Neonatologia Canina

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https://doi.org/10.31533/pubvet.v15n07a867.

1-15

Neonatologia canina: manejo e particularidades fisiológicas


Beatriz Souza Vezzali1 , Aline Ambrogi Franco Prado2 , Juliana Izzo Octaviano2
1
Médica Veterinária, Fundação Municipal de Ensino Superior de Bragança Paulista, SP, Brasil
2
Professora da Fundação Municipal de Ensino Superior de Bragança Paulista, SP, Brasil
*Autor para correspondência, E-mail: vezzalibeatriz@yahoo.com.br

Resumo. A neonatologia aborda os cuidados com o neonato e suas particularidades


fisiológicas, além das afecções que os atingem. Neste período ocorrem diversas mudanças
e adaptações fisiológicas, metabólicas e anatômicas para estabelecer sua vida no ambiente
extrauterino, o que permitirá que o neonato se desenvolva lentamente, e por conta disso
apresente imaturidade dos sistemas orgânicos. A negligência em conjunto com a falta de
conhecimento básico em fisiologia neonatal canina por parte dos médicos veterinários pode
alavancar a crescente taxa de mortalidade neonatal, além do manejo deficiente por parte de
médicos veterinários, tutores e criadores. Conhecer as particularidades fisiológicas dos
neonatos caninos é onde estão contidos os segredos para que não se perca nenhum neonato
visando promover a sua saúde por meio de práticas de higiene e fornecimento de tudo que
estes animais precisam na primeira fase de sua vida, ocasionando a queda da mortalidade
neonatal, tendo em vista que ela não deve ser considerada algo normal e esperado.
Palavras-chave: Neonatologia, neonatos, manejo neonatal, reanimação neonatal

Canine neonatology: handling and physiological particularities


Abstract. Neonatology is that addresses the new-born’s care and its physiological
particularities, in addition to the conditions that affect them. In this period, several
physiological, metabolic and anatomical changes and adaptions occur in order to establish
its life in the extrauterine environment, which will allow the new-born to develop slowly
and, for this reason, present immaturity in the organic systems. The negligence, associated
with the lack of basic knowledge of canine neonatal physiology by veterinarians might
leverage the rising number of neonatal mortalities, together with the poor handling made
by these veterinarians, tutors and breeders. Knowing the physiological particularities of
canine new-borns is the secret behind not losing any of them, aiming to promote their health
through practices of hygiene and delivering everything these animals need in the first phase
of their lives, resulting in the decrease of neonatal mortality, keeping in sight that it should
not be considered as something normal and expected.
Key words: Neonatology, new-born, neonatal handling, neonatal reanimation

Introdução
A neonatologia é um ramo da esquiminiatria veterinária (do grego skimnos = animal jovem; iatros
= médico) que aborda os cuidados com o neonato e suas particularidades fisiológicas, além das afecções
que os atingem (Lourenço, 2015; Prats et al., 2005). O estudo da neonatologia canina vem ganhando
espaço entre o público que trabalha com criações de cães, pois desperta conhecimento e curiosidade
sobre o assunto. Segundo Nelson & Couto (2015), o significativo valor financeiro e emocional de cães
reprodutores, cadelas matrizes e suas crias torna repudiante o fato de haver perdas neonatais por falta de
assistência veterinária. Criadouros em geral devem buscar maximizar a sobrevivência neonatal por
razões financeiras e éticas.

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Além disso, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2013), em uma Pesquisa
Nacional de Saúde, trouxe informações sobre a população de animais pertencentes as famílias
brasileiras tanto da área urbana, como na área rural, evidenciando que 44,3% dos domicílios no
Brasil, ou seja, quase metade dos lares brasileiros, possui pelo menos um cachorro, o que confere
28,9 milhões de residências. A partir disso, é interessante levar cada vez mais informações para
pessoas que estão diretamente em contato com criações de cães e também para tut ores que venham
a possuir uma cadela gestante em casa, visando o maior cuidado possível com a mãe e seus filhotes,
com o objetivo de impedir a perda dos neonatos. Para isso, é necessário o envolvimento de médicos
veterinários com conhecimento básico na área da neonatologia canina para serem capazes de
auxiliar os criadores e os tutores, passando informações coerentes e cabíveis de manejo, além das
responsabilidades, como aumentar o número de nascimentos viáveis pela minimização dos
natimortos devido dificuldades no processo de nascimento, e promover maior sobrevida de neonatos
durante a sua primeira semana de vida (Nelson & Couto, 2015).
O maior índice de mortalidade de neonatos ocorre por problemas de manejo básico que interferem
na sobrevivência do mesmo, já que estes precisam de atenção redobrada para lhes proporcionar saúde e
bem estar através de práticas de higiene, alimentação e acompanhamento diário de suas características,
como o seu ganho de peso diário (Feitosa, 2014; Ftitzgerard & Newquist, 2011). Portanto, o manejo
apropriado na neonatologia canina é de extrema importância para a saúde e integridade dos neonatos
com o objetivo de diminuir as grandes taxas de mortalidade que tendem a crescer rapidamente diante de
fatores que facilitam a morte de neonatos, simplesmente pelo não cumprimento de pequenas e básicas
ações durante o nascimento e nas primeiras horas de vida, ou ainda pela falta de conhecimento sobre a
fisiologia neonatal canina, bem como para fornecer o devido cuidado ao neonato que venha a apresentar
afecções congênitas que sejam incompatíveis com a vida quando não combinado com o auxílio
veterinário.
Contudo, a presente revisão tem por objetivo fornecer informações sobre as particularidades dos
neonatos caninos e sua fisiologia para estudantes de medicina veterinária, médicos veterinários, tutores
e criadores, tendo em vista que todos os neonatos precisam de cuidados especiais de cunho emergencial,
visando promover qualidade de vida e solucionar problemas que estes possam vir a apresentar.

