Sistemas para Aproveitamento de Águas de Chuva

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RBRH — Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 16 n.

3 - Jul/Set 2011, 81-93

Avaliação da Qualidade da Água e da Eficácia de Barreiras Sanitárias em


Sistemas para Aproveitamento de Águas de Chuva
Sérgio Henrique Braga de Souza, Suzana Maria Gico Lima Montenegro,
Sylvana Melo dos Santos, Sávia Gavazza dos Santos Pessoa
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
sergiohenrique00@hotmail.com, suzanam@ufpe.br, sylvana@ufpe.br, savia@ufpe.br

Rodolfo L.B. Nóbrega


Universidade Federal de Campina Grande

Recebido: 10/03/10 - revisado: 03/08/10 - aceito: 20/07/11

RESUMO

O uso de cisternas para abastecimento de água das famílias que moram em regiões de escassez de recursos hídricos
constitui uma importante forma alternativa para os moradores dessas localidades, uma vez que se trata de um sistema de
captação e armazenamento que emprega dispositivos simples. Não havendo limitação de abastecimento em relação ao regime
pluviométrico e capacidade de armazenamento da água de chuva, pode-se considerar que os problemas observados no uso de
cisternas referem-se principalmente à qualidade da água, sendo o manejo e o desvio das primeiras águas os principais com-
ponentes de sua deterioração. Visando contribuir para a redução desse cenário, no presente trabalho foi avaliada a aplicabi-
lidade de dispositivos de descarte automático das primeiras águas de chuva como barreiras sanitárias, por meio da investiga-
ção da qualidade da água encaminhada às cisternas. Os resultados obtidos indicaram que os dispositivos de descarte utili-
zados tiveram influência positiva em reduzir substancialmente a concentração de importantes parâmetros indicadores da
qualidade da água, como turbidez, coliformes totais e bactérias heterotróficas totais, configurando-se como eficientes barreiras
sanitárias para melhoria da qualidade da água encaminhada às cisternas. Além disso, verificou-se a influência do tempo de
construção das cisternas e da época do ano, período chuvoso ou período de estiagem, na qualidade da água armazenada.

Palavras-chave: água de chuva, barreiras sanitárias, cisternas, semi-árido.

INTRODUÇÃO cimento, populações difusas, situadas principalmen-


te no interior dos estados nordestinos, tem se servi-
do de cisternas como forma de aproveitamento da
A chuva é o tipo de precipitação mais im- água proveniente da baixa pluviosidade que se con-
portante para a hidrologia por sua capacidade de centra em um curto período do ano.
produzir escoamento, e sua disponibilidade em uma Além das conhecidas dificuldades associadas
bacia durante o ano é o fator determinante para à quantidade de água armazenada nas cisternas
quantificar, entre outros, a necessidade de abaste- (baixos índices pluviométricos e área de captação),
cimento de água para uso doméstico e de irrigação alguns estudos realizados no Semi-árido brasileiro
(Bertoni & Tucci, 2004). (Amorim e Porto, 2003; Brito et al., 2005a) apontam
No que se refere ao Nordeste Brasileiro, ve- também para problemas relacionados com a quali-
rifica-se ao longo do ano um período curto de 3 a 4 dade da água. De acordo com Amorim e Porto
meses com precipitações pluviométricas e um perí- (2003), a atenção com a qualidade vai além do for-
odo longo, geralmente chamado de estiagem, sem a necimento de água de boa qualidade, pois, ao con-
ocorrência de eventos significativos de precipitação. trário de um sistema de água potável tradicional,
A demanda de evaporação é elevada nessa região onde é vedada a entrada de contaminantes, uma
durante todo ano, caracterizando um clima semi- cisterna é um sistema “aberto”, cuja manutenção da
árido. Por esse motivo, é uma região muito carente qualidade é função da consciência e conhecimento
em relação à distribuição de água. prático sobre preservação da qualidade da água, dos
Considerando ainda o baixo nível de aten- consumidores. Embora, em algumas situações, a
dimento por sistemas públicos de águas de abaste- quantidade de água armazenada pelas cisternas seja

