Resenha Estatistíca

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 15

ISSN 2446-7537

Resenha de Estatísticas Vitais do Estado de São Paulo


Ano 16 – no 3 Setembro 2016

MORTALIDADE POR SUICÍDIO NO


ESTADO DE SÃO PAULO
Em 2014 ocorreram 2.339 mortes por suicídios no Estado de
São Paulo, o que representa taxa de 5,6 óbitos por 100 mil
habitantes. Essa média é ligeiramente inferior à do país que foi
de 5,8. Diferenças importantes são observadas também entre
as regiões paulistas, onde as menores taxas ficaram abaixo de
5,5 e as maiores superaram 7,5 óbitos por 100 mil habitantes.

Paulo Borlina Maia (pmaia@seade.gov.br)


Analista de Projetos da Fundação Seade

RESUMO: A partir das informações provenientes do sistema de estatísticas


vitais do Estado de São Paulo, este trabalho avalia a mortalidade por
suicídios para o biênio 2013-2014, levando-se em consideração as
variáveis demográficas sexo e idade, bem como algumas características
como circunstância da morte, sazonalidade e distribuição espacial. Alguns
dos aspectos abordados foram similares aos observados em outros países
e à discussão existente na literatura, além de particularidades específicas
encontradas para o Estado. Na expectativa de que estas informações
possam auxiliar na formulação de políticas públicas, além de trazer mais
esclarecimento ao público em geral, propôs-se a divulgação do presente
número do SP Demográfico na semana marcada pelo Dia Mundial de
Prevenção ao Suicídio (10 de setembro).
PALAVRAS-CHAVE: suicídios; causas externas de morte; mortalidade;
diferenciais regionais.
ano 16, n. 3, setembro 2016

Em São Paulo, assim como no Brasil, as taxas de mortalidade por suicídio


apresentam níveis baixos quando comparadas a outros países do mundo.
Enquanto Lituânia, Bielorrússia, Rússia, Cazaquistão, Hungria, Japão e
Coréia do Sul registram índices que variam entre 20 e 40 óbitos por 100
mil habitantes, o Brasil teve 5,8 em 2014 e São Paulo 5,6 por 100 mil. Os
estados com maiores taxas de mortalidade são Rio Grande do Sul e San-
ta Catarina, com índices superiores a 10 óbitos por 100 mil habitantes.
Apesar dos baixos índices, este evento torna-se importante quando se
considera o volume de vítimas, pois coloca o Brasil em 8o lugar em núme-
ro de suicídios, segundo relatório da Organização Mundial de Saúde de
2014 (WHO, 2014; FERREIRA JÚNIOR, 2015).

Em 2006, o Ministério da Saúde divulgou por meio da Portaria no 1.876


uma série de diretrizes do que seria um programa nacional de preven-
ção ao suicídio, tais como: campanhas de informação e sensibilização à
sociedade para mostrar que o suicídio é um problema de saúde pública
e pode ser prevenido; organização de uma rede de atenção e de inter-
venções nos casos de tentativas de suicídio; educação permanente dos
profissionais de saúde da atenção básica (BRASIL, 2006).

Nesse sentido, as informações provenientes do sistema de estatísticas


vitais da Fundação Seade, produzidas com os dados de eventos vitais
(nascimentos e óbitos) enviados pelos Cartórios de Registro Civil de to-
dos os municípios paulistas, representam insumos que contribuem com
tais medidas. As estatísticas permitem analisar o comportamento dessa
causa específica de morte, segundo variáveis demográficas e sua distri-
buição, ratificando a importância para o dimensionamento dessa questão
no Estado de São Paulo, e avaliar a adequação das diretrizes do Minis-
tério da Saúde na formulação de políticas públicas para redução da ocor-
rência de mortes por suicídio.

No Gráfico 1, verifica-se tendência crescente para as taxas de mortalida-


de por suicídio no Estado de São Paulo: no biênio 2001-2002 era de 4,3
óbitos por 100 mil habitantes, em 2007-2008 passa para 4,6, até atingir
5,6 por 100 mil em 2013-2014.

