0% acharam este documento útil (0 voto)
2 visualizações16 páginas

Artigo - Walker e Walter de Azevedo Araujo-2018.2

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1/ 16

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

Políticas Públicas Municipais Voltadas ao Combate do Êxodo Rural no


Município de Itaocara
Walker de Azevedo Araújo – walkeraraujo@yahoo.com.br – UFF/ICHS
Walter de Azevedo Araújo – azevedo.araujo@yahoo.com.br – UFF/ICHS

Resumo
Diante da importância da agricultura familiar para o município de Itaocara, buscou-se analisar
a permanência dos jovens no setor e quais fatores contribuem para isso. Neste sentido, este
estudo tem como objetivo identificar quais as políticas públicas que estão sendo
desenvolvidas pela gestão municipal para evitar o êxodo rural e a sucessão rural. Utilizou-se
metodologia com abordagem qualitativa, em que foram realizadas 15 entrevistas em
profundidade, de roteiro semiestruturado. A análise dos dados ocorreu a partir da análise de
conteúdo e os principais resultados indicam que os jovens agricultores não estão preparados
para assumirem a gestão das propriedades rurais e que existe uma necessidade urgente do
desenvolvimento de políticas públicas municipais voltadas para a agricultura familiar.

Palavras-chave:Agricultura familiar; Êxodo Rural; Políticas Públicas.

1 Introdução

Em um mercado altamente competitivo e globalizado, desenvolver estratégias


organizacionais que busquem descobrir quais oportunidades e ameaças é um desafio para a
Administação Pública quando se fala em elaboração de políticas públicas. O setor agrícola
tem ocupado um espaço na economia de forma efetiva, principalmente em municípios
essencialmente agrícolas, como o caso de Itaocara, cidade do interior do Rio de Janeiro.
A agricultura familiar é responsável por 84,4% dos estabelecimentos rurais do país e
os estabelecimentos que possuem menos de 1000 hectares representam 40% da área total
ocupada no Brasil (IBGE, 2009). Neste cenário observamos que a realidade do município de
Itaocara também condiz com esse dado, onde a maioria das propriedades são de agricultores
familiares com diversidade de produção.
Como outros setores da economia, a agricultura familiar vem sofrendo mudanças,
desde a sua estrutura, produção, exigência do mercado, etc. Com o êxodo rural, observa-se
como maior desafio a continuidade das produções agrícolas em pequenas propriedades através
da sucessão familiar e como as políticas públicas agem em relação a este processo.

1
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

Diante desse contexto, a problemática da pesquisa envolve o questionamento acerca de


quais políticas públicas vem sendo desenvolvidas pelo município de Itaocara para incentivar a
permanência dos jovens na agricultura familiar, visando compreender os aspectos que
determinam a permanência no campo, ou o que levaria a abandoná-lo, e o quê de fato os
motivaria a escolher viver no meio urbano.
Em resposta a problemática, o objetivo geral do trabalho é identificar quais as
principais políticas públicas que a gestão municipal vem desenvolvendo para incentivar os
herdeiros a assumirem a gestão das pequenas propriedades familiares, evitando o êxodo rural.
Como objetivos específicos procura-se identificar quais as expectativas dos jovens quanto a
sucessão familiar das pequenas propriedades familiares no município de Itaocara e quais as
razões da migração do campo para cidade.
Para alcançar esses objetivos foi realizada uma análise bibliográfica em artigos
científicos que tratam sobre o tema para fundamentar a revisão da literatura.
Esse artigo está estruturado em seis capítulos. O primeiro capítulo é a introdução que
procura posicionar o leitor sobre a importância do tema e os objetivos que se pretende
alcançar. O segundo capítulo procurou fazer uma revisão da literatura que trata sobre o tema
agricultura familiar, buscando-se uma reflexão sobre o conceito, o que representa e seu
enquadramento. O terceiro capítulo buscou apresentar o conceito de êxodo rural, os motivos e
as consequências. O capítulo quarto apresenta o conceito e as principais políticas públicas
voltadas à agricultura familiar. No capítulo cinco são apresentadas as considerações finais e
no capítulo seis as referências bibliográficas.

