A Andragogia e Seus Princípios

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A ANDRAGOGIA E SEUS PRINCÍPIOS

Já há alguns anos que o papel do professor ano nível de ensino superior vem
sendo visto numa ótica diversa da tradicional. E, particularmente quando se
trata do ensino de Administração, seja ele ao nível de graduação, pós-
graduação ou mesmo do chamado Treinamento de Executivos, é maior ainda o
impacto dessa mudança. Entretanto, pelo fato dessa recente postura sobre o
processo de aprendizagem encarar o aluno como um indivíduo amadurecido, é
natural que a sua maior potencialidade esteja relacionada com o nível de Pós-
Graduação e com o Treinamento de Executivos. Intitulada de ANDRAGOGIA
pelo seu criador, o norte-americano Malcolm Knowles, ela é resultante de
conclusões a que chegaram diversos pesquisadores e educadores; na verdade
as idéias sobre a ANDRAGOGIA já não podem ser consideradas somente uma
formulação teórica pois existem inúmeras experiências bem sucedidas de sua
aplicação. E como pretendemos demonstrar a 'ANDRAGOGIA' não tem nada
de complexo pois nada mais é que uma redefinição do papel do professor.

O que vem a ser a Andragogia? Segundo Knowles, ela é a "arte e a ciência


destinada a auxiliar os adultos a aprender e a compreender o processo de
aprendizagem dos adultos". A Andragogia parte da premissa de que muitos
dos problemas hoje existentes na educação de pessoas adultas, (e nisso inclui-
se o ensino superior), estão associados com a adoção de um modelo
pedagógico" para o ensino de adultos, isto é, os alunos adultos vinham sendo
tratados, utilizando-se dos recursos da Pedagogia que é o estudo do processo
de aprendizagem de crianças (pedagogia é derivada do grego: "paid"
significando criança e "agogus" significando líder de). Knowles propõe,
portanto, a substituição da Pedagogia pela ANDRAGOGIA.

HIPÓTESES E IMPLICAÇÕES DA ANDRAGOGIA

Se analisarmos as idéias de Knowles concluiremos sem que ele próprio


soubesse importou do Marketing a idéia de segmentação de mercado ao
colocar como premissa mais importante da ANDRAGOGIA de que os
professores envolvidos com o ensino de pessoas em diferentes faixas etárias
devem procurar conhecer os fatores relacionados com a idade pois estes
afetam o seu processo de aprendizagem. Ora, isso nada mais é que
segmentação de mercado em Marketing! A seguir relataremos de forma
resumida as conclusões mais importantes dos estudos e experiências a
respeito da Andragogia. De acordo com Knowles (1976) e andragogia apoia-se
em quatro hipóteses sobre as características do adulto enquanto "aprendiz",
características essas que são fundamentalmente diferentes da criança como
aprendiz, objeto da Pedagogia. Estas quatro hipóteses consideram que, ao
atingir a idade adulta, o indivíduo:

1 - Modifica o seu auto-conceito deixando de ser um indivíduo dependente


(conforme a Pedagogia) para ser um independente, auto dirigido;

2 - Acumula uma crescente reserva de experiências e consequentemente um


maior volume de recursos de aprendizagem;
3 - Tem sua motivação de aprendizagem cada vez mais orientada para buscar
desenvolver seus papéis sociais;

4 - Modifica sua "perspectiva de tempo" em relação a aplicação de


conhecimentos; para os adultos o maior interesse é de conhecimentos de
aplicação mais imediata e em conseqüência a sua aprendizagem deve deixar
de ser centralizada no conteúdo para centralizar-se no problema.

Whitbourne e Weinstock (1979) relatam que;


"Adultos, alunos de graduação e pós-graduação, são muito diferentes na sua
postura em relação a sua própria educação, quando comparados com
estudantes que progrediram no sistema educacional sem qualquer
envolvimento" com o "mundo real". (pg. 38). A presença de adultos numa sala
de aula, no entender de Houle (1972) é razão suficiente para que se considere
a educação não mais como uma "arte operativa" e sim uma "arte cooperativa",
isto é, uma atividade de interação voluntária entre os indivíduos durante o
processo de aprendizagem.

