Meu Carcere de Luxo

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Santos, Carol

Meu Cárcere de Luxo (Volume Único)


2020 1ª Edição

Revisão: Lidiane Mastello


Capista: Gláucia (Magnifique Design)
Diagramação: Carol Santos

É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer


forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio
de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem
permissão expressa da autora. Esta é uma obra de ficção. Nomes,
personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com acontecimentos
reais é mera coincidência.

Todos os direitos desta edição reservados pela autora Carol


Santos.

Todas as imagens nesta obra são de propriedade gratuita.

A autora não faz apologia/incitação aos possíveis crimes citados


nesse livro, e muito menos concorda com tais atitudes.

E-mail:crfsantos9@gmail.com
Fanpage: facebook.com.br/carolsantos
Instagram: @autoracarolsantos
Wattpad: @Ragazza_del_libro
Dedicatória

Ao meu amor, Rafael, por sempre acreditar em mim e me


incentivar a seguir com meus sonhos.

A Deus por me abrir oportunidades, me dar sabedoria e


ajudar em todas as minhas caminhadas.

E aos meus futuros leitores, por estarem ao meu lado e


lerem minhas obras.
Sumário
Dedicatória
Sinopse
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Epílogo
Conto Extra — Meu Coração é Seu
Notas
Sobre a autora
Sinopse

Elizabeth casou-se com o homem que amava, carinhoso,


devotado, romântico e apaixonado, o que ela não sabia é que
durante o casamento, Paul se mostraria alguém totalmente
diferente, onde havia amor, se deu lugar ao ódio, onde se via
carinho, deu-se lugar a agressões e onde se via paixão,
transformou-se em humilhação.
Tentando fugir da sua realidade, Liza, dança em um clube
noturno e usa o pseudônimo Fênix, além de reunir provas contra o
seu marido agressor.
Mas como tudo na vida vem do jeito difícil, ela sabia que não
poderia lutar sozinha, e portanto, se alia ao melhor amigo de Paul,
Christopher. Ambos sabiam que o que tinham era mais do que uma
simples amizade, e por isso, dão início a um romance avassalador,
cheio de amor e desejo.
Com o tempo, Elizabeth, passa a descobrir segredos sobre o
seu passado, do qual envolvem seus pais, Paul e sua sogra, Alice, a
quem sempre demonstrou odiá-la, e nunca aprovou o casamento do
seu filho.
Capítulo 1

— Elizabeth Harper, volta aqui agora. — Entro em casa e


subo as escadas correndo em direção ao meu quarto e me tranco
nele. Escuto passos firmes vindo em minha direção e a porta é
esmurrada com força. — Abre essa porta, Liza, eu sei que você
estava flertando com aquele homem e eu não vou ser feito de
trouxa. Se você não abrir essa porta, eu vou derrubá-la e você não
vai gostar.
— Para, Paul, por favor, eu não vou abrir, me deixa em paz.
Eu já disse para você que ele deu em cima de mim, eu não fiz nada.
— Todas as vezes você diz a mesma coisa, acha mesmo que
vou acreditar que todo homem da face da terra resolveu querer ter
você, nem linda é, e está ficando gorda. — Não acredito no que
estou escutando, como eu pude ser tão idiota em ficar com um
homem igual a ele. — Eu não vou repetir, Liza. Então, como vai ser?
Por bem ou por mal? — Não respondo e sigo para frente da porta e
a destranco em seguida. — Agora sim podemos conversar, você
tem muita coisa para me explicar, vamos começar por onde você o
conhece.
— Eu não faço ideia de quem é aquele homem, eu estava na
festa da sua empresa, no mínimo você deveria conhecê-lo. — Olho
para ele e, então, vejo que seus olhos estão expressando raiva de
algo que não tive culpa.
— Eu sei quem ele é, simplesmente o filho do CEO, e você
não perdeu tempo em conquistar alguém que com certeza tem mais
zeros na conta do que eu.
— Você está se ouvindo? Eu disse claramente que não tive
culpa se ele tentou me agarrar e em vez de você ficar bravo com
ele, está jogando todo seu ódio para cima de mim.
— Você ficará neste quarto até que eu a deixe sair, aprenderá
a respeitar o homem que coloca comida no seu prato e que cuida de
você com carinho e amor, não poderá falar com ninguém e se eu
ouvir você gritar, eu juro que acabo com você.
— Por favor, Paul, não me deixe aqui sozinha, eu juro que
não farei mais nada que te deixe com raiva. — O vejo indo para
porta e, então, me jogo em suas pernas, implorando que me deixe
sair, mas ele está irredutível, me sacode para que eu o solte e então
tranca a porta levando o último fio de liberdade que eu tinha.
Nunca pensei que poderia um dia chegar em uma situação
tão mesquinha e ridícula, o pior de tudo é que sei que foi minha
culpa, mesmo que involuntária, eu fui burra de ter me casado com o
primeiro homem que me mostrou um terço de carinho, não escutei
quando minha mãe me disse que eu deveria esperar um pouco
mais, porque eu era nova e que me arrependeria, eu só não tinha
noção de que o sofrimento chegaria tão cedo.
Conheci o Paul na festa de premiações da empresa onde
meu pai, Charles, é o gerente de projetos aeronáuticos, ele é filho
de um dos sócios e o homem mais lindo que eu já havia conhecido.
Lembro-me de estar sentada perto das mesas do buffet quando ele
se aproximou, pediu para se sentar ao meu lado e eu permiti.
Naquela noite, eu usava um vestido azul que tinha o
comprimento até o meio das minhas coxas e calçava sapatos pretos
de salto agulha, estava com meus cabelos soltos com cachos que
iam da raiz até as pontas dos meus fios pretos naturais, usava uma
maquiagem leve com sombra marrom fosca e brilho nos lábios.
Tenho olhos azuis e altura de mais ou menos 1,70 m, sou
branca, magra, mas tenho curvas, e o rosto arredondado igual ao da
minha mãe.
O Paul me perguntou se eu estava sozinha e respondi que
meu pai estava conversando com os investidores, então, ele me
disse que um daqueles homens era seu pai e virei meu rosto para a
multidão até encontrá-lo, mas não pude ver semelhanças entre os
dois, Paul era loiro de cabelos lisos compridos até a orelha, tinha
olhos verdes, era mais alto que eu talvez uns 10 centímetros,
musculoso sem ser exagerado, seu rosto era triangular com seus
lábios pouco carnudos, era branco e usava calça social preta com
camiseta cor de vinho, ele era tão lindo que eu não conseguia parar
de olhá-lo, ali eu soube que seria dele para sempre.
Saímos para a sacada do apartamento onde a festa
acontecia, ele me contou um pouco sobre si e eu sobre mim,
descobri que ele era apenas seis anos mais velho do que eu e que
trabalhava na empresa para manter vigília sobre o patrimônio que
também pertencia a sua família.
No fim da noite acabamos nos sentando nas cadeiras que ali
estavam e, então, ele meu beijou, foi um beijo calmo e cheio de
carinho que me fez ir ao paraíso e voltar em segundos, dali em
diante, com o tempo, nos tornamos namorados, noivamos e depois
de 1 ano e meio, ao completar 18 anos, nos casamos, hoje percebo
quão imatura e deslumbrada eu estava, todos os sinais apontavam
para isso e, mesmo assim, eu escolhi ignorá-los, meu pai tentou nos
impedir, mas como eu já era maior de idade, ele não poderia dizer
não, saí de casa e fomos morar juntos, foi quando os pesadelos
começaram e eu me vi presa em meu próprio conto de fadas.
Capítulo 2

Na manhã seguinte em que acordo, os raios de sol batem em


meu rosto e quando penso que tudo não passou de um sonho, ao
me levantar e caminhar até a porta percebo ser realidade quando
giro a maçaneta e vejo que está trancada. Bato três vezes e chamo
por Paul, mas não escuto nenhuma resposta.
Exatamente quatro horas se passam, então, ao ouvir o barulho
da tranca meu coração se acelera em desordem para o que vem a
seguir.
— Bom dia, meu amor. Dormiu bem? — Paul está carregando
uma bandeja marrom e nela está posta morangos, pães de queijo e
um suco de laranja. — Trouxe seu café da manhã, eu o fiz com
muito amor e carinho para você. — Ele posiciona a bandeja em
cima das minhas pernas e me dá um beijo na testa, sinto asco
quando ele me toca. — Coma tudo, quero ver se você será uma boa
moça, ou te manterei aqui por mais dois dias.
— Mas já faz tanto tempo assim, não percebi passar, você me
tirou meu celular.
— Eu fiz o que tinha que fazer, tem sorte por eu ser
condescendente e não te deixar mais tempo trancada. Agora
termina de comer tudo que fiz e pode ir fazer suas atividades.
— Preciso ligar para minha mãe, ela já deve estar preocupada,
eu falo com ela todos os dias.
— Não se preocupe, amor, eu já conversei com ela e tratei de
convencê-la de que você estava com febre e não tinha condições de
ligar.
— Você é um monstro, Paul. Como eu pude errar tanto? Você
mudou muito depois que nos casamos.
— Não, minha querida, esse é meu verdadeiro eu, você que
sempre foi burra e nunca percebeu. Me diz, como você pode ser tão
ingênua? Será que minhas cenas de ciúmes não a alertaram? Meus
ataques de raiva com você.
— Eu estava apaixonada, só via o que meu coração queria, mas
pode ter certeza, eu nunca mais deixarei um homem ter tanto poder
sobre mim como você tem.
— Tem razão, porque se algum homem chegar perto do que é
meu, ele vai morrer junto com você, esteja avisada, eu não faço
ameaças em vão, posso nunca ter lhe batido, mas se precisar tenha
a certeza de que não irei hesitar. — Ele se levanta bruscamente da
cama e segue de volta para a porta, quando se vira e diz. — Você
pode sair agora, vai visitar a sua mãe e nenhuma palavra sobre o
que aconteceu aqui, lembre-se do seu pai, meu amor, você não quer
que ele perca o emprego dos sonhos e uns anos na penitenciária,
quer? — Ele bate à porta atrás de si com tudo quando sai.
Meu Deus, como minha vida pode ter virado esse grande
pesadelo? A única coisa que me faz seguir em frente é saber que
pelo menos uma vez durante a semana eu faço o que amo, é
quando realmente me sinto livre. Ele nunca poderá descobrir a
verdade, ele me mataria se soubesse o que eu faço.
Levanto-me da cama e vou até o banheiro tomar banho. Olho no
espelho, imaginando-me na próxima cena de mulher feliz que irei
fazer mais uma vez em frente à minha mãe, se ela soubesse a
verdade eu não estaria mais aqui, mas assim meu pai ficaria
arruinado. Paul sabe manipular a situação a seu favor e faria de
tudo para se vingar, acredite, eu sei, já vi isso acontecer e garanto
que não é nada bonito.
Há alguns meses fui até a empresa onde Paul trabalha, estava
acontecendo algum alvoroço entre os empregados e então me
aproximei de uma menina com os olhos marejados e perguntei o
ocorrido, com muito receio a mesma, me informou que estava sendo
demitida, acusada de algo que não cometeu, tive compaixão de sua
situação e a confortei dizendo que tudo se resolveria, o que eu não
poderia imaginar é que minutos depois meu marido saísse de sua
sala e pedisse para que eu me afastasse dela, nada poderia me
preparar para o que viria depois, a mulher que há pouco tempo
estava chorando em meus ombros estava sendo culpada de
assediar o meu marido, eu não acreditei nem um pouco que ela
poderia fazer algo assim, Paul estava a processando por assédio
sexual. Depois de um tempo o processo foi concluído, por falta de
provas concretas e apenas testemunhos, ela foi sentenciada a
cumprir trabalho comunitário por um ano e perdeu seu prestígio
como profissional. Até hoje eu não sei como ele conseguiu, mas
literalmente acabou com o futuro da mulher.
Após terminar meu banho, me encontro vestida com uma
saia lápis preta, saltos altos e blusa rosa-claro. Desço as escadas e
vou em direção à cozinha me despedir de nossa governanta. Clary é
amorosa e carinhosa, sempre me ajuda quando preciso, me protege
e cuida de mim como sua filha, quando tenho de sair à noite ela me
acoberta. É uma senhora de olhos verdes, pele branca e cabelo
loiros encaracolados e deve ter no mínimo 1,62m, possui um rosto
oval e é dona de uma beleza extraordinária, apesar de estar
aparentando a idade, ainda assim continua bela.
— Bom dia, Clary.
— Bom dia, meu amor. Sinto muito por não te ver durante esses
dias, o senhor Turner me proibiu.
— Tudo bem, eu sei que se você pudesse teria vindo. Irei visitar
minha mãe e não sei quando eu volto.
— Você sabe que ele não irá gostar disso, não é? — Ela me
olha, apreensiva, com certeza está preocupada com o que ele pode
fazer a mim.
— Eu sei que não, mas preciso ter uns minutos de liberdade, e
eu só os tenho em dois momentos, quando preciso sair durante a
noite e nas visitas a casa da minha mãe.
— Sim, Liza, eu sinto muito por tudo que acontece com você, eu
sempre te digo que deveria contar a verdade aos seus pais.
— Eu não posso. Você sabe do que Paul é capaz, tenho medo
por meu pai, sabe que ele perderia o emprego, e o Paul tem como
colocá-lo na cadeia por algo que não cometeu, eu tenho que
proteger minha família. O dinheiro muda tudo, ele traz acesso livre
as coisas, mas também pode elevar tragédias.
— Toma cuidado.
— Sempre tomarei. — Dou um beijo em sua testa e, então, me
afasto indo para o hall de entrada da casa.
Capítulo 3

Saio de casa em direção ao carro, o motorista ao me ver abre


a porta do passageiro, me viro para trás e passo a observar o lugar
que deveria ser meu refúgio, mas tudo que vejo é um lugar de onde
quero fugir.
A mansão onde moro foi projetada pelos mais caros e
melhores profissionais de arquitetura e designer de interiores,
escolhi e decidi por tudo que está ao meu redor, desde o tapete de
"Bem-vindo" na entrada da casa até a espessura do papel usado no
banheiro, sempre foi meu sonho ter algo que pudesse chamar de
meu. Minha casa é composta por sete quartos, oito banheiros, duas
cozinhas, três salas, inclusive uma de jogos, área de cinema, um
salão de festas, garagem para dez carros, um jardim que envolve
todos seus 2.000 m², porão, sótão, paredes na cor creme e móveis
de luxo, lugar perfeito para alguém que tem uma vida perfeita, mas
infelizmente essa não sou eu e nem nunca serei, fui tão humilhada
entre essas paredes que nada disso me interessa mais ou chama
minha atenção, tenho apenas uma coisa pelo qual ele não me tirou
e isso eu não vou permitir.
Entro no carro e peço para Brian dirigir, em menos de uma
hora chego ao meu destino, sigo para casa dos meus pais e toco a
companhia. Não tenho mais as chaves daquela que um dia foi
minha casa, pois meu amado marido me obrigou a devolvê-las
quando fez questão de me dizer que nunca mais voltaria, naquele
dia eu o obedeci achando fofo sua atitude de proteção, mas hoje
percebo que realmente ele dizia a verdade, só que com outras
intenções que não remetia amor.
— Olá, senhora Turner. — A simples menção desse
sobrenome me faz ter calafrios e me deixa enjoada, até isso ele me
tirou, minha identidade, Paul só faz questão de me chamar pelo
sobrenome dos meus pais quando é para me ofender, dizendo que
a culpa pela minha mal criação é de total responsabilidade das
pessoas que me colocaram no mundo.
— Boa tarde, Sophia, meus pais estão?
— Sim, Senhora. Me acompanhe, eles estão almoçando,
caso queira se juntar a eles colocarei um prato a mais a mesa.
— Sim, eu gostaria.
— Com licença.
— Espera Sophia, por favor, leve Brian para almoçar com
vocês, sei que ele deve estar com fome.
— Claro. Queira me acompanhar, Senhor. — Peço para que
Brian a siga e vou em direção aos meus pais.
Brian é o motorista que meu marido contratou para me vigiar,
apesar de ele dizer que é só por precaução, eu sei muito bem que
não é, o que ele não sabe é que nos tornamos amigos durante esse
tempo que permanece conosco. Ele é um homem grande, de
cabelos grisalhos, mas muito charmoso, tem 1,90m, corpo malhado,
olhos pretos, pele negra e está em seus cinquenta anos.
— Oi, mãe, pai. — Minha mãe ao me ver abre um sorriso
enorme e segue de encontro a mim, me dá um abraço daqueles que
te passam segurança e força, ao mesmo tempo é onde me sinto
amada, como se pudesse enfrentar tudo e a todos, mas a realidade
é outra.
— Oi, meu amor, que saudades a mamãe estava de você,
tentei te visitar para ver se estaria melhor da gripe, mas Paul não
deixou, disse que seria pior. — Vejo tristeza em seus olhos, cretino
imbecil.
— Mãe, a senhora pode me visitar quando quiser, não liga
para o que meu marido fala, ele só estava preocupado. — Queria
que o desgraçado passasse dessa para a melhor.
— Vem aqui dar um abraço forte nesse velho rabugento que
te ama muito. — Meu pai se aproxima de mim e beija minha testa,
me envolvendo em um abraço gostoso.
— Oi, papai, senti sua falta e das nossas conversas durante a
madrugada. — Eu e meu pai sempre fomos vampiros da noite,
como a mamãe gostava de nos chamar, vivíamos com insônia,
então, passávamos a noite jogando conversa fora até amanhecer,
lembro que Dona Suzan ficava maluca quando acordava de manhã
e nos via na cozinha, que falta isso me faz. Percebo que derramei
uma lágrima dos olhos ao pensar em como eu era feliz.
— Não chora, meu amor, também sentimos sua falta, nossa
vida não é mais a mesma sem você, eu e sua mãe te amamos mais
do que qualquer coisa nesse mundo, estaremos aqui para o que der
e vier, minha princesa, e quando você tiver filhos, você estará lá
para eles.
— Obrigada, pai e mãe, por tudo, vocês criaram uma filha
para enfrentar qualquer coisa, proteger quem ama, e é isso que
estou fazendo todos os dias.
— Você quer contar alguma coisa para nós, Liza? — mamãe
pergunta, com seu semblante preocupado.
— Não, mãe, está tudo bem. — Vou em direção a mesa e me
posto a sentar na cadeira, no fim almoçamos e passamos a
conversar. — Como estão as coisas no trabalho pai?
— Tudo ótimo, filha, fui promovido a diretor de designer
aeronáutico das empresas Right Flight, vou liderar um novo projeto
e terei uma equipe só minha — meu pai fala, com tanto amor do seu
trabalho que me sinto culpada por ter o poder de acabar com essa
felicidade. — Vamos ver como irei me destacar, espero que consiga
ser um bom profissional.
— Você será o melhor, papai, já trabalha há quinze anos
nessa empresa, estava na hora de reconhecerem seus esforços.
— Espero que esteja certa, meu amor.
O senhor Charles Harper, sempre foi alguém de quem posso
me orgulhar, lutou desde cedo por tudo que tem hoje, não somos
milionários, mas sobrevivemos com o muito que meu pai adquiriu ao
longo dos anos, frutos de muitos esforços.
Quando ele tinha quatorze anos, sua mãe o vendeu para um
prostíbulo, onde no começo servia de empregado para cumprir
trabalhos braçais, até hoje meu pai não sabe o que levou minha vó
a fazer o que fez, a única coisa de que tem certeza é que meu avô
os abandonaram quando ele tinha sete anos e desde então sua vida
nunca foi a mesma. Quando ele atingiu a idade de dezessete anos
começou a fazer parte do projeto da casa, ele foi vendido a várias
mulheres e obrigado a dar prazer a elas de formas que nem eu
mesma pude saber, já que minha mãe omitiu esse fato ao me contar
a verdade do passado dos dois. Um dia quando estava em mais
uma noite regada a prazeres carnais, ele conheceu a minha tão não
adorável avó Clarissa Stevens, ela o comprou por sete dias em sua
casa de verão nos Hampton, o que ela não esperava era que minha
mãe aparecesse lá justamente durante esses dias e que ele se
apaixonaria por ela.
Meu pai é um homem muito bonito e sempre cuidou de sua
beleza externa, tem olhos azuis igual aos meus, cabelos pretos e
encaracolados, pele branca e um corpo malhado de dar inveja em
muito novinho por aí.
Ele se envolveu com minha mãe quando minha vó estava
ausente de casa, no começo ela não permitia seus avanços, mas
com o tempo foi crescendo esse amor forte que os dois nutrem um
pelo outro até hoje.
Minha vó descobriu sobre o relacionamento dos dois e,
então, proibiu que minha mãe se aproximasse do meu pai, mas isso
não bastou para que ela se afastasse, meses depois minha vó a
tirou do testamento e a expulsou de casa somente com a roupa do
corpo, como meu avô havia morrido, ela não tinha a quem pedir
ajuda se não fosse meu pai, ele a acolheu em sua casa e com suas
economias pagou por sua liberdade e saiu daquele antro de
perdição, durante anos eles viveram com pouco, mas nunca
perderam a esperança de uma vida melhor, até quando meu pai
conseguiu se formar em Engenharia Aeronáutica e se especializou
em Design de aviões na faculdade e, minha mãe também concluiu
seus estudos, quem os vê hoje não imagina o tanto que eles
sofreram e quantas portas foram fechadas em seus rostos.
Minha mãe, é uma bela mulher aos quarenta anos, tem
1,75m, trabalha como advogada de Direitos Sociais e é uma incrível
profissional, tem cabelos cacheados na cor castanhos escuros,
olhos pretos, pele branca e curvas de arrasar. Sempre lutou por
todos nós, esteve à frente de nossas batalhas e sempre se fez
presente em meus momentos bons e ruins. Eu admiro minha família
e sou muito agradecida por tê-los.
Conversamos por bastante tempo, olhei para meu relógio e vi
que já havia passado da hora de estar em casa, Paul não iria gostar
disso.
— Preciso ir agora. Paul chega em alguns minutos e ele
gosta de me ver em casa o esperando.
— Tudo bem, minha princesa, seja feliz, Liza, não deixe que
ninguém tire isso de você. Lembre-se, os únicos que podem
escolher a que futuro queremos somos nós mesmo. — Papai me
olha com ternura.
— Isso mesmo querido, nossa menina cresceu e é uma
mulher forte, eu tenho muito orgulho de ser sua mãe. — Ah, mamãe,
se soubesse as proporções que deixei minha vida tomar, estariam
decepcionados comigo.
— Sophia, por favor, leve Liza até a saída. — Ela aparece em
segundos na sala, me levanto, dou um beijo em meus pais e sigo
para porta.
Sophia é uma senhora de sessenta e dois anos, trabalha
para minha família desde antes de meu nascimento, é uma amiga e
fiel escudeira da família Harper, morena, de olhos castanhos e altura
mediana, tem cabelos brancos e é um pouco rechonchuda.
— Até logo, Senhora Turner.
— Por favor, Sophia, me chame de Liza, você acompanhou
meu crescimento, trocou minhas fraldas, eu a considero como uma
segunda mãe.
— Eu nunca tive filhos, mas a considero também como uma
filha. — Dou um beijo em seu rosto como despedida e sigo para o
carro.
Capítulo 4

O caminho até em casa é breve, em menos de quarenta


minutos já estava em frente a mansão Turner. Brian estaciona o
carro na garagem, segue em minha direção e abre a porta para que
eu saia. Avisto um carro estacionado em outra extremidade e
reconheço ser um Porsche Panamera Hybrid na cor preta, sempre
fui apaixonada por essa marca e digo desde já que sou louca por
um carro desses, mas meu tão amado marido me proibiu de ter um
só para mim. Quem será que está em casa a essa hora, espero
realmente não ser uma mulher, porque seria demais até para ele,
apesar de que, nada mais me surpreende.
— Brian, obrigada por ter me acompanhado até a casa dos
meus pais. Boa noite. — Bato a porta do carro e sigo para entrada.
— Boa noite, Senhora Turner.
Quando entro na cozinha, escuto risadas vindo da sala e vou
em direção a mesma. Vejo um homem alto, com ombros largos,
corpo musculoso, moreno de cabelos e olhos pretos, um tremendo
gato, logo o reconheço como sendo o melhor amigo do meu esposo,
Christopher Moore, se eu não tivesse conhecido Paul, com certeza
teria me apaixonado por Chris, eu e ele não mantemos muito
contato, pois o meu marido diz que não devo ser amiga de homem
nenhum, porque posso vir a confundir relações, o cretino só está
apenas com medo de levar um chifre e olha que eu já pensei nisso
muitas vezes, mas felizmente tenho amor ao meu caráter e isso
nenhuma situação colocará em risco, mesmo que ele mereça e
muito. A única coisa que tenho é forças para lutar pela minha
família, porque de sobra não possuo mais nada, nem mesmo
autoestima.
— Boa noite, rapazes — cumprimento, logo que entro na
sala.
— Boa noite, meu amor. — Paul se aproxima de mim e beija
meus lábios como se fossemos um casal apaixonado, algo que não
somos há muito tempo.
— Olá, Elizabeth, como está? — Christopher me pergunta e,
não desvia seu olhar de mim até obter uma resposta.
— Estou bem, Christopher, e você?
— Melhor agora. — Fico envergonhada por sua colocação e
sinto minhas bochechas esquentarem.
— Pode subir e me esperar querida, já estou terminando
minha conversa com Chris.
— Oh não, posso ficar e esperar querido — digo em tom de
deboche. Paul pega em meu queixo e aperta com força, sem que
Chris perceba.
— Eu disse para você subir, pode fazer isso por mim, Liza?
— Vou à cozinha ver se tem algo para comer. Querem
alguma coisa?
— Não, já estamos terminando por aqui, pode nos dar licença
agora.
— Sim, claro. — Meus olhos varrem a sala até chegarem de
encontro aos de Chris, ele me olha intensamente até Paul perceber
e mudar totalmente sua fisionomia.
Chego à cozinha e jogo minha bolsa em uma das cadeiras, pego
um copo dentro do armário e encho de água dando uma só golada
de total desespero. O que eu estou fazendo, como pude ser tão
descuidada, Paul percebeu como fico perto de Chris e tenho certeza
de que ele irá retalhar isso, só espero que não seja algo pior do que
ele já tenha feito. Pego minha bolsa, volto para sala e percebo que
ela está vazia, mas quando vou subir as escadas escuto chamarem
meu nome.
— Elizabeth, venha aqui agora. — Sinto a raiva no tom de
sua voz.
— O que foi, Paul?
— O que foi, você tem certeza de que está mesmo me
fazendo essa pergunta, que palhaçada foi àquela, acha que não
percebi você flertando com Chris, é tão vagabunda assim que não
disfarça nem na frente do seu marido. — Ele vem em minha direção,
e puxa meus cabelos com força fazendo com que eu ajoelhe
perante seus pés. — Eu vou mostrar para você o que acontece
quando me desafia. — Ele me arrasta até a escada e quando me
puxa para subirmos a campainha toca. Paul me olha e faz sinal para
que eu fique em silêncio enquanto segue para a porta.
— Christopher, o que aconteceu, esqueceu algo?
— Sim, desculpa Paul, esqueci meu celular em cima da
mesa, posso pegá-lo? — Sinto alívio ao ouvir sua voz.
— Eu mesmo pego, espere um minuto.
Quando Paul sai em busca do celular, Chris entra em casa,
me vê sentada na escada e se aproxima de mim.
— Está tudo bem, Liza?
— Tudo ótimo.
— Não precisa mentir para mim, eu sei que não está nada
bem.
— Por favor, Chris, obrigada pela preocupação, mas não se
envolva, não quero que se machuque.
— Saiba que poderá contar comigo para tudo que precisar,
eu sempre estarei ao seu lado Liza, sempre.
— Achei o seu celular, aqui está. — Paul percebe o clima
estranho que ficou e entrega o celular para Chris fazendo com que
ele vá embora mais rápido do que chegou.
— Você não perde tempo, não é? — Ele pega em meu braço
e me puxa para cima, quando chega em nosso quarto me joga no
chão. — Você é uma mulherzinha sem moral, mas vai aprender me
respeitar por bem ou por mal.
Paul chega perto de mim e me dá um soco no rosto, minha
cabeça vira com a força do seu ato e sinto minha pele queimar. Ele
nunca havia me batido, mas acho que agora tem algo a mais para
somar na lista.
— Por que está fazendo isso? Você é um monstro sem alma,
eu não te trai e se quer saber eu bem que poderia, Chris é um
homem lindo e muito mais homem do que você poderá ser algum
dia. — Percebo a merda que fiz e recebo um tapa forte no outro lado
do meu rosto.
— Vadia sem escrúpulos, eu vou acabar com você.
Ele chuta minhas costelas enquanto estou caída no chão,
vira-me e me dá mais três tapas em meu rosto. Pega em meus
cabelos e sinto a dor em meu coro cabeludo, me joga no espelho e
caiu em meio aos cacos de vidros espalhados pelo quarto. Tento me
levantar, mas tudo é em vão, meu corpo todo dói e não consigo me
mexer.
— Olha o que você me fez fazer, Elizabeth, isso é tudo culpa
sua. — Escuto seus passos e logo a porta é fechada com força
fazendo o chão tremer.

(...)

Não sei quanto tempo passou, mas sei que provavelmente eu


tenha desmaiado, meu corpo está dormente e ainda estou deitada
em cima dos cacos de vidros, me levanto do chão com muito
sacrifício e sigo para o banheiro, olho no espelho e começo a
chorar, estou horrível e irreconhecível, meu rosto está inchado e mal
abro os olhos, meus braços e pescoço estão com cortes por todas
suas extremidades. Tiro minha roupa e lavo meu corpo com cuidado
debaixo do chuveiro, quando saio do box, escuto a porta se abrir e
sinto um frio na espinha.
— Elizabeth, cadê você? Venha aqui agora. — Visto uma
roupa, abro a porta do banheiro e me deparo com um senhor de
meia idade vestindo um jaleco, acompanhado de Paul, parece
algum tipo de médico.
— Meu Deus do céu, o que aconteceu com ela, foi você que
bateu nela?
— Acho melhor você ficar quietinho e fazer o que foi pago
para tal, e nenhuma palavra sobre o que aconteceu aqui, senão eu
acabo com a sua vida de merda. Estamos entendidos?
— Sim, senhor. Por favor, senhora, sente-se aqui na cama,
irei cuidar dos seus ferimentos.
— Eu não quero sua ajuda.
— Cala a boca e senta a bunda aqui agora. — Paul é um
verdadeiro desalmado.
Me sento na cama e espero o senhor cuidar do meu rosto,
ele diz que terá que dar pontos nos cortes em meu pescoço e
braços, e assinto para que prossiga. Paul vê tudo da porta com cara
de arrependido, mas sei que ele fará tudo isso de novo. O que ele
não sabe é que há anos reúno provas contra ele dos seus abusos, e
essa é mais uma que irá para a lista de agressões, eu posso ter sido
uma menina manipulável, mas há algum tempo aprendi a me
defender, eu aceito as humilhações como um meio de mascarar a
realidade, mas não perderei a oportunidade de me vingar quando a
hora certa chegar.
Passo no médico desde muito cedo, tenho consultas às
escondidas com uma psiquiatra para tentar manter minha sanidade,
assim como uma médica que diagnóstica toda agressão física que
ele pode me impor, e como essa veio ser a primeira, terei que
contatá-la para que possa fazer um relatório oficial do que ele me
fez. Ser forte é algo que nutro da esperança de ser livre.
— Pronto, senhora, precisa repousar por uns três dias e já
poderá voltar com sua rotina diária, os pontos cairão sozinhos e
espero uma consulta de retorno para averiguá-la.
— Garanto que ela não sairá da cama durante esses dias,
Doutor Marco Fonseca. Pode me seguir, o levo até a porta.
Me deito em meus travesseiros e choro de raiva, sei que ele
não deixará ninguém me ver até que eu esteja curada, porque
esconde seus rastros feito um maníaco psicopata. Adormeço em
meio as lágrimas pensando que amanhã é um novo dia, e tenho que
seguir com meu plano.
Decidi manter minha família e meus amigos longe de tudo
isso, independente de amá-los, não confio que manterão meu
segredo por muito tempo de outras pessoas, e não posso deixar que
tudo venha a se perder, mas agora o jogo está ficando perigoso e
vou precisar de ajuda.
Capítulo 5

Ao mexer-me na cama, sinto todos os músculos do meu corpo


dolorido e uma dor infernal em meus braços, resultado dos cortes
profundos que havia ali, preciso urgentemente dos meus
analgésicos. Sinto algo batendo como se minha cabeça fosse
explodir e logo percebo ser o som de batidas na porta.
— Bom dia, raio de sol. Como você está, Liza? — Clary vem até
a cama com uma bandeja nas mãos.
— Estou um lixo, mas vou superar. Preciso sair hoje e você vai
ter que me cobrir. — Ela posiciona a bandeja de café da manhã em
meu colo.
— Menina, isso está ficando perigoso, se o Senhor Turner
descobre, eu não sei o que seria de você. — Pelo tom de voz
percebo sua preocupação.
— Ele não vai descobrir se você e o Brian me acobertarem como
sempre fizeram. Vamos lá Clary, eu preciso de ajuda, por favor.
— Tudo bem, mas terá que me contar o que anda aprontando.
— Eu não posso, pois caso Paul descubra, ele não terá como
manipular vocês, porque não saberão de nada para contar.
— Eu fico com o coração apertado toda vez que sai daqui sem
hora para voltar, ando de um lado para o outro completamente
preocupada com você.
— Vai ficar tudo bem, um dia nos veremos livre de tudo isso, até
lá, eu preciso que estejam preparados para tudo.
— Que horas você sairá?
— Daqui uma hora, volto antes dele chegar, prometo.
— Vou avisar ao Brian e chamar um táxi.
— Obrigada, meu amor, você é um anjo, preciso me arrumar.
Levanto-me da cama e vou em direção ao banheiro, tomo um
banho rápido e em minutos estou pronta para sair, pego meus
documentos dentro da gaveta da escrivaninha, coloco na bolsa e
desço para a porta da frente.
— Estou indo Clary, Brian. Volto em breve. — Saio de casa e
entro no táxi, passo o endereço próximo a clínica ao motorista e ele
logo segue viagem.
Preferi que o motorista me deixasse a umas quadras da clínica,
precisava pensar, e seria mais seguro que ninguém soubesse onde
realmente eu estava.
Observo as ruas de Sweet Dreams, a cidade onde nasci e passei
minha vida toda, localizada nos Estados Unidos e com população
acima de dois milhões. Já estive em muitas viagens com meus pais,
mas nada melhor do que o lugar onde você chama de lar, essa
época do ano o clima é ameno, não está muito frio e nem tão calor,
a considero como um lugar de refúgio, por ser uma cidade
acolhedora e harmônica.
Aperto meu suéter ao corpo, e sigo meu caminho para em
minutos estar em frente ao prédio do consultório da Doutora Fey.
Subo as escadas do hall de entrada e peço a recepcionista para
avisar sobre minha presença, logo ela me dá passagem para que eu
suba.
Entro no elevador e aperto o botão do décimo primeiro andar,
apenas algum tempo depois as portas se abrem e entro no
consultório médico.
— Olá, bom dia, meu nome é Stella Sampaio, tenho consulta
para hoje às dez.
— Sim, senhorita Sampaio, queira me acompanhar.
Passo nas consultas com um nome falso em total discrição, tomo
muito cuidado com tudo que faço, Liris aceitou de bom grado que
somente os relatórios estivessem com meu nome verdadeiro, e
somado a uma grande quantia que pago a ela, não viu nenhum
impedimento para tal. O que o dinheiro não faz com as pessoas hoje
em dia, tão fácil enganá-las, manipulá-las, pois só existe ambição
em seus corações, simplesmente são feitas de uma carcaça sem
sentimento algum, poucos se salvam.
— Doutora Fey, com licença, a Senhorita Sampaio está aqui.
— Ok, deixe-a entrar. — Me afasto da porta e me sento na
cadeira em frente para ela.
— Meu Deus, o que aconteceu com você? — Liris fica
espantada com minha aparência, mas tem que ser assim, não estou
pronta para esconder nada nesse exato momento.
— Isso é uma longa história, mas espero que possa me ajudar,
afinal lhe pago há muito tempo para essa situação.
— Sim claro, vamos começar.
Conheci Liris através da internet em um site de médicos legistas,
me simpatizei com ela e decidi procurá-la, e me apresentar, então,
entramos em um acordo mútuo onde ambas as partes teriam o que
quisessem sem muitas perguntas.
Ela é uma médica de muito prestígio com apenas trinta e cinco
anos, ruiva ao natural, alta e de olhos verdes, branca e com um
corpo malhado, resultado de uma malhação constante.
— Saiba que pode me falar qualquer coisa. — Liris tenta me
passar confiança com suas palavras, mas sabemos que não vai
funcionar.
— E você sabe que temos apenas um contrato correto? — Olho
para ela séria, tentando fazer com que ela entenda que não, eu não
posso contar nada da minha vida.
— Sim, eu sei, mas sinto que poderíamos ser amigas também.
— Liris sempre tentou fazer com que nossa relação fosse mais do
que profissional, mas sempre a cortei de seus impulsos.
— Não posso me dar ao luxo de ter amigas. — Isso é algo que
ainda me deixa triste, mas luto contra minhas próprias vontades há
muito tempo que nem lembro mais.
— Vamos examiná-la, mas peço que aguarde uma semana para
pegar o laudo.
— Tudo bem, volto semana que vem.
Fiquei sendo monitorada por duas horas naquele consultório, fiz
todo tipo de exame, tiramos fotos, fiz uma descrição do ocorrido e
por fim pude ir para casa.
Olhei para o relógio e vi que já se passavam das dezessete
horas, preciso chegar em casa rápido.
Pego um táxi na entrada do edifício, chego em casa apenas
alguns minutos depois e pago ao motorista.
— Clary, voltei — aviso fechando a porta da frente.
— Ah, menina, ainda bem, que nervoso, estava ficando
preocupada, Brian já foi embora, só estava mesmo esperando você
chegar em casa para ir também.
— Obrigada, pode ir agora. Chamarei um táxi para você. —
Subo as escadas em direção ao meu quarto. — Qualquer coisa
estou no banho. Boa noite, Clary.
— Boa noite, minha menina, até amanhã.
Entro em meu quarto e tranco a porta. Começo a tirar minha
roupa e vou em direção ao banheiro, ligo o chuveiro e espero
encher a banheira, coloco meus sais de banho e me deito com a
cabeça encostada atrás e logo adormeço.
Sinto umas mãos em meu corpo, me acariciando e acordo
sobressaltada, me levantando bruscamente. Quando abro os olhos,
vejo que é Paul.
— Que merda você está fazendo aqui? Como entrou no meu
quarto, eu tranquei a porta?
— Acho melhor você abaixar o tom de voz, ou calar a sua linda
boquinha. Eu tenho a chave de todos os cômodos da minha casa,
Elizabeth, e estava apenas fazendo carinho em minha mulher, por
que, não posso?
— Não, você não pode, perdeu esse direito há muito tempo,
quando se mostrou um cretino sem alma. — Vejo os olhos de Paul
tomarem raiva por minhas palavras.
— Você gosta do perigo, não é, meu amor. Então, vamos brincar
um pouquinho. — Ele me pega pelos braços e me carrega para o
quarto, colocando-me na cama. — Você é tão linda, Liza, sabe de
uma coisa, realmente você tem razão, eu sou um filho da puta
desalmado, mas o pior de tudo por mais que pareça impossível, é
que eu te amei desde o primeiro momento em que a vi, só que a
minha possessividade e necessidade de estar sempre no controle
me torna o homem que sou. Você já me odeia por vários motivos e
não darei mais nenhum.
Então ele sai do quarto sem mais nem menos, e por um breve
segundo eu pude ver aquele homem pelo qual me apaixonei. As
lágrimas rolam pelo meu rosto e encosto minha cabeça nos lençóis
da cama.
Não posso fraquejar, ele nunca vai mudar, nunca terá um homem
sã em seu interior e eu viverei sempre a sua mercê, abrigada de
dias bons e ruins, se é que posso contar quantos bons eu tive.
Capítulo 6

Você alguma vez já parou para pensar na sua vida, mas não
sobre coisas que você quer fazer, e nem sobre o que você já faz,
mas sim sobre algo que nunca poderia pensar em fazer e mesmo
assim, o risco vale a pena, foi exatamente o que eu fiz, eu fui
subjugada e muitos diriam que sou uma amaldiçoada, mas tem algo
pelo qual luto todo os dias para permanecer.
Sou uma mulher maltratada pelo marido há anos, meus
únicos amigos são a governanta e o motorista, vejo meus pais uma
vez por semana e não tenho o pingo de romantismo na vida, mas
chega de me lamentar, hoje é o dia, finalmente, apesar de ser só
uma vez a cada dez dias, eu vivo e respiro por essa liberdade.
Paul já foi para o trabalho e eu agradeço aos céus por isso,
desde aquele episódio desagradável ontem à noite, já faz um tempo
que Paul não me toca intimamente e eu fico aliviada por ele não ser
tão canalha a esse ponto, porque eu não quero essa aproximação, e
a única maneira de conseguir seria a força.
Estou sentada na grama atrás da casa em meio ao jardim
respirando um pouco de ar fresco, faz tempo que não faço isso,
sentia falta dessa paz. Logo pela manhã tomei meu café e tirei um
tempo para mim e isso eu posso dizer que tenho de sobra.
— Elizabeth, você tem visitas. — Me viro em direção a casa e
avisto Clary me gritando, quem será? Só Paul recebe visitas.
— Você avisou que Paul não está?
— A visita é para a Senhora.
— Avise que já estou indo. — Caminho para dentro da casa e
vou em direção a sala de visitas. — Chris? — Mas o que ele está
fazendo aqui, ele sabe que essa hora Paul está na empresa, e é
onde ele também deveria estar.
— Olá, Liza, tudo bem? — Ele se vira e vem em minha
direção.
— Sim. A que devo a visita? Clary disse que era para mim. —
Posso ter sido um pouco ríspida, mas não deveria estar em
companhia de homem nenhum sem meu marido, ele pode imaginar
uma nova traição da qual também não seria culpada.
— Ela estava certa, vim falar com você. Podemos nos
sentar? — Ele segue para o sofá de centro e se posta sobre ele.
— Claro. — Me sento ao seu lado e o olho em expectativa.
Só posso estar ficando maluca mesmo.
— Sua maquiagem e roupas longas não escondem as
agressões daquele crápula. — Fico envergonhada com suas
palavras e inclino o rosto para fugir de seus olhos reprobatórios,
mas logo o vejo pegar em meu queixo e fazer com que eu o olhe
novamente.
— Não deveria ter vergonha, você não tem culpa de nada, eu
fui tão negligente com você, sabia que havia algo de errado, mas
não podia fazer nada antes de ter provas. — Fico confusa com sua
interação sem saber onde isso pode nos levar.
— Você não me conhece direito Chris, como poderia saber
do que Paul é capaz. — Tento me manter firme em minhas palavras,
mas quem eu quero enganar.
— Eu sei bem mais do que aparenta, mas isso é assunto
para outra hora, eu vim pedir que venha comigo e me deixe cuidar
de você. — Ele não pode estar falando sério.
— Eu não posso sair do lado do meu marido para fugir com
outro homem, quem pensa que sou. — Levanto-me e ando para
longe dele.
— Eu não tenho interesse em você como mulher, só quero te
ajudar, me deixa fazer isso por você. — Seus olhos aparentam
súplicas, como se estivesse a ponto de perder o controle.
— Você não entende, Paul tem algo que me pertence, além
do poder de acabar com minha família, eu não posso deixá-lo. —
Não posso fazer isso com meus pais, mas admito que a vontade de
ir embora é enorme.
— Me diz o que ele tem contra você e daremos um jeito de
conseguir de volta. — Chris olha em meus olhos esperando uma
resposta positiva a sua proposta.
— Não posso contar a verdade, mas posso te pedir ajuda em
outra coisa. Estou confiando em você com a minha vida, e espero
que não esteja errada. Eu reúno provas contra Paul há algum tempo
sobre minhas agressões, pago duas médicas que fazem laudos
para que eu mantenha comigo quando puder usar, só que essa
minha vida clandestina está um pouco perigosa e preciso de alguém
que possa me cobrir em determinados momentos.
— Feito, em mim você terá essa pessoa. Somos amigos
apesar de tudo.
— Sim, amigos. — Como eu queria que fosse algo mais. —
Você tem que ir agora.
— Eu sei. — Sou pega de surpresa quando Chris me abraça
forte, e que braços são esses. Minha nossa! — Como faço para falar
com você?
— Quando eu precisar, eu entro em contato, não ligue para
minha casa e nem pergunte sobre mim novamente, meu marido
consegue ser bem possessivo quando quer.
— Por que se refere a ele como marido, passa a impressão
de que são um casal feliz? — sua pergunta me pega de surpresa.
— Porque no final de tudo, a aliança que está em meu dedo
me prova essa dolorosa realidade. Tenha um bom dia, Christopher.
— O levo até a porta e me despeço dele.
Misericórdia, esse homem é lindo demais. Seria irresistível,
caso minha vida não fosse tão complicada. Christopher apareceu na
vida do meu marido de um modo que eu mal entendo, sei que são
sócios da empresa que meu pai trabalha, mas como viraram
amigos, disso eu nunca soube. Às vezes, sinto como se ele me
perseguisse com o olhar todas as vezes que estamos perto um do
outro e sinceramente eu não vejo algo ruim nisso. Vou em direção à
cozinha e lá vejo Clary começando a preparar o almoço.
— Quer ajuda? — Ela dá um pulinho como quem levou um
susto. — Desculpa, não quis assustá-la.
— Não faça isso comigo, chegando assim em silêncio. Já
estou quase acabando, pode ficar tranquila, fui contratada para isso
senhora, cuidar da casa e todas as atividades que remetem a ela,
por isso Paul me quis, para que não tivesse mais ninguém na casa,
apenas aqueles que veem duas vezes na semana para limpeza.
— Ele apenas queria que eu ficasse incomunicável, no meu
cárcere privado de luxo. — Quando Clary me olha, vejo tristeza em
seus olhos.
— Sinto muito minha criança.
— Está tudo bem Clary, eu me acostumei a vida que tenho.
— Acostumei-me, mas não aceitei.
— Você é tão nova para se acostumar com uma vida assim,
se ao menos tivesse uma miniatura sua para lhe fazer companhia.
— Eu nunca pensei que diria isso, mas eu ter perdido meu
filho foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido. Eu só tenho
vinte e dois anos e hoje ele teria apenas dois anos. O que eu vivo
aqui eu não desejaria a um pedaço do meu coração, você entende?
— Lágrimas rolam por meu rosto sem que eu perceba e Clary a
seca com suas mãos.
— Eu entendo. — Recebo um abraço apertado da minha
melhor e única amiga. — Agora vamos almoçar, porque saco vazio
não para em pé. — Levanto meus lábios em uma tentativa de dar
uma risada, mas, na verdade, o que se faz é apenas um sorriso. —
É isso que eu quero, um sorriso nesse rosto lindo.
Almoçamos juntas ao Brian, e depois fui ao meu quarto tomar
um banho e me deitar. Peguei um livro na estante e comecei a lê-lo
até pegar no sono.
Capítulo 7

Um mês depois...
Já se passaram quatro semanas desde a agressão, não pude
cumprir com muitos dos meus compromissos, os pontos caíram e as
marcas no meu corpo e em meu rosto não aparecem mais.
Pego o relógio em cima da mesinha e vejo que são dez horas,
tomo um banho rápido, me visto, e desço correndo pelas escadas
de casa.
— Clary, cadê você mulher, você sabe que dia é hoje, é meu dia,
minha liberdade. — Saio gritando pela casa até encontrá-la na
cozinha, mas vejo mais alguém sentado à mesa.
— Então hoje é o dia da sua liberdade, interessante. — Paul está
olhando para mim desconfiado, o que eu vou fazer, eu tinha que ter
gritado logo hoje.
— Paul, que coincidência, você não foi trabalhar hoje? — Tento
permanecer calma, mas minha voz entrega meu nervosismo.
— Eu ainda vou trabalhar minha querida, apenas quis tomar café
com a minha esposa hoje, precisamos conversar. — O que será
dessa vez.
— É claro. — Sento-me ao seu lado e começo a me servir com
os pães postos à mesa.
— Então, Liza, me explica uma coisa, por que hoje é o dia da
sua liberdade? — Minhas mãos começam a tremer enquanto corto
um pedaço de pão doce.
— É que hoje é o dia de fazer compras, e eu me sinto livre
quando o faço, só isso. — Espero que realmente ele acredite nessa
mentira.
— Interessante escolha de palavras, fazer compras remete a
liberdade. Aproveite, porque é a única que você terá. — Ele se
levanta da mesa e antes de sair se vira para mim. — Hoje é a noite
do pôquer com os caras, não voltarei antes das duas da manhã.
— Tudo bem, se divirta. — No momento em que profiro minhas
palavras, ele já estava bem longe de vista.
— Misericórdia, meu coração quase saiu pela boca agora, como
você sai gritando assim pela casa menina, quer me matar — Clary
fala com a mão no peito.
— Desculpa, eu acordei feliz e não medi as consequências, sinto
muito.
— Espero que ele tenha acreditado nessa sua desculpa, porque
a mim não convenceu nadinha. — Caio na gargalhada. Realmente
foi uma péssima mentira.
— Não era de todo mal, realmente eu vou ao shopping hoje, está
com você aquele dinheiro que lhe pedi que fosse tirar do banco. —
Ela sai da cozinha e volta com um envelope nas mãos.
— Está aqui, só não entendo por que não usar o seu cartão. —
Ela me estende o envelope para que eu o pegue.
— Porque Paul saberia pelo extrato bancário aonde eu fui e isso
não pode acontecer.
— Um dia eu saberei onde a senhorita vai a cada dez dias
durante a noite. — Nunca poderei contar-lhe a verdade.
— Quem sabe um dia.
Subo para quarto, pego minha bolsa e peço para Brian me levar
ao shopping. O shopping de Sweet Dreams é grande e possui
somente lojas de grife, realmente não é para os pobres e isso a meu
ver é total falta de compaixão e empatia ao próximo, a sociedade de
hoje é tão mesquinha.
Chego aonde quero estar e entro na loja com uma placa escrita,
“Onde seus desejos são realizados”, em letras discretas.
— Olá, bom dia, lembra-se de mim? — falo a recepcionista, que
me conhece desde sempre, já que venho somente aqui.
— Sim senhora, já separei o que me pediu, irei pegar, só um
minuto. — Ela segue por um corredor e a perco de vista.
Algum tempo depois a recepcionista aparece carregando uma
caixa preta envolta com um laço de cetim vermelho.
— Aqui está senhorita. A madame fez exatamente do jeito que
pediu. — Ela estende a caixa em cima da mesa e abre a tampa para
que eu veja.
— Isso, está perfeito. Muito obrigada, aqui está o pagamento,
tenha um bom dia. — Saio da loja e sigo para o estacionamento,
avisto Brian e ele abre a porta do carro em prontidão.
— Para casa Senhora?
— Sim, Brian. Vamos direto para casa.
Já se passou bastante tempo e isso porque minha casa não fica
nem uma hora de distância do shopping, mas o trânsito não
cooperou em nada com a minha pressa, mesmo assim conseguimos
chegar antes do almoço.
— Clary, já estou em casa. Vou subir para o quarto, me avise
quando o almoço estiver pronto — aviso enquanto subo as escadas.
— Sim, senhora — ela profere suas palavras vindas da cozinha.
Preciso esconder a caixa até a hora de sair, ninguém pode ver e
tenho receio de que o Paul venha para casa a qualquer momento.
Retiro de dentro da caixa e coloco em meu closet, pego a mesma e
descarto no lixo que fica de fora da casa, nada de deixar as provas
do "crime" avista.
Meus dias na mansão são calmos, eu leio, converso com a
Clary, como e assisto filmes na TV. E isso é o resumo da minha vida
em quatro anos de casada, e pensar que eu poderia estar com meu
pequeno agora mesmo, e lembrar o modo pelo qual ele foi tirado de
mim, me deixa triste, carreguei meu amor por nove meses na
barriga e ele se foi.
Tive depressão pós-parto pela perda do meu menino, fiquei um
bom tempo sem sair de casa, tinha crises de pânico durante a noite
e ficava com medo de qualquer contato, fui agressiva, feria as
pessoas com palavras e sempre me sentia culpada pelo que
aconteceu.
Hoje eu sei que não tive culpa, Deus quis levar meu pedacinho
do céu, e pensar que ele poderia estar no mesmo inferno que eu,
minimiza meu sofrimento e me faz se sentir mais aliviada.
Posso parecer insensível, mas somente quem sofre como eu,
sabe que se fosse seu próprio filho não o iria querer nessa situação
de vida em que me encontro.
Chegou a hora, Paul não chegará tão cedo, então, vou
aproveitar. Deixo um bilhete em cima da bancada caso ele apareça,
dizendo que irei visitar meus pais e saio de casa.
Pego um táxi e minutos depois chego ao lugar com uma placa
nada discreta escrita em Neon. Peço ao segurança minha liberação
e ele me dá passagem para que eu siga em diante.
— Olá, meu amor, não via a hora de vê-la de novo, você tem
cinco minutos.
Fico pronta algum tempo depois e sigo para o local, entro no
ambiente e vejo uma luz fixa em meu rosto, logo me entrego ao meu
mundo de sonhos e me perco até o fim da noite.
— Como sempre, magnifique, minha adorável Fênix, até daqui
dez dias, amore mio.
— Boa noite, Seigneur.
Chego em casa uma hora da manhã, entro pela garagem e me
certifico de que o carro de Paul não esteja lá, entro em casa e vou
direto para o meu quarto, tomo um banho e me troco para dormir.
Hoje foi melhor do que todos os outros, estava completamente
entregue ao momento, ainda sinto o toque da liberdade em meu
corpo e escuto o som em meus ouvidos.
Capítulo 8

— Vamos acordar mocinha, que já está tarde? — Escuto o


som alterado na voz da minha mãe quando ela entra com tudo em
meu quarto e abre as cortinas fazendo com que a luz do sol recaia
sobre meu rosto.
— Mamãe, o que você está fazendo? Eu dormi tarde ontem,
por favor, me deixe descansar — digo isso com total indignação em
minha voz quando deito a cabeça em meu travesseiro novamente.
— Eu não criei filha preguiçosa. Temos que nos arrumar e
ficar lindas, meu amor. Hoje será o baile de Gala em comemoração
ao aniversário do seu sogro, e eu irei ter uma noite romântica com
seu pai. — Abro apenas um dos olhos em direção a ela.
— Como assim? Paul não me disse nada sobre isso. —
Típico dele, sempre omitindo as coisas até o último momento.
— Ele me ligou hoje de manhã, me pediu que viesse aqui e te
deixasse arrumada para a noite, então, passaremos o dia no SPA e
depois iremos no salão de beleza para arrumar os cabelos e fazer
maquiagem. — Levanto-me da cama e me sento, já que não
dormirei mais nem se eu quisesse.
— Ainda são nove horas, eu posso dormir mais umas duas
horas — falo isso em total súplica, porque estou morta de cansaço.
— Você vai descansar em uma daquelas massagens
tântricas, dizem que é maravilhosa e além disso pode-se fazer
pelada, é ótima para casais também e que atiça as partes erógenas
do corpo, acho que seu pai vai ficar feliz com isso quando
chegarmos em casa depois do nosso jantar. — Aí meu Deus, não
acredito que isso saiu da boca da minha mãe, terei pesadelos para
o resto da vida.
— Que nojo mãe, não me faça pensar em você e o papai
desse jeito. — Faço uma expressão como quem quer vomitar.
— Para com isso menina, como você acha que foi feita? Pelo
amor de Deus, larga de ser puritana, você já é uma moça casada.
— Sou casada, mas não fico falando sobre minhas
intimidades. — Minha mãe faz uma cara de debochada e caio na
gargalhada.
— Sou sua mãe e posso contar tudo que quiser para meu
bebê. — Ela acaricia meu rosto quando diz.
— Sim, mamãe, a senhora pode me contar tudo, menos
sobre isso. — Seria demais para minha sanidade.
— Por que a senhorita não foi me visitar todos esses dias? —
Sabia que ela iria perguntar quando estivesse aqui, mesmo eu
falando por telefone tantas vezes.
— Eu já havia explicado mãe, estava muito ocupada nessas
semanas, nem saindo de casa eu estava organizando minhas
coisas e reformando os quartos.
— Sim, você havia me dito que estava fazendo uma pequena
reforma. — Pior que mesmo não precisando, eu tive que mudar
algumas coisas para ela não desconfiar.
— Preciso mesmo ir hoje à noite? — Houve um tempo que
ficava fascinada com bailes da alta sociedade, mas agora é apenas
uma lembrança distante.
— É o seu sogro, meu amor, o que quer que eu diga, vá e se
divirta, não posso dizer que faria o mesmo, já que meus sogros
foram umas pessoas miseráveis e sem coração, mas pelo menos se
permita ter esse gostinho e ser linda. Ultimamente vejo a senhorita
apenas usando roupas casuais, e no máximo saltos, mas aquela
mulher vaidosa de antes se perdeu aí dentro e quero que você a
encontre, então, iremos começar por hoje à noite. Levanta a bunda
daí e vai tomar banho, teremos um dia cheio e irei te deixar linda. —
Mamãe pega em minhas mãos com entusiasmo e me leva para o
banheiro, fechando a porta em seguida. Pois é, que os jogos
comecem.
Passei o dia no SPA com minha mãe, nos divertimos
bastante e conversamos como há muito tempo não
fazíamos. Fomos ao salão de beleza e escovei meus cabelos,
prendendo umas mechas para o alto e soltando o resto que desciam
ondulados pelas costas. Fiz uma maquiagem leve para a noite e por
fim fomos embora, mas nada de massagens tântricas.
Deixei minha mãe em sua casa e voltei para minha com meu
vestido recém comprado e um sorriso satisfeito no rosto. Quando
cheguei ao meu portão, apertei o aparelho que o abria e segui para
a garagem, estacionando o carro e depois entrando em casa. Como
passaria muito tempo fora, foi me permitido por Paul dirigir sozinha.
— Até que enfim você chegou, você tem 15 minutos para
ficar pronta, então, por favor, se apresse. — Paul estava em meu
quarto sentado em minha cama, vestido em um smoking preto sob
medida, e fazendo suas demasiadas exigências, como sempre.
— Não me apresse, eu sei dos meus compromissos e dos
meus horários. — Ele forma uma expressão de raiva e a direciona
em minha direção.
— Acho que você está muito ousada por esses dias, espero
que não queira outro carinho no seu rosto cínico. — Vive me
ameaçando, até parece que não tem mais o que fazer.
— Como queira, senhor — expresso em tom de deboche.
Fui para o banheiro e coloquei minha roupa, pois já havia
tomado banho no SPA, quando sai do quarto Paul já não estava
mais lá e, então, só coloquei um casaco para cobrir o vestido, pois
sei que se ele o vir não me deixará usá-lo. Meu traje é um vestido
amarelo de cetim com decote nas costas em forma de U até o cós
da bunda, e na frente apenas um decote V discreto, acompanhado
de um salto bico fino na cor preta.
— Pronto, podemos ir — digo ao chegar à sala e encontrá-lo
sentado no sofá.
— Então vamos, preciso beber para esquecer essa vida de
merda. — Seria bom se pudesse beber e esquecer que existo.
Chegamos em frente aos portões da Mansão Turner, e
seguimos de carro pela estrada iluminada até chegar próximo a
casa, descemos do carro e vimos vários outros estacionados, as
pessoas se dirigiam até o hall de entrada e eram recepcionados por
uma mulher de cabelos loiros, alta e com vestido preto, creio eu que
deveria ser a quem cuida da lista de convidados.
— Por favor, querida? — Paul estende o braço para eu pegue
e me guia até a casa, parando de frente a mulher de olhos verdes.
— Boa noite, Senhor e Senhora Turner, sejam bem-vindos.
Sua mãe está perto das escadas. — A mulher pisca um olho para
meu marido claramente se oferecendo, e eu simplesmente acho
uma falta de educação comigo ao lado, mas não tenho ciúmes,
apenas exijo respeito.
Paul e eu entramos na casa e o mesmo, divaga seus olhos
até encontrar sua mãe, simplesmente larga meu braço e segue até
ela como se eu não estivesse aqui. Logo um serviçal vem até mim e
estende as mãos indicando querer pegar meu sobretudo.
— Senhora? — Deixo que ele o retire de meus ombros e o
leve.
Quando levanto os olhos para o salão, vejo homens e
mulheres me olhando com admiração, e meu peito infla de orgulho
por deixar que mamãe fizesse isso por mim. Ando pelo ambiente em
direção ao meu marido que me olha com raiva. Tenho direito a estar
linda pelo menos uma vez e de me sentir bem comigo mesma.
— Que tipo de vestido é esse. Não é algo que uma mulher
casada deva usar. — Paul se posta ao meu lado, me criticando
como sempre.
— É um vestido como qualquer outro aqui, apenas quis ser
diferente da pessoa que me tornei depois que te conheci. — Ele me
lança um olhar de desagrado.
— Liza, Liza. Você está se tornando uma mulher de opiniões
muito perigosas, espero que tenha estômago para as
consequências — ele fala em meu ouvido enquanto aperta meu
braço com força, tenho certeza de que ficará roxo.
— Por favor, querido, largue o braço da sua mulher, tem
pessoas olhando e não quero que a festa que planejei com muito
empenho seja interrompida por problemas conjugais — minha sogra
Alice, alerta Paul com medo de que sua perfeita imagem seja
afetada, afinal, é tudo que importa para ela, as opiniões de uma
sociedade hipócrita e machista.
— Olá, Elizabeth. Meu filho tem razão em questionar suas
vestimentas, está ousada demais para uma Turner, espero que não
ouse repetir esse disparate em mais um dos meus
eventos. — Eventos? A mulher é tão desalmada quanto seu filho,
hoje deveria ser uma comemoração em família para honrar o
aniversário de 50 anos do seu marido, não um evento onde as
mulheres competem para saber quem tem a joia e a roupa mais
cara, e homens que ficam entre si falando de negócios e como
ganhar mais dinheiro, são todos fúteis.
— Tenho certeza de que a senhora não tem autonomia em
minhas decisões, muito menos em relação ao que deixo de vestir ou
não, portanto, queira cuidar de sua própria vida. — Os olhos de
Alice ficam arregalados com minha imprudência e me sinto no
direito de me deliciar com a situação, não ligo se terá resultados
negativos depois, irei aproveitar minha vitória.
— Tenha respeito pela anfitriã, Elizabeth, peça desculpas. —
Paul tenta me obrigar, mas não cederei.
— Nunca. — Me afasto de ambos, mas não antes de escutar
Alice.
— Eu disse que ela não seria adequada para ser uma Turner.
— Sigo em direção ao bar, preciso de uma bebida.
— Por favor, vodca pura e um whisky duplo sem gelo — peço
ao barman que está vestido de smoking, com certeza uma exigência
da megera.
— Uau, essa mistura não me parece uma boa coisa, está
querendo ficar bêbada e ao mesmo tempo vomitar tudo para fora
mais tarde? — Eu levo um susto e olho para o lado para saber a
quem pertence a voz, mas no fundo eu já sei.
— Chris. Oi, quanto tempo? — Que merda foi essa, eu que
pedi para que ele não falasse comigo e agora estou aqui falando
com ele como se fosse um amigo desnaturado.
— Olá, Liza. Você que me pediu para não falar com você na
sua casa ou te ligar. — Chris me olha com questionamento.
— Eu sei Chris, só não estou me sentindo bem hoje.
— Não se sinta mal, Liza, eu ouvi sua discussão com sua
sogra e Paul, você não tem culpa das atitudes deles. Você é uma
mulher virtuosa, lutadora, inteligente e linda. Não deixe que ninguém
te convença do contrário. — Fico abismada com sua declaração, eu
não sabia que poderia ser tudo isso para qualquer pessoa, imagina
só para um homem como ele.
— Obrigada pelas palavras, realmente acho que precisava
disso. — Meus olhos se deparam com os dele e ficamos por um
tempo nos olhando compenetrados, de repente eu só via ele e mais
ninguém até escutar uma voz atrás de mim.
— Liza, querida, vejo que encontrou Chris. Como vai meu
amigo? — Paul abraça Chris em um gesto afetivo enquanto desvio
de seu olhar.
— Estou bem, Paul, estava apenas conversando com sua
linda esposa. — Aí caramba, ele gosta de mexer com o perigo.
— Realmente, minha mulher está maravilhosa, sou muito
sortudo por tê-la. — Paul vem ao meu encontro, me apertando pela
cintura com força.
— Realmente você tem sorte. — Chris me olha de um jeito
que não posso descrever, só que a intensidade me faz sentir uma
pontinha de calor que incendeia meu corpo por inteiro.
— Cavalheiros irei ao banheiro retocar a maquiagem, com
licença. — Precisava sair dessa situação que mais parece uma
disputa de territórios.
Entro no banheiro destinado aos convidados e vejo o quanto
é luxuoso e grande, com certeza Alice não perdeu oportunidades de
mostrar o quanto dinheiro tem.
Quando conheci minha sogra, ela foi um amor comigo.
Lembro-me de que quando a vi pela primeira vez, não achei
possível existir mulher mais linda e sofisticada que nem ela. Sua
beleza é estonteante, tem cabelos loiros iguais aos do filho, olhos
verdes, pele branca e corpo perfeito, mas percebi que a imagem
externa era uma parede para esconder a podridão de dentro.
Com o passar dos anos ela começou a demonstrar sua
indiferença a mim, principalmente quando recebia visitas de Giseleh
White, filha de uma de suas amigas, ouvi empregados sussurrarem
pela casa em minhas visitas que ela era amante de Paul, mas nunca
acreditei, acho que Alice não seria capaz de receber a amante do
filho dentro da própria casa, ela não seria tão mal caráter.
Apesar de que não seria impossível, sei que meu marido tem
amantes, até porque nego a ele qualquer contato afetivo, agora
colocar sua amante para conviver comigo já é demais. Giseleh é
uma mulher linda, negra de olhos pretos e cabelos Black, sempre
me tratou bem quando nos encontrávamos na mansão, nunca vi
nada de suspeito ou falso nela, mas não confio em ninguém.
Passo batom em meus lábios em frente ao espelho e me
sinto orgulhosa da minha aparência. Estou bonita com certeza.
Guardo o batom em minha bolsa e acabo por me lembrar que não
tomei as bebidas que pedi por causa da minha conversa com Chris
e a interrupção de Paul.
Apago a luz e saio do banheiro, mas sem que eu possa
pensar na cena que se segue, sinto mãos fortes me segurarem pela
cintura e outra posta em minha boca me arrastando para um quarto
que prevejo ser de um funcionário, me debato enquanto sou jogada
na cama e um corpo fica sobre mim.
— Me solta, quem é você? Se não me soltar, eu juro que irei
gritar.
— Fica quietinha, prometo que você não vai se arrepender,
vai até gostar, eu sou melhor do que seu marido.
— Por favor, não, me deixa em paz. — Tento chutá-lo, mordê-
lo, mas é tudo em vão, ele não desistiu.
— Eu mandei você ficar quieta, senão terei que usar a
violência para me obedecer. Ela me disse que você tentaria resistir,
mas que eu poderia fazer o que quisesse com você, e não pensei
duas vezes, pois você é uma mulher escultural, quando te vi hoje à
noite, sabia que você teria que ser minha. Meu nome é Sebastian
coisinha linda, eu vou cuidar bem de você. — Um homem forte, alto,
de cabelos pretos e olhos castanhos escuros é o meu violentador, o
homem que tirará minha dignidade.
— Quem mandou você fazer isso? — Ele não responde e
apenas tenta tirar minha roupa, rasgando-a no processo.
Quando ele está distraído tentando tirar suas próprias calças,
eu me levanto e corro para a porta, graças a Deus, ela está aberta e
fujo para o andar de cima. Me trancarei no quarto que era de Paul,
ligarei para ele e contarei o que quase me aconteceu, não sairei
daqui até ter certeza de que não corro mais perigo.
Ao me aproximar, abro a porta do quarto e vejo Paul
transando com Giseleh, enfim, as suspeitas eram verdadeiras. Com
o impacto que a porta bate na parede ao lado, os olhos de ambos se
voltam para mim, fico apenas estagnada sem reação enquanto eles
se vestem e Paul vem em minha direção.
— Que merda você está fazendo aqui em cima? — Ele acha
que tem direito de pedir explicações, cretino do inferno.
— Quem tem que fazer perguntas aqui sou eu, trazendo suas
piranhas para casa Paul, que vergonha. Me admira você Giseleh,
pensei que era uma mulher descente, mas é tão nojenta quanto ele.
— Ela arregala os olhos descrente pelo que falei.
— Quando o marido não tem em casa, procura fora querida.
Se não sabe cuidar do seu homem, cuido eu. — A vadia ainda acha
que tem alguma moral. Me aproximo dela e lhe dou um tapa forte no
rosto.
— Cala sua boca. Se ele não tem em casa é porque é um
marido de merda que só sabe me humilhar e me agredir, e até acho
bom que ele não procure em casa, porque pelo menos terei alívio de
saber que ele não encostará um dedo em mim, mais do que ele já
fez. O caso aqui é que odeio falsidade, no mínimo deveria ter
contratado uma prostituta, mas porque se tem de graça, não é. —
Paul está sem reação e vejo que se assustou com minha coragem
para enfrentá-los, ele não sabe nem a metade do que sou capaz.
Pego minha bolsa que deixei cair e vou em direção a porta, mas ele
me para.
— O que aconteceu com as suas roupas?
— Vou fingir que você se importa, eu quase fui estuprada
dentro da sua própria casa por um louco que adquiriu uma obsessão
pela sua esposinha aqui. — Vejo em seus olhos surpresa e mal
acredito em sua encenação. — E tem mais, tenho certeza de que a
vadia da sua mãe tem a ver com isso, pois ele me disse que “Ela”
tinha dito sobre mim e o instigado a fazer essa barbaridade.
— Como ele é? Pode identificá-lo? — É possível que eu
esteja em outra realidade onde meu marido não é um canalha e
realmente se importa comigo, acho que não.
— Não interessa, eu fugi e com certeza ele está bem longe
daqui, mas se eu o vir de novo, eu te falo, aproveitem a noite vocês
dois, pelos menos um de nós pode transar, eu vou embora daqui. —
Na porta a silhueta de uma mulher aparece.
— O que está acontecendo aqui, dá para ouvir os gritos de
vocês lá debaixo. — Agora sim o momento está perfeito.
— Deixa-me explicar para a senhora. — Levanto a mão e lhe
dou uma bofetada tão forte que vejo sangue escorrer pelos seus
lábios. — Agora você entendeu. — Ela me olha horrorizada, pensou
que eu não teria coragem de devolver, não é, o único que
infelizmente ainda tem poder sobre mim está ao lado.
— Sua louca, você perdeu o juízo. — Leva suas mãos ao
rosto quando fala.
— Elizabeth, você está maluca, perdeu a noção do perigo,
como ousa bater em minha mãe. — Paul fica ao seu lado olhando
os danos em seu rosto.
— Eu disse que ela não seria mulher para você, mas você
tinha que se apaixonar por ela — Alice diz essas palavras ao filho e
eu nem mesmo me importo, me amar, só se for piada.
— Você mereceu, pois mandou Sebastian me estuprar
enquanto seu filho estava aqui transando com a vaca ali do lado da
cama. — Aponto para Giseleh.
— Infelizmente ele não cumpriu com o combinado. — Pelo
menos a cretina é sincera.
— Mamãe, como ousa pedir algo assim a Sebastian, você
ficou maluca, Liza é minha mulher, eu mataria qualquer homem que
encoste as mãos nela. — Pelo jeito a loucura é de família mesmo.
— Se você não deu um jeito nela, então, eu daria por me
desrespeitar e não cuidar do meu filho. — Só pode ser brincadeira,
vadia desalmada, quero que todos vão para o inferno.
— Só pode ser piada, vocês dois são farinha do mesmo saco
de estrume. Eu tenho nojo, nojo de todos vocês. — Saio do quarto e
desço as escadas correndo, chego na garagem e corro para o
portão, ligo para um taxi e fico esperando que ele chegue. Em meus
devaneios sinto mãos pegarem em meus ombros e me afasto quase
que com um pulo.
— Meu Deus, Liza, sou eu. O que aconteceu? — Chris está
me olhando esperando uma resposta, mas a única coisa que penso
em fazer é me jogar em seus braços e chorar, e é o que faço. —
Está tudo bem, você vai passar por isso, vem, te levo para casa.
No caminho não tocamos no assunto e sinto que devo
satisfações a ele, mas não tenho forças para contar tudo que
aconteceu hoje. Quando ele estaciona, agradeço e saio do carro,
dando-lhe boa noite, mas escuto o vidro da janela se abrir.
— Quando quiser conversar, eu estarei aqui, sempre para
você, Liza, boa noite.
Entro em casa e subo para o quarto, de frente ao banheiro eu
termino de rasgar meu vestido, entro debaixo do chuveiro e tento
tirar o cheiro daquele nojento de mim.
Como eu estaria agora se tivesse sido violentada, ainda não
posso acreditar que Alice teve coragem para tanto, estou
amedrontada pelo ocorrido e me sinto um pouco desnorteada.
O fim da noite foi um completo desastre, ver Paul com
Giseleh acabou com qualquer esperança que poderia nutrir de que
ele mudasse, mesmo não querendo estar casada com ele, como a
pessoa pode ser tão mal caráter, mas também com a criação que
teve, ele é igualzinho a mãe dele em todos os sentidos, o único que
se salva é Joseph, seu pai, ele é um homem carinhoso, protetor,
ama sua mulher e seu filho incondicionalmente, mas não valorizam
o seu amor, às vezes, fico com pena por ele ter um destino tão
traiçoeiro como esse.
No final acabei não desejando feliz aniversário a ele e terei
que me redimir, comprarei um presente e irei até sua empresa, e
aproveitarei para visitar meu pai, depois de tudo só preciso de
pessoas que realmente me amam.
Chris foi tão atencioso comigo, me faz pensar se realmente
eu deveria aceitar seu convite e conversar com ele, já que ele
conhece minha vida melhor do que eu mesma. Por enquanto,
preciso somente dormir e esquecer que o hoje existiu.
Capítulo 9

