Construções Especiais: Mauricio Thomas
Construções Especiais: Mauricio Thomas
Construções Especiais: Mauricio Thomas
ESPECIAIS
Mauricio Thomas
Materiais e produtos
que minimizam o uso
de recursos naturais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Atualmente, o conceito de desenvolvimento sustentável se difundiu
por diversos setores da economia e a consciência da sociedade sobre a
importância da preservação ambiental para a manutenção da qualidade
de vida é cada vez maior. Nesse sentido, a questão ambiental e o uso dos
recursos naturais passaram a receber maior atenção por parte da socie-
dade, que começou a sentir as consequências dos impactos das atividades
do homem sobre o meio ambiente e, diante disso, tem aceitado com mais
facilidade a necessidade de mudança do atual modelo de desenvolvi-
mento. Uma prova disso é a constante preocupação dos compradores de
imóveis com o quesito da sustentabilidade. De antemão, pessoas que têm
o desejo de adquirir um bem imóvel buscam informações a respeito das
práticas de sustentabilidade adotadas durante a construção e se houve
uma preocupação voltada à preservação do meio ambiente.
Neste capítulo, você vai conhecer alguns sistemas prediais de rea-
proveitamento da água, bem como identificar os sistemas prediais de
captação e armazenagem de energia solar. Também vai relacionar os
sistemas construtivos que reduzem a geração de resíduos em obras.
2 Materiais e produtos que minimizam o uso de recursos naturais
Águas pluviais
O uso de água pluvial (água da chuva) consiste em uma das importantes
medidas para a gestão da água, contribuindo tanto para a economia de água
potável quanto como medida não estrutural de drenagem, a qual é realizada no
próprio lote. Atualmente, percebe-se que os problemas com o abastecimento
de água e também com o aumento do escoamento superficial provocado pela
crescente impermeabilização das cidades têm incrementado a sua utilização
nos edifícios.
Esse sistema de aproveitamento de águas pluviais costuma ser utilizado para
consumo não potável e consiste de um conjunto de elementos, de tecnologia
relativamente simples e econômica, que objetiva captar e armazenar a água
da chuva para uso futuro.
O sistema é composto basicamente por:
bomba
filtro
reservatório
subterrâneo
Águas cinzas
No atual momento, observa-se uma crescente importância do tema de reuso de
águas cinzas no contexto das construções sustentáveis em nosso país. A busca
por soluções tecnológicas que visam ao melhor aproveitamento dos recursos
naturais e maior conforto e economia nas construções não para de aumentar,
objetivando sempre atingir o mínimo de impacto e a máxima integração com
o ambiente. Em especial, a preocupação com o aumento da demanda de água
tratada tem feito com que o reuso da água ganhe, a cada dia, maior destaque.
Para se ter uma ideia, de acordo com Gonçalves (2009), no Brasil, o con-
sumo médio per capita de água em 2006 foi de 145,1 L/hab/dia. Desse volume,
segundo o autor, cerca de 60 a 70% é transformado em águas cinzas.
Nesse contexto, segundo o Manual da FIESP (2005), a água cinza para
reuso é o efluente doméstico que não tem contribuição de bacia sanitária e pia
de cozinha, ou seja, utilizam-se os efluentes gerados pelo uso de banheiras,
chuveiros, lavatórios, máquinas de lavar roupas e até mesmo águas conden-
sadas, geradas por aparelhos de ar-condicionado.
Alguns autores, como Nolde (1999) e Christova-Boal, Eden e Macfarlane
(1996), não consideram como água cinza o efluente oriundo de cozinhas,
incluindo as águas oriundas das máquinas de lavar louça, por considerá-las
altamente poluídas, putrescíveis e com inúmeros compostos indesejáveis,
como óleos e gorduras.
6 Materiais e produtos que minimizam o uso de recursos naturais
Para que essas águas pudessem ser utilizadas no reuso, seria necessária
uma política de conscientização em nosso país que enfatizasse a importância
do descarte correto e adequado do lixo doméstico.
Alves et al. (2009) reitera que a reutilização de águas cinzas tratadas em
residências contribuem reduzindo o consumo residencial de água potável, o
que acaba reduzindo também o volume de contaminantes do solo. Em alguns
casos, principalmente se tratando de edificações de grande porte, a prática do
reuso apresenta-se como uma alternativa mais atrativa, em termos econômicos,
do que a utilização de águas pluviais.
