0% acharam este documento útil (0 voto)
40 visualizações308 páginas

THOMAS Et Al, 2002. A Qualidade Do Crescimento

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1/ 308

20924

A QUALIDADE DO
CRESCIMENTO
20924
FUNDAÇÃO EDITORA DA UNESP

Presidente do Conselho Curador


José Carlos Souza Trindade
Diretor Presidente
José Castilho Marques Neto
Editor Executivo
Jézio Hernani Bomfim Gutierre
Conselho Editorial Acadêmico
Alberto Ikeda
Antonio Carlos Carrera de Souza
Antonio de Pádua Pithon Cyrino
Benedito Antunes
Isabel Maria F. R. Loureiro
Lígia M. Vettorato Trevisan
Lourdes A. M. dos Santos Pinto
Raul Borges Guimarães
Ruben Aldrovandi
Tania Regina de Luca
20924

A QUALIDADE DO
CRESCIMENTO
Vinod Thomas
Mansoor Dailami
Ashok Dhareshwar
Daniel Kaufmann
Nalin Kishor
Ramón López
Yan Wang

Tradução:
Élcio Fernandes
OS ACHADOS, INTERPRETAÇÕES E CONCLUSÕES EXPRESSOS NESTE ESTUDO SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS

AUTORES E DE NENHUM MODO DEVERIAM SER ATRIBUÍDOS AO BANCO MUNDIAL, A SUAS ORGANIZAÇÕES AFILIADAS,

AOS MEMBROS DE SUA DIRETORIA EXECUTIVA OU AOS PAÍSES QUE ELES REPRESENTAM. OS LIMITES, DENOMINAÇÕES E

OUTRAS INFORMAÇÕES MOSTRADAS EM QUALQUER MAPA DESTE VOLUME NÃO IMPLICAM, DA PARTE DO WORLD BANK

GROUP, NENHUM JULGAMENTO SOBRE O STATUS LEGAL DE QUALQUER TERRITÓRIO OU A ACEITAÇÃO DE TAIS LIMITES.

© 2000 The International Bank for Reconstruction


and Development / The World Bank

This Work was originally published by the World Bank in English as The Quality of
Growth in 2000. This Portuguese language edition is not an official World Bank trans-
lation. Editora UNESP is responsible for the accuracy of the translation.

Esta obra foi originalmente publicada em inglês pelo Banco Mundial, como The
Quality of Growth in 2000. A edição em língua portuguesa não é uma tradução oficial
do Banco Mundial. A Editora UNESP é responsável pela exatidão da tradução.

Título original em inglês: The Quality of Growth.

© 2001 da tradução brasileira:


Fundação Editora da UNESP (FEU)

Praça da Sé, 108


01001-900 – São Paulo – SP
Tel.: (0xx11) 3242-7171
Fax: (0xx11) 3242-7172
Home page: www.editora.unesp.br
E-mail: feu@editora.unesp.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

A Qualidade do crescimento / Vinod Thomas... [et al.]; tradução Élcio


Fernandes. — São Paulo: Editora UNESP, 2002.

Título original: The quality of growth


Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 85–7139–441–5

1. Bem-estar econômico 2. Desenvolvimento econômico 3.


Desenvolvimento sustentável 4. Política econômica I. Thomas,
Vinod.

02–6467 CDD–338.9

Índice para catálogo sistemático:

1. Crescimento econômico: Economia política 338.9

Editora afiliada:
SUMÁRIO

Preâmbulo XIII

Prefácio XVII

A Equipe do Relato XXI

Visão Geral XXIII


Resultados de Desenvolvimento e Processos de Crescimento XXIII
Princípios de Desenvolvimento XXV
Ações Negligenciadas no Processo de Crescimento XXIX
Substituir Prioridades XXXII

1. O Registro de um Desenvolvimento Confuso 1


Avaliar Desenvolvimento 2
O Registro do Desenvolvimento 6
Crescimento e Bem-Estar 16
Questão de Fatores Externos 16
Políticas Internas Fazem uma Diferença Fundamental 19
Questões Cruciais para a Ação 23

2. Valores, Crescimento e Bem-Estar 29


Uma Estrutura 31
Evidência Empírica 39
Conclusões 47

3. Melhorando a Distribuição de Oportunidades 51


Benefícios Potenciais da Educação 52
Quantidade Não É o Bastante – Qualidade É o Que Importa 53
Realizar uma Educação Eqüitativa e a Inclusão Social 59
Melhorar a Eficácia do Gasto Público 69

V
S U M Á R I O

Tornar a Educação Mais Produtiva 76


Conclusões 84

4. Sustentar o Capital Natural 87


Perdas Extensivas 88
Benefícios Significativos da Ação Ambiental 92
O Nexo do Crescimento do Capital Natural e do Bem-Estar 93
Incorporar a Sustentabilidade Ambiental a Políticas
de Crescimento 102
Repensar o Papel do Estado 106
Questões Ambientais Globais Devem Ser Confrontadas 112
Conclusões 114

5. Tratar com Riscos Financeiros Globais 119


Expansão dos Mercados de Capital e Volatilidade
dos Fluxos de Capital 120
Causas e Conseqüências da Volatilidade do Fluxo de Capital 122
Gerenciamento do Risco Passado e Presente 128
Uma Ampla Estrutura do Gerenciamento do Risco 131
Conclusões 138

6. Governo e Anticorrupção 141


O Governo Afeta a Qualidade do Crescimento 142
A Corrupção Solapa o Crescimento e o Desenvolvimento 151
Causas da Corrupção 157
Uma Estratégia Anticorrupção Multifacetada 159
Conclusões 173

7. Agarrar as Oportunidades de Mudança 177


A Estrutura e os Temas 178
Ações para Garantir a Qualidade 181
Onde as Políticas para Qualidade Funcionam – Ou Não? 182
Economia Política de Quantidade versus Qualidade 185
Seguir em Frente 186

Bibliografia e Referências 243

Anexos

1. Objetivos Amplos e os Instrumentos 189


Metas e Medidas Políticas 189
Índices Compósitos do Desenvolvimento Humano
e do Desenvolvimento Sustentável 193

VI
S U M Á R I O

2. Estrutura e Evidência 195


Uma Função de Bem-Estar 195
A Otimização do Setor Privado 196
Especificação Econométrica Utilizada para Avaliar
Funções de Crescimento 206

3. Distribuição da Educação, Abertura e Crescimento 215


A Função de Produção Ampliada com a Distribuição
da Educação 216
Análise Empírica em Retornos de Investimento na Educação 219
Estudos Selecionados Sobre Distribuição de Recuros
e Crescimento 222

4. Aferindo o Capital Natural 225

5. Abertura Financeira 227


Nota Sobre a Vulnerabilidade do País e Medidas de Volatilidade 230
Nota Sobre as Brechas no Produto Interno Bruto 230
Nota Sobre um Modelo Binomial de Logit 230
Estatísticas Sumárias para Variáveis Utilizadas no Capítulo 5 232

6. Índices de Governo e Corrupção: Métodos de Agregação,


Medidas Empíricas Novas e Desafios Econométricos 235
Definir e Desvelar o Governo 235
Aferir e Desvelar a Corrupção 238

Quadros

1 Acumulação de Bens, Crescimento e Bem-Estar XXVII


2.1 Capital Social 36
2.2 Abordagens Alternativas para a Sustentação do Crescimento:
Brasil, Chile e Coréia 40
3.1 Brechas de Saúde Entre Ricos e Pobres Também
São Grandes 64
3.2 Sustentar a Educação Feminina em Bangladesh 67
3.3 População e Desenvolvimento 74
4.1 Degradação Ambiental na Índia 90
4.2 Esforços pelo Mundo Afora para Ação Ambiental 94
4.3 População, Pobreza e Meio Ambiente 98
4.4 O Desenvolvimento e o Meio Ambiente 107
4.5 Lucro Privado a Expensas do Gasto Público:
Corrupção no Setor Florestal 111
4.6 Cooperação Internacional para Mitigar a Mudança
Climática Global 112

VII
S U M Á R I O

5.1 Abertura para Fluxos de Capital Internacional 124


5.2 Chile: Abertura, Controles de Capital e Proteção Social 137
6.1 Governo e Instrumentos para Estudos Diagnósticos:
O Poder dos Empíricos 168
6.2 A “Voz” Como um Mecanismo para Fazer Valer a
Transparência e a Responsabilidade 169
6.3 Milhões de “Auditores” Fazem Valer a Transparência
e o Governo nos Cálculos Orçamentários e Além 172
7.1 Ações para a Qualidade 181

Figuras

1 Uma Estrutura XXVII


1.1 Crescimento do PIB e Mudanças na Qualidade de Vida,
nas Décadas de 1960 e 1990 5
1.2 Mudança no Desenvolvimento Humano e Crescimento
de Renda, 1981-1998 6
1.3 Taxas de Pobreza e Número de Pobres, em Anos Seletos 7
1.4 Incidência de Pobreza em Economias de Transição Seletas,
1987-1988 e 1993-1995 8
1.5 Mudanças Ambientais versus Crescimento de Renda,
1981-1998 9
1.6 Total de Partículas Suspensas, Cidades Selecionadas,
no Início da Década de 1990 10
1.7 Adquirindo Paridade do Poder Aquisitivo do Produto Interno
Bruto (PIB) per capita, 1975-1998 11
1.8 Crescimento do PIB per capita, Economias Seletas,
1975-1998 12
1.9 Desigualdade de Renda Dentro dos Países, nas Décadas
de 1980 e 1990 14
1.10 Volatilidade das Taxas de Crescimento do PIB, por Década 15
1.11 Gastos Públicos com Educação por Região,
em Anos Seletos 20
1.12 Barreiras Comerciais, Regiões Selecionadas, 1984-1993 22
1.13 Premium do Mercado Paralelo, nas Décadas
de 1970 a 1990 23
3.1 Relacionamento Entre Gasto Público per capita e Conclusão
Educacional, em Anos Variados 54
3.2 Taxas de Conclusão da Escola Secundária para a
Faixa Etária de 20-25 por Nível de Renda Familiar,
Anos e Países Seletos da América Latina 58
3.3 Os Coeficientes Gini de Educação, Países Seletos,
1960-1990 61

VIII
S U M Á R I O

3.4 As Curvas Educacionais de Lorenz para Índia


e Coréia, 1990 61
3.5 Os Coeficientes Gini de Educação para 85 Países, 1990 63
3.6 Mortalidade de Crianças de Dois Anos e Mais Jovens,
pela Riqueza, Brasil, 1996 64
3.7 Conclusão de Grau Médio para Jovens entre 15-19 Anos
de Famílias Ricas e Pobres, Países e Anos Seletos 65
3.8 Anos de Escolaridade para Jovens na Faixa Etária de
25 Anos em Famílias Ricas e Pobres na América Latina 66
3.9 Brechas de Gênero e Desigualdade de Educação,
1970 e 1990 68
3.10 As Tendências das Taxas de Redução da Pobreza
e Saídas Não Agrícolas do Crescimento Econômico
na Índia, 1960-1994 70
3.11a Pobreza e Posse da Terra, Bangladesh, 1988-1989 77
3.11b Divisão de Renda na Década de 1980 e Coeficiente
Gini para a Terra, na Década de 1960 77
3.12 Educação, Abertura e Taxas Econômicas de Retorno
em 1.265 Projetos do Banco Mundial 83
4.1 Caminhos do Crescimento e Qualidade Ambiental 101
5.1 O Tamanho do Mercado Financeiro Global
e o Comércio Mundial, 1980-1996 121
5.2 Ascensão e Queda de Fluxos de Capital
Internacional, 1990-1999 123
5.3 Relacionamento Entre Variabilidade do Crescimento
Econômico e Volatilidade nos Fluxos de Capital Privado
Externo, 1975-1996 127
5.4 Relacionamentos Entre Abertura Financeira e Democrática,
Mobilidade de Capital e Gastos Sociais do Governo 135
5.5 Relacionamento entre Abertura Financeira
e Gastos Sociais 135
5.6 Classificação por País: Direitos Políticos
e Abertura Financeira 136
6.1 Qualidade do Indicador da Regra de Direito: A Abordagem
Apresentacional dos “Sinais de Tráfego” 146
6.2 Controle de Corrupção: A Abordagem Apresentativa
dos “Sinais de Tráfego” 148
6.3 O Dividendo Desenvolvimentista do Bom Governo 150
6.4 A Corrupção É Regressiva: Resultados dos
Estudos Diagnósticos 154
6.5 Corrupção e Ausência de Meritocracia nas Repartições
Públicas Desigualam os Acessos aos Serviços
para os Pobres: Estudos Diagnósticos dos Resultados
dos Funcionários Públicos 155

IX
S U M Á R I O

6.6 “Pequenas Propinas” versus Captação Estatal: Será que


Comprometer-se com a Corrupção Beneficia a Empresa? 157
6.7 Corrupção e Direitos Civis 158
6.8 A Meritocracia Pode Reduzir a Corrupção: Evidência para
Cada Departamento com Base em Estudos dos Funcionários
Públicos em Três Países 160
6.9 Estratégias Multidentadas para Combater a Corrupção e
Melhorar o Governo – Reconhecer a Economia Política 162
6.10 Alta Variação na Qualidade dos Tribunais em
Economias Seletas 165
6.11 Captação Legal e Judiciária pelo Setor Corporativo
em Algumas Economias de Transição Seletas 166
A1.1 Objetivos Desenvolvimentistas e Instrumentos Políticos 191
A2.1 Retornos Constantes à Escala e Nenhuma
Expansão Tecnológica 203
A2.2 Subsistência, Crescimento e Armadilhas da Pobreza
Entre os Pobres: O Caso de Retornos Constantes à Escala
e Nenhuma Expansão 206
A5.1 Correlações da Abertura Financeira com Direitos Políticos
e Liberdades Civis 234

Tabelas

1.1 Correlações de Medidas de Desenvolvimento, 1981-1998 4


1.2 Resultados Desenvolvimentistas por Classe de Crescimento,
nas Décadas de 1980 e 1990 17
1.3 Questão de Fatores Externos para Resultados Internos,
Exemplos de 1977-1999 17
1.4 Desempenho Político por Classe de Crescimento, nas
Décadas de 1980 e 1990 24
2.1 Variáveis Seletas para Brasil, Chile e Coréia 41
2.2 Revisão dos Indicadores de Desenvolvimento para Sessenta
Reformadores e Não Reformadores, em Anos Seletos 42
3.1 Repetência de Escola Primária e Taxas de Evasão,
em Anos Seletos 56
3.2 Gasto Público por Níveis de Educação, Coréia,
em Anos Seletos 71
3.3 Gasto Público por Estudante, por Nível, 1960-1990 72
3.4 Gastos Públicos Atuais por Estudante, Índia e Coréia,
em Anos Seletos 73
4.1 Custos Anuais de Saúde Associados com a Poluição do Ar 89
4.2 Custos Anuais da Saúde Associados com Doenças
Provindas da Água e da Poluição 89

X
S U M Á R I O

4.3 Comércio, Crescimento, Pobreza e Degradação


do Meio Ambiente, em Anos Seletos 96
4.4 Classificação de Países Seletos pela Trajetória
do Crescimento Ambiental 102
4.5 Serviços Ambientais das Florestas Costa-Riquenhas
e seus Beneficiários 103
5.1 Crescimento dos Mercados Derivados, 1991-1997 122
5.2 Países Agrupados pela Abertura Financeira 134
5.3 Resultados Estimados do Modelo Lógico Binomial Sobre
a Probabilidade dos Países Pertencerem a Altas Categorias
de Abertura Financeira 134
6.1 Uma Matriz-Síntese: Corrupção e Pobreza 153
6.2 Impacto das Liberdades Civis Sobre o Projeto de Taxas
de Retorno Socioeconômicas 171
A1.1 Relacionamentos Entre Objetivos do Desenvolvimento
em Instrumentos Políticos, 1981-1998 190
A2.1 A Equação do Crescimento Sob Várias Especificações 209
A2.2 Taxas do Crescimento do PIB Regressadas nos Estoques
por Operário, Utilizando Todos os Países com Dados
Disponíveis de 1965 a 1990 210
A2.3 Elasticidades para os Estoques por Operário, nas Taxas
de Crescimento do PIB per capita 211
A2.4 Estudos Empíricos Seletos Sobre o Impacto e a Extensão
dos Subsídios de Capital 212
A3.1 Os Coeficientes Gini de Educação para Países Seletos,
em Anos Seletos 217
A3.2 Função de Produção: Estimativa Linear 218
A3.3 Função de Produção: Estimativa Não-Linear 219
A3.4 Educação, Abertura e Desempenho do Projeto de Empréstimo .. 221
A3.5 Estudos Empíricos Seletivos Sobre a Distribuição
de Recursos, Crescimento e Pobreza 223
A5.1 Transações Internacionais 228
A5.2 Índice de Abertura Financeira, Países Seletos, 1997 229
A5.3 Países em Desenvolvimento Classificados por Graus
de Volatilidade para Fluxos de Capital Estrangeiro 231
A5.4 Estatísticas Sumárias para Países Industrializados Seletos
e Países em Desenvolvimento 233
A5.5 Os Relacionamentos Entre Abertura Financeira, Democracia
e Gastos Sociais 234
A6.1 Porcentagem de Empresas Afetadas pelas Diferentes
Formas de Captação do Estado e Índice de Captação
Geral do Estado, Países Seletos, 1999 241

XI
PREÂMBULO

T emos muito a comemorar ao iniciarmos o novo milênio. Uma


criança nascida hoje, no mundo em desenvolvimento, pode
esperar viver 25 anos a mais e ter melhor saúde, melhor edu-
cação e ser mais produtiva que uma criança nascida há cinqüen-
ta anos. A expansão da democracia trouxe novas liberdades e oportunidades
inimagináveis para muita gente em todo o mundo. E a revolução das comu-
nicações assumiu a promessa do acesso universal ao conhecimento.
Mas, se observarmos mais de perto, veremos algo mais – algo alarmante.
Atualmente, nos países em desenvolvimento, excluindo a China, há pelo
menos mais cem milhões de pessoas do que há uma década vivendo em
miséria. E a distância entre ricos e pobres torna-se cada vez mais evidente.
Em muitos países, o golpe da Aids tem diminuído de maneira cruel a expec-
tativa de vida – em alguns países africanos, há mais de dez anos. Cerca de
um bilhão de pessoas não têm acesso à água tratada, e a cada ano 2,4 mi-
lhões de crianças morrem de doenças provenientes de água contaminada.
Igualmente, cerca de um bilhão de pessoas adentraram no século XXI sem
saber ler ou escrever. Apenas nas áreas rurais, aproximadamente 1,8 milhão
de pessoas morrem a cada ano em conseqüência da poluição do ar. Florestas
têm sido destruídas a uma média de um acre por segundo, com uma perda
inimaginável de biodiversidade.
Apontamos algumas medidas de nossas deficiências: apesar da pros-
peridade de uma minoria, a qualidade de vida permaneceu sombria para
muitos. A despeito de quase duas décadas de crescimento econômico rápi-
do em determinados países, outros não se beneficiaram de tal progresso.
Em muitas políticas levadas a efeito, favoreceu-se o capital investido da
elite, em detrimento de investimentos adequados nos capitais humano e
natural, essenciais para o crescimento de base ampla. A qualidade dos
fatores convergentes para o crescimento requer uma atenção fundamental
se se deseja reduzir a pobreza e atingir uma melhor qualidade de vida para
todos. Este é o tema central deste livro.

XIII
P R E Â M B U L O

Uma melhor qualidade de vida para os pobres demanda melhores


salários, o que, por sua vez, requer políticas econômicas e instituições sóli-
das que contribuam para o crescimento sustentado. Ao atingir salários mais
altos e uma melhor qualidade de vida, requer-se também muito mais – me-
lhores, maiores e iguais oportunidades para educação, emprego, maior
qualidade na saúde e nutrição, um meio ambiente mais limpo e mais
sustentável, um sistema legal e judicial imparcial, maiores liberdades civis
e políticas, instituições confiáveis e transparentes e livre acesso a uma vida
cultural rica e diversificada. O livro publicado recentemente pelo Banco
Mundial, Voices of the Poor: Can Anyone Hear Us? (Vozes dos pobres: alguém
pode nos ouvir?), reforça esta mensagem. Homens e mulheres pobres do
mundo todo perceberam enfaticamente a importância da dignidade, do
respeito, da segurança, das questões de gênero,* de um meio ambiente
limpo, da saúde, além da inclusão ao bem-estar material.
Enquanto a renda per capita cresce, vários aspectos da qualidade de vida
também melhoram, mas não todos, nem na mesma proporção, e não inevi-
tavelmente. Em diferentes países, o mesmo passo de crescimento econômi-
co tem sido associado com graus muito diferentes de melhoria sobre o
tempo de educação, saúde, liberdades civis, participação dos cidadãos nas
decisões afetas às suas vidas, libertação da corrupção, qualidade ambiental
e sustentabilidade. Este livro demonstra como o crescimento é gerado e se
ele é matéria sustentada crucialmente para a qualidade de vida de todos.
A estratégia do Banco Mundial é projetar e avaliar suas atividades por
meio das lentes da redução da pobreza, a visão que informa a Estrutura do
Desenvolvimento Abrangente que abraçamos nos países com os quais tra-
balhamos. Essa estrutura encoraja os países a buscarem uma abordagem
equilibrada do desenvolvimento, tentando simultaneamente aumentar as
dimensões humana, social, natural e física. Somente assim os frutos do
desenvolvimento podem ser amplamente compartilhados e sustentados.
Arrolando essas dimensões complementares, essa estrutura integrada
também tenta juntar os atores-chave do desenvolvimento. Isto coloca insti-
tuições, governo e responsabilidade corporativa, em questões de inclusão,
voz, liberdades e participação, aliados a interesses econômicos conven-
cionais e atuação política. Levantando estas questões relacionadas simul-
taneamente, a estrutura enfatiza a necessidade para a liderança do país,
igualmente para uma sociedade entre o governo, o setor privado, a so-
ciedade civil e a comunidade internacional, ao dirigir a agenda do desen-
volvimento. Estamos comprometidos a auxiliar essa estrutura não apenas
com financiamento, mas cada vez mais também com os programas do co-
nhecimento do estado de arte e da aprendizagem com utilização de novos
dados, instrumentos e metodologias, e sustentada pelas tecnologias, infor-
mação e comunicação mais recentes.

* Diferenças de tratamento para homens e mulheres, tendendo a discriminar o sexo feminino. (N. E.)

XIV
P R E Â M B U L O

De fato, viajando por todos os continentes, tenho sido constantemente


lembrado pelo povo – em aldeias rurais, assim como em centros urbanos
superpopulosos – que a qualidade de vida para eles transcende a con-
tribuição de tão-somente financiar. Aquela qualidade diz respeito ao acesso
de garotos e garotas à educação e a empregos, quando se graduam. Diz
respeito ao acesso do pobre rural à medicina básica, quando se dirigem às
suas clínicas da aldeia. Diz respeito à limpeza do ar e das águas e sobre a
proteção da preciosa biodiversidade. Diz respeito à dignidade que os pobres
devem desfrutar e à segurança de suas vidas. Diz respeito à participação do
povo, juntamente com os reformistas no governo, na implementação de um
programa de combate à corrupção. Diz respeito ao combate do capital
investido de uma elite econômica que influencia indebitamente, até mesmo
compra, as políticas, as regulamentações e leis do Estado.
Este livro abre um debate, por focalizar essas dimensões institucionais
e políticas, e por fazê-lo com propriedade e parceria do país entre partici-
pantes do processo de desenvolvimento. Investir no povo, sustentando
recursos naturais, administrando riscos e melhorando o governo, evidente-
mente são dimensões que suprem o crescimento qualitativo. É mais deste
crescimento que pode promover maior redução da pobreza, desenvolvimen-
to sustentável ambiental e social, e uma melhor qualidade de vida compar-
tilhada por todos.

James D. Wolfensohn
Presidente
do World Bank Group

XV
PREFÁCIO

A década de 1990 – no fim de um século e de um milênio – foi


um período de inventário sobre o desenvolvimento. Os estu-
dos reexaminaram e estabeleceram alguns dos pontos de
vista centrais do desenvolvimento. O crescimento econômico
sustentado surgiu sem dano como sendo fundamental para a redução da
pobreza. E o registro do desenvolvimento confirmou a eficácia de algumas
reformas para o crescimento sustentado, tanto em países em desenvolvi-
mento como nos industrializados: investindo mais – e de modo mais efi-
ciente – na educação e na saúde, reduzindo as barreiras ao comércio e ao
investimento, desmantelando controle de preços domésticos na agricultura
e na indústria e reduzindo déficits fiscais. Nem as altas nem as baixas
econômicas da década de 1990 questionaram estes relacionamentos.
As taxas também deixaram a descoberto algumas brechas cruciais.
Carente de ação política do país, assim como do conselho, das condições e
do financiamento de entidades externas, tem havido falta de atenção ade-
quada à qualidade de sustentabilidade do crescimento. Sem isso, o poten-
cial real das reformas não pode ser realizado.
E as taxas realçaram algumas mudanças profundas no desenvolvimen-
to, repensando os últimos cinqüenta anos, assim como nosso entendimen-
to dos processos de desenvolvimento amadureceu, delineado pela expe-
riência. Não que as interpretações tivessem sido inteiramente uniformes.
Por exemplo, alguns entenderam o “Washington Consensus” somente
como uma prescrição política para a liberalização dos mercados. Outros
aceitaram a conhecida interpretação da abordagem das boas condições de
mercado do World Development Report 1991 como um mercado a vista,
ambos envolvendo liberalização e um papel positivo e forte para o Estado
e outros investidores.
Deixando de lado as diferentes interpretações, as taxas mostram um
consenso emergente em algumas lições-chave sobre complementaridade e
equilíbrio entre políticas e instituições. Mercados atuantes e liberalização

XVII
P R E F Á C I O

são cruciais. Mas isto é reconhecer os limites do mercado e um papel essen-


cial para os governos e outros investidores no processo de reforma.
Algumas vezes expectativas baseadas na experiência têm surgido, e ou-
tras não. Discussões anteriores previram o sucesso de países com tais
riquezas naturais, como Myanmar, Filipinas e outros na África, e a falência
de economias pobres em recursos naturais, como a República da Coréia ou
Cingapura. As expectativas de desenvolvimento rápido por meio da liberali-
zação do mercado nas economias de transição falharam em materializar-se.
E, na década de 1980, a redução da produtividade nas economias industriais
norte-americana e européia, contrastando com o sucesso evidente do Japão,
solicita rápidas mudanças no paradigma de crescimento.
Às vezes a realidade não corresponde às expectativas, porque as mu-
danças nas circunstâncias globais locais neutralizaram o impacto das ações
e forçaram os governos a rever as prioridades. “As indústrias pesadas
primeiro” parecia o melhor caminho para avançar na virada do século XIX;
a informação tecnológica parece ser a chave do sucesso na virada do século
XX. E enquanto os mercados eram liberalizados nas décadas recentes, algu-
mas vezes os resultados frustrantes mostraram a importância da edificação
institucional para fazer esses mercados funcionarem.
Apresentamos este livro com o espírito de investigação contínua e reali-
mentação na estruturação do pensamento desenvolvimentista. Ele dirige-se
aos políticos, aos profissionais e outros, tanto nos países em desenvolvi-
mento como nos industrializados. Isto reafirma a contribuição crucial de
política para as boas condições de mercado. Assim como salienta a carência
de ingredientes-chave e nova evidência. O livro apresenta não uma revisão
completa do desenvolvimento, mas o exame de questões vitais que são fre-
qüentemente descuidadas como uma base para a ação: distribuição de opor-
tunidades, especialmente a educação; sustentabilidade ambiental; gerencia-
mento de riscos; governo e combate à corrupção. Ele não levanta alguns fa-
tores importantes como a economia política da mudança, a influência da ins-
tabilidade social, a conseqüência de doenças transmissíveis como HIV/Aids,
ou o impacto de questões globais e alfandegárias – pressões populares,
migração trabalhista, aquecimento global, tecnologia da informação e arqui-
tetura global financeira e de negócios. Sua conclusão é de que o crescimento
é crucial, assim como a qualidade do crescimento.
O trabalho para a elaboração deste livro contou com a participação de
uma equipe do Instituto do Banco Mundial e com a dotação de pesquisa do
Banco Mundial. Tratou-se de uma contribuição para o material de ensino
para um curso sobre desenvolvimento, e de fundamento para o World
Development Report 1999/2000: Entering the 21st Century e o World Development
Report 2000/2001: Attacking Poverty. Foi inspirado por uma diretriz jornalís-
tica e discussão por Stanley Fischer na Annual World Bank Conference on
Development Economics de 1998. A equipe beneficiou-se de comentários de
muitas pessoas, dentro e fora do Banco Mundial. Agradecimentos especiais

XVIII
P R E F Á C I O

são devidos àqueles que ofereceram sugestões para o desenvolvimento do


livro. Isto inclui Nancy Birdsall, Paul Collier, Eduardo Doryan, Ravi Kanbur,
Mats Karlsson, Gautam Kaji, Rung Kaewdang, Vijay Kelkar, Mohsin Khan,
Aart Kray, Nora Lustig, Rakesh Mohan, Mohamed Muhsin, Robert Picciotto,
Jan Piercy, Jo Ritzen, Lyn Squire, T. N. Srinivasan, Nicholas Stern, Thomas
Sterner, Joseph Stiglitz, Anand Swamy, Shahid Yusuf, Shengman Zhang, e
a equipe do World Development Report 2000/2001.
A equipe agradece aos que se seguem por suas entradas para o volume:
Montek Ahluwahlia, Jane Armitage, Kaushik Basu, Surjit Bhalla, Jan Bojo,
Deepak Bhattasali, Gerard Caprio, Shaohua Chen, Kevin Cleaver, Maureen
Cropper, Monica Dasgupta, Shanta Devarajan, Ishac Diwan, David Dollar,
William Easterly, Gershon Feder, Andrew Feltenstein, Deon Filmer, Pablo
Guerrero, Cielito Habito, Kirk Hamilton, Jeffrey Hammer, Joseph Ingram,
Farrukh Iqbal, Ramachandra Jammi, Emmanuel Jimenez, Mary Judd, Philip
E. Keefer, Homi Kharas, Elizabeth M. King, Kathie Krumm, Ashok Lahiri,
Kyung Tae Lee, Andres Liebenthal, Magda Lovei, Muthukumara Mani,
Michele de Nevers, David Nepomuceno, Jostein Nygard, Michael Pomerleano,
Tanaporn Poshyananda, Lant Pritchett, Martin Ravallion, David Reed, Neil
Roger, William Shaw, Mary Shirley, Ammar Siamwalla, Hadi Soesastro,
T. G. Srinivasan, Tara Vishwanath, Christina Wood, Michael Woolcock,
Roberto Zagha, além de discutidores e participantes nos seminários no
Fundo Monetário Internacional/Encontros Anuais do Banco Mundial,
Conselho Nacional de Pesquisa de Economia Aplicada (Índia), Fórum
de Desenvolvimento Asiático (Cingapura), Instituto de Pesquisa de Desen-
volvimento da Tailândia, assim como uma apresentação numa conferência
sobre reformas do Fundo Monetário Internacional. Várias unidades do Banco
Mundial revisaram o manuscrito.

XIX
A EQUIPE DO RELATO

E sta obra foi elaborada por uma equipe do Instituto do Banco


Mundial liderada por Vinod Thomas e incluindo Mansoor
Dailami (Capítulo 5), Ashok Dhareshwar (Capítulo 1), Daniel
Kaufmann (Capítulo 6), Nalin Kishor (Capítulo 4), Ramón E.
López (Capítulo 2), e Yan Wang (Capítulo 3 e gerente de tarefa). A equipe
foi auxiliada em sua pesquisa por Cary Anne Cadman, Xibo Fan e John Van
Dyck. Ofereceram apoio: Taji Anderson, Alice Faria e Jae Shin Yang.
Bruce Ross-Larson e Meta de Coquereaumont, do Comunications
Development Incorporated and International Communications, Inc. (ICI)
de Sterling, Virgínia, editaram o manuscrito em diferentes estágios. A ICI
também providenciou a digitação e a leitura das provas. Desenvolvimento
do produto, projeto, edição, produção e disseminação foram dirigidos e
administrados pelo escritório do editor do Banco Mundial.

XXI
VISÃO GERAL

A última década do século XX conheceu grandes progressos em


algumas partes do mundo. Mas conheceu também estagnação
e reveses, até mesmo nos países que haviam alcançado ante-
riormente as mais rápidas taxas de crescimento econômico.
Essas diferenças intervalares e inversões agudas ensinam-nos muito sobre
o que contribui para o desenvolvimento. No centro situa-se o crescimento
econômico, não apenas seu andamento, mas – tão importante – também sua
qualidade. Tanto as fontes como os padrões da forma de crescimento deli-
neiam os resultados do desenvolvimento.
Será que aqueles padrões foram adequados para reduzir rapidamente a
pobreza ou melhorar a qualidade de vida das pessoas? Por que tão poucos
países mantiveram grandes taxas de crescimento durante períodos prolon-
gados? Por que algumas dimensões cruciais – igualdade de renda, proteção
ambiental – se deterioraram em tantas economias, ambas crescendo rápida
e lentamente? Como o governo sustenta o processo de crescimento? Como
respostas, oferecemos três princípios de desenvolvimento em um conjunto
de ações, para acentuar a qualidade dos processos de crescimento.

Resultados de Desenvolvimento
e Processos de Crescimento

O desenvolvimento está prestes a melhorar a qualidade de vida das pes-


soas, expandindo sua capacidade de delinear seus próprios futuros. Isto
geralmente requer uma maior renda per capita, mas, ao mesmo tempo, colo-
ca em jogo muito mais. Põe em jogo educação mais eqüitativa e oportuni-
dades de emprego. Maior igualdade de gênero. Melhor saúde e nutrição. Um
meio ambiente mais limpo, mais sustentável. Um sistema judicial e legal
imparcial. Liberdades civis e políticas mais amplas. Uma vida cultural mais
rica. Enquanto a renda per capita de alguns cresceu, muitos destes aspectos

XXIII
V I S Ã O G E R A L

melhoram em diferentes graus – mas outros não. Como os processos de


crescimento podem ser influenciados de maneira que as dimensões qualita-
tivas de desenvolvimento resultem também em melhoria? Este livro explo-
ra essas questões de crescimento mais rápido e melhor.
Um estudo recente, Voices of the Poor: Can Anyone Hear Us? (Narayan et
al., 2000), indica que os resultados crescentes são uma parte da redução da
pobreza. Maior segurança na vida e um meio ambiente mais sustentável são
outros. A experiência das décadas passadas e as vozes dos pobres fornecem
razões obrigatórias para enfatizar esses fatores qualitativos.
De fato, da Bolívia, Egito e Uganda para Romênia, Sri Lanka e Tailândia,
a comunidade de desenvolvimento está ampliando a definição tradicional de
pobreza e bem-estar. Além de uma renda contada de forma individual ou
familiar, o bem-estar inclui oportunidade, enquanto taxada pelo funciona-
mento do mercado e dos investimentos e melhorias na saúde e educação.
Inclui segurança, como refletida por reduzida vulnerabilidade econômica e
choques físicos. Inclui permissão, como avaliada pela inclusão social e a voz
dos indivíduos. E inclui sustentabilidade, como representada pela proteção
do meio ambiente, recursos naturais e biodiversidade.
O crescimento econômico tem sido associado positivamente com a
redução da pobreza. As taxas antecipadas projetaram uma taxa de cresci-
mento para o mundo em desenvolvimento, para a década de 1990, de um
pouco acima de 5%, ou quase 3,2% per capita. Projetaram uma redução no
número de pobres de mais ou menos trezentos milhões, ou uma taxa anual
de declínio de quase 4%. Mas o crescimento real durante 1991-1998 foi de
quase metade desse percentual, ou seja, de 1,6% per capita. Se os países da
Europa oriental e da Ásia central forem excluídos dessas estimativas (como
nas projeções posteriormente mencionadas), o crescimento per capita real
está mais perto do crescimento projetado, de 3,5% – com o número dos
pobres inalterado e a incidência de pobreza abaixo de 2% ao ano (World
Bank, 2000a).
A redução da pobreza associada ao crescimento tem variado amplamente,
assim como variaram o progresso social e as melhorias de bem-estar, tanto na
educação, na saúde, como em voz ou participação (Capítulo 1). Onde o cresci-
mento estagnou ou declinou, as dimensões sociais e de bem-estar deterio-
raram-se. A medida amplamente diferenciadora na qual o crescimento con-
tribui para melhorias no bem-estar significa que deve haver uma relação dire-
ta para avanços sustentáveis no bem-estar. Significa, também, que o modo pelo
qual o crescimento é gerado é muito importante. A qualidade do processo de
crescimento, não apenas seu andamento, afeta os resultados do desenvolvi-
mento – tanto quanto a qualidade da dieta do povo, não apenas a quantidade
de comida, influencia a saúde e a expectativa de vida; por isso, é essencial
explorar as complexas interações dos fatores que delineiam o crescimento.
O andamento do crescimento tem sido mais sustentável nos países em
desenvolvimento e industrializados, que se preocupam com os atributos

XXIV
V I S Ã O G E R A L

qualitativos do processo de crescimento. De fato, há um relacionamento de


mão dupla entre o crescimento econômico e as melhorias nas dimensões
sociais e ambientais. A atenção à sustentabilidade do meio ambiente, por
exemplo, ajuda a alcançar um crescimento mais sustentado, especialmente
onde as taxas de crescimento são altamente variáveis e os impactos nega-
tivos são particularmente acentuados para o pobre. Isto sugere um prêmio
para taxas de crescimento firmes, acima do crescimento intermitente,
mesmo que a iniciativa inclua pequenos períodos de crescimento rápido.
Quando os países esgotam as possibilidades de aumento de crescimento
mediante reformas de mercado, os fatores qualitativos que sustentam o
crescimento a longo prazo tornam-se muito mais importantes.
As dimensões do processo de crescimento interagem freqüente e posi-
tivamente em um círculo vicioso. Mas pode haver também alguns inter-
câmbios difíceis entre quantidade e qualidade. Rapidamente, o cresci-
mento temporário, apoiando-se em políticas tão distorcidas como subsí-
dios ao capital, desprezo às externalidades ambientais e gastos públicos
oblíquos, pode realmente diminuir prospectos para um crescimento mais
sustentado. Ainda mais difíceis de corrigir são as situações nas quais o
crescimento conflita com sustentabilidade ambiental e social, já que
ambas contribuem diretamente para o desenvolvimento. Gerenciar esses
aspectos qualitativos torna-se essencial para atingir melhorias susten-
táveis de bem-estar.
Então, o que é a qualidade de crescimento? Complementar o anda-
mento do crescimento refere se a aspectos-chave que delineiam o proces-
so de crescimento. As experiências do país revelam a importância de
vários destes aspectos: a distribuição das oportunidades, a sustentabili-
dade do meio ambiente, o gerenciamento dos riscos globais e o governo.
Estes aspectos não apenas contribuem diretamente para os resultados
desenvolvimentistas. Eles também acrescem ao impacto que o crescimen-
to tem sobre estes resultados, e dirigem os conflitos que o crescimento
pode colocar à sustentabilidade ambiental ou social. É a mistura dessas
políticas e instituições que delineia o processo de crescimento, o principal
foco deste estudo.

Princípios de Desenvolvimento

Observando os lados quantitativo e qualitativo do processo de cresci-


mento conjuntamente, coloca-se o foco em três princípios-chave para os
países em desenvolvimento e industrializados:

• foco sobre todos os valores: capitais físico, humano e natural;


• atender aos aspectos distributivos no decorrer do tempo;
• enfatizar a estrutura institucional para o bom governo.

XXV
V I S Ã O G E R A L

Os Principais Valores

De modo geral, os valores que importam para o desenvolvimento são


capital físico, capital humano e capital natural. O progresso tecnológico
afeto ao uso desses valores é igualmente importante. Para taxas aceleradas
de crescimento, tem-se dado tradicionalmente grande atenção à acumulação
de capital físico. Mas outros valores-chave merecem atenção – tanto ao capi-
tal humano (e social) quanto ao capital natural (ambiental) (Quadro 1).
Esses valores são igualmente cruciais para os pobres, e sua acumulação,
progresso tecnológico e produtividade, juntamente com capital físico, deter-
minam o impacto a longo prazo sobre a pobreza.
Focalizando predominantemente o capital físico, os países industriais e
em desenvolvimento podem ser tentados a implementar políticas que o
subsidiem a um custo (Capítulo 2), o que pode criar uma situação que be-
neficie interesses de capital – sendo difícil conseguir reverter tal situação.
Enquanto isso, do ponto de vista social, há subinvestimento na educação e
na saúde (Capítulo 3) e superexploração do capital natural, freqüentemente
em decorrência de sua depreciação ou fracos direitos de propriedade (Capí-
tulo 4). Num nível agregado (bruto), subsídios para agricultura, energia,
transporte rodoviário e aquático, somados a uma estimativa de US$ 700 bi-
lhões para US$ 900 bilhões no início da década de 1990, sendo quase dois
terços nos países industrializados e um terço nos países em desenvolvi-
mento (De Moor & Calamai, 1997).
Sustentar uma relativa dependência da acumulação do capital físico
poderia requerer distorções contínuas. Enquanto o capital físico se apro-
funda mantendo sua taxa de retorno, poderia requerer amplos subsídios
públicos, por exemplo, para atrair capital estrangeiro. Além disso, o cresci-
mento acelerado mediante políticas que conduzem à superexploração de
florestas e de outros bens naturais esgota o capital natural e fere a sus-
tentabilidade ambiental. Em 1997, a poupança bruta interna era mais ou
menos 25% do Produto Interno Bruto (PIB) entre os países em desenvolvi-
mento. Contudo, corrigidas pelo esgotamento do capital ambiental, as pou-
panças domésticas familiares genuínas eram apenas uma estimativa de 14%
do PIB. Isso inclui o caso da Nigéria, com poupanças familiares brutas de
22% mas poupanças genuínas negativas de 12%, e a Federação Russa, com
taxas 25% e negativa de 1,6% (World Bank, 1999d).
Uma abordagem menos distorcida (mais neutra ou equilibrada) para a
acumulação dos três tipos de bens é preferível. As políticas podem contri-
buir para a acumulação destes bens. Investimentos na educação em todos
os níveis, enquanto ajudam a gerar crescimento, também contribuem para
a acumulação de capital humano e bem-estar. Investir no capital natural é
essencial para a saúde humana e, para a grande quantidade de pessoas
pobres, que dependem dos recursos naturais para sua sobrevivência, para
a segurança econômica (Capítulo 4). Tão importante quanto a acumulação

XXVI
V I S Ã O G E R A L

Quadro 1 – Acumulação de Bens, Crescimento e Bem-Estar

A Figura 1 desenha um simples esquema de como • Capital humano, promovendo tais áreas favoreci-
o capital humano (H), o capital natural (R) e o capi- das como a militar e ampla infra-estrutura e me-
tal físico (K) contribuem para o crescimento eco- diante a relação regressiva de gastos públicos.
nômico e o bem-estar. O capital físico contribui para • Capital natural, solapando taxas, royalties e regu-
o bem-estar por meio do crescimento econômico. O lações que poderiam sustentar os recursos naturais.
capital humano (e social) e natural (e ambiental)
Distorções, falências de mercado, implícitas garantias
fazem-no de modo similar, e são igualmente compo-
governamentais e regulação inadequada podem provocar:
nentes diretos do bem-estar.
O capital humano e o natural também contribuem • Superinvestimento ou investimento devastador
para a acumulação de capital físico ao aumentar seus no capital físico, pelo aumento do aproveitamen-
retornos. O capital físico aumenta os retornos do ca- to de determinados bens físicos mediante garan-
pital humano e do capital natural e, se os mercados tias – que influenciam a aceitação de comporta-
os refletirem, sua acumulação. Acrescentando a tudo mento de risco pelos bancos, corporações e
isso investimentos em capital físico, humano e natu- investidores –, e baixando o valor de determina-
ral, juntamente com muitas políticas reformadoras, dos recursos naturais.
contribuem para o progresso tecnológico e o cresci- • Subinvestimento nos recursos humanos e natu-
mento do fator total de produtividade, aumentando, rais, depreciando estes bens e reduzindo os re-
desse modo, o crescimento (Capítulo 2). cursos devotados a eles.
Mas distorções políticas, corrupção, mau governo,
Os efeitos dessas políticas distorcidas na acumu-
falências de mercado e externalidades podem colocar
lação do capital humano e natural, relativo ao capital
os países em um caminho de acumulação de bens dis-
físico, podem reduzir o crescimento e o bem-estar. Ao
torcido e desequilibrado. Esta situação pode assegu-
contrário, se a corrupção for controlada e o governo
rar um crescimento de renda e melhorias de bem-
for adequado, políticas não distorcidas poderiam ele-
estar abaixo de seu potencial. Mais especificamente,
var a acumulação de bens, contribuindo para o cresci-
pode conduzir a um fator total de produtividade infe-
mento de maneira mais rápida (Capítulo 6). Assim,
rior e subinvestimentos em:
ao remover distorções políticas, fomentando bom
• Capital físico produtivo, reduzindo o aproveita- governo e edificando falências de mercado e externa-
mento do investimento por meio de propinas e lidades, os países podem realizar investimentos de
burocracia ou distorcendo a alocação de investi- bens menos distorcidos, mais equilibrados. E isto po-
mentos físicos – ou seja, rumo a determinados de conduzir a um crescimento mais estável e susten-
contratos lucrativos. tado e a amplos aumentos em bem-estar.

Figura 1 – Uma Estrutura


H
(Capital
humano)

TFP

Equilibrando o mau governo e a corrupção K


Reduzindo distorções favorecendo K (Capital Crescimento Bem-Estar
Corrigindo falhas do mercado ferindo H, R físico)
Fortalecer regulamentação

TFP

R
(Capital
natural)

FTP – Fator Total de Produtividade


Fonte: Autores.

XXVII
V I S Ã O G E R A L

destes bens é seu uso de forma eficiente. Para isso – e para um fator
de produtividade maior desses valores –, bom governo, mitigação da in-
fluência indevida dos interesses da elite e ações de combate à corrupção
são vitais.

Aspectos Distributivos

Este foco sobre a qualidade traz à luz a importância dos aspectos


distributivos para o processo de crescimento. Uma distribuição mais eqüi-
tativa do capital humano, da terra e de outros bens produtivos implica
uma distribuição mais eqüitativa de remuneração, acentuando a capaci-
dade de pessoas tirarem proveito das tecnologias e gerarem resultados.
É por isso que uma determinada taxa de crescimento está provavelmen-
te para ser associada com melhores resultados da pobreza, nos cenários
onde as oportunidades educacionais são distribuídas mais eqüitativamente
(Capítulo 3).
É provável que a estabilidade nos resultados de crescimento ao longo do
tempo seja igualmente importante. Os resultados dos pobres podem ser
muito sensíveis a ciclos e crises, especialmente porque os pobres são ca-
rentes de bens – terra, habilidades e poupanças financeiras – para aliviar seu
consumo em maus tempos. Vivendo pouco acima da linha de pobreza, mi-
lhões de quase-pobres foram lançados de volta à pobreza em decorrência de
choques externos. Assim, para o crescimento reduzir a pobreza, ele precisa
não apenas ser, de forma habitual, relativamente estável, como seus benefí-
cios serem amplamente distribuídos.
O que dizer, então, dos ganhos de renda esperados da globalização na
década de 1990? Estes começaram a materializar-se, mas não em todos os
lugares. Uma das razões para isso é a inadequação de estruturas regulado-
ras e supervisoras, ambas nos níveis nacional e global, e a carência geral de
preparo para participar da economia global. Outra razão refere-se à volati-
lidade, às vezes relacionada ao risco moral e às respostas de jogadores exter-
nos. Um terceiro motivo se deve ao fato de que, por algumas estimativas,
os resultados na última década, ou quase, tornaram-se mais desiguais.
Então, objetivos da política desenvolvimentista incluem a redução não ape-
nas da desigualdade de oportunidades, mas também a desigualdade e a
volatilidade de resultados de crescimento. Nisso, é importante acentuar o
gerenciamento do risco financeiro e reduzir a sensibilidade do povo pobre
para mudar fortunas econômicas (Capítulo 5).

A Estrutura de Governo

As estruturas institucionais de bom governo escoram tudo o que foi

XXVIII
V I S Ã O G E R A L

feito para aumentar o crescimento. O funcionamento efetivo das burocra-


cias, estruturas reguladoras, liberdades civis e instituições responsáveis e
transparentes, para assegurar a regra do direito e as questões de partici-
pação para crescimento e desenvolvimento. Os efeitos do governo pobre,
os entraves burocráticos e a corrupção são regressivos e danosos para o
crescimento sustentado. A captação de políticas estatais, leis e recursos
pelos interesses da elite freqüentemente desvia incentivos e gastos públi-
cos em direção a bens socialmente menos produtivos, erodindo os benefí-
cios que iriam para a sociedade, e, conseqüentemente, reduzindo o impac-
to sobre o bem-estar. Estimativas do “dividendo desenvolvimentista” na
forma de rendas maiores ou melhores resultados sociais são dramáticas,
partindo de baixos níveis de regra de direito ou altos níveis de corrupção
para até mesmo níveis médios (uma diferença nos níveis de corrupção de
apenas um desvio-padrão pode ser associada a enormes diferenças no
impacto desenvolvimentista). Logo, investir na capacidade para um melhor
governo é a principal prioridade para uma melhor performance econômica
(Capítulo 6).
Uma sociedade civil vibrante – autorizada pelas ferramentas de com-
putação da Internet, diagnostica técnicas de estudo e a última informação
sobre o governo – é indispensável na luta contra a corrupção e outras for-
mas de mau governo. As liberdades civis não são ligadas apenas positiva-
mente ao governo melhorado, corrupção reduzida e produtividade aumen-
tada dos investimentos públicos, mas também contribuem diretamente
para o bem-estar. De fato, a atenção deveria ir além de obter o lado direi-
to governamental da equação. Também é necessário acentuar os direitos
civis e dar maior voz a grupos diferentes, promover empresas competiti-
vas e complementar de cima a baixo as reformas políticas governamentais
com uma formulação de baixo para cima e implementação de estratégias
de desenvolvimento.

Ações Negligenciadas
no Processo de Crescimento

Agora que vemos o processo de desenvolvimento com maior ampli-


tude, há freqüentemente atenção inadequada, especialmente numa crise, a
dois ou três valores em que o pobre se baseia: capital humano e capital na-
tural. Esta negligência, por sua vez, parece levar à negligência de algumas
ações-chave:

• melhorar a distribuição de oportunidades;


• sustentar o capital natural;
• lidar com riscos financeiros globais;
• melhorar o governo e controlar a corrupção.

XXIX
V I S Ã O G E R A L

Equilibrá-los contribui não apenas para a acumulação de bens, mas igual-


mente para o progresso tecnológico e maior fator total de produtividade.

Melhorando a Distribuição de Oportunidades

O principal bem dos pobres é seu capital humano. Das 85 economias


examinadas, a Polônia e os Estados Unidos (estimados para ter a mais alta
média de anos de escolaridade) possuem a distribuição mais eqüitativa de con-
clusão educacional entre pessoas na força de trabalho. E a República da Coréia
registrou uma das mais amplas melhorias na igualdade educacional durante as
três últimas décadas. Mas a desigualdade na educação continua vacilante,
como acontece na Argélia, na Índia, no Mali, no Paquistão e na Tunísia.
A relação de qualquer taxa de crescimento dada para a redução da
pobreza depende dos investimentos no povo. Quanto mais eqüitativos os
investimentos, maior o impacto do crescimento para baixar a incidência de
pobreza, como observado numa comparação dos efeitos do crescimento
sobre a pobreza através dos estados indianos (Ravallion & Datt, 1999). Se as
habilidades do povo são normalmente distribuídas entre a população, a
tendência de distribuição dos resultados de educação e saúde poderia pare-
cer representar especialmente amplas perdas de bem-estar para a sociedade,
enquanto uma significativa proporção de pessoas é desprovida de oportu-
nidades para utilizar novas tecnologias e elevar-se acima da linha de pobreza.
Uma revisão do desperdício educacional em 35 países descobre que ele
deve ser francamente relacionado com a conclusão educacional depois do
controle para rendas. Na saúde, os Estados Unidos, com o mais alto índice
de gasto per capita em saúde, estão no 37° lugar entre 191 países, numa
medida da performance do sistema geral de saúde. A França, com menos de
60% dos gastos per capita em saúde, está em primeiro lugar. A Colômbia,
que está muito abaixo disto em gasto per capita em saúde, está em primeiro
lugar na categoria de justiça da contribuição social (WHO, 2000). Assim,
gastar nos serviços de educação e saúde não é o bastante. É preciso, tam-
bém, atenção com a amplitude e profundidade do capital humano – sua
qualidade e sua eqüidade, medida pela educação feminina, acesso para os
pobres e grau de escolaridade.
Os governos precisam realocar os gastos públicos para a educação bási-
ca, para garantir sua distribuição qualitativa e igualitária. Sociedades públi-
co-privadas precisam ser encorajadas mediante políticas baseadas no mer-
cado, para aumentar os esforços em promover a educação em todos os
níveis, inclusive a educação superior. Precisa-se também de políticas de
mercado de trabalho patrocinadas e políticas de proteção social. Além
disso, o capital humano dos pobres pode ser mais bem aplicado apruman-
do a distribuição da terra e perseguindo estratégias de trabalho intensivo
num meio ambiente global e aberto (Capítulo 3).

XXX
V I S Ã O G E R A L

Sustentando o Capital Natural

A degradação ambiental piorou agudamente, em decorrência, entre ou-


tros, do crescimento populacional, das pressões domésticas e globais sobre
recursos escassos, das políticas econômicas, como, por exemplo, subsídios
que ignoram conseqüências ambientais, e da negligência das propriedades
públicas globais e locais. Os custos da poluição ambiental e da superexplo-
ração de recursos são enormes; as perdas, em muitos casos, são irrever-
síveis. Os incêndios nas florestas da Indonésia – resultado da política
humana e de fatores naturais – produziram algo em torno de US$ 4 bilhões
em perdas diretas em 1997 e novamente em 1998, com dano extensivo às
nações vizinhas. E são os pobres, devido à sua relação com o capital natu-
ral, como terra, florestas, minerais e biodiversidade, que sofrem despropor-
cionalmente com a degradação do meio ambiente.
Poucos países enfrentaram adequadamente as causas subjacentes da
degradação ambiental e de recursos – as distorções políticas, falências de
mercado e falta de conhecimento sobre a totalidade dos benefícios da pro-
teção ambiental e conservação de recursos. Crescimento e rendas mais altas
podem criar condições para promover a melhoria ambiental, aumentando a
demanda por uma melhor qualidade ambiental e tornando disponíveis os
recursos para preencher essa demanda. Entretanto, apenas uma forte com-
binação de incentivos baseados no mercado doméstico e global, investi-
mentos e instituições pode tornar o crescimento ambientalmente sustenta-
do, uma realidade com os exemplos vindos da China, da Costa Rica, da
Indonésia e de muitos outros países europeus (Capítulo 4).

Lidar com Riscos Financeiros Globais

A integração financeira global possui amplos benefícios, mas também


torna os países mais vulneráveis a riscos ocultos e a desequilíbrios repenti-
nos no sentimento do investidor. Os fluxos voláteis do capital privado pare-
cem estar associados com taxas de crescimento voláteis, que atingem espe-
cialmente o pobre, a quem faltam os bens para suportar uma tempestade
econômica. Para lidar melhor com tais riscos, os países precisam manter
macropolíticas sólidas. Precisam, igualmente, aprofundar os mercados
financeiros domésticos, fortalecer a regulação doméstica e a supervisão
financeira, introduzir mecanismos de governos corporativos e prover redes
de segurança social.
Para tudo isso precisam de instituições sólidas e capacitações fortes, que
levam tempo para ser cultivadas. Desenvolvendo-as, enquanto abrem um
mercado de capital do país, podem ajudar a lidar com os riscos para o sis-
tema financeiro e a economia. Nesse ínterim, enquanto os governos abrem
suas contas de capital, podem considerar um espectro de ações como na Ar-

XXXI
V I S Ã O G E R A L

gentina, no Chile, no México, e assim por diante. Um deve evitar incentivos


especiais para fluxos de curto prazo. Outro deve estabelecer reserva de
exigência e taxas para fluxos de risco a curto prazo. Ainda outro deve for-
talecer a regulamentação e a supervisão prudenciais. A coordenação da
política internacional e a atividade de emprestador de últimos recursos
podem prover liquidez e assistência financeira de emergência (Capítulo 5).

Melhorar o Governo e Controlar a Corrupção

O governo precisa mover-se para o centro do palco em estratégias de


construção institucional. Isso requer melhor análise e medida das dimen-
sões de governo e uma compreensão mais clara do capital investido de gru-
pos poderosos. Onde as estruturas legais e judiciais são fracas e o capital
investido ultrapassou a atuação política do Estado e os aparatos de alocação
de recursos, o custo social pode ser enorme. Neste caso, a edificação insti-
tucional necessária para intervenções desenvolvimentistas efetivas pode ser
extensiva, garantindo uma abordagem ativa.
A participação e a voz seriam vitais para aumentar a transparência,
fornecer as checagens e os balanços necessários, opondo-se à tomada do
Estado pela elite. O comprometimento da sociedade civil no processo par-
ticipativo e transparente, com reformistas no Executivo, Legislativo e
Judiciário e setores privados, pode fazer a diferença entre um Estado bem
governado e outro mal governado, entre uma sociedade estagnada e uma
próspera. Uma compreensão rigorosa de governo precisaria ser apoiada por
novas tecnologias (como na Albânia, na Bolívia, na Geórgia, na Latíbia e em
muitos países africanos).
Criar clima para um desenvolvimento bem-sucedido requer, então, uma
abordagem integrada, ligando elementos econômicos institucionais legais e
participativos: edificar instituições transparentes e efetivas para orçar os
programas de investimento público (como na Austrália, na Nova Zelândia e
no Reino Unido), como componentes para políticas macroeconômicas; esta-
belecer uma administração pública baseada no mérito (como na Malásia, em
Cingapura e na Tailândia) e em costumes honestos e eficientes e nas agên-
cias de licitação, bem como promover as liberdades civis e a participação
popular (Capítulo 6).

Substituir Prioridades

Por que focalizar a qualidade quando a marcha do crescimento é lenta


em muitas partes do mundo? O crescimento tem sido modesto em muitos
países – mais ou menos de 1,6% per capita para países de baixa e média ren-
das desde a década de 1980, e mais baixa ainda quando a China e a Índia

XXXII
V I S Ã O G E R A L

são excluídas. Alguns países também estão passando ou saindo de crises


financeiras. Nessas circunstâncias, a questão não é de qualidade ou quan-
tidade. Ambas são essenciais e ambas estão envolvidas numa relação de
mão dupla.
A troca relativa nas prioridades poderia acelerar a marcha do cresci-
mento a longo prazo. Investimentos no capital humano – educação, cuida-
dos com a saúde e políticas populacionais – podem melhorar diretamente a
qualidade de vida. Podem igualmente melhorar incentivos de investimento
mediante o efeito de uma força de produtividade de capital mais saudável e
mais educada. Assim, trocando a ênfase mais em direção ao capital humano,
poderia promover um crescimento mais rápido a longo prazo. O ponto-
chave? Um foco sobre a qualidade de resultados poderia ajudar a sustentar
um crescimento mais rápido.
Equilibrar as dimensões qualitativas que contribuem para a marcha do
crescimento pode, em troca, acentuar diretamente o bem-estar. Por exem-
plo, menos poluição da água e do ar, ou menos degradação dos recursos na-
turais, somados à contribuição para o crescimento, acentuam diretamente o
bem-estar, melhorando a saúde ou fornecendo maiores oportunidades de
renda e consumo.
Este livro mostra que alguns processos e políticas em países em desen-
volvimento ou industrializados geram crescimento econômico com maior
igualdade do desenvolvimento humano, sustentabilidade do meio ambiente
e transparência das estruturas governamentais – enquanto outros não. Além
do mais, provavelmente uma seqüência de ações pode ser efetiva – se libe-
ralizar primeiro e regular depois, privatizar primeiro e assegurar a com-
petição depois, crescer primeiro e limpar mais tarde, ou crescer primeiro e
fornecer liberdades civis depois. Para fazer o máximo para o crescimento a
longo prazo, a liberalização, por exemplo, precisa andar junto com ações
reguladoras, gerenciamento ambiental e medidas de combate à corrupção.

Definir a Troca

As ações que enfocam a qualidade do crescimento precisam ser parte


central do pacote político, não adendos a uma agenda já lotada. Isso signifi-
ca que os investidores terão de aumentar as ações pelos governos, trocando
a ênfase para:

• Acumulação de bens e utilização, reduzindo distorções políticas, por


exemplo, aquelas que subsidiam o capital físico, ao mesmo tempo
que complementem mercados ao valorizar recursos naturais e
investindo adequadamente nos recursos humanos. A implicação é
para assegurar um crescimento sustentável de base ampla, não para
crescimento lento.

XXXIII
V I S Ã O G E R A L

• Estruturas reguladoras, construindo estruturas reguladoras para a com-


petição e eficiência para acompanhar a liberalização e privatização e
dando maior atenção a reformas legais e judiciais, e, ao mesmo
tempo, assegurando a estabilidade macroeconômica. A implicação é
tomar ações reguladoras de suporte, juntamente com a liberalização,
não para a liberalização lenta.
• Bom governo, alimentando as liberdades civis, processos participativos
e responsabilidade nas instituições públicas, promovendo esforços de
combate à corrupção; e envolvendo ativamente o setor privado para
reduzir a influência do capital investido, enquanto certifica a capaci-
dade para mudanças políticas. A implicação é aumentar a atenção
para o edifício de coalizão na sociedade civil, não para depreciar a
política governamental e sua capacidade de construção.

Fazer a Troca – Agora

Como pode ser financiado mais e melhor o investimento no povo e no


capital natural? De várias maneiras. Primeiro, melhorar o governo, reduzir
a busca por aluguéis e corrupção e encorajar uma responsabilidade corpo-
rativa maior pode aumentar as poupanças nacionais. Segundo, aumentar os
preços para a utilização dos recursos naturais e taxar tais externalidades,
como a poluição, pode disponibilizar recursos para o desenvolvimento.
Terceiro, reduzir as distorções que favorecem o capital físico pode ser bené-
fico – assim como com muitas das experiências na remoção das distorções.
Pode permitir uma realocação das poupanças nacionais em prol do desen-
volvimento humano. E, quarto, reduzir subsídios dentro dos setores para
serviços que são danosos ao meio ambiente pode realocar recursos públicos
para beneficiar os pobres ou promover o desenvolvimento sustentável.
Resumindo, este livro apóia a ampliação do foco das ações para abranger
uma estrutura desenvolvimentista compreensiva, uma agenda mais cheia e
qualitativa envolvendo aspectos estruturais humanos, sociais e ambientais
do processo de crescimento. Este foco mais amplo complementa a libera-
lização com uma elevação dos bens e da capacidade dos pobres. Transfere a
atenção de uma confiança exclusiva no governo como agente de mudança
para o comprometimento de todas as partes da sociedade. E isso requer
uma capacidade muito mais efetiva de construir inteiramente.
Com todos os sócios desenvolvimentistas complementando um ao
outro, uma estrutura mais integrada pode ser implementada com maior efe-
tividade. Primeiro, as amplas desigualdades de oportunidade – especial-
mente na educação –, equilibradas agora, apresentarão maior promessa para
os ganhos de bem-estar para a sociedade. Segundo, o dano ambiental e as
perdas de biodiversidade de padrões de crescimento atual são assustadores;
no entanto, se forem equilibrados agora, o crescimento pode realizar um

XXXIV
V I S Ã O G E R A L

meio ambiente natural melhor e reduzir o número de pobres. Terceiro, a


globalização apresenta riscos para os pobres, mas se esses riscos fossem
aprumados agora, a globalização poderia tornar possível os recursos tec-
nológicos para a redução da pobreza. Quarto, a corrupção do governo e a
falta de liberdades civis e voz ameaçam os ganhos de qualquer ação, mas se
estas ameaças fossem equilibradas agora, melhores governos apresentariam
uma grande promessa de melhoria do bem-estar.
As oportunidades propiciadas pela abertura aumentada, em conheci-
mento e tecnologias, nunca foram tão abundantes. Igualmente, os desafios
da pobreza, do crescimento populacional, da degradação ambiental, das difi-
culdades financeiras e do mau governo nunca foram maiores. Precisa-se
mais é de um crescimento com foco na qualidade. Isto não é um luxo. É cru-
cial aos países agarrarem as oportunidades de uma vida melhor para suas
gerações presentes e futuras.

XXXV
C A P Í T U L O 1

O REGISTRO DE UM
DESENVOLVIMENTO
CONFUSO
A economia não apenas se relaciona com a geração de renda mas também com
o fazer bom uso daquela renda para acentuar nossa vida e nossas liberdades.
— Amartya Sen, Uma Conversa com Sen

N a década de 1990, um grupo de economistas na Ásia oriental


divulgou algumas das taxas de crescimento mais rápidas e os
mais agudos declínios, assim como recuperações, dando às
políticas de liberalização do mercado um forte apoio e séria
qualificação. De muitas maneiras, a década de 1990 concentrou as expe-
riências de desenvolvimento das décadas anteriores, oferecendo abordagens
e precauções para guiar a ação no século XXI.
Observando as décadas anteriores de desenvolvimento, vários estudos
de todo o mundo na década de 1990 focalizaram os sucessos na Ásia
oriental, os reveses na África subsaariana, e os modestos ganhos em ou-
tros lugares. O World Development Report de 1991 (World Bank, 1991)
articulou um consenso emergente sob a rubrica de uma abordagem de
boas condições de mercado, requerendo uma revalorização dos papéis do
Estado e do mercado. Esta e outras revisões assinalaram os papéis cruciais
do Estado e dos mercados na redução da pobreza (World Bank, 1990), na
proteção ambiental (Ibidem, 1992), na previsão de infra-estrutura (Ibidem,
1994) e nas estruturas legais de governo e o sistema financeiro (Ibidem,
1997j).
Examinamos aqui a performance do desenvolvimento durante a última
década. Atualizamos taxas anteriores sobre como os países estão atuan-

1
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

do em relação à redução da pobreza, desenvolvimento sustentável e


crescimento econômico. E examinamos os fatores globais e as mudanças
político-institucionais subjacentes à atuação dos países. Evidências da
década de 1990 expandem a história do desenvolvimento, especialmente
a relacionada com as exigências institucionais para o sucesso, e fornecem
um rico conjunto de hipóteses a ser considerado em relação à política.
Primeiro, investimentos no povo precisam estar relacionados com a qua-
lidade e a distribuição daqueles investimentos. Segundo, crescimento
rápido, enquanto apóia o desenvolvimento social quando de base ampla,
pode ferir a sustentabilidade ambiental na presença das ações adequadas.
Terceiro, enquanto a abertura do mercado e a competição continuam a
fornecer benefícios, os riscos financeiros devem ser gerenciados com
atenção por fatores específicos do país. Quarto, deveria ser dada priori-
dade ao bom governo e aos fatores institucionais, e não adiados para pos-
teriores estágios de reforma.

Avaliar Desenvolvimento

O desenvolvimento diz respeito ao povo e seu bem-estar, o que envolve


a habilidade para delinear suas vidas. De acordo com isso, o desenvolvi-
mento deve ser, inclusive, das gerações futuras e da terra que irão herdar.
Deve-se comprometer as pessoas, pois sem a participação delas nenhuma
estratégia pode ter sucesso duradouro. Esta noção de desenvolvimento
como bem-estar significa que medidas de desenvolvimento devem incluir
não apenas taxas de crescimento, mas a dispersão, a composição e a sus-
tentabilidade daquele crescimento.
Praticantes de desenvolvimento utilizaram freqüentemente o cresci-
mento no Produto Interno Bruto (PIB) per capita como uma procuração para
o desenvolvimento, em parte porque o progresso social está associado com
o crescimento do PIB e, parcialmente, devido à conveniência. Contudo, a
confiança no PIB como única medida do desenvolvimento é seriamente li-
mitadora. O crescimento do PIB pode ser tanto de alta quanto de pouca
qualidade. Alguns processos e políticas geram crescimento do PIB junta-
mente com o crescimento dos bens humanos e naturais, que afetam direta-
mente o bem-estar das pessoas além de seus papéis produtivos. Outros
geram crescimento de baixa qualidade que não está associado com melho-
rias dos bens humanos e naturais. Para integrar a qualidade do crescimen-
to em avaliações de desenvolvimento são necessários índices multidimen-
sionais de bem-estar.
A teoria econômica distingue o conceito de crescimento da idéia mais
ampla de desenvolvimento. Com que cuidado essa distinção tem sido feita
variou ao longo do tempo.1 O crescimento rápido das décadas de 1950 e
1960 motivou um aumento de interesse por objetivos de desenvolvimentos

2
O R E G I S T R O D E U M D E S E N V O L V I M E N T O C O N F U S O

mais amplos. No decorrer das décadas seguintes, como se estabeleceu a


estagnação, a ênfase mudou para o crescimento econômico. Nos anos 90,
um ponto de vista mais amplo ressurgiu, como exemplificado no United
Nations Development Programme (UNDP) Human Development Report (produzi-
do anualmente desde 1990) e em A Proposal for a Comprehensive Development
Framework do World Bank (Wolfensohn, 1999).
Em uma avaliação ideal do desenvolvimento, o progresso deveria ser
medido pelos avanços humanos e ambientais, antes de considerar indi-
cadores intermediários, tal como o PIB. Contudo, faltam bons dados de
qualidade para construir fortes indicadores do progresso humano e am-
biental e, conseqüentemente, baseia-se pesadamente no PIB. Suplementa-
mos de análises com índices de sustentabilidade de desenvolvimento e
ambiental, tendo em mente sérias limitações de dados em algumas variá-
veis. Falta de dados consistentes na incidência da pobreza, internacional-
mente comparáveis e ao longo do tempo, forçou-nos a excluir um compo-
nente da redução da pobreza em nosso índice de desenvolvimento humano.
Contudo, documentamos, quando possível, o progresso na diminuição da
pobreza e o impacto das políticas de crescimento e desenvolvimento sobre
a pobreza (ver também Dollar & Kraay, 2000; Ravallion & Chen, 1997;
World Bank, 2000i). O trabalho de futuro deveria melhorar o escopo e a
base empírica desses índices e expandir a discussão para outras dimensões,
inclusive bem-estar cultural.
A Tabela 1.1 mostra as correlações entre os componentes dos três indi-
cadores do progresso desde 1981: desenvolvimento humano, crescimento
de renda e sustentabilidade ambiental. Ele mostra que o crescimento do PIB
está relacionado:

• Positivamente, com redução da pobreza, desigualdade de renda, mor-


talidade infantil e aumento na expectativa de vida, com consideráveis
diferenças de força.
• Negativamente, com o declínio das emissões de dióxido de carbono,
e, positivamente, com o declínio da poluição da água.

Outras associações entre crescimento do PIB e mudanças nos compo-


nentes da sustentabilidade do desenvolvimento humano e ambiental não
são estatisticamente significativas. Essas correlações preliminares sugerem
que o crescimento do PIB é indicador de crescimento crucial, ainda que
parcial, como quando é indevidamente associado a certos aspectos do
desenvolvimento humano e em tempos que é associado com o aumento de
dano ambiental.
Easterly (1999a) aplicou várias técnicas a um amplo conjunto de indi-
cadores de qualidade de vida, incluindo testes de relacionamentos causais.
Ele descobriu que menos de 10% dos 81 indicadores examinados melho-
raram com o crescimento. Uma fração similar deteriorou com o crescimen-

3
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Um passo rumo a medidas de desenvolvimento melhores e mais amplas


Tabela 1.1 – Correlações de Medidas de Desenvolvimento, 1981-1998

Crescimento
Desenvolvimento humano de renda Sustentabilidade ambiental

Diminuição
Diminuição Aumento Diminuição da Aumento da Diminuição da da emissão Aumento Diminuição
Medida de da da mortalidade expectativa desigualdade Crescimento de dióxido do da poluição
desenvolvimento pobreza alfabetização infantil de vida de renda do PIB de carbono reflorestamento da água

Desenvolvimento
Humano
Diminuição 1,00 -0,40 0,18 0,14 0,44 0,52 -0,45 -0,23 0,28
da pobreza 27 28 28 20 27 27 26 22
Aumento da 1,00 0,15 -0,19 -0,23 0,03 -0,14 0,15 -0,21
alfabetização 115 115 41 89 102 94 72
Diminuição
da mortalidade 1,00 0,54 0,28 0,20 -0,20 -0,12 -0,13
infantil 146 43 104 121 107 81
Aumento na 1,00 0,54 0,17 -0,16 -0,15 -0,05
expectativa de vida 43 104 121 107 81
Diminuição na
desigualdade 1,00 0,34 -0,33 -0,20 -0,32
de renda 39 41 41 37

Crescimento da Renda 1,00 -0,53 -0,06 0,33


Crescimento do PIB 100 81 65

Sustentabilidade
Ambiental
Diminuição das
emissões de 1,00 0,27 -0,38
dióxido de carbono 87 70
Aumento do
reflorestamento 1,00 -0,14
70
Diminuição da
poluição da água 1,00

Nota: Os dois valores em cada célula são correlações de coeficiente em numerosos países. Entradas no itálico/negrito são significativas ao nível de 10%, ou melhor.
Fontes: World Bank (2000c); cálculos dos autores.

4
O R E G I S T R O D E U M D E S E N V O L V I M E N T O C O N F U S O

to, e muitas não mostraram nenhuma associação significativa com o cresci-


mento (Figura 1.1). Essas descobertas fortalecem a hipótese para a amplia-
ção das medidas em desenvolvimento.
É muito importante notar que os relacionamentos discutidos anterior-
mente estão entre crescimento de renda e mudanças na sustentabilidade do
desenvolvimento humano e ambiental. Nos relacionamentos, na maioria dos
casos, são muito mais fortes com níveis de renda e indicadores, particular-
mente para a indicação do desenvolvimento humano (Dasgupta, 1993;
Fedderke & Klitgaard, 1998; Kakwani, 1993; Sen, 1994) (World Bank,
2000i). O estudo de Easterly também observa essa discrepância, tornando
hipótese que análises de campo dos níveis de renda podem captar tendências
de longo prazo que não são discerníveis na análise de períodos mais curtos,
e que o crescimento pode levar a melhorias no desenvolvimento humano,
com longos e variáveis atrasos. De modo alternativo, fatores nacionais
específicos, tais como doações, locação e infra-estrutura social, poderiam ser
determinantes dominantes dos níveis tanto da renda como dos indicadores
do desenvolvimento humano. Nesse caso, as correlações de campo entre
renda e indicadores de qualidade de vida precisariam ser qualificados.

Figura 1.1 – Crescimento do PIB e Mudanças na Qualidade de Vida, nas Décadas de


1960 e 1990

Indicador de qualidade
Indicadores ilustrativos
Países industrializados
• Taxa de sobrevivência infantil

Alguns indicadores • Caloria e ingestão de proteínas

de melhoria do crescimento

Alguns indicadores • Matrícula em escola secundária


insensíveis no crescimento • Coeficiente Gini de renda

Alguns indicadores
Países em desenvolvimento deterioram-se
durante o crescimento
• Dióxido de carbono per capita

1960s 1980s/90s • Dióxido sulfúrico per capita


Tempo
Notas: As tendências esquemáticas são aplicadas para os países com crescimento positivo do PIB.
Fonte: Easterly (1999a).

5
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

O Registro do Desenvolvimento

O progresso em algumas áreas do desenvolvimento humano, especial-


mente em alongar a vida das pessoas e aumentar a alfabetização, tem sido
considerável ao longo das décadas de 1960 a 1990, um período sobre o qual
alguns dados estão disponíveis. Contudo, muitos outros aspectos de vida
qualitativos atrasaram, como, por exemplo, um aumento sustentado e firme
nas rendas, na redução da pobreza, ganhos igualitários e qualidade ambiental.

Desenvolvimento Humano

Um crescimento robusto da economia é acompanhado por melhorias


nas medidas do desenvolvimento humano, tais como maior alfabetização e
expectativa de vida. A associação ampla é vista na Figura 1.2.
Em geral, os ganhos no desenvolvimento humano no decorrer das quatro
décadas passadas foram enormes em algumas áreas – em parte refletindo me-
lhorias tecnológicas – e modestas em outras. As taxas de mortalidade infantil
e de analfabetismo adulto caíram drasticamente quase no mundo todo.
O progresso no aumento de rendas e a redução da pobreza foram mistu-
rados, baseados nos dados e estimativas disponíveis (Figura 1.3). No mundo
em desenvolvimento, o índice de incidência de pobreza, definido como a
proporção de pessoas com uma renda de menos de US$ 1 por dia, baseada

Figura 1.2 – Mudança no Desenvolvimento Humano e Crescimento de Renda, 1981-1998

Mudança de desenvolvimento humano (índice)

100

80

60

40

20

-4 -2 -0 2 4 6 8 10 12

Crescimento do PIB (porcentagem por ano)

Nota: r = 0,22; p < 0,05; n = 89. Os dados são para 89 países em desenvolvimento. Controle para renda per capita em 1981 fornece um padrão mais forte, com
coeficiente de correlação de 0,33.
Fontes: World Bank (2000c); cálculos dos autores.

6
O R E G I S T R O D E U M D E S E N V O L V I M E N T O C O N F U S O

Figura 1.3 – Taxas de Pobreza e Número de Pobres, em Anos Seletos

Índice de incidência de pobreza


Porcentagem (população vivendo com menos de US$ 1 por dia)

60

50

1987
40
1990
30
1993

1996
20
1998
10

África Ásia Sul da Ásia Europa e América Oriente Médio Países em


oriental Ásia central Latina e norte desenvolvimento
da África

Número de pobres
Milhões

1.400

1.200
600
1987

1990

400 1993

1996

1998
200

0
África Ásia Sul da Ásia Europa e América Oriente Médio Países em
oriental Ásia central Latina e norte desenvolvimento
da África

Nota: Baseado nas taxas de valores de paridade em 1993. Os valores de 1998 são estimativos. A pobreza é definida como renda de menos de US$ 1 por dia.
Fonte: World Bank (1999d).

na Paridade do Poder Aquisitivo (PPP) de 1993, decresceu de 28,3% em


1987 para 24% em 1998. A Ásia oriental e a região do Pacífico mostraram a
mais ampla melhoria, particularmente a China nos meados da década de
1990. As melhorias foram modestas nas regiões do Oriente Médio, África do
Norte e sul da Ásia. As taxas de pobreza permaneceram teimosamente altas

7
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

na África subsaariana, na América Latina e no Caribe, e aumentaram de


modo notável na Europa e na Ásia central. Geralmente, a diminuição da taxa
de pobreza não poderia acompanhar a marcha do crescimento populacional,
e o número de pobres no mundo em desenvolvimento fora da China aumen-
tou mais ou menos 106 milhões entre 1987 e 1998 (World Bank, 1999c).
No fim do século XX, a incidência de pobreza aumentou em muitas
partes do mundo. Em particular, nos países da Ásia oriental diretamente
afetados pelas crises financeiras de 1997 e a conseqüente lentidão dos
reveses do crescimento experimentados na redução da pobreza conseguida
durante seu período de crescimento rápido (World Bank, 2000f). Ainda
maior é o aumento da pobreza nas economias de transição da Europa e Ásia
central, onde, recentemente, como em 1987, a pobreza e a renda desiguais
foram ambas extremamente baixas. A análise dos dados mostram-nos um
enorme aumento no número de pobres como resultado dos declínios susten-
tados na saída econômica, piorando as distribuições de renda (Milanovic,
1997) (Figura 1.4).

Degradação Ambiental

O impacto no crescimento econômico sobre as condições ambientais


tem sido confuso, constituindo um problema sério. Em muitas instâncias,

Figura 1.4 – Incidência de Pobreza em Economias de Transição Seletas, 1987-1988


e 1993-1995

Percentagem (populacão vivendo com menos de US$ 4 por dia)

70

60

50 1987-1988

40 1993-1995

30

20

10

0
Polônia Países Moldova Rússia Ucrânia Ásia central Todas as
bálticos economias
em transição

Nota: A linha de pobreza de US$ 4 por dia é consideravelmente mais alta que aquela encontrada em qualquer outra parte.
Fonte: Milanovic (1997).

8
O R E G I S T R O D E U M D E S E N V O L V I M E N T O C O N F U S O

o crescimento do PIB e rendas mais altas estão associados com melhor


saneamento e qualidade da água, tanto quanto os investimentos em tec-
nologias menos poluentes. Mas o crescimento também está relacionado a
aumentos em emissões de partículas de dióxido de carbono.2 Com pesos
iguais para as mudanças nos indicadores de qualidade da água e do ar, e do
desmatamento, entre 1981 e 1998 o crescimento de renda foi associado
com deterioração ambiental e esgotamento de recursos naturais, como na
Figura 1.5.
Entre 1990 e 1995, a taxa de desmatamento diminuiu na maioria das
regiões em desenvolvimento, mas a cobertura de florestas já estava desa-
parecendo rapidamente. A camada de florestas aumentou apenas nos países
de alta renda e na Europa e na Ásia central. Não é claro o quanto da me-
lhoria no último é o resultado de uma ação ambiental combinada.
Entre 1980 e 1995, as emissões de dióxido de carbono total, assim como
per capita, aumentou nos grupos de renda e regiões. Apenas a África sub-
saariana, provavelmente em decorrência da estagnação econômica geral,
não experimentou um aumento da produção de dióxido de carbono. A Ásia
oriental teve o mais rápido desmatamento e as mais altas emissões de dió-
xido de carbono per capita, sugerindo um conflito entre crescimento e desen-
volvimento sustentável (World Bank, 2000c).
E, em grande parte do mundo em desenvolvimento, a qualidade am-
biental está muito pior do que os indicadores retratam. A qualidade do ar
piorou, enquanto as rendas aumentaram.3 A exposição a altos níveis de

Figura 1.5 – Mudanças Ambientais versus Crescimento de Renda, 1981-1998

Mudança na qualidade ambiental (índice)

60

50

40

30

20

10

-2 0 2 4 6 8 10 12

Crescimento do PIB (porcentagem por ano)

Nota: r = 0,27; p < 0,05; n = 56. Os dados são para 56 países em desenvolvimento. Controle da renda per capita de 1981 resulta num modelo parecido e um
mesmo valor para o coeficiente de correlação (-0,27).
Fontes: World Bank (2000c); cálculos dos autores.

9
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

poluição do ar, ou seja, o total de partículas suspensas, dióxido sulfúrico e


dióxido de nitrogênio, representa a maior ameaça à saúde humana. Em
Delhi, uma das cidades mais poluídas do mundo, o total de partículas sus-
pensas era quatro vezes maior que o nível identificado como seguro pela
Organização Mundial de Saúde (OMS) (World Bank, 1999d). Para os níveis
de partículas em cidades escolhidas, ver a Figura 1.6.
O custo humano da deterioração ambiental é vacilante. Escassos supri-
mentos de água, saneamento inadequado, poluição do ar interno, poluição
do ar urbano, malária e resíduos químicos agroindustriais e desperdício con-
tam para uma estimativa de um quinto do total de doenças e morte pre-
matura no mundo em desenvolvimento – baseado em uma medida
padronizada de resultados de saúde-incapacidade, regulou anos de vida, ou
DALYs. Para a África, escassos suprimentos de água, saneamento ina-
dequado e poluição do ar interno contam para 29,5% da carga de doenças,
uma parte maior do que a atribuída à desnutrição, 26% (Lvovsky et al. 1999).

A poluição do ar é alarmantemente alta em muitas cidades dos países em


desenvolvimento
Figura 1.6 – Total de Partículas Suspensas, Cidades Selecionadas, no Início da Década
de 1990

Paris 90
Tóquio Organização Mundial de Saúde
Nova York diretrizes de padrões de qualidade do ar
Nairóbi
Seul
Moscou
Rio de Janeiro
Manila
Bangcoc
Teerã
Jacarta
Cidade do México
Hong Kong
Nova Delhi

0 100 200 300 400 500

Microgramas por metro cúbico

Nota: A maioria dos dados é para 1995. A figura para Nova York refere-se a 1990.
Fonte: World Bank (1997i, 2000c).

10
O R E G I S T R O D E U M D E S E N V O L V I M E N T O C O N F U S O

Crescimento da Renda, Desigualdade e Volatilidade


O progresso a longo prazo do crescimento da renda no mundo tem sido
muito irregular. A Figura 1.7 mostra as tendências na renda per capita nas
regiões em desenvolvimento e nos países industrializados desde 1975. A
Ásia oriental aumentou os padrões de vida de modo significativo, ao passo
que a África subsaariana conheceu a tendência oposta. A ampla variação nas
taxas de crescimento ao nível das economias individuais pode ser vista na
Figura 1.8. Das 15 economias de crescimento mais acelerado, oito situam-
se na Ásia oriental. Muitas daquelas no outro espectro são países afetados
por guerras civis e outros deslocamentos.
A julgar pelas taxas de crescimento habituais, oprimidas por resultados
dos países, 1980 foi uma década perdida para o mundo em desenvolvimen-
to. O quadro parece melhor quando as taxas de crescimento são pesadas
pela população, porque as diminuições entre países de renda média, espe-
cialmente na América Latina, pesam menos, e os aumentos nos maiores
países de baixa renda, China e Índia, pesam mais. Na década de 1990, a

Figura 1.7 – Adquirindo Paridade do Poder Aquisitivo do Produto Interno Bruto (PIB)
per capita, 1975-1998

Constante US$ 1995

50.000

Países industrializados
20.000

10.000

América Latina
5.000
Oriente Médio e norte da África
Ásia central
Países em desenvolvimento

2.000 África do Sul


África subsaariana

1.000

500

1975 1980 1985 1990 1995

Nota: A Europa e a Ásia central estão excluídas devido à disponibilidade de dados.


Fonte: Dados do World Bank.

11
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Figura 1.8 – Crescimento no PIB per capita, Economias Seletas, 1975-1998

China
Taiwan, China

Coréia
Cingapura
Botswana

Tailândia
Hong Kong, China
Ilhas Maurício
Chile

Indonésia
Malásia
Egito

Lesoto
Sri Lanka

Índia
Federação Russa
Venezuela
Costa do Marfim
Irã
Guiné Bissau

Rep. Centro-Africana
Haiti
Nigéria
Gabão

Madagascar
Zâmbia
Serra Leoa

Nicarágua
Geórgia
Congo

-6 -4 -2 0 2 4 6 8 10

Porcentagem de mudança ao ano

Fontes: World Bank (2000c); cálculos dos autores.

12
O R E G I S T R O D E U M D E S E N V O L V I M E N T O C O N F U S O

diferença entre renda ponderada e população ponderada agregada à taxa de


crescimento para os países em desenvolvimento estreitou-se, ao passo que
o crescimento melhorou nos países de renda média na América Latina.

Desigualdade de Renda. Nesse quadro de crescimento geral de renda,


também é importante que se considere como a renda estava sendo compar-
tilhada, pela observação das mudanças na desigualdade de renda. Várias
dimensões na desigualdade de renda são relevantes neste ponto: entre paí-
ses, mediante a administração doméstica dentro dos países e dentro das
administrações domésticas. Como foi notado no World Bank (2000i), a
brecha entre a renda média dos vinte países mais ricos e a média para os
vinte mais pobres dobraram nos últimos quarenta anos – para mais de trin-
ta vezes.
As exigências de dados para a estimativa de distribuição da renda per
capita no mundo são onerosas e os dados disponíveis sofrem de uma fra-
gilidade aguda. Dito isso, Dikhanov & Ward (2000) estimaram tais dis-
tribuições para 1988 e 1993 e descobriram que a desigualdade geral da
renda per capita no mundo aumentou de um coeficiente Gini de 0,63 para
0,67 (ver também Cornia, 1999).
Schultz (1998) observou as tendências de desigualdade de renda entre
países. Os resultados diferem consideravelmente quando a China está in-
cluída na análise. A desigualdade de renda entre países aumentou de 1960
a 1968, permaneceu alta durante 1976, e declinou gradualmente depois
disso, terminando com uma alta ligeiramente maior em 1989 do que em
1960. Quando a China é excluída, o declínio na desigualdade entre países
desde 1976 desaparece. A extensão da análise durante 1994 para um con-
junto ligeiramente menor de países confirmou tais tendências.
Utilizando dados comparáveis sobre a renda, os coeficientes Gini para
45 países desde o início dos anos 60 ao começo da década de 1990,
Deininger & Squire (1996) não encontraram nenhuma tendência geral na
desigualdade dentro do país, que permaneceu aproximadamente a mesma
em 29 países, cresceu em oito e caiu em oito. Para uma comparação dife-
rente entre o início da década de 1980 e o início da década de 1990, a
desigualdade cresceu em 19 países e diminuiu em 24 (Figura 1.9). Entre os
países nos quais a desigualdade cresceu, estão aqueles com grandes popu-
lações: Brasil, China e Índia. População ponderada, a desigualdade média
para os 43 países da amostragem aumentou mais ou menos 0,52% ao ano
na década de 1980 e início da década de 1990.4

Volatilidade do Crescimento. As flutuações econômicas parecem afe-


tar os pobres desproporcionalmente, mas é possível que o impacto seja
particularmente severo nos países em que as redes de segurança social são,
ou sejam, tipicamente menos desenvolvidas (Furman & Stiglitz, 1998).
Declínios no crescimento econômico eram diretamente associados com

13
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Nenhuma tendência geral na desigualdade interna dos países


Figura 1.9 – Desigualdade de Renda Dentro dos Países, nas Décadas de 1980 e 1990

Sri Lanka
Bangladesh
Jamaica
Ilhas Maurício
Coréia
Mauritânia
Gana
Egito
Turquia
Guiana
Tanzânia
Costa do Marfim
Peru
Iugoslávia
Tunísia
Malásia
Indonésia
Colômbia
Filipinas
Costa Rica
Paquistão
Honduras
México
Jordânia
Marrocos
Nigéria
Índia
Barbados
Brasil
Chile
China
Panamá
Rep. Dominicana
Tailândia
URSS/FSU*
Guatemala
Bulgária
Venezuela
Hungria
Polônia
Zâmbia
Romênia
Uganda

-8 -6 -4 -2 0 2 4

Redução do coeficiente Gini (porcentagem ao ano)

* FSU: Antiga União Soviética.