Acordo ao escutar um barulho que ressoa na rua em frente


de casa, parece uma buzina de carro, mas dez vezes mais alto, e
quase caio da cama ao me virar para o lado. Que merda! Logo
agora que eu consegui dormir, passei a noite com insônia, estou
acabada, com olheiras e ainda com ódio mortal daqueles babacas
fúteis. Pego meu celular na mesinha de cabeceira para ver a hora.
Caramba! Já é meio-dia. Coloco um roupão por cima da camisola e
desço para a cozinha, estou com fome.
— Clary, por que não me acordou? — Venho gritando do
corredor até chegar à cozinha, mas não encontro ninguém lá. —
Brian, Clary, cadê vocês — chamo por eles e não escuto resposta.
Me viro para subir as escadas com tanta rapidez que acabo
caindo de bunda no chão. Mais que merda! Está dando tudo errado
na minha vida ultimamente. Quando estou para me levantar, escuto
uma voz vindo da sala de estar.
— Depois dessa vai ficar roxo. — Reconheço a voz, e sei que
meu marido cretino está em casa. Aí que inferno, parece um
encosto.
— Paul, a que devo sua presença ilustre? — Me levanto e
sigo para a sala sentando-me na poltrona de frente para ele.
— Da última vez que chequei, a casa ainda era minha. —
Grosso. — Como passou a noite, meu amor? — Sério isso.
— Péssima — digo com desdém.
— Ótimo, vamos ao que interessa, seu castigo. Você achou
mesmo que eu deixaria passar o tapa na cara da minha mãe e o seu
desrespeito comigo. — Como pode ser tão cínico.
— Cadê as câmeras Paul, porque isso só pode ser piada,
você é um canalha e não tem direito de exigir nada de mim. — Meus
olhos expressam a raiva que sinto dele nesse momento.
— Você está se tornando uma esposa muito corajosa. Espero
que arque com as consequências. — Ameaças e mais ameaças,
poderia até mesmo comprar um gravador, assim não precisaria
repetir.
— Você só sabe ameaçar. Se quer fazer algo, faça, eu sou
acostumada, quer me bater, bata, quer me humilhar, então, faça
logo. — Já cansei de toda essa situação.
— Com você nada disso resolve, vamos mudar de tática. Que
tal começar a cumprir com seus deveres de esposa, mas na minha
cama. — Eu posso ver o sorriso cínico que se forma em seu rosto e
percebo que ele viu medo em meus olhos, porque realmente eu
estou suando frio só de pensar em tal possibilidade.
— Você disse que nunca me obrigaria a isso. — Minha voz
sai quase que como um sussurro.
— Ficou com medo? Eu gosto que tenha medo, é assim que
deve permanecer sempre ao meu lado, para que não faça mais
merdas do que já fez. Vou te avisar só uma vez, se você fizer algo
do tipo outra vez e me desobedecer, eu vou tomar a última coisa
que ainda não tirei de você, o último pingo de dignidade que ainda
resta na sua vida, meu amor, mas você vai gostar, todas gostam, eu
vou usar seu corpinho assim como você usufruí do meu dinheiro e
das minhas coisas, porque tudo que você tem Liza é meu, nada lhe
pertence, esteja avisada, eu não falarei na próxima vez. —
Enquanto ele sai de casa, sinto o ar voltar aos meus pulmões e
posso respirar aliviada de novo. Eu sei que ele teria coragem para
tal coisa, e não posso negar estar tremendo de medo.
— Oh minha querida, eu sinto muito, ouvi tudo da cozinha,
estava pegando legumes na horta e quando entrei ouvi vozes
alteradas, e sabia que tinha alguma coisa errada. — Clary me
abraça enquanto ainda estou sentada, nem pude me mexer depois
do que ele me falou e fiquei em estado estático.
— Eu fiz algo ontem que o deixou extremamente irritado
Clary, mas a humilhação que passei não só justifica minhas atitudes,
como comprovam que tive razão em fazer e poderia ter feito pior,
mas não posso negar que estou completamente em pânico de que
ele possa a vir cumprir o que prometeu. — Será que realmente foi
certo o que fiz ontem, talvez eu tenha me precipitado em agir
daquela forma enquanto Paul possui controle sobre minha vida.
— Então, acho melhor a senhora não fazer mais nada que o
irrite, sei o quanto é complicado, mas entro em desespero por
pensar que ele possa te fazer algo, não posso perdê-la, você foi
uma amiga muito querida pra mim, mas com o tempo meu amor por
você passou de amizade e se tornou fraternal, um amor de mãe por
uma filha, te amo muito minha menina. — Lágrimas rolam por meu
rosto enquanto vejo minha amiga declarar seu amor por mim, e
percebo agora o quanto a amo como uma mãe também, já que a
mesma passa mais tempo comigo do que a minha e infelizmente
não é porque ela queira, e sim porque a afasto da minha vida
tentando protegê-la de tudo isso.
— Obrigada, Clary, se não fosse por você, eu já estaria louca
há muito tempo. — Sinto alguém pigarrear atrás de mim e me viro
para ver Brian olhando para nós duas com os olhos marejados. —
Você também Brian, é um amigo muito querido para mim. Venha? —
o chamo para que se junte a nós.
— Eu tenho que concordar com Clary, também a vejo como
minha filha querida, sei que tudo está acontecendo de um jeito muito
errado, mas prometo tentar te proteger. — Brian nos envolve em um
abraço de urso e me sinto amada.
Depois do que havia acontecido, decido não pensar no que
pode vir a acontecer e sim no que posso fazer para evitar, hoje irei
visitar meu pai e meu sogro. Serei forte como sempre venho sendo
e lutarei para que nada me derrube.
Logo depois de me arrumar para sair, fui ao shopping fazer
umas compras e acabei mudando um pouco meu guarda-roupa,
comprei maquiagem básica para o dia a dia e aproveitei para
escolher um presente para o meu sogro e para meus pais. Para
Joseph peguei uma camiseta social azul marinho, agora para meus
pais comprei um colar de rubis para mamãe e uma gravata para o
papai. Avisei a mulher do caixa para embrulhar para presente e sai
do shopping indo direto para a empresa.
— Brian você pode ficar aqui ou se quiser subir, não acharei
ruim.
— Eu fico aqui, Liza, vai visitar seu pai e o senhor Turner,
estarei esperando bem aqui, fique o tempo que precisar, enquanto
isso vou ligar para Clary e saber se ela vai querer algo do mercado.
— Estranho, não sabia que eles viviam conversando pelo celular,
mas apenas aceno a cabeça em concordância e sigo em direção ao
prédio.
O prédio da Right Flight é um dos maiores de Sweet Dreams
com mais de vinte andares, é um dos mais cobiçados por pessoas
que estão começando suas carreiras e queiram entrar no ramo
aeronáutico. Com vista para o parque, seu ambiente é acolhedor e
familiar, e isso só me faz perceber o porquê do meu pai amar esse
lugar.
— Bom dia, senhorita. Poderia avisar ao meu sogro que
estou aqui para vê-lo — digo a umas das recepcionistas. É uma
mulher esbelta de cabelos vermelhos, olhos verdes, e bastante alta.
— Olá, senhora Turner, pode subir, recebi ordens expressas
que não preciso anunciar alguém que seja da família. — Assinto e
sigo para o elevador, alguns minutos depois chego ao meu andar e
ando em direção a sala de Joseph.
— Com licença. — Dou duas batidinhas na porta e entro me
anunciando.
— Ah, não acredito, Liza, minha querida, que saudades
estava de você, não pude vê-la ontem no aniversário e me senti
extremamente culpado, sabe que a considero como uma filha pra
mim, de longe você foi a melhor coisa que meu filho poderia ter,
uma luz na vida dele. — Infelizmente ele não soube valorizar e
ofuscou minha luz com suas trevas. Se ele soubesse o verdadeiro
caráter de seu filho assim como de Alice, não estaríamos tendo
essa conversa.
— Vim me retratar com o senhor e trouxe-lhe um presente. —
Dou-lhe um sorriso simpático e me sento na cadeira a sua frente.
— Não precisava, só de ter vindo aqui já é muito. — Entrego
a caixa em suas mãos para que veja. — Nossa, é linda Liza, muito
obrigado, vou estrear hoje à noite em um jantar com Alice. — Só de
falar naquela azeda meu sorriso se desmancha, mas tento disfarçar
quando escuto alguém abrir a porta.
— Joseph, precisamos rever aquele projeto... — Só agora
papai repara em minha presença. — Liza, querida, o que faz aqui?
— Ele se aproxima e beija minha testa em um gesto carinhoso.
— Olá, papai, vim aqui me desculpar por minha ausência no
aniversário de meu sogro e lhe entregar um presente. — O vejo
franzir a testa em confusão.
— Sua mãe disse que você tinha ido ontem, só não fomos
porque já tínhamos um compromisso marcado. — Como explicar
mais essa.
— Sim pai, eu fui, mas passei mal e tive que voltar para casa.
— Ele vem em minha direção e pega em meu braço sentando-se ao
meu lado.
— E como está se sentindo, era algo com que devo me
preocupar? — Papai põe a mão em minha testa como quem mede a
temperatura, assim como fazia quando era criança.
— Não, era somente uma dor de estômago, mas tomei um
remédio e passo bem agora. — Afasto dele e pego os outros
presentes na sacola.
— Fico feliz com essa notícia.
— Trouxe isso para o senhor e para mamãe, é apenas um
mimo da sua filha. — Passo os embrulhos para sua mão.
— Obrigada, meu amor. Abrirei com calma na minha sala e
entregarei o da sua mãe, e a noite ela liga para falar com você.
— Vou ficar esperando. — Levanto da cadeira e me dirijo ao
meu sogro. — Joseph, terei que ir agora, realmente só vim falar com
você e meu pai, mas agora preciso resolver outras coisas, bom
trabalho para os dois. — Joseph caminha para perto de mim e me
dá um abraço apertado.
— Até mais, Liza, e peça para aquele meu filho ingrato me
visitar mais vezes e que a leve junto. — Se depender de mim, nunca
mais entro naquela casa.
— Sim, claro, eu lhe dou o recado. — Me viro para meu pai e
lhe dou um abraço cheio de saudades.
— Te vejo depois, meu amor, o papai te ama muito.
— Eu também te amo, pai. — Saio do escritório fechando a
porta em seguida, mas sou puxada pelo corredor.
— Finalmente vou poder conversar com você. — Chris está
na minha frente, um pouco ofegante demais e pelo que vejo
estamos em sua sala.
— Chris, o que está fazendo, e se alguém falar que me viu
aqui, esqueceu que Paul trabalha aqui também. — Franzo a testa
em reprovação, mas o que observo mesmo é seu corpo. Que
homem lindo, meu Deus!
— Ele foi almoçar com uns investidores, não voltará tão cedo
e a senhorita não falou mais comigo, quando soube da sua
presença estava no trigésimo andar e desci correndo para vê-la
antes que fosse embora. Você está melhor? — Por essa eu não
esperava, mas gostei de ele ter se esforçado para me ver.
— Sim, estou perfeitamente bem. Preciso ir agora. —
Quando estava me encaminhando para a porta, Chris entrou na
frente e ficou um pouco perto demais do meu rosto.
— Não vai me contar o que aconteceu? Por favor, Liza,
converse comigo. — Essa sala de repente começou a ficar pequena
e quente, sendo que isso é impossível, todas as salas são feitas
com 52 m² e mesmo assim ela ainda parece pequena demais para
nós dois.
— Não tenho nada para falar. — Eu preciso muito sair daqui,
sinto minhas pernas fraquejarem e a sensação de que cederei a
qualquer momento.
— Tudo bem, se não quiser falar, então, não conte, continue
guardando as merdas que acontecem na sua vida para si própria. —
Eu sei que disse que tentaria mantermos uma amizade, mas é bem
difícil na prática, ainda não estou pronta para falar tudo.
— Chris, a vida é minha e eu escolho para quem conto
minhas “merdas”, como você delicadamente desferiu. — Vejo que
está arrependido por suas palavras.
— Droga! Sinto muito, Liza, eu me excedi, me perdoa. —
Com certeza, gostosão, você é meu sonho proibido.
— Está perdoado, com licença, tenho que ir agora. — Para
deixar claro, isso é o que eu deveria fazer, mas meu corpo e
coração traidor estão me impedindo.
— Tem mesmo? Nem faz muito tempo que chegou. — Ele se
aproxima e acaricia minhas bochechas com as mãos. — Você é tão
linda, Paul é um burro por não enxergar a mulher fascinante que
tem ao seu lado. — Ele continua passando suas mãos por meu
corpo descendo para meu pescoço e braços.
— Chris, o que você está fazendo, você disse que seríamos
só amigos? — Putz, como isso é difícil, socorro.
— Talvez eu tenha mentido em algum momento com medo
de perdê-la, se para estar ao seu lado eu precisasse ser seu amigo,
então, eu faria. — Caramba, assim eu não aguento.
— Tenta entender, eu não tenho espaço na minha vida para
ter amantes e muito menos sou capaz disso. — Mesmo que isso me
doa lá no fundo do meu coração.
— Eu sei, isso é uma das coisas que me faz se apaixonar
mais ainda por você. — Oi? Se apaixonar? Acho que morri e fui
para o paraíso.
— Chris, não faça isso, não queira isso para sua vida, eu sou
tão complicada, você merece alguém melhor do que eu e
principalmente que esteja livre para ficar com você. — Se
arrependimento matasse, com certeza estaria morta há muito
tempo.
— Você ainda será livre, eu posso esperar, Liza. — Ferrou de
vez.
— Não, você não pode, mal nos conhecemos, como pode ter
se apaixonado por mim. — Isso é tão impossível.
— Eu te conheço melhor do que imagina, bem antes de Paul,
eu só fui burro por não ter cedido antes. — Não pode ser verdade.
— Paul te conheceu na festa da empresa quando você tinha 16 e
ele tinha 22, mas eu te conheço desde quando tinha 14, e eu posso
parecer um pervertido dizendo isso, mas me apaixonei por você
desde o primeiro momento em que a vi. Eu não poderia me
aproximar, pois você era só uma menina, e eu tinha a mesma idade
do seu marido, seria um completo cretino por tentar algo, então, eu
esperei, esperei que fosse mais velha, só que eu fiquei para trás
quando me importei em preservá-la, mas, ele não, por isso tudo que
aconteceu desde agora me fez pensar que se eu tivesse sido mais
inteligente ou até mesmo me aproximado devagar, talvez fosse a
mim que você chamaria de marido. — Até agora estou com a boca
aberta sem poder pronunciar nada, eu não poderia sequer pensar
que algo assim pudesse ter acontecido.
— Eu não sei o que dizer. — Sem dúvida isso foi uma bela de
uma surpresa.
— Tudo bem, Liza, eu sei o que é ser pego de surpresa. Eu
jurei deixar meu amor morrer quando você conheceu Paul, pensei
que ele cuidaria de você e que a protegeria, mas infelizmente ele se
tornou um canalha por causa dessa obsessão doentia que ele sente
por você e eu até poderia compreender, porque poxa, você é linda,
mas as atitudes erradas dele vem de muito antes de você, e pior de
tudo é ter descoberto depois do seu casamento. — Paul fez isso
com outra pessoa, além daquela mulher que foi processada, bem
típico dele.
— Me diga a verdade, Chris, Paul já machucou outras
mulheres? — O encaro esperando uma resposta.
— Sim, Liza, ele já fez com outras, mas sempre se livrou com
a ajuda de Alice. — Eu sabia que só podia ser ela.
— Não me surpreende, aquela mulher é uma cobra. — Se ele
soubesse o que ela me fez, mas isso é um assunto para outro dia.
— Tenho provas e te mostrarei algum outro dia, por
enquanto, acho melhor você ir, ele poderá voltar a qualquer
momento. — Ele tem razão, tudo que eu menos quero é encontrar
Paul aqui.
— Sobre o que você confessou, sinto muito não corresponder
seus sentimentos. — Grande mentirosa, é isso que sou.
— Tudo bem, acostumei-me a amar sozinho. — Oh merda!
Por que estou sentido como seu eu fosse a vilã da história? Talvez
seja porque amassei o coração dele e ainda joguei aos leões.
— Chris? — Dou um passo para a frente, mas agora é ele
quem se afasta e se senta em sua cadeira atrás da mesa.
— Tenha um ótimo dia, Elizabeth, feche a porta quando sair.
— Ele está com a cabeça baixa olhando para os papéis em sua
mesa e nem ao menos se volta para mim.
— Adeus, Christopher, e mais uma vez eu sinto muito por não
ser a mulher que você precisa que eu seja. — Fecho a porta com
força e saio andando em direção ao elevador.
Não sei quando isso aconteceu, mas agora que eu percebi
que eu quero aquele homem. As visitas em minha casa, os eventos
da empresa, as conversas mínimas que tínhamos, todo lugar onde
nos aproximávamos era como se fosse um ritual nos preparando
para esse sentimento proibido, e agora que eu compreendo isso, só
faz doer mais. Ele nunca irá me perdoar, mas, o que posso fazer, eu
não tenho escolhas em minha vida.
Capítulo 10

Já faz duas semanas desde que Christopher disse que me


amava e durante todo esse tempo eu não parava de pensar nele,
sonhei várias vezes com ele me amando e toda vez que abria os
olhos me sentia triste por perceber que era somente um sonho. Em
alguns momentos eu penso que fiz besteira e que deveria falar
sobre meus sentimentos a ele, mas aí vem o medo e acabo
desistindo, enquanto não puder provar as coisas que Paul e Alice
fizeram e colocá-los atrás das grades, não poderei deixar que tirem
tudo da minha família, se fosse fácil falar eu já teria contado, mas é
bem mais complicado do que isso, preciso provar o que digo para
não ter contestação, só o que tenho até agora contra ele não
resolve tudo.
— Elizabeth, você está aí? — Batidas em minha porta soam
pelo quarto e tiram minha atenção.
— Sim, Paul, o que você quer? — Não consigo não ser
ríspida quando me dirijo a ele e sei que ele percebe, mas nunca me
disse nada.
— Iremos almoçar na casa da minha mãe, espero não
presenciar outro episódio daquele. — Ele age como se quem tivesse
sofrido fosse a mãe dele, aquela bruxa merece muito mais, mas
quem foi atingida dessa vez fui eu.
— Não tenho vontade.
— Não me desobedeça, lembra do que te falei. Agora se
arrume, saímos em uma hora. — Escuto passos se afastarem da
porta. Eu vou, mas irei ser educada por causa de Joseph.
Tomo um banho rápido e vou para meu guarda-roupa
escolher umas das roupas novas que comprei. Passo meus olhos
em todos os conjuntos e escolho uma mini saia que vai até o meio
das coxas na cor verde e uma blusa de alcinha branca que marca
minha cintura e deixa meus seios empinados e sexy, pego um dos
meus saltos finos de vinte centímetros e os coloco, depois faço uma
maquiagem leve para o dia. Em cima da cama está um sobretudo
de renda que vai até os meus joelhos, do qual já tinha separado
para vesti-lo, o pego e saio do quarto.
— Paul, podemos ir. — Ele está em frente a porta e usa uma
calça jeans preta e uma camiseta de algodão lisa na cor vermelha
que marca seus músculos, e em seus pés está vestindo um
sapatênis, se não fosse tão canalha seria uma visão privilegiada.
— Você está um pouco ousada, mas ainda sim continua
linda. — Quantas vezes terei que ver essas mudanças de atitudes.
— Obrigada, mas o elogio não muda nada. — Quando o olho,
a sua fisionomia mudou completamente.
— Não comece, vamos logo. — Saímos pela porta e Brian já
está em seu lugar atrás do volante, entramos no veículo e seguimos
em frente.
— A Giseleh vai estar lá, Paul? — Eu não vou ser obrigada a
aturar aquela mulher, já basta a bruxa mãe.
— Não, eu pedi para minha mãe não a chamar, mas bem que
ela queria só para te provocar. — Quando chegar o dia dela não
querer, aí sim eu estarei surpresa, até lá para mim é tudo normal.
— Acho ótimo, não sou obrigada a comer do lado de vadias
traidoras, já basta comer ao seu lado. — Paul se aproxima e pega
em mim mão apertando em seguida.
— Você é uma gatinha provocadora. — Então, o que menos
eu esperava acontece, Paul encosta seus lábios nos meus em um
gesto calmo, mas logo se afasta, não tive tempo nem de reagir. —
Eu te amo, Liza, mesmo que não acredite.
— O seu amor é doentio, você precisa se tratar, Paul,
enquanto não aceitar essa sua doença, não poderá ser feliz. —
Quando olho para ele posso ver confusão por minhas palavras, ele
ainda não vê o quanto é tóxico para as pessoas à sua volta.
O resto do caminho percorremos em silêncio, depois de
alguns minutos chegamos à mansão Turner e ao entrar na casa,
vamos direto para a sala de estar, a decoração do ambiente sempre
foi impecável, as paredes em azul bebê, móveis importados e
objetos decorativos que valem mais do que pagaram na casa.
— Olá, mãe, pai — Paul cumprimenta seus pais com um
abraço, mas eu somente digo um "olá" a todos e me sento ao sofá.
— Mais pessoas virão ao almoço em família querido,
aguardaremos mais uns minutos. — Espero que Paul não tenha me
enrolado, e a víbora tenha vindo também, seria muito humilhante.
— Chegamos, Sr. e Sra. Turner, como vão? — Não deveria,
mas depois de ouvir a voz dele atrás de mim, meu corpo congelou
no lugar e nem tive o prazer de olhar para trás.
— Oh querido, que bom que pode vir e quem é essa moça
adorável? — Eu estou prevendo que não vou gostar da resposta.
— Senhora Turner, essa é Suzane Sampaio, minha
namorada. — Eu não disse que não ia gostar, essa doeu bem lá no
fundo.
— Que maravilha. Ouviu isso, Joseph, nosso querido Christopher
tem uma namorada, e ela é completamente maravilhosa. Minha
querida, venha até aqui e me dê um abraço. — Pode ser hipocrisia,
mas a mulher nunca ficou tão feliz comigo como com essa tal de
Suzane. Finalmente tomo coragem e me volto para trás. Merda! A
mulher realmente é linda e ainda por cima é ruiva.
— Fico feliz por gostar de mim, Chris sempre falou muito bem
dessa família. — Falou é, parece que se conhecem há muito tempo.
— Me desculpa, mas vocês se conhecem desde quando? Há
quanto tempo me esconde essa joia rara, Chris, sei que não sou sua
mãe, mas é como se fosse. — Oh mulher falsa, duvido que ela
considere alguém como filho além do seu precioso.
— Nos conhecemos há uns seis anos, sempre fomos amigos,
mesmo que Suzane quisesse algo mais, então, resolvi parar de
perder oportunidades e ficar com alguém que realmente luta por
mim. — Essa foi uma verdadeira facada no meu coração, tenho
certeza de que a indireta foi bem no alvo.
— Ele tem razão, Chris nunca me deu oportunidade de
chegar perto dele com segundas intenções, mas há quase duas
semanas nos entendemos, então, eu o pedi em namoro. — Ela teve
a iniciativa, não ele, saber disso aquece meu coração, mesmo eu
sendo a culpada por isso.
— Uma mulher de atitude, isso eu admiro, seja bem-vinda a
família. Esse aqui é meu marido, Joseph, e aqueles são meu filho,
Paul e minha nora, Elizabeth. Queira se sentar. — Cumprimentamos
Suzane assim que ela se sentou e Chris não me olhou nem por um
segundo, apenas se pôs ao lado dela no lugar indicado por Alice. —
Me fala mais sobre você, sua família.
— Claro. Eu sou formada em Moda, tenho trinta anos, e moro
sozinha. Meus pais são Adam e Madeleine Sampaio, e moram no
Alasca. — Por isso é tão perfeita, suas roupas são impecáveis, a
mulher tem um sorriso simpático, corpo incrível, realmente uma
mulher linda e eu não posso me abster da realidade só por estar
com ciúmes, preciso reconhecer e aceitar que ele seguiu em frente.
— Alasca tem sua beleza, e você ser formada em Moda diz
muito sobre suas roupas maravilhosas, mas o nome dos seus pais
não me são estranhos.
— Eles são donos da marca Glamour. — E lá se vai mais um
item para a lista da perfeição. Glamour é a marca mais famosa de
roupas pelo mundo, além de desfiles de moda, tem uma revista
própria de suas coleções.
— Não acredito, amo os modelos da Glamour. — Posso ver a
felicidade de Alice, acho que ela queria Suzane como nora.
— Realmente ela ama mesmo, o guarda-roupa dela
comprova suas palavras — Joseph pontua.
— Já que é tão fã da marca, mandarei dois modelos
exclusivos que eu mesma desenhei, ainda não foram para as lojas.
— Agora Alice se apaixona.
— Aí meu Deus, não acredito, terei dois modelos exclusivos
da Glamour, estou apaixonada, muito obrigada, com certeza irei
usá-los. — E irá esfregá-los na cara das amigas riquinhas.
— Não precisa agradecer, será um prazer. Elizabeth, não é?
— Ela tinha que se dirigir a mim e faço minha melhor cara de
felicidade. — São casados há muito tempo, tem filhos? — Curiosa.
— Somos casados há quatro anos, mas estamos juntos há
seis. Eu fui mãe apenas por nove meses, meu filho morreu quando
nasceu. — A dor sempre volta mais cedo ou mais tarde.
— Sinto muito por tocar em um assunto delicado. — Vejo que
está arrependida.
— Tudo bem, já faz muito tempo.
— Minha mulher soube superar a perda, apenas ficou a
saudade do nosso pequeno. — Não sei se realmente Paul sentiu
algo quando nosso filho se foi, pois não demonstrou em nenhum
momento.
— Chris, como anda o trabalho, meu querido? — Alice corta
o assunto e acho que apenas quis nos livrar desse clima fúnebre.
— Está indo tudo bem Alice. Joseph tem sido de muita ajuda
em muitos trabalhos, e meu pai também está a par de tudo. — Vejo
como fala com orgulho das pessoas que estão a sua volta.
— Realmente, Chris é um dos melhores que tive o prazer de
trabalhar, assim como meu filho. — Joseph é um pai maravilhoso,
sempre cuidou de sua família, assim como de Chris, sempre que
fala de ambos é com muita admiração.
— Eu e meu amigo somos uma dupla e tanto. — Eu só queria
ver quando Paul soubesse que Chris é apaixonado por mim, será
que ele se sentiria traído, não tenho tanta certeza sobre a amizade,
mas com certeza o ego dele sairia ferido.
— Com certeza, Paul, nós sempre amamos as mesmas
coisas. — Não sei se posso levar isso como uma indireta, mas o
fato dele olhar para mim ao falar esclarece muita coisa.
— Senhor e Senhora Turner, o almoço está servido. — Sigo a
voz e vejo a empregada ao lado de Alice.
— Então, vamos meus queridos. — Todos se levantam e
seguem para a mesa.
Esse almoço de longe é o pior que eu já participei, primeiro
porque não aguento mais ficar nessa casa, segundo porque não
suporto minha sogra e terceiro porque eu estava sendo ignorada.
Comi rápido para poder me ausentar o quanto antes. Alice não
parava de elogiar a namorada de Chris, ele nem olhava para mim,
Paul e Joseph estavam em uma conversa de negócios e eu por fim
estava sentada de frente para Chris e ao lado de Paul totalmente
solitária, comia em silêncio apenas esperando que acabasse logo,
mastigava a comida três vezes e já engolia.
— Com licença, irei ao banheiro. — Sai tão rápido da mesa
que quase derrubei os talheres.
Achei melhor ir ao banheiro do andar de cima, porque o
direcionado a visitas me deixava desconfortável depois do que
aconteceu. Fui em direção ao quarto de hóspedes e tranquei a
porta, logo avistei o banheiro e segui em frente. Depois de contar
até cem e ver que mal se passou uma hora, saio do banheiro e vou
em direção a porta do quarto, quando a abro sou surpreendida por
um corpo alto e forte me empurrando de volta para dentro.
— Por favor, não me machuque de novo — digo aterrorizada
e olho para a pessoa em minha frente e não é quem eu pensava
ser.
— Liza, sou eu. Nunca te machucaria, por que está
tremendo? — Chris pega em minhas mãos e me leva para a cama.
— Sente-se aí. — Faço o que ele pede e me sento na cama ao seu
lado.
— Desculpa, Chris, apenas levei um susto, mas já passou. —
Ainda tenho pesadelos com aquela noite, e em certos momentos me
sinto aterrorizada ao se aproximar um homem desconhecido.
— Liza, o que aconteceu de verdade para que ficasse assim?
— Eu deveria contar, mas não sei se seria viável. Aí, que se dane,
eu vou dizer.
— Chris, lembra no dia da festa, eu estava com as roupas
rasgadas e chorava muito.
— Sim, eu fiquei com tanto medo quando te vi, mas respeitei
o seu silêncio em não querer me contar o que tinha acontecido. —
Realmente ele foi um cavalheiro em não me pressionar a contar,
aquela noite não estava em condições de nada.
— Eu fui ao banheiro lá embaixo retocar minha maquiagem,
mas aí quando sai, alguém me pegou a força e me arrastou para um
dos quartos de empregado. — Nessa hora, Chris já estava
apertando minha mão com força para o que vinha a seguir. — Eu
quase fui estuprada aquela noite, se não fosse Sebastian se distrair,
eu não teria conseguido fugir. Quando corri, me tranquei em um dos
quartos para pedir ajuda a Paul, mas o encontrei transando com
Giseleh, eu me senti tão mal, acabei batendo nela e xingando a
ambos. Quando eu ia embora, a mãe de Paul entrou no quarto por
causa dos gritos e em algum momento ela confessou que mandou
Sebastian fazer aquilo comigo. Eu senti tanto nojo, e acabei dando
um tapa tão forte no rosto dela que até sangrou.
— Meu Deus. Não acredito em tamanha crueldade, irei
encontrar esse canalha e vou fazê-lo pagar. — Chris me envolve em
um abraço apertado, cheio de carinho e amor, posso sentir seu
cheiro e é tão gostoso. — Como Alice pode ter coragem de fazer
algo assim, eu sabia que ela protegia Paul das merdas que ele
fazia, o que não poderia imaginar era que pudesse ser uma mulher
sem caráter. Sinto muito, Liza. — Eu só quero poder ficar em seus
braços por mais algum tempo.
— Não sinta, Chris, eu me envolvi nesse mundo, e agora
tenho que me livrar dele.
— Você tem a mim pequena, e sempre terá. — Sinto ele
apertar os braços em volta de mim.
— Você tem Suzane agora. — Não evitei que minha voz
saísse com certo tipo de desgosto.
— Não importa, eu vou te ajudar quando você precisar de
mim. — Chris levanta meu rosto e me olha nos olhos quando fala,
estamos tão perto que posso sentir sua respiração. — Seus olhos
são como o oceano, posso me perder neles a qualquer momento. —
Sinto minha pele queimar em contato com a sua e tenho vontade de
beijá-lo.
— Seus olhos também são lindos. — Vejo um sorriso surgir
em sua boca e ele se torna ainda mais perfeito. Meus olhos varrem
pela extensão de seu rosto e paro olhando seus lábios.
— Você é minha perdição, Elizabeth Harper. — Chris acaba
com a distância entre nós e me beija, no começo eu me surpreendo
com a aproximação, mas logo abro caminho para que sua língua
percorra por toda minha boca assim como a minha na dele. Esse
beijo de longe foi o melhor que já tive, é urgente, forte, mas passa
ternura e uma declaração silenciosa de que meu coração sempre
será dele e o dele sempre será meu.
— Não podemos fazer isso, Chris, eu queria, mas não posso.
— Me afasto de seus toque e saio do quarto. Que beijo foi esse, que
homem é aquele, uma total loucura, uma loucura doce que quero
repetir de novo e de novo.
Volto para a mesa e vejo que já se serviram de sobremesa,
arrasto meus olhos para conferir e encontro o que tanto amo, pudim
de chocolate, pego umas colheradas generosas e coloco na minha
taça de vidro, me sento e saboreio essa gostosura.
Algum tempo depois, Paul deu por fim o almoço em família e
voltamos para casa. O tempo que restou, Chris não parava de me
olhar e eu tentava fingir que não via para ninguém desconfiar,
apesar de ser difícil não pensar naquela boca sobre a minha. Nem
ao menos percebi que já tínhamos chegado em casa.
— Você pode me acompanhar em um filme? — O que será
que ele está fazendo agora, será que a está beijando, só de pensar
nisso, meu coração dói. — Elizabeth, eu estou falando com você.
— Meu Deus, Paul, porque está gritando. — Nossa, ele
quase me deixou surda.
— Eu estou falando com você há uns minutos e você não me
escuta. Perguntei se quer assistir um filme comigo? — Nem em
sonhos.
— Não dá, estou cansada e vou dormir. — Saio do carro e
bato com força a porta. Entro em casa e subo para meu quarto,
tranco a porta, troco-me de roupa e me jogo na cama.
Ele beija tão bem, estou parecendo uma adolescente depois
do seu primeiro beijo, nunca me senti assim quando beijava Paul, é
algo arrebatador que te tira dos eixos, você se perde em meio a
tantas sensações, foi maravilhoso.
Escuto meu celular vibrar e vejo ser uma mensagem de um
número desconhecido.

C: "Não importa o que esteja fazendo, nos encontraremos


em dois dias no hotel Sweet Dreams Palace, às quatorze, não
se atrase.

P.S: Ainda sinto o sabor dos seus lábios nos meus e


estou louco para que se repita.

Beijos do seu admirador nada secreto."

Chris só pode estar maluco, eu não vou nesse encontro, ou


será que eu deveria, eu quero, mas não posso. O que eu estou
fazendo, jurei não trair o homem que teria como marido e já beijei
outro, e agora ainda penso em ir se encontrar com o mesmo homem
as escondidas. Ainda tenho dois dias para decidir, portanto, não irei
responder à mensagem.
Capítulo 11

O fim da noite de ontem foi tão mágico que acabei por ficar a
manhã inteira no quarto terminando de ler meu romance da Jane
Austen — Orgulho e Preconceito, a rainha do romance, a mulher
morreu, mas suas obras até hoje são as mais disputadas, sou
extremamente apaixonada por livros, e adquiri esse gosto por ficar
tanto tempo em casa.
Já passa do meio-dia e decido descer para a cozinha e
comer alguma coisa, não tomei café hoje e estou com uma fome de
outro mundo. Quando desço as escadas, escuto risadinhas
abafadas e me aproximo devagar, mas nada poderia me preparar
para o que eu veria, Clary e Brian estão aos beijos, quanto tempo
será que isso vem acontecendo.
— Uhum? — Faço um barulho com a garganta para que eles
percebam minha presença e os dois se afastam rapidamente. — Eu
vou querer saber o que acontece aqui? — Contenho minha risada e
faço minha cara de séria.
— Liza, eu sinto muito, não deveríamos fazer isso em horário
de trabalho. — Sério, eu estou amando, eles são tão sozinhos, sem
filhos e sem companheiros, família não conta por que a maioria só
aparece para pedir dinheiro.
— Eu estou completamente feliz por vocês, quando isso
aconteceu, me contém tudo, finalmente algo interessante nessa
casa. — Sento-me no balcão da cozinha e espero pela história
como uma criança feliz.
— Já faz umas semanas — Brian quem fala. — Eu já gostava
dessa cabeça dura, mas ela nunca me deu esperança em minhas
investidas.
— Olha pelo lado bom, eu cedi um dia — Clary diz isso com
divertimento em sua voz e olha para Brian com carinho.
— Vocês são tão fofos. Que felicidade, só não deixem Paul
descobrir, assim como eu entrei aqui e vi vocês, poderia ser ele. —
Sei que é ruim acabar com o clima, mas preciso alertá-los.
— Sabemos disso, teremos mais cuidado — Clary fala e
pega na mão de Brian, e posso ver o amor que existe entre eles.
— Ai meu Deus, que felicidade. — Acho que pareço uma
criança que acabou de ganhar um doce.
Conversamos mais um pouco durante o almoço, fiquei
sabendo das atitudes de Brian para conquistar Clary e sinceramente
o cara se esforçou pra caramba. Ele deixava uma rosa e um
chocolate na porta da casa dela todos os dias de manhã, a levou
para jantar, almoçar, tomar café na padaria, fizeram um passeio de
barco no lago, foram para o parque de diversões e isso a Clary
deixou bem claro que quase vomitou nas moças que estavam na
frente dela, quem disse que amor tem idade é um tremendo babaca,
não importa o tempo, ele sempre prevalece.
Fiquei na sala durante a tarde assistindo uns filmes, até
escutar a porta da frente se abrindo, já passa das dezoito, é Paul
com certeza. Desligo a TV e já vou subindo as escadas para ir ao
meu quarto, não estou a fim de vê-lo e estou cheia de brigas.
— Ei, onde a senhorita pensa que vai, desça aqui, temos
visitas. — Olho para trás e vejo duas figuras que amo tanto entrar
em casa.
— Mãe, pai, que ótima visita, senti saudades de vocês. —
Recebo um abraço de ambos bem apertado.
— Oi, querida, sua mãe e eu viemos lhe fazer uma proposta,
podemos nos sentar?
— Claro, sigam-me. — Guio meus pais até a sala e peço
para que eles se sentem, ofereço algo para beber, mas eles
recusam. — Então, qual proposta querem me fazer, estou ansiosa?
— Charles e eu, achamos que seria bom para você passar
umas semanas lá em casa com a gente, sentimos tanta falta da sua
companhia, meu amor, e ficamos solitários sem você. — Mamãe
pega em minha mão e se vira para Paul. — Isso, se Paul não achar
ruim. — Ela o olha esperando sua resposta, ele está encurralado,
duvido que irá protestar.
— Mas é claro que Liza pode ir, só peço que não tirem minha
esposa de mim por muito tempo, eu fico com saudades. — Como
pode ser tão cínico, cretino.
— Eu aceito mamãe, só preciso arrumar minhas coisas, me
esperem aqui e já volto. — Saio apressada, mas escuto passos
atrás de mim.
— Eu vou ajudá-la, fiquem à vontade. — Corro pela escada e
Paul sai correndo atrás de mim, chego no quarto e tento trancar a
porta, mas ele a afasta com um golpe só. — Precisamos conversar
antes dessa sua excursão. Você tem algo a ver com esse pedido
dos seus pais, Liza, porque pode apostar, se eu souber que você
anda contando algo para eles, acabo com todos vocês em um piscar
de olhos.
— Não tive nada a ver com isso, só devem estar com
saudades mesmo e se quer saber, vai para o inferno você e suas
ameaças. — Ele que pense que aguentarei calada essas merdas, já
chega de ser a esposa submissa.
— Eu posso até ir para o inferno, mas juro que te levo junto,
se você não for minha, não vai ser de mais ninguém. — Ele sai do
quarto e bate à porta com força. Vai sonhando que serei a esposa
troféu por muito tempo, você não perde por esperar querido. Pego
minha mala já pronta, minha bolsa e desço.
— Pronto, vamos. — Meu pai pega minha mala e segue para
o carro a colocando no porta-malas, e eu e mamãe vamos logo
atrás. — Obrigada por isso, fiquei feliz por poder ficar com vocês um
tempo.
— Já que você não vai até em casa, então, vamos até você.
Ficará conosco por três semanas e hoje vamos jantar naquele
restaurante brasileiro que você gosta — mamãe diz e fico feliz por
isso.
— Aí caramba, amo demais aquelas comidas nordestinas,
delícia. — Meus pais sorriem e vamos direto ao restaurante.
Quando chegamos ao "Typical Brazilian Foods", entramos e
um garçom nos guia até uma mesa que fica encostada na janela,
posso ver as pessoas e os carros lá fora, observo um grupo de
amigos rindo do outro lado da rua, assim como um casal se beijando
encostado no carro, nem sei o que é mais me divertir, não se
preocupar com as coisas e nem com as situações.
Pedimos um baião de dois, tapioca de carne seca e de
sobremesa um bolo de rolo, típico de Pernambuco, uma maravilha,
acabamo-nos de tanto comer e depois de conversarmos bastante,
fomos para a casa.
— Meu amor, se quiser ir dormir, o quarto é o mesmo, não
mexemos em nada. — Meu ninho de amor e carinho, finalmente
em casa.
— Claro mamãe, vou tomar um banho e dormir. — Ela beija
minha bochecha e papai beija minha testa, pego a mala e subo para
o andar de cima.
Minha casa sempre foi tão aconchegante, não é a mansão
que vivo com Paul, mas é cheia de afeto, eu sempre quis uma casa
grande e cheia de luxo para meus filhos, e nem isso eu pude ter, no
final de tudo eu percebi que nada vale sacrificar a felicidade, eu só
queria poder voltar para trás, apagar meu futuro e reescrevê-lo
novamente. Meu quarto é lilás e tem espelho no teto, é bem grande,
tem uma cama box de casal, uma mesinha para o computador, uma
estante para livros e um guarda-roupa embutido na parede.
Depois de tomar um banho longo de banheira, já se passava
das vinte e três horas, não estou com sono, então, desço para tomar
um leite. Quando estou na cozinha, vejo papai sentado tomando um
suco.
— Pai, não conseguiu dormir? — Sei que, às vezes, ele ainda
sofre de insônias, assim como eu.
— Hoje o sono não decidiu cooperar. E você, princesa?
— Só vim tomar um copo de leite. — Pego o copo e coloco o
leite para tomá-lo em poucos goles. — Saudades dessa casa, me
sinto tão bem aqui.
— Às vezes, quando falo com você, me parece que não é
feliz em seu casamento, meu amor. Tem algo que queira me contar?
— Tem tantas coisas que o senhor não sabe meu pai.
— Não, pai, está tudo bem, Paul e eu tivemos uma briga e
estamos nos acertando aos poucos. — Deveria abrir uma escola
para mentirosos, estou ficando boa nisso.
— Todo casal briga, Elizabeth, mas sinto que ainda me
esconde algo, só espero que aquele moleque não tenha feito nada
contra você, senão acabo com aquela cara de mauricinho na base
da porrada, eu gosto muito de Joseph, mas Deus que me perdoe
por proferir tal palavras, não souberam criar Paul, eu não me opus
sobre o casamento de vocês porque sabia que estava apaixonada,
mas se não está dando mais certo, volta pra casa e para nós.
— Prometo para o senhor que se não me sentir mais
confortável com minha vida, eu volto. — Papai se aproxima e me
abraça com ternura.
— Será que tem espaço para mais um. — Mamãe está
encostada no batente da porta e se aproxima de nós.
— Sempre, mamãe. — Abro meus braços e nos permitimos
um abraço em família. Meus pais são meus heróis, eu os amo mais
do que a mim mesma. — Vou para o meu quarto, boa noite. —
Beijo-os em seus rosto e saio da cozinha.
— Charles, aqui não, nossa filha pode ver. — Escuto
risadinhas dos meus pais quando me afasto. O amor deles é tão
lindo e tão sincero, um dia ainda irei sentir esse sentimento. Me
tranco no quarto e continuo a ler meu romance, porque esse amor
na realidade, está mais difícil do que ser divorciada.
Capítulo 12

Esses dias estão sendo uma loucura, nunca fiquei tão


ansiosa e louca por um encontro como estou ultimamente, o homem
povoa meus pensamentos e invade meus sonhos toda noite, aquele
corpo quente e sexy me leva ao céu só com o pensar, imagina só na
realidade, acho que estou ficando insana. Dormir foi uma tarefa tão
natural ontem à noite, me senti renovada e enérgica feito um bebê.
Sentada na cama escuto batidas na porta e peço que entre.
— Meu amor, Suzan, perguntou se você quer sair com ela?
— Papai se aproxima e me dá um beijo na testa.
— Sim, pai, só avisa a mãe que vou me arrumar e já desço.
— Ele me abraça e segue para a porta.
— Tudo bem, estou indo, tenham um ótimo dia, sua mãe tem
vida boa e o velho aqui tem de trabalhar. — Meu pai sai dando
risadas. Sei que ele não fala sério, pelo fato da minha mãe ser
advogada, ela trabalha mais em casa com os processos do que no
escritório, então, ela fica aqui umas duas vezes por semana.
Me sinto mais animada por ter saído de casa, passar esse
tempo com meus pais será muito bom, poderei pensar melhor sobre
meus próximos passos. Chris não falou mais comigo e nem me
mandou mais mensagem, será que pelo fato de não ter respondido,
ele achou que eu tinha desistido, eu disse que iria pensar, mas, na
verdade, a minha decisão foi tomada naquele momento, só não
queria admitir, se Chris me quiser, eu também vou querê-lo, que se
dane Paul, que vai pro inferno Alice e todo o resto, eu quero
aproveitar minha vida, isso sim. Sempre a cada dez dias eu saio de
casa, infelizmente durante o tempo das agressões e dentre vários
outros problemas, eu não consegui ir ao meu destino, mas quando
posso sempre estou lá.
Não sei para onde Dona Suzan irá me levar, mas me vesti de
modo casual. Às vezes, paro para pensar quanto meus pais são
incríveis, será que é possível existir tanto amor, companheirismo e
cumplicidade de tal modo a fazer com que o resto não seja um
empecilho para a felicidade, sinceramente, eu não sei se pode haver
algo tão parecido ou melhor em razão do que eles tem.
Cresci em uma casa cheia de amor, mamãe e papai, sempre
se preocuparam comigo em vários momentos. Uma vez quando
estava aprendendo a andar de bicicleta, eu achei que poderia soltar
as rodinhas cedo demais, no final acabei me esfolando toda no
chão, minha mãe ficou tão desesperada que já queria que eu fosse
ao médico, mas meu pai disse que a vida era assim, que toda vez
que algum obstáculo te derrubasse, você deveria levantar e tentar
de novo, nunca desistir até vencer seus objetivos, meu pai sempre
teve razão e assim como minha mãe me criou para nunca dizer
NÃO, mamãe pegou um remédio em um dos armários e passou nos
meus joelhos, mãos e bochecha, dando um beijinho no local como
se seus lábios passassem algum tipo de mágica que me curassem
em segundos, depois disso me levantei e fui pedalar novamente até
conseguir.
— Filha, vamos? — Mamãe aparece na porta do quarto e me
disperso das minhas lembranças.
— Sim, aonde iremos? — pergunto com expectativa.
— Vamos ao shopping, cuidar do cabelo e fazer tratamento
de pele. — Bem que estou precisando mesmo. Saímos do quarto e
fomos ao shopping no carro da minha mãe, eu queria dirigir, mas ela
insistiu que faria isso, então, seguimos adiante conversando um
pouco sobre seu trabalho.
— Nossa mãe, fico feliz por ter ajudado aquelas crianças. —
Minha mãe fez um trabalho um pouco difícil dessa vez, existia
crianças presas em porões na casa de uma família que fazia adoção
em grande escala, sempre arrumando um novo membro, a
conclusão foi que eles adotam crianças para trabalharem para eles
em faróis, no ferro velho e em qualquer lugar que poderiam arrumar
dinheiro.
— Fizeram uma denúncia, eu não deveria estar lá, mas, fui
mesmo assim, chamei uma assistente social que é minha amiga,
acabamos formando esse caso e juntando provas, no final tínhamos
o suficiente para condená-los por trabalho escravo de menores,
pegaram uns seis anos de cadeia, sem fiança. Achei pouco pelo que
fizeram com aquelas crianças, mas em Sweet Dreams as leis são
essas e cabe a nós aplicá-las. — Percebo pesar em suas palavras,
mas até eu ficaria um pouco transtornada pelo que aconteceu.
— O importante é que estão bem agora, mãe. — Pego em
suas mãos passando certo conforto.
— Sim, querida, isso me deixa um pouco mais feliz. — Ela
abre um sorriso e dirige o resto do caminho em silêncio, não demora
muito e chegamos ao destino.
— Vamos ao salão de beleza, arrumar o cabelo e fazer
estética, depois disso vamos comer, ok? — Assinto. — Olá, Rubi,
tudo bem? Trouxe minha filha para uma repaginada no visual —
mamãe cumprimenta a cabeleireira e nos apresenta.
— Suzan, já estava com saudades da minha cliente favorita.
— Aqui só existem duas explicações, ela gosta realmente da minha
mãe ou ama mais o dinheiro dela. — Vamos ao trabalho, Elizabeth.
— Ela me guia para sentar-se em uma cadeira e começa fazer o
procedimento de limpeza de pele em meu rosto.
— Filha, irei fazer uma depilação, fique tranquila que Rubi irá
cuidar muito bem de você.
— Tudo bem. — Observo quando ela entra em uma sala nos
fundos do salão.

— E então, o que faremos no seu cabelo? — Penso por


alguns segundos e acho que já está na hora de uma mudança.
— Irei cortá-los até a altura dos ombros e pintar de loiro.
— Perfeito, você ficará linda. — Ela começa com os
preparativos e pede auxílio de uma assistente.

(...)

Depois de quase duas horas sentada, mamãe está ao meu


lado fazendo várias expressões de espanto e alegria ao mesmo
tempo, não me deixaram ver nada e me colocaram de costas para o
espelho, isso só me deixou mais ansiosa, espero que fique bom,
nunca fui de me arriscar tanto em nada.
— Terminamos, pode se virar, Elizabeth. — A cadeira é
girada e, então, encaro minha fisionomia no espelho, nunca pensei
que poderia ficar tão bom, estou muito diferente, mas bonita.
— Está maravilhosa, meu amor. — Minha mãe pega em
minhas mãos e me dá um beijo no dorso. — Obrigada, Rubi, fez um
trabalho incrível.
— De nada. Vejo vocês a qualquer dia. — Saímos do salão e
decidimos comer na praça de alimentação, mas quando estávamos
indo fazer compras, eu reparei em um estúdio de tatuagem e, então,
pedi para entrarmos.
— Tem certeza, Liza? — Suzan sempre foi do tipo que
pergunta duas vezes antes de fazer qualquer coisa.
— Sim, quero fazer uma tatuagem ou até mais de uma. —
Minha mãe abre um sorriso e seguimos para loja.
— Olá, boa tarde, gostaria de fazer uma tatuagem e um
piercing. — A moça pede para que eu aguarde enquanto chama o
tatuador.
— Quem irá fazer a tattoo e o piercing, por favor. — Um
homem tatuado até o pescoço aparece na minha frente e com um
gesto pede para que eu o siga.
— Vai lá filha, fico esperando aqui. — Sigo em frente e ele
me mostra alguns desenhos, mas eu já tenho em mente o que
quero. Ele pede para que eu se sente na cadeira e abaixe um pouco
minha roupa de baixo.
— Você quer fazer tudo hoje? — Aceno com a cabeça e o
mesmo prossegue. Demora horas até que termine. — Prontinho,
terá que usar o plástico filme por um mês e nunca deixe de usar a
pomada, as restrições alimentares estão no folheto, até mais. —
Saio da sala e sigo para fora, encontro minha mãe e ela me
pergunta o que fiz.
— Fiz uma fênix acima da bunda em minhas costas e escrevi
uma frase que diz: “Enquanto me derrubar, sempre ressurgirei das
cinzas para revidar”, também fiz um duplo infinito em minha virilha,
assim como um piercing no umbigo. — Mamãe está com os olhos
arregalados enquanto falo, acho que ela nunca pensou que seria
capaz.
— Paul vai infartar quando ver. — Mal sabe ela que ele nunca
verá, para isso preciso ficar pelada na frente dele e isso nunca vai
acontecer. — Vamos para casa? — Aceno em concordância e
seguimos para o carro.
— Obrigada por hoje mãe, foi muito especial para mim, eu te
amo.
— Também amo você querida. Se você quer saber, também
tenho uma tatuagem, só que na bunda. — Viro tão rápido para ela
que até sinto um estralo no pescoço.
— Sério mãe, e o que é? — Depois de ver sua expressão,
acho que ela acabou de se arrepender de contar. — Me conta, por
favor.
— Eu era uma adolescente imatura que estava sofrendo,
então, não me julgue. Escrevi o nome do seu pai envolta de um
coração no lado direito. — Não me aguento e solto uma gargalhada
escandalosa. — Liza, para com isso menina.
— Desculpa mãe, mas é que é engraçado a senhora contar
algo assim, nunca pensaria que você fosse capaz, por isso sempre
usou short na praia e eu boba nunca me importei, assim como
nunca ficou pelada na minha frente, e eu achando que era só
timidez.
— É ruim eu deixar alguém ver essa loucura, tirando seu pai,
você é a única que sabe. — Ainda rindo, concordo em manter
segredo. Depois de estacionar o carro na garagem, entramos em
casa e somos chamadas por papai.
— Minhas garotas, como foi o dia de vocês? — Papai vem
em nossa direção e nos dá um beijo, claro que em mamãe é mais
saliente e finjo que não estou vendo.
— Foi perfeito pai, fiz duas tatuagens, um piercing e pintei o
cabelo.
— Você está linda, meu amor, agora sobre a tatuagem,
espero que não tenha seguido nenhum conselho da sua mãe. —
Começo a rir e mamãe dá uns tapas em seu marido.
— É isso que pensa de mim Charles. — Ele ri e lhe dá um
abraço.
— Oh, meu amor, eu fico muito feliz pela sua tatuagem, pelo
menos eu sei que se você me largasse, o outro cara ia ter que ficar
olhando para o nome de outro escrito na sua bunda e isso me deixa
extremamente feliz. — Todo homem gosta de ser único na vida de
uma mulher e meu pai não é a exceção.
— De mim você não se verá livre jamais. — Ela, então, se
aproxima e o beija.
— Eu conto com isso. — Essa é minha deixa para sair de
fininho, até porque ver minha mãe beijando meu pai não é uma
visão muito bonita, literalmente esqueceram de mim.
Acabamos nem comprando nada, preferi vir direto para casa,
estou cansada e muito feliz com minha transformação, espero que
Chris também goste. Irei tomar um banho quente de banheira para
relaxar, mas enquanto estou no banheiro tirando as roupas, escuto
meu celular tocar e vou para o quarto atender.
— Alô, quem fala? — Escuto uma respiração do outro lado
da linha.
— Olá, meu amor, senti saudades. — Meu coração atingiu
todos os limites de batimentos e a qualquer momento saíra pela
minha boca.
— Chris, caramba, eu....u... também sinto saudades. —
Ouço sua risada.
— Calma amor, relaxa, ainda sinto o gosto da sua boca
sobre a minha, e admito estar tendo algumas reações só de
pensar nisso, imagina quando provar novamente. — Ai caramba!
Não é só ele que está sofrendo reações.
— Eu acho que deveríamos guardar esse momento para
quando estivermos a sós. — Eita coragem, de onde veio não sei,
mais estou me sentindo poderosa.
— Vou cobrar essa promessa, agora preciso ir,
conversamos melhor amanhã, estou ansioso, beijos meu bem.
— Boa noite, Chris. — Uau! Está calor aqui, né? Preciso
tomar banho para apagar o fogo, porque me sinto em um vulcão em
erupção.
Capítulo 13

É hoje!
Finalmente o dia chegou. Sabe quando você passa dias em
agonia, ansiedade, desespero e coração acelerado, pois é, essa sou
eu enquanto não me encontro com Christopher.
Estou me sentindo ousada durante esses dias e vou
aproveitar essa minha pequena mudança. Já passou da uma da
tarde, visto o Corselet Feminino de renda na cor vermelha e coloco
um sobretudo por cima, acompanhado dos meus saltos e desço as
escadas de casa.
— Onde vai querida? — Mamãe surge não sei de onde na
porta de entrada.
— Sair com um amigo e vou pegar um dos carros. — Ela me
olha desconfiada, mas acena em concordância, minha mãe sabe
que não tenho amigos, muito menos homens.
Pego o carro do papai da garagem e sigo para o hotel, em
menos de 30 minutos chego ao meu destino, deixo que o
manobrista cuide do veículo e vou em frente. O Hotel Sweet Dreams
Palace é enorme, sua estrutura é uma verdadeira riqueza e apesar
de estar com medo de ser reconhecida por alguém, não me importo
e crio toda coragem para ir adiante.
— Boa tarde! Quarto 3003, por favor. — Antes de sair de
casa, Chris havia me dito que tinha reservado um dos quartos e
deixado o cartão de acesso na recepção.
— Ah, sim, senhorita, aqui está a chave. — Pego o cartão e
vou em direção aos elevadores.
Em alguns minutos as portas se abrem e ando pelo corredor
até encontrar o quarto, paro em frente uma porta grande e branca, a
destranco e entro em seguida. O ambiente está em um clima
romântico apesar de o dia ainda estar claro, tem pétalas de rosas
amarelas deixadas no chão que fazem um caminho até a cama,
champanhe no gelo em cima da mesinha de cabeceira e uma
música tocando em um volume baixo que logo percebo ser do Lewis
Capaldi — Hold Me While You Wait, mas o que me chama
realmente atenção é um homem lindo e musculoso parado sem
camisa de frente para janelas enormes tomando um copo de whisky.
— Chris? — Vejo que o peguei desprevenido e ele se vira
rápido ao ouvir o som da minha voz.
— Você veio, fiquei com medo que não viesse. — Ele se
aproxima e me pega em seus braços me dando um beijo urgente e
desesperado. — Você não sabe como me sinto o homem mais feliz
do mundo por ter você aqui em meus braços.
— Eu sinto o mesmo. — Voltamos a nos beijar, mas agora
estou sendo levada para a cama. — Espera, tenho uma surpresa
para você. Sente-se e aprecie o show. — Vou em direção ao som e
mudo a música para: Dance for You da Beyoncé. Começo a fazer
movimentos com os braços e com o corpo, mexo os quadris
generosamente e faço uma dança sensual para ele.
— Uau! Não sei onde você aprendeu a fazer isso, mas
espero que faça para sempre. — Sorrio para ele enquanto se
aproxima. — Agora, que tal eu te ajudar a tirar cada peça bem
devagarinho. — Ele me pega no colo e me coloca sobre a cama,
beija meu pescoço, rosto e em seguida segue para meus seios,
desce o zíper do corpete que fica nas costas depositando beijos por
toda extensão até meu ombros, quando estou livre dele, abocanha
um dos meus seios com sua boca e me faz arfar com o toque da
sua língua em minha pele. Chris se levanta e fica de joelhos para
mim, desce uma das minhas meias e beija o caminho percorrido,
assim faz com a outra, quando estou prestes a tirar os saltos, ele
me impede. — Não, quero você somente com eles. — Assinto e ele
segue com seus beijos pelo meu corpo, no fim só estou de calcinha
e sapatos.
— Agora me deixe tirar as suas. — Me levanto e beijo seu
peito, passando minha língua até seu umbigo. Mordo sua orelha e
beijo seu pescoço, em seguida lhe dou um beijo cheio de
expectativa e carinho. Abro o zíper da sua calça e a desço por suas
pernas torneadas, quando o vejo somente de cueca fico encantada,
Chris é tão lindo e gostoso. — Você é perfeito. — Ele abre um
sorriso e segue passando suas mãos por meu corpo, assim, como
faço com o dele. Logo sou colocada novamente na cama, vejo ele
pegar um preservativo na gaveta e voltar para cima de mim, em
meio a beijos, promessas e carícias trocadas já estamos totalmente
pelados e ainda permaneço de saltos. — Você põe ou eu ponho?
— Ainda não terminei as preliminares, princesa. — Suas
mãos descem para meu clitóris e fazem um vai e vem gostoso, em
minutos sua boca substitui suas mãos e explodo em um orgasmo
incrível. Tento fazer o mesmo com ele, mas ele não deixa. — Ainda
não, hoje vou amar somente seu corpo como você merece. — Ele
se levanta por algum tempo para colocar a camisinha, e então, se
posta em cima de mim. — Você está pronta? — Faço que sim com a
cabeça e o sinto entrar devagar, sinto uma dorzinha chata e ele
para. — Calma, vai ficar tudo bem.
— É que já faz muito tempo. — Sorrio tímida e ele leva seus
lábios ao meu. Quando me acostumo com seu tamanho, ele começa
um movimento gostoso e se entregamos um ao outro.

(...)

— Uau, nem sei o que dizer? — digo com o corpo


entrelaçado ao dele e minha cabeça apoiada em seu peito.
— Pode começar com se foi bom ou ruim? — Depois dos
meus gritos um tanto altos, nem tem o que dizer.
— Foi mais do que perfeito, mas você sabe disso Chris. —
Está estampado em meu rosto um pouco envergonhado.
— Não tive oportunidade de falar antes e me desculpe, mas
você está linda com essa cor de cabelo, combina com seus olhos e
as tatuagens, caramba, posso dizer que com certeza fiquei bem
extasiado ao vê-las, mas quero conferir depois que cicatrizarem,
centímetro por centímetro. Esse momento que tivemos juntos foi o
melhor que já tive na vida, você é tão maravilhosa, prometo amá-la
incondicionalmente e cuidar de você todos os dias da minha vida
enquanto ainda me quiser.
— Obrigada por me amar de uma maneira tão pura e
verdadeira Chris. Sei que esse não é o melhor momento, mas o que
vai acontecer com o seu relacionamento com a Suzane? —
Levanto a cabeça e observo sua expressão divertida.
— Eu terminei com ela, nunca daria certo mesmo. No fim ela
acabou tendo que se mudar de Sweet Dreams. — É errado achar
isso ótimo, acho que não nessa situação. — Lembra que te falei que
o Paul tinha um passado?
— Sim, você disse que eu não fui a única. — Chris se levanta
da cama e retira uns papéis de dentro da pasta de couro.
— Aqui estão os relatórios que reuni durante uns meses. Paul
se envolveu com cinco mulheres durante os cinco anos anteriores
ao seu relacionamento com ele, pelo menos os que resultaram em
agressões físicas, ele pode ter tido mais alguns casos passageiros,
mas dentre elas teve uma que ele ficou um tempo a mais, e antes
que pergunte, por mais que eu seja amigo dele há anos, é
impossível saber de tudo, ainda mais quando as pessoas se
esforçam para esconder. — Passo os olhos pelas fotos das garotas
e vejo boletins de ocorrências feitos contra meu marido.
— Como você conseguiu isso? — A cada dia que passa
descubro mais coisas contra o meu lindo esposo.
— Contratei um detetive particular. — Nossa, ele foi bem
mais rápido do que eu, nunca pensei na possibilidade de saber do
passado de Paul. — Essas mulheres fizeram queixas de agressões
contra Paul, mas nunca foram executados, porque todas elas alguns
dias depois do ocorrido retiraram as queixas por livre e espontânea
vontade, mas o que mais me surpreende é que misteriosamente
todas elas sumiram das cidades onde moravam, deixando apenas
um bilhete para as famílias dizendo que precisavam se
redescobrirem, então, agora me diz, isso não é suspeito o suficiente.
Estou tentando encontrar alguma delas, mas parecem que elas
sumiram do mapa, dificultando o trabalho do detetive. Você entende
que isso é bem maior do que pensávamos, Paul não está fazendo
isso sozinho e tenho certeza de que Alice está envolvida, mas não
só ela, alguém está sendo muito bem pago para esconder essas
coisas e eu vou descobri quem é, pode demorar o tempo que for,
mas Paul vai pagar pelo que ele te fez.
— Meu Deus, Chris, isso é horrível, ele é pior do que eu
pensava, e se realmente você estiver certo, tem que ser alguém
com muito mais poder do que ele para fazerem esses fatos serem
esquecidos. — Está ficando muito perigoso e tenho sérias dúvidas
se esse é somente o crime de Paul.
— Vai ficar tudo bem, meu amor, daremos um jeito, mas
prometo a você que nunca irei desistir. — Chris vem até mim, me
abraça forte e me dá um beijo na testa.
— Nós vamos conseguir, eu vou acabar com ele e vou fazer
de tudo para que apodreça na cadeia sem direito a fiança. — Nem
que seja a última coisa que faço em vida.
— Esse tempo com você está sendo o melhor que poderia
ter. Obrigada por estar comigo, Liza — ele fala com tanta convicção
que só agora percebo o quanto foi doloroso para ele me amar em
silêncio por tantos anos.
— Não agradeça amor, queria ter te conhecido antes. —
Passo a mão em seu rosto em um gesto de carinho.
— Temos a vida inteira para compensar cada momento
perdido, e quem sabe ter um filho daqui uns anos. — Ele me olha
com um sorriso estampado no rosto.
— Quem sabe um dia. Preciso ir, já fiquei muito tempo longe
de casa. — Apesar de ter gastado meu tempo do melhor jeito. Eu
me senti realmente amada, ele cuidou de mim com tanto carinho e
amor.
— E eu estou muito tempo longe da empresa. — Se pudesse
nunca deixaria ele ir. — Essa viagem de negócios me cansou
mentalmente, não avisei que já voltei, então, posso ficar tranquilo
quanto meu atraso. — Ele me beija nos lábios e se levanta me
puxando para o banheiro. — Vamos tomar banho juntos. — Com
certeza, gatinho. Chris lavou cada pedacinho do meu corpo e nos
amamos mais uma vez enquanto a água escorria por nosso corpo,
depois nos trocamos para ir embora.
— Como ficaremos agora, não quero deixar de vê-lo? —
Ficar sem ele seria pior do que tudo pelo que já passei.
— Eu já disse, Liza, será para sempre. Ligarei para você
todos os dias e nos encontraremos quando der, até que esteja
completamente livre para mim. Você desce primeiro, vou depois. —
Assinto e lhe dou um beijo antes de sair. — Até mais baby. — Sorrio
e sigo para o elevador.
Estou pisando em um terreno perigoso, mas estou pouco me
importando, se Paul descobrir, dane-se, minha vontade é de usar a
cama dele um dia, quem sabe eu não faça. Meu Deus, estou ficando
irreconhecível, eu nunca teria coragem de fazer isso se fosse em
situações diferentes, eu passei por cima de todos os meus
princípios, sinto por meu caráter e fico feliz por amá-lo.
Entro no carro e sigo para casa, ainda terei que explicar para
minha mãe o que andei fazendo, não contarei sobre Paul, ainda
não, em breve quando tiver mais respostas eu abrirei o jogo para
meus pais, mas preciso contar que ando me encontrando com
Chris, já que irei sair mais vezes, só preciso de um plano.
— Mãe, cheguei. — Abro a porta de casa e vou para a sala.
— Oi, querida, como está? — Nem sei descrever. — Pelo
sorriso no seu rosto, vejo que a tarde foi ótima.
— Foi perfeita, mamãe. Preciso te contar algo. — Conto para
minha mãe que não amo mais Paul, que nosso casamento está
insuportável e que me apaixonei pelo Chris, inclusive sobre nossos
encontros.
— Meu amor, você sabe que independentemente do tipo de
homem que seu marido vem sendo, você não deveria trai-lo, é
errado filha.
— Eu sei mãe, mas eu o amo, não consigo ficar longe. —
Deito-me em seu colo e sinto as lágrimas se fazerem presentes em
meus olhos.
— Se fosse seu pai, eu faria a mesma coisa. — Não existe
mãe mais incrível que Dona Suzan, ela nunca saiu do meu lado,
mas também nunca deixou de apontar meus erros, nem meus
acertos.
— Eu te amo, mãe, sinto por ser uma decepção. — Eu
realmente fiz de tudo para ser uma boa filha.
— Independente de como você fez parte de nossas vidas,
meu amor, você é meu maior orgulho, minha linda princesinha. — A
abraço bem forte contra meu corpo e lhe dou um beijo na bochecha.
— Vou tomar um banho e ler um livro. — Saio da sala e subo
para meu quarto. Hoje definitivamente foi um dos meus melhores
dias e espero vivê-lo outras vezes.
Capítulo 14

Hoje tive uma ótima manhã, conversei um pouco com meus


pais no café e decidi sair um pouco de casa. Fui para o parque no
centro de Sweet Dreams, era tão verde, tinha várias árvores,
pessoas que faziam suas corridas matinais e grupos de amigos
conversando, fazia tanto tempo que não vinha aqui, lembro que
quando criança passava um dos meus melhores momentos aqui
com meus pais. Enquanto andava pelo parque tinha várias bicicletas
paradas juntas e observei ser aquelas que as pessoas podem
alugar para um passeio, como estava vestindo short, camiseta
regata e tênis, optei por alugar uma no aplicativo, sai pedalando
com o vento balançando meus cabelos, andei por uns 30 minutos e
depois que devolvi a bike para seu devido lugar, fui para casa.
— Filha, ainda bem que você chegou, seu marido está aqui,
você não atendia o celular. — O cara me persegue, parece encosto.
— Oi, mãe, eu coloquei o celular no silencioso, estava
andando de bicicleta e nem vi as chamadas. — Enquanto
conversávamos, Paul me lançava um olhar de reprovação como
reação pelas minhas palavras.
— Tudo bem, eu estou indo para o trabalho, você pode ficar
aqui com Paul, mas terão que pedir algo para comer, porque eu não
deixei comida pronta. — Assinto e vejo minha mãe sair de casa.
— Então, a filhinha da mamãe foi para o parque, o quão
idiota é isso, você não disse que passaria um tempo com sua mãe,
me parece que só queria fugir de casa. — O homem implica com
tudo, misericórdia.
— Eu não sou prisioneira aqui como na sua casa Paul, então,
posso sim sair quando quiser. — Ele me olha com raiva e sai da
sala.
— Vai se arrumar, vamos almoçar naquele restaurante que
eu gosto. Sobe e fica bem bonita para o seu marido, e tente ser
menos indecente, essa roupa está muito curta. — Não respondo e
subo para o quarto evitando olhá-lo. Tomo um banho, e visto uma
calça jeans e blusa folgada, desço e, então, saímos de casa. —
Como está sendo seus dias aqui na casa dos seus pais, pelo que
vejo anda tendo muitas mudanças, seu cabelo era melhor escuro,
loiro te deixa com cara de vadia.
— Como você é escroto. Os meus dias estão sendo
maravilhosos, e como estão os seus dias no inferno, porque é onde
o Diabo mora, não é? — Acho que exagerei, porque segundos
depois sinto uma mão forte apertar meu pescoço e encostar minha
cabeça no vidro do carro. — Para Paul, você está dirigindo, e ainda
está me sufocando — falo sentindo o ar se esvair de mim.
— Eu ainda posso dirigir com uma mão e ensinar você a me
respeitar com a outra. Nunca mais seja irônica comigo de novo,
você entendeu? — Ele aperta cada vez mais meu pescoço e a única
coisa que penso em fazer é acenar com a cabeça. — Muito bem. —
Paul solta minha garganta e tusso tentando recuperar o ar que há
pouco tempo me faltava.
— Você é um ser desprezível e arrogante, nunca mais
encosta as mãos em mim, isso vai acabar ficando roxo. — Merda!
Se ficar marca não terei como esconder dos meus pais.
— Fica tranquila, não ficará marca alguma, não apertei tão
forte assim e de qualquer forma passe maquiagem. — Que homem
desalmado, ele não tem um pingo de compaixão. — Você gosta de
me provocar, eu acabei de falar para você me respeitar e você
continua me desafiando, o que eu faço com você, Liza. — Ele tenta
passar a mão em meu rosto, mas dou um tapa na mão dele para
que se afaste e o empurro para o lado. Grande erro, ele me dá um
tapa tão forte no rosto com as costas da mão que até viro para o
lado com o impacto. — Vadia, você quase me fez bater o carro. —
Isso não vai ficar assim, eu te juro, vou me vingar. O resto do
caminho fazemos em silêncio.
Perdi totalmente a fome do lado de Paul, não aguentava olhar
para o rosto dele, me causava náuseas, foi sufocante ter que
aguentá-lo falando o quanto sou uma esposa imperfeita, que ele
deveria ter escutado sua mãe e ter se casado com Giseleh, esse
passou a ser meu sonho a partir do momento em que ele abriu a
boca para contar, pena a Alice não ter insistido mais. Quando fui ao
banheiro, observei que meu rosto e meu pescoço só ficaram
vermelhos, impedindo que soubessem a causa verdadeira das
marcas. Saímos do restaurante e fomos direto para casa dos meus
pais, quando ele desligou o carro, sai rápido e bati a porta com tudo,
só olhei para trás quando entrei em casa e o carro dele já tinha
sumido. Fui para o quarto e liguei para o Chris.
— Oi, meu amor, eu já sinto sua falta. — Ao ouvir sua voz
comecei a chorar descontrolada. — Liza, vida, o que aconteceu, fala
comigo amor, eu estou preocupado.
— Paul tentou me enforcar e me deu um tapa no rosto. —
Escuto algum barulho do outro lado da linha que pareciam coisas
sendo jogadas no chão.
— Aquele desgraçado, isso não vai ficar assim.
— Chris, por favor, não faça nada, ele pode desconfiar, eu só
precisava desabafar com alguém que soubesse a verdade, sinto
muito. — Começo a chorar novamente e ele pede que eu me
acalme.
— Eu preciso desligar, depois conversamos. — Antes que eu
pudesse dizer algo, a ligação já havia se encerrado. Meu Deus,
acho que não foi uma boa ideia ligar para o Chris e se ele fizer algo,
tudo pode acabar sem antes ter começado.
O resto do dia passo no sofá de casa assistindo filme e
comendo chocolate. Tentei ligar de novo para o Chris, mas ele não
me atendeu, só mandou uma mensagem dizendo que estava tudo
bem e que me ligaria mais tarde. Fiquei um pouco receosa, mas
resolvi não pensar muito nisso e acabei deixando para lá. Fiz um
macarrão com queijo para o jantar, não sou perfeita na cozinha, mas
me viro quando posso. Quando estava terminando de colocá-lo na
travessa de vidro, mamãe e papai, chegaram.
— Sério querido, que horror, e qual foi o motivo? — Mamãe
estava com o semblante preocupada olhando para meu pai.
— O que aconteceu? — perguntei aos dois.
— Nem eu sei minha filha. Estava em uma reunião com Paul
na empresa, do nada o Chris chegou na sala e deu um soco no seu
marido, foi tão forte que o coitado caiu nocauteado no chão da sala,
eu fiquei tão horrorizado que só deu tempo de chamar o Joseph
para socorrê-lo, apesar dele ser um riquinho mimado, o impacto foi
profundo. — Sabia que tinha algo de errado, merda Chris, porque
você fez isso e pior que a culpa é minha, eu não deveria ter aberto a
boca.
— Pai, ele não falou porque fez isso? — Espero que não.
— Não filha, ele somente saiu da sala e foi embora mais cedo
da empresa. Joseph disse que amanhã terá uma conversa com ele,
porque não admiti esse tipo de atitude dentro da organização e eu
concordo com ele, não podemos deixar isso passar como se nada
tivesse acontecido, ele é filho de um dos nossos melhores sócios,
tem um cargo de grande importância na empresa, afinal, ele é nosso
Gerente Administrativo, o que fez foi um absurdo e é inadmissível
pelo conselho. — Preciso falar com ele, deve estar se sentindo
horrível.
— Ele pode perder o cargo dele, papai? — Tomara que não,
principalmente por minha culpa.
— Não filha, mas com certeza o pai dele vai afastá-lo das
atividades da empresa por um tempo, até tudo se acalmar e as
pessoas esquecerem. — Isso vai acabar com o Chris, ele ama o
que faz.
— Isso é ruim, papai, Chris é apaixonado pelo trabalho dele
— falo com a voz triste.
— Não sabia que você conhecia Christopher tão bem. —
Minha mãe me olha com os olhos arregalados.
— É que uma vez ele estava conversando com Paul e deixou
escapar sua paixão pela sua profissão. — Tento desviar a conversa
para bem longe da verdade, mas não sei se meu pai engoliu essa.
— Ok. Querida, vamos tomar um banho comigo? — Papai
deu uma olhada safada para ela que logo ficou toda vermelha.
— Charles, olha só o que você fica falando perto da nossa
filha, ela ainda é o nosso bebê. — Meu pai deu risada e pegou na
mão dela.
— Nossa bebê já está bem grandinha, meu amor. — Eles
subiram para o quarto e me deixaram lá sozinha com meus
pensamentos. Peguei o celular e liguei para o Chris, tentei umas
cinco vezes, mas ele não me atendeu. Quer saber, vou deixá-lo
sozinho, ele deve estar querendo pensar e não precisa de
uma louca atrás dele. Voltei para sala e coloquei uma série, vou
terminar a noite e ir até a madrugada assistindo Apocalipse V
acompanhada do Doutor Luther Swan, porque pelo jeito meu papai
e minha mamãe estarão bem ocupados.
Capítulo 15

— Bom dia, mãe, pai. — Acordei mais cedo hoje e desci para
saber da situação do Chris antes que meu pai saia para trabalhar.
— Bom dia, minha princesa, caiu da cama, ainda são sete e
meia — minha mãe fala enquanto atravesso a cozinha em busca de
uma xícara de café.
— Estava sem sono. Já tem alguma notícia sobre a empresa
pai, o Chris vai ser dispensado? — Meu pai estava comendo uma
fruta, mas olha para mim com uma expressão indecifrável.
— Você percebeu que em nenhum momento perguntou como
seu marido está? — Putz! Eu nem me lembrei do traste.
— Porque eu acabei de ligar para o meu marido e ele está na
casa dos pais dele. — De repente meu pai larga a fruta e olha em
minha direção.
— Quem vai me contar a verdade, você ou sua mãe, porque
tenho certeza de que ela sabe. — Nesse momento minha mãe olha
para mim com cara de que fiz besteira. — Paul me ligou e disse que
estava na empresa, ao menos que eu tenha ouvido errado ou você
esteja mentindo para mim, não vejo outra explicação, então, quem
começa a falar.
— Charles, não precisa pegar pesado com nossa menina —
mamãe tenta amenizar a situação, mas creio que só tenha piorado.
— Pai, eu sinto muito. — Quando vejo já estou confessando
ao meu pai que tenho um caso com o melhor amigo do meu marido,
ou nesse caso, ex-amigo.
— Meu Deus, Elizabeth, então, foi por isso a briga de ontem,
como você pôde filha, eu te criei melhor do que isso. — Vejo
decepção no rosto do meu pai e me sinto tão mal.
— Paul não sabe de nada pai, deixa eu explicar para o
senhor. — De repente ele levanta a mão e pede que eu me cale.
— Não tem explicação para traição, independente do seu
marido ser um playboyzinho mimado e egoísta não justifica, você
sabe o que eu e sua mãe passamos com nossos pais e eu sempre
me orgulhei de ter uma família sincera e honesta, como acha que
me sinto agora. — Lágrimas rolam pelo meu rosto e meu pai se
levanta para sair. — Você vai terminar seja lá o que vocês tiverem,
porque senão eu conto para o seu marido. Eu amo você minha filha,
mas nunca vou aceitar essa atitude nem de você e nem da sua mãe
que mentiu para mim, e me escondeu a verdade. — Minha mãe está
triste, e por minha culpa eu fiz meus pais brigarem. Ele pega a
maleta dele e sai de casa.
— Mãe, o que eu faço? — Ela me abraça e enxuga minhas
lágrimas.
— Não sei filha, faz o que seu coração mandar, eu sinto
muito querida. — Minha mãe volta para sala e depois escuto a porta
bater.
Eu preciso do Chris, não sei se ele está em casa, mas como
não fala comigo, vou atrás dele. Subo para o quarto, me arrumo e
pego minha bolsa. Alguns minutos depois estou na frente do seu
prédio, é grande, aperfeiçoado e tem vidros espelhados, peço a
entrada para o porteiro e ele diz que irá verificar com o senhor
Moore, não demorou muito até que permita que eu entre, subo de
elevador até o nono andar e bato na porta umas três vezes.
— Liza, o que aconteceu? — Chris abre a porta e então, olho
para ele com lágrimas nos olhos, não demora muito e já o estou
abraçando.
— Meu pai descobriu sobre nós. — Ele não fala nada e
continua a me abraçar.
— Como assim descobriu, mas não faz nem uma semana
que estamos juntos, como isso foi acontecer. — Eu sou tão idiota,
não consigo guardar segredo nenhum, deve ser por isso que Paul
consegue me manipular tão facilmente.
— Eu contei, cometi um erro e não poderia continuar
mentindo. — De repente ele se desvencilha do meu aperto e anda
pela sala com as mãos na cabeça.
— Ah, Liza, conheço muito bem o Charles para saber que ele
não reagiu muito bem a essa informação. — Assinto com a cabeça
e me sento no sofá.
— Ele pediu para que eu acabasse com nosso
relacionamento, senão contaria para o Paul. — Chris vai até a
mesinha encostada na parede e dá um soco tão forte nela que me
assusto.
— Ele não pode fazer isso, você tem que contar para seus
pais a verdade. — Nunca vi o Chris tão nervoso.
— Isso não vai mudar em nada, meu pai nunca vai aceitar
isso, ele é bem rígido com relação a disciplina. — Meu pai nunca vai
aceitar uma traição, ele sabe o que isso faz com as pessoas, ainda
mais depois que descobrir que o genro é psicopata.
— Nunca vou desistir de você, então, você vai dizer isso para
o seu pai ou irá mentir para ele, eu não sei, mas agora você é minha
mulher. — Ele vem até mim e me beija, é um beijo calmo, mas com
certo receio, sinto que ele tem medo de me perder.
— Espera Chris, não deveria ter batido no Paul, aquilo foi
errado. — Só fez com que nossa situação complicasse mais ainda.
— A hora foi errada, mas com certeza o soco que eu dei nele
foi muito certo, a minha vontade era de bater mais, mas o idiota caiu
logo no primeiro golpe, minhas aulas de luta valeram a pena. —
Acho que acabei de ter uma ideia.
— Você pode me ensinar a me defender, não posso deixar
que ele faça de novo, por favor. — Ele abre um sorriso e pega em
minhas mãos.
— Nada me faria mais feliz do que ensinar a minha garota a
dar uma surra no crápula. — Chris coloca as mãos na minha cintura
e me leva para o quarto me deitando na cama. — Senti saudades.
— Ele me beija com intensidade e retribuo com desespero, esse
beijo é o melhor que já provei. — Que tal você começar a tomar
pílula, quero te sentir sem nenhuma barreira. — Sorrio para ele
concordando, também quero senti-lo sem nada para nos atrapalhar.
— Te amo, Liza.
— Também amo você. — Comecei tirando sua camiseta e
depois as calças, olhei para ele com desejo e ele sorriu para mim,
retirei sua cueca e pude apreciar seu corpo nu em cima de mim, não
me contentei e me esfreguei com vontade nele, logo ouvi um
gemido e não pude distinguir de quem veio, mas com certeza
apreciei cada som que ecoava entre essas paredes. Ele logo
começou a tirar meu vestido e minha lingerie, beijou meu corpo
como tinha feito da primeira vez, cada parte venerada por sua língua
e seus lábios.
— Você é linda, gostosa e toda minha. — Amo quando ele
fica possessivo e diz que sou sua, parece que meu corpo recebe
uma descarga elétrica que o deixa todo em alerta. Viro ele na cama
para que eu fique por cima e começo a beijar seu peito, ele não é
totalmente liso, tem alguns pelos ralos, seu corpo é tão musculoso
que posso ver seus gominhos. — Mulher, você é uma loucura. —
Continuo a beijá-lo por todo corpo até chegar aonde eu mais queria,
o envolvo com a boca e o deixo apreciar. — Isso é tão bom amor,
continua. — Não demora muito e o vejo se entregar ao momento. —
Agora é minha vez.
Chris e eu, passamos algumas horas bem quentes, claro que
paramos em algum momento para se recuperar, mas o que vinha a
seguir era melhor do que a primeira vez. Ele realmente ficou
suspenso da empresa, seu pai disse que ele poderia voltar em duas
semanas, então, tínhamos esse tempo só para nós. Assistimos
juntos “Um amor para recordar”, foi escolha minha, mas Chris não
reclamou, até achei que ele seria o tipo de homem machista que diz
que não vê filme de mulherzinha, mas ele apenas me disse que não
existe isso de filme de homem ou mulher, é apenas um filme e que
quando o produziram não pensaram em público alvo, apenas que
comovessem a todos, esse homem se mostra cada vez mais
incrível. Passei o dia com ele, mas já estava na hora de voltar para
casa, papai e mamãe, daqui a pouco chegaria.
— Preciso ir, Chris. — Ele não ficou muito feliz, mas assentiu.
— Tudo bem. Depois me conta o que decidiu contar para seu
pai. — Acenei com a cabeça e fui para porta. — Até mais amor, me
avisa quando chegar, eu te levaria, mas não quero mais
descobertas por um longo tempo. — O beijo nos lábios e sigo para
fora do prédio. Chego em casa e está tudo em silêncio, e é quando
tiro meus saltos para não causar barulho.
— Estava com ele, não é. — Isso não foi uma pergunta, mas
sim uma confirmação. Meu pai está encostado na parede de frente
para porta de entrada com cara de poucos amigos.
— Pai, eu o amo, não vou me afastar dele, se quiser contar
para o Paul, vai em frente. — Eu realmente espero que ele não
conte, senão pode pôr tudo a perder.
— Eu conversei com sua mãe e entramos em um acordo, eu
não aceito o que você faz, mas não sou ninguém para te impedir,
você é maior de idade e toma suas próprias decisões. — Então, ele
sobe as escadas e me deixa lá embaixo sozinha com menos um
problema nas costas. Pego meu celular e escrevo uma mensagem
para o Chris.

