, e muitas teorias foram postuladas para tentar explicá-lo. Para
entender as várias hipóteses e a validade de cada uma delas, o leitor deve se
familiarizar com a anatomia relevante e os mecanismos pelos quais o corpo forma
fluidos ao redor dos pulmões e no tórax.

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Arteria inominada

Artéria e veia

subclavia esquerda

LINN.

ARCH

SVC

Aa.

DAUR

AUR

R.ATR

Quinto

espaço intercostal
FIGURA 10-1

R.V.

L.V.

1a7 Costelas e cartilagens costais A Orificio aortico Ao Aorta ascendente C


Clavicula LV Ventriculo esquerdo

Relação do Coração e dos Grandes Vasos com a Parede Anterior do Tórax

M Orificio mitral P Orificio pulmonar RV Ventriculo direito SVC Veia cava superior
T Orificio tricuspide

Diagrama da região torácica. Aqui é mostrada a localização anatômica do coração e


dos grandes vasos no peito. A flecha indica o local proposto por onde teria entrado
a lança. (De Cunningham, Manual of Practical Anatomy, vol. 2. fig. 40 - cortesia de
Oxford University Press, Oxford, Inglaterra).

*N. do T: Editado no Brasil com o titulo Manual de Anatomia Prática, Ed. Atheneu,
1976.

174

SANGUE, ÁGUA E O FIM DA TEORIA DO DESMAIO

O PERICÁRDIO E O CORAÇÃO

O pericárdio é um saco em forma de cone feito de uma fina membrana fibrosa, porém
muito forte, que contém o coração e as raízes dos grandes vasos sanguíneos,
incluindo a aorta (a maior artéria, que leva o sangue do coração para todas as
partes do corpo), a veia cava (que carrega o sangue do corpo de volta para o
coração) e a artéria e a veia pulmonares (que transportam sangue de e para os
pulmões). O saco pericárdico está firmemente ancorado na cavidade torácica, com seu
"pescoço" junto dos grandes vasos localizados no topo do coração. A base está presa
firmemente à parte central do diafragma (fino músculo em forma de cúpula que separa
a cavidade torácica da cavidade abdominal); as laterais do saco estão presas a cada
pleura (as membranas que circundam cada pulmão); e a frente do saco está ligada à
parede torácica.

O coração, dentro do saco pericárdico, estende-se pelo lado esquerdo do peito, como
indicado na Figura 10-1. Note que o átrio direito, que é a câmara direita superior
do coração (indicado por R. ATR), estende-se por aproximadamente 2,5 centímetros à
direita do osso esterno, enquanto os ventrículos esquerdo e direito (as câmaras
inferiores do coração, indicadas por LV e RV), assim como o átrio esquerdo, ou
câmara superior esquerda do coração, se estendem predominantemente pelo lado
esquerdo do esterno. Se fluido se acumula no saco pericárdico, ocorre o que se
chama de efusão pericárdica, que é clara e aquosa. Se sangue se acumula no saco
pericárdico, então ocorre o hemopericárdio. Essa condição é usualmente causada pela
ruptura do músculo cardíaco ou da raiz da aorta. Em um indivíduo normal, o coração
é relativamente móvel dentro do saco, mas em diversos casos patológicos essa
mobilidade pode ficar seriamente comprometida.

Cada pulmão é também circundado por uma bolsa membranosa chamada pleura. O espaço
potencial entre a pleura e o pulmão é chamado espaço pleural. Se fluido se acumula
nesse espaço, seja por causa de um ferimento (trauma) na parede torácica e nos
pulmões, seja por causa

175

176

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

de um ataque cardíaco ou outras causas, é o que se chama de efusão pleural. A


efusão pleural é clara, às vezes meio amarelada e aquosa. Se o sangue se acumula
nesse espaço como resultado de um ferimento, então temos o que se chama de
hemotórax.

Agora que temos uma idéia básica da anatomia dessa área e informações sobre fluido
ou sangue nas cavidades pericárdica e pleural, vamos investigar e analisar as
diversas hipóteses que nos foram apresentadas para tentar chegar àquela que é mais
aceitável.

A Tabela 4 mostra as várias hipóteses que foram propostas para explicar o fenômeno
"sangue e água". A mais plausível é a última, chamada Hipótese 11. Ela indica que a
lança penetrou no átrio direito do coração (câmara superior direita), que teria se
enchido de sangue porque, imediatamente antes da falência cardíaca, o coração se
contraiu e ejetou o sangue na circulação pela última vez. Em resposta, o átrio
direito se encheu passivamente de sangue por causa da pressão elevada da
circulação. Uma maciça efusão pleural (fluido em volta dos pulmões) que vinha se
acumulando lentamente nas horas seguintes ao açoitamento (a efusão pleural é
normalmente detectada algumas horas depois de se receber golpes no peito) já se
fazia presente. O repentino golpe da lança arremessada por um dos soldados penetrou
o pericárdio e o átrio direito. O rápido e violento movimento feito para retirar a
lança, então, liberou o sangue, que aderiu à lâmina, e um pouco da efusão pleural
da cavidade pleural, resultando no fenômeno de "sangue e água". Porém, não haveria
nenhuma substância aquosa fluindo do peito, já que depois que a lança foi retirada,
o ar entraria rapidamente no peito, aumentando a pressão na cavidade torácica e
causando, assim, o pneumotórax (colapso do pulmão). Só teria havido um fluxo de
substância aquosa e sangue do ferimento em razão da penetração inicial da lança
(imediatamente antes do colapso), e uma pequena quantidade de sangue do átrio
direito do coração teria sido carregada pela ponta do objeto. Isso faria o nível de
fluido ao redor do pulmão baixar, já que haveria mais espaço no peito por causa do
colapso dos pulmões.

SANGUE, ÁGUA E O FIM DA TEORIA DO DESMAIO

Se o crucarius ainda não estivesse morto no momento da penetração da lança, não


haveria chance de sobrevivência, porque o coração perfurado iria bombear sangue na
cavidade torácica.

Em contraste com essa teoria, muitos indivíduos sugeriram que os espaços


intercostais (espaços entre as costelas) são muito pequenos para que uma lança
penetre no coração, e que este, sendo relativamente móvel, poderia sair do caminho
do dano. As duas suposições, porém, são incorretas. Em primeiro lugar, os espaços
entre as costelas variam de indivíduo para indivíduo, e na maioria dos casos a
lâmina seria inserida paralelamente às costelas, tornando possível sua penetração
no espaço intercostal. Eu investiguei numerosos golpes no peito aplicados em vários
ângulos por facas e instrumentos cortantes de todo tipo, muitos deles com lâminas
maiores que as hastas romanas, que eram as lanças usadas no tempo de Jesus. Em
muitos casos, quando a força era grande e a faca penetrava perpendicularmente às
costelas, as costelas ou cartilagens tinham sido cortadas na parte superior ou
inferior, ou em ambas. Seria fácil penetrar a cavidade torácica usando abasta
romana, independentemente do ângulo, em razão da considerável força que podia ser
empregada. O argumento que sustenta que a mobilidade do coração essencialmente
impediria sua penetração é absurdo, porque o órgão fica apertado contra a coluna
vertebral, permitindo uma fácil penetração. E essa é a regra, não a exceção.

AVALIAÇÃO DAS HIPÓTESES

As hipóteses restantes listadas na Tabela 4 são divididas em duas categorias


principais. A categoria I assume que Jesus est ava vivo quando a lança entrou em
Seu corpo, e a categoria II, que Ele já estava morto.

177

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

TABELA 4 - HIPÓTESES PROPOSTAS: Efeitos da Lança

1.JESUS ESTAVA VIVO QUANDO A LANÇA PENETROU

HIPÓTESE 1

(a) lado penetrado pela lança

(b) artéria do peito foi penetrada pela lança (sangue)

(c) efusão pleural (fluido na cavidade torácica) decorrente do açoitamento e/ ou de


falha congestiva (água)

HIPÓTESE 3 HIPÓTESE 4 HIPOTESE 5 HIPÓTESE 6 HIPÓTESE 7 HIPÓTESE 8 HIPOTESE 9 ((b)


efusão pleural decorrente do açoitamento e/ou de falha congestiva (água) (a)
coração penetrado pela lança (sangue) (b) saco pericárdico contendo efusão
pericárdica em razão do açoitamento e/ ou de falha congestiva; perfurado pela lança
(água) II.JESUS ESTAVA MORTO QUANDO A LANÇA PENETROU (a) saco pericárdico perfurado
pela lança contendo sangue (hemopericárdio) sob pressão do coração rompido (sangue)
(b) efusão pleural decorrente do açoitamento e/ou de falha congestiva (água) (a)
saco pericárdico perfurado pela lança contendo sangue sob pressão do coração
rompido, em que o sangue foi separado em uma camada superior de soro (água) e em
uma camada inferior (sangue) (a) saco pericárdico perfurado pela lança contendo
sangue sob pressão da aorta rompida (sangue) (b) efusão pleural decorrente do
açoitamento e/ou de falha congestiva (água) (a) saco pericárdico perfurado pela
lança contendo sangue sob pressão da aorta rompida, em que o sangue foi separado em
uma camada superior de soro (água) e em uma camada inferior (sangue) (a) coração
penetrado pela lança (sangue) (b) saco pericárdico perfurado pela lança contendo
efusão decorrente do açoitamento e/ou de falha congestiva (água) (a) pequeno vaso
sanguíneo na cavidade abdominal perfurado pela lança (sangue) (b) acúmulo de fluido
na cavidade por causa do açoitamento (água) HIPÓTESE 10 (a) cavidade torácica
perfurada pela lança contendo efusão pleural hemorrágica decorrente do açoitamento,
em que o sangue foi separado em uma camada superior de soro (água) e em uma camada
inferior

HIPÓTESE 2

a) coração penetrado pela lança (sangue)

(sangue)
HIPÓTESE 11 (a) átrio direito do coração perfurado pela lança (sangue) e efusão
pleural resultante do açoitamento (água)

178

SANGUE, ÁGUA E O FIM DA TEORIA DO DESMAIO

HIPÓTESES 1 a 3 podem ser eliminadas, já que assumem que Jesus estava vivo, quando
não existe dúvida de que Ele já se encontrava morto quando foi atingido pela lança.
As Escrituras são claras a esse respeito. São João declara: "Vieram então os
soldados e quebraram as pernas ao primeiro e ao outro que com Ele fora crucificado,
mas vindo a Jesus, e vendo que já estava morto, não Lhe quebraram as pernas;
contudo, um dos soldados Lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água"
(João 19:32-34). Todas as hipóteses que supõem que Jesus estava vivo quando a lança
O atingiu parecem estar baseadas na idéia de que não sai sangue de um corpo sem
vida. Isso não é verdade. O sangue pode fluir dos ferimentos de um morto,
especialmente se a morte ocorrer de forma violenta. Certos fatores químicos no
sangue, responsáveis pela coagulação, não parecem ser particularmente ativos em
algumas pessoas, e substâncias químicas chamadas trombolisinas, que têm a
capacidade de dissolver coágulos, parecem estar presentes em grandes quantidades em
tais indivíduos. Por experiência, sei que o sangue não coagula em muitos indivíduos
que morrem violentamente por causa do aumento das trombolisinas, as quais impedem a
coagulação. Em vítimas de homicídio e de acidentes automobilísticos, há um
escoamento das feridas durante o transporte e outros movimentos do corpo. Além
disso, o sangue permanece sem coagular em várias pessoas levadas para a autópsia
por cerca de oito horas após a morte, mesmo em caso de morte por causas naturais,
em de

razão algum tipo de interferência no processo de coagulação.

As oito hipóteses restantes (4 a 11) são todas baseadas no fato de que Jesus estava
morto no momento em que foi atingido pela lança. Nas hipóteses 4 a 8, o saco
pericárdico é furado pela lança. Nas hipóteses 4a7, o sangue está presente no saco
pericárdico por causa da ruptura do coração (hipóteses 4 e 5) e ruptura da aorta
(hipóteses 6 e 7). O "fenômeno do sangue" é atribuído ao sangue puro sob pressão no
saco pericárdico nas hipóteses 4 e 6 e ao sangue separado (com o soro claro por
cima e a camada sanguinolenta embaixo) nas hipóteses 5 e 7.

179

O "fenômeno da água é atribuído à efusão pleural nas hipóteses 4 e 6 e à camada de


soro nas hipóteses 5 e 7.

180

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

HIPÓTESES 4 a 6 são indefensáveis, como foi discutido no Capítulo 8, que trata da


ruptura do coração. Além disso, em casos de tamponamento cardíaco (sangue no saco
pericárdico em virtude de ruptura ou ferimento no coração) que autopsiei, em
nenhuma ocasião houve uma separação clara. E, mesmo que houvesse, o movimento
rápido de enfiar e retirar a lança teria provocado a imediata mistura das camadas
de fluido, particularmente se não tivesse ocorrido coagulação. Se a coagulação
ocorresse, não haveria fluxo sanguíneo ativo, e apenas um soro claro, rosado, iria
fluir. Esse efeito seria muito maior no saco pericárdico, por causa de sua pequena
capacidade. Além do mais, leva várias horas depois da morte para que o sangue se
separe em uma camada de soro e outra de sangue, e o golpe com a lança aparentemente
ocorreu logo após a morte.

HIPÓTESE 7 propõe uma aorta rompida, mas com a separação do sangue no saco
pericárdico em uma camada superior de soro e uma inferior contendo sangue. Isso
também não é aceitável, pela mesma razão apresentada para as hipóteses 4 a 6.

HIPÓTESE 8 indica que a lança perfurou o saco pericárdico contendo a efusão


pericárdica como resultado do açoitamento. Essa teoria também é inaceitável. Mesmo
uma efusão pós-traumática, medindo de 25 a 50 centímetros cúbicos, é muito pequena
em volume e seria imediatamente misturada com o sangue do átrio direito do coração
como conseqüência da ação perfurante da lança. Em vários casos de pericardite
traumática com efusão pleural, tentei remover o sangue do átrio direito com uma
longa agulha para nossa análise toxicológica rotineira através do saco pericárdico
fechado e notei que o fluido se tornou sanguinolento em questão de segundos após a
remoção da agulha. Não há meio de um

SANGUE, ÁGUA E O FIM DA TEORIA DO DESMAIO

fluido claro migrar do pericárdio para a parede torácica através do "túnel", como
indicado por Barbet, sem se misturar com sangue.

HIPÓTESE 9, proposta por Primrose, atribui o "fenômeno da água" ao fluido da


cavidade abdominal. Isso é contrário à imagem do ferimento do peito no Sudário e à
configuração do abdômen. Efusão anormal (fluido na cavidade abdominal) e perfuração
dos pequenos vasos na cavidade não são explicações plausíveis, porque se um pequeno
vaso fosse atingido, o sangue seria imediatamente misturado com a efusão abdominal
no momento em que se retirasse a lança, resultando num fluido rosa que certamente
não seria interpretado como sangue e água.

HIPÓTESE 10, proposta por Savio, atribui o fenômeno "sangue e água" à efusão
pleural hemorrágica que se separou em uma camada superior de soro e uma camada
inferior sanguinolenta. Se a lança penetrasse no peito em um cenário desses, o
fluido que emanaria quando ela fosse retirada seria claro ou rosado, não
propriamente sangue e água.

REMOVENDO A VÍTIMA DA CRUZ

A forma como o crucarius era removido da cruz é pura especulação, já que não existe
informação na literatura antiga. Mas a reconstituição baseada em fatores anatômicos
e mecânicos permite diversas possibilidades lógicas. Em primeiro lugar, se os
pregos atravessassem a madeira até a parte de trás da cruz, eles poderiam ser
facilmente removidos com algumas pancadas em sua extremidade. Uma corda seria
amarrada na cintura da vítima e acima da barra horizontal como apoio (lembre-se de
que durante a suspensão as costas ficam distantes da estaca). Então os pregos dos
pés seriam removidos com pancadas nas pontas utilizando-se um martelo, enquanto um
membro do quaternio segurava a corda. Outros membros do quaternio, simultaneamente,
removeriam os pregos das mãos. Como os pregos eram quadrados e

181

182

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

em forma de cunha, eles deviam se soltar facilmente. O crucarius seria então


descido ao chão, com ajuda das cordas, e com os pregos removidos dos pés e das
mãos. Outra possibilidade poderia ser retirar os pregos dos pés batendo nas pontas
com um martelo, como foi indicado, enquanto um membro do quaternio segurava o
crucarius pela cintura. Dois homens do quaternio, então, levantariam a barra
horizontal, tirando-a do encaixe, e deitariam o crucarius de bruços a fim de bater
nas pontas dos dois pregos para soltá-lo. Os pregos, então, seriam removidos das
mãos.

Em alguns casos o prego teria que ser arrancado da cruz, particularmente nas
situações em que o objeto não atravessasse a madeira. O prego descoberto no
calcanhar do homem na escavação Giv'at ha Mivtar tinha sido fixado na lateral da
estaca, de forma que a ponta do prego não atravessaria a madeira. O prego estava
curvado na ponta e ainda havia preso a ele um pedaço de madeira da cruz,
confirmando uma técnica de remoção com goiva ou cinzel.

No momento da remoção, o corpo estaria num estado de rigor mortis, com os braços e
pernas no mesmo ângulo assumido por último na cruz (veja discussão sobre rigor
mortis e quebra do rigor mortis no Capítulo 14 e a Figura 14-1).

JESUS MORREU NA CRUZ?

A literatura está inundada com alegações de que a Ressurreição de Jesus não ocorreu
porque Ele estava vivo quando foi descido da cruz, e apenas fingia que estava
morto. Esses argumentos receberam o termo Teoria do Desmaio, porque todas as
asserções compartilham o mesmo tema, ou seja, que Jesus não estava morto, mas em um
estado inconsciente ou em coma (induzido, para simular a morte) quando foi retirado
da cruz. Essa teoria compreende várias hipóteses que foram repetidamente refutadas
por experts em teologia e ciência, e em alguns casos os autores foram
escancaradamente apresentados como

SANGUE, ÁGUA E O FIM DA TEORIA DO DESMAJO

impostores. Algumas das hipóteses chegam ao cúmulo de afirmar que, seo Sudário é
autêntico, poder-se-ia dizer que o sangue, particularmente ao redor do ferimento
lateral, prova que Jesus estava vivo quando foi envolto no Sudário. Infelizmente,
como na lenda da fênix, a Teoria do Desmaio é reduzida a cinzas, mas ressurge de
tempos em tempos. Obviamente, uma parte do público contesta a Ressurreição de todas
as maneiras. Eles se recusam a desistir da teoria, pois sabem que a única maneira
de concluir isso seria provando que Jesus não morreu na cruz. Vários autores
perceberam isso e descobriram um nicho lucrativo, um campo fértil. Alguns dos mais
conhecidos e citados artigos e livros sobre a Teoria do Desmaio são discutidos
aqui. Alguns livros se tornaram best-sellers e fizeram fortunas para seus autores.

Antes de discutir as várias hipóteses, é importante apresentar as razões principais


que provam que Jesus morreu na cruz, sem usar evidências do Sudário. Em primeiro
lugar, uma análise forense da condição em que Jesus estava teria que incluir o
espancamento na casa do sumo sacerdote, o brutal açoitamento e o desenvolvimento da
efusão pleural, a cravação dos pés e mãos, a hematidrose, o estresse mental, a
severa desidratação, a jornada ao Calvário sob o sol quente e as seis horas na
cruz. Tudo isso indica que Ele se encontrava num estado grave de choque
hipovolêmico. Então, quando a lança penetrou o peito, a presença de sangue e água
foi condizente com a perfuração do átrio direito, que causaria morte rápida, porque
o coração bombearia sangue na cavidade torácica. Mesmo se a lança não atingisse o
coração, um pneumotórax (colapso do pulmão) iria ocorrer, já que a pressão no lado
de fora do peito é maior que a de dentro, causando o colapso do pulmão. O outro
pulmão se torna mais inflado, causando uma alteração nas estruturas do coração, e,
no estado físico em que se encontrava, Jesus teria sucumbido rapidamente. Se Ele
estivesse vivo depois do golpe com a lança, um som de sucção seria ouvido pelo
centurião, pelas pessoas que O tiraram da cruz e pelos espectadores. (Certa vez,
com os paramédicos, atendi ao chamado de uma
183

184

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

comunidade hippie em que um homem havia sido esfaqueado no peito durante uma briga
doméstica. O homem estava inconsciente, mas o som do ar sendo sugado para dentro do
peito através do sangue e outros fluidos corporais podia ser ouvido na sala.)
Pilatos também checou com o centurião para certificar-se de que Jesus estava morto
antes de liberar o corpo para José de Arimatéia (Marcos 15:43-45). Agora, se o
Sudário é autêntico, ele acabaria com todas as dúvidas, porque registra uma
inegável evidência de rigor mortis (veja o Capítulo 12). Além disso, se Jesus
estivesse fingindo estar morto por baixo da vestimenta, não haveria ritual
funerário, incluindo o ato de lavar o corpo, eo Sudário estaria saturado de sangue
oriundo das inúmeras lacerações e feridas, pois mesmo o menor machucado iria
sangrar profusamente enquanto o coração batesse.

AS TEORIAS DO DESMAIO

Karl Bahrdt

Karl Bahrdt propôs que Jesus era membro da sociedade secreta dos essênios, uma
seita ascética judaica que vivia perto do Mar Morto naquela época. Bahrdt alega que
Jesus era um impostor e que a Ressurreição nunca aconteceu. Em Ausführung des Plans
und Zwecks Jesu (1784-92), ele afirma que Jesus estava em coma ou sono profundo
assistido por São Lucas, o médico, que deu a Ele drogas para que aguentasse o
sofrimento da Crucificação, e Sua aparente Ressurreição foi um despertar do coma,
assistido por José de Arimatéia. Ele diz, então, que no terceiro dia, quando Jesus
retornou, Sua aparição assustou os vigias da tumba e Ele foi viver em reclusão com
os essênios. Admite-se que Jesus poderia ser um essênio, já que ele criticava os
saduceus e os fariseus, mas nunca os essênios. Bahrdt segue com inúmeras alegações
sem nenhuma base científica, histórica ou teológica. Segundo ele, a multiplicação
dos pães para alimentar o povo não foi milagre, mas tratava-se de um estoque

SANGUE, ÁGUA E O FIM DA TEORIA DO DESMAIO

de alimentos que estava escondido; Seu retorno da morte foi um despertar do coma ou
sono profundo; Seu andar sobre as águas deveuse a uma plataforma colocada sob a
superfície da água etc.

COMENTÁRIO: Toda a teoria de Bahrdt é baseada em ficção, sem nenhum fundamento


teológico, histórico ou científico. Não existe evidência de que São Lucas esteve na
crucificação. Na verdade, São Lucas, um gentio, foi convertido por São Paulo, e
Tertuliano afirmou que ele nunca foi um discípulo de Jesus, senão após Sua morte.
Além disso, naquela época não havia medicamentos capazes de deixar Jesus
inconsciente e livre das terríveis dores na condição em que se encontrava.

Karl Venturini

Na mesma época, Karl Venturini propôs uma versão similar à teoria de Bahrdt, mas um
pouco mais simples. Ele sugeriu que Jesus era membro de uma "sociedade secreta",
que queria que Ele fosse reconhecido como um Messias espiritual e não esperava que
Ele fosse crucificado. Um membro dessa sociedade, vestido de branco, ouviu lamentos
vindos da tumba, espantou os guardas e resgatou Jesus, que depois disso foi viver
em reclusão. Muitas outras hipóteses similares foram propostas.
COMENTÁRIO: Assim como a teoria de Bahrdt, essa versão é totalmente especulativa,
sem nenhum suporte teológico, histórico ou científico.

Heinrich Paulus

Em 1828, Heinrich Paulus propôs que pesados gases oriundos de um terremoto


(relatado em Mateus 27-51) causaram dificuldades respiratórias, deixando Jesus
inconsciente. Jesus foi tido como morto. Paulus sugere que Jesus apareceu perante
seus discípulos e sumiu numa nuvem nas montanhas.

185

186

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

COMENTÁRIO: A teoria de Paulus é forçada, sem nenhuma base científica, histórica ou


teológica.

Ahmadi

Em 1882, Hazrat Mirza Ghulam Ahmad, um paquistanês, fundou o Ahmadi (ou


Ahmadiyyas), um ramo islâmico não ortodoxo, na cidade de Lahore, no Paquistão.
Ahmad afirmava que Yuz Asaf, o profeta que supostamente seria Jesus, viveu e morreu
lá, e que Jesus não morreu na cruz, mas em Mohalla Khaniyar, em Srinagar, e que Sua
tumba, chamada Rauzabal, foi descoberta no final do século XIX. Os Ahmadi são
dedicados a desaprovar a Ressurreição do corpo e a Ascensão porque acreditam que,
se não o fizerem, sua fé e posição serão destruídas. Eles pregam que Jesus ficou
profundamente inconsciente na cruz, que a lança não atingiu o coração nem os
pulmões e que o fenômeno "sangue e água" foi uma indicação de que Jesus estava
vivo, que ele foi reanimado e assistido na tumba e que os essênios ajudaram-no a
escapar. Sua identificação dos essênios deriva da crença no fato de que os "dois
anjos de branco" citados em João 20:12 eram essênios, já que estes sempre se
vestiam de branco.

COMENTÁRIO: A alegação de que a lança não atingiu o coração nem os pulmões é


totalmente indefensável e baseada em mera especulação, já que era essencial
contestar a Ressurreição e Ascensão. É importante, porém, notar que o Alcorão diz
que Jesus não morreu nem foi crucificado, mas ascendeu aos Céus. Reporte-se ao
mecanismo do "fenômeno sangue e água", discutido anteriormente, para uma refutação
total. Se Ele não estava morto quando foi atingido pela lança, o "sangue e água"
significaria que o golpe acabou por matá-Lo. Além disso, nas condições em que Ele
se encontrava, mesmo que estivesse vivo, o golpe da lança teria resultado em um
colapso do pulmão, com uma alteração mediastinal causando ataque cardíaco e morte.
É importante entender que o exactor mortis e o quaternio eram especialistas em

SANGUE, ÁGUA E O FIM DA TEORIA DO DESMAIO

determinar a ocorrência da morte, já que participavam de milhares de crucificações.


O fenômeno "sangue e água" não é, de forma alguma, prova de que Jesus não morreu na
cruz. A identificação dos essênios com base na referência aos "dois anjos de
branco" em João 20:12 é implausível, porque se lermos sobre o mesmo incidente em
Mateus 28:2-3 ("Sua aparição foi como um raio") e Lucas 24:4 ("em vestes
resplandecentes"), é óbvio, pela descrição, que não se tratava de seres naturais. É
interessante que os ahmadis modernos citam o livro Life of the Holy Issa', de
Notovitch, embora tudo o que se refira a esse autor tenha se mostrado ser um grande
logro (veja no próximo parágrafo). Muçulmanos ortodoxos consideram apostasia os
argumentos de Ahmad, pois eles acreditam que Maomé foi o último mensageiro de Deus,
enquanto Ahmad afirmou que ele próprio foi escolhido para ser o reformador de Deus
e Messias para esta época. Além disso, os ahmadis negam o dom de profeta de Maomé,
que é um artigo de fé endossado pelo Alcorão. Muçulmanos conservadores rotularam os
ahmadis de hereges. Ahmad, supostamente, também afirmou ser o deus hindu Krishna,
considerado um falso deus pelo Alcorão. Também não é permitido aos ahmadis que
entrem em Meca para fazerem o obrigatório Haji (peregrinação a Meca que reúne os
muçulmanos de todas as raças e línguas).

Nicolas Notovitch

Parece que o mundo estava encapuzado em 1894, quando Nicolas Notovitch, um


correspondente de guerra russo, publicou um livro na França intitulado La Vie
Inconnue de Jésus-Christ". A publicação francesa foi imediatamente seguida por
traduções feitas para o alemão, o espanhol, o inglês e o italiano, e Notovitch
sacudiu o mundo com suas

"N. do T.: "Vida do Santo Issa".

"N. do T: "A Vida Incógnita de Jesus".

187

188

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

declarações. Segundo o escritor, depois de um acidente ele teria sido levado ao


monastério Himis Lama, no Tibete, e lá descobriu que os monges adoravam um profeta
chamado Issa, que na verdade era Jesus. Ele declarou que os adoradores
interpretaram inúmeros documentos - escritos na linguagem Pali, que supostamente
nunca foi usada no Tibete-sobre a "Vida de Issa". Notovitch ainda argumentou que os
documentos revelavam que Jesus tinha viajado ao Tibete quando era mais jovem (os
anos perdidos, a partir de Seus 13 anos) e se tornou versado em budismo e nos
ensinamentos de outras seitas religiosas. Os registros se referiam a um israelita
santo chamado Issa, que era conhecido como "o rei dos judeus" e que foi levado para
morrer por Pôncio Pilatos. O livro seguinte de Notovitch, The Life of The Holy
Issa, foi publicado na Europa e na América.

COMENTÁRIO: Max Mueller, de Oxford, um expert em literatura hindu, promoveu uma


grande controvérsia em um artigo escrito na revista The Nineteenth Century (36:515,
1894) ao mostrar várias inconsistências na teoria de Notovitch, e o professor
Archibald Douglas viajou ao monastério Himis e entrevistou o lama líder, que
informou nunca ter ouvido falar de Notovitch e que toda a história era falsa. O
encontro de Douglas com o tal lama foi testemunhado, certificado e selado. Só que,
em 1926, o livro de Notovitch foi revisitado com muita fanfarra, já que a essa
altura todos já tinham se esquecido de que era uma fraude.

Ernest B. Docker

Em 1920, Ernest B. Docker, um juiz, teorizou que Jesus estava num estado auto-
hipnótico que dava a impressão de morte, e ainda repudia as Escrituras afirmando
que o golpe com a lança aplicado pelo soldado pode nunca ter acontecido.

SANGUE, ÁGUA E O FIM DA TEORIA DO DESMAIO


COMENTÁRIO: Docker afirma que o golpe com a lança possivelmente não ocorreu, mas
não oferece nenhuma documentação válida para provar sua hipótese. É inacreditável
que Docker até indica que Jesus recebeu roupa de um "jardineiro" descrito em João
20:15, quando na verdade o tal "jardineiro" é especificamente identificado como o
próprio Jesus.

Robert Graves e Joshua Podro

Em 1957, tanto Robert Graves quanto Joshua Podro propuseram que Jesus estava em
coma na cruz, que a lança perfurou o peito, mas não os pulmões, e que o "fenômeno
sangue e água" indicou que Jesus não morreu. Eles também afirmam que, quando um
guarda O encontrou vivo durante sua tentativa de roubar os preciosos ungüentos do
Sudário, ele deixou que Jesus partisse. Jesus, então, apareceu aos Seus discípulos
e partiu para um esconderijo.

COMENTÁRIO: Toda essa história é totalmente especulativa, sem nenhuma documentação


que a suporte. Sua asserção de que o fenômeno "sangue e água" indica que Jesus
estava vivo é totalmente indefensável. O mecanismo do fenômeno "sangue e água" já
foi amplamente discutido antes, e, como foi notado, é uma indicação de morte, não
uma confirmação de que a vítima estava viva, como essa teoria indica.

Hans Naber

Em 1957, Hans Naber (ou Kurt Berna, John Reban) relatou no livro alemão Inquest on
Jesus Christ-Did He Die on the Cross? que Jesus não morreu na cruz. Sua tese foi
totalmente baseada nas imagens do sangue da testa e da ferida da lateral do corpo
mostradas no Sudário de Turim, alegando que o coração tinha que estar batendo para
que tais

do T: "Inquérito sobre Jesus - Ele Momeu Na Cruz?".

189

190

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

imagens fossem criadas, e se Jesus estivesse morto antes de ser levado, os


ferimentos teriam secado e não haveria nenhuma imagem. Ele acredita que os aloés e
a temperatura fria da tumba O reviveram.

COMENTÁRIO: Em primeiro lugar, a hipótese de Naber depende da autenticidade do


Sudário de Turim. Naber era garçom, sem nenhuma credencial científica, e, além
disso, é interessante que, de acordo com o dr. Karlheinz Dietz, Chefe de História
na Universidade de Würzburg, em dezembro de 1972, Naber foi condenado a dois anos
de prisão por "fraude consecutiva" (e-mail ao Grupo Yahoo de Ciência do Sudário,
datado de 11 de julho de 2003). Está claro que a credibilidade de Naber é
questionável.

Sua interpretação é incorreta do ponto de vista forense, já que as imagens de


sangue no Sudário de Turim são um reflexo do sangue que fluiu dos ferimentos depois
que o corpo foi lavado, de acordo com os rituais judaicos, e não se devem ao fato
de que o coração ainda estava batendo. Por exemplo, o ferimento no peito notado no
Sudário resultou em uma mistura de sangue e água, da densa efusão pleural
(resultado do brutal açoitamento) misturada com sangue proveniente do átrio direito
perfurado pela lança. Se a tese de Naber de que o coração estava batendo fosse
verdadeira, então haveria grandes quantidades de sangue no Sudário.
Eu investiguei mais de 25 mil mortes e fiz mais de 10 mil autópsias nos mais de 34
anos em que exerci o cargo de médico-legista chefe em Rockland County, Nova York, e
percebi que o sangue normalmente flui das feridas dos cadáveres, particularmente em
vítimas de morte violenta. Como foi discutido na seção intitulada "Avaliação das
Hipóteses", o sangue não coagulou na maioria das vítimas de morte violenta por
causa do aumento de certos fatores químicos no sangue denominados trombolisinas, as
quais têm a capacidade de dissolver coágulos. Além do mais, o sangue no peito e nas
costas que Naber atribuiu ao golpe da lança no coração teria certamente causado a
morte

SANGUE, ÁGUA E O FIM DA TEORIA DO DESMAID

de Jesus. O leitor também deve consultar a seção intitulada "O Homem do Sudário Foi
Lavado depois da Morte?", no Capítulo 14. Finalmente, minha avaliação do homem do
Sudário combina com a de outros patologistas forenses e gerais que estudaram a peça
- o rigor mortis estava presente (veja a seção "Quebrando o Rigor", no Capítulo
14).

J. D. M. Derrett

O livro de J. D. M. Derrett, The Anastasis: The Ressurrection of Jesus as an


Historical Event, escrito em 1982, supõe que Jesus entrou em um estado auto-
hipnótico ou em profundo desmaio, que a lança não perfurou Seu coração nem Seus
pulmões, que um guarda que foi checar um ruído na tumba O encontrou vivo, porém
moribundo, que Jesus então pediu a ele que enviasse uma mensagem a Seus discípulos
e que Ele morreu logo depois e foi cremado como a Ovelha Pascal pelos discípulos.

COMENTÁRIO: Isso também é como um conto de fadas, sem nada que substancie as
asserções. A morte de Jesus não dependia do fato de Seu coração ser perfurado.
Derrett ignorou por completo os inúmeros ferimentos que Jesus sofreu. De qualquer
modo, para concordar com o relato nas Escrituras do "fenômeno sangue e água", o
coração teria que ter sido perfurado.

Barbara Thiering

Em 1992, Barbara Thiering, em seu livro Jesus and the Riddle of the Dead Sea
Scrolls", usa sua própria interpretação dos Pergaminhos do Mar Morto e postula que
Jesus estava inconsciente na cruz, depois de ter ingerido veneno de cobra, e que
Ele arquitetou Sua fuga da tumba.

"N. do T: O Anastasis: A Ressurreição de Jesus Como Um Evento Histórico. O termo


anastasis equivale "levantar-se novamente".

"N. do T.: "Jesus e o Enigma dos Pergaminhos do Mar Morto".

191

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

COMENTÁRIO: Outra hipótese forçada e sem substância.

Holger Kersten e Elmar Gruber

Em 1992 e 1993, como Hans Naber, Holger Kersten, um professor, e Elmar Gruber, um
parapsicólogo, anunciaram que sua conclusão, baseada em intensos estudos sobre o
Sudário, mostrou que Jesus não morreu na cruz porque o sangue impresso no Sudário
prova que o coração ainda batia quando Ele foi embrulhado no tecido. Em seu popular
livro, The Jesus Conspiracy", eles atribuem isso a um plano que envolvia José de
Arimatéia, Nicodemos e o centurião, por meio do qual teriam drogado Jesus com ópio
depois de três horas na cruz, em seguida retirando-O e levando-Oà tumba. Eles
tentaram reforçar a tese dizendo que Jesus teria ficado só três horas na cruz,
quando outros homens crucificados da mesma maneira permaneciam vivos por horas e
até mesmo dias. Eles sugerem que aloé e mirra foram colocados no corpo enquanto Ele
estava sendo embrulhado, para curar Seus ferimentos. Afirmam que Jesus foi levado
pelos essênios. Já que a autenticidade do Sudário é exigida (sine qua non) para que
a teoria funcione, eles fazem uma revisão completa da literatura a respeito do
Sudário e declaram que a datação por carbono foi forjada pela Igreja, que teria
substituído amostras do século XIII pela datação de carbono em 1988. Eles tentam
explicar o mecanismo da formação da imagem no Sudário dizendo que ungüentos herbais
aplicados no corpo se misturaram ao suor na vestimenta e assim foi criada uma
imagem de contato.

COMENTÁRIO: Essa hipótese, assim como a de Naber, que já foi descrita, é baseada na
autenticidade do Sudário. Os mesmos argumentos que utilizei para refutar a hipótese
de Naber podem ser usados para

"N. do T.: publicado no Brasil sob o titulo A Conspiração Jesus, pela editora Best
Seller.

192

SANGUE, ÁGUA E O FIM DA TEORIA DO DESMAIO

desmentir as hipóteses de Kersten e Gruber em relação às suas descobertas


referentes ao Sudário. Com que propósito José de Arimatéia, Nicodemos e o centurião
iriam drogar Jesus para fazer que ele parecesse estar morto? Aloé e mirra têm um
pequeno efeito antiséptico e analgésico, mas não teriam nenhum valor se
considerarmos a gravidade do estado de Jesus. A teoria deles sobre a formação da
imagem no Sudário, afirmando que ungüentos herbais aplicados no corpo misturados ao
suor na vestimenta criaram uma "imagem de contato", foi demolida por Adler em 1999.
Adler indicou que já que a técnica era um mecanismo de contato, ela iria falhar no
teste VP-3, e declarou: "Não existe evidência microscópica, química ou
espectroscópica de manchas herbais." Os argumentos usados aqui e em outras
hipóteses, de que seria incomum uma pessoa ficar na cruz somente por três horas e
morrer nesse "curto" período de tempo, de que mesmo os dois ladrões não estavam
mortos e foram abaixados nessa hora, e que muitos permanecem na cruz por dias, não
são válidos. Em primeiro lugar, há um debate sobre essa parte das Escrituras, mas
muitos concordam em que Jesus ficou na cruz por aproximadamente seis horas. Em
segundo lugar, o tempo em que a vítima permanece na cruz depende de vários fatores,
incluindo a natureza dos ferimentos sofridos antes da suspensão; a condição física
da vítima; se o sedile foi usado; se os pés e mãos foram amarrados, pregados ou
ambos; se o crucarius foi açoitado etc. Depois de uma ampla análise forense,
concluí que a extensão e a natureza do brutal açoitamento no caso de Jesus foram a
causa de ter Ele morrido tão cedo (consulte o Capítulo 2), e que de fato Ele já
poderia estar morto depois de três horas.

Karl Herbst

Karl Herbst, um ex-padre católico que acreditava que Deus não permitiria que Seu
filho morresse e que dizia que a datação por carbono de 1988 estava errada,
publicou um livro chamado Kriminalfall Golgotha para mostrar que Jesus não morreu
na cruz. De acordo com o

193
194

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

professor Karl Heinz Dietz, da Universidade de Würzberg, Herbst consultou o


professor Wolfgang Bonte, chefe de Medicina Forense da Universidade de Düsseldorf,
supostamente para tratar de um caso criminal. No final, a avaliação de Bonte apoiou
as hipóteses de Herbst de que o homem debaixo da mortalha estava vivo, e escreveu
um dossiê sobre o caso. No fim das contas, essas conclusões foram baseadas em uma
informação incorreta fornecida por Herbst a Bonte, na qual a descrição do ferimento
lateral foi particularmente distorcida. Embora Herbst tenha declarado que Bonte não
sabia que estava lidando com o Sudário, a correspondência entre os dois (uma cópia
foi enviada a Dietz) indicou que isso não era verdade e que Bonte escondeu o fato.
Herbst também admitiu ao professor Dietz em uma carta que a informação dada a Bonte
estava incorreta e informou que iria mudar tudo num livro subseqüente, que nunca
foi publicado. É interessante saber que Kersten e Gruber usaram em seu livro a
opinião de Bonte, a qual eles obtiveram por meio de Herbst, e não do próprio Bonte.
O professor Dietz questionou Bonte em duas ocasiões (8/12/92 e 28/12/92) se ele
sabia que estava escrevendo sobre o Sudário, mas não obteve resposta.

COMENTÁRIO: Quando ocupava o cargo de chefe de Medicina Forense, Bonte escreveu um


dossiê sobre o Sudário baseado somente nas descrições erróneas que obteve de
Herbst. Este, por sua vez, admitiu em uma carta ao professor Karl Heinz Dietz que
os dados fornecidos a Bonte estavam incorretos e que iria corrigir a falsa
informação em um livro, o qual nunca foi publicado. É interessante saber que
Kersten e Gruber usaram em seu livro a opinião de Bonte, a qual eles obtiveram de
Herbst, e não diretamente de Bonte.

SANGUE, ÁGUA E O FIM DA TEORIA DO DESMAIO

Rodney Hoare

Rodney Hoare, que morreu em 1997, era presidente da Sociedade Britânica para o
Sudário de Turim e um ávido entusiasta de sua autenticidade. Porém, ele
aparentemente desviou-se da rota e seguiu a escola de Hans Naber, que prega que
Jesus estava vivo debaixo do Sudário. Em seu livro publicado em 1984, A Piece of
Cloth, The Turin Shroud Investigated", Hoare indica que consultou os Cientistas
Forenses do Leste Britânico, baseados em Nottingham, que estudaram as fotografias
do Sudário e concluíram que o homem se encontrava em coma profundo, não morto. Como
a penetração das "manchas" por toda a extensão da parte de trás e da frente é
razoavelmente constante, eles concluíram que a temperatura do corpo era uniforme,
uma condição que só poderia estar presente se o sangue ainda estivesse circulando e
o coração batendo. Além disso, em resposta aos efeitos do ferimento produzido pela
lança, os cientistas forenses supostamente informaram a Hoare que se alguém
colocasse o dedo no local onde teria ocorrido o ferimento, e levantasse o braço, o
local estaria muito alto para que ocorresse graves danos, já que a lança teria
entrado mais embaixo. Em seu livro de 1995, intitulado The Turin Shroud is
Genuine**, Hoare relata a seguinte discussão com seus cientistas forenses:

Depois de um tempo, eu disse: "E quanto ao ferimento no peito?" "Teria havido pouco
dano. Coloque sua mão no ponto em que a lança penetrou, como na fotografia do
Sudário, e levante os braços para os lados na posição de crucificação; veja que
seria muito alto para que acontecesse algo grave, já que o ferimento veio de baixo.
Teria sangrado, como podemos ver, e poderia ter possibilitado o acúmulo de água
entre o pulmão e a cavidade ao mesmo tempo. Essa água, a efusão pleural, teria se
formado quando o corpo foi açoitado. O pulmão teria
"N. do T.: "Um Pedaço de Pano, o Sudário de Turim Investigado".

**N. do T: "O Sudário de Turim é Autêntico".

195

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

sido forçado para trás, mas mesmo se a arma tivesse penetrado os pulmões, eles
podem localizar o ferimento: Então eu perguntei: "Se o ferimento no peito não foi
fatal, qual foi a causa da morte desse homem?: Eles discutiram isso por uns 30
minutos até chegarem a um consenso, que foi o seguinte: se ele tivesse vivido antes
do século XVII, estaria morto. Talvez ele se encontrasse inconsciente na cruz,
respirando muito mal, então, para os espectadores, ele estaria morto. Era isso que
eles esperavam. Depois de Harvey, eles teriam tomado seu pulso, que se encontraria
quase sem batimento. Se ele tivesse vivido no século XX, teria sido atestado que
estava em coma. (Hoare, 1984)

Hoare também relata que a "notável escuridão ao redor da área do nariz no Sudário
pode ser explicada pela exalação mínima de ar quente", mas surpreendeu-se ao
observar que as áreas do cabelo e da barba também estavam escuras, já que seriam
mais frescas. Mas isso não o deteve. Ele meramente sugeriu que um segundo fator, a
concentração de um agente que se desenvolveu, foi o responsável pela escuridão nas
áreas da barbae do cabelo. Ele pareceu ligado à teoria da Vaporografia de Vignon.
Veja o Capítulo 16 para uma discussão mais detalhada sobre Vignon.

COMENTÁRIO: Tenho muitas reservas quanto às teorias de Hoare. Em primeiro lugar,


ele não tem as credenciais adequadas para reconstruir os mecanismos e a causa da
morte, e também não possui o treinamento científico para comentar e/ou avaliar os
aspectos médicos e científicos referentes à pesquisa do Sudário. Há muitos erros e
suposições equivocadas em seus livros que nem valem a pena ser discutidos, e os
nomes e credenciais de seus supostos experts nunca foram revelados, algo contrário
à ciência legítima. Vários pesquisadores do Sudário, incluindo eu mesmo, tentaram
achar os tais Cientistas Forenses do Leste Britânico, em Nottingham, e o elusivo
sr. Norman Lee, sem sucesso. Eu até consultei Ian Wilson, que me informou nunca ter
conseguido descobrir a identidade dos consultores de Hoare em Nottingham.

196

SANGUE, ÁGUA E O FIM DA TEORIA DO DESMAIO

Wilson também me disse que o professor Taffy Cameron, chefe de medicina forense do
Hospital de Londres, refutou totalmente a alegação de Hoare de que o homem no
Sudário não estava morto.

Já que o mecanismo e as condições para a formação da imagem ainda são


desconhecidos, elusivos e altamente especulativos, apresentar uma opinião
definitiva sobre a presença da morte com base nisso é contrário aos preceitos das
ciências forenses e da patologia forense. Nesse ponto, não temos idéia de quais
efeitos a temperatura do corpo poderia ter tido sobre a formação da imagem no
Sudário. Além disso, eu não acredito na teoria de que o golpe com a lança teria
sido muito alto para danificar qualquer coisa na área do peito. Ostais Cientistas
Forenses do Leste Britânico tentaram demonstrar isso fazendo alguém colocar o dedo
no peito no local correspondente ao ferimento observado no Sudário, estando de pé,
e em seguida essa pessoa levantava o braço acima da cabeça, para mostrar que o dedo
(e assim o ferimento) estaria num nível mais alto. Em primeiro lugar, isso não tem
relação com a verdadeira suspensão, porque a posição do ferimento no peito quando
os braços são colocados acima da cabeça quando a pessoa está de pé é diferente da
posição em que a pessoa está com os braços suspensos na cruz. Nas inúmeras
experiências de suspensão que observei ao longo dos anos, o torso fica numa posição
mais baixa em razão do esticamento do corpo. Porém, mais importante, em minha
opinião e na de muitos outros patologistas forenses que examinaram o Sudário, o
corpo estava em rigor mortis quando foi colocado no tecido, impedindo qualquer
mudança na posição do ferimento desde quando ocorreu a penetração da lança. Quebrar
o rigor dos braços para abaixá-los não faria a área do ferimento no peito se
rebaixar, porque isso não afetaria o rigor na parede do tórax e nos músculos de
ligação do pescoço.

Uma consideração mais importante é o ângulo do ferimento produzido pela lança, que
depende de vários fatores, como quão alto o crucarius foi suspenso do chão, a
altura do soldado que empunhou a lança, o local onde o soldado estava (uma colina,
um monte etc.), o comprimento do cabo da lança, como a arma estava sendo segurada

197

198

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

durante o golpe etc. Helmut Felzman, da Alemanha, tentou apoiar as teorias de Hoare
com a ridícula declaração de que a área nas costas da figura da medalha dos
peregrinos de 1357, de Lirey, descoberta no rio Sena em 1855 (atualmente encontra-
se no Museu Cluny), representava uma grande quantidade de sangue no Sudário. Nenhum
cientista iria concluir que o corpo estava vivo simplesmente olhando para uma
medalha de peregrino (Figura 13-3). Os numerosos erros encontrados no livro de
Hoare são, às vezes, ostensivos, revelando pesquisa descuidada. Eis aqui um exemplo
inacreditável, encontrado na página 63 de seu livro A Piece of Cloth", de 1984:

Barbet colocou voluntários em cruzes amarrando seus pés e mãos na madeira para
observar o que acontecia. Cada voluntário achou que seu peito se encontrava
totalmente expandido quando seu peso foi suportado pelos braços, sem possibilidade
de expirar. Nessa posição, eles começaram a sufocar lentamente, e câibras, que
começaram nos braços, se espalharam por seu tronco e pernas. Como eles não podiam
inalar nem soltar o ar, o oxigênio em seu sangue diminuiu e eles poderiam morrer
asfixiados em questão de minutos. A única forma em que o voluntário poderia
permanecer vivo seria se ele forçasse os pés para aliviar a pressão nas mãos e
braços, conseguindo, assim, inspirar e expirar rapidamente, antes que entrasse em
colapso devido à exaustão. Eventualmente, num curto espaço de tempo, o cansaço
impediria o voluntário de pressionar os pés, e assim ele morreria asfixiado se não
fosse solto a tempo.

A referência de Hoare para isso é Humber, The Fifth Gospel", 1974, página 125.
Apesar de Humber se referir ao trabalho de Barbet, ele não faz menção alguma a
experiências com seres vivos nessa página,

"N. do T: "Um Pedaço de Pano".

N. do T: "O Quinto Evangelho".

SANGUE, ÁGUA E O FIM DA TEORIA DO DESMAIO

nem em qualquer outro lugar do livro. Eu estudei, ao longo dos anos, toda a
literatura referente ao trabalho de Barbet, e não tenho conhecimento de nenhuma
experiência que ele tenha conduzido com seres vivos.

Hugh J. Schoenfield

The Passover Plot: A New Interpretation of the Life and Death of Jesus" (Element
Books Ltd., 1994) foi um best-seller escrito por Hugh J. Schoenfield, com uma nova
interpretação: segundo a obra, Jesus acreditava ser o Messias e deliberadamente
procedeu de forma a cumprir as profecias do Velho Testamento - e para isso chegou a
"fabricar" sua própria crucificação, arrumando alguém para Lhe dar drogas de forma
que parecesse estar morto e, depois, Ele teria sido removido da cruz e levado à
tumba para ser revivido. Resumindo, Jesus é descrito como um charlatão que planejou
toda a Paixão, incluindo a Ressurreição, mas tudo deu errado quando Ele foi
esfaqueado acidentalmente na cruz por um soldado romano, e sobreviveu apenas o
tempo suficiente para instruir Seus seguidores.

Comentário: O livro de Schoenfield é outra versão distorcida, sem comprovação


alguma, da Teoria do Desmaio, repleto de questões não respondidas. Por exemplo,
como Schoenfield explica o fato de Tomé ter colocado suas mãos nas feridas de
Jesus, e, se isso fosse parte do plano, por que Tomé iria pregar o Evangelho na
Índia, onde morreu como mártir? Como ele explica a passagem da primeira carta de
Paulo aos Coríntios (I Cor. 15:5-8), que relata que Jesus foi visto no terceiro dia
após Sua morte por Cefas, pelos doze apóstolos e por mais de 500 pessoas ao mesmo
tempo? E como Jesus teria ludibriado tantas pessoas, tendo tantas testemunhas de
Sua Crucificação e a vasta disseminação do Cristianismo?

"N. do T: "O Plano do Cordeiro Pascal: Uma Nova Interpretação da Vida e da Morte de
Jesus"

199

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

200

Kjell Ytrehus

Essa mais recente teoria, publicada em 2002 por um médico norueguês, Kjell Ytrehus,
reza que Jesus aparentava estar morto, mas na verdade se encontrava em profundo
coma por causa da hipotermia (baixa temperatura do corpo). Usando uma informação a
priori, Ytrehus especula que Jerusalém fica a 500 metros acima do nível do mar, e
que "numa quinta-feira à noite, no ano 33, estava tão frio que os servos do supremo
sacerdote tiveram que fazer uma fogueira no pátio do jardim para se manterem
aquecidos. No dia posterior à sexta-feira em que Jesus foi crucificado, o tempo
estava horrível... Muitos apontam que no dia em que Jesus foi crucificado o tempo
deveria estar particularmente ruim e que estava frio para permanecer suspenso, nu,
por horas na cruz fincada nas alturas desimpedidas do Gólgota". Ele tenta, então,
apoiar isso com a mesma "lorota" de que Jesus estava na cruz por apenas seis horas,
que a crucificação pode durar dias e que os dois ladrões ainda estavam vivos e
tiveram seus ossos quebrados. E indicou que Jesus já se encontrava em péssimas
condições por causa dos ferimentos, do ato de carregar a cruz, do sono e da fome;
por isso, Ele se tornou "uma provável vítima de resfriamento". Ele tenta apoiar
essa tese alegando que Jesus não foi enterrado profundamente no chão, mas colocado
numa caverna, e que Pôncio Pilatos provavelmente aceitou um pequeno suborno para
deixar Jesus sair vivo da cruz.

COMENTÁRIO: Essa tese não tem substância, é baseada em especulação a priori, e


repleta de suposições exageradas. Por exemplo, sua declaração de que estava tão
frio que os servos do sacerdote tiveram que fazer uma fogueira no jardim é
obviamente retirada de Lucas 22:55: "E, tendo eles acendido fogo no meio do pátio,
estando todos sentados, assentou-se Pedro entre eles." Isso, porém, não pode ser
aplicado ao momento em que Jesus foi crucificado, já que essa passagem se refere

SANGUE, ÁGUA E O FIM DA TEORIA DO DESMAIO

ao anoitecer, não a uma tarde em Jerusalém. Em resposta à minha questão sobre a


temperatura na hora da Crucificação, postada no Grupo Yahoo de Ciência do Sudário,
no dia 16 de julho de 2003, Giulio Fanti relatou:

O ambiente de Jerusalém apresenta uma temperatura média de +1°C no inverno e +33°C


no verão, com excursões diárias de +/- 7,5°C. Acho que você pode presumir uma
temperatura média de +17°C +/- 5°C em abril (+5°C em caso de sol; -5°C em caso de
chuva). Considerando que estamos interessados na temperatura ambiente no começo da
tarde, você pode acrescentar cerca de +7°C.

Isso nos indicaria uma temperatura média de 19°C (66°F) a 22°C (93°F). Ytrehus
aponta que a temperatura do corpo de Jesus estava bem abaixo dos 25 °C (77°F), e
que uma pessoa com essa temperatura poderia parecer sem vida. Ele fala, ainda, que
foram reportados casos de pessoas com esse grau de hipotermia que foram revividas
ou que voltaram espontaneamente à vida. É verdade que existem casos raros de
ressuscitação em certos indivíduos usando técnicas ultramodernas e sofisticadas,
mas não em pessoas que apresentassem choque hipovolêmico e traumático, pneumotórax,
efusão pleural e perfuração do átrio direito do coração, e com certeza não
espontaneamente. Um caso de ressuscitação espontânea seria menos plausível. Se
estivesse chovendo e ventando, Jesus poderia sofrer um certo nível de hipotermia em
razão de seus ferimentos e de sua nudez, mas isso é apenas uma grosseira
especulação na tentativa de corroborar a hipótese de Ytrehus. Ele tenta apoiar sua
tese desconsiderando o ferimento com a lança, porque "gente morta não sangra", e
então diz que não houve perfuração no peito, atribuindo o sangue no Sudário a uma
bolha de sangue no local. Essa hipótese, porém, não considera o componente água no
"fenômeno sangue e água". Cheque a hipótese 11 na seção intitulada Sangue e Água.
Como foi apontado, o sangue e a água são facilmente explicados pela retirada da
lança; água por causa da maciça efusão pleural, e sangue resultante da penetração
no átrio direito.

201

202

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln

Os dois best-sellers desses autores, O Santo Graalea Linhagem Sagrada e sua


seqüência O Legado Messianico", têm sido largamente citados para apoiar o conceito
de que Jesus não morreu na cruz. O Santo Graalea Linhagem Sagrada diz que Jesus
fingiu Sua crucificação, casou-se com Maria Madalena, gerou uma família de várias
crianças e se mudou para o sul da França, onde sua suposta descendência merovíngia
existe até hoje. O livro mais se assemelha a uma novela de mistério, e também
envolve cavaleiros templários e o Priorado de Sião, uma sociedade altamente secreta
cujos membros seriam os supostos guardiães do Santo Graal.

COMENTÁRIO: Esses livros são mencionados aqui só para mostrar que se trata de obras
de ficção, e não oferecem argumento crível de que Jesus não morreu na cruz. Há, na
verdade, um desrespeito à fidedignidade histórica dos Evangelhos nessas obras, e
muito do material mostra-se contrário aos preceitos do Cristianismo. O Legado
Messianico é mais ou menos uma continuação de O Santo Graalea Linhagem Sagrada.

Dan Brown

O Código Da Vinci liderou a lista de best-sellers por um bom tempo e vendeu mais de
3 milhões de exemplares. O livro indica que Jesus morreu na cruz, mas havia se
casado com Maria Madalena, que estava grávida na época. Eu incluí o livro por sua
similaridade com O Santo Graalea Linhagem Sagrada e O Legado Messianico no que se
refere ao casamento de Jesus com Maria Madalena e Sua mudança para a França,
estabelecendo a família real merovingia. O Código da Vinci refere-se a mensagens
crípticas que foram supostamente incorporadas por Leonardo da Vinci (um suposto
membro da sociedade secreta

*N. do T.: Ambos editados pela Nova Fronteira.

SANGUE, ÁGUA E O FIM DA TEORIA DO DESMAIO

conhecida como Priorado de Sião) em suas pinturas, como A Santa Ceia. Uma parte
importante do código alega que Maria Madalena, e não João, está presente na
representação da Santa Ceia feita por Da Vinci. Brown indica que o Santo Graal não
é um vaso no sentido material, e desenvolve uma nova interpretação para o Graal.
Ele sugere que Maria Madalena possuía sangue real da Casa de Benjamim e que ela
era, na verdade, o Santo Graal-o vaso referido como o "sagrado feminino" que
carregou os filhos de Jesus-e que seria a sucessora de Jesus, e não Pedro. Brown
também cita informações de vários livros, incluindo O Santo Graalea Linhagem
Sagrada, de Baigent, Leighe Lincoln; Maria Madalena e o Santo Graal: A Mulher do
Vaso de Alabastro*e The Goddess in the Gospels Redaiming the Sacred Feminine**, de
Margaret Starbird; e mesmo A Revelação dos Templários: os Guardiães Secretos da
Verdadeira Identidade de Cristo ***, de Picknett e Prince. Existem muitos outros
aspectos ficcionais no livro.

COMENTÁRIO: Embora no relato de Brown Jesus tenha morrido na cruz, seu livro é
citado aqui somente para mostrar que ele é essencialmente ficcional e contém
inúmeras falácias, erros e inconsistências não apoiadas por evidências históricas
ou relativas às Escrituras

Mandrágora e outras drogas

Durante a temporada da Páscoa de 2002, a British Broadcasting Company (BBC) lançou


a série "O Filho do Homem", e o Discovery Channel exibiu o mesmo programa com
ligeiras modificações, sob o título "Jesus, o Homem". A série incluía um episódio
em que a curadora

"N. do T.: publicado pela Editora Sextante.

**N. do T: "A Deusa nos Evangelhos: Reclamando o Sagrado Feminino", sem tradução no
Brasil. ***N. do T.: Publicado pela Editora Planeta do Brasil, 2006.

203

204

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

do Chelsea Physick Garden de Londres postulava que a esponja contendo a posca (uma
bebida não alcoólica ingerida pelos soldados romanos) que foi servida a Jesus na
cruz estaria misturada com a planta mandrágora, levando-O a um sono profundo ou a
um estado de transe, dando a todos a impressão de que Ele havia morrido na cruz.
Ela baseou sua teoria em relatos sobre o uso da mandrágora como anestésico no
século I, por Dioscórides, um médico do exército, botânico e Pai da Matéria Médica
da Ásia Menor, que viajou com os exércitos grego e romano.

COMENTÁRIO: A planta mandrágora, Mandragora officinarum, também conhecida, nos


Estados Unidos, como "maçã do diabo", "maçã de Sata" e "raiz de feiticeiro", possui
uma história ubíqua de usos, incluindo magia negra, amuleto amoroso, cura para
hidrofobia, reumatismo e epilepsia; e, ainda, como emético, afrodisíaco, anti-
séptico, analgésico, poção do sono ou para prevenir doença motora. Seu uso data de
antes de Cristo. Os ingredientes ativos incluem hioscina, conhecida na medicina
como escopolamina; hiosciamina e um alcalóide conhecido com mandragorina. Pequenas
doses diminuem a taxa cardíaca; doses maiores têm o efeito contrário. Altas doses
também podem causar sonolência, arritmia, paralisia muscular, agitação, fadiga,
confusão, tontura, alucinações, delírio, pupilas dilatadas, vermelhidão da pele, e
podem facilmente provocar a morte por paralisia respiratória. A forma purificada do
componente escopolamina tem sido usada na medicina moderna por anestesistas como
pré-medicação, em virtude de seus efeitos sedativos e para prevenir que o coração
se torne mais lento por causa dos anestésicos. Ela é normalmente combinada a um
narcótico antes de seu uso como anestésico principal. Porém, muitos anestesistas
abandonaram seu uso como pré-medicação em razão de seus efeitos adversos. Embora
tenha efeitos sedativos, essa substância não é propriamente anestésica, portanto,
também não é um narcótico.

SANGUE, ÁGUA E O FIM DA TEORIA DO DESMAIO

É importante entender que, embora a mandrágora e outras drogas como o ópio tenham
sido usadas como sedativo e analgésico por médicos pioneiros como Dioscórides e por
cirurgiões nos primeiros séculos, contra a dor, para induzir o sono e, em altas
doses, para aliviar ador e sedar pacientes antes de um procedimento cirúrgico, os
efeitos dessas drogas comparados aos dos narcóticos modernos eram relativamente
brandos. Até a Idade Média, esponjas contendo componentes de mandrágora, ópio e um
sem-número de outras plantas medicinais eram posicionadas nas narinas dos pacientes
durante as cirurgias. Porém, evidências mostram que mesmo os principais cirurgiões
da época duvidavam de sua eficiência, porque eles amarravam seus pacientes antes da
cirurgia. Em vista desses fatos, uma pergunta deve ser formulada: "Será que um
preparado de mandrágora dado a Jesus na cruz seria capaz de deixá-Lo inconsciente a
ponto de todos acharem que Ele estaria morto?" A resposta é "de jeito nenhum!".
Jesus foi vítima das dores mais terríveis que um homem poderia sofrer. A hioscina e
a hiosciamina contidas na mandrágora não aliviariam esse grau de dor, especialmente
com o peso do corpo sendo sustentado pelos pregos. A extensão e o grau da dor
teriam tornado o corpo de Jesus imune aos efeitos sedativos da mandrágora. Altas
doses de um preparado com a planta anulariam os efeitos sedativos, aumentando a
agitação e a confusão, e poderiam ser letais, considerando o grau de choque que
Jesus estava experimentando (veja o Capítulo 9). Essa teoria da mandrágora é
totalmente implausível, dada a magnitude da dor e do sofrimento de Jesus. Em minha
opinião, se tivessem dado mandrágora a Jesus, em vez de aliviar Sua dor ou levá-Lo
a um estado de sono profundo ou coma, ela apressaria Sua morte.

Falando hipoteticamente, se por um estranho evento Jesus tivesse sobrevivido à


crucificação e não tivesse sido golpeado pela lança, ainda haveria problemas com a
teoria da mandrágora. Quando Maria Madalena foi até a tumba, Jesus estava de pé. Na
mesma tarde, Ele apareceu perante os discípulos, ressurgiu de novo oito dias depois
e

205
206

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

novamente no Mar de Tibério. Ele andou com dois discípulos pela estrada de Emaús
(cerca de 11 quilômetros de Jerusalém). Seria impossível caminhar nas péssimas
condições físicas em que Jesus se encontrava (veja os Capítulos 1 a 4). Além dos
ferimentos sofridos antes da cravação na cruz, a penetração dos pregos de 12
centímetros de comprimento em seus pés teria provocado inchaço e indescritivel dor,
com os efeitos se manifestando na primeira hora e aumentando progressivamente. Nos
próximos dois dias, os pés teriam inchado tremendamente e estariam tão
infeccionados que não haveria chance de cura por meio de nenhum tipo de terapia.
Jesus não poderia ficar de pé nem andar por pelo menos um mês, se não mais.

AVALIAÇÃO FORENSE DA TEORIA DO DESMAIO

No geral, a Teoria do Desmaio é completamente infundada e pode ser refutada pelos


seguintes fatores: em primeiro lugar, a condição física de Jesus era grave. A
extensão e gravidade de Seus ferimentos indicam que Ele não teria sobrevivido à
crucificação. Em segundo lugar, nenhum medicamento ou droga daquela época seria
capaz de cessar as excruciantes dores que Jesus experimentava, e nenhuma dessas
drogas poderia colocá-Lo em sono profundo para que Ele fingisse estar morto, devido
a Suas condições. Além disso, as Escrituras dizem que Jesus apareceu perante Maria
Madalena e Seus discípulos várias vezes e caminhou com dois deles na estrada para
Emaús. Isto não teria sido possível, por causa da condição deteriorada de Seus pés.
Levaria um mês ou mais para que Seus pés inchados e infeccionados sarassem, de
forma que Ele pudesse caminhar ou mesmo ficar de pé.

Os autores que usaram o Sudário como evidência de que Jesus estava vivo depois de
Sua remoção da cruz eram ignorantes ou desprezaram elementos médicos e científicos
que evidenciamo contrário. Além disso, a presença de rigor mortis, percebido no
Sudário e reconhecido por renomados patologistas forenses e gerais, atesta isso.

SANGUE, ÁGUA E O FIM DA TEORIA DO DESMAIO

Finalmente, devemos perguntar: por que os discípulos iriam adorar Jesus se Ele
tivesse aplicado um golpe? Se Jesus fosse um farsante que acreditava ser o Messias,
seria razoável que Ele Se permitisse ser crucificado. Mas este teria sido o fim-
caso encerrado. A principal questão aqui parece ser esta: se Jesus não morreu na
cruz e apareceu diante de Seus discípulos gravemente machucado e necessitando de
cuidados médicos, teriam eles colocado suas vidas em perigo proclamando que Ele era
o Messias? Teriam abandonado suas posses e passado por terríveis privações e
perigos para pregar ao mundo o sofrimento de Jesus, Sua morte e Ressurreição? Eu
creio que não. Esse fato é corroborado pela resposta de Pedro àqueles que ficaram
maravilhados e surpresos quando ele curou o homem que era coxo de nascença. Pedro
declara:

Homens de Israel, por que vos admirais deste homem? Ou, por que fitais os olhos em
nós, como se por nosso próprio poder ou piedade o tivéssemos feito andar? O Deus de
Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a Seu servo Jesus, a
quem vós entregastes e perante a face de Pilatos negastes, quando este havia decido
soltá-lo. Mas vós negastes o Santo e Justo, e pedistes que se vos desse um
homicida; e matastes o Autor da Vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do
que nós somos testemunhas. (Atos 3:12- 15)

Para concluir, devo concordar com os sentimentos de D. F. Strauss, expressos em seu


livro New Life of Jesus", escrito em 1865:
É impossível que um ser, que tivesse sido roubado semimorto do sepulcro,
rastejando, fraco e doente, necessitando de tratamento médico, que requeria
bandagens, apoio e indulgência e que ainda sucumbia a seus sofrimentos, pudesse ter
dado aos discípulos a impressão de que era vitorioso sobre a morte e a cova, o
Príncipe da Vida: uma impressão que permaneceu como fundamento do futuro ministério
deles.

"N. do T.: "A Nova Vida de Jesus".