Nota: A quantidade diagramada é a redução dos coeficientes Gini de renda no início da década de 1990 sobre o início da década de 1980, nos declínios percentu-
ais ano a ano. Valores negativos indicam uma alta na desigualdade.
Fonte: Deininger & Squire (1996).

14
O R E G I S T R O D E U M D E S E N V O L V I M E N T O C O N F U S O

aumentos abruptos da pobreza na Europa oriental e mais recentemente na


Ásia oriental. Baixas econômicas parecem ter efeitos adversos duradouros
sobre a economia. Os estudos sugerem que maiores flutuações nas taxas de
crescimento estão associadas com média mais baixa de crescimento.5
A volatilidade do crescimento pareceria importar.
Na média, a volatilidade do crescimento estima-se ter declinado na
década de 1980 em decorrência de certas medidas para a maioria dos gru-
pos de países (exceto países de renda média, principalmente devido a
crises de débito na América Latina), comparado com a década de 1970,
quando os choques petrolíferos ocorreram. O quadro é mais confuso na
década de 1990. Estima-se que a volatilidade declinou para a América
Latina, o Oriente Médio, a África do Norte e o sul da Ásia, mas aumen-
tou ligeiramente para os países industrializados e para a Ásia oriental
(Figura 1.10).
A Europa em desenvolvimento e a Ásia central tiveram especialmente
crescimento mais volátil do que as outras regiões na década de 1990, com-
parada com a de 1980.
Os países em desenvolvimento parecem ter experimentado uma volatili-
dade mais alta do que os países industrializados. Easterly et al. (1999)

Figura 1.10 – Volatilidade das Taxas de Crescimento do PIB, por Década

Constante US$ 1995

12

10

Década de 60
8
Década de 70
6 Década de 80

Década de 90
4

África Ásia Sul da Europa e América Oriente Países


oriental Ásia Ásia central Latina Médio industrializados
e norte
da África

Nota: A volatilidade em uma década foi computada tomando-se um desvio-padrão das taxas de crescimento na década para cada país e a média imponderada
através dos países no grupo.
Fontes: World Bank (2000c); cálculos dos autores.

15
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

exploraram as determinantes do aumento de volatilidade dos países, desco-


brindo que:

• a abertura para o mercado e a volatilidade dos fluxos de capital estão


associadas com o aumento da volatilidade de crescimento;
• melhorias nos indicadores do desenvolvimento financeiro estão asso-
ciadas com volatilidade mais baixa;
• restrições na política a partir das limitações institucionais e do setor
financeiro revelam insuficiências que contribuem para a variabilidade
de resultados;
• flexibilidade de renda não parece ser um fator importante.

Crescimento e Bem-Estar

A Tabela 1.2 divide os países em desenvolvimento em três grupos, com


base em suas taxas de crescimento do PIB per capita: países de alto cresci-
mento, aqueles com taxas de crescimento moderadas ou melhorando e países
de baixo crescimento.6 Pela definição aqui utilizada, 13 obtiveram crescimen-
to rápido, 53 alcançaram crescimento moderado e 39 tiveram crescimento
baixo. Também por esta definição, os países de crescimento moderado
alcançaram melhorias mais consistentes no crescimento. Vários dos indi-
cadores do desenvolvimento humano geralmente melhoraram para os três
grupos, com os países de alto crescimento demonstrando as melhorias mais
acentuadas. Os países de alto crescimento apresentaram as mais altas e
crescentes emissões de dióxido de carbono per capita.

Questão de Fatores Externos

Na década de 1990, as sublevações sociais e políticas externa e domes-


ticamente dirigidas, juntamente com as guerras, continuaram a descarrilar
o progresso em numerosos países (Collier, 1999; Collier & Hoeffler, 1998)
(Tabela 1.3). Questões globais e fronteiriças relacionadas com crises finan-
ceiras, pressões da população, trabalho de migração e desastres ambientais
continuaram a afetar os resultados internos.
Apesar da diminuição positiva do crescimento populacional, aumentos
populacionais em muitos países poderiam solapar os esforços para alcançar
um desenvolvimento sustentável. O aquecimento global, a degradação
ambiental e a perda de biodiversidade continuam a piorar em um planeta
cada vez mais populoso, colocando mais pressão sobre os limitados recur-
sos globais (World Bank, 2000b, e várias edições do Global Economic Prospects
e Global Development Finance).
O quarto de século mais ou menos depois da Segunda Guerra Mundial

16
O R E G I S T R O D E U M D E S E N V O L V I M E N T O C O N F U S O

Tabela 1.2 – Resultados Desenvolvimentistas por Classe de Crescimento, nas


Décadas de 1980 e 1990
(médias imponderadas)

Mudança no indicador: Crescimento


comparando os anos 80 Alto melhorado Baixo
e os anos 90 Unidade Período crescimento ou moderado crescimento

Pobreza Porcentagem com Anos 90 24,1 31,4 36,9


menos de US$ 1 por dia Anos 80 31,0 32,1 30,2

Mortalidade infantil Por mil Anos 90 29,2 54,3 60,7


Anos 80 41,0 66,6 71,0

Analfabetismo Por cento Anos 90 17,2 31,2 31,4


Anos 80 22,9 37,6 38,8

Expectativa de vida Anos Anos 90 70,0 62,9 59,8


Anos 80 66,8 60,6 58,4

Emissão de dióxido de carbono Toneladas per capita Anos 90 2,4 2,3 1,7
Anos 80 1,5 2,3 1,8

Desmatamento Porcentagem ao ano 1990-95 0,83 1,05 1,11


1980-90 1,08 0,65 1,15

Poluição da água Quilogramas por dia Anos 90 0,16 0,21 0,21


por trabalhador Anos 80 0,18 0,21 0,21

Crescimento PIB Porcentagem ao ano Anos 90 5,3 4,2 0,3


Anos 80 6,5 2,3 2,1

Número de países 13 53 39

Nota: Para detalhes referentes à classificação dos países, ver o texto. Algumas variáveis não estão presentes para determinados países. Particularmente dados
sobre a pobreza estão apenas disponíveis para um pequeno número de países.
Fontes: World Bank (2000c); cálculos dos autores.

Tabela 1.3 – Questão de Fatores Externos para Resultados Internos, Exemplos de


1977-1999

Crises financeiras Desastres naturais Conflitos Desastres causados


pelo homem

Região ou país em crise Ásia oriental Bangladesh Albânia Indonésia


Rússia América Central Bósnia (incêndio florestal)
Brasil Congo
Iugoslávia
Ruanda
Serra Leoa

Impacto Aumento da pobreza Perda de vidas humanas Destruição do capital Aumento da pobreza
a curto prazo e capital físico e natural humano e social a longo prazo

Fonte: Compilação dos autores.

17
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

marcou um período de crescimento rápido e firme, tanto para os países


industrializados como para os em desenvolvimento, e o meio ambiente eco-
nômico esteve relativamente livre de maiores choques. O meio ambiente
econômico internacional mudou drasticamente em 1973, com o choque do
preço do petróleo e o fim do sistema de Bretton Woods de fixação de taxas
de câmbio entre os principais países industrializados. As décadas subse-
qüentes assistiram a um declínio agudo no crescimento da produtividade
nos países industrializados, inflação alta e taxas de juros, ciclos de larga
amplitude nos preços das mercadorias e taxas de câmbio das principais
moedas correntes.
Tem-se discutido que o baixo registro de crescimento da maioria dos
países em desenvolvimento (com algumas exceções, principalmente na Ásia
oriental) depois de 1973 e na década de 1990 foi decorrência, primaria-
mente, da lentidão do crescimento nos países industrializados (Easterly,
1999b). Enquanto esse constituiu um fator significativo, o registro dos
países em desenvolvimento que prosperaram durante esse período, tal
como na Ásia oriental, sugere que a política doméstica, o governo e as insti-
tuições também influenciam nos resultados. O dano causado por choques e
conflitos depende das instituições estabelecidas e sua efetividade no for-
talecimento do governo, dos direitos civis, das regras de direito, dos pro-
gramas sociais e redes de segurança (Collier, 1999; Collier & Hoeffler,
1998; Easterly et al., 1999; Rodrik, 1998 e 1999).
O meio ambiente econômico global sofreu uma nova mudança signi-
ficativa na década de 1990, tornando-se de maior utilidade para o desen-
volvimento em alguns aspectos, e de menor em outros (ver várias edições
do Global Economic Prospects do World Bank). A demanda de importação pela
Organização de Cooperação e Devenvolvimento Econômicos (OECD) foi
menos volátil na década de 1990 do que nas anteriores, em parte devido aos
ciclos da América do Norte, Europa e Japão já não estarem mais sin-
cronizados, e em parte razão do crescente peso dos países em desenvolvi-
mento, especialmente a Ásia oriental, no comércio mundial. Graças à
restrição monetária e ao progresso na consolidação fiscal, o investimento
real e as taxas de inflação nos principais países da OECD caíram na década
de 1990, e a volatilidade nas taxas de câmbio das principais moedas cor-
rentes foi consideravelmente menor em relação ao pronunciado ciclo do
dólar da década de 1980.
Particularmente importante foi a relativa afirmação nos países em
desenvolvimento nos termos de comércio com os países industriais, espe-
cialmente nos preços das mercadorias primárias não energéticas. Os paí-
ses não exportadores de petróleo conheceram uma grave deterioração nos
seus termos de comércio desde a metade da década de 1970 até o início
da década de 1990. Contudo, para a grande parte da década de 1990, os
preços das mercadorias não petrolíferas permaneceram firmes e o declínio
desde 1997 tem sido menos abrupto que nos primeiros ciclos de preço.

18
O R E G I S T R O D E U M D E S E N V O L V I M E N T O C O N F U S O

Embora os preços de exportação sejam muito mais voláteis para mer-


cadorias do que para produtos manufaturados, os preços das mercadorias
foram menos voláteis na década de 1990 do que na década de 1980 por
22 de 30 mercadorias-chave (World Bank, 2000a; várias questões do
Commodities Quarterly).
O forte crescimento no comércio mundial ultrapassou agudamente o
crescimento na produção mundial durante 1998. O comércio internacional
do meio ambiente permaneceu liberal em seu conjunto, com o aumento de
multilateralidade, não obstante o surgimento de práticas questionáveis como
o antidumping. E havia um crescimento fenomenal nos fluxos de capital pri-
vado para os países em desenvolvimento, embora somente para uns poucos.
A crise financeira da Ásia oriental revelou que, assim como as oportu-
nidades, que cresceram enormemente, o mesmo sucedeu com as demandas
nas instituições e os custos dos erros. O sucesso num conjunto altamente
globalizado requer mecanismos adequados para gerenciar riscos e políticas
bem-sucedidas para abertura e competição precisa de estruturas regulado-
ras e legais efetivas.

Políticas Internas Fazem uma Diferença


Fundamental

Subjacente aos resultados variados do desenvolvimento tem sido a efe-


tividade da política, principalmente nas quatro áreas que se seguem: a
qualidade e distribuição dos serviços de educação e saúde, o gerenciamen-
to do meio ambiente, o gerenciamento das oportunidades e dos riscos da
globalização e a efetividade do governo. Estes elos são analisados nos capí-
tulos seguintes.

Investir no Povo

Nenhum país conseguiu desenvolvimento sustentado sem investir subs-


tancial e eficientemente na educação e na saúde de seu povo. Países em
desenvolvimento geralmente vêm investindo mais recursos públicos na
educação e muitas regiões ampliaram os gastos na década de 1990 (Figura
1.11). Os gastos públicos com educação declinaram na Ásia oriental, no
Oriente Médio e na África do Norte. Há evidência que na Ásia oriental
a divisão dos gastos privados está em alta. Dados de campo dos gastos com a
saúde estão disponíveis apenas para os anos 90, de modo que tendências
a longo prazo não são conhecidas.
O que acontece com a divisão dos gastos sociais em países submetidos
a ajustamento e austeridade fiscal? Análises sobre a questão têm sido divi-
didas. O Banco Mundial (1992) concluiu que as divisões permanecem into-

19
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Figura 1.11 – Gastos Públicos com Educação por Região, em Anos Seletos

Constante US$ 1995

5 1965

1970
4
1980
3
1990

2 1996

0
África Ásia central Sul da Europa e América Latina Oriente Países Países
Subsaariana eo Ásia Ásia central e Caribe Médio e em industrializados
Pacífico norte desenvolvimento
da África

Fonte: World Bank (2000c).

cadas, ao passo que Corbo et al. (1992) afirmaram que as dotações para a
educação declinaram. Estudo recente do Fundo Monetário Internacional
(FMI, 1998) dos países de baixa renda submetendo-se a ajuste descobriu
que, geralmente, as dotações para a educação e gastos com saúde têm sido
protegidos. Gastos privados são também importantes nos fundos de ser-
viços sociais, especialmente na Ásia oriental, onde sua dotação aumentou
com o crescimento econômico. Mas o gasto público nem sempre produz
bons resultados. Aqueles dependem da distribuição e da qualidade dos gas-
tos públicos e dos incentivos para maior gasto privado. Estas questões são
examinadas no Capítulo 3.

Administrando o Meio Ambiente

Sabemos que as políticas governamentais negligenciaram o meio am-


biente, mas não temos medidas-padrão para avaliar as políticas ambientais
de um país. Um indicador desenvolvido recentemente, poupanças genuínas,
mensura a taxa de poupança depois do cálculo para investimento no capital
humano, depreciação de bens produzidos e esgotamento e degradação do
ambiente (World Bank, 1999f, p.175-7). Tais medidas ainda são experi-
mentais e refletem tanto as políticas como os resultados.
Temos observado o progresso em acordos alcançados envolvendo ques-
tões ambientais. Contudo, a partir disso, obtemos somente um sentido de

20
O R E G I S T R O D E U M D E S E N V O L V I M E N T O C O N F U S O

comprometimento dos governos de terem completado um perfil ambiental


de um país, formulando estratégias de preservação e biodiversidade e par-
ticipação nos tratados globais. Tais medidas parecem ser apenas fragilmente
relacionadas com os resultados ambientais. Precisamos de meios mais efi-
cazes na captação das políticas nacionais para um desenvolvimento ambien-
tal sustentável.

Criando Políticas de Boas Condições de Mercado

Abertura e Liberalização. A abertura aumentou nos países em desen-


volvimento na década de 1990. A razão de comércio para o PIB aumentou
em todas as regiões em desenvolvimento. Níveis de proteção comercial de-
clinaram na maioria das regiões, auxiliados por rodadas sucessivas de nego-
ciações comerciais multilaterais. As tarifas médias caíram na década de
1990, agudamente em muitos casos (Figura 1.12). Barreiras não tarifárias
também foram reduzidas de modo significativo na maioria das regiões,
excetuando-se a África subsaariana (Rodrik, 1999; UNCTAD, 1994).
A abertura para o capital também cresceu drasticamente em algumas
regiões. Um índice de controles financeiros mostra um acentuado declínio
na década de 1990, seguindo-se a um aumento abrupto na década anterior
(Capítulo 5). A liberalização também ficou assegurada nos mercados do-
mésticos, já que os governos se tornaram mais desejosos de confiar nos
mercados e de aumentar os incentivos para a iniciativa privada mediante a
privatização de indústrias e levantaram outras restrições na comercialização
e distribuição. Muitos países exportadores de matéria-prima na África estão
liberalizando as alfândegas, permitindo muito mais passes livres para os
preços das mercadorias internacionais para os produtores (Akiyama, 1995).

Estabilidade Macroeconômica. Dois refletores do gerenciamento


econômico freqüentemente utilizados são a taxa prêmio de câmbio no mer-
cado paralelo e déficits governamentais. A Figura 1.13 mostra que, na maio-
ria dos países, os prêmios do mercado paralelo declinaram abruptamente na
década de 1990. Depois dos aumentos abruptos na década de 1980, os
déficits governamentais declinaram na maioria das regiões, exceto na
Europa e na Ásia central. Em parte como um resultado, a inflação baixou na
maioria dos países em desenvolvimento.

Resultados de Crescimento e Desempenhos Políticos. A Tabela 1.4


mostra os perfis políticos para três classes de crescimento e para as décadas
de 1980 e 1990. Esses perfis não requerem que se estabeleça a direção do
elo entre políticas e resultados, mas os padrões e tendências são dignos de
nota. Muitos dos trabalhos prévios mostraram o impacto das políticas sobre
o crescimento (um sumário bibliográfico de observação está disponível sob

21
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Barreiras comerciais declinam na maioria das regiões


Figura 1.12 – Barreiras Comerciais, Regiões Selecionadas, 1984-1993

Média ponderada das tarifas Incidências de medidas não ponderadas

Porcentagem Porcentagem

35 50

30
40
25

30
20

15
20

10
10
5

0 0
Ásia oriental América Latina África Ásia oriental América Latina África
Subsaariana Subsaariana

1984-87 1988-90 1991-93 1984-87 1988-90 1991-93

Fonte: Rodrik (1999).

solicitação). Embora algumas políticas de boas condições de mercado per-


maneçam contenciosas, muitos países em desenvolvimento fizeram signi-
ficativos esforços para adotá-las na década de 1990. Déficits de orçamento
médio foram mais baixos para todos os grupos na década de 1990 – abrup-
tamente para os grupos de crescimento alto e moderado. Todos os três gru-
pos apresentaram tarifas significativamente baixas e um comércio mais alto
para a razão PIB na década de 1990 do que na de 1980. Os três grupos
estavam mais abertos para transações de cálculo de capital na década de
1990 – o grupo de alto crescimento de forma mais cautelosa. Os sistemas
financeiros domésticos também foram geralmente menos reprimidos na
década de 1990, em relação à de 1970 – novamente o alto crescimento de
modo mais cauteloso em relação ao grupo de crescimento moderado. Os de
crescimento mais rápido apresentaram maiores profundidades financeiras,
medida pela razão M2-para-PIB, e políticas macroeconômicas mais pru-
dentes, em parte evidente no aumento de reservas. E eles tinham maiores
taxas sobre as medidas do governo. Há uma imensa bibliografia empírica
sobre os elos dessas políticas de resultado.

22
O R E G I S T R O D E U M D E S E N V O L V I M E N T O C O N F U S O

Figura 1.13 – Premium do Mercado Paralelo, nas Décadas de 1970 a 1990


Porcentagem

50

40
Década de 1970

30 Década de 1980

Década de 1990
20

10

0
África Ásia Sul da Europa América Oriente Países em
Subsaariana central Ásia e Ásia Latina e Médio e desenvolvimento
eo central Caribe norte
Pacífico da África

Nota: Os valores traçados são (taxa de mercado paralelo/taxa oficial-1) como uma porcentagem, para uma unidade de moeda corrente estrangeira em unidades
de moeda corrente local.
Fontes: Easterly & Yu (2000); World Bank (2000c).

Questões Cruciais para a Ação

O mundo em desenvolvimento continua a ir em frente na década de


1990. O progresso na política foi substancial: reduzindo déficits fiscais,
investindo mais na educação, baixando as barreiras de comércio e investi-
mentos e desmantelando os controles de preços domésticos na indústria e
na agricultura. O registro foi mais confuso quanto aos resultados do desen-
volvimento. Mas tanto o registro da década de 1990 como o registro a longo
prazo confirmam que essas ações acompanham a melhoria do crescimento
econômico. Eles também corroboram o elo entre crescimento econômico e
redução da pobreza. Assim, no conjunto, o mundo em desenvolvimento
recuperou-se dos reveses da década de 1980, mas ambas, a profundidade e
a abrangência da recuperação, deixaram muito a desejar.
O registro sugere igualmente que as ações, governamentais e outras,
para afetar a qualidade e a sustentabilidade do crescimento retardaram. Os
acontecimentos na Ásia oriental, Europa, Ásia central e por toda parte su-
blinham a fragilidade dos avanços para reduzir a pobreza e atingir um de-
senvolvimento sustentável. Os números de pobres continuam a aumentar e
atualmente estima-se que 1,2 bilhão vivem em estado de pobreza absoluta,
com menos de US$ 1 por dia. A incidência da pobreza é altamente sensível
a mudanças na distribuição de renda e ao crescimento populacional. Assim,
políticas que afetam o crescimento amplo e eqüitativo e o crescimento po-
pulacional merecem uma atenção considerável.

23
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Tabela 1.4 – Desempenho Político por Classe de Crescimento, nas Décadas de 1980
e 1990
(médias imponderadas)

Mudança no indicador: Crescimento melhor


comparando os anos 80 e 90 Unidade Período Alto crescimento ou moderado Baixo crescimento

Excedente do orçamento Porcentagem PIB Anos 90 -1,8 -1,4 3,4


Anos 80 -4,2 -2,9 - -4,7

Taxa de tarifa efetiva por cento Anos 90 22,7 25,4 18,3


Anos 80 29,1 31,9 22,7

Comércio/PIB por cento Anos 90 92,1 77,0 70,2


Anos 80 82,0 71,0 59,9

Aberturas das contas de capital Índice 1996 2,4 3,0 3,1


1988 1,7 1,9 1,7

Repressão financeira Índice 1996 3,6 3,2 4,0


1973 5,9 6,8 4,5

M2/PIB por cento Anos 90 55,4 36,9 28,6


Anos 80 42,8 34,6 28,4

Reservas internacionais Meses de importação Anos 90 4,2 3,9 2,9


Anos 80 3,1 2,8 2,4

Regra do direito Índice 1997-98 0,2 -0,2 -0,7

Controle da corrupção Índice 1997-98 -0,1 -0,2 -0,6

Gastos com educação Porcentagem do PNB Anos 90 3,7 4,4 4,3


Anos 80 3,6 4,2 4,4

Ação ambiental Índice 0-1 Internacional 0,89 0,95 0,88


Índice 0-1 Nacional 0,89 0,86 0,65

Número de países 13 53 39

Nota: Para detalhes relacionados com a classificação dos países, ver o texto. Faltam algumas variáveis para determinados países. Em particular, as variáveis de
taxa de tarifa efetiva e repressão financeira estão disponíveis apenas para um pequeno número de países. As variáveis são descritas no Anexo 1.
Fontes: World Bank (2000c); cálculos dos autores.

Os relacionamentos entre objetivos do desenvolvimento e instrumentos


políticos foram analisados com detalhamento considerável na bibliografia
do desenvolvimento. O Anexo ao Capítulo 1 inclui um conjunto de coefi-
cientes de correlação para objetivos e políticas, com espírito de prover os
dados básicos. Como correlações, nada dizem sobre a direção da causali-
dade ou dos mecanismos. Contudo, a combinação mostrou-se significativa
e digna de investigação posterior como hipótese. Igualmente importante
são as combinações plausíveis que não são significativas com o sinal espe-
rado. Muitas das relações hipotéticas são tomadas nos Capítulos 3 a 6, e no
Capítulo 2, que elabora uma estrutura básica.

24
O R E G I S T R O D E U M D E S E N V O L V I M E N T O C O N F U S O

Neste ponto, emolduramos os relacionamentos em forma de questões


que motivaram este estudo:

• Será que as melhorias observadas no capital humano são suficientes


para sustentar o crescimento em países que experimentaram cresci-
mento acelerado na década de 1990?
• Será que o aumento do capital humano nos países de crescimento
lento é suficiente para propalar melhor e mais rápido crescimento em
um futuro próximo?
• Será que a deterioração do capital natural reduzirá o potencial para
crescimento futuro, especialmente entre os países pobres?
• Será que a degradação do capital natural está se tornando um obstá-
culo sério para a melhoria do bem-estar da população?
• Poderão os riscos da globalização financeira ser gerenciados de modo
a diminuir a volatilidade do crescimento e melhorar sua sustentabi-
lidade?
• Até que ponto é séria a maneira de governar para o processo de
crescimento e resultados, e como o progresso pode ser feito no con-
trole da corrupção?

Os capítulos que se seguem fornecem vislumbres para estas questões, se


não respostas.
O restante desta publicação está organizado da maneira a seguir. O
Capítulo 2 fornece uma estrutura analítica para a interpretação da expe-
riência de desenvolvimento desenhada neste capítulo e tira lições sobre a
importância do crescimento não distorcido dos bens humanos, naturais e
físicos e a significação do bem-estar nos padrões de crescimento alternativo
(ver também o Quadro 1 na Visão Geral). O Capítulo 3 explora como os
investimentos no povo – na quantidade, na qualidade e na distribuição –
podem aumentar diretamente o bem-estar e também tornar os processos de
crescimento mais sustentáveis. O Capítulo 4 faz o mesmo quanto aos recur-
sos ambientais e naturais, nos quais o conflito entre crescimento e bem-
estar é aparente e o equilíbrio muito mais difícil. O Capítulo 5 revisita a
questão da volatilidade do crescimento e os riscos financeiros, e considera
os aspectos qualitativos das reformas que tornariam os processos de cresci-
mento mais sustentáveis no cenário globalizado de hoje. Todos os três lados
– humano, natural e financeiro – dependem da qualidade do governo geral,
que é fundamental para a qualidade e a sustentabilidade dos processos de
crescimento. Instituições de governo formais e informais são discutidas
no Capítulo 6, com enfoque especial no combate à corrupção. O Capítulo 7
considera uma agenda para a ação.
Por que haverá falha em adotar políticas que se revelaram concretas? É
improvável que a falta de entendimento dos agentes dessas políticas seja a
razão principal. Mais provável é a dificuldade política de implementar políti-

25
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

cas concretas. Grupos de interesse limitam o âmbito das reformas viáveis e


abrem um golfo entre o objetivo político e a implementação. Como melhor
contrapor-se a estas forças por meio de acentuadas participações e domínio
de um governo mais forte constitui um tópico importante não completa-
mente explorado no registro (exceto por uma breve discussão de aspectos
escolhidos no Capítulo 6).
Outro tópico crucial são as circunstâncias especiais em face das antigas
economias planejadas centralmente enquanto elas lutam para fazer a tran-
sição para economias de mercado. Essas economias estão incluídas nas
análises quando os dados permitem, e as ilustrações e casos calcados nas
experiências delas são utilizados em alguns dos capítulos, especialmente o
que trata do governo e anticorrupção (Capítulo 6). Contudo, uma discussão
completa das questões para economia de transição está além do escopo
deste livro.7

Notas

1. Muitos estudos ergueram o ponto de vista multidimensional dos objetivos do desenvolvi-


mento (Dasgupta, 1993; Hicks & Streeten, 1979; Lewis, 1955; Nordhaus & Tobin, 1972;
Sengupta & Fox, 1969; Tinbergen & Theil em Hughes-Hallet, 1989). Muitos estudos utiliza-
dos multivariam as análises de um amplo número de variáveis econômicas, sociais e políticas
(Adelman & Taft-Morris, 1967; Baster, 1972; Morris, 1979; UNRISD, 1970). Alguns índices
construídos de qualidade de vida ou desenvolvimento humano (Dasgupta, 1990a; Diewert,
1986; Drewnowski & Scott, 1966; Griliches, 1971; McGranahan, 1972; Ram, 1982a, b; Slottje,
1991). As estruturas em alguns destes trabalhos são tratadas no Capítulo 2.

2. As emissões de dióxido de carbono não têm muito impacto direto na saúde local, mas são
importantes no contexto das emissões no efeito estufa e associadas com o problema de
mudança global do clima. Igualmente, as emissões de dióxido de carbono são habitualmente
associadas com a emissão de outros poluentes do ar, que possuem impacto sobre a saúde
local, mas sobre o qual os dados ainda estão menos amplamente disponíveis.

3. Medidas da qualidade do ar para muitas cidades tornaram-se disponíveis apenas na metade


da década de 1990. Um relacionamento em forma de U invertido entre poluição e renda per
capita, a curva ambiental de Kuznets, tem sido estimado para vários tipos de poluentes
(Grossman & Krueger, 1995). Contudo, isso não invalida a necessidade de intervenção am-
biental porque os momentos decisivos da renda per capita para melhoria dos indicadores
ambientais são geralmente bem altos. Esta questão é discutida no Capítulo 4.

4. Os dados sobre a distribuição de renda são escassos para os anos mais recentes. Um estudo
do Banco Mundial em 29 países avaliou que cinco deles experimentaram o declínio na
desigualdade, enquanto quase cinco vezes mais países (24) conheceram o aumento
(Buckley, 1999).

26
O R E G I S T R O D E U M D E S E N V O L V I M E N T O C O N F U S O

5. Por exemplo, uma regressão das taxas médias de crescimento do PIB para 112 países contra
a volatilidade das taxas de crescimento do PIB, medida pelo desvio-padrão das taxas de
crescimento, permitiu um significativo coeficiente negativo (ver também Ramey & Ramey,
1995).

6. Países de alto crescimento como definidos aqui são aqueles com crescimento da renda per
capita de mais de 2,3% ao ano, nas décadas de 1980 e 1990, uma taxa que dobra as rendas
em trinta anos. O segundo grupo – de crescimento moderado ou melhorado – inclui países
que mantiveram um crescimento positivo da renda per capita em ambas as décadas, ou me-
lhoraram o crescimento na década de 1990 por pelo menos dois pontos percentuais. Os
restantes são classificados como países de baixo crescimento.

7. Ver World Bank (1996b) para um tratamento complexo das questões de transição. Ver tam-
bém os trabalhos recentes de Åslund (1999); Commander et al. (1999); Kornai (2000); Qian
(1999); Stiglitz (1999); e Wyplosz (1999).

27
C A P Í T U L O 2

VALORES, CRESCIMENTO
E BEM-ESTAR
A dificuldade reside não nas novas idéias, mas fugindo delas para antigas
que ramificam ... em qualquer de nossas mentes.
— John Maynard Keynes, Teoria Geral do Emprego, Investimento e Dinheiro

O crescimento econômico rápido tem sido habitualmente con-


siderado o principal indicador do desenvolvimento. Ainda
assim, tem havido insatisfação com a utilização da medida
do crescimento pelos cômputos nacionais como o Yardstick
(ver, por exemplo, Adelman, 1975; Dasgupta, 1993; Dréze & Sen, 1995;
Lewis, 1955; Sen, 1988). Mais significativo é o bem-estar que compreende
consumo, desenvolvimento humano e sustentabilidade ambiental, e sua
qualidade, distribuição e estabilidade. Freqüentemente, o crescimento da
renda per capita e as melhorias de bem-estar seguem lado a lado. Mas algu-
mas vezes, não.
Amplas divergências entre crescimento e melhorias de bem-estar podem
surgir quando o crescimento é volátil e não sustentado. Será que tais
divergências entre crescimento e bem-estar podem mudar e ainda crescer
quando o crescimento econômico for sustentado? Ou seja, será que os paí-
ses podem manter crescimento rápido durante prolongados períodos sem
aumentos comensurados no bem-estar? Em caso negativo, o foco deveria
voltar-se para as políticas que garantem o crescimento sustentado – porque
essas políticas iriam igualmente em geral melhorar o bem-estar. Mas, em
caso afirmativo, o foco do crescimento deve ser complementado com um
exame dos padrões alternativos de crescimento (sustentado).
Neste ponto, a análise focaliza-se em padrões de investimento em três
valores-chave: capital físico associado muito próximo ao capital financeiro,1
capital humano associado muito próximo aos capitais social e natural e o

29
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

proximamente associado capital ambiental. A tecnologia que afeta a utiliza-


ção desses valores também importa muito. A hipótese central, que é taxada
empiricamente na seqüência, é que promover investimento adequado em
todas as formas de capital constitui uma forma de induzir a maior e melhor
crescimento e a melhorias no bem-estar. Mas as políticas freqüentemente
introduzem distorções que encorajam tanto supra como infra-investimentos
em diferentes formas de capital. Exemplos dessas distorções são taxas de
investimento artificialmente baixas, subvalorização dos recursos naturais,
ou menosprezo da educação básica na política pública. Com o foco princi-
palmente no acúmulo de capital físico, a relativa negligência dos capitais
humano e natural não é nenhuma garantia para sustentar o crescimento.
Algumas evidências recentes apresentam pouca correlação entre taxas de
investimento e taxas de crescimento a curto prazo (Easterly, 1999c). É
provável que esforços especiais para encorajar o acúmulo de capital físico
imponham amplos custos.
Algumas mudanças políticas na década de 1980 e começo da de 1990
pareceriam ter elevado especialmente a taxa de retorno para o capital físico
refletido por explosões de investimento em muitos países, mas essas refor-
mas por si sós não garantiram automaticamente o crescimento sustentado,
na medida em que não houve investimentos complementares nos valores
humanos e naturais. Além disso, alguns países não geraram crescimento –
parcialmente em decorrência de regulamentação errônea (por exemplo,
licenças que reduzem os incentivos de investimento), e regulamentação
insuficiente (por exemplo, para os mercados financeiros e para lidar com os
monopólios).
De modo alternativo, o crescimento induzido por uma expansão dos
capitais humano, físico e natural relativamente não distorcida ou equilibra-
da pode ser sustentado por períodos prolongados.2 Equilibrada não signifi-
ca uma expansão igual dos bens, mas, antes, refere-se à acumulação de bens
em resposta a uma estrutura política não distorcida. É mais provável que tal
padrão reduza a pobreza e melhore a distribuição de renda, que, por sua vez,
cria as condições para um crescimento mais rápido, com a conseqüente me-
lhoria, também com maior rapidez, do bem-estar. Desse modo, prevenir
subinvestimento nos capitais natural e humano é um modo de promover
crescimento rápido e sustentado.
Iniciamos com uma estrutura que nos permite explorar essas hipóteses
e suas implicações: padrões de acúmulos de bens, fator de produtividade e
bem-estar social. Em particular, observamos as implicações de crescimento
de bens distorcidos para os pobres. A próxima seção fornece evidência
empírica a partir de uma variedade de fontes. Juntando-se à revisão históri-
ca de sessenta países, fornecemos evidência econométrica de dois grupos de
países nas determinantes do crescimento. Finalmente, transformamos a
evidência empírica numa variedade de subsídios (brutos), seguidos por uma
avaliação dos impactos dos subsídios de capital.

30
V A L O R E S , C R E S C I M E N T O E B E M - E S T A R

Uma Estrutura

Melhorando a qualidade dos cálculos nacionais, incluindo capitais


humano e natural, a estimativa de preços (não obstante as complexidades
em computá-los) é um modo de reconciliar a divergência entre melhorias de
crescimento e bem-estar. Mas mesmo o limitado progresso na avaliação
desses valores ainda não foi incorporado nos cálculos nacionais, e ainda
existem sérios problemas conceituais em relação a incorporá-los (e a pon-
derá-los). Por essas razões, uma abordagem mais prática (e mais modesta)
deve identificar padrões de medida de crescimento e instrumentos políticos,
provavelmente para promover maior bem-estar.

Três Padrões de Crescimento

Consideremos estas alternativas:

• Padrão 1. Crescimento não sustentado, onde a economia cresce com


algumas fases de crescimento rápido, mas a uma taxa reduzida, even-
tualmente conduzindo a estagnação ou quase.

• Padrão 2. Crescimento distorcido, comprado a expensas da deterio-


ração dos recursos naturais, por exemplo, de suas subavaliações:
atrasando os investimentos no capital humano, por exemplo, salva-
guardas inadequadas referentemente ao trabalho infantil, e subsídios
ao capital físico, tais como isenções de impostos, permitindo atrasos
nas contas dos impostos, dando garantias financeiras para recom-
pensar determinados investimentos, e fornecendo subsídios de crédi-
to de investimento.

• Padrão 3. Crescimento sustentado por meio da acumulação de valores


não distorcidos ou equilibrados, com apoio público para desenvolver a
educação primária e secundária, melhorando a saúde pública e prote-
gendo o capital natural. Isto previne um declínio nos retornos dos bens
privados (especialmente capital físico) e fornece os níveis mínimos de
crescimento de capital humano necessários para facilitar as inovações
tecnológicas e o crescimento do Fator Total de Produtividade (FTP).

O padrão 1 é habitualmente associado com crescimento lento e alta-


mente instável ou volátil. Previne a redução da pobreza e conduz a recursos
inadequados para investir nos capitais humano e natural. Ou seja, o padrão
1 causa estagnação econômica e perdas de bem-estar; ele habitualmente
ocorre num contexto de governo pobre e corrupto, mas que gera baixos
investimentos e alocação ineficiente de gastos públicos.

31
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Comparado ao padrão 1, o crescimento intermitente do padrão 2 me-


lhora o bem-estar e reduz a pobreza. Mas o crescimento de padrão 2
poderia depender do apoio público ao capital físico, o qual é difícil de
sustentar. O padrão 3 é mais apropriado para melhorar o bem-estar e
para a redução da pobreza. Contudo, para sustentar uma taxa razoável do
crescimento econômico, os principais valores da economia – física e
financeira, humana e social, natural e ambiental – precisam crescer em
taxas não distorcidas ou bastante equilibradas. A distribuição de bens
entre a população, especialmente do capital humano, é também impor-
tante. Um crescimento estável sustentado é altamente benéfico para os
pobres, que habitualmente sofrem mais nas reversões do crescimento-
pare-e-acelere.

Externalidades e Acumulação de Bens

Todas as formas de capital podem pôr em jogo externalidades.


Componentes dos capitais humano e natural freqüentemente têm um valor
social que vai além dos que provêm dos indivíduos que o usam. Como (par-
cialmente) bens públicos, eles possuem expansões positivas que não são
necessariamente levadas em conta pelas ações de indivíduos ou empresas.
É por isso que a política pública e outros mecanismos devem prever o
subinvestimento neles. Tem havido alguma ênfase na produção tecnológica
positiva e nas externalidades tecnológicas associadas com a acumulação de
capital físico (Barro & Sala-I-Martin, 1995; Romer, 1986). Mas as externa-
lidades associadas com capitais humano e natural são muito mais difíceis de
levar em conta, e são, provavelmente, mais amplas.3 Capitais natural e
humano são importantes não apenas como fatores de produção, mas, tam-
bém, como determinantes diretos do bem-estar social.
Os governos podem utilizar instrumentos de mercado para lidar com
esses efeitos externos. Mas a questão envolve igualmente a alocação de
gastos públicos. Os gastos governamentais computam tipicamente para
25%-30% do PIB, exercendo um efeito direto poderoso (como oposto aos
efeitos de políticas e regulamentações) sobre a alocação de recursos e dis-
tribuição de renda. Poucos países utilizaram instrumentos de mercado com
sucesso para computar o verdadeiro valor social dos capitais humano e na-
tural. Os governos responsáveis pela região amazônica, por exemplo, exa-
cerbaram as externalidades ambientais negativas. Subsídios públicos e
taxas de incentivo para grandes criadores de gado e lenhadores foram
responsáveis por mais de 50% dos desmatamentos na região amazônica
nas décadas de 1970 e 1980 (Binswanger, 1991). Além disso, os investi-
mentos públicos na infra-estrutura no âmbito das áreas fronteiriças ampli-
ficaram as externalidades associadas com a falta de direitos de proprie-
dades bem definidos em tais áreas.

32
V A L O R E S , C R E S C I M E N T O E B E M - E S T A R

Fazendo pouco para prevenir o subinvestimento em bens humanos e


naturais, deve, provavelmente, levar a um acúmulo desequilibrado de bens,
pelo menos a curto prazo, por focalizar-se sobre o acúmulo de capital físi-
co. Baseando-se principalmente no acúmulo de capital físico em vez de em
um crescimento de bens equilibrado, pode aumentar o crescimento do PIB
(utilizando métodos de cômputo convencional nacional). Mas o bem-estar
pode não aumentar com tanta rapidez – podendo até mesmo diminuir, se,
por exemplo, o capital natural fosse declinar drasticamente, ou se a quali-
dade da educação e a da saúde pública caíssem. As conseqüências distribu-
cionais de crescimento de bens distorcido ou desequilibrado poderiam tam-
bém ser severas, especialmente se o desequilíbrio torna o crescimento
instável, atingindo os pobres de forma desproporcional.
O crescimento rápido do PIB sem algum grau de aumento equilibrado
de bens pode igualmente ser difícil de sustentar. A menos que haja expan-
sões tecnológicas ou economias escalonadas, o acúmulo rápido de capital
físico, juntamente ao crescimento lento em capital humano e um esgota-
mento dos bens naturais, levaria a uma produtividade marginal declinante
de capital – enquanto os estoques de capital aumentam relativamente a ou-
tros bens produtivos (ver Anexo 2).

Crescimento no Fator Total de Produtividade e Acúmulo de Bens

A maior parte da ênfase dada neste capítulo foi a respeito do acúmulo


de bens e da estrutura de bens como fonte de crescimento. Um importante
conjunto de análises argumenta que a principal fonte de crescimento não é
a acumulação de bens, mas, sim, o crescimento do FTP, ou seja, Fator Total
de Produtividade (Easterly & Levine, 2000; King & Rebelo, 1993; Klenow
& Rodriguez-Clare, 1997a; Romer, 1986 e 1993). Esta conclusão, elabora-
da com base em modelos teóricos baseados em crescimento endógeno, é
sustentada por estudos empíricos anteriores demonstrando que o cresci-
mento no decorrer do tempo, especialmente nos Estados Unidos e em
alguns outros países industrializados, é, de fato, em grande parte explica-
do pelo FTP.
Análises dos países da Ásia oriental, contudo, sugerem que o cresci-
mento FTP pode não ser uma fonte tão importante de crescimento para
países em desenvolvimento como tem sido para os Estados Unidos e alguns
outros países industrializados. Os países da Ásia oriental são praticamente
os únicos em desenvolvimento que experimentaram crescimento rápido e
consistente, por longos períodos. Collins & Bosworth (1996), Kim & Lau
(1994), Krugman (1996) e Young (1991, 1994 e 1995) mostram que o
crescimento rápido da Ásia oriental antes de 1997 baseou-se em grande
acumulação de bens. Dois relatórios recentes, contudo, apontam para
fatores que qualificam estas análises. Klenow & Rodríguez-Clare (1997b) e

33
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Nelson & Pack (1998) enfatizam melhorias na mensurabilidade dos bens e


sutilezas metodológicas que poderiam alterar significativamente as con-
clusões atingidas por outros autores.
O FTP nos países em desenvolvimento é potencialmente importante
para o crescimento. É, também, diretamente ligado à acumulação de bens
por duas razões. Primeira, um principal veículo da nova tecnologia está
encarnado no capital importado e em novos bens intermediários. Segunda,
para beneficiar-se do progresso tecnológico, o nível de educação precisa ser
continuamente aumentado, tanto em profundidade como em amplitude.
Expandir a educação geral é mais crucial nos países em desenvolvimento do
que naqueles industrializados, onde já existe uma base ampla. No entanto,
na maioria dos países em desenvolvimento a educação geral é ainda insufi-
ciente para facilitar a difusão tecnológica. Assim, o crescimento FTP apenas
pode ser rápido se o capital humano se amplia e se aprofunda rapidamente.
É por isso que ele guarda uma ligação muito próxima com a acumulação de
bens, e porque pode ser difícil distinguir FTP e crescimento de bens como
fontes de crescimento.

Investimentos no Capital Físico

Reformas de mercado – liberalização do comércio e do mercado de ca-


pital, privatizações, eliminação do controle de preços, a liberação do merca-
do de trabalho e outros – têm sido instrumentos vitais para o crescimento
ao aumentar as recompensas para todas as formas de capital. Em razão da
maior receptividade dos investimentos privados em capital físico em relação
aos capitais natural e humano, eles ajudaram alguns países (especialmente
aqueles não severamente afetados pela corrupção) a conhecer uma explosão
de investimento, acelerando o crescimento. Algumas dessas reformas – por
exemplo, liberalização do comércio ou mudanças enviesadas antiagrícolas –
também aumentaram as recompensas para o capital humano. Contudo, na
ausência de investimentos complementares nestes bens (principalmente
capital humano), a expansão do capital físico poderia produzir um retorno
declinante e, eventualmente, uma desaceleração do crescimento (ver Anexo
2). Para alguns países esta tendência tem sido computada pelo aprofunda-
mento do processo de reforma, ao passo que outros utilizaram um aumen-
to de recursos públicos para sustentar distorções (embora gerando cresci-
mento padrão 2).
Além disso, enquanto os países em desenvolvimento participam mais
dos mercados globais, governos nacionais (e subnacionais) podem com-
prometer-se na competição para atrair capital mediante a criação artifi-
cial de condições favoráveis, como se viu na recente evidência sobre
os subsídios, para atrair investimentos estrangeiros nos países indus-
trializados e em desenvolvimento. (Para uma análise dos países como

34
V A L O R E S , C R E S C I M E N T O E B E M - E S T A R

Argentina, Brasil e os da Europa ocidental, ver Oman, 2000; e também na


próxima parte.) Há uma variedade de evidências, de incentivos, de sub-
sídios relacionados com investimentos nas indústrias, tais como a indús-
tria automobilística de várias regiões, ou na superexploração mediante a
depreciação dos recursos naturais, como na mineração e no florestamen-
to. Um mecanismo para aumentar o atrativo dos investimentos domésti-
cos e estrangeiros é “dispensar” os recursos humanos e naturais a baixos
custos, por exemplo, permitindo o trabalho infantil; não melhorando a
saúde e as regras de saneamento no local de trabalho; não regulamen-
tando os bancos e outras instituições financeiras; não melhorando as re-
gulamentações ambientais; e dispensando a mineração, a água e os direi-
tos de exploração da madeira.4
Em alguns países, esses subsídios de capital e isenções de impostos
podem contrabalançar os custos associados das firmas com o mau governo
e a corrupção, que reduzem seus incentivos para investir nas atividades pro-
dutivas (ver Capítulo 6). Isto sugere que, ao reduzir a corrupção e o mau
governo, torna-se possível, para os países, poupar recursos. Somado ao go-
verno, outro ingrediente que pode desempenhar papel positivo na qualidade
do crescimento são as forças das instituições informais de um país, às quais
freqüentemente se referem como capital social (Quadro 2.1).

Investimentos nos Capitais Humano e Natural

O outro lado da moeda dos incentivos especiais aos capitais físico e


financeiro é a atenção insuficiente dada ao capital humano e a rápida
destruição de várias formas no capital natural, mediante a superexploração.
Esforços para levantar artificialmente os incentivos para investimentos nos
capitais físicos e financeiros poderiam ser ligados a investimentos sufi-
cientes nos capitais naturais e humanos.
O setor privado contribui para o acúmulo de capital humano – por
meio de treinamento, escolas particulares e serviços de saúde privados.
Mas escolaridade privada e serviços de saúde privados vão principal-
mente para os mais ricos, que têm condições de pagar para sua prosperi-
dade e a de seu capital humano. Muitas pessoas, particularmente aqueles
de baixa e média rendas, dependem do apoio público para acumular capi-
tal humano. Imperfeições nos mercados de capital proíbem que eles
façam empréstimo contra ganhos futuros, tornando esta dependência
ainda mais acentuada.
Crescimento em capital físico pode derramar-se no capital humano por
meio de investimentos privados na pesquisa e no desenvolvimento, e no
treinamento em mais altas tecnologias – ou seja, no crescimento do conheci-
mento dirigido. Mas para sustentar este crescimento, uma ampla (e cres-
cente) parte da força de trabalho deve ter escolaridade geral suficiente, que

35
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Quadro 2.1 – Capital Social

A noção de capital social recebeu muita atenção dos mento? E será que há intervenções políticas que po-
peritos e profissionais em desenvolvimento nos últi- dem contribuir para sua formação? Evidências envol-
mos tempos. O grupo dos fenômenos reunidos sob a vendo tantos microdados agregados de campo e inte-
rubrica de capital social inclui confiança, normas coo- rior acumulam-se para sugerir o potencial do capital
perativas, eleição, participação em referendos e ativi- social. Knack & Keefer (1997) utilizam-se de dados
dades associativas horizontais em diversos grupos. do World Values Survey para 29 economias de merca-
De que maneira o capital social afeta o desempe- do durante o período de 1980-1994 para provar a
nho econômico? importância da confiança e do envolvimento civil.
Depois de controlar de início a renda per capita, o ca-
• Pouquíssimos recursos precisam ser gastos para pital humano e o capital de preços de bens básicos,
proteger-se contra as fraudes, as transações eco- descobriram que ambos os índices de capital social
nômicas, que seriam quase um corolário de am- mostram ligações significativas para o crescimento
bientes de alta confiança. econômico. Descobriram também que a confiança é
• Há menos necessidade para os empreendedores ainda mais importante para os países mais pobres
monitorarem fornecedores e trabalhadores, libe- com sistemas legais e setores financeiros frágeis. Uma
rando mais recursos para a atividade inovadora. implicação política: estabelecer instituições legais for-
• Confiança interpessoal pode ser substituída por mais e de crédito é especialmente importante em so-
direitos de propriedades formais. ciedades de baixa confiança.
• Um maior grau de confiança na política do go- O conceito de capital social tem gerado discussões
verno é bom para o investimento. e debates. Seus proponentes reclamam que ele seja
• Um maior grau de confiança parece importante tão importante quanto – ou abrangendo – capitais
para o acúmulo do capital humano. Galor & humano, físico e natural. Outros consideram este foco
Zeira (1993) sugerem que maior confiança está excessivo e inapropriado. Alguns dos trabalhos nesta
associada com maior número de matrículas na área também são criticados por deixar de fora impor-
educação secundária. tantes dimensões sociais Temple & Johnson (1998)
• Confiança e participação cívica são igualmente sugerem uma perspectiva geral: simplesmente que
associadas com o melhor desempenho das insti- a sociedade tem importância. Eles analisam os da-
tuições governamentais, inclusive aquelas para a dos sob variáveis socioeconômicas compiladas por
educação pública. Adelman & Taft-Morris (1967) e mostram que muitas
• Ação comunitária ou cooperativa por grupos variáveis sociais têm um significativo poder explicati-
locais podem diminuir “a tragédia do povo”, vo na predição do crescimento econômico a longo
superexploração e submanutenção (Ostrom, prazo. Essas variáveis vão das “variáveis de confiança”
1990). tipicamente estudadas por pesquisadores do capital
• Maiores ligações entre os indivíduos facilitam social. Entre tais variáveis, a mais importante delas
melhores fluxos de informação e uma difusão para capturar diferenças nos arranjos sociais inclui a
mais rápida da inovação (Besley & Case, 1994; extensão da comunicação de massa (jornais e rádios),
Foster & Rosenzweig, 1995; Rogers, 1983). o caráter da organização social básica, a modernização
• O capital social pode atuar como seguro infor- da perspectiva, a extensão da mobilidade social e a
mal, mais do que como a diversificação de um importância das classes médias nativas.
portfólio. Riscos divididos por muitos negócios Algumas leituras-chave são Dasgupta & Serageldin
internos e administração podem atuar como (1999), Narayan & Pritchett (1999) e Woolcock (1998).
uma rede de segurança social e evitar que elas Ver também dois conjuntos de artigos que aparecem
assumam atividades de mais alto risco e de mais nas partes especiais do World Development (Evans,
alto retorno (Narayan & Pritchett, 1999). 1996) e no Journal of International Development (Harris,
1997). Incluído no último, encontra-se um artigo
Mas, será que o capital social pode ser medido, e crítico de utilização e noção de uso do capital social do
qual é a sua efetividade de contribuição para o cresci- World Bank (Fox, 1997).

36
V A L O R E S , C R E S C I M E N T O E B E M - E S T A R

lhe permita adquirir habilidades e tecnologia e participar da expansão das


atividades de pesquisa e desenvolvimento. Assim, a escolaridade geral ofere-
cida publicamente e o conhecimento gerado de maneira privada são comple-
mentares. Se a qualidade e a cobertura da escolaridade geral não au-
mentarem de modo rápido o suficiente, o crescimento de conhecimento
dirigido pode ser sufocado, particularmente nos países mais pobres onde a
maior parte da força de trabalho não tem educação de nível primário
(Capítulo 3).
Crescimento sem políticas ambientais complementares pode ameaçar o
ambiente enquanto o acúmulo do capital físico acelera. Isso é especialmente
provável nos países com vantagens comparativas em indústrias de recursos
naturais intensivos, que também requerem muito capital físico para sua
exploração, como a mineração, a economia florestal e a pesca. Prevenir a
degradação excessiva dos recursos ambientais e naturais depende igual-
mente de políticas públicas e de investimentos. Muitos recursos ambientais
têm valores sociais – como gastos na produção e no consumo – que estão
geralmente bem acima daqueles que o setor privado leva em consideração
em suas alocações de recursos. Quando os recursos naturais são abundantes,
não é provável que a degradação do capital natural tenha muito efeito sobre
a produtividade do capital físico. Mas depois que os recursos naturais caem
abaixo de determinados patamares, a degradação posterior pode reduzir a
produtividade do capital físico (Capítulo 4).
Enquanto a degradação do capital natural deve, provavelmente, reduzir
o bem-estar, seu impacto sobre o crescimento econômico está sujeito a
debate (ver a discussão entre Daly, Solon e Stiglitz em Daly, 1997). Esse
impacto articula a substituição de outros bens para o capital natural (ver
Anexo 2). Algumas evidências recentes implicam que o capital humano,
mas não o capital físico, pode ser substituído por capital natural. Assim, as
economias que expandem o capital humano podem reduzir a dependência
do crescimento de saída em capital natural. Os altos níveis de capital
humano permitem que a economia se diversifique em atividades progressi-
vamente menos intensivas no capital natural. Por exemplo, um país com
alto nível de capital humano pode especializar-se em atividades de conhe-
cimento intensivas, tornando a exploração do capital natural menos essen-
cial para a sustentação do crescimento de renda.
Mas é provável que a degradação do capital natural seja devastadora para
os pobres, que geralmente possuem pouco capital humano e continuam a
depender do capital natural (solos, fontes de água natural, pescas) para suas
rendas, até mesmo em economias de renda média. Porque os pobres têm
poucas possibilidades para substituir outros bens por recursos naturais, a
degradação daqueles recursos poderia levar a círculos viciosos irreversíveis
de pobreza e destruição ambiental (ver López, 1997, para uma análise dos
traços dinâmicos da degradação dos recursos naturais e mudança institu-
cional para os pobres rurais).5

37
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Crescimento Distorcido de Bens e os Pobres

Os pobres, em razão de sua carência de bens, teriam maiores dificul-


dades que os ricos para diminuir seu consumo nos tempos ruins. Próximo
aos limites da subsistência, trabalham habitualmente em atividades mais
atingidas pelos ciclos econômicos (agricultura, construção). Assim, o cres-
cimento instável geralmente tem efeitos severos para eles, e uma crise
econômica pode, então, degradar seus bens humanos e naturais, que podem
não estar aptos a beneficiar-se de explosões subseqüentes (ver Anexo 2).
A economia dos pobres é separada freqüentemente de muitos modos da
economia moderna, mas a demanda por seus produtos depende, pelo me-
nos em parte, da economia moderna (taxas de câmbio, por exemplo, afetam
os preços de seus produtos de exportação). A instabilidade na economia
moderna, então, afeta os incentivos para os pobres, e a deterioração desses
incentivos atinge os pobres. Mesmo que os retornos dos incentivos voltem
aos níveis originais, os pobres podem não estar aptos para se aproveitar
deles. Isto implica duas alternativas possíveis de equilíbrio: um equilíbrio
de crescimento sustentado e um equilíbrio de subsistência estagnante.
Durante os tempos malogrados, os pobres perdem os bens necessários para
manter o consumo em níveis de subsistência e de responder a incentivos
mais fortes no próximo boom.
Alguns países em desenvolvimento, por exemplo, na América Latina,
conheceram uma relativa alta na desigualdade de renda, especialmente devi-
do à distribuição incorreta do capital físico, da educação e da terra. Expandir
a educação poderia mudá-la. Tornar a educação menos concentrada, di-
gamos, realocando os gastos públicos para a educação básica e secundária,
é, provavelmente, não só a redistribuição menos controversa, mas também
a mais viável.
A desigualdade de bens afeta o bem-estar social por meio de dois meca-
nismos. Um efeito é direto: amplos segmentos da população têm poucos bens
e consomem pouco, enquanto uma minoria conta com amplas quantidades de
bens e consomem muito (ver Anexo 2). O outro efeito é indireto: a desigual-
dade de bens mostrou-se capaz de reduzir o potencial para o crescimento
econômico e a redução da pobreza mediante uma variedade de canais (sobre
a desigualdade de bens e crescimento, ver, por exemplo, Alesina & Rodrik,
1994; Deininger & Squire, 1998; Persson & Tabellini, 1994; Ravallion & Sen,
1994; e para uma revisão bibliográfica, Capítulo 3 e Tabela A3.5).
Até mesmo pequenas mudanças na distribuição de renda podem ter am-
plos efeitos na extensão e na profundidade da pobreza nos países em desen-
volvimento (Lundberg & Squire, 1999). Vários estudos tentaram estabelecer
uma relação entre distribuição de renda e crescimento. Contudo, como argu-
mentam Lundberg & Squire, crescimento e desigualdade deveriam ser anali-
sados como variáveis endógenas associadas. Como a desigualdade de bens
afeta tanto o crescimento como a distribuição de renda, está intimamente

38
V A L O R E S , C R E S C I M E N T O E B E M - E S T A R

relacionada com o modo em que o nível e a composição dos gastos públicos


na educação e na saúde afetam a desigualdade do capital humano.
É improvável que as distribuições incorretas da educação produzam os
melhores resultados de crescimento.6 Se o capital humano for relativamente
concentrado, qualquer concentração posterior diminuiria o crescimento, ao
passo que esforços para melhorar sua distribuição beneficiariam o cresci-
mento (Capítulo 3). Uma economia com menor número de pessoas alta-
mente educadas e com alto número de analfabetos pode achar difícil sus-
tentar altas taxas de retorno para o capital físico, porque as expansões tec-
nológicas potenciais associadas com o acúmulo de capital podem não se
materializar. Maiores acessos à educação secundária e superior permitiriam
maiores expansões tecnológicas.

Evidência Empírica

Nesta parte, fornecemos quatro tipos de evidência:

• Experiência em sessenta países em desenvolvimento. A experiência de cres-


cimento tem freqüentemente seguido os padrões 1 e 2, baseando-se
principalmente em uma alta de investimento no capital físico,
enquanto o investimento no capital humano atrasou-se e o investi-
mento no capital natural tem sido, na maioria das vezes, negativo
(ver Quadro 2.2).

• Evidência econométrica. É improvável que o crescimento que se baseie


principalmente na expansão do capital físico seja sustentável. As pos-
síveis expansões positivas do investimento de capital físico não pare-
cem ser suficientes para manter uma taxa de crescimento estável, na
ausência de uma expansão significativa de capital humano e de uma
utilização sustentável do capital natural.

• Evidência nos subsídios. Países industrializados e em desenvolvimento


gastaram recursos públicos nos subsídios. No caso do capital,
envolvem uma variedade de mecanismos que incluem isenções de
impostos, subsídios de crédito e bolsas. Os subsídios absorvem uma
parte abrangente dos lucros governamentais, que nos países em
desenvolvimento parecem comparáveis ao que é gasto na educação,
saúde e setores sociais.

• Impacto dos subsídios. Uma descoberta da bibliografia é que os subsí-


dios de capital não contribuíram para uma produtividade aumenta-
da e tiveram apenas efeitos modestos sobre o crescimento. Além
disso, seus efeitos no crescimento parecem ter tido vida curta.

39
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Quadro 2.2 – Abordagens Alternativas para a Sustentação do Crescimento: Brasil, Chile e


Coréia

Duas abordagens em busca do crescimento susten- Atenção ao Capital Humano


tado poderiam ser arroladas:
A Coréia também parece ter subsidiado investidores
Abordagem 1. Políticas cada vez mais amplas e dis- que iniciaram antes da década de 1990. Seus subsídios
torções de gasto (incentivos e subsídios) em favor do eram seletivos, focalizando principalmente umas pou-
capital (padrão 2 de crescimento). cas indústrias de uma vez – objetivando o desenvolvi-
Abordagem 2. Altos níveis de apoio para o cresci- mento para umas poucas indústrias dos exportadores
mento de outros bens de modo igual, particular- em um período razoável. Algumas indústrias favore-
mente capital humano (padrão 3 de crescimento). cidas tornaram-se líderes em provocar expansões de
A abordagem 1 implica que manter uma alta taxa crescimento para outras. Enquanto essa abordagem foi
de crescimento requer que o viés pró-capital seja cres- problemática de vários modos, ela implica relativa-
cente todo o tempo. Afora ser menos efetivo que a mente menos de um ônus financeiro explícito para o
abordagem 2 na sustentação do crescimento a longo setor público. Somando-se a isso, a alocação de recur-
prazo, esta abordagem significa crescimento estável a sos públicos para a educação priorizou a educação
curto prazo e crescentes concentrações de renda e ri- básica, o que permitiu ao setor público apoiar a rápida
queza. É provável que a abordagem 2 seja melhor construção do capital humano, juntamente com um
para sustentar uma taxa de crescimento razoável a rápido declínio do Coeficiente Gini de Educação (Ca-
longo prazo, reduzindo a curto prazo a instabilidade pítulo 3). Isso também equilibrou os incentivos para o
e promovendo a eqüidade. crescimento dos bens físicos e humanos, permitiu que
a desigualdade de renda permanecesse em níveis
Favorecer o Capital Físico aceitáveis e ajudou a pobreza a declinar.
Houve crescimento econômico sustentado durante
A maioria dos países utiliza uma combinação as décadas de 1980 e 1990 até 1997. O crescimento
destas duas abordagens com ênfases diferentes. O foi relativamente estável – possivelmente em parte
Brasil, como vários outros, algumas vezes parece ter porque o setor público manteve o seu apoio tanto ao
utilizado a abordagem 1. Revisões de vários países capital humano como ao físico ao longo dos anos.
mostram exemplos de alocações públicas para apoiar
a lucratividade de capital mediante subsídios de Neutralidade Relativa
financiamento direto para investidores nacionais e
estrangeiros; esforços para construir uma infra-estru- Desde o início da década de 1980, o setor público
tura de serviços com dinheiro público, orientado para do Chile geralmente absteve-se de favorecer direta-
a expansão de indústrias particulares, e desenvolver mente o capital físico. Nem os setores sociais, parti-
áreas ambientais sensíveis; assim como o crédito, ta- cularmente educação e saúde, receberam apoios espe-
xas e políticas de preço a favor do capital. Em muitos ciais, senão durante o período 1997-2000. O setor
países, a alocação dos recursos públicos para a edu- público não assumiu nenhum papel significante em
cação enfatizou subsídios para a educação de 3º grau estratégia de orientação de crescimento nestas áreas.
e subinvestiu na escola de 1º e 2º graus. Contudo, o Chile teve uma taxação baixa ao utilizar
Durante as duas últimas décadas, o desvio-padrão seus recursos naturais, fornecendo fortes incentivos
das taxas de crescimento anual tem sido maior do para investidores estrangeiros explorarem a mine-
que a taxa de crescimento médio (Tabela 2.1). Tal ração, a economia florestal e a pesca.
instabilidade poderia ser devido, em parte, à capaci- Houve um boom em 1987-1995, que se beneficiou
dade variável do setor público em gerar os recursos de uma ampla aceleração de investimento no capital
necessários para continuar a apoiar o capital físico, físico, com o capital humano ficando para trás. A falta
em termos relativos. Igualmente, o relativamente pe- de dependência do capital dos subsídios diretos pode
queno apoio aos setores sociais pareceria ter con- ter levado a taxas de crescimento estáveis na expan-
tribuído para a desigualdade social. são dos anos 80.

40
V A L O R E S , C R E S C I M E N T O E B E M - E S T A R

Quadro 2.2 Continuação

Tabela 2.1 – Variáveis Seletas para Brasil, Chile e Coréia

Variável Brasil Chile Coréia

Crescimento do PIB (porcentagem ao ano)


Nível médio 2,8 5,9 7,6
Coeficiente de variação a 1,4 0,9 0,4

Gastos públicos com educação e saúde (porcentagem do PIB)


Nível médio 2,9 5,6 3,4
Tendência ao longo do tempo 0,1 -0,1 0,0

Investimento interno bruto (porcentagem do PIB)


Nível médio 20,5 19,7 32,6
Tendência ao longo do tempo -0,1 0,6 0,4

Itens memo (último ano disponível)


Pobreza (porcentagem abaixo de US$ 1 ao dia) 23,6 15,0 –
Coeficiente Gini de Renda 0,60 0,59 0,32
Coeficiente Gini de Educação 0,39 0,31 0,22
Analfabetismo (porcentagem) 16,7 4,8 2,0
Mortalidade infantil (por 1.000) 34,0 11,0 9,0

– Não disponível.
Nota: Os valores são para 1978-1997, exceto para os gastos em educação e saúde que são para 1980-1997 (1980-1994 para o Brasil), e anos específicos
para algumas variáveis.
ª O desvio-padrão de crescimento dividido pela taxa de crescimento.
Fontes: Várias edições do World Development Indicators (World Bank), e do Government Finance Statistics Yearbook, do Fundo Monetário Internacional.

Reformas e Crescimento Desequilibrado em Sessenta Países

Uma revisão de sessenta países no fim das décadas de 1980 e 1990


mostra que mais ou menos 16 países foram considerados sérios refor-
madores ao implementar um conjunto de mudanças políticas (Tabela 2.2).
Os outros 44 países não implementaram tal conjunto de reformas durante
o período. Os reformadores já possuíam taxas de acúmulo de capital físico
na década de 1980 maiores do que os não reformadores.7 Embora uma
experimentação controlada revelasse melhor contrafactuais, o contraste é
sugestivo. Na década de 1990, as taxas de acúmulo de capital físico aumen-
taram em torno de 70% para os reformadores, enquanto declinaram para os
não reformadores. No entanto, o crescimento do capital humano aparente-
mente não sofreu um aumento muito grande tanto para uns como para ou-
tros. Os gastos com a educação como uma parte do PIB foram mais baixos
para os reformadores do que para os não reformadores, aumentando mo-
destamente para ambos os grupos na década de 1990.8

41
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Tabela 2.2 – Revisão dos Indicadores de Desenvolvimento para Sessenta


Reformadores e Não Reformadores, em Anos Seletos

Indicador de desenvolvimento Anos 16 reformadores 44 não reformadores

Valor crescimento PIB per capita (por cento) 1984-89 2,8 -0,5
Anos 90 3,5 0,01
Valor crescimento estoque capital físico (por trabalhador/por cento) 1984-89 2,1 0,0
Anos 90 3,5 -0,5
Taxa de desmatamento (por cento) 1984-89 0,7 1,2
Anos 90 1,1 1,4
Gasto com educação na porcentagem do PIB 1984-89 3,2 4,6
Anos 90 3,5 4,7

Nota: Os reformadores nesta tabela são definidos com base no rápido índice de integração (World Bank, 1996a). Os países que implementaram reformas econômi-
cas significativas (reformadores) no fim da década de 1980 ou no início da de 1990 por essa medida são: Argentina, Chile, Bolívia, China, Indonésia, Coréia, Gana,
Malásia, Ilhas Maurício, México, Marrocos, Nepal, Peru, Filipinas, Sri Lanka e Tailândia.
Fonte: Cálculos dos autores.

Embora as taxas de desmatamento, uma rude procuração para a de-


gradação dos recursos naturais, tenham sido mais baixas para os refor-
madores do que para os não reformadores em ambos os períodos, os des-
matamentos realizados pelos reformadores quase dobraram na década de
1990, enquanto os não reformadores apresentaram um leve aumento.
Logo, os reformadores tiveram significativo crescimento econômico
acelerado durante a década de 1990, o qual parece ter se baseado na acumu-
lação de capital físico, enquanto, em termos relativos, os investimentos no
capital humano e capital natural ficaram para trás.
Serão os aumentos de gastos educacionais pelos reformadores o sufi-
ciente para sustentar as novas taxas de crescimento? Será que a aceleração
da degradação do capital natural atinge seriamente a sustentabilidade do
crescimento para os reformadores e os não reformadores? Para responder a
estas questões, precisamos saber como os gastos aumentam o capital
humano, como aprofundar-se nos capitais humano e físico afeta o cresci-
mento, e como a perda de capital natural também pode afetar o crescimento.

Evidência Econométrica: Vinte Países de Renda Média

A análise de crescimento econométrica na maioria dos vinte países de


renda média durante 1970-1992 mostra o seguinte (ver anexo da Tabela
A2.1 e López et al., 1998):9

• A produtividade marginal de capital, dados outros níveis de bens,


diminui com aumentos no capital físico. A economia de escala e as
expansões tecnológicas a partir do investimento no capital físico
aparentemente menor podem não ser suficientes para contrabalançar
o declínio da produtividade marginal de capital físico – o sugere que,

42
V A L O R E S , C R E S C I M E N T O E B E M - E S T A R

baseado primariamente no acúmulo de capital físico, não pode ser


sustentado a longo prazo.

• Capital humano, aqui representado pela educação formal, pareceria


ter um efeito positivo poderoso sobre o crescimento econômico em
episódios reformadores, mas não na ausência de reformas. Isto impli-
ca que a educação não contribuiria muito para a produtividade do
capital físico em economias super-reguladas, com pouco espaço para
mercados. Mas poderia fazer muito para empurrar a produção mar-
ginal do capital físico e crescimento econômico em uma estrutura de
boas condições de mercado – o que confirma nossa hipótese apresen-
tada anteriormente, de que o acúmulo de capital humano com rapidez
suficiente pode induzir ao crescimento sustentado. Ao mesmo tempo,
essa evidência sugere que reformas de mercados-chave são uma
condição necessária para o crescimento sustentado a longo prazo.

• Nas economias e episódios não reformadores, as taxas de crescimen-


to econômico não são sustentadas, sem levar em conta as adições ao
capital humano, de acordo com esses resultados. Ao contrário, eles
encaram a estagnação depois de períodos de crescimento moderado,
engatilhado pelos choques exógenos favoráveis que temporariamente
estimulam os retornos ao capital físico.

• As boas taxas de crescimento econômico nos episódios de reforma


podem ser sustentadas se o capital humano crescer de modo sufi-
cientemente rápido para contrabalançar a diminuição marginal, os
retornos declinantes de capital marginal provocados pelo acúmulo de
capital físico. O crescimento per capita de mais ou menos 4% ao ano,
de acordo com estas estimativas, pode ser sustentado se o capital
humano per capita expandir-se a mais ou menos 1,7%-1,8% ao ano.

De modo que o crescimento baseado principalmente no acúmulo de ca-


pital físico – desprezando o capital humano – não pareceria ser sustentado.
Reformas de mercado podem acelerar o crescimento. Mas se as reformas
não forem acompanhadas por investimentos de capital humano, provavel-
mente o crescimento estará fadado a dar sinais. Ao contrário dos não refor-
madores, países que implementam reformas de mercado possuem uma
chance de crescimento sustentado.

Evidência Econométrica: Setenta Países em Desenvolvimento

Os estudos prévios não consideraram capital natural como um determi-


nante do crescimento, mas poucos dos vinte países analisados anterior-

43
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

mente mostram uma dependência forte sobre o capital natural como fonte
de renda. Um estudo que relaciona setenta países em desenvolvimento,
incluindo tanto países pobres como de renda média e até mesmo várias
nações subsaarianas, considera os capitais físico, humano e natural fatores
que afetam o crescimento (López et al., 1998; ver também nota 8).10
Diferentemente da maioria dos estudos prévios, este utiliza-se de uma
forma funcional flexível (flexível às equações de crescimento) que permite
efeitos não-lineares das variáveis explicativas e efeitos interativos por meio
destas variáveis. Os efeitos interativos são de extrema importância para elu-
cidar a substituição ou complementaridade de interesses no processo de
crescimento (ver Tabelas do Anexo A2.2 e A2.3).

• De acordo com essas estimativas, a taxa de crescimento econômico


sobre a média declina com o aumento nos estoques de capital físico
– para capitais natural e humano constantes –, mas não para todos os
países. Países com capital físico muito baixo para razões de trabalho
tendem a ter suas taxas de crescimento aumentadas. Assim, em paí-
ses de capital pobre, a acumulação de capital primeiramente tende a
tornar ainda mais rápido o crescimento. Mas, depois de atingir uma
certa intensidade de capital, um acúmulo posterior de capital físico –
para dados capitais humano e natural – possui um efeito declinante
no crescimento econômico.

• O capital humano, na média, poderia parecer aumentar a taxa de


crescimento econômico, embora este elo seja menor que no estudo
anterior. Enquanto o capital humano cresce, o elo positivo com o
crescimento econômico torna-se maior. Em baixos níveis de capital
humano, seu elo com o crescimento econômico é negligenciável, mas
em níveis elevados de capital humano ele torna-se maior, com o
efeito marginal de estoque do capital humano no crescimento sem-
pre em elevação.

• Para sustentar o crescimento econômico, o capital humano, ao con-


trário do capital físico, pode em alguma extensão ser substituído pelo
capital natural. A taxa de crescimento dos países com altos níveis de
capital humano, ao contrário dos países pobres, é muito menos sen-
sível à perda de capital natural. Para os países pobres, o capital natu-
ral é crucial para a sustentação do crescimento econômico rápido,
contudo eles precisam investir em capital humano para reduzir sua
dependência do capital natural.

Tais resultados sugerem que o crescimento especialmente baseado no


acúmulo de capital físico tende a ser difícil de sustentar. Economias de
escala e expansão técnica crescendo a partir do acúmulo de capital físico

44
V A L O R E S , C R E S C I M E N T O E B E M - E S T A R

existem, mas podem não ser suficientes para sustentar o crescimento. Para
permitir o crescimento sustentado, o acúmulo de capital físico precisa ser
acompanhado por uma expansão de capital humano.11 O desinvestimento
em capital natural atinge a sustentabilidade do crescimento, especialmente
em países pobres em capital humano. Este resultado, que apenas o acúmu-
lo de capital físico pode não sustentar o crescimento, é coerente com estu-
dos empíricos recentes (Barro & Sala-I-Martin, 1996; Jones, 1995; Mankiw
et al., 1992; Young, 1994 e 1995).

Evidência nos Subsídios

O acúmulo de evidências durante a década passada indica que os subsí-


dios governamentais para a indústria, a agricultura e a infra-estrutura global
são amplos. A Tabela A2.4 no Anexo 2 apresenta alguns exemplos que ilus-
tram tanto o tamanho como o impacto de tais subsídios. Os dados são frag-
mentados e parciais, tornando difícil colocar-se em perspectiva a verdadeira
magnitude desses subsídios em relação ao PIB e em relação aos gastos go-
vernamentais. Em acréscimo, os dados disponíveis incluem apenas subsídios
diretos envolvendo despesas financeiras diretas (ou lucros e taxas prece-
dentes) para o setor público. A evidência no subsídio indireto como con-
cessão de recursos naturais é, na maioria das vezes, anedótico. As evidências
disponíveis, contudo, permitem-nos estabelecer uma estimativa de limite
mais baixo dos subsídios financeiros, pelo menos para alguns países.
É importante que se note que esta continua sendo uma estimativa gros-
seira. Ela não considera a magnitude da rede depois de computar taxas ou
outras distorções contrabalançadas. Essa estimativa também não diferencia
entre casos em que tais subsídios poderiam ser justificados em campos so-
ciais e em quais não poderiam ser. Juntamente com as taxas, eles influen-
ciam o valor dos impostos, introduzindo elementos de não-transparência,
discriminação por meio de diferentes atividades e pressões sobre recursos
escassos – tornando-os não fidedignos.
Durante o início da década de 1990, os países industrializados (OECD)
gastaram estimativamente US$ 490-615 bilhões por ano em subsídios para
a agricultura (US$ 335 bilhões), energia (US$ 70-80 bilhões) e transporte
rodoviário (US$ 85-200 bilhões) (De Moor & Calamai, 1997). O montante
é de quase 2,5%-3,0% do PIB total dos países da OECD e em torno de 7,6%-
9,1% do total dos gastos governamentais. Os países em desenvolvimento
gastaram entre US$ 220-270 bilhões ao ano para subsidiar a energia, o
transporte rodoviário, a agricultura e a água durante os primeiros anos da
década de 1990. Esse montante para mais ou menos 4,3%-5,2% do PIB e
19%-24% dos gastos totais do governo. Essas estimativas de subsídios
apontam para possíveis distorções e não sugerem, necessariamente, supe-
rinvestimento nesses setores no agregado.

45
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Por um lado, esta é, provavelmente, apenas uma parte da totalidade dos


subsídios, assim como os subsídios à manufaturação não estão aqui incluí-
dos. Por outro, alguns destes subsídios (especialmente para a energia)
dizem respeito à demanda do consumidor e não à produção corporativa, que
é nosso foco principal. Contudo, parte significativa dos subsídios para a
energia parece ser captada por entidades corporativas, e as estimativas ora
apontadas poderiam ainda estar bem próximas de representar subsídios
corporativos.
A partir de uma estimativa diferente, os subsídios corporativos nos
Estados Unidos, no ano de 1996, foram de US$ 170-200 bilhões (Collins,
1996), ou 2,3%-2,7% do PIB e 10%-12% dos gastos totais do governo. Os
subsídios governamentais para as corporações do Fortune 500, que em
1997 marcaram lucros de US$ 325 bilhões, representavam mais ou menos
US$ 75 bilhões – compreendendo bolsas governamentais, seguro a baixo
preço, empréstimos e garantias subsidiadas (Moore, 1999).
Fora dos subsídios de energia e agricultura, os países provêem subsídios
diretamente para indústrias manufatureiras. A evidência sugere que esses
subsídios industriais podem ser mais amplos do que os subsídios para ener-
gia e agricultura. Subsídios aos investidores estrangeiros parecem ser signi-
ficativos em um certo número de casos de países. O tratamento de impos-
tos preferenciais para empresas estrangeiras às vezes pesa no governo em
abster-se de lucros de impostos. A competição por investimentos
estrangeiros é, em alguns casos, uma razão para estes subsídios, que se diri-
giram a investidores na mineração e a várias indústrias que compõem um
leque que vai desde o automóvel até o aço (Aviation Week and Space
Technology, 1999; Castaneda, 1997; La Nación, 10 de junho de 1997; Sieh Lee,
1998; Oman, 2000; e igualmente Tabela A2.4 no Anexo 2). Eles são essen-
cialmente discriminatórios na natureza, e levantam as questões da efetivi-
dade de favorecer alguns sobre outros.
Estes dados, admitidamente parciais, sugerem o significado dos subsí-
dios corporativistas como uma proporção dos gastos do governo – com
implicações para os subsídios de capital, embora não tenhamos sido capazes
de desembaraçar completamente o capital e os subsídios corporativistas.
Enfatizamos, anteriormente, um padrão de bens de crescimento mais neu-
tro e menos distorcido, que inclui a expansão dos bens naturais e humanos
juntamente com o físico. Esses subsídios competem com escassos recursos
públicos com usos alternativos. A questão é saber se eles poderiam ou não
ser mais bem gastos a partir do ponto de vista social no setor em questão,
ou em outras áreas, como edificar o capital humano, e na prevenção da rá-
pida deterioração do capital natural. Também é possível que os subsídios
corporativistas contribuam para uma expansão sustentada do investimento
no capital físico, aumentando a eficiência econômica e a produtividade e
gerando expansões sociais positivas. Se isto fosse verdade, o processo con-
tra os subsídios diminuiria.

46
V A L O R E S , C R E S C I M E N T O E B E M - E S T A R

O Impacto dos Subsídios

Estudos recentes, baseados nos dados das indústrias ou das microem-


presas, examinaram como subsídios corporativistas afetam o crescimento
econômico e a produtividade a longo prazo. Eles sugerem amplamente que
os subsídios governamentais para as indústrias têm um modesto impacto
sobre o investimento das empresas e crescimento no primeiro ano, mas, a
médio prazo, causam pouco efeito no crescimento. Subsídios de capital
também parecem induzir a um efeito negativo no fator total de produtivi-
dade das indústrias que recebem subsídios. Beason & Weinstein (1996)
para o Japão; Bergström (1998) para a Suécia; Bregman et al. (1999) para
Israel; Fakin (1995) para a Polônia; Fournier & Rasmussen (1986) para os
Estados Unidos; Harris (1991) para a Irlanda; e Lee (1996) para a Coréia,
concluem que os subsídios corporativistas são inapropriados se o aumento
da renda nacional e a produtividade forem o objetivo (ver Tabela A2.4 no
Anexo 2).
Os documentos de Bregman et al. (1999) e de Bergström (1998) são
particularmente importantes, porque se utilizam de um painel de dados de
nível de empresas detalhado. Bregman et al. (1999) descobriram que o sub-
sídio de capital induzia a perdas de eficiência, oscilando entre 5% e 15%.
Seus estudos mostram também que subsídios foram basicamente incorpo-
rados em lucros ou rendas, enquanto as empresas subsidiadas alcançaram
taxas mais altas de retorno que aquelas que não foram subsidiadas. De
modo semelhante, Bergström (1998) encontrou poucas evidências de que
os subsídios afetam a produtividade. Seus efeitos na taxa de crescimento
das empresas pareceram temporários. Este achado é coerente com a afir-
mação neste capítulo, de que subsídios de capital poderiam oferecer um
relevo apenas temporário à diminuição das taxas do crescimento econômi-
co, associado com o crescimento distorcido de bens.

Conclusões

Este capítulo apresentou uma estrutura para o aumento dos três valores
principais: capitais humano, físico e natural. Sua hipótese principal susten-
ta que a melhoria do crescimento e do bem-estar requer a expansão efi-
ciente e a utilização dos três valores. Contudo, os países podem ser tenta-
dos a subsidiar o capital físico. A evidência é que tal subsídio (isenção de
impostos, subsídios diretos, fácil acesso aos recursos naturais, e assim por
diante) abrange amplas partes dos gastos governamentais e do PIB. É
improvável que tal abordagem produza crescimento sustentado. Ela tam-
bém despreza os valores humanos e naturais – que contribuem diretamente
para o bem-estar. Assim, tal crescimento pode oferecer apenas uma peque-
na contribuição para o bem-estar.

47
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Ao investir a maior parte das poupanças nacionais na expansão dos va-


lores humanos e sociais – e o uso sustentável dos bens naturais –, poderiam
contribuir para mais e melhor crescimento a longo prazo. Esse crescimento
sustentado, de acordo com esses três valores, tem mais possibilidade de
aumentar o bem-estar. É por isso que uma abordagem relativamente não
distorcida ou equilibrada para o acúmulo de todos os bens é, provavel-
mente, superior para a principal focalização dos capitais físico e financeiro.

Notas

1. O capital financeiro não se refere, aqui, ao desenvolvimento de instituições financeiras e ao


aprofundamento de mercados financeiros em uma economia, os quais são desejáveis no
apoio ao desenvolvimento (ver Capítulo 5).

2. Como será discutido mais adiante, crescimento equilibrado de bens não implica que todos
os bens devam crescer sob o mesmo índice. O foco do crescimento equilibrado, como o
termo é usado neste capítulo, é nas composições desses bens, mais do que na composição
setorial de saída, que é a convenção comum (Hirschman, 1958; Nurkse, 1953).

3. A falta de equilíbrio no crescimento de bens apresenta-se como a conseqüência das exter-


nalidades e falências de mercado. O capital físico talvez seja menos sujeito a externalidades
do que os capitais humanos e natural. Imperfeições do mercado de crédito proíbem os pobres
de investir na sua educação em níveis desejados, mesmo que só possam obter uma alta taxa
de retorno. Externalidades relativas ao capital natural, incluindo o meio ambiente, são
extremamente penetrantes. Igualmente, os investimentos nos capitais humano e natural
requerem longo tempo para amadurecer relativamente à maioria dos investimentos no capi-
tal físico. As imperfeições no mercado de capital, provavelmente, devem afetar mais negati-
vamente o financiamento dos mais antigos do que o financiamento dos mais recentes. Assim,
o mercado econômico tende a concentrar mais o acúmulo de capital físico do que dos outros
dois valores. Outras razões que poderiam levar a um crescimento de valores desequilibrado
enfatizado na bibliografia são as falhas de coordenação. Estas são provocadas por interações
de agentes que não são totalmente mediados pelos preços de mercado (ver, por exemplo,
Stiglitz (1975) para um modelo recente de equilíbrio múltiplo surgindo da informação
imperfeita relativa à habilidade e à educação, e Murphy et al. (1989) e Rodríguez (1993) para
falhas de coordenação intersetoriais).

4. Outros exemplos de subsídios para o capital são abundantes. Argentina e México forneceram
direitos de monopólio para companhias telefônicas privatizadas durante períodos prolonga-
dos. O Brasil concedeu subsídios e isenções de impostos para investimentos em automóveis
(Financial Times, 21 de julho de 1999). O Chile subsidiou três plantios realizados por poucas
e grandes corporações para sustentar a expansão da polpa particular e da indústria do papel.
Desde o início dos anos 80, a China forneceu isenção de impostos e redução de impostos a
investidores estrangeiros. Na Europa central e oriental, os subsídios governamentais diretos

48
V A L O R E S , C R E S C I M E N T O E B E M - E S T A R

assumem a forma de impostos atrasados que somam de 5% a 10% do PIB e aumentam mais
ou menos 2% do PIB a cada ano (Schaffer, 1995). No Brasil, produtores de borracha recebe-
ram amplos subsídios do governo. Oito companhias receberam R$ 5 bilhões (US$ 2 bilhões)
(Gazeta Mercantil, 21 de maio de 1999). Na Coréia, os dois maiores produtores de aço rece-
beram US$ 6 milhões entre 1993 e1999 em subsídios governamentais, de acordo com as
queixas arquivadas junto à Organização Mundial de Comércio (New Steel, 1998). Herrera
(1992) discutiu detalhadamente o impacto regressivo da falta de regulamentação no sistema
telefônico privatizado na Argentina (ver Tabela A2.4, no Anexo 2).

5. É possível que, em razão de equilíbrios múltiplos e processos irreversíveis, haja escopo para
as intervenções políticas públicas destinadas a evitar círculos viciosos de pobreza e degra-
dação ambiental.

6. A distribuição da educação é medida pelos coeficientes Gini e desvios-padrão da educação (ver


Capítulo 3 para detalhes destas medidas, e López et al. (1998) para uma análise estatística).

7. A taxa de crescimento médio no investimento interno entre os reformadores mais agres-


sivos foi mais alta durante a década de 1990, depois que as reformas foram implementadas,
do que nas décadas de 1970 e 1980. Na Argentina, na Bolívia, no Chile e no Peru, quatro dos
reformadores mais agressivos na América Latina, o crescimento do investimento bruto
durante o período 1990-1997 foi de mais de 9% ao ano, quase três vezes as taxas históricas
(IDB, 1998).

8. Na Tabela 2.2 utilizamos gastos na educação como uma porcentagem do PIB em vez de gas-
tos per capita, porque é provável que o estoque subjacente de educação seja positivamente
relacionado com o PIB. Logo, é provável que uma mudança na divisão com os gastos do PIB
com educação esteja mais proximamente relacionada com a taxa de crescimento no capital
humano do que com o nível de gastos per capita.

9. O estudo baseou-se em um modelo teórico comportamental. Isso é importante porque as


equações empíricas estimativas derivadas de um tal modelo sugerem uma especificação que
está relativamente livre do viés equacional que afetou alguns estudos anteriores. Parti-
cularmente, o modelo empírico consiste em explicar taxas de crescimento anuais por esto-
ques em atrasos de valores, mais do que pelas taxas de mudança de bens como habi-
tualmente é feito. O que reduz consideravelmente a correlação contemporânea com o termo
de erro, que habitualmente leva a sérias dificuldades por derivar a causalidade a partir dos
resultados. Além do mais, o fato de utilizar efeitos fixados nos países poderia diminuir a pos-
sibilidade de viés, em decorrência de relacionamentos causais omitidos. Controles para
vieses variáveis omitidos e vieses equacionais simultâneos sugerem que estamos, em larga
medida, levantando problemas de causalidade. Finalmente, o estudo utilizou uma análise
detalhada das reformas políticas de vários países durante as duas décadas consideradas, de
modo que os coeficientes estimativos se permitiram avaliar sistematicamente por meio dos
regimes políticos. Isto permitiu que o estudo mostrasse que os frágeis impactos da educação
no crescimento relatado pelos outros estudos estavam corretos apenas sob certas economias

49
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

fechadas e regimes políticos distorcidos, mas não para os ambientes de boas condições de
mercado. Para mais detalhes sobre o procedimento estimativo, ver o Anexo 2.

10. Este estudo utilizou-se de áreas de florestas como uma procuração para o capital natural.
Perda de cobertura florestal está habitualmente associada à deterioração das bacias de água,
perda de espécies de madeira, esgotamento da água e erosão do solo, todos cruciais para a
produção, e é provável que seja uma boa procuração para a degradação do capital natural.

11. Este achado não é necessariamente incoerente com a bibliografia sobre a convergência do
crescimento, que geralmente considera lenta a convergência por intermédio dos países. De
fato, considera-se que uma taxa de crescimento estável pode ser mantida indefinidamente
se os capitais físico e humano crescerem a taxas equilibradas (não iguais). O problema é
apenas que a taxa de crescimento econômico declina enquanto os estoques de capital físico
aumentam para um dado nível de capital humano, ou o capital humano se expande a uma
rapidez abaixo da taxa mínima requerida.

50
C A P Í T U L O 3

MELHORANDO
A DISTRIBUIÇÃO DE
OPORTUNIDADES
Para nós, riqueza não é meramente material, mas uma oportunidade
para realização.
— Tucídides, 460-400 a.C.

O principal bem da maioria dos pobres é seu capital humano.


Por isso, investir no capital humano deles é um modo
poderoso de aumentar seus bens, corrigir a desigualdade de
bens e reduzir a pobreza. Este capítulo examina a qualidade
da educação associando a distribuição desta com crescimento e redução da
pobreza. Ele também interroga como tornar a educação mais produtiva em
todos os níveis. Com certeza, o acesso à boa qualidade da educação é impor-
tante na medida em que aumenta a capacidade do povo para gerar renda.
Contudo, isto não é o bastante. Para ser mais produtivo, ele precisa estar
apto para combinar seu capital humano com outros bens produtivos, tais
como terra e igualdade de capital, juntamente com oportunidades de
emprego num mercado aberto.
O Capítulo 2 discutiu a importância de um aumento não distorcido ou
equilibrado dos bens. Este capítulo focaliza-se nos bens que os pobres pos-
suem, especialmente capital humano, e aqueles nos quais eles se baseiam
mais drasticamente, tais como a terra. Para que o crescimento tenha im-
pacto sobre a pobreza, os bens dos pobres, especialmente de seu capital
humano, devem ser aumentados e distribuídos com maior eqüidade.1 Ainda
que as desigualdades nos resultados da educação e saúde sejam assustado-
ramente altas, refletindo as falhas de mercado e de subinvestimento no

51
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

capital humano dos pobres. A distribuição de bens representa a distribuição


de oportunidades, e é uma pré-condição para a produtividade e renda indi-
viduais. Enquanto redistribuir bens e rendas existentes é politicamente difí-
cil, construir novos bens, tal como capital humano, é amplamente aceito.
Para ser sustentado, o desenvolvimento deve ser eqüitativo e inclusivo.
Assegurar gastos públicos adequados na educação e nos serviços de saúde é
algo importante, mas que por si só não garante o progresso. É necessária
uma estratégia multidimensional para habilitar o povo. Ações complemen-
tares incluem:

• aumento dos bens dos pobres, assegurando acesso a uma educação


de alta qualidade e serviços de saúde;
• aumento da atenção para o efeito distributivo do investimento públi-
co e redução de subsídios para os tipos de educação e serviços de
saúde que beneficiem os ricos;
• facilidade do uso completo do capital humano para habilitar os
pobres com terra, crédito, treinamento e oportunidades de trabalho;
• complemento de todos os investimentos de capital com reformas
econômicas e abertura de mercado, o que aumenta a produtividade
da educação.