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suficiente para suprir as necessidades básicas da água por tubulação. Alguns pesquisadores têm se
comunidade na época da estiagem, essa água nor- dedicado ao estudo da quantidade de água que é
malmente está fora dos padrões de potabilidade necessária ser desviada até a obtenção de valores
(Brito et al., 2005b, Al-Salaymeh et al, 2011). Estu- aceitáveis de parâmetros físico-químicos, como An-
dos realizados por Diniz et al. (1995, 2005), Ceballos necchini (2005) e Melo (2007). De acordo com
et al. (1998) e Tavares (2009), na região rural da Melo (2007), existe grande variação percentual da
periferia da cidade de Campina Grande, estado da qualidade da água de chuva durante os primeiros 5
Paraíba, evidenciaram elevada contaminação fecal milímetros de precipitação, principalmente após o
das águas de pequenos barreiros, olhos d’água e 1º milímetro. O autor ratifica que as primeiras águas
açudes, usados para abastecimento humano sem da chuva realmente promovem a limpeza da atmos-
tratamento prévio e usos domésticos em geral. Além fera, e que a partir de certa quantidade da precipi-
disso, ao investigar hábitos de higiene de pessoas tação, a água se torna de excelente qualidade e com
residentes no Nordeste brasileiro, Gomes et al. valores estáveis. Annecchini (2005) mostrou redu-
(2002) concluíram que a população estudada apre- ções significativas dos parâmetros analisados (con-
sentou condições sanitárias muito pobres, bem co- dutividade elétrica, acidez, cloretos, sulfatos, nitro-
mo hábitos de higiene inadequados. De acordo com gênio amoniacal, nitrato e nitrito) do primeiro para
os autores, apenas 18% das casas têm água encanada o terceiro milímetro inicial de chuva. A autora anali-
e 46% têm banheiros; além disso, em 77% das resi- sou ainda outros parâmetros e concluiu que, para as
dências criam-se porcos que estão frequentemente análises realizadas nas caixas de descarte de primei-
em contato com humanos. Estudos similares foram ras águas e nas cisternas, o aumento do volume de
realizados por Al-Salaymeh et al. (2011), que moni- descarte da primeira chuva, melhorou a qualidade
toraram durante o período de dezembro de 2007 a da água que vai para a cisterna.
abril de 2008 um total de 100 amostras de água cole- Assim sendo, este trabalho teve como objeti-
tadas de cisternas semanalmente, variando de 4 a 12 vo investigar a eficácia de barreiras sanitárias em
amostras por semana, na cidade de Hebron, na Pa- cisternas, tomando como base unidades piloto insta-
lestina. Segundo os autores, os índices de contami- ladas no semi-árido do nordeste brasileiro.
nação fecal detectados na maioria das amostras cole-
tadas indicam que o ambiente ao redor da cisterna,
as práticas de manuseio da cisterna e a falta de cons- MATERIAL E MÉTODOS
cientização dos proprietários sobre a necessidade de
ações preventivas, para evitar a contaminação da
água de chuva, são os principais fatores que contri- A presente pesquisa foi desenvolvida em du-
buem para a contaminação da água de chuva arma- as etapas distintas: avaliação qualitativa da água ar-
zenada nas cisternas. mazenada em 6 (seis) cisternas localizadas no semi-
Neste contexto de práticas inadequadas, ca- árido pernambucano; e avaliação da eficácia de
rência de infra-estrutura e baixo nível de conheci- dispositivos de desvio das primeiras águas de chuva.
mento, faz-se necessário investimento em desenvol- A qualidade da água das cisternas existentes
vimento de barreiras sanitárias apropriadas à região foi monitorada com base em parâmetros físico-
e consciência ambiental por parte dos usuários. químicos e microbiológicos utilizando metodologias
Dispositivos de descarte das primeiras águas das recomendadas pela APHA (1998). Para isso, foram
primeiras precipitações e a tomada de água por selecionadas seis cisternas localizadas nos municí-
tubulação costumam ser muito eficientes na melho- pios de Caruaru e Pesqueira (localizados respecti-
ria da qualidade da água armazenada (Andrade vamente a 135 e 209 km da cidade de Reci-
Neto, 2003). A importância desses desvios está no fe).Segundo Hargreaves (1974 apud Rodrigues et
fato que, no início da estação das chuvas, quando há al., 2010), de acordo com a classificação de Köppen,
muita sujeira acumulada na superfície de captação, o clima na região é do tipo BSsh (extremamente
as águas da primeira chuva carreiam a sujeira da quente, semiárido), quando a precipitação total
superfície de captação e partículas em suspensão na anual média é de 730 mm. A precipitação média
atmosfera, e, por isso, nessas condições, não deve ser anual em Caruaru é de 694 mm, estando a estação
armazenada na cisterna. De acordo com Andrade chuvosa de março a agosto e a estação seca de se-
Neto (2004), um dispositivo automático para desvio tembro a fevereiro (Silva et al., 2010).
das primeiras águas de cada chuva é uma barreira As cisternas de que trata esta pesquisa foram
física de proteção sanitária de cisternas de impor- escolhidas mediante o uso de um dendograma (que
tância comparável à cobertura, tampa e tomada de é um meio de sumarizar um padrão de agrupamen-

