080-083 Claudia-Andujar 276
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fotografia y
Glenda Mezarobba
C
laudia Andujar já vivia no Brasil há mais de
duas décadas quando decidiu solicitar um
auxílio à pesquisa à FAPESP. O ano era 1976
e a fotógrafa recém-naturalizada brasileira
queria continuar documentando a vida dos Yano-
mami, projeto iniciado com apoio de uma bolsa da
fundação Guggenheim. Seu primeiro contato com a
etnia havia se dado cinco anos antes, quando esteve
em uma missão católica na bacia do rio Catrimani,
no então território federal de Roraima. Ao submeter
proposta intitulada “Documentação fotográfica e es-
tudo da mitologia dos índios Yanomami”, justificou:
“O desenvolvimento das áreas indígenas é inevitá-
vel. Por isso minha preocupação em documentar e
tentar entender o mundo indígena, respeitando sua
reprodução fotográfica Léo Ramos Chaves
Claudia Andujar
em seu
apartamento,
em São Paulo.
Ao fundo, foto de
menina em igarapé
reira Salles, em São Paulo. Denomina- Mundial, ela e a mãe fugiram de volta de Arte Moderna de Nova York (MoMA).
da Claudia Andujar: A luta Yanomami, para a Suíça. Antes de desembarcar em Registrando o cotidiano dos Yanoma-
a exposição, com curadoria de Thyago Santos, em 1955, viveu em Nova York, mi, Andujar testemunhou o início da
Nogueira, em cartaz até 7 de abril, reúne nos Estados Unidos. Foi lá que adotou construção da rodovia Perimetral Norte
cerca de 300 obras – dentre elas, quase o nome de Claudia e, depois, o sobre- (BR-210), a chegada de doenças que dizi-
três dezenas de desenhos feitos pelos nome Andujar – do amigo de colégio, o mariam dezenas de comunidades, a ado-
Yanomami, que até então desconheciam espanhol Julio Andujar, com quem foi ção do Estatuto do Índio – que em 1973
a técnica de representação envolvendo brevemente casada. Logo que chegou os queria “integrados” à sociedade –,
papel e caneta ou lápis. “Eles nunca ha- ao país, ao tomar conhecimento de seu a entrada de garimpeiros e mineradoras
viam feito isso antes e eu me surpreendi desejo de conhecer “o Brasil e seu povo”, em suas terras, em busca de ouro, urâ-
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Is abor rendit que Antus, são para a Criação do Parque Yanomami
quatur sinciaeri (CCPY). A entidade, coordenada por An-
Jeaquam inihil
molestiunt at volores
dujar durante 22 anos, foi fundamental
para a demarcação contínua de 9.419.108
hectares, às vésperas da realização da
conferência da Organização das Nações
Unidas sobre o Clima, a Rio-92.
Convivendo há décadas com antro-
pólogos, aos 87 anos Andujar reconhece
em sua própria trajetória profissional o
diálogo com essa área do conhecimento,
ainda que de forma não acadêmica. “Fo-
tografar é o processo de descobrir o outro
e, através do outro, a si mesmo. Sempre
foi importante, para mim, compreender a
cultura dos povos indígenas. Por isso me
dediquei a estudá-los, mas meu trabalho
é mais intuitivo”, resume. Para Davi Ko-
penawa, líder dos Yanomami, Andujar
nio e cassiterita, e a poluição dos rios. Maloca “vestiu a roupa do índio” e, fotografando,
“Vi aldeais inteiras sumirem. Morreu fotografada com ensinou seu povo a lutar. “Ela me deu arco
filme infravermelho
muita gente”, relata, ela mesmo sobre- e flecha para falar pela boca. Não existe,
(no alto); meninas
vivente de malária – “foram entre três e se banham em no Brasil, mulher corajosa como ela.” n
cinco episódios da doença”, estima. Pa- igapó (acima)
ra proteger o povo Yanomami e o meio
ambiente, em 1978, um ano depois de ser Projeto
retirada da terra indígena pelo governo Documentação fotográfica e estudo da mitologia dos
índios Yanomami (nº 1976/0371); Modalidade Auxílio à
militar, decidiu fundar, com Zacquini e Pesquisa – Regular; Pesquisadora responsável Claudia
o antropólogo Bruce Albert, a Comis- Andujar (MASP); Investimento Cr$ 67.801,60.