Relatorio Inspecao Umf Curado Maio23
Relatorio Inspecao Umf Curado Maio23
Relatorio Inspecao Umf Curado Maio23
Presidente
Ministra Rosa Weber
Conselheiros
Luiz Philippe Vieira de Mello Filho
Mauro Pereira Martins
Richard Pae Kim
Salise Monteiro Sanchotene
Marcio Luiz Coelho de Freitas
Jane Granzoto Torres da Silva
Giovanni Olsson
Sidney Pessoa Madruga
João Paulo Santos Schoucair
Marcos Vinícius Jardim Rodrigues
Marcello Terto e Silva
Mário Henrique Aguiar Goulart Ribeiro Nunes Maia
Luiz Fernando Bandeira de Mello Filho
Secretário-Geral
Gabriel da Silveira Matos
Diretor-Geral
Johaness Eck
2023
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
SAF SUL Quadra 2 Lotes 5/6 - CEP: 70070-600
Endereço eletrônico: www.cnj.jus.br
DEPARTAMENTO DE MONITORAMENTO E UNIDADE DE MONITORAMENTO E FISCALIZAÇÃO
FISCALIZAÇÃO DO SISTEMA CARCERÁRIO DAS DECISÕES DA CORTE INTERAMERICANA DE
E DO SISTEMA DE EXECUÇÃO DE MEDIDAS DIREITOS HUMANOS (UMF)
SOCIOEDUCATIVAS (DMF)
Coordenador Institucional
Luís Geraldo Sant’Ana Lanfredi
Supervisor do DMF e da UMF
Conselheiro Mauro Pereira Martins
Coordenadora Executiva
Coordenador Andrea Vaz de Souza Perdigão
Luís Geraldo Sant’Ana Lanfredi
Coordenadora Científica
Juiz Auxiliar da Presidência
Flávia Piovesan
Edinaldo César Santos Júnior
Juiz Auxiliar da Presidência
EQUIPE UMF/CNJ
João Felipe Menezes Lopes
Luiz Victor do Espírito Santo Silva, Camila Curado Pietrobelli,
Juiz Auxiliar da Presidência Natália Faria Resende Castro e Alcineide Moreira Cordeiro
Jônatas dos Santos Andrade
EQUIPE DMF/CNJ
Juiza Auxiliar da Presidência Adriana Kelly Ferreira De Sousa, Alessandra Amâncio Barreto,
Karen Luise Vilanova Batista de Souza Alexandre Padula Jannuzzi, Alisson Alves Martins, Ana Clara
Rodrigues da Silva, Anália Fernandes de Barros, Ane Ferrari Ramos
Diretora Executiva
Cajado, Arthur Dias Avelino, Camilo Pinho da Silva, Caroline Xavier
Renata Chiarinelli Laurino Tassara, Carolini Carvalho Oliveira, Danielle Trindade Torres,
Chefe de Gabinete Emmanuel de Almeida Marques Santos, Helen dos Santos Reis,
Carolina Castelo Branco Cooper Isadora Brandão Araújo da Silva, Jessica Sales Lemes, João Pedro
Figueiredo dos Reis, Joaquim Carvalho Filho, Joseane Soares da
Costa Oliveira, Karla Cariz Barreira Teodosio, Karla Marcovecchio
Pati, Larissa Lima de Matos, Liana Lisboa Correia, Lino Comelli
Junior, Mariana Py Muniz, Melina Machado Miranda, Natália
Albuquerque Dino, Nayara Teixeira Magalhaes, Roberta Beijo
Duarte, Sirlene Araujo da Rocha Souza, Thaís Gomes Ferreira,
Valter dos Santos Soares e Wesley Oliveira Cavalcante
FICHA TÉCNICA
Coordenação Técnica
Mauro Pereira Martins
Luís Geraldo Sant’Ana Lanfredi
Elaboração
Andrea Vaz de Souza Perdigão
Renata Chiarinelli Laurino
Natália Albuquerque Dino
Isabel Penido de Campos Machado
Pollyana Bezerra Lima Alves
Natália Vilar Pinto Ribeiro
Thandara de Camargo Santos
Natália Faria Resende Castro
Isabelle Cristine Rodrigues Magalhães
Winnie Alencar Farias
C755m
CDD: 340
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 2
2. BREVE HISTÓRICO DO CASO NO SISTEMA INTERAMERICANO ........................................... 6
3. DIAGNÓSTICO TÉCNICO E PLANO DE CONTINGÊNCIA ...................................................... 15
4. ANÁLISE DOS DADOS OFICIAIS .............................................................................................. 21
4.1 Panorama Geral em Pernambuco ................................................................................. 21
4.2 Lotação e Superpopulação Prisional ............................................................................. 22
4.3 Atenção à saúde ............................................................................................................... 23
4.4 Atividade Laboral e Educacional..................................................................................... 26
5. HISTÓRICO DA ATUAÇÃO DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA ...................................28
5.1 A Atuação da Unidade de Monitoramento e Fiscalização das Decisões da Corte
Interamericana de Direitos Humanos ................................................................................. 28
5.1.1. Capacitações realizadas pela UMF/CNJ e a Promoção dos parâmetros
interamericanos .................................................................................................................. 34
5.2 A Atuação do Programa Fazendo Justiça ...................................................................... 39
5.3 Respostas estruturais a partir do Conselho Nacional de Justiça ............................... 44
5.3.1 O cômputo em dobro e o Sistema Eletrônico de Execução Unificada .............. 44
5.3.2 Os óbitos das pessoas privadas de liberdade: análise dos dados e dos fluxos
institucionais de registro e apuração ............................................................................... 47
5.4 A missão conjunta do Conselho Nacional de Justiça ao estado de Pernambuco
realizada no mês de agosto/2022 ........................................................................................ 52
5.4.1 Fact Finding ................................................................................................................. 62
5.4.2 Dados obtidos durante as inspeções ..................................................................... 68
5.4.3 Inspeção no Presídio ASP Marcelo Francisco Araújo (PAMFA) ............................ 72
5.4.4 Inspeção no Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros (PJALLB) ......................... 83
5.4.5 Inspeção no Presídio Frei Damião de Bozzano (PFDB) ........................................ 93
6. RESULTADOS PRELIMINARES E MONITORAMENTO ........................................................ 109
6.1 Adoção de medidas de urgência pela Corregedoria Nacional de Justiça ............... 109
6.2 A deliberação favorável à aplicação da compensação penal a partir do julgamento
do IRDR 0008770-65.2021.8.17.9000 pelo TJPE ................................................................ 113
6.3 Medidas para cumprimento da decisão da Corregedoria Nacional ....................... 114
7. CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 120
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. 122
LISTA DE ANEXOS ...................................................................................................................... 126
Complexo Penitenciário do Curado
1. INTRODUÇÃO
Juiz Antônio Luiz Lins de Barros (PJALLB) e Presídio Frei Damião de Bozzano (PFDB).
1
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução de 22 de maio de 2014.
2
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução de 22 de maio de 2014; Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do
Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 7 de outubro de 2015; Corte IDH.
Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias.
Resolução de 18 de novembro de 2015; Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado
em relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 23 de novembro de 2016; Corte IDH.
Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias.
2
Complexo Penitenciário do Curado
Presídio Frei Damião Bozzano (PFDB) registrava ocupação de 445,5% (com 2.027
pessoas custodiadas em 455 vagas) e, por fim, o Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de
referido plano. Destaca-se que o Plano foi elaborado após visita da Corte
3
Complexo Penitenciário do Curado
Justiça.
Justiça, sendo este um resultado da parceria entre o CNJ e o Programa das Nações
ambiente prisional.
4
Complexo Penitenciário do Curado
que se dividem entre as providências adotadas pelo CNJ, por meio de medidas
Corregedoria Nacional.
novembro do corrente ano, tomadas pelo Gabinete de Crise instalado pelo Estado
levantamento destas.
5
Complexo Penitenciário do Curado
liberdade no local.
após três anos, remeteu o caso à Corte IDH, relatando o elevado índice de mortes
violentas (55 mortes entre 2008-2013, sendo 6 mortes apenas no ano de 2013), os
Determinou, ainda, que fossem adotadas medidas a curto prazo a fim de:
3
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução de 22 de maio de 2014, ponto resolutivo 1.
6
Complexo Penitenciário do Curado
concluiu que o Estado não cumpriu com as devidas diligências de realização das
penas e garantia dos direitos dos internos. Ainda, o MNPCT recomendou que as
4
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução de 7 de outubro de 2015, considerando 1.
5
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução de 18 de novembro de 2015, ponto resolutivo 1.
7
Complexo Penitenciário do Curado
justiça penal nos âmbitos estadual e federal.”8. Tal diagnóstico teria, ainda,
Contingência.
6
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução de 23 de novembro de 2016, parágrafo 59.
7
Nesse sentido: “Por todo o anterior, a Corte considera imprescindível que, dentro do prazo
improrrogável de 90 dias, o Estado apresente à Corte um Diagnóstico Técnico para determinar as
causas da situação de superlotação e superpopulação verificadas pela Corte e expressados na
presente Resolução (pars. 20 e 21 supra) e um Plano de Contingência, com medidas concretas para
resolver essa situação e garantir os direitos à integridade pessoal e à vida dos beneficiários. Este
diagnóstico técnico deve ser realizado conjuntamente por instituições do Governo Federal e do
Estado de Pernambuco e deve prever a reforma de todos os pavilhões, celas e espaços comuns
dos três centros de detenção do Complexo de Curado e também a redução substancial do número
de internos, em atenção às normas nacionais e internacionais indicadas na presente Resolução.
Este Plano e sua implementação deve ser monitorado pelo Fórum de Monitoramento das Medidas
Provisórias e deve ser implementado em caráter prioritário.” Corte IDH. Assunto do Complexo
Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 23 de novembro
de 2016, parágrafo 63.
8
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução de 15 de novembro de 2017, parágrafo 9.
8
Complexo Penitenciário do Curado
Cita-se, por oportuno, que o referido plano foi dividido em quatro tópicos
tuberculose.
9
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução de 28 de novembro de 2018, parágrafo 15.
9
Complexo Penitenciário do Curado
Após, a Corte ressaltou que “não pode deixar de observar que, apesar do
melhoria concreta das condições de detenção das pessoas que se acham privadas
atenuada desde que a Corte dispôs a medida e levou a cabo a visita in situ.”12
Ademais, destacou que, apesar dos esforços apresentados pelo Estado brasileiro,
10
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução de 28 de novembro de 2018, parágrafo 80.
11
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução de 28 de novembro de 2018, parágrafo 82.
12
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução de 28 de novembro de 2018, parágrafo 86.
13
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução de 28 de novembro de 2018, parágrafo 87.
10
Complexo Penitenciário do Curado
Complexo de Curado.”15
Nesse contexto, a Corte dispõe que a execução da pena deve ser reduzida,
ante a emergência da situação. Trata-se de providência que deve ser adotada pelo
14
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução de 28 de novembro de 2018, parágrafo 88.
15
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução de 28 de novembro de 2018, parágrafo 120.
11
Complexo Penitenciário do Curado
diretrizes:
prática dos crimes mais graves (assim considerados os crimes contra a vida,
emitidos pela Corte IDH na última resolução de medida provisória que trata
16
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução de 28 de novembro de 2018, pontos resolutivos 4-6.
12
Complexo Penitenciário do Curado
13
Complexo Penitenciário do Curado
17
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução de 28 de novembro de 2018, pontos resolutivos 1-14.
14
Complexo Penitenciário do Curado
parceria com o Poder Judiciário, nos pontos em que houver interfaces, como o
seguir analisados.
15
Complexo Penitenciário do Curado
existentes no Estado.
ação contínua a realização de levantamento das PPLs que respondem até dois
de Pernambuco.
16
Complexo Penitenciário do Curado
previstas para essa temática, foi concluída a identificação e definição dos locais
17
Complexo Penitenciário do Curado
o CNJ e PNUD/ONU.
18
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução n° 213 de 15 de dezembro de 2015. Dispõe sobre
a apresentação de toda pessoa presa à autoridade judicial no prazo de 24 horas. Brasília, DF:
Conselho Nacional de Justiça, 2015. Disponível em:
https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2234#:~:text=RESOLVE%3A-
,Art.,realizou%20sua%20pris%C3%A3o%20ou%20apreens%C3%A3o.
18
Complexo Penitenciário do Curado
integridade física dos apenados. De acordo com os dados fornecidos pelo GMF/PE,
Estado.
19
BRASIL. Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Brasília, DF:
Presidência da República, 2022. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm.
19
Complexo Penitenciário do Curado
à LGBTfobia).
Nacional de Justiça.
20
Complexo Penitenciário do Curado
realidades estaduais.
privadas de liberdade no Estado, sendo que 30% destes são presos sem
20
O banco de dados do SISDEPEN contém informações de todas as unidades prisionais brasileiras,
incluindo dados de infraestrutura, seções internas, recursos humanos, capacidade, gestão,
assistências, população prisional, perfil das pessoas presas, entre outros. Disponível em:
https://www.gov.br/depen/pt-br/servicos/sisdepen/relatorios-e-manuais/bases-de-dados.
21
Complexo Penitenciário do Curado
Bozano – PFDB, e o Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros – PJALLB, os dados
22
Complexo Penitenciário do Curado
2.066 pessoas custodiadas na unidade, que conta com 480 vagas, o que
condições regulares.
existem 2.027 pessoas custodiadas na unidade, que conta com 455 vagas, o que
condições regulares.
existem 2.604 pessoas custodiadas na unidade, que conta com 902 vagas, o que
condições regulares.
23
Complexo Penitenciário do Curado
por sua vez, foram realizados 3.888 atendimentos médicos. Ressalta-se que tais
dados incluem consultas realizadas dentro das unidades prisionais (pelas equipes
médicas instaladas nas unidades) e fora das unidades, na rede pública de saúde,
de saúde.
tipo
saúde21, enquanto o PFDB possui 169 e o PJALLB, 130 presos por servidor de
21
Consideram-se, na equipe de saúde, os profissionais informados nas seguintes especialidades:
enfermeiros, auxiliar e técnico de enfermagem, psicólogos, dentistas, técnico e auxiliar
odontológico, médico clínico geral, médico ginecologista, médico psiquiatra, médico outras
especialidades e terapeutas.
24
Complexo Penitenciário do Curado
acidentais e aqueles por causas externas, o presídio Frei Damião de Bozano possui
25
Complexo Penitenciário do Curado
a taxa mais elevada entre as unidades do Complexo, registrando 444 mortes por
100 mil presos, com um total de 9 mortes registrados em 2021. O Presídio ASP
Marcelo Francisco de Araújo possui uma taxa de 193,6 mortes a cada 100 mil
o Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros possui uma taxa de 153,6 mortes por
relação ao mesmo quesito, o PFDB possui uma taxa de 4,4% e PJALLB, 5,8%.
Quanto às pessoas que estão em atividade educacional, o PAMFA possui uma taxa
26
Complexo Penitenciário do Curado
27
Complexo Penitenciário do Curado
Socioeducativas (DMF).
de Justiça Criminal, a atividade da UMF Corte IDH tem dialogado com a política
pública judicial desenvolvida pelo Programa Fazendo Justiça (parceria CNJ, PNUD
e DEPEN).
22
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução n° 364 de 12 de janeiro de 2021. Dispõe sobre a
instituição da Unidade de Monitoramento e Fiscalização de decisões e deliberações da Corte
Interamericana de Direitos Humanos no âmbito do Conselho Nacional de Justiça. Brasília, DF:
Conselho Nacional de Justiça. Disponível em:
https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/3659#:~:text=Disp%C3%B5e%20sobre%20a%20institui%C3%
A7%C3%A3o%20da,do%20Conselho%20Nacional%20de%20Justi%C3%A7a.&text=DJe%2FCNJ%20
n%C2%BA%208%2F2021,2%2D3.
28
Complexo Penitenciário do Curado
19. No documento apresentado à Corte IDH, além das ações que já estavam em
curso pelo Programa Fazendo Justiça e com base no relato dos peticionários, a
23
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Informe sobre as medidas provisórias adotadas em
relação ao Brasil. Brasília: CNJ, 2021. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/2021/06/Medidas_Provisorias_adotadas_em_relacao_ao_Brasil_2021-06-
16_V5.pdf.
29
Complexo Penitenciário do Curado
quesitos periciais para a realização dos exames de corpo de delito nos casos em
24
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução n° 414 de 02 de setembro de 2021. Estabelece
diretrizes e quesitos periciais para a realização dos exames de corpo de delito nos casos em que
haja indícios de prática de tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes,
conforme os parâmetros do Protocolo de Istambul, e dá outras providências. Brasília, DF: Conselho
Nacional de Justiça, 2021. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/4105.
30
Complexo Penitenciário do Curado
(Depen).
31
Complexo Penitenciário do Curado
elaboração dos informes à Corte IDH, além de gerir a interlocução entre UMF e
(supervisora do DMF).
do CNJ como órgão de monitoramento das decisões da Corte IDH", o qual visou
32
Complexo Penitenciário do Curado
a seguir:
Tabela 1 – Atividades realizadas durante a Missão Institucional no Complexo
Penitenciário de Curado/PE
DIA 28/03
Horário Encontros
9h00 Reunião na Sala da Presidência do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco,
da equipe da UMF com o Presidente do TJPE, o desembargador Luiz Carlos de
Barros Figueirêdo; com o Desembargador Mauro Alencar de Barros,
Supervisor do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário do
Estado de Pernambuco (GMF PB); e com os juízes de direito Roberto Costa Bivar
e Cícero Bitencourt, titulares da Segunda Vara Regional de Execução Penal.
10h30 Reunião na Sala do GMF do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, da
equipe da UMF com com o Secretário de Justiça e Direitos Humanos do Estado
de Pernambuco, Eduardo Gomes de Figueiredo; com o Desembargador
Mauro Alencar de Barros, Supervisor do Grupo de Monitoramento e
Fiscalização do Sistema Carcerário do Estado de Pernambuco (GMF PB); e com
os juízes de direito Roberto Costa Bivar e Cícero Bitencourt, titulares da
Segunda Vara Regional de Execução Penal, destinada ao debate acerca de
proposta de avaliação técnica multidisciplinar, em cumprimento ao HC
660332/RJ e operacionalização de um plano de trabalho.
16h00 Reunião na sede do Ministério Público Federal, com o Foro de Acompanhamento
das Medidas Provisórias da Corte IDH, presidido pela Procuradora da República,
Carolina de Gusmão Furtado, destinada à exposição do trabalho da UMF.
19h00 Evento conjunto realizado pela UMF e pela UFPE, denominado “Implicações
jurídicas da medida provisória do cômputo em dobro no Direito Interno Brasileiro: a
atuação do CNJ como órgão de monitoramento das decisões da Corte IDH”, no Salão
Nobre desta última, com o fim de fomentar o debate acadêmico e a disseminação
das deliberações da Corte IDH, com a colaboração da Professora Adjunta da
Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco, Flavianne
Fernanda Bitencourt Nóbrega, coordenadora do Projeto de Extensão “Acesso
ao Sistema Interamericano de Direitos Humanos” e com a participação do reitor da
Universidade, o professor Alfredo Gomes e ilustre presença dos Representantes
dos peticionários no caso das Medidas Provisórias em relação ao Complexo
Penitenciário de Curado/RE, Wilma Melo, Monique Cruz, Michel Seichi
Nakamura, André Carneiro Leão e Pedro de Paula Almeida Lopes.
DIA 29/03
Horário Encontros
08h30 Reunião no prédio sede da DPU e da DPE com os representantes dos
peticionários no caso das Medidas Provisórias em relação ao Complexo
Penitenciário de Curado/RE (Wilma Mello-SEMPRI e Monique Cruz-Justiça Global),
com a participação de André Carneiro Leão e Ana Ehardt, representando a
Defensoria Pública da União, de Gabriela Lima Andrade, Henrique da Fonte
Araújo de Souza e Michel Seichi Nakamura, representando a Defensoria
Pública do Estado.
33
Complexo Penitenciário do Curado
Judiciário.
nele inseridas são esforços efetuados pela UMF/CNJ, vinculada ao DMF/CNJ. Essa
34
Complexo Penitenciário do Curado
convencionalidade.
seu artigo 1º, inciso II, "a priorização do julgamento dos processos em tramitação
cumprimento integral."
25
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Recomendação n° 123, de 7 de janeiro de 2022.
Recomenda aos órgãos a observância dos tratados e convenções internacionais de direitos
humanos e o uso da jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Brasília, CF:
Conselho Nacional de Justiça, 2022. Disponível em: chrome-
extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://atos.cnj.jus.br/files/original151935202201
1161dda007f35ef.pdf.
35
Complexo Penitenciário do Curado
internacional no Brasil.
uma das iniciativas que integram o Pacto Nacional do Judiciário pelos Direitos
Humanos.
acerca de temas caros ao estudo dos Direitos Humanos, oferecidas por grandes
26
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Recomendação n° 123, de 7 de janeiro de 2022.
Recomenda aos órgãos a observância dos tratados e convenções internacionais de direitos
humanos e o uso da jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Brasília, CF:
Conselho Nacional de Justiça, 2022. Disponível em: chrome-
extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://atos.cnj.jus.br/files/original151935202201
1161dda007f35ef.pdf.
36
Complexo Penitenciário do Curado
regionais.
internacionalmente.
“Fórum Nacional em Alternativas Penais”, conhecido como FONAPE, cujo tema foi
Tóquio das Nações Unidas’. Esta edição, que faz parte das atividades do programa
27
Para mais informações sobre o conteúdo deste painel e o Curso de Capacitação, em sua
totalidade: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Curso de Capacitação: Controle de
Convencionalidade. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/poder-judiciario/relacoes-
internacionais/monitoramento-e-fiscalizacao-das-decisoes-da-corte-idh/pacto-nacional-do-
judiciario-pelos-direitos-humanos/curso-de-capacitacao-controle-de-convencionalidade/.
37
Complexo Penitenciário do Curado
direitos humanos.
28
Para mais informações sobre a programação: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. 3° Fórum
Nacional de Alternativas Penais. Disponível em: https://fonape2021.com.br/.
29
Para mais detalhes sobre esta seleção, consultar o edital: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA.
Concurso Nacional de Decisões Judiciais e Acórdãos em Direitos Humanos. Disponível em:
https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2022/02/edital-concurso-nacional-de-decisoes-
judiciais-e-acordaos-em-direitos-humanos.pdf.
38
Complexo Penitenciário do Curado
de liberdade.
sociedade civil.
39
Complexo Penitenciário do Curado
se o Eixo 1, o qual tem por foco a proporcionalidade penal. Para tanto, suas ações
outras atividades. O Eixo 4, por sua vez, ocupa-se com os sistemas e identificação
outras funções.
40
Complexo Penitenciário do Curado
Fonte: CNJ.
junho de 2022.
30
Para mais informações, acessar: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Formação no NE, CO e AM
promove atualização em monitoração eletrônica. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/cnj-
promove-atualizacao-em-monitoracao-eletronica-para-nordeste-centro-oeste-e-amazonas/.
41
Complexo Penitenciário do Curado
31
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução n° 412 de 23 de agosto de 2021. Estabelece
diretrizes e procedimentos para a aplicação e o acompanhamento da medida de monitoramento
eletrônico de pessoas. Brasília, DF: Conselho Nacional de Justiça, 2021. Disponível em:
https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/4071.
32
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução n° 414 de 02 de setembro de 2021. Estabelece
diretrizes e quesitos periciais para a realização dos exames de corpo de delito nos casos em que
haja indícios de prática de tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes,
conforme os parâmetros do Protocolo de Istambul, e dá outras providências. Brasília, DF: Conselho
Nacional de Justiça, 2021. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/4105.
42
Complexo Penitenciário do Curado
estado.
dos espaços, bem como sugestões de intervenção para a adequação dos espaços
custódia33, desenvolvido com apoio técnico do Escritório das Nações Unidas sobre
33
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA; PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO; ESCRITÓRIO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DROGAS E CRIME. Manual de
prevenção e combate à tortura e maus-tratos para audiência de custódia. Brasília: Conselho
Nacional de Justiça, 2020. Disponível em: chrome-
extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/2020/11/manual_de_tortura-web.pdf.
43
Complexo Penitenciário do Curado
34
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução n° 213, de 15 de dezembro de 2015. Dispõe
sobre a apresentação de toda pessoa presa à autoridade judicial no prazo de 24 horas. Brasília,
DF: Conselho Nacional de Justiça, 2015. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2234.
35
BRASIL. Lei n° 12.106 de 2 de dezembro de 2009. Cria, no âmbito do Conselho Nacional de
Justiça, o Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de
Execução de Medidas Socioeducativas e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da
República, 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2009/lei/l12106.htm.
44
Complexo Penitenciário do Curado
(SEEU) foi instituído pela Resolução n° 223 de 27 de maio de 201636 do CNJ como
Desde o início, o SEEU foi desenvolvido para ser uma ferramenta eletrônica
relatórios estatísticos.
36
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução n° 223 de 27 de maio de 2016. Institui o Sistema
Eletrônico de Execução Unificado (SEEU) como sistema de processamento de informações e
prática de atos processuais relativos à execução penal e dá outras providências. Brasília, DF:
Conselho Nacional de Justiça, 2016. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2285.
37
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução n° 280 de 09 de abril de 2019. Estabelece
diretrizes e parâmetros para o processamento da execução penal nos tribunais brasileiros por
intermédio do Sistema Eletrônico de Execução Unificado – SEEU e dispõe sobre sua governança.
Brasília, DF: Conselho Nacional de Justiça, 2019. Disponível:
https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2879.
45
Complexo Penitenciário do Curado
em 2017 e, em 2021, foi expandido para as demais unidades penais que atuam
com execução penal no Estado. Nesse sentido, sublinha-se que a adoção do SEEU
uma regra geral de aplicação do cômputo em dobro para cada dia de pena
38
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Sistema Eletrônico de Execução Unificado (SEEU).
Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2020/10/Folder-SEEU.pdf.
46
Complexo Penitenciário do Curado
integridade física e crimes sexuais, sendo essa a realização de laudo pericial para
18/8, o CNJ realizou capacitações para que os servidores do TJPE possam operar
Complexo do Curado.
5.3.2 Os óbitos das pessoas privadas de liberdade: análise dos dados e dos
fluxos institucionais de registro e apuração
mortes por 100 mil pessoas privadas de liberdade. A média nacional de mortes
47
Complexo Penitenciário do Curado
registradas em 2021 chega a 326,45 mortes por 100 mil pessoas privadas de
liberdade.
mortes violentas intencionais por 100 mil habitantes registrou queda de 11% no
48
Complexo Penitenciário do Curado
pessoa tem 4 vezes mais chances de sofrer uma morte violenta do que fora do
49
Complexo Penitenciário do Curado
Direitos Humanos (SJDH), possui a missão de cumprir a legislação que versa sobre
de 201639.
deve ser acionado caso alguma pessoa privada de liberdade, sob a custódia do
familiares.
Nos termos do art. 72, VII, deste Código, a morte da pessoa privada de
Ademais, o art. 72, VIII, especifica que havendo indícios de morte violenta
prisionais poderia ser mais detalhado. Além disso, a legislação também poderia
39
PERNAMBUCO. Lei n° 15.755, de 4 de abril de 2016. Institui o Código Penitenciário do Estado
de Pernambuco. Recife, PE: Governador do Estado, 2016. Disponível em:
https://legis.alepe.pe.gov.br/texto.aspx?tiponorma=1&numero=15755&complemento=0&ano=20
16&tipo=&url=.
50
Complexo Penitenciário do Curado
dispor sobre as mortes dentro das unidades hospitalares, bem como nos
adotada. Nesse sentido, estabelece que o médico deverá (i) constatar e anotar o
executadas pela Direção da Unidade, ou seu substituto, tais como: (i) preservar o
Civil; (iv) emitir ofício ao IML, à Vara de Execuções Penais, ao Ministério Público,
dentre outros.
particular.
40
SECRETARIA DO ESTADO DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA. Resolução SEAP n° 774 de 26 de
junho de 2019. Normatiza as rotinas administrativas para os casos de óbito de internos ocorridos
no âmbito das unidades prisionais e hospitalares da Secretaria de Estado de Administração
Penitenciária do RJ – SEAP/RJ e em Hospitais da Rede Pública e/ou Particulares. Rio de Janeiro, RJ:
SEAP, 2019. Disponível em: chrome-
extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/http://sti.seap.rj.gov.br/sti/admin/uploads/resolu
coes/2019/Resolu%C3%A7%C3%A3o%20774.pdf.
51
Complexo Penitenciário do Curado
reuniões institucionais.
52
Complexo Penitenciário do Curado
41
Esse julgamento foi responsável por reconhecer a existência do estado de coisas
inconstitucional. Para mais informações: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental n° 347. Relator: Min. Marco Aurélio. Disponível em:
https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4783560.
42
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus Coletivo n° 165.704/DF. Relator: Min. Gilmar
Mendes. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5596542.
53
Complexo Penitenciário do Curado
temática.
Pernambuco43.
43
Este encontro, assim como maiores informações sobre as capacitações e as inspeções foram
noticiadas no site do TJPE. Para mais informações: TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE PERNAMBUCO. TJPE
54
Complexo Penitenciário do Curado
recebe força-tarefa do CNJ para aprimorar sistema prisional. Pernambuco, 2022. Disponível
em: https://www.tjpe.jus.br/-/tjpe-recebe-forca-tarefa-do-cnj-para-aprimorar-sistema-prisional.
44
Para acessar as demais fotos do evento: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. CNJ e Corregedoria
Nacional de Justiça Realizam Trabalho para Aperfeiçoamento do Sistema Prisional de
Pernambuco. Recife, 2022. Disponível em:
https://www.flickr.com/photos/cnj_oficial/albums/72177720301333080.
55
Complexo Penitenciário do Curado
Eduardo Baker (Justiça Global) e Wilma Melo (SEMPRI e beneficiária das medidas
comum, além dos problemas gerais que já tinham sido tratados na reunião
56
Complexo Penitenciário do Curado
que tem transtornos mentais (nos moldes da Lei 10.216/2001); bem como a
“chaveiros”.
Além disso, a Defensoria Estadual informou que realizou uma força tarefa
relataram que o julgamento dos pedidos, nos casos individuais, estaria suspenso
previa o prazo máximo de 1 (um) ano para o julgamento do IRDR e que esse
57
Complexo Penitenciário do Curado
mortes45.
institucionais”
45
Para assistir o Seminário: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Seminário: As medidas
provisórias da Corte IDH no Complexo de Curado. Recife: CNJ, 2022. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=0unWDSESPhU
58
Complexo Penitenciário do Curado
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=0unWDSESPhU
Goulart Ribeiro Nunes Maia e Luis Geraldo Sant’Ana Lanfredi (juiz auxiliar da
46
Em 25 de agosto de 2022, a Min. Maria Thereza de Assis Moura encerrou o seu mandato como
Corregedora Nacional de Justiça e tomou posse como Presidenta do Superior Tribunal de Justiça.
Em 30 de agosto de 2022, o Min. Luís Felipe Salomão (STJ) tomou posse como Corregedor Nacional
de Justiça e como Conselheiro do CNJ.
59
Complexo Penitenciário do Curado
Além do evento, a missão contou com uma série de capacitações dos juízes
60
Complexo Penitenciário do Curado
https://www.flickr.com/photos/cnj_oficial/albums/72177720301370877/with/52291906961/
https://www.flickr.com/photos/cnj_oficial/albums/72177720301370877/with/52291906961/
47
Para acessar as demais fotos das inspeções realizadas no dia 16/08/2022: CONSELHO NACIONAL
DE JUSTIÇA. Inspeção nas Unidades Prisionais de Pernambuco. Recife, 2022. Disponível em:
https://www.flickr.com/photos/cnj_oficial/albums/72177720301370877/with/52292066923/.
48
Para acessar as demais fotos das inspeções realizadas no dia 18/08/2022: CONSELHO NACIONAL
DE JUSTIÇA. Inspeção nas Unidades Prisionais de Pernambuco. Recife, 2022. Disponível em:
https://www.flickr.com/photos/cnj_oficial/albums/72177720301414285/with/52296824878/.
61
Complexo Penitenciário do Curado
72177720301445075/
49
Para acessar as demais fotos do encerramento da missão: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA.
Encerramento da Missão e Adesão do TjPE ao Pacto Nacional do Judiciário pelos Direitos
Humanos. Recife, 2022. Disponível em:
https://www.flickr.com/photos/cnj_oficial/albums/72177720301445075/with/52300313255/
50
O fim da visita da Corregedoria Nacional de Justiça foi divulgado no portal do TJPE: TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DE PERNAMBUCO. Visita do CNJ ao TJPE para aprimorar sistema prisional termina
nesta sexta-feira (19/8). Pernambuco, 2022. Disponível em: https://www.tjpe.jus.br/-/visita-do-
cnj-ao-tjpe-para-aprimorar-sistema-prisional-termina-nesta-sexta-feira-19--1.
62
Complexo Penitenciário do Curado
apontado por Monique Cruz (representante dos peticionários pela ONG Justiça
51
BENEDITO, Deise. A favelização do Complexo do Curado e a ilicitude da existência: uma faceta
das violações de direitos humanos no sistema penitenciário brasileiro. 2019. 135 f., il. Dissertação
(Mestrado em Direito)—Universidade de Brasília, Brasília, 2019. Disponível em:
https://repositorio.unb.br/handle/10482/35875?locale=en.
63
Complexo Penitenciário do Curado
nos espaços comuns das unidades prisionais, inclusive na área externa e sem-
64
Complexo Penitenciário do Curado
65
Complexo Penitenciário do Curado
66
Complexo Penitenciário do Curado
inadmissível.
Poder Judiciário.
67
Complexo Penitenciário do Curado
A.
(PAMFA), Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros (PJALLB) e Presídio Frei Damião
68
Complexo Penitenciário do Curado
quanto à alocação das pessoas nas unidades, bem como verificados os aspectos
prisionais de Pernambuco.
íntima, entre outros, e locais não declarados, mas que foram informados por
pessoas presas.
69
Complexo Penitenciário do Curado
contra as pessoas privadas de liberdade. Por último, foram feitas consultas aos
70
Complexo Penitenciário do Curado
Marcelo Francisco de Araújo (PAMFA), que conta com 464 vagas, o que representa
por fim, o Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros (PJALLB), registrava 264,3% de
ocupação, com 2.382 pessoas custodiadas na unidade, que conta com 901 vagas,
71
Complexo Penitenciário do Curado
encontrado pelas equipes de inspeção em cada uma das unidades que compõem
unidade.
ambiente prisional.
O Presídio ASP Marcelo Francisco Araújo (PAMFA) foi inaugurado, com essa
denominação, em 2012. No entanto, sua estrutura física data de 1979, pois trata-
certeza quanto ao número exato da população prisional, haja vista que não são
são contados quando da sua entrada e saída da unidade. A justificativa dada é que
não há efetivo suficiente para realizar esse procedimento dentro dos pavilhões.
72
Complexo Penitenciário do Curado
entre presos provisórios e condenados (que de acordo com a direção seriam 480)
artigo 84 da Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84). Os presos dormem nas celas
pode ser indicativo de que os presos também dormem em áreas fora dos
pavilhões de habitação.
unidade predial bastante antiga e que não passou por reformas ou melhorias
corredores do pavilhão B.
73
Complexo Penitenciário do Curado
Imagens 24, 25 e 26 – Fotos dos Pavilhões A e B (as duas primeiras fotos são do Pavilhão A e a
Pavilhão J: Destinado a presos que não podem ter convívio com os demais
74
Complexo Penitenciário do Curado
periculosidade” ou que não podem ser colocados nos demais pavilhões, nem
75
Complexo Penitenciário do Curado
pão, o que denota que havia internos que dormiam também ali e que houve
comunicado prévio às inspeções para que essa situação não fosse identificada.
Também foi identificado que “moram” três pessoas em galpão que aloca os
inadequação da estrutura, são inaptos a abrigar de forma digna todos que ali se
76
Complexo Penitenciário do Curado
fator que impossibilita não só a alocação digna das pessoas nos pavilhões, ela
pessoas presas e entre estas e a administração prisional, uma vez que as equipes
sequer possuem grades ou portas, com livre circulação das pessoas privadas de
seis celas que abrigam presos que não podem ter convívio, sequer, com os demais
representantes (os chaveiros dos pavilhões). Eles são os mais bem vestidos e
decisões sobre cada pavilhão. Segundo relatos, eles são escolhidos pelos internos
de cada pavilhão e a direção afirma que, além de dar o aval para a escolha dos
77
Complexo Penitenciário do Curado
outros presos.
camas para a maioria dos presos, o local de habitação pode variar drasticamente,
buracos sem iluminação ou ventilação próximos ao teto, onde apenas cabe uma
que é possível construir e algumas delas chegam a ter até 16 barracos. Essas
estruturas trazem uma forma labiríntica para as celas, com estreitos corredores
que dificultam a entrada de luz e ventilação natural. Por todos os lados há fios
improvisados para que a energia possa chegar a todas as divisórias das celas.
Há também, uma nítida estratificação social nos pavilhões. Presos com mais
melhores que outros, que sequer dispõem de cômodos para se abrigarem. Nos
camas com colchão, banheiro privativo, som, TV, estoque de alimentos, dentre
78
Complexo Penitenciário do Curado
improvisadas, mas que vem durando por anos, em áreas que antes eram abertas.
Imagens 34, 35, 36, 37, 38 e 39 - Fotos de celas no Pavilhão B que ilustram a
estratificação social
São servidas três refeições por dia, sendo a última entre 15 horas e 16 horas, a
à noite, fato negado pela totalidade dos internos. Restou constatado, portanto, o
dia até às 06 horas do dia seguinte), criando uma situação famélica, que aumenta
79
Complexo Penitenciário do Curado
o grau de estratificação social entre quem tem condição de ter alimentos extras
pessoas privadas de liberdade. Ela chega por caldeirões grandes em cada pavilhão
restrita, vem muitas vezes crua ou estragada. A título de exemplo, vale pontuar
que foram inúmeros os relatos de galinha crua, fígado cru, feijão cru, em regra
legumes para a unidade prisional, estes não integram a dieta dos presos dos
disso, muitos reclamaram de que recebiam sempre papa, xerém e arroz doce. O
enviados pela família e/ou doações. Da mesma forma, não são fornecidas roupas.
Em teoria, a farda dos internos seria camisa branca e bermuda azul, porém, em
80
Complexo Penitenciário do Curado
estavam em macas, muitas vezes sem lençol. A direção da unidade informou que
possuem a mesma carga horária (20 horas por semana), mas comparecem em
frequências diferentes.
de médicos.
remédios é feita duas vezes por semana. Medicamentos mais comuns: xaropes
81
Complexo Penitenciário do Curado
ESUS. Há código especial para pessoas privadas de liberdade no SUS, não indo
Com relação ao índice de mortes, dos seis óbitos que ocorreram nos seis
últimos meses, dois deles foram motivados por lesões por instrumento
direção informou que o resultado desses exames nunca retorna à unidade, bem
como não chega nova certidão de óbito. De acordo com a direção, na hipótese de
tem convênio com a funerária, para remoção e enterro. Já nos casos de morte não
agentes atuando na unidade, estando um deles de licença. Cada policial penal tem
uma arma no sistema. A maioria dos policiais tem armas acauteladas, alguns, no
82
Complexo Penitenciário do Curado
própria arma, e não com armamento menos letal, o que causa grande
com arma.
policiais penais. Só no mês de janeiro de 2022 foram feitos 31 disparos, sendo eles
dada é a falta de efetivo e que essa seria a única forma possível de controlar a
(quando objetos são lançados de fora para dentro da unidade), como forma de
advertência.
Nacional de Justiça, Ministra Maria Thereza Rocha de Assis Moura, de modo que
convívio ou “morro” (T-19; G-14; H-13; I-12; Q-9, que é a antiga barbearia); PAV M-
83
Complexo Penitenciário do Curado
Sua estrutura comporta 15 pavilhões que variam entre pavilhões lineares, alguns
Conforme a direção da unidade, toda essa estrutura conta com 270 celas, com
comportar celas.
em trâmites processuais.
84
Complexo Penitenciário do Curado
85
Complexo Penitenciário do Curado
Imagens 45, 46, 47 e 48 – As duas primeiras fotos são de corredores do PJALLB, nas quais
podem ser observadas a presença de colchões nos corredores e de fiação exposta, enquanto as
instituição não fornece kit higiene, roupa de cama e banho, e produto de limpeza,
de modo que o acesso a tais itens se dá através de visitas ou outras vias entre as
86
Complexo Penitenciário do Curado
informado, cobra R$ 5,00 por peça. Este valor só não é cobrado dos presos
qualidade da comida ("malcozida, macarrão sem molho, galinha seca e feijão sem
foram: café da manhã servido às 5h00, almoço às 10h30 e a última refeição, jantar
há freezers ora nomeados de “cantinas”, que contam com itens como água, gelo,
suco e refrigerante.
87
Complexo Penitenciário do Curado
trabalha nos seguintes horários: das 5 horas às 9 horas; das 12 horas às 18 horas.
água é liberada em três turnos e que os pavilhões têm poços e caixas d’água
próprios, cujo custo da compra destas já foi arcado pelos próprios presos, assim
assim, durante o horário de banho de sol, precisam ir a outro pavilhão para tomar
há cerca de 15 anos).
88
Complexo Penitenciário do Curado
relataram que 99% das demandas odontológicas que chegam são resolvidas no
(autoclave e seladora).
das Redes de Saúde do SUS. Foi informado que são compostos kits de
medicamentos para duração de sete dias que são entregues toda quarta-feira.
89
Complexo Penitenciário do Curado
estavam sujos, com roupas, restos de comida, pão e outros itens espalhados.
Também foi visto café armazenado em balde para ser consumido durante todo o
dia. Neste ambiente, foi informado que há aproximadamente 226 pessoas que
uma delas é bem pequena e contém duas camas em cimento, e a segunda, mais
ampla, com mais estruturas de cama e com banheiro. Nesta última, estavam sete
pessoas, uma delas ali há três meses, e relataram não conseguirem dormir por
dias seguidos nas celas dos pavilhões, principalmente por conta do barulho, de
modo que compreendiam que aquela enfermaria dispunha de condições para tal,
estrutural imposta e das próprias relações de poder. Ademais, relataram que duas
avaliação e atua para mediar os casos de tais pessoas com os Sistemas de Justiça,
Saúde e Assistência Social. Foi informado que quando se tem ciência de que a
prosseguir com o cuidado específico exigido, o que pode demandar contato direto
com tal serviço externo para buscar informações sobre medicação, por exemplo,
isoladas por quinze dias, concluindo o tratamento durante seis meses nas celas
90
Complexo Penitenciário do Curado
em quinze dias morreram duas pessoas por tal doença, e outra há dois meses.
Uma das pessoas afirmou que “TB é a pior doença da cadeia”, e relataram a
saúde e a espera.
banheiros estavam sujos, com água e baldes com restos de comidas. O ambiente
condições precárias.
condições de saúde específicas. Neste sentido, tal divisão se dá com base nos
91
Complexo Penitenciário do Curado
Na ocasião da inspeção foi informado que não havia pessoas presas com
informado que nestes casos é feito isolamento em celas indicadas pelo chefe de
A população da unidade foi vacinada com três doses contra Covid-19, mas
a demanda é constante por conta das pessoas ingressantes que não estão
vezes por mês e outro psiquiatra. Também se informou que das cinco psicólogas,
92
Complexo Penitenciário do Curado
fisioterapeuta e 01 nutricionista.
antigo Presídio Professor Aníbal Bruno foi dividido em três unidades, formando o
a cela zero (para pessoas em trânsito, que vieram de outras comarcas para
vezes maior do que ele foi projetado para suportar. A superlotação é fator que
impossibilita não só a alocação digna das pessoas nos pavilhões, ela também
conflitos e citado, por exemplo, episódio em que um preso teria mordido o dedo
93
Complexo Penitenciário do Curado
de outro) e entre estas e a administração prisional, uma vez que as equipes não
Neste sentido, são criados arranjos informais que tentam dar conta do
pelos “mesários”. O “faxina” fica responsável por toda a limpeza do pavilhão, isto
é, dos corredores e arredores do pavilhão, uma vez que cada cela fica responsável
por sua limpeza. Por fim, os agentes de saúde são figuras que fazem a
confundem com novos arranjos que foram sendo construídos, muitas das vezes,
pelas próprias pessoas presas que, ao longo dos anos, passaram pela unidade.