2 Referencial Teórico

Com o objetivo de melhor descrever as características da agricultura familiar e os


motivos e consequências do êxodo rural e o que está sendo desenvolvido de políticas públicas
municipais, são apresentados nesta seção os referenciais inerentes à agricultura familiar,
êxodo rural e políticas públicas voltadas à agricultura familiar.

2
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

2.1 Agricultura Familiar

A agricultura familiar é definida como “uma forma de produção onde predomina a


interação entre gestão e trabalho; são os agricultores familiares que dirigem o processo
produtivo, dando ênfase na diversificação e utilizando o trabalho familiar” (MINISTÉRIO
DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2014).
A agricultura familiar é uma atividade onde os proprietários exercem o ato laboral
com base na “propriedade familiar”. A Lei n° 4.504 de 30 de novembro de1964, também
conhecida como Estatuto da Terra, define a propriedade familiar:
[…] imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família,
lhes absorva toda a forca de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso
social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração,
e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros. (BRASIL, 1964).

Compreende-se que a prática da agricultura familiar representa um método de


produção onde interagem gestão e trabalho, por meio de processos produtivos administrados
pelos próprios agricultores. Nesta atividade predomina a utilização do trabalho familiar que
concentra somente o núcleo (pai, mãe, filho e, eventualmente, avós e tios) no suporte da terra.
A prática da agricultura familiar ocupa um lugar significativo no espaço rural brasileiro. No
entanto, faz-se necessário que os produtores rurais se enquadrem nos critérios estabelecidos
para a categoria de Agricultor Familiar (SEBRAE, 2013, p.5).
À luz da Lei 11.326, de 24 de julho de 2006, considera-se agricultor familiar aquele
que exerça atividades no meio rural e que: não detenha mais que quatro módulos fiscais;
utilize predominantemente mão de obra familiar nas atividades; tenham percentual mínimo de
renda exigido originado do estabelecimento rural; dirija seu empreendimento ou
estabelecimento com a família. Esta lei serve de parâmetro para o sistema de enquadramento
dos beneficiários nos programas de auxílio à agricultura familiar (BRASIL, 2006).
Conforme Brumer et. al.(2000), a agricultura familiar é a agricultura produzida pela
própria família, ao passo que o agricultor é proprietário dos meios de produção e produtor de
atividade. Essa característica familiar não é um mero detalhe. O fato de uma estrutura
produtiva associar família, produção, trabalho, fundamenta a forma como ela se relaciona com
a economia e com a sociedade.

3
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

Para Bianchini (2005), o mais importante estudo sobre a agricultura familiar e sua
contribuição ao desenvolvimento rural foi realizado no âmbito de um projeto de cooperação
entre o Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação – FAO e o Instituto de
Colonização e Reforma Agrária – INCRA. O estudo FAO/INCRA iniciou-se em 1994 sendo
complementado em 2000. Segundo este estudo, existe no Brasil 4.859.864 estabelecimentos
rurais, destes, 4.139.369 estabelecimentos gerenciados por agricultores familiares (85% do
total). O total do Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) apurado no período foi de R$
47,8 bilhões, sendo que, deste valor, a agricultura familiar foi responsável por R$ 18,1 bilhões
(38% do total). O estudo levantou ainda que os agricultores patronais gerenciam 554.501
estabelecimentos rurais (11%), e que os demais estabelecimentos rurais, 165.994 (3%), são de
propriedade de entidades públicas e instituições pias/religiosas.
A agricultura familiar é a forma predominante de produção de alimentos no mundo,
sendo que nove em cada dez das 570 milhões de propriedades agrícolas no mundo são geridas
por famílias. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E
AGRICULTURA – FAO, 2014). Este dado apresenta a importância deste setor para a
economia e o desenvolvimento social do Brasil.

