Tese - Edinaldo L. Costa - 2018
Tese - Edinaldo L. Costa - 2018
Tese - Edinaldo L. Costa - 2018
MANAUS
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA TROPICAL
MANAUS
2018
EDINALDO LOPES DA COSTA
v
AGRADECIMENTOS
A Deus, fonte de luz e confiança em minha caminhada.
Aos meus pais, Edno Soares da Costa e Maria de Nazaré Lopes da Costa, por representarem
minha fonte de segurança e amor;
À minha família (irmãos, irmãs, cunhados, sobrinhos, tios e avós), pelo amor e por sempre
acreditarem no meu sucesso profissional;
À minha Esposa, Adriele Ribeiro Costa, minha filha Sophia Ribeiro Costa e meu filho Levi
Ribeiro Costa pela inspiração e amor.
À Universidade Federal do Amazonas e Faculdade de Ciências Agrárias pela minha formação
e oportunidade de realizar o curso de Pós-Graduação em Agronomia Tropical;
À Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e a Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) pela concessão de bolsa de
estudos durante o curso;
A Secretaria Municipal de Educação do município de Manaus (SEMED) pela liberação para
realizar curso de Pós-Graduação por meio do PROGRAMA QUALIFICA e propiciar ao
servidor uma política de qualificação condizente, de valorização.
A Secretaria de Estado de Educação e Qualidade de Ensino do Amazonas - SEDUC pelo
apoio e acompanhamento durante o curso.
À Embrapa Amazônia Ocidental, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e a
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) pelo apoio logístico e
financeiro necessários para a conclusão deste trabalho;
Aos Doutores, Neliton Marques da Silva e Carolina Moraes Blassioli, pela orientação,
aprendizado e oportunidade de conviver com exemplos de profissionais dedicados, grandes
detentor de conhecimentos na área de Entomologia e Ecologia Química. Meus sinceros
agradecimentos e profunda admiração;
À Dra. Aparecida das Graças Claret de Souza por ser a responsável pela minha participação
nessa linha de pesquisa tão importante dentro do projeto pesquisa: Pesquisas e inovações
tecnológicas para o desenvolvimento da cultura do cupuaçuzeiro no Estado do Amazonas –
Edital PRÓ-ESTADO/FAPEAM.
Aos Doutores, Miguel Borges, Raúl Laumann, Flávia batista Gomes, Márcio Wandré,
Ronaldo Ribeiro de Moraes e Ana Maria Santa Rosa Pamplona pelas valiosas sugestões para
o aperfeiçoamento do trabalho;
vi
Aos servidores da Embrapa Amazônia Ocidental, em especial ao Senhor Manoel Alvino
Santos Andrade, Alarico de Souza Garcia, Joaquim Valdomiro Pinheiro Seabra, Sergio de
Araújo Silva e a todos que participaram de etapas da pesquisa, pela ajuda.
Aos amigos Jakson Douglas, Paulo Correa e Wanderley Guimarães pela ajuda nas coletas e
instalação de experimentos.
Ao inesquecível grupo de estudos de Pós-graduação, Jakson Douglas, Marcelo Tavares,
Rodrigo Rener, Fabiana Rocha, Suelen Lima, Francisco Martins, pela amizade e momentos de
descontração.
Enfim, a todos que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho e para que
eu pudesse dar mais esse passo em busca do meu objetivo profissional, meu muito obrigado.
vii
SUMÁRIO
Página
ÍNDICE DE TABELAS .......................................................................................................................................... x
ÍNDICE DE FIGURAS .......................................................................................................................................... xi
OBJETIVOS......................................................................................................................................................... xiii
Geral................................................................................................................................................................. xiii
Específicos ....................................................................................................................................................... xiii
HIPÓTESES ......................................................................................................................................................... xiv
RESUMO .............................................................................................................................................................. xv
SUMMARY ......................................................................................................................................................... xvi
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................ 17
O uso de semioquímicos no controle da broca-do-cupuaçu (Conotrachelus humeropictus) ............................ 17
2. REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................................................................... 20
2.1. A espécie [Theobroma grandiflorum (Willd ex Spreng) Schum] ........................................................ 20
2.1.1. Características gerais ................................................................................................................... 20
2.1.2. Importância socioeconômica do cupuaçuzeiro ............................................................................ 21
2.1.3. Ocorrência e distribuição ............................................................................................................ 21
2.1.4. Aspectos botânicos ...................................................................................................................... 23
2.1.5. Compostos orgânicos voláteis do cupuaçuzeiro em interação inseto-planta ............................... 24
2.2. A espécie Conotrachelus humeropictus Fiedler, 1940 (Coleoptera: Curculionidae) ........................... 26
2.2.1. Descrição taxonômica ................................................................................................................. 26
2.2.1. Danos e importância econômica.................................................................................................. 28
2.2.2. Biologia ....................................................................................................................................... 29
2.2.3. Atividades comportamentais ....................................................................................................... 31
2.2.4. Manejo e controle ........................................................................................................................ 33
2.2.5. Semioquímicos no manejo de Conotrachelus humeropictus....................................................... 36
2.3. Semioquímicos..................................................................................................................................... 38
2.3.1. Semioquímicos e interações ecológicas ...................................................................................... 38
2.3.2. Semioquímicos e o manejo de insetos-pragas ............................................................................. 39
2.3.3. Cairomônios em insetos-pragas................................................................................................... 42
3. CAPÍTULO I: Avaliação da influência dos voláteis de diferentes estruturas (flor, fruto e folha) do
cupuaçuzeiro sobre o comportamento de busca de Conotrachelus humeropictus Fiedler, 1940 (Coleoptera:
Curculionidae). ...................................................................................................................................................... 45
RESUMO .............................................................................................................................................................. 45
SUMMARY .......................................................................................................................................................... 46
3.1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................................... 47
3.2. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................................................ 50
3.2.1. Local ....................................................................................................................................................... 50
3.2.2. Obtenção das formas imaturas e adultos ................................................................................................. 50
3.2.3. Período fenológicos do cupuaçuzeiro...................................................................................................... 52
3.2.4. Coleta de voláteis .................................................................................................................................... 52
3.2.5. Análises químicas dos compostos orgânicos voláteis do cupuaçuzeiro .................................................. 53
3.2.6. Avaliação da atividade biológica dos voláteis do cupuaçuzeiro no comportamento de busca de C.
humeropictus ..................................................................................................................................................... 54
3.2.7. Análises estatísticas ................................................................................................................................. 56
3.3. Resultados e discussão ................................................................................................................................... 57
3.3.1 Análise química dos compostos orgânicos voláteis ................................................................................. 57
3.3.2. Bioensaios com adultos de C. humeropictus ........................................................................................... 62
3.2. CONCLUSÕES ............................................................................................................................................ 65
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................... 66
viii
4. CAPÍTULO II: Extração e identificação do feromônio de agregação de Conotrachelus humeropictus
Fiedler, 1940 (Coleoptera: Curculionidae) oriundos de pomares de cupuaçu no Estado do Amazonas. .............. 72
RESUMO .............................................................................................................................................................. 72
SUMMARY .......................................................................................................................................................... 73
4.1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................. 74
4.2. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................................................ 75
4.2.1. Obtenção da Criação Estoque ................................................................................................................. 75
4.2.2. Coleta de voláteis de C. humeropictus .................................................................................................... 77
4.2.3. Análises químicas ................................................................................................................................... 78
4.2.4. Produção do feromônio por C. humeropictus ......................................................................................... 79
4.2.5. Configuração absoluta do ácido grandisoico produzido por C. humeropictus ........................................ 80
4.2.6. Bioensaios em olfatômetro ...................................................................................................................... 80
4.2.6.1. Status fisiológicos dos insetos testados ............................................................................................ 80
4.2.7. Eletroantenografia (EAG) para C. humeropictus .................................................................................... 83
4.2.8. Teste de campo........................................................................................................................................ 84
4.2.9. Análises estatísticas ................................................................................................................................. 85
4.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................................................... 86
4.3.1. Identificação dos compostos macho-específicos de Conotrachelus humeropictus ................................. 86
4.3.3. Quantificação do composto ácido grandisoico ........................................................................................ 92
4.3.4. Avaliação da atividade biológica de C. humeropictus mediante os compostos sintetizados................... 93
4.3.5. Bioensaios com olfatômetros em Y ........................................................................................................ 93
4.3.6. Eletroantenografia (EAG) de C. humeropictus ....................................................................................... 98
4.3.7. Teste de atratividade em campo .............................................................................................................. 99
4.2. CONCLUSÕES .......................................................................................................................................... 101
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................. 102
ix
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 3. 1 Número total de frutos infestados, número total de insetos adultos coletados no sacolejo,
média de larvas de Conotrachelus humeropictus e de orifícios de saída de larvas por fruto de cupuaçu,
em área experimental da Embrapa Amazônia Ocidental. Manaus, AM. 2017 ................................... 113
Tabela 3. 2 Número total de frutos avaliados, número de frutos broqueados, porcentagem média de
frutos de cupuaçu atacados e número total de adultos de Conotrachelus humeropictus coletados pelo
sacolejo em área experimental da Embrapa Amazônia Ocidental. Manaus, AM. 2017. .................... 114
x
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1. 1 Área experimental utilizada para coleta de insetos e voláteis de plantas de cupuaçu......... 51
Figura 1. 2 A - Sistema de aeração de plantas utilizado para coleta de voláteis no campo. ................. 53
Figura 1. 4 Compostos orgânicos voláteis totais (média + EP) liberados por plantas de cupuaçuzeiro
nas fenofases de mudança foliar, floração e de frutificação. ................................................................ 58
Figura 1. 5 Perfis cromatográficos de plantas de cupuaçuzeiro nas fenofases de mudança foliar (M.
foliar), floração e frutificação. .............................................................................................................. 58
Figura 1. 6 Análise de Variáveis Canônicas (AVC) indicando a composição dos voláteis de plantas de
cupuaçuzeiro em diferentes fenofases. . ................................................................................................ 62
Figura 2. 1 Área experimental utilizada para coleta de insetos e voláteis de plantas de cupuaçu......... 76
Figura 2. 2 Vista inferior do abdome de macho e fêmea de C. humeropictus. Separação dos sexos com
base em observação da região esternal do último segmento abdominal. .............................................. 77
Figura 2. 8 Perfil cromatográficos do extrato de aeração obtidos na análise de CG-DIC com injetor
splitless. . ............................................................................................................................................... 88
Figura 2. 9 Estrutura química dos três compostos identificados no extrato de aeração de machos de C.
humeropictus. ........................................................................................................................................ 88
Figura 2. 10 Espectro de massas dos três compostos específicos dos machos. A. grandlure I, B
grandlure II e C ácido grandisoico. ....................................................................................................... 89
Figura 2. 13 Emissão média do composto ácido grandisoico por machos de C. humeropictus, durante a
escotofase e fotofase (F2,12= 4,425, p= 0,03088). . ............................................................................. 93
Figura 2. 17 Resposta de uma antena de fêmeas de C. humeropictus à solução sintética de 0.01 mg/mL
de ácido grandisoico. Análise por CG-EAD. ........................................................................................ 99
Figura 3. 1 Área experimental utilizada para coleta de insetos e voláteis de plantas de cupuaçu....... 112
xii
OBJETIVOS
Geral
Específicos
• Avaliar por meio de bioensaios a atividade biológica dos voláteis emitidos pelo
compostos sexo-específico.
xiii
HIPÓTESES
xiv
ESTUDO DA ECOLOGIA QUÍMICA DA BROCA-DO-FRUTO DO CUPUAÇUZEIRO
Conotrachelus humeropictus Fiedler, 1940 (Coleoptera: Curculionidae): PROSPECÇÃO
DE SEMIOQUÍMICOS E ESTUDOS COMPORTAMENTAIS
xv
STUDY OF THE CHEMICAL ECOLOGY OF CUPUASSU FRUIT BORER
CUPUASSU Conotrachelus humeropictus Fiedler, 1940 (Coleoptera: Curculionidae):
PROSPECTION OF SEMIOCHEMICALS AND BEHAVIORAL STUDIES
SUMMARY
This thesis had the objective the prospection of semiochemicals and behavioral studies
of cupuassu fruit borer (Conotrachelus humeropictus Fiedler, 1940). In this study, worked on
perspective of understand, origin, function and meaning of the natural chemical compounds
that regulate the interactions between C. humeropictus and the cupuassu ((Theobroma
grandiflorum (Willd. Ex Spreng) Schum), in this case, including pheromones and
allelochemicals. For this, studies with semiochemical of the insects and plants were developed
in cupuassu plantations located in the experimental fields of Embrapa Western Amazonia, in
the region of Manaus-Amazonas between the years of 2015 and 2017. The chemical analyzes
of cupuassu aeration extracts showed that there is difference in the composition of the volatile
mixtures released at the phenological stages considered. The class of compounds released in
the different stages was similar being composed mainly of monoterpenes, sesquiterpenos and
some aromatics. Adult males of C. humeropictus responded preferentially to odors released
by the cupuassu in the phenological stages of fructification. The chemical analysis of aeration
extracts of males and females showed that males produce three specific compounds that are
not present in the aeration extracts of females, the compounds grandisoic acid, grandlure I and
grandlure II. Male volatiles are attractive to females and females also respond to the grandiose
acid majoritarian compound. The survey and monitoring of adults in the orchard used in this
study found a higher level of insect infestation in plants located around the forest, where
approximately 91% of adult insects were also present. The level of infestation during the
harvest reached 42%, with an average of four borer per fruit. Adults of C. humeropictus were
collected in all months of the year, with lower levels than during the harvest period. These
results have important implications for the use of semiochemicals in the integrated pest
management of cupuassu.