Quanto ao sistema de reuso, a FIESP (2005) cita alguns cuidados que
merecem destaque:
Rede pública
Captação e reserva
Distribuição
Viggiano (2005) também cita que o sistema de coleta e uso de águas cinzas
está associado à verificação dos pontos de coleta e de uso, ao levantamento das
vazões disponíveis, ao dimensionamento do sistema que captará e transportará
os efluentes, ao dimensionamento do reservatório que abrigará as águas e ao
tratamento adequado da água.
As normas brasileiras que versam sobre o aproveitamento de água pluvial são a ABNT
NBR 15527:2007 (Aproveitamento de água de chuva em áreas urbanas para fins não
potáveis) e a ABNT NBR 10844:1989 (Instalações prediais de águas pluviais).
Ainda não existe legislação que regulamente e crie diretrizes para o aproveitamento
de água de chuva em nível nacional e estadual. Existe um projeto de lei (PL nº. 7.818/2014)
em nível federal para a criação da Política Nacional de Captação, Armazenamento e
Aproveitamento de Águas Pluviais. Em nível estadual, existem vários projetos de lei que
abordam o assunto, destacando-se o PL nº. 1.621/2015, que objetiva criar o Programa
de Captação de Água de Chuva.
8 Materiais e produtos que minimizam o uso de recursos naturais
Aquecimento de água
Há vários benefícios gerados por um sistema de aquecimento solar. Dentre eles,
o principal pode ser considerado a economia proporcionada ao usuário com
as reduções de gastos com a energia elétrica. Ainda nesse sentido, a ANEEL
(BRASIL, 2005) considera que todos os gastos do setor elétrico relativos ao
aquecimento de água em chuveiros elétricos poderiam ser evitados com a
utilização do sistema de energia solar.
Para se ter uma ideia, segundo dados da PROCEL (AVALIAÇÃO..., 2007),
o aquecimento de água no Brasil representa cerca de 24% do consumo médio
Materiais e produtos que minimizam o uso de recursos naturais 9
Saída para
consumo
Água quente
Água proveniente
da caixa d’água
Água fria
Sifão
Sentido de circulação
da água no sistema
Retorno de
água quente
mín 30 cm
mín 30 cm
Dreno Entrada de
água fria
Outro fato interessante de ser abordado é que, por meio das regras de geração
distribuída criadas pela ANEEL em sua Resolução Normativa nº. 482, de abril
de 2012 (BRASIL, 2012), criou-se o sistema de compensação de energia elétrica.
Assim, os milhares de consumidores brasileiros que geram a sua própria energia
por meio dos sistemas fotovoltaicos, hoje, o fazem na modalidade de autocon-
sumo, ou seja, o fazem para suprir o próprio consumo de sua casa ou empresa.
Com a nova normativa, todo o excedente de energia gerado pelo sistema do
consumidor será injetado na rede e “emprestado” à distribuidora, a qual devolve
essa energia ao consumidor na forma dos créditos energéticos. Esses créditos,
então, são usados pelo consumidor para abater do que ele consumiu da rede da
distribuidora nos momentos em que seu sistema não está gerando energia (à
noite) ou quando a geração não suprir o consumo (dias nublados e/ou chuvosos).
Rocha (2017) destaca que a utilização do LSF vem crescendo nos últimos
anos, principalmente como elemento de vedação externa e na construção de
habitações unifamiliares, hospitais, escolas, edifícios de até quatro pavimentos
e retrofit de edificações existentes. Recentemente, também houve a inserção do
LSF no mercado como uma alternativa inovadora para a execução de fachadas
em edifícios de múltiplos pavimentos, substituindo o processo tradicional por
uma tecnologia mais ágil.
Quando comparados aos sistemas tradicionais, os sistemas com maior grau
de industrialização, tais como o LSF, tendem a proporcionar melhorias nas
operações dos canteiros de obras, tais como uma expressiva redução de mão de
obra e melhorias nas condições de logística interna dos canteiros, economizando
espaço para o armazenamento de material no local, o que acarreta em melhor
controle de qualidade da produção, redução de desperdício e possibilidade de
um gerenciamento de cadeia de suprimentos mais eficiente (ROCHA, 2017).
Pré-fabricados de concreto
É um sistema construtivo em que as peças de concreto são preparadas na
fábrica e trazidas diretamente para o canteiro, prontas para serem encaixadas
e formar, assim, a edificação, como mostra a Figura 7. De acordo com a ABCP
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND, 2009), o pré-
-fabricado de concreto é um dos sistemas que mais evoluiu nos últimos anos.