Eu: “Cheguei em casa e conversei com meu pai, ele não


vai implicar conosco, disse que sou adulta para tomar minhas
próprias decisões.” — Alguns segundos depois escuto o
barulhinho de notificação.

Chris: “Charles é um homem sábio.” — Meu pai é meu


herói, assim como minha mãe, só espero que ele não fique
chateado comigo por muito tempo.

Eu: “Ele é sim, vou descansar que hoje o dia foi


enérgico.”

Chris: “Põe energia nisso, você estava uma leoa.” — Mas


é safado.

Eu: “E você faminto, bjs meu amor, te amo.”

Chris: “Até querida, te amo mais.” — Sorrio para tela e


bloqueio o celular. Esse homem é uma loucura.
Capítulo 16

Uma semana depois...


Hoje o dia está ensolarado e é um ótimo dia para uma
corrida. Tomo um banho gelado, porque eu gosto de sentir o
momento exato que o calor do meu corpo se adapta ao gelo da
água, é uma sensação incrível, por isso sempre amei nadar na
piscina e amo uma praia. Ao sair do banheiro, visto uma roupa
confortável, coloco um tênis e prendo meus cabelos, depois vou à
cozinha.
— Sophia, nossa quanto tempo. — Me aproximo dela para
dar um abraço bem apertado.
— Oi, menina, seus pais me deram uns quinze dias de férias
e só fiquei sabendo da sua presença nessa casa, pois sua mãe me
contou antes de sair para o trabalho. — Eu sou uma pessoa tão
ruim que acabei nem perguntando para minha mãe onde ela estava,
tanta coisa na cabeça, que acabei deixando para lá.
— Aproveitou bem as férias? — Sei que Sophia é uma
senhora de sessenta e dois anos, mas isso não impede que se
distraia.
— Fiquei em casa descansando as costas que já estão
começando a dar sinais da idade, mas não falta muito para a
aposentadoria chegar. — Sei que Sophia é sozinha, seu marido
morreu há uns quinze anos em um acidente de trânsito, mas eu não
queria deixá-la viver o resto dos dias sozinha.
— Sophia, posso lhe fazer uma proposta. Depois que você se
aposentar, se eu a chamar para morar comigo, você aceita? — Se
ela aceitar, serei sua filha até o fim.
— Minha filha, e o seu marido, será que ele gostaria disso?
— Paul não tem nada a ver com minhas decisões, isso é um
pedido meu, não quero que fique sozinha, quero você do meu lado
se divertindo com seus netos, porque pretendo ter bastante filhos.
— Ela vem até mim e me abraça, percebo que está chorando e a
afasto para limpar suas lágrimas. — Não chore, eu sempre tive
muito carinho por você e te levo onde você quiser.
— Tudo bem minha menina, eu aceito. — Nos abraçamos e
posso sentir que o amor é recíproco. Faço uma vitamina de frutas e
a tomo, pego meu iPod e coloco no braço. — Sophia vou correr um
pouco, até mais tarde.
— Se cuida criança. — Saio pela porta e começo minha
corrida até o parque.
Esses dias na casa dos meus pais estão me tornando mais
forte e independente, mudei tanto de lá para cá e olha que só faz
mais de uma semana que estou hospedada na casa deles, não
tenho muita vontade de voltar para casa do Paul, graças a Deus ele
não falou mais comigo depois daquele dia horrível. Passar um
tempo com Chris está cada vez melhor, como estou em “liberdade
condicional”, nos encontramos todos os dias, daqui uma semana ele
volta para o trabalho, então, temos que aproveitar bastante. Tirei o
plástico das minhas tatuagens, então, posso me sentir menos
desconfortável, minha cicatrização está sendo rápida, mas passo
pomada todos os dias porque sou paranoica e prefiro cuidar delas
pelo máximo de tempo que tenho. A cor dos meus cabelos não está
sendo muito bem vista pela minha sogra, Paul não me incomodou
mais, mas ela teve que destilar seu veneno, teve a audácia de me
ligar um dia desses e dizer que fiquei com inveja do cabelo dela e
quis copiar, eu mandei ela para o inferno e disse que a cor ficava
mais bonita em mim do que no cabelo de medusa que ela desfilava
por aí, ela ficou com tanta raiva que começou a me xingar pelo
telefone, mas se ela pensou que eu iria ficar quieta, achou errado,
eu retruquei cada ofensa de um jeito bem pior, no fim desliguei a
ligação enquanto ela continuava falando, me senti vitoriosa e
bloqueei o seu número, não estou afim de receber ligações de
cobra.
O parque está calmo hoje, por conta das árvores o vento está
forte e muito agradável. Percebo alguns olhares de homens
enquanto passo por alguns lugares, e sinceramente só me faz se
sentir mais poderosa, eu amo o Chris, mas não estou morta, é tão
bom se sentir desejável, mulheres nunca deveriam deixar que
alguém as coloque para baixo, eu fui negligente em relação a isso,
mas aprendi a ser autossuficiente, somos incríveis e temos um
poder de sedução que sabendo usar faz com que consigamos o que
queremos, eu não sou o tipo sedutora, mas com Chris me mantenho
aberta a novidades, pois ele faz cada coisa com a língua, mãos e
boca, que minha nossa. Paro em frente a um Food Truck e compro
uma água matando minha sede. Corro por uma hora e sinto que já
está na hora de voltar para casa, coloco uma música que amo muito
do compositor Beau Dozier chamada Future Girl que é uma das que
fazem parte da trilha sonora do filme Simplesmente Acontece, eu
meio que sou apaixonada nesse filme, assisti ele umas cinco vezes
e não me canso, eu totalmente shippo o casal Rosie e Alex, eles
são tão perfeitos juntos, o amor sobreviveu ao tempo. Chego em
casa e subo para tomar um banho, quando saio do chuveiro, recebo
um alerta no celular.

Chris: “Oi gata, que tal sair para tomar uns drinks, tenho
novidades?”

Eu: “Claro meu lindo, estou com saudades, espero que o Bar
seja perto da sua casa ou em um hotel.”

Chris: “É perto da minha casa sua safada, se controla


Elizabeth.”

Eu: “Você me tornou assim, então, aguenta gato, até mais


tarde, me manda o endereço que de noite nos vemos.”

Chris: “Até mais tarde delícia”.

Chris me mandou o endereço e o horário. Ainda faltam


algumas horas, então, me arrumo para ir ao centro, vou na clínica
das médicas que cuidam do meu caso, já acabou o tempo para
formar relatórios, vou entregá-los ao Chris para que ele junte com as
outras provas.
Passo no banco e saco uma boa soma de dinheiro, criei uma
conta particular que abasteço todo mês com uma determinada
quantia para que Paul não desconfie, estou usando o dinheiro do
cretino e nada mais do que justo, ele me causa mal, então, uso o
dinheiro dele.
Alguns minutos depois estou em frente ao prédio que a
Doutora Fey trabalha. A recepcionista me leva até seu consultório e
fecha a porta quando saí.
— Olá, Liris, quero acabar com nosso contrato hoje. — Se é
que posso chamar assim.
— Como vai, Elizabeth? Eu poderia questionar sua mudança
repentina, mas como nunca me diz nada, então, vou deixar para lá.
— Pego o dinheiro na bolsa e entrego a ela, ela confere a quantia e
apertamos as mãos. — Boa sorte, Liza. — Saio da sua sala
sabendo meu próximo passo, ir ao consultório da Doutora Vivian
Lopes, minha psiquiatra.
Sempre tive uma ligação melhor com a Vivian, deve ser
porque psiquiatras estudam para nos entender melhor do que
ninguém, quando comecei minha consulta com ela, eu me sentia
tímida e receosa, mas com o tempo ela fez eu me sentir melhor e
acabei contando tudo sobre meus anos cabulosos com meu marido,
algo que nem mesmo contei para o Chris, pois nunca paramos para
falar com detalhes tudo que Paul me fez. Vivian não tem um
consultório em um prédio, mas sim em sua própria casa, ela diz que
faz com que os pacientes encarem o lugar como um ambiente
familiar e depois de um tempo com ela posso dizer com certeza que
realmente ela tem razão. Toco a campainha da casa dela e espero
que atenda.
— Olá, Vivian. — Ela me olha com certo receio. — Podemos
conversar?
— Elizabeth, já faz muito tempo que não vem aqui, em que
posso ajudá-la? — Ela se afasta para que eu entre na casa.
— Queria lhe informar que estou dando por fim o tratamento
que fazemos por mais de um ano.
— Você sabe que quem tem que dar por concluído o
tratamento sou eu, não posso dizer que você está curada se você
foge das sessões. — Eu não participo das consultas já faz um bom
tempo, eu me sinto ótima, ainda mais depois de Chris e não acho
que vir aqui seja mais correto.
— Acho que eu lhe pago muito bem para não haver
questionamento Vivian. — Ela me olha com raiva nos olhos, mesmo
recebendo dinheiro por fora, nenhuma pessoa gosta de ser acusada
pela falta de caráter que tem, ela pode ser boa médica, mas sabe
ficar com a boca calada quando se paga bem e eu pago três vezes
o que vale.
— Eu ainda sou médica e tenho que ter ética com meus
pacientes. — Acho que ela faltou na aula que explicava o que é
ética entre médico e paciente.
— Qual ética, porque eu nunca a conheci. — Ela acena com
a cabeça e eu pego o envelope entregando-lhe. — Esse é o último
pagamento, até uma próxima Vivian, caso eu ainda precise da sua
ajuda, entrarei em contato. — Saio de sua casa e sigo para o carro.
Preciso ir ao shopping comprar um vestido. Não demora muito para
que eu estacione e depois entre em alguma loja.
— Com licença, quanto custa esse vestido senhorita? —
Aceno para a atendente e mostro a ela o vestido.
— Custa 4.500 dólares. — Tudo isso por causa de um
pedaço de pano que se torna caro por conta de uma etiqueta de
uma marca famosa grudada nele. Estou começando a achar que a
falta de preço na etiqueta é algum tipo de estratégia de marketing,
primeiro eles fazem as clientes se apaixonarem pela roupa, e depois
quando elas descobrem o preço, é tarde demais para deixar de
fazer a compra. — Quer que ajude a encontrar um sapato? — Eita,
que já vem outra bomba, não sou eu mesmo que estou pagando.
— Com certeza, quero um preto com sola vermelha da marca
Louboutin. — Se é para gastar, vou com estilo.
— Tenho um perfeito para a senhorita. Siga-me. — Ela me
leva até a área de sapatos e me entrega o que pedi, vou ao
provador e provo meu vestido junto com o sapato, e caramba, ficou
perfeito. O vestido é curto até o meio das coxas, bem justo no meu
corpo e principalmente nos meus quadris, deu até uma levantada no
bumbum e com salto alto ficou um arraso. — Ficou bom, senhorita?
— a atendente fala do lado de fora do provador, pego meu cartão e
entrego a ela.
— Pode concluir a compra. — Ela me dá um sorriso e me
leva até o caixa, faço o pagamento e saio de lá animada, espero
que Chris goste. Eu sei que estou dando uma de mercenária, mas
meu marido merece só um pouquinho.
— Elizabeth? — Acho que conheço essa voz, me viro e
encaro a pessoa que menos queria. — Pensei que estava passando
uns dias na casa dos seus pais.
— Olá, Giseleh, acho que posso imaginar de onde veio essa
informação e que não foi fácil consegui-la. — Posso ver macas de
dedos em seu pescoço e braços, mal cobertos pela maquiagem. —
Poderia dizer que foi um prazer revê-la, mas estaria mentindo,
adeus.
— Me perdoa, Liza, eu me arrependendo tanto pelo que fiz a
você. — Ela segura meu braço impedindo minha passagem.
— Giseleh, escuta, eu não tenho raiva de você, no começo
eu queria te dar um boa surra, mas eu aprendi que não vale a pena,
quem tem que me respeitar é meu marido e ele não faz isso, espero
que depois disso tudo você fique longe dele, você não sabe do que
Paul é capaz e isso que aconteceu com você é só o começo. —
Saio andando sem lhe dar chance de uma resposta, ponho minhas
compras no carro e vou para casa. Essa situação foi um pouco
desagradável.
Chego em casa e subo com as compras, as coloco em cima
da cama e desço para a cozinha, ainda falta umas duas horas para
encontrar Chris, vou comer algo porque andei sem parar hoje e
estou com fome.
— Oi, Sophia, ainda não foi embora. — Encontro Sophia
limpando o fogão enquanto sento-me na cadeira.
— Estou acabando o serviço e daqui a pouco eu vou, como
foi seu dia? — Pego um prato e coloco umas frutas nele.
— Foi produtivo, resolvi bastante coisas. Meus pais avisaram
que horas chegam?
— Eles vão jantar fora e me pareceu que não voltam para
casa hoje. — Isso me parece desculpa para transar loucamente em
um hotel. Fico pensando se atrapalho meus pais estando aqui ou
eles que gostam de inovar de vez em quando. Como um pouco das
frutas e depois levanto-me para colocar o prato na pia.
— Entendo. Vou me arrumar para sair de novo, até amanhã
Sophia. — Dou um beijo em seu rosto e vou para o banho.
Faço uma depilação completa debaixo do chuveiro e admito
que é um pouco difícil encontrar certos lugares para tirar os
pelinhos, preciso marcar uma hora na estética urgente. Tomo um
banho de banheira com sais para relaxar, mas depois vou para o
chuveiro tomar outro, minha mãe sempre me disse que tomar banho
de banheira é chique, mas que é a mesma coisa que nadar na
própria sujeira, então, ela sempre me ensinou a tomar mais um, vai
entender, peguei a mania e agora faço involuntariamente. Seco meu
corpo, passo hidratante e perfume, coloco minha roupa e os
sapatos, quando me olho no espelho me sinto linda, agora só falta
arrumar o cabelo e passar maquiagem. Pego minha carteira, as
chaves do carro, os relatórios médicos e coloco na bolsa, trouxe
eles comigo porque não seria besta de deixá-los na casa do Paul
enquanto não estou lá, vai que ele acha, não confio nele, desço e
vou direto para a garagem, alguns minutos depois saio de casa e
vou em busca do Bar Hot Nights, estaciono em frente e entro, olho
em volta e vejo que Chris ainda não chegou, sento-me no balcão e
peço uma bebida.
— Por favor, Barman, me traz um Sex on the Beach. — Ele
acena e em alguns segundos me entrega o drink, pego-o e bebo um
pouco.
— Aproveite gatinha, qualquer coisa estou aqui. — Ele pisca
para mim e depois saí para atender a outros desesperados por uma
bebida, até que ele é bem gatinho, daria meu telefone se não
estivesse esperando meu Lobo Mau. Acho que a bebida já está
fazendo efeito, porque estou com uma coragem que nunca tive.
— Olá, tudo bem? Está esperando alguém? — Um homem
lindo se aproxima de mim enquanto estou tomando meu drink.
— Sim, ele já está chegando, então, por favor, me deixe
sozinha. — Tento ignorá-lo ao virar, mas ele não para de falar.
— Gosto de um desafio. — Sinto sua voz mais próxima do
que o esperado e, então, me viro para ele.
— E eu não gosto de homens inconvenientes. — Tento sair
do lugar, mas ele me segura e me mantém sentada.
— Que pena gostosa, porque eu adoraria te fazer feliz,
garanto que a noite vai ser inesquecível. — Que homem mais
convencido.
— Você é bem ousado se acha que vai me conquistar com
essa cantada cafona. — Quero ver ele tentar me ganhar.
— Porque será que eu acho que já conquistei. — Então, ele
se aproxima e me rouba um beijo.
— Depois desse beijo eu vou para onde você quiser, mas só
depois de bebermos. — Chris sorri para mim.
— Que falta faz esse seu beijo delicioso. — Ele mordisca
minha orelha e dá uma mordidinha no meu pescoço, sinto meu
corpo arrepiar e solto um gemido baixinho em seu ouvido. — Você
está sexy, não gostei de ver olhares em cima de você, quando
cheguei tinhas uns quatro marmanjos te secando e isso foi só os
que eu percebi, pode existir outros. — Sorrio para ele e lhe dou
abraço.
— Então, foi por isso que chegou me beijando, está
marcando território.
— Não preciso mostrar para ninguém que você é minha, seu
corpo e suas atitudes já dizem isso, é só eu chegar pertinho para
você se arrepiar. — Isso é totalmente verdade, para que negar. —
Vamos beber, enquanto isso que tal conversarmos sobre a novidade
que te falei?
— Para mim está ótimo, mas antes deixa eu te dar algo. —
Pego a pasta da minha bolsa e mostro a ele. — Eu faço relatórios
constantes das agressões do Paul, foi um meio que arrumei para
conseguir meu divórcio e fazer ele ficar um tempinho na cadeia.
— Isso aqui é bem interessante, mas não resolve muita
coisa, ele pode pagar uma indenização, lhe dar o divórcio e nada
mais aconteceria a ele. — Ele folheia os papéis enquanto fala.
— Eu sei, por isso faço questão que isto apareça na TV, ele
perderá um pouco da credibilidade perante as pessoas e o Reino de
Gelo da Rainha Alice irá cair aos poucos — falo parecendo um
pouco diabólica.
— Bem pensado, querida. Estou com outras suspeitas em
relação ao Paul e quando tiver certeza lhe contarei, por enquanto
ainda não. — Aceno a ele concordando e o Barman chega com a
bebida do Chris, Vodka com abacaxi. — Encontrei uma das ex do
Paul e ela concordou em testemunhar contra ele, as outras sumiram
e ainda não temos nenhuma notícia delas, mas vamos continuar
procurando. — Abro um sorriso para ele e o beijo.
— Isso é incrível, finalmente as coisas estão começando a
dar certo, Chris. Será que eu poderei falar com ela? — Ele me olha
surpreso e sei que não gostou da ideia.
— É melhor não, talvez o jure veja isso como um certo tipo de
manipulação. — Pode até ser, mas se eles descobrirem.
— Mas eles não saberão da verdade, eu não vou contar e sei
que você também não. — Ele assente.
— Marcarei um dia para se encontrarem em minha casa, por
enquanto, continuamos como está, ela não mora aqui e, então,
temos que esperar. — Passamos o resto da noite conversando
sobre nós dois, precisávamos conhecer um pouquinho a mais de
ambos e tinha tanta coisa a falar que acho que precisaríamos de
uns anos para saber de tudo. Chris foi no seu carro e eu no meu
para a casa dele. Mal chegamos no elevador e Chris me envolve em
seus braços e começamos a nos beijar desesperadamente.
— Sabe de uma coisa, uma das minhas fantasias é transar
no elevador — digo e, ele vai até o painel e aperta o botão para
parar o elevador.
— Eu nem sabia que você tinha fantasias, mas peço que me
conte cada uma delas, irei realizá-las com prazer baby. — Ele me
pega no colo e enrolo minhas pernas no seu quadril, quando vejo já
estou abrindo sua calça, mas aí me lembro que esse é um lugar
público.
— Chris, as câmeras, alguém pode ver. — Ele levanta meu
vestido um pouco e rasga minha calcinha, vai até a câmera e coloca
ela na frente da tela, estou tão surpresa que nem abro a boca para
falar nada.
— Resolvido. — Chris se aproxima de mim novamente e
volta a fazer o que tínhamos interrompido. Eu termino de abrir sua
calça e abaixo sua cueca libertando o objeto dos meus mais
profundos desejos, ele levanta meu vestido até a cintura e me
invade de uma vez, começa um movimento gostoso até chegarmos
juntos ao clímax. Ele me solta, se arruma e vai até a câmera tirar a
calcinha de lá, coloca dentro do bolso e se vira para mim, aperto o
botão para que o elevador volte a funcionar e seguimos para seu
apartamento. — A gente ainda tem muito o que fazer. — Ele me
puxa para o quarto e ficamos lá por bastante tempo.
Falei com minha mãe e ela confirmou que não volta para
casa hoje, aproveitei e disse que ficaria no Chris e ela concordou.
Chris está um pouco inquieto e acho que quer perguntar algo para
mim e está receoso da minha atitude. Ele foi até a cozinha pegar
algo para comermos, eu disse que dormiria aqui e vejo que ficou
muito feliz com essa notícia, estou animada para acordar do seu
lado, essa vai ser a primeira vez que durmo aqui.
— Aqui está, sanduíche de peito de peru, espero que goste,
trouxe um suco, porque de bebida já deu por hoje. — Ele apoia a
bandeja na cama. — Você sabe que só tenho mais uma semana em
casa e quero que vá viajar comigo, o que você acha? — Uau, isso é
uma novidade.
— Para onde? — Com certeza eu vou, preciso falar com
meus pais, mas é apenas para comunicar.
— Meu pai presenteou minha mãe no seu aniversário de
quarenta anos com uma ilha, ele construiu uma mansão para ela e
nesse momento ela não está sendo usada e fica na Grécia, você
aceita ir comigo? — Acho que me apaixonei mais um pouquinho
agora, quem recebe tal convite.
— Estou vendo que você tem muito dinheiro. — Ele ri e vem
até mim. — Eu aceito ir com você.
— Você me faz o homem mais feliz do mundo, te amo, Liza.
— O amor que sinto por ele está se tornando uma droga, porque a
cada dia mais fico viciada, se eu achei que o relacionamento dos
meus pais não existia, o meu está superando todas as expectativas.
— Chris, a gente não usou camisinha no elevador. — Não sei
se é impressão minha, mas posso ver felicidade em seu rosto.
— Eu sei e está tudo bem amor, não me importaria de ter um
filho seu. — Mas eu sim, nesse momento é quase impossível isso
dar certo.
— Mas amor, agora não é o momento. — Fico olhando para
ele espantada.
— Você nem sabe se está ou não, ainda é cedo, vamos fazer
assim, se você ficar grávida resolvemos depois, mas se não, a
senhorita vai ao médico e irá se precaver, pode ser? — Assinto e
pego um pão para comer. No fim da noite, dormimos agarradinhos.
Capítulo 17

Chris está ao meu lado dormindo feito um anjinho, o rosto


sereno e nos lábios tem um sorriso, ele fica tão lindo quando dorme
que acabo de me apaixonar mais por ele. Hoje é sábado, então,
meus pais não estão trabalhando, oportunidade perfeita para
conversar com eles sobre essa viagem, mas estou prevendo que
pode ser pior do que a conversa da traição, mas uso bastante
aquele ditado popular, “Chifre trocado não dói”, talvez eu seja só um
pouco vingativa e rancorosa, prometo que vou mudar, mas só
depois que acabar com ele, me sinto como a Emily na
série Revenge, ela destruiu toda a elite dos ricos pra vingar o pai, o
meu caso está bem longe da vingança e mais perto da justiça, mas
me inspiro na força que essa personagem tem quando perdeu
quase todos que amava e lutou sozinha por paz. Levanto-me da
cama e vou em direção a cozinha preparar o café da manhã, faço
umas torradas e um suco de laranja e levo para o quarto. Começo a
dar beijinhos no rosto do Chris para que ele acordo, até que sinto
ele despertar.
— Beijos assim eu quero todos os dias. — Ele olha para a
cama e vê a bandeja sobre ela. — Uau! Está querendo me mimar
senhorita Harper, eu com certeza aprovo essa atitude. — Dou um
beijo bem gostoso de bom dia no meu gato e ele retribui com
vontade, sempre vi nos filmes quando as pessoas acordavam já
beijando e me perguntava se eles não escovavam os dentes antes,
agora entendo porque, quando a gente ama dane-se o mal hálito da
manhã, é só se entregar e ser feliz. Com Chris é tudo tão incrível e
me pergunto se realmente amei o Paul, eu era tão nova quando me
envolvi com ele e o encanto acabou tão rápido como quando
começou, uma menina que queria somente seu lugar no mundo,
minha inocência foi roubada de mim e me tornei mulher sozinha em
meio as adversidades.
— Tenho que ir para casa, meus pais estão lá hoje e vou
aproveitar para falar da viagem. — Vou enfrentar as feras.
— Charles e Suzan, não vão aceitar isso muito bem, eu
quero saber de você, iria mesmo que eles fossem contra? — E se o
Paul for até a casa deles e perguntar sobre mim, não quero deixar
meus pais em uma situação constrangedora.
— Chris, é complicado, sem eles como vamos esconder, não
é na cidade vizinha, é em outro país. — Ele passa as mãos pelo
meu rosto, beija minha bochecha e se levanta.
— Eu sei, nunca pediria para você ignorar os seus pais, eu
entendo. Deixa a viagem para lá. — Ele pega uma toalha e a leva
para o banheiro. Eu sei que disse que iria, mas ontem estava no
calor do momento, agora pensando melhor, não seria prudente.
Depois de escovar os dentes e esperar Chris terminar o
banho, ando pelo apartamento olhando cada cantinho, tem quadros
na parede da sala e no corredor que leva para os quartos, não
entendo nada de obra de arte e, então, para mim é apenas alguns
rabiscos bem caros. Escuto um barulho de celular e vejo o do Chris
vibrar em cima da mesinha, vou até ela e olho de quem é, Suzane, o
que essa mulher ainda quer com ele, não deveria, mas a
curiosidade é maior, passo o dedo para desbloquear a tela e leio a
mensagem.

Suzane: “Christopher, essa é a última vez que tento falar


com você, depois não diz que não avisei, você me ignora como
se eu não tivesse significado nada, fomos amigos por anos e
agora de repente eu não valho nada por causa dela, eu mereço
mais consideração do que isso.”

Como assim, Suzane está tentando entrar em contato com o


Chris e ele a tem ignorado, e o que tanto ela quer conversar com
ele, será que eu deveria perguntar pra ele ou ignorar também, se ele
não me contou até agora, talvez não queira que eu saiba, mas
porque meu Deus, eu não irei viver em um relacionamento com
mentiras, não depois do Paul. Bloqueio a tela novamente e volto
para o quarto, preciso sair daqui, me arrumo, deixo um bilhete em
cima da cama e saio do apartamento, pego meu carro e vou pra
casa, preciso pensar antes de fazer uma besteira.
— Filha? — meu pai me chama quando entro em casa.
— Oi, papai. — Vou até a sala e dou um beijo no seu rosto.
— Cadê a mamãe?
— Ela saiu para ir a manicure, sabe como sua mãe é
vaidosa, mas ela não demora. — Assinto e me sento ao seu lado.
— Pai me deixa perguntar uma coisa, ontem quando vocês
não voltaram para casa fiquei pensando se de algum jeito não estou
atrapalhando? — É melhor perguntar do que ficar com isso
atazanando a mente.
— Oh, meu amor, claro que não, sua mãe e eu, às vezes,
precisamos de ares diferentes, ficar sempre em casa é chato. —
Sorrio para ele concordando. — Você é nossa menininha, nunca
atrapalha. — Fico aliviada por saber disso. — Que tal sairmos um
pouco, só nós dois.
— Tudo bem, só preciso tomar um banho antes. — Subo
para o quarto, tomo meu banho e desço alguns muitos depois. —
Pai, o senhor acha que sou uma pessoa ruim? — Eu amo o Chris,
mas, às vezes, a minha consciência pesa.
— Claro que não, meu amor, você é uma pessoa forte,
determinada e muito corajosa. — Ele me abraça e vamos até a
sorveteria que fica a umas quatro quadras de distância de casa. —
Vai querer sorvete de quê?
— De chocolate com baunilha e calda extra. — Meu pai faz
os pedidos a atendente enquanto me sento em uma das mesas do
lugar.
— Querida, aqui está o seu. — Ele me entrega meu sorvete e
logo dou uma lambida generosa. — Você está quieta, o que
aconteceu?
— Chris me convidou para ir a Grécia, mas antes que fale
alguma coisa, eu neguei depois de ter aceitado. — Essa ficou
confusa até para mim, às vezes, eu só faço besteira.
— Quer me falar do porquê não ter aceitado? — Juro que foi
a coisa mais difícil que fiz, e sei que magoei ele e isso acaba
comigo.
— Por você e pela mamãe, não é justo eu sair do país e
vocês terem a obrigação de me acobertar, caso Paul apareça por lá.
— Eu queria tanto ir com ele, imagina ficar sozinhos em uma ilha
particular, seria tudo de bom.
— Meu amor, eu e sua mãe não poderíamos fazer isso Liza,
mentir na cara do Paul já é demais, mas também poderia ocorrer o
fato dele nunca aparecer lá. — Infelizmente, eu não posso arriscar,
Paul é imprevisível.
— Eu sei, papai. — Enquanto acabo de tomar meu sorvete,
Chris me manda uma mensagem pedindo que eu vá me encontrar
com ele. — Pai, tenho que ir agora, se eu for demorar ligo mais
tarde para avisar. — Volto para casa e pego o carro. Será que ele
quer conversar sobre o clima estranho hoje, é bem possível, não sei
se eu deveria dizer que andei fuçando seu celular e acabei vendo as
mensagens de Suzane, talvez seja melhor esperar ele se sentir à
vontade para dizer sobre o ocorrido. Chego, estaciono o carro na
garagem e depois subo de elevador.
— O que aconteceu? — falo enquanto entro no apartamento.
— Meu advogado está aqui, para ele defender seu caso você
precisa assinar uma procuração dando poder a ele, mas antes ele
quer conversar com você. — Assinto e seguimos para a sala.
— Boa noite, senhora Turner, meu nome é Spencer Allen, irei
ser seu advogado, caso permita. — Me sento no sofá de frente para
ele.
— Por favor, me chame de Liza, não uso o nome do meu
marido quando não estou com ele, quero distância. — Um dia eu
serei a Senhora Moore, espero que sim pelo menos, mas não
contarei dos meus pensamentos a Chris ainda.
— Como queira. Poderei me considerar seu representante?
— Aceito sem pensar duas vezes. — Então, vamos aos fatos, no
tribunal não poderei alegar infidelidade, já que a senhorita também
pratica desse ato. — Olho para Chris pedindo uma explicação.
— Tive que contar amor, não podemos mentir para o
advogado, ele precisa conhecer todas as faces da verdade. — Ele
tem razão, o advogado não pode defender uma mentira.
— Continuando, esse fato ficará fora do julgamento, a seguir
existem as provas de agressão físicas e psicológicas que seu
marido vem fazendo a senhorita, portanto, esse será um dos pontos
cruciais, já estou a par dos relatórios que Chris me deu. Não sei se
ele lhe contou das suspeitas que temos, mas parece que seu marido
vem roubando o próprio pai. — Meu Deus Paul foi capaz de fazer
isso com o homem que lhe deu tudo, coitado do Joseph. — Ele
desvia dinheiro da empresa com a ajuda do contador, e fica mais
fácil por ser filho do sócio e ainda gerente financeiro. — Olho
horrorizada pra Chris e vejo decepção em seu rosto, o melhor amigo
dele está se tornando pior do que pensávamos.
— Ainda tem mais, meu amor, ele fez parecer que as
transferências estão indo para um conta clandestina na suíça em
nome do seu pai. — Então, é isso que ele fazia quando dizia que
poderia colocar meu pai na cadeia, como ele é desprezível.
— Precisamos agir com calma enquanto não achamos os
documentos de transferências originais, não podemos inocentar seu
pai e é aí que você entra. Em algum momento do seu casamento
percebeu algum cofre na casa do seu marido? — Pensando bem eu
acho que vi sim, quando fui chamá-lo no escritório.
— Sim, ele tem um atrás do quadro que fica no escritório, só
não faço ideia da senha do crápula.
— Ótimo, terá que descobrir, nem que tenha que fingir que
virou uma esposa dedicada e amorosa para conseguir, é com a vida
do seu pai que estamos lidando, Elizabeth, o que me diz? — Só de
pensar nisso me causa ânsia, olho pra Chris e ele não está feliz com
essa notícia, mas ele sabe que meu pai é tudo para mim, não posso
deixar o cretino ganhar essa.
— Liza, lembra do Sebastian, contratei um hacker pra invadir
as câmeras de segurança na casa da Alice, a mulher é tão neurótica
que encheu a ala dos funcionários de câmeras e conseguimos
pegar o vídeo que demonstra claramente ele te arrastar contra sua
vontade pra um dos quartos, inclusive dentro dele. — Chris quem
diz e meu corpo gela só de pensar que tem um vídeo que mostra
aquela situação deplorável. — Iremos usá-lo no tribunal, mas tem
um problema, como eu fiz para consegui-lo é contra lei, então,
Spencer vai tentar fazer com que seja autorizado pelo juiz como
prova. — Por que tudo tem que ser tão difícil?
— Está ficando cada vez mais perigoso, Chris. Onde tudo
isso vai parar, será que eles não medem os limites das merdas que
fazem, quem eles magoam no processo ou destroem por puro
capricho e ar de superioridade. — Uma lágrima cai do meu olho e
nem mesmo percebi que estava chorando.
— Vai ficar tudo bem, meu amor, vamos conseguir, só não
podemos nos desesperar para derrubar o Paul, pois teremos que
levar muitas pessoas junto com ele, inclusive Alice. — Ele tem
razão, não é só meu marido, mas toda a corja, não quero nem ver
quando começarmos a mexer com pessoas poderosas, quem sumiu
com os boletins de ocorrência das mulheres agredidas por Paul,
será que Alice está envolvida com o roubo na empresa, tantas
perguntas para tão poucas proporções. — Você vai para sua casa e
vai voltar com suas roupas, passará essa semana comigo e lhe
ensinarei defesa pessoal. — Assinto para ele e me levanto para ir
embora. O advogado se despediu de nós e acabei indo com ele
para a saída. Voltei para casa, fiz uma mala e conversei com meus
pais, eles não gostaram muito da ideia, mas disseram que pelo
menos eu estaria no país, e isso é um grande alívio para ambos.
Capítulo 18

Vamos resumir minha vida durante essas 24 horas. Paul foi


na casa dos meus pais exigir que eu voltasse e eu não estava lá, no
fim meus pais tiveram que mentir para me ajudar e eu não pude
fazer nada, estou decepcionada por colocá-los no meio disso tudo.
Assim que soube que ele já tinha ido embora, voltei para a casa o
mais rápido possível, como já havia uma mala pronta, apenas
peguei o resto das coisas, coloquei em uma bolsa e meu pai me
trouxe para o meu cativeiro.
— Clary, cheguei. — Clary não responde e talvez ela já deve
ter ido embora com Brian, depois converso com eles, estou sentindo
saudades deles.
— Ela não está. — Paul nesse momento está descendo as
escadas de casa vindo em minha direção. — Há muitos anos eu me
interessei por uma mulher tímida, inocente e ingênua, mas o que eu
vejo hoje não é nada disso, ela se tornou uma mulher traidora,
amargurada e descarada. — Estou prevendo que aí vem a bomba.
— Você me traiu com o Christopher, meu melhor amigo me
apunhalou pelas costas com a vadia da minha esposa, eu posso até
merecer, mas jamais vou aceitar.
— Eu não sei do que você está falando. — Quando a pessoa
é desmascarada, a única coisa que ela ainda pode fazer é negar,
mesmo que seja burrice.
— Eu tenho fotos, Elizabeth. Você acha que não sei dos seus
passos sua vaca, eu vigio você de perto todo santo dia. Eu conheço
cada coisa que você fez ou tentou fazer, eu sei das suas consultas
clandestinas, e paguei bem mais caro para elas esquecerem que
você existe, inclusive os laudos são falsos, não tem validade
nenhuma, a única raiva que eu tenho é que você estava usando o
meu dinheiro para acabar comigo, isso não é irônico querida. — Ele
vem até mim e pega com força no meu cabelo, me arrasta para a
sala e me joga no chão. — Fica aí porque esse é o lugar de cadelas
filhas da puta. Eu sei dos seus planos com Christopher e aquele
advogado de merda, você não vai conseguir as provas para
inocentar seu pai, eu queimei tudo.
— Como você sabe disso? — Ele não poderia saber de tudo
isso, como é possível, será que ele pagou o advogado também.
— Coloquei escutas na casa do seu amante. Você grita bem
mais com ele do que quando estava comigo, senti ciúmes. — Ele
começa a gargalhar do nada, parece um maníaco psicótico, achei
que estava no controle, mas Paul sempre foi mais esperto. — Eu
sou treinado para prever riscos e sempre vigiar o meu inimigo, tem
muito mais coisas que você ainda não sabe e nem descobriu,
principalmente sobre seu passado antes de me conhecer, mas se
depender de mim nunca vai saber. — Do que ele está falando, como
assim meu passado antes dele, será que a loucura o afetou mais do
que eu pensava. — O seu passado, presente e futuro pertencem a
mim, Liza. O vídeo que vocês pegaram da casa da minha mãe já
não existe mais, quando você paga bem, as pessoas fazem o
impossível para concluir um serviço, vocês são tão burros que só
tinha uma cópia com o advogado, nesse momento ele deve estar
achando que foi vítima de um assalto dentro da própria casa, você
tinha que ver como ele ficou, está com uma plástica no rosto, uma
que eu queria fazer com seu amante e ainda vou, mas tudo no seu
tempo.
— Você é doente, eu tenho nojo de você. — Meu Deus, tudo
está perdido e Paul ganhou mais uma.
— Aprende uma coisa, para lidar com alguém como eu, você
precisa ser mais inteligente, sempre tenha um plano B. Só para te
lembrar, se estiver grávida dele, esse filho não vai existir mais.
Acabou a palhaçada, o último fio de liberdade que você tinha não
existe mais, enquanto eu estiver fora de casa terá seguranças
vigiando você aqui dentro, só vai falar com os seus pais na minha
presença e nunca mais vai ver o seu amante novamente e se ele
tentar fazer algo, seu pai vai pagar por isso. Sabe aquele lugar que
você gostava de frequentar, nunca mais vai aparecer por lá, mulher
minha não dança em um clube igual uma vadia. Eu abri o leque para
ver até onde você ia achando que era mais esperta do que eu, e
tenho que admitir que você chegou bem longe, mas aí quando
começa a ficar perigoso, eu preciso agir. — Eu estou perdida, como
vou conseguir me livrar dessa, eu espero que o Chris consiga o que
falta para eu ser livre de novo.
— Você não vai escapar tão facilmente, uma hora você vai
cair e eu vou estar lá para ver. — Eu espero que realmente isso
aconteça, eu não aguento mais viver desse jeito.
— Você foi burra por esperar e agora está mais uma vez na
estaca zero, eu já ganhei querida. Clary e Brian foram demitidos,
pensou que eu não sabia que eles te acobertavam, grande erro, eu
sei de tudo que acontece na porra dessa casa e na sua vida. Sabe
aquela testemunha que arrumaram, minha ex-namorada,
infelizmente tenho uma notícia não muito agradável para te dar, ela
sofreu um acidente de carro quando estava vindo para cá a pedido
do seu amante. — A que ponto ele chegou, matar uma pessoa é o
nível mais baixo que alguém pode descer. — Pode subir para o
quarto, vai ficar lá até eu dizer que pode sair, e me entregue seu
celular.
Faço o que ele pede, subo para o meu quarto e me tranco
nele, deito-me na minha cama e fico pensando no tamanho da
merda que se transformou tudo isso, toda a evolução que
conseguimos foi por água abaixo. Escuto um barulho fora de casa e
vou dar uma olhada, vejo mais de dez seguranças do lado de fora
da casa e tenho certeza que ele colocou alguns aqui dentro, não
tenho mais meu celular, nem meu computador, nada, ele planejou
tudo e eu mais uma vez não enxerguei o que estava na minha
frente. Minha porta é aberta com força e sei que foi arrombada.
— Nada de portas fechadas nessa casa, se arruma e fica
bem bonita, vamos na casa dos meus pais, minha tia veio nos visitar
depois de anos e você vai conhecê-la, minha mãe a odeia, mas é
divertido ver o quanto elas se matam e jogam indiretas. A noite vou
dormir com você, se é capaz de dar para o Chris, então, vai fazer o
mesmo comigo. — Começo a tremer com essa possibilidade, eu
não vou aguentar esse tipo de coisa, meu Deus, eu não consigo.
— Isso seria estupro, porque nunca vou me entregar a você.
— Você já fez isso uma vez, e agora vai fazer de novo, não
me interessa como, vai ser por bem ou por mal. — Ele sai do quarto
e começo a chorar em desespero.
Fiquei sem saber o que fazer e chorava copiosamente. Paul
voltou ao meu quarto umas três vezes para me dizer que eu teria
que ir ao jantar com a família dele, então, me levantei da cama, me
arrumei, e tive que esconder através da maquiagem as marcas que
estavam nos meus olhos depois de tanto chorar. Eu simplesmente
não tinha reação para nada, e dentro do carro ele até tentou
conversar comigo, mas eu não escutava perdida em meus
pensamentos.
Chegamos à mansão Turner e fomos recebidos pela
empregada, parece que estavam fazendo um jantar nos jardins da
mansão. Lá fora o jardim estava todo iluminado, nem parecia que
era noite, o céu estava lindo, cheio de estrelas, mas não estava
muito feliz nesse momento.
— Ah, meu amor, você chegou, finalmente, só faltava você.
— Alice veio cumprimentar o filho com um abraço e somente me
saudou com um boa noite. — Essa é Verônica Hall. — Uma mulher
linda de cabelos pretos e olhos azuis se levanta e vem até nós.
— Oi, tia, faz muito tempo, a última vez que a vi eu tinha seis
anos e isso foi a mais de vinte anos. A que devemos o prazer da
sua companhia? — Paul foi completamente ríspido com a sua tia, eu
nunca tinha ouvido falar no nome dessa mulher, parece que a Alice
a odeia mais do que parece.
— Decidi visitar minha família, vou voltar a morar aqui e ficar
mais perto de vocês. — Olhando para Alice vejo que ela não está
feliz com essa notícia.
— E vai morar aqui em casa? — Só o fato dela não gostar da
Alice já nos torna próximas, quem sabe a tia dele seja boa pessoa.
— Não, meu querido sobrinho, sua mãe não permitiria, ela já
me odeia o bastante. — Isso fica cada vez mais interessante, por
que tanto ódio. — Me desculpe, Elizabeth, prazer em conhecê-la,
você é uma mulher linda, espero que Paul esteja cuidando de você.
— Depende do ponto de vista. — Paul aperta minha mão me
alertando pelo meu comentário. — Ele tenta ser o melhor com
certeza.
— Que bom, venha se sentar conosco. — Quando a tia de
Paul passa pela mesa para se sentar, vejo os olhares de Joseph
sobre ela.
— Boa noite, Joseph, como tem passado? — Ele abre um
sorriso e me dá um beijo na testa.
— Oh minha querida, posso dizer que estou muito bem e
extremamente feliz. — Não sei o que está acontecendo, mas o fato
de Joseph falar isso olhando para Verônica me faz duvidar de certas
coisas.
— Chega de tanto mel e vamos jantar. — A comida é servida
pelos empregados e comemos em silêncio até Alice se pronunciar
novamente. — Então, minha irmãzinha, já arrumou uma casa por
aqui?
— Com certeza irmã, serei sua vizinha, não é incrível. —
Preparem a linha de frente, porque a terceira guerra mundial vai
começar.
— E de onde você arrumou tanto dinheiro para conseguir
comprar uma dessas casas? — Alice destila seu veneno tentando
se conter para não dizer mais do que deveria.
— Vamos dizer que eu trabalhei muito para ter o que eu
tenho, infelizmente a herança de nossos pais foi mais provida a
você do que a mim. — Como assim, elas não deveriam receber
partes iguais. Eu não conheço muito a história, a única coisa que
sei, é que os pais da minha sogra morreram em um acidente de
carro, que explodiu depois de cair em uma ribanceira.
— A vida quis assim irmã, quem somos nós para querer
mudar. — O resto do jantar foi Alice e Verônica soltando farpas, e eu
querendo ir embora o mais rápido possível. Quando voltei para a
casa, me lembrei o que Paul iria querer à noite e entrei em pânico.
Entramos e fui subindo as escadas quando ele me chamou.
— Prepara a cama, meu amor, que eu já subo. — Olho para
ele com nojo e ele sorri.
— Vai ter que me matar primeiro. — Se me quiser vai ter que
começar a praticar necrofilia.
— Como queira, você vai ser minha. — Paul entra em seu
escritório e fico pensando no que ele vai fazer. Quando me viro
novamente para terminar de subir as escadas, sinto uma mão com
um pano em meu nariz e começo a sentir tontura quando escuto ele
falar no meu ouvido. — Vai ficar tudo bem, você só vai dormir um
pouquinho. — Em segundos sinto a escuridão chegar.
Capítulo 19

Tive um pesadelo horrível, Paul havia me feito desmaiar, foi


tão ruim que acordei em um pulo no desespero, mas a cena que eu
vi me fez desejar a morte, estava nua na cama dele com sangue no
meio das minhas pernas, ele não podia ter feito isso comigo, como
ele pode me causar tamanho sofrimento, abusada sexualmente pelo
meu marido ainda estando desacordada, começo a chorar e me
encolho na cama sentindo apenas ódio.
— Vejo que acordou amor, ontem foi fenomenal, você ainda é
quente como eu pensava, talvez a gente tenha um filhinho vindo aí,
mas é claro que terei que fazer teste de DNA, precisamos de uma
miniatura nossa correndo pela casa, quem sabe a felicidade não
volte. — Ele está se vangloriando pelo que aconteceu, eu me sinto
suja, estou com nojo de mim mesma, nem meu corpo pertence mais
a mim. — Gostei das suas tatuagens, elas são bem bonitas, só não
gostei de não ter me pedido permissão, fique sabendo que beijei
cada uma delas.
— Por que você fez isso, Paul, já não tirou tudo de mim, o
que você quer mais? — grito bem alto para que ele saiba o quanto o
odeio.
— Eu quero sua alma, Elizabeth, tudo seu me pertence
querida. Melhor tomar um banho e trocar os panos de cama, está
nojento só de olhar — diz enquanto olha para a mancha de sangue
nos lençóis.
— Se você se olhar no espelho encontrará do que ter nojo.
Você conseguiu, acabou com o último fio de esperança que ainda
me restava, agora você me tem. — Saio da cama e sigo para o
banheiro, tento apagar as marcas em meu corpo do seu abuso
esfregando minha pele com força, mas a ferida que está dentro de
mim é bem pior do que qualquer coisa que ele tenha feita ao meu
corpo.
— Minha tia quer conversar com você, me pediu para que
saíssem, mas deixei claro que isso não vai acontecer, então, ela
está vindo até aqui, fique bonita e seja uma boa anfitriã. Vou
trabalhar, mas os seguranças estarão bem perto de você, não tente
fazer nada, Elizabeth — ele diz do outro lado da porta.
O que Verônica pode querer comigo, eu mal a conheço, não
tenho estabilidade emocional para vê-la hoje, mas sou obrigada
como tudo que faço na vida, eu sou um lixo usado, nunca mais
poderei ficar com Chris, ele não merece restos de ninguém, merece
uma mulher inteira que não venha com bagagens. Depois do banho,
deixo de comer durante a manhã porque não consigo pensar nisso,
estou acabada e sem forças. Um dos seguranças veio até o quarto
dizer que Verônica havia chegado, coloquei meu melhor sorriso
falso nos lábios e fui recebê-la.
— Boa tarde, Verônica. Que surpresa sua visita, confesso
que não acreditei quando Paul me disse.
— Queria que me visse como uma amiga para você, ontem
percebi que você também está no meio das teias de mentiras de
Alice e subjugada por Paul, eu sei que ele não é um bom marido,
sua expressão não nega isso, mas infelizmente ele foi criado por
uma pessoa ruim e sem escrúpulos. — Não sei se seria prudente
arrumar amizade com a irmã do inimigo.
— Me desculpe, mais creio que não preciso de amigos,
minha vida está muito bem assim.
— Para de mentir para si mesma, Elizabeth. Para que me
conheça melhor, contarei um pouco da minha história. — Talvez
quem saiba eu não entendo esse ódio entre as duas. — Eu fui
adotada quando era pequena pelos pais de Alice, ela já tinha dez
anos de idade quando isso aconteceu, no começo nos dávamos
bem, mas com o tempo ela mudou e passou a me tratar com
indiferença, eu sempre tentei entender o que se passava com ela,
mas nunca compreendi e sinceramente tem segredos que é melhor
se manterem enterrados. — Do jeito que ela fala, acho que isso
serve mais para ela do que para Alice. — Cansei de tentar entendê-
la e comecei agir do mesmo modo pelo qual ela me tratava. Quando
eu tinha dezoito anos nossos pais morreram e ao abrir o testamento
constatei que eles não haviam me deixado nada, apenas uma casa
na praia que tratei de vendê-la para sobreviver, eu nunca liguei para
dinheiro, a única coisa que sempre quis foram as pessoas que me
deram uma chance, vivas ao meu lado me amando, assim como eu
os amava. Desde então eu vivo sozinha, eu sobrevivi a muita coisa,
mas superei. Voltei para cá porque aqui sempre foi meu lar e não
vou deixar que ela me prive disso mais uma vez. — Entendo por
que elas brigam, mas não o porquê de a Alice ter começado com
essa briga entre irmãs.
— Caramba, isso com certeza é novidade para mim, mas não
sei se posso confiar em você, ainda nem a conheço. — Posso estar
sendo arredia, mas não sei se isso tudo é verdade, ela pode estar
me enganando que nem aquela corja de urubu.
— Você tem todo direito de desconfiar de mim, mas sinto
uma ligação estranha com você, não sei explicar, mas sinto que
preciso cuidar de você. Lhe darei um tempo para nos conhecermos
melhor. — Nenhum tempo é suficiente para conhecer alguém, Paul
é a maior prova disso, mas assinto para que ela não volte nesse
assunto. — Paul me disse que não poderia sair de casa, isso é sua
vontade, ou ele quem a está obrigando.
— Eu não quero sair de casa, tenho meus motivos, mas não
vem ao caso contá-los. — Ela respeita minha vontade e volta a falar
um pouco de tudo que viveu e como tem passado durante esse
tempo.
Verônica vem seguindo os passos dos pais que eram os
maiores contribuidores dos orfanatos que viviam em situações
precárias, ela criou um movimento que auxilia crianças maltratadas
pelos pais e órfãs, ela tem casas que abrigam esses menores em
situações semelhantes, é como se fosse um orfanato particular, ela
provê melhores condições de vida e os ajuda a serem adotados com
maior estabilidade e conforto possível, tudo que ela faz é incrível,
minha mãe iria amá-la, poderiam vir a ser amigas, tenho certeza.
Passamos uma tarde muito agradável e pude dizer que sorri em
alguns momentos a cada relato seu, principalmente todas as suas
viagens em determinados lugares. Darei um voto de confiança a ela
e espero não estar errada de novo.
— Como foi a visita da minha tia? — Paul chegou a menos
de vinte minutos e já me sinto mal somente com sua presença.
— Foi agradável. Agora me de licença. — Ele pega em meus
braços e me leva para perto dele.
— Não vai dar um beijo no seu marido. — Quando ele me
beija, mordo o seu lábio inferior até sair sangue. — Oh mulher difícil,
quando vai parar de lutar, Liza.
— Eu até tinha desistido depois do que me fez, mas vamos
dizer que a visita da sua tia era o que faltava para eu decidir que só
paro de lutar quando morrer. — Subo correndo e me tranco em um
dos quartos de hóspedes, já que ele arrebentou a porta do meu
quarto.
— Sai dai de dentro, Elizabeth, eu te falei que não queria
mais portas trancadas aqui dentro. — Ele começa a bater forte na
porta que nem um louco.
— Uma vez você me disse que tinha as chaves de todos os
cômodos, mas ontem arrombou minha porta, então, porque não usa
de novo. — Se quiser a porta aberta, que faça por si mesmo.
— Porque ontem eu estava bravo, hoje lhe darei um crédito.
— Enquanto fala escuto a porta ser destrancada. — Para evitar
maiores desaforos, vou retirar as fechaduras da casa, não tem
ninguém aqui mesmo, só toma cuidado com os seguranças, um
deles é ex-presidiário e ele foi acusado por estupro.
— Você é louco por trazer esse tipo de pessoa para dentro de
casa. Eu não vou ficar aqui com esse tipo de gente. —
Impressionante como ele está ficando descontrolado.
— Você vai sim, eles são os melhores assassinos e estão
com ordens para tentar matar qualquer um que tente entrar aqui
sem autorização e uma das fotos que eles têm é do seu
namoradinho de merda. — Ele está blefando, nunca faria isso, não
teria como explicar tal afronta, então, ignoro esse comentário. — É
brincadeira querida, nunca deixaria você perto de um perigo desses.
— Quando você vai entender que estar ao seu lado é meu
maior perigo. — Ele sai do quarto batendo a porta e dizendo para
mim não a trancar novamente. Queria muito falar com Christopher, e
dizer que Paul descobriu tudo, ele deve estar desesperado para me
encontrar, mas sabe que se vir aqui não será bom para nenhum de
nós, só espero que ele aja com cautela e evite qualquer loucura.
Capítulo 20

Dois meses depois...


Minha vida está mais parada do que tudo, e não danço mais
no clube como gostaria, quando participava eu sempre comprava
fantasias e dançava de máscara para esconder minha identidade, e
usava o nome de Fênix. Não falo com meus pais em privado, pois
todas às vezes, Paul está ao meu lado e tenho que colocar a ligação
no viva-voz, esses dias minha mãe me disse que Chris foi atrás de
notícias minhas na casa dela e papai o expulsou dizendo que agi
bem em acabar com esse caso sem sentido, o pior é que não sei o
que se passa na cabeça de Christopher, será que ele acreditou que
me arrependi de nós dois e quis acabar mesmo com nosso
relacionamento, eu sei que trair não é a melhor opção, mas estaria
mentindo se não dissesse que estar com ele transformava meus
dias sombrios em luz, sinto tanta saudades, Paul ficou feliz por meu
pai concordar no fim do caso, mas se meus pais soubessem o tipo
de pessoa que ele é, com certeza apoiariam Chris.
A amizade que nutri com Verônica está sendo incrível, ela
vem me visitar constantemente e temos uma ligação
inexplicável, Paul deixou que eu saísse sem ele, mas com os
seguranças, pelo menos pude respirar novos ares. Meus pais estão
trabalhando muito e, então, não estão muito preocupados por eu
não os visitá-los, sempre quando dá eles vem até a casa de Paul
para matar as saudades, mas em nossas visitas meu marido faz
questão de ficar ao meu lado, disse que é melhor vigiar minhas
palavras, ele está é com medo de que eu peça a minha mãe para
falar com Chris e sinceramente se estivéssemos a sós, eu pediria
para ela entregar uma carta a ele, mas estou em uma vigilância
serrada.
Hoje é meu aniversário de 23 anos, não tenho um pingo de
animação para festas, mas minha mãe fez questão em
comemorarmos e mais uma vez Paul ficou à frente de algo, ele fez
especificamente a lista de convidados, no fim ele decidiu que seria
uma comemoração em família, nada de amigos e isso servia
somente para Christopher, não questionei suas decisões, apenas
assenti como uma esposa submissa. Em nossa casa fizeram o
maior estardalhaço, o decorador fez uns arranjos bonitos e simples
pela casa e o buffet contratado trouxe mais comida do que
realmente precisávamos.
Brian e Clary se casaram e eu não pude ir a comemoração,
Paul não deixou que eu fosse a outra cidade, eles se mudaram
daqui e compraram uma casinha para eles, eu fiquei tão feliz com a
notícia e pedi mil desculpas por não ter ido, eles entenderam meus
motivos e prometeram vir me visitar quando eu estivesse livre desse
encosto, desejei tudo de bom e um casamento próspero, meus
amigos são uma parte boa na minha vida e quero cultivar por muito
tempo.
— Elizabeth, você está pronta? A família já está chegando —
Paul bate na porta do meu quarto umas quatro vezes enquanto me
troco.
— Paul, que tal você me deixar em paz, eu não queria festa
nenhuma, não tenho nada para comemorar. — O resultado do
exame de gravidez foi negativo, Paul me obrigou a ir a clínica
mesmo depois de dizer que não tinha sintoma algum, nesse
momento uma gravidez seria um grande erro e fico feliz por esse
fim.
— Claro que tem, mais um ano da sua vida que você está ao
meu lado, em alguns meses faremos sete anos de casados e vamos
viajar para comemorar. — Nem me fale nisso, se eu pudesse faria
um velório.
— Entrar em um avião com você só depois de morta. — Ele
começa a rir do outro lado da porta e depois que termino de passar
o batom a abro. — Vamos logo. — Saio na frente sem dar a chance
dele me acompanhar.
— Espera, Liza, ande com classe e não como uma menina
levada correndo para não ser castigada, ao menos que você queira
que eu a castigue. — Suas palavras saem com um tom de prazer, e
isso vai de encontro com minhas lembranças daquela noite que fui
violentada da pior forma possível, mas a amizade com Verônica me
faz superar dia após dia.
— Você nunca mais vai me tocar, Paul, senão eu mando tudo
a merda e te mato, não duvide das minhas palavras. — Eu posso
ser louca alguma vez, minha vida me permite tais desavenças.
— Você me amou um dia e pode vir a amar de novo baby, é
só nos dar uma chance. — Tento ignorar tanta merda que sai da
boca dele e continuo descendo as escadas, quando chego no hall
vejo meus pais na sala conversando com Joseph e Alice, ainda falta
Verônica e espero que ela venha.
— Olá, mamãe, papai. — Dou um beijo no rosto de cada um
e sigo para cumprimentar meus sogros. — Joseph, Alice, como tem
passado?
— Muito bem minha querida, voltar para casa depois de um
tempo com seus pais deve ter sido ótimo, às vezes é bom reviver a
adolescência — Joseph quem fala e lanço um sorriso a ele,
realmente os melhores dias da minha vida.
— Sim, tem toda razão. Vamos jantar, estou faminta. —
Todos seguem atrás de mim. — Aconteceu alguma coisa com
Verônica, não falei com ela hoje e não sei se ela vem?
— Minha irmã está bastante ocupada e creio que não poderá
vir hoje. — Estranho, não achei que minha amiga não viesse ao
meu aniversário, deve ter acontecido algo grave para justificar sua
ausência.
— Depois falarei com ela e entenderei a situação. Garçons
podem servir o jantar. — Pessoas com uniformes passam a colocar
a comida na mesa e observo várias coisas muito boas.
— Cheguei, desculpem a demora, não encontrava o presente
de Elizabeth. — Verônica surge do nada e me surpreendo.
— Alice disse que não vinha. — Olho para minha sogra
pedindo uma explicação, mas quem fala é Verônica.
— Minha irmã deve ter se confundido. Boa noite para todos e
desculpem a indelicadeza de chegar agora. — Meus pais a
cumprimentam, mas quando olho para Paul, ele está com a cara
debochada e Joseph não tira os olhos de Verônica, nunca cheguei a
perguntar se tiveram algo ou apenas é paixão reprimida, mas aí tem
coisa. Verônica se senta ao lado de sua irmã e vejo Alice falar algo
no ouvido dela quando a mesma a olha com divertimento.
— Queria agradecer a presença de todos aqui, está sendo
importante para mim ter ao meu lado as pessoas que amo e se
importam comigo. — E isso vale somente para meus pais e
Verônica. Infelizmente Clary e Brian não puderam vir e Sophia teve
uma crise de dor nas costas e ficou em casa para descansar.
— Você é minha menininha e tenho certeza de que todos
aqui a amam. — Nesse momento Alice tem uma crise de tosse e sei
que tem vontade de debochar das palavras da minha mãe, vaca
desalmada. O jantar corre bem na medida do possível, depois de
comermos ficamos um pouco de tempo na sala saboreando um
vinho oferecido por Paul.
— Tenho um presente para você querida. — Meu pai vai até
a mesinha e pega uma caixinha pequena e me entrega, quando
abro vejo uma pulseira de Ouro Rosé com Rubis, é linda, foi
presente dele e da mamãe, e os agradeço.
— Agora é minha vez. — Verônica pega uma caixa de cor
azul com um laço preto em volta e me entrega. — Comprei em uma
das minhas viagens ao Brasil, mas nunca dei a ninguém e achei que
seria perfeito para você. — É um colar em forma de coração de
Ouro Branco com diamantes, esses presentes estão saindo um
pouco caro. Paul havia me dado meu presente ontem à noite, era
um anel com esmeraldas, mas nem sequer coloquei no dedo.
— Não sei se vai gostar do meu, mas foi feito
especificamente para você. — Desembrulho o presente e fico
emocionada com o que vejo. — É meio estranho o sogro te dar isso,
mas achei que deveria ter algo da família, portanto, falei com seus
pais e eles me ajudaram em tudo. — É um álbum de fotos contendo
toda minha trajetória até agora, tem frases de incentivo e uma
dedicatória no fim assinado por todos. A única parte ruim é ter um
pouco do Paul e da Alice nesse presente maravilhoso. — Sempre
achei que você era e continua sendo uma mulher maravilhosa, Liza,
e agradeço muito por Deus ter me dado uma filha incrível como
você. — Lágrimas rolam do meu rosto e me curvo para abraçar
Joseph, ele realmente não merece a família que tem.
— Eu estou tão feliz, significa muito esse presente para mim,
obrigada de verdade. — Ele sorri, mas vejo que Alice está me
fulminando de raiva.
— Quem vê pensa que Elizabeth é mais filha sua do que
Paul, Joseph. — E como sempre, a cobra destila seu veneno.
— Que isso querida, Paul sabe que eu o amo, mas tenho um
carinho enorme por Liza, nós não pudemos ter uma menina e você
sabe o quanto isso foi meu sonho. — Verônica nessa hora se
engasga com o vinho, mas o que está acontecendo com esse povo
hoje, tudo é muito estranho. Alice se volta para a irmã e a olha com
raiva estampada em seu rosto. Em fração de segundos escutamos
uma discussão na porta de entrada e parecia ser grave.
— Mas o que está acontecendo aqui? — Paul se levanta com
raiva e nessa hora policiais fardados vem em sua direção.
— Você é Paul Turner? — Paul assente e o policial vai para
trás dele. — Eu sou o policial Carter, o senhor está preso acusado
de ter cometido o crime de lesão corporal dolosa, qualificado pela
violência doméstica contra sua esposa, Elizabeth Turner, furto
qualificado seguido de fraude processual na empresa Right Flight e
prática de invasão de privacidade contra Christopher Moore, tem o
direto de permanecer em silêncio e a ter um advogado, e tudo que
você disser poderá e será usado contra você no tribunal. — Nessa
hora, Paul já está algemado e sendo colocado na viatura enquanto
Alice grita para que soltem seu filho, pois ele é inocente. Joseph
segue atrás dela e, eu e minha família com Verônica ficamos
sentados sem qualquer reação.
— O que aquele policial quis dizer com violência doméstica,
Liza, o que você escondeu de nós? — Um dia a verdade sempre
aparece, por bem ou por mal.
— Depois que eu me casei com Paul, ele começou a
apresentar um comportamento agressivo, sempre tentava me
inferiorizar e reclamava de tudo que eu fazia, no começo eu achei
que era somente uma fase, mas foi piorando cada vez mais, quando
eu ameacei ir embora, ele disse que acabaria com você caso eu o
deixasse, eu não sabia o que fazer, eu era muito nova e fiquei com
medo. Há alguns meses, Chris descobriu que ele vinha roubando a
empresa do pai e colocando o nome do senhor como provedor e,
então, eu entendi o que ele tanto falava que poderia colocá-lo na
cadeia, mas ainda precisávamos inocentá-lo, só que tudo veio por
água abaixo quando Paul descobriu meus passos e o meu
relacionamento com Christopher. Antes ele me agredia e, às vezes,
me deixava trancada sem comida ou água como um tipo de
punição, era horrível tudo que passei. — Nesse momento, eu estava
chorando muito nos braços dos meus pais e eles também choravam
pela decepção. Olhei em volta e percebi que Verônica havia ido
embora e nos dado privacidade. Finalmente tudo acabou e eu posso
ter minha liberdade novamente.
Capítulo 21

Paul foi preso e minha vida virou uma loucura, não faz nem
um dia e a imprensa já sabe o que aconteceu. Fui parada por
repórteres na frente da minha própria casa e agora estou indo para
a delegacia depor, não sabia que isso viraria notícia nacional, mas
estou completamente agradecida a Christopher. Meu pai falou
ontem à noite com Joseph e ele está arrasado, nunca imaginou que
o filho fosse agressor, ladrão e sabe mais o que, não contei a
ninguém sobre ele ter me violentado, não tenho provas contra isso e
já se passou muito tempo para fazer exame de corpo de delito, na
empresa vai ser um pouco complicado para os funcionários
saberem sobre o assunto e possam vir a desconfiar de Joseph por
ser o pai. Meus pais estão me acompanhando porque o delegado
quer que todos os envolvidos compareçam para depor sobre a
conduta de Paul, então, a família dele junto com Chris já depôs, só
falta a minha declaração e a dos meus pais, tomei cuidado para ir
em um horário que Alice não esteja lá, mas não posso confiar que
ela não apareça, recusei todas as chamadas dela até agora e prefiro
evitar desaforo e mantê-la bem longe de mim, Verônica disse que é
o melhor e concordo com ela. Chego ao meu destino e os repórteres
já estão postos na porta.
— Vamos, minha filha. — Papai abre a porta do carro para
que eu saia e dois policiais nos acompanham até a porta enquanto
os jornalistas gritam querendo respostas. — Isso aqui está uma
loucura.
— Só porque ele é rico, meu amor, quem não ama uma
fofoca de gente famoso, não respeitam a nada e nem a ninguém, a
maioria é tudo por obrigação e outros é porque realmente gostam de
provocar — mamãe diz enquanto entramos pela porta da delegacia.
— Senhora Turner, queira me acompanhar, falará primeiro
com o delegado. — O policial me escolta até uma salinha, entro e
vejo um homem sentado de frente para mim e um escrivão ao seu
lado. O delegado aparenta ser um homem de uns quarenta e cinco
anos, tem barba, cabelos pretos e é um pouco rechonchudo.
— Pode se sentar, senhora Turner. Me fale um pouco da sua
relação com seu marido desde quando se conheceram. — Relato
todos os momentos que passei com Paul, como antes ele era
carinhoso e amoroso, e se transformou de repente nesse monstro.
— Como descreveria sua relação com a senhora Alice Turner?
— Para o senhor estar me perguntando sobre isso, creio que
ela deve ter falado muito mal de mim, minha relação com a minha
sogra é um pouco complicada, mas para resumir, ela me odeia. —
Se ele soubesse o que ela me fez, mas não é hora de fazer
acusações contra alguém, seria a palavra dela contra a minha,
porque as provas já não existem mais.
— E por que ela te odeia? — Me parece que ele não
descansará até saber de tudo.
— Deve ser porque ela tem ciúmes do filho, é o único que ela
tem, Alice sempre foi uma mãe superprotetora, protegia Paul de
tudo e não duvido nada que acobertou muitas coisas erradas que
ele fez. — O delegado me perguntou mais algumas coisas e depois
me falou que o cara que colocou a escuta na casa do Chris
confessou o envolvimento de Paul, parece que ele tinha gravado a
conversa dos dois planejando o ato, não sei como Christopher
conseguiu achar, mas ainda bem que deu tudo certo, no caso do
roubo, o contador que ajudou Paul também confessou para diminuir
a pena e mostrou as provas das transferências bancárias que
inocentam meu pai.
— Por hoje é só, queira assinar sua declaração e pode ir para
a casa. — Leio o papel que consta meu depoimento e assino, não
deveria estar falando com a polícia sem o meu advogado, mas
como o acusado aqui é o Paul, não vi problemas. Pensando nisso,
espero que o Senhor Allen esteja bem, fiquei com medo dele ter
sofrido algo muito grave.
— Obrigada. — Saio da sala e chamo minha mãe, ela é a
próxima a depor e depois meu pai. — Pai, quando tudo isso vai ter
fim, falta uma caminhada muito longa até Paul ser condenado.
— O importante é você estar segura. — Ele me envolve em
seus braços e vejo Chris vindo em nossa direção.
— Liza, posso falar com você? — Meu pai me solta do seu
abraço e olha para Chris.
— Christopher, acho melhor minha filha não falar com você
aqui. — Papai tem razão, mas sinto falta dele.
— Eu sei, Charles, eu só queria saber se ela está bem. —
Peço ao meu pai que nos deixe a sós e ele assente.
— Oi, meu amor, senti tanto sua falta. Eu sofri muito sem
você durante esses meses. — Quero abraçá-lo forte, mas melhor
prevenir.
— Eu também, meu amor. Paul fez algo de ruim a você? —
Não sei se deveria contar algo grave aqui na delegacia, melhor
deixar para depois.
— Prefiro contar quando estivermos em um ambiente mais
reservado. — A delegacia está cheia e vejo muito policiais andando
de um lado para o outro.
— Tudo bem. Vou até sua casa hoje à noite. — Assinto
concordando quando vejo Alice vir até mim bufando de raiva.
— Isso tudo é culpa sua, a vagabunda e o amigo que o
traíram, que bela dupla vocês fazem, meu filho não deveria estar
preso, ele é inocente. — Só pode ser piada, ela conhece muito bem
o filho que tem. Sinto mãos tocaram meus ombros e vejo que é meu
pai.
— Alice, aqui não é lugar de fazer escândalos, quer que eu a
leve para casa? — Meu pai é um homem muito gentil. — Só preciso
fazer meu depoimento e depois posso levá-la, você está muito
alterada.
— Oh, por favor, Charles, você sabe que sua filha vem
enganando meu filho há semanas, é uma vagabunda sem caráter —
ela grita tão alto que até o delegado saiu da sala junto de outros
policiais.
— O que está acontecendo aqui, não quero baderna na
minha delegacia, queira se retirar, senhora Turner. — O delegado e
a minha mãe veem até onde nós estamos.
— Você deveria prender esses dois, eles dormiam juntos
pelas costas do meu menino. — Nessa hora o delegado me olha
com um ar de questionamento, pelo visto vou ter que abrir o jogo
sobre isso também.
— Não interessa o que eles tenham feito, aqui o julgado é
seu filho, não eles. Escoltem a senhora até a saída, quando se
acalmar poderá voltar. — O policial chegou perto dela pedindo para
que ela seguisse em frente, mas antes que ela saísse me olhou com
ódio.
— Meu Deus, minha filha você está bem? — Mamãe se
aproxima de mim e pega em meu rosto. — Onde Joseph se
encontra que não está de olho nessa maluca da Alice, a mulher está
transtornada.
— Ele está apagando o incêndio que se formou na empresa
fazendo reunião com os outros acionistas — Chris quem fala e tenta
se aproximar de mim novamente, mas minha mãe me afasta dele.
— Queira se retirar também, Christopher, depois dessa
confusão é melhor conversarem depois. — Chris assente e vai
embora. Quando olhamos para trás o delegado olha a cena com
muita atenção e pede para que meu pai vá para a sala. — Que
loucura minha menina e isso é só o começo. — Minha mãe tem toda
razão, ainda não acabou.
Decidi ficar na casa dos meus pais durante uns dias, pelo
menos até passar o julgamento de Paul, ainda não decidi se vou
ficar na minha casa ou venho morar com eles novamente. Tenho
que conversar com o advogado sobre minha situação atual, porque
tenho certeza de que irão apreender os bens do Paul, ainda
precisam rever o fato de como adquirir de volta o dinheiro que ele
roubou, tanta coisa para fazer.
— Pronto meus amores, já acabei meu depoimento. Vamos
para casa. — Nos despedimos do delegado e seguimos para casa.
— Mãe, pai, tenho que conversar com o advogado da família,
preciso saber como ficará os bens de Paul. — Preciso de uma
conclusão na minha vida, mas mesmo que ficasse com tudo, não
iria querer, daria tudo ao Joseph, afinal, metade das coisas dele se
dá ao dinheiro da empresa e nada mais justo do que voltar para o
lugar de origem.
— O certo seria você adquirir todo o dinheiro dele, pois se
casaram em regime de comunhão universal de bens, mas com o
fato do roubo o delegado conversou comigo e disse que os bens
ficam apreendidos, não poderá fazer movimentações bancárias e
nem vender qualquer imóvel ou carro. Por enquanto a justiça tem
plenos poderes no patrimônio de Paul. — Não me surpreendo com
as palavras do meu pai, eu previa tal atitude. — A senhorita voltará
a morar conosco querida.
— Tudo bem, pai, mas está na hora de seguir em frente e
fazer faculdade, ainda não sei qual caminho seguir, mas vou me
esforçar. — Eles me dão um sorriso e algum tempo depois
chegamos em casa. Subo para meu quarto e fico o resto do dia
pensando em tudo que aconteceu até agora. De noite, Chris virá me
visitar, e preciso falar tudo que ele ainda não sabe.