Key words: Pheromone, volatiles compounds, cupuassu fruit borer.
xvi
1. INTRODUÇÃO
18
A partir do tema delimitado e da problematização da pesquisa que resultou nesta tese,
o objetivo geral foi definido como: prospectar semioquímicos envolvidos no comportamento
de Conotrachelus humeropictus Fiedler, 1940 (Coleoptera: Curculionidae) associados ao
cupuaçuzeiro visando seu uso no manejo integrado de pragas (MIP). E, como objetivos
específicos: analisar o perfil químico de voláteis emitidos pelo cupuaçuzeiro (Theobroma
grandiflorum) nas fenofases (floração, frutificação e mudança foliar); avaliar por meio de
bioensaios a atividade biológica dos voláteis emitidos pelo cupuaçuzeiro no comportamento
de busca de C. humeropictus; extrair, identificar e quantificar semioquímicos da broca do
cupuaçu C. humeropictus; avaliar a resposta comportamental de machos e fêmeas para os
extratos contendo os compostos sexo-específico; Monitorar a população de C. humeropictus
(inseto-alvo) no campo e avaliar o nível e intensidade de infestação natural em pomar de
cupuaçuzeiro afim de auxiliar estudos de ecologia química.
A tese está estrutura em três capítulos. No primeiro capítulo, é avaliado a influência
dos voláteis de diferentes estruturas (flor, fruto e folha) do cupuaçuzeiro sobre o
comportamento de busca de C. humeropictus. Para isto, foram conduzidos coletas de voláteis
de 20 plantas de cupuaçu e a influência desses voláteis sobre o comportamento de busca de C.
humeropictus pela planta hospedeira avaliada em bioensaios comportamentais em laboratório.
No segundo capítulo, é descrito os estudos conduzidos para identificar feromônio de
agregação do C. humeropictus e avaliar o potencial desse feromônio para o manejo e/ou
controle de C. humeropictus em pomares de cupuaçu. Para isto, conduziu-se coletas de
voláteis de machos e fêmeas e análises em cromatografia gasosa com detector por ionização
de chamas e espectrometria de massas dos extratos de aeração obtidos de machos e fêmeas,
possibilitando estudar e elucidar a estrutura química de três componentes com grande
potencial de feromônio de agregação da broca-do-fruto do cupuaçu.
No terceiro capítulo são avaliados o nível e intensidade de infestação natural de C.
humeropictus no período da safra do cupuaçuzeiro e analisado a dinâmica desta infestação no
pomar desta frutífera. Com estas informações são discutidas as possíveis forma de manejo e
controle desta praga.
Por fim, nas considerações finais apresento as principais conclusões deste estudo e as
implicações para futuras pesquisas.
19
2. REVISÃO DE LITERATURA
Souza et al. (2011) destacam que os produtos dessa fruta, designada fruta nacional
pela Lei no 11.675, de 19 de maio de 2008, tem boa aceitação e conquista fatia de mercado
cada vez maior entre as frutas tropicais, tendo como consequência a expansão do cultivo na
região Norte. A polpa é utilizada em grande escala na agroindústria de néctares, sucos,
sorvetes, doces e sobremesas. As amêndoas na elaboração de produtos similares aos que são
obtidos do cacau (Theobroma cacao L.) e a casca como adubo e na confecção de artesanatos
(NAZARÉ et al., 1990; SOUZA et al., 2011).
A C E
B D F
20
2.1.2. Importância socioeconômica do cupuaçuzeiro
É uma árvore nativa da floresta amazônica tropical úmida de terra firme e de várzea
alta (CUATRECASAS, 1964; CALZAVARA 1970). Segundo Ducke (1953) originalmente a
distribuição geográfica do cupuaçuzeiro era restrita às áreas de florestas nativas ao sul do rio
Amazonas, oeste do rio Tapajós, sul e sudeste do estado do Pará e a região “pré-amazônica”
21
do estado do Maranhão. Esta região foi considerada como o centro de origem da espécie por
Cuatrecasas (1964).
22
2.1.4. Aspectos botânicos
23
variação entre plantas, muito afetada pelas condições ambientais e baixa fecundidade
(FALCÃO; LLERAS, 1983).
A produção média de cupuaçuzeiros nativos é de 25 frutos/pé (HOMMA et al., 2001).
Em condições de cultivo a variação de produção entre plantas é bastante pronunciada, devido
a desuniformidade do material de plantações, além de variações das condições de clima e de
cultivo (CALZAVARA, et al., 1984). Frutos maduros são facilmente reconhecidos em razão
do cheiro agradável que exalam (SOUZA, et al., 1996). Estudos sobre os aspectos
biofísicos de cupuaçuzeiro em viveiro, mostraram que as plantas de cupuaçu podem
apresentar comportamento variável quanto a resposta fotossintética, nos vários estádios de
desenvolvimento da planta na fase juvenil. Na fase adulta, as funções fotossintéticas também
podem variar com o momento fenológico da planta (FIGUEIRÊDO et al., 2002).
As plantas de cupuaçu cultivadas ao sol têm maior atividade fotossintética líquida que
as mantidas à sombra, independentemente da idade de um ou dois anos de cultivo. A taxa
fotossintética líquida é influenciada positivamente pela maior disponibilidade de água no solo,
como ocorre nos meses de janeiro a maio (FIGUEIRÊDO et al., 2005).
Muller et al. (1996), relata que quando submetidos a déficit hídrico, o cupuaçuzeiro
apresenta paralisação no crescimento; perdas de folhas; secamento do broto terminal; maior
susceptibilidade ao ataque de pragas e doenças; e a morte da planta, conforme a intensidade
do déficit hídrico. Quando infectadas pelo fungo Moniliophthora perniciosa, causador da
doença “vassoura-de-bruxa” apresentam menor transpiração e condutância estomática em
relação às sadias (JUNIOR et al., 2011).
24
agregação dentro de armadilhas, mas esse outro meio (atrair e matar) deve ser usado para
gerenciá-los após a chegada nos pomares.
Estudos em olfatômetro para avaliar respostas de C. nenuphar a voláteis de planta
hospedeira e o seu feromônio de agregação, o ácido grandisoico e odores de machos vivos,
revelaram que os compostos orgânicos voláteis (COVs) da essência da ameixa foi considerada
o odor mais atrativo para as fêmeas virgens e imaturas, tanto em laboratório como no campo
(COOMBS, 2001; WHALON et al., 2006; AKOTSEN-MENSAH et al., 2010; HOCK et al.,
2017), indicando sua possível utilização como componente em armadilhas no campo.
Recentemente, foram identificados os COVs associados as cinco fases fenológicas da
goiaba (Psidium guajava L.), nas quais se detecta a presença do Conotrachelus psidii
Marshall, 1922 e se confirmou o papel do limoneno como cairomônio na interação P. guajava
-C. psidii Marshall. Na comunicação do C. psidii participam cairomônios provenientes de sua
planta hospedeira e um feromônio de agregação macho-específico. Segundo o estudo, os
semioquímicos identificados poderão ser usados como atraentes em armadilhas para detecção,
o monitoramento e o manejo do C. psidii em cultivos da goiaba (FRÍAS, 2015).
25
2.2. A espécie Conotrachelus humeropictus Fiedler, 1940 (Coleoptera:
Curculionidae)
O gênero Conotrachelus possui mais de 1.100 espécies. Alguns dos seus membros são
economicamente importantes devido aos danos causados em frutíferas neotropicais
(O´BRIEN; COUTURIER, 1995).
Fiedler (1940) elaborou as chaves para a espécies de Conotrachelus. Entretanto, na
descrição transcrita por Booth et al. (1990) os espécimes são originários do Brasil e Guiana,
sendo que suas larvas desenvolvem-se em sementes e casca de frutos de cacau.
Trevisan e Mendes (1991) relatam que a taxonomia de C. humeropictus descrita por
Fiedler (1940), foi baseada em dois espécimes coletados em Aga (provavelmente o município
de Tefé, AM) e o outro procedente do Vale Demerara, na Guiana, ambos sem registro da
planta hospedeira.
É um besouro bicudo, marrom-escuro, medindo cerca de 8 mm de comprimento e 5
mm de largura. Apresenta pontuações amarelo-douradas e estrias longitudinais nos élitros
(Figura 2). O macho tem seis ventritos e as fêmeas cinco (dimorfismo sexual) (Figura 3). O
último ventritos do macho é reduzido e nem sempre de fácil visualização a olho nu. Os ovos
(Figura 4A), brancos-leitosos, elíptico (0,26 mm de comprimento e 0,16 mm de largura)
tornam-se amarelo-palha no final do desenvolvimento embrionário (LOPES, 2000). As larvas
são ápodas, branco-leitosas, apresentando cápsula cefálica marrom-avermelhada e mandíbulas
bem desenvolvidas (Figura 4A). Quando totalmente desenvolvidas medem cerca de 14 mm de
comprimento. As pupas, do tipo exarada, inicialmente são branco-leitosas (Figura 4A),
tornando-se castanho-claras à medida que se aproximam da emergência dos adultos.
26
Figura 2 Adulto de Conotrachelus humeropictus
♂ ♀
♂
Figura 3 Vista inferior do abdome de uma macho e de uma fêmea de C. humeropictus. Separação dos
sexos com base em observação da região esternal do último segmento abdominal.
A B C
Nas últimas duas décadas, estudos constataram o aumento gradativo dos níveis de
infestações de larvas de C. humeropictus em cultivos de cupuaçu no Amazonas (LOPES;
SILVA, 1998). A produção de frutos decresceu, passando de 2.705 frutos/ha em 1996 para
1.856/ha em 2006 (SOUSA et al., 2007). Segundo Garcia et al. (1997) a broca-do-fruto se
destaca entre os fatores responsáveis por essa redução. Atualmente, esta praga assume posição
principal como fator limitante à expansão desta frutífera, em função da severidade de seus
danos (LOPES; SILVA, 1998; LOPES, 2000; THOMAZINI, 2002; SILVA; PAMPLONA
2011).
28
As larvas são responsáveis pelos danos diretos ao fruto. Os danos indiretos são
causados pelos microrganismos e insetos que penetram através dos furos construídos pelas
larvas que saem para se transformar em pupa no solo (TREVISAN; MENDES, 1991).
Quando a oviposição ocorre em frutos jovens, os frutos caem e as larvas não se desenvolvem.
Os frutos atacados que atingem o amadurecimento apresentam a polpa destruída pela
fermentação causada pelos organismos decompositores (AGUILAR; GASPAROTTO, 1999).
2.2.2. Biologia
Mendes (1997) e Trevisan et al. (2011) descrevem os ovos por coloração branco-
leitosa, tornando-se amarelo-palha, na medida em que acontece o desenvolvimento
embrionário. Segundos os autores os ovos apresentam forma elíptica, com 0,26 ± 0,01 mm de
comprimento e 0,16 ± 0,01 mm de largura e o período embrionário é de 04 a 06 dias com
29
média de 4,73 dias e viabilidade de 75,60 %, em média. Afirmam ainda que em condições
naturais, é provável uma maior eclosão de larvas, já que não há manipulação e perda de água
dos ovos no interior dos frutos.
Trevisan et al. (2011) destacam que ambos os sexos apresentam 5 esternitos visíveis
quando em posição ventral. Nos machos este esternito apresenta uma depressão central e nas
fêmeas duas depressões laterais, adicionalmente nos machos, e em posição ventral, é visível o
último tergito abdominal. Os machos apresentam um aparelho estridulatório na margem
interna dos élitros.
30
Os registros de Mendes (1997) mencionam que a cópula ocorre no mesmo dia da
emergência, após a distribuição das fêmeas em gaiolas, dura de 75 a 105 minutos (média
89,25 minutos), com casais copulando mais de uma vez, indicando que os machos são capazes
de fecundar mais de uma fêmea. Segundo o autor, este comportamento também foi constatado
para as espécies C. nenuphar (SMITH, 1957) e C. schoofi (TEDDERS; PAYNE, 1986).