Nos pavilhões, do chão ao teto e em toda largura das paredes, há pequenas portas
pessoas por cela. Ainda assim, pessoas precisam dormir ao longo de todo o
corredor dos pavilhões, na “BR”, bem como em seu exterior, ao ar livre e, durante
corredores que dificultam a entrada de luz e ventilação natural. Por todos os lados
há fios improvisados para que a energia possa chegar a todas as divisórias das
94
Complexo Penitenciário do Curado
celas. Foi verificado também muitos ventiladores abertos, pelos corredores e nos
“barracos”.
Importa salientar que a equipe dos “chaveiros” possui celas próprias, mais
pavilhão, entre uma ala e outra. Também neste espaço do meio do pavilhão, não
possui quantitativo de celas ou vagas, pois não foi projetado para tanto, e onde as
os lados.
95
Complexo Penitenciário do Curado
dia de inspeção, para que entrássemos nesta área, a quase totalidade das 940
pessoas foram trancadas no diminuto espaço que ainda possui uma grade de
Foi possível observar a área coberta com um grande toldo onde funciona
uma igreja, as barracas improvisadas com lonas e alguns “barracos” mais bem
um grande corredor cercado por dois corredores mais bem estruturados, com
barracos à direita e dois outros corredores bem mais estreitos e cheios de buracos
96
Complexo Penitenciário do Curado
onde ficam os barracos, por onde só passa uma pessoa e dão acesso a outro
esquerda, são escuros, pouco ventilados, e cheios de portas e escadas que dão
uma antiga marquise, mas atualmente é utilizada como cama. Por fim, há também
uma cantina ampla e bem equipada com comidas, material de limpeza, de higiene
Imagens 61, 62 e 63 - Fotos do Anexo que ilustram os materiais que formam os barracos
97
Complexo Penitenciário do Curado
mencionados pela Direção enquanto tais, mas que tinham também essa
guarda e ao preparo das refeições da unidade, bem como foi verificado pessoas
(cachorros, gatos e galinhas nos pavilhões e celas), além de esgoto a céu aberto,
98
Complexo Penitenciário do Curado
ficam os presos considerados “de alta periculosidade” ou que não podem ser
colocados nos demais pavilhões, como os que cometeram crimes sexuais, nem
não podem ter convívio com os demais da unidade. Sua segregação decorre, via
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Complexo Penitenciário do Curado
dentro da unidade. No galpão há, em média, 940 pessoas, sendo o “pavilhão” mais
populoso da unidade.
100
Complexo Penitenciário do Curado
barracos ao longo das paredes do Rancho. De forma análoga, mas bem mais
“gatos” que seriam aqueles presos aliados aos agentes do Estado e que não
podem voltar ao convívio junto com a massa carcerária. Na cela 03, por exemplo,
que, apesar de terem convívio seguro com os demais, não têm seu local de
três vezes ao dia: café da manhã às 05h00 (em média dois pães pequenos por
de tempo entre a última e a primeira refeição do dia, o que obriga aqueles sem
101
Complexo Penitenciário do Curado
origem bovina e suína nunca fazem parte do cardápio, apenas frango, salsicha e
calabresa. Ademais, falam que verduras e frutas são de presença muito rara, em
que pese terem notícias de que esses alimentos chegam para a unidade, sendo
vezes ao dia, mais ou menos, às 6 horas, 11 horas e 16 horas, horários nos quais
as pessoas presas enchem os baldes que têm disponíveis para poder utilizar a
102
Complexo Penitenciário do Curado
água durante o dia. Não há fornecimento de água mineral para consumo, sendo
é preciso pegar fora da cela. Importante destacar que a equipe de inspeção ouviu
PPL informou que está há 15 anos no sistema e nunca recebeu nenhum material
deste tipo. As pessoas privadas de liberdade acabam por ficar reféns do comércio
Estado.
103
Complexo Penitenciário do Curado
atendimentos da área.
104
Complexo Penitenciário do Curado
seis meses e havia realizado cirurgia recente no maxilar. Nesta cela são isoladas
jovem com diagnóstico de transtorno mental que pediu contato com a família
Na outra cela, havia outros dois casos de sofrimento mental que alegavam
ter sido diagnosticados ainda antes da prisão, com passagens pelo serviço de
saúde pública. Havia também pessoa com deficiência que morava na referida cela,
informaram não terem direito a banho de sol, mesmo uma delas sendo paciente
atendimento em saúde
uma vez que não possui janelas, não é ventilado e é todo fechado, com ar-
105
Complexo Penitenciário do Curado
hepatite.
que os pequenos problemas são comuns aos das unidades de saúde do Sistema
Único de Saúde (SUS) que não estão em prisões. O que costuma acabar ao final
Sobre serviço de fisioterapia, foi informado que a unidade não conta com
decorrência, na maioria dos casos, de arma de fogo e faca e dores nas costas em
também foi encaminhada relação com 220 nomes de PPL que fazem uso de
106
Complexo Penitenciário do Curado
presas em relação à barganha para com os agentes de saúde para que sua
mutirão toda quarta-feira para que até 100 pessoas por semana passem por
penais para número cada vez maior de detentos faz com que a administração
que contam com equipe própria para a organização e disciplina dos presos sob
sua responsabilidade. Cite-se, a título de exemplo, detento que denunciou ter sido
107
Complexo Penitenciário do Curado
Corregedor do estabelecimento.
privadas de liberdade no último ano, mas, no ano de 2019 houve nove óbitos.
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Complexo Penitenciário do Curado
Curado.
medidas:
109
Complexo Penitenciário do Curado
110
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Complexo Penitenciário do Curado
interpretativos do STF.
52
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução n° 213 de 15 de dezembro de 2015. Dispõe sobre
a apresentação de toda pessoa presa à autoridade judicial no prazo de 24 horas. Brasília, DF:
Conselho Nacional de Justiça, 2015. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2234.
112
Complexo Penitenciário do Curado
Martins foi acolhida integralmente pela então Ministra Maria Thereza de Assis
disponível no Anexo B.
Corte IDH. Em acórdão, a Seção Criminal concluiu pela prevalência do voto de vista
do Des. Carlos Moraes que, em linhas gerais, sugeriu as seguintes teses aprovadas
pelo colegiado:
53
TJPE. IRDR n. 0008770-65.2021.8.17.9000, Rel. para o acórdão Des.Carlos Moraes. Disponível em:
https://srv01.tjpe.jus.br/consultaprocessualunificada/processo/
113
Complexo Penitenciário do Curado
114
Complexo Penitenciário do Curado
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Complexo Penitenciário do Curado
demolição e construção de nova unidade. Cumpre ressaltar ainda que este plano
116
Complexo Penitenciário do Curado
Além disso, no âmbito das ações realizadas pelo TJPE, também é importante
117
Complexo Penitenciário do Curado
da capital. Por sua vez, o SEEU está em fase de expansão, de maneira que a
refere à estratégia para a construção de novas vagas, a conclusão das obras nos
formado por sete unidades prisionais, sendo cinco destinadas aos reeducandos
118
Complexo Penitenciário do Curado
privação de liberdade.
efetivos, aumentando o quadro de servidores de dois mil para quatro mil policiais.
prisional que substituirá o Presídio Frei Damião de Bozzano (PFDB) e terá 954
vagas.
119
Complexo Penitenciário do Curado
7. CONCLUSÃO
de Justiça Pernambucano.
inédita das autoridades locais para que atuem juntas na superação do problema.
urgência.
esforços e energia notáveis, avanços do quais não se tem notícia terem sido
realizados nos últimos seis (06) anos. Tal empenho resulta da compreensão, por
todas as instituições.
120
Complexo Penitenciário do Curado
serem realizados nos horizontes de curto e médio prazo, com relação a cada uma
mitigados.
Direitos Humanos.
121
Complexo Penitenciário do Curado
REFERÊNCIAS
122
Complexo Penitenciário do Curado
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Complexo Penitenciário do Curado
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Complexo Penitenciário do Curado
125
Complexo Penitenciário do Curado
LISTA DE ANEXOS
IRDR nº 0008770-65.2021.8.17.9000
Conselho Nacional de Justiça (DMF) para instrução dos autos do Habeas Corpus
Crise
126
Anexo A
Solicitação de Medidas de
Urgência realizada pelo
Conselheiro Supervisor
Mauro Pereira Martins
Conselho Nacional de Justiça
PJe - Processo Judicial Eletrônico
24/08/2022
Número: 0004051-15.2022.2.00.0000
Classe: CORREIÇÃO ORDINÁRIA
Órgão julgador colegiado: Plenário
Órgão julgador: Corregedoria
Última distribuição : 04/07/2022
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Inspeção Pernambuco
Objeto do processo: TJPE - Portaria Conjunta CN DMF nº 02, de 1º de julho de 2022 - Verificação -
Sistemas e plataformas eletrônicas - Mutirão - Inspeções - Estabelecimentos prisionais.
Segredo de justiça? SIM
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA - CNJ (CORRIGENTE)
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE PERNAMBUCO -
TJPE (CORRIGIDO)
CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA DO ESTADO DE
PERNAMBUCO - CGJPE (CORRIGIDO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
48332 23/08/2022 19:17 Despacho (1384318) -DMF - do SEI 06632/2022 Despacho digitalizado
67
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
SAF SUL Quadra 2 Lotes 5/6 Blocos E e F - CEP 70070-600 - Brasília - DF
www.cnj.jus.br
DESPACHO
Os fatos apurados no âmbito da Missão, a partir das visitas a varas judiciais e aos
estabelecimentos prisionais do Estado de Pernambuco, vão integrar e fazer parte do Relatório Final, com os
achados e constatações dessas diligências depreendidas, e as respectivas determinações a serem cumpridas
pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco e recomendações que serão destinadas ao Poder Executivo, ao
Ministério Público e à Defensoria Pública, após a regular apreciação do Plenário do Conselho Nacional de
Justiça.
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Número do documento: 22082319170882000000004382009
15.2022.2.00.0000, consoante se depreende da autorização regimental prevista no artigo 58 do Regimento
[1]
Interno do Conselho Nacional de Justiça .
Em síntese, propõe-se:
[a] a adoção de medidas concretas e efetivas pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco para a
redução da população carcerária do Complexo do Curado, em percentual de 70% (setenta por cento)
do contingente informado pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos a este Conselho Nacional de
Justiça, na data de 15 de agosto próximo passado, dentro de um prazo de oito (08) meses, a contar da
publicação desta decisão, conjuntamente com a interdição parcial das unidades (artigo 66, VIII, da Lei
de Execução Penal) para o fim de proibir novos ingressos desde agora;
[b] a adoção de medidas concretas e efetivas pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco para que
implemente a revisão da situação processual de todas as pessoas atualmente custodiadas nas três
unidades prisionais do referido Complexo Prisional do Curado, cumprindo-se, rigorosamente, o
disposto na Súmula Vinculante nº 56, do Supremo Tribunal Federal do Brasil, previamente a
qualquer determinação de transferência, ficando vedadas transferências para outras unidades que já
estejam acima do limite da capacidade, para se evitar o risco de se deslocar o problema de
superpopulação [ora e ali já] enfrentado aos demais estabelecimentos do Estado;
[c] a adoção de medidas concretas e efetivas pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco para que
inicie e implemente, no prazo de 10 (dez) dias, a contar da publicação desta decisão, regime especial
de prioridade e atuação, destinado à (i) revisão sobre a necessidade de manutenção de prisões preventivas
e (ii) a adoção de providências para a retomada da instrução criminal, prolação de sentenças e acórdãos,
bem como a regularização do andamento de todos os processos de conhecimento e de execução penal, em
todas as unidades judiciais de 1º e de 2º grau do Tribunal de Justiça de Pernambuco em que haja presos com
mais de 100 (cem) dias sob custódia cautelar, informando-se ao Conselho Nacional de Justiça a lista de
processos criminais, por unidade judicial e relatoria de Desembargador, nessas condições;
[d] a adoção de medidas concretas e efetivas pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco para que
se passe a promover visitas quinzenais ao Complexo Prisional do Curado, delas participando,
conjuntamente e ao menos, 05 juízes com competência criminal, 02 juízes com competência de
execução penal e 02 Desembargadores da Seção Criminal, mediante programação (em sistema de
rodízio) que deverá ser previamente informada a este Conselho Nacional de Justiça, destinadas ao
monitoramento in loco das três unidades do Complexo Prisional do Curado, até que a lotação desses
estabelecimentos alcance o contingente determinado no item [a] acima referido.
Observa-se desde logo que as visitas não deverão limitar-se ao ambiente administrativo,
nem se restringir a diálogos com os gestores prisionais, mas deverão alcançar, sobretudo, as
instalações e a carceragem das três unidades prisionais, documentando-se por fotos e vídeos a
presença e as entrevistas dos juízes e Desembargadores com presos nessas unidades, e outras
providências inerentes a todas as ambiências das três unidades do Complexo Prisional do Curado.
[e] a adoção de medidas concretas e efetivas pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco para que
inaugure instância ou crie gabinete de crise destinado ao monitoramento contínuo e permanente das
unidades prisionais do Complexo Prisional do Curado, que deverá assegurar composição
interinstitucional, para acompanhar as providências administrativas e judiciais aptas a enfrentar e
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solucionar as condições desumanas e degradantes em que se encontram as respectivas unidades
prisionais;
[f] a adoção de medidas concretas e efetivas pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco para que
apresente ao Conselho Nacional de Justiça plano de readequação funcional e de reorganização da força
de trabalho junto às unidades de justiça criminal e de execução penal de 1° grau de todo o Estado de
Pernambuco (em consonância com a Resolução CNJ 219, de 2016) – de modo a assegurar,
destacadamente, a recomposição dos quadros de servidores nessas áreas de atuação, com o respeito à
proporção máxima de 300 processos por servidor -, assim como para que providencie cronograma
destinado à conclusão da digitalização do acervo de processos criminais em meio físico, no prazo
máximo de 6 (seis) meses.
[g] a adoção de providências por parte do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco para
aprimorar a estrutura material e funcional do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema
Carcerário, considerando os parâmetros da Resolução CNJ nº 214 de 15/12/2015, para que se permita o
efetivo cumprimento de suas atribuições, sem prejuízo das providências para estruturar a recém-criada
Coordenadoria Criminal no âmbito do Tribunal.
[h] a adoção de medidas concretas e efetivas pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco para a
realização de mutirão de audiências de custódia para alcançar todas as pessoas presas no Complexo
Prisional do Curado que porventura não tenham sido realizadas, nos termos da Resolução CNJ nº 213/2015
e da decisão proferida em 05 de agosto de 2022 pela Corregedoria Nacional de Justiça, no processo
administrativo nº 07227/2022, bem assim para que se organize, conjuntamente com a Secretaria da
Justiça e de Direitos Humanos, o recenseamento e o recadastramento de toda a população prisional
do Estado, inclusive a criação de protocolo para estabelecer essa rotina, buscando a individualização
de todos os presos recolhidos a unidades prisionais de Pernambuco, com a projeção desses dados e
levantamento sobre as plataformas eletrônicas dos SEEU, BNMP e SISDEPEN.
[i] a adoção de medidas concretas e efetivas pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco para a
retomada imediata de audiências de custódia presenciais, diariamente, com a presença de juízes,
promotores de justiça e defensores públicos, em todas as unidades judiciais criminais do Tribunal de
Justiça de Pernambuco.
Diante da ausência de providências por parte do Estado Brasileiro, a CIDH, após três anos,
remeteu o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), relatando o elevado índice de
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mortes violentas (55 mortes entre 2008-2013, sendo 6 mortes apenas no ano de 2013), as evidências de
tortura e violência sexual, o tratamento degradante decorrente da superlotação, a extrema
insalubridade, a falta de acesso à água tratada, as más condições carcerárias e a precariedade no
atendimento à saúde.
Em 22 de maio de 2014, a Corte IDH determinou Medidas Provisórias para que o Estado
brasileiro adotasse ações necessárias à resolução da aludida situação.
Esta é, aliás, uma tendência observada nas medidas provisórias da Corte IDH: as primeiras
decisões relacionadas a tutelas de urgência geralmente deferem aos Estados a possibilidade de adotar
soluções próprias, conforme suas opções de políticas públicas disponíveis e seus próprios desenhos
institucionais de ações para enfrentamento do problema, sem determinar, necessariamente, os meios a serem
adotados.
A Corte IDH segue sua jurisprudência constante, no sentido de que continuará com o
procedimento interamericano de cumprimento da decisão de medidas provisórias até que a situação de
grave risco reportada seja resolvida.
Para aferir a evolução do cumprimento de suas decisões, dado o caráter coletivo da tutela
concedida, o Tribunal Interamericano tem pautado a sua análise com base em dados concretos sobre os
pontos problemáticos detectados, em especial: a superlotação carcerária, o número de mortes violentas, o
número de mortes não-violentas em razão de questões sanitárias precárias e a ausência de acesso ao direito
a tratamento de saúde condigno, a existência de denúncias de tortura e as condições de detenção
degradantes.
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[...]
4. O Estado deve tomar as medidas necessárias para que, em atenção ao
disposto na Súmula Vinculante Nº. 56, do Supremo Tribunal Federal do Brasil,
a partir da notificação da presente resolução, não ingressem novos presos no
Complexo de Curado, e nem se efetuem traslados dos que estejam ali alojados
para outros estabelecimentos penais, por disposição administrativa. Quando,
por ordem judicial, se deva trasladar um preso a outro estabelecimento, o disposto a
seguir, a respeito do cômputo duplo, valerá para os dias em que tenha permanecido
privado de liberdade no Complexo de Curado, em atenção ao disposto nos
Considerandos 118 a 133 da presente resolução.
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Durante as inspeções, igualmente foi constatado o avançado processo de “favelização”, em
curso nas unidades do Complexo Prisional, marcadas pelo elevado contingente populacional
custodiado em espaço sem saneamento e com instalações improvisadas e impróprias, presos esses que
ficam expostos ao próprio relento e às intempéries da natureza.
O alojamento das pessoas nos espaços comuns das unidades prisionais, inclusive na área
externa e sem-teto, em situações semelhantes às de “pessoas em situação de rua”, com barracos
construídos e improvisados pelos próprios custodiados e geridos conforme relações de poder
paraestatais, contraria todos os parâmetros e estândares definidos em normativas nacionais e
internacionais, conforme evidenciam graficamente as fotos abaixo colacionadas:
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Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros – PJALLB
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Presídio Asp Marcelo Francisco Araújo - PAMFA
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A proporção de agentes prisionais por pessoas presas significantemente baixa e a delegação da
gestão administrativa e da segurança no interior das unidades aos próprios presos (chamados de
“Chaveiros” ou “representantes”), a quem se delega autoridade disciplinar sobre os outros internos e a
execução de atividades próprias do Estado, também se revela como situação insustentável e inadmissível.
Ressalta-se, ainda, a constatação da falta de água potável e alimentação adequada e em
quantidade suficiente, o que enseja a ostensiva comercialização [pelos próprios presos, uns em detrimento
de outros] de insumos de sobrevivência básica, vendidos em "cantinas", com preços abusivos.
Também foi identificada a falta de disponibilização de kits de higiene e vestuário para as
pessoas presas, o que reforça esse mercado paralelo de comercialização de insumos nas unidades, a facilitar,
inclusive, situações de sujeição, corrupção e violência.
Embora esse mesmo contexto tenha sido identificado em outras unidades do sistema
prisional pernambucano, forçoso admitir que no caso do Complexo Prisional do Curado se mostra
ainda mais patente a responsabilidade por parte dos órgãos constituídos, incluindo-se o Executivo,
mas notadamente também do Poder Judiciário.
Isto porque, apesar de a Corte IDH ter determinado expressamente a proibição de novos
ingressos como medida de controle da população carcerária na aludida Resolução de novembro de
2018, o Complexo Prisional do Curado continuou a receber novos custodiados, ininterruptamente.
Ademais, seguem pendentes de implementação Plano de Contingências e o recálculo da pena das
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pessoas custodiadas nas respectivas unidades para a aplicação do cômputo em dobro, consoante
deliberado pela Corte IDH.
O quadro assim delineado configura expressa violação da determinação da Corte IDH, de modo
que a permanência dessa situação acentua e agrava ainda mais a responsabilidade internacional do
Estado Brasileiro.
Dito isso, busca-se, com a presente sugestão e em caráter de urgência, apontar medidas
concretas a serem adotadas pelo Judiciário local, aptas a concretizar na íntegra a decisão do Tribunal
Interamericano em relação à proibição de novos ingressos/transferências e ao monitoramento da integridade
física da população prisional e demais agentes públicos/visitantes com convivência intramuros.
Conforme demonstrado, a imposição de obrigações de meio, determinadas pela Corte IDH, para
o controle da porta de entrada, como a fixação de proibição de novos ingressos, é produto de uma
construção solidificada por quase uma década, em que se deferiu ao Estado a discricionariedade para a
adoção de outras medidas, sem que as ações adotadas até o presente tenham tido êxito em apresentar
resultados (baseados em dados estatísticos) aptos a enfrentar os riscos gravíssimos já mapeados.
Dessa forma, dada a própria natureza de uma tutela de urgência e do risco à vida, à saúde e à
integridade física dos beneficiários(as), os quais alcançam todos os servidores penais que ali estão
trabalhando, as medidas provisórias interamericanas devem ser cumpridas de forma imediata, respeitando-
se o seu caráter e natureza vinculantes, de forma inadiável.
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Humanos, ao uso da jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, bem como à necessidade
de controle de convencionalidade das leis e atos administrativos internos.
A UMF/CNJ aperfeiçoa-se como mecanismo judicial nacional de supervisão das sentenças e
decisões da Corte IDH, alocado no Conselho Nacional de Justiça, vinculado à estrutura do Departamento de
Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas
Socioeducativas (DMF), cuja principal função consiste em monitorar e fiscalizar o cumprimento das
sentenças, medidas provisórias e opiniões consultivas proferidas pela Corte Interamericana, ativando,
sobretudo, o potencial que decorre da capacidade de interlocução institucional do CNJ.
Em relação às Medidas provisórias afetas ao Complexo Prisional do Curado, a atuação da UMF
foi deflagrada a partir de sua notificação para apresentar informações à Corte IDH, em audiência pública
celebrada em 02 de junho de 2021, oportunidade em que se perquiriram as providências adotadas pelo
Estado Brasileiro para o cumprimento das resoluções ditadas em relação às quatro medidas provisórias
aplicadas ao país, todas relacionadas a sistemas de privação de liberdade.
[6]
Naquela ocasião, a UMF/CNJ apresentou minucioso informe sobre o tema , comprometendo-
se em promover a articulação junto aos atores locais para cumprir a determinação de proibição de novos
ingressos nas unidades do Curado, pugnando pela interdição parcial do estabelecimento e pela construção
de propostas para conter o ingresso de armas na unidade.
A Corte IDH apontou, ainda, que, as respostas oferecidas pelo Estado acerca da situação
prisional geral não apresentam solução para a atual situação por meio de transferências a outros
estabelecimentos (com exceção dos novos estabelecimentos construídos ou em construção), pois as demais
unidades do Estado também já ultrapassaram o limite de capacidade prisional. Por isso, o Tribunal
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Interamericano considerou que essas transferências seriam medidas meramente paliativas, podendo
acarretar o agravamento da situação de superpopulação dos demais espaços de privação de liberdade, com o
consequente risco de alterações da ordem, motins e resultados desastrosos para os presos e os(as) policiais
[10]
penais(as) .
Por conseguinte, restou determinado que o Estado Brasileiro deveria atuar imediatamente para
reduzir a população prisional do Complexo Prisional do Curado, obstando novas entradas e traslados
administrativos, além da adoção de mecanismos compensatórios para aceleração do cumprimento de pena
[11]
em situação ilícita .
Por todas as razões expostas, demonstrada a imperatividade da decisão judicial
interamericana, propõe-se seja determinado aos juízes da execução corregedores das três unidades
que compõem o Complexo do Curado que promovam a interdição parcial dos referidos
estabelecimentos, nos termos do artigo 66, VIII, da Lei de Execução Penal, com a PROIBIÇÃO DE
ENTRADA de novos presos no Complexo Prisional do Curado, bem como a PROIBIÇÃO de
transferências administrativas para outras unidades penais que já se encontrem superlotadas, em
atenção ao Ponto Resolutivo n. 4 da Resolução de Medidas Provisórias da Corte IDH de 28 de
novembro de 2018.
- Mutirão Processual
Como medida de caráter urgente, destinada à a redução imediata da população prisional
do Complexo Prisional do Curado e em linha com as medidas provisórias outorgadas pela Corte
Interamericana, propõe-se a determinação de que o Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco
inicie, no prazo de 10 (dez) dias, mutirão processual para:
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liberdade cumprido nas unidades prisionais do Complexo do Curado, em razão das condições degradantes e
inconvencionais desses estabelecimentos.
Conforme a decisão interamericana, a Corte IDH impôs uma regra geral de aplicação do
cômputo em dobro para cada dia de pena vivenciada em condições degradantes no Complexo e uma regra
específica, que alcança as pessoas privadas de liberdade em decorrência de crimes contra vida, integridade
física e crimes sexuais, sendo essa a realização de laudo pericial para aferição da fração de compensação a
ser aplicada.
Propõe-se, ainda, que o TJPE inicie e implemente, no prazo de 10 (dez) dias, a contar da
publicação da decisão do CNJ, regime especial de prioridade e atuação, destinado à (i) revisão sobre a
necessidade de manutenção de prisões preventivas e (ii) a adoção de providências para a retomada da
instrução criminal, prolação de sentenças e acórdãos, bem como a regularização do andamento de todos os
processos de conhecimento e de execução penal, em todas as unidades judiciais de 1º e de 2º grau do
Tribunal de Justiça de Pernambuco em que haja presos com mais de 100 (cem) dias sob custódia cautelar,
informando-se ao Conselho Nacional de Justiça a lista de processos criminais, por unidade judicial e
relatoria de Desembargador, nessas condições;
Propõe-se, outrossim, seja determinado ao Grupo de Monitoramento e Fiscalização do TJPE
(GMF/PE), por força das atribuições dispostas na Resolução CNJ n. 214, que promova acompanhamento
das prisões provisórias nessas unidades e, com base nos sistemas eletrônicos, informe mensalmente a
este Conselho Nacional de Justiça o quantitativo e respectivo tempo de duração de tais prisões
preventivas.
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Com a finalidade de acompanhar as medidas de superação do quadro de irregularidades do
Complexo Prisional do Curado, recomenda-se a criação, por parte do Tribunal de Justiça do Estado de
Pernambuco, de instância de monitoramento emergencial do Complexo, assegurada composição
interinstitucional e a participação do Poder Executivo, Ministério Público, Defensoria Pública, Ordem dos
Advogados do Brasil, Conselho Penitenciário, Comitê Estadual e Mecanismo Estadual de Prevenção e
Combate à Tortura, além de associações de familiares de pessoas presas.
Outrossim, tendo em vista a repercussão nacional e internacional do caso do Complexo
Prisional do Curado, recomenda-se seja garantido o acompanhamento por representantes da Corregedoria
Nacional de Justiça, do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema
de Execução de Medidas Socioeducativas – DMF/CNJ, do Departamento Penitenciário Nacional, do
Ministério Público Federal, da Defensoria Pública da União, do Ministério da Mulher, Família e Direitos
Humanos e do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária – CNPCP.
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prisões provisórias, na medida em que possibilita à autoridade jurisdicional colher elementos para aferir a
necessidade de manutenção da prisão ou a possibilidade de aplicação de alguma alternativa penal.
Assim, recomenda-se seja o TJPE instado a dar cumprimento à decisão proferida em 05 de
agosto de 2022 pela Corregedoria Nacional de Justiça no processo administrativo nº 07227/2022, que
determinou:
“I - (...) que a presidência dos Tribunais de Justiça, o Conselho da Justiça Federal e os cinco
Tribunais Regionais Federais sejam intimados para que, em 30 (trinta) dias, promovam e
comprovem a normatização ou o alinhamento dos atos normativos porventura destoantes do
artigo 13, parágrafo único, da Resolução 213/2018 do CNJ e da estipulação constante nesta
decisão, fazendo com que deles conste: (a) a obrigatoriedade da realização das audiências
de custódia nos casos de prisão temporária, de prisão preventiva, de prisão definitiva para
início de cumprimento de pena e de prisões cíveis, inclusive de alimentos; (b) que a
competência nessas hipóteses seja sempre dos Juízos que determinaram a expedição da
ordem de prisão e não das “centrais de custódia”, dos órgãos congêneres ou dos Juízos
plantonistas;
II. Recomendo a normatização da soltura da pessoa a quem foi concedida a liberdade na
audiência de custódia, procurando vedar a imposição de regresso ao estabelecimento penal
ou a qualquer outra repartição para o trato de questões burocráticas.”
Ressalta-se, por oportuno, que diante do atual contexto com a retomada integral das atividades
presenciais no Poder Judiciário brasileiro e a decretação do término do período de emergência sanitária
decorrente da pandemia de Covid-19, não mais persiste a justificativa para realização excepcional de
audiências de custódia por meio de videoconferência, motivo pelo qual se recomenda seja observada a
presencialidade necessária à devida aferição de quaisquer indícios de tortura, maus tratos ou tratamento
cruel ou degradante.
IV - Conclusão
À luz de todo o exposto, submeto a presente proposta à Corregedoria Nacional de Justiça, na
oportunidade em que enfatizo a confiança de que a adoção dessas medidas representará um passo decisivo
do Poder Judiciário brasileiro para a superação do inadmissível quadro de violações de direitos verificado
no Complexo Penitenciário do Curado e reitero o empenho do Departamento de Monitoramento e
Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas para cooperar
nesse desiderato.
[1]
Art. 58. O Corregedor Nacional de Justiça poderá desde logo adotar as medidas cabíveis de sua competência e proporá ao
Plenário as demais que tenha por pertinentes e adequadas aos objetivos da correição, à vista das necessidades ou deficiências nela
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verificadas. Em qualquer momento em que apuradas, as irregularidades que constituam ilícito penal serão imediatamente
comunicadas ao Ministério Público.
[2]
CORTE IDH, Assunto do Complexo Penitenciário de Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução da Corte
Interamericana de Direitos Humanos de 7 de outubro de 2015; CORTE IDH, Assunto do Complexo Penitenciário de Curado em
relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 18 de novembro de 2015;
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 23 de
novembro de 2016; Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias.
Resolução de 15 de novembro de 2017; Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução de 28 de novembro de 2018
[3]
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 28 de
novembro de 2018
[4]
Nesse sentido, ADPF 635 MC / RJ - RIO DE JANEIRO, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Julgamento: 18/08/2020.
[5]
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados. Artigo 27. Uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno
para justificar o inadimplemento de um tratado. [...]
[6]
Informe sobre as medidas provisórias adotadas em relação ao Brasil / Conselho Nacional de Justiça; Coordenadores Luís
Geraldo Sant’Ana Lanfredi, Isabel Penido de Campos Machado e Valter Shuenquener de Araújo – Brasília: CNJ, 2021.
[7]
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 28 de
novembro de 2018; Ponto Resolutivo n. 4.
[8]
CADH, Artigo 5.2 “Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda
pessoa privada da liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano”.
[9]
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 28 de
novembro de 2018; Parágrafo 118.
[10]
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 28 de
novembro de 2018; Parágrafo 119.
[11]
A implementação do instituto da compensação penal é acompanhada por este Conselho Nacional de Justiça, por intermédio da
atuação da Unidade de Monitoramento e Fiscalização das Decisões da Corte IDH, no curso do IRDR/TJPE n. 0008770-
65.2021.8.17.9000.
A autenticidade do documento pode ser conferida no portal do CNJ informando o código verificador
1384318 e o código CRC 0B8D262B.
06632/2022 1384318v14
Assinado eletronicamente por: IRANEIDE PEREIRA DE ALMEIDA - 23/08/2022 19:17:11 Num. 4833267 - Pág. 17
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Número do documento: 22082319170882000000004382009
Conselho Nacional de Justiça
PJe - Processo Judicial Eletrônico
24/08/2022
Número: 0004051-15.2022.2.00.0000
Classe: CORREIÇÃO ORDINÁRIA
Órgão julgador colegiado: Plenário
Órgão julgador: Corregedoria
Última distribuição : 04/07/2022
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Inspeção Pernambuco
Objeto do processo: TJPE - Portaria Conjunta CN DMF nº 02, de 1º de julho de 2022 - Verificação -
Sistemas e plataformas eletrônicas - Mutirão - Inspeções - Estabelecimentos prisionais.
Segredo de justiça? SIM
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA - CNJ (CORRIGENTE)
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE PERNAMBUCO -
TJPE (CORRIGIDO)
CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA DO ESTADO DE
PERNAMBUCO - CGJPE (CORRIGIDO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
48331 23/08/2022 19:11 Despacho de id 1384853 do SEI 06632/2022 Certidão
94
Conselho Nacional de Justiça
Assinado eletronicamente por: IRANEIDE PEREIRA DE ALMEIDA - 23/08/2022 19:11:59 Num. 4833194 - Pág. 1
https://www.cnj.jus.br:443/pjecnj/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22082319131578200000004382098
Número do documento: 22082319131578200000004382098
Anexo B
Medidas de Urgência
adotadas pela Corregedoria
Nacional de Justiça
Conselho Nacional de Justiça
PJe - Processo Judicial Eletrônico
24/08/2022
Número: 0004051-15.2022.2.00.0000
Classe: CORREIÇÃO ORDINÁRIA
Órgão julgador colegiado: Plenário
Órgão julgador: Corregedoria
Última distribuição : 04/07/2022
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Inspeção Pernambuco
Objeto do processo: TJPE - Portaria Conjunta CN DMF nº 02, de 1º de julho de 2022 - Verificação -
Sistemas e plataformas eletrônicas - Mutirão - Inspeções - Estabelecimentos prisionais.
Segredo de justiça? SIM
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA - CNJ (CORRIGENTE)
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE PERNAMBUCO -
TJPE (CORRIGIDO)
CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA DO ESTADO DE
PERNAMBUCO - CGJPE (CORRIGIDO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
48332 23/08/2022 21:40 Decisão Decisão
70
Conselho Nacional de Justiça
DECISÃO
Assinado eletronicamente por: MARIA THEREZA ROCHA DE ASSIS MOURA - 23/08/2022 21:40:28 Num. 4833270 - Pág. 1
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Número do documento: 22082321402833000000004382012
visitas ao Presídio ASP Marcelo Francisco de Araújo (PAMFA), Presídio Juiz
Antônio Luiz Lins de Barros (PJALLB) e Presídio Frei Damião de Bozzano (PFDB)
–, as três unidades que compõem o Complexo Penitenciário do Curado e que são
objeto de Medidas provisórias outorgadas pela Corte Interamericana de Direitos
Humanos.
Assinado eletronicamente por: MARIA THEREZA ROCHA DE ASSIS MOURA - 23/08/2022 21:40:28 Num. 4833270 - Pág. 2
https://www.cnj.jus.br:443/pjecnj/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22082321402833000000004382012
Número do documento: 22082321402833000000004382012
cumprindo-se, rigorosamente, o disposto na Súmula Vinculante nº
56, do Supremo Tribunal Federal do Brasil, previamente a qualquer
determinação de transferência, ficando vedadas transferências
para outras unidades que já estejam acima do limite da
capacidade, para se evitar o risco de se deslocar o problema de
superpopulação [ora e ali já] enfrentado aos demais
estabelecimentos do Estado;
Assinado eletronicamente por: MARIA THEREZA ROCHA DE ASSIS MOURA - 23/08/2022 21:40:28 Num. 4833270 - Pág. 3
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dos juízes e Desembargadores com presos nessas unidades, e
outras providências inerentes a todas as ambiências das três
unidades do Complexo Prisional do Curado.
Assinado eletronicamente por: MARIA THEREZA ROCHA DE ASSIS MOURA - 23/08/2022 21:40:28 Num. 4833270 - Pág. 4
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Número do documento: 22082321402833000000004382012
Resolução CNJ nº 213/2015 e da decisão proferida em 05 de agosto de
2022 pela Corregedoria Nacional de Justiça, no processo administrativo
nº 07227/2022, bem assim para que se organize, conjuntamente
com a Secretaria da Justiça e de Direitos Humanos, o
recenseamento e o recadastramento de toda a população prisional
do Estado, inclusive a criação de protocolo para estabelecer essa
rotina, buscando a individualização de todos os presos recolhidos
a unidades prisionais de Pernambuco, com a projeção desses
dados e levantamento sobre as plataformas eletrônicas dos SEEU,
BNMP e SISDEPEN.
Assinado eletronicamente por: MARIA THEREZA ROCHA DE ASSIS MOURA - 23/08/2022 21:40:28 Num. 4833270 - Pág. 5
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Em 22 de maio de 2014, a Corte IDH outorgou Medidas
Provisórias para que o Estado brasileiro adotasse ações necessárias à resolução
da aludida situação; nessa decisão inaugural, o Tribunal Interamericano conferiu
ao Estado certa margem de discricionariedade para elaborar um pacote de
medidas voltados à solução dos problemas estruturais (em especial a
superlotação), sanitários e ao altíssimo índice de violência intramuros, além dos
graves aspectos relacionados às condições de detenção.
1
CORTE IDH, Assunto do Complexo Penitenciário de Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 7 de outubro de 2015;
CORTE IDH, Assunto do Complexo Penitenciário de Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 18 de novembro de
2015; Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução de 23 de novembro de 2016; Corte IDH. Assunto do Complexo
Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 15 de novembro
de 2017 ; Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil.
Medidas Provisórias. Resolução de 28 de novembro de 2018.
2
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução de 28 de novembro de 2018
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Número do documento: 22082321402833000000004382012
Curado, e nem se efetuem traslados dos que estejam ali alojados
para outros estabelecimentos penais, por disposição
administrativa. Quando, por ordem judicial, se deva trasladar um
preso a outro estabelecimento, o disposto a seguir, a respeito do
cômputo duplo, valerá para os dias em que tenha permanecido
privado de liberdade no Complexo de Curado, em atenção ao
disposto nos Considerandos 118 a 133 da presente resolução.
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Número do documento: 22082321402833000000004382012
movimentação da população e do acesso às assistências sociais básicas
preconizadas pela Lei de Execução Penal não são executadas por servidores
penais, mas funcionam de acordo com relações de poder paraestatais.
É preciso cumpri-lo.
3
Nesse sentido, ADPF 635 MC / RJ - RIO DE JANEIRO, Relator(a): Min. EDSON FACHIN,
Julgamento: 18/08/2020.
Assinado eletronicamente por: MARIA THEREZA ROCHA DE ASSIS MOURA - 23/08/2022 21:40:28 Num. 4833270 - Pág. 8
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Número do documento: 22082321402833000000004382012
À obrigatoriedade no cumprimento das decisões da Corte o
Estado não pode alegar obstáculos de direito interno, conforme os princípios do
Direito Internacional dos Direitos Humanos e do Direito dos Tratados 4.
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inconstitucional reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 347/DF, diante da
“violação massiva e persistente de direitos fundamentais, decorrente de falhas
estruturais e falência de políticas públicas e cuja modificação depende de
medidas abrangentes de natureza normativa, administrativa e orçamentária”.
10
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providências para seu adequado funcionamento, fazendo inserir, ainda, as
informações no sistema informatizado do CNJ, qual seja o Cadastro Nacional de
Inspeções em Estabelecimentos Penais – CNIEP, devendo constar, em campos
próprios:
11
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Ao se verificarem os recibos de inspeção, mesmo naqueles
em que as condições são avaliadas como “Ruins” ou “Péssimas”, não há
anotações indicativas da adoção de providências para o adequado
funcionamento dos estabelecimentos.
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apreciar as condições das instalações físicas, recursos humanos, capacidade e
ocupação do estabelecimento penal, perfil da população carcerária, assistência,
trabalho, disciplina e observância dos direitos dos presos ou internados, bem
como adotar providências para a promoção do funcionamento adequado do
estabelecimento.
6
CADH. Artigo 5º.1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua integridade física, psíquica
e moral.
2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou
degradantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada com o respeito devido à
dignidade inerente ao ser humano. (...)
4. Os processados devem ficar separados dos condenados, salvo em circunstâncias excepcionais,
e ser submetidos a tratamento adequado à sua condição de pessoas não condenadas. (...)
6. As penas privativas da liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a readaptação
social dos condenados.
7
LEP – Lei nº 7.210/1984. Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado,
objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade.
Art. 11. A assistência será:
I - material;
II - à saúde;
III -jurídica;
IV - educacional;
V - social;
VI - religiosa. (...)
Art. 40 - Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral dos condenados e
dos presos provisórios. (...)
Art. 83-B. São indelegáveis as funções de direção, chefia e coordenação no âmbito do sistema
penal, bem como todas as atividades que exijam o exercício do poder de polícia, e notadamente:
(...)
Art. 84. O preso provisório ficará separado do condenado por sentença transitada em julgado. (...)
Art. 85. O estabelecimento penal deverá ter lotação compatível com a sua estrutura e finalidade.
13
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e, em âmbito infralegal, as diretrizes básicas de arquitetura penal previstas na
Resolução do CNPCP n° 9/2011.
14
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Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar
a prisão preventiva se, no correr da investigação ou do processo,
verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como
novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.
Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o
órgão emissor da decisão revisar a necessidade de sua
manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão
fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal.
15
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imposta na norma, passa a ser obrigatória uma análise
frequente da necessidade de manutenção de tantas prisões
provisórias. 3. A inobservância da reavaliação prevista no
dispositivo impugnado, após decorrido o prazo legal de 90
(noventa) dias, não implica a revogação automática da
prisão preventiva, devendo o juízo competente ser instado a
reavaliar a legalidade e a atualidade de seus fundamentos.
Precedente. 4. O art. 316, parágrafo único, do Código de
Processo Penal aplica-se até o final dos processos de
conhecimento, onde há o encerramento da cognição plena pelo
Tribunal de segundo grau, não se aplicando às prisões
cautelares decorrentes de sentença condenatória de segunda
instância ainda não transitada em julgado. 5. o artigo 316,
parágrafo único, do Código de Processo Penal aplica-se,
igualmente, nos processos em que houver previsão de
prerrogativa de foro. 6. Parcial procedência dos pedidos
deduzidos nas Ações Diretas. (ADI 6581/DF, Relator(a): EDSON
FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 09/03/2022, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-084 DIVULG 02-05-2022 PUBLIC 03-05-
2022)
16
Assinado eletronicamente por: MARIA THEREZA ROCHA DE ASSIS MOURA - 23/08/2022 21:40:28 Num. 4833270 - Pág. 16
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Outro ponto relevante nas inspeções judiciais e nas unidades
prisionais realizadas diz respeito à constatação da demora excessiva na
expedição de guias de condenados, o que impossibilita a instauração da
execução penal e seus incidentes, benefícios e reconhecimento de direitos. No
caso de novas condenações criminais para uma mesma pessoa já em
cumprimento de pena, houve inúmeros relatos no sentido de que as varas
criminais não encaminham a respectiva guia para a VEP, o que acaba por
inviabilizar a unificação das penas, entre outros efeitos.
17
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conteúdo normativo já vinculante previsto na Convenção Americana de Direitos
Humanos, não inovando, portanto, na ordem jurídica brasileira.
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oferecer parâmetros procedimentais a Juízes e Tribunais do país, formatando
regras de conduta idôneas e conforme aos standards internacionais para a
aplicação e efetivação do instituto.
19
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“ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”
(art. 5º, III).
Art. 3º-B
§1º. O preso em flagrante ou por força de mandado de prisão
provisória será encaminhado à presença do juiz de garantias no
prazo de 24 (vinte e quatro) horas, momento em que se realizará
audiência com a presença do Ministério Público e da Defensoria
Pública ou de advogado constituído, vedado o emprego de
videoconferência
Art. 287. Se a infração for inafiançável, a falta de exibição do
mandado não obstará a prisão, e o preso, em tal caso, será
imediatamente apresentado ao juiz que tiver expedido o
mandado, para a realização de audiência de custódia.
Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo
máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da
prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a
presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da
Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa
audiência, o juiz deverá, fundamentadamente:
I - relaxar a prisão ilegal; ou
II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando
presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se
revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares
diversas da prisão; ou
8
Juan Méndez foi Relator Especial das Nações Unidas sobre Tortura de novembro de 2010 a
outubro de 2016. Ver em: https://www.ohchr.org/en/press-releases/2015/08/un-rights-expert-urges-
brazil-address-prison-overcrowding-and-implement?LangID=E&NewsID=16325
20
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III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.
§ 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o
agente praticou o fato em qualquer das condições constantes dos
incisos I, II ou III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7
de dezembro de 1940 (Código Penal), poderá,
fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória,
mediante termo de comparecimento obrigatório a todos os atos
processuais, sob pena de revogação.
§ 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra
organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de
fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade provisória, com ou
sem medidas cautelares.
§ 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não
realização da audiência de custódia no prazo estabelecido no caput
deste artigo responderá administrativa, civil e penalmente pela
omissão.
§ 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso do
prazo estabelecido no caput deste artigo, a não realização de
audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a
ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela autoridade competente,
sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão
preventiva".
21
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II. Recomendo a normatização da soltura da pessoa a quem foi
concedida a liberdade na audiência de custódia, procurando
vedar a imposição de regresso ao estabelecimento penal ou a
qualquer outra repartição para o trato de questões burocráticas.”
9
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução de 28 de novembro de 2018; Ponto Resolutivo n. 4
10
CADH, Artigo 5.2 “Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis,
desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada com o respeito
devido à dignidade inerente ao ser humano.”
11
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas
Provisórias. Resolução de 28 de novembro de 2018; Parágrafo 118.
22
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apresentar solução para a atual situação por meio de traslados a outros
estabelecimentos, com exceção dos novos estabelecimentos construídos ou em
construção, porque estes não têm capacidade para receber presos, o que, caso
se forcem esses traslados, geraria maior superpopulação em outros centros
penitenciários, com o consequente risco de alterações da ordem, motins e
resultados desastrosos para os presos e o pessoal 12.
23
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rigorosamente, o disposto na Súmula Vinculante nº 56, do Supremo Tribunal
Federal do Brasil, previamente a qualquer determinação de transferência, ficando
vedadas transferências para outras unidades que já estejam acima do limite da
capacidade, para se evitar o risco de se deslocar o problema de superpopulação
[ora e ali já] enfrentado aos demais estabelecimentos do Estado;
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[e] a adoção de medidas concretas e efetivas pelo Tribunal de
Justiça do Estado de Pernambuco para que inaugure instância ou crie gabinete
de crise destinado ao monitoramento contínuo e permanente das unidades
prisionais do Complexo Prisional do Curado, que deverá assegurar composição
interinstitucional, para acompanhar as providências administrativas e judiciais
aptas a enfrentar e solucionar as condições desumanas e degradantes em que se
encontram as respectivas unidades prisionais;
25
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rotina, buscando a individualização de todos os presos recolhidos a
unidades prisionais de Pernambuco, com a projeção desses dados e
levantamento sobre as plataformas eletrônicas dos SEEU, BNMP e
SISDEPEN.
26
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Ordinária da Corregedoria Nacional de Justiça realizada no período de 22 a
26 de novembro de 2021, no âmbito do qual se apuram situações de
irregularidades nas unidades jurisdicionais e excessos de prazos para
julgamento.
Intimem-se.
27
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Anexo C
Petição Inicial do Incidente de
Resolução de Demandas
Repetitivas – IRDR nº
0008770-65.2021.8.17.9000
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DAS EXECUÇÕES PENAIS DO ESTADO DE PERNAMBUCO
O Ministério Público Estadual, por seus promotores de justiça que abaixo subscrevem,
titulares das Promotorias de Justiça Criminais especializadas em execuções penais na Capital,
Caruaru e Petrolina, com atribuições perante a Vara de Execuções Penais da Capital, Vara de
Execuções de Penas Alternativas e 1ª, 2ª, 3ª e 4ª Varas Regionais da Execução Penal, diante de
inúmeros pedidos de perdão parcial da pena decorrente de medida provisória emanada da Corte
Interamericana de Direitos Humanos – CIDH, que recomendou, para efeito do cumprimento
das sanções penais, a contagem em dobro do tempo de prisão nas unidades prisionais
integrantes do Complexo do Curado, situação que vem gerando decisões conflitantes e que
pode resultar graves efeitos na administração penitenciária e, por consequência, na segurança
pública do Estado de Pernambuco, com fundamento no artigo 70, alínea “g”, 433 e seguintes
da Resolução nº 395/2017 (Regimento Interno do TJPE), combinado, no que couber, com os
artigos 976 e seguintes do Código de Processo Civil (aplicação subsidiária ao Processo Penal),
requerer a INSTAURAÇÃO DO INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DEMANDAS
REPETITIVAS, com pedido de tutela de urgência, visando a uniformização da interpretação
e, liminarmente, a suspensão dos efeitos práticos da adoção da mencionada detração ficta até a
pacificação da matéria pela Seção Criminal desse Egrégio Tribunal, nos termos do memorial
que segue devidamente instruído com os documentos necessários ao exame dos pedidos.
Pede deferimento.
Recife, 21 de maio de 2021 FERNANDO FALCAO Assinado de forma digital por
FABIANO MORAIS DE Assinado de forma digital por FERNANDO FALCAO FERRAZ
FABIANO MORAIS DE HOLANDA
FERRAZ FILHO:77274512404
HOLANDA BELTRAO:99851946400 FILHO:77274512404 Dados: 2021.05.21 11:13:18 -03'00'
BELTRAO:99851946400 Dados: 2021.05.21 13:08:21 -03'00'
FABIANO MORAIS DE HOLANDA BELTRÃO FERNANDO FERRAZ FALCÃO FILHO
8º Promotor Criminal de Caruaru 19º Promotor de Justiça Criminal da Capital
MARIA HELENA DE Assinado de forma digital por JULIO CESAR SOARES Assinado de forma digital por JULIO
MARIA HELENA DE OLIVEIRA E CESAR SOARES LIRA:1841173
OLIVEIRA E LUNA:68252234453
Dados: 2021.05.21 12:25:06
LIRA:1841173 Dados: 2021.05.21 11:47:47 -03'00'
LUNA:68252234453 -03'00'
MARIA HELENA LUNA JÚLIO CÉSAR SOARES LIRA
20ª Promotora Criminal da Capital 5º Promotor de Justiça Criminal de Petrolina
ROBERTO BRAYNER Assinado de forma digital por ROBERTO
BRAYNER SAMPAIO:39779084487
SAMPAIO:39779084487 Dados: 2021.05.21 10:32:11 -03'00'
ROBERTO BRAYNER SAMPAIO
21º Promotor de Justiça Criminal da Capital
1
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PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DAS EXECUÇÕES PENAIS DO ESTADO DE PERNAMBUCO
As decisões dos Juízes das Execuções Penais (2ª Vara Regional, 3ª Vara
Regional, 4ª Vara Regional e Vara de Execuções Penais da Capital) proferidas até o
final do mês de abril próximo passado foram no sentido do indeferimento dos pleitos
defensivos, a exemplo da que segue em anexo (Doc. 02).
2
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Neste sentido, a partir das decisões tomadas pelo Juízo da 1ª Vara Regional das
Execuções Penais, pessoas cujos processos de execução encontram-se a esta vinculada,
contarão imediatamente com os efeitos do indulto parcial da pena unificada, a razão de
50% (cinquenta por cento) do tempo de prisão no Curado. Outros, cujos feitos
tramitam nas demais Varas de Execução Penal, aguardarão a decisão do Tribunal.
4
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I - Processar e julgar:
g) o incidente de resolução de demandas repetidas, instaurado em razão de efetiva
repetição de processos cuja controvérsia envolva a mesma questão unicamente de
direito, material ou processual, surgida nas causas de natureza penal;
5
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Eis alguns trechos da medida provisória usada como fundamento para as decisões
da 1ª VREP:
“No entanto, compete aos juízes de execução penal determinar se o local de detenção
é adequado ao regime de cumprimento de pena do condenado. A Corte
Interamericana considera que a Súmula Vinculante 56 é plenamente aplicável como
precedente obrigatório à situação dos beneficiários das presentes medidas
provisórias, em razão dos fatos expostos na presente resolução e em resoluções
anteriores do Tribunal”. ( considerando 117)
“Considera a Corte que a solução radical, antes mencionada, que se inclina pela
imediata liberdade dos presos em razão da inadmissibilidade de penas ilícitas em um
Estado de Direito, embora seja firmemente principista e na lógica jurídica quase
inobjetável, desconhece que seria causa de um enorme alarme social que pode ser
motivo de males ainda maiores” ( considerando 125)
“A via institucional para arbitrar esse cômputo, levando em conta como pena o
excesso antijurídico de dor ou sofrimento padecido, deverá ser escolhida pelo
Estado, conforme seu direito interno, não sendo a Corte competente para indicá-la.
Obviamente, nesse processo decisório, os juízes internos devem dar cumprimento ao
determinado pelo STF na Súmula Vinculante No. 56 (Considerandos 113 a 117
supra). Não obstante isso, a Corte lembra que, conforme os princípios do Direito
Internacional dos Direitos Humanos, o Estado não poderá alegar descumprimento
em virtude de obstáculos de direito interno”. (considerando 127).
9
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DAS EXECUÇÕES PENAIS DO ESTADO DE PERNAMBUCO
“Artigo 2º. Dever de adotar disposições de direito interno. Se o exercício dos direitos
e liberdades mencionados no artigo 1 ainda não estiver garantido por disposições
legislativas ou de outra natureza, os Estados Partes comprometem-se a adotar, de
acordo com as suas normas constitucionais e com as disposições desta Convenção, as
medidas legislativas ou de outra natureza que forem necessárias para tornar efetivos
tais direitos e liberdades.”
Não se nega, como já referido acima, a validade das decisões emanadas das
Cortes Internacionais quando decorrentes de Tratados e Convenções subscritas pelo
Brasil. Contudo, os efeitos práticos das deliberações necessitam percorrer o caminho da
10
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO
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Vale ressaltar que o debate não pretende discutir se a Resolução é justa ou injusta.
A questão tratada na presente ação refere-se, primordialmente, à via processual eleita
pela Defensoria Pública e trilhada pelo Juízo da 1ª Vara das Execuções Penais e, na
sequência, a constitucionalidade da deliberação em relação aos crimes hediondos ou
equiparados.
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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO
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“(…) Pode-se afirmar, assim, que o indulto nada mais é do que uma política criminal
redutora de danos, quanto mais em âmbito brasileiro, considerada a precariedade do
seu sistema carcerário e a sua hiperlotação” (...).
1 https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/525939801/o-indulto-e-a-comutacao-na-
execucao-penal
12
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PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DAS EXECUÇÕES PENAIS DO ESTADO DE PERNAMBUCO
penal mais gravosa o decreto concessivo de comutação de pena que veda o benefício
para os condenados por delitos que, com o advento da Lei nº 8.072/90, foram
classificados como hediondos ou a eles equiparados. Trata-se, pois, de ato
discricionário do Presidente da República, cabendo a ele definir a extensão do
benefício."( HC nº 25.429/SP , da minha Relatoria, in DJ 15/12/2003). 2. O Plenário
do Supremo Tribunal Federal declarou, por maioria de votos, a inconstitucionalidade
do parágrafo 1º do artigo 2º da Lei nº 8.072/90, afastando, assim, o óbice da
progressão de regime aos condenados por crimes hediondos ou equiparados. 3.
Declaração de voto do Relator com entendimento contrário. 4. Ordem denegada.
Concessão de habeas corpus de ofício.” (STJ - HC: 49277 RS 2005/0179202-6,
Relator: Ministro HAMILTON CARVALHIDO, Data de Julgamento: 17/08/2006, T6 -
SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJ 05.02.2007 p. 390) (grifos nossos)
13
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“(…) Ainda que existisse decisão da Corte (IDH) sobre a preservação dos direitos
humanos, essa circunstância, por si só, não seria suficiente a elidir a deliberação do
Brasil acerca da aplicação de eventual julgado no seu âmbito doméstico, tudo isso
por força da soberania que é inerente ao Estado. Aplicação da Teoria da Margem de
Apreciação Nacional (margin of appreciation). (...)”
“(…) O Superior Tribunal de Justiça, por sua vez, orienta-se no sentido de que,
embora a Corte Interamericana de Direitos Humanos tenha emitido recomendações
aos Estados signatários do Pacto de São José da Costa Rica, para fins de proteção
dos direitos fundamentais, tais regras são desprovidas de qualquer valor jurídico, não
possuindo efeito vinculante, mas função meramente instrutória. Entende-se desse
modo que, não obstante se reconheça a liberdade de expressão e acesso à informação
como garantia fundamental, no ordenamento jurídico vigente inexiste qualquer
direito de caráter absoluto, de modo que, possuindo a mesma proteção jurídica,
devem ser compatibilizados com outros de igual valor para a sociedade. (...)”
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Comitê merece ser levada em conta, com o devido respeito e consideração. Não tem
ela, todavia, caráter vinculante e, no presente caso, não pode prevalecer, por
diversos fundamentos formais e materiais. (...)”. (RCAND nº 0600903-
50.2018.6.00.0000, relatoria do Min. Luís Roberto Barroso)
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Por fim, a comutação recomendada pela CIDH não pode impactar a pena
unificada, como se fosse uma remição por trabalho ou estudos. Isso porque o tempo de
prisão em dobro não poderia, logicamente, compensar penas correspondentes aos
crimes praticados após o período denominado de cárcere injusto pela CIDH.
“(…) Firme a jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal no sentido de que não é
possível creditar-se ao réu qualquer tempo de encarceramento anterior à prática do
crime que deu origem a condenação atual (...) não podendo o Paciente valer-se do
período em que esteve custodiado - e posteriormente absolvido - para fins de
detração da pena de crime cometido em período posterior (...)” (HC 93.979/RS, rel.
min. Cármen Lúcia, DJe nº 112, publicado em 20.06.2008)
3. DA TUTELA DE URGÊNCIA
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2 https://www.migalhas.com.br/depeso/334937/a-excepcionalidade--e-a-necessidade--da-tutela-de-urgencia-no-incidente-de-
resolucao-de-demandas-repetitivas
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Tal solução vem sendo, pouco a pouco, adotada pelos tribunais. A Seção Cível do
Tribunal de Justiça de Minas Gerais, ao admitir o IRDR 0417620-30.2017.8.13.0000, por
exemplo, concedeu a tutela de urgência para fixar provisoriamente uma interpretação
sobre a questão de direito controvertida, aplicando-a incontinenti às demandas repetitivas
que tratassem do tema, até o julgamento final do incidente.
(…) a tutela de urgência em IRDR, nos casos em que há extraordinária urgência, não
precisa necessariamente se submeter à competência do colegiado, podendo ser
analisada inicialmente pelo relator, sob pena de tornar inócuo o próprio julgamento do
IRDR, quando grande parte dos danos evitáveis já estarão consumados.
Posto isso, admitido o IRDR criminal para fixação da tese relativa à controvérsia
gerada pelo cômputo em dobro do tempo de prisão nas unidades do Complexo do
Curado, requer o Ministério Público o deferimento da tutela de urgência a fim de o
senhor Desembargador Relator determine, no âmbito da 1ª instância do Poder
Judiciário de Pernambuco a SUSPENSÃO da implantação da redução de penas
decorrente da medida provisória emanada da Corte Interamericana de Direito
Humanos até a solução do incidente.
4. DOS PEDIDOS
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21
Anexo D
Parecer da UMF/CNJ para
instrução dos autos do IRDR
Poder Judiciário
Conselho Nacional de Justiça
I - RELATÓRIO
1
Socioeducativas (DMF). Foi criada recentemente, por meio da Res. 364/2021, em 12 de janeiro
de 2021, como um dos frutos da cooperação internacional estabelecida entre a Corte IDH e o
CNJ, através de memorando de entendimento celebrado em dezembro de 2020. O art. 2º do
referido ato normativo atribui ao órgão mandato para: adotar as providências para monitorar e
fiscalizar o cumprimento das sentenças, medidas provisórias e opiniões consultivas proferidas
pela Corte Interamericana; sugerir propostas e observações ao Poder Público acerca de
providências administrativas, legislativas, judiciais ou de outra natureza, necessárias para o
cumprimento das decisões; solicitar informações e monitorar a tramitação dos processos e
procedimentos relativos à reparação material e imaterial das vítimas de violações a direitos
humanos.
1
Importante notar que os GMFs estaduais tem sido um importante canal de diálogo para um mapeamento dos
atuais problemas e interlocução com os atores relevantes: Poder Executivo, Administração Prisional, sociedade
civil, demais órgãos do sistema de Justiça, como Ministérios Públicos (Federal e Estadual), Defensorias (DPU e
Estadual), Conselho Penitenciário. Inclusive, o GMF/PE (atualmente coordenado pelo Desembargador Mauro
Alencar e pelo juiz Roberto Bivar) tem se destacado no engajamento e compromisso para a implementação da
política pública desenvolvida.
2
Corte IDH. Asunto de Unidad de Internación Socioeducativa, Complejo Penitenciario de Curado, Complejo
Penitenciario de Pedrinhas e Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho respecto de Brasil. Medidas Provisionales.
Resolución de la Presidenta de la Corte Interamericana de Derechos Humanos de 20 de abril de 2021.
33
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA DO BRASIL. ARAÚJO, Valter; LANFREDI, Luis; MACHADO,
Isabel (Coord). Informe sobre as medidas provisórias adotadas em relação ao Brasil. Série Sistema Interamericano
2
publicação do referido documento, com o objetivo de permitir a transparência e o diálogo com
os demais atores envolvidos.
II – INFORMAÇÕES
de Direitos Humanos, n. 1. Brasília: CNJ, 2021, pp. 57-58. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/2021/06/Medidas_Provisorias_adotadas_em_relacao_ao_Brasil_2021-06-16_V5.pdf.
3
Interamericana, conforme exigência da Convenção e do Regulamento, que estabelece as regras
do processo interamericano.
4 Sobre o longo caminho enfrentado pela sociedade civil para chegar à adoção das medidas cautelares da Comissão
Interamericana, vide pesquisa realizada por SCHIRMER, Julia Barros. A mobilização transnacional do direito e
o sistema interamericano de direitos humanos: o caso Aníbal Bruno. Dissertação (Mestrado em Direitos Humanos
e Cidadania) - Universidade de Brasília, Brasília, 2016. Disponível em:
https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/21852/1/2016_JuliaBarrosSchirmer.pdf.
5
No caso, a CIDH adotou a Resolução de Medida Cautelar - MC 199-11. A respeito: “Em 4 de agosto de 2011, a
CIDH outorgou medidas cautelares em favor das pessoas privadas de liberdade na Prisão Professor Aníbal Bruno,
cidade de Recife, Estado de Pernambuco, no Brasil. Na solicitação de medida cautelar alegou-se que 97 pessoas
privadas de liberdade faleceram na Prisão Professor Aníbal Bruno desde janeiro de 2008, das quais 55 foram
mortas de forma violenta. A solicitação também alega que vários presos foram torturados, presumidamente pelas
autoridades ou com seu consentimento. Ainda, indica que em julho de 2011 houve dois motins que resultaram em
duas pessoas mortas e 16 feridas. A Comissão solicitou ao Estado a adoção de todas as medidas necessárias para
proteger a vida, a integridade pessoal e a saúde das pessoas privadas de liberdade na Prisão Professor Aníbal
Bruno, a adoção das medidas necessárias para aumentar o pessoal de segurança da prisão e garantir que sejam os
agentes das forças de segurança do Estado os encarregados das funções de segurança interna, eliminando o sistema
dos chamados "chaveiros" e impedindo que as pessoas privadas de liberdade tenham funções disciplinares, de
controle ou de segurança. Ainda, a CIDH solicitou ao Estado assegurar atenção médica adequada aos beneficiários
das medidas e informar sobre as ações adotadas a fim de diminuir a situação de superpopulação nesta prisão, entre
outras. Em 2 de outubro de 2012, a CIDH ampliou essas medidas cautelares, a fim de proteger os funcionários e
os visitantes do centro penitenciário”. C.f. “CIDH, Medidas Cautelares 199/11, Pessoas Privadas de Liberdade na
Prisão Professor Aníbal Bruno em relação ao Brasil. 04 de agosto de 2011, com ampliação das medidas em 02 de
outubro de 2012. Disponível em: https://www.oas.org/es/cidh/decisiones/cautelares.asp#tab2011. Acesso em 15
out 2021.
4
insalubridade, falta de acesso à água tratada, más condições carcerárias (em especial nos
alojamentos), além da precariedade no acesso aos atendimentos de saúde.6
Assim, o caso ora analisado percorreu um longo canal de filtragem, passando
por um escrutínio estrito até a adoção da medida provisória outorgada em 2014. Vale também
notar que, na primeira decisão proferida, a Corte IDH determinou que o Estado Brasileiro
(composto pelos seus entes federados e poderes) adotasse medidas para resolver a situação de
grave risco, diante do número de mortes elevadas e denúncias de tortura oriundas do espaço de
privação de liberdade. A decisão inaugural conferiu ao Estado certa margem de
discricionariedade para elaborar um pacote de medidas voltados à solução dos problemas
estruturais (em especial a superlotação), sanitários e ao altíssimo índice de violência
intramuros, além das questões seríssimas sobre as condições de detenção7. Essa é, aliás, uma
tendência observada nas medidas provisórias da Corte. As primeiras decisões geralmente
deferem aos Estados a possibilidade de se organizarem, conforme suas opções de políticas
públicas disponíveis e seus próprios desenhos de ações de enfrentamento ao problema, sem
determinar os meios a serem adotados. Por isso, a decisão inicial focou nas obrigações de
resultado (eliminação da situação de grave risco). A Corte Interamericana, em suas decisões,
só avança para a imposição de obrigações de meio (como é o caso da imposição de
compensações penais para alcançar resultados) quando o Estado, dentro de sua margem de
discricionariedade, não apresenta resultados satisfatórios aptos a eliminar os riscos que deram
ensejo ao problema.
Assim, para contextualizar todo o percurso das decisões que culminaram na
última resolução de 2018, é importante relembrar os termos da medida provisória inaugural de
2014:
6
CIDH. Medidas Cautelares 199/11, Pessoas Privadas de Liberdade na Prisão Professor Aníbal Bruno em relação
ao Brasil. 04 de agosto de 2011, com ampliação das medidas em 02 de outubro de 2012. Disponível em:
https://www.oas.org/es/cidh/decisiones/cautelares.asp#tab2011. Acesso em 15 out 2021.
7 Em paradigmático estudo para a sua dissertação de mestrado, Deise Benedito traz reflexões sobre o impacto
desproporcional das condições de detenção no Complexo do Curado na população negra pernambucana, realçando
os vários aspectos em que as violações representadas pela situação podem ser analisadas. O trabalho foi, inclusive,
referenciado pela peticionária Monique Cruz (Justiça Global) perante a Corte IDH, na audiência pública de
supervisão de cumprimento, realizada em 02 de junho de 2021. C.f. BENEDITO, Deise. A favelização do
Complexo do Curado e a ilicitude da existência: uma faceta das violações de direitos humanos no sistema
penitenciário brasileiro. Dissertação (Mestrado em Direito) - Universidade de Brasília, Brasília, 2019. Disponível
em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/35875.
5
“A Corte Interamericana de Direitos Humanos, no uso das atribuições
conferidas pelo artigo 63.2 da Convenção Americana e pelo artigo 27
do Regulamento, resolve:
1. Requerer ao Estado que adote, de forma imediata, todas as
medidas que sejam necessárias para proteger eficazmente a vida e
a integridade pessoal de todas as pessoas privadas de liberdade no
Complexo de Curado, assim como de qualquer pessoa que se
encontre neste estabelecimento, incluindo os agentes
penitenciários, funcionários e visitantes, nos termos do
Considerando 20 desta Resolução.
2. Requerer ao Estado que, na medida do possível, mantenha os
representantes dos beneficiários informados sobre as medidas adotadas
para a implementar a presente medida provisória.
3. Requerer ao Estado que informe à Corte Interamericana de Direitos
Humanos a cada três meses, contados a partir da notificação da presente
Resolução, sobre as medidas provisórias adotadas em conformidade
com esta decisão.
4. Solicitar aos representantes dos beneficiários que apresentem as
observações que considerem pertinentes ao relatório requerido no
ponto resolutivo anterior dentro de um prazo de quatro semanas,
contado a partir do recebimento do referido relatório estatal.
5. Solicitar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos que
apresente as observações que considere pertinentes ao relatório estatal
requerido no ponto resolutivo terceiro e às correspondentes
observações dos representantes dos beneficiários dentro de um prazo
de duas semanas, contado a partir da transmissão das referidas
observações dos representantes.
6. Dispor que a Secretaria da Corte notifique a presente Resolução ao
Estado, à Comissão Interamericana e aos representantes dos
beneficiários”.
Desde então, a Corte já adotou seis decisões sobre o Curado: a resolução que
inicialmente defere a medida provisória (em 2014), seguida de resoluções (geralmente anuais)
para a supervisão do cumprimento da decisão. Nesse sentido, destacam-se:
8
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias.
Resolução de 22 de maio de 2014
9
CORTE IDH, Assunto do Complexo Penitenciário de Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias.
Resolução da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 7 de outubro de 2015.
6
• 3º ciclo: Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do
Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 18
de novembro de 201510;
• 4º ciclo: Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do
Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 23
de novembro de 201611;
• 5º ciclo: Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do
Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 15
de novembro de 201712;
• 6º ciclo: Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do
Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 28
de novembro de 201813.
10
CORTE IDH, Assunto do Complexo Penitenciário de Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias.
Resolução da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 18 de novembro de 2015.
11
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias.
Resolução de 23 de novembro de 2016
12
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias.
Resolução de 15 de novembro de 2017
13
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias.
Resolução de 28 de novembro de 2018
14
HERRERA, Clara Burbano. Provisional measures in the case law of the Inter-American Court of Human
Rights. Antwerp, Oxford, Portland: Intersentia, 2010, p. 173.
15
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA DO BRASIL. ARAÚJO, Valter; LANFREDI, Luis; MACHADO,
Isabel (Coord). Informe sobre as medidas provisórias adotadas em relação ao Brasil. Série Sistema Interamericano
de Direitos Humanos, n. 1. Brasília: CNJ, 2021, pp. 57-58. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/2021/06/Medidas_Provisorias_adotadas_em_relacao_ao_Brasil_2021-06-16_V5.pdf, p. 72 et
seq
7
as medidas cautelares em 2011 (quando o estabelecimento ainda pertencia ao Presídio
Professor Aníbal Bruno). A propósito:
16
C.f. Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias.
Resolução de 22 de maio de 2014, §7, alínea c, item 11.
17
Contagem de 28 de fevereiro de 2014. C.f. Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em
relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 22 de maio de 2014, §7, alínea c, item 11.
18
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias.
Resolução de 28 de novembro de 2018, §67.
19
Informações do Estado: “Quanto a casos de violência e mortes ocorridas no Complexo de Curado, o Estado
comunicou 12 homicídios em 2017, 15 mas não informou sobre óbitos no ano de 2018” C.f. Corte IDH. Assunto
do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 28 de novembro
de 2018, §42. Os peticionários listaram pelo menos 6 óbitos por causa violenta em 2018 (c.f. §48).
8
Segundo os dados coletados, observa-se que poucos avanços foram obtidos em
relação a esses pontos20, sendo necessário o engajamento dos atores envolvidos para
implementar as medidas provisórias outorgadas pela Corte IDH. Com efeito, o estabelecimento
segue em situação de superlotação com 6.708 pessoas, para uma capacidade de 1.819 presos,
conforme contagem divulgada em 24 de maio de 2021.
20
A própria Corte IDH reconhece alguns esforços em relação a pontos problemáticos, como o acesso à tratamento
para tuberculose, etc. Ocorre que esses avanços não são suficientes para justificar o levantamento das medidas.
21
Nesse sentido, assim dispõe os pontos resolutivos 4-6: “4. O Estado deverá arbitrar os meios para que, no prazo
de seis meses a contar da presente decisão, se compute em dobro cada dia de privação de liberdade cumprido no
IPPSC, para todas as pessoas ali alojadas, que não sejam acusadas de crimes contra a vida ou a integridade física,
ou de crimes sexuais, ou não tenham sido por eles condenadas, nos termos dos Considerandos 115 a 130 da
presente resolução. 5. O Estado deverá organizar, no prazo de quatro meses a partir da presente decisão, uma
9
A partir da decisão interamericana, a Defensoria Pública do Estado de
Pernambuco passou a peticionar, em casos concretos, pela concessão do benefício na execução
penal, em favor das pessoas privadas que estiveram privadas de liberdade no referido
estabelecimento.
Conforme já destacado no Informe do CNJ de junho de 2021 e também na
própria exposição que consta na exordial ministerial, observa-se que, de uma forma geral, o
benefício não tem sido concedido na maioria dos casos. Contudo, há decisões que
reconheceram a sua aplicabilidade. Por isso, o Ministério Público do Estado de Pernambuco
requereu a instauração de um IRDR (Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas), com
o fim de uniformizar o entendimento sobre o tema. O Parquet assim apresentou as questões
centrais da controvérsia:
equipe criminológica de profissionais, em especial psicólogos e assistentes sociais, sem prejuízo de outros, que,
em pareceres assinados por pelo menos três deles, avalie o prognóstico de conduta com base em indicadores de
agressividade dos presos alojados no IPPSC, acusados de crimes contra a vida e a integridade física, ou de crimes
sexuais, ou por eles condenados. Segundo o resultado verificado em cada caso, a equipe criminológica, ou pelo
menos três de seus profissionais, conforme o prognóstico de conduta a que tenha chegado, aconselhará a
conveniência ou inconveniêcia do cômputo em dobro do tempo de privação de liberdade, ou, então, sua redução
em menor medida. 6. O Estado deverá dotar a equipe criminológica do número de profissionais e da infraestrutura
necessária para que seu trabalho possa ser realizado no prazo de oito meses a partir de seu início”. In: Corte IDH.
Assunto do Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho a respeito do Brasil. Medidas Provisórias. Resolução da Corte
Interamericana de Direitos Humanos de 22 de novembro de 2018., Pontos Resolutivos 4-6.
10
Na sequência, abordaremos pontualmente os pontos que encadeiam a
controvérsia.
22
A compensação penal é um instituto oriundo de uma teoria desenvolvida pelos juristas Eugenio Raul Zaffaroni
e por Pablo Vacani, segundo o qual o tempo de pena cumprido em situações degradantes é diferente daquele
vivenciado em estabelecimentos que observam os parâmetros mínimos exigíveis pelo Direito Internacional e pelo
próprio Direito Interno dos Estados. C.f. ZAFFARONI, Eugenio Raul. Las penas crueles son penas. Disponível
em VACANI, Pablo; Barresi, Mariela. La medida cualitativa de prisón por ejecución de pena ilícita llega a la
Corte Interamericana (Medidas Provisionales , Asunto Instituto Penal Plácido Sá Carvalho). In: VACANI, Pablo
(org.). La indeterminación de la pena en el proceso de ejecución peal: nuevas herramientas teóricas y
jurisprudenciales. Buenos Aires: Ad-hoc, 2019, p. 269-294. ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Las Penas Crueles son
penas. Disponível em: http://www.derecho.uba.ar/publicaciones/lye/revistas/66/las-penas-crueles-son-penas.pdf.
Acesso em 19 de maio de 2021, p. 23.
23
Em artigo publicado em 2019, o Ademar Borges sustenta a “(...) noção de que a pena cumprida em condições
mais severas do que as determinadas pela lei apresenta um conteúdo punitivo mais intenso, que deve ser levado
em consideração pelos juízes para fins de readequação (redução ou extinção) da pena pela sentença”. (In: SOUSA
FILHO, Ademar Borges. Jurisdição constitucional e constitucionalização da pena de prisão. Revista da EMERJ,
v. 21, n. 3, set/dez 2019, tomo 1, p. 105). Recentemente, desenvolvendo um pouco mais a ideia das compensações
punitivas, Ademar Borges e Aline Osório defendem que o instituto teria natureza análoga à da detração. Nesse
sentido, c.f. SOUSA FILHO, Ademar Borges; OSORIO, Aline. Compensações punitivas por violações de direitos
fundamentais dos presos: reflexões sobre o futuro da ADPF 347 – no prelo.
24
Inclusive, relembram os autores que o art. 42 da LEP já vem recebendo interpretação extensiva dos tribunais,
que passaram a admitir o computo do tempo cumprido em sede de prisão domiciliar e do recolhimento noturno.
No artigo destacado, apontam os seguintes precedentes: STJ, HC 3.109, Rel. Min. Adhemar Maciel, Red. p/
11
Outro caminho alternativo observado na experiência nacional vem sendo
aplicado pelos magistrados e magistradas da execução penal do Estado do Rio de Janeiro, com
aplicação da técnica análoga àquela que é usada ao instituto da remição25. Apesar de se tratarem
de institutos distintos (com frações diferentes a serem aplicadas), é possível notar que tanto a
remição quanto a compensação são espécies de mecanismos de aceleração do cumprimento de
pena.
Seja como for, é certo que a compensação penal não se confunde com a
comutação especial ou indulto, que são medidas discricionárias adotadas pelo Poder Executivo,
por meio de Decreto Presidencial, para regulação da política penitenciária nacional. A
diferenciação dos institutos se deve em relação à autoridade com poderes para a determinação
de sua hipótese de incidência. Enquanto a compensação surge como um remédio judicial
efetivo determinada pelo Poder Judiciário para compensar uma omissão inconstitucional
(tolerância estatal com a submissão a tratamento degradante nos cárceres), a fonte da
comutação e do indulto, conforme disposto acima, seria de ato normativo oriundo do Poder
Executivo.
Em situações excepcionais, diante de um quadro generalizado de violações e de
imposição de tratamento cruel, desumano e degradante, o poder judiciário pode impor a
aplicação de um remédio apto a sanar a situação enfrentada.26 A Corte IDH, por mais de 04
anos, aguardou que o Estado Brasileiro controlasse a superlotação carcerária com base em suas
próprias opções de política penitenciária. Contudo, diante da não adoção de medidas com
resultados concretos e efetivos (que resultassem na observância do limite de capacidade
indicada pelo estabelecimento), fixou o dever de adoção do benefício da compensação para que
a situação seja enfrentada com providências concretas. Essa medida pode ser aliada à outras
ações e projetos estruturais para a consecução dos resultados almejados (controle da
superpopulação com a redução até o limite de capacidade das unidades prisionais).
É importante destacar que, apesar de acelerar o cumprimento da pena, a
compensação penal não gera automaticamente a soltura do apenado, pois o benefício impacta
tão somente no cálculo da pena remanescente. Eventual soltura só será concedida em análise
acórdão Min. Vicente Leal, Sexta Turma, j. em 28.03.1995; STJ, HC 11.225, Rel. Min. Edson Vidigal, Quinta
Turma, j. em 06.04.2000; STJ, HC 459377, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, j. em
04.09.2018. E, ainda: STJ, HC 380.369, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, j. em 27.09.2017. A propósito,
c.f. c.f. SOUSA FILHO, Ademar Borges; OSORIO, Aline. Compensações punitivas por violações de direitos
fundamentais dos presos: reflexões sobre o futuro da ADPF 347 – no prelo, p. 9.
25
Apesar de seguirem essa técnica, as decisões têm seguido a fração própria da compensação, conforme indicado
pela Corte Interamericana, na resolução sobre as medidas provisórias adotadas.
26
SOUSA FILHO, Ademar Borges. Jurisdição constitucional e constitucionalização da pena de prisão. Revista
da EMERJ, v. 21, n. 3, set/dez 2019, tomo 1, p. 103 et seq.
12
subsequente sobre o cabimento dos benefícios da execução penal (progressão de regime,
livramento condicional, prisão domiciliar). Assim, os juízes e juízas continuarão avaliando o
preenchimento dos requisitos próprios para que uma pessoa seja colocada em liberdade, tal
como tem sido feito cotidianamente.
27
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA DO BRASIL. ARAÚJO, Valter; LANFREDI, Luis; MACHADO,
Isabel (Coord). Informe sobre as medidas provisórias adotadas em relação ao Brasil. Série Sistema Interamericano
de Direitos Humanos, n. 1. Brasília: CNJ, 2021, pp. 57-58. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/2021/06/Medidas_Provisorias_adotadas_em_relacao_ao_Brasil_2021-06-16_V5.pdf, p. 37.
13
68 que as suas decisões são vinculantes28, sendo que o art. 62(3) confere poderes expressos ao
tribunal para a adoção de medidas provisórias.29 As medidas provisórias têm natureza de
decisões interlocutórias, adotadas no âmbito das tutelas de urgência 30, sob o formato de
resoluções31 (nomenclatura eleita pelo Regulamento da Corte IDH, que codifica as regras de
procedimento no âmbito daquele tribunal). A nomenclatura “resolução” é uma tradução literal
do termo em espanhol, que, em várias jurisdições, é o termo processual adotado para as
decisões interlocutórias de tribunais. Assim, no sistema interamericano, as resoluções são
verdadeiras decisões judiciais, dotadas de caráter vinculante, nos termos do art. 68 da CADH.
Conforme entendimento do STJ:
28
CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. The Evolution of Provisional Measures Under the Case-Law of
the Inter-American Court of Human Rights (1987-2002). Human Rights Law Journal, Kehl, v. 24, n. 5-8, p.
162-168, 2003, p. 167. Vide também: CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. O regime jurídico autônomo
das medidas provisórias de proteção. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2017.
29
RAMOS, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015,
p. 252.
30
HERRERA, Clara Burbano. Provisional measures in the case law of the Inter-American Court of Human
Rights. Antwerp, Oxford, Portland: Intersentia, 2010, p. 131.
31
CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. The Evolution of Provisional Measures Under the Case-Law of
the Inter-American Court of Human Rights (1987-2002). Human Rights Law Journal, Kehl, v. 24, n. 5-8, p.
162-168, 2003.
14
fundamentos e alcance (expressão do constitucionalismo fraternal).
Curitiba: Appris, 2017; MACHADO, Clara. O Princípio Jurídico da
Fraternidade. - um instrumento para proteção de direitos fundamentais
transindividuais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017; PIOVESAN,
Flávia. Direitos Humanos e o direito constitucional internacional. Sâo
Paulo: Saraiva, 2017; VERONESE, Josiane Rose Petry; OLIVEIRA,
Olga Maria Boschi Aguiar de; Direito, Justiça e Fraternidade. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2017.
8. Os juízes nacionais devem agir como juízes interamericanos e
estabelecer o diálogo entre o direito interno e o direito internacional
dos direitos humanos, até mesmo para diminuir violações e abreviar as
demandas internacionais. É com tal espírito hermenêutico que se
dessume que, na hipótese, a melhor interpretação a ser dada, é pela
aplicação a Resolução da Corte Interamericana de Direitos Humanos,
de 22 de novembro de 2018 a todo o período em que o recorrente
cumpriu pena no IPPSC.”32
32
BRASIL. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA . AgRg no RHC 136961. Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, 5ª Turma. DJ 21.06.2021. Disponível em:
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=2069460&num_
registro=202002844693&data=20210621&peticao_numero=202100442356&formato=PDF
33
BRASIL. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Habeas Corpus 660.332/RJ (2021/0114371-5), Rel. Min.
Sebastião Reis Junior. Disponível em:
https://processo.stj.jus.br/processo/julgamento/eletronico/documento/mediado/?documento_tipo=integra&docu
mento_sequencial=133961749®istro_numero=202101143715&peticao_numero=-
1&publicacao_data=20210916&formato=PDF.
34
A propósito, André de Carvalho Ramos esclarece de forma cristalina que: “(...) a decisão de uma organização
internacional não encontra identidade em uma sentença judicial oriunda de um Estado Estrangeiro. Logo, não é
necessário, nem autorizado, pelo nosso ordenamento, a homologação da citada sentença internacional pelo
Superior Tribunal de Justiça, sob pena de violarmos a própria Constituição Brasileira que estabelece os limites de
competência do STJ. Consequentemente, a homologação de sentença estrangeira prevista no art. 105, I, i da
Constituição não se aplica às sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos”. In RAMOS, André de
Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 375.
15
pode invocar obstáculos internos35 (como exigência de leis ou decretos presidenciais) para
justificar o descumprimento de uma obrigação internacional. No caso, o reiterado
descumprimento situa o Brasil em uma posição de mora internacional, em descumprimento das
obrigações assumidas. A adoção de medidas provisórias é excepcionalíssima e adotada nas
situações mais graves que chegam ao sistema.36
35
Id, p. 373.
36
LEGALE, Siddharta. A Corte Interamericana de Direitos Humanos como tribunal constitucional, 2ª ed.
Rio de Janeiro: lumen juris, 2020, p. 98.
37
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias.
Resolução de 28 de novembro de 2018, ponto resolutivo 6.
38
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias.
Resolução de 28 de novembro de 2018, ponto resolutivo 7 e 8.
39
O TJMA instituiu, pela Portaria Conjunta 22/2021, o “(...) o Grupo de Trabalho para a implantação da Central
de Regulação de Vagas nos Estabelecimentos Prisionais do Estado do Maranhão, por intermédio do Programa
Fazendo Justiça, do Conselho Nacional de Justiça-CNJ” (Disponível em:
https://www.tjma.jus.br/atos/cgj/portarias-conjuntas/titulo-portaria/501433). Esse é o primeiro projeto piloto
sobre centrais de vagas como medida para o controle da superpopulação carcerária adotado no Brasil. A ação vem
16
estado do Maranhão aderiu recentemente, tendo em vista a situação enfrentada pelo Estado,
que também possui a medida provisória pendente no caso do Complexo Penitenciário São Luís
(Antiga Pedrinhas).
sendo desenhada pelo Eixo 1 do Programa Fazendo Justiça, pelo GMF/MA e pelo GT criado pela referida portaria.
Vale destacar, que a proposta foi apresentada ao público no folder disponível em: www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/2020/10/Folder-Controle-Superlotação.pdf . O Programa irá publicar no sítio do CNJ um manual
instrumental sobre o tema (no prelo).
40
Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias.
Resolução de 28 de novembro de 2018, pontos resolutivos 7 e 8.
41
BRASIL. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Habeas Corpus 660.332/RJ (2021/0114371-5), Rel. Min.
Sebastião Reis Junior. Disponível em:
https://processo.stj.jus.br/processo/julgamento/eletronico/documento/mediado/?documento_tipo=integra&docu
mento_sequencial=133961749®istro_numero=202101143715&peticao_numero=-
1&publicacao_data=20210916&formato=PDF.
42
Especificamente em relação ao Complexo do Curado, há ampla documentação sobre os efeitos da
superpopulação por meio de inspeções, relatório de Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o Sistema Prisional,
adoção de medidas cautelares pela CIDH (2011) e adoção das medidas provisórias a partir de 2014
17
inclusive, foi convalidado pelo STJ, em relação à contexto análogo (medida provisória
concedida pela Corte IDH em relação ao Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho – RJ). A
respeito, destaca-se trecho do voto do Min. Reynaldo Soares da Fonseca:
43
STJ, AgRg no Recurso em Habeas Corpus nº 136.961/RJ, 5ª Turma do STJ, Rel. Min. Reynaldo da Fonseca
44
Importante contextualizar, tal como já exposto no informe do CNJ (2021), no caso do Instituto Penal Plácido
Sá Carvalho, há um específico debate sobre o tema. A SEAP-RJ informou que o limite da capacidade do
estabelecimento era de 1699 pessoas. Em março de 2020, a partir da combinação da concessão do benefício com
outras medidas de desencarceramento (em especial, aquelas que derivam da Recomendação 62 do CNJ), o
estabelecimento penal passou a observar o limite da capacidade. Por isso, os juízes da execução passaram a
considerar tal data como dies ad quem. Contudo, tem sido reportado que a adoção do referido critério encontra
resistência por parte dos peticionários, tendo em vista que a determinação da capacidade máxima do
estabelecimento não observa a Res. 09/2010 do CNPCP (parâmetro adotado pela Corte IDH). Ademais, apesar de
a superlotação ser um dos fatores preponderantes para determinar a aplicabilidade da compensação penal, a Corte
IDH adota outros pontos (como condições de salubridade e acesso à saúde). Por isso, sustentam que o marco final
deveria ser a data do levantamento das medidas provisórias.