(...)
Peguei no sono e acordei somente agora, olho para o relógio
e vejo que já são dezenove horas, quando pego meu celular tem
uma mensagem do Christopher dizendo que chegará às vinte horas,
levanto-me, tomo um banho e coloco um vestido e uma rasteirinha.
Tinha comentado com meus pais que Chris viria jantar, eles não
gostaram muito da ideia pela crise recente, mas também não
recusaram. Desço para a sala de jantar e ajudo Sophia a colocar a
mesa, algum tempo depois escuto a campainha tocar e vou até a
porta.
— Oi, querida. — Chris não espera minha resposta e me dá
um beijo de tirar o fôlego, como senti saudades do calor do seu
corpo. — Precisamos ter uma conversa séria.
— Tudo bem, mas depois do jantar, aproveita e conversa com
meus pais, eles não acharam certo você vir aqui nesse momento,
mas não negaram. — Ele assente e passa por mim indo até a sala.
— Pai e mãe, o Chris chegou. — Eles o cumprimentam e pede que
ele se sente.
— Boa noite, Sr. e Sra. Harper. Acho que já passou da hora
de termos uma conversa, a única coisa que tenho para falar é que
amo sua filha e não vou desistir dela, esperei muito tempo para tê-
la.
— Eu sei que minha filha te ama, Christopher, mas do jeito
que vocês começaram essa história foi tão errada, e não interessa
quem era o Paul, eu mesmo queria arrebentar a cara daquele
playboyzinho, mas não justifica o ato de vocês dois — papai fala
sério, mas não vejo raiva em suas palavras.
— Espero que cuide da nossa menina. Bem-vindo a família.
— Mamãe se levanta e dá um abraço no Chris, foi mais fácil do que
pensei. Jantamos e conversamos sobre bastante coisas que não
remetiam ao meu marido. Chris e eu, decidimos ir ao meu quarto
conversar.
— Chris, durante alguns meses eu dançava em um clube
noturno. — Ele arregala os olhos e já sei o que ele está pensando.
— Não é nada disso que pensa, eu não fazia stripper e nem dormia
com clientes, era só uma dança sensual com fantasias, nada
demais. Eu resolvi parar e não vou mais fazer.
— Agora eu sei de onde saiu aquela dança que você me fez
na primeira vez. Espero que não pare de dançar para mim. — Abro
um sorriso e acaricio seu rosto.
— Talvez eu possa abrir uma exceção, e meus pais jamais
podem ficar sabendo sobre isso. — Ele assente e, então, eu
continuo. — Há uns dois meses, Paul me estuprou enquanto eu
estava inconsciente, eu não acreditei que ele teria coragem, mas ele
fez com que eu desmaiasse e, então, eu... — Lágrimas rolam por
meu rosto e ele as enxuga fazendo com que eu o abrace. — Foi tão
horrível acordar de manhã e saber que fui violada dessa maneira.
— Eu vou fazer aquele filho da puta mofar na cadeia, eu te
prometo. — Vejo ódio em suas palavras e acredito nele.
— Tem mais uma coisa, ele matou a ex dele, aquela que iria
testemunhar. Ele me contou isso durante o surto de raiva que teve
quando descobriu o que fazíamos e que éramos amantes. — Até
hoje não me convenci que ele pode fazer isso.
— Achei que ela só tinha perdido o controle do carro na
estrada. Meu amigo virou um monstro da pior espécie, mas vamos
atrás de quem fez esse serviço para ele e vamos conseguir provar.
Quando você não me respondeu, eu achei que algo de ruim tinha
acontecido, e quando vim aqui na sua casa, seu pai me expulsou,
mas não antes da sua mãe me dizer que você estava bem, eu fiquei
aliviado, mas não desisti, principalmente depois que Spencer foi
espancado e isso também foi obra dele não é, infelizmente ele levou
a única prova contra Sebastian e sobre isso não podemos provar, ao
menos que ele confessasse e isso seria impossível. — Balanço a
cabeça concordando, realmente Sebastian se safou dessa, mas a
vida ainda vai cobrar dele da pior maneira, eu acredito na justiça
divina. — Ficaria mais tempo, mas seus pais não permitirão.
— Realmente, fazer sexo com os pais no quarto ao lado, não
é a ideia de romantismo. — Chris cai na gargalhada e aproveito
para rir também. — Eu vou ser folgada e não vou te levar até a
saída, se importa?
— Não, meu amor, descansa, porque o dia foi longo. — Eu
dormi bastante, mesmo assim, ainda me sinto com um peso nas
costas. Chris vai embora e eu fico com meus pensamentos.
Capítulo 22

O dia amanheceu mais do que maravilhoso se me permitem


a piadinha, dormi muito mal ontem pensando em tudo que está
ocorrendo. Decidi comprar um café da manhã especial na padaria,
mas foi um grande erro, eu mal saí de casa e tinha paparazzi me
seguindo, foi um inferno tentar me desviar de perguntas
inadequadas sobre Paul, Christopher, Alice e muitas outras pessoas
que circulam em minha vida, eles queriam mais um relatório
completo da vida alheia do que saberem o real motivo de como e
porque Paul foi preso, eu sei que eles devem saber do que ele está
sendo acusado, mas queriam minha declaração. Cheguei em casa
bufando de ódio porque nem posso sair mais, pelo jeito ainda estou
presa. Conversei com meus pais e eles me disseram para ter calma
que tudo vai passar, o fato de a empresa ser muito famosa e
associada ao nome de Joseph desencadeou todo essa bagunça e
agora o que me resta é aceitar.
— Querida, você vai ficar bem? — mamãe pergunta ao se
sentar do meu lado.
— Vou sim, mãe. Me desculpe por tudo isso que está
acontecendo, eu literalmente trouxe meus problemas para dentro de
casa. — De um jeito ou de outro eu sempre tiro a paz dos meus
pais.
— Minha filha, os repórteres não podem mais entrar no
condomínio, deixei avisado depois que montaram acampamento em
frente de casa, foi uma tremenda irresponsabilidade, pagamos caro
por segurança e eles falham desse jeito. Aqui dentro você está
protegida, fique tranquila. — A pergunta que não quer calar é até
quando, ainda falta muito tempo para o julgamento de Paul, deram
duas semanas para a defesa se preparar e o que nos resta é
esperar.
— Papai foi para a empresa? — Minha mãe decidiu tirar uns
dias de folga e ficar comigo, mas papai não podia.
— Sim querida, ele tem que resolver uns problemas, estão
pensando em afastar Joseph da diretoria somente por um tempo,
eles querem de volta o dinheiro que Paul roubou, e a sociedade de
Joseph com a empresa pode estar por um fio. — Joseph ama
aquele lugar, vai ser muito difícil para ele ficar longe do que lhe faz
bem.
— É tão injusto pagarmos pelas merdas do Paul, ele é o mal
sobre a terra, mas leva a todos nós juntos. — Até quem não tem
culpa está no meio dos problemas. Para Alice isso é ótimo, Verônica
chegou a me contar que a querida irmã está perdendo as amizades,
quem quer ficar ao lado da mãe de um psicopata e, então, o reino
da rainha de gelo começa a derreter. — Estou sendo perseguida na
rua e isso está acabando com a minha paciência, eu quero paz mãe
e me livrar de toda essa merda causada por mim, porque foi por
causa do meu casamento que não consigo ser feliz. — Minha mãe
se aproxima de mim e me abraça dizendo que tudo vai ficar bem,
mas o caminho é tão longo.
— É melhor você não dar nenhuma declaração, pode piorar a
situação, deixa que a imprensa pense o que quiser. — Assinto,
provavelmente é melhor mesmo, não vamos dar munição as
pessoas. Pego o controle da TV e coloco no canal de notícias, mas
o que vejo em seguida faz com que eu pense que cometi um erro.

Repórter: Senhora Alice Turner, o que tem a dizer sobre o


motivo pelo seu filho ser preso?

Alice: Meu filho é inocente, o único pecado que ele


cometeu foi se casar com aquela mulherzinha sem escrúpulos
que quer acabar com a vida dele.

Repórter: Mas ela é sua nora, você a odeia tanto assim?

Alice: Eu nunca a considerei da família, por mim ela tinha


sumido de nossas vidas há muito tempo, mas meu filho foi
cegado pelo amor que sente por ela.

Repórter: O que sua nora falaria vendo essa sua


declaração, ou melhor, o que você tem a falar para ela nesse
momento?
Alice: Que a justiça será feita e meu filho vai ser
inocentado das acusações dessa cobra.

A cada segundo que se passa a notícia, eu fico de boca


aberta, a mulher teve coragem de falar mal de mim para milhões de
pessoas, que ordinária. Olho para a minha mãe do meu lado e vejo
que ela está surpresa, essa atitude da Alice só vai servir para piorar
a situação, mas ela é o tipo de mulher que gosta de controlar tudo a
sua volta e com certeza ela deve ter uma carta na manga, só não
sei ainda o que ela vai aprontar.
— Pelo jeito sua sogra sabe mesmo fingir, nunca pensei que
ela te odiasse tanto assim. — Mamãe não tem noção das
artimanhas da Alice.
— Ela sempre foi ardilosa e uma mentirosa, já estou
acostumada. — Será que Joseph sabe o que ela fez, garanto que
não vai gostar nada.
— Mas eu não, e se ela ousar falar algo de você novamente,
quem vai dar uma lição nela serei eu e garanto que não vou pegar
leve. — Minha mãe é uma leoa defendendo sua cria, que orgulho
dessa mulher poderosa. — Ninguém mexe com a minha filha e
sobrevive para contar a história
— Te amo e obrigada por me defender. — Enquanto
conversamos, escuto a campainha tocar e espero que nenhum
repórter tenha conseguido passar pelos portões da entrada. Vejo
Sophia ir abrir a porta e logo Verônica aparece.
— Verônica, que bom revê-la, não sabia que viria aqui hoje.
— Realmente ela não me avisou, mas creio não precisar.
— Quis vir saber como está, porque lá fora está parecendo o
fim do mundo, nunca vi tantas pessoas juntas. — Ela abre um
sorriso e me abraça.
— Estou ótima, precisamos sair novamente e dessa vez sem
limitações. — Ela assente e nos sentamos novamente no sofá.
— Olá, Suzan, bom ver que Liza tem alguém com ela. —
Mamãe sorri para ela e devolve a saudação. — Vi o que Alice falou
nos jornais, sinto muito querida, minha irmã é descontrolada. —
Incrível como Verônica ainda costuma chamar Alice de irmã, ela a
ama mesmo depois de tudo que ela fez contra ela.
— Não é como se eu estivesse surpresa, era questão de
tempo ela agir assim.
— Eu já não gostei nada, é melhor avisar a sua irmã que ela
foi para minha lista, eu protejo quem amo e minha maior fraqueza é
minha menina. — Parece que minha mãe ainda não se desfez da
raiva e é até engraçado vê-la assim.
— Não será possível, não vejo mais Alice, apenas falo com
Joseph sobre a situação do meu sobrinho. — Percebo que ainda
não perguntei para ela sobre o que aconteceu entre eles, mas terá
oportunidades.
— Estou sendo uma anfitriã nada cortês, você quer uma água
ou um suco? — mamãe pergunta a Verônica.
— Eu quero uma água, por favor. — Peço que Sophia traga
uma água para Verônica e alguns minutos depois escuto o toque da
campainha.
— Sophia, atende, por favor.
— Olá, senhor Turner, elas estão na sala. — Escuto Sophia
falar com alguém na porta.
— Obrigada, Sophia. — Joseph aparece em meu campo de
visão e vem até mim. — Olá, Liza, podemos conversar?
— Claro, mas talvez seja indelicado deixar Verônica
esperando. — Quando falo seu nome automaticamente Joseph vira
o rosto e fica olhando para ela, vejo em seus olhos uma certa
mudança.
— Ah, querida, não se importe comigo, posso conversar com
sua mãe em outro lugar — Verônica impõe, mas não quero que
pense mal de mim, infelizmente o que Joseph tiver para falar terá
que ser na frente dela.
— Me desculpe se me expressei errado, ninguém precisa sair
daqui, pois a casa é sua.
— Eu que sou a dona da casa e vocês que brigam para saber
quem fica na sala. — Minha mãe dá uma gargalhada e tenho que
acompanhá-la, realmente isso está ficando ridículo. — Irei ver como
anda os preparativos para o almoço, fiquem à vontade e espero que
possam almoçar conosco, com licença. — Ela sai em direção a
cozinha e nos deixa sozinhos.
— Queria me desculpar pelo Paul, não sabia que meu filho
poderia ser tão... — Joseph para como quem procura as palavras
corretas e acho certo ajudá-lo.
— ...Mal caráter. Sinto muito, mas Paul é isso e muito mais,
ele acabou com a minha felicidade, tirou de mim minha inocência e
me fez muito mal. — Lágrimas se formam em meus olhos, mas
seguro o choro, toda vez que lembro do horror que passei tenho
vontade de chorar, isso ainda porque não sabem que fui estuprada,
só contei para Chris e prefiro manter assim.
— Espero que não se afaste de mim, eu amo você como uma
filha e odiaria te perder. Alice está descontrolada, sempre lhe culpa
pelo que nosso filho fez e eu não sei mais o que fazer, até me
afastaram do meu cargo na empresa. — Joseph pega em minhas
mãos e me olha em um gesto de súplica.
— Inclusive sua linda esposa fez uma declaração ofensiva a
Elizabeth em rede nacional, quando minha irmã tomara jeito e se
tornará uma pessoa melhor? — Verônica questiona com peso em
sua voz e posso reconhecer o quanto é difícil ter alguém como Alice
em sua vida.
— Sei o que ela fez e peço desculpas por isso. — Se ele ficar
se desculpando por tudo que fizeram, haja saliva, porque é muita
merda para duas pessoas.
— Joseph, eu não vou me afastar de você, mas você mais do
que ninguém sabe que não é certo ficar se desculpando pelos erros
de outra pessoa. Você é uma pessoa incrível e merecia uma família
totalmente diferente deles, eles não valorizam o que tem e isso é
triste, eu sinto muito. — Envolvo-o em meus braços e lhe dou um
abraço de conforto.
— Eu acho que fechei os olhos para a verdade há muito
tempo, Liza, não quis admitir que minha família estava condenada
ao fracasso há vinte anos. — Olho para ele tentando entender o que
profere com suas palavras, mas ele se cala e olha para Verônica,
acho que esse é o momento de agir.
— Desculpa perguntar, mas vocês tiveram algo antes de você
se casar com Alice ou durante o casamento, porque pela forma que
se olham e falam do passado com tanta dor, me faz perceber que
tem algo de errado. — Eles se olham como quem pede permissão
para falar, mas é Verônica quem diz.
— É complicado, Elizabeth, já faz tanto tempo que talvez seja
melhor que isso fique para trás. — Isso é o que ela diz, mas não o
que o coração quer.
— Então, deveriam dizer isso um para o outro. — Me levanto
do sofá e vou ver se o almoço já está pronto, e deixo que os dois
fiquem sozinhos.
Tivemos um almoço mais animado do que a conversa
anterior, falamos de algumas situações que Verônica passou em
suas viagens e mamãe comentou um pouco sobre seu trabalho,
uma vez eu disse que ela se daria bem com Verônica por serem tão
semelhantes e eu não estava errada. Joseph não tirou os olhos de
Verônica durante o almoço, falou pouco e concordou com algumas
coisas que falávamos, queria que ambos ficassem juntos e que ele
mandasse a Alice para o inferno, mas ele é muito correto para
abandoná-la, ainda mais na situação atual, seria um escândalo e
tudo que ele menos precisa é mais um na lista.
Papai voltou da empresa à noite e disse que lá está cada dia
mais complicado, os investidores não estão muito felizes em
participar de uma empresa onde o sócio é pai de um ladrão que os
roubou, e as coisas estão uma verdadeira loucura. Passei o resto do
dia deitada em minha cama lendo um livro, preciso de um pouco de
romance, ultimamente em minha vida estou Dark Liza.
Capítulo 23

Oh justiça de merda que temos hoje em dia, finalmente


depois de duas semanas o julgamento do Paul vai ser hoje e ainda
por cima ele aguardou o julgamento em prisão domiciliar, claro que
foi obra da Alice, ela sempre mexe os pauzinhos para conseguir o
que quer. As investigações que Christopher estava fazendo sobre o
assassinato e a identidade dos cúmplices da Alice ainda não teve
fim, e eu estou só esperando que eles sejam descobertos. Se eu
dissesse que me sinto mal por Joseph, será que me achariam louca,
é difícil estar acusando o filho dele e querendo colocar a esposa na
cadeia, e sinceramente espero que não prejudique ele nos
negócios, pois mesmo que ele tenha Verônica, os dois juram que
não tem envolvimento algum, tentei tirar mais algumas informações,
mas foi em vão, trair não é a melhor opção, mas a vaca da Alice
merece com certeza, mas quem sou eu para julgar, traí meu marido
mesmo sendo errado e ainda me diverti com isso, a vida é cheia de
altos e baixos.
— Meu amor, Christopher está aqui para levá-la ao
julgamento. — Mamãe vem até mim e me informa de sua presença,
ele me disse que deveríamos ficar juntos em todos os momentos e
eu não neguei, pois, preciso de todo apoio que conseguir.
— Oi, baby, senti saudades — falo para Chris e dou um
selinho em seus lábios, mas ele aprofunda o beijo.
— Também senti sua falta, e tomei a decisão de que não
quero mais esconder o nosso amor. — Às vezes, bate uma inveja de
como ele é decidido, porque eu sou um poço de dúvidas.
— Então, vamos todos. — Meu pai vem até a porta e pede
para que saiamos. Vou no carro de Chris e eles vão em outro.
Enquanto Chris dirigi, me mantenho quieta.
— Você está bem, querida? — Chris passa sua mão em meu
rosto e o vira para que eu o olhe.
— Sim, só pensativa. Tenho medo de dar algo errado, Alice é
ardilosa e muito esperta.
— Dessa vez não, confia em mim, ele não vai escapar de ser
condenado. — Chris não sabe o quanto confio nele, é mais forte do
que eu, acho que quando amamos é automático a confiança, por
isso que a decepção é maior quando magoamos um ao outro. — O
detetive ainda não conseguiu nada e se passou muito tempo, estou
pensando em trocar de profissional, o que você acha?
— Talvez seja melhor, quem sabe outro não seja mais rápido,
a Alice deve estar pagando muito bem para esconderem seus erros.
— A mulher parece intocável, nunca caí em armadilha nenhuma e
nada é rastreável até o seu nome.
— Pode ser alguém que tenha um cargo muito importante
para deixar pontas soltas. — Chris tem razão, se for alguém
poderoso, será mais difícil provar qualquer coisa.
— Não duvido nada, ela conhece muita gente que tem
contatos importantes. — Chegamos no tribunal de justiça e
estacionamos em frente, a imprensa estava acampada no local e
entramos com um pouco de dificuldade, sendo escoltados por
policiais, fomos direto ao lugar que acontecerá o julgamento e
encontramos o advogado nos esperando na porta, mesmo depois
do que aconteceu com Spencer, ele veio me defender e estou muito
agradecida.
— Boa tarde, senhorita Harper. — Foi um sufoco, mas
consegui com que me chamassem pelo meu sobrenome de solteira.
— O julgamento começa em dois minutos, vamos entrar. — O
policial abre a porta para que entremos e vejo alguns espectadores,
assim como Clary e Brian que serão minhas testemunhas.
— Oi, Clary, Brian, como vocês estão? — Eles me abraçam e
cumprimentam Chris e minha família.
— Estamos bem minha menina, viemos aqui por você, Paul
irá pagar pelo que te fez. — Abro um sorriso e em alguns minutos o
julgamento começa.
Primeiramente foi feita a escolha de vinte e cinco jurados, e
dentre esses precisariam ter quinze para que pudesse ser iniciada a
sessão no tribunal, no fim para a sentença, somente sete são
escolhidos pelo juiz, depois disso é apresentado a parte acusatória
e em contra partida a defesa.
Tivemos que levantar-nos para receber o meritíssimo e nesse
momento, Paul já estava ao lado do seu advogado e olhava para
mim com um sorriso cínico no rosto. Passou vários minutos
enquanto ambas as partes mostravam provas e argumentavam com
os presentes, fiquei surpresa quando Spencer me disse que além de
Clary e Brian, Giseleh iria testemunhar a meu favor, Chris também
conseguiu com que Liris e Vivian viessem ao tribunal, dessa vez não
teria como Paul escapar e me parece que Alice não contratou um
advogado muito bom dessa vez, eu também tive que testemunhar,
assim como Chris e Paul. Depois de uma hora o Juiz declarou
recesso de algum tempo para que os jurados discutissem sobre o
caso, dessem o veredicto, e o Juiz pudesse aplicar a sentença por
meio de leis penais.
Saímos da sala e fomos em direção a lanchonete que tinha
em frente ao tribunal para comermos alguma coisa enquanto
esperávamos a decisão final, não foi uma boa ideia, pois fomos
parados pelos repórteres, mas felizmente dentro da lanchonete foi
proibida a entrada deles.
— Vocês acham que dessa vez, Paul vai pagar? — digo para
todos sentados na mesa.
— Dessa vez nem o advogado teve o que argumentar, as
provas e as testemunhas dizem por si só — Spencer fala e eu olho
para Chris, acho que pensamos o mesmo quando digo que depois
de hoje ainda não acabou, vamos vingar a morte de Samira, ela
morreu porque iria nos ajudar e isso não ficará assim.
— Como está a vida nova, Clary? Brian está dando muito
trabalho como marido? — Clary solta uma risada alta quando olha
para Brian e ele abaixa a cabeça, parece que tem alguém abrindo
as asinhas.
— Meu tão amado marido é um bagunceiro, ele deixa as
roupas jogadas, não guarda as coisas depois que usa, está difícil,
Liza, mas eu o amo muito, ele é carinhoso, romântico e divertido,
compensa todas as gafes dele, até porque ninguém é perfeito. —
Brian dá um selinho na Clary, e paro para observá-los, vejo que
existe muito além do que sexo em um casamento, é visível a
cumplicidade e a amizade que os dois tem, por isso fico
extremamente feliz por ambos.
— Vocês são incríveis, amo todos de coração. — Recebo um
abraço de Chris que está ao meu lado. Spencer volta para a mesa
com o celular na mão e nos informa que temos que retornar ao
tribunal. — Vamos logo pôr um fim nessa situação. — Saímos em
meio ao caos em direção ao tribunal, entramos na sala e esperamos
o juiz, quando ele entra, recebemos a confirmação de que podemos
nos sentar.
— Mediante provas, testemunhas e o veredicto dos jurados, o
réu Paul Turner será condenado a 14 anos de prisão na
penitenciária Mason Strader, poderá responder em liberdade
condicional após cumprir um terço da condenação por ser réu
primário. Agradeço a todos que estiveram presentes nessa sessão
e a Deus por ter me dado sabedoria para conduzir essa causa, o
julgamento está encerrado. — O Juiz bate o martelo e sai da sala
quando começa o alvoroço. Uau, não pensei que seria tanto, mas
estou feliz, finalmente liberdade, só falta o divórcio para ser oficial.
— Elizabeth, podemos conversar. — Spencer vem ao meu
lado e me chama para uma sala do lado de fora, sigo ele e nos
sentamos de frente um para o outro. — Paul se recusou a lhe dar o
divórcio e por intermédio da situação o juiz lhe concedeu por meio
do litigioso, você só precisa assinar esses papéis aqui e pode se
considerar solteira. Parabéns. — Abraço Spencer em um momento
de felicidade, não acredito no que está acontecendo. Pego a caneta
e assino todos os papéis. Saímos da salinha e vou em direção a
minha família.
— Eu consegui o divórcio, estou livre. — Meus pais me
parabenizam e Chris me enche de beijos no rosto enquanto me
abraça forte.
— Ah, meu amor, eu sabia que você ia conseguir — Clary diz
e me abraça junto de Brian.
— Então a vadia está feliz por estragar o futuro do meu filho,
eu juro para você que ainda vou acabar com o único fio de
esperança que lhe resta, isso não teve fim, Elizabeth. — Mais uma
vez, Alice destila seu veneno, só que dessa vez, ela vem em minha
direção gritando aos quatro ventos para todos ouvirem. —
Vagabunda. — Sinto meu rosto arder, ela realmente me deu um
tapa no rosto, mas isso não vai ficar assim, lhe devolvo o desaforo
com um soco no meio da cara.
— Nunca mais encosta a mão em mim. — Chris aperta minha
cintura e me puxa para longe dela, mas Alice pega em meu cabelo e
me joga no chão, levanto e lhe dou um chute nas pernas e desfiro
dois tapas em seu rosto. Joseph se aproxima e puxa Alice pelos
braços, mas a mulher está com sangue nos olhos.
— O que está acontecendo aqui? Policiais, prendam essas
duas mulheres por perturbação da ordem, ficarão na delegacia por
vinte e quatro horas até se acalmarem.
— Você não pode fazer isso, sabe quem eu sou — Alice diz
convicta e acho que não foi uma boa escolha.
— Eu posso fazer o que quiser, porque sou um juiz e a
senhora cometeu desacato a autoridade, pegará detenção de seis
meses, ou então, terá que pagar uma multa ao governo. Podem
levar as duas. — Tenho certeza de que ela não ficará lá nem por
duas horas. — E a ordem de vinte e quatro horas ainda é verídica,
ficarão presas pensando em tudo o que aconteceu, até aprenderem
a ter respeito. — De livre para presa em alguns minutos, realmente
eu sei me meter em confusão, a única coisa boa é que dei uma
surra nela. Saio algemada do tribunal com a Alice e os repórteres
vem em nosso encalço saber o que aconteceu, mas os policiais os
contêm para que possamos passar e escuto Chris gritar que ficará
tudo bem. Chegamos à delegacia e somos levadas a cela,
felizmente não nos colocaram na mesma, mas sim uma do lado da
outra.
— Isso ainda não acabou, Elizabeth, vou destruir você, meu
menino perfeito está indo para uma penitenciária com os piores
tipos de pessoas enquanto você se diverte com seu amante de
merda. — A mulher está precisando de psiquiatra, é completamente
louca.
— Você vai pagar por tudo que fez, Alice, e vai fazer
companhia para o seu filho na cadeia. — Mesmo que as
penitenciárias sejam separadas por gênero, ela ainda vai ter o que
merece.
— Elizabeth? — Vejo Spencer vindo em minha direção.
— Até que enfim, vou poder sair daqui? — Eu espero que
sim, porque só posso estar pagando todos os meus pecados para
ficar do lado dessa mulher.
— Infelizmente o juiz está irredutível, disse que as duas
permanecerão aqui por vinte e quatro horas, sem visitas. Sinto
muito. — Isso só pode ser um pesadelo.
— Pelo menos peça que ele tire essa louca do meu lado,
quero ficar em paz. — Alice começa a rir e eu a ignoro.
— Não vai acontecer, o jeito é ignorar e esperar o tempo
passar, amanhã bem cedo venho para cá e tento novamente falar
com ele. Vou conversar com uns amigos meus e pedir que
intercedam por você. — Agradeço a Spencer e ele vai embora.
— Pelo jeito será longas horas ao seu lado, querida nora. —
Continuo quieta, não vou falar com ela, deito-me na cama que mais
parece uma pedra de mármore e me viro para a parede, a delegacia
fede, aí que horror. — Não adianta me ignorar, serei sua consciência
enquanto está aqui. — Vaca desmiolada.
Capítulo 24

Depois de profanar palavras ofensivas e ameaçar a minha


vida várias vezes, finalmente Alice dormiu, mas eu por outro lado,
dormi muito mal, meu corpo todo está dolorido e minha cabeça
parece que vai explodir. Fiquei pensando em tudo que ocasionou
cada detalhe e momento da minha vida, e agora estando livre das
amarras impostas pelo meu casamento, não sei como seguir em
frente. Preciso escolher novos objetivos? Metas? Não sei, mas
passei a noite revendo meu relacionamento com Christopher, eu o
amo e isso é uma verdade incontestável, mas penso se eu não
preciso de um tempo só pra mim, um momento em que eu possa
viver por mim mesma e não para ninguém, eu sou tão nova e nunca
nem sequer morei sozinha, sempre fui sustentada por alguém e não
sei o que é ser independente.
— Vamos acordar, porque o dia aqui começa bem cedo. —
Um idiota começa a bater uma caneca na grade, fazendo o maior
barulho. — As senhoras estão liberadas, por ordem do Juiz. — O
policial destranca minha cela e pede que eu fique encostada na
parede enquanto destranca a da Alice. — Caramba, dona, ela te
pegou de jeito hein, belo soco. — Então, ele começa a gargalhar e
nos leva para fora. Vejo Chris, meus pais e Joseph na recepção
junto de Spencer.
— Senhorita Harper, pelo jeito não vai deixar de usar meus
serviços tão cedo. — Spencer sorri e me dá um abraço, mas logo se
afasta. — Está precisando de um banho urgente. — Começo a rir,
pois concordo plenamente com ele, passar a noite nesse lugar foi
uma péssima experiência.
— Ah, minha filha, quase morri de preocupação com você,
mas Graças a Deus, você está livre. Pena que não foi solta sozinha
— mamãe se refere a Alice, que olha para nós depois de perceber
que as palavras são voltadas para ela.
— Quando você passar a ser melhor do que eu, poderá me
julgar, até lá, sugiro que comece contando a verdade a sua filha. O
que ela diria se soubesse que sua vida não passou de uma mentira?
— Que verdade? Do que Alice está falando?
— Que verdade, mãe? — Olho para os meus pais e os dois
estão assustados. Então, é verdade. Alice tem um trunfo sobre a
minha vida e eu não sei o que pensar sobre isso.
— Conversaremos em casa, meu amor. — Papai me abraça
e me leva para a saída enquanto Alice ri pelas minhas costas, e
Joseph fica com uma cara de decepcionado. — Tudo vai se
resolver, só precisa saber que a amamos independente de qualquer
coisa.
Cheguei em casa e preferi tomar um banho antes.
Christopher achou melhor ir embora, mas os meus pais o
impediram, pois esclareceram que como parte do meu futuro, ele
também precisaria compreender a verdade.
Depois de um banho longo, passei bastante hidratante para
tirar o cheiro ruim da delegacia e depois de colocar uma blusa e um
short, fui para a sala. Sophia me trouxe um lanche para comer,
enquanto eu era observada por vários momentos pelos os meus
pais, e Chris, estava ao meu lado, me passando conforto e
segurança.
— Pronto, podem começar a falar — digo olhando para
ambos.
— Sua mãe não teve uma gravidez saudável, e por conta das
complicações, no dia do parto, a bebê nasceu morta. Eu nunca tinha
sentido uma dor tão horrível em toda a minha vida, ver uma
pequena parte sua ser tirada de você, é doloroso demais. Na manhã
seguinte a internação da sua mãe, um homem apareceu no quarto
em que estávamos e perguntou se ainda tínhamos desejo de ter
uma filha, eu e Suzan, não havíamos entendido sua atitude e
pedimos uma explicação, ele por fim, nos informou que uma
adolescente havia dado a luz na noite passada e que não poderia
cuidar da criança e nos ofereceu você, deveríamos ter desconfiado,
mas estávamos tão deslumbrados com a possibilidade, que
aceitamos sem pestanejar. No mesmo dia, sua mãe teve alta e
nunca mais olhamos para trás, não sabemos quem são seus pais
biológicos, mas quero que saiba que, eu e sua mãe, te amamos
como nunca e nosso amor só cresce a cada dia. — Eu já estava
chorando horrores e meus pais também, foi difícil para eles essa
revelação, mas isso não muda o fato de ter sido abandonada pela
minha mãe biológica e muito menos que tenho pais que me amam
imensamente.
— Como vocês conseguiram explicar esse fato para o médico
e os enfermeiros, logo após sua filha ter sido dada como morta? —
Porque não é possível conseguir esconder uma criança.
— A troca foi feita fora do hospital, sem vestígios ou
testemunhas, nunca mais vimos aquele homem e nem sequer
voltamos ao hospital para perguntar sobre sua mãe, registramos
você como nossa através de um dos nossos amigos — meu pai diz.
Essa revelação está sendo cada vez mais difícil, e não sei como me
sentir nesse momento, a única certeza de que tenho, é de que amo
esses dois que me deram amor, carinho e um lar para viver. —
Tente nos perdoar, minha filha.
— Vocês me tiveram ilegalmente, isso é tão errado, como
vocês tem certeza de que minha mãe biológica não me queria? Não
acham suspeito tudo isso? — Porque eu acho e muito, podem ter
me tirado da minha família contra a vontade deles.
— Se não fosse para nós, poderia ser para qualquer um, ele
estava crente em lhe dar para alguém, e não podíamos deixar você
nas mãos daquele homem — meu pai quem diz e eu os entendo, sei
que fizerem o melhor para mim, mas tenho medo de ter sido
roubada dos meus pais biológicos.
— Pai, eu não tenho nada para perdoar, vocês são os meus
pais e assim ficarão sendo para sempre, eu amo vocês e
sinceramente, por enquanto eu não quero me preocupar com isso.
— Nos abraçamos e olho para Chris, que também está emocionado
e surpreso.
— Que tal viajarmos só por um tempo? Pretendia visitar
meus pais e acho essa a oportunidade perfeita — Chris diz e posso
concordar com ele.
— Eu acho ótimo. Pai, mãe, o que vocês acham? — Eles
assentem e dizem que eu deveria ir para descansar e esquecer um
pouco sobre isso tudo. — Então, vou arrumar minhas malas. —
Subo para o quarto e preparo uma mala simples, não acho que
ficaremos tanto tempo por lá.
— Sinto muito pelos seus pais biológicos, mas fico feliz por
você ter sido criada por pessoas tão boas, um dia nós iremos
resolver isso tudo. Não ficaremos muito tempo, mas leve biquini, a
casa dos meus pais nesses meses será na praia, por insistência da
minha mãe. — Assinto e continuo a arrumar minhas coisas, alguns
minutos depois, desço e me despeço dos meus pais.
— Fiquem bem os dois e não se esqueçam, amo vocês. —
Saio de casa e entro no carro de Christopher. — Como seus pais
são? Nunca tivemos oportunidade de falar sobre eles.
— Eles são ótimas pessoas, fique tranquila, eu avisei que
você estava indo e eles não acharam ruim. — Fico feliz por isso,
não quero dar uma de visitante indesejável na casa de ninguém. —
Eu iria te convidar antes mesmo de toda essa confusão, já até
estava com as malas no carro. Achei que seria uma boa ideia nos
desligarmos de todo esse drama que se transformou nossas vidas
há meses.
— A minha vida é um drama há anos, Chris, eu só queria me
libertar e consegui, obrigada por estar comigo. Já que hoje está
sendo o momento das descobertas, preciso te contar algo, quando
dormi na sua casa, encontrei uma mensagem de Suzane no seu
celular, eu não estava mexendo nele, apenas ouvi o barulho de
notificação enquanto você estava tomando banho e quando fui ver,
a mensagem dela estava na tela.
— Eu iria te contar sobre isso, já faz alguns meses que ela
tenta entrar em contato comigo, e como não queria que pensasse
que eu estava te traindo, acabei ignorando todas as tentativas, mas
como estamos em um período novo nas nossas vidas, resolvi ligar
para ela essa semana e marcar um encontro para quando voltarmos
desse passeio. — Solto o ar que estava preso nos pulmões, espero
que não seja nada grave, porque não sei o que faria se ela tentasse
voltar para ele de novo.
—Tudo bem, Chris, vamos nos divertir e esquecer o resto. —
Ele assente e segue viagem. Quando chegamos em nosso destino,
avisto uma casa muito luxuosa de frente para o mar. Descemos do
carro e uma mulher vem até nós.
— Oi, meu amor, que saudades, eu e seu pai, estávamos
sentindo falta de você. — A mãe de Chris vem até mim e me
abraça. — E você deve ser a Elizabeth, você é uma mulher muito
linda, querida, meu marido sempre fala do como seu pai é
inteligente e um ótimo funcionário na empresa, mas nunca
conhecemos você. Meu nome é Scarlett, seja bem-vinda a minha
humilde residência. — Porque os ricos sempre têm definições
estranhas sobre o que é ser humilde, simples ou barato.
—Olá, mamãe, também senti sua falta. — Chris beija sua
mãe no rosto e se afasta para ir até a porta.
— Obrigada, senhora Moore, por me receber em sua casa, é
um prazer conhecê-la. — Dentro, pude observá-la melhor. Do lado
de fora a casa já era linda, mas por dentro compensava qualquer
expectativa, as janelas percorriam toda a casa e eram cobertas por
blackout, tinha uma sacada com uma mesa de centro e quatro
cadeiras estofadas, poderia se ver o pôr do sol perfeitamente, era
de dois andares e na sala havia um lustre enorme no centro, do lado
dois sofás na cor cinza, uma mesinha de centro com um jarro de
flores e duas poltronas ao lado, a área de lazer era revestida de
pedras e tinha coqueiros plantados no jardim, na cozinha os
eletrodomésticos eram embutidos na parede, no centro tinha um
balcão com o fogão que fazia parte dele e um sugar no teto, possuía
três suítes com banheiras e quatro banheiros, era perfeita e muito
cara, tenho certeza.
— Vocês podem descansar, até a hora do jantar, curtir uma
piscina ou até mesmo o mar, se divirtam. Franklin chegará só mais
tarde. — Scarlett me deu um beijo no rosto e pediu para Chris me
levar ao quarto, subimos as escadas e percorremos o corredor
longo, até encontrarmos nosso quarto, deixamos as malas no chão
e fomos tomar banho juntos.
— Quer curtir um banho de banheira ou no chuveiro? —
Christopher me olha com ar de safado e começo a tirar a minha
roupa, ele observa cada movimento meu enquanto tira a sua
própria, vou até ele e lhe dou um beijo, ele pega em minhas mãos e
me puxa para dentro do banheiro. — Que saudades eu estava de
você, Elizabeth. — Chris, abre o chuveiro e me pega no colo,
colocando minhas pernas em volta da sua cintura, me leva devagar
até debaixo d’água e me põe em pé, beija meu pescoço e meus
seios, até chegar a minha virilha. — Suas tatuagens são lindas, faz
tempo que não admiro tanta beleza, você é deslumbrante, amor. —
Sinto seus lábios por minha carne rosada e gemo alto enquanto ele
desperta todo o meu corpo. Chris e eu, passamos o resto da tarde
curtindo um ao outro e nos lembrando de cada parte do nosso
corpo, mas em meio aos nossos momentos, acabei adormecendo
de tão exausta que estava.
Capítulo 25

Acordo com barulhos na porta e escuto Scarlett nos


chamando para o jantar, olho para o lado e vejo Christopher
dormindo, beijo seu rosto para acordá-lo, mas ele nem se mexe, o
chamo pelo nome e tenho o mesmo resultado, parece que alguém
estava realmente cansado. Levanto-me devagar e vou até a porta.
— Oi, Scarlett, seu filho está desmaiado de tanto sono, vou
tentar acordá-lo mais uma vez, daqui quinze minutos descemos.
— Tudo bem, mas se meu menino não quiser, nos vemos
amanhã. — Assinto e vejo ela descendo as escadas, volto para a
cama e tento acordar Chris novamente, passo minha mão pelo seu
abdômen malhado e vou em direção ao seu brinquedinho, quando o
massageio, vejo-o despertar aos poucos. Dou um sorriso vitoriosa
enquanto continuo a carícia, e escuto ele soltar um gemido baixinho.
— Continua amor, não para. — Mas faço exatamente ao
contrário, solto de uma vez e saio da cama.
— Sua mãe nos aguarda em quinze minutos para o jantar,
então, levante-se. — Ele resmunga, mas se levanta à contragosto e
vai para o banheiro tomar um banho, mas no meio do caminho me
puxa para um beijo quente e me leva junto para debaixo d’agua.
Claro que essa brincadeira resultou em um atraso de mais de
quinze minutos.
— Mãe, desculpe, fui tomar um banho para despertar. — A
mãe dele olha para ele com um sorrisinho nos lábios e pede que
nos sentemos. Scarlett é uma mulher linda de cabelos e olhos
pretos, morena, alta e cheia de curvas. — Oi, pai, como o senhor
está?
— Oi, meu filho, estou ótimo, só tendo muito trabalho. Tudo
bem, Elizabeth? Prazer em conhecê-la. — Ele me estende a mão e
eu a aperto. Franklin é um homem alto, bonito, tem olhos castanhos
escuros e é careca. — Sinto muito pelo Paul, ele me parecia ser um
garoto brilhante, mas as aparências enganam. Joseph ficou
arrasado quando me contou nessa manhã sobre a sentença do Juiz,
me disse também que Alice está transtornada jurando vingança a
você e sua família, ele não sabe mais o que fazer com ela e até me
perguntou se não seria melhor mandá-la fazer um tratamento
psicológico, minha esposa é amiga dela e acha que ela só precisa
de amor e carinho e eu concordo, portanto, Joseph recebeu meus
conselhos e me disse que viajará com ela por um tempo. — Essas
pessoas são tão inocentes, e totalmente envolvidos na teia de
mentira da Alice.
— Pai, você não conhece Alice, não sabe do que ela é capaz,
os únicos inocentes nessa história é a Liza e o Joseph que não
mereciam fazer parte daquela família escrota — Chris fala com raiva
suas convicções.
— Meu filho, não fale assim, sei que está defendendo sua
namorada, mas deve respeito a mim e a meus amigos, por favor,
não temos culpa se você se apaixonou pela mulher do seu amigo.
— Fico envergonhada pela colocação de Scarlett e abaixo a cabeça
enquanto como. — Me desculpe querida, mas essa é a verdade.
— Está tudo bem Scarlett, não tenho poder sobre suas
escolhas de amizade, com licença. — Me levanto da mesa e saio
com passos apressados, mas não antes de escutar a voz de Chris.
— Mãe você não tem noção de quem é sua amiga, por favor,
respeitem Elizabeth enquanto ela estiver aqui, porque senão saio
dessa casa hoje mesmo. — Escuto a cadeira ser arrastada e passos
firmes atrás de mim.
—Liza, amor, me espera. — Chris me agarra no meio do
caminho e faz com que eu pare. — Me perdoa pelos meus pais, eu
não achei que eles fariam isso, sinto muito tê-la trazido aqui, se
quiser ir embora, nós iremos agora. — Digo que não quero ir
embora, mas que estou a fim de aproveitar o mar. — Então, vamos
colocar as roupas de banho. — Subimos para o quarto e eu coloco o
meu biquíni vermelho e ele uma sunga preta, pego minha saída de
praia e Chris põe um short, descemos pelas escadas que eram
voltadas para o oceano e fomos em direção à praia.
— Nossa, amor aqui é lindo demais. — Podemos ver a luz da
lua em contraste com a água do mar, é muito bonito. Pego na mão
de Christopher e o puxo para dentro da água.
— Cuidado, de noite o mar é traiçoeiro e muito perigoso. Fica
perto da praia. — Meu amor, todo preocupado comigo, que fofo.
Nadamos juntos o tempo todo e Chris me segurava forte como
quem não quer que eu fuja, nos beijamos muito durante esse tempo,
mas aí aos poucos o fogo começou a se acender até que não
aguentássemos mais e Chris começasse a desamarrar meu biquíni.
— Chris, alguém pode ver a gente, isso sem contar que
poderíamos perder as roupas no mar. — Ele começa a rir e continua
a tirar a parte de cima do meu biquíni.
— Essa praia é particular, meus pais são muito neuróticos,
ninguém pode ver a gente aqui e enquanto as roupas, que se dane,
compro outra para você. — Assinto e começamos a nos despir. Lá
se foi meu biquíni perfeito e a sunga de Christopher.
— Não que você se importe, pois transamos no chuveiro sem
camisinha, mas eu já estou tomando injeção. Fui ao médico
enquanto aguardava o julgamento. — Ele me diz que agora que
somos livres não se importaria de ter um filho comigo. — Eu me
importo, sou muito nova para ser mãe de novo, tenho medo de
passar por aquilo novamente, não aguentaria perder outro bebê. —
Ele percorre beijos pelo meu pescoço e toma um dos meus seios na
boca enquanto acaricia o outro com a mão, quando vejo já estou
gemendo muito alto e faço o mesmo com seu membro. Chris me
puxa para seu colo entrelaçando minhas pernas em seus quadris
quando me invade de uma só vez.
— Você é tão perfeita amor, eu sou um filho da puta sortudo e
que minha mãe me perdoe. — Começo a gargalhar em meio aos
gemidos, mas me entrego ao prazer momentâneo e tenho um dos
orgasmos mais selvagens enquanto Chris vem logo em seguida. —
Amo você, Liza. — Ele me beija e voltamos para a praia, jogamo-
nos na área e ficamos lá olhando para o céu estrelado. — Sabe
aquele filme “Um amor para recordar”, lembra quando Landon dá o
nome de Jamie para uma estrela, eu acho que o seu seria perfeito
para isso, então, dei uma pesquisada e descobri que a Global Star
Registry faz isso, assim como várias outras.
— E por que você pesquisou sobre a GSR? — Viro-me para
ele e pego em seu rosto.
— Porque agora existe uma estrela no céu com o seu nome,
Elizabeth. — Não acredito nisso, meu Deus! — Fiz isso enquanto
estávamos sem nos falar. Não nos tornamos proprietários de uma
estrela, até porque isso seria quase impossível, mas nomeamos
uma. — Ele vai até onde está sua roupa e tira do bolso do short um
pingente dourado. — Eu também fiz um pingente gravado com a
constelação e coordenadas exatas da estrela. — Então ele vem até
mim e coloca no meu pescoço.
— Ai, meu Deus, Chris, isso é incrível, obrigada, amor. —
Isso só pode ser um sonho e eu não quero acordar nunca mais.
Passo a mão pelo pingente e vejo o nome da constelação. — Por
que constelação Andrômeda?
— Porque ela simboliza a história de amor entre Perseu e a
princesa Andrômeda na mitologia grega. — Assinto e como estamos
os dois pelados, recomeçamos nossa noite de amor tudo de novo, e
cada vez parece mais quente.
Umas horas depois voltamos para casa, estamos cheios de
areia e sem a roupa de banho, Chris veste short e eu estou com
minha saída de praia que não esconde muita coisa, acabamos rindo
da situação e entramos em casa de fininho. Enquanto subo as
escadas, acabo escorregando e caindo de bunda no degrau, Chris
vem até mim um pouco desesperado, perguntando se estou bem,
digo que sim e acabamos gargalhando um pouco alto demais.
— Amor, ri baixo, se meus pais acordarem, minha mãe vai
ficar possessa.
— Com certeza a mãe vai ficar muito brava. — Escutamos
uma voz vindo da cozinha e vamos até ela. — Vocês parecem duas
crianças felizes. — Sua voz parece divertida e lhe dou um sorriso
tímido. — Deveria se vestir, Elizabeth, não está nada descente. Na
próxima vez que quiserem sair pela praia pelados, se certifiquem de
que estão em um lugar onde não tem mais ninguém, a praia pode
ser privada, mas eu não gostaria de ver a bunda do meu filho
correndo pela área e nem seus seios pulando com o movimento,
Liza. — Sinto meu sangue todo parar no meu rosto e as bochechas
queimarem de vergonha. — A sorte é que seu pai já estava
dormindo.
— Me desculpe, senhora Moore. — Chris está gargalhando
do meu lado como quem não se importasse, mas eu sim.
— Desculpa, mãe, é que estava experimentando coisas
novas. — Peço licença e vou para o quarto, tomo um banho e me
deito. Chris não veio atrás de mim e acho que deve ter ficado
conversando com Scarlett.
Scarlett me parece gostar muito de Alice e isso não é bom
para mim, não quero ter outra inimiga em minha vida, principalmente
sendo mãe do meu namorado, mas enquanto não conseguirmos
provar nada contra Alice, não vejo outra solução senão ignorar
qualquer assunto que remete a bruxa.
Pego meu celular e visualizo as mensagens da minha mãe,
respondo dizendo que estou bem e que daqui dois dias eu volto
para casa, não ficarei muito tempo e Chris tem suas coisas para
fazer. Estou me sentindo cansada, até nadar é desgastante, e ainda
não consegui dormir direito depois da viagem e da noite na
delegacia. Pego um livro na mala e começo ler, esperando
Christopher, mas o sono vem pouco tempo depois.
Capítulo 26

— Elizabeth, amor acorda, precisamos ir. — Sinto meu corpo


ser sacudido e não é com muita delicadeza, abro meus olhos
devagar e vejo Christopher na minha frente.
— Chris, o que aconteceu? — Chris sai da cama e, vejo que
está colocando algumas peças de roupas na mala e as pondo do
lado da porta, o porquê de tudo isso, eu não sei, mas tenho quase
certeza de quem teria provocado.
— Precisamos ir embora. — Maravilha, mal cheguei e já me
sinto sendo expulsa ou pode ser referente a outra coisa também e
eu possa estar sendo neurótica, apesar de que na minha vida tudo é
suspeito, infelizmente.
— Mas por quê? — Ele tenta disfarçar, mas sei que tem algo.
— Fala agora.
— Minha mãe não acha certo eu namorar a ex-esposa do
meu amigo e ter me envolvido com você enquanto ainda estava
casada, ela acha que isso é trazer uma imagem negativa para a
família, principalmente depois da revolução que foi esse assunto. —
Sabia que ela seria a cópia da Alice, todo mundo me odeia ou é
apenas impressão minha, porque nunca fiz nada de ruim a ninguém
e mesmo assim eles arrumam desculpas para não gostar de mim.
— Acho que sua mãe é bipolar, ela me recebeu super bem,
depois fez aquele drama no jantar, nos reprendeu por causa da
praia e agora diz que não aprova nosso relacionamento. Ela é
maluca ou falsa? Porque não tenho outra explicação. — Chris olha
para mim e vejo decepção em seus olhos, ele se sente culpado por
causa das neuras da mãe dele e provavelmente o pai pensa a
mesma coisa, mas é muito discreto para demonstrar.
— Sinto muito, meu amor, não deveria ter trazido você aqui,
não estando tão recente depois do julgamento, me perdoa. — Digo
pra Chris que tudo irá ficar bem e, me levanto para tomar um banho
e ir embora dessa casa. — Vou descer com as malas, te espero lá
embaixo. — Alguns minutos depois desço com minha bolsa e saio
da casa, não encontrei seus pais e fico feliz porque não quero me
despedir. Entro no carro e Christopher dá a partida e segue de volta
para casa.
Minha relação com Scarlett pode não ter começado da
melhor maneira, mas não quero que Chris fique brigado com a mãe
dele, independente de tudo, eles o amam muito e é muito ruim não
ter os pais por perto, eu sei o quanto meus pais fariam falta a mim,
mas tenho certeza que tudo ficará bem, no fim as coisas sempre se
acertam.
— Amor, não fica assim, por favor, não quero vê-la triste. —
Me viro para ele e pego em sua mão.
— Me prometa que apesar de tudo, você vai se entender com
sua mãe, ela te ama, meu amor, e só está te protegendo. — De um
jeito torto e errado mais está, que mãe não erra na vida, não é.
— Minha mãe não te odeia, Liza, mas é que ela é amiga de
Alice há muitos anos, então, isso tudo é muito confuso para ela
entender, mas tudo vai se esclarecer e tenho certeza de que ela irá
te pedir desculpas. — Assinto e fico o resto da viagem em silêncio.
Paramos para tomar café da manhã porque saímos apressados e
umas duas horas depois chegamos a minha casa. — Você vai ficar
bem?
— Vou, irei chamar a Verônica para ficar um pouco comigo.
— Ele dá a volta no carro e pega minha mala, me entrega, toma
meus lábios em um selinho suave e entra no carro.
— Te vejo depois meu amor. — Aceno para ele e logo vejo
seu carro desaparecer. Entro em casa e não vejo ninguém, subo
para o meu quarto e deixo minhas coisas jogadas ao lado da cama.
Envio uma mensagem para Verônica e ela disse que poderá vir à
noite e que iremos jantar, respondo para ela e digo que estarei
pronta às dezenove horas, penso em dormir, mas escuto baterem
na porta.
— Liza, querida, posso entrar? — minha mãe me chama do
outro lado da porta, mas tudo o que eu queria era ficar sozinha por
um tempo, mesmo assim, a deixo entrar.
— Sim, mamãe, pode entrar. — Ela entra no meu quarto e
vem em minha direção.
— Como você está, meu amor? — Acaricia meu rosto e se
senta ao meu lado enquanto estou deitada.
— Vamos dizer assim que meu relacionamento com a mãe
de Chris não foi muito bom. Ela é uma das amigas de Alice, mesmo
Verônica dizendo que as amizades dela tinham se afastado, parece
que Scarlett não quis, ela teve a coragem de dizer que a imagem de
Chris ficaria ruim estando comigo e a dela como vai ficar sendo
amiga da mãe de um presidiário, isso é tão injusto mãe, até minha
sogra me odeia. — Me aconchego em seu colo e me deito em suas
pernas.
— Oh, meu amor, tem pessoas que são ruins de natureza e
tem outras que apenas são influenciadas demais, a mãe dele vai te
pedir perdão quando cair em si. — Não contei para minha mãe que
estamos investigando Alice e é melhor continuar desse jeito, apenas
Chris, Spencer, o detive e eu sabemos.
— Ficou um clima muito ruim e tivemos que vir embora, Chris
discutiu com ela. Eu não quero que ele sinta raiva da mãe, eu penso
em como seria se fossemos nós e isso seria doloroso demais,
conversei com ele e pedi que se acertassem, eu não ficaria no meio
de um relacionamento entre mãe e filho, é algo imperdoável. —
Minha mãe concorda e diz que tudo ficará bem, ela me chama para
comer alguma coisa, mas prefiro dormir um pouco e depois sair com
Verônica e, então, ela sai do quarto e me deixa sozinha.

(...)

Acabei de terminar uma ligação com Spencer, me parece que


meu ex-marido tem algo a falar comigo e pediu que seu advogado
entrasse em contato, eu disse que não tinha mais nenhuma ligação
com ele e para que pare de tentar me contatar, nunca vou entrar
naquela penitenciária, pelo que Spencer me contou parece que Paul
levou uma surra dos presos por não seguir as regras dentro da
cadeia e se ele não começar a mudar de atitude, não vai viver muito
tempo para cumprir pena nenhuma, eu sou ruim se dizer que ele
mereceu, eu acho que posso pensar assim pelo menos uma vez na
vida, chega de ser uma menina boazinha vinte quatro horas por dia.
Já estou arrumada para jantar com minha amiga, preciso
espairecer um pouco, os paparazzi de repente sumiram, fizeram um
inferno da minha vida por semanas e agora parecem fantasmas,
não que eu esteja reclamando, é até bom para mim. Estou usando
um vestido pink que vai até o meio das coxas, colado como uma
segunda pele e totalmente rendado, nos pés uso um scarpin nude
de vinte centímetros e no ombro uma bolsa preta lisa. Desço as
escadas e Verônica me avisa que está do lado de fora, me despeço
dos meus pais e sigo para o carro dela, um Porsche 911 do ano
2019 na cor preta.
— Oi, tudo bem com você? Está linda. — Agradeço por seu
comentário e seguimos para o restaurante.
— Estou bem, só cheia de coisas na cabeça, acabei de
receber uma ligação de Spencer, Paul quer me ver, mas eu disse
que não. — Ela olha para mim e não vejo surpresa em seus olhos.
— É, eu sabia, ele pediu pra Joseph primeiro, mas como ele
negou, com certeza deu um jeito. — Como se eu fosse ceder
mesmo para Joseph. — Sinto muito, meu sobrinho é difícil, não
deveria ter deixado Alice criá-lo, Joseph nunca teve voz naquela
casa e eu sabia que poderia dar nisso e, mesmo assim fui embora e
não olhei para trás.
— Você teve seus motivos Verônica, não é culpa sua, todo
mundo é responsável pelos seus próprios atos.
— Eu sei, só não consigo pensar diferente agora. Essa sua
carinha com certeza não é por isso, me diz o que está acontecendo.
— É tão bom ter amigos que te entendem mesmo antes de você
falar qualquer coisa, todo mundo deveria ter alguém assim.
— Não me dei bem com a mãe de Chris, vamos dizer assim
que ela é amiga de Alice. — Verônica revira os olhos e compreende
o que quero dizer com isso.
— Uma hora ela muda de ideia, tenho certeza, o importante é
Chris amar você, o resto é só consequência. — Ela tem razão,
tendo o amor dele, tudo podemos enfrentar. — Sinto muito por não
ter ido ao julgamento e mais ainda por você ter sido presa, fiquei
bastante surpresa quando Joseph me disse que você deu uma surra
na minha irmã, com certeza é a que lhe faltava quando era mais
nova. — Ela dá uma gargalhada e fico surpresa.
— Achei que me daria sermão. — Vai saber, ela não ama
demais a cobra.
— Eu sempre vou amar a minha irmã, eu tive ódio dela, sim,
há muito tempo, mas agora quero que ela mude e se torne alguém
melhor. — Ela é tão sincera com as palavras, vejo amor entre elas e
a cobra não merece.
— Não sei se isso vai ser possível algum dia. Ela me encheu
o saco à noite toda, me disse que seria minha consciência, cada
coisa mórbida que ela fala que fico estática. — Literalmente ela
precisa de psiquiatra e depois ir para cadeia.
— Ela voltou a falar comigo aos poucos, é uma conversa
monossilábica muito interessante se quer saber. — Agora sou eu
quem rio da situação, melhor do que chorar.
Chegamos ao nosso destino e Verônica entrega as chaves do
carro ao manobrista, entramos no restaurante e somos atendidas
por um garçom que nos leva a uma mesa aconchegante com
iluminação direcionada no centro, sentamos e fazemos nosso
pedido, mas enquanto não chega, continuamos a conversar.
— Esse pingente que está usando é lindo, Liza. — Pego em
meu colar e lembro da noite maravilhosa que tive ao lado de
Christopher.
— Chris deu meu nome a uma estrela e fez um pingente com
as coordenadas, foi apenas um gesto simples, mas me deixou
bastante feliz. — E sempre irá significar muito em meu coração.
— O amor de vocês é tão nítido, é verdadeiro e sincero,
queria poder ter um amor assim. — Vejo que fica triste pensando
nisso e presumo que seus pensamentos sejam voltados ao
passado. — Mas acho que estou ficando velha demais para isso.
— Nunca é tarde para amar. Você só tem trinta e oito anos
Verônica, é nova e linda demais, só precisa parar de ter medo e ser
feliz. — O garçom chega com nossos pratos e os coloca sobre a
mesa, pedimos um vinho branco para acompanhar enquanto
apreciamos a noite. — Meus pais me disseram algo grave e o mais
incrível é que Alice já sabia, eu sou adotada. — Verônica para o
garfo no ar enquanto leva a boca e me olha assustada.
— Como isso foi possível? — Relato tudo que meus pais
contaram e ela fica tão surpresa quanto eu fiquei. — Liza, o que
seus pais fizeram foi tão errado, eu sei que foi preocupação, mas
uma mãe pode ter sofrido todos esses anos sem você, ter um filho
tirado de si é a dor mais alucinante que existe, como se rasgassem
seu peito com uma lâmina passada no fogo e me desculpe, mas
eles não tinham esse direito e agora que Alice sabe, estou pasma
por ela não ter usado isso contra você há muito tempo, quem sabe
minha irmã não tem um coração batendo no lugar do gelo. — Eu
acho isso impossível, mas fico quieta. — O que vai fazer, irá atrás
deles?
— Sinceramente, não, eu não quero pensar nisso por um
tempo, eu só quero paz Verô. — Ela assente e, então, voltamos a
comer em silêncio, no fim da noite volto para casa e aviso meus pais
da minha chegada, subo para o quarto e decido fazer uma pesquisa
sobre crianças adotas na minha situação, encontro vários
depoimentos interessantes quando meu telefone toca e atendo sem
olhar quem.
— Alô. Quem fala?
— Oi, amor, está ocupada ou podemos conversar? — É
muito bom quando o escuto me chamar por “amor”.
— Chris, oi, pode falar.
— Queria saber como passou o seu dia e falar que
estamos mais perto da solução sobre a Samira, o detetive acha
que encontrou o cara que sabotou o carro dela no acidente. —
Que noticia maravilhosa, finalmente cada vez mais perto.
— Isso é incrível, tomara que dê certo dessa vez. Eu saí
com Verônica hoje e passamos um tempo juntas, precisava
conversar com uma amiga.
— Ainda me sinto muito mal pelo que minha mãe fez,
Liza. — Confio nele e sei que está realmente se sentindo péssimo.
— Eu sei, mas vai passar, agora quero que descanse e
nos vemos amanhã. — Tento ser forte nessa situação e não
demonstrar raiva.
— Vou me encontrar com Suzane para tomarmos um café
e depois irei para o escritório, a noite nos falamos, eu te amo e
você é a única para mim. Boa noite, querida. — Ouvir essas três
palavras é música para meus ouvidos.
— Boa noite, Christopher.
Bloqueio o celular e desligo o computador, tiro minha roupa e
deito-me em minha cama nua. Confesso que estou nervosa com
essa aproximação de Chris com Suzane, estou insegura e esse é
um sentimento de merda.
Capítulo 27

Christopher me mandou mensagem dizendo que precisava


conversar comigo urgente, não sei o que era, mas fiquei
preocupada, porque foi justamente depois que ele se encontrou com
Suzane. Agora estou indo para o apartamento dele. Não demora
muito para que eu peça ao porteiro que libere minha entrada,
estaciono o carro da minha mãe na garagem e subo de elevador,
quando as portas se abrem, sigo em direção ao apartamento e bato
duas vezes na porta até que ele abre em seguida.
— Entra, meu amor. — Chris me dá um beijo forte e me
aperta com força como se tivesse com medo que eu escapasse.
— Chris, você está bem? Está estranho. — A atitude dele é
tão esquisita, estou cada vez mais preocupada.
— Você quer algo para beber? — Aceno a cabeça dizendo
que sim e ele me traz uma taça de vinho branco. — Sabe o quanto
te amo e que nunca vou te deixar não é, que nada vai fazer eu
desistir de você?
— Claro que eu sei, querido, o que está acontecendo? — Ele
pega em minha mão e me leva para sentar na sala, deixando a taça
de vinho no balcão da cozinha.
— Eu fui conversar com a Suzane hoje e quando eu a vi levei
um susto tão grande que até agora não consigo aceitar. — Que
conversa mais estranha.
— Chris, você está me assustando, o que aconteceu com
ela? — Ele respira profundamente e olha em meus olhos ainda com
a mãos sobre a minha.
— Liza, a Suzane está... — Quando ele vai falar a campainha
toca e ele sai bufando para atender, acho que está bravo pela
interrupção. Sigo atrás dele para ver quem é, mas quando olho para
a porta, não consigo respirar direito. Suzane está com uma barriga
avantajada demais e sei que está grávida. — Suzane o que está
fazendo aqui, eu disse que ligaria depois.
— Me desculpa, Chris, eu só queria te falar o dia da consulta
para saber o sexo do bebê. — Grávida? Bebê? Aí meu Deus, isso
não pode estar acontecendo comigo. — Ah, oi, Elizabeth, me
desculpa atrapalhar. — Acho que ela fez mais do que atrapalhar.
— Liza, eu posso explicar, eu não sabia e estou tão
assustado quanto você. — Volto correndo para a sala e pego minha
bolsa. — Aonde você vai, podemos superar isso, fica e conversa
comigo.
— Superar, sério, não dá para superar um bebê, Christopher,
eles não vão sumir como em um passe de mágica — falo já me
sentindo um pouco alterada e com o coração acelerado.
— Você não pode me largar, Elizabeth, não faz isso, eu estou
te implorando. — Eu não sei o que pensar, só que preciso de um
tempo.
— Eu preciso de um tempo de tudo isso. — Ele vem até mim
e pega em meu rosto.
— Tudo bem, amanhã eu vou até sua casa conversar com
você. — Chris parece tão atordoado quanto eu estou.
— Acho que você não entendeu, eu preciso de um tempo de
você e de tudo isso. — Eu sei que posso estar sendo infantil, mas
não consigo engolir isso, é mais forte do que eu.
— Você só pode estar de brincadeira comigo, eu fiz de tudo
por você, fiquei com você sendo casada, cheia de problemas, lutei
para ficarmos juntos e colocar Paul na cadeia, e na primeira
dificuldade você me abandona — Chris diz isso enquanto anda pela
sala com lágrimas banhando seus olhos e completamente
transtornado.
— Eu não pedi para que fizesse nada disso para mim, você
correu atrás de mim porque quis. — Lágrimas começam a cair dos
meus olhos, sei que fiz besteira, mas não consigo pensar nisso
agora, só quero fugir daqui.
— Se você quer assim, então, está tudo bem, vai embora e
fuja como sempre, mas não volta achando que vou te perdoar. —
Pego minha bolsa e saio andando, mas Suzane me grita pedindo
desculpas e eu a ignoro.
Saio atordoada pelos corredores, pego o elevador e quando
chego no carro, piso no acelerador com toda minha vontade e dirijo
feito louca na rua, só tem um lugar que eu gostaria de ir agora. Pego
a avenida e vou para casa da minha amiga, quando chego,
estaciono de qualquer jeito e bato desesperada na porta dela,
esquecendo da campainha.
— Liza, o que aconteceu, por que está chorando querida? —
Abraço ela com força e choro em seu ombro. — Entra. — Ela dá
espaço para que eu entre e vou para a sala. — Pode começar. —
Conto tudo que aconteceu até agora e vejo Verônica com a boca
aberta.
— Eu sei que fiz besteira Verô, mas vê-la lá com aquela
barriga gerando um filho do homem que eu amo é demais para mim,
será que nunca vou ser feliz na minha vida, tanta merda uma atrás
da outra. — Deito-me em seu colo enquanto ela passa as mãos em
meus cabelos.
— Você exagerou em sair da casa dele desse jeito, ele ia te
contar com calma, mas aquela mulher estragou tudo. Porque não
conversa com ele, meu amor? — Ela está certa, mas não consigo,
não agora.
— Quem sabe algum dia, eu faça isso. — Vou precisar reunir
todas as minhas forças para esse feito.
— Liza, não deixe para depois o que se pode fazer hoje,
descansa, pensa com calma e amanhã liga para ele. — Não, eu não
vou ligar, não agora pelo menos.
— Eu não quero Verônica, não consigo fazer isso, é demais
para aceitar, eu não quero que ele tenha um filho de outra mulher.
— Posso estar arriscando meu futuro com Chris, mas tudo que eu
penso nesse instante é na barriga de Suzane.
— Se fosse você no lugar dele, gostaria que ele negasse o
seu filho com Paul? — Putz, essa mulher pega na ferida. — Eu sei o
quanto é difícil, mas imagina só se o homem que você amasse
fosse casado com outra. — Me parece que ela já não está falando
mais de mim.
— Se quiser conversar sobre isso, eu estou aqui para ouvir.
— Ela me dá um sorriso casto.
— Hoje não, você precisa mais do que eu. Não devo mexer
com o passado, ele só me traz dor e sofrimento. — Ficamos no sofá
por um bom tempo em silêncio, até que escutamos um celular tocar.
— Deve ser o meu, espera um minuto. — Ela sai da sala e
sobe as escadas. Que celular barulhento, ouvi daqui debaixo.
Alguns minutos depois ela volta e me olha com uma cara e, já sei
que aí tem. — Chris ligou para seus pais perguntando se você tinha
chegado, porque o porteiro ligou para ele e disse que você estava
transtornada e, dirigindo feito louca. — Pode até ser verdade.
— Eu estava transtornada mesmo, mas não deveria ter
dirigido naquele estado e ele não tinha nada que preocupar meus
pais. — Deveria estar preocupado é com a mãe do filho dele, aí que
ranço dessa Suzane, a mulher volta do além para perturbar a minha
vida.
— Já tranquilizei seus pais e disse que você estava bem, eles
me ligaram já que sou sua amiga mais próxima e falei também que
a senhorita irá dormir aqui hoje.
— Você quer dizer a única não é, será que posso ficar um
ano. — Dou uma risada contida e ela me acompanha.
— Não precisa ser tão dura assim e pode ficar quanto quiser,
"Mi casa es tu casa" — Verônica se senta de novo ao meu lado. —
Vamos tomar um chocolate quente e depois a senhorita vai dormir.
— Nem vi as horas passarem, já fui tarde para a casa de Chris
porque ele estava trabalhando, e depois vim para cá.
— Gosto de chocolate gelado, é mais gostoso. — Dou um
sorriso e vamos para cozinha.
— Quando eu era criança sempre amei chocolate quente, era
o melhor momento do meu dia, mamãe fazia para mim e
tomávamos juntas toda noite antes de dormir, eu sinto tanta falta
dela. — Deve ser difícil perder os pais, não sei o que seria de mim
se perdesse os meus.
— Sinto muito por eles, mas a senhorita nunca me contou a
relação que tinha com seus pais. — Ela vai até a geladeira e pega o
leite e, depois vai até o armário e traz o achocolatado.
— Quer que eu derreta a barra de chocolate, ou o
achocolatado está bom? — Assinto para o achocolatado e ela pega
as xícaras. — Eu e meus pais sempre fomos uma família unida até
demais, eles eram meus melhores amigos, sempre pedia conselhos
a minha mãe e principalmente quando o assunto era garotos. Eu
acho meu pai um homem lindo, ele era meu herói e, às vezes, no
inverno íamos para um chalé nas montanhas e eu o ajudava a pegar
lenha para a lareira. Alice odiava tudo que remedia ao frio, mas eu
amava, as histórias contadas na hora de dormir, o carinho e amor
dos meus pais comigo. Minha irmã no começo era um doce comigo,
sempre fazíamos tudo juntas, éramos inseparáveis, mas quanto
mais velha ela ficava, o seu comportamento também mudava. —
Pego a xícara e coloco o leite misturando com o chocolate. Verônica
pega a xícara com leite e coloca no micro-ondas o ligando em
seguida.
— Conta mais, eu quero conhecer um pouco mais do seu
passado. Você não acha estranho seus pais te deixarem somente
uma casa e todo o resto pra Alice? — Ela pega a xícara no micro-
ondas depois de apitar e volta para o balcão da cozinha e, mistura o
chocolate junto.
— No começo eu achei que era porque ela era a única filha
verdadeira deles, mas hoje não acredito mais nisso e nunca quis
saber mais, deixei esses conflitos no passado, é melhor para minha
sanidade. — Tenho certeza de que a víbora deu seu jeito de tirar o
dinheiro de Verônica, mas se ela não se importa, quem sou eu para
ir contra. — Quando Alice apareceu grávida, meus pais não
acreditaram em tamanha irresponsabilidade, mas aí quando
descobriram que Joseph iria assumir o filho, eles não ligaram muito
para as consequências, eles se casaram logo depois, eu tinha nove
anos, achava ele um verdadeiro príncipe e me apaixonei. — Aí meu
Deus, é agora que vou saber do passado dos dois. — Eu me envolvi
com ele quando tinha 15 anos, Liza, sei que foi errado e é por isso
que Alice me odeia, mas eu o amei muito e ainda amo, nunca tive
um relacionamento sério depois disso, parece que esse amor está
grudado no meu coração e não quer se soltar de jeito nenhum. —
Vejo lágrimas se formarem nos olhos dela e lhe dou um abraço. —
Eu não deveria falar sobre isso pra ninguém, esse foi o acordo no
passado, enquanto eu sumisse da vida de Joseph, Alice guardaria o
meu segredo e me perdoaria pelo que fiz, eu me senti culpada por
magoar minha irmã, ela já tinha um filho dele e acabei com o
casamento dos dois, eles nunca foram os mesmos depois que ela
descobriu, ela se tornou mais amargurada do que nunca.
— Qual segredo vocês escondem? — Verônica toma seu
leite e agora percebo que nem bebi o meu.
— Não quero falar sobre isso, é algo que me faz se sentir
culpada e faz com que eu sofra demais. — Assinto para ela e
finalmente tomo meu chocolate.
Quando termino, subimos as escadas e ela me mostra o
quarto que eu poderei ficar, me empresta algumas roupas e depois
de tomar um banho me jogo na cama chocada com o que fiquei
sabendo. O passado das irmãs é mais conturbado do que pensei,
até agora não acredito que Verônica dormiu com Joseph sendo ele
casado com a irmã dela e, ainda estou chocada pelo cara de 27
anos ter transado com uma menina de 15 anos, tá bom que ela não
me disse com essas palavras, mas só um bobo não percebe o que
aconteceu entre os dois, será que ele a amou da mesma forma que
ela, pior, será que ele influenciou ela só pra ter o que queria, essas
respostas só ele pode dar e eu não vou lá perguntar, até porque
eles devem estar viajando nesse instante, seria bom manter Alice
bem longe de mim pra sempre, eu agradeceria.
Meu celular está lotado de mensagens e ligações do
Christopher, não foi ele que me mandou embora dizendo que não ia
me perdoar, não sei por que fica me ligando agora. Deixo o celular
de lado e me viro até pegar no sono, pelo menos conversar com
Verô me fez esquecer um pouco essa minha vida perturbada.
Capítulo 28

Acordei cedo hoje, pois não dormi muito bem, quando desço
para a cozinha, Verônica está preparando o café da manhã, e
agradeço porque estou com fome.
— Como dormiu? — Ela pega uma fornada de pão e coloca
sobre o balcão.
— Péssima. Não vai trabalhar hoje? — Passo manteiga no
pão fresquinho enquanto pego uma xícara de café.
— Eu sou a dona, posso ficar em casa um dia. — Essa
mulher é muito especial, se tivesse uma filha seria muito amada e
cuidada feito princesa.
— Obrigada por tudo, você é uma ótima amiga. — Pego a
Nutella e passo em outro pão, amo demais essa delícia.
— Sabe que te amo como uma irmã mais nova, e se quiser
ficar aqui em casa durante um ano pode ficar. — Dou risada
lembrando do que falei ontem.
— Fica tranquila, mas quem sabe algumas semanas. Você
não se sente sozinha nessa casa enorme, e ainda sendo vizinha da
Alice? — Ela se senta ao meu lado e começa a se servir.
— Ela não mora tão perto assim e tem mais, me acostumei
com a solidão, há muitos anos sou sozinha. — Isso é tão triste, sinto
por ela.
— Você é uma mulher linda, não precisa ficar sozinha. —
Como dizia uma pessoa que conheci há muito tempo, "Verô é um
mulherão da porra".
— Ser sozinha é uma opção, já te expliquei por que, mas não
quer dizer que não tenho minha cota de homens sexys e suados na
minha cama. — Quase me engasgo com o pãozinho na boca, gente
eu não consigo ser assim não, falar as coisas sem um pingo de
timidez. — Ah, para, Elizabeth, você também faz sexo e muito,
Christopher é um pedaço de mal caminho. — Começo a rir,
enquanto ela fala.
— Ele é, com certeza, aquele homem faz umas loucuras que
chego até ficar com calor. — Acho que me empolguei e o pior é que
as lembranças de ontem vem junto e mudo minha expressão
rapidinho.
— Conversa com ele, sei que vão se acertar, ele te ama feito
louco, não desisti de vocês dois, está na hora de ser feliz. — Assinto
para ela e volto a comer, assim como ela.
— Amanhã é o aniversário dele, estava planejando um dia
romântico, mas não tem mais clima para isso, o pior é que Paul faz
aniversário um mês depois, eles têm a mesma idade. —
Infelizmente.
— E quantos anos ele vai fazer? — Verônica pergunta e digo
que será 29 anos. — Oh, minha juventude, não volta mais, tenho 38
anos, estou chegando nos quarenta e, daqui a pouco vou ser uma
senhora muita chata e rabugenta. — Dou risada com essa
colocação sem cabimento.
— Para de ser dramática, não tem nada a ver, ainda pode
sair por aí pegando os novinhos fácil, fácil. — Verônica solta uma
gargalhada e se levanta para colocar a xícara na mesa e guardar as
coisas.
— Posso até acreditar, mas esse povo jovem só quer saber
de sexo selvagem e de várias posições que eu nem sabia que
existia, por isso digo que estou velha, nem parece que ando
transando por aí. — Agora sou eu quem gargalho, essa minha
amiga é completamente maluquinha. — Mas, espera aí, não me
confunda, eu não sou vadia não hein, Elizabeth?
— Eu sei que não, é só um pouco mais doida do que pensei.
— Ajudo ela a lavar a louça do café e depois subo para o quarto,
pego meu celular e ligo para Chris.
— Elizabeth, você está bem, fiquei preocupado. — Não
muito, mas vou sobreviver.
— Sim, estou bem, precisamos conversar. — Resolver
tudo isso é o que eu mais quero.
— Eu sei, vem aqui em casa. — Sua voz me parece triste e
cansada.
— Chego em 30 minutos. — E espero que dessa vez tudo
se resolva.
— Ok, te espero. Não fui trabalhar hoje mesmo, não
estava com cabeça. — Imagino, eu também não iria.
Desligo o telefone, tomo um banho e escovo os dentes, me
arrumo, peço obrigada a Verônica por ter sido uma pessoa incrível
comigo e ela diz que eu sempre poderei contar com ela. Saio da
casa dela e vou de novo para o apartamento de Christopher, logo
quando o porteiro me vê, abre o portão e entro na garagem para
depois subir ao andar.
— Que bom que chegou, pode entrar. — Passo por ele e sigo
para a sala.
— Deixe-me falar e depois você resolve o que vai fazer. —
Ele assente e, então, eu começo. — Me perdoa, eu fui infantil por
agir daquele jeito com você, não deveria ter saído daqui, mas, tenta
entender, você vai ter um filho com outra mulher, eu nunca tive nem
sequer um pedido de namoro formal, até porque uma mulher casada
não poderia ser namorada de ninguém, mas aí aparece outra que
tem mais de você do que eu poderia ter nesse momento,
simplesmente fiquei transtornada e me sentindo traída, porque você
não usou a camisinha Christopher. — Ok, acho que eu me alterei de
novo.
— Não foi planejado, Elizabeth, e se for pra te pedir algo,
será em casamento, porque você merece isso bem mais do que um
pedido de namoro romântico igual aqueles dos livros de romance ou
de filmes água com açúcar que você gosta de ler e assistir. Poxa,
Liza, eu sempre amei somente uma mulher e ela está na minha
frente agora, eu namorei com Suzane por duas semanas, isso se
você chama aquilo de namoro, nunca transei com ela a não ser no
dia que ela me encontrou bebendo no bar depois de você ter me
rejeitado, acordei no outro dia sem saber o que tinha acontecido, saí
da casa dela sem nem falar com ela, porque estava morrendo de
vergonha e ódio por ter sido tão fácil, depois conversamos e dei
uma oportunidade a ela, o resto você já sabe. — Putz, não acredito
que o filho foi gerado depois de uma noite de bebedeira, e estou
começando a suspeitar que ela planejou tudo isso, mas vou segurar
minha língua, por enquanto.
— Um dia eu vou conseguir olhar para trás e não lembrar
disso, até lá prefiro não saber da sua transa bêbada com ela. —
Christopher vem até mim e beija minha testa.
— E talvez um dia eu vou conseguir olhar para trás e saber
que você não me abandonou na primeira dificuldade, até lá assim
como você, eu quero um tempo. Eu pensei muito sobre isso,
enquanto te ligava loucamente ontem à noite e é o melhor para nós
dois no momento. — Se vocês vissem a minha cara agora, com
certeza teriam feito igual, quão burra eu fui por achar que ele me
perdoaria fácil assim.
— Chris, não faz isso. — Ele me solta e vai para a porta,
abrindo-a em seguida.
— Foi você quem fez, Elizabeth. — Ando até onde ele está e
paro para olhá-lo.
— Amanhã é seu aniversário e como não estarei ao seu lado,
feliz aniversário, Christopher. — Ele abaixa a cabeça visivelmente
chateado, mas responde.
— Obrigada. — Saio de lá e ele fecha a porta atrás de mim,
como eu me sinto agora, completamente destruída, fui a culpada por
perder um homem que realmente me amava. Começo a chorar até
chegar em casa, mas dessa vez eu dirijo com cuidado.
— Liza, como você faz isso comigo e com seu pai minha
filha, quase morri de preocupação. — Não consigo responder e as
lágrimas começam a cair novamente. — O que aconteceu, meu
amor?
— Mãe, eu o perdi, perdi o homem que eu amo. — Ela me
abraça forte e me leva para a sala. Não sei por que ela e meu pai
não estão trabalhando, mas estou quebrada demais para perguntar.
— Foi horrível, eu me sinto destruída, dói tanto mamãe.
— Oh minha filha, mas você estava tão feliz ontem — papai
diz, enquanto se senta ao meu lado.
— Mas aí a Suzane apareceu grávida e tudo foi por água
abaixo — digo em meio aos soluços, estou arrasada.
— Como assim? Christopher te traiu? Eu vou lá agora dar um
murro na cara dele, não vou aceitar outro igual Paul na sua vida, eu
deixei que você sofresse com minha imprudência de não olhar para
minha menina, mas agora isso não vai acontecer — papai fala ao
mesmo tempo em que se levanta e vai em direção a porta, mas eu
grito para ele não ir, porque não é culpa do Chris e sim minha.
Explico todos os detalhes aos meus pais e eles se acalmam.
— Minha nossa, filha, que confusão, mas você não deveria
ter agido assim, Liza, mas vai passar, meu amor, Chris só está
magoado, uma hora ele vai perceber que também fez burrada e vai
vir atrás de você. — Eu já não tenho tanta certeza disso, eu magoei
muito ele.
— Eu não acredito nisso mãe, eu o feri demais. Chris sempre
foi meu porto seguro, esteve comigo em meus piores momentos e
lutou por mim, mas aí eu corri dos problemas da vida dele tão rápido
quanto entrei, eu sou uma mulher horrível, talvez ele esteja melhor
sem mim. — Começo a chorar novamente e mamãe faz carinho em
meus cabelos.
— Não diga isso, Elizabeth, você é uma mulher incrível,
lutadora, eu te admiro muito, minha filha — meu pai diz, enquanto
mamãe apenas concorda.
— Seu pai tem razão, você é "Meu precioso". — Só mamãe
para brincar com uma frase dos filmes do senhor dos anéis nesse
momento, mas se ela queria me fazer sorrir, conseguiu. — Te amo
para todo sempre.
— Eu também amo os dois. — Ambos me abraçam bem forte
e depois peço para ficar sozinha.
Subo para o quarto e me deito de qualquer jeito na cama,
volto a chorar incansavelmente, eu fui tão burra, como eu me
arrependo, eu não sei o que fazer agora, não sei como tê-lo de
volta, eu me sinto vazia sem ele, é um sentimento que me deixa
louca e ao mesmo tempo extasiada, eu o amo com tudo que sou.
Escuto meu celular tocar e vejo que é Christopher me ligando.
— Alô, Chris, você mudou de ideia? — Espero que sim.
— Elizabeth, Spencer acabou de me ligar, o detetive
conseguiu as últimas provas que restavam, Paul será acusado
pelo assassinato de Samira, finalmente acabou, agora podemos
focar em Alice. — Sinto suas palavras firmes e distantes.
— Achei que você ia desistir de me ajudar, já que não
estamos mais juntos. — Sinceramente, achei que ele até mudaria
o número do celular.
— Nosso relacionamento não interfere na justiça, eles
precisam pagar e é isso que vou fazer. Agora preciso ir, até
mais. — Ele quer dizer fim do relacionamento não é, eu sei, eu
mereço essa frieza.
— Será que vamos poder conversar sobre isso algum
dia? — Espero que sim, porque fica difícil pensar viver sem ele.
— Talvez um dia, não sei. — Então, ele desliga sem nem ao
menos me deixar responder.
Essa é a oportunidade perfeita para Suzane dar em cima de
Chris de novo, ela pode conquistá-lo e eles viverem felizes com o
bebê e, tudo por minha culpa. Volto a chorar deitada em minha
cama, porque de hoje em diante minha vida vai se resumir a isso,
CULPA. Não quero saber se ainda é de manhã, vou dormir o resto
do dia para esquecer toda essa merda.
Capítulo 29

Quatro meses depois...