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to, começando com todos os indivíduos separados famílias retiram água das cisternas por meio de bal-
que são fundidos progressivamente em pares até de (PS1, LC1, LC2, CE1 e CE2) e apenas uma famí-
chegar a uma única raiz). Para cada uma das análi- lia retira água por meio de bomba manual (GB1).
ses de agrupamento realizadas foi construído o den- Essas amostras foram acondicionadas em caixas
dograma, que agrupou as cisternas em quatro sub- térmicas, e remetidas ao Laboratório de Engenharia
grupos e foi elaborada uma tabela relacionando Ambiental do Centro Acadêmico do Agreste da
detalhadamente o número do questionário e o UFPE para análise.
comportamento das variáveis consideradas: recebi- Para avaliação da eficácia de dispositivos de
mento de água proveniente de carro-pipa, tempo de desvio automático das primeiras águas de chuva,
construção das cisternas, estado de conservação da foram definidos dois locais para instalação dos sis-
cisterna e do telhado, realização de desvio (pela temas de captação e armazenamento de águas de
família) das primeiras águas de chuva, forma de chuva aqui avaliados. Um sistema foi instalado em
retirada da água da cisterna, condições de higiene uma escola rural e o outro em uma vila de casas
da família, localização da fossa séptica em relação à conjugadas, ambos na localidade de Sítio Canela de
cisterna. Neste contexto, foram excluídas as cister- Ema, município de Pesqueira, estado de Pernambu-
nas que recebiam água de caminhão-pipa, e foram co.
selecionados pares de cisternas com diferentes tem- Os locais fazem parte da região agreste (Fi-
pos de construção (antigas e novas), em famílias gura 1), no semi-árido pernambucano. Pesqueira
com boas e ruins condições de higiene da família e (Figura 2) possui uma área de 1.000 km², dista a-
com a localização da fossa séptica ao lado da cisterna proximadamente 215 km da capital do estado, Reci-
ou mais afastada. fe, e tem população de 64.454 habitantes (IBGE,
As cisternas que tiveram a qualidade da água 2009), enquanto Caruaru (Figura 2) possui uma
monitorada estavam localizadas nas comunidades de área de 921 km², dista cerca de 135 km de Recife, e
Pé de Serra (PS1) e Lajedo do Cedro (LC1 e LC2), tem população de 298.501 habitantes (IBGE, 2009).
em Caruaru-PE, e Guaribas (GB1) e Sítio de Canela
de Ema (CE1 e CE2), em Pesqueira-PE.
No período de 1 ano (1 ciclo — chuva + esti-
agem) foram realizadas doze coletas (freqüência
mensal) em cada cisterna, sendo que em seis delas
foram realizadas análises de série curta (pH, condu-
tividade, oxigênio dissolvido - OD, temperatura,
turbidez, cor aparente, cor verdadeira, salinidade,
alcalinidade, cloretos, coliformes totais, escherichia
coli e bactérias heterotróficas totais) e nas outras seis
coletas análises de série completa (série curta acres- Figura 1 — Mapa do estado de Pernambuco com destaque
cida das análises de salmonella, metais - Al, Pb, Fe, para região agreste. Fonte: adaptado de Wikipédia (2008).
Zn, Mg, Mn - Demanda Química de Oxigênio -
DQO, Demanda Bioquímica de Oxigênio - DBO e
nitrogênio, nas formas de N-NO3-, N-NO2-).
A contagem de bactérias heterotróficas to-
tais foi realizada pelo método pour plate. O meio
utilizado foi o ágar nutriente para contagem em
placas, incubadas em estufa bacteriológica com
temperatura de 35oC, por 48 horas. Após o tempo
de incubação foi utilizado um contador manual de
colônias para a contagem das Unidades Formadoras
de Colônias (UFC). Coliformes totais e Escherichia Figura 2 — Mapa do estado de Pernambuco com destaque
coli foram quantificados com o uso da técnica de para os municípios de Caruaru, Pesqueira e Recife.
colilert®.
Para coleta, foram utilizados recipientes es- Cada sistema possuía duas cisternas, sendo
terilizados em autoclave a 120oC e 1 atm por 15 mi- uma dotada de dispositivo de descarte das primeiras
nutos. A coleta foi realizada utilizando-se o mesmo águas de cada precipitação e a outra não. Desta
procedimento que os moradores da comunidade forma foi possível analisar a influência do dispositivo
utilizam para retirar a água das cisternas. Cinco em manter ou melhorar a qualidade da água no

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A. B. C.

Figura 3 — Esquema do dispositivo de descarte das primeiras águas de chuva: princípio do fecho hídrico:
A. início da chuva; B. enchimento da cisterna; C. cessada a chuva.

A. B. C.

Figura 4 — Esquema do dispositivo de descarte das primeiras águas de chuva: princípio dos vasos comunicantes:
A. início da chuva; B. enchimento da cisterna; C. cessada a chuva.

A. B.

Figura 5 — Dispositivos de tomada de água: A. escola rural; B. vila de casas conjugadas.


Fotos ilustrativas de ambos os dispositivos instalados em campo são apresentadas nas Figuras 5ª
(Escola Municipal - vasos comunicantes) e 5B (vila de casas conjugadas - fecho hídrico).

