Focos de Tensã o América I
Focos de Tensã o América I
Focos de Tensã o América I
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Após a eleição de Barack Obama, preservar o continente americano como
nos EUA, foi firmado o compromisso de se área de influência político-econômica dos
iniciar uma nova era de relacionamentos Estados Unidos.
com os países da América Latina, baseada Em alguns países da América
na igualdade e na cooperação. Latina, o bolivarismo sempre esteve
O fato é que o aprendizado da vida latente em determinados recortes sociais,
democrática tem sido muito difícil para as o que permitiu que os políticos se
nações da América Latina e ocorre de utilizassem de uma plataforma bolivariana
forma muito lenta. Diversos retrocessos na e se elegessem em seus países, apoiados,
democracia marcaram o continente após também, por uma certa rejeição ao
os anos 1990 (observe o mapa seguinte). neoliberalismo e suas consequências
Desde então, somente a Colômbia, apesar socioeconômicas.
de viver há quase cinquenta anos uma O bolivarismo foi a tentativa de se
guerra civil, o Chile e o Uruguai não implantar uma política de coalizão entre os
tiveram presidentes depostos. países latino-americanos, recentemente
emancipados do processo de colonização,
Instabilidade política contra práticas de dominação promovidas
Presidentes depostos após 1990 na por países europeus ou pelos EUA.
América do Sul Atualmente, é uma doutrina que prega, em
linhas gerais, a união dos países da
América Latina e do Caribe, pois considera
que existem laços históricos e culturais
entre os povos da região e várias razões
de ordem política para essa integração.
No entanto, nem todos os governos
sul-americanos têm seguido a mesma
tendência política. Enquanto Hugo Chávez
e Evo Morales têm um discurso de forte
ataque aos EUA, Dilma Roussef e José
Mujica adotam uma postura moderada,
que não se diferencia muito de governos
de centro ou de direita.
Hoje, o que se observa pela
América Latina é um boom de partidos
esquerdistas, denominada, por alguns
estudiosos, como a “onda democrática” ou
Do outro lado, a tentativa de
“onda vermelha”. Esse fato pode ser
integração, criada por Simón Bolívar na
entendido como uma provável resposta ao
transição do século XIX para o século XX,
fracasso social dos sistemas econômicos
fracassou em função do nacionalismo
neoliberais, implantados nesses mesmos
característico das elites políticas dos
países durante a década de 1990, e aos
países-membros e da pressão norte-
vários retrocessos vividos pela democracia
americana, exercida no contexto da
no continente.
política do Big Stick, que visava a
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Nos últimos anos, chegaram ao Conflitos que persistem: as fraturas
poder presidentes de esquerda em oito andinas
países do continente – Brasil (Dilma
Roussef), Argentina (Cristina Kirchner),
Equador (Rafael Correa), Uruguai (José
Mujica), Paraguai (Fernando Lugo) e
Nicarágua (Daniel Ortega), devendo ser
destacadas a Venezuela (Hugo Chávez) e
a Bolívia (Evo Morales), cujas populações
levaram ao poder governantes que
também têm adotado atitudes contrárias
ao neoliberalismo.
Há, também, presidentes de direita
e que apoiam, em níveis diferentes, os
EUA, como Juan Manuel Santos
(Colômbia), Sebastián Piñera (Chile), Alan
García (Peru), Laura Chinchila (Costa
Rica) e Felipe Calderón (México), entre
outros.
Essa divergência política na
América Latina, com destaque na América
do Sul, tem conduzido o continente a
várias tensões diplomáticas nos últimos
anos, criando, e em algumas situações Dentre essas tensões, pode-se
reforçando, as linhas de fratura existentes destacar a aliança política entre a
no subcontinente. Tal situação causa Venezuela e o Equador, representantes de
instabilidade e promove a desconfiança uma esquerda mais radical, com relação à
internacional, gerando a possibilidade de Colômbia, país que é um dos maiores
ruptura política entre os Estados aliados dos EUA na América Latina. Além
envolvidos ou mesmo de intervenção da clara disparidade política entre os
militar. Observe o mapa abaixo: países, a ação das FARCs e o narcotráfico
aumentam as fricções regionais,
dificultando muitas vezes a manutenção
da diplomacia.
Outro exemplo de tensão nos
remete à história da política externa
boliviana, país simpatizante da “política
chavista”, marcada por conflitos com
países vizinhos, como o Chile, Peru e
Paraguai. A Bolívia perdeu territórios para
esses três países em guerras do passado,
como a Guerra do Pacífico (1879 e 1884)
e a Guerra do Chaco (1932 a 1935).
