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Tecnologias para Canteiros de Obras Sustentável

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Tecnologia para canteiro de obras sustentável

Book · November 2017


DOI: 10.26626/978-85-5953-027-8.2017B0001

CITATION READS

1 1,843

4 authors:

Sheyla Mara Baptista Serra Dayana Bastos Costa


Universidade Federal de São Carlos Universidade Federal da Bahia
107 PUBLICATIONS 232 CITATIONS 137 PUBLICATIONS 1,378 CITATIONS

SEE PROFILE SEE PROFILE

Tarcisio Abreu Saurin Francisco Ferreira Cardoso


Universidade Federal do Rio Grande do Sul University of São Paulo
252 PUBLICATIONS 5,046 CITATIONS 65 PUBLICATIONS 155 CITATIONS

SEE PROFILE SEE PROFILE

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Tecnologias para
Canteiro de Obras
Sustentável
Sheyla Mara Baptista Serra
Dayana Bastos Costa
Tarcísio Abreu Saurin
Francisco Ferreira Cardoso
(Organizadores)
Sheyla Mara Baptista Serra
Dayana Bastos Costa
Tarcísio Abreu Saurin
Francisco Ferreira Cardoso
(Organizadores)

Tecnologias para
Canteiro de Obras
Sustentável

2017
Copyright © 2017 - Todos os direitos reservados.

Distribuição gratuita, venda não autorizada.

Foto da Capa: Dayana Bastos Costa


Obra Residencial Jardim das Margaridas, Salvador, BA.

T2559t Tecnologia para canteiro de obras sustentável [recurso eletrônico] /


organizadores: Sheyla Mara Baptista Serra; Dayana Bastos Costa;
Tarcísio Abreu Saurin; Francisco Ferreira Cardoso. – [São Carlos]:
FINEP, 2017.
1 livro eletrônico
412 p.
ISBN 978-85-5953-027-8
DOI - http://dx.doi.org/10.26626/978-85-5953-027-8.2017B0001

1. CANTECHIS. 2. Habitação. 3. Sustentabilidade. 4. Canteiro de obras.


5. Tecnologia e inovação. I. Orgs. II. Título.

CDD 600

Revisão, Editoração, E-pub e Impressão:

Rua Juca Sabino, 21 – São Carlos, SP


(16) 3364-3346 | (16) 9 9285-3689
www.editorascienza.com.br
gustavo@editorascienza.com
Agência concedente

Financiadora de Estudos e
Projetos - FINEP

Presidência (PRES)
Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque
Diretoria de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (DRCT)
Wanderley de Souza
Diretoria Financeira e Controladoria (DRFC)
Ronaldo Souza Camargo
Diretoria de Gestão Corporativa (DGES)
Francisco Rennys Aguiar Frota
Diretoria de Inovação I (DRIN1)
Márcio Ellery Girão Barroso
Diretoria de Inovação II (DRIN2)
Victor Hugo Gomes Odorcyk
Área de Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável (ATDS)
Maurício B. de França Teixeira
Departamento de Tecnologia para o Desenvolvimento Urbano e
Mudanças Climáticas (DURB)
Carlos Eduardo Sartor
Analista técnica: Angela Mazzini
Consultora técnica: Maria Lúcia Malard, UFMG
Agradecimentos

À FINEP pelo suporte à rede de pesquisa CANTECHIS – Tecnologias para Canteiro


de Obras Sustentável de Habitações de Interesse Social (HIS) – e pelo apoio financeiro
para publicação deste livro.
Às empresas que colaboraram com o desenvolvimento das pesquisas apresen-
tadas neste livro:
• Ampla Construtora e Incorporadora Ltda.
• C. Rolim Engenharia Ltda.
• Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário S.A.
• Canteiro Construções Racionalizadas Ltda.
• Casoi Desenvolvimento Imobiliário Ltda.
• Civil Construtora Ltda.
• Concreta Incorporação e Construção Ltda.
• Sertenge S.A.
• Cyrela Brazil Realty S.A Empreendimentos e Participações
• Engefack Serviços e Participações Ltda.
• Espaço Certo Edificações Pré-Fabricadas Ltda.
• Eurobras Construções Metálicas Moduladas Ltda.
• Even Construtora e Incorporadora S.A.
• Fujita Engenharia Ltda.
• Goldsztein Cyrela Empreendimentos Imobiliários S.A.
• Gráfico Empreendimentos Ltda.
• Imecon Indústria de Máquinas e Estruturas para Construção Ltda.
• Jotagê Engenharia Comércio e Incorporações Ltda.
• Jotanunes Construtora Ltda.
• Kubo Engenharia e Empreendimentos Imobiliários Ltda.
• LP Brasil OSB Indústria e Comércio S.A.
• Maiojama Empreendimentos Imobiliários Ltda.
• Melnick Even Incorporações e Construções S.A.
• Modularis Indústria, Comércio e Montagem de Estruturas Modulares Ltda.
• MoreFácil Construtora e Incorporadora Ltda.
• Moura Dubeux Engenharia e Empreendimentos S.A.
• MRV Engenharia e Participações S.A.
• Muza Construtora Ltda.
• Nanotech do Brasil Indústria, Importação e Exportação Ltda.

Agradecimentos 5
• Nex Group Participações S.A.
• OAS Empreendimentos S.A.
• Odebrecht Realizações Imobiliárias S.A.
• PDG Realty S.A. Empreendimentos e Participações
• Prefacc Ltda.
• Promonature Empreendimentos Imobiliários Ltda.
• Proposta Engenharia de Edificações Ltda.
• Protensão Impacto Ltda.
• R. Correa Engenharia Ltda.
• Rio Verde Engenharia e Construções Ltda.
• Rossi Residencial S.A.
• São Conrado Empreendimentos Ltda.
• Scanmental Indústria, Comércio, Importação e Exportação de Ferramentas Ltda.
• SFZ Empreendimentos Ltda.
• Soldatopo Containers Ltda.
• Souza Neto Engenharia Ltda.
• Syene Empreendimentos e Participações Ltda.
• Talgatti Edificações Moduladas Eireli
• Tecnisa S.A.
• Tecnobra Tecnologia em Construção a Seco Ltda.
• Villare Engenharia Ltda.
• Viver Eco Canteiros Ltda.

Às instituições e organizações que colaboraram com o desenvolvimento das


pesquisas:
• ABCIC – Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto
• CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção
• CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de
São Paulo
• LAPAt – Laboratório de Análise dos Processos Atmosféricos da Universidade
de São Paulo (IAG/USP)
• SINDUSCON-BA – Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia
• SINDUSCON-RS – Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Rio
Grande do Sul
• SINDUSCON-SP – Sindicato da Indústria da Construção do Estado de São Paulo
• SRTE-RS – Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Rio Grande
do Sul
• Hong Kong Polytechnic University, Department of Building and Real Estate
• The Hong Kong Housing Authority Department

6 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Lista de Autores

Sheyla Mara Baptista Serra


Coordenação geral Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal
UFSCar de Juiz de Fora (1990), mestrado em Engenharia de Estruturas

Coordenadores da rede
pela Escola de Engenharia de São Carlos da USP (1994) e
sheylabs@ufscar.br doutorado na área de Construção Civil pela Escola Politécnica
da USP (2001). É professora associada do Departamento de
Engenharia Civil da UFSCar. Atualmente, é diretora do Centro de
Ciências Exatas e de Tecnologia (CCET). É docente do Programa
de Pós-graduação em Estruturas e Construção Civil (PPGECiv).
Participa dos grupos de pesquisa do CNPq: NETPRE - Núcleo
de Estudos e Tecnologia em Pré-moldados de Concreto, e
NUPRE - Núcleo de Pesquisa em Racionalização e Desempenho
de Edificações. É membro da ABENGE - Associação Brasileira de
Educação em Engenharia e da ANTAC - Associação Nacional de
Tecnologia do Ambiente Construído. Tem pesquisas na área de
gestão da produção da construção civil, atuando nos seguintes
temas: planejamento e controle da construção, gestão de
subempreiteiros, projeto do canteiro de obra, construção
enxuta, canteiro sustentável, análise organizacional e saúde e
segurança do trabalhador.

Dayana Bastos Costa


Coordenação Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade
UFBa Federal da Bahia (2001), Mestrado em Engenharia Civil
(Construção Civil) pela Universidade Federal do Rio Grande
dayanabcosta@ufba.br do Sul (2003), Doutorado em Engenharia Civil (Construção
Civil) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2008)
com doutorado sanduíche na Universidade de Salford (2006-
2007) no Reino Unido e Pós Doutorado na Georgia Institute
of Technology nos EUA (2014-2015). É Professora Adjunta
IV do Departamento de Construção e Estruturas da Escola
Politécnica da Universidade Federal da Bahia e do Programa de
Pós Graduação em Engenharia Civil (Mestrado e Doutorado). É
coordenadora do Programa de Pós Graduação em Engenharia
Civil da UFBA e vice coordenadora da Especialização em
Gerenciamento de Obras da UFBA. Tem experiência na área de
Construção Civil, com ênfase em Gerenciamento e Economia
de Construções, atuando principalmente nos seguintes
temas: gestão de obras, incluindo medição de desempenho,
planejamento e controle de obra, gestão da qualidade, gestão
sustentável em canteiros, Building Information Modelling e
Veículos Aéreos Não Tripulados.

7
Tarcísio Abreu Saurin
Coordenadores da rede

Coordenação Pós-doutorado na University of Salford (2012), doutorado


UFRGS em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (2002), mestrado em Engenharia Civil pela
saurin@ufrgs.br Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1997), Graduação
em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Santa Maria
(1994). Atualmente é professor associado II da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul no Departamento de Engenharia
de Produção e Transportes. Suas pesquisas têm ênfase nos
seguintes temas: gestão da segurança e da produção em
sistemas complexos; sistemas de produção enxuta e engenharia
de resiliência. Nesses temas, atualmente tem participação
como coordenador e/ou pesquisador em projetos de pesquisa
aplicada junto a empresas dos setores de distribuição e
geração de energia elétrica, assistência à saúde, manufatura e
construção civil. Tais projetos contam com auxílio financeiro de
empresas privadas e/ou agências de fomento à pesquisa, como
FINEP, CNPq, FAPERGS e CYTED.

Francisco Ferreira Cardoso


Coordenação Professor Titular da Escola Politécnica da USP da Especialidade
USP Tecnologia e Gestão da Produção na Construção Civil, vice
chefe do Departamento de Engenharia de Construção Civil,
ff.cardoso@usp.br Presidente da Comissão de Graduação da Escola Politécnica
e membro do Conselho de Graduação da USP. É graduado em
Engenharia Civil pela USP (1980), fez mestrado em Engenharia
de Construção Civil e Urbana na USP (1986), doutorado na
subárea de Économie et Sciences Sociales na École Nationale
des Ponts et Chaussées (1996) e Pós-doutorado no Centre
Scientifique et Technique du Bâtiment (2001), ambos na
França. É membro do Conselho Fiscal do Conselho Brasileiro
de Construção Sustentável (CBCS) (suplente). Foi presidente
da Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído
(ANTAC) (2008-10), vice-presidente (2010-12), diretor de
Relações Interinstitucionais em duas gestões (2006-08 e 2012-
14) e primeiro secretário (1998-2000). Atua no Programa
Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H)
do Ministério das Cidades e é membro do Comitê Nacional
de Desenvolvimento Tecnológico da Habitação (CTECH). Tem
experiência na área de Engenharia Civil (Construção Civil), com
ênfase nas linhas Competitividade, qualidade e modernização
produtiva, Gestão da produção na construção civil e Inovação e
racionalização nos processos construtivos.

8 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Carlos Torres Formoso

Professores membros da rede


UFRGS Possui graduação em Engenharia Civil pela UFRGS (1980),
mestrado em Engenharia Civil pela UFRGS (1986) e Ph.D.
formoso@ufrgs.br pela University of Salford (1991). Fez pós-doutorado na
Universidade da Califórnia, Berkeley, EUA (1999-2000) e na
University of Salford (2011). É Professor Titular da UFRGS e
coordenador do Grupo de Gestão e Economia da Construção
do Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação (NORIE).
É docente permanente do Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil da UFRGS (nota 7 na CAPES). Faz parte do
Conselho Editorial de seis revistas científicas internacionais.
Tem atuado como consultor ad hoc da FINEP, FAPESP, CAPES,
CNPq, CYTED, entre outras agências de fomento. Atua na área
de gerenciamento na construção civil, principalmente nos
seguintes temas: projeto e gestão de sistemas de produção,
produção enxuta (lean production), gestão da segurança
do trabalho, aprendizagem organizacional, medição de
desempenho de empresas e empreendimentos de construção,
habitação de interesse social e gestão do processo de
desenvolvimento do produto.

Emerson de Andrade Marques Ferreira


UFBa Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade
Federal da Bahia (1981), mestrado em Arquitetura (EESC) pela
ferreira.eam@gmail.com Universidade de São Paulo (1991) e doutorado em Engenharia
Civil (Escola Politécnica) pela Universidade de São Paulo (1998).
Atualmente é professor Titular da Universidade Federal da
Bahia. Tem experiência na área de Gerenciamento, com ênfase
em Administração da Produção, atuando principalmente nos
seguintes temas: planejamento e controle, canteiro de obras,
sustentabilidade, segurança do trabalho, gestão de resíduos,
análise da viabilidade, tecnologia da informação e BIM.

Fernando Menezes de Almeida Filho


UFSCar Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade
Federal do Ceará (1998), especialização em Engenharia de
almeidafilho@ufscar.br Estruturas pela Universidade de Fortaleza (2000), mestrado em
Engenharia de Estruturas pela Universidade de São Paulo (2002)
e doutorado em Engenharia de Estruturas pela Universidade de
São Paulo (2006) e pós-doutorado em Engenharia de Estruturas
pela Universidade de São Paulo (2010). Participa do grupo
de pesquisa NETPRE - Núcleo de Estudos e Tecnologia em Pré-
moldados de concreto na UFSCar. Atualmente, é professor
adjunto do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal
de São Carlos com ênfase em Estruturas de Concreto, atuando
principalmente nos seguintes temas: Estruturas de concreto,
concreto protendido, materiais, análise experimental, aderência,
mecânica das estruturas, simulações numéricas e variabilidade.

Lista de Autores | 9
Jardel Pereira Gonçalves
Professores membros da rede

UFBa Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade Estadual


de Feira de Santana (1998), mestrado em Engenharia Civil pela
jardelpg@gmail.com Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2000) e doutorado
em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(2005). Atualmente é professor associado da Escola Politécnica -
Departamento de Construção e Estruturas da Universidade
Federal da Bahia. Tem experiência na área de Engenharia Civil
atuando principalmente nos seguintes temas: construção civil,
tecnologia da construção, sistemas construtivos, materiais
cimentíceos, novos materiais e meio ambiente.

José Carlos Paliari


UFSCar Possui graduação em Engenharia Civil pela UFSCar (1994),
mestrado em Engenharia Civil (1999) e doutorado em
jpaliari@ufscar.br Engenharia Civil (2008), ambos pela Universidade de São Paulo.
Atualmente é professor Associado I e Pró-Reitor Adjunto de
Pós-graduação da UFSCar. Foi coordenador do Programa de
Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil – PPGECiv
entre 2010 e 2015 e membro do Conselho de Coordenação do
Curso de Engenharia Civil, representando a área de gestão e
tecnologia de construção civil. É vice-líder do Grupo de Pesquisa
NUPRE - Núcleo de Pesquisa em Racionalização e Desempenho
de Edificações. Tem experiência na área de engenharia civil,
com ênfase em tecnologia e gestão da produção de edificações.
Também desenvolve pesquisas na área de ergonomia na
construção civil, Lean Construction, produtividade da mão
de obra e desperdício de materiais nos canteiros de obras. É
responsável pelo Laboratório de Modelagem e Simulação com
Informática (LMSI) vinculado ao PPGECiv.

Marcelo de Araujo Ferreira


UFSCar Coordenador do Núcleo de Estudo e Tecnologia em Pré-
Moldados de Concreto (NETPRE). Professor Associado do
marcelof@ufscar.br Departamento de Engenharia Civil da UFSCar. Professor do
Programa de Pós-Graduação em Construção Civil da UFSCar.
Engenheiro Civil com Ênfase em Sistemas Construtivos pela
UFSCar (1990), Mestre e Doutor em Engenharia de Estruturas
pela EESC-USP (1993 e 1999). Pós-doutorado (Visiting Scholar)
pela University of Nottingham na Inglaterra (2000-2001; 2009-
2010). Pós-doutorado pela EESC-USP (2002-2003). Pesquisador
há 20 anos sobre estruturas pré-moldadas de concreto. Recebeu
o Prêmio Henry Adams 2004 do Institution of Structural
Engineers na Inglaterra. Membro do Comitê de Revisão da
NBR 9062:06 – Estruturas de Concreto Pré-Moldado. Membro
do Comitê de Pré-Fabricados da Federação Internacional
de Concreto Estrutural (CEB-FIP). Delegado brasileiro na
Federação Internacional do Concreto Estrutural FIB (CEB-FIP).
Foi coordenador da Comissão de Estudos de Lajes Alveolares da
ABNT:CE 18:600.19 (2008-2009). Membro Convidado do Comitê
Técnico: Connection Details do Precast Concrete Institute PCI-
USA desde 2008. Revisor do PCI Journal a partir de 2011.

10 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Racine Tadeu Araujo Prado

Professores membros da rede


USP Possui graduação em Engenharia Civil [SP Capital] pela
Universidade de São Paulo (1987), mestrado e doutorado
racine.prado@usp.br em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo (1996).
Atualmente é professor Associado III da Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo. Seus temas principais de pesquisas
são Física das Construções, Engenharia Solar e Sistemas Prediais,
que se desdobram em vários outros, tais como transferência de
calor através da envoltória dos edifícios, propriedades térmicas
e óticas de materiais, conforto térmico, aquecimento de água,
sistemas de ar condicionado e automação predial. A maior
parte de suas publicações tem como foco o aproveitamento
de energia solar com coletores passivos, dedicando-se
também à geração de energia com coletores concentradores e
fotovoltaicos em edifícios.

Ricardo Fernandes Carvalho


UFBa Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade
Federal da Bahia (1990), mestrado em Engenharia Civil
carvalho_rf@hotmail.com pela Universidade Federal Fluminense (1994) e doutorado
em Ciência e Engenharia de Materiais [São Carlos] pela
Universidade de São Paulo (2005). Atualmente é adjunto
da Universidade Federal da Bahia. Tem experiência na área
de Engenharia de Materiais e Metalúrgica, com ênfase em
Materiais Conjugados Não-Metálicos, atuando principalmente
nos seguintes temas: compósitos, construção, fibras vegetais,
canteiro e segurança.

Lista de Autores | 11
Adriana Gouveia Rodrigo
Pesquisadores da rede

USP Arquiteta e urbanista pela Universidade de São Paulo (USP),


adriana_rodrigo@hotmail.com mestra em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da USP,
Mestre Profissional em Gestão de Projetos e Concessões pelo
Centro Superior de Edificação - Fundação Antonio Camuñas.
Atua nas áreas de construção sustentável e certificação de
sustentabilidade para edifícios. Foi consultora em Bioconstrução
para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) no Comitê Nacional de Organização (CNO) Rio+20. Foi
auxiliar da coordenação técnica na elaboração do referencial da
certificação pelo Processo AQUA para edifícios habitacionais.
Atuou como auditora para a certificação AQUA-HQE junto à
Fundação Vanzolini. Atualmente é professora da Universidade
de Mogi das Cruzes, nas áreas de Arquitetura e Urbanismo,
Gestão de Projetos e Metodologia de Pesquisa.

André Luiz Vivan


UFSCar Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal
de São Carlos, UFSCar (2008), mestrado em Construção Civil
andreluizvivan@gmail.com pela UFSCar (2011) e doutorado em Estruturas e Construção
Civil pela mesma instituição (2016). É membro do Grupo de
Pesquisa NUPRE - Núcleo de Pesquisa em Racionalização e
Desempenho de Edificações. Desenvolve pesquisas relativas
a esforços de industrialização dos processos de construção de
habitações unifamiliares, atuando principalmente nos seguintes
temas: lean construction, simulação de processos e light
steel frame, além do desenvolvimento de tipos específicos de
projetos como o design for assembly e o design for manufacture
com o objetivo de reduzir ciclos de produção e custos.

Christine Miranda Dias


UFSCar Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal
de São Carlos (2014). Mestra pelo Programa de Mestrado
christinemdias@gmail.com Profissional em Inovação na Construção pela Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo (2017), com pesquisa na área
de sistemas prediais de água não potável. Possui experiência
profissional em orçamentos de obras de infraestrutura,
contenções, geotecnia, fundações e recuperação estrutural.

12 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Clarice Menezes Degani

Pesquisadores da rede
USP Engenheira Civil, mestre e doutora em Tecnologia e Gestão
da Produção pela Escola Politécnica da USP, Especialista em
claricedegani@gmail.com Gestão de empreendimentos de construção civil pelo PECE/
USP, participou da equipe técnica para experimentação
da certificação ambiental francesa NF Bâtiments Tertiaires
Démarche HQE pelo CSTB na França, sócia curadora do CBCS -
Conselho Brasileiro de Construção Sustentável. Atualmente
é assessora técnica da vice-presidência de sustentabilidade
do SECOVI-SP, é docente em disciplinas dos cursos de MBA
Gerenciamento de Facilidades e MBA Tecnologia da Gestão
da Produção, ambos na FDTE POLI/USP. Participa dos comitês
Avaliação da Sustentabilidade, Água e Urbano no CBCS
e é consultora para projetos e construções sustentáveis,
especialmente para o processo AQUA de certificação, e também
para o gerenciamento da sustentabilidade de edifícios em
operação.

Cristina Toca Pérez


UFBa Possui graduação em Engenharia Técnica de Obras Públicas
cristina.toca.perez@hotmail.es Universidade de Cantabria, Espanha (2011) e Mestrado em
Engenharia Ambiental Urbana na Universidade Federal da
Bahia (2015). Possui especialização em Gestão das Construções,
assim como em Estruturas e Patologias das edificações pela
Universidade de Cantabria, Espanha (2011). Atualmente é
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Engenharia
Civil da UFBA e pesquisadora do Grupo de Pesquisa e Extensão
em Gestão e Tecnologia das Construções (GETEC) da UFBA.
Tem experiência na área de Engenharia Civil, com ênfase na
área de Gestão das Construções, atuando principalmente nos
temas: Lean Construction, gestão da produção, 4D BIM, logística
interna do canteiro de obras e inovações tecnológicas, tais como
argamassa projetada e Light Steel Framing.

Daniela Dietz Viana


UFRGS Arquiteta e Urbanista pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, UFRGS (2008). Mestre em Engenharia Civil pela UFRGS
danidietz@gmail.com (2011). Doutora em Engenharia Civil (2015) pela mesma
instituição com doutorado sanduíche pela Universidade da
Califórnia, em Berkeley. Pós-doutorado em Engenharia Civil
(2016), com ênfase em Gestão e Economia da Construção.
Tem atuado nos seguintes temas: Last Planner System, Lean
Construction, sistemas pré-fabricados, sistemas de produção
engineer-to-order, e Perspectiva Linguagem-Ação.

Lista de Autores | 13
Danielle Gazarini
Pesquisadores da rede
Graduanda de Engenharia Civil na Escola Politécnica da
USP Universidade de São Paulo.

daniellegazarini@gmail.com

Débora Cristina Rosa Faria da Costa


USP Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade
de Arquitetura da USP (2008), Especialização em Arquitetura
debora.costa@usp.br Bioecológica pela ANAB - Associação Nacional de Arquitetura
Bioecológica (2012) e Mestrado em Ciências pelo Programa de
Pós-Graduação em Engenharia da Construção Civil e Urbana
da Escola Politécnica da USP (2015), com pesquisa nas áreas
de Conforto Térmico, Medições Térmicas, Desempenho,
Simulação Computacional e Eficiência Energética. Doutoranda
e pesquisadora do Laboratório de Tecnologia LABAUT-FAU/
USP. Docente do Instituto Federal de São Paulo nas áreas de
Arquitetura e Urbanismo/Design de Interiores.

Fernando Braga de Souza


UFSCar
engenheirofernandobraga@ Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade
de Uberaba - UNIUBE (2015), Graduação em Engenharia de
gmail.com Produção pelo Centro Universitário Central Paulista (UNICEP,
2012) e Mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em
Estruturas e Construção Civil pela UFSCar (2016) na área
de pesquisa em Gestão, Tecnologia e Sustentabilidade na
Construção Civil. É membro do Grupo de Pesquisa NUPRE -
Núcleo de Pesquisa em Racionalização e Desempenho de
Edificações. Professor e coordenador no Centro Universitário de
Araras dos cursos de Engenharia Civil e Engenharia de Produção.

Glauco Fabrício Bianchini


UFSCar Engenheiro civil formado pela Escola de Engenharia de São
Carlos (EESC-USP), possui especialização em Engenharia de
glaucofb@yahoo.com.br Segurança do Trabalho pela Universidade de Franca e Mestrado
pelo Programa de Pós-graduação em Estruturas e Construção
Civil, UFSCar. É membro do Grupo de Pesquisa NUPRE - Núcleo
de Pesquisa em Racionalização e Desempenho de Edificações.
Atualmente é docente em tempo integral na Universidade de
Franca, ministrando disciplinas e desenvolvendo pesquisas nas
áreas de estruturas e gerenciamento da construção civil.

14 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Guillermina Andrea Peñaloza

Pesquisadores da rede
UFRGS
arq.guillerminapenaloza@ Possui Mestrado em Engenharia Civil pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (2015) e graduação em Arquitetura e
gmail.com Urbanismo pela Universidad Nacional de Córdoba (2010).
Atualmente é aluna de Doutorado em Engenharia Civil na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência
na área de Engenharia Civil, com ênfase em Gerenciamento e
Economia da Construção, atuando principalmente nos seguintes
temas: gestão da segurança e da produção, gestão de requisitos,
sistemas de produção enxuta.

Ingrid Priscylla Silva Araújo


UFBa Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela
Universidade Federal de Alagoas (2009) e Mestrado em
ingrid.pri@gmail.com Engenharia Ambiental Urbana pela Universidade Federal da
Bahia (2014). Atualmente é pesquisadora do Grupo de Pesquisa
e Extensão em Gestão das Construções (GETEC) da Universidade
Federal da Bahia e Docente dos Cursos de Engenharia
Civil e Engenharia de Produção da Faculdade de Ciências e
Empreendedorismo. Tem experiência na área de Construção
Civil, com ênfase na área de Gestão das Construções, atuando
principalmente no seguinte tema: poluição atmosférica
proveniente de canteiros de obra da construção civil. Possui
experiência em Arquitetura e Urbanismo.

Juliana Sampaio Álvares


UFBa Bolsista de iniciação científica da Universidade Federal da Bahia,
pesquisadora do Grupo de Pesquisa e Extensão em Gestão
alvares.juliana@hotmail.com e Tecnologia das Construções (GETEC). Tem experiência na
área de Engenharia Civil, com ênfase em gestão, tecnologia,
qualidade, segurança e sustentabilidade das construções.

Laísa Cristina Carvalho


UFSCar Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade
laisacarvalho2809@gmail.com Estadual de Minas Gerais (2013), mestrado em Estruturas e
Construção Civil pela Universidade Federal de São Carlos (2016).
Atualmente é doutoranda deste mesmo Programa de Pós-
Graduação. É membro do Grupo de Pesquisa NUPRE - Núcleo
de Pesquisa em Racionalização e Desempenho de Edificações.
Desenvolve pesquisas relativas ao esforço despendido pelos
trabalhadores nas diversas tarefas da construção civil. Atua
principalmente nos seguintes temas: ergonomia, produtividade
e gestão do canteiro de obras.

Lista de Autores | 15
Lucila Sommer
Pesquisadores da rede

UFRGS Possui mestrado em Engenharia Civil pela UFRGS (2010)


e graduação em Engenharia Civil pela UFRGS (2007). Tem
englusommer@gmail.com experiência na área de Engenharia Civil, com ênfase em
Engenharia Civil, atuando principalmente nos seguintes
temas: making-do, perdas, planejamento e controle da
produção, construção enxuta. Atualmente é bolsista do CNPq
desenvolvendo sua tese sobre implementação de sistemas
construtivos industrializados inovadores a partir do projeto do
sistema de produção.

Ludimilla de Oliveira Zeule


UFSCar Graduada em Tecnologia em Construção Civil (2011) pela
Universidade Estadual de Maringá. Mestre em Estruturas e
zeule.eu@gmail.com Construção Civil no Programa de Pós-graduação em Estruturas
e Construção Civil - PPGECiv da UFSCar (2014) . Atualmente,
doutoranda no mesmo programa. É membro do Grupo de
Estudos NUPRE - Núcleo de Pesquisa em Racionalização e
Desempenho de Edificações. Áreas de atuação: sustentabilidade
na construção civil e gestão em canteiros de obras, método de
tomada de decisão, seleção de materiais de menor impacto
ambiental.

Marcelo Fabiano Costella


UFRGS Engenheiro civil desde 1997, mestre em Engenharia Civil pela
costella@unochapeco.edu.br UFRGS (1999) e doutor em Engenharia de Produção pela UFRGS
(2008). Atualmente é coordenador do Mestrado Profissional em
Tecnologia e Gestão da Inovação da Universidade Comunitária
da Região de Chapecó (UNOCHAPECÓ) e ministra disciplinas
em especializações de Engenharia de Segurança do Trabalho
em várias instituições no sul do Brasil. Também é professor
pesquisador do Núcleo Stricto Sensu em Engenharia Civil
na Faculdade Meridional (IMED). Tem experiência na área
de Engenharia Civil, na área de Gestão de Produção Civil e
Engenharia de Produção, com ênfase em Segurança do Trabalho.

Maria Sacramento Oliveira Guimarães


UFBa
maria.guimaraes@ Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela
Universidade Federal da Bahia (1981). Especialização em
pro.unifacs.br Projetos Educacionais e Informática pela Faculdade de Educação
da Bahia (2001). Mestre em Engenharia Ambiental Urbana
(MEAU) da UFBA. Atualmente é Professora Adjunto e Assistente
de Coordenação do Curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Salvador. Tem experiência na área de Arquitetura e
Urbanismo, com ênfase em Construção Sustentável.

16 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Natasha Ilse Rothbucher Thomas

Pesquisadores da rede
UFBa Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade de
Brighton, Inglaterra (2004), mestrado em Engenharia Ambiental
nashatasha@hotmail.com Urbana (2011) e pós graduação (Latu-Sensu) em Gerenciamento
de Obras pela UFBa. É auditora do BREEAM Internacional e
Assistente AQUA - HQE. Trabalhou como assessora técnica
do Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia
(Sinduscon-BA), na área de sustentabilidade, materiais e
inovação. Trabalha como pesquisadora há mais de sete anos
na área de construção sustentável e ciência e engenharia de
materiais. Foi professora na Universidade Federal da Bahia,
ensinando “Técnicas Construtivas”. Atualmente é professora
do Instituto Brasileiro de Educação Continuada (INBEC) num
MBA em Construção Sustentável, ensinando Gestão Ambiental
de Canteiros de Obras e fornece serviços de Consultoria
em Sustentabilidade e Inovação Tecnológica na Construção
e Políticas Públicas Sustentáveis. É pesquisadora honorária da
De Montfort University, Inglaterra.

Nery Knöner
UFSCar Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade
Estadual de Maringá (1983). Mestrado em Estruturas e
nery_knoner@hotmail.com Construção Civil na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar),
em 2014, e doutorando na mesma instituição com o tema
“Contribuição ao Estudo dos Mecanismos no Dimensionamento
em Painéis Estruturais tipo Sanduíche”. Tem experiência na
área de Engenharia Civil em Cálculos em Concreto Protendido
e em Estruturas Pré-Fabricadas; Execução de obras Residenciais
e Industriais e como Engenheiro de Segurança do Trabalho.
Atualmente é professor substituto na Universidade Tecnológica
Federal do Paraná (UTFPR), Campo Mourão.

Paula Venticinque Pompeu de Toledo Soares


USP Engenheira civil pela Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo (2013) e especialista em Gestão de Projetos de Estruturas
papompeu@gmail.com pelo Programa de Educação Continuada da Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo (2016). Atua na área de projetos de
estruturas.

Lista de Autores | 17
Rita Jane Brito de Moraes
Pesquisadores da rede

UFBa Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade Católica


do Salvador (1990). Atualmente Subcoordenadora das Ações
ritacodesal@gmail.com Comunitárias e Educativas da Defesa Civil de Salvador. Tem
experiência na área de Engenharia Civil, com especialização
em Engenharia de Segurança do Trabalho - UFBA (2005). Possui
mestrado em Engenharia Ambiental Urbana pela Universidade
Federal da Bahia - UFBA (2015).

Roseneia Rodrigues Santos de Melo


UFBa Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade
Federal da Bahia (2014). Mestre em Engenharia Civil pela
roseneia.engcivil@gmail.com Universidade Federal da Bahia. Doutoranda no Programa de
Pós Graduação em Engenharia Civil (PPEC/UFBA). Pesquisadora
do Grupo de Pesquisa e Extensão em Gestão da Construção
(GETEC), na Universidade Federal da Bahia. Tem experiência
na área de Engenharia Civil, com ênfase em gestão de obras,
principalmente nos temas: orçamento, planejamento, medição
de desempenho, Segurança do Trabalho e Veículos Aéreos Não
Tripulados.

18 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Alex Alves Bandeira

Co-autores convidados
UFBa Possui Graduação (1990-1994) em Engenharia Civil pela
Universidade Federal da Bahia, Mestrado (1995-1997) e
alexbandeira@ufba.br Doutorado (1997-2001) em Engenharia Civil pelo Departamento
de Engenharia de Estruturas e Fundações da Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo. Durante o doutoramento na USP
realizou Estágio de Doutorado Sandwich na Universidade de
Hannover (Alemanha, 1999-2000) e na Universidade de Pádova
(Itália, 2000) na área de contato mecânico e micromecânico.
Realizou Pós-Doutorado na Universidade de Berkeley (Califórnia,
EUA, 2015-2016) na área da mecânica das partículas e
tecidos estruturais. Atualmente é professor e pesquisador do
Departamento de Construção e Estruturas da Escola Politécnica
da Universidade Federal da Bahia. Atua principalmente na
área da mecânica computacional, otimização, análise não
linear, método dos elementos finitos, elastoplasticidade,
contato mecânico, impacto, dinâmica não linear, estruturas de
concreto e concreto reforçado com fibra de carbono, mecânica
das partículas e tecidos estruturais. É membro do Comitê
Editorial do seguinte periódico: Journal of Civil Engineering and
Architecture (USA).

Emanuela Rizzoto
UnoChapecó Graduada em Engenharia Civil na Unochapecó (2014).
Atualmente trabalha como engenheira civil em uma
emanuelarizzotto@ incorporadora em Chapecó/SC. Atua como pesquisadora no
unochapeco.edu.br Grupo de Pesquisa em Sistemas Integrados de Gestão na
Unochapecó.

Letícia Nonennmacher
UnoChapecó Graduada em Engenharia Civil na Unochapecó (2015),
Mestranda em Tecnologia e Gestão da Inovação na Unochapecó
letician@unochapeco.edu.br e é gestora de uma empresa de construção no interior do Rio
Grande do Sul. Atua como pesquisadora no Grupo de Pesquisa
em Sistemas Integrados de Gestão na Unochapecó.

Lista de Autores | 19
Sumário

Seção 1 – Subprojeto Diagnóstico das Principais


Necessidades de Soluções Tecnológicas em
Canteiros de Obras (SPDIG)
Capítulo 1 – Diagnóstico das Necessidades Prioritárias de
Pesquisas e Soluções Tecnológicas para Canteiros de
Obra de Baixo Impacto Ambiental ................................................35
Dayana Bastos Costa, Maria Sacramento Oliveira Guimarães,
Natasha Ilse Rotbucher Thomas, Clarice Menezes Degani

Capítulo 2 – Boas Práticas de Sustentabilidade em


Canteiros de Obras...........................................................................53
Ludimilla de Oliveira Zeule, Sheyla Mara Baptista Serra

Capítulo 3 – Diretrizes para Novas Políticas de Ciência,


Tecnologia e Inovação para Canteiro de Obras de
Baixo Impacto Ambiental ................................................................71
Natasha Ilse Rotbucher Thomas, Dayana Bastos Costa,
Maria Sacramento Oliveira Guimarães, Clarice Menezes Degani

Seção 2 – Subprojeto Desenvolvimento de Soluções


para Redução da Emissão de Materiais Particulados
em Canteiros de Obras (SPEMP)
Capítulo 4 – Boas Práticas para Redução da Emissão de
Material Particulado Proveniente dos Canteiros de Obras......... 91
Ingrid Priscylla Silva Araújo, Rita Jane Brito de Moraes,
Dayana Bastos Costa

Sumário 21
Seção 3 – Subprojeto Aperfeiçoamento de Sistemas de
Proteção Coletiva em Canteiros de Obras (SPSPC)
Capítulo 5 – Avaliação de Requisitos de Desempenho
de Sistemas de Proteção Periférica (SPP) em Obras
de Edificações .................................................................................109
Guillermina Andrea Peñaloza, Carlos Torres Formoso,
Tarcisio Abreu Saurin

Capítulo 6 – Sistemas de Proteção Contra Quedas


com Cabo de Segurança na Construção ..................................133
Marcelo Fabiano Costella, Emanuela Rizzotto, Letícia
Nonennmacher

Capítulo 7 – Inovação em Plataformas de Proteção ............... 149


Alex Alves Bandeira, Ricardo Fernandes Carvalho,
Emerson de Andrade Marques Ferreira

Capítulo 8 – Diretrizes para o uso de Veículo Aéreo


não Tripulado (VANT) Para Inspeção de Segurança
em Canteiros de Obra ................................................................... 159
Roseneia Rodrigues Santos de Melo, Dayana Bastos Costa,
Juliana Sampaio Álvares

Capítulo 9 – Aplicação do Instrumento de Análise


Ergonômica - MET na Construção Civil ....................................... 181
Laísa Cristina Carvalho, Glauco Fabrício Bianchini,
José Carlos Paliari

Capítulo 10 – Embargos e Interdições em Canteiros de Obras:


Uma Perspectiva Sistêmica............................................................ 197
Tarcisio Abreu Saurin

22 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Seção 4 – Subprojeto Soluções Tecnológicas Sustentáveis
para Instalações Provisórias de Canteiros de Obras (SPIPC)
Capítulo 11 – Instalações Provisórias Pré-fabricadas para
Canteiros de Obras......................................................................... 213
Christine Miranda Dias, Sheyla Mara Baptista Serra

Capítulo 12 – Projeto de Contêineres Metálicos para


Instalações Provisórias em Canteiros de Obras ..........................235
Adriana Gouveia Rodrigo, Danielle Gazarini,
Francisco Ferreira Cardoso

Capítulo 13 – Fabricação, Montagem e Desmontagem


de Instalações Provisórias para Canteiros de Obras ................249
Fernando Braga de Souza, Sheyla Mara Baptista Serra

Capítulo 14 – Desempenho de Contêineres Metálicos


para Instalações Provisórias em Canteiros de Obras ................273
Francisco Ferreira Cardoso, Adriana Gouveia Rodrigo,
Paula Venticinque Pompeu de Toledo Soares

Capítulo 15 – Contêineres Metálicos para Instalações


Provisórias em Canteiros de Obras no Brasil................................297
Débora Cristina Rosa Faria da Costa, Racine Tadeu Araújo Prado

Capítulo 16 – Sistema Pré-Fabricado em Pré-Moldado


de Concreto para Instalações Provisórias de
Canteiros de Obra .......................................................................... 315
Nery Knöner, Fernando Menezes de Almeida Filho,
Marcelo de Araújo Ferreira

Sumário 23
Seção 5 – Subprojeto Desenvolvimento de tecnologias de
execução relacionadas a métodos e sistemas construtivos
inovadores (SPTEC)
Capítulo 17 – Novas Categorias de Perdas e sua Incidência em
Sistemas Industrializados na Habitação ......................................341
Lucila Sommer, Carlos Torres Formoso, Daniela Dietz Viana

Capítulo 18 – Linha de Montagem para a Produção


de Habitações de Interesse Social Modular em
Light Steel Frame .............................................................................363
André Luiz Vivan, José Carlos Paliari

Capítulo 19 – Avaliação do Processo de Revestimento


com Argamassa Projetada: Aspectos Econômicos
e Ambientais ....................................................................................383
Cristina Toca Pérez, Dayana Bastos Costa, Jardel Pereira Gonçalves

Conclusões: Avanços e Perspectivas Futuras ..................................407

24 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Prefácio

Esta coletânea de artigos é fruto de dois fatores convergentes. O primeiro fator


é a obstinação dos técnicos da Finep, criadores e operadores do programa Habitare,
que sem dúvida foi, nos últimos 30 anos, a mais relevante política pública de fomento
à pesquisa voltada para a habitação de interesse social no país. O segundo fator é a
abnegação de pesquisadores de universidades públicas, cuja opção foi trabalhar para
o desenvolvimento econômico e social das camadas populares, acreditando que a
geração de conhecimento é uma arma poderosa na luta por melhorias das condições
de vida do nosso povo.
Infelizmente, nem a obstinação de uns, nem a abnegação de outros foram
capazes de sustentar o programa, que estava se tornando uma sólida base técnica e
conceitual para a formulação de políticas públicas habitacionais de interesse social.
Esta coletânea fala em sustentabilidade. Para não instaurar mais uma divergência
na definição do que seja esse conceito, recorro ao senso comum: sustentável é o que
é bom para muita gente e não prejudica ninguém. Obviamente, o que é bom para
poucos, mas pode trazer prejuízo a muitos é insustentável. É o caso das restrições
financeiras que se colocam como obstáculos às políticas públicas de interesse social;
é o caso da interrupção do Habitare, descontinuando metodologias, tecnologias e
processos criativos e produzindo um peculiar descarte: o conhecimento.
Ao enfatizar a importância deste livro – independentemente de qualquer outro
atributo que ele possa ter – recorro à explicação de Karl Popper acerca da teoria
dos nossos mundos: o mundo 1, que se constitui dos objetos físicos; o mundo 2,
que compreende os processos mentais; o mundo 3, que são os produtos da mente
humana. O livro, na condição de papel impresso, é um objeto do mundo 1, que pode
ser destruído ou descartado. Porém, enquanto produto da mente de pesquisadores,
pertence ao mundo 3: é abstrato, portanto, imperecível. A concretude do livro que
veicula o conhecimento abstrato permite a crítica objetiva. Esta, por sua vez, abre
caminho para o avanço desse conhecimento. Através do livro, o conhecimento
gerado pelos pesquisadores ao longo do desenvolvimento do CANTECHIS poderá ser
analisado criticamente, propiciando o seu avanço. Por isso, um livro que corporifica
conhecimentos é tão importante: porque os tornam passíveis de serem criticados
objetivamente e de evoluírem a partir dessas críticas.

Prefácio 25
As palavras do próprio Popper expressam melhor essa ideia :
(...) nosso trabalho cresce através de nós e crescemos através do nosso trabalho. Esse
crescimento, essa auto-transcendência, tem um lado racional e um lado não-racional.
A criação de novas ideias, de novas teorias, é em parte não racional. É uma questão
que pode ser chamada de ‘intuição’ ou ‘imaginação’. Mas a intuição é falível, como
tudo o que é humano. A intuição deve ser controlada através da crítica racional, que
é o produto mais importante da linguagem humana. Este controle através da crítica é
o aspecto racional do crescimento do conhecimento e do nosso crescimento pessoal.
É uma das três mais importantes coisas que nos tornam humanas. Os outros dois são
compaixão, e a consciência de nossa falibilidade.

O projeto CANTECHIS desenvolveu-se através de cinco subprojetos, os quais


trouxeram à avaliação crítica 19 artigos. Esses subprojetos são:
• Diagnós�co das principais necessidades de soluções tecnológicas em canteiro
de obras de empreendimentos de habitação de interesse social;
• Desenvolvimento de soluções para redução da emissão de materiais
par�culados em canteiros de obras de empreendimentos de habitação de
interesse social;
• Aperfeiçoamento de sistemas de proteção cole�va em canteiros de obras de
empreendimentos do Programa Minha Casa Minha Vida;
• Soluções tecnológicas sustentáveis para instalações provisórias de canteiros
de obras de empreendimentos de habitação de interesse social;
• Desenvolvimento de tecnologias de execução relacionadas a métodos e
sistemas constru�vos inovadores para empreendimentos do Programa
Minha Casa Minha Vida, com foco em sistema constru�vo industrializado.
Estou certa de que a leitura desses 19 artigos suscitará críticas objetivas, que
muito contribuirão para o crescimento do conhecimento da área de tecnologia de
construções, principalmente se apontarem erros, pois temos consciência da nossa
falibilidade.

Maria Lucia Malard


Belo Horizonte, MG
Julho de 2017

26 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Introdução

O Edital FINEP
O projeto de pesquisa CANTECHIS – Tecnologias para Canteiro de Obras
Sustentável de Habitações de Interesse Social (HIS) – também denominado Rede
CANTECHIS, se caracteriza como uma resposta à Chamada Pública MCT/FINEP/Ação
Transversal Saneamento Ambiental e Habitação 06/2010.
Quatro universidades brasileiras trabalharam na forma de rede de pesquisa
colaborativa e estiveram envolvidas no desenvolvimento do Projeto CANTECHIS:
Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Universidade de São Paulo
(USP). No estabelecimento do convênio entre as partes, a Financiadora de Estudos e
Projetos (FINEP) atuou como concedente, as quatro universidades como executoras,
sendo a UFSCar a coordenadora geral, e a Fundação de Apoio Institucional ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FAI-UFSCar) atuou como convenente.
Também colaboraram com a Rede como intervenientes e apoiadoras, as instituições:
Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (SINDUSCON-BA), Associação
Brasileira da Construção Industrializada em Concreto (ABCIC) e a Câmara Brasileira da
Indústria da Construção (CBIC).
Foram objetivos específicos da Chamada Pública:
• Promover a pesquisa cien�fica e tecnológica e a inovação a fim de contribuir
para a melhoria das condições de habitação, em especial a de interesse social;
• Promover o desenvolvimento de soluções inovadoras aplicáveis à habitação,
que sejam de fácil aplicabilidade, baixo custo de implantação, operação e
manutenção;
• Contribuir para a sustentabilidade da habitação de interesse social;
• Contribuir para a elaboração e atualização das normas e resoluções técnicas
aplicáveis às áreas de habitação;
• Propiciar a ar�culação entre Ins�tuições de Pesquisa Cien�fica e Tecnológica
(ICTs) e organizações atuantes nas áreas de habitação;
• Promover a atuação integrada de ICTs em torno das áreas e temas prioritários
definidos nesta Chamada Pública.

Introdução 27
O convênio foi firmado em dezembro de 2010, sendo a primeira reunião para
estabelecimento da Rede realizada em agosto de 2011.

A Rede
A Rede teve duração até março de 2017 e tratou do tema prioritário contido no
item 2.2 da referida chamada: “desenvolvimento de soluções tecnológicas aplicadas
a canteiros de obras de empreendimentos habitacionais, especialmente de interesse
social, visando à sustentabilidade ambiental e melhoria das condições de trabalho”.
A ênfase do projeto decorreu da expansão das habitações de interesse social (HIS),
das crescentes preocupações com sustentabilidade na sociedade de modo geral, bem
como da necessidade de reduzir as perdas no setor da construção civil.
A Rede CANTECHIS, integralmente apoiada pela FINEP, foi estruturada em cinco
subprojetos que tratam de temáticas relacionadas entre si, além de um subprojeto
específico para a gestão e articulação da rede. São eles:
• Subprojeto diagnós�co das necessidades de inovações tecnológicas (SPDIG):
iden�ficação de prioridades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico em
cinco temá�cas: consumos, emissões e resíduos, interfaces com o meio
exterior, qualidade intrínseca;
• Subprojeto emissão de materiais par�culados (SPEMP): avaliação de
emissões de materiais par�culados em canteiros de obras, bem como
iden�ficação e proposta de soluções para o controle desses resíduos;
• Subprojeto sistemas de proteções cole�vas (SPSPC): desenvolvimento de
aperfeiçoamentos tecnológicos e gerenciais relacionados aos sistemas de
proteções cole�vas e iden�ficação de fatores de fiscalização da segurança e
saúde do trabalho nos empreendimentos pesquisados;
• Subprojeto instalações provisórias em canteiros de obras (SPIPC):
iden�ficação e desenvolvimento de soluções de projeto e tecnológicas para
melhoria da eficiência e condições ambientais em instalações provisórias,
tais como: ves�ários, refeitórios, almoxarifados e áreas administra�vas;
• Subprojeto tecnologias constru�vas (SPTEC): avaliação e proposição de
melhorias gerenciais e tecnológicas para um conjunto de métodos e sistemas
constru�vos inovadores aplicado às HIS, visando à melhoria das condições
de trabalho nos canteiros de obras e à redução da produção de resíduos
decorrentes de perdas e retrabalhos.

28 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


As quatro universidades participaram de forma diferenciada nos subprojetos,
conforme mostrado no Quadro 1. A coordenação de cada subprojeto pode ser
observada por meio da célula destacada com sombreamento.

Quadro 1 – Par�cipação das universidades em cada subprojeto.

Ins�tuição/Subprojeto SPDIG SPEMP SPSPC SPIPC SPTEC


UFBA X X X X
UFRGS X X X X
UFSCar X X X X
USP X X X X

Durante os seis anos da Rede, foram desenvolvidos vários trabalhos e atividades,


que podem ser consultados na página do projeto.
Este livro apresenta contribuições de todos os subprojetos, oferecendo
exemplos práticos e reflexões teóricas relevantes para diferentes agentes da indústria
da construção civil e para pesquisadores. O presente capítulo apresenta brevemente a
Rede CANTECHIS e traz uma visão inicial do conteúdo deste volume.

O Livro
Os capítulos estão agrupados em cinco seções, cada uma associada a um
subprojeto. A primeira seção é referente ao SPDIG e organiza-se em em três capítulos.
O capítulo 1 trata do diagnóstico das necessidades prioritárias de pesquisas e soluções
tecnológicas para canteiros de baixo impacto. O levantamento dos dados foi realizado
por meio da colaboração de 66 participantes, localizados nas quatro regiões das
universidades participantes da Rede de pesquisa, sendo 22 empresas situadas em
Salvador (BA), 19 empresas em São Paulo (região da capital), 13 empresas na grande
Porto Alegre (RS) e 12 empresas no interior de São Paulo, próximas a São Carlos.
O capítulo 2 aborda boas práticas de sustentabilidade em canteiros de obras. Tais
boas práticas foram identificadas com base em uma revisão da literatura e em visitas a
seis canteiros de obras, sendo agrupadas em cinco categorias: canteiro sustentável, uso
racional da água, uso racional de energia, materiais e recursos, qualidade do ambiente,
inovações e processos. Todas as boas práticas identificadas são apresentadas ao longo
do texto. A partir da análise detalhada dessas práticas, constatou-se que algumas são
de simples implantação, podem reduzir os conflitos com a vizinhança ou trazer maior
produtividade e conforto aos trabalhadores.

Introdução 29
O capítulo 3 apresenta diretrizes para novas políticas de ciência, tecnologia e
inovação que podem ser aplicadas em canteiro de obras de baixo impacto ambiental.
O capítulo 4 corresponde à segunda seção do livro e discute boas práticas
verificadas durante o desenvolvimento do SPEMP para a redução da emissão de
material particulado proveniente dos canteiros de obras.
A seção 3 possui cinco capítulos correspondentes ao SPSPC. O capítulo 5
apresenta um protocolo para a avaliação de requisitos de desempenho de Sistemas de
Proteção Periférica (SPP) em obras de edificações. Os SPP cumprem função importante
na prevenção de quedas de altura, as quais constituem uma das principais causas de
acidentes de trabalho na construção civil. Dentre os resultados, o capítulo apresenta
uma lista abrangente de requisitos ligados à segurança, eficiência e flexibilidade dos
SPP, bem como mostra a comparação entre diversos sistemas de uso corrente no setor.
O capítulo 6 descreve um método de avaliação de requisitos de desempenho
similar ao apresentado no capítulo anterior, porém com foco nos sistemas de linha de
vida. Tais sistemas, embora cumpram papel de equipamento de proteção individual,
costumam ser necessários ao menos em algumas etapas das obras de construção. O
capítulo relata a avaliação de sete diferentes sistemas de linhas de vida.
O capítulo 7 descreve um sistema alternativo para a montagem e desmontagem
das plataformas de proteção periférica, as quais têm a função de aparar a queda de
materiais e resíduos de construção. O sistema proposto evita que os trabalhadores
estejam sobre as plataformas, que ficam em balanço, durante as atividades de
montagem e desmontagem.
O capítulo 8 discute o uso de veículos aéreos não tripulados para inspeções de
segurança em canteiros de obra. Com base em estudos de caso em empreendimentos
habitacionais, são apresentadas recomendações para o planejamento e análise de
dados decorrentes das inspeções, bem como limitações técnicas e legais para o uso
desses equipamentos.
O capítulo 9 trata da avaliação das condições de trabalho em canteiros de
obras sob o ponto de vista ergonômico. É descrita a aplicação do método denominado
Estimativa do Equivalente Metabólico na atividade de recebimento de ferragens, em
um canteiro de obras. Os resultados da aplicação do método estabelecem uma base
empírica para justificar melhorias no projeto da atividade estudada.
O capítulo 10 discute os embargos e interdições (EI) em canteiros de obras
sob uma perspectiva sistêmica. Os EI abordados são aqueles realizados pelos órgãos
reguladores do Ministério do Trabalho, tendo em vista a preservação da segurança e
da saúde dos trabalhadores. Com base em 13 estudos de casos, o capítulo aponta que
há impactos positivos e negativos dos EI, os quais afetam diversos agentes internos
e externos aos canteiros. Com base nessa visão sistêmica, podem ser elaboradas

30 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


melhores estratégias, por parte de governo, empresas e trabalhadores, para prevenção
e reação aos EI.
A seção 4 apresenta os principais resultados do SPIPC e é composta por seis
capítulos. O capítulo 11 apresenta a diversidade de tipologias existentes no mercado
brasileiro de Instalações Provisórias (IP) pré-fabricadas para canteiros de obras. Foram
identificadas oito diferentes tipologias de IP, sendo apresentadas as suas principais
características em relação aos aspectos da sustentabilidade.
O capítulo 12 apresenta diagnóstico sobre as IP existentes em canteiros de obras
situados na cidade de São Paulo. Foram pesquisadas cinco empresas e oito obras, e
analisadas as IP referentes, a fim de apresentar condicionantes de projeto de sistema
modular em aço para instalações provisórias de obras, com base em um programa de
necessidades típico para tais estruturas, capazes de possibilitar que a sua configuração
se transforme em função das fases das obras.
O capítulo 13 apresenta estudo sobre o processo de fabricação, montagem e
desmontagem de instalações provisórias pré-fabricadas em madeira para canteiros
de obras, introduzindo a adoção de ferramentas BIM (Building Information Modeling/
Modelagem da Informação da Construção) para a elaboração dos projetos das IP. O
capítulo enfatiza a necessidade de elaboração de projeto executivo que considere
as etapas de montagem e de desmontagem da IP, de forma a tornar o produto mais
sustentável e possível de ser reutilizado várias vezes.
O capítulo 14 trata dos requisitos de desempenho das edificações, mesmo
aquelas classificadas como provisórias, reconhecendo que elas constituem um local de
trabalho e/ou permanência prolongada dos trabalhadores. A análise tem como base a
norma NBR 15575: Edificações Habitacionais – Desempenho (ABNT, 2013), conhecida
como Norma de Desempenho, bem como o documento European Technical Approval
Guidelines (ETAG) 023 - Guideline for European Technical Approval of Prefabricated
Building Units (2006). O ETAG é um documento semelhante à Diretriz para Avaliação
Técnica de Produtos do Sistema Nacional de Avaliações Técnicas (SINAT), elaborado
pelo Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H). O
capítulo enfoca os contêineres metálicos do tipo estrutura reticulada em aço, que são
fabricados com a finalidade específica para o uso em canteiro de obras, sendo um
produto de oferta e aplicação crescente no Brasil.
O capítulo 15 apresenta uma contribuição tecnológica para melhorar o
desempenho dos contêineres metálicos em IP por meio da aplicação de revestimento
externo refletivo. Após realização da pesquisa experimental, foi possível obter dados
que confirmam a melhora nas condições de conforto térmico, bem como a redução
da demanda energética quando usado sob condicionamento artificial. A aplicação do
revestimento refletivo também demonstrou ser uma solução durável e de baixo custo
para a utilização nos contêineres.

Introdução 31
O capítulo 16 apresenta o processo de desenvolvimento de um protótipo em pré-
moldados de concreto para IP e os resultados dos ensaios dos componentes propostos.
O sistema construtivo desenvolvido possibilita atender a demanda de mercado para
construção das IP em canteiros de obra de acordo com os quesitos da NBR 15575:
Edificações Habitacionais – Desempenho (ABNT, 2013) e várias outras normas.
A quinta seção do livro é referente ao SPTEC, composta por três capítulos. O
capítulo 17 apresenta uma proposta de novas categorias de perdas e sua incidência em
sistemas industrializados em HIS.
O capítulo 18 descreve o uso de linhas de montagem manuais como técnica de
produção para unidades habitacionais modulares em Light Steel Frame. O sistema foi
modelado e simulado computacionalmente, a fim de que o seu comportamento fosse
avaliado em termos de rapidez de entrega das unidades habitacionais e redução de
perdas.
O capítulo 19 apresenta a análise do processo de revestimento com argamassa
projetada do ponto de vista de aspectos econômicos e ambientais, a partir de quatro
estudos de caso realizados na região metropolitana de Salvador. Para tanto, foi definido
um conjunto de indicadores com o objetivo de se fazer a avaliação de desempenho e
uma comparação entre os estudos.
Por fim, são apresentadas as Conclusões e perspectivas futuras para a indústria
e academia.
Esperamos que você faça uma boa leitura e que o texto e as ideias apresentadas se
tornem realidade e contribuam de fato para melhorar as condições de sustentabilidade
e segurança nos canteiros de obra.

Tarcísio Abreu Saurin


Dayana Bastos Costa
Francisco Ferreira Cardoso
Sheyla Mara Baptista Serra
(Organizadores)

32 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Seção I
Subprojeto Diagnóstico das
Principais Necessidades de
Soluções Tecnológicas em
Canteiros de Obras (SPDIG)
1
http://dx.doi.org/10.26626/978-85-5953-027-8.2017C0001.p.35-52

Diagnóstico das Necessidades


Prioritárias de Pesquisas e
Soluções Tecnológicas para
Canteiros de Obra de Baixo
Impacto Ambiental

Dayana Bastos Costa


Maria Sacramento Oliveira Guimarães
Natasha Ilse Rotbucher Thomas
Clarice Menezes Degani

1. Introdução
O processo de construção propriamente dito causa diferentes impactos
ambientais (KILBERT, 2005; USEPA 2006). Grandes quantidades de materiais, água e
energia elétrica, entre outros recursos de vários tipos e origens são consumidos em
canteiros de obras durante as diferentes atividades de produção e de instalações
temporárias. Além da geração de resíduos, estas atividades emitem partículas que
causam contaminação do solo e a poluição do ar, bem como riscos de poluição das
águas e de indução de processos erosivos. Além disso, os impactos decorrentes
direta ou indiretamente das atividades de produção no canteiro de obra podem criar
problemas relacionados com a saúde, a segurança e o bem-estar dos trabalhadores do
local e da vizinhança.

35
Portanto, considerando o tamanho e a importância dos impactos ambientais
causados pelas atividades do canteiro de obras, é necessário que o setor da construção
reduza os impactos da etapa de execução da obra. A partir da priorização dos impactos
que precisam ser reduzidos ou eliminados, pode-se definir as tecnologias e as ações
de natureza gerencial. Podem ser ainda estabelecidos os recursos que precisam ser
implementados, as necessidades de pesquisa, as proposições de melhores práticas que
visam diminuir o consumo e as perdas no canteiro de obras, os equipamentos a serem
comprados, os profissionais a serem treinados ou contratados, ferramentas gerenciais
a serem implementadas e os prazos e custos envolvidos (CARDOSO; ARAUJO, 2007).
Este capítulo tem o objetivo de apresentar as necessidades prioritárias de
pesquisas e soluções tecnológicas para canteiros de obra habitacional de baixo
impacto ambiental, considerando consumos de recursos materiais, energia e água,
resíduos de construção, poluição do ar, da água e do solo, qualidade urbana, poluição
sonora e visual, além da qualidade intrínseca do canteiro, incluindo saúde e segurança
do canteiro e instalações provisórias.

2. Método de Pesquisa
O presente trabalho visou identificar, priorizar e validar as necessidades de
pesquisa para a sustentabilidade ambiental e melhorias das condições de trabalho
em canteiro de obras nas cidades de Salvador-BA, São Paulo-SP, São Carlos-SP e Porto
Alegre-RS, contando com o apoio da Câmara Brasileira da Indústria da Construção -
CBIC juntamente com os Sindicatos da Indústria da Construção – Sinduscons.
A etapa inicial da pesquisa envolveu a revisão da literatura de diferentes
métodos não obrigatórios de avaliação ambiental de construções sustentáveis.
Embora estes métodos apresentem os requisitos, que devem ser atendidos para que
um empreendimento seja certificado como uma construção sustentável, a revisão
bibliográfica do presente trabalho focou nas contribuições para o alcance de canteiros
de obra de baixo impacto. As metodologias estudadas foram: BREEAM (Building
Research Establishment Environmental Assessment Method) (BREEAM, 2009), LEED
(Leadership in Energy and Environmental Design) (U.S. GREEN BUILDING COUNCIL,
2000), Processo AQUA – Alta Qualidade Ambiental (FUNDAÇÃO VANZOLINI, 2010), que
foi adaptada à realidade brasileira a partir do HQE (Haute Qualité Environnementale) e
Selo Casa Azul (JOHN; PRADO, 2010).
Embora os métodos de avaliação apresentem diferenças dentro dos seus critérios
de análise, bem como nos de categorias e temas em que são distribuídos, foi possível
categorizá-los em tópicos semelhantes. Assim, a fim de comparar a contribuição de
cada método de avaliação ambiental e identificar as diretrizes específicas para a etapa
de execução de um empreendimento, quatro temas genéricos foram identificados:

36 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


(1) Consumos; (2) Emissões e Resíduos; (3) Interface com Meio Exterior e (4) Qualidade
Intrínseca do Canteiro, tomando como base as definições estabelecidas por Degani
(2003).
Foram identificados ainda os diferentes aspectos ambientais para cada tema,
seguido da seleção de um conjunto de diretrizes para a implementação de canteiros de
obra de baixo impacto ambiental, conforme será apresentado ao longo deste capítulo.
Considerando o número elevado de possíveis diretrizes a ser observado no canteiro,
esta pesquisa não buscou aprofundar nas questões de segurança e instalações
provisórias, pois estes dois temas serão discutidos em estudos específicos, que fazem
parte do Projeto Cantechis.
O questionário foi estruturado em duas seções: a primeira visou à identificação
do perfil das empresas respondentes (tempo de atuação no mercado, número de
funcionários, mercado de atuação, sistemas de gestão utilizados); já a segunda
foi destinada às perguntas fechadas relacionadas às diretrizes. Para cada tema, foi
desenvolvido um parágrafo situando o entrevistado, que, por sua vez, deveria atribuir
um nível de importância a cada uma das diretrizes propostas, usando a seguinte
escala: 1) Nenhuma importância; 2) Pouca importância; 3) Sem opinião definida; 4)
Importante; 5) Muito Importante. Ainda para cada pergunta, o respondente deveria
identificar se mais de 50% dos canteiros de obras da empresa já adotavam as diretrizes
de sustentabilidade em canteiro sugeridas.
A partir de bancos de dados de empresas de Sinduscon locais, bem como o
conhecimento de empresas que adotavam princípios de sustentabilidade reconhecidos
pelos pesquisadores das instituições participantes, foi definida uma amostra de
151 empresas construtoras nas quatro localidades estudadas, sendo: 61 empresas
construtoras em Salvador-BA; 33 empresas construtoras do Interior - SP; 30 empresas
construtoras em Porto Alegre-RS e 27 empresas construtoras em São Paulo-SP.
A pesquisa obteve um retorno de 66 respondentes, o que corresponde a
um nível de confiança de 90%, com o erro amostral de 10%, sendo 22 empresas de
Salvador, 19 empresas de São Paulo, 13 empresas do Rio Grande do Sul e 12 empresas
do interior de São Paulo.
Após o levantamento e análise dos dados iniciais do questionário, foram
aplicadas entrevistas semiestruturadas em nove (9) canteiros de obras de empresas
participantes da pesquisa na cidade de Salvador, visando validar as diretrizes e
identificar as práticas sustentáveis por tema, já aplicadas em canteiro de obras, assim
como para levantar as carências que dificultam a adoção das diretrizes sustentáveis
sugeridas.
As entrevistas foram aplicadas aos gerentes de obras de canteiros residenciais
(RES) e/ou de habitação de interesse social (HIS), sendo acompanhadas de registro
fotográfico e observação direta. Os canteiros foram selecionados a partir das respostas

Cap. 1 Diagnóstico das Necessidades Prioritárias de Pesquisas e Soluções... | 37


encontradas no levantamento quantitativo, relativo ao nível de adoção das diretrizes
pesquisadas. Os canteiros foram classificados em Canteiros de “Alta Adoção”, “Baixa
Adoção” e “Média Adoção”. A opção por identificar dados para estas três categorias
liga-se à busca de melhores práticas nos canteiros com alta adoção e à identificação
das carências e dificuldades dos canteiros de média e baixa adoção.
Vale ressaltar que as delimitações geográficas restringem a representatividade
e possíveis generalizações das informações, e que os resultados encontrados estão
limitados a uma realidade regional, podendo, portanto, não representar a realidade da
maioria dos empreendimentos habitacionais.

