História de João Batista (Espírito de Profecia)

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HISTÓRIA de JOÃO BATISTA


(Espírito de Profecia)

Prisão e Morte de João Batista

João Batista fora o primeiro a anunciar o reino de Cristo, e foi também o primeiro a sofrer. As paredes de uma
cela na prisão separavam-no agora da liberdade do deserto e das vastas multidões suspensas de suas palavras.
Estava prisioneiro na fortaleza de Herodes Antipas. Grande parte do ministério de João Batista tivera lugar no
território leste do Jordão, o qual se achava sob o domínio de Antipas. O próprio Herodes escutara as pregações
de João. O dissoluto rei tremera ante o chamado ao arrependimento. "Herodes temia a João, sabendo que era
varão justo; ... e fazia muitas coisas, atendendo-o, e de boamente o ouvia." Mar. 6:20. João portou-se fielmente
para com ele, acusando-o por sua iníqua aliança com Herodias, mulher de seu irmão. Por algum tempo Herodes
procurou fracamente quebrar a cadeia de concupiscência que o ligava; mas Herodias prendeu-o mais
firmemente em suas redes, e vingou-se de Batista, induzindo Herodes a lançá-lo na prisão.

A vida de João fora de ativo labor, e as sombras e a inatividade da prisão pesavam fortemente sobre ele.
Ao passar semana após semana, sem trazer nenhuma mudança, o acabrunhamento e a dúvida se foram
sutilmente apoderando dele. Seus discípulos não o abandonaram. Era-lhes permitida entrada na prisão; levaram-
lhe notícias das obras de Jesus, e disseram-lhe como o povo se estava aglomerando em torno dEle. Mas
indagavam por que, se esse novo mestre era o Messias, não fazia nada para que João fosse solto? Como podia
Ele permitir que Seu fiel precursor fosse privado da liberdade e talvez da vida?

Estas perguntas não deixaram de produzir efeito. Dúvidas que, do contrário, nunca teriam sido
suscitadas, foram então sugeridas a João. Satanás regozijou-se em ouvir as palavras desses discípulos, e ver
como elas quebrantaram a alma do mensageiro do Senhor. Oh! quantas vezes os que se julgam amigos de um
homem bom, e anseiam mostrar sua fidelidade para com ele, se demonstram os mais perigosos inimigos!
Quantas vezes, em lugar de lhe fortalecer a fé, suas palavras deprimem e desanimam!

Como os discípulos do Salvador, João Batista não compreendia a natureza do reino de Cristo. Esperava
que Jesus tomasse o trono de Davi; e, ao passar o tempo, e o Salvador não reclamar nenhuma autoridade real,
João ficou perplexo e turbado. Declarara ao povo que, a fim de o caminho ser preparado diante do Senhor, a
profecia de Isaías devia ser cumprida, os montes e os outeiros se deviam abaixar, endireitar os caminhos
tortuosos, e os lugares ásperos ser aplainados. Esperava que as elevações do orgulho e do poder humanos
fossem derribadas. Apresentara o Messias como Aquele cuja pá estava em Sua mão, e que limparia
inteiramente Sua eira, ajuntaria o trigo no celeiro, e queimaria a palha com fogo que não se apagaria. Como o
profeta Elias, em cujo espírito e poder ele próprio viera a Israel, esperava que o Senhor Se revelasse como um
Deus que responde por fogo.

O Batista fora, em sua missão, um destemido reprovador da iniqüidade, tanto nos lugares elevados como
nos humildes. Ousara enfrentar o rei Herodes com a positiva repreensão do pecado. Não tivera a vida por
preciosa, contanto que cumprisse a missão que lhe fora designada. E agora, de sua prisão, aguardava que o Leão
da tribo de Judá abatesse o orgulho do opressor, e libertasse o pobre e o que clamava. Mas Jesus parecia
contentar-Se com reunir discípulos em volta de Si, curar e ensinar o povo. Comia à mesa dos publicanos, ao
passo que dia a dia mais pesado se tornava o jugo romano sobre Israel, o rei Herodes e a vil amante faziam sua
vontade, e o clamor do pobre e sofredor subia ao Céu.