A tendência observada pode ser, em primeiro lugar, por um aumento real


das mortes por suicídio e, em segundo, também pela melhoria na clas-
sificação das causas externas de morte. Vale ressaltar que, no período
2013-2014, firmou-se convênio entre a Fundação Seade e a Secretaria
de Segurança Pública do Estado de São Paulo, que viabilizou o acesso
às informações dos boletins de ocorrência constantes no Infocrim, o que
permitiu identificar as vítimas cujas causas externas de morte estavam
como indeterminadas, reduzindo este grupo em 56%.

A importância do suicídio no conjunto das causas externas de morte se-


gundo grupos de idade e destacada no Gráfico 2. No contingente com

ano 15, n. 2, abr. 2015 2


ano 16, n. 3, setembro 2016

Gráfico 1
Taxas de mortalidade por suicídio
Estado de São Paulo – 2001-2014

Taxas (1)
6,0

5,0

4,0

3,0

2,0

1,0

0,0
2001-2002 2007-2008 2013-2014

Fonte: Fundação Seade.


(1) Por 100 mil habitantes.

Gráfico 2
Distribuição das mortes, por grupos de idade, segundo tipo de causas externas
Estado de São Paulo – 2013-2014

0 a 14 anos 15 a 39 anos

2,1% 10,2%
1,0% 4,0%
23,1% 28,7% 32,5%
6,1%

9,1%

13,6% 2,5%
10,1%
2,2% 3,7%
6,1% 9,3% 33,5%

40 a 59 anos 60 anos e mais

3,2% 5,8%
11,9% 31,7% 4,7% 18,6%

20,4% 4,6%
6,7%

11,1%

9,0%
10,9% 35,0%
20,6%

Acidentes de transporte Agressões


Quedas Indeterminadas
Demais acidentes Suicídios
Afogamento Sufocamento
Exposição a fogo, chamas e fumaça Exposição a corrente elétrica

Fonte: Fundação Seade.

ano 15, n. 2, abr. 2015 3


ano 16, n. 3, setembro 2016

menos de 15 anos, os suicídios têm pouca participação, representando


apenas 2,2% desse conjunto, com acidentes de transporte, mortes por
sufocamento, afogamentos e agressões as principais causas de morte. Já
para a população com idades de 15 a 39 e de 40 a 59 anos, os suicídios
passam a ser a terceira principal causa externa de morte, com 10,2% e
11,9% respectivamente, perdendo apenas para acidentes de transporte e
agressões. Entre as pessoas com 60 anos e mais de idade, os suicídios
representam apenas 4,7%.

Distribuição segundo sexo e idade

Os suicídios apresentam diferenciais importantes segundo a distribuição


por sexo e idade, com predominância na população masculina. Em 2013-
2014, 80% das vítimas de suicídios ocorridos no Estado de São Paulo
eram homens, sendo que 72,3% estavam na faixa etária entre 15 e 64
anos de idade. As mulheres respondem por porcentuais bem inferiores,
apenas 20%, concentrados principalmente entre 25 e 54 anos.

A pirâmide etária dos óbitos por suicídio ocorridos na população residente


do Estado de São Paulo, apresentada no Gráfico 3, evidencia sua distri-
buição por sexo e idade.

Já as taxas específicas de mortalidade por suicídio, ilustradas no Gráfico


4, apresentam padrão distinto do correspondente às distribuições porcen-
tuais segundo sexo e idade. As taxas entre os homens também superam
as das mulheres. Por outro lado, ao se considerar a composição etária,
observa-se aumento contínuo entre 20 e 39 anos, quando as taxas de

Gráfico 3
Distribuição dos óbitos por suicídios, por idade, segundo sexo
Estado de São Paulo – 2013-2014

Homens Mulheres
90 e +
85 a 89
80 a 84
75 a 79
70 a 74
65 a 69
60 a 64
55 a 59
50 a 54
45 a 49
40 a 44
35 a 39
30 a 34
25 a 29
20 a 24
15 a 19
10 a 14
12 10 8 6 4 2 0 0 2 4 6 8 10 12
% %

Fonte: Fundação Seade.

ano 15, n. 2, abr. 2015 4


ano 16, n. 3, setembro 2016

Gráfico 4
Taxas de mortalidade por suicídio, por idade, segundo sexo
Estado de São Paulo – 2013-2014
Taxas (1) Homens Mulheres Total
16,0

14,0

12,0

10,0

8,0

6,0

4,0

2,0

0,0
10 a 14 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 44 45 a 49 50 a 54 55 a 59 60 a 64 65 anos
anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos e mais

Fonte: Fundação Seade.