Adultos de C. humeropictus são mais ativos no período noturno, durante o dia ficam
ocultos entre as folhagens e, ao sentirem-se ameaçados, jogam-se sobre o solo. Esse
comportamento foi observado tanto na cultura do cacau (TRAVISAN, 2011) como na cultura
do cupuaçu (LOPES, 2000). Esse comportamento é típico da família, em qualquer substrato
que se encontram.
Lopes (2000) constatou que em frutos de cupuaçu, as fêmeas apresentaram preferência
pela parte mediana do fruto para postura. Inicialmente, as fêmeas fazem várias perfurações
para alimentação do fruto e depois efetuam as posturas. As perfurações podem ser próximas e
em grupos de 2 a 4, mas podem ser encontrados conjuntos com numerosos furos de diâmetro
entre 0,50-2,0 mm.
O autor relata que as fêmeas desempenham mais de um tipo de atividade para
oviposição, que inclui: exploração do fruto, formação de perfuração e alimentação, disposição
crescente de alimentação e postura dos ovos. Após a oviposição os insetos iniciam nova
31
sequência. No campo, a oviposição é maior nos frutos verdes com cerca de dois meses antes
da maturação destes, assim como, os maiores ataques de pragas ocorrem em plantas
localizadas a próximas à floresta.
Adultos de C. humeropictus formando casais de igual e diferentes idades, quando
avaliados em laboratório nos horários diurnos e noturnos, à temperatura de 26,0 + 0,1º C,
umidade relativa de 74,0 + 0,9% em 1997 e em 1998 à temperatura de 25,0 + 0,1º C e
umidade relativa de 84% + 0,4% apresentaram quatro atividades comportamentais mais
frequentes: comportamento de repouso, locomoção, alimentação e acasalamento (LOPES
2000).
Machos e fêmeas de 15 dias de idade apresentaram maior porcentagem média nas
atividades de locomoção (23,42 + 5,78) e acasalamento (2,77 + 0,48). Insetos de todas as
idades ficaram mais tempo em repouso (77,1 + 4,8) tanto para o período diurno quanto
noturno. Chouinard et al. (1993), encontraram essa tendência em C. nenuphar observados em
ambiente seminatural.
Em repouso, o inseto permanece com as antenas e rostro curvados para baixo, e os três
pares de perna ficam totalmente encolhidas. A principal forma de locomoção de adultos da
broca-do-fruto de cupuaçuzeiro é por caminhamento, entretanto, os insetos se deslocam em
voos de curta distâncias. Durante a noite os besouros locomovem-se mais (LOPES, 2000,
TREVISAN 2011).
Mendes et al. (1997), registraram acasalamento de C. humeropictus pela primeira vez
no mesmo dia da emergência. Lopes (2000), relata que casais de C. humeropictus machos e
fêmeas de 15 dias de idade apresentaram as atividades de corte e acasalamento no intervalo de
8:00 às 15:00 horas com pico às 13:00 horas. Macho e fêmeas de 1 dia acasalaram no período
de 9:00 às 15:00 horas. Machos adultos de 15 dias e fêmeas de 1 dia acasalaram no terceiro
dia de observação. Estudos de comportamento de C. nenuphar com diferentes idades,
relataram que a idade do primeiro acasalamento para machos e fêmeas foi a partir do 6º dia de
vida e que aumentou o número de casais que acasalaram pela primeira vez, com o avanço da
idade de machos e fêmeas até o 16º de observação. (JHOSON; HAYS, 1969).
Resultados obtidos por Lopes (2000) revelam que a corte e acasalamento foram
atividades verificadas exclusivamente durante o horário diurno até as 17:00 horas. Para essa
autora, ao contrário do que se acreditava, a broca-do-cupuaçu apresenta comportamento
diurno que inclui alimentação, acasalamento e oviposição, além de hábitos noturnos de voo,
32
queda brusca da planta para o chão, alimentação e caminhamento como principal forma de
locomoção.
Igualmente a escassez de trabalhos sobre a biologia de C. humeropictus, o
desconhecimento do comportamento desta espécie tem se constituído obstáculo para
condução de pesquisas em diversos campos da entomologia, como por exemplo o estudo da
ecologia química de inseto aplicada a agricultura.
33
• Evitar formação de novos SAFs em áreas muito próximas à floresta e/ou capoeira,
evitando incluir plantas de copa densa, que possam sombrear intensamente as árvores
de cupuaçu;
• Na formação de novos SAFs, usar mudas bem formadas de viveiristas licenciados,
priorizando culturas de diferentes famílias botânicas, incluindo, quando possível,
plantas aromáticas na bordadura dos SAFs;
• Para os SAFs já estabelecidos, fazer calagem seguida de adubação fosfatada e
potássica em coroamento;
• Desbastar as castanheiras quebradas e remover toda vegetação sem valor econômico,
inclusive rasteira, para redução do nível de sombreamento e favorecimento da
circulação do ar no interior dos SAFs;
• A vegetação rasteira só deverá ser removida no início da estação chuvosa, porque o
cupuaçuzeiro é extremamente sensível a perda de umidade;
• Podar as árvores de cupuaçu com remoção dos galhos inferiores (elevação da saia),
para desencostá-los do solo; (Obs.: Esta prática deve ser feita por pessoa treinada);
• Colher, preferencialmente nas primeiras horas da manhã, todos os frutos brocados do
interior dos SAFs, com posterior queima ou enterrio em valas de, no mínimo, 1m de
profundidade ou afogando em água durante três dias;
• Formar aceiros de, no mínimo, 20 m entre a mata/capoeira e o SAF com plantio de
vegetação rasteira (aromática) nas bordaduras;
• Priorizar a quebra dos frutos fora da área de cultivo, para evitar possível penetração
das larvas no solo;
• Realizar limpeza periódica dos veículos de transporte dos frutos, para evitar a
disseminação da praga entre as propriedades;
• Efetuar inspeções na plantação a cada 15 dias para verificar a presença de frutos
atacados e;
• Efetuar o transporte dos frutos sobre lona ou carrocerias sem frestas.
Aguilar e Gasparotto (1999) atestam que o método do controle biológico da broca-do-
fruto do cupuaçuzeiro mediante parasitóides e predadores apresenta certas limitações, devido
ao próprio habito da praga, que dificulta o contato com os inimigos naturais. Entretanto, existe
um campo promissor para o controle da broca envolvendo este método, tendo em vista a
utilização de parasitóides já identificados em C. humeropictus ou mesmo em outras espécies
como Conotrachelus eugenia.
34
Mendes (1996) recomenda que a utilização, no campo de entomopatógenos, tais como:
os fungos Metarrhizium anisopliae e Beauveria bassiana deve ser alvo de futuros trabalhos
de pesquisa. Garcia et al. (1997) relatam que cerca de 70% das larvas de Conotrachelus sp.
que penetram no solo para pupar não completam o ciclo e morrem devido ao ataque de fungos
e outros parasitas.
Garcia et al. (1997) orientam que para o controle da praga não é recomendável o uso
de agrotóxicos, uma vez que este processo já foi testado para o curculionídeo em plantações
de cacau e, mais recentemente em cupuaçu (COSTA et al., 2015) e não apresentou efeito
positivo. Segundo esses autores, o custo desse processo é alto, economicamente inviável e de
elevado impacto ambiental.
Por último, embora não se conheça, na literatura, alguma referência a algum tipo de
resistência ou graus de resistência dos frutos do cupuaçuzeiro à broca. Alguns autores
aconselham realizar testes em frutos sem sementes, os quais podem ser menos atacados pela
falta de alimentos, tendo em vista que as exigências nutricionais da broca-do-fruto do
cupuaçuzeiro na fase larva1 são preenchidas pelas sementes do fruto (MENDES;
TREVISAN, 1991; AGUILAR; GASPAROTTO; 1999).
Os semioquímicos dos insetos e plantas combinados com as recomendações de
controle cultural listadas acima e uso de controle biológico (como fungos e nematóides)
podem gerar um manejo integrado de C. humeropictus para a cultura do cupuaçu. O uso do
feromônio de agregação da espécie e de atrativos voláteis do cupuaçu poderão auxiliar no
monitoramento e controle da praga. Os semioquímicos vem sendo aplicados nas mais
diferentes culturas com bastante sucesso, inclusive para curculionídeos no Brasil, como para
Anthonomus grandis na cultura do algodão (MAGALHÃES et al., 2016), e para Cosmopolites
sordidus na cultura da banana (MESQUITA, 2003), por exemplo. Em sistema agroflorestais,
onde deve se evitar o uso de agrotóxicos por questões ambientais, para evitar atingir
organismos não alvos, e para obter alimentos mais saudáveis para o consumidor final. O uso
de semioquímicos pode auxiliar no manejo de pragas de uma forma mais sustentável e
inclusive com menor custo (BENTO et al., 2016; BORGES; BLASSIOLI-MORAES, 2017).
Hoje a produção de uma nova molécula com efeito inseticida pela indústria química tem um
custo médio de 200 milhões de dólares e pode levar de oito a 10 anos para estar disponível
(WHITFORD, 2009). Isso explica por que tão poucas moléculas novas estão sendo colocadas
à disposição da agricultura no mundo e a urgência de desenvolvermos novos métodos de
manejo e controle de pragas.
35
2.2.5. Semioquímicos no manejo de Conotrachelus humeropictus
36
Testes de campo revelaram que tanto a mistura racêmica do ácido grandisoico como os
enantiômeros puros atraem machos e fêmeas da espécie. Armadilhas desenvolvidas para o
monitoramento de C. nenuphar iscadas com semioquímicos apresentaram boa eficiência na
coleta do gorgulho em pomares de ameixa, maçã e pêra (ELLER; BARTELT, 1996;
PROKOPY et al., 1997; PROKOPY et al., 2003; LESKEY; WRIGHT, 2004).
Estudo com semioquímicos envolvidos na interação gorgulho-da-goiaba
(Conotrachelus psidii Marshall, 1922) e goiabeira (Psidium guajava L.), sugere a existência
de um feromônio de agregação produzido por ambos os sexos (SILVA FILHO, 2005).
Frías (2015) afirma que entre os compostos orgânicos voláteis orgânicos identificados
na planta de goiabeira, dois foram também detectados tanto nos machos como nas fêmeas de
C. psidii, sugerindo se tratar de cairomônios.
Para essa autora os compostos papayanol e o papayanal liberados especificamente
pelos machos de C. psidii, indicam tratar-se possivelmente dos componentes de seu
feromônio de agregação. Ressalta ainda que o monoterpeno limoneno combinado com o
feromônio (1R,2S,6R)-papayanol tem potencial para a detecção e o monitoramento do bicudo
da goiaba, no campo, como uma estratégia útil para ser incluída dentro do programa de
manejo integrado desta praga.
Recentemente, Palácio-Cortés et al. (2015), mencionam que, machos de C. psidii
produzem um composto masculino específico, o papayanol, que na presença de voláteis de
plantas é altamente atraente para ambos os sexos. Esses autores, informam que futuras
experiências de armadilhas no campo serão realizadas para desenvolver um método
ambientalmente seguro para monitorar ou controlar este inseto em pomares de goiaba usando
seu feromônio de agregação em combinação com voláteis de plantas.
Apesar dos avanços e dos milhares de registros na literatura de compostos
identificados como feromônio de insetos (THE PHEROBASE, 2017), sabe-se muito pouco
sobre a função destes compostos na comunicação química entre inseto-inseto ou inseto-planta
para torná-los uma nova ferramenta no manejo de inimigos naturais e outros insetos.
Estudos de ecologia química com as principais pragas da cultura do cupuaçuzeiro, em
especial, a broca-do-fruto, são raros. Entretanto, pesquisa recente, revela a presença de três
compostos machos específicos para C. humeropictus, que foram identificados como (1R, 2S)
-grandisol, ácido (1R, 2S) -grandisoico e uma lactona de terpeno bicíclico (1R, 6R) -2,2,6-
trimetil-3-oxabiciclo [4.2.0] octan-4-ona, denominada de grandisolactona. Provavelmente eles
irão atuar como feromonas de agregação (SZCZERBOWSKI et al., 2016). No entanto, os
37
autores não conduziram estudos comportamentais nem testes de campo para confirmarem que
estes compostos tem função feromonal para esta espécie.
Análises químicas dos extratos de voláteis de machos e fêmeas apresentaram um
composto específico do macho que foi identificado como o ácido grandisoico. A identificação
deste composto é uma informação importante para o avanço nas pesquisas com feromônio de
C. humeropictus (BORGES et al., 2015; BORGES et al., 2017).
Torrens (2015) assinalou a presença de quatro compostos produzidos por machos da
espécie C. humeropictus. Segundo o autor, a liberação do feromônio ocorre na sua maior
concentração durante o período noturno. Os testes de atratividade em laboratório de machos e
fêmeas para os compostos na forma sintéticas mostraram que a presença da lactona, foi
fundamental na atratividade de fêmeas. Porém, uma avaliação preliminar, no campo, na qual
foram testados os compostos, ácido grandisoico e lactona, em nenhum tratamento foi obtido
insetos capturados nas armadilhas.
