Introdução Ao Direito Processual Penal
Introdução Ao Direito Processual Penal
Introdução Ao Direito Processual Penal
Introdução ao direito
processual penal
Versão Condensada
Sumário
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Introdução ao direito processual penal
1. Conceitos iniciais
Na vivência contemporânea em sociedade é estabelecido pelo estado uma série de regras que contribuem com a PAZ
SOCIAL. Deste modo, a partir da quebra de uma regra socialmente estabelecida, nasce para o estado o direito de punir
(Ius Puniendi) seus administrados, visto que o ordenamento jurídico não permite ao prejudicado fazer justiça com as
próprias mãos. No entanto, para punir o indivíduo infrator, devem ser asseguradas as prerrogativas constitucionais,
tais como contraditório e a ampla defesa. Como o Direito Penal não é autoaplicável, cabe ao Direito Processual Penal
estabelecer princípios e normas procedimentais para que sejam assegurados os Direitos Fundamentais do acusado, de
forma a aplicar uma punição legítima ao agente.
• OBJETIVO: o objetivo do Direito Processual Penal é tornar acessível os preceitos elencados pelo Código Penal,
no sentido de instrumentalizar a aplicação da lei penal.
• FINALIDADE: no que tange à finalidade, essa concepção pode se dar de maneira mediata ou imediata. A finali-
dade imediata visa estabelecer uma relação jurídica de culpabilidade ou não, confrontando o direito de liberdade
do infrator com a aplicação da lei penal, concretizando o previsto no Código Penal. Consequente a isso, surge a
pacificação social como finalidade mediata, com solução do conflito.
As fontes dessa vertente do Direito trazem à tona a origem do fato gerador do Direito, diga-se, envolve o local que
emana as normas processuais penais.
Deste modo, a FONTE MATERIAL, ou seja, quem pode legislar sobre o tema de Direito Processual Penal é a União (art.
22, inciso I da CF/88), e subsidiariamente os estados e o DF. O processo inaugurador da norma é dado pela aprovação
do projeto de lei pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, bem como pela respectiva sanção pelo Presidente
da República.
As FONTES FORMAIS das normas processuais penais decorrem de dispositivos jurídicos, tais como o Código de Pro-
cesso Penal. Ainda nisso, as fontes formais imediatas ou primárias são aquelas que emanam diretamente princípios a
serem seguidos em processo penal. São eles:
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Já as fontes formais mediatas ou secundárias são aquelas que não geram diretamente efeitos jurídicos, como os cos-
tumes, princípios gerais de direito, analogia etc.
2. Sistemas processuais
A origem da nomenclatura desse sistema deriva da Santa Inquisição, ou Tribunal Eclesiástico, que tinha como finalidade
a investigação e punição dos “hereges”, tudo isso feito pelos membros do clero.
No sistema inquisitivo existe concentração de poder nas mãos de uma pessoa. É o juiz quem detém as prerrogativas
de acusar e julgar o investigado, o qual é tratado como mero objeto. A ideia central desse sistema é que quem produz,
gerencia e aprecia a prova é o próprio julgador.
O juiz (também gestor da prova) busca a evidência para confirmar o que pensa (subjetivismo) sobre o fato, tratando-se, na
verdade, de uma ideia pré-concebida, fato em que as provas colhidas são utilizadas apenas para comprovar seu pensa-
mento. Ele irá fabricar as provas para que confirme sua convicção sobre o crime e o réu. Para tanto, utiliza-se principalmente
da confissão do réu, obtida muitas vezes mediante tortura ou outro meio cruel, para obter as respostas que lhe convir.
Em outras palavras, o julgador é citado como representante de Deus na Terra, pois produz provas para confirmar o fato,
utilizando-se de todos os meios – lícitos ou não – para obter a condenação do objeto da relação processual.
É também neste sistema que as provas são avaliadas e a elas são atribuídos certos níveis de importância (prova tarifada).
O testemunho de um clero ou nobre possuíam valores muito maiores, por exemplo, que o de uma mulher. A confissão
é absoluta e irretratável (daí a expressão rainha das provas).
ATENÇÃO! A crítica feita a este sistema processual é a de que não seria possível uma única pessoa, detentora
de tantos poderes, poder conduzir imparcialmente e com objetividade o ato criminoso.
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Pensando nisso, é possível sintetizar como características do sistema inquisitivo:
Sistema inquisito
Não existem partes – o réu é mero objeto do processo penal e não sujeito de direitos.
Inexiste garantias constitucionais, pois se o investigado é objeto, não há que se falar em contraditório, ampla
defesa, devido processo legal etc.
Diferente do sistema inquisitório, o sistema processual acusatório possui como princípio unificador o fato de o gestor da
prova ser pessoa diversa do juiz. Há, portanto, nítida separação entre as funções de acusar e julgar, o que não ocorria
no sistema inquisitivo. Destarte, o juiz é imparcial e somente julga, não produz provas (em regra) e nem defende o réu.
Ainda no sistema acusatório, não existe aqui hierarquia entre as provas, as quais apresentam valor relativo e devem ser
confrontadas entre si. O acusado, além de pleno detentor de direitos, será considerado inocente até que sobrevenha
uma sentença transitada em julgado, diga-se, irrecorrível.
Sistema acusatório
Consequentemente, ao acusado é garantido o contraditório, a ampla defesa, o devido processo legal, e demais
princípios limitadores do poder punitivo.
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2.3 Sistema misto
Por fim, o sistema processual misto contém as características de ambos os sistemas supracitados. Possui duas fases: a
primeira, inquisitória e a segunda, acusatória. A primeira fase é a da investigação preliminar. Tem nítido caráter inquisi-
tório em que o procedimento é presidido pelo delegado (não se confundindo com o processo penal, o qual é presidido
por autoridade judicial), colhendo provas, indícios e demais informações para que possa, posteriormente, embasar sua
convicção ao responsável pela inicial acusatória. Obedece também às características do sistema inquisitivo, em que o
juiz é, portanto, o gestor das provas.
A segunda fase é a judicial ou processual propriamente dita. Aqui existe a figura do acusador (MP ou querelante) diverso
do julgador (somente o juiz), em que são assegurados todos os direitos do acusado e a independência entre acusação,
defesa e juiz. Atualmente é adotado por vários países europeus, sendo inaugurado pelo Código de Processo Penal Francês.
Há uma corrente doutrinária que diz que o sistema processual brasileiro é misto (nessa vertente, Helio Tornaghi), adu-
zindo sua dupla fase:
Fase judicial, com características acusatórias, iniciada após o recebimento da denúncia ou queixa. A crítica a esta cor-
rente cinge-se ao caráter administrativo (extraprocessual) da investigação preliminar (inquérito policial, por exemplo).
No entanto, o entendimento majoritário e jurisprudencial, assim como o previsto no art. 3º-A do CPP, é o de que o Brasil
adota o SISTEMA ACUSATÓRIO, pois há clara separação da função acusatória (realizada pelo Ministério Público nas
ações penais públicas) e a julgadora (Juiz), sendo o Inquérito um procedimento dispensável.
É preciso, entretanto, ter a noção que não se trata do sistema acusatório puro, uma vez que, apesar de a regra do ônus
da prova ser da alegação (ou partes), admitem-se exceções em que o próprio juiz pode determinar, de ofício, sua pro-
dução de forma suplementar, como afirma o artigo 156 do CPP:
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício:
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e rele-
vantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida;
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida
sobre ponto relevante.
Além disso, o Art. 385 do CPP permite ao juiz condenar o réu, nos crimes de ação pública, ainda que o Ministério Público
tenha se manifestado pela absolvição.
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