Quatro meses, exatamente dezesseis semanas, cento e vinte
dias e, duas mil oitocentas e oitenta horas sem Christopher, minha
vida literalmente virou um poço sem fim de sofrimento.
Esses dias fui a uma das casas de acolhimento de Verônica,
crianças maltratadas pelos pais estavam hospedadas nela, claro
que existem inúmeras outras, mas ninguém como Verô cuida melhor
dessas crianças, estão sendo bem alimentadas, recebendo
cuidados psicológicos, uma cama quentinha para dormir até serem
adotadas por famílias que passam por uma avaliação constante,
claro que ela tem uma parceria com o governo, senão seria
praticamente um sequestro abrigar tantas crianças em uma casa,
mas me emocionei com cada um, passei o dia conversando com os
baby e me apaixonei por todos eles, mas quando eu chego em casa
a dor volta com tudo e ameaça rasgar meu peito de dentro pra fora.
Christopher não atende nenhuma das minhas ligações e
quando vou até seu apartamento, ele nunca está em casa ou manda
seu porteiro dizer isso, é bem mais provável. Esses dias escutei
atrás da porta meus pais conversando, meu pai dizia a minha mãe
que Chris está muito feliz com a chegada do bebê, ainda mais agora
que só faltam algumas semanas, está tão radiante que comprou
várias coisas para ele e até mesmo fez um quarto em seu
apartamento, e sim, é um menino, descobri isso também escutando
conversas, meus pais evitam ao máximo falar de Christopher perto
de mim, até parece que ele não existe, mas toda vez que escuto
algo dele e da Suzane meu coração se despedaça, eles vão às
consultas juntos, saem juntos até demais e ainda por cima vivem
grudados agora, e como eu sei disso, exatamente o que você está
pensando, às vezes, eu sigo eles, estou virando uma Stalker maluca
e desesperada, nunca encontro ele sozinho para conversarmos,
sempre acompanhado dela, aí que ódio e pensar que é tudo culpa
minha, fui tão trouxa, ele deve me odiar.
Realmente a sentença do Paul foi aumentada, agora ele foi
sentenciado a trinta anos de prisão e sem direito a liberdade
condicional, ele terá que cumprir a pena toda na penitenciária, eu
fiquei meio triste por ele e até mesmo por Alice, já que ela é mãe
apesar de tudo, mas não demorou muito quando lembrei de tudo
que eles me fizeram.
— Filha, você pode descer, eu e sua mãe precisamos
conversar com você — meu pai diz ao bater na porta.
— Sim, papai, já vou descer. — Escuto passos se afastarem
e saio do quarto, desço as escadas, procuro por eles na sala, mas
quando não os vejo, vou até a cozinha. — Podem falar. — Me sento
na cadeira de frente para eles.
— Eu queria saber o que você anda fazendo? Quando está
em casa fica no quarto chorando e não está comendo direito, mas aí
fica saindo sempre na parte da manhã e da noite, mas não nos
avisa aonde vai. Eu e seu pai estamos preocupados, está
aprontando o que Elizabeth? — mamãe me chamar pelo nome todo
quer dizer que tenho um problema dos grandes.
— Eu saio para espairecer. — Não sei se deveria contar que
dou uma de perseguidora maluca, talvez eu esteja virando o Paul,
graças a Deus ele parou com a ideia fixa de querer me ver e mal
tenho contato com Joseph, e não sei dos passos de Alice e isso é
um tanto perigoso, é como se tivessem sumido do mapa, tudo que
sei é o que Verônica me conta.
— Espairecer, sempre no mesmo horário, é algum tipo de
calendário de atividades. — Nossa, minha mãe parece um detetive,
caramba.
— Mãe, por favor, só não insistam, vocês não iriam gostar de
saber da verdade. — Meu pai passa a frente da minha mãe quando
ela ameaça falar alguma coisa.
— Se estamos perguntando, Elizabeth, é porque queremos
saber, anda menina, desembucha, porque não sou quadro para ficar
aqui parado enfeitando a cozinha. — Dou uma pequena risada
contida pelas palavras do meu pai, mas ele não está com uma cara
de felicidade.
— Mãe, pai, é complicado, vamos dizer assim que foi a única
forma de ficar perto de Christopher sem ele saber, mas mesmo
quando eu tento me aproximar, ele não está disponível ou sequer
me recebe. — É uma forma resumida dos meus dias mais loucos,
estou virando uma descontrolada.
— Filha, não procure se machucar novamente, Christopher
não fala com você há quatro meses, nem parece que se amaram
algum dia. — Realmente eu me senti apagada da vida dele muito
rápido.
— Mas, mãe, meu coração não sabe, eu não consigo deixar
de amá-lo, é mais forte do que eu, desculpa. — Começo a chorar na
frente deles e eles vem me abraçar.
— Nós te amamos querida, se não for o Chris, existem outros
que irão amá-la. — Pais sempre nos defendem mesmo quando
estamos errados, se estou nessa situação é somente culpa minha,
eu pisei no nosso amor em meio ao desespero.
— Obrigada, eu também amo os dois, mas hoje é sábado e
vocês deveriam sair para se divertir, o que acham? Um cineminha,
um jantar, um parque de diversões, ou até mesmo um motel, vocês
decidem. — Meus pais riem de minha colocação, se eu não posso
ser feliz, não quero que eles tenham o mesmo destino por sofrerem
comigo.
— Nós iremos ficar com nossa princesinha. — Mas nem
pensar, o dia mal começou, está lindo lá fora, não estou morta
fisicamente, então, posso me virar sozinha.
— Claro que não, vocês merecem por serem pais de arrasar.
— Falar em pais me faz lembrar que não sou filha biológica deles,
depois de toda essa bagunça, ainda não fui atrás dos meus e pior
que nem estou querendo, não tenho essa vontade, os dois estão
ótimos para mim.
— Promete que vai ligar se precisar de algo. — Assinto e
subo de volta para o meu quarto.
Quer saber, vou sair também, decido ir para a casa de
Verônica, mando uma mensagem para ela, só que ela não me
responde, então, tomo um banho e me arrumo com uma calça jeans
e uma blusa preta, desço e aviso aos meus pais que irei na minha
amiga. Saio de casa e vou até a garagem, pego o carro da minha
mãe, porque o que eu tinha na casa de Paul também foi apreendido,
devolveram o dinheiro à empresa depois de muitos processos e
investigações, graças a Deus, Joseph já voltou a trabalhar na
empresa que ama e agora os buchicho sobre seu filho amenizaram.
Clary e Brian, estão mais apaixonados do que nunca, fiz
umas duas visitas a eles durante esses quatro meses, até porque
como moram em outra cidade, não posso ir sempre e ficar
incomodando o casal.
Chego na casa de Verônica algum tempo depois e aperto a
campainha umas mil vezes e ninguém atende, giro a maçaneta da
porta e como a encontro aberta, entro sem pensar duas vezes, mas
quando chego na sala o que eu vejo me deixa sem palavras, lá está
minha amiga transando com Joseph no chão da sala e em cima do
tapete.
— Aí meu Deus. — Tampo meus olhos imediatamente depois
do susto e me viro para a porta.
— Liza, você não avisou que vinha. — Escuto passos
apressados e barulho de roupas, e penso que estão se vestindo.
— Eu avisei sim, mandei mensagem e quando cheguei aqui,
apertei a campainha umas mil vezes. — Joseph ainda não se
pronunciou e acho que está envergonhado. — Estou me sentindo
culpada por interromper, eu posso voltar outro dia. — Quando estou
indo em direção a porta, Verônica me grita.
— Espera, pode ficar tranquila, Joseph já está de saída. —
Sério, eu sou uma tremenda empata foda. — Pode se virar agora.
— Quando me viro os dois já estão vestidos e meu ex-sogro está
vermelho de tão envergonhado.
— Liza, eu sinto muito, juro que nada foi planejado, só
aconteceu. — Oh coitado ainda tenta se explicar, mas eu não tenho
nada com isso, apesar da vadia merecer.
— Eu não vou julgar, meu histórico não me permite tal coisa.
— Sento-me e olho para Verônica, ao mesmo tempo que olho para
Joseph e para o sofá, será que eles transaram aqui também.
— Pode ficar tranquila, não aconteceu nada aí. — Respiro
aliviada e ela gargalha.
— Preciso ir agora, Liza, nos vemos por aí Verônica. —
Joseph sai feito um foguete e só escuto a porta bater.
— Uau, nunca pensei que isso pudesse acontecer, não agora
pelo menos, mas com certeza um dia. — Dou uma risada
caprichada e minha amiga vem se sentar ao meu lado.
— Ele entrou com o processo de divórcio e veio me contar,
disse que ainda me ama. Quando escutei ele me dizer aquelas
palavras foi mais forte do que eu, pulei em cima dele e o resto você
já sabe, mas, está me devendo uma, eu estava no terceiro round e
você atrapalhou. — Caramba, terceiro, me parece que Joseph
mesmo coroa ainda faz um caldo.
— Informação demais, Verô. Mas conta como andam as
coisas?
— Estão ótimas, no meu trabalho anda tudo indo bem e você
querida, parou de perseguir Christopher, às vezes, fico pensando se
não é melhor eu ligar para polícia e denunciar que tem uma louca
apaixonada perseguindo o ex. — Essa Verônica sempre fazendo
piadinhas, a mulher é incrível, às vezes, é séria, mas quando pega
para fazer brincadeiras nos divertimos muito.
— É sério Verônica, eu não sou tão louca assim — falo isso
com ela me dando aquela olhada debochada. — E eu diminui um
pouco a perseguição, eu juro.
— Vou fingir que acredito. — Quando contei para a Verônica,
ela não acreditou no que eu estava fazendo, mas também não me
deu sermão, apenas conselhos de que esse não era o melhor jeito
para conseguir tê-lo de volta. — Tenho certeza de que ele não anda
por aí transando com ninguém e muito menos com aquela sem sal
da Suzane, ele só está perto do filho dele, mas que infelizmente
está ainda na barriga dela.
— Eu não sei se acredito Verônica, é muito tempo sem sexo.
— Nunca vi um homem aguentar tanto sem os prazeres da carne.
— Se ele te ama como sempre afirmou, sim, é possível
querida. Agora que tal irmos comer alguma coisa, espera eu pegar
minha bolsa. — Assinto para ela, mas logo ouvimos a campainha
tocar e ela vai atender.
— Alice, o que está fazendo aqui? — O quê? Alice está aqui?
— Sua vagabunda. — Não demora muito para ver Verônica
jogada no chão com Alice em cima dela. — Eu sabia que ele estava
me traindo com você, uma vez vadia, sempre vadia, você não vai
roubá-lo de mim, Joseph é meu. — Quando Alice bate na cara dela,
corro até as duas e puxo Alice pelo cabelo a arrastando para longe
de Verô.
— Sua louca, larga ela, você que nunca mereceu o marido
que tinha, ele merece uma mulher ao lado dele e não uma cobra. —
Ela vem para cima de mim e me acerta um tapa na cara, mas eu o
devolvo na mesma medida.
— Você é outra vagabunda que traía o marido, mas essa aqui
é a vagabunda que se faz de amante. — Ela aponta para a
Verônica, mas eu bato em sua mão.
— Sai daqui Alice, você não tem nada o que nos julgar, você
também não é santa. — Mal vejo a hora que Verônica se levantou e
dá um murro na irmã que cai no chão. — Eu o amo e vou lutar por
ele, você não o merece, sua vaca insensível. Você também já o
traiu, pensa que não vi você transando com o motorista dentro do
carro quando eu tinha 12 anos, nunca deu valor ao homem que
tinha. — Eu estou pasma com essa declaração, mas também nem
sei por que, é bem a cara dela fazer isso mesmo.
— E ele me valorizou como, transando com a vadia da minha
irmã que nem mesmo tem o meu sangue — Alice despeja as
palavras com ódio e repulsa, mas se levanta do chão.
— Vai embora e nunca mais apareça na minha casa, você
não é bem-vinda na minha vida e de hoje em diante o único fio de
esperança que eu tinha de você mudar, morreu. — Alice vai para a
porta, mas antes se volta para nós.
— A maçã podre nunca cai longe da árvore. — E sai batendo
a porta com tudo, mas o que ela queria dizer com isso, não entendi
nada.
— O que ela quis dizer com isso Verônica?
— Não sei, Liza, minha irmã é doente, ela precisa muito de
ajuda profissional. — Ela vai para a cozinha e pega uma bolsa de
gelo colocando na cabeça — Quando ela me derrubou no chão,
acabei batendo a cabeça. — Acabo me juntando a ela e ponho um
no meu rosto, a vadia bate forte.
— Que dia tivemos hoje. — Começo a gargalhar do nada,
acho que sou louca, mas minha amiga me acompanha.
— Você se importa de vir outro dia, estou precisando pensar
um pouco. — Digo que não e vou em direção a sala pegar a bolsa.
— Droga! — Viro para a Verônica com cara de interrogação. — Eu
não usei camisinha nenhuma vez, eu sou tão desligada.
— Você não se previne? — Ela diz que não porque nunca
transa sem camisinha.
— Eu sei que isso não é garantia de nada, mesmo assim nunca
tive problemas com isso. — Não até aparecer um filho surpresa.
— Então, corre para a farmácia e compra uma pílula, não
vamos querer um filho no meio dessa confusão. — Ela diz que irá
comprar amanhã cedo, mas eu aconselho a não esquecer, a
eficácia só dura vinte quatro horas mesmo na caixa dizendo que
temos que tomar nas primeiras 72 horas e como, às vezes, eu sou
paranoica, prefiro ir logo. — Até mais e não se esqueça.
— Até mais e me desculpa, acabou apanhando no meu lugar.
— Amiga é para essas coisas. — Saio da casa dela e volto
para a minha, mas uma tarde e fim de noite na frente da TV, ou
então, eu posso seguir Chris como sempre eu faço, fico na frente do
apartamento dele até ver ele sair, isso quando na verdade, ele não
está chegando com a Suzane de algum lugar, e é isso que vou
fazer, tenho bastante tempo mesmo.
Capítulo 30

Não sei por que eu ainda fico fazendo isso. Acabei de voltar
da casa de Christopher, onde vi ele mais uma vez entrando com a
Suzane, aí que ódio, eu sou tão trouxa, de hoje em diante eu
desisto, vou seguir minha vida sem me preocupar com o Chris, eu já
fiz de tudo para tê-lo de volta, mas ele não quer.
Chego em casa, estaciono o carro na garagem de qualquer
jeito e entro, mas quando estou subindo as escadas alguém me
chama.
— Elizabeth, vem aqui, eu e seu pai precisamos conversar
com você. — Ah, não, estou sem cabeça para isso.
— Hoje não mãe, vou dormir, amanhã conversamos. — Vou
subindo as escadas quando escuto ela falar.
— Está cedo ainda menina. — Continuo andando até chegar
em um quarto, meus olhos estão embaçados por causa do choro e
vou logo tirando minha roupa para em seguida ficar nua, me jogo na
cama e fico lá pensativa.
— Uau, se eu soubesse que ganharia uma mulher nua na
minha cama, teria visitado a tia Suzan há muito tempo. — Me
levanto da cama desesperada e olho para um homem que acabou
de sair do banheiro apenas com uma toalha na cintura.
— Meu Deus, quem é você, como entrou aqui. SOCORRO,
ALGUÉM ME AJUDA. — De repente o homem pula sobre a cama
para perto de mim e tampa minha boca com a mão. Tento me soltar,
mas ele é mais forte do que eu.
— Sua louca, eu sou sobrinho da tia Suzan, não sou nenhum
pervertido estuprador, e quem é você? — Quem sou eu, sério, o
cara está na minha casa. — Vou tirar a mão da sua boca, me
promete que vai ficar quietinha? — Balanço a cabeça concordando,
então, ele retira a mão.
— Meu nome é Elizabeth, e a sua tia Suzan é minha mãe. —
Ele me olha espantado e depois vejo seus olhos percorrer meu
corpo e, é quando percebo que ainda estou nua, corro para a cama
e pego o lençol me cobrindo. — Seu pervertido, olha para lá.
— Tia Suzan tinha falado para minha mãe que você era
casada. — Será que ninguém assisti os jornais?
— Eu fui casada e tem alguns meses que me separei, passou
na TV. — Ele vai até sua mala e tira de lá uma roupa.
— Não, eu estava no Brasil por um ano e não vi notícia
alguma e, em relação minha mãe, ela não me contou sobre isso, me
desculpa se te assustei. — Ainda não confio nesse cara, ele tem
aparência de uns 35 anos, tem cabelos curtos e lisos que agora
estão penteados para trás porque está molhado, tem olhos azuis e é
loiro, putz, o cara é um gato e estou nua na frente dele com as
roupas jogadas no chão. — Vai ficar aí me olhando, gostou do que
viu gata. — Reviro os olhos por essa afirmativa presunçosa e pego
minhas roupas no chão indo para a porta, não acredito que entrei no
quarto de hóspedes, mas sou parada por uma mão que prensa meu
corpo na parede.
— Será que dá para você me soltar garoto? — Olho bem no
fundo dos seus olhos e posso ver o oceano em forma de duas
bolinhas charmosas.
— Você é gostosa, que tal brincarmos um pouco e eu não
sou nenhum garoto, tenho trinta anos. Quantos anos você tem,
Elizabeth? — E essa última parte ele fala no meu ouvido e posso
sentir meu corpo ganhar vida, parece que a abstinência está dando
o ar da graça.
— Eu nunca dormiria com você nem que fosse o último
homem da terra. — Saio do seu aperto e abro a porta para sair.
— Eu gosto de fazer as pessoas engolirem suas próprias
palavras. — Arrogante, cafajeste, cretino, mas muito gostoso, isso
não posso negar.
— Liza, o que você está fazendo nua no quarto de Clark?
Não vai me dizer que vocês transaram, minha filha, eu sei que você
está sem faz tempo, mas, por favor, se controle. — Olho para minha
mãe incrédula, quem ela acha que sou.
— Mamãe, eu não sou vadia, eu amo o Christopher, isso aqui
foi apenas um mal entendido. — Ela me olha estranha, mas assente
e vai para o seu quarto, quando olho para trás, Clark está na porta
rindo da situação. Babaca! — Não ri não, pode se voltar contra
você.
— E eu vou amar esse resultado, Elizabeth. — Então, ele
fecha a porta e vou atrás da minha mãe.
— Mãe, quem é esse homem? — Entro no seu quarto e vejo
que está colocando um batom na bolsa.
— Ele é filho de uma amiga minha que tive na faculdade e vai
passar uns dias aqui na nossa casa, seu nome é Clark Lincoln e a
mãe dele se chama Mendi Lincoln. — Mas isso não tem lógica
nenhuma.
— Eu nunca soube dessa sua amiga, muito menos que tinha
um marmanjo que te chamava de tia, e por que ele tem que ficar
aqui, não tem hotel não? — Ninguém merece receber visitas
inconvenientes.
— Realmente eu não falo de todos que conheci durante a
vida, querida e, Clark veio para cá apenas para me visitar, então,
sua mãe me ligou e me pediu que ele ficasse aqui, é melhor do que
um hotel. — Eu não acho, ele poderia muito bem ficar em um hotel.
— É só alguns dias, meu amor, ele trabalha de detetive particular,
então, viaja muito e quis apenas ficar aqui um tempo antes de ver a
mãe dele.
— Tudo bem, a senhora e o papai, ainda vão sair?
— Sim, Clark chegou e tivemos que esperar você voltar para
ficar com ele. Seja simpática, meu amor, iremos ficar fora a noite
toda, então, se cuidem e, por favor, minha filha, põe uma roupa. —
Ela beijou minha testa e saiu do quarto, fui para o meu e dessa vez
era o certo, tomei um banho e desisti de dormir optando por assistir
um filme na sala.
Fiz uma pipoca no micro-ondas, arrumei um suco para beber
e me sentei no sofá ligando a TV, coloquei na Netflix e escolhi o
filme.
— Até que enfim um filme, estava um tédio lá em cima, mas
sua mãe me disse que você ia cuidar de mim, então, passa a pipoca
para cá. — O inconveniente tira o pote de pipoca da minha mão e
começa a comer como se só tivesse ele.
— Ei, larga de ser folgado e faz sua própria pipoca. — Tiro
dele e trago para perto de mim novamente.
— Você é muito chata garota, nada hospitaleira ou gentil, a
titia Suzan não é assim não. — Como ele é otário, lanço meu olha
de "não estou nem aí pra sua opinião" e ele vira para a frente. —
Por que acabou o casamento? — Literalmente ele traz o pior de
mim, não é possível.
— Coloca no Google, talvez você ache. — Tento levantar-me
do sofá porque já estou impaciente, mas ele me puxa para seu colo.
— Me solta.
— Desde que eu te vi hoje, eu penso em fazer isso. — Meus
lábios são atacados por um beijo urgente e sedento. Ele passa suas
mãos pelo meu corpo e, quando chega na minha bunda, me levanta
para que eu coloque as pernas uma de cada lado do seu quadril e
assim eu faço. — Você é tão linda e gostosa, Elizabeth. — Ele
continua a me beijar e eu não o paro, quando ele se afasta para tirar
sua camiseta, vejo seu tanquinho malhado e passo a mão pelo seu
peito, barriga e ombros, pego em seu cabelo e puxo para mais perto
de mim, continuando a beijá-lo. Logo Clark começa a desabotoar
minha blusa, botão por botão, quando ele a tira, não estou usando
sutiã e, então, ele beija cada um dos meus seios e os leva a boca.
— Elizabeth... — ele chama meu nome e nesse momento eu paro
tudo que estou fazendo, saio do seu colo porque me lembrei de
quando Chris gritava meu nome na hora do sexo e fico desnorteada.
— Eu não posso fazer isso, é muito errado, eu... — Antes que
eu termine a frase, pego minha blusa no sofá e subo correndo as
escadas com Clark me gritando, que merda que eu ia fazer, pareço
uma vagabunda no cio.
Entro dentro do quarto e tranco a porta, tiro o resto da minha
roupa e me deito nua, ultimamente dormir pelada me traz paz e me
sinto liberta.
Quase ia transar com Clark no sofá dos meus pais e, ainda
por cima com um homem que conheço há apenas algumas horas,
eu me sinto péssima, mas não sei porque deveria, Chris está lá com
Suzane para cima e para baixo, duvido que não tenha transado com
ela há muito tempo e a boba aqui se sentindo mal por ter me
proporcionado uns minutos de prazer, que ódio, se eu não tivesse
feito merda, eu estaria agora com ele, meu amor, o homem que
sempre irei amar, sinto que eu o traí e isso está me corroendo.
Com que cara eu vou olhar para meus pais amanhã e para
Clark, preciso abrir um buraco no chão e me enfiar nele, porque eu
estou literalmente sem noção.
Me enrolo em meus cobertores e fecho os olhos, melhor
dormir para esquecer ou pelo menos fingir que esqueci.
Capítulo 31

Já faz uns dois meses que Sophia não trabalha mais aqui em
casa, meus pais conseguiram ajudar ela a se aposentar mais cedo,
já que ainda faltavam alguns anos. Visitei ela apenas uma vez, mas
sempre ligo para saber como ela está, não me esqueci da minha
promessa de levá-la para morar comigo e em algum momento da
minha vida isso vai acontecer.
Acordei, tomei meu banho e me arrumei, agora estou aqui
criando coragem para sair do quarto depois do que aconteceu
ontem, hoje é domingo e não tenho nada para fazer fora de casa.
Preciso encarar a situação e largar de ser covarde, levanto-me da
cama e abro a porta.
— Até que enfim, achei que ia ter que montar acampamento
aqui na porta do seu quarto. — Levo um susto grande ao ver Clark e
acabo dando um murro nele por reflexo. — Aí, caramba, isso doeu,
por que me bateu?
— Sei lá, foi reflexo, não deveria ficar espreitando a vida das
pessoas desse jeito. — Olho feio para ele e ele me dá um sorriso.
— Você fica linda brava e mais ainda quando tenta fugir de
mim pelo quase sexo de ontem à noite. — Tampo a boca dele
rapidamente e olho em volta para ver se ninguém escutou.
— Nunca mais repita isso, foi apenas uma recaída, não vai se
repetir. — Ele tira minha mão da sua boca e começa a falar.
— Eu sei disso pela forma que você fugiu ontem, parecia o
Jerry fugindo do Tom, fiquei assustado quando você deu um pulo e
saiu correndo pela escada, você deveria praticar corrida como
esporte, vai ganhar uma medalha de ouro. — Acabo rindo das suas
brincadeiras descabidas. — Que tal sermos amigos e a senhorita
sair comigo hoje para jantar, não aceito não como resposta.
— Amigos, sério? Talvez seja uma boa ideia sair de casa,
tudo bem, vamos sim. — Eu estou precisando mesmo de alguém
para conversar e depois do que aconteceu ontem, Verônica precisa
de um tempo para ela.
— Me fala onde tem um restaurante bom aqui, porque até
agora não saí de casa e não conheço nada. — Digo para ele que
tem um restaurante muito bom no centro e que é um pouco chique
demais, ele me diz se estou chamando-o de pobre que não pode
pagar nem um jantar para uma mulher linda e eu apenas peço
desculpas pela minha atitude. — A senhorita passou a manhã e
metade da tarde fugindo de mim, então, vamos sair para caminhar,
espairecer um pouco, tem algum lugar legal aqui? — Digo que tem
uma cafeteria perto daqui e não acredito ainda que ele ficou tudo
isso de tempo do lado de fora do meu quarto me esperando. —
Perfeito, vamos agora. — Ele pega na minha mão e me puxa para o
andar debaixo.
— Mãe, pai, vou sair com Clark, iremos em uma cafeteria —
grito já na porta e meus pais não respondem, não sei onde eles
estão, mas agora não tenho tempo de procurar. Saímos de casa
apressados e fomos andando até o lugar.
— Me conta um pouco sobre você, Elizabeth, se a sua vida
está nos jornais deve ser interessante. — Dou risada ironicamente e
ele dá a maior gargalhada. — Desculpa, só para descontrair, eu
poderia pesquisar no Google, mas amo ouvir histórias da fonte,
sabe como é, detetive é ótimo em procurar provas.
— Minha vida é um mar de sofrimento, me casei nova
demais, meu marido se tornou um crápula abusivo, perdi meu filho
quando ele nasceu e conheci o amor da minha vida um pouco antes
de me libertar, mas por ironia do destino, eu perdi ele mais rápido do
que tive. — Chegamos na cafeteria e ele abre a porta para que eu
entre, nos sentamos em uma mesa longe da porta e pedimos dois
cafés, Clark ficou com um capuccino e eu fiquei com um café com
doce de leite.
— Quantas complicações, você é apaixonada por esse cara
que conheceu depois do seu marido? — Assinto com a cabeça e
conto um pouco sobre meu relacionamento com Christopher. —
Uau, ele era o melhor amigo do seu marido, então, a situação é
mais grave, o importante agora é que você está livre, Liza, se me
permite chamá-la assim.
— Livre? Depende do seu ponto de vista, fiquei durante
meses correndo atrás de um homem que não quis saber de mim e
ainda por cima virei uma maluca perseguidora. — Ele me olha
pasmo pela minha declaração e diz que as pessoas reagem de
maneiras diferentes ao término de um relacionamento, mas no meu
caso eu fiquei maluca, por isso parei com tudo. — Eu só queria... sei
lá, eu já nem sei mais o que eu quero.
— O seu problema é que você nunca parou para pensar em
si própria, viveu em função do seu marido e agora está vivendo em
função desse cara, você tem que andar com as suas próprias
pernas, Elizabeth, não deixe ninguém e nenhuma circunstância
tomar as decisões por você. — Poxa, ele está certo, eu sei disso,
mas isso não muda o fato de não saber o que fazer. — Olha, posso
te fazer uma proposta. — Digo que sim e ele continua. — Vem
comigo para o Brasil, eu ia visitar minha mãe em Seattle durante
uns dias depois de visitar a tia Suzan e voltar para lá, tenho certeza
de que a tia não vai se importar.
— Mas eu nem te conheço direito, como sei que não é um
assassino em série disfarçado de bom moço. — Eu não acredito
que possa estar cogitando ir embora do país, é loucura, ou será que
não, preciso pensar por um tempo.
— Sua mãe e a minha podem comprovar que não sou
assassino, nem estuprador ou sequestrador. Você pode estudar,
Liza, as faculdades do Brasil não são tão ruins assim e ainda você
pode ficar longe de toda essa confusão que é sua vida. — É,
poderia ser uma boa.
— Preciso pensar e conversar com meus pais, te dou a
resposta amanhã. Vai ficar quantos dias em casa? — Ele diz que
ficará apenas até amanhã e dou graças a Deus pelo meu
passaporte estar em dia. — Ok, então, amanhã converso com você
sobre isso de novo, caso eu vá, como eu irei permanecer no país?
— Você vai como visitante e depois que chegarmos lá
resolvemos o seu visto, você indo para estudar será mais fácil
adquirir visto de estudante e depois que fixar residência no Brasil,
você poderá ter o visto permanente caso queira trabalhar e morar
lá. Eu já tenho o meu, já que podemos ter dupla cidadania. — Acho
que essa seria uma boa, pelo jeito parece que já tomei minha
decisão. A garçonete voltou com nosso café e ficamos um tempo
conversando sobre outras coisas.
— Como vou aprender o português? — Ele diz que irá me
ensinar e que é um pouco complicado, mas não impossível e que
também poderei fazer curso.
— Está me parecendo que já tomou uma decisão, Liza. — Eu
digo que pode ser uma loucura, mas sim, eu vou me mudar para o
Brasil, preciso desse tempo para me redescobrir. — Fico feliz por
isso, ficará na minha casa de início e resolveremos depois tudo que
possa vir a acontecer. — Assinto para ele e depois vamos embora
após pagar a conta.
— Vamos caminhar até a hora do jantar, voltamos a tempo
para se arrumar.
— Claro. Essa cidade é muito linda, não tive oportunidade de
conhecê-la, amo tia Suzan, mas infelizmente não somos tão
próximos, na época em que conheceu minha mãe ela já estava com
seu pai, ele é um homem admirável, nossas mães não faziam o
mesmo curso na faculdade, se conheceram em uma festa e depois
disso criaram uma amizade forte, se distanciaram com o tempo,
mas nunca esqueceram uma da outra, sua mãe visitava a minha
mais vezes quando você era criança, não sei como você não
conhece a amizade das duas. — Pior que não conheço, mamãe não
é de falar muito da sua vida, vai entender.
— Minha mãe é uma caixinha de surpresas, depois que me
relacionei com meu ex-marido foi mais fácil ficar longe, não é de se
admirar que não conheça Mendi e se você diz que ela a visitava
somente quando eu era criança, aí mesmo que ficou mais fácil não
saber de nada, não lembro muito bem da minha infância. — Clark
diz que ambas conversam muito pelo celular, mas faz anos que não
se encontram.
— Você vai vir para a casa da minha mãe comigo, vou ficar lá
somente uns três dias e depois vamos para o Brasil. — Concordo e
depois de um tempo andando pelo parque de Sweet Dreams
voltamos para a casa. — Te vejo daqui uma hora, Liza, até já. — Ele
entra em seu quarto e eu no meu.
Espero que não esteja me enganando com Clark. Enquanto
estou em meus pensamentos desvairados, mamãe entra no meu
quarto e pergunta como foi o passeio, digo que foi bom e falo da
proposta de Clark, ela diz que respeitará a minha escolha e que
talvez seja uma ótima oportunidade para a felicidade.
— Então eu irei mamãe, será que pode conversar com o
papai, amanhã mesmo irei com Clark para casa da sua amiga em
Seattle e depois iremos para o Brasil.
— Claro, meu amor, eu converso com seu pai, agora se
divirta no jantar e seja feliz, pensa em você apenas uma vez na
vida, Elizabeth. — Ela me abraça e saí do quarto me deixando
sozinha.
Não tenho ninguém para avisar da minha decisão, somente
Verônica, amanhã irei eu mesma na casa dela conversar com ela.
Tomo um banho demorado e visto um vestido lilás que marca
minhas curvas com fenda nas duas pernas, coloco um salto preto e
saio com minha bolsa em direção ao andar debaixo.
— Uau, você está maravilhosa. — Clark vem até mim e beija
meu rosto.
— Ah, querida, você está linda, parece com sua mãe quando
jovem. — Papai me abraça. — Sua mãe me contou sobre sua
decisão e só quero dizer que eu aprovo se te fizer feliz, você merece
mais do que as migalhas que alguém possa te dar, você merece o
mundo. — Os pais sempre nos querem dar mais do que
merecemos, talvez um dia eu saiba como é ter um instinto de mãe.
— Amo vocês, serei melhor a cada dia e, mostrarei que
posso ser forte e independente. — Clark e eu saímos de casa,
acabamos tendo que usar o carro da minha mãe de novo, porque
Clark não está com o dele aqui e eu não tenho o meu. Deixo que ele
dirija e vou guiando o caminho.
— Está mais feliz com sua decisão? — Clark pergunta.
— Nunca pensei que poderia tomar essa decisão tão rápido
na minha vida, mas chega de planejar sempre o que fazer, agora é
hora de seguir em frente, amanhã irei na casa de uma amiga minha,
ela se tornou uma irmã pra mim e não posso ir sem conversar com
ela. — Assim como Sophia, Clary e Brian, irei ligar para eles e
avisar da minha mudança, sentirei saudades de todos, mas irei levar
cada um em meu coração.
— Você pode voltar um dia, Liza, não precisa ficar lá para
sempre. — Talvez eu não queira voltar. Chegamos no restaurante e
fomos entrando logo depois de sermos recepcionados pelo garçom.
— O que irão querer? — Pegamos o menu e escolhemos um
peixe para o jantar junto com um Cosmopolitan (drink que
harmoniza com peixes e comidas leves, é feito com Vodka, suco de
cranberry e limão com licor de laranja).
— Só não vamos exagerar, se você voltar bêbada para a
casa, sua mãe me mata. — Dou uma risada um pouco alta demais e
acabo chamando atenção das pessoas em volta, olho para elas
envergonhada e quando me viro vejo quem menos esperava, passei
tanto tempo correndo atrás de Christopher e agora ele na minha
frente acompanhado de Suzane não me faz se sentir melhor. Mudo
minha expressão e Clark percebe. — Liza, aconteceu alguma coisa?
— Ele está aqui, cinco mesas atrás da nossa, perto da janela,
ele a trouxe. — Clark se vira e vê Chris olhando para nós com cara
de poucos amigos.
— Você quer ir embora, podemos ir em outro lugar. — Digo
para ele que tenho que enfrentar meus próprios demônios e essa é
uma oportunidade. — Você está certa, só relaxa e aproveita a noite.
O garçom traz nossos pratos e os drinks, acabo bebendo
rápido demais e Clark me repreende dizendo que não terei mais
nenhum desses, comemos em um silêncio contido e conversamos
em alguns momentos. Me levanto da mesa dizendo que irei ao
banheiro.
Christopher não tirou os olhos de mim a noite toda e Suzane
não gostou nenhum pouco de ser ignorada, tento conter meu
coração que acelera toda vez que o vejo, mas não fiquei nenhum
pouco confortável com essa situação.
Faço minhas necessidades e lavo as mãos para sair do
banheiro, quando abro a porta sinto uma mão me puxa para dentro
novamente.
— Christopher, você está maluco, me solta. — Ele está
possesso de raiva e posso me divertir com suas expressões.
— Quem é ele? — Eu mereço, ele não tem direito algum de
perguntar isso para mim.
— Não interessa, agora me solta. — Ele solta meu braço e
passa as mãos no cabelo.
— Você está com ele? Namora com esse cara, Elizabeth? —
Só pode ser brincadeira essa ceninha de ciúmes.
— Você não tem nada a ver mais com a minha vida, eu corri
atrás de você feito idiota durante três meses e passei o último te
seguindo por aí feito uma louca psicopata, eu cansei de esperar o
tempo que você irá me perdoar, eu me arrependi no dia seguinte e
você me deixou por quatro meses. — Sinto lágrimas escorrerem
pelos meus olhos e acho que ele não percebeu quando disse que
vigiava ele.
— Liza, eu ia te procurar, mas é que eu... — Interrompo-o,
não o deixando terminar, eu não quero mais desculpas.
— Não quero ouvir, já chega de me rastejar por homem, eu
pulei de Paul para você e agora que percebi isso, não quero mais
viver assim, com inseguranças sem saber o que eu quero da minha
vida. Passar bem, Christopher. — Quando vou saindo do banheiro,
ele me pega pela cintura e me puxa para perto dele, fecha a porta
em seguida e me beija do nada, mal tenho outra reação se não for
corresponder essa saudade que tenho há muito tempo.
Começo a abrir sua calça e descer sua cueca até o joelho.
Chris me põe sentada na pia do banheiro e rasga minha calcinha,
levanta meu vestido e entra em mim sem nenhuma cerimônia.
— Porra, amor, você é muito gostosa, eu senti saudades
disso. — Não respondo e continuo a beijá-lo, Chris faz o movimento
de vai e vem com força e rapidez, não demora muito para eu ter um
orgasmo e ele me acompanha. — Precisamos conversar em um
lugar que não seja um banheiro. — Desço da pia e me limpo assim
como ele que se veste em seguida. Vejo-o pegar minha calcinha do
chão e guardar no bolso.
— Isso é meu e não temos mais o que conversar, já está tudo
acertado, Christopher, agora me dê licença.
— Liza, espera, quando você descobriu que era adotada
enviei um e-mail ao meu detetive e pedi que procurasse seus pais.
— Como é, eu não pedi isso a ele.
— Nunca te pedi isso. — Ele diz que não, mas queria estar
preparado caso eu mudasse de ideia.
— Ele encontrou seus pais, Liza, e me mandou hoje os
documentos, você pode vir até minha casa amanhã à noite e
conversar comigo. — Será que eu deveria dizer que vou embora, eu
acho melhor não.
— Não vai rolar, me manda por e-mail, Christopher, ou
manda alguém me entregar, mas não vou falar com você. — Saio do
banheiro e volto para a mesa.
— Olha eu não queria falar nada, mas preciso, você demorou
bastante, ainda mais depois que Christopher saiu atrás de você e
deixou a acompanhante grávida plantada na mesa, fiquei tão mal
que fui até conversar com ela. — Não acredito que Clark fez isso.
— Foi confraternizar com o inimigo Clark. — Ele dá um
sorriso e diz que o inimigo é uma mulher linda, mesmo com uma
bola enorme na barriga.
— Ela não é tão ruim assim, tudo bem que ficou na defensiva
no começo, mas batemos um bom papo, acabei descobrindo que
Chris não está com ela. — Nossa, ela falou muita coisa para um
desconhecido. — Tenho meus meios de descobrir a verdade, Liza,
se quiser mudar de ideia ainda dá tempo, por que olhando para
você percebo que não estavam conversando no toalete. — Sinto
minhas bochechas esquentarem.
— Não, eu tenho certeza do que preciso agora e é viver
sozinha pelo menos uma vez na vida. Eu vou com você Clark. —
Acabei não contando para ele sobre minha adoção e nem o
conteúdo da minha conversa com Chris, prefiro deixar em off por
enquanto. — Vamos para a casa. — Clark paga a conta e voltamos
em silêncio para casa, quando chego, subo direto para o quarto sem
falar com ninguém.
Tiro a roupa e tomo outro banho, àquele sexo no banheiro foi
quente, que saudades eu senti do corpo dele junto ao meu, que falta
ele me faz. Saio do chuveiro e escuto meu celular receber uma
notificação, vou até ele e vejo que é um e-mail de Christopher.

“Segue em anexo os documentos que o detetive me


enviou, não abri nenhum, achei que seria desrespeitoso, pois a
história é sua. Me desculpa por hoje, Liza, espero que possa me
ver essa semana, ligo depois para você.
Beijos, Chris.”

Infelizmente não nos veremos por um bom tempo. Antes de


abrir o arquivo, visto meu pijama e sento-me na cama pegando o
computador e colocando no colo, abro os anexos e olho um
documento por vez, quando chega na parte onde posso ler o nome
dos meus pais, só tem o da minha mãe e quando leio as palavras na
minha frente acabo derrubando o computador no chão, isso não
pode ser verdade, ela não pode ser a minha mãe.
Capítulo 32

Depois da minha descoberta de ontem, não consegui dormir


direito e só peguei no sono três horas da manhã, mandei mensagem
para Verônica e pedi que ela não fosse trabalhar hoje, pois tinha
algo sério para conversar com ela, tenho que me despedir da minha
amiga ou agora devo chamar mãe, vai ser complicado, mas não
impossível, eu já a amo, só preciso mudar um pouco esse amor.
Já estou arrumada há algum tempo, mandei mensagem aos
meus pais dizendo que iria viajar hoje à noite e que não se
preocupassem em me levar ao aeroporto, mas eles insistiram em ir
mesmo assim, Clark já comprou minha passagem mesmo eu
dizendo que arcaria com o gasto.
Liguei para Sophia e contei sobre o ocorrido, assim como
para meus amigos Clary e Brian, todos me desejaram felicidades e
que eu encontre meu caminho no mundo, infelizmente não tenho
tempo de visitá-los, mas prometi mandar notícias.
— Clark, vou sair, conversar com uma amiga, nos vemos à
noite. — Ele se despede e diz que ficará me esperando.
Já arrumei as malas e meus documentos e, o mais
importante, escrevi um e-mail para o Christopher, eu sinceramente
estava pensando em ir sem contar, mas essa não seria eu, então,
escrevi um e-mail que será enviado quando eu já estiver no avião.
Pego a avenida e apenas trinta minutos depois estou na casa de
Verô, aperto a campainha e ela abre a porta alguns segundos
depois.
— Oi, Verônica. Tudo bem?
— Oi, Liza, desculpa por não ter dado atenção a você
naquele dia, minha cabeça estava uma loucura, mas agora tudo
está se ajeitando. — Ela sorri para mim e agora eu posso olhar para
ela de outro jeito. Entro em sua casa e vamos para sala. — Então,
pode contar, fiquei preocupada quando me ligou precisando
conversar comigo.
— Verônica, você teve uma filha de Joseph? — O nome do
meu pai não estava na ficha, mas tenho certeza de que é ele. Vejo
seus olhos apresentarem desespero, quando a pessoa é pega no
flagra e não tem como explicar o que já está óbvio.
— Você investigou minha vida, Elizabeth? — É a única
resposta lógica para isso, eu também pensaria igual.
— Não, na verdade, Christopher pediu para um detetive
investigar a minha. — Verô me olha confusa, mas contínuo. —
Lembra quando disse que era adotada e como foi feita essa adoção.
— Ela assente e, então, concluo. — Eu sou sua filha Verônica.
— Isso não é possível, minha menina morreu, eles disseram
que ela morreu por parada cardiorrespiratória, não pode ser. — Ela,
então, começa a chorar, um choro desconcertado e cheio de
sofrimento. — Como isso aconteceu?
— Alice falsificou meu atestado de óbito quando eu nasci e
contratou um homem para me entregar aos meus pais ou qualquer
um que quisesse junto da médica que fez meu parto. — Pois é, a
mulher consegue ser mais desalmada do que eu pensei, ela é um
monstro sem coração.
— O ódio dela chegava a tanto, como ela pode fazer isso
comigo, minha irmã é fria e calculista, não perde nenhum detalhe e
tenho certeza de que ela sabe que você é minha filha. — Seu olhar
virou puro ódio e dor pela irmã. — Ela tirou de mim a minha filha, ela
arrancou um pedaço do meu coração sem se importar com nada, eu
sofri por anos e até hoje eu sofro, pois nunca contei isso a Joseph,
só meus pais e ela sabiam a verdade. — Ela acaba de confirmar
minhas suspeitas, Joseph é meu pai, mas aí bate a realidade e,
então, eu começo a suar frio com a possibilidade de a Alice ter
deixado eu me casar com meu irmão.
— Mas se Joseph é meu pai, então, Paul, ele é meu irmão.
Meu Deus, eu me casei com meu irmão, eu dormir e tive um filho
com meu irmão, eu não posso acreditar nisso, não é possível. —
Saio do sofá e me sento no chão em um choro descontrolado e
desesperado, sinto nojo dela e de mim mesma, meu irmão me tocou
intimamente, eu não posso aceitar que ela teve coragem.
— Liza, filha, vai ficar tudo bem, já acabou, precisamos
contar ao seu pai, eu espero que me perdoe por não ter
desconfiado, eu te amo, sempre amei minha linda menininha. Eu
tinha escolhido um nome para você, seria Mackenzie, minha amada
Mack. — Verônica se senta ao meu lado no chão e me abraça forte
chorando copiosamente em meu ombro.
— Você não tem culpa de nada Verônica, e mesmo que não
seja como mãe, eu já te amo por ser essa pessoa incrível na minha
vida. Iremos superar tudo isso, mãe. — Choro ao pronunciar essas
palavras, quem diria que minha amiga fosse minha mãe, ela me
teve tão nova e mesmo assim nunca quis desistir de mim, e a amo
mais por isso.
— Vamos na casa do Joseph, precisamos conversar com ele.
— Fico preocupada de encontrar a cobra, não sei se vou suportar
olhá-la e não meter a mão na cara dela.
— Mas se Alice estiver lá? — pergunto a Verônica.
— Dane-se, aquela vaca desalmada vai me ouvir, isso se eu
não acabar com ela na pancada. — Verô está brava e, eu estou feliz
por ter uma mãe lutadora e um pai que já me ama como filha,
mesmo sem saber a verdade.
Saímos da casa dela e fomos no carro de Verônica, elas
podem ser vizinhas de condomínio, mas a distância entre uma casa
ou outra é bem longa. Vemos o carro de Joseph estacionado na
frente e seguimos em diante, apertamos a campainha e graças a
Deus é ele quem atende.
— Meninas, que visita inesperada, aconteceu alguma coisa,
meu amor? — Ele acaricia o rosto de Verônica, vai ser um pouco
estranho no começo chamá-la de mãe.
— Sim, aconteceu. Podemos entrar? — Vejo um monte de
caixas empacotadas na sala e olho para ele.
— Estou guardando minhas coisas para me mudar, já que
entrei com os trâmites do divórcio não tem mais lógica ficar aqui.
Seremos felizes em outro lugar querida. — Joseph pega na mão de
Verônica e olha para ela.
— Esqueci de te contar, Liza, vou vender a casa, quanto mais
longe de Alice eu estiver é melhor, ainda mais agora, se eu a vir na
minha frente sou capaz de matar aquela vaca. — Assinto e nos
acomodamos no sofá. — Joseph quando eu fui embora, não fui
sincera com você em relação a minha partida.
— Como assim Verônica, você mentiu para mim? — Ela diz
que sim e, então, começa a explicar que ela saiu para ter o filho e
que mentiu dizendo que ia estudar no exterior, mas ela sempre
esteve aqui, quando ela recebeu a notícia da morte da filha, ela
decidiu ir embora pra nunca mais voltar e, no fim explicou todo o
envolvimento de Alice.
— Aquela mulher não é um ser humano normal, como pode
ser tão rancorosa, e a nossa menina morreu, eu estou chateado por
você não me contar a verdade, mas pela primeira vez eu entendo
por que escondeu. — Ele beija Verô na testa.
— A nossa filha não morreu, e foi Alice que falsificou um
atestado de óbito por causa do ódio que ela sentia por mim. —
Joseph fica sem reação e Verô continua. — Liza descobriu há uns
meses que era adotada e, o mais importante é que eu sou a mãe e
você é o pai dela. — Ele me olha e por alguns segundos fica
estático sem pronunciar nenhuma palavra. — Ela tirou nossa
menina de nós Joseph, a minha própria irmã desejou tanto mal a
mim e quem pagou foi nossa Liza.
— Minha linda menininha, agora está explicado por que
sempre tive um carinho enorme por você, meu coração sempre
soube que você era, minha princesa. — Ele vem até mim e me
abraça forte. — Eu te amo, Liza, e agora sabendo que é minha filha,
a amo mais ainda. — Choro com seu abraço totalmente
emocionada.
— Aí que lindo. A família feliz está reunida. Pelo que vejo
vocês não são tão burros assim, apesar de que demoraram 23
anos. — Alice entra em casa e começa a gargalhar. Verônica se
levanta e corre até onde ela está, mas Alice é mais rápido e sai do
seu encalço quando ela chega perto.
— Volta aqui sua vagabunda, eu vou acabar com a sua raça
Alice. Como pode fazer isso comigo, sua própria irmã. — Alice toma
uma raiva visível em seu rosto.
— Você nunca foi a minha irmã, aqueles velhos que se
diziam meus pais trouxeram um lixo pra casa e cuidarem dele como
se fosse ouro me deixando de lado, eu apenas me vinguei por tudo
que você roubou de mim, o amor dos meus pais e do meu marido.
— A mulher é completamente louca, fazer tudo isso apenas por
vingança.
— Eu disse que ia embora e mesmo assim você tirou minha
menina de mim. — Ela ri de Verônica e passa por sua frente indo
até o sofá colocando sua bolsa em cima.
— Era arriscado demais, você poderia voltar a qualquer
momento, o único jeito de ter certeza é se você não tivesse nada
por que lutar e eu consegui, uma jogada de mestre não é. — Fico
furiosa com suas palavras e quando me aproximo desfiro um tapa
violento em seu rosto que faz sair sangue.
— Você é uma cobra sem coração, eu odeio você Alice e
ainda vou fazer você pagar por tudo que me fez. Você deixou que
eu me casasse com meu irmão, me fez cometer esse incesto
nojento, eu tenho náuseas só de pensar nessa possibilidade e por
incrível que pareça não posso deixar de amar o filho que não tenho,
mesmo que ele pudesse ser meu irmão também, uma criança feita
no pecado. — Eu sei que isso vai me corroer cada vez mais, eu
sinto dentro de mim.
— Deixa de ser trouxa — diz limpando o sangue da boca. —
Paul não é filho de Joseph, o pai dele era o motorista da minha mãe,
quando eu engravidei não poderia deixar que soubessem de quem
era o filho, então, enganei esse idiota e sua família fez o resto o
obrigando a se casar comigo, nenhum rico quer ter um escândalo
manchando sua honra, Joseph queria apenas assumir a criança,
mas eu fiz com que isso não acontecesse, o meu grande erro foi
morar com meus pais tendo essa bastarda do nosso lado, mal tinha
saído das fraldas e abriu as pernas para o meu homem com 15
anos de idade, o quão vagabunda e mentirosa você poderia ser
Verônica. Meus sogros sempre me odiaram e meu único
arrependimento é de não ter mandado eles para o inferno. — A
mulher é um monstro sem coração, sem alma, só quem a conhece
pode ter certeza de onde veio as atitudes de Paul, ele foi ensinado
por uma víbora.
— Sua desgraçada, você tirou a felicidade de mim e nunca
mais você terá esse poder sobre a minha vida Alice. — Joseph saiu
de casa e levou a nós duas juntas, pegamos o carro de Verônica e
voltamos para a casa dela e Joseph no dele nos seguindo.
— Eu preciso voltar, tenho que viajar. — Eles me olham sem
entender nada. — Vou embora do país, morar com Clark no Brasil
— explico tudo que veio acontecendo durante esse tempo, falo
sobre Clark e eles ficam triste por não ter mais tempo comigo, mas
entendem que eu preciso desse tempo para mim.
— Iremos te levar no aeroporto querida. Eu e seu pai
amamos você imensamente e, temos orgulho da pessoa que você
é. — Abraço ambos e voltamos para casa dos meus pais.
— Mãe, pai, cheguei. — Já são dezoito horas, meu voo sairia
em 1h e Clark já aguardava na sala com as malas ao lado.
— Vamos, Liza. — Assinto para ele, mas peço uns minutos.
— Filha, que bom que chegou, a senhorita já está atrasada.
— Minha mãe aparece na sala junto com meu pai. — Joseph,
Verônica, o que fazem aqui? — É agora ou nunca, peço que eles
escutem com atenção tudo que tenho para contar.
Falo para meus pais tudo que aconteceu e o que descobri,
eles ficam sem reação, mas conversam com Verônica e Joseph.
— Eu ainda não posso acreditar que meu amigo é pai da
minha menina — papai diz a Joseph. — Mas fico tão feliz por ser
você, ela não poderia ter pessoas melhores na vida.
— Eu e Verônica, ficamos felizes com a notícia, Liza é uma
joia e uma mulher incrível. Obrigada por criarem ela tão bem. —
Depois de muitos abraços e promessas de que serão os melhores
pais do mundo para mim, tenho que ir agora.
Saímos de casa e fomos para o aeroporto, cheguei lá e fiz
meu check-in assim como Clark, nossas malas foram levadas para
embarque e faltava cinco minutos para entrar no avião.
— Quero dizer que amo muito vocês quatro, independente
das escolhas e de como vivemos a vida, eu sou muito grata por
aqueles que me deram a vida e a aqueles que me criaram.
— Nós também te amamos querido — meu pai, Charles,
quem diz e mamãe Suzan, concorda.
“Senhores passageiros, por favor, peço que vão para o
portão de embarque com destino para o Brasil”.
Escuto no alto-falante anunciarem e dou um abraço grupal
em meus pais, pego minha bolsa de mão e Clark se despede de
todos quando segue comigo para o embarque.
Clark decidiu não visitar sua mãe, pois ela disse que iria ao
Brasil pessoalmente puxar a orelha do filho. Ele me avisou por
mensagem durante a minha volta para a casa e apenas concordei,
conhecerei Dona Mendi depois.
— Como se sente, Elizabeth? — ele me pergunta.
— Sinceramente, me sinto independente. — Pego meu
celular e envio o e-mail ao Christopher. Agora sim posso dizer que
lutarei por mim mesma.

Autora
Enquanto Liza embarca no avião, Chris, alguns segundos
depois, recebe seu e-mail achando que finalmente poderá ter a
mulher que ama de volta, mas se decepciona quando lê o que ela
escreveu.

De: Elizabeth Harper


Para: Christopher Moore

Oi, Chris.
Se você está lendo esse e-mail é porque já fui embora, então,
por favor não venha atrás de mim, eu passei minha vida vivendo às
custas das pessoas que me amavam e outras nem tanto, tive um
casamento infeliz com Paul e na maioria das vezes eu deixei de
lutar por minha sobrevivência e acabei aceitando muitas coisas que
vinham dele, mas aí você apareceu e mudou meu mundo, me
mostrou que era certo lutar pela liberdade e foi isso que fiz,
agradeço muito a você por ter me mostrado que o amor é puro e
verdadeiro, que ambas as partes podem contribuir pra um futuro
promissor e feliz.
Quando terminamos o nosso relacionamento eu me acabei
literalmente, passei a correr atrás de você feito louca, mas como
bem sabe você me ignorou todas as vezes, depois disso passei a
persegui-lo por onde ia e era doloroso demais te ver com a Suzane,
eu queria ser ela ali carregando o nosso filho, mas essa não foi a
vontade divina.
Há alguns dias conheci um amigo que em pouco tempo me
mostrou que eu vivia para outras pessoas e não por mim, abriu
meus olhos para a realidade que era minha vida, então, decidi
buscar um caminho diferente longe de tudo que fui e que iria ser ao
ficar, um lugar onde possa me inovar e me redescobrir como
mulher.
Eu quero que seja feliz Chris, mesmo que não seja comigo,
pois preciso desse tempo para mim, busquei novos objetivos na
minha vida e quero percorrê-los sozinha.
Meus sentimentos por você não mudaram de uma hora para
outra, eu ainda te amo, mas fazer isso por mim me mostrará que
posso ser mais do que a sombra de alguém.

Com carinho,
Liza.

Chris ao ler as palavras de Elizabeth se sentou no chão da


sala de sua casa e chorou como nunca, jurando que ia amá-la para
sempre, nem que fosse a última coisa que ele fizesse, ele sabia que
poderia ir atrás dela, mas também sabia que respeitaria o tempo
que era pedido por ela.
Capítulo 33

Dois meses depois...


Já fazia dois meses que eu estava no Brasil hospedada no
apartamento de Clark, nos tornamos melhores amigos e em nenhum
momento tentamos nos relacionar de novo. Comecei meu curso de
Administração de Empresas com ênfase em Gestão Financeira na
Broward University Brasil, uma universidade americana que davam
aulas totalmente em Inglês por professores americanos, apenas
umas semanas depois que cheguei, arrumei um estágio em uma
multinacional no centro de São Paulo e estou gostando muito dessa
nova realidade, como não aprendi o português completamente me
relacionar com as pessoas do trabalho e do curso é bem mais fácil,
porque nos requisitos da empresa uma das exigências é ter uma
segunda língua, apenas para cargos acima do meu. Clark não pode
me ensinar o idioma como havia prometido já que trabalha bastante,
mas me matriculei em um cursinho on-line e aprender não é tão fácil
como ele me falou não, mas estou me esforçando ao máximo, por
meio de atividades de tradução, é divertido conhecer algo novo.
Ultimamente estou cada vez mais cansada, enjoada,
vomitando e com dor nas costas, sinto meu corpo mudar
constantemente e parece que meu trabalho é dez vezes mais
pesado para mim do que para outra pessoa, no começo pensei que
era porque nunca trabalhei e estudei ao mesmo tempo, mas Clark
vive me dizendo que devo fazer um teste de farmácia, eu digo pra
ele que é impossível e vivo em constante negação, apesar da minha
menstruação estar atrasada e eu lembrar perfeitamente de não ter
usado camisinha na última vez que transei com Christopher, eu não
posso estar grávida.
Quando cheguei aqui foi tudo tão estranho, nunca tinha vindo
para cá. Verônica tem uma filial no Brasil e pediu que eu trabalhasse
para ela, mas falei que isso só aconteceria quando eu tivesse
formada e olhe lá se eu realmente fosse, não era porque é minha
mãe que eu preciso ganhar tudo fácil, eu vim pra cá para ser forte e
não viver as custas de outra pessoa.
Clark está sendo um anjo comigo, pois me priva de pagar
qualquer coisa na casa dele, meu salário é horrível e só dá para
pagar as mensalidades da faculdade, nesse país é complicado
receber salário bom no cargo que estou e isso porque dizem que
multinacional paga bem, mas claro que só para cargos alto, todos os
dias é um degrau a mais que tenho que subir e por mais que eu
esteja sem minha família não estou completamente sozinha, tenho
meus amigos que já fazem parte do meu coração.
— Elizabeth, você está atrasada de novo, desse jeito vai ser
demitida. — Eu disse que estava indo bem, mas em nenhum
momento falei que as coisas estavam sendo fácil.
— Eu já estou descendo, posso usar seu carro de novo? —
Todas as vezes que estou atrasada pego o carro de Clark
emprestado.
— Você já se apossou dele mesmo, porque está atrasada
constantemente, precisa mudar isso menina, senão já era. Vou
passar na farmácia e comprar um teste para você. — Lá vem ele
com essa mesma história.
— Eu já falei que não estou grávida, então, para com isso e
me deixa em paz, cansei dessa história. — Desço as escadas
depois dessa conversa entre gritos em andares diferentes, pois
Clark estava no primeiro e eu no segundo terminando de me
arrumar.
— E eu sempre digo que você vive em negação, o pai dessa
criança precisa saber a verdade.
— Mesmo que eu estivesse grávida, Christopher não irá
saber, eu já tenho problemas demais e não estou a fim de mais
algum, ele já tem um filho e uma mulher, não precisa de mim para
nada e para de falar essas coisas, eu não estou grávida e ponto
final. — Pego as chaves do carro, coloco o salto que estava na
minha mão e saio correndo para a porta. — Tchau, até mais tarde.
— Você supõe demais, Elizabeth, Christopher não tem
mulher. — Bato a porta com tudo sem deixar que ele termine mais
um dos seus sermões.
Christopher respondeu ao e-mail que mandei a ele com um
simples: “Te amarei para sempre” e mesmo assim vivem me
dizendo que ele não sai da cola de Suzane, quer saber, eu tenho
que esquecer, eu não fui embora? Então, é disso que eu preciso.
Saio pelas ruas malucas de São Paulo, aqui tem muito
trânsito e várias pessoas xingando, toda vez que passo correndo no
farol com medo que ele feche, os pedestres falam cada coisa ruim
ao meu respeito que fico até sem reação, não é tudo que sei, mas
tem umas coisas que Clark me ensinou, ele me disse que tem o
dicionário de palavrões brasileiros e que esse povo sempre arruma
uma palavra nova para acrescentar, são muito criativos.
Chego na empresa com dez minutos de atraso e passo o
cartão de entrada na catraca e subo de elevador até meu andar. As
pessoas aqui são muito educadas, sempre nos cumprimentam
quando chegamos, o mais estranho é que são cheios de abraços e
beijos, foi difícil me acostumar no começo, mas agora até que eu
gosto, me sinto querida no meio de tanta pessoa desconhecida.
Meu vocabulário na empresa é dividido em frases ditas em
português e outra em inglês, porque simplesmente não sei tudo
sobre o idioma daqui, então, intercalo com palavras que já sei
pronunciar e outras que ainda não sei em inglês, justamente para
praticar.
— Bom dia, Elizabeth — Rafaela me diz quando passo por
sua mesa, todos ficamos juntos no mesmo lugar, cada um em sua
mesa, claro, mesmo assim não tem separação por sala ou divisória.
Rafaela foi uma grande amiga no começo, ela é Analista Sênior e,
portanto, quem me explicou todo meu trabalho, nos tornamos
próximas depois de tanto sairmos e posso dizer que ela se tornou
minha melhor amiga e uma grande aliada. — Como passou o fim de
semana?
— Foi ótimo, Rafa. Sai com Clark para conhecer um pouco
mais de São Paulo, tem tantas coisas novas aqui. Já fui conhecer
algumas praias como de Ubatuba, Bertioga e Ilhabela, essa última é
muito linda, principalmente a praia de Castelhanos, nossa ela é
extremamente maravilhosa, sempre gostei de água, então, até
agora só conheço o paraíso desse lugar.
— Que bom, porque se você for para o lado dos pobres onde
existem favelas e comunidades, com certeza não vai achar tanta
beleza assim. Tem muito sofrimento por aqui também, Liza, não é só
beleza que esse país tem. — Vejo sinceridade e dor em suas
palavras, talvez ela conheça esse lado e espero que um dia eu
também possa, não quero levar de um país somente o lado positivo,
pode ser loucura, mas nem tudo são flores.
— Um dia conhecerei todos os lados Rafa e, espero que
possa vir comigo também, Clark te acha uma gata. — Vejo sua
expressão mudar e ela colocar um sorriso nos lábios.
— Aquele gringo é uma beleza sobre a terra, menina não sei
onde foi feito, mas aquele loiro está nos meus sonhos mais
molhados. — Quando sai com Rafa e Clark juntos, ficaram a noite
toda trocando olhares e como meu amigo não é besta, acabou
beijando-a, mas Rafa é puritana demais e não avançou mais do que
isso, até hoje ela fica nesse vai e vem, e vamos dizer assim que
meu amigo é safado demais para viver tanto de mimimi.
— Deveria ter dado uma chance para ele Rafaela, mas se
quer saber realmente minha opinião, Clark não está pronto para
relacionamentos, então, se quer diversão eu consigo isso para você,
mas se quer um pedido de casamento pode esquecer. — É duro,
mas, é a realidade, não quero que ela se machuque, amo muito os
dois para ficar no meio desses conflitos.
— Eu sei, Liza, por isso me afastei, eu quero um cara que me
ame intensamente, quero ser feliz e ter um lugar para chamar de lar.
— Eu a entendo perfeitamente, mas eu estou correndo de caras na
minha vida. — Agora vamos trabalhar, porque o Carlos chegou e
não está muito feliz não.
Carlos Ferreira é o diretor da empresa R&S Corporation, uma
empresa multinacional de consultoria tributária e financeira,
Administradora de Negócios e Auditoria Interna, praticamente ela
exerce muitos papéis na sociedade e está entre as dez melhores do
mundo. Meu chefe não é uma pessoa ruim, mas também não é um
doce de pessoa, quando está com raiva se torna insuportável e
talvez seja por causa daquela esposa irritante que ele tem, já
participei de um evento onde os funcionários podem levar seus
cônjuge e a mulher me encarou de cima a baixo com desdém.
Carlos pode ser o que for como chefe, mas nunca deu em cima de
mim ou foi impróprio com alguma atitude, sempre me respeitou.
Conheci a mãe de Clark no mês passado, ela realmente veio
ao Brasil e, posso dizer que ela é uma mulher de fibra, firme e
decidida, não abaixa a cabeça para nada e fala tudo que der na
telha, eu me diverti bastante com ela.
Converso com meus pais quase todos os dias e eu digo isso
me referindo aos adotivos e biológicos, nossa relação está boa e
posso dizer que nos damos bem, acostumar é um processo que
demanda mais tempo, mas de resto está tudo ótimo. Sempre peço
notícias de meus amigos e faço com que ninguém fale de
Christopher para mim, mas é um caso impossível quando seus pais
vivem falando que ele se encontra em um estado triste e só está
seguindo em frente pelo seu filho Nathaniel, nome que significa
“presente de Deus”, do qual nasceu duas semanas depois que fui
embora, ele é um bebê saudável e forte, fico feliz pelo filho dele e
não muito por Suzane, eu não gosto desse mulher de jeito nenhum.
Semana passada foi a primeira vez que discuti com eles, pedi que
nunca mais falassem de Chris pra mim, até hoje me lembro quando
olhei pra eles via Skype e disse: “Vocês são meus pais ou inimigos,
eu vim pra cá ter uma vida nova e não definhar no passado”, me
pediram desculpas e juraram não falarem mais nele e agradeci
internamente por isso, talvez eles só queiram que eu seja feliz com
quem amo, mas agora quero ser feliz sem homem nenhum.
— Liza, vamos naquele barzinho hoje? — A bandida pegou
no meu ponto fraco, quando fui ao bar me apaixonei, as pessoas lá
curtem a noite acompanhados de músicas sertanejas e muitas
cervejas além de outras bebidas, não entendo quase nada das
músicas, mas gosto do ambiente, foi a primeira vez que
experimentei uma cerveja e desde que Clark anda desconfiado
sobre meu estado, ele impede que eu beba, mesmo eu fazendo isso
contra a vontade dele, não quer dizer que virei alcoólatra, mas
vamos dizer assim que bebo socialmente.
— Hoje é segunda, fiquei mofando o fim de semana todo em
casa e não recebi nenhuma mensagem sua. — Ela me olha
debochada, mas se pronuncia.
— Você sabe por que não saio muito de fim de semana. —
Realmente, eu sei, mas amo infernizar a vida dela. Minha tão
amável amiga Rafaela Oliveira é voluntária em um centro de idosos
quase todos os fins de semana.
— Por isso se chama voluntária, não precisa estar sempre lá.
— Depois que sua avó morreu há alguns anos, Rafaela se sentia
culpada por não ter sido uma neta melhor e, então, ela acabou
adquirindo para si os avós de outras pessoas, ela ama àquele lugar
e tenho orgulho dela. — Você sabe que gosto de sair, mas é
complicado, os caras vêm falar comigo e não entendo quase nada
do que falam amiga, fica difícil assim, eu não sou muito experiente
no português, estou no nível básico ainda. — Rafa consegue falar
comigo naturalmente porque sabe o inglês e agradeço aos céus por
isso.
— Amiga fica tranquila, eu traduzo para você, vai que você
acha um gato que fala sua língua, e aí acaba virando amor à
primeira línguada. — Começo a rir da sua palhaçada, só ela mesmo
para falar tanta besteira.
— Estou correndo de homem, mas se quer tanto, então,
vamos, mas vou chamar o Clark. — Como sou estagiária, só
trabalho meio período e hoje não tenho aula.
— Sério, vamos fazer a noite só de garotas, vai amiga, faz
essa forcinha. — Digo para ela que vou chamá-lo sim e mesmo
contrariada ela não reclama mais.
Volto a trabalhar e passo metade do dia resolvendo algumas
pendências leves da empresa, converso com Carlos sobre alguns
problemas que surgiram. Descobri que tem muito estagiário que só
serve para levar cafezinho para o chefe e que não pode falar com
um nível tão superior ao dele, respeitando a hierarquia, mas ainda
bem que Carlos não exige isso de mim, pelo menos no nosso setor
as pessoas não inferiorizam as outras.
Saio da empresa perto das três da tarde e dirijo o Jeep
Compass 2020 do Clark, esse carro é muito lindo e confortável. Não
demoro muito para chegar em casa, pois o trânsito está calmo
nesse horário e como a empresa e o apartamento de Clark ficam na
Vila Olímpia, não é tão grande a distância.
Chego e jogo minhas coisas em cima do sofá, subo para o
quarto e mando uma mensagem para Clark dizendo que vamos sair
hoje, ele me diz que não é para mim beber, mas nem me dou o
trabalho de responder essa mensagem. Depois de tirar a roupa e
colocar um roupão, desço de volta para a cozinha e preparo algo
para comer, não almocei na empresa e estou com fome, faço um
macarrão com carne moída e encho de queijo ralado, não é porque
ele é razoavelmente bem de vida que sai por aí esbanjando dinheiro
em comida, nem toda pessoa só come comida de fresco. Outra
coisa que aprendi aqui é cozinhar melhor, já que Clark não tem
cozinheira, apenas uma faxineira que vem uma vez por semana
quando não estamos em casa.
O apartamento de Clark é aconchegante, um pouco grande
para duas pessoas, mas mesmo assim é muito bonito, tem dois
andares, uma sala, cozinha, três suítes e quatro banheiros, me
pergunto para que tudo isso e ele me diz que é bom ter espaço de
sobra, vai que precisa um dia e acabo concordando com ele.
Sento-me na mesa e me acabo de comer, repito duas vezes
porque estou “varada” de fome, outra expressão que aprendi, me
parece que os nordestinos gostam de usar a palavra varada no
lugar de morrendo de fome, tanta coisa para se aprender aqui.
Enquanto a noite não chega vou adiantar umas lições da
faculdade. Vou em direção a minha mochila e pego meus cadernos
junto com o notebook, coloco em dia algumas contas a ser feita para
a próxima aula.

(...)