3. Perfil das Empresas Respondentes


Em relação ao perfil das 66 empresas participantes, observou-se que mais de
50% delas têm acima de 21 anos de atuação no mercado; 74% possuem mais de 20
funcionários; 57% atuam no mercado de incorporação imobiliária e 15% atua em HIS.
Observou-se também que 33% das empresas possuem sistema de gestão NBR
ISO 9001; 27% já usam o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat,
o SIAC (PBQP-H), o qual promove a qualidade da construção e, consequentemente,
contribui para a sua sustentabilidade. Constatou-se ainda que 15% das empresas
entrevistadas não possuem nenhum sistema de gestão.
Em termos de certificação ambiental, 43% das empresas respondentes
não possui empreendimento certificado ou estão em processo de certificação de
qualidade ambiental. Já entre as empresas que apresentam certificação ambiental,
o certificado LEED é mais encontrado (17% dos respondentes), seguido do AQUA (6%
dos respondentes), do PROCEL EDIFICA (4% dos respondentes) e, por último, 3% dos
respondentes afirmaram possuir a certificação Selo Casa Azul. Observa-se que nenhum
dos entrevistastes portavam o certificado BREEAM.

4. Diagnóstico das Necessidades Prioritárias


de Pesquisas e Soluções Tecnológicas para
Canteiros de Baixo Impacto
Esta seção apresenta os resultados relativos às necessidades prioritárias de
pesquisa e soluções tecnológicas para canteiros de baixo impacto. A Figura 1 apresenta
os resultados gerais da aplicação do questionário referente ao nível de importância e à
adoção das diretrizes para desenvolvimento de canteiro de baixo impacto.

38 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


100
90
80
70
60
50
(%)

40
30
20
10
0
Consumos Emissões Interfaces Qualidade Média
com exterior intrínseca geral

% de respostas importante e muito importante por tema

% de adoção das diretrizes por tema

Figura 1 – Percentual de respostas quanto ao nível de importância e de adoção das


diretrizes.

A partir desses dados, é possível identificar que existe uma lacuna entre a
preocupação das empresas respondentes e a real adoção das diretrizes por parte das
empresas. Neste sentido, é importante entender as razões pelas quais existe tal lacuna
e quais são as carências e necessidades a serem suprimidas, no intuito de se fazer com
que a adoção das diretrizes seja de fato coerente e reflita a importância atribuída pelas
construtoras.
Os resultados a seguir buscam detalhar estas lacunas encontradas em cada um
dos temas pesquisados, assim como identificar as práticas em uso e as carências para
adoção dessas diretrizes.

4.1 Consumo
A Figura 2 apresenta os resultados obtidos para o tema consumo, apresentando
os diferentes valores obtidos referentes à importância da diretriz para os entrevistados
em face da média de adoção da referida diretriz no canteiro.

Cap. 1 Diagnóstico das Necessidades Prioritárias de Pesquisas e Soluções... | 39


Redução de perdas
de materiais
100% Critérios para
Uso de fontes compra de materiais,
alterna�vas de energia 80%
produtos e sistema
60%
40%
20%
Redução de energia Sistema de avaliação
nas a�vidades 0% de fornecedores

Aproveitamento
Redução do consumo
de águas cinzas
de água, energia e gás
Aproveitamento
de águas pluviais

Média de importância da diretriz

Média de adoção da diretriz

Figura 2 – Diretrizes “Muito Importante” e “Importante” e Adoção em mais de 50% dos


canteiros referentes ao tema “Consumo”.

Entre as diretrizes relacionadas ao consumo, a Figura 7 apontou as seguintes


observações:
a) Redução de perdas de materiais na execução dos serviços, no recebimento,
no transporte interno, na estocagem e no manuseio de materiais no canteiro
de obras: 100% dos respondentes acreditam que essa diretriz é importante ou
muito importante e 60% deles já adotam a diretriz em seus canteiros.

b) Desenvolvimento de critérios para compra dos materiais, produtos e sistemas


constru�vos a par�r de fontes confiáveis e que incluam informações sobre
análise do ciclo de vida (procedência, processamento, uso e manutenção,
durabilidade e descarte) e propriedades como o desempenho técnico: 100% dos
respondentes acreditam que essa diretriz é importante ou muito importante e
mais de 50% deles já adotam a diretriz em seus canteiros.

40 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


c) Desenvolvimento de um sistema de avaliação dos fornecedores de materiais
e produtos, incen�vando a formalização em relação à Receita Federal, com
licença ambiental para operar de forma socialmente responsável e com
respeito às normas: mais de 80% dos respondentes acreditam que essa diretriz
é importante ou muito importante, e 40% deles adotam essa diretriz em seus
canteiros.
Foi ainda identificado que as diretrizes consideradas menos importantes
têm adoção quase nula pelas empresas respondentes. A seguir estão destacadas as
diretrizes “não adotadas”, que podem indicar a necessidade de pesquisas e soluções
tecnológicas: (a) Redução do consumo de água, energia e gás nas instalações
provisórias; (b) Aproveitamento de águas pluviais; (c) Aproveitamento de águas cinzas;
(d) Redução de consumo de energia nas atividades; (e) Uso de fontes alternativas de
energia.
A partir das visitas e entrevistas realizadas nos nove canteiros de obra, observou-
se que, embora o questionário apresente um percentual baixo de diretrizes adotadas
nesse tema, os canteiros denominados de “Alta Adoção”, que abrangem as empresas
sob certificação ambiental, já adotam um número razoável de práticas sustentáveis,
seja no consumo de materiais ou no consumo de água, incluindo a utilização das águas
pluviais e a reutilização de águas cinzas, na contratação de fornecedores, além de
práticas de redução do consumo de energia, por exemplo. Essas diretrizes e práticas
já aplicadas pelos canteiros de “Alta Adoção” corroboram com práticas sugeridas por
autores como Cardoso e Araújo (2007), John e Prado (2010), Yagi et al. (2011) e Tello
e Ribeiro (2012).
Identificaram-se também, nos canteiros de “Baixa Adoção” e de “Média Adoção”,
dificuldades de aplicação de diretrizes e práticas sustentáveis simples, como a seleção
de materiais. Nessas obras, a seleção ainda é realizada levando-se em consideração
apenas o melhor preço, qualidade e facilidade da entrega, em vez de optarem por
selecionar materiais e componentes dando preferência aos que provêm de fábricas
preocupadas com questões socioambientais e procedentes de fontes renováveis ou
que contenham componentes reciclados ou reutilizados.
É fundamental destacar a importância das empresas construtoras de garantir
o conhecimento e rastreabilidade da procedência dos materiais, dando preferência
àqueles que apresentam certificações ou que possam garantir tecnicamente a
qualidade da produção e do uso, observando as distâncias de transporte, optando
por recursos disponíveis nas proximidades do canteiro. Além disso, diversos autores
(CARDOSO; ARAUJO, 2007; YAGI et al., 2011; TELLO; RIBEIRO, 2012) ressaltam a
importância de analisar e ponderar a energia embutida nos materiais a selecionar, de
escolher materiais com maior aproveitamento e maior vida útil e também na escolha

Cap. 1 Diagnóstico das Necessidades Prioritárias de Pesquisas e Soluções... | 41


e uso consciente da madeira, observando a coerência de sua natureza e aplicação e
garantia da sustentabilidade dos métodos de exploração e comercialização.
Especificamente relativo a esta diretriz, vale ressaltar que, desde 2007, o
Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) vem contribuindo para a geração
e difusão do conhecimento e de boas práticas acerca da seleção de materiais, por meio
da ferramenta “Seleção em 6 passos” (CBCS, 2016), visando à sustentabilidade na
construção civil e suas inter-relações com a indústria de materiais de construção, com
o setor financeiro, o governo, a academia e a sociedade civil. Além disso, o PBQP-H
possui um sistema de avaliação de empresas de materiais, componentes e sistemas
construtivos (SiMaC), além do Sistema de Avaliação da Conformidade de Serviços e
Obras da Construção Civil – SiAC (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2015).
Com relação à contratação dos fornecedores, apenas um dos nove canteiros
pesquisados já faz uso de cadastro nacional de fornecedores, com avaliação periódica
e exigência de documentação. Os demais ainda adotam a seleção somente pelo preço
e qualidade. Essa diretriz aponta para a necessidade de contratação de empresas e
fornecedores capacitados, com vínculo legal e formal de seus funcionários, e que
ofereçam produtos e serviços legalizados e em conformidade com padrões e normas.
Esta prática pode reduzir riscos de perdas financeiras com processos trabalhistas e
indenizatórios, contribuindo para a segurança jurídica, idoneidade e imagem da
empresa, além do aumento da produtividade nas atividades e promoção da justa
concorrência (JOHN; PRADO, 2010; NETREGS ENVIRONMENT AGENCY UK, 2012).
Em relação à gestão e consumo da água, tanto nos canteiros de “Baixa Adoção”
quanto nos canteiros de “Média Adoção”, destaca-se o controle da conta, porém sem
emprego de equipamentos hidráulicos e componentes economizadores, tais como
restritores de vazão, bacias sanitárias de volume reduzido, arejadores, torneiras
de acesso restrito, entre outros, práticas sustentáveis indicadas por autores como
Santander (2011).
Na gestão de água pluvial, as empresas entrevistadas fazem a captação para
o escoamento, no lugar de utilizar sistema composto por captação, reservatório,
tratamento e desinfecção e distribuição das águas provenientes das chuvas com
base no volume máximo de chuva (índices pluviométricos), para serem utilizadas em
pontos de consumo que não exijam potabilidade, tais como sistemas de irrigação para
controle de material particulado, bacias sanitárias e torneiras de lavagem das rodas
(SANTANDER, 2011; YAGI et al., 2011;TELLO; RIBEIRO, 2012).
Os canteiros de “Baixa Adoção” e “Média Adoção” pesquisados ainda não
reutilizam água servida, alegando falta de conhecimento da técnica e alto custo para
o canteiro. Entretanto, já existem estudos que mostram que é possível a utilização
de sistema que permite a reutilização dos efluentes dos equipamentos sanitários
(chuveiros, lavatórios) com a construção de pequenas estações de tratamento e

42 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


armazenamento da água servida para posterior utilização em pontos de consumo que
não exijam potabilidade, tais como descargas em bacias sanitárias, lavagem de pátios,
entre outros (SANTANDER, 2011; YAGI et al., 2011; TELLO; RIBEIRO, 2012).
Na gestão do consumo de energia, as obras visitadas adotam práticas
conservadoras e não utilizam fontes alternativas de energia, alegando alto custo para
a etapa do canteiro e falta de soluções tecnológicas para baratear o processo. Por
outro lado, é sabido que as fontes alternativas de energia já começam a entrar na
matriz energética brasileira, e aquela com maior potencial de uso direto incorporado à
arquitetura do edifício é a energia solar fotovoltaica (LAMBERT, 2013). A fonte eólica,
por sua vez, poderia ser agregada ao edifício em certas regiões do país onde há a
predominância de vento (LAMBERT, 2013).

4.2 Emissões e Resíduos


No tema “Emissões e Resíduos”, a Figura 8 mostra que todas as diretrizes foram
consideradas “muito importante” e “importante” por mais de 80% das 66 empresas
respondentes, porém com baixa adoção nos canteiros de obras (média de 20%). Apenas
duas diretrizes aparecem com 40% de adoção pelas empresas respondentes, sendo
elas: (a) Controle da geração, estocagem e descartes de resíduos; (b) Preservação de
vegetação remanescente.
Nota-se na Figura 3 que, apesar da existência da resolução CONAMA nº 307
desde 2002 (BRASIL, 2002), com relação à gestão dos resíduos, existe uma baixa
adoção das diretrizes nos canteiros entrevistados. Entre os resultados encontrados,
observa-se que o aproveitamento ou descarte de resíduo classe C era adotado em
20% das empresas; soluções de descarte para resíduos classe D aparece adotado em
10% das empresas; aproveitamento de resíduos de construção era adotado em 20%
das empresas.
Pela resolução CONAMA nº 307 (BRASIL, 2002), os resíduos devem ser geridos
e classificados em A, B, C ou D e destinados ao local correto, conforme determina o
documento, não sendo permitida a disposição em aterros de resíduos domiciliares,
áreas de “bota fora”, encostas, corpos d’água, lotes vagos e áreas protegidas por lei.
Em 2010, também foi sancionada a Lei nº 12.305, que instituiu a Política Nacional
de Resíduos Sólidos e apresentou as diretrizes relativas à gestão integrada e ao
gerenciamento de resíduos sólidos, às responsabilidades dos geradores e do poder
público e aos instrumentos econômicos aplicáveis (BRASIL, 2010).
Outro foco de atenção nos resultados da pesquisa é o fato das diretrizes
relacionadas a emissões voltadas à poluição do ar, como “Controle das Emissões de
Material Particulado” e “Riscos destas Emissões para os Trabalhadores”, e emissões
voltadas à poluição das águas, como “Controle do lençol freático” e “Tratamento de

Cap. 1 Diagnóstico das Necessidades Prioritárias de Pesquisas e Soluções... | 43


esgoto e efluentes”, terem adoção ainda mais baixa que a de resíduos (menos de 20%),
sugerindo uma necessidade de pesquisas e soluções tecnológicas.

Aproveitamento ou descarte
de resíduos Classe C

Preservação 100% Soluções de descarte


de vegetação 80% para resíduos Classe D
remanescente 60%
40%
Controle da geração,
Tratamento 20%
estocagem e descartes
de esgoto 0% de resíduos

Controle do Aproveitamento de
lençol freá�co resíduos de construção

Riscos dessa emissão Controle das emissões de


para os trabalhadores materiais par�culados

Média de importância da diretriz

Média de adoção da diretriz

Figura 3 – Diretrizes “Muito Importante” e “Importante” e Adoção em mais de 50% dos


canteiros referentes ao tema “Emissões e Resíduos”.

A partir das entrevistas, notou-se que o tema emissões é pouco mencionado


pelos gerentes de obras dos canteiros das empresas de “Baixa Adoção” e “Média
Adoção”, mostrando um desconhecimento sobre o tema, as suas diretrizes e práticas.
Por outro lado, os canteiros de “Alta Adoção”estão buscando realizar ações mitigadoras
quanto às emissões de materiais particulados para trabalhadores e vizinhança com
práticas simples, como o uso de caminhão pipa na fase de terraplenagem, a cobertura
das caçambas com lona, a aspersão de água das áreas em atividade e o monitoramento
da emissão do canteiro.
Além disso, as obras com “Alta Adoção” das diretrizes têm adotado o controle
do nível do lençol freático e de sua contaminação, bem como o sistema de captação
e tratamento de efluentes com a adoção de práticas como efluentes ligados à rede
pública de esgoto local e efluentes da betoneira jogados em tanque para tratamento

44 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


e destino adequado. O uso destas práticas possibilita que os efluentes com resíduos
da lavagem do canteiro que contenham material sólido ou contaminantes não sejam
lançados à rede pluvial (SANTANDER, 2011; YAGI et al., 2011; TELLO; RIBEIRO, 2012).
Na separação e armazenamento das diversas classes de resíduos e descarte,
incluindo a logística reversa, observou-se que os canteiros de “Alta Adoção” já
vêm valendo-se de práticas que criam condições de espaço, local e equipamentos
específicos para separação e armazenagem das diversas classes de resíduos na etapa
de obra, facilitando o descarte e praticando destinação de forma correta e monitorada.
Por outro lado, observou-se, nos canteiros de “Baixa Adoção” e “Média Adoção”, o não
cumprimento da legislação de resíduos e a não adoção de práticas simples já adotadas
nos canteiros de “Alta Adoção”. Quanto à logística reversa, foi destacada por todos a
dificuldade encontrada de fornecedores comprometidos disponíveis.
Na solução do descarte para os resíduos perigosos, classe D, os canteiros de
“Alta Adoção” utilizam práticas de armazenamento individualizado no almoxarifado
e no descarte com uso de baias específicas, kits de emergência para vazamento de
materiais perigosos no canteiro e descarte com rastreamento. Apenas um dos nove
canteiros adota tinta à base de água e cuidados especiais com os resíduos perigosos. O
uso dessas práticas assegura a destinação adequada dos resíduos, contribuindo para a
preservação da saúde da comunidade, redução do uso do sistema de coleta da cidade,
além de prolongar a vida útil de aterros sanitários e contribuir para a boa imagem da
empresa (KARPINSK et al., 2009; YAGI et al., 2011; TELLO; RIBEIRO, 2012).
Quanto à diretriz de aproveitamento e uso de resíduos de construção, pôde-se
observar a adoção limitada de práticas referentes ao uso de máquina trituradora para
aproveitamento de resíduos inertes no canteiro de obras. Em relação à utilização de
agregados reciclados em substituição aos agregados naturais para redução do descarte
dos resíduos, nota-se também falta de conhecimento por parte dos gerentes de obra
dos canteiros visitados sobre as soluções tecnológicas disponíveis, apesar dos diversos
estudos no tema. Apenas um dos nove canteiros investigados estava utilizando moinho
para triturar resíduos de bloco, argamassa e concreto para substituir o pó de pedra.
Nesse item, é importante esclarecer que já existem no mercado empresas prevendo
a reciclagem de resíduos de demolição (com trituradores e peneiras) no próprio
local da obra, com o objetivo de reaproveitar materiais, como a brita, e reutilizá-los
em locais de pavimentação e outras aplicações que não necessitem de materiais de
alta qualidade ou elevada resistência. Essa ação reduz a utilização de materiais mais
nobres e os impactos causados pelo transporte e destinação dos resíduos descartados
(CARDOSO; ARAUJO, 2007; KARPINSK et al., 2009; YAGI et al., 2011; TELLO; RIBEIRO,
2012).
Por fim, quanto à preservação da vegetação remanescente, observou-se que
todos os canteiros visitados adotam práticas para apenas atender as exigências legais

Cap. 1 Diagnóstico das Necessidades Prioritárias de Pesquisas e Soluções... | 45


da Secretaria de Meio Ambiente com avaliação cautelar da vegetação existente visando
à preservação e proteção das áreas de preservação ambiental no entorno.

4.3 Interfaces com Meio Exterior


Quanto ao tema “Interface com o Meio Exterior” (Figura 4), os dados mostram
que 80% a 100% dos respondentes acreditam que as diretrizes pesquisadas são
“importante” e “muito importante”. No entanto, as diretrizes que apresentaram uma
adoção de 40% são: (a) Acesso e fluxo seguro de pedestres; (b) Interferências no
transito local; e (c) Processos erosivos e risco de desmoronamento.

Acessos e fluxos de
pedestres e equipamentos
100%
80%
Processo 60% Interferências no
de demolição trânsito local
40%
20%
0%

Atenuação de Processos erosivos e


incômodos sonoros riscos de desmonoramento

Riscos da emissão de materiais


par�culados para a vizinhança

Média de importância da diretriz

Média de adoção da diretriz

Figura 4 – Diretrizes “Muito Importante” e “Importante” e Adoção em mais de 50% dos


canteiros referentes ao tema “Interfaces com Meio Exterior”.

Ao analisar a Figura 9, é possível identificar as diretrizes “não adotadas” com


pouco mais de 20% de adoção, fato que revela a necessidade de pesquisa e soluções
tecnológicas referentes ao tema “Interface com o Meio Exterior”, quais sejam: (a) riscos

46 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


da emissão de materiais particulados para a vizinhança; (b) atenuação de incômodos
sonoros; e (c) processo de demolição.
A partir das entrevistas nos nove canteiros, observou-se que aqueles classificados
como de “Alta Adoção” já utilizam um número razoável de práticas sustentáveis
simples de “boa vizinhança”, mostrando ações para mitigar os impactos do canteiro
de obras, buscando ouvir e informar a comunidade do entorno, além de comunicar
a política socioambiental da empresa à comunidade e aos possíveis interessados por
meio de placas, sites, panfletos, tapumes e outros meios. Essas práticas corroboram
com práticas já discutidas na literatura (CARDOSO; ARAUJO, 2007; KARPINSK et al.,
2009; YAGI et al., 2011; TELLO; RIBEIRO, 2012).
Embora o questionário aponte a baixa adoção das diretrizes “Atenuação de
Incômodos Sonoros”, as entrevistas mostram algumas práticas sustentáveis já aplicadas
nos canteiros das empresas de “Alta Adoção”, tais como proteção auricular dos
operários, acordos de horários com a vizinhança, monitoramento de ruídos, suspensão
de serra elétrica e de betoneira no canteiro. Entretanto, os respondentes destacaram
a “falta de conscientização no momento do projeto de layout do canteiro”, que precisa
contemplar a minimização das emissões de ruídos e atenuação de incômodos sonoros
com a vizinhança. Por outro lado, nota-se um desconhecimento sobre os riscos da
emissão do material particulado para a vizinhança, bem como baixo conhecimento
sobre ações para mitigar esses impactos, mesmo nas obras com “Alta Adoção” de
diretrizes no canteiro.
Por fim, observa-se, nos canteiros de “Baixa Adoção” e de “Média Adoção”, a
adoção da prática de vistoria cautelar, com o objetivo de informar sobre a realização
de vistoria dos imóveis do entorno, avaliando seu estado e garantindo reparos a
possíveis danos, conforme apontado pela literatura no tema (CARDOSO; ARAUJO,
2007; KARPINSK et al., 2009; YAGI et al., 2011; TELLO; RIBEIRO, 2012). Entretanto,
observou-se dificuldades de adesão a práticas sustentáveis simples, as quais já são
aplicadas em outros canteiros, tais como a manutenção de vias e calçadas, limpeza do
entorno e comunicação com moradores sobre o empreendimento, abordando suas
características finais quando finalizada a obra.

4.4 Qualidade Intrínseca do Canteiro de Obras


Acerca do tema “Qualidade Intrínseca do Canteiro de Obras”, no que se refere
ao item “segurança”, 100% dos respondentes acreditam que as diretrizes pesquisadas
são “importante” e “muito importante”. De forma alinhada com as respostas sobre a
importância, entre 60% a 80% dessas mesmas diretrizes já são adotadas nos canteiros
das empresas respondentes, conforme mostra a Figura 5. A diretriz certificação dos
equipamentos de proteção coletiva foi a que apresentou menos índice de adoção (20%
das empresas).

Cap. 1 Diagnóstico das Necessidades Prioritárias de Pesquisas e Soluções... | 47


Proteções contra quedas
de pessoas com diferença de...
100%
Comunicação visual Proteções em equipamentos
80%
externa e interna de movimentação
60%
de materiais
40%
Cer�ficação dos 20% Proteções em
equipamentos de 0% equipamentos de
proteção cole�va movimentação de
pessoas

Proteções em máquinas Proteções contra


e equipamentos choques elétricos
Proteções
em escavações

Média de importância da diretriz

Média de adoção da diretriz

Figura 5 – Diretrizes “Muito Importante” e “Importante” e Adoção em mais de 50% dos


canteiros referentes ao tema “Qualidade Intrínseca do Canteiro de Obras - Segurança”.

Em relação ao item “Instalações Provisórias”, nota-se que 80% a 100% dos


respondentes acreditam que as diretrizes pesquisadas são “importante” e “muito
importante”, porém, conforme apresentado na Figura 6, apenas duas diretrizes das
doze apresentadas são adotadas, sendo elas: (a) melhoria das condições de segurança
do trabalho, com adoção nos canteiros de mais de 50% das empresas respondentes;
(b) melhoria das condições de saúde e higiene, com adoção de mais 60% das empresas
respondentes.
As diretrizes “não adotadas” que podem necessitar de pesquisa e soluções
tecnológicas referentes ao tema “Qualidade Intrínseca do Canteiro de Obras –
Instalações Provisórias”são: (a) melhoria do conforto térmico e acústico; (b) melhoria
das condições de iluminação e ventilação; (c) flexibilidade arquitetônica do canteiro;
(d) mobiliários e equipamentos fixos internos; (e) reutilização dos componentes e
sistemas construtivos em outros canteiros; (f) melhoria da segurança estrutural,
considerada importante por 80%, porém adotada em 40% das empresas respondentes;

48 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


(g) melhoria da segurança contra fogo; (h) melhoria da conectividade das instalações
com rede de água, esgoto e energia; (i) melhoria das condições de uso e operação das
instalações; (j) melhoria da estanqueidade das instalações.

Melhoria do conforto
térmico e acús�co
Melhoria da estanqueidade Melhoria das condições de
100%
das instalações iluminação e ven�lação
80%
Melhoria das condições Flexibilidade
de uso e operação 60%
arquitetônica
das instalações 40% do canteiro

Melhoria da 20%
Mobiliários e
conec�vidade
0% equipamentos
das instalações
fixos internos
com rede de...
Melhoria das
Melhoria da condições de
segurança contra fogo segurança do trabalho

Melhoria da Melhoria das condições


segurança estrutural de saúde e higiene
Reu�lização dos
componentes e sistemas
constru�vos em outros...

Média de importância da diretriz

Média de adoção da diretriz

Figura 6 – Diretrizes “Muito Importante” e “Importante” e Adoção em mais de 50% dos


canteiros referentes ao tema “Qualidade Intrínseca do Canteiro de Obras - Instalações
Provisórias”.

Nesse item, os canteiros de “Maior Adoção” aderem a práticas sustentáveis,


buscando garantir desempenho térmico do canteiro por meio da aplicação de
componentes adequados e da própria concepção do layout, aliado com ventilação
e iluminação natural, visando promover o conforto do usuário, como também a
diminuição dos gastos energéticos com o condicionamento artificial, conforme
orientações da literatura (SANTANDER, 2011; YAGI et al., 2011; TELLO; RIBEIRO, 2012).
Em relação a “Novas Tecnologias em Instalações Provisórias”, a Figura 7
mostra que, das cinco diretrizes, apenas duas aparecem como “muito importante” e

Cap. 1 Diagnóstico das Necessidades Prioritárias de Pesquisas e Soluções... | 49


“importante” por mais de 80% e com adoção considerada nula (20%) em canteiros de
obras das empresas respondentes. São elas: (a) soluções de instalações provisórias em
aço; (b) soluções de instalações provisórias em madeira e derivados.
Por outro lado, as diretrizes a seguir, com adoção entre 20% a 0%, podem
necessitar de pesquisa e soluções tecnológicas: (a) soluções de instalações provisórias
em madeiras e derivados; (b) soluções de instalações provisórias com pré-fabricado
de concreto; (c) Soluções de instalações provisórias utilizando placas cimentícias; (d)
soluções de instalações provisórias utilizando chapas de gesso acartonado. Neste item,
as empresas respondentes reforçaram a necessidade de buscar novas tecnologias.

Soluções de instalações
provisórias em aço
100%
80%
60%
Soluções de instalações Soluções de instalações
40%
provisórias u�lizando provisórias em
chapas de gesso 20% madeiras e derivados
0%

Soluções de instalações Soluções de instalações


provisórias u�lizando provisórias com
placas cimen�cias pré-fabricados de concreto

Média de importância da diretriz

Média de adoção da diretriz

Figura 7 – Diretrizes “Muito Importante” e “Importante” e Adoção em mais de 50%


dos canteiros referentes ao tema “Qualidade Intrínseca do Canteiro de Obras – Novas
Tecnologias”.

5. Conclusões
A principal contribuição prática deste trabalho é a identificação da atual
situação em termos de importância e da adoção de diretrizes para o desenvolvimento
de canteiros de baixo impacto ambiental, com destaque para os temas de “Consumo”,

50 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


“Emissões e Resíduos”, “Interface com o Meio Exterior” e “Qualidade Intrínseca do
Canteiro de Obras”, mostrando uma lacuna significativa entre a preocupação das
empresas respondentes e a real adoção destas diretrizes.
Os canteiros das empresas “Menor Adoção” e “Média Adoção”, onde estão
incluídos os canteiros de habitação de interesse Social-HIS, apresentaram dificuldades
e falta de conhecimento para a adoção de diretrizes e de práticas simples já utilizadas
pelos canteiros com “Maior Adoção”, como abordado nos resultados em diferentes
temas como “Consumo”, “Emissões e Resíduos” e “Interface com o exterior”. Observou-
se, por exemplo, dificuldades em adotar diretrizes legais, apresentando grande volume
de resíduos, perdas por armazenamento inadequado, gerando um volume significativo
de resíduos a ser descartado, práticas conservadoras no consumo de materiais, de
energia, além do pouco uso da água da chuva e o não reaproveitamento de água
servida.
O atendimento das diretrizes de sustentabilidade por meio dos processos de
certificação ambiental ou pela implementação de boas práticas de sustentabilidade
pode contribuir para a realização de canteiro de obras de baixo impacto ambiental.
Assim, torna-se essencial uma maior divulgação das diretrizes de sustentabilidade
aplicáveis aos canteiros de obras e já identificadas em diversos estudos. Faz-se ainda
necessário exigir o compromisso dos diversos intervenientes de setor e a elaboração de
uma Política para Ciência, Tecnologia e Inovação para o desenvolvimento de canteiro
de obras de baixo impacto.

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52 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


2
http://dx.doi.org/10.26626/978-85-5953-027-8.2017C0002.p.53-70

Boas Práticas de
Sustentabilidade em
Canteiros de Obras

Ludimilla de Oliveira Zeule


Sheyla Mara Baptista Serra

1. Introdução
Ações e práticas sustentáveis podem ser entendidas em diferentes contextos.
No âmbito da ação, Cavalcanti et al. (2012) propõem que a sustentabilidade pode
ser uma estratégia fundamental para a preservação do ambiente, da cultura e da
dignidade social das gerações. Já as práticas sustentáveis são um conjunto de ações
inter-relacionadas, segundo Brasil (2016b), que resultam a médio e longo prazo
numa nova perspectiva de vida para nossos sucessores ao garantir a manutenção dos
recursos naturais necessários para uma melhor qualidade de vida.
Segundo Viggiano (2010), as ações sustentáveis podem ser classificadas de
acordo com as diretrizes de sustentabilidade ambiental, social e econômica. De forma
geral, indicam-se:
• Ações econômicas: necessitam da aplicação de capital e incen�vo financeiro;
• Ações tecnológicas: subentendem o uso de equipamentos e tecnologias que
proporcionem mais eficiência na busca da sustentabilidade;
• Ações sociais: tomadas junto aos trabalhadores e sociedade em geral, como
treinamentos e campanhas de conscien�zação.
No caso do canteiro de obras, as ações sustentáveis podem ser transformadas
em boas práticas que organizem e facilitem as tarefas diárias, não agridam o meio em

53
que estão inseridos, utilizem alternativas oferecidas gratuitamente (água de chuva,
insolação, ventos, iluminação) em benefício das atividades a serem realizadas, e ainda
padronizem essas práticas para as obras seguintes (ZEULE, 2014).
A construção civil é um setor de grande potencial para a implantação de
tecnologias sustentáveis, e as características dos empreendimentos têm contribuído
para se disseminar o uso de programas de certificações sustentáveis. Segundo o órgão
certificador Green Building Council Brasil (GBC BRASIL, 2015), existem atualmente, no
Brasil, 279 edifícios certificados com o selo LEED (sigla, em inglês, para Leadership
in Energy and Environmental Design), concedido pela entidade às construções que
atendam a padrões de sustentabilidade. Para esse Conselho, o desenvolvimento
da indústria da construção sustentável envolve a adoção de boas práticas e um
processo integrado de concepção, construção e operação de edificações e de espaços
construídos (GBC BRASIL, 2015).
Existem atualmente vários programas de selagem de certificação ambiental
que se destacam por levar em conta práticas sustentáveis em todas as fases do
empreendimento, considerando as fases de projeto, de execução e de ocupação. A
implantação dos selos de certificação sustentável traz benefícios não apenas ambientais,
mas econômicos e sociais. As construções que levam em conta os “critérios verdes”
ganham com a diminuição de custos operacionais, melhora na saúde dos ocupantes,
uso racional dos recursos naturais, entre outras vantagens (HALLIDAY, 2010).
Cada um dos selos ambientais possui características que orientam a seu favor
a escolha feita pelas empresas na construção civil. Não há necessidade, contudo, do
selo para que o canteiro de obras implemente práticas de sustentabilidade. Há, porém,
a necessidade de que os métodos e práticas sejam mais divulgados para a sua efetiva
implantação durante a fase de construção do empreendimento.
Segundo Costa e Moraes (2013), no Brasil as grandes construtoras
perceberam que a aplicação de métodos de gestão sustentável durante todo o ciclo
do empreendimento, inclusive durante a fase de construção, é a única maneira de
garantir a melhoria do desempenho ambiental das edificações.
A proposta deste capítulo é exibir práticas e diretrizes de sustentabilidade em
canteiros de obras nas quais as empresas da construção civil possam se basear e passem
a adotá-las em seus canteiros, tornando-se assim empreendimentos sustentáveis
nesta importante fase do processo de produção do empreendimento.

2. Método de Pesquisa
Este trabalho se baseia na dissertação de mestrado de Zeule (2014). A pesquisa
utilizou o método de estudo de caso proposto por Yin (2009). A estratégia inicial de
pesquisa consistiu em elaborar um quadro comparativo das diretrizes e regras de

54 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


pontuações dos selos de certificações ambientais a fim de obter um formulário de
avaliação da implementação da sustentabilidade em canteiro de obras. O quadro
comparativo foi baseado em quatro programas de certificações – Building Research
Establishment Environmental Assessement Method – BREEAM (BRE, 2009), Leadership
in Energy and Environmental Design (LEED) for New Construction & Major Renovation
(LEED NC, 2009), Processo AQUA®, baseado no selo francês HQE (Haute Qualité
Environnementale) (FCAV, 2010), Selo Casa Azul da Caixa Econômica Federal (GUIA
CAIXA, 2010). Além disso, as pesquisas de Cardoso e Araújo (2007) e de Brandão
(2011) serviram como referência de práticas sustentáveis em canteiro de obras.
Foram visitados seis canteiros de obras brasileiros, localizados nos estados de
São Paulo e do Ceará, sendo três obras certificadas ambientalmente e quatro obras
definidas como Empreendimentos de Habitação Social (EHIS), com a intenção de
analisar a viabilidade e aplicabilidade do método proposto por Zeule (2014).
Os critérios de avaliação da sustentabilidade foram divididos em seis níveis,
de acordo com a organização do LEED, e as perguntas da lista de verificação foram
baseadas nas recomendações dos programas de certificações para pontuação das
práticas no canteiro. As práticas de sustentabilidade foram classificadas em: Canteiro
Sustentável, Uso Racional da Água, Uso Racional de Energia, Materiais e Recursos,
Qualidade do Ambiente, Inovações e Processos, e estão detalhadas a seguir. Ao final
da aplicação da lista de verificação em cada canteiro de obras, foi possível obter um
nível comparativo de nota de implantação da sustentabilidade (ZEULE, 2014).

3. Práticas de Sustentabilidade no
Canteiro de Obras
A adoção de várias práticas ajuda a caracterizar um canteiro sustentável, e o
conhecimento das possibilidades ajuda a tornar a sustentabilidade do empreendimento
um fato.

3.1 Canteiro Sustentável


Deve-se pensar em premissas básicas de sustentabilidade que sejam possíveis
de serem atendidas por qualquer obra, cobrindo várias etapas do empreendimento,
desde a compra do terreno, escolha de materiais, preservação de vegetações
existentes, entre outras.
Os itens a serem avaliados em um canteiro sustentável são: 1) Adequação de
transporte; 2) Redução de ilhas de calor e priorização do conforto térmico; 3) Evitar
emissão de particulados; 4) Preservação da vegetação nativa; 5) Seleção responsável
do terreno.

Cap. 2 Boas Práticas de Sustentabilidade em Canteiros de Obras | 55


Neste sentido, as práticas de sustentabilidade recomendadas são listadas a
seguir.
1) Adequação de transporte: voltado ao transporte de trabalhadores, entrega de
materiais e componentes e logís�ca interna no canteiro:
• Estabelecer fretamento de ônibus par�cular para buscar e levar os
trabalhadores;
• Disponibilizar vale transporte, quando a medida anterior não for possível;
• Aumentar a demanda por materiais de construção e produtos que são
extraídos e produzidos na região;
• Minimizar os transportes dentro do canteiro para reduzir a poluição e
impactos causados pelo uso do automóvel;
• Criar estacionamento adequado para veículos leves;
• Separar vias de pedestres e veículos leves e pesados (Figura 1).
• Criar local com guarita e pavimentação para entrega de materiais;
• Criar local para bicicletário (Figura 2a);
2) Redução de ilhas de calor e priorização do conforto térmico: melhoria das
condições de permanência dos trabalhadores dentro do canteiro, preservação
ou construção de espaços verdes:
• Deixar uma área descoberta (se possível), sombreada e ven�lada para uso
comum dos trabalhadores do canteiro junto às demais áreas de vivência;
• Instalar janelas e aberturas nos refeitórios e demais instalações provisórias
do canteiro que garantam ven�lação e iluminação adequada;
• Construir as instalações provisórias preferencialmente com materiais
reciclados, porém livres de Compostos Orgânicos Voláteis (COV) e que
forneçam devido conforto térmico;
• U�lizar materiais isolantes térmicos em fachadas e coberturas das
instalações, se necessário;
• U�lizar materiais de alta refletância solar, priorizando cores claras;
• Fazer uso de telhado verde e calçadas verdes para redução de ilhas de calor
(Figura 2b).
3) Evitar emissão de par�culados: estratégias para redução da emissão de poeiras
no canteiro e vizinhanças:
• Empregar lava-rodas u�lizando água de chuva (Figura 3);
• Empregar lava-bicas u�lizando água de chuva (Figura 3);

56 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


• Fazer a recuperação de águas do lava-rodas, bicas, ralos para posterior uso,
como para irrigação do canteiro e diminuição da poeira;
• Implantar sistema simplificado de captação de água de chuva para lavagem
de equipamentos e irrigação do canteiro;
• Fazer a limpeza umidificada diária nos ambientes de trabalho, de preferência
com águas reaproveitadas.
4) Preservação da vegetação na�va: principalmente quando for prevista a
manutenção da vegetação durante a fase de ocupação do empreendimento:
• Preservar as árvores e vegetações na�vas que exis�am anteriormente no
terreno (Figura 4).
5) Seleção responsável do terreno: observação dos parâmetros urbanís�cos e
ambientais relacionados com o terreno:
• Manter o terreno de acordo com a proposta de gestão ambiental da obra;
• Verificar se o terreno não está inserido em zona de proteção ambiental. Se
es�ver, deve-se verificar se atende às leis correspondentes;
• Atender ao plano diretor municipal;
• Verificar se o solo foi ou está contaminado e realizar, se necessário, processo
de recuperação antes da construção;
• Realizar sondagem do terreno;
• Realizar, registrar e acompanhar durante toda a construção o relatório de
impacto do empreendimento sob a vizinhança.
As Figuras 1, 2, 3 e 4 a seguir exibem imagens de canteiros com algumas das
práticas citadas anteriormente.

a b

Entrada somente para Entrada de veículos (leves e pesados)


“Recebimento de materiais” à esquerda e de pessoas à direita –
como diz na placa separação das vias por guarda-corpos

Figura 1 – Separação de vias para entrada no canteiro. Fonte: Autoras (2016).

Cap. 2 Boas Práticas de Sustentabilidade em Canteiros de Obras | 57


a b
Implementação de bicicletário Calçada verde no
e área verde ao redor entorno de toda a obra
Figura 2 – Implementação de bicicletário e áreas verdes. Fonte: Zeule (2014).

Figura 3 – Local para lavagem de rodas e bicas dos caminhões. Fonte: Zeule (2014).

Figura 4 – Preservação da vegetação na�va existente no canteiro. Fonte: Zeule (2014).

58 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


3.2 Uso Racional da Água
As possibilidades de uso racional da água dentro do canteiro de obra muitas
vezes são desprezadas, gerando enormes desperdícios. Sabe-se que a água é um
recurso finito e é muito utilizada em várias atividades diárias do canteiro, sendo
necessária a inserção de práticas de sustentabilidade para que seu uso seja mais
eficiente e econômico.
Observa-se que existem algumas pesquisas e orientações para o uso de
estratégias de minimização e controle do consumo da água dentro dos canteiros de
obras. Entretanto, ainda não há implantação massiva nos canteiros de obra, devido
talvez ao desconhecimento e à falta de incentivo das normalizações.
De acordo com a Norma Regulamentadora 18: Condições e Meio Ambiente
de Trabalho na Indústria da Construção (NR-18), que descreve as “Condições e Meio
Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção” (BRASIL, 2015), a utilização de água
nos canteiros de obras está relacionada às demandas essenciais dos funcionários e
devem estar presentes nos itens básicos: a) refeitórios; b) instalações hidrossanitárias;
c) bebedouros. De modo geral, a água também deve estar presente nas frentes de
trabalho para atender as demandas das atividades e serviços.
Entre as principais práticas encontradas na literatura estão: 1) Captação de água
pluvial e cinza e consequente tratamento para reutilização em canteiro; 2) Tecnologias
utilizadas para águas servidas em canteiros; 3) Redução do consumo de água.
A seguir, são listadas as práticas aplicáveis aos canteiros para uso racional da
água.

1) Captação de água pluvial e cinza e consequente tratamento para reu�lização


em canteiro

• Realizar captação de águas cinzas (pias e chuveiros) e de chuva (pluviais)


(Figura 5a);
• Fazer o correto tratamento das águas a serem reu�lizadas;
• Observar se as águas captadas (pluviais e/ou cinzas) foram corretamente
tratadas para posterior reuso;
• Manter as tubulações e os disposi�vos de coleta de água de chuva totalmente
separados das instalações de água potável;

2) Tecnologias u�lizadas para águas servidas em canteiros: para fins de separação


e reuso, as águas servidas compõem-se das águas negras (vasos sanitários e
pias de cozinha) e águas cinzas (chuveiros, lavatórios de banheiro, tanques):

• Prever sistema para escoamento das águas negras da obra;


• Estabelecer manutenção periódica das instalações de águas servidas;

Cap. 2 Boas Práticas de Sustentabilidade em Canteiros de Obras | 59


3) Redução do consumo de água: prever a instalação de disposi�vos e estratégias
de conscien�zação:
• Instruir os trabalhadores nas formas de gerar economia de água por meio de
cursos de conscien�zação ou orientações por escrito (Figura 6);
• U�lizar equipamentos redutores de consumo de água nas instalações
provisórias, como torneiras com fechamento automá�co, caixa de descarga
com capacidade menor que 6 litros, redutor de pressão, arejador etc.;
A seguir, as Figuras 5 e 6 exibem imagens de canteiros com algumas das práticas
citadas anteriormente.

a b
Sistema de Captação de água Sistema para tratamento da
pluvial (chuva) pelo telhado água de pluvial para
nas instalações provisórias reuso no próprio canteiro

Figura 5 – Captação e tratamento de água pluvial e economia de água. Fonte: Zeule (2014).

Figura 6 – Instruções aos trabalhadores para economizar água e cuidados com a saúde e
segurança no trabalho. Fonte: Zeule (2014).

60 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


3.3 Uso Racional da Energia
Esse item incentiva o uso de energias renováveis no canteiro, oferecendo conforto
aos operários, reduzindo a emissão de ruídos e melhorando o uso dos vestiários, a fim de
propiciar o bem-estar dos trabalhadores e a economia de energia elétrica.
Dessa forma, as práticas elencadas com relação ao uso racional da energia
no canteiro de obras são: 1) Geração local de energia renovável; 2) Tecnologias para
redução do consumo de energia. As diretrizes para essas práticas são listadas a seguir.
1) Geração local de energia renovável: dependendo da localização geográfica e
disponibilidade, verificar a existência de outros �pos de energia:
• Fazer uso de energias renováveis disponíveis: eólica, solar, geotérmica,
fotovoltaica;
2) Tecnologias para redução do consumo de energia:
• Priorizar o uso de iluminação e ven�lação natural nas instalações provisórias
do canteiro (Figura 7);
• Fazer a medição do consumo de energia, visando ao controle e à redução
deste consumo;
• Evitar o uso de geradores de energia;
• U�lizar lâmpadas e�quetadas com selo PROCEL/INMETRO;
• U�lizar equipamentos economizadores e com selo PROCEL de eficiência
energé�ca;
• Instalar sensores de presença em ambientes de passagem rápida, nos quais
normalmente se esquece a luz acesa.
A Figura 7, a seguir, exibe imagens de canteiros com algumas das práticas citadas
anteriormente.

a b
Iluminação e ven�lação Alterna�va para economia de
natural no ves�ário energia, com garrafas PET com
água no lugar de lâmpadas

Figura 7 – Iluminação natural nas instalações provisórias. Fonte: Zeule (2014).

Cap. 2 Boas Práticas de Sustentabilidade em Canteiros de Obras | 61


3.4 Materiais e Recursos
A gestão e logística de materiais e recursos dentro do canteiro de obras são de
suma importância, uma vez que lidam com a disposição adequada dos materiais que
serão utilizados durante toda a fase de execução. Não menos importante é a deposição
adequada dos resíduos e seus reusos no próprio canteiro. No canteiro, são gerados
vários tipos de resíduos além do resíduo da construção, normalmente conhecido como
entulho.
Sob estes aspectos, definiu-se que os fatores importantes de serem avaliados no
canteiro referentes ao assunto são: 1) Realização de depósito e coleta para materiais
recicláveis; 2) Gestão dos resíduos da construção; 3) Reuso de materiais; 4) Uso de
madeira certificada.
A seguir, são apresentadas as diretrizes com as práticas relacionadas.
1) Realização de depósito e coleta para materiais recicláveis:
• Estabelecer baias de separação por �po de resíduo (Figura 8a);
• Separar os resíduos contaminantes (classe D) dos demais (Figura 8b);
• Separar lixo orgânico do inorgânico;
• Pra�car a coleta sele�va em todos os empreendimentos da empresa;
• Proteger os estoques de materiais contra intempéries;
• Armazenar os materiais conforme orientações das normas técnicas e dos
fabricantes.
2) Gestão dos resíduos da construção:
• Priorizar o uso de materiais passíveis de reciclagem;
• Controlar a entrada de materiais no canteiro;
• Realizar inspeção de produtos conformes e não conformes no ato da entrega;
• Especificar produtos tóxicos e acondicioná-los isolados do solo;
• Fazer controle de u�lização de produtos/materiais por prazo de validade;
• Manter o local de armazenamento de resíduos bem iluminado e ven�lado,
com pontos de água, tubulação de esgoto e ralo sifonado;
• Criar um programa de bonificação aos trabalhadores que reduzirem a
geração e quan�dade de resíduos.
3) Reuso de materiais:
• U�lizar materiais sustentáveis e reciclados que sejam livres de Compostos
Orgânicos Voláteis (COV) sempre que possível (Figura 9a);
• Reaproveitar materiais que seriam descartados para outros fins (Figura 9b);

62 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


• Reu�lizar materiais, por exemplo, argamassa e cimento endurecido, que
podem ser triturados e virar cascalho para vias.
4) Uso de madeira cer�ficada:
• Ter controle de todas as madeiras u�lizadas, verificando os cer�ficados de
conformidade;
• U�lizar madeiras recicladas livres de Compostos Orgânicos Voláteis e outros
produtos químicos.
As Figuras 8 e 9 a seguir exibem imagens de canteiros com algumas das práticas
citadas anteriormente.

a b
Baias cobertas para separação Acondicionamento de produto
dos vários �pos de resíduos contaminante, afastado do solo
Figura 8 – Acondicionamento de resíduos no canteiro de obras. Fonte: Zeule (2014).

a b
Instalação provisória feita com Reuso de madeira de formas
chapas de madeira reciclada
Figura 9 – Uso de materiais reciclados e reuso de materiais que seriam descartados. Fonte:
Zeule (2014).

Cap. 2 Boas Práticas de Sustentabilidade em Canteiros de Obras | 63


3.5 Qualidade do Ambiente
A qualidade do ambiente está relacionada diretamente às necessidades e conforto
dos trabalhadores e usuários do canteiro de obras, sendo considerados na análise desse
item todos os ambientes destinados às atividades dos operários e a existência dos
confortos olfativo, térmico, acústico e visual presentes nos canteiros de obras.
Definiu-se que os fatores importantes a serem avaliados no canteiro referentes
ao assunto são: 1) Conforto aos usuários do canteiro e entorno; 2) Redução nas
emissões de Cloro-Flúor-Carbono (CFC’s) e Dióxido de Carbono (CO2).
As principais boas práticas identificadas são listadas a seguir.
1) Conforto aos usuários do canteiro e entorno:
• Manter o canteiro de obras livre de odores prejudiciais à saúde dos usuários
(por exemplo, produtos tóxicos exalantes);
• Preservar os ambientes salubres de acordo com orientações da NR-18 –
Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (BRASIL,
2015);
• Controlar e minimizar as fontes de poluição;
• Criar um “fumódromo” - local específico para consumo do tabaco;
• Manter o entorno (ruas e calçadas) do canteiro limpo (Figura 10b);
• Garan�r que os portões de acesso à obra sejam monitorados por câmeras ou
vigias;
• Verificar se o local oferece conforto térmico aos usuários, mantendo locais bem
dimensionados sombreados e ven�lados, áreas verdes, espelhos d’água;
• Verificar se o local oferece conforto visual, apresentando-se limpo e organizado;
• Verificar se o local oferece conforto acús�co aos usuários e entorno, observando
o uso correto de equipamentos de proteção cole�va (EPI), a localização
adequada de equipamentos, a existência de máquinas que emitam menores
ruídos e vibrações etc.;
• Preservar as instalações provisórias em boas condições de uso e ocupação,
conforme NR-18 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da
Construção (BRASIL, 2015);
• Projetar as instalações provisórias com tecnologias e disposi�vos passíveis de
desmontagem e reu�lização, mantendo-se as boas condições;
• Limpar os banheiros e refeitórios diariamente (Figura 10a);
2) Redução nas emissões de Cloro-Flúor-Carbono (CFC’s) e Dióxido de Carbono
(CO2)
• Realizar os procedimentos de neutralização de carbono quando se fizer uso
de produtos/equipamentos emitentes de CFC/CO2;

64 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


• Conservar os equipamentos de uso nas instalações provisórias, tais como
geladeiras e ar condicionados, com menos de cinco anos de uso;
• Realizar manutenção periódica nos veículos e maquinários de uso no
canteiro.
A Figura 10 a seguir exibe imagens de canteiros com algumas das práticas
citadas anteriormente.

a b
Refeitório em perfeitas Entorno da obra
condições de uso e limpeza (ruas e calçadas) limpas
Figura 10 – Prá�cas relacionadas à qualidade do ambiente do canteiro. Fonte: Zeule (2014).

3.6 Inovações e Processos


Considera-se inovações gerenciais e tecnológicas aquelas que podem ser
inseridas no canteiro, como a bonificação paga aos trabalhadores por incentivo à
produção, a possibilidade de customização (isto é, permissão para mudança nos
ambientes de acordo com os desejos dos futuros usuários), industrialização de
equipamentos e materiais etc. (ZEULE, 2014).
A seguir, são apresentadas as diretrizes para cumprimento desse ponto de
avaliação.
1) Inovações e processos:
• Organizar um plano de chegada de caminhões (evitando que fiquem
estacionados nas vizinhanças da obra, causando incômodos à vizinhança e
grande interferência no tráfego local);
• Verificar se os veículos u�lizados na obra estão com os impostos pagos,
principalmente no caso deles não serem da empresa executante;

Cap. 2 Boas Práticas de Sustentabilidade em Canteiros de Obras | 65


• Verificar também se existe controle de manutenção individual por veículo ou
equipamento de obra;
• Cer�ficar-se da qualificação da mão de obra e fornecedores contratados;
• Verificar se a mão de obra está apta ao serviço e se realizou treinamento;
• Não realizar queima de materiais em canteiro;
• Prever área para instalação da caixa de decantação de águas de lavagem de
equipamentos como betoneira, argamassadeira, caminhão betoneira (Figura 11);
• Fazer uso de materiais industrializados pensando na eliminação de processos
internos ao canteiro (argamassa industrializada, argamassa projetada, concreto
usinado, concreto autoadensável, gesso projetado, gesso acartonado, sistema
flexível de tubulação, guinchos ou gruas, lajes nervuradas, entre outros)
(Figura 12);
• Elaborar plano de prevenção de riscos ambientais orientada pela NR-9 –
Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (BRASIL, 2016a) (Figura 13);
• Manter registro e implantar programa de segurança no trabalho específico para
construção- o Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria
da Construção (PCMAT), disposto na NR-18 – Condições e Meio Ambiente de
Trabalho na Indústria da Construção (BRASIL, 2015);
• Registrar os impactos ambientais e desempenho dos materiais e produtos
durante seu processo de aquisição.
As Figuras 11 a 13 a seguir exibem imagens de canteiros com algumas das boas
práticas citadas anteriormente.

Figura 11 – Caixa de decantação da água com material par�culado instalada no terreno.


Fonte: Autoras (2016).

66 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


a b
Uso de painéis pré-moldados de Kits de tubulações de
concreto sendo içados, eliminando água fria prontas para
vedações com blocos serem instaladas nos
painéis pré-moldados
Figura 12 – Prá�cas para eliminação e simplificação de processos produ�vos no canteiro.
Fonte: Zeule (2014).

Figura 13 – Fixação do Mapa de Riscos (NR-9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais)


em Canteiro de Obra. Fonte: Autoras (2016).

4. Conclusões
A implantação das boas práticas apresentadas neste trabalho auxiliarão as
empresas na adoção de estratégias modernas de gestão, com a incorporação de
aspectos de sustentabilidade e responsabilidade social. Além de muitas das práticas
terem valores significativamente baixos para implantação, os retornos do investimento
podem ser intangíveis, como a melhoria da imagem e a comparação com empresas
concorrentes.
É recomendado que as empresas de construção de edificações busquem
alternativas que atuem na redução de impactos ambientais e adotem ferramentas

Cap. 2 Boas Práticas de Sustentabilidade em Canteiros de Obras | 67


gerenciais, como a implantação de um sistema de gestão ambiental. O planejamento
antecipado aplicado à construção civil contribui para minimização dos impactos gerados
pelas edificações, principalmente na fase de produção da construção, já que o canteiro
de obras é uma fase considerada como grande causadora de danos ao meio ambiente.
Este estudo permitiu identificar a influência que a fase de execução (canteiro de
obras) tem sobre o empreendimento como um todo, avaliando as diversas ocorrências
de possibilidade de implantação das boas práticas de sustentabilidade.
Os órgãos públicos e financiadores das Habitações de Interesse Social (HIS)
precisam ser mais contundentes em orientar a adoção de tais práticas, visto que
existem vários empreendimentos desse tipo em todo o país e as práticas adotadas por
eles refletem em grande porcentagem o setor da construção civil, trazendo benefícios
para toda a sociedade.
Por fim, recomenda-se como necessária a obtenção de indicadores de
sustentabilidade em empreendimentos, visando, além de uma mudança atual da
construção civil, à melhoria nos processos produtivos, ao desenvolvimento tecnológico
na fabricação dos materiais e componentes e à conscientização e treinamento de
pessoal técnico e operacional.

Referências
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Disponível em: <h�p://trabalho.gov.br/seguranca-e-saude-no-trabalho/norma�zacao/
normas-regulamentadoras/norma-regulamentadora-n-18-condicoes-e-meio-ambiente-
de-trabalho-na-industria-da-construcao>. Acesso em: nov. 2016.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora 9 (NR-9): Programa
de Prevenção de Riscos Ambientais. 2016a. Brasília-DF. Disponível em: <h�p://trabalho.
gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR09/NR-09-2016.pdf >. Acesso em: nov. 2016.
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Disponível em: <h�p://www.brasilsustentavel.org.br/sustentabilidade>. Acesso em: nov.
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Finep: Tecnologias para construção habitacional mais sustentável. São Paulo, 38p. 2007.

68 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


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Sustentabilidade: um conceito interdisciplinar em construção. Projé�ca Revista Cien�fica
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compara�va das cer�ficações LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) e
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FCAV. Fundação Carlos Alberto Vanzolini. Referencial técnico de cer�ficação: edi�cios do
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ZEULE, L.O. Prá�cas e avaliação da sustentabilidade nos canteiros de obras. 2014. 263f.
Dissertação (Mestrado em Estruturas e Construção Civil) – Universidade Federal de São
Carlos, São Carlos, 2014.

Cap. 2 Boas Práticas de Sustentabilidade em Canteiros de Obras | 69


3
http://dx.doi.org/10.26626/978-85-5953-027-8.2017C0003.p.71-88

Diretrizes para Novas Políticas


de Ciência, Tecnologia
e Inovação para Canteiro
de Obras de Baixo
Impacto Ambiental

Natasha Ilse Rotbucher Thomas


Dayana Bastos Costa
Maria Sacramento Oliveira Guimarães
Clarice Menezes Degani

1. Introdução
Apesar da importância, no Brasil, há uma carência de conhecimento sobre as
necessidades prioritárias para a implementação de canteiros de obra de baixo impacto
ambiental. Dessa forma, ainda permanecem sem resposta satisfatória inúmeros
questionamentos, tais como: o que é preciso fazer para ter canteiros de obras mais
produtivos? Quais são os intervenientes na implementação das práticas? Quais as
necessidades de pesquisas, de capacitação e de políticas para o incentivo e a indução
por parte da indústria da construção com o apoio do governo para se realizar esse tipo
de empreendimento?
Nesse sentido, este capítulo tem como objetivo contribuir com a formulação
de novas políticas de ciência, tecnologia e inovação para canteiros de obra de baixo

71
impacto ambiental e com melhores condições de trabalho, apresentando indutores
estratégicos que possam contribuir para a sustentabilidade nos canteiros de obra.
A formulação dessas diretrizes para novas políticas de ciência, tecnologia e
inovação para canteiros de obra de baixo impacto considerou o levantamento das
necessidades prioritárias de pesquisa e solução tecnológica nesse sentido, bem como
as respectivas carências e dificuldades de implementação, apresentadas no Capítulo
1 deste livro.
Para sistematizar o processo de formulação das novas políticas, criou-se
uma planilha com o intuito de definir um plano de ação para cada uma das práticas
identificadas no Capítulo 1, com base no levantamento e entrevistas realizadas (colunas
1 e 2), conforme Quadro 1.
Em seguida, a primeira e a segunda coluna da planilha foi preenchida por
pesquisadores da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal da Bahia. A
terceira coluna, denominada “como”, foi deixada em branco para ser preenchida com
as opiniões dos pesquisadores a respeito de soluções e de possibilidades capazes de
influenciar as construtoras na adesão a cada diretriz. A quarta coluna, por sua vez,
refere-se a “quem” ou “quais os intervenientes responsáveis” pela implementação ou
realização do “como” em cada diretriz.
Foram estabelecidos os seguintes intervenientes:
(1) Academias/Universidades;
(2) Sindicatos/Associações;
(3) Ins�tuições Tecnológicas;
(4) Indústrias;
(5) Construtoras;
(6) Órgãos Regulamentadores;
(7) Ins�tuições financiadoras).
A quinta coluna refere-se ao tempo destinado à adoção efetiva da diretriz,
podendo ser de curto, médio ou longo prazo.
A partir destes resultados, buscou-se definir a forma de implementação das
diretrizes, as quais foram classificadas de acordo com seis indutores estratégicos,
conforme será discutido a seguir.

72 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Quadro 1 – Planilha exemplo para a definição do plano de ação das prá�cas iden�ficadas.
Tema Consumos
Resultado da Survey Resultado das Entrevistas Painel dos Especialistas

Cap. 3
Prá�cas já aplicadas
Como Solucionar as Carências que
Diretrizes re�radas das Entrevistas Intervenientes Responsáveis Prazo
dificultam a Adoção das Prá�cas?
de Salvador.
Redução de perdas Controle de perdas (Uso Elaboração de planos de gestão de [x ] Sindicatos / Associações [x] Curto (0 a 1 ano)
de materiais na de planilhas para controle resíduos [x ] Construtoras
execução dos de perdas atendendo Desenvolver procedimentos gerenciais [x] Academias / Universidades [x] Médio (1 a 3
serviços, no a uma % tolerável específicos para o controle de perdas [x] Construtoras anos)
recebimento, no estabelecida) entre outras (quan�ta�vo orçado, material aplicado,
transporte interno, soluções) resíduos gerados, etc.)
na estocagem e Inserir procedimento gerencial [x] Sindicatos / Associações [x] Curto (0 a 1 ano)
no manuseio de específico no SG da empresa para [x] Construtoras
materiais no canteiro garan�r que haja efe�vo controle de
de obras perdas / percentual tolerável definido
com a comunidade da construção
Treinamentos e cursos para os [x] Ins�tuições Tecnológicas [x] Curto (0 a 1 ano)
operários e setor responsável na obra [x] Construtoras
Treinamentos e cursos para os [x] Academias / Universidades [x] Curto (0 a 1 ano)
engenheiros [x] Construtoras
Aproveitamento dos sistemas de gestão [x] Academias / Universidades [x] Médio (1 a 3
existentes nas empresas construtoras e [x] Sindicatos / Associações anos)
extrapolá-los aos empreiteiros [x] Construtoras
Es�pular metas e regras nos contratos [x] Academias / Universidades [x] Médio (1 a 3
com tercerizados no que diz respeito à [x] Sindicatos / Associações anos)

Diretrizes para Novas Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação...


redução de perdas [x] Construtoras

|
73
2. Indutores Estratégicos
Foram identificados seis indutores estratégicos relevantes para a sustentabilidade
dos canteiros de obra no Brasil.
O primeiro indutor estratégico são as linhas de pesquisas para o desenvolvimento
de soluções tecnológicas nos quatro temas estudados (consumos, emissões, interfaces
com o meio exterior e qualidade intrínseca), específicos para aplicação em canteiros
de obra, incluindo-se a análise de custo dessas soluções.
O segundo indutor são as políticas públicas e incentivos para o desenvolvimento
de materiais e tecnologias pelas indústrias de construção civil, visando à industrialização
dos processos construtivos no Brasil, a partir da criação de subsídios técnicos para
viabilizá-las, considerando o uso racional dos recursos, sejam eles energia, água ou
materiais.
O terceiro indutor é o incentivo ao desenvolvimento de projetos de canteiros de
obra que privilegiem melhores soluções de projetos e práticas gerenciais sustentáveis
e que possam ser adotados nas instalações provisórias (arquitetura, elétrica,
hidrossanitárias, contenções e demais complementares) em cada fase da construção,
além de passarem por aprovação do órgão municipal responsável e efetiva fiscalização,
a fim de garantir o cumprimento da legislação vigente sobre os diversos temas.
Os três últimos indutores estão associados à própria falta de conhecimento das
equipes operacionais e gerenciais nos canteiros de obra, quais sejam: a capacitação
operacional na pauta das empresas construtoras, das políticas públicas e das
entidades setoriais; a capacitação gerencial e tecnológica na pauta das políticas
públicas e das entidades setoriais; e os fóruns para a integração da indústria da
construção, academia e governo.
Os itens a seguir detalham os indutores estratégicos que, em conjunto,
compreendem a formação de uma nova política para a Ciência, Tecnologia e Inovação
no que diz respeito a canteiros de obra de baixo impacto ambiental e com melhores
condições de trabalho. Esses itens são abordados do ponto de vista de consumos,
emissões, interfaces com o meio exterior e da qualidade intrínseca do canteiro de
obra.

2.1 Linhas de Pesquisa


As linhas de pesquisa direcionam-se às universidades e aos centros tecnológicos
e devem ser fomentadas por agências de pesquisa do governo ou pela própria indústria
da construção civil. Essas ações têm um horizonte de aplicação de médio a longo prazo
e dependem de financiamento e investimento da iniciativa privada.

74 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Consumos:
• Avaliar a modulação de sistemas constru�vos quanto ao custo, ao prazo de
execução, à segurança do instalador, ao consumo de recursos na montagem e à
emissão de resíduos (par�culados, sólidos, gasosos e efluentes);
• Desenvolver tecnologias e procedimentos gerenciais específicos para o controle
de perdas;
• Realizar estudos acerca da análise do ciclo de vida dos materiais, contribuindo
para definir critérios para compra dos materiais, produtos e sistemas
constru�vos, a par�r de fontes confiáveis e locais;
• Desenvolver sistema de avaliação dos fornecedores de materiais e produtos
com baixo impacto ambiental, incen�vando a formalização e conformidade em
relação à Receita Federal, licença ambiental, responsabilidade social e normas
técnicas;
• Desenvolver e aprimorar sistemas de instalações provisórias visando reduzir
o consumo de água potável, de energia elétrica e gás, bem como dos
equipamentos, sistema de iluminação e sistema de condicionamento de ar no
canteiro de obras, avaliando as condições de uso e ocupação de cada �po de
dependência das instalações provisórias;
• Desenvolver métodos para a gestão, controle e redução do consumo de energia
elétrica, água e gás nas a�vidades de produção no canteiro de obras;
• Inves�gar per�nência do aproveitamento de águas de chuva em a�vidades de
produção no canteiro de obras.

Emissões:
• Desenvolver novos produtos e tecnologias para aproveitamento e descarte de
resíduos classe C;
• Desenvolver métodos de descontaminação e soluções de descarte dos resíduos
perigosos, como �ntas, solventes, óleos, ou contaminados oriundos de
demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais
e outros (resíduos classe D);
• Desenvolver metodologia de iden�ficação dos riscos, caracterização e
monitoramento de emissões de materiais par�culados, tanto pelo impacto na
vizinhança quanto para o trabalhador;
• Desenvolver método para controle do nível do lençol freá�co, sistemas de
captação e tratamento de efluentes (esgoto) e minimização de riscos decorrentes
do sistema de drenagem no canteiro de obras.

Cap. 3 Diretrizes para Novas Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação... | 75


Interfaces com o Meio Exterior:
• Desenvolver métodos e ferramentas para o controle das emissões de material
par�culado na vizinhança.