Benefícios Potenciais da Educação

Educação e boa saúde melhoram a capacidade das pessoas para dar


forma às suas vidas – fortalecendo seu funcionamento na sociedade e con-
tribuindo diretamente para o seu bem-estar. A educação das mulheres, por
exemplo, não apenas aumenta sua capacidade de ganhar renda, mas tam-
bém melhora sua saúde reprodutiva, reduz a mortalidade infantil e da crian-
ça, e beneficia as gerações atuais e futuras. Investir em capital humano é,
contudo, crucial para o desenvolvimento econômico, a redução da pobreza
e a proteção ambiental. Os benefícios do investimento no capital humano
são bem conhecidos, mas algumas das ligações com outras dimensões do
desenvolvimento – segurança, justiça social e sustentabilidade – são mais
bem entendidas hoje do que o foram há dez anos.2
Investir nas pessoas pode contribuir para proteger trabalhadores e me-
lhorar a segurança – um importante aspecto da qualidade de vida. Educação
e boa saúde aumentam as habilidades dos pobres para lutar contra as
mudanças em seu meio ambiente, permitem-lhes mudar de trabalho e
fornecer alguma proteção contra as crises financeiras e reviravoltas
econômicas (Capítulo 5).
A exclusão social reduz o incentivo individual para atender a escola e o
trabalho (Bourguignon, 1999; Loury, 1999). O investimento no capital
humano, se bem distribuído e direcionado para os pobres, pode facilitar a

52
M E L H O R A N D O A D I S T R I B U I Ç Ã O D E O P O R T U N I D A D E S

inclusão social. Melhor educação e melhores serviços de saúde para os vul-


neráveis – freqüentemente para os grupos excluídos, tais como aqueles que
são analfabetos, desabilitados, idosos, doentes crônicos, ou separados por
barreiras de língua – podem ajudá-los a transpor os obstáculos sociais e
aumentar sua produtividade.
Investir nas pessoas pode ajudar também a proteger o meio ambiente.
Mulheres mais bem educadas melhoraram de saúde e, em muitos casos,
tiveram menos filhos, reduzindo a pressão demográfica sobre os recursos
naturais e o meio ambiente; com mais educação, as pessoas podem assimi-
lar mais informações e empregar investimentos para proteger o meio am-
biente e gerenciar melhor os recursos (Capítulo 4).
Investir nas pessoas contribui para melhorar os direitos humanos e a
justiça social, o que oferece satisfação direta. A educação básica capacita os
pobres para aprender sobre seus direitos civis e políticos, a exercer aqueles
direitos pelo voto e a corrida aos cargos públicos, e para ouvir seus inte-
resses, procurar encaminhamentos legais e exercitar visão pública. Isso con-
corre para a construção de instituições, melhorando o governo e combaten-
do a corrupção (Capítulo 6).
Esses benefícios estão longe de ser automáticos. Muitos estudos mos-
tram que anos adicionais de educação por pessoa aumentam os rendimen-
tos reais ou taxas de crescimento. Contudo, alguns poucos pesquisadores
sugerem que o acúmulo de capital humano tem um impacto insignificante
ou negativo sobre a economia e o crescimento da produtividade (Benhabib
& Spiegel, 1994; Griliches, 1997; Islam, 1995; Pritchett, 1996). Mais gover-
nos gastando com educação, porém, se mal alocados, podem contribuir
pouco para a redução da pobreza e, ao contrário, aumentar a desigualdade
e o arrendamento. Como Murphy et al. (1991, p.503) denunciam: “O povo
do país mais talentoso tipicamente organiza a produção por outros ...
Quando eles abrem novas empresas, inovam e crescem com maior rapidez,
mas quando se tornam arrendatários, eles apenas redistribuem riqueza e
reduzem o crescimento”.

Quantidade Não É o Bastante – Qualidade


É o Que Importa

Desde 1980, os países em desenvolvimento investiram quantidades


substanciais dos recursos públicos em educação (ver Figura 1.11). Na déca-
da de 1990, mais de três quartos das crianças em idade escolar dos países
em desenvolvimento estavam matriculadas nas escolas, para menos da
metade na década de 1960. As taxas de analfabetismo caíram de 39% para
30% entre 1985 e 1995 (World Bank, 1999a). O progresso foi irregular em
diferentes regiões. As taxas de matrícula caíram na África subsaariana: a
proporção de 6-11 anos de idade matriculadas nas escolas caiu de 59% em

53
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

1980 para 51% em 1992 (World Bank, 1999a). Falta de acesso à educação
básica continua sendo o principal desafio em muitos países. Aumento de
gastos públicos é desejável, mas não suficiente pelas razões que se seguem.

Gastos Públicos são Apenas Fragilmente Relacionados com


os Resultados

A análise dos países revela um fraco relacionamento entre a generosi-


dade nos gastos com a educação e os resultados com educação. Utilizando
dados dos países, Filmer & Pritchett (1999b) examinaram a correlação
entre gastos com educação governamental por estudante e a porcentagem
de pessoas na idade de 15-19 anos que completaram o grau cinco. A corre-
lação pareceu positiva e significativa de início, mas, depois de controlar a
renda per capita, a correlação mostrou-se bastante frágil (Figura 3.1). Uma
correlação de fragilidade similar foi encontrada entre gastos governamentais

Gastos públicos com educação são apenas fragilmente relacionados com os


resultados educacionais
Figura 3.1 – Relacionamento Entre Gasto Público per capita e Conclusão
Educacional, em Anos Variados

Porcentagem entre 15-19 com grau completo 5 Porcentagem entre 15-19 com grau completo 5
(controle para o PNB per capita)

100 40

30
80
20

60
10

40 0

-10
20
-20

0 -30

0 100 200 300 -200 -100 0 100


200
Gasto público com educacão por pessoa Gasto público com educacão por pessoa
(dólares amerianos) controle para o PNB per capita
(dólares amerianos)

Nota: Os índices referem-se aos gastos públicos apenas com a educação pré-primária, primária e secundária (35 países em desenvolvimento foram incluídos no estudo).
Fontes: Dados sobre os resultados educacionais estão de acordo com Filmer & Pritchett (1999b), combinados com dados sobre gastos do banco de dados das
Nações Unidas, Organização Educacional, Social e Cultural (UNESCO).

54
M E L H O R A N D O A D I S T R I B U I Ç Ã O D E O P O R T U N I D A D E S

com saúde e taxas de mortalidade para crianças com menos de cinco anos
de idade (Filmer & Pritchett, 1999c).
Por que será que o gasto público só é frágil quando relacionado aos
resultados? O que faz a diferença são a qualidade e a distribuição dos
serviços de educação e a produtividade do capital humano. Para os países
em desenvolvimento que já alocaram uma parte substancial dos recursos
públicos em serviços sociais, gastos posteriores podem não melhorar os
resultados para a educação para os pobres. A realocação de gasto público e
a melhoria de sua eficácia freqüentemente podem melhorar resultados,
especialmente quando os recursos públicos estão subsidiando a educação
para os ricos. Estratégias de abrangência econômica e políticas também
importam: subsídios para atrair capital estrangeiro podem, sob certos
aspectos, tornar oblíqua a taxa de retorno contra o capital humano.3
Distorções no mercado de trabalho criam desincentivos para investimento
na educação. Além disso, para ser produtivo, o povo deve ter acesso a ou-
tros bens produtivos, incluindo terra, crédito, igualdade e oportunidades de
trabalho em mercados abertos e competitivos.

A Variabilidade na Qualidade Escolar

Apesar do progresso no acesso à educação, a qualidade da escolaridade


varia consideravelmente de acordo com o país e a região. Uma extensa bi-
bliografia estuda como melhor definir e mensurar a qualidade da escolari-
dade: se as entradas, processos ou conclusões estudantis deveriam ser usa-
dos em taxas (ver, por exemplo, Berhman & Birdsall, 1983; Card &
Krueger, 1992; Greaney & Kellaghan, 1996; Lockheed & Verspoor, 1991).
Mensuramos a qualidade como uma combinação de indicadores que refle-
tem entradas, definidas por gastos por estudante e o número e a qualidade
dos professores, processos, ou seja, o alcance dos temas escolares e o con-
teúdo curricular; e resultados mensurados pelas realizações cognitivas, ati-
tudes, resultados de testes e taxas de evasão.
Nos países de alta renda onde estes indicadores são bem desenvolvidos,
a conclusão estudantil varia amplamente; mesmo nos países com educação
básica universal, as taxas de alfabetização funcional para adultos jovens entre
16-25 anos de idade variam em alguns países industrializados, por exemplo,
de 45% nos Estados Unidos para 80% na Suécia, enquanto as taxas de
matrícula na rede secundária são acima de 85% (World Bank, 1999a).
Nos países em desenvolvimento, nos quais os indicadores de conclusão
são escassos, indicadores menos apurados, tais como taxas de repetência e
evasão, foram utilizados para taxar os resultados educacionais. Os dados
gerados por essas mensurações imperfeitas mostraram uma variação con-
siderável na qualidade das escolas (Tabela 3.1). As taxas de repetência e
evasão para a escola primária são muito mais baixas e os resultados de

55
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

As taxas de repetência e de evasão escolar variam enormemente de acordo


com o país
Tabela 3.1 – Repetência de Escola Primária e Taxas de Evasão, em Anos Seletos
(por cento)

Taxa de repetência Taxa de evasão Gasto público com educação


da escola primária da escola primária (porcentagem do PNB)

País Anos 80 Anos 90 1970 1980 1990 Anos 70 Anos 80 Anos 90

Argentina – 6 36 34 34 1,65 1,79 3,07


Brasil 20 18 78 78 80 2,95 4,04 3,60
Chile – 6 23 24 23 4,60 4,52 2,84
Colômbia 17 9 43 43 44 2,05 2,75 3,43
México 10 8 11 12 28 2,90 4,06 4,45
Peru 17 15 34 30 30 3,30 3,09 3,40
Venezuela 10 11 41 32 52 4,30 5,09 4,56
Média América Latina 15 10 38 36 42 3,11 3,62 3,62
China – 3 15 15 15 1,45 2,45 2,20
Indonésia 10 9 20 20 23 2,65 1,38 1,34
Coréia – – 5 6 1 2,80 3,89 3,92
Malásia – – 1 1 4 5,10 6,61 5,37
Filipinas 2 – 25 25 30 2,40 2,02 2,54
Tailândia 8 – 57 23 13 3,35 3,58 3,88
Média Ásia oriental 7 6 21 15 14 2,96 3,32 3,21

– Não disponível.
Fontes: Banco de dados do World Bank e UNESCO para dados sobre gastos.

notas são mais altos na Ásia oriental que nos países da América Latina,
onde as rendas são mais altas. Enquanto os gastos com educação pública
cresceram em alguns países latino-americanos na década de 1990, a média
das taxas de evasão escolar primária também aumentou.4 Outros estudos
baseados nos dados limitados disponíveis sobre notas de provas igual-
mente mostraram que um gasto público generoso não garantiu a alta quali-
dade da educação.
O que explica as amplas variações na qualidade? Os resultados educa-
cionais dependem tanto da demanda como de fatores suplementares e,
assim, das políticas e das estruturas de incentivo, que afetam o conjunto da
economia. Descobriu-se que a estabilidade macroeconômica representada
por termos internacionais de comércio e pela volatilidade do PIB, por exem-
plo, é a mais importante das determinantes significativas da conclusão edu-
cacional na América Latina. Utilizando dados de 18 estudos internos,
Behrman et al. (1999) descobriram que as crises do débito da década de
1980 contribuíram para a queda no acúmulo da escolaridade nos países lati-

56
M E L H O R A N D O A D I S T R I B U I Ç Ã O D E O P O R T U N I D A D E S

no-americanos. Kaufmann & Wang (1995) descobriram que políticas mi-


croeconômicas afetam o setor social de projetos de investimento. Quando
um país abre-se para o comércio e o investimento internacionais, a taxa de
retorno para a educação cresce. O povo demanda qualidade mais alta de
educação e dispõe-se a pagar mais por isso. Demandas de maior peso, inves-
timentos privados mais elevados, professores mais bem pagos e alunos mais
motivados produzem conclusões educacionais mais altas, com diferentes
tempos de atraso. Quanto mais alta for a demanda por educação, mais alta
será sua qualidade, e vice-versa. Se um país dedica recursos públicos para
subsidiar o capital físico em vez da educação básica, ele pode distorcer as
taxas de retorno contra o trabalho não especializado e atingir os pobres (ver
Tabela A2.4 sobre subsídios de capital).
No nível micro, muitos estudos examinaram as ligações entre a quali-
dade da escolaridade e o desempenho estudantil. Behrman & Knowles (1999)
descobriram uma forte associação positiva entre a qualidade do pessoal
docente, a qualidade das entradas atuais e do sucesso infantil na escola.
Hanushek & Kim (1995) descobriram que as medidas convencionais de
recursos escolares, que são razão professor-aluno e gasto educacional, não
afetam o desempenho nos testes estudantis. Em regressões pelo país, as
notas de teste foram relacionadas positivamente às taxas de crescimento de
um PIB real per capita, indicando uma realimentação potencial do cresci-
mento para uma forte demanda e bom desempenho estudantil. Lee & Barro
(1997) acharam que a base familiar, comunidades fortes, entradas escolares
e amplitude dos termos escolares são positivamente relacionados com o
desempenho estudantil; contudo, eles não podem explicar completamente
por que os países da Ásia oriental conheceram melhores resultados educa-
cionais do que outros países em desenvolvimento. Isto sugere que outros
fatores podem estar em jogo, inclusive aqueles associados com um meio
ambiente econômico mais aberto e orientado para a exportação.

Conseqüências da Pobreza de Qualidade

Baixa qualidade de escolaridade atinge os pobres desproporcionalmente


e limita suas futuras oportunidades de ganho. Por exemplo, estudantes viet-
namitas de famílias de alta renda desfrutam de maior acesso à educação de
alta qualidade (Berhman & Knowles, 1999). Na América Latina, a maioria
dos estudantes vindos de famílias de baixa renda freqüenta escolas públicas,
que oferecem metade das horas de aula e cobrem apenas metade do cur-
rículo, comparadas com as escolas particulares. Quanto maior a renda
familiar, maior a aversão a escolas públicas (IDB, 1998).
Estimativas baseadas em estudos sobre famílias da América Latina
mostram que os alunos vindos das camadas de mais baixa renda receberam
uma educação primária inferior. A qualidade medida pelo desempenho dos

57
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

estudantes no mercado de trabalho foi 35% mais baixa para estudantes de


baixa renda do que para aqueles de mais alta renda (IDB, 1998, p.54). A
Figura 3.2 mostra a enorme brecha nas taxas de conclusão da escola
secundária para os ricos e para os pobres. Porque a educação particular é
viável apenas para os ricos, a baixa qualidade do ensino público reduz seve-
ramente o potencial gerador de renda das crianças de famílias pobres.

Qualidade e Quantidade: Um Equilíbrio?

Melhorias na qualidade complementam a expansão do acesso à edu-


cação. Se crianças pobres só podem ir para escolas de baixa qualidade, pos-
suem poucas oportunidades de obter trabalhos mais bem pagos e os pais

Figura 3.2 – Taxas de Conclusão da Escola Secundária para a Faixa Etária de 20-25
por Nível de Renda Familiar, Anos e Países Seletos da América Latina

Países latino-americanos

Bolívia, urbano, 1995

Honduras, 1996

Peru, 1996

Uruguai, urbano, 1995

Venezuela, 1995

Equador, 1995

Costa Rica, 1995

Chile, 1994

El Salvador, 1995

Paraguai, 1995

México, 1994
10% mais pobres
Brasil, 1995
10% mais ricos
Panamá, 1995

Argentina, 1995

0 20 40 60 80 100

Porcentagem

Nota: Números próximos às barras são brechas nas taxas de conclusão (em porcentagem). Os estudos para a Argentina incluem apenas a Grande Buenos Aires.
Fonte: IDB (1998, p.27).

58
M E L H O R A N D O A D I S T R I B U I Ç Ã O D E O P O R T U N I D A D E S

são desestimulados a mandá-las para a escola. Quando a cobertura educa-


cional não é universal, a melhor estratégia é focalizar nas intervenções po-
líticas que aumentam a demanda tanto pela quantidade como pela quali-
dade da educação. Por exemplo, programas para reduzir o trabalho infantil
e manter as crianças na escola – tais como merenda e contribuição em di-
nheiro – cairiam bem no treinamento docente para melhorar a qualidade.
Contudo, com populações crescentes e orçamentos reduzidos, as siner-
gias da quantidade e da qualidade podem virar equilíbrio, especialmente se
as medidas de qualidade selecionadas não estiverem ligadas a aprendizagem
estudantil. Qual a medida de qualidade que deveria ser utilizada para a
intervenção? Seriam os incentivos estudantis, ou o aumento dos termos es-
colares, ou a qualidade do pessoal docente? A evidência mostra que a re-
dução das razões professor-aluno, que é cara, tem pouco impacto sobre o
aprendizado estudantil (Mingat & Tan, 1998).5
Apesar da relativamente alta razão professor-aluno nas décadas de 1980
e 1990, a média das notas dos estudantes coreanos em testes de Ciência
Internacional e Matemática ficaram entre as mais altas. Gastar mais para
contratar mais professores poderia implicar um equilíbrio contra cobertura
e distribuição mais ampla de educação, que seria ineficiente e desigual, par-
ticularmente onde muitas crianças ainda não têm acesso à educação básica
(Mingat & Tan, 1998).

Realizar uma Educação Eqüitativa


e a Inclusão Social

Acesso igual à educação e aos serviços de saúde está entre os direitos


humanos básicos para os quais todos estão autorizados. Como para a terra e
o capital físico, uma distribuição igualitária do capital humano é importante
para um crescimento de base ampla e redução da pobreza. Além disso, uma
distribuição de oportunidade eqüitativa é preferível para a redistribuição dos
bens disponíveis, porque investir no povo cria novos bens e melhora o bem-
estar social.6 Garantir o acesso aos pobres pela distribuição de serviços edu-
cacionais com maior igualdade é uma política vencedora, que está ganhando
apoio tanto nos países industriais como naqueles em desenvolvimento.
Por que colocar o foco na distribuição da educação? Porque assegurar o
acesso à educação básica pelos pobres está intimamente relacionado com
uma melhor distribuição da educação. Dados os recursos públicos limitados
para a educação, concentrar investimento público na educação para os po-
bres, habitualmente, implica uma realocação dos gastos públicos a partir
dos subsídios para os tipos de serviços de educação que beneficiam os ricos.
Tais medidas são politicamente impopulares e muitos países foram inca-
pazes de implementá-las. Contudo, como foi mostrado nesta parte, há
razões coercitivas para que um governo persiga tais medidas políticas.

59
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Medidas de Dispersão nos Resultados Educacionais

Desde os tempos de Adam Smith, a educação tem sido ligada ao pro-


gresso econômico e social eqüitativo. Há uma pequena mas crescente
bibliografia sobre a desigualdade de escolaridade ou a distribuição da
educação (ver, por exemplo, Lam & Levison, 1991; Londoño, 1990; Maas
& Criel, 1982; Ram, 1990). Como os dados ficaram disponíveis para me-
dir a distribuição da educação, as disparidades tornaram-se mais aparen-
tes. Utilizando desvio-padrão de conclusão escolar, Birdsall & Londoño
(1997) investigaram o impacto das distribuições de bens iniciais sobre o
crescimento e a redução da pobreza e encontraram uma significativa
correlação entre desigualdade educacional inicial e crescimento reduzido
de renda.
Mais tarde os pesquisadores construíram Coeficientes Gini de Educação,
que são similares aos coeficientes Gini amplamente utilizados para medir as
distribuições de renda, riqueza e terra. O coeficiente Gini abrange desde 0
(zero), que representa perfeita igualdade, a 1 (um), que representa perfeita
desigualdade (ver Anexo 3 para os dois métodos utilizados para calcular o
coeficiente Gini). Os coeficientes Gini para a educação podem ser calcula-
dos utilizando-se matrícula, financiamento ou dados de conclusão, reco-
nhecendo que diferentes grupos em uma população foram educados em
tempos diferentes. López et al. (1998) estimaram coeficientes Gini de con-
clusão educacional para vinte países e descobriram diferenças significativas
na distribuição da escolaridade. A Coréia teve a mais rápida expansão na
cobertura educacional e o mais rápido declínio no Coeficiente Gini de
Educação; caiu de 0,51 para 0,22 em vinte anos. O coeficiente Gini para a
educação na Índia declinou com moderação de 0,80 em 1970 para 0,69 em
1990. Os coeficientes Gini para a educação na Colômbia, Costa Rica, Peru
e Venezuela tiveram um aumento lento desde a década de 1980, mostran-
do que a desigualdade está em alta (Figura 3.3).
Um exame das curvas de Lorenz de educação para a Índia e a Coréia nos
anos 90 mostra uma grande amplitude entre os países em desenvolvimento
(Figura 3.4). Apesar do progresso na expansão das matrículas primárias e
secundárias na Índia, mais de metade da população (na faixa etária dos 15
anos e mais velhos) não recebe nenhuma educação, enquanto 10% da popu-
lação recebeu quase 40% do total acumulado de anos de escolaridade.
Fornecer acesso universal à educação básica continua sendo um enorme
desafio para o país.
A Coréia expandiu seu programa de educação básica rapidamente, com
uma distribuição eqüitativa muito maior da conclusão educacional, como
indicado por uma curva Lorenz mais plana e um coeficiente Gini menor.
Mesmo em 1960, quando a renda per capita coreana era semelhante à da
Índia, a educação coreana pelo coeficiente Gini era de 0,55, muito mais
baixa do que a da Índia em 1990. Note-se que a distribuição da educação na

60
M E L H O R A N D O A D I S T R I B U I Ç Ã O D E O P O R T U N I D A D E S

Figura 3.3 – Os Coeficientes Gini de Educação, Países Seletos, 1960-1990

Gini de Educação

1,0
Mali

Menos igual 0,8

Índia
0,6

Venezuela
0,4 China

Mais igual 0,2 Coréia

0,0

1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990

Fonte: López et al. (1998).

A distribuição da educação varia enormemente, desde altamente tendenciosa


para mais igual
Figura 3.4 – As Curvas Educacionais de Lorenz para Índia e Coréia, 1990

Proporção cumulativa da escolaridade, Índia Proporção cumulativa da escolaridade, Coréia


(porcentagem) (porcentagem)

100 100 100 100


91 89,2
83,8
60 80
78,3

63,3
40 60

20 40

23,8 24,9
10 20
10,9
9,4
0
0 0 0,2
0
0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100

Proporção cumulativa da população (15 e acima) Proporção cumulativa da população (15 e acima)
(porcentagem) (porcentagem)
média 2,95 anos Gini de Educação = 0,69 média 10,04 anos Gini de Educação = 0,22

Fonte: Thomas et al. (2000).

61
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Coréia foi mais eqüitativa do que a da renda, mas a distribuição da educação


na Índia foi muito mais tendenciosa do que a da renda entre 1970 e 1990.7
Uma distribuição da educação tão tendenciosa como a da Índia implica
uma enorme perda social pela subutilização do capital humano potencial.
Assumir aquela aptidão ou talento é normalmente distribuído pelos grupos
populacionais; a produção aumenta até o seu máximo quando a dispersão
da educação iguala a distribuição da aptidão humana. Quando a distribuição da
educação é tão tendenciosa para igualar a distribuição da aptidão, há uma
perda de peso morto para a sociedade do talento subdesenvolvido e subuti-
lizado. Neste caso, as sociedades deveriam estar em melhor situação para
expandir maciçamente a educação básica, especialmente melhorando o aces-
so à educação pelos pobres.
Examinando o padrão através do país de distribuição da educação,
descobrimos que os coeficientes Gini para a educação declinam, enquanto a
média educacional e níveis de renda aumentam, embora haja claramente
outras possibilidades. Será que o coeficiente Gini para a educação precisa
piorar antes de melhorar? Como sugerido por Londoño (1990) e Ram
(1990), há um “conto kuznetsiano” com a distribuição da educação. Ou
seja, enquanto um país se move a partir do nível 0 (zero) para o nível máxi-
mo da educação, a variação primeiro aumenta e, então, declina. Contudo,
análises dos países sugerem que isso pode não ser o caso, se o coeficiente
Gini for utilizado para medir desigualdade. Além do mais, para os países
industrializados, Argentina, Chile e Irlanda possuem relativamente baixos
Coeficientes Gini de Educação desde a década de 1960 até a década de 1990.
O coeficiente Gini para a educação na Coréia e alguns outros países
diminuiu drasticamente. Apenas uns poucos países – Colômbia, Costa Rica,
Peru e Venezuela – conheceram uma piora significativa do Coeficiente Gini
de Educação. Uma piora na distribuição da educação não é inevitável
(Figura 3.5). Entre 85 países para os quais os Coeficientes Gini de Educação
foram calculados, o Afeganistão e o Mali tiveram as distribuições menos
eqüitativas nos anos 90, em aproximadamente 0,90, enquanto a maioria dos
países industrializados estava no fim da lista, com os Estados Unidos e a
Polônia, tendo a distribuição mais eqüitativa (Thomas et al., 2000). Seme-
lhante às amplas variações na distribuição da educação, outros estudos
descobriram amplas variações nos resultados para saúde através de grupos
de renda (Quadro 3.1).

Causas da Desigualdade na Educação

As disparidades na educação são um dos muitos aspectos da pobreza,


mas também são associadas com a má alocação do investimento público e
guerras, por brechas de riqueza e brechas de gênero, exclusão social e crises
econômicas. Numerosos estudos descobriram que a educação dos pais e a

62
M E L H O R A N D O A D I S T R I B U I Ç Ã O D E O P O R T U N I D A D E S

Os Gini para a educação declinam enquanto a média do nível educacional cresce


Figura 3.5 – Os Coeficientes Gini de Educação para 85 países, 1990

Coeficiente Gini de Educação

1,0
Mali

0,8 Índia

0,6

0,4 Hong Kong, China

Coréia

0,2 Sri Lanka

Polônia Estados Unidos


0,0
12 13
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

Média de anos de educação

Fonte: Thomas et al. (2000).

renda familiar, tanto quanto a riqueza, afetam as conclusões da educação


das crianças.

Brechas de riqueza. Utilizando os dados do National Family Health


Survey coletados nos estados indianos em 1992 e 1993, Filmer & Pritchett
(1999a) descobriram as brechas de riqueza, definidas como a diferença
entre o máximo de 20% de um índice de bens e o mínimo de 40%, cal-
culadas para uma ampla proporção de diferenças nas taxas de matrícula. As
taxas de matrícula variaram de 4,6% em Kerala para 42,6% em Bihar.
Em alguns países, as diferenças nos resultados educacionais entre o rico
e o pobre são vacilantes. Um estudo sobre jovens na faixa etária de 15-19
anos em vinte países mostrou que os 40% dos miseráveis em cinco países
tinham uma média de 0 (zero) anos de escolaridade completa; mais da
metade deste grupo completou menos que 1 (um) ano de escola (Figura
3.7). A diferença de educação entre os mais ricos e os mais pobres atingiu
a altura de dez graus na Índia. Disparidades semelhantes na conclusão da
educação são encontradas na América Latina (Figura 3.8).
Uma implicação desta ampla brecha de riqueza é que a demanda pela
educação não é independente de outras dotações orçamentárias. Fornecer
acesso à educação (suplementar) não é suficiente. Levantar muitas desi-
gualdades estruturais e sociais que influenciem a demanda, tais como bre-

63
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Quadro 3.1 – Brechas de Saúde Entre Ricos e Pobres Também São Grandes

As brechas de saúde entre pobres e ricos são tão mais altas que as entre as pessoas que possuem ren-
grandes quanto as brechas educacionais, o que reflete das mais altas. A Figura 3.6 mostra que, no Brasil, as
as dificuldades em alcançar os mais pobres fora da taxas de mortalidade infantil eram altas entre os mais
corrente econômica principal. Muitos estudos descobrem pobres (10% da população), e caíam quando a riqueza
que os miseráveis estão em pior estado de saúde crescia. Isso indica que os miseráveis estão em pior
(Berhman & Deolalikar, 1998) e são freqüentemente estado de saúde que os demais. Eles sofrem muito mais
atingidos mais drasticamente pelas guerras, choques de doenças infecciosas do que os mais ricos, sendo, no
externos e convulsões sociais e políticas. As taxas de entanto, mais dependentes das boas políticas públicas
mortalidade infantil entre os miseráveis são muito que os ricos (Bonilla-Chacin & Hammer, 1999).

Os pobres são mais doentes que outras pessoas


Figura 3.6 – Mortalidade de Crianças de Dois Anos e Mais Jovens, pela Riqueza, Brasil,
1996
Mortes por 1.000

12

10

0
Mais 2 3 4 5 6 7 8 9 Mais
pobres ricos

Fonte: Bonilla-Chacin & Hammer (1999).

chas de gênero e distribuição de outros bens produtivos como a terra, dis-


cutidos mais adiante, é igualmente importante.

Exclusão Social. É menos provável que as pessoas que são excluídas da


corrente principal da sociedade sejam educadas. Loury (1999) mostrou co-
mo a exclusão social modifica o comportamento humano e reduz a deman-
da pela escolaridade em cidades do interior dos Estados Unidos. Uma razão
para a evasão dos estudantes da escola é o fato de seus amigos já terem se
evadido. Na Bolívia, a incapacidade dos pais para falar espanhol está asso-
ciada com taxas mais altas de mortalidade abaixo dos dois anos de idade.
Na Índia, membros das castas estruturais possuem taxas mais altas de mor-
talidade que os outros grupos (Bonilla-Chacin & Hammer, 1999).

64
M E L H O R A N D O A D I S T R I B U I Ç Ã O D E O P O R T U N I D A D E S

Diferenças em conclusão de grau para famílias ricas e pobres são enormes


em alguns países
Figura 3.7 – Conclusão de Grau Médio para Jovens entre 15-19 Anos de Famílias
Ricas e Pobres, Países e Anos Seletos

Países

Tanzânia, 1996 2

2
Zâmbia, 1996-97

2
Zimbábue, 1994

3
Uganda, 1995

3
Indonésia, 1994

Egito, 1995-96 3

4
Mali, 1995-96

4
Rep. Centro-Africana, 1994-95

Malawi, 1992 4

4
Haiti, 1994-95

4
Brasil, 1996

4
Camarões, 1991
4
Colômbia, 1995

4
Peru, 1990

4
Rep. Dominicana, 1996

Bangladesh, 1996-97 5

6
Costa do Marfim, 1994

6
Guatemala, 1995

8
Marrocos, 1992

9
Paquistão, 1990-91

10
Índia, 1992-93

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

Grau

Mais pobres 40% Mais ricos 40%

Nota: Os números junto às barras são as brechas em graus entre ricos e pobres.
Fonte: Filmer & Pritchett (1999b).

65
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Figura 3.8 – Anos de Escolaridade para Jovens na Faixa Etária de 25 Anos em


Famílias Ricas e Pobres na América Latina

Países

Uruguai, urbano, 1995 6,2

Venezuela, 1995 6,3

Argentina, 1995 6,5

Chile, 1994 6,6

Peru, 1996 6,9

Bolívia, urbano, 1995 7,2

Paraguai, 1995 7,3

Costa Rica, 1996 7,4

Honduras, 1996 7,5

Equador, 1995 8,4

Brasil, 1995 8,5


Mais pobres 10%
El Salvador, 1995 8,6
Mais ricos 10%

Panamá, 1995 9,2

México, 1994 10

0 4 8 12 16

Anos de escolaridade

Nota: Os números junto às barras são as brechas em anos de escolaridade entre ricos e pobres. Os estudos para a Argentina incluem apenas a Grande Buenos
Aires.
Fonte: IDB (1998, p.27).

Brechas de Gênero. Em alguns países, as brechas de gênero são uma


importante causa da desigualdade de educação. Entre muitos estudos
aprumando as brechas de gênero na educação, Schultz (1998) descobriu
que mais ou menos 65% da desigualdade mundial ocorre entre países,
30% entre famílias dentro de um país e 5% entre desigualdade de gênero.
Bouis et al. (1998) descobriram uma significativa diferença em investi-
mentos de capital humano, tais como nutrição, serviços de saúde e con-
clusão educacional, entre garotos e garotas nas regiões rurais das
Filipinas. Em Bangladesh, que possui a maior brecha de gênero entre os
países passados em revista, as atitudes das mulheres em relação à edu-
cação de suas filhas demoraram muito a mudar (Amin & Pebley, 1994).

66
M E L H O R A N D O A D I S T R I B U I Ç Ã O D E O P O R T U N I D A D E S

Contudo, esforços recentes foram bem-sucedidos ao encorajar o progres-


so (Quadro 3.2). Knight & Shi (1991) descobriram que as oportunidades
educacionais ainda eram desigualmente distribuídas na China, apesar de
um progresso considerável. O padrão de conclusão educacional é afetado
pelo gênero, assim como por outros fatores, tais como a renda das provín-
cias, as diferenças urbanas e rurais, em renda e base familiar. Embora de-
clinante, a discriminação de gênero persiste nas áreas rurais chinesas (ver
Dubey & King, 1996; King & Hill, 1993; e World Bank (2000g) para expe-
riências através dos países).
A correlação é drástica entre desigualdade educacional e brechas de
gênero na alfabetização. Utilizando uma amostragem de 85 países para os
quais os coeficientes Gini para a educação estão disponíveis, Thomas et
al. (2000) descobriram que a correlação dos coeficientes entre brechas de
gênero no analfabetismo e o coeficiente Gini para a educação aumentou
significativamente de 0,53 na década de 1970 para 0,69 na década de
1990. Enquanto a desigualdade educacional declinava, a desigualdade de
gênero contribuiu muito com as disparidades remanescentes para a con-
clusão educacional (Figura 3.9). Reduzir as brechas de gênero na edu-
cação é crucial para corrigir a desigualdade na educação.

Quadro 3.2 – Sustentar a Educação Feminina em Bangladesh

Uma revolução está ocorrendo nas escolas por Mundial e de outros parceiros desenvolvimentistas, o
intermédio de Bangladesh. As tendências para matrí- programa está sendo implementado com sucesso e
cula estão mudando e agora mais garotas que garotos transformou Bangladesh em pioneiro nesta área do
podem ser vistos freqüentemente nas escolas. sul da Ásia.
A conclusão educacional das mulheres em Bangla- O programa de incentivo para as garotas, incluindo
desh está entre a mais baixa do mundo e as brechas de isenções de matrículas e ajuda de custo, gerou um
gênero estão entre as mais amplas. Em 1997, a dife- tremendo entusiasmo pela educação feminina,
rença entre o analfabetismo masculino e o feminino aumentando a matrícula de garotas nas escolas
era tão alta quanto 23 pontos percentuais. De acordo secundárias. A matrícula de garotas nos projetos de
com os dados do senso de 1991, apenas 20% das mu- distritos está acima de explicações; as matrículas
lheres sabiam ler e escrever, e apenas um em três estu- cresceram ano a ano por todas as classes. Um total de
dantes nas escolas secundárias eram garotas. 554.077 garotas foram agraciadas com as ajudas de
Em 1994 o governo lançou um programa para custo em 1996 e o número foi maior em 1997. Na
aumentar a sustentação para a educação secundária Faculdade Fulbária Mohamed Ali, em Savar, perto de
feminina, visando aumentar a taxa de alfabetização Dhaka, o número de garotas ultrapassa o de garotos
feminina de 16% para 25% e criar oportunidades em quatro por um; uma situação que era impensável
de emprego para as mulheres. Com apoio do Banco poucos anos atrás.

Fonte: Robby (1999).

67
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Enquanto a desigualdade educacional declina, a desigualdade de gênero


significa muito para o que permanece
Figura 3.9 – Brechas de Gênero e Desigualdade de Educação, 1970 e 1990

Coeficiente Gini de Educação, 1970 Coeficiente Gini de Educação, 1990

1,0 1,0

0,8 0,8

0,6 0,6

0,4 0,4

0,2 r 1970 = 0,53 0,2 r 1990 = 0,69

0,0 0,0

-40 -20 0 20 40 60 -40 -20 0 20 40 60

Mudança de desenvolvimento humano (índice) Mudança de desenvolvimento humano (índice)

Nota: As figuras incluem dados para 85 países.


Fontes: Coeficientes Gini de Educação de Thomas et al. (2000); brechas de gênero no analfabetismo do World Bank (1999d).

Conseqüências das Amplas Dispersões


nos Resultados Educacionais

Uma sociedade preocupa-se com a distribuição desigual da educação


porque isto afeta desigualmente o bem-estar humano. A distribuição desi-
gual da educação é tanto uma fonte quanto uma conseqüência da pobreza e
da exclusão social. Crianças pobres que se evadem da escola eventualmente
formam um centro de cidadãos desfavorecidos que serão deixados fora da
corrente principal da vida econômica e social. A menos que as pessoas pos-
sam obter um treinamento posterior na vida para encontrar um trabalho
significativo, a redução da pobreza e a inclusão social permanecerão fora de
nosso alcance.
Uma distribuição da educação altamente desigual tende a ser associada
com crescimento reduzido de renda per capita, mesmo depois de dirigida
para o trabalho e para o capital físico (López et al., 1998). Diferentemente
da terra e do capital físico, que são comercializáveis por intermédio de
empresas e indivíduos, a educação e as habilidades não são perfeitamente
comercializáveis. Conseqüentemente, tanto a distribuição como o nível da
educação entram na função produtiva e afetam o nível de crescimento final.

68
M E L H O R A N D O A D I S T R I B U I Ç Ã O D E O P O R T U N I D A D E S

Utilizando dados do painel de vinte países em desenvolvimento, López et al.


(1998) demonstraram a associação negativa entre a distribuição desigual da
educação e o crescimento econômico. Quando grande parte da população
não é educada, a baixa produtividade das forças de trabalho desencoraja o
investimento no capital físico e o crescimento econômico sofre (ver análise
de regressão no Quadro 2.1 e Anexo 3).
A distribuição da educação também tem implicações drásticas para o
impacto da redução da pobreza, do crescimento. Ravallion & Datt (1999),
utilizando-se de dados de 15 estados indianos entre 1960 e 1994, descobri-
ram que a associação do crescimento com a redução da pobreza variava de
acordo com as condições iniciais: o crescimento contribuía menos para a
redução da pobreza em estados com taxas de alfabetização mais baixas,
produtividade agrícola e padrão rural de vida relativo a áreas urbanas. Em
Kerala, onde a educação básica é bem distribuída, as taxas de alfabetização
são as mais altas; para homens e mulheres, um ponto percentual que au-
menta na taxa de crescimento estava mais fortemente associado à redução
da pobreza.
Em Assam e Bihar, que possuíam taxas de crescimento de produção
agrícola não semelhantes àquelas de Kerala, mas as baixas taxas de alfa-
betização e a mais alta desigualdade na educação básica, o crescimento
contribuiu pouco para a redução da pobreza (Figura 3.10). Por exemplo,
em Bihar, com a mais baixa taxa de alfabetização feminina entre os estados
estudados, 29% mostraram uma diferença de 32% nas taxas de alfabe-
tização e seis milhões de crianças na faixa etária de 6-10 anos não esta-
vam matriculadas nas escolas entre 1992 e 1993. Outros estados, como
Maharashtra e Madhya Pradesh, tiveram taxas de crescimento mais altas,
mas taxas de redução da pobreza mais baixas que as de Kerala. Mais que
de crescimento rápido, precisa-se de crescimento a favor dos pobres para
redução da pobreza. Se todos os estados indianos tivessem uma elastici-
dade de redução da pobreza como Kerala, a pobreza como medida pelo
índice de incidência poderia ter caído a uma taxa de 3,5% em vez de 1,3%
ao ano desde 1960.

Melhorar a Eficácia do Gasto Público

Somente os mercados não podem fornecer o acesso eqüitativo à edu-


cação básica pelos pobres. Como parcialmente um bem público, a educação
fornece expansões positivas que não são totalmente captadas por indivíduos
e empresas. Contudo, um mercado falha principalmente no lado mais baixo
da distribuição de renda: sem o investimento público na educação dos
pobres, o investimento da sociedade na educação seria subótimo. Ainda
assim, como vimos, o gasto público é apenas fragilmente associado com os
resultados da educação, em parte devido ao viés em direção aos privilegia-

69
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

O crescimento tem um poderoso impacto na redução da pobreza nos estados


com educação mais eqüitativa como Kerala
Figura 3.10 – As Tendências das Taxas de Redução da Pobreza e Saídas Não
Agrícolas do Crescimento Econômico na Índia, 1960-1994

Tendência da taxa de redução da pobreza (índice de incidência de pobreza, porcentagem por ano).

Kerala

Punjab & Haryana


Andhra Pradesh
2 Bengala Ocidental

Gujarat
Orissa Tamil Nadu

Rajastão
Karnataka Maharashtra Jammu &
1
Uttar Pradesh Kashmir

Madhya Pradesh

Bihar
0
Assam

-1

1 2 3 4 5

Tendência de crescimento em saída por pessoa (porcentagem por ano)

Nota: Tendência das taxas de crescimento estimadas pelos mínimos comuns dos quadrados de regressões dos logaritmos sobre tempo.
Fonte: Ravallion & Datt (1999).

dos. Aumentar o gasto público é desejável, mas não suficiente para lidar
com um resultado inadequado do desenvolvimento humano; agora volta-
mos para melhorar a alocação e a eficácia do gasto.

Alocar Mais Gasto Público para a Educação dos Pobres

A composição dos gastos governamentais com educação e saúde in-


fluencia os resultados do desenvolvimento humano. Os gastos públicos pre-
cisam concentrar-se em áreas onde a falência do mercado é penetrante e
onde expansões positivas são maiores: nas escolas primária e secundária,
especialmente para os pobres. Dados os recursos públicos limitados, o equi-

70
M E L H O R A N D O A D I S T R I B U I Ç Ã O D E O P O R T U N I D A D E S

líbrio precisa mudar mais em direção aos investimentos na educação primá-


ria e na secundária. Além disso, o setor privado e as parcerias público/pri-
vado deveriam ser encorajadas para fornecer educação superior, onde a
falência do mercado é mínima.
A Coréia mostrou como uma forte ênfase na educação primária e na
secundária poderia eliminar o analfabetismo e reduzir a desigualdade edu-
cacional. Esse país alocou dois terços de seus gastos com educação pública
para a educação primária nos anos 60 e início de 1970 (Tabela 3.2). Gastos
públicos com a educação secundária cresceram de 22% em 1965 para 33%
em 1990. Ainda assim, os gastos públicos com educação superior raramente
excediam 12% do total dos gastos públicos entre 1965 e 1990; esse nível de
ensino foi principalmente financiado pelos investimentos privados. Antes
dos anos 90, a Índia despendeu uma parte maior do que gastou a Coréia
com educação superior e uma parte menor, mas crescente, com a educação
primária na metade da década de 1990. A Índia aumentou seus gastos com
as escolas elementares e programas de alfabetização de adultos de 20% a
31% de seu total de gastos públicos com educação, o que permanecia ainda
muito abaixo do da Coréia. Para fornecer um acesso mais amplo na edu-
cação e reduzir a desigualdade, ainda há muito a ser feito para a melhoria
da alocação de investimentos públicos na Índia.
Medidos pelo gasto público por estudante, os subsídios públicos para a
educação superior vêm caindo em muitos países, mas não suficientemente
rápido para capacitar a realocação dos fundos públicos para a educação
básica (Tabela 3.3). A alocação de recursos ainda é enviesada em relação à
educação primária e à secundária em muitos países. Nos Estados Unidos,
a alocação dos gastos públicos vem sendo equilibrada há mais de trinta
anos, com subsídios para a escolaridade primária para mais de 20% do
Produto Nacional Bruto (PNB) per capita, o mais alto do mundo. Na Coréia,
devido ao grande número de estudantes nas escolas primárias, o apoio go-
vernamental por estudante não enfatizou de modo suficiente a educação
primária na década de 1960, embora mais de 60% do total gasto fosse
alocado para a educação primária. Este padrão foi revertido na década de
1980, quando o gasto por estudante de escola primária excedeu o do estu-

Tabela 3.2 – Gasto Público por Níveis de Educação, Coréia, em Anos Seletos
(porcentagem do total de gastos com educação)

Níveis 1965 1970 1975 1980 1985 1990

Primário 64,7 67,4 52,2 47,9 44,5 43,2


Secundário 21,8 20,9 37,1 33,8 37,7 33,1
Superior 13,3 8,2 10,7 11,4 11,5 9,6

Fonte: Banco de dados da UNESCO.

71
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Tabela 3.3 – Gasto Público por Estudante, por Nível, 1960-1990

Gasto público por estudante Coeficiente Gini de Educação


(porcentagem PNB per capita) (Média nacional, todos os níveis)

País Nível Anos 60 Anos 70 Anos 80 Anos 90 1980 1990

Argentina Primário – 3,06 6,49 8,32 0,29 0,27


Secundário 26,17 10,43 – –
Superior 59,29 23,58 17,45 19,84
Chile Primário 6,92 6,08 12,53 9,20 0,32 0,31
Secundário – 12,01 12,58 8,80
Superior 151,71 67,46 79,69 23,36
Coréia Primário 6,21 7,86 12,79 14,86 0,34 0,22
Secundário 8,64 7,39 10,76 11,88
Superior 36,67 28,02 10,49 5,83
México Primário 4,34 – 3,97 7,18 0,50 0,38
Secundário – – 8,61 13,93
Superior 70,72 – 32,43 35,66
Estados Unidos Primário 22,05 28,45 26,28 19,83 0,12 0,15
Secundário – – 18,77 23,86
Superior 73,73 58,84 37,85 22,91
Venezuela Primário 8,50 7,37 4,80 2,39 0,39 0,42
Secundário 21,26 17,60 18,34 7,07
Superior 121,76 100,0 65,74 37,38

– Não disponível.
Fontes: Dados sobre gastos públicos do banco de dados da UNESCO; coeficientes Gini de Thomas et al. (2000).

dante universitário. Associada a uma forte ênfase na educação básica, a


Coréia foi capaz de reduzir a desigualdade na educação rapidamente. Os
Estados Unidos vêm, desde 1965, mantendo o mais baixo Coeficiente Gini
de Educação no mundo.
A Venezuela, em contraste, favoreceu a educação superior em relação à
educação básica por mais de quatro décadas. Enquanto o gasto público total
com educação cresceu de 4,3% do PNB na década de 1970 para 5,1% na de
1980 e 4,6% na de 1990, sua alocação piorou. De fato, os subsídios à edu-
cação primária e à secundária foram reduzidos na década de 1990. Essa má
alocação dos recursos públicos poderia explicar parcialmente a piora do
Coeficiente Gini de Educação na década de 1990.

A Interação entre Demografia e Educação

O gasto público por estudante em idade escolar primária na Coréia


cresceu em mais de dez vezes entre 1970 e 1995, ao passo que as taxas
de crescimento populacional diminuíram e a economia se expandiu (Ta-

72
M E L H O R A N D O A D I S T R I B U I Ç Ã O D E O P O R T U N I D A D E S

bela 3.4). O gasto público por estudante secundarista também cresceu. O


crescimento econômico rápido, juntamente com o declínio estabilizante
e regular da base estudantil, significou que muito mais recursos foram
sendo destinados a menos crianças, permitindo drásticas melhorias na
qualidade da educação primária.
Na Índia, o rápido crescimento populacional e coerções sobre a dotação
pública significaram que quantidade e qualidade equilibradas estavam pro-
vavelmente para ocorrer. Em 1995, a Índia despendeu US$ 39 (em dólares
constantes de 1995) por aluno nas escolas primárias, ou 10% de seu PIB per
capita, enquanto a Coréia gastou 17% (Tabela 3.4). Em Tamil Nadu, na
Índia, a matrícula nas escolas primárias e médias expandiu-se 35% entre
1977 e 1992 – uma grande realização –, mas a razão professor-aluno cresceu
de 36% para 47% e as condições da escola pioraram. Como resultado disso,
o aproveitamento do aluno foi sofrível (Duraisamy et al., 1998). Esses rela-
cionamentos apontam para a necessidade de considerar a interação entre
política demográfica e educacional e para a necessidade de se implemen-
tarem políticas direcionadas para a educação de garotas e mulheres, edu-
cação para melhorar a saúde reprodutiva e o planejamento familiar vo-
luntário como parte de uma estratégia de desenvolvimento global, centrada
no povo (ver também Quadro 3.3).

Tabela 3.4 – Gastos Públicos Atuais por Estudante, Índia e Coréia, em Anos Seletos

País Nível 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995

Quantia (1995 US$ por estudante)

Coréia Primário 92 207 182 386 701 955 1.890


Secundário – 223 134 339 541 786 1.295
Superior 545 757 622 589 546 460 599
Índia Primário 8 10 20 23 29 39 39
Secundário – 54 35 34 38 – 43
Superior – – – 189 227 299 260

Porcentagem do PIB per capita

Coréia Primário 6,3 9,5 6,3 10,2 13,5 12,0 17,4


Secundário – 10,3 4,6 9,0 10,4 9,9 11,9
Superior 37,2 35,0 21,5 15,6 10,5 5,8 5,5
Índia Primário 4,3 4,8 9,2 9,7 10,6 11,8 9,9
Secundário – 24,9 15,8 14,8 13,9 – 11,0
Superior – – – 81,8 84,0 90,3 66,4

– Não disponível.
Nota: As quantidades de dólares não são comparáveis em países como o são em PPP dólares, mas são comparáveis no decorrer do tempo.
Fontes: Dados calculados pela UNESCO e pelo World Bank.

73
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Quadro 3.3 – População e Desenvolvimento

A ligação entre crescimento populacional e desen- declínio da mortalidade e da fertilidade cada um con-
volvimento econômico é um tema de acalorados de- tribuiu com aproximadamente 22% para as mudanças
bates. As décadas de 1960 e 1970 foram dominadas no crescimento resultante entre 1960 e 1992, uma
pelas predições pessimistas e algumas vezes alarmis- figura que corresponde a aproximadamente 21% da
tas de que o crescimento rápido da população levaria média de resultado do crescimento per capita que foi
à fome, à exaustão dos recursos, a deficiências na aferida em 1,5% .
poupança, a danos ambientais irreversíveis e ao Vários componentes da mudança demográfica foram
colapso ecológico (Ehrlich, 1968). A população oti- introduzidos com sucesso nos modelos de crescimento.
mista acreditava que o crescimento rápido da popu- Bloom & Williamson (1998) mostraram que a tran-
lação fosse permitir que os países captassem econo- sição demográfica rápida na Ásia oriental levou a cres-
mias de escalas e promovessem inovação tecnológica cimento rápido na população em idade produtiva entre
e institucional (Simon, 1976). Na década de 1980, os 1965 e 1990, expandiu a capacidade produtiva per capita
pontos de vista alarmistas foram substituídos pelos e contribuiu para o milagre econômico da Ásia oriental.
moderados, investimentos específicos de tempo e Outras políticas econômicas também facilitaram aos
país dos impactos da rede negativa do rápido cresci- asiáticos orientais realização do crescimento potencial
mento populacional que foram considerados meno- da transição demográfica.
res. Apenas ligações frágeis ou inconclusivas foram Menos evidência estava disponível na ligação entre
descobertas entre mudanças demográficas e desen- mudança demográfica e pobreza, até recentemente.
volvimento econômico (Bloom & Freeman, 1988; Contudo, se o crescimento populacional rápido tem
Keley, 1988). um efeito negativo no crescimento econômico e dos
Investigações mais recentes revelaram, de modo salários, iria igualmente afetar negativamente a
muito mais amplo, efeitos negativos do crescimento pobreza. Eastwood & Lipton (1999) descobriram que
populacional rápido e os componentes demográficos a maior fertilidade aumenta a pobreza tanto por retar-
relativos ao crescimento econômico per capita. Kelley dar o crescimento quanto por fazer tender a dis-
& Schimidt (1999) descobriram que o crescimento tribuição contra os pobres. Além disso, a evidência
populacional rápido exercia um impacto adverso mostra que os programas do setor público cujo alvo
muito forte no andamento do crescimento econômi- eram os pobres, tais como programas de educação
co em 89 países entre 1960 e 1995. Os impactos posi- básica e serviços de saúde, contribuíram para reduzir
tivos da densidade, tamanho da população e a entrada a pobreza. Crescimento populacional rápido dimi-
da força de trabalho foram dominados pelos custos nuirá a intensidade do investimento público e, conse-
da criação infantil das crianças e a manutenção am- qüentemente dificultará a realização de melhorias na
pliada da idade estrutural da dependência juvenil. O qualidade do serviço.

Fontes: Bloom & Williamson (1998); Eastwood & Lipton (1999); Kelley (1998); Kelley & Schmidt (1999).

Melhorar a Parceria de Gastos Públicos e Privados

A Coréia também realizou uma boa parceria de financiamentos público


e privado na educação. Desde a metade da década de 1960, as faculdades
privadas e as universidades contabilizaram mais de 70% das matrículas, e
as instituições secundárias privadas, para mais de 40%. As famílias assu-
mem uma grande parte dos custos educacionais, entre 30% e 50%, depen-
dendo do nível de educação do aluno. O custo da instrução e as taxas de
exame relacionadas respondem por 40% dos gastos escolares para a escola

74
M E L H O R A N D O A D I S T R I B U I Ç Ã O D E O P O R T U N I D A D E S

média, mas aumenta drasticamente para 72%, e mais, para os estudantes


secundaristas e universitários.
A maioria das parcerias efetivas públicas/privadas depende da extensão
das falências de mercado e de uma variedade de outros fatores. A educação
superior é crucial para o progresso tecnológico e o crescimento da produ-
tividade, mas pode ser considerado um bem privado, porque a maior parte
dos retornos pode ser interiorizada por indivíduos e empresas. Enquanto a
educação primária e a secundária têm uma expansão ampla, os efeitos não
são totalmente captados pelos indivíduos e empresas. Assim, enquanto o
governo tem o papel direto na educação primária e na secundária, ele pre-
cisa encorajar investimentos privados e parcerias públicas/privadas para a
educação superior. Os Estados Unidos, por exemplo, desse ponto de vista,
oferecem valiosas experiências.
O ambiente político que pode ser definido pelo grau de abertura ao
comércio e ao investimento, por exemplo, afeta a demanda por trabalhadores
especializados e, conseqüentemente, por pessoas desejosas de pagar pela
educação. A qualidade da previsão de serviço para a educação, relacionada
com as capacidades institucionais, também afeta o desejo de pagar. De modo
semelhante, a parceria público/privado nos serviços de saúde também
depende da natureza, dos serviços e do grau de falhas de mercado, em par-
ticular nos subsetores (disponível em Filmer, Hammer & Pritchett).
Uma intervenção bem-sucedida é o programa Quetta Girls Felowship, no
Paquistão. Lançado em 1995, o projeto-piloto visava determinar se o estabe-
lecimento de escolas privadas nas periferias pobres seria um caminho efetivo
para a expansão do ensino primário destinado a meninas. O programa enco-
rajou escolas privadas controladas pelas comunidades, garantindo-lhes apoio
governamental por três anos. Uma análise avaliativa indica que o programa
aumentou as matrículas de meninas em 33% e as matrículas dos meninos
cresceram no mesmo nível. Tais programas oferecem promessa para o
aumento das taxas de matrículas nas áreas urbanas pobres (Kim et al., 1999).

Descentralizar as Tomadas de Decisão


e Encorajar a Participação

A maneira como as decisões são tomadas afeta também a eficácia dos


serviços públicos. Onde a capacidade institucional é baixa, os gastos públicos
e intervenções planejadas e organizadas de forma centralizada são provavel-
mente ineficientes. Muitos países estão se movimentando para as tomadas de
decisões descentralizadas visando a melhor equiparação de gastos para neces-
sidades locais. A evidência empírica nos benefícios da administração
descentralizada da escola era, até recentemente, rara. Uma avaliação do pro-
grama EDUCO de El Salvador (programa escolar administrado pela comu-
nidade), realizada há pouco, mostra que o envolvimento acentuado da comu-

75
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

nidade e dos pais nas escolas do EDUCO melhorou as habilidades lingüísticas dos
estudantes e diminuiu as ausências dos estudantes, as quais podem ter efeitos a
longo prazo na conclusão (Jimenez & Sawada, 1999). Outros estudos também
mostraram que escolas dirigidas pela comunidade alcançam melhores resultados
na Indonésia e nas Filipinas (James et al., 1996; Jimenez & Paqueo, 1996).
Muitos países têm feito experiências com fiadores, que transferem
recursos aos pais para ajudar a pagar a matrícula da escola particular. A
Colômbia utilizou um programa nacional de fiadores de 1991 a 1997 para
descentralizar a administração e expandir a matrícula. O programa pre-
tendia corrigir as deficiências no sistema de educação pública, especial-
mente a baixa taxa de transição das escolas primárias para as secundárias,
pelos pobres. Apenas os pobres eram qualificados para os avais, o que nega-
va que se subsidiassem os ricos, como em programas anteriores de fiadores.
Contudo, a participação era o problema: apenas 25% dos municípios colom-
bianos aderiram ao programa, limitando os benefícios. Uma avaliação cui-
dadosa do programa descobriu que a demanda pela educação secundária e
o espaço disponível das escolas privadas foram determinantes-chave da par-
ticipação municipal (King et al., 1999). Tais programas de fiadores são
potencialmente benéficos para os pobres.
Em países com governos predatórios e corruptos, contudo, a descen-
tralização das tomadas de decisões pode não ser a resposta. Funcionários
públicos corruptos irão, provavelmente, realocar recursos públicos dos
pobres para os grupos de interesse das elites, subsidiando os tipos de
serviços sociais que beneficiam os ricos. Habilitar o povo a influenciar a
política por meio da democratização e de um papel maior para a sociedade
civil, e encorajar maior participação da comunidade e das famílias são pas-
sos na direção correta (ver Capítulo 6 sobre o papel da participação da
sociedade civil no combate à corrupção e realização de um melhor governo).

Tornar a Educação Mais produtiva

Para melhorar a produtividade da educação dos pobres é preciso mais do


que investimentos na educação destes. Para serem mais produtivos, os
pobres devem estar capacitados para combinar seu capital humano ou ou-
tros bens produtivos, como a terra e a eqüidade de capital, e oportunidades
de trabalho em mercados abertos e competitivos.

Distribuir a Terra com Mais Eqüidade

Os pobres não são apenas pobres de renda; também carecem de bens.


Nas economias agrárias, as famílias são, habitualmente, sem-terra, ou dis-
põem de terras pobres. No sul da Ásia, na África do Sul e grande parte da

76
M E L H O R A N D O A D I S T R I B U I Ç Ã O D E O P O R T U N I D A D E S

América Latina, a pobreza está altamente relacionada com os sem-terra


(Figura 3.11a). A desigualdade de renda também parece estar associada
com a desigualdade da posse da terra (Figura 3.11b), embora os dados sobre
a posse da terra sejam frágeis.

Figura 3.11a – Pobreza e Posse da Terra, Bangladesh, 1988-1989

Índice de incidêcia de pobreza (por cento)

80

60

40

20

0 5 10 15

Média de propriedade de terras (acres)


Fonte: Ravallion & Sen (1994).

Figura 3.11b – Divisão de Renda na Década de 1980 e Coeficiente Gini para a Terra,
na Década de 1960

Revisão de renda nos quintilhos mais baixos na década de 1980

0.12

1,10

0,08

0,06

0,04

0,02

0,00

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0

Coeficiente Gini para a terra na década de 1960

Nota: Os dados são específicos aos países em média por décadas. N = 27.r = -0,40.
Fonte: Deininger & Squire (1996).

77
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

A reforma agrária tem muitos benefícios para o crescimento e para a


redução da pobreza, como sugerido por estudos empíricos discutidos mais
adiante. Nas sociedades em que um amplo segmento da população não possui
acesso aos recursos produtivos da economia, uma forte demanda para a redis-
tribuição dá oportunidade a perturbações civis. Os estudos sugerem que a
desigualdade na posse da terra e da renda está relacionada com um subse-
qüente crescimento econômico mais baixo (Alesina & Rodrik, 1944); o desvio-
padrão e o aumento em igualdade estão associados com os aumentos no cres-
cimento de 0,5 para 1 ponto percentual (Persson & Tabellini, 1994). Outros
estudos mostraram que a desigualdade inicial de bens, medida pela dis-
tribuição de terra, é mais significativa do que a desigualdade de renda no que
se refere a afetar o crescimento subseqüente (Deininger & Squire, 1998; Li et
al., 1998; Lundberg & Squire, 1999). Outros, ainda, descobriram a desigual-
dade inicial de terra, juntamente com uma desigualdade inicial de educação,
para ter fortes elos negativos com o crescimento da economia e com o cresci-
mento da renda dos pobres (Birdsall & Londoño, 1998). Ademais, para ser
negativamente relacionada com o crescimento, a desigualdade de terra aparece
também para reduzir o efeito positivo do capital humano sobre o crescimento,
mediante a interação de efeitos (Deininger & Olinto, 1999).
A reforma distributiva da terra possibilitou a existência de produtores
mais eficientes e reduziu as imperfeições no mercado de crédito, levando a
decisões de investimentos melhoradas pelos pobres. Maior riqueza, como
medida pela posse da terra, oferece uma rede de segurança para os pobres
contra choques externos e aumenta sua capacidade para participar dos
processos políticos (Binswanger & Deininger, 1997; Binswanger et al., 1995).
Ravallion & Sen (1994) notaram que a redistribuição de terra rica para
famílias de terra pobre reduziria a pobreza agregada na Bangladesh rural.
Também descobriram que transferências do orçamento teriam um enorme
impacto sobre a pobreza se concentradas em fazendeiros sem terras e mar-
ginais (ver Tabela do Anexo 3.5 para uma revisão de bibliografia).
A difusão da posse da terra melhora não apenas a igualdade, mas tam-
bém a produtividade (Berry & Cline, 1979) e a eficiência (Banerjee, 1999).
Melhores direitos sobre a terra facilitaram o investimento em Gana (Besley,
1995), e as escrituras de posse legal da terra na Tailândia impactaram signi-
ficativamente os desempenhos dos agricultores (Feder, 1987 e 1993). Mui-
tas economias da Ásia oriental expandiram posses da terra como um resul-
tado da propriedade tradicional ou reforma agrária. Na Coréia, as terras
confiscadas no fim da Segunda Guerra Mundial foram primeiramente dis-
tribuídas aos agricultores. Na década de 1950, o governo distribuiu escritu-
ras de propriedade da terra com compensação nominal para novecentos mil
locatários, eliminando efetivamente a locação. Em Taiwan, na China, o go-
verno obteve terra dos latifundiários no início da década de 1950, compen-
sando os proprietários com ações nas empresas estatais e, então, vendeu a
terra para os lavradores em termos favoráveis.

78
M E L H O R A N D O A D I S T R I B U I Ç Ã O D E O P O R T U N I D A D E S

Na China, a responsabilidade do sistema de família introduzido em


1979 distribuiu coletivamente a posse da terra para as famílias por até 15
anos. O sistema, renovado para outros trinta anos em 1998, criou recom-
pensas mais intimamente aos esforços dos agricultores. Juntamente com o
preço e outras reformas, a iniciativa resultou em 5,7% de aumento anual na
média de rendimentos de grãos de 1978 a 1984 e 1,8% depois disso. Quase
metade do resultado total aumentado no período pode ser atribuída ao sis-
tema de responsabilidade familiar (Lin, 1992). Um estudo descobriu que o
acesso à terra pode melhorar a condição nutricional na China, porque serve
não só como meio de geração de renda, mas também como fonte de calorias
baratas relativamente ao mercado (Burgess, 2000). Outro estudo descobriu
que na China rural a riqueza, especialmente da terra, está distribuída com
maior igualdade (coeficiente Gini de 0,31) do que a renda (coeficiente Gini
de 0,34). A principal fonte de desigualdade de renda rural é a renda salarial,
mais do que os retornos da terra, um padrão atípico para um país em desen-
volvimento (McKinley, 1996).
A reforma agrária é contenciosa e politicamente difícil. A reforma
agrária assistida pelo mercado emergiu nos anos recentes como uma alter-
nativa para a tradicional, e está sendo implementada pelo Brasil, Colômbia
e África do Sul. A idéia básica é que o Estado dê a pessoas qualificadas, mas
sem terra, uma ajuda ou um empréstimo subsidiado para que possam com-
prá-la. Esta abordagem assistida pelo mercado difere das reformas agrárias
totalmente compensadas em dois modos: não existem nem alvos explícitos
para a distribuição da terra, nem esquemas de tempo fixo. Além do mais,
as reformas são demandas dirigidas; a maioria das pessoas que querem
a terra virá para comprá-la. Alguns pesquisadores sustentam que a refor-
ma agrária assistida pelo mercado tem vantagens, especialmente se combi-
nada com microcrédito, programas extensivos e ações complementares que
facilitem as cooperativas agrícolas e pequenos cultivos (Banerjee, 1999). O
sucesso do programa pode ser melhorado se acompanhado de esforços para
tornar os mercados de terra mais transparentes e fluidos, conseguindo
envolver o setor privado (Deininger, 1999). Enquanto é ainda muito cedo
para tirar conclusões definitivas sobre os custos e benefícios destas refor-
mas, alguns outros estudos descobriram que esse tipo de abordagem bene-
ficia grandes latifundiários, porque os preços da terra estão, provavel-
mente, para lançar as ofertas, requerendo que o pobre pague preços eleva-
dos (López & Valdes, 2000).

Distribuir Capital Eqüitativo e Fomentar Competição

Um acordo pode ser também feito para melhor distribuição da igualdade


por meio do emprego de planos de propriedade. Nos países industrializados,
o estoque de planos de propriedade empregados foi positivamente associado

79
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

a desempenhos das empresas. As empresas dos Estados Unidos empregaram


planos de posse na reestruturação. Por exemplo, a United Airlines negociou
significativas concessões de salário em troca de uma maior eqüidade de
financiamento para os empregados. Comunicando os benefícios do plano
reestrutural a seus investidores reempregados, a companhia reduziu o seu
custo de reestruturação frontal, aumentando os efeitos da reestruturação,
criando, com isso, o valor dos acionistas adicionais. Tanto os investidores
como os empregados saíram beneficiados (Gilson, 1995).
Nos países atingidos pela recente crise financeira, a venda igual de ações
para os empregados pode fornecer um caminho para recapitalizar compa-
nhias com uma necessidade de capital desesperada e pode igualmente redis-
tribuir riquezas e riscos. Onde a reestruturação leva a economias, aos tra-
balhadores desligados podem ser dadas ações eqüitativas em lugar do últi-
mo pagamento, e, assim, eles se beneficiam da reestruturação e da recupe-
ração das companhias. Planos de posse podem ajudar a reduzir a resistên-
cia dos trabalhadores à reestruturação (Claessens et al., 1999). Prover
microfinanciamento para os trabalhadores desligados do trabalho, a fim de
que possam estabelecer novas pequenas empresas, é outro modo de habi-
litá-los a construir capital físico e financeiro.
A privatização oferece oportunidades adicionais para redistribuir igual-
dade. Como as empresas públicas foram construídas utilizando-se de ren-
das vindas de impostos, uma determinada proporção da eqüidade pode,
justificadamente, ser distribuída ou vendida para os pagadores de impos-
tos durante a privatização. Programas de privatização propriamente desig-
nados podem reduzir desigualdades de bens e a pobreza; por exemplo, uti-
lizando procedimentos da privatização das maiores empresas do Estado, a
Bolívia estabeleceu um fundo comum de bens financeiros destinado a criar
um fundo de pensão mínima para todos no país. Enquanto a quantia
fornecida é pequena, o programa atingirá as pessoas mais vulneráveis da
sociedade: os pobres mais velhos, incapacitados de poupar para a aposen-
tadoria. A Hungria utilizou-se de suas receitas vindas da privatização para
reembolsar dívidas externas, o que aumentou sua taxa de débito sobera-
namente, reduziu seus pagamentos de capital e beneficiou todos os
cidadãos (Kornai, 2000).
A privatização acarreta ganhos em eficiência tanto quanto perdas so-
ciais, e a sociedade deve manter equilíbrio entre a eficiência dos ganhos
sociais e as perdas (e compensar os perdedores); seus ganhos devem ser
sustentáveis. Depois da privatização no México, houve aumento de 24%
na razão da operação renda para vendas. Daqueles ganhos em lucrativi-
dade, 10% foram devidos aos mais altos preços dos produtos, 33% para
transferência de trabalhadores demitidos e o restante, 57%, para ganhos
em lucratividade (La Porta & López-De-Silanes, 1999). Para compensar
aqueles que sofrem perdas como resultados da privatização, as porções
iguais no lugar da indenização poderiam ser distribuídas para os demiti-

80
M E L H O R A N D O A D I S T R I B U I Ç Ã O D E O P O R T U N I D A D E S

dos ou outras formas de transferência de renda poderiam ser financiadas


pela taxação.
Competição e regulamentação são vitais para uma economia de merca-
do. A eficiência de uma economia de mercado depende tanto da propriedade
privada como dos mercados competitivos, mas muitas economias de tran-
sição em desenvolvimento são carentes de ambas. Antes e durante a priva-
tização, a competição e uma estrutura reguladora devem ser introduzidas
(Stiglitz, 1999). A evidência vinda do Reino Unido mostra que, quando
grandes empresas públicas foram privatizadas, regulamentações antitrustes
foram cruciais para assegurar alocações transparentes, eqüitativas e efi-
cientes dos recursos (ver também Herrera, 1992). Privatizar grandes em-
presas públicas que possuem monopólio natural sem primeiro estabelecer
regulamentações antitruste, como se deu na Rússia, pode piorar a distri-
buição de riqueza e renda. E poderia criar interesses poderosos e en-
trincheirados que minassem a possibilidade de uma regulamentação viável
e competição no futuro, bloqueando posteriores medidas de reforma de
base ampla (Kornai, 2000).

Combinar Capital Humano com


Oportunidades nos Mercados Abertos

A criação de oportunidades de trabalho é criticamente importante para


a utilização produtiva do capital humano e para a redução da pobreza. O
World Development Repport 1990 (World Bank, 1999) propôs uma estratégia
de base ampla, crescimento de trabalho intensivo para gerar oportunidade
de ganho de renda para os pobres. Algumas economias perseguiram esta
estratégia e mais – combinaram investimentos em ganho na educação com
abertura, formando um círculo virtuoso. Exemplos incluem Japão e Hong
Kong na década de 1950; Taiwan, Coréia e Cingapura a partir da década de
1960 até 1980.
O acúmulo de conhecimento influencia o comércio de um país e sua
competitividade e o comércio aumenta o acúmulo de conhecimento espe-
cialmente mediante importação. Lucas (1993) notou que, para sustentar o
acúmulo de conhecimento, uma nação deve ser orientada para o exterior e
um exportador significativo. Young (1991) e Keller (1995) descobriram que
o comércio em si não é uma máquina de crescimento, mas deve operar por
meio de algum mecanismo, tal como a formação de capital humano, para
afetar o crescimento.
A abertura de mercado facilita o progresso tecnológico e a capacidade de
construção por meio de vários modos de aprendizagem, tal como a impor-
tação do capital e dos bens intermediários, aprender fazendo, e treinamen-
to no trabalho. Foster & Rosenzweig (1995) descobriram uma forte evidên-
cia do aprender-fazendo e expansões de aprendizagem: as próprias expe-

81
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

riências dos agricultores e a de seus vizinhos com altas variedades de pro-


dução aumentaram significativamente a lucratividade. Agricultores com vi-
zinhos experimentados são significativamente mais lucrativos que outros, e
o efeito da expansão associado com a aprendizagem de outros é pequena,
mas não sem importância.
A ligação entre políticas econômicas gerais e o impacto da educação é
clara. O World Development Repport 1991 (World Bank, 1991) descobriu
que, entre sessenta países em desenvolvimento de 1965 a 1987, as taxas
de crescimento econômico eram especialmente altas para aqueles com
altos índices de educação, estabilidade macroeconômica e abertura de
mercado. O impacto da abertura comercial sobre o crescimento a longo
prazo depende, assim, de quão bem as pessoas podem absorver e utilizar
a informação e a tecnologia que acompanham o comércio e o investimen-
to estrangeiro.
Aumentos no estoque de capital humano tendem a acelerar o cresci-
mento durante as reformas de mercado e sob uma estrutura econômica
orientada para o exterior, mas, em sua ausência, a educação não tem ne-
nhum impacto significativo no crescimento. O efeito do crescimento de
uma interação entre abertura e educação foi robusto (López et al., 1998;
ver também Capítulo 2 e Anexo 2). De forma similar para 1.265 dos pro-
jetos do Banco Mundial, Thomas & Wang (1997) descobriram que a taxa
de retorno era três pontos percentuais mais alta nos países tanto com uma
força de trabalho mais educada quanto com uma economia mais aberta do
que nos países que tinham apenas uma ou outra (Figura 3.12 e Anexo da
Tabela A3.4).8

Proteger os Trabalhadores Contra o Choque

Os pobres urbanos habitualmente são desprovidos de capital humano


adequado para tudo, menos o trabalho não especializado. Com a abertura
aumentada e a globalização, as oportunidades de trabalho para trabalha-
dores não especializados tornaram-se mais raras e as rendas mais voláteis.
Diwan (1999) descobriu que as divisões de trabalho no PIB vêm caindo há
mais de vinte anos na maioria das regiões. Coerente com esta evidência, as
taxas de emprego na América Latina subiram desde o fim da década de
1980. Em 1989, apenas cinco ou seis de cem latino-americanos disponíveis
para o trabalho estavam desempregados: por volta de 1996, aproximada-
mente oito de cada cem não estavam trabalhando.
O desemprego cresceu nos países da Ásia oriental atingidos pela recente
agitação financeira, de prévios níveis modestos para 4,5% na Tailândia,
5,5% na Indonésia e 7,4% na Coréia urbana (World Bank, 2000a, p.59).
Talvez ainda pior foi a queda dos salários reais, porque os pobres não ti-
nham condições de ficar desempregados. Os salários reais caíram em 16 dos

82
M E L H O R A N D O A D I S T R I B U I Ç Ã O D E O P O R T U N I D A D E S

22 episódios de recessão na América Latina durante as décadas de 1980 e


1990. Em 18 casos, depois de dois anos os salários reais permaneceram
mais baixos que os seus níveis anteriores à crise (Lustig, 1999). Na Ásia
oriental, os salários reais de manufaturação caíram 4,5% na Tailândia,
10,6% na Coréia e 44 % na Indonésia entre 1997 e 1998 (World Bank,
2000a, p.57). Como resultado tanto do declínio dos salários reais como do
crescimento de emprego, a divisão de trabalho no PIB caiu drasticamente,
seguindo as crises financeiras, talvez por o trabalho ser menos móvel que o
capital; sendo assim, é forçado a suportar uma ampla divisão do ônus finan-
ceiro da resolução da crise (Diwan, 1999).
Trabalhadores urbanos não especializados são muito vulneráveis aos
choques externos, ajuste estrutural e reveses econômicos. Na falta de capi-
tal humano adequado, são freqüentemente incapazes de se ajustar às
mudanças na demanda do mercado de trabalho. O problema é exacerbado
pelas distorções do mercado de trabalho e instituições frágeis, que poste-
riormente atrapalham os ajustes desse mercado. As distorções do mercado

Educação e abertura interagem e aumentam os retornos de investimentos


Figura 3.12 – Educação, Abertura e Taxas Econômicas de Retorno em 1.265 Projetos
do Banco Mundial

Taxa econômica de retorno (por cento)

18,0

18

15,2
16

14

15,0
14,8
12

Mais aberto

10
Menos aberto
Baixa educação
Alta educação

Nota: As taxas econômicas de retorno derivam da base de dados avaliativos do Departamento de Avaliação de Operações do Banco Mundial. A educação é avali-
ada pelo nível médio de escolaridade da força de trabalho, e a abertura pelo logaritmo do câmbio estrangeiro premium do mercado.
Fontes: Thomas & Wang (1997); Anexo 3.

83
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

de trabalho precisam ser checadas: a existência de trabalho infantil e as


estruturas de salários distorcidas desencorajam a demanda pela educação.
Os governos precisam elaborar instituições de mercado de trabalho e
fornecer as informações que os pobres precisam sobre esse mercado.
É necessário, também, treinar e retreinar trabalhadores deslocados e
aumentar a mobilidade através dos setores. Gana treinou mais de quatro
mil pessoas em escolas vocacionais ou programas de aprendizagem, que
ofereceram treinamento em atividades como costura, eletrificação e
carpintaria. Os participantes receberam certificados e ferramentas depois
de completar o treinamento, dando-lhes capital humano e físico para
começar a trabalhar de imediato como autônomos. Muitos centros de
troca de trabalho foram estabelecidos na China para retreinar e deslocar
trabalhadores de setores estatais para setores privados. Alguns dos pro-
cedimentos para liquidar os bens das empresas estatais falidas foram usa-
dos para redobrar o número de operários desempregados. Tais medidas
ajudaram a facilitar o crescimento de tensões sociais e a desigualdade
durante períodos de transição.9

Conclusões

Para que o crescimento tenha impacto na redução da pobreza, os bens


dos pobres precisam ser aumentados. Isto pode ser realizado tanto por meio
de investimento em novos bens, especificamente o capital humano, como
de redistribuição dos bens existentes. Este capítulo focou-se no investi-
mento em novos bens examinando a qualidade e a distribuição da educação
e suas causas e conseqüências, assim como os remédios para amplas dis-
persões na conclusão educacional. Quando a qualidade da escolaridade é
baixa e a desigualdade educacional é alta, os pobres são mais atingidos
porque o capital humano freqüentemente é seu principal bem. Investimento
inadequado no capital humano dos pobres exacerba e perpetua a pobreza e
a desigualdade de renda.
Melhorar a alocação dos gastos públicos na educação é a chave. Apesar
de envidar esforços com esta finalidade, muitos países não foram capazes de
concentrar investimento público na educação primária e na secundária.
Alocações inadequadas dos gastos públicos levaram à conclusão da média
baixa por dólares gastos nos estudantes, o que afeta principalmente os
pobres. Os governos precisam realocar o gasto público em direção à edu-
cação básica, enquanto ao mesmo tempo capacite os setores público e pri-
vado e os parceiros públicos/privados para aumentar os esforços na edu-
cação superior. Os países têm razões coercitivas para fortalecer a educação
em todos os níveis. Ela pode aumentar o aspecto de redução da pobreza do
crescimento e, além disso, melhorar diretamente o bem-estar. Ela capacita
os países a participarem efetivamente na economia global.

84
M E L H O R A N D O A D I S T R I B U I Ç Ã O D E O P O R T U N I D A D E S

Apenas o fato de investir na educação não irá garantir o desenvolvi-


mento bem-sucedido nem a redução da pobreza. Assim, este capítulo foi
além da educação para questões relacionadas à utilização do capital
humano, principalmente a distribuição da terra e outros bens produtivos
e políticas de economia ampla. Para reduzir a pobreza, os países precisam
de uma estratégia multidimensional centrada no povo. É preciso assegu-
rar o acesso à educação e a serviços de saúde e distribuí-los bem, para
facilitar o uso total do capital humano dos pobres e para habilitar o pobre
com terra, eqüidade de capital, treinamento e oportunidades de trabalho
tornadas possíveis pela abertura ao comércio internacional, investimento
e idéias.

Notas

1. Sobre a importância da distribuição de bens, ver, por exemplo, Ahluwalia (1976); Birdsall &
Londoño (1997); Chenery et al. (1974); Deininger & Squire (1998); Kanbur (2000); Knight
& Sabot (1983); Lam & Levison (1991); Lanjouw & Stern (1989 e 1998); Li et al. (1998);
Ram (1990); Ravallion & Datt (1999); e Sen (1980 e 1988). Ver Tabela A3.5 anexa para
evidência adicional.

2. Alguns argumentos aplicam-se aqui para a saúde, mas, devido a limites de espaço, este capí-
tulo focaliza apenas a educação.

3. Algumas afirmativas concentram-se aqui. Esta conclusão se sustenta se há um mercado com-


petitivo e dois fatores de produção: capitais físico e humano. Também é verdade se o capital
humano for decomposto para trabalho especializado e não especializado.

4. Tais medidas, contudo, são sensíveis a políticas de promoção nacional. Placares sobre
testes internacionalmente comparáveis representam uma melhoria sobre os indicadores
tradicionais, mas são disponíveis para apenas uns poucos países em desenvolvimento,
e não são comparáveis no decorrer do tempo. Em razão destes problemas, não são aqui
utilizados.

5. O mesmo é verdade quanto aos países industrializados. Um estudo estimativo do custo dos
diferentes tipos de classes nacionais abrange políticas de redução nos Estudos Unidos e
descobriu-se que os custos operacionais podiam ser tão amplos como US$ 2 bilhões a US$
7 bilhões ao ano (Brewer et al., 1999).

6. Houve um debate acalorado sobre “a eqüidade de quê?”. Sen (1980) encara os níveis indivi-
duais das funções, tais como alfabetização e nutrição, como atributos a serem equalizados.
Outros vêem as oportunidades que o povo enfrenta como atributos a serem equalizados
(Arneson, 1989; Cohen, 1989; Roemer, 1993). Outros, ainda, consideram a quantidade de
recursos como o atributo a ser equalizado (Dworkin, 1981).

85
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

7. Muitos estudos compararam renda, terra e riqueza. Os coeficientes Gini (por exemplo,
Leipziger et al. (1992) para a Coréia). Contudo, nenhum estudo comparou os coeficientes
Gini para a educação com os de renda ou terra. Os coeficientes Gini para a renda estão
disponíveis apenas para alguns anos seletos (Deininger & Squire, 1996):

1970 1977 1983 1990 1992 1970 1976 1980 1985 1988

Índia 0,30 0,32 0,31 0,32 0,32 Coréia 0,33 0,39 0,39 0,35 0,34

8. Os dados de nível projetados através do país incluíram variáveis na educação, renda per capi-
ta, abertura, gastos governamentais e projeto de desempenho. Os dados projetados cobriram
3.590 projetos de empréstimo em 109 países avaliados pelo Departamento de Avaliações
Operacionais para 1974-1994, com uma taxa de desempenho geral (não satisfatória) e taxas
econômicas de retorno.

9. Para maiores discussões sobre mercado de trabalho e questões de proteção social, ver Basu
et al. (1999); Kanbur (2000); World Bank (1994) sobre a crise antiga, e World Bank (2000i).

86
C A P Í T U L O 4

SUSTENTAR O
CAPITAL NATURAL
Se realmente nos importamos com o futuro do nosso planeta, devemos parar
de deixar para os “outros” resolverem todos os problemas. Depende de nós
salvar o mundo para amanhã, depende de você e de mim.
— Jane Goodall, Reason for Hope

O capital natural tem contribuído enormemente para o bem-


estar e o desenvolvimento humano. O termo capital natural
abrange as funções encobertas, ou seja, ar e água como meios
receptivos para a poluição gerada pelos humanos e as fun-
ções-fonte, ou seja, produção baseada nas florestas, pescas e minérios mine-
rais; proteger as funções encobertas é essencial para a saúde humana.
Proteger as funções-fonte ou produtivas é crucial para a segurança econômi-
ca de muitos que dependem desses recursos para suas vidas. A alta quali-
dade do capital natural contribui indiretamente para o bem-estar como
parte essencial da produção sustentada dos bens econômicos e serviços.
Também contribui para o bem-estar diretamente, quando as pessoas tiram
prazer dos arredores intocados, florestas de crescimento antigo, rios e lagos
limpos nos quais nadar e pescar.
O Capítulo 2 demonstrou a importância dos capitais humano, natural e
físico para o crescimento econômico e o bem-estar. Em decorrência da subs-
tituição imperfeita, estes bens precisam crescer a taxas não distorcidas e
muito bem equilibradas para realizar o crescimento econômico sustentável.
O crescimento desequilibrado ou distorcido – marcado pelo acúmulo espe-
cialmente rápido do capital físico, acumulação lenta de capital humano e
queda delineada do capital natural – aumenta a volatilidade do crescimen-
to, atingindo desproporcionalmente os pobres. Uma economia que fomente

87
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

o crescimento desequilibrado provavelmente sofrerá estagnação a longo


prazo (ver Anexo 2).
Economias que tiram muito de sua renda dos recursos naturais não
podem sustentar o crescimento substituindo acúmulo de capital físico para
deteriorar o capital natural (López et al., 1998). É provável que a degrada-
ção ambiental seja mais devastadora para os pobres, que freqüentemente
dependem dos recursos naturais para sua renda, com poucas possibilidades
para substituir outros bens. Especialmente a longo prazo, as abordagens do
crescimento que dão atenção à qualidade ambiental e uso dos recursos con-
tribuem eficientemente para acúmulo, investimento, crescimento econômi-
co e bem-estar humano (Munasinghe, 2000).
Ainda, países pelo mundo todo superexploraram suas florestas, pescas e
riquezas minerais e poluíra sua água e seu ar em acelerado crescimento
econômico a curto prazo, com agentes de política ressaltando que sua abor-
dagem aumentaria o bem-estar de seus cidadãos. Enquanto muito capital
natural tem sido sacrificado com desmatamento, perda de biodiversidade,
degradação do solo e poluição do ar e da água, o acesso à água de qualidade
e a facilidades de tratamento de esgoto e saneamento freqüentemente tem
demonstrado melhorias quando a economia cresce. Este capítulo examina
as razões pelas quais o capital natural tende a ser usado de forma abusiva e
a ser superexplorado, especialmente durante o crescimento econômico rápi-
do, e que medidas podem ser tomadas para corrigir a espiral negativa do
declínio ambiental.
A adequação de ações corretivas dependerá da natureza do problema e
do cenário econômico e institucional. Por exemplo, a qualidade do ar pode
ser melhorada com a cobrança de um imposto sobre as emissões industriais
de poluentes, enquanto a eficiência produtiva baseada nos recursos naturais
pode ser aumentada por medidas como a concessão de direitos de pro-
priedade claros para a terra, ou pela concessão de cotas transferíveis aos
pescadores. Resultados de sucesso requerem uma intervenção ativa, seleti-
va pelo Estado, em colaboração com o setor privado e a sociedade civil.

Perdas Extensivas

A poluição do ar pelas emissões industriais, escapamentos dos carros e


combustíveis fósseis queimados nas residências mata mais de 2,7 milhões
de pessoas a cada ano, principalmente por dano respiratório, doenças do
coração, pulmão e câncer (UNDP, 1998). Dos que morrem de modo pre-
maturo, 2,2 milhões são pobres camponeses expostos à poluição do ar
interior pela queima de combustíveis tradicionais. A poluição do ar tam-
bém reduz os resultados econômicos em conseqüência da perda de dias de
trabalho produtivos. (Ver Tabela 4.1 para entender a magnitude das per-
das em razão da poluição do ar em diferentes partes do mundo. Os nú-

88
S U S T E N T A R O C A P I T A L N A T U R A L

meros simplesmente estão aqui para ilustrar os possíveis impactos da


poluição ambiental; eles estão longe de constituir estimativas não-contro-
versas de dano ambiental.)
Custos de saúde associados com doenças provenientes da água e da
poluição da água também são profundos. Em 1992, mais de dois milhões de
crianças com menos de cinco anos morreram em decorrência de doenças
causadas por água contaminada. A Tabela 4.2 relata os achados de alguns
estudos sobre o ônus na saúde causado pela água, relatando deficiências no
saneamento e efeitos poluentes.1
Efluentes tóxicos (dioxinas, pesticidas, organoclorinas, graxa, petróleo,
ácidos, alcalóides, e metais pesados como cádmium e condutores) de fábri-
cas, minas e indústrias químicas contaminaram grandes quantidades de
água em todas as partes do mundo. Trabalhadores, agricultores e demais
pessoas que entraram em contato com os contaminantes apresentam pro-

Tabela 4.1 – Custos Anuais de Saúde Associados com a Poluição do Ar

Região e cidade Impacto Custo

China: 11 principais cidades Custos econômicos da mortalidade prematura e custo de doenças Mais de 20% da renda urbana

Ásia oriental: Bangcoc, Jacarta, Seul, Número de mortos prematuros devido à poluição 15.600
Kuala Lumpur, Manila acima dos limites de segurança definidos pela WHO

Ásia oriental: Bangcoc, Jacarta, Kuala Lumpur Custos econômicos da mortalidade prematura e custo de doenças Mais de 10% da renda urbana

Estados independentes recentes: Federação Número de mortos prematuros devido à poluição acima 14.458
Russa (Volgograd); Armênia (áreas urbanas); dos limites de segurança definidos pela WHO
Azerbaijão (nacional); Cazaquistão (nacional)

Nota: As estimativas são baseadas em diferentes estudos que aplicam diferentes metodologias e não são comparáveis. Em muitos casos, a mortalidade excessiva
é estimada utilizando-se funções de resposta para economias industrializadas para mudanças marginais de poluição, mas, então, aplicadas para mudanças não
marginais que tendem a superestimar as reduções de mortalidade. Alguns estudos utilizam a boa disposição ajustada do PPP para pagar dados das economias
industrializadas; outros utilizam a abordagem do custo das doenças.
Fonte: World Bank (1997a, 1999f).