Ao profeta do deserto tudo isso se afigurava um mistério além de sua penetração. Havia horas em que os
cochichos dos demônios lhe torturavam o espírito, e a sombra de um terrível temor, dele se apoderava. Poder-
se-ia dar que o longamente esperado Libertador ainda não houvesse aparecido? Então, que significaria a
mensagem que ele próprio fora compelido a anunciar? João sentira-se cruelmente decepcionado com o
resultado de sua missão. Esperara que a mensagem de Deus tivesse o mesmo efeito que produzira a leitura da
lei nos dias de Josias (II Crôn. 34) e de Esdras (Nee. 8 e 9); que se seguiria uma profunda obra de
arrependimento e volta ao Senhor. Ao êxito dessa obra, toda a sua existência fora sacrificada. Havia isso sido
em vão?
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João sentiu-se perturbado por ver que, pelo amor que lhe tinham, seus discípulos estavam nutrindo
incredulidade a respeito de Jesus. Teria acaso sido infrutífero seu trabalho em favor deles? Teria sido infiel em
sua missão, para ser agora excluído do labor? Se o Libertador tinha aparecido, e João se provara fiel a sua
vocação, não havia Jesus de derribar agora o poder do opressor e libertar Seu arauto?

Mas o Batista não abandonou sua fé em Cristo. A lembrança da voz do Céu e da pomba que descera, da
imaculada pureza de Jesus, do poder do Espírito Santo que sobre ele próprio repousara ao encontrar-se em
presença do Salvador, e do testemunho das escrituras proféticas - tudo testificava de que Jesus de Nazaré era o
Prometido.

João não queria discutir suas dúvidas e ansiedades com os companheiros. Decidiu enviar mensageiros a
indagar de Jesus. Isso confiou a dois de seus discípulos, esperando que uma entrevista com o Salvador lhes
confirmaria a fé, e traria certeza a seus irmãos. João ansiava uma palavra de Cristo, proferida diretamente a ele.
Os discípulos foram ter com Jesus, levando sua mensagem: "És Tu Aquele que havia de vir, ou
esperamos outro?" Mat. 11:3.

Quão pouco o espaço decorrido desde que o Batista apontara a Jesus, e proclamara: "Eis o Cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo", "Este era Aquele de quem eu dizia: O que vem depois de mim é antes de
mim!" João 1:29 e 27. E agora, pergunta: "És Tu Aquele que havia de vir?" Isso era profundamente cruel e
decepcionante para a natureza humana. Se João, o fiel precursor, deixava de discernir a missão de Cristo, que se
poderia esperar da interesseira multidão?

O Salvador não respondeu imediatamente à pergunta dos discípulos. Enquanto eles ficavam por ali,
admirados de Seu silêncio, os enfermos e aflitos iam ter com Ele para ser curados.

Os cegos iam às apalpadelas, abrindo caminho entre a multidão; doentes de todas as classes, alguns
buscando conseguir por si mesmos passagem, outros conduzidos pelos amigos, comprimiam-se, todos ansiosos
de chegar à presença de Jesus. A voz do poderoso Médico penetrava o ouvido surdo. Uma palavra, um toque de
Sua mão, abria os olhos cegos à contemplação da luz do dia, das cenas da Natureza, do rosto dos amigos e do
semblante do Libertador. Jesus repreendia a moléstia e expulsava a febre. Sua voz chegava aos ouvidos dos
moribundos e erguiam-se com saúde e vigor. Paralisados possessos obedeciam-Lhe a voz, desaparecia-lhes a
loucura, e O adoravam. Ao mesmo tempo que lhes curava as doenças, ensinava o povo. Os pobres camponeses
e trabalhadores evitados pelos rabis como imundos, rodeavam-nO de perto, e Ele lhes dizia as palavras de vida
eterna.

Assim se passou o dia, os discípulos de João vendo e ouvindo tudo. Por fim Jesus os chamou a Si,
pediu-lhes que fossem, e dissessem a João o que haviam testemunhado, acrescentando: "Bem-aventurado é
aquele que se não escandalizar em Mim." A prova de Sua divindade mostrava-se na adaptação da mesma às
necessidades da humanidade sofredora. Sua glória revelava-se na complacência que tinha para com nossa baixa
condição.