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interior da cisterna por meio da comparação das tação e armazenamento, de construção dos disposi-
cisternas com dispositivos de descarte das primeiras tivos, de realização de visitas e de participação em
águas e das cisternas sem o dispositivo. De acordo encontros com a equipe de realização da pesquisa.
com Andrade Neto (2004), o desvio de descarte é Nos dois casos, da agrovila e da escola rural,
apenas um pequeno tanque para o qual são desvia- foi necessária a instalação de sistemas de captação
das automaticamente as primeiras águas de cada com calhas, tubulações e conexões em PVC, em
chuva, simplesmente através de um desvio intercala- substituição aos sistemas já instalados, mas em con-
do na tubulação de entrada da cisterna, que deriva dições precárias de conservação. Os dispositivos de
para esse pequeno tanque as águas de lavagem da descarte das primeiras águas de cada precipitação
superfície de captação. foram dimensionados visando descartar de 1 a 2 mm
Foram analisados dois tipos de dispositivos de cada precipitação, com base em resultados obti-
de desvio de descarte das primeiras águas, que dife- dos de pesquisas anteriores (Andrade Neto, 2004;
rem entre si pelo princípio físico de funcionamento Annecchini, 2005; Melo, 2007). Por facilidade de
a partir do qual a água captada no telhado segue construção optou-se por dispositivos cúbicos com
para a cisterna, sendo que um deles tem seu funcio- dimensões de 0,50 m de largura por 0,50 m de com-
namento fundamentado no princípio do fecho hí- primento, 0,45 m de altura e capacidade para arma-
drico (Figura 3) e o outro no princípio dos vasos zenar 0,11 m³ de água de chuvas, que corresponde
comunicantes (Figura 4). Em ambos os desvios, à ao primeiro milímetro de precipitação.
medida que o telhado é lavado, processa-se o acú- Para investigação dos dispositivos de desvio,
mulo de água no tanque (Figuras 3A e 4A) e só após simulou-se uma precipitação superior a 5 mm
este estar completamente cheio, é que a água vai (quantidade suficiente para circular em todo o sis-
para a cisterna (Figuras 3B e 4B). É fundamental tema captação-descarte-armazenamento), visando
que depois de cada evento de chuva, o tanque de coletar a água no sistema em pontos específicos de
desvio seja esvaziado, através de uma tubulação de investigação, passíveis de contaminação, e analisar a
descarga (Figura 3C e 4C), a qual deve ser novamen- água coletada. Foram utilizados cerca de 493 L de
te fechada permitindo o funcionamento do disposi- água na escola rural e cerca de 450 L na vila de casas
tivo para o desvio automático das primeiras águas do conjugadas, transportados por meio de caminhões-
próximo evento de chuva. pipa. Essa água foi bombeada aos telhados da escola
Para avaliar o funcionamento dos dispositi- rural e da vila de casa conjugadas por meio de uma
vos de desvio sem influências externas (condições mangueira de ½ polegada de diâmetro com furos de
ideais) foi realizada uma simulação de chuvas. Antes 2 mm, espaçados em 5 cm. A mangueira foi coloca-
do início do experimento de simulação de chuvas, o da sobre o telhado, ao longo do comprimento, com
sistema de transporte de água (calhas e sistemas de vistas a garantir a uniformidade do escoamento e
desvio) foram lavados com água de abastecimento assim simular a precipitação. Esta mangueira foi
público e sabão neutro. Estudos realizados por Ro- conectada a uma bomba elétrica, que, por sua vez
drigues et al. (2010) com uma série de totais men- estava ligada ao caminhão pipa. O experimento foi
sais de precipitação que abrange os anos de 1961 a de simulação foi realizado primeiro na escola rural e
2009, indicam que os meses menos chuvosos em três dias depois na vila de casas.
Pesqueira são setembro, outubro e novembro, com Enquanto a água passava por todo o sistema
valores acumulados mensais máximos da ordem de foram retiradas amostras de água dos locais de inves-
40 mm e médios em torno de 20 mm. O experimen- tigação: água do caminhão pipa (A), do interior dos
to para avaliação do funcionamento dos dispositivos dispositivos de descarte das primeiras águas (B) e
foi realizado em dezembro de 2008, em que a preci- logo após o dispositivo (C) (Figura 6). A eficácia do
pitação acumulada de outubro a dezembro desse sistema é avaliada por meio da verificação da influ-
ano foi de 12,23 mm (dados do INPE), ou seja, cor- ência do descarte das primeiras águas, as quais re-
respondeu a um período de aproximadamente 3 têm impurezas, evitando que estas alcancem o inte-
meses sem ocorrência de chuva na região. rior das cisternas durante o primeiro milímetro de
Visando identificar, principalmente, as ca- cada precipitação, situação em que a água se encon-
racterísticas de manejo, foram selecionados dois tra com grande quantidade de sujeira (Andrade
tipos de usuários com tipologias de telhado distintas: Neto, 2003).
uma agrovila e uma escola rural. Em ambos os casos Foram analisados os seguintes parâmetros
os usuários dos sistemas foram consultados sobre as de qualidade de água para as amostras coletadas:
intervenções previstas, tendo concordado com as coliformes totais e termotolerantes, bactérias hetero-
ações planejadas de adaptação dos sistemas de cap- tróficas totais, cloro residual, turbidez, alcalinidade,

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sólidos dissolvidos totais, cor aparente, ferro, pH e Este monitoramento da análise da qualidade
alumínio. As análises foram realizadas, em triplicata, da água armazenada nas cisternas foi realizado de
de acordo com APHA (2005). janeiro de 2008 a dezembro de 2009, com períodos
de chuva e períodos de estiagem (Figuras 7a e 7b).
Apesar do valor máximo de precipitação acumulada
mensal, neste período, ter sido da ordem de 370
mm, no mês de maio de 2009, os demais valores
mensais acumulados não superaram o limite de 175
mm, sendo que nos meses de setembro a dezembro
esses valores ficaram abaixo de 30 mm.

A.