Tabela 4.2 – Custos Anuais da Saúde Associados com Doenças Provindas da Água e
da Poluição

Região e cidade Impacto Custo

Vietnã Morte de crianças evitadas anualmente pelo fornecimento 50.000


de acesso à água limpa e saneamento

China Mortes prematuras devido a doenças relacionadas com a água, 135.000


tais como diarréia, hepatite, parasitoses intestinais

Ásia oriental Custo de doenças provenientes da água US$ 30 bilhões por ano

Moldova Mortes prematuras 980-1.850


Perda de dias de trabalho devido a doença 2-4 milhões por ano

Fonte: World Bank (1997a, c; 1999f).

89
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

blemas de saúde severos. Assim como em relação à poluição do ar, os pobres


são os que mais sofrem; 25 milhões de pobres trabalhadores na agricultura
no mundo em desenvolvimento (11 milhões só na África) são envenenados
por pesticidas a cada ano e centenas de milhares deles morrem (UNDP,
1998). As pescas, que fornecem o recurso principal de proteína para os
pobres, também estão sendo destruídas pelas descargas industriais e a
poluição da água. Na Baía de Manila, os produtos da pesca declinaram 40%
nos últimos dez anos (UNDP, 1998). Para uma descrição perturbadora da
degradação ambiental na Índia, como relatado na imprensa, ver Quadro 4.1.
Estimativas recentes utilizando DALYs sugerem que a morte prematura
e as doenças decorrentes dos principais riscos de doenças ambientais repre-
sentam aproximadamente um quinto dos custos totais da doença no mundo
em desenvolvimento (Murray & López, 1996).2 Entre os principais riscos
ambientais, que incluem pobres suprimentos de água, saneamento inade-
quado, poluição interna do ar, poluição urbana do ar, malária, e produtos
químicos agroindustriais e devastamento, 14% do total dos custos de doen-
ças é provocado por pobres suprimentos de água, saneamento inadequado
e poluição interna do ar. Afetam predominantemente as crianças e as mu-
lheres de famílias pobres (Lvovsky et al., 1999).
Superexploração e degradação dos recursos naturais também são pro-
blemas preocupantes. A degradação do solo constitui problema em todos

Quadro 4.1 – Degradação Ambiental na Índia

Numa questão especial, O envenenamento da Índia, possuem coleta moderna de esgoto e facilidade de
India Today (1999) relatou a seguinte informação: tratamento, outras 209 possuem facilidades rudi-
mentares, e o restante absolutamente nenhuma.
• O ar respirado na Índia urbana é equivalente a • Um terço da população urbana não tem acesso
fumar vinte cigarros por dia. Na capital, Nova aos serviços sanitários. Em Lucknow, 70% da
Delhi, o nível de partículas de matérias suspen- população manda seu lixo para o rio Gomti.
sas é mais que duas vezes o limite de segurança • A maioria dos serviços de esgoto data dos tempos
especificado pela WHO. Medidas recentes da coloniais; logo, 93% do esgoto de Mumbai é lan-
poluição do ar em Nova Delhi indicam que o çado ao mar sem tratamento, matando virtual-
nível do total de partículas suspensas pode ser mente a ampla vida marinha ao longo da costa.
tão alto quanto cinco vezes o limite considerado • Diclorodifeniltricloretano, comumente conheci-
seguro pela WHO. do como DDT, e exaclorino de benzeno, o BHC,
• A cada ano mais de quarenta mil pessoas morrem ajudaram muito com quase 40% do total de pes-
prematuramente pelos efeitos da poluição do ar. ticidas utilizados na Índia. Ambos são neuroto-
• Mais de 30% do lixo gerado nas cidades é deixa- xinas que prejudicam o sistema nervoso central e
do intocado, transformando-se num solo fértil causam distrofia muscular. Análises químicas re-
para doenças. velam sua presença em quantidades crescentes
• Apenas oito das 3.119 cidades e aldeias da Índia no leite, nos legumes, nos cereais e nas frutas.

Fonte: Robby (1999).

90
S U S T E N T A R O C A P I T A L N A T U R A L

os lugares, principalmente na Ásia e na África. Na China, os custos


podem chegar a 5% do PIB (ADB, 1997), e para vários países africanos os
custos anuais são de 1% a 10% do PIB agrícola (Bojo, 1996). Enquanto
as perdas anuais são preocupantes, os efeitos cumulativos são alar-
mantes. Estima-se que a desertificação, uma conseqüência direta da de-
gradação do solo, custa US$ 42 bilhões ao ano apenas na perda da produ-
tividade agrícola, isto colocando cerca de 250 milhões de pobres em risco
de fome (UNDP, 1998).
Pelo menos de 10 a 12 milhões de hectares de terras florestais desa-
parecem a cada ano. Práticas de desmadeiramento e conversão de florestas
para agricultura e pastoreio concorrem para o volume das perdas (Brown et
al., 1998; World Bank, 1999d). A diminuição da produção de produtos flo-
restais de madeira, ou não, reduziu igualmente os serviços de preservação
do solo e da água e acarretou a perda do carvão anulando as funções deste.
Isso resultou em uma rede de perdas econômicas no valor de US$ 1 a 2 bi-
lhões por ano para a economia global (dados calculados com base em infor-
mações do World Bank). Em 1997, um incêndio florestal provocou danos
de nevoeiro e fumaça relacionados no total de US$ 4 bilhões na Indonésia e
dano extensivo nas vizinhas Malásia e Cingapura (EEPSEA, 1998). As ge-
rações futuras irão sentir os custos dessa associação de perda na biodiversi-
dade, mesmo que difícil de ser quantificada.
Como os incêndios florestais na Indonésia, os impactos da negligência
ambiental local não estão confinados às políticas de fronteiras. Testemu-
nham a crescente desertificação, zona costeira de degradação, mudança
climática global, chuva ácida transfronteiriça e esgotamento da camada de
ozônio (GEF, 1998; Watson et al., 1998). A mudança do clima global
durante o século XXI poderia resultar em aumentos na intensidade e fre-
qüência de inundações e estiagens, inundação das áreas costeiras baixas,
mais freqüente aparecimento de doenças infecciosas e morte acelerada das
florestas. A mudança climática também irá atingir a segurança de alimen-
tos, reduzindo resultados agrícolas nos países em desenvolvimento e colo-
cando uma ameaça para a segurança e a saúde humanas. Poderia custar para
a economia mundial mais ou menos US$ 550 bilhões ao ano e é provável
que os países em desenvolvimento irão agüentar uma proporção desigual
dos custos (Furtado et al., 1999).
“Poupanças genuínas” fornecem um conceito útil para captar a
degradação do capital natural, que pode ser utilizado para financiar a saúde
ambiental dos países. Poupanças genuínas equalizam poupanças internas
brutas, menos depreciação do capital físico, menos esgotamento de mi-
nerais e energia, menos esgotamento de florestas, menos danos de poluição,
mais investimentos no capital humano. Para o mundo em desenvolvimento
como um todo, em 1997 as poupanças internas brutas perfaziam 25% do
PIB. Poupanças internas em rede (depois da correção para depreciação
do capital físico) eram em torno de 16% do PIB, mas, corrigidas posterior-

91
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

mente pelo esgotamento do capital natural (tais como floresta, energia e


minerais) e pelos danos causados em razão das emissões de dióxido de car-
bono, as poupanças internas eram pouco mais de 10% do PIB (World Bank,
1999e). Depois de incluir o investimento no capital humano, as poupanças
genuínas cresceram em torno de 14%. Isto inclui o Nepal, onde só o esgo-
tamento florestal foi estimado em 10,3%, superando as poupanças internas
brutas do país de 10%, e a Federação Russa, onde o esgotamento dos recur-
sos energéticos (petróleo, carvão, gás natural) reduziu as poupanças em
mais de 9% ao ano.

Benefícios Significativos da Ação Ambiental

De um ponto de vista econômico, nem toda poluição deve ser total-


mente controlada, nem toda degradação dos recursos naturais deve ser
totalmente revertida. Poluição e degradação dos recursos naturais devem
ser controladas ao ponto em que os danos marginais (sociais) equivalem
aos custos marginais (sociais), custos de redução ou controle, ou seja, o
nível ótimo de proteção ambiental.
O atual custo descontado de fornecimento de água limpa a todos na
China, dentro de dez anos, por exemplo, será de US$ 40 bilhões, e o atual
valor do benefício é de US$ 80 bilhões a US$ 100 bilhões (World Bank,
1987a). Fazer o mesmo na Indonésia custaria cerca de US$ 12 bilhões
a US$ 15 bilhões, com benefícios correspondentes de US$ 25 bilhões a
US$ 30 bilhões. Para prover Moldova de água encanada de qualidade,
custaria de US$ 23 milhões a US$ 38 milhões, mas traria benefícios de
US$ 70 milhões a US$ 120 milhões (World Bank, 1999f). Controlar a po-
luição do ar na China custaria cerca de US$ 50 bilhões, mas produziria
benefícios de aproximadamente US$ 200 bilhões com a redução de doenças
e mortes (World Bank, 1997a).
Com pagamentos tão grandes, por que será que a degradação ambiental
e a destruição continuam?3 A razão principal é que os retornos privados
sobre os investimentos na proteção ambiental são significativamente meno-
res que os custos privados (Dasgupta & Mäler, 1994; Hammer & Shetty,
1995). Muitos dos benefícios são distribuídos amplamente para a
sociedade, agora e no futuro, mais do que ao agente privado que faz os
investimentos. Logo, os indivíduos que vêem apenas seus ganhos privados
a curto prazo raramente fatoram o custo da degradação – que espalha
desigualdade através da geração atual e afeta igualmente as futuras gerações
– com suas tomadas de decisão. O caso clássico de externalidades de falên-
cia de mercado fornece uma forte justificativa para ações políticas públicas
destinadas a criar mercados ou condições parecidas com a de mercado que
alinhe os incentivos privados aos custos sociais e os benefícios de fornecer
serviços ambientais.

92
S U S T E N T A R O C A P I T A L N A T U R A L

Distorções políticas que refletem subavaliação do meio ambiente


contribuem para a poluição e a degradação (Dasgupta & Mäler, 1994). Por
exemplo, subsídios agrícolas em entradas e suporte de preços para saídas
tornam a administração das florestas não competitiva, e cria pressão para
converter florestas em pastos. Os subsídios energéticos para manter os
preços ao consumidor contribuem pouco para o supraconsumo e a poluição
excessiva. As isenções de impostos, subsídios a empresas operando em ter-
ras de fronteira, construção de estradas em áreas ecologicamente frágeis e
um hóspede ou outro de políticas de curta visão também levam à degra-
dação e má administração dos recursos e ameaçam as populações vul-
neráveis que vivem nestas áreas (Chomitz & Gray, 1996; Cropper et al.,
1997). Remover subsídios e impor reformas ambientais podem diminuir
distorções e permitir que os preços atinjam seu nível ótimo.
Vários outros fatores contribuintes e falsas noções permanecem no
caminho da administração eficiente do capital natural: o modo de pensar
“cresça agora e limpe mais tarde”, corrupção, direitos de propriedade mal
definidos e fundos inadequados para administração do meio ambiente.
Freqüentemente, as brechas de informação impedem o completo entendi-
mento das causas e conseqüências da degradação ambiental e a indiferença
pública cerceia sua resolução. A ação internacional é difícil, apesar de exis-
tir um momento para a proteção ambiental (Quadro 4.2). A relativa con-
tribuição destes fatores difere de país para país e precisa ser taxada antes
que as ações públicas efetivas possam ser determinadas.

O Nexo do Crescimento do Capital Natural e do


Bem-Estar

Após dissipar a idéia disseminada de que a degradação ambiental pode


esperar por reparação até que sejam feitas outras reformas mais urgentes (a
ideologia do “cresça agora e limpe depois”), exploraremos a evidência
empírica que liga o crescimento à qualidade do capital natural.

Cresça Agora e Limpe Depois

A evidência do crescimento, ao contrário, não tem difundido a per-


cepção de que o meio ambiente é um luxo produtivo, que exigirá aumento
de rendas com o crescimento econômico. Como um dos resultados, os
países em desenvolvimento tendem a ignorar os interesses ambientais,
enquanto o foco dos agentes de política se dirige quase que exclusivamente
para o crescimento econômico acelerado. Sustentam sua posição, citando
exemplos de países industrializados que deram pouca atenção à degra-
dação ambiental nas fases iniciais de seu crescimento e reprimiram e

93
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Quadro 4.2 – Esforços pelo Mundo Afora para Ação Ambiental

Em junho de 1992, representantes de 178 nações tava-se dos tomadores de empréstimos que apresen-
reuniram-se no Rio de Janeiro para acordar medidas tassem uma estratégia de longo prazo para a manu-
que assegurassem um desenvolvimento ambiental e tenção do meio ambiente natural do país, a saúde e a
socialmente sustentável. A Cúpula da Terra captou o segurança da população e sua herança cultural
interesse do governo para transformar objetivos durante os esforços para o desenvolvimento econômi-
políticos amplos, em ações concretas. O compromis- co. Esta prática espalhou-se para outros países e cem
so dos líderes de todo o mundo com o desenvolvi- nações prepararam estratégias nacionais de desen-
mento sustentável foi cultuado na Agenda 21, docu- volvimento sustentável ou planos de ação ambientais
mento-chave da cúpula. As atividades da Agenda 21 nacionais para guiar seu pensamento sobre o geren-
são organizadas sob temas ambientais e desenvolvi- ciamento ambiental. Estes planos foram úteis ao iden-
mentistas: qualidade de vida, utilização eficiente dos tificar problemas ambientais, alimentando a proprie-
recursos naturais, proteção dos bens comuns glo- dade nacional e o planejamento ambiental e criando o
bais, administração dos assentamentos e crescimen- clima político necessário para encorajar uma ação efe-
to econômico sustentável. A Agenda 21 reconhece tiva para reformas políticas. Foram também úteis ao
que a persistência de pobreza aguda em várias partes identificar estruturas políticas do país e desenhar uma
do mundo caminha lado a lado com um padrão de visão estratégica para o meio ambiente (Bojo &
vida baseado no desperdício do consumo dos recur- Segnestam, 1999).
sos, em outras partes é incompatível com a sus- Enquanto essencial para focalizar importantes
tentabilidade, e que a administração ambiental pre- questões ambientais, as estratégias e os planos são
cisa igualmente ser praticada pelos países em desen- menos efetivos na identificação de prioridades para a
volvimento e industrializados. Chegou-se ao consen- ação e a realização de resultados desejáveis. A docu-
so que, para implementar a Agenda 21, os países mentação e a disseminação de casos bem-sucedidos e
preparariam uma estratégia de desenvolvimento sus- de experiências específicas no gerenciamento ambien-
tentável nacional. tal tornam-se cruciais. O Banco Mundial tem desem-
Em 1987, doadores da agência de desenvolvimento penhado um papel de facilitação importante mediante
internacional iniciaram os planos de ações am- esforços para a integração do meio ambiente no diálo-
bientais nacionais para todas as agências tomadoras go político do banco (Warford et al.,1994; Warford et
de empréstimos. Antes de receber os fundos, requisi- al., 1997).

Fonte: World Bank (1997d).

reverteram o problema mais tarde. Contudo, ignoram a enormidade poten-


cial dos custos econômicos, sociais e ecológicos e a realidade; algumas
vezes, o dano é irreversível.
Enquanto os níveis de poluição do ar e da água parecem ser reversíveis,
seus impactos no bem-estar humano freqüentemente não o são. Promessas
de uma ação reparadora futura dificilmente podem compensar as perdas de
bem-estar pela geração atual. Apenas uma política de crescimento limpo é
coerente com a eqüidade intergeracional. Além do mais, investir no controle
direto da poluição irá produzir retornos positivos em outras áreas. Por
exemplo, melhoria nos resultados de saúde podem conduzir a um acúmulo
mais favorável do capital humano e a um crescimento mais sustentado.4
Uma abordagem “cresça agora e limpe depois” também tende a ser
injusta; os pobres e desfavorecidos sofrem o impacto da poluição ambiental

94
S U S T E N T A R O C A P I T A L N A T U R A L

e a degradação dos recursos. Por exemplo, quando os efluentes tóxicos


industriais e outros poluentes degradam a qualidade da água, falta aos
pobres o acesso aos suprimentos municipais de água purificada e os recur-
sos para investir em filtros de água e outros sistemas de purificação. A
poluição do ar também atinge desproporcionalmente os pobres, uma vez
que eles tendem a viver próximos às estradas, onde os níveis de poluição
são mais altos, e não podem mudar para combustíveis mais limpos para uso
interno (UNDP, 1998). Estes impactos distribucionais agravam as desigual-
dades de renda e podem conduzir a sérios conflitos sociais. Logo, prestar
atenção ao meio ambiente enquanto se acelera o crescimento é totalmente
coerente com a estratégia de redução da pobreza.
A perda irreversível de material genético e a ameaça potencial do colap-
so do ecossistema fornecem outras razões coercitivas para rejeitar uma
abordagem do tipo “cresça agora e limpe depois”. Alguns danos nunca
podem ser desfeitos. A destruição do hábitat resultou em perda irreversível
de biodiversidade terrestre e aquática por todo o mundo. A poluição dos
mares e as técnicas destrutivas de pesca causaram danos de larga proporção
nos recifes de corais na Ásia oriental e constitui séria ameaça à vida das
plantas e animais do oceano (Loh et al., 1998).
As experiências dos países de alta renda mostram que os custos de
saúde, do controle de poluição postergados podem exceder os custos
de prevenção, embora, comparando-os, a diferença no tempo de sua ocor-
rência e a incerteza de resultados deveriam ser idealmente contabilizados.
Por exemplo, o custo da limpeza e da compensação para as vítimas da
doença Itai-Itai, causada por envenenamento pelo cádmium, da asma de
Yokaishi, resultado da exposição excessiva às emissões sulfúricas, e da
doença Minamata, ou envenenamento por mercúrio, são de 1,4 a 102
vezes o custo da prevenção (Kato, 1996). Não obstante, além dos impac-
tos sobre a saúde humana, os altos custos da limpeza, do dumping ampla-
mente difundido e do lixo tóxico pelas empresas industriais dos Estados
Unidos exemplificam outra limitação da abordagem “cresça agora e limpe
depois” (Harr, 1995).

Será que o Crescimento Econômico Mais Rápido


ou Mais Lento Garante a Proteção do Capital Natural?

Tanto as economias de crescimento rápido como lento experimentaram


a degradação do meio ambiente, mas em diferentes graus. A análise de
crescimento do PIB e um índice da qualidade do capital natural mostram
um coeficiente de correlação negativo (ver Figura 1.5). Observando-se a li-
gação entre crescimento rápido e vários componentes da degradação do ca-
pital natural num nível mais agregado, pode-se ter uma idéia melhor da
força e da direção de relacionamentos.

95
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Os registros falsos dos fenômenos da Ásia oriental do crescimento


econômico e redução da pobreza é o registro mais pobre do seu meio am-
biente. Em 1995, a China foi a sede de 15 a vinte metrópoles mais poluídas
do mundo, como medida pela concentração do total de partículas suspensas
(World Bank, 1999e). A poluição do ar, especialmente altos níveis de total
de partículas suspensas, resultou em mortes prematuras e severos danos à
saúde em áreas urbanas, tais como Bangcoc, Jacarta, Manila e várias metró-
poles chinesas (ver Tabela 4.1). Os países que experimentaram crescimen-
to rápido no contexto de reformas econômicas na década de 1980 – China,
Coréia, Malásia e Tailândia – viram as emissões de dióxido de carbono per
capita dobrarem ou triplicarem depois das reformas e aceleração do cresci-
mento (Tabela 4.3).
Os recursos naturais alimentaram-se igualmente de modo muito pobre.
As taxas de desmatamento foram altas e permanecem assim na maioria dos
países (Tabela 4.3). Cerca de 20% da terra produtiva na Ásia oriental sofre
de degradação do solo, causada por inundação, erosão e excesso de pas-
tagem. A degradação severa da terra na China, Tailândia e Vietnã ameaça

Tabela 4.3 – Comércio, Crescimento, Pobreza e Degradação do Meio Ambiente, em


Anos Seletos
(por cento, a menos que indicado de outro modo)

Comércio Crescimento Pobreza Indicadores de capital natural

Região e economia Crescimento Crescimento Porcentagem da Desmatamento Total de partículas Porcentagem de


anual do volume anual população vivendo anual suspensas nas emissão de dióxido
de mercadorias do PNB com menos de (mudança principais cidades de carbono
exportadas, per capita, US$ 1 por dia (PPP) percentual) (microgramas per capita,
1980-94 1970-95 (vários anos) 1990-95 por metro cúbico) 1980-96

Ásia oriental
China 12,2 6,9 29,4 (1993) 0,1 377 86,7
Hong Kong, China 15,4 5,7 <1 0,0 – 15,6
Indonésia 9,9 4,7 14,5 (1993) 1,0 271 100,0
Coréia 11,9 10,0 <1 0,2 84 172,7
Malásia 13,3 4,0 5,6 (1989) 2,4 85 180,0
Filipinas 5,0 0,6 27,5 (1988) 3,5 200 12,5
Cingapura 13,3 5,7 <1 0,0 223 63,6
Tailândia 16,4 5,2 <1 2,6 223 277,8

América Latina
Argentina 1,9 -0,4 – 0,3 97 (Córdoba) 0,2
Bolívia -0,3 -0,7 7,1 (1989) 1,2 – 62,5
Brasil 6,2 – 28,7 (1989) 0,5 86 (Rio=139) 13,3
Chile 7,3 1,8 15,0 (1992) 0,4 – 36,0
Costa Rica 6,6 0,7 18,9 (1989) 3,0 – 27,3
México 13,0 0,9 14,9 (1992) 0,9 279 2,7
Peru 2,4 - 1,1 49,4 (1994) 0,3 – -21,4
Uruguai 0,9 0,2 – 0,0 – -15,0
Venezuela 1,1 -1,1 11,8 (1991) 1,1 53 10,7

– Não disponível.
Fontes: World Bank (1997a, 1999e); ver também Anexo 4.

96
S U S T E N T A R O C A P I T A L N A T U R A L

vários ecossistemas com danos irreversíveis (World Bank, 1999b). A biodi-


versidade, em 50% a 75% das linhas costeiras e áreas marinhas protegidas
na Ásia oriental, é classificada como altamente ameaçada.
Nem todos os indicadores mostram piora nas condições ambientais
entre as economias de crescimento mais rápido na Ásia. O acesso à água
limpa e ao saneamento cresceu rapidamente na China, Coréia, Malásia e
Tailândia. Em 1995 a fatia da população com acesso à água de qualidade
cresceu de 71% em 1982 para 89% na Malásia, de 66% a 89% na Tailândia,
de 39% para 55% na Indonésia, e de 65% para 83% nas Filipinas. A disponi-
bilidade de serviços de saneamento cresceu de 46% para 96% na Tailândia,
de 30% para 35% na Indonésia, e de 57% para 77% nas Filipinas (World
Bank, 1999e). Embora ainda em baixos níveis no Camboja, na República
Democrática do Lao e no Vietnã, o acesso à água pura e ao saneamento tem
aumentado de modo firme com o crescimento econômico (World Bank,
1999b, e).
Contudo, se não é apenas o crescimento rápido que conduz a problemas
da degradação do capital natural, como nos países da Ásia oriental, o cresci-
mento lento dos países latino-americanos conheceu melhorias no acesso à
água tratada e ao saneamento (World Bank, 1999e), mas sofreu igualmente
deterioração do meio ambiente. A maioria desses países experimentou des-
matamento extensivo, especialmente pesca exagerada e poluição da água
nas zonas costeiras. A contaminação da água por produtos agroquímicos e
envenenamento por pesticidas das pessoas e criações. Enquanto a poluição
do ar não é um problema tão disseminado quanto na Ásia, em parte devido
ao crescimento relativamente lento da industrialização (Tabela 4.3), cons-
titui um problema sério na Cidade do México, no Rio de Janeiro e em
Santiago. Em decorrência do crescimento lento, altamente tendencioso das
distribuições de renda, investimentos inadequados na educação e na saúde
e da instabilidade política, a pobreza permaneceu teimosamente alta, crian-
do ciclos viciosos de aumento da degradação dos recursos naturais e poste-
rior perda de renda (ver também Quadro 4.3).
Logo, nem o crescimento rápido nem o lento são aliados automáticos do
capital natural (Thomas & Belt, 1997). Por exemplo, na década de 1980, as
diferenças na poluição do ar e congestionamento de tráfego entre a Manila de
crescimento lento e a Bangcoc de crescimento rápido era mínimo (Hammer
& Shetty, 1995). Contudo, o crescimento rápido com crescente urbanização,
expansão industrial e exploração de recursos renováveis e não-renováveis
pressiona o meio ambiente, de modo que muitos indicadores apresentam um
declínio na qualidade do capital natural durante os períodos de crescimento.
Ainda assim, o crescimento assegura condições para melhoria do am-
biente ao criar demanda por melhor qualidade do meio ambiente e fazer
com que se destinem recursos disponíveis para supri-los. Será que isso
implica a existência de uma curva Kuznets do meio ambiente? Enquanto as
rendas crescem, será que a qualidade do meio ambiente primeiro deteriora

97
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Quadro 4.3 – População, Pobreza e Meio Ambiente

A análise do nexo pobreza-população-meio ambien- mílias rurais dedicam tempo a produzir comida e
te é complexa. O crescimento da população sempre lavrar para a criação e produzir produtos mercadológi-
foi acusado como responsável pela pobreza ou pela cos simples. As crianças são necessárias como traba-
degradação do meio ambiente (Cropper & Giffiths, lhadores extras, mesmo quando os pais são jovens.
1994; Pearce & Warford, 1993). Contudo, o argu- Famílias pequenas são simplesmente inviáveis; cada
mento de debate afirma que a pobreza e a uma precisa de muitos braços. Como os recursos da
degradação ambiental são as causas do crescimento comunidade estão esgotados, mais braços são neces-
populacional, não as conseqüências dele. Ambas as sários para juntar combustível e água para o uso diário.
posições são parciais; precisa ser reconhecido que os Mais crianças são produzidas, causando danos posteri-
três fatores estão interligados (Cleaver & Schreiber, ores ao meio ambiente, o que fornece um incentivo
1994; Dasgupta, 1995; Ekbom & Bojo, 1999; Mink, para aumentar ainda mais a família.
1993). A força destas ligações irá diferir de situação Os fatores que influenciam a demanda dos pais por
para situação e as recomendações políticas depen- filhos podem reverter esta espiral destrutiva. A políti-
derão de uma legião de fatores, inclusive do tipo de ca mais potente irá utilizar muitos dos fatores simul-
recurso, densidade e taxa de crescimento popula- taneamente. Boas políticas econômicas, direitos de
cional, preparativos institucionais e leis que regulem posse seguros, estabilidade política podem juntos
a utilização do recurso (López, 1998b). Como resul- diminuir as pressões populacionais. Oferecer com-
tado, não há nenhuma conclusão geral a respeito das bustível barato e água potável irá reduzir a necessi-
ligações entre população, meio ambiente e pobreza dade de braços extras e diminuir a demanda por fi-
está disponível. lhos. Serviços de planejamento familiar, aliados a ser-
O exemplo seguinte tirado de Dasgupta (1995) viços de saúde e reprodutivo que ajudarão a ligar as
lança alguma luz na complicada natureza do nexo. necessidades impróprias para a contracepção, e uma
Nos cenários rurais, muito trabalho é preciso mesmo alfabetização e emprego dirigido para mulheres que se
para tarefas simples, tais como coletar água limpa ou habilitam nas decisões do tamanho da família tornam-
lenha para cozinhar. Além disso, os membros das fa- se fundamentais.

e depois começa a melhorar? Se os bens do meio ambiente são bens de con-


sumo normais, com elasticidade de renda positiva da demanda, que é maior
do que a unidade em determinados níveis de renda, conseqüentemente a
qualidade irá melhorar além do patamar do nível de renda. López (1997)
sugere que os bens do meio ambiente, tais como ar e água puros e trata-
mento de esgotos, que afetam diretamente a saúde e geram externalidades
locais, provavelmente devem ser bens normais com uma elasticidade de
demanda de alta renda. Logo, provavelmente devem melhorar depois de um
período de declínio, durante um período de crescimento.
A maioria dos estudos empíricos focaliza indicadores de função ocultos
da qualidade do meio ambiente, tais como a concentração de partículas sus-
pensas no ar e a demanda bioquímica de oxigênio da água, o nível das emis-
sões de dióxido de carbono e dióxido sulfúrico e a prevalência de poluentes
inorgânicos industriais (Galeotti & Lanza, 1999; Grossman & Krueger,
1995; Ravallion et al., 1997; Roberts & Grimes, 1997; Selden & Song, 1994;
Shafik, 1994; Stern et al., 1996), descobrindo algum apoio para uma curva
Kuznets ambiental.

98
S U S T E N T A R O C A P I T A L N A T U R A L

Hettige et al. (1998), utilizando-se de dados internacionais, mediram


o relacionamento entre poluição da água a partir de descargas industriais e
renda per capita. O estudo mostrou que a poluição primeiro cresce com o
desenvolvimento, tendo um pico de renda per capita de cerca de US$ 12 mil,
em seguida nivela todos os valores observáveis. Os autores concluíram que
“o desenvolvimento econômico permanece bem longe do estilo Kuznets e
final feliz no setor hídrico” (p.26) e sugerem que as emissões totais per-
manecerão constantes com o crescimento da renda, a menos que outros
fatores intervenham.5
É menos provável que a qualidade dos recursos naturais siga uma curva
Kuznets padrão do que é a poluição porque, mais que bens de consumo, são
fatores tipicamente de produção. Além do mais, as externalidades asso-
ciadas com a destruição dos recursos naturais são principalmente globais,
portanto, menos provável serem internalizadas na demanda local (López,
1997). Como conseqüência, uma economia crescente impõe demandas
ainda maiores dos recursos naturais e tornam-se cruciais as intervenções
administrativas.6
Os países não precisam esperar até que as rendas atinjam o ponto deci-
sivo da curva de Kuznets. São Paulo refreou a severa poluição no tempo de
uma geração, mesmo que enquanto isso milhões permanecessem pobres. O
crescimento rápido de Xangai, a maior base industrial da China, tem pro-
duzido quantidades de dióxido sulfúrico mais baixas do que Sishuan, de
crescimento lento (World Bank, 2000d). Esses e outros casos exemplificam
métodos que incluem características, tais como regimes reguladores apro-
priados, instrumentos centralizados baseados no mercado – para preser-
vação ambiental –, estruturas legislativas e políticas, capacidade institu-
cional, e opções tecnológicas que ajudem a prevenir a poluição e proteger os
recursos (Panayotou, 1997).
A evidência sugere que a flexibilidade da curva de Kuznets é tanto pos-
sível quanto necessária.7 Se as economias são de crescimento rápido ou
lento, muitos indicadores de recursos naturais – desmatamento, esgota-
mento da pesca, degradação do solo, poluição da zona costeira – têm sido
deteriorados. Porque os recursos naturais são importantes como fatores de
produção, um crescimento crescente tende a colocar demandas igualmente
crescentes sobre eles. Muitas das externalidades associadas com sua supe-
rexploração, como o confisco do carvão e as perdas da biodiversidade, são
globais. Como conseqüência, os governos locais não levam em consideração
as repercussões do mau uso ou exaustão de seus recursos.
Outros componentes do capital natural, como a qualidade da água e o
acesso a serviços de esgoto e saneamento, são tipicamente bens de consumo
normais. Para esses bens com uma elasticidade de renda maior do que a
unidade, o crescimento de renda está, provavelmente, associado a melhorias
na qualidade. Embora algumas evidências empíricas sugiram a existência de
curvas Kuznets ambientais para um limitado conjunto de indicadores, os

99
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

custos da inação podem ser extremamente elevados, porque muitos países


em desenvolvimento não conseguem atingir a inversão dos níveis de renda
durante décadas.
Dois indicadores, acesso à água limpa e saneamento, surgem para me-
lhorar tanto nos cenários de crescimento rápido quanto nos de lento, e
testemunham a eficácia das intervenções, mas requer-se um olhar mais
atento para os benefícios e custos, a fim de verificar se o andamento das
melhorias é ótimo.

Desigualdade na Vantagem de Renda


e a Qualidade do Capital Natural

Uma distribuição mais eqüitativa da renda e das vantagens poderia ser


associada às melhorias nos indicadores-chave da qualidade ambiental, tais
como desmatamento e poluição da água. Por exemplo, se agricultores em
pequena escala devem usar a terra improdutiva porque os latifundiários de
grande escala ocupam as melhores terras, a injusta distribuição de terras
pode dirigir o desmatamento (Ekbom & Bojo, 1999). A adoção de com-
bustíveis limpos e de tecnologias mais eficientes de energia implica que a
propensão marginal para emitir dióxido de carbono declina enquanto a
renda sobe. Logo, a redistribuição de renda pode acelerar a redução das
emissões (Holtz-Eakin & Selden, 1995). Em um estudo de 42 países,
Ravallion et al. (1997) estimaram um coeficiente positivo amplo entre
emissões de dióxido de carbono per capita e o coeficiente Gini da desi-
gualdade de renda. Este estudo sugere que o crescimento que reduz a desigual-
dade de renda e da pobreza poderia levar ao declínio nas taxas de emissão.

O Crescimento Pode Complementar


a Proteção do Capital Natural

Um diagrama pode ajudar a mostrar que o crescimento e a proteção do


capital natural complementam-se (Figura 4.1). Consideremos uma econo-
mia pré-industrial com uma baixa taxa de crescimento e um meio ambiente
intocado, representado como ponto A. O país tenta acelerar o crescimento
econômico investindo na indústria e explorando o potencial da globalização.
Numa situação ideal, procuraria equilibrar o crescimento acelerado com alta
qualidade ambiental, que pode ser representado graficamente como um
movimento vertical rumo ao ponto E ou para um à sua direita. Contudo,
mesmo uma estratégia ambiental bem administrada, que poderia ser
mostrada como movimento do ponto A para o ponto F, pode não eliminar
totalmente a deterioração qualitativa tanto nas funções ocultas como em
fontes, embora o impacto negativo sobre o capital natural fosse relativa-

100
S U S T E N T A R O C A P I T A L N A T U R A L

Muitas combinações de crescimento e qualidade ambiental são possíveis


Figura 4.1 – Caminhos do Crescimento e Qualidade Ambiental

Renda per capita

F
E
B

A
D

Qualidade ambiental

Fonte: Autores.

mente pequeno e reversível.8 Enquanto países embarcam num caminho de


desenvolvimento sustentável que pode incorporar políticas ambientais dire-
tamente em sua estratégia econômica a qualquer tempo, a maioria dos paí-
ses seguiu a abordagem do “cresça agora e limpe depois” (Tabela 4.4).
Os maiores crescedores entre os países em desenvolvimento, tais
como China, Indonésia, Coréia e Tailândia, experimentaram uma situa-
ção que poderia ser representada por um movimento a partir do ponto A
para o ponto B, onde pagaram severamente pela deterioração da quali-
dade ambiental. Muitos dos crescedores mais lentos, tais como Gana e
Nepal, mostraram um movimento do ponto A para o ponto C na Figura 4.1
e sofreram igualmente dano ambiental considerável. Outros ainda na
América Central, na América do Sul e na África seguiram políticas que fa-
lharam em estimular o crescimento enquanto continuam a degradar o
ambiente; suas ações seriam simuladas por uma flecha desde o ponto A
para o ponto D.9
As economias representadas nos pontos B, C e D sofreram sérias perdas
a partir do dano do ecossistema: doenças, mortes, florestas degradadas e
extensões de água e ar poluídos, entre outros. As economias em desen-
volvimento e as industrializadas que ignoraram a degradação de seu capital
natural aprenderam que a estratégia do “cresça agora e limpe depois” criou
custos que são difíceis de recuperar. Por exemplo, os Estados Unidos pre-
cisaram gastar dezenas de bilhões de dólares para restaurar o dano causado
aos pântanos da Flórida pelo desenvolvimento dos canais de irrigação para
o cultivo da cana-de-açúcar.

101
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Tabela 4.4 – Classificação de Países Seletos pela Trajetória do Crescimento Ambiental

A para B: alto crescimento A para C: médio crescimento A para D: baixo crescimento A para F: crescimento com
e degradação ambiental e degradação ambiental e degradação ambiental proteção ambiental

Desmatamento Emissão de Desmatamento Emissão de Desmatamento Emissão de Desmatamento Emissão de


dióxido dióxido dióxido dióxido
de carbono de carbono de carbono de carbono

Indonésia China El Salvador El Salvador Argélia México Botswana


Malásia Índia Gana Paquistão Camarões
Sri Lanka Indonésia Guatemala Panamá Haiti
Tailândia Coréia Moçambique México
Malásia Nepal Nicarágua
Tailândia Paquistão Zâmbia
Panamá

Nota: As taxas de desmatamento foram desenhadas pelas médias anuais para 1990-1995; as emissões de dióxido de carbono são de 1980 até 1996. Crescimento
alto é definido como crescimento de renda per capita de mais de 2,3% ao ano, tanto na década de 1980 como na de 1990; crescimento médio inclui países
que mantiveram crescimento positivo da renda per capita em ambas as décadas, ou melhoraram o crescimento de pelo menos dois pontos percentuais ao ano, mais
alto na década de 1990 do que na de 1980; o restante é classificado como países de baixo crescimento.
Fonte: World Bank (2000c).

Incorporar a Sustentabilidade Ambiental


a Políticas de Crescimento

Muitos países integraram interesses ambientais e políticas de crescimen-


to. Os quatro casos seguintes mostram como isso pode ser feito. Eles foram
escolhidos para ilustrar histórias de sucesso na administração da poluição e
preservação dos recursos naturais e para acentuar os tipos de intervenções
requeridas para realizar objetivos ambientais específicos. Para mais estudos
de casos dos instrumentos perseguidos com sucesso por cenários particu-
lares, ver Thomas et al. (1998) e World Bank (1997e, 2000d).

Costa Rica: Preservar as Florestas


e Atenuar a Mudança Climática

A rica biodiversidade da Costa Rica atrai ecoturistas de alto poder aqui-


sitivo de todo o mundo; ainda assim, na década de 1980 as taxas de des-
matamento subiram para mais que 3% ao ano. Para proteger este valioso
recurso natural, a Costa Rica desenvolveu um dos sistemas mais inovadores
e funcionais de proteção florestal no mundo. Observando os benefícios dos
serviços ambientais marcados e não marcados das florestas, o sistema iden-
tificou quem suporta os custos e quem recebe os benefícios (Tabela 4.5).
Calculou os valores anuais por hectare de US$ 29 para US$ 87 para florestas
primárias e de US$ 21 para US$ 63 para florestas secundárias. A análise

102
S U S T E N T A R O C A P I T A L N A T U R A L

Tabela 4.5 – Serviços Ambientais das Florestas Costa-Riquenhas e seus Beneficiários

Beneficiários

Tipo de benefício Latifundiário País Mundo

Produção sustentável de madeira X


Potencial de produção hidroenergética X
Purificação dos suprimentos de água X
Estabilização do solo e regulação do fluxo hidrológico X
Beleza do cenário, utilização do ecoturismo, valor existencial X X
Confisco de carbono X
Preservação da biodiversidade X

Fonte: Castro et al. (1997).

mostrou que os latifundiários ou o governo (no caso de parques nacionais)


suportavam os custos da preservação do hábitat, enquanto benefícios subs-
tanciais foram para interesses estrangeiros. Logo, a Costa Rica decidiu-se a
criar mercados para alguns benefícios ambientais (Castro et al., 1997).
Dos vários benefícios ambientais fornecidos pela floresta, a Costa Rica
tem sido mais bem-sucedida na captura do confisco do carbono e na pro-
teção das nascentes. O governo atua como intermediário na venda destes
serviços para os compradores internacionais e do país. Os fundos prove-
nientes das vendas (e de um imposto sobre combustível sinalizado em 5%)
vão para os latifundiários para a preservação da cobertura florestal em suas
terras. Contratos para mais de cinqüenta mil hectares de proteção florestal
foram estabelecidos em 1997. Antes desse período, as áreas protegidas
cumulativas abrangiam apenas 79 mil hectares.
A Costa Rica também atraiu investimentos internacionais para compen-
sar os latifundiários que promovem o confisco do carbono pela manutenção
das florestas. As compensações comercialmente certificáveis podem ser uti-
lizadas para vender compensações aos gases do efeito estufa no mercado
internacional. O primeiro lote foi vendido em julho de 1996. Entre 1996 e
1998, as vendas foram negociadas bilateralmente, mas recentemente a
Costa Rica começou a trabalhar com empresas de corretagem em Chicago e
Nova York para estabelecer o comércio certificável como uma commodity
livremente comerciável, similar ao comércio das emissões de dióxido
sulfúrico nos Estados Unidos (Chomitz et al., 1998).
A Costa Rica demonstra o sucesso prático de se criarem mercados
verdes e implementarem impostos verdes para reduzir o dano ao meio
ambiente. O potencial para a réplica em todos os outros lugares é bom, mas
depende em grande parte de um acordo internacional completo acerca das
compensações sobre o carbono e a aceitação por todas as partes da Clean
Development Mechanism of the Framework Convention on Climate Change.

103
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

China: Controlar a Poluição da Água com um Imposto

O imposto sobre poluição, e a carga de emissões cobrindo centenas de


fábricas na China, é um dos poucos instrumentos econômicos com uma
longa história documentada num país em desenvolvimento. Embora o
imposto tenha sido utilizado durante várias décadas, estudos sérios sobre
sua eficácia surgiram apenas recentemente (Wang & Wheeler, 1996).
O sistema vem-se expandindo desde 1982; implementado na maioria
das metrópoles chinesas, inclui trezentas mil fábricas que são responsabi-
lizadas por suas emissões. Os regulamentos da agência de proteção nacional
ao meio ambiente especificam as variações em padrões de efluentes por
setor e taxa de poluidores. Qualquer empresa cuja descarga de efluentes
exceda o padrão legal deve pagar imposto. Os impostos recaem apenas so-
bre as mais poluentes emissões de cada fonte. O imposto difere de taxa, que
deveria cobrir cada unidade de poluidores, não apenas aqueles que excedem
um certo padrão.
Entre 1987 e 1993, a poluição orgânica da água caiu para as indústrias
reguladas pelo Estado, que relataram descargas à Agência de Proteção
Ambiental Nacional (Wang & Wheeler, 1996). Com o crescimento de resul-
tados de 10% ao ano, a China experimentou um declínio especialmente
impressionante na poluição por unidade de saída. Enquanto o total de
descargas provincianas declinou a uma taxa média de 22% ao ano, as inten-
sidades poluidoras caíram a uma taxa média de 50%. Análises econométri-
cas mostram que muito do declínio era tributável ao imposto.
Variação significativa nos impostos através de províncias é explicada por
taxas locais de impactos poluidores e capacidades locais para melhorar os
padrões nacionais. Admitir tais diferenças regionais aumentou a viabilidade
e a efetividade do sistema de impostos de poluição.
Desde 1991, as autoridades coletaram mais de US$ 240 milhões por ano
em impostos.10 Aproximadamente 60% dos fundos financiam e controlam a
prevenção da poluição industrial e representam mais ou menos 15% do
investimento total nessas atividades, fornecendo um incentivo adicional para
que as empresas possam abater. O restante destina-se às agências locais para
desenvolvimento institucional e cursos administrativos (Wang & Chen,
1999). Para ajudar a regrar a poluição, os impostos também ajudaram a cons-
truir capacidades de monitoração e regulamentação de agências de melhorias
locais e reforçam os incentivos para regulamentação efetiva.

Indonésia: Combater a Poluição com Informação

O governo pode estabelecer padrões para os níveis máximos de poluição


permitidos com relativa facilidade, mas monitorar e melhorar a concordân-
cia pode ser difícil. A Environment Impact Management Agency, da Indonésia,

104
S U S T E N T A R O C A P I T A L N A T U R A L

encarou os desafios da concordância no fim da década de 1980 e recorreu a


acordos não judiciais e outras abordagens ad hoc que tiveram impacto limi-
tado sobre o controle da poluição.
Procurando uma abordagem mais sustentável, a agência desenvolveu
o Programa para o Controle da Poluição, Avaliação e Taxação (PROPER),
que recebe os dados poluidores das fábricas, analisa e taxa seu desempen-
ho ambiental, e dissemina as taxas para o público (Wheeler & Afsah, 1996;
World Bank, 2000d ). A Agência esperou que a publicação das taxas de per-
formance encorajasse as comunidades locais a pressionar fábricas próximas
que registraram baixas taxas para limpar suas operações. Também esperou
influenciar os poluidores, por meio de mercados financeiros, dos quais se
esperava que reagissem às taxações. Para encorajar as empresas a melhorar
suas performances, também estabeleceu um programa para reconhecimento
das práticas excelentes de controle da poluição ambiental.
A agência decidiu centralizar-se primeiramente na poluição da água. Ela
juntou dados sobre a poluição da água das fábricas, mediante questionários
e rigorosas inspeções in loco. O governo compilou informações sobre 187
fábricas altamente poluentes e classificou as companhias pelo nível das
emissões. Os dados foram combinados numa única taxa de desempenho em
cinco categorias-chave: dourado, verde e azul significavam concordância, e
o vermelho e o preto representavam a não-concordância.
A Agência abriu os resultados em estágios, primeiro reconhecendo pu-
blicamente os melhores desempenhos e dando aos demais seis meses para
limpar, antes que suas taxas ruins fossem reveladas. Esta abordagem por
fases deu às fábricas tempo para se ajustarem ao programa, e aumentar a
probabilidade de concordância. Entre junho e setembro de 1995, metade
das empresas que tinham sido taxadas como não-concordantes observou os
novos mandatos. Isto sugere que o PROPER criou incentivos poderosos
para o controle da poluição. Em muitas instâncias, as empresas compreen-
deram que um gerenciamento melhor do meio ambiente reduz os custos de
produção ao criar incentivos adicionais para que eles limpassem suas práti-
cas de produção. Encorajados por estes esforços iniciais, a Agência planejou
taxar duas mil plantas por volta de 2000.
O PROPER da Indonésia vai além do comando e do controle tradicio-
nalmente utilizados com sucesso limitado para regular os poluidores. O sis-
tema de imposto é único em que isso permite múltiplos resultados. A esco-
lha final fica com a empresa e depende de seus recursos para o controle da
poluição, os benefícios percebidos para limpeza e sua estratégia corpora-
tivista global. O PROPER baseia-se na abertura pública e na pressão públi-
ca para que as empresas poluidoras se alinhassem com as regulamentações
ambientais. O PROPER envolve as pessoas afetadas pela poluição, garante
um equilíbrio de barganha entre as empresas e os investidores. O papel do
governo é estabelecer as regras do jogo, monitorar o nível das descargas,
adotar ações punitivas quando necessário e agir como último árbitro.

105
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

A Campanha da Bandeira Azul Européia:


Aumentar a Consciência do Meio Ambiente Costeiro

A Campanha Européia da Bandeira Azul, operando por meio de uma rede


de organizações nacionais, é coordenada pela Foundation for Environmental
Education in Europe (Fundação para Educação sobre o Meio Ambiente na
Europa) (Thomas et al., 1998). Ela encoraja a compreensão e a avaliação dos
cidadãos do meio ambiente costeiro e a incorporação de interesses ambientais
nas tomadas de decisão das autoridades costeiras. A Comissão Européia finan-
cia aproximadamente 25% do orçamento da campanha, que chega atualmente
a mais de US$ 1 milhão; patrocinadores particulares financiam o restante.
Uma praia ou marina recebe uma Bandeira Azul se preencher três con-
juntos de critérios relacionados com a qualidade ambiental da localidade,
gerenciamento e segurança e educação ambiental e informação. Os recebe-
dores devem obrigatoriamente cumprir os critérios e diretrizes.
Baseado em mapas, fotografias, amostras de água e num questionário
completo, um júri nacional designa locais para um júri europeu, que faz a
seleção final dos recebedores de Bandeira Azul por votação unânime. Os
resultados são anunciados no começo de junho, antes que o principal perío-
do de férias se inicie. A campanha atraiu vários patrocinadores comerciais,
juntamente com escolares, que limparam as praias locais para manter os
altos padrões requisitados pelos juízes da Bandeira Azul. Ao longo dos anos
os padrões de qualidade ambiental necessários para vencer ou ganhar o
prêmio foram sucessivamente aumentados, objetivando prover incentivos
dinâmicos para uma melhor administração ambiental. Mais de mil locali-
dades costeiras, a maioria delas na Dinamarca, na Grécia e na Espanha,
receberam a Bandeira Azul.
Os governos encaram o Programa da Bandeira Azul como um meio efi-
ciente para promover a consciência ambiental e aumentar os lucros do tu-
rismo. Do ponto de vista dos patrocinadores privados, ele é uma oportu-
nidade para atrair mais turistas. A iniciativa leva o governo, os setores
público e privado a parcerias que geram competições entre as jurisdições,
que levantam os padrões ambientais para níveis cada vez mais altos.

Repensar o Papel do Estado

Atribuir a degradação ambiental às políticas distorcidas, subsídios


danosos, carência de mercados, externalidades e conhecimento público e
completo coloca o Estado na posição de um catalisador para a proteção
e o gerenciamento ambiental. Contudo, o registro misto das intervenções
governamentais tem motivado um repensar extensivo das políticas que o
Estado deveria alimentar. Para conseguir maior impacto, o governo deveria
intervir de maneira seletiva (ver Quadro 4.4).

106
S U S T E N T A R O C A P I T A L N A T U R A L

Quadro 4.4 – O Desenvolvimento e o Meio Ambiente

O World Development Report 1992 (World Bank, esclarecer direitos de propriedade; acelerar a provisão
1992, p.2 ) lançou o desafio de encontrar o equilíbrio do saneamento, fornecer água limpa, garantir educa-
correto entre desenvolvimento e meio ambiente. ção especialmente para as meninas e habilitar o povo
do local. A segunda procura romper os laços negativos
A proteção do meio ambiente é uma parte essencial entre meio ambiente e desenvolvimento mediante,
do desenvolvimento; sem proteção ambiental adequa- por exemplo, o estabelecimento de padrões, utilizar
da, o desenvolvimento é minado; sem desenvolvimento instrumento baseados no mercado como impostos
os recursos serão inadequados para os investimentos verdes e assumir abordagens colaborativas com o
necessários, e a proteção ambiental irá falhar ... O gerenciamento da poluição.
crescimento traz consigo o risco de dano ambiental O relatório enfatizou que, embora os custos da pro-
assustador. De modo alternativo, poderia trazer consi- teção adequada do meio ambiente fossem amplos, os
go melhores proteções ambientais, ar e água mais custos da inação seriam monumentais. É racional agir
limpos e a virtual eliminação da pobreza aguda. As mais cedo que mais tarde.
escolhas políticas farão a diferença. Oito anos depois, as prescrições do relatório ainda
são válidas. A experiência com gerenciamento de re-
O relatório acentuou dois conjuntos de políticas cursos e proteção ambiental mostra que encontrar as
para o desenvolvimento sustentável. O primeiro se parcerias de políticas corretas para o desenvolvimen-
constrói sobre elos positivos de vencer ou vencer, tais to sustentável do meio ambiente é ainda mais viável
como remover os subsídios ambientalmente danosos; hoje se lhe derem uma prioridade alta.

Subsídios Aerodinâmicos e Implementação


de Impostos Ambientais

Em princípio, os subsídios sustentam as rendas dos pobres; na prática,


freqüentemente aumentam as desigualdades, drenam o orçamento público,
aceleram o esgotamento dos recursos naturais e degradam o meio ambien-
te. O custo global dos subsídios da agricultura, da energia, do transporte
rodoviário e da água é estimado em US$ 800 bilhões ao ano, com cerca de
dois terços dos gastos incorridos nos países da OECD (De Moor & Calamai,
1997). Em anos recentes, os subsídios têm baixado com uma rapidez notá-
vel, particularmente nos países em desenvolvimento. Na China, os subsí-
dios ao carvão caíram de US$ 750 milhões em 1993 para US$ 250 milhões
em 1995 (UNDP, 1998). As taxas de subsídios caíram de 61% em 1984 para
11% em 1995 (World Bank, 1997e). A remoção de subsídios perversos
acarreta três benefícios: reduz a degradação ambiental, promove a igualdade
e preserva os recursos orçamentários.
Nem todos os subsídios produzem maus resultados, e os bons subsídios
deveriam ser encorajados. Inacessibilidade para serviços de água e sanea-
mento concorre para uma significativa perda de vida, particularmente entre
mulheres e crianças de famílias pobres. Os estudos mostram que essas
famílias têm uma grande vontade de pagar por suprimentos adequados e
confiáveis desses serviços. Subsídio que tenha como alvo essas famílias para

107
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

aumentar os serviços de água e saneamento, talvez vindo do setor privado,


constitui, provavelmente, uma intervenção de custo efetivo para a diminui-
ção dos impactos negativos sobre a saúde e para a redução da pobreza pela
promoção do acúmulo de capital humano.
Em contrapartida, os impostos verdes sobre atividades que provocam a
degradação ambiental fornecem meios poderosos para combater a poluição e
o esgotamento de recursos. Os impostos verdes podem ser particularmente
úteis na administração das emissões que contribuem para a poluição da água
e do ar. Pode-se, por exemplo, taxar a utilização do carvão pela indústria ou
pelas emissões e aumentar os lucros dos impostos; logo, os impostos verdes
podem fornecer uma abordagem de vencer ou vencer para gerenciar a quali-
dade ambiental com o crescimento (World Bank, 1997d). As taxas de polui-
ção são mais efetivas quando uma estrutura reguladora bem estabelecida,
com normas de emissões e um sistema eficiente de monitoração e impo-
sição, estão no lugar. Impostos verdes efetivos também encorajam a utiliza-
ção de fontes energéticas mais limpas, como a energia solar.
Uma mudança de renda para os impostos de consumo também pode
beneficiar o meio ambiente e o crescimento. A produção e o consumo de
bens de luxo sempre provocam drásticas demandas sobre os recursos am-
bientais e naturais. Os impostos sobre o consumo podem dobrar a supe-
rexploração desses bens. Impostos de consumo progressivo também pro-
movem a eqüidade e, mediante o encorajamento de poupanças, promove o
crescimento econômico (Frank, 1998).
Além disso, impostos verdes podem gerar os fundos necessários para
promover o gerenciamento ambiental. O setor público precisa de dinheiro
para o seu papel de facilitador, mas os fundos sempre estão longe das
necessidades. Qualquer estratégia para o gerenciamento ambiental deve
identificar fontes de financiamento adequadas. Muitos países em desen-
volvimento baseiam-se mais atualmente em impostos verdes para criar
fundos para melhorias ambientais do que o fizeram no passado (World
Bank, 1999f).

Sair do Controle Central para Parcerias

No passado, os governos baseavam-se muito no controle central, o que


requeria monitoração extensiva da concordância para o gerenciamento
ambiental. A combinação da política de comando e controle e recursos ina-
dequados para a monitoração e a imposição garantiram a falência do pro-
grama. Os agentes de política estão aprendendo que os membros da comu-
nidade afetados pela poluição podem complementar a regulamentação. O
envolvimento das comunidades locais e da sociedade civil tem outras van-
tagens. Particularmente nas áreas rurais, ele é tanto a fonte-chave da infor-
mação quanto os curadores do conhecimento tradicional do meio ambiente.

108
S U S T E N T A R O C A P I T A L N A T U R A L

Logo, podem identificar e implementar estratégias que equilibrem o cresci-


mento com a proteção ambiental.
Onde a subavaliação de um recurso pode conduzir à sua degradação, a
avaliação própria de seus benefícios econômicos e sociais pode garantir que
sua contribuição seja totalmente levada a sério nas tomadas de decisões
(Dixon & Shermann, 1990; Pearce & Warford, 1993; Ruitenbeek, 1989).
Aferições do “produto nacional bruto do verde” e poupanças genuínas estão
ganhando proeminência como um meio para incorporar a sustentabilidade
no planejamento econômico tradicional (Hamilton & Lutz, 1996; World
Bank, 1997d). A distância estimada entre o valor econômico total e a avalia-
ção privada atual não pode ser facilmente percorrida, mas a evidência sugere
que o Estado pode fazê-lo, criando mercados ou estabelecendo instituições
e estatutos legais apropriados que criem condições semelhantes às de mer-
cado e pela geração adequada de fluxos financeiros (ver o caso ilustrativo da
Costa Rica).
Baseando-se em dados para 77 países em desenvolvimento, foi encon-
trada uma associação positiva significativa entre gastos educacionais e
aumento na cobertura florestal (matriz correlacional disponível a pedido).
Isto sugere que ímpetos acrescentados à sustentabilidade ambiental podem
partir do Estado e cooperação dos setores privados para aumentar a con-
clusão de educação da população.
Reconhecendo as limitações da intervenção estatal e a necessidade de
parcerias ativas no gerenciamento ambiental, os governos estão procurando
novos meios para promovê-lo. A disseminação, para todos os investidores,
do conhecimento sobre as conseqüências totais do desprezo ambiental, jun-
tamente com uma estrutura clara de responsabilidade e habilidades am-
bientais, pode ter impactos poderosos (Thomas et al., 1998). As alianças
entre as agências reguladoras do Estado e as empresas industriais estão aju-
dando a controlar a poluição em muitos países (Hanrahan et al., 1998;
Schmidheiny & Zorraquim, 1996). No Zimbábue, o programa CAMPFIRE
promove a aliança entre governos provinciais, o setor privado e os habi-
tantes locais no gerenciamento da vida selvagem em prol da preservação da
biodiversidade dentro de uma estrutura legal estabelecida pelo governo cen-
tral (Thomas et al., 1998).
Na África, na Ásia oriental e na América Latina, a sabedoria conven-
cional de que as práticas agrícolas de corte e queima aplicadas pelos pobres
são a causa do desmatamento em ampla escala foi quebrada pela com-
preensão de que a mudança macroeconômica, empresas comerciais e
desenvolvimento infra-estrutural freqüentemente têm maiores impactos
sobre o desmatamento (Chomitz & Gray, 1996; Deininger & Minten,
1996; Mamingi et al., 1996). Uma extração insustentável de madeira por
grandes companhias madeireiras comerciais conduz ao desmatamento,
comunidades indígenas pobres perdem suas fontes de lenha, forragem,
plantas medicinais, e até mesmo seus meios de sobrevivência. As comu-

109
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

nidades pobres que dependem das florestas deveriam ser o foco da ação
pública que garante uma utilização melhor e sustentável das florestas. A
melhor oportunidade de um acordo negociado está com uma parceria tri-
partite do Estado, comunidades locais e companhias madeireiras. O desa-
fio para os países em desenvolvimento é aumentar tais parcerias o mais
rapidamente possível.

Esclarecer os Direitos de Propriedade,


Posse de Recursos e Responsabilidades Ambientais

A relação empírica entre direitos de propriedade claros e qualidade


ambiental é forte (Dasgupta et al., 1995). Fazendeiros com escrituras de
terra têm mais possibilidade de investir na preservação do solo, técnicas
de cultivo sustentável e outras práticas de proteção ambiental (Feder,
1987). Com o capital de direitos de propriedade investido, as comunidades
locais reflorestaram terras degradadas na Índia e no Nepal (Lynch & Talbott,
1995). Estabeleceram direitos de utilização para água, pescas e de madeira,
e forneceram um incentivo claro e meios para o gerenciamento dos recur-
sos (World Bank, 1997e).
Sem direitos de propriedade melhorados para os recursos naturais,
interesses exteriores tiram vantagem do acesso aberto e sem nenhuma
responsabilidade por suas ações, superexploram o capital natural com
pescas e pastagens excessivas, utilizando de forma exagerada os lotes de
madeira das aldeias e extraindo quantidades excessivas da água do solo.
Enquanto as experiências variam, o investimento em direitos de proprie-
dade comum nestes recursos parece diminuir as pressões para a superexplo-
ração. O grupo comunitário desenvolve mecanismos para restringir o aces-
so por forasteiros, distribuindo responsabilidades gerenciais, alocando
direitos de uso entre os membros do grupo e monitorando-os. Exemplos de
sistemas de gerenciamentos comunitários incluem aqueles para as florestas
no Japão; as pescas na Turquia; a água de irrigação no sul da Índia; pastos
nos Alpes suíços, no Himalaia e nos Andes (World Bank, 1992).11
A segurança do título de posse para os habitantes urbanos também pode
melhorar a qualidade do ambiente, simplificando a identificação e a coerção
de responsabilidade pela poluição do ar e da água, e uma disposição quími-
ca tóxica sólida e causal (World Bank, 1997e). Um estudo do relaciona-
mento entre os direitos de propriedade e o meio ambiente urbano descobriu
que, quando as pessoas passam do status de grileiros para uma segurança
moderada, a probabilidade de conseguirem serviços de coleta de lixo
aumenta em 32%, ao passo que, ao mudar para alta segurança de proprie-
dade (segurança de propriedade mais alta é caracterizada pela propriedade
da terra acompanhada de uma escritura legal), a probabilidade de comprar
a remoção de lixo cresce em 44% (Hoy & Jimenez, 1947). Logo, estabelecer

110
S U S T E N T A R O C A P I T A L N A T U R A L

direitos de propriedade e de posse claros e identificar as responsabilidades


ambientais poderiam ser as mais importantes contribuições do Estado
rumo à realização da sustentabilidade ambiental.

Melhorar o Governo e Reduzir a Corrupção

A procura por arrendamentos e a corrupção atingem a eficiência econô-


mica e inviabilizam resultados desejáveis até mesmo quando boas políticas
para o gerenciamento ambiental existem no papel (Bhagwati, 1982;
Krueger, 1974; Rose-Ackerman, 1997a). Funcionários públicos corruptos
minam os esforços para monitorar e melhorar as medidas ambientais, das
descargas de efluentes industriais e das emissões dos automóveis a cortes
permissíveis de madeira (Quadro 4.5). Encontra-se que o controle da cor-
rupção está associado de um modo significativo a, por exemplo, uma
redução na poluição da água (Anexo 1, Figura A1.1). Coletar conhecimen-
to e partilhá-lo amplamente pode combater a corrupção e fomentar um
bom governo, com resultados benéficos para o crescimento econômico e o
gerenciamento ambiental. Particularmente, a abordagem dos diagnósticos

Quadro 4.5 – Lucro Privado a Expensas do Gasto Público: Corrupção no Setor Florestal

A corrupção é desmedida na derrubada de árvores custando para a economia cerca de US$ 50 milhões.
e corte de madeira em todos os níveis das tomadas de • Na década de 1980, as Filipinas perderam cerca de
decisões relacionadas às florestas. A maior parte dos US$ 1,8 bilhão por ano em corte ilegal de madeira.
danos com os recursos florestais refere-se ao mau uso • Em 1994, o Departamento Florestal da Indonésia
dos recursos públicos para ganhos privados pela elite admitiu que o país estava perdendo cerca de US$
política. Juntando-se à degradação e ao mau uso das 3,5 bilhões por ano, ou um terço de seus lucros
florestas, a corrupção priva os governos e comunida- potenciais, devido ao corte ilegal de madeira.
des locais de recursos que poderiam ser utilizados • Em 1994, o governo russo coletou apenas de 3% a
para o desenvolvimento e melhoria do gerenciamen- 20% dos lucros potenciais estimados derivados das
to florestal. Práticas de corrupção incluem venda se- taxas sobre madeira; ou seja, US$ 184 milhões ao
creta e permissões de corte, depreciação ilegal da ma- invés dos US$ 900 milhões a US$ 5,5 bilhões.
deira por companhias para apressar a transferência e
falsos certificados de espécie ou volumes cortados A World Commission on Forestry and Sustainable
das florestas públicas e o madeiramento ilegal. Exem- Development enfatizou a necessidade de mecanismos
plos de todo o mundo prevalecem. de participação pública e resoluções de conflito, para
expor casos de corrupção e penalizar as corporações e
• A transferência de preços era tão prevalente na indivíduos ofensivos. Agindo sob esta recomendação,
Papua-Nova Guiné que até 1986 nem sequer o Banco Mundial deu início a um programa de melho-
uma única companhia declarou lucro, apesar do ria da lei florestal, enfocado principalmente no sul da
comércio explosivo da madeira. Ásia, para corrigir a corrupção.
• Em Gana, 11 companhias estrangeiras estavam
implicadas em fraude e outras más práticas, Fonte: World Commission on Forestry and Sustainable Development (1999).

111
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

de corrupção tem mostrado esperança de reduzir a corrupção e promover


a integridade em vários países (Capítulo 6, neste volume; e Kaufmann
el al., 1998).
Logo, os países em desenvolvimento deveriam dar prioridade máxima
para reprimir a corrupção e melhorar o governo.

Questões Ambientais Globais


Devem Ser Confrontadas

Muitas questões de gerenciamento ambiental são em escala global, em-


bora em causas locais.12 O efeito estufa e a mudança climática global estão
claramente ligados às atividades humanas (ver Quadro 4.6). A queima de
combustível fóssil é a maior fonte dos gases da estufa. O desmatamento
também contribui para o problema, em razão da perda das funções ocultas

Quadro 4.6 – Cooperação Internacional para Mitigar a Mudança Climática Global

A Primeira Conferência Mundial sobre o Clima, Berlim, em 1995. A segunda, realizada em Genebra
realizada em 1979, reconheceu a mudança climática em 1996, compreendeu o estoque de progresso e ou-
como um sério problema e explorou a forma como tras questões. Funcionários públicos participantes
essa mudança poderia afetar as atividades humanas. sublinharam a necessidade de conversações acele-
A declaração da conferência conclamou os governos radas sobre como fortalecer a Convenção a respeito da
do mundo a predizer e prever mudanças climáticas mudança climática. A Declaração de Genebra endos-
produzidas pelo homem que poderiam causar im- sou o segundo relatório de taxação do Painel Inter-
pactos adversos sobre o bem-estar da humanidade. O governamental sobre Mudança Climática como o im-
painel intergovernamental sobre a mudança climáti- posto mais abrangente autorizador da ciência da mu-
ca, estabelecido pela Organização Meteorológica dança climática, seus impactos e as opções disponí-
Mundial e pelo Programa Ambiental das Nações veis de resposta.
Unidas, liberou seus primeiros relatórios de taxação O protocolo de Kyoto, adotado na Terceira Con-
em 1990 e confirmou a evidência científica para a ferência dos Partidos em dezembro de 1997, é reco-
mudança climática. A Segunda Conferência Climática nhecido como um passo histórico em direção às limi-
Mundial, em 1990, apelou para um tratado estrutural tações obrigatórias das emissões em 39 economias in-
sobre a mudança climática. A Convenção Estrutural dustrializadas e de transição. Estas emissões são re-
das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, que duzidas a pelo menos 5,2% abaixo dos níveis de 1990
foi aberta pela assinatura da Cúpula da Terra do Rio no período de comprometimento de 2008 a 2012. Isto
de Janeiro em junho de 1992 e entrou em vigor em é um desenvolvimento significativo, porque a proje-
março de 1994, fornece o contexto para um esforço ção para os Estados Unidos, por exemplo, indica que
internacional acordado para responder à mudança sem tais compromissos de proibição suas emissões
climática. Há 166 signatários e 167 partidos para a poderiam ser 30% acima dos níveis de 1990, por volta
convenção. de 2010.
A Conferência dos Partidos, que substituiu o Co- Apesar do progresso significativo, os detalhes da
mitê Intergovernamental de Negociação para a Con- junta de implementação, as emissões comerciais e as
venção Estrutural, tornou-se a autoridade máxima da obrigações dos países em desenvolvimento ficam
convenção. Isto sustentou sua primeira sessão em ainda para ser resolvidas.

112
S U S T E N T A R O C A P I T A L N A T U R A L

da floresta, que transformam dióxido de gás carbônico em biomassa.


Atividades agrícolas, mineração de carvão e vazamento de gás natural dos
tubos de transmissão também juntam-se aos gases da estufa pela liberação
de metano.
Como esses problemas são originados por um amplo número de ativi-
dades econômicas consideradas essenciais para o crescimento, o seu con-
trole esbarra em uma série de dificuldades. A maioria das nações em desen-
volvimento depende da queima do combustível fóssil, do carvão e do
petróleo para a produção econômica, sendo improvável que mudem para
combustíveis menos poluentes e mais caros.
No entanto, a mudança para combustíveis menos poluentes pode con-
duzir a melhores resultados de saúde, o que é bom para os objetivos
econômicos nacionais. Como conseqüência, uma tensão natural existe entre
os dois objetivos, e muitos países optam por mais crescimento em vez de
melhor saúde (Munasinghe, 2000). Assistências financeira e técnica vindas
da comunidade internacional, em retorno para ceifar os benefícios da
mudança para combustíveis menos poluentes, pode capacitar a compreen-
são conjunta tanto dos interesses globais como dos nacionais.
A cooperação entre países ricos e pobres também pode ajudar a contro-
lar o desmatamento. Apesar das externalidades que gera, os países em
desenvolvimento vêem o desmatamento como uma conseqüência inevitável
de seu desenvolvimento econômico. Como acontece com seus combustíveis
menos poluentes, a comunidade internacional precisa lidar com a ameaça da
mudança climática global mediante a transferência de recursos, inclusive
tecnologia para controlar o desmatamento (Kishor & Constantino, 1994;
López, 1997). Sob a iniciativa da Convenção Estrutural das Nações Unidas
sobre Mudança Climática, vários esquemas bilaterais de preservação flores-
tal estão sendo testados em diferentes partes do mundo. Pilotos bem-suce-
didos serão reaplicados numa escala maior.
A Facilidade Ambiental Global é a principal instituição que erige inte-
resses ambientais globais. Como o mecanismo financeiro provisório da
Convenção sobre Diversidade Biológica e Mudança Climática, erigem-se
problemas ambientais globais mediante a colaboração entre países em
desenvolvimento e industrializados, que beneficiam ambas as partes. Por
exemplo, países industrializados podem diminuir as emissões de gás para o
efeito estufa de um modo barato, e os países em desenvolvimento podem
beneficiar-se de transferências tecnológicas e financeiras na proteção de
seus recursos-base que promovem o desenvolvimento econômico.
Prevenir a mudança climática global e gerenciar suas conseqüências será
um dos maiores desafios do século XXI. Convenções globais, tratados e
acordos foram importantes por identificar problemas comuns, desenvolver
soluções e alocar responsabilidades. A consciência nacional e o comprome-
timento são crescentes, e a implementação deve ser encorajada para garan-
tir os objetivos nacionais globais. Exemplos bem-sucedidos deste casamen-

113
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

to entre objetivos nacionais e globais precisam ser reaplicados amplamente


(Castro et al., 1997; Watson et al., 1998).

Conclusões

Para o mundo em desenvolvimento, o esgotamento do capital natural


(florestas, energias e minerais) e o dano causado pelas emissões de dióxido
de carbono são estimados em 5,8% do PIB. Os riscos para a saúde ambien-
tal chegam a 20% dos custos globais de doença. Além disso, os enormes
custos dos problemas ambientais globais precisam ser fatorados nas políti-
cas de desenvolvimento nacionais. Os pobres, particularmente as mulheres
e as crianças pequenas, freqüentemente carregam muito do peso da
degradação ambiental. Assim, o capital natural é fundamental para o cresci-
mento sustentado, e sua conservação e aumento são cruciais para estraté-
gias desenvolvimentistas internacionais e nacionais.
Três descobertas-chave emergem da evidência apresentada neste capítulo:

• Vários indicadores da qualidade de capital natural, com a notável


exceção do acesso à água de qualidade e às facilidades de sanea-
mento em alguns países, tendem a piorar tanto nas economias de
rápido como nas de lento crescimento, impor custos pesados e
prospectos diminutos para o crescimento futuro. Contudo, o cresci-
mento mais rápido torna disponíveis mais recursos para investir na
melhoria do capital natural. Logo, a ideologia do “cresça agora e
limpe depois”, assumida por muitos países industrializados ou em
crescimento, precisa mudar para uma de crescimento da sustentabi-
lidade do capital natural.
• O Estado desempenha papel crucial no gerenciamento ambiental,
mas precisa ser seletivo e eficiente em suas intervenções. Deveria
centrar-se em abordagens colaborativas com as comunidades locais e
o setor privado.
• Os problemas ambientais globais são enormes, mas oferecem opor-
tunidades para levantar simultaneamente problemas nacionais se a
cooperação internacional puder ser garantida. O desenvolvimento de
transferência de mecanismos para recursos a pagar pelas externali-
dades globais é fundamental.

Os países precisam centrar-se em estratégias para realizar um cresci-


mento de alta qualidade, que é sustentável e compatível com a estabili-
dade financeira interna e externa, ou seja, crescimento que sustente o
pobre e o vulnerável e não degrade excessivamente a atmosfera, os rios,
as florestas e os oceanos, ou qualquer parte da herança comum da hu-
manidade. As estimativas de custo-benefício sustentam uma estratégia de

114
S U S T E N T A R O C A P I T A L N A T U R A L

crescimento saudável e todos os exemplos neste capítulo mostram que tal


estratégia é viável.

Notas

1. Alguns estudos do Banco Mundial atribuíram 100% de todas as doenças originárias da água
à falta de conexões de água encanada e facilidades de saneamento. Contudo, estudos epi-
demiológicos raramente mostraram declínio de mais de 40% em doenças decorrentes de
intervenções de acesso à água (Esrey et al., 1990). Logo, os benefícios de saúde relacionados
com um suprimento de água tratada e melhoria nos serviços de saneamento podem estar
descritos de forma exagerada na Tabela 4.2.

2. O trabalho realizado sob a Iniciativa do Ônus Global das Doenças utiliza-se de uma medi-
da padronizada de resultados de saúde, os DALYs; mediante o cruzamento de várias causas
de doenças e mortes, dão um modo-padrão para quantificar algumas perdas aqui descritas
(Murray & López, 1996).

3. Muitas estimativas utilizam-se de taxas de desconto no âmbito de 6% a 10% para calcular o


valor atual dos benefícios. Se as taxas de desconto atual são mais altas, digamos de 20% a
25% como a evidência que alguns países em desenvolvimento sugerem, então o valor atual
dos benefícios será muito mais baixo. De modo semelhante, assume-se que o custo da opor-
tunidade de capital disponível para financiar melhorias ambientais deve ser muito mais baixo
do que aquele que os países em desenvolvimento realmente enfrentam. O resultado líquido
da aplicação de “verdadeiros” valores reduziria a distância dos benefícios sobre os custos,
embora reduza o investimento requerido para um gerenciamento ambiental ótimo, ou
mesmo reduza os benefícios abaixo dos custos, tornando tais investimentos improfícuos.
Isso aponta para a necessidade de levar a cabo uma análise sensível a respeito de mudanças
nas taxas de desconto para identificar, de modo confiável, as áreas de prioridade para a inter-
venção (Kishor & Constantino, 1994).

4. Proteger o meio ambiente enquanto se acelera o crescimento também pode ter impactos
benéficos no acúmulo de capital natural. Se as autoridades anunciam padrões ambientais
mais rígidos, adiantados aos dados quando eles se tornam proibitivos, os investimentos que
encarnam os padrões melhorados podem ser realizados durante um período de tempo, em-
bora reduza a obsolescência do capital ou a necessidade por um retroajuste de custos para
encontrar padrões ambientais, por exemplo, a experiência com os padrões de emissões e con-
versores catalíticos para carros.

5. Mesmo onde uma curva ambiental Kuznets parece ser sustentada, isto não implica que o
gerenciamento ambiental seja desnecessário. Vejamos o caso das emissões de dióxido
sulfúrico, onde Grossman & Krueger (1995) estimaram momento de decisão para as emis-
sões diminuírem a um nível de renda per capita de US$ 4,053. Mesmo com uma taxa de
crescimento alta de 5% ao ano, a Índia, por exemplo, levará várias décadas para alcançar

115
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

este nível de renda. A Índia e muito do resto do mundo em desenvolvimento não poderiam
continuar a sofrer as conseqüências deste tipo de poluição enquanto esperam para “crescer
sem problemas”.

6. O desmatamento parece seguir um caminho da curva de Kuznets (Cropper & Griffths, 1994),
mas com um momento de decisão de US$ 5,420 de renda per capita para a América Latina.
Políticas proativas são absolutamente necessárias.

7. Claramente, as ligações entre poluição e crescimento dependem de muitos fatores e uma


análise de caso a caso é absolutamente necessária. Na China, por exemplo, o desenvolvi-
mento da cidade privada e as empresas industriais da vila eram o motor principal do cresci-
mento na década de 1990, tirando mais de cem milhões de pessoas da pobreza. Estas
empresas são freqüentemente mais eficientes, com melhores tecnologias de controle de
poluição que as empresas estatais. Contudo, como um resultado da expansão das empresas
privadas, é provável que o crescimento acelerado esteja associado a intensidades declinantes
de poluição.

8. Mover-se de A para F implica que a qualidade ambiental se deteriorou desde seu estado
primitivo. Isto responde à taxa ótima de proteção ambiental a que se referiu anterior-
mente. Para a função oculta do ambiente, pode ser justificado no solo que “pequenas”
quantidades de poluição do ar, poluição da água, e assim por diante, não colocam riscos
para a saúde nem tornam irregular a habilidade para que os recursos se “renovem”; e os
ganhos econômicos resultantes das atividades geradoras de poluição são amplos. Para a
função-fonte, uma certa quantidade de desmatamento de floresta, por exemplo, é justifi-
cada enquanto o uso alternativo da terra fornece retornos sociais maiores e o desmata-
mento não ocorre nos lugares “errados”, tal como barrancos ao longo de bacias fluviais, e
assim por diante.

9. A Ásia oriental fornece um caso interessante. A recente crise econômica mergulhou a


Tailândia e a Indonésia de B para C. Como conseqüência, esses dois países têm a dura tare-
fa de implementar políticas para limpar o meio ambiente enquanto aumentam o crescimen-
to econômico, ou seja, movem-se de C para F.

10. Cerca de dois bilhões de iuanes, à taxa de 8,3 iuanes o dólar, a China unificou seu regime de
câmbio dual em 1994; daqui para a frente, esta quantia deveria ser encarada como aproximada.

11. Áreas protegidas, parques nacionais, e outras terras públicas que oferecem serviços ambien-
tais críticos, tipicamente não desfrutam das vantagens do gerenciamento comunitário. Como
resultado, a migração, os abusos, a extração ilegal e outras forças continuam a degradar as
terras gerenciadas pelo governo em muitas áreas.

12. Watson et al. (1998) classificam as questões ambientais globais em duas categorias: aquelas
que envolvem os bens comuns globais (atmosfera, água, e assim por diante) e aquelas de
importância mundial, mas que não envolvem diretamente a tributação dos bens globais

116
S U S T E N T A R O C A P I T A L N A T U R A L

comuns (biodiversidade, esgotamento da terra, e assim por diante). Com base na atual ta-
xação científica, as questões globais ambientais mais importantes para este século, e que
requerem ação urgente, são a mudança climática global, o esgotamento da camada de ozônio,
a perda de biodiversidade, o desmatamento e o uso não sustentável das florestas, a deserti-
ficação e a degradação da terra, a degradação da água doce, do meio ambiente marinho e dos
recursos e os poluentes orgânicos persistentes. As interligações entre estas questões e a
necessidade de equilibrá-las simultaneamente também são enfatizadas. Sem desmerecer
a importância de outras questões ambientais globais, esta seção centraliza-se na mitigação
da mudança climática global e no gerenciamento florestal para ilustrar os desafios com os
quais nos defrontamos nesta área.

117
C A P Í T U L O 5

TRATAR COM RISCOS


FINANCEIROS GLOBAIS
Tempos difíceis inspiram-nos a rever os ideais pelos quais vivemos.
— Michael J. Sandel, Democracy’s Discontent: America in
Search of a Public Philosophy.

A crise financeira de 1997-1999, que afetou de maneira mais se-


vera o Brasil, a Federação Russa e alguns países da Ásia orien-
tal, sublinhou a importância da estabilidade financeira como
um contribuinte para a qualidade do crescimento. Assim
como aconteceu com a sustentabilidade ambiental, a educação e o bom
governo, administrar os riscos da estabilidade financeira, particularmente
aqueles fluxos de capital através do país, pode estimular o crescimento sus-
tentável pela redução da desigualdade econômica, aumentando a estabili-
dade social pelo fortalecimento das tendências democráticas e suas insti-
tuições. Sem estabilidade social e política, “nenhuma quantidade de din-
heiro juntado em pacotes financeiros irá nos dar a estabilidade financeira”
(Wolfensohn, 1998).
A integração financeira global possui benefícios inegáveis para os países
em desenvolvimento e os industrializados, mas também expõe países a
vicissitudes dos mercados de capital internacional, tais como a volatilidade
nos valores correntes, as taxas de juros, a liquidez e os volumes de fluxos
de capitais, com importantes conseqüências macroeconômicas e de cresci-
mento. Esses riscos são visíveis e onerosos, como foi demonstrado recente-
mente pela perda e geração de empregos, colapsos bancários e corporativos
e aumento da pobreza nos países atingidos pela crise, particularmente nos
países onde as estruturas reguladoras e institucionais para mercados de ca-
pital aberto não estão totalmente no devido lugar.
Os altos custos econômicos e sociais, associados à instabilidade finan-
ceira, são inaceitáveis e fazem um grande estardalhaço para divisar me-

119
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

lhores rumos para lidar com os riscos financeiros e garantir um cresci-


mento estável. O Capítulo 2 mostra como as distorções políticas, subsí-
dios e inúmeras garantias podem causar superinvestimento em determi-
nados capitais financeiros e físicos, mas subinvestimentos em outros
bens. Este capítulo volta-se para os fatores que influenciam a volatilidade
dos fluxos de capital para os países em desenvolvimento e investimentos
subótimos associados que poderiam levar a um aumento de vulnerabili-
dade, à turbulência financeira. Depois de uma breve revisão dos benefícios
e dos riscos da integração do mercado financeiro, o capítulo examina as
causas e conseqüências da volatilidade do fluxo de capital e suas impli-
cações para os pobres. Logo, revisa os arranjos políticos e institucionais
para a gestão do risco e sugere uma estrutura ampla para gerenciamento
do risco que integra vislumbres da prática e a teoria política do gerencia-
mento moderno do risco financeiro com a política econômica de mercados
abertos de capital.
Para que o crescimento seja relativamente estável, os governos podem
considerar um espectro de ações como as que se seguem:

• Eliminar políticas distorcivas e garantias subsidiadas implícita ou


explicitamente, que fornecem incentivos a curto prazo, das afluências
de capital estrangeiro, o que pode acentuar a vulnerabilidade a cho-
ques financeiros.
• Fortalecer o regulamento interno e a supervisão dos bancos e outros
intermediários financeiros e melhorar o governo corporativo e sua
transparência.
• Erguer uma ampla estrutura para o gerenciamento do risco, baseada em
uma abertura de modo ordeiro dos mercados de capital combinadas
com medidas para o controle dos fluxos de capital de curto prazo.
• Manter o sustento público para os mercados de capital aberto, a fim de
fornecer amortecedores contra riscos, seja ou por meio do mercado,
seja mediante políticas distributivas em uma rede de segurança social.

Expansão dos Mercados de Capital


e Volatilidade dos Fluxos de Capital

Por qualquer medida, o crescimento nos mercados financeiros interna-


cionais ao longo dos anos 90 foi surpreendente. O empréstimo internacional
a médio e longo prazos, a penhora e os empréstimos bancários atingiram
US$ 1,2 trilhão em 1997, subindo de US$ 0,5 trilhão em 1988 (BIS, vários
anos). O mercado mundial de bens e serviços, embora crescendo significa-
tivamente desde o início de 1970, agora está nanico em decorrência das
transações financeiras internacionais de mais de cinco vezes o valor do mer-
cado mundial (Figura 5.1).

120
T R A T A R C O M R I S C O S F I N A N C E I R O S G L O B A I S

As transações alfandegárias da OECD em depósitos de igualdades,


menos que 10% do PIB em 1980, atingiram mais que 100% do PIB em
1995. A média diária de rotatividade dos mercados de troca de câmbio
alcançou US$ 1,6 trilhão em 1995, subiu US$ 0,2 trilhão em 1996, e o
comércio de bens anuais em bens e serviços alcançou US$ 6,7 trilhões em
1998. A capitalização do mercado global dos mercados de estoque relativos
ao PIB mundial cresceu de 23:1 em 1986 para 68:1 em 1996, enquanto os
mercados derivativos se expandiram de US$ 7,9 trilhões em 1991 para US$
40,9 trilhões em 1997 (Tabela 5.1).
O fluxo líquido de capital estrangeiro privado para países em desen-
volvimento também cresceu drasticamente de US$ 43,9 bilhões em 1990
para US$ 299 bilhões em 1997; a maior parte do capital veio do investi-
mento estrangeiro direto (FDI) e de mercados internacionais de capital, que
incluem fluxos de igualdade de carteiras de ações, empréstimos bancários
comerciais e questões de depósitos em mercados abertos. Fluxos de FDI
para os países em desenvolvimento aumentaram mais que seis vezes entre
1990 e 1998 e uma parte do fluxo do FDI global para os países em desen-
volvimento cresceu de 18% na metade da década de 1980 para 24% em
1991 e 36% em 1997. Contudo, quando a crise financeira se abateu sob a
Ásia no início de 1997, os fluxos de capital dos mercados de capital inter-
nacional para as economias de mercado emergentes sofreram um golpe

Figura 5.1 – O Tamanho do Mercado Financeiro Global e o Comércio Mundial,


1980-1996

100

80
Finanças

60 Comércio

40

20

1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996

Nota: O tamanho do mercado financeiro refere-se ao estoque de mercado mundial de capitalização mais o estoque de depósitos e empréstimos bancários inter-
nacionais importantes. Figuras comerciais são a média de importação e exportação.
Fontes: BIS (1997, 1998); International Financial Corporation (vários anos).

121
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Tabela 5.1 – Crescimento dos Mercados Derivativos, 1991-1997


Valores estimados em bilhões de dólares

Instrumentos comercializados nas trocas Instrumentos à mostra (OTC)

Ano Taxas Opções Moeda Estoque de mercado Total Opções Trocas Trocas de Total Total
de juros de taxas corrente índices futuros comercializado de taxas de taxas moedas
futuras de juros e opções e opções nas trocas de juros de juros correntes

1991 2.157 1.073 81 109 3.420 577 3.065 807 4.449 7.869
1992 2.913 1.385 98 238 4.635 635 3.851 860 5.346 9.980
1993 4.959 2.362 110 340 7.771 1.398 6.177 900 8.475 16.246
1994 5.778 2.624 96 366 8.863 1.573 8.816 915 11.303 20.166
1995 5.863 2.742 82 502 9.189 3.705 12.811 1.197 17.713 26.901
1996 5.931 3.278 97 574 9.880 4.723 19.171 1.560 25.453 35.333
1997 7.489 3.640 85 993 12.207 5.033 22.116 1.585 28.733 40.940

Fonte: BIS (vários anos).

pesado, caindo a seu ponto mais baixo desde 1992 – US$ 72,1 bilhões –,
enquanto o FDI permaneceu elástico (Figura 5.2) (World Bank, 1999c).