As informações disponíveis mostram que existem lacunas desde a prospecção até a
efetiva atratividade e controle por meio desses compostos ao C. humeropictus. Nesse sentido,
explorar a ecologia química da broca-do-cupuaçu é acolher uma demanda social por ambiente
e produtos utilizados na alimentação humana livre de agrotóxicos e herbicidas. De modo
geral, é necessário que sejam discutidas diferentes forma de utilizar os semioquímicos para o
manejo de pragas, suas principais vantagens e desvantagens, os desafios futuros e exemplos
de sucesso da aplicação e uso do semioquímicos para o Brasil (BLASSIOLI-MORAES et al.,
2009; BORGES et al., 2011; BORGES et al., 2015).
2.3. Semioquímicos
Interações entre plantas e insetos devem ser compreendidas sob um ponto de vista co-
evolutivo (EHRLICH; RAVEN, 1964; BLANDE, 2017). Semioquímicos envolvidos nessas
interações constituem um foco central de estudos ecológicos e evolutivos em constante
expansão (BLANDE, 2017).
Segundo Kessler (2015), as interações ecológicas entre plantas e insetos são mediadas
por uma diversidade de metabólitos produzidos pelas plantas. Para Agelopoulos et al. (1999)
essas informações (metabólitos) são fundamentais e particularmente importantes para os
insetos, por exemplo, para localizar fontes de alimento. Os semioquímicos que medeiam a
38
comunicação intraespecífica são denominados de feromônios, enquanto que os envolvidos na
comunicação interespecífica são chamados de cairomônios, sinomônios e alomônios.
Cairomônios são substâncias voláteis que atuam entre espécies diferentes, favorecendo apenas
o receptor da informação, sinomônios são substâncias que quando emitidas resulta em
benefícios para ambos e alomônios resulta em benefício para o emissor. Essa troca de
mensagens químicas também ocorre entre plantas, microrganismos e animais regulando
populações (BORGES et al., 2015).
Os semioquímicos liberados pelas plantas podem ser percebidos por uma gama
diversificada de organismos em sua comunidade e ainda informar sua condição fisiológica
(HELMS et al., 2013). Para esses autores, as plantas também podem detectar e processar
informações químicas derivadas de herbívoros. Sinais olfativos derivados de insetos podem
transmitir informações específicas às plantas em relação ao tipo de ameaça e seu imediatismo.
Portanto, detectar tais informações e utilizá-lo para a implantação efetiva de defesas é
potencialmente benéfico para a planta (BLANDE, 2017).
O estudo dos semioquímicos com vistas ao manejo de pragas, tem sido o foco de
estudos da ecologia química como disciplina científica, desde a identificação do primeiro
feromônio sexual de um inseto, o composto bombicol (E,Z)10,12-hexadecadien-1-ol) da
mariposa da seda (Bombyx mori) (BUTENANDT et al., 1959; TEWARI et al., 2014). A
39
utilização de semioquímicos como compostos não tóxicos, exclusivos de espécies e que não
prejudicam insetos benéficos, constitui a base para estratégias de manejo eficientes e
sustentáveis (WITZGALL et al., 2010).
Borges et al. (2011) mostraram que o feromônio sexual do percevejo marrom é mais
eficiente para o seu monitoramento do que a técnica comumente utilizada para
40
monitoramento, o pano de batida. Segundo os autores, as vantagens de se usar o feromônio
para monitoramento são: menores custos, facilidade de uso, não são tóxicos, não deixam
resíduos no meio ambiente, são específicos, agindo somente sobre a espécie alvo, são usados
em doses baixas (nanogramas a poucas miligramas) e tem alta sensibilidade de detecção.
Moscardi et al. (2011) relatam que o uso de feromônios sexuais combinadas com
outras medidas de controle, como o controle biológico, pode ser uma estratégia importante
para gerenciar Spodoptera spp. no Brasil e para minimizar a grande quantidade de inseticidas
atualmente utilizados para controlar populações de Spodoptera em campos de cultivo.
Estudos recentes sugerem que a identificação de uma mistura atraente de feromônios para
diferentes espécies poderia ajudar a desenvolver uma técnica de monitoramento de múltiplos
alvos (BLASSIOLI- MORAES et al., 2016).
Pinto-zevallos et al. (2013) ressaltam que embora a efetividade dos feromônios seja
bem reconhecida, a adoção de feromônios sintéticos não pode ser feita sem uma base sólida
de conhecimento. O sucesso da utilização de feromônios precisa de um amplo conhecimento
da ecologia e biologia das pragas, o que implica a necessidade de envolver químicos,
ecologistas, biólogos e agrônomos nas pesquisas de laboratório e campo.
41
2.3.3. Cairomônios em insetos-pragas
42
este prisma, é possível que novas estratégicas no manejo integrado de pragas possam ser
desenvolvidas (CERUTI, 2007).
Hock et al. (2017) afirmam que a sinergia entre odores de plantas e insetos pode
aumentar as capturas e melhorar as técnicas de monitoramento de insetos no campo. Ceruti
(2007) considera que o aumento da atração de machos, ou fêmeas, pelos odores da planta
hospedeira resulte no desenvolvimento de armadilhas mais efetivas para o controle de pragas.
Para o autor, iscas baseadas somente em feromônio sintético não são completamente atrativas
para a maioria dos insetos e são improváveis de serem completamente competitivas com os
sinais que emanam das plantas hospedeiras e dos alimentos. Isso seria esperado ocorrer
principalmente com insetos especialistas, como o bicudo do algodoeiro, que tem uma relação
muito específica com sua planta hospedeira, que apesar de ter fontes alternativas de
alimentação, o mesmo só se reproduz nas plantas de algodão (RIBEIRO et al., 2010;
MAGALHÃES et al., 2016). Por outro lado, insetos generalistas como Helicoverpa armigera
(Hubner) (Lepdoptera: Noctuidae) e Spodoptera frugiperda (J.E. Smith, 1797) (Lepdoptera:
Noctuidae), são menos prováveis de sofrerem forte influência atrativa dos voláteis de plantas
para encontrar a planta hospedeira. Nos insetos generalistas, no geral, o feromônio sexual tem
grande atratividade, e não há a necessidade de utilizar a ação de cairomônios para melhorar a
eficiência dos mesmos no campo.
43
Capítulo I
44
3. Avaliação da influência dos voláteis de diferentes estruturas (flor, fruto e folha) do
cupuaçuzeiro sobre o comportamento de busca de Conotrachelus humeropictus
Fiedler, 1940 (Coleoptera: Curculionidae).
RESUMO
45
Evaluation of the influence of volatiles of different structures (flower, fruit and leaf) of
cupuassu on the search behavior of Conotrachelus humeropictus Fiedler, 1940
(Coleoptera: Curculionidae).
SUMMARY
Plant volatiles are responsible for inducing numerous responses to insect behavior.
This work had the objective to analyze the influence of the volatiles emitted by the
cupuaçuzeiro, Theobroma grandiflorum, in different phenological stages on the search
behavior of Conotrachelus humeropictus. The chemical analysis of the aeration extracts of the
cupuaçuzeiro showed that there is difference in the composition of the volatile mixtures
released in the phenological stages considered, flower, fruit and leaves. The class of
compounds released in the different stages was similar being composed mainly of
monoterpenes, sesquiterpenes and some aromatics. The major compounds found in the
vegetative phase were sesquiterpenes (E, E) -α-farnesene and β-caryophyllene, β-myrcene
monoterpenes, limonene and the (E) -4,8-dimethyl-1,3,7- nonatriene (DMNT). In the
reproductive phase (flower), the major compounds were the monoterpenes (E) -ocimeno, the
sesquiterpenos β-caryophyllene and (E, E) -α-farnesene and the two homoterpenes the DMNT
and the (E, E) -4, 8,12-trimetoltrideca-1,3,7,11-tetraene (TMTT). In the fruit stage, the
compounds were highlighted, (E) ocimene and sesquiterpene trans-α-bergamotene. Adult
males of C. humeropictus responded preferentially to odors released by the cupuaçuzeiro in
the phenological stages of fruiting. These responses suggest that the differences between the
proportions of the released compounds were sufficient for males of C. humeropictus to
distinguish the volatiles from the fruit phase. The compounds (E) ocimene and trans α-
bergamotene, α-copaene, nonanal and DMNT contributed the most to the separation profile
obtained in the fruit phase and possibly may be involved in the attraction of cupuassu.
46
3.1 INTRODUÇÃO
47
planta-herbívoro tem permitido o uso de plantas armadilhas e plantas repelentes na redução da
pressão de pragas na cultura principal (SHRIVASTAVA et al., 2010).
Nos últimos anos, vários estudos têm sido conduzidos com o intuito de compreender a
comunicação química existente entre plantas e insetos herbívoros, sendo que as substâncias
envolvidas na comunicação entre estes organismos, por mediarem as interações intra e inter-
específicas, possuem inúmeras possibilidades de uso no MIP. Nesse sentido, o uso de
semioquímicos é um substituto potencial ou auxiliar aos métodos convencionais de controle e
monitoramento populacional (BLASSIOLI-MORAES et al., 2016; VILELA; PALLINI, 2002;
BORGES, et al., 2015).
48
Os voláteis de planta induzidos por herbivoria (VPIHs) são sinais importantes na
comunicação química entre plantas e insetos benéficos. No geral, são usados como
sinomônios pelos inimigos naturais dos herbívoros (KAPLAN, 2012). Estudos vem
mostrando que os VPIHs, poderiam ser liberados artificialmente no campo e utilizados pelos
inimigos naturais como pistas de localização do hospedeiro (DRUKKER et al., 1995).
Segundo Bernasconi et al. (2001) a densidade do predador no campo é sempre maior quando
há infestação pela praga, e está associada aos VPIHs emitidos pelas folhas atacadas.
Os COVs podem ser utilizados dentro de um conceito de controle biológico
conservativo (CBC) isto é, uma estratégia que busca preservar a população residente de
inimigos naturais em uma plantação e aumentar a sua abundância e atividade. Os
semioquímicos, neste caso, seriam utilizados para atrair estes inimigos naturais para a lavoura,
enquanto que o sistema, plantas com flores (nectarias), forneceriam os nutrientes, para
retenção dos inimigos naturais na área. Com isso haveria um aumento na longevidade e
fecundidade dos inimigos naturais e retenção dos mesmos nas áreas de interesse, portanto,
maximização da atividade sobre as pragas. (KHAN et al., 2008).
Os compostos orgânicos voláteis induzidos por sinais de stress emitidos pelas plantas
além de atuarem na defesa indireta, atraindo os inimigos naturais, também agem na defesa
direta das plantas repelindo os herbívoros (VENDRAMIM, 2002). Por outro lado, os voláteis
induzidos e os compostos constitutivos das plantas também são usados como sinais pelos
herbívoros para localizarem suas plantas hospedeiras (STEIDLE et al., 2001).
Estudos recentes sobre os semioquímicos responsáveis da interação entre a goiaba
(Psidium guajava L.) e o bicudo da goiaba (Conotrachelus psidii Marshall, 1922) asseguram
que a goiaba libera voláteis que são usados pelo bicudo de goiaba, para localizar a planta
hospedeira. Foram estudados cinco fases fenológicas da goiaba (botão floral, flor aberta, flor
seca, fruto imaturo e fruto) e os estudos mostraram o monoterpeno como cairomônio para o C.
psidii Marshall (FRÍAS, 2015).
Piñero e Prokopy (2003) ao avaliar resposta de C. nenuphar (gorgulho) a três voláteis
sintéticos da ameixa, benzaldeído, isovalerato de etila e limoneno, avaliados isoladamente e
em combinação com o ácido grandisoico, o feromônio de agregação de C. nenuphar,
mostraram que o composto benzaldeído foi o único que teve sinergismo com o feromônio de
agregação e que atraiu ambos os sexos da espécie.
Segundo a literatura, o uso combinado de voláteis da planta hospedeira com o
feromônio de agregação dos insetos aumenta a eficiência de captura das armadilhas
49
feromonais (LANDOLT, 1997). Nesse contexto, combinar voláteis da planta hospedeira e
feromônio em iscas para monitorar o início, pico e fim da migração de adultos de C.
humeropictus, em pomares de cupuaçu, afim de precisar a tomada de decisão, pode ser uma
ferramenta valiosa, (PIÑERO et al., 2001). Assim sendo, o objetivo desse capítulo foi analisar
o perfil de voláteis produzidos pelo cupuaçuzeiro em diferentes estágios fenológicos e estudar
a influência desses voláteis no processo de busca da planta hospedeira.
