PerspecCiTecnol7 43 50
PerspecCiTecnol7 43 50
PerspecCiTecnol7 43 50
2, (2015)
RESUMO
Oryctina Tiegh. pertence à família de plantas parasitas Loranthaceae. Sua distribuição é
restrita às regiões de Caatinga e Cerrado no Brasil. Apesar da grande importância econômica e
ecológica, não há registros de estudos anatômicos para as espécies brasileiras de Oryctina. O
presente trabalho teve como objetivo estudar a anatomia caulinar e foliar de Oryctina
quadrangularis Kuijt. Amostras de material herborizado foram submetidas à metodologia usual em
Anatomia Vegetal. O caule é quadrangular em secção transversal. O córtex possui a peculiaridade
de ser constituído por parênquima clorofiliano em paliçada e isodiamétrico. Grupos de
braquiesclereídes contendo cristais prismáticos, típicos em Loranthaceae, ocorrem geralmente
associados às fibras dos feixes vasculares e na medula. Os estômatos são paracíticos, típicos da
família, sendo salientes no caule. A epiderme é simples e relativamente papilosa, persistente durante
o crescimento secundário, sendo substituída nos ângulos e em parte das faces do caule por uma
periderme rica em lenticelas. A folha é anfiestomática e com mesofilo isobilateral. O.
quadrangularis possui características morfológicas e anatômicas xeromórficas. Porém, possui
também características que apontam para uma grande eficiência transpiratória, o que provavelmente
está relacionado ao seu hábito parasítico.
Palavras-chave: Anatomia, erva-de-passarinho, xeromorfismo, Santalales.
ABSTRACT
Oryctina Tiegh. belongs to the parasitic plant family Loranthaceae. Its distribution is
restricted to the Brazil regions of Caatinga and Cerrado. Despite the great economic and ecological
importance, there are no reports of anatomical studies for Brazilian species of Oryctina. Therefore,
the present work aimed to study the stem and leaf anatomy of Oryctina quadrangularis Kuijt. To
this purpose, samples of herbarium material were processed according usual methodology in Plant
Anatomy. The stem is quadrangular in transverse section. The cortex has the distinction of poses
chlorenchyma made up of palisade and isodiametric cells. Groups of brachysclereids containing
prismatic crystals, typical in Loranthaceae, occur usually associated with fibers of vascular bundles
and in the pith. The stomata are paracytic, typical in the family, and are salient in the stem. The
epidermis is persistent during secondary growth, replaced in the corners and part of the stem sides
by a periderm rich in lenticels. The leaf is amphistomatic and isobilateral. The epidermis is simple
and relatively papillose. O. quadrangularis has morphological and anatomical xermorphic
characteristics. However, it also has characteristics that point to a large transpiration efficiency,
which is probably related to its parasitic habit.
Key words: Anatomy, mistletoe, xeromorphism, Santalales. 43
Perspectivas da Ciência e Tecnologia, v.7, n. 2, (2015)
INTRODUÇÃO
MATERIAL E MÉTODOS
44
Perspectivas da Ciência e Tecnologia, v.7, n. 2, (2015)
RESULTADOS
Caule herbáceo do tipo haste, de contorno quadrangular em secção transversal, com as faces
relativamente côncavas (Figs. 1A e 1B), verde-escuro, verde-oliva a verde amarelado, 4 ângulos
lenticelados, quando muito velho cilíndrico; entrenós 10–55 × 1,5–5 mm. A epiderme é unisseriada,
onde as células são relativamente quadradas em secção transversal. A parede periclinal externa pode
se apresentar convexa, porém a espessa cutícula atenua esse aspecto papiloso (Figs. 1B e 1F). Os
estômatos são do tipo paracítico (Fig. 1N), onde as células guarda encontram-se salientes, ou seja,
acima do nível das demais células epidérmicas (Figs. 1F e 1M). A disposição dos estômatos,
embora algo irregular, tende à transversalidade em relação ao eixo do órgão. O córtex é constituído
por parênquima clorofiliano, organizado em duas regiões distintas: uma externa, com duas a três
camadas de células em paliçada; e uma região interna, com uma a quatro camadas de células
isodiamétricas (Figs. 1F e 1H). Cerca de 16 feixes vasculares colaterais abertos (Fig. 1E) dispõem-
se aparentemente eustelicamente, acompanhando o contorno quadrangular do caule.
Os feixes são em tamanho variável, sendo maiores aqueles nos ângulos do caule, bem como
na posição central de cada lado do mesmo. As fibras do protofloema do feixe vascular (Fig. 1E)
apresentam grupos de braquiesclereídes com um cristal prismático hexaédrico ou octaédrico,
aparentemente aderido à parede. Esses grupos também são encontrados no córtex interno (Figs. 1H
e 1J) e, principalmente, na periferia da medula (Fig. 1D). Esta última é constituída por um
parênquima aparentemente amilífero, com células isodiamétricas maiores que as células da região
interna do córtex. Também, há idioblastos secretores (Fig. 1F).