2.2 Êxodo Rural

De acordo com Damiani (2006), o êxodo rural pode ser entendido como uma migração
espontânea (aparentemente espontânea), consequência de motivações políticas e econômicas
conjunturais ou causas econômicas estruturais, não elucidando as condições históricas do
processo de expropriação.
Para Evangelista e Carvalho (2001), o processo migratório é um movimento
populacional que se dirige de uma região para outra e modifica o tamanho e a composição das
populações de distribuição por sexo, idade e força de trabalho, e com isso, a migração é uma
das variáveis mais importantes da dinâmica populacional, junto com a natalidade e a
mortalidade. A migração é um processo seletivo que afeta indivíduos possuidores de
determinadas características econômicas, sociais, educacionais e demográficas (TODARO,
1999).

4
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

De acordo com Vesentini (1994), a intensa urbanização que vem ocorrendo no Brasil
tem sido acompanhada por um processo de metropolização, isto é, a concentração
demográfica nas principais áreas metropolitanas do país. Esse fenômeno se iniciou a partir do
momento em que a indústria passou a representar o setor mais importante da economia
nacional. Entre suas características, aparecem aspectos da passagem de uma economia
agrário-exportadora para uma economia urbano-industrial, fato esse que só ocorreu no século
XX e que se tornou mais pronunciado a partir da década de 1950.
Abramovay (1999) salienta que o êxodo rural brasileiro permanece muito
significativo, em especial com a juventude rural, já a contrapartida é a precariedade com que
os núcleos urbanos absorvem seus migrantes rurais: aqueles que mais saem do campo,
sobretudo os jovens, são exatamente os que maiores dificuldades vêm encontrando em sua
integração aos mercados urbanos de trabalho.
A questão do êxodo tem ganhado, aos poucos, a devida importância.
ACEPAL/FAO/IICA (2009) observa que a migração da população rural para as cidades,
especialmente dos jovens, somado a diminuição das taxas de natalidade no meio rural, tem
gerado entraves ao desenvolvimento econômico rural dos países da América Latina e Caribe.
No Brasil, as estatísticas do meio rural, elaboradas pelo Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) e publicadas pelo MDA (2008), indicam
que entre os anos 1950 e 2006 a população rural sofreu um decréscimo de mais de 47%,
sendo que mais da metade desse percentual pode ser observada entre 1980 e 2000.
Merece destaque a falta de interesse dos jovens de origem rural pela vida “no campo”.
A desvalorização da vida no campo denota o interesse maior em permanecer na cidade para
esses jovens de famílias rurais. A cidade e a promessa de futuro melhor, onde se encontram as
oportunidades de trabalho e diversão.
De acordo com Siqueira (2012, p.8), a migração do homem do meio rural para a
cidade parece vir de várias causas, como por exemplo: a seca que castiga algumas regiões do
país, a falta de incentivo agrícola, os baixos preços de produtos, a precariedade das condições
de vida em boa parte das áreas rurais brasileiras.
Para Abramovay (1998), as fronteiras entre o rural e o urbano estão muito diluídas e
vários fatores diminuíram a distância entre essas realidades. Martins (2007) enaltece que

5
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

nesse processo os jovens não estão excluídos, tão pouco incluídos, vivem uma realidade
paralela, onde a ilusão do ideal urbano reside.

2.3 Políticas Públicas voltadas à Agricultura Familiar

Para Pitaguari e Lima (2005), políticas públicas que compreendem gastos públicos
capazes de diminuir os custos de produção e viabilizar o setor produtivo melhoram as
condições estruturais de crescimento e desenvolvimento da economia local. Nesse sentido, as
políticas públicas voltadas à promoção da agricultura familiar seriam capazes de diminuir
grandes dificuldades históricas para o desenvolvimento do setor.
As principais dificuldades para o desenvolvimento da produção agrícola familiar no
Brasil são: baixa capitalização, acesso a linhas de crédito oficiais, acesso à tecnologia,
disparidade produtiva inter-regional, acesso à assistência técnica à produção rural, e acesso
aos mercados modernos. Características como: multisetoriedade rural; diversidade produtiva
(através de sistemas integrados de produção animal, vegetal, e manejo florestal); e tipo de
mão-de-obra utilizada na produção; são comuns a um grande universo de pequenos
agricultores familiares (BIANCHINI, 2005).
A partir das características acima, refletiu-se sobre a base de um projeto nacional de
desenvolvimento para este segmento rural brasileiro, através da implementação de uma
política pública que atenda as especificidades da agricultura familiar no Brasil, na qual
contextualiza a situação da agricultura familiar no Brasil e analisa as políticas públicas
diretamente relacionadas a ela, que se centram basicamente no Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), e no Programa de Aquisição de Alimentos
(PAA).