Conceito de neonatologia e período neonatal


A neonatologia é o ramo da pediatria que se dedica ao estudo do feto e do recém-nascido durante e
após seu nascimento. Na literatura este período não se mostra como algo concreto e elucidado
(Domingos et al., 2008; Jones, 1987). Segundo Silva et al. (2008), a neonatologia é a ciência responsável
pelo estudo dos recém-nascidos, e aborda o período neonatal do nascimento até o décimo quarto dia de
vida, ou seja, as duas primeiras semanas após o nascimento, concordando com Sorribas (2007).
Grundy (2006) interpreta o período neonatal em cães como sendo as primeiras quatro semanas de
vida, e justifica por coincidir com o momento em que ocorre o desmame. Macintire et al. (2007) defende
que os filhotes são considerados neonatos do nascimento até duas semanas de vida. Kustritz (2011)
aborda o período neonatal do nascimento até três semanas de vida, ou quando o filhote é capaz de andar,
urinar e defecar espontaneamente. Feitosa (2014) define o período neonatal canino como sendo o
intervalo em que o filhote ainda tem certa dependência aos cuidados maternos para a sua sobrevivência,
e concorda com Grundy (2006) afirmando que este período compreende os trinta primeiros dias de vida.
Neste período ocorrem diversas mudanças e adaptações fisiológicas, metabólicas e anatômicas para
estabelecer sua vida no ambiente extrauterino, o que permitirá que o neonato se desenvolva lentamente,
e por conta disso apresente imaturidade dos sistemas orgânicos (Feitosa, 2014). Na primeira semana de
vida, os neonatos caninos dedicam 70% do seu tempo para dormir e 30% para mamar, e dependem
100% da mãe para se alimentarem, urinarem e defecarem. A abertura do pavilhão auricular se dá entre
12 e 14 dias após o nascimento, assim como na Figura 1, e a abertura dos olhos ocorre entre 10 e 14 dias
de vida, como mostra a Figura 2 (Sorribas, 2007).
O começo da independência dos filhotes acontece a partir da 3ª semana de vida, quando são capazes
de andar, urinar e defecar espontaneamente, há desenvolvimento dos dentes decíduos, são capazes de
regular a própria temperatura e já apresentam o olfato apurado (Sorribas, 2007).

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Mortalidade neonatal canina


Definido o período neonatal, é preciso então destacar que devido essas alterações de ambiente e
mudanças fisiológicas que o neonato sofre, seu manejo ocorre de forma distinta do manejo de costume
que se coloca em prática com os animais adultos (Kustritz, 2011). Grundy (2006) afirma que a chave
para a desmistificação dos cuidados neonatais caninos é não considerar estes pacientes como adultos em
miniatura, e buscar definir tratamentos adequados à sua fisiologia ímpar.

Figura 1. O pavilhão auricular abre-se entre o 12º Figura 2. Abertura das pálpebras ocorre entre o 10º e
e 14º dias. Fonte: Sorribas (2007) 14º dias. Fonte: Sorribas (2007).

A negligência em conjunto com a falta de conhecimento básico em fisiologia neonatal canina por
parte dos médicos veterinários pode alavancar a crescente taxa de mortalidade neonatal, além do manejo
deficiente por parte de médicos veterinários, tutores e criadores (Peterson & Kutzler, 2011).
Ftitzgerard & Newquist (2011) estabelecem que nenhum período da vida de um organismo vivo
requer tantos cuidados como na fase neonatal. Portanto, é fundamental ter domínio das muitas
características neonatais fisiológicas e anatômicas que diferem rigorosamente dos adultos.
Segundo Tønnessen et al. (2012), a mortalidade neonatal é definida pela morte do filhote após o
nascimento, e pode ser classificada como mortalidade neonatal precoce quando as mortes ocorrem nos
primeiros sete dias de vida, e tardia cujas mortes ocorrem de sete a 28 dias após o nascimento. A taxa
de mortalidade neonatal em cães diminui à medida que o neonato cresce e se desenvolve, tendo como
estatísticas 75% das mortes em filhotes nas três primeiras semanas de vida, 50% das mortes neonatais
ocorrendo em até três dias após o nascimento e 65% de mortalidade na primeira semana de vida
(Peterson & Kutzler, 2011). Angulo (2012) afirma que em partos assistidos por médicos veterinários há
uma queda significativa na mortalidade neonatal.
O nascimento é o processo que exige mais disposição e comprometimento por parte do neonato em
toda a sua vida, pois neste momento ocorrerá a transição fetal-neonatal definindo uma situação
consideravelmente perigosa, devido todas as adaptações que sofrerá (Landim-Alvarenga et al., 2017).
Segundo Feitosa (2014), há uma relação forte entre as mortes neonatais e possíveis causas ambientais.
Portanto, é imprescindível disponibilizar um local de parto que a cadela já esteja habituada, sendo seguro
para que os filhotes não sofram episódios de canibalismo ou pisoteamento, além de impedir a fuga
destes. A área do parto deve ser seca, arejada, isenta de insetos e contendo uma altura que permita a
circulação da cadela com facilidade (Lourenço, 2015). Dentre causas de óbitos de neonatos caninos
subestimadas estão fome, hipotermia, problemas de manejo, desidratação, traumas, descaso ou
desconhecimento e falta de orientação para o tutor (Peterson & Kutzler, 2011).

Fisiologia e manejo neonatal canino


Sistema respiratório e adaptação
Durante a gestação, os pulmões fetais encontram-se colabados sem realizar trocas gasosas, pois nessa
fase de vida intrauterina, o feto utiliza oxigênio de origem materna que se espalha na circulação fetal
por via placentária (Lourenço & Machado, 2013). O parto promove uma situação de estresse para o

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neonato, no qual ocorre um breve momento de asfixia devido baixos níveis de surfactante presente no
pulmão no momento do nascimento, onde o neonato deve lançar mão de seu primeiro movimento
respiratório que se caracteriza por uma profunda inspiração com o intuito de extinguir a atelectasia dos
seus pulmões imaturos. Neste momento, o neonato fica responsável por fazer a troca da substância
líquida presente nos alvéolos por conteúdo aéreo (Lourenço & Machado, 2013).
Landim-Alvarenga et al. (2006) salientam que as vias respiratórias superiores do neonato logo após
o nascimento devem estar escassas de conteúdo líquido, muco, mecônio e sem indícios de anexos fetais
e fluidos placentários. Caso contrário, o profissional responsável por inspecionar o local pode fazer a
retirada destes com os dedos enluvados, ou ainda, como melhor escolha, utilizar de sistema de sucção
próprio para esta manobra, assim como mostra a Figura 3 (McMichael, 2011).