18
providências concretas pelos atores envolvidos são o caminho para que se possa alcançar tal
meta.
19
contínuo monitoramento que vem sendo feito aos estabelecimentos penais que são objeto de
medidas provisórias ditadas pelo referido tribunal internacional.
Inclusive, lembramos que esta não é a primeira vez que surge uma consulta
nesse sentido. Também o GMF do Rio de Janeiro, no âmbito da implementação da medida
provisória no Instituto Penal Plácido Sá Carvalho, solicitou cooperação técnica com o
DMF/CNJ45, para melhor compreender como seguir a determinação interamericana e associá-
la à política pública judicial do então Programa Justiça Presente. A partir do diálogo construído
entre o CNJ e o GMF do Rio de Janeiro, alguns avanços em relação ao controle da
superpopulação foram alcançados, conforme reportado no último Informe da UMF sobre as
quatro medidas provisórias. Caso V. Exas considerem útil, é possível promover, inclusive,
eventos de cooperação entre os GMFs para compartilhamento das estratégias de
implementação dos pontos resolutivos ainda pendentes de cumprimento, bem como de outras
ações que podem promover o controle dos problemas detectados e a promoção de um controle
de convencionalidade46 pelo Poder Judiciário. O CNJ se propõe, desde já, a intermediar essa
iniciativa, uma vez que os desafios enfrentados pioneiramente pelo TJRJ, TJPE e TJMA podem
servir de modelo para outros tribunais, que enfrentam contextos prisionais com grande
instabilidade, índice de violência e precariedade. Ao mesmo tempo que se compreende o
enorme desafio que o tribunal pernambucano ora enfrenta, relembramos também que se trata
de um território com vastíssima tradição jurídica, terra de grandes juristas e figuras de relevo
nacional. A atuação da UMF se pauta pela certeza que são os atores locais (do Poder Judiciário,
dos Gestores Prisionais, do Ministério Público Estadual e Federal, da Defensoria Estadual e da
União, junto com os peticionários e sociedade civil) que protagonizam os avanços incrementais
que podem ser obtidos. Nesse sentido, é louvável que o IRDR reúna uma vasta pluralidade de
vozes para que se possa pensar coletivamente em arranjos para garantir o fiel cumprimento da
medida imposta.
O esforço e diálogo de todos os(as) envolvidos(as) é o caminho possível para a
construção das reformas sistêmicas necessárias. Essa é a perspectiva que tem sido construída
pelo Supremo Tribunal Federal na ação do Estado de Coisas Inconstitucional, e também pelo
45
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA DO BRASIL. ARAÚJO, Valter; LANFREDI, Luis; MACHADO,
Isabel (Coord). Informe sobre as medidas provisórias adotadas em relação ao Brasil. Série Sistema Interamericano
de Direitos Humanos, n. 1. Brasília: CNJ, 2021, pp. 57-58. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/2021/06/Medidas_Provisorias_adotadas_em_relacao_ao_Brasil_2021-06-16_V5.pdf.
46 Sobre a proposta, c.f. FACHIN, Melina Girardi; RIBAS, Ana Carolina; CAVASSIN, Lucas Carli. Perspectivas
20
STJ nos inúmeros habeas corpus e recursos recentemente apreciados. A presença do CNJ,
nesse espaço, só se justifica para compartilhar o que já foi alcançado em outras experiências
em situações semelhantes, nas quais este órgão foi convidado a cooperar.
Por fim, caso V. Exas julguem relevante ou necessário, colocamo-nos à
disposição para apresentação das informações ora sistematizadas por meio de sustentação oral.
21
Anexo E
Acórdão IRDR
Tribunal de Justiça de Pernambuco
PJe - Processo Judicial Eletrônico
09/09/2022
Número: 0008770-65.2021.8.17.9000
Classe: INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS
Órgão julgador colegiado: Seção Criminal
Órgão julgador: Gabinete do Des. Carlos Frederico Gonçalves de Moraes (Processos Vinculados -
4ª CCrim)
Última distribuição : 24/05/2021
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Indulto
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO
(SUSCITANTE)
DEFENSORIA PUBLICA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
(SUSCITADO)
Defensor Público do Estado de Pernambuco (SUSCITADO)
Coordenação da Central de Recursos Criminais (FISCAL
DA ORDEM JURÍDICA)
Coordenação das Procuradorias Criminais (FISCAL DA
ORDEM JURÍDICA)
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA DE PERNAMBUCO
(FISCAL DA ORDEM JURÍDICA)
Amicus Curiae (TERCEIRO INTERESSADO) RENATA XAVIER DE CASTRO (ADVOGADO(A))
FLAVIANNE FERNANDA BITENCOURT NOBREGA
(ADVOGADO(A))
CAMILLA MONTANHA DE LIMA (ADVOGADO(A))
54º Promotor de Justiça Criminal da Capital (FISCAL DA
ORDEM JURÍDICA)
21º Promotor de Justiça Criminal da Capital (FISCAL DA
ORDEM JURÍDICA)
19º Promotor de Justiça Criminal da Capital (FISCAL DA
ORDEM JURÍDICA)
20º Promotor de Justiça Criminal da Capital (FISCAL DA
ORDEM JURÍDICA)
8º Promotor de Justiça Criminal de Caruaru (FISCAL DA
ORDEM JURÍDICA)
5º Promotor de Justiça Criminal de Petrolina (FISCAL DA
ORDEM JURÍDICA)
ESTADO DE PERNAMBUCO, PROCURADORIA GERAL DO
ESTADO DE PERNAMBUCO (FISCAL DA ORDEM
JURÍDICA)
PROCURADOR GERAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO
(FISCAL DA ORDEM JURÍDICA)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
23156 08/09/2022 16:35 Acórdão Acórdão
565
INTEIRO TEOR
SEÇÃO CRIMINAL
EMENTA
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Número do documento: 22090816352679900000022780048
PENITENCIÁRIO DO CURADO – ESPÉCIE SUI GENERIS DE
REMIÇÃO POR SUPERLOTAÇÃO – UNIFORMIZAÇÃO DA
JURISPRUDÊNCIA QUANTO À APLICAÇÃO DA RESOLUÇÃO EM
QUESTÃO (ART. 985 DO CPC) – FIXAÇÃO DE CINCO TESES
JURÍDICAS A SEREM ADOTADAS NO ÂMBITO DESTE TRIBUNAL,
A SABER:
TESE 1: A contagem em dobro do tempo de prisão cumprido no
Complexo Penitenciário do Curado, em Recife/PE, estabelecida pela
Resolução de 28/11/2018 da Corte Interamericana de Direitos
Humanos (Corte IDH) possui a natureza jurídica de remição sui
generis ou, mais precisamente, de “remição por superlotação”.
TESE 2: Para evitar a superpopulação carcerária e as suas
consequências no Complexo Penitenciário do Curado, os juízes da
execução penal devem observar, em primeiro lugar, a aplicação da
Súmula Vinculante nº 56 e as diretrizes fixadas pelo STF na
repercussão geral do RE 641.320/RS.
TESE 3: Após esgotados os parâmetros fixados no RE 641.320/RS, o
benefício da contagem em dobro do tempo de prisão cumprido no
Complexo Penitenciário do Curado, em Recife/PE, previsto na
Resolução de 28/11/2018 da Corte Interamericana de Direitos
Humanos (Corte IDH), somente se aplica aos detentos que não forem
acusados ou condenados em razão dos crimes contra a vida, a
integridade física e a dignidade sexual, assim classificados pelo
Código Penal, bem como não se adota aos recolhidos em virtude dos
crimes hediondos e equiparados previstos na Lei nº 8.072/90.
TESE 4: O termo inicial da contagem em dobro do tempo de prisão
cumprido no Complexo Penitenciário do Curado, em Recife/PE,
prevista na Resolução de 28/11/2018 da Corte Interamericana de
Direitos Humanos (Corte IDH), é a data do ingresso do detento no
referido estabelecimento prisional, independentemente da data em
que o Estado brasileiro foi notificado da deliberação.
TESE 5: Na hipótese de superveniente condenação por crime
posterior no curso da execução, antes de se proceder à soma
determinada no art. 111, parágrafo único, da Lei nº 7.210/84, faz-se
necessário efetuar a separação das penas tão somente para fins do
cálculo do cômputo em dobro estabelecido pela Resolução de
28/11/2018 da Corte Interamericana de Direitos Humanos, a fim de
evitar a denominada “poupança de tempo de prisão”.
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Decisão unânime, nos termos do art. 206 do Regimento Interno do
TJPE.
ACÓRDÃO
01
RELATÓRIO
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Trata-se de Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, com pedido de
tutela de urgência, ofertado em 24.05.2021 (ID 16097572), na forma do art. 978 do Código
de Processo Civil, pelo Ministério Público do Estado de Pernambuco, através dos
titulares das Promotorias de Justiça Criminais em execuções penais da Capital, Caruaru e
Petrolina, visando à uniformização da interpretação por meio de controle de
constitucionalidade dos processos de execução relacionados à adoção da medida de
detração ficta imposta por medida provisória emanada da Corte Interamericana de
Direitos Humanos – CIDH, a qual recomendou, para efeitos das sanções penais, a
contagem em dobro do tempo de prisão nas unidades prisionais integrantes do Complexo
do Curado, e, liminarmente, objetivando a suspensão dos efeitos práticos da referida
detração ficta.
As questões – nuclear e adjacentes – aduzidas no presente incidente versam
sobre duas vertentes que se relacionam com a adequação constitucional da aplicação da
decisão internacional no direito interno. A primeira vertente refere-se à possibilidade da
imediata aplicação dessa contagem em dobro do tempo de pena ou de medida
preventiva, cumprida no Complexo do Curado, independentemente de arbitragem ou
regulamentação pela União (questão nuclear). A segunda vertente diz respeito, caso se
conclua pela aplicação imediata da Medida Provisória, à correta identificação do instituto a
ser aplicado, a partir da delimitação de sua natureza jurídica e dos requisitos legais
inerentes à matéria de execução penal (questões adjacentes). Notadamente, as duas
vertentes aqui destacadas evidenciam-se a partir dos seguintes questionamentos
formulados pelo Ministério Público em sua petição inicial:
d) se for de aplicação imediata pela Justiça Estadual, quais as premissas para concessão da comutação
da pena (perdão parcial), em especial no que concerne ao reconhecimento ou não de violação à
Súmula Vinculante nº 56?
e) sendo a medida constitucional e aplicável aos crimes hediondos ou equiparados, é necessário prévio
estudo psicossocial (exame criminológico)?
Assinado eletronicamente por: CARLOS FREDERICO GONCALVES DE MORAES - 08/09/2022 16:35:27 Num. 23156565 - Pág. 4
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Em 25.05.2021, foi proferido despacho (ID 16109014) determinando o
encaminhamento dos autos à Comissão de Sistematização e Publicação de Precedentes
Judiciais para manifestação na forma do art. 437 da Resolução nº 395/2017 (Regimento
Interno do Tribunal de Justiça de Pernambuco), a qual, em 02.06.2021, emitiu parecer nos
seguintes termos: “verificada a insegurança jurídica que a matéria pode ocasionar na
prática, com efeitos diretos na execução das penas no Estado de Pernambuco, nos
termos do art. 437 do Regimento Interno desta Corte, opina a Comissão de
Sistematização e Publicação de Precedentes Judiciais pela instauração do presente
IRDR, observadas as formalidades legais atinentes à espécie” (ID 16224306).
Em 16.06.2021, a Procuradoria de Justiça manifestou-se nos autos da
seguinte forma: “considerando que o presente IRDR foi proposto pelo Ministério Público,
esta Subprocuradoria-Geral de Justiça em Assuntos Jurídicos deixa de se manifestar
nesse momento, em atenção ao art. 437 do RITJPE, requerendo, desde logo, que
admitido o incidente e concluídas as diligências, seja determinado pelo E. Des. Relator
vista ao MPPE, com arrimo no art. 441 do RITJPE” (ID 16434586)
Na sessão de julgamento realizada em 21.06.2021, a Seção Criminal, à
unanimidade, admitiu o presente incidente e, também por decisão unânime, concedeu a
tutela de urgência requerida, determinando a suspensão dos efeitos práticos da contagem
em dobro do tempo de prisão nas unidades integrantes do denominado Complexo do
Curado, bem como o sobrestamento de todos os recursos de agravo de execução
relacionados à questão jurídica em apreço, até o julgamento do presente incidente,
restando assim ementado o acórdão resultante do julgamento pela admissibilidade do
incidente em análise (ID 16506142):
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Interamericano de Direitos Humanos: investigação dos arranjos institucionais que
favorecem e dificultam a sua implementação no Brasil”, vinculado ao Programa de Pós
Graduação em Direito da UFPE (PPGD), juntou aos autos petição (ID 17969721), na qual
requer: a) admissão de sua habilitação nos autos para atuar na qualidade de amicus
curiae; b) autorização de envio posterior de memorial escrito, com informações
complementares; e c) autorização para realizar sustentação oral na sessão de julgamento
do mérito do presente incidente.
Em 20.10.2021, foi proferida decisão interlocutória admitindo a habilitação do
Programa de Pós Graduação em Direito da Universidade Federal de
Pernambuco (PPGD), representado por meio dos integrantes do Programa de Extensão e
do Projeto de Pesquisa referido, para atuarem no presente feito na qualidade de amicus
curiae, autorizando a apresentação de manifestação escrita e a juntada de documentos
sobre as questões jurídicas levantadas no presente incidente, no prazo máximo de 15
dias úteis. Por fim, considerando o caráter estritamente informativo da intervenção do
amicus curiae, bem como o interesse institucional no caso em apreço, foi indeferido o
pedido de sustentação oral formulado pelo requerente.
Em 20.10.2021 foi juntada aos autos certidão (ID 18194275) comprovando a
intimação das autoridades judiciárias das Varas de Execuções Penais (1ª Vara Regional,
2ª Vara Regional, 3ª Vara Regional, 4ª Vara Regional e Vara de Execuções Penais da
Capital), bem como da Unidade de Monitoramento e Fiscalização de decisões e
deliberações da Corte Interamericana de Direitos Humanos do Conselho Nacional de
Justiça (UMF/CNJ), para apresentarem suas manifestações no prazo máximo de 15 dias
úteis.
Em virtude da impetração de Habeas Corpus perante os tribunais superiores,
foram acostados aos autos, pedidos de informações acerca do andamento da ação,
oriundos do STJ, relativos ao HC 682865/PE (2021/0234943-3) (ID 18149018) e ao HC
699606/PE (2021/0326522-0) (ID 18252094), e do STF, relativos à Medida Cautelar no
Habeas Corpus nº 207025 (ID 18149029) e à Medida Cautelar no Habeas Corpus nº
208337 (ID 18670554), cujas informações pertinentes foram devidamente encaminhadas
através dos documentos de ID 184110156, ID 18957574, ID 18957578.
No tocante ao julgamento do HC 693231/PE (2021/0292577-4), o Superior
Tribunal de Justiça cientificou a Seção Criminal da decisão prolatada no sentido de
reconhecer a suspensão de todos os processos na origem, relativos à controvérsia destes
autos, havendo de se aguardar que a Seção Criminal se manifeste em relação ao mérito
do IRDR, sob pena de atuação daquele Tribunal da Cidadania em indevida supressão de
instância e de desprestígio ao TJPE com o incidente em curso. No mesmo sentido se deu
o julgamento do AgRg no Habeas Corpus Nº 708653 - PE (2021/0378350-0) (ID
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18957583) e do HC Nº 712807 - PE (2021/0398492-8) (ID 19005795). Outrossim, em
relação ao julgamento do HC 682865/PE (2021/0234943-3) o Superior Tribunal de Justiça
não conheceu do mandamus (ID 18529142).
Em 09.11.2021, a 2ª Vara Regional de Execuções Penais, a Vara de
Execução Penal em Meio Aberto, a 4ª Vara Regional de Execuções Penais e 3ª Vara
Regional de Execuções Penais, manifestaram-se nos autos através dos documentos nº
18421906, 18422460 e 18422465.
Em 18.11.2021, a Unidade de Monitoramento e Fiscalização das Decisões da
Corte Interamericana de Direitos Humanos (UMF Corte IDH) do Conselho Nacional de
Justiça, na qualidade de amicus curiae, prestou informações nos autos por meio do
documento nº 18529710.
Em 25.11.2021, o Programa de Extensão Acesso ao Sistema Interamericano
De Proteção aos Direitos Humanos (aSIDH) da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) e Projeto de Pesquisa “Monitoramento e cumprimento das decisões do Sistema
Interamericano de Direitos Humanos: investigação dos arranjos institucionais que
favorecem e dificultam a sua implementação no Brasil”, vinculado ao Programa de Pós
Graduação em Direito da UFPE (PPGD), na qualidade de amicus curiae, prestou
informações nos autos através do documento nº 18641934.
Em 23.12.2021, foram renovados os pedidos de informações à autoridade
judiciária da 1ª Vara Regional de Execuções Penais, para apresentar sua manifestação no
prazo máximo de 15 dias úteis (ID 19005787).
Em 10.02.2022, foi proferido despacho (ID 19441173) dispensando as
informações da 1ª Vara Regional de Execuções Penais e determinando a continuidade do
feito com a intimação das partes, quais sejam: o Ministério Público do Estado de
Pernambuco, através dos titulares das Promotorias de Justiça Criminais em execuções
penais da Capital, Caruaru e Petrolina e a Defensoria Pública do Estado de Pernambuco,
para, na forma do art. 439, inciso VI, do RITJPE, se manifestarem sobre a necessidade da
juntada de documentos, bem como de diligências necessárias para a elucidação da
questão de direito controvertida, no prazo máximo de 15 (quinze) dias úteis. Da mesma
forma, foi determinado, independentemente de novo despacho, a remessa dos autos à
Procuradoria Geral de Justiça para manifestação, também no prazo máximo de 15
(quinze) dias úteis.
Em 21.03.2022, a Defensoria Pública do Estado de Pernambuco juntou aos
autos seus memoriais (ID 20062131).
Por fim, em 21.03.2022 a Procuradoria de Justiça, pelo Procurador Francisco
Dirceu Barros, ofereceu parecer nos autos (ID 20057982), manifestando-se pela “
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impossibilidade de aplicação da contagem em dobro do tempo de recolhimento de presos
no Complexo de Curado, em face de sua inconstitucionalidade e, caso não seja esse o
entendimento dessa Corte, que o instituto seja classificado, no âmbito do direito interno,
como comutação da pena e que, para a utilização da ferramenta de cálculo do SEEU, seja
solicitada cooperação técnica ao Conselho Nacional de Justiça”.
Realizado esse alongado relatório, dada a diversidade das matérias cujos
aspectos efetivamente relevantes careciam de exposição detalhada, inclua-se o feito em
pauta para julgamento em sessão virtual do órgão colegiado a ser aprazada com a
observância do que dispõem os §§ 1º e 2º do art. 441 do RITJPE.
Relator
VOTO – RELATOR
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A primeira vertente refere-se à possibilidade da imediata aplicação dessa
contagem em dobro do tempo de pena ou de medida preventiva, cumprida no Complexo
do Curado, independentemente de arbitragem ou regulamentação pela União (questão
nuclear), extraída do seguinte questionamento ministerial:
d) se for de aplicação imediata pela Justiça Estadual, quais as premissas para concessão da comutação
da pena (perdão parcial), em especial no que concerne ao reconhecimento ou não de violação à
Súmula Vinculante nº 56?
e) sendo a medida constitucional e aplicável aos crimes hediondos ou equiparados, é necessário prévio
estudo psicossocial (exame criminológico)?
Assinado eletronicamente por: CARLOS FREDERICO GONCALVES DE MORAES - 08/09/2022 16:35:27 Num. 23156565 - Pág. 9
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Número do documento: 22090816352679900000022780048
questão jurídica;
III - apresentará o índice com os fundamentos, acerca da questão jurídica,
apresentados até o momento da admissão, inclusive os que constem de
manifestações utilizadas para fins de instruir o pedido ou ofício de instauração, e
com os dispositivos normativos relacionados à controvérsia; No tocante às
circunstâncias fáticas que ensejara”.
Assinado eletronicamente por: CARLOS FREDERICO GONCALVES DE MORAES - 08/09/2022 16:35:27 Num. 23156565 - Pág. 10
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carcerárias (em especial nos alojamentos), além da precariedade no acesso aos
atendimentos de saúde.
Na primeira decisão proferida, a Corte Internacional determinou que o Estado
Brasileiro (composto pelos seus entes federados e poderes) adotasse medidas para
resolver a situação de grave risco, diante do número de mortes elevadas e denúncias de
tortura oriundas do espaço de privação de liberdade. A decisão inaugural conferiu ao
Estado certa margem de discricionariedade para elaborar um pacote de medidas voltadas
à solução dos problemas estruturais (em especial a superlotação), sanitários e ao
altíssimo índice de violência intramuros, além das questões seríssimas sobre as
condições de detenção, conforme se observa nos termos da medida provisória inaugural
de 2014:
“A Corte Interamericana de Direitos Humanos, no uso das atribuições conferidas
pelo artigo 63.2 da Convenção Americana e pelo artigo 27 do Regulamento, resolve:
1. Requerer ao Estado que adote, de forma imediata, todas as medidas que sejam
necessárias para proteger eficazmente a vida e a integridade pessoal de todas as
pessoas privadas de liberdade no Complexo de Curado, assim como de qualquer
pessoa que se encontre neste estabelecimento, incluindo os agentes penitenciários,
funcionários e visitantes, nos termos do Considerando 20 desta Resolução.
2. Requerer ao Estado que, na medida do possível, mantenha os representantes
dos beneficiários informados sobre as medidas adotadas para a implementar a
presente medida provisória.
3. Requerer ao Estado que informe à Corte Interamericana de Direitos Humanos a
cada três meses, contados a partir da notificação da presente Resolução, sobre as
medidas provisórias adotadas em conformidade com esta decisão.
4. Solicitar aos representantes dos beneficiários que apresentem as observações
que considerem pertinentes ao relatório requerido no ponto resolutivo anterior dentro
de um prazo de quatro semanas, contado a partir do recebimento do referido
relatório estatal.
5. Solicitar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos que apresente as
observações que considere pertinentes ao relatório estatal requerido no ponto
resolutivo terceiro e às correspondentes observações dos representantes dos
beneficiários dentro de um prazo de duas semanas, contado a partir da transmissão
das referidas observações dos representantes.
6. Dispor que a Secretaria da Corte notifique a presente Resolução ao Estado, à
Comissão Interamericana e aos representantes dos beneficiários”.
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Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 7 de outubro de 2015;
• 3º ciclo: Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao
Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 18 de novembro de 2015;
• 4º ciclo: Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao
Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 23 de novembro de 2016;
• 5º ciclo: Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao
Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 15 de novembro de 2017;
• 6º ciclo: Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação ao
Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 28 de novembro de 2018.
A Corte Internacional tem pautado a sua análise com base nos dados
concretos sobre os pontos problemáticos detectados, em especial: a superlotação
carcerária, o número de mortes violentas, o número de mortes não violentas em razão de
questões sanitárias precárias e ausência de acesso ao direito ao tratamento de saúde, a
existência de denúncias de tortura e as condições de detenção degradantes.
Segundo a unidade de monitoramento do CNJ, a atual situação do Complexo
do Curado permanece tão grave quanto os dados apresentados no período em que a
Comissão Interamericana adotou as medidas cautelares em 2011 (quando o
estabelecimento ainda pertencia ao Presídio Professor Aníbal Bruno). Afirmam ainda, que,
segundo os dados coletados, poucos avanços foram obtidos em relação a esses pontos,
sendo necessário o engajamento dos atores envolvidos para implementar as medidas
provisórias outorgadas pela Corte IDH. Com efeito, o estabelecimento segue em situação
de superlotação com 6.708 pessoas, para uma capacidade de 1.819 presos, conforme
contagem divulgada em 24 de maio de 2021.
É exatamente a partir da medida provisória oriunda da Resolução de 28 de
novembro de 2018 (6º Ciclo) que a Corte Interamericana de Direitos Humanos determina,
como forma de compensação pelo sofrimento antijurídico decorrido da execução da pena,
a contagem em dobro do tempo de prisão nas unidades prisionais integrantes do
Complexo do Curado, conforme se observa nas considerações a seguir:
“123. Em princípio, e dado que é inegável que as pessoas privadas de liberdade no
Complexo de Curado podem estar sofrendo uma pena que lhes impõe um
sofrimento antijurídico muito maior que o inerente à mera privação de liberdade, por
um lado, é justo reduzir seu tempo de encarceramento, para o que se deve ater a
um cálculo razoável, e, por outro, essa redução implica compensar, de algum modo,
a pena até agora sofrida na parte antijurídica de sua execução. As penas ilícitas não
deixam de ser penas em razão de sua antijuricidade, e o certo é que vêm sendo
executadas e causando sofrimento, circunstância que não se pode negar para
chegar a uma solução o mais racional possível, em conformidade com a estrutura
jurídica internacional e de acordo com o mandamus do Supremo Tribunal Federal
estabelecido na Súmula Vinculante No. 56.
124. Dado que está fora de qualquer dúvida que a degradação em curso decorre da
superpopulação do Complexo de Curado, cuja densidade é superior a 200%, ou
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seja, duas vezes sua capacidade, disso se deduziria que duplica também a inflicção
antijurídica eivada de dor da pena que se está executando, o que imporia que o
tempo de pena ou de medida preventiva ilícita realmente sofrida fosse computado à
razão de dois dias de pena lícita por dia de efetiva privação de liberdade em
condições degradantes.
125. Considera a Corte que a solução radical, antes mencionada, que se inclina pela
imediata liberdade dos presos em razão da inadmissibilidade de penas ilícitas em
um Estado de Direito, embora seja firmemente principista e na lógica jurídica quase
inobjetável, desconhece que seria causa de um enorme alarme social que pode ser
motivo de males ainda maiores.
126. Cabe pressupor, de forma absoluta, que as privações de liberdade dispostas
pelos juízes do Estado, a título penal ou cautelar, o foram no prévio entendimento de
sua licitude por parte dos magistrados que as dispuseram, porque os juízes não
costumam dispor prisões ilícitas. No entanto, são executadas ilicitamente e, por
conseguinte, dada a situação que persiste, e que nunca devia ter existido, mas
existe, ante a emergência e a situação real, o mais prudente é reduzi-las de forma
que seja computado como pena cumprida o excedente antijurídico de sofrimento
não disposto ou autorizado pelos juízes do Estado.
127. A via institucional para arbitrar esse cômputo, levando em conta como pena o
excesso antijurídico de dor ou sofrimento padecido, deverá ser escolhida pelo
Estado, conforme seu direito interno, não sendo a Corte competente para indicá-la.
Obviamente, nesse processo decisório, os juízes internos devem dar cumprimento
ao determinado pelo STF na Súmula Vinculante No. 56 (Considerandos 113 a 117
supra). Não obstante isso, a Corte lembra que, conforme os princípios do Direito
Internacional dos Direitos Humanos, o Estado não poderá alegar descumprimento
em virtude de obstáculos de direito interno”.
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poderá ser deferida a prisão domiciliar ao sentenciado”.
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Partes e efeito meramente declaratório.
5. Não se mostra possível que a determinação de cômputo em dobro tenha seus
efeitos modulados como se o recorrente tivesse cumprido parte da pena em
condições aceitáveis até a notificação e a partir de então tal estado de fato tivesse
se modificado. Em realidade, o substrato fático que deu origem ao reconhecimento
da situação degradante já perdurara anteriormente, até para que pudesse ser objeto
de reconhecimento, devendo, por tal razão, incidir sobre todo o período de
cumprimento da pena.
6. Por princípio interpretativo das convenções sobre direitos humanos, o Estado-
parte da CIDH pode ampliar a proteção dos direitos humanos, por meio do princípio
pro personae, interpretando a sentença da Corte IDH da maneira mais favorável
possível aquele que vê seus direitos violados.
7. As autoridades públicas, judiciárias inclusive, devem exercer o controle de
convencionalidade, observando os efeitos das disposições do diploma internacional
e adequando sua estrutura interna para garantir o cumprimento total de suas
obrigações frente à comunidade internacional, uma vez que os países signatários
são guardiões da tutela dos direitos humanos, devendo empregar a interpretação
mais favorável ao ser humano.
- Aliás, essa particular forma de parametrar a interpretação das normas jurídicas
(internas ou internacionais) é a que mais se aproxima da Constituição Federal, que
faz da cidadania e da dignidade da pessoa humana dois de seus fundamentos, bem
como tem por objetivos fundamentais erradicar a marginalização e construir uma
sociedade livre, justa e solidária (incisos I, II e III do art. 3º). Tudo na perspectiva da
construção do tipo ideal de sociedade que o preâmbulo da respectiva Carta Magna
caracteriza como "fraterna" (HC n. 94163, Relator Min. CARLOS BRITTO, Primeira
Turma do STF, julgado em 2/12/2008, DJe-200 DIVULG 22/10/2009 PUBLIC
23/10/2009 EMENT VOL-02379-04 PP-00851). O horizonte da fraternidade é, na
verdade, o que mais se ajusta com a efetiva tutela dos direitos humanos
fundamentais. A certeza de que o titular desses direitos é qualquer pessoa, deve
sempre influenciar a interpretação das normas e a ação dos atores do Direito e do
Sistema de Justiça.
- Doutrina: BRITTO, Carlos Ayres. O Humanismo como categoria constitucional.
Belo Horizonte: Forum, 2007; MACHADO, Carlos Augusto Alcântara. A Fraternidade
como Categoria Jurídica: fundamentos e alcance (expressão do constitucionalismo
fraternal). Curitiba: Appris, 2017; MACHADO, Clara. O Princípio Jurídico da
Fraternidade. - um instrumento para proteção de direitos fundamentais
transindividuais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017; PIOVESAN, Flávia. Direitos
Humanos e o direito constitucional internacional. Sâo Paulo: Saraiva, 2017;
VERONESE, Josiane Rose Petry; OLIVEIRA, Olga Maria Boschi Aguiar de; Direito,
Justiça e Fraternidade. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017.
8. Os juízes nacionais devem agir como juízes interamericanos e estabelecer o
diálogo entre o direito interno e o direito internacional dos direitos humanos, até
mesmo para diminuir violações e abreviar as demandas internacionais. É com tal
espírito hermenêutico que se dessume que, na hipótese, a melhor interpretação a
ser dada, é pela aplicação a Resolução da Corte Interamericana de Direitos
Humanos, de 22 de novembro de 2018 a todo o período em que o recorrente
cumpriu pena no IPPSC.
9. A alegação inovadora, trazida em sede de agravo regimental, no sentido de que a
determinação exarada pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, por meio da
Resolução de 22 de novembro de 2018 da CIDH, teria a natureza de medida
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cautelar provisória e que, ante tal circunstância, mencionada Resolução não poderia
produzir efeitos retroativos, devendo produzir efeitos jurídicos ex nunc, não merece
guarida. O caráter de urgência apontado pelo recorrente na medida provisória
indicada não possui o condão de limitar os efeitos da obrigação decorrentes da
Resolução de 22 de novembro de 2018 da CIDH para o futuro (ex nunc), mas sim
de apontar para a necessidade de celeridade na adoção dos meios de seu
cumprimento tendo em vista, inclusive, a gravidade constatada nas pecualiaridades
do caso.
10. Por fim, de se apontar óbice de cunho processual ao provimento do recurso de
agravo interposto, consistente no fato de que o recorrente se limitou a indicar
eventuais efeitos futuros da multimencionada Resolução de 22 de novembro de
2018 da CIDH fulcrado em sua natureza de medida de urgência, sem, contudo,
atacar os fundamentos da decisão agravada, circunstância apta a atrair o óbice
contido no Verbete Sumular 182 do STJ, verbis: "É inviável o agravo do art. 545 do
CPC que deixa de atacar especificamente os fundamentos da decisão agravada."
11. Negativa de provimento ao agravo regimental interposto, mantendo, por
consequência, a decisão que, dando provimento ao recurso ordinário em habeas
corpus, determinou o cômputo em dobro de todo o período em que o paciente
cumpriu pena no Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho, de 09 de julho de 2017 a
24 de maio de 2019. (STJ, Ag no RHC 136.961/RJ, Rel. Ministro REYNALDO
SOARES DA FONSECA, 5ª Turma, DJe 21.06.2021).
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de ter passagem em um estabelecimento prisional destinado aos sentenciados do
sexo masculino.
Visualizava também a hipótese de gerar uma situação caótica, pela adoção de
critérios que afastariam a garantia constitucional da IGUALDADE, pois temos
unidades prisionais, que hoje detém um contingente bem maior de PPL, que o
referido Complexo. Afinal a superpopulação nem sempre foi a constante do Sistema,
que triplicou a população Carcerária no Estado em dez anos, a partir da adoção de
um programa de bonificação pelo cumprimento de mandado de prisão, em 2010.
A exclusão de pessoas privadas de liberdade, pelo simples fato que sofreram as
mesmas violações de seus direitos, não excluídos pela sentença penal
condenatória, em Unidades Prisionais diversas da inspecionada pela Corte
Interamericana de Direitos Humanos, pode gerar uma situação caótica de
desigualdade, pois temos unidades prisionais, que hoje detém um contingente bem
maior de PPL, que o referido Complexo, que triplicou a população Carcerária no
Estado em dez anos , a partir da adoção de um programa de bonificação pelo
cumprimento de mandado de prisão.
Mas com a decisão do Exmº Ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
Reynaldo Soares da Fonseca, NO HABEAS CORPUS nº 136961-RJ, entendo que a
matéria restou pacificada, inclusive em decorrência da competência tratada no artigo
105 da Constituição Federal.
A decisão autoriza que seja contado em dobro todo o período em que um homem
esteve preso no Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho, no Complexo Penitenciário
de Bangu, localizado na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
A unidade prisional referida, assim como o Complexo do Curado, foram objeto de
diversas inspeções realizadas pela CIDH, a partir de denúncia feita por órgãos como
a Defensoria Pública ou ONGS sobre a situação degradante e desumana em que os
presos se achavam. Essas inspeções culminaram na edição da Resolução CIDH de
22 de novembro de 2018, que proibiu o ingresso de novos presos na unidade e
determinou o cômputo em dobro de cada dia de privação de liberdade cumprido no
local – salvo para os casos de crimes contra a vida ou a integridade física e de
crimes sexuais.
O HC referido NÃO discutiu a competência do cumprimento da Convenção
Internacional da qual o BRASIL é signatário, mas apenas o período que seria
contabilizado. A decisão do Exmº Ministro, Reynaldo Soares da Fonseca reformou
acórdão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) que aplicou a contagem em
dobro apenas para o período de cumprimento de pena posterior a 14 de dezembro
de 2018, data em que o Brasil foi notificado formalmente da resolução da CIDH.
Como a resolução não faz referência expressa ao termo inicial da determinação, o
TJRJ adotou a regra do direito interno, que " confere efetividade e coercibilidade às
decisões na data de sua notificação formal".
O relator lembrou que, a partir do Decreto 4.463/2002, o Brasil reconheceu a
competência da CIDH em todos os casos relativos à interpretação ou aplicação da
Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica),
aprovada em 1969.
Segundo o magistrado, a sentença emitida pela CIDH tem eficácia vinculante para
as partes processuais, não havendo meios de revisá-la. "A sentença da CIDH
produz autoridade de coisa julgada internacional, com eficácia vinculante e direta às
partes. Todos os órgãos e poderes internos do país encontram-se obrigados a
cumprir a sentença".
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O convencimento judicial está pois fundamentado na decisão do STJ, e motivado
pela necessidade de uma medida eficaz contra a grave situação que a superlotação
carcerária traz, e, na inexistência de um plano eficaz para reduzir os danos da
segregação sem ressocialização, sem oportunidade, sem a presença eficaz do
Estado na tutela dos direitos e garantias fundamentais.
Afinal não é construindo Prisões, que uma Nação afasta a violência, mas edificando
oportunidades e incentivando comportamentos inspirados na ordem e na Justiça.
Aliás os recursos para triplicar o número de vagas no Sistema Prisional, é tão
ilusório que incentiva a adoção da RECOMENDAÇÃO, não apenas porque direitos
foram violados; mas porque representa uma nova chance, um “Recomeçar”, que
não exige previsão orçamentária.
A decisão no HC frisa que aplicar a resolução apenas a partir da notificação oficial
feita ao Brasil, levariam instâncias anteriores a deixaram de cumpri-la, pois as más
condições do presídio, que motivaram a determinação da CIDH, já existiam antes de
sua publicação.
Bem justificada a proposta do Exmº Ministro Relator, a contabilização passa a ser
tomada por todo o período, ressalvo que as remições, podem ser revogadas no
caso de faltas graves, constatadas em devido processo legal, e que no caso
específico a contabilização em dobro, NÃO se aplicaria duas vezes, ou seja depois
de beneficiado, se o agente que for condenado por fato posterior e vier a ser
recolhido no mesmo Presídio, não poderá contabilizar novamente em dobro o seu
tempo, porque aí sim incidirá tratamento desigual para situações iguais, em relação
aos que voltam a cometer delitos , significaria um crédito para delinquir o
recolhimento no Complexo do Curado, entendimento que diverge da Jurisprudência
Superior.
No mais copio a decisão do Superior Tribunal de Justiça, para fundamentar esta
decisão
“...Nesse ponto, vale asseverar que, por princípio interpretativo das convenções
sobre direitos humanos, o Estado-parte da CIDH pode ampliar a proteção dos
direitos humanos, por meio do princípio pro personae, interpretando a sentença da
Corte IDH da maneira mais favorável possível aquele que vê seus direitos violados.
No mesmo diapasão, as autoridades públicas, judiciárias inclusive, devem exercer o
controle de convencionalidade, observando os efeitos das disposições do diploma
internacional e adequando sua estrutura interna para garantir o cumprimento total de
suas obrigações frente à comunidade internacional, uma vez que os países
signatários são guardiões da tutela dos direitos humanos, devendo empregar a
interpretação mais favorável a indivíduo. Logo, os juízes nacionais devem agir como
juízes interamericanos e estabelecer o diálogo entre o direito interno e o direito
internacional dos direitos humanos, até mesmo para diminuir violações e abreviar as
demandas internacionais. É com tal espírito hermenêutico que se dessume que, na
hipótese, a melhor interpretação a ser dada, é pela aplicação a Resolução da Corte
Interamericana de Direitos Humanos, de...".
Ante o exposto, DEFIRO O PEDIDO DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE
PERNAMBUCO, em favor da PPL para que se efetue o cômputo em dobro de todo
o período em que o paciente cumpriu pena no período acima referido. Implantar o
incidente, com o título de remição do período contabilizado a mais, e resultando em
benefício, requisitar assentamento carcerário e atestado de conduta”.
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Desde então, houve, neste Tribunal, a interposição de múltiplos processos
contendo controvérsia sobre essa mesma questão de direito, em razão da divergência de
entendimentos entre as decisões proferidas pelas 2ª, 3ª e 4ª Vara Regional de Execuções
Penais, bem como a Vara de Execuções Penais da Capital e as decisões da 1ª Vara
Regional de Execuções Penais.
Essas são, portanto, as circunstâncias fáticas que ensejaram a controvérsia
em torno das questões jurídicas suscitadas no presente incidente.
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que deveria se dar maior importância aos tratados internacionais que versam sobre
Direitos Humanos, tendo como base os princípios fundamentais da dignidade da pessoa
humana (art. 1º, III, da CF/88) e a prevalência dos direitos humanos (art. 4º, II, da CF/88).
Contudo, o plenário do STF, no julgamento Recurso Extraordinário 466.343/SP, optou por
preservar o quórum introduzido pela Emenda Constitucional nº 45/2004 e, por isso,
decidiu que os tratados internacionais que versam sobre Direitos Humanos incorporados
ao ordenamento jurídico brasileiro antes da referida emenda, e que não se sujeitaram ao
quórum estabelecido pelo art. 5º, § 3º, da CF/88, gozariam de um caráter supralegal, ou
seja: estariam acima da legislação ordinária, porém abaixo das normas constitucionais.
A propósito, assim decidiu o Ministro Gilmar Mendes ao proferir seu voto-
condutor no referido julgamento:
“parece mais consistente a interpretação que atribui a característica de
supralegalidade aos tratados e convenções de direitos humanos. Essa tese pugna
pelo argumento de que os tratados sobre direitos humanos seriam
infraconstitucionais, porém, diante de seu caráter especial em relação aos demais
atos normativos internacionais, também seriam dotados de um atributo de
supralegalidade. Em outros termos, os tratados sobre direitos humanos não
poderiam afrontar a supremacia da Constituição, mas teriam lugar especial
reservado no ordenamento jurídico. Equipará-los à legislação ordinária seria
subestimar o seu valor especial no contexto do sistema de proteção dos direitos da
pessoa humana”.
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na assinatura da Convenção Interamericana de Direitos Humanos:
“A esse respeito o Supremo Tribunal Federal já firmou ordem no sentido de que têm
natureza supralegal os tratados internacionais e convenções que versem sobre
direitos humanos ratificados pelo Brasil, ao tempo em que incorporados ao direito
interno na forma do artigo 5º, § 2º, da Constituição Federal (RE n. 466.343),
passando, portanto, a ser de observância integral do Estado, assim como é
signatário da Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), denominada
Pacto de São José da Costa Rica, sendo promulgada por intermédio do Decreto n.
678/1992”.
Inegável, pois, que os Estados signatários do tratado sobre direitos fundamentais se
comprometem a respeitar os direitos e liberdades reconhecidos no tratado e a
garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que está sujeita à sua jurisdição.
A CIDH, portanto, é órgão originário do Sistema Interamericano e nesse contexto
uma instituição judiciária autônoma, cujo objetivo é aplicar e interpretar os tratados
da Convenção Americana de Direitos Humano.
Lado outro, aos Estados Membros, na medida em que subscrevem o tratado tem o
dever de adotar instrumentos internos legais a fim de assegurar efetivo gozo dos
direitos previstos na convenção.
Todavia, é sobre esse prisma que nutro a ideia segundo a qual, repito, a decisão da
CIDH não tem o condão de aplicação absoluta, sobrepondo-se à Constituição da
República Federativa do Brasil, senão vejamos:
A decisão da CIDH não tem primazia sobre a coisa julgada (Art. 5º, XXXVI), na
medida em que um juiz brasileiro editou ato sentencial condenatório, após observar
o princípio da individualização da pena, aplicando o quantum necessário para o
cumprimento da reprimenda criminal.
A decisão da CIDH ofende o processo legislativo brasileiro (Art. 59 a 69), na medida
da compreensão segundo a qual é o conjunto de atos complexos realizados pelo
Parlamento – Câmara/Senado -, com o fito de elaboração de leis diante da ordem
democrática, de acordo com regras definidas em seu regimento interno. Sob esse
aspecto, a decisão da CIDH confronta nosso ordenamento jurídico (Código Penal,
Código de Processo Penal e Lei de Execução Penal).
A decisão da CIDH agride o princípio da igualdade de tratamento dentre aqueles
que estão submetidos a uma condenação criminal, albergada pelo manto da coisa
julgada, apenas pelo fato de se encontrarem cumprindo pena em um determinado
estabelecimento penal, quando se sabe que todas as demais unidades também
estão com um quadro de superlotação (...)”.
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com as penas unificadas, teria que cumprir 18 anos de reclusão. Estando ele preso
no Complexo de Curado, por 10 anos sua pena estaria extinta com o computo em
dobro. Agora, imaginemos um reeducando condenado a 08 anos por lesão seguida
de morte, mesmo recolhido a 04 anos no complexo, não seria beneficiado. Trilhando
pelo entendimento do STF acima exposto, em se tratando de uma inovação legal,
haveria a necessidade de edição de norma pela União regulamentando tal benefício.
Podemos citar hipótese semelhante, o que ocorreu com o caso de Maria da Penha,
onde o Brasil editou a lei 11.340/2006 dando ampla proteção a violência doméstica,
após ser condenado na CIDH”.