Qualidade Intrínseca do Canteiro de Obras:


• Desenvolver Sistema Nacional de Cer�ficação dos equipamentos de proteção
cole�va industrializados, como atualmente é realizado em equipamentos
de proteção individual no canteiro de obras, além de aprimorar as Normas
Regulamentadoras de Segurança existentes, incluindo memorial de cálculo dos
equipamentos de proteção cole�va, proteções contra queda, etc.;
• Desenvolver soluções para proteções de equipamentos de movimentação de
materiais, proteções contra choques elétricos e proteções em escavações;
• Desenvolver diretrizes para projetos de instalações provisórias, alinhando-as às
soluções de projeto e prá�cas gerenciais que serão adotadas nas edificações e
que podem ser aproveitadas nos projetos das instalações provisórias, visando
à maior flexibilidade arquitetônica (layout), conforto térmico e acús�co,
iluminação, ven�lação e qualidade de ar e à reu�lização dos componentes e
sistemas constru�vos de instalação provisória em outros canteiros de obras.
• Desenvolver soluções de instalações provisórias industrializadas modulares em
aço (contêineres), pré-fabricadas de concreto e placas cimen�cias em sistemas
de vedação como alterna�va para as instalações tradicionais, com sistema de
cer�ficação quanto à segurança, à resistência estrutural e à segurança contra
fogo.

2.2 Política e Incentivos Fiscais para o Desenvolvimento


de Materiais e Tecnologias
na Indústria da Construção
As políticas públicas com incentivos fiscais que facilitam o aporte de capitais
e os subsídios governamentais oferecidos às empresas (comércio e indústria) para
redução do preço final de seus produtos direcionam-se aos governos nas escalas
federal, estadual e municipal e aos órgãos regulamentadores.
Esse indutor envolve ações de médio a longo prazo de aplicação, pois depende
da atuação de diversos intervenientes, como governos, representantes da cadeia da
construção, entre outros.

76 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Consumos:
• Incen�var a industrialização e pré-fabricação de produtos, componentes e
sistemas constru�vos, bem como o uso de elementos pré-moldados, deixando
apenas a montagem para o momento de execução da obra (obras secas);
• Incen�var a instalação de fábricas de materiais e produtos de construção
(esquadrias, alumínio composto, elementos pré-fabricados, gesso acartonado,
�ntas, cimentos, vidros, cerâmica, porcelanato, entre outros) de forma
descentralizada no país;
• Incen�var o desenvolvimento de novas soluções e kits de materiais para
instalações elétrica, de água e gás, nas instalações provisórias e na edificação
como um todo, visando reduzir o consumo de água potável, de energia elétrica
e gás, além de sistemas de iluminação e sistema de condicionamento de ar no
canteiro de obras;
• Criar subsídios para lâmpadas e equipamentos que comprovem uma redução
no consumo de energia e água, e kits de instalações que sejam vinculados a
cer�ficados de qualidade, passando-se o desconto para o comprador do
produto final;
• Incen�var a fabricação de equipamentos e ferramentas de produção de menor
consumo de energia, água e gás;
• Criar subsídios financeiros para compra de máquinas, tais como equipamentos
para proteções cole�vas, retroescavadeiras, gruas e outros equipamentos
pesados;
• Incen�var o uso e desenvolvimento de soluções e fontes de geração de energia
alterna�va, que possam ser u�lizadas durante a fase de execução no canteiro de
obra com subsídios e incen�vos fiscais;
• Incen�var o uso de BIM para o desenvolvimento de projetos e compa�bilização
dos mesmos.

Emissões:
• Desenvolver novos produtos e tecnologias para aproveitamento de resíduos
classe C e D;
• Desenvolver alterna�vas para o descarte temporário dos resíduos que permitam
a triagem e a não contaminação;
• Desenvolver opções de embalagens para armazenamento e descontaminação
de resíduos perigosos, como �ntas, solventes, óleos ou aqueles contaminados,

Cap. 3 Diretrizes para Novas Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação... | 77


oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações
industriais e outros (resíduos classe D);
• Criar subsídios para aquisição de equipamentos de aproveitamento e tratamento
de resíduos, bem como de trituradores e disposi�vos de gestão de resíduos,
como estocagem e coleta especializada;
• Criar incen�vos fiscais aos fabricantes para efetuar logís�ca reversa;
• Incen�var a criação de centrais de reciclagem para recebimento e aproveitamento
de resíduos;
• Desenvolver equipamentos e ferramentas com disposi�vos contenedores ou
com disposi�vos que reduzam a emissão de poeiras;
• Criar incen�vos fiscais para o controle das emissões de materiais par�culados;
• Incen�var o uso de boas prá�cas para a redução das emissões de material
par�culado e o volume de ruído;
• Desenvolver tecnologias para tratamento de esgoto compactas para canteiros
de obra.

Interfaces com o Meio Exterior:


• Incen�var o uso e desenvolvimento de equipamentos e ferramentas com
disposi�vos de atenuação de ruídos por meio de subsídios para aquisição de
tais instrumentos;
• Incen�var o uso e desenvolvimento de equipamentos e ferramentas para o
controle das emissões de material par�culado na vizinhança.

Qualidade Intrínseca do Canteiro de Obras:


• Incen�var o desenvolvimento de novas soluções e o aprimoramento dos
sistemas de proteções cole�vas já existentes, incluindo aqueles contra quedas
de pessoas em diferença de nível, contra choques elétricos, equipamentos de
movimentação de materiais e em escavações com cer�ficação;
• Incen�var a industrialização e desenvolvimento de componentes, produtos e
sistemas constru�vos de instalações provisórias (pré-fabricação) em canteiros
de obra, que visam à redução no consumo de água, energia e recursos em
geral e que possam ser reu�lizados em outros canteiros de obras, promovendo
maior flexibilidade desses abrigos e gerando melhorias na conec�vidade das
instalações provisórias do canteiro de obras, com redes de água, tratamento
dos efluentes, energia e comunicação;

78 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


• Incen�var o desenvolvimento e uso de soluções para industrialização de
provisórias modulares em aço (contêineres), em madeira e seus derivados (OSB)
e em concreto, atentando-se para uma maior segurança estrutural e quanto a
incêndios. Proporcionar subsídios para aquisição dessas instalações.

2.3 Projetos de Canteiros de Obra com Baixo Impacto


Ambiental
Esse é um indutor que orienta ações de curto prazo, porém a sua efetividade
conta com o apoio de fiscalização e exigência de responsabilidade técnica na elaboração
de projetos executivos para as instalações provisórias.

Consumos:
• Especificar equipamentos com baixo consumo energé�co e cer�ficados PBE/
Procel Inmetro (lâmpadas, eletrodomés�cos, eletroeletrônicos), adotar
disposi�vos de controle (sensores de presença e fotoelétricos) e buscar fontes
alterna�vas (geotermia, eólica, solar térmica e solar fotovoltaica).

Emissões:
• Elaborar planos de gerenciamento de resíduos da construção civil mais
detalhados do que o exigido pela resolução CONAMA 307. U�lizar na própria
obra, efe�vamente, os resíduos classe A gerados;
• Prever a gestão dos efluentes da obra, o tratamento do esgoto, os sistemas de
aproveitamento de águas pluviais, o reuso de águas cinzas e das provenientes
de sistemas de limpeza de rodas, betoneiras e bicas de caminhões de concreto;
• Desenvolver projeto que considere os impactos sonoros e a emissão de
par�culados das a�vidades de canteiro, incluindo planos de monitoramento e
controle, levando em conta o detalhamento dos documentos PPRA e PCMAT e
prevendo uma polí�ca de boa vizinhança.

Interfaces com o Meio Exterior:


• Analisar o entorno, mapeando a vizinhança e garan�ndo adequada definição
de acessos de diferentes �pos de veículos na obra, estabelecendo os
procedimentos e fixando as ro�nas de carga e descarga, limpeza e conservação
dos fechamentos e comunicação com vizinhos, por exemplo;
• Desenvolver projeto de sinalização interna e externa, considerando saúde
ocupacional, segurança e aspectos ambientais (por exemplo, placas sinalizadoras
de áreas preservadas, informações des�nadas à vizinhança acerca de prazos e
meios de contato com a obra, orientações de trânsito, dentre outros);

Cap. 3 Diretrizes para Novas Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação... | 79


• Desenvolver plano de preservação e compensação da vegetação, além do
exigido pela regulamentação, com medidas de isolamento e proteção, replan�o
local e em outras obras ou doação de mudas.

Qualidade Intrínseca do Canteiro de Obras:


• Considerar, nas instalações provisórias, o conforto térmico, a trajetória, a
ven�lação e iluminação naturais, a flexibilidade e reuso em outras obras, a
qualidade do ar interno e soluções contra emissão de par�culados, etc.;
• Desenvolver projeto de segurança cole�va e individual para o canteiro de obra;
• Desenvolver projeto de segurança contra incêndio;
• Desenvolver projeto logís�co do canteiro de obra, considerando movimentação,
estoque e descarga de materiais e resíduos, além da descrição de rotas até as
transportadoras;
• Exigir ART para os proje�stas das instalações provisórias;
• Exigir adequação ao Selo Azul ou a qualquer outro �po de cer�ficação para
obras habitacionais financiadas pelo Governo.

2.4 Capacitação Operacional das


Empresas Construtoras e das Entidades
do Setor da Construção
Esse indutor foca no desenvolvimento de programas com intuito de reduzir a
rotatividade e capacitar terceirizados, elevando a qualidade operacional e a formação
técnica das equipes. O propósito da capacitação é aumentar a produtividade dos
indivíduos em seus cargos, influenciando seus comportamentos. Nesse caso, também
se torna importante a criação de políticas públicas que exijam a capacitação na
realização de determinados serviços, indicando seu formato e o tempo de capacitação
para cada função.

Consumos:
• Treinar a redução de perdas de materiais na execução dos serviços, no
recebimento, no transporte interno, na estocagem e no manuseio, além da
fidelidade aos projetos de paginação;
• Treinar quanto ao processo de aquisição de materiais e equipamentos e de
contratação de serviços (critérios e polí�cas de compras, logís�ca reversa,
ro�nas de inspeção, avaliação de fornecedores).

80 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Emissões:
• Treinar as ro�nas do plano de gerenciamento de resíduos da construção civil
(PGRCC), assegurando a triagem na fonte e garan�a da qualidade do resíduo;
• Treinar as ro�nas de descontaminação, descarte e cuidados especiais com os
resíduos perigosos como �ntas, solventes, óleos ou aqueles contaminados,
oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações
industriais e outros (resíduos classe D);
• Treinar as ro�nas de aproveitamento dos resíduos classe A no canteiro e de uso
de agregados reciclados;
• Treinar as ro�nas de monitoramento e minimização da emissão de par�culados,
inclusive indicando as responsabilidades das empreiteiras em contrato.

Interfaces com Meio Exterior:


• Treinar as ro�nas de gestão de acessos e fluxos de pedestres, equipamentos,
carga e descarga no canteiro de obras, boas prá�cas relacionadas aos impactos
do canteiro nos fluxos do entorno, aspectos sanitários, de conforto e visuais,
interferências do canteiro de obras no trânsito local e conservação das vias e
calçadas para garan�r acessibilidade;
• Treinar os procedimentos de prevenção e mi�gação de processos erosivos e
riscos de desmoronamento;
• Treinar e conscien�zar a respeito dos incômodos sonoros, métodos de
caracterização das a�vidades emissoras de ruídos e planos de atenuação.

Qualidade Intrínseca do Canteiro de Obras:


• Treinar e conscien�zar a respeito do uso adequado dos equipamentos do
canteiro;
• Treinar e conscien�zar a respeito da importância de manter limpos os ambientes
internos nas instalações provisórias;
• Treinar e conscien�zar a respeito do uso de EPIs.

2.5 Capacitação Gerencial e Tecnológica das


Entidades do Setor da Construção
O processo de capacitação gerencial e tecnológico deve ser compreendido como
algo dinâmico e inserido nas estratégias das empresas quando se trata da decisão de
desenvolver, adaptar ou adquirir tecnologia para atender à determinada demanda.

Cap. 3 Diretrizes para Novas Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação... | 81


Consumos:
• Treinar a redução de perdas de materiais na execução dos serviços, no
recebimento, no transporte interno, na estocagem e no manuseio, incluindo:
◦ uso integrado do Building Information Modeling por escritórios de projeto;
◦ coordenação modular definida no início do desenvolvimento do projeto,
padronização de módulos entre sistemas, elementos e componentes, acordos
entre proje�stas e construtoras com seus fabricantes para fornecimento de
tamanhos padronizados;
◦ adoção de projetos de paginação incluídos nos contratos de projeto e entrega
no execu�vo;
◦ coordenação de projetos formal com garan�a de qualidade e uso de
engenharia a montante;
◦ adoção de projetos execu�vos completos antes do início da obra, com
planejamento para a produção e análises crí�cas indicadas em cronograma;
◦ avaliação de sistemas inovadores quanto ao custo, ao prazo de execução, à
segurança do instalador, ao consumo de recursos na montagem e à emissão
de resíduos;
◦ adoção de projetos das instalações provisórias nas diversas disciplinas e com
memorial descri�vo;
◦ escopos de contrato pré-elaborados, com metas e regras claras a respeito de
redução de perdas, por exemplo.
• Treinar os critérios de compra dos materiais, produtos e sistemas constru�vos
a par�r de fontes confiáveis e locais que incluam informações sobre análise do
ciclo de vida e propriedades, como o desempenho técnico:
◦ seleção de fornecedores, considerando caracterís�cas de desempenho,
desde as mais explícitas às mais específicas, entrando em análises de ciclo de
vida mais consistentes;
◦ declarações de análise de ciclo de vida;
◦ especificações detalhadas de desempenho técnico, durabilidade, métodos de
manutenção, patologias, vida ú�l mínima e outras caracterís�cas a indicar no
memorial descri�vo e a recolher os respec�vos comprovantes, cer�ficados
e laudos.
• Treinar as soluções para reduzir o consumo de água potável, de energia elétrica
e gás pelas instalações provisórias, bem como pelos equipamentos, sistemas
de iluminação e condicionamento de ar. Treinar o aproveitamento das águas
pluviais e das águas cinzas, assim como para ro�nas de monitoramento e gestão
dos consumos nas instalações provisórias e processos produ�vos.

82 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Emissões:
• Treinar a elaboração e implantação dos PGRCC, assegurando a triagem na fonte
e garan�a da qualidade dos resíduos, assim como as estratégias de minimização
de resíduos e maximização do seu aproveitamento, incluindo:
◦ inserção dessas estratégias em contrato com as empreiteiras;
◦ controle da geração, quan�ficação, triagem, estocagem e descartes de
resíduos, incluindo a logís�ca reversa;
◦ planos de armazenagem, incluindo a classificação dos resíduos, as
possibilidades de aproveitamento e as opções de descarte;
◦ métodos de aproveitamento e uso de resíduos no canteiro e u�lização de
agregados reciclados em subs�tuição aos agregados naturais, dosagem e
outras informações e normas técnicas;
◦ métodos de descontaminação, soluções de tratamento e descarte de resíduos
perigosos, como �ntas, solventes, óleos ou aqueles contaminados, oriundos
de demolições, reformas, reparos de clínicas radiológicas, instalações
industriais e outros (classe D);
◦ sinalização dos locais de aproveitamento e descarte, método de rastreamento.
• Treinar o controle do nível do lençol freá�co e sistemas de captação e tratamento
de efluentes (esgoto), minimizando os riscos a par�r do sistema de drenagem.
Divulgar os métodos de controle do nível freá�co, dos sistemas de captação de
efluentes e as estratégias de minimização de riscos e outras medidas gerenciais;
• Treinar os procedimentos para preservação de vegetação remanescente,
incluindo:
◦ novos conceitos de paisagismo com a adoção de espécies que demandem
menor necessidade de adubagem, irrigação e poda; espécies menos
invasivas; espécies não tóxicas e não alergênicas. Contribuições para redução
das ilhas de calor, sombreamento de fachadas, dentre outros;
◦ boas prá�cas na preservação de vegetação remanescente na forma de
procedimentos operacionais a serem seguidos pela equipe própria e as
empreiteiras.

Interfaces com Meio Exterior:


• Treinar a gestão de acessos e fluxos de pedestres, equipamentos, carga e
descarga no canteiro de obras: fluxos, aspectos sanitários e de conforto,
segurança, comunicação visual, polí�ca de boa vizinhança, transparência;
• Treinar a observação das interferências do canteiro no trânsito local e da
conservação das vias e calçadas, garan�ndo acessibilidade: fluxos de pessoas e
veículos, aspectos sanitários, de conforto e visuais;

Cap. 3 Diretrizes para Novas Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação... | 83


• Treinar a observação dos processos erosivos e riscos de desmoronamento,
incluindo projetos de canteiros contemplando contenções e memorial
descri�vo, além de medidas preven�vas e de mi�gação de processos erosivos e
riscos de desmoronamento;
• Treinar a caracterização, monitoramento, minimização e controle das emissões
de materiais par�culados, a iden�ficação dos riscos decorrentes dessas emissões
provenientes das a�vidades de produção para a vizinhança e as boas prá�cas
para a minimização dos danos inseridas nos procedimentos operacionais da
própria equipe e das empreiteiras;
• Treinar a caracterização das a�vidades emissoras de ruídos e aplicação de planos
de atenuação de incômodos sonoros: monitoramento e controle das a�vidades
emissoras, locais adequados, planejamento de horário, previsão de ações de
comunicação com a vizinhança (comunicados, reuniões, entrevistas), memoriais
descri�vos contemplando os níveis sonoros máximos a respeitar, sugestão de
equipamentos e tecnologias menos ruidosas e com menos vibração;
• Treinar a efe�va comunicação com a vizinhança nas fases seguintes ao canteiro
por meio da disponibilização de conteúdo informa�vo de qualidade projetada
para o futuro uso da obra, operação e manutenção dos edi�cios no momento de
sua entrega e desenvolvimento dos manuais de entrega do empreendimento,
a par�r de inves�gação criteriosa da vizinhança e inspeção cautelosa das
unidades.

Qualidade Intrínseca com o Canteiro de Obras:


• Treinar a respeito de proteção contra quedas de pessoas em diferença de
nível, proteção em máquinas e equipamentos de movimentação de materiais
e pessoas, proteção contra choques elétricos e proteção em escavações, com
sensibilização quanto às vantagens custo-bene�cio do uso de equipamentos e
máquinas de ponta, incluindo:
◦ projeto de segurança para proteções cole�vas, incluindo os materiais e
disposi�vos, prevendo o local das diversas fases e a�vidades, recomendações
de manutenção e elaboração de projetos de comunicação visual orienta�va
e preven�va.
• Capacitar profissionalmente os funcionários e absorver a mão de obra local:
treinamento integrado dos serviços (passo-a-passo do serviço a ser realizado)
pela obra, cursos de Educação Ambiental e inclusão digital para os operários e
comunidade.
• Treinar para a elaboração de projetos de canteiros de obra, incluindo os projetos
complementares, memoriais de cálculos e memoriais descri�vos para cada fase
da obra, resgatando as diversas soluções de projeto e prá�cas gerenciais, no
intuito de melhorar o conforto térmico e acús�co, a iluminação, ven�lação

84 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


e qualidade de ar, as condições de segurança do trabalho, saúde e higiene
nos ambientes internos das instalações provisórias, a segurança estrutural,
conec�vidade, condições de uso e operação, estanqueidade, manutenibilidade
e posterior reu�lização dos componentes e sistemas constru�vos de instalação
provisória em outros canteiros.

2.6 Fóruns para Integração da Indústria da Construção,


Academia e Governo
A integração da pesquisa desenvolvida nas universidades com as demandas da
indústria da construção civil contribui para uma engenharia mais sustentável. Assim,
é preciso unir as necessidades do mercado com as pesquisas aplicadas, integrando
a indústria da construção, a academia e o governo. A criação de fóruns pretende
estabelecer um canal de diálogo entre esses atores.

Consumos:
• Definir as etapas de desenvolvimento do produto, uso de engenharia a montante
(100% dos projetos prontos antes do início da obra), planejamento dos projetos
para a produção e análises crí�cas inseridos no cronograma, aplicação da
plataforma BIM;
• Criar um banco de dados de indicadores de perda de materiais por serviço: no
recebimento, no transporte interno, na estocagem e no manuseio de materiais
no canteiro de obra. Definir um percentual tolerável de perdas e avaliar os
números alcançados. Discu�r dificuldades e soluções e propor metas de
melhoria;
• Esclarecer as tecnologias e divulgar seus custos e bene�cios, incen�vando a
industrialização, pré-fabricação e pré-moldagem, o uso de maquinários de
ponta, deixando apenas a montagem para o momento de execução da obra
(conceito da obra seca), a fim de reduzir o emprego de mão de obra, induzir o
mercado e aumentar a concorrência, fato que propicia os menores custos dos
sistemas constru�vos;
• Definir critérios para compra dos materiais, produtos e sistemas constru�vos, a
par�r de fontes confiáveis e de locais que incluam informações sobre análise do
ciclo de vida, desempenho técnico, cer�ficações de qualidade, conformidade
ao PSQ do PBPQ-H, procedência dos materiais naturais, como a madeira, areia,
gesso e pedras;
• Apoiar os sistemas de avaliação de fornecedores, incen�vando a formalização e
conformidade em relação à Receita Federal, licença ambiental, responsabilidade
social e normas técnicas, além de promover a divulgação às construtoras e
proje�stas de informa�vos dos sites disponíveis para consulta de cadastros,

Cap. 3 Diretrizes para Novas Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação... | 85


formalidades e desempenhos. Desenvolver campanha setorial sobre a
legalização dos funcionários terceirizados;
• Aperfeiçoar as caracterís�cas das instalações provisórias e desenvolver mercado
para melhores custos de kits, sistemas e disposi�vos para que também sejam
u�lizados nas instalações provisórias e reaproveitados nas seguintes.

Emissões:
• Rever as responsabilidades dos agentes da cadeia produ�va e negociar acordos
entre os diferentes setores industriais para garan�r melhor gestão de resíduos
no canteiro de obras. Iden�ficar as possibilidades de logís�ca reversa e atuar
especificamente com cada agente, buscando alterna�vas tecnológicas, de gestão
e de logís�ca com o obje�vo de reduzir perdas e maximizar o reaproveitamento
dos materiais;
• Discu�r a aplicação dos resíduos inertes no próprio canteiro e o uso dos
agregados reciclados em subs�tuição aos agregados naturais. Divulgar usos
potenciais, métodos de descontaminação e soluções de descarte para os
resíduos perigosos. Desenvolver parcerias com fornecedores, inclusive
considerando suas embalagens.

Interfaces com Meio Exterior:


• Discu�r a gestão de acessos e fluxos de pedestres, equipamentos, carga e
descarga no canteiro de obras, processos erosivos e riscos de desmoronamento,
controle do nível do lençol freá�co e sistemas de captação e tratamento de
efluentes (esgoto) e minimização de riscos decorrentes do sistema de drenagem
no canteiro de obras.

Qualidade Intrínseca do Canteiro de Obras:


• Discu�r as técnicas de proteção contra quedas de pessoas em diferença de nível,
equipamentos de movimentação de materiais, equipamentos de movimentação
de pessoas, contra choques elétricos, contra desmoronamentos em escavações.
Divulgar vantagens, custos e bene�cios do uso de equipamentos e máquinas de
ponta;
• Divulgar o apoio ins�tucional de cada Estado e seus programas de capacitação
profissional de funcionários e absorção da mão de obra local. Ins�gar o
desenvolvimento de novos programas em parceria com a indústria e as
ins�tuições tecnológicas, inclusive considerando aspectos de segurança e saúde
ocupacional;
• Compar�lhar soluções de projetos de canteiros de obra, contemplando
conforto térmico e acús�co, iluminação, ven�lação e qualidade de ar, sistemas

86 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


hidrossanitários e elétricos de baixo consumo, flexibilidade arquitetônica,
possibilidade de reuso de componentes e sistemas constru�vos, conec�vidade
das instalações provisórias com redes de água, tratamento dos efluentes,
energia e comunicação, tecnologias para instalações provisórias industrializadas
e modulares, pré-fabricação, uso de kits.

3. Conclusões
Este documento apresentou as diretrizes para a formulação de novas políticas
de ciência, tecnologia e inovação para canteiros de obra de baixo impacto ambiental e
com melhores condições de trabalho.
Entende-se que a adoção de práticas e tecnologias para o desenvolvimento
do canteiro de obras de baixo impacto exige compromisso de diversos intervenientes
de setor, sejam eles as Academias/Universidades, os Sindicatos/Associações, as
Instituições Tecnológicas, Indústrias, Construtoras, Órgãos Regulamentadores ou as
Instituições financiadoras, com o estabelecimento de políticas públicas de incentivo
e cobrança eficiente, metas progressivas e indicadores constantemente atualizados,
formação de recursos humanos, desenvolvimento e adoção de inovações tecnológicas.
Espera-se que este trabalho ofereça subsídios para a definição de programas
de fomento ao desenvolvimento cientifico e tecnológico na área de conhecimento
de canteiros de obra com ênfase no seu baixo impacto ambiental e de melhores
condições de trabalho, assim como no processo de tomada de decisão a respeito
dos investimentos em inovação e gestão por parte de todas as empresas do setor da
construção civil envolvidas.

Cap. 3 Diretrizes para Novas Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação... | 87


Seção II
Subprojeto Desenvolvimento
de Soluções para Redução
da Emissão de Materiais
Particulados em Canteiros de
Obras (SPEMP)
4
http://dx.doi.org/10.26626/978-85-5953-027-8.2017C0004.p.91.106

Boas Práticas para Redução


da Emissão de Material
Particulado Proveniente dos
Canteiros de Obras

Ingrid Priscylla Silva Araújo


Rita Jane Brito de Moraes
Dayana Bastos Costa

1. Introdução
Uma construção é composta de uma série de operações e atividades diferentes,
cada uma com um tempo de duração próprio e uma geração potencial de material
particulado (MP). A emissão de material particulado tem uma origem definida e
um destino que pode variar substancialmente em fases diferentes do processo de
construção, tais como: demolição, terraplanagem, superestruturas, vedações e
acabamento (MUÑOZ, PALACIOS, 2001; RESENDE, 2007).
Na construção civil, em especial durante a execução da obra, diariamente ocorre
geração de poeira. O mecanismo de emissão dessa poeira está relacionado à ação dos
ventos que atuam durante a realização de atividades, como a mistura e a subdivisão de
diversas matérias primas de diferentes granulometrias, tais como: areia, cimento, cal,
gesso, argamassas, madeira, cerâmica, granito, aço, entre outras. Ademais, por meio
de suas atividades construtivas, por exemplo: fabricação de concreto e argamassa,
jateamento de argamassa, corte de aço, de madeira, de cerâmica ou de granito,
aplicação de gesso, varrição a seco, lixamento de superfícies, escavações, estocagem

Cap. 4 Boas Práticas para Redução da Emissão de Material Particulado... | 91


de pilhas de materiais ao ar livre, movimentação nas vias de tráfego, especialmente as
não pavimentadas, ou de veículos e equipamentos movidos à combustão, entre outras
atividades geradoras de diversos tipos de poeiras, que se propagam no ambiente de
trabalho e na vizinhança da construção (ENVIRONMENT AGENCY, 2004; RESENDE,
2007; RESENDE, CARDOSO, 2007; MARTINS, 2009).
Neste sentido, as obras de construção civil representam fontes significativas de
partículas com diversas composições para a atmosfera, causando sérios incômodos
aos trabalhadores e à vizinhança das edificações. Essas emissões na maioria das vezes
não podem ser confinadas, o que dificulta o seu controle. Contudo, boas práticas são
conhecidas e disponíveis para a redução dessas emissões.
Este capítulo apresenta orientações para o desenvolvimento de um plano
de gestão da emissão do material particulado da obra, destacando a fontes de MP
provenientes do canteiro de obra e as atuais boas práticas para controle de poeira e
partículas geradas pelas atividades de construção civil.

2. Padrões de Qualidade do Ar
Material particulado é definido como um conjunto de poeiras, fumaças e
todo tipo de material sólido ou líquido que se mantém suspenso na atmosfera em
decorrência de seu pequeno tamanho (CETESB, 2004). Essas partículas são classificadas
de diferentes formas, dentre as quais se destacam as Partículas Totais em Suspensão
(PTS), as Partículas Inaláveis (MP10) e as Partículas Inaláveis finas (MP2,5).
As Partículas Totais em Suspensão (PTS) são aquelas cujo diâmetro aerodinâmico
é menor que 50 µm. Uma parte dessas partículas é inalável e pode causar problemas
à saúde, a outra pode prejudicar a qualidade de vida da população, interferindo nas
condições estéticas do ambiente e prejudicando as atividades normais da comunidade.
Já as Partículas Inaláveis (MP10) são aquelas cujo diâmetro aerodinâmico é menor
que 10 µm, dependendo da distribuição de tamanho na faixa de 0 a 10 µm. Podem
ficar retidas na parte superior do sistema respiratório ou penetrar profundamente,
alcançando os alvéolos pulmonares. Por fim, as Partículas Inaláveis finas (MP2,5),
também denominadas Partículas Respiráveis, são aquelas cujo diâmetro aerodinâmico
é menor que 2,5 µm, e devido ao seu tamanho diminuto, penetram profundamente no
sistema respiratório, podendo atingir os alvéolos pulmonares, CETESB (2004).
Os padrões de qualidade do ar são valores de referência para diferenciar uma
atmosfera poluída de uma não poluída. No Brasil, os padrões de qualidade do ar e
episódios críticos de poluição foram estabelecidos pela Resolução CONAMA nº 03 de
1990 (CONAMA, 1990) e ainda hoje estão em vigor (Tabela 1), porém permanecem
desatualizados em face dos novos conhecimentos científicos, especialmente aqueles

92 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


reconhecidos pela Organização Mundial da Saúde - OMS (PACYNA, 2005). Soma-se a
isso, o fato de as metas propostas pela OMS serem mais restritivas se comparadas a
alguns padrões adotados no mundo, inclusive os brasileiros (Tabela 2).

Tabela 1 - Padrões Nacionais de Qualidade do Ar (Resolução CONAMA nº 03, 1990).

Poluentes Tempo de Padrões Padrões Método de


amostragem Primários µg/m³ Secundários µg/m³ medição

Par�culas Totais 24 horas(1) 240 150 Amostrador de


em Suspensão mga (2) 80 60 Grande Volume
Par�culas 24 horas(1) 150 150 Separação
Inaláveis (MP10) maa (3) 50 50 Inercial/ Filtração
Fonte: CETESB, 2004.
1
Não deve ser excedido mais de uma vez ao ano.
2
Média geométrica anual.
3
Média aritmé�ca anual.

O padrão brasileiro para o MP10 estabelece concentração média anual de


50 µg/m³, embora o ideal, segundo a OMS, seja de 20 µg/m³. Para concentração de
MP10 em 24 horas, o padrão nacional é de 150 µg/m³, enquanto a OMS estabelece o
valor de concentração máximo de 50 µg/m³.

Tabela 2 - Critérios de Qualidade do Ar adotados no mundo.

País/Poluente - MP2,5 MP10 Tempo de Fonte


Padrão Padrão Primário Padrão Primário amostragem
10 20 Anual
OMS PACYNA (2005)
25 50 24 horas
15 Revogado Anual
EUA US EPA (2006)
35 150 24 horas
25 40 Anual Environmental
REINO UNIDO
- 50 24 horas Protection (2010)
Fonte: Adaptado de Pacyna, 2005; USEPA, 2006 e Environmental Protection 2010.

A legislação brasileira não leva em consideração o canteiro de obra como


fonte geradora de resíduos para estabelecer padrões de qualidade do ar, tampouco
considera a composição química dos materiais gerados, levando apenas em conta a
concentração das partículas em termos de massa, o que pode representar um risco
potencial tóxico significante.

Cap. 4 Boas Práticas para Redução da Emissão de Material Particulado... | 93


3. Medição de Material Particulado na
Construção
Embora haja o reconhecimento de que a atividade de construção civil constitui
uma importante fonte de emissão de material particulado, até recentemente, poucas
pesquisas haviam sido direcionadas à caracterização desse tipo de resíduo (MULESKI
et al., 2005).
De acordo com Countess Environmental (2006), Resende (2007) e California
Natural Resources Agency Guide (CEQA, 2009), as emissões geradas a partir de
atividades de construção comuns incluem:
a) Emissões de escape de material par�culado (MP) e óxidos de nitrogênio
(NOX) oriundos da queima de combus�veis de veículos pesados a diesel e
equipamentos movidos à gasolina, equipamento auxiliar portá�l, caminhões de
entrega de material e de viagens diárias de troca de trabalhadores;
b) Poeira de MP fugi�va (proveniente de a�vidades não fixas) geradas pela
movimentação de solo e da a�vidade de demolição, limpeza e estocagem,
perfuração, serragem, produção de concretos e argamassas;
c) Emissões por evaporação de gases orgânicos rea�vos, compostos orgânicos
voláteis (COV) derivados de a�vidade e da aplicação de reves�mentos
arquitetônicos de pavimentação. A aplicação de reves�mentos arquitetônicos
normalmente é uma das maiores fontes de emissões ROG (Reac�ve Organic
Gases) ou COV durante a a�vidade de construção;
d) Emissões de escape de gases de efeito estufa (GEE), como o dióxido de carbono
(CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O).
No caso específico do canteiro de obras, o material particulado é constituído
de pó de cimento, gesso, cal, argamassa industrializada, poeira do solo, entre outros
(RESENDE, 2007). As emissões secundárias (emissões não relacionadas diretamente
às atividades de construção), apesar de não tão significativas, devem ser consideradas
na elaboração de estratégias de redução do impacto ambiental no canteiro de obras,
como é o caso das emissões de gases provenientes da queima de combustíveis de
veículos e da queima de madeira (RESENDE, 2007). Não só as atividades de construção
devem ser consideradas, mas também as emissões dos veículos em estrada associadas
com o local de construção.
Recentemente, foram desenvolvidas pesquisas no âmbito do subprojeto SPEMP
acerca da medição da concentração de material particulado provenientes de canteiro
de obras (ARAÚJO, 2014; ARAÚJO, COSTA, MORAES, 2014; MORAES, 2015; MORAES,
COSTA, ARAÚJO, 2016), com o objetivo de identificar as fases da construção e atividades
potenciais geradoras de material particulado, bem como suas concentrações (MP2,5;
MP10 e PTS).

94 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Tais estudos experimentais foram desenvolvidos em cinco canteiros de obras
habitacionais, localizados em Salvador na Bahia, sendo aplicado em apenas um deles
algumas das boas práticas para a redução da emissão de material particulado, ao passo
que em quatro dos canteiros não se utilizou nenhuma boa prática para minimização
dessas emissões e redução dos impactos para a vizinhança das obras. Os estudos foram
desenvolvidos em fases distintas da obra, como a terraplanagem, a superestrutura e o
acabamento.
Os principais resultados dessas pesquisas evidenciaram que os canteiros de obra
lançam, no ambiente, partículas de vários tamanhos. O perfil apresentado demonstra
que as frações MP10 e MP2,5 estão numa faixa de 40% e 17%, respectivamente, da
fração PTS (ARAÚJO, COSTA, MORAES, 2014). Como as frações maiores (PTS e MP10)
tendem a permanecer menor tempo no ambiente, uma vez que se sedimentam mais
rápido, elas causam os maiores incômodos na vizinhança, além de representarem o
maior percentual emitido pelos canteiros (ARAÚJO, COSTA, MORAES, 2014).
De acordo com o estudo de Moraes (2015), foram encontradas as seguintes
faixas de valores mínimos para as frações PTS, num intervalo de 350 a 40 µg/m³ e
valores máximos de 700 a 150 µg/m³. Para a fração MP10 a faixa de valores mínimos
obtidos foi de 150 a 20 µg/m³ e os valores máximos de 280 a 50 µg/m³ em um
período de 8 horas diárias (MORAES, 2015). Esses dados não podem ser diretamente
comparáveis aos valores de referência da OMS ou da resolução CONANA no 3, pois
os padrões normativos são para um período de 24h. Entretanto, observa-se que,
mesmo para 8 horas de medição no período de atividade do canteiro, reconhecendo
as contribuições de emissões externas, por vezes, estes limites foram superiores a
legislação nacional e a OMS.
A análise química das amostras da fração MP10 que foram coletadas na entrada
e na saída dos canteiros estudados mostrou claramente a contribuição dos canteiros
e a constituição do material gerado, tendo-se como principais elementos químicos
identificados, que fazem parte dos materiais de construção, o Si (Silício), Ca (Cálcio),
Fe (Ferro), Al (Alumínio), S (Enxofre) e K (Potássio) (MORAES, COSTA, ARAÚJO, 2016).

4. Gestão e Monitoramento do MP em
Canteiro de Obras
Para realizar a gestão de MP, é necessário que sejam seguidos alguns princípios
capazes de ajudar a estruturar um “plano de gestão” (RESENDE, 2007). O ciclo PDCA
ou ciclo de Deming é frequentemente utilizado para estruturar sistemas de gestão
(RESENDE, 2007). Segundo Resende (2007), um sistema de gestão deve estar baseado
em quatro etapas fundamentais:

Cap. 4 Boas Práticas para Redução da Emissão de Material Particulado... | 95


I. Planejamento (P - planning) – estabelece obje�vos e metas, processos e
metodologias para se obter o resultado esperado;
II. Execução (D – do) – consiste em colocar em prá�ca o planejado;
III. Verificação/controle (C – check)- monitorar e avaliar periodicamente resultados,
avaliar metodologias, confrontar com o inicialmente planejado;
IV. Ação (A – act) – de acordo com o encontrado nas a�vidades de verificação e
controle, tomar ações para melhoria imediata ou de processos futuros.
O Quadro 1 apresenta algumas medidas para um plano de gestão de MP.
A aplicação sucessiva desses passos aumenta as possibilidades de que a
gestão de um determinado processo ou de um conjunto de processos tenha sua
eficiência melhorada (RESENDE, 2007). De qualquer modo, cada canteiro tem suas
particularidades, portanto, em cada uma das etapas, devem ser propostas medidas
específicas para atender com eficiência os objetivos do plano de ação.

Quadro 1 – Sugestão de ações para plano de gestão.

Planejamento Implementação e Operação Verificação e Ação corre�va


- Iniciação da fase de - Integração – iniciação - Verificação do grau de risco;
planejamento; execução; -Verificação das a�vidades
- Avaliação de grau de risco e - Definição de geradoras correntes;
es�ma�va de emissões; responsabilidades; - Verificação dos
- Verificação de aspectos - Contratações; procedimentos de
legais; - Treinamentos internos e monitoramento;
- Apoio à concepção projetos externos; - Verificação da eficácia das
e planejamento de - Comunicações internas e a�vidades de prevenção,
execução; com vizinhança. controle e monitoramento;
-Iden�ficação das a�vidades - Verificação dos
emissoras de MP, equipamentos de
procedimentos de controle; monitoramento;
- Elaboração dos - Verificação de treinamentos
procedimentos de controle; e planos de comunicação;
- Plano de monitoramento; - Planos de ações corre�vas e
- Avaliação de custos e emergenciais;
prazos; - Encerramento – término da
- Definição de execução.
responsabilidades;
- Plano de comunicação;
- Requisitos para
contratações;
-Encerramento da etapa de
planejamento.
Fonte: Resende e Cardoso, 2007.

96 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Além do planejamento, o controle das emissões de material particulado
depende de uma transferência adequada dessas informações às equipes de produção
e de um controle contínuo para sua aplicação (RESENDE; CARDOSO, 2007).

5. Fontes de emissão e boas práticas para


redução da emissão de material particulado
Como já mencionado, devido ao desprendimento de MP ao longo das atividades
de construção, que afetam os trabalhadores, os animais, as plantas, a vizinhança,
entre outros, faz-se necessário adotar medidas de controle, a partir da utilização de
equipamentos e atividades adequadas, a fim de mitigar a emissão desses resíduos de
acordo com as atividades construtivas, bem como priorizar os cuidados necessários
dentro do canteiro de obra e na sua vizinhança.
Contudo, é preciso salientar que cada construção possui particularidades.
Portanto, as características de emissão de MP são alteradas de acordo com suas
especificidades e, consequentemente, as intervenções devem ser estudadas caso a
caso.
A seguir, são apresentadas algumas boas práticas em função das atividades,
identificadas na literatura sobre o tema (BREEAM, 2009; GBC BRASIL, 2014; FUNDAÇÃO
VANZOLINI, 2014).

5.1 Atividades de Demolição


As atividades de demolição podem ser praticadas de três formas distintas: a
manual, a mecanizada e com a utilização de explosivos. Dentre elas, a manual é a mais
indicada por emitir menor quantidade de MP em relação as demais.
Segundo EPA (1998), GLA (2005), Araújo e Cardoso (2007) e Resende (2007),
algumas boas práticas podem ser adotadas durante a demolição, tais como:
a) Cercar a obra ou pontos de emissão com telas de poliéster de malha fina ou
com chapas de madeira;
b) Remover os resíduos de demolição da obra o quanto antes, evitando sua
exposição a ventos e chuvas. Quando a re�rada não for possível, os resíduos
devem ser cercados, umedecidos e cobertos;
c) Evitar a�vidades de demolição quando as velocidades do vento es�verem
elevadas;
d) Manter a área umedecida após o término da demolição;
e) Aspergir água com mangueiras de alta vazão, antes e durante a a�vidade de
demolição (Figura 1).

Cap. 4 Boas Práticas para Redução da Emissão de Material Particulado... | 97


Figura 1 - Aspersão de água durante a demolição. Fonte: IAQM, 2016.

5.2 Movimentação de Terra


A emissão de MP nas atividades de movimentação de terra é muito significativa,
sendo potencializada nos períodos de seca e ventos fortes. Tal emissão está ligada
às atividades de corte e aterro, carga e descarga, movimentação de veículos e ao
transporte de lama aderida aos pneus dos veículos.
Segundo EPA (1998), GLA (2005), Araújo e Cardoso (2007) e Resende (2007), as
seguintes boas práticas podem ser adotadas para esta atividade:
a) Remover a vegetação existente conforme o avanço das a�vidades de
movimentação de terra;
b) Evitar serviços de escavação durante períodos muito secos e com ventos fortes;
c) Realizar a remoção de terra da obra, preferencialmente, logo após sua
escavação/movimentação;
d) Umedecer o solo periodicamente e prever barreiras �sicas ao redor da obra ou
das áreas de trabalho (Figura 2);
e) Manter as áreas em escavação umedecidas e cobertas nos períodos de
paralisação;
f) Controlar a altura de lançamento de terra nos trabalhos de carga e descarga. É
importante esvaziar a caçamba lentamente, evitando formação de nuvens de
poeira;
g) Lavar os pneus dos veículos antes da saída dos canteiros (Figura 3).

98 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Figura 2 - Molhação durante a movimentação de terra. Fonte: Air Quality Guidance Note,
2016.

Figura 3 - Lavagem de pneus. Fonte: Revista CNT Transporte, 2016.

5.3 Armazenamento
Planejamento e gestão do sistema de armazenamento são importantes para
otimização das áreas dos canteiros. Além disso, faz-se necessário que o armazenamento
fique protegido da ação dos ventos e da chuva. O armazenamento inadequado de
materiais também pode gerar emissão de MP na atmosfera.

Cap. 4 Boas Práticas para Redução da Emissão de Material Particulado... | 99


Segundo EPA (1998), GLA (2005), Araújo e Cardoso (2007) e Resende (2007),
algumas boas práticas podem ser adotadas para armazenamento, como:
a) Manter os materiais e resíduos armazenados pelo menor período possível no
canteiro;
b) Armazenar os materiais e resíduos protegidos da ação dos ventos e chuvas
(Figura 4);
c) Manter as pilhas de materiais dispostas em condições que reduzam riscos de
desmoronamentos;
d) Manter grandes pilhas de materiais e resíduos umedecidos constantemente,
limitando a altura das pilhas a 2,50 metros;
e) Realizar limpezas periódicas dos locais de armazenamento;
f) Instalar exaustores com filtros, quando houver grande geração de MP no local
de armazenamento;
g) Armazenar os materiais e resíduos longe das divisas e ambientes sensíveis ao
MP (cursos d´água, hospitais, escolas, residências, locais com aglomerações de
pessoas e outros);
h) Armazenar equipamentos de aspiração e limpeza para o caso de “vazamentos”
acidentais.

Figura 4 – Materiais armazenados protegidos da ação dos ventos e chuvas. Fonte: EPD -
Hong Kong, 2006.

100 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


5.4 Construção
A variedade de atividades desenvolvidas dentro de um canteiro de obras
faz com que, ao longo da execução da obra, sejam criadas fontes de emissão de
material particulado de características diversificadas, sob vários aspectos, tais como:
concentração produzida, tamanho das partículas, tempo de emissão, entre outros
(RESENDE, 2007).
A avaliação das emissões do canteiro deve ser feita mediante a análise da
sobreposição das diversas atividades desenvolvidas. Para tanto, o controle das
emissões deverá ser feito por meio do conhecimento das características particulares
de cada atividade.
Segundo EPA (1998), GLA (2005), Araújo e Cardoso (2007) e Resende (2007),
algumas práticas podem minimizar a emissão de partículas em atividades construtivas:
a) U�lizar disposi�vo de coleta de pó de serragem acoplado ao equipamento
(Figura 5);
b) U�lizar serra manual acoplada à mangueira de água (Figura 5);
c) Realizar a a�vidade em ambiente com coifa exaustora e filtro, em caso de grande
quan�dade de emissões;
d) Fazer corte/perfuração em local protegido da ação dos ventos e dentro de
caixote coletor;
e) Sempre que possível, evitar a produção de concreto e argamassas durante a
execução da obra. Quando produzidos, fazê-los em local protegido da ação de
ventos e chuvas;
f) Cobrir com lonas as misturas que forem deixadas de um dia para o outro;
g) Sempre que possível, evitar a realização de a�vidades que exijam desgaste
superficial, subs�tuindo a tecnologia constru�va;
h) Realizar varrição úmida ou aspiração com frequência;
i) Racionalizar o processo de produção de forma a diminuir a perda de argamassas
e concretos por queda;
j) Verificar a estanqueidade dos equipamentos u�lizados para transporte de
concretos e argamassas;
k) Criar barreiras �sicas de modo a evitar que as argamassas e concretos sejam
lançados fora de um espaço controlável (telas nos andaimes fachadeiros,
tapumes, lonas, entre outros) (Figura 6);
l) Evitar os serviços de queima, sempre que possível, nos canteiros de obra, pois
lançam MP e gases;
m) Fazer a queima de materiais em incineradores públicos, quando for inevitável;

Cap. 4 Boas Práticas para Redução da Emissão de Material Particulado... | 101


n) Sempre que possível e necessário, realizar a escavação em partes, procurando
manter a camada de proteção vegetal existente pelo maior tempo possível;
o) Compactar a super�cie ou plantar vegetação, o mais breve possível, após o
término dos serviços;
p) U�lizar barreiras �sicas (tapumes, telas, lonas, entre outros) no contorno das
áreas de serviço, evitando ou diminuindo a ação dos ventos e chuvas (Figura 6);
q) Desenvolver o planejamento �sico da obra, procurando o�mizar o tempo
de duração desta a�vidade, para que, tão breve, as super�cies possam ser
finalizadas;
r) Realizar a limpeza com a maior frequência possível para evitar o acúmulo de
par�culas.

Figura 5 - Serra manual acoplada à mangueira de água e pefuratriz acoplada a sistema de


coleta de pó. Fonte: www.contractorstools.com; www.dustmuzzle.com. Acesso em Nov. 2016.

Figura 6 – Obra protegida com lona e andaimes fachadeiros. Fonte: EPD- Hong Kong, 2006.

102 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Vale salientar, que a eficácia e os resultados das medidas apresentadas, ainda
que sejam preventivas, só podem ser garantidos a partir de uma continuidade cíclica
de monitoramento durante toda a etapa de produção. É importante que o gestor da
obra tenha o conhecimento adequado acerca de emissões de MP ou esteja amparado
por profissional habilitado para que seja inserida a mitigação correta a cada atividade
impactante.

6. Conclusões
O presente capítulo destacou a importância do controle e monitoramento das
emissões de partículas provenientes dos canteiros de obra por meio das melhores
práticas, com vista a proteger a saúde do trabalhador, da vizinhança da obra e do
meio ambiente local. A geração de poeira pode ser substancialmente reduzida com
a aplicação de técnicas cuidadosamente selecionadas de mitigação e gerenciamento
eficaz da obra, uma vez que essas poeiras são difusas, tornando difícil o seu controle.
O controle eficaz dessas emissões deve ser feito na sua fonte.
O controle da poeira pode mitigar alguns efeitos causados pela poluição,
trazendo inúmeros benefícios tanto para os diferentes intervenientes da construção
como para os construtores, por meio da melhor reputação empresarial com as
autoridades reguladoras, além de proporcionar evoluções nas relações de trabalho
com clientes, vizinhança e trabalhadores. Para a vizinhança e a comunidade, tal prática
de controle possibilita menos interrupções na vida cotidiana, reduz os riscos para a
saúde, além de diminuir os danos causados às propriedades. Já para o ambiente, pode
reduzir a poluição do ar, água e os distúrbios provocados na fauna e flora existentes no
entorno da edificação (LONDON COUNCILS, 2006).
O construtor deve ter como objetivo principal, portanto, não causar impactos
no ambiente, o que impõe uma forte mudança na cultura hoje estabelecida pela
construção civil e uma alteração nos sistemas construtivos existentes. Para que isso
aconteça, é necessário reestudar os processos, visando estabelecer formas de evitar
os impactos.

Referências
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Finep: Habitações mais sustentáveis. Finep. São Paulo, 2007.
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pela emissão de material par�culado de canteiros de obras habitacionais com foco no
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BA, 2014.

Cap. 4 Boas Práticas para Redução da Emissão de Material Particulado... | 103


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Cap. 4 Boas Práticas para Redução da Emissão de Material Particulado... | 105


Seção III

Subprojeto Aperfeiçoamento de
Sistemas de Proteção Coletiva em
Canteiros de Obras (SPSPC)
5
http://dx.doi.org/10.26626/978-85-5953-027-8.2017C0005.p.109-132

Avaliação de Requisitos de
Desempenho de Sistemas de
Proteção Periférica (SPP) em
Obras de Edificações

Guillermina Andrea Peñaloza


Carlos Torres Formoso
Tarcisio Abreu Saurin

1. Introdução
Uma das proteções físicas comumente utilizadas nos canteiros de obra são os
sistemas de proteção periférica (SPP), os quais oferecem proteção passiva e simultânea
a vários trabalhadores, impedindo a queda de altura (GARCIA, 2010). No Brasil, de
acordo com o Ministério de Trabalho e Emprego (BRASIL, 2013), os SPP encontram-se
entre os dez equipamentos que frequentemente causam interdições de canteiros de
obras. De fato, há evidências de que os requisitos associados aos SPP costumam ser os
menos atendidos entre aqueles da NR 18 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho
na Indústria da Construção (SAURIN et al., 2000; MALLMANN, 2008; CAMBRAIA;
FORMOSO, 2011; COSTELLA et al., 2014).
Apesar disso, é reconhecida a crescente expansão do número de fornecedores de
equipamentos de proteção coletiva tanto no mercado brasileiro como em outros países
(SCANMETAL, 2011; METRO..., 2009; ORMAN, 2012). Contudo, a quantidade de requisitos
disseminados em diversos regulamentos e a falta de métodos para verificar a aderência
dos SPP aos requisitos das normas e outros requisitos relevantes criam dificuldades para

109
todas as partes interessadas, tais como: órgãos de fiscalização, os operários encarregados
pela execução dos SPP e empresas construtoras, as quais carecem de ferramentas para
comparar a eficiência e eficácia dos diferentes sistemas disponíveis no mercado.
Entre as proteções contra quedas dispostas na NR 18 – Condições e Meio Ambiente
de Trabalho na Indústria da Construção (BRASIL, 2014), este trabalho enfatiza os SPP do
tipo guarda-corpo e rodapé (GcR) por serem os mais comumente utilizados nos canteiros
de obra de edificações verticais e objeto frequente de embargos e interdições. A maioria
das normas consultadas neste trabalho, como NR 18 – Condições e Meio Ambiente de
Trabalho na Indústria da Construção (OCCUPATIONAL..., 1996), RTP 01 (FUNDACENTRO,
2003), OSHA 1926.502 (OCCUPATIONAL..., 1996), UNE-EN (ASOCIACIÓN..., 2004), S-2.1
(CANADIAN..., 1981), apresenta requisitos de resistência estrutural e configuração
geométrica dos SPP, negligenciando a eficiência e a flexibilidade deles, bem como não
tratam dos processos de montagem e desmontagem. Por outro lado, no Brasil os órgãos
regulamentadores e de fiscalização costumam considerar os requisitos de normas
estrangeiras para aperfeiçoar as normas nacionais e lidar com lacunas.
O objetivo deste trabalho é propor um conjunto de requisitos de desempenho
para SPP. Foram definidos critérios qualitativos e quantitativos, utilizados para a
construção de um protocolo de avaliação de desempenho desses sistemas. São
apresentados exemplos de aplicação desse protocolo em três tipos de SPP, de
madeira, misto e metálico. A avaliação de um conjunto de equipamentos disponíveis
no mercado da Região Metropolitana de Porto Alegre, RS, ilustra como esse protocolo
pode contribuir para a análise de soluções existentes no mercado, que podem ser
objeto de aperfeiçoamento.

2. Método de Pesquisa
2.1 Delineamento da Pesquisa
A primeira etapa desta pesquisa foi desenvolvida por meio da identificação
de requisitos provenientes de normas nacionais e internacionais. Por outro lado, a
definição de novos requisitos e das fontes de evidências surgiu a partir de entrevistas
e grupos de discussão com engenheiros responsáveis por obras que usavam SPP,
engenheiros e técnicos em segurança no trabalho, projetistas de proteções coletivas,
auditores fiscais, representantes de empresas que fornecem SPP e trabalhadores
responsáveis pela execução dos SPP.
Na segunda etapa, houve a classificação dos requisitos de acordo com a
natureza de cada um, em três categorias: segurança, eficiência e flexibilidade. Também
foi realizado um workshop, que envolveu a participação conjunta de representantes
de várias partes, com a finalidade de discutir os resultados de novas aplicações do
protocolo e identificar oportunidades de melhorias nos SPP avaliados.

110 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Na terceira etapa da pesquisa, o protocolo foi dividido em duas partes: a
primeira com ênfase na avaliação dos requisitos na situação de projeto; e a segunda na
situação de uso dentro do canteiro de obras. Para cada requisito, foram estabelecidos
critérios de avaliação.
Na quarta e última etapa, foram realizadas aplicações do protocolo por outros
pesquisadores, como forma de avaliar a facilidade de uso dele. Dessa forma, a partir da
retroalimentação desses outros pesquisadores, bem como da experiência acumulada
ao longo de todas as etapas, foi consolidado o protocolo de avaliação de requisitos de
desempenho de SPP.

2.2 Identificação de Requisitos


Os requisitos de SPP foram identificados a partir de pesquisa bibliográfica,
análise documental e entrevistas. No que diz respeito às duas primeiras fontes, foram
consultadas normas e regulamentos nacionais como NR-18 – Condições e Meio Ambiente
de Trabalho na Indústria da Construção (BRASIL, 2014) e RTP 01 (FUNDACENTRO,
2003), normas internacionais, tais como a EN 13374 (ASOCIACIÓN..., 2004), OSHA
1926.502 (OCCUPATIONAL, 1996), S-2.1, r.6, (CANADIAN..., 1981), artigos científicos
(LAN; DAIGLE, 2009; CHEUNG, 2012; SULOWSKI, 2014), três memoriais descritivos de
SPP patenteados (McLAUGHLIN; McCOY, 1976; HOLLOMAN, 1994; OSTROW, 2001) e
análise de relatórios técnicos de ensaios laboratoriais, encomendados pelo Sindicato
da Industria da Construção (SINDUSCON/RS), para verificação dos requisitos de carga
estática de três tipos de SPP (madeira, misto e metálico) e realizados pelo Instituto
Tecnológico em Desempenho e Construção Civil da Universidade do Vale do Rio dos
Sinos (UNISINOS). A segunda fonte de identificação de requisitos foram entrevistas
individuais semiestruturadas e discussões em seminários e workshops com um grupo
de trabalho. Tal grupo era integrado por representantes de sete empresas construtoras,
as quais tinham interesse numa avaliação independente dos SPP, bem como auditores
fiscais do trabalho, projetistas e fornecedores de SPP. A Tabela 1 apresenta o perfil
dos participantes entrevistados. As entrevistas foram gravadas e transcritas, tiveram
duração média de uma hora e foram baseadas num roteiro de quinze questões que
dava origem a outras no decorrer da entrevista. A partir das transcrições de entrevistas,
discussões e dos documentos consultados, foram identificados 33 requisitos de SPP.

2.3 Categorização dos Requisitos


Os 33 requisitos identificados foram agrupados em três categorias: (a) 15
requisitos de segurança; (b) 12 requisitos de eficiência e (c) 6 requisitos de flexibilidade.
Os requisitos da categoria segurança tem origem, em sua maioria (87%), nas normas e
estão associados à resistência estrutural, durabilidade e dimensões. Já a maioria (83%)
dos requisitos da categoria eficiência dos SPP teve origem em entrevistas, indicando

Cap. 5 Avaliação de Requisitos de Desempenho de Sistemas... | 111


que as normas negligenciam esse tipo de demanda. Os requisitos ligados à eficiência
contemplam questões de ergonomia, de produtividade, reaproveitamento e de custo
ao longo do ciclo de vida.
No que se refere à flexibilidade, o SPP deve ser adaptável à mudança em
relação a configurações geométricas, detalhes, distintas etapas de obra e diferentes
técnicas construtivas. Similarmente à categoria eficiência, os requisitos associados à
flexibilidade tiveram origem, em sua maioria (83%), nas entrevistas, indicando que as
normas também negligenciam esse tipo de requisito.

Tabela 1 – Perfil dos par�cipantes entrevistados.

Qtd. A�vidade profissional Empresa/Ins�tuição Tempo de experiência


12 Engenheiros civis Empresas construtoras entre 4 e 13 anos
06 Engenheiros em SST Empresas construtoras entre 1 e 6 anos
10 Técnicos em SST Empresas construtoras entre 6 meses e 2 anos
03 Proje�stas de SPP Empresas de consultoria em SST 6, 11 e 30 anos
03 Auditores Fiscais do Ministério do Trabalho e 18, 20 e 25 anos
Trabalho Emprego
02 Fornecedores de SPP Empresas nacionais e regionais 13 e 18 anos
industrializados fornecedoras de SPP
18 Trabalhadores que Empresas terceirizadas em SST entre 5 meses e 7 anos
executam SPP

2.4 Níveis de Atendimento


Para cada requisito (R), foram estabelecidos critérios de avaliação (C). Ao todo,
foram propostos 40 critérios entre os requisitos de análise de projeto e análise em uso
dos SPP. Contudo, no presente estudo, alguns critérios possuem caráter qualitativo,
visto que parte dos requisitos não pode ser quantificada em razão de sua natureza. Além
disso, foi proposto um sistema de avaliação em quatro níveis: atende (1 ponto); atende
parcialmente (0,5 pontos); não atende (0 ponto); e não se aplica. Devido à limitação
de tempo deste estudo, a caracterização da amostra estabelece que a avaliação
em uso de cada requisito deve ser realizada em dois pavimentos-tipo de cada obra
visitada. Em cada pavimento devem ser escolhidos quatro trechos diferentes de SPP na
periferia da edificação. Em cada trecho, devem ser escolhidos três módulos adjacentes
de SPP para serem avaliados (Figura 1). Por sua vez, no momento da escolha, devem
ser consideradas situações na quais há claramente uma falha entre os módulos de
cada trecho, como instabilidade ou deslocamento dos montantes verticais, incorreta
fixação à estrutura de sustentação, frestas entre o rodapé e a superfície de trabalho

112 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


e componentes deteriorados. A nota do requisito é dada pela média de atendimento
entre os dois pavimentos.

2.5 Fontes de Evidências


A fim de facilitar a aplicação do protocolo, foram definidas as fontes de
evidências para avaliar cada requisito. Por exemplo, requisitos vinculados ao projeto
do SPP exigem a análise de especificações, dimensões, materiais e procedimentos
de execução, entre outros. De modo similar, a avaliação da resistência dos SPP aos
esforços solicitantes necessariamente requer a consulta aos laudos técnicos de ensaio
laboratorial. Já outros requisitos exigem a análise em uso, principalmente aqueles
associados às tarefas de montagem e desmontagem do SPP. Ainda, outros requisitos
exigem a realização de entrevistas com a gerência da obra, trabalhadores e projetistas,
como no caso dos requisitos “o SPP tem baixo custo ao longo do ciclo de vida”.

2.6 Escolha dos SPP e Caracterização das Obras


Visitadas
Foram escolhidos nove tipos de SPP para a aplicação do protocolo. A escolha
deles ocorreu em função de empresas construtoras locais terem desenvolvido
recentemente projetos de SPP de madeira, metálicos e mistos e terem interesse em
uma avaliação independente deles. O Quadro 1 apresenta as características de cada
sistema avaliado.

9º pavto.
A C
(Pav. A)

6º pavto.
A C
(Pav. B)

Figura 1 – Escolha dos trechos de SPP a serem avaliados. Fonte: Peñaloza, 2015.

Cap. 5 Avaliação de Requisitos de Desempenho de Sistemas... | 113


Quadro 1 – Caracterís�cas dos SPP avaliados.

MADEIRA (MA-1)
Cons�tuído em madeira com tela de proteção. A união dos
componentes ocorre mediante pregos. Os montantes são fixados
na viga por meio de barra de ancoragem, arruela e porca do �po
borboleta. Uso: sistema constru�vo tradicional com estrutura de
concreto armado moldada in loco.

MADEIRA (MA-2)
Cons�tuído em madeira com tela de proteção. A união dos
componentes ocorre mediante pregos. Os montantes são fixados
à super�cie da laje u�lizando-se barras de ferro de 8 mm. Uso:
sistema constru�vo tradicional.

METÁLICO (ME-1)
Cons�tuído por módulos metálicos, nas dimensões 1,50x1,30
m. A união dos módulos ocorre mediante encaixe. A fixação dos
montantes ocorre em área grauteada da alvenaria por meio de
uma alça de ancoragem, já incorporada ao sistema. Uso: sistema
constru�vo em alvenaria estrutural.

METÁLICO (ME-2)
Cons�tuído por módulos metálicos, nas dimensões 0,80 x 1,30
m e 1,10 m x 1,30 m. A união dos módulos é feita mediante
encaixe, travas e pinos de correr. A fixação dos montantes ocorre
na alvenaria grauteada ou viga com o uso de barra de ancoragem,
já incorporada ao sistema. Uso: sistema constru�vo em alvenaria
estrutural e tradicional.

MISTO (MI-1)
Cons�tuído por travessões e rodapé em madeira com tela de
proteção e montantes metálicos. A união dos elementos horizontais
é realizada mediante encaixe nas alças dos montantes. A fixação à
fôrma da viga é do �po sargento, a qual consiste em braçadeiras
reguláveis acopladas ao montante. Uso: sistema constru�vo
tradicional.

MISTO (MI-2)
Cons�tuído por travessões e rodapé em madeira com tela de
proteção e montantes metálicos. A união dos elementos horizontais
ocorre mediante encaixe nas alças dos montantes. Os montantes
são fixados às escoras das lajes por meio de uma treliça incorporada
aos mesmos. Uso: sistema constru�vo tradicional.

114 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Quadro 1 – Continuação

MISTO (MI-3)
Cons�tuído por travessões e rodapé em madeira com tela
de proteção e montantes metálicos. A união dos elementos
horizontais é efetuada mediante encaixe nas alças dos montantes.
Os montantes são fixados na viga com o emprego de barra de
ancoragem, arruela e porca do �po borboleta. Uso: sistema
constru�vo tradicional.

MISTO (MI-4)
Cons�tuído por travessões e rodapé em madeira com tela de
proteção e montantes metálicos. A união dos elementos horizontais
é mediante encaixe nas alças dos montantes. Os montantes são
fixados à super�cie da laje por meio de parafusos. Uso: sistema
constru�vo tradicional.

MISTO (MI-5)
Cons�tuído por travessões e rodapé em madeira com tela de
proteção e montantes metálicos. A união dos elementos horizontais
é feita mediante encaixe nas alças dos montantes. Os montantes
são fixados na viga fazendo-se uso de barra de ancoragem, arruela e
porca do �po borboleta. Uso: sistema constru�vo tradicional.

A Tabela 2 apresenta a quantidade de obras em que cada tipo de SPP foi avaliado.
Tais obras correspondem a edifícios residenciais de quatro ou mais pavimentos de sete
empresas construtoras de médio e grande porte, atuantes na Região Metropolitana
de Porto Alegre. Os SPP em madeira e mistos eram comumente utilizados pelas
construtoras nas obras com sistema construtivo tradicional. A avaliação deles foi
realizada após a retirada das fôrmas, nas fases de montagem e desmontagem, quando
já havia a estrutura de concreto armado. Já no sistema de alvenaria estrutural eram
utilizados SPP metálicos, e a avaliação foi realizada na única fase em que o sistema era
empregado. No total, foram realizadas 39 aplicações do protocolo em 26 canteiros
de obra, sendo o protocolo, em algumas obras, aplicado em fases diferentes da
construção. A coleta de dados, em cada aplicação do protocolo, teve uma duração
média de 4 h entre observações, medições e entrevistas, envolvendo de dois a três
pesquisadores. Em todas as aplicações, inicialmente, foi realizada a avaliação do
projeto de SPP conforme a lista de requisitos estabelecidos para essa etapa, seguida
da análise em uso, em dois pavimentos-tipo, em cada obra visitada.

Cap. 5 Avaliação de Requisitos de Desempenho de Sistemas... | 115


Tabela 2 – Quan�dade de obras em que cada SPP foi avaliado.