Causas e Conseqüências da
Volatilidade do Fluxo de Capital

A larga expansão nos fluxos de capital privados para os países em


desenvolvimento de 1990 a 1997 foi afetada positivamente por avanços na
comunicação e tecnologias da informática, que reduziram os custos das
transações alfandegárias.1 Os avanços que facilitam os fluxos de capital
alfandegários incluíram a criação no mercado de dinheiro para a moeda cor-
rente Euro, a disseminação de derivados e a rápida expansão dos fundos
alfandegários. Além disso, países industrializados e em desenvolvimento
abriram seus mercados financeiros, removendo as barreiras para os fluxos
de capital alfandegário.2 Contudo, várias garantias governamentais implíci-
tas ou explícitas oferecidas aos bancos, corporações e investidores, em
setores financeiros liberalizados mas inadequadamente regulamentados,
abasteceram o superinvestimento em certos setores industriais nos países
da Ásia oriental, de um lado, e criando perigo moral e um comportamento
de risco excessivo entre os investidores, de outro.3 O acúmulo de respon-
sabilidades governamentais contingentes e endividamentos corporativos
podem contribuir para a vulnerabilidade, para a perda de confiança do
investidor e para a erupção da recente crise financeira. Do ponto de vista
histórico, as mudanças nos suprimentos de capital externo para os países
em desenvolvimento foram causadas por fatores exógenos, tais como
aumento nos preços do petróleo na década de 1970, baixa taxa de investi-

122
T R A T A R C O M R I S C O S F I N A N C E I R O S G L O B A I S

Figura 5.2 – Ascensão e Queda de Fluxos de Capital Internacional, 1990-1999

US$ bilhões

160

140

120

80
Igualdade de portfólio
Total de empréstimos
60

20
Depósitos

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999

Nota: O fluxo do mercado de capital internacional para os países em desenvolvimento (inclusive a Coréia) consiste em uma igualdade da carteira de ações, depósi-
tos bancários e empréstimos privados.
Fonte: World Bank (2000g).

mento, desregulamento dos investidores institucionais nos países industria-


lizados e a inovação institucional e a competição dos anos 90.
O desmantelamento das barreiras aos fluxos de capital mediante fron-
teiras nacionais, tais como controles de capital e restrições para o câmbio
externo, foi acelerado nos países da OECD na década de 1980, disseminan-
do-se para os mercados emergentes. Os países da OECD liberalizaram
quase todos os movimentos de capital, inclusive as transações de curto
prazo pelas empresas e pelos indivíduos, em concordância com o Código da
OECD de Liberação dos Movimentos de Capital. O Reino Unido completou
toda a convertibilidade do capital em 1979, e, em 1992, Grécia, Irlanda,
Portugal e Espanha tornaram-se os últimos países da OECD a abolir total-
mente seus controles de capitais (OECD, 1990). No início da década de
1990, os montantes de capital dos países da OECD foram abertos em amplo
espectro de transações financeiras através do país, em operações do merca-
do monetário, operações adiantadas, trocas e outros derivativos.4
Muitas economias de mercado emergentes também reformaram seus
mercados financeiros e liberaram movimentos de capital alfandegário.
Baseado num índice de abertura financeira construído para 96 países, des-
de 1977, 46 podem ser classificados como abertos e dez como semi-aber-
tos (Quadro 5.1 e Anexo 5). Enquanto os países liberalizavam, os bancos
e os tomadores de empréstimo corporativistas tiveram acesso a um menu
mais amplo de financiamento externo. O desejo por capital de longo prazo,
particularmente para projetos de fundos de infra-estrutura, forneceu uma
vantagem competitiva forte para o capital externo, particularmente nos

123
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Quadro 5.1 – Abertura para Fluxos de Capital Internacional

A evidência sobre a abertura de economias de mer- associadas com transações financeiras ou às próprias
cado emergentes para fluxos de capital alfandegários atividades de negócio.
é escassa e fragmentada. Problemas de informação e Não existe nenhuma medida isolada de abertura.
metodologia impedem o desenvolvimento de medi- Qualquer medida de abertura financeira viável precisa
das quantitativas adequadas. A maioria dos estudos incorporar as distinções entre a severidade dos controles
afere a incidência dos controles de capital mais que a e os tipos de transações. O índice de abertura financeira,
intensidade das restrições e controles (ver, por exem- mostrada no Anexo 5 (Tabela A5.5), levanta o relacio-
plo, Alesina et al., 1994; Razin & Rose, 1994). Con- namento entre tipos de controle e transações. Utiliza-se de
tudo, nem todas as transações estão sujeitas a todos medidas desagregadas de controles de capitais baseados
os controles, e a maioria das medidas deve influen- nas classificações e informações contidas no Annual Report
ciar os incentivos para determinadas atividades. Os on Exchange Arrangements and Exchange Restrictions do
controles organizam-se desde limites quantitativos Fundo Monetário Internacional. Com base no código
diretos sobre algumas transações ou transferências metodológico desenvolvido por Quinn & Toyoda (1997),
associadas, para tais medidas indiretas tais como a medida é um índice composto de regras, regulamenta-
imposto de renda, ou reserva de requisições sobre ções e procedimentos administrativos que afetam os fluxos
bens externos e responsabilidades. Tais controles tam- de capital para 27 transações nos montantes de capital
bém poderiam aplicar-se às transferências de fundos correntes da balança de pagamentos para 96 países.

países com uma taxa de câmbio atrelada ao dólar americano. Maior acesso
ao capital externo nos países em desenvolvimento abre possibilidades para
financiar um conjunto mais amplo de projetos de investimento, ambos de
riscos concretos.
Apesar do potencial positivo do capital externo, a fragilidade na políti-
ca interna e medidas de liberalização, incluindo garantias subsidiadas,
criaram incentivos para um comportamento imprudente pelos bancos,
corporações e investidores que levaram ao superinvestimento em capital
físico (para exemplos, ver Demirgüç-Kunt & Detragiache, 1998;
Williamson & Mahar, 1998).
As garantias governamentais assumiram muitas formas, tais como
taxas de câmbio atreladas, empréstimos diretos, políticas grandes demais
para fracassar e depósito de garantia. Garantias governamentais implíci-
tas ou explícitas sobre responsabilidades encorajaram a tomada de riscos
excessivos, influenciando tanto os investidores do país como os interna-
cionais (ver Mckinnon & Pill (1997) para um modelo analítico). Em
essência, tal fragilidade resultou numa depreciação do risco e na baixa de
margens sobre a moeda corrente externa, denominada dívida para as
economias de mercados emergentes, até pouco antes do início da crise da
Ásia oriental.
A Facilidade Bancária Internacional de Bangcoc, estabelecida em 1993
durante a liberalização financeira, capacitou bancos e empresas tailandesas
a tomar empréstimos em moeda corrente estrangeira com vencimento a
curto prazo, que é um processo denominado empréstimo de fora para den-

124
T R A T A R C O M R I S C O S F I N A N C E I R O S G L O B A I S

tro. Em decorrência dos tratados de impostos bilaterais entre Japão e


Tailândia, os bancos japoneses estavam desejosos de absorver o imposto de
renda e emprestar a taxas reduzidas para as companhias tailandesas. Esta
injeção de dinheiro japonês resultou num crescimento rápido da Facilidade
Bancária Internacional de Bangcoc do empréstimo de fora para dentro. Os
empréstimos em moeda corrente estrangeira nos bancos tailandeses cresce-
ram para US$ 31,5 bilhões, 17% dos empréstimos do setor privado, por
volta do fim de 1996 (Alba et al., 1998).
O governo coreano emprestou diretamente para os chaebols, que levaram
o superinvestimento a indústrias privilegiadas, tais como as de semicondu-
tores, automóveis, aço e construção naval. Na Coréia, a média da razão dívi-
da-para-eqüidade dos trinta maiores chaebols era de mais de 500% por volta
do fim de 1996, e o retorno do capital investido ficou abaixo do custo do
capital para dois terços dos maiores chaebols (Park, 2000).
Com a tomada excessiva de empréstimos externos a curto prazo,
induzida em parte pelas garantias subsidiadas, as responsabilidades con-
tingentes do governo acumularam-se. Quando os investidores compreen-
deram que o governo não era mais capaz de pagar suas obrigações, toma-
ram a rota de saída. Uma vez iniciada a crise em um país, o comporta-
mento semelhante ao do rebanho e o contágio disseminaram-se por meio
do comércio internacional e ligações financeiras, o que resultou em
reversões de fluxo de capital privado e considerável ampliação dos
empréstimos para quase todas as economias de mercado emergentes (ver
também Calvo, 1999; Reinhart & Kaminsky, 1999; Van Rijckeghem &
Weder, 1999).

Benefícios e Riscos dos Mercados de Capital Aberto

Os benefícios dos mercados de capital aberto são indiscutíveis; o


debate político está em saber se os benefícios suplantam os riscos. Os
governos podem também considerar instrumentos de emprego para mini-
mizar tais riscos.
Os mercados de capital aberto trazem muitos benefícios tanto para os
países credores como para os tomadores de empréstimo. Eles oferecem aos
países em desenvolvimento fontes mais amplas de investimento financeiro
para complementar as poupanças internas. Também resultam num au-
mento de eficiência nas instituições financeiras internas e numa condição
mais inclinada da política macroeconômica. Além disso, ao facilitar
coerções financeiras, os mercados de capital aberto dão tempo aos países
para que façam negociações de pagamento para corrigir desequilíbrios que
foram criados em resposta a choques externos.5 Os mercados de capital
aberto oferecem aos países credores maiores mercados de capital de inves-
timento e risco e chances de diversificação, especialmente quando suas po-

125
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

pulações com fundos de pensão crescentes procuram mais altos e seguros


retornos de seus investimentos.
Montantes de capital aberto também sustentam o sistema de comércio
multilateral, expandindo as oportunidades para a diversificação das car-
teiras de ações e para a alocação eficiente de poupanças e investimentos
globais (Fischer, 1998). Uma questão importante de direito de propriedade
voltada para as finanças internacionais também atraiu a atenção de
acadêmicos e agentes de política. Cooper (1998, p.12) nota a visão que
encarna o pensamento que subjaz a ordem do mundo liberal: “Os indiví-
duos deveriam ser livres para dispor de sua renda e riqueza à sua vontade,
desde que, assim fazendo, não façam mal aos outros”. Outros argumentam
que a abertura aos fluxos do capital internacional é altamente relacionada
com medidas de liberdade política e civil. A evidência empírica sobre a
importância da abertura financeira e do governo democrático é coercitiva,
embora a direção e a natureza do elo precisem de estudo (ver Figura A5.1
no Anexo 5).
A abertura também traz consigo aumento de riscos. A volatilidade nos
fluxos de capital cria incerteza nas condições econômicas, aumenta o
custo do capital, podendo adversamente afetar o investimento e o cresci-
mento a longo prazo, e diminui os esforços para redução da pobreza. Com
base em dados de noventa países em desenvolvimento, constata-se que
existe uma forte correlação entre a volatilidade dos fluxos de capital e a
volatilidade do crescimento, como aferido por um desvio-padrão das taxas
de crescimento anuais no PIB real (Figura 5.3). Além disso, utilizando
dados de 130 países ente 1960 e 1995, Easterly & Kraay (1999) descobri-
ram que a volatilidade de crescimento baseada num desvio-padrão do
crescimento do PIB tem efeito negativo (-0,18) na média do crescimento
per capita.
Duas categorias de amplo risco – aquelas relacionadas com políticas
internas distorcidas e aquelas associadas com fatores externos – podem
criar problemas econômicos para investidores estrangeiros e agentes de
política. Políticas internas distorcidas e ambientes institucionais regula-
dores frágeis fornecem incentivos aos bancos e corporações para construir
responsabilidades externas de curto prazo excessivas relativas a seus bens
de curto prazo, ou posições de câmbio externo ilimitadas. Exemplos de
fontes internas de tais riscos incluem garantias governamentais explícitas e
implícitas, taxas de câmbio atreladas, empréstimo direto para os projetos de
investimento e crescentes responsabilidades de contingentes. Dooley
(1996) argumentou que a adoção de taxas de câmbio fixas e depósito de
garantia, no contexto de um setor financeiro regulado, liberalizado mas fra-
camente regulamentado, pode induzir os investidores estrangeiros a colher
taxas privadas mais altas de retorno que não beneficiam os países
tomadores de empréstimo. Esta depreciação dos verdadeiros riscos de
investimentos subjacentes deve ser levantada para assegurar investimento

126
T R A T A R C O M R I S C O S F I N A N C E I R O S G L O B A I S

Figura 5.3 – Relacionamento Entre Variabilidade do Crescimento Econômico e Volatilidade


nos Fluxos de Capital Privado Externo, 1975-1996

Volatilidade nas taxas anuais de crescimento do PIB

14

12

10

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5

Volatilidade nos fluxos anuais de capital

Nota: y =2,02x + 2,15, r = 0,57.


Fonte: Ver Anexo 5 para fontes e definições.

equilibrado que poderia estimular o crescimento a longo prazo e a redução


da pobreza dos países tomadores de empréstimo.
A segunda categoria de risco relaciona-se ao funcionamento dos merca-
dos financeiros internacionais, fatores externos e mudanças de sentimentos,
crenças e confiança de emprestadores e investidores estrangeiros que não
estão necessariamente relacionadas com a credibilidade a longo prazo de um
país. Logo, Calvo, Leiderman et al. (1994) descobriram que os fatores exter-
nos, tais como as taxas de juros americanos e a volatilidade no crescimento
OECD, poderiam explicar de 30% a 60% da variação nos fluxos de capitais
para a América Latina. As mudanças nos sentimentos e crenças dos investi-
dores, como refletidas em uma aguda reviravolta nos fluxos de capitais e/ou
em uma ferroada nos custos de tomada de empréstimos nas economias de
mercados emergentes, podem ser provocadas pela coordenação das falências
de parte dos credores. Este problema de coordenação poderia acontecer de-
vido a uma informação incompleta entre credores, que poderia transformar
suas decisões em corrida ou fuga de um determinado país, dependendo do
comportamento dos outros. Esta dependência pode gerar uma corrida análo-
ga à corrida bancária em cenários internos, juntando-se a um prêmio de não
cooperação no alto de outros prêmios de risco do país (veja Haldane (1999)
para posterior elaboração desta questão).
Os países precisam estar preparados para lidar com os riscos associados
com integração financeira e volatilidade do fluxo do capital. Porque a prepa-
ração do país varia e a edificação das instituições leva tempo, os governos

127
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

podem considerar um espectro de ações políticas e reguladoras quando se


abrem para os fluxos de capitais internacionais de modo ordenado.

A Volatilidade do Crescimento e os Pobres

As crises financeiras são extremamente onerosas. A América Latina


perdeu uma década de progresso econômico-social que se seguiu à crise de
débito no início dos anos 80. Os países da Ásia oriental perderam estima-
dos US$ 500 bilhões, baseados nos preços e nas taxas de câmbio de 1996,
em uma saída interna agregada entre 1997-1999, como aferido pelo desvio
de tendências históricas ou aproximadamente 1,3 vez a dívida externa
destes países em 1996 (ver Anexo 5 para o método do cálculo). Além disso,
a comunidade financeira internacional estendeu assistência financeira subs-
tancial por meio de empréstimos de resgate multilateral e bilateral aos paí-
ses afetados pela crise na década de 1990.
Em particular, a volatilidade de crescimento tem severas conseqüências
para os pobres que não possuem bens para minimizar seu consumo
durante as reviravoltas econômicas.6 Os custos sociais associados com as
crises nas economias de mercado emergentes têm sido substanciais. Em
apenas um ano, o subemprego dobrou na Tailândia e triplicou na Coréia,
enquanto os padrões de vida caíram 14% e 22%, respectivamente. A In-
donésia também sofreu um declínio de 25% em seu padrão de vida (Stiglitz
& Bhattacharya, 1999) e um agudo aumento no número de pobres. Por
volta do terceiro trimestre de 1998, a renda real do salário dos traba-
lhadores tailandeses caiu 24,8% nas tendências de taxa antes da crise
(Krongkaew, 1999). Levinsohn, Barry & Friedman (1999) estudaram as
altas dos preços no custo de vida das famílias pobres e descobriram que na
Indonésia os pobres eram, de fato, atingidos mais duramente em compara-
ção a outros grupos. Devido ao drástico aumento dos preços dos alimen-
tos, o custo de vida para os de renda mais baixas aumentou mais de 130%
depois da crise. Os pobres urbanos sem acesso à terra e que não são pro-
prietários de suas casas foram os mais adversamente atingidos pela crise.
Logo, em conseqüência das crises, os países da Ásia oriental viveram rever-
sões agudas em suas realizações anteriores na redução da pobreza (ver
World Bank, 2000a).

Gerenciamento do Risco Passado e Presente

Para proteger seu crescimento e ganho na redução da pobreza, os países


em desenvolvimento devem estar mais bem preparados para lidar com os
riscos associados à integração financeira e à volatilidade do fluxo de capital.
O risco financeiro global e as estratégias para gerenciá-lo mudaram subs-

128
T R A T A R C O M R I S C O S F I N A N C E I R O S G L O B A I S

tancialmente durante os últimos cinqüenta anos e necessita-se de novas


abordagens para lidar com estes novos riscos.

Mecanismos e Arranjos Antecipados para Gerenciamento do Risco

Visto da perspectiva do gerenciamento financeiro do risco, o período de


Bretton Woods (1945-1973) apresentou alto grau de estabilidade pelas taxas
de câmbio fixas, combinando judiciosamente com o controle de capital do
lado externo, os macroeconomistas keynesianos e as posições estatais de
bem-estar do lado interno.7 A abordagem de Bretton Woods deu prioridade
às taxas de câmbio fixas e à autonomia política nacional. Os controles de ca-
pital foram uma norma aceita do sistema monetário internacional nas dé-
cadas de 1950 e 1960. Somente até setembro de 1997, o comitê interino do
Fundo Monetário Internacional concordou que os artigos de fundo do acor-
do “deveriam ser emendados para fazer a promoção da liberalização do mon-
tante de capital, um propósito específico do Fundo e para dar ao Fundo uma
jurisdição adequada sobre os movimentos de capital” (Fischer et al., p.47).8
Com as economias relativamente fechadas aos fluxos de capital, os governos
poderiam exercitar a política monetária fiscal na perseguição de objetivos
nacionais, tal como pleno emprego e igualdade social, sem medo da fuga de
capitais. Este alto grau de autonomia política também serviu à causa da de-
mocracia, particularmente na Europa ocidental.9
Na década de 1970, uma vez que os países da Europa ocidental tinham
completado a convertibilidade em moeda corrente em seus montantes de
moeda corrente, o movimento livre de capital através das fronteiras nacio-
nais começou a emergir como uma política prioritária importante. O colapso
do sistema de Bretton Woods entre 1971 e 1973, o movimento rumo a um
regime de taxa de câmbio flutuante, aumentando os preços do petróleo, a
inflação crônica e a queda global das condições econômicas intensificaram
os riscos da taxa de juros em moeda corrente nos mercados financeiros
globais. As respostas foram principalmente soluções baseadas no mercado
exemplificadas pela tendência para uma diversificação do capital interna-
cional e a rápida expansão dos mercados derivativos (a taxa de juros e a
moeda corrente para frente, opções e trocas). A política macroeconômica
nos países da OECD mudou de uma ênfase sobre o pleno emprego para
maior atenção à estabilidade macroeconômica, definida com déficits fiscais
menores e inflação e taxas de juros mais baixas.

O Gerenciamento do Risco Financeiro na Década de 1990

Na década de 1990, numerosas crises de liquidez e moeda corrente sur-


giram tanto nos países industrializados como nos em desenvolvimento: o

129
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

sistema monetário europeu durante 1992 e 1993, México entre 1994 e


1995, Ásia oriental em 1997, Federação Russa em 1998, e Brasil e Equador
em 1999. Todas estas economias emergentes de mercado experimentaram
um aumento nos fluxos de capital (do início à metade da década de 1990),
e então caíram vítimas de reveses repentinos; a Ásia oriental experimentou
reveses da ordem de 10% do PIB. A crise da década de 1990 expôs graves
fragilidades nos mercados financeiros internacionais:

• Os mercados de capitais mundiais faliram em vários níveis. Os países


tomadores de empréstimo não estavam monitorando a alta exposição
de seus bancos e corporações nacionais para o risco da moeda cor-
rente estrangeira. Agências de taxação de crédito e outros jogadores
maiores internacionais falharam em avaliar corretamente o risco do
país no ambiente financeiro globalizante na década de 1990. Os re-
guladores falharam devido às frágeis estruturas supervisoras e regu-
ladoras. Os especialistas em gerenciamento do risco financeiro
subestimaram as correlações positivas entre a qualidade do setor de
crédito privado e a qualidade do crédito soberano, e, assim, falharam
em identificar as causas do contágio nas economias de mercado
emergentes.
• Os fluxos de capital em muitos países em desenvolvimento foram
canalizados por meio de instrumentos bancários de curto prazo, de-
vido às garantias governamentais implícitas para os bancos. Muitos
participantes do mercado sucumbiram ao perigo moral nestas garan-
tias governamentais percebidas. Os padrões de crédito e os projetos
de estimativas prudentes foram freqüentemente comprometidos,
levando a superinvestimento nos setores com aumento da capacidade
ou demanda declinante. O resultado foi simultaneamente o colapso
do sistema bancário interno e crises de liquidez externas com taxas
de câmbio fixas.
• As primeiras fontes de instabilidade foram no montante do capital,
não no montante corrente, uma situação que as instituições Bretton
Woods estavam designadas a prevenir. No ambiente financeiro glo-
bal de hoje, a folha de balanço total de um país, definida por seus
bens e seus débitos e responsabilidades eqüitativas, deveria ser a
medida de sua posição de pagamentos externos.

As fragilidades refletem mudanças mais importantes no cenário finan-


ceiro global, que pode ser caracterizado pela internacionalização dos negó-
cios bancários; a quebra dos limites tradicionais entre funções financeiras e
de segurança; as novas chances de investimento nos mercados emergentes,
e as bases mais amplas dos investidores em economias de mercados emer-
gentes, tais como bancos comerciais, fundos de pensão, fundos de barreira
e indústrias de segurança. Estas mudanças criaram novas demandas sobre

130
T R A T A R C O M R I S C O S F I N A N C E I R O S G L O B A I S

o gerenciamento do risco; os governos devem empregar estratégias mais


judiciosas em níveis internacionais, institucionais (instituições financeiras
e corporativas) e nacionais.

Uma Ampla Estrutura


do Gerenciamento do Risco

Muita atividade atual no gerenciamento do risco refere-se a como


manipular melhor, mediante uma prevenção mais adequada da crise, os
riscos dos fluxos de capital para os países em desenvolvimento, e por meio
da contenção e das resoluções ordenadas quando as crises ocorrem.
Nós apresentamos uma estrutura ampla dividida em duas partes para o
gerenciamento do risco que favorece um ponto de vista moderado. Uma
estrutura reguladora adequada e instrumentos relacionados para o controle
dos fluxos de capital de curto prazo deveriam acompanhar uma abertura
ordenada dos mercados financeiros. O apoio público para a abertura deve-
ria ser mantido pela provisão governamental dos amortecedores contra
riscos, tais como redes de segurança social e redistribuições políticas bem
designadas e de custo efetivo.

Política Internacional e Reações Reguladoras

Com a memória da crise de débito da década de 1980 e sua resolução


prolongada ainda fresca, os governos implementaram imediatamente uma
política internacional e reações reguladoras para as crises de 1997-1999. Os
principais países industrializados facilitaram a política monetária, estende-
ram empréstimos de resgate a longo prazo, desenvolveram padrões inter-
nacionais de boa prática e divulgação, e estabeleceram comitês de alto nível
para fortalecer a solidez dos bancos e outras instituições financeiras (ver
Drage & Mann (1999) para mais exemplos de resolução de crise).
Em fevereiro de 1999, o G-7 (que inclui Canadá, França, Alemanha,
Itália, Japão, Reino Unido e os Estados Unidos), ministros e diretores de
bancos centrais endossaram a criação do Fórum de Estabilidade Financeira.
Na nova mesa-redonda, o G-7 reuniu autoridades monetárias nas principais
agências reguladoras e instituições multilaterais, para avaliar as vulnerabi-
lidades no sistema financeiro global e identificar reações institucionais.

Reações Institucionais

O gerenciamento do risco financeiro no nível institucional avançou de


modo significativo no fim da década de 1990. Atualmente, as instituições

131
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

financeiras e não financeiras utilizam-se das técnicas quantitativas de afe-


rição do risco, tal como valor no risco, na volatilidade em medidas beta, e
modelos de fixação de preços optativos, em razões Sharpe. Utilizando-se
desses instrumentos, as instituições financeiras têm a habilidade para aferir
de modo sistemático e controlar o risco relacionado ao mercado sob volati-
lidade normal. Além disso, a rápida expansão nos mercados derivativos de
crédito está alterando fundamentalmente os negócios bancários, fornecen-
do oportunidades para riscos de crédito comerciais. O gerenciamento do
risco no nível corporativo move-se rumo a uma abordagem de ampla com-
panhia integrada que abrange crédito, mercado e riscos de liquidez.

Reações Nacionais: Reconciliar a Integração


Financeira e a Autonomia Política Nacional

A integração nos mercados financeiros impõe uma coerção muito mais


severa na escolha da política nacional do que outros aspectos da globaliza-
ção, tais como o comércio dos bens e os serviços sobre os quais os esforços
de liberalização concentraram-se desde a Segunda Guerra Mundial. A inte-
gração dos mercados de capitais reduz a habilidade dos governos nacionais
para conduzir a política, principalmente a política macroeconômica, devido
à saída do capital de risco. Aqueles que adotam este ponto de vista, basea-
do no modelo de Robert Mundel e J. Marcus Fleming de uma macroecono-
mia aberta, contestam que os países podem atingir apenas duas das três
condições seguintes: mobilidade de capital, taxas de câmbio fixas e autono-
mia política monetária.

Redistribuição para diminuir o risco. Sociedades democráticas pre-


cisam resolver a tensão entre integração do mercado financeiro e autonomia
política nacional para perseguir suas metas sociais e econômicas definidas
de forma democrática. Esta tensão relaciona-se com a habilidade dos gover-
nos nacionais para regular impostos para objetivos redistributivos e divisão
do risco enquanto seguem a disciplina necessária em um cenário global. Em
um mundo de alta mobilidade internacional do capital, sociedades demo-
cráticas abertas devem equilibrar a ameaça da saída do capital tornada mais
fácil pelos mercados abertos de capital, com demandas políticas pela inter-
venção e pela voz governamental, pelas deslocações de amortecedores do
mercado. Investidores descontentes com as políticas dos países anfitriões
ou com o clima de investimento prevalente consideram fácil mudar os
recursos financeiros para outros países e regiões com uma subseqüente dis-
tribuição desproporcional dos custos nascidos por fatores menos móveis da
produção, ou seja, trabalho e terra. Logo, a motivação para a redistribuição
como segurança de renda – distinta do altruísmo e outros motivos rela-
cionados com a redução da pobreza – é induzida pela volatilidade e insegu-

132
T R A T A R C O M R I S C O S F I N A N C E I R O S G L O B A I S

rança em condições econômicas subjacentes e quando os cidadãos são aves-


sos ao risco. O risco da saída de capital intensifica a insegurança econômi-
ca e o risco para uma grande parte da sociedade. Porque é mais provável que
os ricos sejam beneficiados relativamente a partir da liberalização do mer-
cado de capitais, pelo menos de início, enquanto os pobres podem suportar
os custos, a dimensão política da liberalização do mercado de capital requer
uma atenção cuidadosa.

Gastos do setor social, abertura e liberdade política. O contrapeso


para a ameaça da saída de capital é a voz política de cidadãos que exigem
proteção contra os riscos externos por meio da redistribuição, da segurança
social, dos programas de rede e de outras medidas de segurança.10 Na ausên-
cia de um mercado para tal segurança de risco, os cidadãos nacionais irão
estruturar instituições não mercadológicas para reduzir as perdas de bem-
estar decorrentes da volatilidade nas condições econômicas. Logo, nesta
interpretação, a voz pertence à esfera política e a forma como ela é exercida
constitui uma função das instituições políticas subjacentes e, em particular,
a força da democracia e o grau correspondente de liberdades civis e políti-
cas: quanto mais alto o grau de democracia, maior a necessidade de equili-
brar a ameaça da fuga de capital com exigências políticas, o que inclui incen-
tivos políticos para aumentar a intervenção governamental, amortecendo o
deslocamento do mercado. É justo dizer que a voz política dos cidadãos que
exigem proteção, mediante redistribuição, redes de segurança social e ou-
tras medidas de cunho securitário, tem sido crítica ao facilitar a tensão entre
políticos e abertura financeira dos países da OECD. O gasto governamental
com saúde, educação, segurança social e bem-estar em países de alta renda
entre 1991 e 1997 atingiu a média aproximada de 25% do PIB, para os
que gastaram relativamente menos, os países europeus abertos como
Dinamarca, Noruega e Suécia gastando até 30%.11 Existe uma associação
positiva entre redistribuição, abertura financeira e liberdade política e civil
para uma ampla amostra de países (Tabela 5.2). A análise estatística con-
firma que a abertura financeira, democracia (como definida pelas liberdades
políticas e civis)12 e o gasto social do governo vão em conjunto (Tabela 5.3,
Figuras 5.4, 5.5 e 5.6).
Ainda assim, porque a redistribuição freqüentemente precisa ser finan-
ciada pelos impostos discricionários, os agentes de política precisam avaliar
os custos macroeconômicos e fiscais associados.
Quase todas as democracias modernas avançadas estão abertas aos mo-
vimentos de capital internacional. O relacionamento entre abertura finan-
ceira e democracia parece ser principalmente uma função de renda per capi-
ta: com poucas exceções, os países ricos têm governos democráticos e estão
abertos ao movimento de capital internacional porque possuem um alto
grau de desenvolvimento do setor financeiro e desfrutam de estabilidade
macroeconômica, expectativas estáveis de mudança prática de regime, regra

133
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Tabela 5.2 – Países Agrupados pela Abertura Financeira


Categoria Aberto Amplamente aberto Amplamente fechado Fechado

a
1 Índice de democracia 0,81 0,71 0,63 0,48
2 Liberdades civis b 2,28 3,30 3,38 4,55
3 PIB per capita, 1990-1997 13.147 3.051 2.317 1.557
4 Gastos sociais (% do PIB) c 22,30 23,50 12,50 6,70
5 Gastos totais do governo (% do PIB)d 26,00 19,90 23,40 27,70
6 Consumo geral do governo (% do PIB)e 16,10 17,90 15,50 14,70
Número de países 46 10 34 11

Nota: A tabela dispõe as médias de grupo computadas pelos países com dados. Definição de variáveis:
a. Abarca de 0 (mais baixo) a 1 (mais alto), calculado com base nos índices de direitos políticos e liberdades civis (ver a nota final 11 para detalhes).
b. Uma medida de respeito e proteção dos direitos dos cidadãos de um país, religiosos, étnicos, econômicos, lingüísticos e outros, inclusive gênero e direitos
familiares, liberdades individuais e liberdade de imprensa, crença e associação.
c. A soma de saúde, educação e segurança social e bem-estar; média 1991-1997.
d. A média dos montantes orçamentários e do governo central mais governo provincial ou estatal, 1990-1997.
e. Todos os gastos correntes para o consumo de bens e serviços em todos os níveis do governo, excluindo a maioria das empresas governamentais, 1990-1997.
Fonte: Anexo 5.

Tabela 5.3 – Resultados Estimados do Modelo Lógico Binomial Sobre a Probabilidade


dos Países Pertencerem a Altas Categorias de Abertura Financeira

Variável independente Coeficiente Margem de erro Efeito marginal a

Constante -11,234** 2,7500 -2,0296


Registro (razão de gasto social do PIB) 1,534* 0,6146 0,2772
Registro do PIB per capita 0,795* 0,3156 0,1436
Número real de países no grupo-alvo 28
Número previsto de países no grupo-alvob 20
Número atual de países em outros grupos 39
Número previsto de países em outros grupos 32
Registro de probabilidades -27,744

* p 0,05.
** p 0,01.
Nota: A variável dependente recebe o código 1 se o país cair na abertura financeira, alta democracia, e 0 se for de outro modo.
a. Mudança marginal na probabilidade de resultados de uma mudança infinitesimal na variável explicativa.
b. Grupo-alvo refere-se a países com alto nível de direitos políticos e alta abertura financeira.
Fonte: Anexo 5.

interna de direito e instituições estáveis que garantem as liberdades políti-


cas e civis (para uma discussão mais detalhada do laço entre democracia e
abertura financeira, ver Dailami, 2000).
Contudo, o elo entre democracia e abertura financeira prova ser mais
complexo; a análise revela que mais do que apenas a renda influencia este
elo. A coordenação na política internacional, na regulação financeira e
política macroeconômica e na supervisão é parte da resposta. Tem sido fun-
damental na redução dos desequilíbrios de pagamento, na estabilização das

134
T R A T A R C O M R I S C O S F I N A N C E I R O S G L O B A I S

Transferências e gasto social facilitam a tensão entre a abertura financeira


e a política
Figura 5.4 – Relacionamentos Entre Abertura Financeira e Democrática, Mobilidade
de Capital e Gastos Sociais do Governo

Democracia Abertura financeira


r=0,45

r=0,47 r=0,53

r=0,70 r=0,32

r=0,58

Gastos sociais Transferências


do governo (porcentagem do PIB)
(porcentagem do PIB)

Nota: Os dados através do país, com amostras abrangendo de 70 para 140, mostram resultados significativos do ponto de vista estatístico a 1% (exceção para a
correlação entre transferências e abertura financeira que é significativa a 5% para todos os relacionamentos).
Fonte: Anexo 5 (Tabela A5.5).

Figura 5.5 – Relacionamento Entre Abertura Financeira e Gastos Sociais


(Controle de renda per capita)

Índice de abertura finaneira

2,0

1,8

1,6

1,4

1,2

1,0

0,5 1,5 2,5 3,5 4,5

Registro (razão de gastos sociais como uma porcentagem do PIB)


Nota: y = 0,17x + 1,17.
R2 = 0,32.
Fonte: Ver Anexo 5 para descrição dos dados.

135
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Figura 5.6 – Classificação por País: Direitos Políticos e Abertura Financeira

Abertura financeira

Baixo Alto

Baixo 23 9

Democracia

Alto 32 37

Nota: O nível de democracia deriva-se dos índices de direitos políticos e liberdades civis desde o estudo da Freedom House no Freedom in the World. O nível da
abertura financeira é definido por um score de mais de 1,6 no índice de abertura financeira (ver Tabela A5.2 no Anexo 5).
Fonte: Cálculos dos autores.

expectativas para a moeda corrente e movimentos das taxas de juros, e em


minorar a volatilidade dos fluxos de capitais alfandegários. A coordenação
da regulamentação bancária internacional em países industrializados, tais
como o Basel Capital Accord (1992) e o subseqüente Core Principles for
Effective Banking Supervision, também foi fator significativo ao promover a
estabilidade econômica para as democracias OECD.13
Análises empíricas das classificações dos países ao longo dos dois eixos
da democracia e abertura financeira sustentam o ponto de vista que a dis-
tribuição política contribui para as democracias e abre mercados (Figura 5.6
e Tabela 5.3). Utilizando a análise logit pode-se demonstrar que a renda per
capita e a razão dos gastos sociais para o PIB estão estatisticamente rela-
cionados com a probabilidade de que um país será aberto tanto democráti-
ca quanto financeiramente (ver Anexo 5 para o modelo de especificação e
estimativa, e Dailami (2000) para uma análise mais detalhada). Depois do
controle para a renda na análise, a política redistributiva, que inclui progra-
mas para o gasto público com a segurança social, saúde, moradia, bem-
estar, educação e transferências, figura em lugar proeminente na ligação
entre democracia e abertura financeira.

Controles de Capital como Instrumento de Gerenciamento do


Risco. Os controles de capital podem ser empregados como uma abor-
dagem alternativa para resolver a tensão entre integração do mercado de
capital e autonomia política nacional. O interesse nesta abordagem foi
remodelado pelas crises financeiras na Ásia e América Latina nos anos de
1997-1999. Os controles de capital, particularmente nos fluxos de curto

136
T R A T A R C O M R I S C O S F I N A N C E I R O S G L O B A I S

prazo, são desejáveis para reduzir a volatilidade sob algumas circunstâncias,


tais como fragilidade nos mercados financeiros locais, comportamento
eufórico ou pânico pelos investidores estrangeiros, e equilíbrio estrutural
dos problemas de pagamentos.
Muitas intervenções políticas estão disponíveis para gerenciar os fluxos
de capital, inclusive impostos e instrumentos baseados no mercado, como
facilidade de liquidez contingente e pedidos de saque remunerado ou não
remunerado nos fluxos de risco a curto prazo. A Argentina e o México têm
utilizado um contingente de facilidades de liquidez e pedidos de liquidez
remunerada para os bancos, e o Chile utilizou pedidos de saque não remu-
neráveis e afluência de capital de risco a curto prazo entre 1991 e 1998.
Os controles sobre o capital de curto prazo no Chile atraíram inte-
resses consideráveis, em parte porque são baseados no mercado, trans-
parentes e mais fáceis de parar gradualmente do que os controles quanti-
tativos (Quadro 5.2). Os controles foram efetivos na mudança da compo-
sição da dívida pela redução das afluências de capital de curto prazo
enquanto aumentavam os fluxos de capital a longo prazo e abriam um
espaço maior entre as taxas de juros externos e internos. As medidas, con-
tracíclicas, foram impostas em 1991 depois de uma maré de crescimento

Quadro 5.2 – Chile: Abertura, Controles de Capital e Proteção Social

Com o restabelecimento da democracia em 1990, o Chile impôs um pedido de saque não remunerado
Chile perseguiu uma estratégia explícita de cresci- sobre afluências seletivas. Ao mesmo tempo, o gover-
mento com eqüidade, mantendo uma estrutura po- no levantou controles administrativos severos sobre
lítica orientada para o mercado ao mesmo tempo que os defluxos, inclusive nos tetos de tomadas de bens
mantinha uma estrutura política orientada para o estrangeiros pelos bancos, companhias de seguro e
mercado. O governo assumiu muitas medidas para fundos de pensão e o pedido de que os exportadores
gerenciamento do risco em um comércio aberto e entregassem seus procedimentos de exportação para
regime de investimentos. o Banco Central. O pedido de saque não remunerado
Os investimentos sociais do Chile foram extrema- aumentou o escopo para uma política monetária inde-
mente lentos no final da década de 1980. Não medi- pendente. O pedido de saque contribuiu para mudar a
ram os níveis de gastos dos regimes pré-militares. composição dos defluxos em rumo aos vencimentos a
Contudo, desde 1990 o Chile implantou um sistema longo prazo. Contudo, a queda nos fluxos a curto
altamente direcionado de assistência social nas áreas prazo foi apenas parcialmente compensada pelo
como saúde, educação e habitação. Utilizou-se tam- aumento das afluências de longo prazo. O pedido de
bém de transferências de renda para melhorar as con- saque não parece ter afetado o padrão das taxas de
dições afetas ao capital humano. Os investimentos so- câmbio reais: aumentar as taxas de juros a curto pra-
ciais aumentaram para 75% entre 1987 e 1994, o que zo, contudo, afetou adversamente o investimento que
contribuiu positivamente para a redução da pobreza. contribuiu diretamente para isso. Além do mais, en-
Em reação à rápida expansão das afluências de capi- volveu custos de transação na monitoração dos ban-
tal entre 1988 e 1990, em 1991 o Banco Central do cos comerciais.

Fontes: Ferreira & Litchfield (1999); Gallego et al. (1999); World Bank (1997b). Ver também Ariyoshi et al. (1999) e Edwards (1999) para uma visão
geral das experiências do país sobre os controles de capital.

137
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

das afluências de capital, entre 1988 e 1990, e cessadas gradualmente em


setembro de 1998, quando não eram mais necessárias durante as crises
financeiras globais.

Conclusões

Os países defrontaram-se com dois desafios ao integrar seus mercados


de capitais. O primeiro diz respeito ao andamento em que os países des-
mantelam os controles administrativos sobre os fluxos de capital e movem-
se em direção à convertibilidade do montante do capital. O segundo refere-
se ao sistema de incentivo e regulamentação dos fluxos financeiros interna-
cionais para minimizar riscos e pânicos. Os países necessitavam de meca-
nismos apropriados para equilibrar tanto os benefícios como os riscos da
integração financeira. Os avanços tecnológicos e o simples tamanho dos
mercados financeiros tornam o risco do pânico e da crise sempre presente.
Contudo, os governos têm várias opções para reduzir significativamente
esse risco.
Perseguir políticas macroeconômicas sólidas é um primeiro passo óbvio,
mas não o suficiente. A experiência recente mostra que a estabilidade ma-
croeconômica não é suficiente para garantir resultados duradouros e cresci-
mento sustentável. Para garantir o crescimento sustentável, deve ser refor-
çada por ações que removam políticas distorcivas que fornecem incentivos
para as afluências de capital estrangeiro de curto prazo, que poderiam levar
a uma vulnerabilidade financeira elevada. A regulamentação interna e a
supervisão dos bancos e outros intermediários precisam ser aumentadas e
melhorada a governabilidade corporativa.
Com o movimento em direção à democracia pelo mundo afora, os me-
canismos para prover os cidadãos com segurança contra os riscos da mo-
bilidade de capital, tanto por meio da praça do mercado como de políticas
redistributivas, são igualmente importantes se a pressão política pelo con-
trole de capital deve ser evitada. A longo prazo, a globalização do capital
requer uma estrutura institucional aberta para garantir montantes trans-
parentes, direitos de propriedade seguros e licenças para contratos im-
positivos, regulamentos e mecanismos para gerenciar os riscos. Estabele-
cendo uma tal estrutura, será assegurado que os mercados financeiros
abertos irão contribuir completamente para o crescimento estável e a re-
dução da pobreza.
O notável confronto econômico nos países atingidos pela crise durante
os meses passados, reforçados por medidas já tomadas no nível interna-
cional para fortalecer a arquitetura dos mercados financeiros internacionais,
fizeram bom agouro para os prospectos de maior estabilidade financeira e
comprometimento coletivo com um sistema financeiro internacional aberto
e liberal no novo milênio.

138
T R A T A R C O M R I S C O S F I N A N C E I R O S G L O B A I S

Notas

1. Uma grande parte da bibliografia desenvolveu-se nos últimos poucos anos discutindo causas
e conseqüências das recentes crises financeiras nas economias de mercado emergente. Ver
Calvo & Mendoza (1996); Corsetti et al. (1998); Krugman (1998); Obstfeld (1996); Radelet
& Sachs (1998); e Sachs Tornell & Velasco (1996). Sobre as causas da volatilidade do fluxo
do capital, ver Dooley (1996); López-Mejia (1999); Montiel (1998); e World Bank (1997f).

2. De uma perspectiva histórica, a globalização das finanças na década de 1990 é equivalente ao


nível atingido durante o período do padrão-ouro de 1870-1914. Contudo, durante o padrão-
ouro, apenas uns poucos países industrializados estavam envolvidos com os fluxos de capi-
tal (ver Verdier, 1998).

3. O perigo moral é um conceito-chave na economia da informação assimétrica. Ele ocorre


quando os atores econômicos cobertos por alguma forma de segurança assumem mais riscos
do que poderiam tomar se não fosse assim. Exemplos típicos incluem um motorista segura-
do que dirige imprudentemente, ou um banqueiro não segurado envolvendo-se com práticas
de empréstimo imprudentes.

4. Ver também Helleiner (1994) para um cômputo de como em 1974 os Estados Unidos le-
vantaram as restrições temporárias de capital na metade da década de 1960.

5. Os mercados fornecerão margem de segurança apenas se os emprestadores perceberem que


os países estão fazendo ajustes que fundamentalmente se direcionam para os desequilíbrios
prospectivos e existentes. De outro modo, os mercados irão eventualmente exercer uma
disciplina que pode encurtar brutalmente o tempo permitido ao reajuste (Dailami & Ul
Haque, 1998).

6. Veja, por exemplo, Diwan (1999); Krongkaew (1999); Levinsohn, Berry & Friedman (1999);
Lustig (1999).

7. Esta mistura política é mencionada por Ruggie (1983) como “um compromisso do liberalis-
mo embutido”. Ele conota um comprometimento com uma ordem liberal diferente tanto da
economia nacionalista dos anos 30 como do liberalismo do padrão-ouro. Para elaboração
posterior, ver Garrett (1998). Sally (1998) também referiu-se ao liberalismo não encaixado
como “sistema de pensamento misto”. Ver também Dailami (2000).

8. Refletindo a compreensão do tempo, Keynes expressou sucintamente a questão em seu fre-


qüentemente citado discurso nº 1944 ao Parlamento, afirmando: “Não meramente como uma
característica da transição, mas como um arranjo permanente, o plano outorga a todo membro
do governo o direito explícito de controlar todos os movimentos de capital. O que costumava
parecer uma heresia agora é aceito como ortodoxo ... Segue-se que nosso direito a controlar o
mercado interno de capital é assegurado em fundações mais firmes que nunca e é formalmente
aceito como uma parte dos Acordos Internacionais ajustados” (Gold, 1977, p.11).

139
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

9. Contudo, na era de Bretton Woods havia um equilíbrio periódico de crises de pagamento,


desvalorização da taxa cambial e episódios de crescimento intermitentes.

10. A idéia da distribuição como segurança tem uma longa tradição nas economias de bem-estar
que remontam a Harsanyi (1953), Lerner (1944) e Rawls (1971). Mais recentemente, esta
questão foi analisada da perspectiva da economia política constitucional (ver Mueller, 1998;
Wessels, 1993).

11. Focalizando a globalização por meio do comércio, Rodrik (1997b) também enfatizou o rela-
cionamento entre redistribuição e abertura.

12. De modo mais preciso, uma medida da democracia, de acordo com a bibliografia recente
explorando o papel da democracia sobre o crescimento econômico, níveis de renda e salários,
define a democracia como um índice compósito e delineado sobre a Freedom House de
política e liberdade civil; ou seja:

14 – direitos civis – direitos políticos


Democracia =
12

O índice será definido a partir de 0 a 1, com 0 indicando baixa democracia e 1 indicando alta
democracia. Os índices de liberdade política e civil são do Comparative Survey of Freedom que
a Freedom House forneceu sobre uma base anual desde 1973.

13. Ver Bryant & Hodgkinson (1989) e Webb (1994) para uma discussão da Coordenação
Política Internacional em ternos macroeconômicos e Kapstein (1989) para a informação
sobre a coordenação internacional da regulamentação bancária. Para leituras seletivas na
volumosa bibliografia sobre a necessidade de melhor regulamentação e supervisão, ver
Alba et al. (1998); Caprio & Honohan (1999); Claessens, Djankov & Klingebiel (1999); e
Stiglitz (1993).

140
C A P Í T U L O 6

GOVERNO E
ANTICORRUPÇÃO
Assim como é impossível não experimentar o mel ou o veneno que se pode
encontrar na ponta da língua de alguém, também é impossível para aquele que
lide com fundos governamentais não experimentar pelo menos um bocadinho
da riqueza do rei.
— Kautilya, The Arthashastra

E scrito na Índia antiga há mais de dois mil anos, Arthashastra é


a visão detalhada de uma sociedade que tece em conjunto as
variáveis socioeconômicas, institucionais e políticas. Nos es-
critos contemporâneos sobre desenvolvimento, notáveis como
Hirschmann, Myrdal, Coase, Stiglitz, North, Olson e Williamson fornece-
ram uma visão ampla da interação das variáveis econômicas institucionais
e convencionais. Em anos mais recentes, tem-se dado crescente atenção à
corrupção, começando por Rose Ackerman e Klitgaard, em certa medida
devido à consciência crescente de suas horríveis conseqüências para o
desenvolvimento. Contudo, a maior parte do trabalho* sobre desenvolvi-
mento contemporâneo tem subestimado a primazia do governo, definido
amplamente, para o crescimento e o desenvolvimento. Falta muito fre-

* O trabalho, neste capítulo, aproveita-se de um número de iniciativas de colaboração entre o autor do capítulo e
a equipe do World Bank sobre as questões de governo, inclusive Aart Kraay, Sanjay Pradhan, Randi Ryterman,
Pablo Zoido, assim como a colaboração com Joel Hellman e Girainet Jones, no Banco Europeu para Reconstrução
e Desenvolvimento, e Luis Moreno Ocampo da Transparência Internacional, e das entradas da equipe do Instituto
sobre o governo do Banco Mundial e o grupo do setor privado do banco. Os dados utilizados neste capítulo origi-
nam-se de vários projetos de pesquisa e estudos (assim como de agências de especialistas sobre impostos exter-
nos) e estão sujeitos a margem de erro. Seu objetivo não é o de apresentar classificações objetivas através do país,
mas ilustrar as características do desempenho do governo. Daí não se pretender nenhuma classificação dos países,
nem pelo autor do capítulo, do Banco Mundial, ou sua equipe de diretores. Para detalhes posteriores de “desvela-
mento” empírico do governo e da corrupção, os dados e as questões metodológicas, ver Anexo 6 e visitar o site
http://www.worldbank.org/wbi/governance.

141
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

qüentemente o reconhecimento de que um governo efetivo e transparente,


operando dentro de uma estrutura de liberdades civis e bom governo, é
fundamental para ganhos de bem-estar sustentados e mitigação da
pobreza. Falta também uma visão integrada de governo e corrupção. De
fato, a corrupção deveria ser encarada como um sintoma da fragilidade fun-
damental do Estado, não como uma determinante básica ou ímpar dos
males da sociedade.
Este capítulo não apresenta uma abordagem abrangente ao estudo do
governo e da corrupção. Em vez disso, dissecamos as noções de governo –
e de corrupção e arrecadação do Estado – e apresentamos aspectos rele-
vantes ao crescimento e desenvolvimento das nações para extrair idéias e
estratégias que permitam melhorar o governo. Faltam-nos muitas res-
postas, as lições emergentes do sucesso e do fracasso estão sendo filtradas.
Contudo, têm sido feitos progressos no entendimento conceitual, empírico
e prático destas questões. Alguns desses progressos pertencem à agudeza
e ao “desvelamento” das noções de medidas de governo e corrupção. Es-
te desvelamento permite entender de maneira mais clara as causas e con-
seqüências do mau governo, ajudando a fornecer melhor aconselhamen-
to político.

O Governo Afeta a Qualidade do Crescimento

A evidência pelo mundo afora sugere que um Estado capacitado com


instituições governamentais boas e transparentes está associado ao alto
crescimento da renda, saúde nacional e realizações sociais. Rendas mais
altas, investimento e crescimento, assim como uma maior expectativa de
vida, encontram-se em países com instituições governamentais efetivas,
honestas e meritocráticas, com aerodinâmica e regulamentações claras, e
também onde o papel do direito é aplicado de maneira justa, onde as políti-
cas e a estrutura legal não foram tomadas pelos investimentos de capital da
elite, e onde a sociedade civil e a mídia têm voz independente acentuando
a responsabilidade de seus governos. A experiência histórica e interna-
cional também nos ensina que um governo honesto e capacitado não
requer em primeiro lugar que o país se torne totalmente modernizado e
rico. A experiência de países em via de industrialização, como Botswana,
Chile, Costa Rica, Estônia, Polônia e Eslovênia, assim como a evidência
sobre ao últimos vinte anos das economias de Cingapura e Espanha, exem-
plificam esta lição.
Os capítulos anteriores enfatizavam a necessidade de política, regula-
mentações em recursos públicos para promover desenvolvimento orientado
para o mercado e para mitigar os impactos negativos das externalidades e
falências de mercado. Com ênfase na pobreza e na distribuição de renda,
eles analisaram aqueles fatores que afetam adversamente o capital humano

142
G O V E R N O E A N T I C O R R U P Ç Ã O

e o meio ambiente. Um papel-chave para o Estado consiste na entrega de


serviços públicos e bens vitais para realizar um crescimento sustentado e
reduzir, assim, a pobreza. Também, os governos precisam estabelecer estru-
turas de fazer política, políticas de boas condições de mercado e estruturas
reguladoras eficientes e aerodinâmicas, assim como eliminar as regulamen-
tações desnecessárias sobre as empresas, tais como controle de preços, res-
trições comerciais, alvarás para as empresas e os entraves burocráticos.
Contudo, freqüentemente o governo tem dado atenção insuficiente às
regulamentações governamentais referentes ao trabalho infantil, segurança
do trabalhador, monopólios infra-estruturais, supervisão do setor finan-
ceiro e meio ambiente. Além disso, em muitos cenários houve uma tendên-
cia quanto ao tamanho, composição e entrega dos gastos públicos e inves-
timentos para beneficiar os interesses das elites, freqüentemente resultan-
do em subinvestimento no capital humano e nos resultados que atingem
os pobres. Esses interesses da elite, freqüentemente também conduzem à
captação de políticas legal e reguladora. O estudo do governo e da cons-
trução inadequada de uma instituição é essencial para que se entendam
estes resultados.
Um processo político determina as políticas públicas e a alocação dos
benefícios e gastos públicos. Seu sucesso depende de um governo respon-
sável, da participação da comunidade, e de uma voz forte para o povo e as
empresas competitivas. A adoção efetiva e o uso de políticas e gastos reque-
rem um bom governo. As empresas precisam operar dentro de uma estru-
tura contratual e legal que proteja os direitos de propriedade e facilite as
transações, que detenha as tentativas das empresas da elite de capturar o
Estado e permita que as forças de mercado competitivas determinem os
preços e salários, e que as empresas entrem e saiam do mercado. O setor
público pode fazer muito para baixar os custos das transações para fazendas
e empresas, sustentando-as com informação e instituições e exterminando
o mau governo e a corrupção.

Definir e Desvelar Corrupção e Governo

A corrupção é comumente definida como o abuso da administração


pública com fins de ganhos privados. Os debates sobre se determinadas
atividades podem ser classificadas como corruptas ou não, e a necessidade
de desvelar a corrupção, os exemplos vividos no cotidiano na imprensa e
nas conversas, circunscrevem a discussão do que constitui a corrupção.
Contudo, governo é um conceito mais amplo que corrupção. Definimos
governo como o exercício da autoridade mediante tradições e instituições
formais e informais para o bem comum. Governo engloba o processo de
seleção, monitoração e substituição dos governos. Também inclui a capaci-
dade de formular e implementar políticas sólidas e o respeito dos cidadãos

143
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

para com o Estado pelas instituições que governam as interações econômi-


cas e sociais entre eles.
A partir desta noção, podemos dividir o governo em seis componentes,
organizados em torno de três categorias amplas como se segue: (a) voz e
responsabilidade, que incluem liberdades civis, liberdade de imprensa e
estabilidade política; (b) eficácia governamental, que inclui a qualidade dos
agentes de política e entrega do serviço público, e a falta de ônus regulador;
e (c) regra de direito, que inclui a proteção dos direitos de propriedade e
independência do judiciário e controle da corrupção (Kaufmann; Kraay et
al., 1999a, b).
Todavia, no desvelamento do governo, colocamos que a corrupção é um
entre os seis componentes bem entrelaçados do governo. Governo afeta o
bem-estar e a qualidade de vida mediante canais diretos e indiretos com-
plexos que ainda não entendemos completamente. Uma melhoria em um
componente do governo, tal como as liberdades civis, sublinha diretamente
a qualidade de vida para o povo de um país, mesmo quando todos os outros
fatores socioeconômicos permaneçam constantes. Logo, o governo pode ser
uma entrada direta no bem-estar da população.
Contudo, efeitos indiretos importantes também estão em jogo. Por exem-
plo, o desgoverno pode atingir a taxa de crescimento das rendas e do capi-
tal humano, e aumentar a taxa de esgotamento dos recursos naturais – fre-
qüentemente, os resultados do capital investido dos políticos e da elite.
Além do mais, Estados mal governados tendem a exibir um conjunto dis-
torcido das políticas econômicas e institucionais que faz decrescer o fator de
produtividade, crescimento e diminuição da pobreza. Contudo, por meio
dos mecanismos diretos e indiretos, um governo eficiente e claro é vital
para a implementação e a sustentação de políticas institucionais e econômi-
cas sólidas e para promover o desenvolvimento do capital humano e a
diminuição da pobreza.

As Medidas Empíricas de Governo

Estudos empíricos recentes sugerem a importância das instituições do


governo para resultados de desenvolvimento. Knack & Keefer (1997)
descobriram que o ambiente institucional para a atividade econômica deter-
mina, em larga medida, a habilidade dos países pobres para convergir para
os padrões dos países industrializados. Por sua vez, La Porta et al. (1999)
estudaram as determinantes da qualidade de governos, entre outras coisas,
e descobriram que o tipo dos regimes legais importa tanto quanto outros
fatores históricos.
A definição de governo, como apresentada na parte anterior, é ampla o
suficiente para que uma larga variedade de indicadores através do país possa
lançar luz sobre seus vários aspectos. Aplicando uma definição ampla como

144
G O V E R N O E A N T I C O R R U P Ç Ã O

esta, Kaufmann, Kraay e Zoido-Lobatón analisaram centenas de indicadores


pelo país como substitutos para vários aspectos de governo. Estes indi-
cadores originaram-se de uma variedade de organizações, inclusive agência
de taxa de risco comercial, organizações multilaterais, uma “fábrica de cére-
bros”,* e outras organizações não governamentais (ONGs). São baseados
em estudos de especialistas, empresas e cidadãos e cobrem um amplo es-
pectro de tópicos: as percepções da estabilidade política, o clima de negó-
cios, os pontos de vista sobre a eficácia da provisão do serviço público, as
opiniões a respeito da regra do direito e um relato sobre a incidência de cor-
rupção.1 (Ver Anexo 6 para uma descrição da metodologia de Kaufmann,
Kraay e Zoido-Lobatón.)
As reações céticas levantaram-se naturalmente a respeito dos dados
sobre a riqueza no governo. Seriam dados informativos? O que podem os
analistas de negócios de Wall Street possivelmente saber sobre a corrupção
no Azerbaijão, em Camarões, na Moldávia, em Myanmar ou na Nigéria?
Seriam coerentes os dados? Será que as taxas relatadas pelas empresas
sobre pressões dos servidores civis e seus tempos de espera pela liberação
alfandegária contam-nos alguma coisa sobre a eficácia do governo em geral
ou medem totalmente coisas diferentes? Serão comparáveis os dados? Será
que a contagem de três (entre quatro) nas economias de transição pode ser
comparada com uma contagem de sete (entre dez) nos países asiáticos?
Além disso, de acordo com estes critérios, será que os dados podem ser
úteis para uma análise econométrica rigorosa da corrupção ou para obje-
tivos de aconselhamento político?
Essas questões, levantadas detalhadamente nas duas referências e no
Anexo 6, motivaram a estratégia empírica para medir o governo: os dados
estão mapeados para os seis subcomponentes do governo e expressos em
unidades comuns. Os dados são informativos, dentro de limites mensu-
ráveis, mas a imprecisão nas estimativas requer cuidados em sua apresen-
tação e utilização para aconselhamento político. Estes seis indicadores dis-
tintos que agregam o governo são assim desenvolvidos, impondo alguma
estrutura sobre variáveis disponíveis e melhorando a confiabilidade do com-
ponente governamental mensurado, o que significativamente excede a pre-
cisão de qualquer medida governamental única.
Por exemplo, consideramos em primeiro lugar as questões de aferição
para um dos seis componentes compostos do governo: regra de direito. Na
Figura 6.1, a barra vertical descreve intervalos de confiança específica do
país para a estimativa dos níveis de governo (“ponto estimativo”). Os inter-
valos de confiança (linhas verticais) refletem o desacordo, ou margem de
erro (entre as fontes individuais originais fornecidas pelas várias organiza-
ções externas) sobre a aplicação da regra de direito.2

* Think tanks, no original, ou seja, grupo organizado, no governo ou nos negócios, para fazer pesquisa intensiva e
resolver problemas, especialmente com o auxílio de computadores e equipamentos sofisticados. (N. E.)

145
A
146

Figura 6.1 – Qualidade do Indicador da Regra de Direito: A Abordagem Apresentacional dos “Sinais de Tráfego”

Q U A L I D A D E
Regra de direito

Sinal verde
Sinal vermelho Sinal amarelo
Noruega
Estados Unidos

Bom
Jordânia
Botswana

D O
Suíça
Filipinas
Canadá
Papua-Nova Guiné
Reino Unido

C R E S C I M E N T O
Cazaquistão
Benin

Chile
Bangladesh

Libéria
Hungria
Polônia

Haiti
Grécia

Senegal

Fraco
Myanmar

Belarus

Guatemala
Turcomenistão

Iraque

Frágil regra de direito 156 países Boa regra de direito

Nota: Esta figura mostra as estimativas da qualidade na aplicação da regra de direito para 166 países, baseadas em dados de 1997-1998, com países selecionados indicados unicamente com objetivos ilus-
trativos. As barras verticais mostram o escopo provável dos indicadores do governo para cada país, e os pontos intermediários destas barras indicam um valor mais provável. A extensão desses escopos
varia com a quantidade de informações disponíveis para cada país e na medida em que percepções das diferentes fontes de corrupção coincidam. Países com barras verticais sólidas (na área do sinal ver-
melho) ou nas barras verticais verde-escuras (na área do sinal verde) são aqueles para os quais o indicador do governo é estatisticamente significativo tanto no terceiro abaixo (sinal correto) ou no ter-
ceiro acima (sinal verde) de todos os países. Países com barras verticais sinal verde (na área de sinal amarelo) não incidem em nenhum dos grupos anteriores. Logo, nenhuma classificação precisa pode
ser realizada. As taxações do país de nenhum modo refletem os pontos de vista oficiais do Banco Mundial.
Fontes: Kaufmann et al. (1999a, b). Para maiores detalhes, incluindo dados gerais e metodologia, consultar http://www.worldbank.org/wbi/governance. Para uma síntese do documento, ver Kaufmann et
al. (2000) em http://www.imf.org/fandd.
G O V E R N O E A N T I C O R R U P Ç Ã O

As diferenças entre mais de 160 países são amplas para a regra de di-
reito, tanto quanto para as outras cinco medidas. Os países são ordenados
ao longo do eixo horizontal, de acordo com suas (admitidamente impre-
cisas) classificações, enquanto o eixo vertical indica as estimativas de go-
verno para cada país; as margens de erro para cada país descritas na linha
vertical fina pode ser considerável. Logo, é enganoso ter países que “cor-
rem” pelo mundo todo, de modo semelhante a precisas “corridas de cava-
lo”, para verificar sua classificação em vários indicadores governamentais.
Em vez disso, a abordagem seguinte que agrupa os países dentro de três ca-
tegorias amplas, semelhante a sinais de tráfego para cada dimensão gover-
namental, é mais apropriada e estatisticamente garantida:

• Sinal vermelho: Países nesta categoria poderiam ser considerados


como estando numa crise de governo naquele componente particular.
De fato, apesar das margens de erro nos dados disponíveis, é ainda o
caso em que um grupo de aproximadamente trinta a quarenta países
exibe uma probabilidade extremamente alta de estar em crise onde a
regra do direito (ou das outras medidas de governo) foi avaliada.
• Sinal amarelo: Os países estão vulneráveis ou em risco de cair em uma
crise governamental num componente governamental específico.
• Sinal verde: os países têm melhor governo e não estão em risco.

Ao mover-se para longe do falso sentido de precisão, comum nos


índices que classificam internacionalmente os países (que estão sujeitos a
consideráveis margens de erro), esta abordagem alternativa de amplos
agrupamentos categóricos sinaliza vulnerabilidades onde um país cai para
grupos de sinal verde ou de sinal amarelo. Para outro componente gover-
namental, neste caso aferindo o controle de corrupção (também baseado
nos dados do fim da década de 1990), os países selecionados são apresen-
tados com tal estrutura ilustrativa de sinais de tráfego na Figura 6.2.

Efeitos de Governo

Os dados através do país indicam uma simples e significativa correlação


entre o governo e os resultados socioeconômicos. Para explorar o efeito do
governo sobre as variáveis socioeconômicas, estimamos dois estágios de pe-
quenos quadrados de regressão da variável socioeconômica (por exemplo,
renda per capita) num componente governamental constante e assim por dian-
te, utilizando indicadores históricos como instrumentos (de acordo com a
abordagem de Hall & Jones, 1999). De acordo com tal abordagem, interesses
quanto ao erro de medida e variáveis omitidas foram igualmente dirigidos (ver
Kaufmann et al. (1999b) para maiores detalhes). A evidência desafia o argumen-
to de que apenas os países ricos podem dar-se ao luxo de ter um bom governo.

147
A
148

Figura 6.2 – Controle de Corrupção: A Abordagem Apresentativa dos “Sinais de Tráfego”

Q U A L I D A D E
Controle de corrupção

Sinal vermelho Sinal amarelo Sinal verde


Cingapura

Eslovênia
Botswana
Forte
Bélgica

D O
Dinamarca
Holanda

Tailândia

C R E S C I M E N T O
Uganda
Bangladesh
Venezuela Bolívia

Chile

Nigéria Costa Rica

Filipinas
Fraco El Salvador

Ucrânia Indonésia
Paraguai

Azerbaijão
Camarões
Tajiquistão

Fraco controle de corrupção 156 países Forte controle de corrupção

Nota: Esta figura mostra estimativas de controle de corrupção para 155 países, baseadas em dados de 1997-1998, com países selecionados indicados para objetivos ilustrativos. As barras verticais mostram
o escopo provável do indicador governamental para cada país e os pontos médios dessas barras mostram o valor mais provável. O alcance dessas classificações varia com a quantidade de informações
disponíveis para cada país e na medida em que percepções de diferentes fontes de corrupção coincidam. Países com barras verticais sólidas (na área de sinal vermelho) ou barras verticais verde-escuras
(na área de sinal verde) são aqueles para os quais o indicador governamental é estatisticamente significativo nos dois grupos anteriores. As posições relativas dos países estão sujeitas a significativas mar-
gens de erro e refletem as percepções de uma variedade de organizações dos setores público e privado pelo mundo afora. Logo, nenhuma classificação precisa pode ser realizada. As taxas dos países de
modo algum refletem pontos de vista do Banco Mundial.
Fontes: Kaufmann et al. (1999a, b). Para mais detalhes a respeito dos bancos de dados sobre o governo geral, ver Kaufmann et al. (2000); http://www.imf.org/fandd/2000/06/Kauf.htm; http://www.world-
bank.org/wbi/governance.
G O V E R N O E A N T I C O R R U P Ç Ã O

A análise empírica sugere grande efeito direto partindo do melhor go-


verno para os melhores resultados de desenvolvimento. Considerar uma
melhoria (de um desvio-padrão) na regra de direito a partir dos baixos
níveis na Federação Russa, atualmente, aos níveis médios na República
Tcheca ou uma redução na corrupção semelhante àquela da Indonésia para
a da Coréia. Nesta estrutura, aumenta os resultados per capita de duas a qua-
tro vezes, reduz a mortalidade infantil numa grandeza similar, e melhora a
alfabetização de 15 a 25 pontos percentuais a longo prazo. E considera que
as diferenças de governo para estes dois pares de países não são muito
grandes. Melhorias muito maiores na eficácia governamental dos níveis no
Tajiquistão (no grupo do sinal vermelho) para aqueles no Chile (no grupo
do sinal verde) nesta estrutura quase dobraria os impactos de desenvolvi-
mento mencionados há pouco.
Os relacionamentos entre resultados de desenvolvimento e as quatro
medidas de governo são ilustradas na Figura 6.3. A altura nas barras ver-
ticais mostra as diferenças de resultados de desenvolvimento nos países
com governo fraco, médio e forte, que ilustram a forte correlação entre
bons resultados e bom governo. Depois de controlar a causalidade rever-
sa e os efeitos de outros fatores não governamentais no desenvolvimento,
as linhas sólidas representam o impacto estimado do governo sobre os
resultados do desenvolvimento: “dividendo desenvolvimentista” de me-
lhoria do governo.3
Indicadores de governos compósitos, baseados em fontes de dados
múltiplas e exteriores, chamam a atenção poderosamente para as questões
governamentais. Elas são igualmente indispensáveis para pesquisa através
do país nas causas e conseqüências do mau governo.
Por exemplo, este amplo conjunto de dados desmascara que países
maiores são mais corruptos (uma construção estatística resultante destes
testes com um número menor de países). Contudo, estes novos indicadores
governamentais fornecem apenas uma primeira e grosseira bancada em que
os países permanecem relativos um ao outro nas questões governamentais,
e constroem uma ferramenta sem corte para uma ação informada para me-
lhorar o governo. Para fazer indicadores compósitos mais específicos e úteis
dentro de um país, é necessário saber muito mais sobre o modo como as
percepções dos dados sobre o desgoverno são refletidas nas falhas políticas
e institucionais. Os instrumentos de diagnóstico de profundidade de gover-
no são necessários dentro de um país para fornecer dados significativos e
informações para a formulação e as reformas governamentais. Contra este
pano de fundo, o restante do capítulo levanta as seguintes questões: Como
a corrupção e o mau governo minam o desenvolvimento? Quais são as
causas subjacentes da corrupção? Que tipos de vislumbre podem derivar-se
pelo desvelamento da corrupção em componentes distintos? Que tipos de
instrumento de diagnóstico e abordagens estratégicas podem servir melhor
ao intento do país em fazer progresso rumo a um governo honesto e bom?

149
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Figura 6.3 – O Dividendo Desenvolvimentista do Bom Governo

Mortalidade infantil e corrupção Renda per capita e ônus regulatório

Mortalidade infantil (mortes por 1.000) Renda per capita (US$)

90 12.000

80
10.000
70

60 8.000

50
6.000
40

30 4.000

20
2.000
10

0 0

Fraco Médio Forte Fraco Médio Forte

Controle da corrupção Ônus regulatório

Alfabetização e regra de direito Expectativa de vida, voz e responsabilidade

Alfabetização (por cento) Expectativa de vida (anos)

90

80
100
70
80 60

50
60
40

40 30

20
20
10

0 0

Fraco Médio Forte Fraco Médio Forte

Regra de direito Voz e responsabilidade

Nota: A altura das barras verticais mostra as diferenças na média dos resultados do desenvolvimento, nos países com governo frágil, médio e forte. As linhas só-
lidas mostram o efeito estimativo do governo nos resultados do desenvolvimento. Para mais detalhes sobre testes econométricos (sintetizados nas linhas sóli-
das), ver nota final 3 neste capítulo e a Tabela A6.1 no Anexo 6.
Fontes: Kaufmann et al. (1999b, 2000); http://www.imf.org/fandd.

150
G O V E R N O E A N T I C O R R U P Ç Ã O

A Corrupção Solapa
o Crescimento e o Desenvolvimento

Muitos estudos apontaram o efeito pernicioso da corrupção sobre o


desenvolvimento. Mauro (1997) mostrou que a corrupção retarda a taxa de
crescimento dos países. Ele descobriu que, se reduzisse a corrupção ao
nível de Cingapura e a taxa de crescimento fosse de 4% ao ano, a média
anual de Bangladesh para o crescimento PIB per capita entre 1960 e 1985
teria sido 1,8 ponto percentual mais alto, um ganho potencial de 50% na
renda per capita.
Estes são alguns dos muitos canais pelos quais a corrupção pode
enfraquecer o crescimento econômico:

• Deslocamento de talento (Murphy et al., 1991), incluindo subutiliza-


ção dos segmentos-chave da sociedade, tais como as mulheres.
• Níveis mais baixos de investimento doméstico e estrangeiro (Mauro,
1997; Wei, 1997).
• Desenvolvimento e crescimento empresarial distorcido da economia
informal (Johnson et al., 1998).
• Gastos públicos e investimentos distorcidos e estrutura física dete-
riorada (Tanzi & Davoodi, 1997).
• Lucros públicos mais baixos e menos provisão da regra de direito
como um bem público (Johnson et al., 1997).
• Exagerada centralização governamental (Fismann & Gatti, 2000).
• Captação estatal pela elite corporativa das leis e políticas (“com-
pradas”) do Estado, solapando o crescimento das saídas e dos inves-
timentos do setor empresarial (Hellman et al., 2000a; ver Anexo 6
para maiores detalhes).

Investimento Mais Baixo

Evidência de uma ampla interseção dos países sugere que a corrupção


reduz de modo significativo o investimento estrangeiro e interno. Se as
Filipinas pudessem reduzir a corrupção a um nível muito mais baixo do que
em Cingapura, aumentaria seus investimentos para a razão PIB em 6,6 pon-
tos percentuais (Mauro, 1997). Observando para o FDI bilateral no início da
década de 1990, de 14 países-fonte para 41 países recebedores de emprés-
timo, Wei (1997) descobriu a evidência de que a corrupção desencoraja o
investimento. Reduzir a corrupção a seu nível mais baixo em Cingapura
teria o mesmo efeito sobre investimentos estrangeiros para um país cor-
rupto como reduzir a taxa corporativa marginal para mais de 20 pontos per-
centuais. Muitos países atingidos pela corrupção também oferecem taxas de
incentivos substanciais para atrair empresas multinacionais. Mediante o

151
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

controle da corrupção, poderiam atrair pelo menos o mesmo número de


investimentos estrangeiros sem tais incentivos de impostos.

Má Distribuição dos Gastos Públicos

Alguns dos pioneiros dos estudos das economias de corrupção têm


acentuado o efeito da corrupção sobre a alocação das finanças públicas
(Klitgaard, 1988; Rose-Ackerman, 1989). Tanzi & Davoodi (1997) desco-
briram que a corrupção aumenta o investimento público porque cria chan-
ces para manipulação pelos funcionários públicos desonestos, de alto nível.
Distorce igualmente a composição do gasto público para longe das opera-
ções necessárias e manutenção de gastos, e dirige-o para a compra de novos
equipamentos, reduzindo, desse modo, a produtividade do investimento
público, particularmente na infra-estrutura. Sob um regime corrupto, fun-
cionários públicos afastam-se de programas de saúde porque oferecem um
escopo menor para desvio de verba. A corrupção também pode reduzir as
taxas de lucro porque compromete a capacidade do governo para receber
impostos e tarifas.
Calcado nas descobertas de Tanzi e Davoodi, Wei (1997) mostrou que
um aumento na corrupção, comparável ao nível de corrupção de Cingapura
crescendo para a do Paquistão, iria aumentar os gastos públicos da razão PIB
em 1,6 ponto percentual e reduzir o lucro governamental para a razão
PIB em 10 pontos percentuais. Além do mais, um aumento na corrupção
reduziria a qualidade das rodovias e aumentaria a incidência de raciona-
mento de energia, falhas nas telecomunicações e perdas de água.
Johnson et al. (1998) também mostraram que a corrupção reduz os
rendimentos dos impostos, principalmente por meio da economia informal.
Sobrecarregadas pela burocracia e associadas ao desvio de verba na economia
oficial, as empresas movem-se para a economia informal e pagam menos
impostos. Tal rendimento de imposto reduzido está associado com uma pro-
visão mais baixa dos bens públicos-chave, tais como regra de direito e cresci-
mento posterior da economia informal, desequilibrando finanças públicas.

Impacto Sobre os Pobres

Onde a corrupção prevalece o crescimento é desequilibrado, acarretan-


do um enorme efeito sobre a pobreza. Conseqüentemente, os pobres
recebem menos serviços sociais, como saúde e educação.
A corrupção desvia o investimento infra-estrutural contra os projetos
que ajudam os pobres e desequilibra a utilização dos meios de pequena
escala, para fugir da pobreza. Ainda pior, regimes corruptos freqüentemente
preferem contratos defensivos sobre clínicas de saúde e escolas rurais, um

152
G O V E R N O E A N T I C O R R U P Ç Ã O

viés político que piora a distribuição de renda e de diversos recursos, e


desvia os recursos do campo para as cidades.
Gupta et al. (1998) mostram que a corrupção aumenta a desigualdade
de renda e a pobreza, por meio de canais como crescimento mais baixo,
impostos regressivos, menor direcionamento efetivo dos programas so-
ciais, acesso desigual à educação, vieses políticos que favorecem a desi-
gualdade na posse de bens, gastos sociais reduzidos e altos investimen-
tos de risco para os pobres. Como sugerido na Figura 6.3, Kaufmann et
al. (1999b) também descobriram que a corrupção aumenta a mortalidade
infantil e reduz a expectativa de vida e a alfabetização. Não obstante a
análise do índice de pobreza humana do UNDP, mostra-nos dados que
sugerem que ele é negativamente associado a vários índices de governo
e corrupção mesmo depois do controle do PIB per capita. Os mecanismos
mediante os quais o governo afeta a pobreza são vários, complexos
e ainda não totalmente entendidos. A Tabela 6.1 sugere alguns dos efei-
tos complexos da corrupção sobre a pobreza por meio de uma variedade
de canais.
A análise do país utilizando novos instrumentos de diagnósticos gover-
namentais ilustra como a corrupção regressiva funciona como um imposto.
Por exemplo, famílias pobres no Equador precisam gastar três vezes mais
em propinas como uma parte de suas rendas do que famílias de mais altas

Tabela 6.1 – Uma Matriz-Síntese: Corrupção e Pobreza

Causas “imediatas” da pobreza Como a corrupção afeta a causa “imediata” da pobreza

Crescimento e investimento mais baixo Economia instável/políticas institucionais devidas ao investimento de capital
Alocação distorcida dos gastos/investimentos públicos
Baixo acúmulo de capital humano
Interesses corporativos da elite capturam leis e distorcem a feitura das políticas
Ausência de regra de direito e de direitos de propriedade
Obstáculos governamentais para o desenvolvimento do setor privado

Os pobres ficam com a fatia menor do crescimento Captura do Estado pelas políticas governamentais e alocação de recursos pela elite
A regressividade da “taxa” da propina sobre pequenas empresas e sobre os pobres
A regressividade nos gastos públicos e nos investimentos
Distribuição de renda desigual

Acesso desigual aos serviços públicos A propina impõe taxa regressiva e acesso desigual de qualidade dos serviços básicos
para os serviços de saúde, educação e justiça
Captação política pelas elites do acesso aos serviços particulares

Falta de saúde e educação Baixo acúmulo de capital humano


Qualidade mais baixa de educação e serviços de saúde

Fonte: Autores.

153
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Figura 6.4 – A Corrupção É Regressiva: Resultados dos Estudos Diagnósticos

Propina paga por empresas no Equador, 1999 Propina paga pelos negócios domésticos no Equador, 1999

Razão de custos de propina em rendas totais de empresas Razão de custos de propina nas rendas domésticas (por cento)

6 6

4 4

2 2

0 0

Micro Pequena Grande Baixo Médio Alto


Média

Tamanho da empresa Renda doméstica

Nota: Estimativas sujeitas a margem de erro.


Fonte: World Bank (2000e).

rendas para ter acesso aos serviços públicos (Figura 6.4). De modo seme-
lhante, em vários estudos de diagnóstico dos funcionários públicos na
América Latina no fim da década de 1990, os burocratas dessas agências
abundam em corrupção e falta de meritocracia, sendo responsáveis por dis-
criminar os pobres por meio da limitação do acesso aos serviços básicos e
por falhar na busca da diminuição da pobreza – em contraste com melhor
acesso para os pobres pelas agências com menos corrupção e meritocracia
(Figura 6.5).

Impacto da Corrupção Sobre o Comércio


e Influência Corporativa Sobre o Governo Nacional

Um argumento comum encontrado na bibliografia contesta que as


propinas para burlar os controles do mau governo são como um desregu-
lamento informal e pode ter efeitos positivos, tais como promover o
desenvolvimento empresarial (Huntington, 1968; Leff, 1964; Liu, 1985).
Este ponto de vista – propina como graxa para as engrenagens do comér-
cio – pode abranger conceitualmente apenas um sentido muito estreito se
as más regulamentações foram fixadas independentemente do comporta-
mento dos funcionários públicos. Ainda assim, na realidade, os funcio-

154
G O V E R N O E A N T I C O R R U P Ç Ã O

Figura 6.5 – Corrupção e Ausência de Meritocracia nas Repartições Públicas


Desigualam os Acessos aos Serviços para os Pobres: Estudos Diagnósticos dos
Resultados dos Funcionários Públicos

Controle da corrupção nas repartições públicas do Paraguai Serviço civil e meritocracia nas municipalidades do Paragaui
e acesso aos serviços pelos pobres e acesso aos serviços pelos pobres

Acessibilidade aos serviços públicos pelos pobres (por cento) Acessibilidade aos serviços públicos pelos pobres (por cento)

100 100

r= -0,41 r= -0,58

80 80

60 60

40 40

20 20

0 20 40 60 80 100 20 40 60 80 100

Gastos com propina ns repartições públicas (por cento) Índice de meritocracia por município (por cento)

Controle da corrupção nas municipalidades da Bolívia Serviço civil e meritocracia nas municipalidades da Bolívia
e acesso aos serviços pelos pobres e acesso aos serviços pelos pobres

Acessibilidade aos serviços públicos pelos pobres (por cento) Acessibilidade aos serviços públicos pelos pobres (por cento)

100 100

r= -0,72 r= -0,85

80 80

60 60

40 40

20 20

0 20 40 60 80 100 20 40 60 80 100

Extensão de propina nos municípios (por cento) Índice de meritocracia por município (por cento)

Nota: Cada observação descrita (ponto) representa uma repartição pública ou municipalidade no país pertinente. Baseados no estudo dos funcionários públicos
do governo, “impacto de alívio sobre pobreza” representa a porcentagem de casos nos quais o funcionamento dos serviços públicos é proveitoso para reduzir a
pobreza, e a “acessibilidade para os pobres” representa a porcentagem em casos nos quais os serviços públicos oferecidos são acessíveis aos pobres, como relata-
do pelos funcionários públicos no estudo do diagnóstico.
Fonte: World Bank (2000e).

155
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

nários freqüentemente são discretos no tipo e na quantidade de incômo-


dos e regulamentações aplicados sobre as empresas individuais. Os fiscais
de impostos podem sobrecarregar a renda tributada (Hindriks et al.,
1999), e os fiscais de incêndio podem decidir quantas vezes checar uma
empresa por “violações” de segurança. Utilizando dados de estudos inde-
pendentes em mais de seis mil empresas em 75 países, Kaufmann & Wei
(1999) mostraram que as empresas que pagam mais propinas administra-
tivas gastam mais tempo com os burocratas do que as empresas que não
pagam propinas.
Logo, a evidência empírica sugere que uma firma comprometida com
propina administrativa insignificante (por exemplo, para alvarás ou pape-
ladas burocráticas) não se beneficia necessariamente do pagamento de
propinas; nem a comunidade ou sociedades de negócios de modo geral. A
evidência da pesquisa sobre os custos da corrupção para o desenvolvimen-
to dos negócios gerais está crescendo. Por exemplo, Fisman & Svensson
(1999) descobriram que em Uganda a corrupção administrativa reduz a
propensão de uma empresa para investir e crescer, e Hellman et al. (2000a)
descobriram que naquelas economias em transição onde “grande” cor-
rupção é mais prevalente, o crescimento e a taxa de investimento do setor
empresarial é muito menor, enquanto a segurança dos direitos de pro-
priedade é desigual.
A corrupção não apenas faz mancar o desenvolvimento empresarial di-
nâmico, mas afeta empresas menores e novos participantes, em particular.
Empresas mais novas e menores tendem a suportar o impacto da “taxa” de
propina, como evidenciado por uma recente análise de três mil empresas
nas economias de transição.4 De modo similar, empresas menores são pre-
paradas para pagar significativamente mais impostos do que suas similares
maiores, para que suas propinas sejam reduzidas.
Esta pesquisa sobre as economias de transição fornece também idéias
sobre o elo entre influência política, corrupção maiúscula (de modo mais
específico, roubando o Estado) e desempenho empresarial. Em um número
de países na antiga União Soviética, o estudo descobre que as empresas
(inclusive muitas com FDI) que compraram leis parlamentares, decretos
presidenciais e a influência nos bancos centrais se beneficiaram a curto
prazo (nos lucros e investimentos da própria empresa). Ainda assim, como
afirmamos anteriormente, suas ações infligem um grande custo indireto
sobre o desenvolvimento do restante do setor empresarial. Estas descober-
tas demonstram que, enquanto as empresas individuais se comprometem
na captação do Estado, podem beneficiar privadamente (em contraste com
a corrupção administrativa, Figura 6.6); uma tal forma de corrupção maiús-
cula impõe um custo social particularmente pernicioso ao desenvolvimento
empresarial (consultar o Anexo 6 para detalhes sobre desvelamento da
medida da corrupção na captação estatal, restituições de licitações públicas
e corrupção administrativa).

156
G O V E R N O E A N T I C O R R U P Ç Ã O

Causas da Corrupção

Os estudos empíricos das causas da corrupção são razoavelmente novos.


Ainda assim, a evidência emergente sugere que algumas determinantes são
importantes. A pesquisa disponível sustenta a noção de que a corrupção é
um sintoma de profunda fragilidade institucional.

A Ausência dos Direitos Políticos e das Liberdades Civis

Os direitos políticos, que incluem eleições democráticas, uma legislatu-


ra, partidos opostos, liberdades civis que incluem direitos à mídia indepen-
dente e livre e liberdade de reunião e discurso, são negativamente corre-
latadas com a corrupção.
A Figura 6.7 mostra a estreita correlação entre liberdades civis e liber-
dade de imprensa com a corrupção. Aumentando os pontos de evidência
para a habilitação da sociedade civil, dirige-se efetivamente para a corrupção

Figura 6.6 – “Pequenas Propinas” versus Captação Estatal: Será que Comprometer-
se com a Corrupção Beneficia a Empresa?

Construção administrativa não beneficia as empresas Construção do Estado mediante aquisição de políticas
(média de todos os países em transição) e a lei beneficia as empresas do captador

Porcentagem de crescimento Porcentagem de crescimento

20 30

15
20

10

10
5

0 0

Crescimento de vendas Crescimento de Crescimento de vendas Crescimento de


investimentos investimentos

Empresas pagando um alto índice de propina administrativa Empresas “captadoras” (de leis/políticas)

Empresas pagando um baixo índice de propina administrativa Empresas “não captadoras”

Fontes: Hellman et al. (2000a). Maiores detalhes no Anexo 6 e http://www.worldbank.org/wbi/governance.

157
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

(Figura 6.7). A evidência do estudo empresarial das economias de transição


também sugere que a captação das políticas do Estado e das leis pelos inte-
resses corporativos está associada com a ausência de liberdades civis ínte-
gras (Hellman et al., 2000a). A evidência empírica pelo mundo afora tam-
bém sugere que a inclusão das mulheres, se aferidas como representação
parlamentar ou direitos sociais, ajuda a completar tal habilitação
(Kaufmann, 1998). Devolução, tal como a descentralização fiscal (Collier,
1999; Fisman & Gatti, 2000), sobre as circunstâncias corretas também pode
ajudar o controle da corrupção. Além disso, pontos de evidência para uma
correlação significativa entre a corrupção e a regra de direito.

Regulamentação e Finanças Públicas

A corrupção é mais alta nos países com alto grau de intervenção do


Estado na economia, na regulamentação excessiva e impostos, aplicação
arbitrária das regulamentações e restrições comerciais. Economias mono-
polizadas também tendem a apresentar maior grau de corrupção.

As liberdades civis e uma imprensa livre podem ajudar a controlar a corrupção


Figura 6.7 – Corrupção e Direitos Civis

Liberdade civil e propina Liberdade de imprensa e controle da corrupção

Propina Controle da corrupcão

Alto Alto
Correlação: -0,67 Correlação: -0,67

Baixo Baixo

Baixo Alto Controlada Livre

Liberdades civis Liberdade de imprensa

Fonte: Kaufmann (1998).

158
G O V E R N O E A N T I C O R R U P Ç Ã O

Serviço Civil

O profissionalismo do serviço civil, que inclui sistemas de treinamento,


emprego e promoção, também está associado com menos corrupção. Con-
trariamente à sabedoria convencional, a evidência do pagamento do serviço
civil é freqüentemente ambígua. Melhores salários setoriais públicos, por si
sós, podem não explicar uma significativa redução na corrupção. Por exem-
plo, as agências do setor público equatoriano que oferecem melhores
salários aos empregados não têm uma incidência menor de corrupção. Em
muitos cenários, uma pequena minoria dos mais antigos políticos e fun-
cionários públicos freqüentemente causa a corrupção mais danosa. Enquan-
to em alguns países aumentar salários de pessoal civil-chave selecionado
pode ser garantido, é improvável que isso dê frutos sem medidas comple-
mentares. Entre essas medidas, a meritocracia na contratação, promoção e
demissão dentro de um departamento está associada com menos corrupção
(Figura 6.8). Os resultados contrastantes entre o baixo impacto dos salários
mais altos de um lado, e o significativo efeito da meritocracia de outro,
exemplificam a necessidade de conduzir em profundidade diagnósticos
empíricos com o propósito de países formularem programas sérios de com-
bate à corrupção.5

Uma Estratégia Anticorrupção Multifacetada

Dado o que se conhece sobre as principais determinantes de corrupção


e bom governo, que tipos de programa podem ter algum impacto? 6 Melho-
rar o governo requer um sistema de checagem e equilíbrio na sociedade que
restringe a ação arbitrária e o incômodo burocrático pelos políticos e buro-
cratas, promove a voz e a participação da população, reduz os incentivos
para a elite corporativa envolver-se na captação estatal e alimenta a regra de
direito. Não obstante a pesquisa em andamento sobre a captação estatal
sublinhar a necessidade de verificações e balanços no setor corporativo da
elite, por meio da promoção de um mercado econômico competitivo e de
uma sociedade civil ativa. Uma administração meritocrática e orientada para
o serviço público é outro ponto alto da estratégia.

Reformas-Chave

A Figura 6.9 sintetiza a estratégia das reformas-chave para melhorar o


governo e combater a corrupção. Contudo, como combinar e seqüenciar
estas reformas para provocar maior impacto sobre a corrupção é particular-
mente um desafio desencorajador, como é a tarefa de detalhar e adaptar
uma estratégia para a realidade específica de cada país. Por exemplo, um

159
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Figura 6.8 – A Meritocracia Pode Reduzir a Corrupção: Evidência para Cada


Repartição Pública com Base em Estudos dos Funcionários Públicos em Três Países

Corrupção em algumas repartições públicas do Equador está Corrupção em algumas municipalidades está associada
associada com falta de meritocracia com falta de meritocracia

Extensão de propina nas repartições públicas (por cento) Extensão de propina nas municipalidades (por cento)

5
80
r= -0,71 r= -0,59
4

60
3

2
40
1

0 20

20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100

Índice de meritocrcia para repartição pública e municipalidade Índice de meritocrcia por municipalidade

Corrupção em algumas repartições públicas da Bolívia está Corrupção em algumas municipalidades da Bolívia está
associada com falta de meritocracia associada com falta de meritocracia

Extensão de propina nas repartições públicas (por cento) Extensão de propina nas municipalidades (por cento)

70 70

r= -0,64 r= -0,64
60
60
50

40 50

30
40
20
30
10

0 20

20 40 60 80 100 20 40 60 80 100

Índice de meritocrcia nas repartições públicas Índice de meritocrcia por municipalidade

Nota: Cada observação descrita (ponto) representa uma repartição pública ou municipalidade no país pertinente. A extensão da propina é aferida pela porcen-
tagem relatada dos serviços públicos e dos contratos que são afetados pela propina numa repartição pública ou municipalidade. O índice meritocrático (de 0 a
100) é construído com a utilização de questões de análise relatadas para o gerenciamento pessoal numa repartição pública ou municipalidade como relatado pelos
funcionários públicos.
Fonte: World Bank (2000e). As contribuições de Ed Buscaglia, Maria Gonzales de Assis, Turgul Gurgur, Akiko Terada, Youngmei Zhou e Pablo Zoido-Lobatón
para esta linha de pesquisa sobre funcionários públicos são conhecidas.

160
G O V E R N O E A N T I C O R R U P Ç Ã O

país que foi sujeito à captação estatal pela elite corporativa irá requerer uma
estratégia diferente da de um país em que a principal fonte de mau governo
origina-se nas estruturas políticas ou na burocracia. Questões específicas
sobre reformas governamentais, contudo, incluem os tipos de mudança
sobre que condições políticas e como as reformas seriam priorizadas dentro
das realidades corporativa, política, civil e social de cada país cenário.

Competição e entrada. Em alguns países em desenvolvimento, em fase


de transição, uma grande fonte de corrupção é a concentração de poder
econômico e de monopólios que manipulam a influência política sobre o
governo para benefícios particulares. O problema é particularmente agudo
nos países ricos em recursos naturais, em que os monopólios em petróleo,
gás e alumínio, por exemplo, manipulam um poder econômico político con-
siderável, que leva a diferentes formas de corrupção: não-pagamento de
impostos, cálculos amplos não transparentes, licenças e alvarás e compra de
votos e decretos que restringem entrada e competição. Desmonopolização,
desregulamentação, facilitação de entrada e saída (mediante a liquidação de
bens e procedimentos de bancarrota efetiva), além da promoção da com-
petição, são vitais.

Responsabilidade da liderança política. Medidas estão sendo imple-


mentadas em vários países que fornecem verificações e balanços para a li-
derança política e os funcionários públicos mais antigos em seu compro-
metimento para bom governo e anticorrupção, por meio da divulgação
pública e da transparência de suas próprias ações, finanças, rendas e bens.
Em vários países, isso envolveu:

• divulgação pública dos votos no Parlamento;


• rescisão de imunidade parlamentar incondicional;
• divulgação pública das fontes e quantias do financiamento dos par-
tidos políticos;
• divulgação pública das rendas e bens dos servidores públicos mais
antigos e seus dependentes-chave;
• regulamentações contra conflitos de interesse para cargos públicos;
• proteção do pessoal e segurança do emprego para os funcionários
públicos que revelem abuso no ministério público por outros (estatu-
tos atiçadores).

Administração Pública Meritocrática e Orientada para o Serviço.