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Direitos Humanos: investigação dos arranjos institucionais que favorecem e dificultam a
sua implementação no Brasil”, vinculado ao Programa de Pós Graduação em Direito da
UFPE (PPGD), na qualidade de amicus curiae, manifestou-se (ID 18641934) no seguinte
sentido:
“O Estado brasileiro é signatário da Convenção Americana desde 1992, aceitando a
jurisdição da Corte Interamericana em 10 de dezembro de 1998, o que proporciona
o caráter obrigatório, vinculante das decisões do Sistema Interamericano de Direitos
Humanos. Dessa maneira, enquanto signatário da Convenção e reconhecedor da
competência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, o Brasil deve cumprir
com as decisões e medidas provisórias desse órgão internacional.
Na visão de Franco, “tais sentenças não devem ser compreendidas como uma
imposição externa aos Estados, e nem tampouco interferem em sua soberania
nacional, já que essa instância judicial foi outrora reconhecida por eles por ato de
vontade expresso”. Neste sentido, todas as decisões da Corte IDH, em caráter
contencioso, têm força jurídica vinculante e obrigatória para o Estado brasileiro, o
que inclui todos os agentes, órgãos e entidades do Estado.
Segundo a Dra. Orly Kibrit, a aceitação da jurisdição da Corte é facultativa, mas,
quando o Estado se submete a ela, passa a ter obrigação de cumprimento de seus
comandos, sob pena de responsabilização internacional.
Sendo assim, as decisões proferidas pela Corte, ainda que provisórias, têm sua
obrigatoriedade conferida, pela existência de disposição expressa na CADH e a
própria natureza de norma cogente e internacional, pela qual permite a
responsabilização internacional do Estado signatário. De tal maneira, as decisões da
Corte Interamericana não dependem de instituição de arbitragem, regulamentação
pela União, nem prévia homologação pelo STJ, que é um requisito aplicado às
sentenças estrangeiras.
Destarte, é importante salientar que a homologação da sentença estrangeira é
requisito necessário para revestir eficácia interna às sentenças proferidas por
Tribunais de outros países, de modo que possa produzir efeitos no Brasil, diante da
análise de compatibilidade com o ordenamento.
Ocorre que, conforme bem indicado por Resende, a Corte Interamericana “é um
órgão internacional, cujas sentenças têm a natureza jurídica de decisões
internacionais e não de sentenças estrangeiras, porque não provenientes de
Tribunal sujeito à soberania de Estado estrangeiro”.
Nesse mesmo sentido, é a lição de Valério de Oliveira Mazzuoli: Sentenças
proferidas por “tribunais internacionais” não se enquadram na roupagem de
sentenças estrangeiras a que se referem os dispositivos citados. Por sentença
estrangeira deve-se entender aquela proferida por um tribunal afeto à soberania de
determinado Estado, e não a emanada de um tribunal internacional que tem
jurisdição sobre os seus próprios Estados-partes.
Contudo, apesar do reconhecimento da jurisdição da Corte pelo Brasil, salienta-se
que esta não traduz na implementação efetiva das decisões, sendo necessário a
cooperação entre as instituições estatais e os atores nacionais. À vista disso, Par
Ergstrom: Claramente, o Sistema depende da cooperação das instituições estatais
para gerar resultados nos direitos humanos. Mas a vontade política geral de aceitar
a autoridade do SIDH, embora importante, não se traduz necessariamente em uma
implementação efetiva das suas decisões e recomendações.
Logo, verifica-se que a problemática está na efetivação das decisões internacionais
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(na prática). Isto porque, segundo Par Ergstrom, alguns países membros “se
recusam a cumprir ou simplesmente ignoram as decisões e ordens emitidas”.
Inclusive, a ausência de previsão na legislação interna acerca do cumprimento e,
também, de instrumentos de monitoramento, são arrimos para inadimplência das
sentenças e medidas provisórias.
Ademais, a Corte Interamericana de Direitos Humanos tem jurisprudência
consolidada acerca de que o Estado não poderá invocar o seu direito interno para
justificar o descumprimento de obrigações assumidas em um tratado internacional
devidamente internalizado. Vejamos a sentença da Corte IDH no Caso Gomes Lund
e Outros (“Guerrilha do Araguia”) vs. Brasil: De acordo com o disposto no artigo 68.1
da Convenção Americana e tal como foi indicado pela Corte, “[os] Estados Partes na
Convenção comprometem-se a cumprir a decisão da Corte em todo caso em que
forem partes”. A referida obrigação de dar cumprimento ao ordenado pela Corte
inclui o dever do Estado de informar sobre as medidas adotadas para cumprir cada
um dos pontos ordenados, o que é fundamental para avaliar o estado de
cumprimento da sentença em seu conjunto”. “Portanto, o Brasil não pode opor
decisões adotadas no âmbito interno como justificativa de seu descumprimento da
sentença proferida por este tribunal internacional de direitos humanos, nem sequer
quando tais decisões provenham do tribunal da mais alta hierarquia no ordenamento
jurídico nacional. Independentemente das interpretações que se realizem no âmbito
interno, a sentença proferida pela Corte Interamericana neste caso tem caráter de
coisa julgada internacional e é vinculante em sua totalidade.” (Grifos nossos).
Assim, destaca-se que um dos principais mecanismos de implementação das
decisões do Sistema Interamericano na jurisdição interna é o Controle de
Convencionalidade, em que a Convenção Americana e a jurisprudência da Corte
Interamericana são utilizadas como paradigma e referencial aos juízes e tribunais
nacionais.
Por último, observa-se que as decisões proferidas pela Corte Interamericana de
Direitos Humanos, tanto como sentença como de medidas provisórias, têm
indubitavelmente o caráter vinculativo que mesmo o Conselho Nacional de Justiça,
no uso de suas atribuições na resolução no 364, de 12 de Janeiro de 2021, instituiu
a Unidade de de Monitoramento e Fiscalização de decisões e deliberações da Corte
Interamericana de Direitos Humanos no âmbito do Conselho Nacional de Justiça, e
fez um primeiro informe para a Corte IDH.
Nessa resolução fica clarividente que as decisões da Corte IDH tem caráter
obrigatório e vinculativo, pois essa Unidade fica responsável pelo monitoramento do
cumprimento das decisões da Corte. Assim se observa, ipsi litteris: Art. 2o A
Unidade de Monitoramento e Fiscalização terá as seguintes atribuições, dentre
outras: [...]II – adotar as providências para monitorar e fiscalizar as medidas
adotadas pelo Poder Público para o cumprimento das sentenças, medidas
provisórias e opiniões consultivas proferidas pela Corte Interamericana envolvendo
o Estado brasileiro; III – sugerir propostas e observações ao Poder Público acerca
de providências administrativas, legislativas, judiciais ou de outra natureza,
necessárias para o cumprimento das decisões e deliberações da Corte
Interamericana de Direitos Humanos envolvendo o Estado brasileiro.
Desse modo, por tudo que foi exposto, é possível que o Estado brasileiro crie
mecanismos internos que facilitem o cumprimento das decisões e medidas
provisórias da Corte Interamericana, com a cooperação dos atores nacionais para a
fiscalização e implementação efetiva, ainda que emanadas provisoriamente, em
caráter de urgência, tal como ocorreu no Caso do Complexo do Curado com a
instituição do Fórum de Monitoramento pela Procuradoria Regional da República da
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5ª Região - Ministério Público Federal. Mas não é necessário a regulamentação pelo
Poder Público das decisões provenientes do Sistema Interamericano para que elas
tenham eficácia e pleno cumprimento nos países que aceitam a sua jurisdição”.
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diploma internacional e adequando sua estrutura interna para garantir o
cumprimento total de suas obrigações frente à comunidade internacional, uma vez
que os países signatários são guardiões da tutela dos direitos humanos, devendo
empregar a interpretação mais favorável ao ser humano. (...) 8. Os juízes nacionais
devem agir como juízes interamericanos e estabelecer o diálogo entre o direito
interno e o direito internacional dos direitos humanos, até mesmo para diminuir
violações e abreviar as demandas internacionais (AgRg no RHC 136.961/RJ, Rel.
Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
15/06/2021, DJe 21/06/2021).
Não por outro motivo, o Conselho Nacional de Justiça emitiu recomendação de
caráter geral às autoridades judiciárias (Recomendação n° 123 de janeiro de 2022),
a fim de que haja a observância das convenções internacionais de direitos humanos
e da jurisprudência da Corte IDH dentro da atividade judicial: Art. 1º Recomendar
aos órgãos do Poder Judiciário: I – a observância dos tratados e convenções
internacionais de direitos humanos em vigor no Brasil e a utilização da
jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), bem como
a necessidade de controle de convencionalidade das leis internas.
Diante do necessário controle de convencionalidade pelos juízes nacionais, da
obrigatoriedade das decisões e das medidas provisórias oriundas da Corte
Interamericana e da concretização de todas as medidas para o fiel cumprimento da
Convenção, a aplicação do cômputo em dobro não está condicionada à edição de
norma federal de caráter geral (lei federal ou decreto presencial).
Em verdade, o regulamento geral a nível federal (lei ou decreto presidencial), se
estabelecido diálogo com o direito interno, também não constitui óbice à análise e
decisão judicial dos casos concretos, dentro do exercício do controle de
convencionalidade. A Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro (Decreto-Lei
n° 4657 de 1942) já prevê, em seu art. 4°, que “na omissão da lei, o juiz decidirá o
caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”.
No caso em análise, sequer seria necessário recorrer à analogia e aos costumes: há
vasta fundamentação apoiada na Convenção Americana de Direitos Humanos
(status supralegal) e na própria medida provisória emitida pela Corte IDH, a qual,
como já pontuado, tem caráter obrigatório e vincula todos os Poderes instituídos.
Conclui-se, assim, que a própria lei brasileira não prevê como óbice à análise dos
pedidos judiciais visando à aplicação do cômputo em dobro a ausência de
regulamentação pela União.
Migrando do âmbito do direito internacional dos direitos humanos (direitos
reconhecidos por Cortes e tratados internacionais) e partindo para uma lente voltada
apenas ao direito interno, constata-se que, em diversas ocasiões e sob diferentes
argumentos, o Poder Judiciário brasileiro já reconheceu a existência de direitos da
execução penal, independente de leis ou decretos (regulamentos emitidos pela
União) que os previssem expressamente.
Guiando-se pela interpretação ampliativa in bonam partem, por exemplo, o Poder
Judiciário reconheceu direitos como prisão domiciliar por razões humanitárias e a
ampliação jurisprudencial do rol de remições previstas expressamente na Lei de
Execução Penal - a exemplo da remição pela leitura, por participação em coral e
prática de esportes (que não encontravam guarida prévia expressa na legislação
federal): Tem sido amplamente admitida pelo STJ a interpretação extensiva do art.
126, abarcando o trabalho artesanal e outras atividades que podem não estar
expressamente previstas no dispositivo legal (STJ, Resp 1.720.785/RO, Rel. Min.
Ribeiro Dantas, 5ª T., j. 06/02/2018; REsp 1666637/ES, Rel. Min. Sebastião Reis
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Junior, 6ª T, j. 26/09/10’7, entre outros) 22 Novas modalidades de remição também
são cada vez mais colocadas em discussão e podem ser levadas ao Poder
Legislativo ou Judiciário, como a remição pelo esporte, por atividades musicais, com
base em interpretação extensiva in bonam partem do art. 126 da LEP. Por exemplo,
já foi reconhecido direito à remição por participação em coral (ST, Resp 1.666.637,
Rel. Min Sebastião Reis Junior, 6ª T.,j. 26/09/2017).
Realizando a interseção entre os cenários apresentados na esfera internacional e
nacional, revela-se acertada a escolha da via institucional para aplicação do
cômputo em dobro do tempo de pena cumprido realizado pelo Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro. Este toma como fundamento principalmente a tese
defendida por parte dos Ministros integrantes do Supremo Tribunal Federal, da
compensação in natura pelos danos causados pela execução da pena antijurídica,
no RE 580.252/MS - o que dialoga com a natureza de medida reparatória
estabelecida por força de Resolução da CorteIDH.
Como forma de afastar estas graves violações de direito ocorridos dentro do
Sistema Carcerário brasileiro, a doutrina ainda aponta outras medidas que poderiam
ser adotadas: Nesse sentido, deve ser cada vez mais explorado o que
denominamos ‘compensação penal por penas abusivas’, que traduz o dever estatal
de reparar, não só pela via pecuniária, mas principalmente pela via penal, atos
arbitrários, superlotação ou condições desumanas ou degradantes sofridas pelas
pessoas presas. A compensação penal decorre fundamentalmente do excesso de
punição que a privação de outros direitos, além da liberdade ambulatorial,
proporciona na prática da execução penal. Assim, procedendo, o Poder Judiciário
conseguiria ajustar a dimensão aritmética da pena às condições qualitativas de
aprisionamento. A primeira e mais contundente solução para a compensação penal
por atos arbitrários, superlotação ou condições desumanas ou degradantes sofridas
pelas pessoas presas é a renúncia à execução da pena por parte do Estado, cujos
efeitos práticos podem ser alcançados por meio de expressa previsão no Decreto
Presidencial de Indulto. Se não aplicado o indulto, seria absolutamente coerente e
salutar ao menos a aplicação de uma espécie de ‘comutação compensatória’ da
pena privativa de liberdade, de modo a reduzi-la proporcionalmente ao tempo ou à
intensidade da arbitrariedade sofrida pelas pessoas privadas de liberdade.
Assim, resta evidente que, independentemente do meio a ser adotado, o Estado
brasileiro deve agir imediatamente para tutelar direitos e reduzir os graves danos
causados por ele durante o cumprimento antijurídico das penas, como resultado da
obrigação legal imposta pela medida exarada pela Corte IDH, que goza de
autoexecutoriedade, sem que seja necessária a edição de regulamento pela União.
Certo também que já existem vias institucionais para a sua aplicação, conforme
acima demonstrado, reconhecido e já aplicado pelo Tribunal de Justiça do Estado
do Rio de Janeiro e recentemente pelo Superior Tribunal de Justiça”.
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jurisdição internacional, a semelhança do afirmado pela Superior Tribunal de Justiça
quando do julgamento acima transcrito.
Somente pode ser chamado de norma geral abstrata sobre direitos humanos e,
portanto, equivalente à emenda constitucional, o Decreto 678/92, que incorporou o
Pacto de San José da Costa Rica ao ordenamento brasileiro.
Logo, há que se diferenciar o Tratado em si mesmo da Resolução objeto de análise
no presente IRDR.
Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos
dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais, O MESMO NÃO SE PODE AFIRMAR DA RESOLUÇÃO
QUESTIONADA. ELA PODE E DEVE SER VERIFICADA À LUZ DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
Imagine se uma decisão da Corte Internacional determinasse a troca de uma pena
de prisão por trabalhos forçados. É óbvio que, sendo este tipo de pena inaplicável
por força de vedação da Constituição pátria, não poderia ser admitido.
Todavia, em que pesem tais considerações, entendemos que o conteúdo decisório
prolatado não se harmoniza com os princípios constitucionais da isonomia e da
coisa julgada, viola a proibição constitucional de normas despenalizadoras para
determinados crimes, bem assim fere a competência privativa do Presidente da
República para editar normas que impliquem em indulto ou comutação, razão pela
qual há um óbice constitucional para a efetiva aplicação do cômputo imposto.
Senão, vejamos.
Em primeiro lugar, ocorre a violação ao princípio da igualdade, pois a Resolução é
clara ao determinar sua aplicação aos presos recolhidos no Complexo do Curado,
criando, destarte, distinção entre reeducandos, baseada, exclusivamente, no local
de seu recolhimento, em detrimento daqueles que se encontram cumprindo pena
em outro estabelecimento prisional, ainda que igualmente em situação de
superlotação. Não houve uma fiscalização efetiva de todos os estabelecimentos
prisionais do Brasil, para listá-los de forma isonômica, assim, estar-se-ia criando um
mecanismo de diferenciação de cumprimento de penas, fazendo com que os
detentos de outros estabelecimentos cumpram suas sanções normalmente e os
reclusos do Complexo do Curado obtenham o benefício inominado de uma medida
despenalizadora de metade de sua pena.
Além disso, impõe sua aplicação, indistintamente, a todos aqueles recolhidos no
Complexo do Curado, ainda que presos ou apenados pela prática de crimes
hediondos. A exceção se dá apenas em relação a presos por crimes contra a vida e
a integridade física, ou de natureza sexual, em relação a estes, seria possível o
cômputo da pena em razão inferior aos 50% (cinquenta por cento) a ser deferido
aos demais.
Nesse ponto, entendemos que a decisão prolatada violou o disposto no artigo 5º,
inciso XLIII, da Constituição Federal Brasileira que tornou a tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os crimes definidos como crimes
hediondos inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia. Se a Constituição
Federal veda a esses crimes essas medidas penalizadoras, não pode uma Corte
estrangeira aplicar benesses semelhantes a essas, ainda que com outra
denominação, pois terá o mesmo efeito: o perdão após o cumprimento de parte da
pena.
Há também que se considerar a violação ao princípio da coisa julgada, insculpido no
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art. 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal, haja vista o ataque a sentenças
penais condenatórias, desconsiderando a atuação do juiz brasileiro que editou o ato
sentencial condenatório, após observar o princípio da individualização da pena,
aplicando o quantum necessário para o cumprimento da reprimenda criminal.
Ainda, considerando que o instituto criado pela Resolução CIDH de 28 de novembro
de 2018 também se assemelha à comutação ou ao indulto, verificasse que se traduz
novamente como inconstitucional, posto que o art. 84, XII 3 da Constituição Federal
atribui competência privativa do Presidente da República a concessão de tal
benefício.
Por tais razões, OPINAMOS pela impossibilidade de aplicação da contagem em
dobro do tempo de recolhimento de presos no Complexo de Curado, em face das
inconstitucionalidades apontadas”.
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internacional oriunda da Corte Internacional.
Quanto ao mérito da questão nuclear, verifica-se que o Ministério Público
em sua petição inicial (ID 16097572) e a Procuradoria de Justiça em seu parecer (ID
20057982), suscitam possíveis inconstitucionalidades da medida provisória emanada da
Corte Internacional sob o fundamento de que o cômputo em dobro da pena cumprida no
Complexo do Curado fere diretamente os seguintes direitos e princípios constitucionais: 1)
da isonomia (art. 5º, I, CF/88), por entender que “as condições de cumprimento de pena
no Complexo do Curado não são exclusivas daquelas unidades prisionais”; 2) da coisa
julgada (art. 5º, XXXVI, CF/88), sob a alegação de que “várias condenações foram
revistas genericamente, afastando a incidência do Código Penal e do Código de Processo
Penal”; 3) da vedação de normas despenalizadoras para crimes hediondos (art. 5º,
XLV, da CF/88); e 4) da competência privativa do Presidente da República para editar
normas que impliquem em indulto ou comutação de pena (art. 84, XII, da CF/88).
No que se refere à alegada ofensa ao princípio da isonomia, verifica-se
que a sentença internacional debatida se lastreia em um rigoroso procedimento conduzido
por uma Comissão Interamericana, que apura evidências de situação gravíssima de risco
de dano irreparável à pessoa desde o ano de 2011, sendo o caso submetido à jurisdição
da Corte Internacional no ano de 2014 onde deu início a 06 (seis) ciclos de monitoramento
que culminaram na medida provisória contida na Resolução de 28.11.2018 (6º ciclo), a
qual determina a contagem em dobro do tempo de prisão nas unidades prisionais
integrantes do Complexo do Curado.
Desse modo, observa-se que o processo internacional apreciado pela Corte
Interamericana de Direitos Humanos se restringe à evidência de situação gravíssima
constatada em procedimento realizado exclusivamente nas unidades prisionais que
integram o Complexo do Curado, e, como todo processo, a decisão apenas se refere e se
destina aos fatos relacionados ao caso concreto submetido à jurisdição internacional.
Notadamente, a medida provisória extrema determinada pela Corte
Internacional é amparada nesse monitoramento realizado por anos no Complexo do
Curado, cujas recomendações não surtiram os efeitos práticos necessários para preservar
a dignidade da pessoa humana no cumprimento da pena privativa de liberdade e
resultaram na compensação penal determinada pela sentença internacional.
Ademais, vale relembrar que em situações de conflitos de princípios
constitucionais na apreciação de um caso concreto é utilizada a “teoria da ponderação” do
jurista alemão Robert Alexy – amplamente utilizada por Tribunais Superiores com
jurisdição constitucional – a qual sugere que seja realizado um exercício de ponderação
entre os princípios constitucionais conflitantes (no caso os princípios da isonomia e da
prevalência dos direitos humanos) através de uma relação de precedência condicionada
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às particularidades do caso concreto, sendo certo que, na realidade constatada através de
processo internacional relacionado ao cumprimento de pena no Complexo do Curado, a
imediata aplicação da compensação penal com fulcro no princípio da prevalência dos
direitos humanos deve preponderar sobre o impedimento da sua aplicação por imposição
do princípio da isonomia.
Registre-se, ainda, que a juíza da 1ª Vara Regional das Execuções Penais,
em sua decisão que inaugurou a controvérsia ora debatida (ID 16098447), destacou a
questão da superlotação em outras unidades prisionais ao pontuar que “a exclusão de
pessoas privadas de liberdade, pelo simples fato que sofreram as mesmas violações de
seus direitos, não excluídos pela sentença penal condenatória, em Unidades Prisionais
diversas da inspecionada pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, pode gerar
uma situação caótica de desigualdade, pois temos unidades prisionais, que hoje detém
um contingente bem maior de PPL, que o referido Complexo, que triplicou a população
Carcerária no Estado em dez anos”. Entretanto, a referida magistrada realiza, na ocasião,
o devido exercício de autocontenção e não estende os efeitos da decisão internacional
para outras unidades prisionais em situação análoga à do Complexo do Curado, sob o
fundamento de que a matéria foi pacificada e restringida pela decisão – à época
monocrática – do Ministro do Superior Tribunal de Justiça, Reynaldo Soares da Fonseca,
no Habeas Corpus nº 136961-RJ, que limitou a contagem em dobro do tempo prisão ao
Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho, no Complexo Penitenciário de Bangu, localizado
na Zona Oeste do Rio de Janeiro, o qual também foi objeto da medida provisória
internacional juntamente com o Complexo do Curado.
Sendo assim, considerando que o objeto da causa que originou o processo
internacional é amparado em procedimento de monitoramento realizado exclusivamente
no Complexo do Curado, não vislumbro qualquer ofensa ao princípio da isonomia na
hipótese.
Quanto à alegada ofensa ao princípio da coisa julgada, há no nosso
ordenamento jurídico diversas disposições normativas que demonstram que a coisa
julgada não é absoluta, podendo, inclusive, ser desconstituída através da revisão criminal,
em casos de erro ou injustiça na condenação; bem como relativizada através de institutos
próprios da fase de execução, a exemplo da prisão domiciliar, da detração, da remição, e
até do indulto.
Dessa maneira, a compensação penal determinada pela Corte Internacional
em virtude de questões humanitárias relacionadas ao cumprimento de pena é mais um
instituto legítimo que autoriza a relativização da coisa julgada e, por isso, não visualizo a
pretensa ofensa ao princípio da coisa julgada.
No que tange à alegada ofensa à vedação constitucional de normas
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despenalizadoras para crimes hediondos, é certo que o art. 5º, XLV, da CF/88 veda
expressamente a concessão da fiança, da graça e da anistia aos crimes hediondos,
porém não proíbe a aplicação dos institutos de compensação penal próprios da execução
penal, tais como a detração e a remição.
O Conselho Nacional de Justiça apresenta três possibilidades para a
classificação ou aplicação analógica da compensação penal determinada pela Corte
Internacional na sua convencionalidade com o direito interno: I) considerar a contagem em
dobro como uma espécie autônoma de mecanismo de aceleração do cumprimento da
pena privativa de liberdade em condições ilícitas, desumanas e degradantes. II) aplicá-la
como modalidade qualitativa de detração penal; e III) aplicá-la, analogicamente, como
forma de remição.
Com efeito, todas as possibilidades sugeridas pelo CNJ – e que serão
definidas na análise das questões adjacentes desse incidente – não se confundem com a
graça ou anistia, que são os institutos vedados expressamente pela Constituição Federal,
pelo que não observo qualquer ofensa à vedação constitucional de normas
despenalizadoras para crimes hediondos.
Sobre a alegada ofensa à competência privativa do Presidente da
República para editar normas que impliquem em indulto ou comutação de pena, como
bem destacado no tópico anterior, a compensação penal determinada pela Corte
Internacional pode ser classificada como uma espécie autônoma de mecanismo de
aceleração do cumprimento da pena privativa de liberdade em condições ilícitas,
desumanas e degradantes; como detração ou como remição, as quais, por sua própria
natureza, não se confundem com o indulto ou com a comutação da pena e, por isso,
entendo que a medida provisória imposta não fere a competência privativa do
Presidente da República.
Outrossim, como bem ponderou a Unidade de Monitoramento do CNJ em sua
manifestação: “a execução de uma sentença internacional ou de uma decisão no âmbito
das medidas provisórias são autoexequíveis, vale dizer, não pressupõe regulamentação
da União por lei ou decreto. Tanto que várias sentenças e medidas provisórias anteriores,
sobre os mais variáveis temas, vem sendo cumpridos normalmente”.
Da mesma forma, entendo que não há falar em necessidade de
arbitragem, nem prévia homologação pelo STJ, da decisão da Corte Interamericana, por
se tratar de requisito necessário para revestir de eficácia interna apenas as sentenças
proferidas por Tribunais afeto à soberania de determinado Estado, e não a emanada de
um tribunal internacional que tem jurisdição voluntária sobre os seus próprios Estados-
partes, pois, como bem destacou o Programa de Pós Graduação da UFE em sua
manifestação, a Corte Interamericana “é um órgão internacional, cujas sentenças têm a
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natureza jurídica de decisões internacionais e não de sentenças estrangeiras, porque não
provenientes de Tribunal sujeito à soberania de Estado estrangeiro”.
Tudo isso sopesado, proponho a fixação da seguinte tese para a questão
nuclear inserida no questionamento ministerial: “Item c) a referida medida provisória é
exequível independentemente de arbitragem ou regulamentação pela União (lei ou
decreto presidencial)?”:
PRIMEIRA TESE JURÍDICA: Nos termos do art. 4º, inciso II, da CF/88 c/c
o art. 68.1 do Decreto 678/92 e art. 1º do Decreto 4463/02, a compensação penal
correspondente ao cômputo em dobro do tempo de prisão nas unidades prisionais
do Complexo do Curado determinada por sentença internacional, de caráter
vinculante, oriunda da Corte Interamericana de Direitos Humanos, é constitucional e
exequível independentemente de arbitragem ou regulamentação pela União.
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questões adjacentes por meio das suas manifestações, as quais destacam as razões de
fato e de direito que embasam suas conclusões.
A 2ª Vara Regional de Execuções Penais, em exercício cumulativo na Vara
de Execução Penal em Meio Aberto, manifestou-se (ID 18421906) da seguinte maneira:
“(...) Para além do mais, não se tem perspectivas sobre sua aplicabilidade no
aspecto temporal, como se algo indeterminado fosse, não se sabendo o termo inicial
de sua observância.
Ademais, o CNJ não disponibilizou no SEEU – Sistema Eletrônico de Execução
Unificado a realização de cálculo para incidentes de benefícios da execução penal
acaso a contagem em dobro seja a decisão final, a exemplo de comutação, indulto,
remição, progressão de regime prisional, livramento condicional, extinção de
punibilidade.
Efetivamente, a adoção da contagem em dobro refletirá sobremaneira no cálculo da
pena a ser cumprida, devendo-se separar os crimes não violentos e não sexuais dos
demais, especialmente na hipótese de penas já unificadas, a exigir cálculo
diferenciado que, registre-se, pode trazer prejuízos para o apenado, sobretudo
quando há identidade de lapso de tempo de cumprimento das penas, além da
natureza dos crimes, a exemplo dos crimes hediondos em razão da fração para
obtenção de benefícios. Além do mais, deverá ser obedecida a regra prevista no
Código Penal, segundo a qual no concurso de infrações, executar-se-á
primeiramente a pena mais grave (CP, art. 76).
Outro aspecto a ser levado em consideração é o fato de que a decisão da CIDH
objetivou evitar a superlotação na referida unidade prisional – Complexo do Curado -
, todavia de acordo com seu direito interno:
“Considerando 127. A via institucional para arbitrar esse cômputo, levando em conta
como pena o excesso antijurídico de dor ou sofrimento padecido, deverá ser
escolhida pelo Estado, conforme seu direito interno, não sendo a Corte competente
para indicá-la. Obviamente, nesse processo decisório, os juízes internos devem dar
cumprimento ao determinado pelo STF na Súmula Vinculante No. 56
(Considerandos 113 a 117 supra). Não obstante isso, a Corte lembra que, conforme
os princípios do Direito Internacional dos Direitos Humanos, o Estado não poderá
alegar descumprimento em virtude de obstáculos de direito interno”.
E o nosso direito interno permite a consolidação desse entendimento, em grande
medida por força da edição da Súmula 56 do Supremo Tribunal Federal e,
recentemente, a decisão adotada no HC 188820, da relatoria do Min. Edson Fachin,
tornando-se de costume adiante, independentemente do estágio no qual
vivenciamos em relação ao Covid-19.
Os Habeas Corpus coletivos das mulheres e dos homens (HC 143.641 e HC
165.704) também refletem a ideia de evitar a superlotação nas unidades prisionais.
Reproduzo, neste instante, passagem extraída no Habeas Corpus 379.269 – MS,
sendo Relator o Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, sendo vencedor o voto de
divergência do Ministro Antônio Saldanha Palheiro, acompanhado pelos demais
integrantes da Corte, apesar de o tema não ser idêntico ao aqui tratado, a saber:
“Diante dessa ótica, com base na Teoria da Margem de Apreciação Nacional (
margin of appreciation), Luiz Guilherme Arcaro Conci anuncia: "Ainda que se parta
do pressuposto de que os direitos humanos tenham pretensão universalista, pode-
se pensar na necessidade de que os estados nacionais estejam– apesar de
vinculados ao direito internacional dos direitos humanos – em situação econômica,
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social, política ou jurídica diferenciada, o que, em algumas situações, legitimaria
uma diversidade de resultados no processo hermenêutico. Essa diferença aponta
para uma reflexão que relativiza a perspectiva universalista, no sentido de entender
que os estados nacionais, apesar de signatários dos mesmos tratados e vinculados
pela jurisprudência da Corte IDH, no caso americano, ou pelo Tribunal Europeu de
Direitos Humanos, naquele continente, continuam a manter um espectro de
discricionariedade para a concretização dos direitos humanos, ainda que existam
decisões tomadas por órgãos judiciários, não judiciários ou que exerçam função
quase judicial. Não se trata de entender a possibilidade do descumprimento ou da
violação, mas de entender que há uma margem de discricionariedade para
temperamento de algumas decisões proferidas internacionalmente, quando de seu
cumprimento internamente”.
Repise-se, o CNJ – Conselho Nacional de Justiça ainda não disponibilizou na
plataforma do SEEU – Sistema Eletrônico de Execução Unificado mecanismo capaz
de possibilitar o cálculo das penas acaso a decisão da CIDH prevaleça em definitivo.
Neste instante derradeiro, é importante deixar assentado que a educação, a saúde,
a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, apesar de estarem catalogados no Capítulo dos Direitos Sociais
são, de igual maneira, considerados como direitos fundamentais do cidadão, a exigir
do Poder Judiciário Brasileiro efetivo respeito e cumprimento, sobretudo no dever de
proteção à sociedade (...)”.
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tratado anterior. E, atualmente, é o que continua prevalecendo na jurisprudência dos
tribunais. Em nosso País, o tratado jamais pode atentar contra a Constituição
Federal, mas pode ser afastado por lei federal mais recente. Caso seja o tratado o
mais novo, no entanto, afeta a aplicação de lei federal. Note-se, inclusive, que a
Constituição prevê competência ao Supremo Tribunal Federal para julgar, em
recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a
decisão “declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal” (art. 102, III, b), o
que demonstra a equiparação de um e outro, ambos submetidos ao texto
constitucional. Apoia essa tese Francisco Rezek, afirmando não haver, em direito
internacional positivo, norma alguma assegurando a primazia do tratado sobre o
direito interno – logo, somente leis anteriores podem ser afastadas pelo tratado mais
recente (Direito internacional público, p. 103-104). Acompanham esse
posicionamento Luiz Alberto Davi de Araújo, Clèmerson Merlin Clève, Manoel
Gonçalves Ferreira Filho (citações feitas por Sylvia Steiner, A convenção americana
sobre direitos humanos, p. 74) e Luís Roberto Barroso (Interpretação e aplicação da
Constituição, p. 31-32).” Percebe-se que o tema é bastante arenoso, principalmente
quando afeta crimes hediondos e equiparados em que a CF deu tratamento diverso
dos comuns. Mais ainda, não há lei federal que trate do tema, constando como meio
de solução a súmula vinculante 56. Aqui temos outro inconveniente jurídico, quando
a Resolução CIDH estabelece tratamento desproporcional ao vedar a aplicação da
contagem em dobro para crimes contra a vida ou integridade física, ou de crimes
sexuais, permitindo, porém, par a crimes considerados hediondos e assemelhados,
o que termina por incorrer nas vertentes da infra proteção deficiente e/ou proibição
de excesso. Ao nosso sentir, quando CIDH permite a contagem em dobro, viola
norma constitucional no tocante aos crimes hediondos.
d) se for de aplicação imediata pela Justiça Estadual, quais as premissas par a
concessão da comutação da pena (perdão parcial), em especial no que concerne ao
reconhecimento ou não de violação à Súmula Vinculante nº 56?
Entendo que neste caso, se superada os argumentos retro, só seria aplicado
quando o Estado não fizesse uso das alternativas prevista na Súmula Vinculante 56.
De qual quer forma, a comutação é ato privativo do presidente da República.
e) sendo a medida constitucional e aplicável aos crimes hediondos ou equiparados,
é necessário prévio estudo psicossocial (exame criminológico)?
Caso seja considerado constitucional seria de bom alvitre o exame criminológico.
Convém esclarecer que, na prática, os exames em que são submetidos os
reeducandos estão longe de serem criminológicos, pois se restringem em reproduzir
a entrevista do preso e suas alegações e subscritas por uma psicóloga e assistente
social.
f) se aplicável, a partir de quando deve se considerar em dobro o tempo de prisão
no Complexo do Curado?
Em nosso sentir, a partir da notificação.
g) se aplicável, no caso de penas unificadas decorrentes de mais de um processo, é
necessário destacar cada uma delas para realizar o cálculo separadamente e depois
reunificar para evitar a denominada “poupança de tempo de prisão”?.
A princípio sim. O problema é como fazer isso diante de um reeducando com várias
condenações em crimes diversos, já que não seria um cálculo matemático simples a
fazer e a calculadora do CNJ não está qualificada para tal fim. (...)””.
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Já a 3ª Vara Regional de Execuções Penais, manifestou-se (ID 18422465) da
seguinte forma:
“a) Qual a natureza jurídica do cômputo em dobro do tempo de prisão?
Não há consenso sobre a natureza jurídica do cômputo em dobro do tempo de
prisão. Entretanto, a fim de compatibilizá-lo com as disposições legais referentes à
execução penal no Brasil, sua natureza jurídica seria de comutação de pena do
período determinado e em relação aos crimes executados no momento de
encarceramento na unidade na qual o cômputo deve ser diferenciado. Assim sendo,
deve ser reduzido da pena o período em que o reeducando ficou na unidade.
Exemplificando: se o reeducando foi condenado a 04 (quatro) anos de reclusão e
ficou encarcerado por 02(dois) anos na unidade “X”, cujo período deve ser
contabilizado em dobro, a pena de 04(quatro) anos deve ser reduzida para 02(dois)
anos. O período de prisão seria contado em dobro já que, na prática, equivaleria a
04(quatro) anos de prisão.
b) Em relação aos crimes hediondos ou equiparados, a medida provisória emanada
da CDIH é constitucional?
Entendendo-se que o cômputo em dobro tem natureza de comutação de penas,
instituto também conhecido por indulto parcial, ou seja, espécie de graça, existe
vedação expressa na Constituição Federal à sua aplicação em relação aos crimes
hediondos (art. 5, inciso XLIII).
d) Se for de aplicação imediata pela Justiça Estadual, quais as premissas para
concessão da comutação da pena (perdão parcial), em especial no que concerne ao
reconhecimento ou não de violação à Súmula Vinculante nº 56?
Conforme diversos julgados do STF, a edição da súmula vinculante nº 56 não
implicou em concessão de benefícios a todos os reeducandos que se encontram em
unidades superlotadas, ou seja, foi reconhecido um certo benefício compensatório
aos reeducandos que se encontrassem em unidade prisional superlotada, mas
desde que seguidos determinados parâmetros. Da mesma forma deve seguir a
aplicação do cômputo em dobro. Deve-se adotar parâmetros, dentre os quais os
mais justos se referem à insalubridade das unidades prisionais, ou seja, deve ser
aplicado em unidades nas quais existe determinação expressa da CIDH e em
unidades em condições similares, já que não existe motivos para tratamento
diferenciado a reeducandos que se encontrem em situação similar.
e) Sendo a medida constitucional e aplicável aos crimes hediondos ou equiparados,
é necessário prévio estudo psicossocial?
A medida não é aplicável aos crimes hediondos ou equiparados, mas como toda
comutação de penas deve seguir os parâmetros definidos no diploma concessivo
que, no caso, é a medida provisória da CIDH. Havendo a exigência, é necessário
realizar o exame, não havendo, não há que ser criados, pelo juízo da execução,
embaraços à aplicação da medida provisória.
f) Se aplicável, a partir de quando deve se considerar em dobro o tempo de prisão
no Complexo do Curado?
A partir do primeiro ato que demonstre ciência inequívoca das autoridades estatais
sobre a situação de extrema insalubridade da unidade prisional na qual o período
será contado em dobro. Esta ciência pode se dar, por exemplo, por perícia realizada
ou notificação oficial feita ao Brasil pela CIDH.
g) Se aplicável, no caso de penas unificadas decorrentes de mais de um processo,
é necessário destacar cada uma delas para realizar o cálculo separadamente e
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depois reunificar para evitar a denominada “poupança de tempo de prisão”?
O cômputo em dobro, em sendo considerado como espécie de comutação, será
realizado nas condenações cujos fatos já haviam sido praticados no momento da
contagem em dobro, não atingindo condenações posteriores. O tempo em dobro
deve ser descontado de uma vez em todos os processos existentes e não em cada
um separadamente a fim de evitar que os presos com mais condenações sejam
mais beneficiados e tenham o tempo computado em triplo, quádruplo e etc. Em
suma se o preso terá a dupla contagem de um período, esse período incidirá sobre
todos os processos existentes apenas uma vez e não sobre cada processo existente
à época (...)””.
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Nacional de Justiça para sua implementação, e não sua aplicação direta pelos
juízes de execução”.
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em condições ilícitas, desumanas e degradantes. II) aplicá-la, analogicamente, como
modalidade qualitativa de detração penal (art. 42 do Código Penal c/c o art. 66, III, “c”,
da Lei de Execução Penal); e III) aplicá-la, analogicamente, como forma de remição sui
generis (art. 126, da Lei de Execução Penal).
Notadamente, os institutos da comutação de pena e do indulto não figuram
como opções viáveis para o implemento da referida compensação penal por
apresentarem empecilhos de cunho finalístico e operacional inadmissíveis para o
cumprimento da sentença internacional em seu exercício de convencionalidade com o
direito interno, já que tanto o indulto quanto a comutação da pena caracterizam-se como
um perdão total ou parcial da pena (empecilho finalístico) que está intimamente
relacionado ao poder discricionário do chefe de Estado (empecilho operacional), não
se fundamentando, portanto, numa perspectiva de compensação derivada de violação de
direitos ocorrida no contexto de pena abusiva e ilícita.
Como bem pontuou a Defensoria Pública em sua manifestação (ID
20062131): “contrariamente à lógica do perdão, o cômputo em dobro considera que a
pena foi efetivamente cumprida e não diminuída”, sendo certo que considerar o cômputo
em dobro como indulto ou comutação de pena retira da medida provisória emanada da
Corte Interamericana “sua natureza de resposta a violações de direitos, não mais a
tratando como pena efetivamente cumprida - como estabelecido pela Corte - e passando-
a a tratar como um perdão, que em nada está relacionado à violação de direitos das
pessoas privadas de liberdade pelo Estado brasileiro”.
Após refletir sobre os argumentos apresentados nesse incidente, acredito
veementemente que o melhor caminho – finalístico e operacional – para a aplicação da
compensação penal imposta no direito interno é reconhecê-la como forma de remição
sui generis, pelas seguintes razões.
Na perspectiva finalística, a Lei de Execuções Penais dispõe em seu art. 128
que “o tempo remido será computado como pena cumprida, para todos os efeitos”, o que
denota a sua compatibilidade finalística entre a recomendação da Corte Interamericana
com o direito interno, já que a decisão internacional estabelece que o cômputo em dobro
deve ser interpretado como pena efetivamente cumprida. Além disso, como bem
ponderou o Programa de Pós Graduação da UFPE (ID 18641934): “há uma verdadeira
compatibilidade ontológica entre ambos institutos jurídicos. Como é pacífico na
Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a remição deve ser interpretada e aplicada
em total acordo com sua finalidade teleológica, isto é, visando à recuperação da
dignidade, à reeducação e à reintegração do condenado”.
Ademais, a jurisprudência superior tem admitido o uso da analogia in bonam
partem e interpretação extensiva no tocante à inclusão de outras atividades para fins de
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remição de pena, o que reforça o entendimento de que o rol apresentado pela Lei de
Execução penal não é taxativo. É o que se percebe, por exemplo, no recente julgamento
do Habeas Corpus 663678/SP, apreciado pelo Superior Tribunal de Justiça, em maio de
2021, ocasião em que estabeleceu a possibilidade de remição por tempo de leitura; bem
como no julgamento do REsp 1.666.6379, em que o Superior Tribunal de Justiça admitiu a
remição da pena em decorrência do envolvimento do condenado com as atividades
artísticas de um Coral.
Registre-se, ainda, que o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro,
dando cumprimento à mesma medida provisória internacional que determinou a contagem
em dobro do tempo de prisão das unidades prisionais do Complexo Curado, vem
realizando a mencionada compensação penal como forma de remição, formando,
portanto, precedente específico sobre a matéria debatida.
Por essas razões, proponho a fixação da seguinte tese para as questões
adjacentes inseridas nos questionamentos ministerial: “Item a) qual a natureza jurídica do
cômputo em dobro do tempo de prisão?” e “Item d) se for de aplicação imediata pela
Justiça Estadual, quais as premissas para concessão da comutação da pena (perdão
parcial), em especial no que concerne ao reconhecimento ou não de violação à Súmula
Vinculante nº 56?”:
SEGUNDA TESE JURÍDICA: A contagem em dobro do tempo de prisão
nas unidades prisionais do Complexo do Curado é compatível finalisticamente com
o instituto da remição, por aplicação analógica dos arts. 126 e seguintes da Lei de
Execução Penal, devendo ser aplicada, imediatamente, de acordo com as premissas
constantes nos Considerandos 115 a 130 da Resolução da Corte Interamericana de
Direitos Humanos.
IV.II – Quanto à questão adjacente sobre a aplicação da compensação penal aos crimes
hediondos ou equiparados e a necessidade de prévio estudo psicossocial.
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obstáculos internos (como exigência de leis ou decretos presidenciais) para justificar o
descumprimento de uma obrigação internacional, entendo que a contagem em dobro do
tempo de prisão nas unidades prisionais do Complexo do Curado como forma de remição
sui generis é aplicável aos presos por crimes hediondos e equiparados, sendo exigido o
exame criminológico apenas aos condenados por crimes contra a vida ou a integridade
física, ou de crimes sexuais, nos termos dos Considerando 132 da Resolução da Corte
Interamericana de Direitos Humanos.
Especificamente sobre a constitucionalidade da aplicação da compensação
penal aos crimes hediondos, tal tema já foi enfrentado dentro da questão nuclear desse
incidente, ocasião em que se concluiu que não há qualquer ofensa a vedação
constitucional contida art. 5º, XLV, da CF/88.