(1) Por 100 mil habitantes.

mortalidade masculina por suicídio atingem o ápice, diminuindo a partir de


40 anos, apesar de oscilações e ligeiro aumento no grupo com 65 anos
e mais de idade. Entre as mulheres, o padrão é distinto, com tendência
contínua de aumento até o grupo de 45 a 49 anos de idade e de redução
paulatina nas faixas etárias seguintes, inclusive entre as idosas.

O diferencial de mortalidade entre os sexos é observado na maioria dos


países e os fatores associados a essa diferença têm sido amplamente
discutidos na literatura especializada. A menor incidência de mortes entre
as mulheres vem sendo atribuída principalmente à menor dependência
de álcool, maior religiosidade, percepção mais precoce de sinais de risco
para depressão e doença mental, além de buscarem ajuda com maior
frequência em momentos de crise e de participarem mais ativamente
de redes de apoio social. Em contrapartida, os homens desempenham
comportamentos que predispõem mais ao suicídio, tais como: compe-
titividade, impulsividade, maior acesso à armas, maior sensibilidade às
instabilidades econômicas, como desemprego e empobrecimento, etc.
(SCHMITZ; TORRES; SOARES 1992; MENEGHEL et al., 2004; MACEN-
TE; SANTOS; ZANDONADE, 2009).

Circunstância da morte

Outra informação importante presente nas bases de mortalidade produ-


zidas na Fundação Seade diz respeito aos métodos utilizados para se
cometer o suicídio.

A Tabela 1 apresenta a distribuição das mortes por suicídio ocorridas no


Estado de São Paulo, no biênio 2013-2014, segundo o sexo e os meios

ano 15, n. 2, abr. 2015 5


ano 16, n. 3, setembro 2016

Tabela 1
Distribuição dos óbitos, por sexo, segundo meios utilizados para o suicídio
Estado de São Paulo – 2013-2014
Em porcentagem

Meios utilizados para o suicídio Mulheres Homens Total

Total 100,0 100,0 100,0


Sufocação, enforcamento e estrangulamento 43,1 66,3 61,7
Armas de fogo 3,2 10,3 8,9
Venenos 11,8 5,1 6,4
Quedas 11,3 5,0 6,3
Drogas lícitas e ilícitas 10,9 2,4 4,1
Objeto cortante, penetrante e contundente 2,7 4,0 3,8
Fogo, fumaça e chamas 7,1 1,5 2,6
Demais meios 3,0 2,5 2,6
Indeterminado 6,9 2,9 3,7
Fonte: Fundação Seade.

mais utilizados, destacando as principais e expressivas diferenças entre


esses métodos. Embora para ambos os sexos a morte por sufocação/
enforcamento apareça em primeiro lugar, correspondendo a 66,3% dos
suicídios entre os homens e a 43,1% entre as mulheres, para os demais
meios as diferenças são significativas. Entre os homens a utilização de ar-
mas de fogo, com 10,3% dos casos, aparece como o segundo meio mais
utilizado, seguido pelo envenenamento (5,1%) e pelas quedas (5,0%). En-
tre as mulheres destacam-se envenenamentos (11,8%), quedas (11,3%),
intoxicações por drogas lícitas e ilícitas (10,9%) e queimaduras (7,1%).

A diferença entre os métodos utilizados para o suicídio segundo o sexo


também tem sido observada em alguns países europeus, como Portugal,
Alemanha, Hungria e Irlanda. De certa forma, tal diferença explicaria, em
parte, a maior incidência de mortes entre os homens, pois sua escolha
costuma privilegiar técnicas mais eficientes, como armas de fogo, que
àquelas utilizadas pelas mulheres, como intoxicações por veneno, medi-
camentos e queimaduras.

A distinção entre os meios utilizados para cometer o suicídio explicaria


porque, apesar de existirem mais tentativas de suicídios entre as mulhe-
res, a mortalidade é maior entre os homens. Entretanto, alguns estudos
também têm mostrado que mesmo quando os homens usam métodos
menos eficientes, o resultado é maior e mais eficaz do que entre as mu-
lheres (BOTEGA, 2014).