2.3.1 Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf)

Segundo Denardi (2001), a política pública em destaque atualmente no país referente à


agricultura familiar é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(Pronaf). O Pronaf foi em parte motivado politicamente pelos movimentos sociais e dos
sindicatos dos trabalhadores rurais.
6
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

O programa iniciou em 1995/96, com o fornecimento de financiamento para


infraestrutura rural, para custeio, formação de técnicos para agricultores, entre outros
(STEDILE, 2002).
O Pronaf tem como objetivo o fortalecimento das atividades desenvolvidas pelo
produtor familiar, de forma a integrá-lo à cadeia de agronegócios, proporcionando-lhes
aumento de renda e agregando valor ao produto e à propriedade, mediante a modernização do
sistema produtivo, valorização do produtor rural e a profissionalização dos produtores
familiares. As famílias interessadas devem procurar o sindicato rural ou a empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), como a Emater, para obtenção da Declaração de
Aptidão ao Pronaf (DAP), que será emitida segundo a renda anual e as atividades exploradas,
direcionando o agricultor para as linhas específicas de crédito a que tem direito
(MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO, 2008).
Neste sentido, a criação do Pronaf teve por função a valorização e incentivo para as
pequenas propriedades produtoras. Na década de 90, ocorreu uma significativa redução do
crescimento do emprego rural de característica extremamente agrícola, em contraposição do
aumento do emprego rural não agrícola (STOFFEL,2010).

2.3.2 Programa de aquisição de alimentos (PAA)

O Programa de Aquisição de Alimentos – PAA é um instrumento de política pública


instituída pelo artigo 19 da Lei nº. 10.696/03. O Programa adquire alimentos, com isenção de
licitação, por preços de referência que não podem ser superiores nem inferiores aos praticados
nos mercados regionais, de agricultores familiares que se enquadram no Programa Nacional
de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf (MINISTÉRIO DE
DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2014).
Os projetos do PAA têm a participação dos agricultores e/ou suas organizações
(associações, cooperativas, sindicatos etc), e contam com a participação das prefeituras e de
governos estaduais, que além de beneficiar os agricultores familiares que encontram
dificuldades de escoamento de sua produção, passa a garantir sua inserção no comércio local,
uma vez que eleva o poder aquisitivo dessa parcela da população rural. Denota-se ainda o

7
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

aquecimento da economia dos municípios que implementam o programa (GUERRA et al.,


2007).

3 Procedimentos Metodológicos

O estudo foi classificado como pesquisa aplicada, em que o objetivo é gerar


conhecimentos para aplicação prática, dirigida a solução de problemas específicos.
Quanto ao objetivo como exploratório descritivo, já que o mesmo possui o intuito de
identificar quais as expectativas dos jovens quanto a sucessão familiar das pequenas
propriedades familiares no município de Itaocara e quais as principais políticas públicas
municipais desenvolvidas.
Este tipo de pesquisa tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o
problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. A grande maioria
dessas pesquisas envolve: (a) levantamento bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que
tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e (c) análise de exemplos que
estimulem a compreensão (GIL, 2007).
A coleta de dados ocorreu por meio de entrevistas em profundidade com um roteiro
semiestruturado, desenvolvido com base na fundamentação teórica e também nas categorias
deste estudo. Foram entrevistados quinze jovens agricultores do município de Itaocara, com
idades entre 18 e 29 anos, que desempenham atividades agrícolas nas propriedades onde a
agricultura familiar é exercida. As entrevistas duraram em média 30 minutos. Também foi
entrevistado o Secretário Municipal de Agricultura representando o Poder Público municipal.
A classificação quanto a abordagem é qualitativa, em que não se preocupa com
representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo
social, de uma organização, etc. Os pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa
opõem-se ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências, já
que as ciências sociais têm sua especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria.
Assim, os pesquisadores qualitativos recusam o modelo positivista aplicado ao estudo da vida
social, uma vez que o pesquisador não pode fazer julgamentos nem permitir que seus
preconceitos e crenças contaminem a pesquisa (GOLDENBERG, 1997, p. 34).
A pesquisa teve por base, segundo Zanella(2009), a linha bibliográfica. Sua principal
8
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