Sistema Constru�vo SPP Qtde. Obras


Tradicional MA-1 9
MA-2 3
MI-1 2
MI-2 2
MI-3 1
MI-4 2
MI-5 2
Alvenaria Estrutural ME-1 4
ME-2 1
Total 26

2.7 Oportunidades de Melhoria


A partir dos resultados decorrentes das aplicações do protocolo, foi realizada
uma reunião individual com cada uma das empresas construtoras participantes.
Tais reuniões eram integradas por um engenheiro em segurança ou engenheiro
responsável pela obra e por pelo menos um técnico em segurança. Como as empresas
construtoras não tinham projetistas de SPP em seus quadros, foram realizadas duas
reuniões individuais com dois projetistas de SPP que prestam serviços a seis das oito
empresas construtoras. As entrevistas individuais foram gravadas e transcritas, tiveram
duração média de 1,5 h e foram baseadas nos requisitos menos atendidos. A partir
das entrevistas, buscou-se entender quais as dificuldades das empresas e projetistas
em respeitar os requisitos menos atendidos conforme as avaliações. Isso possibilitou
identificar oportunidades de aperfeiçoamentos necessários aos SPP.

3. Resultados
3.1 Avaliação de Requisitos de Segurança
O Quadro 2 apresenta os dez requisitos de desempenho referentes à segurança e
compara o atendimento aos requisitos de projeto dos diferentes SPP, sendo apresentada
uma média das várias obras em que cada sistema é usado. Pode-se observar que os
SPP metálicos (SPP-ME) apresentam maior porcentagem de atendimento que os
SPP em madeira (SPP-MA). Por exemplo, os projetos dos SPP-MA não apresentavam
a especificação das etapas de montagem, desmontagem e manutenção, bem como
os correspondentes riscos. Os projetos de SPP mistos (SPP-MI), embora também não

116 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


SPP

MI-1
MI-2
MI-3

MI-5
MI-4

ME-1
ME-2
% de Atendimento

MA-1 100
MA-2 100
100
100
100
100
100
100
100
*1. O projeto minimiza riscos de quedas de pessoas (NR 18)

*2. O projeto minimiza riscos de quedas de materiais e

100
100
100
100
100
100
100
100
100
ferramentas (NR 18)

Cap. 5
0

0
3. O projeto especifica resistência às cargas está�cas previstas

100
100

100
100

100
100
100
pela norma (NR 18)

0
0
0
0
0
0
0
*4. O projeto favorece que sua instalação e remoção sejam

100
100
feitas com segurança (CCOHS)

50
50
50
50
50
50
50
*5. O projeto especifica materiais resistentes e duráveis às

100
100
tolerância a irregularidades na execução.

condições normais de trabalho (EN 13374)

0
0
0
0
0
0
0
*6. O projeto especifica que travessões, telas e rodapé não

100
100
devem possuir emendas ou retalhos (EN 13374)

0
0
7. O projeto dificulta a remoção acidental de qualquer

100
100
100
100
100
100
100
componente durante seu uso (EN 13374)
SEGURANÇA - Requisitos de Projeto

NA
NA
*8. O projeto especifica espessura dos componentes para evitar

100
100
100
100
100
100
100
cortes e esforços excessivos (OSHA 19226.502)

0
0
0
0
0
0
0
NA
NA
*requisitos aplicáveis tanto na etapa de análise de projeto como na análise de uso.
9. O projeto especifica isolamento de materiais inflamáveis em
áreas com risco de incêndio (Entrevista)

0
0
0
0
0
0
0
NA
NA
10. É previsto isolamento de materiais condutores de

Avaliação de Requisitos de Desempenho de Sistemas...


eletricidade em áreas com risco de choque elétrico (Entrevista)
Quadro 2 – Comparação do atendimento aos requisitos de segurança em projeto.

|
55
45

55
50

55
45
50

88
88
Média Total

Contudo, ao comparar os SPP-MA e SPP-MI com os SPP-ME, pode-se observar que os


grau de detalhamento em função do montante pré-fabricado, o qual tem pouca

e compara as médias de atendimento de uso dos SPP-MA com os SPP-MI e SPP-ME.


O Quadro 3 apresenta onze requisitos de desempenho quanto à segurança
especifiquem etapas de montagem, desmontagem e manutenção, possuem maior

117
SPP-ME apresentam o maior atendimento aos requisitos de uso. Por exemplo, seis dos
oito SPP-MA-1 avaliados atendiam parcialmente ao requisito 5 (a instalação e a remoção
do SPP devem ser feitas com segurança). Nessa situação, o atendimento parcial devia-
se à falta ou uso incorreto de EPIs, ao uso de ferramentas e equipamentos inadequados
e, em muitos casos, à falta de informação sobre as ferramentas e equipamentos
adequados e disponíveis para realizar a tarefa, bem como à ausência de definição
de uma sequência de montagem e desmontagem. As deficiências de concepção dos
SPP contribuem para atitudes inseguras dos operários, tais como segurar nas escoras
para não perder o equilíbrio, utilizar escadas sem proteção, posicionar-se sobre as
plataformas de proteção ou sobre o rodapé para fixá-lo, como ilustrado na Figura 2.

Quadro 3 – Comparação do atendimento aos requisitos de segurança em uso.

SEGURANÇA - Requisitos de Uso


SPP

3. O SPP está fixado à estrutura de acordo com as indicações

9. A inclinação do SPP não deve desviar-se demasiadamente


*6. Os materiais resistem e duram às condições normais de

8. As conexões dificultam a remoção acidental de qualquer

*11. Respeita-se a espessura dos componentes para evitar


*5. A instalação e remoção são feitas com segurança (NR

10. O SPP é estável em situações com ventos (EN 13374)


*1. O SPP minimiza riscos de quedas de pessoas (NR18)

*7. Os travessões, telas e rodapé não têm emendas ou


4. O SPP é cons�tuído de anteparos rígidos (NR 18)
*2. O SPP minimiza riscos de quedas de materiais

da ver�cal, para fora ou para dentro. (EN 13374)

lesões e esforços excessivos (OSHA 19226.502)


componente durante seu uso (EN 13374)

Média Total
do proje�sta ou fabricante (NR 18)
e ferramentas (NR 18)

trabalho (EN 13374)

retalhos (EN 13374)


% de Atendimento

18 - CCOHS)

MA-1 62 57 63 79 42 44 38 73 100 95 75 66
MA-2 73 96 100 100 50 50 56 78 NA 97 67 77
MI-3 88 73 63 87 58 38 44 63 87 97 100 73
MI-4 100 87 100 92 75 63 69 75 100 95 100 87
MI-5 100 68 100 81 100 44 50 56 100 90 100 81
ME-1 100 0 100 100 100 100 100 100 100 100 NA 90
ME-2 100 0 50 100 100 100 100 100 100 100 NA 85
* requisitos aplicáveis tanto na etapa de análise de projeto como na análise de uso

118 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


a b c

d e

Figura 2 – Exemplo de atendimento parcial ao requisito 5 - montagem SPP-MA-1. Fonte:


Peñaloza, 2015.

3.2 Avaliação de Requisitos de Eficiência


O Quadro 4 apresenta os requisitos de eficiência dos SPP e compara o
atendimento a estes requisitos na fase de projeto. Mais uma vez, os SPP-ME obtiveram
maior grau de atendimento em comparação com os SPP-MI e SPP-MA. Isso se deve
principalmente aos mecanismos de conexão entre componentes, como encaixes,
travas e pinos, que facilitam a montagem e desmontagem. Tais mecanismos evitam
esforços excessivos, ao mesmo tempo que aumentam a produtividade. Além disso,
os componentes de conexão integrados ao montante, e este, por sua vez, integrado
às telas modulares, diminuem a variedade e quantidade de componentes, além de
reduzir a quantidade de manuseios durante o transporte, diminuindo em consequência
a exposição dos trabalhadores aos riscos nessa atividade.

Cap. 5 Avaliação de Requisitos de Desempenho de Sistemas... | 119


Quadro 4 - Comparação do atendimento aos requisitos de eficiência em projeto.

SPP EFICIÊNCIA - Requisitos de Projeto

*3. Foram previstas soluções para lidar com interferências com

*4. O projeto especifica o peso máximo por módulo de SPP


1. O projeto prevê que o SPP seja reaproveitado em obras

6. O projeto minimizou a quan�dade de componentes


*2. O projeto prevê que os componentes possam ser

5. O projeto minimizou a variedade de componentes


futuras, es�mando sua vida ú�l (Entrevista)

Média Total
reu�lizados na mesma obra (Entrevista)

outros equipamentos (Entrevista)


% de Atendimento

(Entrevista)

(Entrevista)

(Entrevista)
MA-1 0 100 0 0 0 0 16
MA-2 0 100 0 0 0 0 16
MI-1 50 50 0 0 0 100 33
MI-2 50 50 100 0 0 100 50
MI-3 50 50 0 0 0 0 16
MI-4 50 50 0 0 0 100 33
MI-5 50 50 0 0 0 100 33
ME-1 100 100 100 0 100 100 83
ME-2 100 100 100 0 100 100 83
* requisitos aplicáveis tanto na etapa de análise de projeto como na análise de uso.

O Quadro 5 compara a porcentagem de atendimento aos requisitos de uso.


Destaca-se que doze dos dezoito SPP-MA avaliados não atenderam ao requisito
7 (reduzir o esforço físico nas atividades de montagem do SPP). Ao analisar a carga
postural dos SPP-MA, a postura de pé apoiado sobre os dois joelhos curvados ocorreu
em 75% das observações, estando então na categoria de risco 4 (risco alto), conforme
o método OWAS (Figura 3). Já a postura de costas curvadas, a qual encontra-se no

120 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


SPP

MI-1
% de Atendimento

50

MI-3 50
MI-4 50
MI-5 50
ME-1 50
ME-2 50
MA-1 100
MA-2 100

MI-2 100
1. A manutenção é simples (NR 18)

0
100

100
100
100
100
100
100
100
*2. Os componentes do SPP são reu�lizados na mesma obra (Entrevista)

0
0

Cap. 5
50
50
50
50
50
100
100
3. Baixo custo ao longo do ciclo de vida (Entrevista)

0
0

50

50
100
100

100
100

100
4. As conexões entre os componentes são fáceis e rápidas (Entrevista)

0
0

0
50
50

50
50
5. O SPP minimizou as perdas e resíduos gerados a par�r da montagem e
por peça mediante pregos (Figura 4).

100
100
desmontagem (Entrevista)

50
50
50

50

50
100

100

100
100
*6. Não há interferências com outros equipamentos (Entrevista)

0
0
7. Reduzir o esforço �sico na execução de tarefas de montagem

100
100
100
100
100
100
100
(Entrevista)

50
50
100
100
100
100
100
100
100
EFICIÊNCIA - Requisitos de Uso

8. As desconexões entre os componentes são fáceis e rápidas (Entrevista)

50
50
9. Reduzir o esforço �sico na execução de tarefas de desmontagem

100
100
100
100
100
100
100
(Entrevista)

* requisitos aplicáveis tanto na etapa de análise de projeto como na análise de uso.


50
NA
NA
*10. O peso por módulo do SPP não exige esforços �sicos excessivos

100
100
100
100
100

100
(Entrevista)
Quadro 5 – Comparação do atendimento aos requisitos de eficiência em uso.

0
0

0
11. O SPP possibilita boa produ�vidade, nas tarefas de montagem e

Avaliação de Requisitos de Desempenho de Sistemas...


100
100

100
100
100
100
desmontagem (Entrevista)

|
81
91
35

81
22

95
86

86
64
Média Total

121
posturas desfavoráveis de costas e joelhos devem-se principalmente à fixação de peça
limite da categoria de risco 2 (risco médio), foi constatada em 75% das observações. As
Figura 3 – Gráfico das posturas, analisadas com WinOWAS, na montagem dos SPP-MA-1.

a b

Fixação do componente Fixação da tela de


rodapé do SPP-MA-1 proteção do SPP-MA-2

Figura 4 – Posturas de pé, apoiado sobre os dois joelhos curvados e costas curvadas. Fonte:
Peñaloza, 2015.

3.3 Avaliação de Requisitos de Flexibilidade


Os resultados indicaram que os SPP-ME têm melhor desempenho em relação
à flexibilidade, ao se ajustarem a todas as etapas da obra, bem como às diferentes
configurações geométricas (Quadro 6). Por exemplo, os montantes e quadros metálicos
dos SPP-ME-2 são reguláveis em comprimento e articuláveis, o que permite melhor
adaptação à periferia da edificação (Figura 5). Nos SPP-MA e SPP-MI, o principal aspecto

122 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


de flexibilidade a salientar é a adaptação a diferentes configurações geométricas, uma
vez que os componentes em madeira podem ser recortados e acoplados entre si, de
forma a ajustar o SPP a situações específicas ou inesperadas, somente detectadas no
canteiro de obras. No caso dos SPP-ME, o projeto é adaptado a cada obra em particular
em função dos diferentes módulos que compõem o SPP.

Quadro 6 – Comparação do atendimento aos requisitos de flexibilidade em projeto.

FLEXIBILIDADE - Requisitos de Projeto


SPP

mesmo SPP em todas as etapas

geométricas, evitando soluções


precise ser re�rado (Entrevista)
*4. O projeto prevê a execução

*6. O projeto prevê adaptação


acesso de pessoas e materiais
*1. O projeto prevê meios de

*2. O projeto prevê o uso do

dimensões de componentes

*5. O projeto ajusta-se às


de tarefas sem que o SPP

improvisadas (Entrevista)

às diferentes tecnologias
diferentes configurações

constru�vas (Entrevista)

Média Total
*3. O projeto especifica

transportar (Entrevista)
fáceis de manipular e
da obra (Entrevista)
% de Atendimento

(NR 18)

MA-1 0 100 50 100 100 0 58


MA-2 0 0 100 0 0 0 16
MI-1 0 0 100 0 100 0 33
MI-2 0 0 100 100 100 0 50
MI-3 0 100 0 100 100 0 50
MI-4 0 0 100 0 100 0 33
MI-5 0 100 100 100 100 0 66
ME-1 100 100 50 100 100 0 75
ME-2 100 100 100 100 100 0 83
* requisitos aplicáveis tanto na etapa de análise de projeto como na análise de uso.

O Quadro 7 compara o atendimento aos requisitos de flexibilidade na fase de uso.


Um aspecto a salientar refere-se aos SPP-MA-1, SPP-MI-3 e SPP-MI-5, os quais foram
atendidos no projeto, mas não no uso, como ocorreu com o requisito 4 (o SPP permite a
execução de tarefas sem precisar ser retirado, eliminando o cinto de segurança). Embora
tais SPP estejam um pouco projetados para fora da periferia, o que permite a elevação
da alvenaria de vedação externa, algumas empresas optam por remover o SPP antes
ou durante a elevação da alvenaria, enquanto outras preferem manter o SPP instalado
até finalizar as tarefas, requerendo uso de meios para removê-lo, tais como andaimes
suspensos. Esta última situação gera riscos adicionais, já que muitas vezes ficam isolados
em locais inacessíveis, podendo cair e atingir os trabalhadores no nível do solo (Figura 6).

Cap. 5 Avaliação de Requisitos de Desempenho de Sistemas... | 123


a b

Telas reguláveis em comprimento Telas ar�culáveis em quina

Montante laje
em balanço
barra de ancoragem
(parafuso) e porca

Montante viga de
barra de ancoragem periferia/alvenaria
(parafuso) e porca

Figura 5 – Aspectos de flexibilidade do SPP-ME-2. Fonte: Scanmetal, 2011.

124 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Quadro 7 – Comparação do atendimento aos requisitos de flexibilidade em uso.

FLEXIBILIDADE - Requisitos de Uso


SPP

diferentes configurações
*3. Os componentes são

execução de tarefas sem

constru�vas (Entrevista)
transportar (Entrevista)
*2. O mesmo SPP pode

*6. O SPP adapta-se às


soluções improvisadas
*1. O SPP prevê meios

geométricas, evitando

diferentes tecnologias
e materiais a par�r da

*5. O SPP ajusta-se às


de acesso de pessoas

fáceis de manipular e

Média Total
precisar ser re�rado
*4. O SPP permite a
ser usado em todas
% de Atendimento

as etapas da obra
periferia (NR 18)

(Entrevista)

(Entrevista)

(Entrevista)
MA-1 0 100 50 0 100 0 42
MA-2 0 0 50 0 100 0 25
MI-1 0 0 50 0 100 0 25
MI-2 0 0 50 100 100 0 42
MI-3 0 100 0 100 50 0 42
MI-4 0 0 50 0 100 0 25
MI-5 0 0 50 50 100 0 33
ME-1 50 100 50 100 100 0 66
ME-2 0 100 100 100 100 0 66
* requisitos aplicáveis tanto na etapa de análise de projeto como na análise de uso do SPP.

a b

c d

Figura 6 – (a) Remoção do SPP-MA-1 antes da vedação ver�cal; (b) SPP-MA-1 após vedação
ver�cal; (c) remoção do SPP-MI-5 antes da vedação ver�cal; e (d) SPP- MI-5 após vedação
ver�cal. Fonte: Peñaloza, 2015.

Cap. 5 Avaliação de Requisitos de Desempenho de Sistemas... | 125


3.4 Oportunidades de Melhoria nos SPP
Em função dos requisitos menos atendidos, foram identificados exemplos de
SPP disponíveis no mercado nacional e internacional, os quais apresentam soluções
que contribuem para um melhor desempenho dos SPP avaliados, bem como
amenizam as dificuldades das empresas em atender tais requisitos. Um dos requisitos
menos atendidos refere-se ao requisito “o SPP permite a execução de tarefas sem
precisar ser retirado”. Um exemplo existente no mercado serviu de inspiração para o
desenvolvimento de um conjunto de soluções técnicas que podem ser incorporadas
a diferentes SPP. O conjunto de soluções foi denominado de recomendação e permite
a aplicação do protocolo proposto, dado que foi pensado com o objetivo atender a
vários requisitos simultaneamente. O sistema Parapet Clamp (2005) possui um suporte
de aço o qual se fixa à estrutura mediante um mecanismo tipo mordaça, permitindo
ajustar-se às dimensões da estrutura (Figura 7).

Figura 7 – Sistema de proteção de parapeitos. Fonte: Parapet Clamp, 2005.

Para o desenvolvimento da recomendação, adotou-se o formato em “U” do


suporte Parapet Clamp (2005), o qual foi invertido no sentido contrario, isto é, a fixação
acontece de baixo para cima na viga de borda (Figura 8). Outra solução incorporada
ao suporte é o afastamento à periferia (Figura 8), similarmente a alguns montantes
de SPP avaliados, os afastadores evitam que o SPP fique sobre o piso de trabalho,
possibilitando, a execução da alvenaria de vedação.

126 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Montante com vários
níveis de ajuste

Alças com furos

Encaixe do montante

Parafuso tensor Afastador Suporte �po mordaça


com vários níveis de ajuste
Parafuso borboleta

Figura 8 – Perspec�va e componentes. Fonte: Peñaloza, 2015.

Em relação à flexibilidade, o montante permite a combinação de componentes


em madeira bem como telas metálicas (Figura 9). A Figura 10 ilustra uma alternativa de
como o SPP pode ser instalado. Nota-se que os montantes foram posicionados um do
lado do outro para facilitar a desmontagem por módulos (Figura 11).

Figura 9 – Combinação de travessões e rodapé em madeira e tela metálica. Fonte: Peñaloza,


2015.

Cap. 5 Avaliação de Requisitos de Desempenho de Sistemas... | 127


Figura 10 – Montagem do SPP. Fonte: Peñaloza, 2015.

Figura 11 – Desmontagem por módulos. Fonte: Peñaloza, 2015.

128 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


4. Conclusões
As principais contribuições deste estudo foram: (a) identificação e organização
de requisitos; (b) identificação de requisitos não citados em normas, a partir da
compreensão das necessidades dos usuários; e (c) categorização dos requisitos
segundo a natureza de cada um.
Outra contribuição deste trabalho refere-se à identificação das principais
vantagens e desvantagens dos SPP em madeira, mistos e metálicos. Por um lado, as
principais vantagens dos SPP em madeira e mistos são: (a) baixo custo de aquisição
em comparação com os SPP metálicos e (b) adaptação a diferentes configurações
geométricas do ponto de vista da maleabilidade do sistema. Uma das vantagens dos
SPP mistos sobre os SPP em madeira é a reutilização dos montantes metálicos, seja
dentro da obra ou em obras futuras. Por outro lado, as principais desvantagens dos
SPP em madeira e mistos são: (a) maior quantidade e variedade de componentes
avulsos (10 unidades) em comparação com os SPP metálicos (3 componentes); (b) a
fixação dos componentes requer prega manual peça por peça, sem seguir um critério
definido; (c) baixo reaproveitamento da madeira. Já as principais vantagens dos SPP
metálicos são: (a) materiais mais resistentes e duráveis em comparação com os SPP
e madeira e misto; (b) mecanismos de conexão rígidos e seguros mediante encaixes
e travamentos integrados ao sistema; (c) alto reaproveitamento; (d) baixo custo ao
longo do ciclo de vida; (e) menos perdas e resíduos; e (f) fácil de manipular por ser um
sistema compacto com dispositivos incorporados.
O principal ponto fraco do SPP metálico refere-se ao projeto do rodapé.
Alguns desses sistemas não possuem rodapé ou este é rejeitado pelos trabalhadores
por ser um elemento solto da tela de proteção. Nesse sentido, foram identificadas
algumas oportunidades para estudos futuros: (i) testar as oportunidades de melhoria
identificadas em possíveis soluções tecnológicas, contribuindo para incentivar o setor
da construção a desenvolver inovações; e (ii) refinar e atualizar o conjunto de requisitos
e critérios propostos.

Referências
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Cap. 5 Avaliação de Requisitos de Desempenho de Sistemas... | 129


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Cap. 5 Avaliação de Requisitos de Desempenho de Sistemas... | 131


6
http://dx.doi.org/10.26626/978-85-5953-027-8.2017C0006.p.133-148

Sistemas de Proteção Contra


Quedas com Cabo de
Segurança na Construção1

Marcelo Fabiano Costella


Emanuela Rizzotto
Letícia Nonennmacher

1. Introdução
Sabe-se que a construção civil é responsável por um grande número de acidentes
e mortes de trabalhadores, sendo a queda de altura o principal problema enfrentado
em obras de diferentes países (BRANCHTEIN, et al., 2015).
Fatalidades desse tipo ocorrem principalmente devido à falta de proteção
adequada ou à deficiência dos sistemas utilizados, condicionados, segundo Borjan et al.
(2016), pelo comportamento dos empregadores, a indisponibilidade de equipamentos
e o tamanho da empresa.
Referente aos empregadores, Cherri e Argudin (2016) explicam que tais
responsáveis pela contratação e gestão de pessoal ainda apresentam certa dificuldade
em tratar do tema. Consequentemente, os colaboradores são submetidos a tarefas em
altura sem que possuam experiência, sem aprender métodos de trabalho e receber
equipamentos de proteção adequados (EVANOFF et al., 2016).

1 Versão resumida do ar�go publicado na Revista SODEBRAS, v. 11, n. 128 de Agosto de 2016,
nas páginas 133 a 140, pelos mesmos autores.

133
Dentre os equipamentos de uso obrigatório em qualquer atividade executada
a partir de 2,0 metros de altura, com risco de queda, tais como telhados, estruturas e
coberturas, estão os cintos de segurança, conforme a NR 18 – Condições e Meio Ambiente
de Trabalho na Indústria da Construção (BRASIL, 2016). Entretanto, ainda que normas
regulamentadoras do trabalho em altura estejam em vigor, como a já citada NR 18 –
Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (BRASIL, 2016) e a
NR 35 – Trabalho em Altura (BRASIL, 2014), é grande o número de problemas envolvendo
a má qualidade do planejamento, aplicação e controle dos sistemas de proteção. Um
dos possíveis fatores contribuintes diz respeito à maneira como as normas abordam
os requisitos de desempenho, não incorporando pontos relevantes, como eficiência e
flexibilidade, além da falta de especificações quanto à forma de avaliar seu uso.
Desta forma, é necessário desenvolver métodos e materiais que auxiliem na
análise da utilização dos sistemas de segurança contra quedas, fazendo com que os
requisitos atualmente estabelecidos também contemplem questões práticas do dia a
dia da obra e proporcionem sistemas mais seguros e práticos.
Com o foco de proporcionar uma visão mais ampla dos requisitos necessários ao
eficaz projeto e aplicação de cabos de segurança, bem como à análise de conformidades
para utilização, este estudo pretende apontar níveis de atendimento a requisitos de
segurança, eficiência e flexibilidade.

2. Método
2.1 Delineamento da Pesquisa
A presente pesquisa consistiu na elaboração de um protocolo de avaliação de
desempenho de cabos de segurança. Um teste do protocolo é apresentado com base
na sua aplicação em obras da cidade de Chapecó, Santa Catarina.
Foi realizado o levantamento e estudo de requisitos importantes para a avaliação
de diversos cabos usados na proteção dos trabalhadores da construção civil com base
nas categorias de segurança, contemplando-se questões de projeto e operação, de
eficiência e flexibilidade.

2.2 Identificação dos Requisitos


Para identificação dos requisitos foram utilizadas as normas brasileiras NR 18 –
Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (BRASIL, 2016)
e NR 35 – Trabalho em Altura (BRASIL, 2014), bem como as normas inglesas OSHA
1926.501 (OCCUPATIONAL..., 1996a), OSHA 1926.502 (OCCUPATIONAL..., 1996b) e
OSHA 1926.503 (OCCUPATIONAL..., 1996c). Além disso, a identificação dos requisitos
teve como fundamento as disposições recomendadas pelos sistemas de proteção

134 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


periférica (SPP), propostos no protocolo elaborado por Peñaloza et al. (2015), bem
como falhas observadas a partir do acompanhamento de atividades que utilizavam
cabos de segurança nas obras selecionadas.
Dessa forma, foram identificados 30 requisitos para compor o protocolo,
distribuídos da seguinte forma: 5 requisitos referem-se à segurança na etapa de
projeto, 12 requisitos referem-se à segurança na etapa de operação; 7 requisitos
referem-se à eficiência e 6 referem-se à flexibilidade.

2.3 Níveis de Atendimento


Com os requisitos definidos, identificados e devidamente separados por
categoria, foi elaborado o protocolo para avaliação do cabo de segurança. O
responsável por responder ao protocolo pode escolher entre as seguintes opções,
para cada requisito: SIM, se a situação analisada atendesse totalmente o requisito;
NÃO, caso o requisito não fosse atendido na obra; PARCIALMENTE quando a situação
da obra atendia parcialmente o requisito; e NÃO SE APLICA, caso o requisito não fosse
aplicável às características da obra. Para analisar os dados e interpretar os resultados,
foi atribuída uma pontuação para cada resposta, da seguinte forma: SIM, 100%; NÃO
0%; PARCIALMENTE 50%. Caso a resposta seja NÃO SE APLICA, ela não será considerada.

2.4 Seleção das Obras e Coleta de Dados


Como meio de efetivar a pesquisa, foram definidos sete canteiros de obras da
cidade catarinense para realização de visitas. Escolhidos os locais, foi caracterizado o
sistema de cabo de segurança utilizado na obra, identificando-se o material utilizado
nos cabos, a forma de fixação e os cuidados tomados com o sistema. A Tabela 1
apresenta as características dos sistemas utilizados em cada obra. Foi observado ainda
qual era o profissional responsável pela segurança do trabalho presente na obra, seja
o técnico de segurança, o engenheiro de segurança do trabalho ou, na maioria dos
casos, o próprio engenheiro civil responsável pela execução da obra.
Foram coletados os dados nos canteiros de obras através de aplicação do
protocolo de avaliação, verificando-se todos os requisitos para o sistema de cabo de
segurança. Nesta etapa, as questões foram respondidas pelo profissional responsável
por fiscalizar a obra, junto ao cabo de segurança instalado, o que permitiu também
a observação direta do sistema. O local avaliado foi sempre o último pavimento,
observado em sua totalidade, no qual o cabo de segurança estava instalado. Por fim, os
dados recolhidos por meio do protocolo de avaliação foram analisados e os resultados
foram discutidos.

Cap. 6 Sistemas de Proteção Contra Quedas com Cabo... | 135


Tabela 1 – Caracterís�cas dos cabos de segurança.

Obra Etapa de Material Fixação Tipo de Fixação do Registro


u�lização do cabo do cabo montante montante fotográfico
Obra A Alvenaria Cabo Transpassado Pilares Pilares
de fibra por aberturas e vigas e vigas
sinté�ca existentes funcionam funcionam
em pilares ou como como
vigas montantes montantes

Obra B Estrutura Cabo de Transpassado Tubos de Sustentação


aço em ferro em formato
abraçadeiras de tripé
presas ao fixado à laje
montante por meio de
parafusos

Obra C Alvenaria Cabo Transpassado Barras de A par�r de


de fibra em barras ferro solda na laje
sinté�ca de ferro com superior
dobra em sua
ponta

Obra D Alvenaria Cabo de Transpassados Tubos de Sistema de


aço em aberturas ferro com encaixe,
feitas a 1,20 8m no qual os
m de altura no cabos são
montante passados
em espaços
já deixados
na laje e
fixados
com pino
metálico
Fonte: Elaboração dos autores.

136 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Tabela 1 – Continuação.

Obra Etapa de Material Fixação Tipo de Fixação do Registro


u�lização do cabo do cabo montante montante fotográfico
Obra E Estrutura Cabo de Transpassado Tubos de Encaixados
aço em ferro com através dos
abraçadeiras 6m espaços
presas ao deixados
montante entre as
lajes

Obra F Estrutura Cabo de Transpassado Tubos de Encaixados


aço em ferro com através dos
abraçadeiras 7m espaços
presas ao deixados
montante ou entre as
em encaixe lajes
fixo a 1,5m de
altura
Obra G Estrutura Cabo de Transpassado Tubos de Possui
aço em ferro sustentação
abraçadeiras de tripé e os
presas ao tubos são
montante encaixados
através dos
espaços
deixados
entre as
lajes
Fonte: Elaboração dos autores.

3. Resultados
3.1 Segurança nos Projetos dos Cabos
A Tabela 2 apresenta os resultados da avaliação quanto aos requisitos
concernentes à categoria segurança na fase de concepção dos projetos, a média de
cada empresa, média de cada requisito e média geral da categoria.

Cap. 6 Sistemas de Proteção Contra Quedas com Cabo... | 137


Tabela 2 – Atendimento da categoria segurança no projeto dos cabos.
Requisitos de segurança no projeto Obra Obra Obra Obra Obra Obra Obra Média
A B C D E F G (%)
1. O dimensionamento do cabo 0 100 100 100 0 100 100 71,43
de segurança da obra consta na
análise de risco como forma de
consulta para sua correta execução.
(BRASIL, 2014)
2. No caso de uso de cabos 0 100 100 100 NA 100 100 83,33
de segurança ver�cais, tal
instrumento é dimensionado para
o uso de apenas 1 trabalhador.
(OCCUPATIONAL..., 1996b)
3. O projeto do sistema de cabo de 0 0 100 0 0 0 100 28,57
segurança prevê mecanismos de
resgate dos trabalhadores, em caso
de queda. (BRASIL, 2014)
4. O cabo de segurança é planejado 0 100 100 100 100 100 100 85,71
com eficiência suficiente para supor-
tar a carga máxima aplicável, de
acordo com cada etapa e serviço a
ser realizado na obra. (BRASIL, 2014)
5. O cabo de segurança é dimen- 0 0 100 100 100 100 100 71,43
sionado por profissional legalmente
habilitado. (BRASIL, 2014)
Fonte: Elaboração dos autores.

Percebe-se que a maioria das empresas preocupa-se em dimensionar seus


sistemas seguindo as especificações de um profissional habilitado, que considera a
análise de risco, as cargas e número real de usuários do sistema.
Em contrapartida, as porcentagens de atendimento do requisito 3 possibilitam
identificar como inconformidade comum, entre a maioria das empresas, a não
incorporação de formas de resgate ao dimensionamento dos cabos, visto que é
obrigação da empresa assegurar que a equipe possua os recursos necessários para as
respostas a emergências, conforme exige a NR 35 – Trabalho em Altura.

3.2 Segurança na Fase de Operação


A Tabela 3 apresenta os resultados de atendimento das obras quanto aos
requisitos referentes à categoria segurança na fase de uso dos cabos, a média de cada
empresa, média de cada requisito e média geral da categoria.

138 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Quanto à operação, o requisito de número 14 foi o menos atendido entre as
obras, de modo que apenas a obra D possuía sinalização, no local de uso, informando a
quantidade máxima de trabalhadores que podem estar conectados ao cabo de segurança
ao mesmo tempo. Esse foi o requisito menos atendido dentre os 30 analisados.
Verifica-se que o não atendimento ao item 14 interfere no total desempenho
quanto ao cumprimento dos requisitos 2 e 4 da categoria segurança na fase de projeto,
pois mesmo que haja um correto dimensionamento da carga e número máximo de
trabalhadores suportados pelo sistema, não é realizada a eficiente sinalização destas
informações aos trabalhadores em obra, durante a etapa de operação dos cabos.

Tabela 3 – Atendimento da categoria segurança na fase de operação dos cabos.

Requisitos de segurança na fase de Obra Obra Obra Obra Obra Obra Obra Média
operação A B C D E F G (%)
6. O cabo de segurança passa por 100 0 100 100 100 0 50 64,29
revisão (pelos próprios trabalha-
dores) antes do início das a�vidades
diárias, a fim de verificar suas
condições de uso. (BRASIL, 2014)
7. O cabo de segurança passa 100 0 100 100 100 100 100 85,71
por inspeção mais severa, por
profissional legalmente habilitado,
com a periodicidade mínima de 6
meses. (BRASIL, 2014)
8. Os cabos são subs�tuídos quando 100 100 100 100 100 100 100 100
apresentam condições que
comprometam sua integridade e
coloquem em risco o trabalhador.
(BRASIL, 2016)
9. O cabo de segurança é instalado 100 100 100 100 100 100 100 100
em todos os locais onde há risco de
queda do trabalhador, para que ele
possa conectar o cinto de segurança.
(BRASIL, 2016)
10. Os cabos de segurança são 0 0 100 100 50 100 0 50,00
protegidos quanto ao corte e
desgaste. (OCCUPATIONAL...,
1996b; BRASIL, 2016)
11. O sistema de cabo de segurança 100 100 100 100 100 100 50 92,86
garante que, em caso de queda
ou durante o uso, o talabarte
não fique em atrito com arestas
de lajes ou estruturas similares.
(PEÑALOZA, et al., 2015)
Fonte: Elaboração dos autores.

Cap. 6 Sistemas de Proteção Contra Quedas com Cabo... | 139


Tabela 3 – Continuação.
Requisitos de segurança na fase de Obra Obra Obra Obra Obra Obra Obra Média
operação A B C D E F G (%)
12. São fornecidos treinamentos 100 100 100 100 100 100 100 100
específicos sobre os sistemas
de cabo de segurança para os
trabalhadores. (OCCUPATIONAL...,
1996c)
13.O cabo de segurança está fixado 100 100 50 100 100 100 100 92,86
acima do nível da cintura do
trabalhador, de modo a restringir
a altura de queda e assegurar
que, caso ocorra a queda, a
chance de colisão do trabalhador
com estruturas inferiores seja
minimizada. (BRASIL, 2014)
14. Existe sinalização na obra 0 0 0 100 0 0 0 14,29
indicando a quan�dade máxima
de trabalhadores que podem estar
conectados, ao mesmo tempo, em
um trecho do cabo de segurança.
(PEÑALOZA, et al., 2015)
15. Existem funcionários des�nados 50 0 100 50 0 100 50 50
especificamente (possuem apenas
função de supervisor) a alertar e
adver�r os demais trabalhadores
quando expostos ao risco de
queda. (OCCUPATIONAL..., 1996b;
BRASIL, 2014)
16. Os cabos de fibra sinté�ca 100 0 100 NA 0 0 0 33,33
u�lizados para sistema de cabo
de segurança possuem aviso
indicando que sua função é apenas
essa. (“CUIDADO: CABO PARA
USO ESPECÍFICO EM CADEIRAS
SUSPENSAS E CABO-GUIA DE
SEGURANÇA PARA FIXAÇÃO DE
TRAVA-QUEDAS”). (BRASIL, 2016)
17. A junção dos cabos de aço que NA 100 NA 100 100 100 100 100
fazem parte do cabo de segurança,
quando necessária, é realizada
por meio de três grampos.
(ASSOCIAÇÃO..., 2016)
Fonte: Elaboração dos autores.

140 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Já os requisitos 8, 9, 12 e 17 são cumpridos em todas as obras. Assim, constatou-
se a preocupação das empresas em instalar cabos de segurança em todos os locais
com risco de queda, de maneira a preservar a integridade do trabalhador e também
oferecer treinamentos para capacitar seus funcionários.

3.3 Categoria Eficiência


A Tabela 4 apresenta os resultados de atendimento das obras quanto aos
requisitos na categoria eficiência, a média de cada empresa, média de cada requisito
e média geral da categoria.

Tabela 4 – Atendimento da categoria eficiência.

Requisitos de eficiência Obra Obra Obra Obra Obra Obra Obra Média
A B C D E F G (%)
18. O sistema de cabo de 50 0 0 0 0 100 100 35,71
segurança interfere
nega�vamente no
desenvolvimento do
serviço do trabalhador.
(OCCUPATIONAL..., 1996a)
19. O sistema de cabo de 50 100 100 100 100 100 100 92,86
segurança garante ao
trabalhador autonomia para
realizar a a�vidade por todo
período que es�ver exposto
ao risco de queda. (BRASIL,
2014)
20. O sistema de cabo de 50 0 50 50 0 100 50 42,86
segurança é de rápida
instalação e re�rada.
(PEÑALOZA et al., 2015)
21. O sistema de cabo de 50 100 100 50 50 100 100 78,57
segurança tem pouca ou
nenhuma interferência com
outras proteções cole�vas
(proteções periféricas,
plataformas de proteção)
e escoramentos, não
prejudicando a segurança e
eficiência da movimentação
de materiais e pessoas.
(PEÑALOZA et al., 2015)
Fonte: Elaboração dos autores.

Cap. 6 Sistemas de Proteção Contra Quedas com Cabo... | 141


Tabela 4 – Continuação.

Requisitos de eficiência Obra Obra Obra Obra Obra Obra Obra Média
A B C D E F G (%)
22. Em caso de constatação de 50 0 100 100 100 100 100 78,57
inviabilidade de instalação
do cabo de segurança em
locais onde sua presença seria
necessária, alguma outra
medida de proteção eficiente
é feita em sua subs�tuição.
(OCCUPATIONAL..., 1996a)
23. O sistema de cabo de seguran- 100 100 100 100 100 100 100 100,00
ça tem baixo custo ao longo
do ciclo de vida, tendo em
vista os bene�cios e o tempo
de uso deles em uma obra
(projeto, aquisição, instalação,
manutenção e re�rada).
(PEÑALOZA et al., 2015)
24. Os componentes do sistema 100 100 100 100 100 100 100 100,00
de cabo de segurança são
compa�veis entre si (ex: não
há materiais cuja proximidade
com outros possa causar
danos, os componentes são
facilmente conectados, etc.).
(PEÑALOZA et al., 2015)
Fonte: Elaboração dos autores.

De acordo com a Tabela 4, os requisitos 23 e 24 obtiveram atendimento máximo,


posto que todos os engenheiros entrevistados consideram o custo dos cabos de
segurança baixo, tendo em vista seus benefícios ao longo do ciclo de vida. O requisito
de número 18, atendido totalmente em duas obras e parcialmente em uma, obteve
média de somente 35,71%, pois a maioria dos engenheiros entrevistados considera
que o cabo influencia negativamente no desenvolvimento das atividades, diminuindo
a produtividade.
Analisando os requisitos 18 e 20 em conjunto, pode-se observar que há
uma relação entre os sistemas não permitirem uma rápida instalação e retirada e a
interferência negativa nos serviços dos trabalhadores. Esse fato se explica, dentre
outros motivos, pela necessidade de repetidas retiradas e conexões do cinto de
segurança por parte do trabalhador e pela grande variedade e número de sistemas
existentes nos canteiros.

142 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


3.4 Categoria Flexibilidade
A Tabela 5 apresenta os resultados de atendimento das obras quanto aos
requisitos na categoria flexibilidade, a média de cada empresa, média de cada requisito
e média geral da categoria. Nessa categoria, todos os itens superaram os 70% de
atendimento, sendo o requisito 25 o mais atendido, pois todas as empresas possuíam
sistemas que poderiam ser utilizados em todas as etapas da obra.
Tabela 5 – Atendimento da categoria flexibilidade.

Requisitos de flexibilidade Obra Obra Obra Obra Obra Obra Obra Média
A B C D E F G (%)
25. O sistema de cabo de segurança 100 100 100 100 100 100 100 100
é dimensionado de forma que
possa ser reaproveitado nos diver-
sos serviços e etapas da obra.
26. O número de diferentes 100 100 100 100 50 100 100 92,86
componentes do sistema de
cabo de segurança é minimizado,
visando facilitar a montagem/
desmontagem/troca de local.
(PEÑALOZA et al., 2015)
27. São fornecidos treinamentos para 100 0 100 100 100 100 50 78,57
que os funcionários aprendam
os procedimentos de montagem,
manutenção e desmontagem dos
sistemas de cabo de segurança.
(OCCUPATIONAL..., 1996c)
28. Os riscos na instalação e re�rada 50 0 100 50 100 100 100 71,43
do sistema de cabo de segurança
são minimizados. (PEÑALOZA
et al., 2015)
29. O sistema de cabo de segurança 100 100 100 100 100 100 50 92,86
é adaptável a diferentes tecno-
logias constru�vas (ex: diferentes
tecnologias de formas e escora-
mentos, estruturas pré-moldadas
e moldadas no local, estruturas
metálicas e de concreto armado,
etc.). (PEÑALOZA et al., 2015)
30. O sistema de cabo de segurança NA 100 100 100 50 100 100 91,67
permite o ajuste da altura dos
cabos de aço, em um mesmo
pavimento, com facilidade.
(PEÑALOZA et al., 2015)
Fonte: Elaboração dos autores.

Cap. 6 Sistemas de Proteção Contra Quedas com Cabo... | 143


Nessa categoria, sete requisitos obtiveram 100% de atendimento. Os principais
fatos que levaram ao alcance destes resultados foram a relevância que as empresas
deram ao dimensionamento envolvendo praticidades em montagem, utilização e
desmontagem do sistema, além da análise efetiva das possibilidades de interferência
entre os sistemas existentes nos canteiros.
A facilidade de desmontagem e a minimização de peças, abordada pelo projeto
de dimensionamento, bem como o fornecimento de treinamentos aos trabalhadores,
contribuíram com a possibilidade de uma reutilização eficiente dos cabos, nas
diferentes etapas da obra ou em obras futuras, buscando dessa forma diminuir seu
custo ao longo do ciclo de vida.

3.5 Comparação de Atendimento entre as Categorias


e entre as Obras
Observando a Figura 1, pode-se perceber que a categoria flexibilidade foi a mais
atendida, obtendo média de atendimento de 87,86%. Já a categoria segurança nos
projetos foi a que obteve menor atendimento entre as obras.

100

90 87,86
Média de atendimento

80
75,50
73,54
70 67,15

60

50
Segurança Segurança Eficiência Flexibilidade
na fase de na fase de
concepção operação
de projetos dos cabos

Categoria

Figura 1 – Média de atendimento das categorias. Fonte: Autores.

A Figura 2 permite observar as porcentagens de atendimento de cada uma


das sete empresas analisadas, de maneira individual para cada categoria. Referente

144 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


à primeira categoria, nota-se que as obras C e G obtiveram os melhores resultados
com níveis máximos de atendimento aos requisitos de segurança na fase de projeto,
sendo a obra A a responsável pelas piores porcentagens. Esta atingiu o resultado de
0% de atendimento devido ao fato de não realizar o dimensionamento por profissional
habilitado e não apresentar grau de detalhamento adequado nos projetos fornecidos
aos funcionários responsáveis pela montagem do sistema, os quais acabavam por
efetuar de maneira empírica.

100 100 100100 100


100 95 93
90 92
90 86
83 83
Média de atendimento

80 80
80 77 79
75
71
70 64 67
63 64
68
60
60 57
50 50
50
40
30
20
10
0
0
A B C D E F G
Obras

Segurança na fase de concepção de projetos


Segurança na fase de operação dos cabos
Eficiência
Flexibilidade

Figura 2 - Média total de atendimento por cada obra. Fonte: Autores.

Quanto à categoria “Segurança na fase de operação dos cabos”, foram obtidos os


melhores resultados na obra D, a qual atingiu 95,45% de cumprimento aos requisitos.
O pior desempenho nessa categoria foi apresentado pela obra B, uma vez que pontos
importantíssimos à aplicação segura do sistema foram descumpridos, como revisões,
inspeções e sinalizações aos usuários.
A categoria “Eficiência” teve a obra F como a de melhor desempenho com
100% dos requisitos atendidos. Esta se preocupava em garantir um fácil manuseio
e utilização do sistema mediante o emprego de montantes, cabos reutilizados de
andaimes e ajuste de altura a partir de abraçadeira, conforme Figura 3. Salienta-se
ainda a compatibilidade entre os componentes, sem que houvesse interferência entre
o cabo de segurança e outros equipamentos instalados em obra. Novamente, nessa
categoria, a obra B obteve o pior desempenho, pois o sistema não proporcionava
rapidez na instalação e retirada, interferia de maneira negativa na produtividade dos

Cap. 6 Sistemas de Proteção Contra Quedas com Cabo... | 145


trabalhadores e não previa outro meio de proteção para casos de inviabilidade de
instalação do cabo.

Figura 3 - Montantes, cabos de aço e abraçadeiras na obra F. Fonte: Autores.

A última categoria analisada foi “Flexibilidade”, na qual duas obras obtiveram


o mesmo desempenho, com 100% dos requisitos atendidos, sendo elas as obras C e
F. Além destas, pode-se citar como referência de bom resultado a obra D, que obteve
91,67% de atendimento, com apenas um requisito sem atingir total conformidade.
Em relação a desempenho negativo, essa foi a terceira categoria em que a obra
B atingiu os piores resultados, apresentando 66,67% de atendimento, uma vez que
não era disponibilizado treinamento aos trabalhadores nem, em nenhum momento da
instalação do sistema, buscava-se minimizar os riscos de queda aos envolvidos.
Avaliando os resultados por categoria, destacam-se as obras B, C e F. A obra B
obteve os piores resultados em três das quatro categorias analisadas, e as obras C e F
atingiram o melhor desempenho dentre todas as sete obras.

4. Conclusões
Ainda que a utilização de equipamentos de segurança contra quedas seja
crescente na busca por índices menores de acidentes, métodos que permitam avaliar
seu uso como meio de aplicar melhorias e de atingir maiores conformidades com
requisitos normativos e de natureza prática são necessários.

146 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Realizou-se, desta forma, a aplicação de um protocolo de avaliação em obra, que
incorporou tanto os requisitos de normas, quanto os originados a partir de vivência em
canteiros, sendo classificados dentro das categorias “Segurança”, na etapa de projeto e
operação, “Eficiência” e “Flexibilidade”.
Como principais resultados, salienta-se a categoria “Segurança na fase de
concepção de projetos” como a de menor desempenho e a “Flexibilidade” como a mais
atendida. Pode-se assim aferir que a maioria das empresas não valoriza um projeto
e planejamento eficazes como principais certificadores das condições de segurança
adequada aos trabalhadores e até mesmo do aumento do rendimento desses atores
da construção civil. Além do mais, conclui-se que maiores esforços concentram-se
em cumprir os requisitos que envolvam a redução de custos, como a possibilidade de
reutilização e adaptação do equipamento a diferentes arranjos e obras.
Já os cabos de fibra sintética transpassados em barras de ferro com uma dobra
em sua ponta, utilizado pela obra C durante a etapa de levantamento de alvenaria,
apresentou o maior desempenho, sendo possível apontar a presença e exercício
constante do técnico e engenheiro de segurança do trabalho no canteiro de obras
como promotores deste resultado. Tais profissionais realizavam o planejamento
semanal das atividades em altura e controle dos trabalhos por meio de registro de
Permissão para Trabalho (PT).
Além disso, pode-se concluir que o projeto de dimensionamento era efetuado
de modo a cumprir com requisitos de segurança para cabos em fibra sintética, como
os estabelecidos pela NR 18 – Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da
construção, em seu item 18.16 e Anexo I, comprovado pelos 100% de atendimento à
categoria segurança na fase de projeto.
Especificamente à avaliação das categorias e seus requisitos, todos os resultados
ressaltam a importância de aplicar o método de avaliação proposto no estudo como
ferramenta às empresas na análise dos processos utilizados na concepção, uso e
manuseio de seus cabos de segurança.

Referências
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Parte 4: Grampos leve e pesado. Rio de Janeiro, 2016.
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use of fall protec�on in small residen�al construc�on companies in New Jersey. New
solu�ons: a journal of environmental and occupa�onal health policy, v. 26, n. 1, p. 40-54,
2016.

Cap. 6 Sistemas de Proteção Contra Quedas com Cabo... | 147


BRANCHTEIN, M.C.; SOUZA, G.L.; SIMON, W.R. Sistema de proteção a�va contra quedas
com Linha de Vida Horizontal Flexível. In: FILGUEIRAS, V. A. (Org.). Sergipe: Procuradoria
Regional do Trabalho da 20° região, 2015. p. 159-176.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora 18 (NR-18):
Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção. 2015. Brasília-DF.
Disponível em: <h�p://trabalho.gov.br/seguranca-e-saude-no-trabalho/norma�zacao/
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de-trabalho-na-industria-da-construcao>. Acesso em: nov. 2016.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora 35 (NR-35): Trabalho
em Altura. Rio de Janeiro: 2014. Disponível em: <h�p://portal.mte.gov.br/images/
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CHERRI, S.; ARGUDIN, R. Fall rescue plans & dropped object preven�on: what every safety
manager should know. Professional Safety, v. 61, n. 5, p. 38-41, 2016.
EVANOFF, B.; DALE, A.M.; ZERINGUE, A.; FUCHS, M.; GAAL, J.; LIPSCOMB, H.J.; KASKUTAS,
V. Results of a fall preven�on educa�onal interven�on for residen�al construc�on. Safety
Science, v. 89, n. 9, p. 301-307, 2016.
OCCUPATIONAL SAFETY AND HEALTH ADMINISTRATION. United States Department of
Labour. 1926.501 - Duty to have fall protec�on. 1996a. Disponível em: h�ps://www.osha.
gov/pls/oshaweb/owadisp.show_document?p_table=STANDARDS&p_id=10757. Acesso em:
set. 2015.
OCCUPATIONAL SAFETY AND HEALTH ADMINISTRATION. United States Department of
Labour. 1926.502 - Fall protec�on systems criteria and prac�ces. 1996b. Disponível em:
h�ps://www.osha.gov/pls/oshaweb/owadisp.show_document?p_table=STANDARDS&p_
id=10758 Acesso em: set. 2015.
OCCUPATIONAL SAFETY AND HEALTH ADMINISTRATION. United States Department of
Labour. 1926.503 - Training requirements. 1996c. Disponível em: h�ps://www.osha.gov/
pls/oshaweb/owadisp.show_document?p_table=STANDARDS&p_id=10759 Acesso em:
set. 2015.
PEÑALOZA, G.A.; FORMOSO, C.T.; SAURIN, T.A. Avaliação de requisitos de desempenho
de Sistemas de Proteção Periférica (SPP). Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 15, n. 4,
p. 267-289, out./dez. 2015.

148 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


7
http://dx.doi.org/10.26626/978-85-5953-027-8.2017C0007.p.149-158

Inovação em Plataformas
de Proteção

Alex Alves Bandeira


Ricardo Fernandes Carvalho
Emerson de Andrade Marques Ferreira

1. Introdução
A Indústria da Construção Civil é um dos setores de maior relevância
socioeconômica, principalmente por sua capacidade de gerar postos de trabalho.
Entretanto, devido à natureza das atividades, os trabalhadores são expostos a diversas
situações de risco durante a jornada de trabalho. A probabilidade de acidentes no
trabalho é grande, refletindo nos índices de acidentes do setor. Como exemplo, dados
do Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de
Trabalho, DIESAT (2009), apontam que o setor da construção civil é o líder em acidentes
do trabalho (54.142), sendo 19.131 ocorridos na construção de edifícios.
Historicamente, pode-se observar a persistência dos elevados índices de
acidentes na construção, o que conduziu ao poder público reforçar o sistema de normas
e diretrizes para melhorar as condições do meio ambiente de trabalho na indústria da
construção. O principal instrumento normativo tem sido a Norma Regulamentadora 18
(BRASIL, 2013), utilizada como referência do Ministério do Trabalho para ação de
fiscalização em canteiros.
As causas de óbito com maior recorrência em canteiros de obras são os de
quedas em altura, exposição ocupacional às forças mecânicas inanimadas, exposição a
cargas elétricas e agentes físicos, riscos à respiração e outros fatores. Sendo, cerca de
1/3 dos óbitos referentes aos acidentes de queda em altura.

149
A NR 18 – Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção, item
13, trata do projeto e da instalação dos sistemas de proteções coletivas contra quedas.
Plataformas primárias fixas e secundárias estão entre essas medidas de proteção. A
indústria da Construção tem desenvolvido esforços para o aprimoramento de tais
equipamentos e, entre essas inovações, está o sistema modular proposto por Silva et al.
(2007). O presente trabalho pretende avaliar um protótipo do sistema modular, tanto
em canteiro, observando os processos de montagem desmontagem e transporte, como
mediante o uso de simulações por Elementos Finitos, prevendo o comportamento do
sistema quando submetido a impactos de quedas. Desta forma, visa oferecer suporte
para a tomada de decisão sobre a adoção de modelos de plataformas atualmente
observadas em canteiros pelo País.

2. Sistema Tradicional
O Relatório Técnico de Procedimento (RTP) 01 – Medidas de Proteção Contra
Quedas de Altura apresenta, no item 4.3, os Dispositivos de Proteção para Limitação
de Quedas, no qual trata especificamente de plataformas de periferia. O sistema
de plataformas de proteção usual é composto por uma estrutura metálica de
suporte (Figura 1) e um assoalho em tábuas de madeira ou compensados. A Norma
Regulamentadora 18 (BRASIL, 2013) prevê a construção provisória, em todo perímetro
da construção de edifícios com mais de quatro pavimentos ou altura equivalente,
de plataformas, como parte das medidas de proteção contra quedas de altura. As
dimensões são variáveis em função do local de implantação, podendo classificar-se
em primárias fixas ou secundárias móveis. A Plataforma principal, na altura da
primeira laje, deve ter 2,50 m de projeção horizontal da face externa da construção
e complemento com 0,80 m de extensão, enquanto as plataformas secundárias de
proteção, em balanço, de 3 em 3 lajes. Essas plataformas devem ter 1,40 m de balanço
e um complemento de 0,80 m de extensão.

Perfil
metálico
Estrutura da
edificação

Figura 1 – Suporte metálico para plataformas de proteção secundárias

150 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


O processo de movimentação da plataforma secundária tem início com
transporte dos materiais até o pavimento determinado para a instalação, por meio
do elevador de carga da obra. O elevador utilizado comporta um número limitado de
tábuas ou perfis metálicos. Após chegar ao pavimento, os materiais são movimentados
para próximo do local em que acontecerá a instalação da plataforma. O sistema de
fixação dos perfis na laje é tipicamente realizado por vergalhões ancorados à estrutura
recém concretada, que servem para fixar a plataforma na estrutura da edificação.
Entretanto, além do desperdício de tempo e ocupação do sistema de transporte
vertical no canteiro, a montagem das plataformas secundárias expõe os operários a
graves riscos de quedas, Figura 2.

Figura 2 – Montagem de plataformas secundárias.

3. Inovação Proposta
O modelo de solução inovadora proposto por Silva et al. (2007) consiste em
um sistema de plataforma com dois suportes metálicos de aço, espaçados em 1,40
m de largura, com 3 folhas de madeira compensada, apoiadas sobre os suportes e
fixadas conforme a Figura 3a. Os suportes metálicos são presos na laje por meio de
braçadeiras fixadas nesse mesmo local durante a fase de concretagem, Figura 3b.
No ponto de início da inclinação da estrutura metálica, existem argolas que têm a
função de prender os cabos de aço que serão presos nas braçadeiras localizadas na
laje superior.

Cap. 7 Inovação em Plataformas de Proteção | 151


a

Força de impacto aplicada

C ab
os d
Pon e aç
o PS
3
to
no s fixos 2
te t PS
o PA
3

C
c o m ha p a
2
PA

p e de
PS1 ns a ão
do l i c aç
p
e a as
Laje
1 a s d fo r ç
PA h
L in d e

Figura 3 – Estrutura Fixada na Laje Inferior e Superior: a) esquema; b) imagem.

O objetivo das plataformas de proteção não é aparar a queda de operários,


mas como é algo que eventualmente pode ocorrer, é necessário prever esse tipo de
acidente no projeto da plataforma. Na avaliação de comportamento estrutural, foi
considerado a queda de massa igual a 110 Kg e a uma altura de 0,7 m em relação à
plataforma fixada.
As peças da estrutura são todas projetadas para serem montadas visando
à redução de perdas no corte da chapa de compensado, que servirá de base para
a superfície inclinada, pois a “sobra” será reutilizada no preenchimento da lacuna
deixada pelas duas placas de compensado fixadas mediante encaixe.

152 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Após a montagem da estrutura da plataforma e fixação das chapas de
compensado, as pontas dos dois cabos de aço são presas nos ferros fixados durante a
concretagem da laje. Feito isso, são presos os cabos na seção de início da inclinação
do suporte, para posterior içamento por guindaste ou por operários, pela laje superior
até que se tenham condições de encaixa-la nas braçadeiras fixadas no momento da
concretagem da laje.
Dessa forma, o sistema modular de plataforma de proteção estará fixado, com a
vantagem de não necessitar ser desmontado para ser transferido para a laje superior.
É necessário apenas afrouxar a fixação dos cabos de aço da laje superior e prender na
posterior e repetir todo o processo de encaixe na próxima laje.
Esse tipo de plataforma torna-se bastante dinâmica, na medida em que só
precisa ser montada uma única vez, e o seu conjunto modular é de fácil armazenagem.
A proposta de inovação resulta também num sistema mais leve, possível
pela substituição de tábuas de madeira com espessuras entre 20 mm e 25 mm por
compensados com espessura de 10mm, assim como pela adoção de perfis metálicos
leves. Na Figura 4, apresenta-se o momento de içamento do módulo para uma nova
posição na construção, utilizando uma minigrua. A substituição do trabalho manual de
desmontagem, transporte e remontagem das plataformas, envolvendo uma equipe
de carpinteiros, por operações mais simples e conjunto de elementos solidarizados,
potencialmente reduz a quantidade de horas de trabalho envolvida na operação de
movimentação das plataformas secundárias.

Figura 4 – Içamento do módulo da plataforma.

O suporte utilizado consiste em um sistema em perfis metálicos em “I” e ripas


de madeira com as dimensões indicadas na Figura 5. O suporte é montado ainda sobre

Cap. 7 Inovação em Plataformas de Proteção | 153


a laje e são encaixadas as chapas de madeira compensada, conforme ilustra a Figura 5.
Depois de fixados os cabos de aço, o sistema já está pronto.
Na Figura 5, é apresentado o esquema utilizado para a análise estrutural, sem
as chapas de compensado, o que facilita identificar os tipos de elementos usados e as
dimensões dos perfis.

Cabos de aço
fixados na laje

Seção das barras


Seção das barras
em perfil “l”
em perfil
retangular

Figura 5 – Estrutura da plataforma sem as chapas de compensado.

Este protótipo foi modelado no ambiente gráfico do ANSYS, programa de


engenharia que permite fazer simulações de modelos numéricos com todas as
propriedades e solicitações de cargas a que uma estrutura é submetida. Para a análise
numérica, é utilizado o Método dos Elementos Finitos. Estudos sobre modelagens
numéricas utilizando o Método dos Elementos Finitos e Contato Mecânico podem ser
vistos em detalhes em Bandeira et al. (2001), Bandeira et al. (2006), Bathe (1996),
Bertsekas (1995) e Curnier (1984).
Os efeitos de impacto sobre a plataforma foram avaliados considerando
o coeficiente de impacto calculado em 15, resultando numa carga equivalente
de 32800 N/m². Foram utilizados critérios de resistência para atender as tensões
admissíveis dos materiais. Foi aplicada a relação bilinear, simulando um modelo
elástico com plasticidade perfeita.

154 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


O Quadro 1 apresenta os dados dos componentes do protótipo por plataformas
modular de largura 2,20 × 3,00 m.

Quadro 1 – Quan�ta�vo de componentes.

Quan�dade Componentes do Protó�po


7,60 m Barra de perfil em “I”
17,60 m Barrote retangular de seção 0,05 × 0,02 m
3 unidades Chapa resinada cola branca 2,20 × 1,10 metros, 10 mm de espessura
20,00 m Cabo de Aço com ø = 6,40 mm, ≈ ¼” (ref. 18 × 7)

Os resultados da análise estão apresentados na forma de deslocamentos


verticais ampliados em 15 vezes (Figura 6). Observa-se que, na posição em que ocorre
o choque do corpo humano, há um deslocamento vertical de aproximadamente 4,1
cm. Próximo à borda da plataforma, ocorre um deslocamento estimada de 1,3 cm. A
plataforma inclinada, no momento do impacto, tende a fechar, ou seja, aumenta seu
ângulo de inclinação.

Figura 6 – Deslocamento ver�cal da plataforma de proteção.

Cap. 7 Inovação em Plataformas de Proteção | 155


Na Figura 7, estão apresentados os resultados de tensões principais máximas.
Observa-se que a maior tensão atuante na placa de madeira é de aproximadamente
26.8 MPa.

Figura 7 – Tensões principais nas chapas da plataforma de proteção.

4. Análise Funcional e Estrutural da


Inovação Proposta
A solução modular das plataformas permite maior eficiência dos trabalhos de
montagem, desmontagem e transporte nos canteiros por reduzir a quantidade de
componentes.
A solução mais leve e mais flexível demanda análise de comportamento
estrutural mais apurado. Neste trabalho, demonstra-se que a estrutura proposta
apresenta comportamento mecânico para cargas estáticas ou quase-estática adequado.
O comportamento sob cargas dinâmicas também se mostra adequado. Além disso, os
resultados indicam que o sistema aqui discutido apresenta grande deformabilidade e
absorve grandes quantidades de energia, reduzindo danos aos acidentados.

156 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Entretanto, a geometria diferenciada não é prevista nas normas utilizadas como
referência para as ações fiscalizadoras do MTE. O risco gerencial na adoção de medidas
inovadora é a aceitação não uniformizada entre os agentes de fiscalização.

5. Considerações Finais
A construção civil continua sendo um desafio aos profissionais envolvidos
com a segurança do trabalho, sendo a NR 18 – Condições e meio ambiente de trabalho
na indústria da construção, a principal referência para orientação das medidas de
segurança do trabalho. Tal norma indica as proteções coletivas como as medidas
primárias de proteção que devem ser priorizadas, assim como as quedas de pessoas e
objetos são apontas como importantes causas de óbitos. As plataformas de periferia
são apresentadas como medida contra quedas de objetos.
A comparação entre as soluções usuais observadas em canteiros e solução
modular das plataformas avaliadas permite observar que nos trabalhos de montagem,
desmontagem e transporte a proposta modular, examinada neste estudo, reduz a
quantidade de material empregado, volume de madeiras e derivados e massa de aço,
abrindo a possibilidade de redução de custo nos canteiros por diminuir a quantidade de
componentes. Tanto a redução da massa de materiais como a disponibilidade modular
permite o transporte em blocos modulares, viabilizando a mecanização do transporte.
A estrutura da solução modular apresenta comportamento mecânico para
cargas estáticas ou quase-estática adequado, o comportamento sob cargas dinâmicas
também se mostra apropriado. A solução modular é um sistema estrutural de grande
deformabilidade e absorve grandes quantidades de energia.
A pesquisa de novas soluções e novos produtos destinados à proteção coletiva
na construção permite o desenvolvimento de soluções inovadoras que podem se
consolidar como mais eficientes, contribuindo para redução de custos e facilidade de
implantação das proteções coletivas em canteiros.

Referências
BANDEIRA, A.A.; WRIGGERS, P.; PIMENTA, P.D.M. Homogeniza�on Methods Leading to
Interface Laws of Contact Mechanics – A Finite Element Approach for Large 3D Deforma�on
using Augmented Lagrangian Method. London, England, s.n. 2001.
BANDEIRA, A.A.; PIMENTA, P.D.M.; WRIGGERS, P. A 3D study of the contact interface
behavior using elas�c-plas�c cons�tu�ve equa�ons. Lecture Notes In Applied And
Computa�onal Mechanics, v. 27, pp. 313-324. 2006.
BATHE, K.-J. Finite Element Procedures. First ed. New Jersey: Pren�ce-Hall, Englewood
Cliffs. 1996.

Cap. 7 Inovação em Plataformas de Proteção | 157


BERTSEKAS, D.P. Nonlinear programming. Belmont: Athena Scien�fic. 1995.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora 18 (NR-18): Condições
e meio ambiente de trabalho na indústria da construção. 2013. Disponível em: h�p://
portal.mte.gov.br/legislacao/norma-regulamentadora-n-18-1.htm. Acesso em: set. 2013.
CURNIER, A. A Theory of Fric�on. Interna�onal Journal for Solids Structures, pp. 637-647.
1984.
DIESAT. Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de
Trabalho. Anuário Esta�s�co de Acidentes do Trabalho. São Paulo, 2009. Disponível em
h�p://diesat.org.br/arquivos/anuario_2009.pdf. Acesso em: set. 2013.
SILVA, R.C.; CÂMARA, G.A.B.; NASCIMENTO, L.M.B.; OLIVEIRA, V.M.B.; ROCHA, J.A.L.;
FERREIRA, E.A.M.; CARVALHO, R.F. Plataforma de proteção contra queda de material na
construção civil. Patente: Modelo de U�lidade. Número do registro: MU87020 INPI. Brasil,
2007.