Folha
DISCUSSÃO
46
Perspectivas da Ciência e Tecnologia, v.7, n. 2, (2015)
47
Perspectivas da Ciência e Tecnologia, v.7, n. 2, (2015)
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARDUIN, M., KRAUS, J.E., VENTURELLI, M. Estudo morfológico de galha achatada em folha de Struthanthus
vulgaris Mart. (Loranthaceae). Revista Brasileira de Botânica, 14, 147-156, 1991.
BERLYN, G.P., MIKSCHE, J.P. Botanical microtechnique and cytochemistry. Ames: The Iowa State Press, 1976.
326p.
BOZZOLA, J. J., RUSSELL, L.D. Electron microscopy. Boston: Jones and Bartlett Publischers, 1992. 542p.
CAIRES, C.S. Estudos taxonômicos aprofundados em Oryctanthus (Griseb.) Eichler, Oryctina Tiegh. e
Pusillanthus Kuijt (Loranthaceae). Tese de Doutorado, Universidade de Brasília, Brasília, 2012. 332p.
DETTKE, G.A., MILANEZE-GUTIERRE, M.A. Estudo anatômico dos órgãos vegetativos da hemiparasita
Phoradendron mucronatum (DC.) Krug & Urb. (Viscaceae). Revista Brasileira de Biociências, 5(1), 534-536, 2007.
DETTKE, G.A., MILANEZE-GUTIERRE, M.A. Morfoanatomia e venação foliar de seis espécies de Phoradendron
Nutt. (Viscaceae). Revista de Biologia Neotropical, 6(1), 13-23, 2009a.
DETTKE, G.A., MILANEZE-GUTIERRE, M.A. Morfoanatomia caulinar de seis espécies de Phoradendron Nutt.
(Viscaceae). Revista de Biologia Neotropical, 6(1), 25-34, 2009b.
ESAU, K. Anatomy of seed plants. New York: John Wiley & Sons, 1977. 550p.
EVERT, R.F. Esau anatomia vegetal. Barcelona: Omega, 2008. 601p.
FLORES, E.M. Developmental studies in Casuarina (Casuarinaceae). III. The anatomy of the mature branchlet.
Revista de Biologia Tropical, 25(1), 65-87, 1976.
GUIMARÃES, A.C., KUSTER, R.M., AMARAL, A.C.F., FERREIRA, J.L., SIANI, A.C. Histological study of the leaf
and stem of the amazonian medicinal mistletoe Cladocolea micrantha (Loranthaceae). International Journal of
Botany, 3(2), 218-221, 2007.
JOHANSEN, D.A. Plant microtechnique. New York: McGraw-Hill Book. 1940. 523p.
JRAIS, R. 2013. Comparative anatomical studies on the leaves of family Loranthaceae parasitic on trees in the
Kingdom of Saudi Arabia. Global Advanced Research Journal of Agricultural Science, 2(7), 189-195, 2013.
KRAUS, J.E., ARDUIN, M. Manual básico de métodos em morfologia vegetal. Seropédica: EDUR, 1997. 198p.
KUIJT, J. Notes on the anatomy of the genus Oryctanthus (Loranthaceae). Canadian Journal of Botany, 39(7), 1809-
1816, 1961.
KUIJT, J. Inflorescence structure and generic placement of some small-flowered species of Phthirusa (Loranthaceae).
Systematic Botany, 16(2), 283-291, 1991.
KUIJT, J. Nomenclatural changes, new species, and a revised key for the genus Oryctanthus (Loranthaceae).
Botanische Jahrbucher fur Systematik, 114(2), 173-183, 1992.
48
Perspectivas da Ciência e Tecnologia, v.7, n. 2, (2015)
KUIJT, J. Two new brazilian species of Oryctina (Loranthaceae) with a revised key to the genus. Novon, 10(4), 391-
397, 2000.
KUIJT, J. First record of the genus Oryctina (Loranthaceae) in mesoamerica: O. costaricensis, a new species from
Costa Rica. Novon, 17(4), 476-478, 2007.
KUIJT, J. Two new species of Oryctanthus (Loranthaceae) from Colombia and French Guiana. Novon, 21(4), 463-467,
2011.
KUIJT, J. A brief taxonomic history of Neotropical mistletoe genera, with a key to the genera. Blumea, 58(3), 263-266,
2013.
KUIJT, J. Five new species, one new name, and tranfers in Neotropical mistletoes (Loranthaceae), Miscellaneous notes,
61-68. Novon, 23(2), 176-186, 2014.
KUIJT, J., LYE, D. A preliminary survey of foliar sclerenchyma in Neotropical Loranthaceae. Blumea, 50(2), 323-355,
2005.