— Elizabeth, cheguei. Onde você está? — Escuto Clark gritar


da porta e digo que estou na sala de estudos, na verdade, esse é o
escritório de Clark, mas me apossei dele também e nomeei com um
novo nome. — Como foi seu dia, princesa? — Ele se aproxima e
beija minha testa.
— Ah, você sabe, como sempre muito trabalho. — Clark se
senta ao meu lado e coloca seu braço em volta de mim com minha
cabeça encostada em seu ombro. — E você, animado para sair? —
Dou uma risadinha, porque sei muito bem que diversão para ele é
só durante o fim de semana e ele só vai até lá por mim.
— Sua amiga é maluquinha não é, hoje é segunda-feira, que
tal você cancelar e passar a noite comigo, saímos para jantar e
depois ficamos vendo um filme debaixo das cobertas. — Isso soa
incrível, Clark está sendo o meu pilar durante esse tempo, nossa
amizade surgiu em um momento inoportuno, mas se tornou forte.
— Não posso, Rafaela ficará nervosa comigo. — Ele assente
e logo se levanta dizendo que irá se arrumar. Faço o mesmo que ele
e subo para meu quarto depois de guardar o material.
Hoje irei com uma blusa que parece um corpete, calça jeans
e bota de cano alto com salto. Comprei em uma das lojas aqui do
Brasil e várias outras roupas, as mulheres aqui tendem a andar
mostrando um pouco a mais e amei esse novo estilo, elas não ligam
para o que pensam e se tornaram admiradas por mim nesse ponto,
além do que tem cada uma mais bonita do que a outra, bem que
disseram que as mulheres brasileiras são lindas.
Depois de tomar um banho, perfumar meu corpo, se arrumar,
passar uma maquiagem leve, eu desço e quando olho para a porta
Clark está lá. Ele veste uma camiseta que marca seus músculos,
junto de uma calça jeans e sapatênis.
— Uau, a senhorita está maravilhosa. — Recebo um sorriso
muito lindo dos lábios do meu amigo.
— E o senhor está muito gostoso. — Sorrio para ele e envio
uma mensagem para Rafaela, dizendo que estou indo com Clark e
que nos encontramos lá.
As ruas à noite estão movimentadas, deve ser porque o
horário de pico dos trabalhadores, só acabam às vinte horas e ainda
são só dezenove.
— Clark, por que você não dá uma chance para Rafaela? Eu
sei que você não é de compromisso, mas ela é uma garota legal. —
Eu falei que não ia me meter e principalmente disse para minha
amiga que era para ficar longe, mas sei que eles podem dar certo
no futuro.
— Já conversamos sobre isso, eu não quero
relacionamentos, deixei isso claro pra Rafaela naquele dia e ela me
disse que não ficaria com um cara rodado, sinceramente eu me
senti muito ofendido, eu nem pego tanta mulher assim — ele fala
indignado e começo a rir.
— Você consegue ser bem cafajeste quando quer, mas pelo
menos é um cafajeste sincero. — Clark olha para mim e me diz que
bem que gostei de provar do cafajeste. — Mas já faz muito tempo e
isso nunca daria certo.
— Não irá dar certo com ninguém enquanto você não abrir
seu coração e esquecer aquele idiota do seu ex. — Não deixamos
de amar alguém do nada, é um processo contínuo de superação,
tomei uma decisão definitiva sobre meu futuro, não vou dizer que
em algum momento não me arrependi e quis voltar pra ele, mas me
coloquei firme em continuar, não posso ser fraca.
— Eu sei, mas não quero outro homem na minha vida, não
sei se sou capaz de amar pela terceira vez e ainda chamar de
verdadeiro, me parece superficial sabe. — Ele balança a cabeça
dizendo que compreende e que acredita que só podemos amar
duas pessoas durante a vida, uma vem para nos ensinar algo e
outra vem para ficar e, nos fazer construir o que aprendemos dia
após dia. — Você tem que se deixar amar novamente Clark.
— Eu não consigo não sentir medo de me machucar
novamente, Liza, sei que a qualquer momento posso encontrá-la
aqui nessas ruas e tenho medo de que eu perceba que nunca a
esqueci. — Letícia foi a única mulher que Clark amou, mas ela
acabou com ele quando o traiu com seu melhor amigo, depois disso
ele se fechou por completo e decidiu nunca mais deixar outra
mulher entrar no seu coração, com o tempo ele aprendeu que nem
todas são iguais, mas ainda tem medo de se apaixonar de novo, por
isso acho Rafaela perfeita, ela é uma pessoa maravilhosa e cuidará
do meu amigo, mas deixei claro para ela só se envolver com ele
quando ele quiser algo sério, eu amo os dois e tento preservar o
coração de ambos, mesmo que isso não seja possível ou tarefa
minha. — Você é uma amiga incrível e fico feliz por não termos nos
envolvido de novo, senão você seria só mais uma de quem eu me
afastei, eu não sou tão ruim assim, só deixo claro o que eu quero
depois de uma noite de sexo quente. — Dou risada e digo que ainda
sim é cafajeste.
Chegamos no Bar Cross - Noites Sertanejas, e estacionamos
em frente, logo vejo minha amiga acenando para mim da porta de
entrada vestindo um short curto com uma blusa cropped branca de
renda que só cobre os seios e deixa sua barriga malhada a mostra.
Rafaela faz academia como quem bebe água, é uma típica mulher
brasileira com seus cabelos pretos longos, olhos chocolate, pele
bronzeada e boca carnuda, ela sempre diz que tem que estar linda
caso encontre o gato dos seus sonhos, minha amiga é uma figura.
— Oi, amiga. — Rafa me abraça e apenas acena para Clark.
— Vamos logo, estou louca para beber a noite toda. — Clark revira
os olhos e entra atrás de nós, nos sentamos no bar e no fundo a
música de Zé Neto e Cristiano percorre o ambiente com “Estado
Decadente”, essa música fiz questão de aprender em português,
primeiro traduzi para o inglês, depois fiz questão de voltar pro
português e aprendi a letra todinha, nem disfarço minha carência
não é.
— Garçom, três doses de tequila e, traz sal e limão também.
— Quando ele acena compreendendo meu português confuso,
vamos dizer assim que eu aprendi a me virar um pouco, Clark pega
em minha mão e grita em meio a música dizendo que não vou beber
enquanto não fizer um teste. — Para de graça Clark, me deixa
beber em paz. — O moço chega em seguida e parto para a bebida,
começa assim, primeiro coloco sal em minha mão, depois de lambê-
lo, viro a tequila em minha boca de uma só vez chupando a fatia de
limão logo em seguida. Eita, que o negócio desceu rasgando.
Próximo...
Passei uns trinta minutos sentada tomando mais duas doses
de tequila depois das três que pedi, um carinha gato de olhos
castanhos, cabelos pretos e muito musculoso para ao meu lado e
me chama pra dançar ao som de “Sorte que Cê Beija Bem” de
Maiara e Maraisa, confesso que não sei como dançar música
sertaneja, mas até que ele me levou na boa, não é porque frequento
que sou profissional e o homem ainda fala Inglês, ainda bem, a
última vez que um homem tentou falar comigo, ele ficava traduzindo
as coisas no Google tradutor e o negócio é péssimo, sai tudo fora de
ordem a tradução, foi logo quando cheguei aqui, mas graças a Deus
que Clark me salvou dele e disse que era meu namorado. Depois de
um tempo na pista, mandei tudo para os ares e beijei o homem na
minha frente e até que ele tem um beijo gostoso, bem que dizem
que a bebida faz nós fazermos o que não gostaríamos sóbrios.
Continuamos o beijo urgente na pista e ele começou a passar as
mãos em meu corpo, comecei a sentir um certo tipo de reação vinda
dele e logo percebi que o homem estava armando a barraca aqui no
meio de tantas pessoas, parei o beijo e encostei minha cabeça em
seu ombro, olhei para os lados em busca dos meus amigos, mas
não vi ninguém, eles me largaram bêbada com um desconhecido,
ótimos amigos. No fim da música o homem tentou me levar para
casa, mas eu neguei, não sabia nem o nome dele e ele muito
menos vai saber o meu, muito assanhado para o meu gosto, sai de
perto dele e fui até o banheiro, lá encontrei Clark e Rafaela com
cara de culpados.
— Não vou nem perguntar se vocês transaram no banheiro
de um bar porque está óbvio, vou ao banheiro e depois quero ir
embora, estou com tontura, cinco doses de tequila com a barriga
vazia não me fez bem. — Minha amiga me pede desculpas e Clark
diz que bem que me avisou para não beber tanto, mas o que bebi
nem caracteriza como muito, eu que sou fraca mesmo. Saio na
frente deles e entro no toalete, quando chego perto da privada sinto
o vômito vir e jogo tudo o que tinha no estômago no vazo sanitário,
aí que nojo, odeio vomitar, vou para a pia e lavo a boca e meu rosto,
faço xixi e depois de lavar as mãos, saio do banheiro, Clark e Rafa
ainda estão lá, mas quando dou um passo pra frente vejo o mundo
escurecer e sinto mãos me segurarem e alguém gritar o meu nome.
Capítulo 34

Abro os olhos devagar e sinto minha cabeça explodindo. O


que aconteceu ontem, eu não lembro nada depois que fui ao
banheiro. Olho em volta e vejo Clark sentado na cadeira do meu
lado.
— Clark, acorda. — Balanço seu corpo para que acorde, mas
ele não está muito a fim não, porque reclama pedindo para a mãe
dele deixar ele dormir só mais um pouco. Começo a rir alto e
percebo o grande erro quando minha cabeça começa a latejar com
mais intensidade. — Aí, isso dói, meu Deus, nunca mais bebo na
vida.
— Não vai beber por uns longos meses. — Ele acorda e me
dá um beijo na cabeça. — Como minha amiga desajuizada está, eu
disse para não beber muito, Elizabeth, e olha só onde estamos.
— Como eu vim parar no hospital e que horas são, tenho que
trabalhar. — Ele diz que não preciso ir hoje, porque o médico me
deu atestado do dia e Rafaela levou para mim ao senhor Carlos. —
Eu não posso ficar faltando, posso ser demitida.
— Pensasse nisso antes de entrar na fossa. — Olho para ele
brava e jogo a o travesseiro em sua cabeça. — Isso dói maluquinha,
vou chamar o médico para vir te ver, você desmaiou ontem depois
que saiu do banheiro, então, te trouxe para cá, mas por causa da
bebedeira você não havia acordado, por isso o médico te colocou
para tomar soro. — Olho para meu braço e vejo a agulha na minha
pele, tento tirar, mas ele diz que não posso. — Para de ser
estressada, eu vou chamá-lo, temos novidades para você. — Quais
novidades?
— Olá, bom dia, senhorita Harper. — Um médico muito bonito
entra pela porta e Clark vem logo atrás, quando ele me
cumprimenta, compreendo de início, mas o que se procede é
traduzido pelo meu amigo. — A senhorita foi muito irresponsável
ontem, no seu estado não é bom abusar e nunca tomar bebidas
alcoólicas, você teve muita sorte por não causar maiores danos. —
Ainda sem entender, olho para Clark.
— Falei para ele que tínhamos suspeita de uma gravidez e
pedi que fizesse exames em você. Parabéns, Liza, você vai ser
mamãe. — O que, isso não pode ser verdade, porra de camisinha,
quando estamos com fogo, sempre esquecemos do essencial. —
Vamos dar um jeito, iremos cuidar desse bebê com muito amor e
carinho. — Ele me abraça forte e diz que tudo vai ficar bem e eu
prometo para mim mesma que serei uma boa mãe.
O médico irá me dar alta e diz que poderei ir para casa
depois de tomar um remédio para minha dor de cabeça. Me troco
com roupas novas que meu amigo me trouxe e saio do hospital,
mando mensagem para Rafaela dizendo que estou bem, que vou
ser mãe e que estou surtando. Ela ri de mim e diz que vamos dar
um jeito e que seremos uma família feliz e, que não aceita não ser
madrinha do meu filho(a), dou risada e digo que não encontraria
uma dinda melhor. Esses meus amigos me completam, são ótimas
pessoas e a única família que tenho aqui.
— Então, mamãe, você conta ou eu conto? — Clark abre a
porta de casa e coloca minhas coisas em cima da mesa. — Seus
pais precisam saber, Liza, e Christopher também. — Só de pensar
nisso meu corpo gela.
— Não, ele não precisa, já tem um filho, para que vai querer
outro. — Ele revira os olhos e me encara.
— Não é você quem decide isso, você está se tornando uma
mulher bem resolvida, então, por favor, não seja infantil.
— Pode até ser infantilidade, mas o filho é meu e eu que
resolvo, não quero Christopher atrás de mim, Clark, ele vai me
obrigar a voltar e isso eu não vou fazer, terei que parar a faculdade
por uns meses, mas não vou desistir de me formar. — Meu amigo
não diz nada e diz que irá tomar um banho porque o cheiro de
hospital é horrível.
Um bebê, eu vou ser mãe, preciso me acalmar e respirar,
tenho medo de acontecer o mesmo que houve com meu pequeno
Dominic, eu não vou suportar perder outro filho, meu Deus me ajude
e não deixe que nada de ruim me aconteça e nem a essa criança.
Subo para meu quarto, tomo meu banho e com meus cabelos loiros
molhados, deito-me na cama passando a mão na minha barriga.
Pego o celular e ligo para minha mãe Suzan.
— Oi, mãe, como a senhora está? — Vou contar a verdade
para ela, minha mãe sempre foi minha amiga e espero que fique ao
meu lado com minha decisão.
— Oi, meu amor, eu queria mesmo falar com você,
aconteceu algumas coisas aqui. — Fico curiosa e peço que
continue. — Alice foi presa, descobriram que ela vinha
acobertando os crimes de Paul pagando um Juiz, promotor e
delegado, você acredita nisso, a mulher tinha uma máfia
debaixo dos olhos de todo mundo e ninguém percebeu, foi um
tremendo choque. Joseph está arrasado por nunca ter
percebido o tipo de mulher com quem se casou e agora ele está
morando com Verônica, quem sabe não se casam e esse
homem possa ser feliz finalmente. — Concordo com minha mãe,
é tudo que eu queria, principalmente agora que Verônica não ficou
grávida do meu pai, pelo jeito a pílula do dia seguinte resolveu
qualquer problema futuro.
— Eu sabia disso mamãe, só estávamos esperando as
investigações concluírem, desculpa por não contar, me parece
que Christopher conseguiu provar, felizmente. — Ela me diz que
ainda as coisas não acabam por aí e continua a falar.
— Verônica decidiu investigar a morte dos seus avós, ela
não te contou antes porque não tinha certeza, mas as suspeitas
se confirmaram, Alice matou os próprios pais por dinheiro e
inveja, foi horrível pra sua mãe saber disso, Liza, ela ficou
destruída, por fim usaram o seu caso e ela vai pagar também
pelo que te fez quando era bebê. — A mulher é desumana, matar
os próprios pais, minha mãe deve estar muito mal, irei ligar para ela
mais tarde.
— Eu já desconfiava de algo grave mãe, Alice não mede
esforços para ferir as pessoas. — Ela fala que está
completamente chocada e ainda não acredita que Paul não é filho
de Joseph, mas que pelo menos não me casei com meu irmão e
isso é um alívio. — Compartilho desse mesmo sentimento com a
senhora e como está meu pai, fala que morro de saudades dele
e principalmente das nossas conversas durante a madrugada,
diga que o amo muito.
— Sim, querida, quando chegar em casa contarei a ele,
seu pai está bem, só muito cansado, a empresa está crescendo
de novo e me parece que nem todos querem se ver livres de
escândalos, disseram-nos que nem todo mal causa algo ruim,
vai entender esse povo de marketing. Preciso ir agora, mas
espero que a senhorita fale comigo mais tarde, eu e seu pai te
amamos muito e sentimos sua falta. — Quando ela vai desligar,
me lembro do assunto que fez com que eu ligasse e peço que
espere.
— Mãe, não desliga, tenho algo para contar. Estou
grávida de Christopher. — A linha fica muda por uns segundos e
logo escuto a respiração descompassada dela — Mãe, fala comigo.
— Minha filha, isso é uma notícia ótima, vou ter um
neto(a), não vejo a hora de contar para todos que serei vó. —
Isso não vai acontecer.
— A senhora não pode. Christopher não pode saber
dessa criança, ele irá tentar me fazer voltar e eu ainda não
estou pronta, me prometa mãe, que só contará para o papai. —
Minha mãe fala que é um grande erro, mas que respeitará minha
decisão e conversará com meu pai.
— Agora preciso ir, até mais, meu amor. — Me despeço e
encerro a ligação.
Dois já foram, agora falta meus outros dois pais, ligarei de
noite para encontrar os dois juntos, se estão morando na mesma
casa, então, não vai ser difícil. Graças a Deus o divórcio deu certo e
meu pai está livre da cobra, ambos sempre foram ricos e por isso se
casaram com separação de bens.
— Oi, Liza. Como você está? Já passou o susto? — Clark diz
ao entrar no meu quarto.
— Se quer saber se eu aceitei, sim, mas agora o susto ainda
não passou. Eu vou ser mãe, isso é tão incrível e ao mesmo tempo
desesperador. Você acha que vou ser uma boa mãe? — Acho que
entrei em pânico, porque falei rápido demais e estou nervosa.
— Você será uma mãe maravilhosa, porque você é uma
mulher incrível, que se importa com as pessoas e tem um coração
enorme, se eu não fosse totalmente seu amigo teria me apaixonado
por você, mas era só tesão mesmo. — Dou um tapa no seu braço,
já que ele está deitado na minha cama do meu lado. — Você
consegue ser bem agressiva quando quer, só espero que não piore
com os hormônios. — Olho para ele nada feliz com essa declaração
e ele começa a gargalhar. — Eu te amo maluquinha. — Clark beija
minha testa e me abraça para que eu fique com a cabeça no seu
peito.
— Vou ligar para meus pais biológicos e dar a notícia, minha
mãe, Suzan, me disse que Alice foi presa, finalmente. — Depois de
uns dias, acabei contando para Clark tudo da minha vida, como foi
meu casamento, sobre minha ex-sogra, então, ele está a par de
todas as situações, a única coisa que não contei, além de Paul e
Christopher saberem, é sobre o estupro e o clube noturno, isso
ninguém irá saber, tenho muita vergonha do que me aconteceu e
tem coisas que mesmo as pessoas sendo seus amigos não
precisam saber.
— Nossa, que alegria, a louca psicótica vai ter o que merece,
você conseguiu acabar com a vadia, agora a senhorita está livre,
meu amor. — Estou sim. Abro um sorriso e penso em tudo que
passei para estar aqui hoje, vou poder cuidar do meu bebê em paz.
— Como não fui trabalhar hoje para cuidar da senhorita, vou fazer
nosso jantar, já passa das dezessete e, depois vamos nos sentar no
sofá e ver um filme o resto do dia. — Concordo com a cabeça e nós
dois nos levantamos e descemos para a cozinha.
— Vou querer panquecas de frango com bastante molho de
tomate e uma Coca-Cola com suco de limão. — Outra coisa que
passei amar aqui, claro que tem panquecas nos Estados Unidos,
mas não são feitas como no Brasil e coca com limão é uma delícia.
— Como a senhorita quiser, vai querer arroz ou somente as
panquecas? — Digo que irei querer somente as panquecas e que
depois comerei esfiha de chocolate branco. Esfiha também é outra
delícia, principalmente as doces. — Então, quero que se sente
naquele sofá que irei levar sua coca enquanto cozinho e a noite
pedirei pelo aplicativo a sua esfiha doce.
— Não vejo a hora, eu não vou dizer que depois que soube
da gravidez passei a ter vontades, porque seria uma mentira, mas
desde que cheguei aqui, comer é algo maravilhoso, tem tanta coisa
boa, deveria ter me mudado para o Brasil há muito tempo. — Clark
gargalha e diz que eu deveria agradecê-lo por me mostrar o paraíso.
— Com certeza eu sou muito grata ao meu amigo. — Levanto-me
da cadeira e me sento no sofá, ligo a TV e assisto a série Prison
Break, amo demais e estou na quarta temporada, só falta mais uma
e acabo.
— Aqui está sua coca. — Pego o copo da mão dele e sinto
que o líquido está estupidamente gelado, provo um pouco e posso
sentir o gosto do limão bem de leve, como se fosse somente uma
essência, bem do jeitinho que gosto.
— Obrigada. Vou me acostumar mal com tantos paparicos. —
Clark diz que sempre que puder irá me mimar. — Eu vou cobrar
essa promessa. — Ele sai da sala e escuto o liquidificador ligado,
acho que está fazendo a massa.

(...)

Estou sentada na mesa com Clark ao meu lado saboreando a


panqueca maravilhosa que ele fez e tomando o terceiro copo de
Coca-Cola, acho que exagerei somente um pouquinho.
— E, então, como está? — meu amigo me pergunta sobre
sua comida e não tenho o que dizer, senão, que está maravilhosa.
— Perfeita, como sempre. — Clark é um cozinheiro de mão
cheia, não digo que seja um Master Chef, mas ele consegue se virar
muito bem.
— Fico feliz que tenha aprovado. Vou dormir agora porque
estou cansado, ficar naquela poltrona do hospital por horas não faz
bem a ninguém. — Peço desculpas por ele ter ficado comigo e
agradeço por tudo que ele fez para mim. — Sempre farei tudo por
você, Liza, eu te amo. — Clark beija meu rosto e sai da mesa
levando o prato para a pia e subindo as escadas, pelo jeito nossa
sessão cinema e minha esfiha vai ficar para outro dia.
Depois de lavar a louça, pego um cobertor em meu quarto e
desço para a sala, apago as luzes e ponho o filme “Uma longa
Jornada”. Preciso ligar para meus pais. Enquanto o filme passa,
pego meu celular e ligo para Verô.
— Oi, filha, como você está? Estou com saudades. — É
tão estranho escutá-la me chamar de filha, mas respondo com a
mesma saudação até me acostumar.
— Oi, mãe, eu estou bem, fiquei sabendo pela minha mãe
Suzan o que aconteceu com a Alice, eu sinto muito pelos meus
avós. — Escuto sua respiração mudar e um choro baixo.
— Eu não acreditei no que ela fez, eu amava meus pais e
eles a amavam também, Liza, ela fez isso por raiva e inveja,
tudo para não ficar sem o dinheiro que pertenciam a eles.
Conversei com meu advogado e Alice ficará sem a herança,
passará tudo para mim e serei a única herdeira. — Fico feliz por
minha mãe, mas sei que ela não se importa com dinheiro. Alice
deve ter ficado com ódio, pois da noite para o dia ser pobre, será um
dos piores castigos.
— Pelo menos ela vai pagar por tudo que fez mãe. É
difícil, mas quem sabe ela não mude e se torne um ser humano
melhor. — Para Deus nada é impossível e minha visão mudou
muito desde que sai de casa, eu pelo menos tento.
— Eu não tenho mais espaço pra ódio na minha vida
filha, eu fui até a cadeia e falei com a Alice, mas ela me ignorou
e disse que fez o que tinha que fazer, eu só podia chorar e
chorar, não estou com raiva, eu tenho pena da pessoa que ela
se tornou. — Eu sei qual esse sentimento, não importa o que a
pessoa tenha feito, com o tempo a raiva e o ódio se dissipam e dão
lugar a pena e a mágoa, e com o fim se torna perdão, mas essa
última parte só os fortes conseguem. — O advogado disse que ela
poderá pegar 35 anos na penitenciária, o julgamento será em
um mês e ela não tem chances nenhuma, Christopher fez muito
bem o trabalho de casa e conseguiu deixá-la sem alternativa. O
promotor disse que se ela confessar diminuirá a pena em cinco
anos do total que ela poderá ser sentenciada, mas também
deixou claro que vai tentar de tudo para que o juiz dê perpétua
a ela, caso não confesse e eu nesse meio todo estou de braços
cruzados, pagar um advogado a ela faz com que minha
consciência me culpe por apoiar o que ela fez e meu coração de
irmã diz que eu deveria ajudá-la, por enquanto ela está com um
advogado público designado pelo governo.
— Ela terá que tomar uma decisão e espero que seja a
certa, mas o meu motivo para a ligação é outro. — Respiro
fundo, enquanto me concentro para contar. — Estou grávida de
seis semanas.
— Como assim, quem é o pai? — Acho que Verônica está
um pouco desesperada.
— Christopher é o pai, mãe. Eu não dormiria com outro
homem tão cedo. — Ela diz que está feliz por mim e deixo claro
que ele não poderá saber.
— Vai ser difícil para o seu pai guardar esse segredo,
sabe que ele tanto quando Charles são amigos do pai de
Christopher e dele também. — Eu sei, mas é complicado, por isso
peço descrição.
— Pois eles terão que respeitar minha decisão. —
Verônica me pergunta o porquê de tudo isso e somente digo que
não quero entrar em detalhes.
— Tudo bem, eu compreendo, mas fico muito feliz, pois
vou ser vovó. Queria te dizer que seu pai está querendo casar
comigo e que pedi um tempo, pois está tudo muito recente. —
Que coisa boa, fico extremamente feliz pelos dois, sei o quanto se
amam e como essa união será perfeita. — Vou conversar com seu
pai e contar a novidade, ele não está aqui no momento, mas
explicarei seus motivos, apesar de não os conhecer ao todo. —
Queria falar com os dois ao mesmo tempo, mas quando vi já estava
contando tudo para ela.
— Obrigada, mãe. Tenho que ir agora, fiquem com Deus,
amo vocês e, por favor, não se sinta tão mal, Alice não merece
suas lágrimas. — Ela diz que tenho razão e se despede.
— Boa noite, meu amor e, cuida do nosso anjinho. —
Desligo o celular e ponho na mesinha de centro da sala. Volto a
prestar atenção no filme e vejo que já se passou muitas cenas,
mesmo assim continuo a assistir. De hoje em diante minha vida será
outra e eu me tornarei não só uma mulher forte, como mãe também.
Capítulo 35

Christopher
Minha vida sem Elizabeth não está das melhores, ambos
erramos em nosso relacionamento e isso começou a partir do
momento que nos envolvemos enquanto Liza era casada,
deveríamos ter feito tudo certo, mas ficamos cegos pela paixão.
Quando eu recebi aquele e-mail, achei que meu mundo iria acabar,
mas respeitei sua vontade e, não fui atrás dela ou sequer liguei e
nem mandei mensagem, se ela quer um tempo, é isso que irei dar a
ela.
Meu pequeno Nathaniel nasceu lindo e saudável, é um bebê
esperto e quase nem chora, eu achei isso uma dádiva já que muitos
bebês choram demais nos primeiros meses de vida, a pediatra me
disse que tenho que agradecer muito a Deus porque meu filho é um
entre milhões.
O relacionamento que tenho com Suzane é estritamente de
amizade e pais com relação a Nathan, não vou dizer que ela não
tentou muitas vezes voltar para mim e até me beijou um dia, mas
tratei de afastá-la, dizendo claramente que amo a Liza e deixar de
amá-la não é fácil e temo que nunca consiga, acredito que se for
para ficarmos juntos, a vida e o Senhor a trará para mim novamente.
Minha mãe veio ao meu apartamento conversar comigo sobre
meu filho e deixar claro que se arrepende pelo modo que tratou
Elizabeth. Depois da prisão de Alice, ela mudou suas perspectivas e
se sente muito envergonhada pelo que fez, eu disse que Liza não
era uma mulher rancorosa e que com certeza já havia até
esquecido, mas o que me deixou bravo no fim da visita é ela querer
que eu case com Suzane. Meus pais são muito tradicionais e
acreditam que uma criança deve nascer em um lar estável, mas
deixei claro que meu filho é um menino muito amado pelos seus
pais e que não precisamos morar juntos ou assinar um papel para
ele ser feliz, porque no fim seria somente isso, um contrato, pois não
amo e nem nunca amei Suzane. Antes em algum momento me
arrependi amargamente por tê-la engravidado, mas quando se vê o
rostinho do seu filho, esse pensamento muda completamente, eu
sou tão agraciado pelo meu menino e não consigo mais me
arrepender por tê-lo, apenas queria que fosse da mulher que eu
amasse. Às vezes, me pego pensando em como seria um filho meu
e da Liza, tenho certeza de que se parecia com ela, porque aquela
mulher é tão linda, seu rosto angelical, sua pele macia, tudo nela me
encanta e ela está enraizada no meu coração.
— Christopher, onde estão seus pensamentos? — Desperto
dos meus devaneios e olho para Suzane com meu filho no colo. Vim
visitá-lo, mas me perdi em minhas lembranças.
— Em meu filho, penso muito nele — minto porque não quero
questionamentos da minha vida. — Seus pais viram visitá-la que
dia?
— Eles veem na semana que vem. Segura aqui o pequeno.
— Suzane me passa meu filho para que eu o pegue no colo e,
quando sinto seu corpinho em minhas mãos a sensação é de pura
felicidade. Ele é tão pequenino e um amor, dorme demais e não vejo
a hora de ouvir suas palavras ou vê-lo andando. — Fizemos um
bom trabalho, Christopher, ele é perfeito. Nunca pensei que poderia
amar alguém dessa maneira, é tão intenso, eu sinto que morreria
por ele sem pensar duas vezes. — Eu sei o que ela sente, porque é
o mesmo que eu sinto.
— Sim, Suzane, ele é incrível. — Passo a mão em seu
rostinho e ele segura meu dedo com essas mãozinhas gordinhas. —
Voltará a trabalhar quando, precisamos contratar uma babá.
— Por enquanto eu cuidarei do meu bebê, não vou voltar a
trabalhar nesses primeiros meses, como trabalho para a empresa
do meus pais, eu consigo ficar em casa mais tempo do que o
permitido, não quero me afastar dele. — Queria que meu bebê
ficasse comigo, mas concordei com Suzane quando decidimos que
no começo era melhor ele se acostumar a ficar aqui e com ela,
venho visitá-lo todos os dias, mas não o levo.
— Tudo bem, você tem razão, devemos esperar um pouco.
Sabe que pode contar comigo para qualquer coisa. — Eu sempre
me coloco a disposição para meu filho, largo tudo por ele.
— Eu sei Chris, você é um homem incrível e um pai
maravilhoso, não poderia arrumar um melhor para meu Nathan. —
Suzane tem se mostrado uma mãe atenciosa e amorosa, cuida bem
do nosso filho e sempre é presente na vida dele, afinal, ainda somos
bons amigos. — Teve notícias dela?
— O que eu te falei sobre conversarmos sobre a Liza, eu sou
seu amigo Suzane, mas não quero falar dela com você, porque
conheço sua opinião em relação a ela e não é muito boa. — Olho
para meu filho em meu colo e ele está dormindo feito um anjinho.
— Me desculpa, só penso em como é injusto você amar uma
mulher que não lutou por você. — Eu não sei se consigo conviver
com esses julgamentos que faz contra Liza.
— Ela lutou muito por mim, eu que a ignorei porque estava
com o orgulho ferido, me magoei muito com a atitude dela e fechei
os olhos para razão. Liza é uma mulher incrível e não quero você
falando mal dela, nada do que você disser me fará deixar de amá-la.
— Vejo raiva estampada em seu rosto e, espero que um dia possa
encontrar alguém que a ame.
— Como pode um homem como você definhar nessa paixão
sem sentido, ela foi embora, Christopher, escolheu desistir de você
e em vez de estar superando isso, continua com esses
pensamentos inoportunos cravado na mente. — Ela se levanta e sai
da sala pisando firme. Enquanto espero que se acalme, fico um
pouco mais com meu bebê.
Sempre quis ser pai, mas nunca imaginei como seria bom
quando isso acontecesse. Pedi teste de DNA para Suzane depois
que terminei com Liza para comprovar a paternidade, claro que ela
não gostou nada da minha desconfiança e se sentiu ofendida, mas
não podia deixar de ter certeza, aprendi que na vida uma mulher
quando ama faz de tudo para ter o homem ao seu lado.
— Suzane, você está bem? Não quero brigar com você, só
deixar claro o que eu penso dessa sua atitude descabida, não temos
um relacionamento e nunca teremos — falo mais alto para que me
escute, enquanto ponho meu filho no bebê conforto.
— Você não dá uma chance para nós, sabe que eu poderia te
fazer feliz Chris, por favor, nos dê uma segunda chance. — Suzane
volta para a sala e está vestindo um robe, não sei o que ela está
fazendo, mas espero que não seja o que eu estou pensando.
— Cansei de tentar explicar a mesma coisa para você, vou
embora e depois quando chegar a razão conversamos. Boa noite,
Suzane. — Saio da sala indo em direção a porta e ela corre até mim
parando na minha frente.
— Eu posso mostrar a você o quanto sou persuasiva, não
desisto fácil como ela. — Ela tira o robe que a cobre e está
completamente nua. — Eu sou sua, faz o que quiser comigo. — Eu
vou fazer sim, mas algo que ela não vai gostar nada e vai ferir seu
orgulho, só espero que assim ela aprenda.
— Eu olho pra você e não sinto tesão nenhum Suzane, você
é uma mulher linda, mas não é mulher pra mim, eu não quero
transar com outra, eu quero minha Liza e, mesmo que no futuro eu
fique com alguém, pode ter certeza que será somente sexo casual.
— Peguei pesado e com certeza posso ser chamado de escroto,
mas eu não ligo, tenho que falar de um modo que ela entenda de
uma vez, até agora usei palavras brandas e isso vai mudar.
— Você pode ter sexo casual comigo. — Ela passa a mão em
meu corpo e eu tiro suas mãos de mim, pego o robe para que vista
e dou a ela.
— Não, eu não posso, porque em você existe sentimentos e
eu não vou alimentar isso, não sinto vontade de tê-la em meus
braços, sinto muito. — Saio de lá sem olhar para trás e vou para
casa. Eu poderia ficar um tempo sem vê-la para deixá-la pensar,
mas com Nathaniel não temos esse luxo.
Deixarei a vida me levar para onde quiser e esperarei ansioso
pelo meu futuro, porque eu anseio para tê-la de novo, minha amada,
Elizabeth, só Deus sabe o quanto peguei meu celular querendo ligar
ou mandar um e-mail, é uma luta constante, mas até agora eu tenho
me saído vitorioso e com meu filho tem sido mais fácil, pois me
distraio com ele.
Capítulo 36

Cinco meses depois...


Nem parece que já se passaram meses, depois que descobri
que estava grávida parece que meu corpo passou a querer me
sacanear, me sinto imensa com um barrigão de 26 semanas, quase
sete meses, meus seios estão inchados assim como meu pés e
tenho uma fome descontrolada, como coisas que ninguém comeria
e amo encher o saco de Clark durante a noite para saciar meus
desejos, apesar de já ter parado com isso. Descobri que estou
carregando uma linda menininha e decidi dar o nome de Lucy,
minha pequena luz depois dos meus dias em trevas.
Meus amigos vivem me paparicando, trazem coisas para
comer e presentes para minha bebê. Rafaela não sai mais da casa
de Clark, diz que vem me visitar, mas quando os dois somem de
repente, sei que estão por aí transando feito coelhos, parece que
meu amigo está mudando um pouco sua perspectiva e
reconhecendo que não pode perder aquele mulherão.
Durante esses meses minha amiga Sabrina voltou de férias,
ela também trabalha comigo e é analista, assim como um amor de
pessoa. Sabrina Albuquerque é uma mulher negra que tem um
cabelo black de arrasar, particularmente acho minha amiga uma
mulher linda demais e se eu pudesse escolher teria nascido negra,
seus olhos são pretos e ela tem um corpo matador.
Fui ao obstetra durante esse tempo e estou tomando
vitaminas, assim como remédio para ânsia, porque nos primeiros
meses eu jogava tudo para fora. Vamos dizer assim que minhas
consultas estão ótimas, o doutor me orienta bem e até dieta tenho
que fazer, mesmo que não chegue a cumprir com muito empenho,
mas para isso tenho o Clark que fica do meu lado que nem cão de
guarda.
O Doutor Miguel Soares é meu obstetra, um homem muito
lindo e competente, tem cabelos loiros e olhos verdes e é muito
gostoso, ele vive tentando me levar pra jantar, mas sempre evitei
que se aproximasse, até porque é antiético relacionamento entre
paciente e médico, mesmo assim, ele não liga muito já que tem sua
própria clínica e, de tanto insistir acabei aceitando sair com ele.
No trabalho fui promovida, pois no Brasil estagiário não tem
direito a licença a maternidade, mas graças ao Carlos que me
ajudou, consegui ser efetivada e agora sou assistente.
Depois que Alice foi excluída do testamento dos pais e o
dinheiro voltou para Verônica, minha mãe transferiu toda a herança
para o meu nome mesmo depois de dizer que eu não queria, ela me
implorou que eu ficasse com ele e fizesse minha estadia no Brasil
melhor possível, acabei aceitando e hoje já comprei até meu carro,
sendo uma BMW 2019 de 140 mil. Continuo morando com Clark,
pois ele me implorou para não deixá-lo sozinho, mas agora ajudo
nas despesas e meu trabalho na empresa continua de pé, já que eu
não vou deixar de trabalhar só porque estou rica. Muitos podem
dizer que eu sempre fui por causa dos meus pais, só que agora
esse dinheiro é só meu e no futuro também será da minha menina,
tudo bem que ele veio fácil, mesmo assim pertence a mim. A fortuna
dos meus avós é bem extensa. Alice vendeu a empresa que fazia
parte do patrimônio e investiu o dinheiro em propriedades nas várias
cidades dos Estados Unidos e também em outros países, além de
ter uma conta “recheada” no banco, nunca poderia pensar em tanto
dinheiro assim, eu achei que a mulher vivia as custas de Joseph,
mas hoje vejo que eu não sabia nada de sua vida. Um dia pensei
que mesmo que não morasse aqui seria bom ter uma casa para
quando viesse visitar, pois amei o Brasil imensamente, mas ainda
não concluí meu pensamento sobre isso. Graças a Deus as pessoas
que me rodeiam não conhecem meu passado e nem meu legado,
pois não seria nada bom que soubessem.
Alice foi presa e sentenciada a 30 anos de cadeia sem direito
a liberdade condicional após confessar os crimes, não fiquei triste
por ela, pois mereceu tudo isso, parece que ela não está a envolvida
com o roubo na empresa e nem com a morte de Samira e fiquei um
pouco mais aliviada por essa notícia, mas apesar de tudo, nada
apaga ela ter matado os próprios pais.
Na semana passada, recebi uma mensagem de Christopher,
primeiro entrei em pânico e depois quando relaxei, porque não
posso me estressar ou sofrer fortes emoções, li a mensagem e
acabei recebendo apenas um informativo de que Sebastian, o
cretino que tentou me estuprar no Baile de aniversário do meu pai
Joseph, está falido, a família dele perdeu todo o dinheiro e não
poderia pedir melhor vingança, eu disse que a vida iria cobrar o mal
que ele me fez.
Minhas aulas na faculdade estão ótimas, o ruim é que terei
que parar por alguns meses, meu português melhorou muito e até
falo bem melhor agora, principalmente prático muito com Clark,
Rafa, e Miguel, apesar de que ele também fala inglês.
— Liza, você está pronta? Miguel está aqui. — Clark bate na
porta do meu quarto.
— Só um minuto, já desço. — Vou até o espelho e me olho
por completo.
Estou com um vestido branco que marca meu quadril e minha
barriguinha avantajada, mesmo eu me achando gorda durante
esses meses, não ligo de usar vestidos que marcam, sempre dizem
que não é porque a mulher está grávida que temos que virar freira e
usar roupas largas, então, acabei colocando esse que vai até os
joelhos, liso e ombro a ombro, uso em meu pescoço o colar que
Chris me deu, porque não pude me desfazer dele e nos pés uma
sandália, pois estou proibida de usar saltos, mas ainda muito bonita,
pois é cheia de pedrarias. Pego minha bolsa de mão com meu
celular, carteira e batom, desço as escadas e avisto Miguel na porta
conversando com Clark, o homem está uma beleza vestindo um
terno sem gravata na cor azul e no rosto sua barba alinhada, te
dando um ar sexy, apesar de ter 38 anos, ele é muito lindo e ainda
tem tatuagens.
— Boa noite, Miguel. — Ele olha para mim e me dá um beijo
no rosto.
— Uau, você está perfeita. — Sorrio para ele e digo que ele
também está lindo.
— Vamos, nossa reserva é para daqui 30 minutos. — Me
despeço de Clark e digo em seu ouvido que não tenho hora para
voltar e ele me diz que para quem tanto negou, até que estou
gostando. — Boa noite, amigo.
— Nos vemos um outro dia Clark, prometo que cuidarei
dessa linda mulher.
— É bom mesmo, isso se você quiser continuar com todos os
dentes na boca e não se esqueça da minha afilhada. — Ele passa a
mão em minha barriga e depois saio com Miguel em direção à rua.
— O restaurante é nordestino, sei que pode não ser o que
estava acostumada nos Estados Unidos, mas garanto que é muito
bom. — Mal sabe ele que amo esse tipo de comida.
— Você mexeu com minha paixão, sempre gostei desse tipo
de restaurante e frequentava com meus pais, mesmo que poucas
vezes. — Ele abre um sorriso lindo e depois de abrir a porta do
carro para eu entrar, dá a partida e seguimos caminho.
— Fiquei tão feliz quando você aceitou meu convite. —
Quando paramos no farol, Miguel pega em minha mão e faz carinho
nela.
— Eu também não me arrependo de ter aceitado, só que
antes não achava correto por ser meu médico e, ainda por cima não
estava a fim de relacionamentos. — Talvez eu mude de opinião em
um futuro distante, mas não tenho certeza sobre isso, agora terei
uma filha e isso muda um pouco as perspectivas de qualquer um.
— Desde a primeira vez que te vi fiquei encantado com seu
sorriso, você é maravilhosa, Liza, e cada vez que te via eu
confirmava isso. — Sorrio para ele e, então, também aperto sua
mão e ele percebe minha atitude.
— Obrigada, Miguel, você também é um homem muito
especial. — Quando o sinal abre, ele solta minha mão e volta a
colocá-la no volante. Alguns minutos depois chegamos no
restaurante, Miguel estaciona o carro e abre a porta para que eu
saia e, depois seguimos para dentro.
— Boa noite, a reserva está no nome de Miguel Soares — ele
diz a recepcionista que fica na entrada do restaurante.
— Boa noite, Sr. e Sra. Soares, me sigam, por favor. —
Ambos não desfazemos o mal entendido e seguimos logo atrás
dela. — Aqui está. — Quando nos sentamos na mesa, ela nos
entrega o menu e depois de chamar o garçom, fazemos nosso
pedido.
— Então, me conta um pouco da sua vida Miguel.
— Minha vida não é tão interessante assim, Liza, mas farei
um breve resumo. Sou obstetra porque amo essa profissão, posso
não ser milionário, mas vivo muito bem. Sou viúvo e não tenho
filhos. — Depois de escutar essas palavras, digo que sinto muito e
pergunto para ele do que a esposa dele morreu. — Foi em um
assalto, ela estava voltando do trabalho quando tentaram roubar o
carro dela, enquanto estava parada no farol, não quiseram somente
os bens, tiveram que levar também a vida da minha esposa. —
Sinto que ainda sofre por isso e, ele esclarece que ela morreu tem
apenas 4 anos. — Ela era uma mulher cheia de vida, esperta,
inteligente e carinhosa, eu a amava muito.
— Que coisa mais triste Miguel, sinto muito por tudo que
aconteceu, ela não merecia morrer de uma forma tão trágica. —
Que crime mais hediondo. — Os culpados foram presos?
— Sim, depois de gastar muito dinheiro procurando por eles,
já que a polícia desistiu do caso três meses depois do ocorrido, eu
lutei muito para achar os assassinos de Letícia, eu devia isso a ela e
para mim poder finalmente viver em paz. — Eu compreendo, acho
que também faria o mesmo.
— Você fez o certo, o importante é que você não deu um de
justiceiro e colocou pessoas experientes para lidar com a situação.
— O garçom logo aparece com nossos pedidos e nos servimos de
muitas delícias, principalmente eu que como demais.
— Vejo que ama mesmo esse tipo de culinária. — Assinto
com a cabeça, enquanto como. — Agora a Senhorita me conte um
pouco sobre você. — Ferrou! Preciso falar sem muitos detalhes.
— Sou divorciada há um ano, mãe solteira, mas claro que
isso você já sabia, morava nos Estados Unidos e depois que tive um
relacionamento um pouco complicado, me mudei para cá para
morar com meu amigo. — Acho que está bom de tanta informação.
— O pai do seu bebê é seu ex-marido? — Caramba, por que
as pessoas têm que ser tão curiosas?
— Não, é do meu ex-namorado, depois que me divorciei tive
um relacionamento breve com um amigo da família. — Ele olha para
mim meio confuso, porque como pode uma pessoa namorar sem
nem ao menos fazer um ano de separação. — Juro que não é o que
você está pensando, é bem complicado e agora não fico a vontade
de comentar sobre isso.
— Tudo bem, Liza, não estou aqui para te julgar, somente
quero conhecer a mulher que não sai dos meus pensamentos. —
Coro com suas palavras, mas respondo.
— Esse é o modo que você arrumou para me dizer que sente
algo por mim? — Eu sei que ele sente, mas não posso deixar de
fazê-lo falar com suas próprias palavras.
— Achei que estava óbvio depois de tanto tentar para que
aceitasse ao menos jantar comigo. — Realmente eu o fiz implorar
por um tempo e hoje até me sinto um pouco culpada, Miguel é um
homem bom.
— Talvez durante esses meses eu tenha sido um pouco má.
— Ele abre um sorriso e volta a comer.
Comemos em silêncio o resto do tempo, mas em alguns
outros momentos falamos do nosso dia a dia e até mesmo sobre
minha Lucy, não vejo a hora de ver seu rostinho e seu corpinho
pequeno em meus braços.
— Eu poderia te oferecer uma bebida, mas seria negligência
do seu médico. — Dou uma risadinha contida, enquanto o garçom
retira nossos pratos.
— Mas eu posso aceitar um sorvete bem grande de
chocolate com muita calda de morango. — Miguel faz o pedido ao
garçom apenas para mim. Nesse restaurante não é o viável, mas
para agradar também as crianças, temos essa sobremesa no menu.
— Não vai comer?
— Não gosto muito de sorvete, prefiro ficar com um copo de
whisky, mas hoje não farei isso. — Assinto preocupada com que ele
seja tão irresponsável para beber, enquanto está comigo e ainda
dirigindo, mas graças a Deus, ele é responsável. — Você fica linda
de qualquer jeito, Elizabeth, os homens que te deixaram são uns
idiotas, porque ninguém em sã consciência abandona uma mulher
incrível como você.
— Admito que você com elogios é muito bom, é alguma
tentativa de fazer com que eu aceite sair com você de novo Miguel?
— Ele pega em minha mão por cima da mesa e a beija, quando ele
encosta seus lábios em minha pele é de forma calma e um pouco
sensual.
— Talvez eu só queira que você aceite tentar algo mais sério
comigo. O que me diz, Liza? — Eu sabia que poderia terminar a
noite com essa pergunta e na verdade, eu já tenho uma resposta.
— Que tal deixarmos assim, ver o que acontece sem rotular
nada. — O garçom chega com minha taça de sorvete e puxo minha
mão do agarro de Miguel, tomo meu paraíso em forma de chocolate
e bem geladinho.
— Acho que posso sobreviver com isso, mas talvez não seja
o suficiente por muito tempo. — Assinto e, então, volto a tomar meu
sorvete.
O fim da noite foi incrível, Miguel se mostrou uma pessoa
atenciosa, gentil e bastante safada, ele disse que irá me conquistar,
mas que nunca será um homem de meias palavras, o que ele quer,
ele fala. Confesso que senti um arrepio na espinha, esse é um
homem de fibra que toda mulher deveria ter. Saímos do restaurante
e ele me leva de volta para a casa.
— Chegamos. Espero que tenha uma ótima noite, Elizabeth.
— Quando estou pronta para abrir a porta do carro, Miguel já saiu
de dentro dele e deu a volta para abri-la para mim. — Quero beijar
você, posso? — Assinto e, então, ele se aproxima e sela nossos
lábios.
Caramba esse homem beija muito bem, a língua dele faz
uma sincronia perfeita com a minha, pego em seu pescoço e o
aproximo mais de mim, mesmo a barriga impedindo um pouco, sinto
seu perfume e ele para o beijo para beijar meu pescoço, aperta
minha cintura com uma mão e outra passa por minhas costas.
— Esse beijo está sendo gostoso demais — ele comenta e
depois volta a me beijar, mas dessa vez pega por dentro do meu
cabelo e a outra mão passa em meu rosto. — Seu cheiro é viciante.
— Passa os lábios por meu pescoço, ombro e na nuca. Putz! Esse
homem é bom no que faz.
— Miguel, acho melhor pararmos, estamos se pegando no
meio da rua. — Ele olha em volta e começa a rir.
— Você tem o poder de me deixar sem controle. Boa noite,
Liza. — Dou um selinho em seus lábios e entro no prédio, pego o
elevador e subo para o apartamento de Clark.
— Uau, o que foi aquilo, hein? — Clark está sentado na sala
olhando para mim, enquanto entro e tranco a porta. — Se pegando
logo no primeiro encontro, pensei que você fosse melhor do que
isso, Elizabeth. — Dou uma risada da sua cara de pau e tento
acertar minha bolsa nele, mas ele desvia a tempo.
— Cuida da sua vida, Clark. — Pego minha bolsa que está
em sua mão e ele dá uma gargalhada, enquanto subo para o quarto
e me tranco nele, deito-me em minha cama e fico pensando no que
acabou de acontecer. Miguel beija muito bem e caramba, eu nem
lembrei de Christopher durante esse beijo.
Pego minha toalha e tomo um banho para relaxar, estou
muito cansada, principalmente por causa dessa barriga pesada. Não
sei se me precipitei em dar uma chance ao Miguel, mas realmente
eu gostei muito por ter tomado essa decisão. Quando me deito na
cama, escuto meu celular apitar e o pego para ver quem é, Miguel.
“Pensando em Você” — Sorrio com sua declaração, mas
não respondo, apenas fecho os olhos com um sorriso nos lábios.
Capítulo 37

Mais um dia de trabalho, hoje é sexta feira e já me sinto


extremamente cansada. Depois que fui promovida, minha jornada
de trabalho aumentou para 8h por dia. Ganhar um salário maior,
com certeza é um bom incentivo, mas trabalhar feito louca não é
nada legal e agradeço por meu trabalho não atrapalhar minhas
consultas e minha gravidez ser saudável. Em uma das minhas idas
ao consultório, contei ao Miguel sobre minha primeira gravidez, pois
como meu obstetra, ele tinha que ter ciência e, disse-me que para
melhor avaliar o caso eu deveria entregar-lhe a ficha médica sobre
meu acompanhamento durante a gestação, mas lhe respondi que
não tinha esses documentos comigo e que talvez estariam arquivos
no hospital em Sweet Dreams, nunca soube o real motivo pela
morte do meu filho, nada me foi explicado pelos médicos a não ser o
que Paul me disse, que ele havia amanhecido morto com parada
respiratória, logo depois disso entrei em depressão por meses e,
não corri atrás da verdade ao deixar meu ex-marido resolver essa
parte da minha vida.
Chego na empresa e estaciono o carro no subsolo, subo de
elevador ao meu andar e passo meu crachá pela catraca que
disponibiliza o acesso dos funcionários, a empresa mudou o sistema
no mês passado e acabou por colocar catracas em cada andar e,
não somente no térreo como era antes, a minha sorte é que ela é
baixa e, não pressiona minha barriga quando passo, porque tem um
longo espaço.
— Bom dia, Elizabeth. — Passo pela mesa de Rafaela e ela
me cumprimenta.
— Bom dia, Rafa. Onde está Sabrina? — Ela me diz que Sa
foi buscar um café na copa e, que já está voltando.
— Oi, meu amor. Como você está e a minha sobrinha? —
Sabrina vem até mim e, me dá um abraço desajeitado, enquanto
acaricia minha barriga.
— Sua sobrinha está ótima e eu também. — Foi uma luta
para decidir qual das duas seria a madrinha da minha Lucy e por fim
escolhi que Rafaela ocuparia esse lugar e que Sabrina seria
considerada uma tia postiça, isso logo depois que elas me deixaram
maluca com um jogo criado por ambas para disputarem esse
espaço, lembro-me que dei altas gargalhadas com essas duas
loucas. — Carlos já chegou, preciso entregar a ele os papéis da
reunião de hoje à noite no jantar com alguns clientes.
— Sim, ele já chegou e nos deu uma ótima notícia, terá festa
da empresa daqui algumas semanas — Sabrina fala com
entusiasmo, minha amiga sempre foi uma amante de festas e, gosta
de se divertir o máximo que pode. — Pode levar acompanhante,
Liza. Que tal convidar aquele gostoso do Miguel?
— Ontem tivemos um jantar incrível e ele me beijou quando
me levou para casa. — Rafaela dá um gritinho de surpresa, mas
logo depois se contém, porque não estamos em casa. — Dei uma
oportunidade a ele e, espero não me arrepender.
— Ele beija bem? — Rafa empurra sua cadeira e, se junta a
nós em minha mesa.
— Mais do que bem, Miguel tem uma pegada maravilhosa. —
Minhas amigas abrem um sorriso largo e dizem que estão felizes
por mim.
— Mulher não perde a oportunidade e transa com ele. —
Olho pra Sabrina e faço cara de debochada.
— Sério, Sa, que tipo de mulher você acha que eu sou. —
Tudo bem que tenho vontades, principalmente depois da gravidez,
mas não me entregaria tão rápido assim.
— Garota, sua pepeca está criando teia de aranha, vai
apreciar a vida, Liza, não fique arrumando desculpas, apenas sinta.
— Talvez ela tenha um pouco de razão, quem sabe.
— Preciso ir à sala do Carlos. — Pego a pasta em cima da
mesa e vou em direção a sala do meu chefe, bato duas vezes e
escuto ele pedir que eu entre.
— Bom dia, Liza. — Respondo com a mesma saudação e
entrego a pasta com os documentos. — Obrigada pelo relatório, irei
preparar a apresentação depois de lê-lo. — Ele se levanta da
cadeira e vem até mim. — Como está essa bebezinha? — Carlos
passa as mãos em minha barriga e faz um carinho, porque será que
todo mundo gosta de pegar em barriga de grávida, vai entender.
— Minha bebê está ótima e saudável, fico cada vez mais
ansiosa para vê-la. — De repente escuto a porta ser aberta e quem
eu menos esperava passa por ela.
— Carlos, o que está acontecendo aqui? — Ele tira a mão da
minha barriga e vai até a porta.
— Amor, não sabia que vinha aqui. — Carlos dá um beijo em
sua esposa, mas ela se afasta sem muita vontade de corresponder
e já até sei o porquê.
— Como vai Estela? — pergunto apenas por educação, pois
não sei por que ela me odeia. A mulher é linda, alta e tem cabelos e
olhos pretos, com apenas 35 anos, enquanto Carlos é loiro de olhos
azuis, tem 40 anos e ambos possuem uma filha de 15 anos,
também loira de olhos azuis.
— Olá, Elizabeth, não queria atrapalhar o momento de vocês
— diz com raiva e posso ver Carlos envergonhado.
— Apenas estava contando ao meu patrão da saúde da
minha bebê. Com licença Carlos. — Saio da sala e ignoro o olhar
mortal que a mulher me lança quando passo por ela.
— Meninas, vocês não sabem o que aconteceu, Estela
chegou bem na hora que Carlos passava a mão na minha barriga e
me olhou com cara de nojo. — Ambas arregalam os olhos e dizem
não gostar da atitude dela.
— Eu não entendo essa mulher, tem um homem lindo ao seu
lado, totalmente apaixonado e ainda arruma tempo para ser uma
louca ciumenta. — Concordo com Sa, mas talvez só seja
insegurança.
— Nem quero saber os reais motivos, finjo que nem me afeto.
— Viro para frente e começo a trabalhar, porque o dia é longo.

(...)

Tenho que ir para a faculdade daqui duas horas, já saí do


trabalho e estou dirigindo até a Livraria Cultura que foi muito bem
recomendada, dizem que é enorme e como adquiri o hábito de ler,
não vejo o porquê de não aproveitar.
Chego na Avenida Paulista em vinte minutos, pois não é
muito longe da empresa e entro no local, no começo me assusto
com o tamanho do lugar, mas depois vem a satisfação e a
felicidade, pesquisei dois livros na internet, li a resenha de ambos e,
percebi o quanto é bom e quis vir comprar.
— Boa noite, senhorita. Quer ajuda? — Uma vendedora me
para, enquanto observo ao redor.
— Sim, por favor, gostaria de achar esses dois livros. — Dou
a ela o papel com o nome dos dois, o primeiro escolhido é “Antes
da Última Respiração” da autora Ariane Fonseca e, o segundo é
“Meu Farol é Você” de Tyanne Maia.
— Esses livros são maravilhosos, já li ambos e me emocionei
imensamente, cada história é mais linda do que a outra, a senhorita
irá amar. — Seguimos pelos corredores enorme e, ela pega ambos
da prateleira e me entrega. — Aqui está meu cartãozinho para
apresentar no caixa, tenho que receber comissão pelas vendas.
— Obrigada por me ajudar. Tenha uma boa noite. — Vou em
direção ao caixa e pago pelos livros, volto para o meu carro, guardo
os dois no banco de trás e, vou para casa tomar um banho e depois
seguir para a faculdade.
Chego e abro os portões da garagem, estaciono o carro na
vaga disponibilizada para os inquilinos, sendo que nesse prédio é
duas por apartamento e subo de elevador.
— Clark, cheguei, vou tomar banho para sair de novo — grito
e não escuto nenhuma resposta, pego meu celular e vejo que tem
uma mensagem dele me dizendo que chegará tarde, o que será que
ele está aprontando. Subo para meu quarto, tiro a roupa e vou para
o banheiro.
Depois de tomar um banho rápido apenas para tirar o suor do
corpo, coloco um vestido solto cheio de flores e uma sandália nos
pés. Pego meu celular porque está tocando e vejo pelo identificador
de chamadas que é Miguel.
— Oi, Miguel, como está?
— Oi, desculpa não ligar para você, o consultório hoje
está uma loucura, fiz dois partos e eram meninos, um mais
lindo que o outro. — Vê-lo falar assim me emociona e sei que ele
daria um bom pai. — Está indo para a faculdade?
— Sim, estou saindo agora antes que chegue atrasada,
mudei da tarde para à noite e ainda estou me acostumando,
daqui um tempo terei que parar por quatro meses e, vou estar
mais perdida ainda quando voltar. — Vai ser uma luta, mas não
vou desistir, quero me formar em um curso que goste.
— Você vai conseguir, é inteligente. Fica em paz. — Fico
um pouco insegura, mas me convenço todos os dias a não fraquejar
e nem abandonar nada.
— Agora preciso ir, vou dirigir. — Escuto Miguel bufar do
outro lado e já sei o que tem a dizer, há alguns dias ele me disse
que era melhor eu parar de dirigir por causa desse barrigão, mas
depois que adquiri meu carrinho não consigo, então, vou segurar até
quando der, que no caso será no oitavo mês de gestação.
— Você é uma teimosa, mas se cuida, tenha uma ótima
noite e amanhã nos falamos. — Me despeço e desligo o celular.
Pego minhas chaves e desço para a garagem, pois a mochila já fica
no carro.
As ruas de São Paulo estão muito movimentadas, deve ser
porque ainda são dezenove horas em uma sexta-feira, dia de
aproveitar e se divertir com os amigos. Infelizmente mudaram um
pouco a grade curricular da faculdade depois que acabou um
semestre, agora tenho aula três vezes por semana.
Chego na faculdade, estaciono o carro na calçada em frente
e entro. A Broward é um prédio espelhado e muito bonito, não tem
muitos alunos aqui, mas pra mim já é o suficiente, não fiz amigos
novos, apenas alguns colegas de turma com quem faço trabalho em
sala de aula, conversamos às vezes, mas nada muito íntimo como
com as meninas e Clark.
— Boa noite, Liza. Que barriga enorme, parece que cresce
cada dia mais — Riley fala, enquanto me sento ao seu lado, ela faz
parte do meu grupo de trabalhos e estudos, é uma mulher muito
linda com seus cabelos castanhos e olhos cor de mel, ela morava
no Canadá, mas veio para cá estudar e conhecer uma nova cultura.
As aulas aqui são totalmente em inglês, então, está sendo uma
ótima convivência, pois aprendo o português e não esqueço da
minha língua oficial.
— Sim, Lucy está ficando enorme. — Dou um sorriso e, sinto
Lucy chutar quando coloco rapidamente a mão na minha barriga.
— Você é bem corajosa por ser mãe, eu não tenho vocação
alguma para isso — Mason diz, enquanto se senta na cadeira a
frente. Ele é um homem magro, sem músculos algum, tem cabelos
pretos, usa óculos e veio da Flórida.
— Não foi planejado Mason, mas amo meu bebê
imensamente e serei uma boa mãe para ela. — Em alguns minutos
a sala começa a ser preenchida e, o professor entra com os alunos
para começar a aula.
Foi bem extensa essa aula de hoje, fiquei três horas sentada
e, só me levantei para ir ao banheiro e comprar chocolate. Depois
do término, o professor me chamou em sua mesa e me disse que
conseguiu falar com a secretária e, disponibilizam trabalhos
extracurriculares para mim, assim como aulas on-line enquanto
estiver de licença a maternidade para evitar que eu perca o
semestre, fiquei tão feliz com a notícia que antes mesmo de chegar
em casa já havia mandando mensagem para as meninas, Clark e
Miguel contando da novidade.
— Como está a mamãe mais linda do mundo? — Cheguei
em casa às vinte e três e Clark me esperava na sala, mas quando
me viu veio até mim e me deu um abraço.
— Estou ótima, só cansada, está corrido e extenso para mim,
mas eu consigo. — Ele sorri e me puxa para que eu sente no sofá.
— Eu sei que vai, você é uma mulher corajosa e batalhadora.
— Ele passa a mão na minha barriga e dá um beijo carinhoso. —
Morri de saudades da minha afilhada, doido para senti-la, ela mexeu
muito?
— Não, só agora à noite. — Aproveito o momento e conto da
esposa de Carlos e Clark pede para que eu tenha cuidado.
— Não confio nessa mulher, ela pode querer te prejudicar,
melhor ficar longe dela. — Digo para que não se preocupe, pois sei
lidar com essa situação e que não acho ela alguém ruim, só
ciumenta demais. — Mesmo assim, tenha cuidado.
— Tudo bem, papai. Agora vou me deitar, estou morta. Vou
dormir até de tarde e não me acorde, senão mato você. — Ele dá
uma risadinha e diz que não irá me deixar hibernar e que se tiver
que me acordar, ele fará sem arrependimentos. — Não prepare sua
cova antes da hora, senhor Clark Lincoln.
— Eu gosto do perigo, Elizabeth. — Subo para o quarto rindo
da sua atitude e me jogo em minha cama com roupa e tudo, apenas
tiro minha sandália. Graças a Deus, o fim de semana chegou.
Capítulo 38

Doze horas, esse foi todo o tempo que dormi e, agradeço aos
céus por Clark não ter me acordado. Minha Lucy mexia muito
durante à noite, me deixando um pouco desconfortável, mas
aproveitei meu sono o máximo que pude. Como acordei tarde,
substitui o almoço pelo café da manhã e Clark não ficou muito feliz
comigo, não me importei com seus sermões e comi meu pão
francês com muito empenho. Depois de tomar um banho e ficar
apresentável, peguei um dos livros que comprei e li boa parte, mas
acabei recebendo uma mensagem das meninas me dizendo que eu
iria sair hoje, no começo eu neguei, mas elas me disseram que seria
na Casa de Repouso para Idosos que Rafa é voluntária, como
nunca fui lá, então, aceitei. Nesse momento, estou no carro de
Sabrina dirigindo até o local, que fica uns 40 minutos de distância da
minha casa.
— Clark me falou que a senhorita acordou tarde e que não
almoçou, tem que parar de ser imprudente e cuidar da nossa
menina, Elizabeth — Rafaela esbraveja com um pouco de raiva.
— Ele exagera, só foi uma vez e, quando ele não estava
olhando acabei comendo de qualquer jeito, então, não precisa de
tanta implicância — bufo sentada no banco de trás.
— Nós só nos importamos com você, não é implicância, é
apenas cuidado. Sabe que amamos você e essa princesa que nem
nasceu ainda — Sabrina fala e acabo ficando um pouco mal pelo
modo que os tratei.
— Me desculpem, é que nem sempre gosto de ser
paparicada, no começo é bom, mas depois se torna inconveniente
alguém sempre ao seu lado, dizendo o que você tem que fazer e o
que comer. Entendem? — Ambas concordam comigo e dizem que
vão pegar leve, porque talvez eles tenham exagerado um pouco.
Chegamos no lugar e vejo um portão enorme ser aberto, antes de
se chegar à casa tem um jardim extenso com uma estrada para
percorrermos.
— Uau, é lindo esse lugar — digo com um sorriso nos lábios
e, quando avisto a casa posso ver que ela é toda branca e luxuosa.
— Não sabia que era tão lindo aqui, pode fazer doação?
— Claro, o quanto quiser, mas como você faria isso se não
tem dinheiro — Rafaela quem diz e vejo que está na hora delas
saberem a minha história.
— Lembra que falei para vocês que eu tinha um passado e
que por enquanto não saberiam qual? — Ambas acenam com a
cabeça. — Pois é, eu sou rica.
— O que? Como assim? Você só havia nos contado
fragmentos do seu casamento, do namoro com Chris, que já teve
um bebê e morreu, e por fim que seu marido era um escroto
violento, mas nunca falou que era rica — Sabrina fala um pouco
desesperada. Não sei como consegui enganá-las por tanto tempo,
mas, às vezes, minhas amigas podem ser um pouco lerdinhas com
as coisas que estão na frente delas.
— Na verdade, eu sou milionária. Vou contar as partes que
não especifiquei. — Estacionamos o carro em frente à casa, mas
não saímos, antes preciso contar tudo e é isso que faço. Falo da
Alice, das mortes, dos detalhes do meu envolvimento com Paul, que
tipo de pessoa ele era e, por fim da minha adoção.
— Uau, amiga, sua história merecia estar em um livro,
caramba que família complicada, ainda bem que sua ex-sogra foi
presa, porque a mulher é meio psicopata. — Concordo com a
cabeça, enquanto Rafaela fala.
— A vadia da sua ex-sogra e do seu ex-marido tem sorte de
estarem presos, porque senão eu iria pegar um voo para os States e
acabar com os dois com uma surra — Sabrina fala e dou risada
dela, minha amiga é uma lutadora e defende a todos que ama.
— Agora tudo já passou e posso viver em paz. — Todas nós
saímos do carro e seguimos para dentro de “Corações
resplandecentes”, passamos pelo hall de entrada e uma senhora
vem nos cumprimentar.
— Olá, meninas. Não sabia que traria visitas Rafaela. — Uma
senhora muito gentil cumprimenta todas nós com um abraço.
— Oi, senhora Lima. São minhas amigas, e tinham muita
vontade de conhecer onde eu ficava quase todo fim de semana. —
Ela me dá um sorriso e passa a mão na minha barriga, eu não disse
que todo mundo gosta da barriga de grávida.
— E esse bebezinho, você é uma das mães mais linda que já
vi. É menina? — Nossa, como ela acertou precisamente.
— Sim, minha pequena Lucy. — Ela me diz que seu nome
significa iluminada e, eu digo que ela é minha luz em meio a minha
vida cheia de escuridão. — Não vejo a hora de conhecê-la.
— Vamos entrar, a casa é de vocês. Já sabe o que fazer,
Rafa, o senhor Florence estava te aguardando. — Seguimos a
senhora para os jardins da casa e, lá havia muito velhinhos
sentados e conversando, as senhoras faziam crochê e os senhores
jogavam xadrez. — Lucca, aqui está a Rafaela. — Ela nos
apresenta ao senhor e nos sentamos ao seu lado.
O dia passou rápido e pude conhecer melhor o que minha
amiga faz. Ela é apenas a acompanhante que conversa e os
divertem para que se distraiam e, não se percam em suas próprias
mentes, conheci várias pessoas legais e me apaixonei pelo lugar.
Falei com a senhora Lima, que é quem administra esse lugar e tratei
de fazer uma doação enorme, ela me disse que os filhos dos idosos
também pagam pela hospedagem deles, mesmo assim, eu quis dar
algum dinheiro.
— Foi incrível meninas, gostei de cada segundo. — Entramos
no apartamento e seguimos para a cozinha. — Estou com fome,
vamos pedir pizza. — Ambas concordam e, Sa se distância para
fazer o pedido.
— Onde está Clark? — Rafaela pergunta e pensa que me
engana com sua indiferença.
— Deve estar no quarto dele, ele me disse que não sairia
hoje. — Ela me diz que irá chamá-lo para comer com a gente e finjo
que acredito.
— Onde foi a Rafa? — Conto o que ela me disse para
Sabrina e minha amiga gargalha alto com a falta de desculpas
esfarrapadas que Rafa arruma. — Eu acho que ela está
apaixonada. — Digo que concordo com ela, mas que são dois
cabeças-duras.
— Quem sabe eles não se assumem um dia não é. Nada é
impossível quando se tem amor. — Só de falar essas palavras,
meus pensamentos vão direto para Christopher, não posso mentir
dizendo que não sinto a falta dele.
— Liza, você está aqui ainda? — Olho pra Sa e, ela me diz
que estava me chamando há alguns segundos.
— Me Desculpa, me perdi em meus pensamentos. — E na
saudade que sinto de minha casa e das pessoas que amo.
— Tudo bem. Você espera no sofá e eu vou atrás da Rafaela.
— Sento-me, enquanto Sabrina sobe atrás de Rafa.
Será que fiz certo em aceitar recomeçar algo com Miguel,
tudo bem que eu sinto atração por ele, mas isso não deveria bastar
em uma relação, é bem complicado quando as dúvidas aparecem,
mesmo que não estejamos namorando. Hoje ele me mandou uma
mensagem me dizendo que trabalharia na parte da tarde e que
amanhã viria me ver.
— Você não sabe o que eu vi. — Sa desce as escadas
correndo e se joga no sofá dando muitas risadas. — Cheguei no
quarto de Clark e a porta estava aberta, quando olhei dentro nossa
amiga estava jogada em cima dele, não me aguentei, comecei a rir
muito e no fim os dois me pegaram espionando.
— Não acredito. — Começo a rir junto dela e Rafaela desce
as escadas com Clark.
— Não é o que vocês estão pensando, eu tropecei no tapete
do chão e cai em cima dele, foi totalmente inocente. — Dou risada
mais ainda da sua cara de pau, porque minha amiga não sabe
mentir.
— No quarto de Clark não tem tapete. — Sabrina começa a
rir que nem uma hiena e me junto a ela.
— Ok, já chega de rirem de nós — Clark quem fala e ambos
se sentam com a gente. — Você já contou do beijo desentupidor de
pia na frente do prédio, Liza. — Paro de rir na mesma hora e minhas
amigas me encaram com os olhos arregalados.
— Como assim, você não falou isso. — Droga, Clark é um
bocudo.
— Que merda, belo amigo você é. Eu beijei Miguel aqui em
frente, só isso, não tem mais nada a declarar. — Mas quem disse
que elas me deixaram em paz, tive que contar os detalhes as duas,
porque não parariam de me perguntar.
— O cara é quente mesmo, hein? Amiga se ele não gostasse
de você, eu me queimaria nesse incêndio. — Começo a rir
novamente da colocação de Rafaela, pois todos nós estamos
surpresos e Clark está com uma cara de poucos amigos, pois
quando a ouviu dizer essas palavras sua feição mudou
radicalmente. — Que foi, eu quero um relacionamento sério, mas
também não sou santa.
— Com certeza ela não é, se contasse a metade das coisas
que ela já fez — Sabrina diz e leva um tapa de Rafa no braço.
— Fica quieta e deixa o passado onde está. — Agora foi eu
quem fiquei curiosa, mas quando ela quiser contar, eu saberei.
Escutamos a campainha tocar e Clark vai até a porta, depois
de algum tempo traz a pizza com o refrigerante e coloca sobre a
mesa. Vou até a cozinha, pego os pratos e copos e, ponho no lugar.
Sabrina se senta ao meu lado e Rafa ao lado de Clark de frente
para mim.
Comemos, conversamos e caçoamos uns aos outros, mas
em determinado momento me senti mal e corri para o banheiro,
acabando por vomitar tudo que havia comido. Não entendi o porquê
de isso ter acontecido, pois fazia tempo que não sentia enjoo, mas
dessa vez veio com tudo. Meus amigos queriam me levar ao
hospital, mas eu queria somente tomar um banho e dormir e, foi
exatamente o que fiz.
Rafaela e Sabrina optaram por ficar aqui comigo e, dormiram
no quarto de hóspedes. No começo foi bem ruim pegar no sono e
acabei acordando de madrugada para tomar uma água. Quando
passei pela porta de Clark fiquei pasma quando escutei gemidos
vindo de lá e a voz da Rafa, não acredito que fizeram isso comigo
aqui do lado, que nojo, desci e fiz o que tinha que fazer e depois
voltei ao quarto para dormir.
Capítulo 39

— Bom dia, meus amores. — Desço as escadas e observo


os três conversando baixinho, mas quando me veem, eles param na
mesma hora. — É impressão minha ou estavam falando mal de
mim.
— Nunca falaríamos mal de você e além do mais o que tiver
que falar, eu digo na cara mesmo. — Essa é a Sabrina, um poço da
gentileza, nunca vi mulher tão sincera.
— Acho bom mesmo, mas voltando para assuntos mais
importantes, o que tem para o café, estou com tanta fome que
comeria uma baguete de pão enorme cheio de presunto e muçarela.
— Vejo eles mudarem as expressões e ficarem com cara de bravos.
— Podem parar, eu passei mal, mas agora estou bem, não irão me
proibir de comer.
— Só queremos que você vá com cuidado — Clark diz e
todos assentem. — Tem que se cuidar.
— Eu sei que tenho. Você e a Rafaela deveriam controlar o
volume dos gemidos, quase morri de susto quando me levantei para
tomar água. — Sabrina começa a gargalhar e eu me sento na mesa
para tomar meu café, como um pãozinho e tomo um leite.
— Não acredito que vocês estavam transando com nossa
amiga passando mal. — Clark tenta se explicar, mas Rafa passa na
frente.
— Nem vem, Liza já estava melhor e foi bem depois. — Dou
uma risadinha contida e falo que os dois são uns safados. —
Desculpa, amiga. — Digo que está tudo bem e que os dois têm que
aproveitar mesmo.
— Espero que vocês não magoem um ao outro, não vou
suportar meus amigos sofrendo. Eu sei o quanto Rafaela pode se
apaixonar rapidinho e como meu amigo é um safado. — Clark faz
uma expressão de quem está ofendido.
— Eu e Rafa, só estamos nos divertindo, eu não pedi
ninguém em casamento. — Clark é um bocudo. Olho para minha
amiga e vejo decepção estampada em seu rosto, mas eu bem que
avisei.
— Como você é insensível — falo para ele e Sabrina
concorda comigo e, ainda avisa que se ele magoar Rafaela, vai
levar uma surra mesmo sendo amigo dela.
Há alguns meses eles nem tinham contato, mas depois que
fiquei grávida se aproximaram muito e agora somos assim, os
quatro mosqueteiros.
— Independente de qualquer coisa, amo todos vocês, são
mais do que amigos, são minha família. — Deixo uma lágrima cair
dos meus olhos, esses hormônios me matam.
Apreciamos o resto do café da manhã em total diversão,
estar com as pessoas que me amam é extraordinário e nunca
poderia imaginar que formaria outra família. Clark achou que seria
legal fazermos um almoço de domingo e apenas avisei ao Miguel
que teríamos companhia hoje.
Tomei um banho relaxante enquanto meus amigos faziam o
almoço e coloquei um vestido soltinho, deixei meus cabelos
molhados, pois estava com preguiça de secá-los. Já faz algum
tempo que venho pensando em voltar para minha cor natural e fazer
uma terceira tatuagem, quando fui a praia Clark acabou vendo a das
costas e sinceramente queria fazer mais uma com o nome da minha
filha, quem sabe depois da gravidez eu não faça uma nova
mudança.
Desço para a cozinha e pergunto se eles querem ajuda, mas
dizem que está tudo sob controle, as meninas já haviam tomado
banho e Clark também. Deixo que eles se virem sozinhos e vou até
a porta, pois escutei a campainha tocar.
— Oi, Liza. — Miguel se aproxima de mim e me dá um
selinho. — Como vocês duas estão?
— Oi, Miguel. Ambas estamos bem, só ontem que acabei
vomitando demais. — Ele muda o semblante e parece preocupado.
— Mas agora estou ótima, não se preocupe. — Ele assente e entra
em casa, enquanto fecho a porta.
— Qualquer coisa você pode me ligar que venho correndo. —
Digo que tudo bem, mas ele ainda demonstra inquietação. — Ok,
vou confiar. — Seguimos para a mesa e nos sentamos nas cadeiras
uma do lado da outra, quando Clark começa a colocar as travessas
de comida.
— Bom apetite pessoal, espero que gostem. Fiz arroz de
forno, lasanha e, uma farofa com bacon e linguiça. — Só de ver
minha boca saliva, ainda tem uma saladinha verde para
acompanhar, hoje é dia de engordar, já quebrei a dieta faz muito
tempo e como meus amigos sabem que não sigo correto, então,
eles estão mais relaxados em relação a isso e, nem parece que de
manhã estavam discutindo para mim se cuidar.
— Caramba, pelo menos sua esposa não vai morrer pela
barriga — Miguel comenta e todos rimos. Seria legal se Rafaela
fosse essa esposa.
— Gente tenho uma novidade, sei que deveria contar faz
tempo, mas acabei de receber uma mensagem que confirma a
situação — Sabrina fala e não entendemos nada. — Vocês sabem
que nas férias fui viajar para Fortaleza, não é, então, acabei
conhecendo um cara e ele agora voltou para São Paulo querendo
continuar de onde paramos, parece que estou namorando. —
Realmente minha amiga é sincera e nada tímida, pois falou da sua
vida até na frente do Miguel.
— Aí meu Deus, Sa, estou muito feliz por você amiga —
Rafaela diz e eu concordo.
— Parabéns amiga, felicidades ao casal e quero conhecê-lo,
precisamos dar um aviso a ele — falo com convicção, pois
cuidamos uns dos outros.
— Sim, vocês irão, podemos marcar alguma coisa na
semana ou no sábado que vem. — Todos concordamos e
começamos a comer. Uau, está uma delícia, acabei não exagerando
porque passei mal ontem e decidi prevenir, mas até onde fui estava
demais.
— Vamos nos sentar lá fora e conversar. Levo as bebidas. —
Lanço um olhar para Clark dizendo que isso não é hora de beber,
mas ele diz que é apenas um vinho branco e, que não faz mal a
ninguém.
— Quer jantar comigo um dia durante a semana, Liza? Sei
que você não tem aula em dois dias. — Assinto e digo que
poderíamos ir na terça. — Ok, vou fazer uma reserva em um
restaurante Italiano. — Concordo e todos nós nos sentamos no sofá.
— Me conta mais desse namorado Sabrina, ainda não
acredito que minha amiga mais zoeira está namorando. — Ela faz
cara de ofendida, mas ri logo em seguida.
— Ele é incrível, muito gostoso e, sabe usar aquele corpão
dele, faz uma coisa com a língua que menina nem sei como
explicar. — Com certeza, direta, até demais.
— Epa! Por favor, tem homens na sala, nada de falar como
outro é na cama, essas conversas de garota são explícitas demais.
— Todos gargalhamos, enquanto Clark põe as taças e o vinho a
mesa, cada um se serve do jeito que gosta, menos eu e Miguel, pois
está dirigindo.
— Desculpe minha amiga Miguel, aqui é todo mundo louco
mesmo, mas de coração enorme — Rafaela fala para ele e sorrio
para minha amiga, pois ela tem toda razão.
— Tudo bem, os amigos de Liza também são meus amigos.
— Olho para ele e pego em sua mão fazendo um carinho.
— Espera um instante, amigos ainda não, terá que fazer
muito mais do que levar minha amiga para sair e beijar ela. — Lanço
um olhar mortal para Sabrina, a mulher não tem filtro. — Pode me
olhar assim o quanto quiser, Elizabeth, mas saiba que eu sempre
vou te proteger.
— Ela está certa amor, tenho que conquistar a confiança
deles também, pois pretendo entrar para a família. — Uou! Parece
que temos um apressadinho aqui, Miguel exagerou só um
pouquinho, ainda não estou pronta para um relacionamento e nem
sei se um dia estarei, pois ainda amo o Christopher.
— Que tal deixarmos o casal um pouco sozinhos — Clark fala
já se levantando e levando Rafaela junto. — Com licença Miguel e
obrigada por ter vindo. — Ambos sobem as escadas em direção ao
quarto do meu amigo.
— E eu vou encontrar o meu namorado, é tão esquisito falar
isso, espero que dê certo, pois nunca namorei. — Sim, exatamente
isso que ouviram, Sabrina era mais do tipo aventureira, mas acho
que em pleno seus 27 anos, ela resolveu sossegar. — Até mais,
amiga, Miguel. — Me despeço dela e vejo ela saindo do
apartamento fechando a porta atrás de si.
— Enfim sozinhos. — Miguel vem até mim como um flash e
me beija com vontade. Posso sentir seus lábios macios no meu e
sua língua brincando com a minha, enquanto sinto minhas pernas
ficarem bambas, não sei se são os hormônios, mas esse homem
sabe o que faz. — Que saudades eu estava dessa boca gostosa. —
Continuamos o beijo em silêncio, mas paro e puxo sua mão para
que levante, ele me olha confuso, mas o levo para meu quarto.
— Não fale nada Miguel, apenas sinta. — Subo as escadas
com ele e passamos pelo corredor em passos lentos, chego em
meu quarto e abro a porta.
— Nossa, a decoração é muito bonita. — Fecho a porta e
depois ao me aproximar dele, eu pego uma das suas mãos e coloco
sobre meu rosto e a outra nas minhas costas e, começo um beijo
calmo que aos poucos vai se intensificando. — Você tem certeza?
— Pela primeira vez faço algo que quero sem pensar dez vezes
antes que aconteça.
— Completamente. — Me afasto de Miguel e começo a tirar
meu vestido, deixo o cair sobre meus pés e depois tiro minha
sandália que graças a Deus não tem tiras e, sigo até ele. — Só
sinta. — Ele me beija de novo com intensidade e o ajudo a tirar sua
roupa, ele veste uma camiseta e uma calça jeans.
Quando desço as calças de Miguel posso ver sua
extremidade dentro da cueca criar vida. Ele é tão lindo, suas
tatuagens são em excessos e agora vejo-as por completo, ele tem
um abdômen sarado e é bem encorpado.
Passo minhas mãos pelo seu corpo e tiro sua cueca devagar,
sei que ele poderia fazer isso, mas eu gosto de ter essa iniciativa.
Miguel tira minha calcinha e me deita na cama, lambe, chupa e
morde entre as minhas pernas, me fazendo ter um orgasmo
fenomenal, depois é minha vez, mas ele não permite, diz que terei
outro momento para isso. Ele chupa meus seios um a um enquanto
faz um movimento com as mãos em meu botão e nossos gemidos
se misturam um ao outro. Ele levanta-se e vai até sua calça, pega
uma camisinha e vem até mim.
— Acho que não precisa disso, não é como se eu fosse
engravidar. — Sei que tem que se prevenir por causa de doenças,
mas não sinto necessidade disso agora e confio nele.
— Eu estou limpo, mas tem certeza de que não quer? —
Assinto e ele joga o pacotinho no outro lado da cama, voltando ao
que estava fazendo comigo.
Miguel deixa-me com a barriga para cima e fica de joelhos na
minha frente, puxa minhas pernas devagar para que se enrosque
em sua cintura e pega um travesseiro colocando embaixo de mim
para levantar os quadris, sempre com cuidado para não pressionar
minha barriga, então, sinto vir uma sensação prazerosa quando ele
me penetra e faz movimentos leves mais precisos deixando tudo
mais gostoso, gemo feito louca e sei que meus amigos possam ter
escutado, mas agora não ligo pra isso, Miguel me acompanha e os
dele são contidos, mas bons de se ouvir.
— Liza, você é muito gostosa, puta merda, você me deixa
maluco. — Miguel aumenta a velocidade das suas estocadas, mas
sem violência e chego no segundo orgasmo. — Vira e fica de
quatro. — Faço o que me pede e, quando ele está dentro de mim
novamente, posso ver estrelas.
— Nossa, Miguel, isso é bom demais, não consigo me
controlar — gemo alto e depois de alguns minutos gozo mais uma
vez, logo Miguel me acompanha e sinto ele me preencher. — Foi
incrível. — Ele se levanta da cama, vai até o banheiro e traz uma
toalha molhada, vejo que já se limpou e agora ele faz o mesmo
comigo, depois disso deita-se ao meu lado e me puxa para encostar
a cabeça em seu peito.
— Pode até ter sido cedo, mas não tenho nenhum
arrependimento. — Não acredito que cedi tão rápido com ele, mas
foi demais e quero repetir mais vezes, com toda certeza. — O que
significa essa corrente que você não tira do pescoço? — Fico tensa
na hora, mas não quero falar a verdade.
— Foi um presente de alguém muito importante para mim, eu
carrego por puro carinho. — Ele diz que é um gesto muito bonito
quando se ama alguém e digo que concordo. Me envolvo em cada
uma, que, às vezes, sou eu mesma que complico minha vida.
Capítulo 40

Algumas semanas depois...