158 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


8
http://dx.doi.org/10.26626/978-85-5953-027-8.2017C0008.p.159-180

Diretrizes para o uso de Veículo


Aéreo não Tripulado (VANT)
Para Inspeção de Segurança
em Canteiros de Obra

Roseneia Rodrigues Santos de Melo


Dayana Bastos Costa
Juliana Sampaio Álvares

1. Introdução
A indústria da construção civil ainda enfrenta dificuldades quanto à gestão da
segurança nos canteiros de obras, cuja ineficiência está diretamente relacionada à
ocorrência de acidentes. Embora a inspeção seja um elemento importante do sistema
de gestão de segurança, responsável pela detecção e correção dos riscos (WOODCOCK,
2014), ainda se observam deficiências quanto a este processo, tais como a ausência
de procedimento estruturado para conduzir a inspeção (LIN et al., 2014), supervisão
insuficiente e a dificuldade em visualizar as condições de trabalho (SHRESTHA et al.,
2011).
Para Irizarry et al. (2012), o processo de inspeção de segurança na construção
civil deve possuir três características principais: frequência, observação direta e
interação direta com os funcionários. Para isso, devem ser estabelecidas rotinas de
inspeção consistentes, baseando-se em critérios e requisitos de segurança estipulados
por normas e regulamentações. Entretanto, o tamanho do canteiro e a quantidade de

159
atividades a serem observadas influenciam no tempo gasto para a avaliação de suas
condições (CAMBRAIA et al., 2010; IRIZARRY et al., 2012).
Além disso, determinados estudos (KIM et al., 2008; PARK et al., 2013) e a prática
mostram que os processos de monitoramento e inspeção gerencial apresentam uma
série de problemas, que acabam por reduzir a eficiência e eficácia destas avaliações.
Segundo os autores citados, tais problemas estão associados a: (a) insuficiência de
pessoal para análise dos requisitos de segurança e a alta demanda de preenchimento
manual de dados; (b) excesso de trabalho na coleta de dados, devido ao grande
número de requisitos a serem avaliados; (c) falta de padronização dos checklists de
avaliação, bem como dos meios de processamento e análise dos dados; (d) perdas de
informação entre coleta e processamento de dados; (e) pouca comunicação entre os
intervenientes do projeto; (f) dificuldade de agir em tempo real para corrigir problemas
e de realizar ações preventivas.
Em vista disso, e com o surgimento de novas tecnologias, muitos pesquisadores
têm buscado conhecer o potencial delas para a melhoria dos processos gerenciais de
construção. Estudos recentes aplicados a domínios da engenharia civil apontam que
os Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs), com câmeras digitais acopladas, podem
fornecer informações visuais em alta resolução, contribuindo com o monitoramento
em tempo real (THEMISTOCLEOUS et al., 2014).
O VANT, conhecido, em inglês, como Unmanned Aerial Vehicles/Systems (UAV/
UAS), é definido como toda aeronave projetada para operar sem piloto a bordo
(IRIZARRY et al., 2012). Inicialmente desenvolvido para fins militares, o VANT tem sido
empregado em diferentes domínios da engenharia nos últimos anos. Na engenharia
civil, destacam-se aplicações para inspeção de rodovias (ZHANG, 2008); inspeção
de danos e rachaduras (ESCHMANN et al., 2012); monitoramento de patologias em
fachada (EMELIANOV et al., 2014); e inspeção de pontes (METNI; HAMEL, 2007).
Além de tais aplicações, estudos realizados por Irizarry et al. (2012) e Irizarry
e Costa (2016) têm explorado o potencial dessa tecnologia como uma ferramenta
para auxiliar na gestão da segurança dentro dos canteiros de obras. Para Kim e Irizarry
(2015), o VANT pode contribuir na redução do tempo gasto para realizar tarefas
de monitoramento, na melhoria do desempenho geral do projeto e na agilidade
do processo de reação aos potenciais riscos. Tal potencialidade está diretamente
relacionada ao baixo custo, à alta mobilidade, à velocidade e à segurança oferecida
pela ferramenta durante o procedimento de aquisição de dados (imagens e vídeos).
Além disso, o VANT pode diminuir os custos operacionais envolvidos no processo de
inspeção e ser utilizado em situações em que uma inspeção tripulada não seja possível.
(MORGENTHAL; HALLERMANN, 2014).
Embora haja grandes expectativas quanto ao impacto econômico do crescimento
da indústria de tecnologia VANT no Brasil e no mundo, a falta de regulamentação para

160 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


o uso comercial da aeronave é um dos grandes entraves para a sua disseminação. No
Brasil, as atividades de aviação comercial são reguladas e monitoradas pela Agência
Nacional de Aviação Civil (ANAC). Segundo a proposta de regulamentação da ANAC
(2015), os critérios exigidos para a operação legal do VANT variam de acordo com a
classificação das aeronaves, baseada em seu Peso Máximo de Decolagem (PMD), nos
tipos de operação e de acordo com os critérios visuais.
Apesar das recentes aplicações da tecnologia VANT para a gestão de obras,
ainda se desconhece qual o seu impacto no processo de inspeção da segurança. Este
capítulo visa avaliar a aplicabilidade do Veículo Aéreo Não Tripulado para inspeção
de segurança em canteiros de obra. Para tal, foram desenvolvidos estudos de caso
com a realização de voos experimentais e elaboração de protocolo para sistematizar o
processo de inspeção.

2. Método de Pesquisa
A pesquisa foi dividida nas seguintes etapas: (a) revisão da literatura; (b)
adaptação de protocolos de pesquisa e escolha da tecnologia VANT; (c) estudos de caso
e (d) avaliação da aplicabilidade do VANT para inspeção de segurança e análise prévia
da não conformidade dos requisitos de segurança dos elementos inspecionados.
Foram adaptados para o contexto brasileiro os protocolos para uso de VANT em
monitoramento de obras, com ênfase em inspeção de segurança, desenvolvidos nos
estudos de Irizarry et al. (2015), conforme a seguir:
• Formulário de Planejamento: informações gerais da obra e planejamento do
voo;
• Checklist para Missão VANT: checklist de procedimentos para realização dos
voos em condições de segurança e cadastro de informações operacionais;
• Checklist de Segurança segundo o �po de captura: checklist adaptado às normas
NR 18 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção e
NR 35 – Trabalho em Altura. Inicialmente, foram selecionados os itens rela�vos
às normas que necessitam de verificação visual e estão situados na área externa
das construções. Esses itens foram divididos em categorias de acordo com o �po
de captura, quais sejam: (1) Overview - visão geral do canteiro, com ênfase em
limpeza e organização de canteiro, instalações temporárias e gestão de resíduos;
(2) Medium View - requisitos de segurança que envolvem Equipamentos de
Proteção Cole�va (EPC) e Equipamentos de Proteção Individual (EPI); (3) Close
Up View - avalia os requisitos de segurança por serviço, tais como cobertura,
concretagem e alvenaria, operação de equipamentos e fachada. No total, o
checklist contemplou 45 itens.

Cap. 8 Diretrizes para o uso de Veículo Aéreo não Tripulado (VANT)... | 161
Além disso, foi desenvolvida uma versão do Checklist de Segurança para coleta
em campo, no qual se apresenta o resumo dos itens de segurança a serem avaliados
(total de 24 itens), usado para orientar o piloto e observá-lo durante a coleta de dados
com o VANT.
O equipamento selecionado para realização do estudo foi um DJI Phantom 3
Advanced (Figura 1), com câmera Sony EXMOR ½.3” acoplada, que possui resolução
de 12,76 megapixels, tamanho de imagem de 4000x3000, gerando fotos nos formatos
JPEG e DNG e vídeos em MP4. Tal escolha justifica-se pelo fato desse modelo de VANT
ser uma tecnologia acessível e comercial, facilitando sua adoção por construtoras e
empresas de consultoria. Além disso, utilizou-se um conjunto de 3 baterias visando
garantir a autonomia de voo necessária.

Figura 1 - DJI Phantom 3 Advanced. Fonte: Projeto de Pesquisa GETEC/UFBA.

O estudo foi realizado em duas obras residenciais, cujas características estão


apresentadas na Tabela 1.

162 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Tabela 1 - Caracterís�cas dos Estudos de Caso.

Projeto Descrição Foco do processo de


inspeção da segurança
Empreendimento Minha Montagem e
Estudo A Casa Minha Vida desmontagem de
Área Total: 1 plataforma externa
50.000 m² Montagem e
desmontagem de
Área Construída:
pla�banda
91.000 m²
Processo de
Total de 1880 unidades
concretagem
Prazo de Construção:
Execução de telhado
24 meses
Quant. Trabalhadores:
600
Orçamento:
R$ 126 milhões
Estudo B Torre Residencial Processo de Fachada
Área Total: Equipamento de
2.500m² Proteção Cole�va e
Proteção Individual
Área Construída:
151.578m²
Total de 104 unidades
Prazo de Construção:
26 meses
Quant. Trabalhadores:
220

O processo de monitoramento e inspeção de segurança com o uso do VANT foi


estruturado em quatro etapas: (1) planejamento; (2) coleta de dados com VANT; (3)
processamento; e (4) análise de dados, conforme apresentado na Figura 2.
No total, foram realizados 26 voos com duração média de 9 minutos cada. Os
dados coletados foram organizados em banco de dados. Para todos os voos, pelo
menos três membros da equipe de pesquisa foram envolvidos: o piloto, o primeiro
observador, que auxiliou o piloto na coleta de dados de inspeção de segurança, e o
segundo observador, que se concentrou nos requisitos relativos à segurança do voo.
Após os voos, em cada visita realizada, foram feitas reuniões de feedback com a equipe
do projeto, para a avaliação imediata das não conformidades observadas. A Tabela 2
apresenta um resumo dos dados coletados.

Cap. 8 Diretrizes para o uso de Veículo Aéreo não Tripulado (VANT)... | 163
Coleta de
dados Processamento Análise dos dados

Checklist Planilha de
Planejamento Análise de Reação –
para missão Registro de voo feedback imediato
VANT (Flight Log) com gestores da
obra
Formulário de
Reunião de Checklist de Seleção de
Planejamento Segurança conjuntos
Análise do Potencial
segundo o a�vos
de Visualização dos
�po de
itens de segurança
captura –
Definição das
para campo
premissas do Checklist de
estudo Segurança
Geração de
segundo o �po
Relatório –
Coleta dos de captura –
Proposição de
a�vos visuais versão
Melhorias
(fotos e completa
vídeos)

Figura 2 - Protocolo de inspeção de segurança com VANT.

Tabela 2 - A�vos visuais (fotos e vídeos) coletados durante os voos.

Projeto Período de Nº de Nº de Duração Distância Al�tude Tempo


visitas voos fotos dos máxima máxima duração dos
vídeos (h) (m) (m) voos (h)
A Outubro/15 a 14 579 00:39:02 734,0 120,0 02:07:43
Março/16
B Novembro/15 a 11 835 00:14:34 173,5 60,0 01:15:43
Março/16

Os dados foram processados com base no Checklist de Segurança por tipos de


captura - versão completa (45 itens). No total, foram realizadas 8 inspeções, sendo 4
para o Projeto A e 4 para o Projeto B. Cada inspeção correspondeu a um dia de visita
ao canteiro, com uma média de 3 voos por visita.
Para ambos os estudos, foram realizadas duas análises distintas. A primeira buscou
avaliar a utilidade do VANT para o processo de inspeção, na qual foi verificado se era
possível visualizar os itens de segurança por meio das fotos e vídeos. Com base nos itens

164 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


vistos, a segunda análise consistiu na verificação da conformidade dos itens de segurança,
baseando-se nos requisitos apontados pelas NR 18 – Condições e meio ambiente de trabalho
na indústria da construção (BRASIL, 2015) e NR 35 – Trabalho em altura (BRASIL, 2014).

3. Resultados e Discussão
Esta seção apresenta os resultados relativos à aplicabilidade do VANT para
inspeção de segurança e à análise da não conformidade dos requisitos de segurança.

3.1 Aplicabilidade
Dos 45 itens que compõem o Checklist de Segurança, em média, foram avaliados
34 itens para a Obra A e 36 itens para a Obra B. Os demais itens que compõem o
Checklist não foram avaliados, pois não se aplicavam ao contexto da obra. De acordo
com os dados obtidos por meio da análise dos ativos visuais coletados em canteiro com
o VANT, 87% e 60% dos itens de segurança avaliados foram visualizados nos Estudos A
e B, respectivamente, conforme apresenta a Figura 3.

Estudo de caso - Obra A Estudo de caso - Obra B

0% 3%
8%
5% 16%

87% 60%
21%

Visualizado
N1 - inspeção incompleta
N2 - limitação da tecnologia
N3 - imagem sem detalhamento

Figura 3 - Análise do Potencial de Visualização baseado no Checklist de Segurança.

No Estudo A, 5% dos itens de inspeção de segurança não foram visualizados


por motivos diretamente associados a falhas no procedimento de inspeção. Alguns

Cap. 8 Diretrizes para o uso de Veículo Aéreo não Tripulado (VANT)... | 165
destes itens, por alguma razão, não foram registrados nos ativos coletados em
canteiro (N1 - inspeção incompleta). Destacando-se itens relacionados à montagem e
desmontagem das formas, ao içamento de cargas e à sinalização e isolamento da área
de movimentação de cargas. Essas falhas ocorreram devido à extensão do canteiro
(150.000m²) e à grande quantidade de tarefas desenvolvidas simultaneamente.
Além disso, os outros 8% dos itens não visualizados ocorreram por conta de ativos
coletados que não forneciam informações suficientes para a inspeção, incluindo itens
como as rampas, escadas e passarelas protegidas com guarda-corpo (N3 - imagem
sem detalhamento suficiente). Esses dois resultados indicam a necessidade de maior
precisão na inspeção com o VANT, no que tange a um treinamento mais eficaz para
piloto e observadores.
No Estudo B, devido ao caráter vertical do edifício e por possuir um canteiro
restrito em termos de área livre, 16% dos itens do Checklist de Segurança não foram
visualizados devido à limitação da tecnologia, tais como rampas, escadas e passarelas
protegidas com guarda-corpo e itens relativos a serviços na cobertura. Além disso,
21% dos itens não visualizados foram provenientes de falhas no processo de inspeção.
Entre eles, destacam-se principalmente trabalhadores protegidos de queda (guarda-
corpo e linha de vida), trabalhadores usando EPI, balancim, e remoção de resíduos
por calhas. Em relação às barreiras que dificultaram o processo de inspeção na Obra
B, ressalta-se a existência de telas de proteção ao longo da fachada, a altura limitada
de voo de até 60m para a área urbana, imposta por regulamentação de operação do
VANT, impossibilitando a inspeção do topo do edifício de altura de 80m, o canteiro
restrito, bem como ventos fortes no local, que limitaram a utilização do VANT por
razões de segurança.
A Figura 4 apresenta os resultados da aplicabilidade segundo o tipo de captura.
Segundo a Figura 4, para a captura em Overview, foram visualizados 95%
(Estudo A) e 88% (Estudo B) dos itens do Checklist de Segurança, relativos à
organização e limpeza, instalações provisórias e gestão de resíduos. Tais resultados
indicam a possibilidade de visualização das condições de trabalho sob uma perspectiva
global, capaz de fornecer informações para a tomada de decisão. Para a captura em
Medium View, que tem como objetivo principal visualizar as proteções coletivas, houve
dificuldade na aquisição de dados da Obra B, devido à existência de barreiras físicas e a
condições climáticas desfavoráveis, impactando no percentual de visualização.
As capturas em Close Up, assim como no Medium View, em alguns casos
tiveram seus resultados influenciados por barreiras físicas, limitação de altitude de
voo, inexperiência do piloto e observadores, entre outros. Dessa forma, o Estudo B
apresentou potencial de visualização de apenas 56% em Close Up View, em função
da presença de tais fatores citados. Contudo, no Estudo A, 81% dos itens foram
visualizados para o mesmo tipo de captura, por conta da menor interferência
observada na aquisição de dados com o VANT. Apesar da identificação de algumas

166 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


barreiras, os resultados foram eficazes na identificação de atos e condições inseguras
para os serviços inspecionados, fornecendo feedback quase imediato para gestores e
responsáveis pelas condições gerais de segurança do canteiro.

% de itens visualizados por �po de captura

81
Close Up
56

Medium 94
59

Overview 95
88

0 20 40 60 80 100
%

Estudo A Estudo B

Figura 4 - Análise da aplicabilidade por �po de captura.

3.2 Análises das não Conformidades das


Condições de Segurança
Esta seção apresenta a análise da não conformidade dos itens de segurança
inspecionados por meio dos ativos coletados com VANT nos Estudos A e B. Além disso,
os resultados apresentam o status das condições de segurança no canteiro ao longo
das inspeções. Para a análise das não conformidades, foram considerados apenas os
itens visualizados (Figura 3), sendo 29 itens no Estudo A (que corresponde a 87% dos 34
itens avaliados) e 21 itens no Estudo B (que corresponde a 60% dos 36 itens avaliados).
A Tabela 3 mostra um panorama do controle das não conformidades observadas nas
inspeções, organizadas segundo o tipo de captura.

Tabela 3 - Análise geral do percentual de não conformidades.

% de não 1ª Inspeção 2ª Inspeção 3ª Inspeção 4ª Inspeção


conformidade
Obra A Obra B Obra A Obra B Obra A Obra B Obra A Obra B
17% 45% 14% 50% 12% 52% 19% 68%

Cap. 8 Diretrizes para o uso de Veículo Aéreo não Tripulado (VANT)... | 167
Observa-se que o grau de não conformidade dos itens de segurança avaliados
na Obra B é expressivamente superior aos da Obra A, de modo que se tornam
preocupantes as condições de segurança as quais os trabalhadores da Obra B são
submetidos. Além das diferenças quanto às características físicas e construtivas, as
obras diferem significativamente quanto ao sistema de gestão da segurança adotado.
A Obra A possui uma equipe formada por engenheiro de segurança, 3 técnicos e 5
estagiários de segurança, com alguns procedimentos de inspeção já padronizados,
como permissões de serviço diário para trabalho em altura e inspeção mensal
para proteções coletivas. A obra B, no entanto, possui apenas um técnico para o
desenvolvimento de todas as atividades relativas à gestão da segurança, sem nenhuma
padronização dos processos. Em vista disso, tais resultados apresentados na Tabela 3
evidenciam o impacto da estruturação da gestão da segurança e seus processos nas
condições de trabalho no canteiro de obra. As Tabelas 4 e 5 apresentam alguns itens
avaliados na análise de não conformidade, realizada para ambos os estudos.

Tabela 4 - Itens avaliados no Checklist de Segurança (Estudo A).

Item Critério de Segurança 1ª Visita 2ª Visita 3ª Visita 4ª Visita


1) Tipo de Captura # 1. Visualização geral (Overview)
1.5 As rotas internas deverão estar limpas e
desobstruídas    
1.11 Resíduos protegidos das intempéries
× × × ×
2) Tipo de Captura# 2.Visualização de Al�tudes Intermediárias (Medium altitude view)
2.1 Plataforma de proteção (bandejas)
instalada em toda a periferia isenta de
sobrecarga não prevista e com forração ×  × ×
do piso completa
2.2 Escadas de uso cole�vo, rampas e
passarelas são dotadas de corrimão e
rodapé
   
3) Tipo de Captura# 3. Visualização aproximada por �po de serviço (Close up view)
3.1) Cobertura
3.1.1 Os trabalhadores que se encontram na
cobertura estão usando EPI    
3.1.2 Os trabalhadores que se encontram na
cobertura estão protegidos contra queda
(cinto de segurança �po paraquedista × ×  ×
ligado a cabo-guia)
Legenda:
 Item
conforme × Item não
conforme

Não
visualizado

168 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Tabela 4 - Con�nuação.

Item Critério de Segurança 1ª Visita 2ª Visita 3ª Visita 4ª Visita


3.2) Concretagem e Alvenaria
3.2.4 As barras ou telas de aço estão
armazenadas em camadas    
3.2.7 Os trabalhadores expostos aos serviços
de forma, armação, concretagem ou
alvenaria estão u�lizando EPI
× ×  ×
3.3) Operação de Equipamentos
3.3.1 Sinalização e isolamento da área de
movimentação de carga e descarga –  × –
3.4) Fachada
3.4.7 A área de operação da PTA está
delimitada e sinalizada, de forma a
impedir a circulação de trabalhadores
  – 
Legenda:
 Item
conforme × Item não
conforme

Não
visualizado

Dentre as não conformidades identificadas durante as inspeções referentes à


Obra A, destacam-se irregularidades nas plataformas primárias, como forração do piso
irregular (Figura 5), trabalhadores desprotegidos contra queda (Figuras 6 e 7), além da
ausência de sinalização e isolamento para descarga de material (Figura 8).

Figura 5 - Plataforma primária com forração do piso irregular.

Cap. 8 Diretrizes para o uso de Veículo Aéreo não Tripulado (VANT)... | 169
Figura 6 - Trabalhador desprotegido contra queda (sem cinto trava-quedas fixado na
estrutura).

Figura 7 - Trabalhadores na cobertura desprotegidos contra queda (cinto não fixado a linha
de vida).

170 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Figura 8 - Ausência de sinalização e isolamento na área de movimentação de carga.

Tabela 5 - Itens avaliados no Checklist de Segurança (Estudo B).

Item Critério de segurança 1ª Visita 2ª Visita 3ª Visita 4ª Visita


1) Tipo de Captura # 1. Visualização geral (Overview)

1.5 As rotas internas deverão estar limpas e


desobstruídas × × × ×
1.6 Os materiais estão armazenados de
forma adequada × × × ×
2) Tipo de Captura# 2.Visualização de Al�tudes Intermediárias (Medium Altitude View)

2.1 Plataforma de proteção (bandejas)


instalada em toda a periferia isenta de
sobrecarga não prevista e com forração × × × ×
do piso completa
2.6 No ponto de descarga da calha para
remoção dos entulhos, existe disposi�vo
com fechamento
– × × –
Legenda:
 Item
conforme × Item
não conforme –
Não Visualizado

Cap. 8 Diretrizes para o uso de Veículo Aéreo não Tripulado (VANT)... | 171
Tabela 5 - Continuação.

Item Critério de segurança 1ª Visita 2ª Visita 3ª Visita 4ª Visita


3) Tipo de Captura# 3. Visualização aproximada por �po de serviço (Close up view)

3.2) Concretagem e Alvenaria

3.2.4 As barras ou telas de aço estão


armazenadas em camadas   × ×
3.2.8 Os trabalhadores expostos aos serviços
de forma, armação, concretagem ou
alvenaria externa estão protegidos contra  × – ×
queda
3.3) Operação de Equipamentos

3.3.1 Sinalização e isolamento da área de


movimentação de carga e descarga × × × –
3.3.2 Isolamento e delimitação das áreas de
carga e descarga de materiais e raio
de movimentação de gruas, guinchos, × × × ×
guindastes, etc.
3.4) Fachada

3.4.1 Os andaimes suspenso ou balancim


devem estar niveladas – ×  ×
3.4.3 Os trabalhadores que se encontram na
fachada estão usando EPI ×   ×
Legenda:
 Item
conforme × Item
não conforme –
Não Visualizado

Na Obra B, foi possível identificar não conformidades quanto à falta de


limpeza e organização do canteiro, também se observou a obstrução dos acessos
de equipamentos e pedestres (Figura 9), falhas na forração dos pisos das bandejas
primárias e secundárias (Figura 10) e acúmulo de materiais e sobrecarga sobre tais
locais (Figura 11), além de falhas nos guarda-corpos, comprometendo sua função de
proteção contra queda (Figura 12).
Em ambos os estudos, observou-se o uso irregular do EPI, principalmente para
as atividades realizadas em locais de menor visibilidade. Tal condição evidencia falhas
no processo de inspeção e monitoramento dos atos e condições inseguras por parte
da empresa responsável pela execução do serviço, comprovando assim a necessidade
de tecnologias que favoreçam a visualização das condições de trabalho.

172 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Figura 9 - Acúmulo de resíduos na área de acesso dos trabalhadores.

Figura 10 - Plataforma de proteção primária com forração do piso inadequado.

Cap. 8 Diretrizes para o uso de Veículo Aéreo não Tripulado (VANT)... | 173
Figura 11 - Plataforma de proteção com sobrecarga não prevista (balancim apoiado sobre
a plataforma).

Figura 12 - Guarda corpos com estrutura danificada.

4.3 Discussões
O desempenho do equipamento DJI Phantom 3 Advanced satisfez as
necessidades para a atividade de inspeção de segurança em termos de autonomia de
voo, de estabilidade do VANT, da confiabilidade do sistema e da facilidade de uso. No
total, 26 voos foram realizados sem maiores problemas que pudessem causar danos a
bens ou pessoas. Além disso, o uso do VANT para inspeção não provocou interferências

174 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


significativas nas atividades desenvolvidas no Canteiro A. Entretanto, no Canteiro B,
devido à restrição de espaço para voo, foi solicitada a paralisação da grua, a fim de
evitar choques com a aeronave e a ocorrência de acidentes. Em ambos os estudos,
antes do início de toda aquisição de dados com o VANT, optou-se pela comunicação via
rádio sobre a realização dos voos, para conscientizar os trabalhadores.
No geral, quanto ao potencial de visualização, a Obra A obteve um melhor
desempenho (87% dos itens foram visualizados) comparado à Obra B (60% dos itens
foram visualizados). Tal resultado está diretamente associado a um conjunto de fatores,
tais como:
• Condições �sicas do canteiro: a Obra A situava-se em região de baixa densidade
populacional (permissão de voo com al�tude máxima de 120m). Além disso, o
Canteiro A possuía área para pouso e decolagem com segurança, enquanto no
Canteiro B, os voos eram realizados a par�r de áreas externas a ele, mediante
autorização de terceiros;
• Barreiras �sicas: o canteiro da Obra A quase não dispunha de barreiras �sicas,
como postes, árvores, fiações elétricas, e outras edificações, já o Canteiro B
situava-se em centro urbano, rodeado por outras edificações;
• Fatores meteorológicos: não houve problemas devido a fortes ventos na Obra
A, apenas na B;
• Fatores tecnológicos: em ambos os estudos de caso, houve perda do enlace
de comando (perda de conexão) entre a estação de controle e a aeronave, no
entanto, tal fato não impactou a a�vidade de inspeção, visto que o disposi�vo
contra falhas presente na aeronave u�lizada (Return to home) funcionou
sa�sfatoriamente;
• Fator humano: para ambos os estudos verificou-se a necessidade de treinamento
quanto ao uso da tecnologia, além do conhecimento prévio sobre as questões
segurança do canteiro.
Embora se tenha observado uma menor quantidade de itens visualizados na
Obra B, ela destaca-se por um maior número de não conformidades identificadas.
Além disso, observou-se a necessidade de métodos de inspeção para atividades
críticas, como serviços em fachadas, visto a dificuldade de inspeção de tais itens na
Obra B por meio de métodos tradicionais.
Referente à análise de não conformidade, foi perceptível o impacto de um
sistema de gestão da saúde e segurança, no qual, apesar de diferenças observadas
quanto à estruturação de tais sistemas em cada uma das obras, constata-se ainda
falhas no processo de inspeção de ambas. A obra A, por possuir sistema de gestão
mais consolidado, obteve melhor resultado do que a obra B, que não possuía sistema
de gestão da segurança definido.

Cap. 8 Diretrizes para o uso de Veículo Aéreo não Tripulado (VANT)... | 175
A Tabela 6 apresenta o resumo dos fatores positivos e das barreiras relativos ao
uso da tecnologia VANT para inspeção de segurança em canteiros de obras.

Tabela 6 - Fatores posi�vos e barreiras quanto ao uso do VANT para inspeção.

Aspectos Bene�cios Barreiras


Procedimentos e • Iden�ficação dos pontos de • Barreiras �sicas (edi�cios,
tecnologia VANT – interesse rela�vos à segurança. postes, árvores, fiações
Planejamento da elétricas, entre outros);
Missão • Condições climá�cas (chuva e
ventos fortes).
Procedimentos • Redução do tempo de inspeção • Requisitos das regulamentações
e tecnologia devido à flexibilidade no (ex. limite de al�tude);
VANT – Coleta e monitoramento mútuo de • Treinamento de operação do
processamento de diferentes a�vidades; VANT para piloto e observador;
dados • Simplificação das etapas • Conhecimento prévio de
de inspeção por meio da segurança para o piloto e
eliminação do excesso de coleta observador;
manual (redução de pessoal); • Grande base de dados de a�vos
• Tecnologia de fácil uso; visuais;
• Redução da variabilidade com a • Visualização de áreas internas
padronização dos dados. limitada.
Procedimentos e • Aumento da transparência das • Análise manual dos a�vos
tecnologia VANT – condições inseguras; visuais;
Análise de dados • Informações detalhadas sobre • Necessidade de melhorar
e proposição de condições inseguras e seguras; o tempo de resposta aos
melhorias • Registro das não conformidades trabalhadores, visando
de segurança e das boas feedback em tempo real
prá�cas, permi�ndo a análise (interação direta entre VANT e
de diferentes perspec�vas; trabalhadores);
• U�lização de indicadores e • Necessidade de fornecer
informações para tomada de informações em tempo real
decisão; para segurança (interação
• U�lização dos a�vos visuais e direta entre o VANT e equipe de
dos resultados de inspeção para segurança).
a educação de segurança.
Sistema de • Viabilidade de custo-bene�cio • Integração do VANT ao sistema
Segurança e Pessoas do VANT (tecnologia de de gestão de saúde e segurança
baixo custo de aquisição e da obra;
manutenção); • Resistência à adoção de novas
• Potencial de melhoria do tecnologias pela construção
comportamento do trabalhador civil;
em relação à segurança. • Sistema mal estruturado
de gestão da segurança em
canteiro de obras.

176 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Dentre as principais recomendações para o uso do VANT para inspeção de
segurança em canteiros, podem ser destacadas:
• Planejamento:
◦ Analisar os critérios de segurança para voo, estabelecidos pelas agências
reguladoras de aviação no país;
◦ Conhecer os elementos principais sob a perspec�va de segurança do
canteiro e os riscos associados a cada serviço;
◦ Realizar campanha com os trabalhadores em relação ao uso de VANT para
inspeção de segurança;
◦ Definir os processos crí�cos possíveis de serem monitorados com o VANT
sob a perspec�va de segurança;
◦ Analisar previamente as possíveis interferências �sicas aos voos, tais como
gruas, árvores, postes, entre outros;
◦ Definir a sequência dos pontos a serem monitorados;
◦ Atribuir responsabilidades quanto às etapas do protocolo de inspeção;
◦ Garan�r treinamento do piloto e observador quanto ao uso do VANT e
quanto aos itens e critérios de segurança que serão inspecionados;
◦ Definir indicadores para avaliar a eficácia do processo de inspeção.
• Coleta e processamento de dados:
◦ Padronizar o processo de coleta de dados (Checklist de Missão e Checklist
de Segurança) com o obje�vo de simplificar o processo, eliminar a coleta de
informações redundantes e reduzir o tempo de inspeção;
◦ Estabelecer a periodicidade da inspeção conforme a necessidade de
monitoramento dos processos, pois a inspeção com VANT tem caráter
pontual, ou seja, registra as irregularidades para um determinado momento;
◦ Realizar o processamento dos dados logo após os voos, para possibilitar a
análise imediata.
• Análise de dados e proposição de melhorias:
◦ Promover a análise aprofundada a par�r dos a�vos visuais coletados,
visto que os mesmos possibilitam a reanálise por diferentes perspec�vas,
viabilizando a proposição de medidas preven�vas;
◦ Promover encontros periódicos com os colaboradores e equipe gerencial
para apresentação e discussão dos resultados ob�dos, visando aumentar a
eficácia no atendimento das metas estabelecidas;

Cap. 8 Diretrizes para o uso de Veículo Aéreo não Tripulado (VANT)... | 177
◦ Desenvolver clima e cultura de segurança com ênfase na observação das
não conformidades, baseado em registros visuais, a fim de contribuir com a
mudança de postura dos colaboradores;
◦ Usar os a�vos visuais para treinamento dos colaboradores rela�vos a atos
e condições inseguras, baseado em exemplos da realidade vivenciada pelos
próprios trabalhadores.

4. Conclusões
Este estudo teve por objetivo avaliar a aplicabilidade da tecnologia VANT para
inspeção de segurança em canteiros de obra, focando na capacidade de identificação
de não conformidades que podem fornecer condições inseguras ao trabalhador. Os
resultados encontrados apontam que o VANT permite uma melhor visualização das
condições de trabalho, principalmente em locais com limitações de acesso (fachadas,
coberturas e telhados).
Umas das contribuições deste estudo é o desenvolvimento de um conjunto
de procedimentos para inspeção de segurança em canteiros de obra com VANT
(protocolo de inspeção apresentado na Figura 2). Para tal, foram adaptados formulários
desenvolvidos por Irizarry, Costa e Kim (2015), tais como: Formulário de Planejamento
e Checklist de Missão. O Checklist de Segurança por tipo de captura foi adaptado às
normas de segurança brasileiras (NR 18 – Condições e meio ambiente de trabalho na
indústria da construção e NR 35 – Trabalho em altura). Para a análise dos dados, foi
desenvolvida uma base de dados, além de métricas relacionadas com a visualização e
não conformidade dos itens de segurança.
Além disso, os tipos de captura apresentam uma maneira inovadora para
inspecionar itens de segurança, fornecendo informações em diferentes perspectivas.
O Overview fornece informações gerais sobre a organização e limpeza do canteiro, o
Medium View e o Close Up fornecem informações mais específicas sobre os itens de
segurança relacionados a equipamentos de proteção coletiva e individual, além de
possibilitar a inspeção de atividades específicas, como serviços em telhado.
Ainda há uma lacuna sobre como integrar de maneira efetiva a tecnologia
VANT no processo de inspeção de segurança dos canteiros. Há uma expectativa de
que o VANT possa impactar na melhor utilização dos recursos disponíveis para as
inspeções. No entanto, novos estudos são necessários para avaliar o impacto do VANT
no processo de inspeção de segurança de forma sistemática, com foco no feedback
rápido, permitindo ações corretivas imediatas, reduzindo o tempo e simplificando o
processo de inspeção de segurança.

178 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Referências
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180 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


9
http://dx.doi.org/10.26626/978-85-5953-027-8.2017C0009.p.181-196

Aplicação do Instrumento
de Análise Ergonômica - MET
na Construção Civil

Laísa Cristina Carvalho


Glauco Fabrício Bianchini
José Carlos Paliari

1. Introdução
O setor da construção civil, por sua natureza, requer de seus trabalhadores
grande esforço físico para execução da maioria de suas atividades. Além disso, o
canteiro de obras pode ser um local inóspito, associado à fadiga física, ao estresse e
outros fatores gerados por grande quantidade de trabalhos manuais e pressões por
produtividade (SAAD, 2008).
Tais características contribuem para um número significativo de distúrbios
musculoesqueléticos relacionados ao trabalho, que poderiam ser evitados com
mudanças nos materiais, equipamentos ou organização do trabalho.
A ergonomia aparece, nesse contexto, como alternativa para melhorar as
condições de trabalho por meio da adaptação das práticas laborais ao homem.
Busca ainda produzir conhecimentos sobre a atividade de trabalho, a fim de alcançar
a segurança, a satisfação e o bem-estar dos trabalhadores, propondo o tratamento
adequado, evitando prejuízos para empresas e colaboradores, em função de
afastamentos, absenteísmos e incapacidades de trabalho (IIDA, 2005). Segundo a
Associação Internacional de Ergonomia (IEA, 2000), ergonomia é a disciplina científica
pertinente à compreensão das interações entre os seres humanos e os demais

181
elementos do sistema, bem como a aplicação de métodos, dados e teorias para
aprimorar o bem-estar das pessoas e o desempenho global do sistema.
Nesse processo, a utilização dos instrumentos de análise ergonômica é de suma
importância, pois permite a identificação das condições de trabalho que podem levar
o trabalhador a sofrer lesões musculoesqueléticas. Por meio desses instrumentos, é
possível diagnosticar as situações que mais prejudicam a saúde do operário (SHIDA;
BENTO, 2012).
Ressalta-se que questões relacionadas à ergonomia e à segurança do trabalhador
não devem ser apenas uma obrigação legal. Cabe ao empregador cumprir a legislação
vigente, proporcionando condições adequadas de trabalho, as quais resultarão na
satisfação do trabalhador, com reflexos na melhoria do desempenho, redução de
absenteísmo e, consequentemente, o aumento da produtividade.
Nesse sentido, este capítulo tem o objetivo de apresentar os procedimentos
para aplicar o Instrumento de Análise Ergonômica - MET (Estimativa do Equivalente
Metabólico) na Construção Civil, tendo como exemplo o serviço de armação,
especificamente no que diz respeito ao recebimento do aço no canteiro de obras.
Inicialmente, é feita uma descrição do conceito de Análise Ergonômica do
Trabalho (AET), na qual o instrumento em foco se insere. Em seguida, é feita uma
explanação sobre o instrumento de análise ergonômica - MET, no que diz respeito ao
conceito, procedimentos para utilização e exemplo de aplicação na construção civil.
O presente capítulo se encerra com as considerações finais, nas quais se enfatiza a
viabilidade e necessidade de ampliar estudos dessa natureza na construção civil.

2. AET – Análise Ergonômica do Trabalho


A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) tem como objetivo o conhecimento
da situação de trabalho por meio de um processo construtivo e participativo, exigindo
conhecimento das tarefas e dificuldades enfrentadas para atingir o desempenho e a
produtividade exigida (GUÉRIN et al., 2001).
Daniellou e Béguin (2007) pressupõem que a AET busca os meios de identificar
a rede de exigências e constrangimentos na qual se insere a organização e os aspectos
que norteiam as decisões sobre o problema a ser tratado no posto de trabalho. O
percurso metodológico é desenvolvido a partir do modelo proposto por Guérin et al.
(2001), cuja lógica permite que, conforme as informações e evidências vão se
reconstruindo e se edificando, elas sejam aprendidas pelo pesquisador.
A AET é uma intervenção no ambiente de trabalho para o estudo dos problemas
causados pela tarefa, decorrentes da atividade humana no meio produtivo, a fim de
compreender a situação de trabalho, confrontar aptidões e limitações do trabalhador,
diagnosticar as situações críticas e estabelecer sugestões de melhoria ao ambiente de

182 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


trabalho (WISNER, 2003). Segundo Wisner (2003), a AET busca estabelecer e aproximar
a compreensão geral de dificuldades relacionadas à organização do trabalho e, como
isso, reflete em lesões físicas e transtornos psicofisiológicos.
A AET busca entender a situação geral (demanda) do trabalho prescrito,
condições físicas e organizacionais (tarefa) e a forma como o trabalho é realmente
executado pelo operador (atividade) (DUL; WEERDMEESTER, 2004). A Figura 1, a seguir,
representa as etapas da AET: Situação Geral, Análise da Tarefa, Análise da Atividade e
Diagnóstico.

Das primeiras formulações da demanda


à iden�ficação dos fatores gerais em jogo:
Caracterização
análise da demanda e do contexto,
da demanda
reformulação da demanda. Situação
Exploração do funcionamento da empresa Geral
Análise da
e de seus traços; caracterís�cas da população,
demanda
produção, indicadores rela�vos a eficácia e à
saúde. Hipóteses de nível 1: escolha
das situações a analisar
Análise da
Análise do processo técnico e das tarefas
Tarefa
Observações globais da atividade operadores, entrevistas,
Interação com os
e verbalizações

Formulação
de um
pré-diagnós�co Definição de
Hipóteses de Observações
um plano de
nível 2 sistemá�cas
observação
Tratamento
dos dados
Validação Análise da
A�vidade

Diagnós�co:
• Local - incidindo sobre as situações
analisadas em detalhe Diagnós�co
• Global - incidindo sobre o funcionamento
mais geral da empresa

Figura 1 – Etapas da AET. Fonte: Adaptado de Guérin et al., 2001.

A situação geral engloba a caracterização e análise da demanda, em que


são levantados dados gerais da empresa e o contexto no qual a empresa se insere.
Nessa etapa, também é compreendida a situação do problema proposto pela tarefa

Cap. 9 Aplicação do Instrumento de Análise Ergonômica - MET... | 183


em análise, levando em consideração o cenário interno e externo da empresa e as
condições de trabalho.
A análise da tarefa compreende a assimilação e compreensão de dois aspectos:
o trabalho prescrito (a instrução de trabalho) e as condições físicas para execução da
tarefa. Portanto, a tarefa corresponde, em primeiro lugar, a um conjunto de objetivos
propostos ao trabalhador e a um conjunto de prescrições determinadas para atingir
esses objetivos; e, em segundo lugar, a tarefa é tratada como um princípio que impõe
uma forma de definir o trabalho em relação ao tempo (GUÉRIN et al., 2001).
A análise da atividade é a etapa na qual se observa o modo operatório do
trabalhador, ou seja, a forma como o trabalhador realmente executa o trabalho.
Guérin et al. (2001, p.26) define a atividade de trabalho como:
A a�vidade de trabalho é o elemento central que organiza
e estrutura os componentes da situação de trabalho.
É uma resposta aos constrangimentos determinados
exteriormente ao trabalhador, e ao mesmo tempo é capaz
de transformá-los. Estabelece, portanto, pela sua própria
realização, uma interdependência e uma interação estreita
entre esses componentes.

Portanto, a atividade é definida como aquilo que realmente é executado e a


forma como o trabalhador mobiliza e desempenha a tarefa. A atividade é concluída
com obtenção do objetivo que foi fixado para ela, a partir do objeto da tarefa.
A a�vidade não se reduz ao comportamento. O
comportamento é a parte observável, manifesta, da
a�vidade. A a�vidade inclui o observável e o inobservável:
a a�vidade intelectual ou mental. A a�vidade gera o
comportamento (FALZON, 2007, p. 9).

Assim a atividade é a base para análise ergonômica do trabalho e é entendida


por meio do que o trabalhador faz (ações e decisões tomadas pelo trabalhador para
alcançar os objetivos), de que forma o trabalhador faz (o que o trabalhador usa
de si para atingir os objetivos) e os modos operatórios (estratégias adotadas pelo
trabalhador para alcançar os objetivos) (ABRAHÃO et al., 2009).
Como é observado na Figura 2, a seguir, de um lado, tem-se o trabalhador e
suas características (sexo, idade, altura, etc.) e, do outro, a empresa (organização) com
suas diretrizes (funcionamento, objetivos, valores, etc.). No núcleo (centro), estão os
fatores determinantes para a organização do trabalho (contrato, tarefas prescritas,
tarefas reais). Diante das combinações desses fatores, surge a atividade de trabalho
executada pelos operadores, a qual resulta em aspectos positivos para empresa

184 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


(produção, qualidade) e aspectos negativos para os trabalhadores (saúde, acidentes,
competências).

O operador A empresa

Caracterís�cas Obje�vos
pessoais Contrato Ferramentas
Sexo, idade, natureza, desgaste,
caracterís�cas regulagens,
�sicas... documentação,
Tarefas
meios de comunicação,
prescritas
Experiência, programa de computador...
formação
Tarefas
adquirida Tempo
reais
horários, cadências...
Estado momentâneo
Fadiga, Organização do
ritmos biológicos, trabalho
A�vidade
vida fora do Instruções, distribuição
de trabalho
trabalho das tarefas,
critérios de qualidade,
�po de aprendizagem...

Ambiente
Espaços, tóxicos,
caracterís�cas �sicas...

Saúde, acidentes, Produção,


competências... qualidade...

Figura 2 - Função integradora da a�vidade de trabalho. Fonte: Guérin et al., 2001.

Por fim, a partir da análise da atividade de trabalho, é apresentada a última


etapa da AET: o diagnóstico ergonômico, que envolve o levantamento das condições
de execução, ambientais e organizacionais do trabalho.

Cap. 9 Aplicação do Instrumento de Análise Ergonômica - MET... | 185


3. Instrumento de Análise Ergonômica
MET – Equivalente Metabólico
3.1 Apresentação
Segundo Abernethy et al. (1997) e Smith et al. (1997), toda atividade profissional
exige um trabalho muscular e um consumo de energia, seja para manter a postura
ou para a realização dos movimentos. Isso ocorre a partir da contração das fibras
musculares e do gasto energético adicional, em que é superada a taxa de metabolismo
de repouso. Para Iida (2005), metabolismo de repouso é a quantidade de energia
necessária para manter as funções vitais do organismo, sem que haja a realização de
qualquer trabalho externo. Esse quantum de energia gasto varia, em adultos, entre
1800 kcal/dia (homem) e 1600 kcal/dia (mulher).
Conforme Costa (2013), a determinação exata do gasto calórico para uma
pessoa durante a execução do trabalho é obtida por meio de instrumentos conectados
ao corpo, com os quais são medidos os batimentos cardíacos, fluxo respiratório,
massa corpórea e dados biométricos. A partir desses dados, determina-se o nível de
intensidade da atividade física e, consequentemente, o esforço físico envolvido para
sua execução.
Ainda segundo a autora, uma amostra da população passa por estudos capazes
de quantificar o gasto energético médio despendido em cada atividade, criando-
se tabelas de referência de taxa metabólica. Assim, é possível aproximar o gasto
energético de uma atividade específica ao parâmetro apresentado pela população
desejada, podendo-se comparar com outra atividade, ou mesmo outra população.
O equivalente metabólico (MET) é um dos principais instrumentos empregados
para descrever as necessidades energéticas requeridas em várias atividades,
apresentando seu gasto energético em forma de tabelas (SMITH, 1997). Farinatti (2003)
apresenta as análises do MET adaptadas para uma amostra da população brasileira, em
forma de tabelas, com 605 atividades cotidianas (lazer, laboral e desportivas) sendo
executadas em diferentes intensidades. Estas atividades são apresentadas em tabelas
e o cálculo do gasto energético é dado em Kcal × Kg-1 × h-1.
Assim, a intensidade física é determinada considerando a relação de Kcal/hora
e, a partir desse parâmetro, é possível identificar a atividade como trabalho leve,
moderado e pesado, de acordo com o Quadro 1 descrito na “NR 15 - Atividades e
operações insalubres”.
O MET é utilizado após a abordagem da AET, nas etapas de análise da atividade
e diagnóstico, uma vez que apresenta, em números, o gasto energético do trabalhador
em cada atividade da tarefa.

186 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Quadro 1 - Tipos de A�vidade.

Tipo de a�vidade Kcal


Trabalho leve
Sentado, movimentos moderados com braços e troncos (ex: da�lografia). 125,00
Sentado, movimentos moderados com braços e pernas (ex: dirigir). 150,00
De pé, trabalho leve, em máquina ou bancada, principalmente com os braços. 150,00
Trabalho moderado
Sentado, movimentos vigorosos com braços e pernas. 180,00
De pé, trabalho leve em máquina ou bancada, com alguma movimentação. 175,00
De pé, trabalho moderado em máquina ou bancada, com alguma movimentação. 220,00
Em movimento, trabalho moderado de levantar ou empurrar. 300,00
Trabalho pesado
Trabalho intermitente de levantar, empurrar ou arrastar pesos (ex.: remoção com pá). 440,00
Trabalho fa�gante. 550,00
Fonte: Brasil, 2014.

3.2 Processo de Coleta, Processamento de Dados para


Utilização do MET e Análise dos Resultados
3.2.1 Dados de Entrada
O procedimento de coleta compreende inicialmente a situação geral, na qual
é conhecida a empresa e suas demandas. Em seguida, dá-se a análise da tarefa e
atividade do serviço a ser analisado, sob o ponto de vista da empresa e do trabalhador.
Assim, no contexto da empresa, é necessário compreender o processo de como essa
tarefa é transmitida ao trabalhador, ou seja, se há um procedimento de execução
de serviço, treinamento antes do início da atividade ou se a tarefa é repassada ao
trabalhador apenas de forma verbal pelo seu supervisor imediato. Com relação à
atividade realizada pelo trabalhador, é importante entender como ele a executa, ou
seja, se é de acordo com o procedimento da empresa (caso possua) ou conforme seu
tempo de serviço e experiência. Além disso, é preciso verificar se as ferramentas estão
adequadas e se o espaço do posto de trabalho é suficiente. Em outras palavras, é
importante compreender como o trabalhador enxerga a atividade e sua execução.
Assim, com as informações obtidas sobre a tarefa, é possível analisar a
atividade, compreendendo e identificando as variabilidades do posto de trabalho e do
trabalhador, no intuito de entender o modo operatório - termo próprio da ergonomia,
que caracteriza as diferentes maneiras de se executar uma mesma tarefa - desse
agente da construção civil. Essa identificação leva à localização de competências não

Cap. 9 Aplicação do Instrumento de Análise Ergonômica - MET... | 187


reconhecidas pela empresa, capazes de contribuir para evolução profissional ou para
investimentos técnicos.
As informações obtidas mediante contato pessoal com a empresa e seus
trabalhadores e filmagens, geram os seguintes dados de entrada para o instrumento
de análise ergonomica MET:
• Os códigos da a�vidade (MET) são ob�dos no Compêndio de A�vidades
Físicas: códigos, a�vidades e intensidade em MET’s, apresentados por
Farina� (2003) e exemplificados no item 4.3. Informa como a tarefa é
codificada em termos de função realizada, �po específico e intensidade. O
Compêndio pode ser usado para estudos com diferentes obje�vos;
• Tempo das a�vidades na tarefa (etapas do serviço, em segundos): tempo
em que se mede a quan�dade de vezes que uma ação aparece ao longo da
tarefa, quantas vezes se repete a ação (ciclo);
• Duração da tarefa e do ciclo do trabalho (em segundos): o tempo total gasto
para cumprir a tarefa, a tarefa representa o ciclo de trabalho;
• Peso de um homem adulto médio (70 kg): indivíduo de referência es�pulado
para uso no MET.
Define-se o tempo de realização da tarefa como sendo uma hora, de tal forma
que os valores resultantes sejam obtidos em Kcal/hora.
Procedimento de cálculo utilizado:
• Quan�dade de ciclos = Tempo de realização da tarefa × 3.600 / Duração do
ciclo;
• Tempo da etapa (h) = Duração da etapa × Quan�dade de ciclos / 3.600;
• Kcal/hora = Σ (Tempo da etapa (h) × MET × Peso adulto médio).
O cálculo do dispêndio de energia na execução da tarefa foi dado pelo somatório
dos dispêndios de energias em cada Atividade (etapa) que compõe a tarefa.

3.2.2 Coleta de Dados


Todos os dados são obtidos por meio de entrevistas informais e questionários
semiestruturados com funcionários da obra, no intuito de compreender as situações de
trabalho, tanto de ordem ambiental como técnica e organizacional, e de caracterizar o
trabalhador, de modo a obter informações, tais como: peso, altura, tempo de serviço,
nível de escolaridade, etc.
É realizada uma observação simples e direta dos trabalhadores, na qual o
pesquisador permanece alheio às atividades do grupo observado e não interfere
nas situações de trabalho. Essa observação está associada a registros fotográficos

188 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


e filmagens com tempo variável conforme a complexidade da atividade, a fim de
caracterizar a atividade desenvolvida e auxiliar na análise dos movimentos e posturas
de cada trabalhador.
Para melhor compreenssão das etapas da coleta de dados, é apresentada, a
seguir, a Figura 3, em que é especificado o passo a passo desse processamento.

A�vidade com
treinamento e
Como a
procedimentos
tarefa é
atribuída ao
A�vidade
trabalhador
atribuída
Ponto de verbalmente Registro
vista da fotográfico e
Levantamento empresa Com processamento
de Campo - procedimento dos dados
Serviço da ensinado pela
Construção empresa
Civil Ponto de
vista do Como Por
trabalhador trabalhador experiência
executa a própria de
tarefa trabalho

Com
ferramentas Resultados
adequadas MET

Figura 3 – Etapas da coleta de dados. Fonte: Autores.

O registro da tarefa ocorre em períodos distintos durante a jornada de trabalho,


com o propósito de representar de modo fiel e real o cenário cotidiano da tarefa no
canteiro de obras. Esse registro fotográfico e de filmagens ajuda o pesquisador nas
análises de laboratório e facilita a obtenção dos tempos de ciclo (tempos para realizar
cada atividade da tarefa). A partir desses dados, faz-se o uso do instrumento de análise
ergonômica MET, que processa essas informações de forma qualitativa e quantititava
de maneira a facilitar a sua compreensão, explicação e utilização.

3.2.3 Processamento de Dados


Partindo do princípio que as filmagens fornecem a possibilidade de obtenção
de dados e possibilitam uma nova observação sem que se precise retornar ao local de
trabalho, obtem-se os principais dados utilizados nas avaliações e no instrumento de
análise ergonômica. Esses dados são identificados ao se assistir cada vídeo relacionado
à tarefa, em que é possível determinar o tempo gasto em cada atividade da tarefa e
quantas vezes essa atividade aconteceu para se cumprir o objetivo da tarefa.

Cap. 9 Aplicação do Instrumento de Análise Ergonômica - MET... | 189


3.2.4 Análise dos Resultados
A análise dos resultados leva ao diagnóstico das situações de trabalho a que
estão sujeitos os operários da construção civil. O diagnóstico se dá de modo global
(ambiente de trabalho) e local (situação de trabalho). Tal etapa abrange as condições
técnicas para a execução do trabalho, as condições ambientais em que a atividade
ocorre, além das condições organizacionais do trabalho.
Assim, o diagnótico também busca propor melhorias com base na ergonomia de
correção e concepção, a fim de motivar participação conjunta dos setores da empresa,
com intuito de discutir a organização do trabalho, utilizar estratégias para melhorar
a comunicação e o relacionamento da equipe, oferecer treinamentos e orientar os
trabalhadores sobre os riscos a que estão expostos no canteiro de obras.

4. Exemplo de Aplicação do Instrumento de


Análise Ergonômica – MET
Exemplifica-se a aplicação do instrumento de análise ergonômica – MET,
focando a execução do serviço de armação, cujo resultado é oriundo de um estudo
de caso realizado em um canteiro de obras localizado no município de São Carlos-SP,
especificamente no que diz respeito ao recebimento do aço nos canteiros de obras.

4.1 AET
Para a AET, é necessária a compreensão do fluxograma de processos da tarefa
e como essa tarefa é executada (conjunto de atividades). Na Figura 4, apresenta-se o
fluxograma dos processos, tendo-se como tarefas o recebimento do aço no canteiro de
obras, sua estocagem, processamento e aplicação final.

Recebimento Estocagem Processamento Aplicação


do aço Final
• A�vidade 1 • A�vidade 1 • A�vidade 1 • A�vidade 1
• A�vidade 2 • A�vidade 2 • A�vidade 2 • A�vidade 2
• A�vidade n • A�vidade n • A�vidade n • A�vidade n

Figura 4 – Fluxograma de Processos (Exemplo: Serviço de Armação). Fonte: Autores.

Após entendimento do fluxograma de processos contendo as tarefas e suas


respectivas atividades e de posse das filmagens das ações, é possível determinar quais
são executadas para atingir o objetivo da tarefa e o respectivo modo operatório dos
trabalhadores (o porquê se fazer daquele determinado modo). Com o detalhamento
das atividades, é possível determinar o tempo de ciclo de cada uma e quantas vezes
se repetem ao longo da tarefa. No Quadro 2, é apresentada a tarefa de recebimento
do aço e suas respectivas atividades, para as quais se apresentam outras informações
sobre o modo operatório, obtidas por meio da filmagem, conforme prescreve a AET.

190 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Quadro 2 - Sequência das operações da tarefa realizada pelos trabalhadores.

Tarefa A�vidade (Como) Tempo Mo�vo (Porque) Efeito Observações


(O que?) total de
Sequência de Operações
ciclo
1 – Descarga manual das barras 339 s A descarga do Os feixes são descarregados Os trabalhadores descarregam

Cap. 9
aço é realizada um por um do caminhão, as barras do caminhão com
manualmente. devido ao peso e a fim de o auxílio de “pé de cabra”.
Os trabalhadores facilitar a organização na Assim os feixes são “jogados”
descarregam um feixe calçada. na calçada de forma mais fácil.
por vez. Como as barras já vem cortadas,
o transporte é mais fácil.
2 – Conferência do aço 257,4 s As barras são A conferência por meio de As barras são organizadas na
organizadas na romaneio facilita o trabalho calçada, e a conferência é
calçada. Com o e evita que os trabalhadores realizada por meio das e�quetas
romaneio em fiquem em posturas de cada feixe e do romaneio. A
mãos, é realizada a inadequadas por muito conferência do aço é feita pelo
conferência. tempo. estagiário da obra e o armador.
Em alguns momentos, o
motorista do caminhão também

Recebimento do Aço
ajuda na conferência.”

3 – Transporte das barras para 1980 s As barras são Desgaste �sico dos Os trabalhadores transportam
estoque obra transportadas da trabalhadores; dores no entre 4 e 6 barras por vez,
calçada para obra, a ombro devido ao apoio das dividindo o peso entre eles
fim de estoca-las ao barras. (entre 10-20 kg por trabalhador,
lado da bancada de em média). O tempo médio de

Aplicação do Instrumento de Análise Ergonômica - MET...


montagem. cada ação é de 34 segundos e
ocorre 58 vezes.

|
Fonte: Autores.

191
4.2 Dados de Entrada
Os dados determinantes de entrada para o cálculo do dispêndio de energia são:
• Código das a�vidades do serviço de armação;
• Tempo das a�vidades do serviço de armação (em segundos);
• Duração da tarefa e do ciclo do trabalho (em segundos);
• Peso de um homem adulto médio.
Procedimento de cálculo utilizado:
• Quan�dade de ciclos = Tempo de realização da tarefa × 3.600/Duração do
ciclo;
• Tempo da etapa (h) = Duração da etapa × Quan�dade de ciclos/3.600;
• Kcal/hora = Σ (Tempo da etapa (h) × MET × Peso adulto médio).

4.3 Exemplo de Cálculo


Para exemplificar a aplicação e cálculo do gasto energético (Kcal/hora) conforme
demonstra o MET, foi analisado o serviço de recebimento do aço. A visita no canteiro de
obras resultou na sequência de atividades da tarefa de recebimento do aço no canteiro
de obras, conforme apresentado no Quadro 2. Para os cálculos do gasto energético
nessa tarefa, foram consideradas as seguintes condições:
• Peso médio dos trabalhadores envolvidos na tarefa: 70,0kg;
• Determinação da duração dos ciclos: o ciclo é determinado por meio do
tempo exigido para se executar a a�vidade (coluna 3 do Quadro 2). Os
tempos médios foram determinados a par�r do cálculo da média dos tempos
para cada a�vidade ob�dos nas filmagens;
• O ciclo da tarefa (tempo total de todas as a�vidades para se concluir o
obje�vo da tarefa) possui duração média de 2576,4 segundos, que equivale
a 42,94 minutos ou 0,72 horas;
• Durações médias de cada a�vidade durante o recebimento do aço:
◦ Descarga manual das barras na calçada = 339s;
◦ Conferência do aço com romaneio = 257,4s;
◦ Transporte das barras para estoque no interior da obra = 34s.
• Tempo gasto diariamente em cada operação da tarefa:
◦ Descarga manual das barras na calçada = 339s;

192 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


◦ Conferência do aço com romaneio = 257,4s;
◦ Transporte das barras para estoque no interior da obra = 1980s.
Código MET de cada atividade (Quadro 3, extraído de FARINATTI, 2003): O
valor do MET é determinado pela atividade específica. Quando não há diretamente a
atividade específica da construção civil, é realizada a correlação. Por exemplo, o código
11050 representa a atividade de transporte de cargas pesadas, o que caracteriza o
transporte manual das barras:

Quadro 3 – MET.

Código MET Contexto Principal A�vidade específica (exemplos)


11050 8,0 A�vidades Ocupacionais Transporte de cargas pesadas
(por exemplo – �jolos)
11610 3,0 A�vidades Ocupacionais Em pé, leve/moderado (trabalhos
manuais pesados, etc.)
Fonte: Adaptado de Farina� (2003).

◦ Descarga manual das barras na calçada = Código 11050 - MET = 8,0;


◦ Conferência do aço com romaneio = Código 11610 - MET = 3,0;
◦ Transporte das barras para estoque no interior da obra = Código 11050 -
MET = 8,0.
• Cálculo da kcal gasta na a�vidade ao longo do dia em horas:
◦ Descarga manual das barras na calçada = 8,0 × 70,0 × 0,09 = 50,4 kcal;
◦ Conferência do aço com romaneio = 3,0 × 70,0 × 0,07 = 14,7 kcal;
◦ Transporte das barras para estoque no interior da obra = 8,0 × 70,0 ×
0,55 = 308 kcal.
• Determinação da relação Kcal/ hora: 371,1/0,72 = 515,42.
De acordo com o resultado apresentado no Quadro 4, a operação que demandou
maior esforço físico durante a jornada de trabalho foi a de número 3 (consumo 308
kcal), taxa justificada pelo número de vezes (58) em que as barras são transportadas.
Comparando os resultados com os prescritos na “NR-15 - Atividades e Operações
Insalubres” (Quadro 2 deste capítulo), conclui-se que, para um trabalhador de porte
médio, a atividade de recebimento do aço pode ser considerada um trabalho pesado
(fatigante) do ponto de vista da taxa de metabolismo.
Diante desse resultado, os gestores do serviço poderiam propor que tal
transporte seja realizado por carrinho específico, grua ou que o aço seja descarregado
diretamente no local de estocagem, evitando esse tipo de transporte.

Cap. 9 Aplicação do Instrumento de Análise Ergonômica - MET... | 193


Quadro 4 - Resultados ob�dos no MET.

Sequência das etapas 1 2 3


Tempo diário no ciclo (h) 0,09 0,07 0,55
Código 11050 11610 11050
MET 8,0 3,0 8,0
Kcal 50,4 14,7 308
Determinação da relação Kcal/hora = 371,1/0,72 = 515,4
Trabalho Pesado = MET > 440 (NR-15 – A�vidades e Operações Insalubres)
Fonte: Autores.

5. Conclusões
A ergonomia ainda é pouco aplicada na construção civil e, especialmente,
no subsetor de edificações, no qual os trabalhadores ainda utilizam ferramentas e
equipamentos manuais, muitas vezes danificados e inadequados para realização de
suas atividades de trabalho.
Por meio da AET, é possível caracterizar de que forma o trabalho está sendo
executado e quais as suas consequências para empregadores e trabalhadores. As
melhorias nas condições de trabalho só podem ser executadas se houver uma perfeita
compreensão da diferença entre a tarefa prescrita e a atividade realizada. Nesse
sentido, os instrumentos de análise ergonômica auxiliam no processo de identificação
das situações críticas de trabalho, quantificando e comparando os valores obtidos em
campo com os valores determinados pela literatura.
Este capítulo apresentou o instrumento de análise ergonômica MET, detalhando
seus procedimentos de aplicação e formas de obtenção de dados. A atividade
selecionada para análise foi caracterizada como trabalho pesado, podendo ser
fatigante para os trabalhadores em questão.

Referências
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Cap. 9 Aplicação do Instrumento de Análise Ergonômica - MET... | 195


10
http://dx.doi.org/10.26626/978-85-5953-027-8.2017C0010.p.197-210

Embargos e Interdições em
Canteiros de Obras: Uma
Perspectiva Sistêmica1

Tarcisio Abreu Saurin

1. Introdução
As inspeções conduzidas por órgãos governamentais têm papel importante
na garantia do atendimento à legislação de segurança e saúde no trabalho (SST) em
canteiros de obras. De fato, pressões externas são normalmente necessárias quando
se trata de requisitos não exigidos pelo usuário final, tais como aqueles ligados à SST.
Contudo, não há evidências conclusivas sobre os impactos das inspeções na
redução dos índices de acidentes. Em parte, isso se deve a dificuldades metodológicas
de isolar o efeito de inspeções. Um dos principais estudos quantitativos acerca do
tema foi realizado por Levine et al. (2012) em uma grande amostra de empresas de
vários setores nos EUA. As conclusões apontaram que as inspeções reduziram as taxas
de acidentes, com nenhuma evidência de impactos negativos em termos de redução
de empregos, vendas ou sobrevivência da empresa.
Embora estudos quantitativos possam fornecer generalizações estatísticas
sobre a eficácia das inspeções, isso não significa que canteiros de obras individuais
sejam imunes a uma mistura de impactos desejados e indesejados. Nesse sentido, o
Pensamento Sistêmico (PS, systems thinking) permite uma análise mais abrangente

1 Este capítulo é uma versão condensada e adaptada de uma publicação em um periódico


internacional: Saurin, T.A. 2016. Safety inspec�ons in construc�on sites: a systems thinking
perspec�ve. Accident Analysis and Preven�on, 93, 240-250.

197
das inspeções de SST, ajudando a esclarecer os seus efeitos em contextos específicos.
Neste capítulo, é discutido como o PS pode contribuir para uma melhor compreensão
dos impactos das inspeções, bem como dos mecanismos que levam aos impactos.
A discussão é realizada com base em estudos de caso de canteiros de obras
que foram interditados ou embargados por uma inspetoria governamental de SST. O
autor esteve envolvido como observador participante nestes estudos de caso, que
ocorreram ao longo de seis anos.