Panorama regional

No biênio 2013-2014, apesar da Região Metropolitana de São Paulo regis-


trar o maior número de óbitos por suicídio (38% do total estadual), como

ano 15, n. 2, abr. 2015 6


ano 16, n. 3, setembro 2016

era de se esperar dado seu volume populacional, ao se relacionar esse


número com a população verifica-se taxa de mortalidade de 4,5 óbitos por
100 mil habitantes, inferior à média do Estado (5,6 óbitos por 100 mil ha-
bitantes) e um dos menores, quando comparado com as demais regiões
administrativas paulistas.

A situação mais grave foi encontrada nas Regiões Administrativas Cen-


tral, de Marília e de Ribeirão Preto, com taxas de mortalidade por suicídio
superiores a 7,5 óbitos por 100 mil habitantes. As regiões com as meno-
res taxas foram, além da RMSP, as RAs de Santos, São José dos Cam-
pos e Registro, com taxas inferiores a 5,5 óbitos por 100 mil habitantes.

Considerando-se a população por grupos etários, evidencia-se maior risco


de morte por suicídio entre as idades de 15 a 39 e de 40 a 59 anos, cujas
taxas foram de 6,9 e 7,4 óbitos por 100 mil habitantes, respectivamente.
Para a população com 60 anos e mais de idade, a taxa de mortalidade
correspondente foi 5,8 óbitos por 100 mil habitantes. Os adolescentes de
10 a 14 anos apresentaram as menores taxas, apenas 0,7 óbitos por 100
mil habitantes. Este padrão foi bastante similar na maioria das regiões
administrativas do Estado.

Tabela 2
Taxas de mortalidade por suicídios, por grupos de idade
Estado de São Paulo – 2013-2014
Por 100 mil habitantes
10 a 14 15 a 39 40 a 59 60 anos e
Regiões Administrativas Total
anos anos anos mais
Estado de São Paulo 0,7 6,9 7,4 5,8 5,6
RA Central - 11,7 9,4 9,5 8,7
RA de Marília - 9,4 12,5 10,6 8,6
RA de Ribeirão Preto 0,6 9,5 8,2 10,2 7,5
RA de São José do Rio Preto - 7,8 11,0 7,0 7,2
RA de Sorocaba 0,9 9,5 9,0 6,6 7,2
RA de Itapeva 1,1 10,4 7,2 7,6 7,0
RA de Presidente Prudente 1,8 8,2 9,2 7,3 6,9
RA de Barretos - 8,3 10,0 6,4 6,9
RA de Bauru 2,7 7,7 9,1 7,6 6,7
RA de Campinas 0,8 7,6 8,3 6,4 6,2
RA de Araçatuba - 6,8 7,7 8,8 6,1
RA de Franca - 8,0 7,6 5,3 6,0
RA de Santos 0,4 6,6 8,3 4,7 5,5
RA de São José dos Campos 1,2 4,8 7,4 4,6 4,6
RM de São Paulo 0,6 5,9 5,9 4,4 4,5
RA de Registro - 6,1 6,4 2,7 4,3
Fonte: Fundação Seade.

ano 15, n. 2, abr. 2015 7


ano 16, n. 3, setembro 2016

A distribuição espacial das taxas de mortalidade por suicídio nos municí-


pios paulistas é bastante heterogênea. As cidades localizadas na parte
leste do Estado e ao longo das regiões de São José dos Campos, São
Paulo, Campinas e Registro apresentam concentração de baixas taxas de
mortalidade, enquanto na parte oeste há maior concentração de municí-
pios com taxas elevadas, principalmente nas regiões de São José do Rio
Preto, Central, Marília e Presidente Prudente. Interessante observar que
esse padrão de distribuição regional das mortes no Estado de São Paulo
já era observado na segunda metade dos anos 1980 (CAMARGO, 1992)
e pouco se alterou até os dias atuais.

O Mapa 1 permite visualizar melhor as diferenças existentes no interior do


Estado de São Paulo no biênio 2013-2014, destacando que em 73 muni-
cípios nenhum óbito por suicídio foi registrado e que as maiores taxas de
mortalidade atingiram 202 municípios.

Mapa 1
Taxas de mortalidade (1) por suicídio
Estado de São Paulo – 2013-2014

Estado = 5,6

Municípios
RA

Taxas de mortalidade
Até 5,5
De 5,5 a 6,5
De 6,5 a 7,5
De 7,5 e mais

Fonte: Fundação Seade.