Os discípulos levaram a mensagem, e foi o suficiente. João recordou a predição concernente ao Messias:
"O Senhor Me ungiu, para pregar boas novas aos mansos; enviou-Me a restaurar os contritos de coração, a
proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos; a apregoar o ano aceitável do Senhor." Isa.
61:1 e 2. As obras de Cristo não somente manifestavam que Ele era o Messias, mas mostravam a maneira por
que Seu reino havia de ser estabelecido. A João revelara-se a mesma verdade que se desvendara a Elias no
deserto: "um grande e forte vento... fendia os montes e quebrava as penhas diante da face do Senhor; porém o
Senhor não estava no vento; e depois do vento um terremoto; também o Senhor não estava no terremoto; e
depois do terremoto um fogo; porém também o Senhor não estava no fogo" (I Reis 19:11 e 12); e depois do
fogo o Senhor falou ao profeta por uma voz mansa e delicada. Assim Jesus devia fazer Sua obra, não com o
choque das armas, nem a subversão de tronos e reinos, mas falando ao coração dos homens por uma vida de
misericórdia e sacrifício.

O princípio da própria vida do Batista, a abnegação, era o princípio do reino do Messias. João bem sabia
quão estranho era tudo isso aos princípios e esperanças dos guias de Israel. Aquilo que para ele era convincente
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testemunho da divindade de Cristo, não seria prova nenhuma para eles. Estavam aguardando um Messias que
não fora prometido. João viu que a missão do Salvador só podia granjear deles ódio e condenação. Ele, o
precursor, não estava senão bebendo do cálice que o próprio Cristo havia de esgotar até às fezes.

As palavras do Salvador: "Bem-aventurado é aquele que se não escandalizar em Mim", eram uma
branda repreensão a João. Não foi em vão para ele. Compreendendo mais claramente agora a natureza da
missão de Cristo, entregou-se a Deus para a vida e para a morte, segundo melhor conviesse aos interesses da
causa que amava.

Depois da partida dos mensageiros, Jesus falou ao povo a respeito de João. O coração do Salvador
dilatou-se em simpatia para com a fiel testemunha agora sepultada na prisão de Herodes. Não deixaria que o
povo concluísse que Deus havia abandonado João, ou que sua fé falecera no dia da prova. "Que fostes ver no
deserto?" disse, "uma cana agitada pelo vento?" Mat. 11:7.

As altas canas que cresciam ao lado do Jordão, agitando-se a cada brisa, eram apropriadas
representações dos rabis que se haviam constituído críticos e juízes da missão do Batista. Eles pendiam nesta e
naquela direção, segundo os ventos da opinião popular. Não se queriam humilhar para receber a penetrante
mensagem do Batista, todavia por temor do povo não tinham ousado opor-se abertamente a sua obra. O
mensageiro de Deus, porém, não era de espírito assim covarde. As multidões reunidas em torno de Cristo
tinham testemunhado a obra de João. Haviam-lhe escutado a destemida repreensão do pecado. Aos fariseus
cheios de justiça própria, aos sacerdotes saduceus, ao rei Herodes e sua corte, príncipes e soldados, publicanos e
camponeses, a todos falara João com igual franqueza. Não era uma cana trêmula, agitada pelos ventos do
louvor ou preconceitos humanos. Na prisão, foi, em sua lealdade para com o Senhor e seu zelo pela justiça, o
mesmo que ao pregar a mensagem de Deus no deserto. Em sua fidelidade aos princípios, era firme como a
rocha.

Jesus continuou: "Sim, que fostes ver? um homem ricamente vestido? Os que trajam ricamente estão na
casa dos reis." Mat. 11:8. João fora chamado a reprovar os pecados e excessos de seu tempo, e seu singelo
vestuário e vida abnegada estavam em harmonia com seu caráter e missão. Ricos trajes e os luxos da vida não
constituem a porção dos servos de Deus, mas dos que residem "nas casas dos reis", os dominadores deste
mundo, aos quais pertencem seu poder e riquezas. Jesus desejava chamar a atenção para o contraste existente
entre o vestuário de João, e o que era usado pelos sacerdotes e líderes. Esses oficiais paramentavam-se com
ricas vestimentas e dispendiosos ornamentos. Amavam a ostentação, e esperavam deslumbrar o povo, impondo
assim mais consideração. Estavam mais ansiosos de conquistar a admiração dos homens, do que de obter a
pureza íntima, que tem a aprovação de Deus. Mostravam assim que sua lealdade não era para com Deus, mas
com o reino deste mundo.