2. Método de Pesquisa
As inspeções foram analisadas segundo a perspectiva de quatro atributos do PS
identificados por Wilson (2014). O primeiro atributo é a preocupação com o contexto,
que implica em identificar fatores que influenciam o comportamento dos agentes,
acarretando em dificuldades e oportunidades. A visão holística deve ser valorizada,
buscando interações e mecanismos causais que estão distantes, no tempo e no
espaço, das ações e decisões dos agentes (SKYTTNER, 2005). O segundo atributo é o
reconhecimento das interações, o qual se contrapõe à ênfase do pensamento linear
na compreensão apenas das partes. As interações possuem características peculiares
em sistemas complexos, tais como a não proporcionalidade entre causas e efeitos,
natureza dinâmica, feedback loops e incerteza (CILLIERS, 1998).
O reconhecimento de fenômenos emergentes é o terceiro atributo. Tais
fenômenos são manifestações da variabilidade inesperada, surgindo das interações
entre os agentes em vez de algum controle centralizado. Fenômenos emergentes
têm propriedades novas, que não existem nos elementos individuais que interagem
(CILLIERS, 1998). O quarto atributo diz respeito à consideração de diversas
perspectivas. Os agentes de um sistema diferem entre si segundo diversas categorias,
tais como níveis hierárquicos, divisão de tarefas, nível de especialização. Embora a
diversidade crie dificuldades de coordenação, ela contribui para a tomada de melhores
decisões (DEKKER, 2011).
Foram realizados 13 estudos de caso em canteiros de obras que estavam sob
a jurisdição de uma inspetoria do trabalho com longa tradição de ser ativa, exigente
e possuir inspetores (denominados auditores fiscais do trabalho) qualificados
tecnicamente. Segundo dados coletados pela inspetoria de 2003 a 2009 (BRASIL,
2010), 46,9% dos embargos e interdições ocorreram na construção civil, enquanto
este setor foi responsável por 19% dos acidentes fatais no mesmo período.
As fontes de dados foram as mesmas em todos os casos, envolvendo: (i)
observação participante; (ii) observação direta; (iii) análise de relatórios de interdição e
embargo preparados pelos inspetores. Enquanto os dados provenientes dessas fontes

198 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


foram reunidos ao longo dos seis anos. Em 2015, duas entrevistas semiestruturadas
foram realizadas com dois inspetores. Os entrevistados foram escolhidos devido a
sua experiência (> 20 anos no serviço de inspeção) e disponibilidade. Cada entrevista
durou cerca de 1,5 hora, com foco na compreensão das atividades da inspetoria,
bem como na visão dos inspetores acerca dos pontos fortes e fracos do processo de
auditoria em si.
A observação participante foi a principal fonte de dados, uma vez que o
pesquisador colaborou com as equipes de gerenciamento das obras na concepção
e avaliação de medidas corretivas implantadas como resultado das inspeções. A
oportunidade para a observação participante surgiu do fato de que, como resultado
das inspeções, as construtoras têm recorrido a universidades em busca de assistência
técnica. Assim, o pesquisador participou de diversas reuniões com as equipes
gerenciais (cerca de 65 horas ou 5 horas por estudo de caso), além de uma reunião
na sede da inspetoria (1 hora), em que os gerentes de um dos canteiros solicitaram
esclarecimentos sobre as razões para a interdição e medidas de controle previstas.
As observações diretas permitiram verificar, nas próprias obras, as deficiências
apontadas nos relatórios de interdição e embargo. Cerca de 80 horas de observações
diretas foram realizadas (aproximadamente 6 horas por estudo de caso), variando de
2 a 10 horas por estudo.
Em relação à análise de documentos, os relatórios de interdição foram uma fonte
de dados valiosa, visto que estes eram documentos detalhados, com a perspectiva dos
inspetores sobre os perigos e como eles deveriam ser controlados.

3. Resultados
3.1 Características das Interdições e Embargos
Analisados
A Tabela 1 apresenta as principais características dos estudos de caso em ordem
cronológica, desde a paralisação mais recente até a mais antiga. As treze interdições e
embargos investigados ocorreram ao longo de seis anos em doze diferentes canteiros.
Apenas quatro inspetores diferentes estavam envolvidos nestes casos (20% do total da
inspetoria local) e a duração média das paralisações foi de 4,5 meses. Em sete casos
(53,8%), as construtoras recorreram ao sistema judiciário na tentativa de acabar com a
interdição ou embargo. Os casos envolvendo litígios tiveram paralisações mais longas
(5,7 meses) em comparação aos casos em que foram usados apenas os mecanismos
administrativos regulares (3,2 meses). As construtoras comumente faziam duas
rodadas de defesa administrativa antes de recorrer à opção judicial.

Cap. 10 Embargos e Interdições em Canteiros de Obras... | 199


Tabela 1 – Caracterís�cas das interdições e embargos analisados.

Propósito da Principais objetos de interdição e embargo Duração da Disputa


construção paralisação legal?
(1) Habitação de Proteções periféricas, falta de programa de 3 meses Não
interesse social gerenciamento de estresse térmico, levantamento
manual de pesos, falta de proteção cole�va junto
ao parapeito de janelas
(2) Ampliação Montagem de estruturas de concreto pré- 6 meses Sim
de um shopping fabricado, montagem de estruturas metálicas
center
(3) Prédio Proteções periféricas, linhas de vida, plataformas 6 meses Sim
residencial de proteção, transporte manual de cargas pesadas
(4) Ampliação Escavações, trincheiras, fundações, falta de 3 meses Não
de um shopping programa de gerenciamento de estresse térmico
center *Mesmo canteiro de obras do item 2, que foi
interditado duas vezes pelo mesmo inspetor em
diferentes etapas da construção
(5) Prédio Linhas de vida, escavações, serra circular 2 meses Não
comercial
(6) Prédio Linhas de vida, proteções periféricas, falta de 5 meses Sim
comercial programa de gerenciamento de estresse térmico
(7) Prédio Mesmos problemas que o canteiro 2, além de 8 meses Sim
residencial elevadores para o transporte de materiais, falta de
programa de gerenciamento de estresse térmico
(8) Prédio Proteções periféricas, elevadores para o transporte 5 meses Sim
comercial de materiais
(9) Habitação de Proteções periféricas, circulação de veículos 4 meses Não
interesse social pesados dentro do canteiro de obras
(10) Prédio Escavações, betoneiras, circulação de veículos 6 meses Sim
residencial pesados dentro do canteiro, falta de programa de
gerenciamento de estresse térmico
(11) Prédio para Proteções periféricas e linhas de vida *Mesma 4 meses Não
estacionamentos empresa do canteiro 1, mas obra diferente
(12) Prédio Andaimes suspensos, linhas de vida e proteções 3 meses Não
residencial periféricas
(13) Prédio Andaimes suspensos *Mesma empresa do 4 meses Sim
residencial canteiro 10, mas obra diferente

Com a exceção dos canteiros 1 e 8 (habitações de interesse social), os demais


estavam localizados em áreas urbanas centrais. As obras eram relativamente grandes,

200 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


tendo cerca de 100 trabalhadores no pico (obra 8) até 500 trabalhadores (obra 2). Não
foram obtidos dados confiáveis para confirmar se a ênfase em grandes projetos era
válida para todo o universo das inspeções. Caso fosse confirmada, tal ênfase estaria
em contraste com estudos recentes na mesma região, os quais concluíram que obras
menores tinham um nível muito mais baixo de conformidade com os regulamentos de
SST (20% contra 65%) em comparação aos maiores (COSTELLA et al., 2014). Resultados
similares têm sido obtidos em outros países (SINCLAIR; CUNNINGHAM, 2014).
A força de trabalho em todos os canteiros era em grande parte terceirizada
(mais de 90%) e as tecnologias eram típicas do setor de construção de edifícios
residenciais e comerciais no Brasil: fôrmas de madeira montadas no local, estrutura de
concreto armado e alvenaria com blocos cerâmicos ou de concreto. Tais tecnologias
têm caráter artesanal e envolvem uso intensivo de mão de obra, sendo associadas a
taxas de acidentes mais elevadas em comparação à construção industrializada (RUBIO-
ROMERO et al., 2014).

3.2 Análise dos Estudos de Caso sob o Ponto de Vista


do Pensamento Sistêmico
3.2.1 Preocupação com o Contexto
O conteúdo dos relatórios de inspeção indicou que os auditores tinham
visão holística em termos de perigos antecipados pela legislação, uma vez que eles
apontaram uma ampla gama de situações inseguras. No entanto, as práticas de gestão
da segurança não costumavam ser objeto das inspeções, o que reflete a ênfase das
normas brasileiras nas proteções físicas. Deste modo, as causas raízes dos riscos,
que eram distantes no tempo e espaço em relação aos trabalhos na obra, não eram
levadas em conta. Um dos inspetores entrevistados relatou frustração com o fato de
que as mesmas empresas são notificadas várias vezes pelos mesmos problemas, em
diferentes obras.
Um exemplo que ilustra problemas repetitivos refere-se às grandes diferenças
entre como as proteções coletivas são imaginadas em projeto e como são implantadas
na prática. A alta incidência dessas diferenças, em todos os estudos de caso, sugere
que as causas raízes não estão ligadas a comportamentos individuais dos gestores e
trabalhadores. Contudo, as inspeções limitavam-se a apontar as não conformidades,
enquanto a gerência das obras costumava se restringir a correções de curto prazo, que
muitas vezes implicavam em alterar o projeto para torná-lo aderente ao que estava
em uso, em vez do contrário. Esse achado também sugere que, assim como ocorre em
outras áreas do projeto das edificações, um “projeto como construído” das proteções
coletivas pode ser pertinente. Com base nos dados coletados, as causas das diferenças
entre projeto e prática podem ser:

Cap. 10 Embargos e Interdições em Canteiros de Obras... | 201


• O fato dos proje�stas de proteções cole�vas não serem contratados
para fornecer assistência durante a fase de construção, o que aumenta a
probabilidade de má interpretação do projeto;
• A falta de par�cipação dos trabalhadores no projeto das proteções cole�vas,
o que é tanto um resultado do fator anterior como de prá�cas comuns no
setor, que costuma valorizar pouco a par�cipação dos trabalhadores;
• Uma cultura generalizada de “segurança baseada em papel”, o que significa
que a ênfase é colocada na necessidade de ter projetos e documentações
apenas para fins legais. Assim como os anteriores, esse problema decorre
de outros de natureza setorial, tal como o predomínio de contratos que
enfa�zam penalidades legais em detrimento do colabora�vo entre as partes
contratantes (SAKAL, 2005).

3.2.2 Consideração de Diversas Perspectivas na Tomada de


Decisões
A necessidade de levar diversas perspectivas em conta ao avaliar riscos e propor
medidas de controle parecia ser raramente utilizada pelos inspetores. As observações
participantes e relatórios de inspeções indicaram que havia pouco espaço para
“segundas histórias” e os inspetores usavam sua autoridade para decidir o que contava
como risco iminente e grave. A diferença entre as perspectivas dos inspetores e
gestores parecia ser ampla e difícil de ser conciliada. Em um estudo anterior na mesma
região (ROCHA, 2011), os pontos de vista dos inspetores e os gerentes de obras foram
substancialmente diferentes acerca das razões para as paralisações e as estratégias
para reduzir a sua duração e frequência. Uma diferença semelhante nas percepções foi
encontrada na África do Sul, onde, assim como no Brasil, cada uma das partes enfatizava
as falhas da outra (GEMINIANI et al., 2013). Por exemplo, os construtores salientaram
a falta de critérios harmonizados entre os inspetores, enquanto os responsáveis pela
fiscalização enfatizavam que as empresas não tinham uma cultura de segurança.
Nos estudos de caso, a desconfiança mútua decorre de uma longa história de
relações conflituosas, bem como de uma imagem negativa da indústria da construção
como um todo – por exemplo, altas taxas de acidentes, más condições de trabalho
e uma força de trabalho mal remunerada. Os sistemas complexos têm uma história
pregressa que impacta a forma como os processos são gerenciados no presente
(CILLIERS, 1998). O ambiente atual de processos judiciais pode ser interpretado como
o pico de um passado de relações ruins, indicando um caminho evolutivo para sistemas
similares.
Legislações altamente prescritivas também contribuem para as perspectivas
conflitantes. Por exemplo, no estudo de caso 2, o inspetor exigiu que a montagem
de treliças metálicas fosse feita a partir de um andaime, como prescrito pela NR-18 –

202 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Condições e meio ambiente do trabalho na indústria da construção. No entanto, o
empreiteiro usava plataformas de transporte aéreo, o que permitia processos de
trabalho mais flexíveis. Seguindo estritamente a norma, o inspetor focou em soluções
no lugar de riscos a serem controlados.
Em geral, as observações participantes indicaram que, ao longo do tempo, a
perspectiva dos inspetores foi adotada pelas construtoras, em termos da definição
do que conta como risco inaceitável e medidas de controle adequadas. Isso está de
acordo com a noção de que o nível de risco é tanto uma construção social como uma
realidade objetiva (SLOVIC, 2001). Além disso, esse cenário estabeleceu padrões locais
sobre o que é seguro ou não, embora o significado de “local” em tais casos possa ser
restrito a uma obra ou empresa específica. Uma queixa frequente dos empreiteiros
envolvidos nos estudos de caso era que eles tinham uma desvantagem competitiva
em relação a outros empreendimentos que não foram submetidos a inspeções e que
continuavam utilizando práticas de segurança menos exigentes.
A falta de consideração de diversas perspectivas também pode decorrer da
“síndrome de prima donna”. Prima donnas são profissionais reconhecidos pela sua
competência técnica, assertividade e autoconfiança, embora possam ter insensibilidade
para metas organizacionais maiores e dificuldades de trabalhar para alguém ou fazer
parte de uma equipe (GIRARD, 2005). Dekker (2014) discute a psicologia de prima
donnas, a qual ele associa com senso de direitos superiores e narcisismo. Embora essa
pesquisa não tenha realizado uma avaliação desta “síndrome”, que é promovida por
um conjunto de fatores e não apenas por traços de personalidade (DEKKER, 2014),
alguns elementos sugerem que pode ser útil investigar tal perfil em novos estudos.
Por exemplo, os quatro inspetores envolvidos nos estudos de caso correspondem a
apenas 20% de toda a equipe da inspetoria, e o mais exigente deles é amplamente
considerado pelos empreiteiros como muito inteligente e ao mesmo tempo insensível
a pontos de vista alternativos.

3.2.3 Reconhecimento de Interações


Em termos de reconhecimento de interações, as inspeções de segurança eram
limitadas. O foco dos inspetores era encontrar “partes” danificadas, muitas vezes em
um sentido literal. Assim, a preocupação com a qualidade de equipamentos, como
correias, guindastes, guarda-corpos e elevadores era frequente. Testes laboratoriais
eram muitas vezes solicitados como parte das inspeções. Contudo, a literatura de gestão
da segurança tem indicado que partes confiáveis não implicam, necessariamente, em
um sistema seguro e confiável (LEVENSON, 2011).
Conforme percepção de representantes das construtoras, o foco em partes físicas
era devido a uma intenção tácita de desencorajar o uso de tecnologias que os inspetores
consideravam inerentemente inseguras. Dois exemplos (Figura 1) estão relacionados ao
uso de linhas de vida horizontais e plataformas de proteção. A intenção das inspeções

Cap. 10 Embargos e Interdições em Canteiros de Obras... | 203


era que tais tecnologias fossem substituídas por andaimes fachadeiros ou redes que, em
princípio, reduziriam a necessidade de equipamentos de proteção individual.

Linhas de vida horizontais

Figura 1 – a) linhas de vida horizontais entre os montantes ver�cais; b) plataformas para


recolher restos de materiais.

De um lado, a busca por partes danificadas é necessária, visto que falhas em


equipamentos críticos podem ter efeitos catastróficos e imediatos. Goh e Wang (2015)
analisaram 11 projetos de linhas de vida horizontais em Singapura e concluíram que
todos eles eram inadequados, proporcionando uma falsa sensação de segurança aos
usuários. Em tais casos, a perspectiva sistêmica é menos relevante e uma sequência
linear, com claras relações de causa e efeito, pode fornecer uma explicação satisfatória
dos eventos que levam a um acidente (PERROW, 1984).

204 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


De outro lado, a supervalorização da busca por partes danificadas tende a
negligenciar outros tipos de acidentes que envolvem interações entre partes que
isoladamente são confiáveis. Estes são descritos como acidentes sistêmicos por
Perrow (1984). Em alguns dos estudos de caso, o pesquisador tomou conhecimento
de acidentes que não tinham relação direta com as atividades interditadas ou que
tiveram, como fatores contribuintes, mudanças na logística de operações da obra, as
quais foram desencadeadas pelas próprias interdições.

3.2.4 Identificação de Fenômenos Emergentes


Os resultados apontaram que as próprias inspeções criavam as condições para
fenômenos emergentes, caracterizados por consequências não antecipadas e não
completamente passíveis de controle. De um lado, fenômenos emergentes desejáveis
resultaram das inspeções, tais como inovações incrementais na gestão da segurança.
Dois exemplos podem ser mencionados:
• Interdições frequentes devidas à falta de programas de gerenciamento de
estresse térmico levaram as construtoras a realizar medições de temperaturas
em vários canteiros de obras. Com base nos dados, regimes de trabalho-
descanso foram implantados, a par�r de certos níveis de temperatura. Essa
prá�ca é consistente com a recomendação para a concepção de prá�cas
de gestão de estresse térmico que reflitam as condições climá�cas locais
(ROWLINSON et al., 2014).
• Devido à pressão dos inspetores, as plataformas ilustradas na Figura 1 têm sido
gradualmente removidas dos canteiros de obras locais, sendo subs�tuídas
por andaimes fachadeiros ou redes. Como limitação, o pesquisador observou
que as inovações mencionadas e outras similares são por vezes limitadas a
um protó�po construído apenas para sa�sfazer os inspetores e acabar com a
paralisação. Em tais casos, a gerência da obra, e possivelmente os inspetores,
não acreditavam que a solução era de fato viável.
De outro lado, alguns fenômenos emergentes decorrentes das inspeções
podem ser prejudiciais para a segurança. Os dois auditores entrevistados não puderam
facilmente pensar em qualquer efeito desse tipo, o que é uma demonstração do
valor do PS, uma vez que oferece uma nova perspectiva. Um dos efeitos negativos
identificados refere-se aos impactos das interdições nos prazos e custos das obras. Tais
impactos criam grandes pressões por eficiência quando os trabalhos são reiniciados,
o que é prejudicial para a segurança (HAN et al., 2014). Por exemplo, no canteiro 7 (8
meses de interdição), vários clientes registraram ações judiciais contra a construtora,
reivindicando compensações pelo atraso. Por sua vez, a construtora ingressou com
uma ação judicial contra o governo federal, exigindo compensação financeira para as
suas próprias perdas.

Cap. 10 Embargos e Interdições em Canteiros de Obras... | 205


Como outro impacto negativo, muitos trabalhadores buscam outros empregos
informais durante as interdições. Tais empregos podem implicar trabalho em condições
piores, indo contra o principal objetivo das paralisações. Em particular, a busca por
empregos informais acontece quando o subcontratado não tem outra obra para
transferir os trabalhadores, situação que é agravada quando o subcontratado não é
pago pelo contratante principal, enquanto o canteiro de obras está embargado. Uma
vez que subempreiteiros são muitas vezes pequenas empresas com recursos técnicos
e financeiros limitados, paralisações longas ameaçam a sobrevivência da empresa.
Sendo ou não a paralisação longa, um fenômeno emergente observado em todos
os estudos de caso foi o aparente aumento do nível de estresse entre os gestores. Relatos
sugerindo tal aumento eram comuns (por exemplo, “devemos desistir de trabalhar na
construção” – subempreiteiro envolvido no canteiro 1, “eu fiquei no escritório até de
madrugada para organizar a papelada” – engenheiro de segurança do canteiro 2).
Em geral, os impactos negativos das inspeções podem ser interpretados como
uma forma de perda institucional na indústria da construção, que em si é um fenômeno
emergente. Esse tipo de perda refere-se a “sistemas institucionais, disposições estruturais
e pressupostos cognitivos que apoiam e incentivam atividades desnecessárias na
construção” (SARHAN et al., 2014). Os efeitos indesejados dos longos períodos de obras
paralisadas podem até mesmo contribuir para a corrupção, que é uma reconhecida fonte
de perdas na indústria da construção, em nível nacional e internacional.

4. Conclusões
O pensamento sistêmico revelou-se útil para a identificação de benefícios e
oportunidades para a melhoria das inspeções. Inicialmente, cabe salientar o papel
dos métodos de coleta de dados, que podem permitir análises similares em contextos
de inspeções em outras regiões. A observação participante expôs o pesquisador ao
complexo contexto real das inspeções. A diversidade de perspectivas foi levada em
conta pelo uso de múltiplas fontes de dados, produzidos pelos inspetores (por exemplo,
relatórios e entrevistas) e pela equipe gerencial das obras (por exemplo, reuniões para
tomar decisões decorrentes dos embargos). O relativo grande número de estudos de
caso (13) e o longo período de pesquisa (6 anos) facilitou a identificação de fenômenos
emergentes, que se desenvolvem lentamente e muitas vezes ficam invisíveis para
participantes internos ao sistema.
Além disso, os resultados indicaram que o pensamento sistêmico, quando
aplicado às inspeções de segurança, pode ter foco nos seguintes objetivos (em
itálico e negrito na Figura 2): (1) identificação dos agentes envolvidos no sistema
associado às inspeções – um reprojeto deste sistema deve considerar explicitamente
o papel de cada um destes agentes; (2) identificação de dificuldades e oportunidades

206 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Riscos iminentes
em equipamentos não são caracterizados por Acidentes sitêmicos
crí�cos é menos especialmente
relevante ú�l para prevenir
quando há
Governo Federal Perspec�va sistêmica
(4) Impactos posi�vos cega os agentes
Proje�stas para os

Cap. 10
(1) Agentes e nega�vos das
ajuda a entender inspeções
Fornecedores
estão expostos a
Universidades contribuem para Cultura de segurança
burocrá�ca, focada
Advogados (3) Re-projeto (3) Interações em documentos
tais (2) Dificuldades
como do sistema entre agentes
Inspetores e oportunidades Efeitos
tais
como indesejados
Gerentes deveria enfa�zar
tais como
Trabalhadores tais como Novo nicho Inovações Corrupção
de mercado tecnológicas
incrementais
Normas
prescri�vas Trabalhadores em
Diversas pressões Ociosidade e risco Excesso de Altos níveis de empregos informais,
para encerrar a de demissão custos e atrasos estresse em sob más condições
interdição gerentes de segurança

Embargos e Interdições em Canteiros de Obras...


Figura 2 – Modelo resumindo as principais contribuições desta pesquisa.

|
207
que orientam ações, decisões e interações entre os agentes; (3) identificação
de interações entre os agentes, bem como recomendações para influenciar as
interações, enfatizando o controle das causas raízes das deficiências detectadas pelos
inspetores; (4) identificação dos impactos positivos e negativos das interações. Esses
objetivos podem ser associados com os quatro atributos do pensamento sistêmico:
(1) diversidade de perspectivas; (2) preocupação com o contexto; (3) interações; (4)
fenômenos emergentes.
Embora este estudo tenha sido realizado apenas em uma região do Brasil, os
resultados podem ser úteis para outras regiões e países com contextos similares,
tais como: normas prescritivas de SST; uma história de relações conflitantes entre
construtoras e órgãos de inspetoria; a falta de certificações de terceira parte para
equipamentos de proteção coletiva; o baixo uso de tecnologias de construção
industrializada, já que a pressão dos inspetores pode ser maior para a modernização.
É provável que esse último fator seja mais presente nos países em desenvolvimento,
nos quais tende a existir uma tensão entre a necessidade de tecnologias mais seguras
e incentivos governamentais (por exemplo, impostos mais baixos) para o uso de
métodos artesanais que empreguem mais trabalhadores.

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Cap. 10 Embargos e Interdições em Canteiros de Obras... | 209


Seção IV
Subprojeto Soluções Tecnológicas
Sustentáveis para Instalações
Provisórias em Canteiros de
Obras (SPIPC)
11
http://dx.doi.org/10.26626/978-85-5953-027-8.2017C0011.p.213-234

Instalações Provisórias
Pré-fabricadas para
Canteiros de Obras

Christine Miranda Dias


Sheyla Mara Baptista Serra

1. Introdução1
O canteiro de obras é a área de trabalho fixa e temporária, onde se desenvolvem
operações de apoio e execução de uma edificação (BRASIL, 2015). As instalações
provisórias ou construções temporárias podem ser entendidas como aquelas que
servem de suporte para as atividades da obra e que são previstas para serem removidas
ao fim da fase de execução.
A partir da obrigatoriedade de fiscalização das áreas de vivência regulamentada
pela NR-18 – Condições e meio ambiente do trabalho na indústria da construção (BRASIL,
2015), as construções provisórias passaram a ser um dos itens mais observados pelo
Ministério do Trabalho, por garantir condições mais dignas para o trabalhador (DIAS;
SERRA, 2013). Dentre os ambientes descritos, encontram-se as instalações sanitárias,
cozinhas, vestiários, refeitórios, ambulatórios, alojamentos, lavanderias e áreas de lazer.
Apesar da existência da NBR 12284: Áreas de Vivência em Canteiros de Obras (ABNT,
1991), a NR-18 – Condições e meio ambiente do trabalho na indústria da construção se

1 O presente capítulo apresenta uma revisão e atualização do texto originalmente publicado


como ar�go de congresso (DIAS; SERRA, 2013).

213
tornou mais aplicada, por solicitar que os ambientes apresentem condições de qualidade,
segurança e bem-estar aos trabalhadores.
Mais recentemente, com a conscientização de que os canteiros necessitam ser
projetados, passou-se a discutir também a incorporação de aspectos de sustentabilidade
nas áreas de vivência no momento de sua concepção e produção, como a possibilidade
de reuso das instalações após a desmobilização.
Durante a fase de projeto do canteiro de obras, o planejamento das condições
de trabalho é tão importante quanto à disposição dos fluxos físicos de materiais
necessários à execução dos serviços. Tendo em vista que os operários costumam
permanecer, diariamente, cerca de nove horas no canteiro, entende-se a relevância
de projetar ambientes adequados que proporcionem o mínimo conforto e satisfação.
Além disso, segundo Cesar et al. (2011), adequadas áreas de trabalho promovem a
elevação do moral do trabalhador, bem como a redução de riscos de acidentes.
Entende-se que o layout do canteiro não é um projeto único e fixo, pois enquanto
a obra vai se desenvolvendo, ele assume diferentes configurações de acordo com a
etapa em que se encontra. Assim, as áreas de vivência e administrativas também irão se
modificar, fazendo parte de um ciclo de produção composto por construção, ampliação,
demolição e reuso. Portanto, dependendo do sistema construtivo empregado nessas
edificações, ocorre grande geração de entulho e desperdício de materiais que não
serão reaproveitados em obras posteriores, gerando um novo custo de implantação.
Segundo Arslan (2007), as instalações temporárias podem ser construídas
com materiais sustentáveis e componentes desmontáveis, recicláveis e, até mesmo,
reutilizáveis, com baixo custo de produção.
Para atender a essas condições, existe atualmente um mercado de sistemas
construtivos desenvolvidos especificamente para a utilização como ambientes
provisórios, que podem ser armazenados e reutilizados inúmeras vezes, com boa
qualidade de uso e operação, de acordo com as necessidades de cada obra (SANTO JR.;
AZZOLINI, 2009).
As diferentes soluções tecnológicas para as instalações provisórias nos canteiros
de obra apresentam-se como pré-fabricadas ou industrializadas, por serem produzidas
em ambiente externo à obra, ou seja, em fábricas. Algumas soluções apresentam-se
de forma padronizada para o mercado e, em outros casos, são elaborados projetos
específicos para cada situação de canteiro, considerando aspectos básicos de
modulação.
Assim, torna-se necessário conhecer melhor as características dos tipos de
instalações existentes como forma de subsidiar o processo de decisão, considerando,
entre outros aspectos, a sustentabilidade do produto e a determinação dos custos
envolvidos.

214 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Desta forma, o objetivo deste capítulo é apresentar uma reflexão sucinta sobre
as alternativas tecnológicas para as instalações provisórias identificadas no mercado
brasileiro, bem como classificá-las segundo o material utilizado.
Este estudo utiliza-se do método de pesquisa de análise documental, por meio
de revisões bibliográficas, pesquisas em sites comerciais e feiras de exposição voltadas
às inovações na construção civil, a fim de identificar as atuais soluções tecnológicas
desenvolvidas para instalações provisórias industrializadas.

2. A Sustentabilidade das Construções


Provisórias
Reis et al. (2004) salientam que a expressão “provisória” ou “temporária” não
deve ser confundida com um processo precário de concepção, principalmente por
essas construções serem essenciais no início e durante as atividades de um canteiro
de obras. No entanto, verifica-se que nem sempre as empresas de construção civil
analisam aspectos de qualidade e manutenabilidade das instalações provisórias, sendo
estas, em grande parte das obras, executadas de qualquer maneira, sem projetos
executivos e por mão de obra não qualificada.
Um dos fatores do descaso refere-se ao curto período de uso das construções
provisórias, uma vez que parte das áreas de vivência normalmente é transferida
para os pavimentos com estrutura concluída, a fim de execução da periferia do
empreendimento. Logo, essa característica transitória pode levar o empresário da
construção a não querer investir uma quantia mais significativa nesses ambientes, os
quais usualmente são feitos de improviso, com produtos de qualidade não adequada,
que podem comprometer a integridade física da construção (OLIVEIRA; LEÃO, 1997).
Contudo, para Saurin e Formoso (2006), a atividade de planejamento e
concretização do projeto do canteiro consome uma quantidade muito pequena de
horas técnicas e de custos em relação à obra como um todo, não existindo justificativas
para não ser realizado de maneira planejada. Para esses autores, os recursos
despendidos são insignificantes se comparados aos seus benefícios.
Reis et al. (2004) recomendam que, antes de se adotar uma tecnologia
sustentável para as construções provisórias, seja realizada uma análise criteriosa
dos reais benefícios gerados pelos sistemas construtivos, conhecendo os impactos
ambientais, econômicos e sociais do produto escolhido.
Como as instalações são similares às habitações e edifícios em geral, entende-se
que elas necessitam atender a uma série de requisitos de desempenho, os quais devem
ser identificados para a correta seleção e projeto desses locais. Rodrigo et al. (2012)

Cap. 11 Instalações Provisórias Pré-fabricadas para Canteiros de Obras | 215


apresentam os principais requisitos de desempenho que as instalações provisórias de
canteiros de obras precisam atender, tomando-se como base metodológica a norma
de desempenho brasileira e o referencial técnico do certificado ambiental AQUA
habitacional (FCAV, 2010).
Mateus e Bragança (2004) sugerem a utilização de uma Metodologia de
Avaliação Relativa da Sustentabilidade de Soluções Construtivas (MARS-SC), por meio
da determinação de indicadores funcionais que auxiliam na determinação de uma nota
de sustentabilidade para o produto. Segundo esses autores, o número de parâmetros
avaliados é ajustado em função dos objetivos da avaliação, das características das
soluções estudadas, das exigências funcionais a serem satisfeitas, das características
do local e dos dados disponíveis. De modo geral, os indicadores e parâmetros de
sustentabilidade propostos – ambiental, funcional (social) e econômico – estão
apresentados no Quadro 1.

Quadro 1. Indicadores e parâmetros considerados na avaliação da sustentabilidade de


construções provisórias.

Categorias de Indicadores
Ambiental Funcional (social) Econômico
Potencial de aquecimento Isolamento sonoro Custo de construção
global
Energia primária incorporada Isolamento térmico Custo de manutenção
Conteúdo reciclado Durabilidade Custo de reabilitação
Parâmetros

Potencial de reciclagem Comportamento ao fogo Custo de desmontagem/


demolição
Reservas remanescentes de Flexibilidade de u�lização Valor residual
matéria-prima
Quan�dade de recursos - Custo de tratamento para
naturais u�lizados devolução ao ambiente
natural
Fonte: Mateus; Bragança, 2004.

O modo como cada indicador influencia a sustentabilidade pode ser adequado


ao contexto do empreendimento. A princípio, as três categorias de indicadores podem
apresentar o mesmo peso na avaliação da sustentabilidade. Todavia, usualmente, as
alternativas mais compatíveis com o ambiente são geralmente as mais caras. Assim,
Mateus e Bragança (2004) sugerem que os pesos dos indicadores ambiental (40%) e
funcional (40%) devem ser superiores ao do indicador econômico (20%).

216 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


3. O Projeto das Instalações Provisórias
Como toda edificação, torna-se necessária a realização de projetos que
considerem as necessidades da obra, bem como as características dos sistemas
construtivos pré-fabricados. Saurin e Formoso (2006) apontam a padronização do
projeto das instalações provisórias como uma estratégia a ser utilizada por empresas
que constroem obras com tipologias semelhantes. Para os referidos autores, essa
padronização é ambientalmente justificada e recomendada devido à repetição do ciclo
das instalações, independentemente da tecnologia empregada.
Para Degani (2012), o projeto das instalações provisórias deve considerar:
• Previsão de espaços para a gestão dos resíduos administra�vos;
• Previsão de espaços para a gestão dos insumos da própria obra;
• Previsão de espaços ergonomicamente adequados para a acomodação das
pessoas e seus fluxos nos locais de trabalho e de lazer;
• Previsão de espaços para o treinamento e comunicação com os trabalhadores;
• Proporcionar o bem-estar dos trabalhadores;
• Ter facilidade de limpeza;
• Atendimento às necessidades de conforto acús�co e térmico, em
conformidade com o clima e incidência de ventos no local do terreno;
• Desmontabilidade e reciclabilidade das instalações.
Os conceitos da industrialização de ciclo aberto ou de catálogo sugeridos
por Bruna (1976) podem ser observados na maioria dos sistemas identificados. Isso
significa que os fabricantes produzem estoque de seus componentes e criam um
catálogo com as informações características de cada peça fabricada em sua empresa,
indicando as qualidades físicas de resistência, isolação e peso. Além disso, os produtos
são concebidos seguindo a coordenação modular e alguns dos princípios básicos de
um sistema aberto, como: serem intercambiáveis (podem assumir diferentes posições,
como forro ou painel); e serem combináveis (formando conjuntos maiores, com
aditividade de peças). No caso das instalações provisórias pré-fabricadas em madeira,
os componentes do projeto da construção temporária podem ser observados na
Figura 1.

Cap. 11 Instalações Provisórias Pré-fabricadas para Canteiros de Obras | 217


Tesoura pré-fabricada em madeira
Telha (fibrocimento, metálica, cerâmica)
Forro em chapa lisa de madeira
Painel externo fechado
Oitão pré-fabricado (1,22 × 2,44 × 0,09m)
em madeira
Painel externo janela
Espelho em (1,22 × 2,44 × 0,09m)
madeira

Painel externo porta


(1,22 × 2,44 × 0,09m)
Cinta superior em madeira
Arremate em madeira
Cinta inferior em madeira Cantoneira em madeira
Piso (cimentado, cerâmico, vinílico) Baldrame em bloco de concreto

Figura 1 - Componentes de um sistema pré-fabricado em madeira para instalações pro-


visórias em canteiro de obra. Fonte: Boff (2014).

Após a utilização, as instalações podem ser desmontadas e remontadas


em outros canteiros de obra. Como forma de aumentar a vida útil do sistema, a
desmontagem das instalações provisórias deve ser feita por operários especializados
da própria empresa fornecedora de forma programada. Os componentes podem
ser armazenados ou levados diretamente a outras obras, caso haja necessidade de
uso imediato. O sistema pode apresentar vida útil de 20 anos, contanto que sejam
tomados cuidados com a integridade do produto durante a montagem, desmontagem,
armazenagem e transporte, segundo Boff (2004).

4. Ciclo de Produção das Instalações


Provisórias
Segundo Dias (2013), o ciclo de vida das construções temporárias não é
abordado de maneira detalhada pelos referenciais teóricos. Para a referida autora,
existe certa semelhança com as construções convencionais, ou seja, em ambas
são encontradas as etapas de planejamento, extração de materiais, execução ou
montagem, uso, manutenção e desconstrução. Entretanto, é nesta última fase que se
encontram as diferenças, pois, por ter um tempo de utilização reduzido, os aspectos
referentes às necessidades e possibilidades de reuso e reciclagem aparecem de forma
mais marcantes com a desmobilização das instalações provisórias no canteiro de obras.
Arslan e Cosgun (2008) defendem que as edificações temporárias podem ser
desmontadas com uma perda mínima de energia e de material, tornando possível

218 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


a reutilização e reciclagem de seus componentes, infraestrutura e superestrutura. A
Figura 2 indica o ciclo de vida da reutilização e reciclagem de construções provisórias,
realizado por Arslan (2007). Para o referido autor, o material gerado após desmontagem
de um edifício pode ser categorizado em:
• material reciclado: material processado que depois de selecionado é
processado em um novo material constru�vo;
• material de reuso: material de construção que é novamente u�lizado, sem
alterar sua forma ou natureza;
• matéria-prima: material desmontado que é transformado em outra matéria-
prima para a engenharia.
Na Figura 2, são identificados os procedimentos possíveis e os fluxos dos
componentes da construção após a desmontagem da instalação temporária:
• normalmente, os componentes principais (painéis e paredes) podem ser
reu�lizados, adaptados ou consertados para uso em um próximo edi�cio;
• os componentes secundários (vigas, pilares e estacas) podem ser processados
da mesma forma que os principais ou se tornarem matéria-prima para novos
componentes.
O mesmo autor demonstra graficamente que os componentes podem ser
colocados à venda ou serem armazenados para uso futuro.

Decomposição
dos principais Recombinação Mesmo ou novo
componentes ou conserto componente
Unidade de de painéis do edi�cio
instalação constru�vos
temporária Decomposição
de componentes
secundários da Matéria- Material
Operação
construção prima novo

Mesmo material Reparos e Material de


Classificação
de construção consertos construção

Venda Uso

Armazenamento Finalidade desejada

Figura 2 - Processos de reu�lização e reciclagem das construções temporárias. Fonte:


Traduzido de Arslan, 2007.

Cap. 11 Instalações Provisórias Pré-fabricadas para Canteiros de Obras | 219


Arslan (2007) complementa ainda que o ciclo de vida das instalações temporárias
pode ser prolongado quanto maior for o investimento em métodos de reuso ou técnicas
de reciclagem após a desmontagem. Em pesquisa posterior, Arslan e Cosgun (2008)
verificaram que as construções provisórias que possuem longa duração apresentam-se
como um ótimo investimento para as instituições que dispõem de recursos financeiros
limitados, pois os custos despendidos com a aquisição dos sistemas podem ser diluídos
ao longo do tempo.

5. Tecnologias das Instalações Provisórias


De acordo com Birbojm e Souza (2001), algumas construtoras costumavam fazer
as escolhas das instalações provisórias sem conhecer as vantagens e desvantagens de
cada alternativa, resultando em áreas de vivência mal projetadas, desconfortáveis e,
muitas vezes, mais custosas.
Embora na maior parte dos canteiros predominem sistemas improvisados
em chapas de madeira compensada, existem diversos critérios, como durabilidade
e reaproveitamento, que podem auxiliar na escolha da tipologia das instalações
provisórias (SAURIN; FORMOSO 2006).
A seguir, serão apresentadas as diferentes soluções tecnológicas identificadas
por Dias e Serra (2013), no que se refere às construções temporárias pré-fabricadas
comercializadas no mercado brasileiro. Será feita uma síntese sobre as principais
características de cada alternativa, disponibilizadas pelas próprias empresas fabricantes
ou por referências bibliográficas.

5.1 Pré-Fabricados em Madeira


O Sistema de pré-fabricados em madeira (Figuras 3 e 4) baseia-se na
industrialização dos componentes formados por múltiplos painéis modulados,
autoportantes, entregues prontos na obra. Os componentes são tratados contra
ataques de micro-organismos, são montados de acordo com o projeto elaborado pelo
fornecedor e possuem maior durabilidade do que o sistema tradicional em chapas
compensadas, podendo ser reutilizados de cinco a sete vezes (BIRBOJM; SOUZA, 2001).
Podem ser utilizados diferentes tipos de madeira, inclusive o OSB (Oriented
Strand Board) que são placas de madeira orientadas, coladas com resina fenólica de alta
resistência a intempéries, que possuem resistência mecânica similar a do compensado.
Sua alta resistência à delaminação e ao empenamento garante as condições higiênicas,
durabilidade e aparência necessárias para a qualidade da edificação. As placas também
são totalmente recicláveis, tornando o produto uma alternativa sustentável.

220 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Figura 3 - Instalação provisória pré-fabricada em chapas OSB.
Fonte: h�p://www.lpbrasil.com.br/aplicacoes/

Figura 4 - Instalação provisória pré-fabricada em painéis estruturais em madeira �po pinus.


Fonte: h�p://canteiro.com.br/

Existem também soluções combinadas de “tecnologia Cement Wall”, formada


pela elevação de painéis estruturados com sarrafos em madeira de reflorestamento,
revestidos interna e externamente com chapas de OSB e placas cimentícias, que
aumentam a resistência à umidade, ao fogo, a danos de impacto, além de garantir
conforto térmico e acústico (NOVO ESPAÇO, 2013).
Para a instalação das edificações em madeira, são necessárias fundações
constituídas por baldrames, sapatas corridas ou radiers em concreto armado de acordo
com as necessidades especificas de cada solo ou edificação.

Cap. 11 Instalações Provisórias Pré-fabricadas para Canteiros de Obras | 221


5.2 Concreto Celular
Trata-se de um sistema que utiliza tecnologia de módulos formados por placas
de concreto celular e interligados por perfilados metálicos, conforme Figura 5. Como
vantagens do sistema, estão o conforto térmico e acústico, a rapidez na execução e
a compatibilidade com qualquer dimensão de projeto. Do mesmo modo, as placas
de concreto celular são compostas com elementos inertes e inorgânicos que evitam
agressões de pragas e fogo, proporcionam resistência às intempéries e possuem bom
acabamento (Figura 6).

Figura 5 - Montagem da construção provisória em concreto celular.


Fonte: h�p://www.novoespaco.com.br

Figura 6 - Vista das construções provisórias em concreto celular.


Fonte: h�p://www.prefacc.com.br/

Assim, como as construções pré-fabricadas em madeira, torna-se necessária a


execução de fundações, tais como, baldrames, sapatas corridas ou radiers em concreto
armado de acordo com as características do solo ou da instalação.

222 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


A durabilidade desse tipo de sistema equivale à da construção convencional,
podendo as edificações ser de caráter definitivo, caso necessário. A desmontagem pode
ser executada com cuidados específicos, a fim de facilitar o reuso dos componentes.

5.3 Contêiner Metálico


Os contêineres metálicos são bastante utilizados devido à leveza, independência
de fundações, facilidade de transporte, possibilidade de reaproveitamento, resistência
contra intempéries, pequeno tempo de montagem e desmontagem e versatilidade
com diferentes possibilidades de arranjos internos, sendo possível abrigar, inclusive,
banheiros (Figura 7). Entretanto, Birbojm e Souza (2001) consideram o alto custo
de locação e o considerável desconforto térmico e acústico, como as principais
desvantagens de seu uso, sendo por isso necessário o uso de climatizadores ou ar
condicionado (Figura 8).

Figura 7 - Detalhe interno de um contêiner u�lizado como banheiro.


Fonte: h�p://www.gaccontainers.com.br/

Figura 8 - Aparência externa do contêiner metálico com uso de ar condicionado.


Fonte: h�p://www.megacontainers.com.br/

Cap. 11 Instalações Provisórias Pré-fabricadas para Canteiros de Obras | 223


Existem atualmente no mercado também contêineres com solução termoacústica
e uso de painéis que bloqueiam os ruídos, proporcionam maior conforto térmico e,
com isso, melhoram a qualidade de vida do trabalhador (Figura 9). Esses painéis são
formados por duas chapas de aço zincado, com espessura 1,90 mm cada, e chapa de
EPS em seu interior (EUROBRAS, 2013).
Em contrapartida, Saurin e Formoso (2006) afirmam que apesar de existir a
opção de compra de contêineres com isolamento térmico, o elevado custo dessa
opção faz com que ela seja pouco utilizada. Assim, para minimizar esses impactos,
os autores sugerem medidas simples a serem adotadas, como a pintura externa em
cor branca, execução de telhado sobre o módulo e uma ventilação natural adequada
composta por, no mínimo, duas aberturas.
Como mencionado, uma das vantagens desse sistema é o transporte dos
elementos que podem ser feitos de forma conjunta (desmontados e empilhados)
ou de forma montada (Figura 10). A compactação do volume de transporte reduz
os custos operacionais, fazendo com que o contêiner incorpore alguns conceitos de
sustentabilidade, com redução da emissão de gases tóxicos.

Figura 9 - Contêineres com solução termoacús�ca. Fonte: h�p://brasteiner.com.br/

Figura 10 - Transporte dos contêineres montados ou desmontados.


Fonte: h�p://www.eurobras.com.br/

224 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


A durabilidade dos contêineres é estimada pelos fabricantes em cerca de 20
anos, podendo ser reutilizado várias vezes. O menor peso do produto faz com que o
contêiner não necessite de fundações, sendo necessário apenas um local nivelado e
compactado.

5.4 Módulos Metálicos Combináveis


Os módulos metálicos combináveis derivados do tipo contêiner podem ser
acoplados (Figura 11) e sobrepostos (Figura 12) para otimizar o uso do espaço físico
no canteiro. Segundo os fabricantes, os módulos acomodam escritórios, sanitários,
chuveiros, almoxarifados, dormitórios e outros ambientes.
Além da elevada resistência mecânica, as construções temporárias em aço
galvanizado possuem vantagens relativas à montagem e desmontagem, não possuem
necessidade de execução de fundações, bem como apresentam resistência às
intempéries (BIRBOJM; SOUZA 2001). Porém, assim como o contêiner metálico, o
inconveniente desse tipo de estrutura refere-se ao desconforto térmico, amenizados
a partir da utilização de painéis isotérmicos tanto nas paredes quanto na cobertura ou
o uso de ar condicionado.

Figura 11 - Construção provisória em aço galvanizado. Fonte: h�p://cmcmodulos.com.br

Cap. 11 Instalações Provisórias Pré-fabricadas para Canteiros de Obras | 225


Figura 12 - Construção provisória com dois pavimentos em aço galvanizado.
Fonte: h�p://cmcmodulos.com.br

A durabilidade das instalações é alta, sendo reutilizadas várias vezes, tal como
o contêiner.

5.5 Galpões Estruturados


Outra solução é o galpão estruturado em lona de PVC (policloreto de vinila),
observado na Figura 13, que são adequados tanto para o armazenamento de produtos
quanto para o abrigo de pessoas em canteiros de obras. A estrutura de sustentação é
composta por treliças em aço galvanizado que permitem um espaço interno totalmente
aproveitável, sem colunas intermediárias (Figura 14). É necessária a execução de
fundações diretas, fixando os perfis sobre uma base de concreto. O material de
cobertura e revestimento apresenta alta resistência, durabilidade, impermeabilidade,
é autoextinguível e possui tratamento antimofo (VINIGALPÃO, 2016).

Figura 13- Vista externa de galpão estruturado. Fonte: h�p://alterna�vacoberturas.com.br/

226 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Figura 14 - Vista interna de galpão estruturado sem colunas intermediárias.
Fonte: h�p://www.vinigalpao.com.br/

Apesar de sua montagem, transporte e desmontagem serem realizados com


facilidade, sem geração de barulho e entulhos, os galpões costumam apresentar altura
central e dimensões horizontais maiores com, no mínimo, quatro metros. Esse pode
ser considerado um dos motivos de não serem amplamente utilizados, especialmente,
quando os canteiros apresentam pouco espaço livre.

5.6 Barracas e Tendas em Lona


São sistemas modulares leves que oferecem abrigos resistentes, de rápida
montagem, fácil transporte e que suportam grandes variações climáticas. As
barracas e tendas em lona, exemplificadas na Figura 15, são instalações provisórias
reaproveitáveis, que não geram resíduos (VRB, 2016). Uma estrutura em aço concede
rigidez e formato às tipologias, as quais não necessitam de fundações específicas para
serem utilizadas, ficando estável em qualquer tipo de solo, e, da mesma forma que os
galpões estruturados, não apresentam obstáculos intermediários (Figura 16).

Cap. 11 Instalações Provisórias Pré-fabricadas para Canteiros de Obras | 227


Figura 15 - Vista externa da barraca em lona. Fonte: h�p://vrb848.com.br

Figura 16 - Vista interna da barraca em lona. Fonte: Mar�ns, 2013.

Segundo o fabricante, este produto é 100% reaproveitável, não gera resíduos que
agridam ao meio ambiente, possui material que não propaga chamas e é concebido de
acordo com as normas brasileiras, em especial a NR-18 – Condições e meio ambiente
do trabalho na indústria da construção (VRB, 2016).

5.7 Polietileno Reciclado (Plástico)


Compõe-se de tecnologia de placas plásticas de polietileno reciclado (Figura
17), com estrutura de suporte de perfis “H” em policloreto de vinila (PVC) reforçados
com aço em seu interior. As paredes de vedação são compostas por duas placas em
polietileno de alta densidade reciclado, que possuem preenchimento em material
isolante em poliestireno expandido, popularmente chamado de EPS (Figura 18) ou
espuma de poliuretano, visando promover proteções acústica e térmica.

228 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Figura 17- Instalação provisória em plás�co. Fonte: h�p://www.impactoprotensao.com.br/

Figura 18- Preenchimento das placas com material termo acús�co (EPS). Fonte: Dias, 2013.

A estrutura leve dispensa a execução de fundações, sendo necessária apenas a


construção de uma base metálica com guias para suporte ao piso em terreno nivelado
e compactado. O piso é formado por placas específicas para circulação. As telhas
para cobertura são feitas a partir de telhas ecológicas ou convencionais existentes no
mercado. A ventilação é garantida por meio de janelas de posicionamento flexível ou
por meio da utilização de ar condicionado, tal como nos demais sistemas (IMPACTO
PROTENSÃO, 2016).
A desmontagem, feita com cuidado, proporciona o reaproveitamento dos
componentes em outros canteiros.

Cap. 11 Instalações Provisórias Pré-fabricadas para Canteiros de Obras | 229


5.8 Painéis Estruturais de Chapas Especiais
Outra solução diz respeito aos painéis PETI (Painéis Estruturais Termo Isolantes),
que se constituem de duas camadas de chapas de aço zincado, preenchido ao meio
com poliestireno expandido. Os mesmos podem ser autoportantes (Figura 19) ou de
vedação (Figura 20).

Figura 19 - Montagem de painéis PETI com perfis guia. Fonte: Almeida, 2015.

Figura 20 - Painéis PETI u�lizados como vedação. Fonte: h�p://www.decorlit.com.br/


painel-eps-canteiro-obras.html

230 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Como fundação para os painéis autoportantes, pode-se utilizar a solução de
radier ou sapatas niveladoras, nas quais são instaladas as guias metálicas (ALMEIDA,
2015).
Os fabricantes indicam a durabilidade de 10 anos, com garantia de assistência
técnica e alta resistência aos agentes externos.

6. Conclusões
Todo canteiro de obra deve contar com áreas de apoio, representadas pelas
instalações provisórias, durante a construção. Para que o canteiro de obras possa
ser considerado sustentável, devem ser respeitados os aspectos ambiental, social
e econômico na análise das soluções a serem adotadas. As empresas podem se
conscientizar que o investimento em tecnologias traz benefícios, como melhor
desempenho, mais qualidade no uso e possibilidade de várias reutilizações.
Dessa forma, as empresas construtoras devem analisar as opções disponíveis
no mercado e compor os custos, considerando os processos de aquisição, implantação
e manutenção, a durabilidade, o tempo de uso, a capacidade de reaproveitamento, a
facilidade de montagem, transporte e desmontagem, o conforto termoacústico, entre
outros.
Por meio deste trabalho, percebeu-se que o mercado fornecedor de construções
temporárias encontra-se consciente da importância de apresentar diferentes produtos
compatíveis com a sustentabilidade ambiental e com as necessidades das pessoas que
trabalharão nas obras. É importante que as empresas fornecedoras passem a registrar
o atendimento aos requisitos de pontuação do processo de certificação dos canteiros
sustentáveis como estratégia de marketing.
Com este trabalho espera-se ter contribuído para apresentar as principais
soluções das instalações provisórias disponíveis atualmente no mercado. Espera-se que
as opções tenham como premissas principais a menor geração de resíduos no período
de desconstrução, a diminuição dos gastos dos retrabalhos e busca da satisfação do
trabalho. Alerta-se, contudo, que a análise econômica normalmente considera que
as instalações provisórias pré-fabricadas têm um custo de aquisição mais elevado
se comparadas aos sistemas tradicionais, mas possibilitam que o investimento seja
distribuído ao longo do tempo de reuso.

Referências
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canteiros de obras. 74f. 2015. Monografia de Curso de Especialização em Construção Civil
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Cap. 11 Instalações Provisórias Pré-fabricadas para Canteiros de Obras | 231


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12
http://dx.doi.org/10.26626/978-85-5953-027-8.2017C0012.p.235-248

Projeto de Contêineres
Metálicos para Instalações
Provisórias em Canteiros
de Obras

Adriana Gouveia Rodrigo


Danielle Gazarini
Francisco Ferreira Cardoso

1. Introdução
Um canteiro de obras é a área de trabalho fixa e temporária, onde se desenvolvem
operações de apoio e de execução de uma obra, segundo a Norma Regulamenta-
dora 18: Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (BRASIL,
2015). Birbojm e Souza (2002) descrevem instalações provisórias como construções
temporárias utilizadas para abrigar as operações de apoio e execução da obra, as quais
serão removidas do local após a sua utilização, e que podem ser divididas entre internas
e externas. As normas NR 18: Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da
construção (BRASIL, 2015) e NBR 12284: Áreas de vivência em canteiros de obras –
Procedimentos (ABNT, 1991) explicitam as áreas obrigatórias de apoio, que devem
dispor, no mínimo, de: instalações sanitárias, vestiário, alojamento, local de refeições,
cozinha (caso haja preparo de refeições), lavanderia, área de lazer e ambulatório
(quando a frente de trabalho possuir mais de 50 trabalhadores); considera-se aqui
como instalação provisória as áreas de escritórios.
O mercado oferece atualmente sistemas com maior ou menor grau de
industrialização para a execução mais rápida de instalações provisórias, tais como
sistema tradicional de chapa de madeira compensado, pré-moldado de madeira,

235
contêineres metálicos, construções com estruturas metálicas desmontáveis, pré-
moldado de concreto e pré-moldado de fibra plástica.
Este capítulo volta-se aos contêineres metálicos para instalações provisórias em
canteiros de obras. Tais estruturas são usualmente empregadas como um conjunto
de módulos semelhantes, combinados horizontal e verticalmente, formando unidades
contínuas, e complementados por estruturas próprias para a circulação de pessoas:
escadas e passarelas. Possuem mecanismo de acoplamento e transporte, sendo
vedados verticalmente por painéis que admitem diferentes soluções de produtos e
preveem aberturas externas e internas, incorporando uma série de sistemas (água,
esgoto, energia, iluminação, etc.).
Em geral, os contêineres metálicos possuem dimensões compatíveis com
as de uma plataforma de caminhão de circulação em áreas urbanas – da ordem de
2,40 m de largura por 6,00 m de comprimento e 2,50 m de altura - e é usualmente
transportado montado em sua configuração tridimensional. O transporte desmontado
exige finalização da montagem nos canteiros de obras, mas reduz os custos do frete. O
caminhão usado para esse fim é normalmente equipado com guindaste hidráulico. O
acoplamento dos contêineres na obra não exige pessoal especializado.
Em uma obra, à medida que os diferentes serviços são executados, as instalações
do canteiro assumem características e configurações distintas, associadas às diversas
fases da obra. Observa-se que, com as mudanças de fases, as instalações provisórias,
muitas vezes, são construídas, ampliadas e, posteriormente, demolidas, gerando uma
quantidade de entulho e desperdício de material e energia. A identificação dessas fases
e das mudanças que ocorrem em cada uma delas, ajuda a compreender a evolução
que se espera no desempenho almejado, ajuda também na elaboração de um projeto
típico de instalação provisória e como ampliá-lo ou reduzi-lo para acomodar as
necessidades de cada fase.
Embora a solução em contêiner metálico alinhe-se fortemente com o conceito
de construção industrializada, a realidade mostra que seu uso se dá de forma
desordenada, com projetos que seguem a prática usada no emprego de sistemas
tradicionais de instalações provisórias.
O objetivo deste artigo é trazer elementos para a criação de um sistema
modular em aço para instalações provisórias de obras, apresentando os principais
condicionantes de projeto para essas instalações, com base em um programa de
necessidades típico para essas estruturas, a fim de possibilitar que a sua configuração
se transforme em função das diferentes fases das obras.
A pesquisa, apresentada em Rodrigo et al. (2015), baseou-se em entrevistas
e visitas de campo guiadas por um roteiro, que investigou os seguintes itens:
identificação da quantidade de trabalhadores por fase das instalações provisórias;
caracterização por tipologia construtiva; razão das escolhas das tipologias; programa
de necessidades; implantação das instalações provisórias no terreno; procedimento
para projeto e responsável pelo projeto; e destinação das instalações provisórias ao
final da obra.

236 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Foram selecionadas cinco grandes empresas construtoras da cidade de
São Paulo. Cada uma delas indicou uma ou duas obras para a realização de visitas,
totalizando oito obras na cidade de São Paulo, como mostra a Tabela 1. Foram
entrevistados cinco responsáveis pelos canteiros de obras, um de cada empresa. Em
duas das entrevistas estavam presentes também os representantes das empresas
fornecedoras das instalações provisórias. A análise das visitas foi embasada no método
de estudo de caso, conforme descrito em Yin (2005).

Tabela 1 – Empresas construtoras e obras correspondentes estudadas.

Empresa Obras Área do Quan�dade Número de Número de


Terreno (m2) de edi�cios andares unidades
A A1 2.500 1 27 260
A2 2.029 1 27 185
B B1 250.000 30 29 (média) -
C C1 17.462 3 25 246
D D1 7.000 2 25 400
D2 2.500 1 16 44
D3 7.600 2 18 296
E E1 3.810 2 8 127
Fonte: Rodrigo et al., 2015.

Paralelamente às pesquisas de campo nas obras, foram realizadas quatro visitas


de caráter exploratório aos fabricantes de instalações provisórias. O levantamento
junto aos fabricantes permitiu que identificássemos os principais fornecedores de
componentes e trouxe outras informações relevantes para o desenvolvimento do
projeto do módulo metálico em aço.

2. O Uso dos Contêineres Metálicos nas


Diferentes Fases do Canteiro de Obras
Souza (2000), pensando nas instalações do canteiro de obras, propõe as
seguintes fases: 1) movimentação de terra, contenção da vizinhança e fundações;
2) estrutura do subsolo sob a torre e da periferia; 3) estrutura do restante da torre;
4) estrutura e alvenaria; 5) estrutura, alvenaria e revestimentos argamassados; 6)
finalização da obra. Em relação à logística interna da obra, Nascimento (2014) propõe
quatro fases para o canteiro: 1) mobilização até fundação; 2) fundação e estrutura; 3)
início da alvenaria até a conclusão dos revestimentos; 4) acabamentos até entrega.

Cap. 12 Projeto de Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias... | 237


Para Souza (2000), a primeira fase, ou seja, movimentação de terra,
contenções e fundações, é normalmente marcada pela presença de subempreiteiros
donos dos equipamentos, que não necessitam de alojamento, demando poucas
construções provisórias no canteiro. Nas fases seguintes, as demandas por espaços
de armazenagem e áreas de vivência aumentam, e deve-se pensar nos acessos para
materiais, especialmente para realização da estrutura.
Em geral, as empresas visitadas utilizam, em um primeiro momento (fase 1),
contêineres simples de aço com fechamentos verticais em chapa de aço galvanizada
dobrada para servirem como instalações provisórias. Tal fase pode estender-se até o
início da estrutura e, na maior parte dos casos, dura aproximadamente 3 meses.
Após as escavações e primeiras movimentações do solo, há preferência por
instalações feitas em madeira (fase 2), que possuem maior flexibilidade em relação
à movimentação do canteiro e têm um custo menor, segundo a percepção dos
entrevistados. Pode-se dizer que essa fase acompanha o período de obra bruta e
estende-se pelo maior tempo possível, em alguns casos até o final da obra.
Em um terceiro momento, já na fase final da obra, isto é, na etapa de
acabamentos, é comum que parte das instalações provisórias migrem para dentro da
área construída (fase 3- nem todas as obras visitadas consideram essa fase necessária).
Quanto à quantidade de trabalhadores, o total é variável conforme o tamanho da
obra em questão. A Tabela 2 mostra a duração de cada fase e o número de funcionários,
lembrando que, na tabela em questão, consideraram-se apenas os operários e não os
funcionários administrativos.

Tabela 2 – Fases das obras: duração e número de funcionários.

Obras A1 e A2 B1 C1
Fases 1 2 3 1 2 3 1 2 3
Duração (meses) 3 a 4 NI* NI 3 a 4 18 a 24 6 a 12 2 NI 2
N° de funcionários 10 100 200 35 400** 400** 35 450 NI

Obra D1 D2 D3 E1
Fases 1 2 1 2 1 2 1 2
Duração (meses) 1 24 1 20 1 24 9 14
N° de funcionários NI 260 NI 175 NI 420 NI 180

*NI – Não Informado; **número de funcionários por cada subempreendimento (em 2015, espera-se
3.000 funcionários no total).
Fonte: Rodrigo et al., 2015.

238 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


O faseamento da instalação provisória é necessário, pois as instalações em
madeira levam de 1 a 2 meses para serem construídas. Assim, faz-se necessário que
algo ainda mais provisório seja construído no decorrer desses meses, e normalmente
opta-se por contêineres metálicos simples que ficam prontos para uso em poucos dias
ou até mesmo horas.
O engenheiro das obras D1, D2 e D3 manifestou o desejo de que tal faseamento
pudesse não ocorrer, já que a instalação provisória da fase 1 representa um trabalho
a mais (desmobilizar a instalações da fase 1). Além disso, nos terrenos muito
pequenos (comuns na cidade de São Paulo) é difícil de montar a nova estrutura com
os contêineres da fase 1 ocupando um espaço considerável, além de representar um
risco de segurança desnecessário. O mesmo engenheiro considera desnecessária a
desmobilização antes do fim da obra, eliminando, portanto, a terceira fase para as
instalações provisórias.
Corroborando com a ideia de permanência de um único sistema de instalação
provisória e pensando na logística do canteiro de obras e na economia de recursos, o
trabalho de Nascimento (2014) mostra que os contêineres devem permanecer até a
fase 2, que compreende as atividades de fundação até as do início da execução dos
serviços de alvenaria. Já estão presentes na obra a equipe de estrutura e muitas vezes
também de periferia, e funcionários da execução das instalações elétricas e hidráulicas
nas lajes. Para Nascimento (2014), o ideal é a permanência dos contêineres até que
exista a possibilidade de mudança para o subsolo.
A fase 3 é vista como indispensável pelos engenheiros das obras A1, A2 e
B1, por considerarem muito difícil terminar os trabalhos sem a desmobilização da
instalação provisória (segundo eles, sempre há algum serviço a ser executado no local
utilizado para a construção da instalação provisória, sendo o mais comum a instalação
de brinquedos infantis ou áreas de lazer, churrasco, etc.). As obras C1 e E1 já fazem
uso das áreas internas do edifício a partir da fase 2. Dessa forma, na obra E1, todas as
instalações provisórias são internas e, na C1, apenas o refeitório é interno, durante as
fases 2 e 3.
Nas entrevistas, destacou-se que normalmente o que condiciona a necessidade
ou não da instalação da fase 3 é o que será construído sob a instalação provisória da
fase 2. Assim, por exemplo, quando a instalação é construída sobre um futuro jardim,
ela pode permanecer montada até o fim da obra, mas se sob ela houver programada a
realização de alguma obra, mesmo que pequena, surge a necessidade de transferência
das instalações provisórias para debaixo das lajes.
A possibilidade de existir uma única tipologia de instalação provisória, que
permaneça até o fim da obra, é discutida em Said e El-Rayes (2013). Esses autores,
porém, destacam que canteiros de obras congestionados, como os terrenos urbanos,
frequentemente não têm espaço exterior suficiente para acomodar todas as instalações
provisórias, sendo necessária a utilização do interior dos edifícios.

Cap. 12 Projeto de Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias... | 239


A Tabela 3 mostra as principais tipologias construtivas de instalações provisórias
encontradas. A instalação da fase 2 foi tratada como tipologia construtiva principal,
visto ser a que permanece mais tempo na obra. O custo total pode ser dividido por
algumas obras (quando a instalação é reutilizada, segundo relato dos entrevistados).

Tabela 3 – Tipologias constru�vas das instalações provisórias.

Empresa Fase 1 Fase 2 Fase 2 (principal)


Contratação Custo total Custo por
(R$/m2) obra (R$/m2)
A Contêiner chapa Madeira Comprada 325 175
dobrada
B Contêiner chapa Madeira Fabricação 350 350
dobrada própria
e madeira
provisório.
C Contêiner chapa Madeira Comprada 240 240
dobrada
D Contêiner chapa Madeira com Comodato - 400
dobrada estrutura metálica
E Contêiner chapa Estrutura metálica Alugada - 210
dobrada (sem teto) e PVC
Fonte: Rodrigo et al., 2015.