3.2.1. Local
50
de 26 ± 2 °C e umidade relativa de 75 ± 10 % com fotoperíodo de 12:12 (fotofase/escotofase)
até a emergência dos adultos (PAMPLONA; OLIVEIRA, 2013).
Os adultos foram mantidos em dieta natural composta por pedaços frescos de cana-de-
açúcar, (aproximadamente 10 cm de comprimento do colmo repartido em quatro partes)
trocados a cada dois dias. Especificamente, no ano de 2017, após constatação da presença de
insetos adultos na copa das plantas de cupuaçu no campo, além do método descrito, os adultos
foram coletados por método do sacolejo, segundo Trevisan (1989), no qual uma tela plástica,
de cor branca com dimensões de 8,0 x 3,5 m foi estendida no chão, na projeção da copa da
árvore que, em seguida, é sacodida com o auxílio de uma vara de madeira com 5,0 m de
comprimento e um gancho na extremidade. Em função dos adultos apresentarem
comportamento de tanatose quando se sentem ameaçados, eles são coletados no momento em
que se lançam ao chão.
Após a coleta pelo método do sacolejo, os adultos foram transportados até o
Laboratório de Entomologia da Embrapa Amazônia Ocidental, separados por sexo e mantidos
em placas de Petri de plástico (60x15mm), em grupos de até 10 indivíduos em dieta de cana-
de-açúcar.
51
3.2.3. Período fenológicos do cupuaçuzeiro
Para determinar o perfil químico de voláteis emitidos em cada fase fenológica, foram
selecionadas vinte plantas produtivas, distribuídas no pomar, com idade aproximada de vinte
anos do banco de germoplasma de cupuaçuzeiro da Embrapa Amazônia Ocidental na mesma
área descrita acima (Figura 1.1). Os períodos fenológicos determinados foram: mudança
foliar - maio-junho de 2016, floração - setembro-outubro de 2015 e frutificação - dezembro-
janeiro de 2015 (PRANCE; SILVA, 1975; FALCÃO; LLERAS, 1983; FIGUEIRÊDO et al.,
2002)
A coleta de voláteis foi realizada através da técnica de aeração, para isto, ramos com
estruturas representativas de cada fase fenológica (folha, flor e fruto) foram selecionados e
acondicionados no interior de sacos plásticos de poliéster (Reynold® - 59,6 cm de altura x
48,2 cm de base, USA) (Figura 1.2). Na fase de mudança foliar os ramos acondicionados
continham apenas folhas, na fase de floração, folhas (em média oito folhas por ramo) e flores
e na fase de fruto, apenas fruto. Sendo os frutos hospedeiros preferencias da broca para
oviposição e desenvolvimento larval, priorizou-se na frutificação aerações com frutos
acondicionados isoladamente no saco plástico, sem a presença de folhas ou demais estruturas,
retiradas 24h antes da aeração. Os sacos plásticos antes do uso foram limpos com hexano e
aquecidos à 120o C por 10 min. Os voláteis das estruturas selecionadas foram coletados a cada
24 h, durante três dias consecutivos. Um único sistema de aeração foi instalado em cada
planta (Figura 1.2).
No sistema de aeração, o ar entrava no saco plástico por meio de uma bomba
compressora com corrente de 1,0 L/min conectado a um filtro de carvão ativado (4-20 mesh),
garantindo a entrada de ar purificado. A retirada do ar foi feita através de uma bomba de
vácuo com vazão de 0,6 L/min, conectada a um tubo de vidro (10 x 150 mm) com 100 mg de
polímero adsorvente Super Q® (80-100 mesh, Alltech PA, EUA). As conexões foram
realizadas através de tubos flexíveis de politetrafluoretileno (PTFE), criando um sistema de
pressão positiva, conforme descrito por Moraes et al., (2005) (Figura 2).
52
2
A B
Figura 1. 2 A - Sistema de aeração de plantas utilizado para coleta de voláteis no campo. B- detalhe
dos frutos acondicionados no saco plástico. 1. Entrada do ar, 2 saída para a bomba de vácuo, onde é
conectado o adsorvente para a coleta de voláteis.
A quantificação dos compostos liberados pelas plantas foi realizada por meio de
comparação das áreas de cada composto em relação à área do PI. Desta forma, considerou-se
o fator de resposta do detector, para todos os compostos, igual a 1. Os dados foram coletados
com o software Chem Station e analisados com o programa Excel (Microsoft Office para Mac
2015, Microsoft Corporation, EUA).
53
Na avaliação qualitativa, amostras selecionadas foram injetadas no CG-EM (Agilent
5975MSD) equipado com analisador quadrupolar, e coluna apolar DB-5MS (0,25 mm de
diâmetro x 30 m de comprimento, com filme de 0,25 µm, Supelco, Bellefonte, PA, EUA),
com ionização por impacto de elétrons (70 -eV, temperatura de 200°C) e injetor no modo
splitless. O gás hélio foi usado como gás de arraste. Os dados foram coletados e analisados
com o software Chem Station.
54
0,4 L/min. O ar conduzido para o interior do olfatômetro foi filtrado em carvão ativado,
umidificado e regulado por fluxômetros. Para o escoamento do ar, uma bomba de sucção foi
posicionada no extremo oposto à entrada de ar e regulada com fluxo de 0,4 L/min. Os testes
foram conduzidos em sala climatizada (25 + 1ºC e 70 + 10% UR) a partir das 18h, período de
maior atividade do inseto (TREVISAN, et al., 2010).
Fluxo
B C
55
avaliados os seguintes tratamentos, 1) extrato de aeração de planta na fenofase de mudança
foliar x hexano, 2) extrato de aeração de planta na fenofase de floração x hexano, 3) e extrato
de aeração de planta na fenofase de frutificação x hexano. Foram realizadas 30 repetições para
cada tratamento.
Respostas dos machos e fêmeas nos bioensaios foram analisadas pelo teste Qui-
Quadrado. Para hipótese nula foi considerada de 95% de confiança.
A quantidade total de voláteis emitidos em cada fenofase foi analisada por análise de
variância (ANOVA). O contraste foi realizado efetuando-se a comparação das médias pelo
teste de Tukey (P<0,05). Todos os dados foram analisados com o programa R 2.14.0 (R
Development Core Team, 2009) com nível de significância de p < 0.05.
Para determinar a contribuição de cada composto para o perfil de separação dos
tratamentos em cada tempo avaliado, foram realizadas análises de Variáveis Canônicas
(AVC). Os dados foram analisados com o programa PAST 2.17c, 2013. Esta análise
discriminante fornece uma representação gráfica das variáveis que mais contribuíram para os
níveis de agrupamento dos compostos.
56
3.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
57
a
Figura 1. 4 Compostos orgânicos voláteis totais (média + EP) liberados por plantas de cupuaçuzeiro
nas fenofases de mudança foliar, floração e de frutificação. Médias seguidas pela mesma letra não
diferiram significativamente entre si pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.
M. foliar
Floração
Frutificação
Figura 1. 5 Perfis cromatográficos de plantas de cupuaçuzeiro nas fenofases de mudança foliar (M.
foliar), floração e frutificação. PI: padrão interno. Números correspondem aos compostos da Tabela 1.
58
Tabela 1 Compostos orgânicos voláteis coletados de plantas de cupuaçuzeiro em diferentes
fenofases (média + erro padrão da média em μg no intervalo de 24h).
µg/24h
Compostos* Mudança foliar Floração Frutificação
1. Isoamil acetato - 59.48 + 16.19 -
2. 2-Heptanona - 48.62 + 16.11 -
4. α-Pineno 35.68 + 14.24 45.79 + 20.97 37.87 + 8.93
5. Sabineno 179.32 + 87.35 168.37 + 142.00 -
6. β-Pineno - 52.24 + 7.34 -
7. β-Mirceno 366.99 + 126.31 222.38 + 74.89 56.04 + 18.33
9. Octanal 58.69 + 21.45 135.08 + 18.93 95.28 + 14.75
10. Limoneno 317.62 + 104.25 248.04 + 56.79 58.59 + 10.11
11. (Z) Ocimeno - 10.48 + 2.61 82.85 + 30.46
12. (E) Ocimeno 244.41 + 79.08 1521.89 + 440.11 514.68 + 272.61
13. γ-Terpineno 33.37 + 13.15 17.23 + 2.45 -
14. 2-Nonanona - 130.2 + 46.81 -
15. Terpinoleno 75.18 + 16.79 - -
16. Linalol 105.53 + 30.71 363.54 + 119.11 126.55 + 43.33
18. Nonanal 155.65 + 44.19 225.31 + 32.73 291.67 + 54.43
19. DMNT 354.68 + 123.77 882.82 + 358.56 140.16 + 92.19
20. Alocimeno - - 6.43 + 2.54
23. Salicilato de metila 80.1 + 28.08 208.61 + 30.40 69.29 + 20.73
24. Benzotiazol 114.9 + 38.59 75.13 + 23.99 47.9 + 10.49
26. α-Copaeno - 84.46 + 18.26 149.41 + 47.01
27. cis α-bergamoteno - 38.84 + 6.39 19.38 + 5.03
28. trans α-bergamoteno 526.21 + 138.48
29. β -Cariofileno 327.7 + 116.13 334.09 + 168.41 100.44 + 25.28
30. Sesquiterpeno (fruto)† - - 24.16 + 6.27
31. Sesquiterpeno (fruto)† - - 6.43 + 2.54
32. (Z)- β-farneseno - - 35.6 + 8.61
33. (E)- β-farneseno - - 83.43 + 23.08
35. Germacreno D (folha) 77.73 + 42.76 - -
36. Sesquiterpeno (flor) - 247.21 + 70.03 -
37. (E,E)-α-Farneseno 381.05 + 135.63 3678.07 + 1117.15 -
38.cis-α-Bisaboleno - - 22.35 + 13.53
39. β-Bisaboleno - - 35.12 + 7.80
40. TMTT 128.77 + 55.13 807.54 + 278.46 69.26 + 26.49
1 Valores médios (± EPM) calculados a partir de 20 amostras obtidas na aeração das plantas
de cupuaçuzeiro no intervalo de 24 h. †Tentativa de identificação dos compostos. *Os
compostos 3,8, 17, 21, 22, 25 e 34 ausentes na tabela, representam hidrocarbonetos alcanos
lineares (C9-C24) injetados para calcular IR.
59
Como a produção de compostos nas plantas ocorre através de rotas biossintéticas a
quantidade de compostos sendo produzidas não é uma variável independente (HARE, 2011),
assim sendo optou-se por aplicar uma técnica estatística para análise de dados multivariada
que considera a dependência dos dados.
60
de milho liberam este sesquiterpeno em resposta à alimentação por larvas do
besouro Diabrotica virgifera, uma praga de milho encontrado na Europa (RASMANN et al.,
2005).
61
Figura 1. 6 Análise de Variáveis Canônicas (AVC) indicando a composição dos voláteis de plantas de
cupuaçuzeiro em diferentes fenofases. Os símbolos representam os scores individuais para cada
amostra, calculados a partir da AVC que maximiza as diferenças entre os tratamentos nas duas
dimensões consideradas (CV1 e CV2). As linhas azuis representam os diferentes compostos presentes
nas amostras e seu comprimento, a importância (magnitude relativa) da contribuição de cada composto
para a diferenciação das fenofases. Floração, frutificação e mudança foliar. Os números representam
os compostos 1) Isoamil acetato, 2) 2-heptanona, 4) alpha-pineno, 5) sabineno, 6) beta pineno, 7)
mirceno, 9) octanal, 10) limoneno, 11) (Z)-ocimeno, 12) (E)-ocimeno, 13) γ-terpineno, 14) 2-
nonanona, 15) terpinoleno, 16) linalol, 18) nonanal, 19) DMNT, 20) alocimeno, 23) salicilato de
metila, 24) benzotiazol, 26) α-copaeno, 27) cis-α -bergamoteno, 28) trans- α -bergamoteno, 29) β-
cariofileno, 30) sesquiterpeno (fruto), 31)sesquiterpeno (fruto), 32) (Z)-β-farneseno, 33) (E)- β -
farneseno, 35) germacreno D (Folha) 36) sesquiterpeno (flor), 37) (E,E)α-farneseno, 38) cis- α-
bisaboleno, 39) β –bisaboleno e 40) TMTT .