Atualmente, o governo Evo Morales ainda
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mantém disputas fronteiriças e concentradas na região caribenha,
reivindicações territoriais com o Chile e pertencem a companhias estrangeiras.
com o Peru, embora durante muitos anos Outros produtos agrícolas bastante
a tensão entre a Bolívia e o Peru tenha cultivados são arroz, milho, mandioca,
perdurado em função da perda da saída cana-de-açúcar, cacau, tabaco e algodão,
para o mar durante a Guerra do Pacífico. entre outros. A pecuária do país se
Porém, em outubro de 2010, foi assinado beneficia das grandes planícies, onde são
um acordo entre os governos da Bolívia e criados os gados caprino, bovino e equino.
do Peru, em que o governo peruano Além disso, há várias áreas de produção
concede à Bolívia acesso contínuo ao de suínos e aves.
oceano Pacífico e a um terminal localizado
no porto de Illo (sul do território peruano). Mapa físico-político da Colômbia
COLÔMBIA
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que possuem cerca de 15 mil homens; o No início da década de 1980,
Exército de Libertação Nacional (ELN), surgiram diversos grupos paramilitares,
surgido em 1967 e que conta com com intuito de combater as guerrilhas,
aproximadamente 5 mil combatentes; e o financiados principalmente por
Movimento Revolucionário 19 de Abril (M- latifundiários e com apoio velado do
19), que surgiu em 1970 e saiu de cena em exército e do governo colombiano. O maior
1989, após 19 anos de luta. deles são as Autodefesas Unidas da
Com a desintegração da URSS nos Colômbia (AUC).
anos 1990, as guerrilhas colombianas O conflito entre guerrilheiros e
deixaram de ser um movimento armado esses grupos fez da década de 1990 um
ideológico e restrito a algumas localidades período violento, com milhares de mortos
rurais e desenvolveram, nas últimas e desaparecidos. As AUC são acusadas de
décadas, uma clara estratégia de frequentes violações aos direitos
ocupação do território nacional, a partir da humanos, pois constituem grupos de
divisão espacial do país. As guerrilhas das extermínio extremamente violentos, que
FARC tornaram-se fortes, especialmente têm como finalidade eliminar comunidades
na estratégica região ocupada pela camponesas inteiras suspeitas de darem
Cordilheira Oriental, que passa no meio do apoio aos guerrilheiros.
país e na qual está situada a capital,
Bogotá. PLANO COLÔMBIA
Essa estratégia visava a garantir
recursos para sustentar e financiar a O Plano Colômbia é uma estratégia
atividade guerrilheira, através da criada pelo governo dos Estados Unidos
realização de chantagens e sequestros de em 2000 que se destina oficialmente a
empresários e produtores rurais ricos (a combater a produção e o tráfico de cocaína
Colômbia é o país campeão de sequestros na Colômbia. Porém, tem também o
no mundo, apesar da redução que ocorreu propósito de desestruturar as guerrilhas,
nos últimos anos, mantendo cerca de 3 contribuindo com ajuda financeira e militar
400 sequestrados em cativeiro na ao governo colombiano. Para benefício
atualidade). Isso obrigou as Forças norte-americano, o projeto aumenta a
Armadas a também se dispersarem pelo presença dos EUA em uma área de grande
território, formando novos e menores interesse geopolítico, que tem posição
quartéis, que são facilmente combatidos estratégica e riqueza em recursos
pelas guerrilhas. energéticos (petróleo, gás, carvão) e
Há suspeitas de que, além dos minerais, além de salvaguardar os
sequestros e extorsões, as guerrilhas se interesses de suas corporações no
financiem pela comercialização de drogas petróleo da região. Deve se salientar que
(que lhes garantiria 500 milhões de dólares esse não foi um projeto que obteve apoio
anuais). As guerrilhas negam esse unânime dos países latinos, sendo
envolvimento com o narcotráfico, mas o também alvo de críticas de alguns setores
governo afirma que elas obtêm recursos da sociedade colombiana e internacional.
com extorsão dos narcotraficantes, em
troca de proteção para plantação e
comercialização das drogas.
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contribuiu para fechar o cerco às milícias e
aos guerrilheiros, conseguindo, com isso,
controlar e diminuir a violência no país,
principalmente nas áreas urbanas e ao
longo das rodovias.
GOVERNO URIBE
Já para a oposição boliviana, normalmente constituída pela elite, o país poderá perder
a sua unidade, quando fragmentado em 36 nações indígenas, dando privilégio a uma
cidadania nacional – a dos indígenas –, o que nega um dos direitos democráticos e
universais que norteiam as leis internacionais.
Além disso, com a nova Constituição, o país adotou um novo nome, passando a ser
denominado Estado Plurinacional da Bolívia, a partir de 18 de março de 2009. A ONU
reconheceu a nova denominação oficial do Estado boliviano em 7 de abril de 2009.
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