A tipologia construtiva da fase 3 não consta na tabela, uma vez que envolve o
uso temporário de áreas internas do edifício, normalmente se empregando partes das
instalações da fase 2, como para compartimentalização de áreas, vasos sanitários, etc.
O uso dos contêineres foi observado apenas na fase 1 e em todas as obras. O
arranjo característico previu o uso de dois a três contêineres simples, normalmente
montados deixando-se uma distância de 2 metros entre eles, sendo esse espaço
coberto e utilizado como vestiário, local para pendurar toalhas ou refeitório. O
cumprimento da NR 18 – Condições e meio ambiente do trabalho na indústria da
construção (BRASIL, 2015), nessa fase, fica comprometido, tendo sido observado a
falta de armários, refeitórios improvisados e revestimentos de vestiários inadequados.
Outra constatação é o uso de construções sob a forma de aluguel, como no caso dos
contêineres, ou sob a forma de comodatos.
O uso do contêiner simples de chapa dobrada, sem tratamento térmico
e acústico, não é nem cogitado para a segunda fase (por nenhuma empresa), pois
traria um grande incômodo aos trabalhadores. Nessa fase, a estrutura em madeira
é considerada mais confortável, ainda que não seja completamente adequada. De

240 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


maneira geral o contêiner simples de chapa dobrada é visto como provisório e, mesmo
com o uso de ar-condicionado, não é confortável, segundo os entrevistados.
Contêineres de aço com desempenho superior (sobretudo devido aos vedos –
paredes e teto – com componentes que o isolam termicamente do ambiente exterior)
foram considerados muito caros por todas as empresas entrevistadas. Além disso,
as empresas alegam que, caso o contêiner fosse comprado, não haveria local para
guardá-lo nos momentos em que ele não estivesse em uso e pagar aluguel para esse
fim, durante toda a obra, poderia acarretar um gasto muito elevado.
Todas as empresas citaram o fato da instalação em madeira ter um custo
menor que a instalação em aço (com desempenho equivalente). A adaptabilidade das
instalações em madeira, embora citada como vantajosa pelos entrevistados, na prática
mostrou-se difícil de ser feita.
Outros condicionantes na tomada de decisão para o sistema construtivo foram
o serviço de montagem, desmobilização e, em alguns casos, até a transferência para
outra obra, serviço que a empresa fornecedora da instalação em madeira oferece.
O fornecedor parceiro da empresa “D” disponibilizava inclusive um sistema de
manutenção e limpeza diária.
Com relação à destinação das instalações provisórias ao final da obra, ficou
clara a vantagem das instalações em aço. Por possuírem vida útil muito maior,
podem ser reutilizadas inúmeras vezes apenas com manutenção. Segundo uma das
empresas fabricantes de contêiner simples de chapa dobrada, um mesmo contêiner
pode ser utilizado até 20 vezes, mediante manutenção. Além do mais, as instalações
hidráulicas, tubulações e fiações, se corretamente integradas ao contêiner, podem ser
reaproveitadas. Ao final da vida útil, quando a instalação chega a apresentar algum
dano estrutural, o contêiner pode ser totalmente reciclado, pois o aço é reaproveitado
sem qualquer perda de qualidade. No caso das estruturas e vedações de madeira,
embora a reutilização seja possível, nota-se que somente a empresa “A” tenta
viabilizá-la e, segundo a entrevista, nem sempre consegue. Quando consegue, reutiliza
somente algumas partes. Nesse tipo de estrutura, ademais, as instalações hidráulicas,
tubulações e fiações dificilmente são reaproveitadas.

3. Condicionantes do Projeto de Contêineres


Metálicos
No levantamento realizado por Rodrigo et al. (2015), identificaram-se outras
condicionantes de projeto para as instalações provisórias, típicas da cidade de São
Paulo. Entende-se por condicionante de projeto as condições específicas encontradas
nas obras visitadas com potencial para tornarem-se diretrizes de projeto: dimensões
máximas, organização interna dos ambientes, identificação de necessidades de
ampliação, dentre outras.

Cap. 12 Projeto de Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias... | 241


Verificou-se que as empresas construtoras, na maioria dos casos, elaboram
um projeto diferente para cada obra (com total liberdade de criação das instalações
provisórias). Não se aproveita o mesmo projeto nem sequer em casos de terrenos com
condições muito similares. Os fornecedores de instalações provisórias para canteiros
de obras, igualmente, pouco trabalham com padronizações e inclusive a modulação é
precária. Estas condições acarretam um considerável sobrecusto para as instalações
provisórias, geração excessiva de resíduos e dificultam a gestão dos canteiros, dadas
as inúmeras adaptações que ocorrem no decorrer do período das obras. É marcante
a possibilidade de o projeto das instalações provisórias ser padronizado e modular,
permitindo alguma customização, mas não a total liberdade, como é feito hoje. Quanto
aos módulos de aço existentes, identificou-se que são genéricos e não projetados
especificamente para o caso das instalações provisórias em canteiros de obras.
Para o projeto de um sistema modular em aço, antes de tudo, deve-se
considerar o programa de necessidades. Observa-se que já existe um programa
padrão, sobretudo para as áreas de vivência e higiene, que são obrigatórias pela
Norma Regulamentadora 18: Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria
da Construção (BRASIL, 2015), pela Norma Regulamentadora 24: Condições Sanitárias
e de Conforto nos Locais de Trabalho, (BRASIL, 1993) e pela NBR 12284: Áreas de
vivência em canteiros de obras – Procedimento (ABNT, 1991). As áreas de escritório
não são normatizadas e existe uma variabilidade caso a caso, embora sempre estejam
presentes pelo menos uma sala de reunião fechada, além de sala para o engenheiro,
técnicos e estagiários e sala para o encarregado e almoxarifado.
Observa-se a necessidade de um espaço para treinamento e cursos para
os operários, os quais podem ocorrer no refeitório, desde que projetados para
atender às duas funções. Deve-se prever instalação de TV de plasma ou aparelho de
projeção nesses locais. O projeto dos módulos metálicos deve prever instalação de
equipamentos antirroubos e antivandalismo. Outra boa prática é o uso de pintura
externa com possibilidade de marketing (ser adesivada, por exemplo).
Casos especiais, como a obra B1, em que existe inclusive a necessidade de sala
blindada, auditório e uma cozinha industrial completa, não devem ser considerados na
elaboração do projeto dos módulos para canteiros (devem ser sempre tratados como
projetos especiais).
O projeto do sistema modular em aço para canteiros de obras deve prever ações
voltadas à economia de energia e água, tais como: chuveiro com aquecimento solar;
reuso de águas e uso de água da chuva; depósito de lâmpadas fluorescentes queimadas;
cisternas para captação da água da chuva; aproveitamento da iluminação natural; e
vedos que possibilitem a redução da carga térmica (o que não é viável utilizando-se
apenas o aço nas vedações – deve-se prever vedações verticais e coberturas aptas a
receber revestimentos internos ou externos).

242 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


A funcionalidade dos espaços construídos, melhor aproveitamento dos espaços
evitando a ociosidade, área de circulação reduzida e uso de divisórias internas somente
quando necessárias são fatores que fazem parte das necessidades das empresas
construtoras e devem ser considerados na elaboração dos projetos dos módulos.
Fatores externos como acessos limitados e terrenos pequenos também devem
condicionar o projeto dos módulos, já que são circunstâncias comuns à maioria das
metrópoles brasileiras. Como normalmente as instalações provisórias ficam confinadas
nas áreas de recuo obrigatório, a dimensão desse espaço deve também condicionar
a largura dos módulos, e não somente o tamanho do chassi do caminhão que irá
transportá-lo, como no caso dos contêineres marítimos.
Para determinação da largura dos módulos, deve-se considerar ainda o tamanho
das bobinas de chapas de aço dobradas existentes no mercado, além da modulação de
outros componentes.
Outra condicionante é a prioridade que o estande de vendas costuma adquirir
na locação do canteiro, restando às instalações provisórias a extensão que sobra do
recuo, ou seja, deve-se prever o empilhamento dos módulos, a otimização do uso dos
espaços, a redução de áreas de corredor e os espaços multiuso, sempre que possível.
Locais destinados a armários devem estar sob ou sobre as mesas, reduzindo a área de
piso da instalação dos escritórios.
As ligações com as redes de água e esgoto devem ser únicas, mas possíveis
de serem adaptadas à condição e ao posicionamento de cada empreendimento. As
entradas elétricas devem ser simples, preferencialmente sob a forma de uma tomada,
por exemplo.
O projeto dos módulos para as áreas de vivência e higiene deve considerar, além
das normas pertinentes, a estimativa do efetivo mínimo e máximo da obra, bem como
as suas fases, para o planejamento das ampliações e adaptações. Por exemplo, módulos
para banheiros e vestiários devem permitir ampliações e facilidade de interligação.
Tendo em vista as condicionantes identificadas nas visitas de campo e nas
entrevistas, a Figura 1 apresenta um módulo base desenvolvido a partir do programa
de necessidades para as áreas de vivência. As cinco configurações apresentadas
atendem às exigências normativas, ou seja, tamanhos dos elementos e áreas de
circulação. Tais configurações, quando combinadas lado a lado, permitem organizar
as áreas de vivências para um número maior ou menor de funcionários. A Figura 2
apresenta três exemplos de combinações dos módulos, com variação no número de
funcionários atendidos – 100, 180 e 260 funcionários –, a quantidade e disposição dos
elementos também respeitam a normativa pertinente.
A proposta de instalação provisória modular apresentada nas Figuras 1 e 2
buscou reduzir as áreas de circulação e encontrar um tamanho ótimo de módulo base,
que proporcione instalações com a menor área possível.

Cap. 12 Projeto de Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias... | 243


244
|
2,2

armários

0,8
banco
bebedouro

Figura 1 – Módulos para áreas de vivência.


1,4

4,8
mictórios
lavatórios banco

Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


acesso
principal

módulo base módulo base módulo de acesso módulo banho módulo sanitário módulo banho
com armários (de canto)
Instalação para 100 funcionários
principal
acesso
Instalação para 180 funcionários
principal
acesso
principal
acesso

Instalação para 260 funcionários

Figura 2 – Módulos combinados – áreas de vivência para 100, 180 e 260 funcionários.

Cap. 12 Projeto de Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias... | 245


A Figura 3 apresenta, em caráter ilustrativo, uma proposta de projeto de
instalação provisória completa – áreas de vivência e escritórios – feita a partir dos
módulos base para um contingente de 100 funcionários. Nesta ilustração, considerou-
se que o período de almoço será dividido em dois turnos.

fem.
reunião
área
de
escritórios

masc.
Segundo pavimento

lavatórios bebedouros
marmiteiro
para 50
marmitas
marmiteiro
para 50
marmitas

Primeiro pavimento
ambulatório

acesso
principal
Térreo
Figura 3 – Planta baixa de instalação provisória: áreas de vivência, refeitório e escritórios
para obras com 100 funcionários.

4. Conclusões
O capítulo trouxe um estudo de campo que mostrou que as necessidades de
instalações provisórias variam em função da fase da obra e, por conseguinte, das
tipologias construtivas empregadas. Mostrou ainda que, embora os contêineres de aço
sejam atualmente empregados, sobretudo, na fase inicial de uma edificação, quando a

246 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


necessidade de áreas e as demandas para os espaços internos são bastante limitadas,
a busca por soluções rápidas, sustentáveis e economicamente viáveis faz com que
essas estruturas sejam uma solução capaz de permanecer em outras fases e oferecer
um melhor desempenho.
A análise dos dados colhidos nas visitas às obras e aos fabricantes proporcionou
a possibilidade de determinar uma instalação provisória típica dos canteiros, sob o
ponto de vista da forma (normalmente restrita ao recuo obrigatório), da funcionalidade
(ligação entre os ambientes, conforto ambiental) e das conexões com as redes de
infraestrutura (água, esgoto, energia, etc.).
Diferentes autores discorrem sobre modelos computacionais e matemáticos
criados para organização dos canteiros de obras, dentre eles pode-se citar Andayesh
e Sadeghpour (2013) e Karan e Irizarry (2015). Ao analisar aos resultados desses
trabalhos, percebe-se que tratam as instalações provisórias como se pudessem ter
qualquer tamanho. Questões como modulação e padronização industrial dos sistemas
construtivos dessas áreas pouco são levadas em conta. Existe uma oportunidade de
desenvolvimento de trabalhos futuros que juntem as tecnologias computacionais a um
modelo padronizado e customizável de instalação provisória.
A criação de um sistema único de instalação provisória em contêiner de aço, que
possa ser aproveitado em todas as fases da obra, de montagem rápida e confortável e
com a possibilidade de ser reutilizado em outras obras, representa uma necessidade
iminente no setor da construção civil. Os módulos metálicos existentes são genéricos
e não projetados especificamente para o caso das instalações provisórias em canteiros
de obras. Nota-se, dessa forma, uma lacuna de mercado, já que um produto que
atendesse às normas e fosse específico para o caso dos canteiros de obras geraria
economia de custos, tempo e espaços internos.

Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12284: Áreas de vivência em
canteiros de obras – Procedimento. Rio de Janeiro, 1991.
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total poten�al energy. In: Automa�on in Construc�on, v. 31, 2013, p. 92-102.
BIRBOJM, A.; SOUZA, U.E.L. Construções temporárias para o canteiro de obras. Bole�m Técnico
315. São Paulo: EPUSP – Departamento de Engenharia de Construção Civil, 42p. 2002.
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Cap. 12 Projeto de Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias... | 247


BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora 24 (NR-24): Condições
Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho, 1993. Disponível em: <h�p://trabalho.gov.
br/images/Documentos/SST/NR/NR24.pdf>. Acesso em: jan. 2017.
KARAN, E.P.; IRIZARRY, J. Extending BIM interoperability to preconstruc�on opera�ons
using geospa�al analyses and seman�c web services. In: Automa�on in Construc�on,
v. 53, 2015, p. 1-12.
NASCIMENTO, R.R. Logís�ca na construção de edi�cios. Estudo de caso em grande
construtora. Monografia (especialização) – Tecnologia e Gestão na Produção de Edi�cios.
São Paulo, Universidade de São Paulo, Escola Politécnica, 2014.
RODRIGO, A.G.S.; GAZARINI, D.; CARDOSO, F.F. Condicionantes de projeto para as
instalações provisórias em canteiros de obras na cidade de São Paulo. In: Proceedings of
the La�n-American and European Conference on Sustainable Building and Communi�es:
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Minho and others. pp. 2495-2504.
SAID, H.; El-RAYES, K. 2013. Op�mal u�liza�on of interior building spaces for material
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Journal, n. 31, 2013, p. 292-306.
SOUZA, U.E.L. Projeto e implantação do canteiro. São Paulo: O Nome da Rosa. 92p., 2000.
YIN, R.K. Estudo de caso: Planejamento e métodos. Tradutor Daniel Grassi. 3. ed. Porto
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248 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


13
http://dx.doi.org/10.26626/978-85-5953-027-8.2017C0013.p.249-272

Fabricação, Montagem e
Desmontagem de Instalações
Provisórias para Canteiros
de Obras

Fernando Braga de Souza


Sheyla Mara Baptista Serra

1. Introdução
Entre os vários ambientes previstos para o canteiro de obras estão as áreas de
vivência (refeitórios, sanitários, vestiários, alojamentos, etc.) e as áreas administrativas
(escritórios, salas de reunião, almoxarifados, etc.), que devem ser dimensionadas e
projetadas para o uso correto. De acordo com Dias (2013), a distribuição das áreas
de vivência e o posicionamento das instalações temporárias necessárias em uma
obra são tradicionalmente feitos de maneira empírica, prevalecendo, muitas vezes,
as experiências dos empreendimentos anteriores, sendo comumente executadas sem
qualidade e por mão de obra não qualificada.
Em contrapartida, a Norma Regulamentadora NR-18: Condições e meio
ambiente do trabalho na indústria da construção (BRASIL, 2015) solicita, desde sua
reedição em 1995, que seja feita a elaboração do projeto do canteiro de obras e, mais
recentemente, a “previsão de dimensionamento das áreas de vivência”. Considerando
a necessidade de incorporar benefícios sociais, econômicos e ambientais ao
empreendimento durante a fase de execução, o planejamento do projeto ou layout
do canteiro e a definição do sistema construtivo das instalações provisórias estão se
tornando aspectos relevantes para melhorar a gestão das obras.

249
Essas instalações são consideradas temporárias ou provisórias, ou seja,
somente estarão presentes na obra durante a fase de execução e enquanto houver
disponibilidade do local no canteiro. Depois são desconstruídas ou desmontadas e,
eventualmente, remontadas. Neste caso, é interessante considerar que o processo de
desmontagem tenha sido planejado e que a concepção do sistema construtivo preveja
o reaproveitamento e remontagem (SOUZA, 2016). A pré-fabricação surge, então,
como uma alternativa racionalizada e produtiva para uso em instalações provisórias (IP)
do canteiro, facilitando as fases de montagem e de desmontagem, desde o processo
de concepção do projeto.
Para Saurin e Formoso (2006), a combinação de espaço limitado com o amplo
número de elementos que compõem um canteiro de obra torna a concepção do
projeto do ambiente similar à montagem de um “quebra-cabeça”, necessitando de
criatividade por parte do projetista para encontrar soluções viáveis e adequadas à
realidade do canteiro.
Neste sentido, a metodologia Building Information Modeling (BIM), que tem
sido utilizada para a elaboração de projetos na construção civil (SACKS; PARTOUCHE,
2010), pode ser empregada para o desenvolvimento do projeto do canteiro de obras e
de suas respectivas instalações provisórias.
Os aplicativos BIM possuem, em geral, bibliotecas com componentes típicos
da indústria da arquitetura, engenharia e construção (AEC). Essas bibliotecas podem
ser também acrescidas dos produtos e catálogos disponibilizados pelos fabricantes
da construção provisória pré-fabricada. Deste modo, o projeto é feito por meio da
composição de elementos de construção, o que o torna muito similar à lógica da
construção pré-fabricada.
As oportunidades de uso dos modelos BIM no canteiro de obras para IP pré-
fabricadas podem ser úteis para comparar o caso real ao modelo virtual 4D (que
considera as três dimensões espaciais e o tempo), tanto no processo de montagem
quanto no de desmontagem, visando otimizar esses processos.
A necessidade de projetos sustentáveis – adequados do ponto de vista
econômico, social e ambiental – e a necessidade e possibilidade de reutilização das
construções temporárias para uso em canteiro de obras justifica o uso de aplicativos
para a concepção, projeto, montagem e desmontagem do processo de fabricação e
execução das instalações provisórias em canteiro de obras.

250 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


2. Método de Pesquisa
O trabalho desenvolveu-se tendo por base a pesquisa de Souza (2016). A
investigação utilizou-se dos métodos de estudo de caso e de simulação, divididos em
três etapas:
• Primeiramente, fez-se a revisão bibliográfica para estabelecer a base teórica
necessária para o desenvolvimento da pesquisa.
• Em seguida, foram realizados os estudos de caso. Elaborou-se um roteiro para
a coleta de dados acerca dos processos de projeto, fabricação, montagem,
desmontagem e reu�lização das IP pré-fabricadas. Foram desenvolvidos
roteiros de inves�gação para os dois ambientes: a fábrica das IP e o canteiro
de obras. A coleta de dados foi efetuada por meio de visitas e entrevistas.
• Por fim, foram propostas as simulações virtuais de fabricação, montagem e
desmontagem das IP pré-fabricadas em madeira a par�r dos levantamentos
realizados, com o obje�vo de definir antecipadamente o processo de
produção, propondo melhorias e facilitando o treinamento dos operários
envolvidos. Pretendeu-se também demonstrar a viabilidade de projetos
voltados para os processos de montagem e desmontagem das IP.
Os programas utilizados foram:
• AutoCAD com recursos para projeto em CAD 2D, assim como recursos de
CAD 3D integrados, permi�ndo modelagem 3D, desenho 3D e elaboração de
maquete eletrônica.
• SketchUp é um so�ware voltado para a modelagem e desenho 3D. O
SketchUp Pro permite o uso de ferramentas de programação, diagramação,
volumetria, desenvolvimento e detalhamento de desenhos, bem como gerar
respostas a solicitações de informação.
• O MS Project é um programa gerenciador de projetos, que auxilia na
construção do cronograma das a�vidades e que facilita a discussão entre os
agentes da construção.
• O so�ware Navisworks da Autodesk possibilita a revisão do projeto e
simulação da construção, permi�ndo que se incorporem modelos 3D em
uma disposição temporal.
A Figura 1 apresenta a sequência de etapas desenvolvidas durante a pesquisa.

Cap. 13 Fabricação, Montagem e Desmontagem de Instalações Provisórias.. | 251


Início

Acompanhou-se a industrialização
Elaborou-se o cronograma
dos componentes na fábrica e
no MS Project
montagem deles na obra

Importou-se o modelo 3D do
SketchUp e o cronograma do
Projetou-se em 2D no AutoCAD
MS Project e modelou-se em
4D no Navisworks

Importou-se o projeto 2D do Simulou-se a montagem e


AutoCAD e modelou-se em 3D desmontagem no Navisworks
no SketchUp com a ferramenta �meliner

Fim

Figura 1 – Etapas para a simulação dos processos estudados. Fonte: Souza, 2016.

3. Concepção de Sistemas Construtivos


Pré-fabricados
O termo pré-fabricação, no campo da construção civil, possui o seguinte
significado: “fabricação de certo elemento antes do seu posicionamento final na obra”,
segundo Revel (1973). Para esse autor, a pré-fabricação em seu sentido mais geral pode
ser aplicada à fabricação de componentes e sistemas construtivos, que são produzidos
em indústrias e, posteriormente, transportados à obra para montagem da edificação.
A decomposição da unidade habitacional em partes ou elementos pré-
fabricados faz com que a construção seja cada vez mais um processo de montagem
do que de construção propriamente dito. A fabricação dos elementos é normalmente
feita em indústrias cujo controle de qualidade da produção é maior e cuja exposição a

252 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


intempéries é reduzida. Os elementos são normalmente padronizados e catalogados
para o perfeito encaixe no sistema idealizado.
O projeto realizado com componentes pré-fabricados implica no conhecimento
do projetista do processo de fabricação dos elementos, do transporte, da montagem e
das ligações necessárias. Por esse motivo, é importante que todas essas etapas sejam
determinadas logo na concepção do projeto. O projetista do sistema deve atuar como
agente de integração entre as disciplinas, facilitando a padronização das soluções e
compatibilidade entre os sistemas prediais adotados.
No caso dos projetos das IP pré-fabricadas, eles são concebidos, normalmente,
pelo setor de projetos da empresa fabricante desse tipo de estrutura. Dias (2013)
visitou três empresas fabricantes que, além de possuírem setor próprio de projetos,
possuíam soluções padronizadas para as principais demandas do mercado, como
almoxarifados, refeitórios, sanitários e vestiários. Várias empresas encontradas
atualmente no mercado brasileiro, inclusive, disponibilizam as soluções padronizadas
em seus sites comerciais.
A construção com componentes pré-fabricados, mesmo sendo provisória,
pressupõe que o projetista e fabricante utilizem conceitos como construtibilidade,
modularidade, desempenho e segurança. O diferencial desse tipo de construção é
que o projeto deve comtemplar, necessariamente, o processo de desconstrução e
remontagem.
Assim, de forma a desenvolver um conhecimento que contribua para o
processo de desconstrução, Crowther (2002) propõe alguns princípios com foco na
construtibilidade dos projetos com sistemas pré-fabricados, a saber:
• Redução do número de diferentes �pos de componentes: visa simplificar o
processo de seleção no canteiro e aumentar o valor do componente;
• Uso de sistemas abertos em que as partes da construção são mais livremente
intercambiáveis: permite alterações do layout por meio da relocação de
componentes sem uma significa�va modificação;
• Uso de modulação: componentes e elementos que são compa�veis com
outros sistemas em termos dimensionais e funcionais;
• Uso de tecnologias montáveis compa�veis: não exige especialistas para a
desmontagem;
• Uso de componentes com tamanho adequado aos meios de montagem:
facilitar o manuseio em todas as fases (montagem, desmontagem, transporte,
reprocessamento e remontagem);
• Provimento dos meios de manuseio dos componentes durante a montagem
e desmontagem: prever pontos de conexão que podem ser necessários para
içar ou suportar temporariamente os componentes;

Cap. 13 Fabricação, Montagem e Desmontagem de Instalações Provisórias.. | 253


• Estudo de ligações e conexões para o reuso dos componentes: minimizar as
quebras ou deformações dos componentes e materiais durante os processos
de montagem, desmontagem e remontagem;
• Permissão da desmontagem paralela em vez da sequencial: um componente
pode ser removido sem a quebra de outro componente; quando isso não for
possível, o componente mais passível de reuso deve ter prioridade;
• Uso de sistemas pré-fabricados: reduzir o trabalho em canteiro e permi�r um
maior controle da qualidade e da conformidade dos componentes;
• Fornecimento de peças de reposição no canteiro: principalmente dos
componentes quebrados ou danificados para não alterar o projeto da
edificação;
• Manutenção das condições dos componentes: garan�r a preservação
dos componentes, como as dimensões do produto, tempo de vida ú�l e
necessidades de manutenção.
Por meio das características citadas anteriormente, verifica-se o potencial de
utilização do conceito de desconstrução visando às instalações provisórias em canteiro.

4. Desconstrução
Para Couto et al. (2006), a demolição seletiva ou desconstrução surgiu em virtude
do rápido crescimento da demolição de edifícios e da evolução das preocupações
ambientais da população. Segundo esses autores, a desconstrução de um edifício é um
processo que se caracteriza pelo seu desmantelamento ou desmontagem cuidadosa,
de modo a reduzir os resíduos e possibilitar a recuperação, reaproveitamento ou reuso
dos materiais e componentes da construção.
Enquanto a demolição tradicional visa remover a edificação o mais rápido
possível, a desconstrução ou demolição seletiva busca separar os materiais para o
reuso e reciclagem (LIPSMEIER e GÜNTHER, 2002).
O procedimento de desconstrução deve ser planejado e documentado para
que os envolvidos possam desenvolvê-lo de forma coordenada, eficiente, eficaz e
segura (ITEC, 1995). A forma mais segura de realizar uma desconstrução é fazendo a
desmontagem em sequência inversa ao processo de construção, retirando-se louças,
cobertura, esquadrias etc., como pode ser visto no esquema da Figura 2.

254 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Figura 2 – Sequência de desconstrução de uma edificação. Fonte: ITEC, 1995.

O projeto para a desmontagem pode aumentar, inicialmente, o custo de


produção. Contudo, a desconstrução em larga escala tem um grande potencial de trazer
benefícios à sociedade (CROWTHER, 2002). Alguns dos benefícios da desconstrução
em relação à demolição são segundo Kibert e Chini (2000):
• Diminuição do direcionamento de resíduo para aterros;
• Potencial reuso dos componentes constru�vos;
• Maior facilidade de reciclagem dos materiais;
• Menor impacto ambiental.
De acordo com Kibert e Chini (2000), o processo de desconstrução preserva a
energia incorporada investida na produção dos elementos, reduzindo o consumo de
uma nova energia no processamento ou manufatura. A energia incorporada pode ser
entendida como a energia requerida para produzir um produto, que inclui os processos
de obtenção da matéria-prima, transporte, manufatura e de produção das máquinas e
infraestrutura usada nessas atividades (MANFREDINI; SATTLER, 2005).
Segundo Lopes (2013), o projeto da desconstrução deve determinar a forma de
reutilização, de transporte e de armazenamento dos materiais para reuso, e terminar o
custo desse planejamento. Para essa autora, pode haver aumento dos custos e adição,
em vez de redução, da energia incorporada ao projeto. Uma das recomendações é
utilizar os materiais recuperados em locais próximos.
Para a desconstrução, são utilizados métodos não destrutivos. Os equipamentos
recomendados para este processo são os que possibilitam a desmontagem dos
componentes e o seu manuseio de forma segura e rápida, garantindo a integridade
desses elementos.
Verifica-se potencial de aplicação da desconstrução para as instalações
provisórias nos canteiros de obras. Como mencionado, o projeto deve prever esta
situação, por isso, ele deve ser estudado com cuidado. A seguir serão citados métodos

Cap. 13 Fabricação, Montagem e Desmontagem de Instalações Provisórias.. | 255


para o desenvolvimento do projeto de produtos que sistematizam o processo de
montagem e desmontagem, podendo ser aplicado também na construção civil.

4.1 Design For Assembly


Design For Assembly (DFA), em português, Projeto para Montagem, é um
método de análise que fornece uma estrutura de orientações para que o produto seja
desenvolvido de forma a facilitar o processo de montagem, segundo Amaral (2007).
Esse autor menciona que as bases do método são a redução das partes por meio
da diminuição do número de peças por produto e da variedade de tipos de peças
e mediante a utilização do conceito de coordenação modular. Com isso, busca-se a
confecção de módulos, que podem ser montados, desmontados e trocados com mais
facilidade.
De acordo com Kuo et al. (2001), a aplicação do DFA em projetos proporciona
a simplificação de produtos, a redução do ciclo de produção, minimiza os custos de
fabricação e montagem e possibilita que a fase de produção seja estudada de forma
antecipada, evitando erros de projeto. Para vários autores, o objetivo principal do
DFA é a redução do ciclo de produção e do custo envolvido. A concepção do processo
de montagem, ainda, reflete um necessário planejamento no que diz respeito à
conservação ambiental, uma vez que os projetos consideram a sustentabilidade dos
produtos gerados.
Vivan e Paliari (2012) aplicaram o DFA a uma edificação em sistema construtivo
pré-fabricado em Light Steel Frame e apresentaram várias diretrizes para o processo
de projeto e sua consequente representação. Como recomendação, os autores
mencionaram que a aplicação do DFA pode ser altamente facilitada pelo uso de
tecnologia da informação a partir de softwares BIM.
No caso das IP, entende-se que o processo de produção dos componentes em
fábrica pode se beneficiar também dos conceitos do DFA.

4.2 Design For Disassembly


O Design For Disassembly (DFD), em português, Projeto para Desmontagem,
é o processo de concepção de produtos, de modo que eles possam ser rápida e
facilmente desmontados no final de sua vida útil, de forma rentável, e que proporcione
a reutilização e/ou reciclagem dos componentes (BOOTHROYD; ALTING, 1992).
A concepção do DFD, por sua vez, considera que todo o processo posterior
de desmontagem é pensado durante o desenvolvimento do projeto inicial, o que
acarreta grandes benefícios para o reaproveitamento dos materiais e, logo, em um
maior cuidado com o impacto ambiental. O processo de reuso, reciclagem e potencial
conserto dos materiais gerados têm sido designados por diferentes nomes.

256 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


O DFD aplicado à construção de edifícios, segundo Guy (2003), precisa
considerar a criação de um plano de desconstrução que considere a rotulagem dos
materiais e dos componentes constitutivos, categorizando-os de forma antecipada.
Durante o processo de desmantelamento, é importante priorizar a disposição dos
materiais na ordem de reutilização, remanufatura, reciclagem ou eliminação. O plano
de desconstrução também deve prever o planejamento da gestão, programação e
requisitos de segurança do processo de desconstrução.
Neste sentido, Barkkume (2008) argumenta que a desconstrução de edifícios
não ocorre da maneira simplificada, sendo uma atividade complexa, que requer
grande contingente de pessoas para sua realização, com necessárias considerações
de segurança e saúde. Por isso, deve ser antecipadamente preparada durante a fase
de projeto do produto, considerando os princípios do DFD. Para o referido autor, a
desconstrução é uma alternativa inteligente à demolição, com fins de salvar materiais,
componentes e a energia incorporada total.
Segundo Guy (2003), a tendência em pré-comercializar materiais para
reutilização e reciclagem fornece um incentivo econômico para a desconstrução.
Assim, Guy e Ohlsen (2003) desenvolveram um software para facilitar a análise do
“negócio” da desconstrução, permitindo que os empreiteiros estimem o custo e o
potencial de receita. Usando o computador, a ferramenta apresenta dados sobre a
viabilidade da desconstrução e identifica variáveis econômicas, como uso de mão de
obra local e custos de materiais recicláveis. O programa foi inicialmente concebido
para sistemas construtivos de madeira com um e dois andares.
O projeto das IP realizado com essa concepção de DFP deve compreender uma
fase de estudo do processo de desmontagem, que oriente como os componentes
das instalações provisórias podem ser desmontados de forma segura, adequada à
preservação do meio ambiente e ajustada ao orçamento da obra.

5. O uso do BIM
O termo BIM ora é tratado como modelo (Building Information Model), ora
como processo (Building Information Modeling). No Brasil, quando entendido como
um modelo, o BIM é chamado de Modelo da Informação da Construção. Porém,
quando pensado na forma de processo, é denominado de Modelagem da Informação
da Construção (BIOTTO, 2012).
A modelagem de informações de construção, segundo Florio (2007), é o
processo de geração e gerenciamento de informações da construção de um modo
interoperável e reutilizável. Os sistemas BIM adotam modelos paramétricos dos
elementos construtivos de uma edificação e permitem o desenvolvimento de
alterações dinâmicas no modelo gráfico, que se refletem em todas as pranchas de

Cap. 13 Fabricação, Montagem e Desmontagem de Instalações Provisórias.. | 257


desenho associadas, bem como nas tabelas de orçamento e especificações (COELHO;
NOVAES, 2008).
No Brasil, as empresas enfrentam dificuldades inerentes à introdução de
ferramentas BIM, devido à falta de profissionais capacitados e de disseminação do
assunto. Scheer et al. (2011) mencionam que, para que os benefícios do BIM possam
ser plenamente atingidos, existe a necessidade das etapas de desenvolvimento do
projeto e do planejamento serem realizadas de forma integrada com os principais
agentes envolvidos.
Segundo Dispenza (2010), o BIM pode seguir todas as etapas do processo
produtivo do edifício: análise de viabilidade, projeto conceitual, detalhamento
do projeto, análise e cálculo estrutural, documentação (projetos, cronogramas,
orçamentos etc.), pré-fabricação, execução, apoio logístico, operação e manutenção,
renovação e demolição. Assim, o BIM facilita e possibilita que as informações estejam
disponíveis por todo o ciclo de vida de uso do edifício.
Além de a edificação permanente ser, naturalmente, o objeto de uso de BIM, as
construções temporárias em canteiro de obra também podem contar com esse tipo de
ferramenta em sua concepção. De modo geral, espera-se que as fases de montagem e
de desmontagem no canteiro sejam mais bem implementadas a partir de um estudo
específico com uso de programas BIM.

6. Estudos de Caso e Simulações


A seguir, serão apresentados os principais resultados do trabalho relacionados
às etapas de fabricação, montagem e desmontagem das IP.

6.1 Fabricação das Instalações Provisórias


Foi visitada uma fábrica produtora de instalações provisórias para canteiro de
obras, localizada na cidade de São Paulo, que se dispôs a colaborar com a pesquisa.
A fábrica teve sua origem em 1988, com o intuito primeiro de comercializar madeira.
Posteriormente, dedicou-se à venda de edificações pré-fabricadas em madeira,
buscando soluções padronizadas, adaptáveis e viáveis financeiramente.
Durante a visita, foram feitos registros fotográficos, tal como os indicados nas
Figuras 3 a 6, a seguir. Verificou-se que, como o processo de produção é padronizado,
a montagem de cada componente é rápida, totalizando dois minutos para o corte
da madeira, cinco minutos para a montagem da tesoura e quatro minutos para a
montagem dos painéis. Após a montagem, os componentes são estocados e ficam
disponíveis para expedição às obras.

258 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Figura 3 – Bancada para fabricação do painel. Fonte: Souza, 2016.

Figura 4 – Vista da estrutura dos painéis. Fonte: Souza, 2016.

Figura 5 – Vista dos painéis estocados. Fonte: Souza, 2016.

Cap. 13 Fabricação, Montagem e Desmontagem de Instalações Provisórias.. | 259


Figura 6 – Vista do estoque de tesouras da cobertura. Fonte: Souza, 2016.

A Figura 7 exemplifica o fluxograma do processo de fabricação dos componentes


em madeira nessa fábrica, desde a extração da matéria prima em madeireira (compra
de madeira certificada) até a estocagem e distribuição dos componentes.

Industrialização dos componentes

Início

Estocagem na
Extração Transporte Não
madeireira
Madeireira

da madeira da madeira
Vendido?

Sim
Distribuição

Inspeção Montagem dos Corte das peças


Recebimento
para controle componentes no tamanho para
da madeira
da qualidade nas bancadas serem montadas
Fábrica

Componentes Estocagem
prontos (painéis, Não
Não na madeireira
tesouras e aduelas)
Vendido?

Sim
Sim Distribuição Fim

Figura 7 – Fluxograma do processo de fabricação dos componentes das instalações


provisórias. Fonte: Souza, 2016.

260 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


A partir do registro das etapas de produção, foi feita a simulação 4D da fabricação
dos componentes, conforme Figura 8. Tal simulação foi obtida por meio da importação
do modelo 3D e do planejamento da montagem no Navisworks. Primeiramente
utilizou-se a ferramenta Autodesk Rendering para adicionar o tipo de material utilizado
em cada elemento para que os componentes virtuais ficassem mais parecidos com o
real. Foi necessário escolher a opção construction na ferramenta TimeLiner e associar
cada componente do modelo 3D a uma atividade do planejamento, que podia ser
visualizada e facilmente alterada no cronograma de Gantt. Depois, usou-se a opção
simulate para exportar a animação em vídeo no formato “avi”.

quinta-feira 09:02:57 quinta-feira 09:05:05


17/09/2015 17/09/2015
Day = 1 Day = 1
Week = 1 Week = 1

quinta-feira 09:14:00 quinta-feira 09:15:00


17/09/2015 17/09/2015
Day = 1 Day = 1
Week = 1 Week = 1

Figura 8 – Simulação 4D da fabricação do painel no Navisworks. Fonte: Souza, 2016.

O vídeo gerado pode servir para análise de melhorias e para o treinamento de


operários, facilitando o processo de produção.

6.2 Montagem das Instalações Provisórias no


Canteiro de Obras
Foi acompanhada a montagem das instalações provisórias pré-fabricadas de
madeira, produzidas pela fábrica visitada. O canteiro de obras localizava-se numa área

Cap. 13 Fabricação, Montagem e Desmontagem de Instalações Provisórias.. | 261


de cerca de 3.200 m2 na cidade de São Paulo e eram previstas quatro construções, de
acordo com Figura 9. A tecnologia da edificação registrada com “perspectiva explodida”
pode ser observada na Figura 10, na qual se veem os componentes padronizados
previstos: painel, porta, esquadrias, tesoura do telhado, cobertura etc..

Figura 9 – Vista do canteiro de obras visitado – representação no SketchUp com mapa


GoogleMaps. Fonte: Souza, 2016.

Figura 10 – Instalação provisória modelada e “explodida” no SketchUp. Fonte: Souza, 2016.

Foi escolhida uma das edificações previstas para ser modelada. Decidiu-se
pelo detalhamento do projeto do escritório administrativo, conforme Figura 11, que
possuía cerca de 200 m2.

262 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Figura 11 – Planta baixa da área administra�va. Fonte: Souza, 2016.

Cap. 13 Fabricação, Montagem e Desmontagem de Instalações Provisórias.. | 263


As Figuras 12 a 15 mostram algumas fotos do acompanhamento da montagem
das IP, sendo o primeiro passo a regularização do terreno, para que posteriormente se
marcasse a fundação e se executasse o baldrame. Em seguida, inicia-se a montagem
dos painéis (Figura 12). Posteriormente, instala-se uma cinta de amarração sobre os
painéis e inicia-se a montagem do telhado (Figura 13). Os acabamentos finais são
feitos em seguida, como a montagem de batentes para portas e janelas. Finalmente,
coloca-se o forro (Figura 14) e instalam-se as peças sanitárias. A Figura 15 mostra a IP
finalizada e pronta para o uso.

Figura 12 – Fixação dos painéis por meio de pregos com cabeça dupla. Fonte: Souza, 2016.

Figura 13 – Fixação das terças e telhas. Fonte: Souza, 2016.

264 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Figura 14 – Colocação do forro. Fonte: Souza, 2016.

Figura 15 – Vista da obra finalizada. Fonte: Souza, 2016.

Durante o acompanhamento dos serviços, foi possível identificar alguns pontos


de melhorias: (1) prover os módulos das aberturas (painéis) com as instalações prévias
dos batentes – tal atividade poderia ter sido desenvolvida na fábrica em melhores
condições operacionais; (2) alterar a sequência de atividades: antecipar a concretagem
do contrapiso de forma a facilitar a execução dessa etapa e prover pavimentação para
montagem da IP, melhorando a produtividade.
O processo de montagem dos componentes registrado durante a pesquisa está
disposto na Figura 16, que sintetiza o processo realizado no canteiro até o acabamento
final.

Cap. 13 Fabricação, Montagem e Desmontagem de Instalações Provisórias.. | 265


Montagem dos componentes na obra

Início Fim

Regularização Instalação da Fixação das Realização


do terreno cinta de junção terças e telhas da pintura
dos painéis e
fixação das
tesouras
Concretagem e Instalação de
Sequência de a�vidades

Fixação entre acabamento pias e bacia


Marcação da os painéis com alisadora sanitária
fundação de concreto

Fixação do
painel na cinta
Colocação
e colocação do Fixação dos do forro
cimbramento painéis internos
Execução
do baldrame Instalação da
e blocos cinta no suporte
Inserção de Instalação de
de fixação
instalações portas e janelas
elétricas
Instalação do
suporte da
fixação da cinta Inserção de Instalação de
Aterro e dentro dos instalações batentes para
compactação blocos hidráulicas portas e janelas

Figura 16 – Fluxograma de montagem dos componentes da IP na obra. Fonte: Souza, 2016.

Da mesma forma que o processo de fabricação, o processo de montagem das IP


também foi simulado por meio da tecnologia BIM 4D, tal como na modelagem anterior.
Usou-se também a ferramenta TimeLiner do Naviswork, conforme pode ser verificado
na Figura 17.
A Figura 17 representa resumidamente algumas etapas do vídeo da simulação
4D no software Navisworks, na seguinte sequência: execução do baldrame, colocação
de painéis, preparação para o telhado e obra concluída.

266 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


terça-feira 07:33
06/10/2015
Day = 4
Week = 2

quarta-feira 07:26
08/10/2015
Day = 6
Week = 2

sexta-feira 14:40
09/10/2015
Day = 7
Week = 2

quinta-feira 16:14
29/10/2015
Day = 20
Week = 4

Figura 17 – Simulação 4D resumida da montagem da IP no Navisworks. Fonte: Souza, 2016.

6.3 Desmontagem das Instalações Provisórias no


Canteiro de Obras
A simulação da desmontagem foi baseada em informações fornecidas pelo
fabricante, pois não foi possível acompanhar tal etapa no canteiro de obras, durante
o desenvolvimento do mestrado de Souza (2016). A desmontagem da construção
foi considerada de maneira inversa à montagem observada no canteiro, tal como

Cap. 13 Fabricação, Montagem e Desmontagem de Instalações Provisórias.. | 267


proposto por ITEC (1995). A Figura 18 ilustra o fluxograma das atividades previstas
para a desmontagem, conforme relato do fabricante.

Desmontagem dos componentes na obra

Início

Cinta Portas e
Louças
superior janelas
(reusável)
(reusável) (reusável)

Tesouras
(reusável) Painéis
Acabamento
externos
Sequência de a�vidades

(reciclável)
(reusável)

Terças
(reusável)
Divisórias Cinta
internas inferior
(reusável) (reusável)
Telhas
(reusável)

Contrapiso
Luminárias
Instalações (reusável ou
(reusável)
elétricas reciclável)
(reciclável)
Fim
Instalações
Forro
hidráulicas
(reusável)
(reciclável)

Figura 18 – Fluxograma de desmontagem dos componentes da IP na obra. Fonte: Souza,


2016.

A simulação 4D da desmontagem foi realizada com o mesmo modelo 3D da


montagem, porém adaptou-se o planejamento no programa Navisworks de acordo
com a sequência de desmontagem, conforme Figura 19.

268 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


segunda-feira 22:08:00 26/10/2015 Day = 1 Week = 1

sexta-feira 10:36:00 06/11/2015 Day = 14 Week = 2

domingo 11:00:00 15/11/2015 Day = 23 Week = 4

quarta-feira 11:08:00 18/11/2015 Day = 26 Week = 4

terça-feira 11:24:00 24/11/2015 Day = 32 Week = 5

domingo 11:56:00 06/12/2015 Day = 44 Week = 7

Figura 19 – Simulação 4D da desmontagem da IP no Navisworks. Fonte: Souza, 2016.

Cap. 13 Fabricação, Montagem e Desmontagem de Instalações Provisórias.. | 269


A Figura 19 representa algumas etapas do vídeo da desmontagem dos
componentes das instalações provisórias, na seguinte sequência: retirada das
esquadrias e louças, retirada das telhas, das terças e das tesouras, retirada dos
painéis e, por fim, é visualizado o contrapiso e a calçada, que permanecerão após a
desmontagem, pois serão aproveitados para uma futura área pavimentada.
A simulação 4D da desmontagem foi modelada mais rapidamente devido à
experiência anterior no Navisworks. Foi necessário alterar a opção construction para
demolish na ferramenta TimeLiner. No cronograma, foi necessário alterar a duração
prevista para a desmontagem. Depois, usou-se a opção simulate para exportar a
animação em vídeo no formato “avi”.

7. Conclusões
Este trabalho enfocou a importância do projeto para as IP considerando a
possibilidade de desmontagem e remontagem e associando alguns benefícios ao
se utilizar construções pré-fabricadas para canteiros de obras. A modelagem BIM
4D caracteriza-se como uma proposta inédita para a área de projetos, que facilita a
visualização e simplificação das estruturas antes da montagem na obra.
Em relação ao acompanhamento durante a montagem, percebeu-se que as
IP estudadas foram concebidas de modo a reduzir os resíduos gerados, pois foram
poucos componentes cortados em obra. Destaca-se a necessidade de elaboração de
um Projeto para Montagem e outro para a Desmontagem de forma compatibilizada, a
fim de otimizar o uso da mão de obra, tempo e custo. No caso da desmontagem, deve-
se prever a destinação dos materiais gerados a partir da desconstrução.
O potencial de uso do BIM para a fabricação dos componentes, do projeto
do canteiro e de suas instalações pode ser percebido pelos agentes a partir desses
exemplos. Além da visualização da concepção dos detalhes e do produto geral, é
possível obter quantitativos de materiais e de serviços e, ainda, programar a montagem
e a desmontagem. Na modelagem 4D, foi facilmente observado que alguns passos
poderiam ser alterados como forma de melhorar a produtividade.
Os vídeos das simulações da construção foram gerados por meio da modelagem
BIM 4D, sendo necessário contar com conhecimento dos processos de fabricação e
de construção. Houve a necessidade de o pesquisador fazer várias simulações da
modelagem virtual até chegar ao resultado que represente a realidade da melhor forma.
Também foi necessário entender a integração entre os programas computacionais.
Sabe-se que podem ser buscadas alternativas para combinação dos programas.

270 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


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272 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


14
http://dx.doi.org/10.26626/978-85-5953-027-8.2017C0014.p.273-296

Desempenho de Contêineres
Metálicos para Instalações
Provisórias em Canteiros
de Obras

Francisco Ferreira Cardoso


Adriana Gouveia Rodrigo
Paula Venticinque Pompeu de Toledo Soares

1. Introdução
O uso de contêineres metálicos fabricados em aço para abrigo de atividades
humanas ocorre no Brasil desde os anos 1980, inclusive em canteiros de obras. Nos
anos recentes, coincidindo com o crescimento do setor da construção civil, houve
uma mudança da qualidade dos produtos oferecidos no mercado. Paralelamente,
se expandiu o reaproveitamento de contêineres marítimos não mais adequados
ao transporte de cargas. Tal uso tem crescido motivado por fatores com impactos
econômicos, como a rápida velocidade de montagem e a possibilidade de reuso, e
também porque vão ao encontro dos objetivos de sustentabilidade perseguidos pelas
empresas.
Para Birbojm (2001), as vantagens das instalações provisórias nos contêineres
metálicos são flexibilidade, possibilidade de reuso, independência da fundação,
facilidade de transporte, grande resistência a intempéries, curto tempo de montagem
e desmontagem e grande número de arranjos internos, além da possibilidade de
empilhamento, que reduz as necessidades de áreas no canteiro. A grande desvantagem,

273
porém, é o pouco conforto, seguido dos custos iniciais mais elevados e limitações de
marketing (as construções em madeira são mais facilmente adaptadas para visibilidade
e divulgações, que são comuns, por exemplo, nos estandes de vendas).
Para os módulos sanitários, os contêineres mostram-se práticos, já que vêm
completamente prontos, necessitando apenas de ligação com as redes. Por outro lado,
a desvantagem é que, para contêineres que chegam montados na obra, deve-se prever
o acesso de sua chegada e retirada, limitando as possibilidades de posicionamento.
Outra limitação refere-se ao custo de locação, que pode inviabilizar o aluguel de
contêineres para períodos muito longos. Já no caso da compra do contêiner, surge
a necessidade da retirada dessa estrutura ao final da obra, podendo ser levada para
outra edificação ou para um depósito.
Os contêineres marítimos trazem o risco de contaminação, conforme discutido
em reportagem sobre o assunto (BARBOZA, 2015). Outro fator a ser considerado no
reaproveitamento de contêineres marítimos é o peso elevado, maior que o dobro do
peso de um contêiner construído para módulo habitável, fato que dificulta a logística
de instalação, movimentação e desinstalação do canteiro de obras.
De todas as desvantagens de um contêiner, a mais marcante e que o estigmatiza
é o desconforto, sobretudo térmico, mas também acústico, característica que associa
o seu uso ao condicionamento artificial de ar e consequente gastos energéticos. Ideia
que permanece mesmo se sabendo que o desempenho térmico pode ser melhorado
pelo uso de revestimentos especiais das envoltórias, como mostra o trabalho de Costa
(2015).
Como nas construções de caráter permanente, também nas provisórias a
questão da sustentabilidade ambiental e social vem ganhando importância. Instalações
com condições inadequadas de trabalho, normalmente, também estão associados a
desperdícios de água e energia. Ainda sob o ponto de vista ambiental, é condenável o
descarte e a não reutilização das instalações provisórias.
Além da questão do desempenho térmico e acústico, as instalações provisórias
devem apresentar desempenho estrutural adequado, assim como oferecer
estanqueidade à água. Na verdade, deve-se tratar o desempenho de tais instalações
de forma sistêmica, semelhante à maneira como se tratam hoje as construções de
caráter permanente, com a introdução da norma NBR 15575, conhecida como Norma
de Desempenho.
Nesse contexto, o objetivo deste capítulo é discutir o desempenho de
contêineres metálicos para instalações provisórias em canteiros de obras e apresentar
a proposição de requisitos e critérios que contribuam para o seu correto projeto,
fabricação, transporte e uso. O estudo aqui desenvolvido baseia-se no trabalho de
Cardoso et al. (2013).

274 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


2. Tipologia dos Contêineres Metálicos
Antes de se avançar no assunto, é preciso estabelecer uma tipologia de
contêineres metálicos, no intuito de definir o tipo de contêiner que vai se abordado.
Os contêineres metálicos para instalações provisórias em canteiros de obras
podem ser classificados:
• Quanto à origem: marí�mos reaproveitados ou fabricados com finalidade
específica;
• Quanto ao sistema estrutural: em estrutura re�culada, dotada de pilares,
com fechamentos ver�cais sem função estrutural ou módulos cujos
fechamentos ver�cais, em chapa de aço galvanizada dobrada formada a frio
de seção trapezoidal, atuam também como estrutura. Ambos são dotados de
plataforma formada por longarinas e transversinas que, no caso do segundo
�po, é responsável por, pra�camente, toda a resistência do conjunto;
• Quanto ao uso e flexibilidade dos espaços internos: modelo vão livre, sem
nenhuma divisória interna, u�lizável, por exemplo, como escritório, depósito
de materiais e ves�ário ou modelo suíte, com banheiro e divisórias internas,
podendo ser u�lizado como escritório ou, ainda, modelo sanitário, com
divisórias internas, bacias sanitárias, chuveiros, mictórios e pias; etc.;
• Quanto ao isolamento térmico oferecido: sem ou com isolamento, dotados
de diferentes graus de desempenho.
O mercado oferece atualmente diferentes gamas de produtos, que se diferenciam
tanto pelo sistema estrutural como pelo desempenho oferecido, com impactos
significativos nos custos de locação e comercialização. Em termos de características
dos produtos, além da questão estrutural e do uso dos espaços internos, é preciso
considerar elementos como: os revestimentos nas paredes e isolamentos térmico e
acústico, esquadrias de portas e janela, etc.
Outras variações podem ser observadas, como a forma de acesso ao produto –
comprados ou alugados ou obtidos sob a forma de comodatos. Finalmente, embora se
fale em contêineres “metálicos”, o metal utilizado é o aço.
Esse capítulo discute o desempenho de contêineres metálicos do tipo estrutura
reticulada em aço, usados para instalações provisórias em canteiros de obras e
fabricados com a finalidade específica de servirem a esse propósito. No que se refere
ao uso e à flexibilidade dos espaços internos, as exigências de desempenho pouco
variam. Quanto à presença do isolamento térmico, observa-se cada vez mais que as
exigências de desempenho levam ao seu uso em um número crescente de produtos
oferecidos ao mercado.

Cap. 14 Desempenho de Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias... | 275


O contêiner em estrutura reticulada apresenta a vantagem de poder se combinar
tanto horizontalmente quanto verticalmente, podendo, ainda, ser empilhável de modo
semelhante ao dos contêineres marítimos.
Em relação ao tempo de uso, tal tipo de instalação é considerado de uso
prolongado, uma vez que é ocupado como espaço de trabalho durante o dia todo
e por períodos que variam de dias a semanas, meses ou mesmo a poucos anos. Por
outro lado, tem caráter transitório, visto ser utilizado e depois transferido para uso em
outro local.

3. Requisitos e Critérios de Desempenho para a


Avaliação Técnica de Contêineres de Aço
Discute-se a seguir diretrizes para a avaliação técnica de módulo tridimensional
de aço do tipo contêiner empilhável usado em instalações provisórias para canteiros
de obras, trazendo elementos que colaborem para o projeto de módulos capazes de
atender às novas necessidades do mercado.
Tomou-se como base a norma NBR 15575: Edificações Habitacionais –
Desempenho (ABNT, 2013) e o documento europeu ETAG 023:2006 – Guideline for
European Technical Approval of Prefabricated Building Units, semelhante a uma Diretriz
para Avaliação Técnica de Produtos do Sistema Nacional de Avaliações Técnicas (SINAT)
do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H). Definiu-
se o tipo de módulo tridimensional estudado como o tradicionalmente utilizado em
canteiros de obras nos países desenvolvidos e que, em visitas a obras e fabricantes
brasileiros, mostrou-se um produto de oferta e uso crescentes no país (RODRIGO et al.,
2015).

3.1 Caracterização do Módulo Tridimensional


O objeto a ser avaliado é o módulo tridimensional empilhável do tipo estrutura
reticulada em aço, para uso em canteiros de obras, predominantemente em áreas
administrativas e de vivência, do tipo contêiner de aço.
Do ponto de vista estrutural, são possíveis quatro tipos de módulo, que dão
origem a diferentes combinações de montagem, conforme a Figura 1:
• Módulo �po A – Unidade isolada, que funciona apoiada sobre o terreno e é
capaz de se combinar com outros módulos apenas horizontalmente;
• Módulo �po B – Unidade de baixo, que funciona apoiada sobre o terreno e
é capaz de se combinar com outros módulos tanto horizontalmente quanto
ver�calmente para cima. A capacidade de suporte ver�cal Módulo �po B
deve ser declarada (no caso da Figura 1, até três módulos).

276 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


• Módulo �po C – Unidade intermediária, que funciona apoiada em um Módulo
�po B e é capaz de se combinar com outros módulos tanto horizontalmente
quanto ver�calmente para cima e para baixo. A capacidade de suporte ver�cal
Módulo �po C deve ser declarada (no caso da Figura 1, até dois módulos).
• Módulo �po D – Unidade de cobertura, que funciona apoiada em um Módulo
�po B ou em um Módulo �po C e é capaz de se combinar com outros módulos
tanto horizontalmente quanto ver�calmente para baixo.

D - Cobertura
Plana

C - Unidade
intermediária

C - Unidade
intermediária

A - Unidade B - Unidade
isolada de baixo

Figura 1 – Tipos de combinação ver�cal de módulos.

O empilhamento vertical e a conexão horizontal de módulos possibilitam a


realização de diferentes arranjos espaciais, bem como a adaptabilidade do conjunto ao
longo da duração da obra, por meio de ampliação, redução e rearranjo da combinação
dos módulos.
O módulo é composto pelos seguintes materiais, componentes e elementos,
nem todos necessariamente empregados:
• estrutura em aço com proteção an�corrosiva, é cons�tuída por perfis
dobrados formados a frio em diferentes configurações, com espessuras abaixo
de 1 mm (0,47 mm, 0,65 mm e 0,80 mm) e aço com resistência mínima de
escoamento de 230 MPa, cons�tuída por estrutura ver�cal (Estrutura), chassi
inferior (Piso), chassi superior (Cobertura). Em alguns casos, o conjunto inclui
apoios, de altura variável, usualmente em aço, para elevar o módulo e para
vencer desníveis do terreno;

Cap. 14 Desempenho de Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias... | 277


• sistemas de fixação cons�tuídos de parafusos, rebites e chumbadores: fixação
entre módulos, fixação do módulo ao apoio, fixação entre perfis de aço com
parafusos ou rebites, fixação das chapas das vedações aos perfis de aço com
parafusos ou rebites, fixação das telhas à estrutura da Cobertura, etc.;
• Vedações Ver�cais Externas e Internas (VVEI), sem função estrutural,
usualmente feitas em chapa de aço dobrada formados a frio de seção
trapezoidal, com espessuras abaixo de 1 mm (0,47 mm, 0,65 mm e
0,80 mm) e com proteção an�corrosiva e eventual pintura, habitualmente
complementadas com isolante térmico e absorvente acús�co em suas faces
internas. Outras soluções para as vedações ver�cais, com ou sem isolante
térmico e absorvente acús�co, podem ser consideradas, desde que a�njam
os níveis mínimos de desempenho previstos, garan�ndo a habitabilidade do
módulo;
• vedação horizontal superior montada no chassi superior (Cobertura),
usualmente em chapa de aço dobrada formados a frio de seção trapezoidal
(telha), com espessuras abaixo de 1 mm (0,47 mm, 0,65 mm e 0,80 mm),
proteção an�corrosiva e eventual pintura, habitualmente complementadas
com isolante térmico em sua face interna. Deve prever sistema para captação
e escoamento de águas pluviais no caso dos Módulos dos �pos A e D;
• vedação horizontal inferior montada no chassi inferior (Piso), composta por
reves�mentos de piso em materiais diversos, como compensado naval ou
outros derivados da madeira, reves�mento de mantas vinílicas ou borracha.
No caso de vedação horizontal inferior em contato com o solo, devem ser
consideradas as ações externas específicas (Módulos dos �pos A e B), já no
caso de pisos em áreas molhada, deve-se prever tratamento an�fungos e
impermeabilização (os reves�mentos não fazem parte do objeto de avaliação
da presente diretriz);
• isolantes térmicos, como poliuretano, polies�reno, placas de lã de rocha ou
de lã de vidro, ou outros materiais. Tais componentes não fazem parte do
objeto de avaliação da presente diretriz;
• materiais absorventes acús�cos, como placas de lã de rocha ou lã de vidro e
fibras cerâmicas. Esses elementos, no entanto, não fazem parte do objeto de
avaliação da presente diretriz;
• componentes de acabamento interno de diferentes procedências, como
placa cimen�cia, régua de PVC (siding), chapa de OSB (Oriented Strand
Board) e chapa de gesso acartonado (drywall). No caso de uso de placas de

278 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


lã de rocha ou de lã de vidro, elas devem ser combinadas com material de
acabamento interno adequado. Esses componentes, porém, não fazem parte
do objeto de avaliação da presente diretriz;
• pinturas externas, compa�veis com os componentes estruturais e de
vedação, que não serão objetos de avaliação da presente diretriz;
• pinturas e texturas internas, compa�veis com os componentes estruturais e
de vedação, que não serão objetos de avaliação da presente diretriz;
• portas e janelas em aço, alumínio, PVC ou outro material, com ou sem vidros
embu�dos. Tais componentes não fazem parte do objeto de avaliação da
presente diretriz;
• instalações elétricas, normalmente passadas pela estrutura e fixadas
externamente nas vedações pelas suas faces internas, sendo adequadamente
aterradas. Deve-se prever conexão externa para entrada da energia, quadro
interno, disjuntores, uma ou duas tomadas internas, interruptores e
luminárias; além da instalação de aparelho de ar condicionado, se for o caso.
Tais instalações não fazem parte do objeto de avaliação da presente diretriz;
• instalações hidrossanitárias, no caso de módulo sanitário ou de apoio que
exija a presença de água (copas e cozinhas), deve haver ponto de entrada
de água e ponto de saída de esgoto, para conexões com redes. O módulo
pode prever caixa inferior de dejetos, eventualmente com o uso de químicos;
nesse caso, a conexão com o esgoto não é necessária. Essas instalações não
fazem parte do objeto de avaliação da presente diretriz.
Os tipos de perfis de aço formados a frio que estruturam o módulo podem
assumir diversas seções transversais, mas devem atender às dimensões mínimas e
tolerâncias dimensionais estabelecidas na NBR 6355. A resistência de escoamento do
aço deve estar de acordo com as exigências constantes na NBR 6673. No caso dos
painéis de vedação, deve ainda observar a NBR 15253.
O aço utilizado nos perfis pode ter dois tipos de revestimento: zincado ou
alumínio-zinco, ambos aplicados por processo continuo de imersão a quente. Como
o revestimento garante o desempenho à corrosão, deve-se demonstrar que todos os
elementos estruturais em aço possuem tal proteção.
Qualquer outro material ou componente pode ser empregado mediante
identificação de suas características, segundo normas técnicas pertinentes ou critérios
específicos, e mediante comprovação de adequação com o desempenho esperado do
módulo.

Cap. 14 Desempenho de Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias... | 279


3.2 Requisitos e Critérios de Desempenho
Os requisitos de desempenho aqui definidos estão alinhados com os da
NBR 15575, em suas diferentes partes, e estão organizados nos seguintes temas,
que expressam as exigências dos usuários relativas à segurança, à habitabilidade e à
sustentabilidade do módulo e das instalações dos canteiros de obras que o empregam:
1. Desempenho estrutural;
2. Segurança contra incêndio;
3. Segurança no uso e operação;
4. Funcionalidade e acessibilidade;
5. Conforto tá�l e antropodinâmico;
6. Desempenho térmico;
7. Desempenho acús�co;
8. Desempenho lumínico;
9. Estanqueidade à água;
10. Durabilidade e manutenibilidade;
11. Saúde, higiene e qualidade do ar;
12. Adequação ambiental: gestão de resíduos;
13. Adequação ambiental: gestão da energia;
14. Adequação ambiental: gestão da água;
15. Adequação ambiental: escolha de materiais.
Os requisitos e seus respectivos critérios de desempenho são apresentados nos
itens 1 a 15, a seguir, preferencialmente sob a forma de quadros comentados. Cada
requisito refere-se a um ou mais dos subsistemas do módulo.

3.2.1 Desempenho Estrutural


Os requisitos de desempenho estrutural visam assegurar o atendimento,
durante a vida útil de projeto do módulo e sob as diversas condições de exposição
(como ação do peso próprio; sobrecargas de utilização; atuações do vento; ações de
transporte, montagem e desmontagem; e outros), às seguintes características do
módulo:
• não ruir ou perder a estabilidade de nenhuma de suas partes;
• prover segurança aos usuários em situações como a ação de impactos,
choques, vibrações e outras solicitações decorrentes da sua u�lização normal;
• não provocar sensação de insegurança aos usuários devido a deformações
de seus elementos;
• não prejudicar as manobras normais de partes móveis, tais como portas
e janelas, nem prejudicar o funcionamento normal das instalações como
consequência das deformações dos elementos estruturais.

280 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Em vista disso, o Quadro 1 traz o conjunto de exigências relacionadas ao
desempenho estrutural.

Quadro 1 – Conjunto de exigências relacionadas ao desempenho estrutural.

Requisito Critério Aplicação Indicador Origem


1.1 Resistência Estado limite Estrutura Resistência e NBR 15575-2
estrutural e úl�mo Piso estabilidade ETAG 023 (4.1,
estabilidade global Cobertura estrutural 5.1 e 6.1)
VVEI
1.2 Deformação Estado limite de Estrutura Não deformar NBR 15575-2
serviço Piso excessivamente NBR 15575-4
Cobertura ETAG 023 (4.1,
VVEI 5.1 e 6.1)
1.3 Impactos de corpo Energia de Estrutura Resistência e NBR 15575-2
mole impacto mínima Piso deslocamentos NBR 15575-4
(J) Cobertura instantâneo e
VVEI residual
1.4 Solicitação de Resistência a Piso Resistência e NBR 15575-3
cargas ver�cais cargas ver�cais Cobertura deslocamento
concentradas concentradas
1.5 Solicitação Capacidade VVEI Inexistência de NBR 15575-4
de cargas de suporte danos quando
provenientes de para peças subme�do à
peças suspensas suspensas carga de peça
suspensa
1.6 Solicitações Ações VVEI Resistência do NBR 15575-4
transmi�das por transmi�das por acoplamento
portas para as fechamentos e da folha da
vedações ver�cais bruscos de porta
portas
1.7 Cargas de Resistência a Guarda- Resistência do NBR 15575-4
ocupação em ações está�cas corpos guarda-corpo
guarda-corpos horizontais,
ver�cais e de
impactos
1.8 Possibilidade de Resistência Cobertura Carga ver�cal NBR 15575-5
caminhamento na a cargas acessível ao concentrada
Cobertura concentradas usuário para mínima e
efeito de forma de
montagem e deslocamento
manutenção das pessoas

Cap. 14 Desempenho de Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias... | 281


Deve ser elaborado o cálculo estrutural específico para o módulo, por
profissional habilitado, com a respectiva memória de cálculo. No caso de Vedações
Verticais Internas e Externas (VVEI) estruturais, o espaçamento entre montantes, a
quantidade de travessas, bloqueadores e de barras de contraventamento dependerão
de cada projeto específico.
As VVEI, a vedação horizontal superior (Cobertura) e a vedação horizontal
inferior (Piso) podem ser consideradas como componentes de contraventamento.
As cargas laterais (cargas de vento) devem ser consideradas conforme a
NBR 6123, já o deslocamento horizontal no topo do módulo deve atender ao critério
estabelecido na NBR 14762.
A memória de cálculo deve apresentar hipóteses de cálculo, cargas consideradas,
verificação da estabilidade dos perfis, conforme a NBR 14762, dimensionamento
de chumbadores de fixação do Piso ao apoio de fundação e dimensionamento das
fixações entre módulos, no caso do empilhamento vertical.
Em relação à Cobertura, é preciso considerar o peso próprio dos materiais e
cargas de vento característica da região mais crítica prevista para uso do módulo,
atentando para a resistência das fixações entre perfis e para o espaçamento e espessura
dos mesmos.
Na avaliação do requisito Deformação, sob a ação de cargas gravitacionais,
de temperatura, de vento ou quaisquer outras solicitações passíveis de atuarem
sobre o módulo, os componentes estruturais (perfis de aço) não devem apresentar
deslocamentos maiores que os estabelecidos nas normas de projeto estrutural,
estipuladas pela NBR 14762 e pela NBR 15575-2. Também não devem impedir o
livre funcionamento de componentes como portas e janelas, nem prejudicar o
funcionamento das instalações.