Os insetos que não escolheram nenhum dos lados do olfatômetro, não foram
considerados na análise estatística. Os adultos utilizados foram do campo, recém coletados
pelo método do sacolejo e alimentados exclusivamente com cana-de-açúcar. Apenas machos
de C. humeropictus responderam preferencialmente à extratos de aerações das plantas do
62
cupuaçuzeiro na frutificação. É provável que nesta fase os machos ao chegarem na planta
hospedeira anunciem, a sua presença para as fêmeas, indicando uma fonte de alimento
disponível nas proximidades para alimentação e oviposição, aumentando suas possibilidades
de atrair e acasalar (LANDOLT; PHILLIPS, 1997). Nos demais bioensaios não foram
observadas respostas significativas, as fenofases mudança foliar e reprodutivo representam os
menos atraentes (Figura 1.7). Machos respondendo para extratos de aeração de plantas na
fenofase de mudança foliar versus hexano (χ2 = 0.533, p = 0.465), machos respondendo para
extratos de aeração de plantas na fenofase de floração versus hexano (χ2 = 0.533, p = 0.465),
machos respondendo para extratos de aeração de plantas na fenofase de frutificação versus
hexano (χ2 = 4.551, p = 0.033), fêmeas respondendo para extratos de aeração de plantas na
fenofase de mudança foliar versus hexano (χ2 = 0.533, p = 0.465), fêmeas respondendo para
extratos de aeração de plantas na fenofase de floração versus hexano (χ2 = 2.133, p = 0.144),
fêmeas respondendo para extratos de aeração de plantas na fenofase de frutificação versus
hexano (χ2 = 1.125, p = 0.288).
63
Tais respostas sugerem que as diferenças entre as proporções dos compostos liberados
tenham sido suficientes para que machos de C. humeropictus distinguissem os voláteis da fase
de fruto. No entanto, a função individual e/ou conjunta destes compostos ainda precisa ser
avaliada, afim de esclarecer o mecanismo de comunicação química no sistema
Conotrachelus-cupuaçuzeiro. Nesse sentido, esse estudo identificou o perfil químico de
voláteis produzidos por plantas de cupuaçu e que as mudanças na proporção dos compostos e
produção de sesquiterpenos e homoterpenos podem estar relacionados com a atratividade de
C. humeropictus. Estudos futuros usando eletroantenografia e soluções sintéticas dos
compostos poderiam comprovar essa hipótese, em direção à identificação dos semioquímicos
envolvidos na provável atração da broca pela planta hospedeira.
Extratos de
Macho Controle Tratamento aeração
*
Hexano (1) Frutificação
ns
Hexano (3) Floração
ns
Hexano (9) M. foliar
ns
Fêmea Hexano (9) Frutificação
ns
Hexano (8) Floração
ns
Hexano (4) M. foliar
64
3.2. CONCLUSÕES
65
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70
Capítulo II
71
4. Extração e identificação do feromônio de agregação de Conotrachelus humeropictus
Fiedler, 1940 (Coleoptera: Curculionidae) oriundos de pomares de cupuaçu no
Estado do Amazonas.
RESUMO
72
Extraction and identification of the aggregation pheromone of Conotrachelus
humeropictus Fiedler, 1940 (Coleoptera: Curculionidae) from cupuassu orchards in the
State of Amazonas.
SUMMARY
73
4.1. INTRODUÇÃO
O cultivo do cupuaçu é visto como uma das mais importantes atividades agrícolas da
região Amazônica do Brasil em função da grande aceitação no mercado interno e externo da
polpa in natura ou processada (SAID, 2011; VENTURIERI, et al., 1985; MULLER;
CARVALHO, 1997).
Atualmente, a cultura do cupuaçu (Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.)
Schum, Malvaceae) ocupa a quarta posição em área plantada das lavouras permanentes no
Amazonas (5.536 ha). Compõe lista de produtos cuja produção é relevante em âmbito
regional, ao lado do açaí (Euterpe oleracea), pupunha (Bactris gasipaes) e graviola (Annona
muricata) (ALMUDI; PINHEIRO, 2015).
Entretanto, nas últimas duas décadas, estudos apontam para o aumento gradativo dos
níveis de infestações de larvas de Conotrachelus humeropictus em cultivos no Amazonas,
com valores superiores a 50% de frutos brocados (LOPES; SILVA, 1998). Vários fatores são
responsáveis por essa redução, entre eles se destaca a broca-do-fruto (GARCIA et al., 1997).
As larvas de C. humeropictus são responsáveis pelos danos diretos, em decorrência da
formação de galerias, da destruição da polpa, das sementes e da contaminação interna dos
frutos verdes. Os danos indiretos são causados pelos microrganismos e insetos oportunistas
que penetram através dos furos no epicarpo construídos pelas larvas (TREVISAN; MENDES,
1991).
Os agricultores que se dedicam ao cultivo do cupuaçuzeiro reconhecem a importância
de novas tecnologias que possam auxiliar no controle de pragas como forma de evitar perdas
significativas dos plantios. Todavia, normalmente se deparam com a escassez de informações
ou métodos de controle eficientes para a broca-do-fruto (SAID, 2011).
Notadamente, os aspectos fitossanitários quando incipientes, podem comprometer o
desenvolvimento das culturas. As medidas preventivas, atualmente empregadas ao controle da
broca-do-cupuaçu (cultural e químico, p.ex.) ainda reservam espaços para o uso de feromônio
e outros semioquímicos no manejo integrado de pragas. Nesse sentido, a pesquisa por novas
alternativas para o controle de pragas tem se intensificado e a busca por moléculas com uma
atividade inseticida mais seletiva, com menor toxicidade ao ambiente e as espécies não alvo e
ao homem têm sido priorizadas (GOULART, 2015). Os registros da literatura dão conta da
existência de diversos compostos feromonais em distintas espécies de curculionídeos.
74
A maioria dos feromônios para esta família é produzido pelos machos. No geral,
atraem ambos os sexos, por isso são conhecidos como feromônios de agregação. (HOCK et
al., 2014; TEWARI et al., 2014; AMBROGI et al., 2009; SEYBOLD; VANDERWEL, 2003).
Entre as espécies do gênero Conotrachelus com o feromônio de agregação isolado,
sintetizado e testado, destaca-se C. nenuphar. Machos de C. nenuphar produzem como
feromônio de agregação o composto; ácido grandisoico. Testes de campo revelaram que tanto
a mistura racêmica do ácido grandisoico como os enantiômeros puros, atraem machos e
fêmeas desta espécie. Armadilhas desenvolvidas para o monitoramento de C. nenuphar
(gorgulho da ameixa) iscadas com semioquímicos (feromônio e voláteis de planta) têm
apresentado boa eficiência na coleta do gorgulho (C. nenuphar) em pomares de ameixa, maçã
e pera (PROKOPY et al., 2003; TUMLINSON et al., 1969; LESKEY; WRIGHT, 2004).
Os resultados alcançados nesta área de conhecimento ainda são pontuais e restritos a
esforços isolados. No Amazonas, a identificação do feromônio e a avaliação da atividade
comportamental, para o controle da broca-do-fruto do cupuaçuzeiro, são etapas que o presente
estudo objetiva responder no âmbito do manejo integrado de pragas.
75
Os adultos foram mantidos em dieta natural composta por pedaços frescos de cana-de-
açúcar, (aproximadamente 10 cm de comprimento do colmo repartido em quatro partes)
trocados a intervalo de dois dias. Especificamente, no ano de 2017, além do método descrito
acima, os adultos também foram coletados por meioA do sacolejo. No método do sacolejo uma
tela de preferência de cor clara é estendida no chão, na projeção da copa da árvore que, em
seguida, é sacudida. Em função dos adultos apresentarem comportamento de tanatose quando
se sentem ameaçados, eles são coletados no momento em que se jogam ao chão sob a tela
fingindo-se de mortos (TREVISAN, 1989).
Após a coleta pelo método do sacolejo, os adultos foram transportados até o
Laboratório de Entomologia da Embrapa Amazônia Ocidental, separados por sexo e mantidos
em placas de Petri, em grupos de até 10 indivíduos em dieta de cana-de-açúcar.
A separação dos sexos foi feita com base em observação da região esternal do último
segmento abdominal (Figura 2.2). Os machos apresentam seis segmentos abdominais
contendo uma depressão na área central do último segmento. As fêmeas, apresentam cinco
segmentos e, no último, além de uma depressão central, encontram-se duas depressões laterais
(SILVA; ALFAIA, 2004; MENDES,1989). Os voucher specimens estão depositados na
coleção entomológica permanente da Embrapa Amazônia Ocidental.
A B
C D
Figura 2. 1 Área experimental utilizada para coleta de insetos e voláteis de plantas de cupuaçu. Área experimental utilizada
para coleta de insetos e voláteis de plantas de cupuaçu. Estação Experimental da Embrapa Amazônia Ocidental, Km 29 da
rodovia AM 010. Pomar Nagibão (2°53'17.39"S; 59°57'59.22"O). A e B, vista aérea do pomar Nagibão e sua dimensão em
volta da floresta. C, plantas de cupuaçu e D, sacolejo de plantas de cupuaçu localizadas na borda da floresta.
76
♂ ♀
Figura 2. 2 Vista inferior do abdome de macho e fêmea de C. humeropictus. Separação dos sexos com base em observação
da região esternal do último segmento abdominal.
A B
78
splitless. O gás hélio foi usado como gás de arraste. Os dados foram coletados e analisados
com no software ChemStation.
A identificação dos compostos orgânicos voláteis foi realizada por comparação do
padrão de fragmentação dos componentes da amostra com o de dados catalogados em
bibliotecas espectrais (NIST 2008) e também pelo cálculo do índice de retenção (IR). Para
calcular o IR, uma mistura de hidrocarbonetos alcanos lineares (C8-C26) foi injetada nas
mesmas condições descritas anteriormente. Para a confirmação final, o padrão de
fragmentação e o IR dos compostos foram comparados com os dados obtidos da coinjeção de
padrões autênticos com as amostras, quando havia o padrão disponível.
79
4.2.5. Configuração absoluta do ácido grandisoico produzido por C. humeropictus
80
Para avaliar a atratividade de machos e fêmeas em laboratório para odores de insetos
adultos vivos, extratos de aeração de adultos e os compostos macho-específico sintético, foi
utilizado um olfatômetro em “Y” manufaturada em acrílico (26 x 23 cm), com uma cavidade
em forma de “Y” (corpo 12 cm e braços 10,5 cm), mantida entre duas placas de vidros de
mesmas dimensões, um translúcido na parte inferior e o outro transparente na parte superior,
prensados por clipes de papel (MORAES et al., 2005). Seringas de vidro (10 mL) onde foram
colocados os odores a serem testados, foram conectadas a cada braço do olfatômetro através
de mangueiras de silicone (Figura 2.4). Neste sistema, um fluxo contínuo de ar umidificado e
filtrado em carvão ativo atravessa os dois braços do tubo até a extremidade oposta (Sentido B
e C para A). No lado oposto, um único adulto, macho ou fêmea, da broca-do-cupuaçuzeiro foi
introduzido na área de liberação do olfatômetro, no extremo oposto à corrente de ar, e seu
padrão de procura foi registrado durante dez minutos. Foram considerados como não
responsivos os insetos que não se movimentavam nos primeiros 5 min de observação. Foram
avaliados a primeira escolha (considerada quando o inseto entrou e permaneceu em um dos
braços por pelo menos 20 s). Os testes foram realizados durante o período de maior liberação
do feromônio (18:00 ás 00:00), usando o olfatômetro em posição horizontal. Cada adulto foi
usado apenas uma vez e os filtros de papel contendo 10µL de extratos e/ou solução sintética
foram trocados a cada cinco repetições, quando a posição dos braços era invertida entre
tratamento. Foram realizadas 30 repetições com resposta, para machos e para fêmeas. Em
todos os bioensaios com solução sintética foi utilizado uma concentração de 0.01mg/mL.
A resposta comportamental de machos e fêmeas foi avaliada com os seguintes
tratamentos: 1) odor de machos vivos versus ar, 2) odor de fêmeas vivas versus ar, 3) voláteis
de extrato de aeração de machos versus ar, 4) voláteis de extrato de aeração de fêmeas versus
ar, 5) septo impregnado com 2 mg de ácido grandisoico versus ar, 6) solução sintética de
ácido grandisoico versus grandisolactona, 7) solução sintética de grandisolactona versus ar, 8)
solução sintética de ácido grandisoico + grandisolactona versus ar, 9) solução sintética de
ácido grandisoico + grandisol versus ar e 10) solução sintética de ácido grandisoico +
grandisol versus solução sintética de ácido grandisoico.
81
Fluxo
B C
82
Figura 2. 5 Olfatômetro em “Y” adaptado, vidraria anti-splash.
83
4.2.8. Teste de campo
84
A B
Figura 2. 6 Armadilhas utilizadas para captura dos insetos. A - armadilha tipo pirâmide, utilizada no
campo, adaptadas contendo um septo impregnado, B - Localização da armadilha em relação a planta
de cupuaçuzeiro.