vantagem foi a adoção de uma ampla cobertura dos instrumentos coletados, como análise de
livros, artigos, sites e revistas especializadas.
A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já
analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos
científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma
pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou
sobre o assunto. Existem porém pesquisas científicas que se baseiam unicamente na
pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de
recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual
se procura a resposta (FONSECA, 2002, p. 32).

4 Desenvolvimento – Apresentação e discussão dos resultados

4.1 Perspectivas da Agricultura Percebida Pelos Jovens

Baseando na importância da agricultura familiar para o município de Itaocara, buscou-


se entender como os jovens a percebem. Para os entrevistados, o termo agricultura familiar
representa pequenas propriedades rurais com predominância da mão de obra familiar. Quanto
à percepção que tem da importância da agricultura familiar para a economia do município,
foram unanimes em defender que o município é essencialmente agrícola, citaram que no
momento o setor passa por dificuldade pela escassez hídrica que vem ocorrendo nos últimos
anos, pela queda do preço do leite e aumento do preço dos insumos agrícolas, mas que o
município apresenta uma diversificação de produção.
Quanto aos principais desafios para a agricultura familiar, a maioria citou a
comercialização dos produtos, mesmo com o CEASA - Ponto de Pergunta localizado no
município e com a CAPIL – Cooperativa Agropecuária de Itaocara, questionando que o lucro
acaba ficando na mão dos “atravessadores”. Também foi relatada a falta de mão de obra no
meio rural e preço elevado cobrado pela prestação do serviço. Outra dificuldade relatada foi a
busca de melhores condições de vida em que se almeja emprego com melhor renda e mais
comodidade no meio urbano.

9
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

Gráfico 1 – Transição demográfica dos espaços rurais para os urbanos no período de 1950 a 2010
Fonte: Alves e Cavenaghi (2010,p.6). Adaptado do Censo demográfico do IBGE (2010)
Ao analisarmos o gráfico 1, observamos que a realidade do município condiz com os
dados do Brasil, na qual constatou-se que 40% dos entrevistados afirmaram que pretendem
permanecer na atividade, 60% revelaram que pretendem buscar emprego no meio urbano, mas
que no momento, pela crise que assola o país, não tem perspectiva no curto prazo e também
pela falta de oportunidade na região.
Abramovay (1999) enfatiza que a saída do meio rural não significa o acesso às
condições mínimas próprias da vida urbana. As modificações tecnológicas na cidade e na área
rural expulsaram o trabalhador do campo, mas também não possibilitaram sua inserção nas
metrópoles até os dias atuais, dada a dificuldade para aqueles que têm pouca escolaridade e
quase nenhuma qualificação profissional.
Quanto ao futuro da agricultura familiar, a maioria acredita que tenha boas perspectiva,
principalmente pela falta de alimentos no mundo e pela diversificação de produção municipal,
por ter um centro de comercialização no município e da CAPIL para escoamento da produção
do leite.
Para o entrevistado de número 10, o município não desenvolve políticas públicas que
incentivem a permanência do jovem na agricultura familiar. Sugeriu ainda, uma ação que
pode resultar em um programa contínuo a ser implementado pelo poder público municipal: a
criação de uma feira na sede do município para que os mesmos possam vender seus produtos
10
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

direto para o cliente final, sem passar pela mão dos “atravessadores”; a prefeitura seria
responsável pela estrutura física da feira e pela logística de transporte, reduzindo o custo para
o produtor.