(1) Por 100 mil habitantes.

Sazonalidade da mortalidade por suicídio

Os suicídios podem ocorrer em momentos distintos de acordo com os


meses do ano, dias da semana e horas do dia.

Constatou-se no biênio 2013-2014 aumento no número de mortes por sui-


cídio nos meses mais quentes do ano. No início da primavera, setembro

ano 15, n. 2, abr. 2015 8


ano 16, n. 3, setembro 2016

teve a maior concentração de suicídios e, apesar de pequena redução,


permaneceu elevada nos meses seguintes. Já nos mais frios, o núme-
ro de mortes foi menor. Embora as estações do ano no Estado de São
Paulo não sejam tão bem definidas como em países de clima temperado,
esse comportamento mostrou-se bastante similar com estudos europeus
e americanos, que identificaram aumento da mortalidade nos períodos
mais quentes do ano, principalmente no início da primavera.

O Gráfico 5 ilustra a sazonalidade dos suicídios segundo os meses do


ano no período 2013-2014, para a população residente no Estado de São
Paulo. O indicador utilizado foi o número médio diário de suicídios, visan-
do uniformizar a quantidade distinta de dias existentes em cada mês.

Embora não haja consenso dos motivos que levam a esse padrão, algu-
mas hipóteses são levantadas como, por exemplo, o fato de a vida social
tornar-se mais intensa nos meses mais quentes, podendo gerar estresses
em pessoas com quadro de depressão, aumentando o risco de morte
por suicídio. No entanto, outros estudos demonstram que a luz interage
com o neurotransmissor serotonina, de modo que a exposição à luz so-
lar poderia alterar seus níveis e influenciar comportamentos e emoções
como humor, impulsividade e agressividade (LAMBERT et al., 2002; DE
VRIESE; CHRISTOPHE; MAES, 2004).

Gabennesch (1988) propôs o efeito da “teoria das promessas quebradas”


para explicar a maior ocorrência de suicídio nessa época do ano. Segundo
o autor, primavera, feriados e finais de semana promovem uma aspiração
ou expectativa de coisas boas, porém nem sempre elas são alcançadas, o
que torna as pessoas com ideias suicidas mais vulneráveis. Outros estu-

Gráfico 5
Número médio diário de suicídios, por meses do ano
Estado de São Paulo – 2013-2014
Nos abs.
8

0
Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.

Fonte: Fundação Seade.

ano 15, n. 2, abr. 2015 9


ano 16, n. 3, setembro 2016

dos verificaram o mesmo padrão e também usaram a mesma justificativa


(JESSEN; JENSEN, 1999; BRADVIK; BERGLUND, 2003; BANDO, 2012).

Em relação aos dias da semana, domingos e segundas-feiras registraram


a maior concentração de mortes por suicídio, 16% cada, enquanto nos
demais dias os porcentuais ficaram entre 13% e 14%, como mostra o
Gráfico 6. Boa parte da bibliografia internacional tem apontado para uma
maior concentração desses óbitos nas segundas-feiras, embora em algu-
mas regiões haja variação (BANDO, 2012).

Contudo, o padrão é distinto quando se consideram diferentes grupos de


idade. Verifica-se que entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos de
idade, as mortes por suicídio estão mais distribuídas nos dias de semana.
Rheinheimer (2015), ao estudar casos de suicídio entre crianças do Rio
Grande do Sul, verificou o mesmo fenômeno e tem como hipótese o fato de
nos finais de semana elas estarem em casa com as famílias e se sentirem
mais satisfeitas. As estatísticas de mortalidade da Fundação Seade mos-
tram, também, que no grupo de 15 a 39 anos de idade há maior concentra-
ção de suicídios nos domingos, segundas-feiras e sábados; para os adultos
de 40 a 59 anos de idade nos domingos e segundas-feiras; enquanto entre
idosos foi encontrada menor concentração nos finais de semana.

A análise do padrão das mortes por suicídio, segundo as horas do dia


aponta para participações mais elevadas no intervalo de 9 às 12 horas da
manhã, variando entre 3,5% e 4%. Nos demais horários do dia as propor-
ções oscilam entre 2,5% e 3%, reduzindo-se durante a madrugada.