Recrutar e promover por mérito, como oposto ao apadrinhamento político
ou filiação ideológica, está positivamente associado tanto com a efetividade
governamental como com o controle da corrupção. As reformas nesta área
incluíram a criação de instituições independentes e profissionais com veri-
ficações e balanços (por exemplo, uma comissão de recrutamento para o

161
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Figura 6.9 – Estratégias Multidentadas para Combater a Corrupção e Melhorar o


Governo – Reconhecer a Economia Política

Política econômica:
• Responsabilidade de liderança
política
• A vontade política da liderança Política econômica:
• Reforma parlamentar • Desregulamentação, entrada e competição
• Levantando capital investido pela • Simplificação de impostos
elite e captação do estado • Política e composicão de gastos públicos
• partidos políticos e reforma da • Estabilidade macroeconômica e disciplina
campanha financeira fiscal

Reformas Institucionais
• Direitos alfandegários
• Privatizacão transparente Controlar a
• Reforma governamental Controles financeiros:
• Descentralização, reforma • Reforma de licitações
municipal corrupção • Auditoria/administração
financeira
Serviço Civil • Governo corporativo ético
• Pagamento e incentivo e melhorar • Regulamentação do setor
de reforma financeiro
• Reestruturação das • Controle orçamentário e
repartições públicas o governo desenvolvimento do Tesouro
• Meritocracia • IT/Computação Internet
• Transparência

Legal / Judicial Liberdades civis, supervisão pública


• Independência judiciária e sociedade civil
• Compromissos judiciais • Participação da sociedade civil
meritocráticos • Liberdade de imprensa
• Mecanismos de resolução • Força dos dados / IT /
de disputas alternativas, estudos empíricos / “boletim”
ONGs alternativas • Supervisão parlamentar
• Doação visível em grandes • Coalizão departamental
casos de corrupção e ação coletiva
• Reduzir a capacitação legal • Nível de envolvimento
judiciária comunidade/mulher
• Agência Internacional FDI e
responsabilidade corporativa

IT: Informação tecnológica.


Fontes: Autores, em colaboração com o World Bank’s Public Sector Group.

162
G O V E R N O E A N T I C O R R U P Ç Ã O

serviço civil) e a introdução de um sistema de gerenciamento performático


abrangente com pagamento e promoção ligados ao desempenho. Na Malásia
e na Tailândia isso conduziu a um recrutamento crescente e à retenção da
equipe gerencial e profissional e para uma maior efetividade no desempe-
nho civil. Além disso, condições de benefícios não em dinheiro freqüente-
mente precisam ser simplificadas, monetarizadas e tornadas transparentes.
Deve-se exercitar o cuidado necessário para evitar o aumento de salário em
grande escala como uma panacéia.

Transparência e Responsabilidade no Gerenciamento dos Gastos


Públicos.7 Os sistemas básicos de responsabilidade na alocação e no uso
dos gastos públicos constituem um pilar fundamental para o bom governo.
O gerenciamento da responsabilidade nos gastos públicos requer: um orça-
mento abrangente e um processo consultativo do orçamento; transparência
na utilização dos gastos públicos; licitação pública competitiva; e uma audi-
toria externa independente.
O orçamento deve, em primeiro lugar, ter uma cobertura abrangente das
atividades de um governo. Muitos países se defrontam com problemas de
transparência orçamentária, em que as maiores áreas dos gastos do orça-
mento não passam por um sistema de tesouraria e há um recurso substan-
cial para fundos extra-orçamentários e nenhum sistema eficaz de compro-
missos do controle de gastos. Vários países em transição, tais como Hungria
e Latíbia, fizeram progressos ao levantar esses problemas com programas
abrangentes de reforma do Tesouro.
Em segundo lugar, a divulgação é importante. Muitos países industria-
lizados (por exemplo, Austrália e Reino Unido) publicaram estruturas para
estratégias de gastos públicos que são, ao mesmo tempo, o principal instru-
mento para explicar as escolhas e os meios de realçar a transparência dos
objetivos políticos, e os alvos das saídas, calçando os orçamentos anuais.
Mais recentemente, a África do Sul desenvolveu a estrutura de gasto a médio
prazo, revisada anualmente e publicada na Web como meio de esclarecer
escolhas estratégicas e estabelecer objetivos publicamente calculáveis para os
gastos públicos.
Em terceiro lugar, uma licitação pública transparente e competitiva é a
chave para limpar o governo. Reduzir a corrupção requer a adesão a uma
disciplina estrita quanto à licitação competitiva e transparente dos con-
tratos principais, maximizando o escopo da visão geral pública e uma
revisão detalhada. A revolução da tecnologia da informação está provando
ser um catalisador. De fato, para tornar o processo de licitação governa-
mental mais eficaz e reprimir a curva de corrupção, três países latino-ame-
ricanos – Argentina, Chile e México – adotaram recentemente sistemas
eletrônicos de compras governamentais. Todas as notícias sobre licitações e
seus resultados são colocados num site da Web disponível ao público.
Outras importantes inovações relacionadas com monitoração externa dos

163
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

ativistas estão igualmente se estabelecendo. As ONGs estão cada vez mais


desempenhando um papel para encabeçar as audiências públicas, para ter
uma voz mais forte no estabelecimento das regras do jogo para projetos de
licitação em grande escala (tal como no sistema metroviário de Buenos
Aires) e pela transparência do próprio processo de licitação nos locais onde,
por exemplo, ONGs como a Transparência Internacional inovaram. O Banco
Mundial também assumiu um papel ativo em perseguir agressivamente as
empresas comprometidas em má licitação nos projetos; por exemplo, firmas
eliminadas de processos de licitação nos projetos subsidiados pelo Banco,
por terem se comprometido em licitações corruptas, estão em lista publica-
mente disponível no site da instituição.
Em quarto lugar, estabelecer auditorias externas independentes é impor-
tante. Várias economias de transição e emergentes, tais como a República
Tcheca e a Polônia, estabeleceram instituições de auditorias supremas, que
são genuinamente independentes e têm impacto construtivo sobre sistemas
de gerenciamento financeiro público. Na República Tcheca, os relatórios das
auditorias são publicados, apresentados ao Legislativo e discutidos no gabi-
nete, juntamente com um plano proposto para ações corretivas, na presença
da instituição de auditoria suprema e ministros relevantes.

Promover a Regra de Direito. De acordo com o New Palgrave


Dictionary of Economics and the Law, a regra de direito é definida opondo a
regra dos poderosos. Isto sintetiza o desafio em muitos países, onde políti-
cos poderosos, e líderes, interesses da elite ou oligarquias freqüentemente
influenciam as operações práticas do Parlamento, do Judiciário e das insti-
tuições de aplicação da lei, tal como a polícia. Estes países freqüentemente
possuem um conjunto de leis adequado nos livros, ainda que a falência
esteja em sua eficaz aplicação e vigência. E em alguns países, tais leis foram
tomadas pelos interesses da elite. A evidência de uma disposição vasta dos
dados pelo mundo afora (sintetizado na Figura 6.1) sugere que há uma
crise da regra de direito em muitos países da antiga União Soviética, na
África, assim como em alguns da América Latina. A disfunção institucional
em tais países fica em agudo contraste com os outros, onde, embora de
modo imperfeito, a capacidade das instituições legais e judiciárias está
melhorando. Ilustrando o desempenho dos tribunais em diferentes países,
a Figura 6.10 mostra quão honestos, confiáveis e justos os tribunais são
considerados pelo setor empresarial na Estônia e na Hungria. Como con-
traste, em países como a Federação Russa e a Ucrânia eles são considera-
dos corruptos, muito parciais e injustos, não confiáveis e não fazem vigo-
rar a lei.
O mau governo no Judiciário e nas instituições legais nem sempre se
originou tão-somente no setor público. Em alguns países, os interesses cor-
porativos da elite exerceram pressões corruptas igualmente, como também
compilaram com base nos estudos empresariais recentes dos países em

164
G O V E R N O E A N T I C O R R U P Ç Ã O

Figura 6.10 – Alta Variação na Qualidade dos Tribunais em Economias Seletas

Cazaquistão Federação Russa Ucrânia

A A A
1 1 1

D B D B D B
0 0 0

C C C

Estônia Hungria Referência de nível (benchmark)

A A A: Não corrupto
1 1 1

D B D B D: B: Íntegro
0 0 Decisões 0
impostas

C C C: Confiável

Quadro de medidas de dimensões de qualidade: A – não corrupto; B – íntegro; C – confiável; D – decisões impostas.
Nota: Um diamante com quatro pontas numa escala de 0 a 1, na qual 1 indica 100% da empresa em julgamento dando a mais alta taxa em cada dimensão
qualitativa do Tribunal relevante. O painel direito mais baixo do campo seria um benchmark hipotético ideal, se 100% das empresas apresentassem contagens
perfeitas.
Fontes: Hellman et al. (2000); ver também Anexo 6. Baseado em um exame de empresas de 1999 das economias em transição.

transição e ilustrados na Figura 6.11, que sugere a extensão da tomada


(pelas empresas, inclusive o FDI) dos sistemas legais e judiciários em
alguns países.
Logo, mesmo se as instituições legais fossem totalmente equipadas por
juízes e pessoal treinados, eles podem estar sujeitos à tomada pelos políti-
cos ou interesses corporativos corruptos. Neste contexto, as instituições
legais do setor público são parte integral do problema governamental e não
uma parte da solução.
Isto reduz a importância do aconselhamento convencional sobre melhoria
de governo por meio da criação de instituições dentro do setor público (como
um escritório de ética e um departamento anticorrupção), aprovando lei anti-
corrupção, fornecendo assistência técnica na forma de computadores ou ou-
tros hardwares, ou juízes estabelecidos para treinamento ou “viagens de estu-
do”. Em vez disso, mecanismos inovadores para melhorar o governo são fre-

165
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Figura 6.11 – Captação Legal e Judiciária pelo Setor Corporativo em Algumas


Economias de Transição Seletas

Proporção dos setores de empresa afetados pela captação corporativa legal/judiciária

50

40
Legislação parlamentar

30 Tribunal de decisões criminais

Tribunal de decisões comerciais


20 Índice de captação lergal/judicial

10

Azerbaijão Federação Estônia Hungria


Russa

Nota: O índice de captação legal e judiciária é a média simples das empresas que relatam o efeito da compra corporativa da legislação parlamentar, de decisões
dos tribunais criminais e das decisões dos tribunais comerciais. Estimativas sujeitas a margem de erro.
Fontes: Hellman et al. (2000a, b); para maiores detalhes, as colunas 1, 4 e 5 na Tabela A6.1 do Anexo 6. Dados de 1999.

qüentemente necessários, tal como uma disputa alternativa de mecanismos


de resolução, provendo uma participação mais sistemática das ONGs e outros
arranjos institucionais alternativos, estratégias de disseminação pela mídia e
explorando de modo mais completo e transparente o poder dos dados e da
informação dentro e fora do setor público. De igual importância, o desafio de
maior relevância de realizar a captação legislativa em muitos países freqüen-
temente requereria reformas parlamentares e políticas, tais como divulgar
publicamente todos os votos parlamentares, eliminar as leis de imunidade
para membros do Parlamento e a reforma político-financeira.

Estudo dos Instrumentos Diagnósticos para


uma Avaliação Governamental Dentro do País

A coleção, a análise e a disseminação de dados específicos de um país so-


bre a corrupção estão alterando o diálogo político sobre a corrupção e habili-
tando a sociedade civil por meio da ação coletiva. Ainda que desafios impor-
tantes permaneçam, incluindo o refinamento dos métodos em andamento
que transformam a evidência do estudo em prioridades de reforma e como
melhor complementar em profundidade os exames diagnósticos empíricos
com o foco aprofundado nos grupos de metodologias – envolvendo completa-
mente os investidores nos desafios-chave do governo dentro do país. Um

166
G O V E R N O E A N T I C O R R U P Ç Ã O

desafio-chave envolve o desenvolvimento de uma estratégia efetiva para a


implementação da agenda de reformas. Uma vez que os dados dos exames e
suas análises estão disponíveis, os países onde a vontade política está presente
devem começar a tarefa mais difícil da priorização de medidas de acordo com a
realidade do país e introdução de reformas para eliminar as fontes de corrupção.
Sustentar o esforço reformador com uma participação de base abrangente
que envolva todos os ramos do governo, a sociedade civil e a comunidade de
negócio constitui outro desafio à corrupção e à agenda de melhoria do go-
verno (Quadro 6.1). Em cooperação vinda do setor privado e das ONGs, o
governo pode alavancar a reforma permitindo a competição privada junta-
mente com a provisão pública de alguns serviços, por exemplo, a adoção de
formas privadas em disputa de resolução alternativa para competir com a
provisão judiciária ou privada da coleta do lixo em nível municipal. Estudos
diagnósticos em profundidade de governo e anticorrupção (e suas análises de
dados concomitantes) precisam ser institucionalizados, de modo que as es-
tatísticas sobre a corrupção em departamentos específicos possam ser moni-
toradas e agir sobre eles periodicamente. Uma ampla disseminação das
grandes quantias de estatísticas que estão sendo geradas pelos estudos diag-
nósticos e estudos do governo e captação pode habilitar posteriormente os
investidores para que fortaleçam e sustentem a mudança institucional.
O esboço e a implementação de um departamento específico em exames
de diagnósticos em profundidade para os funcionários públicos (Figuras 6.5
e 6.8), famílias ou usuários (Figura 6.4) e empresas (Figuras 6.4 e 6.11)
constituem numa inovação que fornece entradas tangíveis para os países
comprometidos com a capacidade de implementar a construção de progra-
mas e mudanças institucionais. Novos instrumentos de análise podem cole-
tar informações detalhadas sobre o comportamento até nos departamentos
governamentais de funcionamento mais ineficiente na entrega dos serviços
públicos. Por exemplo, as comparações do preço pago pelo sal comprado
por diferentes hospitais, depois de contabilizar o transporte e outros custos
idiossincráticos, pode mostrar se existe a corrupção nos hospitais públicos.
Utilizado juntamente com outros esquemas empíricos, tais estudos diag-
nósticos podem focalizar-se sobre o diálogo político em áreas concretas para
reformar e recuperar a sociedade civil por detrás dos esforços reformadores.
Tais dados autodiagnosticados de um país, utilizados por uma varie-
dade de investidores de dentro do país e disseminado pelas oficinas par-
ticipativas, mobilizaram uma sustentação mais ampla para a elaboração do
consenso e a ação coletiva para as reformas institucionais. Países como
Albânia,8 Bolívia, Geórgia e Latíbia realizaram progressos mediante o uso de
diagnósticos para assumir ações concretas. A Bolívia está enfatizando o
serviço civil e as reformas de licitação. A Latíbia tem dado prioridade à
reforma dos impostos e direitos alfandegários. Na Geórgia, seguindo os
resultados do exame abissal relativo ao estado do Judiciário, o presidente
Chevardnadze decidiu que todos os juízes deveriam passar por uma nova

167
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Quadro 6.1 – Governo e Instrumentos para Estudos Diagnósticos: O Poder dos Empíricos

O primeiro conjunto de estudos diagnósticos em sobre a freqüência e custos das propinas pagas pelas
profundidade no governo e na corrupção dos funcio- empresas a reguladores em diferentes departamentos,
nários públicos, empresas e cidadãos foi realizado na assim como chegadas a curto prazo da entrega do ser-
Albânia, na Geórgia e na Latíbia em 1998. Mais re- viço público e outros indicadores eficazes de desem-
centemente, a implementação de versões refinadas e penho. Uma multiplicidade de dimensões governa-
disseminadas desses estudos diagnósticos foi realiza- mentais está incluída nestes diagnósticos, permitindo
da em outros países, focando mais amplamente no uma análise em profundidade de questões como a
complexo governo dos departamentos-chave num meritocracia, a discricionarlidade, a transparência or-
país e avaliando as principais determinantes institu- çamentária e o foco e o impacto na diminuição da po-
cionais do mau governo e da corrupção. Desafiando a breza. A análise dessas estatísticas serve, assim, como
sabedoria convencional, os novos estudos dos fun- uma entrada vital para priorizar a formulação de uma
cionários públicos, empresas e cidadãos encontraram melhoria do programa reformador governamental.
os interrogados desejosos de fornecer informações Uma fatia significativa das propinas administrativas
detalhadas sobre o mau governo que eles haviam é paga a funcionários públicos para evitar os impos-
observado e experimentado (como oposição a mera- tos, deveres alfandegários e outros compromissos fi-
mente indicar suas vagas percepções sobre a cor- nanceiros com o Estado. Algumas propinas – tais co-
rupção por todo o país, por exemplo). mo pagamentos de restituição aos funcionários públi-
O relatório do estudo dos interrogados traz infor- cos para a feitura de leis e decisões judiciais, ou para
mações sobre desvio de fundos públicos, roubo da a licitação pública – descobriu-se serem particular-
propriedade estatal, suborno para diminuir o tempo mente onerosas. Os resultados do estudo indicam que
processual, propina para obter poder de monopólio e os departamentos e as atividades vistas pelos fun-
propina na licitação. Por exemplo, em 1998, no cionários públicos particularmente corruptos coman-
desvio de fundos públicos na Geórgia e na corrupção dam os mais altos preços para garantir trabalho, su-
no Judiciário, entre outras coisas foi identificado um gerindo que assegurar tais posições públicas é visto
sério problema. Naquele tempo, o roubo da pro- como um investimento privado com uma significativa
priedade estatal foi identificado como um problema espera de retorno privado.
particular na Albânia. A propina na licitação e na Quando os dados foram apresentados nas oficinas a
alfândega é um desafio comum na maioria dos membros da comunidade de negócios, a maioria da
cenários nos quais estes estudos diagnósticos foram sociedade civil, e os ramos executivos e legislativos, o
levados a cabo. A fragilidade no Judiciário foi identi- debate político abruptamente mudou de vago, não
ficada como uma das principais causas da corrupção substancial e freqüentes acusações pessoais para um
na Albânia, enquanto os fracassos reguladores são discurso centrado na evidência empírica e nas fragili-
muito menos importantes naquele país do que na dades sistêmicas que precisavam ser corrigidas. Pro-
Geórgia e na Latíbia, por exemplo. Nestes estudos gramas de ação foram formulados e a implementação
diagnósticos, estatísticas detalhadas são coletadas das reformas institucionais começou.

Fontes: Kaufmann et al. (1998). Para um guia mais detalhado sobre a implantação do diagnóstico governamental e anticorrupção consultar,
http://www.worldbank.org/wbi/governance.

avaliação, o que foi transmitido ao vivo pela televisão. Dois terços dos juízes
fracassaram na avaliação e foram substituídos.
Em outros países, esforços para uma melhoria de governo semelhante
são efetuados num nível municipal. Por exemplo, em numerosas cidades
ucranianas, ações específicas para melhorar a eficácia do governo local no
fornecimento de serviços públicos estão sendo levadas a efeito seguindo os
estudos diagnósticos. Tendo começado em Bangalore, na Índia, no início da

168
G O V E R N O E A N T I C O R R U P Ç Ã O

década de 1990, o estudo sobre o hoje bastante conhecido cartão do cidadão


usuário permite que os cidadãos avaliem a qualidade dos serviços do gover-
no local (Quadro 6.2). Em Campo Elias, na Venezuela, graças à liderança da
prefeita, uma mulher corajosa que acredita no poder dos dados do governo
para informar e mobilizar para a ação, a incidência de corrupção relatada foi
reduzida à metade (Gonzalez de Asis, 2000).
Assim, os dados são poderosos para mobilizar a sustentação para as refor-
mas, mas os obstáculos apresentados pela enorme corrupção e a captação do
Estado pelos capitais investidos que resistem a essa reformas também são
poderosos. Contudo, a liderança política, a sociedade civil, os investidores do
setor privado e a comunidade doadora precisam construir sobre idéias e
momentos gerados pelo diagnóstico e utilizar e disseminar estatísticas em con-
junção com a promoção das liberdades civis e com o envolvimento da mídia,
resultando em uma maior responsabilidade e mais ações contra a corrupção.

Transparência Por Meio da Voz e da Participação

A corrupção pode produzir conhecimento e uma cidadania informada. De


fato, a habilitação da sociedade civil com informações mais rigorosas e con-

Quadro 6.2 – A “Voz” Como um Mecanismo para Fazer Valer a Transparência e a


Responsabilidade

Os estudos dos clientes e cidadãos que incorporam então membros para um conselho orçamentário par-
a realimentação dos cidadãos ajudaram a melhorar o ticipativo de toda a cidade, que decide o seu plano de
desempenho do setor público em muitos países. O investimentos. Evidências preliminares mostram que
método do boletim que começou por San Paul, em mais estradas foram pavimentadas e o número de
Bangalore, na Índia, encarna esta abordagem. Vincula estudantes matriculados nas escolas primária e
avaliações periódicas dos cidadãos de municipali- secundária dobrou.
dades locais e seus cálculos dos serviços públicos, De modo crescente, a voz e a transparência acen-
propina e extorsão. Existe evidência de que as repar- tuando as reformas têm sido implementadas por
tições públicas em Bangalore deram passos concretos intermédio da revolução da Internet e não apenas em
para melhorar a entrega do serviço. áreas como a licitação, discutida anteriormente. No
Em Mendoza, na Argentina, os cidadãos participa- Chile, apenas durante o ano passado, a fatia da popu-
ram na criação de regras transparentes relacionadas à lação pagante de impostos preenchendo o formulário
licitação pública. Um número de localidades por todo via Internet aumentou de 5% para 30%. Ademais, a
o mundo abraçou processos participativos seme- combinação das tecnologias de ponta estatística, com-
lhantes. Como parte de seu sistema pioneiro de orça- putacional e da Internet também está promovendo
mento participativo, Porto Alegre, no Brasil, reúne uma maior responsabilidade nas eleições políticas,
grandes assembléias nas quais as prioridades de gas- como se pôde testemunhar recentemente nas conta-
tos para educação, saúde, transporte, desenvolvimen- gens extremamente eficazes, precisas e rápidas na
to, taxação, organização da cidade e o desenvolvi- Argentina, no Chile e no México, em agudo contraste
mento urbano são discutidos. As Assembléias elegem com as eleições em numerosos países.

169
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

fiáveis é um pilar-chave da reforma. A transparência é um componente impor-


tante da habilitação e da voz pública. Como resultado, a ação política e grandes
projetos públicos deveriam ser baseados na incorporação da voz e da partici-
pação dos investidores no desenvolvimento (ver Quadro 6.2 para uma dis-
cussão sobre transparência e governo). A pesquisa do Banco Mundial mostra
que, quanto maior a participação dos beneficiários no esboço do projeto e sua
implementação, melhores serão o projeto e o desempenho do serviço.

Importância das Liberdades Civis

Nas seções anteriores deste capítulo apresentamos a estreita associação


entre liberdades civis e liberdade de imprensa por um lado, e controle da
corrupção e captação do Estado por outro (Figura 6.7). Ainda, que a
importância suprema das liberdades civis e políticas transcende seu valor
em diminuir o nível de corrupção, ou simplesmente como um input para um
resultado desenvolvimentista: é um bem básico que sublinha o bem-estar
por si. Ao mesmo tempo, avaliar se as liberdades civis importam como uma
entrada nos resultados desenvolvimentistas e financeiros é de relevância no
bojo do debate na comunidade de ajuda, em relação às responsabilidades
fiduciárias, para tornar a ajuda efetiva.
As evidências de mais de 1.500 projetos financiados pelo Banco Mundial
sugerem que as liberdades civis e a participação do cidadão são fatores impor-
tantes para os resultados do desenvolvimento. Pesquisas centradas na aferi-
ção do impacto das variáveis civis e participativas no desempenho do projeto
descobriram amplos efeitos coerentes, estatisticamente significativos, e das li-
berdades civis, nas taxas de retorno do projeto. Dependendo da medida das
liberdades civis utilizadas, se um país fosse aperfeiçoar suas liberdades civis a
partir do pior para o melhor, a taxa de retorno econômico dos projetos pode-
ria aumentar até 22,5 pontos percentuais (Tabela 6.2). Porque os índices de
liberdade civil utilizam-se de diferentes escalas, um método mais padroniza-
do de comparação serve para calcular quanto a taxa de retorno econômico
aumentaria se cada índice categórico fosse melhorado por um desvio-padrão.
Como pode ser constatado na última coluna da Tabela 6.2, isto ainda dá resul-
tados significativos, sugerindo um impacto da voz do cidadão no desempenho
do governo. Não obstante, o relatório Assessing Aid (World Bank, 1998a)
descobriu que tanto as liberdades civis como a democracia eleitoral têm efei-
tos benéficos no desempenho governamental, com a probabilidade de que o
principal canal de influência seja a disponibilidade das liberdades civis.
No Rajastão, na Índia, uma organização popular denominada Mazdoor
Kisan Shakti Sanghathan elaborou uma auditoria pública onde se expunha
a apropriação indébita pelos governos locais dos fundos de desenvolvimen-
to dirigidos aos trabalhadores locais. Isto gerou a demanda da cidade para
posteriores investigações no âmbito do governo. Os governos locais, estando

170
G O V E R N O E A N T I C O R R U P Ç Ã O

Tabela 6.2 – Impacto das Liberdades Civis Sobre o Projeto de Taxas de Retorno
Socioeconômicas

Especificação em variáveis independentes

Variável de Apenas com Com simulações Com variáveis Com variáveis Efeitos da taxa econômica de
liberdades controle de variáveis regionais de políticas de simulações retorno sobre um aumento de
civis endógenas regionais e políticas desvio-padrão nas liberdades civis

Freedom House
Liberdades Civis
(1978-87) 1,81 1,16 1,71 1,07 1,57
(N=649) (0,0005) (0,079) (0,002) (0,114)

Humanas
(1982-85) 0,290 0,299 0,296 0,289 5,19
(N = 236) (0,003) (0,007) (0,002) (0,013)

Pluralismo de mídia
(1983-87) 4,61 4,45 3,66 3,43 3,12
(N = 448) (0,0001) (0,002) (0,001) (0,026)

Liberdade para organizar


(1983-1987) 3,17 1,81 2,41 -0,26 2,70
(N = 448) (0,0001) (0,184) (0,006) (0,854)

N = número de observações.
Nota: O erro-padrão está entre parênteses. A taxa média de retorno econômico nos projetos está na amplitude de 12%-16%.
Fonte: Isham et al. (1997).

sob a inquirição pública e da imprensa, foram obrigados a condescender. O


governo do Rajastão reconheceu o direito popular de acesso aos documen-
tos oficiais e decretou a legislação de demarcação de terra (Bhatia & Dréze,
1998) (ver Quadro 6.3).
Grupos governamentais e cidadãos podem fazer que sua voz venha à to-
na mediante estudos e dados coletados em modos mais sistemáticos. Os es-
tudos dos clientes podem lançar luzes nas experiências dos cidadãos com os
serviços do governo e identificar sugestões para melhoria do desempenho.
Os estudos subseqüentes podem ser usados para garantir a responsabili-
dade e assegurar que as melhorias estão sendo feitas na direção desejada.
Gerar dados e disseminá-los amplamente são ações poderosas para
mobilizar a sociedade civil e fazer pressão nas estruturas políticas. Por
exemplo, os mapas comparativos simples, exemplificando as descobertas de
corrupção, podem ajudar a mobilizar e dar voz a grupos de cidadãos ante-
riormente silenciosos e desiguais.

Rumo a um Contrato Social: Facilitar


a Supervisão e a Participação da Sociedade Civil

A supervisão e a participação da sociedade civil sobre a tomada de


decisão e o funcionamento do setor público foi um contrapeso e um instru-

171
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Quadro 6.3 – Milhões de “Auditores” Fazem Valer a Transparência e o Governo nos


Cálculos Orçamentários e Além

A transparência significa habilitar a cidadania a A corrupção afeta todas as principais áreas da admi-
tornar-se milhões de auditores na sociedade, propi- nistração pública, arrecadação de renda como um
ciando voz e acesso a uma imprensa livre. Isto capaci- meio de aumentar os fundos públicos e alocações de
ta o fluxo das informações econômicas sociais e políti- receitas públicas como uma forma de prover os bens
cas adequadas e confiáveis sobre o uso que os investi- públicos. Isto afeta a regulamentação pública como
dores privados fazem dos empréstimos e a credibili- meios de diminuição das falhas de informação nos
dade dos tomadores de empréstimo, a provisão dos mercados, particularmente nos mercados de capital.
serviços de governo, políticas monetária e fiscal, e as Pesquisa empírica recente dos episódios de crise
atividades de instituições internacionais. Por contras- financeira indica que a probabilidade de tais crises foi
te, falta de transparência significa que alguém, tal significativamente mais ampla onde não havia trans-
como um ministro do governo, instituição política, parência. Os diagnósticos governamentais em profun-
corporação ou banco, está deliberadamente impedin- didade das repartições públicas discutidas anterior-
do o acesso ou deturpando as informações. mente dentro de um país também sugerem que os
Em geral, falta de transparência aumenta o escopo departamentos com fluxos transparentes de informa-
para a corrupção por meio da criação de assimetrias in- ção tendem a mostrar uma corrupção mais baixa e
formais, entre as entidades reguladas e as reguladoras. melhor governo e desempenho gerais.

mento para combater a corrupção e melhorar o governo. Isso implica tornar


o governo transparente para o público e habilitar a cidadania para desem-
penhar um papel ativo. Enquanto poucos países da OECD estiveram à frente
das reformas de transparência, em muitas das economias de transição e
emergentes o setor público da cultura é ainda um dos sigilos das tomadas de
decisão. Freqüentemente, os votos parlamentares não são divulgados publi-
camente, o acesso público à informação governamental não é garantido e as
decisões judiciais não estão normalmente disponíveis para o povo. Ademais,
apesar de uma sociedade civil crescente, o governo caracteristicamente não
envolve as ONGs na monitoração dos processos decisórios ou desempenhos.
A posse da mídia concentrada e recentes restrições no relato fragilizaram a
capacidade da mídia para garantir a responsabilidade do setor público.
Em conseqüência, mudar a cultura para uma cultura de transparência
envolve uma mudança fundamental no modo como são tomadas as decisões
no setor público. Os tipos de reformas transparentes que demonstraram
internacionalmente ser efetivas incluem:

• garantir o acesso público a informações governamentais (liberdade


de informação);
• requerer que certos tipos de reuniões governamentais sejam abertos
à observação pública;
• conduzir auditorias públicas e referenda em esboços, decretos, regula-
mentações e leis;
• publicar as decisões judiciais legislativas e manter um registro;

172
G O V E R N O E A N T I C O R R U P Ç Ã O

• assegurar a liberdade de imprensa, proibindo a censura, desencora-


jando a utilização, pelos funcionários públicos, de leis de calúnia e di-
famação, para intimidar os jornalistas e encorajar a diversidade da
posse da mídia;
• envolver a sociedade civil para monitorar seu desempenho em áreas
tais como anticorrupção e ordem de licitações públicas em larga
escala;
• utilizar os novos instrumentos baseados na Internet para transparên-
cia, divulgação, participação pública e disseminação.

O papel da sociedade civil deveria ser tanto dinâmico quanto fornecedor


de uma oportunidade para os líderes políticos tentarem construir a credibi-
lidade na instância estatal; novas atividades em muitos países para os quais
o Banco Mundial fornece assistência envolvem a sustentação da equipe de
trabalho coletiva da sociedade civil, a mídia, especialistas, o setor privado e
os reformadores no Executivo e Legislativo nos programas de reforma
de governo e anticorrupção. O processo de envolvimento pelos investidores-
chave na sociedade civil cria um momento rumo à posse e sustentabilidade
das reformas e constrói a credibilidade, como está ocorrendo em alguns paí-
ses da Europa oriental, da África e da América Latina, por exemplo.

Conclusões

O governo deve ser entendido num contexto mais amplo do que sim-
plesmente equilibrar a corrupção, o que é um sintoma-chave de uma das
fragilidades institucionais mais fundamentais. Tanto governo quanto
corrupção precisam ser rigorosamente desvelados e entendidos de modo
analítico e empírico. O mau governo distorce a tomada de decisões políti-
cas, a feitura de políticas e a alocação dos fatores de produção, que, por sua
vez, retarda o crescimento de renda e bem-estar e aumenta a pobreza. As
muitas capacidades fracassadas de abordagens de construção no passado
não deram atenção suficiente para alimentar o bom governo, controlar a
corrupção, melhorar a burocracia e o serviço civil, promover as liberdades
civis e abordagens participativas, entender as origens e as conseqüências da
captação do Estado, ou o conhecimento posterior sobre a economia política
do edifício institucional. O governo precisa dar entrada ao estágio central da
capacidade de construir estratégias de mudanças institucionais. A com-
preensão dos capitais particulares investidos por diferentes grupos de
influência é necessária – incluindo o setor corporativo (tanto doméstico
quanto FDI) –, como é o reconhecimento de que os incentivos, a prevenção
e os desafios de mudança sistemática no âmbito das instituições afetam de
modo vital o governo e são pelo menos tão importantes quanto os aspectos
tradicionais da aplicação da lei.

173
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

O governo, a voz e a participação serão chaves fundamentais para uma


abordagem melhorada à assistência técnica e capacidade de construção no
futuro. Melhorar o governo deveria ser visto como um processo que integra
três componentes vitais: conhecimento, com dados rigorosos e análises
empíricas, inclusive diagnósticos de governo dentro do país e disseminação
transparente, utilizando os instrumentos tecnológicos de informação de
ponta; liderança na sociedade civil e política e na arena internacional; e ação
coletiva por meio de consenso participativo e sistêmico, construindo abor-
dagens com os investidores-chave na sociedade (para os quais a revolução
tecnológica também está ajudando). A responsabilidade coletiva também
implica que as corporações internacionais, o setor privado nacional e as
agências internacionais precisam colaborar com os governos nacionais e li-
derar as tentativas de melhoria do governo.
A evidência aponta para a necessidade de uma abordagem mais abran-
gente e integrada para propiciar o clima para o desenvolvimento bem-sucedi-
do. Instituições econômicas e medidas políticas, tais como o orçamento e a
natureza dos programas de investimentos públicos, são importantes, assim
como as liberdades civis e a participação, com as quais interagem. Isto calça a
disputa para uma abordagem mais holística ao desenvolvimento que liga va-
riáveis econômicas, institucionais legais e participativas.
A participação e a voz são vitais no crescimento da transparência, for-
necendo as verificações e contrapesos necessários, e melhorando a captação
do Estado pelos capitais investidos da elite. Não é o suficiente manter as
políticas de economia básica só no papel; as forças da economia política em
ação também devem ser reconhecidas. Essas forças irão variar de um país
para outro. Em alguns países, equilibrar a reforma legal, reguladora e de
licitação será fundamental para melhorar o governo e controlar a corrupção.
Em outros, onde a captação do Estado é feita pela elite corporativa e quan-
do há uma frágil vontade política para a reforma, a supervisão da sociedade
civil, a competição empresarial e trabalhar para melhorar a proteção do
direito de propriedade poderiam ser a chave.
Para um foco acentuado na diminuição da pobreza, uma abordagem
acordada, que integra uma compreensão empírica rigorosa dos desafios do
governo dentro de um país, encoraja o envolvimento ativo de todos os
investidores-chave, talhado nas próprias realidades do país e defendido pela
liderança local, provavelmente dará bons frutos.

Notas

1. Pletora dos indicadores que aferem os vários aspectos do governo são ordinais; ou seja, pos-
suem um elemento qualitativo ou subjetivo. Contudo, os dados são importantes. Em
primeiro lugar, para alguns aspectos do governo, estes são os únicos tipos de dados
disponíveis (e é agora possível desligar o “ruído” do “sinal”). Quase por definição, os dados

174
G O V E R N O E A N T I C O R R U P Ç Ã O

pesados (numéricos cardinais) têm sido até aqui virtualmente impossíveis de se obter num
formato sistemático e, para aquelas poucas dimensões governamentais onde tais dados exis-
tem, são seguidos por uma larga margem de erro e/ou questões metodológicas. Em segun-
do lugar, para muitos aspectos do governo, os resultados dos estudos (mesmo que con-
tenham um elemento de percepção) importam tanto quanto os dados oficiais. Por exemplo,
se o setor de negócios de um país encara o sistema judiciário como uma arma do governo e
evita se utilizar dos tribunais, vai pensar duas vezes sobre decisões de investimento. Ver
Anexo 6 para maiores detalhes.

2. A assimetria das barras horizontais é explicada pelas diferenças na variável dentro de cada
quartilho. Enquanto as diferenças nos países são pequenas nos dois primeiros quartilhos, são
maiores no terceiro e no quarto.

3. A metodologia econométrica e sua aplicação empírica sugere que as variáveis governamen-


tais afetam diferentes variáveis socioeconômicas, tais como mortalidade infantil, alfabetiza-
ção e renda per capita de um modo causal. Contudo, tendo estabelecido que as variáveis go-
vernamentais conjuntamente importam significativamente para os resultados socioeconômi-
cos, é preciso ter cuidado ao desembaraçar os impactos causais independentes sobre as va-
riáveis desenvolvimentistas de cada único subcomponente do governo. Dada a existência de
multicolinearidade entre os vários subcomponentes do governo, é possível que o impacto da
voz observado sobre a mortalidade infantil, por exemplo, esteja sendo escolhido por procu-
ração de outras determinantes governamentais, tais como a corrupção ou a regra de direito.
Ver também o Anexo 6 para detalhes metodológicos.

4. Hellman et al. (consultar http://www.worldbank.org/wbi/governance).

5. Outros fatores no estudo empírico das causas da corrupção também aparecem como impor-
tantes. Como esperado, a renda per capita e a educação têm correlação com um nível de cor-
rupção mais baixo quando os outros fatores são mantidos constantes. As variáveis gerais do
desenvolvimento são freqüentemente procurações para determinantes mais específicas da
corrupção, tais como a qualidade das instituições públicas ou a regra de direito (ver Ades &
Di Tella (1999) para uma revisão útil).

6. Muito deste capítulo deve-se ao trabalho colaborativo com Sanjay Pradhan, Randi, Ryterman
e o Grupo do Setor Público. Ver também World Bank (2000h).

7. Grande parte deste capítulo é devida ao Gerenciamento de Gastos Públicos, no trabalho de


Allistair Moon, Sanjay Pradhan e Gary Reid.

8. Em 1998 o chefe do governo, os membros do gabinete e as centenas de investidores da


sociedade civil participaram da oficina sobre o governo nacional da Albânia, que ocorreu
simultaneamente às semifinais do Campeonato Mundial de Futebol na França. A oficina ca-
racterizou os principais achados dos diagnósticos em profundidade e um debate sobre as
prioridades para a ação. Concluiu-se com um compromisso pela liderança com um programa
pró-governo. Exemplificando a importância atribuída ao evento pela nação, no dia seguinte
as primeiras páginas de todos os jornais de Tirana publicaram como manchete os resultados
do diagnóstico do governo, enquanto os resultados da Copa de Futebol foram relegados a
páginas secundárias. A Albânia está levando a efeito um programa anticorrupção, que inclui
a reforma judicial e alfandegária, com sustentação do Banco Mundial.

175
C A P Í T U L O 7

AGARRAR AS
OPORTUNIDADES
DE MUDANÇA
Devemos usar o tempo de modo criativo e compreender de uma vez que ele está
sempre maduro para se fazer o correto.
— Nelson Mandela, Higher Than Hope: The Authorized Biography of
Nelson Mandela

E ste livro revisitou as experiências de desenvolvimento das


décadas recentes, com um foco na década de 1990. A última
década do século XX conheceu um progresso impressionante
em algumas partes do mundo, mas também estagnação e
reveses, mesmo em países que haviam desfrutado um crescimento rápi-
do. Enquanto a prosperidade se espalhava e a qualidade de vida melho-
rava para muitos dentro da sociedade, estimava-se que a pobreza tinha
persistido com muita teimosia, e piorado para alguns. As pressões maio-
res da população, pouco acesso à educação e a degradação dos recursos
naturais tornaram os pobres cada vez mais vulneráveis à volatilidade
do crescimento.
Entre 2000 e 2010, a população das economias desenvolvidas (in-
cluindo as em transição) é projetada para um crescimento de cinco a seis
bilhões de pessoas. Se os países seguissem um cenário de negócios como
de hábito, o número de pessoas no mundo em desenvolvimento
(excluindo a China) vivendo abaixo da linha de pobreza poderia aumen-
tar para cerca de 130 milhões. Este livro indica modos para melhorar
resultados futuros.

177
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

A Estrutura e os Temas

Os bens de capital humano, natural e físico são os principais recursos de


um país para o crescimento e as melhorias do bem-estar. Sua distribuição,
crescimento e produtividade determinam amplamente a renda do povo e
seu bem-estar. Os pobres baseiam-se nos capitais natural e humano, além
do capital físico, de modo que o acúmulo e a produtividade destes bens têm
um impacto forte sobre a pobreza. Estudos mostram que “os pobres rara-
mente falam de renda, mas centralizam-se, ao contrário, na manipulação do
bens – físico, humano, social e ambiental – como um modo de lidar com sua
vulnerabilidade” (Narayan et al., 2000).
O crescimento baseado no acúmulo relativamente correto (ou equilibra-
do) é provavelmente menos volátil e sustentado a longo prazo. Este tema é
respeitado pela evidência do país no Capítulo 2. Em primeiro lugar, uma
comparação dos reformadores e não reformadores mostrou que as reformas
ajudaram a acelerar o crescimento na década de 1990; contudo, este cresci-
mento (em muitas instâncias) foi baseado num agudo aumento no acúmu-
lo de capital físico, enquanto os investimentos nos capitais humano e natu-
ral foram deixados para trás. Em segundo lugar, uma análise econométrica
de vinte países com maioria de renda média mostrou que a taxa do cresci-
mento econômico declina, enquanto o estoque de capital físico aumenta
para os dados níveis dos capitais humano e natural, mas o acúmulo dos
bens de capital humano, pelo acesso crescente à educação e à saúde, pode
interromper este declínio. Em terceiro lugar, uma análise econométrica de
setenta países em desenvolvimento confirmou as descobertas anteriores
sobre o acúmulo de capital e mostrou que, quando o capital natural também
é levado em consideração como um fator de produção, o capital humano
pode ser substituído pelo capital natural em alguma extensão e reduzir a
dependência dele como uma fonte de crescimento.

Melhorar a Distribuição das Oportunidades

Para que o crescimento reduzisse de modo efetivo a pobreza, os bens


dos pobres precisariam ser aumentados. Seu principal bem é o capital hu-
mano. Assim, a desigualdade na educação está desequilibrada. Se as capaci-
dades forem distribuídas de modo normal pela população – sem se impor-
tar se as pessoas são ricas ou pobres –, a desigualdade de acesso à educação
básica e ao trabalho representaria uma das maiores perdas de bem-estar
para a sociedade. Quando a qualidade da escolaridade é baixa e a desigual-
dade na escolaridade é alta, os pobres são, em sua maioria, atingidos pela
educação inadequada. O subinvestimento no capital humano dos pobres
pode ser atribuído a brechas de gênero, falta de riqueza, falência de merca-
do e distorções políticas.

178
A G A R R A R A S O P O R T U N I D A D E S D E M U D A N Ç A

Ademais, muitos países não têm focalizado de modo adequado o inves-


timento público na educação básica. Realocar em direção da educação bási-
ca é fundamental para melhorar a eficácia dos gastos públicos. A educação
em todos os níveis, inclusive o superior, precisa beneficiar-se dos investi-
mentos privados e das parcerias público/privadas. Tomadas de decisão des-
centralizadas e escolas gerenciadas pela comunidade encarnam a grande
promessa para a melhoria dos resultados da educação. Contudo, para tornar
a educação mais produtiva para os pobres, eles precisam ser habilitados com
terra, eqüidades de treinamento de capital e oportunidades de trabalho e
mercados abertos e competitivos (Capítulo 3).

Sustentar o Capital Natural

Diversos indicadores da qualidade do capital natural, com a notável


exceção do acesso à água de qualidade e saneamento, tenderam a deteriorar
tanto nas economias de crescimento lento quanto nas de crescimento rápi-
do. Para o mundo em desenvolvimento como um todo, o esgotamento do
capital natural (florestas, energia e minerais) e os danos provocados pelas
emissões de dióxido de carbono são estimados em 5% do PIB. Essa dete-
rioração do capital natural impõe custos atuais significativos e diminui as
perspectivas para um crescimento futuro. O crescimento mais rápido pos-
sui o potencial de deixar disponíveis os recursos a serem investidos no acú-
mulo de capital natural, mas é preciso que haja ações para garantir a quali-
dade do processo de crescimento. Logo, a abordagem da ideologia do
“cresça agora e limpe depois” precisa ser substituída por uma política am-
biental integrada às políticas de crescimento.
Este livro documenta com sucesso as iniciativas que incorporaram as
ações de modo simultâneo, para estimular o crescimento e proteger o capi-
tal natural. Essas medidas envolvem, freqüentemente, intervenções estatais
seletivas e o setor privado. Os problemas globais e nacionais podem ser le-
vantados simultaneamente mediante a cooperação internacional, incluindo
mecanismos de transferência para pagamentos destinados a compensar as
externalidades globais. Como conseqüência, a busca do crescimento de alta
qualidade é possível e desejável, sem uma degradação extensiva da atmos-
fera, das florestas e dos rios, ou quaisquer outros aspectos do capital natu-
ral (Capítulo 4).

Tratar com os Riscos Financeiros Globais

A integração com o sistema financeiro global tem trazido, inegavel-


mente, benefícios tecnológicos e econômicos para os países, mas isso tam-
bém os expõe a choques e à grande volatilidade dos valores atuais da moeda,

179
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

das taxas de juros e dos fluxos de capitais. Os choques podem realizar


importantes saídas e perdas de emprego, desastres bancários e corporativos
e aumento da pobreza. Logo, os países precisam de mecanismos adequados
para equilibrar os benefícios da globalização com seus riscos. Precisam
reduzir os riscos do pânico e as crises, mantendo, ao mesmo tempo, seus
compromissos com a abertura do mercado.
Um ambiente político macroeconômico sólido é essencial para o
crescimento sustentado, mas experiências recentes mostram que a esta-
bilidade macroeconômica não pode fazer isso sozinha. Deve ser comple-
mentada com ações para remover as garantias governamentais explícitas
ou implícitas que forneçam incentivos para as afluências de capital, para
fortalecer a regulação nacional e a supervisão dos bancos e de outros
intermediários, para reconstruir a infra-estrutura informativa dos merca-
dos financeiros e melhorar o governo corporativo e a transparência. Os
países devem, igualmente, manter a sustentação pública para os mercados
abertos de capitais. Nos países democráticos, isso acarreta fornecimento
de segurança para os cidadãos – tanto por meio do mercado quanto dos
gastos públicos redistributivos na educação, na saúde e transferências de
pagamentos (Capítulo 5).

Melhorar o Governo e Combater a Corrupção

O governo tem o papel principal na distribuição dos bens públicos


essenciais para realizar um crescimento equilibrado e sustentado e para
reduzir a pobreza. Também precisa ter regimes reguladores eficazes e aper-
feiçoados, para corrigir externalidades e falência no mercado. O mau gover-
no e a corrupção distorcem a feitura da política e a alocação de fatores-chave
de produção, conseqüências que alentam a renda e o crescimento do bem-
estar e aumentam a pobreza. Muitos projetos e investimentos em desen-
volvimento falharam porque deram pouca atenção à alimentação do bom
governo e das liberdades civis, controlando a corrupção, melhorando a
burocracia e erigindo uma capacidade institucional.
A participação pelos beneficiários, a atenção às vozes do povo e das
empresas competitivas e a responsabilidade e transparência nos governos
são vitais para o controle da corrupção e melhoria do governo. Novas abor-
dagens para o edifício da coalizão e a integração dos métodos de ponta de
governo e os estudos da corrupção com novas tecnologias para análise ade-
quada e a disseminação estão produzindo resultados encorajadores em
alguns países. A ação coletiva originada desta edificação do processo parti-
cipativo de um consenso, acoplada com o poder da informação, divulgação,
transparência e edificação do conhecimento e da capacidade podem nutrir a
vontade política e a capacidade técnica para equilibrar o mau governo e sus-
tentar a edificação das instituições (Capítulo 6).

180
A G A R R A R A S O P O R T U N I D A D E S D E M U D A N Ç A

Ações para Garantir a Qualidade

Os temas emergentes ajudam a esclarecer quatro dimensões que for-


mam a qualidade do processo de crescimento: distribuição de oportuni-
dades, sustentabilidade do meio ambiente, o gerenciamento dos riscos glo-
bais e o governo (Quadro 7.1). Estes elementos contribuem diretamente
para o desenvolvimento. Têm um relacionamento de mão dupla com o
crescimento, juntam-se ao impacto do crescimento sobre o bem-estar, aju-
dam a tornar o crescimento mais sustentado e equilibram os conflitos que
o crescimento poderia colocar para a sustentabilidade.
Este livro fornece evidências de um espectro de áreas e fontes que
mostram que um foco centrado na quantidade não irá, por si só, garantir a
qualidade. De modo que os níveis de gastos públicos não podem oferecer
uma indicação adequada do impacto. Em um estudo da WHO, que classifi-
ca 191 países quanto à qualidade (incluindo eqüidade e ampla cobertura) de
seus sistemas de saúde, os Estados Unidos são o 1º em gastos de saúde per
capita, mas são o 37º no desempenho dos sistemas de saúde geral. A França

Quadro 7.1 – Ações para a Qualidade

Quais poderiam ser as implicações políticas para educação, à tecnologia e a serviços de saúde, as-
garantir a qualidade do crescimento? Este livro apre- sim como à terra, ao crédito, ao treinamento para
sentou várias, que podem ser organizadas sob três habilidades, e a oportunidades de trabalho nos
princípios. mercados abertos.
• Garantir estruturas reguladoras eficazes e medi-
Políticas para um crescimento não distorcido das anticorrupção para acompanhar a abertura fi-
dos capitais físico, humano e natural nanceira e a privatização.
• Alinhar reformas e a reestruturação para meca-
• Evitar subsídios diretos ou indiretos para o ca- nismos de diminuição dos custos das crises, que
pital, tais como isenção de impostos, colocação provavelmente serão sofridos de maneira despro-
de poderes monopolistas e nos subsídios, pri- porcional pelos pobres.
vilégios especiais que alimentam a corrupção e
garantias implícitas nas taxas de retorno. Construir a estrutura governamental
• Investir de modo eficaz no capital humano e garan- para o desenvolvimento
tir o acesso aos pobres por meio de incentivos e da
alocação de investimentos públicos na educação. • Envolver todos os investidores – o setor privado,
• Sustentar o capital natural esclarecendo os direi- inclusive, as empresas transnacionais e o setor
tos de propriedade, evitando níveis baixos en- nacional privado, ONGs, a sociedade civil e o
ganosos de royalties para os recursos naturais e a governo – na implementação de uma agenda de
aplicação de impostos ambientais. desenvolvimento compartilhada por todos.
• Habilitar as pessoas por meio da voz, partici-
Atenção para com os aspectos de pação e liberdades civis e políticas maiores.
• Sustentar a liberação econômica por meio da pro-
estabilidade e distributivos do crescimento
moção do desenvolvimento institucional e de me-
• Assegurar que os pobres possam ter acesso à lhor governo.

181
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

– 4º em gasto per capita – é o 1º em desempenho; a Colômbia é o 22º; o


Chile, 33º; Costa Rica, 36º; e Cuba, 39º (WHO, 2000).
Este livro mostra, igualmente, os efeitos das falhas do mercado. Sobre a
habilidade dos pobres para construir o capital humano. Sobre a subavaliação
e subseqüente superexploração do capital humano. E sobre a indevida insta-
bilidade dos mercados financeiros. Um foco sobre a qualidade sublinha o
papel das políticas reguladoras e dos gastos públicos ao lidar com estas fa-
lhas de mercado.
A resposta não deve necessariamente aumentar o ônus regulador da
economia ou os gastos públicos. Em vez disso, deve realocar os gastos
públicos de acordo com novas prioridades e mudar a natureza da regu-
lação – eliminando regulamentações que são contraprodutivas e melhorar
aquelas para corrigir as falhas de mercado. Quais deveriam ser as novas
prioridades dos gastos públicos? Fazer mais para promover a edificação do
capital humano, especialmente entre os pobres. Investir mais para pre-
venir a degradação posterior do capital natural e reduzir os subsídios
regressivos que beneficiem o capital físico. Visar às regulamentações das
falhas nos mercados financeiros e nos mercados que afetam a utilização
dos recursos ambientais.

Onde as Políticas para Qualidade Funcionam –


Ou Não?

Não há nenhum cenário onde os atributos da qualidade foram enfatiza-


dos com sucesso uniforme. Contudo, as experiências dos quatro países que
se seguem ilustram a busca dos aspectos qualitativos do crescimento, com
graus de eficácia variáveis.

Investir com Eficiência na Educação Básica:


A República da Coréia

Começando com uma economia de guerra dilacerada e uma base pobre


em recursos naturais, a Coréia teve uma média anual de PIB per capita de
mais de US$ 500, baseado em PPP dólares de 1980, no fim da década de
1950. Então, o PIB per capita dobrou em cada uma das três décadas
seguintes, dirigido por um crescimento de base ampliada, orientada pela
exportação. O crescimento foi acompanhado por uma rápida redução da
pobreza e uma distribuição de renda relativamente eqüitativa (Leipziger,
1997).
A Coréia gastou uma média de 3,4% do PNB na educação pública na
década de 1980, que estava alinhada com a média regional. Contudo, dife-
rentemente dos outros países em desenvolvimento, a Coréia gastou dois

182
A G A R R A R A S O P O R T U N I D A D E S D E M U D A N Ç A

terços de seu orçamento educacional em educação básica compulsória na


década de 1960 e no início da de 1970. Na década de 1990, os subsídios pú-
blicos para estudantes da escola primária eram duas ou três vezes aquele pa-
ra os estudantes universitários. A educação superior era financiada principal-
mente por gastos privados. A Coréia estava apta para expandir rapidamente
a educação básica e reduzir a desigualdade educacional, ou, segundo a medi-
da do coeficiente Gini para a educação, de 0,55 em 1960 para 0,22 em 1990.
O governo coreano sustentou indústrias favorecidas por empréstimos
diretos, subsídios e garantias. Em ambientes liberalizados mas inadequada-
mente regulados, estas medidas levaram a tomadas de empréstimo estran-
geiro e investimentos perdulários pelo setor corporativo e a uma fragilidade
financeira intensificada. Tanto as lições positivas como as caucionárias
podem ser esboçadas a partir da experiência coreana.

Crescimento de Base Ampla Dentro


de uma Agenda Incompleta: Kerala, Índia

Sobre tais dimensões do desenvolvimento social como educação, saúde,


lacuna de gênero, liberdades civis e políticas, redução da pobreza e desigual-
dade, o desempenho do desenvolvimento de Kerala, na Índia, é comparável
àquele de muitas economias mais ricas. Uma criança nascida em Kerala
pode esperar viver mais do que uma nascida em Washington, D.C. Contu-
do, o crescimento econômico medido de Kerala tem sido, até recentemente,
mais baixo do que a média entre os estados indianos.
Kerala deu atenção aos aspectos qualitativos do desenvolvimento en-
quanto negligenciava os de primeira geração: políticas orientadas para o
crescimento. Para um crescimento equilibrado dos bens, as políticas eco-
nômicas das boas condições de mercado precisam complementar as iniciati-
vas sociais. A falta de progresso ao implementar um ambiente aberto e com-
petitivo para as atividades econômicas atrapalhou o crescimento econômico
em Kerala. Uma vez que foram implementadas estas reformas políticas de
primeira geração, o alto nível de desenvolvimento social deveria oferecer
uma base para o crescimento sustentado de alta qualidade.
Ravallion & Datt (1999) descobriram que o impacto do crescimento na re-
dução da pobreza varia com a alfabetização inicial, a produtividade agrícola e
o padrão de vida nas áreas rurais, relativos àqueles nas áreas urbanas. Nos es-
tados com taxas altas de alfabetização e educação básica distribuída eqüitativa-
mente, cada ponto percentual adicional de crescimento tem um forte impacto
sobre a redução da pobreza, maior do que em outros estados. A elasticidade
da redução da pobreza para o crescimento não agrícola em Kerala foi a mais
alta de todos os estados na Índia. Se todos os estados indianos tivessem a
elasticidade da redução da pobreza de Kerala, a parcela de seu povo na
pobreza teria caído quase três vezes mais rápido – a 3,5% ao ano, e não 1,3%.

183
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Equilibrar o Crescimento Econômico


e o Capital Natural Sustentado: Costa Rica

A Costa Rica tem uma taxa de alfabetização alta, estabilidade política e


econômica, e nenhum orçamento militar. A distribuição de renda pelos in-
dicadores sociais está entre os melhores na América Latina. Contudo, ainda
assim, o país precisava corrigir vários problemas ambientais, desde poluição
urbana, utilização excessiva de agroquímicos e superexploração dos pesca-
dos, para a perda de biodiversidade e uma taxa de desmatamento que na
década de 1980 era estimada em 3% ao ano.
A Costa Rica reagiu com um sistema inovador e abrangente de proteção
florestal. Um sistema de compensação por meio dos mercados para o con-
fisco do carbono, a preservação das bacias hidrográficas e a proteção da bio-
diversidade ajudou a proteger as florestas. O sistema gera seus próprios
recursos mediante um imposto sobre combustíveis aplicado aos consumi-
dores domésticos, contratos com as empresas de energia hídrica e paga-
mentos pelos partidos internacionais para os deslocamentos das emissões
de gás carbônico.
O Ministério do Meio Ambiente e Energia sustentou as reformas políti-
cas baseadas em pesquisas para programas de proteção e educação ambien-
tais para escolares. As avaliações do impacto ambiental são imperativas para
a maioria dos projetos, inclusive construção comercial e residencial e mine-
ração. A lei estabelece diretrizes estritas sobre a proteção dos recursos hí-
dricos, pântanos, monumentos naturais, áreas naturais protegidas e recur-
sos costeiros e marinhos. Ela estabelece, igualmente, diretrizes para todos
os tipos de poluição e abuso da terra e remoção imprópria do lixo. Atual-
mente, o plano é aumentar a eficácia das leis, fortalecer a capacidade das
instituições responsáveis pela aplicação e entrar em parceria com os setores
civil e privado da sociedade (Thomas, 1998).

Abertura Equilibrada, Gerenciamento


do Risco e Proteção Social: Chile

Depois de uma década de rápida abertura dos mercados e um cresci-


mento volátil na década de 1980, o país tomou medidas para o gerencia-
mento do risco na década de 1990. Em primeiro lugar, o Chile implemen-
tou um sistema altamente dirigido de assistência social, mediante progra-
mas de saúde, educação, habitação e divisão de rendas. Os investimentos
sociais do governo aumentaram perto de 75% entre 1987 e 1994, que, com-
plementando um crescimento econômico robusto, deram contribuições
sólidas para a redução da pobreza. Em segundo lugar, como os fluxos de
capital tornaram-se mais voláteis, o Banco Central independente imple-
mentou controles de capital seletivo sobre afluências de capital de curto

184
A G A R R A R A S O P O R T U N I D A D E S D E M U D A N Ç A

prazo entre 1991 e 1998. De modo discutível, eles ajudaram a aumentar a


fatia entre taxas de investimento nacional e estrangeiro e a mudar a com-
posição das afluências de capital em direção a vencimentos mais longos
(Gallego et al., 1999).
Estas e outras políticas contribuíram para o rápido crescimento eco-
nômico, com um declínio significativo na pobreza. A incidência da pobreza
caiu de 41% da população em 1987 para 23% em 1994, enquanto a incidên-
cia de pobreza aguda (baseada sobre uma linha de pobreza/indigência mais
baixa) caiu de 13% para 5%. A desigualdade de renda parece ter se estabi-
lizado desde 1987, depois de subir durante a maior parte do período de
1960-1985 (Ferrera & Litchfield, 1999). Além disso, os recursos naturais
foram subprotegidos e superexplorados. A distribuição da educação tornou-
se menos eqüitativa, como refletido por uma brecha crescente nos anos de
escolaridade entre ricos e pobres (World Bank, 1997b).

Economia Política de
Quantidade versus Qualidade

As variadas experiências das economias sugerem que uma ênfase na


qualidade é essencial em três pontos. Em primeiro lugar, qualidade pro-
move diretamente o bem-estar ao influenciar uma distribuição mais uni-
forme da educação e dos cuidados de saúde e uma melhoria ambiental.
Crescimento e aspectos qualitativos – ligados um ao outro numa relação de
mão dupla – necessitam de atenção conjunta.
Em segundo lugar, o andamento do crescimento é menos volátil e mais
sustentável quando os aspectos qualitativos são levados em consideração.
Onde as taxas de crescimento são altamente variáveis ao longo do tempo,
os impactos negativos são especialmente pronunciados para os pobres.
Em terceiro lugar, as economias que se focam na qualidade podem lidar
melhor com acordos difíceis. Um acordo mencionado neste livro é a ten-
tação de subsidiar o capital físico ou superexplorar o capital natural em um
esforço para promover o crescimento. Neste caso e em casos similares, o
foco nos aspectos qualitativos do crescimento ajuda a gerenciar os acordos.
A maioria dos países – e muito aconselhamento político – sublinhou a
estabilização e a liberalização macroeconômica em primeiro lugar. Nesse
ínterim, as ações sobre os aspectos qualitativos, tais como a distribuição da
educação e a utilização sustentável do capital natural, são adiadas. A
evidência aqui apresentada mostra as limitações fundamentais desta abor-
dagem e os benefícios da ação conjunta.
De vez em quando, os reformadores acharam isso necessário para tirar
vantagem de janelas de oportunidades para liberalização, quando o capital
investido e a oposição à liberalização foram silenciados. Se as dimensões
qualitativas também recebem prioridade, podem depender de outras con-

185
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

dições, inclusive da expansão das instituições democráticas. Num cenário


cada vez mais crescente e participativo, um país não deveria querer adiar os
aspectos qualitativos importantes do crescimento para um tempo em que os
custos para corrigi-los terão se multiplicado.
Algumas vezes as dificuldades políticas podem impedir o progresso,
mesmo quando a importância dos aspectos qualitativos é clara. Os grupos
de interesse podem dirigir um calço entre o esboço político e sua imple-
mentação. Um conluio entre os políticos e a elite pode distorcer a dotação
de recursos públicos para recompensar os donos do capital físico. Por
exemplo, as isenções de impostos, garantias implícitas de infra-estrutura,
poderes monopolistas e fácil acesso aos recursos naturais freqüentemente
beneficiam os ricos, mas atingem os pobres.
A economia política das reformas, menos explorada que outros aspectos
do crescimento, é uma área difícil de ser avaliada – ainda que algumas ini-
ciativas pareçam ser indiscutivelmente dignas de valor. Alimentar a partici-
pação do beneficiário, encorajando o domínio dos programas de reformas, e
promover a representação política dos pobres é um bom começo.

Seguir em Frente

Como podem os países atribuir maior prioridade às dimensões qualita-


tivas do crescimento? E como podem financiar e sustentar tais objetivos na
prática? Várias observações esboçadas a partir da discussão neste livro
podem conduzir os esforços neste sentido:

• Uma atenção explícita para assegurar a transparência e reduzir


a corrupção e o desvio de verba não irá apenas aumentar a pou-
pança nacional e o investimento e promover um crescimento sus-
tentado, mas também ajudará a distribuir seus frutos de maneira
mais eqüitativa.
• Algumas dimensões qualitativas prestam-se à taxação ou avaliação
do custo total, ambos gerando recursos públicos.
• Outras medidas para garantir a qualidade requerem a realocação dos
gastos públicos – redução de subsídios e distorções em algumas áreas
e o aumento do investimento público em outras.
• Dar atenção à qualidade não significa mais intervenção governamen-
tal, mas, antes, pode significar maior envolvimento do setor privado,
das organizações não governamentais e da sociedade civil na imple-
mentação de metas compartilhadas.
• Um alcance civil mais amplo pode nutrir as liberdades civis e os
processos participativos, que, por sua vez, podem ajudar a sustentar
as mudanças políticas.
• Tudo isso, no entanto, requereria um foco muito maior sobre as

186
A G A R R A R A S O P O R T U N I D A D E S D E M U D A N Ç A

habilidades e o desenvolvimento tecnológico e a capacidade de cons-


truir, assim como a eficácia com a qual isto é feito.

A evidência neste livro fornece uma forte motivação para centralizar o


foco nos aspectos qualitativos, marcando a habilidade do povo para dar
forma às suas vidas – por exemplo, a igualdade de oportunidades para o
desenvolvimento humano, a sustentabilidade do meio ambiente, o geren-
ciamento do risco global e o modo de governar – juntamente com as facetas
tradicionais do crescimento. Os governos não têm e nem deveriam assumir
o ônus total, por dar maior prioridade às dimensões qualitativas.
Antes de requerer mais intervenção governamental, a evidência neste
livro requer maior amplitude de voz e participação do setor privado, ONGs
e sociedade civil. Um envolvimento mais amplo por meio do qual todos
podem mudar a ênfase do desenvolvimento, além do crescimento do PIB
medido para incluir o progresso social e ambiental, maior habilitação e voz,
e melhor governo. Esta realocação das prioridades irá aprimorar a con-
tribuição dos aspectos qualitativos do processo de crescimento e focar o
holofote naquilo que o desenvolvimento verdadeiramente significa.

187
A N E X O 1

OBJETIVOS AMPLOS
E OS INSTRUMENTOS

A valorização contínua do progresso desenvolvimentista e das


políticas requer uma estrutura mais ampla que a habitual,
mesmo que todos os elementos não sejam quantificáveis.
Aqui, observamos as metas do desenvolvimento e os instru-
mentos políticos e formulamos algumas hipóteses sobre os elos entre eles.
Um modelo formal e a discussão dos resultados empíricos encontram-se no
Capítulo 2 e no Anexo 2.
O povo vale pelo menos em três dimensões da vida na atualidade, e nos
tempos futuros. Ele recebe satisfação direta por meio da educação e de ou-
tros aspectos do capital humano, tais como expectativa de vida ou alfabeti-
zação; a partir da água e do ar não poluídos e outros estoques de capital na-
tural; e por fluxos de consumo de bens, tais como comida e moradia. Ele
também se preocupa com o bem-estar das gerações futuras e seu desfrute
de todos os aspectos da vida (com alguma taxa de desconto). Uma socie-
dade tentará tirar o máximo dos capitais humano, natural e físico, sujeitos
à coerção dos recursos totais. Juntos, os aumentos nestas dimensões signi-
ficam crescimento qualitativo.
As associações simples entre as metas e as políticas, na forma de corre-
lações e mapas espalhados, são aqui apresentados. O Anexo 2 apresenta uma
análise econométrica que complementa uma ampla bibliografia nesta área.

Metas e Medidas Políticas

Construímos índices compósitos para o desenvolvimento humano e a


sustentabilidade ambiental, capacitando-nos a que nos centralizemos nas
três medidas de qualidade do crescimento, preferivelmente a um número
amplo: desenvolvimento humano, crescimento econômico e sustentabili-
dade ambiental. Os instrumentos políticos incluem aqueles enfatizados no

189
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

World Development Repport (World Bank, 1991), juntamente com vários ou-
tros. As correlações entre políticas e metas são mostradas na Tabela A1.1.
Estas correspondem às Figuras 1.2 e 1.5 no Capítulo 1. As associações entre
as políticas e os indicadores componentes que formam os índices não são
mostradas. Os esboços disseminados para as combinações escolhidas de
metas políticas são mostrados na Figura A1.1, depois de controlar os efeitos
do período inicial da renda.
As metas e as variáveis aproximadas utilizadas são:

• Indicadores do desenvolvimento humano. Construímos um índice de


desenvolvimento humano com base nos dados de reduções na mor-

Tabela A1.1 – Relacionamentos Entre Objetivos do Desenvolvimento em


Instrumentos Políticos, 1981-1998

Metas

Desenvolvimento humano Crescimento PIB Desenvolvimento sustentável

Instrumentos Coeficiente Nível de Número Coeficiente Nível de Número Coeficiente Nível de Número
de correlação significância de países de correlação significância de países de correlação significância de países

Gasto educacional/
PIB 0,04 0,72 87 -0,02 0,84 88 0,17 0,21 56
Gastos com saúde/
PIB (1990-98) -0,01 0,95 70 -0,28 0,02 71 0,18 0,23 49
Excedente de
orçamento 0,12 0,40 55 0,27 0,05 55 0,01 0,97 39
Razão comércio/
PIB 0,07 0,50 89 0,07 0,50 90 -0,05 0,69 56
Mudança na
tarifa média 0,05 0,82 26 -0,09 0,65 26 -0,10 0,65 25
Índice de abertura
do cálculo de
capital (1988) 0,21 0,22 36 0,00 0,99 36 -0,22 0,23 31
Índice de repressão
financeira (1996) -0,16 0,50 21 0,26 0,26 21 -0,35 0,12 21
M2/PIB 0,36 0,00 89 0,29 0,01 90 -0,08 0,58 56
Ação ambiental
(variável
simulada) -0,16 0,15 80 0,24 0,03 81 -0,10 0,47 56
Ação ambiental
internacional
(variável
simulada) 0,11 0,35 80 0,08 0,49 81 -0,24 0,08 56
Índice regra
do direito
(1997-98) 0,34 0,00 86 0,41 0,00 87 0,18 0,19 55
Índice de eficácia
do governo
(1997-98) 0,35 0,00 81 0,27 0,00 82 0,05 0,73 55

Nota: A melhoria no desenvolvimento humano é definida com base no índice Borda da redução da mortalidade infantil, redução do analfabetismo e aumento na
expectativa de vida entre as décadas de 1980 e 1990. A melhoria no desenvolvimento sustentável é definida com base no índice Borda das diminuições das
emissões de dióxido de carbono, desmatamento e poluição da água entre as décadas de 1980 e 1990. As correlações significativas, pelo menos no nível de 10%,
são mostradas em itálico bold.
Fontes: World Bank (2000c); cálculos dos autores.

190
O B J E T I V O S A M P L O S E O S I N S T R U M E N T O S

Relacionamento entre objetivos e instrumentos


Figura A1.1 – Objetivos Desenvolvimentistas e Instrumentos Políticos

Crescimento do PIB (porcentagem de mudança por ano) Aumento da alfabetização (porcentagem de mudança)

8 20
15
4 10

5
0 0
-5

-4 -10

-15

-8 -20
-40 -20 0 20 40 60 -50 -25 0 25 50 75 100

Profundidade financeira (porcentagem M2/PIB) Razão Comércio / PIB (porcentagem)

Crescimento do PIB (porcentagem de mudança por ano) Aumento na cobertura florestal (porcentagem de mudança)

6 3

4 2

2 1

0 0

-2 1

-4 2

-6 3
-6 -4 -2 0 2 4 6 -4 -2 0 2 4

Excedentes orçameto (porcentagem do PIB) Gastos públicos com educação (porcentagem do PIB)

Crescimento do PIB (porcentagem de mudança por ano) Redução da poluição das águas (porcentagem de mudança)

8 30

6 20
4
10
2
0
0
-10
-2
-20
-4

-6 -30

-2 -1 0 2 2 -1,0 -0.5 0 0,5 1,0 1,5

Regra de direito (índice) Controle da corrupção (índice)

Nota: Os gráficos de dispersão disseminados são construídos utilizando-se de resíduos das regressões das variáveis respectivas – pertencente a ambos os eixos –
contra o PIB per capita em 1981.
Fontes: World Bank (2000c); cálculo dos autores.

191
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

talidade infantil, reduções na taxa de analfabetismo e aumento de


expectativa de vida. O período sobre o qual as mudanças foram
computadas corresponde ao início da década de 1980 até o fim da
década de 1990. Queríamos incorporar no índice variáveis refletindo
a distribuição de renda, a redução na incidência da pobreza e a brecha
de gênero na formação educacional, mas não o fizemos porque os
dados não estavam disponíveis para muitos países.
• Indicadores de desenvolvimento sustentável. Construímos um índice com-
pósito da taxa negativa anual de desmatamento, redução nas emissões
de dióxido de carbono per capita e redução na poluição da água per capi-
ta. O período utilizado foi novamente a partir do início dos anos 80 para
o fim dos anos 90. Queríamos incluir no índice uma medida de poluição
do ar nas maiores cidades dos países em desenvolvimento, mas os da-
dos comparativos só estavam disponíveis para os anos mais recentes.
• Crescimento de renda. Utilizamos taxas de crescimento PIB entre 1981
e 1998 e indicadores intermediários, como estoque e crescimento
FTP, utilizados em muitos estudos empíricos, tais como aqueles
empregados por Barro (1990), Easterly (1999a), Easterly et al. (1993),
Nehru e Drareshwar (1993), Pritchett (1998), Banco Mundial (1991)
e Young (1992).

Os instrumentos políticos foram representados pelos seguintes:

• Gastos sociais com educação e saúde. Eles foram expressos como por-
centagens do PIB, com média calcada em valores disponíveis para o
período: 1981-1997 para os gastos com educação, e 1990-1998 para
os gastos com saúde. Em decorrência das limitações de dados, não
pudemos incluir dotação de gastos na educação básica e nos serviços
preventivos de saúde (Filmer et al., no prelo; López et al., 1998).
• Compromisso ambiental. Utilizamos duas variáveis de modelo, para re-
presentar o compromisso ambiental: uma para ação nacional basea-
da na formulação estratégica ambiental e perfilamento ambiental, e
outros para a ação internacional, baseada na assinatura do Tratado
Global sobre Mudança Climática. Desafortunadamente, indicadores
mais completos de políticas de governo para o desenvolvimento sus-
tentado ainda não estão disponíveis.
• Política macroeconômica. Utilizamos excedentes de orçamento como
uma porcentagem do PIB (Barro, 1990; Fischer, 1993).
• Abertura. Utilizamos a razão de comércio para PIB, prêmio do merca-
do paralelo, mudança na principal tarifa e uma medida de controle de
capital baseada em Quinn (1997) e Quinn & Toyoda (1997) (um
valor mais alto do índice representa um grau maior de abertura para
as afluências de capital; ver Anexo 5).
• Profundidade financeira, prudência e gerenciamento do risco. Utilizamos

192
O B J E T I V O S A M P L O S E O S I N S T R U M E N T O S

profundidade financeira como medida pela razão de M2 para o PIB e


um índice de repressão financeira (baseado em Williamson & Mahar,
1998; um valor mais baixo do índice representa um sistema finan-
ceiro mais liberal).
• Indicadores de governo. Seis indicadores de governo – regra do direito,
eficácia governamental, controle da corrupção, voz e responsabili-
dade, ônus regulador e a instabilidade e violência políticas – foram
examinados neste livro. Desta lista, os três primeiros foram utiliza-
dos neste Anexo. Para análise e detalhes posteriores, ver o Capítulo
6 e o Anexo 6.

Índices Compósitos do Desenvolvimento


Humano e do Desenvolvimento Sustentável

Utilizamos a técnica de classificação de Borda para construir um índice


único para o desenvolvimento humano, e um para o desenvolvimento sus-
tentável. Os indicadores para o índice de desenvolvimento humano são:

• redução na mortalidade infantil entre as décadas de 1980 e 1990;


• redução no analfabetismo adulto entre as décadas de 1980 e 1990;
• aumento da expectativa de vida entre as décadas de 1980 e 1990.

Os indicadores para o índice do desenvolvimento sustentável são:

• Diminuição nas emissões de dióxido de carbono per capita entre as


décadas de 1980 e 1990;
• diminuição na emissão de poluentes orgânicos da água (quilogramas
por dia por trabalhador) entre as décadas de 1980 e 1990;
• a taxa da média anual negativa de desmatamento medida durante o
período 1980-1995.

O procedimento de classificação de Borda envolve atribuir a cada país


um ponto igual à sua classificação em cada critério componente. Os pontos
de cada país sobre todos os componentes são calculados pela média, e as
médias são utilizadas para reclassificar os países. O processo permite a agre-
gação de indicadores com unidades diferentes de medida e coberturas de
diferentes períodos e países, ou seja, permite comparações entre países por
meio de categorias, mesmo quando o número de países estudados varia pela
categoria. Para maiores detalhes sobre as técnicas de classificação de Borda,
ver Fine & Fine (1974a, b), Goodman & Markowitz (1952), Smith (1973)
e Thomas & Wang (1996).
Também tentamos um método alternativo de agregação, que transfor-
masse cada variável componente em um placar-padrão, com média em 0

193
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

(zero) e um desvio-padrão de 1 (um), e então ponderá-los. Nos coeficientes


correlacionais significativos, os resultados foram substancialmente similares.

194
A N E X O 2

ESTRUTURA E
EVIDÊNCIA

E ste anexo fornece uma estrutura e uma evidência empírica para


o Capítulo 2.

Uma Função de Bem-Estar

Definir um aditivo e uma função de bem-estar separável, U, para uma


sociedade que consiste em N indivíduos
N N

(A2.1) U =  u(c i ) +  v(hi ; R),


i=1 i=1

onde ci é o consumo do indivíduo; i, hi é o capital humano do indivíduo i, e


R, o nível (agregado) dos recursos ambientais. R assume-se que seja um
bem público puro, e daí sua distribuição entre a população é irrelevante.
Igualmente, u(·) e v(·) estão aumentando e estritamente côncavos em seus
argumentos. Uma aproximação de segunda ordem de U avaliado pelos va-
lores médios ou cálculos de c e dos rendimentos h.
N N
~ Nu(c- ) +  u’ (cc- )(ci – c- ) + —1  u”(cc- )(ci – c- )2
(A2.1) U ~
i=1 2 i=1

N
- - - 1 N - -
+ Nv (h; R) +  v’ (h; R)(h i – h) + —  v”(h; R)(hi – h)2
i=1 2 i = 1

-
onde c- é a média ou consumo per capita, h é a média ou capital humano per
-
capita, u’(cc- ), v’ (h; R) são os primeiros derivativos com respeito ao c e ao h,
-
respectivamente, avaliados em valores médios c- e h e u”( c- ) são derivativos
secundários. Examinando as expectativas, obtemos a média de bem-estar
por indivíduo i,

195
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

1
~ u(cc- ) + — - 1 -
(A2.1) E(U) ~ u” (cc- ) c2+ v(h; R) + — v”(h; R) 2
h’
2 2

onde c2 é a variação consumo por meio da população e h2 é a variação da


distribuição do capital humano por meio da população. Pela concavidade
estrita de u(·) e v(·), temos que u"< 0 e v"(·) < 0. Logo, o bem-estar agre-
-
gado ou esperado está aumentando em c- e h e diminuindo em c2 e h2 . Além
do mais, devido a v(·) estar aumentando em R, v”/ R ~ ~ 0 é suficiente para
obter que E(U) também está crescendo em R.
A partir da definição no texto, o crescimento sustentado requer que a
expansão do capital físico ao longo do tempo seja acompanhada pelo cresci-
mento positivo do capital humano, sem piorar sua distribuição. Igualmente,
é provável que o crescimento sustentado diminuirá a pobreza, e não é coe-
rente com uma piora na distribuição de renda. O crescimento sustentado
-
aumenta -c e h e reduz, ou pelo menos não aumenta, c2 e h2 . Logo, é prová-
vel que o crescimento sustentado aumente o bem-estar, E(U) na equação
(A2.3), enquanto R não cair ou cair de modo suficientemente lento.

A Otimização do Setor Privado

Como foi indicado no texto, o capital humano (h) e o capital natural (R)
estão sujeitos a duas externalidades possíveis associadas ao consumo e à
produção. As externalidades de consumo originam-se do fato de que os
efeitos diretos positivos de h e R sobre a função do bem-estar podem ser
apenas parcialmente consideradas pelo setor privado em suas decisões de
dotações de recursos. Externalidades de produção crescem porque muito da
expansão tecnológica positiva associada a h não pode ser levada em consi-
deração pelo setor privado. Além do mais, parte do valor de R como um
recurso produtivo também pode ser ignorado pelo setor privado, particular-
mente nos casos em que os direitos de propriedade do capital natural não
estão bem definidos.
Neste ponto, procedemos a uma suposição extrema: que todos os valo-
res de consumo direto de h e R sobre a função do bem-estar (assim como os
efeitos distributivos representados pelo c2 e h2 ) são ignorados pelas decisões
do setor de produção privado. Além disso, assumimos que as externalidades
de produção estabelecem um calço entre os produtos marginais privados de
h e R e os verdadeiros produtos marginais desses recursos. Ou seja, o setor
privado só considera uma fração da contribuição de h e R para a produção.
Assumimos, ainda, que um nível mínimo de consumo de subsistência cs
existe. A representatividade doméstica precisa de um nível de consumo cs
para sobreviver e não permitirá que o consumo atinja níveis abaixo de cs . Ou
seja, impomos uma coerção de subsistência, c – cs  0.

196
E S T R U T U R A E E V I D Ê N C I A

Sob estas suposições, o problema relevante é a maximização do valor


atual descontado de u( -c ) – como oposição àquele do E(U) – sujeito às
seguintes coerções:
.
(A2.4) (i) k = G(k, h; R; A(k, h); p) – c – Ihg – I hp – IgR
(ii) c – cs  0
.
(iii) h = Ihg + I hp
.
(iv) R = (R) + IgR –  [G( )],
(v) k(0) = k0 ; h(0) = h0 ; R(0) = R0

onde k é o capital físico per capita, G( ) é a função PIB per capita da econo-
mia, A( ) é um índice de produtividade, p representa as variáveis da políti-
ca e fatores exógenos, Ihg é o investimento do governo no capital humano, I hp
é o investimento privado no capital humano, é um parâmetro, IgR é o inves-
timento do governo no capital natural, (R) é uma função de crescimento
dos recursos renováveis através do tempo e  ( ) é uma função crescente do
PIB que reflete o possível impacto direto negativo da atividade econômica
aumentada no capital natural. Assumimos que a população N é fixa de
modo que, utilizando as unidades apropriadas, pode ser normalizada para 1,
daí a distinção entre variáveis totais de per capita na Equação (A2.4) tornar-
se irrelevante. Igualmente, para uma simplicidade algébrica, assumimos
uma taxa zero de desvalorização de k e h. Assumir uma taxa de depreciação
logarítmica constante para esses bens, como é atualmente feito, não afeta
nenhum dos resultados.
Vários comentários sobre a Equação (A2.4) estão ordenados:

• Assume-se que Ihg e IRg são variáveis políticas.


• Assume-se que o efeito do PIB sobre o capital natural não é absolu-
tamente interiorizado pelo setor privado, e que, como conseqüência,
o setor privado não irá investir no capital. Logo, na Equação (A2.4) a
equação (iv) só é utilizada como uma identidade calculada, e não é
diretamente levada (e ex ante) em consideração nas decisões do setor
privado, mesmo que a evolução de R atinja suas decisões futuras.
• O efeito de h sobre G( ) é apenas parcialmente incorporado às
decisões do setor privado. O governo pode preencher uma parte, ou
toda a extensão da brecha de subinvestimento no capital humano
deixada pelo setor privado.
• Permitimos que k e h afetem o conhecimento representado pela
função produtiva A( ). Assume-se que o conhecimento é um bem
público que qualquer empresa pode ter acesso a custo zero. Alinha-
dos com a hipótese do “aprender fazendo”, seguimos Arrow (1962)
e Romer (1986) e assumimos o aprender fazendo por meio do inves-
timento de cada empresa em k. Contudo, especificamos que aprender

197
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

fazendo requer capital humano, ou que o capital humano facilite e


aumente a eficácia deste processo. Logo, a função A( ) é assumida
como sendo crescente em seus argumentos e o efeito marginal de k
sobre A aumenta com h, ou seja A/ k h>0.
• A Equação (A2.4) (i) implica que o investimento público no capital
humano é financiado fora das poupanças totais, pela soma dos im-
postos da massa informe. Uma abordagem alternativa deve assumir
que os investimentos públicos são financiados por uma taxa de renda
proporcional ao PIB, como em Barro (1993).
• Assume-se que a produção do capital humano deve ser gerada por
alguns processos produtivos, tanto de capital físico como de bens
de consumo. Esta suposição tem sido freqüentemente usada na
bibliografia (ver, por exemplo, Barro, Sala-I-Martin, 1995). De mo-
do alternativo, pode-se postular uma função de produção separada
de h, como em Lucas (1988) ou Rebelo (1991). Embora a última
seja uma abordagem mais realista, a suposição de uma função pro-
dutiva comum para consumidores de todos os bens de investi-
mento reduz de modo considerável a álgebra e não altera as con-
clusões básicas.

O Caso de uma Economia de Renda Média com


um Consumo Inicial Muito Acima da Subsistência

Em primeiro lugar, assumimos que a coerção (A2.4) (ii) não está com-
prometendo; a economia é suficientemente rica para permitir c > cs em
todas as vezes. Analisaremos o papel da coerção de subsistência no caso da
economia pobre.
Pode-se mostrar que o setor privado, neste modelo, investe apenas em
k se o produto do capital físico Gk( ) for mais alto que o produto do capi-
tal humano marginal, como percebido pelo setor privado, Ghp ( ).1 Ele inves-
tirá tanto em k quanto em h se o G hp = Gk e só irá investir em h se Ghp >. Gk.
Logo, ao assumir que k é de início relativamente baixo, I hp = I Rp = 0 e k >0.
Sem dúvida, a principal razão pela qual o setor privado investe apenas em
um fator é nossa hipótese de que todos os fatores sejam produzidos fora
de uma função produtiva comum. Se permitirmos uma função de produção
diferente para h, o setor privado pode ser mostrado investindo tanto em k
quanto em h, mesmo fora do equilíbrio de longo prazo. Contudo, o ponto
essencial é que o setor privado tende a subinvestir nos capitais humano e
natural, com relação ao capital físico. Ou seja, o setor privado tende a ter
uma carteira de investimentos muito estreita, enquanto os efeitos externos
positivos associados a h e R são maiores do que aqueles associados ao k,
sem se importar se h ou R possuem funções produtivas separadas. Em
certo sentido, a extrema especificação (fora da simplificação da álgebra)

198
E S T R U T U R A E E V I D Ê N C I A

ajuda a sublinhar o fato de que a economia de mercado tende a opera-


cionalizar-se em escolha de investimentos e superespecializar suas esco-
lhas de investimento.
A partir das condições de primeira ordem do problema citado, pode-se
derivar a taxa de crescimento da economia no modo habitual se Gk > Ghp .
O crescimento econômico é uma função crescente da brecha entre um retorno
marginal para o capital e seu custo marginal, b( ). Sob a afirmação habitual
da aversão do risco constante – por exemplo, que – u"(c) c/u’(c)  > 0,
é uma constante – e onde u(c) é definido na Equação (A2.3), a taxa do
crescimento econômico é
.
(A2.5) c /c = 1 [Gk (k, h; R, A; p) – b(r; p)],

.
onde c /c é a taxa de crescimento de consumo per capita (suprimimos a barra
sobre c), Gk( ) é uma função que reflete um produto marginal do capital físi-
co para um dado nível de A e r é a taxa de desconto.2
Há quatro casos possíveis:

i. O crescimento sustentado requer um crescimento absolutamente equilibrado


dos bens. Este caso ocorre se a função de produção agregada G( ) for
sujeita a constantes retornos na escala (CRS); por exemplo, os
efeitos da expansão de k e h sobre A( ) são desprezíveis. Em conse-
qüência, Gk é uma função apenas de razões fatoriais. Vamos .pressu-
.
por que h e R permaneçam constantes enquanto c /c > 0 e k /k > 0.
Neste caso, o setor privado não investe em R e h. Logo, o cresci-
mento será desequilibrado, baseando-se exclusivamente no acúmu-
lo de k. Por causa de CRS, Gk( ) declina enquanto k aumenta. Logo,
a expressão entre colchetes em (A2.5) declina e o “curso lento” apli-
ca-se. Uma taxa de crescimento positiva não pode ser sustentada, a
menos que o governo invista em h e/ou R. (O crescimento declina
se, certamente, R cair mais rápido como uma conseqüência do cres-
cimento.) Assim, neste caso, o crescimento sustentado só pode
ser
. realizado . pelo governo que invista em h e R, de modo que
.
k /k = c /c = R /R. Um crescimento absolutamente equilibrado destes
três recursos é exigido para sustentar uma taxa de crescimento positiva.
ii. O crescimento sustentado pode ser realizado com crescimento desequilibrado
dos recursos. Este caso pode ocorrer se as amplas expansões tec-
nológicas associadas com o acúmulo de capital existirem. Nesta
hipótese, é possível que o produto marginal de k não decline porque
A está aumentando em k. Agora, mesmo se h e R não aumentarem
ou se diminuírem numa taxa suficientemente baixa, a taxa de
crescimento ainda poderá ser sustentada. Assim, neste caso, pode-
mos ter um crescimento sustentado, ainda que desequilibrado,

199
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

baseado puramente no crescimento do capital físico e nas expansões


tecnológicas.
iii. O crescimento sustentado pode ser obtido com uma expansão de recursos
semi-equilibrada. Isto poderia acontecer se houvesse um alto grau de
substituição entre h e R na função Gk. A substituição entre h e R per-
mite dois subcasos possíveis como h > hc, onde hc representa um
nível crítico do capital humano:
a. Sob CRS sem efeitos expansivos, o crescimento pode ser sus-
tentado se h e k cresceram em taxas idênticas, ou seja, a razão
k/h permanece constante. Um crescimento absolutamente semi-equi-
librado de recursos é necessário para produzir este cenário.
b. Os efeitos expansivos que implicam efetivamente que a função
de produção demonstre retornos crescentes na escala em k e h,
mas que o produto líquido marginal de k seja decrescente em k.
Neste caso, h pode crescer em um andamento mais lento que k,
ou seja, é necessário um crescimento relativamente semi-equilibrado
de recursos.
Neste caso, Gk / R diminui enquanto h aumenta e Gk / R ~ ~0
enquanto h  hc, em que hc está num nível determinadamente
crítico. Ou seja, enquanto h aumenta sobre hc, o crescimento
econômico torna-se independente de R, embora R ainda tenha um
produto marginal positivo. Observe-se que a substituição rele-
vante é para o produto marginal de função k, não para a função
produtiva, como geralmente se pressupõe. Isto implica que a
substituição relevante entre h e R se relaciona aos efeitos de ter-
ceira ordem e não aos efeitos de segunda ordem como as elasti-
cidades habituais de substituição de Hixxen ou Allen implicam.

iv. O crescimento sustentado pode ser realizado com um relativo crescimento


equilibrado dos recursos. Este caso pode ocorrer se as expansões tec-
nológicas dependerem tanto de k quanto de h, com um relaciona-
mento fortemente complementar na função A e h < hc. Discutimos
neste texto que não é possível as expansões tecnológicas associadas
com capital físico serem grandes nos países em desenvolvimento,
que não possuem um nível de crescimento suficientemente alto da
educação geral. Ou seja, a elasticidade de substituição entre h e k na
função A( ) é pequena. Se h for muito baixo, o efeito de k sobre A
será pequeno. Neste caso, o crescimento sustentado pode ser reali-
zado apenas se h e R crescerem de modo que Gk( ) não caia, en-
quanto k aumenta. Isso implica que o crescimento sustentado pode
ser realizado com relativo, antes que absoluto, crescimento equili-
brado de recursos. Uma economia pode sustentar uma taxa de cres-
cimento positiva quando o setor público investe em h e R numa taxa
geralmente mais baixa do que a taxa de acúmulo de capital físico.