Da mesma forma, o tema também encontra-se superado pela conclusão
alcançada na questão adjacente sobre a natureza jurídica do cômputo em dobro da pena,
oportunidade em que se firmou a tese jurídica de que a referida contagem seria
internalizada como forma de remição sui geniris, instituto compatível e aplicável aos
crimes hediondos e equiparados.
Quanto à necessidade de exame criminológico para a realização da
compensação penal determinada pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, extrai-
se da medida provisória imposta que os critérios para aplicação imediata do benefício
foram delineados da seguinte forma: 1) Regra geral: aplicação do cômputo em dobro
para cada dia de pena vivenciada em condições degradantes no complexo (Ponto
Resolutivo 6); e 2) Regra específica: os condenados por crimes contra a vida, integridade
física e crimes sexuais deverão se submeter a realização de laudo pericial para aferição
da fração de compensação a ser aplicada (Ponto Resolutivo 7 e 8).
A regra específica em questão, está amparada no item 132 da Resolução
internacional, a qual prevê a possibilidade de aplicação da fração de compensação
reduzida, quando constatado, por laudo pericial, a existência de perfil de agressividade
significativo, in verbis:
‘‘Por conseguinte, a Corte entende que a redução do tempo de prisão
compensatória da execução antijurídica, conforme o cômputo antes mencionado,
para a população penal do Complexo de Curado em geral, no caso de acusados de
crimes contra a vida e a integridade física, ou de natureza sexual, ou por eles
condenados, deverá se sujeitar, em cada caso, a um exame ou perícia técnica
criminológica que indique, segundo o prognóstico de conduta que resulte e, em
particular, com base em indicadores de agressividade da pessoa, se cabe a redução
do tempo real de privação de liberdade, na forma citada de 50%, se isso não é
aconselhável, em virtude de um prognóstico de conduta totalmente negativo, ou se
se deve abreviar em medida inferior a 50%”.
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Desse modo, deve se dar efetividade ao entendimento jurisprudencial de que
o Estado não pode invocar obstáculos internos (como exigência de leis ou decretos
presidenciais) para justificar o descumprimento de uma obrigação internacional, sobretudo
àquelas oriundas de jurisdição voluntária, como é o caso das decisões emanadas pela
Corte Interamericana de Direitos Humanos (art. 1º, Decreto nº 4463/2002), e, por isso,
não cabe a esta Corte criar novas hipóteses condicionantes à realização do exame
criminológico para além daqueles constantes na medida provisória internacional.
Vale frisar, que, além da compensação penal, a Corte Interamericana realça a
possibilidade de concessão de outros benefícios baseados na súmula vinculante 56 do STF,
como também existe a possibilidade de se acrescentar as medidas de desencarceramento que
emanam da Recomendação nº 62 do CNJ, adotada diante da pandemia do coronavírus. Além
disso, a Unidade de Monitoramento do CNJ destacou a as ações desenvolvidas no âmbito do
programa Fazendo Justiça (como a “Central de Vagas”), aderida recentemente pelo Estado do
Maranhão, que também possui a medida provisória pendente no caso do Complexo Penitenciário
São Luís (Antiga Pedrinhas).
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Após refletir sobre os argumentos expostos pelos atores processuais, bem
como na modulação dos efeitos firmada pela jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça, entendo que o marco inicial da contagem em dobro do tempo de prisão se dá a
partir da data do ingresso da pessoa privada de liberdade nas unidades prisionais do
Complexo do Curado, sendo aplicável a regra do art. 111 da Lei de Execução Penal para
o cálculo da remição sui geniris.
Com efeito, embora houvesse alguns entendimentos no sentido de que a
medida provisória somente seria aplicada as hipóteses surgidas após a notificação do
Brasil pela Corte Interamericana, a questão foi resolvida através de decisão colegiada da
5ª Turma do STJ, que, no julgamento do Habeas Corpus 136.961/RJ, determinou que a
Justiça Estadual do Rio de Janeiro procedesse com o cômputo em dobro de todo o
período em que o paciente cumpriu pena no Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho, o
qual envolvia período anterior à Resolução internacional (09 de julho de 2017 a 24 de
maio de 2019), vejamos:
“AGRAVO REGIMENTAL. MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. LEGITIMIDADE.
IPPSC (RIO DE JANEIRO). RESOLUÇÃO CORTE IDH 22/11/2018. PRESO EM
CONDIÇÕES DEGRADANTES. CÔMPUTO EM DOBRO DO PERÍODO DE
PRIVAÇÃO DE LIBERDADE. OBRIGAÇÃO DO ESTADO-PARTE. SENTENÇA DA
CORTE. MEDIDA DE URGÊNCIA. EFICÁCIA TEMPORAL. EFETIVIDADE DOS
DIREITOS HUMANOS. PRINCÍPIO PRO PERSONAE. CONTROLE DE
CONVENCIONALIDADE. INTERPRETAÇÃO MAIS FAVORÁVEL AO INDIVÍDUO,
EM SEDE DE APLICAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS EM ÂMBITO
INTERNACIONAL (PRINCÍPIO DA FRATERNIDADE - DESDOBRAMENTO).
SÚMULA 182 STJ. AGRAVO DESPROVIDO.
1. (...).
5. Não se mostra possível que a determinação de cômputo em dobro tenha seus
efeitos modulados como se o recorrente tivesse cumprido parte da pena em
condições aceitáveis até a notificação e a partir de então tal estado de fato tivesse
se modificado. Em realidade, o substrato fático que deu origem ao reconhecimento
da situação degradante já perdurara anteriormente, até para que pudesse ser objeto
de reconhecimento, devendo, por tal razão, incidir sobre todo o período de
cumprimento da pena.
6. Por princípio interpretativo das convenções sobre direitos humanos, o Estado-
parte da CIDH pode ampliar a proteção dos direitos humanos, por meio do princípio
pro personae, interpretando a sentença da Corte IDH da maneira mais favorável
possível aquele que vê seus direitos violados. (...)
11. Negativa de provimento ao agravo regimental interposto, mantendo, por
consequência, a decisão que, dando provimento ao recurso ordinário em habeas
corpus, determinou o cômputo em dobro de todo o período em que o paciente
cumpriu pena no Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho, de 09 de julho de 2017 a
24 de maio de 2019”. (STJ, Ag no RHC 136.961/RJ, Rel. Ministro REYNALDO
SOARES DA FONSECA, 5ª Turma, DJe 21.06.2021).
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Percebe-se, facilmente, que o colegiado superior ampliou a proteção dos
direitos humanos na espécie, utilizando-se do princípio pro personae para interpretar a
sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos de forma a abarcar o período de
encarceramento anterior a notificação da Resolução, sob a premissa lógica que a situação
gravíssima no cumprimento da pena já existia antes do monitoramento realizado pela
Comissão Internacional.
No que se refere ao marco final da compensação penal, a Unidade de
Monitoramento do CNJ explica de forma elucidativa o trâmite procedimental para o
encerramento dos efeitos da medida provisória internacional, senão vejamos:
“Em relação ao marco final da contagem, ainda não há decisão sobre o ponto no
âmbito dos tribunais superiores. A resolução da Corte IDH também não esclarece de
forma derradeira sobre a questão.44 Para garantir a segurança jurídica, o mais
adequado seria considerar o marco final como a data em que houver o
levantamento das referidas medidas, com o cumprimento e apresentação dos
resultados esperados conforme determinado nos pontos resolutivos da decisão.
Assim, caso a aplicação dos benefícios (aliados com as demais medidas oriundas
do plano de contingência) logrem êxito no controle do limite da capacidade do
estabelecimento, o CNJ se prontifica a informar imediatamente ao Ministério da
Família, Mulher e Direitos Humanos (Poder Executivo Federal), que presenta a
República Federativa do Brasil perante a Corte IDH (em articulação conjunta com o
MRE e a AGU). Em adição, se disponibiliza a informar a situação ao tribunal
internacional, diante de sua recente atuação como fonte independente de
informação. Em análise às medidas provisórias anteriores em relação ao Brasil que
já foram levantadas, observa-se que o diálogo, articulação e a adoção de
providências concretas pelos atores envolvidos são o caminho para que se possa
alcançar tal meta”.
Por fim, no que tange a forma de aplicação da compensação penal nos casos
de unificação da pena decorrentes de mais de um processo, após a definição da referida
compensação como forma de remição sui generis nos critérios e requisitos definidos pelo
Item 132 da Resolução Internacional, deve ser aplicada para a internalização da decisão
internacional a técnica jurídica disposta no art. 111 da Lei de Execução Penal, a qual
dispõe: “Quando houver condenação por mais de um crime, no mesmo processo ou em
processos distintos, a determinação do regime de cumprimento será feita pelo resultado
da soma ou unificação das penas, observada, quando for o caso, a detração ou remição”.
Sendo assim, por se tratar de mecanismo para aceleração do cumprimento
de pena aplicado analogicamente como forma de remição, é razoável considerar que,
após a unificação, será descontado o tempo de compensação penal, conforme operação
matemática que já é comumente adotada para o cálculo da remição.
Por tudo isso aquilatado, proponho a fixação da seguinte tese para as
questões adjacentes inseridas nos questionamentos ministerial: “Item f) se aplicável, a
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partir de quando deve se considerar em dobro o tempo de prisão no Complexo do
Curado?” e “Item g) se aplicável, no caso de penas unificadas decorrentes de mais de um
processo, é necessário destacar cada uma delas para realizar o cálculo separadamente e
depois reunificar para evitar a denominada “poupança de tempo de prisão?”:
QUARTA TESE JURÍDICA: O marco inicial da contagem em dobro do
tempo de prisão se dá a partir da data do ingresso da pessoa privada de liberdade
nas unidades prisionais do Complexo do Curado, sendo aplicável a regra do art. 111
da Lei de Execução Penal para o cálculo da remição sui geniris.
Relator
VOTO VISTA
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de Demandas Repetitivas com o objetivo de uniformizar a jurisprudência do TJPE
acerca de como aplicar (ou não aplicar) a Resolução editada em 28/11/2018 pela
Corte Interamericana de Direitos Humanos – Corte IDH (cópia da Resolução no
doc. ID 16098443), a qual determinou a contagem em dobro do tempo de prisão
suportado pelos detentos no chamado Complexo Penitenciário do Curado (antigo
Presídio Aníbal Bruno), que é composto das 3 (três) seguintes unidades
carcerárias: 1) Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros (PJALLB); 2) Presídio
Marcelo Francisco de Araújo (PAMFA); e 3) Presídio Frei Damião de Bozzano
(PFDB).
Pois bem.
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IDH consistem em medidas a ser diretamente por ele implementadas. Confira-se
(doc. ID 16098443, pp. 37-38):
RESOLVE:
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conveniência ou inconveniência do cômputo em dobro do tempo de
privação de liberdade ou, então, sua redução em menor medida.
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julgamento do incidente.
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precípua é permitir um ambiente de pluralização do debate, em que
sejam isonomicamente enfrentados todos os argumentos contrários e
favoráveis à tese jurídica discutida; bem como seja ampliado e
qualificado o contraditório, com possibilidade de audiências públicas e
participação de amicus curiae (arts. 138, 927, § 2º, 983, 1.038, I e II,
todos do CPC/2015). (...) X – Agravo conhecido para conhecer
parcialmente do recurso e, nessa parte, negar-lhe provimento. (STJ –
AREsp 1.470.017/SP – 2ª Turma – Rel. Min. Francisco Falcão – Julg.
15/10/2019).
VOTO-VISTA
MÉRITO
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julgador fracionário.
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De fato, foi exatamente o que deliberou a CIDH. Aprovou ou
recomendou uma espécie de perdão parcial das penas como forma de
compensar o que considerou excesso injusto decorrente de condições
inadequadas ao cárcere.
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Além disso, impõe sua aplicação, indistintamente, a todos
aqueles recolhidos no Complexo do Curado, ainda que presos ou
apenados pela prática de crimes hediondos. A exceção se dá
apenas em relação a presos por crimes contra a vida e a
integridade física, ou de natureza sexual, em relação a estes,
seria possível o cômputo da pena em razão inferior aos 50%
(cinquenta por cento) a ser deferido aos demais.
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Pelo visto, o Ministério Público traz a debate uma inconstitucionalidade
incidental para que esta Seção Criminal delibere a esse respeito, nos termos do art.
983 do CPC.
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Contextualizando o caso mais uma vez, no intuito de rememorar as
questões de extrema importância em debate neste momento, afirme-se que o
Ministério Público do Estado de Pernambuco instaurou o presente Incidente de
Resolução de Demandas Repetitivas com o objetivo de uniformizar a jurisprudência
do TJPE acerca de como aplicar (ou não aplicar) a Resolução editada em
28/11/2018 pela Corte Interamericana de Direitos Humanos – Corte IDH (cópia da
Resolução no doc. ID 16098443), a qual determinou a contagem em dobro do
tempo de encarceramento cumprido pelos presos no chamado Complexo
Penitenciário do Curado (antigo Presídio Aníbal Bruno).
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provisória emanada da CDIH é constitucional?
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que, para a utilização da ferramenta de cálculo do SEEU, seja solicitada
cooperação técnica ao Conselho Nacional de Justiça”.
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O problema central diz respeito à superlotação, da qual decorre a maior
parte das demais dificuldades que afetam a condição dos detentos provisórios ali
encarcerados.
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(art. 33, § 1º, alíneas “b” e “c”). No entanto, não deverá haver
alojamento conjunto de presos dos regimes semiaberto e aberto com
presos do regime fechado. 4. Havendo déficit de vagas, deverão ser
determinados: (i) a saída antecipada de sentenciado no regime
com falta de vagas; (ii) a liberdade eletronicamente monitorada ao
sentenciado que sai antecipadamente ou é posto em prisão
domiciliar por falta de vagas; (iii) o cumprimento de penas
restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado que progride ao
regime aberto. Até que sejam estruturadas as medidas
alternativas propostas, poderá ser deferida a prisão domiciliar ao
sentenciado. 5. Apelo ao legislador. A legislação sobre execução
penal atende aos direitos fundamentais dos sentenciados. No entanto,
o plano legislativo está tão distante da realidade que sua
concretização é absolutamente inviável. Apelo ao legislador para que
avalie a possibilidade de reformular a execução penal e a legislação
correlata, para: (i) reformular a legislação de execução penal,
adequando-a à realidade, sem abrir mão de parâmetros rígidos de
respeito aos direitos fundamentais; (ii) compatibilizar os
estabelecimentos penais à atual realidade; (iii) impedir o
contingenciamento do FUNPEN; (iv) facilitar a construção de unidades
funcionalmente adequadas – pequenas, capilarizadas; (v) permitir o
aproveitamento da mão-de-obra dos presos nas obras de civis em
estabelecimentos penais; (vi) limitar o número máximo de presos por
habitante, em cada unidade da federação, e revisar a escala penal,
especialmente para o tráfico de pequenas quantidades de droga, para
permitir o planejamento da gestão da massa carcerária e a destinação
dos recursos necessários e suficientes para tanto, sob pena de
responsabilidade dos administradores públicos; (vii) fomentar o
trabalho e estudo do preso, mediante envolvimento de entidades que
recebem recursos públicos, notadamente os serviços sociais
autônomos; (viii) destinar as verbas decorrentes da prestação
pecuniária para criação de postos de trabalho e estudo no sistema
prisional. 6. Decisão de caráter aditivo. Determinação que o Conselho
Nacional de Justiça apresente: (i) projeto de estruturação do Cadastro
Nacional de Presos, com etapas e prazos de implementação, devendo
o banco de dados conter informações suficientes para identificar os
mais próximos da progressão ou extinção da pena; (ii) relatório sobre
a implantação das centrais de monitoração e penas alternativas,
acompanhado, se for o caso, de projeto de medidas ulteriores para
desenvolvimento dessas estruturas; (iii) projeto para reduzir ou
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eliminar o tempo de análise de progressões de regime ou outros
benefícios que possam levar à liberdade; (iv) relatório deverá avaliar
(a) a adoção de estabelecimentos penais alternativos; (b) o fomento à
oferta de trabalho e o estudo para os sentenciados; (c) a facilitação da
tarefa das unidades da Federação na obtenção e acompanhamento
dos financiamentos com recursos do FUNPEN; (d) a adoção de
melhorias da administração judiciária ligada à execução penal. 7.
Estabelecimento de interpretação conforme a Constituição para (a)
excluir qualquer interpretação que permita o contingenciamento do
Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN), criado pela Lei
Complementar 79/94; b) estabelecer que a utilização de recursos do
Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN) para financiar centrais de
monitoração eletrônica e penas alternativas é compatível com a
interpretação do art. 3º da Lei Complementar 79/94. 8. Caso concreto:
o Tribunal de Justiça reconheceu, em sede de apelação em ação
penal, a inexistência de estabelecimento adequado ao cumprimento
de pena privativa de liberdade no regime semiaberto e, como
consequência, determinou o cumprimento da pena em prisão
domiciliar, até que disponibilizada vaga. Recurso extraordinário
provido em parte, apenas para determinar que, havendo
viabilidade, ao invés da prisão domiciliar, sejam observados (i) a
saída antecipada de sentenciado no regime com falta de vagas;
(ii) a liberdade eletronicamente monitorada do recorrido,
enquanto em regime semiaberto; (iii) o cumprimento de penas
restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado após progressão
ao regime aberto”. (STF – RE 641.320/RS – Trib. Pleno – Rel. Min.
Gilmar mendes – Julg. 11/05/2016).
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mais racional possível, em conformidade com a estrutura jurídica
internacional e de acordo com o mandamus do Supremo Tribunal
Federal estabelecido na Súmula Vinculante No. 56.”
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São duas as linhas sucessivas de entendimento:
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Uma vez que, pela norma do art. 439 do RITJPE, cabe ao Relator
delimitar as questões jurídicas controvertidas, e que, no caso sub examine, o
eminente Des. Cláudio Jean Nogueira Virgínio já cumpriu esse mister, à luz das
formulações do MP, faz-se necessário, agora, perpassar por cada ponto indicado, a
fim de que se possa chegar à tese final perseguida nesta via.
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No entender do Ministério Público de Pernambuco, o cômputo dobrado
teria a “natureza de comutação de pena ou indulto parcial”. Isso porque, a seu ver,
“na prática, a Corte recomendou perdoar parcela das penas”, e “pouco importa o
‘nomen iuris’ que se adote”, “Os efeitos e a essência são os da comutação da pena,
por essa razão como tal deve ser tratada.” (doc. ID 16098440, p. 05).
Então.
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Ademais, o indulto (que compreende a sua modalidade parcial, a
comutação) é um ato de clemência, de perdão, com a capacidade de dispensar o
condenado de uma pena por ele ainda não cumprida. Acontece que, no caso do
cômputo em dobro, toda a lógica da Resolução da Corte IDH consiste em que a
pessoa já suportou a privação de liberdade, e de forma extremamente penosa,
cruel. O cômputo dobrado é só o reconhecimento por algo que o sujeito já
experimentou. Não se está isentando o condenado de nada; só se está
reconhecendo o que ele já foi obrigado a sofrer.
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E frise-se que, embora a lei só tenha previsto duas situações
legitimadoras (trabalho e frequência escolar), o Superior Tribunal de Justiça já
reconheceu, em vários e vários julgados, que esse rol não é taxativo, sendo “
possível proceder à interpretação extensiva em prol do preso e da sociedade, uma
vez que o aprimoramento dele contribui decisivamente para os destinos da
execução” (HC n. 312.486/SP, DJe 22/6/2015). Nessa linha, o artesanato, a leitura
e até mesmo a participação em grupos musicais foram admitidos, pelo referido
Tribunal Superior, como fundamentos hábeis à remição.
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APRIMORAMENTO CULTURAL E PROFISSIONAL. AFASTAMENTO
DO ÓCIO E DA PRÁTICA DE NOVOS DELITOS. PROPORCIONAR
CONDIÇÕES PARA A HARMÔNICA REINTEGRAÇÃO SOCIAL.
FORMAÇÃO PROFISSIONAL. PROVIMENTO. 1. Em se tratando de
remição da pena, é, sim, possível proceder à interpretação extensiva
em prol do preso e da sociedade, uma vez que o aprimoramento dele
contribui decisivamente para os destinos da execução (HC n.
312.486/SP, DJe 22/6/2015). 2. A intenção do legislador ao permitir a
remição pelo trabalho ou pelo estudo é incentivar o aprimoramento do
reeducando, afastando-o, assim, do ócio e da prática de novos delitos,
e, por outro lado, proporcionar condições para a harmônica integração
social do condenado (art. 1º da LEP). Ao fomentar o estudo e o
trabalho, pretende-se a inserção do reeducando ao mercado de
trabalho, a fim de que ele obtenha o seu próprio sustento, de forma
lícita, após o cumprimento de sua pena. 3. O meio musical, além do
aprimoramento cultural proporcionado ao apenado, promove sua
formação profissional nos âmbitos cultural e artístico. A atividade
musical realizada pelo reeducando profissionaliza, qualifica e capacita
o réu, afastando-o do crime e reintegrando-o na sociedade. 4. Recurso
especial provido para reconhecer o direito do recorrente à remição de
suas penas pela atividade realizada no Coral Decreto de Vida,
determinando ao Juízo competente que proceda a novo cálculo da
reprimenda, computando, desta feita, os dias remidos como pena
efetivamente cumprida. (REsp n. 1.666.637/ES. STJ, Sexta Turma,
Rel. Min. SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, DJe 09/10/2017)
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dobro, até mesmo os indivíduos que cometeram os crimes de maior gravidade
previstos no nosso ordenamento (contra a vida, a integridade física, sexuais e até
mesmo hediondos e equiparados) chegarão muito mais rápido aos demais
benefícios prisionais.
Pelo que dispõe o art. 112, VI, “a”, da LEP[3], a progressão para o
semiaberto será admissível após o transcurso de 8 anos (50% da pena).
Segundo exemplo:
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específico condenado a 10 anos de reclusão por ter sido encontrado com 500
pedras de crack por policiais militares.
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Por outro lado, considerando-se a forma regular de contagem, ele
precisará cumprir 30% para progredir do fechado para o semiaberto, e 30% desse
restante para alcançar o aberto (art. 112, IV, da LEP).
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condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2
(dois) anos, desde que: (...)
II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em
crime doloso;
III - comprovado:
a) bom comportamento durante a execução da pena;
b) não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses;
c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; e
d) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho
honesto;
IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o
dano causado pela infração;
V - cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de
condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se o
apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza.
(...)
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ruas sem passar pelos deveres legais de demonstrar bom comportamento
carcerário, procurar ocupação lícita, não frequentar determinados lugares, recolher-
se à habitação em hora fixada, etc.
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(...)
VII-B – falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto
destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1º, §
1º-A e § 1º-B, com a redação dada pela Lei nº 9.677, de 2 de julho de
1998);
(...)
IX – furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato
análogo que cause perigo comum (art. 155, § 4º-A).
Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou
consumados:
(...)
II – o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido,
previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
III – o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17
da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou
munição, previsto no art. 18 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de
2003;
V – o crime de organização criminosa, quando direcionado à prática
de crime hediondo ou equiparado”.
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cumprimento de pena para progressão de regime (art. 112, incisos V a VIII, da Lei
7.210/84); b) proibição de saídas temporárias para os condenados em regime
semiaberto (art. 122, § 2º, da Lei 7.210/84); c) cumprimento de 2/3 (dois terços) da
pena para livramento condicional (art. 83, V, do Código Penal); d) proibição da
fiança (art. 323, II, do CPP); e e) vedação de graça ou anistia (art. 5º, XLIII, da
Constituição).
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do cômputo em dobro quando estamos diante de penas somadas ou unificadas,
decorrentes de mais de um processo, quando sobrevém condenação, no curso da
execução, por crime posterior.
Sabe-se que, de acordo com a LEP (Lei n.º 7.210/84), compete ao juiz
da Execução Penal decidir sobre a soma ou unificação de penas (art. 66, III, a, da
LEP).
Com efeito, de acordo com o art. 111, caput, da LEP, acima transcrito, a
soma das penas necessariamente deverá observar a remição, caso existente.
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da LEP, faz-se necessário efetuar a separação das penas (e não a unificação,
neste momento), tão somente para fins do cálculo do cômputo em dobro.
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período pleiteado. Busca-se, com isso, impedir uma espécie de
crédito em desfavor do Estado, disponível para utilização no futuro. 2.
O agravado, após a extinção de sua punibilidade por indulto, cumpriu
indevidamente alguns dias de pena em período de tempo posterior à
data do crime relacionado à condenação que pretende remir, daí ser
possível a aplicação do art. 42 do CP entre os processos distintos. 3.
Agravo regimental não provido.” (AgRg no HC n. 506.413/SP, relator
Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe de 30/9/2019.) (grifo
nosso)
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A Defensoria, sopesando que “a Corte IDH não fixa marcos temporais”
e que o STJ “já se pronunciou no sentido da impossibilidade de modulação de
efeitos do cômputo”, requer que todo o período de pena cumprido de forma
degradante no Complexo Penitenciário do Curado seja considerado em dobro,
“sem limitação prévia inicial” (doc. ID 20062131, p. 27).
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declaratório. 5. Não se mostra possível que a determinação de
cômputo em dobro tenha seus efeitos modulados como se o
recorrente tivesse cumprido parte da pena em condições aceitáveis
até a notificação e a partir de então tal estado de fato tivesse se
modificado. Em realidade, o substrato fático que deu origem ao
reconhecimento da situação degradante já perdurara anteriormente,
até para que pudesse ser objeto de reconhecimento, devendo, por tal
razão, incidir sobre todo o período de cumprimento da pena. (...) 8. Os
juízes nacionais devem agir como juízes interamericanos e
estabelecer o diálogo entre o direito interno e o direito internacional
dos direitos humanos, até mesmo para diminuir violações e abreviar
as demandas internacionais. É com tal espírito hermenêutico que se
dessume que, na hipótese, a melhor interpretação a ser dada, é pela
aplicação a Resolução da Corte Interamericana de Direitos Humanos,
de 22 de novembro de 2018 a todo o período em que o recorrente
cumpriu pena no IPPSC. 9. A alegação inovadora, trazida em sede de
agravo regimental, no sentido de que a determinação exarada pela
Corte Interamericana de Direitos Humanos, por meio da Resolução de
22 de novembro de 2018 da CIDH, teria a natureza de medida
cautelar provisória e que, ante tal circunstância, mencionada
Resolução não poderia produzir efeitos retroativos, devendo produzir
efeitos jurídicos ex nunc, não merece guarida. O caráter de urgência
apontado pelo recorrente na medida provisória indicada não possui o
condão de limitar os efeitos da obrigação decorrentes da Resolução
de 22 de novembro de 2018 da CIDH para o futuro (ex nunc), mas sim
de apontar para a necessidade de celeridade na adoção dos meios de
seu cumprimento, tendo em vista, inclusive, a gravidade constatada
nas peculiaridades do caso. (...) 11. Negativa de provimento ao agravo
regimental interposto, mantendo, por consequência, a decisão que,
dando provimento ao recurso ordinário em habeas corpus,
determinou o cômputo em dobro de todo o período em que o paciente
cumpriu pena no Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho, de 09 de
julho de 2017 a 24 de maio de 2019. (AgRg no RHC n. 136.961/RJ,
relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe de
21/6/2021).
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liberdade no estabelecimento prisional, independentemente da data de notificação
estatal.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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posterior no curso da execução, antes de se proceder à soma
determinada pelo art. 111, parágrafo único, da Lei nº 7.210/84, faz-se
necessário efetuar a separação das penas tão somente para fins do
cálculo do cômputo em dobro estabelecido pela Resolução de
28/11/2018 da Corte Interamericana de Direitos Humanos, a fim de
evitar a denominada “poupança de tempo de prisão”.
É como voto.
[1] Art. 121. Matar alguem: (...) § 2° Se o homicídio é cometido: (...) II - por motivo futil; (...)
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou
torne impossivel a defesa do ofendido; (...) Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
[2] Art. 33 (...) § 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma
progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e
ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: a) o condenado a pena
superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado; (...).
[3] Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a
transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso
tiver cumprido ao menos: (...) VI - 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for:
a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for
primário, vedado o livramento condicional; (...).
[4] Art. 93. A Casa do Albergado destina-se ao cumprimento de pena privativa de
liberdade, em regime aberto, e da pena de limitação de fim de semana. Art. 94. O prédio
deverá situar-se em centro urbano, separado dos demais estabelecimentos, e
caracterizar-se pela ausência de obstáculos físicos contra a fuga.
[5] Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor
à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever,
ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão
de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e
quinhentos) dias-multa.
[6] Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a
transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso
tiver cumprido ao menos: (...) VII - 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for
reincidente na prática de crime hediondo ou equiparado; (...).
[7] Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça
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ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à
impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. (...) § 2º A
pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: (...) II - se há o concurso de duas ou mais
pessoas; (...).
, 2022-06-02, 14:32:03
VOTO-VISTA
· PRIMEIRA TESE JURÍDICA: Nos termos do art. 4º, inciso II, da CF/88
c/c o art. 68.1 do Decreto 678/92 e art. 1º do Decreto 4463/02, a
compensação penal correspondente ao cômputo em dobro do tempo de
prisão nas unidades prisionais do Complexo do Curado determinada por
sentença internacional, de caráter vinculante, oriunda da Corte
Interamericana de Direitos Humanos, é constitucional e exequível
independentemente de arbitragem ou regulamentação pela União;
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· SEGUNDA TESE JURÍDICA: A contagem em dobro do tempo de
prisão nas unidades prisionais do Complexo do Curado é compatível
finalisticamente com o instituto da remição, por aplicação analógica dos
arts. 126 e seguintes da Lei de Execução Penal, devendo ser aplicada,
imediatamente, de acordo com as premissas constantes nos
Considerandos 115 a 130 da Resolução da Corte Interamericana de
Direitos Humanos (SIC);
· TERCEIRA TESE JURÍDICA: O cômputo em dobro do tempo de
prisão nas unidades prisionais do Complexo do Curado como forma de
remição sui generis é aplicável aos presos por crimes hediondos e
equiparados, sendo exigido o exame criminológico apenas aos
condenados por crimes contra a vida ou a integridade física, ou de crimes
sexuais, nos termos do Considerando 132 da Resolução da Corte
Interamericana de Direitos Humanos;
· QUARTA TESE JURÍDICA: O marco inicial da contagem em dobro do
tempo de prisão se dá a partir da data do ingresso da pessoa privada de
liberdade nas unidades prisionais do Complexo do Curado, sendo
aplicável a regra do art. 111 da Lei de Execução Penal para o cálculo da
remição sui geniris (SIC).
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Pois bem.
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Decreto nº 4.463, de 08 de novembro de 2002, o Poder Executivo Federal promulgou o
reconhecimento da jurisdição internacional da Corte IDH no território nacional.
A Corte IDH possui competência tanto para emitir opiniões consultivas, sem
caráter vinculante, quanto para julgar casos de violação à Convenção Americana de
Direitos Humanos, exarando decisões vinculantes. Sobre o tema, leciona Valerio de
Oliveira Mazzuoli, na obra Curso de direitos humanos, 6. ed. – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2019:
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provisórias podem proteger os membros de uma coletividade ou pessoas ligadas a
essa coletividade, bastando que tais pessoas, ainda que inominadas, sejam ao menos
identificáveis e determináveis (Corte IDH. Caso das Comunidades do Jiguamiandó e
do Curbaradó (relativo à Colômbia). Medida Provisória de Proteção. Resolução de
06.03.2003 parágrafos 9-11)”[2].
Aos reclusos por crimes contra a vida e a integridade física ou por delitos
sexuais, restou determinado que a conveniência da contagem em dobro do tempo de
prisão, ou sua redução em menor medida, está subordinada à realização de exame
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criminológico, in verbis (id. 16098443 - Págs. 36/38):
RESOLVE:
(...).
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especial psicólogos e assistentes sociais, sem
prejuízo de outros, que, em pareceres assinados pelo menos por
três deles, avalie o prognóstico de conduta, com base em
indicadores de agressividade dos presos alojados no Complexo de
Curado, acusados de crimes contra a vida e a integridade física, ou
de crimes sexuais, ou por eles condenados. Segundo o resultado
alcançado em cada caso, a equipe criminológica, ou pelo menos
três de seus profissionais, conforme o prognóstico de conduta a que
tenha chegado, aconselhará a conveniência ou inconveniência do
cômputo em dobro do tempo de privação de liberdade ou, então,
sua redução em menor medida.
(...).
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A República Federativa do Brasil possui como um de seus pilares
constitucionais o postulado da dignidade da pessoa humana, do qual decorre, dentre
outras, a necessidade de assegurar a integridade física e moral dos presos, consoante
se infere dos arts. 1º, III[3] e 5º, XLIX[4], ambos da Constituição Federal.
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integrantes do Complexo do Curado, o qual não teve redução efetiva de sua
superpopulação carcerária desde 2011, conforme se extrai das recentes informações
prestadas pelo Estado de Pernambuco (id. 22458431), é defeso deixar de dar
prevalência ao postulado da dignidade da pessoa humana sob a alegação de que as
demais unidades integrantes do sistema prisional de Pernambuco estariam na mesma
situação, à míngua de qualquer inspeção ou resolução internacional a respeito das
respectivas condições.
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vinculante e direta às partes. [...] (AgRg no RHC 136.961/RJ, Rel.
Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,
julgado em 15/06/2021, DJe 21/06/2021).
3. Ocorre que a Resolução da eg. Corte Interamericana de
Direitos Humanos (CIDH) de 22/11/2018 reconheceu
inadequado apenas o Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho
para a execução de penas, aos reeducandos que se encontram
em situação degradante e desumana, determinando o
cÔmputo, em dobro, de cada dia de pena privativa de liberdade
lá cumprida. Eficácia inter partes da decisão. Não inclusão,
portanto, do Presídio de Joinville/SC, em relação ao qual não
há notícia de qualquer inspeção e resolução específica da
referida Corte sobre as condições da unidade prisional.
4. Dessa forma, não há amparo jurisprudencial nem legal à
concessão do cômputo em dobro de cada dia de privação de
liberdade cumprido pelo agravante no Presídio Regional de
Joinville.
5. Agravo regimental não provido.
(STJ - AgRg no HC n. 706.114/SC, relator Ministro Reynaldo
Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 23/11/2021, DJe de
29/11/2021). Grifei.
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Quanto à alegada ofensa à vedação de normas despenalizadoras para
crimes hediondos, valho-me das palavras do Desembargador Relator:
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Posteriormente, ao analisar o Tema 972, o Supremo Tribunal Federal sob a
sistemática da repercussão geral fixou a seguinte Tese: “É inconstitucional a fixação ex
lege, com base no art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/1990, do regime inicial fechado, devendo
o julgador, quando da condenação, ater-se aos parâmetros previstos no artigo 33 do
Código Penal”.
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delitiva.
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DE INTERPRETAÇÃO DE DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS.
CONHECIMENTO DA ARGUIÇÃO. LIMITAÇÕES LEGAIS PARA O
DEFERIMENTO DE MEDIDA CAUTELAR EM SEDE DE OMISSÃO
INCONSTITUCIONAL. INDEPENDÊNCIA E AUDITABILIDADE
DAS PERÍCIAS DO ESTADO. PROTOCOLO DE MINNESOTA.
LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS ÀS OPERAÇÕES POLICIAIS
NAS PROXIMIDADE DE ESCOLAS. DIREITO DAS CRIANÇAS E
ADOLESCENTES. ABSOLUTA PRIORIDADE. FUNÇÃO DO
CONTROLE EXTERNO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. DEVER DE
INVESTIGAR EM CASOS DE SUSPEITA DE ILÍCITOS
PRATICADOS POR AGENTES DE SEGURANÇA PÚBLICA.
MEDIDA CAUTELAR PARCIALMENTE DEFERIDA. 1. É cabível a
arguição de descumprimento de preceito fundamental quando
houver (i) uma violação generalizada de direitos humanos; (ii) uma
omissão estrutural dos três poderes; e (iii) uma necessidade de
solução complexa que exija a participação de todos os poderes. 2.
A violação generalizada é a consequência da omissão estrutural do
cumprimento de deveres constitucionais por parte de todos os
poderes e corresponde, no âmbito constitucional, à expressão
“grave violação de direitos humanos”, constante do art. 109, § 5º, da
CRFB. A utilização da expressão grave violação no âmbito da
jurisdição constitucional permite identificar o liame não apenas entre
a magnitude da violação, mas também entre suas características,
ao se exigir do Tribunal que examine o tema à luz da jurisprudência
das organizações internacionais de direitos humanos. A omissão
estrutural é a causa de uma violação generalizada, cuja solução
demanda uma resposta complexa do Estado, por isso, é necessário
demonstrar não apenas a omissão, mas também o nexo. A
necessidade de solução complexa pode ser depreendida de
decisões proferidas pela Corte Interamericana de Direitos
Humanos, especialmente se dela for parte o Estado brasileiro. 3. A
Corte Interamericana de Direitos Humanos, no caso Favela
Nova Brasília, reconheceu que há omissão relevante do Estado
do Rio de Janeiro no que tange à elaboração de um plano para
a redução da letalidade dos agentes de segurança. Ademais,
em decisão datada de 22 de novembro de 2019, em processo
de acompanhamento das decisões já tomadas por ela,
conforme previsão constante do art. 69 de seu regimento
interno, a Corte fez novamente consignar a mora do Estado
brasileiro relativamente à ordem proferida. Não obstante a
nitidez do comando vinculante, a superação normativa de uma
omissão inconstitucional, não é providência a ser solvida em
sede de cautelar, nos termos do art. 12-F, § 1º, da Lei 9.868, de
1999. 4. Não cabe ao Judiciário o exame minudente de todas as
situações em que o uso de um helicóptero ou a prática de tiro
embarcado possa ser justificada, mas é dever do Executivo
justificar à luz da estrita necessidade, caso a caso, a razão para
fazer uso do equipamento, não apenas quando houver letalidade,
mas também sempre que um disparo seja efetuado. No exercício
de sua competência material para promover as ações de
policiamento, o Poder Executivo deve dispor de todos os meios
legais necessários para cumprir seu mister, desde que haja
justificativa hábil a tanto, verificável à luz dos parâmetros
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internacionais. (...). 11. Medida cautelar parcialmente deferida.
(STF - ADPF 635 MC, Relator(a): EDSON FACHIN, Tribunal Pleno,
julgado em 18/08/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-254
DIVULG 20-10-2020 PUBLIC 21-10-2020 REPUBLICAÇÃO: DJe-
107 DIVULG 01-06-2022 PUBLIC 02-06-2022). Grifei.
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Tal entendimento, a respeito da natureza vinculante das decisões oriundas
da jurisdição contenciosa da Corte IDH, é compartilhado pelo Superior Tribunal
Justiça, destacando-se o já mencionado AgRg no HC n. 706.114/SC, relator Ministro
Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 23/11/2021, DJe de
29/11/2021.
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PERSONAE. CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE.
INTERPRETAÇÃO MAIS FAVORÁVEL AO INDIVÍDUO, EM SEDE
DE APLICAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS EM ÂMBITO
INTERNACIONAL (PRINCÍPIO DA FRATERNIDADE -
DESDOBRAMENTO). SÚMULA 182 STJ. AGRAVO DESPROVIDO.
1. Legitimidade do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro
para interposição do agravo regimental. "Não há sentido em se
negar o reconhecimento do direito de atuação dos Ministérios
Públicos estaduais e do Distrito Federal perante esta Corte, se a
interpretação conferida pelo STF, a partir de tema que assume,
consoante as palavras do Ministro Celso de Mello, 'indiscutível
relevo jurídico-constitucional' (RCL-AGR n.7.358) aponta na direção
oposta, após evolução jurisprudencial acerca do tema" (AgRg nos
EREsp n. 1.256.973/RS, Relatora Ministra LAURITA VAZ, Relator
p/ acórdão Ministro ROGÉRIO SCHIETTI CRUZ, Terceira Seção,
julgado em 27/8/2014, DJe 6/11/2014).
2. Hipótese concernente ao notório caso do Instituto Penal
Plácido de Sá Carvalho no Rio de Janeiro (IPPSC), objeto de
inúmeras Inspeções que culminaram com a Resolução da
Corte IDH de 22/11/2018, que, ao reconhecer referido Instituto
inadequado para a execução de penas, especialmente em
razão de os presos se acharem em situação degradante e
desumana, determinou que se computasse "em dobro cada dia
de privação de liberdade cumprido no IPPSC, para todas as
pessoas ali alojadas, que não sejam acusadas de crimes contra
a vida ou a integridade física, ou de crimes sexuais, ou não
tenham sido por eles condenadas, nos termos dos
Considerandos 115 a 130 da presente Resolução".
3. Ao sujeitar-se à jurisdição da Corte IDH, o País alarga o rol de
direitos das pessoas e o espaço de diálogo com a comunidade
internacional. Com isso, a jurisdição brasileira, ao basear-se na
cooperação internacional, pode ampliar a efetividade dos direitos
humanos.
4. A sentença da Corte IDH produz autoridade de coisa julgada
internacional, com eficácia vinculante e direta às partes. Todos
os órgãos e poderes internos do país encontram-se obrigados
a cumprir a sentença. Na hipótese, as instâncias inferiores ao
diferirem os efeitos da decisão para o momento em que o
Estado Brasileiro tomou ciência da decisão proferida pela
Corte Interamericana, deixando com isso de computar parte do
período em que o recorrente teria cumprido pena em situação
considerada degradante, deixaram de dar cumprimento a tal
mandamento, levando em conta que as sentenças da Corte
possuem eficácia imediata para os Estados Partes e efeito
meramente declaratório.
5. Não se mostra possível que a determinação de cômputo em
dobro tenha seus efeitos modulados como se o recorrente
tivesse cumprido parte da pena em condições aceitáveis até a
notificação e a partir de então tal estado de fato tivesse se
modificado. Em realidade, o substrato fático que deu origem ao
reconhecimento da situação degradante já perdurara
anteriormente, até para que pudesse ser objeto de
reconhecimento, devendo, por tal razão, incidir sobre todo o
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período de cumprimento da pena.
6. Por princípio interpretativo das convenções sobre direitos
humanos, o Estado-parte da CIDH pode ampliar a proteção dos
direitos humanos, por meio do princípio pro personae,
interpretando a sentença da Corte IDH da maneira mais
favorável possível aquele que vê seus direitos violados.
7. As autoridades públicas, judiciárias inclusive, devem exercer o
controle de convencionalidade, observando os efeitos das
disposições do diploma internacional e adequando sua estrutura
interna para garantir o cumprimento total de suas obrigações frente
à comunidade internacional, uma vez que os países signatários são
guardiões da tutela dos direitos humanos, devendo empregar a
interpretação mais favorável ao ser humano.
- Aliás, essa particular forma de parametrar a interpretação das
normas jurídicas (internas ou internacionais) é a que mais se
aproxima da Constituição Federal, que faz da cidadania e da
dignidade da pessoa humana dois de seus fundamentos, bem como
tem por objetivos fundamentais erradicar a marginalização e
construir uma sociedade livre, justa e solidária (incisos I, II e III do
art. 3º). Tudo na perspectiva da construção do tipo ideal de
sociedade que o preâmbulo da respectiva Carta Magna caracteriza
como "fraterna" (HC n. 94163, Relator Min. CARLOS BRITTO,
Primeira Turma do STF, julgado em 2/12/2008, DJe-200 DIVULG
22/10/2009 PUBLIC 23/10/2009 EMENT VOL-02379-04 PP-00851).
O horizonte da fraternidade é, na verdade, o que mais se ajusta
com a efetiva tutela dos direitos humanos fundamentais. A certeza
de que o titular desses direitos é qualquer pessoa, deve sempre
influenciar a interpretação das normas e a ação dos atores do
Direito e do Sistema de Justiça.
- Doutrina: BRITTO, Carlos Ayres. O Humanismo como categoria
constitucional. Belo Horizonte: Forum, 2007; MACHADO, Carlos
Augusto Alcântara. A Fraternidade como Categoria Jurídica:
fundamentos e alcance (expressão do constitucionalismo fraternal).
Curitiba: Appris, 2017; MACHADO, Clara. O Princípio Jurídico da
Fraternidade.