"Mas então que fostes ver?" disse Jesus; "um profeta? sim, vos digo Eu, e muito mais do que profeta;
porque é este de quem está escrito:

"Eis que diante da Tua face envio o Meu anjo, que preparará diante de Ti o Teu caminho.

"Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João
Batista." Mat. 11:9-11. No anúncio feito a Zacarias, antes do nascimento de João, o anjo declarara: "Será
grande diante do Senhor." Luc. 1:15. Que, em face da maneira de avaliar do Céu, constitui a grandeza? - Não o
que o mundo reputa como tal; não riqueza, nem posição, nem nobreza de linhagem, nem dons intelectuais
considerados em si mesmos. Se grandeza intelectual, à parte de qualquer consideração mais elevada, é digna de
honra, então Satanás merece nossa homenagem, que suas faculdades intelectuais nenhum homem já igualou.
Mas, quando pervertido para o serviço do próprio eu, quanto maior o dom, tanto maior maldição se torna. Valor
moral, eis o que é estimado por Deus. Amor e pureza são os atributos que mais aprecia. João era grande aos
olhos do Senhor quando, em presença dos emissários do Sinédrio, diante do povo e perante seus próprios
discípulos, se absteve de buscar honra para si, mas encaminhou todos para Jesus como o Prometido. Sua
desinteressada alegria no ministério de Cristo, apresenta o mais elevado tipo de nobreza já revelado em homem.

O testemunho dado a seu respeito, depois de morto, pelos que o ouviram testificar de Jesus, foi: "João
não fez sinal algum, mas tudo quanto João disse dEste era verdade." João 10:41. Não foi concedido ao Batista
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fazer cair fogo do Céu, ou ressuscitar um morto, como fizera Elias, ou empunhar a vara do poder de Moisés em
nome de Deus. Foi enviado para anunciar o advento do Salvador, e chamar o povo a preparar-se para Sua vinda.
Tão fielmente cumpriu ele sua missão, que, ao recordar o povo o que lhes ensinara a respeito de Jesus, podiam
dizer: "Tudo quanto João disse dEste era verdade." Um testemunho assim todo discípulo de Cristo é chamado a
dar de seu Mestre.

Como precursor do Messias, João era "muito mais do que profeta". Pois ao passo que os profetas
haviam visto de longe o advento de Cristo, a João foi dado contemplá-Lo, ouvir do Céu o testemunho de Sua
messianidade, e apresentá-Lo a Israel como o Enviado de Deus. Todavia, Jesus disse: "Aquele que é o menor
no reino dos Céus é maior do que ele." Mat. 11:11.

O profeta João foi o elo que ligou as duas dispensações. Como representante de Deus, apresentou-se
para mostrar a relação da lei e dos profetas para com a dispensação cristã. Era a luz menor, que havia de ser
seguida por outra maior. A mente de João era iluminada pelo Espírito Santo, a fim de que projetasse luz sobre
seu povo; nenhuma outra luz, porém, nunca brilhou nem jamais brilhará tão claramente sobre os caídos
homens, como a que emanou dos ensinos e exemplos de Jesus. Cristo e Sua missão, segundo eram tipificados
nos sacrifícios simbólicos, não foram compreendidos senão muito vagamente. O próprio João não entendera
plenamente a vida futura e imortal mediante o Salvador.

Exceto a alegria que João encontrara em sua missão, sua existência foi de dores. Raras vezes fora sua
voz ouvida a não ser no deserto. O isolamento foi a sorte que lhe coube. E não lhe foi dado ver os frutos de seus
labores. Não teve o privilégio de estar com Cristo, e testemunhar a manifestação de poder divino que
acompanhava a maior luz. Não lhe foi concedido ver o cego no gozo da vista, o enfermo restabelecido e o
morto ressuscitado. Não contemplou a luz que irradiava de cada palavra de Cristo, derramando glória sobre as
promessas da profecia. O menor discípulo que viu as poderosas obras de Cristo, e Lhe ouviu as palavras, foi,
nesse sentido, mais altamente privilegiado que João Batista e, portanto, diz-se ter sido maior do que ele.