Figura 6 — Esquema de coleta de amostras de água.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Avaliação da qualidade da água


armazenada em cisternas Fontes dos dados:
Caruaru — Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
Os resultados obtidos indicaram que o tem- (www.inpe.br);
po de construção das cisternas teve influência sobre Pesqueira — Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária
a qualidade físico-química da água armazenada nas (www.agricultura.pe.gov.br)
mesmas. Os maiores valores de pH e de alcalinidade
foram observados nas águas provenientes das cister- B.
nas com construção recente (PS1 e LC2, com 2 anos
e 1 ano de construídas, respectivamente). O mesmo
aconteceu com os resultados de alcalinidade obtidos
por Tavares (2009) ao analisar a qualidade da água
em cisternas da Paraíba, e com os resultados de pH
obtidos por Silva (2006) ao avaliar a qualidade da
água de chuva destinada ao consumo humano, ar-
mazenada em cisternas de placas, no município de
Araçuaí, região semi-árida mineira. O pH esteve
entre 8,4 e 8,7 e a alcalinidade entre 191,67 e 310,79
mg CaCO3/L em ambas as cisternas, enquanto que
nas demais o pH esteve em torno de 7,2 e a alcalini- Fontes dos dados:
dade foi sempre inferior a 200 mg CaCO3/L, que é Caruaru — Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
o principal parâmetro que reflete tal influência. O (www.inpe.br); Pesqueira — Instituto Agronômico de Pernambu-
único metal encontrado nas cisternas foi o alumínio, co (www.ipa.br)
com os maiores teores observados nas cisternas com
construção mais recente (média de 0,6 mg/L para Figura 7 — Valores acumulados mensais de precipitação
LC 2 e 0,2 mg/L para PS1). No entanto, em concen- nos municípios de Caruaru e de Pesqueira, em Pernam-
trações aceitáveis para consumo humano. Essas con- buco: A. no ano de 2008; B. no ano de 2009.
centrações, aceitáveis para consumo humano, ainda
devem ser provenientes da dissolução de compostos Em relação à influência da época do ano
presentes nos materiais (cimento) utilizados na sobre a qualidade da água das cisternas, foi observa-
construção das cisternas. da redução entre os períodos de estiagem e de chu-

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A. B.

Figura 8 — Bactérias Heterotróficas (UFC/mL): A. no período chuvoso; B. no período de estiagem.

A. B.

Figura 9 — Bactérias do grupo coliformes totais (NMP/100mL): A. no período chuvoso; B. no período de estiagem.

A. B.

Figura 10 — Escherichia coli (E. coli) (NMP/100mL): A. no período chuvoso; B. no período de estiagem.

va, proveniente de efeito de diluição, apenas nos do tempo. No entanto, a cisterna LC1 apresentou
parâmetros pH e alcalinidade. Não foram observa- teor de OD entre 4,8 e 5,95 mg/L durante o perío-
das influências sobre parâmetros como OD, cor, do avaliado. Nesse período o valor médio de coli-
turbidez e, principalmente, microrganismos patogê- formes totais foi igual a 12.061 NMP/100 mL para
nicos. essa cisterna, com exceção de uma única coleta em
Os teores de cloretos estiveram bem abaixo período chuvoso, quando foi atingida a concentra-
do estabelecido pelo padrão de potabilidade (de ção de 111.990 NMP/100 mL. A presença mais mar-
250 mg/L, conforme Portaria nº 518/05 do MS), cante desses microrganismos nessa cisterna pode ter
com valores inferiores a 18,98 mg/L em todas as influenciando o teor de OD.
cisternas avaliadas. Todas as cisternas apresentaram A cor aparente, cor verdadeira e turbidez es-
teores de OD superiores a 6 mg/L na maior parte tiveram sempre abaixo dos valores máximos permi-