Figura 3. Uso de pêra de sucção para delivramento das vias aéreas.


Fonte: MiMichael (2011).

A frequência respiratória do neonato um dia após o nascimento varia de 10 e 18 movimentos por


minuto, e na primeira semana de vida fica entre 16 a 32 movimentos por minuto (mpm) (Feitosa, 2014).

Ausência de termorregulação independente


Os neonatos caninos são classificados como pecilotérmicos por não possuírem controle
hipotalâmico desenvolvido suficientemente para realizar termorregulação (Feitosa, 2014). A
temperatura retal normalmente diminui logo após o nascimento, provavelmente como uma adaptação
para proteger os neonatos da hipóxia e acidose, reduzindo a demanda metabólica (Lawler, 2008).
Recebem essa classificação, pois dependem da temperatura do ambiente para manter a sua
temperatura corpórea, sendo necessária uma fonte de calor, sendo ela materna ou fornecida, tal qual
garrafas de água quente como exemplo podendo ser visto na Figura 4 (Barreto, 2003). Temperaturas
ambientais incorretas podem ter efeitos devastadores nos neonatos (Peterson & Kutzler, 2011).
Segundo Landim-Alvarenga et al. (2006), a temperatura ambiente adequada para que o neonato se
adapte deve estar em torno de 30 a 32ºC.
São considerados pecilotérmicos até completarem o primeiro mês de vida. O controle da temperatura
só se estabelece após 7 a 9 dias através de mecanismos controladores de tremor e vasoconstrição
(Apparício et al., 2015; Landim-Alvarenga et al., 2017).
Devido à imaturidade do sistema termorregulador que pertence ao sistema nervoso, os neonatos não
apresentam reflexo de tremor para fazer a manutenção da sua temperatura corpórea de forma adequada
(Barreto, 2003) até os primeiros seis dias de vida, chegando fácil e rapidamente a um quadro de
hipotermia (Peterson & Kutzler, 2011).
Como os neonatos não possuem a capacidade de gerar calor via os tremores, sua produção de calor
inicial se dá por lipólise da gordura marrom, que é um tecido composto por numerosas mitocôndrias.
Este tipo de tecido adiposo é utilizado até as três semanas de vida, sendo apenas parcialmente capaz de
manter a temperatura corporal do neonato em um ambiente com aproximadamente 30º C (Miller, 2011).
Outra resposta mais presente, há imaturidade em se termorregular, os neonatos possuem um
mecanismo de termotropismo positivo (Figura 5), sendo atraídos por fontes de calor como a mãe e seus

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próprios irmãos (Chaves, 2011; Domingos et al., 2008). Lourenço (2015) especifica que após o
aquecimento, o neonato deve ser mantido à temperatura ambiente entre 29,4° C e 35,0° C, sob umidade
relativa do ar de 55 a 65%. Esse controle de temperatura e umidade deve ser feito com prudência, pois
a massa corpórea do neonato é composta em grande parte por água (70 a 75%), sendo um fator que
influencia diretamente na desidratação do filhote (Jones, 1987). Landim-Alvarenga et al. (2006) definem
a temperatura corporal normal do neonato canino como sendo mais baixa que a do adulto. Na primeira
semana, deve oscilar entre 35,0 e 37,2º C; na segunda, entre 36,1 e 37,8º C; e somente na quarta semana
se assemelha à do adulto.

Figura 5. Termotropismo positivo somado ao uso de bolsa


Figura 4. Uso de garrafas com água quente como fonte de de água quente como fonte de calor externa.
calor externa. Fonte: Sorribas (2007) Fonte: Sorribas (2007).

Somando o termotropismo positivo e o uso de fontes de calor fornecidas como lâmpadas de calor,
bolsas térmicas e garrafas de água aquecidas, é importante salientar que ainda sobre a imaturidade do
sistema termorregulador, os neonatos não apresentam reflexo de retirada, o que torna as fontes de calor
perigosas podendo causar queimaduras (Figura 6), pois os neonatos não tem consciência do tempo que
podem permanecer em contato com elas (Peterson & Kutzler, 2011).

Figura 6. Queimadura na superfície da pele de um neonato causada por excesso de contato com fonte
de calor externa. Fonte: Fonte: Sorribas (2007).

Alimentação, ganho de peso e aquisição de imunidade


O sistema digestório é mais um sistema orgânico que se encontra imaturo no neonato por ter que se
responsabilizar por tarefas digestivas que antes eram obrigação da placenta (Feitosa, 2014). Os intestinos
dos neonatos apresentam-se estéreis ao nascimento, porém essa característica não dura muito tempo,
pois a lambedura fisiológica da mãe feita logo após o nascimento promove a entrada de micro-
organismos que colonizam os intestinos rapidamente (Apparício et al., 2015). Portanto, é importante
que imediatamente após o nascimento, o neonato ingira colostro para que a transferência de imunidade
passiva seja feita com total êxito, e este adquira fatores de crescimento e nutrientes necessários para o
seu desenvolvimento extrauterino, e impeça que os microrganismos que adentraram à mucosa intestinal
causem infecções ao neonato (Apparício et al., 2015).
Landim-Alvarenga et al. (2006) afirmam que para o neonato adquirir imunidade sistêmica adequada,
é imprescindível que ingiram o colostro dentro das primeiras 12 horas após o nascimento. Com 16 horas
de vida já não é possível a realização da transferência passiva de imunoglobulinas com eficiência total.
A imunodeficiência neonatal pode estar presente decorrente da não ingestão ou incorreto consumo do
colostro devidamente acompanhado das suas imunoglobulinas, podendo predispor o filhote a infecções
(Feitosa, 2014). Apparício et al. (2015) defendem que após 24 horas de vida, há uma diminuição abrupta