Através das vastas multidões que haviam escutado as pregações de João, sua fama espalhara-se pela
terra. Profundo era o interesse sentido quanto ao resultado de sua prisão. Mas sua vida irrepreensível, e o forte
sentimento público em seu favor levavam a crer que nenhuma medida violenta seria tomada contra ele.

Herodes acreditava que João era profeta de Deus, e tinha toda a intenção de o pôr em liberdade. Adiava,
porém, seu desígnio, por temor de Herodias.

Herodias sabia que, por meios diretos, nunca poderia obter o consentimento de Herodes para a morte de
João, e resolveu realizar seu intento por meio de estratagema. No dia do aniversário do rei, devia ser oferecida
uma festa aos funcionários do Estado e aos nobres da corte. Haveria banquete e bebedice. Herodes ficaria assim
sem o natural controle, podendo ser então influenciado segundo a vontade dela.

Ao chegar o grande dia, e estar o rei se banqueteando e bebendo com seus grandes, Herodias mandou
sua filha à sala do banquete para dançar a fim de entreter os convivas. Salomé estava no viço da juventude, e
sua voluptuosa beleza cativou os sentidos dos nobres comensais. Não era costume que as senhoras da corte
aparecessem nessas festividades, e foi prestada a Herodes lisonjeira homenagem, quando essa filha de
sacerdotes e príncipes de Israel dançou para entretenimento de seus convidados.

O rei estava perturbado pelo vinho. A razão foi destronada e a paixão tomou o comando. Viu
unicamente a sala de prazer, com os divertidos hóspedes, a mesa do banquete, o vinho cintilante, o brilho das
luzes e a jovem que dançava diante dele. No impulso do momento, desejou fazer qualquer exibição que o
exaltasse diante dos grandes do reino. Com juramento, prometeu dar à filha de Herodias fosse o que fosse que
ela pedisse, até mesmo a metade do reino.

Salomé correu para a mãe, a fim de saber o que devia pedir. A resposta estava pronta - a cabeça de João
Batista. Salomé desconhecia a sede de vingança que havia no coração da mãe, e recuou ante a idéia de
apresentar esse pedido; a decisão de Herodias prevaleceu, porém. A menina voltou com a terrível petição: "Dá-
me aqui num prato a cabeça de João Batista." Mat. 14:8.
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Herodes ficou atônito e confundido. Cessou a ruidosa festa, e um sinistro silêncio baixou sobre a cena
de orgia. O rei sentiu-se tomado de horror ante a idéia de tirar a vida de João. No entanto, sua palavra estava
empenhada, e não queria parecer inconstante ou precipitado. O juramento fora feito em honra dos hóspedes, e
se um deles houvesse proferido uma palavra contra o cumprimento da promessa, de boa vontade teria poupado
o profeta. Deu-lhes oportunidade de falar em favor do preso. Eles haviam caminhado longas distâncias para
ouvir a pregação de João, e sabiam ser ele homem isento de crime, e servo de Deus. Mas, conquanto chocados
com o pedido da jovem, estavam demasiado embrutecidos para fazer qualquer objeção. Voz alguma se ergueu
para salvar a vida do mensageiro do Céu. Estes homens ocupavam altas posições de confiança na nação, e sobre
eles pesavam sérias responsabilidades; tinham-se, no entanto, entregue a comer e a beber até que os sentidos
lhes ficaram embotados. Transtornou-se-lhes o cérebro com a estonteante cena de música e dança, e a
consciência jazia adormecida. Com seu silêncio, proferiram a sentença de morte contra o profeta de Deus, para
satisfazer a vingança de uma depravada mulher.

Herodes em vão esperou para ser libertado do juramento; então, relutantemente, ordenou a execução do
profeta. Em breve a cabeça do Batista foi levada perante o rei e os hóspedes. Selados estavam para sempre
aqueles lábios que fielmente advertiram Herodes para se desviar da vida de pecado. Nunca mais se ouviria
aquela voz, chamando os homens ao arrependimento. A orgia de uma noite custaria a vida de um dos maiores
profetas.