A distribuição dos suicídios segundo as horas do dia é apresentada no


Gráfico 7.

Gráfico 6
Distribuição dos óbitos por suicídio nos dias da semana
Estado de São Paulo – 2013-2014

Em %
18,0

16,0

14,0

12,0

10,0

8,0

6,0

4,0

2,0

0,0
Domingo Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira Sábado

Fonte: Fundação Seade.

ano 15, n. 2, abr. 2015 10


ano 16, n. 3, setembro 2016

Gráfico 7
Distribuição dos óbitos por suicídio nas horas do dia
Estado de São Paulo – 2013-2014

0h
23h 4,0% 1h
22h 3,5% 2h

21h 3,0% 3h
2,5%
20h 2,0% 4h
1,5%
19h 1,0% 5h
0,5%
18h 0,0% 6h

17h 7h

16h 8h

15h 9h

14h 10h
13h 11h
12h

Fonte: Fundação Seade.

Considerações finais

É importante salientar que, independentemente de como ocorrem e quais


as motivações para se cometer um suicídio, existe um fator amplamente
tratado pela bibliografia especializada que diz respeito às doenças men-
tais. Em trabalho realizado por Bertolote e Fleischmann (2002), foi feita re-
visão de 31 artigos científicos publicados entre 1959 e 2001, englobando
15.629 suicídios na população em geral, onde os autores demonstraram
que em mais de 90% dos casos havia algum diagnóstico de transtorno
mental na época da morte.

Os transtornos mentais mais associados ao suicídio foram: depressão,


transtorno do humor bipolar e esquizofrenia. Certas características de
personalidade também foram consideradas importantes entre os fatores
de risco, além da dependência de álcool e de outras drogas psicoativas.
A situação de risco é agravada quando mais de uma dessas condições
estão combinadas, como, por exemplo, depressão e alcoolismo; ou ainda
a coexistência de depressão, ansiedade e agitação.

Muito embora no presente estudo não tenha sido possível realizar uma
análise mais minuciosa sobre essas associações, puderam-se observar
alguns indícios dessa questão a partir da avaliação junto aos boletins de
ocorrência da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Como men-

ano 15, n. 2, abr. 2015 11


ano 16, n. 3, setembro 2016

cionado anteriormente, um convênio foi firmado entre a Fundação Seade


e a referida Secretaria, com o objetivo de melhorar a qualidade dos dados
relativos às causas de morte presentes nas bases de mortalidade produ-
zidas com as informações enviadas pelos Cartórios de Registro Civil de
todo o Estado de São Paulo. O acesso por meio do Infocrim às informa-
ções dos boletins de ocorrência, referentes aos óbitos cuja causa externa
de morte aparece como ignorada, possibilita conhecer e codificar correta-
mente a causa que levou o indivíduo a óbito.

Foi possível, com esse procedimento, constatar algumas das condições


associadas ao suicídio, ao se avaliar o histórico da ocorrência. Na maioria
dos casos de suicídio consultados houve algum relato, por parte da tes-
temunha, de que a vítima possuía quadro de depressão, esquizofrenia,
estresse ou algum tipo de desilusão, sendo muitas vezes acompanhado
de consumo de drogas (lícitas ou ilícitas) e álcool.

Vale salientar ainda, que trabalhos realizados na Fundação Seade têm


alertado para a importância da redução na mortalidade por causas exter-
nas observada no Estado de São Paulo, onde os suicídios estão incluí-
dos, no aumento da esperança de vida da população (MAIA, 2000; FER-
REIRA; CASTIÑEIRAS, 2015). Nesse sentido, o presente estudo procura
com as informações produzidas pela Fundação Seade contribuir para aju-
dar na orientação e formulação de políticas de prevenção e redução das
mortes por suicídio.

Referências Bibliográficas
BANDO, D.H. et al. Seasonality of suicide in the city of São Paulo, Brazil,
1979-2003. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 31, n. 2., jun. 2009.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-
44462009000200004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: jun. 2016.

BANDO, D.H. Sazonalidade, efemérides e a mortalidade por doença


coronariana, AVC, insuficiência cardíaca, acidente de transporte, suicídio e
homicídio na cidade de São Paulo, 1996 a 2009. 106 f. Tese (Doutorado em
Ciências) – Faculdade de Medicina, USP, São Paulo, 2012.