Nestas circunstâncias, os participantes adotam uma atitude de colaboração


tanto no planejamento como na condução do processo e o professor é utilizado
como elemento facilitador, proporcionando orientação, aconselhamento para
que sejam atingidos as metas desejadas pelo grupo. E, na medida que a
realidade e as necessidades se alteram, vão sendo feitas revisões ao longo do
curso, sem que hajam perdas de prestígio ou de padrões de qualidade por
qualquer dos parceiros do processo.

Em outras palavras ao tratar com grupos de estudantes maduros, o papel do


professor deve ser muito mais o de um "facilitador do conhecimento" ("Vamos
decidir isto juntos") e não mais o de uma autoridade em todas as facetas da
matéria ("Vou lhes explicar o que considero ser importante que vocês saibam").

A crítica que os andragogos fazem à situação do currículo completamente pré-


determinado é de que ela redunda numa minimização da eficácia do processo
de aprendizagem na medida em que os alunos ao entrar no curso tem
diferentes graus de dependência no julgamento do professor em relação ao
que "deve" ser aprendido; além disso são feitas também variadas as
experiências individuais que possam a ser úteis a eles próprios e a seus
parceiros de aprendizagem.

Utilizando-se de situações de solução de problemas que seja relevantes para


cada indivíduo, o professor passa a ser capaz de aumentar a eficiência da
experiência educacional tanto para o aluno como para ele próprio. Uma grande
parte das idéias de Knowles sobre o ensino de adultos está também
incorporada nas idéias de KOLB o autor do "aprendizagem vivencial"
(experiential learning).

Para quem conhece as idéias do educador Carl Rogers constata também que
há muita influência rogeriana nas idéias de Knowles.

PRINCÍPIOS DA APRENDIZAGEM DE ADULTOS


Gibb (1960) publicou uma lista de seis princípios sobre a aprendizagem de
adultos que representam um conjunto de diretrizes para que se possa obter um
ambiente de aprendizagem de adultos efetiva. Esses princípios são:
1 - A aprendizagem deve ser centralizada em problemas Muitas das
experiências de aprendizagem consistem em um conflito entre o professor que
vê os problemas do seu próprio quadro de referências e o aluno que possui um
outro conjunto de experiências a partir das quais deriva um conjunto de
problemas diferentes.
2 - A aprendizagem deve ser centralizada em experiências O problema do
professor para desenvolver uma atmosfera de aprendizagem adequada é
ajudar que sejam escolhidos e oferecidos tipos de experiência relacionadas
com o problema do estudante.

3 - A experiência deve ser significativa para o estudante As diferentes


limitações do estudante em experiências, idades, equilíbrio emocional e aptidão
mental podem limitar ou bloquear a sua percepção de que a experiência é
significativa para seu problema.

Além disso o significado das experiências não são percebidas pelo aluno do
tipo não participativo.

4 - O aprendiz deve ter liberdade de analisar a experiência Para melhor


descrever qual a atmosfera adequada para aprendizagem de adultos podem
ser usadas as seguintes palavras: permissiva, de apoio, de aceitação, livre,
espontânea, centralizada na realidade e no indivíduo. A aprendizagem é uma
experiência social.

5 - As metas e a pesquisa deve ser fixadas e executadas pelo aluno O


estudante deve sentir-se livre de errar, de explorar alternativas para solução
dos problemas e de participar nas decisões sobre a organização do seu
ambiente de aprendizagem.

6 - O aluno deve receber o "feed-back" sobre o seu progresso em relação as


metas Um bom exemplo de oportunidade para avaliação formativa e ao mesmo
tempo capaz de proporcionar esse "feed-back" é fazer que o aluno participe de
avaliações periódicas ao longo do curso; para tanto é necessário que o curso
seja compartimentado em módulos ou unidades estanques e capazes de
serem "isoladamente avaliadas" em lugar da solução tradicional de um trabalho
ou exame ao final do curso.

Em seguida apresentamos uma relação das características dos adultos


enquanto aprendizes comentando as conseqüências dessas características
sobre a sua aprendizagem.