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tidos pela legislação na maior parte do tempo em Avaliação da eficácia dos sistemas de desvio
todas as cisternas. Os maiores valores de turbidez
observados estiveram em torno de 1,6 UT. Os teores de ferro e alumínio encontrados
Os resultados dos exames bacteriológicos na água que passou por ambos os sistemas de capta-
indicaram a presença de bactérias heterótrofas totais ção (escola e vila) foram iguais a 2 mg/L e 0,5
(Figura 8), bactérias do grupo coliformes totais (Fi- mg/L, respectivamente, e não sofreram alterações
gura 9) e Escherichia coli (E. coli) (Figura 10) em ao longo do percurso da água, não tendo sido ob-
todas as amostras de todas as cisternas, com exceção servada contaminação da água por esses compostos,
de uma única (GB1) que não apresentou E.coli. como relatado por alguns autores (Jaques et al.,
Foram detectadas concentrações de coliformes de 2005).
até 120.330 NMP/100 mL na cisterna PS1. A água utilizada nos experimentos possuía
De forma geral, os resultados relativos à cis- um teor de oxigênio dissolvido de 6,6 mg/L (escola)
terna GB1, única cuja água é retirada por meio de e 6,1 mg/L (vila) (situação em A, Figura 11). Estes
bomba, apresentaram menor variabilidade que os teores diminuíram após o contato com o telhado,
demais, não tendo sido verificada influência aparen- caindo para 5,75 mg/L (escola) e 5,65 mg/L (vila)
te em relação à época do ano. Essa cisterna apresen- (situação em B, Figura 11).
tou água com qualidade compatível com o padrão Provavelmente, tais mudanças na quantida-
de potabilidade para todos os parâmetros, exceto de de oxigênio dissolvido podem ter sido resultantes
coliformes, em 100% das amostras analisadas. Res- da própria movimentação da água ao circular pelo
salta-se que, apesar de ter sido detectada a presença sistema de captação, bem como estar relacionadas
de coliformes nessa cisterna, os valores foram inferi- aos aumentos de turbidez e bactérias heterotróficas
ores aos observados nas demais cisternas (Figura 9). totais, observados após a lavagem do telhado (Figu-
A ausência de E. coli nessa cisterna caracteriza que ras 12 e 15).
não houve contaminação por animais de sangue Ambos os tipos de dispositivos de desvio ava-
quente. Isso indica que o uso de bomba como ins- liados tiveram influência positiva sobre a remoção
trumento auxiliar de retirada de água da cisterna de turbidez (Figura 12).
pode se configurar como efetiva barreira sanitária à O material em suspensão que foi lavado da
contaminação da água e, consequentemente, à pro- atmosfera e de ambos os telhados elevou a turbidez
teção da saúde dos seus consumidores. Contudo, há (Figura 12) de 17,64 UT para 58,69 UT na escola e
que se considerar que o universo amostral foi limi- de 21,53 UT para 65,79 UT na vila de casas conju-
tado e que tal constatação deve ser considerada, mas gadas, em função do material que ficou retido no
não generalizada. interior dos desvios (situação em B — Figura 12). Isso
Os resultados de qualidade das águas arma- indica que, na ausência de desvio, água com essa
zenadas nas cisternas indicaram haver contaminação qualidade seria encaminhada às cisternas.
significativa da água e, portanto, a necessidade de
avaliação de dispositivos automáticos de desvios que
possam melhorar a qualidade da água que é enca-
minhada às cisternas.
Em relação ao experimento realizado para
investigação dos dispositivos de desvio ensaiados, a
primeira observação que merece destaque se refere
ao fato de que a água utilizada no experimento de
simulação de chuvas, apesar de ter sido adquirida
dentro do padrão de potabilidade Portaria nº
518/05 do MS), foi transportada por meio de cami-
nhões-pipa disponíveis na região.
Esse fato deve ter comprometido a qualida-
de da água por meio de mistura da água potável
Figura 11 — Teores de oxigênio dissolvido (mg/L) na água
com resíduos já presentes no caminhão, fazendo
ao longo do percurso.
com que uma água fora dos padrões fosse utilizada
no experimento de simulação. Por esse motivo, não
Contudo, o dispositivo instalado na vila de
será feita nenhuma alusão comparativa da água
casas conjugadas, que é baseado no princípio do
encaminhada à cisterna com o padrão de potabili-
fecho hídrico, foi mais eficiente em reter as impure-
dade da água.

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zas, pois a turbidez foi reduzida em 79%, de 65,79 movido da tubulação de saída da água do dispositivo
UT para 14,03 UT, o que significa que todo o mate- de desvio.
rial em suspensão lavado ficou retido no desvio. Já o
dispositivo instalado na escola rural, que é baseado
no princípio dos vasos comunicantes, também redu-
ziu a turbidez, porém com menor eficiência, de
58,70 UT para 45,30 UT (redução de 23%). Esse
resultado caracteriza muito bem o papel do disposi-
tivo de desvio de permitir que a água que chega à
cisterna seja isenta da influência do percurso.

Figura 13 — Valores obtidos de sólidos dissolvidos totais


(mg/L)

Exames bacteriológicos

Não foi detectada a presença de Escherichia


coli (E. coli) em nenhuma das amostras analisadas,
Figura 12 — Turbidez da água (UT) ao longo do percurso.
o que evidencia que a presença de E. coli em cister-
nas, citada em outros trabalhos (Silva, 2007; Brito et
al., 2005a; May, 2004), provavelmente está relacio-
Destaca-se a importância da redução da tur-
nada ao manuseio inadequado da água pelos usuá-
bidez da água que é encaminhada às cisternas, pro-
rios das cisternas.
porcionada pelos dispositivos de desvio, uma vez que
Os resultados das análises de coliformes to-
quanto menor a quantidade de material em suspen-
tais estão apresentados na Figura 14.
são na água, melhor será a eficácia dos sistemas de
desinfecção. Isso implica, no caso do uso de clora-
ção, na redução da quantidade do produto químico
utilizado.
Em relação aos sólidos dissolvidos totais, ob-
serva-se que houve um pequeno aumento no seu
teor após a água passar pelo sistema de captação dos
modelos piloto (situação em B, Figura 13). Esse
aumento pode ter sido ocasionado pela dissolução
de partículas presentes no telhado e nas calhas du-
rante o transporte dessas substâncias para o interior
do desvio (situação em B, Figura 12).
Mais uma vez o desvio instalado na vila de
casas conjugadas, baseado no princípio do fecho
hídrico, foi eficiente em reduzir a quantidade de Figura 14 — Valores obtidos de coliformes totais
sólidos dissolvidos, de 43,60 mg/L para 36,90 mg/L (NMP/100 mL) ao longo do percurso.
(redução de 15%). Já no desvio da escola rural hou-
ve aumento no teor de sólidos dissolvidos de 53,80 Como se pode observar, a água fornecida
mg/L para 65,20 mg/L (21%) (situação em C, Figu- para a realização do experimento estava isenta de
ra 13). Apesar da limpeza feita no sistema de trans- coliformes totais (situação em A - Figura 14). Porém,
porte de água, é possível que tenha havido alguma ao passar pelo telhado e calhas, se observou conta-
dissolução de material que porventura não foi re- minação dessa água por coliformes totais, passando,
então, de zero para 9.090 NMP/100 mL, na escola