BERTOLOTE, J.M.; FLEISCHMANN, A. Suicide and psychiatric diagnosis:


A worldwide perspective. World Psychiatry Journal, Geneva, Switzerland,
v. 1, n. 3, p. 181-185, Oct. 2002. Disponível em: <http://www.wpanet.org/
uploads/Publications/WPA_Journals/World_Psychiatry/Past_Issues/English/
wpa-10-2002.pdf#page=55>. Acesso em: jun. 2016.

BOTEGA, N.J. Comportamento suicida: epidemiologia. Psicologia USP, São


Paulo, v. 25, n. 3, 2014. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/psicousp/
article/view/89784>. Acesso em: maio 2016.

BRADVIK, L.; BERGLUND, M. A suicide peak after week-ends and holidays


in patients with alcohol dependence. Suicide and Life-Threatening Behavior
Journal, v. 33, p. 186-191, June 2003.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria no 1.876, de 14 de agosto de 2006.


Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio, a ser implantadas em todas as

ano 15, n. 2, abr. 2015 12


ano 16, n. 3, setembro 2016

unidades federadas, respeitadas as competências das três esferas de gestão.


Brasília, 2006. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/
gm/2006/prt1876_14_08_2006.html>. Acesso em: jun. 2016.

CAMARGO, A.B.M. A mortalidade por suicídio no Estado de São Paulo.


Conjuntura Demográfica, São Paulo, Fundação Seade, n. 18, p. 17-24, jan./mar.
1992. Disponível em: <http://produtos.seade.gov.br/produtos/bibliotecadigital/
view/singlepage/index.php?pubcod=10015014&parte=1>. Acesso em: ago.
2016.

DE VRIESE, S.R.; CHRISTOPHE, A.B.; MAES, M. In humans, the seasonal


variation in poly-unsaturated fatty acids is related to the seasonal variation in
violent suicide and serotonergic markers of violent suicide. Prostaglandins,
Leukot Essent Fatty Acids (PLEFA-Journal), Belgium, v. 71, 2004.

FERREIRA JÚNIOR, A. O comportamento suicida no Brasil e no mundo.


Revista Brasileira de Psicologia, Salvador, v. 2, n. 1, p. 15-28, 2015. Disponível
em: <http://revpsi.org/wp-content/uploads/2015/04/Ferreira-Junior-2015-O-
comportamento-suicida-no-Brasil-e-no-mundo.pdf>. Acesso em: jun. 2016.

FERREIRA, C.E.C.; CASTIÑEIRAS LOPES, L. Sobrevivência e esperança de


vida em São Paulo. Primeira Análise, São Paulo, Fundação Seade, n. 28, jul.
2015. Disponível em: <http://www.seade.gov.br/wp-content/uploads/2015/10/
primeira_Analise_28_jul.pdf>. Acesso em: ago. 2016.

FUNDAÇÃO SEADE. Sistema de Micro Dados do Registro Civil. Base de dados


construída com as informações sobre nascidos vivos e óbitos dos Cartórios
do Estado de São Paulo. São Paulo, Fundação Seade. Disponível em: <http://
produtos.seade.gov.br/produtos/mrc/>. Acesso em: mar. 2016.

GABENNESCH, H. When Promises Fail: A Theory of Temporal Fluctuations in


Suicide. Social Forces Journal, Oxford University Press, n. 67, 1988.

JESSEN, G.; JENSEN, B. F. Postponed suicide death? Suicides around


birthdays and major public holidays. Suicide and Life-Threatening Behavior
Journal, American Association of Suicidology, v. 29, p. 272-283, Sept. 1999.

LAMBERT, G.W. et al. Effect of sunlight and season on serotonin turnover in the
brain. The Lancet, London, v. 360, n. 9.348, p. 1.840-1.842, Dec. 2002.

MACENTE, L.B.; SANTOS, E.G.; ZANDONADE, E. Tentativas de suicídio e


suicídio em município de cultura pomerana no interior do estado do Espírito
Santo. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, Instituto de Psiquiatria
da UFRJ, v. 58, n. 4, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0047-20852009000400004>. Acesso em: maio
2016.

MAIA, P.B. O impacto das mortes violentas na esperança de vida do município


de São Paulo (1979/1981 - 1990/1992 - 1995/1997). Ciências Biológicas e do
Ambiente, São Paulo, v. 2, n.1, p. 63-81, 2000.