207

NTR

Parte 2:

UM MÉDICO-LEGISTA EXAMINA O SUDÁRIO

{11} INTRODUÇÃO AO SUDÁRIO DE TURIM

A ciência é definida por uma busca cuidadosa, disciplinada e lógica de conhecimento


em todos e quaisquer aspectos do universo, obtido por meio do exame da melhor
evidência disponível e sempre sujeito a correção e melhorias depois da descoberta
de melhores evidências. O que sobra é mágica. E isso não funciona. James Randi

N ão existe dúvida de que as pessoas envolvidas com o Sudário querem que ele seja a
mortalha de Jesus e de que outros se dedicam a provar que ele é uma fraude.
Infelizmente, os estudos sobre o Sudário têm sido uma bagunça ao longo dos séculos
XX e XXI. A literatura a respeito é inundada por artigos de experts que escrevem
dentro e fora de suas áreas de conhecimento, diletantes sem nenhuma credencial
escrevendo sobre áreas que requerem conhecimento específico, jornalistas
papagaiando o que outros já disseram etc. Além disso, nunca houve um sistema
organizado de avaliação do material existente. Como conseqüência, muitas alegações
baseadas em boatos usadas como base para apoiar a autenticidade

212

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

vêm sendo repetidas, ad infinitum, em livros, revistas, livretos, documentários


televisivos etc., até que se tornaram aceitas e propagadas pela "turma do Sudário"
não como especulação, mas como fatos definitivos usados para provar a
autenticidade. Eu recomendo Isabel Piczek, renomada artista e fisica, que também
compartilhou esse pensamento quando escreveu, em 1996: "Talvez a mais repetida
viagem ao País das Maravilhas aconteça quando experts, notáveis por si mesmos, se
metem na profissão dos outros. Os resultados podem ser perigosos." Para ilustrar
seu ponto, ela usou o argumento que tem infestado livros, artigos de jornais e
revistas, televisão etc. de que o Sudário não poderia ser uma pintura, já que o
artista teria que ter um braço que medisse 4,5 m, porque o Sudário é quase
invisível bem de perto, mas apresenta uma resolução acentuada a longa distância.
Ela tentou dissipar a falsa conclusão usando seu próprio trabalho, revelando que os
murais gigantescos que pinta são muito grandes para serem vistos de perto. Ela tem
que descer de um andaime a cada 20 minutos para examinar seu trabalho a distância,
memorizar o que acabou de pintar, voltar ao andaime e continuar a pintar o mural. A
prática de fornecer e regurgitar fatos sem substância cria empecilhos para os
argumentos a favor da autenticidade, pois diluem a informação factual, e eles são
tão amplamente disseminados que os não iniciados se tornam vítimas de "lavagem
cerebral".

Algumas das imposturas que vêm tomando conta do campo da sindonologia (estudo do
Sudário) incluem as seguintes frases, constantemente utilizadas: "Já que a imagem
do Sudário é quase invisível de perto, não pode ser uma pintura, porque o artista
teria que ter braços de aproximadamente 4,5 m de comprimento"; "O polegar não
aparece no Sudário. Será que um falsário poderia ter imaginado isso?"; "Existe um
fluxo duplo de sangue no pulso, provando que ele teve que levantar e abaixar o
corpo na cruz para poder respirar"; "Quebraram as pernas dos dois ladrões para
evitar que eles erguessem o corpo para respirar"; etc. Esses diálogos repetitivos
ou "lorotas" foram vividamente demonstrados em inúmeros artigos publicados na

INTRODUÇÃO AO SUDÁRIO DE TURIM

imprensa internacional depois do fiasco da datação por carbono. Comentários como "o
teste com o carbono 14 provou que o Sudário é uma fraude do século XIII" ou "o
Sudário é falso" foram propagados sem que fosse considerado que o teste com o
carbono muitas vezes aponta erros com uma margem de centenas ou milhares de anos ou
que o Sudário poderia ser simplesmente uma bemintencionada obra de arte, em vez de
uma simples fraude. Além disso, as diatribes dos membros da "turma do Sudário"
contra os cientistas da datação por carbono 14, incluindo clamores de conspiração e
declarações inflamadas, nunca foram rebatidas e são contrárias aos princípios da
ciência. Mesmo assim, os tais cientistas também cometeram seus "pecados" em seus
contra-ataques.

Um recente exemplo de conclusão errônea que foi amplamente disseminado na


literatura sobre o Sudário foi a declaração de um eminente pesquisador do assunto
(referindo-se às descobertas de Haas na escavação Giv'at ha Mivtar) de que "parece
que há um arranhão no osso rádio, [o qual] representa a primeira indicação
independente de que pregar pelo pulso era o método usado nas crucificações da
Antiguidade, validando, assim, as pesquisas do dr. Barbet realizadas há mais de 30
anos". Porém, o "arranhão" no osso rádio é no antebraço, e não no pulso.
Infelizmente, existem aqueles, também, que começam suas pesquisas com conclusões
preconcebidas e escrevem seus artigos colocando neles tudo o que parece apoiar suas
suposições, e deixam de fora qualquer coisa que possa desafiá-las. Isso também é
visto no campo forense, em que alguns detetives inescrupulosos desenvolvem opiniões
tendenciosas no começo da investigação de um crime e eliminam tudo o que não
favorece seus argumentos. Isso faz lembrar Alice no País das Maravilhas, em que a
rainha exclama: "Sentença primeiro, veredicto depois." Isso é um absurdo!", bradou
Alice. "A idéia de ter a sentença em primeiro lugar!"

213

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

A CONTROVERSIA

O Sudário de Turim, conhecido como Síndone de Turim, é uma extraordinária relíquia,


que apresenta a imagem de corpo inteiro, frente e costas, de um homem crucificado.
Muitos cientistas e estudiosos acreditam que a vestimenta teria envolvido o corpo
de Jesus depois que Ele foi removido da cruz. Desde a sua descoberta, em 1349,
quando o Sudário estava na posse de Geoffrey de Charny, lorde de Lirey, ele tem
sido foco de muita controvérsia. Sempre houve aqueles que acreditam e os que não
acreditam, mas a batalha entre eles nunca foi tão furiosa quanto no período depois
do dia 13 de outubro de 1988, quando o Sudário foi testado com o carbono 14 por
três renomados laboratórios e o teste indicou que a peça datava da Idade Média,
entre os anos 1260 e 1390 d.C. Os resultados foram subseqüentemente publicados por
Damon et al. em 1989, no jornal Nature (vol. 337:611-615, 1989).

Até agora, os estudos mais sofisticados realizados por experts de renome de várias
disciplinas da ciência, usando equipamentos de última geração e métodos modernos,
não conseguiram explicar os mecanismos pelos quais a imagem foi criada (in statu
nascenti), e todas as tentativas de reproduzi-la resultaram em fracassos
retumbantes. Além disso, como podemos lidar com os numerosos estudos sofisticados
de outras disciplinas feitos para apoiar a autenticidade? Isso significa assunto
encerrado? De jeito nenhum! Há nova esperança no horizonte de que o Sudário de
Turim talvez não seja uma falsificação da Idade Média e que os estudos com o
carbono 14 não sejam falhos. Mas como ambos os pontos podem ser verdadeiros?

Numa tentativa de chegar a uma resposta a esse imbróglio, a qual vem escapando aos
renomados cientistas e estudiosos através dos anos, é importante obter uma
compreensão básica da literatura sobre o Sudário. A respeito disso, providenciei ao
leitor uma pesquisa aprofundada e uma avaliação do conhecimento corrente sobre o
Sudário, uma crítica às várias hipóteses, e recentes estudos que apóiam

214

INTRODUÇÃO AO SUDÁRIO DE TURIM

sua autenticidade, a despeito dos resultados do teste de datação realizado com o


carbono 14.

VENDO O SUDÁRIO

Exposição: Turim, Itália - 27 de agosto a 8 de outubro de 1978

Embora eu tenha tido o privilégio de ver o Sudário sete vezes e o supremo


privilégio de vê-lo em uma ocasião fora de sua embalagem protetora, minha primeira
visão foi a mais memorável, arrebatadora e desorientadora.

MINHA PRIMEIRA VISÃO

Quando cheguei a Turim, numa quarta-feira, no dia 4 de outubro de 1978, a cidade


estava fervilhando com multidões de peregrinos. Três milhões de pessoas visitaram a
cidade em um período de seis semanas, entre os dias 27 de agosto e 8 de outubro.
Elas estavam lá para ver o Sudário, conhecido como Síndone de Turim, uma relíquia
notável, que se acredita ser a vestimenta que envolveu Jesus depois que Ele foi
retirado da cruz e que, portanto, traria a imagem do corpo inteiro de Cristo
crucificado, frente e costas. Essa foi a primeira exposição pública desde 1933, o
resultado dos esforços diplomáticos do sacerdote Peter Rinaldi, um padre salesiano
que dedicou boa parte de sua vida a estudar o Sudário. Durante todo o dia,
peregrinos permaneciam em uma fila (Figura 11-1) que parecia ter 1 quilômetro de
extensão, com aproximadamente 8 pessoas de largura, que se moviam a passos
relativamente constantes, e levava cerca de 3 a 4 horas para que alguém na fila
pudesse ter um vislumbre do Santo Sudário, na Capela do Sudário de São João
Batista, conhecida como Duomo (Catedral de São João Batista).

215

216

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS
FIGURA 11-1

Peregrinos na fila durante a exposição do Sudário, em 1978. As filas tinham pelo


menos 1 quilômetro de extensão e avançaram sem parar, desde manha bem cedo até o
final da tarde.

FIGURA 11-2

O Sudário de Turim durante a exposição pública em 1978. Todas as manhãs, enquanto


acontecia a exposição, missas especiais eram celebradas.

INTRODUÇÃO AO SUDÁRIO DE TURIM

Vimos o Sudário no começo da manhã de sábado, no dia 7 de outubro, exposto bem alto
em um altar, em uma moldura, protegido com um vidro à prova de balas, por causa de
uma tentativa anterior de destruí-lo (Figura 11-2). Foi uma experiência
desconcertante olhar a imagem depois de tantos anos - 25, para ser mais exato - em
que estudei as fotografias em preto-e-branco tiradas por Enrie. Quando entrei no
longo corredor, a caminho do Sudário, fui capaz de distinguir a imagem do "Homem do
Sudário" somente quando fiquei a alguns passos de distância. Mesmo assim, usei um
par de binóculos Zeiss 8 x 30, de excelente qualidade, para observar detalhes dos
ferimentos das mãos, as marcas do açoitamento, o ferimento lateral e as impressões
dos pés.

Os últimos dois dias da exposição foram reservados para a Segunda Conferência


Científica Internacional de Sindonologia, da qual eu tive o privilégio de
participar. A conferência aconteceu no Instituto Bancário San Paolo, na praça
Giorgio Cavallo, magnífico reitor da Universidade de Turim. Cientistas interessados
no assunto vieram de todas as partes do mundo, representando as áreas da patologia,
biologia, eletrônica, física termonuclear, palinologia, criminologia, anatomia,
cirurgia, computação, arqueologia têxtil, história da arte, radiologia, química e
física nuclear. Eles estavam lá para apresentar suas descobertas, trocar novas
idéias e discutir recentes progressos.

A semana que se seguiu à conferência foi reservada para 120 horas de estudos
científicos do Sudário realizados pelo Projeto de Pesquisa do Sudário de Turim
(STURP) e outras entidades. As atividades incluíram espectroscopia no visível,
ultravioleta e de infravermelho; microscopia leve, ultravioleta, fluorescente e de
fase; termografia infravermelha; radiografia; microscopia eletrônica; análise
computadorizada; análise de imagem fotográfica com filmes especiais; análise
microquímica etc.

217

{12} DESCRIÇÃO DO SUDÁRIO

Todo o conhecimento humano toma a forma de interpretação. Walter Benjamin, 1892-


1940

O Sudário de Turim (Sindone, em italiano, ou Linceul, em francês) é um lençol de


linho longo e desigual que exibe uma desconcertante imagem, frente e costas, de um
indivíduo crucificado, a qual se acredita ser a de Jesus (Figura 12-1). A imagem
apresenta tons difusos e variáveis de um amarelo amarronzado pálido, compatível com
uma cor castanho-avermelhada que parece mais distinta a distância e esmaece quando
vista por ângulos diferentes, particularmente quando se chega mais perto. Todas as
imagens fibrosas foram descritas em 1982 por Schwalbe e Rogers como sendo douradas
e muito pálidas, enquanto Pellicori e Evans reportaram, em 1981, que a cor do
Sudário era um sépia claro, sendo que o topo dos fios apresentava uma coloração
mais escura. A densidade da cor se deve ao número de fibras coloridas por unidade
de área, o que também se

DESCRIÇÃO DO SUDÁRIO

conhece como "efeito meio-tom". Heller e Adler relataram, em 1981, que a cor nas
áreas da imagem aparecia somente na superfície de fibras individuais. As imagens da
frente e das costas estão presentes porque o indivíduo crucificado foi deitado na
extremidade de um longo e desigual lençol de linho que foi estendido no chão. A
extremidade oposta do Sudário, então, foi passada por cima de sua cabeça, cobrindo
o rosto e a parte da frente do corpo, como mostrado na pintura de G. Clovio, que
foi reproduzida por G. B. della Rovere e agora está exposta na Galeria Sabauda
(Figura 12-2). Porém, estudos críticos das imagens dorsal e frontal mostram que o
procedimento de dobradura parece ter sido mais complexo do que essa descrição
geral. Em 1998, com o objetivo de obter medidas acuradas do Sudário, a dra. Flury-
Lemberg removeu a "orla" azul que tinha sido tecida no século XIX para proteger as
bordas do manuseio durante as exposições e descobriu que a medida exata do Sudário
era de 14 pés e 315/16 polegadas (437 centímetros) de comprimento e 3 pés e 711/16
(111 centímetros) de largura. Contudo, as medidas oficiais do Sudário feitas em
2000 por Bruno Barberis e Gian Maria Zaccone na posição em que fica exposto (imagem
frontal à esquerda e dorsal à direita) são as seguintes: extensão da parte de
baixo-437,7 centímetros (14,3602 pés); extensão da parte de cima 441,5 centímetros
(14,4848 pés); lado esquerdo (altura) - 112,5 centímetros (3,6909 pés); e lado
direito (altura) - 113 centímetros (3,7301 pés). Giulio Fanti chama a atenção para
o fato de que a extensão do Sudário varia mais de 2 centímetros, dependendo da
umidade do ambiente, e que se a umidade relativa não for incluída na medição, deve-
se levar em conta uma variação implícita maior que 2 centímetros (e-mail de
27/2/2004). Assim, compare tudo isso com as medidas tomadas em 2002, na seção
intitulada "A Restauração", a seguir.

De acordo com Giulio Fanti, a espessura nominal da vestimenta é de cerca de 0,34


+0,04 milímetros. Medidas de menos de 30 fibras mostraram uma espessura de fibras
individuais de 14+ 8 micrômetros, com diâmetros muito variáveis, e cada fio que foi
tecido com uma

219

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

volta Zé composto de 70 a 120 fibras líneas que medem pelo menos 0,25 ± 0,3
milímetros.

Análises computadorizadas antropomórficas baseadas em medidas luminescentes feitas


por Fanti, Marinelli e Cagnazzo indicaram que as marcas frontais e dorsais do homem
do Sudário estão anatomicamente superpostas e que ele não estava envolto em
bandagens. O lençol foi simplesmente colocado no corpo esticado, em posição
compatível com aquela assumida no dia da crucificação, exceto pelos braços, cujo
rigor mortis tinha sido quebrado e mantido durante o sepultamento.

Muito barulho tem sido feito sobre o aparente paradoxo de que a imagem dorsal é
mais curta. Porém, isso é esperado, porque a ligeira flexão das pernas e a
cobertura do tecido em cima delas, seguindo seu contorno, faz parecer que a imagem
da frente é mais longa. Pode ser interessante saber que isso refuta a teoria de
Lavoie, de que o corpo estava em posição ereta quando a imagem foi impressa. Marcas
características sugestivas de açoitamento estão presentes atrás do joelho.
Pregado a todo o verso do Sudário encontra-se um revestimento de linho conhecido
como Vestimenta Holandesa, que foi meticulosamente cerzido pelas freiras Pobres
Claras depois do incêndio de 1532, em Chambéry, para dar suporte ao Sudário
danificado. O linho é irregularmente costurado em um padrão espinha de peixe
(Figura 12-3), e parece estar deteriorado em alguns pontos. Ele é seguro com uma
borda azul contendo uma lâmina de metal para dar peso e coberto com um pano
vermelho. O Sudário fica enrolado em um cilindro de madeira num relicário da Capela
Guarini, na seção superior do altar.

O corpo no Sudário está nu e o homem é barbado e tem cabelo longo, com uma imagem
nas costas que lembra um rabo (Figura 12-4). Entretanto, Pellicori relata que o
rabo-de-cavalo é, muito provavelmente, resultado de uma imagem irregular, devido a
mudanças na trama do tecido. Ele indica, também, que o mesmo é válido no caso das
faixas que aparecem na separação entre rosto e cabelo. Discretas faixas de

220

DESCRIÇÃO DO SUDARIO

fios de diferentes cores estão presentes tanto na trama (conjunto dos fios passados
no sentido transversal do tear) quanto na urdidura (conjunto dos fios dispostos no
tear paralelamente ao seu comprimento), e podem ser mostradas através de raio
ultravioleta de alto contraste, transmissão de raios Xe fotografia por transmissão
de luz, com algumas áreas mostrando fios mais escuros na trama e outras áreas
mostrando fios mais escuros na urdidura, presumivelmente em razão de alguma

FIGURA 12-1

Sudário de Turim (a) frente, (b) verso. O Sudário como se fosse visto por meio de
um negativo fotográfico. (Cortesia de Barrie Schwortz.)

221

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

FIGURA 12-2 Como o Sudário foi colocado no corpo. Pintura de Giovanni Battista
della Rovere, um artista do século XVI, na Galeria Sabauda. (Cortesia de Barrie
Schwortz.)

FIGURA 12-3

Padrão de configuração do tecido do Sudário. Trama três em um no formato de espinha


de peixe aumentada várias vezes.

FIGURA 12-4

Sudário de Turim, parte traseira, mostrando a parte de trás da cabeça. A visão do


Sudário como você a observaria. Existem mais de 100 marcas de açoitamento, a
maioria em formato de haltere. O padrão sugere o fato de os soldados terem mudado
de posição durante o açoitamento. Filetes de sangue da coroa de espinhos são
vividamente percebidos. (Cortesia de Barrie Schwortz.)

222
DESCRIÇÃO DO SUDÁRIO

técnica de leve tingimento. Rogers indica que efeitos de banda (bandas de


diferentes fios coloridos presentes na configuração do tecido) estão simplesmente
em todo o Sudário, e que há uma banda bem evidente correndo no comprimento da
imagem dorsal, o que pode ter contribuído para o "rabo-de-cavalo" ou cabelo nas
costas. O rosto se assemelha a uma máscara, e os olhos apresentam o olhar de uma
coruja. Na visão frontal, a área da testa mostra uma marca em forma de um "3"
reverso no centro, com outros pequenos rastros no lado direito e esquerdo da testa
e no cabelo, todos representando o sangramento causado pela coroa de espinhos
(Figura 12-5).

Já foi dito que existe um lapso de imagem nas laterais da imagem facial no Sudário.
Porém, ao usar a ferramenta lasso tool magnética do programa Photoshop, Barrie
Schwortz mostrou que essas laterais estão de fato visíveis nas áreas mais escuras
dos lados do rosto.

As áreas representando o sangue dos vários ferimentos produzidos pelos pregos, pelo
açoitamento, pela coroa de espinhos e pela lança foram vistas mais vividamente numa
cor escura, que lembra marromarroxeado, embora alguns tenham dito que a cor mais
pareça um vermelho escarlate, ou seja, cor de sangue. Estudos feitos por Adler
indicaram que a cor vermelha vista na microscopia é compatível com alguém que foi
vítima de um trauma grave, devido aos produtos provenientes da decomposição dos
glóbulos vermelhos, a saber, bilirrubina. Outra explicação para a cor vermelha pode
ser o tratamento do tecido com saponária. Sob fotografia ultravioleta fluorescente,
todos os ferimentos mostram em torno de si um anel de retração de soro de albumina
que seria completamente desconhecido para um falsificador. É importante notar que
nenhuma imagem está presente onde existe sangue, indicando que a formação da imagem
ocorreu depois que ele manchou o local, e que a presença do sangue impediu a
formação de imagem nessas áreas. Embora isso não seja perceptível a olho nu, foi
demonstrado por Adler, que removeu sangue de várias fibras de áreas de imagem, por
meio de hidrólise enzimática proteolítica (que remove

223

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

FIGURA 12-5

Região da cabeça, "visão negativa" frontal. O Sudário como seria visto através de
um negativo fotográfico. Note as imagens brancas tortuosas na testa que representam
fluxos de sangue dos ferimentos causados pela coroa de espinhos. Note o "3" reverso
na testa.

224

DESCRIÇÃO DO SUDARIO

o sangue). Nenhuma imagem estava presente nas fibras que continham sangue. Se isso
fosse feito por mãos humanas, o artista teria que pintar todas as manchas de sangue
com os halos de albumina nos ferimentos e fluxos de sangue, incluindo o sangue das
marcas de açoitamento, usando sangue humano, e então pintar a imagem do corpo em
torno delas, em suas localizações exatas, e eliminar imagens onde existisse sangue.
Um processo complicado, sem dúvida.
A parte de trás da cabeça também mostra uma agregação de manchas vermelho-escuras
similares, indicativas do resultado dos espinhos afiados (Figura 12-4). O cabelo na
imagem frontal está na frente e cobre as orelhas. É por isso, obviamente, que
Lavoie acha que o homem do Sudário estava de pé quando a imagem se fez. Todavia, a
explicação mais óbvia é que a cabeça estava curvada para a frente, porque não há
espaço discernível referente ao pescoço, em razão da suspensão dos ombros, com a
cabeça presa entre eles e dobrada para a frente. Isso foi confirmado em nossas
experiências de suspensão, já que essa era a posição em que o crucarius ficava
durante a suspensão, quando os braços estavam em um ângulo que variava de 65 a 68
graus. A cabeça ficava presa entre os ombros erguidos. Essa também é uma boa
evidência de que o crucarius se encontrava em rigor mortis, porque os ombros
permaneceriam em uma posição erguida, com a cabeça presa entre eles, mesmo depois
que o rigor mortis dos braços fosse quebrado a fim de baixá-los. A técnica de foto
em relevo de Guerreschi mostra que a cabeça está ligeiramente virada de lado e
curvada para a frente. Outra possível explicação para essa posição do cabelo vem do
fato de que ele ficou saturado com o sangue, e a subseqüente secagem das fibras
capilares fixou-o nos dois lados do rosto, da mesma forma que um spray para cabelo
o mantém rígido. Existe uma suspensão do peito, que também é consistente com o
rigor mortis que ocorreu durante a crucificação (Figura 12-6). A parte de trás da
cabeça também está saturada com sangue (Figura 12-4). As sobrancelhas parecem estar
inchadas e há um indício de que os cílios estejam cortados. A área

225

226

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

abaixo do olho direito parece inchada, assim como a ponte do nariz, com uma linha
na extremidade distal da ponte que é consistente com um deslocamento do osso ou da
cartilagem, mas não uma fratura. Isso é confirmado por ampliação de imagem
computadorizada VP-8, que mostra uma depressão na junção do osso/cartilagem (veja a
Figura 15-2), e está de acordo com Êxodo 12:46 e Números 9:12: "Nenhum osso será
quebrado." As bochechas também parecem estar um pouco inchadas.

As mãos estão cruzadas na região umbilical, no nível do quadril, a esquerda em cima


da direita (lembre-se: os braços parecem estar rígidos, e as mãos cruzadas e a
posição dos pés sugerem que eles estavam atados (veja as Figuras 12-1 e 12-6). Uma
imagem bifurcada de coloração avermelhada está presente na mão esquerda, entre o
pulso e a mão propriamente dita, representando o ferimento produzido pelo prego.
Faltam ambos os polegares.

O lado direito do corpo contém uma imagem grande e avermelhada na região


correspondente ao sexto espaço intercostal, representando o ferimento provocado
pela lança. Ela se estende ao longo da lateral até as costas e contém uma separação
de soro (veja as Figuras 12-4 e 12-6).

As costas, nádegas, pernas, peito e abdômen mostram evidências de bem delineadas


marcas de açoitamento, muitas das quais se assemelhando a imagens em forma de
haltere (veja as Figuras 12-4 e 12-6). Algumas são difíceis de discernir, mas eu
consegui contar entre 98 e 105. Creio que as ilustrações do Monsenhor Giulio Ricci,
que sugerem cerca de 300 marcas de açoite, são um grande absurdo. O ombro direito
está mais baixo que o esquerdo, e imagens da região da escápula esquerda (lâmina do
ombro) e do ombro direito sugerem escoriações, que alguns investigadores acreditam
estar relacionadas ao ato de carregar a cruz. Também há uma ligeira saliência no
abdômen. As nádegas parecem estar assimétricas, com o lado direito mais baixo que o
esquerdo. Estrias profundas e avermelhadas nos braços fluem em várias direções.
DESCRIÇÃO DO SUDÁRIO

As pernas estão bem juntas e parecem se tocar, de acordo com a técnica de foto-
relevo de Guerreschi. Há indicação de uma grande escoriação ou contusão na região
do joelho esquerdo. As panturrilhas mostram um arredondamento natural. Um pé parece
estar virado em direção ao outro. A área do pé revela a sola direita e o calcanhar,
o que é indicativo de que os joelhos foram dobrados. Porém, como é mostrada a parte
de trás do joelho direito, um mecanismo de contato poderia ser excluído. Somente o
calcanhar esquerdo e várias imagens correspondendo à cravação estão presentes. A
ausência de um pé parece ter sido causada pela intrincada forma como a vestimenta
foi dobrada sobre ele.

Existem duas impressões lineares escuras com interrupções nos dois lados do
Sudário, com quatro pares duplos de remendos brancos triangulares, que são os
locais dos buracos de queimadura que foram meticulosamente reparados pelas Freiras
Pobres Claras sob ordem de Carlos III, o Duque de Savoy, dois anos depois do
incêndio que aconteceu na sacristia da Santa Capela de Chambéry, no dia 3 de
dezembro de 1532. As áreas escuras triangulares, que são similares quanto à cor, só
que mais escuras que as imagens, representam as queimaduras, os pares triangulares
brancos são os remendos costurados pelas Freiras Pobres Claras e as linhas escuras
são as áreas queimadas das dobras. O fogo foi apagado depois que vários baldes de
água foram atirados no Sudário. Este foi dobrado em 48 camadas e colocado num baú
de prata, e alguns acreditam que os quatro jogos de furos em forma de "L",
localizados na região central da vestimenta, no nível das mãos, chamados de
"buracos de atiçador" (Figura 12-7), foram causados em um evento litúrgico, quando
um padre agitou um incensório em cima do Sudário e acidentalmente derrubou nele
carvão em brasa com incenso (veja o Manuscrito de Orações, Capítulo 13),
provavelmente quando o Sudário era dobrado em quatro camadas. Rogers indicou que
despendeu um bom tempo olhando para esses buracos através do microscópio e sondou-
os com uma agulha. A região

228

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

mostrava-se dura quando tocada com a agulha, e ele teve a impressão de que eles
ocorreram como resultado de resina espirrada ou incenso. Esses buracos se encontram
em um padrão simétrico, e não foram atribuídos ao fogo de Chambéry, porque sua
localização indica um método de dobradura distinto daquele sugerido pelas marcas
produzidas pelo famoso incêndio. Os progressivos níveis de penetração e a repetição
dos quatro buracos idênticos indicam que a vestimenta foi dobrada ao meio no
comprimento, e novamente no comprimento (metade de sua largura). Isso é confirmado
pelo fato de que os buracos aparecem distintamente no Sudário Lier, pintado em
1516, supostamente por Albrecht Dürer, antes do incêndio de Chambéry, bem como na
medalha de peregrino encontrada no Sena em 1357, e na réplica do Sudário que está
na igreja de Saint Gommaire, na Bélgica, datada de 1516. Grandes manchas de água,
obviamente resultantes do momento em que se tentou apagar o incêndio, são
vividamente percebidas. Muitos têm atribuído as áreas queimadas sob os remendos a
gotículas de prata derretidas do baú que teriam penetrado o Sudário, mas
recentemente discutiu-se que essas gotículas de prata iriam se resfriar depois de
penetrar apenas uma ou duas camadas. O professor Giulio Fanti, professor de Medidas
Térmicas e Mecânicas em Pádua, recentemente me informou que Aldo Guerreschi e
Michele Salcito apresentaram um documento na Conferência Internacional de Paris de
2002 indicando que as gotículas de prata não podem ser responsáveis pelos buracos,
e opinaram que uma barra de metal incandescente penetrou a caixa e o interior do
Sudário (e-mail de 3/7/2003). O dr. Ray Rogers, um expert em pirólise, também me
informou que o que aconteceu "foi por causa de uma intensa variação térmica, mas
que não afetou em nada o centro da vestimenta dobrada" (e-mail de 3/7/03). Ele
também indicou que as principais beiradas das áreas queimadas na transição de
branco para o amarelo provavelmente teriam estado a uma temperatura de 300 a 350°C,
mas o centro do relicário teria experimentado pouca ou nenhuma mudança de
temperatura (o que se confirmou por análise com lignina).

DESCRIÇÃO DO SUDÁRIO

FIGURA 12-6

O Sudário de Turim, visão frontal, abaixo dos ombros. A visão do Sudário como você
iria observar. Note o padrão de bifurcação no pulso. O ferimento do peito na parte
superior direita (à esquerda do remendo triangular) na verdade está no lado direito
do peito. (Cortesia de Barrie Schwortz.)

229

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

9.

FIGURA 12-7

Buracos ("buracos de atiçador") no Sudário em forma de "L". Quatro buracos (très na


parte de cima e um na parte de baixo à direita) na região central da vestimenta, no
nível das mãos. O Sudário foi dobrado em quatro partes. Essa é a camada superior,
na região central da vestimenta, no nível das mãos. Acredita-se que os buracos
foram causados durante um evento litúrgico, quando carvão em brasa, incenso ou
resina foram acidentalmente derrubados na peça, muitos anos antes do incêndio de
Chambéry. (Cortesia de Barrie Schwortz.)

FIGURA 12-8

Sudário restaurado em 2002. Os remendos e a Vestimenta Holandesa foram retirados, e


contaminantes carboníferos foram removidos. (Cortesia do Monsenhor Ghiberti.)

230

DESCRIÇÃO DO SUDÁRIO

É também interessante saber que outros pequenos reparos foram feitos por São
Sebastião Valfré, em 1694, pela Princesa Clotilde de Savoy, em 1868, e pelas Filhas
de São José, em 1973.

A RESTAURAÇÃO

Em junho e julho de 2002, uma completa restauração do Sudário, batizada pelas


autoridades de Turim como o Programa de Conservação, foi realizada conforme
recomendações da Comissão de Preservação do Sudário (Figura 12-8). Os motivos para
a restauração incluíam as alegações de que havia um acúmulo de componentes
carboníferos e outros elementos embaixo dos remendos e na Vestimenta Holandesa
aplicada à peça depois do incêndio de Chambéry, em 1532, o que poderia levar à
deterioração do Sudário. Essa proposta foi apresentada ao cardeal Poletto, curador
papal do Sudário, que o examinou e enviou para o cardeal Soldano, o Secretário de
Estado do Vaticano, que por sua vez o submeteu ao Papa João Paulo II, que concedeu
sua permissão.
A restauração foi secretamente efetivada dos dias 20 de junho a 22 de julho de
2002, na nova Sacristia da Catedral de Turim, construída depois do incêndio de
1997. O leito no qual o Sudário se encontrava foi preparado numa mesa móvel, para
ser levado à nova sacristia. O novo revestimento foi colocado no leito Bodino, o
qual foi equipado com uma tampa de vidro para facilitar a operação de costura, e o
revestimento foi estendido, com o Sudário por cima. Um videomicroscópio com poder
de ampliação de 80x a 450x foi preparado a fim de garantir aos artesãos uma visão
direta, para que pudessem distinguir entre poluentes, resquícios de sangue etc. Um
suave aspirador, um vaporizador ultra-sônico e pesos de chumbo foram utilizados
para suavizar os vincos. A restauração foi executada pela dra. Mechthild Flury-
Lemberg, ex-curadora do Museu Têxtil da Fundação Abegg e da Escola de Restauração
de Riggisberg, Suíça, e

231

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

principal autoridade no que diz respeito à parte têxtil do Sudário, acompanhada por
sua ex-estudante Irene Tomedi, na Sacristia da Catedral de Turim.

A restauração procedeu da seguinte forma: depois que as fotos iniciais foram


tiradas, os trinta remendos que foram costurados pelas Pobres Claras em 1534 e,
mais tarde, por outros restauradores, foram removidos, etiquetados e conservados.
Em seguida, foi removida a Vestimenta Holandesa (revestimento traseiro). Os vincos
da parte traseira da peça foram esticados. Na frente, restos carbonizados foram
removidos com leves raspagens. Pesos de chumbo foram colocados para alisar as
dobras. Eles removeram as partículas de carbono dos buracos produzidos pelo fogo e
repetiram o processo depois de rasparem gentilmente as pontas soltas dos buracos
com espátulas. Depositaram, então, essas partículas em numerosos tubos de vidro,
que foram sistematicamente rotulados e mapeados conforme sua localização no
Sudário. Depois da remoção do revestimento traseiro, a operação incluiu a varredura
digital de toda a extensão do Sudário, frente e verso, fotografias convencionais e
digitais da frente da peça, além de fotos tradicionais da parte de trás. Eles
também tiraram fotografias fluorescentes, colheram amostras por meio de fitas
adesivas aplicadas na parte de trás da vestimenta, deram início à espectroscopia
Raman e a medidas fluorescentes e de refletância, tomaram medidas precisas do
Sudário e colocaram uma nova Vestimenta Holandesa, usando fios de seda para firmar
cada buraco de queimadura na peça. A Vestimenta Holandesa era uma peça de linho
rústico que tinha sido adquirida havia 50 anos pelo pai da dra. Mechthild Flury-
Lemberg, e foi meticulosamente lavada para que fosse amaciada e desinfetada.

Depois da restauração, medidas oficiais do Sudário foram novamente tiradas por


Bruno Barberis e Gian Maria Zaccone, na posição de exposição (imagem frontal à
esquerda e dorsal à direita). Houve um significativo aumento no comprimento e na
largura em comparação com as medidas oficiais feitas pelos mesmos cientistas

232

DESCRIÇÃO DO SUDARIO

em 2000, antes da restauração. O comprimento da parte de baixo agora mede 441,5


centímetros (14,4848 pés); a parte de cima, 434,5 centímetros (14,2552 pés), o lado
esquerdo (altura) mediu 113,0 centímetros (3,7073 pés) e o lado direito mediu 113,7
centímetros (3,7303 pés). Isso é razoável, porque as medidas podem variar por causa
da tensão da roupa e dos procedimentos de esticamento que foram utilizados. Um
exame da parte de trás do Sudário foi conduzido para determinar se uma imagem dupla
do corpo estava presente. A imagem principal do corpo não apareceu, embora houvesse
uma imagem compatível com o cabelo, particularmente os dois cachos laterais
emoldurando o rosto. As bandas de cor discutidas anteriormente também são notadas
na parte de trás do Sudário. Porém, a presença de sangue - correspondente em sua
maioria à parte da frente do Sudário-vazou para a parte de trás, embora algum
sangue presente na frente do Sudário estivesse essencialmente ausente na parte de
trás. Alguns pequenos segmentos do "3" reverso também estavam ausentes. Isso foi
condizente com as observações dos estudos do STURP feitos em 1978, nos quais o
sangue foi percebido na parte de trás do Sudário, mas nenhuma imagem definida do
corpo estava presente.

UMA VISÃO PRÉVIA

Tive a sorte de ser um dos vários pesquisadores que haviam assistido à Conferência
de Villa Guarino, em março de 2000, e fui convidado pelo cardeal Poletto para
comparecer a um encontro no dia 20 de setembro de 2002, no Seminário na via XX
Settembre, 83, das 7 às 9 e meia da noite, depois do qual fomos levados para ver o
Sudário restaurado, antes que a informação fosse dada à imprensa, no dia seguinte.
No encontro, apresentações foram feitas pelo cardeal Poletto, curador do Sudário;
monsenhor Giuseppe Ghiberti, presidente do Comitê Diocesano para o Sudário;
professor Piero Savarino, consultor científico do curador; e pela dra. Mechthild
Flury-Lemberg, a

233

234

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

restauradora. As apresentações foram acompanhadas por vídeos e muitas fotografias.


Depois da observação do Sudário, o cardeal Polleto pediu aos convidados que
fizessem seus comentários.

COMENTÁRIO - Na minha parte, eu elogiei o excelente trabalho executado pela expert


têxtil Mechthild Flury-Lemberg e sua assistente Irene Tomedi, revelando minha
familiaridade com tal trabalho, já que minha esposa é designer de moda e também
executa finos trabalhos artísticos com agulha. Porém, ressaltei que pesquisadores
sérios do Sudário, em suas várias disciplinas, deveriam ter sido consultados antes
que se iniciasse um projeto irrevogável como esse, já que a presente manipulação
poderia trazer conseqüências sérias para futuros pesquisadores. Eu então expressei
minha decepção, já que Flury-Lemberg e Tomedi não usaram luvas cirúrgicas especiais
enquanto trabalhavam. O contato das mãos descobertas com o Sudário durante o
laborioso ato de costura sem dúvida trouxe substâncias oleosas da pele e das
numerosas células da epiderme à vestimenta. Esse tipo de contaminação poderia
influenciar seriamente futuros testes de DNA e outros testes feitos nos Sudário. As
vestimentas que utilizavam podem ter soltado partículas que se incorporaram ao
Sudário, contaminando-o ainda mais. Eu insisti em que não havia desculpa para não
usarem luvas cirúrgicas, já que elas são usadas até por cirurgiões da área de
oftalmologia e de microcirurgia, durante procedimentos médicos extremamente
delicados.

Comentários feitos por outros participantes durante a exibição e subseqüentemente


por outros pesquisadores do Sudário variaram de elogios ao meticuloso trabalho
executado a profundas críticas a toda a operação, incluindo: (a) superexposição a
raios ultravioleta; (b) mudanças nas proporções e contrastes da imagem; (c) remoção
de dobras e vincos históricos no ato do esticamento, os quais teriam apoiado a
teoria de que a peça seria a lendária Acta Thaddaei, uma relíquia do
DESCRIÇÃO DO SUDARIO

século VI - em Edessa em 944 e Constantinopla até 1204 - que foi descrita somente
como uma face, porque Wilson sugeriu que se o Sudário foi dobrado em oito camadas,
somente o rosto seria visto; (d) destruição de importantes informações químicas em
áreas que apresentavam imagens de manchas de sangue, soro e água; (e) perda de
relações históricas; (f) perda de fatores químicos referentes aos buracos (na dobra
vertical lateral, no nível das mãos); (g) perda de grandes quantidades de
informação crítica; (h) perda de importantes aspectos da restauração do século XVI;
(i) falha em não consultar os experts do Sudário, incluindo os quatro especialistas
têxteis que estudaram a peça; (i) distorção do Sudário; (k) utilização de
procedimentos invasivos radicais durante essa "restauração" que raramente são
empregados em técnicas arqueológicas; e (i) um sem-número de reclamações
semelhantes. Porém, a crítica mais comum foi quanto ao equívoco das autoridades de
Turim ao não consultarem experts sobre o Sudário e à sua refutação aos protestos de
que o material carbonizado seria um risco para a roupa. Em resposta à afirmação de
que o acúmulo de detritos referentes ao incêndio de 1532 poderia ter trazido
efeitos danosos de longo prazo às imagens do Sudário, Ray Rogers, químico,
especialista em pirólise conhecido internacionalmente e um dos membros originais do
STURP, argumentou que o acúmulo de carbono não teria provocado deterioração, e que
não havia ameaças químicas ou de outro teor nas áreas carbonizadas e empoeiradas,
já que estavam lá havia mais de 450 anos.

DUPLA SUPERFÍCIE

Como o lado posterior da face não era discernível na visão "prévia"exceto pelo
cabelo e por esmaecidas imagens do rosto e das mãos -, G. Fanti, professor de
Medidas Térmicas e Mecânicas em Pádua, e Roberto Maggiolo aplicaram técnicas
especiais de processamento digital de imagens chamadas padronização de moldes (que
emprega filtros especiais

235

236

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

e técnicas de realce) a fotos que tinham sido publicadas em Sindone le imagini


2002: Shroud Images of the Archdiocese of Turin, de Ghiberti. Essas técnicas
revelam imagens que antes não eram perceptíveis. A imagem fantasmagórica do rosto
do homem tinha aparecido na parte de trás do Sudário de Turim (Figura 12-9). Porém,
não havia nada relativo à imagem dorsal. Fotografias da superfície posterior foram
analisadas para se verificar a existência de uma imagem dupla do homem. A imagem é
bem pálida e indistinta, assim, o processamento de imagem foi necessário para
realçar detalhes do corpo, usando-se para isso sofisticados filtros (Gaussian) e
técnicas de filtragem. O sofisticado processamento de imagens é baseado na
transformada de Fourier direta e inversa, e realce e técnicas de padronização de
moldes foram aplicados às fotos do lado reverso do Sudário presentes no livro de
Ghiberti. A face e provavelmente as mãos estão visíveis na parte de trás, mas
nenhuma característica relativa à parte dorsal. A nova imagem tem uma surpreendente
qualidade tridimensional e coincide com o rosto conhecido. Um aspecto único é que a
face é superficial nos dois lados, impressa somente nas fibras mais externas, e não
continua por todo o Sudário. Quando se observa essa área na região da cruz,
percebe-se uma imagem bem superficial nos dois lados, sem nada no meio. Se isso
fosse feito com tinta, ela estaria presente de um lado a outro da vestimenta. A
presença da imagem do rosto na frente e no verso, mas não no interior do tecido em
si, é conhecida como dupla superfície. A descoberta acrescenta uma nova
complexidade ao problema da formação de imagem. Os autores propõem um possível
mecanismo de descarga elétrica, sugerindo que o corpo poderia ter estado em um
campo magnético e numa atmosfera ionizada na tumba, que conteria radônio, um gás
radiativo liberado por pedras de quartzo durante terremotos (veja a seção Descarga
Elétrica, no Capítulo 16). Rogers,

"N. do T: "Imagens do Sudário de 2002 na Arquidiocese de Turim".

DESCRIÇÃO DO SUDÁRIO

FIGURA 12-9 Dupla superfície.

a. Imagem da frente do Sudário.

b. Imagem correspondente na parte de trás do Sudário-presente apenas nas fibras


mais externas - visível por meio de filtros especiais e técnicas de realce.
(Cortesia de Giulio Fanti.)

no entanto, relata: "A concentração de evaporação pode explicar a natureza da


superfície da imagem e as propriedades idênticas das imagens de trás e da frente.
Um vapor amina que se dissipou de um corpo para a vestimenta só poderia reagir onde
impurezas estivessem concentradas. As aminas não reagem com celulose" (e-mail ao
Grupo Yahoo de Ciência do Sudário, 26/4/2004).

COMENTÁRIOS-Comentários críticos, contudo, foram feitos por vários cientistas do


Sudário, porque essas imagens do livro de Ghiberti foram produzidas a partir de uma
tela de meio-tom. Barrie Schwortz aponta que essas conclusões podem ser
consideradas por ora apenas preliminares, porque as fotografias em alta resolução
tiradas durante a restauração de 2002 não foram disponibilizadas para os
pesquisadores pelas autoridades de Turim, mesmo depois de inúmeros pedidos,
forçando-os, assim, a utilizar o material produzido por tela de meiotom. As
autoridades de Turim têm negado a existência de qualquer imagem na superfície
reversa. Esses resultados, portanto, devem permanecer em aberto, até a liberação
das fotos de alta definição, para determinar de uma vez por todas se alguma imagem
está mesmo presente. E, se isso for confirmado, pode ser explicado pelo mecanismo
envolvendo a concentração de evaporação, que é a difusão de aminas através dos
poros da vestimenta, as quais reagem com as impurezas na superficie das fibras -
como as aminas não reagem com celulose, as

237

238

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

fibras entre ambas as superfícies não ficariam coloridas. Já que uma característica
evidente na parte de trás é o cabelo, talvez ele tenha impedido a difusão de
vapores, mantendo-os presos.

A IMAGEM NO SUDÁRIO: UMA INTERPRETAÇÃO FORENSE

A imagem do corpo no Sudário tem características que necessitam de uma explicação


científica. A frente do pescoço parece estar ausente, as pernas e os pés parecem
contraditórios, e o corpo parece um tanto assimétrico. A explicação para a aparente
ausência de pescoço é que, durante a suspensão na cruz, a cabeça fica presa entre
os ombros, com movimentos limitados para os lados e de frente para trás, o que foi
confirmado em nossas numerosas experiências de suspensão. Isso contrasta
acentuadamente com os incontáveis crucifixos pendurados nas igrejas do mundo todo
que mostram a cabeça em posições variadas, ora pendendo para a direita ou para a
esquerda, ora arqueada para a frente com os ombros projetados ou não para a frente
etc. Depois de uma morte violenta, o rigor mortis se inicia rapidamente (geralmente
entre uma e duas horas depois da morte). A cabeça de uma vítima de crucificação
ficaria fixada na posição entre os ombros, e assim permaneceria mesmo depois que o
rigor fosse quebrado nos braços. Isso condiz com a posição erguida dos ombros no
Sudário. As Escrituras dizem: "Então Jesus, suplicando com alta voz, disse: 'Pai,
nas tuas mãos entrego o meu espírito!". E, havendo dito isso, expirou" (Lucas:
23:46). Depois que Jesus proferiu essas palavras, Seu queixo pode ter ficado
ligeiramente inclinado para a frente, e a violência de Sua morte poderia ter
causado um estado de espasmo cadavérico, ou um rápido rigor, no qual os músculos do
pescoço contraem-se solidamente, mantendo a cabeça nessa posição até que o rigor
total tenha se manifestado.

DESCRIÇÃO DO SUDARIO

As pernas, da mesma forma, as quais estavam em uma posição ligeiramente dobrada,


manteriam o mesmo tipo de espasmo cadavérico e o subsequente rigor mortis antes de
a vítima ser descida da cruz. A diferença de altura entre a imagem da frente e a de
trás, sendo esta última um pouco maior, também apóia essa hipótese de rigor mortis.
A aparente maior extensão da parte de trás é também explicada pela inclinação da
cabeça para a frente, causando uma aparente ausência do pescoço devido ao rigor
mortis. Lorenzo Ferri, um eminente escultore sindonologista, mede uma diferença de
7 centímetros entre as partes da frente e de trás em uma reprodução em tamanho
natural do Sudário. Ferri mediu a imagem meticulosamente, e, ao comparar as imagens
da frente e de trás, declarou: "É evidente que o tamanho do corpo, do topo da
cabeça aos pés, é diferente: a imagem de trás é mais longa, exatamente 2,02 metros
contra 1,9 metro. Qual é a razão para essa diferença de 7 centímetros?". Ele disse
que a resposta está na dupla curvatura do corpo. Ele foi envolto no Sudário e
depois colocado em duas vestimentas ou mantos enquanto era carregado por cinco ou
seis pessoas. Ele fez uma série de experiências para provar isso e declarou que um
corpo embrulhado na roupa numa posição reta teria sua imagem impressa quase do
mesmo tamanho na frente e atrás. Se o homem se curvasse para a frente, a vestimenta
seria mais abundante na parte da frente (deixando um traço maior) e menor na parte
de trás (deixando um traço menor). Ele relata que "o contrário seria verdadeiro se
o homem se dobrasse para trás. Portanto, é evidente que a diferença na extensão das
imagens da frente e de trás se deve à posição curvada

do corpo na vestimenta".

Qual Era a Altura do Homem no Sudário?

A medida precisa da altura do homem crucificado do Sudário está cercada de


dificuldade, porque não estamos lidando com uma impressão em um suporte rígido e
achatado, mas com um pedaço de tecido que foi intricadamente dobrado sobre o
indivíduo. Além disso,

239

240

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS
há outros fatores que impedem a precisão, como a presença do rigor mortis, os
efeitos de condimentos funerários, efeitos das condições climáticas (sol, vento e
chuva) durante as exposições, a falta de informações quanto ao fato de o Sudário
estar em uma superfície dura ou macia antes de ter recebido o corpo, quão esticado
estava o Sudário nesse momento e muitos outros fatores.

Vários experts estimaram que a altura do homem crucificado está entre 179,07
centímetros e 187,96 centímetros, e eles mediram a imagem diretamente do Sudário ou
a partir de reproduções em tamanho natural. Lorrenzo Ferri, por exemplo, reportou
que a imagem media 186 centímetros (74 polegadas); o padre Peter Weyland estimou a
altura em 181,36 centímetros quando tirou as medidas para a Comissão Francesa. O
padre Weyland, no entanto, descobriu que o tamanho do Sudário em si era de apenas
13 pés e 11 polegadas e um quarto (aproximadamente 424 cm), revelando uma
discrepância de 3 polegadas e três quartos (+ 8 cm); o Sudário, na verdade, mede 14
pés e 3 polegadas (+434 cm). Isso daria uma altura de 72 polegadas e meia (±183
cm), que ainda é uma polegada e meia menor que a estimativa de Ferri. O dr. Luigi
Gedda, anatomista, chegou à medida de 72 polegadas (+183 cm) durante uma exposição
privada do Sudário em Montevergine, em 1946. Tanto o dr. Giovanni Judica-Cordiglia
quanto o dr. Paul Vignon estimaram a altura do homem no Sudário em 70 polegadas
(+178 cm), enquanto o dr. Robert Bucklin reportou uma altura de 71 polegadas (+180
cm). Uma análise antropomórfica computadorizada feita por Fanti, Marinelli e
Cagnazzo apontou uma altura de 174 ± 2 centímetros (68,5 ± 1 polegada). A maioria
dos pesquisadores concordaria em que o homem do Sudário tinha pelo menos 72
polegadas (183 cm) de altura, com uma polegada a mais ou a menos. Essa medida de
aproximadamente 6 pés (183 centímetros) condiz com a altura de 6 pés fornecida pela
Cruz de Medição do Imperador Justiniano, que está na galeria de São João Laterano,
em Roma. No que se refere a isso, três homens competentes e confiáveis

DESCRIÇÃO DO SUDÁRIO

foram mandados a Jerusalém no século VII por Justiniano para determinar a altura de
Jesus. Eles supostamente mediram o Sudário e então construíram uma cruz com base em
suas medidas.

Como essa altura de 6 pés é comparável à média de altura de um homem daquela época?
Estimativas feitas por antropólogos indicam que alturas de 5 pés e 2 polegadas a 5
pés e 4 polegadas (157 cm a 162 cm) eram a média. As escavações Giv'at ha Mivtar
revelaram doze esqueletos do sexo masculino que possuíam, em média, 5 pés e 4
polegadas de altura. Inquestionavelmente, com a altura estimada do corpo do homem
no Sudário, ele seria considerado alto para a época.

Os Efeitos da Coroa de Espinhos

As imagens correspondentes à testa que representam sangue (Figura 12-5) revelam a


impressão de um "3 reverso" no lado esquerdo, uma estria bifurcada no lado direito,
que segue até o cabelo, e várias imagens individuais na sobrancelha e no cabelo.
Inúmeras marcas tortuosas são percebidas no cabelo, dos dois lados. Esse padrão é
compatível com os ferimentos criados pela coroa de espinhos, que foi construída em
formato de boné, e não em forma de círculo. As fotografias tridimensionais
computadorizadas feitas por Giovanni Tamburelli, do Centro de Estudos e Laboratório
de Telecomunicações de Turim (que serão discutidas mais tarde), retratam
vividamente muitas dessas características.

Foi postulado que a configuração na testa que se assemelha a um "3 reverso" seria
devida a sulcos profundos da testa, mas isso não passa de alta especulação, pois
tais sulcos teriam que ter sido muito profundos, e, mesmo assim, duvido de que
teriam produzido tal resultado. A explicação mais plausível é que, depois da
remoção da coroa de espinhos, o desalojamento dos coágulos de sangue seco provocou
um escoamento de sangue dos ferimentos. Se o corpo estivesse sendo levado para a
tumba, os movimentos do corpo teriam facilmente contribuído para formar o fluxo
tortuoso.

241

242

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

A teoria de que os espinhos perfuraram as artérias frontais-que fornecem sangue


para a região da testa-, causando a configuração do "3 reverso" no Sudário, é
indefensável. Mesmo feixes de finas arteriolas (vasos sanguíneos arteriais
microscópicos) teriam causado uma torrente de sangue, e não um fino, quase
insignificante fluxo, e teriam ensopado todo o rosto e o pescoço, e talvez o corpo.
A região da cabeça é altamente vascularizada, ou seja, contém miríades de vasos
sangüíneos, tendo a área superficial abundância de pequenos capilares. Assim, é
mais lógico presumir que pequenos capilares superficiais foram atingidos pelos
espinhos. Além disso, sob um ponto de vista forense, seria mais provável que o
desalojamento post mortem dos coágulos quando a coroa de espinhos foi removida
tivesse causado um breve fluxo de sangue na testa durante os movimentos do corpo da
cruz até o Sudário, com o subseqüente fluxo da parte de trás da cabeça causando um
padrão de encharcamento por causa do peso da cabeça contra o Sudário.

O Sudário sugere escoriações e inchaço da testa e da sobrancelha, um corte ou


inchaço no lábio superior do lado direito e mandíbula inchada. Essas observações
foram verificadas pelas fotos de Tamburelli (veja a Figura 15-2), que serão
discutidas no Capítulo 15, na Avaliação Tridimensional do Sudário.

Sangue no Cabelo

As imagens de sangue na região do cabelo na parte da frente do Sudário sempre foram


interpretadas como apenas isto-"sangue no cabelo"-,e nunca algo mais. Recentemente,
no entanto, Lavoie e Adler tentaram demonstrar que talvez não seja exatamente
assim; o sangue estaria no rosto, não no cabelo. Eles reproduziram os caminhos do
sangue numa roupa tendo como base um negativo em tamanho natural do Sudário e
desenharam as marcas de sangue. Envolveram a vestimenta na cabeça de um homem
barbado para que as marcas se alinhassem com seu rosto. Então, aplicaram tinta aos
desenhos. As marcas de sangue apareceram todas no rosto, e não no cabelo do homem.
Eles

DESCRIÇÃO DO SUDARIO

concluíram que as imagens de sangue foram conseqüência do contato com a frente e as


laterais do rosto, dando a falsa impressão de que o sangue estava no cabelo. Eu
concordo que essas imagens de sangue no cabelo poderiam ter ocorrido como
conseqüência do contato, mas as experiências de Lavoie e Adler não descartam o fato
de que o padrão de sangue no cabelo possa ter ocorrido em virtude de sangue no
cabelo per se, se considerarmos os efeitos da penetração de múltiplos espinhos
afiados e dos subsequentes golpes na cabeça desferidos pelos soldados romanos
durante a coroação zombeteira de Jesus. Acredito que o cabelo poderia conter uma
quantidade significativa de sangue, porque o couro cabeludo é uma área altamente
vascularizada, e haveria um sangramento abundante e bastante espalhado, que depois
teria secado, produzindo uma consistência similar àquela obtida com spray para
cabelo. A breve lavagem do corpo durante o cerimonial judaico (veja o Capitulo 14-O
Homem do Sudário Foi Lavado Depois da Morte?) e/ou a remoção da coroa de espinhos
teriam perturbado os coágulos, causando os padrões de fluxo sanguíneo vistos na
região do cabelo. Nossas experiências com perturbação de coágulos realizadas em
cadáveres mediante lavagem (veja as Figuras 14-3 a 14-6) ou remoção dos
instrumentos mortais de seus ferimentos mostram isso.

Lavoie também indica que o homem do Sudário tinha que estar em posição vertical
durante a formação da imagem, porque o cabelo é visto ao longo das laterais do
rosto. Não estou convencido de que seus estudos forneçam evidência para sustentar
isso. Em minha reconstituição forense dos efeitos da coroa de espinhos, o cabelo
estaria saturado com sangue, que teria ficado seco, produzindo o efeito similar ao
de spray para cabelo e justificando sua posição ao longo das laterais do rosto.

243

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Mãos

Não é totalmente correto afirmar que a impressão do ferimento nas costas da mão
direita está sobre a área do pulso. O ferimento na região atrás da palma é onde o
pulso encontra os ossos metacarpais das costas da mão (veja a Figura 6-5). Isso é
retratado nas fotografias tridimensionais em relevo feitas por Tamburelli (Figura
15-3), que mostram os dedos, costas da mão, pulso e imagem do ferimento. Quando um
prego penetra a fissura tenar da palma, como foi indicado anteriormente, ele sai
entre a base dos ossos metacarpais do indicador e do dedo médio e os dois ossos
carpais correspondentes, no ponto indicado na impressão no Sudário de Turim.

Foi experimentalmente demonstrado, no Capítulo 6, que o padrão de bifurcação não


poderia ter ocorrido em razão das duas posições hipotéticas que a vítima assumiu na
cruz. Por conseguinte, é postulado que quando o prego foi removido do pulso de
Jesus, um coágulo ou pseudocoágulo de sangue seco foi perturbado, produzindo um
fluxo de sangue da protuberância estilóide ulnar, resultando em uma divergência dos
caminhos percorridos pelo sangue (veja "Ferimento na Mão", no Capítulo 14).

Retração dos polegares

Barbet foi o primeiro a propor a teoria de que os polegares estão faltando no


Sudário pelo fato de os pregos terem ferido os nervos medianos durante sua rota
através do pulso, fazendo com que os polegares se flexionassem para dentro das
palmas. Ele indicou que o nervo mediano foi secionado pela metade ou então em dois
terços quando os pregos penetraram o Espaço de Destot, fazendo com que os polegares
se retraíssem. A explicação para esse fenômeno é que o prego estimula o nervo
mediano quando o atinge, causando uma contração dos músculos da eminência tenar, o
que provocaria a retração dos polegares. Não é nada disso! Se o nervo mediano fosse
danificado, ele se flexionaria momentaneamente, então se estenderia e permaneceria

244

DESCRIÇÃO DO SUDÁRIO

desse jeito. Isso foi confirmado pelo dr. Ernest Lampe, um dos principais
cirurgiões de mão do mundo, que ao discutir os ferimentos no nervo mediano em seu
livro, Surgical Anatomy of the Hand", relata que, quando ocorre o rompimento do
nervo mediano, "ocorre inabilidade para flexionar o polegar, o indicador e os dedos
médios". Também consultei vários cirurgiões especializados em reconstrução de mão,
e todos eles concordaram em que pode haver um rápido reflexo inicial, seguido por
uma extensão do polegar.
Existe, porém, uma explicação simples para o fato de os polegares não estarem
visíveis no Sudário. Isso acontece por causa da posição natural dos polegares, já
que, tanto numa pessoa viva quanto em um cadáver, eles ficam na frente e
ligeiramente ao lado do dedo indicador (Figura 12-10 a eb). Seria quase impossível
obter imagens dos polegares, já que eles nunca teriam tocado o Sudário. Observei
isso em meu dia-a-dia como médicolegista durante mais de 34 anos, em indivíduos
mortos que são comumente trazidos ao necrotério envoltos em mortalhas ou lençóis
com seus pulsos cruzados e muitas vezes amarrados um ao outro. Os lençóis que
cobrem os corpos nunca tocam os polegares. Em todos os casos, os polegares ficam na
frente e ligeiramente ao lado do dedo indicador.

De acordo com um artigo do Medical World News, escrito em 1980 por Rhein, depois de
ter ouvido minha explicação, até o dr. Bucklin concordou que minha teoria pode
estar correta. Ele também disse que algumas das mais recentes fotografias
computadorizadas feitas pela equipe do STURP "mostram o polegar ao lado do dedo".
Para que você se convença, faça o seguinte: coloque suas mãos ao longo do corpo,
numa posição relaxada, e veja onde os polegares ficam posicionados em relação à
mão. Você vai perceber prontamente que eles estão na frente e ligeiramente do lado
dos dedos indicadores. Eu

"N. do T: "Anatomia Cirúrgica da Mão".

245

246

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

tenho exposto isso por muitos anos, e finalmente consegui convencer muitos devotos
de Barbet depois que o artigo do Medical World News foi publicado.

Impressões de Sangue nos Braços

As impressões correspondentes ao sangue nos braços mostram um padrão de marcas


confluentes que quase chegam ao cotovelo, no lado direito, e uma agregação de
"riachos" que correm em direção diagonal rumo ao cotovelo e ao lado de fora do
braço esquerdo. A explicação mais plausível para essas marcas tem a ver com a
remoção dos pregos dos ferimentos das mãos/pulsos (os pregos teriam "selado" os
ferimentos durante a suspensão), iniciando um fluxo de sangue post mortem contendo
fibrinolisina. Como esse fluxo de sangue não estava presente inicialmente após a
morte, ele é considerado "sangue impuro" de acordo com os costumes funerários
judaicos, e não seria lavado. Reporte-se ao tópico "Padrões de Fluxo no Braço", no
Capítulo 14, para uma explicação completa.

Açoitamento

As impressões no Sudário representando marcas de açoitamento são bem definidas, e a


maior parte delas lembra o formato de um haltere, localizando-se nas costas,
ombros, pernas, peito e abdômen (veja as Figuras 12-4 e 12-6). Há mais de cem
impressões relativas a marcas de açoitamento no Sudário. É interessante saber que
dois cientistas, Lorre e Lynn, do Laboratório de Propulsão de Jatos de Pasadena,
analisaram marcas de açoitamento criando um tipo de gradação de relevo usando seu
IBM 360/65. Sua pesquisa propõe que houve duas direções, sugerindo dois soldados
romanos, em lados opostos da vítima (ou um soldado trocando de lado). Exames
microscópicos das marcas revelam a presença de halos ao redor delas e fotografias
ultravioleta fornecem mais detalhes. O exame desses halos revelou a presença de
soroalbumina, que seria extremamente difícil forjar por causa do
FIGURA 12-10

DESCRIÇÃO DO SUDÁRIO

Posição dos polegares.

a. Visão lateral da mão. O braço está naturalmente posicionado de lado com a palma
voltada para o corpo. O polegar está diretamente na frente do dedo indicador.

b. As costas da mão

mostrando que o polegar não está visível, já que ele fica naturalmente na frente e
ligeiramente ao lado do dedo médio.

tamanho e da quantidade de marcas. Já que as perfurações teriam coagulado antes da


morte, o que teria causado as impressões no Sudário? As bem-definidas bordas das
marcas de açoitamento tornam evidente que o corpo foi lavado antes de ser colocado
no Sudário, ou então as impressões estariam ausentes ou mal-definidas (veja a seção
"O Homem do Sudário Foi Lavado Depois da Morte?")

A Área dos Ombros

Uma imagem consistente com uma abrasão está presente na região do ombro direito, o
qual parece estar mais baixo que o esquerdo. Existe também uma imagem na região da
escápula esquerda consistente com uma abrasão. Essas abrasões são consistentes com
os ferimentos causados pelo ato de carregar a barra horizontal da cruz.

247

248

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

O Ferimento Lateral

Depois de medir o ferimento que tem um formato quase oval, no lado direito do
Sudário, numa reprodução fotográfica em tamanho natural, eu concordo plenamente com
a localização do ferimento proposta pelo dr. Barbet, que foi entre a quinta e a
sexta costelas, com o lado direito do machucado medindo cerca de 15 centímetros a
partir do centro do peito e o lado inferior esquerdo medindo um pouco menos de 6
centímetros a partir do centro do peitoral. Uma mancha de sangue abaixo da área do
ferimento oval indica que logo antes de a lança penetrar algum sangue correu pela
região do peito, secando e coagulando. Então, quando a vítima foi retirada da cruz
e colocada no Sudário, uma quantidade de sangue liquefeito vazou do grande
ferimento lateral para as costas, criando marcas horizontais (veja as Figuras 12-4,
12-6). Existe evidência de coágulo e separação de soro em algumas áreas. As
fotografias tridimensionais do Sudário feitas por Tamburelli mostraram saturação
adequada do ferimento do peito (veja Figura 15-3). A quantidade de sangue e a
descarga aquosa tinham de ser muito pequenas (veja o Capítulo 14).

Pés e Pernas

A interpretação da imagem dos pés e pernas é uma área de controvérsia na pesquisa


do Sudário. É difícil entender a presença de imagens concomitantes das costas e das
coxas, das panturrilhas, os aspectos superiores da frente das pernas e toda a sola
dos pés e a ausência de uma imagem da frente da parte de baixo das pernas (veja a
Figura 12-1). Certamente, se os joelhos estivessem dobrados em rigor mortis, mesmo
ligeiramente, de forma que as solas dos pés ficassem grudadas ao Sudário, a parte
de trás dos joelhos e das coxas não deixaria imagens. Como, então, explicar esse
efeito da imagem? Uma explicação lógica é que, quando o corpo em estado de rigor
mortis foi colocado no Sudário, o rigor nos joelhos foi quebrado para que as pernas
ficassem estendidas. O excesso de tecido na parte de trás do corpo, na região dos
pés, foi

DESCRIÇÃO DO SUDÁRIO

então puxado para cima das solas e posto em volta dos dedos até o topo dos pés. Em
seguida, o tecido no topo do corpo foi puxado para cima das coxas, joelhos, e parte
inferior das pernas, diretamente para os dedos dos pés. Essa explicação parece
estar de acordo com o que postulou o frade Werner Bulst: "A razão pela qual não há
imagem da sola do pé direito (exceto por um segmento do calcanhar) e parte inferior
da panturrilha esquerda talvez se deva a uma ligeira flexão do joelho, provocando a
flexão do pé ligeiramente para a frente, ou a retração do pé esquerdo para dentro,
para cima do pé direito, logo acima dos dedos deste. Em primeira instância, quando
a vestimenta foi puxada para cima das solas, ela teria grudado na sola direita, mas
ligeiramente distante da sola do pé esquerdo, e, em segunda instância, a sola do pé
esquerdo teria sido protegida da vestimenta pelo pé direito". É importante notar
que ambas as instâncias parecem explicar o aparente encurtamento da perna esquerda.

Objetos Variados Reportados No Sudário

Várias imagens de baixo contraste e esmaecidas de cerca de 28 plantas e flores


foram identificadas no Sudário e reportadas por Whangers e Avinoam Danin, um
botânico de Israel. Estão incluídas Chrysanthemum coronarium, Zygophylliendiamoson,
Guendeiatoumefortii, Cistusorticus, Capparis aegyptia e outras. Além disso, eles
identificaram um filactério (uma caixa quadrada, pequena, de couro) judaico entre
as sobrancelhas, um prego de 16 centímetros perto da coxa esquerda, um contorno
parcial de uma lança romana (basta), uma esponja amarrada a um grande graveto, um
martelo, um grande par de pinças, dois açoites romanos, um par de sandálias, um
amuleto de Tibério César, um filactério profanado no ombro esquerdo, uma vassoura,
uma pá ou espátula numa caixa, uma espiral de corda e uma estrutura de coroa
composta de espinhos de Gundelia tournefortii no ombro direito. Mais tarde, imagens
de duas coroas de espinhos sobre o ombro direito foram reportadas por Whangers. Ele
indica que boa parte das pessoas vai ter dificuldades

249

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

para ver essas imagens e diz que isso é compreensível, já que levou muito tempo
para estudá-las. Completa afirmando que elas são vistas nas fotos de 1931 tiradas
por Enrie, mas não nas que foram feitas em 1978.

A existência dessas imagens variadas no Sudário é uma área de intensa controvérsia.