MBAGWU, F.N., UNAMBA, C.I.N., EZEIBEKWE, K.O. Leaf anatomical characteristics of five variants of the genus
Viscum L. (Loranthaceae). Agricultural Journal, 4(3), 161-163, 2009.
METCALFE, C.R., CHALK, L. Anatomy of dicotyledons. London: Oxford University Press, 1950. 1500p.
MORRETES, B.L., VENTURELLI, M. Ocorrência de “lenticelas” em folhas de Tripodanthus acutifolius (R. & P.)
Tiegh. (Loranthaceae). Revista Brasileira de Botânica, 8, 157-162, 1985.
PAIVA, J.G.A., CARVALHO, S.M.F., MAGALHÃES, M.P., et al. Verniz vitral incolor 500: uma alternativa de meio
de montagem economicamente viável. Acta Botanica Brasilica, 20(2), 257-264, 2005.
PATEL, R.N. Wood anatomy of the dicotyledons indigenous to New Zealand 7. Santalaceae. New Zealand Journal of
Botany, 12, 431-444. 1974.
RIZZINI, C.T. Sôbre “Phoradendron fragile” Urb. Revista Brasileira de Biologia, 10(1), 45-58, 1950.
ROSHCHINA, V.V., ROSHCHINA, V.D. The excretory function of higher plants. Heidelberg: Springer-Verlag.
1993. 315p.
SALATINO, A., KRAUS, J.E., SALATINO, M.L.F. 1993. Contents of tannins and their histological localization in
young and adult parts of Struthanthus vulgaris Mart. (Loranthaceae). Annals of Botany, 72(5), 409-414, 1993.
SALISBURY, F.B., ROSS, C. W. Plant physiology. Belmont: Wadsworth Ponlishin Co. 1992. 682p.
SANT’ANA, I.S. Anatomia do haustório secundário da hemiparasita Phthirusa ovata (Pohl ex DC.) Eichler,
respostas fisiológicas e seus efeitos em distintas hospedeiras. Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília,
Brasília. 2012. 113p.
SANT’ANA, I.S., PAIVA, J.G.L.A., GRACIANO-RIBEIRO, D., FRANCO, A.C. Penetração do haustório secundário
de Phthirusa ovata (Pohl ex DC.) Eichler (Loranthaceae) em Dalbergia miscolobium Benth. (Fabaceae). Heringeriana,
6(1), 76-79, 2012.
STEMMERMANN, L. Vegetative anatomy of the Hawaiian species of Santalum (Santalaceae). Pacific Science, 34(1),
55-75, 1980.
UICN. Categorías y Criterios de la Lista Roja de la UICN: Versión 3.1. Segunda edición. Gland, Suiza y Cambridge,
Reino Unido: UICN, 2012. 34p.
VENTURELLI, M. Estudos sobre Struthanthus vulgaris Mart.: anatomia do fruto e semente e aspectos de germinação,
crescimento e desenvolvimento. Revista Brasileira de Botânica, 4, 131-147, 1981.
WALY, N.M. Anatomical and statistical analysis of six parasitic Loranthaceae species. American Journal of
Research Communication, 1(4), 317-332, 2013.
49
Perspectivas da Ciência e Tecnologia, v.7, n. 2, (2015)
Figura 1. Estrutura do caule e da folha de Oryctina quadrangularis. A- Aspecto geral da planta no habitat. B- Corte transversal do
caule em estrutura primária. C- Corte transversal do caule em estrutura secundária. D- Braquiesclereídes cristalíferos medulares, com
cristais prismáticos em evidência (setas), em corte transversal do caule em estrutura primária. E- Feixe vascular de caule em estrutura
primária. F- Corte transversal em um dos ângulos do caule em início de crescimento secundário. G- Detalhe da superfície do caule
em início de estrutura secundária. H- Corte longitudinal do caule em estrutura primária. I - Elementos de vaso em corte longitudinal
de caule em início de estrutura secundária. J- Detalhe de floema, fibras e braquiesclereídes cristalíferos em corte longitudinal de
caule em estrutura primária, onde se evidenciam os cristais prismáticos (setas). K- Panorama do corte transversal da lâmina foliar,
evidenciando os feixes vasculares mais calibrosos (setas). L- Detalhe da região do bordo foliar em corte transversal. M- Micrografia
de varredura da epiderme do caule em estrutura primária, evidenciando estômatos. N- Corte paradérmico do caule em estrutura
primária, evidenciando estômatos. Legendas: BeC- braquiesclereídes cristalíferos; CE- córtex externo; CI- córtex interno; Cut-
cutícula; Est- estômato; EV- elementos de vaso; Fb- fibras; Fl- floema; FlS- floema secundário; FV- feixe vascular; IS- idioblasto
secretor; Ln- lenticela; Med- medula; PL- parênquima lacunoso; PP- parênquima paliçádico; X- xilema; XS- xilema secundário.
Barras de escala em micrômetros.
50