Mais recentemente, as inovações tecnológicas do sistema têm sido colocadas
a serviço da arquitetura, por meio das formas arrojadas das estruturas e
fachadas pré-fabricadas. Feitos sob medida para cada obra, os painéis, por
exemplo, podem reproduzir qualquer desenho de fachada com qualidade e
rapidez. A construção formal está migrando para os sistemas pré-fabricados
de concreto em função da agilidade, economia e limpeza do canteiro que esse
tipo de obra proporciona.
Outro fato que vem contribuindo muito para reduzir a geração de entulhos é
NBR 15873:2010 (Norma de coordenação modular para edificações), que exige
que os sistemas e os componentes tenham medidas padronizadas de forma
industrial e sejam compatibilizados desde o projeto. Com isso, a construção se
torna mais racionalizada, com alto índice de produtividade e com zero geração
de entulho (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2010).
Sistema de containers
Os containers são caixas de metal, geralmente de grandes dimensões, destina-
dos ao acondicionamento e transporte de carga, a longa distância, em navios
e trens. Têm, geralmente, uma vida útil de 10 anos e, após esse período, surge
a necessidade de se oferecer um destino correto para essas peças, já que são
produzidos a partir de materiais metálicos e não biodegradáveis, o que os torna
um grande problema, por formarem montanhas de lixo no contexto urbano
das cidades portuárias.
Ultimamente, esse material tem sido utilizado como alternativa de habita-
ção no Brasil. Para Fernandes (2003), a habitação desempenha três diferentes
funções:
AGUIRRE, L. M.; OLIVEIRA, J.; CORREA, C. B. Habitando o container. In: SEMINÁRIO IN-
TERNACIONAL NUTAU, 7., 2008, São Paulo. Anais eletrônicos... Disponível em: <https://
www.usp.br/nutau/CD/68.pdf>. Acesso em: 14 jul. 2018.
ALVES, W. C. et al. Tecnologias de conservação em sistemas prediais: conservação de
água e energia em sistemas prediais e públicos de abastecimento de água. Rio de
Janeiro: ABES, 2009.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND. Artefatos de cimento. São Paulo,
2009.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10844: instalações prediais de
águas pluviais. Rio de Janeiro: ABNT, 1989.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15527: água de chuva: apro-
veitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis. Rio de Janeiro:
ABNT, 2007.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15569: sistema de aquecimento
solar de água em circuito direto: projeto e instalação. Rio de Janeiro: ABNT, 2008.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15873: norma de coordenação
modular para edificações. Rio de Janeiro: ABNT, 2010.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15961: alvenaria estrutural:
blocos de concreto. Rio de Janeiro: ABNT, 2011.
AVALIAÇÃO do mercado de eficiência energética no Brasil: pesquisa na classe resi-
dencial. Rio de Janeiro: PROCEL; Eletrobrás, 2007. Disponível em: <www.procelinfo.
com.br/services/procel-info/.../DownloadSimulator.asp?...>. Acesso em: 14 jul. 2018.
BASSANESI, K. Análise de risco do aproveitamento da água de chuva para uso não potável
em edificações. 2014. Dissertação (Mestrado em Ciências Exatas e da Terra)- Universi-
dade Federal de São Carlos, São Carlos, 2014.
22 Materiais e produtos que minimizam o uso de recursos naturais
das em Light Steel Framing. 2017. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil)- Escola
Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.
RODRIGUES, S. G. Energia solar. Revista Eletrônica de Ciências, ano 2, n. 8, jun. 2002.
RODRIGUES, D.; MATAJS, R. Um banho de sol para o Brasil: o que os aquecedores
solares podem fazer pelo meio ambiente e a sociedade. São Lourenço da Serra, SP:
Instituto Vitae Civilis, 2005.
STEC. Reutilização de águas cinzas. [201-?]. Disponível em: <https://www.stecenge-
nharia.com/sustentabilidade>. Acesso em: 14 jul. 2018.
VIGGIANO, M. H. S. Sistemas de reuso das águas cinzas. Revista Téchne, ano 13, n. 98,
p. 76-79, maio 2005.
Leituras recomendadas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6136: blocos vazados de con-
creto simples para alvenaria: requisitos. Rio de Janeiro: ABNT, 2013.
BRASIL. Agência Nacional de Águas. The Evolution of Water Management in Brazil.
Brasília, DF: Agência Nacional de Águas, 2002.
LEMOS, H. M. O desenvolvimento sustentável na prática. Rio de Janeiro: Comitê Brasileiro
do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, 2007.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.