89
Avaliação da Qualidade da Água e da Eficácia de Barreiras Sanitárias em Sistemas para Aproveitamento de Águas de Chuva

rural, e para 21.780 NMP/100 mL, na vila de casas tos merecem destaque: a quantidade de bactérias
conjugadas. Isso indica que houve contaminação da conduzidas para o interior do desvio de fecho hídri-
água por esse grupo de microrganismos ao passar co foi substancialmente superior (1070,5 UFC/mL)
pelo telhado e calhas. ao encaminhado ao desvio de vasos comunicantes
Mais uma vez, o dispositivo de descarte das (58 UFC/mL), o que dificulta a comparação entre
primeiras águas teve seu principal papel configura- os tipos de desvio; e houve um aumento no número
do, quando proporcionou redução de coliformes de de bactérias entre as situações em B e C da escola,
21.780 NMP/100 mL para 980 NMP/100 mL (redu- que pode estar associado ao aumento dos sólidos
ção de 95,50%) no caso do desvio de fecho hídrico dissolvidos totais (Figura 13), novamente indicando
(vila) e de 9.090 para 5.040 (redução de 44,55%) que é possível que houvesse alguma impureza na
para o desvio dos vasos comunicantes (escola rural). tubulação de encaminhamento da água à cisterna,
apesar da limpeza realizada.
Os resultados obtidos evidenciam a impor-
tância do uso de dispositivos de desvio das primeiras
águas de chuva, uma vez que, independente do
princípio de funcionamento, ambos os modelos
avaliados no presente trabalho foram eficazes em
reduzir a quantidade de impurezas encaminhadas às
cisternas, principalmente turbidez, coliformes totais
e bactérias heterotróficas totais. Esses parâmetros
merecem destaque por estarem intrinsecamente
relacionados com o processo de desinfecção da á-
gua. Destaca-se ainda a importância da adequada
operação dos dispositivos de desvios para que seu
papel seja desempenhado conforme esperado. Após
Recomenda-se que a cada evento de chuvas, o mes-
mo deve ser esvaziado para que possa lavar o primei-
ro milímetro da próxima chuva. No entanto, devem
Figura 15 — Valores obtidos de bactérias heterotróficas
ser conduzidos estudos que permitam estabelecer
(UFC/mL) ao longo do percurso.
qual o intervalo entre chuvas que pode ser tolerado
sem esvaziamento do dispositivo de desvio. De forma
Resultado semelhante foi observado para semelhante, o uso do desvio não isenta os usuários
bactérias heterotróficas totais, uma vez que no inte- de realizarem o manejo adequado da água armaze-
rior dos dispositivos de descarte das primeiras águas nada nas cisternas, por meio do uso de bombas, que
houve um aumento do número de bactérias hetero- também se configura como barreira sanitária adi-
tróficas de 16,5 UFC/mL para 58 UFC/mL na esco- cional.
la rural e de 9,5 UFC/mL para 1.070,5 UFC/mL na
vila de casas conjugadas, indicando que houve con-
taminação por bactérias heterotróficas após a água CONCLUSÕES
entrar em contato com o telhado e passar pelas ca-
lhas (situações em A e B — Figura 15). Como se pôde
observar, uma vez mais, o dispositivo com o princí- Em relação à qualidade da água armazenada
pio do fecho hídrico (vila de casas) foi eficiente, nas cisternas existentes, quanto aos aspectos físico-
reduzindo o número de bactérias de 1.070,5 químicos, observa-se que todas as variáveis analisadas
UFC/mL para 60,5 UFC/mL (94,39%). atendem aos padrões de qualidade exigidos pela
Os resultados obtidos não comprovam, po- Portaria nº 518/05 do MS (Brasil, 2004), exceto OD,
rém, a eficácia do dispositivo de descarte das primei- em algumas cisternas. A qualidade microbiológica
ras águas instalado na escola. Após o mesmo, a da água armazenada em todas as cisternas avaliadas
quantidade de unidades formadoras de colônia não atendeu ao padrão de potabilidade (portaria
aumentou de 58 para 117 UFC/mL, indicando, 518/04 do MS, 13) para consumo humano, apenas
desta forma, a necessidade de realização de estudos uma atendeu a norma em relação à Escherichia coli,
adicionais sobre esse dispositivo que é fundamenta- porém não atendendo para os demais padrões mi-
do no princípio dos vasos comunicantes. Dois pon- crobiológicos analisados.