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da permeabilidade intestinal do neonato às proteínas do colostro, e isso ocorre em consequência da


maturação das células intestinais e estabelecimento da flora intestinal, onde as bactérias que a ela
pertencem são capazes de degradar as imunoglobulinas oriundas do colostro, atrapalhando assim a
absorção colostral. Por isso, o neonato deve mamar o colostro logo após o nascimento.
Um hemograma contendo níveis de enzimas hepáticas como a gama-glutamiltransferase (GGT),
pode revelar se houve ingestão adequada do colostro, pois esta assume uma grande concentração sérica
nesse caso, funcionando como um eficiente indicador da absorção colostral (Martins, 2005; Peterson &
Kutzler, 2011).
É interessante que o neonato apresente reflexo de sucção (Figura 7) para que consiga mamar
diretamente na mãe, e se caso necessário, seja alimentado por mamadeira ou seringa. O neonato deve
ser alimentado a cada 2 a 4 horas durante a primeira semana de vida, e a cada 4 a 6 horas até o desmame
(Landim-Alvarenga et al., 2017). A capacidade estomacal do neonato é de 50 ml/kg, e a cada mamada
não se pode ultrapassar este volume de alimento (Macintire et al., 2007).
A posição correta para alimentar o neonato via mamadeira é em decúbito esternal, como na Figura
8, e o neonato deve ser capaz de empurrar a mamadeira com os membros anteriores bem como faria
caso estivesse amamentando na própria mãe. O neonato não pode estender demais a cabeça durante a
mamada, pois isso pode aumentar o risco de aspiração do leite (Peterson & Kutzler, 2011).

Figura 8. Neonato apoiado sobre os membros e


Figura 7. Demonstração do reflexo de sucção em neonatos leve inclinação caudal, para facilitar a
caninos. Fonte: Kustritz (2011). sucção e diminuir os riscos de uma falsa
via. Fonte: Sorribas (2007).

A frequência de alimentação do neonato é grande devido a sua imaturidade hepática e renal, na qual
o estoque de glicogênio é muito precário e a gliconeogênese ineficaz ocorrendo no fígado do neonato
somente após nove horas sem alimentação, além do metabolismo acelerado do neonato que faz uso de
grande parte da glicose disponível, e presença de glicosúria renal fisiológica, pois os túbulos renais ainda
não fazem a reabsorção correta de substâncias presentes na urina (Feitosa, 2014).
O peso ao nascimento representa um fator de risco e fornece prognósticos relevantes relacionados à
mortalidade neonatal. Filhotes que apresentam baixo peso ao nascimento e incapacidade em prosperar
sua taxa de crescimento, têm grandes chances de vir a óbito nos primeiros três dias de vida (Peterson &
Kutzler, 2011).
O que indica ocorrência de algum tipo de contratempo no desenvolvimento fetal ou a presença de
anomalias congênitas é o fato de neonatos nascerem magros, fracos e abaixo do peso que se espera para
a raça ou porte. É comum observar filhotes maiores da ninhada retirarem da lactação os filhotes
debilitados que nasceram abaixo do peso ideal (Feitosa, 2014). Problemas neonatais de caráter primário
em cães geralmente são causados por hipóxia, hipoglicemia, hipotermia, má hidratação, infecção e
nutrição inadequada (Peterson & Kutzler, 2011). A verificação do ganho de peso diário (Figura 9) serve
como parâmetro para identificar neonatos que se alimentam corretamente e neonatos que possuem algum
déficit na sua alimentação. Isso é feito pela pesagem diária de todos os neonatos antes e depois de cada
mamada (Domingos et al., 2008). Vale lembrar que é fisiológico que o neonato perca de 5 a 10% do seu
peso inicial durante o seu primeiro dia de vida, devido uma mínima e esperada desidratação proveniente
da defecação que ocorre nas primeiras horas após o nascimento. Depois deste período, é imprescindível
que o neonato ganhe peso (Barreto, 2003; Domingos et al., 2008; Feitosa, 2014; Sorribas, 2007).

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Neonatos hipotérmicos não podem ser alimentados. O ideal é que este se encontre em normotermia.
A hipotermia promove atonia do trato gastrointestinal diminuindo seu fluxo sanguíneo por conta do
desvio de calor para locais do corpo que precisam ser aquecidos. Caso haja o aleitamento do neonato
hipotérmico, não haverá absorção do leite e ocorrerá estase deste no trato gastrointestinal pela falta de
movimentos peristálticos para expulsa-lo. Então, o leite fermentará promovendo proliferação bacteriana
e posterior enterocolite necrosante, caso haja deslocamento bacteriano que desenvolverá necrose de trato
gastrointestinal, bacteremia sendo possível uma evolução para sepse (Prendergast, 2011). Após cada
mamada, é indispensável que haja um estímulo do reflexo de micção e defecação nos neonatos (Figura
10), mais especificamente na região anogenital, que geralmente é realizado por ação mecânica da mãe
através de lambeduras. Caso a cadela não seja capaz de realizar esse estímulo, pode ser feito por médicos
veterinários por massagem da área com algodão ou gaze seca ou úmida. Pode-se também utilizar lenços
de papel macio, ou simplesmente correr os dedos enluvados ao longo da parede abdominal do filhote
(Landim-Alvarenga et al., 2017).
Qualquer neonato que apresente choro constante, no geral indica frio, fome, presença de alguma
injúria, mas, em todos os casos, precisa de atenção e assistência imediata (Peterson & Kutzler, 2011).