200
E S T R U T U R A E E V I D Ê N C I A

Os resultados empíricos apresentados no texto permitem-nos excluir


o primeiro e o segundo casos. Ou seja, embora um equilíbrio de recursos
completos ou absolutos não seja necessário para o crescimento sustenta-
do, um crescimento baseado apenas sobre um acúmulo de capital físico
também não é sustentável. De acordo com descobertas empíricas, os últi-
mos dois casos são empiricamente os mais relevantes. Os países pobres,
que não possuem amplos níveis de capital humano, requerem que os ca-
pitais natural e humano cresçam em uma determinada taxa, que é ge-
ralmente mais baixa do que aquela do capital físico, para sustentar o
crescimento. Ou seja, o último caso reflete melhor a situação para as
economias pobres que ainda não desenvolveram uma base sólida de capi-
tal humano. O terceiro caso, especialmente o subcaso (iii)b é o mais re-
levante para os países de renda média que já possuem um nível significa-
tivo de capital humano.
A Figura A2.1 exemplifica processos de crescimento equilibrado e dese-
quilibrado sob a pressuposição de que não há economias de escala ou
expansões tecnológicas associadas ao acúmulo de capital e que h > hc impli-
ca que mudanças em R não desempenham nenhum papel no crescimento
econômico. O produto marginal Gk(Gh) está diminuindo (aumentando) no
capital físico para a razão do capital humano. Na figura, Gh é o verdadeiro
produto marginal do capital humano, x é a contribuição marginal do capital
humano para o bem-estar como um bem de consumo, e, em conseqüência,
Gh + x é a contribuição total e verdadeiramente marginal social no capital
humano. Ghp é a contribuição marginal do capital humano como percebido
pelo setor privado.
Para uma economia que cresce a partir de uma razão baixa de k/h, o pro-
duto marginal de k cai ao longo da tabela Gk, enquanto k/h aumenta. Na
ausência de intervenção, uma economia de laissez-faire continuará acumu-
lando capital físico até atingir o ponto B, em cujo momento crítico não
ocorre nenhum crescimento posterior; k/h não crescem. Neste ponto, Gk =
b onde b é o custo marginal; e daí para a frente o crescimento pára. No qua-
drante mais baixo da Figura A2.1 relacionamos o crescimento do consumo,
. .
c /c, ao nível de k/h. Na ausência de intervenção, c /c declina de modo con-
.
tinuado até atingir o ponto L em (k/h)0 onde c /c = 0. (Este caso representa
o padrão de crescimento 1 discutido no Capítulo 2.)
Se o setor público investir no capital humano, contudo, o crescimento a
longo prazo será possível. Uma intervenção ótima envolveria um investi-
mento do setor público no capital humano, uma vez que a economia
atingisse (k/h)* ou o ponto D, enquanto o produto marginal Gk do capital
físico é igual ao produto marginal social do capital humano Gh+x. Neste
ponto, Gk = Gh +x >b, de modo que a economia continua . crescendo.
. Con-
tudo, como o crescimento agora é equilibrado com k /k = h /h, k/h per-
manece constante em (k/h)*. No quadrante inferior a intervenção ótima
implica que o k/h pára de crescer em (k/h)* no ponto d. Temos aqui uma

201
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

.
taxa de crescimento de consumo positiva e sustentável igual a c /c*. (Esta
situação reflete o padrão de crescimento 3 no Capítulo 2.)
De modo alternativo, o governo pode escolher subsidiar os investidores
de capital físico, reduzindo b ou aumentando Gk ao longo do tempo (veja a
Equação A2.5). Contudo, estes subsídios devem ser financiados. Pressu-
pondo-se que sejam financiados por uma soma de taxas em efeito cascata,
o orçamento apertado, Equação A2.4 (i), implica que o governo deve
reduzir Ihg e/ou IRg . Contudo, isto significa que a economia se torna cada
vez mais dependente de subsídios como meios para sustentar o crescimen-
to. Na Figura A2.1 este padrão de crescimento pode ser mostrado mediante
uma mudança para a direita da tabela Gk em razão dos subsídios de capital
(ou por uma queda de b). Mas o aperto do orçamento implica que o gover-
no possui menos recursos para investir no capital humano. Logo, para
preservar o crescimento (manter uma brecha positiva entre Gk e b), os sub-
sídios devem ser continuamente aumentados com o passar do tempo. Ou
seja, a tabela Gk deveria estar se mudando constantemente para a direita
mediante subsídios crescentes e permanentes. O crescimento econômico
torna-se dependente dos subsídios cada vez mais crescentes para donos de
capital com um conseqüente impacto negativo na distribuição de renda e
nos capitais humano e natural. (Este é o padrão de crescimento 2 discutido
no Capítulo 2.)

O Caso de Uma Economia Pobre

Aqui, consideramos uma economia pobre em que o nível inicial de con-


sumo está apenas levemente acima da subsistência e encontra-se em pro-
cesso de crescimento rumo a um nível estacionário. Denominamos isto
como uma economia de semi-subsistência. A idéia é que os pobres consti-
tuam por si mesmos uma subeconomia em que a maior parte do cresci-
mento ocorre a partir de seus próprios esforços para poupar e investir.
A economia de semi-subsistência não possui contatos com os setores mo-
dernos, porque os pobres vendem parte de seus produtos aos setores
modernos e porque alguns dos pobres estão aptos a migrar para os setores
modernos. Pelo bem da brevidade e simplicidade, não vamos explicitar mo-
delos de nenhum destes processos. Simplesmente, afirmaremos que a
função PIB dos pobres é dependente de choques vindos dos setores ricos
por meio da variável p na função G( ). Por exemplo, uma recessão numa eco-
nomia moderna é traduzida por uma queda em p, o que, por sua vez, leva
as funções G( ) e Gk( ) a serem deslocadas para baixo. Um outro choque
possível surge da degradação de R causada por uma expansão do setor mod-
erno em áreas onde vivem os pobres.3 Presumimos que a economia seja ini-
cialmente crescente por investir principalmente em k. O crescimento de h
depende 100% dos gastos governamentais com o capital humano.

202
E S T R U T U R A E E V I D Ê N C I A

Figura A2.1 – Retornos Constantes à Escala e Nenhuma Expansão Tecnológica

Gk Gh + x

p
Gh

E B b

0 (k/h)
(k/h)* (k/h)º (k/h)ºº

.
c/c

Crescimento da função social

Crescimento da função privada

.
(c/c)*
d

L
0 (k/h)
(k/h)* (k/h)º (k/h)ºº

Fonte: Autores.

Definimos dois casos-limite. O primeiro é aquele em que a renda menos


depreciação dos estoques de recursos seja exatamente suficiente para cobrir
o nível de consumo de subsistência:

(A2.6) c2 =h0 {G[ k , 1 ; R0 , A ; p ] - k ( k )s – h },


h h0 h

203
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

em que h0 é o nível inicial do capital humano e R0 é o nível inicial do capital natu-


ral, e agora presumimos uma taxa de depreciação positiva para k e h ( k e h).
Ou seja, para um determinado nível de R0, h0, e variáveis de política exó-
gena p, há um único nível (k/h)s, que permite que a economia satisfaça exata-
mente seu consumo mínimo de subsistência. Se k/h > (k/h)s, a economia está
acima da subsistência com potencial para poupanças líquidas positivas e
crescimento. Se k/h < (k/h)s, a economia não é capaz de cobrir a depreciação
de seus estoques de capital e, em conseqüência, com consumo real igual a cs,
os estoques estão sendo reduzidos. Isto é, a economia está exaurindo seu
capital. Isto causa um crescimento negativo como as quedas em k/h.
O outro caso-limite dá-se quando a economia mal pode satisfazer seu
consumo de subsistência, a menos que utilize sua saída total sem permitir
qualquer substituição de estoques:

(A2.7) cs = h0 G[( k )ss, 1; R0 , A; p].


h h0

Uma vez que k/h = (k/h)ss, as famílias precisam utilizar toda sua saída
para consumo. Em (k/h)ss a economia torna-se inviável.
Observe-se que tanto (k/h)s quanto (k/h)ss dependem dos níveis de h0, R0,
A, e p. Pode-se ver facilmente que (k/h)s e (k/h)ss estão ambos diminuindo
em h0, R0, A e p (presumindo que G( ) está aumentando em p, ou seja, p
representa fatores exógenos positivos). Logo, num choque negativo devido,
por exemplo, a uma recessão na economia moderna que reduz os termos do
comércio dos pobres ou o nível de R em decorrência da intrusão de inter-
esses comerciais nos recursos naturais pertencentes aos pobres (o que
ironicamente é mais provável que aconteça durante períodos de explosão no
setor moderno), (k/h)s irá aumentar.
Suponhamos que a economia esteja inicialmente em (k/h)0 maior que
(k/h)s Isto é, está crescendo em direção a (k/h)* (ver Figura A2.2). Imagi-
nemos agora que ocorra uma recessão no setor moderno que reduz p. Isto
fará com que (k/h)s cresça. Se o novo (k/h)s é agora maior ou igual a (k/h)0,
então a economia de semi-subsistência é lançada numa armadilha de sub-
sistência que poderia levar a um crescimento negativo, conduzindo k/h
rumo a (k/h)ss.
Consideremos o caso em que o choque inicial ocorre no tempo t e é
eventualmente revertido e p é levado de volta a seu nível original no tempo
t + . Aqui há duas possibilidades:

• A queda de k/h entre os tempos t e t + não é tão ampla e (k/h)ts


s
>(k/h)t + >(k/h)t + . Isto é, em t + , quando a política retorna ao
seu nível original, o crítico (que é igual ao nível original (k/h)s0 ) está
ainda em nível mais baixo de (k/h)t + (que é mais baixo que o nível
inicial (k/h)0). Neste caso, o choque teve apenas um efeito negativo

204
E S T R U T U R A E E V I D Ê N C I A

temporário sobre o crescimento. Mas uma vez que p é devolvido a


seu nível original, a economia de semi-subsistência retoma seu tra-
jeto de crescimento.
• A queda de k/h entre t e t + é ampla de modo que (k/h)ts >(k/h)ts +
>(k/h)ts + . Isto é, enquanto p volta ao seu nível original em t + , o
nível de (k/h)t + caiu tanto que agora está mais baixo que o nível
crítico original. Neste caso, temos aquilo a que nos referimos como
“hysterisis”: o choque temporário tem um efeito permanente na
economia e, mesmo que esse choque desapareça, a economia não
volta a seu nível original. O efeito do choque causa um retrocesso
irreversível da economia pobre. A economia cai num ciclo de
pobreza, conduzindo k/h a uma queda contínua em direção a (k/h)ss,
ponto no qual deixa de existir como economia viável.

A Figura A2.2 pode ajudar a esclarecer esses pontos. A figura mostra


caminhos possíveis para a economia pobre. Se inicialmente a razão de k/h
está acima do (k/h)s crítico, a economia está num caminho de acúmulo,
seguindo a linha FJ na metade do painel na Figura A2.2 em direção a
(k/h)*. Durante este caminho, o consumo per capita é continuamente cres-
cente, embora numa taxa decrescente. Eventualmente, a economia atinge
(k/h)*, em cujo ponto cresce a uma taxa constante indefinidamente. O
painel inferior mostra a evolução do nível de consumo, que cresce de
modo permanente. Imaginemos agora que um choque negativo ocorra
enquanto a economia está no percurso de FJ. Isto leva as tabelas Gk e
Gh + x a deslocar-se para baixo com uma nova interseção em um ponto
mais baixo que D, o que implica uma taxa inferior de crescimento a longo
prazo. Mas a conseqüência mais importante é que (k/h)s irá mover-se para
a direita, enquanto aumenta por causa do nível reduzido de G implicado
por um choque negativo. A questão-chave é saber se a razão inicial (k/h)
está agora abaixo ou acima do novo (k/h)s crítico, depois do choque. Se
(k/h) está abaixo do novo (k/h)s, o percurso da economia reverte durante
um percurso de estagnação como o percurso NM no painel inferior da
figura. Isto é, a economia que estava originalmente crescendo fica estag-
nada e, eventualmente, quando atinge o ponto M, torna-se inviável.
Suponhamos que o k/h inicial seja suficientemente baixo de modo que a
economia entre numa fase de estagnação, com uma razão k/h declinante,
mas que depois de um período de tempo o nível de p seja restabelecido em
seu nível original. A questão é saber se o novo (k/h)s está, ou não, acima da
razão k/h habitual. Se estiver acima, então a economia não retoma seu per-
curso de crescimento original. Continua na espiral descendente, posterior-
mente reduzindo sua riqueza. Ou seja, a reversão do processo de cresci-
mento torna-se permanente e um choque puramente temporário teve um
efeito permanente, irreversível, provocando um ciclo vicioso de pobreza e
desacumulação de recursos.

205
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Figura A2.2 – Subsistência, Crescimento e Armadilhas da Pobreza Entre os Pobres:


O Caso de Retornos Constantes à Escala e Nenhuma Expansão
$
Gk
Gh + x

E
b

0 ss s (k/h)
(k/h) (k/h) (k/h)*

.
c/c
F

0 (k/h)
ss s
(k/h) (k/h) (k/h)*

M
s
c N

0 (k/h)
ss s
(k/h) (k/h) (k/h)*

Fonte: Autores.

Especificação Econométrica Utilizada


para Avaliar Funções de Crescimento

Uma equação comportamentista básica que surge tanto dos modelos de


crescimento neoclássicos como endógenos é a seguinte:

(A2.8) g =  [Fk (K , H, R; A, p) – Ck (r, , p)],

206
E S T R U T U R A E E V I D Ê N C I A

em que g é a taxa do crescimento PIB per capita; K, H e R são capitais físico,


natural e humano, respectivamente; p é um vetor de variáveis políticas e de
preços; A é um fator de produtividade; Fk é o retorno marginal para k; Ck é
o custo marginal do capital que depende tipicamente da taxa de desconto
(r), da taxa de depreciação ( ) e, presumivelmente, da variável política
p (tais como subsídios ao investimento); e ( ) é uma função monotônica
e crescente.
A Equação (A2.8) indica que o crescimento depende da brecha entre os
retornos marginais ao capital e seu custo marginal. Se tal brecha for positi-
va, o crescimento também é positivo. E o crescimento chega a uma pausa, se
tal brecha desaparecer. Além disso, sob determinadas circunstâncias geral-
mente supostas, o crescimento é diretamente proporcional a essa brecha.
Logo, essa expressão comportamentista básica relaciona o crescimento
econômico ao nível dos estoques de recursos, produtividade fatorial total,
taxas de desconto e variáveis políticas. Contudo, estudos sobre crescimen-
to mais empíricos não utilizam essa abordagem comportamentista mas, ao
contrário, baseiam-se em várias formas de crescimento computando identi-
dades que relacionam crescimento a mudanças nos estoques de recursos, em
vez de seus níveis como sugere um modelo teórico de crescimento.
Nossa análise empírica é baseada na Equação (A2.8). Se incluímos
tempo numa forma discreta, é natural postular que o crescimento em um
período depende dos estoques de recursos no final do período anterior.
Logo, uma expressão mais operacional para a Equação (A2.8) é:

(A2.9) git = [Fk(Kit-1, Hit-1, Rit-1; A, P, it) – Ck(ri, it, pit; i)],

em que i representa um país e t é o tempo. Pressupomos que ri e i são as


características fixas de um país que influenciam tecnologia e custos. Isto é,
os países diferem em suas taxas de descontos, ri, e características tecnoló-
gicas ou institucionais, i (por exemplo, direitos de propriedade e regra do
direito).
Notamos que na Equação (A2.9) o crescimento em tempo t é depen-
dente de níveis de estoque de recursos atrasados, em vez de fluxo corrente de
mudanças de recursos, como assumido em muitos estudos empíricos. Isto é,
esta equação de crescimento teórico fornece variáveis “instrumentais” natu-
rais, postulando o crescimento como uma função dos níveis de estoque do
último período. Isto acontece de algum modo em vieses decrescentes, sur-
gindo das correlações contemporâneas entre variáveis explanatórias e o pra-
zo do erro em razão da endogeneidade de tais variáveis. Níveis de estoque
atrasados são muito menos prováveis de ser endógenos às taxas de cresci-
mento do que às mudanças de estoque contemporâneas.
Já que estamos relacionando crescimento atual ao estoque atrasado de
recursos, temos que Kit-1 = (1 – ) kit-2 + Iit-1, onde Iit-1 é o investimento per
capita no período t – 1. Assim, substituindo isto na Equação (A2.9), desco-

207
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

brimos que utilizar níveis de estoque atrasados na regressão do cresci-


mento é equivalente a crescimento regressivo em duas vezes estoques e
investimentos em atraso. Se repetirmos este processo substituindo kit-2,
utilizando uma expressão similar, poderemos voltar ao primeiro ano do
estoque de recursos. Assim, a equação estimativa (A2.9) é equivalente ao
crescimento estimativo dos níveis de investimento atrasados per capita de
cada recurso e o nível “inicial” de cada recurso. Daí, esta especificação uti-
liza implicitamente o nível inicial de renda (dado que o nível inicial de
renda é uma função de todos os recursos iniciais) como um fator
explanatório. Isto é, poderíamos, em princípio, relacionar o coeficiente
estimado dos recursos para análises de convergência das taxas de cresci-
mento através dos países.
Também pressupomos que o fator total de produtividade descuidado está
relacionado com estoques de recursos e outras características do país, por
exemplo, Ait (Kit-1, Hit-1, Rit-1, 1. Isto é, mesmo se Fk for declinante em Kit-1, a
taxa de crescimento pode ser crescente ou não decrescente em Kit-1, se as
expansões tecnológicas e de escala forem suficientemente poderosas. Ou seja,
se o efeito parcial de Kit-1 sobre Ait for positivo e de magnitude suficiente de
modo a que dFk /dKit-1 = Fk / Kit-1 +( Fk /Ait)( Ait/Kit-1) >0. Logo, estimamos
uma forma reduzida da Equação (A2.9) permitindo efeitos fixos para países

(A2.10) git = [Kit-1, Hit-1, Rit-1, Pit] + i + ft +, it,

em que ( ) é uma função geral bem definida, i é um coeficiente que capta


o efeito fixo do país, relacionado aos efeitos de i e ri na Equação (A2.9), e
it é um distúrbio aleatório. O coeficiente ft corresponde a efeitos de tempo.
A estimativa empírica utiliza várias formas funcionais para que o ( ),
incluindo um logaritmo 1 e uma forma translogarítmica para permitir inter-
recursos e interações políticas.
A utilização dos efeitos fixos do país lida com vieses que surgem de variá-
veis omitidas correspondentes a números possivelmente amplos de variáveis
específicas do país que não são observadas. Logo, a especificação na Equação
(A2.10) ajuda a reduzir vieses decorrentes tanto da endogeneidade das variá-
veis explanatórias pela utilização de estoques de recursos atrasados variáveis
como instrumentos, como de variáveis omitidas por utilizar efeitos fixos.

Evidências Originadas dos Países em Desenvolvimento

A Tabela A2.1 apresenta a evidência empírica para a seção “Evidência


Econométrica: Vinte Países de Renda Média”; e as Tabelas A2.2 e A2.3
mostram resultados empíricos para a seção “Evidência Econométrica:
Setenta Países em Desenvolvimento”. A tabela A2.4 traz alguns estudos
empíricos sobre o impacto e o tamanho dos subsídios de capital.

208
E S T R U T U R A E E V I D Ê N C I A

Notas

1. Coerente com a discussão apresentada, Gbh < Gh, onde Gh é o produto marginal verdadeiro
do capital humano.

2. A função de custo marginal, b, é igual r + , em que é a taxa de depreciação do capital.


Aqui nós permitimos que políticas p afetem o custo marginal de capital.

3. Isto é coerente com um fato estilizado que é válido para vários países tropicais, particular-
mente na América Latina e na Ásia: embora os pobres sejam mais dependentes dos recursos
naturais, a maior parte da destruição desses recursos é provocada pelos grandes interesses
comerciais que invadem os recursos possuídos pelos pobres (ver a ampla evidência empírica
destas questões fornecidas por Kates & Haarmann, 1992).

Tabela A2.1 – A Equação do Crescimento Sob Várias Especificações


(Variável dependente: crescimento PIB per capita)

Efeitos fixos Efeitos aleatórios

Variáveis Equação 1 Equação 2 Equação 3 Equação 4

Média de escolaridade 0,005 0,004 -0,012 -0,013


(0,025) (0,020) (0,009) (0,009)
Escolaridade x variável simulada de reforma 0,084** 0,084** 0,049** 0,049**
(0,024) (0,024) (0,018) (0,018)
Estoque capital per capita -0,21* -0,021** -0,012** -0,009**
(0,012) (0,010) (0,005) (0,004)
Capital x variável simulada de reforma -0,016** -0,016** -0,008** -0,008**
(0,005) (0,005) (0,004) (0,004)
Simulado 1982-85 -0,019** -0,019** -0,017** -0,018**
(0,005) (0,005) (0,005) (0,005)
Força de trabalho -0,001 n.a. -0,006 n.a.
(0,067) n.a. (0,006) n.a.
Desvio padrão do logaritmo de escolaridade -0,018 -0,018 -0,034** -0,033**
(0,019) (0,016) (0,012) (0,012)
Homoscedasticity (Teste Breusch-Pagan) Rejeitado Rejeitado Não rejeitado Não rejeitado
em 5% em 5% em 5% em 5%
Teste de especificação de White Rejeitado Rejeitado n.a. n.a.
em 5% em 5%
Teste de Hausman: efeitos fixos x aleatórios n.a. n.a. Não rejeitado Não rejeitado
em 5% em 5%

n.a.: não aplicável.


* Significativo no nível de 10%.
** Significativo no nível de 5%.
Nota: Todas as variáveis estão em forma de logaritmo. Todas as variáveis explanatórias estão atrasadas por um período. Os erro-padrão dos coeficientes estão
entre parênteses. São apresentados dados de vinte países. Os erro-padrão da “heteroscedasticity-consistent” de White são relatados sob efeitos fixos.
Fonte: López et al. (1998).

209
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Tabela A2.2 – Taxas do Crescimento do PIB Regressadas nos Estoques por Operário,
Utilizando Todos os Países com Dados Disponíveis de 1965 a 1990

Variáveis Sem produtos cruzados: Sem produtos cruzados: Translogaritmo:


efeitos fixos efeitos fixos (com simulações efeitos fixos (com simulações
(com simulações de país) de país e tempo) de país e tempo)

Observações 335 335 335


Países 67 67 67
Logaritmo de probabilidade -631,70 -606,30 -605,80
1n (capital/trabalho) 10,34 11,36 13,21
(4,79) (5,67) (3,19)
1n (área florestal/trabalho) -1,31 -0,54 8,86
(-0,68) (-0,31) (2,15)
1n (educação) -19,56 -21,41 -12,32
(-5,68) (-6,60) (-2,42)
2
[1n (capital/trabalho)] -0,74 -0,95 -1,11
(-6,34) (-6,93) (-4,88)
2
[1n (área florestal/trabalho)] 0,31 0,36 0,09
(2,74) (3,25) (0,62)
2
[1n (educação)] 1,36 1,44 0,84
(5,52) (6,20) (1,64)
1n (capital/trabalho) x 1n (área florestal/trabalho) n.a. n.a. 0,108
n.a. n.a. (-0,54)
1n (capital/trabalho) x 1n (educação) n.a. n.a. 0,467
n.a. n.a. (0,78)
1n (área florestal/trabalho) x 1n (educação) n.a. n.a. -0,596
n.a. n.a. (-2,03)

n.a.: não aplicável.


Notas:
1. t-estatísticas estão entre parênteses.
2. A variável dependente é anual per capita e o crescimento PIB computado durante um intervalo de cinco anos utilizando dados anuais. A regressão está em
1n(PIB)= a + bt + e, onde e é o resíduo. Taxa de crescimento igual 100*[exp(b)-1].
3. Os parâmetros foram computados por repetidos viáveis e generalizados menos quadrados (FGLS) e, em conseqüência, seria equivalente à estimativa da pro-
babilidade máxima.
4. A correção para AR(1) selecionou um parâmetro único para a totalidade dos países.
5. A correção para o heteroscidasticity da forma do grupo foi feita computando uma variação de grupo para cada país.
6. As medidas do PIB per capita e trabalho foram extraídas de Summer’s and Heston’s Penn World Tables Mark 5.6. Medidas da educação foram extraídas de
Barro & Lee (1997). Elas representam a média de anos de educação para pessoas de 25 anos e mais velhas. Medidas de capital per capita foram extraídas de King
& Levine (1993). Medidas de área florestal (estoque de recursos) foram extraídas do disco de dados do World Resources (1996-1997), e é originalmente de FAO-
STAT. As tabelas de Pen World podem ser obtidas em http://www.nuff.ox.ac.uk/Economics/Growth/. Os conjuntos de dados de Barro-Lee e King-Levine podem
ser pesquisados na página da Web do World Bank em http://www.worldbank.org/html/prdmg/grthweb/ddkile93.htm. Os dados florestais podem ser extraídos
de Food and Agriculture Organization of the United Nations na página da Web http://apps.fao.org/.
Fonte: López et al. (1998).

210
E S T R U T U R A E E V I D Ê N C I A

Tabela A2.3 – Elasticidades para os Estoques por Operário, nas Taxas de


Crescimento do PIB per capita

Elasticidade

Variáveis Valor mínimo Valor máximo Média

Sem permissão para produtos cruzados


Capital/trabalho 0,038 -0,081 -0,040
(0,019) (0,022) (0,009)
Área florestal/trabalho 0,007 0,071 0,047
(0,046) (0,027) (0,022)
Educação (média de escolaridade da força de trabalho) -0,056 0,056 0,018
(0,011) (0,020) (0,011)
Função translogarítmica
Capital/trabalho 0,046 -0,093 -0,045
(0,022) (0,026) (0,012)
Área florestal/trabalho 0,034 0,050 0,044
(0,049) (0,029) (0,023)
Educação -0,031 0,035 0,012
(0,028) (0,022) (0,013)

Notas:
1. As elasticidades são computadas pela conversão da taxa percentual de crescimento para o logaritmo da taxa de crescimento dividindo a porcentagem por 100.
2. Os efeitos marginais são computados utilizando a regressão dos efeitos fixos com simulações de tempo e país, corrigida para a forma do grupo pela he-
teroscedasticity para todos os países, e um termo comum AR(1) para a autocorrelação. Os dados são para todos os países, 1965-1990.
3. Os valores marginais (dy/dx) computados para cada x não logaritmado são simplesmente o exponencial de seus respectivos valores registrados. Isto significa
que a barra de x não é a média verdadeira.
4. Os valores marginais para a formulação translogarítmica utiliza-se dos valores médios do logaritmo do termo cruzado.
5. Os erro-padrão estão entre parênteses, e são baseados na variabilidade apenas da estimativa dos parâmetros (incluindo covariações entre parâmetros) e não
em qualquer variabilidade na média variável mínima ou máxima.
6. A elasticidade do trabalho é computada como negativa da soma das elasticidades para capital/trabalho e recursos/trabalho.
Fonte: López et al. (1998).

211
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Tabela A2.4 – Estudos Empíricos Seletos Sobre o Impacto e a


Extensão dos Subsídios de Capital

Autores Métodos Principais descobertas

Studies on the impact Os estudos examinam os “Em muitos países, governos concedem subsídios
of subsidies. Bergström efeitos no FTP nos subsídios de capital diferentes aos setores de negócio que
(1998). dos capitais públicos para prometem crescimento ... Os resultados sugerem que
“Capital Subsides and empresas na Suécia entre 1987 os subsídios podem influenciar o crescimento (em um
rhe Performance of e 1993. Foram utilizados curto prazo), mas parece haver pouca evidência de que
firms”. painéis de dados. os subsídios afetam a produtividade.” (p.1)

Bregman et al.(1999). Utiliza-se de um conjunto “A política de subsídio de investimentos no capital


“Effect of Capital de microdados e de um perfil físico foi utilizada em muitos países ... Estimamos que
Subsidization on temporal para 620 firmas entre os anos de 1990 e 1994, esta política resultou
Productivity in Israeli em Israel. em deficiências de produção que variam entre 5% e
Industry”. 15% para firmas subsidiadas.” (p.77)

Harris (1991). “The Utiliza a função de produção “Os resultados indicam que, desde que a indústria
Employment Creation CES (elasticidade constante da manufatureira na província tende a operar com um
Effects of Factor substituição) e um modelo da trabalho tecnológico intensivo, e a elasticidade de
Subsidies”. simulação para a indústria demanda para a saída é muito baixa, os efeitos
manufatureira da Irlanda do de geração de emprego para os subsídios de capitais
Norte, 1955-1983. são fortemente negativos.” (p.49)

Lee (1996). Utiliza dados de quatro “As políticas industriais, tais como incentivos
“Government períodos do painel nos de imposto e subsídios ao crédito, não foram
Interventions and anos 1963-1983. correlacionadas com o crescimento do fator total
Productivity Growth”. de produtividade nos setores promovidos.”

Lim (1992). “Capturing Utiliza-se do nível de dados “A maioria dos países em desenvolvimento fornece
the Effects of Capital de 3.900 – 4.900 empresas da incentivos fiscais para encorajar investimentos
Subsidies”. Malásia, de 1976 a 1979. estrangeiros e nacionais. Este estudo mostra que esses
esquemas subsidiam significativamente o uso do
capital e produzem uma intensidade maior de capital
na manufaturação na Malásia.” (p.705)

Oman (2000). “Policy O estudo levanta três questões: “Incentivos baseados na competição ao FDI é um
Competition for Foreign (a) Com que extensão os fenômeno global: os governos em todos os níveis,
Direct Investment”, governos competem realmente países OECD e não OECD, acoplam nos globais ...
OECD Development pelo FDI, (b) o efeito da O efeito distorcionário dos incentivos ... pode ser
Centre. competição e (c) as implicações significativo ... Isto pode ser contraprodutivo se
para agentes de política. os governos oferecerem incentivos dispendiosos
em investimento” (p.7-9). Incentivos de investimento
na indústria automobilística são mostrados em uma
tabela da página 73.

Studies on the size Subsídios estimados que “Subsídios estimados para energia, estradas, água e
of subsidies. danificaram o ambiente. agricultura aumentando as economias de transição na
Gandhi et al. (1997). década de 1990 em US$ 240 bilhões por ano. Cortar
esses subsídios ao meio poderia diminuir o excedente
em US$ 100 bilhões para o investimento no
desenvolvimento sustentável.” (p.10)

212
E S T R U T U R A E E V I D Ê N C I A

Tabela A2.4 Continuação

Autores Métodos Principais descobertas

Moore (1999). Um testemunho sobre o “Bem-estar associado é um grande componente para o


“Corporate Subsidies in Comitê do Orçamento, U.S. crescimento do orçamento federal.”(p.1) Em 1997,
the Federal Budget”. House of Representatives. as corporações da Fortune 500 eram estimadas para
receber quase US$ 75 bilhões de subsídio do governo.

De Moor & Calamai Um relatório do Conselho da “Em países da OECD, subsídios anuais totais em
(1997). Terra, que estimou subsídios quatro setores – energia, estradas de rodagem, água
Subsidizing Unsustainable públicos em quatro setores. e agricultura – atingiram US$ 490-615 bilhões; nos
Development: países não-OECD, US$ 217-272 bilhões. Os subsídios
Undermining the Earth totais globais nos quatro setores são estimados em
with Public Funds. US$ 710-890 bilhões”. (p. 93)

Gulatti & Narayanan Este relatório estima a “Amplamente, a metade do enorme subsídio agrícola
(2000). quantidade de subsídios sobre fertilizantes e energia ... abrangendo 2% do
“Demystifying Fertilizer e examina os reais PIB, está indo tanto para a indústria, no caso de
and Power Subsidies in beneficiários. fertilizantes, ou está sendo roubado por consumidores
India”. não agrícolas, no caso da energia.” (p.784)

Nota: Uma tabela mais detalhada está disponível nas solicitações aos autores.
Fonte: Autores.

213
A N E X O 3

DISTRIBUIÇÃO DA
EDUCAÇÃO, ABERTURA
E CRESCIMENTO

T eorias econômicas sugerem um forte elo causal da educação com


o crescimento, mas a evidência empírica não foi unânime e con-
clusiva. López et al. (1998) centram seu foco em dois fatores que
explicam por que os estudos empíricos não têm sustentado
esmagadoramente as teorias. Em primeiro lugar, a distribuição da educação
afeta o crescimento econômico; em segundo, o ambiente da política econômi-
ca afeta imensamente o impacto da educação sobre o crescimento, por deter-
minar o que as pessoas podem fazer com sua educação. Reformas de comér-
cio, investimento e políticas trabalhistas podem aumentar os retornos da edu-
cação. Usando os dados do painel de vinte países em desenvolvimento para
1970-1994, investigamos o relacionamento entre educação, reformas políticas
e crescimento econômico e fizemos as seguintes observações:

• A distribuição da educação é importante. Uma distribuição excedente


enviesada da educação tende a ter um impacto negativo sobre a renda
per capita da maioria dos países. Controle para a distribuição da edu-
cação e utilização de formas funcionais apropriadas levam a efeitos de
educação média positivos e significativos na renda per capita, enquan-
to o fracasso em realizar isso conduz a efeitos de educação média
insignificantes ou negativos.
• O ambiente político é extremamente importante. Os resultados indicam que
as políticas econômicas que suprimem as forças do mercado tendem
a reduzir o impacto da educação sobre o crescimento econômico.
Além disso, o estoque de capital físico é relacionado negativamente
com o crescimento econômico para economias na amostragem, impli-
cando um declínio da produtividade de capital marginal.

215
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

A Função de Produção Ampliada


com a Distribuição da Educação

Utilizamos um modelo no qual o capital físico é totalmente comerciali-


zável, mas o capital humano não é. O nível, assim como a distribuição do
capital humano, incorpora a função de produção agregada. Se a educação
combinar a dispersão da habilidade, o efeito marginal da distribuição edu-
cacional sobre a renda desaparece. Se a dispersão da educação for maior do
que a dispersão da habilidade, a renda per capita poderá ser aumentada
reduzindo-se a dispersão da educação. Se a dispersão da educação for menos
tendenciosa que a habilidade, então os governos devem concentrar o inves-
timento em umas poucas pessoas com grande capacidade de aprender.
O Coeficiente Gini de Educação é calculado em duas etapas. Em
primeiro lugar, uma curva de Lorenz para educação é construída com base
nas proporções da população com vários níveis de escolaridade e a extensão
de cada nível de escolaridade, que mostra os anos cumulativos de escolari-
dade com respeito à proporção da população. Então, o Coeficiente Gini de
Educação é calculado como a razão da área entre a curva de Lorenz e a linha
de 45 graus (igualdade perfeita) para a área total do triângulo. Uma
definição alternativa do Coeficiente Gini de Educação é a razão para a média
de escolaridade de metade da soma das diferenças absolutas de conclusão
escolar entre todos os pares possíveis de indivíduos em um país (Deaton,
1997).1 A Tabela A3.1 apresenta o Coeficiente Gini para vinte países e os
dados preliminares estimados para 85 países estão disponíveis em Thomas
et al. (2000).
Usando dados qüinqüenais de vinte dos mais importantes países de
renda média, as funções de produção agregadas foram estimadas. A Tabela
A3.2 relata quatro estimativas da função de produção per capita agregadas
para 1970-1974. A primeira coluna apresenta o efeito fixo tradicional do
modelo log-linear que ignora ambos os fatores explanatórios anteriores:
distribuição da educação e ambiente político. Como mostra a primeira co-
luna, o capital humano tem um efeito significativo e negativo sobre a pro-
dução; nisso reside o “quebra-cabeça da educação”.
A segunda coluna apresenta um modelo de efeito fixo em uma forma
log-linear, mas a estimativa permitiu que a distribuição da educação desem-
penhasse um papel na função. A segunda coluna não permite nenhum efeito
de país específico a partir da distribuição da educação; e mostra associações
positivas entre estoque de capital humano, sua distribuição e nível de renda.
Neste caso, o coeficiente da média educacional torna-se positivo e estatisti-
camente significativo em 5%. O efeito da distribuição educacional sobre a
função de produção foi estatisticamente diferente através dos países. A
diversidade através dos países do efeito da dispersão da educação é coerente
com a idéia de que é provável que o efeito da dispersão da educação varie e mude
o sinal de acordo – se está abaixo ou acima de seu nível ótimo.

216
D I S T R I B U I Ç Ã O D A E D U C A Ç Ã O , A B E R T U R A E C R E S C I M E N T O

Tabela A3.1 – Os Coeficientes Gini de Educação para Países Seletos, em Anos Seletos

Países 1970 1975 1980 1985 1990

Argélia 0,8181 0,7683 0,7080 0,6525 0,6001


Argentina 0,3111 0,3257 0,2946 0,3182 0,2724
Brasil 0,5091 0,4290 0,4463 0,4451 0,3929
Chile 0,3296 0,3327 0,31561 0,3120 0,3135
China 0,5985 0,5541 0,5094 0,4937 0,4226
Colômbia 0,5095 0,4594 0,4726 0,4752 0,4864
Costa Rica 0,4106 0,3916 0,4059 0,4165 0,4261
Índia 0,7641 0,7429 0,7517 0,7238 0,6861
Indonésia 0,5873 0,5817 0,5051 0,4388 0,4080
Irlanda 0,2488 0,2454 0,2364 0,2377 0,2498
Coréia 0,5140 0,3942 0,3383 0,2877 0,2175
Malásia 0,5474 0,5150 0,4719 0,4459 0,4204
México 0,5114 0,4990 0,4978 0,4695 0,3839
Paquistão 0,8549 0,8450 0,8170 0,8065 0,6448
Peru 0,5048 0,5028 0,4258 0,4371 0,4311
Filipinas 0,4327 0,3578 0,3404 0,3360 0,3285
Portugal 0,4985 0,5142 0,4255 0,4350 0,4315
Tailândia 0,4185 0,4257 0,3591 0,3891 0,3915
Tunísia 0,8178 0,7589 0,6935 0,6710 0,6168
Venezuela 0,5789 0,5585 0,3919 0,3970 0,4209

Fontes: López et al. (1998). Para dados sobre países adicionais, ver Thomas et al. (2000).

A terceira coluna apresenta os resultados obtidos mediante a permissão


para efeitos específicos do país da distribuição educacional. Os coeficientes
da variabilidade da educação para os vários países são conjuntamente signi-
ficativos a 1%. Contudo, sete dos vinte coeficientes de países específicos
não são estatisticamente diferentes de zero.
A última coluna utiliza-se do desvio-padrão nos registros como outra
medida de dispersão da educação. Esta medida de dispersão exerce um
efeito muito maior sobre a renda per capita. A maioria destes coeficientes
de países específicos é negativa, e oito entre vinte coeficientes são alta-
mente significativos.
A Tabela A3.3 apresenta os resultados obtidos ao utilizar-se da especi-
ficação não-linear sugerida pelo modelo teórico. Ou seja, esta especificação
lida com as duas variáveis omitidas e a forma funcional dos problemas de
especificação. Em todas as três especificações, os coeficientes da média edu-
cacional são positivos e estatisticamente significativos no nível de 5%.
Nesta forma funcional, a distribuição da educação está associada positiva-
mente ao nível de renda, que é ainda coerente com o modelo que afirma que
um certo nível de dispersão educacional é importante para a produção,
especialmente considerando-se o progresso e a inovação tecnológica.

217
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Tabela A3.2 – Função de Produção: Estimativa Linear


(dependente variável: registro do PIB per capita)

Efeitos fixos, Efeitos fixos, a forma log-linear Efeitos fixos, a forma log-linear Efeitos fixos permitindo, para
excluindo efeito permitindo, para efeitos de permitindo, para efeitos de efeitos de distribuição de
da distribuição distribuição de educação, usar distribuição de educação, usar educação, usar o desvio-padrão
Variáveis educacional coeficientes de variáveis de educação coeficientes de variáveis de educação do registro de educação

Capital humano -0.275** 0.491** 0,004 -0,380**


(0.085) (0.106) (0,112) (0,131)
Capital físico 1.108** 0.981** 1,066** 1,083**
(0.033) (0.012) (0,022) (0,071)
Simulação1982-85 -0.063** -0.077** -0,063** -0,033**
(0.012) (0.012) (0,011) (0,009)
Efeitos de distribuição 1.187**
da educação (0.133)
2,828** -0,423**
Brasil (0,350) (0,196)
-0,20 -0,320
Chile (0,309) (0,279)
0,354** -1,197**
China (0,139) (0,225)
0,765 -0,300
Colômbia (0,916) (0,269)
0,012 0,015
Índia (0,278) (0,299)
1,146** 0,012
Coréia (0,089) (0,148)
0,843** -0,475
México (0,264) (0,306)
2,494** -0,690**
Malásia (0,196) (0,304)
0,574 -0,409
Peru (0,559) (0,344)
-2,138 -0,861**
Filipinas (2,627) (0,275)
-2,478** -0,541**
Tailândia (0,618) (0,175)
1,032** -0,109
Venezuela (0,142) (0,330)
-0,685* 0,818*
Argélia (0,378) (0,471)
1,307** -0,367
Argentina (0,316) (0,269)
-3,849** -0,666**
Costa Rica (0,579) (0,222)
2,081** -1,004**
Indonésia (0,298) (0,157)
1,287** 0,251
Irlanda (0,161) (0,284)
-0,024 -0,292
Paquistão (0,165) (0,321)
-0,001 0,027
Portugal (0,483) (0,238)
0,654** -0,065
Tunísia (0,188) (0,484)

* Significativo no nível de 10%.


** Significativo no nível de 5%.
Nota: Um coeficiente auto-regressivo de primeira ordem foi estimado pela probabilidade máxima para cada país em separado. Esta informação foi utilizada para
corrigir os dados. Erros-padrão relatados (entre parênteses) são da“ heteroscedasticity-consistent” de White. Todas as variáveis estão em formas logarítmicas,
exceto para as simulações.
Fonte: López et al. (1998).

218
D I S T R I B U I Ç Ã O D A E D U C A Ç Ã O , A B E R T U R A E C R E S C I M E N T O

Tabela A3.3 – Função de Produção: Estimativa Não-Linear


(dependente variável: registro do PIB per capita)

Não-linear, permitindo Não-linear, permitindo Não-linear, permitindo efeitos de distribuição


uma distribuição efeitos de distribuição dentro de vários continentes com diferentes
Variáveis de efeitos dentro de vários continentes níveis de variabilidade de educação

Capital humano 0,159**


0,369** 0,272** (0,056)
Capital físico (0,049) (0,051) 0,897**
0,842** 0,863** (0,017)
Simulações 1982-85 (0,018) (0,019) -0,061**
-0,066** -0,065** (0,011)
Efeitos de distribuição (0,012) (0,12)
da educação

Efeitos de distribuição de educação (a)

Geral 7,532** 13,040**


(0,831) (2,407)
América Latina 9,541**
(1,611)
Ásia 3,720**
(0,656)
África 8,140**
(2,362)
Europa
11,416**
Baixa variabilidade (3,624)
32,595**
Média variabilidade (10,195)
3,145**
Alta variabilidade (0,533)

* Significativo no nível de 10%.


** Significativo no nível de 5%.
Nota: Um coeficiente auto-regressivo de primeira ordem foi estimado pela probabilidade máxima para cada país em separado. Esta informação foi utilizada para
corrigir os dados. Todas as variáveis estão em forma de logaritmos, exceto para as simulações. Dados de vinte países foram utilizados na análise, os erros-padrão
estão entre parênteses.
Fonte: López et al. (1998).

Análise Empírica em Retornos


de Investimento na Educação

Baseado na experiência emprestada do Banco Mundial durante os últi-


mos vinte anos, Thomas & Wang (1997) examinaram se educação e aber-
tura podem melhorar o impacto desenvolvimentista de projetos de investi-
mento. O modelo é uma função de produção do país dividida em produção
para a exportação e produção para os mercados domésticos. As formas
reduzidas são as seguintes:
. .
P(Sat = 1)i = Ei + Xi + Gi + Ri + i

. .
ERRi = Ei + Xi + Gi + Ri + i

219
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

em que P(sat = 1)i é a probabilidade de um projeto i que está sendo taxado


.
como satisfatório, ERRi é a taxa de retorno econômico para o projeto i, E i é
a mudança no nível médio de escolaridade da força de trabalho para o país
em
. que o projeto está locado e o período em que o projeto é implementado,
Xi é o vetor das variáveis indicando crescimento de exportação ou abertura,
G é o vetor das variáveis indicando a potencialidade do governo e do insti-
tucional, e R inclui variáveis exógenas e simulações regionais. A primeira
equação é estimada utilizando a análise de Probit porque a variável depen-
dente é uma variável discreta (0/1), e a segunda equação utiliza o Procedi-
mento Tobit porque ERRs estão truncadas em 5%.

Dados do Projeto

Depois que cada projeto do Banco Mundial é completado, um relatório


da conclusão do projeto é escrito e duas medidas de desempenho são cal-
culadas. A equipe do departamento de avaliação das operações avalia e
atribui uma taxa de desempenho geral de satisfatório ou insatisfatório na
conclusão dos objetivos desenvolvimentistas do projeto. Uma taxa de retorno
econômico ex post (ERR) também é calculada para projetos em oito setores
– infra-estrutura, agricultura, indústria, energia, água, transporte urbano e
turismo –, nos quais a corrente dos benefícios do projeto podem ser quan-
tificados. O ERR é a corrente descontada dos custos do projeto e seus bene-
fícios durante a vida do projeto, avaliada a preços econômicos. Os ERRs
ex post são calculados de modo aproximado de dois a três anos depois da
conclusão do projeto, oportunidade em que os avaliadores conhecem os
custos de investimentos reais e os custos operacionais reais e a demanda,
mas eles ainda precisam estimar a corrente futura de benefícios.

Variáveis Explanatórias

Não se fez nenhuma tentativa para construir um modelo completo de


determinantes do sucesso do projeto, que iria requerer informação setorial
e nível de projeto, assim como informação sobre o nível do país. Quatro gru-
pos de variáveis explanatórias foram utilizados:

• Educação, que pode ser medida por meio de três variáveis. Elas
incluem mudanças na média dos anos de escolaridade, da força de
trabalho, entre a aprovação do projeto e anos de avaliação; interação
de educação e abertura, aferida pelos desvios das partes comerciais;
e o nível inicial da educação, baseado em Nehru et al. (1995) e atua-
lizado por Patel.
• Indicadores de abertura, incluindo o prêmio e o mercado negro de

220
D I S T R I B U I Ç Ã O D A E D U C A Ç Ã O , A B E R T U R A E C R E S C I M E N T O

câmbio de moeda estrangeira e os desvios nas partes comerciais,


definidos pelas partes comerciais reais menos a parte comercial pre-
dita que foi estimada por um simples modelo de gravidade.
• Governo e capacidade institucional, que podem ser refletidos indi-
retamente por um índice para corrupção no governo (International
Country Risk Guide, 1982-1995) pelas partes do consumo governa-
mental em PIB, e partes do surplus/déficit do orçamento no PIB. A
segunda e a terceira medidas podem refletir a habilidade do go-
verno para controlar suas finanças e implementar prudência e dis-
ciplina estritas.

Os resultados da regressão são apresentados na Tabela A3.4. Os acha-


dos sugerem a importância da abertura comercial e da educação para me-
lhorar a performance do projeto e os ganhos potenciais e uma aprendizagem
orientada para o exterior. Bom governo e uma disciplina fiscal estrita tam-
bém são considerados condutores a retornos mais elevados do projeto (ver
Thomas & Wang, 1997).

Tabela A3.4 – Educação, Abertura e Desempenho do Projeto de Empréstimo

Variável dependente = taxa de retorno econômico Variável dependente = satisfatório ou não

Variáveis independentes Coeficiente Tobit Prob > Chi Coeficiente Probit Prob > Chi

Variáveis educacionais
Mudança em níveis de educação entre aprovação e anos de avaliação 3,33 0,01 0,34 0,00
Educação x abertura de mercado
(medida por ações do comércio prediletas) 0,00 0,04 0,00 0,45

Falta de aberturas
Registro do mercado premium de câmbio negro estrangeiro
(3 anos movimentando a média) -3,14 0,04 -0,23 0,01

Instituição e governo
Compartilha do excedente do orçamento/déficit no PIB
(3 anos movimentando a média) 0,26 0,05 0,06 0,04
Corrupção no governo (1 =mais, 6 = menos)

Outros controles de variávies e simulações


Nível inicial do PIB per capita na aprovação do projeto anual 0,00 0,95 -0,06 0,02
Simulação para a complexidade do projeto -4,27 0,00 -0,45 0,00
África subsaariana 5,31 0,41 1,56 0,00
Norte da Ásia 9,13 0,15 2,56 0,00
Sul da Ásia 10,47 0,09 2,13 0,00
América Latina e Caribe 7,77 0,24 1,92 0,00
Europa, Oriente Médio e norte da África 10,80 0,09 2,20 0,00
Registro de probabilidade -3.209,00 -1.032,00
Número de observações 830,00 1.826,00

Nota: Prob = 0,05 significa a rejeição do coeficiente = 0 a 95% de confiança. As regressões cobrem projetos avaliados entre 1974 e 1992.
Fonte: Thomas & Wang (1997).

221
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Estudos Selecionados Sobre


Distribuição de Recursos e Crescimento

A Tabela A3.5 inclui um conjunto seleto de estudos empíricos sobre a


distribuição de recursos e o crescimento econômico, o que forneceu algu-
mas das evidências utilizadas no Capítulo 3.

Notas

1. O Coeficiente Gini de educação pode ser calculado utilizando a fórmula a seguir:

1
=    xi – x j  .
i >j j
N(N – 1)

onde é o índice Gini, é a média da diferença em obtenção de grau escolar e N é o número


total das observações (ver Deaton, 1997).

222
D I S T R I B U I Ç Ã O D A E D U C A Ç Ã O , A B E R T U R A E C R E S C I M E N T O

Tabela A3.5 – Estudos Empíricos Seletivos Sobre a Distribuição de Recursos,


Crescimento e Pobreza
Autores Metodologia Maiores descobertas

Maas & Criel (1982) Cálculo de Coeficiente Gini de Educação baseado nos A desigualdade na distribuição de educação varia enormemente
dados de matrícula em 16 países do norte da África. através dos países.

Ram (1990) Cálculo de desvio-padrão de educação para Com o nível de escolaridade aumentando, a desigualdade
aproximadamente cem países. educacional aumenta primeiro, e, após atingir um certo pico,
começa a declinar. O ponto de retorno é baseado em sete anos
de educação.

O’Neill (1995) 1. Assumindo que o estoque de capital humano é o Entre países desenvolvidos, a convergência em níveis
acúmulo de educação passada, insensível para da educação resulta na redução da dispersão de rendas.
o nível de renda corrente. Entretanto, as rendas globais têm divergido a despeito
2. Utilizando a variação de renda e a análise da convergência substancial dos níveis de educação.
dos capitais físico e humano.
3. Utilizando ambas as quantidades e avaliações
de capitais humano e físico.

Ravallion & Sen (1994) Apresentando um caso do estudo interior na taxa Esquemas de diminuição da pobreza em contingentes de terra
de efetividade da política de redução da pobreza. em Bangladesh tem um impacto na redução da pobreza, “embora
os ganhos máximos despeçam os menores” (p.823).

Deininger & Squire (1996) Coeficiente Gini para a Terra medindo o crescimento do Países com maior eqüidade na distribuição de terras tendem a
PIB (1960-1990). crescer mais rápido.

Ravallion (1997) Taxa de crescimento do Coeficiente Gini de Renda. Em qualquer taxa de crescimento positiva, quanto maior a
desigualdade inicial, menor a taxa de queda de renda da pobreza.

Birdsall & Londoño (1998) Uma análise dentro do país usando um modelo tradicional Níveis de desigualdade na educação inicial e Coeficiente Gini
de crescimento, após um controle de acumulação de para a Terra têm fortes impactos negativos no crescimento
capital, níveis de renda e educação e recursos naturais. econômico e crescimento de renda dos pobres.

Deininger & Squire (1998) Dados prováveis entre países na renda e na distribuição de “Há um drástico relacionamento negativo entre a desigualdade
vantagens (terra). inicial e a distribuição de vantagem no crescimento a longo
prazo; desigualdade reduzindo o crescimento de renda do pobre,
mas não do rico; e dados longitudinais disponíveis fornecem um
pequeno apoio às hipóteses de Kuznets.”

Li et al. (1998) Coeficiente Gini para a Terra. Coeficiente Gini de Renda está positivamente relacionado com o
Coeficiente Gini de Renda. Coeficiente Gini para a Terra.

IDB (1998) Regressão usando dados de 19 países, Gini Desigualdade de renda (Gini) está negativamente
para a Terra, Gini de Renda, Gini de Educação relacionada com Gini para a Terra, e positivamente
e desvio-padrão de educação. relacionada com desvio-padrão de educação.

López et al. (1998) Uma função de produção “nontradable” é estimada usando 1. A distribuição da educação é importante para os níveis de
dados qüinqüenais de vinte países, depois controlando renda, assim como para o crescimento.
capital físico, trabalho, e assim por diante. 2. Abertura financeira e reformas melhorando a produtividade do
Coeficientes Gini de Educação são estimados na obtenção capital humano e modelos de crescimento.
dos dados.

Tabela continua na próxima página

223
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Tabela A3.5 Continuação

Autores Metodologia Maiores descobertas

Ravallion & Datt (1999) Utilizando vinte estudos domésticos dos 15 maiores Os processos de crescimento são mais pró-pobres nos
estados da Índia em 1960-1994 para estudar a questão estados com alta alfabetização inicial, alta produtividade
de “quando o crescimento é pró-pobre”. Foram estimadas agrícola e padrão de vida rural mais elevado do que dos
elasticidades de pobreza a não-agricultores. moradores urbanos.
Kerala tem a mais alta elasticidade de pobreza de saídas
não agrícolas.

Fonte: Compilação dos autores.

224
A N E X O 4

AFERINDO O
CAPITAL NATURAL

U ma análise sistemática quantitativa dos elos entre o estado


do meio ambiente e o crescimento econômico tem sido atra-
palhada por falta de dados confiáveis sobre o capital natu-
ral. Em decorrência da crescente necessidade de pesquisa ri-
gorosa sobre o tema, numerosas iniciativas foram direcionadas para cole-
tar dados mais confiáveis e sistemáticos pelo mundo afora: dados sobre
desmatamento compilados pela Organização de Alimentação e Agricultura
das Nações Unidas; aferições da poluição do ar urbana compiladas pelo
WHO; estatísticas sobre o acesso ao saneamento, água limpa e muitos ou-
tros aspectos ambientais compilados pelo UNDP e o Global Environmental
Monitoring System.
The World Development Indicators (WDI) é uma publicação anual do Banco
Mundial e inclui um amplo corpo de dados ambientais extraídos das fontes
mencionadas anteriormente, ao lado de muitas outras. Por juntar dados
úteis de diversas fontes e um formato de boas condições ao usuário, o WDI
tornou-se rapidamente um balcão de parada obrigatória para o acesso a da-
dos ambientais. A maior parte dos dados ambientais utilizados no Capítulo
4 e outros lugares neste relato foi extraída das Tabelas do WDI.
Além de ser uma rica fonte de dados, o WDI também é referência útil.
A publicação e suas tabelas de dados podem ser acessadas na Web em
www.worldbank.org/data/wdi.
Dois índices para o capital natural foram construídos com base nos
dados disponíveis no WDI, especialmente:

• O índice do desenvolvimento sustentável para aferir resultados ambientais.


Este é um índice de mudança construído dando-se pesos iguais para
taxas anuais de desmatamento entre 1980 e 1995, diminuição da
poluição da água, representado pelas emissões de poluentes orgâni-
cos da água em quilogramas por dia por operário entre os anos 80 e

225
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

90, e declínio nas emissões de dióxido de carbono em toneladas


métricas per capita entre os anos 80 e 90.
• O índice político do meio ambiente como uma medida de comprometimento
de governo na proteção do capital natural. Isto inclui duas variáveis
simuladas: uma para ação interna baseada na formulação de uma
estratégia ambiental nacional e de perfis ambientais e outra para
a ação internacional baseada na sinalização da Convention on
Climate Change.

Ambos os índices são preliminares e o trabalho está em andamento


para desenvolver indicadores mais abrangentes e confiáveis. O seguinte
site da Web dá uma idéia dos esforços do Banco Mundial nesta direção:
http://www.esd.worldbank.org/eei.

226
A N E X O 5

ABERTURA FINANCEIRA

N ossa ampla medida da abertura financeira incorpora con-


troles e/ou restrições em ambas as transações, moeda cor-
rente e capital. É construída como a média aritmética sim-
ples de medidas quantitativas de grau, de controles ou
restrições sobre 27 transações individuais relacionadas a pagamentos de im-
portação, procedimentos de exportação, transações invisíveis e transações
de cálculo de capital, como mostrado na Tabela A5.1. Esta classificação
baseia-se no relatório anual do Fundo Monetário Internacional sobre
Arranjos de Câmbio e Restrições de Câmbio.
Esta classificação, desenvolvida a partir da metodologia criada por
Quinn & Incla (1997), baseia-se em uma escala de cinco categorias que
abrangem de 0 a 2 para cada item, indicando o grau de abertura (0, alta-
mente controlado; 2, altamente liberal) definido como se segue:1

0.0 Leis e/ou regulamentações que impõem restrições quantitativas ou


outras restrições reguladoras a uma transação particular, tais como
licenças ou exigências de reserva que proíbem totalmente tais tran-
sações econômicas.
0.5 Leis e/ou regulamentações que impõem restrições reguladoras
quantitativas ou outras numa transação particular, tais como licença
e exigências de reserva que proíbem parcialmente tais transações
econômicas.
1.0 Leis e/ou regulamentações que requerem que a transação particular
seja aprovada pelas autoridades ou submetida a pesadas taxas quan-
do aplicada, seja na forma de práticas de moeda corrente múltipla ou
outras taxas.
1.5 Leis e/ou regulamentações que requerem que a transação particular
seja registrada, mas não necessariamente aprovada pelas autoridades
e igualmente taxada quando aplicada.
2.0 Nada de regulamentações que requeiram que a transação particular
seja aprovada pelas autoridades e livre de taxação quando aplicável.

227
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Tabela A5.1 – Transações Internacionais

Categoria Tipo de transação

Importações e pagamento de importações Orçamento de câmbio estrangeiro

Financiamento de requerimentos para importação

Documentos para liberação de câmbio estrangeiro para importação

Licença para importação e outras medidas não tarifadas

Taxas de importação e/ou tarifas

Monopólio do Estado sobre a importação

Exportações e exportações contínuas Exigência de repatriação

Exigências de financiamento

Exigência de documentação

Licença de exportação

Taxa de exportação

Pagamentos para transações invisíveis e transferências correntes Controles destes pagamentos

Continuidade para transações invisíveis e transferências correntes Exigência de repatriação

Restrições no uso dos fundos

Transações de capital principal Segurança do mercado de capitais

Instrumentos no mercado monetário

Segurança em investimentos coletivos

Derivativos e outros instrumentos

Crédito comercial

Crédito financeiro

Garantias, segurança, cópias de segurança financeira

Investimento direto

Liquidez e investimento direto

Verdadeiras transações estatais

Movimentação de recursos próprios

Bancos comerciais e outras instituições financeiras

Investidores institucionais

Fonte: FMI (1998).

Aplicando esta metodologia codificada, o índice de abertura financeira


estimada abrange de 1,93 para a Irlanda e Luxemburgo, a 1,12 para a
Etiópia (ver Tabela A5.2).
Um índice mais estritamente definido, que capta o grau de abertura para
as transações de cálculo de capital, pode ser atingido de maneira similar. O
índice estrito utiliza apenas 13 transações das arroladas na categoria de
transações de cálculo de capital na Tabela A5.1.

228
A B E R T U R A F I N A N C E I R A

Tabela A5.2 – Índice de Abertura Financeira, Países Seletos, 1997

Aberto Amplamente aberto Parcialmente fechado Amplamente fechado

País Índice País Índice País Índice País Índice

Argentina 1,78 Croácia 1,54 Bahamas 1,36 Bangladesh 1,21


Austrália 1,77 Equador 1,54 Belize 1,44 Barbados 1,28
Áustria 1,92 Honduras 1,56 Benin 1,48 Bhutan 1,19
Bahrain 1,73 Israel 1,59 Botswana 1,48 Brasil 1,19
Bélgica 1,88 Mongólia 1,56 Bulgária 1,46 Etiópia 1,12
Bolívia 1,79 Filipinas 1,59 Burkina Faso 1,49 Índia 1,20
Canadá 1,92 Polônia 1,54 Burundi 1,39 Malawi 1,26
Dinamarca 1,92 Rep. Eslovaca 1,58 Camarões 1,41 Malásia 1,34
Egito 1,81 Eslovênia 1,50 Cabo Verde 1,39 Marrocos 1,27
El Salvador 1,91 Turquia 1,52 Chile 1,43 Paquistão 1,31
Estônia 1,88 China 1,37 Síria 1,20
Finlândia 1,83 Colômbia 1,38
França 1,73 Rep. Dem. Congo 1,42
Alemanha 1,84 Costa Rica 1,48
Grécia 1,91 Rep. Tcheca 1,48
Guatemala 1,73 Rep. Dominicana 1,49
Guiana 1,72 Gana 1,43
Islândia 1,74 Hungria 1,49
Irlanda 1,93 Indonésia 1,46
Itália 1,84 Coréia 1,42
Jamaica 1,76 Lesoto 1,41
Japão 1,73 Mali 1,49
Kuwait 1,77 Malta 1,40
Latíbia 1,88 Maldova 1,46
Lituânia 1,85 Moçambique 1,41
Luxemburgo 1,93 Namíbia 1,33
Ilhas Maurício 1,82 Papua-Nova Guiné 1,36
México 1,69 Romênia 1,48
Holanda 1,87 Federação Russa 1,43
Nova Zelândia 1,90 África do Sul 1,44
Nicarágua 1,82 Sri Lanka 1,43
Noruega 1,83 Tailândia 1,46
Panamá 1,90 Tunísia 1,39
Paraguai 1,81 Ucrânia 1,36
Peru 1,90
Portugal 1,84
Cingapura 1,78
Espanha 1,82
Suécia 1,86
Suíça 1,88
Trinidad e Tobago 1,67
Reino Unido 1,86
Estados Unidos 1,85
Uruguai 1,77
Venezuela 1,84
Zâmbia 1,79

Nota: Aberto: nenhuma, ou mínima, regulamentação para transações exteriores e interiores e um meio ambiente geralmente não discriminatório. Amplamente aber-
to: algumas regulamentações são exercidas nas transações exteriores ou interiores com a necessidade de apoio documental, mas sem a necessidade da aprovação
governamental. Parcialmente fechado: a aprovação e as regulamentações governamentais são requeridas para transações internas e externas e habitualmente avali-
zadas. Amplamente fechado: restrições substanciais e aprovações governamentais são requeridas e raramente concedidas para transações internas e externas.
Fonte: Estimativa dos autores.

229
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Nota Sobre a Vulnerabilidade


do País e Medidas de Volatilidade

A classificação de vulnerabilidade baseia-se em nossas estimativas da


volatilidade nos fluxos de capital privado, orientando-se pela seguinte equa-
ção de previsão:

(A5.1) KFit = i + i KFi (t-1) + uit

em que KFit denota fluxos totais líquidos de capital privado para o país i no
ano t; e uit denota o termo de erro.
A volatilidade no país i é definida como

S(uit)
(A5.2) Vi =
GDPit ,1996

onde S(uit ) é a menor estimativa comum de segunda potência do erro-


padrão dos resíduos na Equação (A5.1) utilizando dados de seqüências
temporais de 1975 a 1996 (ver Tabela A5.3 para o índice).

Nota Sobre as Brechas no Produto Interno Bruto

Os valores atuais da diferença entre o PIB potencial, extrapolado com


base nas taxas de crescimento histórico da economia real no período 1980-
1996, e o PIB real ou estimado de 1997 a 1999 são calculados como custo
econômico devido à crise financeira. O valor atual foi calculado para valores
de 1996 utilizando-se uma taxa de desconto real de 3% ao ano. Expressos
como uma porcentagem do estoque de débito em 1996, os custos estima-
dos da crise foram de 81% para a Malásia, 97% para a Indonésia, 128% para
a Tailândia e 291% para a Coréia. Um cálculo similar para o Brasil rende
uma estimativa de 21%. Note-se que, para a Coréia, a figura de estoque de
débito utilizado é para 1997.

230
A B E R T U R A F I N A N C E I R A

Tabela A5.3 – Países em Desenvolvimento Classificados por Graus de Volatilidade


para Fluxos de Capital Estrangeiro

Altamente volátil Volátil Moderadamente volátil Minimamente volátil

País Índice País Índice País Índice País Índice

Jamaica 3,23 México 1,54 Colômbia 0,99 Uganda 0,63

Gabão 2,93 Equador 1,50 Tunísia 0,98 Brasil 0,60

Nigéria 2,07 Quênia 1,49 Indonésia 0,95 Paraguai 0,58

Venezuela 2,04 Nicarágua 1,48 Turquia 0,93 China 0,54

Malásia 1,97 Bolívia 1,44 Argentina 0,91 Sri Lanka 0,46

Jordão 1,82 Chile 1,38 Costa Rica 0,85 Paquistão 0,44

Panamá 1,79 Etiópia 1,31 Uruguai 0,83 Guatemala 0,43

Camarões 1,60 Filipinas 1,27 Egito 0,74 República Dominicana 0,39

Zâmbia 1,59 Honduras 1,04 Tanzânia 0,72 Índia 0,38

Zimbábue 1,59 Tailândia 1,01 Marrocos 0,64 El Salvador 0,32

Nepal 0,29

Bangladesh 0,10

Fontes: World Bank (1999 c); cálculos dos autores.

Nota Sobre um Modelo Binomial de Logit

O modelo binomial de logit é usado para estimar o impacto das variáveis


independentes na probabilidade de que um país cairia na categoria de alta
democracia-alta abertura financeira. Neste modelo, a variável dependente é
definida por uma variável aleatória dicotômica y, que assume o valor de 1 se
o país i pertence à categoria de alta democracia-alta abertura financeira, e 0
caso contrário. Isto é dado por

yi = pi + ei ,

em que p é a probabilidade de que determinado país pertença à categoria


alta democracia-alta abertura financeira e especificada como p = F(a´x),
onde x é um vetor de variáveis independentes, a é o vetor correspondente
de coeficiente, F (a´x) é a função de distribuição cumulativa, e ei um termo
do erro suposto para seguir a distribuição de Bernoulli.

231
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Expressando a probabilidade para a observação por meio do modelo


logit, obteremos a expressão

exp (a´xi)
F (a´xi) = .
1 + exp (a´xi)

De modo subseqüente, a transformação logit daria

pi
log = a´xi .
1 – pi

Neste capítulo, centramo-nos nas variáveis explanatórias definidas


como:
• registro dos gastos sociais totais como uma porcentagem do PIB
(média 1990-96) (x1);
• registro do PIB per capita, dólares atuais dos Estados Unidos (média
1990-1996) (x2).

Este modelo binomial foi estimado pelo método de máxima probabili-


dade utilizando-se dados através do país para uma amostragem de 67
países, para os quais dados coerentes nas duas variáveis explanatórias
estavam disponíveis. De modo computacional, obtivemos a máxima proba-
bilidade utilizando o algoritmo Newton-Raphson, que adotou o procedi-
mento STATA logit. Os resultados foram gerados depois de cinco iterações.
Os resultados estimados são relatados no texto da Tabela 5.3. O resultado
indica que tanto a renda per capita como a razão dos gastos socais para o PIB
têm um impacto estatisticamente significativo ao explicar a probabilidade
de um país cair na categoria alta-alta. O modelo também desempenha bem
ao prever porcentagem de países que estão corretamente classificados como
pertencentes ao grupo de alta democracia-alta abertura financeira. Ou seja,
dos 27 países do grupo alta-alta, 19 foram corretamente previstos para estar
naquele grupo (baseado na probabilidade limiar de 0,5), logo, produzindo
uma taxa de classificação correta de 70,37%.

Estatísticas Sumárias para


Variáveis Utilizadas no Capítulo 5

Várias análises estatísticas foram executadas no decorrer deste capítulo.


A Tabela A5.4 fornece estatísticas sumárias das principais variáveis e suas
fontes. Relacionamentos entre estas variáveis são explorados na Figura
A5.1 e na Tabela A5.5.

232
A B E R T U R A F I N A N C E I R A

Tabela A5.4 – Estatísticas Sumárias para Países Industrializados Seletos e Países


em Desenvolvimento

Variáveis Médio Desvio-padrão Mínimo Máximo Número de países

Direitos políticos 3,42 2,18 1,00 7,00 123

Liberdades civis 3,09 1,73 1,00 7,00 138

Abertura de capital 15,39 3,62 8,50 22,00 97

Abertura financeira 38,21 6,48 21,50 48,50 99

Transferência de pagamentos 3,09 3,09 0,001 13,84 68

Gastos sociais 17,82 11,77 3,35 49,11 51

Abertura comercial 70,60 45,90 15,21 378,67 141

Renda per capita 5.803,00 8.645,00 91,59 37.198,00 68

Nota: Direitos políticos, extraído de Freedom in the World, 1998, publicado pela Freedom House; um país concede a seus cidadãos direitos políticos quando lhes per-
mite formar partidos políticos que representem um significativo espectro da escolha eleitoral e cujos líderes podem competir abertamente para e serem eleitos
para posições de poder no governo.
Liberdades civis, extraído de Freedom in the World,1998, publicado pela Freedom House; um país preserva as liberdades civis de seus cidadãos quando respeita e pro-
duz seus direitos religiosos, étnicos, econômicos, lingüísticos e outros, incluindo direitos de gênero e família, liberdade pessoal e liberdades de imprensa, crença
e associação.
Abertura das contas de capital é uma medida do grau de controles e/ou restrições que se aplicam apenas às transações de cálculo de capital (13 transações como
classificadas pelo FMI AREAER) e são definidas na Tabela A5.1
Abertura financeira é uma medida mais ampla incorporando controle e/ou restrições tanto sobre capital corrente como transações de cálculo de capital (ver Tabela
A5.1).
Transferências de pagamentos, estatísticas financeiras governamentais: média de gasto central, estatal e local como porcentagem do PIB. Transferências para outros níveis
de governo nacional, 1991-1997; países com o mínimo para esta variável são: Chile, Costa Rica, República Dominicana, Grécia, Irlanda, Lesoto, Panamá, Sri Lanka
e Tailândia. Dinamarca tem o valor máximo para esta variável.
Gastos sociais, estatísticas financeiras governamentais e UNESCO: média de gasto central, estadual e local como porcentagem do PIB, 1991-1997; Paquistão tem o míni-
mo para esta variável. Dinamarca tem o valor máximo para esta variável.
Abertura comercial, Indicadores do Desenvolvimento Mundial: média comercial ou porcentagem do PIB, década de 1980.
Renda per capita, média de renda per capita, 1990-1997; na amostragem de países, o mínimo é de US$ 91,60 para Moçambique e o máximo é de US$ 37.199 para
a Suíça.
Fontes: Freedom House (1998); FMI (1999, várias publicações); UNESCO (1998); Banco Mundial (1999f).

Notas

1. Para alguns países onde os dados sobre determinadas transações não estavam disponíveis,
foram dados os valores médios de 1.

233
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Figura A5.1 – Correlações da Abertura Financeira com Direitos Políticos e


Liberdades Civis

Abertura financeira

r=0,38 r=0,51

Direitos políticos Liberdades civis


r=0,92

Nota: A estimativa de correlação entre os coeficientes é estatisticamente significativo a 1% (baseado no z-test).


Fonte: Cálculo dos autores.

Tabela A5.5 – Os Relacionamentos Entre Aber tura Financeira, Democracia


e Gastos Sociais

Abertura Abertura Direitos Liberdades Abertura Gastos Transferência Renda


Variáveis financeira de capital políticos civis comercial sociais de pagamentos per capita

Abertura financeira 1,00

Abertura de capital 0,91 1,00

Direitos políticos -0,32* 0,22* 1,00

Liberdades civis -0,55* 0,46** 0,91* 1,00

Abertura comercial 0,18 0,21* -0,06 -0,14 1,00

Gastos sociais 0,52* 0,42** -0,72* -0,74* 0,28** 1,00

Transferência de pagamentos 0,23 0,17 -0,19 -0,21 -0,14 0,31** 1,00

Renda per capita 0,52* 0,44** -0,54* -0,68* 0,29* 0,67* 0,26 1,00

* Significativo ao nível de 0,01 de confiança.


** Significativo ao nível de 0,05 de confiança.
Fontes: Informações baseadas em dados da Freedom House (1998); FMI (1999, vários anos); UNESCO (1998); Banco Mundial (1999f); ver Tabela A5.4 para va-
riáveis de explanação.

234
A N E X O 6

ÍNDICES DE GOVERNO
E CORRUPÇÃO
MÉTODOS DE AGREGAÇÃO, MEDIDAS EMPÍRICAS
NOVAS E DESAFIOS ECONOMÉTRICOS

O recente interesse pelas conseqüências dos fatores de econo-


mia política, instruções formais e informais, regra de direito,
captação legal e judiciária e a corrupção tem sido acompa-
nhado pela proliferação de dados simulando medir os vários
aspectos relacionados, com o que pode ser amplamente chamado de gover-
no. Neste anexo resumimos algumas pesquisas recentes, relacionadas com
resultados empíricos e metodológicos sobre o governo e a corrupção, apre-
sentados no texto do Capítulo 6. A primeira parte do anexo resume os de-
safios empíricos sobre os indicadores governamentais, enquanto a segunda
apresenta o resumo do projeto de pesquisa que desvela a aferição da cor-
rupção na propina administrativa, na captação estatal (que inclui a captação
legal e judiciária) e em pagamentos de licitações públicas.

Definir e Desvelar o Governo

Entre outras coisas, este relatório desvela o conceito de governo em seis


indicadores componentes agregados que foram construídos por Kaufmann
et al. (1999a, b). Detalhes sobre estes agregados e a noção de governo sub-
jacente a eles são dados no texto do capítulo.
Os indicadores agregados são baseados em mais de trezentas medidas
produzidas pelas 13 diferentes organizações. As fontes incluem dados pu-
blicados e não publicados de um número de estimativas privadas e organi-
zações de negócio de risco, reserva de pensamento, outras ONGs, e os re-
sultados dos estudos levados a efeito por organizações multilaterais e outras.
A base de dados cobre 170 países. Habitualmente, os dados são apenas

235
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

para um período: 1997-1998. Os dados e os detalhes posteriores sobre a


metodologia econométrica estão disponíveis em http://www.worldbank.
org/wbi/governance.
Governo, ou a maneira de governar, engloba o processo de seleção,
monitoração e substituição dos governos, e refere-se à capacidade gover-
namental de formar e implementar políticas sólidas e o respeito aos
cidadãos e as condições para suas instituições. No Capítulo 6 apresenta-
mos os seis índices componentes com os quais se mede o governo: voz
e responsabilidade, estabilidade política, eficácia governamental, orça-
mento regulatório, regra de direito e controle da corrupção. Para cada um
dos seis aspectos de governo, um grande número de índices individuais
de diferentes fontes foi identificado como relevante e agregado para for-
mar uma das seis medidas compósitas. A agregação utiliza-se de um mo-
delo de componentes não observados. Vantagens que derivam do méto-
do incluem:

• Um grande número de indicadores e, antes de tudo, ruidosos, trans-


formado em um único número menor de indicadores agregados mais
confiáveis. Estes agregados refletem o consenso estatístico de muitas
fontes diferentes e um rigoroso método de agregação que separa sinal
de ruído. Como resultado, esses indicadores agregados são mais pre-
cisos que indicadores mais convencionais.
• O método computa estatisticamente sólidas margens de erro em
torno das estimativas de governo para países individuais, ou seja,
pode-se ter relativa confiança quanto ao grau de incerteza associado
com estimativas de governo específicas do país.

A metodologia utilizada enfatiza uma limitação de indicadores atuais do


governo: são incapazes de produzir medidas precisas. Em vista das margens
de erro que cercam as medidas estimativas de governo, pequenas diferenças
nas estimativas não serão prática ou estatisticamente significativas; seria
desorientador oferecer classificações muito precisas de países de acordo
com seu nível de governo. Ao invés disso, amplos agrupamentos de países,
ao longo das linhas de uma abordagem de sinais de tráfego e estatistica-
mente defensável é apresentado no texto do capítulo.
O que acabamos de apresentar resume algumas questões metodológicas
levantadas em “Aggregating Governance Indicators” (Kaufmann,1999a) e
na interpretação deles. Além do mais, neste documento os autores orga-
nizam os dados de modo que, dentro de cada um dos seis grupos de go-
verno, cada indicador individual mede um conceito básico subjacente
similar de governo. Há consideráveis benefícios da combinação destes
indicadores relatados num indicador de governo agregado para cada
grupo, porque: os indicadores agregados medem um conjunto muito mais
amplo de países que qualquer fonte individual, indicadores agregados

236
Í N D I C E S D E G O V E R N O E C O R R U P Ç Ã O

podem fornecer medidas mais precisas de governo que os indicadores in-


dividuais, e é possível construir medidas quantitativas de precisão tanto
das estimativas de governo agregado para cada país como de seus compo-
nentes. Isto permite testar formalmente hipóteses relacionadas com dife-
renças através do país no governo.
Para cada um destes grupos, Kaufmann et al. combinam os indicadores
componentes em um indicador de governo agregado, utilizando-se de um
modelo de componentes não observados, acrescido de um termo de pertur-
bação que capta os erros de percepção e/ou amostragem de variação em cada
indicador. Assim, as estimativas são geradas de cada uma das seis medidas
de sua precisão. A escolha das unidades para o governo garante que as esti-
mativas de governo tenham uma média de 0, um desvio-padrão de 1, e um
alcance de -2,5 a 2,5. Valores mais elevados correspondem a melhores resul-
tados. Desde que a distribuição condicional do governo nos dados observa-
dos é assumida como sendo independente através dos países, é possível fazer
afirmações probabilísticas comparando o governo em pares de países.
Achou-se que os conceitos subjacentes do governo em cada grupo não
são estimados com muita precisão como descrito nas Figuras 6.1 e 6.2 do
Capítulo 6. O preferencialmente tamanho grande destes intervalos
de confiança tem importantes implicações para o uso destes indicadores de
governo agregados. Pequenas diferenças de pontos estimativos do gover-
no através dos países não são estatisticamente significativas. Como re-
sultado, os usuários destes dados deveriam centralizar o foco no escopo
de governo possível para cada país como resumido nos 90% dos interva-
los de confiança mostrados na Figura 6.1 do Capítulo 6. Para dois países
em pólos opostos da escala de governo dos quais 90% dos intervalos
de confiança não se sobrepõem, é razoável concluir que há diferenças
significativas no governo. Para pares de países que estão mais próximos
e dos quais 90% dos intervalos de confiança se sobrepõem, a circuns-
pecção está em ordem e as comparações aparentemente precisas deve-
riam ser evitadas.
Apesar da imprecisão destes indicadores agregados, eles são muito úteis
por várias razões. Primeiro, porque desde que cada um destes indicadores
agregados medem um conjunto muito maior de países do que qualquer
indicador individual, é possível fazer comparações – embora imprecisas –
através de um conjunto muito mais amplo de países do que seria possível
com qualquer indicador simples. Segundo, cada indicador agregado fornece
um sinal mais preciso de seu conceito mais amplo correspondente do go-
verno do que alguns de seus indicadores componentes individuais, assim
como um resumo consistente da evidência disponível. Terceiro, as medidas
de precisão para cada país são igualmente úteis, porque capacitam os testes
estatísticos formais das diferenças de governo através dos países – ao invés
de comparações arbitrárias. Quarto, é possível utilizar informação nas esti-
mativas de precisão de cada agregado para quantificar o efeito do erro de

237
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

aferição na análise de regressão que utiliza indicadores governamentais


como variáveis (independentes) como o lado correto da mão.
Em outro trabalho, “Governance Matters”, Kaufmann et al., 1999b), os
autores detalham todas as fontes de dados exteriores, descrevem cada va-
riável individual e analisam o relacionamento entre componentes governa-
mentais e as variáveis desenvolvimentistas. Os dados através do país
indicam uma correlação simples significativa entre governo e resultados
socioeconômicos (alfabetização, mortalidade infantil, longevidade e renda
per capita).
Para explorar o efeito do governo ou das variáveis socioeconômicas,
padronizando para outros fatores, testes econométricos específicos foram
realizados, baseados numa regressão de dois estágios menos quadrados e
uma variável dependente socioeconômica particular numa componente
constante de governo, utilizando indicadores de herança colonial como
instrumento, seguindo a abordagem de Hall & Jones (1999). O modelo é
bem especificado no sentido de que os instrumentos possuem um poder
preditivo forte para o governo e as hipóteses do nulo destes instrumentos
afetam as rendas apenas mediante seus efeitos sobre o governo, se não
forem rejeitadas. Os interesses sobre o erro de aferição e das variáveis
omitidas também estão erigidos em detalhe em Kaufmann et al. (1999b).

Aferir e Desvelar a Corrupção

Uma cobertura particular ao desafio de corrigir a corrupção foi dada no


texto do Capítulo 6, em razão de sua importância dentro do governo e da
emergência de achados empíricos novos. Até recentemente, a aferição da
corrupção, onde era feita, seguia uma abordagem unidimensional e gene-
ralizada para este problema complexo. Progressos empíricos recentes no
estudo da corrupção por meio de técnicas de estudo e abordagens melho-
radas permitem um desvelamento multifacetado e em profundidade da cor-
rupção. No texto do capítulo, relatamos a relação entre estratégias corpora-
tivas e governo nacional, e mostramos também que, enquanto no equilíbrio
administrativo, a propina “não paga” por negócios. Formas “maiores” de
corrupção, tal como a captação do Estado (Figura 6.11), extraem benefícios
privados significativos para a empresa captadora (Figura 6.6 do Capítulo 6),
embora resultando em custos sociais enormes. Detalhamos a seguir como
tal desvelamento foi realizado.

O Ambiente de Negócios e o Estudo do Desempenho


Empresarial: Desvelando a Corrupção

A capacidade de distinguir entre estas várias manifestações, causas e

238
Í N D I C E S D E G O V E R N O E C O R R U P Ç Ã O

conseqüências de diferentes tipos de corrupção deriva do efeito ajustado


para desvelar empírica e conceitualmente o problema da corrupção, inicia-
do dentro de um estudo em grande escala de economias de transição. O
ambiente de negócios e o estudo do desempenho empresarial (BEEPS) foi
conduzido com base em entrevistas pessoais com gerentes ou donos de
empresas em visitas in loco durante junho até agosto de 1999 em 22 países,
e cobriu em torno de três mil empresas.
Em cada país, entre 125 e 150 empresas foram entrevistadas, com ex-
ceção de três países em que amostragens mais amplas foram utilizadas:
Polônia (250), Federação Russa (550), Ucrânia (250). As questões do
estudo examinam a corrupção com base em um número de ângulos dife-
rentes que fornecem checagens coerentes nas respostas de cada empresa.
Além do mais, foram conduzidos testes para detectar qualquer viés ne-
gativo ou positivo entre as respostas das empresas em qualquer país
em questão.
Ao esboçar o estudo, a corrupção foi abordada como um fenômeno mul-
tifacetado, que requer um desvelamento rigoroso e, em tal base, uma tipolo-
gia para distinguir entre os padrões de países diferentes e as conseqüências
a que se chegou. Uma ênfase particular foi dada às três dimensões da cor-
rupção: corrupção administrativa, corrupção de licitação pública e captação
do Estado (Hellman et al., 2000a [“Colhe o Estado, Colhe o Dia” ]; Hellman
et al., 2000, [“Aferição Governamental, Corrupção e Captação do Estado”]
— reconhecendo que as diferentes dimensões da corrupção poderiam ter
origens e conseqüências únicas.

Definições da Tipologia da Corrupção

A corrupção administrativa refere-se à aplicação arbitrária e distorcida e


à implementação das leis existentes, regras e regulamentações para ganho
ilícito privado por um funcionário público, e está sujeita a uma variedade
de medidas quantitativas nos BEEPS (tais como a porcentagem de
propinas administrativas pagas pela empresa ou uma parte de seus lucros
totais). A corrupção da licitação pública, uma importante dimensão da alo-
cação corrupta das finanças e dos recursos públicos, é aferida pela por-
centagem da taxa de propina paga para garantir contratos. A captação
estatal refere-se a ações dos agentes econômicos ou empresas, ambos den-
tro dos setores público e privado para influenciar a formação e a formu-
lação de bens, regulamentações, decretos e outras políticas governamen-
tais (isto é, as regras básicas do jogo) em seu próprio benefício – como um
resultado do pagamento de agentes privados a funcionários públicos. Por
exemplo, um oligarca influente na chefia de um poderoso grupo financeiro
industrial pode comprar os votos dos legisladores para erigir barreira para
a entrada no setor energético.

239
A Q U A L I D A D E D O C R E S C I M E N T O

Desvelar a Captação do Estado e Calcular


o Índice Geral de Captação

No interior das empresas BEEPS, perguntou-se a respeito de sua propen-


são para comprar a captação de influência legislativa, e pediu-se também,
como um detalhe, para que relatassem sobre o impacto na empresa de dife-
rentes dimensões da captação do Estado na economia. Para um grupo seleto
de economias de transição (para detalhes e dados completos, inclusive afe-
rição das margens de erro, ver Hellman et al., 2000a; Hellman et al., 2000c),
a Tabela A6.1 apresenta as várias dimensões da captação do Estado que
foram aferidas, assim como os índices gerais da captação do Estado deriva-
dos através da média simples de todos os subcomponentes nas colunas ante-
riores que aferem os efeitos da componente de captação do Estado. Em troca,
o índice geral da captação do Estado foi utilizado no segundo painel da
Figura 6.6, enquanto a medida da corrupção administrativa foi utilizada no
primeiro painel daquela figura, na base dos componentes desvelados da cap-
tação do Estado; também é possível construir outros subíndices de im-
portância. Da Tabela A6.1, o índice de captação do Judiciário pode ser calcu-
lado, por exemplo, baseado na proporção de empresas afetadas pela compra
de decisões judiciárias e criminais e comerciais (colunas 4 e 5). A análise das
causas e conseqüências (incluindo a ausência de liberdades civis e reformas
econômicas) (ou a saída de crescimento do investimento e a proteção dos
direitos de propriedade) da captação do Estado é realizada por meio de
análises econométricas multivariadas (incluindo especificações logit e o mí-
nimo comum dos quadrados). A análise em profundidade do FDI liga-se a
captação do Estado, pagamento de licitação pública e outras formas de
influência (incluindo as legais); também é baseada nos dados extraídos
de BEEPS e apresentados detalhadamente em Hellman et al. (2000b).

Dos Estudos Através do País para Diagnóstico


Específico em Profundidade do País

Para uma ação programática em um país, quando muito, estudos me-


lhorados através do país não podem substituir a necessidade de realizar um
diagnóstico em profundidade no governo e na corrupção dentro de um
cenário particular. Tais instrumentos diagnósticos de governo de um país
específico são discutidos no texto do capítulo, e referências adicionais são
fornecidas no site.

240
Í N D I C E S D E G O V E R N O E C O R R U P Ç Ã O

Tabela A6.1 – Porcentagem de Empresas Afetadas pelas Diferentes Formas de


Captação do Estado e Índice de Captação Geral do Estado, Países Seletos, 1999

Aquisição corporativa de

Legislação Decretos Influência do Banco Decisões do Decisões do Finança de Índice global de


b
parlamentar presidenciais Central tribunal criminal tribunal comercial partidos políticos captação do Estado
País (1) (2) (3) (4) (5) (6) (1+ ... +6)

Azerbaijão 41 48 39 44 40 35 41

Bulgária 28 26 28 28 19 42 28

Croácia 18 24 30 29 29 30 27

a
Estônia 14 7 8 8 8 17 10

Geórgia 29 24 32 18 20 21 24

a
Hungria 12 7 8 5 5 4 7

Latíbia 40 49 8 21 26 35 30

Moldávia 43 30 40 33 34 42 37

a
Polônia 13 10 6 12 18 10 12

Romênia 22 20 26 14 17 27 21

Federação Russa 35 32 47 24 27 24 32

a
Eslovênia 8 5 4 6 6 11 7

Ucrânia 44 37 37 21 26 29 32

a. A classificação da captação estatal é média para estes países. Para todos os outros países arrolados, a classificação de captação estatal é alta.
b. O índice de captação estatal é a média simples dos subcomponentes aferidos nas colunas 1 a 6. Subagrupamentos de tais componentes também permitem cál-
culos de um índice de captação legal ou judiciária (colunas 1, 4 e 5), as quais, sob uma interpretação ampliada, também poderiam abranger a compra de decre-
tos presidenciais (coluna 2), um índice solitário de captação judiciária (colunas 4 e 5), ou um índice de captação legal (colunas 1 e 2).
Nota: Estimativas individuais sujeitas a margem de erro. Tais margens de erro são significativas; logo, deve-se ter cuidado na utilização de cada estimativa indi-
vidual. Contudo, testamos para países específicos interrogados e não o achamos significativo (ver Hellman et al., 2000c).
Fontes: Hellman et al. (2000a); ver também http://www.worldbank.org/wbi/governance.

241
BIBLIOGRAFIA
E REFERÊNCIAS
A palavra “processado” descreve informalmente trabalhos reproduzidos que normalmente não estão
disponíveis nas bibliotecas.