Quase todos os pesquisadores do Sudário que eu questionei me informaram que não
conseguiram identificar nenhum dos itens citados e duvidam de que eles existam.
Sinto que a minha experiência de mais de 34 anos em leitura de raios X na prática
da medicina legal e o fato de eu ser PhD em microscopia eletrônica me dariam
suporte. Mas depois de horas estudando as fotos em alta resolução de Enrie que me
foram cedidas pelo padre Weyland, fui incapaz de identificar essas imagens com
qualquer grau de certeza. Muitos experts acreditam que essas imagens não existem e
que são apenas padrões aleatórios que aparecem no filme ou no tecido. Elas poderiam
ter sido criadas devido ao alto contraste exigido para se obter as fotos impressas.
Eu não descarto a presença de pólen, já que é evidenciada nas imagens obtidas por
meio de microscópio eletrônico. Num e-mail ao dr. Whanger e ao Grupo Yahoo de
Ciência do Sudário de 30/7/2003, Barrie Schwortz, fotógrafo oficial da equipe
STURP, pesquisador do Sudário e especialista em imagens, apontou que "se descarga
elétrica foi o mecanismo para formação de imagem das flores, por que nós não vemos
a parte de trás das flores, folhas e ramos na parte dorsal? Descarga elétrica não
funciona em apenas uma direção, mas em todas elas". (Esse é um conceito muito
importante que deve ser explorado mais adiante.) Barrie Schwortz indicou num e-mail
ao dr. Whanger:

O que você chamou de "imagens" poderiam ser facilmente manchas químicas e outros
elementos nas fotografias com mais de 30 anos de existência, em preto-e-branco,
reveladas em alto contraste, que você utilizou. Enrie fotografou o Sudário em filme
ortocromático, que apresenta alto contraste e é tipicamente usado em litografia.
Ele

250

DESCRIÇÃO DO SUDÁRIO

certamente realça o contraste da imagem, mas não fornece uma visão acurada do que
realmente está no Sudário, já que ele captura os matizes mais leves de cinza e os
converte em branco puro; os matizes cinzaescuro ele converte em preto puro, mudando
os dados. O que aparece na foto é deslumbrante aos olhos, mas não necessariamente
representa acurada e cientificamente o que se encontra no Sudário. As fotos de
Enrie não contêm nenhum dado das cores que existem no Sudário. Imagens com tons e
colorações contínuas podem providenciar mais dados para que se possa determinar o
que realmente existe na peça. Eu acredito que um efeito observável deveria ser
observável por todo mundo, mesmo se não conseguimos identificar aquilo que estamos
olhando. Você me disse uma vez que somente um botânico poderia distinguir as
imagens de flores. Eu então retruquei que TODOS deveriam ser capazes de vê-las, mas
que talvez somente um botánico pudesse IDENTIFICÁ-LAS. Vamos encarar o fato: mesmo
os mais céticos concordam que existe a imagem de um homem na vestimenta. Por què?
Porque eles podem vê-la.

Em referência a todos os objetos que Whanger também identificou, o estudioso judeu


Joe Zias, ex-curador do Departamento de Antigüidades de Israel, relatou em um
artigo do "Approfondimento Sindone" (ano II, vol. 1):

Se esses pesquisadores estivessem familiarizados com os costumes funerários


judaicos do passado e de hoje, aqui em Jerusalém, então iriam saber que hoje, como
no passado, os mortos quase nunca são enterrados com qualquer tipo de objeto. A
Mishná declara explicitamente: "Um homem deve aprender a não ser perdulário,
afinal, quem acumula artefatos em cima dos mortos não transgrediria as
determinações contra a destruição injustificada?: Os rabinos Meir e Eleazar bar
Zakok dizem: "Ele o desonra" (The Tractate Mourning 9:23).

"N. do T.: Nome dado ao principal texto do judaísmo rabínico,

251

252

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

De fato, muitos dos objetos alegadamente "vistos no Sudário são, sem sombra de
dúvida, não-judaicos e pagãos: (1998)
Parece um tanto implausível que o centurião romano que acertou a lança em Jesus
desistisse da arma para que ela fosse enterrada junto

Dele.

{13} HISTÓRIA DO SUDÁRIO

A verdade é a única virtude que dá dignidade e valor à história. Lord Acton, 1834-
1902

U m breve relato da história do Sudário de Turim é apresentado aqui ao leitor para


que ele tenha uma noção básica. Um relato histórico completo seria desnecessário,
tendo em vista as numerosas obras disponíveis (consulte obras de D. Scavone, I.
Wilson, R. Morgan e outros autores listados nas referências bibliográficas, no
final deste livro).

A documentação histórica se torna firme por volta de 1349, quando o Sudário estava
em posse de Geoffrey de Charny, lorde de Lirey, mas sua trajetória anterior tem
sido objeto de muita controvérsia. Referências ao Sudário ou à sua imagem são
estas: nos dois primeiros séculos, ele foi citado nos evangelhos apócrifos. No
século IV, foi relatado por Arculfo, bispo da França; no século XII, por Luís VII e
Emanuel, o primeiro Comneno; e no século XIII por Robert de Clary. Os estudos do
falecido Paul Vignon, professor de Biologia do Instituto Católico de Paris, no
começo do século XX, deram grande ímpeto

254

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

para que se preenchessem falhas na cronologia. Ele descobriu que ícones e outras
pinturas bizantinas da cabeça de Jesus continham incríveis semelhanças com a imagem
no Sudário de Turim, como a barba, a ausência de pescoço, o nariz adunco, uma
sobrancelha erguida, um bigode dividido, olhar fixo, olhos de coruja, narinas
largas e marcas peculiares, como uma figura quadrada e parecida com uma caixa, com
o lado de cima faltando (acredita-se que seja um filactério) e com ou sem um "V"
embaixo dessa caixa na área entre os olhos. Os ícones contêm algumas dessas
características citadas ou todas elas. Eles incluem a catacumba de São Ponciano em
Roma, que data do século VIII (Figura 13-1); a Imagem de Edessa, uma pintura em
tecido (544); o Cristo Pancreator no Monastério de Santa Catarina, no Sinai (550);
o Ícone de Cristo em São Ambrósio (700); Mosaico Cristo Pancreator no domo da
Igreja de Daphne, Grécia (1050); e o mosaico do Cristo Entronado na Catedral de
Hagia Sophia (850). Em seu livro Unlocking the Secrets of the Shroud, o dr. Lavoie
cita o dr. Ernst Kitzinger, professor da Universidade de Harvard e expert em arte
bizantina, que relatou:

O Sudário de Turim é único em arte. Ele não se encaixa em nenhuma categoria


artística. Nós, um grupo muito pequeno de experts de todas as partes do mundo,
acreditamos que o Sudário de Turim seja o Sudário de Constantinopla. Vocês sabem
que os cruzados levaram muitos tesouros de volta para a Europa durante o século
XIII, e acreditamos que o Sudário seja um deles. E quanto às marcas de sangue que
teriam sido feitas por artistas, não existem pinturas que tenham marcas de sangue
como as do Sudário. Vocês são livres para olhar à vontade, mas não vão achar nada
parecido. (Lavoie, 1998)

Os primeiros cristãos do primeiro século teriam mantido a vestimenta cuidadosamente


dobrada e escondida, já que os judeus consideravam um Sudário que tivesse envolvido
um corpo como algo

"N. do T: "Desvendando os Segredos do Sudário".

HISTORIA DO SUDÁRIO

FIGURA 13-1

Ícone de Cristo descoberto na catacumba de São Ponciano, em Roma, que data do


século VI ou VII.

impuro. Os recentes estudos de Ian Wilson, embora circunstanciais e especulativos,


indicam que o Sudário de Turime a Imagem de Edessa, mais tarde referida como
Mandylion, eram a mesma peça. A lenda da imagem de Edessa relata que no século II o
rei Abgar V de Edessa (atualmente Urfa, na Turquia) estava tomado pela lepra e
mandou que Jesus viesse curá-lo. Em vez disso, Jesus enviou a ele um pano, contendo
uma imagem miraculosa de sua face, que imediatamente curou o rei. A imagem passou a
ser referida como um archeiropoitos, palavra grega que significa "algo que não foi
feito com as mãos". Wilson desenvolveu a teoria de que a imagem de Edessa foi
dobrada em quatro com uma proteção e mantida num baú na Igreja de Santa Haggia
Sofia, em Edessa, até o século XIII, quando foi supostamente levada a
Constantinopla, em agosto de 904, pelos exércitos bizantinos, e também passou a ser
chamado de Mandylion (lenço). Um grande feito na pesquisa de Wilson foi descobrir
que Gregório, que foi um arquidiácono em

255

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

FIGURA 13-2

Manuscrito de Orações com detalhe (que mostra os "buracos de atiçador"). Manuscrito


de Códigos de Orações húngaro, que se encontra na Biblioteca Nacional Szecheneyi,
de Budapeste. Ele inclui os quatro buracos correspondendo ao alinhamento exato dos
furos no formato de "L" (buracos de atiçador) do Sudário, o corpo nu de Jesus com
as mãos cruzadas e sem os polegares deitado em um tecido com padrão espinha de
peixe, e dedos peculiarmente longos, assim como se observa no Sudário. O detalhe
mostra os quatro buracos no Manuscrito de Orações. (Veja também a Figura 12-2.)

256

HISTORIA DO SUDÁRIO

cerca de 944, revelou em um sermão que a imagem não apenas mostrava o rosto como
também tinha sangue e água dos ferimentos do lado, indicando pela primeira vez que
o Mandylion tinha um tamanho integral. Wilson também demonstrou que se uma
fotografia em tamanho natural do Sudário de Turim fosse dobrada em quatro, somente
o rosto ficaria visível. Em 1192, Gyorgy Pray, um estudioso jesuíta, descreveu
muitas características do Sudário no Manuscrito de Códigos de Orações que se
encontra na Biblioteca Nacional Szecheneyi, de Budapeste. Durante uma visita a essa
biblioteca, Jerome Lejeune, professor de Genética da Universidade de Paris e
Sorbonne, notou buracos correspondendo, em exato alinhamento, aos furos em "L", os
chamados "buracos de atiçador" no Sudário (veja a Figura 12-7), o corpo nu de Jesus
com as mãos cruzadas e sem os polegares deitado em um tecido com padrão espinha de
peixe, dedos peculiarmente longos, uma mancha de sangue acima do olho direito
correspondendo à mancha do "3 reverso", da mesma forma que se observa no Sudário
(Figura 13-2). Essas descobertas apóiam a suposição de que o Mandylion, ou Imagem
de Edessa, era na realidade o Sudário de Turim, e supostamente foi levado de
Constantinopla para a França no século XIII por um Cavaleiro Templário da família
Charny. Os Cavaleiros Templários eram uma ordem secreta religiosa formada por ex-
cruzados que adoravam uma imagem misteriosa e lutavam para proteger os
necessitados. Porém, 1350 é a data mais antiga em que podemos confirmar
definitivamente a existência do Sudário. Geoffrey de Charny, supostamente um líder
templário, construiu a Igreja Lirey no começo dos anos 1350, onde instalou o
Sudário. Além disso, uma medalha de peregrinos ligeiramente danificada, que hoje se
encontra no Museu Cluny, em Paris, e que mostra o Sudário em referência a uma
exibição da peça acontecida em 1357, foi encontrada no fundo do rio Sena (Figura
13-3). Essa medalha também exibe os chamados "buracos de atiçador".

257

258

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

FIGURA 13-3

Medalha de peregrino encontrada debaixo da Pont au Change, no fundo do rio Sena, em


1855. Uma medalha de peregrino que se encontra no Museu Cluny, em Paris, detalha o
Sudário a partir de uma exposição que se deu em Lirey, em 1357, e foi encontrada no
fundo do rio Sena.

A questão de uma possível fraude artística surgiu pela primeira vez em 1359, quando
Henry de Poitier, bispo de Troyes, supostamente proibiu Jean de Vergy, viúva de
Geoffrey de Charny, de exibir o Sudário, já que ela estava lucrando com isso. O
bispo de Poitier alegou que o Sudário era fraudulento e que havia descoberto o
artista que o havia pintado. A favor do fato de que isso era um golpe, sabemos que
o Sudário não era uma pintura, que Jean de Vergy estava ganhando uma quantia
significativa, que essa foi uma época excelente para o mercado de relíquias e que
os peregrinos, que eram os compradores em potencial, estavam indo em massa a Lirey
em vez de Troyes. Infelizmente, a repercussão foi tão grande que o Sudário foi
recolhido por 32 anos, até que os Charny ganharam, em 1390, a permissão do antipapa
Clemente VII para exibi-lo novamente, mas sob certas condições. O público teria que
ser informado que o tecido não era a vestimenta com a qual Cristo teria sido
enterrado, mas sim uma imitação ou representação do verdadeiro Sudário. Essa
restrição foi supostamente respeitada, mas quando a exposição foi descoberta por
Pierre d'Arcis o novo bispo de Troyes -, este mandou um memorando a Clemente II,
informando o antipapa de que uns 30 anos antes o seu predecessor, o bispo de
Poitier, tinha descoberto a fraude e o artista que havia participado dela. O papa
Clemente II, porém, silenciou o bispo e permitiu à família Charny que seguisse com
a exposição.

HISTORIA DO SUDARIO

No século XIX, o historiador Ulysses Chevalier começou a sustentar que o memorando


de d'Arcis era a principal prova da teoria de que o Sudário não passava de uma
fraude artística. O reverendo Herbert Thurston estendeu os argumentos de Chevalier
na Enciclopédia Católica, que por muitos anos parece que convenceu os cristãos de
que o Sudário de Turim não era a mortalha de Jesus. No entanto, Rex Morgan, Editor
do Shroud News, indicou que certos fatos podem ter sido distorcidos. Ele escreveu:

...pesquisas feitas desde os relatos de Chevalier no começo do século XX jogam


considerável dúvida sobre o documento de d'Arcis, que na verdade seria um memorando
sem data nem assinatura, que nunca foi enviado ou mesmo escrito pelo tal bispo.
Existem vários documentos papais auténticos tratando da exibição da vestimenta em
Lirey nos anos 1300 que revelam uma disputa entre d'Arcis e seu predecessor e os
donos do tecido, a familia Charny. Também existem opiniões bem pesquisadas e
comprovadas de que o documento de d'Arcis não representa nada mais do que um
julgamento apressado feito durante o calor de um debate. (Morgan, 1985)

Em minha opinião, o fato mais importante que derruba a tese do memorando de


d'Arcis, de que o tal pintor confessou que havia pintado a imagem na roupa de
maneira convencional, deriva dos sofisticados testes que provaram que a imagem no
Sudário não foi criada por nenhum tipo conhecido de pintura ou mancha ou qualquer
outro método artístico.

O Sudário permaneceu na Capela de Lirey até 1452, quando Margarete de Charny, neta
de Geoffrey de Charny, trocou o Sudário com Ana de Lusignano, esposa de Ludovico,
duque de Savoy, pelo castelo de Varambon e rendas provenientes da propriedade de
Miribel, perto de Lyon. A partir de 1471, ele foi movido para e/ou exibido várias
vezes em Vercelli, Turim, Ivrea, Susa, Chambéry, Avigliano, Rivolo, Pinerolo e
muitas outras cidades. Em 1502, o seu lar passou a ser

259

260

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Chambéry, e ele foi guardado na Capela Real do Palácio Chambéry, por Margarete da
Áustria, duquesa de Savoy, e colocado num baú de prata na Capela Superior. Ian
Wilson, eminente estudioso do Sudário, recentemente me informou, em um e-mail
datado de 9/2/2003, que o baú foi comissionado por Margarete da Áustria e criado
pelo artista flamengo Leivan van Latham em 1509, a um custo de 12 mil ecus de ouro,
ou cerca de 3 milhões de dólares. Ele acha que o baú tinha que ter sido feito de
prata sólida com ornamentos de ouro, e, em vista de tamanha distinção, seria
improvável que madeira fizesse parte de sua estrutura, como já foi sugerido. Em
1532, um incêndio irrompeu e derreteu parte do baú de prata, fazendo com que a
substância amolecida pingasse nas bordas do Sudário. Os danos foram reparados pelas
Freiras Pobres Claras em 1534, que também teceram a Vestimenta Holandesa, uma
espécie de reforço para o Sudário. O Sudário viajou para Turim, Vercelli, Nice e
Chambéry durante as Guerras FrancoInglesas. Em 1578, o Sudário foi levado para
Turim por Emmanuel Filbert para poupar São Carlos Borromeo, arcebispo de Milão, da
rigorosa viagem aos Alpes. São Carlos realizou uma peregrinação no dia 6 de outubro
de 1578 para cumprir uma promessa feita durante a devastação de Milão pela peste,
segundo a qual ele iria venerar o Sudário de Turim. O Sudário foi então colocado na
Capela de Guarini, em 1694.

Em 1898, Secondo Pia, um advogado e fotógrafo amador, recebeu o privilégio de


fotografar o Sudáriode Turim durante uma exposição em honra ao casamento do futuro
rei, Vítor Emanuel III. Ele só tinha duas chances para tentar realizar afaçanha, em
meio às várias visitas dos peregrinos. A primeira tentativa no dia 25 de maio, foi
um fracasso, porque ele quebrou seus filtros e a iluminação não foi satisfatória.
Mas a segunda tentativa, no dia 28 de mao, foi vitoriosa, apesar da proteção de
cristal colocada em volta do Sucário, ordem da Princesa Clotilde, para proteger a
peça de fumaça dis velas e do incenso. Pia obteve duas exposições em chapas
fotográficas ortocromáticas de 50 x 60

HISTORIA DO SUDÁRIO
centímetros, com velocidades de 14 e 20 minutos, respectivamente, conforme a
velocidade dos filmes naquela época. Enquanto revelava o filme, tarde da noite, Pia
notou que o negativo permitia que a imagem fosse vista de uma forma surpreendente,
com uma completa inversão de luzes, dando ao Sudário as características de um
negativo, e ao negativo as características de uma impressão positiva (Figuras 13-4e
13-5). Pia ficou emocionado e disse que o impacto foi tão grande quando viu a
imagem do rosto que seu corpo simplesmente ficou petrificado.

Paul Vignon, professor de Biologia do Instituto Católico de Paris, ficou tão


intrigado com as fotografias de Pia que iniciou um longo estudo sobre o Sudário.
Isso levou a várias experiências numa tentativa de criar a imagem (veja a Hipótese
Vaporográfica de Vignon, no Capítulo 16). Yves Delage, professor de Anatomia de
Sorbonne, impressionou-se tanto com os estudos de Vignon que proferiu uma palestra
na Academia de Ciência de Paris no dia 21 de abril. Ele surpreendeu a audiência ao
anunciar que acreditava que o homem do Sudário era mesmo Jesus. Como resultado, foi
censurado pela Academia, o que fez com que o debate continuasse por anos.

Em 1918, durante a Primeira Guerra Mundial, o Sudário foi transferido para um local
seguro, e isso se repetiu durante a Segunda Guerra, no dia 25 de setembro, 1939,
quando foi escondido no Monastério Beneditino de Montevergine, em Avelion, nordeste
de Nápoles. O Sudário permaneceu em uma estrutura semelhante a uma fortaleza até o
dia 28 de outubro de 1946, quando foi devolvido a Turim (veja o recorte de jornal
na Figura 13-6). Uma exposição do Sudário aconteceu em 1931 em honra a Humberto II
de Savoy, rei da Itália e dono do Sudário, e novamente em 1933, para honrar os
1.900 anos da morte e ressurreição de Jesus.

Giuseppe Enrie, editor da Vita Photographica Italiana, durante os dias 13, 14 e 15


de maio de 1931, foi indicado a tirar fotografias oficiais do Sudário durante a
exposição em honra ao casamento do rei

261

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

FIGURA 13-4

Foto tirada do Sudário de Turim, visão frontal e em tamanho natural, antes de o


negativo ser revelado. Compare com a Figura 13-5. (Cortesia de Gene Hoyas.)

262

HISTORIA DO SUDÁRIO

FIGURA 13-5

Foto do Sudário de Turim, visão frontal, como aparece no negativo. Compare com a
Figura 13-4. Observe que há uma inversão do claro e do escuro, semelhante a uma
imagem fotográfica. (Cortesia de Gene Hoyas.)

263

LUO

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

e on Jage 1, cuma 3-7


ITALY HIDES SHROUD OF CHRIST IN SAFER, SECRET REPOSITORY

[By Wireless to the New York Times and

The Chicago Tribune.I BERNE, Switzerland, April 2- The Glornale d'Italia reported
today that as a result of aerial bombard ments the shroud in which Christ was
buried and which has been preserved in the chapel of the cathedral of Turin has
been taken secretly to a safe repository.

Only the king of Italy, the crown prince, and the archbishop of Turin know the spot
to which the pall has been removed Transfer was con firmed in a notarial
deposition. The genuineness of the relle, which in the course of history has been
several times contested, was established scientifically only 12 years ago.

FIGURA 13-6

A Itália esconde o Sudário (recorte de jornal de 1919). O Sudário foi movido para
um local seguro.

FIGURA 13-7

O Sudário de Turim é confiado ao Papa (recorte de jornal de 1983).

King Umberto

Shroud of Turin Left to Pope

Italy's deposed King Umberto, who died March 18, left the Shroud of Turin, believed
to be the burial cloth of Jesus Christ, to Pope John Paul II in his will, a
spokesman for the family has confirmed.

The shroud, a 14-foot-long linen cloth, is on display to the public in the Turin
cathedral, but has belonged to the royal house of Savoy since the Middle Ages. It
bears marks many Catholics believe to be the imprint of the face of Christ.

264

HISTORIA DO SUDÁRIO

Humberto III. Ele tirou uma série de excelentes fotografias usando os equipamentos
mais modernos e o melhor conhecimento disponível na época. Não foram feitos
retoques. De fato, vários fotógrafos foram trazidos para examinar as chapas e
atestaram que isso não aconteceu. Foi até preenchida uma declaração juramentada na
presença de Guilo Turbilo, tabelião de Turim, no dia 28 de maio de 1931.

Houve uma tentativa de destruir o Sudário em 1972, quando um intruso subiu pelo
teto do Palácio Real e entrou na Capela Real. A relíquia foi salva pela proteção de
asbesto no interior do sepulcro, no altar Bertola (veja "O Incêndio de 1997", a
seguir). Desde sua aquisição em 1452 e até a morte de Humberto II, no dia 18 de
março de 1983, o Sudário esteve sob poder da Casa de Savoy. O rei Humberto II cedeu
o Sudário ao papa João Paulo II (veja o recorte de jornal, Figura 13-7).
Aconteceram também exposições em 1978 e 2000. Em novembro de 2000 o Sudário foi
colocado no baú Alenia, até sua remoção para restauração, em 2002.

O INCÊNDIO DE 1997

No dia 11 de abril de 1997, sexta-feira, perto da meia-noite, um fogo intenso


começou na ala oeste do Palácio Real, na área do Domo da Capela, e se alastrou até
a Capela Guarini. As chamas podiam ser vistas emanando do Domo. Se não fosse a
resposta rápida do Departamento de Combate a Incêndios de Turim, particularmente a
ação de um bombeiro chamado Mario Trematore, e o fato de o Sudário ter sido movido
da Capela para outra parte da Catedral durante os restauros, ele teria sido
destruído ou danificado de forma irremediável. O Sudário estava num relicário de
prata atrás de um vidro à prova de balas com 39 milímetros de espessura. O estojo
que abrigava o Sudário tinha um mecanismo de segurança complicado, que consistia em
três paredes de vidro com um complexo mecanismo de abertura que requeria 30 minutos
para ser desativado. Ele foi construído em St.

265

266

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Gobain, na França, a um custo de aproximadamente 300 milhões de liras. O


Departamento de Combate a Incêndios de Turim respondeu imediatamente ao fogo,
mandando 200 bombeiros. O capitão Mario Trematore estava de folga, mas viu as
chamas e correu para a catedral. Contudo, os intrincados mecanismos de abertura não
funcionaram, supostamente por causa dos efeitos do fogo, obrigando o capitão
Trematore a quebrar o vidro a prova de balas com um machado para remover o Sudário
e escapar. O baú de prata foi então levado ao apartamento do cardeal Saldarini,
curador do Sudário. A causa do fogo era desconhecida, mas houve uma série de
suspeitos e a investigação prosseguiu. No dia 14 de abril de 1997, o baú do Sudário
foi aberto e ele foi inspecionado na residência do cardeal Saldarini, e constatou-
se que não houve qualquer dano.

Quatro séries de evidentes queimaduras redondas num padrão simétrico são visíveis
no Sudário. Elas não podem ser atribuídas ao incêndio que ocorreu em 1532 em
Chambéry, já que a sua localização sugere um sistema de dobragem diferente daquele
que se deduz a partir das queimaduras resultantes do incêndio de Chambéry. Esses
buracos de queimadura foram feitos certamente antes de 1532, já que eles aparecem
em uma pintura do Sudário feita em 1526 e mantida em Lierre, Bélgica. Os buracos
não foram remendados, da mesma forma que aqueles produzidos pelo fogo de Chambéry.
De fato, a Vestimenta Holandesa que foi costurada para reforçar a estrutura do
Sudário durante a restauração de 1534 é visível por baixo deles.

{14} CONCEITOS FORENSES E INTERPRETAÇÕES POST MORTEM

Fatos que a princípio parecem improváveis vão, mesmo com escassa informação,
abandonar o manto no qual estão escondidos e se revelar em sua nua e simples
beleza. Galileu Galilei

ara que se possa interpretar o Sudário de forma mais significativa, é necessário


que o leitor se familiarize com certos conceitos da patologia forense, incluindo
rigor mortis, espasmo cadavérico e características do sangue post mortem. Esses
conceitos são muito importantes, porque há uma forte evidência de que o homem do
Sudário encontrava-se em estado de rigor mortis ao ser colocado na peça, e também
porque as várias impressões indicando ferimentos e padrões de fluxo de sangue
requerem interpretação científica.

268

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS
RIGOR MORTIS

O termo rigor mortis vem do latim e significa "rigidez causada pela morte". Essa
rigidez e o encurtamento dos músculos são causados por uma irreversível reação
química. As mandíbulas, pescoço, braços, pernas e tronco se tornam duros como pedra
e ficam na posição em que o indivíduo se encontrava pouco antes de sua morte. Por
exemplo, se o indivíduo morreu enquanto uma perna estava numa posição elevada e o
braço acima de sua cabeça, esses membros vão se manter desse jeito por cerca de 12
horas depois que o rigor mortis se estabeleceu. Esse fato tem significado médico
legal para determinar se o corpo foi movido depois que o rigor mortis aconteceu.
Por exemplo, se um corpo é encontrado estendido com as pernas suspensas no ar, é
óbvio que ele foi movido da posição onde elas repousavam. O rigor mortis geralmente
começa nas mandíbulas, músculos faciais e pescoço, aproximadamente três horas após
a morte, e se manifesta progressivamente nos músculos do pescoço, peito, pulso e
tornozelos, joelhos e quadris, tornando-se completo num período de 18 a 36 horas. O
estado de rigor permanece por cerca de 12 horas e gradualmente desaparece. Embora o
rigor mortis seja usado na patologia forense como uma forma de se verificar a hora
em que ocorreu a morte, ele é muito variável, e por isso não é de forma alguma
confiável, sendo utilizado, então, junto com critérios.

Origor mortis é causado por uma complexa reação química que é natural às fibras
musculares. A seguir, tem-se uma explicação simplificada do processo. Cada músculo
é formado por miofibrilas microscópicas que são quimicamente constituídas de dois
tipos de filamentos de proteína, finos e grossos, chamados actina e miosina.
Durante as contrações musculares, esses filamentos interagem uns com os outros,
fazendo que hastes de actina deslizem entre hastes de miosina, num processo similar
ao de um pistão dentro de um cilindro. A actomiosina é formada, e ela é mais curta
que a actina e a miosina. Um produto químico no corpo chamado adenosina trifosfato,
ou ATP, que

CONCEITOS FORENSES E INTERPRETAÇÕES POST MORTEM

fornece energia aos músculos, é convertido após a morte em adenosina difosfato


(ADP), eo rigor mortis tem início.

Essa reação química é modificada por vários fatores. A produção de calor-como


ocorre quando se tem febre-, clima quente e aumento da atividade muscular estimulam
a reação química, acelerando o rigor mortis, enquanto frio o retarda. Lembro-me de
um caso em Nova York em que um indivíduo foi baleado depois de ter sido perseguido
pelas ruas, pulando cercas, por uma longa distância, e desenvolveu rigor mortis
quase imediatamente.

QUEBRANDO O RIGOR

Se uma pessoa se encontra em estado de rigor mortis completo, a única maneira de


mudar a posição de um membro na articulação é quebraro rigor, um termo que
significa dobrar à força o membro em questão. Por exemplo, se o cotovelo se
encontra em rigor mortis e dobrado em um ângulo de 45 graus, é possível endireitar
o braço forçando o cotovelo. Quanto maior for o desenvolvimento do músculo, maior a
força exigida para quebrar o rigor.

Há uma indicação de que o homem do Sudário se encontrava em estado de rigor mortis


quando colocado na vestimenta; a ausência do espaço do pescoço na imagem frontal e
uma imagem alongada na parte de trás na área do pescoço são altamente sugestivas de
que a cabeça foi curvada para a frente no estado de rigor. As imagens das pernas e
pés também sugerem rigor mortis, porque a panturrilha direita mostra maior
densidade que a esquerda. O peito erguido também sugere rigor. O pé esquerdo mostra
uma impressão de parte do calcanhar, apenas, sugerindo ou uma curvatura bem leve do
joelho esquerdo com o pé flexionado ligeiramente para a frente ou um giro para
dentro do pé esquerdo sobre o pé direito (consulte, no Capítulo 12, "Pernas e
Pés"). Se o rigor não estivesse presente, haveria imagem simétrica das pernas. Sem
contar que o homem teria sido fixado na

269

270

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

posição de suspensão. Além disso, quando ele foi retirado da cruz, além de ter sido
quebrado o rigor nos joelhos, isso também teve que ser feito nas juntas dos ombros
e dos cotovelos, para que o homem assumisse a posição observada no Sudário. O
professor James Cameron, conhecido patologista forense do Hospital de Londres,
também atribui a rigidez dos braços ao rigor mortis e concorda que quem retirou o
homem da cruz teve que quebrar o rigor nos ombros e braços, assim, os braços
estariam posicionados como se pode ver no Sudário. É também interessante saber que
estátuas e pinturas famosas mostram Jesus nos braços de Sua mãe, em uma posição
totalmente relaxada, não em estado de rigor. Entre as estátuas estão a Pietá
(Michelangelo) e Deposizione Di Cristo Nel Sepolcro (Meridionale), e as pinturas
incluem Compianto Su Cristo Morto (Fantini), Trinita e Angelo Piangente (DeLonhy);
duas obras de Ferrari, ambas intituladas Compianto Su Christo Morto, duas obras de
Lanino intituladas Compianto Su Christo Morto, Christo Morto Sostentuto Dagli
Angeli (Trevisani); Cristo Soretto Dagli Angeli (Seiter); Deposizione Nel Sepolcro
(Heemskerk), Deposizione di Cristo e Virgine (Francia); além de várias outras. Uma
obra, porém, intitulada Compianto Su Cristo Morto, de Domenico Merzagora, mostra,
mais corretamente, Jesus estirado e suspenso, em completo estado de rigor mortis
(Figura 14-1).

FLUXO DE SANGUE DEPOIS DA MORTE

A resposta à pergunta se o sangue flui após a morte é de suma importância no que se


refere às questões em relação aos vários padrões de sangue no Sudário, assim como
na explicação do fenômeno "sangue e água" discutido anteriormente. O sangue depois
da morte pode estar em um estado coagulado ou não, dependendo das circunstâncias.
No geral, o trabalho de Yudin (1937), em sua análise de 500 casos, indicou que o
sangue se coagula em indivíduos que morrem de doenças graves como câncer,
tuberculose, septicemia, e não pode ser dissolvido

CONCEITOS FORENSES E INTERPRETAÇÕES POST MORTEM

até que se inicie a putrefação do corpo. Porém, em mortes súbitas ou violentas,


como aquelas relativas a um trauma severo, acidentes automobilísticos,
eletrocuções, concussões e ferimentos produzidos por arma de fogo, a coagulação
pode se iniciar rapidamente, mas em cerca de 15 a 30 minutos, o sangue se torna
fluido novamente. Isso não é uma regra rígida; nós já observamos sangue fluido em
indivíduos portadores de doenças graves e sangue coagulado em indivíduos que
sofreram morte súbita ou violenta - neste último caso, porém, poucas vezes. Estudos
feitos por Mole (1948) revelaram que a fluidez era relacionada à presença de
fibrinolisinas, que são elementos químicos formados no corpo que dissolvem os
coágulos. Ele descobriu que sua presença era associada com a morte rápida
relacionada a violência. Outro fator importante é que depois que o sangue post
mortem flui de um ferimento, ele raramente coagula, mas pode secar. Qualquer tipo
de umidade pode torná-lo novamente liquefeito.
Em nossas experiências diárias, exercendo a medicina legal, observamos sangramento
ou fluxo de lacerações, ferimentos produzidos por balas de revólver, facadas,
ferimentos traumáticos e coisas do gênero, mesmo no dia seguinte, quando movemos o
corpo na sala de autópsia. Além da fluidez do sangue causado pela trombolisina e
fatores de coagulação alterados, há uma ausência de contrações dos minúsculos vasos
sanguíneos, que têm um papel importante no controle do sangramento de um organismo
vivo.

Quanto ao fato de o sangue de Jesus ter fluído depois de Sua morte, essa questão
pode agora ser respondida afirmativamente, porque Sua morte se encaixa numa
situação de violência, que pode levar à fluidez do sangue. Essa morte violenta,
somada à ausência de contrações nos pequenos vasos sangüíneos, poderia facilmente
colaborar para muitas das inúmeras marcas de sangue notadas no Sudário de Turim.

271

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

272

FIGURA 14-1

Compianto Su Cristo Morto, Pintura de Domenico Merzagora, mostrando Jesus em estado


de rigor mortis ao ser descido da cruz.

FIGURA 14-2

Fibrila de linho de uma área com imagem de sangue. Material retirado com fita
adesiva. A parte escura é sangue.

FIGURA 14-3

Impressão de ferimento de uma vítima de

acidente automobilistico. Ferimento em uma vítima que ainda sobreviveu várias horas
após o acidente. A ferida foi lavada e pressionada com uma toalha de

papel.

CONCEITOS FORENSES E INTERPRETAÇÕES POST MORTEM

ESTUDOS SOBRE O SANGUE

As imagens rubras que supostamente são de sangue nas áreas de ferimento do Sudário
de Turim destacam-se em marcante contraste com o tom sépia da imagem do homem do
Sudário. Existe pouca dúvida quanto ao fato de que essas áreas têm aparência de
sangue e correspondem, no geral, diretamente às marcas feitas durante o
açoitamento, a coroação com espinhos e a própria crucificação. Estudos científicos
das "áreas manchadas de sangue" foram conduzidos pela primeira vez em 1973, por um
grupo especial de experts, a Comissão de Turim. Essa comissão foi convocada pala
primeira vez em 1969 para examinar e conduzir testes no Sudário e fazer
recomendações para futuros experimentos científicos. Em contraste, é importante
saber que as imagens de sangue permeiam a espessura total do Sudário, o que não
ocorre com a imagem do corpo, e tais imagens só estão presentes na superfície das
fibras externas. Em 1973, o professor Giorgio Franche, sorologista e diretor do
Instituto de Medicina Legal da Universidade de Modena, E. Mari Rizatti e E. Mari
fizeram testes de sangue em dez fibras separadas do tecido das áreas "manchadas de
sangue" do Sudário. O resultado foi negativo. No mesmo ano, o professor Guido
Filogamo e Alberto Zina, autoridades em anatomia humana da Universidade de Turim,
foram incapazes de encontrar evidências de sangue nas fibras do tecido utilizando
microscópio eletrônico. Eles indicaram que raramente traços de sangue podem ser
isolados positivamente, a não ser que eles tenham uma origem recente, e ambos os
cientistas admitiram que suas descobertas negativas não excluem a possibilidade da
existência de sangue. Até 1980, porém, não houve nenhuma confirmação, química ou
morfológica, de que essas áreas seriam sangue. Uma questão que sempre se formula é:
por que as áreas de sangue apresentam a cor rubra, como a de sangue fresco, e não
um vermelho amarronzado, de sangue velho? De acordo com Raes, saponária, que era
utilizada para preservar as roupas e foi identificada no Sudário, preserva também a
cor do sangue. A saponária

273

274

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

era extraída da planta Saponaria officinalis, membro da família Caryophyllacea e


também chamada de erva-saboeira e erva-sabão. A dobra de linho antigo foi tratada
inicialmente com goma durante o processo de tecelagem e depois com um preparado de
saponária. É interessante saber que a saponária acrescenta uma débil fluorescência
às áreas sem imagem. As áreas com imagem filtram essa fluorescência. No entanto, o
dr. Alan Adler atribuiu a cor avermelhada a hemólise (destruição das células
vermelhas) decorrente do trauma, mas as soluções de Saponaria também são
hemolíticas, e, por causa disso, poderiam ter realçado a cor vermelha. Outros
sugeriram efeitos da ação de bactérias,

Em 1980, porém, os drs. Alan Adler e John Heller, usando um espectroscópio e testes
microquímicos, descobriram e reportaram a presença de sangue nas fibrilas de linho
utilizando amostras retiradas das áreas de ferimento do Sudário por meio de fita
adesiva (Figura 14-2). Como os testes de sangue usuais podem resultar em falsos
positivos que podem até incluir sais de ferro e dar falsas reações negativas, em
que existe pouca solubilidade quando se usam amostras envelhecidas, eles escolheram
um teste mais específico, que poderia converter o grupo hemático suspeito a uma
porfirina que permitiria uma fluorescência Soret característica. O teste exibiu
reação positiva para sangue. Além disso, testes imunológicos demonstraram que o
sangue é de origem primata.

Odr. Baima Bollone, junto com os drs. Jorio e Massaro, reportou em 1981 que o
sangue era de origem humana, usando uma técnica de anticorpo fluorescente. O grupo
relatou que foi determinado, com sucesso, o grupo sangüíneo, que era do tipo AB.

Uma observação de grande importância, reportada em 1984 por Jumper et al. em


Archaeological Chemistry", é a ausência de imagem do corpo nas margens das imagens
dos ferimentos, sugerindo que as

N. do T.: "Quimica Arqueológica".

CONCEITOS FORENSES E INTERPRETAÇÕES POST MORTEM

imagens de sangue estavam presentes na vestimenta antes que a imagem do corpo tenha
sido colocada, aparecido ou, talvez, se desenvolvido. Seja lá o que for que
produziu a imagem do corpo, parece que o sangue protegeu as fibras do processo de
formação de imagem. Isso foi confirmado pelo dr. Adler, que submeteu um número
significativo de fibras das áreas da imagem que continham sangue à digestão
enzimática e não encontrou evidência nenhuma de imagem. O dr. Rogers olhou
diretamente para os fluxos de soro aumentados sob o microscópio e não percebeu
nenhuma cor por baixo deles, e Don Janney, também da equipe do STURP, produziu
realce RGB das imagens de fotografias de fluxos de soro e concluiu que não havia
imagem embaixo deles. O dr. Rogers também relatou, em um e-mail datado de 11/3/2004
ao Grupo de Discussão do Sudário, que a cor da imagem nos pulsos e mãos é bastante
densa, que não havia imagem sob o "fluxo de soro", e que a soma das evidências
parece apoiar a posição de que o sangue impediu a formação de imagem. O dr. Adler
também mostrou que cada ferimento apresenta anéis de retração de soro que podem ser
vistos sob raio ultravioleta, confirmando a presença de exsudatos coagulados. Os
drs. Heller e Adler confirmaram a presença de enzimas digestivas e fluorescamina.
Também confirmaram a presença de albumina por meio de verde de bromocresol.

Muitos sorologistas forenses não ficaram convencidos com a capacidade de se


determinar o tipo sangüíneo em espécimes arqueológicos desse tipo. Foi apontado
que, como o Sudário havia sido exposto ao fogo em Chambéry, a classificação do
sangue não teria valor. Mas o dr. Ray Rogers apontou que, considerando o número de
dobras (45), o aumento da temperatura teria sido mínimo. De acordo com experts na
determinação de tipo sangüíneo em amostras antigas, não existem evidências
definitivas de validade da determinação do tipo sanguíneo quando se lida com sangue
antigo, particularmente para um tipo tão incomum de sangue como AB. Essas velhas
amostras podem estar dando falsas reações positivas aos anticorpos. Além disso,

275

276

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

é conhecido que falsos positivos são comuns quando se tenta determinar o tipo
sanguíneo de amostras antigas, o que ocorre por causa de vários fatores, incluindo
a presença de antígenos de outros organismos, como insetos. Não temos idéia do que
os produtos de decomposição dentro e ao redor das moléculas fazem às ligações, nem
o que os danos das próprias moléculas acarretam à ligação dos anticorpos aos
antígenos nesses testes ao longo do tempo. Provavelmente, os reagentes não
funcionaram adequadamente nas velhas proteínas deterioradas, mas nenhum estudo
caso-controle confiável foi feito. Surpreende-me o fato de que ninguém tenha
confirmado o resultado de Bollone et al. É bom saber que o dr. Adler relatou:
"Grande parte desse material antigo dá como resultado AB porque ele pode se
confundir com contaminação bacteriana da parede das células. Testes imunológicos
são feitos por dois motivos: as proteínas têm extensões de açúcar, os chamados
sacarídeos, aos quais os anticorpos reagem, e as paredes das células de bactérias
são, na verdade, sacarídeos. Uma porção de proteínas são glicoproteínas. Acontece
que antígenos comuns do sangue tipo ABO são glicoproteínas, e assim o teste é
baseado no determinante de açúcar" (Case, 1996).

Portanto, a questão do tipo sanguíneo deve ser colocada temporariamente de lado, já


que nenhum estudo adequado foi publicado na literatura científica confirmando a
precisão de testes para determinar o sangue de espécimes arqueológicos.

Existem aqueles que insistem em que a presença de sangue nas imagens relativas às
áreas de sangue no Sudário não descartariam por completo uma fraude, já que algum
artista esperto que talvez quisesse enganar o público poderia ter usado sangue nas
áreas de ferimento e em outras áreas. Esse argumento é rebatido pelo dr. Adler, que
declarou: "Simplesmente não se pode dizer que as imagens de sangue foram pintadas.
Seria preciso um grande suprimento de exsudatos frescos de coágulos de um ser
humano traumaticamente ferido para pintar tudo de uma maneira correta do ponto de
vista forense. Ele teria, ainda,
CONCEITOS FORENSES E INTERPRETAÇÕES POST MORTEM

que pintar um anel de contração de soro em cada ferimento. A lógica sugere que um
falsário ou artesão daquela época não saberia como fazer isso, aliás, nem saberia
que seria preciso fazê-lo."

O HOMEM DO SUDÁRIO FOI LAVADO DEPOIS DA MORTE?

A polêmica em torno da questão de o homem do Sudário ter sido lavado ou não antes
de ser colocado na mortalha tem grande importância no que se refere à autenticidade
do Sudário de Turim. O conceito de que o homem crucificado não foi lavado não seria
prontamente aceitável pelo patologista forense cuja experiência também inclui
estudos de padrões de fluxo de sangue ante mortem e post mortem em tecidos durante
reconstituições forenses. A aceitação da hipótese de que a vítima não foi lavada
colocaria a autenticidade do Sudário de Turim em dúvida. Portanto, é fundamental
que essa controvérsia seja resolvida de maneira forense.

PERDA DE SANGUE E O PAPEL DO PATOLOGISTA FORENSE

A especialidade relacionada aos padrões de fluxo de sangue é uma área da patologia


forense. O patologista forense é freqüentemente convocado à corte para fornecer
testemunho sobre os padrões de fluxo de sangue e características dos ferimentos e
apresentar suas opiniões sobre os mecanismos, maneiras e a causa da morte ou dos
ferimentos concernentes às circunstâncias. Isso seria aplicado ao homem do Sudário,
que foi aparentemente açoitado, coroado com espinhos, pregado pelos pés e pelas
mãos com grandes pregos quadrados e suspenso pelas mãos por várias horas. Uma
avaliação forense da crucificação revela que cada movimento durante o tempo em que
a

277

278

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

vítima estava na cruz teria reiniciado o sangramento em várias áreas. O corpo


inquestionavelmente ficaria coberto de sangue, porque o coração bombeia em torno de
9 mil litros de sangue através de 96 mil quilômetros de vasos grandes e pequenos
para o corpo todo, a cada dia. Em lugar de cada marca exata dos ferimentos, o
Sudário, então, apresentaria grandes e indistintas massas de sangue por toda a
imagem, incluindo rosto, mãos, pés e tronco. Estudos feitos pelo dr. Adler apóiam
essa tese, pois mostram a presença de sangue somente nas áreas relativas às imagens
dos ferimentos, e não nas outras áreas do corpo.

Todo patologista forense praticante sabe que cada pequeno ferimento pode sangrar
profusamente durante a atividade cardíaca e observa resultados de sangramento de
ferimentos de praticamente todos os tipos no dia-a-dia. É também importante
perceber que, por um considerável período de tempo antes da morte, o fluxo de
sangue dos ferimentos teria diminuído, porque o estado de choque teria causado uma
acentuada hipotensão no indivíduo crucificado. É igualmente importante notar que as
marcas de açoitamento foram feitas várias horas antes de a vítima ser removida da
cruz, de forma que crostas de coágulos se teriam formado nas feridas, tornando
difícil entender como as marcas de açoitamento poderiam ter deixado impressões tão
precisas. Todo patologista forense que eu consultei concordou em que os ferimentos
teriam causado grandes sangramentos e que o corpo teria que ter sido lavado, para
estar de acordo com a precisão dos ferimentos no Sudário. Na edição de dezembro de
1980 do Medical World News, o dr. Michael Baden, patologista forense e ex-
médicolegista chefe de Nova York, concordou em que, se o Sudário é genuíno, o corpo
teria que ter sido lavado. Ele também acrescentou que, se o corpo foi lavado, deve
ter escorrido algum sangue dos ferimentos. O dr. Rogers apoiou a teoria de que o
corpo foi lavado, pois revelou que não acredita que houvesse evidência química de
suor na roupa durante o tempo em que o homem do Sudário permaneceu envolto nele.
Ele

CONCEITOS FORENSES E INTERPRETAÇÕES POST MORTEM

argumenta que resíduos de esqualene e outros elementos químicos que compõem o suor-
os quais teriam sido transportados para a vestimenta por meio dos efeitos da tensão
de superfície na fase líquida - estão ausentes do Sudário (e-mail do Grupo Yahoo de
Ciência, 5/12/2003). Quanto a esse assunto, ainda, os Gilberts não detectaram a
presença de esqualene em seu espectro, que apóia a suposição de que o corpo foi
lavado, e as análises de raios X por dispersão de energia do dr. Adler revelaram
que as áreas manchadas pela água eram pobres em sódio e potássio. Esses elementos
concentrariam sais solúveis quando a água migrasse através das áreas de imagem.

Assim sendo, se o corpo não fosse lavado, haveria uma ausência da maior parte da
imagem do corpo no Sudário, porque haveria grandes quantidades de sangue em toda a
peça, impedindo os mecanismos de produção da imagem. Já foi dito que todo o sangue
não teria, necessariamente, sido transferido para a vestimenta. Isso se opõe ao
fato de que, por ter sido violenta a morte em questão, a presença de fibrinolisina
e suor, como discutido, teriam prontamente transferido o sangue para o Sudário.
Como não há grandes áreas, irregulares, mostrando uma ausência de imagem do corpo,
o sangue deve ter estado ausente nas áreas de imagem antes da formação da imagem, e
a única forma de se obter isso seria lavando o corpo.

As impressões mostrando os vários ferimentos que o homem do Sudário sofreu incluem


numerosas marcas de açoite no formato de haltere no tronco (veja as Figuras 2-4 e
12-4); um padrão exato de sangue no braço esquerdo; um fluxo tortuoso de sangue na
testa; um padrão de bifurcação preciso nas costas da mão; e um grande bloco de
sangue no calcanhar. Estudos feitos com luzes ultravioleta desses padrões são ainda
mais precisos; as marcas de açoitamento apresentam bordas bem-definidas e arranhões
podem ser vistos entre elas.

279

280

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Os Ferimentos Produzidos pelo Açoite

Se o indivíduo morto não tivesse sido lavado, esses padrões bem definidos no
Sudário não estariam presentes, porque a maior parte do sangue nas marcas de
açoitamento teria coagulado e o sangue localizado nas áreas periféricas e no lado
externo dos ferimentos teria secado antes de a vítima ser colocada na cruz. Além
disso, os arranhões mostrados na fotografia UV fluorescente feita por Miller e
Pellicori não teriam ficado visíveis. De acordo com as experiências de Lavoie et
al., um pano teria que ser colocado no coágulo úmido não mais que duas horas e meia
depois que o sangramento parou. Além disso, os autores discutem que coágulos
umedecidos teriam que ser transferidos em uma hora para uma imagem-espelho, para
deixarem as marcas. Deixando de lado todos os outros ferimentos, ninguém discutiria
o fato de que os ferimentos devidos ao açoitamento foram produzidos e que a
coagulação começou horas antes da morte. Além disso, a maioria dos experts forenses
concorda em que o homem do Sudário apresenta evidência de rigor mortis, como já foi
discutido antes, indicando que ele já se encontrava morto havia algum tempo, antes
de ser descido da cruz. De acordo com estudos do grupo de Lavoie, esses ferimentos
perfeitamente definidos não poderiam ter sido transferidos de forma alguma. Ainda
assim, muitos dos ferimentos encontrados no Sudário de Turim são extremamente
distintos, correspondendo a marcas em forma de haltere. Mesmo se os coágulos desses
ferimentos satisfizessem os critérios de tempo e umidade postulados pelo grupo de
Lavoie, as marcas de açoitamento - incluindo as áreas sanguinolentas ao redor
delas-seriam indistintas e extremamente variáveis em tamanho e formato, dependendo
da profundidade e do ângulo do ferimento, da quantidade do fluxo de sangue, dos
padrões do fluxo e se o coágulo aderiu ou não aos ferimentos. Além disso, mesmo se
as gotas de suor que pingaram da vítima amolecessem algum sangue seco nas áreas
externas dos ferimentos, as marcas seriam indistintas e de formato variado. Porém,
se o corpo fosse lavado, o sangue seco ao redor dos

CONCEITOS FORENSES E INTERPRETAÇÕES POST MORTEM

ferimentos seria removido, provocando o vazamento de material sanguinolento. Isso


resultaria na produção de boas impressões das feridas. Para poder testar essa
hipótese, linho e toalhas de papel usados em autópsias foram gentilmente postos
(mas não pressionados) nos ferimentos de vítimas que res stiram por algumas horas
antes de sucumbirem ao acidente. Praticamente não foram produzidas impressões. Isso
foi repetido depois que os ferimentos foram levemente enxaguados com água. Somente
impressões indistintas de sangue foram feitas. Os ferimentos foram então lavados
brevemente e o procedimento foi repetido. Dessa vez, as impressões ficaram
razoavelmente boas (veja a Figura 14-3). Uma pergunta que é freqüentemente feita
relaciona-se ao padrão "3 reverso", um fluxo de sangue que se encontra na testa,
entre outras marcas menores, sugerindo que a vítima permaneceu em posição ereta. Em
mais de 34 anos como patologista forense, presencie vários rabinos ortodoxos e
ultraortodoxos posicionando os corpos de várias maneiras diferentes ao lavá-los.
Durante minhas observações de lavagem de corpos feitas por rabinos em casos de
trauma, especialmente quando o pôr-do-sol se aproximava, eles começavam a lavar
rapidamente os cadáveres, às vezes esfregando a frente do corpo, sentando-o a fim
de lavar suas costas, iniciando assim fluxos de sangue em ferimentos presentes na
face e no torso. Qualquer coisa que fluísse depois da lavagem era considerada
sangue impuro, e eles não lavavam novamente. Um rabino também me informou que, no
caso de Jesus, com o Shabat e a Páscoa se aproximando, a lavagem teria que ser
rápida. Eu também observei um rabino ortodoxo e seu assistente lavando o corpo de
uma vítima de choque traumático que mantiveram sentado. Quando o sangue de um
ferimento no peito flui, eles deixam que isso aconteça. Em muitos casos os corpos
foram movidos e colocados em várias posições diferentes durante a lavagem.
Infelizmente, nós descobrimos que muitos leigos não familiarizados com a patologia
forense pensam em apenas uma situação. Por exemplo, num caso de assassinato que eu
testemunhei,

281

282

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

no Bronx, o lado da oposição disse que a trajetória da bala vinha da janela do


segundo andar. Eu retruquei dizendo que um corpo não era um objeto fixo como uma
árvore. Se no momento em que o falecido tomou o tiro ele estivesse inclinado
ligeiramente para a frente, poderia ter sido acertado da janela do primeiro andar.
Ou, se ele estivesse curvado ligeiramente para trás, o tiro poderia ter vindo do
terceiro andar; e, ainda, se o falecido estivesse deitado, o perpetrador poderia
estar na frente dele.

Ferimento da Mão

Um excelente exemplo da falta de compreensão dos padrões de fluxo de sangue deriva


do chamado "padrão de fluxo duplo" no ferimento da mão, interpretado pelos
defensores da tese de asfixia ou sufocamento como representação das posições
"caída" e ereta. Essas posições alternadas teriam sido supostamente usadas pelo
homem do Sudário para poder respirar enquanto estava na cruz. Depois de inúmeras
experiências, essa teoria provou-se indefensável (veja o Capítulo 7 e a Figura 7-
5). Porém, mesmo se a teoria da asfixia fosse considerada correta, a lógica do
ponto de vista forense impede a aceitação de dois padrões definidos de fluxo para
presumir que a vítima assumiu as duas posições a fim de respirar, pelos seguintes
motivos. Em primeiro lugar, nossas experiências mostraram que as posições "caída" e
ereta propostas por Barbet são fisicamente impossíveis (veja "Padrão de
Bifurcação", no Capítulo 7), e que o padrão de bifurcação é localizado nas costas
da mão, onde a área da mão/pulso é comprimida contra a barra horizontal da cruz
pelo prego, impedindo qualquer fluxo de sangue discernível. Além de o prego selar
os ferimentos, a pressão do sangue era muito baixa e os braços estavam em posição
elevada.

Durante a remoção da cruz, a ponta do prego quadrado e delgado seria batida com um
martelo para que ele fosse removido. O fluxo de sangue da área da mão/pulso teria
ocorrido mais logicamente depois

CONCEITOS FORENSES E INTERPRETAÇÕES POST MORTEM

da remoção dos pregos da área da mão, fazendo com que o sangue que continha
fibrinolisina (veja a seção "Fluxo de Sangue Depois da Morte") vazasse da entrada
do prego no ferimento da área radial à área ulnar, bifurcando-se nos dois lados da
protuberância estilóide ulnar (a convergência óssea na parte de trás do pulso, no
lado do dedo mínimo), criando, assim, o padrão de bifurcação. Isso também indica
que o fluxo bifurcado ocorreu depois que o prego foi removido e não enquanto Jesus
ainda estava pregado à barra horizontal da cruz.

Visto que o fluxo sanguíneo ocorreu depois da morte, ele foi considerado "impuro" e
não teria sido lavado durante o ritual de lavagem. Para demonstrar que o fluxo
sanguíneo dos ferimentos acontece em indivíduos mortos, observamos e lavamos
ferimentos de pessoas que viveram algumas horas depois de sofrerem acidentes fatais
(Figuras 14-4 e 14-5).

Reporte-se ao experimento do Capítulo 7, no item Padrão de Bifurcação. Ele mostrou


que o padrão de bifurcação no ferimento da mão não poderia ser explicado pelo ato
de levantar e inclinar o corpo para poder respirar. Além disso, experiências usando
voluntários suspensos em uma cruz precisa revelaram que os ângulos dos pulsos não
mudam e que os braços sempre se dobram nas articulações laterais entre os ossos
rádio-ulna e dos ossos carpais proximais e, ocasionalmente, nos cotovelos, quando
os voluntários tentavam levantar seus corpos. No caso de uma crucificação real,
isso teria mais impacto, já que um prego atravessando as áreas dos tendões entre os
ossos do pulso e chegando até a madeira iriam fixar as mãos e pulsos solidamente,
impedindo qualquer mudança de ângulo.

Padrões de Fluxo no Braço

As pontas dos pregos quadrados e afilados foram batidas com um martelo e os pregos
foram removidos. É óbvio que o fluxo de sangue nos braços ocorreu logo depois da
remoção dos pregos (que selaram os ferimentos durante a suspensão) da área da mão,
fazendo que o
283

284

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

sangue que continha fibrinolisina corresse pela parte de trás dos braços enquanto
eles ainda estavam suspensos sobre a cabeça, rígidos no rigor mortis e no mesmo
ângulo em que se encontravam quando foram pregados na cruz. Os padrões de fluxo são
consistentes com a posição do crucarius na cruz, com alguns dos padrões se
modificando ligeiramente durante o processo de remoção da cruz. A quantidade de
sangue vista no Sudário é pequena, embora possa parecer grande para os não-
iniciados. Mas boa parte do meu trabalho de 34 anos como patologista forense tem
sido estimar a quantidade de sangue em vários tipos de roupa, lençóis, carpete
etc., em investigações de homicídio, suicídio e mortes acidentais. Falando em
termos forenses, a razão pela qual a quantidade de sangue nos braços é pequena se
deve ao fato de que o coração não estava batendo quando os pregos foram removidos e
os braços se encontravam em posição suspensa. Além disso, os braços estariam livres
de sangue antes da morte, porque os pregos teriam selado os ferimentos, a pressão
do sangue era muito baixa e os braços estavam em uma posição elevada.

LAVANDO O CORPO, ESCRITURAS E COSTUMES FUNERÁRIOS JUDAICOS

Ao começar essa discussão, devo deixar claro que minha conclusão de que o homem do
Sudário foi lavado antes de ser colocado na vestimenta é baseada somente em fatos
científicos. Um aspecto essencial da reconstituição forense é buscar suportes
auxiliares. Quanto a isso, as seguintes informações sobre fatos históricos e
relativos às Escrituras são apresentadas com a total percepção de que alguns pontos
dessas áreas podem estar além do expertise de um patologista forense. Assim, o
material é apresentado com a consulta e orientação de experts para que se possa
mostrar que existe apoio tanto nas Escrituras quanto nos costumes funerários
judaicos para a hipótese da lavagem do corpo. A suposição de Ian Wilson de que
muitos estudiosos das Escrituras

CONCEITOS FORENSES E INTERPRETAÇÕES POST MORTEM

FIGURA 14-4

Ferimento de uma vítima de acidente de automóvel antes de ser lavado. Ferimento de


uma vítima de acidente que resistiu por algumas horas e foi autopsiada horas
depois. O ferimento foi subsequentemente lavado.

FIGURA 14-5

Ferimento da vítima de acidente automobilístico depois de ter sido lavado. O mesmo


ferimento observado na Figura 14-4, um minuto depois que foi lavado. Note o fluxo
de sangue.

285

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

FIGURA 14-6

Fluxo de sangue no ferimento de um morto depois da lavagem. A sequência de


sangramento em questão de minutos em seguida à lavagem de um ferimento seco de uma
vítima de acidente automobilístico que viveu por algumas horas e foi autopsiada
horas depois. O fluxo começa na parte superior esquerda e prossegue da esquerda
para a direita, no topo, e então da esquerda para a direita na parte de baixo.
Observações: lateral do rosto, orelha na parte inferior, bigode na parte superior
direita.

acreditam que Jesus foi lavado porque eles assumem que a passagem do Evangelho de
São João é historicamente acurada - "Tomaram, pois, o corpo de Jesus, e o
envolveram em lençóis com as especiarias, como os judeus costumam fazer, na
preparação para o sepulcro" (João 19:40)-é obviamente correta, já que a passagem é
clara e direta em sua interpretação. As evidências em favor do funeral de acordo
com os costumes judaicos incluem o Evangelho de São João (19:40); O Evangelho
Perdido Segundo Pedro (seção 6), indicado a seguir; o uso de especiarias funerárias
(João 19:39) e o envolvimento do corpo em uma mortalha (João 19:40).

O rabino Dan Cohn Sherbok, da Universidade de Kent, na Inglaterra, relatou que não
era apenas uma obrigação legal envolver o corpo em panos, mas também lavá-lo e
ungi-lo, mesmo no Shabat ("Sudário Judaico de Turim", Expository Times, 1981). Numa
recente

286

CONCEITOS FORENSES E INTERPRETAÇÕES POST MORTEM

comunicação via e-mail, Diane Fullbright relatou: "A idéia de que o corpo não teria
sido lavado por causa de várias leis judaicas relativas a pessoas condenadas à
morte por causa de crimes religiosos etc. é irrelevante por uma série de razões,
não apenas porque os seguidores de Jesus não o consideravam um criminoso" (Grupo
Yahoo do Sudário, 6/12/2003). Porém, a declaração de Wilson de que "Tendo em vista
que Jesus não foi lavado, não se pode sustentar a autenticidade do Sudário",
baseando-se no fato de que não havia tempo suficiente para a lavagem, já que o
Shabat estava prestes a se iniciar, é completamente indefensável, já que uma
lavagem completa do corpo acompanhada por um ritual resumido pode ser feita em
questão de minutos. Eu observei isso pessoalmente numerosas vezes em meu diaa-dia
como médico-legista, em casos envolvendo a morte de judeus ortodoxos. O Evangelho
Perdido Segundo Pedro (seção 6)-uma evidência controversa, não aceita pelos
estudiosos-é citado aqui porque contém uma declaração definitiva referente ao fato
de que Jesus foi lavado antes de ser colocado no Sudário: "E eles pegaram o Senhor
e O lavaram e O enrolaram em lençóis de linho, e o levaram à Sua tumba, que era
chamada Jardim de José." Esse código em pergaminho foi encontrado em 1886 pela
Missão Arqueológica Francesa, quando escavavam a tumba de um monge no Vale do Nilo
Superior, na margem direita do rio, na cidade de Akemin, que se chamava Panópolis.
Historicamente, estudiosos religiosos reconheceram a existência desse evangelho.
Por exemplo, referência a esse documento foi feita em 190 d.C. por Serapião, bispo
de Antioquia; em 253 d.C. por Origen, e em 300 d.C. por Eusébio, bispo de Cesárea.
Em 455 d.C., Theodoret indicou em sua obra Religious History que os nazarenos
usaram O Evangelho Perdido Segundo Pedro. É interessante saber que a visionária
Catarina Emmerich relata que a imagem do Sudário apareceu depois que Ele foi
lavado, ungido e envolto na vestimenta.

A Pedra da Unção, reconhecida desde a Era Bizantina e que no momento está guardada
na Igreja do Santo Sepulcro, é tida como a

287

288
A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

pedra em que Jesus foi lavado e ungido, de acordo com Wilson. Além disso, muitos
estudiosos das Escrituras têm opinado sobre a lavagem do corpo antes do
sepultamento. Lavoie et al. apresentaram um estudo de uma lei judaica que trata de
costumes funerários ao longo do século XVI. Embora os principais fundamentos das
leis funerárias da época de Jesus sejam, talvez, essencialmente os mesmos de hoje
em dia, nós não sabemos se existem diferenças entre os processos praticados hoje e
aqueles praticados à época da morte de Jesus. Mas, se apresentarmos justificativas
científicas para a lavagem baseados nas práticas modernas, então eu argumento que o
único fluxo de sangue depois da morte incluiria pequena quantidade de uma
substância aquosa e tingida de sangue saindo do ferimento produzido pela lança. A
quantidade de substância aquosa e de sangue vazando desse ferimento tinha que ter
sido pequena, porque logo depois que a lança entrasse na cavidade do peito, os
pulmões teriam entrado em colapso devido à pressão atmosférica. O nível de fluido
teria caído imediatamente, pois haveria mais espaço na cavidade torácica. Assim, o
único fluido a vazar do ferimento teria sido aquele da penetração inicial da lança
(imediatamente antes do colapso), além da pequena quantidade de sangue relativa ao
átrio direito do coração que ficou na ponta da lança, em razão do movimento rápido
de retirada. Em minha opinião, essa quantidade é significativamente menor que
aquela ditada como sendo a quantidade mínima de sangue após a morte requerida para
considerá-lo impuro, segundo a Mishná e o Talmude. Todo o restante do sangue no
corpo deveria estar presente antes da morte e poderia ser lavado, conforme as
prescrições judaicas. Se um rito funerário rápido fosse necessário, o ritual de
lavagem poderia ter sido cumprido em questão de minutos, de acordo com minhas
observações e consultas junto a estudiosos rabinos. Mesmo se saísse um pouco mais
de sangue do ferimento feito pela lança, o pequeno volume de sangue ao redor
poderia ter sido facilmente evitado durante os procedimentos de lavagem. O ato de
lavar, então, teria causado o vazamento de sangue de cada um dos

CONCEITOS FORENSES E INTERPRETAÇÕES POST MORTEM

ferimentos, criando assim as impressões encontradas no Sudário. O sangue desses


ferimentos não teria sido lavado, porque teria sido considerado impuro. Essa
situação está de acordo com as ordenanças da lei judaica, justifica os ferimentos
bem definidos encontrados no Sudário de Turime provê uma explicação satisfatória
aos patologistas

forenses.

289

{15} ESTUDOS TRIDIMENSIONAIS DO SUDÁRIO

A ciência, afinal, é somente uma expressão para nossa ignorância de nossa própria
ignorância. Samuel Butler, 1835-1902

N o começo deste século, durante experiências com sua teoria vaporográfica, o


professor Paul Vignon notou que a imagem no Sudário variava inversamente com a
distância do tecido ao corpo. Essa observação deu início aos estudos de imagens
tridimensionais computadorizadas dos capitães John P. Jackson, físico, e Eric
Jumper, da Academia da Força Aérea dos Estados Unidos e, mais tarde, do professor
Giovanni Tamburelli, da Universidade de Turim e diretor de pesquisa do Centro de
Estudos e Laboratório de Telecomunicações de Turim. Em suas experiências, Jackson e
Jumper mediram a distância da roupa ao corpo, mediram a intensidade da imagem, e
compararam a distância da roupa ao corpo com a intensidade da imagem em diferentes
locais do Sudário. Mediu-se a distância roupa-corpo usando um voluntário cuja
altura era similar

ESTUDOS TRIDIMENSIONAIS DO SUDÁRIO

àquela da imagem, o qual foi coberto meticulosamente com um pano em que foi
projetada uma foto do Sudário de modo que todas as características da imagem se
ajustassem apropriadamente. Eles então tiraram fotos com e sem o pano no lugar;
assim, poderiam obter distâncias roupa-corpo em um plano perpendicular à linha do
cume (o ponto em que a vestimenta se encontra mais próxima do corpo). Um
microdensitometro foi usado para seguir as linhas do cume a fim de obter um
registro gráfico da relação da intensidade da imagem com a distância roupa-corpo.
Eles puderam concluir que a hipótese de Vignon estava correta. Sujeitaram, então,
os pontos da imagem das fotos do Sudário à análise do VP-8, como foi feito quando
foram processadas tridimensionalmente as fotografias de Marte, porque a fonte de
luz estava a certa distância. Eles obtiveram fotos tridimensionais fascinantes da
imagem do Sudário, o que não seria possível com fotografia comum, porque esta
mostraria distorção com o nivelamento do relevo, incluindo o braço junto ao peito e
o nariz pressionado na face. Observaram também que, como a imagem não produziu
nenhuma marca de pincel direcional, tal como poderia ter sido efetuada por um
artista, uma falsificação não pareceu possível.

J.Germain, do Laboratório de Armas da Força Aérea dos Estados Unidos, apontou, na


Ata da Conferência dos Estados Unidos de Pesquisa sobre o Sudário de Turim, em
Colorado Springs, que havia um erro no que se refere à construção da imagem
tridimensional, e indicou que o ajuste do ganho para realçar determinadas áreas,
tais como as parcelas mais fracas da imagem, fazia com que a cabeça ficasse fora de
proporção, e se o ganho fosse ajustado para desenvolver um nariz realístico, as
parcelas mais fracas da imagem eram jogadas completa ou parcialmente fora do
relevo.

O professor Giovanni Tamburelli indicou que o computador tem a habilidade de


canalizar o brilho dos pontos na fotografia a números correspondentes. Ele relata
que assim pode eliminar imperfeições, linhas e pontos; restaurar imagens nas partes
que aparecem fora de foco ou

291

292

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

FIGURA 15-1

Equipamento processador de imagem tridimensional. Minicomputador Varian 620/i (16K


de memória de texto) e um monitor videográfico Tektron. (Cortesia do professor L.
Tamburelli, CSELT. Turim. Itália.)

incompletas; e realçar imagens ampliando detalhes. Tamburelli usou um


minicomputador Varian 620/i (16K de memória) e um display videográfico Tektron
(Figura 15-1).