Oh! quantas vezes tem a vida de um inocente sido sacrificada em razão da intemperança dos que deviam
ter sido os guardas da justiça! Aquele que leva aos lábios a taça intoxicante, torna-se responsável por toda
injustiça que possa cometer sob sua embrutecedora influência. Entorpecendo os sentidos, torna a si mesmo
impossível julgar serenamente ou ter clara percepção do direito e do erro. Abre a Satanás o caminho para operar
por meio dele em oprimir e destruir o inocente. "O vinho é escarnecedor, e a bebida forte alvoroçadora; e todo
aquele que neles errar nunca será sábio." Prov. 20:1. É por isso que "o juízo se tornou atrás, ... e quem se desvia
do mal arrisca-se a ser despojado". Isa. 59:14 e 15. Aqueles que têm jurisdição sobre a vida de seus
semelhantes, deveriam ser considerados culpados de um crime quando se entregam à intemperança. Todos
quantos executam as leis, devem ser observadores das mesmas. Cumpre-lhes ser homens de domínio próprio.
Precisam ter inteiro controle sobre suas faculdades físicas, mentais e morais, a fim de possuírem vigor
intelectual e elevado senso de justiça.

A cabeça de João Batista foi levada a Herodias, que a recebeu com infernal satisfação. Exultou em sua
vingança, e lisonjeou-se de que não mais a consciência de Herodes seria perturbada. Nenhuma felicidade,
porém, lhe adveio de seu pecado. Seu nome tornou-se notório e aborrecido, ao passo que Herodes foi mais
atormentado pelo remorso do que o havia sido pelas advertências do profeta. A influência dos ensinos de João
não emudeceu; ela se devia estender a cada geração até ao fim dos séculos.

O pecado de Herodes estava sempre diante dele. Buscava constantemente alívio às acusações da
consciência culpada. Sua confiança em João ficou inabalável. Ao recordar-lhe a vida de abnegação, seus
solenes e fervorosos apelos, seu são juízo no conselho, e lembrar então de como morrera, Herodes não podia
encontrar sossego. Empenhado nos negócios do Estado, recebendo honras dos homens, apresentava rosto
sorridente e aspecto de dignidade, ao passo que ocultava o coração ansioso, sempre oprimido pelo temor de que
pesava sobre ele uma maldição.

Herodes ficara profundamente impressionado pelas palavras de João, de que não se pode ocultar coisa
alguma a Deus. Estava convencido de que Ele Se acha presente em todo lugar, que testemunhara a orgia na sala
do banquete, ouvira a ordem de degolar a João, e vira Herodias exultante, e os insultos que proferira para a
decapitada cabeça de seu reprovador. E muitas coisas que Herodes ouvira dos lábios do profeta falavam-lhe
agora à consciência mais distintamente do que fizera a pregação no deserto.

Quando Herodes ouviu falar das obras de Cristo, sentiu-se imensamente perturbado. Pensou que Deus
ressuscitara a João, e o enviara ainda com mais poder para condenar o pecado. Vivia em constante temor de que
João vingasse sua morte condenando-o, a ele e a sua casa. Herodes estava ceifando aquilo que Deus declarara
ser o resultado do pecado - "coração tremente, e desfalecimento dos olhos, e desmaio da alma. E a tua vida
como suspensa estará diante de ti; e estremecerás de noite e de dia, e não crerás na tua própria vida. Pela manhã
dirás: Ah! quem me dera ver a noite! E à tarde dirás: Ah! quem me dera ver a manhã! pelo pasmo de teu
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coração, com que pasmarás, e pelo que verás com os teus olhos". Deut. 28:65-67. Os próprios pensamentos do
pecador são seus acusadores; e não pode haver mais penetrante tortura que os aguilhões da consciência culpada,
que não lhe dá repouso nem de dia nem de noite.

Para muitos espíritos, um profundo mistério envolve a sorte de João Batista. Indagam porque teria sido
deixado a definhar-se e perecer na prisão. O mistério dessa escura providência, nossa visão humana não pode
penetrar; não poderá, no entanto, nunca abalar nossa confiança em Deus, quando nos lembramos de que João
nada mais foi do que um participante dos sofrimentos de Cristo. Todos quantos O seguem hão de cingir a coroa
do sacrifício. Serão indubitavelmente malcompreendidos pelos egoístas, e se tornarão alvo dos ferozes assaltos
de Satanás. Esse princípio de abnegação é que seu reino se propôs destruir, e guerreá-lo-á onde quer que se
manifeste.