90
RBRH — Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 16 n.3 - Jul/Set 2011, 81-93

Considera-se que a metodologia utilizada AGRADECIMENTOS


nos experimentos de simulação de chuvas foi ade-
quada para a realização de experimentos em época
de estiagem, uma vez que permitiram que importan- Os autores agradecem ao CNPq/CT-Hidro
tes observações sobre os tipos de dispositivos fossem pela bolsa de mestrado concedida ao primeiro autor
obtidos. Porém, o sistema de aplicação de água nos e ao CNPq e FINEP pelo apoio financeiro.
telhados pode ser melhorado.
O dispositivo de descarte das primeiras á-
guas, instalado na vila de casas conjugadas, que é REFERÊNCIAS
fundamentado no princípio do fecho hídrico, foi
mais eficiente do que o dispositivo com princípio de
vasos comunicantes em reduzir as concentrações dos AL-SALAYMEH, A.; AL-KHATIB , I.A., ARAFAT, H.A. (2011)
parâmetros encaminhados às cisternas, tanto do Towards Sustainable Water Quality: Management of
ponto de vista físico-químico, quanto bacteriológico. Rainwater Harvesting Cisterns in Southern Palestine.
Os principais parâmetros que sofreram in- In: Water Resources Management, 25:1721–1736.
fluência dos dispositivos de desvio foram turbidez, AMORIM, M.C.C.; PORTO, E.R. (2003) Considerações sobre
coliformes totais e bactérias heterotróficas totais, controle e vigilância da qualidade de água de cister-
com reduções de 79%, 95,5% e 94,39%, respectiva- nas e seus tratamentos. In: Anais do Simpósio Brasi-
mente, para o dispositivo com o princípio de fecho leiro de Captação e Manejo de Água de Chuva,
hídrico. Para o desvio com princípio de vasos co- 2003, Juazeiro. CD Rom.
municantes foram observadas reduções de 23% e ANDRADE NETO, C.O. (2003) Segurança sanitária das cis-
44% para turbidez e coliformes, respectivamente, ternas rurais. In: Anais do IV Simpósio Brasileiro de
não tendo sido possível obter dados conclusivos Captação e Manejo de Água de Chuva, Associação
quanto à remoção de bactérias heterotróficas totais. Brasileira de Captação e Manejo de Água de Chuva,
A redução desses parâmetros é importante, pois ABCMAC. Petrolina, 2003. CD Rom.
tende a reduzir também o consumo de produtos ANDRADE NETO, C.O. (2004) Proteção Sanitária das Cister-
químicos com a desinfecção por cloração, bem co- nas Rurais. In: XI SILUBESA - Simpósio Luso-
mo melhorar a eficiência da desinfecção solar. Esses Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, Rio
resultados comprovam a eficácia dos dispositivos de Grande do Norte, 2004. CD Rom.
desvios, confirmando os benefícios de seu uso, des- ANNECCHINI, K.P.V. (2005) Aproveitamento da água da
de que a operação dos mesmos seja adequada, o que chuva para fins não potáveis na Região Metropolita-
se reflete em esvaziá-lo ao final de cada evento de na de Vitória (ES). Dissertação (Mestrado em Enge-
chuvas. nharia Ambiental). Universidade Federal do Espírito
Para os demais parâmetros analisados (oxi- Santo, Centro Tecnológico, 124p.
gênio dissolvido, sólidos dissolvidos totais, alumínio APHA - AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION (1998)
e ferro) não se observou influência dos dispositivos Standard methods for the examination of water and
automáticos de desvio. wastewater. Washington, 20th ed., 1998.
Não houve contaminação por E. coli em BERTONI, J.C.; TUCCI, C.E.M. (2004) Precipitação. In: Berto-
nenhuma parte dos sistemas. Isso reforça, portanto, ni, J. C. & Tucci C. E. M. Hidrologia – Ciência e Apli-
a hipótese de que a contaminação por E. coli em cação. Porto Alegre: UFRGS/ABRH, 2004. Cap. 5.
cisternas, provavelmente, é proveniente do manejo P.177-241.
inadequado por parte dos usuários. BRASIL (2004). MINISTÉRIO DA SAÚDE – Portaria Nº 518,
Os resultados obtidos indicaram ainda que o 25 de março de 2004. Disponível em
tempo de construção das cisternas teve influência http://www.dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/P
sobre a qualidade físico-química da água armazena- ort2004/GM/GM-518.htm. Acesso em: 29 de Maio de
da nas mesmas. 2008.
Em relação à influência da época do ano BRITO, L.T.L.; PORTO, E.R.; SILVA, A.S. (2005a) Análise da
sobre a qualidade da água das cisternas, foi observa- qualidade das águas de cisternas em cinco municí-
da redução entre a época de estiagem e de chuva, pios do Semi-Árido Brasileiro. In: Anais do III Con-
proveniente de efeito de diluição, apenas nos parâ- gresso Brasileiro de Agroecologia, Florianópolis: A
metros pH e alcalinidade. Por outro lado, não foi sociedade construindo conhecimentos para vida,
observada influência sobre parâmetros como OD, 2005, Florianópolis. CD-Rom.
cor, turbidez e, principalmente, microrganismos
patogênicos.

91
Avaliação da Qualidade da Água e da Eficácia de Barreiras Sanitárias em Sistemas para Aproveitamento de Águas de Chuva

BRITO, L.; PORTO, E.; SILVA, A.; SILVA, M.; HERMES, L.; In: Anais do XVI Congresso Brasileiro de Meteorolo-
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SILVA, A.P.N. (2010)Variação Temporal de Elemen- were efficient to considerably reduce concentration of major
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RBRH — Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 16 n.3 - Jul/Set 2011, 81-93

water quality indicators, such as turbidity, coliforms and


heterotrophic bacteria. In addition, the time of construction
and season (wet or dry) were seen to influence storage water
quality.
Keywords: rainwater, sanitary barriers, cisterns, semi-arid.

93

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