4.2 Êxodo Rural e Sucessão Familiar Rural

As entrevistas revelaram que a maior parte dos jovens não está sendo preparada para
assumirem a propriedade. E também mostraram que as decisões são tomadas pelos pais, sem a
participação dos filhos, ficando evidente que não há um planejamento estruturado para a
sucessão da propriedade da família.
O entrevistado número 2, tem boas expectativas para o futuro da agricultura familiar no
município, mas acredita ser necessário a elaboração de treinamentos de qualificação e
atualização dos jovens agricultores quanto as novas práticas de produção e comercialização,
para maior produtividade com sustentabilidade e, consequentemente, maiores lucros.
Oliveira, Albuquerque e Pereira (2012) trazem a percepção que o processo sucessório
só ocorre com a morte de um dos dirigentes. Na agricultura familiar isto se torna quase que
uma regra, pois o filho realmente assume a propriedade, posse e poder, após o falecimento ou
incapacidade dos pais.
Corroborando com Abramovay (1999), na visão dos jovens, sucessão rural representa
também a continuidade da cultura, das tradições e das próprias comunidades que cercam as
cidades, além da passagem e continuidade da propriedade. Sua importância reside não apenas
na produção de alimentos dos postos de trabalhos no interior, mas para a reprodução social
das comunidades.

4.3 Políticas Públicas voltadas à Agricultura Familiar

Diante da importância do setor para o município, observou-se que infelizmente não


existe e nem foram desenvolvidas nas últimas gestões municipais políticas públicas voltadas
para o setor.
Em entrevista, o Secretário Municipal de Agricultura destacou que, muito embora o
município não tenha uma política pública própria voltada para a agricultura familiar, apoia e
promove programas como o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), em
11
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

percentual superior ao previsto em Lei, ou seja, o município destina 35% do valor repassado
para merenda escolar à compra direta do agricultor familiar, quando a legislação exige um
mínimo de 30%. Citou também outro programa apoiado pelo governo municipal: PAA
(Programa de Aquisição de Alimentos). Quanto à prefeitura, desenvolve ações pontuais tais
como limpeza de açudes, transporte de cana de outros municípios no período de estiagem,
melhorias das estradas, caminhão pipa para abastecimento das propriedades rurais.
Além do apoio direto da Secretaria Municipal de Agricultura a programas do
governo Federal, como os exemplos citados no paragrafo anterior, o município é promotor de
politicas públicas de agricultura familiar por intermédio de uma importante parceria firmada
com a Emater–Rio– Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio de
Janeiro.
O convênio municipal firmado com o Escritório Local da Emater–Rio prevê a cessão
de espaço físico para instalação das atividades administrativas e de atendimento ao produtor
local. Nesse espaço são recebidos os produtores, elaborados projetos, efetivadas consultorias e
demais atividades do órgão. O convênio também prevê o abastecimento dos veículos para
visitas in loco aos produtores, permitindo uma atuação mais próxima, de maior qualidade e
resultados.
Os dois programas mais desenvolvidos no município por intermédio dessa parceria
são: Programa Rio Rural, do Governo do Estado do RJ, e Pronaf.

5 Conclusão

Em relação à percepção dos jovens sobre a agricultura familiar, tem-se a


comprovação que reconhecem sua importância. Contudo, não se envolvem na gestão da
propriedade, vislumbrando um cenário positivo para médio e longo prazo. No que diz respeito
à sucessão rural, ficou evidente que esta é uma questão que merece mais atenção, pois não é
realizada de forma planejada. Inclusive, a maioria dos pais não incentiva a permanência do
jovem no campo, não o envolvendo na gestão da propriedade, contribuindo para o seu êxodo.
No que tange aos fatores de permanência, o presente estudo identificou que os jovens não são
motivados a permanecer na atividade, principalmente pela vivência com as dificuldades
enfrentadas pelos pais.
12
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