AVALIAÇÃO TRIDIMENSIONAL DO SUDÁRIO

A REGIÃO DA CABEÇA (FIGURA 15-2)- A imagem do Sudário parece apresentar lacerações


na bochecha direita, de lado a lado do nariz, e na bochecha esquerda perto do
nariz. Tamburelli sugere que essas marcas foram causadas por uma única ruptura. O
osso malar direito parece inchado, e parece haver escoriações no osso malar
esquerdo. O nariz apresenta características tipicamente semíticas, e o olho direito
contém um objeto parecido com um botão no relevo. Há uma clara separação da
cartilagem do osso nasal (não uma fratura), obviamente devido a

ESTUDOS TRIDIMENSIONAIS DO SUDÁRIO

uma ruptura que atravessa o nariz. É importante enfatizar que o nariz não estava
quebrado, o que seria contrário aos textos das Escrituras, segundo os quais nenhum
osso foi quebrado. Antigas práticas judaicas incluíam a colocação de fragmentos de
cerâmica ou moedas para selar as pálpebras. Tamburelli afirma que o uso de moedas
era raro durante o início da era cristã e desapareceu durante o século II,
adicionando, desse modo, outro ponto positivo à autenticidade do Sudário (G.
Ricciotte, Life of Christ, por Oscar Monadici, Sett., 1974).

Os presumíveis padrões de sangue são vistos vividamente nas fotografias


tridimensionais (veja a Figura 15-2). O fluxo tortuoso

FIGURA 15-2

Relevo tridimensional do rosto do Sudário. A cartilagem nasal está separada do osso


e há uma laceração na bochecha direita. O sangue flui da testa e o cabelo se
destaca com precisão. (Cortesia do professor L. Tamburelli, CSELT, Turim, Itália.)

293

294

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

notado na testa no Sudário de Turim é surpreendentemente mostrado em relevo nas


fotos tridimensionais. Além disso, o curso é visto sobre a pálpebra esquerda, até a
bochecha esquerda e o lado esquerdo do lábio, onde há uma bifurcação em dois
pequenos "riachos" que fluem até a barba. As duas marcas no lado direito mais
distante da testa são também pronunciadas. Tamburelli interpreta também um fluxo no
lado direito do nariz, um coágulo no lado direito mais abaixo dos lábios, dois
veios de sangue sobre as narinas, um coágulo de sangue na parte central do lábio
superior, e abaixo um coágulo correspondente, que produz uma marca bem definida no
lábio inferior. O cabelo e a barba parecem estar empapados de sangue.

A REGIÃO DO CORPO - A imagem tridimensional do corpo foi processada por Tamburelli


usando uma ligeira modificação da técnica principal (Figura 15-3). Os dedos e a mão
destacam-se em um relevo preciso, e a saturação do ferimento da mão revela
claramente que a ferida é nas costas da mão, em um ponto onde o pulso junta-se à
região metacarpal das costas da palma. A ferida no lado direito, atribuída à lança,
está apropriadamente saturada, definindo sua posição.

A RESTAURAÇÃO DA IMAGEM DA FACE NATURAL E O REALCE - Tamburelli obteve notáveis


relevos tridimensionais da face do Sudário usando filtros recursivos que eliminaram
as pequenas feridas da face e alteraram parcialmente as feridas maiores, eliminando
a ferida do nariz, alisando a testa, e definindo as pálpebras e as sobrancelhas. Os
resultados foram surpreendentes e produziram uma aparência majestosa, que
Tamburelli considera "a provável fotografia de Jesus Cristo" (Figura 15-4). Depois,
ele indica que se o homem do Sudário fosse velho e tivesse rugas, elas seriam
realçadas-o que não aconteceu-, conseqüentemente fornecendo a evidência de que o
indivíduo do Sudário era relativamente jovem.
Os estudos de computador confirmam a origem tridimensional da imagem do Sudário,
definem as feridas e o "sangue" mais

ESTUDOS TRIDIMENSIONAIS DO SUDÁRIO

FIGURA 15-3

295

Relevo tridimensional do corpo. O ferimento na área da mão, as mãos e o ferimento


no lado direito destacam-se com precisão no relevo. (Cortesia do professor L.
Tamburelli, CSELT. Turim, Itália.)

FIGURA 15-4

ha

Relevo tridimensional do rosto do Sudário depois de filtragem recursiva. Imagem


obtida depois de suavizar as transições grosseiras e os ferimentos usando um filtro
recursivo. (Cortesia do professor L. Tamburelli, CSLT,

Turim, Itália.)

296

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

claramente, revelam a posição das marcas das feridas mais precisamente, revelam a
possibilidade de moedas sobre os olhos, e supostamente eliminam a possibilidade de
que o homem era velho. Por meio da restauração da imagem, eliminação de
imperfeições e realce da imagem, o resultado é uma bonita e provável fotografia do
homem do Sudário (veja a Figura 15-4).

MÉTODO TRANSFLEX DE VALA - É interessante notar que a primeira abordagem


tridimensional do Sudário de Turim foi feita por Leo Vala, um fotógrafo, usando seu
processo Transflex de projeção frontal. Dois positivos usando as fotografias
principais de Enrie de 1931, do Sudário, foram projetados em uma cama de argila
usando dois projetores (epidiascópio) para fornecer a matriz para o busto. Ele
estava apto, então, a esculpir a cabeça, tendo por resultado uma imagem integral da
face com abundância de informação gradual. Vala descreve seus conceitos e
processos:

Os fotógrafos, como conseqüência de seu tipo de treinamento exclusivo, vêem


retratos diferentemente das outras pessoas, mas quando você tenta comunicar o que
está sentindo sobre a visão para outras pessoas é quase impossível, é como tentar
explicar a um homem cego o que é a cor - nós não temos palavras para isso...
Portanto, sem perceber, o fotógrafo olha para o dose de um rosto e sabe
instintivamente a forma do nariz do homem, a forma de suas bochechas, se tem um
queixo fraco ou uma testa inexpressiva-ele está vendo instintivamente, e sem
perceber, em três dimensões. Conseqüentemente, como nós somos treinados para ver um
objeto sólido e colocá-lo em uma forma plana, se tivéssemos um veículo para isso,
poderíamos tomar um objeto plano e convertê-lo para a forma sólida. Essa é a base
de meu processo, que é muito simples. (de "The Turin Shroud", Crawley, 1967).

O resultado da experiência de Vala foi impressionante. Ele criou com sucesso uma
representação tridimensional da cabeça do Sudário a partir de uma fotografia
bidimensional.
ESTUDOS TRIDIMENSIONAIS DO SUDÁRIO

FIGURA 15-5a

Região da cabeça do Sudário. O círculo branco designa a área onde a moeda fora
supostamente colocada sobre o olho. (Cortesia de Peter D. Fox, Universidade de
Loyola, em nome de Francis Filas, S. J.)

FIGURA 15-5b

Região do olho direito, vista por meio do analisador de imagens VP-8. Letras que
parecem ser UCAI na região superior esquerda, na posição horária de 10 para as 11,
alegadamente representando algumas das letras da moeda (lepton) de Pilatos
detalhada na Figura 15-6b. (Cortesia de Peter D. Fox, Universidade de Loyola, em
nome de Francis Filas, S. J.)

MOEDAS SOBRE OS OLHOS - O primeiro relatório condizente com as imagens dos objetos
semelhantes a moedas encontrados sobre os olhos da imagem de Turim veio dos estudos
tridimensionais de computador de Jumper e Jackson, em 1977. Usando um analisador de
imagem VP-8, esses investigadores notaram objetos semelhantes a botões sobre ambos
os olhos na forma tridimensional de moedas. Eles pesquisaram na literatura e
encontraram referências aos antigos costumes judaicos que mostravam que moedas ou
fragmentos de cerâmica eram colocados sobre os olhos de indivíduos mortos para
impedir que vissem o caminho até seu destino final na eternidade.

Ao tomar conhecimento disso, o reverendo Francis Filas, um teólogo jesuíta da


Universidade de Loyola, mergulhou fervorosamente em um estudo intensivo da área dos
olhos (Figuras 15-5aeb, 15-6a e b) e, em

297

298

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

FIGURA 15-6a

Ampliação da região do olho direito do Sudário. Novamente, letras que parecem ser
UCAI e um cajado aparecem na área do olho direito. (Cortesia de Peter D. Fox,
Universidade de Loyola, em nome de Francis Filas, S. J.)

FIGURA 15-6b

Típica moeda de Pôncio Pilatos que existe ainda hoje. Esta é a mesma ampliação que
foi usada na imagem da Figura 15-6a. (Cortesia de Peter D. Fox, Universidade de
Loyola, em nome de Francis Filas, S. J.)

colaboração com Michael Marx, um numismata de Chicago, relatou, em 1980, que


determinadas marcas fotográficas sobre os olhos revelaram uma similaridade
impressionante com aquelas encontradas em moedas lépton (widow mites) emitidas
durante o reino de Pôncio Pilatos, entre os anos 29 e 32 d.C. (Figura 15-6b). As
marcas sobre o olho direito parecem revelar um cajado (lituus) e quatro letras
gregas, UCAI, acompanhando a curvatura do cajado em 9h30 a 11h30 (veja a Figura 15-
5b). Eles acreditaram que isso representa parte de uma inscrição em moeda,
TIBERIOUKAICAROC, cuja tradução seria "de Tibério César". Medindo e comparando a
imagem fotográfica do olho direito com uma moeda real de Pilatos, Marx indicou ter
encontrado consistência "...de tamanho, posição, rotação angular, proporção mútua
relativa, acurácia da reprodução (com a exceção do

ESTUDOS TRIDIMENSIONAIS DO SUDÁRIO

Cno Sudário onde um K está presente nas moedas de Pilatos que possuímos)". Filas
indicou que, com probabilidade matemática, haveria uma possibilidade em 6,22 x 10%
de que as marcas no olho são uma ocorrência aleatória. Indicou também que o olho
esquerdo continha um lépton de Júlia com um nítido feixe de cevada, que foi cunhada
em 29 CE, em honra à esposa de Tibério César, Júlia.

Em 1981, Filas angariou a ajuda da Log E/Interpretations Systems para submeter a


imagem do Sudário a sofisticadas análises de imagens computadorizadas. Uma imagem
tridimensional foi produzida e impressionantemente demonstrou tanto o cajado quanto
as letras UCAI (veja a Figura 15-5b). Diversos peritos numismatas contestaram os
achados de Filas, principalmente tomando por base o erro do Cem vez de K, ena
datação em geral, mas o debate esfriou consideravelmente quando Filas encontrou
algumas moedas de Pilatos que mostraram um alegado erro no cunho de um Cno lugar de
um K. Mais tarde, Alan e Mary Whanger, do Centro Médico da Universidade de Duke,
desenvolveram uma técnica de sobreposição de imagens polarizadas em que duas
imagens, uma de uma fotografia da região do olho direito ampliada no computador e a
outra da moeda usada por Filas, foram projetadas através dos filtros polarizados em
uma tela e mínimos detalhes foram comparados. Eles relataram um emparelhamento
quase perfeito, com 74 pontos de congruência, com todas as letras UCAIe indicaram
que identificaram o restante das letras corroídas, TIOU/CAICAROC, com um grau
razoável de exatidão. Relataram que a imagem no olho esquerdo era menos precisa,
mas que teve 73 pontos de congruência com outro lepton de Pôncio Pilatos, conhecido
nos círculos numismatas como o lepton de Júlia, cunhado somente em 29 d.C.

Um apoio adicional para a hipótese de Filas foi fornecido pelo dr. Robert Haralick,
diretor do Laboratório de Análise de Dados Espaciais do Instituto Politécnico de
Virgínia e Universidade Estadual de Blackburg, Virginia. Usando a análise digital
do negativo da imagem

299

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

sobre o olho direito, ele relatou encontrar duas letras adicionais, Oe C, antes e
depois do UCAI.

Qual é o mecanismo para tal formação de imagem? Uma sugestão foi feita pelo dr.
Igor Benson, um engenheiro e padre da Igreja Ortodoxa Russa da Carolina do Norte,
que tem estudado os efeitos da radiação das descargas elétricas de alta tensão, de
alta freqüência. Benson sugere que uma espécie de relâmpago pode ter sido o
culpado, atingindo of corpo durante uma tempestade elétrica, carregando-o com
energia de alta tensão, a qual teria imediatamente dissipado sua energia iônica
(descarga), vulcanizando assim a vestimenta e imprimindo as moedas no Sudário. Ele
forneceu um modelo experimental direcionando uma fonte de alta energia de um tubo
de energia de cátodos posicionado dentro de uma esfera de vidro para uma pequena
moeda colocada em um pedaço de linho no campo de energia. Uma queimadura ocorreu no
linho, mostrando detalhes precisos da moeda. O dr. Scheuermann, um físico da
Alemanha, e o dr. Graeme Coote, um físico da Nova Zelândia, também se envolveram,
independentemente, na questão de descargas elétricas de alta tensão produzindo a
imagem no Sudário. Coote, entretanto, é da opinião de que as altas tensões podem
ter sido produzidas pela pressão na rocha durante um terremoto, e não por um
relâmpago, como proposto por Benson (veja a hipótese da modificação da descarga
elétrica, no Capítulo 16).

A importância da hipótese da moeda em relação à datação do Sudário é certamente


óbvia. Se essa hipótese fosse válida, poderia ajudar a datar a imagem do Sudário à
época de Jesus. Infelizmente, muitos cientistas e especialistas em imagem não estão
convencidos, argumentando que essas supostas imagens da moeda são ocorrências
naturais que resultam da aspereza do trançado da fibra. Não houve nenhuma
confirmação independente da teoria, e deve-se considerá-la especulativa até que
seja provada cientificamente. Barrie Schwortz, um cientista fotográfico e perito em
imagem, com reputação internacional, que fotografou exaustivamente o Sudário em
1978 como membro

300

ESTUDOS TRIDIMENSIONAIS DO SUDÁRIO

do STURP e

webmaster do altamente respeitado site <www.shroud.com>, estudou as fotos


cuidadosamente e está em total desacordo com a teoria das moedas sobre os olhos.
Baseado em sua experiência fotográfica e no exame minucioso do próprio Sudário,
indicou que a trama do tecido é demasiado grosseira, as fibras muito grandes, para
compor uma inscrição sutil e minúscula de uma moeda antiga. Ele indica que parece
haver algo sobre os olhos-talvez moedas ou fragmentos de cerâmica usados em alguns
enterros do século I-, mas não pode aceitar a interpretação das inscrições como a
evidência de que o Sudário data do século I, como relatado por Filas. E indicou que
o que Filas viu como inscrições, ele viu como formas aleatórias e ruído. Em
resposta ao comentário de que Filas descreveu um grande número de pontos de
congruência entre a imagem da moeda no Sudário e a moeda real, Schwortz relata:
"Qualquer um poderia obter pontos de congruência para qualquer coisa que se
procure, visto que uma amostragem aleatória altamente ampliada de uma partícula de
grão teria o mesmo efeito que um céu cheio de nuvens: você pode ver aquilo que
desejou ver, e duas pessoas necessariamente não veriam a mesma coisa". Talvez
técnicas fotográficas mais precisas da região do olho, feitas a curta distância e
com ampliação aumentada e uso de filtros apropriados, pudessem resolver essa
controvérsia.

301

{16} TÉCNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

Quanto mais aprendemos sobre ciência, mais percebemos que seus maravilhosos
mistérios são todos explicados por umas poucas leis simples tão interligadas e tão
dependentes umas das outras, que vemos a mesma mente animando todas elas.

Olympia Brown, 1835-1900

O bservações: antes de embarcar numa avaliação das várias teorias sobre a formação
da imagem, é necessário apresentar alguns termos mais freqüentemente utilizados e
alguns pontos de informação básica. A imagem "corpo-apenas" refere-se à imagem
inteira, excluindo as áreas das imagens das manchas de sangue. A esse respeito, a
imagem corpo-apenas está essencialmente ausente na parte de trás do Sudário (exceto
pelas fracas imagens discutidas no Capítulo 12, em "Dupla Superficie"), mas a maior
parte das imagens de manchas de sangue aparece completamente através da roupa. Foi
mostrado por Adler
TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

e outros que quando uma fibra manchada de sangue de uma área de imagem é tratada
enzimaticamente para remover o sangue, nenhuma imagem está presente por baixo,
demonstrando que o sangue estava presente antes da formação da imagem. Além disso,
as imagens corpoapenas estão presentes somente na superficie extema das fibras do
Sudário, com uma penetração de apenas duas ou três fibrilas. A escuridão da imagem
do corpo parece ser determinada pelo número de fibrilas em uma unidade de área;
quanto mais fibrilas, mais escura ela é. Quanto mais perto uma pessoa estiver da
imagem, mais difícil será visualizá-la, e ela literalmente some quando a pessoa a
observa muito de perto. A ampliação da imagem também faz com que ela se desvaneça,
tornando difícil visualizá-la.

ESTUDOS FÍSICOS E QUÍMICOS

Numerosas técnicas de investigações físicas e químicas têm sido aplicadas ao


Sudário nos últimos 26 anos, começando em 1978, logo após o exame do Sudário feito
pelos membros do Projeto de Pesquisa do Sudário de Turim (STURP). Os integrantes do
STURP testaram todos os pigmentos e técnicas que se sabe terem sido usados antes de
1532, aquecendo-os no linho acima da temperatura de carbonização. Essas técnicas de
investigações físicas e químicas incluíram microscopia (de luz, de polarização, de
fase, fluorescente, estéreo, petrográfica, de varredura, eletrônica); análise
imunoquímica; análise química enzimática; análise de sorologia; análise têxtil;
testes microquímicos; espectroscopia Raman a laser com microssonda; espectroscopia
de massa; espectroscopia ótica e de infravermelho; análise de raios X por energia
dispersiva; difração de raios X; espectroscopia FTIR (Espectroscopia no
Infravermelho por Transformada de Fourier); análise com microssonda eletrônica;
análise de Fourier; análise de imagem com computador VP-8; estudos com computador;
espectrometria de pirólise de massa e outros. Em 1981, o STURP publicou um
relatório final com algumas das seguintes conclusões oficiais:

303

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

304

1. Não havia pigmentos, pinturas, corantes ou manchas nas fibrilas.

2. Testes de imagem por meio de raios X, fluorescência e microquímica nas fibrilas


concluíram que a imagem não poderia ter sido pintada.

3. O realce de imagem por computador mostrou que informações tridimensionais estão


codificadas na imagem.

4. A avaliação microquímica indicou que não havia condimentos ou óleos, nem agentes
bioquímicos produzidos pelo corpo em vida ou após a morte.

5. Houve um contato direto do corpo com o Sudário que explica as marcas de açoite e
o sangue.

6. Os melhores esforços do STURP foram incapazes de providenciar uma explicação


adequada para a imagem, que fosse cientificamente satisfatória sob os pontos de
vista físico, químico, biológico e médico.

7. Experiências físicas e químicas com linho antigo fracassaram em reproduzir


adequadamente o fenômeno criado no Sudário.
8. O consenso científico é de que a imagem foi produzida por algo que resultou em
oxidação, desidratação e conjugação da estrutura dos polissacarídeos das
microfibrilas do próprio linho.

9. Embora mudanças similares possam ocorrer com o ácido sulfúrico ou o calor, não
existem métodos físicos conhecidos que possam ser responsáveis pela totalidade da
imagem.

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

10. A resposta para a questão de como a imagem foi produzida ou o que a produziu é
um mistério.

11. A imagem do Sudário é a de um ser humano real, um homem que foi açoitado e
crucificado, e não o produto de um artista.

12. As manchas de sangue no Sudário são compostas de hemoglobina e obteve-se


resultado positivo quanto à presença de soroalbumina.

Em 1984, um exame completo das várias manchas e imagens no Sudário foi publicado em
Archaeological Chemistry III, por Jumper, Adler, Jackson, Pellicori, Heller e
Druzik, em que relataram o seguinte:

1. As fibrilas nas áreas de imagem corpo-apenas foram determinadas como sendo


amarelas. Essa imagem é visível somente porque as fibrilas superficiais são mais
amareladas do que nas áreas de nãoimagem.

2. A causa da cor amarelada na área da imagem corpo-apenas é compatível com o


efeito de envelhecimento devido à alteração das microfibrilas da estrutura de
celulose do linho causada por oxidação, desidratação e a conjugação de uma longa
cadeia de moléculas de açúcar que compõem as microfibrilas. O cromóforo (grupo
químico responsável pela cor) parece conter algum tipo de grupo carbonílico
conjugado. Quando o linho envelhece, ele vai se tornando amarelado a uma taxa baixa
em razão da decomposição. Algo causou um envelhecimento acelerado ou um efeito de
decomposição avançada na imagem corpo-apenas se esta for comparada com as áreas de
não-imagem que a circundam. As áreas mais coloridas da imagem corpo-apenas apenas
refletem a presença de mais fibras por área de superfície.

305

306

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

3. Experiências realizadas por Pellicori para acelerar o envelhecimento ou o


processo de decomposição por meio de aquecimento controlado, com ou sem a aplicação
de substâncias como suor, azeite de oliva etc. ao linho, resultaram na reprodução
da mesma coloração amarelada e características espectrais iguais às observadas no
Sudário. A aplicação de calor aparentemente acelera o processo de decomposição. Em
outras palavras, o que poderia ter normalmente se desenvolvido durante um período
relativamente longo é acelerado pelo calor em uma questão de horas.

4. A cor das fibrilas foi sujeita a testes de solubilidade com toda a gama de
solventes orgânicos e foi descoberto que essa cor não pode ser extraída. Fortes
ácidos ou bases não afetaram a cor.

5. Como a maior parte dos corantes orgânicos é afetada pelas altas temperaturas, se
um corante orgânico criou a imagem, deveria haver alguma mudança nas cores das
bordas das marcas de queimadura, resultantes do incêndio de Chambéry.

6. As áreas da imagem corpo-apenas não fluorescem sob luz ultravioleta, mas as


áreas de queimadura sim, na parte das fibras escuras. Isso foi determinado devido à
formação de produtos resultantes de pirólise com combustão em uma atmosfera de
oxigênio reduzido. Rogers acredita que a razão por que não vemos fluorescência nas
áreas de imagem se deva ao fato de a cor da imagem agir como um filtro ótico e
absorver muito fortemente na luz ultravioleta.

7. Testes microquímicos, espectroscopia com sonda Raman a laser e espectroscopia de


massa falharam em revelar evidência de materiais adicionados nas fibrilas da imagem
corpo-apenas.

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

8. Não existe evidência de qualquer aderência entre as fibrilas das áreas de imagem
corpo-apenas. Além disso, os testes para proteína nas fibrilas dessas áreas
resultaram negativos, abaixo de um milésimo de miligrama, utilizando-se testes de
sensibilidade, incluindo o método de fluorescamina, digestão de proteases e o teste
de negro de amido. O teste de negro de amido, contudo, se usado isoladamente e sem
controle como McCrone fez, pode levar a resultados enganosos, porque pode macular
celulose oxidada.

9. As imagens de sangue eram claramente sangue e provavelmente de origem humana,


não havendo a presença de nada mais que pudesse ser suspeito. Não havia evidência
de realce artístico de uma imagem de sangue preexistente ou de que as imagens de
sangue foram pintadas.

10. Nas áreas de imagem relativas ao sangue, as fibrilas parecem estar aderidas. O
teste para proteína resultou positivo para essas fibrilas. Isso também foi
reportado por Schwalbe e Rogers e por Pellicori. Este último também notou que havia
uma cobertura das fibras e variação de cor. Levando tudo em consideração, a cor nas
áreas de sangue mostra-se diferente daquela na área da imagem corpo- apenas.

11. Testes de mancha microquímicos com iodo indicaram a presença de algumas frações
de goma nas fibras do Sudário.

12. Outras descobertas estão listadas a seguir, na Hipótese de McCrone Sobre


Pintura com Óxido de Ferro.

13. Em conclusão, esses pesquisadores indicam que eles não têm uma explicação
simples e satisfatória para como a imagem se formou

307

308

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

na vestimenta, e acharam altamente improvável que ela tenha sido artisticamente


produzida.

DESCOBERTAS ADICIONAIS

1. Heller e Adler, em 1981, e Rogers, em 2002, descobriram que a cor da imagem do


Sudário era insolúvel em todos os 25 tipos de solventes testados.
2. Heller e Adler descobriram que dimide era o único solvente que poderia
descolorir a imagem, indicando que a cor foi resultado de ligações duplas
conjugadas. Vinte e cinco solventes adicionais produziram resultados negativos.

3. A superfície das fibras da imagem parece estar corroída. Heller e Adler


descobriram que "fantasmas" de cor soltaram-se das fibras com a fita adesiva usada
para colher as amostras, e a parte de dentro das fibras estava descolorida. Rogers
mais tarde confirmou isso, demonstrando que a cor se encontrava somente na
superfície das fibras da imagem. A composição química dos fantasmas era a mesma de
carboidratos desidratados, o que indica que seja lá o que tenha produzido a cor,
afetou somente a superfície das fibras. A cobertura amarela estava somente na
superficie. Quando a fita com o adesivo foi removida, um "amarelo descontínuo" onde
a parte da cobertura amarela foi rachada, sem nenhuma cobertura, foi observado.
Linho claro e sem cor era visível debaixo de onde a cobertura estava faltando.

4. As medulas das fibras de imagens não mostram coloração, exceto em áreas onde
ocorreram queimaduras, no incêndio de Chambéry.

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

5. Pareceu que a fluorescência de fundo do Sudário surgiu por causa de substâncias


relativas à pectina. Isso foi sugerido pela primeira vez por Mottin e apoiado por
estudos enzimáticos feitos por Adler, que sugeriu que a confirmação foi feita por
análise espectral.

TEORIAS SOBRE A FORMAÇÃO DA IMAGEM

Os mecanismos pelos quais uma imagem foi produzida no Sudário continuaram sendo um
enigma. Era esperado que os estudos feitos pelo STURP depois da exposição de 1978
iriam finalmente acabar com as dúvidas e revelar como a imagem foi produzida.
Infelizmente, embora muitas informações sobre a natureza da imagem tenham sido
obtidas nesses estudos, o mecanismo ainda foge a uma explicação, levando a mais
especulação e controvérsia.

Várias teorias propostas para a formação da imagem incluem as que se seguem, que
depois serão discutidas em detalhe:

1. Hipótese artística ou produzida por artificio humano

2. A hipótese vaporográfica de Vignon

3. A hipótese de contato

4. Hipótese de Volckringer

5. Hipótese de McCrone sobre pintura com óxido de ferro

6. A hipótese de desenho em relevo de Nickell

7. Hipótese de desenho em relevo de Craig-Bresee

309

310

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS
8. As hipóteses de processamento fotográfico, que incluem: a. A hipótese de
processamento fotográfico de Crawley b. A hipótese Da Vinci formulada por Picknette
Prince c. A hipótese fotográfica de Allen

9. Hipótese de hipertermia por carbonato de cálcio

10. As teorias de radiação, que incluem: a. A hipótese de queimadura por radiação


b. A hipótese de modificação por descarga elétrica c. A hipótese de raios X d. A
hipótese de modificação por radiação e. Outras hipóteses de radiação

11. A hipótese bacteriológica de formação de imagem de Mattingly

12. A hipótese de reação de Rogers-Arnoldi Maillard

1. Hipótese Artística ou Produzida por Artificio Humano

A questão de uma fraude artística apareceu pela primeira vez em 1359, quando Henry
de Poitier, bispo de Troyes, supostamente proibiu Jean de Vergy, viúva de Geoffrey
de Charny, de exibir o Sudário, com o que ela aparentemente estaria lucrando. O
bispo de Poitier declarou que o Sudário era fraudulento e que ele tinha descoberto
o artista que o havia pintado. O Sudário foi retirado de circulação por cerca de 32
anos, até que os de Charnys discretamente ganharam permissão do antipapa Clemente
XII para exibi-lo novamente, mas com certas reservas. Os visitantes tinham que ser
informados previamente de que a peça não era a roupa de Jesus, mas uma
representação do Sudário autêntico. Essa exigência foi cumprida, mas depois que
descobriu sobre a exibição, Pierre d'Arcis, o novo bispo de Troyes, supostamente
mandou um memorando a Clemente XII, informando ao papa que,

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

uns 30 anos antes, o bispo de Poitier, predecessor de d'Arcis, tinha descoberto a


fraude e o artista que a havia brilhantemente pintado. O papa Clemente XII, porém,
silenciou o bispo e permitiu que a família de Charny continuasse com a exposição.
Desde o final do século XIX, o memorando de d'Arcis tem sido o combustível que
mantém a teoria de fraude artística.

Em 1898, depois das revelações fotográficas de Pia, houve uma onda de renovado
interesse no Sudário por parte da comunidade científica. No mesmo ano, porém, o
eminente historiador Ulysses Chevalier abriu velhas feridas ao defender a teoria da
fraude. Ele alegou que a imagem foi pintada no século XIV, e apoiou suas acusações
com os velhos documentos de d'Arcis. Alguns anos depois, o renomado padre jesuíta,
estudioso e escritor Herbert Thurston escreveu prodigiosamente contra a
autenticidade do Sudário. Seus argumentos apareceram por mais de 50 anos na
Catholic Encyclopedia, uma fonte de referência para milhões de católicos. Isso foi
finalmente retificado por um excelente artigo apresentado por Otterbein, um padre
redentorista, que substituiu o artigo de Thurston sobre o Sudário.

COMENTÁRIO Rex Morgan, editor do Shroud News, indica que os fatos podem ter sido
distorcidos. Ele escreveu:

[...] pesquisa desde o informe de Chevalier no começo deste século levanta uma
considerável suspeita sobre se o documento de d'Arcis não passava de um memorando
sem data e sem assinatura, que nunca foi enviado e que nem mesmo foi escrito pelo
tal bispo. Existem vários documentos papais autênticos tratando da exibição da
vestimenta em Lirey, na França, nos anos 1300, que revelam a disputa entre d'Arcis
e seu predecessor e seus proprietários na época, a familia de Charny, e existe
opinião bem pesquisada e autorizada de que os documentos de d'Arcis não passam de
um julgamento apressado feito em meio ao calor de um debate. (Morgan, 1985)

311

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

O relatório feito em 1978 pela equipe do STURP não nota nenhuma evidência de marcas
de pincel, como foi determinado pelas análises microscópicas, e a análise de
Fourier (uma análise matemática de padrões de vibração) não mostrou nenhum padrão
de direção. Lorre e Lynn analisaram a imagem da parte de trás do Sudário com um
computador IBM 360/65 e notaram uma distribuição inexplicável e aleatória de formas
retas, sem padrão de direção. Além disso, seus estudos meticulosos demonstraram que
a imagem no Sudário não foi resultado de tintas, corantes ou outros materiais
artísticos, removendo assim todas as dúvidas quanto ao fato de ter sido criado por
um artista e refutando a afirmação do bispo de Poitier, que dizia ter descoberto a
pessoa que o pintou. Além disso, as numerosas tentativas de reproduzir a imagem
usando tintas, pigmentos e outras substâncias resultaram em fracassos retumbantes.
Nenhum dos resultados apresentou as gradações exatas que tornaram possível o efeito
de negativo-inverso quando testados fotograficamente, e também falharam no teste
tridimensional. Durante os estudos com pólen, o dr. Max Frei descobriu que nenhum
dos polens que ele testou estava grudado à vestimenta ou coberto com água solúvel
para pintura, adicionando uma forte evidência contra a hipótese de ser o Sudário
uma pintura falsa.

2. A Hipótese Vaporográfica de Vignon

A primeira tentativa de explicar as imagens do Sudário cientificamente foi feita em


1902, pelo professor Paul Vignon, um biólogo de Paris. Suas descobertas foram
apresentadas perante a Academia Francesa de Ciências pelo professor Yves Delage, um
respeitado anatomista comparativo e agnóstico declarado da prestigiosa Sorbonne.
Infelizmente, sua palestra foi recebida com muita resistência e maculou sua
reputação entre seus colegas.

Depois de estudar os efeitos de tinta e corante no linho, Vignon descobriu uma


correlação entre os vapores de amônia liberados pelo

312

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

corpo e os aloés usados no processo funerário. As Escrituras nos dizem que os aloés
eram, de fato, usados nos rituais funerários: "E Nicodemos, aquele que
anteriormente viera ter com Jesus de noite, foi também, levando cerca de 40 quilos
de um composto de mirra e aloés. Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram em
panos de linho com as especiarias, como os judeus costumam fazer na preparação para
o sepulcro" (João 19:39-40). Vignon postulou que a uréia presente no suor e no
sangue se degrada, liberando vapores de amônia que exalam do cadáver e reagem
quimicamente (oxidam) com os aloés na roupa, resultando em uma coloração marrom.
Ele descobriu que a intensidade da imagem variava inversamente à distância da roupa
ao corpo. Em outras palavras, quanto mais distantes da roupa as partes do corpo
estavam, mais alto os vapores de amônia tinham que subir, resultando numa imagem
menos intensa dessas partes do corpo e vice-versa. Experiências subseqüentes foram
conduzidas saturando-se estátuas e cadáveres com amônia e encharcando-se o linho
com uma mistura de óleo e aloés. Imagens negativas apareceram no linho, mas nem de
longe com a perfeição do Sudário.

COMENTÁRIO A descoberta mais significativa de Vignon foi a observação de que a


intensidade da imagem do Sudário variava inversamente à distância da roupa ao
corpo. Isso foi verificado em 1974 por Jackson, que testou a teoria com um
microdensitômetro usado no campo da fotografia.

A Hipótese Vaporográfica de Vignon, porém, não é mais defensável, por várias


razões. Se aloés estivessem presentes no Sudário, a amônia iria se difundir na
roupa, causando uma imagem borrada, ao contrário da que aparece na vestimenta. Além
disso, a imagem não iria ficar confinada às fibrilas da superfície, porque a amônia
iria se disseminar pela roupa, fazendo que a imagem se aprofundasse nas fibras do
tecido. Isso contrasta com a descoberta de que somente as camadas mais externas do
Sudário contêm imagem corpo-apenas. Finalmente, a cor

313

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

da imagem corpo-apenas no Sudário é amarela, enquanto as imagens produzidas por


Vignon são amarronzadas.

Outro argumento contra essa teoria é que estudos químicos de Rogers ao Grupo

sofisticados feitos por Ray Rogers, um brilhante químico e membro do STUPR, não
revelaram nenhuma evidência de aloés ou mirra no Sudário. Além disso, a equipe do
STURP aplicou laser Raman com microssonda, refletância infravermelha e microscopia
direta e não encontrou evidência desses materiais. Tanto os aloés como a mirra têm
composições muito características e são extremamente complexos, contendo grupos
químicos chamados glicosídeos, aglicones e cadeias de açúcar. Rogers indicou que a
argumentação de Bollone de que ele seria capaz de identificar aloés e mirra através
de meios imunoquímicos nunca foi publicada em uma forma que pudesse ser confirmada,
e declara que todas as frações de aloés têm características espectrais extremamente
intensas, que são fáceis de detectar por meio de refletância espectrométrica.
Algumas frações iriam reagir com grupos de hidroxila da roupa e permanecer ali por
um longo período. Componentes dos aloés e da mirra também estavam ausentes em todas
as amostras do Sudário, e seria improvável que os componentes fenólicos tivessem se
vaporizado ou sido varridos. E, ainda, se o Sudário tivesse sido lavado o
suficiente para remover os aloés, isso também teria alterado o sangue. Rogers
também relatou que a mirra tem um odor penetrante (que não estava presente durante
os testes do STURP); que se algum de seus componentes tivesse entrado em contato
com a roupa, ele teria reagido com a celulose e algumas frações ainda estariam lá;
que parece lógico que, se não se consegue fazer com que um material apareça, ele
não pode ser muito importante para a formação da imagem; e que a análise
espectrométrica de pirólise de massa forneceu resultado negativo (e-mails do
Sudário, datados de 27/4, 3/5 e 6/5 de 2003.

Três situações, porém, podem justificar a ausência de aloés e mirra no Sudário. Em


primeiro lugar, eles podem não ter sido aplicados. Isso é sugerido por São Lucas na
seguinte passagem (Lucas 24:1-3):

314

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

"E no primeiro dia da semana, bem de madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as
especiarias que tinham preparado. E acharam a pedra removida do sepulcro, mas,
quando entraram, não acharam o corpo." Alternativamente, os aloés e a mirra
poderiam estar em recipientes ou sacolas ao redor, e não foram aplicados ao
Sudário, ou poderiam ter sido aplicados no lado da não-imagem do Sudário, onde a
Vestimenta Holandesa teria impedido que os cientistas do STURP fizessem os testes.
Em último caso, os aloés e a mirra poderiam estar em forma de pó e não de óleo.

3. A Hipótese de Contato

Essa teoria foi aventada por Vignon antes de ele formular a sua hipótese do vapor.
Ele usou um giz vermelho, que aplicou em sua área facial, desenvolvendo um falso
bigode, e seus assistentes pressionaram levemente uma peça de linho com albumina
contra seu rosto. A imagem resultante ficou bem distorcida, e Vignon abandonou essa
abordagem. Ele concluiu que, em teoria, a hipótese de contato não poderia produzir
uma imagem não distorcida do rosto, que é muito irregular e em diferentes planos,
porque, se a imagem da face fosse aplanada, iria resultar em uma impressão maior e
distorcida. Após a exposição de 1932, houve um novo interesse pela hipótese de
contato por parte de dois especialistas em medicina forense, os doutores Romanese e
JudicaCordiglia, além de um químico, o dr. Scotti, de Turim. Romanese encharcou um
cadáver com uma solução salina que lembrava suor, colocou uma vestimenta de linho
contendo aloés em pó sobre o corpo e obteve imagens negativas do cadáver. O dr.
Judica-Cordiglia despejou sangue no cadáver; colocou sobre este uma vestimenta de
linho que tinha sido encharcada com uma mistura de aloés, terebintina e óleo e
expôs a roupa a vapor quente. Ele conseguiu produzir imagens com gradações que
resultaram em imagens negativas, mas nada que se aproximasse da qualidade da imagem
do Sudário. Mais tarde, o professor Sebastiano Rodante, do Centro Internacional de

315

316

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Sindonologia, conduziu experiências nos ambientes úmidos de catacumbas, onde ele


espargiu no rosto de cadáveres a fórmula Harnach, consistindo em duas partes de uma
solução lembrando suor e uma parte de sangue. Ele também colocou gotas de sangue na
testa dos cadáveres e deixou que secassem. Uma peça de linho embebida numa mistura
aquosa de aloés e mirra foi então colocada no rosto e mantida por diferentes
períodos de tempo, resultando em imagens negativas da face com imagens positivas de
sangue. O tempo ótimo foi de cerca de 36 horas, não incompatível com o tempo que
Jesus permaneceu na tumba. Mas, novamente, os resultados foram muito inferiores aos
do Sudário.

COMENTÁRIO A princípio, podemos definitivamente declarar que todas as hipóteses de


contato usando aloés descritas anteriormente podem ser descartadas, por causa dos
extensos exames científicos conduzidos pelo STURP depois do Simpósio Internacional
de 1978. Esses testes eliminaram aloés como a causa da imagem, porque os
sofisticados estudos químicos mostram a ausência de aloés no lado da imagem do
Sudário, e a imagem corpo-apenas foi determinada como sendo amarela, enquanto as
imagens produzidas pelos aloés com os métodos de contato são amarronzadas. Embora
não possamos descartar totalmente uma hipótese de contato, existem várias razões
pelas quais um mecanismo de contato não poderia explicar adequadamente as imagens
corpo-apenas, particularmente na região da cabeça, enquanto ele explica, todavia,
as imagens de sangue. Mesmo as melhores imagens de contato da cabeça produzidas
pelas técnicas citadas foram acentuadamente inferiores à imagem do Sudário. Existem
duas grandes críticas para a hipótese de contato no que se refere às imagens da
região corpo-apenas da cabeça. A primeira tem relação com as distorções que ocorrem
nos procedimentos de contato. Quando a vestimenta é pressionada na frente e nos
lados do rosto e deixada estendida, obtém-se uma imagem ampliada e muito
distorcida. A
TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

FIGURA 16-1

Padrões Volckringer positivo e negativo.

(a) Foto de planta de um livro.

(b) Negativo fotográfico de a (Cortesia do dr. John DeSalvo.)

FIGURA 16-2

Relevo tridimensional do padrão de Volckringer. Reconstrução tridimensional da


folha da Figura 16-1a. (Cortesia do dr. John DeSalvo.)

317

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

318

segunda crítica tem a ver com a inabilidade dos mecanismos de contato quanto a
produzirem um efeito apropriado de distância roupa-corpo como foi demonstrado no
Sudário. Os estudos de realce de imagens pelo computador parecem conter informações
tridimensionais codificadas compatíveis com o fato de o Sudário ter sido enrolado
em um corpo humano. Além disso, imagens parecem estar presentes nas áreas onde não
haveria contato do corpo com a roupa.

A hipótese de contato, porém, parece ser responsável pelas áreas de imagens de


sangue, como as marcas de açoitamento e os finos arranhões mostrados na foto tirada
por Miller e Pellicori usando fotografia ultravioleta fluorescente (em Biological
Photography, vol. 4, p.78, 1981). É interessante que nas fotos ultravioleta de
algumas imagens de sangue dos ferimentos, particularmente em torno da imagem do
ferimento da mão (página 82 do mesmo artigo), existem áreas claras desprovidas de
imagem, indicando que as imagens de sangue estavam presentes antes que a imagem
corpo-apenas fosse produzida. Isso poderia fornecer apoio adicional para a hipótese
de que o homem do Sudário foi lavado antes de ser envolvido nele (veja "O Homem do
Sudário Foi Lavado Depois da Morte?").

A teoria de Pellicori, discutida em "A Hipótese de Queimadura por Radiação", é em


essência um mecanismo de contato baseado no conceito de que ungüentos ou
substâncias naturais do corpo se transferiram para o Sudário, e de certa forma
catalisaram ou aceleraram a degeneração de celulose nas áreas contendo essas
substâncias. A debilidade dessa e de outras hipóteses de contato reside em sua
inabilidade de produzir uma imagem facial não distorcida (veja "A Hipótese de
Queimadura por Radiação").

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

4. Hipótese de Volckringer

Uma hipótese bastante interessante vem das observações feitas em 1942 por Jean
Volckringer, um farmacêutico do hospital São José, de Paris. O dr. Volckringer
notou que certas ervas pressionadas em um livro por muitos anos freqüentemente
produziam imagens surpreendentes e detalhadas das plantas, com padrões de inervação
(Figura 16-1a) nas páginas acima e abaixo da planta, e às vezes estendendo a imagem
para uma página adicional abaixo. Ele também notou que as ervas tinham que ter
estado no livro por um longo tempo para produzir a imagem, porque nenhuma das ervas
recentes, mesmo uma que estava pressionada num livro havia 34 anos, produziu
qualquer tipo de imagem. Porém, uma erva que permaneceu mais de um século produziu
uma imagem clara e bem definida. Quando fotografias dessa imagem foram tiradas, uma
imagem positiva foi produzida no filme negativo (Figura 16-1b), como o que acontece
quando o Sudário é fotografado. Além disso, a coloração da imagem é similar à cor
da imagem corpo-apenas vista no Sudário. Mas existe, todavia, uma diferença
essencial: a imagem do Sudário está presente apenas na superficie das fibrilas,
enquanto no padrão de Volckringer a imagem penetra o papel. Os padrões de
Volckringer ganharam lugar de respeito entre os estudos do Sudário, embora
primariamente como uma curiosidade. Nos últimos anos, porém, houve um interesse
renovado, já que recentes estudos indicaram que a imagem corpo-apenas pode ser
conseqüência de uma decomposição acelerada das fibrilas de celulose na área da
imagem. O papel do livro contendo os padrões de Volckringer também apresentava um
alto conteúdo de celulose, indicando um mecanismo similar na produção da imagem.
Tendo isso em vista, o dr. John DeSalvo, um biofísico, decidiu comparar os dados de
refletância espectral visíveis dos padrões de Volckringer com os dados derivados da
imagem corpo-apenas do Sudário obtidos pelos Gilberts em 1978. DeSalvo descobriu
padrões quase idênticos. Ele então checou o padrão ultravioleta e descobriu uma
ausência de

319

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

fluorescência sob luz ultravioleta nos padrões de Volckringer. Ele finalmente


submeteu a imagem a um analisador de imagem VP-8 e obteve um excelente relevo
tridimensional (Figura 16-2).

Parece que os ácidos da planta, incluindo ácido láctico, são transferidos para o
papel, alterando a estrutura da celulose nos locais de transferência após longo
período de tempo. DeSalvo então postulou a hipótese revisada de contato direto pelo
vapor, que propõe dois mecanismos para explicar a imagem no Sudário. O primeiro é
um mecanismo de contato direto, em que o homem do Sudário teria uma grande
quantidade de ácido láctico na pele-relativo ao suor abundante causado pela tortura
e crucificação -, que teria se deslocado para a roupa e produzido a imagem do
Sudário, depois de muito tempo. DeSalvo especulou que o ácido láctico não iria
penetrar no Sudário como fez nas páginas do livro nos padrões de Volckringer por
causa da baixa absorção do Sudário. O segundo mecanismo é um processo de difusão
molecular para explicar a natureza tridimensional da imagem, já que a concentração
de ácido láctico é maior nas áreas da roupa mais próximas do corpo, causando assim
um maior grau de degradação de celulose e vice-versa.

COMENTÁRIO A Hipótese de Volckringer é interessante por causa da boa resolução,


clareza e exatidão das imagens; a similaridade da cor; alto conteúdo de celulose;
habilidade de produzir uma imagem positiva exata e concisa nos negativos; e por
causa da natureza tridimensional da imagem. Não há dúvida de que, sob uma avaliação
patológica forense, o homem foi lavado antes de ser colocado no Sudário, tornando
difícil aceitar a hipótese do ácido láctico para a formação da imagem. Além disso,
mesmo se o ácido láctico do suor estivesse presente no Sudário, ele seria
responsável por uma imagem nas áreas de contato, mas não contribuiria com a relação
de distância da roupa ao corpo notada no Sudário, a despeito da proposição de
DeSalvo. É por essa mesma razão que a teoria de Pellicori- também baseada em

320

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO


experiências com secreções da pele, simuladas pelo uso de perspiração junto com
óleos e azeite de oliva, procedendo-se a um "cozimento" controlado-não é aceitável:
os sistemas de transporte molecular exigem contato com a vestimenta para a produção
da imagem. Visto que a imagem não se encontra presente através da estrutura do
tecido, uma difusão de vapor não parece ser aceitável. DeSalvo não realizou nenhuma
experiência definitiva relacionada a essa hipótese.

5. Hipótese de McCrone Sobre Pintura com Óxido de Ferro

O falecido Walter C. McCrone (1916-2002), um formidável proponente da teoria


artística, era um microscopista reconhecido internacionalmente e diretor do famoso
Laboratório de Pesquisa McCrone e Associados, em Chicago. McCrone é conhecido por
suas alegações de que o Mapa Vinland, da Universidade de Yale (um mapa medieval do
Novo Mundo, estimado em 20 milhões de dólares) era uma fraude, já que continha
anatase, um material óxido de titânio que se acredita ser de origem mais recente.
Porém, Jacqueline Olin, uma química aposentada do Instituto Smithsonian,
recentemente demonstrou, por meio de datação pelo carbono 14, que o mapa foi feito
por volta de 1434, o que corrobora o fato de ser genuíno. Apenas alguns traços de
anatase, que é freqüentemente encontrado na natureza, estavam presentes na camada
amarela.

Depois de estudar 32 amostras colhidas em fita adesiva de várias áreas do Sudário


usando microscopia de luz polarizada, microscopia eletrônica de varredura, análise
de raios X por energia dispersiva, microssonda eletrônica, difração de raios Xe
difração eletrônica de áreas selecionadas, McCrone relatou que a imagem do Sudário
é resultado da aplicação de pigmento vermelho, que foi intencionalmente adicionado,
ou para criar uma imagem ou para realçar uma já existente. Ele indicou que, além do
óxido de ferro vermelho, também conhecido como ocre vermelho ou vermelho-veneziano
(cor de terra), ele

321

322

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

descobriu sulfeto de mercúrio, outra cor de terra, e uma tempera colágena para
pintura, todos eles usados por artistas através dos séculos. McCrone também disse
não acreditar que exista sangue nas imagens indicadas como tal e acha que a
diferença de cor entre as imagens de sangue e a do corpo-apenas se deva à presença
de certa quantidade de pigmentos de ferro. Para apoiar isso, ele diz que os
resultados para o sangue foram negativos nas mesmas amostras para as quais Adler,
Hellere Bollone, independentemente, informaram resultados positivos. Ele declarou
em sua conclusão final no Skeptical Inquirer (primavera de 1982): "Eu não consigo
ver nenhum mecanismo possível pelo qual o Sudário poderia ter sido produzido, a não
ser pelo trabalho de um artista. A fiel representação de todas as marcas anatômicas
e patológicas, como descritas no Novo Testamento, seria difícil de produzir, exceto
por um artista. Elas não têm distorção e são exatamente da forma como gostaríamos
que parecessem".

COMENTÁRIO Existem numerosos argumentos contra a hipótese de McCrone: ele insiste


em que as áreas da imagem no Sudário foram pintadas com uma suspensão diluída de
hematita misturada a clara de ovo. A clara do ovo é uma substância coloidal de
albumina usada como adesivo no processo de decorar objetos ou em vários processos
de pintura. Vários testes microquímicos para se detectar proteínas e experiências
com pirólise provaram que as proteínas estavam ausentes nas áreas da imagem e
espectrometria de refletância provou que a cor não poderia ter sido produzida com
hematita nas áreas da imagem.

Traços de pigmentos de tinta descobertos por McCrone foram confirmados por outros
investigadores, mas sua origem é fonte de debate. As descobertas são
inquestionavelmente compreensíveis, porque muitos sudários têm sido copiados por
artistas diretamente do Sudário de Turim. Esse é um processo relativamente
laborioso, que envolve misturar suas tintas no mesmo recinto onde está o Sudário,
Golpes de ar e movimentos do corpo poderiam facilmente carregar

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

os pigmentos para o Sudário. Ainda mais contundentes são os estudos recentes feitos
por Fossati de vários sudários famosos que foram, na verdade, colocados em cima do
Sudário de Turim por algum tempo para que fossem reconhecidos como "relíquia
venerável". Isso ocorreu particularmente com os sudários das igrejas espanholas de
Guadalupe e Navarette, em 1568; de Torres de la Alameda, em 1620; La Cuesta, em
1654; Aglie, em 1822; e também nos Estados Unidos, em 1624, pela igreja Our Lady of
the Rosary (Summit, Nova Jersey). Todos os sudários foram repousados, imagem por
imagem, em cima do Sudário de Turim.

Alguns pesquisadores têm argumentado que a cor nas fibrilas não se origina de
pigmentos inorgânicos. Adler informou que "essa cor amarelada, cor de palha, das
fibras da imagem do corpo não correspondem a nenhuma coloração proveniente de
qualquer forma conhecida de óxido de ferro". Além disso, Adler informou que não
existe correspondência das imagens corpo-apenas com a concentração de óxido de
ferro, já que as características espectrais da imagem corpoapenas são diferentes
daquelas encontradas no óxido de ferro. A cor das fibras, relacionada ao óxido de
ferro, também é desmentida pelo fato de que a oxidação ou redução converte as
fibrilas amarelas da imagem corpo-apenas a uma cor branca. Somente algumas raras
partículas de óxido de ferro são notadas nas fibrilas da imagem corpo-apenas.
Grandes quantidades de ferro ligaram-se à celulose do Sudário (não óxido de ferro),
e cálcio também estava presente. Acredita-se que isso se deva à capacidade do linho
de unir ferro e água por meio da associação de ions durante a maturação, ou seja, o
processo de manufatura pelo qual o linho é imerso na água durante a fermentação.
Foi estimado que 90% do ferro e cálcio existem nessa forma ligada à celulose do
linho, e somente uma pequena quantidade está presente como óxido de ferro. Esses
componentes de óxido de ferro provavelmente surgiram da conversão de alguma
quantidade de ferro das bordas das manchas de água a cáqui mineral. Testes
similares foram feitos com amostras

323

324

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

tiradas de pedaços de linho espanhol de 300 anos; de um linho funerário copta


datado de cerca de 350 d.C.; e de um linho faraônico datado de cerca de 1500 a.C.
Todos deram resultados similares quanto à presença de cálcio e ferro. Finalmente,
estudos feitos com raios X na imagem corpo-apenas indicaram que não existe óxido de
ferro suficiente para que aparecesse na radiografia (opinião de McCrone).

Para argumentar com mais força contra o conceito do uso de tintas fabricadas pelo
homem, todo o ferro do Sudário, seja de partículas de óxido de ferro, seja de
sangue, provou ser 99% quimicamente puro, sem nenhum manganês, níquel ou cobalto. O
pigmento relativo ao vermelho-terra, seja ele de fontes medievais ou mais antigas,
estava contaminado com manganês, níquel ou cobalto em mais de 1%. Além disso, se
corantes naturais solúveis em água estivessem presentes, eles teriam migrado quando
as manchas de água ocorreram. Isso não parece ter acontecido. O teste de negro de
amido, se usado sozinho ou sem controle, como McCrone fez, entretanto, pode levar a
resultados enganosos, já que pode manchar celulose oxidada.

Estudos de pólen também se somaram aos argumentos contra a teoria de McCrone. Odr.
Max Frei descobriu que nenhum dos possíveis polens estava grudado à roupa ou
coberto com têmpera, adicionando portanto uma forte evidência contra a teoria de
que o Sudário é uma pintura.

6. A Hipótese de Desenho em Relevo de Nickell

Em 1978, Joe Nickell, cujas habilidades nas áreas médica e científica incluíam
ensinar técnicas de escrita, atuação como mágico e trabalhos como investigador
particular, publicou artigos na Humanist (novembro/ dezembro de 1978) e na Popular
Photography (novembro de 1979) sobre uma interessante técnica de desenho em relevo,
que ele usou para criar imagens positivas e negativas em baixo-relevo de Bing
Crosby. Nickell encharcou uma roupa com água quente, moldou-a com os contornos do
relevo com uma ferramenta e esperou que secasse. Então ele fez

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

uma mistura em pó contendo partes iguais de mirra e aloés e cuidadosamente aplicou


o pó com um chumaço de algodão. Mais tarde, ele realizou a mesma técnica usando
óxido de ferro, como nas descobertas de McCrone, e conseguiu criar imagens
semelhantes, porém mais intensas. Recentemente, Nickell mudou um pouco sua
abordagem e defendeu a hipótese de que o óxido de ferro presente em sua técnica de
desenho em relevo produziu a imagem ao causar uma degradação das fibrilas de
celulose. Ele argumentou que, ao longo dos anos, a maior parte do óxido de ferro
iria se soltar, deixando apenas alguns remanescentes do pigmento.

COMENTÁRIO A princípio, deve-se perceber que Joe Nickell se encontra fora de seu
campo, que é caçar fantasmas e realizar truques, e não tem conhecimento científico
necessário para apresentar conclusões válidas em uma área que tem desafiado até
renomados experts. Sua habilidade para produzir uma imagem em positivo e negativo
não prova que ela foi produzida por um artista e que o Sudário é uma fraude. Além
disso, Rogers, usando técnicas químicas sofisticadas, informou que aloés não foram
encontrados no Sudário (veja "A Hipótese Vaporográfica de Vignon"). Mesmo McCrone,
que acredita que o Sudário foi produto de um artista, supostamente não fez
acusações de que o Sudário seja uma fraude, como fez Nickell, mas indicou que
sentiu que "um artista foi encarregado de pintar o Sudário". McCrone provavelmente
trabalhou em casos forenses o bastante para entender que o memorando de d'Arcis não
oferece prova de acusação contra quem era o artista, se é que houve um, ou das
circunstâncias envolvendo a tal confissão. A abordagem não-científica de Nickell em
seu livro, The Inquest, nos lembra as propostas de indivíduos que tiram coisas do
contexto da Bíblia para provar sua idéia ou então para fortalecer as credenciais de
uma determinada pessoa e ignorar as excelentes credenciais de outra somente para
desmerecê-la.

325

326

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

O trabalho de Nickell falha em providenciar uma imagem computadorizada detalhada,


tanto no negativo como no positivo, comparável àquela do Sudário. A modificação de
Nickell em sua teoria (discutida anteriormente) sugere o uso de óxido de ferro e
também fracassa, pelos mesmos motivos. A maior parte dos comentários feitos no item
a seguir também se aplica aqui. Além disso, os estudos não mostram diferenças entre
o conteúdo do óxido de ferro nas áreas de imagem corpo-apenas e as áreas de não-
imagem. O ferro no Sudário é 99% quimicamente puro, sem nenhum manganês, níquel ou
cobalto discernível. Ocre vermelho, seja ele de fonte medieval ou mais antiga, foi
contaminado com manganês, níquel ou cobalto em mais de 1%. Finalmente, a técnica de
desenho em relevo não permite um relacionamento da distância roupa-corpo quando
submetida à análise de imagem no computador VP-8.

Para que se pudesse atribuir algum crédito à hipótese de Nickell, ter-se-ia que
submetê-la a testes rigorosos. Em primeiro lugar, Nickell teria que produzir uma
imagem completa, duplicada, de tamanho natural, e as apropriadas manchas de sangue
num pedaço de linho comparável, frente e verso, com todos os detalhes do Sudário de
Turim, incluindo as marcas de açoitamento e outros ferimentos, braços cruzados na
altura dos pulsos, as imagens peculiares de pés e pernas etc. A seguir, o "sudário"
resultante teria que ser sujeito às mesmas condições do incêndio de Chambéry.
Então, ele teria que ser analisado por meio de espectroscopia visível,
infravermelha e ultravioleta; fluorescência de raios X; imagem radiográfica;
termografia infravermelha microscopia eletrônica de varredura; testes microquímicos
etc. e fornecer resultados similares. Depois, amostras teriam que ser retiradas com
fita adesiva e submetidas a análises químicas, biofísicas, microscópicas, de
microscopia eletrônica de varredura, raios X, exame ótico etc. e dessa forma
fornecer resultados similares. Além disso, todas as imagens e manchas no "sudário"
teriam que ser similares e teria que haver ausência de imagem onde houvesse manchas
de sangue. Por último, análise de

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

imagem por meio de computador teria que ser realizada para determinar se a relação
da distância corpo-roupa está presente. Se o sudário de Nickell não satisfaz todos
os critérios, ele não pode ser aceito como um desafio legítimo à autenticidade do
Sudário de Turim.

7. Hipótese de Desenho em Relevo de Craig-Bresee

Em 1994, Craige Bresee introduziram uma modificação da técnica de transferência do


pó do carvão utilizada por ilustradores da área médica numa tentativa de explicar a
imagem do Sudário. O que foi produzido se mostrou muito impressionante, resultando
numa imagem com muitas das características do Sudário. Isso incluiu a ausência de
marcas de pincel; a produção de uma imagem fraca e monocromática; nenhuma
penetração nas fibras; confinamento da imagem nas fibras mais externas; e a
aparente negatividade, da forma como é manifestada no Sudário. Além disso, ela é
codificada com informação tridimensional. E, de mais a mais, os materiais em seu
estado puro eram acessíveis nos tempos medievais,

Uma mistura de óxido de ferro e pó de colágeno foi usada para desenhar em uma
superfície relativamente lisa de um papel para impressão de jornal e transferida
para uma peça de linho mediante suave fricção com um pedaço plano de madeira e,
então, dissolvendo o colágeno por meio da aplicação de vapor para unir os pigmentos
às fibras. Craige Bresee propuseram que um artista na época medieval poderia ter
esboçado a imagem em longos lençóis de papel ou velum (material feito quando se
encharca a pele de bezerro) e que os resíduos da solução utilizada podem ter se
depositado no Sudário, o que poderia justificar os traços de outros elementos
químicos descobertos nele. Eles também sugeriram que talvez uma aplicação de vapor
tenha sido criada inadvertidamente como resultado da tentativa de apagar o fogo de
Chambéry com água.
327

328

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

COMENTÁRIO Rogers avaliou criticamente a hipótese de Craig e Bresee e concluiu que


a sua técnica de transferência de pó utilizando óxido de ferro e colágeno não
poderia ter criado a imagem do Sudário pelas seguintes razões: a) as análises de
fluorescência de raios X, as medidas de espectrometria de refletância, as medidas
de transmissão de baixa energia e alta resolução de raios X eliminam a
possibilidade de ferro na composição da imagem; b) medidas de espectro visível,
ultravioleta e fluorescente obtidas em 1978 durante as investigações do STURP
indicaram que a imagem não tinha nenhum componente de hematita ou qualquer complexo
de ferro, porque o espectro é o resultado das composições e estruturas químicas; c)
Adler informou que cálcio e ferro eram as únicas substâncias metálicas presentes no
Sudário. Esses elementos eram ligados de forma covalente e são responsáveis pelo
processo de maturação usado na conversão da matéria-prima para linho. Adler diz que
o óxido de ferro não poderia ser o cromóforo (um componente da cor) da imagem do
corpo, já que a cor das fibras dessa área de imagem é um amarelo-palha no nível
micro, e o ferro nas áreas de imagem está presente apenas na formas ferrosas
hidratadas do óxido de ferro, e teriam sido descoloridas pelo fogo; d) os
resultados das medidas de fluorescência de raios X, radiografia, espectro visível e
testes químicos desmentem a criação da imagem pelos componentes ou complexos de
ferro; f) as amostras de tecido de Craig e Bresee eram de linho moderno, que havia
sido tratado com compostos para prover brilho e engomar a peça; g) como resposta à
acusação de que a presença de sangue não foi mencionada, os autores declararam que
inicialmente não o fizeram, "mas é relativamente fácil ver que com um desenho feito
com pó, sangue pode ser aplicado ao desenho original em qualquer local desejado.
Quando a imagem é transferida por contato a uma peça de roupa, o sangue entra em
contato com a vestimenta primeiro e impede que se forme na roupa a imagem produzida
com pó seco". Essa explicação não é satisfatória, porque as áreas de sangue

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

no Sudário são muito precisas, a técnica de fricção iria causar manchas, anéis de
soro estariam ausentes da maior parte das áreas e padrões de separação de soro
seriam impedidos de se formar.

Adler escreveu que já que não existe mudança na cor da imagem nas interfaces entre
as manchas de água e/ou queimaduras e as imagens do corpo, o cromóforo da imagem do
corpo não poderia ser oriundo do óxido de ferro, porque a única forma conhecida de
óxido de ferro dessa cor é a forma hidratada, que seria descolorida pelo fogo.
Quanto à hipótese Craig-Bresee, ele relatou: "Não há evidência microscópica,
química ou espectroscópica da presença do requerido pó seco proposto por eles. Eles
também não tratam do problema da imagem do sangue nem explicam as mudanças químicas
na celulose. É uma tentativa interessante, mas não chega a lugar algum" (The Nature
of the Body Images on the Shroud of Turin'"*, 1999).

8 a - c: As Hipóteses de Processamento Fotográfico

Desde quando Pia relacionou a imagem do Sudário a um negativo fotográfico e


demonstrou essa aparente propriedade, inúmeros artigos foram publicados para apoiar
a autenticidade, já que o conceito de fotografia era desconhecido na época da
controvérsia Charny/d'Arcis. A fotografia era o resultado de dois processos que já
existiam, mas precisavam ser associados-a câmara escura e os processos químicos. É
fato conhecido que, em 1490, Leonardo da Vinci deu duas descrições claras da câmara
escura em suas anotações e em um desenho de 1519. A câmara escura ganhou esse nome
do astrônomo alemão Johannes Kepler, em 1604, e consistia em uma caixa escura de
tamanho variável, às vezes maior que um cômodo, com um buraco em uma extremidade. A
mais antiga menção à câmara escura foi feita pelo filósofo chinês Mo-Ti, em cerca
de 5 a.C., que descreveu uma imagem invertida

*N. do T.: "A Natureza das Imagens do Corpo no Sudário de Turim".

329

330

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

formada por raios de luz passando através de um pequeno furo para dentro de uma
sala escura. Em 1609, Kepler sugeriu usar lentes de quartzo para melhorar a imagem
projetada pela câmara escura. Por centenas de anos foi observado que certos sais de
prata eram sensíveis à luz e não ficavam escuros quando expostos ao sol. Na
primeira parte do século XIX, Thomas Wedgewood estava capturando imagens com os
sais de prata, mas não conseguia mantê-las. Foi quando esses dois processos se
juntaram que a fotografia foi criada. Por volta de 1818, Jean Nicephore Niepce
produziu a primeira imagem fotográfica echamou-a de beliografia. Em 1839, Sir John
Herschel mudou o nome para "fotografia", que deriva do grego para "luz" e
"escrita". Embora Louis-Jacques Daguerre tenha juntado forças com Niepce e de certa
forma melhorado o processo, ele só foi aperfeiçoado muitos anos depois. Ao examinar
o Sudário, uma análise cuidadosa revela que, tirando o reverso claro-escuro dos
pontos luminosos e das sombras, a imagem falha como um verdadeiro negativo
fotográfico. Esse reverso éprimariamente notável porque artistas através da
história têm detalhado tipicamente os pontos luminosos como as áreas claras e as
sombras como as escuras. Isso é revertido na imagem do Sudário e, conseqüentemente,
a imagem lembra o reverso claro-escuro de um negativo fotográfico. Porém, é aqui
que a similaridade com um negativo fotográfico termina. Um exame cuidadoso revela
que as áreas claras e escuras do Sudário são diretamente proporcionais às
distâncias entre o corpo e a roupa nessas áreas. Em essência, a densidade da imagem
do Sudário mapeou a topografia do corpo que a peça cobriu. Imagens fotográficas têm
limites definidos ou distintos, mas isso não está presente no Sudário. Além disso,
essas mesmas relações distânciadensidade da roupa ao corpo também são responsáveis
pelo chamado efeito tridimensional (veja "Avaliação Tridimensional do Sudário", no
Capítulo 15), que não está normalmente presente em negativos fotográficos.

TÉCNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

Em vista das características fotográficas do Sudário, três teorias de formação de


imagem surgiram: a) hipótese de processamento fotográfico de Crawley; b) a hipótese
da Vinci formulada por Picknett e Prince; e c) hipótese fotográfica de Allen. As
duas últimas apareceram recentemente em documentários de televisão.

8a. Hipótese de Processamento Fotográfico de Crawley Uma teoria muito interessante


foi proposta por Geoffrey Crawley em um artigo do British Journal of Photography,
em 24 de março de 1967:

Aparentemente, é um fato histórico que o Sudário foi mantido em um baú de prata por
séculos e as marcas de queimadura produzidas durante o incêndio de Chambéry foram
causadas pelo derretimento desse baú no calor... Talvez, como resultado de um corpo
estirado nesse Sudário, certos elementos químicos ou impressões latentes foram
deixados nas fibras. Teria ocorrido algum tipo de reação química durante os séculos
em que o Sudário esteve guardado no baú de prata? Será que o calor do castelo em
chamas "revelou" a impressão? [] Será que algum monge piedoso e artista,
embasbacado pela aparição milagrosa da impressão, e percebendo que não havia nenhum
sinal de crucificação, resolveu adicionar os pontos "positivos" das marcas de
ferimentos?

COMENTÁRIO Estudos recentes demonstraram que somente algumas partículas ocasionais


de prata estavam presentes no Sudário, e mesmo assim, só nas áreas chamuscadas,
negando, portanto, completamente a hipótese de processo fotográfico. Além disso,
estudos feitos com enzimas e outros testes confirmaram que as áreas de sangue
estavam presentes no Sudário antes da imagem.

331

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Roupa coberta com sais de prata sensiveis à luz agindo como filme Depois que a
imagem frontal foi exposta a segunda metade teve que ser montada para receber
imagem da parte de trás do corpo Lentes de quarta monta sna abertura da camara
escur Balde de urina/amónia para agir como fixador dos sais de prata sensiveis
"Defunto de gesso suspenso por virios dias de exposição ao sol forte Depois que
tempo suficiente se passou ele teve que ser virado para que a parte de trás do c e
de frente abertura

FIGURA 16-3

Teoria fotográfica de Allen. Diagrama detalhando a câmara reconstruída do professor


Allen para produzir a imagem do Sudário. (Cortesia de lan Wilson.)

8b. A Hipótese Da Vinci formulada por Picknett e Prince

Essa hipótese foi apresentada em um best-seller chamado The Turin Shroud: in Whose
Image? The Shocking Truth Unveiled", por Picknette Prince. Os autores afirmam que o
Sudário é uma farsa, uma obra-prima criada na Idade Média pelo gênio Leonardo da
Vinci, usando uma forma primitiva de fotografia, um auto-retrato para representar a
cabeça de Jesus e um cadáver para retratar o corpo. Eles relatam que a imagem no
Sudário definitivamente não é uma pintura A propósito, a informação que acrescenta
intriga ao livro foi dada a eles por um membro proeminente do Priorado de Sião (um
grupo que colocava

"N. do T.: "O Sudário de Turim: de Quem é a Imagem? A Verdade Chocante Revelada",
sem tradução em português.