Já faz algumas semanas e minha barriga cresce a cada
instante, estou de quase nove meses, transformei o quarto de
hóspedes no da minha bebê e comprei tudo rosa, Clark me ajudou
assim como as meninas e ficou tudo lindo demais, mas cheguei a
uma conclusão que o lugar vai ficar pequeno para mais uma
pessoa, então, conversei com meu amigo e, decidi me mudar depois
que meu bebê nascer e tiver uns meses de vida, irei comprar uma
casa dessa vez e morarei sozinha com ela, no começo ele não
gostou muito não, mas o convenci de que precisávamos de nosso
espaço.
Agora que tirei minha licença maternidade por 4 meses do
trabalho e da faculdade, meu tempo se comprime a leituras e
algumas saidinhas que faço andando de Uber pela cidade, também
parei de dirigir e estou fazendo trabalhos da faculdade assim como
meu curso de idiomas que aprimora meu português, hoje posso
dizer que minha compreensão e fala está extremamente melhor, já
que a convivência facilita muito.
Meus pais decidiram vir me visitar depois que Lucy nascer e,
passarão as festas de fim de ano comigo. Sabrina está cada vez
mais feliz com seu namorado e apaixonada. Clark e Rafaela
assumiram um namoro e ela não sai mais de casa, dormem todos
os dias juntos e já dei a ideia dela buscar suas coisas e ficar aqui de
vez, mas o Clark ficou assustado e disse que era um pouco cedo
para essa mudança, respeitei sua opinião e não toquei mais no
assunto.
Hoje é o dia da festa da empresa, comprei meu vestido e ele
é com brilhos, mas discreto, longo e na cor amarela sem apertar em
volta da barriga. Convidei Miguel para ser meu acompanhante, mas
não tenho certeza se ele irá, porque já faz uns três dias que não
converso com ele e o mesmo, está muito estranho comigo, ele se
distanciou um pouco e eu nem sei o porquê.
— Elizabeth, você está pronta? Vamos logo — Clark me grita
da porta, pois ele será o acompanhante de Rafaela e ficou de me
levar até a festa.
— Estou indo apressadinho. — Fiz um penteado no
cabeleireiro que deixa algumas mechas do cabelo soltas e uma
maquiagem leve, mas marcante. Coloco os brincos de diamante que
foram presente da minha mãe Verônica e desço as escadas,
infelizmente não pude colocar salto, mas comprei uma sandália
linda.
— Uau, fico impressionado como uma mulher com uma
melancia na barriga consegue ainda ser mais linda. — Faço cara de
deboche para o pilantra do Clark e ele dá risada. — Vamos, meu
amor, porque minha namorada está impaciente.
Saímos do apartamento e pegamos o carro na garagem.
Minha empresa alugou um salão enorme no centro, perto da
empresa e fez uma decoração show, porque como sou curiosa, olhei
umas fotos que as meninas conseguiram com os outros que
estiveram lá antes.
— Alguma notícia do Miguel? — Contei para Clark o que vem
acontecendo na minha vida, pois só tenho ele e as meninas.
— Não, mandei mensagem, mas ele não respondeu, também
não quero saber se vai ou não, pois não irei correr atrás de
ninguém, tenho uma filha para cuidar. — Ele concorda e continua a
dirigir.
— Ele está se tornando um filho da puta, não sabe a raiva
que estou sentindo, essa semana foi difícil me segurar e não ir
naquela clínica quebrar a cara dele. — Meu amigo sempre sendo
meu herói.
— Talvez ele tenha uma explicação para isso, mas não posso
ficar cobrando nada dele, pois nem sequer nomeamos nosso
envolvimento como namoro, Clark. — Realmente não chegamos a
conversar sobre nós, por isso não posso dar uma de namorada
paranoica e perseguidora.
— Tudo bem, Liza, você resolve, mas preciso te fazer uma
pergunta. — Olho para meu amigo e espero o que vem a seguir. —
Você gosta dele, estava nutrindo sentimentos por ele?
— Miguel é um homem maravilhoso, mas se você quer saber
se me apaixonei por ele, a reposta é não, não posso amar alguém
pensando em outro. — Clark já sabe de quem eu falo, tento
esquecer Christopher, mas não é fácil, principalmente agora com
uma filha dele, ele sempre fará parte do meu futuro e isso me
assusta um pouco, mas me deixa extasiada em outro momentos.
— Um dia você terá que esquecê-lo, mas se não consegue
agora, então, é melhor se afastar do Miguel, para não o magoar no
futuro, se é que ele venha gostar de você em algum momento. —
Ele tem razão, talvez esteja na hora de dar um fim ao que temos.
Não demora muito para chegarmos ao salão, Clark deu as
chaves do carro ao manobrista e entrou comigo de braços dados,
passei meus olhos pelo lugar e estava lindo, as fotos não fizeram jus
a realidade.
— Finalmente chegaram. — Rafaela vem até nós e beija
Clark na boca.
— Vocês estão em público, por favor, se contenham. — Dou
uma risadinha e falo que irei beber algo. Saio de perto deles e vou
até o bar. — Tem suco?
— Não, mas eu posso providenciar para você, tenho certeza
de que não é a única grávida nessa festa. — O barman até que é
bem gato. Ele vai até uma porta que fica nos fundos, entra no lugar
e depois traz várias laranjas, morangos e limão. — Quer de quê? —
Falo que irei querer de laranja e ele começa a preparar, sempre
achei que barman só faziam bebidas, fico observando seus
movimentos até que termine, mas sou despertada do momento
quando sinto uma mão em meu ombro.
— Liza, oi, precisamos conversar. — Miguel está agora em
minha frente, vestindo um terno que o deixa muito gostoso. —
Desculpar ter sumido, mas eu precisava arrumar um modo de dizer
a verdade para você.
— Que verdade? — Ele me diz que no fim da festa me
contará, pois a música começou a tocar e está um pouco alta.
— Aqui senhorita. — Pego meu suco das mãos do moço e
passeio pelo lugar com Miguel, encontramos Sabrina e
cumprimentamos ela e seu namorado que é um homem muito
bonito, minha amiga teve sorte.
— Você está perfeita, Liza, linda como sempre — Sabrina
fala e digo o mesmo a ela. — Espero que tenha uma boa desculpa
para ter abandonado minha amiga. — Ela lança um olhar sério para
Miguel e ele apenas sorri sem muito entusiasmo.
— Vamos cumprimentar outras pessoas. — Saio de lá com
ele e sigo até meu chefe que está com sua esposa e, conversando
com Clark e Rafa. — Boa noite, tudo bem? — cumprimento meu
chefe e a esposa que me olha da cabeça aos pés e, apresento
Miguel como meu amigo.
— Olá, Elizabeth. — Carlos me dá um beijo no rosto e
pergunta sobre minha bebê, falo que está tudo bem e quase na hora
de vê-la. — Ela será uma menina forte assim como a mãe dela. —
Dou um sorriso e escuto a música ser abaixada.
— Até que enfim, a música estava um pouco alta — Carlos
diz que ele pediu para que diminuíssem o volume e assinto para ele.
Conversamos entre nós por um bom tempo, tiramos algumas
fotos pelo fotógrafo e no fim da noite fiquei sozinha com Miguel, ele
ainda não me contou o que veio me falar e estou ficando um pouco
ansiosa, não é bom deixar uma grávida curiosa.
— Vou ao toalete, bebi suco demais — aviso a Miguel e sigo
para o banheiro. Uso e quando saio para lavar as mãos, Estela está
na pia passando batom.
— Então, a gravidinha favorita espera uma menina. — Já
chega, essa mulher tira meu juízo.
— Qual o seu problema comigo, se tem algo contra mim fale
olhando no meu rosto e não guarde para você. — Ela se vira,
guarda o batom na bolsa e me dá um tapa no rosto, assim, do nada.
— Você ficou louca.
— Para de se fazer de ingênua, sei que se oferece ao meu
marido, eu vejo como ele é com você, todo atencioso e não tira as
mãos dessa barriga, vai que a filha é dele e eu não sei. — A mulher
só pode ser maluca mesmo.
— O pai da minha bebê não mora no país, eu nunca daria em
cima de Carlos, porque ele te ama loucamente e eu não sinto nada
por ele, você é uma mulher perturbada e muito burra por não
enxergar que aquele homem beija o chão que você pisa, ele sempre
me disse o quanto te amava, mas que você sempre dava uma de
desconfiada, um dia com essa atitude você irá perder ele e quando
esse dia chegar, eu vou dizer “Eu te avisei” e mais uma coisa, eu
não levo desaforo pra casa. — Viro minha mão com força e dou dois
tapas de cada lado da sua face, ela que pense que eu iria apanhar
de graça. Saio do banheiro depois de lavar as mãos mais uma vez e
secá-las, enquanto ela fica lá parada de olhos arregalados
pensando na minha audácia de marcar aquele rosto de princesinha
que ela tem e, faria de novo se ela ousasse encostar as mãos em
mim mais uma vez.
— Liza, aconteceu algo, seu rosto está vermelho. — Digo
para Miguel que foi apenas um mal entendido, mas que acabou com
a minha vontade de estar aqui. — Vamos embora, por favor.
Vou até meus amigos e me despeço deles, todos percebem o
vermelho em meu rosto e conto o que aconteceu, Sabrina fica com
ódio e quer bater na Estela, mas digo que já dei um jeito e ela fica
orgulhosa de mim. Depois de me despedir de quem precisava, saio
da festa com Miguel e ele me leva para minha casa, estaciona o
carro na vaga de Clark e entramos no elevador para depois
chegarmos ao apartamento.
— Foi ridículo o dia de hoje, não acredito que ela teve a
coragem de fazer o que fez, eu poderia contar para Carlos, mas não
quero criar confusão.
— Ele vai descobrir algum dia, Liza, a verdade sempre
aparece, mais cedo ou mais tarde. — Assinto e nos sentamos no
sofá. — Vou pegar uma água para você. — Miguel se levanta e
depois de alguns minutos volta com minha água nas mãos.
— Obrigada, mas agora me conte o que aconteceu nesses
dias. — Termino minha água e ele a coloca na mesa para depois
pegar nas minhas mãos.
— Sempre soubemos que o que tínhamos era um recomeço
para a vida que tivemos no passado, eu juro que tentei te amar, mas
o meu coração não escolheu você, sei que fui um idiota por ter
sumido durante esses dias, mas eu precisava confirmar o que
estava sentindo. — Nossa, me parece que é grave mesmo. — Liza,
eu me apaixonei, mas não foi por você.
— Uau, essa é novidade, mas não é impossível. Eu também
nunca consegui me apaixonar por você Miguel, eu tentei, mas não
deu certo, não sinto raiva de você por amar outra melhor, fico até
feliz por ter encontrado alguém que não seja eu. — Ele me olha sem
entender minha atitude, mas não posso mudar o que penso. —
Quem é ela?
— Minha secretária, eu sei que é clichê o chefe se apaixonar
pela funcionária, mas Simone é especial. — Dou um sorriso pelas
suas palavras, posso ver que realmente a ama. — No começo, eu
não fazia ideia, mas foi se intensificando e juro para você que nunca
encostei nela, não seria tão canalha a esse ponto.
— Eu acredito em você e está tudo bem, só prometa para
mim que será feliz e que ainda fará meu parto.
— Mas é claro, você ainda é minha amiga e minha paciente.
— Ele beija meu rosto e diz que tem que ir. — Boa noite, Liza. —
Levanto-me com ele e o levo a porta.
— Boa noite, Miguel e, corra atrás dela, só espero que ela
sinta o mesmo por você. — Ele sai e fecho a porta.
Nunca achei que terminar um relacionamento seria tão fácil,
parece que não consigo amar novamente, oh vida ingrata. Subo as
escadas e tiro minha roupa, tomo um banho relaxante, lavo o cabelo
para tirar o gel e o seco com o secador. Meu celular apita e vejo que
é uma mensagem de Carlos.
“Elizabeth, estou tão envergonhado pela atitude da minha
esposa, Estela me contou o que aconteceu, sinto muito e peço
perdão por isso”. — Pelo jeito além de ser louca, também é
sincera, menos mal.
“Eu já me defendi e não pedirei desculpas pelos tapas
que dei nela, ela mereceu e, por favor, pede para que não se
aproxime mais de mim”. — Bloqueio o celular e me cubro com
meu cobertor quentinho, passo a mão pela minha barriga e
converso com minha bebê, dizendo que a amo muito e sou muito
feliz por tê-la.
Capítulo 41

— Como é que é, te deixamos sozinha por umas três horas e


uma louca te bate e o canalha do Miguel diz que se apaixonou por
outra, não acredito nisso — Rafa fala indignada, enquanto tomamos
o nosso café da manhã, ela dormiu aqui ontem como todos os dias
e acabei contando para ela e Clark sobre o que aconteceu ontem.
— Sorte que você bateu na piranha, porque senão ela ia me ouvir,
não me importo se é esposa do chefe.
— Agora está tudo resolvido e Carlos até me pediu
desculpas. — Espero que não fique um clima estranho na empresa
quando eu voltar.
— Acho bom. — Clark até agora não se pronunciou e sei que
ele está com raiva, porque se importa comigo.
— Clark, não fica assim, você não pode sempre me proteger.
— Ele me dá um sorriso fraco e pega na minha mão.
— Prometi aos seus pais que cuidaria de você e ontem falhei
nisso, deveria estar aqui com você, me desculpa, Liza. — Rafa diz
que ela também está chateada, mas que ambos não poderiam fazer
nada e concordo com ela. — Eu sei amor, é só que, às vezes, viro
um paizão dessa menina aqui. — Clark me dá um beijo na testa e
leva seu prato para a pia.
— Vai passar amiga, ele tomou para si o papel de irmão mais
velho com você e, eu acho até fofo, mas se não te conhecesse teria
ciúmes. — Dou risada de suas palavras, oh mulher doidinha. — Nós
te amamos muito.
— Sim, eu sei, depois que não deu certo entre nós,
passamos de amigos para irmãos. — Olho para Rafaela e vejo que
fiz merda, por uns minutos esqueci que ela não sabia do meu
envolvimento com Clark no passado. — Rafa, eu juro que ia te
contar um dia.
— Você dormiu com meu namorado? — Ela se levantou e foi
para a cozinha comigo atrás dela.
— Rafa, deixa eu explicar. — Clark me olha sem entender
nada. — Eu e Clark tivemos uma noite regada a carência, não
transamos se é isso que quer saber, só foi uns beijos, nada demais,
logo eu vi que era um erro e cortamos esse tipo de intimidade,
nunca mais aconteceu. — Meu amigo me olha com cara de
desespero, talvez ele pense que Rafa irá terminar com ele.
— Quando isso aconteceu? Foi quando você já sabia que eu
gostava dele? — Digo para ela que foi, enquanto estávamos nos
Estados Unidos e ela se sente aliviada, seria uma cachorrada fazer
isso com uma amiga, pegar o homem que ela gosta, não faria isso
jamais. — Tudo bem, não estou com raiva, só fiquei surpresa. —
Abraço ela e Clark vem até nós fazendo com que o gesto seja em
grupo. Logo deixo os dois sozinhos e subo para o quarto, essa foi
por pouco, não quero ser pivô de fim de relacionamento de
ninguém.
Tenho que estudar e fazer um trabalho, aproveitar essa sexta
linda e continuar algumas atividades. Meus amigos hoje estão de
folga da empresa, apesar de que não podemos chamar de folga em
relação a Clark, pois ele é o dono do escritório em que trabalha. Fui
algumas vezes em seu ambiente de trabalho e é um lugar muito
aconchegante, não é tão grande, mas pelo que me contou é bem
lucrativo, lá não trabalha somente ele como detive, e tem vários
outros funcionários fazendo outras funções, me perguntei o porquê
dele abrir um escritório aqui se a vida dele está fora do Brasil, mas
ele me garantiu que tudo que tinha lá com exceção da mãe dele,
acabou, porque ele construiu uma vida aqui e que agora com a
Rafaela, ele tem mais um motivo para ficar em definitivo, meu amigo
sabe ser um fofo quando quer.
Sinto tanta saudades dos meus pais e por mais louco que
pareça, também sinto saudades do Christopher, eu o amo demais e
infelizmente na minha vida não consegui abrir caminho para superar
e, com a minha bebê será meio que impossível, às vezes, me
pergunto se ele deu uma chance para Suzane e agora vivem feliz,
poxa eles tem um filho, será que não é hora de tentar dar uma
família ao pequeno Nathaniel, sei o quão difícil pode ser, mas é a
mais pura realidade, eu fui embora e decidi não dar uma chance a
ele quando me pediu, não me arrependo pela minha decisão, mas
estando grávida dele a dúvida vem na minha mente.
Pego meu notebook e o caderno, preciso concluir meu
trabalho, e amanhã penso em ver uma videoaula.
Durante esses meses que estou no Brasil não pude participar
do aniversário dos meus pais, de nenhum deles, mandei presentes,
mas não é a mesma coisa, eu só queria poder ficar aqui sem
ressentimento algum e não voltar mais ao meu país, mas tanto
quanto eu quero, também tenho certeza de que não será possível,
um dia minha menina terá que conhecer o pai e não serei capaz de
afastá-los a uma distância tão extrema quanto essa.
— Liza, eu a Rafaela vamos sair, quer ir conosco, respirar um
ar fresco, apesar de São Paulo ser muito poluído — Clark fala atrás
da porta com suas costumeiras piadas e não me contenho em rir.
— Não, podem ir vocês dois, eu vou ficar aqui e ler um
pouco. — Sei que prometi estudar, mas olhando agora para o
caderno, a vontade foi embora, não me sinto com cabeça para isso.
— Tudo bem, qualquer coisa me liga, amo você bonequinha.
— Respondo que também o amo e escuto passos se afastarem.
Amanhã é meu aniversário de 24 anos e sinceramente queria
passar dormindo, ando muito cansada levando essa barriga enorme
para todos os lugares, não vejo a hora desse parto começar, ainda
falta duas semanas para dar nove meses.
Saio do meu quarto e vou para o da minha bebê com meu
livro nas mãos, sento-me na cadeira acolchoada do lado do berço e
fico admirando o espaço que será da minha linda Lucy. Abro meu
livro na página em que estava e começo a lê-lo, a cada página
virada me sinto mais sonolenta do que nunca e o sono começa a
querer vir mais cedo, sendo que acabei de acordar.

(...)

— Liza, acorda? — Sinto mãos me sacudirem devagar,


enquanto desperto do sono.
— Clark, o que aconteceu? — Abro os olhos e vejo ele na
minha frente.
— Você dormiu aqui, não é confortável querida, vamos para a
cama. — Levanto-me devagar, enquanto ele pega em meu braço
para me ajudar.
— Não sei que tanto sono é esse que ando sentindo. — Ele
abre a porta do quarto e me deito na cama. — Obrigada, Clark,
depois você traz o meu livro para cá?
— Sim, vou trazer. Agora se deite, estou fazendo uma sopa
de legumes com carne cozida, se quiser comer te chamo mais
tarde. — Digo que quero sim, mas que não dormirei por enquanto e,
irei tomar banho. — Tudo bem, esperamos você lá embaixo. —
Assinto e ele sai do quarto.
Saio da cama e vou até o espelho olhando para minha
barriga. As meninas quiseram fazer chá de bebê, mas eu disse que
não, nem conheço tanta gente assim e não queria pessoas
desconhecidas, então, fizemos uma comemoração entre nós
mesmos e meus amigos encheram a casa de fralda e tudo que você
pode imaginar para bebês, fiquei muito feliz por isso e até mesmo
ganhei uma correntinha de ouro branco para minha filha com o
nome dela, claro que não darei a ela por uns anos até minha
pequena ter consciência de algumas coisas.
O presente de Joseph no meu aniversário de 23 anos ainda
está guardado comigo, trouxe para o Brasil e deixei lá apenas as
joias um pouco exageradas que minha família me deu, já o anel de
Paul eu vendi e fiz uma doação anônima a um orfanato, devemos
usar o que nos faz mal para o bem.
Tiro a roupa ainda de frente para o espelho e deixo cair aos
meus pés, entro no banheiro e tomo um banho demorado para
despertar do sono. É tão bom tomar banho e ainda tem pessoas que
não gostam dessa maravilha.
Em alguns momentos me pego pensando em Christopher e
no que ele anda fazendo, eu me faço de forte, mas amo ter
recaídas, durante minhas conversas com minhas duas mães, eu fico
tentada a perguntar sobre ele — já que proibi elas de me contarem
qualquer coisa —, mas aí percebo que cairei em contradição daquilo
que já havia falado, então, acabo não perguntando. Já peguei o
celular muitas vezes para ligar e contar sobre Lucy, mas aí penso
em toda confusão que isso pode dar e desisto na hora.
Saio do chuveiro alguns minutos depois, me seco, passo
hidrante corporal e um creme na barriga, do qual a médica
recomendou para evitar estrias e devo usar duas vezes ao dia,
coloco um vestido simples e desço para a sala. Fiquei tanto tempo
naquela cadeira que já até escureceu.
— E aí amiga, não tem mais casa não — provoco Rafaela
que vem sentar-se ao meu lado no sofá, só para descontrair.
— Não, eu gosto mais daqui. Moro sozinha mesmo e minha
família está em outro Estado, então, junto o útil ao agradável. —
Dou um sorrisinho para seu argumento, ela não admite que quer
ficar aqui de vez, porque não consegue ficar longe do meu amigo.
— Para de mentir para si mesma, você gosta de morar com
Clark, pois não quer ficar longe dele.
— Ah, amiga, é complicado. — Ela tem uma expressão triste
no rosto e logo percebo que está magoada.
— Vocês dois são complicados. É só mudar o endereço das
suas correspondências, porque a roupa você já trouxe mesmo. —
Dou risada da situação e ela me acompanha.
— Clark nunca falou sobre isso e, tenho medo dele não
querer constituir uma família, para ele morar juntos é somente mais
um passo para o casamento sem assinatura. — Meu amigo já está
fazendo merda, eu sabia que ia dar nisso, mas dessa vez não vou
me envolver.
— Você tem que conversar com ele, se ele não fala, então,
você tem que falar, só não impõe nada e nem coloque pressão,
Clark odeia que tomem as decisões por ele. — Ela assente e logo
ele nos chama para comer.
O jantar foi legal, conversamos bastante e a sopa estava uma
delícia. Falei um pouco mais sobre ontem com eles e, expliquei pra
Rafaela minha situação com Miguel e meus sentimentos em relação
a ele, que não eram nada mais do que uma simples amizade, uns
podem até dizer que eu estaria até hoje tentando essa relação
fadada ao fracasso, caso ele não tivesse terminado e quer saber,
talvez até tenham razão, mas nunca saberemos, não é.
A vida é cheia de escolhas, uns podem dizer que mais fáceis
do que outras, mas eu não acredito nisso, toda escolha é difícil, pois
lidamos com as consequências do futuro, para alguns fácil seria
quando fazemos a certa e difícil é quando fazemos a escolha
errada, esse é um modo muito errado de enxergar a vida, mas quem
sou eu para falar sobre as decisões de alguém, nem eu mesma sei
tomar decisões corretas e, erro mais do que acerto.
Capítulo 42

Enfim hoje é meu dia, 24 aninhos. Não vi meus amigos


durante o dia e já pude desconfiar que estão tramando algo, por isso
permaneci em casa durante a manhã e de tarde passeei no
shopping, comprei mais algumas roupinhas para minha bebê e
outros acessórios, não me contenho quando passo em frente uma
loja de criança, depois disso fiz uma refeição em um restaurante e,
por incrível que pareça acabei vendo um filme no cinema sozinha
mesmo, não preciso de ninguém pra me dar esse tempo e se divertir
um pouco.
— Elizabeth? — Enquanto observo uma loja de sapatos,
alguém chama meu nome e me viro instantaneamente.
— Giseleh, o que você está fazendo aqui? — Tantas pessoas
para ver e logo ela me aparece, nem de país posso mudar mais.
— Eu moro aqui agora, me casei com um brasileiro tem dois
meses e me mudei para o Brasil. — Nossa, por essa eu não
esperava.
— Parabéns pelo casamento. — Ela olha para minha barriga
e já sei que tem várias perguntas.
— Está de quanto tempo? — ela pergunta e eu só a observo
por vários segundos até respondê-la.
— Quase nove. — Ela assente e me pergunta se o pai é o
Christopher. — Eu acho que você não precisa saber disso.
— Desculpa, Liza, não sabia que ainda tinha tanta raiva em
você. — A mulher faz merda e eu que sou a amargurada, mereço.
— Eu não tenho raiva, só não gosto de falar da minha vida
para desconhecidos. — Ela diz que é melhor ir porque o clima não
está muito bom. — Concordo plenamente, adeus.
— Adeus, Liza, desejo que seja feliz com seu bebê, pois eu
também sou mãe. — Mãe, será que, não, não seria possível. Olho
para ela com um ponto de interrogação. — Sei o que está pensando
e a resposta é sim, Paul é o pai. É uma linda menina de olhos
verdes e morena, mas ninguém sabe disso e peço que não conte,
muito menos para Alice.
— Pode ficar tranquila, porque seria meio impossível eu ir até
a cadeia falar com ela, mas seus pais são amigos dela, então, como
ela poderia não saber a verdade? — Seria impossível a bruxa não
saber.
— Quando eu descobri que estava grávida, eu fugi dele,
sabia o quanto ele podia ser agressivo e tive medo. — Agora me
lembro de quando encontrei ela no shopping com hematomas. —
Meus pais me ajudaram a me esconder em outra cidade, desde lá
conheci meu marido e hoje tenho uma família incrível, não posso
reclamar da segunda chance que tive. Eles se afastaram de Alice e
cuidaram de mim, principalmente agora depois de tanta sujeira
envolvida naquela família. — Realmente Giseleh tem muita sorte.
— Espero que saiba aproveitar a segunda chance que a vida
lhe deu.
— Todos os dias eu me torno uma pessoa melhor. Até algum
dia, Liza, e fica tranquila, ninguém saberá de nada por mim — diz
olhando para minha barriga e se vai me deixando ainda sem
palavras.
Uau, esse com certeza foi uma surpresa vinda de Deus,
como pode dentre milhões de pessoas eu encontrá-la logo aqui,
senão for ele, não sei quem mais poderia.
Saio do shopping e entro no Uber, ele pega a avenida e
segue de volta para a casa, alguns minutos depois chego ao meu
destino, pago o motorista e desço.
— Boa noite, senhorita Harper — o segurança do prédio que
estava em frente diz e abre o portão para que eu entre. Vou para o
elevador e depois de minutos chego ao meu andar e, pego minhas
chaves para abrir a porta.
— Oshe, porque está tudo escuro — digo isso alto e começo
a gritar o Clark, mas antes mesmo que eu termine, a luz se acende
e escuto um “Surpresa”. — Meu Deus, isso não se faz com uma
grávida. — Ponho a mão no coração e quando ele para de acelerar,
observo que estão todos aqui, meus amigos, meu chefe sem a
esposa e fico feliz por isso, assim como Miguel.
— Feliz aniversário amiga. — Recebo um abraço em grupo
das três pessoas que mais amo.
— Pessoal, muito obrigada, eu não sei o que dizer. Eu bem
que desconfiei, mas acabei me distraindo quando encontrei uma
certa pessoa no shopping. — Eles me perguntam quem e digo que
contarei depois, só preciso guardar as escolas que joguei no chão e
tomar um banho. — Desço daqui a pouco.
Subo as escadas com calma, mas Clark me impede de andar
com as sacolas e diz que levará para mim, não questiono ele e o
mesmo, me segue.
— Espero que tenha gostado, eu não chamei muitas
pessoas, só quem você tinha maior contato, as meninas queriam
chamar mais alguns, mas como sei que você é discreta e se sentiria
melhor com uma reunião mais íntima, apenas chamei Carlos e
Miguel, espero que não se ofenda. — Abraço Clark e digo que estou
muito feliz com o gesto deles.
— Não me ofendeu, eu gosto do Carlos e tenho um carinho
enorme por ele, assim como tenho pelo Miguel, apesar de algumas
circunstâncias. — Ele diz que se sente mais aliviado e que é para
descer logo.
Não demora muito para que eu desça, depois que guardei as
sacolas no quarto da bebê, tomei um banho e vesti um vestido
comum e um chinelo cheio de pedrinhas, queria usar rasteirinha,
mas Clark me impediu, pois disse que é perigoso eu escorregar e
acabar caindo.
— Cheguei. Vamos começar essa festa — digo quando
desço o último degrau e já pego um copo com Coca-Cola.
— Eita, que a grávida está animada — Sabrina diz e todos
dão risada.
— Onde está seu namorado Sa? — Ela diz que ele teve que
resolver uns problemas da mãe dele. — Ok, depois vou cobrar pela
presença dele, ele tem que aparecer mais.
— Senta-se aqui, Liza, vamos voltar a ser adolescentes e
jogar UNO. — Faço cara de desentendida. — Eu explico como se
joga, é legal — Clark diz e me sento no sofá. No fundo está tocando
uma música pop no volume baixo, apenas para deixar um clima que
não seja fúnebre. A casa está toda enfeitada e tem um bolo de
chocolate em cima de uma mesa na sala, tem até luzes de balada
sendo que a luz está acesa, então, me pergunto por que disso, mas
não ponho meus pensamentos em alto e bom som, apenas deixo
rolar.
— Feliz aniversário, Liza. Trouxe isso para você. — Miguel se
senta ao meu lado depois de me dar um abraço. — Espero que
goste. — Abro a caixinha em minhas mãos e lá tem um anel
cravejado com diamantes, eu poderia perguntar o porquê de ele ter
dado isso para mim sendo que ama outra, mas vou aceitar sem
questionar.
— Obrigada, amei. — Ele se ausenta do meu lado para tomar
uma bebida e logo Carlos toma seu lugar.
— Aqui está o meu. Parabéns. — Ele também me abraça e
entrega uma caixa grande para mim. — É para você e para a
pequena Lucy. — Abro a caixa e vejo que tem uma menor com um
colar e do lado uma luminária que tem vários desenhos. — Quando
você liga, os desenhos se formam na parede, é bem bonito, minha
filha tinha um igual, só que com personagens diferentes. — Sorrio
para ele e agradeço.
— Agora o de nós três, poderíamos ter comprado separado,
mas pensamos que seria melhor tudo junto. — Rafaela tira de trás
do sofá um embrulho enorme e me entrega. — Você já é rica, então,
não precisa mais de joias, esse é de coração para se lembrar de
nós aonde quer que você esteja. — Abro o saco de presente e vejo
que tem um edredom não muito grosso, mas um pouco grande, tiro
ele do saco e vejo que está personalizado com todas as nossas
fotos desde quando cheguei aqui, começo a chorar e eles me
abraçam.
— Não sei o que dizer, é perfeito. Obrigada, vocês são minha
família que amo muito. — Quando olho para eles, vejo cair lágrimas
dos olhos de Sa e Rafa, enquanto Clark apenas sorri.
— Você é nossa irmã de coração, sempre estaremos ao seu
lado para o que der e vier, você é uma pessoa maravilhosa, forte,
guerreira e linda por dentro e por fora — Clark diz e todos
concordam com um aceno, aí que me acabo de chorar mais um
pouco. — Agora enxuga as lágrimas, porque hoje é dia de
felicidade.
Estou tão feliz por hoje, foi incrível cada momento, nos
divertimos horrores, aprendi vários jogos e as meninas dançaram
funk sozinhas na sala, porque não gosto nem um pouco desse tipo
de música, mas ri muito com os passos de dança que faziam.
Cheguei a perguntar pra Miguel sobre Simone e ele disse que
seria estranho trazê-la para a casa da ex, acabei entendendo sua
atitude, mas disse que não me importaria. Falei com Carlos sobre
sua esposa e pedi desculpas pelo constrangimento, mesmo na hora
da raiva eu disse que não pediria, mas a ele farei esse esforço,
Carlos é um homem maravilhoso e não merecia nada disso, no fim
ele disse que a esposa precisava de um choque de realidade e, que
chegou até mudar um pouco a atitude durante esses dois dias que
passaram, que bom que meus tapas resolveram.
— Gente vou até o banheiro. — Levanto-me do sofá e
quando estou andando sinto algo descer pelas minhas pernas e
molhar o chão todo.
— Liza, você fez xixi? — Sabrina diz e todos me olham.
— Não, a bolsa dela estourou. — Miguel vem até mim e me
segura. — Calma e respira devagar, vamos no meu carro até o
hospital.
Todos saem do transe depois de um grito que Miguel dá para
que eles se mexam e, saímos de casa com todos atrás de mim
enquanto Clark diz que pegará meus documentos e, uma pequena
mala com roupas para mim e a da Lucy. Meu Deus, hoje verei o
rosto da minha menina e não poderia receber presente melhor.
Estamos no carro indo para o hospital e confesso que não
estou me sentindo bem, depois de alguns minutos aqui dentro com
a Rafaela me segurando em seus braços enquanto Miguel dirige o
mais rápido que pode sem exagerar, comecei a passar mal e não
entendi o porquê disso.
— Gente, eu estou passando mal. — Miguel me pergunta o
que estou sentindo e respondo para ele. — Estou enjoada, minha
cabeça começou a doer e me sinto com tontura.
— Tenta respirar devagar e controlar a ansiedade, estamos
chegando, Liza — ele fala e tento escutá-lo, mas minha mente
começa a me pregar pressas e me sinto longe daquele ambiente.
— Liza, fala comigo. Elizabeth, caramba! Vai mais rápido,
Miguel, eu estou com medo. — Não posso mais escutar o que
minha amiga fala, pois sou tomada pela escuridão e perco
totalmente os sentidos.
Capítulo 43

Clark
Chego ao hospital algum tempo depois e pergunto a
recepcionista sobre Elizabeth, quando acabo vendo as meninas
sentadas na recepção junto ao Carlos, vou até eles e coloco as
coisas que trouxe na cadeira. Quando voltei para buscar os
documentos e roupas, Sabrina foi com Carlos em seu carro
enquanto Rafaela ia com Liza e Miguel.
— O que aconteceu, como ela está? — Elas me olham e
posso ver que choraram. — Falem logo. — Aumento o tom de voz,
mas Carlos quem diz.
— Liza teve pressão alta e acabou desmaiando vindo para
cá, Miguel está cuidando dela nesse momento e não poderemos
assistir ao parto, pois será uma cesariana de emergência. —
Começo a ficar preocupado e minhas mãos tremem.
— Amor, vai ficar tudo bem, nossa menina é forte. — Rafaela
se aproxima de mim e me abraça.
— Eu não posso perdê-la, Rafa. — Ela diz que não
perderemos ninguém hoje e que tudo ficará bem.
— Temos que avisar aos pais dela, eles precisam vir para cá
— Sabrina fala e pego o celular de Liza, que está em meu bolso e,
me levanto para avisá-los.
— Eu faço isso. — Saio de lá e vou para fora do hospital,
desbloqueio o celular e ligo para Suzan, digo como sua filha está e
ela fica preocupada, mas acabo por tranquilizá-la, mesmo eu nem
tendo certeza de nada, ela me diz que contará aos outros e que
pegarão o próximo voo para cá.
Quando desligou a chamada, o celular volta para a tela dos
contatos e vejo o número de Christopher, Liza pode me odiar, mas
tenho que fazer isso, clico em cima do número e o telefone começa
a chamar.
— Alô, Elizabeth, é você? — Vejo que parece um pouco
surpreso pelo tom da sua voz.
— Desculpa, mas aqui é o amigo de Liza, meu nome é
Clark. Minha amiga pode me odiar, mas não posso deixá-la
passar por isso sem seu apoio.
— Cadê ela, o que aconteceu? — Sua voz fica um pouco
alterada e percebo que está preocupado.
— Ela está na sala de cirurgia e precisa de você mesmo
que não admita, só venha para o Brasil que lhe explicarei tudo e
se quiser confirmar sua localização com os pais dela, diga que
conversou comigo e eles lhe ajudaram. — Desligo o celular e
caminho de volta para dentro.
Em nenhum momento falei com ele em português, não sei se
ele conhece a língua ou não, então, não arrisquei, apenas enviei por
mensagem o Estado e cidade em que estamos e o endereço do
hospital, só espero que ele consiga chegar aqui e se virar em São
Paulo, porque não irei buscá-lo, não sairei daqui até ter notícias da
Liza.
— Então, conseguiu avisar? — Sento-me na cadeira e Rafa
pergunta.
— Sim, está tudo certo. — Deixo de fora a parte em que
chamei Christopher para depois, não estou a fim de dar explicações.
Passamos umas horas sentados naquela cadeira
desconfortável e com dor nas costas. Carlos acabou comprando
café para nós, pois mesmo estando atentos, estávamos um pouco
bêbados da festa, mas graças a Deus que não exageramos muito,
porque senão como poderíamos socorrer Liza.
— Família de Elizabeth Harper? — Uma médica grita e nos
levantamos rápido indo até ela. — Eu sou a Doutora Torres, vocês
têm algum parentesco com a paciente?
— Somos amigos, mas cadê o Miguel, ele não ia fazer o
parto? — pergunto antes que ela se negue a falar algo.
— Sim, claro. Se vocês o conhecem, então, acho que é para
vocês mesmo que ele me mandou dar notícias. Miguel não pode
sair do lado da paciente nesse momento e me pediu que eu viesse
esclarecer o que aconteceu. — Fico um pouco apreensivo e apenas
peço que continue. — A senhorita Harper desmaiou, porque ela teve
um aumento de pressão, quando ela chegou aqui conseguimos
estabilizar para que pudéssemos começar o parto, mas no meio do
procedimento, ela teve uma parada cardíaca e tivemos que parar
para socorrê-la. — Aí meu Deus, a minha menina. — Os gêmeos
nasceram saudáveis e estão em observação, assim como Elizabeth,
que se encontra estabilizada e se recuperando no quarto. Ela se
manterá desacordada até amanhã. — Como assim, gêmeos?
— Mas doutora, era somente uma menina — Sabrina diz a
médica.
— Miguel me explicou a situação e não entende o que
aconteceu durante os ultrassons, mas são gêmeos. O corpo dela se
curará com o tempo e, quando ela estiver pronta para respirar
sozinha tiraremos o tubo. — Volto a sentar na cadeira,
completamente sem chão.
— Podemos vê-la? — Rafa que estava ao lado de Carlos
pergunta a Doutora.
— Por enquanto ainda não, mas o Doutor Miguel virá
conversar com vocês depois. — Ela sai e nos deixa sozinhos sem
reação alguma.
— Meu Deus, tomara que Liza fique bem, eu não conheço
sua história, mas sei que é uma lutadora — Carlos diz e todos nos
entreolhamos. — Eu preciso ir, minha mulher ligou e quer saber
notícias.
— A mesma que bateu na Liza, não obrigada, eu não me
importo — digo ríspido e Rafa pede desculpas dizendo que estou
apenas nervoso. — Eu estou bravo sim, mas não para ser
negligente com o que falo, me desculpe pelo modo que falei, mas
sabe que eu estou certo. — Ele assente, diz que tem que ir embora
e, apenas vai em direção a saída.
— Você não deveria ter falado assim, quem merece o
desprezo é a louca da esposa dele, não ele — Sabrina fala para
mim e apenas assinto, estou sem cabeça para nada.
— Preciso dormir, estou muito mal com tudo isso, é difícil ver
minha menina assim e estou com muito medo. — Abraço minha
mulher e ela escora o rosto em meu ombro.
— Eu sei que ela ficará bem amor, ela é forte.
— Sim, ela é.

(...)
Acabei cochilando na cadeira do hospital por mais algumas
horas, Miguel veio até nós e conversou sobre a situação de
Elizabeth, pedimos para vê-la e ele liberou a entrada de uma pessoa
por vez e, agora estou indo para a quarto que ela ocupa. Entro no
ambiente e a vejo, me aproximo e pego em sua mão, choro ao
pensar na situação que ela viveu, eu sei que estou parecendo um
bebê chorão, mas não posso evitar, foi fácil nascer sentimentos por
Liza, ela é uma pessoa maravilhosa e eu a amo como uma irmã
mais nova.
— Oi, Liza, seus amigos estão aqui por você pequena, você
vai se recuperar e poderá ver seus lindos bebês, depois daqui
passarei para conhecê-los, espero que tudo se resolva rápido. —
Dou um beijo em sua testa e saio de lá, peço a enfermeira que me
leve a unidade neonatal e ela diz que só podem fazer visitas os pais
da criança, mas explicou a ela a situação e a mesma se compadece
deixando-me vê-los.
— Aqui senhor Clark, lhe dou dois minutos, são essas duas
fofuras aqui. — Ela aponta para duas crianças mais lindas que eu já
vi, com cabelinhos pretos e tão pequenos.
— Por que eles têm que ficar aqui? — Miguel não havia me
explicado o motivo e eu nem perguntei, estava ansioso para ver
Liza.
— Eles são saudáveis, mas por conta do que aconteceu a
mãe, precisam ficar em observação e aqui evitam de quaisquer
complicações. — Assinto e ela sai me deixando ali com eles.
— Oi, bebês, minha pequena Lucy e meu homenzinho que
ainda não sei o nome, mas tenho certeza de que sua mãe escolherá
um perfeito. Não posso tocá-los ainda, mas vocês dois são umas
fofuras. — Fico observando ambos pelo tempo que posso e depois
volto para a recepção.
— Estou acabada e muito cansada — Rafa diz quando me
vê.
— Vai para a casa amor, eu aviso qualquer coisa, não posso
sair daqui, estou esperando uma pessoa. — Ela me olha sem
entender, mas digo que explicarei depois.
— Eu volto depois que dormir um pouco. — Assinto para ela
e a mesma, saí com Sabrina.
Fico lá sentado por um bom tempo mexendo no celular até
que vejo o nascer do sol e, me levanto para ir a cantina tomar um
café forte, mas quando volto observo uma confusão se formar na
recepção, parece que um homem está discutindo com a enfermeira
em Inglês e acho que sei quem é, corro até o mesmo e vejo ser
Christopher e pelo jeito a mulher não sabe falar outra língua, peço
desculpas a mesma e digo que resolverei.
— Você é o Clark? — Assinto para ele e peço que se sente
comigo. — Me diz como ela está, eu estou tão preocupado.
— Como conseguiu chegar aqui tão rápido?
— Meus pais têm um jatinho particular, mas agora eu quero
saber dela. — Aceno e começo a contar tudo que vem acontecendo
desde que ela descobriu a gravidez, claro que sem muitos detalhes,
mas o que realmente importa. — Por que ela não me contou? Eu
não entendo a Elizabeth, eu dei a ela o tempo que me pediu, mas
ela não poderia me tirar a convivência com meus filhos.
— Isso não é hora para ter raiva e nem discutir, ela precisa
de você, do homem que ama e do pai dos filhos dela. — Ele me
olha sem entender e percebo que deixei a informação de que são
dois de fora. — Desculpa, esqueci de falar, são um casal de
gêmeos, lindos e saudáveis. — Christopher começa a chorar na
minha frente e compadeço da situação.
— Posso vê-los? — Digo que sim e me levanto para
conversar com a médica de plantão, pois Miguel havia ido embora e
disse que voltaria depois de descansar e tomar um banho. —
Obrigado Clark, ainda bem que ela teve você quando fui um
completo idiota e a deixei ir embora sem lutar. — Assinto para ele e
o mesmo, segue uma das enfermeiras.
— Ficarei aqui se precisar de mim, como não sabe falar
português pode ter algum momento que precise de ajude. — De
longe ele diz que tudo bem e agradece novamente. Volto para a
cadeira e fico lá aguardando, pego o café que deixei de lado e tomo
ele como se fosse a água da juventude, pois estou muito cansado e
com dor nas costas de ficar aqui.
Eu espero realmente que Liza fique bem, pois olhar e
conversar com Christopher só me fez perceber o quanto ele a ama e
um amor assim não pode ser negligenciado por ninguém, nem
mesmo pelo tempo. Minha menina mesmo tão nova fez muitas
escolhas na vida e nem todas foram boas, ela tem que saber
reconhecer o que é bom para ela e, principalmente saber ceder
quando está errada e repensar suas decisões baseadas em duas
vidas, porque de hoje em diante, ela não é uma só, mas sim quatro
pessoas lutando pela felicidade.
Se alguém me dissesse que eu encontraria uma amizade tão
verdadeira, eu diria que seria praticamente impossível, mas Liza fez
com que isso se tornasse realidade e de quebra me trouxe Rafaela.
No começo, eu não queria ceder aos meus sentimentos, mas só um
bobo como eu não reconheceria que aquela doidinha é a mulher da
minha vida e me faz um homem muito feliz. Pensei muito sobre o
que Elizabeth me falou, sobre Rafa morar comigo e decidi que isso
será uma boa coisa, preciso evoluir e formar uma família e, com ela
posso pensar nisso novamente. No passado, eu me magoei muito
com as pessoas que mais confiava, mas a vida me mostrou que
temos sempre uma segunda chance de consertar as coisas e ser
feliz.
Capítulo 44

Sinto meu corpo todo doer e não consigo abrir direito os


olhos, uma pessoa coloca a mão sobre a minha e me diz para ter
calma. Abro os olhos e a claridade me faz mal, fecho com tudo e
mais uma vez tento abri-los, quando já não sinto mais tanto
incômodo com a luz, posso ver que estou em um quarto de hospital,
mas nada poderia me preparar para a pessoa que vejo na minha
frente.
— Christopher? — falo com um pouco de dificuldade e ele
vem até mim.
— Oi, Liza, eu sinto muito, meu amor, senti tanto sua falta.
Me perdoe, Elizabeth. — Sinto lágrimas se formarem em meus
olhos e elas começam a cair pelo meu rosto. — Não chore, eu estou
aqui agora e nunca mais vou sair de perto de você. Eu ainda a amo
muito. Agora, apenas descanse, pois estarei aqui quando acordar.
— Obedeço e sinto meu corpo relaxar.

(...)

Acordo sobressaltada como se tudo não tivesse passado de


um sonho e ao abrir os olhos vejo que é a mais pura realidade.
Christopher está na cadeira ao meu lado dormindo, olho para sua
fisionomia e me perco em seus traços, ele está mais lindo do que
antes, deixou sua barba crescer e parece mais forte.
— Christopher? — Me debruço um pouco e passo a mão em
seu rosto. — Acorda. — Ele desperta aos poucos e abre os olhos.
— Liza, o que aconteceu, você está bem? — ele pergunta um
pouco nervoso e vejo que se preocupa comigo.
— Calma, eu estou bem, você acabou pegando no sono. O
que aconteceu?
— Você entrou em trabalho de parto, mas teve complicações
e está se recuperando agora. — Meu Deus, e a minha bebê.
— Lucy, onde ela está, diz para mim que minha filha está
bem? — Ele me diz que ela está ótima e que nossos filhos são
saudáveis. — Filhos?
— Sim, são gêmeos, um casal. — Como pode eu ter gerado
duas crianças e não saber disso, deve ter acontecido algum erro em
minhas consultas. — Clark me ligou e quando cheguei aqui, ele me
contou tudo. Sua médica veio ver como você estava, mas me deu
uma notícia nada agradável. — Olho confusa para ele, pois se não é
com meus filhos, algo aconteceu comigo. — Por conta do parto
difícil, você não pode mais gerar filhos. Sinto muito, querida.
— Meu Deus, como isso é possível, eu sei que dois é bom,
mas eu gostaria de ter mais filhos no futuro. — Olho para ele e vejo
que sua expressão mudou para triste. — O que foi, Christopher?
— Esses filhos seriam de outro homem? — Escuto sua
pergunta e me pego pensando que nunca cogitei essa possibilidade.
— Eu não sei. — Ele se levanta e se senta na cama ao meu
lado.
— Liza, eu sinto muito por tudo que aconteceu, mas gostaria
de pedir algo. — Chris pega em minhas mãos e as leva até seu
coração. — Você sente isso, como ele bate mais rápido quando
estou ao seu lado, esse é o resultado do meu amor por você. Eu te
amo muito, Liza, e nem esses meses fizeram eu desistir de você,
apenas lhe dei o tempo que havia me pedido, mas foi um grande
erro, quando você foi embora achei que seria o fim pra mim, mas
me reergui pelo meu filho e agora estou fazendo isso por vocês três,
quero que volte pra casa e fique comigo, seja minha novamente,
meu amor. — Olho estagnada para ele e não sei o que dizer.
— Chris, eu tenho uma vida aqui, conquistei muitas coisas
quando sai de casa e não quero perder tudo isso. — Tiro minhas
mãos da sua e volto a apoiar as costas no travesseiro.
— Eu sei que construiu uma vida aqui e que até tentou com
outra pessoa, mas eu sei também que ainda me ama e que você
pode continuar tudo isso em outro lugar. Não precisamos ficar
sozinhos para evoluir, Elizabeth, podemos crescer juntos e criar
nossos filhos como uma família unida e feliz. — Fico um pouco
emocionada por suas palavras e as lágrimas teimam em cair, mas o
que me deixa confusa é em como ele sabe sobre meus breves
envolvimentos com outros homens.
— Quem te contou que tentei com outra pessoa?
— Eu conheci o Miguel, ele e seus amigos estão lá fora
esperando que acorde novamente. — Então, algum deles contou
isso, mas no momento não posso me preocupar com essas coisas,
tenho dois filhos para criar e estou muito confusa. — Pensa no que
te falei, vou chamar seus amigos, a visita em grupo foi liberada. —
Assinto, enquanto ele sai do quarto e menos de cinco minutos
depois meus amigos entram pela porta, Clark, Rafa e Sabrina.
— Oi, Liza, que susto você nos deu, meu amor, quase
morremos de preocupação — Clark quem diz e vem me dar um
abraço.
— Todos nós viemos todos os dias enquanto estava
desacordada e fomos visitar nossos pequenos potinhos de ouro no
berçário. — Sorrio para Rafa que fala logo depois de Clark.
— Obrigada por estarem comigo e ser a rocha que preciso
para me segurar e não desabar.
— Sempre estaremos aqui para você, seus pais chegaram
aqui um dia depois que você foi internada e estão no hotel nesse
momento, Christopher foi ligar para eles e avisar que você havia
acordado. — Assenti por sua explicação enquanto Sabrina continua
a falar. — Ainda bem que Verônica sabe português, porque foi uma
tremenda confusão de idiomas ao mesmo tempo e, seus pais
preocupados com o que havia lhe acontecido, deixaram as
enfermeiras maluquinhas. — Dou risada pela personalidade
brincalhona de Sa, ela sempre foi minha amiga mais divertida. —
Conhecemos um pouco da sua família e, amiga, que pais são esses
que você tem, não acredito que nunca me mostrou uma foto, os
coroas são uns gatos.
— Deixa minhas mães ouvirem você falar isso, elas são
extremamente ciumentas e já falei da surra que Verônica deu na
Alice. — Todos começam a gargalhar e sinto aquela energia
contagiante.
— Mas, vamos ao que interessa, você vai voltar para os
Estados Unidos? — Clark indaga quando se senta na cadeira antes
ocupada por Chris.
— Não sei meu amigo, sinceramente não sei o que pensar.
— Você deve aceitá-lo de volta e ser feliz amiga, é óbvio o
quanto se amam — Rafa fala e todos concordam.
— Eu queria saber quem contou sobre Miguel a ele e
provavelmente sobre outros caras que fiquei nas noites em que
saímos. — Clark e Rafa, olham para Sabrina e já sei quem foi. —
Sa, por que falou isso para ele?
— Ele veio perguntar quem era o Miguel e quando expliquei,
ele começou a querer brigar com ele, aí fiquei nervosa e acabei
falando mesmo, esfreguei na cara dele que deixou um mulherão
desses escapar e que tinha vários na fila, me desculpa amiga, mas
ele mereceu. — Começo a rir da expressão que ela faz quando
tenta se desculpar e ao mesmo tempo dizer que não tem motivo
para tal.
— Tudo bem, mas não gostei de você ter contado sobre
minha vida pessoal. — Ela assente e fica calada.
— Senhorita Harper, está na hora de fazer exames, estava
esperando você acordar para fazer check-ups e poder dar alta a
você. — Uma médica vem até nós e me pergunto onde está Miguel.
— Seu obstetra fez seu parto, mas deixou que eu me encarregasse
do resto. — Aceno com a cabeça, enquanto ela puxa minha cama
em direção a sala de exames abandonando meus amigos.
Fiquei um bom tempo fazendo todo tipo de exame e acabei
ficando no tédio, depois de tudo isso a médica me ajudou a ir ver
meus filhos, fiquei tão apaixonada que não queria sair mais, ela me
disse que eles ficariam bem e que eles poderiam sair comigo em
algumas horas, conversei com ela e perguntei se não seria o caso
de ficar em observação por algum tempo, mas ela me garantiu que
não tinha mais riscos algum, apenas assenti e esperei a hora de ser
liberada.
Meus pais apareceram quando eu estava amamentando
meus filhos e dei graças a Deus por conseguir produzir leite para os
dois, no começo eles chegaram meio apavorados e minhas mães
começaram a chorar, mas no final tudo deu certo.
— Aí minha filha, eu estou tão feliz por você estar bem,
ficamos desesperados quando soubemos, eu sinto muito por você
não poder ter mais filhos, meu amor — Minha mãe Suzan fala e
beija minha testa.
— Sim, todos nós sentimos, mas o importante é que você
tem dois filhos e irá amá-los incondicionalmente — meu pai,
Charles, fala e todos assente.
— Já pensou na proposta de Christopher, você voltará
conosco? — Verônica questiona e digo que ainda estou pensando e
que irei conversar com ele depois.
— Espero que faça a escolha certa, confio em seu
julgamento filha — Joseph fala e sorrio para ele.
— Vocês podem chamar o Christopher? — Eles saem do
quarto e me deixam sozinha com meus bebês, como eles são fofos
e cheirosos, tenho vontade de morder as perninhas e os bracinhos,
com certeza é uma dádiva de Deus, eles são perfeitos. Olhando
para meu homenzinho acabei de decidir que nome darei, ele se
chamará Theodore, um dos nomes que vi quando estava
pesquisando para ambos os sexos sem saber que eu teria uma
menina, que significa presente de Deus, porque ele chegou do nada
e me fez a mulher mais feliz do mundo. — Olá, meu pequeno Theo,
mamãe não sabia de você, mas te ama muito. — Ele e Lucy olham
para mim e posso ver o azul dos seus olhos, são meus bebês
perfeitos.
— Essa com certeza é a visão mais linda que já vi na vida. —
Levanto o rosto e olho para Christopher. — Então, nosso pequeno
se chamará Theo, lindo nome querida. — Me chamar por uma
palavra carinhosa faz meu corpo sofrer um certo tipo de arrepio
gostoso, quem eu quero enganar, eu amo esse homem.
— Como sei que ele não tinha um nome, acabei de escolher,
mesmo pensando que talvez você tivesse algum, desculpa não
perguntar. — Chris se aproxima e beija minha testa quando se senta
na cama e brinca com os pequenos.
— Esse nome é perfeito. — Ele pega nos pezinhos de Lucy e
dá um beijinho carinhoso, assim como faz com Theo, esse momento
não poderia ser mais incrível. — Quem é o papai de vocês hein,
meus amores, eu os amo muito e em breve vocês conheceram seu
irmão. — Estremeço com suas palavras mesmo sabendo que
Nathaniel não tem culpa de nada, mas ainda assim é filho de
Suzane.
— Eu pensei sobre o que me disse e eu aceito voltar para
você e, construirmos uma família juntos. — Eu o amo e sei que
estou fazendo uma escolha, se é a certa ou não, só o tempo me
dirá.
— Obrigada, Liza, eu te amo. — Chris me abraça e me dá um
beijo, nossa, que saudades de sentir o seu gosto, ele é tão incrível e
beija como ninguém. — Vou chamar a médica e ver se podemos ir.
— Ele se levanta e antes que vá faço uma pergunta.
— Como está lidando com um país novo e, se virando aqui
sem falar o idioma?
— Eu senti ciúmes do seu amigo no começo, mas agora ele
está se tornando uma ótima pessoa e, tem me ajudado durante
esses dias. Foi tão estranho chegar até aqui, o motorista do táxi não
entendia nada e, então, apenas dei o endereço na mão dele e ele
me trouxe aqui, quando cheguei, acabei discutindo com uma
enfermeira, mas Clark me salvou também. — Dou uma risada e ele
diz que não tem graça, mas tem sim, fico imaginando até a cena,
parecia eu no começo, se não fosse meus amigos, sei lá o que seria
de mim.
— Agora vai lá, quero ir para a casa. — Ele sai do quarto e
fico com meus bebês dando cheirinhos e fazendo um carinho.
Voltei para o homem que amo, tenho dois filhos incríveis e
vou voltar a morar no meu país depois que acertar tudo que tenho
para fazer aqui. Quando Christopher conversou comigo, achei que
seria uma decisão difícil, mas confirmei que isso era o que eu
sempre quis, só precisava de um empurrãozinho.
— Elizabeth, tudo bem? — A doutora que eu nem sei o
sobrenome entra no quarto e vem até mim. — Vou medir sua
pressão e depois te darei alta. Suas roupas estão no armário dentro
do banheiro. — Nossa, mal vi que eu ainda estava com aquelas
camisolas horríveis de hospital.
— Tudo bem doutora, onde está Chris? — Ela me diz que ele
foi acertar os trâmites finais com o hospital para que possamos ir.
— O resto do pessoal já foi embora e deixou somente seu
marido aqui. — Marido? Não lembro de ser pedida em casamento.
— Ele ainda não é meu marido. — Ela sorri para mim e
depois de pegar o aparelho e medir minha pressão, diz que estou
liberada. — Pode pedir para que ele volte, preciso me trocar.
— Pode ir, eu olho eles para você. — Assinto e vou para o
banheiro, lá abro o armário e vejo minhas roupas com algumas do
bebê, terei que trocá-las também, graças a Deus, o banheiro tem
chuveiro e acabo tomando um banho rápido, visto minhas roupas e
levo as do meu bebê para fora.
— Obrigada, doutora... — Faço cara de interrogação e ela me
diz que seu nome é Roberta e, que terá que ir atrás de Chris. —
Pode deixar que eu me viro. — Ela sai do quarto e começo a trocar
meus bebês com cuidado, ainda tenho medo de pegá-los e algo
acontecer, são tão frágeis e pequenos. — A mamãe é uma medrosa
meus filhos, eu prometo cuidar de vocês com todo meu amor e
carinho. — Termino de colocar a roupa no Theo e dou um cheirinho
em seu corpinho.
— Pronto, voltei, estava assinando os papéis depois de
discutir de novo com a enfermeira, parece que eu precisaria ser seu
marido para fazê-lo, então, convenci de que era e que não
precisaria de identificação, meu charme sempre foi infalível. —
Agora sei de onde veio a ideia de que Christopher é meu marido
quando a doutora falou, mas não lembrava de ele ser convencido.
— Então, foi você o linguarudo que saiu por aí contando que
sou sua esposa. A médica disse que meus amigos foram embora
junto com meus pais, então, te pergunto como você está
conseguindo conversar com eles? — Ele começa a gargalhar do
nada e me diz que a médica fala inglês. — Sorte sua. — Volto para
o que estava fazendo e ponho a roupa na Lucy, depois que termino,
meu “marido” pega as coisas que trouxemos e, coloca Theo no colo
e eu fico com a minha princesa.
— A médica disse que você precisa ficar de repouso por uns
oito dias e depois pode voltar a rotina, mas sem exagerar. — Digo
que tudo bem e seguimos para o estacionamento. — Eu estou
hospedado no mesmo hotel que sua família, quer ir para lá?
— Não, prefiro ir para a casa. — Chris assente e me ajuda a
colocar nossos bebês na cadeirinha e, fico com dó de deixá-los
sozinhos atrás. — Como conseguiu meu carro e as cadeirinhas?
— Clark deixou aqui comigo e comprou as cadeirinhas, mas
disse para mim ter cuidado, porque as leis desse país são
diferentes. — Falo que explicarei para ele tudo que deve saber e,
então, seguimos caminho para o apartamento. — Uau, bem chique,
não sabia que ele era riquinho. — Reviro os olhos para o comentário
desnecessário de Christopher.
— Clark não é rico, é só bem de vida e você não deveria falar
nada, oh senhor bilionário. — Dou um sorriso e descemos do carro,
Chris pega as bolsas e põe Lucy no seu colo, enquanto chamo o
elevador com Theo nos braços, em alguns minutos chegamos ao
meu andar e abro a porta para entrar, pego as bolsas de Chris e
coloco no sofá enquanto aconchego meu bebê junto de mim e Chris
faz o mesmo com Lucy.
— Por que não comprou uma casa aqui, seus pais não te
ajudaram?
— Eu quis ser independente e no fim acabei ficando rica,
você sabe que Alice perdeu a herança, não é, então, mamãe
transferiu toda ela para mim, por causa de Clark eu não me mudei,
ele me queria por perto para cuidarmos da bebê que agora são dois.
— A expressão de Chris muda e vejo mágoa em seus olhos. —
Desculpa, mas ele era quem eu tinha.
— Porque quis, mas não vamos brigar por isso. — Assinto e
peço que ele suba comigo para o quarto dos bebês, terei que
comprar outro berço.
Subo devagar as escadas com medo de cair, pois com eles
sou do tipo medrosa, ando pelo corredor do segundo andar com
Chris atrás de mim e abro a porta do quarto, quando entro fico
impressionada com que vejo, o quarto está totalmente diferente, não
está todo rosa mais, agora ele está dividido ao meio com metade
rosa e outra azul, tem mais um berço e tudo que Lucy tinha agora
Theo também tem.
— Não acredito que Clark fez isso, estou impressionada. —
Olho pra Chris e, o vejo colocar Lucy no berço e eu coloco Theo no
dele, ambos estão dormindo e verifico se a fralda dos dois está
molhada, mas parece que não fizeram nada, por enquanto.
— Na verdade, fui eu que arrumei, não é viável para os dois,
mas até voltarmos para casa, aqui será o quartinho deles. — Abraço
Christopher e olho para nossos filhos. — Eles são lindos.
— Sim, são perfeitos. Agora podemos conversar melhor,
estou impressionada que até agora eles não ficaram chorando e me
deixando maluca, já estava esperando por isso. — Fecho a porta
com cuidado e puxo ele para meu quarto.
— Você não viu nada ainda, quando eles começarem a abrir
o berreiro, você me diz o que acha. Nathaniel sempre foi um bebê
muito doce no início e não ficava chorando constantemente, mas de
uns tempos para cá tudo mudou. — Sorrio pelo modo que ele fala
do seu filho.
— E como ele é? Conta mais. — Ele fala um pouco de seu
bebê e que falta pouco para ele fazer um ano, que é gordinho e um
menino muito esperto. — Fico feliz por você, Christopher. Pode se
sentar, vou tomar outro banho, já não aguento mais esse cheiro de
hospital e meu banho de gato no quarto não adiantou nada.
— Que tal tomarmos um banho juntos? — ele diz, já tirando
sua camiseta.
— Eu acho que o senhor está indo rápido demais, nem roupa
você trouxe para cá. — Ele diz que tem uma roupa no porta-malas.
— E por que você não trouxe?
— Não sabia se iria me deixar ficar, muito menos que me
deixaria tomar banho com você.
— Desce lá e pega, você pode dormir aqui hoje, mas não
podemos fazer a casa de Clark um motel. — Ele sai do quarto
depois de colocar a roupa de novo e eu vou para o banho, fico
debaixo do chuveiro por um tempo e coloco a mão no meu curativo
onde foi feita a cesárea, espero que não fique uma cicatriz horrível,
molhei ele sem me importar no hospital e não troquei, pelo menos é
impermeável.
— Oi, voltei. — Escuto sua voz e digo que ele foi rápido, ele
me diz que saiu correndo depois que o elevador abriu no
estacionamento e começo a dar risada.
— Não sei por que tudo isso. — Olho para ele tirando a roupa
e vejo o quanto ele está mais musculoso, caramba esse homem é
uma delícia. — Você ficou mais gostoso, está pegando pesado, é?
— Talvez. — Ele termina de se despir e abre o box entrando
em seguida. — Depois faço um curativo novo nos pontos, a
senhorita tomou banho no hospital e já tinha molhado o curativo não
é, sorte que é impermeável, mas porque não trocou?
— Estou com a cabeça tão avoada que acabei nem me
importando com isso. — Ele diz que eu deveria ser mais atenta. —
Eu sei, Christopher, mas nem me importei, até carreguei meu filho e
sei que não posso pegar peso, mas fiquei três dias na cama e me
sinto melhor, mesmo que com um pouco de dor.
— Daqui cinco dias você pode retirar os pontos. — Sim, tinha
lido sobre isso em algum lugar, mas de novo não perguntei para a
médica e pelo jeito, meu amor, fez o trabalho direitinho. — Como sei
que estava desatenta, eu perguntei as coisas por você, senhorita
Harper, agora deixa eu lavar seus cabelos.
— Uma pena só transar daqui 40 dias não é, eu estou meio
que na seca. — Ele começa a rir e jogo água no seu rosto. — Não ri
de mim, Christopher, é verdade, você está um pedaço de mal
caminho e é difícil resistir a tudo isso.
— Se contenha, Elizabeth, agora me deixe terminar. — Ele
lava o cabelo e depois tira a espuma assim como faz com meu
corpo e, em seguida com o dele. — Onde ficam as toalhas? —
Aponto para o armário e, ele sai do box, pega minha toalha, desliga
o chuveiro e depois me seca. — Agora vai se trocar enquanto me
seco. — Saio do banheiro e coloco uma camisola.
— Você fica uma delícia em seda rendada. — Dou um
sorrisinho safado e ele vem até mim. — Eu te amo, Liza. — Chris
me beija e passo a mão pelo seu corpo indo direito ao meu prêmio,
mas ele para minha mão. — Nada disso safada, pega o kit de
primeiros socorros para eu fazer um curativo novo.
— Como você é chato. — Saio do quarto e desço as
escadas, vou para o escritório e lá encontro o kit dentro do armário
de Clark, pego e volto de novo para o quarto. — Aqui está. —
Entrego em suas mãos e subo minha camisola me deitando na
cama.
— Cadê sua calcinha? — Ele olha para minha amiguinha e o
vejo salivar.
— Incomoda e por enquanto prefiro não usar.
— Você estava todo esse tempo sem calcinha, andando de
vestido. — Sorrio e digo que sim. — Você vai receber uma
penitência por isso, assim que eu puder te tocar do modo que quero.
— Chris faz o curativo e puxo as cobertas sobre meu corpo,
enquanto ele veste uma calça de pijama e se deita ao meu lado.
— Também amo você Chris. — Sei que está um pouco cedo,
mas é melhor dormir antes que as crianças acordem e pelo jeito,
Christopher também está cansado. Ele beija minha testa e deito a
cabeça em seu peito pegando no sono em poucos minutos.
Capítulo 45

Dormi muito mal durante a noite, se é que posso chamar de


sono o que eu tive, acordei com o Chris a cada três horas com os
choros estridentes dos meus dois filhos e, depois de um dia tenho
certeza que Clark desistiu de me abrigar na sua casa, o coitado nem
dormiu durante a noite, se assustou com as crises de choro dos
meus filhos e veio toda vez saber se precisávamos de ajuda,
Christopher ficava rindo de nós dois dizendo que isso era só o
começo, nunca agradeci tanto por ele ter voltado, pois como cuidou
de Nathaniel com Suzane, ele tinha bastante experiência mesmo
que por pouco tempo e me ensinou bastante coisa.
— Liza, amor, os bebês estão chorando de novo. — Ah, não,
vou ficar maluca. Pego o celular que está na cabeceira da cama e
vejo que já se passarem duas horas que peguei no sono. — Vamos
lá, porque parece que eles escolhem chorar na mesma hora,
impressionante como cronometram certinho. — Levanto-me da
cama e sigo para o quarto deles.
— É meus amores, estão deixando os pais de vocês
maluquinhos. — Entro no quarto com Chris e me curvo para pegar
Theo nos braços, mas sinto uma pontada na barriga e acabo me
sentando na poltrona.
— Liza, você está bem? — Christopher vem até mim e
levanta minha cabeça para que o olhe.
— Só senti uma pontada na barriga, deve ser porque está
recente minha cesárea.
— Você já está fazendo muito esforço e mal começou a
cuidar deles, acho melhor você voltar a dormir. — Bem que eu
queria, mas quem vai alimentar meus filhos.
— Eu sou mãe, tenho responsabilidades agora Chris, me dê
Theo. — Ele me olha receoso, mas não desisto. — Vai amor. —
Chris pega meu menino do berço e me entrega, dou de mamar para
ele enquanto o observo agora estando calminho, meu filho é tão
bonito e forte, que sorte eu tenho.
— Irei preparar o banho dos dois, você vai ficar bem sozinha?
— Digo que sim e ele sai do quarto.
— Theo, seu pai é tão bonito meu filho, assim como você, eu
te amo muito e sua irmã também, tentarei ser a melhor mãe do
mundo, lhes darei carinho, amor, compreensão, amizade e tudo que
pais podem ser aos filhos. — Passo a mão pela sua cabeça e o vejo
abrir os olhos para mim.
— Pronto, só vou esperar a água ficar morna. — Chris entra
no quarto, e lhe entrego Theo para que o faça arrotar, e logo em
seguida, peço que me dê Lucy. — Agora vamos, princesinha, é sua
vez.
— Tenho medo de não conseguir lidar com tudo isso, Chris e,
se eu falhar, ser uma péssima mãe. — Ele me dá Lucy e a coloco
para mamar em meu outro seio. — Eu fico em contradição comigo
mesma, uma hora estou confiante e na outra entro em desespero.
— Você precisa ser forte, meu amor, eu tenho certeza de que
tudo dará certo. — Alguns minutos depois que termino o processo
de amamentar Lucy, ambos os despimos e os levamos para o
banheiro, tomo total cuidado e vejo Chris dar banho em Theo. —
Liguei para Suzane e expliquei que não aparecerei por uns dois
meses, espero que isso seja suficiente para acertarmos as coisas
no Brasil e voltarmos para os Estados Unidos.
— Você não contou a verdade para ela? — Ele diz que sim,
mas que ela não ficou muito feliz por ele abandonar Nathaniel por
tanto tempo. — Suzane tem que ter noção de que agora você tem
uma família e que terá que cuidar de mais dois filhos, jamais pediria
para você esquecer que tem Nathaniel, mas que ela seja
compreensiva.
— Eu sei, Suzane é complicada, ela não é de aceitar um não
e gosta das coisas a sua maneira. — Digo para ele que ela é uma
mimadinha rica e depois me calo. — Liza, não vamos deixar que
Suzane atrapalhe nosso relacionamento, por favor, vamos ficar bem.
— Tudo bem, Christopher, mas peço que converse com ela,
quando eu voltar não irei aceitar esse tipo de atitude perto dos meus
filhos. — Terminamos de dar banho nos pequenos e os levamos
para o quarto, secamos e colocamos suas roupinhas, como pode
uma coisinha tão pequena fazer com que cresça um amor tão
grande que não cabe no peito. — Temos que registrar nossos filhos,
aqui no Brasil o prazo é de 15 dias a partir da data do nascimento.
— Tudo bem, farei isso com sua autorização e resolverei os
problemas dos outros documentos, eu já havia conversado com a
Verônica e ela conhece alguém aqui que pode agilizar esse
processo. — Assinto e depois descemos para a cozinha.
— Bom dia, amiga — Rafaela diz e, eu e Chris, nos sentamos
na mesa.
— Estou morta e muito cansada, nem tomei banho e muito
menos escovei os dentes. — Chris diz que ele o fez quando foi
esquentar água no banheiro. — Bom para você, mas eu preciso de
uns minutos para ficar apresentável.
— Deixa que nós ajudamos você, foi o que prometi não é. —
Clark pega Lucy de mim e agradeço por isso.
— Você também deve estar um caco, acordava sempre com
os berros dos meus pequenos. Desculpa por isso e a você também
Rafaela. — Eles dizem que tudo bem e, que estão aqui para isso. —
Muito obrigada por vocês existirem na minha vida.
— Não estava conseguindo dormir mesmo com Clark
levantando toda hora, então, resolvemos aproveitar o tempo e fazer
outra coisa. — Olho para eles e, vejo uma expressão maliciosa
surgir em seus rostos.
— Que raiva de vocês, me fazendo inveja só porque não
posso transar feito louca. — Todos começam a rir na mesa e Chris
me repreende. — É verdade amor, eu estou subindo pelas paredes.
— Eles não precisam saber disso, Liza — Chris fala e Clark
diz que eu posso até não transar, mas que tem outros tipos de
brincadeiras.
— Eu sei, mas meu namorado não está muito a fim disso
nesses primeiros dias. — Christopher diz que somente está
querendo cuidar de mim. — Então, sugiro que se esforce menos
querido.
— Liza, não conhecíamos esse seu lado selvagem — Rafa
fala e peço que nem queira conhecer. — Agora vá, tome um banho
relaxante e depois durma, ficarei aqui com essa fofura, se quiser ir
também, Christopher, fique à vontade.
— Eu agradeço muito, mas vocês não trabalham mais não?
— Eles dizem que hoje não. — Trabalho bom de vocês, não lembro
de Carlos me deixar faltar assim não Rafaela.
— Ele ficou preocupado com você e disse que toda ajuda era
bem-vinda e, como sou namorada de Clark, ele juntou o útil ao
agradável, mas também é só hoje, então, aproveita amiga. —
Levanto da cadeira e vou subindo as escadas, mas antes escuto
Christopher falar.
— Já que estão tanto querendo ajudar, vou aproveitar e
dormir também. — Escuto seus passos atrás de mim nas escadas e
vou para o banho.
A água escorrendo pelo meu corpo faz eu me sentir bem
melhor. Christopher preferiu não tomar banho comigo e me deixar
relaxar e depois de um longo tempo, saio do banheiro com a toalha
amarrada no corpo, avisto Chris totalmente nu mexendo no guarda-
roupa e, o vejo pegar uma outra toalha para depois vir em minha
direção.
— Isso é provocação ou foi totalmente sem segundas
intenções? — pergunto apontando para o seu corpo.
— Não posso tomar banho de roupa, gata. Quando sair faço
outro curativo em você. — Ele me dá um selinho nos lábios e entra
no banheiro.
Esse homem vai me deixar completamente louca, a bunda
dele está mais malhada e posso ver músculos nela, misericórdia, ele
tem que ter sido esculpido por Picasso, porque oh beleza
escondida, seu pacote generoso na frente também vem a calhar e
posso com certeza fazer um elogio satisfatório.
Depois de me trocar e não vestir calcinha, espero por um
longo tempo para que Christopher apareça, mas ele não sai do
banheiro e quando me aproximo da porta o escuto cantando Big and
Rich, e sei que ele não sairá de lá tão cedo, pego a caixa e troco eu
mesma meu curativo com a ajuda de um espelho, foi meio
desajeitado, mas era o único jeito, sei que ele vai querer me matar
pela imprudência, mas não estou ligando pra isso.
Saio do quarto e o deixo lá com sua performance no The
Voice e, desço em busca dos meus pequenos. Quando chego na
sala, Rafa e Clark estão brincando com eles e se divertindo, posso
ver que quando a hora chegar serão bons pais.
— Voltei, sei que disse que iria dormir, mas acabei desistindo.
— Pego um bebê por vez no colo, enquanto estou sentada e depois
os coloco um do lado do outro no sofá. — Muito obrigada, vocês
podem sair ou ir transar se quiserem, vocês que sabem.
— Será que você não para de pensar nisso. — Digo que
piorou depois que vi Christopher. — Você está parecendo uma
tarada, mas mudando de assunto, Sabrina vira à noite com o
namorado te visitar, assim como Miguel, só não sei se Carlos irá
querer vir.
— Do jeito que a mulher dele é, vai querer mantê-lo bem
longe, mesmo ele dizendo que ela apresentou mudanças de atitude
depois dos tapas que levou, não confio muito nessa mudança sabe
e em relação a Miguel, talvez não seja uma boa ele ficar perto do
Chris.
— Talvez você tenha razão, mas vamos esperar e ver qual
será a atitude do seu futuro marido, mas e aí, ele já fez o pedido de
casamento? — Clark pergunta e o olho sem entender nada.
— Se fez, eu estava inconsciente, porque não lembro de tal
gesto. — Rafaela bate no braço dele e olho para ela. — Vocês estão
sabendo de algo que não sei?
— Claro que não, Liza, só acho Clark muito intrometido. —
Assinto para ela e volto a atenção aos meus pequenos. — Estou
praticando tanto o Inglês durante esse tempo que já estou mais
fluente do que nunca, falar com Chris está sendo melhor do que
escola de idiomas. — Dou risada e concordo com ela.
— Quem dera tivéssemos tempo de ensiná-lo português, eu
estou bem nas pronúncias, mas não sou nada fluente ainda, estar
aqui no país ajuda muito e isso ele não teria quando voltássemos
para os Estados Unidos, só sei que irei continuar meus estudos on-
line — falo, enquanto escuto passos na escada e vejo Chris descer.
— Oi, querida, achei que iria dormir. — Digo que acabei
desistindo e peço que ele me ajude a levar as crianças para o berço.
— Tudo bem, vamos. Obrigado pessoal — fala olhando para Rafa e
Clark.
Subo as escadas com meu Theo no colo enquanto
Christopher leva Lucy, chego em frente ao quarto, abro a porta e
depois de fazê-los dormir os colocamos nos berços e, voltamos para
o nosso.
— A senhorita fez o curativo sozinha, não é? — indaga ele
levantando meu vestido. — Será possível que você não conhece o
que é calcinha, Elizabeth? — Chris olha para baixo e, diz indignado
fazendo com que eu não segure a risada.
— Para de drama, estou em casa e não saio por aí abrindo
as pernas para todo mundo ver. — O vestido que coloquei vai até os
joelhos, então, esconde bem.
— Eu vou colar a calcinha em você amanhã, pode ter
certeza. — Falo para ele parar de drama e prometo usar a maldita
calcinha. — Assim é melhor, agora vamos brincar um pouquinho.
— Chris, o que vai fazer? — Ele passa o dedo pela minha
virilha até onde minha intimidade se encontra molhada, ele mal me
tocou e já estou completamente excitada. Christopher faz
movimentos com o dedo e começo a gemer, mas quando me
contorço na cama, sinto a dor na barriga. — Para, está doendo. —
Mais que merda, será que uma pessoa não pode ter paz nem para
chegar ao orgasmo nessa vida.
— É só você não se mexer, ou quer que eu amarre suas
pernas. — Ele me olha malicioso e digo que está sendo um safado,
mas deixo que continue. — Fica calma. — Sinto sua língua passar
lá embaixo e solto um gritinho pela surpresa, caramba, isso é bom
demais. Chris continua me levando a loucura e não consigo parar de
gemer até me derramar em sua boca.
— Nossa, amor, você se superou. — Deito-me para o lado e
ele sai do meio das minhas pernas indo para o banheiro, vejo-o
voltar com uma toalha molhada e ele me limpa com cuidado. —
Acho que devo devolver o favor. — Olho-o maliciosa, mas ele para
minha mão quando me aproximo de sua calça.
— Deixa para outro dia, o seu prazer é o meu, e estou
satisfeito. — Quem questiona algo assim, só uma louca. — Eu te
amo, Elizabeth, agora durma.
— Eu também o amo, Christopher, mas preciso tomar outro
banho. — Ele me diz que quando eu acordar faço isso e, então, ele
leva a toalha para o banheiro de novo e, depois volta deitando-se ao
meu lado e me apertando forte, assim pego no sono em segundos.