O homem do campo de Itaocara tem recebido incentivo dentro de suas propriedades,


mas insuficientes para atender a demanda. Mesmo com todo esforço evidenciado pela parceria
do Governo Municipal em apoiar e desenvolver as políticas públicas dos programas estaduais
e federais, os recursos não são suficientes.
Conclui-se pela necessidade urgente do desenvolvimento de políticas públicas
municipais que propiciem oportunidades como: chance do produtor rural comercializar
diretamente seu produto, com melhor preço mínimo de oferta; industrialização/transformação
para agregação de valor final ao produto, gerando emprego e renda, e talvez seja essa uma das
maiores investidas para retenção do jovem no campo. Políticas como estas trariam resultados
a médio e longo prazo, e transformariam a situação do êxodo presente.
A pesquisa apresentou como limitação a falta de referencial teórico específico sobre
os fatores de permanência dos jovens no campo e a sucessão das pequenas propriedades
rurais, o que impossibilitou a comparação, cruzamento de dados com outros locais e
situações.
Para futuras pesquisas, sugerimos esmiuçar as limitações encontradas,
desenvolvendo estudos que consigam retratar os fatores da não permanência dos jovens no
campo e seu desinteresse pela sucessão das pequenas propriedades. Outro objeto importante a
ser pesquisado é o percentual que a renda do setor rural representa para a economia do
município de Itaocara.

6 Referências

ABRAMOVAY, R. et al.Juventude e agricultura familiar:desafios dos novos padrões


sucessórios. Brasília: Unesco, 1998. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000152.pdf>. Acesso em: 06 jul.
2017.

ABRAMOVAY, R. Agricultura familiar e desenvolvimento territorial. Reforma Agrária,


Rio Claro (SP), vol. 28, nº1, 2 e 3, vol. 29, nº1, p. 49-67, jan.1998/ago. 1999.

ALVES, J. E. D., CAVENAGHI, S. LFW. A família DINC no Brasil: algumas


características sóciodemográficas. Textos para Discussão, Escola Nacional de Ciências
Estatísticas. , v.30, p.1 - 34, 2010.

13
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

BRASIL. Lei n° 11.326, de 24 de julho de 2006. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11326.htm>. Acesso em: 20
set. 2017.

BRASIL. Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964. Dispõe sobre o Estatuto da Terra, e dá


outras providências. Disponível em: Acesso em: 16 jul. 2017.

BIANCHINI, V. O universo da agricultura familiar e sua contribuição ao


desenvolvimento rural. Rio de Janeiro, 2005. Curso de Aperfeiçoamento em Agroecologia.
REDCAPA – Rede de Instituições Vinculadas à Capacitação em Economia e Política
Agrícola da América Latina e Caribe.

BRUMER, A, et al.Juventude rural e divisão do trabalho na unidade de produção


familiar.In: CONGRESSO RURAL SOCIOLOGY ASSOCIATION (IRSA), 10. 2000, Rio
de Janeiro: IRSA, 2000.

CEPAL/FAO/IICA. Perspectivas de la agricultura y deldesarrollo rural em las Américas:


uma mirada haciaAmerica Latina y el Caribe.San Jose: IICA, 2009.
Disponivelem:<http://www.iica.int/Esp/organizacion/LTGC/modernizacion/Publicaciones%2
0de%20Modernizacin%20Institucional/B1560E.pdf> Acesso em: 17 out. 2017.

DAMIANI, A. População e Geografia. São Paulo, Contexto: 2006.

DENARDI, R. A. Agricultura familiar e políticas públicas: alguns dilemas e desafios para


o desenvolvimento rural sustentável. Agroecologia e desenvolvimento rural sustentável, Porto
Alegre, v. 2, n. 3, p. 56-62, jul/set. 2001.

EVANGELISTA, F. R.; CARVALHO, J. M. M. Algumas considerações sobre o êxodo


rural no Nordeste. Banco do Nordeste-BNB/ Escritório Técnico de Estudos Econômicos do
Nordeste-ETENE, 2001.

FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002.

GUERRA, A. C. et al. Agricultura familiar e economia solidária: o programa compra


direta como política de inserção. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SISTEMAS DE
PRODUÇÃO, 7., 2007, Fortaleza. Anais. Disponível em: Acesso em: 01 jun. 2017.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar. Rio de Janeiro: Record, 1997.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Censo


agropecuário 2006: Brasil, grandes regiões e unidades da federação. Rio de Janeiro: IBGE.
2009.Disponívelem:<http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/51/agro_2006.pdf>.
Acesso em: 21 jun. 2017.

14
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

MARTINS, J. de S. Prefácio. In: SILVESTRO, M. L.; et al. Os impasses sociais da sucessão


hereditária na agricultura familiar. Florianópolis: Epagri Brasília - NEAD/ Ministério do
Desenvolvimento Agrário, 2001.