332

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

João Batista acima de Jesus), que indicou aos autores que Da Vinci fazia parte
dessa sociedade, a qual existia desde tempos medievais. Picknette Prince sustentam
que Da Vinci perpetrou a fraude usando uma técnica fotográfica que ele inventou
para criar a imagem no Sudário. A fraude foi supostamente motivada por razões
políticas e pelas inclinações anticatólicas de Da Vinci. Para apoiar a hipótese de
que o Sudário é uma farsa, os autores relatam as supostas alegações dos entusiastas
do Sudário de que outras imagens estão presentes na peça, como pregos, um martelo,
flores, uma vassoura e uma lança. Os autores argumentam que essas imagens
adicionais não existem e que, tirando a imagem do homem, a única coisa que se vê é
o padrão espinha de peixe da peça de linho.
COMENTÁRIO Em primeiro lugar, a medalha dos peregrinos de 1350 não deixa dúvidas
quanto ao fato de que o Sudário não foi feito por Leonardo da Vinci, já que ele
nasceu em 1452.

Além do mais, a imagem do Sudário falha como verdadeiro negativo fotográfico, como
já foi discutido, em Hipóteses de Processamento Fotográfico. Em segundo lugar,
Adler relata que não existem evidências químicas ou espectroscópicas em seus
sensibilizadores, e já que é uma imagem refletida, ela iria falhar em um teste com
um analisador VP-8. Em terceiro lugar, a crítica da hipótese fotográfica de Allen
discutida na próxima seção por Barrie Schwortz, fotógrafo profissional e científico
e especialista em imagem, também se aplica aqui. É interessante que os laboratórios
de radiocarbono dataram o Sudário como sendo de cerca de 1260 a 1390 d.C., com 95%
de margem de acerto, enquanto Da Vinci nasceu em 1452 e morreu em 1519. Mas, por
questões de segurança, os laboratórios adicionaram mais 4,9% ao nível previsto,
estendendo o alcance para 1000 a 1500 d.C. Isso deu uma chance a Da Vinci, mas por
bem pouco. Porém, como já foi citado, a medalha dos peregrinos deveria remover
todas as dúvidas. Além disso, pelo fato de o Manuscrito de Orações húngaro,

333

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

datado de 1190, mostrar os mesmos "buracos de atiçador" no Sudário que são visíveis
hoje (veja "Manuscrito de Orações", no Capítulo 13, História do Sudário), o
Sudário, na verdade, daa do período inferior do limite estendido.

Historicamente, se Da Vinci pudesse tirar fotografias usando uma nova invenção,


isso não teria sido revolucionário, bem divulgado e lucrativo na época? Será que o
vaidoso Leonardo não teria anunciado sua nova técnica e tirado numerosas fotos? Uma
questão que vem à mente nessa situação é: como ele seria capaz de encontrar alente
de quartzo certa? Citando Barrie Schwortz, "Só porque existia a matéria-prima não
significa que alguém fez".

8c. Hipótese Fotográfica de Allen

O professor Nicholas Allen, da África do Sul propôs que a imagem do Sudário é obra
de um fotógrafo medieval que produziu com sucesso uma imagem fotográfica negativa
de um cadáver num lençol de linho, usando uma câmara escura e substâncias químicas,
incluindo sal de prata, quartzo e amônia extraída da urina, materiais disponíveis
na época e também mencionados nos textos de Leonardo da Vinci. variável,

A câmara escura consistia em uma nesse caso do tamanho de um cômodo, com um


orificio na extremidade. De acordo com o historiador fotográfico Robert Leggat, um
veneziano, Daniel Barbaro, que viveu na mesma época que Da Vinci, relatou: "Feche
as venezianas e portas até que nenhuma luz en re na câmara, a não ser através da
lente. Do lado oposto, segure un pedaço de papel, que você moverá para a frente e
para trás até que a cena apareça em detalhes. Lá no papel você observará a visão
completa, como ela realmente é, com suas distâncias, cores e sombras, movimentos,
as nuvens, a água cintilando, os pássaros voando. Ao segurar o papel firmemente
você pode traçar toda a perspectiva com uma caneta, acrescentar-lhe algum sombreado
e delicadamente colori-lo conforme a natureza".

caixa escura de tamanho

334

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO


Para testar essa hipótese, Allen mergulhou um pedaço de linho do tamanho do Sudário
com uma solução diluída de nitrato de prata ou sulfato de prata para torná-lo
fotossersível e o posicionou dentro de uma grande câmara escura, do tamanho de um
quarto, depois de dobrá-lo ao meio para fotografar a frente da imagem e em seguida
fotografar a parte de trás (Figura 16-3) Um molde de plástico de um homem barbado
foi feito com certas dterações para simular o rosto ferido etc. e suspenso do lado
de fora ao sol, a cerca de 4 metros de distância da abertura da câmara escun. Uma
lente de quartzo com mais de 60 milímetros de diâmetro foiusada para permitir a
entrada da maior quantidade de luz possível na âmara escura. Allen relata que
lentes feitas de vidro com qualidade óica não são satisfatórias e que somente
quartzo com qualidade ótica vai deixar entrar suficiente radiação UV do cadáver
diretamente para a roupa impregnada com prata. Depois de quatro dias, uma imagem
invertida de coloração púrpura amarronzada aparece, a qualé, então, imersa em
amônia e depois em urina ou amônia diluída, que a estabiliza e remove toda a prata.
Isso resulta numa pálida imagem negativa amarelo-palha, concentrada nas fibrilas
superiores, que cuando fotografada irá produzir uma imagem positiva. Todo esse
processo foi repetido por mais quatro dias para que se obtivesse a imagem de trás.
Recentemente, ele teve que adicionar uma terceira exposição para o rosto usando uma
lente diferente. Ele posicionou a câmara escura num local frio para evitar
deterioração.

COMENTÁRIO O processo usado pelo professor Allen é tão impressionante por ter
produzido uma imagem do Sudário quanto por ser superior a qualquer outro. Além
disso, sua imagem agiu como um negativo, de maneira similar à imagem do Sudário.
Barrie Schwortz, um fotógrafo profissional, especialista en imagem e membro da
equipe do STURP de 1978, avaliou as experiências de Allen e concluiu que "a teoria
da protofotografia proposta pelo professor Nicholas Allen foi

335

336

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

capaz de produzir uma imagem em uma vestimenta de linho, mas

ninguém conseguiu reproduzir as propriedades da imagem do Sudário de Turim".


Schwortz apontou diversas limitações à hipótese de Allen. Em um artigo intitulado
"Is the Shroud of Turin a Medieval Photography? A Critical Examination of the
Theory"* (www.shroud.com/pdfs/orvieto.pdf), Schwortz incluiu alguns dos seguintes
comentários: a) a imagem que Allen criou foi pela perspectiva da ciência do século
XXI, e embora a matéria-prima, incluindo os elementos químicos, a câmara escura e
as lentes, estivesse presente na época, Allen não conseguiu providenciar um único
exemplo de alguém dos tempos medievais que tivesse combinado tais elementos para
produzir esse tipo de imagem; b) a imagem de Allen mostrou um forte direcionamento
de luz-óbvio, por causa das sombras profundas projetadas no objeto pela luz do sol
forte e direta - que não está presente no Sudário, o qual não mostra evidência de
direcionamento; c) uma análise feita por meio do VP-8 não resulta em um relevo
dimensional adequado de uma forma humana como a do Sudário; d) a imagem de Allen
possui contornos bem distintos, algo que não é visto no Sudário; e) os próprios
resultados de Allen providenciam as melhores evidências contra a validade de sua
teoria, apontando que "Qualquer tentativa de recriar uma imagem como aquela do
Sudário deve ser comparável ao original no que tange a todas as suas propriedades
físicas e químicas, não apenas algumas delas".

Existem mais duas considerações que desafiam a hipótese de Allen. Primeiro é a


falta de qualquer evidência química, física ou espectroscópica de elementos
sensibilizadores de prata no Sudário. E, em segundo lugar, seria difícil que fosse
usado um cadáver em vez de uma estátua, como foi sugerido, já que depois de oito a
nove dias pendurado ao sol, o corpo já estaria severamente putrefato.

"N. do T: "O Sudário de Turim é Uma Fotografia Medieval? Uma Avaliação Critica da
Teoria".

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

9. A Hipótese de Hipertermia por Carbonato de Cálcio A hipótese de hipertermia por


carbonato de cálcio foi proposta por Joseph Kohlbeck, um cristalógrafo na Divisão
Aeroespacial Hercules, e Eugenia Nitowski, uma arqueóloga, freira carmelita e
expert na arqueologia de tumbas antigas da região de Israel-Jordânia. A descoberta
de carbonato de cálcio (travertino aragonita) nas fibras do Sudário levou esses
pesquisadores a investigar se esse elemento se originou de calcário em uma tumba
judaica do século I. A primeira fase de seu trabalho foi determinar os efeitos de
uma pasta aquosa de calcário em fibras de linho. Kohlbeck e Nitowski reportaram um
efeito de mercerização, em que o calcário ligeiramente alcalino atacou a superfície
externa da fibra, produzindo uma cor amarela que eles indicaram ser decorrente da
pequena quantidade de ferro presente no calcário que foi carregado na água para as
fibras. Ambos concordam em que a imagem do Sudário se deve a alterações da
celulose, não a partículas presas às fibras. Eles então postularam que o calor
acelera o processo de mercerização, e que a chave para a formação da imagem deve
derivar das altas temperaturas geradas na forma de um golpe de calor, por causa dos
efeitos da hematidrose, do açoitamento e da crucificação. Um modelo experimental
com um manequim médico de 91 cm de altura foi preenchido com água aquecida a uma
temperatura entre 43 e 46°C. Eles envolveram o manequim em linho belga puro e não
tratado, que recebeu uma leve camada de poeira de carbonato de cálcio, e em seguida
uma solução de "suor" artificial, feita com ácido acético e salina normal. O
manequim envolto no Sudário foi então colocado em um porão totalmente escuro, com
uma temperatura de 16 a 18°C e umidade relativa de 58% a 66%. Um vapor de água foi
borrifado sobre o manequim, e assim ele permaneceu por cerca de 30 horas e meia.
Kohlbeck e Nitowski reportaram a produção de uma imagem nas "áreas do manequim que
retinham o calor por mais tempo, ou seja, peito e costas". De acordo com essa
hipótese, uma alta temperatura da pele resultante de um golpe de calor

337

338

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

e suor ácido em um ambiente úmido aceleraram a mercerização das fibras de linho, e


o calcário (carbonato de cálcio), que tinha sido esfregado no Sudário, produziu uma
imagem amarela por causa do ferro contido nessa espécie mineral.

COMENTÁRIO A hipótese de Kohlbeck e Nitowski é indefensável por vários motivos. Em


primeiro lugar, os extensos estudos sobre a crucificação realizados em meu
laboratório e aqueles feitos por outros investigadores revelaram que o homem
crucificado morreu em decorrência de choque traumático e hipovolêmico, que começou
com a hematidrose e o brutal açoitamento e se intensificou a cada evento
subseqüente (como a coroação com espinhos, a cravação dos pés e mãos, efeitos do
suor e da postura na cruz etc. Um dos primeiros sinais de choque é uma redução da
temperatura da pele, que se torna fria, pálida e úmida.

Em segundo lugar, a pele durante um ataque de calor não se torna suarenta, mas
extremamente seca e quente, com ausência de suor, porque há uma disfunção no
mecanismo que regula o calor. Os autores tentaram apoiar sua teoria, a priori,
citando o livro de Barbet, na parte que trata dos enforcamentos no campo de
concentração de Dachau: ...JO suor era particularmente abundante. Sem dúvida, uma
quantidade extraordinária, durante os últimos minutos antes da morte [...]", e
citando meus estudos sobre crucificação onde eu indiquei que "uma acentuada reação
de suor se manifestou na maioria dos indivíduos". Infelizmente, essa evidência foi
usada fora de contexto e malinterpretada. Temperaturas tiradas durante os episódios
de suor em meus experimentos nunca se mostraram hipertérmicas e variavam entre
35,56°Ce 37,22°C. Nenhuma dessas citações, porém, apóia a hipótese de ataque de
calor, já que essa condição se manifesta por febre alta e cessação do suor, com
pele seca.

É importante não confundir ataque de calor com uma condição médica chamada exaustão
por calor, que se deve a uma acentuada

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDARIO

desidratação e é caracterizada por temperatura normal ou ligeiramente elevada,


fraqueza, suor profuso e sede intensa. Os sintomas exibidos durante a Crucificação
parecem combinar mais apropriadamente com a exaustão por calor. A sede foi
manifestada de forma contundente por Jesus, que no final de sua provação disse: "Eu
tenho sede" (João 19:28). Eles imediatamente deram vinagre a Ele.

Eu sou médico-legista patologista em tempo integral há muitos anose nunca deparei


com os termos calor post mortem ou febre post mortem, que são usados por Kohlbeck e
Nitowski. Eu verifiquei cada texto forense na biblioteca do escritório médico,
chequei com meus colegas e iniciei uma busca pelo computador em 20 anos de
relatórios médicos e científicos, mas sem resultado. Embora existam vários
trabalhos tratando do esfriamento do corpo depois da morte, o único relatório no
qual foi conduzido um estudo sobre temperaturas elevadas relacionadas a hipertermia
post mortem foi elaborado por Hutchins em Human Pathology (1985), em que todas as
temperaturas foram tomadas no reto. Ele descobriu um aumento inicial post mortem na
temperatura retal, provavelmente por causa do aumento do metabolismo bacteriano sem
nenhum mecanismo de dispersão de calor, mas ele não mediu a temperatura da pele. Eu
também confirmei isso, mas em todos os casos de temperatura retal elevada que
investiguei, em nenhum momento a temperatura da pele estava aumentada. Se um
cadáver com uma temperatura retal post mortem elevada fosse descoberto numa região
fria, a pele também estaria fria, a despeito da temperatura interna elevada. Além
disso, dentre os milhares de casos que investigamos, nós rotineiramente tomamos a
temperatura interna da maioria dos defuntos, mas eu nunca observei ou ouvi falar de
um único caso em que a temperatura estivesse elevada acima dos valores encontrados
após a morte, como indicado pelos autores. É fato conhecido na patologia forense
que o exterior do cadáver (a pele) atinge a temperatura ambiental muito mais
rapidamente do que seu interior.

Também, quanto menor

339

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

a massa corpórea, mais fria a temperatura ambiental, e quanto menos roupa estiver
envolvendo o corpo, mais rápido o esfriamento.

É muito importante notar que o dr. I. Ziderman, do Instituto de Fibras de Israel,


afirma que a hipótese de Kohlbeck e Nitowski é indefensável porque a mercerização
requer solução alcalina altamente concentrada e temperatura de congelamento (o
processo seria interrompido pelo calor). E, ainda, o ácido acético adicionado para
produzir o suor ácido iria neutralizar a ligeira alcalinidade (Biblical Archaeology
Review, 13:63, 1987).

Ray Rogers recentemente desafiou a hipótese de Eugenia Nitowski de que a formação


da imagem envolvia mercerização (e-mail ao Grupo Yahoo sobre o Sudário, 25/3/2004).
A respeito disso, ele notou que um forte álcali a -10°C causa "mercerização", e que
todo o álcali pode ser lavado da celulose, emprestando ao produto um melhor lustro
e propriedades corantes. Mas quando a difração de raios X se tornou disponível,
descobriu-se que a celulose mercerizada tinha uma estrutura de cristais muito
diferente daquela do material original.

10a - d: As Teorias de Radiação

Várias teorias da formação da imagem decorrente de algum tipo de "radiação" foram


postuladas por Geoffrey Asche, historiador, dr. Sam Pellicori, cientista; dr.
Graeme Coote, um físico da Nova Zelândia; dr. Igor Benson, engenheiro e padre da
Igreja Ortodoxa Russa da Carolina do Norte; dr. Giles Carter, professor emérito da
Universidade Eastern Michigan; Oswald Scheuermann, professor alemão de física;
JeanBaptiste Rinaudo, biofísico do Instituto de Biologia do Centro de Pesquisa
Médica Nuclear em Montpellier, França; dr. Kitty Little, do Estabelecimento de
Pesquisa de Energia Atômica em Harwell, Inglaterra; professora Giovanna de Liso, de
Torre Pellice; e Francesco Lattarulo, da Universidade de Bari.

O efeito primário de todos os tipos de radiação - incluindo radiação


eletromagnética (visível, ultravioleta, infravermelha); partículas ionizantes

340

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

como prótons, elétrons e partículas alfa; e partículas não-ionizantes como


nêutrons-é esquentar o material afetado.

10a. A Hipótese de Queimadura por Radiação

Quando observei o Sudário de Turim durante a exposição de 1978, a teoria da


queimadura proposta por Geoffrey Asche em 1966 me veio à mente, porque a coloração
da imagem me lembrou a capa chamuscada de uma tábua de passar roupa. Asche
esquentou um medalhão de bronze com um cavalo em relevo e gentilmente o pressionou
contra um lenço de papel. Uma imagem negativa chamuscada do cavalo surgiu depois de
alguns segundos e o negativo fotográfico mostrou uma inversão dos valores de luz.
Asche especulou que uma breve e violenta onda de algum tipo de radiação ocorreualém
do surto de calor que atingiu o Sudário durante a Ressurreição. Ele concluiu: "A
aceitação do Santo Sudário como uma 'figura chamuscada', independentemente de qual
foi seu modo preciso de criação, justifica a seguinte declaração: 'o Sudário é
passível de explicação se ele envolveu um corpo humano ao qual algo extraordinário
aconteceu. De outra forma, não pode ser explicado'."

As partes onde o Sudário foi queimado no incêndio de Chambéry são referidas como as
áreas de queimadura. As fibrilas de linho nessas áreas mostram diferentes graus de
queimadura, que vão do levemente queimado (marrom-claro) ao muito queimado (preto).

COMENTÁRIO Estudos mostram que existe uma surpreendente similaridade nas


características físicas e químicas entre as fibrilas da imagem do corpo e as das
fibrilas levemente queimadas. Ambas passaram por um processo de envelhecimento ou
decomposição acelerado do linho (desidratação, oxidação e conjugação de múltiplos
ligamentos na estrutura molecular da celulose), mas nas fibrilas queimadas o
processo foi mais rápido e destrutivo (veja "Comentário" em Hipótese Artística).
Rogers indica que quando uma fibra de linho é

341

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

342

aquecida o suficiente para se tornar colorida, a estrutura de cristal da celulose


apresenta mudanças, enquanto as fibras da imagem com medulas sem cor não apresentam
nenhuma modificação na estrutura de cristal. As fibras das áreas queimadas do
Sudário apresentam mudanças, e como o calor flui por condução, causando penetração
na roupa, as medulas das fibras das áreas queimadas são coloridas.

Para que a teoria da queimadura seja aplicável, um efeito termal mais suave teria
que ser operante. É interessante que as experiências de Pellicori para acelerar o
processo de envelhecimento ou decomposição por meio de cozimento controlado, com ou
sem aplicação de substâncias estranhas-como perspiração ou azeite de oliva - ao
linho, reproduziram coloração amarela e características espectrais similares
àquelas encontradas no Sudário. A aplicação de calor meramente acelera o processo
de decomposição. Em outras palavras, o que poderia ter ocorrido normalmente em um
longo período é acelerado pelo calor em questão de horas. A hipótese de Pellicori
sugere que talvez os ungüentos utilizados para o sepultamento tenham se transferido
para o Sudário, e esses ungüentos teriam catalisado a degeneração da celulose nas
áreas de contato. As limitações da hipótese de Pellicori derivam do fato de que,
embora ela explique a imagem do corpo por contato, não explica a imagem facial não
distorcida representada no Sudário (veja em "Hipótese de Contato").

Um fator significativo que milita contra a formação da imagem por meio de altas
temperaturas é a ausência de furfurol e outros produtos de pirólise do linho que
seriam esperados. Além disso, há escurecimento da medula e outros defeitos de
aquecimento nas fibras queimadas, enquanto a celulose nas fibras da imagem não é
colorida.

O fator mais importante que exclui definitivamente a teoria de queimadura como


formação da imagem é a observação de que as áreas queimadas permitem uma
fluorescência laranja sob a luz ultravioleta, enquanto as áreas da imagem do corpo
não fluorescem e as medulas das fibras queimadas são coloridas.

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

10b. A Hipótese de

Modificação por Descarga Elétrica A hipótese por descarga elétrica pretende


fornecer um mecanismo de projeção, efetivar o mecanismo de distância roupa-corpo,
codificar informação tridimensional, apresentar uma imagem negativa e mostrar que
as imagens afetam os aspectos superficiais das fibrilas de linho.

Existem muitas testemunhas oculares dos raios globulares de dimensões variáveis,


que vão do tamanho de uma moeda ao tamanho de um vagão de trem. Testemunhas elatam
que um raio pode cair a distâncias que vão de alguns centímeros a vastas extensões
acima do solo e viajar livremente em direção horizontal, passando através de
objetos e às vezes explodindo. Muitos cientistas, porém, são céticos em relação a
sua existência, porque iria requer um conteúdo de energia tão grande que não
haveria uma maneira conhecida de formá-lo. Alguns acreditam que as testemunhas
viram, na verdade, episódios do fogode-santelmo, uma descarga que ocorre durante
tempestades elétricas e parece pairar acima do chão, mas necessita fluir ao longo
de um condutor, ao contrário do raio glcbular, que flutua livremente. Nenhuma
teoria sensata conseguiu explicar satisfatoriamente o raio globular, e muitos o
colocam no domínio da paranormalidade.

Na edição de junho de 1985 do Shroud News, Rex Morgan apresentou a hipótese do dr.
Graeme Coote, um físico da Nova Zelândia, que sugere que, durante umterremoto, a
pressão nas rochas contendo cristais de quartzo, e não raios globulares, gerou a
alta voltagem que impactou o Sudário. Considerando isso, Coote citou Mateus 28: 1-
2, que indica que um terremoto ocorreu na aurora do domingo posterior à morte de
Jesus: "No fim do sábado, quando já despontava o primeiro dia da semana, Maria
Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. E eis que houvera um grande
terremoto". Coote cita no Shroud News

343

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Eu estou convencido de que a imagem na superficie exterior do Sudário resultou do


bombardeamento de elétrons e ions positivos acelerados por um campo elétrico, que
pode ter ocorrido durante horas, causando uma descarga brilhante. A direção do
campo pode ter mudado várias vezes enquanto ondas do terremoto se sucediam. Como os
íons acelerados têm apenas um alcance limitado na matéria, a queimadura seria bem
leve, como observado. As propriedades do campo eletrostático contendo o corpo (um
condutor) e o Sudário (um isolante) levaram naturalmente à propriedade de projeção
da imagem e à propriedade de "negativo fotográfico: (Coote, 1985)

Vários investigadores propuseram que a imagem no Sudário se deve aos efeitos de


alta voltagem e de descargas elétricas de alta freqüência. O dr. Igor Benson,
engenheiro e padre da Igreja Ortodoxa Russa da Carolina do Norte, de início focou
especificamente no papel do raio globular na produção da imagem. Sua teoria,
apresentada na edição de setembro de 1984 do Shroud News, é baseada na hipótese de
que, quando o homem do Sudário estava estirado na tumba, uma violenta tempestade
elétrica deve ter ocorrido e um raio globular pode ter atingido o corpo,
carregando-o com energia de alta voltagem, que teria quase que imediatamente
dissipado a energia ionizante (descarga), dessa forma queimando a roupa e
produzindo a imagem. Os estudos experimentais de Benson foram conduzidos
direcionando a uma vestimenta de linho uma fonte de alta energia proveniente de um
tubo catódico localizado dentro de uma bola de vidro. Mais tarde, usando um gerador
de 20.000 volts, ele simulou as condições de uma descarga elétrica e seus efeitos
em uma moeda no linho. O dr. Benson foi capaz de demonstrar que 50 joules de uma
descarga elétrica por centímetro quadrado em um décimo de segundo poderia produzir
uma imagem de boa qualidade em um tecido de linho. Sentindo que a imagem do Sudário
em muito lembra uma descarga de elétrons, ele estimou a área total da imagem do
corpo, levando em conta que algumas partes da imagem foram produzidas a uns 4
centímetros do corpo, e por tentativa

344

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

estimou as circunstâncias do que poderia ser necessário para produzir uma imagem no
linho lembrando aquela do Sudário.

Assim, Benson esquentou moedas com um "transformador de descarga". Era simplesmente


um transformador capaz de produzir uma corrente alternada de alta voltagem
(freqüentemente chamada de bobina de Tesla). Uma descarga elétrica real, porém, é
um fenômeno em que um alto potencial se acumula na superficie, finalmente causando
a ionização da atmosfera. Isso causa um plasma. O plasma tem o mesmo número de íons
positivos e de elétrons (negativos): é neutro. As moléculas excitadas de oxigênio
que ele carrega no ar são neutras, mas são muito reativas em processos de oxidação.

O que se segue é apresentado ao leitor para que ele possa compreender alguns dos
conceitos fundamentais. Uma descarga elétrica é uma descarga luminosa da superfície
de um objeto que é altamente carregado eletricamente, causada pela ionização do gás
ao redor. Até 1879, nós aprendemos que havia apenas três estados de matéria na
terra-sólido, líquido e gasoso. Em 1897, Sir William Crookes, um físico inglês,
identificou um quarto estado de matéria, chamado plasma, que na verdade é a forma
mais comum de matéria. Uma descarga elétrica é um plasma. Sólidos, líquidos e gases
comuns são eletronicamente neutros e muito frios ou densos para permanecer em
estado de plasma. As temperaturas e densidades do plasma vão do frio ao muito
quente e denso. Um exemplo dessa última ocorrência é o cerne de uma estrela. O
plasma consiste em uma coleção de elétrons livres e íons criados a partir da
retirada de elétrons dos átomos usando uma fonte de energia termal, elétrica,
ultravioleta ou a laser, que pode ser controlada ou acelerada por meio de campos
magnéticos. Afirmase que a imagem do Sudário possui características que estão em
evidência em imagens produzidas por descargas elétricas. Essas imagens são
superficiais, e como a descarga elétrica é reduzida no ar, ela supostamente pode
vencer a distância corpo-roupa e transportar informações tridimensionais. O
conceito de como a descarga elétrica

345

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

se aplica à criação da imagem do Sudário deriva de teorias envolvendo a produção de


um campo piezelétrico (um campo eletricamente carregado que gera voltagem) durante
um terremoto. Sobre isso, tanto Giovanna de Liso quanto Francesco Lattarulo
promulgaram independentemente a teoria de que uma descarga elétrica ocorreu como
resultado de um terremoto que teria produzido um campo piezelétrico e provavelmente
gás radônio enquanto Jesus estaria deitado em uma tumba contendo pedra de quartzo.

COMENTÁRIO A respeito da formação de imagem pelo raio globular, Adler relatou que
as condições para a estabilidade tornariam isso improvável. Esse conceito de
formação de imagem por meio de descarga elétrica só é aceito por um pequeno grupo
de pesquisadores do Sudário, e é essencialmente baseado em conjectura e
especulação.

Rogers e outros pesquisadores avaliaram por completo a hipótese da descarga


elétrica e fizeram comentários ou formularam questões como as seguintes:

1. Uma descarga elétrica capaz de deixar uma imagem extensa necessitaria de energia
significativa.

2. É muito improvável que descarga elétrica iria produzir o tipo de estrias


observadas na imagem do Sudário.

3. Como o corpo ou a roupa foram carregados com um potencial suficiente para


absorver uma descarga elétrica?

4. Será que uma roupa e um corpo em relativa proximidade poderiam manter um


potencial de energia suficiente para produzir uma descarga elétrica? E por quanto
tempo?

346
TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

5. Em primeiro lugar, de onde vem a descarga? Deveria ter havido um excesso de


descarga gerado de alguma forma ou um campo de alta eletricidade para induzir a
distribuição de descarga.

6. Quando duas superfícies se tocam (se elas têm alguma condutividade), elas
alcançam a mesma voltagem potencial. Portanto, elétrons não podem ser acelerados de
uma superfície a outra, e assim não haveria descarga elétrica.

7. A cor escura no final da imagem do nariz não poderia ser resultado de uma
descarga elétrica, já que é um ponto de contato, e deveria ser branca, porque não
há potencial em um ponto de contato. Em outras palavras, todos os pontos de contato
deveriam ser incolores.

8. Energia suficiente transferida a uma roupa pode fazê-la atingir uma temperatura
alta o bastante para formação de cor, mas é duvidoso que energia suficiente possa
ser transferida por uma simples descarga elétrica para produzir cor, já que a
reação primária no ar seria a oxidação das fases orgânicas.

9. Se a descarga elétrica foi o mecanismo para formação da imagem para as flores,


nós então veríamos a parte de trás das flores, folhas e hastes na visão dorsal.
Descarga elétrica não funciona em apenas uma direção, mas em todas elas.

10. A descarga elétrica não pode ser considerada mecanismo de formação de imagem,
já que requer alta voltagem saindo de pontos ou extremidades.

11. O plasma queimaria uma camada da superfície de qualquer material orgânico, e


pode queimar toda a amostra. Faíscas danosas poderiam ocorrer se a tumba estivesse
cheia dear na presença de uma descarga elétrica plasmática.

347

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Numa tentativa de resolver a controvérsia em torno do fato de o plasma (descarga


elétrica) estar envolvido na formação da imagem, Rogers submeteu amostras de linho
a uma companhia especializada em equipamento para modificação de plasma de produtos
têxteis. A companhia gentilmente se prontificou a submeter algumas das amostras de
linho ao ar sob diferentes condições para testar os efeitos da descarga elétrica
usando um sofisticado gerador de plasma. Rogers submeteu amostras de fibras de
linho preparadas pela falecida Kate Edgerton, de Greenwich, Connecticut, que
cultivou a planta e confeccionou o linho usando goma e saponária, de acordo com a
tecnologia da era romana (veja a Hipótese de Reação de Rogers-Arnoldi Maillard,
neste capítulo), além de amostras que possuíam cerca de 150 anos. Após examinação,
Roger descobriu que era relativamente fácil detectar fibras de linho que tiveram
exposição suficiente ao plasma (descarga elétrica). Os efeitos observados incluíram
a combustão de fibras livres de linho, remoção de substâncias de ligação,
penetração através da porosidade da roupa, combustão de materiais orgânicos etc.
Ele não pôde encontrar nenhuma característica nas fibras do Sudário que parecesse
material tratado com plasma. Rogers concluiu, a partir de seus estudos, que a
imagem não tinha nada a ver com plasma ou descarga elétrica.

Mais especificamente, experiências feitas por Benson e Scheurmann envolveram a


aplicação de fonte de baixa corrente e alta voltagem a moedas e outros objetos
metálicos num esforço para explicar a imagem do Sudário. Eles concluíram que a
imagem do Sudário podia ser explicada por uma queimadura causada por calor e não
por descarga elétrica. É importante notar que os estudos de Rogers sobre descargas
elétricas em 1977-1980 falharam em produzir uma imagem, mas houve oxidação da
superfície, causando erosão de uma porção significativa do linho da superficie das
amostras de roupa, e ele salienta que nenhuma moeda ou medalha foi colocada na
superfície. Ele notou o seguinte a respeito das experiências de Scheurmann:

348

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDARIO

1. Havia queimadura em algumas das fibras de Scheurmann, e elas não se pareciam em


nada com as fibras da imagem do Sudário, as quais não estavam queimadas.

2. Em uma fotomicrografia de uma das amostras de Scheurmann (400X em óleo 1.515), a


medula está escurecida no centro das fibras, provando que a temperatura de toda a
fibra foi elevada acima do nível em que as reações de desidratação poderiam ocorrer
a uma taxa apreciável por toda a fibra, e que a fibra tinha começado a chamuscar.

3. Scheurmann usou 4.400 V em 0,0025 A (cerca de 11W), e algumas de suas fibras


mostram formação de cor na camada de retenção da roupa; ele não usou uma descarga
pura, e cobriu a roupa com um medalhão de metal.

4. Scheurmann reportou o uso de 4.400 V (de um transformadornão uma descarga


elétrica DC) em 0,0025 A, indicando que isso daria cerca de 11 watts, o bastante
para esquentar um pequeno volume de linho a temperaturas da ordem de 300 graus
centígrados, e que esse nível de temperatura iria colorir tanto o material de
reforço quanto o linho (celulose, hemicelulose e lignina).

Rogers também nota que de Liso mostra uma fibra de sua experiência em que a medula
é colorida. Ele relata que as figuras são irrelevantes no nível macroscópico, até
que se percebe que elas começam a mostrar a qualidade de imagem correta no nível
microscópico.

Embora tenha sido relatado que descargas elétricas afetam somente as camadas mais
externas do material, elas de fato penetram toda a porosidade do tecido. Se elas
afetam a superfície mais externa e o lado oposto, elas iriam afetar o âmago da
roupa.

349

350

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Adler era da opinião de que a descarga elétrica chega perto de alcançar alguns
critérios físicos e químicos, mas indicou que as imagens sempre foram de objetos de
espessura fina e não poderiam ser aplicados testes significativos de VP-8. Tanto
Giovanna de Liso quanto Francesco Lattarulo, em seus documentos citados, argumentam
que a imagem do Sudário foi criada por uma combinação complexa de eletrostática ou
descarga elétrica originada como um campo piezelétrico gerado por um terremoto em
um ambiente (uma tumba numa caverna) onde a atmosfera já estava ionizada pelo gás
radônio. Isso é totalmente especulativo, e se efeitos piezelétricos durante um
terremoto são invocados para explicar a imagem, algumas considerações bem
detalhadas e dados experimentais são exigidos para substanciar isso.

10 c. A Hipótese dos Raios X


A hipótese dos raios X foi proposta pelo dr. Giles Carter, um químico arqueólogo da
Universidade Eastern Michigan, que submeteu amostras de linho a raios Xe produziu
imagens quase com a mesma coloração do Sudário. De acordo com Carter, raios X
parecem ser uma fonte mais plausível que raios de luz, porque (ele parece pensar)
os ossos e dentes são visíveis na imagem. Ele indica, ainda, que os raios X causam
oxidação e desidratação ou efeito de envelhecimento acelerado no linho, como já
tinha sido postulado por cientistas que investigaram o Sudário depois da exposição
de 1978. De acordo com a hipótese dos raios X, os raios de alta energia iriam
reagir com o silicone e o sódio na sujeira e no sal, na superfície da pele, e assim
emitir raios X suaves e secundários, os quais iriam produzir a imagem. A
intensidade variável da imagem seria decorrente da emissão de raios X de diferentes
níveis da pele e das porções mais pálidas como resultado da absorção de raios X
pelo ar em torno. As emissões de raios X também explicariam o relacionamento da
distância corpo-roupa, a qual, por meio do uso de analisador VP-8, parece dar o
efeito de tridimensionalidade à imagem do Sudário. Carter explica que os supostos
ossos, vistos na

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

imagem das mãos, não foram formados diretamente por raios X dos ossos, porque os
raios X teriam sido muito energéticos, passando direto através do material sem
deixar rastro. Em vez disso, de acordo com Carter, as imagens dos ossos são
responsáveis pelas imagens mais intensas da pele do dedo entre o osso e a roupa.

COMENTÁRIO Alan Adler relatou que a hipótese dos raios Xé "formidável física e
quimicamente, mas bizarra biologicamente. Qualquer um que passasse por tal radiação
estaria morto antes de ser crucificado" (Chemical and Engineering News, 21 fev.
1981). O mecanismo postulado por Giles Carter-de que raios de alta energia poderiam
reagir com silicone e sódio na sujeira e no sal na pele e emitir raios X suaves e
secundários, que iriam produzir a imagem-é obstruído pelo fato de que o corpo foi
lavado durante os rituais funerários, o que teria removido esses componentes. Além
disso, foi estabelecido que o sangue no Sudário estava presente antes que a imagem
se formasse, impedindo a formação de imagem nas áreas onde o sangue se encontrava.
A presença de sangue não seria um obstáculo à penetração de raios X. Um grande
problema quanto à hipótese dos raios Xé explicar como os raios X passariam através
da carne e das estruturas esqueléticas e falhariam ao penetrar no linho, resultando
em uma imagem muito superficial na superficie das fibras, sem qualquer imagem
superficial nas fibrilas que estão abaixo da superfície ou na parte de trás das
fibras. A roupa inteira deveria ser penetrada com imagens, em ambos os lados. Para
completar, a fonte dos raios X não é clara.

10 d. A Hipótese de Modificação por Radiação

A hipótese de modificação por radiação relaciona a formação da imagem a um efeito


de radiação breve e repentino. Defensores dessa modificação sustentam que a imagem
do Sudário pode ter sido formada por um intenso e extremamente breve
(milissegundos) surto de energia radiante. Esse fenômeno é freqüentemente referido
como "flash fotólise"). Uma

351

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

FIGURA 16-4

Sombras de parapeitos, Hiroshima, projetadas na superfície da estrada da ponte


Yorozuyo, em Hiroshima. (Foto do Exército dos Estados Unidos).

analogia foi feita entre a imagem do Sudário e as imagens formadas em pedras,


estradas e laterais das construções de Hiroshima depois da explosão da bomba
atômica. Isso é vividamente descrito por John Hershey em seu livro Hiroshima.
Durante a avaliação dos estragos feitos pela bomba, cientistas japoneses
descobriram que "o clarão da bomba havia descolorido o concreto e o deixado
avermelhado [...]tinha queimado outros tipos de material de construção... deixou
marcas das sombras que tinham sido impressas por sua luz". Isso inclui a sombra
permanente de uma torre retangular sobre o telhado do prédio da câmara de comércio,
a sombra de um cabo de bomba de gasolina, várias sombras projetadas em tumbas e
sombras de parapeitos impressas na estrada da ponte Yorozuyo (Figura 16-4). Em um
caso, uma sombra humana foi impressa nos degraus da entrada do Banco Sumitomo em
Kamiyacho, a cerca de 250 metros do hipocentro. As pedras contendo as sombras estão
preservadas no Museu Memorial da Bomba Atômica de Hiroshima. Hershey relata que as
descobertas citadas resultaram em histórias fantasiosas, como a descoberta da
sombra de um pintor segurando um pincel na frente de um banco, ou a sombra de um
homem que estava prestes a chicotear o seu cavalo, mas nada disso foi confirmado.

352

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

COMENTÁRIO Muitos cristãos devotos querem acreditar que a imagem do Sudário é de


origem divina, representando o momento da Ressurreição, caracterizado por uma
intensa radiação que emanou do corpo. Porém, é dever dos investigadores científicos
examinar cada possibilidade. Primeiro, descartando qualquer fraude ou logro e,
então, decifrando tudo por meio de pesquisas e experiências sofisticadas, evitando,
todo o tempo, qualquer influência de suas convicções religiosas pessoais.
"Milagres" são freqüentemente obtidos através de processos naturais

10 e. Outras hipóteses de radiação

Jean-Baptiste Rinaudo, um pesquisador de medicina nuclear em Montpellier, na


França, argumenta que uma radiação de prótons liberada pelo corpo de alguma energia
desconhecida iria produzir uma imagem superior superficial nas fibrilas que iria
resultar em informação tridimensional. Ele relata que os átomos no corpo que são
responsáveis pela radiação vêm do deutério, que está presente na matéria orgânica.
As recentes experiências de Rinaudo produziram o que parece ser a imagem de uma
carbonila conjugada no linho. Ele indica que o deutério requereu a menor quantidade
de energia para liberar um próton de seu núcleo-responsável por formar a imagem -,
que é muito estável. Ele ainda indica que os nêutrons teriam causado o
enriquecimento do carbono 14, o que provavelmente teria afetado a datação.

COMENTÁRIO As imagens de Rinaudo são totalmente coloridas no topo da superfície, ao


contrário da imagem do Sudário, que aparece descontinuamente somente no topo da
roupa. É importante perceber que Rinaudo irradiou fibras de linho novas e modernas.
Ele o fez por meio de irradiação de próton 1,4 MeV em várias intensidades, e mesmo
a radiação mais intensa produziu cor. A cor foi produzida aquecendose o material
que não sofreu radiação por 10 horas a 150 graus centígrados, e resultou numa faixa
de cores que iam do amarelo-claro

353

354

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS
ao marrom na camada de proteção, mas a celulose não se coloriu. Rogers examinou uma
amostra que não sofreu radiação, uma amostra que sofreu radiação ao máximo e outra
que sofreu radiação ao máximo e foi aquecida a 150 graus centígrados por 10 horas.
A amostra irradiada que não foi aquecida ficou branca e apresentou mudanças
facilmente visíveis na estrutura de seus cristais; já a amostra aquecida se tornou
quebradiça.

COMENTÁRIOS GERAIS SOBRE A PENETRAÇÃO DE RADIAÇÃO A penetração

de todos os tipos de radiação foi cogitada como causa da imagem do Sudário, e


muitos pesquisadores ainda se atêm a essa teoria, apesar de todos os cuidadosos
estudos já realizados que a invalidaram. O dr. Rogers demonstrou que a irradiação
das fibras com prótons e nêutrons e toda a radiação energética causam danos ao
material, especialmente à celulose (veja a Figura 16-5) e ao açúcar, e que esses
danos alteram a configuração das facetas do cristal, o que, por sua vez, altera as
qualidades ópticas do cristal. Ele afirma que esse fenômeno pode ser observado
quando ocorre uma mudança na birrefringência (dupla refração apresentada por certos
cristais, conforme a variação da velocidade e a direção de propagação da luz)
causada pela luz polarizada. Rogers testou emissões de luz ultravioleta, luz
visível e luz infravermelha com gigantescos lasers e constatou que todos eles
danificaram o tecido sem produzir nenhuma imagem. Ele relatou haver testado a
formação de imagens através de calor (aquecendo estátuas e envolvendo-as em
tecidos, "pintando" sobre tecidos com maçaricos etc.). Quanto mais escura a imagem
obtida, mais profunda era a penetração da queimadura no tecido.

Heller e Adler relataram que a coloração da imagem no Sudário está presente apenas
em toda a superfície exterior de cada uma das fibras coloridas e penetra somente
até à profundidade das fibras mais externas, permanecendo na parte superior dos
fios da trama do tecido. As fibras de celulose não foram afetadas. Acreditava-se
que a cor da

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

imagem fosse devida a mudanças químicas nas fibras de celulose do linho. Adler
descobriu que a cor das fibras que compõem a imagem poderia ser atenuada com um
componente químico chamado diimida, descolorindo as fibras do linho e, assim,
confirmando os dados espectrográficos de que a cor da imagem devia-se, na verdade,
a uma complexa conjugação de ligações atômicas covalentes; e, contrariando a crença
anteriormente vigente, a celulose, por si mesma, não teria nenhum envolvimento na
formação da imagem. O fato observado por ele de que a coloração (espectros) podia
ser removida da superfície pelo adesivo da fita usada para colher as amostras
confirmou isto e ainda demonstrou que a coloração e as faixas de cor estavam
presentes apenas na camadas exteriores da superfície das fibras, envolvendo uma
camada fina de impurezas das fibras que possuíam as mesmas propriedades químicas e
a mesma cor da coloração da imagem. Outros seccionamentos ópticos e cortes
transversais feitos por Adler mostraram a cor na superfície das fibras da imagem.
Isto foi plenamente confirmado por Rogers, que coletou 35 amostras de várias partes
do tecido, algumas contendo centenas de fibras, e demonstrou que, em si mesma, a
celulose das fibras da imagem não havia sido colorida pelo processo de formação da
imagem - uma vez que a cor das fibras foi literalmente arrancada quando a fita
adesiva foi aplicada sobre estas fibras, restando apenas as fibras do tecido de
linho, limpas e sem cor (Figura 16-6). Ele também observou fibras que mostravam
ligeiras falhas na coloração em alguns pedaços, com fibras sem cor abaixo dessas
primeiras. Algumas apresentavam um descascamento da camada de cor; e mesmo as
fibras cujas imagens eram mais escuras não possuíam cor em seu interior. Usando uma
agulha de dissecação, ele analisou as fibras de várias áreas do tecido, incluindo a
parte do nariz e dos calcanhares, mas não conseguiu encontrar nenhuma coloração da
imagem no interior da trama do tecido. A coloração da imagem variava entre 200 e
500 nanômetros de espessura, apresentando-se irregularmente depositada sobre a
superficie; e as fibras de linho abaixo

355

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

FIGURA 16-5

Efeitos de radiação em fibras de linho. Área IH: existem vários defeitos


birrefringentes. Note que muitos são brilhantes e curtos (provavelmente alfas do
radônio). Existe bastante bruma (provavelmente gama). Note que os nós são
relativamente separados. Linho moderno mostra nós mais juntos. A estrutura
defeituosa de IHB parece idêntica àquela das fibras da imagem. IHB:800X
polarizadores paralelos. (Cortesia do dr. Ray Rogers.)

FIGURA 16-6

Cor nas imagens das fibras arrancadas com fitas adesivas usadas para colher
amostras: "fantasmas". Área 3 AF: moldes de nós crescidos. O brilho no linho é
causado pela refração da luz na camada fina da cor da imagem que foi arrancada do
adesivo. A camada tem uma espessura menor que 0,5 micrômetro. Um pouco de adesivo
perturbado pode ser visto ao longo dos "fantasmas". A iluminação cônica é
importante. Rogers usou um condensador 0,85 NA para conseguir um cone de luz com um
ângulo em ápice de 116 graus. A luz se aproxima da amostra de um plano bem
nivelado. Isso enfatiza os componentes transparentes que têm um índice de refração
diferente do adesivo, e quase transforma o fundo dos moldes em preto. Iluminação
cônica 800X (Cortesia do dr. Ray Rogers.)

356

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

da camada colorida apresentavam-se incolores. Portanto, somente as fibras da


superficie da imagem apresentavam-se coloridas- enquanto a celulose nas fibras
queimadas apresentava-se totalmente colorida, até no interior das fibras. Acerca
deste fato, Ray Rogers relatou que "a natureza superficial da cor da imagem no topo
da superficie das fibras da imagem individual é de importância crucial. Trata-se de
um dos fatos que contestam qualquer tipo de penetração ou radiação energética na
formação da imagem (Rogers, 3/7, e-mail ao Grupo Yahoo de Ciências do Sudário).
Rogers não descobriu nenhuma cor no interior das fibras, mas a cor estava presente
na superfície destas, tanto nas partes internas quanto nas externas. Se tivesse
havido radiação suficiente para produzir a cor, então as fibras teriam sido
penetradas. É importante notar que qualquer tipo de radiação penetrante teria de
colorir completamente a fibra: externamente, internamente e penetrando até o
interior, como foi observado nas fibras queimadas. Outro ponto muito importante a
ser levado em consideração - uma vez que já sabemos que o sangue revelou-se no
Sudário antes da imagem-, é por que o sangue e outros componentes não teriam sido
incinerados se a imagem tivesse sido criada pela radiação? Rogers afirma haver
conseguido indicações positivas da presença da hidroxiprolina do sangue, provando
que o Sudário não foi significativamente aquecido, pois o sangue é menos estável
sob calor e radiação do que os polissacarídeos. Isto indica que nenhuma radiação
ionizante penetrou nas fibras, e nenhum nêutron interagiu com as fibras, não tendo
havido, portanto, a absorção de qualquer quantidade significativa de energia
eletromagnética. Rogers indica que as fibras de linho não mostram sinais de terem
sido submetidas a irradiação já que não há evidência de que radiação energética
ionizante ou neutrons tenham interagido com as fibras, porque a estrutura
cristalina das fibras da imagem é idêntica à das fibras da área que não contém
imagem e das modernas fibras de linho, comercializadas atualmente.

357

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Alguns anos atrás, Sue Benford, trabalhando com o pessoal responsável pelo reator
nuclear da Universidade do Estado de Ohio, formulou uma hipótese que considerava
possíveis relações entre a imagem do Sudário, a datação por carbono 14 e a formação
da imagem estarem conectadas a efeitos da radiação de nêutrons e de raios gama.
Depois de conduzir uma série de experiências tanto com radiação de neutrons quanto
com raios gama sobre o linho, a equipe concluiu que não via nenhuma possibilidade
de envolvimento da radiação em algum desvio no carbono 14 ou na formação da imagem.
Supostamente, os resultados obtidos por eles contribuíram para validar os estudos
de Ray Rogers e Adler.

Além disso, existem outros fatores que eliminam a radiação como possibilidade. Os
fatores mais significativos são os testes químicos anteriormente realizados com o
Sudário, que excluem a penetração de radiação como origem da formação da imagem.
Uma vez que existem sulfoproteínas no sangue, o teste de iodo azida (um teste muito
sensível, que identifica grupos de sulfetos ativos) produz um resultado positivo
nas áreas do Sudário que contêm sangue; e um resultado negativo nas áreas que não
contêm sangue - ou seja, nas quais não há imagem. Além disso, quando as áreas que
contêm sangue do Sudário são levemente aquecidas, são produzidos sulfetos de
hidrogênio; porém, se as áreas com sangue tivessem sido suficientemente aquecidas
por qualquer tipo de radiação ou fervidas em óleo, o mesmo não aconteceria.
Radiação ou fervura em óleo teriam produzido resultados negativos no teste de iodo
azida e nenhum sulfeto de hidrogênio teria sido produzido sob aquecimento brando.
Isto confirma que o Sudário nunca foi submetido a radiação intensa; nem "fervido no
óleo" e jamais foi aquecido o suficiente para que fossem removidos os sulfetos.

Uma idéia para ser considerada: se a radiação tivesse sido realmente capaz de
produzir a formação da imagem (o que deveria ter acontecido quando o corpo ainda
estava envolvido no Sudário), por que a presença de uma imagem não foi notada
quando a vestimenta foi encontrada

358

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

na tumba pelos seguidores de Jesus? Por que não existe nada a este respeito nas
Escrituras ou em quaisquer outras fontes? Este fato, por si só, já seria suficiente
para sustentar a hipótese de uma formação lenta da imagem.

11. A Hipótese de Mattingly Sobre a Formação Bacteriológica da Imagem

Na Reunião Geral da Sociedade Americana sobre Microbiologia, ocorrida em maio de


2003, em Washington D.C., Stephen J. Mattingly, um microbiologista do Centro de
Ciências Sanitárias da Universidade do Texas, anunciou acreditar que a imagem no
Sudário de Turim tenha sido formada por bactérias que seriam responsáveis pela
suposta camada bioplástica documentada por Garza e Mattingly (que será discutida no
Capítulo 18, como a Hipótese da Cobertura Bioplástica). A teoria de Mattingly é
baseada na suposição de que o corpo ensangüentado do crucarius (o crucificado)
seria, em essência, uma incubadora viva para o Staphylococcus epidermidis, uma
bactéria cutânea comum, durante as horas em que Ele permaneceu na cruz. Após a
lavagem do corpo, o cadáver foi envolto no Sudário e depositado numa tumba úmida.
No interior da tumba, a umidade atraiu polissacarídeos hidrofílicos que se
mesclaram à grande quantidade de organismos do Staphylococcus disseminados por toda
a superfície do corpo, fazendo o Sudário aderir à pele. Isto fez com que as
bactérias impregnassem o linho. Uma mancha amarela formou-se; e, gradualmente,
escureceu, devido aos lipídios e pigmentos produzidos pelas bactérias. Mattingly
comparou isto a um lento processo de revelação fotográfica. Ele tentou provar sua
hipótese cobrindo seu próprio rosto com bactérias Staphylococcus epidermidis,
envolvendo a cabeça com um tecido e deixando secar. O tecido foi removido e uma
imagem amarelo-claro de suas características faciais gradualmente foi revelando-se,
ao longo de vários dias e semanas. Também foram

produzidas exposições em negativo.

359

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

COMENTÁRIO Barrie Schwortz, fotógrafo científico e especialista em imagens, membro


da equipe do STURP, em 1978, e amigo de Mattingly, relatou: "Sou muito disciplinado
e ganho a vida fazendo fotografia científica. Contudo, quando eu comparo os
resultados obtidos por Mattingly [...], vejo que são completamente diferentes do
Sudário." Adler faz perguntas inquietantes sobre o metabolismo bacteriano: "De onde
vem toda essa energia para a proliferação? De onde vem essa massa? Este
microrganismo recicla o nitrogênio do ar, tal como é necessário para o seu
crescimento e seu metabolismo? De onde ele obtém o enxo fre, o fósforo e os
minerais; e para onde eles foram, quando desapareceram?" A sugestão de Mattingly de
que os micróbios possam ter sido responsáveis pela formação da imagem devido à
deposição de uma quantidade maior de material onde ela é visível do que na área do
fundo é refutada pelo fato que esta área apresenta fluorescência, enquanto o mesmo
não acontece com a área da imagem no Sudário. Rogers aponta para o fato de
bactérias e outros organismos vivos conterem proteínas e sulfoproteínas - das quais
não se constatou a presença no Sudário, exceto nas áreas que continham sangue; e as
supostas bactérias filamentosas relatadas por Mattingly foram obviamente removidas
(veja a Figura 18-4). (Para uma discussão mais abrangente, veja os comentários
referentes à Hipótese da Cobertura Bioplástica, no Capítulo 18).

12. Hipótese de Reação, de Rogers-Arnoldi e Maillard

Odr. Ray Rogers, um químico internacionalmente conhecido e um perito em pirólise,


do Los Alamos National Laboratory, e membro da equipe de 1978 do STURP, pesquisou,
por vários anos, uma reação química que pudesse ocorrer sob temperaturas
relativamente baixas para explicar a imagem no Sudário, após haver excluído todos
os outros métodos propostos para a formação da imagem. Ele considerou todas as
hipóteses conhecidas, incluindo pintura, pigmentação, tingimentos, efeitos de
radiação, efeitos eletromagnéticos,

360

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

bactérias e fungos, técnicas semelhantes à revelação fotográfica etc. Em sua


pesquisa, ele considerou a cor clara das fibras, a coloração seletiva da superfície
exterior das fibras que podia ser descascada com fita adesiva, o relatório de 1984,
de Heller e Adler, afirmando que a coloração da imagem tinha de ser resultante de
processos ocorridos sob temperatura inferior a 200°C, pois não havia sido
encontrado nenhum produto da degradação da celulose sob altas temperaturas, e o
fato de não haver qualquer menção, nas Escrituras ou em outras fontes, de que uma
imagem fosse visível no Sudário, quando foi recolhido da tumba. Como a coloração
não estivesse presente no interior das fibras da celulose, mas apenas sobre sua
superficie externa, tornou-se evidente de que tratava-se de uma camada de impurezas
de algum tipo, que poderia ser descascada sem afetar as fibras. O elo que faltava
eram as substâncias externas que poderiam reagir com as impurezas de superfície
para produzir a cor. Rogers associou-se com Anna Arnoldi - uma química de alimentos
internacionalmente conhecida, da Universidade de Milão-e ambos cogitaram, então, a
possibilidade de que talvez as imagens pudessem ser formadas por algum processo
químico perfeitamente natural. Com isto em mente, eles apresentaram a reação
Maillard como uma possível contraargumentação válida. A hipótese deles propunha que
uma interação química tivesse ocorrido entre as aminas reativas de um corpo morto e
as partículas residuais da goma e os sacarídeos do sabão natural, presentes na
superfície exterior do tecido. Como embasamento para sua hipótese, eles buscaram,
na Antigüidade, os métodos empregados por Plínio, o Velho para a fabricação do
linho. Os pré-requisitos para sua teoria eram um corpo morto e um tecido impuro,
obtido segundo os métodos de Plínio, o Velho.

Antes de prosseguir com a hipótese de Rogers-Aroldi, é importante compreender os


fundamentos da reação de Maillard. Esta reação foi descrita primeiramente por
Louis-Camille Maillard, ao descobrir que quando os açúcares e os aminoácidos são
aquecidos juntos, a mistura

361

362

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

lentamente torna-se marrom. Isto deve-se à formação de compostos chamados


melanoidinas. Trata-se, essencialmente, de uma reação caramelizante não-enzimática
resultante de um complexo conjunto de reações dos açúcares simples (do grupo
carbonila) como a glicose, a frutose, a lactose ou a maltose, com certos
componentes das proteínas, chamados aminas ou aminoácidos. A reação ocorre também
em temperaturas mais baixas se houver uma alta concentração de açúcares e
aminoácidos. A reação é bem conhecida na indústria alimentícia, pois ocorre com
praticamente todos os alimentos, quando são aquecidos, e freqüentemente durante seu
armazenamento. Porém, a mesma reação também ocorre comumemente no corpo humano. As
moléculas dos aminoácidos e dos açúcares combinam-se para produzir novos aromas e
sabores. A reação de Maillard também confere à cerveja sua cor peculiar e acentua-
lhe o sabor; e da mesma forma são obtidos a core o sabor dos xaropes artificiais,
como o xarope de bordo.

Rogers observou o que parecia ser a presença de um efeito descolorante muito suave,
que parecia ser condizente com o método usado por Plínio, O Velho (23-79 d.C.) há
aproximadamente 2 mil anos-no qual o linho era fiado manualmente em um fuso, e os
fios resultantes eram alvejados individualmente, dando a cada um deles um aspecto
matizado diferente. Teares manuais verticais eram utilizados e os fios de urdidura
(que correm para cima e para baixo, ao longo do tear) eram lubrificados com uma
goma grosseira, para protegê-los do desgaste e para facilitar o intrincado processo
de tecelagem, no qual fios da trama entrelaçam-se, no sentido horizontal, passando
por cima e por baixo dos fios de urdimento verticais para formar o tecido. O
alvejamento era seguido por um procedimento de lavagem, no qual era utilizado um
extrato de Saponaria officinalis, a erva saponária, para tornar o tecido mais
flexível. A este respeito, é significativo que a presença da erva saponária tenha
sido detectada no Sudário. Em nível molecular, a saponária decompõe-se em cadeias
de açúcar como a glucose, a galactose, a xilose, o ácido glucônico etc, e, além
disso, ela é
TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

a agente umidificador muito bom. O tecido era, então, posto para secar sobre
arbustos, ao ar livre. Rogers e Arnoldi presumiram que, durante este processo,
alguns dos materiais em suspensão ou em solução -incluindo alguns carboidratos das
partículas de goma, dos açúcares da saponária e outras impurezas não-identificadas
- se concentrariam durante a secagem ou pela evaporação na superfície das fibras,
formando, assim, uma camada incolor, constituída principalmente de carboidratos,
componentes encontráveis nas superfícies exteriores das fibras mais expostas.
Impurezas de goma eram essencialmente ausentes no linho medieval; mas estão
presentes no Sudário. É importante notar que os tecidos modernos são destituídos de
redutores sacarídeos, essenciais para a reação de Maillard. Quase todos os tecidos
modernos são alvejados com cloro ou ozônio e contêm fibras sintéticas; e podem
conter ou não algum tipo de goma purificada (e não uma goma grosseira),
remanescente do corte e da lavagem com detergentes sintéticos. Mesmo se fossem
engomados após a lavagem, a goma moderna, não sendo redutível, não poderia produzir
qualquer coloração. Segundo afirma Rogers, "o Sudário foi alvejado porque os fios
em muitos grupos separados, formam o que vemos como 'faixas de cor'. Impurezas
provenientes da tecelagem e da lavagem ainda estão ali, em quantidades variáveis,
porque todo o tecido do Sudário não foi alvejado por inteiro. Um lençol utilizado
somente no percurso entre o leito de morte e a morgue não acumularia tamanha
quantidade de cadaverina e de putrescina. E, mesmo que o fizesse, não haveria
partículas de redutores sacarídeos suficientes com que estas substâncias pudessem
reagir".

Testes preliminares foram feitos usando um tecido de linho confeccionado pela


falecida Kate Edgerton, de Greenwich, Connecticut, que cultivou o linho e fez o
tecido, utilizando tanto a goma caseira quanto a saponária, mas o tecido teve de
ser alvejado com peróxido de hidrogênio, porque Edgerton passou o tecido a ferro, o
que resultou em uma alteração de sua cor. Devido à pouca quantidade disponível

363

364

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

do linho de Edgerton, Rogers e Arnoldi também utilizaram papelfiltro n. 4 da marca


Whatman, que é feito de celulose pura. Ambos foram usados em uma série de
experiências cuidadosamente controladas, utilizando dextrina, saponária,
sacarídeos, goma purificada e goma vegetal, em várias combinações, e tratados com
vapores de amônia (cerca de 100 testes). Uma tonalidade amarelo-dourada, similar à
do Sudário, foi notada na superfície mais externa das fibras, quando observada sob
o microscópio; exceto nos testes em que foram utilizadas a goma purificada ou a
goma vegetal. Estas experiências demonstraram que a redução dos açúcares e das
aminas eram necessárias para o surgimento da cor, sugerindo que eles estavam no
caminho certo. Rogers e Arnoldi, então, passaram a experimentar com a firme
convicção de que este era, provavelmente, o mecanismo básico para a formação da
imagem. Eles formularam a hipótese de que, depois da morte, a amônia é expulsa dos
pulmões através da boca e do nariz e é transportada ao longo de toda a superfície
do corpo por convecção, porque a temperatura do tecido é mais baixa do que a do
corpo. Esta reação é retardada no cabelo, causando maior difusão da amônia e
aumentando a densidade da imagem, que se difunde através da porosidade do tecido.
Mais tarde, as aminas mais pesadas como a putrescina e a cadaverina surgem, com
difusão mais lenta e maior reatividade com os sacarídeos, fazendo com que a imagem
forme-se na superfície do tecido. Rogers concluiu que a melhor definição da imagem
ocorreria quando as aminas estivessem presentes, quando o corpo e o tecido
estivessem à mesma temperatura - ocasião em que as aminas seriam produzidas mais
lentamente-, e quando o tecido não tivesse sido muito bem lavado e fosse
suficientemente poroso.

COMENTÁRIO Dentre todas as hipóteses apresentadas, a reação de Maillard parece ser


a mais promissora para explicar a formação da imagem, pois aparentemente satisfaz à
maioria das exigências sob condições ideais: a cor está correta; a parte exterior
da fibra é colorida;

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

a fibra, em si mesma, não é colorida; e a imagem é produzida muito lentamente sob


baixas temperaturas. Fatores importantes seriam considerados, tais como a
temperatura do corpo, a temperatura ambiental, a umidade e o início da
decomposição. Um ponto favorável à tecnologia antiga é o fato de o sangue no
Sudário ser vermelho. A saponária causa a hemólise (a quebra das células vermelhas
do sangue, com a liberação da hemoglobina) e faz com que o sangue mantenha sua cor
vermelha em vez de escurecer, com o tempo.

O maior problema com esta hipótese é explicar como esta reação foi capaz de criar
uma imagem tão precisa. Sua confirmação requereria a experimentação com um corpo
humano logo após a morte, sob várias circunstâncias específicas, para simular as
condições na tumba.

365

{17} SUSTENTAÇÃO PARA A AUTENTICIDADE

Chegou a hora em que a verdade científica deve deixar de ser a propriedade de


alguns poucos, e deve entrelaçar-se à vida cotidiana do mundo.

Jean Louise Rodolphe Agassiz

studos recentes do pólen encontrado no Sudário e comentários arqueológicos acerca


do padrão do tecido contribuíram para que a idade do Sudário fosse estimada. Os
estudos do pólen foram feitos pelo dr. Max Frei, um criminalista internacionalmente
famoso-que, além de ser professor de Criminologia na Universidade de Zurique,
fundador e ex-diretor do Laboratório Científico da Polícia de Zurique, possui um
doutorado em botânica e é um renomado perito botânico a respeito da flora
mediterrânea.

Em 1973, Frei usou fitas adesivas para coletar amostras de poeira de várias áreas
do Sudário e analisou esta poeira usando um microscópio luminoso e um microscópio
de escaneamento de elétrons. Identificou

SUSTENTAÇÃO PARA A AUTENTICIDADE

com sucesso 49 espécies de pólen. Em 1978, ele coletou amostras adicionais do


Sudário e recebeu amostras do receptáculo de prata em que o Sudário tinha sido
guardado. Identificou com sucesso outras oito, perfazendo o total de 57 espécies de
pólen (tabela 5) provenientes da região do mar Morto, do Negev, de Constantinopla,
das estepes da Anatólia, na Turquia, e de regiões da Europa Ocidental.

IDENTIFICAÇÃO DO PÓLEN
No sumário de um trabalho apresentado no Simpósio de Dallas, Texas, em 2001, o dr.
Avinoam Danin, do Departamento de Botânica da Universidade Hebraica e autoridade
mundial sobre a flora da Terra Santa escreveu:

Pesquisas subsequentes com a coleção de amostras coletadas do Sudário com fita


adesiva, em 1973 e 1978, pelo dr. Max Frei foram facilitadas pela disponibilidade
recente de novos e mais avançados microscópios. O trabalho foi realizado, no final
de junho de 2001, pelo palinologista prof. dr. T. Litt em seu laboratório no
Instituto de Paleontologia da Universidade de Bonn, Alemanha, reexaminando várias
láminas com as fitas adesivas de Frei. Em seu relatório ao CSST, o professor Litt
escreveu: "As imagens reveladas pelo microscópio luminoso (com interferência para
obtenção de contraste) e pelo microscópio confocal de escaneamento por laser
mostram claramente que as ceras estão preservadas e cobrem a estrutura e a
conformação dos grãos de pólen. Este é o motivo pelo qual eu não posso fazer uma
identificação precisa do pólen quanto ao seu gênero, e menos ainda determinar sua
espécie. No entanto, com grandes probabilidades, eu excluiria a possibilidade do
pólen, examinado por mim nas fitas adesivas, ser proveniente da Gundelia."

Em exames anteriores das fitas adesivas sob microscópio luminoso, surgiu um


consenso sobre o tipo mais comum de grão do pólen encontrado no Sudário,
identificando-o como proveniente da Gundelia

367

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

TABELA 5

Locais onde o pólen foi descoberto pelo dr. Frei

Outras áreas onde as mesmas plantas existiam

Mediterráneo

França/Itália Área do Constantinopla Urla (EdessaJerusalém Ira/Turim Areas do


Arábia/Saara . . . . Lista alfabética das plantas cujo pólen foi descoberto no
Sudário. 1. Acacia albida Del. 2. Alnus glutinosa Vill. 3. Althaea officinalis L 4.
Amaranthus lividus L. 5. Anabasis aphylla L. 6. Anemone coronaria L. 7. Artemisia
Herba-alba Asso 8. Atraphaxis spinosa L 9. Bassia muricata Asch. 10. Capparis spec.
11. Carduus personata Jacq. 12. Carpinus Betulus L 13. Cedrus libanotica Lk. 14.
Cistus creticus L 15. Corylus avellana L 16. Cupressus sempervirens L 17. Echinops
glabertimus DC. 18. Epimedium pubigerum DC. 19. Fagonia mollis Del. 20. Fagus
silvatica L. 21. Glaucium grandiflorum B&H 22. Gundelia Tourneforti L. 23.
Haloxylon persicum Bg. 24. Haplophyllum reuberculatum Juss. 25. Helianthemum
vesicarium B. 26. Hyoscamus aureus L. 27. Hyoscamus reticularus L 28. Ixolirion
montanum Herb. 29. Juniperus oxicedrius L 30. Laurus nobilis L .

Norte da África

368

SUSTENTAÇÃO PARA A AUTENTICIDADE

TABELA 5
*Locais onde o pólen foi descoberto pelo dr. Frei

Outras áreas onde as mesmas plantas existiam

Mediterráneo

plantas cujo pólen foi descoberto no Sudário. 31. Linum mucronatum Bert. 32.
Lythrum salicaria L 33. Oligomerus subulata Boiss. 34. Onsoma syriacum Lahili 35.
Oryza Sativa L 36. Paliurus spina Christi Mill. 37. Peganum harmala L 38. Phillyrea
angustifolia L. 39. Pinus halepensis L 40. Pistacia lentiscus L 41. Pistacia vera L
42. Platanus orientalis L. 43. Poeterium spinosum 44. Prosopis farcta Macbr. 45.
Prunus spartoides Spach. 46. Pteranthus dichotomus Forsk. 47. Reaumuria hittella J.
& Sp. 48. Ricinus communis L 49. Ridolfia segutum Moris 50. Roemeria hybrida DC.
51. Scabiosa prulifera L. 52. Scirpus criquerius L. 53. Secale montanum Guss. 54.
Silene conoida L. 55. Suaeda aegyptica Zoh. 56. Tamarix nilotica Bunge 57. Taxus
baccata L. 58. Zyglophyllum damosum Boiss NÚMEROS TOTAIS França/Área do
Constantinopla Urla (Jerusalém Ira/Turim Arábia/Areas do . • . • . . . . . .. . . .
17 18 13 18 45 2589

Lista alfabética das

Norte da África

Saara

Itália

Edessa)

369

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

FIGURA 17-1

Pólen de Paliurus spina-christi mill. Encontrado no Sudário pelo dr. Max Frei.
Ampliado 6.900 vezes (foto superior) e 12.400 vezes (foto inferior). (Cortesia do
professor Werner Bulst).

tournefortii, uma planta espinhosa da família do girassol (Asteraceae, Compositae).