(...)
Já estava de noite quando acordei assustada e sai correndo
para o quarto dos meus filhos, não ouvi a babá eletrônica, mas
quando cheguei lá, eles não estavam no berço e, então, desci
correndo as escadas e encontrei eles com Clark e Rafaela, nesse
momento parecia que eu tinha tirado um peso da alma.
— Meu Deus, não façam isso comigo, fiquei tão assustada
quando não os vi lá, me senti uma mãe ruim por não ter ouvido o
choro deles. — Sento-me na cadeira e tento voltar a respiração
normal.
— Calma, Elizabeth, cuidamos deles para que pudessem
dormir melhor — Clark diz e, tento formular algumas palavras ainda
com o coração acelerado.
— Deveriam ter me avisado, por favor, nunca mais façam
isso. — Eles assentem e quando me levanto para tomar um banho,
Rafa me chama.
— Liza, você está sangrando. — Olho para baixo e vejo a
pequena quantidade de sangue manchar meu vestido.
— Droga, os pontos devem ter aberto, preciso lavar o local
para não infeccionar e tomar meu banho. — Rafa diz que ligará para
Miguel vir aqui e cuidar disso.
— Ele já vinha mesmo, só que dessa vez será mais cedo. —
Subo para o quarto e tomo meu banho lavando a área com cuidado.
Saio do chuveiro, escolho uma roupa limpa e, me troco
depois de passar meus cremes de corpo. Olho para Chris dormindo
sereno e não sei se o acordo, mas tenho certeza de que ele ficaria
bravo se eu não o fizesse, e como está perto das visitas chegarem
melhor assim.
— Chris, querido. — Dou beijinhos no seu rosto e ele
desperta devagar.
— Liza, o que aconteceu? Cadê os bebês? — Ele dá um pulo
da cama rápido demais, mas o tranquilizo.
— Está tudo bem. Eles estão com Clark e Rafa, mas acordei
tão desesperada porque não escutei o choro deles que acabei
correndo pela casa e abri meus pontos, Rafa ligou para o Miguel vir
dar um jeito.
— Meu Deus, amor, você tem que prestar atenção no que
faz. Deite-se aqui, ainda está saindo sangue. — Digo que a água do
chuveiro estancou um pouco o sangue, mas não parou totalmente.
— Cadê o Miguel, ele já chegou?
— Estou aqui, me desculpem a invasão, mas é que não
podemos perder tempo, pode infeccionar. — Miguel entrou com tudo
no quarto fazendo com que eu me assustasse, assim como
Christopher, mas ele não falou nada e apenas deu espaço para
Miguel se sentar na cama. — Pode levantar o vestido.
— Espera aí. Liza, você está usando? — Olho para ele
confusa e depois me lembro que ele fala sobre a calcinha.
— Sim, querido, eu estou. — Dou risada da cara de alívio de
Chris e levanto meu vestido, tudo bem que essa cena está sendo
um pouco constrangedora, eu poderia ter colocado um short
folgado, mas juro que não pensei nessa possibilidade, estou tão
acostumada a não apertar mais nada embaixo.
— Vou limpar e aplicar uma anestesia no local para refazer
os pontos — Miguel diz e apenas assinto, enquanto Chris olha com
cara de poucos amigos. — Pode pegar um lençol para mim,
Christopher? — Ele olha pra Miguel e depois faz o que ele pede.
— Aqui está. — Chris entrega para ele o lençol e Miguel
cobre a parte da minha calcinha deixando de fora somente a área
abaixo da minha barriga, graças a Deus, fiquei tão nervosa com
essa situação que nem pensei nisso. — Vou sair e já volto.
— Acho que seu marido não gosta de mim.
— Por que será, não é? Sabrina foi falar o que não devia e
deu nisso, mas é só ciúmes, uma hora passa, desculpa por isso
Miguel. — Olho para ele e lhe dou um sorriso, enquanto continua a
fazer o que começou.
— Tudo bem, se fosse Simone eu estaria bem mais bravo do
que ele, sou um pouco ciumento. — Digo para ele que ela tem muita
sorte por tê-lo. — Nosso relacionamento está muito bom, eu amo
tanto ela, Liza.
— Fico feliz pelos dois, na próxima vez que me visitar pode
trazê-la, e se eu não estiver mais no país, faço questão que fiquem
os dois na minha casa. — Ele agradece e diz que esperará um
pouco mais para essa visita. — Como está a situação aí embaixo?
— Está tudo bem, sem maiores complicações, só espero que
tenha mais cuidado. Pronto, terminei. — Digo que prestarei mais
atenção em minhas atitudes e depois me levanto da cama
arrumando meu vestido. — Vou descer e chamar Christopher. —
Assinto e ele sai do quarto.
Eu não tinha motivos para esconder de Christopher sobre
meu quase relacionamento com Miguel, mas também não queria
que ele soubesse por outra pessoa, Sabrina ter contado me deixou
magoada, não queria que a confiança que havia depositado nela
fosse sofrer um pequeno deslize como aconteceu, mas perdoei
porque a amo e não quero discutir com nenhum dos meus amigos.
— Tudo bem, amor. O pessoal já chegou, só vou tomar
banho e desço com você, isso se você quiser me esperar. — Digo
que descerei para não deixar os convidados esperando. — Ok. As
crianças estão no berço, Rafaela e Clark deram outro banho nelas
no banheiro dele e agora só estão te esperando para você dar de
mamar. — Assinto e saio do quarto.
— Pode deixar gente, agora eu assumo daqui — falo para
meus amigos que estão a minha espera no quarto dos bebês.
— Tudo bem. Vamos descer e te esperar lá embaixo. —
Quando eles fecham a porta pego cada um dos meus filhos e dou
de mamar, é uma emoção tão grande, eu sinto que posso lutar e
vencer qualquer batalha por eles, que enfrentarei qualquer um para
que eles fiquem bem, ser mãe é algo divino e só o Senhor pode nos
dar essa benção, claro que é trabalhoso e, às vezes, ficamos
malucas com cada situação que aparece, mas no fim ignoramos
tudo isso apenas por um sorriso e um “Eu te Amo” dos nossos
filhos.
Depois que alimentei meus pequenos, desci para conversar
com as visitas. Vi Christopher falando com meus pais, sendo que
nem ao menos sabia que eles viriam, também havia meus amigos e
o namorado de Sabrina, mas não encontrei Miguel entre eles.
— Oi, pessoal. Boa noite, e sejam bem-vindos na minha
humilde residência — cumprimento cada um deles e, passo a
conversar com meus pais perguntando como estão as coisas
durante a estadia no Brasil, mas depois me disperso e vou até
Rafaela. — Rafa, cadê o Miguel?
— Ele achou melhor ir embora para não causar
desentendimento com o Chris. — Digo para ela que isso não
deveria acontecer. — Nós sabemos, Liza, mas você conhece o
homem que ama e isso não acabaria bem.
— Chris não é um homem das cavernas, Rafaela, ele só é
um pouco ciumento. — Ela me diz que desde o dia do hospital ele
exagera um pouco, principalmente pela discussão que teve com
Miguel.
— Desculpa amiga, mas essa é minha opinião. Eu sei que a
sua situação com os dois é um pouco complicada, mas ciúmes em
excesso não é bom. — Me compadeço de suas palavras e concordo
com seus pensamentos, realmente ciúmes demais acaba com um
relacionamento.
— Christopher nunca teve esse tipo de atitude, talvez esses
meses tenham o mudado mais do que pensei.
— Ele nunca teve antes, porque não precisava se preocupar
com você se envolvendo com um outro homem, mas hoje a situação
é bem diferente, você conheceu uma vida diferente aqui, Liza, e
acho que ele só tenha medo de perdê-la e que em algum momento
você perceba que não precisa dele pare ser feliz. — Acho que
preciso conversar com Christopher e saber o que ele pensa.
— Rafaela tem razão, Elizabeth. Não estamos falando para
você brigar com ele, somente converse, você não é mais aquela
menina assustada que se mudou para esse país, agora você é uma
mulher independente, linda e lutadora — Clark diz e assinto para
seu argumento.
— Eu vou fazer isso hoje à noite. — Saio de perto deles e
vou conversar um pouco com Sabrina.
— Oi, Sa, Lucas — cumprimento a ela e seu namorado. —
Que bom que veio, já estava virando um namorado fantasma para
nós, quero que se sinta em família conosco.
— Olá, Elizabeth, obrigada pela consideração. Sabrina
sempre me falou o quanto vocês são incríveis com ela e fico feliz
pela minha namorada ter pessoas que a amam de verdade — ele
fala e lhe dou um sorriso casto.
— Vocês dois são maravilhosos, sabiam. Amo demais meus
amores, sou tão amada que me sinto mimada de tanto amor. — Só
a Sabrina mesmo para falar essas coisas.
A noite foi maravilhosa e demos muitas risadas durante o
jantar, principalmente meus pais que esqueceram o filtro nos
Estados Unidos, nunca pensei que ouviria tenta indecência saindo
da boca deles, julguei que foi pelo álcool que beberam durante a
noite toda, mas graças a Deus, Clark levou eles para o hotel antes
que fizessem mais besteiras.
O namorado da Sabrina parecia um menino perdido no meio
de tantas pessoas, minha amiga esqueceu de mencionar que o
coitado não falava inglês e imagina só a cena dele tentando
entender o que falávamos, foi um horror, pois tivemos que traduzir a
cada frase dita na mesa. Não sabíamos desse fato sobre ele,
porque durante as poucas vezes que o vimos falávamos em
português e, jamais passou pela minha mente pedir o currículo dele
para saber se ele conhecia outras línguas, aí já viu, foi uma guerra
de idiomas durante o jantar, primeiro o Inglês que ele não sabia e
que quando traduzíamos, meus pais bêbados e Christopher
perguntavam sobre o que era, mas admito que foi engraçado em
certos momentos.
Christopher bebeu por nós dois, pois como estou dando de
mamar para Theo e Lucy, eu não poderia ingerir álcool, mesmo
dizendo que uma taça não faria mal, eu resolvi não arriscar, no fim
nossa conversa ficou para outro dia, pois ele desmaiou só de
encostar a cabeça no travesseiro.
Capítulo 46

Algum tempo depois...


Já fazem algumas semanas que dei a luz aos meus filhos,
tirei os pontos da cesárea que deu resultado a uma pequena
cicatriz, então, acabei tendo uma consulta com uma dermatologista
e ela me passou um creme para diminuir a visibilidade, as estrias
graças a Deus existem poucas, o creme que estava passando
durante a gravidez ajudou bastante e, de acordo com Christopher
nem parece que sou mãe.
Depois da noite em que Miguel veio aqui, eu conversei com
Chris e tudo que eu desconfiava se concretizou, o ciúmes
desenfreado que ele estava sentindo é por medo de me perder, ele
diz que em algum momento eu posso acordar e perceber que não
preciso dele para ser feliz, mas eu o acalmei dizendo que ele
sempre fará parte da minha felicidade e que é a única pessoa que
pode deixá-la completa, pois eu preciso do seu amor e
companheirismo.
Os documentos dos meus pequenos ficaram prontos e,
fizemos tudo de acordo com a lei, claro que um pouco mais rápido
por causa dos contatos de Verônica, mas que no fim tudo deu certo
e agora estamos somente esperando o fim da semana para irmos
embora de volta para o meu país, já que Chris só pode ficar como
visitante no Brasil por 180 dias. Fiz transferência da faculdade e,
arrumei um emprego novo na empresa da minha mãe com a
condição de que quando eu me formasse seguiria meu próprio
caminho, ela não aceitou muito bem essa imposição, mas disse que
aceitará minha decisão. Minha mãe não apenas ajuda crianças que
precisam de apoio e um lar estável, como também possui outros
tipos de investimentos que resultaram em bilhões de lucros, suas
empresas tem um pouco de semelhança com a que eu trabalhava
aqui no Brasil, por isso farei parte de uma das filiais nos Estados
Unidos.
Numa noite quando estava reunido todos os meus amigos e
Christopher, acabei contando sobre meu encontro com Giseleh no
shopping e o quanto foi estranho, falei sobre a nova vida dela e de
que está morando no Brasil com o marido, mas o que realmente os
deixaram sem palavras foi o fato dela ter tido uma filha de Paul, no
início ninguém acreditou que poderia ser verdade, mas Sabrina
disse que se ela foi amante dele, não estaria inventando algo desse
tipo com segundas intenções, pois ela sabe que ele não é mais meu
marido.
Meus pais já voltaram para casa e me deixaram aqui aos
cuidados de Chris, disseram que eu já tenho muitas pessoas para
ficarem de olho em mim e que me esperariam ansiosos em casa, já
Clark finalmente convidou Rafaela para morar conosco e ela
aceitou, apesar de não fazer muita diferença, porque já estávamos
acostumados com sua presença.
Christopher me contou que seu pai estava o treinando para
tomar seu lugar no conselho e na diretoria da empresa, claro que
fiquei feliz por ele, mas tive que perguntar se isso era sua vontade
ou se estava somente querendo agradar seu pai, ele me garantiu
que isso é um grande passo na vida dele, mas que está preparado
para tudo que vier. Acabei por curiosidade perguntando sobre Alice
e Paul, e recebi a resposta de que ele não sabia de nada sobre
ambos e que apenas deixou informado ao advogado que se eles
tentassem sair da cadeia era para ser avisado, não questionei sua
atitude e apenas concordei.
— Liza, que tal passarmos esse fim de semana em um lugar
novo, só nós dois? Conversei com a Rafaela e Clark, e ambos
ficarão com Lucy e Theo para que possamos nos divertir um pouco
— Chris fala, enquanto acaricia minha perna.
— Eu acho perfeito, por que advinha que dia é hoje? — Ele
me olha confuso e deixo que pense por alguns segundos, mas não
adianta nada, pois meu namorado está um pouquinho lento. — Não
acredito que você não lembra, hoje acaba meu resguardo amor,
amanhã serei todinha sua para fazer o que quiser comigo — digo
em tom de malícia e ele me dá um sorriso de menino feliz que
acabou de ganhar um doce e, eu estou louca para me lambuzar.
— Pelo jeito, hoje, será mais perfeito do que imaginei, acabei
esquecendo de contar os dias de resguardo, mas fico feliz por você
ter feito, meu amor. — Rafaela e Clark estão no quarto das crianças,
os paparicando como sempre, não poderia escolher melhor a
madrinha e o padrinho dos meus filhos. Sabrina também é muito
atenciosa com meu pequeno Theo e sei que se um dia eu faltar na
vida deles, todos tomarão o meu lugar e de Christopher.
— Vamos avisar aqueles babões que iremos e nos despedir
dos nossos pequenos, mas antes me diga para onde é nossa
pequena viagem? — Chris olha para mim com ar de suspense e já
sei que ele não dirá nada.
— É surpresa, só posso dizer que tive ajuda dos seus
amigos. Estava pensando em ir amanhã cedo, caso você aceitasse,
mas já que quer ir hoje, então, vamos aproveitar. — Dou um sorriso,
e o beijo sentada em seu colo.
— O sofá ainda é meu, e vocês não gostariam de ver o que
iria acontecer com os dois se tivesse uma mancha de sêmen nas
minhas almofadas. — Faço cara de assustada por ter escutado tais
palavras saírem da boca do meu amigo.
— Clark, que horror, não fala assim. — Saio do colo de Chris
e me sento ao seu lado. — Onde meus filhos estão?
— Com a Rafaela, meu pequeno Theo já se encontra em um
sono profundo, mas a princesa Lucy não está muito afim. — Minha
filha está se tornando cada vez mais exigente e, isso porque ela
ainda nem entende o significado da palavra.
— Vou subir e ajudá-la. Quando terminar de arrumar as
malas, eu desço amor.
— Mas vocês vão agora? — Chris diz que sim, pois não quer
esperar mais nenhum minuto para ficar sozinho comigo. —
Abandonando os filhos com tanta facilidade, não achei que seriam
esse tipo de pais — o abusado do Clark diz as palavras com tom de
divertimento e a única coisa que penso em fazer é pegar a sua
almofada chique e jogar na cabeça dele. — Aí, isso dói.
— Quando aprender a ter mais respeito, eu paro de te bater,
seu abusado. — Saio da sala e subo as escadas indo em direção ao
quarto dos bebês.
Lucy e Theo estão cada vez mais lindos e espertos, os
choros estridentes diminuíram um pouco e posso afirmar que durmo
mais do que três horas. Christopher tem falado bastante com
Suzane, sempre liga para saber sobre Nathaniel e eu o incentivo a
permanecer sendo um bom pai, não tenho o que reclamar do
homem que escolhi para ser o grande amor da minha vida.
A convivência entre nós e meus amigos nessa casa está
sendo a melhor coisa que me aconteceu, nos divertimos muito e
conversamos até altas horas, isso quando as crianças dormem, e
mesmo com tudo que aconteceu na minha vida posso dizer que
agora me sinto completa e feliz de novo.
— Então, essa garotinha já dormiu? — Abro a porta e vejo
Rafaela colocar Lucy no berço.
— Acabou de dormir, nunca vou me cansar de fazer isso, é
difícil e bem desgastante, mas é situações que nos fazem se sentir
realizados, e se já me sinto assim antes de ser mãe, imagina só
quando eu for. — Olho para minha amiga e lhe dou um abraço forte.
— Você e Clark terão filhos lindos. — Desfaço-me do abraço
e vejo lágrimas descerem pelo seu rosto.
— Eu sei que pode estar muito cedo para falar disso com
Clark, mas eu me sinto pronta, Liza.
— Eu sei que sim, e talvez esteja um pouco cedo sim, mas
não quer dizer que você não deveria tentar. — Ela me dá um sorriso
e seca as lágrimas no rosto.
— Sim, você tem razão. Vou sentir tanto sua falta quando se
for, eu sei que você tem muitas pessoas aqui que também sentirão,
mas o fato de morarmos juntas por tanto tempo, só faz eu me sentir
mais saudosa por um momento que ainda não chegou. — Agora
sou eu quem chora em seus braços.
— Ah, amiga, vocês são tão especiais para mim, fui
agraciada com a amizade verdadeira e sempre darei valor a todos
vocês. — Dou um segundo abraço bem forte nela, beijo meus
pequenos no rosto e ambas saímos do quarto. — Vou para a
viagem com Christopher, obrigada por cuidar dos meus tesouros.
— Será um prazer, eu amo os dois como amo a mãe deles,
estarão seguros comigo e Clark. — Agradeço de novo pela gentileza
e vou para o meu quarto arrumar as malas, enquanto Rafa desce
para a sala.
Já faz algum tempo que Chris veio morar aqui de vez, eu sei
que prometi não deixar a casa de Clark virar motel, mas não teve
jeito, meu amigo percebeu que eu e meus filhos precisávamos do
pai, então, ele voltou para o hotel, fechou a conta e trouxe tudo pra
cá. Como Chris não sabia quanto tempo ficaria aqui, pois quando
recebeu a notícia de que eu estava no hospital, ele somente fez
uma pequena mala, portanto, tivemos que comprar roupas novas
para ele pelo tempo que iria permanecer aqui, isso tudo depois que
pediu férias na empresa de dois meses, mas não precisaremos
permanecer aqui por tanto tempo. Dei meu carro para Rafaela como
um presente de aniversário e acabei tendo que comprar uma joia
escandalosa para Sabrina não ficar com raiva da individualidade, e
não me arrependo de ter mimado meus dois amores.
Pego as malas e coloco algumas peças de roupas minhas e
do Chris, como sei que aqui no Brasil é calor para todos os lados,
peguei roupas meia estação. Depois de um tempo, Chris veio para o
quarto e acabamos tomando um banho rápido, nos arrumamos e
seguimos para fora do apartamento depois de nos despedirmos dos
nossos amigos e filhos.
— Animada? — Chris pergunta e digo que estou extasiada.
— Que ótimo, pois pretendo fazer você pegar fogo minha fênix —
diz ele se lembrando da minha tatuagem nas costas enquanto
guarda as malas no carro.
— Eu literalmente ressurgi das cinzas umas três ou quatro
vezes senão me engano. — Ambos entramos no carro que Chris
alugou quando presenteei o meu a Rafa e, seguimos viagem para o
local. — Não vai me dar nenhuma dica do lugar?
— Não, senhorita curiosa. — Seguimos o resto do caminho
conversando sobre tudo e ouvindo músicas eletrônica no carro. —
Chegamos. — Olho para fora depois de uma longa viagem onde só
se via árvores e uma floresta enorme.
— Que lugar afastado da civilização, isso é um assassinato
senhor Moore? — Ele dá risada e diz que não viajaria tantas horas
se quisesse me matar, apenas mandaria alguém para fazer isso por
ele.
— Clark me ajudou a escolher esse lugar e eu achei lindo. —
Olho para fora quando estacionamos em frente a uma casa no estilo
rústico construída a base de madeira e pedra, ela é tão linda que
fico sem palavras.
— Uau, ela é perfeita. — Saímos do carro e pegamos nossas
malas seguindo direto para dentro da casa. — O que faremos
agora?
— Como já está de noite, iremos jantar só nós dois, então,
suba e tome um banho, farei o mesmo e depois nos encontramos
aqui em trinta minutos. Pode ser? — Concordo com a cabeça e
subo as escadas para o segundo andar.
O piso também é de madeira e os móveis têm um estilo
rústico com um tom clássico que me deixa fascinada e, é evidente o
uso de materiais naturais. Entro no segundo quarto do corredor e
chego à conclusão de que cada espaço dessa casa é lindo demais,
tem piscina, um jardim com uma mini ponte e uma fonte de água,
assim como várias rosas e outros tipos diferentes de flores que
decoram o lugar deixando colorido e perfeito.
Me aproximo da cama e deixo minha mala sobre ela, usarei a
roupa que comprei com Sabrina quando fomos ao shopping, é
simples, mas perfeita para o ambiente, colocarei um short e uma
blusa de alcinha que fica justa no corpo e valoriza meus seios, já
que não usarei sutiã nessa noite. Meu corpo está voltando ao
normal aos poucos e posso ficar feliz por não estar ficando com
peso a mais, mesmo que meus seios tenham aumentado e meu
corpo criado mais curvas, Christopher faz questão de dizer que
estou mais linda do que antes.
Corro para o banheiro e tomo meu banho, a sorte é que fiz
depilação brasileira, então, estou completamente lisinha, estava
planejando uma noite com meu amor em casa mesmo, mas já que
ele fez questão da viagem, tudo ficou ainda mais incrível. Saio do
chuveiro, passo meu hidratante e jogo um pouco de perfume em
meu pescoço, visto a roupa e desço para encontrá-lo, é errado dizer
que estou completamente nervosa, porque meu coração está
batendo descompassado de tanta ansiedade.
— Você está linda, mas não vai precisar de sapato, pode tirar
se quiser. — Tiro meu salto e, olho para ele que veste uma calça
com a barra dobrada para cima e uma camiseta que define todos
aqueles músculos que me deixa louquinha. — Vem? — Ele me
estende a mão e me leva para os fundos da casa. — Espero que
goste da surpresa, querida.
— Chris, isso está maravilhoso. — Olho para uma mesa no
jardim com dois lugares, no chão existem velas que iluminam o
caminho, posso ver a mesa posta e nosso jantar ao lado. — Como
você conseguiu planejar isso em pouco tempo?
— Na verdade, isso já estava sendo planejado há semanas.
— Dou um sorriso para ele que me estende um pequeno buquê de
flores na cor vermelha, rosa e amarelo. — A pluméria é uma flor
nativa do Brasil, assim como em outros países, é linda não é. —
Assinto para ele que puxa a cadeira para que eu sente.
— Tudo está incrível, meu amor. — Ele me serve uma salada
verde com batatas e ervilhas, assim como para si. Comemos em
silêncio até vir o prato principal, truta rosa no papillote e legumes. —
Está uma delícia. — Terminamos o jantar em meio as risadas, pois
Chris deixou cair um legume no chão quando levava-o a boca, não
sei como ele conseguiu, mas explodi em gargalhadas assim como
ele.
— Que bom que meu nervosismo te faz rir, Elizabeth. — Me
aproximei dele e peguei na sua mão para que se levanta-se. — O
que vai fazer? — Não digo nada e o puxo para dentro da casa,
depois arrumamos a bagunça lá fora. — Espera, tenho algo a dizer.
— Chris pega em minha mão e olha diretamente em meus olhos. —
Liza, nunca em algum momento da minha vida eu imaginei que teria
você, te perdi duas vezes, mas o destino tratou de trazê-la de volta
para mim e afirmar que fomos feitos um para o outro, e agora
prometo nunca mais permitir que você escape outra vez. Você é
uma mulher maravilhosa, cheia de virtudes, linda e, principalmente
uma mãe perfeita para meus filhos, eu não posso prometer que tudo
será rosas, porque eu estaria mentindo, casais brigam e discutem
muitas vezes, mas o que posso prometer é que a cada começo e
fim, eu continuarei te amando cada vez mais, por isso tomei uma
decisão e não me arrependo. — Ele se ajoelha, pega uma caixinha
preta do bolso e a estende aberta para mim. Posso ver um anel de
diamantes com uma pedra central na cor azul, e concluo ser o anel
mais lindo que já vi em toda minha vida. — Para combinar com seus
olhos. Elizabeth Harper, você aceita se casar comigo? — Aí meu
coração, parece que não sinto mais as pernas, pois estou paralisada
sem saber o que dizer, mas apenas escuto meu coração falar.
— Sim, eu aceito. — Chris põe o anel no meu dedo, se
levanta e me pega no colo rodopiando em meio a sala da casa. —
Essa de longe foi a surpresa mais incrível que já tive, e se meus
amigos sabem disso, agora entendo a pergunta descabida de Clark
— conto para ele o que meu amigo me disse e, Chris apenas faz
cara de bravo.
— Aquele fofoqueiro quase fala sobre meus planos, eu
planejei isso por muito tempo para acabar sem antes ter começado.
— Chris me abraça forte e fala no meu ouvido. — Que tal
comemorarmos do jeito certo.
— Eu adoraria meu gostoso. — Christopher começa a me
beijar com desespero, e eu estou aqui completamente louca para
transar com esse homem que povoa meus sonhos mais eróticos. —
Vem aqui logo, depois a gente parte para as preliminares.
— Você anda muito safada, Elizabeth. — Dou um sorrisinho
malicioso para ele e começo a tirar sua roupa, assim como ele faz
comigo. — Caramba, você é sexy e agora está mais gostosa do que
nunca.
— Você que está uma delícia, me deixa apreciar esses
gominhos do jeito certo. — Não que eu e ele não fazíamos outras
coisas, mas é que entre nós o pouco nunca foi suficiente, eu e
Chris, temos muito fogo para ser apagado. — Aí, Christopher, me
fode, mas com força.
— Como minha rainha quiser. — Ele me pega no colo e faz
com que minhas pernas rodeiem sua cintura e, sem ao menos
algum tempo para pensar no que vai acontecer, Chris me penetra de
uma vez encostando meu corpo na parede mais próxima que
encontramos. — Saudades de sentir você, porra, mulher, você me
deixa maluco. — Ele começa movimentos desenfreados e
desesperados, enquanto meus gemidos ficam cada vez mais altos.
Chris suga meus seios, intercalando entre ambos sem parar de me
penetrar avidamente.
— Ah, Christopher, eu vou gozar — Aviso-o da minha
aproximação do clímax e ele me diz o mesmo no meu ouvido. —
Agora, mais forte — falo, enquanto me perco em um orgasmo
fenomenal e o sinto me preencher por completo.
— Nossa, isso foi incrível, tanto tempo sem fazer provoca
isso em um homem. — Sinto minhas pernas bambas, mas que não
me impedem de escutar o que acho que ouvi.
— Você quis dizer esses dias que passou comigo, não é? —
Ele me diz que não, pois desde que terminamos da primeira vez,
nunca mais tocou em nenhuma mulher, mas caramba isso faz mais
de um ano. — Mas Chris, você está sem sexo mais de um ano, por
quê?
— Depois de você é difícil sentir desejo por outra mulher. —
Ele sai de mim e me coloca no chão devagar. — Eu sei que você
teve um relacionamento com outra pessoa, não sinto raiva de você
por isso.
— Que bom, porque isso seria um problema, pois não pediria
desculpas por tentar seguir em frente, você me deixou, lembra. —
Durante essas semanas conversamos melhor sobre tudo que
aconteceu entre nós e resolvemos nossas diferenças por completo.
— Eu nunca pediria que pedisse perdão, não estávamos
juntos e entendo por que você quis ser feliz com outra pessoa, eu
não culpo você, meu amor, só quero esclarecer que eu não
consegui seguir em frente. — Assinto para ele e pego minhas
roupas no chão.
— Então, é melhor continuarmos o que estávamos fazendo,
porque ainda sinto muita energia para ser gasta. — Olho para ele e
lhe dou um sorriso, peço que ele pegue suas roupas e suba comigo
para o quarto.
— Você me completa, baby. — Subimos correndo e
recomeçamos tudo de novo, mas dessa vez com mais calma.
Epílogo

Dezenove anos depois...


Hoje é meu aniversário de casamento com Christopher, nem
acredito que já faz dezoito anos que sou casada com o homem da
minha vida. Me casei ao ar livre um ano depois do pedido e fiz
minha lua de mel na ilha da minha sogra localizada na Grécia, do
qual queríamos ir há muito tempo. Meu casamento durante esses
anos foi exemplo de cumplicidade, companheirismo, amor e
cuidado, claro que tivemos muitas brigas ao longo do tempo, mas
que casal não discute, apenas lutamos juntos para vencer as
adversidades e tornar nosso relacionamento sólido e saudável.
Há muito tempo eu passava em consultas com a psiquiatra
apenas para alegar abusos psicológicos do meu ex-marido, mas
hoje em dia já faz dez anos que resolvi fazer terapia pelo motivo
certo, aprendi que tudo que vivi com Paul foi apenas guardado e
não superado como deve ser, foi difícil no começo me abrir com
alguém que não conhecia e nem tinha intimidade, mas isso foi
apenas o lado mais fácil, pois complicado mesmo foi reviver tudo de
novo, tive o apoio da minha família que me instigou a permanecer e
ser forte em cada sessão, com o tempo fui me restabelecendo e
hoje mesmo depois de diminuir a frequência ainda vou as minhas
consultas. Comecei a praticar atividades divergentes no meu dia a
dia e dentre elas está aprender a lutar e atirar, agora tenho porte de
arma e sempre ando com uma na bolsa, melhor prevenir do que
remediar qualquer problema futuro, também mudei a cor dos meus
cabelos e cortei até o pescoço, fiz outras tatuagens com o nome dos
meus filhos e um desenho de pássaros que para mim significa
liberdade.
Eu e Christopher, continuamos a praticar a língua portuguesa,
e hoje nós somos fluentes nela e em outros idiomas como Francês,
Italiano e Espanhol. Minha vida era um mar de tempestade e hoje
um oceano de águas calmas, mudei minhas atitudes e me
transformei em uma mulher mais segura de mim, forte e destemida,
sempre dizem que filhos podem nos mudar, mas eu digo que eles
apenas são uma pequena parte, pois a vida me fez ser diferente e
os anos me deram sabedoria.
Lucy e Theo tem 18 anos, estão no último ano do ensino
médio e me enchem de orgulho, minha menina fará publicidade na
faculdade e meu menino cursará advocacia, claro que não tem nada
a ver com o ramo da minha empresa, mas quem sou eu para acabar
com os sonhos dos meus filhos, apoio totalmente os dois em suas
escolhas. Houve apenas uma pequena turbulência em nossas vidas
meses atrás quando meu filho contou que estava namorando, no
começo foi felicidade para todos os lados, eu e Chris nunca fomos
pais de impedir eles a fazerem suas próprias escolhas, apenas
mostramos o caminho que achamos correto, mas qual foi a minha
surpresa quando ele nos apresentou a garota e descobrimos que na
verdade, ela não era tão menina assim porque tem 26 anos, meu
marido surtou, quis denunciá-la as autoridades e cogitou até proibir
o relacionamento, mas tivemos uma conversa séria antes de tomar
medidas drásticas e chegamos à conclusão de como seria se nosso
filho começasse a namorar escondido, sempre ensinei a eles
contarem a verdade para nós dois e até agora eles cumpriram com
isso, não quero perder essa liberdade que tenho com eles, mas
como pais temos o direito de zelar por nossos bebês, então,
decidimos instruí-lo de suas obrigações e prepará-lo para as
possíveis consequências futuras, pois a única coisa que
descartamos é ela não ser interesseira, porque também é uma
mulher rica e coincidentemente filha de uma das pessoas mais
influentes em Sweet Dreams.
A minha relação com Suzane e Nathaniel são muito boas,
decidi esquecer o que ficou para trás apenas para convivermos em
harmonia, porque Nathan passa as férias em minha casa todos os
anos e seria muito complicado se eu não me desse bem com sua
mãe, o filho de Chris é um menino inteligente, esperto e muito
atencioso, graças a Deus, não saiu nada parecido com ela.
Christopher está em constante discussões com Suzane, pois ela
insiste em querer morar em outro país com seu cônjuge e levar seu
filho, mas meu marido diz que ele só sairá daqui quando ele morrer,
eu no meio de tudo isso escolhi não me intrometer, porque
infelizmente aquele joia não é meu filho e, eu não gostaria que ela
desse palpite na vida dos meus.
Comprei uma casa no Brasil alguns anos depois que voltei a
morar nos Estados Unidos, uso ela para fazer viagens curtas com
meus filhos e aproveito para visitar minha amiga Sabrina, que se
casou com Lucas e teve três meninas lindas, já Rafaela se casou
com Clark e tiveram dois meninos. Quando voltei para casa,
trabalhei na empresa de Verônica e anos depois conclui minha
faculdade, mas pedi demissão quando abri minha própria
organização e chamei Rafaela para ser minha vice-presidente, claro
que também tentei trazer Sabrina, mas ela se negou a deixar o
Brasil porque ama aquele país, no fim o que importa é eles serem
felizes, pois o resto resolvemos com o tempo.
Descobri pela Sabrina que Miguel se casou com Simone e
tiveram um lindo casal, fiquei feliz quando soube da notícia, pois
eles realmente mereciam encontrar seu lugar no mundo, nas minhas
idas ao país faço questão de visitá-los, porque mesmo depois de
tudo que houve entre nós, ainda tenho um carinho por ele. Meu ex-
chefe, Carlos, largou o cargo que ocupava na empresa e se mudou
para a Austrália, pelo que as meninas haviam me contado parece
que ele teve uma oportunidade irrecusável e não pensou duas
vezes, sinceramente, eu faria o mesmo, tanto assim que não perdi a
oportunidade de fazer uma especialização no mesmo lugar, claro
que conversei com meu marido e foi doloroso deixar meus filhos por
seis meses, mas Chris compreendeu que eu também tinha que
conquistar meus sonhos.
Moro atualmente em uma das propriedades que eram dos
meus avós e, minha linda casa fica de frente para o mar, foi
exatamente por esse motivo que escolhi morar aqui, além de ser
luxuosa e enorme, tem um ambiente familiar. Nunca fui visitar Alice
na cadeia, mas a perdoei assim como minha mãe Verônica, no fim
sabemos que viver com ódio e mágoa não ajuda a crescermos
como pessoa.
Trouxe Sophia para morar comigo assim que me casei, mas
infelizmente cinco anos depois ela se foi, encontrei ela em seu
quarto e por mais mórbido que seja, ela morreu serena com um
sorriso no rosto e principalmente sem dor alguma. Durante o tempo
que ela esteve comigo, foi uma vó para meus filhos e a melhor
companhia que tive quando não existia mais ninguém por perto,
Sophia foi e continuará sendo uma mulher maravilhosa.
Minha mãe Verônica se casou com meu pai Joseph e me
deram um irmãozinho, seu nome é Henry, tem 17 anos e é um
menino lindo e forte, quando ele era pequeno nos divertíamos muito,
hoje ele me diz que é um homem sério e que não tem mais idade
para brincadeiras, claro que zombo dele sempre que posso e acabo
deixando o coitado maluco quando ele sai falando para minha mãe
que infernizo a vida dele, mas no fim sei que nos amamos muito e
que posso contar com ele para tudo.
Meus pais, Charles e Suzan, estão mais unidos do que
nunca, são um casal forte e um grande exemplo para a família, hoje
meu pai pensa em se aposentar da empresa e curtir a velhice com
minha mãe, e claro que ela aprova completamente, eu já dei a dica
para que eles antecipem esse momento, porque não é como se não
pudessem se manter ao longo do fim da vida.
Meus amigos Clary e Brian ainda moram em outra cidade,
quando voltei, comecei a frequentar mais a casa deles e até pedi
que morassem perto de mim, mas não adiantou, eles disseram que
compraram sua casinha com muito esforço e que viverão até o fim
dos seus dias entre aquelas paredes, eu como não sou de desistir
fácil das coisas, convenci a ambos me deixarem fazer uma reforma
para que vivessem com conforto.
— Mãe, você viu onde deixei aquela minissaia preta? — Lucy
grita por mim e saio do quarto para ir até o seu.
— Está na terceira gaveta. Você sabe que seu pai não gosta
que você use esse tipo de roupa minha filha, mas você ama
provocar a paciência dele. — Ela me dá um sorriso e começa a se
vestir.
— Mas mãe, meu pai tem que me deixar crescer sozinha,
não sou mais criança e tenho que fazer minhas próprias escolhas.
— Quero ver você dizer isso para ele. Se for sair não
esqueça que hoje tem o nosso jantar. — Ela assente e saio do seu
quarto indo para o de Theo.
— Filho, já está acordado? — Bato duas vezes e entro em
seguida. — Theo, você não me escutou chamar?
— Desculpa mãe, estava com fones de ouvido. Vou até a
casa de Emma e a noite voltamos para o jantar. — Digo para que
ele tenha cuidado e vou atrás do meu marido. Desço as escadas e
quando estou indo para a cozinha escuto a campainha tocar, vou
até a porta e a abro.
— Pois não, em que posso ajudar? — Olho para um senhor
vestido de terno e cabelos grisalhos.
— Gostaria de falar com Elizabeth Harper. — Não me importo
de corrigir meu sobrenome e apenas digo que sou eu. — Boa tarde,
senhora, eu era o advogado público de Paul Turner e vim cumprir o
seu último pedido. Meu cliente foi assassinado há uma semana na
penitenciária e me pediu que quando morresse lhe entregasse seu
último desejo. — É estranho saber que Paul morreu, o sentimento
dele pagando pelos seus erros é totalmente diferente do que sinto
agora.
— Sinto muito pelo que aconteceu, mas eu não tenho mais
nenhum tipo de relação com meu ex-marido. — Ele diz que apenas
está fazendo seu trabalho e me entrega um envelope.
— Tenha um bom dia, senhora. — O advogado vai embora e,
fico parada na porta com o papel nas mãos sem saber o que fazer.
—Liza, querida, tudo bem? — Chris aparece atrás de mim e
fecho a porta se voltando para ele. — Que envelope é esse?
— Chris, Paul morreu e isso aqui é dele. — Ele vem até mim
e me abraça.
— Eu não me sinto feliz pelo que aconteceu com ele, mas
infelizmente Paul apenas colheu o que plantou. — Digo que ele está
certo e me desvencilho de seus braços para olhar o envelope. —
Quer abrir? — Assinto com a cabeça e abro, vejo ser uma carta e
encho-me de coragem para lê-la.

“Olá, Elizabeth.

Se você está lendo essa carta é porque eu já não estou


mais entre os vivos, e a primeira coisa que lhe peço é que
termine de lê-la antes de se desfazer dela, sei que não mereço
essa consideração depois de tudo que lhe fiz, mas quero me
orgulhar em dizer que pelo menos tentei. Esses anos na prisão
me fizeram refletir muito sobre minhas escolhas e cheguei à
conclusão de que a pessoa que mais feri na vida foi você.
Nos meus primeiros dias aqui, eu só abria espaço para
nutrir o ódio que sentia de você e Christopher, eu queria que
ambos pagassem pelo que achei que haviam me feito, mas, a
verdade, é que a culpa sempre foi minha, então, passei a fazer
consultas semanais no psiquiatra da penitenciária e essa nova
vida me abriu os olhos para a verdade, e me fez enxergar os
meus erros, por isso não poderei viver em paz com a minha
alma sem antes te pedir perdão e confessar que nunca lhe
estuprei, que aquele ato horrendo só fez parte de umas das
minhas manipulações, eu queria te subjugar para que me
obedecesse, mas isso não funcionou e como poderia, se você
foi feita para ser livre.
Em todo esse tempo, dia após dia, posso dizer que a
justiça chegou até mim quando fui espancado e violentado
dentro dessas grades, se eu dissesse para você que não
merecia, talvez você agora estaria rindo de mim, mas, a
verdade, é que eu paguei muito caro pelas minhas escolhas, de
um jeito ruim, mas paguei. A única coisa que me fez feliz
durante esse tempo é saber que sou pai de uma linda menina
de olhos verdes, morena e cabelos pretos, me senti extasiado
e ao mesmo tempo preocupado por saber que a única imagem
que ela teria de mim é de um ser desprezível e desgastado pelo
tempo.
Com arrependimento me despeço de você e imploro que
me perdoe, posso até não merecer, mas lhe desejo toda a
felicidade do mundo, pois você merece”

Paul Turner.

Lágrimas começam a cair dos meus olhos, não sabia que ele
estava sofrendo tanto na prisão, mas o que me deixa feliz é saber
que nunca fui violentada, como pode ele me fazer pensar nisso por
tantos anos sem ao menos se importar pelo que fez a mim.
— Liza, eu sinto muito, meu amor, por tudo isso, mas fico tão
feliz de ele não ter feito nada com você naquela noite. — Ando para
seus braços e choro em seu peito.
— Ah, Chris, como pode depois de tanto tempo tudo isso
ainda mexer comigo. — Ele me diz que são coisas que nunca
esquecemos, apenas aprendemos a superar. — Se você quer saber
o mais incrível é que eu o havia perdoado, assim como fiz com
Alice, mas isso não impede que eu ainda chore por relembrar, ele
sofreu barbaridades na cadeia, meu amor, não desejaria isso para
ninguém, nem para o meu próprio inimigo.
— Eu sei, por isso amo você. — Beijo meu marido com calma
e somos interrompidos pela campainha novamente. — Nossa, hoje
teremos muitas visitas, se é que posso chamar assim. — Me viro
para trás e abro a porta novamente.
— Alice, o que você está fazendo aqui, como saiu da prisão?
— Vejo minha ex-sogra na minha frente e olho para Christopher,
pois não fomos avisados disso. Ela tem uma expressão triste, veste
roupas simples e aparenta uma idade muito avançada.
— Olá, Elizabeth, Christopher. Preciso conversar com vocês.
— Ainda me sinto impressionada, mas me afasto para que ela entre.
— Diga o que quer e depois vai embora, mas antes me fale
como saiu da cadeia? — Ela diz que por bom comportamento, e que
agora vive de auxílio do governo. — Quando você foi solta?
— Semana passada, aluguei um quartinho para morar com o
dinheiro que tenho para sobreviver agora e me senti no direito de vir
pedir perdão a vocês, passar muito tempo trancada em um lugar, te
faz refletir sobre muitas coisas, e agora que meu menino morreu,
não tenho mais ninguém. — Alice começa a chorar na minha frente
e me compadeço da situação, pois sou mãe e sei a dor de perder
um filho.
— O que isso quer dizer, você quer que sejamos sua família,
nem sequer sabemos como soube onde eu morava — Chris diz e
acho muito estranho alguém que não tem nada, saber de tantas
coisas.
— Consegui ajuda de alguém, mas agora isso não vem ao
caso, só queria mesmo me desculpar por tudo que fiz a vocês e a
sua família. Sei que errei muito, mas me arrependo amargamente
pelas minhas atitudes, principalmente por meus pais, não sei se um
dia irei me recuperar de todas as coisas que agora vejo com
clareza, mas farei o resto dos meus dias serem melhores do que os
que já vivi.
— Nós já perdoamos há muito tempo as suas atrocidades,
mas jamais esqueceremos o que fez — falo e ela diz que entende,
mas que o perdão é a parte mais difícil de conseguir e isso é o que
ela veio buscar.
— Agora preciso ir. Obrigada por me receberem. Adeus,
Elizabeth. — Eu e Chris, acompanhamos ela até a porta de casa e
deixamos que vá.
— Eu ainda não acredito que era mesmo Alice, quase não a
reconheci depois de tantos anos, será que ela realmente mudou,
Chris? — Ele diz que só o tempo mostrará, mas que não quer fazer
parte do futuro dela para saber. — Nem eu, meu amor, deixe como
as coisas estão.
— Só quero que fique bem, Elizabeth. Eu te amo, meu amor.
— Chris me beija com carinho, mas somos interrompidos.
— Mãe, pai, vão para um quarto — Lucy diz ao descer as
escadas com seu irmão atrás.
— Até parece que você nunca beijou na vida, Lucy — Theo
diz e olhamos diretamente para ela.
— Como assim, me explica isso direito — meu marido diz e já
vi que saíra faísca, claro que eu sei que minha menina já beijou,
mas meu filho não economiza palavras para deixar a irmã em
confusão.
— Theo, você é um idiota, quando estava namorando a olhos
puxados, eu guardei seu segredo, mas agora você conta os meus.
— Lucy dá um soco no ombro do irmão que lança um olhar de raiva
para ela.
— Eu só não devolvo, porque não sou mais criança como
você. Não sei por que o papai não pode saber, se a mamãe sabe a
verdade. — Agora me ferrei.
— Você é um fofoqueiro, Theodore — falo muito
decepcionada por ele sair contando as coisas sem medir as
consequências.
— Nada disso, meu filho é sincero enquanto as mulheres da
minha vida mentem para mim. — Olho pra Chris e digo para ele
parar de drama. — Isso não é drama, é somente a verdade. Agora
me digam quem foi o cara, porque vou ter uma conversa muito seria
com esse rapaz. — E é nesse momento que as coisas pioram.
— Querido, lembra quando fomos no jantar na casa do CEO
da empresa há dois meses, então, ele tem um filho que tinha
acabado de voltar de uma viagem pela Europa e por isso o jantar de
comemoração. — Ele assente e depois de olhar para o rosto
assustado da minha filha eu continuo. — Foi ele que Lucy beijou.
— NÃO É POSSÍVEL, LUCY HARPER MOORE, COMO
VOCÊ ME FAZ UM NEGÓCIO DESSES, O CARA TEM 28 ANOS,
EU VOU MATAR UM HOJE. — Meu marido ficou tão transtornado
que saiu gritando até a sala e nós fomos atrás dele.
— Pai, eu posso explicar, foi eu que tive a iniciativa, ele
tentou impedir, mas fui mais rápida, depois disso acabamos
cedendo mutuamente.
— Filha, você não está ajudando. — Olho para Christopher e
ele está todo vermelho de raiva. — Amor, eu já briguei com ela, mas
agora não é mais o momento, temos que aceitar e seguir em frente.
— Como vou aceitar isso, meus filhos de repente começaram
a gostar de ficar com pessoas mais velhas e mal saíram da escola.
— Theo interrompe o pai dizendo que é homem suficiente para
saber tomar suas próprias decisões. — Eu sei que sim meu filho, só
achávamos que não seria algo tão radical assim, que tipo de
pessoas namoram alguém que ainda está no ensino médio.
— Pai, falta quatro meses para acabar a escola, eu e Lucy, já
temos dezoito anos, saberemos lidar com todas as situações, assim
como você e mamãe, nos ensinaram a sermos fortes. Eu amo
vocês, e o rumo que tomarmos não irá mudar isso ou nossa índole,
ainda somos filhos de vocês e temos muito orgulho pelo pai que
temos, e tenho certeza que Nathan também tem, mesmo que ele
não esteja aqui para confirmar isso. — Eu e Chris, abraçamos
nossos pequenos muito emocionados, porque mesmo que os filhos
cresçam, para nós eles sempre permanecem crianças.
— Desculpem eu ter gritado, mas fico nervoso com
determinadas situações que vocês dois colocam eu e sua mãe. Lucy
espero que não esteja mais com esse homem. — Minha filha olha
para mim e vejo que também omitiu algo.
— Mas você disse que só tinha sido uma vez, Lucy —digo e
ela explica que quando me contou realmente tinha sido só uma vez,
mas que depois reencontrou ele e aconteceu de novo.
— Esse garoto vai ter que vir aqui em casa conversar
comigo, minha filha é uma menina de família e não vai ficar beijando
as escondidas, diga que estou esperando-o comparecer — Chris
fala e depois sai nervoso.
— Deveria ter contato para mim, agora terá que mandar
Benjamin vir nos visitar, pois concordo com seu pai e não criamos
filhos para andar fazendo as coisas escondidos.
— Mãe, você acha que o papai vai aceitar meu
relacionamento com ele, assim como fez com Theo. — Digo que só
Deus sabe e vou atrás de Chris.
— Meu amor, está bravo comigo? — Entro no nosso quarto e
ele está sentado na cama. — Eu não contei por que achei que só
tinha sido uma vez. — Sento-me ao seu lado e ele pega em meu
rosto.
— A questão não é essa, Elizabeth, eu sou seu marido e
aqueles lá embaixo também são meus filhos, você não pode
esconder as coisas de mim. — Ele tem razão, anos depois e essa é
a primeira coisa que não conto para ele.
— Me perdoa, nunca mais farei isso. — Abraço apertado meu
marido e ficamos ali em silêncio sentindo um ao outro por um bom
tempo.

(...)

Passei o resto do dia resolvendo os preparativos para o jantar


que faremos junto com a família. Theo saiu com Emma e minha filha
foi até a casa de Benjamin, mandou uma mensagem dizendo que
ele viria hoje à noite e espero que minha casa não vire campo para
a terceira guerra mundial. Estou agora em um dos meus lugares
favoritos, ou seja, minha biblioteca que pedi que construíssem, ela é
enorme e tem dois andares, áreas para descanso e ainda uma
cafeteira.
— Ah, então, a senhorita está aqui, tinha quase certeza. —
Christopher vem até mim, beija minha testa e se senta ao meu lado.
— O que você está lendo hoje?
— Comecei um livro novo, chama-se Forgive Me, fala de uma
menina que perdeu a mãe muito cedo e por consequência o pai se
distanciou dela, se tornando um homem frio, no fim ela acabou
virando uma menina rebelde que tomas muitas decisões ruins, uma
pior que a outra e agora a confusão é maior ainda, porque ela quer
engravidar de um cara pobre só para contrariar o casamento
arranjado que o pai dela arrumou com o filho de um futuro investidor
da empresa dele.
— Uau, esses livros que você lê é cheio de complicações,
mas eu tenho um que gosto especificamente, acabei adquirindo o
gosto pela leitura, assim como minha mulher, por isso acabei
comprando um que está fazendo sucesso e comecei a ler ter uma
semana. — Fico feliz pelo meu marido se interessar por algo que eu
goste.
— Me mostra, quero ver qual é, assim leio depois que
terminar esse. — Chris vai até a prateleira de cima e pega um livro
que eu nem sabia que tinha aqui.
— Coloquei esses dias aqui, então, não tinha como você
saber. — Assinto e ele volta a se sentar do meu lado estendendo o
livro para que eu veja. — Olha a capa.
— Caramba, que homem é esse. — Me empolguei com o ser
humano musculoso e cheio de tatuagens na minha frente, e meu
marido não está nada feliz.
— Eu te mostrei para você ver o título e não o homem na
foto, larga de ser safada. — Dou risada da cara indignada que
Christopher faz.
— Ok, então, me fale sobre o que é o livro.
— Ele chama-se SCARS e se passa no Alasca, fala de um
homem que é ex-soldado e de uma mulher que é ex-presidiária. O
cara sofre muito com vários acontecimentos que houve na sua vida,
medos, inseguranças, e traumas vindos de suas missões quando
era SEAL, mas principalmente sofre com algo que sua ex-esposa
fez para ele no passado, mas essa parte ainda não sei, pois não
cheguei no momento dessa revelação. A mulher quando saiu da
cadeia entrou para o programa de ex-presidiários no Alasca, porque
era um lugar que ela sempre quis conhecer, parece que a vó dela é
descendente de uma tribo que vive lá chamada Inuit, a autora conta
um pouco sobre eles e já aprendi várias coisas interessantes. Os
dois acabam se conhecendo em um momento um pouco hilário,
você acredita que ela jogou nele spray repelente de urso, eu ri tanto
quando os dois caíram naquele mar gelado do Alasca, no começo
do livro foi ódio para todo lado, mas eles aprenderam a se dar uma
chance mesmo em meio as adversidades. Agora é só lendo para
saber, porque não irei dar mais spoiler. — Nossa, esse livro é show,
com certeza vou lê-lo depois.
— Aí que lindo, meu marido está virando um leitor fiel, gosto
assim. — Pego meu celular e olho a hora, daqui 60 minutos chega
os convidados. — Vamos, porque nossa família chega em uma
hora.
Guardo meu livro, assim como Christopher, e saímos da
biblioteca. Subimos para nosso quarto e tomamos um banho juntos
para depois nos trocarmos, eu optei por um macacão preto sem alça
que molda todas as minhas curvas, assim como um salto vermelho
de tiras no pé, já Chris vestiu um jeans com camiseta e sapato
social que o deixava sexy pra caramba.
— Vamos, querida, parece que o pessoal já chegou. — Olho
no espelho e dou uns últimos retoques em minha maquiagem e no
batom vermelho. — Você está linda.
— Você também querido, perfeito para mim. — Descemos
juntos para a sala e avistamos nossas famílias, assim como meus
amigos. Quando voltei, a mãe de Chris me pediu desculpas pelo
modo que me tratou na casa dela, e aceitei para vivermos em paz.
— Boa noite, que bom que vieram todos, mas cadê Clary e Brian?
— Minha mãe Suzan diz que eles não puderam vir, pois afirmaram
que ficar viajando na idade deles é complicado. — Por isso pedi que
viessem morar perto de mim, mas são dois teimosos.
— Ah, querida, eles estão felizes e isso que importa — meu
pai, Charles diz e concordo com ele.
— Amiga, você está um arraso, completamente linda. —
Rafaela vem até mim e me abraça forte, assim como Clark.
— E cadê seus filhos? — Eles dizem que os meninos
preferiram ficar em casa vendo TV do que vir para festa de gente
velha, palavras deles. — Esses adolescentes são tudo igual mesmo.
— Dou risada pelo comentário dos filhos da minha amiga e me
aproximo de meus pais.
— Oi, mãe, sinto saudades da senhora e do senhor, meu pai.
— Abraço Verônica e Joseph bem apertado.
— Nós também sentimos sua falta, meu amor — mamãe diz
e pergunto sobre meu irmão. — Ele foi atrás dos seus filhos, mas
não está muito feliz, porque agora eles são comprometidos e ele
ficou de lado.
— Nem te conto o que foi para esses namoros darem certo,
sobre Theo vocês já sabem, mas hoje sobre Lucy foi uma batalha,
mas que bom que Benjamin veio, quero conversar com ele em
particular. — Chamo meu marido e aviso da presença do namorado
de nossa filha, e ele junto comigo vamos atrás dos dois.
— Lucy, pode deixar-nos sozinhos, por favor. — Minha filha
olha com receio para nós, mas se ausenta contra a vontade. — Olá,
Benjamin.
— Sr. e Sra. Moore, boa noite, parabéns pelo aniversário de
casamento. — Agradeço, mas Chris pede que ele pare de querer
desviar do assunto principal.
— Garoto, eu poderia te dar um murro agora e tenho certeza
de que seu pai aprovaria, como você fica beijando minha filha por aí
as escondidas e não toma atitude de homem de vir falar conosco. —
Começou, prepararem as pipocas, pois aí vem a guerra.
— Sr. Moore, eu pedi para Lucy deixar que eu viesse aqui,
mas ela não quis, disse que o senhor ficaria furioso, assim como fez
com Theo, então, decidimos adiar um pouco para ver se o
relacionamento continuaria firme, se estou aqui hoje é porque gosto
muito da sua filha, faz poucos meses, mas sinto que posso construir
algo com ela. — Benjamin tem lábia, isso posso concordar.
— Está querendo dizer que afirma um namoro com ela? —
pergunto e ele assente. — Então, pois bem, não seríamos hipócritas
de aceitar Emma e não você, bem vindo a família Benjamin.
— Como assim, Liza, tão fácil, mas ele nem se mostrou digno
da minha filha. — Chris e essa mania de superproteção com Lucy.
— Querido, nossa filha já é uma mulher, sabe o que quer da
vida, ela sempre nos deu orgulho, então, vamos dar um voto de
confiança. — Ele assente e depois cumprimenta Benjamin com um
aperto de mãos.
— Se magoar minha menina é melhor falar para o seu pai
preparar o próximo velório da família. — Não vou julgar, porque
disse o mesmo a Emma em relação ao meu príncipe, pais nunca
amadurecem com a idade dos filhos, é difícil aceitar que criamos
eles para o mundo.
— Eu aceito isso senhor, pois quando tiver meus filhos, tenho
certeza de que direi o mesmo. — Ele tinha que ter aberto a boca.
— Como assim, você quer ter filhos com a minha filha, ela é
só uma criança. — Pego na mão de Chris e tiro ele dali, pois senão
essa conversa não acaba hoje.
— Já chega, Christopher, lembra, voto de confiança. —
Saímos de lá e voltando para onde nossos convidados estavam,
vemos Lucy a uma certa distância. — Filha, eu e seu pai, decidimos
que vocês podem continuar com esse relacionamento, estamos
confiando em você que tomará as melhores decisões, então, por
favor, não nos decepcione.
— Obrigada, mãe, pai. Fico muito feliz por vocês serem meus
pais, amo vocês. — Nos abraçamos os três em conjunto e logo vem
em nossa direção meu irmão.
— Abraço em família e não me chamaram, assim fico
magoado irmã. — Dou um beijo na testa de Henry e ele não fica
nada feliz com isso. — Por que você sempre faz isso? É nojento e
pareço uma criança, eu já disse que sou um homem. — Todos
começam a rir dele e ele sai bravo.
— Meu tio é engraçado mãe, mal saiu das fraldas e acha que
já é um homem — Lucy fala e todos nós concordamos.
— Mas a senhorita também não é tão mais velha do que ele
não, então, nada de zoar seu tio, respeito é bom e eu te ensinei isso
— meu marido fala e Lucy assente. — Agora vai lá buscar seu
namorado e já sabe, nada de ficar sozinha com ele as escondidas,
estou de olho. — Já vi que ainda teremos muita confusão. Minha
menina sai e voltamos para onde as outras pessoas estão.
— Sra. Moore, o jantar está pronto, posso servi-lo — nossa
empregada diz e assinto para ela. — Com licença.
— Pessoal, vamos todos para a sala de jantar. — Todos nos
seguem e nos sentamos cada um em seu lugar. — Fico muito feliz
por compartilharem esse momento comigo e meu marido.
— Sim, eu também agradeço por virem aqui essa noite —
Chris fala e todos se voltam para comer.
O jantar foi um momento incrível e divertido, estar com a
família sem dúvidas é a melhor experiência de vida que todos
devemos ter, por mais que seja apenas alguns, é raro e sagrado.
Sei que nem todos tem uma família unida e muitas das vezes
quando se encontram brigam demais, mas devemos amar aqueles
que nos fazem bem sempre.
— Agora que todos já foram embora e acabaram com as
minhas bebidas na dispensa, que tal aproveitarmos só nós dois, as
crianças foram dormir fora — falo para Chris, e agora com a casa
vazia, posso fazer o que quero.
— Me diz que Lucy não foi dormir no Benjamin. — Reviro os
olhos e falo que amanhã ele fica bravo, porque hoje é nosso dia. —
Tudo bem minha gostosa, estava com saudades desse corpo.
— Então vem aqui meu quarentão e me mostra que os anos
não fizeram diferença para você, mas antes tenho uma surpresa
especial. — Puxo Chris para o nosso quarto e, ponho uma lingerie
especial para a noite.
— Já comecei a gostar bastante dessa surpresa. — Peço que
ele se deite na cama e aproveite o show. — Claro, minha gatinha.
— Que apelido é esse Chris, não começa com isso não, pode
mudar. — Ele pergunta se eu quero ser chamada de fogosa, e o
apelido de gatinha me parece menos horrível do que esse. —
Esquece tudo isso. — Vou até a caixa de som que coloquei no
quarto, aquelas pequenas que tem entrada para USB, e coloco a
música do SoMo - FIRST, volto para frente de Chris e faço minha
melhor performance.
— Mostra para mim o que você sabe fazer amor, mexe essa
bunda gostosa. — Acho que meu marido já está bem louco.
Continuo fazendo os movimentos novos que aprendi durante esses
meses pelo Youtube. — Porra, Elizabeth, você me deixa maluco.
Eu estava quase no final da coreografia quando Christopher
impaciente do jeito que é, me interrompeu e disse que eu terminaria
outro dia, fiquei possessa, mas permiti porque estou louca de tesão.
Não tenho oportunidade para dizer nada quando ele me joga na
cama e tira minha mini lingerie com tanta pressa que até escutei
algo se rasgar, eu sempre me perguntei como aqueles homens dos
livros conseguiam rasgar as calcinhas e entrei em um consenso de
que quando é fina e de renda, tudo é possível misturado com um
pouco de força.
— Eu te amo, Elizabeth, você foi e sempre será sendo minha
melhor escolha. — Ele começa a me beijar freneticamente, e
contribuo na mesma medida.
— Eu também amo você, Christopher, e você sempre será
meu melhor vício. — Beijo seu peito e pescoço, enquanto ele mexe
no meu clitóris fazendo movimentos calmos e precisos, esse homem
é demais e ficou mais gostoso com o tempo.
Passamos a maior parte da vida achando que não somos
dignos de amar, que por causa das nossas escolhas erradas não
merecemos uma segunda chance, mas aprendemos que a vida é
isso, viver errando e acertando, mas nunca desistindo. Eu fui uma
mulher tímida e triste, e hoje sou uma mulher confiante, amada e
forte, devo isso não só as pessoas que me incentivaram, mas
principalmente a mim mesma que lutei desesperadamente pelo meu
final feliz. Não vamos ser negligentes em dizer que todos os dias é
felicidade, pois é uma completa mentira que muitos vendem por aí,
mas se acreditar, colocar Deus acima de tudo e seguir os caminhos
corretos, você pode alcançar seu objetivo mais rápido do que
imagina.

Autora
Alice passou a viver com o auxílio disponibilizado pelo
governo por causa da sua idade avançada, e a morar em um quarto
alugado no prédio onde seu agente da condicional era administrador
e viviam outras ex-detentas, fato do qual não contou a Elizabeth e
nem ao Christopher. Viver uma vida solitária e sozinha é a pior parte
das consequências.
Conto Extra — Meu Coração é Seu

Meu marido me acordou cedo e disse que tinha uma surpresa


de dia dos namorados para mim, mas eu não imaginaria que seria
na Grécia e muito menos na ilha de Scarlett, claro que já viemos
aqui em nossa Lua de Mel, mas ele disse que dessa vez é diferente,
e fico ansiosa a cada segundo pensando no que ele preparou.
— Fica tranquila, meu amor, não quero que tenha uma
parada cardíaca aqui, longe de tudo. — Dou um tapa em seu braço
e ele sorri para mim.
— Você me faz ser essa pessoa, Christopher, tudo que você
faz é incrível e por isso crio expectativa. — Ele me abraça e nos
beijamos com carinho.
— Pense que você nunca ficará frustrada comigo. — Ele
sabe que fala essas coisas, pois jamais me frustraria.
— Isso seria impossível, a cada momento com você é
perfeito. — Saio dos seus braços e pego minha mala pequena para
subir ao quarto. — Que tal irmos brincar um pouquinho, já estou
com saudades. — Ele me dá um sorriso malicioso.
— Você está se tornando uma mulher insaciável querida,
transamos em casa, no carro e no jatinho. — Olho para ele como
quem está envergonhada, mas isso não é verdade.
— Ultimamente eu estou com muita vontade de você, talvez
seja porque ando fazendo uns exercícios que me causam muita
disposição.
— Quais exercícios? — Digo que aprendi no YouTube com
uma especialista, ela ensina muitas coisas sobre sexualidade. —
Então, por isso que você anda fazendo coisas novas com meu
amiguinho.
— Tudo pelo conhecimento, querido, foi uma dica da Sabrina,
essa mulher mora no Brasil e é maravilhosa.
— Deixa essa mala aí, e vem se sentar aqui comigo, ainda
faltam algumas horas. — Faço o que ele pede e me sento
novamente em seu colo.
— Como pode seu pai ter comprado uma ilha para sua mãe e
ainda por cima construir essa casa maravilhosa. — Ela é toda de
vidro, e não tem cortinas, então, acordamos com o amanhecer, é
lindo demais, tem dois andares, muitos quartos e uma vista
maravilhosa dos dois lados da casa, e sem contar na praia
inesquecível.
— Meu pai é completamente apaixonado pela minha mãe, é
de se estranhar que ele não fizesse isso, e dona Scarlett aproveita.
— Com o tempo, eu e minha sogra melhoramos nossa relação
pessoal, ela me pediu perdão pelo modo que me tratou e hoje
somos uma família incrível que só melhora com o passar dos anos.
— É lindo como nossos pais se amam mesmo depois de
velhinhos, espero que possamos ser assim. — Recebo um beijo na
testa e um selinho.
— Eu esperei muitos anos por você, não vou embora, Liza,
você sempre será minha. — Passo a mão em seu rosto fazendo um
carinho, seus cabelos já estão aparecendo os brancos assim como
os meus, mas faço questão de pintar, pois morro de vergonha, já
Chris diz que fica mais charmoso com seu cabelo grisalho e posso
dizer que ele tem toda razão, porque a cada ano que passa, ele fica
mais gostoso.
— Toda vez que vem em minha mente pensamentos do
nosso passado, fico surpresa por tudo que passamos, no momento
é só algo que tira nossas lágrimas e nos fazem tomar atitudes
erradas, mas hoje tudo que ficou para trás torna um aprendizado do
que não fazer no futuro. — Retiro minhas mãos do seu rosto e ele
agora acaricia meu cabelo.
— Sim, meu amor, a cada momento tenho mais certeza de
que meu coração é seu.
— É algo extraordinário, sentimos aquele fogo por dentro que
nos deixa ansiosos e ao mesmo tempo uma calma quando estamos
perto um do outro, os sorrisos involuntários quando nos vemos e o
coração acelerado quando nos tocamos. — Passo a mão por trás de
sua nuca e o puxo para mim. Nosso beijo começa lento e logo se
intensifica, tento tirar sua roupa com fervor, mas ele me para
dizendo que não é o momento, e acabo por continuar o beijo com
direito a mão boba.
— Uau, a cada vez fica melhor, que sortudo eu sou por ter
esse mulherão. Que tal irmos nos trocar, coloca um biquíni
vermelho, amo essa cor em você. — Olho para ele confusa.
— Você disse que faltavam horas. — Ele me dá um sorriso e
sei que estava mentindo. — Mentiu para sua esposa, Sr. Moore, que
feio, terá volta. — Pisco para ele e subo para me trocar, Chris faz o
mesmo, mas em outro quarto, ambos no mesmo lugar, não dá muito
certo e se quisermos descer é o melhor a fazer.
— Pronta? — Ele aparece na porta e me olha dos pés à
cabeça. — Sra. Moore, está maravilhosa. — Sorrio e pego em sua
mão para descer as escadas.
Ele me leva para atrás da casa e fico sem entender, mas o
sigo e quando chego ao lugar me espanto com tamanha surpresa. A
alguns metros de distância tem uma tenda armada na praia e aberta
dos lados, pontos de luzes na areia que segue por todo o caminho,
mas que não fazem uma trilha e sim, espalhados pela praia. Ao
chegar no local, vejo uma cama improvisada com tecidos de seda e
várias pétalas espalhadas na cor laranja — significa entusiasmo e
fascinação — as luzes do lado de fora ilumina todo o ambiente em
volta da tenda, e postos sobre uma bandeja tem morangos, uvas e
champanhe.
— Amor, está fascinante, como você fez tudo isso?
— Eu tive a ideia, mas outras pessoas fizeram, espero que
goste, pois enquanto estávamos dentro da casa, o pessoal
trabalhava aqui fora. — Dou um sorriso animado e me sento com
ele.
— Eu te amo, Christopher, você é perfeito. — Ele começa a
me beijar, mas para e pega um morango levando a minha boca, dou
uma mordida e ele faz o mesmo, depois me entrega uma taça com
champanhe e pega uma para si, e bebemos em poucas doses.
— Que tal começarmos a brincadeira. — Christopher
desamarra meu biquíni da parte de cima e abocanha meus seios,
passa a língua devagar e morde de leve o bico. Deito-me e ele por
cima de mim, beijo seu pescoço, queixo, bochecha e boca. Ele
passa as mãos pelo meu corpo e aperta minha bunda com força,
não reclamo, pois estou amando, sinto tirar a parte de baixo e agora
estou nua em sua frente.
— Para que biquíni se você ia tirá-lo? — Ele me diz que tirar
é a melhor parte. Fico de joelhos e tiro seu short, passando por
suas pernas devagar até chegar aos pés, ele não está com nada por
baixo e passo minha língua pela extensão do seu pênis, escuto-o
gemer e logo me empolgo com minha ação.
— Caralho, Elizabeth, você me enlouquece. Continua amor,
porque está muito bom. — Não demora muito até que ele goze em
minha boca e depois começa o mesmo comigo.
Minha vagina lateja a cada movimento e em alguns segundos
estou gritando feito louca, acho que sou aquele tipo de mulher
escandalosa, mas não ligo para a opinião de ninguém. Meu marido
pega uma rosa em algum lugar que não vejo e se posiciona no meio
das minhas pernas, em segundos o sinto me preencher por
completo e arfo de desejo. Ele faz movimentos lentos e passa a
rosa por meu corpo enquanto está dentro de mim, sinto um arrepio
pelo contato das pétalas em minha pele e fico em êxtase, logo ele
acaba e troca por suas mãos aumentando a fricção entre nossos
corpos, escuto Chris gemer um pouco alto e o acompanho, como
pode ser tão gostoso, fazer sexo com amor traz um sentimento de
paz e leveza, assim como meu corpo que treme ao se sentir amado.
Chris me põe de costas pra ele na posição de quatro e entra
novamente em mim, pega em minha bunda e agora o sinto mais
rápido do que antes, gemo quando atinjo o primeiro orgasmo e ele
vira-me novamente para colocar minhas pernas em seu ombro
enquanto pega em meus seios, massageando-os levemente.
— Amor, vai mais rápido. — Com o tempo adquiri vontade de
um sexo forte e bruto, sem exageros, mas com pegada, claro.
— O que você quiser. — Ele aumenta mais ainda e é quando
contraio a vagina com força e ele urra em desespero. — Porra, o
que foi isso? — Dou um sorrisinho claro de que minhas aulas
valeram a pena, e que aprendi vários movimentos.
— Só continua, gostoso. — Chris faz o que peço e tenho
outro orgasmo. Faço com que ele se deite, e começo a cavalgar
rápido em cima dele contraindo os músculos em outro ato, e logo
ele goza dentro de mim.
— Foi esplêndido, com certeza suas aulas superaram muita
coisa. — Saio de cima dele e me deito em seu peito.
— Fico feliz por ter lhe proporcionado esse sentimento. —
Dou um beijo em seus lábios.
— Eu amo você, minha esposa, mãe dos meus filhos, e
mulher da minha vida.
— Eu também o amo, meu quarentão delícia. — Hoje
definitivamente foi um dos melhores dias que eu tive ao lado dele.

FIM
Notas

Magnifique (Francês): Magnífico.

Amore mio (Italiano): Meu amor.

Seigneur (Francês): Senhor.

Broward University Brasil: A faculdade americana realmente


existe no Brasil, foi aberta em Fevereiro de 2020 em BH. Alterei a
localização e um pouco das regras da universidade para se encaixar
na história.

Graduação: Especialização criada para o enredo.

R&S Corporation: Empresa fictícia criada para o enredo.


Sobre a Autora

Caroline Santos é uma mulher de 23 anos, formada em


Ciências Contábeis, profissional da Área Fiscal, noiva, e criada em
São Paulo – SP. Começou a escrever com vinte anos e se tornou
uma autora independente e apaixonada por livros, além de nunca
renunciar a romances quentes, cheios de segredos e muitas
reviravoltas.

E-mail:crfsantos9@gmail.com
Fanpage: facebook.com.br/carolsantos
Instagram: @autoracarolsantos
Wattpad: @Ragazza_del_libro

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