Figura 9. O controle de peso deve ser feito antes e depois de cada Figura 10. Estimulação do reflexo ano genital. Fonte:
mamada para que haja uma monitoração confiável do Sorribas (2007).
ganho de peso diário do filhote. Fonte: Sorribas(2007).

Ambiente adequado para manter os neonatos caninos


É de extrema importância manter o local limpo para que os filhotes não tenham contato com micro-
organismos oriundos do ambiente e provenientes da própria mãe, tendo em vista o não desenvolvimento
de infecções neonatais. Trocar sempre os materiais utilizados para o conforto dos filhotes e da mãe e
higienizando o ambiente, bem como manter a mãe saudável durante toda a gestação e também durante
o período de lactação para que ela forneça alimentação de qualidade ao neonato. A sobrevida do neonato
tem relação direta com a qualidade do parto (Lourenço, 2015; Nelson & Couto, 2015). Outro fator que
atua como fonte de mortalidade neonatal é a disposição e tamanho adequados da área onde ocorrerá o
parto, tendo duas variáveis: local muito grande promovendo afastamento do neonato da mãe e de seus
irmãos resultando em hipotermia do filhote; e local muito pequeno trazendo riscos de o neonato ser
esmagado pela mãe (Peterson & Kutzler, 2011).
Landim-Alvarenga et al. (2017) destacam a cura do umbigo como momento da vida do neonato que
pede uma rigorosa higiene que deve ser feita com muita cautela higienizando o local com solução
antisséptica seguida de secagem e aplicação de tintura de iodo, sendo também uma opção usar spray
antibiótico, pois o cordão umbilical e o umbigo são principais portas de entrada para patógenos e micro-
organismos capazes de promover sepse.
Na Figura 11 é possível ver o umbigo de um neonato canino 48 horas após o nascimento, sendo que
Sorribas (2007) indica a inspeção e higiene do umbigo duas vezes ao dia, ocorrendo a queda do cordão

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umbilical por volta de 72 horas após o nascimento, onde a cicatriz deve ser inspecionada até a cura
completa.

Figura 11. Umbigo 48 horas após o nascimento. Fonte:


Sorribas (2007).

Cuidados com neonatos órfãos


Nos casos em que os pacientes neonatos são considerados órfãos, deve-se levar em consideração o
conceito de orfandade, visto que existem os órfãos “verdadeiros”, os quais a mãe não foi capaz de
oferecer nenhum tipo de cuidado ao filhote por fatores como falta de instinto materno, ou por vir a óbito.
Os órfãos parciais são aqueles que apresentam algum tipo de limitação, como a fenda palatina por parte
do neonato, ou a falta de leite materno, e por conta desses fatores, necessitam de cuidados além dos
oferecidos pela mãe através de uma complementação no manejo (Peterson & Kutzler, 2011).
Dentre situações em que os filhotes precisam ser tratados como órfãos estão prematuridade,
hipogalactia ou agalactia, tríade neonatal, mastite, ninhada numerosa, morte da mãe, alterações
congênitas, falha do extinto materno, filhotes de baixo peso, necessidade de internação do filhote,
abandono, entre outras (Peterson & Kutzler, 2011). Nestes casos é preciso desempenhar todo o papel da
mãe, desde alimentação, aquecimento, estímulos para urinar e defecar, promover imunidade. Essas
responsabilidades maternas podem ser feitas da mesma forma de manejo que foram tratados nos tópicos
anteriores, bem como o uso de banco de colostro e outras formas de imunização para promover
imunidade ao neonato órfão, já que este não teve acesso ao colostro da mãe rico em imunoglobulinas
essenciais para a sua sobrevivência e desenvolvimento (Peterson & Kutzler, 2011).
É sempre indicado o uso de substituto do leite em forma comercial, pois este contém a quantidade correta
de proteínas, gorduras, carboidratos, vitaminas e minerais que os neonatos caninos precisam para o seu
crescimento (Prendergast, 2011). Quando o substituto comercial do leite estiver temporariamente
indisponível, pode-se fazer uso de receitas caseiras para alimentar os filhotes órfãos, porém devem ser
utilizadas somente para casos de emergência, e devem ser trocadas para a fórmula láctea comercial o mais
rápido possível (Prendergast, 2011). Peterson & Kutzler (2011) afirmam que, segundo estudos, receitas
caseiras mesmo quando administradas em volumes maiores ou com frequência maior, podem resultar em
taxas de crescimento mais lentas quando comparadas com as taxas de crescimento em neonatos caninos
alimentados com fórmulas comerciais. Segundo Prendergast (2011), a receita caseira apresentada no Quadro
1 rende aproximadamente 1,2 kcal/ml, ou seja, em um neonato canino com cerca de 400g de peso seria
alimentado com esta receita com aproximadamente 60 ml/dia divididos em 8 mamadas ao longo do dia.

Quadro 1. Fórmula caseira de leite de cadelas para suplemento lácteo para cães.
Ingredientes Quantidade
Leite integral de vaca 115 ml
Água 115 ml
Gema de ovo 2
Carbonato de cálcio 500 mg
Óleo vegetal 1 colher de chá
Fonte: adaptado de Prendergast (2011).

A alimentação deste filhote deve ser feita com mamadeira ou seringa quando este apresentar reflexo
de sucção. Em casos de presença de fenda palatina, faz-se necessária a sondagem oro-gástrica (Figura
12), que deve ser introduzida pela boca lentamente para estimular a deglutição do filhote que vai
contribuir para a entrada facilitada da sonda (Peterson & Kutzler, 2011; Sorribas, 2007)

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O Quadro 2 mostra os principais problemas que podem acometer neonatos caninos quando se realiza
o uso de alimentação artificial e quais sinais clínicos estes pacientes podem apresentar, segundo Peterson
& Kutzler (2011).

Figura 12. Para calcular o comprimento da sonda oro-gástrica mede-se


da boca até a borda do gradil costal. Fonte: Sorribas (2007).