O estudo realizado com o microscópio mais avançado foi limitado, em função do
tempo, exclusivamente a um reexame da maioria das amostras deste tipo de pólen,
identificado previamente como Gundelia. Informações adicionais a respeito das
descobertas do prof. dr. Litt serão transmitidas por ele, separadamente. Desta
maneira, os grãos de pólen não nos auxiliam, no presente momento, como indicadores
geográficos tão definitivamente quanto o fazem as imagens florais que estão no
Sudário.

Para que se entenda a importância dessas descobertas, faremos uma breve


apresentação do campo da palinologia (o estudo sobre o pólen).

370

SUSTENTAÇÃO PARA A AUTENTICIDADE

O geólogo alemão Lennart von Post (1884-1951) foi quem primeiro estabeleceu os
princípios básicos da análise do pólen em seus estudos sobre ambientes primitivos.
Ele determinou as seguintes características básicas: a) várias plantas produzem
grandes quantidades de pólen (um pinheiro pode produzir 100 bilhões de grãos de
pólen); b) o revestimento exterior dos grãos de pólen (esina) é extremamente
durável, sobrevivendo por centenas de milhões de anos; e, c) todas as plantas da
mesma espécie produzem grãos de pólen com a mesma forma geral, mas esta conformação
mostra-se diferente de acordo com as espécies. Cerca de 5% (4,95%, exatamente) dos
grãos de pólen carregados pelo vento voltam a cair sobre a terra num raio de 1.600
metros das plantas que os geraram - exceto alguns que chegam a viajar por até 48
quilômetros. O tamanho dos grãos de pólen varia entre dez e duzentos milésimos de
milímetro, suas formas vão desde a esférica até a espiralada, e sua superfície pode
ser áspera e irregular ou completamente lisa e uniforme. Uma membrana protetora
chamada esina reveste os grãos de pólen, e é muito resistente à ação de substâncias
químicas, sendo responsável pela excelente preservação do pólen sob circunstâncias
adversas. O pólen mistura-se à atmosfera, é carregado por massas de ar, e cai sobre
a terra; quando os grãos caem sobre

FIGURA 17-2 Fibra de algodão do Sudário de Turim. Encontrada solta na fita adesiva
de uma amostra retirada da área que contém sangue.

371

372

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

lagos, depositam-se em camadas. O pólen tem sido utilizado pelas ciências forenses
para identificar suspeitos em vários crimes e reconstituir as ações de vários
indivíduos, vivos ou mortos.

Frei descobriu que somente 17 das 58 espécies presentes no Sudário eram comuns na
França ou Itália. Praticamente todas as outras eram de origem não-européia e
comumente encontráveis na região de Jerusalém. É interessante notar que um dos
tipos de pólen encontrados no Sudário seja derivado da planta-muito comum na Síria-
conhecida como "espinho-de-cristo", a Paliurus spina-christi mill. (Figura 17-1),
uma das plantas com a qual acredita-se haver sido confeccionada a coroa de espinhos
(veja o Capítulo 3). Ainda que alguns indivíduos argumentem que ventos fortes
poderiam carregar o pólen da região de Jerusalém para a Europa, esta é uma
afirmação facilmente refutável. Em primeiro lugar, quando o pólen foi coletado, o
Sudário foi exposto apenas por alguns dias; e dizer que os ventos fortes que vinham
de Jerusalém transportaram o pólen até depositá-lo sobre o Sudário exatamente nos
dias da exposição seria algo fantasioso demais para merecer alguma credibilidade
científica. Em segundo lugar, uma vez que os vários tipos de pólen florescem em
diferentes épocas do ano, seria improvável que os ventos fortes pudessem ter
carregado todos os tipos de pólen até o Sudário em épocas tão precisas. Os estudos
de Frei certamente oferecem fortes evidências de que o Sudário permaneceu por um
longo período na região de Jerusalém.

É interessante saber que muitos tipos de pólen presentes no Sudário foram


encontrados, encapsulados como microfósseis, nos sedimentos do fundo do Mar Morto e
do Lago de Genesaré por cientistas israelenses. Frei descobriu também que nenhum
dos grãos de pólen havia aderido ao tecido ou sido recoberto por têmpera,
contribuindo com uma forte evidência contrária à alegação de ser o Sudário uma
falsificação pintada.

SUSTENTAÇÃO PARA A AUTENTICIDADE

COMENTÁRIO Tanto os estudos de Frei como a confirmação de Baruch fornecem forte


sustentação à suposição de ter o Sudário estado na Terra Santa. Contudo, tem havido
contestações recentes à identificação dos tipos de pólen da Terra Santa por Meacham
e Rogers, que alegam que Frei não submeteu nenhuma amostra de pólen à confirmação
através da microscopia por escaneamento de elétrons porque queria preservar o pólen
para pesquisas futuras. No exemplo da Gundelia tournefortii, Vaugh Bryant Jr.- um
especialista em análise forense do pólen, professor de Antropologia e diretor do
Laboratório de Pólen na Texas A&M University-tem dúvidas sobre a identificação
porque o grupo de Israel baseou sua identificação no pólen colado às amostras das
fitas adesivas que analisaram somente sob um microscópio luminoso, e não sob um
microscópio de escaneamento de elétrons ou um microscópio de transmissão de
elétrons, para estudar a detalhada estrutura da superfície e do revestimento.

ARQUEOLOGIA TÊXTIL

O Sudário consiste de um tecido confeccionado à mão, cujo comprimento equivale a


três vezes sua largura. Trata-se de um tecido de sarja reversível, tramado segundo
o padrão "espinha de peixe" (veja Figura 12-3), no qual os fios entrelaçam-se em
ziguezague. De acordo com o professor Gilbert Raes, do Laboratório Técnico de
Tecelagem Meulemeester da Universidade de Ghent, o Sudário apresenta uma contagem
de 38,6 fios por centímetro, ao longo do sentido do comprimento; e 25,7 fios por
centímetro, no sentido da largura. Os estudos de Raes realizados sobre um pedaço de
6 x 7 centímetros do Sudário revelaram a presença inesperada de fibras de algodão
da espécie Gossypium herbaceum. Achatada como uma fita e retorcida, a fibra do
algodão (Figura 17-2) não estava na superfície do Sudário, mas figurou como parte
integrante da área analisada por Raes. As fibras eram bastante aderentes e pareciam
estar no interior dos fios;

373

374

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

e eram difíceis de remover, de acordo com o dr. Ray Rogers. A descoberta das fibras
do algodão foi de suma importância porque há essencialmente uma ausência de algodão
entre as fibras do linho na parte principal do Sudário, e o algodão era
dificilmente encontrável na Europa, ao menos até 1350 d.C. Conseqüentemente, a
presença do algodão na área analisada por Raes, sua relativa ausência nas outras
áreas do Sudário, e sua raridade na Europa medieval levantam sérias suspeitas de
que a área de Raes e as áreas adjacentes analisadas com radiocarbono fossem
anômalas. É relevante notar que tanto o linho quanto o algodão eram utilizados no
Oriente Médio na época de Jesus. John Tyrer, um tecnólogo têxtil diplomado, de
reputação internacional, indicou que é mais provável que o linho do Sudário seja um
produto do Oriente Médio, uma vez que o algodão não era extensivamente cultivado na
Europa. O professor Bollone, do Instituto de Medicina Forense de Turim afirmou que
os tecelões na época de Jesus costumavam utilizar diferentes tipos de fios no mesmo
tear. Na verdade, já havia sido aventada a hipótese de que a regularidade dos fios
do Sudário seria indicativa de uma data posterior ao primeiro século. Mas John
Tyrer contestou a validade deste argumento, tendo em vista os fios de muitos
antigos tecidos egípcios, preservados nos museus de Manchester e Halifax serem
ainda mais regulares do que os do Sudário e que o conhecimento e a habilidade do
fiandeiro são os fatores mais importantes a serem considerados. Também argumentou-
se que os egipcios costumavam tramar seus fios de modo a obter um padrão de fibras
suavemente ondulado, e não em ziguezague, mas Tyrer afirma que já foram encontrados
padrões de tecelagem com fios em ziguezague produzidos no final da Idade do Bronze,
e que o tecido reversível, cujo comprimento media três vezes a largura, poderia ter
sido confeccionado na Síria ou na Palestina no primeiro século, uma vez que esses
lugares situavam-se no cruzamento das principais rotas comerciais mundo. Para
embasar essas afirmações, amostras do museu de Egiptologia de Turim revelam os
seguintes padrões: 1) suavemente

SUSTENTAÇÃO PARA A AUTENTICIDADE

ondulado-117-138 d.C., múmia de criança; 2) suavemente ondulado -1500 a.C., múmia;


e, 3) padrão em ziguezague- 125 d.C., múmia de adolescente.

Um achado muito significativo em termos de autenticidade foi apontado pela dra.


Mechthild Flury-Lemberg, uma autoridade mundial em têxteis e ex-curadora do Museu
Têxtil da Fundação Abegg. FluryLemberg descobriu que o Sudário era muito semelhante
aos tecidos encontrados nos túmulos de Masada-a fortaleza judaica, no sudeste de
Israel, que foi destruída pelos romanos em 73 d.C.-particularmente nos debruns e na
maneira incomum de cerzir, tanto nas junções quanto nas bordas, que parecia ser
quase invisível. Os tecidos de Masada eram de um linho fino, de alta qualidade, com
um padrão de tecelagem "espinha de peixe" em ziguezague. A respeito disto, ela
disse ao jornal Sunday Times que, em sua opinião, o Sudário não seria uma farsa
medieval e poderia ser um produto contemporâneo de Jesus Cristo. Ela também afirmou
que o tecido do Sudário era de alta qualidade e que teria sido confeccionado num
tear profissional do tipo usado na Antigüidade, como os que eram produzidos no
Egito e na Síria, que chegavam a medir até 3,5 metros de largura. Esta largura lhes
permitiria produzir até mesmo tecidos mais longos e largos que o Sudário de Turim.
Muitas pessoas ficam espantadas ao saber que o Sudário de Turim pode ter quase dois
mil anos e ainda encontrar-se bem preservado. Todavia, seu bom estado de
conservação é suficiente para convencer muita gente de que o Sudário não poderia
ter sobrevivido ao primeiro século. Uma visita a um museu egípcio, no entanto,
eliminaria rapidamente todas as dúvidas. Muitas peças de linho, incluindo as
vestimentas das múmias, têm muito mais de dois mil anos de antigüidade. Há até
mesmo um exemplar que supõe-se ter quase cinco mil anos. John Tyrer indica a
existência de tecidos de linho muito mais antigos, incluindo algumas cortinas
remanescentes de Tutancâmon; e que uma publicação de autoria de Pietro Savio contém
uma ilustração de um tecido, confeccionado em padrão de "espinha de peixe", datado
de 130 d.C., recuperado

375

376

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

por Gayet, em escavações realizadas na necrópole de Antinoe. Tanto o professor Raes


quanto o professor Silvio Curto, curador do Museu Egípcio de Turim, concordam que o
Sudário data provavelmente da época de Jesus. Além disso, o professor Etrano
Morano, diretor do Centro de Microscopia por Elétrons, estudou fibras do Sudário e
comparou-as com as fibras do linho egípcio de mais de dois mil anos usando um
microscópio de escaneamento de elétrons (um instrumento que permite a visualização
de objetos em ampliações extremamente grandes). Sua investigação revela "uma
semelhança extraordinária com as superfícies do linho egípcio [...] datáveis, com
certeza, em mais de dois mil anos". Ele também encontrou pólen entre as fibras de
ambos os tecidos de linho, com alguns tipos de aparência similar.

Por último, mas não menos importante, vale ressaltar que a variação na coloração
característica dos fios do Sudário parece mais condizente com a dos tecidos
produzidos nos tempos antigos, quando o linho era manufaturado de acordo com a
descrição fornecida por Plínio, o Velho. Durante esse período, as bobinas de fios
eram alvejadas e postas para secar individualmente, antes que eles fossem
utilizados na tecelagem, produzindo fios de variados matizes de branco.
Diferentemente disto, durante a Idade Média, a peça de linho inteira era alvejada
depois de haver sido tecida, conferindo uma coloração consistente e uniforme a
todos os fios. Isto é demonstrado claramente quando o Sudário é visto contra a luz-
em condições de iluminação apropriada-, com luz ultravioleta, com fotografia de
alto-contraste e sob a emissão de raios X, que produz um efeito de faixas de cor,
devido à variação nas cores dos fios da trama e do urdimento (empregados,
respectivamente, no sentido da largura e do comprimento do tecido). Além disso, há
uma variação na intensidade da fluorescência em diferentes grupos dos fios no
Sudário, indicando que o tecido inteiro não foi alvejado numa mesma ocasião.

Uma área que sempre esteve sob exame minucioso diz respeito à identificação e ao
motivo para a existência de uma estreita faixa de

SUSTENTAÇÃO PARA A AUTENTICIDADE

material que divide a área principal com um cerzimento, e que torna o tecido mais
espesso, no sentido do comprimento, em um dos lados do Sudário-que apresenta a
mesma coloração da área principal, à qual o tecido é conectado por uma linha de
costura. Uma longa lista de interpretações para esta faixa da margem já foi
cogitada, incluindo as seguintes: a) a faixa seria uma parte que foi adicionada ao
Sudário para melhor centralizar a imagem no tecido; b) a faixa seria um reforço
utilizado para as ocasiões em que o tecido fosse pendurado para ser exposto; ou, c)
teria tido várias utilidades, durante o processo de confecção do Sudário.

O TECIDO DE OVIEDO

O Sudarium de Oviedo é um pedaço de tecido aproximadamente do tamanho de uma


toalha, com aproximadamente 84 x 53 centímetros, que se acredita ter sido o tecido
utilizado para cobrir o rosto de Jesus; o tecido que foi colocado junto com a peça
de tecido maior da mortalha no túmulo vazio, tal como é descrito em João 20:6-7
(Figura 17-3). O tecido é feito de linho, com um padrão de tecelagem perpendicular
entre os fios de urdimento e da trama, chamado tafetá - diferente do padrão em
"espinha-de-peixe" do Sudário. O linho é um tanto mais grosseiro que o linho do
Sudário, mas há uma similaridade quanto à sua espessura e no número de fios por
centímetro na superfície. O tecido contém manchas de sangue e de soro sangüíneo,
mas não há nenhuma imagem presente. Atualmente, ele é mantido na Catedral de
Oviedo, na Espanha. O Sudarium-do latim sudor, que significa suoré um lenço que foi
usado intencionalmente para enxugar o rosto de Jesus. A razão para a importância de
o citarmos aqui é sua suposta relação com o Sudário e, como tal, seu valor na
sustentação da autenticidade do Sudário de Turim. Há uma datação comprovada para o
Sudarium atestando sua antigüidade ao menos até o século sétimo, e fortes
evidências que ele seja originário de Jerusalém.

377

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

FIGURA 13-3

Sudarium de Oviedo: lado do avesso. Este o lado que esteve em contato com o corpo.
Não existe imagem, como no Sudário de Turim; mas apenas manchas de sangue.
(Cortesia de Mark Guscin, Centro Espanhol de Sindonologia)

A história do Sudarium está registrada no Livro dos Testamentos (Liber


Testamentum), escrito no século XII pelo Bispo Pelayo de Oviedo. Pelayo relata que
o Sudarium esteve guardado em uma caixa de carvalho chamada de Arca Sagrada-
juntamente com outras relíquias, incluindo um pedaço da cruz verdadeira-, que
esteve em Jerusalém por mais de 500 anos. No Livro dos Testamentos, o bispo Pelayo
afirma que as relíquias foram trazidas de Jerusalém, em 614 d.C., para Sevilha,
passando por Alexandria, pelo norte da África e por Cartagena. De Sevilha, as
relíquias foram levadas a Toledo por Santo Ildelfonso, o Bispo de Toledo, para que
fossem guardadas em segurança quando Chosroes II, rei da Pérsia, invadiu Jerusalém
e saqueou a cidade. A passagem pelo norte da África é confirmada pela descoberta de
Max Frei de uma espécie de pólen originária do norte da África. Pelayo afirma que o
Sudarium foi levado para Toledo em 657 d.C.; onde foi

378

SUSTENTAÇÃO PARA A AUTENTICIDADE

mantido por aproximadamente 75 anos - embora, no século XII, Lucas, o Bispo de Tuy,
afirmou que ele teria sido levado a Monte Sacro, nas Astúrias, em 711 d.C., porque
os mouros avançavam em direção a Toledo. Quando o rei Alfonso das Astúrias venceu
os mouros, mandou construir uma câmara sagrada para as relíquias, em torno da qual
seria erigida a catedral de Oviedo. Ao longo dos séculos, o relicário foi aberto
muito raramente, mas, na Páscoa de 1075 d.C., ele foi aberto pelo rei Alfonso,
acompanhado por sua irmã, Doña Urraca, e por Rodriquez Diaz de Vivar, conhecido
como o famoso El Cid. Eles oficiaram serviços religiosos e, na mesma ocasião,
inventariaram o conteúdo da arca, acusando a presença do Sudarium. A Arca Sagrada
foi, então, depositada em um belo cofre de prata, com uma placa que descrevia o seu
conteúdo. Mark Guscin informou-me que, "no que concerne à história do tecido, posso
dizer com toda a confiança que esteve na Espanha desde o início do século sétimo,
e, definitivamente, encontrava-se em Jerusalém em 570 d.C. Há uma provável
referência ao tecido na mesma cidade no terceiro ou quarto século, em um texto de
Nonnos de Panopolis" (e-mail, 22 de junho de 2004).

Os estudos sobre o Sudarium iniciaram-se no final dos anos 80, por insistência do
monsenhor Giulio Ricci; que era, naquela época, presidente do Centro Romano de
Sindonologia. O monsenhor Ricci fez várias suposições, baseadas em suas observações
e comparações microscópicas com o Sudário, e solicitou a assistência de Max Freium
especialista em pólen e criminologista suíço-, que encontrou duas espécies de pólen
da região da Palestina (que também foram encontradas no Sudário) e outros tipos de
pólen do norte da África (que não estavam presentes no Sudário), correspondendo ao
suposto trajeto das viagens. Além disso, não havia pólen originário da Turquia ou
da França no Sudarium, mas tipos de pólen dessas regiões estavam presentes no
Sudário, além de pólen da região de Jerusalém. É interessante apontar que a dra.
Carmen Gómez Ferraras da Universidade Complutense de Madri, identificou um tipo de
azinheira

379

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

(Quercus perennifolius) no Sudarium (comunicação pessoal com Mark Guscin em


01/11/03), que pode sugerir uma relação com a barra horizontal da cruz. Estudos
preliminares usando luz ultravioleta e infravermelha não mostraram nenhuma
evidência de imagem no Sudarium. A equipe da investigação do Centro Español de
Sindonologia (EDICES) é liderada pelo engenheiro civil Guillermo Heras e é composta
por vários especialistas em diversas áreas, incluindo química, medicina, física,
arqueologia e história. O dr. Jose Villalain, um professor de medicina forense na
Universidade de Valencia, Espanha, foi encarregado dos aspectos médicos. A equipe
começou suas investigações sobre o Sudarium por volta de 1989.

Mark Guscin me informou que o método de trabalho que empregavam em seus


experimentos era o seguinte:

Todos os testes regulares foram realizados para comprovar se as manchas eram,


realmente, de sangue - e de sangue humano (e, de fato, o são). Depois, foi
confeccionado o modelo de uma cabeça, para reproduzir as marcas de sangue
exatamente na posição em que se encontram no tecido, com a mesma mistura de sangue
e fluido de edema pleural que existe no original. Como foi possivel notar, a única
diferença deveu-se ao fato de as experiências haverem sido realizadas na
Universidade Complutense de Madri, cuja altitude acima do nível do mar e os níveis
de umidade relativa do ar não são os mesmos de Jerusalém. O ángulo da cabeça foi
registrado em cada ocasião, bem como o tempo que cada mancha levava para secar,
antes que uma outra mancha se formasse sobre aquela, com seus próprios contornos.
Todas as possibilidades foram tentadas - mais de 3.000 manchas foram formadas antes
que se chegasse às mesmas. Quanto às similaridades com o Sudário, é claro que nada
pode ser absolutamente garantido uma vez que nunca trabalhamos diretamente com o
Sudário, mas somente com fotografias; por isso, estes aspectos realmente carecem de
verificação científica. As experiências foram realizadas e supervisionadas pelo dr.
José Delfín Villalain, atualmente professor de

medicina forense na Universidade de Valencia (Guscin, 2004).

380

SUSTENTAÇÃO PARA A AUTENTICIDADE

Ostópicos a seguir foram publicados como um sumário dos resultados da equipe depois
dos primeiros dez anos de investigação do Sudarium, intitulado "Estudo Comparativo
entre o Sudarium de Oviedo e o Sudário de Turim" (G. Heras Moreno, J. D. Villalain
Blanco, J. M. Rodriquez Almenar, traduzido por M. Guscin, e apresentado no III
Congresso Internacional de Estudos sobre o Sudário de Turim, 5-7 de junho de 1998).

1. O Sudarium de Oviedo é uma relíquia que tem sido venerada na catedral de Oviedo
por muito tempo. Nele apresentam-se manchas formadas por sangue humano,
supostamente do tipo AB.

2. O tecido está sujo, vincado, rasgado e queimado em algumas partes, manchado e


altamente contaminado. Não apresenta, contudo, sinais de manipulação fraudulenta.

3. Ele aparenta ser uma peça de vestimenta funeral, que provavelmente foi colocada
sobre a cabeça do cadáver de um adulto do sexo masculino, de constituição normal.

4. A face do homem que foi coberta pelo Sudarium possuía barba, bigode e cabelo
comprido, preso à altura da nuca, em um "rabo-de-cavalo".

5. A boca do homem estava fechada, seu nariz foi comprimido e forçado para a
direita devido à pressão exercida para fixar o tecido sobre o seu rosto. Ambos
estes elementos anatômicos foram identificados claramente no Sudarium de Oviedo.

6. O homem estava morto. O mecanismo que deu forma às manchas é incompatível com
qualquer tipo de movimento respiratório.

381

382

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS
7. Na região inferior da parte de trás de sua cabeça há uma série de ferimentos
produzidos em vida por objetos agudos. Estas feridas sangraram por aproximadamente
uma hora antes que fossem cobertas pelo tecido.

8. Quase toda a cabeça os ombros, e ao menos uma parte das costas estavam cobertas
de sangue antes que a cabeça fosse coberta por este tecido. Isto é sabido porque é
impossível reproduzir as manchas no cabelo, na testa, e no alto da cabeça com
sangue de um cadáver. Pode-se, portanto, declarar que o homem foi ferido antes da
morte com algo que fez seu couro cabeludo sangrar e que produziu as feridas em seu
pescoço, ombros e no centro e na parte superior das costas.

9. O homem sofreu um edema pulmonar como conseqüência de um processo terminal. As


manchas principais são constituídas por uma parte de sangue e seis partes de fluido
do edema pulmonar.

10. O tecido foi colocado sobre a cabeça a partir das costas e preso ao cabelo por
objetos pontiagudos. A partir daí, circundou o lado esquerdo da cabeça até a
bochecha direita, onde, aparentemente sem razão, foi dobrado sobre si mesmo,
terminando por ser dobrado como uma sanfona sobre a bochecha esquerda. É possível
que o tecido tenha sido colocado desta maneira porque a cabeça formou um obstáculo
e, por isso, ele foi dobrado sobre si mesmo, Ao colocar o tecido nesta posição,
duas áreas manchadas podem ser anatomicamente observadas - uma sobre o "rabo-de-
cavalo" e outra sobre o topo das costas. Quando o homem morreu, o corpo foi mantido
em posição vertical por cerca de uma hora, e o braço direito foi mantido suspenso,
com a cabeça curvada 70 graus para a frente e 20 graus para a direita. Como isso
poderia ser aceitavelmente descrito como "posição vertical"? Se o homem do

SUSTENTAÇÃO PARA A AUTENTICIDADE

Sudarium de Oviedo tivesse sido pendurado somente pelo braço direito, o resto do
corpo, especialmente a cabeça, estaria relativamente distante do seu braço,
pendendo para a esquerda. Esta posição é incompatível com a da cabeça que o tecido
cobriu. Conseqüentemente, é fácil deduzir que o corpo estava pendurando por ambos
os braços. Mas se o corpo estivesse pendurado dessa maneira, sem sustentação para
os pés, o homem teria morrido em 15 ou 20 minutos e assim não haveria tempo
suficiente para gerar a quantidade de líquido necessária para formar essas manchas
visíveis no tecido. Se o corpo tivesse sido pendurado com os dois braços acima da
cabeça, então esta penderia para a frente e não para a direita. Assim, a única
posição do corpo compatível com a formação das manchas no tecido de Oviedo é com os
dois braços abertos, esticados acima da cabeça e os pés numa posição tal que
tornasse a respiração muito difícil: ou seja, uma posição totalmente compatível com
a da crucificação. Podemos dizer que o homem foi primeiramente ferido (sangue na
cabeça, ombros e costas) e depois crucificado.

11. O corpo foi depositado no chão sobre o seu lado direito, com os braços na mesma
posição, e a cabeça ainda pendendo 20 graus para a direita e a 115 graus da posição
vertical. A testa foi posicionada sobre uma superfície dura e o corpo foi deixado
nessa posição aproximadamente por mais uma hora.

12. O corpo foi, então, deslocado enquanto a mão esquerda de alguém tentava, em
várias posições, estancar o fluxo de líquido do nariz e da boca, pressionando
firmemente esses órgãos. Este movimento pode ter durado uns cinco minutos. O tecido
esteve dobrado sobre si mesmo por todo esse tempo. O tecido foi, então, esticado de
modo a envolver toda a cabeça, como um capuz, e novamente preso por objetos
pontiagudos. Isto fez com que parte do tecido,

383
384

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

dobrada em forma de cone, caísse sobre as costas. Com a cabeça coberta desta
maneira, o cadáver foi seguro (parcialmente) por um punho esquerdo. O tecido foi,
então, movido para o lado, cobrindo a face nesta posição. Assim, uma vez que o
obstáculo (que poderia ter sido o cabelo emaranhado com sangue ou a cabeça pendente
para a frente e para a direita) foi removido, o tecido cobriu inteiramente a cabeça
e o cadáver foi movido pela última vez, com o rosto voltado para baixo e apoiado
sobre um punho esquerdo fechado. Este movimento produziu a grande mancha
triangular, em cuja superfície podem ser vistas as marcas em forma de dedos. Como o
movimento precedente, este poderia ter durado no máximo uns cinco minutos.

13. Finalmente, ao ser depositado em seu lugar de destino, o corpo foi posicionado
com o rosto voltado para cima e, por razões desconhecidas, o tecido foi removido da
cabeça.

14. Possivelmente mirra e aloés foram borrifados sobre o tecido.

A equipe ainda declarou que:

Há muitas coincidências entre todos esses pontos e o Sudário de Turim -o tipo


sanguíneo, a maneira como o corpo foi torturado e morreu, e a cobertura
macroscópica das manchas em cada tecido. Especialmente notável é o fato do sangue
no Sudarium ter sido derramado em vida, em vez de haver sido ali depositado post
mortem, numa correspondència exata com o grupo e o tipo sanguíneo na superficie da
área do Sudário em que encontram-se as manchas da nuca. Se fica claro que dois
tecidos devem ter envolvido o mesmo cadáver, e esta conclusão é confirmada por
estudos realizados até a presente data, e que a história do Sudarium pode ser
seguramente retraçada para aquém do século XIV, época freqüentemente referida como
a da primeira aparição historicamente

SUSTENTAÇÃO PARA A AUTENTICIDADE

documentada do Sudário, então isto poderia levar a datação do Sudário até pelo
menos as datas mais antigas da história conhecida do Sudarium. A arca das reliquias
(Arca Sagrada) e o Sudarium estiveram, sem nenhuma dúvida, na Espanha desde o
início do século sétimo, e a história registrada em vários manuscritos, de várias
épocas e áreas geográficas, os remete, novamente, até Jerusalém, no primeiro
século. A importância disto para a história do Sudário não pode ser mais
enfatizada.

Datação por Carbono

A datação por carbono do tecido de Oviedo supostamente foi realizada entre 1990 e
1992, quando Bollone enviou amostras coletadas pelo monsenhor Ricci em 1975 para a
Universidade do Arizona. As amostras haviam sido anteriormente datadas como sendo
do século sétimo. Todavia, houve relatórios contraditórios sobre a datação por C-
14, que questionavam até mesmo o fato de a datação haver sido alguma vez realizada.
Quando Mark Guscin escreveu ao dr. Paul Damon em uma tentativa de sanar a
controvérsia envolvendo a datação por carbono, recebeu a seguinte resposta de
Damon: "Ambas as amostras foram recebidas supostamente como gás CO, em ampolas que
tinham vazamento de ar e, portanto, eram imprestáveis. Nós preferiríamos tê-las
recebido como tecido e promovido a combustão nós mesmos. Em conseqüência, não houve
resultados favoráveis e a declaração é tão errônea quando forjada." Contudo, Mario
Moroni apresentou evidências de que a datação foi realizada com uma das amostras,
em 1990, que presumivelmente datava de 642-869 d.C. (a amostra submetida pelo prof.
Bollone), e que um segundo fragmento da primeira que havia sido submetida a uma
simulação de fogo fora testada em 1992 e datada de 666-771 d.C. Em vista de toda
essa controvérsia, a conclusão de Mark Guscin, que aparece na página 84 de seu
livro, é a seguinte:

385

386

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

As amostras não foram obtidas com permissão para serem submetidas à datação por
radiocarbono, e presumivelmente foram coletadas pelo monsenhor Ricci cerca de 15
anos antes de terem sido enviadas a Tucson. Quando o foram, não havia informações
suficientes sobre sua proveniência para acompanhá-las; uma das amostas chegou até
mesmo a ser declarada como pertencente ao século XI. Paul Damon afirma que datação
nunca foi realizada, e que nos resultados enviados à Itália os números das amostras
não coincidem. O laboratório sugere a realização de um experimento sério. Levando
tudo isto em consideração, os supostos resultados para a datação por carbono do
Sudário podem ser seguramente ignorados. (Guscin, 1998)

COMENTÁRIO Minha dificuldade em aceitar as interpretações precisas e as conclusões


listadas acima deve-se ao fato de não ser dada nenhuma explicação científica a
respeito de como foi possível chegar-se a elas. Uma condição sine qua non do método
científico é apresentar a base que sustenta cada conclusão, incluindo todas as
experiências que foram realizadas, que permitiram ao investigador chegar às suas
conclusões; caso contrário, informação inválida pode ser propagada ad infinitum.

Há, entretanto, muita informação que atesta o fato de que o Sudarium de Oviedo pode
ser mesmo o tecido que cobriu a face de Jesus. Há fortes evidências históricas de
que o Sudarium data ao menos do sétimo século, e possivelmente de muito antes,
quando chegou à Espanha; e há fortes evidências de que ele tenha sido trazido para
a Espanha de Jerusalém, no primeiro século, para protegê-lo das invasões persas,
Duas espécies de pólen da região da Palestina que também foram identificadas no
Sudário, a presença de tipos de pólen do norte da África que não foram encontrados
no Sudário e que são condizentes com as supostas viagens, a ausência de tipos de
pólen da Turquia ou da França no Sudarium que estavam presentes no Sudário junto
com pólen da região de Jerusalém, e os estudos aprofundados, realizados pela equipe
da investigação do Centro Español de Sindonologia (EDICES), contribuíram muito para
o embasamento de sua autenticidade. Adler

SUSTENTAÇÃO PARA A AUTENTICIDADE

indica que havia boas evidências de que as marcas do sangue como aquelas do Sudário
fossem derivadas da exsudação de coágulos de sangue e que os estudos fotográficos
da imagem mostram um padrão altamente congruente com as marcas correspondentes no
Sudário. Infelizmente, uma tentativa de comparar o DNA do tecido com o aquele do
Sudário, realizada por Caorino e outros, em 1995, não foi bem-sucedida devido a
problemas de contaminação.

Meu ceticismo quanto ao tipo do sangue, neste caso, é o mesmo quanto ao tipo do
sangue no Sudário. Tanto o sangue do Sudário quanto o do Sudarium foram
classificados como do tipo AB pelo dr. Luigi Bollone. Peritos bastante
familiarizados com a classificação de amostras de sangue antigo disseram-me que não
há nenhuma evidência definitiva da validade da classificação do tipo sanguíneo em
amostras de sangue tão antigas, particularmente para um tipo de sangue tão incomum.
Estas amostras antigas podem acusar falsas reações positivas para os anticorpos. É
um fato bem conhecido que falsas reações positivas são comuns na classificação do
sangue antigo devido a muitos fatores, incluindo antígenos de outros organismos,
tais como insetos. Não temos nenhuma idéia do que as quebras e ligações moleculares
podem haver produzido, nem sobre quais danos as próprias moléculas possam haver
causado às ligações entre os anticorpos e os antígenos, ao longo do tempo. Pode
haver uma falha nos reagentes para que funcionem adequadamente sobre velhas
proteínas danificadas, mas até hoje, não foi realizado nenhum estudo confiável. O
dr. Alan Adler também relatou que, "muitas amostras antigas resultam como sangue do
tipo AB porque ele pode ser confundido com a contaminação bacteriana da parede
celular. Você faz o teste imunológico por duas razões: as proteínas têm segmentos
de açúcares, os assim chamados sacarídeos, aos quais os anticorpos comuns do sangue
reagem. As paredes celulares das bactérias são, na verdade, sacarídeos. Muitas das
proteínas são glicoproteínas, assim como muitos antígenos comuns do sangue dos
tipos A, Be O são glicoproteínas; por isso, o teste é

387

388

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

baseado na determinação do açúcar" (uma entrevista com Adler em "O Sudário de Turim
e o fiasco da datação por C-14" White Horse Press, Cincinnatti, 1996, por T. W.
Case). A este respeito, fiquei extremamente surpreso por ninguém haver tentado
confirmar os resultados de Bollone e outros, quando foi publicado seu relatório, em
1982, afirmando que o sangue no Sudário de Turim era do tipo AB, além dos seus
resultados para o Sudarium. É minha opinião, e foi sugerido também por Adler, que a
análise mitocondrial do DNA deve ser realizada tanto com o Sudarium, quanto com o
Sudário de Turim. Determinar o DNA presente em ambos os tecidos, caso isto seja
possível, é a única maneira de obtermos a confirmação definitiva de que os dois
estiveram em contato com a mesma pessoa.

{18} A POLÊMICA SOBRE O CARBONO 14

A ciência é construída de fatos, assim como uma casa é construída com pedras. Mas
uma coleção de fatos não é ciência, da mesma forma que um amontoado de pedras não é
uma casa.

Jules Henry Poncairé

Ava través dos anos, tem havido inúmeras referências ao teste de datação por
carbono 14 feito com o Sudário de Turim como científica definitiva sobre sua idade
e sobre ser este o tipo de teste que estabeleceria definitivamente sua
autenticidade. Infelizmente, não é tão simples. O método possui limitações, pois a
radiação cósmica e variações solares, além da questão da contaminação, podem causar
problemas para a datação precisa do tecido. Mesmo assim, os especialistas sempre
acharam que uma aproximação bastante razoável para a datação seria possível.

O teste de datação por carbono 14 (radiocarbono) foi descrito pela primeira vez em
1947, pelo ganhador do Prêmio Nobel Willard

390

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS
F. Libby, que o desenvolveu na Universidade de Chicago para utilização em datações
arqueológicas e geológicas. A teoria por trás da datação por carbono 14 é a
seguinte: o carbono 14 é formado na atmosfera terrestre pela interação entre
nêutrons e o nitrogênio 14. Esses neutrons são produzidos por uma interação de
raios cósmicos com o nitrogênio presente nas camadas mais altas da atmosfera da
Terra. O carbono 14, então, é oxidado e se transforma em dióxido, e, juntamente com
o carbono 12 e o carbono 13, é distribuído na atmosfera, oceanos, lagos etc. O
carbono 14 é mais pesado que o carbono normal e começa a se decompor imediatamente
depois que é formado. Sob condições teóricas ideais, essa decomposição - em forma
de radiatividade ocorre num ritmo exponencialmente uniforme e exato. O ritmo de
decomposição é dado em termos de meia-vida (5.730 anos). Depois desse período de
tempo, ele continua a perder metade dos 5.730 anos restantes e pode ser usado para
datar material que tenha vivido até há não mais de 50 mil anos e há não menos de
500 anos. Quanto mais antiga a amostra, mais difícil datá-la, pois há menos carbono
14 presente. Para materiais mais antigos, exigem-se amostras maiores para que a
datação seja mais precisa. Inversamente, quanto mais recente é o objeto analisado,
mais carbono 14 encontra-se presente, e menores podem ser as amostras.

O método original de datação baseia-se no fato de que as plantas absorvem o dióxido


de carbono 14 junto com dióxido de carbono não-radiativo e, quando os animais comem
as plantas, o carbono 14 é incorporado aos seus tecidos. Quando um organismo morre,
ele imediatamente deixa de absorver carbono 14 e começa a perder o carbono
radiativo no ritmo mencionado. A técnica original de datação requeria a queima do
objeto analisado para a formação de dióxido de carbono, que era, então, purificado
e quimicamente reduzido a carbono puro através do contato com magnésio aquecido. A
quantidade de radiatividade era, então, medida com um contador Geiger, que conta os
raios radiativos que são liberados. O método original de Libby

A POLÉMICA SOBRE O CARBONO-14

requeria amostras relativamente grandes - no caso do Sudário, um pedaço do tamanho


de um lenço de bolso. Novos métodos foram desenvolvidos, permitindo que amostras
menores fossem testadas, mesmo que sejam tão pequenas quanto um pedaço de linha de
20 centímetros. Duas técnicas de datação por carbono 14 são atualmente utilizadas:
o método de contagem proporcional de gás e o método da espectrometria da aceleração
de massa. O método da contagem proporcional, que requer instalações e instrumental
menores, mas pode levar várias semanas para produzir resultados, é uma modificação
da técnica convencional que mede o produto da decomposição do carbono 14. O
acelerador espectrométrico de massa foi desenvolvido pelo dr. Harry Gove, da
Universidade de Rochester, e é um método de utilização recente, que conta os átomos
do carbono 14 em vez dos raios-beta depois de provocar uma aceleração de alta
energia dos íons e, subseqüentemente, a remoção de tudo, menos os íons do carbono
14. Trata-se de um método revolucionário, uma vez que requer apenas amostras muito
pequenas, pode estender a medição da antigüidade dos objetos para além de 50 mil
anos, e é capaz de executar o teste em poucas horas-além de ser considerado (embora
existam discordâncias) mais preciso do que os métodos convencionais.

PREOCUPAÇÕES

Em 1976, uma comissão especial apontada pelo cardeal Pellegrino, Arcebispo de


Turim, negou o pedido para que se fizesse o teste de datação por carbono 14, pois
acreditava-se que uma parte considerável do Sudário teria de ser destruída para que
o teste fosse realizado. Além disso, a exatidão do método foi contestada,
particularmente devido às variações na produção do carbono 14 e problemas de
contaminação inerentes. O problema com as variações na produção do carbono 14
parece estar relacionado a fatores influenciáveis pela intrusão de radiações
cósmicas tais como o campo magnético da Terra e variações
391

392

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

solares. O dr. Minze Stuiver e sua equipe da Universidade de Washington fizeram


grandes esforços para corrigir esses fatores atmosféricos. Eles desenvolveram
curvas de calibragem para o carbono 14 usando fragmentos de árvores nos quais as
idades cronológicas haviam sido determinadas pela ciência da dendrocronologia.
Nesta ciência, a datação é determinada pelo estudo do desenvolvimento do padrão de
anéis nos troncos das árvores, utilizando espécies que vivem por muito tempo, tais
como as sequóias e pinheiros da Califórnia.

Um segundo problema, a contaminação, é importante porque amostras contaminadas com


o carbono moderno podem fazer com que certos materiais pareçam ser centenas ou
milhares de anos mais novos do que realmente são. William Meacham, um antropólogo
da Universidade de Hong Kong, expressou sua preocupação sobre a precisão da datação
por carbono 14 numa edição de junho de 1986 da publicação Shroud Spectrum
International. Em seu artigo, ele chamava atenção para o fato de que houve um
período de cerca de 600 anos em que o Sudário ficou exposto a muitos ambientes
diferentes e a condições de manuseio incertas, durante os quais inúmeros agentes
contaminantes podem ter sido introduzidos pelo contato humano. Ele também apontou
para a possibilidade de um período adicional de 1.300 anos nos quais o Sudário
poderia ter estado em contato com outros fatores e condições contaminantes. Ele
argumentou especificamente que nem a amostra de Raes, nem os pedaços carbonizados
podem ser submetidos com confiança a uma datação por carbono 14 e que cuidados
específicos deveriam ser tomados para identificar e neutralizar todos os
contaminantes. Ele ainda sugeriu que especialistas que trabalham habitualmente com
datações por carbono 14 deveriam ser consultados para uma investigação minuciosa
sobre esses testes. Contudo, os especialistas que participaram deste teste
supostamente seriam os melhores do mundo, possuindo enorme experiência e estando
completamente cientes dos problemas inerentes ao teste.

A POLEMICA SOBRE O CARBONO-14

Tempos depois, devido à incapacidade para determinar a causa da formação da imagem


do Sudário e ao recente fato que uma datação mais precisa poderia ser obtida a
partir de amostras bem pequenas, utilizando a técnica de aceleração desenvolvida
pelo dr. Harry Gove, a comissão concordou em fazer uma tentativa envolvendo seis
laboratórios diferentes, cada um dos quais realizando testes de datação com
pequenas amostras de tecidos antigos. O Museu Britânico foi escolhido para atuar
como coordenador independente das pesquisas. Em maio de 1983, duas amostras - uma
de linho do Egito, datada de cerca de 3000 a.C.; e outra, de algodão do Peru, de
cerca de 1200 d.C. (e, mais tarde, outra amostra de algodão peruano, de cerca de
10001400 d.C.), cada uma pesando cerca de 100 miligramas, foram submetidas a
laboratórios com aceleradores de radiocarbono na Universidade de Tucson (Arizona),
na Universidade de Rochester (Nova York), na Universidade de Oxford (Inglaterra) e
na Universidade de Zurique (Suíça); e a dois pequenos laboratórios equipados com
contadores de gás, em Brookhaven (Nova York) e em Harwell (Inglaterra). Os
laboratórios conheciam as fontes, mas não a idade das amostras. Os resultados foram
apresentados na 12. Conferência Internacional de Datação por Radiocarbono,
realizada em Trondheim, Noruega, em 12 de junho de 1985 - demonstrando concordância
entre os vários laboratórios e revelando não ter havido diferenças entre os testes
por aceleração espectrométrica ou por contagem proporcional de gás. Estes estudos
tornaram favoráveis as condições para uma nova tentativa de datar o Sudário de
Turim, e os testes foram finalmente aprovados no inverno de 1987, pelo cardeal
Ballestrero de Turim, pelo ex-rei Umberto di Savoia (que concordou com a realização
dos testes antes de sua morte, em 1983) e pelo Papa João Paulo II. O professor
Carlos Chagas, presidente da Academia Pontificia de Ciências, organizou uma
conferência de quatro dias para estabelecer um protocolo referente à condução do
teste de datação por carbono 14. Os temas discutidos incluíram: para onde levar as
amostras do Sudário

393

394

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

para evitar problemas de contaminação, quem iria coletá-las, quem supervisionaria


os testes e quais laboratórios de radiocarbono realizariam os testes. Os
laboratórios selecionados incluíam quatro com capacidade para realizar os testes de
aceleração espectrométrica -o de Oxford, dirigido pelo professor Hall; o da
Universidade da Arizona, dirigido pelo professor Donahue; o CRNS, na França,
dirigido pelo professor Duplessy e o da Universidade de Rochester, dirigido pelo
professor Gove-e dois laboratórios de contagem proporcional de gás: um em Harwell,
na Inglaterra, dirigido pelo professor Otlet; e o Brookhaven Laboratories, de Nova
York, dirigido pelo professor Harbottle. O Museu Britânico foi escolhido para
supervisionar toda a operação, ficando encarregado também da manutenção das
amostras, submetendo aleatoriamente aos testes amostras que consistiam realmente de
pedaços do Sudário e outras de tecidos antigos, para que fossem feitos "testes
cegos" em todos os laboratórios; antes que os resultados fossem enviados às
autoridades competentes, em Turim. O Museu Britânico ainda concedeu sua aprovação a
uma equipe de cientistas e estudiosos para que realizassem alguns testes adicionais
com o Sudário. A data para a divulgação dos resultados foi provisoriamente agendada
para a Páscoa de 1988.

PROTOCOLO PARA OS TESTES DE CARBONO

Apesar de todos os preparativos mencionados acima, as autoridades de Turim mudaram


repentinamente de idéia. Em outubro de 1987, o professor (de Física) Gonella e o
cardeal Anastasio Ballestrero, Arcebispo de Turim, com a aprovação do Vaticano,
dispensaram o protocolo previamente acordado e selecionaram apenas três
laboratórios - os do Arizona, de Oxford e de Zurique - e o Museu Britânico para
conduzir os testes e analisar os resultados.

Todos os laboratórios de contagem proporcional de gás foram eliminados, por recear


que tivessem de ser sacrificados grandes pedaços

A POLEMICA SOBRE O CARBONO-14

do tecido; e a distribuição de amostras de outros tecidos antigos, para os "testes


cegos", foi cancelada. No dia 21 de abril de 1988, a coleta de amostras foi
conduzida na sacristia da Catedral de Turim, por G. Riggi, que procedeu aos cortes
no Sudário na presença dos professores P.E.Damon, D. J. Donahue, W. Woelfli e do
dr. R. E. M. Hedges, dos laboratórios de datação por radiocarbono, além do
professor Testore, do Departamento de Ciências Materiais; G. Vial, do Museu dos
Tecidos e do Centro Internacional de Estudos de Tecidos Antigos, de Lyon; e o
professor L. Gonella, do Departamento de Física do Instituto Politécnico de Turim e
conselheiro científico do Cardeal Ballestrero.

A bainha da ponta inferior esquerda do Sudário foi descosida do tecido e um


segmento medindo cerca de 10 x 70 milímetros foi cortado, pouco acima do local de
onde uma amostra já havia sido retirada, em 1973 (Figuras 18-1 e 18-2). A faixa de
tecido era proveniente de um mesmo lugar na área principal do Sudário, distante de
quaisquer emendas ou queimaduras. Nenhuma tentativa foi feita para coletar amostras
aleatórias, como havia sido previamente acordado. O local para a coleta de amostras
foi determinado por Franco Testore, professor de Tecnologia Textil da Politécnica
de Turim, e Gabriel Vial, curador do Museu de Tecidos Antigos, que não tentaram
caracterizar as amostras. Três amostras pesando cerca de 50 miligramas cada foram
retiradas do pedaço da amostra coletada do tecido, embaladas em folhas de papel
alumínio e colocadas em recipientes de aço inoxidável numerados. Três amostras de
controle também foram entregues a cada um dos laboratórios. Ainda que ninguém
tivesse dito quais amostras eram do Sudário, isso logo tornou-se óbvio para todos
os investigadores, pois o tecido do Sudário era facilmente distinguível. Uma das
amostras de controle era proveniente de um pedaço de linho de uma tumba em Qasr
Ibrim, na Núbia, datando do século XI ou XII. Outra era uma amostra de linho de uma
múmia do século II, de Cleopatra de Tebas, datando de cerca de 2.000 anos; e a
terceira consistia de fios de uma capa litúrgica de São Luís d'Anjou, datada de
cerca de 1290 a 1310 d.C. Os procedimentos habituais de limpeza das amostras

395

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

AMOSTRA DE 1973 (RAES)

Debrum azul cosido ao Sudário

pela Princesa

Clotilde, 1868

Faixa

Fundo da

Vestimenta

Holandesa,

de 13 x 40 milimetros removida para análise téxtil pelo prof. Gilbert Raes, em 24


de novembro de 1973

cosido ao Sudário em 1534

Lateral

Antigo vinco presente na Vestimenta Holandesa e no Sudário, evidente na amostra


Oxford

A1

Cerzidura achatada, que une a, assim chamada, faixa lateral à parte principal do
Sudário

Pesponto da Princesa Clotilde

AMOSTRA C-14 de 1988

Amostra de aproximadamente 1,2 x 8 centimetros removida para datação por


radiocarbono, em 21 de abril de 1988

Parte Principal do Sudário

E-Bordas aparadas por Giovanni Riggie pessoalmente mantidas em seu poder.

Olan Wilson 1997

A1-Amostra de 14 miligramas fornecida ao laboratório do Arizona como suplementação,


uma ve que Giovanni Riggi havia cortado uma porção com peso ligeiramente menor para
que fosse analisada Não existe nenhuma foto definitiva dessa peça

R-Porção não utilizada, aparentemente mantida sob os cuidados pessoais do Cardeal


Saldarini

O-Amostra de aproximadamente 50 miligramas fornecida ao laboratório de Oxford. Esta


foi a única amostra satisfatoriamente fotografada com seu lado direito para cima no
laboratório

Z-Amostra de aproximadamente 50 milligramas formecida ao laboratório de Zurique.


Esta amostra fo fotografada somente do lado do avesso, ou do lado de balo, no
laboratório

A Amostra abaixo do peso, com aproximadamente 40 miligramas fornecida ao


laboratório de Arizona Existe uma fotografia definitiva de apenas uma parte desta
amostra

FIGURA 18-1

Diagrama detalhando a área de onde foram extraídas as amostras do Sudário (Cortesia


de lan Wilson.)

396

A POLEMICA SOBRE O CARBONO-14

para que sejam realizados os testes com radiocarbono-que incluem ácidos, bases,
detergentes etc. - foram executados, para eliminar impurezas. As amostras foram
levadas aos respectivos laboratórios e as mensurações por radiocarbono foram,
subseqüentemente, realizadas. A conclusão dos estudos indicou que o Sudário era uma
peça medieval, datada de cerca de 1260 a 1390 d.C., com um nível de ao menos 95% de
certeza. Esses resultados foram anunciados formalmente ao mundo no dia 13 de
outubro de 1988, e, em seguida, publicados na revista científica Nature, em 1989,
sob a autoria de 21 cientistas. Eles chegaram até mesmo a declarar que "esses
resultados, portanto, oferecem evidências conclusivas de que o linho do Sudário de
Turim é medieval".

AS CONSEQÜÊNCIAS

Jornais do mundo todo estamparam manchetes do tipo: SUDÁRIO DE TURIM: UMA


FALSIFICAÇÃO DA IDADE MÉDIA; O SUDÁRIO É UMA FRAUDE; O SUDÁRIO FOI FEITO NA IDADE
MÉDIA?; DATAÇÃO COM CARBONO PROVA QUE O SUDÁRIO É FALSO!; O SUDÁRIO DE TURIM: UM
BRILHANTE ESTRATAGEMA etc. Lia-se na manchete do The New York Times: TESTE PROVA
QUE OSUDÁRIO É UMA FRAUDE. Artigos de revistas e matérias no rádio e na televisão
ecoaram as mesmas informações, sugerindo que o Sudário era uma falsificação da
Idade Média e que Walter McCrone e seus partidários haviam sido vingados. Um dos
cientistas que estabeleceu a datação por carbono declarou: "Nós provamos que o
Sudário é falso. Qualquer um que discorde de nós deveria passar a pertencer à
Sociedade da Terra Plana."

Como resultado dessas declarações, muitos cientistas abandonaram as pesquisas


relativas ao Sudário. Para muitos, a datação por carbono 14 era o "padrão-ouro", o
teste definitivo, a suprema-corte da ciência. Este é, atualmente, um caso
encerrado? Seria a datação por carbono 14 um teste infalível? Teria sido o mundo
ludibriado por um artista engenhoso?

397

398

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

UMA AÇÃO EM FAVOR DA AUTENTICIDADE

Quando os resultados da datação por carbono 14 foram divulgados, um desânimo


inicialmente se abateu sobre a comunidade do Sudário, pelo mundo todo. A princípio,
os investigadores do Sudário ficaram estupefatos... em estado de choque. Como
poderia ser isto, uma vez que a grande maioria dos estudos parecia fazer pender a
balança, de maneira significativa, em favor da autenticidade? Contudo, em vez "de
jogar a toalha", a maioria dos pesquisadores do Sudário resolveu voltar à prancheta
e começar a reexaminar os estudos que apoiavam a autenticidade, procedimentos de
datação por carbono 14 mal-realizados, resultados errôneos em testes de carbono 14
anteriores e a realização de um teste não-autorizado para estabelecer a
autenticidade. A seguir, apresentamos alguns dos pontos altos dos estudos, feitos
pelo mundo todo, para provar a autenticidade do Sudário.

FIGURA 18-2

Área de onde foram retiradas as amostras do Sudário. Visão iluminada da área das
amostras. Esta é uma ampliação da área das amostras feita por Barrie Schwortz do
canto de uma fotografia de 4 x 5 polegadas, realizada a contra-luz, que mostra o
lado frontal do Sudário. A foto foi tirada em 1978. Pode-se ver nitidamente as
áreas mais claras da amostra de Raes, com a área de onde foram retiradas as
amostras de Tite

Amostra de Raes

Área da amostra de 1988

logo acima. (Cortesia de Barrie Schwortz.)

A POLEMICA SOBRE O CARBONO-14

1. Estudos extensivos não revelaram evidência de artificio humano (pintura com


tintas orgânicas ou inorgânicas, tingimentos, manchas ou pigmentos de qualquer
tipo). A imagem do Sudário não foi pintada utilizando-se qualquer tipo de pigmento
ou instrumento conhecido.

2. Não houve substância colando ou ligando as fibras. Isto significa que não havia
tintas ou outros agentes que as estivessem mantendo unidas.

3. Análises Fourier (baseadas em decomposição da totalidade de um material) não


mostraram evidências de direcionamento condizentes com marcas de pincel.

4. O dr. Ray Rogers, especialista em pirólise e perito em explosivos e membro


original do STURP, realizou analises de pirólise e testes de espectrometria de
massa para detectar qualquer sinal de impurezas. Ele observou que pigmentos
orgânicos e inorgânicos teriam provocado uma mudança em algumas partes da imagem
durante o incêndio de Chambéry, indicando que elas teriam mudado de cor, se
decomposto ou volatilizado em níveis diferentes, de acordo com sua distância das
zonas de alta temperatura. Além disso, suas análises de pirólise-MS não detectaram
contaminantes contendo nitrogênio, para eliminar a albumina (clara de ovo) bem como
quaisquer outros depósitos microbiológicos significativos, ou confirmar que testes
microquímicos tenham sido feitos.

5. Nenhum tipo de pigmento sulfuroso utilizado na Antigüidade incluindo cinábrio


(sulfeto de mercúrio ou vermelhão), trissulfeto de arsênico (pigmento dourado,
conhecido como "ouro mosaico") ou bissulfeto de arsênico (pigmento alaranjado)- foi
encontrado no Sudário.

399

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

400

6. Estudos realizados por Adler, comparando as fibras presentes nas fitas adesivas
retiradas da principal parte do Sudário com aquela das amostras submetidas aos
testes de radiocarbono, submetendo as a testes de Microscopia Infravermelha
Transformada de Fourier (FTIR) e Espectroscopia Microscópica por Escaneamento de
Elétrons, revelaram uma clara diferença na composição química das fibras submetidas
ao radiocarbono em comparação com os vários tipos de fibras do Sudário, suscitando
dúvidas quanto à precisão da datação por radiocarbono.

7. Exames forenses da imagem feitos por Heller e Adler mostraram que ela era
compatível à de um homem que fora crucificado, em rigor mortis, apresentando
múltiplos ferimentos, circundados por halos microscópicos cuja análise revelou
serem marcas de soroalbumina (o soro sangüíneo, ou plasma). Isto foi confirmado em
testes realizados com metilfenol, fluorescamina e outros testes enzimáticos. Halos
de soroalbumina eram desconhecidos na Idade Média. Estes halos são percebidos ao
redor das marcas da flagelação eram difíceis de serem vistos sob luz normal, mas se
revelaram vividamente em fotos realizadas com luz ultravioleta. Os halos eram muito
pequenos e seria necessário um microscópio para vê-lose uma instrumentação
microscópica especial para que eles fossem pintados ao redor de cada um dos
ferimentos; uma tarefa gigantesca se fosse realizada em tempos modernos e
simplesmente impossivel nos tempos medievais.

8. Uma codificação da informação tridimensional estava presente na imagem feita com


um analisador de imagens VP-8, o que não acontece em fotos e pinturas, que
mostraram distorções com o achatamento do relevo, incluindo os braços dentro do
peito e o nariz afundado no rosto.

A POLEMICA SOBRE O CARBONO-14

9. Há uma relação com a distância do tecido para o corpo.

10. A coloração estava presente circunferencialmente apenas em duas ou três fibras


da superficie analisada devido a processos de oxidação e desidratação. Além disso,
as fibras estavam coloridas externamente, mas não havia coloração em seu interior.
Seria quase impossível aplicar tintas, pigmentos, corantes etc. apenas na parte
externa e, circunferencialmente, ao redor de duas ou três fibras; isto teria de ser
feito sob as lentes de um microscópio e com instrumentos especiais. Além disso,
testes de microdensidade feitos pelo STURP revelaram que as fibras eram
praticamente da mesma cor. Para criar este tipo de consistência das cores, seria
necessária uma precisão microscópica.

11. O interior das fibras não apresentava coloração, como foi indicado acima. Isto
elimina pinturas e corantes que pudessem penetrar as fibras.

12. O Sudário apresenta características de claro e escuro semelhantes a uma imagem


fotográfica em negativo. A fotografia não era conhecida nos tempos medievais. Esta
inversão entre os tons claros e escuros não é vista em obras artísticas de períodos
anteriores ao advento da fotografia. A fotografia proporciona representações
anatômicas precisas e detalhes que não podem ser vistos na imagem original do
Sudário.

13. A presença de sangue foi detectada em várias áreas do Sudário e confirmada por
Heller e Adler, por meio de diversos testes de sangue legalmente aceitáveis em
tribunais de justiça, incluindo varredura microespectrofotométrica de cristais e
fibras, testes positivos de cianometemoglobina e de hemocromógenos, varredura

401

402

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

de reflexão, testes positivos para pigmentos de bile e fluorescência de


hemoporfirina.

14. A utilização de enzimas para digerir o sangue revelou que não existe nenhuma
imagem subjacente nas áreas em que o sangue está presente (onde se formaram padrões
condizentes com vários ferimentos e sangramentos), comprovando que o sangue estava
presente antes da formação da imagem. A este respeito, como seria humanamente
possível criar padrões precisos (tintas e corantes não foram usados) de uma imagem
tão complexa e incorporar nela as áreas de sangue, incluindo os halos de
soroalbumina que já estavam presentes e eliminar precisamente a imagem onde haveria
sangue? Isto também seria uma tarefa fenomenal, especialmente nos tempos medievais.
Se isso fosse um empreendimento fraudulento, por que o artista não teria pintado a
imagem primeiro e aplicado o sangue depois? Por que ele usaria sangue de verdade,
se, na época, não seria possível identificar sua autenticidade? O sangue autêntico
também necessitaria de agentes anticoagulantes para que pudesse ser utilizado na
pintura.

15. O Sudário contém tipos de pólen de 38 plantas da Palestina e áreas adjacentes,


identificados por botânicos e palinologistas especializados em vegetação da Terra
Santa. Além disso, se a imagem do Sudário fosse resultado de uma falsificação
artística, o pólen que foi observado também conteria traços de tintas, pigmentos ou
corantes.

16. Nenhum aglutinante estava presente no pólen.

17. A precisão da informação médica sobre os ferimentos, a presença de rigor


mortis, padrão de fluxo de sangue, sangue com halos de soroalbumina etc. sugerem
autenticidade.

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

18. Evidências têxteis -inclusive as apresentadas por John Tyrer, um respeitado


técnico da Faculdade de Tecnologia e do Instituto Têxtil de Manchester - sustentam
que o padrão da tecelagem seja do século I, conforme indicam a trama dos fios em
ziguezague e o tecido de sarja reversível de três-por-um, tal como eram produzidos
os tecidos na Síria e na Palestina, no século I, similares ao Sudário de Turim. A
dra. Mechthild Flury-Lemberg, uma autoridade renomada na área têxtil e ex-curadora
do museu de tecidos da Fundação Abegg, descobriu que o Sudário assemelhava-se muito
aos tecidos de Masada datados do ano 73 d.C., que eram feitos de linho fino e de
alta qualidade, com padrão "espinha de peixe" e apresentando uma forma incomum de
costura nas junções e bainhas que pareciam quase invisíveis. O professor Etrano
Morano, diretor do Centro de Microscopia por Elétrons, estudou as fibras do Sudário
e comparou-as com as fibras de um linho do Egito, de mais de 2.000 anos, usando um
microscópio de escaneamento de elétrons (um instrumento que permite um aumento da
imagem dos objetos em ampliações extremamente grandes). Sua investigação revelou
"uma similaridade extraordinária com as superfícies do linho egípcio [...] datado,
com precisão, em mais de 2.000 anos". Ele também encontrou pólen entre as fibras de
ambos os tecidos de linho, com grãos que pareciam semelhantes.

19. A presença no Sudário dos quatro buracos de queimadura em formato de L, também


conhecidos como "buracos de atiçador", supostamente provocados por um turíbulo,
durante um evento litúrgico (como sugere o frei A. M. Dubarle, um estudioso
francês), foram percebidos pelo artista Gyorgy Pray-um estudioso jesuíta, que faz
referência às queimaduras no manuscrito húngaro conhecido como Codex Pray (1192-
95), que se encontra na Biblioteca Nacional de Budapeste - mais de 60 anos antes da
datação atribuída pelo radiocarbono (1260-1390 d.C.). O manuscrito de Pray reproduz

403

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

404

muitas características do Sudário, incluindo os buracos de queimadura, no mesmo


alinhamento em que se encontram no tecido, o corpo despido de Jesus com as mãos
cruzadas depositado sobre um tecido com um padrão de "espinha de peixe", dedos
peculiarmente longos e com os polegares faltando, tal como no Sudário. A pintura
foi realizada anteriormente ao memorando de d'Arcis, por um artista que vivia bem
longe da França. Também é importante notar que existe uma cópia do Sudário,
conhecida como Sudário de Lier (cidade da Bélgica), pintada em 1516,
presumivelmente por Albrecht Dürer, mostrando os mesmos "buracos de atiçador".

20. Uma moeda bizantina da coleção de William Yarbrough, que foi datada de 690
d.C., revelou várias características similares ao Sudário. Uma característica
única, segundo Paul Maloney, é que "o gravador que cunhou a moeda propositalmente
traçou linhas que conectam os olhos às sobrancelhas" de maneira similar à que pode
ser vista no Sudário (Boletim Informativo ASSIST vol. 1, n.° 2, 1989).

21. A presença de um carbonato de cálcio específico conhecido como aragonita


travertina, encontrada nos resíduos da área ensangüentada do pé no Sudário foi
notada pelo dr. Joseph Kohlbeck, um químico e especialista em cristalografia
óptica. O dr. Ricardo Levi-Setti, do Instituto Enrico Fermi da Universidade de
Chicago, comparou a "sujeira" do Sudário com amostras colhidas em Jerusalém,
utilizando um microscópio de escaneamento de íons, de alta resolução, e constatou
uma grande semelhança.

22. Embasamento histórico citado por Wilson e Scavone faz o Sudário remontar ao
século I.

23. A datação por carbono 14 não é um teste infalível e freqüentemente produz


resultados enganosos, com margens de erro que chegam a

A POLEMICA SOBRE O CARBONO-14

milhares de anos, devido à utilização de amostras anomalas, não adequadas para o


processo de datação.

24. A variação de cor e características dos fios encontrados no Sudário parecem


mais compatíveis com os fios produzidos nos tempos antigos do que com os mais
modernos.

25. O estudo comparativo realizado por Adler, em 1996, das amostras de fibras
coletadas do Sudário com fita adesiva com as das amostras submetidas ao teste de
radiocarbono por Microscopia Infravermelha Transformada de Fourier e Espectroscopia
Microscópica por Escaneamento de Elétrons, revelaram uma nítida diferença na
composição química das fibras submetidas ao radiocarbono em comparação com os
vários tipos de fibras do Sudário. As fibras continham sódio, magnésio, alumínio,
cloro, potássio e cálcio. Adler sugeriu que as amostras de radiocarbono poderiam
ser provenientes do material utilizado no reparo feito pelos de Charnys.

PROCEDIMENTOS DEFICIENTES NA DATAÇÃO POR CARBONO

Quando avaliados, os procedimentos utilizados para a datação por carbono 14 em


laboratório deixam muito a desejar. Por exemplo:

1. O protocolo estabelecido pela Academia Pontifícia de Ciências, que se seguiu à


bateria de testes experimentais realizada em Trondheim, foi desrespeitado por
Gonella e pelas autoridades de Turim. Em vez disso, Turim reduziu o número de
laboratórios envolvidos de sete para quatro e incluiu apenas os laboratórios
especializados em aceleração, excluindo, assim, a técnica de contagem proporcional
de gás, que é mais precisa para a análise de tecidos.

405

406

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

2. A obtenção de amostras colhidas aleatoriamente de várias áreas do Sudário foi


descartada e apenas um pequeno pedaço medindo cerca de 10 x 70 milímetros foi
coletado de um mesmo local. A amostra foi retirada da área lateral, pouco acima do
local de onde já havia sido retirado material em 1973 e, então, foi seccionada.
Muitos acreditam que a área lateral foi adicionada ao Sudário para que ele fosse
exibido; por isso, acredita-se que esta seja a parte mais contaminada do Sudário
(veja as Figuras 18-1 e 18-2).

3. Um procedimento de "teste cego" não foi obedecido, uma vez que os representantes
de cada laboratório presentes sabiam quais eram as amostras do Sudário e quais
seriam utilizadas para controle, e supostamente conheciam as datações destas
últimas.

4. Os resultados dos testes foram divulgados imediatamente, antes de uma revisão


comprobatória e de sua publicação.

5. O arqueólogo dr. William Meacham, que é bastante familiarizado com os problemas


relacionados à datação por carbono, declarou: "Nenhum arqueólogo de campo
responsável iria confiar em apenas uma datação ou numa única série de datações para
um mesmo objeto, para emitir sua opinião acerca de um assunto histórico de tamanha
relevância ou para estabelecer um sítio ou a cronologia de uma cultura etc. Nenhum
cientista responsável especializado em radiocarbono afirmaria haver sido provado
que todos os agentes contaminantes foram eliminados e que a margem de erro de uma
datação obtida a partir de uma única amostra atestaria, sem dúvida, sua verdadeira
idade cronológica. O público e muitos acadêmicos não-especializados parecem
compartilhar a mesma opinião sobre a absoluta confusão provocada pela datação por
C-14" (Meacham, 1986).