Muitos cursos de Pós-Graduação e principalmente uma grande parte dos


programas de treinamento de executivos fracassam por ignorar essas
características. É comum professores de administração habituados ao ensino
no nível de graduação no estilo tradicional (onde o professor é a "autoridade
detentora do saber") verem-se em dificuldades quando vão ministrar cursos
para executivos. E o mais grave é que, desconhecendo a existência de
Andragogia não são capazes de identificar as causas dos seus insucessos e
como corrigi-las.

- Características dos adultos como aprendizes e suas conseqüências na sua


aprendizagem. 1 - Adultos possuem uma razoável quantidade de experiências:
Consequências: os adultos podem ser usados como "recursos de
aprendizagem"; as estratégias de aprendizagem de adultos devem encorajar
troca de idéias e experiências.

2 - O corpo dos adultos sendo relativamente muito maior que os das crianças
está sujeito a maiores pressões e estímulos gravitacionais: Consequência: O
conforto físico é importante para a aprendizagem de adultos; muito pouco
conforto ou em excesso podem ser desastrosos.

3 - Adultos possuem conjuntos de hábitos fortemente sedimentados:


Consequência: os hábitos e gostos dos adultos devem ser na medida do
possível considerados e atendidos.

4 - Adultos tendem a ter grande orgulho de si próprio: Consequência: os


adultos respondem muito bem as oportunidades de desenvolvimento, auto-
direcionamento e responsabilidade no seu processo de aprendizagem.

5 - Adultos em geral tem coisas tangíveis a perder:


Consequência: a ênfase deve ser na promoção do sucesso em lugar de revelar
as deficiências

6 - Adultos têm que tomar decisões e resolver problemas:


Consequências: a aprendizagem centralizada em problemas pode ser mais
efetiva e é mais agradável.

7 - Adultos tendem a ter grande número de preocupações e de problemas a


resolver fora da situação de aprendizagem:
Consequência: as demandas da experiência de aprendizagem não devem ser
irreais; deve haver um balanceamento adequado entre o tempo necessário
para apresentação da situação de aprendizagem e o tempo necessário para a
obtenção da aprendizagem.

8 - Os adultos na sociedade moderna são cada vez mais pressionados por


grande número de opções: Consequência: aprender a decidir é uma aptidão
importante.

9 - Os adultos tendem a ter comportamento grupais consistentes com suas


próprias necessidades:
Consequência: usualmente os adultos adotam aqueles comportamentos que
façam com que suas necessidades sejam atendidas pelo grupo. Devem ser
cultivados os comportamentos que sejam úteis aos indivíduos e aos grupos.

10 - Adultos tendem a ter bem sedimentadas suas estruturas emocionais


consistindo de valores, atitudes e tendências:
Consequência: mudanças são perturbadoras. É mais provável obter mudanças
de comportamento em um ambiente não ameaçador e onde exista em alto grau
a participação e o engajamento.

11 - Adultos tendem a ter bem desenvolvidos seus "filtros" seletivos dos


estímulos:
Consequência: a maioria dos adultos só ouve aquilo que deseja ouvir. O ensino
para ser eficaz deve focalizar em mais de um sistema sensorial para que possa
penetrar nos "filtros" que o adulto usa para barrar aqueles estímulos que ele
considera desagradáveis, desinteressantes ou perturbadores.

12 - Os adultos tendem a responder bem a "reforços" negativos ou positivos de


aprendizagem: Consequência: os "esforços" de aprendizagem (tanto negativos
como positivos) devem ser usados em gradações variadas.

13 - Adultos tendem a ter impressões e opiniões muito sedimentadas sobre


situações de aprendizagem: Consequência: só boas e bem sucedidas
experiências de aprendizagem encorajam a formação de atitudes positivas

14 - Os adultos na sociedade moderna tem um receio íntimo de fracassar e ser


substituído; Consequência: a situação de aprendizagem deve dar
oportunidades de desenvolver auto-confiança e novas aptidões

Gilberto Teixeira (Prof.Doutor FEA/USP )

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