Quadro 2. Principais problemas que os neonatos caninos podem desenvolver na alimentação artificial e sinais clínicos associados.
Problemas Sinais clínicos
Posicionamento errado > Risco de aspiração
Temperatura incorreta Hipotermia, queimaduras, falha na digestão
Administração errada Vômito, cólica, inchaço
Falha na preparação Diarreia, inchaço, desnutrição
Pouca higiene Diarreia, vômito, infecção
Fonte: adaptado de Peterson & Kutzler (2011).

Principais alterações que podem afetar os neonatos caninos


Hipóxia
A maior causa de mortalidade neonatal não infecciosa é a hipóxia neonatal que pode ocorrer como
resultado de distocias, baixos níveis de surfactante, atelectasia, aspiração de mecônio ou restos de anexos
fetais, anemia, entre outros (Peterson & Kutzler, 2011). A Figura 13 de Sorribas (2007) mostra a nítida
diferença entre um neonato canino em hipóxia e um neonato canino hígido.
É essencial que as bolsas que envolvem o feto não se rompam no momento do parto para que o
neonato não as inspire acidentalmente, evitando com sucesso que a hipóxia se desenvolva (Angulo,
2012).

Tríade neonatal
A tríade neonatal é uma das principais condições que ocorrem no período atingindo neonatos
descompensados e sempre se manifesta por consequência de alguma patologia ou anormalidade da sua
condição fisiológica, capaz de levar ao óbito rapidamente. É composta por hipotermia, hipoglicemia e
desidratação do neonato, que podem ser causadas por um manejo inadequado. A hipotermia se
desenvolve com facilidade nos neonatos por conta da sua incapacidade de produzir calor, justamente
por apresentarem mecanismo de termorregulação ineficiente e ausência do reflexo de tremor.
Geralmente se manifesta quando não há uma fonte de calor para o neonato regular sua temperatura
(Apparício et al., 2015; Feitosa, 2014). Para corrigir a hipotermia do neonato, monitorar frequentemente
a temperatura deste é fundamental para evitar um superaquecimento. (Macintire et al., 2007). O
aquecimento deve ser feito de forma lenta, promovendo o aumento de 1º C por hora. Caso ocorra um
aumento de 2º C ou mais por hora, o neonato pode apresentar falência de órgãos vitais, como coração e
rins (Peterson & Kutzler, 2011).
A glicemia dos neonatos caninos do nascimento até as duas semanas de vida varia entre 111 e 146
mg/dL. Quando atingem a idade de duas a quatro semanas de vida, a glicemia de um neonato hígido
pode estar no intervalo de 86 a 115 mg/dL (Kustritz, 2011). A hipoglicemia se dá pela baixa
concentração de glicogênio hepático e carência de um potencial enzimático adequado necessário para
promover gliconeogênese, que se mantém dessa forma até os primeiros 10 dias de vida. Em geral afeta

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os neonatos que não mamam o colostro corretamente, promovendo o uso das reservas energéticas
escassas dos neonatos para mantê-los em glicemia regular. Nos neonatos hipoglicêmicos, a glicose pode
ser administrada por via oral (Apparício et al., 2015; Feitosa, 2014; Macintire et al., 2007).
Alguns sinais clínicos que os neonatos caninos apresentam quando estão em quadro de hipoglicemia
são choro incessante, fraqueza, tremores, coma e convulsões (Peterson & Kutzler, 2011). A desidratação
se estabelece nos neonatos em virtude da sua superfície corpórea ser grande em relação ao seu peso
(18% do peso corporal), 80% do corpo do neonato ser composto por água, e em razão da imaturidade
renal fisiológica do neonato, e por isso, é necessária uma fluidoterapia maior que a básica diária de 13
a 22ml para cada 100 gramas de peso corporal para que estes saiam do quadro de desidratação. A Figura
14 mostra a não confiabilidade no turgor cutâneo como parâmetro vital de resposta imediata, devido às
particularidades que os neonatos caninos apresentam. Estes só apresentarão grau de desidratação
consideravelmente visível em exame de turgor cutâneo quando este for irreversível. Geralmente, a
desidratação ocorre em locais onde não se tem uma fonte de umidade no ambiente (Apparício et al.,
2015; Macintire et al., 2007).
A administração de fluidos aquecidos a 37º C tem papel importante na manutenção da temperatura
dos neonatos, sendo interessante o uso do acesso intravenoso pela veia jugular, com o fluido sendo
aplicado em velocidade de 1ml a cada 30 gramas de peso por 5 a 10 minutos, sendo repetida em
intervalos de 30 minutos (Macintire et al., 2007).

Fenda palatina
A fenda palatina, também conhecida por palatosquise, é uma anomalia do desenvolvimento que se
caracteriza pela fenda no palato que faz com que haja uma comunicação entre as cavidades oral e nasal
(Figura 15). Apesar de ser uma alteração compatível com a vida, alguns cães neonatos morrem
precocemente devido à aspiração de leite e consequente pneumonia aspirativa (Lopes et al., 2007;
McGavin & Zachay, 2013; Zachary et al., 2012). Quando o neonato apresenta este defeito congênito,
não é capaz de manter um reflexo de sucção adequado, havendo possibilidade de aspiração do leite para
as vias aéreas durante a ingestão, resultando em pneumonia aspirativa (Feitosa, 2014; Ruaux, 2011).
Neste caso, até que o filhote atinja idade suficiente para a cirurgia, este deve ser alimentado via
sondagem oro-gástrica (Sorribas, 2007).
Segundo Apparício et al. (2015) a cirurgia reparadora normalmente é feita quando o animal alcança
uma idade segura para ser exposto a uma anestesia, ou seja, ao atingir três meses de vida, quando estes
já são capazes de se alimentar sozinhos. Por sua vez, Ruaux (2011) diz que se deve esperar até que os
filhotes atinjam por volta de 16 semanas de idade, quando já houve maturação da cavidade oral por
completo.