A POLEMICA SOBRE O CARBONO-14

TESTES ERRÔNEOS COM CARBONO 14 Muitas alegações sobre a baixa confiabilidade da


datação por carbono 14 são essencialmente incorretas, sendo as razões mais comuns
para os erros apontados devido à datação de objetos não associados ao evento
analisado ou à utilização de amostras anomalas, não adequadas para o processo de
datação por carbono 14. Existem, portanto, falhas relativas ao procedimento de
datação por carbono 14. A datação por carbono 14 não é um teste infalível e
freqüentemente produz resultados enganosos, com margens de erro que chegam a
milhares de anos, devido à utilização de amostras anomalas, não adequadas para o
processo de datação. Isto é ainda mais interessante diante da afirmação feita por
alguns laboratórios de que seus resultados são 95% confiáveis. Até mesmo o
professor Woelfi, diretor do laboratório de Zurique, declarou que "nenhum método
está isento de registrar datas grosseiramente incorretas, mesmo quando as amostras
aparentemente não apresentam problemas [...] isto acontece com freqüência". No dia
11 de abril de 1991, por exemplo, o jornal Oxford Star publicou uma matéria sobre
uma senhora de 72 anos, chamada Joan Aherns, que havia confeccionado alguns objetos
artesanais usando pedras pintadas à maneira indígena, com um pigmento feito de
trigo. As suas pedras pintadas foram roubadas e acabaram sendo abandonadas em algum
lugar no meio das selvas de Natal, na África do Sul. Cerca de onze anos depois,
outra matéria foi publicada, sobre artefatos e pinturas indígenas descobertos por
um estudante num matagal da África do Sul. O professor do garoto levou as pedras
pintadas à Universidade de Oxford, para que fossem submetidas à aceleração por
radiocarbono e, após os testes, a autoria dos objetos foi atribuída a silvícolas
africanos. Os testes de datação por carbono indicaram que as pedras tinham cerca de
1.200 anos, mas os especialistas mostraram-se cautelosos devido à composição do
pigmento feito de trigo. É difícil entender como o pigmento de trigo utilizado pela
sra. Joan Aherns em suas aulas de arte poderia ter 1.200 anos de idade. Todavia,
isto é o que foi

407

408

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

divulgado pelo museu de Natal. Durante os pré-testes realizados em Trondheim, na


Noruega, em 1986, a um antigo tecido egípcio testado pela equipe de Zurique foi
atribuído um resultado incorreto em mais de 1.000 anos, de acordo com o relatório
publicado no periódico científico Radiocarbon. Uma cometa viking foi analisada
pelos laboratórios do Arizona, de Oxford e de Aere Harwell. Os resultados
fornecidos pelos laboratórios datavam-na de 200 d.C., 500 d.C. e 400 d.C.,
respectivamente. A pele de um mamute de 26 mil anos foi testada e o resultado
datou-a de 5600 a.C., na Antártida. Os restos do Homem de Lindow, descobertos numa
turfeira em Lindow Moss, Cheshire, foram datados pelo laboratório Aere Harwell como
sendo do século V d.C.; enquanto o laboratório de Oxford datou-o como sendo do
século I e o Museu Britânico do século III a.C. Cada uma dessas instituições
admitia uma margem de erro de aproximadamente cem anos em seus resultados. Todavia,
um crânio feminino encontrado na mesma região e datado de 400 d.C. por Oxford gerou
grande controvérsia, pois especialistas em reconstrução facial e antropologia
identificaram o crânio como pertencente a uma mulher assassinada recentemente. O
Museu Britânico atestou a datação dos ossos de uma múmia que se mostrou cerca de
800 ou 1.000 anos mais nova do que os tecidos que a envolviam. Um artigo publicado
na edição de dezembro de 1988 da revista científica Science afirmava que conchas de
caracóis vivos foram datadas como sendo de 26000 a.C. Material de uma erupção
vulcânica ocorrida em Santorini por volta de 1500 a.C. foi datado como pertencente
ao período entre 2590 e 1100 a.C. Remi Van Haelst recentemente relatou que medições
de radiocarbono realizadas com objetos encontrados em Pompéia datou-os como sendo
muito mais modernos do que o esperado, provavelmente devido à presença de prata (e-
mail de 23 de janeiro de 2004, ao Grupo Yahoo de Ciência do Sudário). Em 1989, um
relatório publicado pelo arqueólogo grego Spyros Lakovidis em "Thera e o Mundo Egeu
IIIProcedimentos do Terceiro Congresso Internacional", de Santorini, na Grécia,

A POLÉMICA SOBRE O CARBONO-14

informava que ele mandara amostras em duplicata de grãos queimados que encontrara
em suas escavações - em Gia, na Beócia, Grécia - para dois laboratórios de datação
por carbono em duas partes do mundo, e que recebera leituras que diferiam em cerca
de 2.000 anos. A resposta dele foi: "Eu sinto que esse método não é exatamente
confiável."

TESTE NÃO-AUTORIZADO DE C-14 PARA APOIAR A AUTENTICIDADE

Trata-se de um fato bem conhecido, divulgado por meio de boatos, uma entrevista
gravada e um artigo de jornal (Il Messaggero), que um polêmico teste de carbono,
secreto e não-autorizado, teria sido realizado, em 1982, com um único fio do
Sudário, no Instituto de Tecnologia da Universidade da Califórnia, pelo professor
George R. Rossman. As duas pontas dos fios foram analisadas e, supostamente, ambas
resultaram em datas diferentes: uma seria de 200 d.C., e a outra, contendo goma,
seria de 1.200 d.C. Antes do teste, o procedimento de prétratamento detectou a
presença de goma. Embora o Instituto de Tecnologia (CalTech) tenha negado, através
de uma carta, que o dr. Rossman sequer tenha realizado o teste, uma entrevista
gravada de uma conversa entre o dr. Alan Adler e Mark Antonacci, fornecida por Sue
Benford e Joe Marino, revela que o teste foi realizado, mas os resultados nunca
foram divulgados, pois não haviam sido aprovados pelas autoridades de Turim. Marino
contatou o dr. Rossman, em 30 de junho de 2002, que confirmou haver realizado o
teste, mas afirmou que não desejava mais falar a respeito do Sudário.

409

410

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

DESMASCARANDO O CARBONO 14

Logo depois que os testes com carbono 14 foram divulgados, duas novas hipóteses
desafiaram os estudos baseados na datação por carbono, tendo como base os efeitos
do incêndio de Chambéry sobre o conteúdo do carbono 14. A hipótese levantada por
Kouznetsov sobre o incêndio de Chambéry argumentava que o fogo poderia fazer o
Sudário parecer mais recente, enquanto a descoberta de uma cobertura bioplástica
nas fibras do Sudário-supostamente devido a organismos liquenófilos, que também
contribuíram para que o Sudário parecesse mais recente e conduziram à hipótese da
cobertura bioplástica. Ambas as hipóteses foram consideradas pelos pesquisadores
como "as grandes esperanças do Sudário" e têm sido exaustivamente citadas para
contestar os resultados do carbono 14 que dataram o Sudário como sendo um produto
da Idade Média, criado entre 1260 e 1390 d.C.

A Teoria de Kouznetsov Sobre o Incêndio de Chambéry

Ocientista russo Dmirti Kouznetsov do Laboratório de Biopolimeria Sedov, localizado


em Moscou, Rússia, apontou falhas nos estudos, após três anos de investigações
sobre as propriedades dos tecidos, particularmente do linho. Ele sugeriu que o
teste do tecido de linho é dificultado por um processo natural que afeta a planta
do linho: o biofracionamento, que distribui a maior parte dos isótopos do carbono
14 pela parte da planta que contém a celulose, durante a extração das fibras
vegetais. Ele indicou que o incêndio de Chambéry pode ter intensificado a mistura
de carbono 14 radiativo e os isótopos estáveis do carbono 12 no Sudário e, assim,
influenciado na quantidade de carbono presente no tecido, provocando uma datação
mais recente. Segundo seus cálculos indicam, a idade radiocarbônica correta do
Sudário deve ser anterior a mais de 1.800 anos, em comparação à estimativa
anterior. Ele sugere que a alta temperatura gerada pelo incêndio danificou e quase
destruiu o Sudário, e, na presença de prata, intensificou a mistura de carbono 14
radiativo com os isótopos estáveis

A POLEMICA SOBRE O CARBONO-14

do carbono 12 no tecido. Para provar essa hipótese, ele obteve um pedaço de linho
datado do ano 200 d.C., da região de En Gedi, em Israel. Esse tecido foi submetido
a condições semelhantes às do incêndio de Chambéry, em 1532, que incluiu exposição
ao calor intenso e a adição de prata para catalisar a carboxilação da celulose. O
calor supostamente derreteu a prata do cofre que guardava o Sudário, fazendo com
que partículas caíssem sobre o tecido, enriquecendo-o com novos isotopos de carbono
14. Kouznetsov, então, submeteu o linho a outro teste de carbono 14, obtendo uma
datação de 1.400 anos. Ele atribuiu esse efeito ao biofracionamento com aglutinação
química de C-14 extrínseco ao tecido sob influência de calor.

COMENTÁRIO Depois de considerável experimentação, Jull e outros concluíram que


"...mesmo que o deslocamento do carbono proposto pelos autores (Kouznetsov e
outros) durante o tratamento com calor fosse correto, não ocorreria nenhuma mudança
significativa na mensuração da idade radiocarbônica do linho.". Sobre a quantidade
de carbono mais recente que seria necessária para alterar a datação a este ponto,
caso o Sudário fosse originário do século I, Harry Gove, o inventor do método de
aceleração para a datação por carbono, disse: "...a quantidade de contaminação
orgânica para produzir uma alteração na idade é considerável. Por exemplo, se a
contaminação orgânica ocorresse como resultado do incêndio de 1532, e se o Sudário
fosse datado do século I, 79% do carbono no linho teria que ser proveniente do
incêndio e, portanto datado do ano de 1532. E apenas 21% do carbono proveniente do
próprio Sudário seriam necessários para que a combinação produzisse a data de 1357
d.C". É interessante notar que, até agora, ninguém conseguiu reproduzir o trabalho
de Kouznetsov. Além disso, recentes investigações indicaram que suas supostas
experiências relativas ao Sudário não passavam de invencionices.

411

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Hipótese da Cobertura Bioplástica Em 1996, o dr. Stephen J. Mattingly, um


microbiologista, e o dr. Leoncio A. Garza-Valdes, um pediatra e arqueólogo amador,
do Centro de Ciências e Saúde da Universidade do Texas, em San Antonio, que têm
estudado resinas biogênicas depositadas em objetos arqueológicos, atribuíram a
datação incorreta por C-14 à presença de uma cobertura bioplástica sobre as fibras
de linho do Sudário, que teria sido produzida por bactérias e fungos. Fibras das
aparas submetidas ao teste radiocarbônico feito por G. Riggi, em 1988, foram
utilizadas para os testes conduzidos em San Antonio, Texas, em novembro de 1994.
Quando eles examinaram as fibras usando espectroscopia de massa e luz
infravermelha, anunciaram que as amostras não continham celulose pura, mas estavam
contaminadas com bactérias e fungos. Eles indicaram que os testes feitos pelo dr.
Paul Bierman na Universidade de Washington detectaram uma composição similar à da
resina do deserto, depositada sobre objetos antigos. Subseqüentemente, eles
enviaram amostras ao professor Harry Gove, o inventor do método de aceleração de
datação por radiocarbono, em Rochester. O teste de radiocarbono foi conduzido pelo
professor Gove, juntamente com Garza-Valdes, o professor Mattingly e a
egiptologista dra. Rosalie Davis, utilizando uma antiga múmia egípcia de um pássaro
íbis com bandagens de linho, pois estas apresentavam uma cobertura similar àquela
encontrada sobre as fibras do Sudário. A datação das bandagens mostrou uma
discrepância de 550 anos em relação aos ossos. Uma vez que a cobertura nas fibras
da múmia era mais fina do que a do Sudário, os pesquisadores sugeriram que, por
extrapolação, a datação do Sudário poderia ter sofrido um desvio de cerca de 1.300
anos. Eles indicaram que o radiocarbono também mensurou o C-14 das bactérias,
fungos e o resina bioplástica depositada como resultado da simbiose entre os dois
organismos, atribuindo uma datação intermediária entre o conteúdo do C-14 do tecido
e o do C-14 dos microrganismos Lichenothelia e Rhodococcus, presentes na cobertura
bioplástica. Mattingly indicou que o

412

TECNICAS INVESTIGATIVAS APLICADAS AO SUDÁRIO

Sudário contém uma boa quantidade de bactérias de origem humana, muitas delas
filamentosas, que deixam no linho manchas amarelo-palha. Eles submeteram as fibras
da área do teste com radiocarbono cedidas por Ricci ao processo de limpeza
utilizado pelos laboratórios, chegando até mesmo a aumentar a concentração da
solução, mas descobriram que isto não produzia qualquer efeito sobre a cobertura
bioplástica.

COMENTÁRIO Sob uma análise cuidadosa, a maioria dos cientistas questionou se


existia quantidade suficiente de material mais novo que pudesse alterar
suficientemente as mensurações para fazer com que um tecido do século I parecesse
medieval. Ray Rogers e outros, então, conduziram estudos meticulosos e realizaram
extensivas observações empregando uma série de métodos independentes e mostraram
que havia quantidade significativa de cobertura amorfa nas amostras de Raes e nas
amostras de radiocarbono devido a uma camada de goma -provavelmente goma arábica
(veja a Figura 19-1)- mas não havia nenhuma cobertura similar na parte principal da
vestimenta. Observações minuciosas foram realizadas empregando-se métodos
independentes (veja ó tópico Apoio Científico da Hipótese Marino/ Benford, no
Capítulo 19). Garza-Valdez alegou que o teste realizado pelo dr. Berman da
Universidade de Washington revelou uma composição similar à da resina do deserto
depositada sobre objetos antigos. Todavia, quando foi questionado pelo dr. Rogers,
Bierman informou que suas notas dizem que ele não encontrou nada que se parecesse
com resina depositada sobre rochas, com uma indicação de outras discrepâncias (e-
mail de Ray Rogers do dia 06/07/2004 ao ShroudScience@yahoogroups.com). Rogers
salientou que é importante notar que a fibra de linho é constituída de inúmeras
pequenas fibras unidas com polímeros naturais (veja a Figura 18-3). Se estes
últimos forem removidos, estas fibras se separam umas das outras e se transformam
em "células definitivas" com uma estrutura cristalina.

Estudos microscópicos feitos por Rogers demonstraram que a alegada

413
A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

MEMBRANA PROTETORA AGLUTINANTE SEM LIGNINA LIGNINA FEIXE DE FIBRAS

FIGURA 18-3

Detalhes microscópicos típicos das fibras de linho. Uma fibra de linho é composta
de muitas fibras pequenas que são ligadas por material polimérico natural. Quando
estes materiais são removidos, a fibra de linho se desmembra em inúmeras pequenas
"células definitivas". (Cortesia de Jeanette Cardamone.)

fotomicrografia das bactérias filamentosas na cobertura indicada por Garza-Valdez e


Mattingly não mostram, absolutamente, nenhuma bactéria, mas que, em vez disto, são
semelhantes a cadeias de "células definitivas", derivadas das fibras do linho,
consistindo de longos filamentos cristalinos birrefringentes, presentes na
cobertura de goma/ corante/fixador (veja a Figura 18-4) que parece idêntica à
estrutura que eles chamam de bactéria filamentosa. Rogers apontou que as "células
definitivas" freqüentemente descascam-se da massa de fibras para produzir uma
superfície penugenta dentro do interior das fibras e são quase sempre visíveis na
superfície externa de fibras desgastadás. Ele indica que também não existe dúvida
de que se trata de uma adição artificial, composta de materiais corantes/tingidores
bem conhecidos. Além disso, ele ressalta que nunca viu um material biogênico que
fosse quantitativamente tão isento de proteínas ou sulfoproteínas, e a cobertura

414

A POLEMICA SOBRE O CARBONO-14

FIGURA 18-4 Células definitivas extirpadas. Área IEB. Pode-se ver imagens das
fibras menores desfiando-se de uma fibra maior na área do dedo do meio. Elas
desmembraram-se em fios (filamentos) de células definitivas. Existe coloração na
imagem apenas na superfície externa das células. Ampliado 200x. (Cortesia de Ray
Rogers.)

de radiocarbono de Raes não apresenta sequer traços de nenhuma dessas substâncias.


Roger observa, ainda, que a cobertura possui uma cor amarelada reversível com iodo,
uma característica de gomas vegetais, e que, por hidrólise, produz uma pentose (um
monossacarídeo, provavelmente arabinose). A goma possui as mesmas propriedades da
goma arábica, a cobertura contém uma quantidade significativa de ions fixadores
comuns; e não havia características espectrais de corantes bacterianos ou
provenientes de algas no Sudário. Além disso, não haveria quantidade suficiente
deste material bioplástico para alterar as mensurações o bastante para que um
tecido do século I parecesse medieval, porque a quantidade de carbono que teria de
ser removida da atmosfera seria absurda. Al Adler, Ray Rogers e sua esposa, Joan,
passaram longos períodos estudando imagens das fibras ao microscópio e realizando
testes microquímicos-e não constataram indices anomalos de refração, nenhum
aglutinamento das fibras causado por material amorfo exceto sangue e soro, e nenhum
componente sulfúrico (e-mail ao Grupo Yahoo de Ciência do Sudário, 18/8/2003). Se o
Sudário estivesse coberto por bactérias e/ou fungos como Mattingly aponta, os
testes para detectar proteínas seriam positivos.

415

416
A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Porém, mesmo os detalhados estudos realizados pelo STURP em um workshop conduzido


em 1980 para detectar proteínas no Sudário, empregando toda uma série de testes
altamente sensíveis, produziram resultados negativos exceto nas áreas contendo
sangramentos. Mattingly, todavia, observa que nas poucas horas na cruz e
imediatamente após a morte de Jesus, haveria uma grande quantidade de bactérias
sobre a pele. Os estudos, porém, mostram que o homem do Sudário foi lavado de
acordo com os costumes funerários judaicos, antes de ser envolvido no Sudário. Al
Adler, por outro lado, obteve três fios de Gonella e Riggi-dois do urdimento e um
da trama, da área submetida ao radiocarbono-e informou que "algumas das
incrustações eram espessas o bastante para mascarar as fibras de carbono
subjacentes, cuja continuidade era claramente óbvia nas imagens no microscópio". As
análises feitas por Adler, examinando raios X das amostras de radiocarbono com um
microscópio de escaneamento de elétrons, revelaram uma grande quantidade de
alumínio, que se mostrou condizente com as descobertas de Rogers de um fixador
aquoso de óxido de alumínio sendo utilizado com o corante carmim. A afirmação que a
cobertura bioplástica seria um poliesteróide penetrante é refutada por Adler, que
indicou que estas descobertas não podem ser vistas nas análises espectrais,
enzimáticas e sob microscopia infravermelha Fourier, em todo o tecido. Adler também
nota que o, assim chamado, brilho em uma visão ampliada da trama do tecido não se
deve à cobertura bioplástica, mas é uma característica do linho chamada lustro.

Também é digno de nota que os exaustivos estudos microscópicos que incluíram


microscopia leve, de fase, polarizante e fluorescente que eu conduzi na instalação
de Leitz sobre as fibras do Sudário, pertencentes às áreas com e sem imagem, que me
foram emprestadas da coleção de Rogers e digitalizadas em um CD-ROM por Barrie
Schwortz, não revelaram qualquer evidência de cobertura bioplástica. Rogers
confirmou isto. Infelizmente, eu não tive acesso às fibras da amostra de Raes ou da
área submetida à análise radiocarbônica, mas Rogers

A POLEMICA SOBRE O CARBONO-14

pôde comparar as fibras dessas áreas em particular com aquelas da área principal do
Sudário. Ele notou que a cobertura amorfa estava presente apenas nas fibras de Raes
e nas fibras da área utilizada para a datação com radiocarbono.

É interessante constatar, ainda, que para mudar a idade radiocarbônica de 2.000


para 600 anos, cerca de 20% do carbono teria que ser proveniente da camada
bioplástica. Além disso, Rodger Sparks, do Centre d'Études des Faibles
Radioactivités (Centro de Estudos de Baixas Radiatividades), na França, indicou que
teria de haver um aumento de cerca de 12% na espessura dos fios, o que seria uma
quantidade significativa de biopelícula, na camada bioplástica, obviamente

visível a olho nu.

417

{19} NOVOS AVANÇOS E O FUTURO DO SUDÁRIO

A ciência se torna perigosa somente quando imagina que alcançou seu objetivo.
George Bernard Shaw, 1856-1950

A Hipótese Marino-Benford: Para a maioria dos pesquisadores do Sudário, as


hipóteses sobre a cobertura bioplástica e a formulada por Kouznetsov sobre o
incêndio de Chambéry representaram as últimas esperanças para refutar os testes
realizados pelos três laboratórios especializados em datação por carbono. Para
decepção deles, as teorias foram consideradas completamente insustentáveis, pelas
razões discutidas no Capítulo 18. Mas, felizmente, uma nova estrela que despontava
tornou-se o ponto alto do Síndone 2000-Congresso Mundial sobre o Sudário, realizado
em agosto de 2000, em Orvieto, Itália. O pronunciamento feito por Joe Marino e Sue
Benford de que seus estudos indicaram que o segmento do Sudário

Novos AVANÇOS E O FUTURO DO SUDÁRIO

utilizado no teste de datação por carbono estava literalmente impregnado de


material do século XVI, resultando na datação medieval nos testes de radiocarbono,
trouxe novas esperanças.

A hipótese inicial de Marino e Benford parecia emergir do conhecimento de que


vários reparos haviam sido feitos previamente e sugeriu que talvez alguns outros
reparos não documentados também tivessem sido executados. Sobre isto, um comentário
feito por Enzo Delorenzi, membro da comissão do Cardeal Pellegrino sobre o Sudário,
pareceu ser o agente catalisador: "Eu gostaria de mencionar a impressão que tive
durante o curso de minha investigação, principalmente quanto às muitas outras mãos
que fizeram reparos além daquelas aludidas pelos relatos históricos (as quatro
Clarissas de Chambéry, o Abençoado Valfrée a Princesa Clotilde
(www.shroud.com/pdfs/marben.pdf)." Pesquisas posteriores ofereceram mais pistas.
Por exemplo, Giovanni Riggi, que foi incumbido de cortar as amostras para os testes
com C-14 da área adjacente àquela de onde as amostras de Raes haviam sido
retiradas, declarou: "Eu fui autorizado a cortar aproximadamente 8 centímetros
quadrados do tecido do Sudário [...] Isto acabou sendo reduzido para cerca de 7
centímetros, já que fibras de outras origens haviam-se misturado com o tecido
original (www.shroud.com/pdfs/ marben.pdf)." A este respeito, o autor George
Tessiore comentou que um centímetro teve de ser descartado devido à presença de
fios de colorações diferentes. Marino e Benford também notaram que mesmo quando se
olhava para as fotografias a olho nu, parecia haver um remendo "invisível" feito de
dois materiais diferentes entretecidos nas amostras submetidas aos testes de C-14.
Marino e Benford seguiram outras diretrizes, incluindo várias observações sobre a
crença de Raes de que as fibras de algodão que ele estudou estavam contidas
literalmente dentro dos fios, além de um comentário feito por Adler, citado em um
artigo de T. S. Case em 1996, no qual Adler indicou que "não há como saber se a
parte da qual foi retirada a amostra para o teste de C-14 é representativa de todo
o tecido. Existe uma área que

419

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

foi obviamente reparada. Falta tecido ali. Ela foi recosturada sobre a borda. A
explicação mais simples para o erro na datação é que há um pedaço de tecido
costurado naquela parte. E isto não foi testado". Eles notaram que Adler também
indicou num relatório de um simpósio da ACS em 1996 que as amostras de radiocarbono
não eram representativas das áreas que não continham imagem, que abrangem a maior
parte do tecido.

Marino e Benford, então, formularam sua tese de que um pedaço de tecido do século
XVI foi utilizado para reparar uma parte que faltava da faixa lateral, que se
estendia ou se sobrepunha à parte retirada para o teste com o C-14. Eles postularam
que técnicas especiais de tecelagem conhecidas como "costura francesa" ou
"invisível"-sendo que a última era utilizada em falhas maiores, quando não era
possível usar a primeira - eram empregadas em tempos medievais (o termo "invisível"
não deve ser entendido literalmente; na verdade, a técnica permitia fazer
restaurações quase imperceptíveis). O recosimento envolve o entrelaçamento manual
dos fios da área danificada, criando reparos praticamente invisíveis. Marino e
Benford sugeriram que o remendo poderia ser proveniente de um pedaço de tecido que
Margaret da Áustria, a Duquesa de Savoy, deixou como herança à sua igreja, em Brou,
depois de sua morte em 1532 e que foi posteriormente restaurado com a técnica da
"costura invisível".

420

Para certificar sua hipótese, a equipe de Marino e Benford consultou três


especialistas na fabricação de linho e forneceram-lhes uma série de fotografias das
amostras do Sudário submetidas ao teste de C-14 no laboratório de Zurique, em 1988.
Dentre as opiniões especializadas incluía-se a da Thomas Ferguson & Company, Ltd.,
de Down, Irlanda, fabricante internacionalmente conhecido de um linho duplamente
adamascado, que opinou que o tecido na fotografia do C-14 de Zurique "foi mexido
para evitar que se desfiasse" e "nós percebemos o mesmo padrão da sarja em ambos os
lados; mas, ainda assim, existe algo diferente, entre o avesso e o direito." O
próximo especialista consultado

Novos AVANÇOS E O FUTURO DO SUDÁRIO

foi a companhia French Tailor's, de propriedade do costureiro David Pearson, que


reconheceu a disparidade dos padrões têxteis e as diferenças no tamanho dos fios
entre as amostras de Zurique e as amostras integrais submetidas ao C-14, e afirmou
que "não há dúvida de que há um material diferente de cada lado [...] trata-se
definitivamente de um remendo" e indicou que tecelões da Europa medieval tentavam
combinar o tecido original com o novo pedaço que pretendiam adicionar-lhe
entretecendo manualmente as fibras dos dois, numa faixa de aproximadamente um
centímetro, "invisível" para olhos não treinados. Isto assegurava a integridade do
material, mantendo a consistência estética de todo o tecido. Este tipo de atenção
com os detalhes dos reparos seria condizente com a riqueza e a devoção da família
Savoy, que detinha a posse do Sudário na época.

O terceiro especialista foi a Albany International, onde Louise Harner disse que "o
fio de urdimento é diferente nos dois lados da amostra" e indicou a presença de um
padrão grosso/fino no lado direito, enquanto o esquerdo era mais regular. Em
essência, o tecelão combina o padrão do tecido original colocando um pedaço de
tecido semelhante sobre a área danificada e entrelaça as bordas desfiadas dos dois
pedaços de forma a tornar a emenda invisível. Outras informações dos especialistas
têxteis incluíram uma forte descoloração na área do remendo, uma emenda mais
perceptível próxima da área de 14 x 9 centímetros que havia sido cortada, e uma
junção vertical que era pouco visível adjacente à região do remendo do século XVI e
à área principal do Sudário.

Marino e Benford argumentaram que o remendo havia sido feito na Idade Média, depois
que o pedaço de 14 x 9 centímetros fora retirado, provavelmente em função do
testamento de Margaret da Áustria, lavrado em 20 de fevereiro de 1508, para atender
ao seu desejo de legar à igreja um pedaço do Sudário. Eles afirmam que Margaret
morreu em 1531, ocasião em que o pedaço do Sudário foi removido e subsequentemente
substituído. A conclusão de Adler de que os "painéis

421

422

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

desaparecidos" do Sudário já estavam faltando à época do incêndio de 1532 foi usada


para sustentar esta hipótese. Mais apoio foi recebido quando a equipe
Marino/Benford consultou Ronald Hatfield, um cientista especializado da empresa
Beta Analytic, considerada a maior companhia especializada em serviços de datação
por carbono. Hatfield informou-lhes que se fios de um pedaço de linho datado do
século I fossem misturados com outros datados de 1500 d.C., na proporção de 60/40
de material novo para o antigo, conforme determinado pela massa, uma datação por C-
14 resultaria em cerca de 1210 d.C., que coincide com data informada pelo
laboratório de Oxford, no artigo da Nature.

SUSTENTAÇÃO CIENTÍFICA DA HIPÓTESE MARINO/BENFORD

Inicialmente, Ray Rogers, um renomado químico e membro-associado do Laboratório


Nacional da Universidade de Los Alamos na Califórnia, mostrou-se cético quando
Marino e Benford propuseram que as amostras removidas do Sudário para o teste com
radiocarbono em 1988 não eram representativas da parte principal da peça. Naquela
ocasião, ele comentou: "Eu não acreditei na teoria de Joe e Sue sobre uma
reconstituição medieval. Por isso eu retirei as amostras de onde estavam guardadas
e trabalhei sobre elas. Eu me surpreendi ao descobrir que as amostras de Raes eram,
realmente, muito diferentes da parte principal do Sudário [...] Eu achei que seria
fácil refutar a hipótese deles." Mas ele voltou a sua prancheta de estudos e juntou
informações que tinha obtido de seus estudos químicos e microscópicos feitos em
1978, quando era membro do STURP, com estudos das amostras arquivadas da coleção
Raes e uma amostra de uma área autêntica, analisada com radiocarbono, que ele
descobriu ser idêntica à amostra de Raes. Tanto a amostra de Raes quanto aquela
submetida ao teste de radiocarbono apresentavam a mesma coloração púrpura e carmime

Novos AVANÇOS E O FUTURO DO SUDÁRIO

a goma de pentose, similar à goma arábica (Acacia senegal), além de óxido de


alumínio anidro, utilizado como fixador. Estas amostras deram resultado negativo
quanto a existência de proteínas, mas num teste de cor feito com iodo, a goma
arábica foi notada. Roger também solicitou a assistência de Anna Aroldi, da
Universidade de Milão, para investigar de uma forma independente a natureza química
da amostra. Tanto ela como Rogers confirmaram as descobertas de Marino e Benford,
de que a amostra radiativa era espúria e diferente da parte principal do tecido.
Fotografia ultravioleta e análise espectral revelaram que a área de onde as
amostras foram retiradas era quimicamente diferente do resto do tecido. Ao
contrário do que acontecia com a maior parte do Sudário, as amostras não
fluoresciam, indicando uma diferença em sua composição química. É importante notar
que as fotos ultravioleta tiradas em 1978 mostram fluorescência na parte principal
do Sudário. A "foto do mosaico azul quadrangular" de Vern Miller, processada no
Laboratório de Propulsão a Jato em Pasadena, Califórnia, pelos membros do STURP Don
Lynn, Jean Lorre, Ray Rogers e Barrie Schwortz em 1978, é importante para apoiar o
argumento de que a datação da área analisada com radiocarbono era anômala, já que
as várias cores indicam diferenças na composição química. Sobre o remendo na área
esquerda inferior do canto da amostra, as áreas adjacentes apresentam composição
química similar; contudo, ambas são bem diferentes da parte principal do Sudário. A
área de onde as amostras foram retiradas possui a mesma cor que as amostras,
indicando que sua composição é diferente do resto do Sudário. A área da amostra de
radiocarbono foi coberta por goma (provavelmente goma arábica) que continha corante
carmim, com aplicação de fixador (óxido de alumínio anidro) para que a coloração se
mantivesse no tecido, com intuito de concluir os reparos. O corante foi utilizado
para uniformizar a cor com a do resto do Sudário, embora seja possível perceber uma
descoloração acentuada na região do remendo. Nenhuma destas substâncias estava
presente no resto do tecido. Esta técnica era

423
424

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

empregada por artesãos medievais para reparar tapeçarias danificadas, tentando


tornar os estragos relativamente invisíveis. Não existem evidências de que o
corante feito com carmim tenha sido utilizado na França ou na Inglaterra antes do
século XVI. O sistema de aplicação de corante/goma/fixador era comum no Oriente
Médio durante a época indicada pela análise de radiocarbono (1260-1390 d.C.).
Também é significativo que os cientistas do STURP, usando fluorescência
ultravioleta, tenham descoberto que o canto de onde saiu a amostra era bem
diferente do resto do tecido e havia sido mais manuseado do que qualquer outra
parte do Sudário. Rogers notou que a cobertura de goma era solúvel em água, e que
volta a se depositar quando a água evapora; e por não tratar-se de um polímero
biogênico, contribui para a suposta cobertura bioplástica reportada por
Mattingly/Garza-Valdez (veja a Figura 19-1). Não existem defeitos nos cristais de
celulose, mostrando que a radiação não criou a imagem, e testes cinéticos de
decomposição da lignina conduzidos por Rogers indicaram que levaria entre 1.300 a
3.000 anos para que fosse alcançada a composição observada (e-mail ao Grupo Yahoo
de Ciência do Sudário, de 18/7/04). Em apoio à teoria de Marino e Benford sobre a
reconstituição do tecido, Rogers encontrou evidências de um local de junção,
sugerindo que este remendo na roupa não apenas foi tingido, mas também foi reparado
e recosturado (veja a Figura 19-2). A vestimenta principal foi tecida usando uma
técnica de fios sobrepostos: desta forma, quando uma meada de fio terminava, uma
outra a substituía imediatamente, para seguir com processo de tecelagem. Uma
descoberta muito significativa na área anomala foi um teste que resultou positivo
para a presença de vanilina (C,H,O, ou 4-hidroxi-3-metoxi-benzaldeído) usando
floroglucinol em ácido hidrocloridrico. A vanilina é um polímero complexo de
lignina, um componente da parede celular das plantas, grandemente responsável por
sua força e rigidez. A vanilina é produzida pela decomposição térmica da lignina.
Ela só é encontrada em fibras de linho mais recentes porque sua presença desvanece
com o tempo ea temperatura. De acordo

Novos AVANÇOS E O FUTURO DO SUDÁRIO

FIGURA 19-1

Cobertura de goma arábica nas áreas das amostras de Raes e naquelas submetidas à
datação por radiocarbono, sugerindo a cobertura bioplástica. Fibras retorcidas da
amostra de radiocarbono num índice de refração de 1.515, demonstram a cobertura com
goma/pigmento/fixador (cortesia do dr. Ray Rogers).

425

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

FIGURA 19-2A

Local de união com as pontas entrelaçando-se na área da amostra de Raes. A figura


mostra o único ponto em que se pode observar o entrelaçamento de dois fios
diferentes, para formar uma só fibra, na amostra utilizada para o teste de C-14.
Não é possível ver o local exato da união, mas podem-se notar as diferentes
características das pontas: uma delas é felpuda e branca; a outra, mais escura e
retorcida. (Cortesia de Ray Rogers).

com Rogers, a decomposição cinética da lignina indica que levaria entre 1.300 e
3.000 anos para alcançar o nível de composição observado. Em contraste, a lignina
do resto do Sudário assim como a lignina das bandagens do Pergaminhos do Mar Morto
permitiram um teste negativo de vanilina; enquanto a Vestimenta Holandesa indica um
resultado positivo. Portanto, a importância deste teste reside no fato que ele só
pode ser encontrado em linho mais recente como resultado de um envelhecimento
lento, sugerindo que esta área é muito mais nova do que o resto do Sudário. Outra
diferença importante deriva de uma observação feita por Raese confirmada por Rogers
e outros de que existe algodão (veja Figura 17-2) nos fios da amostra e é fácil
encontrá-lo ali; enquanto que o único algodão encontrado na parte principal do
Sudário era parte das impurezas superficiais. Rogers informou que o linho na área
submetida ao C-14 havia sido alvejado por uma técnica diferente da utilizada na
parte principal do Sudário, ocasionando uma forte descoloração na área do remendo.

É importante notar que o falecido professor Al Adler também relatou, em 1996, que a
composição química das fibras na área da

426

Novos AVANÇOS E O FUTURO DO SUDÁRIO

FIGURA 19-2B

Local de união das pontas na área da amostra de Raes. Esta microfotografia foi
tirada com uma ampliação óptica de 100 vezes. É fácil notar a dessemelhança entre
as pontas. As fibras da parte superior direita continuam em direção à esquerda e
terminam. Esta parte não é contínua ao longo de toda a extensão do segmento do fio.
A junção exata é difícil de detectar. As fibras do lado inferior esquerdo terminam
claramente pouco antes do final da fibra. Infelizmente esta microfotografia
ampliada 100X não possui melhor resolução, nem é colorida. (Cortesia de Ray
Rogers).

amostra era acentuadamente diferente das pertencentes a outras partes do Sudário.


Sua análise feita com microscopia por escaneamento de elétrons revelou que a parte
do Sudário onde foi feito o teste com o radiocarbono continha duas vezes mais
alumínio do que o resto do tecido. Isto foi confirmado por Rogers, que descobriu
que o alumínio no óxido de alumínio anidro era o fixador do corante carmim.
Concluiu-se, assim, que a datação por radiocarbono era inválida, pois fora baseada
numa amostra espúria.

427

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

O FUTURO DO SUDÁRIO

A autenticidade do Sudário de Turim tem sido um dos grandes enigmas da história.


Séculos se passaram e a batalha ainda perdura. Para muita gente, inclusive
cientistas respeitáveis, o anúncio feito por três renomados laboratórios de datação
por radiocarbono, feito no dia 13 de outubro de 1988, datando o Sudário da Idade
Média, entre 1260 e 1390 d.C. foi definitivo. Mas para um pequeno grupo de
pesquisadores dedicados, esta conclusão era inaceitável. Para esses devotos, outros
fatores apontavam para a autenticidade, particularmente o fato da datação por
radiocarbono permitir, com freqüência, resultados errôneos que chegaram a milhares
de anos.

Além disso, circunstâncias duvidosas levaram ao fiasco do teste de datação por


carbono 14 quando um grupo de Turim repentinamente resolveu abandonar o protocolo
de Trondheim. Eles designaram apenas um local, próximo de onde a amostra de Raes
havia sido removida antes, para que as amostras fossem coletadas, eliminando assim
uma amostragem aleatória, e reduzindo o número de laboratórios-de sete laboratórios
de radiocarbono para apenas três laboratórios de aceleração de massa - excluindo
todos os laboratórios de contagem proporcional. Finalmente, eliminaram os
procedimentos de "testes cegos" e permitiram que os laboratórios se comunicassem
entre si.

A argumentação dos pesquisadores do Sudário de que o protocolo de Trondheim não


fora seguido e que a datação por radiocarbono freqüentemente levava a resultados
errôneos, particularmente em amostras anomalas, deu origem a inúmeras discussões.
Infelizmente o desafio inicial a estes resultados, propostos pelas hipóteses de
Kouznetsov, sobre o incêndio de Chambéry, e a teoria da cobertura bioplástica de
Garza-Valdez e Mattingly, revelaram-se fracassos retumbantes, como foi discutido
antes. Contudo, havia uma luz no fim do túnel; e uma bem brilhante. Uma feliz
observação casual do local de onde havia sido retirada a amostra submetida ao teste
com radiocarbono, realizada pelos pesquisadores Marino e Bendford, revelou

428

Novos AVANÇOS E O FUTURO DO SUDÁRIO

que a área parecia haver sofrido algum tipo de reparo. Esta observação levou-os a
consultar especialistas em reparos "invisíveis" de tapeçaria e outros artigos
têxteis, e todos concordaram com a hipótese aventada. Marino e Bendford, então,
consultaram a literatura científica sobre o Sudário e renomados cientistas,
incluindo Ray Rogers e os trabalhos do falecido Al Adler, que apresentaram
evidências incontestáveis de que a amostra radioativa era espúria, diferente da
parte principal do tecido. Quando esta evidência foi adicionada aos 24 fatos que
apóiam a autenticidade do Sudário (veja Capitulo 18), iniciou-se uma poderosa ação
em favor da autenticidade.

Mas uma ação poderosa ainda não é prova. Nós nos encontramos em meio a um impasse,
que somente pode ser resolvido com um teste de carbono apropriado, feito com
amostras coletadas ao acaso, retiradas das áreas principais do Sudário. Alguns
críticos alegam que as autoridades de Turim resistem à execução de novos testes
porque isto reduziria drasticamente o movimento turístico da cidade ou porque o
valor do Sudário seria tremendamente depreciado, caso fosse provado que ele é de
origem medieval. Eu não acredito que isto seja verdade, mas acredito que sua
resistência venha da crença na natureza sagrada do tecido. Contudo, alguns
especialistas como Meachan, Rogers e muitos outros cientistas e estudiosos têm
escrito ao cardeal Poletto indicando que este temor pode ser aliviado ao se fazerem
os testes em algumas das fibras e na poeira de carbono que foram removidos durante
a restauração de 2002. Tecido carbonizado seria o material mais estável do Sudário
que poderia ser datado. Foi informado que a fluorescência percebida nas áreas
queimadas indica que elas foram produzidas numa atmosfera com baixos níveis de
oxigênio, produzindo, desta forma, boas amostras. Isto resultaria num teste muito
preciso e, ao mesmo tempo, poderia fazer dissipar-se a nuvem originada na Idade
Média e que alcançou notoriedade com a recente polêmica sobre a datação por carbono
14. Contudo, é essencial que um protocolo apropriado seja seguido à risca, para
evitar os erros cometidos nos testes de

429

430

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS
radiocarbono, em 1988. Um protocolo sugerido por Rogers incluiria discussões
preliminares com os participantes, para familiarizá-los com os fatores que poderiam
influenciar os resultados, submissão em separado das amostras do carbono removido
durante a restauração das áreas queimadas, com os agrupamentos por data sendo
considerados mais importantes do que determinações isoladas; submissão de amostras
não-manipuladas de áreas bastante diferentes, para minimizar a contaminação, e
submissão de amostras para diferentes laboratórios comerciais, sem publicidade.

Independentemente dos resultados de um teste radiocarbônico válido, ainda existe


uma grande necessidade de estudos adicionais. Muitos críticos têm questionado o
motivo de estudos adicionais precisarem ser realizados, uma vez que a datação com
radiocarbono já localizou o Sudário na Idade Média. O motivo é evidente: mesmo que
os testes com radiocarbono não apontem uma datação anterior ao século XIII, a causa
da imagem ainda tem fugido à nossa compreensão através dos séculos; e mesmo
análises modernas e sofisticadas não resolveram o mistério. Sobre isso, para que
possamos evitar problemas encontrados anteriormente, um protocolo deve ser
desenvolvido. Novos estudos devem ser conduzidos para determinar a natureza da
imagem. A sugestão do dr. Adler para que se utilizem pinças em vez de fita adesiva
para coletar as amostras foi baseada nos efeitos prejudiciais, a longo prazo, da
utilização das fitas adesivas sobre o do Sudário. Descolorações, com resquícios de
adesivo, foram observadas em todas as áreas de onde o dr. Frei coletou suas
amostras, em 1978. Em vista das novas tecnologias e instrumentação computadorizada
desenvolvida desde as investigações originas da STURP, testes mais definitivos
agora são possíveis. Alguns desses novos equipamentos como espectroscópicos de
ressonância da rotação de elétrons, novos tipos de sondas de fibra ótica,
instrumentação espectroscópica e novos métodos espectrais de produzir imagens podem
provar-se valiosos para estabelecer os mecanismos de formação da imagem. A recente
introdução da

Novos AVANÇOS E O FUTURO DO SUDÁRIO

espectroscopia digital de imagens pode ser utilizada com microscópio ou com certos
instrumentos médicos para captura de imagens com definição extremamente alta e
detalhes com características espectrais; e, depois, sem tocar o Sudário, é possível
direcionar todo esse volume de informação para um computador e armazená-la em CD-
ROMs. Barrie Schwortz participou do desenvolvimento dessa instrumentação com seu
associado de longa data, o dr. Warren Grundfest, diretor do laboratório de
Tecnologia de Laser e Revelação, no Centro Médico Cedars-Sinai, em Los Angeles.

Se a imagem foi produzida por algum artifício, esta seria uma das maiores-senão a
maior-fraudes perpetradas na história e o "enigma do Sudário" seria finalmente
solucionado. Por outro lado, se o Sudário for datado do século I, haveria duas
possibilidades: ele seria, realmente, o Sudário de Jesus, ou poderia ser o sudário
de um homem crucificado à época em que Jesus viveu, com uma possível margem de 150
anos (se não houver complicações na datação do radiocarbono). Adler indicou que
mesmo que a peça fosse datada do século I, ainda não haveria maneira de testar se
ela fora utilizada por Jesus. Todavia, as informações convergiriam positivamente
para indicar tratar-se mesmo do Sudário de Jesus, devido à presença de imagens
condizentes com a coroa de espinhos, o ferimento causado por uma lança, a ausência
do crurifragium, e mais importante, a ausência de decomposição. Um sudário
normalmente não seria removido do cadáver de uma pessoa crucificada, mas
permaneceria envolvendo o corpo e entraria em decomposição juntamente com ele ou
então ficaria terrivelmente manchado e apodrecido. Contrastando com isso, se o
Sudário envolveu Jesus, então não haveria decomposição, uma vez que Ele permaneceu
envolto no tecido por apenas 34 a 36 horas. Por isso, se um novo teste de
radiocarbono apontasse uma datação do século I, as evidências esmagadoras
indicariam que este não seria o Sudário de Turim, mas sim o Sudário de Jesus.
431

{20} A VIA-CRÚCIS FORENSE: UMA MEDITAÇÃO

Cada fórmula que expressa uma lei da natureza é um hino de louvor a Deus. Maria
Mitchell, 1818-1889

N os capítulos anteriores, tentei reconstruir o mais precisamente possível a


maneira como Jesus sofreu e morreu, da mesma forma com que eu tenho investigado
homicídios brutais nos últimos 34 anos como patologista forense e médico-legista
chefe. Assim, analisei de uma forma crítica cada fase da jornada de Jesus, do
Jardim do Getsemani até Sua crucificação.

Cristãos devotos meditam sobre a crucificação de Jesus de várias maneiras, ou


refletindo sobre as estações da cruz, recitando os mistérios do rosário, lendo as
Escrituras, ou então apenas recolhendo-se em silenciosa meditação. Todavia,
embarquemos numa jornada forense, principiando no Jardim do Getsêmani e terminando
com a morte de

A VIA-CRUCIS FORENSE: UMA MEDITAÇÃO

Jesus no Calvário, numa espécie de via-crúcis forense, para que possamos avaliar
criticamente cada fase, de modo a obtermos uma compreensão mais precisa dos efeitos
da crucificação-o que, sem dúvida, enriquecerá muito as nossas meditações.

Nossa jornada começa no Jardim do Getsêmani, localizado no Monte das Oliveiras, de


onde Jesus e Seus discípulos partiram depois que Ele anunciou que Sua hora havia
chegado. Quando eles chegaram, Jesus afastou-se para orar: "A minha alma está
profundamente triste até a morte; ficai aqui e vigiai." (Marcos 14:34). Jesus
estava totalmente ciente dos sofrimentos que teria que suportar. De repente, Seu
coração começou a bater forte em Seu peito, aceleradamente. Ele empalideceu, Suas
pupilas dilataram-se por completo; Sua respiração tornou-se mais rápida; Seus
joelhos vacilaram e Ele caiu ao chão, incapaz de manter-se em pé. A adrenalina era
bombeada por todo o Seu corpo; uma reação "lutar ou fugir" havia sido desencadeada.
A profunda angústia mental de Seu sofrimento tinha começado, drenando as forças de
Seu corpo. Ele começou a coxear, caiu ao chão e orou repetidamente. Ele repetiu as
orações a noite toda. Então, olhou para os Céus e pediu; "Pai, se queres, afasta de
mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e, sim, a tua." E então
apareceu para Ele um anjo do Céu para confortáLo; e, estando em agonia, Ele orou
mais intensamente. Seu suor caiu ao chão como se fossem gotas de sangue (Lucas
22:42-44). Ele tinha aceitado Seu destino! Agora o ritmo de Seu coração começou a
tornarse mais lento. Seu rosto recobrou as cores, Seus músculos relaxaram e Seu
corpo se encharcou de suor sanguinolento, enquanto coágulos de sangue caíam ao
chão, porejando de pequenas hemorragias que surgiram de Suas glândulas sudoriparas.
Jesus ficou debilitado devido

à extrema exaustão mental.

Pouco depois, Ele foi preso e levado ao Sinédrio, onde foi molestado e acusado de
blasfemia e então levado diante de Pilatos, onde foi acusado de estar "pervertendo
a nossa nação, vedando pagar tributo a César e afirmando ser ele mesmo Cristo, Rei"
(Lucas 23:1-2). Pilatos enviou Jesus

433
A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

434

a Herodes, que o devolveu a Pilatos. Nenhum dos dois pôde apontar as faltas deste
homem. Mas a multidão frenética queria que Jesus fosse crucificado a qualquer
custo, até ao ponto de libertar Barrabás, um assassino brutal, em vez de Jesus.
Numa última tentativa de evitar a crucificação, Pilatos ordenou um açoitamento
brutal, mais severo do que o normal: "Então, por isso, Pilatos tomou a Jesus, e
mandou açoitá-lo." (João 19:1). Ele então foi curvado e amarrado a um pilar baixo,
onde foi flagelado nas costas, peito e pernas, com um flagrum multifacetado, que
continha pedaços de metal em suas extremidades. Os scorpiones penetraram
profundamente em sua carne, dilacerando pequenos vasos, nervos, músculos e a pele.
O peso dos scorpiones fazia com que as cintas de couro fossem projetadas para a
parte da frente de seu corpo, dilacerando a carne dali também. Seu corpo deformouse
em função da dor, fazendo com que Ele caísse ao chão, somente para que O colocassem
de pé novamente. Breves movimentos convulsivos ocorreram, seguidos por tremores,
vômitos e suores frios. Gritos ecoavam a cada golpe recebido. Sua boca ficou seca e
a língua colou-se ao céu da boca. Ele foi reduzido a um estado lamentável, já que
Pilatos queria aplacar a sanha da multidão, de modo a dissuadi-la de sua exigência
para que Ele fosse crucificado. Pilatos ofereceu à turba uma escolha entre
Barrabás, um assassino brutal, e Jesus, mas a multidão preferiu que Jesus fosse
crucificado e Barrabás libertado. O castigo de Pilatos não satisfizera à multidão
ensandecida; que, sedenta de sangue, clamava: "Crucifiquem-no!" Jesus respirava com
dificuldade. Sua respiração tornou-se menos profunda e mais rápida, uma vez que Ele
não conseguia respirar por causa das fortes dores no peito, decorrentes dos
ferimentos em Sua caixa torácica, costelas e pulmões. Cada passo era doloroso,
obrigando-O a segurar Seu peito.

Os soldados então "vestiram-no de púrpura e, tecendo uma coroa de espinhos, lha


puseram na cabeça; e o saudavam, dizendo: Salve, rei dos judeus!" (Marcos 15:17-
18). Eles apanharam o arbusto típico da Síria, a "espinho-de-Cristo", com suas
fileiras de espinhos afiados e

AVIA-CRUCIS FORENSE: UMA MEDITAÇÃO

recurvos, que crescia ao lado do Pretório, fabricaram uma coroa com os ramos
entrelaçados e a fixaram em Sua cabeça. Esta era a coroa para o "Rei dos Judeus" e
um graveto foi Seu cetro. Eles prestaram homenagem ao novo rei desfilando à Sua
frente, ajoelhando-se diante Dele e golpeando-lhe as faces com o cetro e cuspindo
em Jesus. Suas bochechas e nariz ficaram vermelhos, feridos e inchados. Dores
agudas e lancinantes, que pareciam choques elétricos ou pontadas com ferro em brasa
revelavam-se em Seu rosto, imobilizando-o e fazendo com que Ele evitasse voltá-lo
para qualquer direção, tornando a dor ainda mais intensa-uma condição médica
conhecida como neuralgia do trigêmeo ou tic douloureux. Suas feições distorceram-se
e Seu corpo ficou tão tenso que não conseguia mais mover-se, pois cada movimento
provocava novos ataques agonizantes.

Pilatos, então, desistiu e ordenou que Jesus fosse crucificado e o centurião e o


quaternio (quatro soldados, sob as ordens de Seu comandante) colocaram a barra
horizontal da cruz, que pesava entre 23 e 34 quilos, sobre Seus ombros, que já se
encontravam severamente lacerados pelo açoitamento. Ele sentiu dores ainda mais
agudas, que O fizeram cair de joelhos. Os soldados fizeram com que Ele se
levantasse novamente. As pessoas se amontoavam nos dois lados da rua, com uma
companhia de soldados mantendo a ordem. Jesus, num princípio de estado de choque
traumático, mal conseguia manter o equilíbrio e ofegava. Ele continuou em Seu
caminho, colina acima, caindo várias vezes, com a barra sobre Suas costas. O sol do
meio-dia estava quente; o suor pingava de Seu corpo, desidratando-O e fazendo
piorar Sua sede. Ele não conseguia mover a língua, que parecia ter aumentado muitas
vezes seu tamanho. Seu corpo inteiro reagia ao sofrimento proveniente dos múltiplos
ferimentos causados pelo açoitamento. Era fácil para o centurião perceber que Ele
não chegaria ao Calvário nesse passo. Assim, Simão de Cirene, que visitava a
cidade, foi forçado a ajudá-Lo a carregar a trave da cruz pelo resto do caminho.
Jesus continuou a tropeçar e cair, ofegando e segurando o próprio peito no

435

436

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

caminho para o Gólgota, colina acima, pela ladeira íngreme e empoeirada. Ele
respirava cada vez com mais dificuldade, devido ao lento acúmulo de fluido ao redor
de Seus pulmões-condição médica chamada de efusão pleural, resultante do brutal
açoitamento. No Calvário, os soldados lançaram dados para disputar quem ficaria com
Suas vestimentas, e o vencedor descobriu que elas estavam grudadas às inúmeras
lacerações causadas pelo açoitamento. O soldado agarrou as vestes e arrancou as
violentamente. Jesus sentiu como se Seu corpo inteiro estivesse em chamas. A barra
horizontal da cruz foi depositada no chão e Jesus foi colocado sobre ela, com três
homens imobilizando-O; um deles, em cima de Seu peito. Isto trouxe uma dor terrível
e mais dificuldade para respirar, pelos danos causados às paredes da caixa
torácica, devido ao açoitamento. Jesus gritava em agonia. Enquanto os soldados o
seguravam, um prego grande e quadrado foi fincado através da palma de Sua mão, na
proeminência muscular localizada na base de Seu polegar. Ele soltou um grito de
fazer gelar o sangue de quem o ouvia. O prego penetrou no nervo mediano, causando
uma das piores dores que um ser humano pode sofrer, chamada causalgia. Durante a
Primeira Guerra Mundial, soldados que sofriam ferimentos no nervo mediano, devido a
estilhaços de granadas e bombas de fragmentação, entravam em choque profundo, se
não fossem medicados imediatamente. Apesar da exaustão, Jesus se contorcia e
lutava: a dor era insuportável e queimava como se um raio tivesse atravessado Seu
braço. A segunda mão foi pregada à trave da mesma maneira, fazendo com que Ele
desse outro berro de agonia. Jesus, então, foi forçado a ficar de pé, com Suas mãos
pregadas à barra. Seus joelhos dobraram. Dois soldados levantaram cada extremidade
da barra enquanto outros dois agarraram Jesus ao redor de Seu corpo. Então, eles
colocaram a barra no encaixe que havia sido escavado no topo da estaca. Enquanto
seguravam Jesus pela parte inferior de Seu corpo, dois membros do quaternio
dobraram Seus joelhos e forçaram Seus calcanhares contra a estaca, até que eles
ficassem firmemente apoiados à cruz. Um dos homens fincou um

A VIA-CRUCIS FORENSE: UMA MEDITAÇÃO

FIGURA 20-1

Desenho da crucificação. Ilustração bem precisa da posição do crucarius na cruz, na


qual o arqueamento do corpo alivia a pressão sobre os ombros e as pernas.
Ilustração do artista Bruce Drummond.

437

prego em cada pé, enquanto um outro homem mantinha-os seguros desamparaste?"


(Marcos 15:34). Depois de várias horas de agonia insuportável na cruz, Jesus clamou
em voz alta: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!". E, tendo dito isto,
expirou. (Lucas 23:46).
sobre a cruz. A dor era excruciante, e novamente Jesus gritou em agonia. Ele estava
completamente exausto, com falta de ar e sofrendo dores terríveis. Sua língua
grudou-se ao céu da boca, que estava repleta de muco espesso. O suor porejava de
todo o Seu corpo, deixando-O encharcado e Seu rosto assumiu uma coloração pálida e
amarelada. Sua respiração tornou-se menos profunda e mais rápida, e fortes cäibras
dominaram Suas panturrilhas. Isto obrigou-Lhe a contorcer-se, curvar e arquear Seu
corpo para tentar estender as pernas e aliviar as cãibras. As dores eram profundas
e dilacerantes, como se uma corrente elétrica atravessasse seus braços e pernas,
irradiando-se dos pregos nas mãos e nos pés; através de seu rosto, pela irritação
causada pelos espinhos da coroa; as dores excruciantes do açoitamento, o grande
impacto recebido sobre os ombros, as cãibras intensas nas panturrilhas e a sede
extrema uniram-se para causar uma sinfonia de dores implacável. "Eloí, Eloí, lamá
sabactani?, que quer dizer "Deus meu, Deus meu, por que me

Referências Bibliográficas

Abegaz, B. M., B. T. Ngadjui, M. Bexabih & L. K. Mdee. 1999. "Novel Natural


Products From Marketed Plants of Eastern and Southern Africa" Pure Applied
Chemistry, 71:919-926, Accetta, J. S. 1977. "X-ray Fluorescence Analysis and
Infrared Thermography with Applications to the Shroud of Turin. Proceedings of the
1977 United States Conference of Research on the Shroud of Turin. Colorado Springs,
110-23. Esophus, NY: Shroud Guild.

. 1980. "Infrared Reflectance Spectroscopy and Thermographic Investigations of the


Shroud of Turin." Applied Optics 19: 1921-1929. Accetta, A. D., K. Lyons & J.
Jackson. 1999. "Nuclear Medicine and Its Relevance to the Shroud of Turin.
Proceedings of the 1999 Shroud of Turin International Research Conference.
Richmond, Virginia, 1999, 3-9. Glen Allen, VA: Magisterium

Accetta, J. S. & J. S. Baumgart

Press. Adams,

F.O.& A. Sindon. 1982. Layman's Guide to the Shroud of Turin. Tempe, AZ: Synergy
Books Adams, L. D. & J. Hope. 1966. "Nervousness, Anxiety and Depression." In
Principles of Internal Medicine, ed. J. R. Harrison, R. Adams, L. Bennett, Jr., W.
Resnik, W. G. Thorn & M. M. Wintrobe. New York: Blakiston Division, McGraw-Hill.

Adler, A. 1984. Personal Correspondence,

November 5, 1984. Adler,

A. 1996. "Updating Recent Studies on the Shroud of Turin." Archaeological


Chemistry: Organic, Inorganic and Biochemical Analysis, ed. M.V. Orna, ACS
Symposium Series 625: 223-228 Adler, A. 1997. "Concerning the Side Strip on the
Shroud of Turin." Actes Du Ill Symposium Scientifique International Du CIELT, Nice,
May 12-13, 1997. 103-105.

Adler, A., A. Whanger & M. Whanger. "Concerning the Side Strip on the Shroud of
Turin." Adler, A., 1999. The Nature of the Body Images on the Shroud of Turin.
Richmond, Virginia, 19-29, Glen Allen, VA: Magisterium Press.

Adler, A. 2000. The Shroud Fabric and the Body Image: Chemical and Physical
CharacteristicsIn The Turin Shroud: Past, Present and Future. Ed. S. Scannerini and
P. Savarino [Int. Scientific Symposium, Torino Mar. 2-5, 2000], 51-73. Torino,
Italy: Effata

. Editrice. Adler,
A. 2000. Chemical and Physical Characteristics of the Blood Marks. In The Turin
Shroud: Past, Present and Future. Ed. S. Scannerini and P. Savarino [Int.
Scientific Symposium, Torino Mar. 2-5, 2000), 219-233. Torino, Italy: Effata
Editrice.

The Blood Images on the Holy Tunic, the Cloth of Oviedo and the Turin Shroud. In
The Shroud of Turin, Unraveling the Mystery, Proceedings of the 1998 Dallas
Symposium, Dallas, TX, ed. A. Adler, L. Piczek, and M. Minor. Alexander, NC:
Alexander Books. Adler, A., R. Selzer & F.

Adler, A. 2001.

2001. "Further Spectroscopic Investigations of Samples of the Shroud of Turin." In


The Shroud of Turin, Unraveling the Mystery, Proceedings of the 1998 Dallas
Symposium, Dallas, TX, ed. A. Adler, L. Piczek, and M. Minor: 166-181.

DeBlase. Adler, A.

2002. "The Orphaned Manuscript, A gathering of Publications on the Shroud of


Turin." Shroud Spectrum International Special Issue, 1 Edition, ed. D. Crispino.
Agreda, M. 1971. The Mystical City of God, Washington, NJ: Ave Maria Institute.

Amnesty International. 1995. SUDAN, The Tears of Orphans. New York: John Lucas
Printing Allen, N. P. L.. 1993. "Is the Shroud of Turin the First Recorded
Photograph?." The South African Journal of Art History 11:23-32.

440

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Allen, N. P. L. Verification of the Nature and Causes of the Photo-negative Images


on the Shroud of Lirey-Chambery-Turin. Images on the Shroud of Turin.
<http://www.shroud.com>. Allen, N. P.L., 2001. How Leonardo Did Not Fake the Shroud
of Turin. <http://www.petech.ac.za/ shroud/Leonardo.htm>.

Anderson, W.A.D. & J.M. Kissane. 1997. Pathology. St. Louis, MO:C.V.Mosby.

1982. "Dibattito Sulla Morta. Fisica Di Gesu." Sindon: 11-18.

Angelino, P. E. & M. Abrata. Antonacci, M. 1999. The Resurrection of the Shroud.


New York: M. Evans & Company, Inc. Arcis, P. Memorandum of Peter d'Arcis to Anti-
Pope Clement VII. (manuscript c. 1389) Collection de Champagne 154: 138. Paris:
Bibliotheque Nationale.

Asche, G. 1996. "What Sort of Picture." Sindon: 15-19.

Avis, C., D. Lynn, J. Lorre, S. Lavoie, J. Clark, E. Armstrong & J. Addington.


1982. "Image Processing of the Shroud of Turin." Proceedings of the International
Conference on Cybernetics and October, 1982, Seattle, Washington.

Babinet, R. 1996. "La Profession de Foi en Jésus-Christ des Derniers Templiers." La


Pensée Catholique 281:49-74.

Society,

Bahrdt, K. "Ausführung des Plans und Zwecks Jesu". In Briefen an Wahrheit suchende
Leser (11 vols. 1784-92). Berlin: August Mylius.
Baigent, M., R. Leigh & H. Lincoln. 1983. Holy Blood, Holy Grail. New York: Dell
Publishing Co. Ball, D. A., 1989. "The Crucifixion and Death of a Man Called
Jesus." Journal of the Mississippi State Medical Association 30(3):77-83.

Ballosino, N. 2000. Computer Processing of the Body Image. In The Turin Shroud:
Past, Present and Future. Ed. S. Scannerini and P. Savarino, 111-124. Torino,
Italy: Effata Editrice.

Barasch, M. 1979. "The Scientists and the Barberis, B. & P. Savarino. 1998. Shroud,
Carbon Dating and Calculus of Probubilities. London (UK): St. Paul's

Shroud." Catholic Digest (Apr.): 100-109.

Barbet, P. 1937. Les cinq plaies du Chris, 2nd ed. Paris: Procure du Carmel de
l'Action de Graces. Barbet, P. 1963. Doctor at Calvary. New York: Image Books.

Barnes, A. S. 1934. The Holy Shroud of Turin. London: Bums, Oates, and Washbourne.
Barrett, J. 1996. Science and the Shroud, Microbiology Meets Archaeology in a
Renewed Quest

for Answers. Univ of Texas Health Science Center, The Becker, A. E. & J. P. van
Mantoem. 1975. "Cardiac Tamponade: A Study of 50 Hearts." European Journal of
Cardiology 3:319-358.

Mission 23, San Antonio, TX:6-11.

Bedini, D. B. 1956. The Sessorian Relics of the Passion of Our Lord. Rome:
Tipografia Pio X Via Etruschi Imprim.

Bella, F. & C. Azzi. 2002. "C-14 Dating of the "Titulus Crucis." Radiocarbon
Journal 44:685-9. Belyakov, A. 1996. Prospects of Research of the Turin Shroud in
Russia. Appeared on <www.shroud.com/belyakov.htm>.

Benford, M. S. & J. G. Marino. Historical Support of a 16th Century Restoration in


the Shroud C-14 Sample Area. <http://www.shroud.com/pdfs/histsupt.pdf>-92k, 2002-
08-13. Benford, M. S. & J. G. Marino. Textile Evidence Supports Skewed Radiocarbon
Date of Shroud

of Turin. <http://www.shroud.com/pdfs/textevid.pdf>-73k-2002-08-23. Benford, M. S.


& J. G. Marino. 2004. "Did C-14 Dating Bury the Shroud of Turin." Phenomena
(Jan./Feb.) vol. 1-2:52-55.

Berosma, S. 1948. "Did Jesus Die of a Broken Heart?" Calvin Forum 14: 196-197.
Bianchi, V. 1926. "Sudor Sanguigno e Stigmate religiose." Arch. Di Anthropol. Crim.
46: 152-75. Bishop, J. 1957. The Day Christ Died. New York: Harper & Row. Blinzler,
J. 1966. The Process of Jesus. Brescia: Paidia.

Bloomquist, E. R. 1964. "A Doctor Looks at Crucifixion." Christian Herald 35: 46-
48. Bocca, M., A. Messina & V. Salvi. 1978. "Revisione critica, anatomica sulle
lesioni delta mano e del polso dell'Uomo delta Sindone." Second International
Congress, The Shroud and Science, Turin, Italy, Oct. 7-8, 1978.

Bollone, B. 1978. "Rilievi e considerazioni medico legali sulla formazione delle


immagini sulla Sindone." Second International Congress. The Shroud and Science,
Turin, Italy, October 7-8, 1978

BIBLIOGRAFIA
Bollone, B., M. C. Jorio & M. Massaro, 1983. "Identification of the Group of the
Traces of Human Blood on the Shroud." Shroud Spectrum International 2:26.

Bollone, B., 1997. Sepoltura

del Messia e Sudaria di Oviedo. Torino: Societa Editrice Internazionale. Bollone,


B. 2000. "The Forensic Characteristics of the Blood Marks." In The Turin Shroud:
Past, Present and Future, ed. S. Scannerini and P. Savarino [Int. Scientific
Symposium, Torino Mar. 2- 5,2000], 209-218. Torino, Italy: Effata Editrice.

Bollone, B. 2000. "Images of Extraneous Objects on the Shroud." In The Turin


Shroud: Past, Present and Future, ed. S. Scannerini and P. Savarino (Int.
Scientific Symposium, Torino Mar. 2-5, 2000], 125-135. Torino, Italy: Effata
Editrice. Bonnain

, R. 1888. "Sudoreme Pernicieuse." Poitou Medicine 3:

Borkan, M. "Ecce Homo? Science and the Authenticity of the Turin Shroud." Vertices,
the Duke Unia Magazine of Science Technology and Medicine 10:18-51.

495-500.

Bortin, V. 1980. "Science and the Shroud of Turin." Biblical Archaeologist 43:109-
117. Brandone, A. 1978. "Uanalisi per attivazione neutronica nello studio delta
Sindone di Torino." In the Second International Congress, The Shroud and Science.
Turin, Italy, Oct. 7-8, 1978. Braunwald, E., K. J. Isselbacher, R. G. Petersdorf,
J. D. Wilson, J. B. Martin, & A.

S. Fauci. 1987. Harrison's Principles of Internal Medicine. New York: McGraw-Hill.


Brent, O. & D. Rolfe. 1978. The Silent Witness. London:

Brewer, L., A. Burbank, B. Sampson, P. C. and C. A. Schiff. 1946. "The Wet Lung in
War Casualties." Archives of Surgery 123: 343. Broeg,

Elemental Treatise of Practical Dermatology. Paris: Becker Publisher. Brooks, E.


H., V.D. Miller & B. M. Schwortz. 1978-81. The Turin Shroud, Contemporary Insights
to an Ancient Paradox - Worldwide Exhibition. Brown

L. 1907.

, D. The Da Vinci Code. New York:

Future.

Brown, R. E. 1994. The Physiological Cause of the Death of Jesus. In Death of the
Messiah. New York: Anchor Bible Reference Library. Brown

Doubleday.

, R. E. 1994.

The Death of the Messiah, Vol. I and II. New York: Doubleday. Bryant, V. Jr. 2000.
"Does Pollen Prove the Shroud Authentic?" Biblical Archaeology Review Archives
Bucklin, R. 1970. "The Legal and Medical Aspects of the Trial and Death of Christ."
Medicine, Science and the Law (Jan.): 14-26

Bucklin, R. 1958. "The Medical Aspects of the Crucifixion of Our Lord Jesus
Christ." Linacre Quarterly (Feb.): 1-10.
Bucklin, R. 1978. "The Pathologist Looks at the Shroud." In the Second
International Congress, The Shroud and Science. Turin, Italy, Oct. 7-8, 1978.