MENEGHEL, S.N. et al. Características epidemiológicas do suicídio no Rio


Grande do Sul. Revista Saúde Pública, São Paulo, Faculdade de Saúde Pública
da USP, v. 38, n. 6, dez. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102004000600008&lng=en>. Acesso em:
jun. 2016.

RHEINHEIMER, B. Estudo da prevalência das tentativas de suicídio por


envenenamento em crianças e adolescentes no estado do Rio Grande do
Sul. Dissertação (Mestre em Ciências Médicas) – Faculdade de Psiquiatria,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, 2015.

ano 15, n. 2, abr. 2015 13


ano 16, n. 3, setembro 2016

SCHMITZ, M.; TORRES, J.B.; SOARES, P.F.B. Tentativas de suicídio por


autoenvenenamento: um estudo sobre 684 casos. Revista ABP-APAL, São
Paulo, Associação Brasileira de Psiquiatria-Psiquiatria da América Latina,
v. 14, n. 2, 1992. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
nlinks&ref=000134&pid=S0047-2085200900040000400019&lng=en>. Acesso
em: jun. 2016.

WHO. Preventing suicide: a global imperative. Geneva,


Switzerland, 2014. Disponível em: <http://apps.who.int/iris/
bitstream/10665/131056/1/9789241564779_eng.pdf>. Acesso em: jul. 2016.

ano 15, n. 2, abr. 2015 14


SEADE
Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados

Diretor Executivo
Dalmo Nogueira Filho
Governador do Estado Diretor-adjunto Administrativo e Financeiro
Geraldo Alckmin Silvio Aleixo
Diretora-adjunta de Análise e
Vice-Governador Disseminação de Informações
Márcio França Rovena Negreiros
Diretora-adjunta de Metodologia
Secretário de Planejamento e Gestão e Produção de Dados
Marcos Monteiro Margareth Izumi Watanabe
Presidente do Conselho de Curadores
Carlos Antonio Luque

A série SP Demográfico, iniciada em 1998, procura veicular os principais indicadores demo-


gráficos do Estado de São Paulo, de suas regiões, municípios e distritos da capital, com ênfase
na análise das projeções populacionais e das Estatísticas do Registro Civil, produzidas pela
Fundação Seade.
Coordenação e edição: Bernadette Cunha Waldvogel
Corpo editorial: Bernadette Cunha Waldvogel; Carlos Eugenio de Carvalho Ferreira;
Rovena Negreiros; Margareth Izumi Watanabe; Osvaldo Guizzardi Filho.
Autor deste número: Paulo Borlina Maia
Edição: Assessoria de Editoração e Arte (Aedar)
Endereço para correspondência:
Av. Professor Lineu Prestes, 913 – Cidade Universitária
05508-000 – São Paulo – SP
Fone (11) 3324.7200
www.seade.gov.br / sicseade@seade.gov.br / ouvidoria@seade.gov.br

NOTA AOS COLABORADORES


Os artigos publicados pelo SP Demográfico devem ser relacionados a pesquisas
da Fundação Seade. As colaborações podem ser tanto de integrantes da Fun-
dação como de analistas externos. A publicação não remunera os autores por
trabalhos publicados.

NORMAS EDITORIAIS
O artigo deverá ser digitado em Word (fonte TIMES NEW ROMAN, corpo 12), con-
tendo no máximo 20 páginas, em espaço duplo, numeradas consecutivamente.
Na primeira página do original deverão ser indicados:
a) Título do artigo (e subtítulo, se houver);
b) Nome do(s) autor(es) com um minicurrículo (indicação de formação profissional,
titulação, ocupação atual e, se quiser, e-mail);
d) Resumo do artigo (máximo cinco linhas);
e) Palavras-chave (três palavras);
Caso haja divisões no texto, recomenda-se no máximo três níveis de intertítulos,
hierarquizados da seguinte forma (Atenção: não começar o artigo com intertítulo):
Não colar gráficos, tabelas, mapas, quadros e figuras no texto (apenas indicar
onde poderão ser colocados). Eles deverão ser enviados no formato original
(Excel, Word, Corel, Maptitude, Illustrator) separadamente do arquivo de texto
para posterior edição nos padrões do boletim.

Você também pode gostar