Respostas dos machos e fêmeas nos bioensaios foram analisadas pelo teste Qui-
Quadrado. Para hipótese nula foi considerada de 95% de confiança. Todos os dados foram
analisados com o programa R 2.14.0 (R Development Core Team, 2009) com nível de
significância de p < 0.05. Não houve captura de insetos nas armadilhas colocadas no campo,
assim sendo não foi possível analisar os dados estatisticamente.
85
4.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As análises dos extratos de aeração dos insetos, machos e fêmeas virgens, obtidos dos
frutos e criados em laboratório, durante os anos de 2015, 2016 e 2017 não revelaram a
liberação de feromônio. Esse fato, pode ser explicado a luz da chamada lógica do pensamento
ecológico nutricional de insetos, ou seja, o inseto atinge seu potencial fisiológico máximo no
desempenho de suas atividades biológicas, com consequente contribuição reprodutiva para a
próxima geração ao nível máximo quando dispõem de condições ideais de fatores abióticos e
bióticos, alimento em abundância e de elevada qualidade nutricional (PANIZZI; PARRA,
2009; HOCK et al., 2014; TREVISAN et al., 2010).
Os insetos mantidos no laboratório tiveram dieta constituída exclusivamente de cana-
de-açúcar, o que pode, segundo essa teoria, ter comprometido a emissão dos compostos
feromonais. As informações sobre a influência da quantidade e qualidade do alimento
ingerido, nas fases jovem e/ou adulta, sobre emissão e percepção de feromônios em insetos,
de modo geral, ainda são escassas (HARDEE, 1970). Porém, Scriber e Slansky (1981)
asseguram que os seres vivos em geral são um reflexo do que consomem e, no caso dos
insetos, muitos aspectos de sua biologia, incluindo o comportamento, a fisiologia e a ecologia
estão, de uma ou outra maneira inserida num contexto nutricional. Para Lima e Della Lucia
(2001), a síntese do feromônio pode ser contínua, porém a liberação e percepção no ambiente
são controladas pelo estado fisiológico dos insetos e por condições climáticas e ambientais.
Somente em extratos de aeração C. humeropictus oriundos do campo, coletados pela
técnica do sacolejo, na safra (janeiro a março) de 2017, foi possível identificar a liberação de
feromônio, por meio da comparação dos perfis cromatográficos dos extratos de aeração de
machos e fêmeas. É provável que os componentes nutricionais assimilados por estes insetos
em ambiente natural, possam ter contribuído para esta liberação feromonal, além de outros
fatores já mencionados.
Essas comparações demonstraram a presença de três compostos específicos do macho,
o majoritário ácido grandisoico 2,1-metil-2-(prop-1-en-2-il)ciclobutil) ácido acético, e dois
minoritários grandlure I (Z)-2-Isopropenil-1-metilciclobutanoetanol e grandlure II (Z)-2-(3,3-
Dimetilciclohexilideno)-etanol. Os compostos tiveram sua estrutura química definida e foram
confirmados através da comparação do espectro de massas e do tempo de retenção com as
86
injeções de padrões sintéticos (Figura 2.8 e 2.9). Esses resultados coadunam com estudos
sobre feromônios já identificados para Conotrachelus nenuphar (ELLER, BARTELT, 1996) e
C. humeropictus em populações do estado de Rondônia. (SZCZERBOWSKI, 2016).
87
Figura 2. 8 Perfil cromatográficos do extrato de aeração obtidos na análise de CG-DIC com injetor
splitless. A. fêmeas de C. humeropictus + cana de açúcar, B. machos de C. humeropictus + cana de
açúcar. C) cana-de-açúcar, 1) undecano, 2) nonanal, 3) dodecano, 4) decanal, 5) grandlure I, 6)
grandlure II, 7) tridecano, 8) ácido grandisoico, 9) grandisolactona proveniente da degradação do
ácido grandisoico no injetor splitless.
Figura 2. 9 Estrutura química dos três compostos identificados no extrato de aeração de machos de C.
humeropictus.
88
68
11500
10500 A
OH
9500
8500
Abindância
7500
108
6500
5500
4500
3500 55
2500 41 94
1500 82 139
122 148
500 131
0 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220
m/z
6500
69 B OH
6000
5500
5000 136
93
4500
Abindância
4000 121
3500 41
3000 79
2500
2000
55 107
1500
1000 154
500 163
47
0 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170
m/z
68
3000000 HO
2600000 C O
2200000
Abundância
1800000
1400000
1000000 108
600000 41 53
125
79 93
200000
0
30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180
m/z
Figura 2. 10 Espectro de massas dos três compostos específicos dos machos. A. grandlure I, B
grandlure II e C ácido grandisoico.
89
Quando os extratos foram injetados no injetor cool-on-column o pico 9 não foi
observado (Figura 11). No injetor cool-on-column a amostra é injetada diretamente na coluna,
que não tem o liner de vidro, e além disso a temperatura do injetor está programada para
40oC., diferente do injetor splitless que tem o liner de sílica e as injeções são realizadas em
alta temperatura para auxiliar na volatilização a 250oC. O liner com o uso pode tornar-se
ligeiramente ácido e, com a temperatura alta do injetor pode provocar reações dentro do liner.
Era isso que estava ocorrendo. O ácido grandisoico estava decompondo e formando o
grandisolactona (Figura 2.8).
90
injetado era composto de dois isômeros (1S,2R) e (1R,2S) (Figura 2.12A). Usando o mesmo
tipo de coluna e condições de corrida de Szczerbowski et al. (2016) a análise mostrou que o
isômero (1S,6S)-grandisolactona elui primeiro que o seu enantiômero (1R,6R).
Assim, ao injetar o extrato de aeração de machos de C. humeropictus observou-se que
somente um pico correspondente a grandisolactona foi formado (Figura 2.12B), e pelo tempo
de retenção e em comparação ao que foi descrito por Sczerbowski et al. (2016) foi
determinado que a grandisolactona formada pela degradação do ácido grandisoico é (1R,6R) e
portanto o ácido grandisoico produzido pelos machos da população de Manaus tem a
configuração absoluta (1R,2S) (Figura 2.12C). Não foi possível identificar a configuração
absoluta do grandlure I e II devido a presença destes compostos a nível de traços.
A configuração absoluta do composto ácido grandisoico liberado por C. humeropictus
(1R,2S), também foi descrita para a espécie C. nenuphar (ELLER, BARTELT, 1996). Nesta,
o feromônio produzido por machos é o enantiômero (+) do ácido grandisoico e atrai ambos os
sexos e cepas (ELLER; BARTELT, 1996). No entanto, Hock et al. (2017) destacam outros
estudos em que a mistura racêmica produzida sinteticamente de ácido grandisoico contendo
quantidades iguais dos enantiômeros (+) como (-), também foi atraente (PIÑERO et al.,
2001), fracamente atraente (PIÑERO; PROKOPY, 2003; LESKEY; WRIGHT, 2004) e pouco
atraentes (LESKEY; PROKOPY, 2000; AKOTSEN-MENSAH, 2010).
O fato de o inseto produzir dois compostos derivados, com a mesma configuração
absoluta, evidencia a tendência do inseto a percorrer o caminho de menor gasto energético
durante a síntese natural de moléculas necessárias para sua comunicação (SEYBOLD;
WANDERWEL, 2003).
91
Figura 2. 12 Análise em CG-quiral do A) ácido grandisoico, B) extrato de aeração de 55 machos de
C. humeropictus, C) co-injeção do ácido grandisoico com o extrato de aeração de 55 machos. 1)
(1S,6S)-grandisolide, 2)(1R,6R)-grandisolide, 3) ácido grandisoico, 4) geranil acetona.
A análise quantitativa mostrou que um inseto libera uma média de 2.86 ± 1.01
ng/inseto de ácido grandisoico por dia. As análises da periodicidade de emissão dos
compostos demonstraram que a liberação de feromônio de C. humeropictus ocorre de forma
mais intensa durante a escotofase (1.41 ± 0.35 ng/inseto) (Figura 2.13).
Observações em laboratório, campo e em estudos de biologia de C. humeropictus
apontam que o período noturno é o de maior atividade biológica do inseto (LOPES, 2000,
TREVISAN et al., 2010; OLIVEIRA, 1998). Segundo Lopes (2000), durante a noite os
besouros locomovem-se mais, demostrando ser uma atividade preferencial desenvolvida no
horário noturno, marcada principalmente por caminhamento e ocasionalmente por voos
curtos. Esse comportamento já foi relatado para C. psidii Marshall 1922 e Conotrachelus
nenuphar Herbst, 1797 (Coleoptera; Curculionidae) (RACETTE et al., 1992) e pode está
relacionado com capturas de maior intensidade durante a noite em estudo de atratividade de
C. nenuphar em armadilhas (LAMOTHE, 2008). Uma vez que a liberação de feromônio da
espécie C. humeropictus ocorre principalmente durante o período noturno, confirma-se assim
a hipótese inicial.
92
Figura 2. 13 Emissão média do composto ácido grandisoico por machos de C. humeropictus, durante
a escotofase e fotofase (F2,12= 4,425, p= 0,03088). Colunas seguidas de letras distintas diferem
significativamente (teste Tukey; P<0,05) (n = 6).
93
para não resposta dos insetos, tendo em vista, que o grandisol é reconhecidamente um
componente feromonal de muitas espécies de curculionídeos (AMBROGI et al., 2009).
Não foi observada atratividade significativa nas respostas de machos e fêmeas para os
tratamentos com odor de insetos vivos e extratos de aeração de insetos adultos; odor de
insetos vivos (machos) x ar, para machos (χ2 = 2.080, p = 0144); odor de insetos vivos
(machos) x ar, para fêmeas (χ2 = 0.133, p = 0.715); odor de insetos vivos (fêmeas) x ar, para
machos (χ2 = 2.080, p = 0.144); odor de insetos vivos (fêmeas) x ar, para fêmeas (χ2 = 0.133,
p = 0.715); extratos de aeração de insetos (machos) x ar, para machos (χ2 = 0.133, p =
0.715); extratos de aeração de insetos (machos) x ar, para fêmeas (χ2 = 3.33, p = 0.067);
extratos de aeração de insetos (fêmeas) x ar, para machos (χ2 = 0.533, p = 0.465); extratos de
aeração de insetos (fêmeas) x ar, para fêmeas (χ2 = 0.133, p = 0.715) (Figura 14).
Machos
Controle Tratamento
ns
Hexano (0) Extrato de fêmea
ns
Ar (0) Odor de fêmea1
ns
Hexano (3) Extrato de macho
ns
Ar (10) Odor de macho1
ns
Fêmeas Hexano (5) Extrato de fêmea
ns
Ar (3) Odor de fêmea1
ns
Hexano (2) Extrato de macho
ns
Ar (7) Odor de macho1
94
planta hospedeira, temperatura, fotoperíodo, intensidade luminosa, umidade relativa e
condições atmosféricas (LIMA; DELLA-LUCIA 2001; PANIZZI; PARRA, 2009).
De acordo com Altafini et al. (2010), em lepidópteros, a idade de machos, pode ser
uma característica endógena relevante na comunicação intraespecífica. Segundo os autores, é
constatado que, no campo, machos de lepidópteros exibem níveis crescentes de percepção ao
feromônio durante os primeiros dias após a emergência, havendo um decréscimo de respostas,
em insetos mais velhos.
Contudo, os resultados obtidos até o momento ainda são insuficientes para se explicar
sobre os possíveis efeitos da idade e alimentação de C. humeropictus na síntese e emissão de
feromônio.
Nos bioensaios com soluções sintéticas (Figura 2.15) foram usados machos e fêmeas
da coleção estoque com idade entre 90 – 120 dias. A concentração de cada solução foi de 0,01
mg.ml e a quantidade impregnada em cada papel foi de 10 µL.
95
grandisolactona, para machos (χ2 = 2.133, p = 0.144); ácido grandisoico x grandisolactona,
para fêmeas (χ2 = 0.133, p = 0.715); ácido grandisoico + grandisolactona x ar, para machos
(χ2 = 0.533, p = 0.465); ácido grandisoico + grandisolactona x ar, para fêmeas (χ2 = 2.133, p
= 0.144); ácido grandisoico + grandisol x ar, para machos (χ2 = 2.133, p = 0.144); ácido
grandisoico + grandisol x ar, para fêmeas (χ2 = 2.133, p = 0.144); ácido grandisoico +
grandisol x ácido grandisoico, para machos (χ2 = 0, p = 1) e ácido grandisoico + grandisol x
ácido grandisoico, para fêmeas (χ2 = 0.133, p =0.715).