Bulst, W. 1957. The Shroud of Turin. Milwaukee, WI: Bruce.

Bulst, W. 1984. "Turiner Grabtuch und Exeoese heute." Biblische Zeitschrift vol.
28: 22-42. (Schoninah).

W. 1986. Neues zur Geschichte des Tuches. Biblische Zeitschrift vol 32:70-75.
(Schoninah). Bulst, W. 1986. "The Imprints of the Feet on the Shroud of Turin, a
Complex Problem." Personal Publication.

Bulst,

Bulst, W. 1986. "Some Considerations on the Genesis of the Body Image on the Shroud
of Turin." Shroud Spectrum International 19:214.

Bulst, W. & H. Pfeiffer. 1987. Dus Turiner Grabtuch Und Das Christusbild.
Frankfurt, Germany: Verlag Josef Knecht.

Shroud of Mystery." Science 81(2): 76-83. Buttrick, G. A., et al. (editors

Burden, A. 1981. "

). 1951. The Casorino

Interpreter's Bible, Nashville Abingdon: Coberbury Press. Camps, F. E. 1968. In


Gradwohl's Legal Medicine, 2nd ed. Baltimore: Williams & Wilkins Co. 345-51. Case,
T.W. 1996, The Shroud of Turin and the C-14 Dating Fiasco A Scientific Detective
Story. Cincinnati, OH: White Horse Press.

et al. 1995. "Reserva del Polimortismi del DNA Sulla Sindone e Sul Sudario del
Oviedo." Sindon 8:39-47.

Cazzola P. 1978. "Il Volto Santo e il Sudario di Cristo (plascanica) nell' arte
sacra russa." In the Second International Congress, The Shroud and Science. Turin,
Italy, Oct. 7-8, 1978.

441

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Centro Internazionale di Sindonologia, Osservazioni Alle Perizie Ufficiali sulla


santa Sindone, 1969-1976. Via S. Domenico, 28 10122 Torino.

Chambers, T. K. 1861. "On a Case of Bloody Sweat." Lancet 1: 207-209. Charrier, G.


1978. "Pollens under the Microscope." La Sindone, supplemento de La Stampa Torino.
Special Issue Aug. 27-Oct. 8.

Cherpillod, A. & S. Mouraviev. 1997. Apologie pour le Suaire de Turin par desex
scientifiques non Croyants Draveil, France: Myrmekia.

Cheshire, L. 1956. Pilgrimage to the Shroud. New York: McGraw-Hill.

Chifflet, J. J. 1964. De Linteis Sepulcralibus Christi. Antwerp: Servatoris Crisis


Historica. Wex Officina Planlinea
Chippendale, C. 1983. "Radiocarbon Comes of Age." New Scientist (July): 181-184.

Cicero. In Verrem Il:5,62-67.

Cinquemani, N. 1997. A Medical Inquiry Into the Crucifixion: The Double Images on
the Shroud of Turin. Rome: Ediazioni Giovinezza

Clark, C. C. P. 1890. "What Was the Physical Cause of the Death of Jesus Christ?"
Medical Record 38:543.

Colahan, C. 1994. The Visions of Sor Maria de Agreda: Writing, Knowledge and Power.
Tucson, AZ: University of Arizona Press.

Compri, G. 1998. La Santa Sindone (Japanese).

Condulmer, Piera. 1978. La Sindone (Testimone o Inganno). Torino: Codella Editore.


Tokyo: San Paolo Publishers.

Cook, C. 1981. "Coin of the Shroud of Turin." Coinage Magazine 17: 70-74.

Cooper, H. C. 1883. "The Agony of Death by Crucifixion." New York Medical Journal
8: 150-153. Coote, G. 1985. "Word from New Zealand on Electrical Discharge Image
Formation." Shroud News 29 (June): 7-8.

Craig, E. A. & Bresee, R. R. 1994. "Image Formation and the Shroud of Turin."
Journal of Imaging Science and Tecmology 34:59-67.

Crawley, G. 1967. "The Turin Shroud." British Journal of Photography (March


24,1967): 228-232. Crispino, D. Shroud Spectrum International 1-42 (Dec. 1981-Dec.
1993 and Special issue 2002).

Crowfoot, G. 1974. Methods of Hand Spinning in Egypt and the Sudan. Halifax:
Bankfield Museum. Culliton, B. J. 1978. "The Mystery of the Shroud of Turin
Challenges 20th-Century Science." Science 201 (July): 235-39.

Dalman, G. 1928. Arbeit und Sitte in Palestina. Vol. 2.

Daniels, R. A., Jr. & W. R. Cate., Jr. 1948. "Wet Lung-An Experimental Study."
Annals of Surgery 172:836.

Danin, A. 1997. "Pressed Flowers. Where did the Shroud of Turin Originate? A
Botanical Quest." Eretz Magazine 55 (Nov./Dec.): 35-37,69.

Danin, A. & U. Baruch. 1999. Floristic Indicators For the Origin of the Shroud of
Turin. In The Shroud of Turin, Unraveling the Mystery, Proceedings of the 1998
Dallas Symposium, 202-214. Alexander, NC: Alexander Books

Danin, A., A. D. Whanger, U. Baruch & M. Whanger. 1999. Flora of the Shroud of
Turin. St. Louis, MO: Missouri Botanical Garden Press.

Darier, G. 1930. Hematidrosis, Basis of Dermatology. Moscow-Leningrad Edition.


Davis, C. T. 1965. "The Crucifixion of Jesus. The Passion of Christ from a Medical
Point of View." Arizona Medicine (Mar): 183-187.

Delage, Y. 1902. "Le Linceuul de Turin." Revue Scientifique 4, 17:683-687. De


Cazales, A. 1904. The Sorrowful Passion of Our Lord Jesus Christ: From the
Meditations of Anne Catherine Emmerich, 20th ed. New York: Benziger Brothers.

De LaLaing, A. C. 1503. In "Collection des Voyages des Souverains des Pays Bas"
(quoted by Moroni & Van Haelstin Shroud News #11, Feb. 1997:69).

De Liso, G. Experimental Observation of Image of Formation on Line Cloth Soaked


with Aloe & Myrrh during Earthquakes. Yahoo Shroud Science Group Private Images and
Documents

De Rolandis, L. 1998. L'Imagine dal non conosciuto. Torino: Editrice Il Punto.

DeLorenzi, E. "Observations on the Patches and Darns in the Holy Shroud in E.


Doyle, Fr. M. Green, and V. Ossola." Report of Turin Commission on the Holy Shroud,
Turin, Italy: 108-123.

442

DeSalvo, J. A. 1984. "The Image Formation Process of the Shroud of Turin and Its
Similarities to Volkringer Patterns." Shroud Spectrum International 6:7-15.

DePasquale, N. P. & G. E. Burch. 1963. "Death by Crucifixion." American Heart


Journal 66:434. Derrett, J.D. M. 1982. The Anastasis: The Resurrection of Jesus as
an Historical Event. Shipston-on-Stour, England: P. Drinkwater Publishers.

& V. Miller. 1982. "Quantitative Photographs of the Shroud of Turin." Proceedings


of the International Conference on Cybernetics and Society. Institute of Electric
and Electronics Engineers. Diderot, D. 2000. Thoughts on the Interpretation of
Native and Other Philosophical Works, ed. S.D. Adams. Chicago: Paul and Company
Publishers.

Devan, D.

DiMaria, A. L. 1978. "Salutie commiato." Second International Congress, The Shroud


and Science. Turin, Italy, Oct. 7-8, 1978.

Dinegar, R. H. 1982. "The 1978 Scientific Study of the Shroud of Turin." Shroud
Spectrum International 1:3-12 Dozier, R.

1998. Far. New York: St.

Martin's Press.

Dunphy, J.E. & L. W. Wag, 1975, Surgical Diagnosis and Treatment. Los Altos, CA:
Lange Medical Publishing

1974. "Tic Douloureux." New York State Journal of Medicine (Aug): 1586-1594.
Edwards, W. D., W. J. Gabel & E. E. Hosmer. 1986. "On the Physical Death of Jesus
Christ." Journal of the American Medical Association 255: 1455-1463.

Ecker, A.

Egger, G. 1978. "Prova dell'autenticita delta Sindone

dal punto di vista delta storia dell'arte." Second International Congress, The
Shroud and Science. Turin, Italy, Oct. 7-8, 1978. Egidi, C.

, P. Grattoni & G. Quaglia. 1978. "Considerazioni sulla fotografia telemetrica di


una statua in relazione con le impronte delta sindone." Second International
Congress, The Shroud and Science. Turin, Italy, Oct. 7-8, 1978.

Ellis, R. A., W. Montagna & H. Fanger. 1958. "Histology and Cytochemistry of Human
Skin XIF: The Blood Supply of the Cutaneous Glands." Journal of Investigative
Dermatology 30: 137-45. Emmerich, A. C. 2004. Dolorous Passion of Our Lord Jesus
Christ. Rockford, IL: Tan Books. Enge, J., F. Zentralbl & F. Nervenh. 1919.

Blutschwitzen bei einer Hysterischen." Pchiat 33: 153-158. Enrie, G. 1933. La Sante
Sindone rivelata dalla fotografia. Turin, Italy: SEL Ercoline,

W., R. Downs, Jr. & J. Jackson. 1982. "Examination of the Shroud for Image
Distortions." Proceedings of the International Conference on Cylemetics and
Society. Institute of Electric and Electronics Engineers, October.

Etxeandia, J. L. C. 1978. "La Sindone: Devozione che unisce." Second International


Congress, The Shroud and Science. Turin, Italy, Oct. 7-8, 1978. Eusebius. The

Palestine, VIII: 8. Evanari, M. Personal Communication

Ecclesiastical History and the Martyrs of

, Oct. 10, 1964.

Fanti, G. & E. Marinelli. 2001. "A Study of the Front and Back Body Enveloping
Based on 3D information." Presented at Dallas Congress in 2001.

Fanti, G. & R. Maggiolo. 2004. "The double superficiality of the frontal image of
the Turin Shroud." Journal of Optics A: Pure and Applied Optics 6: 491-50.

Fasola, V. 1978. "Scoperte e studi archeologici dal 1939 ad oggi che concorrono ad
illustrate i problemi delta Santa Sindone di Torino." Second International
Congress, The Shroud and Science. Turin, Italy, Oct. 7-8,1978.

Ferri, L. 1978. La Sindone vista da uno sculture.

Rome: Editrice la Parola. Feuillet, A. 1978.

"Identification et la disposition

des linges tuneraines da la sepulture da Jesus d'apres les donnees do Quatrienne


Evangile." Second International Congress, The Shroud and Science. Turin, Italy,
Oct. 7-8, 1978.

Feuillet, A. 1982. "The Identification and the Disposition of the Funerary Linens
of Jesus' Burial According to the Data of the Fourth Gospel." Shroud Spectrum
International 4: 13-23. Filas, Francis L. 1981.

"Three-Dimensional Image Analysis Confirms Pontius Pilate

Coin on Shroud of Turin." News Release (June 11, 1981) Loyola University of
Chicago. Filas, E. J. 1984. The Dating of the Shroud of Turin from Coins of Pontius
Pilate. Youngstown, AZ:Cogan Productions.

BIBLIOGRAFIA

443

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Fiori, A. 1978. "Problemi e prospettive delta immagini ematologiche sulla sindone."


Second International Congress, The Shroud and Science. Turin, Italy, Oct. 7-8,
1978.

Foley, C. 1982. "Carbon Dating and the Holy Shroud." Shroud Spectrum International
1:25-27. Follain, J. 1999. "Jesus died of a Heart Attack." [regarding Bollone, B.,
The Last Days of Christ, Italy, 1999]
<http://www.cin.org/archives/apolo/199906/0265.html>

Fossati, L. 1986. "Copies of the Holy Shroud: Part I." Shroud Spectrum
International 12:7-23. Fossati, L. 1986. "Copies of the Holy Shroud: Parts II and
III." Shroud Spectrum International 13:23-39. Fount Religious Prayerbook Series,
1948. "The Lost Gospel According to Peter." In The Lost Books of the Bible and the
Forgotten Books of Eden. Cleveland, OH: Collins Publications. Frean, W. 1960. The
Winding Sheet of Christ: Vivid Witness for the Love and Suffering of Our Saviour.
Ballarat, Australia: Majellan Press.

Frei, M. 1978. "Ill passato delta Sindone alla luce delta palinologia." Second
International Congress, The Shroud and Science, Turin, Italy, Oct. 7-8, 1978.

Freze, M. 1989. They Bore the Wounds of Christ, the Mystery of the Sacred Stigmata.
Huntington, IN: Our Sunday Visitor Publ. Div.

Friedman, S. & P. D. White. 1944. "Rupture of the Heart in Myocardial Infarction.


Experience in a Large General Hospital." Annals Of Internal Medicine 21:778.

Friend, H. 1981. Flowers and Flower Lore. 2 vols, 1883. Rockport: Para Research.

Fries, T. M. 1907. "Bref och skrifvelser af och till Carl von Linne", vol. 1: 273-
77. Fulda, H. 1878. Das Kreuz und die Kreuzigung. Eine antiquirische Untersuchung.
Silesia, Germany: Breslau Pub.

Fullerton, C. 1825. "1825 Article on Vicarious Menstruation". Citado em Anomalies


and Curiosities of Medicine, G. M. Gouls and W. L. Pyle. Philadelphia, PA: Saunders
Pub.

Gadshiev, R. G. & A. M. Listengarten. 1967. "About the Question of Hematidrosis."


Vestnik Dermatology and Venenology41:86-88

Garello, E. 1978. "Contributo Enigmologico su Alcune Nuove ipotesi sulla.


veridicita Della SS: Sindone Di Torino." In Occasione dell'Ostensione del 1978
Collana di Enigmologia No. 1, Edizioni 49, Flauto Magico, Torino.

Garcia-Valdes, L.. A. 1993. Scientific Analysis of the Shroud of Turin, Abstract


Texas Medieval Assn. Sept. 11, 1993.

Garcia-Valdes, L. A, E. K. Eskew, V. V. Tryon & S. J. Mattingly. 1995. Riggi di


Numana, Abstract I44, 95th Meeting of Am. Soc. For Microbiol. Washington, DC.

Garcia-Valdes, L. A. 1998. The DNA of God. New York: Doubleday.

Gentile, G. 1978. "Questioni d'iconografia e di cultura figurativa attorno alla


Sindone." Second International Congress, The Shroud and Science. Turin, Italy, Oct.
7-8, 1978.

Gharib, G. 1978. "La festa del Santo Mandilion nella chiesa bizantina." Second
International Congress, The Shroud and Science. Turin, Italy, Oct. 7-8, 1978.

Ghio, A. 1978. "La fotografia scientifica della Sindone." Second International


Congress, The Shroud and Science. Turin, Italy, Oct. 7-8, 1978.
Ghiberti, G. 2000. "The Gospels and the Shroud." In The Turin Shroud: Past, Present
and Future, ed. S. Scannerini and P. Savarino [Int. Scientific Symposium, Torino
Mar. 2-5, 2000], 273-284. Torino, Italy: Effata Editrice.

Ghiberti, G. 1982. La Sepoltura di Gesu, ed. P. Marietti. Rome: Piemme. Ghiberti,


G. Sindone le imagini 2002 Shroud Images, Editrice ODPF.

Gilbert R., Jr. & M. Gilbert. 1980. "Ultraviolet-visible reflectance and


fluorescence spectra of the Shroud of Turin." Applied Optics 19: 1930-1936.

Gillespie, R., et al. 1984. "Radiocarbon Measurement by Accelerator Mass


Spectrometry: An Early Selection of Dates." Archaeometry 26:1-27.

Goldblatt, J.S. 1982. "The Shroud." National Review (April 16): 415-419. Gonzales,
T. A., M. Vance, M. Helpem & C. J. Umberger. 1940. Legal Medicine Pathology and
Toxicology, 2nd ed. New York: Appleton-Century-Crofts

Gorman, R. 1960. The Last Hours of Jesus. New York: Sheed & Ward Ed.

Gould, S. E. 1960. Pathology of the Heart. Springfield, IL: Charles C. Thomas


Publisher.

444

BIBLIOGRAFIA

Gove, H. E. 1978. "On Carbon-14 Dating," Unscheduled lecture at the Second


International Congress, The Shroud and Science, Turin, Italy, Oct. 7-8, 1978.

Gove, H. E., S. J. Mattingly, A. R. David, & L.A. Garcia-Valdes. 1997. "A


Problematic Source of Organic Contamination of Linen." Nuclear Instr. Meth. in
Phys. Res. B 123: 504-507. Graves, R. & J. Podro. 1954. The Nazarene Gospel
Restored. New York: Doubleday. Gray, H. 1948. Anatomy of the Human Body. 25th ed.,
ed. C. M. Goss. Philadelphia, PA: Lea & Febiger. Green, M. 1969. "

Enshrouded in Silence." Ampleforth Journal 74:320-345. Greig, D. M. 1930. "The


Analogy of Black

Coloured Milk and Coloured Sweat." Edinburgh Medical Journal 37:524-44. Gruber E. R
& H. Kersten. 1998. Jesus starb nicht am Kreuz-Die Botschaft des Turiner Grabtuchs.
Munich: Langen Müller.

Colostrum to Melanhidrosis, with Some Remarks on

Guerreschi, A. The Turin Shroud and Photorelief Technique. <www.shroud.com/pdfs/


aldo2.pdf>.

Guillaud-Vallee, O. 1998. Le Linceuil de Turin: relecture critique des travaux


anatomiques. Ph.D. diss., Universite de Poitiers. Guscin

The Lutterworth Press. Guscin, M.

, M. 1998. The Oviedo Cloth, Cambridge:

The Sudarium of Oviedo: Its History and Relationship to the Shroud of Turin.
<http://www.shroud.com/guscin.htm>.

Haas, N. 1970. "Anthropological Observations on the Skeletal Remains from Giv'at ha


Mivtar." Israel Exploration Journal 20 (1-2): 38-59.

Haralick, R. M. 1983. Analysis of Digital Images of the Shroud of Turin. Monograph,


private printing, Spatial Data Analysis Laboratory. Virginia Polytechnic Institute,
Dec. Hart, W.P. 1875.

Case-Bloody Sweat." The Richmond and Louisville Medical Journal. Harvey, R.C. 1981.
Some Thoughts on the Shroud of Turin, Victoria, Texas Foundation for Christian
Theology.

"Remarkable

Hastings, J., ed. 1924. A Dictionary of Christ and the Gospels. New York: Charles
Scribner's Sons. Hegi, G. 1925. Illustrierte Flora von Mittel-Europa vol. 5, part
1. Berlin and Hamburg, Germany: Wissenschafts-Verlag.

P. 1893. "A Case of Hematidrosis or Sweating of Blood." Indian Medical Gazette


151:21-24. Heller, John H. & A. D. Adler. 1980. "Blood on the Shroud of Turin."
Applied Optics 19:2.742- 2.774.

Heller, J. H. & A. D. Adler. 1981. "A Chemical Investigation of the Turin Shroud."
Canadian Society Forensic Science Journal 14:81-103.

Heller, J. H. 1983. Report of the Shroud of Turin. Boston, MA: Houghton-Mifflin Co.
Hengel, M. 1977. Crucifixion in the Ancient World and the Folly of the Message of
the Cross. Philadelphia, PA: Fortress Press

Heras Moreno, J.D., J. D. Villalain Blanco & J. M. Rodriquez Almenar. 1998.


"Comparative Study of the Sudarium of Oviedo and the Shroud of Turin", transl. M.
Guscin. III Congresso Internazionale Di Studi Sulla Sindone Turin, June 5-7, 1998.
Herbst, K. 1992.

Kriminalfall Golgotha. Dusseldorf

Econ Verlag, Herodotus. 1952. The History of Herodoties, transl. G. Rawlinson.


Chicago: Encyclopedia Britannica. Hershey, J. 1946. Hiroshima. New York: Penguin.

, Germany:

Hesemann, M. "The Relic of the Titulus Crucis, A paleographic Analysis." Michael


Hesemann web site at <http://hesemann.ca/cross4.html>.

Hewitt, J. W. 1932. "The Use of Nails in Crucifixion." Harvard Theological Review


25: 29-45. Hewitt, J. W. 1943. "The Use of Nails in the Crucifixion." Hartund
Theological Review (Jan.): 29-45. Hill, R. G. 1896. "A Case of Bloody Sweat." Va.
Medical Monthly 1: 816-817. Hoare, R. 1978. The Testimony of the Shroud. London:
Quartet Books Hoare

, R. A. 1984. Piece of Cloth, The Turin Shroud Investigated. Ellingboro, England:


Aquarian Press. Hoare, R. 1995. The Turin Shroud is Genuine The Irrefutable
Evidence. London: Books Britain. Holoubek, J. E. & A. B. Holoubek. 1995. "Execution
by Crucifixion." Journal of Medicine 26: 1-16. Holoubek, J. E. & A.B. Holoubek.
1996. "Blood, Sweat and Fear, A Classification of Hematidrosis," Journal of
Medicine 27:115-133.

Hehir,

445
A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Holy Bible, Revised Standard Version. 1962. New York: World.

Hovas, E. L. 1984. "Does the Shroud of Turin Contradict the Bible?" Personal
publication, Apr. Horace. 1990. Satires Epistles ars Poetica, Cambridge, MA:
Harvard University Press. Humber, T. 1974. The Fifth Gospel: The Miracle of the
Holy Shroud. New York: Pocket Books. Hurst. J. W., R.B. Loque, D. E. Rackley, R. D.
Schlant, E. H. Sonnenblick, A. 6th ed. New York: McGraw-Hill.

Hutchins, G. M. 1985. "Body Temperature Is Elevated in the Early Postmortem


Period." Human Pathology 16: 560-561.

Hutchins, M. B. 1893. "Hematidrosis, Bloody Sweat and Bloody Stigmata etc."


International Clinics Philadelphia 3:346-351.

Hyde, J. H. 1897. "A contribution to the study of Bleeding Stigmata." Journal of


Cutaneous and Genitourinary Disease 15:557-570.

Hynek, R. W. 1936. Golgotha-Wissenschaft und Mystik. Eine medizinisch-apologetische


Studie über das beilige Grablinnen von Timin. Karlsruhe, Germany: Badenia Verlag,
Hynek, R. W. 1951. The True Likeness. New York: Sheed & Ward.

Iannone, J. C. 1998. The Mystery of the Shroud of Turin. Alba House.

Insinger, E. J. 1986. "A True Copy of the Shroud in Summit, New Jersey." Shroud
Spectrum International 20:25-27.

Irenaeus. St. 1992. Adversus Haereses in Ancient Christian Writers, ed. D. Unger
et. al. Mahwah, NJ: Paulist Press.

Jackson, J. P. & E. J. Jumper. 1978. "What Space Science Detects in the Shroud."
Second International Congress, Science and the Shroud, Turin, Italy, Oct. 7-8,
1978.

Jackson, J. P., E. J.Jumper & D. Devan. 1997. "Investigations of the Shroud of


Turin by Computer Aided Analysis. Proceedings of the 1977 United States Conference
of Research on the Shroud of Turin, Colorado Springs: 74-94.

Jackson, J. P., E. Jumper & B. Mottern. 1977. "The Three-Dimensional Image on


Jesus' Burial Cloth", ed. K. Stevenson. Proceedings of the 1977 Conference of
Research on the Shroud of Turin, Colorado Springs: 190-96.

Jackson, J. P., E. J. Jumper & W. Ercoline. 1984. "Correlation of Image Intensity


on the Turin Shroud with the 3-D Structure of Human Body Shape." Applied Optics 23:
2.224-2.270. Jackson, J. P. 1988. "The Radiocarbon Date and How the Image Was
Formed on the Shroud." Shroud

Spectrum International #28-29 (Sep./Dec.): 2-12.

Jackson, J.P.E. Arthurs, L.A. Schwalbe, R. M. Sega, D. E. Windisch, W. H. Long & E.


A. Stappaerts. 1988. "A New Tool for Cellulose Degradation Studies."

Jackson, J. P., K. E. Propp & D. R. Fornof. 1999. "A Scientific Evaluation of the
Shroud's Radiocarbon Date." In Proceedings of the 1999 Shroud of Turin
International Research Conference, Richmond, Virginia, 19-29. Glen Allen, VA:
Magisterium Press.
Jackson, J. P. 2000. "The Shroud and the Scientific Method." In The Turin Shroud:
Past, Present and Future. Ed. S. Scannerini and P. Savarino [Int. Scientific
Symposium, Torino, Mar. 2-5, 2000], 149-161. Torino, Italy: Effata Editrice.

Jackson, J. P. 1999. "On the Scientific Validity of the Shroud's Radiocarbon Date."
In Proceedings of the 1999 Shroud of Turin International Research Conference,
Richmond, VA, 283-301. Glen Allen, VA: Magisterium Press.

Jackson, J. P. 1991. "An Unconventional Hypothesis to Explain All Image


Characteristics found on the Shroud Image", ed. A. Berard. In Symposium Proceedings
History, Science, Theology and the Shroud, St. Louis, MO, June 22-23, 1991.
Amarillo, Tex: Priv. Publ.

Jackson, J. P. & K. E. Propp. Comments on Rogers "Testing the Jackson Theory' of


Image Formation. <http://www.shroud.com/pdfs/jacksonpropp.pdf>. Janney, D.H. 1977.
"Computer-Aided Image Enhancement and Analysis." In Proceedings of the 1977

United States Conference of Research on the Shroud of Turin, Colorado Springs: 146-
53. Janney, J. 1981. "Shroud of Turin Study. Scientists say image is that of
'Crucified' Man." Associated Press Service, October 10, 1981.

Jennings, J. A. 1983. "Putting the Shroud to Rest." The Christian Century 100: 552-
554.

446

BIBLIOGRAFIA

Jetter, W. W. & P.D. White. 1944. "Rupture of the Heart in Patients in a Mental
Institution." Annals of Internal Medicine 21:783-802.

Johnson, C. D. 1978. "Medical and Cardiological Aspects of the Passion and


Crucifixion of Jesus. The Christ Bulletin Association Medicine 70:97-102 Josephus,
B. J. Jewish War 7:203.

Judica Cordiglia, G. 1974. L'Uomo della Sindone e il GESU del Vangeli. Brescia,
Italy: Edito dalla fondazione P. A. Pelizza di Chiari.

Judica-Cordiglia, G. 1954. "La sepoltura di Gesu e la sacra sindone." Salesianum


16: 153-57, Judovich, B. & W. Bates, 1950. Pain Syndromes. Philadelphia, PA: F. A.
Davis Co., Publishers. Jull, A. J.T., D. J. Donahue, and P. E. Damon. 1996.
"Factors Affecting the Apparent Radiocarbon Age of Textiles." Journal of
Archaelogical Science 23 (Jan.): 157-160. Jumper

1977. "Considerations of Molecular Diffusion and Radiation as an Image Formation


Process on the Shroud." Proceedings of the 1977 United States Conference of
Research on the Shroud of Turin, Colorado Springs: 182-89.

, E. J.

Jumper, E. J., A. D. Adler, J. P. Jackson, S. F. Pellicori, J. H. Heller & J. R.


Druzik. 1984. "A Comprehensive Examination of the Various Stains and Images on the
Shroud of Turin." Archaeological Chemistry III, n. 205: 447476.

Jumper, E. J. & R. W. Mottern. 1980. "Scientific Investigation of the Shroud of


Turin." Applied Optics 19:1909-1912.

Jumper, E. J., K. Stevenson, Jr. & J. P. Jackson. 1978. "Images of Coins on the
Burial Cloth?" The Numismatist (Jul.): 1349-1357. Justinius. The

Dialogue with Trypho. XCI,2

Kaplan, E. 1953. Functional and Surgical Anatomy of the Hand. Philadelphia, PA:
Lippincott. Kauper, R.W. & F. Kennedy. 1996. The Book of Chivalry of Geoffroi de
Chamy: Text, Context and Translation. Philadelphia, PA: University of Philadelphia
Press. Keil, G. 1989. "Spongia somnifera." Anesthesia 38:643.

1956. The Bible as History. New York: William Murrow & Company. Kersten, H. & E. R.
Gruber. 1993. Het

Keller, W.

Jezeskomplot: Het bedrog rond de lijade in Turijn Deventer, Netherlands: Uitgeverij


AnkhHermes.

Kersten, H. 1994. Jesus Lived in India. Trad. Fida Hassnain. Bath, England: Gateway
Books King, E. A. 1941. Bible Plants for American Gardens New York: Macmillan.
Knight, B. 1996. Forensic Pathology. London: Arnold

Kohlbeck, J. A. & E. L. Nitowski. 1986. "New Evidence Explains Image on Shroud of


Turin." Biblical Archaeology Review 12: 1829.

Publ.

Kouznetsov, D.A., A. A. Ivanov & P. R. Veletski. 1996. Effects of Fires and


Biofractionation of Carbon Isotopes on Results of Radiocarbon Dating of Old
Textiles: The Shroud of Turin." Journal of Archaeology Science 23: 109122.

Kouznetsov, D.A. 1996. "Response to article criticizing Kouznetsov's article in


Letters to the Editor." British Society for the Turin Shroud Newsletter 42 (Jan.):
3235 Kraemer, H. C. 1992. "Lies,

Clinical Research (Fall): 712. Krupp, M. A., M. J. Chatton & L. M. Tierney, Jr.
1986 Current Medical Diagnosis and Treatment. 1986. Los Altos, Califórnia: Lange
Medical.

Damn Lies, and Statistics." In

Kunkle, C. E. 1963. "Trigeminal Neuralgia." Cecil

and Loeb's Textbook of Medicine, ed. P. Beeson and W. McDermott. Philadelphia, PA:
W. B. Saunders

Kugelberg, E. & U. Lindblum. 1959. "The Mechanism of the Pain in Trigeminal


Neuralgia." Journal of Neurology, Neurosurgery and Psychiatry 22:26 Lampe, E. W.

1957. "Surgical Anatomy of the Hand." Clinical Symposia 9:3-46. Lapp, R. E. & J. R.
Arnold. 1960. "Radiocarbon or Carbon-14." World Book Encyclopedia Q-R: 96.
Lattarula, F. "How a Seismoelectric Effect Can Explain

the Human Image on the Turin Shroud." <www.shroud.com>, Yahoo Shroud Science Group
Private Images and Documents. Lavergne, C. 1978. "Gia docente agli Instituti
Biblici di Gerusalemme Etude de Jean 19:25 a 20:18. Second International Congress,
The Shroud and Science. Turin, Italy, Oct.

7-8, 1978.
447

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Lavoie, B. B., G. R. Lavoie, D. Klutstein & J. Regan. 1981. "In Accordance with
Jewish Burial Custom, the Body of Jesus was not Washed." Sindon 30: 19-29.

Lavoie, G. R., B. B. Lavoie, VJ. Donovan & J. S. Ballas. 1983. "Blood on the Shroud
of Turin: Part II" Shroud Spectren International 8:2-8

Lavoie, G. R. 1998. Unlocking the Secrets of the Shroud. Allen, TX: Thomas More
Press. Lavsky, G. R. 1932. "Case of Hemorrhagic diathesis with Biblical
Hematidrosis." Sovetskaya Klinika 17:48-50.

LeBec, A. A. 1925. "Physiological Study of the Passion of Our Lord Jesus Christ."
The Catholic Medical Guardian 3: 126

LeBec, A. 1925. "The Death of the Cross, A Physiological Study of the Passion Of
Our Lord Jesus Christ." Catholic Medical Guardian (Oct.): 126-132.

Ledelius, S. 1683. "Sudor sanguineus. Misc Curiosa, Sive, Ephemaridum Medico-


Physicarum Germanicarum." Narimb Decuria 2: 63-64.

Leggat, R. 1997. A History of Photography from its beginnings till the 1920s.
<www.rleggat.com/ photohistory/index.html>.

LeGrande, A. 1938. La Passion Selon Le Saint-Suaire. Paris: Librarie du Carmel.

LeJeune, J. 1944. "Unfolding the Shroud." Catholic World Report (Jul.): 48-53.

Leroy, M. 1884. "De l'Hematidrose, Hematopedesi, Suers de Sang," Bulletin Medicine


du Nord 28: 127-138.

Lidell Scott. 1883. Greek-English Lexicon, 7h ed. New York: Harper Brothers.
Lipsius, J. 1614. De Cruce Libri tres, ad sacrum projanamque historiam utiles, 3
part, Tome III. Amsterdam: Opera Omnia Antwerp.

Little, K. 1978. "Photographic Studies of Polymeric Materials." In Photographic


Techniques in Scientific Research, III. Burlinton, MA: Academic Press, 145-269.

Little, K. 1997. "The Formation of the Shroud's Body Image." British Society for
the Turin Shroud #46: 34-39.

Livy. Liber XXXIII, 36.

Lombatti, A. 1997. Il Graal e la Sindone. Milan: Mondadori Publishing

Lorre, J. J. & D. J. Lynn. 1997. "Digital Enhancement of Images of the Shroud of


Turin." Proceedings of the 1977 United States Conference of Research on the Shroud
of Turin, Colorado Springs. Lovie, J. 1978. "La Saint-Suarie en Savoie." Second
International Congress, The Shroud and Science, Turin, Italy, Oct. 7-8,1978.

Lucanus. Pharsalia. Lib. VI, 547.

Lumpkin, R. 1978. "The Physical Suffering of Christ." Journal of the Medical


Association of the State of Alabama 47:8-10,47.

MacArthur, J. 2000. The Murder of Jesus. Nashville: Word Publishing.


Manor, M., A. Adler, L. Piczek, ed. 2002. The Shroud of Turin, Unnaveling the
Mystery: Proceedings of the 1998 Dallas Symposium. Alexander, NC: Alexander Books,

Marinelli, M. & E. Marinelli. 1998. "Proposals For the Shroud of Turin Preservation
and Exhibition." Collagamento pro Sindone (Jan/Feb): <www.shroud.com/colleg13.htm>.
Marfan, A. B. 1896. "Un Cas de deformation congenitale des quatre membres plus
prononcee

aux extremites characterisee par l'allongement des os avec un certain degree


d'amini cessement." Bulletin Memorial Society Medicine Hospital Paris 13:220.

Marino, J. G. & M. S. Benford. 2002. "Evidence for the Skewing of the C-14 Dating
of the Shroud of Turin Due to Repair." From Sindone 2000 Orvieto Worldwide
Congress, Orvieto, Italy. Maroni, M. & R. van Haelst. 1997. "Natural Factors
Affecting the Apparent radiocarbon Age of Textiles." Shroud News 100 (Feb): 69-71.

Mayer, J. K. 1932. "Die Erkrankungen der Schweissdrusen." In Jadassohn Handbuch de


Haut-u. Geschlechtskrank, vol. 13. Berlin: Springer.

McCown, T. M. 1977. "Cloth-Body Distance of the Holy Shroud." In Proceedings of the


1977 United States Conference of Research on the Shroud of Turin, Colorado Springs:
95-109. McCrone, W. C. "Authentication of the Turin Shroud." Proceedings of the
1977 United States

Conference of Research on the Shroud of Turin, Colorado Springs: 124-30

McCrone, W. C. & S. A, Skirius. 1980. "Light Microscopical Study of the Turin


Shroud." Reprinted from The Microscope 28 #34: 105-114.

448

BIBLIOGRAFIA

McCrone, W. C. 1981. "What We Found on the Turin Shroud and How We Found It."
Functional Photography 16: 19,20,30.

McCrone, W. C. 1978. "Current Look at Carbon Dating" La Sindone e la Scienza.


Valsusa, Italy: Lions Club Rivoli.

McCrone, W. C. 1986. "Shroud Image Is the Work of an Artist." The Skeptical


Inquirer 6: 35-36 McCrone, W. C. 1990. "The Shroud of Turin: Blood or Artist's
Pigments?" Accts of Chem. Res: 2377. Meacham, W. 1983. "The Authentication of the
Turin Shroud: An Issue in Archaeological Epistemology." Cent Anthropology 24:282-
311.

Meacham, W. 1986. "On Carbon

Dating the Turin Shroud." Shroud Spectrum International 19:15-25. Meacham, W. 1988.
Turin Shroud Dated to 200-1000 A.D. in Secret Testing, Press release 10/19/88.
Meacham, W. 2000. "Thoughts on the Shroud 14C Debate." In The Turin Shroud: Past,
Present and Future. Ed. S. Scannerini and P. Savarino [Int. Scientific Symposium,
Torino, Mar. 2-5, 2000], 441-454. Torino, Italy: Effata Editrice.

Meyer, K. E. 1971. "Were You There When They Photographed My Lord? Esquire (Aug.):
16-21. Mikulicz-Radeki, F. V. 1966. "The Chest Wound in the Crucified Christ."
Medical News 14: 30-40. Miller, V. C. & S. F. Pellicori. 1981. "Ultraviolet
Fluorescence Photography of the Shroud of Turin." Journal of Biological Photography
49(3) (Jul.): 71-85.

-Discharge Hypothesis for the Mechanism of Image Formation on the Turin Shroud." In
Proceedings of the British Society for the Turin Shroud, Autumn 1979, Summer 1981.
Mitchell, S. W., G. R. Morehouse & W. W. Keene. 1864. Gunshot Wounds and Other
Injuries of Nerves. Philadelphia, PA: J. B. Lippincott and Co. Mitchell

Mills, A. A. "A Corona

, W. 1880-83. "Case of Hematidrosis." Ohio Medical

Recorder 5:547-548. Moedder, H. 1948. "

Die Todersursache

Bei der Kreuzigung," Stimmer der Zeit 144 (Mar.): 50-59. Moldenke, H. N. & A. L.
Moldenke. 1952. Plants of the Bible. New York: Ronald Press Mole, R. H. 1948.
"Fibrinolysin and Fluidity of Blood Post Mortem." Journal of Pathology and
Bacteriology 60:430

Monheim, L. M. 1961. "Local Anesthesia and Pain Control." In Dental Practice, 2nd
ed. St. Louis, MO.C.V.Mosby Co.

Morano, E. 1978. "Aspetti ultrastrutturali al Microscopio ellectronico a scansione


di fibre della Sindone." Second International Congress, The Shroud and Science,
Turin, Italy, Oct. 7-8, 1978. Moreno, G., J.D. Villalain Blanco & J. M. Rodríguez
Almenar. 1998. "Comparative Study of the Sudarium of Oviedo and the Shroud of
Turin." In III

Congresso Internazionale Di Studi Sulla Sindone, Turin, 57 de junho, 1998


<www.shroud.com/heraseng.pdf>. Moretto, G. 1996. Sindone, La Guida Torino, Italy:
Editrice Elle Di Ci. Morgan, R. 1980. Perpetual Miracle Manly, Australia: Runciman
Press Morgan, R. 1983. Shroud Guide. Manly, Australia: Runciman Press.

Morgan, R. 1999. "The Greatest Secrets of the Catacombs? The Work Continues." In
Proceedings of the 1999 Shroud of Turin International Research Conference,
Richmond, VA, 109122. Glen Allen, VA: Magisterium Press.

Moroni, M. & R. van Haelst. 1997. "Natural Factors Affecting the Apparent
Radiocarbon Age of Textiles." Shroud News 100: 69-71 and
<www.Shroud.com/vanhelst.htm>. Moroni,

M., F. Barbesino & M. Bettinelli. 1999. "Possible Rejuvenation Modalities of the


Radiocarbon Age of the Shroud of Turin." In Proceedings of the 1999 Shroud of Turin
International Research Conference, Richmond, VA, 302320. Glen Allen, VA:
Magisterium Press. Moroni, M., F. Barbesino & M.

Bettinelli. The Age of the Turin Shroud. In The Turin Shroud: Past, Present and
Future Ed. S. Scannerini and P. Savarino [Int. Scientific Symposium, Torino Mar.
25, 2000, 515-522. Torino, Italy: Effata Editrice.

Mottern, R. W., J. R. London & R. A. Morris. 1980. "Radiographic Examination of the


Shroud of Turin-A Preliminary Report." Materials Evaluation 38:39-44 Mueller, M. M.
1986.

"The Shroud

of Turin: A Critical Appraisal." The Skeptical Inquirer 6: 15-33. Murdock, J.L., B.


A. Walker, B. L. Halpern, J. A. Kuzma & V.A. McKusick. 1972. "Life Expectancy and
Causes of Death in the Marfan Syndrome." New England Journal of Medicine 286-804.
Murphy, C. 1981. "Shreds of Evidence". Harper's (Nov.): 42-65.

449

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Naclerio, E. A. 1971. Chest Injuries, Physiological Principles and Emergency


Management. New York: Grune & Stratton.

Naveh, J. 1970. "The Ossuary Inscriptions from Giv'at ha Mivtar." Israel


Exploration Journal 20:33-37 Nickell, J. 1979. "The Turin Shroud: Fake? Fact?
Photograph?" Popular Photography 85 (Nov.): 97- 99,146, 147.

Nickell, J. 1980. "New Evidence: The Shroud of Turin Is a Forgery". Free Inquiry
(Summer): 28-30. Nickell, J. 1983. Inquest on the Shroud of Turin, Buffalo, NY:
Prometheus Books. Notovich, N. 1894. La vie inconnue de Jésus-Christ. Paris:
Ollendorf Publishers.

Notovich, N. 1895. The Unknown Life of Jesus Christ, transl. F. Marion Crawford.
New York: Macmillan.

Notovich, N., ed. 1987. Life of Saint Issa, Best of the Sons of Men in Elizabeth
Clare Prophet, The Lost Years of Jesus. Livingston, MT: Summit University Press.

O'Connell, P.&C. Carty, 1974. The Holy Shroud and Four Visions, Rockford, IL: Tan
Books. O'Rahilly, A. 1985. The Crucified, ed. J. A. Gaughan. Dublin, Ireland:
Kingdom Books. Orchard D. B., E. F. Sutcliffe, R. C. Fuller & D. R. Russell. 1953.
A Catholic Commentary on Holy .

Scripture. New York: Thomas Nelson & Sons

Otterbein, A. 1967. "A Brief Appreciation of the Holy Shroud." The New Catholic
Encyclopedia 12, 187-189. New York: McGraw-Hill.

Otterbein, A. 1977. "Introduction to the Shroud and State of the Question." In


Proceedings of the 1977 United States Conference of Research on the Shroud of
Turin, Colorado Springs: 1-9. Otlet, R. L. & J. Evin. 2000. The Present State of
Radiocarbon Dating, In The Turin Shroud: Past,

Present and Future. Ed. S. Scannerini and P. Savarino [Int. Scientific Symposium,
Torino Mar. 2- 5, 2000), 455-477. Torino, Italy: Effata Editrice.

Paleotto, A. 1598. Explicatione del Sacro Lenzuolo ove fu involto il Signore.


Rossi, Bologna Pellicori, S. F. & R. A. Chandos. 1981. "Portable Unit Permits
UV/Vis Study of 'Shroud"".

Reprinted from Industrial Research & Development (Feb. 23): 186-189.

Pellicori, S. with M. S. Evans, 1981. "The Shroud of Turin Through the Microscope."
Archaeology (Jan/Feb): 34-43.

Pellicori, S. 2000. Spectrophotometry of the Shroud: a critical review. In The


Turin Shroud: Past, Present and Future. Ed. S. Scannerini and P. Savarino [Int.
Scientific Symposium, Torino Mar. 2 5,2000), 101-110. Torino, Italy: Effata
Editrice.

Petrosillo, O. & E. Marinelli. 1998. La Sindone, Storia di un Enigma. Milano,


Italy: Rizzoli. Petrosillo, O. & E. Marinelli. 1996. The Enigma of the Shroud-A
Challenge to Science. San Gwann, Malta: Publ. Enterprises Gp Ltd.

Pia, S. "Photograph of the Holy Shroud by Electric Light." (from report appearing
in August 6,1898 Scientific American)

Pia, S. 1960. "Memoria sulla riproduzione fotografica de la santissima Sindone."


Reprinted in Sadon Pia, S. 1986. "Letter to Dr. Cavaliere Benedetto Porro, February
28, 1901." Shroud Spectrum International 18:7-11.

Pickl. 1935. Messiaskoenig Jesus. In der Auffassung seiner Zeitgenossen, 156-63.


Munich: Koesel-Puster Picknett, L. & C. Prince. 1994. The Turin Shroud: In Whose
Image? The Shocking Truth Unveiled. New York: Harper Collins.

Piczek, I. 1990. "The Technique of Encoustic (Punic) Wax Painting: Why the Shroud
could Not be an Encoustic Painting," Sources for Information and Material on the
Shroud of Turin, 1-2. Piczek, L. 1993. "Is the Shroud a Painting?" Summary of paper
at Rome International Symposium in 1993 and <www.shroud.com>, 1998.

Piczek, I. 1996. "Alice in Wonderland and the Shroud of Turin." The Proceedings of
the Esop Conference, reprinted on <www.shroud.com>.

Piczek, I. 1999. "The Professional Arts and the Principle and Practice of
Conservation-Restoration vs. The Turin Shroud." In The Shroud of Turin, Unraveling
the Mystery, Proceedings of the 1998 Dall Symposium, Dallas, 218-226. Alexander,
NC: Alexander Books

Pliny the Elder. Natural History, Book 19, 548 (A.D.77).

Plutarch. Moralia. De sera numinis vindicate, IX.

Pooley, J. H. 1884-5. "Bloody Sweat." The Popular Science Monthly 26: 357-365.

450

BIBLIOGRAFIA

Porter, A. M. 1991. "The Crucifixion." Letter to Editor, Journal of the Royal


College of Physicians, London 25(3): 271. Post, G.

E. & J.E. Dinsmore. 1932-3. Flora of Syria

, Palestine, and Sinai. Beirut, Lebanon: American University of Beirut, Natural


Science Service. Pozzo, A. 1934. "Cromidrosi rossa ascellare

legata a iniezioni di jode, bismutato di chinino." Giornale Veneto di Scienze


Medica 8: 486-489. Primrose, W.

B. 1949. "A Surgeon Looks at the Crucifixion." The Hibbert Journal 47: 382-88.
Reban, J. (Hans Naber). 1957. Inquest on Jesus Christ-Did He Die on the Cross
London: Leslie Frewin Rentoul, E. & H. Smith. 1973. Glaister's Medical
Jurisprudence and Toxicology, 13 ed., 155-63. Edinburgh and London: Churchill
Livingstone. Report of the

Turin Commission on The Holy Shroud

. 1976, London. Rhein, R. W.Jr. 1980. "The Shroud of Turin." Medical World News
20:40-50. Ricci, G. 1969. L'Uomo della sindonee Gesu. Rome: Studium. Ricci, G.
1989. L'Uomo Della Sindonee Gesu Diamo Le Prove. Vigodarzeri, Italy: Edizione
Carrocchio. Ricci, G. 1992. La Sindone Contestata, Difesa, Spiegata. Rome, Italy:
Collano Emmaus. Ricciotti, G. 1947. The Life of Christ, transl. Alba I. Zizzamia.
Milwaukee, WI: Bruce. Riecke, E. 1923. Hematidrosis. In Lehrbuch der Haut und
Geschlechtskrankheiten, 310. Jena. Rinaldi, P. M. 1934. "The Holy Shroud." Sign
XIII (Jun.): 685-688. Rinaldi, P. M. 1974. "I Saw the Holy Shroud." Sign LIII
(Feb.). Rinaldi, P. M. 1938. I Saw the Holy Shroud. Tampa, FL: Don Bosco Messenger.
Rinaldi, P. M. 1972. It Is the Lord. New York: Vantage Press. Rinaldi, P. M. 1982.
"On Disproving the Shroud of Turin." Our Sunday Visitor: 15-56. Robbins, S. L.
1974. Pathologic Basis of Disease. Philadelphia, PA: W. B.

Robbins, S. L.&R.S. Cotran. 1979. Pathologic Basis of Disease, 2 ed. Philadelphia,


PA: W. B. Saunders. Robbins, S. L., R. S. Cotran & V. Kumar. 1984. Pathologic Basis
of Disease. Third Ed. Philadelphia, PA: W.B.Saunders.

Saunders.

Robinson, J. 1978. "The Shroud and the New Testament." Second International
Congress, The Shroud and Science, Turino, Italy, Oct. 7-8 1978.

Robinson, J. A. T. "The Shroud of Turin and the

Grave Cloths of the Gospels." Proceedings of the United States Conference of


Research on the Shroud of Turin, Colorado Springs: 23-30. Rodante, S. "The

Genesis of the Shroud Imprints: Experimental Studies. In The Turin Shroud: Past,
Present and Future. Ed. S. Scannerini and P. Savarino [Int. Scientific Symposium,
Torino Mar. 2-5, 2000], 21-48. Torino, Italy: Effata Editrice.

Rogers, R. N. 1977. "Chemical Considerations

Concerning the Shroud of Turin." Proceedings of the 1977 United States Conference
of Research on the Shroud of Turin, Colorado Springs: 131-35. Rogers, R. N. 2003.
Comments on Benford-

Marino Hypothesis. Yahoo Groups: Shroud Science. Rogers, R. N. 2001. Comments on


the book, "The Resurrection of the Shroud" by Mark Antonacci
<http://www.shroud.com/pdfs/rogers.pdf>. Rogers

, R. N. 2002. The Chemistry of Autocatalytic: Processes in the Context of the


Shroud of Turin. Rogers, R. N. & A. Arnoldi. 2003. Scientific Method Applied to the
Shroud of Turin-A Review. Rogers, R. N. & Zugibe, F. T. The Rogers Zugibe
Collection; 86 Photomicrographs of Shroud of Turin Samples. Digitized and archived

Rogers, R. N. 2004. Pyrolysis Mass Spectrometry Applied to the Shroud of Turin.


<http:// www.shroud.com/pdfs/rogers4.pdf>.

by Barry M. Schwortz Feb. 2003.

Rogers, R. N. 2004. Frequently Asked Questions. <http://www.shroud.com/pdfs/


rogers5faqs.pdf>.

Rogers, R. N. 2004. Testing the Jackson theory of Image Formation.


<http://www.shroud.com/ pdfs/rogers6.pdf>.

Rogers, R. N. 2005. "Studies On The Radiocarbon Sample From The Shroud of Turin."
Thermochimica Acta 425: 189-194.

Roth, H.L. 1974. Ancient Egyptian and Greek Looms. Halifax, Canada: Bankfield
Museum. Rothman, S. & F. Schaaf. 1929. "Chemie der Haut." In Jadassohn, Handbuch
der Geshlechtskranke 1/2 161-377. Berlin: J. Springer.

451

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Rothman, S. 1954. Physiology and Biochemistry of the Skin. Chicago: University of


Chicago Press. Ruark, H. C. 1981. "The Continuing Search... New Findings Focus on
Shroud of Turin." Photography 16 (3): 18,30-39.

Functional Salvi, B. M. M. 1978. "Revisione critica anatomica sulle lesioni della


mano e del polso dell' Llomo della Sindone." Second International Congress, The
Shroud and Science, Turino, Italy, Oct. 7-8, 1978. Chromidrosis." Dermat, Wonschr
109: 806-812.

Sammaccia, B. & A. E. Burakowski. 1976. The Eucharistic Miracle of Lanciano.


Trumbull, CT: KubaSandhurt, B. G. "The Silent Witness." Unpublished manuscript from
the collection of Rev. Maurus Green, O.S.B.

Samberger, F. 1939. ".

Sava, A. 1957. "The Wound in the Side of Christ." Catholic Biblical Quarterly 19:
343-346. Sava, A. 1958. "The Blood and Water from the Side of Christ." American
Ecclesiastical Review 138:

Savio, P. 1986. "The Arrangement of the Sindon when It Unfolded the Body of
Christ." Shroud International 12:24-27.

341-345.

Spectrum Scannerini, S. & P. Savarino, ed. 2000. The Turin Shroud, Past, Present
and Future: Proceedings of the Scientific Symposion, Turino, Italy.

International Scavone, D. C. 1989, The Shroud of Turin: Opposing Viewpoints. San


Diego, CA: Greenhaven Press. Scavone, D. C. 2002. "A Hundred Years of Historical
Studies on the Turin Shroud." In The Shroud of Turin, Unraveling the Mystery,
Proceedings of the 1998 Dallas Symposium, ed. A. Adler, L. Piczek, and

M. Minor. Scavone, D. C. 2001. Book review of "The Turin Shroud: In Whose Image?"
<http:// www.shroud.com/scavone.htm>.

Alexander, NC: Alexander Books.

Schafersman, S. D. 1986. "Science, the Public and the Shroud of Turin." The
Skeptical Inquirer 6: 37-55.

Scheuermann, O. 1987. Das Tuch. Regensburg, Germany: Verlag Schoenfield, H. 1994.


The Passover Plot: A New Interpretation of the Life and Death of Jesus. London:
Element Books

Schwalbe, L. A. & R. N. Rogers, 1982. "Physics and the 1978 Investigation."


Analytica Chimica Acta 135: 3-49.

Chemistry of the Shroud of Turin - A

Summary of Schwerin, F. G. 1933. "Kreuzeholz und Domenkrone." In Mitteilungen der


Deutsche Dendrologische 45: 155-57.
Gesellschaft Schwortz, B. M. 1982. "Mapping of Research Test-Point Areas on the
Shroud of Turin." In IEEE, 1982 Proceedings of the International Conference on
Cybernetics and Society (Oct): 538-547. Proceedings of

Current Shroud Research." In Magisterium Examination

Schwortz, B. M. 1999. "The Role of the Internet in the 1999 Shroud of Turin
International Research Conference, Richmond, VA, 218. Glen Allen, VA: Press.

Schwortz, B. M. 2000. "Is the Shroud of Turin a Medieval Photograph? A Critical of


the Theory."Shroud.com. Presented at Orvieto Worlwide Congress, Sindone 2000
Orvieto, 27-29, 2000.

Italy, Aug, Scott, C. T. 1918. "A Case of Hematidrosis." British Medical Journal
(May 11): 532-533. Seneca. Dialogue 6(De consolatione ad Marciam) 20:3.

Shelley, W. B. & H. J. Hurley. 1952. "Methods of Exploring Human Apocrine Sweat


Gland Physiology. Archives Dermatology and Syphilology 6x 156-61. of the Human
Axillary Apocrine Sweat

Seneca. Moral Essays 111, 1.

Shelley, W. B. & H. J. Hurley. 1958. "The Physiology Gland" Archives Dermatology


and Syphilology 20:285-297. T. Gilat & E. Sohar. 1967. "Heatstroke: Its Clinical
Picture and Mechanism

Shibolet, S., R. Coll, Medicine, new series 36: 525-548.

in 36 Cases." Quarterly Journal of Shibolet, S., M. C. Lancaster & Ý. Danon. 1976.


"Heat Stroke: A Review." Aviation, Space and Environ. Med. 47:280-301.

Shroud of Turin Research Project. Symposium of Research London, Connecticut, Oct.


10-11, 1981. Dec. 1981-Dec.1993).

Shroud Spectrum International, ed. D. Crispino, Issues 1-42 (

Findings, Connecticut College, New

452

BIBLIOGRAFIA

Simpson, K. 1964. Forensic Medicine. London: Edward Arnold Publishers, Ltd.


Siliato, M. G. 1997. Sindone. Torino, Italy: Edizione Pemme.

Skinner, C. M. 1911. Myths and Legends of Flowers, Trees, Fruits and Plants in All
Ages and All Climes. Philadelphia, PA: J. B. Lippincott and Company.

Smith, J. 1878. Bible Plants, Their History, with a Review of the Opinions of
Various Writers Regarding Their Identification. London.

Smith, W., ed. 1865. A Dictionary of the Bible, Comprising Its Antiquities,
Biography, Geography and Natural History. Boston: Little, Brown, and Company.

Snedecor, S. T. 1973. "The Crucifixion-In the Eyes of a Physician." Reformed Church


Review Seuesumes of Reformed Church in America April, 1:89-94. "
Cristo." Second International Congress, The Shroud and Science, Turino, Italy, Oct.
7-8, 1978. Sox, H.D. 1978. "Bringing the Shroud to the Test." In Face to Face with
the Turin Shroud. New York: Oxford.

Sorgia, R. 1978. "La Sindone prova della morte e teste della Resurrezione di

Sox, H.D. 1978. File on the Shroud. New York: Coronet Books.

Sox, H.D. 1981. The Image on the Shroud, Is the Turin Shroud a Forgery? London:
Unwin Publications. Sox, H.D. 1988. The Shroud Unmasked: Uncovering the Greatest
Forgery of All Time. Basingstoke, United Kingdom: The Lampe Press.

Spinner, M. 1978. Injuries to the Major Branches of Peripheral Nerves of the


Forearm, seconded. Philadelphia, PA: W. B. Saunders.

Spitz, W.U.&R.S.Fisher. 1973, 1980. Medicolegal rustigation of Death, Springfield,


IL: Charles C. Thomas Stelwagon, H. W. 1916. A Treatise on Diseases of the Skin. 8
ed. Philadelphia, PA: Saunders. Stevenson, K. E. & G. R. Habermas, 1981. Verdict on
the Shroud. Ann Arbor, MI: Servant Books Stimpson, G. W. 1931. Popular Questions
Answered. New York: George Sully and Company, Inc. Stock, I. C. 1756. "Sadore
Christi Sanguineo." Marggrafianis: 1-8. Strauss, D. F. 1865. New Life of Jesus,
vol. 1. London, England: Williams and Norgate.

Strobel, L. 1998. "The Medical Evidence, Was Jesus' Death a Sham and His
Resurrection a Hoax?" In The Case for Christ. Grand Rapids, MI: Zonderian
Publishing

Stroud, W. A. 1874. Treatise on the Physical Cause of the Death of Christ. London:
Hamilton & Adams. Strub, C. G. & L.G. Frederick. 1970. The Principles and Practice
of Embalming, 4th ed. Dallas, TX: LG. Frederick.

Sullivan, B. M. 1973. "How in Fact Was Jesus Lain in the Tomb?" National Review
(July 20). Swan, G. & L. Sodeman. 1967. Pathological Physiology, 4 ed.
Philadelphia, PA: W. B. Saunders. Szodoray, L. 1948. "Heterotopic apocrine glands."
Orvosi betil. 4: 360.

Tamburelli, G. 1978. "The Shroud as Seen by Computer." La Sindone supplementide La


Stampa, Torino, Italy (Aug. 27-Oct. 8).

Tamburelli, G. 1980. "Riceca dell'impronta dell'ombelico nell' immagine Sindonica."


Sindone 29:33-37. Tamburelli, G. 1981. "Some Results in the Processing of the Holy
Shroud of Turin." Institute of

Electric and Electronic Engineers Transaction on Pattern Analysis and Machine


Intelligence PAMI-3(6) 17-24. Tamburelli, G. 1983. Studio delta Sindone mediante it
calcolatore elettronico. L'Elettrotechnica 70 (Dec.): 1.135-1.149.

Tamburelli, G. 1984. "Impronta Sindonica Della Monetina Rivelvata Dal Computer


Sindone." Sindone: 15-20

Tamburelli, G. 1978. "An Image Resurrection of the Man on the Shroud." Shroud
Spectrum International 15:3-6

Tedeschi, E. & C. Tedeschi. 1977. Forensic Medicine: A Study in Trauma and


Environmental Hazards, vols. 1-3. Philadelphia, PA: W. B. Saunders.

Tenney, S. M. 1964. "On Death by Crucifixion."American Heart Journal 68: 286-287.

Terrien, S. 1981. "The Clown at the King's Game." Lecture in Atlantic City, NJ,
March 26.

Thiede, C. P. & M. d'Ancona, 2002. The Quest for the True Cross New York: Palgrave.
Thiering, B. 1992. Jesus and the Riddle of the Dead Sea Scrolls Unlocking the
Secrets of His Life Story. New York: Harper Collins

Thomas, M. 1978-79. "The Shroud of Turin." Rolling Stone (Dec. 27-Jan. 11).

453

454

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

Thurston, H. 1903. "The Holy Shroud as a Scientific Problem." The Month, vol. CL
Thurston, H.J. & D. Atwater. 1980. Butlers Lives of the Saints, Christian Classics,
Vol. 1,259-60. New Doubleday.

York: 17:83-89.

." Archives der Heilkundle

Tittel, M. 1876. "Ein fall von HematidrosisTravis, J. 1995. "Microbes Muddle Shroud
of Turin's Age." Science News 147: 22. Trenn, T.J. 1996. "The Shroud of Turin: A
Parable for Modern Times." Journal of Interdisciplinary Studies 9:121-140.

Tribbe, F. 1983. Portrait of Jesus. New York: Stein and Day.

Tyrer J. 1971. "Notes upon the Turin Shroud as a Textile." General Report and
Proceedings of the British Society for the Turin Shroud (Summer 1971).

Tyrer, J. 1983. "Looking at the Turin Shroud as a Textile." Shroud Spectrum


International 6: 35-45. Tzaferis, V. 1970. "Jewish Tombs at and Near Giv' at ha
Mivtar." Jerusalem Israel Exploration Journal 20:

18-32 Tzaferis, V. 1985. "Crucifixion, The Archaeological Evidence." Biblical


Archaeology Review 11:44-53. Van Biema, D. 1998. "Science and the Shroud." Time
Magazine, April 20, 1998, 53-61.

Van Haelst, R. 1991. "Radiocarbon Data Indeed Manipulated." Shroud News : Van
Haelst, R. Radiocarbon Dating the Shroud: A Critical Statistical Analysis.
<www.shroud.com/ vanhek3.htm>.

685.

Van Haelst, R. 1999. "The Shroud of Turin and the Reliability of the 95% Error
Confidence Interval. In Procedings of the 1999 Shroud of Turin International
Research Conference, Richmond, VA, , VA: Magisterium Press.

52-68. Glen Allensweat)." International Clinics 2:332-340

Van Harlingen, A. 1876. "Hematidrosis (bloody Cloth of the Holy Shroud: A Technical
Product Analysis of the Cloth and its

Vercelli, P. 2000. "The Reproduction With Similar Characteristics" In The Turin


Shroud: Past, Present and Future. Ed.S. Scannerini and P. Savarino [Int. Scientific
Symposium, Torino Mar. 2-5, 2000), 169-175. Torino, Italy: Effata Editrice. , C.
2.5, 165 and 2.5, 167.
VerresVikan, G. 1988. "Debunking the Shroud Made by Human Hands" Biblical
Archeology Review 23:27-29. Vignon, P. 1938. Le Saint Suaire De Turin, devant la
Science, l'archeologie, l'histoire, l'iconographic, la logique. Paris: Masson et
Cie, Editeuri Saint Germaine Blvd.

Vignon, P. 1970. The Shroud of Christ. New Hyde Park, NY: University Books. Vignon,
P. & E. Wuenschel. 1937. "The Problem of the Holy Shroud." Scientific American 93:
162-64. Volckringer, J. 1942. Le Probleme des empreintes devant de la science.
Paris: Libraire de Carmel. Wacks, M. 1982. "Shroud of Turin Numismatic Controversy,
The Augur." Journal of Biblical

Numismatic Society 35: 137. House.

Walsh, J. 1963. The Shroud. New York: Random

Wassenar, R. A. 1979. "Physician Looks at the Suffering Christ." Moody (Mar): 41-
42. Weaver, K. 1980. "The Mystery of the Shroud." National Geographic 157:730-753.
Webb, C. 1977. "Scientific Photography and the Shroud of Turin." Proceedings of the
United States Conference of Research on the Shroud of Turin, Albuquerque, NM, March
23-24, 1977: 18-24.

Wedenisson, U. 1978. "Considerazioni ipotetiche sulla cause fiscia della morte


dell' Rome, della Whanger, A. & M.

sindone." Second International Congress, The Shroud and Science, Turin, Italy, Oct.
7-8, 1978. Weyland, P. "Some Problems Connected with Crucifixion." Unpublished
essays. Weyland, P. 1954. A Sculptor Interprets the Holy Shroud of Turin. Esopus,
NY: The Holy Shroud Guild Whanger. 1985. "Polarized Image Overlay Technique: A New
Image

Comparison Method and Its Applications." Applied Optics 24:766-772 Whanger, A. & M.
Whanger. 1998. The Shroud of Turin: An Adventure of Discovery, Franklin, TN:
Provident House Pub.

Whitaker, J. R. 1935. "The Physical Cause of the Death of Our Lord." Catholic
Medical Guardian

White, J. & W.Sweet. 1955. "Facial and Cephalic Neuralgias: Trigeminal neuralgia
(Tic Douloureus, Trifacial Neuralgia)." In Pain: Its Mechanism and Neurosurgical
Control. Springfield, Ohio: Charles C. Thomas Publishers: 433-37.

83-91.

BIBLIOGRAFIA

Wiebe, RH. 2000. "Design in the Shroud of Turin." Worldwide Congress, Sindone 2000,
Orvieto, Italy, Aug, 27-29. <http://www.shroud.com/pdfs/wiebe.pdf.> Wilcox, R.K.
1977. Shroud. New York: Macmillan.

Wild, R. A. 1984. "The Shroud of Turin. Probably the work of a 14th Century Artist
or Forger." Biblical Archaeology Review 100: 30-46

Willis, D. 1969. "Did He Die on the Cross?" Ampleforth Journal 74: 27-39.

Willis, D. 1970. False Prophet and the Holy Shroud, 557-569. London: Tablet.

Wilson, L. 1973. "A Gift to Our Proof-demanding Era?" Catholic Herald (Nov. 16).
Wilson, I. 1978. "New Insights in the History of the Holy Shroud." Second
International Congress, The Shroud and Science, Turin, Italy, Oct. 7-8, 1978.

Wilson, L. 1979. The Shroud of Turin, the Burial Cloth of Jesus Christ? Garden
City, NY: Lange Books Wilson, L. 1989. Stigmata. San Francisco, CA: Harper and Row.
Wilson, L. 1998. The Blood and the Shroud. London

: The Free Press.

Wilson, L. 2000. "Questions on the Shroud's Early History That New Conservation-
Minded Digital Imaging Spectroscopy Technology May Help Us Answer." In The Turin
Shroud. Past, Present and Future. Ed. S. Scannerini and P. Savarino. [Int.
Scientific Symposium, Torino Mar. 2- 5, 2000], 431438. Torino, Italy: Effata
Editrice.

Wilson, L. & B. Schwortz. 2000. The Turin Shroud. London: Michael O'Mara Books,
Ltd. Whinston, W. 1987. Works of Flavius Josephus. New York: W. J. Burt Co.
Wuenschell, E. A. 1937. "The Photograph of Christ." Parx 15: 11215.

Ytrehus, K. 2002. "Var Jesus dod etter korfestelsen? (Was Jesus dead after the
crucifixion?)" Tidsker Nor Laegeforen 122 (8): 833.

Ytrehus, K. 2002. "K. Ytrehus responds to comments by Jan Norum, Stein Olsson and
G. Grader." Tidsker Nor Laegeforen 10: 122.

Yudin, S. S. 1937. Lancet 2:361.

Zaccone, G. M. 2000. "The Shroud From the Charnys to the Savoys." In The Turin
Shroud: Past, Present and Future. Ed. S. Scannerini and P. Savarino (Int.
Scientific Symposium, Torino Mar. 2- 5, 2000], 101-110. Torino, Italy: Effata
Editrice.

Zaccone, G. M. 2001. The Two Faces of the Shroud. Pilgrims and Scientists Searching
for a Face Torino, Italy: Opera Dioscesana Preservazione Fede-Buono Stampa.

Zaninotto, G. 2000. "The Shroud and Roman Crucifixion: A Historical Review." In The
Turin Shroud: Past, Present and Future. Ed. S. Scannerini and P. Savarino [Int.
Scientific Symposium, Torino Mar. 2-5, 2000], 101-110, Torino, Italy: Effata
Editrice.

Zeuli, T. & B. Barberis. 1978. La Sindone e la scienza. Valsasa, Italy: Lions Club
Rivol. Zias, J. & E. Sekeles. 1985. "The Crucified Man from Giv'at haMivtar."
Israel Exploration Journal 35 22-27.

Ziderman, I. 1987. "Queries and Comments: Still More on the Shroud of Turin".
Biblical Archaeology Review 13:63.

Zimmerman, M. R. 1973. "Blood Cells Preserved in a Mummy 2000 Years Old". Science
180:303- 304.

Zlotnick, D. 1966. The Tractate Mourning, New Haven, CT: Yale University Press.

Zohary, M. 1972. Flora Palaestina, Jerusalem: Israel Academy of Science and


Humanities. Zorell, F. 1950. Lexicon Hebraicum, et Aramaicum Veters Testamenti, 7
Fascicles Rome: Biblical Institute Press

455

Você também pode gostar