A infância, juventude e varonilidade de João caracterizam-se pela firmeza e poder moral. Quando sua
voz se fizera ouvir no deserto, dizendo: "Preparai o caminho do Senhor, endireitai as Suas veredas" (Mat. 3:3),
Satanás temeu pela segurança de seu reino. A culpabilidade do pecado era revelada de tal maneira, que os
homens tremiam. Foi despedaçado o poder de Satanás sobre muitos que lhe haviam estado sob o controle. Ele
fora incansável em procurar afastar o Batista de uma vida de incondicional submissão a Deus; fracassara,
porém. E fracassara igualmente quanto a Jesus. Na tentação do deserto, Satanás fora derrotado, e grande havia
sido seu furor. Decidira agora causar dor a Cristo, ferindo a João. Àquele a quem não conseguia instigar ao
pecado, havia de causar sofrimento.

Jesus não Se interpôs para livrar Seu servo. Sabia que João havia de suportar a prova. De boa vontade
teria o Salvador ido ter com João, para, com Sua presença, aclarar-lhe as sombras do cárcere. Mas não Se devia
colocar nas mãos dos inimigos e pôr em perigo Sua própria missão. Com prazer teria libertado Seu fiel servo.
Mas por amor de milhares que haveriam em anos posteriores, de passar da prisão para a morte, João devia
beber o cálice do martírio. Ao haverem os seguidores de Jesus de definhar em solitárias celas, ou perecer pela
espada, e pela tortura, ou na fogueira, aparentemente abandonados de Deus e do homem, que esteio não lhes
seria ao coração o pensamento de que João Batista, de cuja fidelidade o próprio Cristo dera testemunho, passara
por idêntica experiência!

Foi permitido a Satanás abreviar a vida terrena do mensageiro de Deus; mas aquela vida que "está
escondida com Cristo em Deus" (Col. 3:3), o destruidor não podia atingir. Exultou por haver ocasionado aflição
a Jesus, mas fracassara em vencer a João. A morte em si mesma apenas o colocara para sempre além do poder
da tentação. Nessa contenda Satanás estava revelando o próprio caráter. Manifestou, em presença do expectante
Universo, sua inimizade para com Deus e o homem.

Conquanto nenhum miraculoso livramento fosse proporcionado a João, ele não fora abandonado. Tivera
sempre a companhia dos anjos celestiais, que lhe abriram as profecias concernentes a Cristo, e as preciosas
promessas da Escritura. Estas foram seu sustentáculo, como haviam de ser do povo de Deus nos séculos por vir.
A João Batista, como aos que vieram depois dele, foi dada a segurança: "Eis que Eu estou convosco todos os
dias, até à consumação dos séculos." Mat. 28:20.

Deus nunca dirige Seus filhos de maneira diversa daquela por que eles próprios haveriam de preferir ser
guiados, se pudessem ver o fim desde o princípio, e perscrutar a glória do desígnio que estão realizando como
colaboradores Seus. Nem Enoque, que foi trasladado ao Céu, nem Elias, que ascendeu num carro de fogo, foi
maior ou mais honrado do que João Batista, que pereceu sozinho na prisão. "A vós vos foi concedido, em
relação a Cristo, não somente crer nEle, como também padecer por Ele." Filip. 1:29. E de todos os dons que o
Céu pode conceder aos homens, a participação com Cristo em Seus sofrimentos é o mais importante depósito e
a mais elevada honra.

O Desejado de Todas as Nações, págs. 214-225

Uma Obra Maravilhosa


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Durante Seu ministério terreno, o Senhor realizou uma obra maravilhosa! Ele mesmo definiu essa obra em
resposta a João Batista. João estava na prisão e sentia-se atribulado e desanimado pela dúvida de que Jesus era,
de fato, o Messias. Enviou então alguns de seus discípulos a Jesus, com a pergunta: "És Tu Aquele que estava
para vir ou havemos de esperar outro?" Mat. 11:3.

Quando os mensageiros vieram à presença de Jesus, encontraram-No cercado de muitos doentes que
estavam sendo curados. Durante todo o dia os mensageiros esperaram, enquanto Jesus estava incansavelmente
ocupado em aliviar aqueles sofredores. Finalmente, disse a eles:

"Ide e anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são
purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho." Mat.
11:3-5.

Vida de Jesus, págs. 79-80

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