MDA-Ministério do Desenvolvimento Agrário. 2008. Disponível em:


http://smap14.mda.gov.br/extratopf/PesquisaTitular.aspx. Acesso:14 de mai. 2017.

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME -


BNDES.Agricultura familiar. 2014. Disponível em:
<http:www.mds.gov.br/falemds/perguntasfrequentes/bolsa-familia/programas-
complementares/beneficiário/agricultura-familiar>. Acesso em: 24 agos. 2017.

OLIVEIRA, J. L. de; ALBUQUERQUE, A. L.; PEREIRA, R. D. Governança, sucessão e


profissionalização em uma empresa familiar: (re)arranjando o lugar da família
multigeracional. Revista Brasileira de Gestão de Negócios. São Paulo, v. 14, n. 43, p. 176-
192, Jun/2012.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA


– FAO. Colocar os agricultores familiares em primeiro para erradicar a fome. 2014.
Disponível em: <https://www.fao.org.br/cafppef.asp>. Acesso em: 16 jul. 2017.

PITAGUARI, S. O.; LIMA, J. F. de. As ideiaskeynesianas e o crescimento do produto nas


economias locais. Interações: Revista Internacional de Desenvolvimento Local, Campo
Grande, v. 6, n. 10, p. 11-20, 2005.

SEBRAE. Cartilha do Empreendedor Rural, 2013.

SIQUEIRA, V. Industrialização, Urbanização, êxodo rural, no Sudoeste do


Paraná.Ijuí,2012.Disponívelem:<HTTP://bibliodigital.unijui.edu.br:8080/xmlui/bitstream/ha
ndle/123456789/1400/TCC%20Volmir%20de%20Siqueira%20Pronto.pdf?sequence=1>.Aces
so em: 10 mai.2017.

STÉDILE, J. P. A questão agrária e o socialismo. In: STÉDILE, João Pedro (Coord.). A


questão agrária hoje. Porto Alegre, Ed. da UFRGS, 2002. p. 306-322.

STOFFEL J. e OLIVEIRA O. Perspectivas para a agricultura familiar no Rio Grande do


Sul. Uma versão deste artigo foi apresentada na VIII Bienal de Buenos Aires em agosto de
2010.

TODARO, M. Introdução à economia. São Paulo: editora Best Seller, 1999.

VESENTINI, J. W. Sociedade e espaço: geografia do Brasil. São Paulo: Editora Ática,1994.

ZANELLA, L. C. H. Metodologia de estudo de pesquisa em administração. Florianópolis:


Departamento de Ciências da Administração/UFSC; [ Brasília]: Capes: UAB, 2009.164p.: Il

15
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

ApêndiceQUESTIONÁRIO APLICADO PARA OS JOVENS AGRICULTORES


1 - Identificação
Nome (opcional):
Sexo ( ) M ou ( ) F
Idade:
Estado Civil:
Filhos: ( ) S ou ( )N
Quantas pessoas residem com você?

2. Para você, o que significa agricultura familiar?


3. Qual importância da agricultura para a economia do Município?
4. Quais as atividades desenvolvidas na sua propriedade? Que outras fontes de renda possui
fora da propriedade?
5. Você participa das decisões sobre as atividades desenvolvidas na propriedade? Como?
6. Você pretende permanecer trabalhando no meio rural? Ou pretende ir morar e trabalhar no
meio urbano? Por quê?
7. Quantos hectares de terra sua família possui?
8. Que fatores em sua opinião têm contribuído ou não para a permanência dos jovens no meio
rural?
9. Qual a importância da agricultura para a economia do município?
10. Quais as políticas públicas municipais você identifica que são desenvolvidas para
incentivar a permanência do agricultor no meio rural?11. Quais ações que poderiam resultar
em políticas públicas, você gostaria de sugerir ao Governo Municipal para desenvolver em
Itaocara, visando incentivar a permanência dos jovens na agricultura?
12. Quais os principais desafios da agricultura familiar hoje?
13. Qual a sua expectativa quanto a agricultura familiar no futuro?

16

Você também pode gostar