Sepse
A sepse é a principal causa infecciosa de morte neonatal que muitas vezes se inicia, por exemplo,
por uma pneumonia, onfalite ou enterite de bactérias advindas do próprio ambiente que o neonato vive.
Por isso, não é incomum encontrar na clínica um recém-nascido que necessita de antibioticoterapia. A
onfalite pode ser causada pelas manobras que a mãe faz com o neonato na região umbilical, como a
lambedura excessiva, promovendo fissuras no cordão umbilical e facilitando a entrada de bactérias
presentes na pele da mãe, na glândula mamária e também no ambiente, resultando em um quadro de
sepse (Souza et al., 2017).
O tratamento para sepse em neonatos caninos é feito a partir de fluidoterapia para fornecer hidratação,
reposição da glicose, sendo esta monitorada a cada 4 a 6 horas precisando permanecer dentro de um
intervalo de 80 a 250mg/dL. Também se usa antibióticos específicos vindo de antibiograma previamente
feito, porém muitas vezes não se tem tempo para aguardar os resultados, fazendo com que o médico
veterinário escolha um antibiótico de maior espectro para maior segurança no tratamento. Além disso,
aplica-se formas de aquecimento externo, oxigenação, alimentação via sonda orogástrica e monitoração
constante (Macintire et al., 2007).

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Anasarca
A anasarca, também conhecida como hidropsia fetal, é caracterizada pelo acúmulo de líquido em
excesso no subcutâneo, pode ser vista na Figura 16, promovendo a formação de um abcesso generalizado
em toda a superfície corpórea do neonato, com efusão pleural e peritoneal, fazendo o filhote apresentar
o dobro do seu peso normal esperado para o nascimento (Apparício et al., 2015).
O tratamento pode ser feito com administração de furosemida a cada 3 horas para diminuir o edema
em conjunto com o estímulo de micção. Também fornecer potássio em gotas para evitar perda excessiva
desse mineral como consequência da ação do diurético. Ainda assim, o prognóstico para este quadro é
considerado de reservado a grave (Sorribas, 2007).

Figura 13: À esquerda um neonato apresentando Figura 14. Neonato apresentando grave quadro de
hipóxia, onde se observa a coloração desidratação podendo ser visto através da avaliação
cianótica das mucosas. À direita, um do turgor cutâneo. Fonte: Sorribas (2007).
neonato hígido. Fonte: Sorribas (2007).

Figura 15. Filhote com fenda palatina e Figura 16: Filhote de labrador apresentando edema congênito
lábio leporino. Fonte: Sorribas letal sendo evidente o acúmulo de líquido em todo o
(2007). corpo. Fonte: Sorribas (2007).

Farmacologia em neonatos caninos


Feitosa (2014) sustenta que a escolha de fármacos para administrar em recém-nascidos deve ser feita
de forma criteriosa e com ajuste de dosagem para que não ocorra nenhum tipo de intoxicação, já que a
falta de maturidade dos sistemas hepático e renal tem relação direta com a metabolização e excreção
desses fármacos.
Dissertando sobre a fisiologia renal do neonato canino, Feitosa (2014) afirma que a nefrogênese
permanece incompleta até a terceira semana após o nascimento devido seus rins apresentarem
morfologia e funcionalidade imaturas. Diante das particularidades urinárias do neonato canino pode-se
encontrar na sua urinálise alterações fisiológicas como diminuição da densidade urinária e presença de
proteínas, glicose e aminoácidos. Quando se trata de medicação para neonatos, deve-se ter muito
cuidado com qual medicamento usar, quanto administrar e com que frequência utilizar. O metabolismo
hepático incompleto faz com que o neonato apresente um mau funcionamento do citocromo P450 de
forma fisiológica, este sendo um grupo de enzimas que atua no metabolismo da maioria dos
medicamentos tornando-os substâncias mais polares e hidrossolúveis para serem mais bem aproveitadas,
que só será maturado por volta dos cinco meses de vida (Apparício et al., 2015; Crespilho et al., 2006).
Recomenda-se que a dose para cães adultos seja reduzida de 30 a 50% quando administrada em filhotes,
ou que se aumente o intervalo entre as dosagens de 2 a 4 horas (Papich, 2012).

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Dentre os grupos de antibióticos de escolha considerados seguros para uso em neonatos estão os
beta-lactâmicos, e dentre eles estão penicilinas, cefalosporinas e amoxiciclina com ou sem clavulanato
(Papich, 2012). Segundo Kustritz (2011), o aumento do pH gástrico, a diminuição da velocidade
gastrointestinal, o tempo de trânsito e a diminuição do fluxo sanguíneo intestinal dos neonatos faz com
que os medicamentos administrados por via oral sejam absorvidos diferentemente de animais adultos.
Quadro 3. Efeitos adversos de fármacos quando administrados em neonatos caninos.
Fármacos Efeitos adversos em neonatos
Quinolonas Tóxica para a cartilagem do filhote canino
Ceratoconjuntivite seca, reações cutâneas, anemia, trombocitopenia e reações
Trimetoprim com ou sem sulfonamida
alérgicas, incluindo hipersensibilidades tipo II e III, e artropatias
Aminoglicosídeos e cloranfenicol Nefrotoxicidade
Ação quelante de cálcio ósseo podendo levar a deformidades ósseas, displasia
Tetraciclinas
dentária e distúrbios do crescimento
Fonte: adaptado de Ftitzgerard & Newquist(2011).

O Quadro 3 mostra os grupos farmacológicos tóxicos para neonatos, dentre eles as quinolonas como
a enrofloxacina que é considerada tóxica para a cartilagem do filhote canino, principalmente entre 4 e
28 semanas de vida. Trimetoprim associado com sulfonamida podem levar a uma ceratoconjuntivite
seca, reações cutâneas, anemia, trombocitopenia e reações alérgicas, incluindo hipersensibilidades tipo
II e III, e artropatias. Os aminoglicosídeos e o cloranfenicol que estão associados à nefrotoxicidade, não
devem ser utilizados em animais jovens devido a sua imaturidade do sistema renal, além do segundo ser
capaz de causar supressão da medula óssea. As tetraciclinas são contraindicadas devido a sua ação
quelante de cálcio ósseo podendo levar a deformidades ósseas, displasia dentária e distúrbios do
crescimento (Ftitzgerard & Newquist, 2011).
Os recém-nascidos são muito suscetíveis a efeitos adversos, uma vez que suas vias de metabolização
das drogas são imaturas, além da sua permeabilidade intestinal ser aumentada, e como consequência
disso, a captação de moléculas tóxicas se torna maior (Ftitzgerard & Newquist, 2011).