- um instrumento para proteção de direitos fundamentais
transindividuais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017; PIOVESAN,
Flávia. Direitos Humanos e o direito constitucional internacional.
Sâo Paulo: Saraiva, 2017; VERONESE, Josiane Rose Petry;
OLIVEIRA, Olga Maria Boschi Aguiar de; Direito, Justiça e
Fraternidade. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017.
8. Os juízes nacionais devem agir como juízes interamericanos
e estabelecer o diálogo entre o direito interno e o direito
internacional dos direitos humanos, até mesmo para diminuir
violações e abreviar as demandas internacionais. É com tal
espírito hermenêutico que se dessume que, na hipótese, a
melhor interpretação a ser dada, é pela aplicação a Resolução
da Corte Interamericana de Direitos Humanos, de 22 de
novembro de 2018 a todo o período em que o recorrente
cumpriu pena no IPPSC.
9. A alegação inovadora, trazida em sede de agravo regimental,
no sentido de que a determinação exarada pela Corte
Interamericana de Direitos Humanos, por meio da Resolução
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de 22 de novembro de 2018 da CIDH, teria a natureza de
medida cautelar provisória e que, ante tal circunstância,
mencionada Resolução não poderia produzir efeitos
retroativos, devendo produzir efeitos jurídicos ex nunc, não
merece guarida. O caráter de urgência apontado pelo
recorrente na medida provisória indicada não possui o condão
de limitar os efeitos da obrigação decorrentes da Resolução de
22 de novembro de 2018 da CIDH para o futuro (ex nunc), mas
sim de apontar para a necessidade de celeridade na adoção
dos meios de seu cumprimento, tendo em vista, inclusive, a
gravidade constatada nas pecualiaridades do caso.
10. Por fim, de se apontar óbice de cunho processual ao provimento
do recurso de agravo interposto, consistente no fato de que o
recorrente se limitou a indicar eventuais efeitos futuros da
multimencionada Resolução de 22 de novembro de 2018 da CIDH
fulcrado em sua natureza de medida de urgência, sem, contudo,
atacar os fundamentos da decisão agravada, circunstância apta a
atrair o óbice contido no Verbete Sumular 182 do STJ, verbis: "É
inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar
especificamente os fundamentos da decisão agravada."
11. Negativa de provimento ao agravo regimental interposto,
mantendo, por consequênci, a decisão que, dando provimento ao
recurso ordinário em habeas corpus, determinou o cômputo em
dobro de todo o período em que o paciente cumpriu pena no
Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho, de 09 de julho de 2017 a 24
de maio de 2019.
(STJ – AgRg no RHC n. 136.961/RJ, relator Ministro Reynaldo
Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 15/6/2021, DJe de
21/6/2021). Grifei.
Ademais, nos estritos termos do art. 128, da LEP, na redação dada pela Lei
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nº 12.433/11, “O tempo remido será computado como pena cumprida, para todos os
efeitos”, o que se coaduna com a determinação do cômputo em dobro, sendo uma
resposta às violações dos direitos humanos.
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Conquanto seja possível defender que o rol do art. 126, da LEP não é
taxativo, pontue-se que os Tribunais Superiores entendem ser vedada a concessão da
chamada remição ficta ou automática.
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dias cumpridos sob essas condições adversas, a critério do juiz da
Vara de Execuções Penais competente. Barroso argumentou que,
com a solução, ganha o preso, que reduz o tempo de prisão, e
ganha o Estado, que se desobriga de despender recursos com
indenizações, dinheiro que pode ser, inclusive, usado na melhoria
do sistema.
O voto do Min. Barroso foi acompanhado apenas pelos Ministros
Luiz Fux e Celso de Mello, ficando, portanto, vencido.
A maioria dos Ministros do STF decidiu que a indenização deve
ser mesmo em pecúnia.
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Frise-se que a voluntária submissão do Brasil à jurisdição contenciosa da
Corte IDH traz como consequência a necessidade de observância e de aplicação
imediata da decisão internacional em comento.
Como a natureza vinculante das decisões da Corte IDH, prevista no art. 68.1
da CADH[11], foi reconhecida pelos próprios Tribunais Superiores, resta ilógico
obstaculizar a aplicação da Medida Provisória, exigindo alguma regulamentação
interna ou arbitragem.
[1] Art. 983. O relator ouvirá as partes e os demais interessados, inclusive pessoas, órgãos e entidades com interesse na controvérsia,
que, no prazo comum de 15 (quinze) dias, poderão requerer a juntada de documentos, bem como as diligências necessárias para a elucidação da
questão de direito controvertida, e, em seguida, manifestar-se-á o Ministério Público, no mesmo prazo.
§ 1º Para instruir o incidente, o relator poderá designar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência e
conhecimento na matéria.
[2] CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O TJ/PE instaurou IRDR para dirimir as divergências na aplicação da Resolução da CIDH de
22/11/2018 (cômputo da pena em dobro para os presos do Complexo do Curado); enquanto não julgado o IRDR, os processos
envolvendo o tema estão suspensos. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/1b38735595369838f208dd2b25315195>. Acesso em: 07/08/2022.
[3] Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
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Democrático de Direito e tem como fundamentos:
(...);
(...).
[4] Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...);
(...).
[5] Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
(Vide Súmula Vinculante)
(...).
§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida integralmente em regime fechado.
§ 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de
2007)
(...).
[6] A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se
observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS.
[7] Recomenda aos Tribunais e magistrados a adoção de medidas preventivas à propagação da infecção pelo novo
coronavírus – Covid-19 no âmbito dos sistemas de justiça penal e socioeducativo.
[9] Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de
execução da pena. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011).
§ 1º A contagem do tempo para o fim deste artigo será feita à razão de 1 (um) dia de pena por 3 (três) de trabalho.
§ 1o A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de: (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011)
I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar - atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou
superior, ou ainda de requalificação profissional - divididas, no mínimo, em 3 (três) dias; (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)
II - 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)
(...).
[10] CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não é possível a remição ficta da pena. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/bac49b876d5dfc9cd169c22ef5178ca7>. Acesso em: 09/08/2022.
[11] Os Estados Partes na Convenção comprometem-se a cumprir a decisão da Corte em todo caso em que forem partes.
VOTO DE VISTA
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Em sessão realizada no dia 28 de abril do corrente ano, o
Desembargador Relator votou no sentido de acolher o incidente, propondo quatro
teses jurídicas a fim de uniformizar a matéria:
PRIMEIRA TESE JURÍDICA: Nos termos do art. 4º, inciso II, da CF/88 c/c o art. 68.1 do
Decreto 678/92 e art. 1º do Decreto 4463/02, a compensação penal correspondente ao
cômputo em dobro do tempo de prisão nas unidades prisionais do Complexo do Curado
determinada por sentença internacional, de caráter vinculante, oriunda da Corte
Interamericana de Direitos Humanos, é constitucional e exequível independentemente
de arbitragem ou regulamentação pela União;
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o julgamento em diligência, com vistas a intimar o Governador do Estado de
Pernambuco para se manifestar sobre a matéria objeto do presente incidente, nos
termos do art. 983, do Código de Processo Civil. Nesta sessão, o e. Des. Isaías
Andrade Lins Neto refluí do voto anteriormente proferido e pediu vista dos autos.
Após o voto do eminente Des. Isaías Andrade Lins Neto, foi levanta
questão de ordem em relação a apresentação do voto vista do Des. Carlos Moraes
quanto ao mérito do presente incidente, ou seja, quanto à possibilidade de
aplicação imediata da contagem em dobro do tempo de prisão – cumprido no
Complexo do Curado –, independentemente de regulamentação ou arbitragem pela
União, sendo extraída do seguinte questionamento formulado pelo Ministério
Público na petição inicial: “c) a referida medida provisória é exequível
independentemente de arbitragem ou regulamentação pela União (lei ou decreto
presidencial)?”.
1. Requerer ao Estado que adote, de forma imediata, todas as medidas que sejam
necessárias para proteger eficazmente a vida e a integridade pessoal de todas as
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pessoas privadas de liberdade no Complexo de Curado, assim como de qualquer
pessoa que se encontre neste estabelecimento, incluindo os agentes
penitenciários, funcionários e visitantes, nos termos do Considerando 20 desta
Resolução.
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ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 15 de novembro de 2017;
6. 6º ciclo: Corte IDH. Assunto do Complexo Penitenciário do Curado em relação
ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 28 de novembro de 2018.
124. Dado que está fora de qualquer dúvida que a degradação em curso decorre da
superpopulação do Complexo de Curado, cuja densidade é superior a 200%, ou seja,
duas vezes sua capacidade, disso se deduziria que duplica também a inflicção
antijurídica eivada de dor da pena que se está executando, o que imporia que o tempo
de pena ou de medida preventiva ilícita realmente sofrida fosse computado à razão de
dois dias de pena lícita por dia de efetiva privação de liberdade em condições
degradantes.
125. Considera a Corte que a solução radical, antes mencionada, que se inclina pela
imediata liberdade dos presos em razão da inadmissibilidade de penas ilícitas em um
Estado de Direito, embora seja firmemente principista e na lógica jurídica quase
inobjetável, desconhece que seria causa de um enorme alarme social que pode ser
motivo de males ainda maiores.
126. Cabe pressupor, de forma absoluta, que as privações de liberdade dispostas pelos
juízes do Estado, a título penal ou cautelar, o foram no prévio entendimento de sua
licitude por parte dos magistrados que as dispuseram, porque os juízes não costumam
dispor prisões ilícitas. No entanto, são executadas ilicitamente e, por conseguinte, dada
a situação que persiste, e que nunca devia ter existido, mas existe, ante a emergência e
a situação real, o mais prudente é reduzi-las de forma que seja computado como pena
cumprida o excedente antijurídico de sofrimento não disposto ou autorizado pelos juízes
do Estado.
127. A via institucional para arbitrar esse cômputo, levando em conta como pena o
excesso antijurídico de dor ou sofrimento padecido, deverá ser escolhida pelo Estado,
conforme seu direito interno, não sendo a Corte competente para indicá-la.
Obviamente, nesse processo decisório, os juízes internos devem dar cumprimento ao
determinado pelo STF na Súmula Vinculante No. 56 (Considerandos 113 a 117 supra).
Não obstante isso, a Corte lembra que, conforme os princípios do Direito Internacional
dos Direitos Humanos, o Estado não poderá alegar descumprimento em virtude de
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obstáculos de direito interno”.
Importa destacar que o Pacto de San José da Costa Rica, que possui nível
hierárquico supralegal, porém infraconstitucional no Direito brasileiro, tal como
explicitado no julgamento do Recurso Extraordinário n° 466343. De fato, os
Ministros reconheceram que a redação do artigo 4º (1) do Pacto comporta
exceções à regra nela contida em razão da sua própria redação (pela expressão
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“em geral”), e essas exceções podem ser previstas pelas leis internas.
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a. estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da América;
d. solicitar aos governos dos Estados membros que lhe proporcionem informações
sobre as medidas que adotarem em matéria de direitos humanos;
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Já o art. 68 da CADH prevê que os Estados Partes na Convenção se
comprometem a cumprir a decisão da Corte em todo caso em que forem partes, o
que denota de forma patente seu caráter vinculante.
“(...) essas deliberações compõem o chamado power of embarras, que por definição é
uma pressão política, já que lhe faltaria a chamada força vinculante. Busca-se, então, a
chamada “mobilisation de la honte”, para que o Estado violador, sponte propria, repare
integralmente a ofensa aos direitos humanos protegidos”. (Ramos, André de Carvalho.
Processo internacional de direitos humanos: análise dos mecanismos de apuração de
violações de direitos humanos e a implementação das decisões no Brasil – 4. ed. –
São Paulo: Saraiva, 2015. p. 359).
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necessário, primeiro, entender como se dá (1) o respeito à Constituição (e aos seus
direitos expressos e implícitos) e (2) aos tratados internacionais (em matéria de direitos
humanos ou não) ratificados e em vigor no país. O respeito à Constituição faz-se por
meio do que se chama de controle de constitucionalidade das leis; o respeito aos
tratados que sejam de direitos humanos faz-se pelo até agora pouco conhecido (pelo
menos no Brasil) controle de convencionalidade das leis; e o respeito aos tratados que
sejam comuns faz-se por meio do controle de supralegalidade das leis (...)." (Op. Cit. p.
135)
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Há experiências exitosas relativas a casos que tramitaram perante os
órgãos do Sistema Interamericano, como o Caso Maria da Penha e o Caso dos
Meninos Emasculados do Maranhão, nos quais foram firmados acordos de solução
amistosa que representaram algumas mudanças significativas na vida das vítimas.
O primeiro teve reflexos não apenas na vida da vítima que lhe dá o nome, mas
também no arcabouço de proteção às mulheres contra a violência doméstica e
familiar no país, com a edição da Lei n° 11.340, de 7 de agosto de 2006. Os órgãos
do Sistema Interamericano reconhecem quando o Estado empreende esforços
efetivos para a cessação das violações de direitos humanos e esse reconhecimento
serve de estímulo à promoção de políticas públicas na área.
Frise-se que não podemos perder de vista que ‘não pode a Corte
Interna de Direitos Humanos alterar a legislação interna do Estado. Conforme o art.
2º, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos:
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caminho a se percorrer a fim de tornar exequível as medidas recomendas na
Resolução da Corte Interamericana de Direitos Humanos, de 28/11/2018 – Medida
Provisória a respeito do Brasil Assunto do Complexo Penitenciário do Curado, de
forma a equilibrar a norma internacional ao sistema jurídico nacional, naquilo que
não se conflitam – exercendo o controle de convencionalidade, observando os
efeitos das disposições do diploma internacional e adequando sua estrutura interna
para garantir o cumprimento total de suas obrigações frente à comunidade
internacional, uma vez que os países signatários são guardiões da tutela dos
direitos humanos, devendo empregar a interpretação mais favorável ao Ser
Humano.
É como voto.
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Voto - Des. Evandro Magalhães Melo
Primeiramente, vejo que o Ministério Pública vem posicionado nos autos no sentido de ser
declarada a inconstitucionalidade daquela decisão, e, consequentemente, sua inaplicabilidade no
ordenamento jurídico brasileiro. Nesse ponto, reservando meu entendimento para casos futuros
em que eu tenha maiores condições de verticalidade no tema, vejo que nesse caso específico,
temos o posicionamento do CNJ no documentos acostado na ID 18529723, no sentido de que
seja dado cumprimento, reconhecendo a constitucionalidade, e por isso, obrigatórias, e assim
com temos também uma decisão do STJ, no AgRg no RHC n. 136.961/RJ, relator Ministro
Reynaldo Soares da Fonseca, onde não declara a insconstitucionalidade. Assim, entendo por
rejeitar a tese ministerial contrária à constitucionalidade desta decisão específica da corte
interamericana.
Em segundo lugar, vejo com bastante preocupação a contagem ficta em dobro do cumprimento
da pena quando se trata de crimes gravíssimos e que atenta à segurança da sociedade, eis que
ao mesmo tempo em que temos o direito do preso em estar em lugar adequado ao cumprimento
de pena – direito individual -, temos, por outro lado, o direito de preservar o princípio da
segurança à sociedade – direito coletivo. Assim, o comando normativo a ser cumprido não pode
por seu turno, servir a colocar em risco à sociedade com retorno do preso gravíssimo, sem uma
ressocialização, sem passar pelos requisitos meritórios de progressão do regime, para que
retorne à sociedade sem pô-la novamente em risco gravíssimo! O maior filósofo vivo do direito
hoje, o alemão e Robert Alexy, deixa bem claro essa preferência de princípios, que na mesma
linha, aqui no caso, há de prevalecer o coletivo.
São várias as exigências para o preso progredir de regime, a exemplo dos comandos normativos
dos art.s 5 LXIII da CF, 83 V e 323 II do CPP, 112 V a VIII e seu §2º da lei 7210, pelo que aplicar
indistintamente a decisão da corte interamericana afronta ao menos tais normativas brasileiras, e
por isso comungo do entendimento ressalvado pelo eminente colega Des Carlos Moraes,
impossibilito a contagem em dobro aos detentos acusados e condenados pelos crimes contra
a vida, a integridade física e a dignidade sexual, assim como aqueles recolhidos em razão
dos crimes hediondos e equiparados previstos na Lei nº 8.072/90, e sendo aplicado apenas
em relação ao tempo cumprido em um dos presídios e em sendo anterior ao cumprimento
da pena no Complexo do Curado.
Eminentes pares, enfim, com base nos fundamentos aqui postos, normas, decisão da corte
superior e prevalência do princípio maior, dentre as teses aqui exposadas nos votos já colhidos,
entendo que o meu posicionamento está em consonância com o voto do eminente colega Des
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Carlos Moraes, e assim, para facilitar a coleta de meu voto pelo presidente, VOTO NO MESMO
SENTIDO E PELOS MESMOS FUNDAMENTOS DO VOTO DO DES CARLOS MORAES.
VOTO – VOGAL
PRIMEIRA TESE JURÍDICA: Nos termos do art. 4º, inciso II, da CF/88 c/c o art. 68.1 do
Decreto 678/92 e art. 1º do Decreto 4463/02, a compensação penal correspondente ao
cômputo em dobro do tempo de prisão nas unidades prisionais do Complexo do Curado
determinada por sentença internacional, de caráter vinculante, oriunda da Corte
Interamericana de Direitos Humanos, é constitucional e exequível independentemente de
arbitragem ou regulamentação pela União;
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dá a partir da data do ingresso da pessoa privada de liberdade nas unidades prisionais do
Complexo do Curado, sendo aplicável a regra do art. 111 da Lei de Execução Penal para o
cálculo da remição sui geniris (SIC).
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em Recife/PE, previsto na Resolução de 28/11/2018 da Corte Interamericana de Direitos
Humanos (Corte IDH), somente se aplica aos detentos que não forem acusados ou
condenados em razão dos crimes contra a vida, a integridade física e a dignidade sexual,
assim classificados pelo Código Penal, bem como àqueles recolhidos em virtude dos crimes
hediondos e equiparados previstos na Lei nº 8.072/90.
Pois bem.
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Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos.
(...)
Por sua vez, a CORTE IDH é uma instituição JUDICIÁRIA autônoma, que tem por
finalidade a aplicação e a interpretação da CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS
HUMANOS, possuindo função JURISDICIONAL e CONSULTIVA. Inclusive, o art. 68, da
CONVENÇÃO ADH prevê que todos os Estados partes se comprometem a cumprir a decisão
da CORTE nos casos em que forem parte, concluindo-se pelo seu PATENTE CARÁTER
VINCULANTE.
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referidas medidas da Comissão IDH, o caso foi submetido à jurisdição da CORTE IDH até
adoção da medida provisória outorgada em 2014.
Nesta última decisão, foram feitas as seguintes considerações pela CORTE IDH:
iii) Uma vez que a pena é executada ilicitamente, e nunca deveria ter sido assim
cumprida, ante a emergência e situação real, o mais prudente é reduzi-la de
forma que seja computado como pena cumprida o excedente antijurídico de
sofrimento não disposto ou autorizado pelos juízes do Estado;
iv) A via institucional de como deverá ser arbitrado e aplicado este cômputo
em dobro fica a critério do Estado, conforme seu direito interno, não sendo a
CORTE IDH competente para indicá-la, contudo, a CORTE ressalta que o “Estado
não poderá alegar descumprimento em virtude de obstáculos de direito interno”.
Este é o cenário em que se deu a Resolução da CORTE IDH que ora se analisa.
Pois bem.
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No ponto, foi ouvido o Conselho Nacional de Justiça, (ID 18529723), que assim se
expressou:
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obrigatoriedade das decisões e das medidas provisórias oriundas da Corte
Interamericana e da concretização de todas as medidas para o fiel cumprimento da
Convenção, a aplicação do cômputo em dobro não está condicionada à edição
de norma federal de caráter geral (lei federal ou decreto presencial).
Conclui-se, assim, que a própria lei brasileira não prevê como óbice à análise dos
pedidos judiciais visando à aplicação do cômputo em dobro a ausência de
regulamentação pela União”.
Ocorre que, tal como devidamente mitigado pelo Desembargador Carlos Moraes a
Resolução da CORTE IDH deve ser analisada e, posteriormente aplicada com algumas
ressalvas, sobre as quais passo a discorrer adiante.
Vejamos.
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Com relação a tais pontos, tão bem examinadas e ponderados nos votos de ambos
os r. mencionados julgadores, acolho as razões ali constantes como minhas razões de decidir.
Por fim, passo a análise acerca das ressalvas que entendo por pertinentes quanto
às ponderações constantes do voto do Relator em relação à terceira tese jurídica por ele proposta
[2].
E, esclareço.
Isto porque, caso seja adotada a referida contagem para todos os crimes previstos
no ordenamento jurídico indistintamente, tal cômputo dará ensejo à obtenção, de forma muito
mais célere, de progressão de regime, ou mesmo de concessão de outros benefícios previstos na
legislação que trata da execução da pena.
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“Com efeito, o ordenamento jurídico nacional confere aos crimes hediondos e
equiparados, dentre os quais se incluem delitos contra a vida, integridade física e
sexuais, tratamento diferenciado em razão de sua especial gravidade, citando-
se como exemplos: a) exigência de percentual maior de cumprimento de pena para
progressão de regime (art. 112, incisos V a VIII, da Lei 7.210/84); b) proibição de
saídas temporárias para os condenados em regime semiaberto (art. 122, § 2º, da Lei
7.210/84); c) cumprimento de 2/3 (dois terços) da pena para livramento condicional
(art. 83, V, do Código Penal); d) proibição da fiança (art. 323, II, do CPP);
e e) vedação de graça ou anistia (art. 5º, XLIII, da Constituição).
Por tais razões, entendo que os detentos acusados e condenados pelos crimes
contra a vida, a integridade física e a dignidade sexual, assim como aqueles
recolhidos em razão dos crimes hediondos e equiparados previstos na Lei nº
8.072/90 não podem ficar sujeitos ao benefício da contagem em dobro do
tempo de prisão no Complexo do Curado, aplicando-se a legislação interna
brasileira quanto a essas pessoas”. (destaquei)
Vejamos.
Observados os princípios que norteiam a execução das penas, nos termos do art.
83 e seguintes, do Código Penal, e art. 126 e seguintes da Lei de Execução Penal[3], será
garantido o cômputo em dobro de reprimenda ao preso que terminar o cumprimento de
sua pena no bom comportamento carcerário, e sem o cometimento de falta grave e/ou
novo delito.
Ou seja.
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Uma vez procedida a compensação penal por parte do Juízo da Execução,
cometendo o apenado falta grave ou novo delito, perderá este TODOS os dias
compensados, voltando ao cumprimento de sua pena, nos moldes previsto na Lei de
Execução Penal.
Esclareço, por fim, que a presente modulação é proposta com o fito de se realizar
uma maior adequação das medidas cautelares, provenientes da Corte Interamericana, a
realidade estatal, em estrita observância das Conclusões sobre a situação de superlotação e
superpopulação do Complexo Penitenciário do Curado, à realidade do Estado, em plena
conformidade com o direito interno, em especial ao regramento atinente à Execução Penal que
dispensa requisitos, bem como condições, para o acompanhamento do sistema progressivo pelo
preso, tudo nos moldes das ponderações alhures tratadas.
É como voto.
[2] TERCEIRA TESE JURÍDICA: O cômputo em dobro do tempo de prisão nas unidades prisionais do Complexo do Curado como
forma de remição sui generis é aplicável aos presos por crimes hediondos e equiparados, sendo exigido o exame criminológico
apenas aos condenados por crimes contra a vida ou a integridade física, ou de crimes sexuais, nos termos do Considerando 132
da Resolução da Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois)
anos, desde que:
I - cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes;
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III - comprovado:
IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração;
V - cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa
natureza.
Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do
livramento ficará também subordinada à constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não
voltará a delinqüir.
(...)
Art. 86 - Revoga-se o livramento, se o liberado vem a ser condenado a pena privativa de liberdade, em sentença irrecorrível:
Revogação facultativa
Art. 87 - O juiz poderá, também, revogar o livramento, se o liberado deixar de cumprir qualquer das obrigações constantes da
sentença, ou for irrecorrivelmente condenado, por crime ou contravenção, a pena que não seja privativa de liberdade.
Efeitos da revogação
Art. 88 - Revogado o livramento, não poderá ser novamente concedido, e, salvo quando a revogação resulta de condenação por
outro crime anterior àquele benefício, não se desconta na pena o tempo em que esteve solto o condenado.
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do
tempo de execução da pena.
(...)
Art. 127. Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do tempo remido, observado o disposto no art.
57, recomeçando a contagem a partir da data da infração disciplinar.
Assinado eletronicamente por: CARLOS FREDERICO GONCALVES DE MORAES - 08/09/2022 16:35:27 Num. 23156565 - Pág. 130
https://pje.tjpe.jus.br:443/2g/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22090816352679900000022780048
Número do documento: 22090816352679900000022780048
Proclamação da decisão:
SESSÃO DO DIA 28.04.2022 - "APÓS O VOTO DO RELATOR QUE ACOLHEU O
INCIDENTE E PROPÔS AS TESES JURÍDICAS, VISANDO A UNIFORMIZAÇÃO DA
MATÉRIA EM DEBATE NO QUE FOI ACOMPANHADO PELO DESEMBARGADOR
ISAÍAS LINS, PEDIU VISTA O DESEMBARGADOR CARLOS MORAES, FICANDO
ADIADO O JULGAMENTO. ANTECIPOU OS VOTOS INACOLHENDO AS TESES
JURÍDICAS PROPOSTAS PELO RELATOR EM SEU VOTO, OS
DESEMBARGADORES ALEXANDRE ASSUNÇÃO, FAUSTO CAMPOS E MARCO
MAGGI, FICANDO SUSPENSO AS DECISÕES DOS JUÍZES DE 1º GRAU ATÉ A
CONCLUSÃO DO JULGAMENTO DO INCIDENTE. PEDIU VISTA
SUCESSIVAMENTE A DESEMBARGADORA DAISY ANDRADE''. SESSÃO DO DIA
16.06.2022- "À UNANIMIDADE, FOI ACOLHIDA A PRELIMINAR ARGUIDA, DE
OFÍCIO, PELO DESEMBARGADOR CARLOS MORAES, PARA CONVERTER O
JULGAMENTO EM DILIGÊNCIA, PROCEDENDO-SE A INTIMAÇÃO DE SUA
EXCELÊNCIA GOVERNADOR DO ESTADO DE PERNAMBUCO, PARA QUE ESTE
SE MANIFESTE, NO PRAZO DE 15 DIAS, ACERCA DA MATÉRIA OBJETO DO
PRESENTE INCIDENTE, NOS TERMOS DO ART. 983,DO CPP. APÓS O VOTO DO
DESEMBARGADOR CARLOS MORAES, PEDIU VISTA SUCESSIVAMENTE O
DESEMBARGADOR ISAÍAS ANDRADE E O DESEMBARGADOR LEOPOLDO
RAPOSO". SESSÃO DO DIA 18.08.2022 - "APÓS O VOTO-VISTA DO
DESEMBARGADOR ISAIAS LINS ACOMPANHANDO O RELATOR O PROCESSO
CONTINUA ADIADO". SESSÃO DO DIA 25.08.2022 - POR MAIORIA, FOI
REJEITADA A PRELIMINAR DE INCONSTITUCIONALIDADE SUSCITADA PELO
MINISTÉRIO PÚBLICO. VENCIDOS A DESEMBARGADORA DAISY ANDRADE E O
DESEMBARGADOR PRESIDENTE QUE ENTENDIAM QUE A PRELIMINAR NÃO
DEVERIA SER CONHECIDA EM RAZÃO DO SEU CONTEÚDO VERSAR SOBRE O
MÉRITO DA CAUSA. NO MÉRITO, APÓS OS VOTOS-VISTA DO
DESEMBARGADOR CARLOS MORAES ACOLHENDO PARCIALMENTE E SENDO
ACOMPANHADO PELO DESEMBARGADOR EUDES FRANÇA, DA
DESEMBARGADORA DAISY ANDRADE INACOLHENDO E DO DESEMBARGADOR
LEOPOLDO RAPOSO ACOLHENDO, FOI SUSPENSO O JULGAMENTO PARA
CONVOCAR OS DESEMBARGADORES AUSENTES JUSTIFICADAMENTE, PARA O
COMPLETO JULGAMENTO, DADA A AUSÊNCIA DE QUÓRUM EXIGIDA PELO
REGIMENTO. SESSÃO DO DIA 01/09/2022. "POR UNANIMIDADE, FOI ACOLHIDO
O INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS PARCIALMENTE,
COM A RESSALVA DO VOTO DO DESEMBARGADOR CARLOS MORAES,
APLICANDO-SE PARA O JULGAMENTO A REGRA DO ART. 206 DO REGIMENTO
INTERNO DESTE TRIBUNAL. LAVRARÁ O ACORDÃO O DESEMBARGADOR
CARLOS MORAES."
Assinado eletronicamente por: CARLOS FREDERICO GONCALVES DE MORAES - 08/09/2022 16:35:27 Num. 23156565 - Pág. 131
https://pje.tjpe.jus.br:443/2g/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22090816352679900000022780048
Número do documento: 22090816352679900000022780048
Anexo F
Medida Cautelar no Habeas
Corpus nº 208.337/PE,
de Relatoria do Ministro
Edson Fachin
Supremo Tribunal Federal
DECISÃO:
Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
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HC 208337 MC / PE
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Supremo Tribunal Federal
HC 208337 MC / PE
É o relatório. Decido.
No caso dos autos, a partir de uma análise sumária que ora faço,
tenho que a pretensão liminar merece parcial acolhida.
Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
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Supremo Tribunal Federal
HC 208337 MC / PE
Com efeito, este Tribunal reconhece que, nos termos dos arts. 62.1 e
68.1 do Pacto de São José da Costa Rica, ratificado em 25.9.1992 e
promulgado pelo Decreto 678/1992, além do Decreto 4.463, de 8 de
novembro de 2002, as decisões da Corte Interamericana de Direitos
Humanos são obrigatórias e vinculantes para o Estado brasileiro. Nesse
sentido: ADPF 635 MC/RJ, de minha relatoria, julgada pelo Tribunal
Pleno em 18.8.2020.
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HC 208337 MC / PE
Publique-se. Intime-se.
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Anexo G
Manifestação do DMF/CNJ
para instrução dos autos do
Habeas Corpus
nº 208.337/PE, de Relatoria
do Ministro Edson Fachin
Departamento de Unidade de
Monitoramento e Monitoramento e
Corregedoria Fiscalização do Sistema Fiscalização das
Nacional de Justiça Carcerário e do Sistema de Deliberações da Corte
Execução de Medidas Interamericana de Direitos
Humanos
Socioeducativas
INFORMAÇÕES
Inspeções no Complexo
Prisional do Curado
O CASO DO COMPLEXO PRISIONAL DO CURADO PERANTE A CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS ..... 6
ASPECTOS GERAIS................................................................................................................................................................... 13
PONTOS RESOLUTIVOS VIGENTES ........................................................................................................................................ 17
Saúde ...................................................................................................................................................................................... 17
Acesso ..................................................................................................................................................................................... 17
Ingressos ............................................................................................................................................................................... 17
Egressos ................................................................................................................................................................................ 18
Cômputo em dobro ........................................................................................................................................................... 18
Pessoal ................................................................................................................................................................................... 18
2
3. SELETIVIDADE PENAL RACIAL – UM OLHAR ATENTO AO CURADO ...................................... 19
1. INTRODUÇÃO
3
Socioeducativas - DMF - com o objetivo de apurar as condições de privação de liberdade naquela
unidade da federação.
Assim, do mesmo modo como ocorreu nas missões anteriores ao Estado do Ceará, em
dezembro de 2021, e ao Estado do Amazonas, em maio de 2022, equipes de magistrados,
magistradas e suas assessorias verificaram o funcionamento de varas em diferentes Comarcas,
enquanto equipes de inspeção realizaram visitas aos estabelecimentos, incluindo unidades
prisionais, cadeias públicas, carceragens de polícia e outros tipos de instituições de privação de
liberdade. Para tanto, utilizou-se Roteiro de Inspeção e metodologia de inspeção próprio e adaptado
à realidade de Pernambuco.
4
O diagnóstico inicial aprofundou o quadro global de problemas relatados ao CNJ,
envolvendo necessidade de aprimoramento na informatização dos fluxos do sistema de justiça e
prisional, bem como irregularidades encontradas pela grave superlotação que culmina em uma
totalidade de deficiências, com destaque ao precário acesso à justiça nos estabelecimentos
prisionais.
5
A despeito da gravidade do contexto apresentado ao sistema interamericano, desde a
determinação das medidas provisórias constatam-se poucos avanços, sendo necessário o
engajamento dos atores envolvidos para implementar as medidas provisórias outorgadas pela Corte
IDH e superar o quadro de grave violação de direitos identificado nas unidades.
6
respeito à superlotação, devendo implementar “de forma imediata, todas as medidas que sejam
necessárias para proteger eficazmente a vida e a integridade pessoal de todas as pessoas privadas
de liberdade no Complexo de Curado, assim como de qualquer pessoa que se encontre neste
estabelecimento, incluindo os agentes penitenciários, funcionários e visitantes”. Determinou, ainda,
que fossem adotadas medidas a curto prazo a fim de:
1
Corte IDH. Assunto do Complexo Prisional do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 7 de
outubro de 2015, considerando 1.
2
Corte IDH. Assunto do Complexo Prisional do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 18 de
novembro de 2015, ponto resolutivo 1.
3
Corte IDH. Assunto do Complexo Prisional do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 23 de
novembro de 2016, parágrafo 59.
7
necessidade de apresentação de um diagnóstico técnico apontando as causas de superlotação e
superpopulação no Complexo, bem como um plano de contingência.4
No ano de 2017, foi apresentado pelo Estado brasileiro o diagnóstico técnico apontando
as principais causas de superlotação e superpopulação do Complexo. Foram apontados, no
diagnóstico, diversos fatores que corroboram para a situação de superlotação e superpopulação,
dentre os quais destacam-se “a) a gestão da política penitenciária; b) a gestão das unidades que
compõem o Complexo Prisional de Curado; c) as políticas de segurança pública; e d) a justiça penal
nos âmbitos estadual e federal”5 . Tal diagnóstico teria, ainda, segundo o Estado, a finalidade de
desenvolver o previsto no Plano de Contingência.
Quanto aos aspectos de atenção médica, o Estado Brasileiro informou que houve a
“realização de seleção simplificada para a contratação de 181 profissionais de diversas áreas para
o atendimento das 22 unidades carcerárias do Estado de Pernambuco”. Adicionalmente, indicou
as seguintes medidas adotadas: (a) implementação de um novo sistema de distribuição de comidas,
com pacientes incluídos em dietas especiais e a melhoria do cardápio; (b) realização de registro de
pacientes com quadro de HIV; e (c) acompanhamento ao grupo com quadro de diabetes e
hipertensão, dentre outros enfoques.
Após a análise dos dados apresentados pelos representantes, a Corte IDH reconheceu
os avanços implementados e pontuou necessidades de melhorias, em específico às pessoas
diagnosticadas com tuberculose.
4
Nesse sentido: “Por todo o anterior, a Corte considera imprescindível que, dentro do prazo improrrogável de 90 dias,
o Estado apresente à Corte um Diagnóstico Técnico para determinar as causas da situação de superlotação e
superpopulação verificadas pela Corte e expressados na presente Resolução (pars. 20 e 21 supra) e um Plano de
Contingência, com medidas concretas para resolver essa situação e garantir os direitos à integridade pessoal e à vida
dos beneficiários. Este diagnóstico técnico deve ser realizado conjuntamente por instituições do Governo Federal e do
Estado de Pernambuco e deve prever a reforma de todos os pavilhões, celas e espaços comuns dos três centros de
detenção do Complexo de Curado e também a redução substancial do número de internos, em atenção às normas
nacionais e internacionais indicadas na presente Resolução. Este Plano e sua implementação deve ser monitorado pelo
Fórum de Monitoramento das Medidas Provisórias e deve ser implementado em caráter prioritário.” Corte IDH. Assunto
do Complexo Prisional do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 23 de novembro de 2016,
parágrafo 63
5
Corte IDH. Assunto do Complexo Prisional do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 15 de
novembro de 2017, parágrafo 9.
8
possibilitaram a melhoria concreta das condições de detenção das pessoas que se acham privadas
de liberdade no Complexo de Curado”, assinalando os seguintes aspectos prioritários:
6
Corte IDH. Assunto do Complexo Prisional do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 28 de
novembro de 2018, parágrafo 120.
9
Nesse contexto, a Corte dispôs que a execução da pena deve ser reduzida, ante a
emergência da situação. Trata-se de providência que deve ser adotada pelo Estado voltada à
redução da superlotação no estabelecimento penal, estabelecendo, assim, os pontos resolutivos 4-
6, que possuem o seguinte teor:
Como critério para aplicação da compensação penal, a Corte IDH impôs duas
diretrizes: (a) Regra geral: aplicação do computo em dobro para cada dia de pena vivenciada em
condições degradantes na unidade; (b) Regra específica aos crimes contra vida, integridade física
7
Corte IDH. Assunto do Complexo Prisional do Curado em relação ao Brasil. Medidas Provisórias. Resolução de 28 de
novembro de 2018, pontos resolutivos 4-6.
10
e crimes sexuais: realização de laudo pericial para aferição da fração de compensação a ser
aplicada.
Verifica-se que, ao impor os referidos critérios, a Corte IDH tinha em mente três
objetivos principais: (i) a compensação penal (reparação satisfativa) pela submissão a tratamento
degradante de forma incompatível com a CADH, (ii) a adoção de medidas concretas voltadas ao
desencarceramento (redução de danos e a interrupção da situação de grave risco, no marco do art.
62(3) da CADH), (iii) previsão de tratamento diferenciado mais rigoroso para os casos relacionados
à prática dos crimes mais graves (assim considerados os crimes contra a vida, integridade física e
de violência sexual).
Por fim, devido à sua importância, cumpre destacar os pontos resolutivos emitidos pela
Corte IDH na última resolução de medida provisória que trata exclusivamente do Complexo Prisional
do Curado:
11
NO COMPLEXO DE CURADO, EM ATENÇÃO AO DISPOSTO NOS CONSIDERANDOS 118
A 133 DA PRESENTE RESOLUÇÃO.
12
11. REQUERER À COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS QUE
APRESENTE AS OBSERVAÇÕES QUE JULGUE PERTINENTES SOBRE O RELATÓRIO ESTATAL
A QUE SE REFERE O PONTO RESOLUTIVO QUATRO E SOBRE AS RESPECTIVAS
OBSERVAÇÕES DOS REPRESENTANTES, NO PRAZO DE DUAS SEMANAS, CONTADO A
PARTIR DO ENCAMINHAMENTO DAS REFERIDAS OBSERVAÇÕES DOS
REPRESENTANTES.
Feita a análise sobre o histórico das medidas provisórias emitidas pela Corte
Interamericana em Relação ao Brasil, passa-se à análise do contexto identificado durante as
inspeções realizadas em agosto de 2022 pela missão do Conselho Nacional de Justiça.
A SPECTOS G ERAIS
13
unidades do Complexo Curado se destinam ao público masculino cis, acolhendo ainda população
autodeclarada GBTI+.
Para além do grave cenário de superlotação, o Complexo também é marcado por um quadro
tido como de “favelização” do espaço prisional. Uma vez que as instalações são antigas – estando,
14
portanto, muito degradadas – e que não há espaço para comportar tamanha quantidade de
pessoas, soluções improvisadas acabaram instituídas no local.
Desta forma, pessoas alojadas em pavilhões onde não há mais celas dormem em “barracos”;
pessoas também se revezam para dormir na chamada “BR”, isto é, os corredores que ficam entre
os pavilhões, deitadas apenas sobre lençóis que cobrem o chão e, a depender do dia, ao relento e
sujeitas às intempéries da natureza.
Cabe observar que um dos aspectos que ensejou determinação, por parte da Corte IDH, de
adoção de medidas são as condições às quais estão submetidas a população LGBTI+, quais sejam:
falta de segurança, violência sexual, discriminação, restrição de circulação, imposição de trabalho
para outros presos, ausência de acompanhamento específico de saúde, dentre outras.
15
Embora tenham sido adotadas medidas para minimizar esse quadro, relatório publicado pela
Defensoria Pública da União em 2021, mencionado anteriormente, aponta que o contexto, naquela
ocasião, ainda era de violações graves aos direitos dessa população.
Durante as inspeções realizadas pelo CNJ em agosto de 2022, foi constatada a ausência de
controle por parte da administração prisional sobre os pavilhões e espaços de custódia, nos quais
a gestão da movimentação da população prisional, a aplicação de medidas disciplinares e o acesso
às assistências sociais básicas preconizadas pela Lei de Execução Penal não são prerrogativas
executadas por servidores penais, mas, sim, por presos previamente selecionados.
Foram colhidos relatos no sentido de que ocorre um processo de dupla legitimação desses
presos, chamados de “chaveiros”, que envolveria uma validação da sua posição de poder
paraestatal pelos pares privados de liberdade, conjugada com a chancela da administração da
unidade prisional.
Registra-se, por oportuno, que essa não é uma característica isolada do Complexo Prisional
do Curado, havendo em outras unidades do sistema prisional pernambucano a presença dessas
pessoas presas responsáveis pelas chaves que dão acesso aos pavilhões e das celas. Contudo,
somado ao quadro de precariedade e improviso estrutural das unidades prisionais que compõem
o Curado, trata-se de situação de especial gravidade, contrariando todos os parâmetros e
estândares definidos em normativas nacionais e internacionais.
Tendo em vista as relações desiguais de poder entre as pessoas presas, esse tipo de
atribuição reforça uma dinâmica de condições também desiguais de permanência na prisão. Em
outras palavras, como são os presos detentores das chaves que decidem a respeito do fluxo das
demais pessoas presas, algumas delas têm mais acesso a atendimentos médicos, atividades laborais
e educacionais e a vantagens do que as demais. Neste sentido, tem-se um quadro de precarização
e vulnerabilidade ainda maiores para aquelas pessoas que, na disputa de poder interna, são
desfavorecidas, de modo que o tratamento que recebem, no sistema prisional, é desigual e
discriminatório.
16
Pavilhão 4 - Beco de "celas"(PJALLB) ”Celas de trabalhadores” (PJALLB)
Os pontos resolutivos vigentes perante a Corte IDH para o caso do Complexo do Curado
que merecem destaque no presente Relatório são os seguintes:
S AÚDE
Requerer ao Estado que adote imediatamente todas as medidas que sejam necessárias
para proteger eficazmente a vida, a saúde e a integridade pessoal de todas as pessoas privadas de
liberdade no Complexo de Curado bem como de qualquer pessoa que se encontre nesse
estabelecimento, inclusive os agentes penitenciários, os funcionários e os visitantes.
A CESSO
Requerer ao Estado que mantenha os Representantes informados sobre as medidas
adotadas para cumprir as medidas provisórias ordenadas e que lhes garanta o acesso amplo e
irrestrito ao Complexo de Curado, com o exclusivo propósito de acompanhar e documentar, de
maneira fidedigna, a implementação das presentes medidas.
I NGRESS OS
O Estado deve tomar as medidas necessárias para que, em atenção ao disposto na
Súmula Vinculante Nº 56, do Supremo Tribunal Federal do Brasil, a partir da notificação da
17
presente resolução, não ingressem novos presos no Complexo de Curado, e nem se efetuem
traslados dos que estejam ali alojados para outros estabelecimentos penais, por disposição
administrativa. Quando, por ordem judicial, se deva trasladar um preso a outro estabelecimento, o
disposto a seguir, a respeito do cômputo duplo, valerá para os dias em que tenha permanecido
privado de liberdade no Complexo de Curado.
E GRESSOS
O Estado deve adotar as medidas necessárias para que o mesmo cômputo se aplique,
conforme o disposto a seguir, para aqueles que tenham deixado o Complexo de Curado, em tudo o
que se refere ao cálculo do tempo em que nele tenham permanecido.
C ÔMPUTO EM DOBRO
O Estado deverá arbitrar os meios para que, no prazo de seis meses a contar da presente
decisão, se compute em dobro cada dia de privação de liberdade cumprido no Complexo de Curado,
para todas as pessoas ali alojadas que não sejam acusadas de crimes contra a vida ou a integridade
física, ou de crimes sexuais, ou não tenham sido por eles condenadas.