É provável que a concentração das soluções utilizadas além da idade dos insetos
tenham sido determinantes na manifestação da pouca resposta dos insetos nesse estudo e,
devem ser melhor elucidados. Alguns trabalhos asseguram que a concentração e a proporção
de odores individuais colocados em uma combinação demonstraram ser um fator muito
importante C. nenuphar (LESKEY et al., 2001; LESKEY; PROKOPY, 2001). Além disso,
Gilblin-Davis et al. (1996) destacam que em algumas ocasiões a resposta aos feromônios é
mais acentuada quando estes são associados com cairomônios vegetais. Segundo Viana
(1992), em Cosmopolites sordidus, os adultos são atraídos com maior eficácia por voláteis
liberados por machos, fêmeas e rizomas da bananeira.
Outra questão a ser considerada nos bioensaios com soluções sintéticas é que a
grandisolactona, constatada nesse estudo, é um produto da degradação do ácido grandisoico
dentro do liner, o que provavelmente, não constitui o feromônio dessa espécie, logo não foi
percebida pelos insetos nos bioensaios.
Controle Tratamento
ns
Machos
Sol. AG (13) Sol.AG + GSOL
ns
Hexano (32) Sol.AG + GSOL
ns
Hexano (29) Sol.AG + Glactona
ns
Hexano (22) Sol.AG x Glactona
ns
Hexano (15) Sol. Glactona
ns
Ar (3) AG (septo)
ns
Sol.AG (21) Sol.AG + GSOL
Fêmeas
ns
Hexano (40) Sol.AG + GSOL
ns
Hexano (20) Sol.AG + Glactona
ns
Hexano (19) Sol.AG x Glactona
ns
Hexano (33) Sol. Glactona
Ar
*1
(2) AG (septo)
97
indica diferença significativa entre os tratamentos pelo teste de Qui-quadrado (χ²), onde: *, 0,05> p
>0,01. ns: não significativo. Números entre parentes representam os bioensaios com insetos que não
responderam aos estímulos odoríferos.
Controle Tratamento
Machos
Ar ns (2) AG (Manaus)
ns (9) AG (Brasília)
Ar
Fêmeas Ar
ns (9) AG (Manaus)
*
Ar (9) AG (Brasília)
98
Figura 2. 17 Resposta de uma antena de fêmeas de C. humeropictus à solução sintética de 0.01
mg/mL de ácido grandisoico. Análise por CG-EAD.
100
fruto hospedeiro, demonstrando aumentar a captura para alguns tratamentos (PROKOPY et
al., 2003).
Não restam dúvidas quanto a necessidade de continuidade de estudos da ecologia
química da broca-do-cupuaçu, tanto a nível de laboratório quanto de campo. Estudos como
este podem gerar ferramentas de inestimável benefício para o meio ambiente e para o
produtor no manejo integrado desta praga.
4.2. CONCLUSÕES
Os resultados obtidos neste trabalho indicam que feromônios produzidos pelos machos
de C. humeropictus coletados de população do Amazonas, na região de Manaus é constituído
do composto majoritário ácido grandisoico e, dos compostos minoritários grandilure I e
grandilure II. A liberação desse feromônio ocorre em maior quantidade durante o período
noturno, o que faz sentido, uma vez que estes insetos tem hábito noturno, movimentando e
acasalando durante à noite.
Os bioensaios com fêmeas em laboratório mostraram atratividade significativa ao
ácido grandisoico quando impregnado em septo de borracha. Em função desse resultado,
abre-se uma grande perspectiva quanto ao uso desses compostos no campo como alternativa à
serem empregados no manejo integrado de C. humeropictus.
Os resultados obtidos são de grande importância, porque deram “início” ao estudo da
ecologia química da broca-do-fruto do cupuaçu. Com a descoberta do feromônio dessa
espécie novos estudos devem ser realizadas tanto a nível de laboratório quanto de campo. Para
o sucesso dessa estratégia no efetivo controle da espécie dentro de um contexto de MIP, é
necessário que esse trabalho tenha continuidade.
101
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106
Capítulo III
107
5. Avaliação do nível e intensidade de infestação natural de Conotrachelus
humeropictus Fiedler (Coleoptera: Curculionidae) em pomar de cupuaçuzeiro.
RESUMO
108
Evaluation of the level and intensity of natural infestation of Conotrachelus
humeropictus Fiedler, 1940 (Coleoptera: Curculionidae) in a cupuassu orchard.
SUMMARY
In the cupuassu culture (Theobroma grandiflorum) the cupuassu fruit borer (Conotrachelus
humeropictus) is from the phytosanitary point of view the main pest. Though there is
information on the level of infestation of this borer in cupuaçu orchards, studies are still
needed that imply more accurate and updated information about the potential damage of this
pest to this crop. The analysis of the level the intensity and infestation of the fruit-borer
allows inferences about the damages in the productivity and as subsidies to the producers for
the adoption of measures of control. The research was carried out in a cupuassu orchard with
fruit borer incidence, at the Experimental Station of Embrapa Western Amazon, located at
Km 29 of the highway AM 010, Manaus, Amazonas (2o53 'S and 59o58' W), in the period
from january to december 2017. The samples were represented by fruits collected from thirty
plants with an approximate age of twenty years, selected at the beginning of the crop. The
fruits were collected three times for month. The fruits were characterized as healthy (without
larvae or holes) and brocade (with larvae or holes per fruit), calculating the level of infestation
(NI) of the borer in the evaluated plants. During this same period and in the same plants, the
surveying and monitoring of adults of the borer was realized by shaking the tree branches.
The highest level of infestation was observed in plants located around the forest, where
approximately 91% of adult insects were also present. The level of infestation during the crop
42%, with an average of four larvae per fruit. Adults of C. humeropictus were collected in all
months of the year, with lower levels than during the crop period. These data confirm
previous studies and emphasize the importance of the effective control techniques for this pest
in the region.
109
5.1. INTRODUÇÃO
Estudos desenvolvidos por Said (2011) sobre aspectos culturais e potencial de uso do
cupuaçu no estado do Amazonas, assinalam para um possível declínio da cultura na região,
visto que há descrença por parte dos produtores com o cultivo da espécie. Segundo o autor, os
produtores de cupuaçu sentem-se desestimulados a manterem seus cultivos por não
conseguirem combater a proliferação das pragas e doenças que afetam a planta (SAID, 2011;
LOPES; SILVA, 1998). O estudo não revela a proporção do desestímulo devido
especificamente a broca, mas, ressalta que é altamente recomendável o investimento em
pesquisas que visem práticas culturais como manejo da fertilidade do solo e controle de
pragas e doenças para que a cultura volte a ter índices elevados de produtividade.
Nesse sentido, não restam dúvidas da importância de estudos que visem a avaliação
dos níveis de infestação e monitoramento de insetos adultos no campo para dar suporte ao
agricultor quanto ao manejo desta praga. Estudos como este podem resultar em ferramentas
valiosas, pois permitem o estabelecimento de táticas de controle condizentes com o
comportamento do inseto praga no campo.
110
5.2. MATERIAL E MÉTODOS
111
sexados e levados ao laboratório de entomologia agrícola da Embrapa Amazônia Ocidental,
onde foram mantidos em placa de Petri, em grupos de no máximo 10 indivíduos e
alimentados com cana-de-açúcar.
A
A B
C D
O nível de infestação alcançou 46% dos frutos produzidos durante a safra, com média
de 4 brocas por fruto (Tabela 3.1). Praticamente, metade da produção de frutos foi
comprometida com o ataque da broca. O que normalmente acontece com pomares antigos de
cupuaçu e atacados por C. humeropictus.
A maior porcentagem de infestação da broca ocorreu no mês de abril (78%) que
também apresentou a maior intensidade de infestação (4,62 + 0,84 larvas/fruto). Ressalta-se
porém, que as fêmeas de C. humeropictus ovipõem em frutos a partir de dois meses de idade,
portanto, no início da frutificação que acontece nos meses de novembro a dezembro
112
(TREVISAN, 1989; TREVISAN et al., 2011; SILVA et al., 2016). A aferição da presença de
larvas nesta fase inicial de desenvolvimento dos frutos de cupuaçu, torna-se extremamente
difícil. Assim, o registro de infestação desta broca torna-se mais exequível quando os frutos
de cupuaçu estão totalmente maduros; fase em que caem ao solo.
A porcentagem de frutos atacados teve um pico em janeiro (59%) e abril (78%)
coincidindo com os valores de No médio de larvas/fruto de 4,54 e 4,62, respectivamente
(Tabela 3.1).
A maior percentagem de frutos brocados no mês de abril, pode ser explicado pela alta
população de insetos adultos obtidos na copa das plantas nos meses de janeiro a março
(Figura 3.4). Especificamente no mês de abril os frutos permaneceram sob a copa da árvores e
ao final do mês foram quebrados. Provavelmente esse período, sob a copa das árvores, foi
suficiente para o completo desenvolvimento e saída das larvas dos frutos, consequentemente
melhor aferição do número de larvas pelo número furos presentes, tendo em vista que em
diversos frutos recém colhidos e quebrados não se constata a presença de furos e/ou larvas
pequenas (não visíveis) (TREVISAN; MENDES, 1991; MENDES et al., 1997; AGUILAR;
GASPAROTTO, 1999). O número de larvas que abandonam os frutos, medido pelo número
de orifícios de saídas pode ser o dobro do número de larvas presentes no fruto (THOMAZINI,
2002).
Tabela 3. 1 Número total de frutos infestados, número total de insetos adultos coletados no
sacolejo, média de larvas de Conotrachelus humeropictus e de orifícios de saída de larvas por
fruto de cupuaçu, em área experimental da Embrapa Amazônia Ocidental. Manaus, AM. 2017
113
Nas plantas próximas a mata, a infestação foi de 53% contra 41% das plantas
localizadas no interior do pomar (Tabela 2). Esses dados corroboram com outros estudos
realizados por Laker e Trevisan (1992), Oliveira (1997), Lopes e Silva (1998), Aguiar (1999)
e Thomazini (2002).
Mar 230 77 33 63 93 29 31 02
Abr 58 44 76 35 47 38 81 04
114
Figura 3. 2 Número total de machos e fêmeas adultos de C. humeropictus coletados no período de
janeiro a dezembro de 2017, amostradas pelo método do sacolejo, em 30 cupuaçuzeiros componentes
de um monocultivo, com e sem mata ao redor. Manaus, AM.
115
Figura 3. 4 Levantamento e monitoramento de adultos de Conotrachelus humeropictus no período de
janeiro a dezembro de 2017, amostradas pelo método do sacolejo, em 30 cupuaçuzeiros componentes
de um monocultivo. Manaus, AM.
116
Figura 3. 5 Levantamento e monitoramento físico de adultos de Conotrachelus humeropictus em
plantas adjacentes a mata e dentro do pomar, no período de janeiro a dezembro de 2017, amostradas
pelo método do sacolejo, em 30 cupuaçuzeiros componentes de um monocultivo. Manaus, AM.
117
Fica evidente o elevado nível de infestação natural desta praga constatado neste
estudo. Para Aguilar (1999), isso compromete a produtividade da cultura exigindo
conhecimento e aplicações de técnicas agroeconômicas para que seja obtida produtividade de
melhor qualidade e quantidade a fim de cobrir os investimentos realizados, e assim suprir o
mercado consumidor e oferecer lucros aos produtores.
O número elevado de insetos adultos coletados no campo durante a pesquisa, revela
que do ponto de vista metodológico o sacolejo pode ser adotado como uma alternativa para o
levantamento e monitoramento físico de adultos de C. humeropictus.
5.2. CONCLUSÕES
Como a maioria dos insetos adultos está relativamente próxima da borda da floresta, a
estratégia de controle desta broca deve focar nas plantas situadas nos primeiros 10 m de mata
adjacentes.
118
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121
CONCLUSÕES GERAIS
A broca-do-fruto do cupuaçu pela sua forma e natureza de ataque, constitui numa das
pragas agrícolas mais difíceis de controle efetivo.
Estudos devem ser ampliados, sobre o sincronismo dos compostos químicos atrativos
produzidos por adultos da broca-do-fruto, correlacionando com os aspectos fenológicos e os
compostos químicos liberados pelas plantas de cupuaçuzeiro. Ainda há dúvidas quanto ao
potencial sinérgico dos compostos produzidos pelos insetos e plantas de cupuaçuzeiro e
outros fatores que participam como mediadores e amplificadores das complexas relações intra
e interespecíficas.
Pelos resultados obtidos neste trabalho, abre-se novas perspectivas quanto ao uso
desses compostos, como alternativa de controle e uma ferramenta a ser adotada na estratégia
do manejo integrado de C. humeropictus.
Para o sucesso dessa estratégia no efetivo controle desta broca dentro de um contexto
de MIP, é necessário que pesquisas em ecologia química venham a ter continuidade. Estudos
sobre a biologia e comportamento da broca, além de avaliações individuais e combinadas de
semioquímicos encontrados serão necessários.
122
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