Reanimação neonatal
A reanimação neonatal (Figura 17) é adotada em partos feitos por cesariana eletiva, ou quando a
fêmea que pariu não apresenta instinto materno para reanimar naturalmente os filhotes pela lambedura
(Sorribas, 2007). Segundo Moon et al. (2001), cerca de 5% dos recém-nascidos precisam de algum tipo
de intervenção com o objetivo de corrigir a hipóxia, otimizar a circulação, manter a temperatura neonatal
e as atividades metabólicas como suporte para a vida. Logo após o nascimento, deve-se realizar o corte
e a desinfecção do cordão umbilical, fazer o delivramento das vias aéreas superiores retirando os
envoltórios fetais da região e líquidos fetais com o auxílio da pera de sucção (Peterson & Kutzler, 2011).
Isso deve ser feito intercalado com a fricção na região torácica com o auxílio de um pano. Realizar a
auscultação cardíaca que deve ser superior a 200 batimentos por minuto (bpm). Em seguida, realizar a
higienização e aquecimento do neonato, podendo utilizar secador de cabelo para auxiliar nessa parte.
Após regularizar a temperatura do neonato, realizar o escore Ápgar (Sorribas, 2007).

Figura 17. Reanimação neonatal. Fonte: McMichael (2011).

O escore Ápgar tem como objetivo avaliar de forma rápida a vitalidade neonatal e identificar
rapidamente neonatos que necessitam de cuidados intensivos a fim de reduzir a mortalidade neonatal.

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Recebe esse nome por sua criadora médica obstétrica Virginia Apgar em 1953 (Casey et al., 2001;
Finster & Wood, 2005; Vassalo et al., 2005).
Conforme Silva et al. (2008), o escore Ápgar é medido após 5 e 60 minutos avaliando parâmetros
como frequência cardíaca, esforço respiratório, tônus muscular, irritabilidade reflexa e coloração da
mucosa gengival, atribuindo-lhes notas de 0 a 2, conforme Quadro 4. A somatória das notas em cada
parâmetro varia de 0 a 10 dentro do escore Ápgar. Notas de 0 a 3 classificam o neonato em estado grave,
notas de 4 a 6 identificam o neonato em estado moderado e notas de 7 a 10 mostra o neonato hígido logo
após o nascimento. As Figuras 18, 19 e 20 ilustram exemplos de resultados do escore Ápgar logo após
o nascimento de neonatos caninos (Vassalo et al., 2005).

Quadro 4. Parâmetros adotados para o escore Ápgar de vitalidade neonatal em Medicina Veterinária.
Escore
0 1 2
Frequência Cardíaca Ausente Bradicárdica. FC < 180 bpm Presente e normal. FC = 180-250 bpm
Irregular Regular e vocalização
Esforço Respiratório Ausente
FR < 15 mpm FR = 15-40 mpm
Tônus muscular Flacidez Alguma flexão Flexão
Irritabilidade Reflexa Ausente Algum movimento Hiperatividade
Coloração de mucosas Cianose e palidez Cianose Rósea
Escore 7 a 10 = bom. Escore 4 a 6 = regular (há necessidade de assistência neonatal). Escore 0 a 3 = ruim (há necessidade de
assistência neonatal intensiva)
Fonte: Silva et al. (2008) e Kustritz (2011).

Figura 18. A esquerda um filhote com mucosas de coloração rósea Figura 19. A esquerda um neonato com mucosas de coloração
intensa, o que garante sua higidez e pontuação 2 no escore cianótica, o que confere pontuação 0 no escore Ápgar. À
Ápgar. À direita, um filhote com mucosas de coloração direita, um neonato com mucosas de coloração rósea
ictérica indicando pontuação 0 no escore Ápgar. Fonte: garantindo sua pontuação 2 no escore Ápgar. Fonte:
Sorribas (2007). Sorribas (2007).

Figura 20. À esquerda um neonato com bom tônus muscular e movimento


ativo, o que confere pontuação 2 no escore Ápgar. À direita, um
neonato com tônus muscular flácido, garantindo sua pontuação 0 no
escore Ápgar. Fonte: Sorribas (2007).

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A reanimação neonatal intensiva é usada em neonatos que mesmo após a assistência pós-parto
permanecem cianóticos, apresentam bradicardia, apneia ou respiração agônica, entre outras condições
como a anasarca generalizada. Nestes casos é indicado o uso do ponto Jen Chung de acupuntura VG-
26, inserindo uma agulha de pequeno calibre e rotacionando-a em sentido horário, promovendo um
estímulo respiratório complementar para auxiliar o neonato na adaptação respiratório ao ambiente
extrauterino (Peterson & Kutzler, 2011).

Considerações finais
Cuidar de neonatos caninos é um grande desafio, pois exige conhecimento básico de todo o manejo
neonatal de forma adequada, abordando as suas particularidades fisiológicas, onde estão contidos os
segredos para que não se perca nenhum neonato visando promover a sua saúde por meio de práticas de
higiene e fornecimento de tudo que estes animais precisam na primeira fase de sua vida, ocasionando a
queda da mortalidade neonatal, tendo em vista que ela não deve ser considerada algo normal e esperado.
Uma forma de auxílio ao médico veterinário para adquirir conhecimento sobre a fisiologia neonatal
canina seria o estímulo do estudante de medicina veterinária dentro do ambiente acadêmico, e o
desenvolvimento de habilidades pelos cursos para que os médicos veterinários se tornem aptos a
trabalhar com isso.

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