ADB (Asian Development Bank). Emerging Asia: ALBA, P. et al. The Role of Macroeconomic and
Changes and Challenges. Manila, 1997. Financial Sector Linkages in East Asia’s Financial
Crisis. Relatório apresentado no Centre for
ADELMAN, I., TAFT-MORRIS, C. Society, Politics Economic Policy Research/World Bank con-
and Economic Development: A Quantitative ference on Financial Crisis: Contagion and
Approach. Baltimore, Maryland: The Johns Market Volatility. London, May, 1998.
Hopkins University Press, 1967.
ALDEMAN, I. Growth, Income Distribution, and
ADES, A., DI TELLA, R. National Champions and Equity-Oriented Development Strategies. World
Corruption: Some Unpleasant Interventionist Development, v.3, n.2-3, p.67-76, 1975.
Arithmetic. The Economic Journal, n.107,
p.1023-42, 1997. ALESINA, A. et al. The Political Economy of Capital
Controls. In: LEIDERMAN, L., RAZIN, A. (Eds.)
_____. Rents, Competition, and Corruption. Ame- Capital Mobility: The Impact on Consumption,
rican Economic Review, v.80, n.4, p.982-93, Investment and Growth. Cambridge, U.K.:
1999. Cambridge University Press, 1994.

AHLUWALIA, M. S. Income Distribution and ALESINA, A., PEORTTI, R. The Political Economy
Development: Some Stylized Facts. American of Growth: A Critical Survey of the Recent
Economic Review, v.66, n.2, p.128-35, 1976. Literature. World Bank Economic Review, v.8,
n.3, p.351-71, 1994.
AKIYAMA, T. Has Africa Turned the Corner?
World Bank, International Economics ALESINA, A., RODRIK, D. Distributive Politics
Commodities and Policy Unit. Washington, and Economic Growth. Quarterly Journal of
D.C., 1995. (Processado). Economics, n.108, p.465-90, 1994.

243
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

AMIN, S., PEBLEY, A. R. Gender Inequality within Press, em cooperação com o Milken Institute
Households: The Impact of a Women’s for Job and Capital Formation, 1993.
Development Programme in Thirty-Six
Bangladesh Villages. Bangladesh Development BARRO, R., LEE, J. W. Losers and Winners in
Studies, v.22, n.2-3, p.121-54, 1994. Economic Growth. Proceedings of the World
Bank Annual Conference on Development
ARIYOSHI, A. et al. Country Experiences with the Economics 1993. World Bank, Washington,
Use and Liberalization of Capital Controls. D.C., 1994.
Washington, D.C.: International Monetary
Fund, Monetary Exchange Affairs Depart- _____. International Measures of Schooling Years
ment, 1999. and Schooling Quality. American Economic
Review, Papers and Proceedings, v.86, n.2,
ARNESON, R. Equity and Equality of Opportunity p.218-23, 1997.
for Welfare. Philosophical Study, n.56, p.77-
93, 1989. BARRO, R., SALA-I-MARTIN, X. Economic Growth.
New York: McGraw-Hill, 1995.
ARROW, K. The Economic Implications of
Learning by Doing. Review of Economic Studies, _____. Convergence. Economic Growth: Theory and
n.29, p.155-73, Jun. 1962. Evidence, v.1. International Library of Critical
o
Writings in Economics n. 68. Cheltenham,
ASLUND, A. Why Has Russia’s Economic Trans- U.K.: Elgar Reference Collection, 1996.
formation Been so Arduous? Relatório apre-
sentado na Annual Bank Conference on De- BASTER, N. (Ed.) Measuring Development: The Role and
velopment Economics. Washington, D.C., Adequacy of Development Indicators. London: F.
Apr. 28-30, 1999. Cass (reimpressão). Journal of Development
Studies, n.8, v.3, 1972. (Original).
AVIATION WEEK AND SPACE TECHNOLOGY,
v.151, n.6, Aug. 9, 1999. BASU, K. et al. Household Labor Supply,
Unemployment, e Minimum Wage Legisla-
BANERJEE, A. Land Reforms: Prospects and tion. Policy Research Working Paper n. WPS
Strategies. Relatório apresentado na Annual 2049. Development Economics, World Bank,
Bank Conference on Development Economics. Washington, D.C., 1999.
World Bank, Washington, D.C., Apr. 28-30,
1999. BEASON, R., WEINSTEIN, D. E. Growth,
Economies of Scale, e Targeting in Japan
BARRO, R. J. Government Spending in a Simple (1955-1990). Review of Economics and Statistics,
Model of Endogenous Growth. Journal of v.78, n.2, p.286-95, 1996.
Political Economy, n.98, s103-25, 1990.
BECKER, G. S. Human Capital. New York:
_____. Economic Growth, Convergence, and Columbia University Press, 1964.
Government Policies. In: ZYCHER, B.,
SOLOMON, L. C. (Eds.) Economic Policy, BEHRMAN, J., BIRDSALL, N. The Quality of
Financial Markets, and Economic Growth. Schooling Quantity Alone Is Misleading. American
Boulder, Colorado; Oxford, U.K.: Westview Economic Review, v.73, n.5, p.928-46, 1983.

244
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

BEHRMAN, J., DEOLALIKAR, A. B. Health and Bureau of Economic Research, Cambridge,


Nutrition. In: CHENERY, H., SRINIVASAN, Massachusetts, 1994.
T. N. (Eds.) Handbook of Development Economics.
Amsterdam: North-Holland, 1988. v.1. BHAGAWATI, J. Education, Class Structure, and
Income Equality. World Development, v.1, n.5,
BEHRMAN, J. et al. Schooling Investments and p.21-36, 1973.
Aggregate Conditions: A Household-Survey-
Based Approach for Latin America and _____. Directly Unproductive Profit-Seeking Acti-
the Caribbean. Global Research Project vities. Journal of Political Economy, v.90, n.5,
Paper. Global Development Network, 1999. p.998-1002, 1982.
(Processado).
BHALLA, S. S. Growth and Poverty in India –
BEHRMAN, J., KNOWLES, J. C. Household Myth and Reality. Oxus Research and Invest-
Income and Child Schooling in Vietnam. ment. 2000. (Processado). Disponível em
World Bank Economic Review, v.13, n.2, p.211- http://www. oxusresearch.com.
56, 1999.
BHATIA, B., DRÉZE, J. For Development and
BENHABIB, J., SPIEGEL, M. The Role of Human Democracy. Frontline. Chennai, India, March
Capital in Economic Development. In: BAL- 6, 1998. A versão resumida está disponível
DASSARI, M. P., PHELPS, E. S. L. (Eds.) Inter- em http://www.transparency.de/documents/
national Differences in Growth Rates: Market work -papers/bhatia-dreze.html.
Globalization and Economic Areas. Central
Issues in Contemporary Economic Theory and BINSWANGER, H. P. Brazilian Policies That
Practice Series. New York; London: St. Martin’s Encourage Deforestation in the Amazon.
Press; Macmillan Press, 1994. World Development, v.19, n.7, p.821-9, 1991.

BERGSTRÖM, F. Capital Subsidies and the Perfor- BINSWANGER, H. P., DEININGER. K. Explain-
mance of Firms. Working Paper Series in Eco- ing Agricultural and Agrarian Policies in
nomics and Finance n. 285. Stockholm School Developing Countries. Journal of Economic
of Economics, Stockholm, Sweden, 1998. Literature. n.XXXV, p.1958-2005, Dec. 1997.

BERRY, R. A., CLINE, W. R. Agrarian Structure and BINSWANGER, H. P. et al. Power, Distortions,
Productivity in Developing Countries. Baltimore, Revolt, and Reform in Agricultural Land
Maryland: The Johns Hopkins University Relations. In: BEHRMAN, J., SRINIVASAN,
Press, 1979. T. N. (Eds.) Handbook of Development Economics.
Amsterdam: Elsevier Science, 1995. v.IIIb
BESLEY, T. Property Rights and Investment
Incentives: Theory and Evidence from BIRDSALL, N. Government, Population, and
Ghana. Journal of Political Economy, v.103, n.5, Poverty: A Win-Win Tale. In: KIESSLING, K.
p.903-37, 1995. L., LANDBERG, H. (Eds.) Population, Economic
Development, and the Environment. Oxford,
BESLEY, T., CASE, A. Unnatural Experiments? U.K.: Oxford University Press, 1994.
Estimating the Incidence of Endogenous
Policies. Working Paper n. 4956. National BIRDSALL, N., LONDOÑO, J. L. Asset Inequality

245
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

Matters: An Assessment of the World Bank’s ao World Bank Economist Forum. Washington,
Approach to Poverty Reduction. American D.C., May 3-4, 1999.
Economic Review, v.87, n.2, p.32-7, 1997.
BORENSZTEIN, E. et al. How Does Foreign
_____. No Tradeoff: Efficient Growth via More Direct Investment Affect Economic Growth?
Equal Human Capital Accumulation. In: Journal of International Economics, v.45, n.1,
GRAHAM, C. et al. (Eds.) Beyond Tradeoffs: p.115-35, 1998.
Market Reform and Equitable Growth in Latin
America. Washington, D.C.: Brookings Insti- _____. The Behavior of Non-Oil Commodity
tution Press, em associação com o Inter- Prices. Occasional Paper n. 112. International
American Development Bank, 1998. Monetary Fund, Washington, D.C., 1994.

BIS (Bank for International Settlements). Annual BOUIS, H. E. et al. Gender Equality and
Report. Basel, Switzerland, 1997, 1998. Investments in Adolescents in the Rural
(Vários anos). Philipines. Research Report n. 108. Inter-
national Food Policy Research Institute,
BLOMM, D. E., BRENDER, A. Labor and the Washington, D.C., 1998.
Emerging World Economy. Working Paper
n. 4266. National Bureau of Economic BOURGUIGNON, F. Crime, Violence, and
Research, Cambridge, Massachusetts, 1993. Inequitable Development. Texto apresentado
na Annual Bank Conference on Development
BLOOM, D. E., FREEMAN, R. B. Economic Economics. World Bank, Washington, D.C.,
Development and the Timing and Com- Apr. 28-30 1999.
ponents of Population Growth. Journal of
Policy Modeling, v.10, n.1, p.57-81, 1988. BREGMAN, A. et al. Effects of Capital Subsidization
on Productivity in Israeli Industry. Bank of
BLOOM, D. E., WILLIAMSON, J. G. Demographic Israel Economic Review, n.72, p.77-101, 1999.
Transitions and Economic Miracles in
Emerging Asia. World Bank Economic Review, BREWER, D. J. et al. Estimating the Cost of
v.12, n.3, p.419-55, 1998. National Class Size Reductions under
Different Policy Alternatives. Education
BOJO, J. The Costs of Land Degradation in Sub- Evaluation and Policy Analysis, v.21, n.2, p.179-
Saharan Africa. Ecological Economics, v.16, n.2, 92, 1999.
p.161-73, 1996.
BROWN, L. R. et al. State of the World 1998. In:
BOJO, J., SEGNESTAM, L. Towards a Common A Worldwatch Institute Report on Progress
Goal: The Experience of NEAPS and Their Toward a Sustainable Society. New York: W.W.
Relationship to NSDSs. Paper submitted to Norton, 1998.
the Regional Consultative Meeting on
Sustainable Development in Africa, Sept. BRUNETTI, A. Political Variables in Cross-Country
1999, p.7-9, Abidjan. Growth Analysis. Journal of Economic Surveys,
v.11, n.2, p.163-90, 1997a.
BONILLA-CHACIN, M., HAMMER, J. S. Life and
Death among the Poorest. Texto apresentado _____. Politics and Economic Growth: A Cross-Country

246
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

Data Perspective. Paris: Organisation for Stability: Beyond Supervised Capital Requirements.
Economic Co-operation and Development, Journal of Economic Perspectives, v.13, n.4, p.43-
Development Center Studies, 1997b. 64, 1999.

BRUNETTI, A. et al. Credibility of Rules and CARD, D., KRUEGER, A. B. School Quality and
Economic Growth. Policy Research Working Black-White Relative Earnings: A Direct
Paper n. 1760. World Bank, Policy Research Assessment. Quarterly Journal of Economics,
Department, Washington, D.C., 1997. v.107, n.1, p.151-200, 1992.

BRYANT, R. C., HODGKINSON, E. Problems of CASTANEDA, B. An Index of Sustainable


International Cooperation. In: Can Nations Economic Welfare for Chile. Masters Thesis.
Agree? Issues in International Economic Cooperation. University of Maryland, College Park,
Washington, D.C.: The Brookings Institution, Maryland, 1997.
1989.
CASTRO, R. et al. The Costa Rican Experience
BUCKLEY, R. 1998 Annual Review of Development with Market Instruments to Mitigate Climate
Effectiveness. World Bank, Operations Evalua- Change and Conserve Biodiversity. Relatório
tion Department, Washington, D.C., 1999. apresentado na Global Conference on Knowledge
for Development in the Information Age.
BURGESS, R. Land Distribution and Welfare in Rural World Bank, Toronto, Jun. 24, 1997.
China. Relatório apresentado na Annual Bank
Conference on Development Economics. CHENERY, H. et al. Redistribution with Growth.
World Bank, Washington, D.C., Apr. 20, 2000. New York: Oxford University Press, 1974.

CALVO, G. A. Contagion in Emerging Markets: CHOMITZ, K. M. et al. Financing Environmental


When Wall Street Is a Carrier. University of Services: The Costa Rican Experience and its
Maryland, College Park, 1999. (Processado). Implications. World Bank, Development
Economics Research Group, Washington
CALVO, G. A. et al. Capital Inflows to Latin D.C., 1998. (Processado).
America: The 1970s and 1990s. In: BACHA,
E. L. (Ed.) Economics in a Changing World: CHOMITZ, K. M., GRAY, D. A. Roads, Land Use,
Proceedings of the Tenth World Congress of and Deforestation: A Spatial Model applied
the International Economic Association, v.4, to Belize. Working Paper n. 3. Research
Development, Trade, and the Environment. New Project on Social and Environmental
York; London: St. Martin’s Press; Macmillan Consequences of Growth-Oriented Policies.
Press, em associação com o International World Bank, Policy Research Department,
Economic Association, 1994. Washington, D.C., 1996.

CALVO, G. A., MENDOZA, E. G. Petty Crime and CHONG, A., CALDERÓN, C. Empirical Testes on
Cruel Punishment: Lessons from the Mexican Casuality and Feedback between Institutional
Debacle. American Economic Review, Papers and Measures and Economic Growth. World Bank,
Proceedings, v.86, n.2, p.170-5, 1996. Washington, D.C., 1997a. (Processado).

CAPRIO, G., HONOHAN, P. Restoring Banking CHONG, A., CALDERÓN, C. Institutional Change

247
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

and Poverty, or Why Is it Worth it to Reform Assimilation. Brookings Papers on Economic


the State? World Bank, Washington, D.C., Activity, n.2, p.135-91, 1996.
1997b. (Processado).
COMMANDER, S. et al. Restructuring in Transi-
_____. Institutional Efficiency and Income Inequality: tion Economies: Owership, Competition, and
Cross-Country Empirical Evidence. World Regulation. Relatório apresentado na Annual
Bank, Washington, D.C., 1998. Bank Conference on Development Economics.
Washington, D.C., Apr. 28-30, 1999.
CLAESSENS, S. et al. Financial Restructuring in East
Asia: Halfway There? Financial Sector Discussion COOPER, R. Should Capital-Account Covertibility
Paper n. 3. World Bank, Washington, D.C., 1999. Be a World Objective? In: Ensays in International
Finance Series, n.207. Princeton, New Jersey:
CLEAVER, K., SCHREIBER, G. Reversinf the Princeton University, Department of Economics,
Spiral: The Population, Environment, and International Finance Section, 1998.
Agriculture Nexus in Sub-Saharan Africa.
Directions in Development. World Bank, CORBO, V. et al. Adjustment Lending Revisited:
Washington, D.C., 1994. Policies to Restore Growth. Washington,
D.C.: World Bank, 1992.
COCHILCO. Annual report of COCHILCO.
Report from the Senate of Chile, 2000. CORNIA, Giovanni A. Rising Income Inequality and
Poverty Reduction: Are They Compatible? UNU/
COHEN, G. A. On the Currency of Egalitarian WIDER, 1999. Projeto de pesquisa disponível
Justice. Ethics, n.99, p.906-44, 1989. em http://www.wider.unu.edu/wiid.wiid.htm.

COLLIER, P. On the Economic Consequences of CORSETTI, G. et al. What Caused the Asian
Civil War. Oxford Economic Papers, n.51, Currency and Financial Crisis? New York:
p.168-83, Jan. 1999. New York University, 1998. (Processado).

COLLIER, P. et al. Fifty Years of Development. CROPPER, M. et al. Roads, Population Pressures,
World Bank, Washington, D.C., 2000. and Deforestation in Thailand, 1976-1989.
(Processado). Policy Research Working Paper n. 1726.
World Bank, Policy Research Department,
COLLIER, P. HOEFFLER, A. On the Economic Washington, D.C., 1997.
Causes of Civil Wars. Oxford Economic Papers
50, Oct. 1998, p.563-73. CROPPER, M., GRIFFITHS, C. The Interaction
of Population Growth and Environmental
COLLINS, C. Aid to Dependent Corporations. In: Quality. American Economic Review, n.84,
BRESLOW, M. et al. (Eds.) Decoding the Contract: p.250-4, 1994.
Progressive Perspectives on Current Economic
Policy Debates. Somerville, Massachusetts: DAILAMI, M. Euphoria and Panic: Developing
Economic Affairs Bureau, 1996. Countries Relationship to Private Finance.
EDI Forum, v.3, n.2, p.1-3, 6, 1998.
COLLINS, S. M., BOSWORTH, B. P. Economic
Growth in East Asia: Accumulation Versus _____. Financial Openness, Democracy, and Redis-

248
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

tributive Policy. Policy Research Working Journal of Development Economics, v.31, n.1,
Paper n. 2372. Washington, D.C.: World p.59-84, 1992.
Bank, 2000.
DE LONG et al. Equipment Investment and
DAILAMI, M., HAQUE, N. ul. What Economic Growth. Quarterly Journal of
Macroeconomic Policies Are “Soubd”? Policy Economics, v.106, n.2, p.445-502, 1991.
Research Working Paper n. 1995.
Washington, D.C.: World Bank, 1998. DE MOOR et al. Subsidizing Unsustainable
Development: Undermining the Earth with Public
DALY, H. E. Georgescu-Roegen Versus Solow/ Funds. San José, Costa Rica: Institute for
Stiglitz. Ecological Economics, v.22, n.3, p.261-6, Research on Public Expenditure and The
1997. Earth Council, 1997.

DASGUPTA, P. Well-Being and the Extent of DEATON, A. The Analysis of Household Surveys: A
Its Realization in Developing Countries. Microeconometric Approach to Development
Economic Journal, v.100, n.4 (supplement), Policy. Baltimore, Maryland: The Johns
p.1-32, 1990a. Hopkins University Press, em associação com o
World Bank, 1997.
_____. Well-Being in Poor Countries. Economic and
Political Weekly (India), n.25, p.1713-20, 1990b. DEININGER, K. Making Negotiated Land Reform
Work: Initial Experience from Colombia,
_____. An Inquiry into Well-Being and Destitution. Brazil, and South Africa. Policy Research
New York: Oxford University Press, 1993. Working Paper n. 2040. World Bank, Policy
Research Department, Washington D.C.,
_____. Population, Poverty, and the Local Environment. 1999.
Scientific American (Washington, D.C.), Feb.
1995. p.40-5. DEININGER, K., MINTEN, B. Determinants of Forest
Cover and the Economics of Protection: An
DASGUPTA, P., MÄLER, K.-G. Poverty, Institutions, Application to Mexico. Working Paper n. 10.
and the Environmental Resource Base. Environ- Research Project on Social and Environmental
ment Paper n. 9. World Bank, Environment Consequences of Growth-Oriented Policies.
Department, Washington, D.C., 1994. World Bank, Development Research Department,
Washington, D.C., 1996. (Processado).
DASGUPTA, P., SERAGELDIN, I. Social Capital: A
Multifaceted Perspective. Washington, D.C.: DEININGER, K., OLINTO, P. Asset Distribution
World Bank, 1999. Inequality and Growth. World Bank, Policy
Research Group, Washington, D.C., 1999.
DASGUPTA, S. et al. Environmental Regulation (Processado).
and Development: A Cross-Country Empirical
Analysis. Policy Research Working Paper n. DEININGER, K., SQUIRE, L. A New Dataset
1488. World Bank, Policy Research Department, Measuring Income Inequality. World Bank
Washington, D.C., 1995. Economic Review, v.10, n.3, p.565-91, 1996.

DE GREGORIO, J. Growth in Latin America. _____. New Ways of Looking at Old Issues:

249
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

Inequality and Growth. Journal of Development DOOLEY, M. A Survey of Literature on Controls over
Economics, v.57, n.2, p.259-87, 1998. International Capital Transactions. IMF Staff
Papers, n.43, p.639-87, Dec. 1996.
DEMIRGÜÇ-KUNT, A., DETRAGIACHE, E. Finan-
cial Liberalization and Financial Fragility. DRAGE, J., MANN, F. Improving the Stability of
Policy Research Working Paper n. 1917. World the International Financial System. In:
Bank, Development Research Group; and Financial Stability Review. 6.ed. Bank of
International Monetary Fund, Research De- England, 1999.
partment, Washington, D.C., 1998.
DREWNOWSKI, J. F., SCOTT, W. The Level of
DENISON, E. F. Sources of Economic Growth in the United living Index. Report n. 4. United Nations
States and the Alternative Before Us. New York: Research Institute for Social Development,
Committee for Economic Development, 1962. Geneva, 1966.

_____. Why Growth Rates Differ: Post-War Experience DRÉZE, J., SEN, A. Hunger and Public Action.
in Nine Western Countries. Washington, D.C.: WIDER Studies in Development Economics.
The Bookings Institution, 1967. Oxford, U.K.: Clarendon Press, 1995.

DEVARAJAN, S., HAMMER, J. S. Risk Reduction DUBEY, A., KING, E. M. A New Cross-Country
and Public Spending. Policy Research Education Stock Series Differentiated by Age
Working Paper n. 1869. World Bank, Public and Sex. Journal of Educational Planning and
Economics, Development Research Group, Administration, v.11, n.1, p.5-24, 1996.
Washington, D.C., 1998.
DURAISAMY, P. et al. Is There a Quantity-Quality
DIEWERT, W. E. The Measurement of the Economic Tradeoff as Enrollments Increase? Evidence
Benefits of Infrastructure Services. Berlin; New from Tamil Nadu, India. Policy Research
York: Springer-Verlag, 1986. Working Paper n. 1768. World Bank,
Washington, D.C., 1998.
DIKHANOV, Y. et al. Towards a Better Understanding
of the Global Distribution of Income. World DWORKIN, R. What Is Equity: Part 2. Equality of
Bank, Development Economics Data Group, Resources. Philosophy & Public Affairs, n.10,
Washington, D.C, 2000. (Processado). p.283-345, 1981.

DIWAN, I. Labor Shares and Financial Crises. EASTERLY, W. The Joys and Sorrows of Openness:
Working Paper. World Bank Institute, A Review Essay. Texto preparado para o semi-
Washington, D.C., 1999. nário Economic Growth and its Determi-
nants, March 23-24, 1998, Ministry for Develop-
DIXON, J. A., SHERMAN, P. Economics of Protected ment Cooperation, The Hague, The Netherlands.
Areas: A New Look at Benefits and Costs.
Washington, D.C.: Island Press, 1990. _____. Life during Growth. Journal of Economic
Growth, v.4., n.3, p.239-79, 1999a.
DOLLAR, D., KRAAY, A. Growth Is Good for the Poor.
Working Paper. World Bank, Policy Research _____. The Lost Decades: Explaining Developing
Department, Washington, D.C., 2000. Countries’ Stagnation 1980-1998. Develop-

250
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

ment Economics Research Group, World Controls? Journal of Economic Perspectives,


Bank, Washington, D.C., 1999b. v.13, n.4, p.65-84, 1999.

_____. The Ghost of Financing Gap: Testing the EEPSEA (Economy and Environment Program for
Growth Model Used in the International South East Asia). Interim Results of a Study
Financial Institutions. Journal of Development on the Economic Value of Haze Damages in
Economics, v.60, n.2, p.423-38, 1999c. SE Asia. Economy and Environment Program
for Southeast Asia, Singapore, 1998.
EASTERLY, W. et al. Shaken and Stirred:
Volatility and Macroeconomic Paradigms for EHRLICH, P. R. The Population Bomb. New York:
Rich and Poor Countries. Michael Bruno Ballantine, 1968.
Memorial Lecture, XIIth World Congress of
the International Economics Association. EICHENGREEN, B. Globalizing Capital: A History of
Buenos Aires, Aug. 27, 1999. the International Monetary System. Princeton,
New Jersey: Princeton University Press, 1996.
_____. Good Policy or Good Luck? Country
Growth Performance and Temporary Shocks. EICHENGREEN, B., MUSSA, M. (Eds.) Capital
Journal of Monetary Economics, n.32, p.459-83, Account Liberalization: Theoretical and
1993. Practical Aspects. Occasional paper 172.
International Monetary Fund, Washington,
EASTERLY, W., KRAAY, A. Small States, Small D.C., 1998.
Problems? Policy Research Working Paper
n. 2139. World Bank, Development Research EKBOM, A., BOJO, J. Poverty and Environment:
Group, Macroeconomics and Growth, Evidence of Links and Integration into the
Washington, D.C., 1999. Country Assistance Strategy Process.
Discussion Paper n. 4. World Bank, Africa
EASTERLY, W., LEVINE, R. It’s Not Factor Region, Environment Group, Washington,
Accumulation Stylized Facts and Growth D.C., 1999.
Models. Working Paper. World Bank,
Washington, D.C., 2000. Disponível em ESREY. S. A. et al. Health Benefits from
http://www. worldbank.org/html/prdmg/grthweb/ Improvements in Water Supply and Sanitation:
pdfiles/ fact3.pdf. Survey and Analysis of the Literature on
Selected Diseases. WASH Technical Report
EASTERLY, W., YU, H. Global Development Network n. 66. U.S. Agency for International Develop-
Growth Database. 2000. Disponível em http:// ment, Washington, D.C., 1990.
www.worldbank.org/research/growth/GDN
data.htm. EUROPEAN BANK FOR RECONSTRUCTION
AND DEVELOPMENT. Transition Report:
EASTWOOD, R., LIPTON, M. The Impact of Ten Years of Transition. London, 1999.
Changes in Human Fertility on Poverty.
Journal of Development Studies, v.36, n.1, p.1- EVANS, P. (Ed.) Government Action, Social
30, 1999. Capital, and Development across the Public-
Private Divide. World Development, v.24, n.6
EDWARDS, S. How Effective Are Capital (special section), p.1033-132, 1996.

251
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

FAKIN, B. Investment Subsidies during Transi- _____. The Impact of Public Spending on Health:
tion. Eastern European Economics, v.33, n.5, Does Money Matter? Social Science and
p.62-75, 1995. Medicine, v.49, n.10, p.1309-23, 1999c.

FEDDERKE, J., KLITGAARD, R. Economic FINE, B., K. FINE. Social Choice and Individual
Growth and Social Indicators: An Explorary Rankings I. Review of Economic Studies, v.41,
Analysis. Economic Development and Cultural n.3, p.303-22, 1974a.
Change, n.46, Apr. 1998, p.455-89.
_____. Social Choice and Individual Rankings II.
FEDER, G. Land Ownership Security and Farm Review of Economic Studies, v.41, n.4, p.459-
Productivity: Evidence from Rural Thailand. 75, 1974b.
Journal of Development Studies, v.24, n.1, p.16-
30, 1987. FISCHER, S. The Role of Macroeconomic Factors
in Growth. Journal of Monetary Economics,
_____. The Economics of Land and Titling in v.32, n.3, p.485-512, 1993.
Thailand. In: HOFF, K. A. B., STIGLITZ, J.
(Eds) The Economics of Rural Organizations: _____. Capital Account Liberalization and the Role
Theory, Practice, and Policy. New York: Oxford of the IMF. In: Essays in International Finance
University Press, 1993. Series, 207. Princeton, New Jersey: Princeton
University, Department of Economics,
FERREIRA, F. H. G., LITCHFIELD. J. A. Calm International Finance Section, 1998.
after the Storms: Income Distribution and
Welfare in Chile, 1987-94. World Bank FISCHER, S. et al. Should the IMF Pursue Capital-
Economic Review, v.13, n.3, p.509-38, 1999. Account Covertibility? 1998.

FFRENCH-DAVIS, R. et al. Liberalización FISHLOW, A. Inequality, Poverty, and Growth;


Comercial y Crecimiento: La Experiencia de Where Do We Stand? In: BRUNO,
Chile, 1973-89. Pensamiento Iberoamericano, M., PLESKOVIC, B. (Eds.) Annual World
n.21, p.33-55, 1992. Bank Conference on Development Economics.
Washington, D.C.: World Bank, 1995.
FILMER, D., et al. Forthcoming. Health Policy in
Poor Countries: Weak Links in the Chain. FISMAN, R., GATTI, R. Decentralization and
World Bank Economic Observer. Corruption: Evidence across Countries.
Policy Research Working Paper n. 2290.
FILMER, D. PRITCHETT, L. Educational Enrollment World Bank, Development Research Group,
and Attainment in India: Household Wealth, Washington, D.C., 2000. Disponível em
Gender, Village, and State Effects. Journal of www.wbln0018.worldbank.org/research/
Educational Planning and Administration, v.13, workpapers.nsf/.
n.2, p.135-63, 1999a.
FISMAN, R., SVENSSON, J. The Effects of
_____. The Effect of Household Wealth on Corruption and Taxation on Growth: Firm-
Educational Attainment: Evidence from 35 Level Evidence, 1999. (Processado).
Countries. Population and Development Review,
v.25, n.1, p.85-120, 1999b. FOSTER, A., ROSEZWEIG, M. R. Learning by

252
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

Doing and Learning from Others: Human GANDHI, V. et al. A Comprehensive Approach to
Capital and Technical Change in Agriculture. Domestic Resource Mobilization for Sustainable
Journal of Political Economy, n.103, p.1176-209, Development. Relatório apresentado no Fourth
1995. Expert Group Meeting on Financial Issues of
Agenda 21, Jan. 6-8, 1997, Santiago, Chile,
FOURNIER, G., RASMUSSEN, D. Targeted United Nations, Department for Policy
Capital Subsidies and Economic Welfare. Coordination and Sustainable Development,
Cato Journal, v.6, n.1, p.295-312, 1986. New York.

FOX, J. The World Bank and Social Capital. GARRETT, G. Global Markets and National Politics:
Contesting the Concept in Practice. Journal of Collision Course or Virtuous Circle?
International Development, v.9, n.7, p.963-71, International Organization, v.52, n.4, p.787-824,
1997. 1998.

FRANK, R. Luxury Fever: Why Money Fails to Satisfy GAZETTA MERCANTIL. An International Weekly.
in a Era of Excess. New York: Free Press, 1998. New York, May 21, 1999.

FREEDOM HOUSE. Freedom in the World: Political GEF (Global Environmental Facility). Valuing the
Rights and Civil Liberties. New York, 1998. Global Environment: Actions and Investments for
a 21st Century, Washington, D.C., 1998. v.1.
FURMAN, J., STIGLITZ, J. Economic Crises:
Evidence and Insights from East Asia. GILSON, S. UAL Corporation. Case Study 9-295-130.
Brookings Papers on Economic Activity. 2.ed. Harvard University Business School, Cambridge,
School: Cambridge, Massachusetts, 1998. Massachusetts, Mar. 1995, p.784-94.
p.1-114.
GOLD, J. International Capital Movements under
FURTADO, J. et al. Global Climate Change and the Law of the International Monetary Fund.
Biodiversity: Challenges for the Future and the Washington D.C.: International Monetary
Way Ahead. Washington D.C.: World Bank Fund, 1977.
Institute, 1999.
GONZALEZ DE ASIS, M. Reducing Corruption:
GALEOTTI, M., LANZA, A. Desperately Seeking Lessons from Venezuela. PREM Note n. 39.
(Environmental) Kuznets. Relatório apresen- World Bank, Washington, D.C., 2000.
tado no World Congress of Environment and
Resource Economists. Venice, Italy, Jun. 25- GOODMAN, L. A., MARKOWITZ, H. Social
27, 1998. Welfare Functions Based on Individual
Rankings. American Journal of Sociology, n.58,
GALLEGO, F. et al. Capital Controls in Chile: 1952.
Effective? Efficient? Working Paper. Central
Bank of Chile, Santiago, 1999. GRAY, C. W., KAUFMANN, D. Corruption and
Development. Finance and Development, v.5,
GALOR, O., ZEIRA, J. Income Distribution and n.1, p.7-10, 1998.
Macroeconomics. Review of Economic Studies,
n.60, p.35-52, 1993. GREANEY, V., KELLAGHAN, T. Monitoring the

253
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

Learning Outcomes of Education Systems. HAMILTON, K., LUTZ, E. Green National Accounts:
Direction in Development Papers. World Policy Uses and Empirical Experience.
Bank, Washington, D.C., 1996. Environment Department Paper n. 39. World
Bank, Environment Department, Washington,
GRILICHES, Z. Price Indexes ans Quality Changes: D.C., 1996.
Studies in New Methods of Measurement.
Cambridge, Massachusetts: Harvard University HAMMER, J. S., SHETTY, S. East Asia’s
Press, 1971. Environment: Principles and Priorities for
Action. World Bank Discussion Paper n. 287.
_____. Education, Human Capital, and Growth: A World Bank, Washington, D.C., 1995.
Personal Perspective. Journal of Labor
Economics, v.15, n.1 (part. 2), s330-42, 1997. HANRAHAN, D. et al. Developing Partnerships
for Effective Pollution Management.
GROSSMAN, G. M., HELPMAN, E. Growth and Environment Matters Annual Review, Fall, 1998.
Welfare in a Small Open Economy. Working p.62-5.
Paper n. 2970. National Bureau of Economic
Research, 1989. HANUSHEK, E. Interpreting the Recent Research
on Schooling in Developing Countries. World
_____. Comparative Advantage and Long Run Bank Research Observer, v.10, n.2, p.227-46,
Growth. American Economic Review, n.80, 1995.
p.796-815, 1990.
HANUSHEK, E. A., KIM, D. Schooling, Labor Force
GROSSMAN, G. M., KRUEGER, A. B. Economic Quality, and Economic Growth. Research
Growth and the Environment. Quarterly Working Paper n. 5399. National Bureau
Journal of Economics, n.112, p.353-78, 1995. of Economic Research, Cambridge, Massa-
chusetts, 1995.
GULATI, A., NARAYANAN, S. Demystifying Fertilizer
and Power Subsidies in India. Economic and HARR, J. A Civil Action. New York: Vintage Books,
Political Weekly, Mar. 4, 2000. p.784-94. 1995.

GUPTA, S. et al. Does Corruption Affect Income HARRIS, R. I. D. The Employment Creation
Inequality and Poverty? Working Paper n. Effects of Factor Subsidies: Some Estimates
WP/98/76. International Monetary Fund, for Northern Ireland Manufacturing Industry,
Fiscal Affairs Department, Washington, 1955-1983. Journal of Regional Science, v.31,
D.C., 1998. n.1, p.49-64, 1991.

HALDANE, A. Private Sector Involvement in HARRISS, J. (Ed.) Policy Arena: “Missing Link” or
Financial Crisis. Financial Stability Review, Analytically Missing? The Concept of Social
Nov. 1999, Bank of England. Capital. Journal of International Development,
v.9, n.7 (special section), p.919-71, 1997.
HALL, R. E., JONES, C. I. Why Do Some
Countries Produce So Much More Output HARSANYI, J. C. Cardinal Utility in Welfare
Per Worker Than Others? Quarterly Journal of Economics and in the Theory of Risk-Taking.
Economic, v.114, n.1, p.83-116, 1999. Journal of Political Economy, n.61, p.434-5, 1953.

254
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

HELLEINER, E. States and the Reemergence of Global lopment: The Search for a Basic Needs
Reform: From Brettan Woods to the 1990s. Yardstick. World Development, v.7, n.6, p.567-
Ithaca, New York: Cornell University Press, 80, 1979.
1994.
HILL, K. et al. Trends in Child Mortality in the
HELLMAN, J. et al. Seize the State, Seize the Day: Developing World: 1960-96. New York: United
An Empirical Analysis of State Capture and Nations Children’s Fund, 1999.
Corruption in Transition Economies. Relató-
rio apresentado na Annual Bank Conference HINDRIKS, J. et al. Corruption, Extortion, and
on Development Economics. Washington, Evasion. Journal of Public Economics, v.74, n.3,
D.C., Apr. 18-20, 2000a. Disponível em p.395-430, 1999.
http://www.worldbank.org/wbi/gover-
nance/. HIRSCHMAN, A. O. The Strategy of Economic
Development. New Haven, Connecticut: Yale
_____. Far from Home: Do Transnationals Import University Press, 1958.
Better Governance in the Capture Economy.
World Bank, Washington, D.C., 2000b. (Pro- _____. Exit, Voice, and Loyalty: Responses to Decline in
cessado). Disponível em http://www.world Firms, Organizations, and States. Cambridge,
bank.org/wbi/governance/. Massachusetts: Harvard University Press,
1970.
_____. Measuring Governance, Corruption, and
State Capture: How Firms and Bureaucrats _____. Essays in Trespassing: Economics to Politics and
Shape the Business Environment in Tran- Beyond. Cambridge, U.K.; New York: Cambridge
sition. Policy Research Working Paper n. Universitiy Press, 1981.
2313. World Bank, Washington, D.C., 2000c.
HOEFFLER, A. The Augmented Solow Model and
HERNANDEZ, L., SCHMIDT-HEBBEL, K. Capital the African Growth Debate. University of
Controls in Chile: Effective? Efficient? Oxford, U.K., 1997. (Processado).
Endurable? Relatório apresentado na World
Bank Conference on Capital Flows, Financial HOLTZ-EAKIN, D., SELDEN, T. M. Stoking the
Crisis and Policies. Washington, D.C., Apr. Fires? CO2 Emissions and Economic Growth.
15-16, 1999. Journal of Public Economics, n.57, p.85-101,
1995.
HERRERA, A. The Privatization of the Argentine
Telephone System. CEPAL Review, n.47, HOY, M., JIMENEZ, E. The Impact of the Urban
p.149-61, 1992. Environment of Incomplete Property Rights.
Working Paper n. 14. Research Project on
HETTIGE, H. et al. Industrial Pollution in Eco- Social and Environmental Consequences of
nomic evelopment (Kuznets Revisited). Growth-Oriented Policies. World Bank,
Policy Research Working Paper n. 1876. Policy Research Department, Washington,
World Bank, Development Research Group, D.C., 1997.
Washington, D.C., 1998.
HUGHES-HALLET, A. J. Econometrics and the
HICKS, N., STREETEN, P. Indicators of Deve- Theory of Economic Policy: The Tinbergen-

255
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

Theil Contributions 40 Years on. Oxford Approach. The Quarterly Journal of Economics,
Economic Papers, v.41, p.189-214, Jan. 1989. n.110, p.1127-70, 1995.

HUNTINGTON, S. P. Modernization and Corrup- JAMES, E. et al. Finance, Management, and Cost of
tion. In: HEIDENHEIMER, A. J. (Ed.) Political Public and Private Schools in Indonesia. Economics
Corruption: Readings in Comparative Analysis. of Education Review, v.15, n.4, p.387-98, 1996.
New York: Holt Reinehart, 1964.
JIMENEZ, E. et al. An Economic Evaluation of a
_____. Political Order in Changing Societies. New National Job Training System: Columbia’s
Haven: Yale University Press, 1968. Servicio Nacional de Aprendizaje (SENA).
EDT24. World Bank, Education and Training
IDB (Inter-American Development Bank). Facing Department, Washington, D.C., 1986.
Up to Inequality in Latin America. Economic and
Social Progress in Latin America. 1998-1999 JIMENEZ, E., PAQUEO, V. Do Local
Report. Baltimore, Maryland: The Johns Contributions Affect The Efficiency of Public
Hopkins University Press, 1998. Primary Schools? Economics of Education
Review, v.15, n.4, p.377-86, 1996.
IMF (International Monetary Fund). Fiscal Reforms
in Low-Income Countries: Experience under JIMENEZ, E., SAWADA, Y. Do Community-
IMF-Supported Programs. Occasional Paper Managed Schools Work? An Evaluation of El
n. 160. Washington, D.C., 1998. Salvador’s EDUCO Program. The World Bank
Economic Review, v.13, n.3, p.415-41, 1999.
_____. Government Financial Statistics. Washington,
D.C., 1999. JOHNSON, S. et al. The Unofficial Economy in
Transition. Brookings Papers on Economic
_____. Exchange Arrangements and Exchange Restrictions: Activity (Washington, D.C.), n.2, 1997.
Annual Report. Washington, D.C. (Várias edições).
_____. Regulatory Discretion and the Unofficial
INDIA TODAY. The Poisoning of India. Special Economy. American Economic Review, v.88,
Collectors issue, Jan. 1999 (Living Media n.2, p.387-92, 1998.
India, New Delhi).
JONES, C. I. Time Series Tests of Endogenous
INTERNATIONAL COUNTRY RISK GUIDE. 1982-95. Growth Models. Quarterly Journal of Economics,
Computer file. Syracruse, New York: PRS v.110, n.2, p.495-525, 1995.
Group. Disponível no World Bank and
International Monetary Fund Staff em KAKWANI, N. Performance in Living Standards:
http://jolis.worldbankimflib.org/nldbs.htm. An International Comparison. Journal of
Development Economics (Netherlands), n.41,
ISHAM, J. et al. Civil Liberties, Democracy, and p.307-36, Aug. 1993.
the Performance of Government Projects.
World Bank Economic Review, v.11, n.2, p.219-42, KAMINSKY, G., REINHART, C. Twin Crises: The
1997. Causes of Banking and Balance of Payments
Problems. American Economy Review, v.89, n.3,
ISLAN, N. Growth Empiries: A Panel Data p.473-500, 1999.

256
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

KANBUR, R. Why Is Inequality Back on the _____. Governance Matters: From Measurement to
Agenda? Relatório apresentado na Annual Action. Finance and Development. International
Bank Conference on Development Monetary Fund, Washington, D.C., 2000.
Economics. World Bank, Washington D.C., Disponível em http://www.imf.org/faudd/
Apr. 28-30, 1999. 2000/06/kauf.htm.

_____. Income Distribution and Development. In: _____. New Frontiers in Anti-corruption Empirical
ATKINSON, A., BOURGUIGNON, F. (Eds.) Diagnostics: From In-Depth Survey Analysis
Handbook of Income Distribution. Amsterdam: to Action Programs in Transition Economies.
North-Holland, 2000. Poverty Reduction and Economic Management
Note n. 7. World Bank, Washington, D.C., 1998.
KAPSTEIN, E. B. Resolving the Regulator’s
Dilemma: International Coordination of KAUFMANN, D., WANG, Y. Macroeconomic
Banking Regulations. International Organi- Policies and Project Performance in the
zation, v.43, n.2, p.323-47, 1989. Social Sectors: A Model of Human Capital
Production and Evidence from LDCs. World
KATES, R. W., HAARMANN, V. Where the Poor Development, v.23, n.5, p.751-65, 1995.
Live: Are the Assumptions Correct? Environment
(U.S.), n.34, p.4-11, 25-28, 1992. KAUFMANN, D., WEI, S.-J. Does “Grease Money”
Speed up the Wheels of Commerce? World
KATO, K. Grow Now, Clean Up Later? The Case Bank Policy Research Working Paper n.
of Japa May, 1992. In: Effective Financing 2254. World Bank, Washington, D.C., 1999.
of Environmentally Sustainable Development.
Environmentally Sustainable Development KEEFER, P., KNACK, S. Why Don’t Poor
Proceedings Series n. 10. Proceedings of the Countries Catch Up? A Cross-National Test
Third Annual Conference on Environmentally of Institutional Explanation. Economic Inquiry,
Sustainable Development. Washington, D.C.: v.35, n.3, p.590-602, 1997.
World Bank, 1996.
KEELER. W. International R&D Spillovers and
KAUFMANN, D. Challenges in the Next Stage of Intersectoral Trade Flows: Do They Match?
Anticorruption. In: New Perspectives on Com- New Haven, Connecticut: Yale University,
bating Corruption. Washington, D.C.: Trans- 1995. (Processado).
parency International and the World Bank
Institute, 1998. _____. Are International R&D Spillovers Trade-Related?
Analyzing Spillovers among Randomly
KAUFMANN, D. et al. Aggregating Governance Indicators. Matched Trade Partners. European Economic
Policy Research Working Paper n. 2195. World Review, v.42, n.8, p.1469-81, 1998.
Bank, Policy Research Department, Washing-
ton, D.C., 1999a. Disponível em http:// KELLEY, A. C. Economic Consequences of
www.worldbank.org/wbi/governance/. Population Change in the Third World.
Journal of Economic Literature, v.26, n.4,
_____. Governance Matters. Policy Research Working p.1685-728, 1988.
Paper n. 2196. World Bank, Policy Research
Department, Washington, D.C., 1999b. _____. The Impacts of Rapid Population Growth on

257
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

Poverty, Food Provision, and the Environment. KING, R. G., REBELO, S. Public Policy and Economic
Working Paper. Chapel Hill, North Carolina: Growth: Developing Neoclassical Implications.
Duke University, 1998. Journal of Political Economy, v.98, n.5, part 2,
s126-50, 1990.
KELLEY, A. C., SCHMIDT, R. M. Economic and
Demographic Change: A Synthesis of Models, _____. Transitional Dynamics and Economic
Findings, and Perspectives. Working Paper Growth in the Neoclassical Model. American
n. 99-01. Chapel Hill, North Carolina: Duke Economic Review, v.83, n.4, p.908-31, 1993.
University, forthcoming. In: BIRDSALL,
N. (Ed.) Population Change and Economic KISHOR, N. M., CONSTANTINO, L. Sustainable
Development, 1999. Forestry: Can it Compete? Finance and
Development, v.31, n.4, p.36-9, 1994.
KHAN, M. S. The Implications of International
Capital Flows for Macroeconomic and _____. Voting for Economic Policy Reform.
Financial Policies. International Journal of Dissemination Note n. 15. World Bank,
Finance and Economics (U.K.), n.1, p.155-60, Latin America Technical Environment
Jul. 1996. Department, Washington, D.C., 1996.

KIM, J. et al. Can Private School Subsidies Increase KLENOW, P., RODRÍGUEZ-CLARE, A. Economic
Schooling for the Poor? The Quetta Urban Growth: A Review Essay. Journal of Monetary
Fellowship Program. World Bank Economic Economics, n.40, p.597-618, 1997a.
Review, v.13, n.3, p.443-65, 1999.
_____. The Neoclassical Revival in Growth
KIM, J.-II, LAU, L. J. The Sources of Economic Economics: Has It Gone Too Far? In: NBER
Growth of the East Asian Newly Industrialized Macroeconomic Annual 1997. Cambridge,
Countries. Journal of the Japanese and Massachusetts: National Bureau of Economic
International Economies, v.8, n.3, p.235-71, Research, 1997b.
1994.
KLITGAARD, R. Controlling Corruption. Berkeley,
KING, E. M. et al. Central Mandates and Local California; London: University of California
Incentives: The Colombia Education Voucher Press, 1988.
Program. World Bank Economic Review, v.13,
n.3, p.467-91, 1999. KLITGAARD, R. et al. Corrupt Cities: A Practical
Guide to Cure and Prevention. Oakland,
KING, E. M., HILL, M. A. (Eds.) Women´s Education California; Washington, D.C.: ICS Press;
in Developing Countries: Barriers, Benefits, and World Bank Institute, 2000.
Policy. Baltimore, Maryland: The Johns Hopkins
University Press, 1993. KNACK, S., KEEFER, P. Institutions and Economic
Performance: Cross-Country Tests Using
KING, R. G., LEVINE, R. Financial Intermediation Alternative Institutional Measures. Economics
and Economic Development. In: MAYER, C., and Politics, n.7, p.207-27, 1995.
VIVER, X. (Eds.) Capital Markets and Financial
Intermediation. Cambridge, U.K.: Cambridge _____. Does Social Capital Have An Economic
University Press, 1993. Payoff? A Cross-Country Investigation.

258
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

Quarterly Journal of Economics, n.112, p.1251-88, (Processado). Também disponível em http://


1997. web.mit.edu/krugman/www/FIRESALE.htm.

KNIGHT, J. B., SABOT, R. H. Educational KUZNETS, S. Economic Growth and Income and
Expansion and the Kuznets Effect. American Income Inequality. American Economic Review,
Economic Review, v.73, n.5, p.1132-6, 1983. n.45, p.1-28, 1995.

KNIGHT, J. B., SHI, L. The Determinants of _____. Toward a Theory of Economic Growth: With
Educational Attainment in China. Oxford Reflections on the Economic Growth of Modern
Applied Economics Discussion Paper n. 127. Nations. New York: Norton, 1968.
Oxford, U.K.: Oxford University Press, 1991.
LA PORTA, R. et al. The Quality of Government.
KORNAI, J. Ten Years After “The Road to a Free Journal of Law, Economics, and Organization,
Economy”. The Author’s Self-Evaluation. v.15, n.1, p.222-79, 1999.
Relatório apresentado na Annual Bank
Conference on Development Economics. LA PORTA, R., LOPEZ-DE-SILANES, F. The
World Bank, Washington, D. C., Apr. 20, Benefits of Privatization: Evidence, From
2000. Mexico. Quarterly Journal of Economics, v.114,
n.4, p.1193-242, 1999.
KRONGKAEW, M. A Tale of an Economic Crisis:
How the Economic Crisis Started, LAM, D., LEVISON, D. Declining Inequality in
Developed, and Ended in Thailand. Relatório Schooling in Brazil and its Effects on
apresentado na International Conference on Inequality in Earnings. Journal of Development
Economic Crisis and Impacts on Social Economics, v.37, n.1-2, p.199-225, 1991.
Welfare. Taipei, China, Jun. 14-15, 1999.
LANJOUW, P., STERN, N. Agricultural Change
KRUEGER, A. O. The Political Economy of the and Inequality in Palanpur 1957-84. Dis-
Rent-Seeking Society. American Economic cussion Paper n. 24. London: London School
Review, v.64, n.3, p.291-301, 1974. of Economics and Political Science, Deve-
lopment Economics Research Programme,
KRUEGER, A. O. et al. (Eds.) The Political Economy 1989.
of Agricultural Pricing Policy, v.1-5. Baltimore,
Maryland: The Johns Hopkins University _____. Economic Development in Palanpur over Five
Press, 1991. Decades. New York: Oxford University Press,
1998.
KRUGMAN, P. The Myth of Asia’s Miracle. Pop
Internationalism. Cambridge, Massachusetts: LEE, J. W. Government Interventions and
MIT Press, 1996 (reimpresso). Foreign Productivity Growth. Journal of Economic
Affairs, v.73, n.6, p.62-78, 1994 (original). Growth, v.1, n.3, p.392-415, 1996.

_____. Fire-Sale FDI. Relatório apresentado no LEE, J.-W., BARRO, R. J. Schooling Quality in a
National Bureau of Economic Research Cross-Section of Countries. Working Paper
Conference on Capital Flows to Emerging n. 6198. National Bureau of Economic
Markets. Cambridge, Massachusetts, 1998. Research, Cambridge, Massachusetts, 1997.

259
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

LEFF, N. H. Economic Development through LEWIS, W. A. The Theory of Economic Growth. New
Bureaucratic Corruption. The American York: Harper Torchbooks, 1955.
Behavior Scientist, v.2, p.8-14, 1964.
LI, H. et al. Explaining International and Inter-
LEIPZIGER, D. M. (Ed.) Lessons from East Asia. temporal Variations in Income Inequality.
Ann Arbor. Michigan: University of Michigan Economic Journal, n.108, p.26-43, 1998.
Press, 1997.
LIM, D. Capturing the Effects of Capital Subsidies.
LEIPZIGER, D. M. et al. The Distribution of Income Journal of Development Studies, v.28, n.4,
and Wealth in Korea. Washington, D.C.: p.705-16, 1992.
World Bank Institute, 1992.
LIN, J. Y. Rural Reforms and Agricultural Growth
LERNER, A. P. Economics of Control. New York: in China. American Economic Review, v.82, n.1,
Macmillan, 1944. p.34-51, 1992.

LEVINE, R. Financial Development and Economic LIU, F. An Equilibrium Queuing Model of Bribery.
Growth: Views and Agenda. Journal of Journal of Political Economy, v.93, n.4, p.760-
Economic Literature, v.35, n.2, p.688-726, 81, 1985.
1997a.
LOCKHEED, E. M., VERSPOOR, A. M. Improving
_____. Napoleon, Bourse, and Growth in Latin Primary Education in Developing Countries. New
America. Conference on the Development of York: Oxford University Press, 1991.
Securities Markets in Emerging Economics:
Obstacles and Preconditions for Success. LOH, J. et al. Living Planet Report 1998. World
Washington, D.C., Oct. 28-29, 1997b. Wildlife Fund International, New Economics
Foundation, and World Conservation
_____. Law, Finance, and Economic Growth. Monitoring Center, Gland, Switzerland, 1998.
Journal of Financial Intermediation, v.8, n.1-2,
p.8-35, 1999. LONDOÑO, J. L. Kuznetsian Tales with Attention
to Human Capital. Relatório apresentado na
LEVINE, R., ZEVOS, S. Capital Control Libe- Third Inter-American Seminar in Economics,
ralization and Stock Market Development. Rio de Janeiro, Brazil, 1990.
World Development, v.26, n.7, p.1169-83,
1998a. LÓPEZ, R. Protecting the “Green” Environment in
a Context of Fast Economic Growth: The
_____. Stock Markets, Banks, and Economic Case for Demand-Based Incentives. Uni-
Growth. American Economic Review, v.88, n.3, versity of Maryland, College Park, Maryland,
p.537-58, 1998b. 1997. (Processado).

LEVINSOHN, J. et al. Impacts of the Indonesian _____. Growth and Stagnation in Natural Resource-Rich
Economic Crisis: Price Changes and the Economies. University of Maryland, College
Poor. Working Paper n. 7194. National Park, Maryland, 1998a. (Processado).
Bureau of Economic Research, Cambridge,
Massachusetts, 1999. _____. Where Development Can or Cannot Go:

260
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

The Role of Poverty-Environment Linkages. LUSTIG, N. Crises and the Poor: Socially
Relatório apresentado na Annual Bank Responsible Macroeconomics. Inter-Ame-
Conference on Development Economics. rican Development Bank, Sustainable De-
World Bank, Washington, D.C., Apr. 30-May 1, velopment Department, Poverty and Ine-
1998b. quality Advisory Unit, Washington, D.C.,
1999.
LÓPEZ, R. et al. Addressing the Education Puzzle:
The Distribution of Education and Economic LVOVSKY, K. et al. Environmental Health.
Reform. Policy Research Working Paper n. Background Paper for the Environment
2031. World Bank, Washington, D.C., 1998a. Strategy. Draft. World Bank, Environment
Department, Washington, D.C., 1999.
_____. Economic Growth and the Sustainability of
Natural Resources. University of Maryland, LYNCH, O. J., TALBOTT, K. Balancing Acts:
Department of Agricultural and Resource Community-Based Forest Management and
Economics, College Park, Maryland, 1998b. National Law in Asia and the Pacific. World
Resources Institute, Washington D.C., 1995.
LÓPEZ, R., VALDES, A. Rural Poverty in Latin
America: Analytics, New Empirical Evidence, and MAAS, J. van L., CRIEL, G. Distribution of
Policy. London; New York: MacMillan Press; Primary School Enrollments in Eastern
St. Martin’ s Press, 2000. Africa. Working Paper n. 511. World Bank,
Washington, D.C., 1982.
LOPEZ-MEJIA, A. Large Capital Flows – A Survey
of the Causes, Consequences, and Policy MAMINGI, N. et al. Spatial Patterns of Deforestation
Responses. Working Paper n. WP/99/17. in Cameroon and Zaire. Working Paper n. 8.
International Monetary Fund, Washington, Research Project on Social Environmental
D.C., 1999. Consequences of Growth-Oriented Policies.
World Bank, Policy Research Department,
LOURY, G. C. Social Exclusion and Ethnic Groups: Washington, D.C., 1996.
The Challenge to Economics. Relatório
apresentado na Annual Bank Conference MANKIW, G. et al. A Contribution to the Empirics
on Development Economics. World Bank, of Economic Growth. Quarterly Journal of
Washington D.C., Apr. 28-30, 1999. Economics, v.105, n.2, p.407-37, 1992.

LUCAS, R. On the Mechanics of Economic MAURO, P. Corruption and Growth. Quarterly Journal
Growth. Journal of Monetary Economics, v.22, of Economics, v.110, n.3, p.681-712, 1995.
n.1, p.3-42, 1988.
_____. The Effects of Corruption on Growth,
LUCAS, R. E. Making a Miracle. Econometrica, v.61, Investment, and Government Expenditure: A
n.2, p.251-72, 1993. Cross-Country Analysis. In: ELLIOT, K. A.
(Ed.) Corruption and the Global Economy.
LUNDBERG, M., SQUIRE, L. Growth and Washington D.C.: Institute for International
Inequality: Extracting the Lessons for Economics, 1997.
Policymakers. World Bank, Washington,
D.C., 1999. _____. Corruption and the Composition of

261
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

Government Expenditure. Journal of Public in Education, Evidence from Cross-Country


Economics, v.69, n.2, p.263-79, 1998. Data. Policy Research Working Paper n.
2015. World Bank, Washington, D.C., 1998.
McGRANAHAN, D. Contents and Measurement of
Socioeconomic Development. New York: Praeger, MINK, S. D. Poverty, Population and the Environ-
1972. ment. World Bank Discussion Paper n. 189.
World Bank, Washington, D.C., 1993.
McKINLEY, T. The Distribution of Wealth in Rural
China. New York: M. E. Sharpe, 1996. MISHKIN, F. S. Understanding Financial Crises:
A Developing Country Perspective. In:
McKINNON, R. I., PILL, H. Credible Libera- Proceedings of World Bank Annual Conference on
lizations and International Capital Flows: Development Economics. Washington, D.C.:
The Over-Borrowing Syndrome. American World Bank, 1997.
Economic Review, Papers and Proceedings, v.87,
n.2, p.189-93, 1997. MONTIEL, P. The Capital Inflow Problem.
Working Paper. World Bank Institute,
MEGGINSON, W. J., NETTER, J. M. From State to Washington, D.C., 1998.
Market: A Survey of Empirical Studies on
Privatization. Working Paper. Norman, MOORE, S. Corporate Subsidies in the Federal Budget.
Oklahoma: The University of Oklahoma Testimony before the Budget Committee, the
Press, 2000. U.S. House of Representatives, Jun. 30, 1999. Dis-
ponível em http://www.cato.org/testimony/
MEHREZ, G., KAUFMANN, D. Transparency, ct-sm063099.html.
Liberalization, and Banking Crises. World
Bank Policy Research Working Paper n. MORRIS, M. D. Measuring the Condition of the
2286. World Bank Institute, Washington, World’s Poor: The Physical Quality of Life
D.C., 2000. Index. New York: Pergamon Press, 1979.

MIDDLETON, J. et al. Skills for Productivity. New MUELLER D. C. Constitutional Constraints on


York: Oxford University Press, 1993. Governments in a Global Economy.
Constitutional Political Economy, v.9, n.3,
MILANOVIC, B. Income Inequality and Poverty during p.171-86, 1998.
the Transition from Planned to Market Economy.
Washington, D.C.: World Bank, 1997. MUNASINGHE, M. Towards Sustainomics:
A Trans-Disciplinary Metaframework for
MINCER, J. On the Job Training Costs: Returns Making Development more Sustainable.
and Some Implications. Journal of Political In: MUNASINGHE, M. et al. (Eds.) The
Economy, n.70 (supplement, part 2), p.50-79, Sustainability of Long-Term Growth: Socioeco-
Oct. 1962. momic and Ecological Perspectives. London:
Edward Elgar, 2000.
_____. Schooling, Experience, and Earnings. New York:
Columbia University Press, 1974. MURPHY, K. M., et al. Industrialization and the
Big Push. Journal of Political Economy, v.97,
MINGAT, A., TAN, J.-P. The Mechanics of Progress n.5, p.1003-26, 1989.

262
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

_____. The Allocation of Talent: Implications for National Bureau of Economic Research. New
Growth. Quarterly Journal of Economics, v.106, York: Columbia University Press, 1972.
n.2, p.503-30, 1991.
NORTH, D. C. Institutions and Economic Growth
MURPHY, K. et al. Population and Economic An Historical Introduction. World Development,
Growth. American Economic Review, n.89, n.17, n.9, p.1319-32, 1989.
p.145-9, May 1999.
_____. The Ultimate Sources of Economic Growth.
MURRAY, C. J. L., LÓPEZ, A. D. (Eds.) The Global In: SZIRMAI, A. et al. (Eds.) Explaining
Burden of Disease and Injury Series. Cambridge, Economic Growth: Essays in Honor of Angus
Massachusetts: Harvard School of Public Maddison. Amsterdam: North-Holland, 1993.
Health for the World Health Organization
and Word Bank, 1996. v.1. NURKSE, R. Problems of Capital Formation in
Underdeveloped Countries. New York: Oxford
NARAYAN, D. et al. Voices of the Poor: Can Anyone University Press, 1953.
Hear Us? New York: Oxford University Press,
2000. O’NEIL, D. Education and Income Growth:
Implications for Cross-Country Inequality.
NARAYAN, D., PRITCHETT, L. Cents and Journal of Political Economy, v.103, n.6,
Sociability: Household Income and Social p.1289-301, 1995.
Capital in Rural Tanzania. Economic Develop-
ment and Cultural Change, v.47, n.4, p.871-97, OBSTFELD, M. Models of Currency Crisis with
1999. Self-Fulfilling Features. European Economic
Review, v.40, n.3-5, p.1037-47, 1996.
NEHRU, V., DHARESHWAR, A. A New Database
on Physical Capital Stock: Sources, OECD (Organisation for Economic Co-operation
Methodology, and Results. Revista de Analysis and Development). Liberalization of Capital
Economico, v.8, n.1, p.37-59, 1993. Movements and Financial Services in the OECD
Area. Paris, 1990.
NEHRU, V. et al. A New Database on Human
Capital Stock in Developing and Industrial OMAN, C. P. Policy Competition for Foreign
Countries: Sources, Methodology, and Results. Direct Investment. OECD Development
Journal of Development Economics, v.46, n.2, Centre, Paris, 2000. (Processado).
p.379-401, 1995.
OSTROM, E. Governing the Commons: The Evo-
NELSON, R. R., PACK, H. The Asian Miracle and lution of Institutions for Collective Action.
Modern Growth Theory. Policy Research Cambridge, U.K.: Cambridge University
Working Paper n. 1881. World Bank, Press, 1990.
Development Research Group, Washington,
D.C., 1998. New Steel. Editorial comment 14, OWEN, A. L. International Trade and the
n.8, 1998. Accumulation of Human Capital. Board of
Governors of the Federal Reserve System,
NORDHAUS, W. D., TOBIN, J. Is Economic Growth Finance and Economics Discussion Series
Obsolete? Fiftieth Anniversary Colloquium V. 95/49. Washington, D.C., Nov. 1995.

263
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

PANAYOTOU, T. Demystifying the Environmental PUTNAM, R. D. et al. Making Democracy Work:


Kuznets Curve: Turning a Black Box into a Civic Traditions in Modern Italy. Princeton,
Policy Tool. Environment and Development New Jersey: Princeton University Press,
Economics, v.2, n.4, p.465-84, 1997. 1993.

PARK, J. H. Korea’s Crisis Resolution and Future QIAN, Y. The Institutional Foundation of China’s
Policy Directions. Relatório apresentado no Market Transition. Relatório apresentado na
World Bank Institute Senior Policy Seminar Annual Bank Conference on Development
on Managing Capital Flows in a Volatile Economics. World Bank, Washington D.C.,
Finacial Environment. Bangkok, Thailand, Apr. 28-30, 1999.
Febr. 21-24, 2000.
QUINN, D. The Correlates of Change in
PAULY, L. W. Capital Mobility, State Autonomy, International Financial Regulation. American
and Political Legitimacy. Journal of International Political Science Review, v.91, n.3, p.531-51,
Affairs, v.48, n.2, p.369-88, 1995. 1997.

_____. Who Elected the Bankers? Ithaca, New York; QUINN, D., INCLAN, C. The Origins of Financial
London: Cornell University Press, 1997. Openness: A Study of Current and Capital
Account Liberalization. American Journal of
PEARCE, D., WARFORD, J. J. World without End: Political Science, n.41, p.771-813, Jul. 1997.
Economics, Environment, and Sustainable Develop-
ment. New York: Oxford University Press, QUINN, D., TOYODA, A. M. Measuring
1993. International Finacial Regulation. George-
town University, Washington, D.C., 1997.
PERSSON, T., TABELLINI, G. (Eds.) Growth, (Processado).
Distribution, and Politics. In: Monetary and
Fiscal Policy, v.2, Politics. Cambridge, RADELET, S., SACHS, J. The East Asian Financial
Massachusetts: MTI Press, 1994. Crisis: Diagnosis, Remedies, Prospects.
In: BRAINARD, W. C., PERRY, G. L.
PRITCHETT, L. Where Has all the Education (Eds.) Brookings Papers on Economic Activity,
Gone? Policy Research Working Paper n. Washington, D.C.: The Brookings Institution,
1581. World Bank, Policy Research 1998. n.1.
Department, Poverty and Human Resources
Division, Washington, D.C., 1996. RAM, R. Composite Indices of Physical Quality
of Life, Basic Needs Fulfillment, and Income:
_____. Patterns of Economic Growth: Hills, A “Principal Component” Representation.
Plateaus, Mountains, and Plains. Policy Journal of Development Economics, n.11, p.227-
Research Working Paper WPS 1947. World 47, Oct 1982a.
Bank, Washington, D.C., 1998.
_____. International Inequality in the Basic Needs
PSACHAROPOULOS, G., ARRIAGADA, A.-M. The Indicators. Journal of Development Economics,
Educational Attainment of the Labor Force: v.10, n.1, p.113-7, 1982b.
An International Comparison. Report n.
EDT38. World Bank, Washington, D.C., 1986. _____. Educational Expansion and Schooling Ine-

264
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

quality: International Evidence and Some RAWLS, J. A Theory of Justice. Cambridge,


Implications. Review of Economics and Massachusetts: Harvard University and
Statistics, v.72, n.2, p.266-74, 1990. Belknap Press, 1971.

RAMEY, G., RAMEY, V. A. Cross-Country Evi- RAZIN, A., ROSE, A. K. Business-Cycle Volatility
dence on the Link between Volatility and and Openness: An Exploratory Cross-
Grpwth. American Economic Review, v.85, n.5, Sectional Analysis. In: LEIDERMAN, L.,
p.1138-51, 1995. RAZIN, A. (Eds.) Capital Mobility: The Impact
of Consumption, Investment, and Growth.
RANIS, G. et al. Economic Growth And Human Cambridge, U.K.: Cambridge University
Development. World Development, v.28, n.2, Press, 1994.
p.197-219, 2000.
REBELO, S. Long-Run Policy Analysis and Long-
RAVALLION, M. Can High-Inequality Developing Run Growth. Journal of Political Economy, v.99,
Countries Escape Absolute Poverty? Economics n.3, p.500-21, 1991.
Letters, n.56, p.51-7, 1997.
REINHART, C., KAMINSKY, G. On Crises, Con-
RAVALLION, M., CHEN, S. What Can New tagion, and Confusion. 1999. (Processado).
Survey Data Tell Us about Recent Changes in
Distribution and Poverty? World Bank ROBBOY, R. Today, Sept. 8, 1999, World Bank,
Economic Review, v.11, n.2, p.357-82, 1997. Washington, D.C.

RAVALLION, M., DATT, G. Why Have Some ROBERTS, J. T., GRIMES, P. E. Carbon Intensity
Indian States Done Better Than Others at and Economic Development 1962-91: A Brief
Reducing Rural Poverty? Economica, n.65, Exploration of the Environmental Kuznets
p.17-38, 1998. Curve. World Development, v.25, n.2, p.191-8, 1997.

_____. When Is Growth Pro-Poor? Evidence from RODRIGUEZ, A. G. The Division of Labor,
the Diverse Experiences of India’s States. Agglomeration Economics, and Economic
Policy Research Working Paper n. 2263. Development. Palo Alto, California, 1993
World Bank, Development Research Group, (Ph. diss.) – Stanford University.
Washington, D.C., 1999.
RODRIK, D. Getting Interventions Right: How
RAVALLION, M. et al. A Less Poor World, but a South Korea and Taiwan Grew Rich. National
Hotter One? Working Paper n. 13. Research Bureau of Economic Research Working Paper
Project on Social and Environmental n. 4964. National Bureau of Economic
Consequences of Growth-Oriented Policies. Research, Cambridge, Massachusetts, 1994.
World Bank, Policy Research Department,
Washington, D.C., 1997. _____. TFPG Controversies, Institutions, and
Economic Performance in East Asia. Working
RAVALLION, M., SEN, B. Impacts on Rural paper 5914. National Bureau of Economic
Poverty of Land-Based Targeting: Further Research, Cambridge, Massachusetts, 1997a.
Results for Bangladesh. World Development,
v.22, n.6, p.823-38, 1994. _____. Has Globalization Gone too Far? Washington,

265
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

D.C.: Institute for International Economics, quences, and Reform. Cambridge, U.K.; New
1997b. York; Melbourne: Cambridge University
Press, 1997a.
_____. Where Did All the Growth Go? External
Shocks, Social Conflict, and Growth _____. The Political Economy of Corruption. In:
Collapses. Discussion Paper Series 1789. ELLIOT, K. A. (Ed.) Corruption and the Global
Centre for Economic Policy Research, Economy. Washington D.C.: Institute for
London, 1998. Disponível em www.cepr. International Economics, 1997b.
demon.co.uk/pubs/papers.htm.
RUGGIE, J. G. International Regimes, Trans-
_____. The New Global Economy and Developing actions, and Change: Embedded Liberalism
Countries: Making Openness Work. Policy in the Postwar Economic Order. In: KRAS-
Essay n. 24. Washington, D.C.: Overseas NER, S. D. (Ed.) International Regimes. Ithaca,
Development Council, 1999. (Distribuído New York: Cornell University Press, 1983.
pela Johns Hopkins University Press).
RUITENBEEK, H. J. Social Cost-Benefit Analysis of
ROEMER, J. E. A Pragmatic Theory of Res- the Korup Project, Cameroon. World Wildlife
ponsability for the Egalitarian Planner. Fund for Nature. London, 1989. (Processado).
Philosophy and Public Affairs, n.22, p.146-66,
1993. RUZINDANA, A. The Importance of Leadership
in Fighting Corruption in Uganda. In:
ROGERS, E. Diffusion of Innovations. New York: ELLIOT, K. A. (Ed.) Corruption and the Global
Free Press, 1983. Economy. Washington D.C.: Institute for
International Economics, 1997.
ROMER, P. Increasing Returns and Long Run
Growth. Journal of Political Economy, v.90, n.6, SACHS, J. et al. Financial Crises in Emerging
p.1002-37, 1986. Markets: The Lessons from 1995. Discussion
Paper n. 1759. Harvard University, Harvard
_____. Endogenous Technological Change. Journal Institute of Economic Research, Cambridge,
of Political Economy, v.98, n.5, s71-102, 1990. Massachusetts, 1996.

_____. Two Strategies for Economic Development: SALLY, R. Classical Liberalism and International
Using Ideas and Producing Ideas. In: Economic Order: Na Advance Sketch. Consti-
Proceedings of the Annual World Bank Conference tutional Political Economy, v.9, n.1, p.19-44,
on Development Economics 1992 Supplement. 1998.
Washington, D.C.: World Bank, 1993.
SANDEL, M. J. Democracy’s Discontent: America in
ROSE-ACKERMAN, S. Corruption and the Search of a Public Philosophy. Cambridge,
Preivate Sector. In: HEIDENHEIMER, A. J. Massachusetts: The Belknap Press of
et al. (Eds.) Politial Corruption: A Handbook. Harvard University, 1996.
New Brunswick, New Jersey; Oxford, U.K.:
Transaction Books, 1989. SCHAFFER, M. E. Government Subsidies to
Enterprises in Central and Eastern Europe:
_____. Corruption and Government: Causes, Conse- Budgetary Subsidies and Tax Arrears. In:

266
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

NEWBERRY, D. M. B. (Ed.) Tax and Benefit tegy? Development Economics Research Pro-
Reform in Central and Eastern Europe. London: gramme n. 3, London School of Economics,
Centre for Economic Policy Research, 1995. Apr. 1997b.

SCHMIDHEINY, S., ZORRAQUIN, F. Financing SENGUPTA, J. K., FOX K. A. Economic Analysis and
Change. Cambridge, Massachusetts: MIT Operations Research: Optimization Techniques in
Press, 1996. Quantitative Economic Models. Amsterdam:
North-Holland, 1969.
SCHULTZ, T. P. Inequality in the Distribution of
Personal Income in the World: How It Is SHAFIK, N. Economic Development and Environ-
Changing and Why. Journal of Population mental Quality: An Econometric Analysis.
Economics, v.11, n.3, p.307-44, 1998. Oxford Economic Papers, v.46, n.5, p.757-73,
1994.
SCHULTZ, T. W. Investment in Human Capital.
American Economic Review, v.51, n.1, p.1-17, SHAFIK, N., BANDYOPADHYAY, S. Economic
1961. Growth and Environmental Quality: Time
Series and Cross-Country Evidence. Policy
SELDEN, T. M., SONG, D. Environmental Quality Research Working Paper WPS 904. World
and Development: Is There a Kuznets Curve Bank, Washington, D.C., 1992.
for Air Pollution? Journal of Environmental
Economics and Management, v.27, n.2, p.147- SHLEIFER, A., VISHNY, R. W. The Politics
62, 1994. of Market Socialism. Journal of Economic
Perspectives, v.8, n.2, p.165-76, 1994.
SEN, A. L. Equality of What? In: McMURRIN, S.
(Ed.) Tanner Lectures on Human Values, v.I. _____. (Ed.) The Grabbing Hand: Government
Cambridge, U.K.: Cambridge University Pathologies and Their Cures. Cambridge,
Press, 1980. Massachusetts: Harvard University Press, 1998.

_____. The Concept od Development. In: CHENERY, SIEH LEE, M. L. Competing for Foreign Direct
H., SRINIVASAN, T. N. (Eds.) Handbook of Investment: The Case of Malaysia, 1998.
Development Economics. New York: Elsevier (Processado).
Science Publishers, 1988. v.I.
SIMON, J. Population Growth May Be Good for
_____. Economic Regress: Concept and Features. LDCs in the Long Run: A Richer Simulation
In: Proceedings of the World Bank Annual Con- Model. Economic Development and Cultural
ference on Development Economics. Washington, Change, v.24, n.2, p.309-37, 1976.
D.C.: World Bank, 1994.
SLOTJJE, D. J. Measuring the Quality of Life
_____. Development Thinking at the Begining of the across Countries. Review of Economics and
21st Century. Development Economics Research Statistics, v.73, n.4, p.684-93, 1991.
Programme, n.2, London Scholl of Economics,
Mar. 1997a. SMITH, J. H. Aggregation of Preferences with
Variable Electorate. Econometrica, v.41, n.6,
_____. What Is the Point of a Development Stra- p.1027-41, 1973.

267
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

SOLOW, Robert M. Georgescu-Roegen Versus _____. More Instruments and Broader Goals: Moving
Solow/Stiglitz. Ecological Economics, v.22, n.3, toward the Post-Washington Consensus.
p.267-8, 1997. Relatório apresentado na World Institute for
Development Economics Research Annual
SRINIVASAN, T. N. Long-Run Growth Theories Lecture.Helsink, Finland, Jan. 1998.
and Empirics: Anything New? In: ITO, T.,
KRUEGER, A. (Eds.) Growth Theories in _____. Whither Reform? Tem Years of the
Light of the East Asian Experience. Chicago: Transition. Relatório apresentado na Annual
University of Chicago Press, 1995. Bank Conference on Development Econo-
mics. World Bank, Washington D.C., Apr.
_____. As the Century Turns: Analytics, Empirics, 28-30, 1999.
and Politics of Development. Discussion
Paper n. 783. New Haven, Connecticut: Yale STIGLITZ, J. E., BHATTACHARYA, A. Under-
University, 1997. pinnings for a Stable and Equitable Global
Financial System: From Old Debates to a
_____. Growth, Poverty, and Inequality. New Haven New Paradigm. Relatório apresentado na
Connecticut: Yale University, 2000. (Processado). Annual Bank Conference on Development
Economics. World Bank, Washington D.C.,
STEINHERR, A. Derivatives: The Wild Beast of Apr. 28-30, 1999.
Finance. New York: John Wiley, 1998.
SUMMERS, L. H. A New Framework for Multilateral
STERN, D. I. et al. Economic Growth and Development Policy. Remarks To the Council
Environmental Degradation: The Envi- On Foreign Relations. New York, Mar. 20,
ronmental Kuznets Curve and Sustainable 2000.
Development. World Development, v.24, n.7,
p.1151-60, 1996. SUMMERS, R., HESTON, A. The Penn World
Table (Mark 5): An Expanded Set of Inter-
STERN, N. The Future of the Economic national Comparisons. 1950-88. Quarterly
Transition. Working Paper (International) Journal of Economics, v.106, n.2, p.327-68, 1991.
n. 30. European Bank for Reconstruction and
Development, London, 1998. TAN, J.-P. et al. Student Outcomes in Philippine
Elementary Schools: An Evaluation of Four
STIGLITZ, J. E. The Theory of “Screening”, Experiments. World Bank Economic Review,
Education, and the Distribution of Income. v.13, n.3. p.493-508, 1999.
American Economic Review, v.65, n.3, p.283-
300, 1975. TANZI, V. Corruption around the World: Causes,
Consequences, Scope, and Crues. Interna-
_____. The Role of the State in Financial Markers. tional Monetary Fund Staff Papers, v.45, n.4,
In: Proceedings of the World Bank Conference on p.559-94, 1998.
Development Economics, 1993. Washington.
D.C.: World Bank, 1993. TANZI, V., DAVOODI, H. Corruption, Public
Investment, and Growth. Working Paper n.
_____. Georgescu-Roegen Versus Solow/Stiglitz. WP/97/139. International Monetary Fund,
Ecological Economics, v.22, n.3, p.269-70, 1997. Washington, D.C., 1997.

268
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

TEMPLE, J., JOHNSON, P. A. Social Capability _____. Income Inequality and Development. In:
and Economic Growth. Quarterly Journal of Trade and Development Report 1997. New York;
Economics, v.63, n.3, p.965-90, 1998. Geneva: United Nations, 1997.

THOMAS, V. Economic Globalization and Sustai- UNDP (United Nations Development Program).
nable Development in Costa Rica. Relatório Human Development Report 1998. New York:
apresentado na conference on Stability and Oxford University Press, 1998.
Economic Development in Costa Rica: The
Pending Reforms. Academy of Central _____. Human Development Report 2000. New York:
America, Costa Rica, Apr. 23-25, 1998. Oxford University Press, 2000.

THOMAS, V., BELT, T. Growth and Environment: UNESCO (United Nations Educational, Scientific,
Allies or Foes. Finance and Development, n.34. and Cultural Organization). 1998 World
Jun, 1997. p.22-4. Education Report. Paris, 2000.

THOMAS, V. et al. Embracing the Power of Know- UNRISD (United Nations Research Institute for
ledge and Partnerships for a Sustainable Social Development). Studies in the Methodo-
Environment. Background paper prepared logy of Social Planning. Geneva, 1970.
for the World Development Report 1998/99.
1998. (Processado). VAN RIJCKEGHEM, C., WEDER, B. Sources of
Contagion: Finance or Trade? Working Paper
_____. Measuring Education Inequality: Gini n. WP/99/146. International Monetary Fund,
Coefficients of Education. Working Paper. Washington, D.C., 1999.
World Bank Institute, Washington, D.C.,
2000. VERDIER, D. Domestic Responses to Capital
Market Internationalization under the Gold
THOMAS, V., WANG, Y. Distortions, Inter- Standard, 1870-1914. International Organi-
ventions, and Productivity Growth: Is East zation, v.52, n.1, p.1-34, 1998.
Asia Different? Economic Development and
Cultural Change, v.44, n.2, p.265-88, 1996. VISHWANATH, T., KAUFMANN, D. Toward Trans-
parency in Finance and Government. World
_____. Education, Trade, and Investment Returns. Bank, Washington, D.C., 1999. (Processa-
Working Paper. World Bank Institute, do). Disponível em http:// www.worldbank.
Washington, D.C., 1997. org/wbi/governance.

TOWNSEND, R. Agricultural Incentives in Sub- WANG, H., CHEN, M. Industrial Firm’s Pollution
Saharan Africa: Policy Challenges Technical Control Efforts under a Charge-Subsidy
Paper n. 444. World Bank, Washington, System: An Empirical Analysis of Chinese
D.C., 1999. Top Polluters. World Bank, Policy Research
Department, Washington, D.C., 1999.
UNCTAD (United Nations Conference on Trade
and Development). Directory of Import WANG, H., WHEELER, D. Pricing Industrial
Regimes, Part I: Monitoring Import Regimes. Pollution in China: An Econometric Analysis
Geneva: United Nations, 1994. of the Levy Sistem. Policy Research Working

269
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

Paper n. 1644. World Bank, Policy Research Program International Executive Reports.
Department, Washington, D.C., 1996. World Bank, Washington, D.C., 1996.

WARFORD, J. J. et al. The Evolution of WHO (World Health Organization). The World
Environmental Concerns in Adjustment Health Report 2000. Geneva, 2000.
Lending: A Review. Working Paper n. 65.
World Bank, Environment Department, WILLIAMSON, J., MAHAR, M. A Survey of
Washington, D.C., 1994. Finacial Liberalisation. In: Essays in Interna-
tional Finance Series, n. 211. Princeton, New
WARFORD, J. J. et al. The Greening of Economic Jersey: Princeton University, Department of
Policy Reform. World Bank, Environment Economics, International Finance Section,
Department and World Bank Institute, 1998.
Washington, D.C., 1997. v.1-2.
WOLFENSOHN, J. D. Address to the Board of
WATSON R. et al. Protecting Our Planet, Securing Governors. World Bank, Washington, D.C.,
Our Future: Linkages among Global Environmental Oct. 1998. (Processado).
Issues and Human Needs. Nairobi; Washington,
D.C.: United Nations Environment Pro- _____. A Proposal for a Comprehensive
gramme; United States National Aeronautics Development Framework. World Bank,
and Space Administration; World Bank, Washington, D.C., 1999. (Processado).
1998.
WOOLCOCK, M. Social Capital and Economic
WEBB, M. C. The Political Economy of Policy Development. Toward a Theoretical Synthesis
Coordination: International Adjustment Since and Policy Framework. Theory and Society,
1945. Ithaca; New York; London: Comell n.27, p.151-208, 1998.
University Press, 1994.
WORLD BANK. World Development Report 1990.
WEI, S.-J. How Taxing Is Corruption on International New York: Oxford University Press, 1990.
Investors. Working Paper n. 6030. National
Bureau of Economic Research, Cambridge, _____. World Development Report 1991: The Challenge
Massachusetts, 1997. of Development. New York: Oxford University
Press, 1991.
_____. Corruption in Economic Development: Benefi-
cial Grease, Minor Annoyance, or Major Obsta- _____. World Development Report 1992: Development
cle? Policy Research Working Paper n. 2048. and the Environment. New York: Oxford
World Bank, Development Research Group, University Press, 1992.
Public Economics, Washington, D.C., 1999.
_____. Averting the Old Age Crisis: Politics to Protect
WESSELS, J. H. Redistribution from a Constitutional the Old and Promote Growth. Washington,
Perspective. Constitutional Political Economy, v.4, D.C.: World Bank, Oxford University Press,
n.3, p.425-48, 1993. 1994.

WHEELER, D., AFSAH, S. Going Public on Polluters _____. Global Economic Prospects 1996. Washington,
in Indonesia: BAPEDAL’s PROPER-PROKASIH D.C., 1996a.

270
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

_____. World Development Report 1996: From Plan to _____. Assessing Aid: What Works, What Doesn’t, and
Market. New York: Oxford University Press, Why? A World Bank Policy Research Report.
1996b. New York: Oxford University Press, 1998a.

_____. Can The Environment Wait in East Asia? Priorities _____. East Asia: The Road to Recovery. Washington,
for East Asia. Washington, D.C., 1997a. D.C., 1998b.

_____. Chile: Poverty Reduction and Income _____. The Business Environment and Corporate
Distribution in a High-Growth Economy: Governance. Discussion Draft. Private Sector
1987-95. Repport n. 16377-CH. World Bank, Development Department, Business Environ-
Latin America and the Caribbean Region, ment Group, 1998c.
Washington, D.C., 1997b.
_____. Education Sector Strategy. Washington, D.C.,
_____. Clear Water Blue Skies. China’s Environment 1999a.
in the New Century. China 2020 series.
Washington, D.C., 1997c. _____. Environmental Implications of the Economic
Crisis and Adjustment in East Asia. East Asia
_____. Expanding the Measures of Wealth: Indicators of Environment and Social Development Unit
Environmentally Sustainable Development. In Discussion Paper Series n. 1. Washington,
Environmentally Sustainable Development D.C., 1999b.
Studies and Monograph Series n. 17.
Washington, D.C., 1997d. _____. Global Development Finance. Washington,
D.C., 1999c.
_____. Five Years after Rio: Innovations in
Environmental Policy. In: Environmentally _____. Poverty Trends and Voices of the Poor.
Sustainable Development Studies and Mono- Poverty Reduction and Economic Manage-
graph Series n. 18. Washington, D.C., 1997e. ment, Human Development, and Develop-
ment Economics, Washington, D.C., 1999d.
_____. Private Capital Flows to Developing Countries: (Processado). Também disponível em
The Road to Financial Integration. World, Bank http://www. worldbank.org/poverty/data.
Policy Research Report Series. Oxford, U.K.;
New York: Oxford University Press 1997f. _____. World Development Indicators. Washington,
D.C., 1999e.
_____. Sharing Rising Incomes: Disparities in China.
China 2020 Series. Washington, D.C., 1997g. _____. Transition toward a Healthier Environment:
Environmental Issues and Challenge in the Newly
_____. Trends in Developing Economies. Washington, Independent States. Washington, D.C., 1999f.
D.C., 1997h.
_____. Towards Collective Action to Improve Go-
_____. World Development Indicators. Washington, vernance and Control Corruption in Seven
D.C., 1997i. African Countries. Action programs prepared
by African countries for the Ninth Annual
_____. World Development Report 1997. Oxford International Conference Against Corruption.
University Press: New York, 1997j. Durban, South Africa, Oct. 10-15, 1999g.

271
B I B L I O G R A F I A E R E F E R Ê N C I A S

Disponível em http://www.worldbank.org/ toral Strategy Paper. Public Sector, Poverty


wbi/governance. Reduction, and Economic Management Net-
work, Washington, D.C., 2000j.
_____. New Empirical Tools for Anticorruption
and Institutional Reform: A Step-by-Step _____. Commodities Quarterly. Washington, D.C. (Vá-
Guide to their Implementation. Washington, rias edições).
D.C.: Europe and Central Asia Public Sector,
1999h. _____. Global Development Finance. Washington,
D.C. (Várias edições).
_____. Global Economic Prospects and the Developing
Countries. Washington, D.C., 2000a. WORLD COMMISSION ON FORESTY AND SUS-
TAINABLE DEVELOPMENT. Our Forestes,
_____. World Development Report 1999/2000: Enter- Our Future. In: Summary Report of the World
ing the 21st Century. Washington, D.C., Commission on Forestry and Sustainable Deve-
2000b. lopment. Winnipeg, Manitoba, Canada, 1999.

_____. World Development Indicators. Washington, WYPLOSZ, C. Ten Years of Transformation:


D.C., 2000c. Macroeconomic Lessons. Relatório apresenta-
do na Annual Bank Conference on Development
_____. Greening industry: New Rules for Communities, Economics. Washington, D.C., Apr. 28-30, 1999.
Markets, and Governments. New York: Oxford
University Press, 2000d. YOUNG, A. Learning by Doing and the Dynamic
Effects of International Trade. Quarterly
_____. Bolivia, Ecuador, and Paraguay Governance and Journal of Economics, v.106, n.2, p.369-405, 1991.
Anticorruption Empirical Diagnostic Studies.
Washington, D.C.: Wold Bank Institute, _____. Tale of Two Cities: Factor Accumulation
2000e. Disponível em http://www.world- and Technical Change in Hong Kong and
bank.org/wbi/governance. Singapore. NBER Macroeconomics Annual 1992.
Cambridge, Massachusetts; London: MIT
_____. East Asia: Recovery and Beyond. Washington, Press, 1992.
D.C., 2000f.
_____. Lessons from East Asian NICS: A
_____. Engendering Development. New York: Oxford Contrarian View. European Economic Review,
University Press, 2000g. v.38, n.3-4, p.964-73, 1994.

_____. Anticorruption in Transition: Confronting the _____. The Tyranny of Numbers: Confronting the
Challenge of State Capture. Washington, D.C., Statistical Realities of the East Asian Growth
forthcoming, 2000h. Experience. Quarterly Journal of Economics,
v.110, n.3, p.641-80, 1995.
_____. World Development Report 2000/2001.
Attacking Poverty. Washington, D.C., 2000i. ZANOWITZ, V. Theoy and History behind
Business Cycles: Are the 1990s the Onset of
_____. Reforming Public Institutions and Strengthening a Golden Age? Journal of Economic Perspectives,
Governance: A World Bank Strategy. A Sec- v.13, n.2, p. 69-90.

272
SOBRE O LIVRO

Formato: 19 x 23 cm
Mancha: 35 x 50 paicas
Tipologia: Iowan Old Style
Papel: Offset 75 g/m2 (miolo)
Cartão Supremo 250 g/m2 (capa)
1ª edição: 2002

EQUIPE DE REALIZAÇÃO

Coordenação Geral
Sidnei Simonelli

Produção Gráfica
Anderson Nobara

Edição de Texto e Diagramação


Milfolhas Produção Editorial
Eliana Sá (Coordenação)
Ada Santos Seles (Preparação de original)
Beatriz de Freitas Moreira (Revisão)
Lilian Queiroz (Diagramação)

Você também pode gostar