P ES S OAL
O Estado deverá dotar a equipe criminológica do número de profissionais e da
infraestrutura necessária para que seu trabalho possa ser realizado no prazo de oito meses a partir
de seu início.
18
3. SELETIVIDADE PENAL RACIAL – UM OLHAR
ATENTO AO CURADO
19
CPFR 89,21% (488) 547 190,18
Apesar de o público feminino não ser escopo do presente relatório (uma vez que não
estão custodiadas no complexo prisional do Curado), a análise interseccional para gênero e raça
deve ser atentada para compreendermos a seletividade penal presente no Estado.
Por fim, conforme observado pelas equipes de inspeção do CNJ, a política penal não
garante a integridade física e as condições básicas de existência das multidões amontoadas em
pavilhões superlotados, desnudando um cenário de desigualdade real de grupos em situação de
risco, sujeitos à violação sistemática de direitos fundamentais.
20
4. P RINCIPAIS I NCONFORMIDADES NAS I NSPEÇÕES
A SSISTÊNCIA JURÍDICA
No PJALLB, por exemplo, as pessoas privadas de liberdade pediram que fosse criada uma
forma de monitoramento, principalmente da computação em dobro dos dias de cumprimento de
21
penas na unidade em questão. Em suas falas, descrentes de que a decisão da Corte IDH seja
cumprida, afirmaram que “inexistem para o estado” e apresentaram questionamentos sobre como
o Poder Judiciário de Pernambuco não cumpre decisões de instâncias internacionais.
P RESTAÇÃO JURISDICIONAL
Outro ponto relevante que se apresentou tanto nas inspeções prisionais quanto nas
judiciais diz respeito à constatação da demora excessiva na expedição de guias de condenados, o
que impossibilita a instauração da execução penal e seus incidentes, benefícios e reconhecimento
de direitos. No caso de novas condenações criminais para uma mesma pessoa já em cumprimento
de pena, houve inúmeros relatos no sentido de que as varas criminais não encaminham a
respectiva guia para a VEP, o que acaba por inviabilizar a unificação das penas, entre outros efeitos.
22
sem mandado de prisão cadastrado e pessoas soltas sem o respectivo alvará de soltura registrado
no banco, de forma a distorcer por completo os dados sobre a população carcerária que deveriam
ser de domínio do Poder Judiciário por força de expressa disposição do Código de Processo Penal,
o qual atribuiu ao Conselho Nacional de Justiça o dever de instituir e gerir Cadastro Nacional de
Presos unificado.
23
Somente na Vara de Execuções Penais da Capital,
extraiu-se do SEEU a existência de 1.520 (mil
quinhentos e vinte) incidentes de execução
vencidos e pendentes de instauração.
S UPERLOTAÇÃO E INFRAESTRUTURA
PFDB
Com capacidade para 1.819 e abrigando 6.509 pessoas privadas de liberdade (dados da
SJDH/PE de 15/08/2022), o Complexo do Curado está flagrantemente superlotado. Os espaços,
como consequência, são visivelmente improvisados para conseguir abrigar uma população quase 5
vezes maior do que ele foi projetado para suportar.
24
A superlotação é fator que impossibilita não só
a alocação digna das pessoas nos pavilhões, ela também
facilita a proliferação de doenças, inviabiliza
acompanhamentos jurídicos, de saúde, assistência social
mais próximos, bem como dificulta as relações
interpessoais entre as pessoas privadas de liberdade e
entre estas e a administração prisional, uma vez que as
equipes não foram pensadas para atender esse número de
pessoas.
25
Pavilhão ANEXO (PFDB) Pavilhão 04 (PJALLB)
Na maior parte das unidades do Complexo os banheiros, quando existentes, são fétidos
e a grande maioria sem a menor condição de uso, alguns poucos com descarga, mas a maioria não.
Os presos convivem com uma população enorme de gatos, ratos, baratas e outros animais em todos
os pavilhões, áreas internas e externas, e reclamam que muitos estão doentes e transmitem
doenças, principalmente de pele.
26
Pavilhão 12 (PJALLB). Banheiro (PDFB).
Os “barracos” improvisados trazem uma forma labiríntica para as celas, com sinuosos
corredores que dificultam a entrada de luz e ventilação natural. Por todos os lados há fios
improvisados para que a energia possa chegar a todas as divisórias das celas. Foi verificado também
muitos ventiladores abertos, pelos corredores e nos “barracos”.
27
Grave foi a identificação pela equipe de que espaços que, a princípio, não seriam
destinados para abrigar pessoas e não foram mencionados pela Direção enquanto tais, na prática
estavam sendo assim utilizados.
28
“Celas” na Caixa d’água (PFDB). “Celas” na cozinha (PFDB).
29
O termo “favelização”, cunhado por Deise Benedito8, vem sendo utilizado para ratificar
e reproduzir a segregação social e racial percebida no PFDB. Ademais a importância do termo,
certamente ainda não é capaz de traduzir o grau de precarização do espaço, as relações sociais de
controle e dominação que se impõem entre as próprias pessoas presas e a permanente violação de
direitos humanos.
A favelização alcança seu extremo no pavilhão Anexo do PFDB, um galpão que não
possui quantitativo de celas ou vagas, pois não foi projetado para tanto, e onde as pessoas presas
improvisam modos de sobrevivência das mais diversas formas: colchões no chão do galpão,
colchões ao ar livre, redes armadas, barracos verticalizados em vielas estreitas, escuras e sinuosas,
lonas para proteger da chuva e pertences amarrados em bolsas, mochilas e sacolas plásticas por
todos os lados. Os barracos foram feitos de formas, tamanhos e materiais diferentes, alguns de
cimento, muitos de madeira, alguns revestidos interna ou externamente de cerâmica, tudo isso
contribui para explicitar que há uma estratificação social dentro da unidade. Há lixo pelos
corredores e até uma antiga marquise é utilizada como cama, tendo sido improvisado seu acesso.
8
Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/35875?locale=en . Acesso em 20 de setembro de 2022.
30
Pavilhão Anexo - PFDB
Também se notou na saída do PFDB que havia um espaço próximo à capela com
garrafas PET repletas de água no chão. Questionado se aquelas garrafas seriam para consumo
pelas pessoas presas, um servidor da administração penitenciária informou que, na verdade,
naquele local era erguido aos finais de semana um barraco destinado à realização de visitas
íntimas com as esposas e companheiras dos presos, sendo as garrafas PET utilizadas como um
colchão de água improvisado.
PFDB
A CESSO A ÁGUA
Quanto ao acesso à água, direito fundamental cuja garantia foi apontada como urgente
pela Corte, foi possível identificar que, em regra, a água encanada é racionada, sendo liberada em
horários específicos. Entretanto, há exceções a esta regra, como nos pavilhões J e D do PAMFA.
Também nesta unidade, foi relatado que os próprios presos construíram o poço do pavilhão B e
31
antes disso não havia água. Também houve relatos de presos custearem a construção de caixas
d´água e poços no PJALLB e de uma situação grave de falta de água há 3 meses no Pavilhão 10 - P
desta unidade.
Freezers com água ensacada (PJALLB) Freezers com produtos diversos (PJALLB)
Não há fornecimento de água potável, sendo utilizada água da torneira para tanto.
Sobre este ponto, foi possível observar uma ostensiva comercialização de água mineral ou não
(sendo esta última vendida gelada em sacos plásticos) e insumos do gênero alimentício pelas
cantinas, com preços abusivos, para o consumo rotineiro das pessoas em privação de liberdade.
Uma vez que o Estado não fornece nenhum material de limpeza, higiene pessoal ou roupas, os
internos dependem exclusivamente daqueles enviados pela família, doações ou vendido nas
cantinas da unidade.
32
A USÊNCIA DE POLICIAIS PENAIS E A DELEGAÇÃO DA ATUAÇÃO NO CONTROLE E
“Chaveiro” no PAMFA
33
Importa salientar que a equipe dos “chaveiros” possui celas próprias, mais espaçosas,
organizadas e bem equipadas, que geralmente ficam na entrada do pavilhão, entre uma ala e outra,
o que denota sua posição de destaque na estratificação social reproduzida nas unidades prisionais
do Curado. É preciso, portanto, entender que a lógica do controle das unidades do Complexo do
Curado passa pelo entendimento dessas figuras e seus papéis na manutenção da ordem prisional.
Nas inspeções às três unidades, restou clara a presença intimidadora dos chaveiros e dessa estrutura
de controle espalhada, capilarizada em cada cela.
B ANHO DE SOL
Graves também são os relatos referente à garantia de banho de sol. Em regra, tendo
em vista os pavilhões superlotados e a impossibilidade das pessoas permanecerem nas celas, estas
ficam abertas o dia todo, de modo que é possível circular no pavilhão e, no caso das pessoas que
ficam nos pavilhões de convívio, por toda a área que circunda estes pavilhões.
A LIMENTAÇÃO
34
alimentos vêm do CEASA e são preparados pelas pessoas privadas de liberdade que trabalham nas
cozinhas (Ranchos).
35
as cantinas são desencontradas, mas há relatos de que algumas pertencem a pessoas presas e
algumas a policiais penais, além de grave relato de que parte dos alimentos que chegam para o
preparo da comida das pessoas privadas de liberdade é desviada para venda na cantina.
Outra situação que demanda atenção diz respeito às visitas e contato com mundo
exterior. Durante a pandemia, as visitas de adultos e crianças ficaram suspensas, sendo
possibilitadas apenas visitas virtuais, que seguem sendo ofertadas. As visitas presenciais foram
retomadas há cerca de 5 meses, no entanto ainda restaram algumas restrições. As visitas são
realizadas aos sábados e domingos alternados de acordo com o número final dos prontuários, das
9h às 15h. As visitas íntimas aconteciam aos sábados e seguem suspensas oficialmente, mas, na
prática, vêm acontecendo no mesmo dia e espaços das visitas sociais. Trata-se de uma situação
extremamente complexa e em dissonância às normativas internacionais que o país é signatário.
A visita por amigos ou outros não familiares, em regra, não é permitida, tendo sido
explicitado que ocorrem em casos excepcionais. Essas visitas ocorrem com menor tempo de
duração, cerca de 30 minutos.
As visitas passam por revista com bodyscan e raio-x, mas houve relatos de assédio e
constrangimentos nas filas, como segurar o tempo de seu andamento, direcionar a pessoa da vez
para o final da fila e compras de vagas. Em escuta às pessoas privadas de liberdade, foi grande o
clamor para o retorno da visita semanal e da possibilidade da visita poder levar comida, uma vez
36
que esta fica longas horas na fila e durante a visita sem se alimentar ou tendo que dividir a comida
oferecida pela unidade.
No que diz respeito à população LGBTQIA+, relatos da sociedade civil mencionam que o
PJALLB é uma das unidades mais violentas para a custódia desse público. A população LGBTQIA+
fica custodiada em celas específicas destinadas a este público. No entanto, importa salientar que
esta destinação não é uma escolha das pessoas privadas de liberdade, mas da administração
prisional, em dissonância ao preconizado pela Resolução CNJ n. 348/2020.
.Foto:G.Dettmar/Ag.CNJ
37
Foi possível verificar que a Resolução não vem sendo observada nem pelo Poder
Executivo e nem pelo Poder Judiciário. Em resumo, os direitos que devem ser assegurados como
acesso ao nome social, acesso às assistências, tratamento hormonal e acesso à saúde não são
observados, somados ainda a um alto índice de denúncias de lgbtfobia pelos servidores penais,
chaveiros e pelas pessoas presas.
38
Não há nenhum fluxo estabelecido para identificação e apreciação dos processos
judiciais de pais e responsáveis por crianças até 12 (doze) anos ou pessoas com deficiência, nos
termos do HC nº 165.704/DF, de Relatoria do Ministro Gilmar Mendes.
Na unidade PFDB, a direção informou que há 90 cotas para trabalho remunerado e que,
respaldados por Boletim interno, podem contar com 50% das pessoas presas no PFDB exercendo
trabalhos voluntários, com direito à remição somente e não percepção de remuneração.
Atualmente, a PFDB possui 20% da quantidade das cotas de voluntários, sendo que 20 presos
trabalham de forma não remunerada. Anteriormente, este era o limite permitido, porém, em
12/08/22, houve nova deliberação da PGE permitindo a ampliação para 50%.
Na padaria foram identificadas pessoas que trabalham com extensa carga horária e em
condições de altas temperaturas, sem remuneração, contando apenas com a remição de pena. Foi
verificada a necessidade de melhoria na estrutura da padaria, pois o forno está degradado, não há
caixa plástica para transporte e armazenamento suficiente para a produção diária dos pães.
39
“chaveiro”, “mesário”, agente de saúde e “faxina”. Entretanto, ficou evidente a ausência de trabalho
suficiente para a demanda da unidade. Os presos dizem que não há oportunidades para todos
aqueles que querem trabalhar, o que foi confirmado pelo Setor Psicossocial da unidade.
40
das pessoas privadas de liberdade e à desistência, por causa das constantes transferências.
Aduziu, ainda, que a disponibilização de cursos técnicos poderia atrair mais o interesse dos alunos.
Nos corredores dos pavilhões do convívio, entretanto, houve relatos de que a razão
para não se matricular na escola seria a difusão da ideia de que as pessoas que “descem” para a
escola, localizada abaixo do “morro” (área dos pavilhões de convívio) e mais próxima da
administração e do pavilhão anexo, são "caguetas" e, portanto, mal vistos por todos os pavilhões
do convívio. Alguns presos sugeriram que houvesse outra escola destinada às pessoas do “morro”.
Tal fato demonstra a dificuldade do acesso à educação e de sua universalização, bem como a não
compreensão sobre as estruturas e dinâmicas de poder existentes nas unidades prisionais.
Sobre o acesso ao estudo no PAMFA, a escola tem duas salas de aula pequenas, sendo
que apenas uma delas está ativada por falta de outro professor. Há apenas 1 (uma) turma com uma
professora (a única da escola), destinada a 20 presos do ensino fundamental 1 e 2. Há lista de espera,
anotada à mão pela secretária da escola com 11 internos. Questionada sobre a pouca procura, a
secretária afirma que os internos já sabem que não há vagas e que, se disponibilizadas, haveria mais
inscrições. Atualmente, apenas 50 internos participam das atividades de leitura.
41
Na unidade PJALLB, as pessoas privadas de liberdade relataram a falta de medicamentos
e a dificuldade em acessar o setor de saúde, cuja demora chega a durar um ano, principalmente
para atendimentos médicos e odontológicos, Destacaram ainda as más condições da ambiência da
enfermaria da unidade, relatando que já foram identificados no espaço animais como escorpiões e
ratos.
Já a ala destinada às pessoas com deficiência detinha condições ainda mais graves. As
cadeiras de rodas estavam sem condição de uso, os banheiros estavam sujos, com água e baldes
com restos de comidas. O ambiente possui pérgolas que possibilitam a entrada de ar e camas
hospitalares em condições precárias.
Na unidade PFDB, um fato que chamou a atenção da equipe de inspeção foi as pessoas
privadas de liberdade serem algemadas para receberem atendimento em saúde. Em diálogo com a
coordenação de saúde da unidade, foi informado que, há 05 anos, houve uma situação de conflito
em que os profissionais de saúde foram feitos reféns, o que alterou o procedimento para os
atendimentos da área. Trata-se de protocolo que se opõe de forma grave aos normativos
internacionais relacionados à saúde prisional. Urgente seria melhorias na gestão prisional, para que
a garantia do direito e do acesso à saúde seja realizado de modo humanizado.
42
Em conversa com a equipe de saúde do PFDB, foi informado que os critérios para
permanecer indefinidamente na enfermaria são as pessoas privadas de liberdade terem algum tipo
de comorbidade ou transtorno mental. As pessoas dessas celas, entretanto, informaram não terem
direito a banho de sol, mesmo uma delas sendo paciente crônico com déficit em vitamina D. No
momento da inspeção, foi fornecida lista com 21 nomes de pacientes com transtorno mental no
PFDB alocados em vários espaços da unidade: Enfermaria, Recuperação, Anexo, Conservação, E, F,
Isolamento. Além disso, também foi encaminhada relação com 220 nomes de PPL que fazem uso de
psicotrópicos no PFDB. Segundo a Psicologia da saúde, em torno de 55% dos casos de uso de
psicotrópicos dizem respeito à drogadição.
M ORTES
Ressalta-se o significativo número de presos que vieram a óbito nas unidades do Curado.
A discussão sobre as mortes em ambiente prisional, não pode ser tratada de forma dissociada dos
demais problemas que marcam o cárcere e não pode ser pensada, senão, como resultado de um
ciclo de violações de garantias básicas que se estendem desde o precário acesso à saúde e higiene
até a condição de superlotação e insalubridade que marca o sistema prisional pernambucano e
promove a disseminação de doenças entre as pessoas privadas de liberdade. É preciso, ainda,
atentarmos aos mecanismos de perpetuação da violência e da tortura nos espaços de privação de
liberdade, ratificados pela inexistência de fluxos adequados.
Na unidade PAMFA, dos 6 (seis) óbitos que ocorreram nos 6 (seis) últimos meses, 2
(dois) deles foram motivados por lesões por instrumento perfurocortantes, 3 (três) por causas
indeterminadas e 1 (um) por tuberculose. Quanto às causas indeterminadas, foram solicitados
exames complementares, mas a direção informou que o resultado desses exames nunca retorna
à unidade, bem como não chega nova certidão de óbito.
43
enterro. Já nos casos de morte não natural, faz-se a comunicação à polícia militar através do 190 e
investigação interna, além do aviso à família e à Secretaria.
Além disso, a lei impõe a comunicação “pela respectiva direção da unidade prisional ao
Secretário Executivo de Ressocialização, ao Juiz competente e ao Ministério Público, e, tratando-se
de estrangeiro, ao respectivo representante diplomático ou consular, além de seus familiares”
(artigo 72, inciso VII). E, “havendo indício de morte violenta ou de causa desconhecida, preservar-
se-á o local da ocorrência e informar-se-ão imediatamente, além das autoridades citadas no inciso
VII, os órgãos da polícia judiciária e os seus familiares” (artigo 72, inciso VIII). Fundamental, nestes
casos, o registro de ocorrência na delegacia de polícia, a elaboração de laudo pericial e declaração
de óbito pelo IML, com prosseguimentos das investigações pela polícia civil. Sugere-se, ainda, a
comunicação de todos os óbitos também à Defensoria Pública.
U SO DA FORÇA
Quanto ao controle das pessoas privadas de liberdade e uso da força, constatou-se que
a presença do Estado não ultrapassa a entrada de cada pavilhão, onde o preso é deixado à própria
sorte. O reduzido efetivo de policiais penais para número cada vez maior de detentos faz com que
a Administração delegue de fato a gestão dos espaços aos denominados “representantes de
pavilhão”, como previamente citado. Não há um critério da administração para que detentos do
pavilhão de segurança possam migrar para os pavilhões de convívio, por exemplo.
Situação singular foi observada no tocante a registros de PAD de pessoas que quebram
o livramento condicional e são direcionadas à unidade. Conforme se observou, há registros de PAD
nestas circunstâncias no Conselho Disciplinar do PJALLB, mesmo tal fato ter ocorrido no âmbito do
Patronato do estado.
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C ONTROLE EXTERNO E FISCALIZAÇÃO
Em referência ao controle externo, foi informado pela administração das unidades que
o Poder Judiciário realiza inspeções visitando algumas instalações, especialmente a área
administrativa e as de isolamento, sendo que o Ministério Público realizaria visitas nos mesmos
moldes.
Embora a Defensoria Pública tenha informado que iniciou no ano passado inspeção a
unidades prisionais, esta ainda não o fez no PJALLB e PAMFA segundo informações colhidas com a
direção, com as pessoas privadas de liberdade e com a própria Defensoria.
A maioria da massa carcerária referiu nunca ter presenciado uma inspeção prisional ou
nunca ter visto uma autoridade judiciária na unidade desde que havia sido presa.
Por fim, foi informado pelas direções que a sociedade civil se mostra presente nas
inspeções e denúncias da unidade, demonstrando ciência pormenorizada de dinâmicas e rotinas do
presídio, o que de fato foi observado pela equipe de inspeção, nas reuniões de cúpula realizadas e
ratificado pelas pessoas presas, embora estas tenham referido que não há um grande número de
grupos que o fazem.
45
a insalubridade das unidades, havendo relatórios de todas as
três unidades ao longo do primeiro semestre de 2022 com
avaliação de condições “Regulares”.
Nota-se que a despeito do quanto constatado pela
missão do CNJ, consta do CNIEP um relatório do PRESÍDIO JUIZ
ANTONIO LUIZ LINS DE BRITO, mês de referência abril de 2022,
em que as condições foram avaliadas como “Boas” pelo
corregedor da unidade.
Ao se verificarem os recibos de inspeção, mesmo
naqueles em que as condições são avaliadas como “Ruins” ou
“Péssimas”, não há anotações indicativas da adoção de
providências para o adequado funcionamento dos
estabelecimentos.”
46
5. P ROVIDÊNCIAS ADOTADAS PÓS - MISSÃO
Por fim, insta destacar que em 24 de agosto foi proferida importante decisão da
Corregedoria Nacional de Justiça, a qual segue anexa ao presente Relatório, determinando ao TJPE
o seguinte conjunto de medidas acautelatórias de urgência:
47
acórdãos, bem como a regularização do andamento de todos
os processos de conhecimento e de execução penal, em todas
as unidades judiciais de 1º e de 2º grau do Tribunal de Justiça
do Estado de Pernambuco em que haja presos com mais de 100
(cem) dias sob custódia cautelar, informando-se ao Conselho
Nacional de Justiça a lista de processos criminais, por unidade
judicial e relatoria de Desembargador, nessas condições;
[d] a adoção de medidas concretas e efetivas pelo
Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco para que se
passe a promover visitas quinzenais ao Complexo Prisional do
Curado, delas participando, conjuntamente e ao menos, 05
juízes com competência criminal, 02 juízes com competência
de execução penal e 02 Desembargadores da Seção Criminal,
mediante programação (em sistema de rodízio) que deverá ser
previamente informada a este Conselho Nacional de Justiça,
destinadas ao monitoramento in loco das três unidades do
Complexo Prisional do Curado, até que a lotação desses
estabelecimentos alcance o contingente determinado no item
[a] acima referido. Observa-se desde logo que as visitas não
deverão limitar-se ao ambiente administrativo, nem se
restringir a diálogos com os gestores prisionais, mas deverão
alcançar, sobretudo, as instalações e a carceragem das três
unidades prisionais, documentando-se por fotos e vídeos a
presença e as entrevistas dos juízes e Desembargadores com
presos nessas unidades, e outras providências inerentes a
todas as ambiências das três unidades do Complexo Prisional
do Curado.
[e] a adoção de medidas concretas e efetivas pelo
Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco para que
inaugure instância ou crie gabinete de crise destinado ao
monitoramento contínuo e permanente das unidades
prisionais do Complexo Prisional do Curado, que deverá
assegurar composição interinstitucional, para acompanhar as
providências administrativas e judiciais aptas a enfrentar e
solucionar as condições desumanas e degradantes em que se
encontram as respectivas unidades prisionais;
[f] a adoção de medidas concretas e efetivas pelo
Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco para que
apresente ao Conselho Nacional de Justiça plano de
readequação funcional e de reorganização da força de
trabalho junto às unidades de justiça criminal e de execução
penal de 1° grau de todo o Estado de Pernambuco (em
consonância com a Resolução CNJ 219, de 2016) – de modo a
assegurar, destacadamente, a recomposição dos quadros de
servidores nessas áreas de atuação, com o respeito à
proporção máxima de 300 processos por servidor -, assim como
para que providencie cronograma destinado à conclusão da
digitalização do acervo de processos criminais em meio físico,
no prazo máximo de 6 (seis) meses.
48
[g] a adoção de providências por parte do Tribunal
de Justiça do Estado de Pernambuco para aprimorar a
estrutura material e funcional do Grupo de Monitoramento e
Fiscalização do Sistema Carcerário, considerando os
parâmetros da Resolução CNJ nº 214 de 15/12/2015, para que
se permita o efetivo cumprimento de suas atribuições, sem
prejuízo das providências para estruturar a recém-criada
Coordenadoria Criminal no âmbito do Tribunal.
[h] a adoção de medidas concretas e efetivas pelo
Tribunal de Justiça de Pernambuco para a realização de
mutirão de audiências de custódia para alcançar todas as
pessoas presas no Complexo Prisional do Curado que
porventura não tenham sido realizadas, nos termos da
Resolução CNJ nº 213/2015 e da decisão proferida em 05 de
agosto de 2022 pela Corregedoria Nacional de Justiça, no
processo administrativo nº 07227/2022, bem assim para que
se organize, conjuntamente com a Secretaria da Justiça e de
Direitos Humanos, o recenseamento e o recadastramento de
toda a população prisional do Estado, inclusive a criação de
protocolo para estabelecer essa rotina, buscando a
individualização de todos os presos recolhidos a unidades
prisionais de Pernambuco, com a projeção desses dados e
levantamento sobre as plataformas eletrônicas dos SEEU,
BNMP e SISDEPEN.
[i] a adoção de medidas concretas e efetivas pelo
Tribunal de Justiça de Pernambuco para a retomada imediata
de audiências de custódia presenciais, diariamente, com a
presença de juízes, promotores de justiça e defensores
públicos, em todas as unidades judiciais criminais do Tribunal
de Justiça de Pernambuco.
Além disso, foram autuados pedidos de providência em apartado no âmbito do CNJ para
averiguar a responsabilidade dos juízes de Execução Penal que atuam como corregedores das três
unidades prisionais que compõem o Complexo Prisional do Curado a fim de que prestem
esclarecimentos quanto ao cumprimento do dever de fiscalização dos referidos estabelecimentos
no prazo de 30 (trinta) dias a contar da intimação da decisão.
49
Registra-se, porém, que consoante também destacado na decisão da Ministra
Corregedora Nacional de Justiça, o dever de fiscalização não é imposto apenas aos juízes da
execução penal, mas também ao Ministério Público e outros órgãos como o Conselho Penitenciário,
DEPEN, Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária e órgãos de prevenção e combate à
tortura em nível nacional (Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura) e local
(Comitê/Mecanismo Estadual).
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SOMENTE SE APLICA AOS DETENTOS QUE NÃO FOREM ACUSADOS OU CONDENADOS
EM RAZÃO DOS CRIMES CONTRA A VIDA, A INTEGRIDADE FÍSICA E A DIGNIDADE
SEXUAL, ASSIM CLASSIFICADOS PELO CÓDIGO PENAL, BEM COMO NÃO SE ADOTA AOS
RECOLHIDOS EM VIRTUDE DOS CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS PREVISTOS NA LEI
Nº 8.072/90.
51
Todas essas providências já adotadas após a missão conjunta demandam o
monitoramento e engajamento das autoridades de âmbito federal e local para firmarem-se como
medidas pragmáticas e efetivas no sentido de enfrentar o quadro de violações sistemáticas,
estruturais e históricas que caracterizam o Complexo Prisional do Curado.
i
Os registros fotográficos que compõem o presente Relatório foram produzidos pelas equipes de inspeção e pelo
fotógrafo do CNJ G.Dettmar. O uso das imagens é autorizado, com a devida identificação.
52
Anexo H
Relatórios de medidas
realizadas em Pernambuco
pelo Gabinete de Crise
Relatório
Relatóriode
demedidas
medidasrealizadas
realizadasem
em
Pernambuco:
Pernambuco:Gabinete
GabinetededeCrise.
Crise.
TJPE, MPPE, DPPE, SJDH.
TJPE, MPPE, DPPE, SJDH.
Data de finalização
11/11/2022
PÁGINA | 01
1. Apresentação
A seguir serão dadas as respostas pelo Tribunal de Justiça e pelo Ministério Público de
Pernambuco a cada questionamento do CNJ e posteriormente serão detalhadas outras
ações correlatas desses órgãos, além da Defensoria Pública e da Secretaria de Justiça e
Direitos Humanos.
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2. Questionamentos CNJ
RESPOSTA TJPE
Com base nas informações prestadas a Coordenadoria Criminal procedeu com estudo
visando a redução da população carcerária do Complexo Prisional do Curado, em
percentual de 70% (setenta por cento) do contingente informado pela Secretaria de
Justiça e Direitos Humanos - SJDH ao Conselho Nacional de Justiça na data de 15 de
agosto próximo passado.
2. Questionamentos CNJ
É de se observar, para esses registros de motivo de saída mais frequentes, que são
derivados de atuação das equipes jurídicas das unidades prisionais do Complexo, da
Defesa, dos Juízos competentes pelo processamento das ações penais e execuções de
pena, assim como em razão do trabalho de revisão das prisões preventivas que vem
sendo realizado pelo Grupo Especial de Prioridade e Atuação, instituído pelo Ato
Conjunto nº 32, de 02 de setembro de 2022, e destinado a avaliar a situação carcerária
das pessoas presas do Complexo Prisional do Curado e demais unidades prisionais do
estado de Pernambuco.
RESPOSTA MPPE
2. Questionamentos CNJ
2. Questionamentos CNJ
RESPOSTA TJPE
2. Questionamentos CNJ
As varas selecionadas, que estão sob regime especial por 05 (cinco) semanas,
conforme Atos Conjuntos nº 36 e 39 de 2022, foram:
Não se pode deixar de citar que, antes dessa fase, o Grupo Especial de Prioridade e
Atuação fez análise de 377 casos individuais de natureza processual para identificação e
solicitação das medidas pertinentes a cada demanda. Tais registros foram compilados a
partir de relatos colhidos pela equipe responsável pela Missão Conjunta da CNJ e DMF
em Pernambuco e enviados ao TJPE, por meio do Despacho nº 1394639 dos autos SEI
nº 06632/2022 CNJ, para providências.
Impende mencionar, ainda, que, além da atuação dos magistrados do Grupo Especial, há
engajamento dos juízos criminais do estado de Pernambuco para que, no âmbito de suas
unidades judiciárias, priorizem os feitos nos quais há réu preso, estando esses
custodiados no Complexo do Curado ou outras unidades prisionais do estado.
2. Questionamentos CNJ
Cumpre esclarecer ainda, que foi traçado plano de ação pela Secretaria para
transferências temporárias de pessoas presas do Complexo do Curado para outras
unidades prisionais, tendo como objetivo redistribuir a população carcerária do
Complexo e esvaziar o Presídio Frei Damião de Bozzano (PFDB), para futura demolição e
construção de nova unidade. Inclusive, o Desembargador Mauro Alencar de Barros, no
dia 17 de setembro, em conjunto com a Magistrada Roberta Viana Jardim, Juíza
Assessora do eminente Corregedor-Geral da Justiça de Pernambuco, visitaram
instalações de Complexo Prisional de Maceió cujo modelo será provavelmente adotado
na construção da unidade que substituirá o PFDB.
Cumpre esclarecer ainda, que foi traçado plano de ação pela Secretaria para
transferências temporárias de pessoas presas do Complexo do Curado para outras
unidades prisionais, tendo como objetivo redistribuir a população carcerária do
Complexo e esvaziar o Presídio Frei Damião de Bozzano (PFDB), para futura demolição e
construção de nova unidade. Inclusive, o Desembargador Mauro Alencar de Barros, no
dia 17 de setembro, em conjunto com a Magistrada Roberta Viana Jardim, Juíza
Assessora do eminente Corregedor-Geral da Justiça de Pernambuco, visitaram
instalações de Complexo Prisional de Maceió cujo modelo será provavelmente adotado
na construção da unidade que substituirá o PFDB.
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2. Questionamentos CNJ
RESPOSTA TJPE
2. Questionamentos CNJ
2. Questionamentos CNJ
2. Questionamentos CNJ
RESPOSTA TJPE
Foi determinado que a Coordenadoria Criminal deste Tribunal, com apoio do Grupo de
Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema Socioeducativo –
GMF/TJPE e da Secretaria Judiciária – SEJU, realizasse rodízio de visitas quinzenais ao
Complexo Prisional do Curado, com apoio da Assessoria de Comunicação Social do
TJPE – ASCOM para promover todos os registros fotográficos e audiovisuais das visitas.
2. Questionamentos CNJ
RESPOSTA MPPE
Foram empreendidas duas visitas dos membros do GACE para a inspeção in loco das
unidades do Complexo do Curado, a saber: a primeira no dia 05.09.2022; e a segunda foi
no dia 17.10.2022, oportunidade em que os membros do GACE foram acompanhados
pelo Conselheiro do CNMP, Dr. Jaime Miranda.
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2. Questionamentos CNJ
RESPOSTA TJPE
Articulação com Tribunal de Contas do Estado, com vistas a dar maior agilidade aos
procedimentos que tratam da disposição de recursos para os projetos de
restruturação do Complexo do Curado, bem como de conclusão das unidades
prisionais de Araçoiaba e Itaquitinga.
PÁGINA | 14
2. Questionamentos CNJ
RESPOSTA MPPE
2. Questionamentos CNJ
RESPOSTA TJPE
Como medida para estruturar mais ainda as varas com competência criminal, foi editado
o Ato nº 762 de 17 de agosto de 2022, que determinou a readequação funcional e
reorganização da força de trabalho junto às unidades de justiça criminal e de execução
penal de 1° grau de todo o Estado de Pernambuco (em consonância com a Resolução
CNJ nº 219, de 2016), havendo a redistribuição de servidores lotados na área
administrativa para a área fim, com atuação na esfera criminal. Esta ação segue em
andamento.
É importante destacar que foram instaladas duas novas varas criminais, sendo uma na
comarca de Paulista e outra em Cabo de Santo Agostinho – Atos nº 684/2022 – SEJU e
nº 686/2022 – SEJU, respectivamente. E, mais recentemente, foram alocadas 07 (sete)
funções gratificadas de apoio à atividade jurisdicional do 1º grau de jurisdição na Vara de
Execução de Penas em Meio Aberto (VEPEMA), através da Instrução Normativa TJPE nº
32/2022.
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2. Questionamentos CNJ
RESPOSTA MPPE
2. Questionamentos CNJ
RESPOSTA TJPE
2. Questionamentos CNJ
RESPOSTA TJPE
Diante dos dados apresentados, o Coordenador Criminal, Des. Mauro Alencar, apontou
que, durante o período da pandemia, onde as audiências de custodia se deram na
modalidade virtual, o que pode ter ensejado divergência por parte da pessoa presa, que
entendeu não ter havido. Assim, está-se em diálogo com a SERES para que novo
levantamento seja realizado.
Cumpre mencionar que, todos os presos autuados em flagrante delito só ingressam nas
unidades prisionais em Pernambuco, desde o ano de 2016, após terem suas prisões em
flagrante convertidas em preventiva na audiência de custódia.
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2. Questionamentos CNJ
RESPOSTA TJPE
A Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH/PE) foi oficiada para que apresente ao
Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema
Socioeducativo – GMF/TJPE o recenseamento e o recadastramento de toda a população
prisional do Estado, devendo essas unidades elaborar protocolo para estabelecer essa
rotina, buscando a individualização de todos os presos recolhidos às Unidades prisionais
de Pernambuco, com a projeção desses dados e levantamento sobre as plataformas
eletrônicas dos SEEU, BNMP e SISDEPEN, enviando-se ao GMF/PE, para que se construa
um fluxo de comunicação permanente com vista a evitar dissonância de informação.
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2. Questionamentos CNJ
RESPOSTA TJPE
Cumpre destacar que foi oficiado ao Exmo. Ministro Mauro Pereira Martins informando
que, nos termos do Provimento do Conselho da Magistratura nº 03, de 28 de abril de
2016 (com as atualizações trazidas pelo Provimento do Conselho da Magistratura 03, de
23 de março de 2017 e Provimento do Conselho da Magistratura nº 03, de 02 de
setembro de 2021), informando que as audiências de custódia, nos dias úteis, estão
sendo realizadas pelos Polos de Custódia, de forma presencial, e, durante os plantões
judiciários de finais de semana e feriados, na comarca polo mais próxima da sede do
plantão da Polícia Judiciária que lavrou o auto de prisão, de forma telepresencial, pois a
estrutura de pessoal do Poder Judiciário e dos demais órgãos auxiliares da Justiça não
permitem um maior número de juízes, promotores e defensores públicos nos finais de
semana, eis que o trabalho extraordinário gera compensação de plantão.
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Também através dessa mesma Secretaria, estão sendo feitas tratativas com o Município
do Recife para identificação de possível local para a implantação de uma Central
Integrada de Alternativas Penais no município.
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Ainda, os Excelentíssimos Juízes de Direito do GMF, Dra. Lorena Victorasso e Dr. Roberto
Costa Bivar, acompanham Grupo Intersetorial formado entre o GMF/TJPE, o MPT e
diversas outras instituições para se construir alternativas voltadas à empregabilidade de
pessoas privadas de liberdade e egressas. No bojo dessa articulação, obteve-se
recursos do MPT que se destinaram a implantação de projetos de trabalho em unidades
prisionais femininas, especificadamente, nas Colônias Penais Femininas de Buíque, do
Recife e de Abreu e Lima.
Por fim, no âmbito do Grupo de Trabalho de Saúde Mental, instituído através da Portaria
Conjunta nº 01/2021 TJPE, está em andamento a construção de minuta de Normativo de
define Política Estadual de Atenção Integral de Pessoas com transtorno mental em
conflito com a Lei.
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METAS
Este produto se caracteriza como complemento do relatório no qual tem sua primeira
versão apresentada até o “Capítulo 3- Planejamento” e entregue na visita do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ) em 19.08.22. O Planejamento apresenta de que forma se dará a
execução das ações para mitigar todas as determinações e se apresenta em 6
estratégias subdivididas em 24 ações. Em seguida, foi aplicada a metodologia da Matriz
GUT – Gravidade, Urgência e Tendência – para elencar as prioridades na resolutividade
das ações. Com as pontuações finalizadas, ficou determinado 3 faixas de prioridades
que serão iniciadas em momentos distintos descritos conforme tabela resumo abaixo:
Status da Obra
lote 01: 2 unidades femininas com 81% concluída, com previsão de conclusão para
março/23;
lote 02: 2 unidades masculinas com 51% concluída, com processo de licitação do
remanescente em andamento;
lote 03: 3 unidades masculinas com 62% concluída, com previsão de conclusão para
agosto/23.
AJUSTES ORÇAMENTÁRIOS
2. Lote 2: ajuste da peça orçamentária da obra - relicitação iniciada com ddo referente a
2022. envio de pedido de suplementação orçamentária à Seplag;
2. Solicitar apoio à adequação e gestão das estações de tratamento de esgoto- ETE - foi
solicitado à Compesa a aprovação dos projetos das ETES para a posterior transferência
de titularidade destes para o órgão em razão da sua natureza. Aproveitando que as
Estações de Tratamento das unidades prisionais de Araçoiaba não tinham sido
construídas, com exceção da UPM01 e UPM02, foi iniciado tratativas para adequação em
projeto das Estações de tratamento de Esgoto das UPF 01, UPF02, UPM03, UPM04 e
UPM05, dessa forma foi encaminhado através do SEI nº 0012900161.000618/2021-78 os
projetos adequados pelo fornecedor do equipamento, pois segundo o Construtor havia a
possibilidade desse fornecedor entregar o projeto com o equipamento. Dessa forma
encaminhamos o ofício nº 67/2022 GAE/SERES com o projeto adequado conforme as
determinações dos especialistas da Compesa. Várias pendências foram sanadas nos
últimos dias visando a adequação dos projetos para que pudessem contemplar as
mudanças de normativas no hidromecânico, restando a entrega de um laudo topográfico
que está sendo construído com previsão de conclusão até 30.11.
Este órgão ainda aguarda a formalização do cronograma acima solicitado via ofício
enviado em 27.11.22 e de que forma será possível acompanharmos a execução do
cronograma em razão da independência institucional da Celpe.
Realizada adequação dos projetos de spda (para raio) e gás em razão das mudanças de
normativas e aprovação dos projetos de combate à incêndio- ) os projetos ainda estão
sendo analisados pelo Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco - CBPM - PE. Já foram
sanadas diversas exigências nos últimos dois meses e estas já foram protocoladas em
13.10.22, 28.10.22 e 07.11.22. Estão sendo aguardados o levantamento final de
pendências Em 25.10.22 foi realizada uma reunião com a equipe técnica do CBPM-PE
para que sejam enviadas todas as pendências de forma consolidada.
AJUSTES INTERNOS
Próximas etapas:
A seguir serão apresentados os planos de ação dos 3 lotes da Obra de Araçoiaba:
Lote 01 - UPF01
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Lote 01 - UPF02
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Lote 02 - UPM01
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Lote 02 - UPM02
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Lote 03 - UPM03
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Lote 03 - UPM04
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Lote 03 - UPM05
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Próximas Etapas:
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Próximas Etapas:
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Próximas Etapas:
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Próximas Etapas:
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O processo deve ser finalizado até o fim do mês de novembro com resolução do
julgado do TCE. Ocorre que a equipe multidisciplinar que trabalha nas unidades da
SERES e com o Monitoramento eletrônico são no formato de contratações temporárias
e estas foram julgadas irregulares pelo TCE. Para sanar está sendo assinado um TAC -
Termo de Ajuste de Conduta entre a SJDH, Secretaria de Administração, Secretaria de
Planejamento e Gestão, Procuradoria Geral do Estado e Ministério Público,
consolidando o comprometimento do Estado em realizar concurso público para essas
funções. Para tanto será encaminhado um projeto de Lei para criação do concurso para
que de forma gradativa os profissionais temporários sejam substituídos por
profissionais efetivos.
Próximas etapas:
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PRÓXIMAS ETAPAS
PLANEJAMENTO EM CONSTRUÇÃO
fonte: https://www.scielo.br/j/csc/a/MztrXvhhdHyWD8GNn8hfT4h/
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No cenário de Pernambuco, cabe portanto que o planejamento possa ser utilizado com
ferramentas que permitam a prospecção de cenários futuros. Esses cenários devem
considerar os seguintes fatores:
Novas vagas iminentes: Conclusão das obras de Araçoiaba que resultariam mais
2754 novas vagas;
Portanto, considerando que com o déficit atual que fica em torno de 21.000 vagas e
considerando que após a conclusão nos próximos 2 anos de mais 8000 vagas
aproximadamente, teríamos um remanescente de 13.000 vagas, se faz necessário a
abertura imediata de uma série de medidas para que o sistema garanta um seguridade
para a população carcerária e expectativas mais concretas de redução de suas
vulnerabilidades “Ao debater a demografia do sistema prisional, o perfil dos presos e as
vulnerabilidades e iniquidades identificadas é possível vislumbrar com mais clareza os
possíveis caminhos para a efetivação do direito à saúde e da oferta de assistência
médica para o sistema prisional, em contraposição às deficiências no que tange ao
próprio processo de ressocialização.”
fonte: https://www.scielo.br/j/csc/a/MztrXvhhdHyWD8GNn8hfT4h/
Portanto fica claro que as medidas de construção de novas vagas precisam ser iniciadas o mais breve
possível para que o Sistema Penitenciário não se torne crítico novamente em médio-longo prazo, e
para que seus status de caos crônico seja debelado.
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Paralelo a esse cenário de vagas outra questão latente é a de servidores efetivos. Nos últimos 60
dias vários avanços se concretizaram nessa temática, tais como a aprovação da Lei Complementar Nº
506, de 21 de outubro de 2022 que aumenta quantitativo total para 4.000 (quatro mil) vagas para o
cargo de Policial Penal do Estado e a aprovação do Ad Referendum da seleção dos profissionais
multidisciplinares.
Primeiro CFP-PPE
Previsão Início: 15/12/2022
Previsão término: 15/04/2023
Total de alunos: 500 (quinhentos)
Segundo CFP-PPE
Previsão Início: 15/03/2023
Previsão término: 15/07/2023
Total de alunos: 500 (quinhentos)
Terceiro CFP-PPE
Previsão Início: 15/06/2023
Previsão término: 15/10/2023
Total de alunos: 300 (trezentos)
Esse cenário ainda pode ser otimizado caso seja possível realizar a formação dos 1300 profissionais
de forma única no primeiro período supracitado. Portanto a nomeação em qualquer dos dois cenários
precisa ser considerada nas prospecções de curto prazo e elaboração do orçamento estadual.