3.2.2 Segurança Contra Incêndio


Os requisitos de segurança contra incêndio são pautados em proteger a vida
dos ocupantes, evitar a propagação de inflamação generalizada, proporcionar meios
de controle e extinção do incêndio e dar condições de acesso ao corpo de bombeiros,
incluindo a minimização de risco de colapso estrutural.
O Quadro 2 traz o conjunto de exigências relacionadas à segurança contra
incêndio.

282 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Quadro 2 – Conjunto de exigências relacionadas à segurança contra incêndio.

Requisito Critério Aplicação Indicador Origem


2.1 Dificuldade Propagação VVEI Índice máximo NBR 15575-3
de inflamação superficial da Piso de propagação NBR 15575-5
generalizada chama Cobertura superficial (Ip)
2.2 Facilidade de Densidade VVEI Densidade máxima NBR 15575-3
fuga específica ó�ca Piso específica ó�ca de NBR 15575-5
de fumaça Cobertura fumaça (Dm)
2.3 Minimização de Resistência ao Estrutura Resistência ao fogo NBR 15575-1
risco de colapso fogo Piso
estrutural Cobertura

3.2.3 Segurança no Uso e Operação


O módulo deve ser fabricado e as combinações de módulos devem ser
projetadas de forma a prover segurança no uso e operação.
É necessário dar atenção especial às instalações elétricas, em conformidade
com as normas pertinentes, no intuito de evitar choques e incêndios. O projeto deve
impedir que o usuário se machuque, seja por esbarrar em quinas ou superfícies
cortantes, seja por escorregar ou tropeçar (em frestas e desníveis).
O Quadro 3 traz o conjunto de exigências relacionadas à segurança no uso e
operação.

Quadro 3 – Conjunto de exigências relacionadas à segurança no uso e operação.

Requisito Critério Aplicação Indicador Origem


3.1 Segurança na Partes expostas Módulo Inexistência de NBR 15575-1
u�lização cortantes ou partes expostas
perfurantes cortantes ou
perfurantes
3.2 Resistência ao Coeficiente de Piso Coeficiente de atrito NBR 15575-3
escorregamento atrito dinâmico dinâmico mínimo
de reves�mentos
cerâmicos
3.3 Segurança na Inexistência de Piso Medidas máximas de NBR 15575-3
circulação desníveis e frestas desnível e de fresta
abruptos
3.4 Segurança nas Prevenção de Módulo Condições de NBR 15575-6
instalações choques elétricos aterramento e
e de descargas isolamento
atmosféricas

Cap. 14 Desempenho de Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias... | 283


3.2.4 Funcionalidade e Acessibilidade
O desempenho do módulo, no que se refere à funcionalidade e acessibilidade,
depende do atendimento às exigências cabíveis da NR 18: Condições e meio ambiente
do trabalho na indústria da construção e da NBR 12284: Área de vivência em canteiros
de obra, relativas às condições e ao meio ambiente de trabalho.
Outros requisitos de caráter não obrigatório podem ser estabelecidos.
No que tange à funcionalidade, seu desempenho depende da flexibilidade
que oferece para diferentes configurações de arranjo, capaz de acomodar os diversos
ambientes de trabalho de uma instalação provisória de canteiro de obras: escritórios
de dimensões variadas, sala de reuniões, copa, almoxarifados, vestiários, banheiros,
etc. Além disso, deve ser capaz de se combinar com outros módulos horizontalmente
e, em casos específicos, verticalmente (ver Figura 1 e diferentes tipos de módulos
quanto à combinação do ponto de vista estrutural).
Conforme a destinação do módulo, ele deve ser capaz de atender a necessidades
como a coleta e condução de água de chuva (Módulos tipo A e D da Figura 1), o
abastecimento de água fria e quente e o esgotamento de água servida e esgoto.
Além disso, deve prever sistemas de acoplamento adequado a redes de energia, água
potável, drenagem e esgoto, conforme o caso.
Quanto ao mobiliário, deve-se dar preferência para porta de correr, no caso de
armários acoplados ao módulo.
O projeto tem a necessidade de prever meios para manutenção segura da
cobertura, quando se tratar de Unidade de cobertura (Módulo tipo D).
No que se refere à acessibilidade, o módulo deve possibilitar sua adaptação
para portadores de deficiência física ou pessoas com mobilidade reduzida, incluindo a
instalação provisória do canteiro de obras como um todo.
O Quadro 4 traz a exigência relacionada à funcionalidade e acessibilidade de
caráter não obrigatório.

Quadro 4 – Exigência relacionada à funcionalidade e acessibilidade.

Requisito Critério Aplicação Indicador Origem


4 Condições e meio Condições e meio Módulo Atendimento NR 18 (seção 18.4)
ambiente de ambiente de à legislação NBR 15575-1
trabalho trabalho

3.2.5 Conforto Tátil e Antropodinâmico


O desempenho do módulo, no que se refere ao conforto tátil e antropodinâmico,
depende da adequação ergonômica de dispositivos de manobra (trincos, puxadores,

284 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


cremonas, guilhotinas, portas, janelas, torneiras, registros e descargas), bem como de
medidas para evitar riscos de quedas.
O Quadro 5 traz o conjunto de exigências relacionadas ao conforto tátil e
antropodinâmico.

Quadro 5 – Conjunto de exigências relacionadas ao conforto tá�l e antropodinâmico.

Requisito Critério Aplicação Indicador Origem


5.1 Conforto tá�l Adequação Módulo Conforto tá�l NBR 15575-1
e adaptação ergonômica de e adaptação
ergonômica disposi�vos de ergonômica
manobra e força Força e torque
para acionamento máximos para
acionamento de
disposi�vos de
manobra
5.2 Homogeneidade Regularidade Piso Ausência de NBR 15575-3
e planicidade superficial irregularidades
na super�cie

3.2.6 Desempenho Térmico


A NBR 15575 permite que o desempenho térmico do módulo seja avaliado
de forma isolada ou segundo uma combinação dessas estruturas, a depender do
canteiro de obras. As exigências aqui mencionadas referem-se ao módulo de forma
isolada. É indispensável ressaltar, ademais, que as exigências de desempenho
térmico estabelecidas na NBR 15575 reportam-se às características bioclimáticas das
diferentes regiões brasileiras definidas na NBR 15220-3. Desse modo, os requisitos de
desempenho às quais o módulo deve responder dependem da região ou das regiões
onde é empregado.
As vedações externas (VVE e Cobertura) devem se adequar para propiciar bom
desempenho térmico. Para tanto, é preciso considerar sua transmitância e capacidade
térmica, de acordo com a NBR 15520-2.
Para atender aos requisitos 6.1 e 6.2 (Quadro 6), são aceitos cálculos simplificados
(Procedimento Simplificado). Caso o módulo não atenda às exigências do Procedimento
Simplificado, deve-se proceder à sua análise de acordo com simulação computacional,
que comprove a melhoria das condições de temperatura de verão e inverno em seu
interior (6.3) (Procedimento de Simulação), ou à realização de medições em protótipo,
que comprovem o desempenho térmico do módulo (Procedimento de Medição).
Outro critério a ser avaliado refere-se às aberturas mínimas de ventilação a
serem consideradas nas VVE (6.4).

Cap. 14 Desempenho de Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias... | 285


Quadro 6 – Conjunto de exigências relacionadas ao desempenho térmico.

Requisito Critério Aplicação Indicador Origem


6.1 Resistência Transmitância VVE Valor máximo NBR 15575-4
térmica térmica – U Cobertura admissível de NBR 15575-5
(W/m2K) transmitância
térmica U
6.2 Inércia Térmica Capacidade VVE Valor mínimo NBR 15575-4
Térmica – CT Cobertura da capacidade
(kJ/m2K) térmica CT
6.3 Desempenho no Temperatura no Módulo Temperatura NBR 15575-1
verão e inverno verão e no inverno máxima de verão
(Procedimento e mínima de
de Simulação) inverno
6.4 Permeabilidade Área de abertura VVE Área mínima de NBR 15575-4
do ar para ven�lação abertura para NR 18
ven�lação (18.4.1.3)

3.2.7 Desempenho Acústico


O projeto do módulo deve considerar, para o nível de ruído externo, um valor
que seja compatível com o esperado para uma obra de grande porte. Em função desse
nível, e de modo a alcançar o desempenho acústico exigido, o módulo deve oferecer um
isolamento sonoro proporcionado por produtos dispostos em suas Vedações Verticais
Externas (VVE) e Cobertura. Considerando os ruídos aéreos internos, da mesma forma,
produtos são dispostos em suas Vedações Verticais Internas (VVI).
Para verificação do atendimento ao requisito de isolação sonora, pode-se optar
por realizar medições do isolamento em campo ou em laboratório, cujos critérios de
desempenho são diferentes.
Em ambientes onde a inteligibilidade da fala é necessária, ou onde estejam
previstas atividades com grande fluxo de pessoas falando, como o caso dos refeitórios
e salas de reunião, pode-se planejar um sistema de absorção acústica para melhoria
da qualidade do som.
O Quadro 7 traz o conjunto de exigências relacionadas ao desempenho acústico.

286 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Quadro 7 – Conjunto de exigências relacionadas ao desempenho acús�co.

Requisito Critério Aplicação Indicador Origem


7.1 Isolação ao som Diferença VVE Diferença NBR 15575-4
aéreo da envoltória padronizada Cobertura padronizada de NBR 15575-5
(ensaio de campo) de nível nível ponderada a
ponderada a 2 m da envoltória
2 m – D2m, mínima – D2m,
nT, W nT, W
7.2 Isolação ao Redução VVE Redução sonora NBR 15575-4
som aéreo da sonora ponderada
envoltória (método ponderada – da envoltória
laboratorial) Rw mínima – Rw
7.3 Isolação ao som Diferença VVI Diferença NBR 15575-4
aéreo da Vedação padronizada padronizada de
Ver�cal Interna de nível nível ponderada
(ensaio de campo) ponderada – da Vedação
DnT, W Ver�cal Interna
mínima – DnT, W
7.4 Isolação ao Redução VVI Redução sonora NBR 15575 – 4
som aéreo da sonora ponderada da
Vedação Ver�cal ponderada – Vedação Ver�cal
Interna (método Rw Interna mínima –
laboratorial) Rw

3.2.8 Desempenho Lumínico


O desempenho luminoso envolve iluminação natural e artificial, bem como o
conforto visual. No entanto, a exigência que se trata aqui se relaciona apenas com a
iluminação artificial, conforme a NBR 15575-1, expressa no Quadro 8.

Quadro 8 – Exigência relacionada ao conforto lumínico.

Requisito Critério Aplicação Indicador Origem


8 Iluminação Nível de Ambientes Níveis mínimos de NBR 15575-1
ar�ficial iluminação internos iluminação média NBR ISO/CIE 8995-1
média ar�ficial ar�ficial

Não obstante, o projeto do módulo deve oferecer condições para que haja
equilíbrio entre iluminação natural e artificial. Os ofuscamentos precisam ser evitados
por meio de artifícios de transmissão indireta da luz, tais como bandejas de luz e aletas
refletoras nas luminárias.

Cap. 14 Desempenho de Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias... | 287


O módulo necessita garantir ainda acesso à luz do dia. Na combinação de
módulos da instalação provisória no canteiro de obras, o acesso à luz do dia deve
ser garantido para cada um dos ambientes que a forma. Recomenda-se que haja
uma janela (ou uma abertura com vidro, sem ventilação) no escritório de engenharia
direcionada à obra.
Em locais de baixo fluxo de pessoas, deve haver circuitos elétricos de iluminação
independentes; pode-se optar pelo uso de sensores de presença ou fotoelétrico (em
escadas externas, por exemplo). Nas áreas de circulação externa, recomenda-se usar
luminárias voltadas para o solo.

3.2.9 Estanqueidade à Água


A água é o principal agente de degradação de um amplo grupo de materiais e
componentes de construção. Ela está presente no solo, na atmosfera, nos sistemas
prediais e como decorrência de atividades de higiene e limpeza e de cocção. Por todos
esses meios, ela pode atingir o módulo.
O módulo não deve permitir a entrada de água por meio da ascensão de umidade
do solo pelos apoios (Pisos Módulos tipos A e B) e da infiltração de água de chuva
pelas Vedações Verticais Externas (VVE) ou pela Cobertura. Adicionalmente, deve ser
projetado para conviver sem o prejuízo demasiado causado pelas águas internas, por
exemplo, decorrentes dos procedimentos de uso e limpeza dos ambientes, vapor de
água gerado nas atividades normais de uso, condensação de vapor de água e eventuais
vazamentos.
O Quadro 9 traz o conjunto de exigências relacionadas à estanqueidade à água.

Quadro 9 – Conjunto de exigências relacionadas à estanqueidade à água.

Requisito Critério Aplicação Indicador Origem


9.1 Estanqueidade à Estanqueidade, VVE Sinais de NBR 15575-4
água de chuva das considerando a infiltração
Vedações Ver�cais ação dos ventos de água ou
Externas umidade
9.2 Estanqueidade à Estanqueidade, Cobertura Sinais de NBR 15575-5
água de chuva da considerando a infiltração
Cobertura ação dos ventos de água ou
umidade
9.3 Estanqueidade à Estanqueidade Piso Sinais de NBR 15575-3
umidade ascendente do Piso em infiltração
do Piso contato com o de água ou
solo umidade

288 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Quadro 9 – Continuação.

Requisito Critério Aplicação Indicador Origem


9.4 Estanqueidade Estanqueidade, VVEI Sinais de NBR 15575-4
à água de uso considerando Piso infiltração
e lavagem dos as ações de água ou
ambientes de decorrentes dos umidade
Vedações Ver�cais procedimentos
e Piso de uso e limpeza
dos ambientes
9.5 Estanqueidade Estanqueidade Instalações Sinais de -
das instalações sob condições hidrossanitárias vazamentos
hidrossanitárias normais de uso

3.2.10 Durabilidade e Manutenibilidade


O desempenho do módulo, no que se refere à durabilidade, volta-se para os
componentes e elementos que merecem atenção especial quanto à resistência à
corrosão, à umidade e ao ataque químico.
O mercado de contêineres de aço trabalha com duas alternativas para acesso ao
produto: compra e locação. Embora em ambas haja interesse pelo estabelecimento de
prazos de vida útil de projeto (VUP) – respectivamente, para as construtoras e para os
locadores –, esta pesquisa optou pelo não estabelecimento de exigência compulsória
em relação a esse tema. São apenas indicados prazos de vida útil de projeto dos
elementos do módulo e sugeridas medidas preventivas a serem incorporadas ao
projeto.
Não obstante, é importante assegurar a continuidade da capacidade funcional
do módulo, a qual é potencializada pelo correto uso da instalação e pela realização
de intervenções de manutenção pré-estabelecidas. Assim, um aspecto essencial para
garantia de desempenho no que tange à durabilidade e manutenibilidade é a elaboração
de um manual de uso, operação e manutenção. Dentre outros pontos, ele deve indicar
a vida útil dos elementos e componentes do módulo, passar orientações sobre o uso
e os períodos de manutenção e trocas desses constituintes da instalação, bem como
trazer instruções para sua realização. Deve-se considerar, também, a facilidade ou
meios de acesso para manutenção. Todos os componentes devem ser identificados
segundo sua dimensão, geometria, propriedades significativas e tolerâncias. Deve-se
ainda esclarecer os meios para a reutilização dos componentes descartados ao final
de sua vida útil.
O Quadro 10 traz o conjunto de exigências relacionadas à durabilidade e
manutenibilidade.

Cap. 14 Desempenho de Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias... | 289


Quadro 10 – Conjunto de exigências relacionadas à durabilidade e manutenibilidade.

Requisito Critério Aplicação Indicador Origem


10.1 Resistência à Existência de Estrutura Massa do -
corrosão de reves�mento de Piso reves�mento por
perfis de aço proteção (zincado Cobertura unidade de área do
e disposi�vos ou alumínio-zinco) VVEI perfil (g/m2)
de fixação Proteção à corrosão
de disposi�vos de
fixação
Ausência de pontos
suscep�veis à
corrosão galvânica
10.2 Resistência à Danos pela Piso Ausência de danos NBR 15575-3
umidade presença de água
10.3 Resistência Danos pela Piso Ausência de danos NBR 15575-3
ao ataque presença de
químico agentes químicos
10.4 Permanência Manual de uso, Módulo Existência de manual NBR 15575-1
do operação e de uso, operação e
desempenho manutenção do manutenção
do módulo módulo
10.5 Vida ú�l de Incorporação Elementos Medidas preven�vas NBR 15575-1
projeto de ao projeto do módulo incorporadas ao
elementos do de medidas projeto
módulo preven�vas

3.2.11 Saúde, Higiene e Qualidade do Ar


O desempenho do módulo, no que se refere à saúde, higiene e qualidade do ar,
volta-se, em primeiro lugar, aos cuidados para se evitar a contaminação da água a partir
dos componentes das instalações, condição essencial à boa saúde dos ocupantes. Os
componentes empregados devem garantir a salubridade e a qualidade da água, não
transmitindo substâncias tóxicas nem a contaminando por meio de metais pesados.
Para evitar a contaminação biológica na instalação de água potável, todo
componente da instalação deve evitar a impregnação de sujeira ou desenvolvimento
de bactérias ou atividades biológicas. As instalações de esgoto não devem permitir o
refluxo ou retrossifonagem, evitando a presença de odores.
Com relação à qualidade do ar interno, o sistema de ventilação deve prever boa
distribuição do ar novo e a exaustão do ar viciado, ainda que por meio de ventilação
natural. Por se tratar de um módulo para canteiro de obras, recomenda-se que as

290 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


janelas e outras tomadas de ar externo prevejam sistema que impeça a entrada de
material particulado do ar externo. Outra medida recomendável é procurar empregar
tintas e adesivos à base de água, assim como de produtos com baixas emissões de
Compostos Orgânicos Voláteis (COV), de formaldeídos e de elementos cancerígenos
ou causadores de efeitos genéticos nocivos, principalmente no caso dos revestimentos
de Vedações Verticais, Piso e Cobertura (forro) em contato com o ar interior.
O Quadro 11 traz a exigência relacionada à saúde, higiene e qualidade do ar.

Quadro 11 – Exigência relacionada à saúde, higiene e qualidade do ar.

Requisito Critério Aplicação Indicador Origem


11.1 Contaminação Independência Instalação Separação das NBR 15575-6
da água a do sistema de de água tubulações de água
par�r dos água potável potável e não potável ou
componentes de fluido de qualidade
das insa�sfatória e uso de
instalações componentes que não
transmitam à água
substâncias tóxicas ou
contaminantes
11.2 Contaminação Risco de Instalação Material de fabricação NBR 15575-6
biológica contaminação de água do componente da
da água na biológica das potável instalação e não
instalação de tubulações e empoçamento de água
água potável de estagnação (módulo testado)
da água
11.3 Ausência Estanqueidade Instalação Ausência de NBR 15575-6
de odores aos gases de esgoto retrossifonagem ou
provenientes quebra do selo hídrico
da instalação
de esgoto
11.4 Qualidade do Renovação Módulos Sistema de ven�lação -
ar interno do ar e baixa adequado e uso de
presença de materiais de baixa
componentes emissividade
nocivos

3.2.12 Adequação Ambiental: Gestão de Resíduos


Os requisitos de desempenho, no que se refere à adequação ambiental quanto
à gestão de resíduos, dizem respeito às condições de armazenamento e triagem dos
resíduos, considerando os fluxos de entrada e saída.

Cap. 14 Desempenho de Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias... | 291


3.2.13 Adequação Ambiental: Gestão da Energia
Os requisitos de desempenho, no que se refere à adequação ambiental quanto
à gestão da energia, dizem respeito às medidas voltadas ao uso racional da energia,
seja do módulo, seja da fábrica responsável pela sua produção.

3.2.14 Adequação Ambiental: Gestão da Água


Os requisitos de desempenho, no que se refere à adequação ambiental quanto
à gestão da água, dizem respeito à presença de equipamentos economizadores nas
instalações hidrossanitárias do módulo.

3.2.15 Adequação Ambiental: Escolha de Materiais


Os requisitos de desempenho, no que se refere à adequação ambiental quanto
à escolha de materiais, dizem respeito à valorização de materiais que causem menor
impacto ambiental, desde as fases de exploração dos recursos naturais até a sua
utilização final.

3.3 Qualidade na Fabricação, Montagem e Transporte


do Módulo
O fabricante do módulo deve implantar procedimentos para assegurar a
qualidade da aquisição dos materiais e componentes do módulo e da sua fabricação,
montagem, transporte e instalação no canteiro de obras.

3.3.1 Qualidade dos Materiais e Componentes Empregados


no Módulo
O fabricante deve assegurar que a compra de materiais e componentes
empregados na fabricação do módulo esteja em conformidade com os requisitos
especificados de aquisição. Estes devem descrever claramente o que está sendo
comprado, contendo especificações técnicas.
O fabricante deve realizar inspeção ou outras atividades necessárias para
assegurar que o produto adquirido atenda aos requisitos de aquisição especificados.

3.3.2 Qualidade da Fabricação do Módulo


O fabricante deve assegurar que as diversas atividades envolvidas na fabricação
do módulo estejam conformes com os requisitos especificados de produção, os quais
devem descrever claramente como e com que recursos as atividades são executadas.

292 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


O fabricante deve realizar inspeção ou outras atividades necessárias para garantir
que as atividades realizadas atendam aos requisitos de produção especificados.

3.3.3 Qualidade da Montagem do Módulo em Fábrica ou no


Canteiro de Obras
O fabricante deve assegurar que as diversas atividades envolvidas na montagem
do módulo estejam conformes com os requisitos especificados. Estes devem descrever
claramente como e com que recursos executam-se as atividades, no caso de serem
efetuadas em fábrica ou no canteiro de obras.
O fabricante deve realizar inspeção ou outras atividades necessárias para
assegurar que as atividades realizadas cumpram os requisitos de montagem
especificados.

3.3.4 Qualidade do Transporte e da Instalação do Módulo


no Canteiro de Obras
O fabricante deve assegurar que as diversas atividades envolvidas no transporte
e na instalação do módulo no canteiro de obras estejam conformes com os requisitos
especificados. Estes devem descrever claramente como e com que recursos executam-
se as atividades, no caso de serem realizadas pelo fabricante ou pela empresa
construtora.
O fabricante deve realizar inspeção ou outras atividades necessárias para
assegurar que as atividades realizadas atendam aos requisitos de transporte e
instalação especificados.

3.4 Documentos Técnicos Complementares


A seguir listam-se as normas técnicas referenciadas:
• Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):
◦ NBR 6123:1998 – Forças devidas ao vento em edificações;
◦ NBR 6355:2012 – Perfis estruturais de aço formados a frio — Padronização;
◦ NBR 6673:1981 – Produtos planos de aço – Determinação das
propriedades mecânicas à tração;
◦ NBR ISO/CIE 8995-1:2013 – Iluminação de ambientes de trabalho. Parte
1: Interior;
◦ NBR 12284:1991 – Áreas de vivência em canteiros de obras –
Procedimento;
◦ NBR 14762:2001 – Dimensionamento de estruturas de aço cons�tuídas
por perfis formados a frio – Procedimento;

Cap. 14 Desempenho de Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias... | 293


◦ NBR 15220-2:2005 – Desempenho térmico de edificações – Parte 2:
Métodos de cálculo da transmitância térmica, da capacidade térmica,
do atraso térmico e do fator solar de elementos e componentes de
edificações;
◦ NBR 15220-3:2005 – Desempenho térmico de edificações – Parte
3: Zoneamento bioclimá�co brasileiro e diretrizes constru�vas para
habitações unifamiliares de interesse social;
◦ NBR 15253:2005 – Perfis de aço formados a frio, com reves�mento
metálico, para painéis re�culados em edificações – Requisitos gerais;
◦ NBR 15575-1:2013 – Edi�cios habitacionais de até cinco pavimentos:
Desempenho – Parte 1: Requisitos gerais;
◦ NBR 15575-2:2013 – Edi�cios habitacionais de até cinco pavimentos:
Desempenho – Parte 2: Requisitos para os sistemas estruturais;
◦ NBR 15575-3:2013 – Edi�cios habitacionais de até cinco pavimentos:
Desempenho – Parte 3: Requisitos para os sistemas de pisos internos;
◦ NBR 15575-4:2013 – Edi�cios habitacionais de até cinco pavimentos:
Desempenho – Parte 4: Sistemas de vedações ver�cais externas e
internas;
◦ NBR 15575-5:2013 – Edi�cios habitacionais de até cinco pavimentos:
Desempenho – Parte 5: Requisitos para sistemas de coberturas.
• Ministério do Trabalho e Emprego:
◦ NR 18 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da
Construção.
• Norma européia – EN:
◦ ETAG 023:2006 – Guideline for European Technical Approval of
Prefabricated Building Units.

4. Comentários Finais e Implicações para a


Indústria da Construção Civil
O capítulo mostrou que são diversos os contêineres usados em instalações
provisórias de canteiros de obras oferecidos no mercado e propôs uma tipologia para
essas estruturas. Com base nela, voltou-se ao módulo tridimensional empilhável do
tipo estrutura reticulada em aço, usado predominantemente em áreas administrativas
e de vivência.
Verificou-se que a busca por soluções de melhor desempenho técnico e
econômico tem levado a um maior grau de exigência no que se refere a essas
instalações, motivando os agentes do mercado a atender as aspirações em relação aos
contêineres de aço.

294 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


A fim de contribuir com essa evolução, discutiu-se o desempenho esperado
para tais contêineres, propondo-se requisitos e critérios que contribuam para o seu
correto projeto, fabricação, transporte e uso.
Para uma consideração mais aprofundada no assunto, incluindo os detalhamentos
dos métodos de verificação e avaliação de cada requisito de desempenho e os ensaios
e as inspeções in loco que devem ser realizados, os documentos que devem ser
apresentados e os cálculos que devem ser realizados, em cada caso, deve-se consultar
a diretriz completa proposta por Cardoso et al. (2013).
Complementarmente, poderá ser implementado um mecanismo de avaliação
técnica, como se faz no Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat
(PBQP-H) – Sistema Nacional de Avaliações Técnicas (SINAT), no caso de produtos
inovadores, por meio do estabelecimento de uma Diretriz para Avaliação Técnica de
Produtos SINAT.

Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575: Edificações Habitacionais –
Desempenho. 2013. Rio de Janeiro, Brasil.
BARBOZA, N. Contêineres. Construção Mercado, v. 169, ago. 2015, p. 80-81. Pini. São
Paulo.
BIRBOJM, A. Subsídios para as tomadas de decisão rela�vas à escolha dos elementos do
canteiro de obras. Dissertação (Mestrado) – São Paulo, Universidade de São Paulo, Escola
Politécnica, 2001.
CARDOSO, F.F.; RODRIGO, A.G.; SOARES, P.V.P.T. Diretriz para avaliação técnica de
desempenho de módulo tridimensional empilhável para instalação provisória em
canteiro de obras: contêiner de aço. Relatório interno do Projeto CantecHIS – Tecnologias
para Canteiro de Obras Sustentável. São Paulo: Finep, agosto de 2013.
COSTA, D.C.R.F. Contêineres metálicos para canteiros de obras: análise experimental de
desempenho térmico e melhorias na transferência de calor pela envoltória. Dissertação
(Mestrado) – São Paulo, Universidade de São Paulo, Escola Politécnica, 2015.
RODRIGO, A.G.S.; GAZARINI, D.; CARDOSO, F.F. Condicionantes de projeto para as
instalações provisórias em canteiros de obras na cidade de São Paulo. In: Proceedings of
the La�n-American and European Conference on Sustainable Building and Communi�es:
Connec�ng People and Ideas. July 21th – 24th, 2015, Guimarães, Portugal. Universidade do
Minho and others. pp. 2495-2504.

Cap. 14 Desempenho de Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias... | 295


15
http://dx.doi.org/10.26626/978-85-5953-027-8.2017C0015.p.297-314

Contêineres Metálicos para


Instalações Provisórias em
Canteiros de Obras no Brasil

Débora Cristina Rosa Faria da Costa


Racine Tadeu Araújo Prado

1. Introdução
Os contêineres metálicos utilizados como instalações provisórias de canteiros
de obra diferem dos contêineres marítimos quanto ao material de composição e à
espessura das paredes. Enquanto os contêineres marítimos são confeccionados em
aço corten, com espessura em torno de 1,3 mm, os contêineres para canteiros de
obras são compostos predominantemente de aço galvanizado, com espessura em
torno de 0,65 mm, diferença de configuração que atribui aos contêineres marítimos
peso duas vezes maior.
No setor da construção civil, existe um padrão construtivo para os contêineres,
relacionado principalmente às dimensões adequadas para o transporte sobre
caminhão, embora haja variações de composição de materiais e dimensões, dentro da
gama de produtos disponíveis no mercado brasileiro. O padrão mais utilizado apresenta
altura útil de 2,5 m, largura de 2,4 m e comprimento variável, frequentemente baseado
na modulação de 3 m, ou seja, há produtos com 3, 6 e 9 m de comprimento. São
comercializados, em grande parte dos casos, sem qualquer tratamento térmico nas
superfícies verticais. Muitos dos produtos disponíveis no mercado possuem um forro
de 2 cm de poliestireno expandido (EPS) junto à superfície interna da cobertura, cuja
função é o isolamento térmico, acrescido de uma chapa dura de material derivado de
madeira, com espessura de 2,5 mm, para melhoria da qualidade do acabamento.

297
O setor da construção civil brasileiro adota diferentes tipologias de sistemas
construtivos para as instalações provisórias de canteiros de obras, dentre as quais
encontram-se os contêineres metálicos. A utilização de contêineres metálicos como
instalações provisórias em canteiros de obras tem crescido, visto ser uma tipologia
que apresenta vantagens sobre as demais, normalmente empregadas no mercado
brasileiro. Características como rapidez e praticidade na montagem, facilidade de
transporte e reutilização, assim como o baixíssimo potencial de geração de resíduos, são
particularmente atraentes no momento da especificação das instalações para canteiros
de obras. A Tabela 1 apresenta as principais características dos sistemas mais utilizados.

Tabela 1 – Comparação entre diferentes sistemas de instalações provisórias para canteiros


de obras u�lizados atualmente no Brasil.

Item sistema pré-moldado contêineres construções fibra


tradicional de madeira metálicos metálicas plás�ca
de chapas desmontáveis
de madeira
compensada
uso de mão de obra alta média baixa média baixa
para montagem
tempo de montagem/ alto médio baixo baixo baixo
desmontagem
grau de industrialização baixo médio alto alto alto
potencial de baixo/ alto alto alto alto
reu�lização nenhum
versa�lidade alta alta alta alta baixa
grau de complexidade baixo médio baixo baixo baixa
da montagem
custo aluguel baixo - alto - alto
custo compra baixo baixo alto alto alto
necessidade de alta média baixa baixa baixa
execução de fundação
complexidade de baixa baixa baixa baixa baixa
transporte
condição de conforto média média baixa baixa -
térmico
potencial de geração de alto alto baixo baixo alta
resíduos
vida ú�l em anos 3 3 12 a 18 12 a 18 -
Fonte: Elaborada a par�r de Saurin e Formoso, 2006 e Oliveira e Leão, 1997.

298 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


A Tabela 1 organiza-se de modo a qualificar como positiva, mediana ou negativa
cada uma das características apresentadas pelas principais tipologias utilizadas como
instalações provisórias nos canteiros de obra. As células em vermelho apontam
características negativas; as células amarelas, as características neutras; e as células
verdes, as características positivas para cada quesito analisado.
Pode-se constatar, com base nas características avaliadas, que o sistema
tradicional de chapas de madeira compensada é o que apresenta maior quantidade
de pontos negativos, enquanto o sistema de contêineres metálicos apresenta a maior
quantidade de itens positivos, evidenciando deficiências no que se refere aos custos
iniciais de aquisição e aos níveis de conforto ambiental apresentados.
Saurin e Formoso (2006) realizaram estudo comparativo que permitiu a
avaliação dos custos ao longo do tempo para três tipologias de instalações provisórias,
conforme Figura 1: os contêineres metálicos, os compensados de madeira e um
sistema mesclado entre contêineres utilizados no início e fim da obra, intercalados
com o uso das instalações do próprio edifício em construção.

12.000

10.000

8.000
Custo

6.000
Opção A
4.000 Opção B
2.000 Opção C

0
1 2 3 4
Obra

Figura 1 – Comparação de custos entre as diferentes modalidades de instalações provisórias


ao longo de sua u�lização em sucessivas obras, segundo Saurin e Formoso, 2006.

Onde:
• Opção A: contêineres metálicos adquiridos defini�vamente;
• Opção B: sistema racionalizado em chapas de compensado de madeira;
• Opção C: contêineres alugados durante três meses e u�lização das instalações
do edi�cio em construção nos demais períodos.
Como podem ser observados no gráfico da Figura 1, os custos iniciais são
maiores para a utilização de contêineres metálicos, devido ao investimento feito para

Cap. 15 Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias em Canteiros... | 299


a aquisição, mas com o passar do tempo e a possibilidade de reutilização maior do
que o sistema de compensados de madeira, os custos tendem a apresentar menor
crescimento se comparados aos demais sistemas.
Segundo pesquisa de preços de contêineres realizada com fornecedores do
mercado brasileiro no mês de junho de 2012, o valor da aquisição dos contêineres
metálicos para instalação provisória em canteiros de obras equivaleria em média a
24 vezes seu custo mensal com aluguel. Os custos de manutenção, segundo um dos
fabricantes consultados, aproximam-se 30% do valor de aquisição, mas serão empregados
somente após 10 anos de utilização do contêiner. Contudo, é possível amenizar os custos
do investimento inicial de aquisição de contêineres optando pela locação dos sistemas
modulares, modalidade disponível em muitas das empresas fornecedoras.
Como ressaltam Saurin e Formoso (2006):
Seja qual for o sistema u�lizado, devem ser considerados os
seguintes critérios: custos de aquisição, custos de implantação,
custos de manutenção, reaproveitamento, durabilidade, facilida-
de de montagem e desmontagem, isolamento térmico e impacto
visual. A importância de cada critério é variável conforme as
necessidades da obra.

A durabilidade dos contêineres, segundo alguns fabricantes, é estimada em


dez anos, sem significativa manutenção, sob as condições agressivas habitualmente
existentes em canteiros de obras, sendo consideravelmente ampliada se reformados após
esse período. Desse modo, das características negativas dos contêineres apresentadas
na Tabela 1, as questões referentes aos custos de aquisição ou locação passam a ficar
minimizadas quando se considera sua durabilidade e a possibilidade de reutilização.
O objetivo do presente trabalho é propor adequações às instalações provisórias
em contêineres metálicos para canteiros de obras, a fim de que se possam atingir
melhores condições de conforto térmico em sua utilização, bem como a redução da
demanda energética quando do uso sob condicionamento artificial.

2. Contêineres para Canteiros de Obras no


Mercado Brasileiro
O setor da construção civil adota um padrão construtivo para os contêineres
metálicos, embora haja variações de composição de materiais e dimensões, dentro da
gama de produtos disponíveis no mercado brasileiro. O padrão mais utilizado apresenta
altura útil de 2,5 m, largura de 2,4 m e comprimento variável, frequentemente baseado
na modulação de 3 m. As paredes em aço possuem espessura frequentemente inferior
a 1,0 mm.

300 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Nos canteiros de obras, são majoritariamente utilizados nas funções de apoio
administrativo das obras, como nos escritórios, refeitórios, sanitários e depósitos,
ou então como alojamentos para os trabalhadores. Tais características de uso são
determinantes para a compreensão de que – no caso dos contêineres – a abordagem
quanto aos requisitos de conforto térmico e índices de temperatura adequados para
o trabalho ou o descanso faz-se necessariamente diferente, conforme o uso a que se
destinam, ainda que o projeto básico do contêiner seja o mesmo para os diferentes usos.
Embora os contêineres sejam ambientalmente adequados em muitos aspectos,
suas características térmicas são extremamente insatisfatórias, o que acarreta a
utilização praticamente constante de climatizadores de ar, a fim de viabilizar a ocupação
humana. Esse fato contribui para o aumento do consumo de energia comparativamente
a outros sistemas construtivos utilizados como instalações provisórias em canteiros
de obras. Segundo Santamouris e Kolokotsa (2013), o volume de energia demandada
pelo setor da construção civil varia conforme o país, permanecendo entre 35 a 40%
da demanda mundial por energia, se consideradas as etapas de construção e o pós-
ocupação. Os mesmos autores ainda afirmam que a demanda por condicionamento
de ar corresponde a 15% do consumo mundial de energia.
Durante a realização da pesquisa experimental de mestrado que embasou este
capítulo (COSTA, 2015), foram realizadas visitas a inúmeros canteiros de obras cujas
instalações provisórias foram montadas em contêineres metálicos no município de
São Paulo. A queixa mais frequente por parte dos trabalhadores foi quanto ao calor
excessivo dentro das instalações, o que praticamente inviabilizaria a permanência
humana sem condicionamento artificial. Contudo, durante uma das visitas ao canteiro,
ocorrida em um dia extremamente frio de inverno, presenciou-se que, sob aquelas
condições, o conforto térmico também estaria comprometido.
Dentre a imensa variedade de dimensões dos contêineres produzidos no
mercado brasileiro destinados às instalações para canteiros de obras, há diferença entre
os tipos de superfícies de acabamento e o tipo de tratamento térmico, de acordo com
a finalidade a que se destinam. Para a presente pesquisa, interessam particularmente
os contêineres destinados ao trabalho em escritório – haja vista que é o local onde
ocorre maior tempo de permanência de trabalhadores – e os contêineres destinados
aos alojamentos, nos quais os trabalhadores passam o tempo de repouso. As tipologias
mais representativas da variedade de acabamentos e tratamentos térmicos serão
apresentadas a seguir, tomando o módulo básico de 6,0 m de comprimento como
referência, já que é um produto fornecido por grande parte das empresas do setor.

2.1 Contêineres em Aço sem Tratamento Térmico


Os contêineres em aço sem tratamento térmico têm sido utilizados nos canteiros
de obras brasileiros tanto nos escritórios quanto nos alojamentos, como consta da

Cap. 15 Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias em Canteiros... | 301


Figura 2. A fim de contornar o desconforto térmico advindo do uso dessas instalações,
adota-se a climatização artificial, que, consequentemente, incrementa os custos de
obra, demandando grande quantidade de energia.

Figura 2 – Contêineres Metálicos sem tratamento térmico. Fonte: h�p://www.eurobras.com.


br/view?id=eb13-0&cat=tradicional e h�p://soldatopo.com.br/site/?produtos=beliches-
metalicos-soldatopo.

2.2 Contêineres Metálicos com Tratamento Térmico


O mercado brasileiro oferece módulos tratados termicamente. Dentre as
composições mais frequentemente desenvolvidas, é comum a utilização do isopor entre
a chapa de aço externa e o forro interno, feito de material plástico ou de aglomerado de
madeira. Tal tipologia de tratamento térmico aparece, em alguns casos, somente nas
coberturas, ou ainda em coberturas e paredes. Adotam-se também, para cobertura
e paredes, os painéis sanduíche, compostos por duas chapas de aço, normalmente
pintadas de branco – dispostas como revestimento interno e externo – com a camada
intermediária em poliuretano e espessura de 50 mm, como apresentado na Figura 3.

Figura 3 – Contêineres metálicos com tratamento térmico. Fonte: h�p://www.nhjdobrasil.


com.br/pt-br/produtos/modulo-habitavel/ e h�p://www.eurobras.com.br/view?id=ebta-
10-0&cat=origin

302 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


3. Método de Pesquisa
A presente pesquisa foi executada por método experimental, com medições
térmicas realizadas initerruptamente durante um ano. O experimento localizou-se no
município de Mairinque-SP, pertencente à Zona Bioclimática n° 3 (ABNT, 2005). Foram
utilizados três modelos experimentais em escala natural, conforme especificações a
seguir:
Contêiner 1: em aço galvanizado, com 3 m de comprimento, 2,4 m de largura
e 2,5 m de altura, piso em compensado de madeira de 2 cm de espessura,
com reves�mento plás�co imitando madeira, disposto a 28 cm de altura
do solo, contendo uma janela nas dimensões 0,99 m × 0,92 m e porta de
0,77 m × 2,11 m, ambas do mesmo material da composição, man�das
fechadas durante o período de medições. Possui insters�cios que permitem
a passagem do ar nas junções entre a cobertura e as paredes ver�cais.
Contêiner 2: composição idên�ca à do Contêiner 1. A cobertura, no entanto,
é acrescida de uma camada interna de polies�reno expandido (isopor) de
2 cm de espessura e de uma chapa dura de material derivado de madeira
reves�do internamente com fórmica bege fosca (Eucaplac). As junções
do forro não permitem infiltração de ar como ocorre no Contêiner 1. As
vedações ver�cais contém polies�reno de 2 cm de espessura nos inters�cios
existentes devido ao perfil do aço corrugado u�lizado entre a chapa de aço e
a chapa de madeira. O piso é confeccionado em compensado de madeira 2
cm de espessura, acrescido de reves�mento plás�co imitando madeira1.
Contêiner 3: composição idên�ca à do Contêiner 1. Nesse Contêiner , no
entanto, aplicou-se uma camada de 0,25 μm de reves�mento branco refle�vo
externamente, de forma homogênea, nas quatro super�cies ver�cais –
incluindo porta e janela – e na cobertura.
As medições foram executadas em todas as superfícies internas e externas da
envoltória, com exceção da parte externa do piso, a partir da instalação de sensores
térmicos, conectados a um datalogger.

1 A escolha de �pologia do Contêiner 2 deveu-se ao fato de este ser um dos produtos


disponibilizados pelo fabricante ao mercado, na ocasião do experimento, conforme
solicitado pelos pesquisadores.

Cap. 15 Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias em Canteiros... | 303


4. Resultados
4.1 Avaliação do Comportamento Térmofísico de um
Contêiner Metálico para Canteiro de Obras sem
Tratamento Térmico na Envoltória
Como apresentado na análise qualitativa das tipologias mais utilizadas como
instalações para canteiros de obras brasileiros, observa-se que os contêineres metálicos
possuem características que os tornam instalações ambientalmente amigáveis,
considerando sua flexibilidade de usos, rapidez na montagem e desmontagem, grande
possibilidade de reutilização, longa vida útil e baixa geração de resíduo. Seu aspecto
térmico, no entanto, é insuficiente, o que frequentemente leva à necessidade de
condicionamento artificial, acarretando alto consumo energético ou situações de
desconforto quando empregado sob ventilação natural.
O aspecto térmico dos contêineres metálicos foi objeto de pesquisa experimental
(COSTA, 2015), na qual foram realizadas medições em contêineres reais durante um
ano, para que se pudesse caracterizar o comportamento termofísico dessa instalação,
a fim de desenvolver estratégias de tratamentos térmicos da envoltória, no sentido de
minimizar a necessidade de utilização de condicionamento artificial para a obtenção
de níveis de conforto mais adequados em seu interior.
As análises experimentais foram realizadas no município de Mairinque – SP,
situado na Zona Bioclimática Brasileira n° 3 (ABNT, 2005), cujo clima pode ser descrito
como tropical de altitude, com temperaturas amenas e predominância de chuvas
no verão e noites frias no inverno. A caracterização termofísica dos contêineres foi
realizada a partir de medições das condições climáticas do entorno, das temperaturas
superficiais internas e externas da envoltória, bem como de variáveis que possibilitaram
a análise de parâmetros de desempenho, conforto e estresse térmicos internos, como
será apresentado a seguir.
Para a avaliação do Conforto Térmico foi utilizado o método do Conforto
Adaptativo (ASHRAE, 2013), que possibilita a avaliação térmica de ambientes
naturalmente ventilados. Tal método considera que há uma faixa relativamente ampla
de satisfação térmica dos usuários que, podendo alterar variáveis relacionadas ao
isolamento da roupa e aos controles de ganho de calor da edificação, como abertura
e fechamento de portas e janelas, poderiam atingir índices satisfatórios de conforto
sem que para tanto houvesse a necessidade de utilizar o condicionamento artificial.
O método utiliza três categorias principais para a avaliação da satisfação térmica dos
usuários: satisfação térmica de até 90% dos usuários, satisfação térmica de até 80%
dos usuários (com tendência para o frio ou para o calor) e pontos localizados fora

304 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


dos padrões de satisfação, situados em zonas cujos dados foram obtidos a partir de
medições em situação de frio ou calor.
Os resultados obtidos a partir da medição realizada durante um ano no interior
dos contêineres demonstraram que há insuficiência em relação ao comportamento
termofísico da envoltória ao se avaliar o conforto térmico dos usuários tanto para
situações de calor, quanto para situações de frio (Tabela 2).

Tabela 2 – Avaliação da sa�sfação térmica no interior do contêiner.

Parâmetro Até 90 % de Até 80% de Até 80% de Fora dos Fora dos
sa�sfação sa�sfação sa�sfação parâmetros parâmetros
térmica térmica térmica de sa�sfação de sa�sfação
(tendência (tendência térmica térmica (frio)
ao calor) ao frio) (calor)
Percentual (%) 13 2 5 31 49

Os dados apresentados na Tabela 2 demonstram que a predominância de pontos


situa-se fora dos limites de conforto considerados pelo método. O fato surpreendente,
no entanto, é a constatação de que o maior percentual de pontos fora dos parâmetros
de conforto refere-se a situações de frio para a Zona Bioclimática 3, e não de calor,
conforme informações obtidas nos relatos colhidos em campo.
A insuficiência térmica da envoltória dos contêineres pode, porém, atingir níveis
que levem a comprometer a condição de permanência do ser humano em seu interior
em situações de calor, principalmente sob a incidência de radiação solar direta. Na
pesquisa de mestrado citada previamente (COSTA, 2015), foram constatados momentos
em que a temperatura do ar interno extrapolou o parâmetro do desconforto térmico,
atingindo o que se denomina por estresse térmico. Sob situações de estresse térmico,
o ser humano pode sofrer comprometimento de sua condição física, fato que respalda
a NR-15 – Atividades e operações insalubres (BRASIL, 1978) estabelecer reduções da
jornada de trabalho em tais situações.
Durante as medições, foram constatados episódios de estresse térmico no
interior do contêiner sem tratamento térmico da envoltória, ocorridos principalmente
nos horários mais quentes dos dias, em função da radiação solar direta a que essas
instalações estavam submetidas. No mês de fevereiro – o mais quente do ano na região
onde ocorreu o experimento – foram registradas até 4 horas por dia, em média, de
condições de estresse térmico. Segundo a NR-15 – Atividades e operações insalubres,
82% do tempo sob estresse térmico registrado na pesquisa experimental, levaria a

Cap. 15 Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias em Canteiros... | 305


uma redução de jornada de 15 minutos a cada hora de trabalho, enquanto 18% dos
valores registrados levariam à redução de meia hora a cada hora trabalhada.
A envoltória apresenta insuficiência térmica também para situações de frio. No
decorrer do ano experimental, foram registrados – durante as noites mais frias do ano
e também durante o dia, no inverno, nos períodos sem radiação solar – momentos em
que o frio ultrapassou a situação de desconforto, atingindo o que se pode considerar
estresse térmico. Embora não tenham sido constatados momentos em que houvesse
risco de congelamento ao corpo humano, durante o mês de agosto – mês mais frio no
decorrer das medições – constatou-se até 15 horas diárias, em média, de temperaturas
abaixo de 10°C no interior do contêiner.
Com relação ao desempenho térmico estabelecido pelos parâmetros da
NBR 15575-1 (ABNT, 2013), a Norma de Desempenho, o contêiner sem tratamento
térmico da envoltória também demonstrou insuficiência: no mês cujos resultados são
de melhor desempenho térmico, somente durante treze horas por dia, em média, a
temperatura interna permaneceu dentro dos parâmetros da norma, enquanto no pior
mês registrado, a média foi de apenas quatro horas por dia dentro dos parâmetros de
desempenho, que considera a diferença entre temperaturas do ar externas e internas.
A Figura 4 apresenta o registro de temperaturas no termômetro de globo
localizado no interior do contêiner sem tratamento térmico. Os valores obtidos a partir
das medições de temperatura com esse sensor aproximam-se significativamente dos
valores da temperatura do ar interno, ou temperatura de bulbo seco, permenecendo a
diferença entre as medições com os dois sensores situada na casa do décimo de grau.

a b
50 50
45 45
40 40
35 35
Temperatura (ºC)

Temperatura (ºC)

30 30
25 25
20 20
15 15
10 10
5 5
0 0
0:04
1:59
1:54
2:49
3:44
4:39
5:34
6:29
7:24
8:19
9:14
10:09
11:04
11:59
12:54
13:49
14:44
15:39
16:34
17:29
18:24
19:19
20:14
21:09
22:04
22:59
23:54
0:03
1:03
2:03
3:03
4:03
5:03
6:03
7:03
8:03
9:03
10:03
11:03
12:03
13:03
14:03
15:03
16:03
17:03
18:03
19:03
20:03
21:03
22:03
23:03

Tempo (h) Tempo (h)

TBS Externa (ºC)


Irradiação x 0,01 (W/m2)
Temperatura de Globo (ºC)

Figura 4 – Comportamento do termômetro de globo no dia mais quente (a) e no dia mais
frio (b) no interior do contêiner sem tratamento térmico.

306 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


No verão, no horário mais quente, a temperatura de globo supera os 45°C. No
inverno, a temperatura no interior do contêiner atinge valor inferior a 4°C pouco antes
do amanhecer.

5. Estratégias de Tratamento Térmico para


Contêineres em Canteiros de Obra
Conforme apresentado nas análises do comportamento termofísico dos
contêineres, o desempenho térmico da envoltória é insuficiente tanto para situações
de frio quanto para situações de calor. As recomendações da NBR-15220-3 (ABNT,
2005) para o tratamento térmico da envoltória de edifícios convencionais situados na
Zona Bioclimática Brasileira n° 3 – local onde ocorreram as medições experimentais –
são a priorização da ventilação cruzada no verão e o aquecimento solar aliado à inércia
térmica da envoltória no inverno. Os contêineres, no entanto, não se enquadram na
categoria das edificações convencionais, dado que não têm inércia térmica significativa
na envoltória e possuem limitações quanto à adição de massa térmica como estratégia
de projeto, pois isso limitaria sua flexibilidade e mobilidade, parâmetros característicos
desse tipo de instalação, sendo também algumas das características mais atraentes no
momento de sua escolha como tipologia para canteiros de obras.
O experimento realizado na pesquisa de mestrado citada anteriormente
(COSTA, 2015) contou com mais dois contêineres, além do contêiner sem tratamento
térmico já descrito em análise do comportamento termofísico. O primeiro, dotado de
tratamento da envoltória à condução, contava com uma camada de EPS de 2 cm sob
a cobertura e no fechamento vertical, bem como com um forro de chapa dura de
madeira de 0,25 mm para melhoria da qualidade de acabamento interno; o segundo,
por sua vez, contava com tratamento da envoltória à radiação solar, tendo recebido
aplicação de uma camada de 0,25 µm de revestimento refletivo branco em toda a
envoltória, externamente.

5.1 Diminuição do Ganho Térmico sob Radiação


Solar – Uso Predominante em Programas de
Ocupação Humana no Período Diurno ou em
Ambientes Quentes
A pesquisa experimental demonstrou que o contêiner com revestimento
refletivo apresenta os melhores resultados quanto à diminuição do ganho de calor
pela envoltória sob radiação solar direta ou em situações de calor, ainda que sem a
presença de radiação solar.

Cap. 15 Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias em Canteiros... | 307


O revestimento utilizado no modelo experimental foi o produto Nanothermic
1, desenvolvido, fabricado e comercializado pela empresa Nanotech do Brasil.
O revestimento é composto de partículas com elevados índices de refletância e
emissividade, característica que confere ao produto a qualidade de atingir menores
temperaturas superficiais, em comparação aos materiais convencionais. Sua
aplicação é realizada de modo simples, com uma bomba de pressão e, se realizada
sob temperaturas de amenas a quentes, possui excelente aderência às superfícies
metálicas dos contêineres.
A Figura 5 apresenta o registro das temperaturas de globo registradas no interior
do contêiner durante os dias mais quente e mais frio, respectivamente.

a b
50 50
45 45
40 40
35 35
Temperatura (ºC)

Temperatura (ºC)
30 30
25 25
20 20
15 15
10 10
5 5
0 0
0:04
1:04
2:04
3:04
4:04
5:04
6:04
7:04
8:04
9:04
10:04
11:04
12:04
13:04
14:04
15:04
16:04
17:04
18:04
19:04
20:04
21:04
22:04
23:04
15:03
16:03
17:03
18:03
19:03
0:03
1:03
2:03
3:03
4:03
5:03
6:03
7:03
8:03
9:03
10:03
11:03
12:03
13:03
14:03

20:03
21:03
22:03
23:03

Tempo (h) Tempo (h)

TBS Externa (ºC)


Irradiação x 0,01 (W/m2)
Temperatura de Globo (ºC)

Figura 5 – Comportamento do termômetro de globo no dia mais quente (a) e no dia mais
frio (b) no interior do contêiner com reves�mento refle�vo.

A temperatura de globo atinge os 38°C aproximadamente, na hora mais quente


no dia de verão, enquanto no inverno, a menor temperatura registrada no interior
do contêiner é inferior a 3°C. O resultado de temperatura interna sob condição de
calor no contêiner com revestimento refletivo foi o melhor valor obtido entre os três
contêineres estudados.

308 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


5.2 Conservação do Calor no Interior do Contêiner:
Uso Predominante em Programas de Ocupação
Humana no Período Noturno
Os resultados obtidos para o contêiner que recebeu tratamento térmico com
o objetivo de aumentar a resistência à condução demonstram que o isolamento
térmico executado com poliestireno expandido e chapa de madeira, como feito na
cobertura, tem grande capacidade de redução do ganho de calor para o interior do
contêiner, bem como na redução de perdas durante os períodos de resfriamento,
como apresentado na Figura 6. Tal sistema de isolamento seria viável também para a
utilização do contêiner com condicionadores de ar, diminuindo a demanda por energia
elétrica para manter a temperatura dentro dos padrões de conforto, se comparado aos
valores obtidos para o contêiner sem tratamento térmico.

a b
50 50
45 45
40 40
35 35
Temperatura (ºC)

Temperatura (ºC)

30 30
25 25
20 20
15 15
10 10
5 5
0 0
18:04
0:04

19:04
1:04
2:04
3:04
4:04
5:04
6:04
7:04
8:04
9:04
10:04
11:04
12:04
13:04
14:04
15:04
16:04
17:04

20:04
21:04
22:04
23:04
0:03
1:08
2:13
3:18
4:23
5:28
6:33
7:38
8:43
9:48
10:53
11:58
13:03
14:08
15:13
16:18
17:23
18:28
19:33
20:38
21:43
22:48
23:53

Tempo (h) Tempo (h)

TBS Externa (ºC)


Irradiação x 0,01 (W/m2)
Temperatura de Globo (ºC)

Figura 6 – Comportamento do termômetro de globo no dia mais quente (a) e no dia mais
frio (b) no interior do contêiner com tratamento à condução.

No dia mais quente de verão, a temperatura interna atinge os 43°C,


aproximadamente, enquanto no dia mais frio de inverno, a temperatura de globo atinge
os 5°C, sendo esse o melhor resultado obtido para o frio entre os três contêineres
estudados.

Cap. 15 Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias em Canteiros... | 309


6. Comparação Anual entre os Três
Contêineres – Soma dos Graus-hora
O método dos graus-hora consiste na somatória das diferenças de temperatura
entre a temperatura de referência ou temperatura de base – definida a partir de
condicionantes locais – e as temperaturas medidas ou simuladas em determinado
contexto.
As temperaturas de base são definidas em um intervalo no qual – para aquela
determinada região climática – seja possível manter níveis de conforto sem que haja
a necessidade da utilização de condicionadores artificiais (CIBSE, 2006). No presente
estudo, foram consideradas como temperaturas de base os 20°C como temperatura
mínima e 26°C como temperatura máxima. Tal definição implica no entendimento
de que quando temperaturas abaixo de 20°C são registradas em medição, haveria a
necessidade de aquecimento do ambiente, e quando temperaturas acima de 26°C são
registradas, haveria a necessidade de resfriamento do ambiente.
O resultado final dos graus-hora é obtido pelo registro da diferença horária
entre a temperatura de globo registrada e a temperatura de base. Se a temperatura de
globo estiver acima dos 26 °C, a diferença é registrada como hora de resfriamento e, se
estiver abaixo dos 20°C, é registrada como hora de aquecimento. A somatória total das
horas de aquecimento e resfriamento resulta no que se denomina graus-hora.

6.1 Graus-hora de Aquecimento


Conforme observado anteriormente, o registro das horas de aquecimento foi
obtido nos momentos de ausência da radiação solar. No verão, tal fato ocorreu durante
os períodos noturnos e, no inverno, a partir do momento em que a radiação solar
direta desaparecia.
O resultado final apresentado na Figura 7 demonstra que os três contêineres
alcançam valores altíssimos de horas de aquecimento, sendo o Contêiner à condução
aquele que apresentou maior eficiência entre os três. Os resultados do Contêiner
refletivo – cuja temperatura superficial externa é inferior à dos demais – foi
extremamente negativo, demonstrando que em uma edificação cuja envoltória possui
baixa resistência térmica, a temperatura superficial pode exercer influência sobre os
níveis de conforto e o consumo energético.

310 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


20000
18000
Contêiner sem tratamento

Graus-hora aquecimento
16000
14000 Contêiner à condução
12000 Contêiner refle�vo
10000
8000
6000
4000
2000
0
fev.
mar.
jan.

abr.
maio
jun.
jul.
ago.
set.
out.
nov.
dez.
Total
tempo (meses)

Figura 7 – Graus-hora: horas de aquecimento para os três contêineres.

6.2 Graus-hora de Resfriamento


As horas de resfriamento foram obtidas frequentemente sob a ação da radiação
solar. Nota-se, como aparece na Figura 8, que os resultados finais são inferiores ao das
horas de aquecimento, demonstrando que apesar de haver insatisfação por parte de
usuários questionados em conversas informais quanto ao comportamento térmico dos
contêineres no calor, seu desempenho térmico é ainda pior no frio.

10000
9000 Contêiner sem tratamento
8000 Contêiner à condução
Graus-hora resfriamento

7000 Contêiner refle�vo


6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
fev.
mar.
jan.

abr.
maio
jun.

Total
jul.
ago.
set.
out.
nov.
dez.

tempo (meses)

Figura 8 – Graus-hora: horas de resfriamento para os três contêineres.

Cap. 15 Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias em Canteiros... | 311


O Contêiner sem tratamento apresentou os piores resultados para as horas de
resfriamento, totalizando 9423 horas. No Contêiner à condução, registrou-se 97% das
horas de resfriamento obtidas no Contêiner sem tratamento, enquanto no Contêiner
refletivo, obteve-se o surpreendente resultado de 38%.

7. Conclusões
A envoltória dos contêineres metálicos possui características que a tornam
insuficiente do ponto de vista do desempenho térmico. Sua baixa inércia térmica leva
as superfícies a variações bruscas de temperatura, situação que consequentemente
se registra também no interior dessas instalações. Dessa forma, quando se pretende
a utilização sob condicionamento passivo, isto é, sem a utilização de condicionadores
artificiais, é necessário que se determine previamente a localidade na qual o contêiner
será utilizado, considerando principalmente suas condições climáticas, como também
o tipo de uso predominante a que o contêiner será destinado: se diurno ou noturno.
Seu desempenho térmico insuficiente prejudica a adoção de uma única solução de
tratamento térmico da envoltória para toda e qualquer situação quando se objetiva
o condicionamento passivo ou mesmo a redução do consumo energético para
condicionamento artificial.
O Quadro 1 apresenta um resumo das diretrizes para uso mais adequado à
obtenção de padrões aceitáveis de conforto térmico e eficiência energética nos climas
brasileiros.

Quadro 1 – Tratamento térmico da envoltória para melhor desempenho térmico dos


contêineres para canteiros de obras.

Com Condicionamento Ar�ficial Sem Condicionamento Ar�ficial


Clima Quente Frio Quente Frio
Diurno reves�mento isolamento à reves�mento refle�vo isolamento à
Uso Predominante

refle�vo + condução + isolamento à condução


isolamento à condução sob a
condução cobertura
Noturno reves�mento isolamento à reves�mento refle�vo isolamento à
refle�vo + condução condução
isolamento à
condução

A aplicação do revestimento refletivo apresenta-se como uma solução durável


e de baixo custo para a utilização dos contêineres. Para que as propriedades do

312 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


revestimento sejam amplamente aproveitadas na diminuição do ganho térmico,
percebe-se que a utilização do revestimento resistente à radiação se faz adequada em
contêineres que se destinem prioritariamente ao uso em atividades exercidas durante
o dia nos canteiros de obras, como é o caso do trabalho nos escritórios, ou ainda
em usos predominantemente noturnos em localidades de clima quente de dia e à
noite. Ainda que haja necessidade da utilização de climatizadores artificiais no verão, a
demanda por energia será minimizada.
O isolamento térmico da envoltória com os tradicionais materiais isolantes –
EPS, poliuretano e demais fibras – aplica-se aos casos nos quais se pretende conservar
o calor internamente, como acontece nos contêineres destinados a dormitórios de
trabalhadores em climas amenos ou frios. O isolante térmico também pode ser utilizado
nos casos em que se pretende minimizar as trocas entre o ar externo e interno, como
nas situações em que se opta por condicionamento artificial.
Para os climas quentes, a utilização de uma solução mista que empregue o
revestimento refletivo externamente na envoltória somado ao tratamento da cobertura
à condução teria grande potencial de diminuição de ganho térmico no interior dos
contêineres.
No caso do uso em localidades quentes cuja necessidade de condicionamento
artificial é premente, a demanda por energia seria minimizada com a utilização de
ambos os tratamentos térmicos simultaneamente: a aplicação de revestimento
refletivo e o isolamento térmico à condução na envoltória.

Referências
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ASHRAE STANDART 55-2013. Thermal Environmental Condi�ons for Human Occupancy.
2013.

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575-1: Edificações


Habitacionais – Desempenho Parte 1: Requisitos Gerais. 2013.

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15) – A�vidades e Operações Insalubres – Anexo III – Limites de Tolerância
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Cap. 15 Contêineres Metálicos para Instalações Provisórias em Canteiros... | 313


COSTA, D.C.R.F. Contêineres metálicos para canteiros de obras: análise experimental de
desempenho térmico e melhorias na transferência de calor pela envoltória. Dissertação
(Mestrado) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2015.

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and other structures: The state of the art. Energy and Buildings, v. 57, p. 74-94, fev. 2013.

SAURIN, T. A.; FORMOSO, C. T. Planejamento de canteiros de obra e gestão de processos.


Porto Alegre: ANTAC, 2006.

314 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


16
http://dx.doi.org/10.26626/978-85-5953-027-8.2017C0016.p.315-338

Sistema Pré-Fabricado em
Pré-Moldado de Concreto
para Instalações Provisórias
de Canteiros de Obra

Nery Knöner
Fernando Menezes de Almeida Filho
Marcelo de Araújo Ferreira

1. Introdução
No Brasil, nas últimas décadas, houve um aumento significativo no uso
de estruturas pré-fabricadas em concreto em virtude do desenvolvimento dos
componentes e da facilidade de utilização desse sistema para obras comerciais,
residenciais e esportivas, agregando vantagens, como rapidez e facilidade de execução,
redução de desperdícios e segurança na montagem.
O sistema em pré-moldados de concreto proporciona uma construção limpa,
racional e com menos desperdício de materiais, além de possibilitar maior conforto
e bem-estar aos seus ocupantes. Como estratégia de concepção, procura utilizar
componentes e processos padronizados, bem como aproveitar mais eficientemente
os recursos disponíveis. Para Van Acker (2002), com os pré-moldados de concreto é
possível atender os requisitos de industrialização, mesmo sem a produção em escala,
obtendo um processo de produção eficiente, combinado com o trabalho especializado
e a padronização de soluções construtivas.
Segundo Serra et al. (2005), a industrialização da construção civil, por meio
da utilização de peças de concreto pré-fabricados, promoveu, no Brasil e no mundo,
um salto de segurança e organização nos canteiros de obras, devido ao uso de
componentes industrializados com alto controle de produção, com materiais de
qualidade, fornecedores selecionados e mão de obra qualificada.
A construção em elementos pré-fabricados em concreto não se limita apenas
a fabricar peças fora do canteiro, mas engloba todo um sistema construtivo com
características próprias, que devem ser preconizadas desde o início do projeto do
empreendimento (FIB, 2012). Visto que o concreto possui boa inércia térmica e
resistência ao fogo, os componentes gerados, como as paredes, podem ser projetados
para atender determinadas especificidades, como reduzir os ruídos, devido à sua
densidade.
Para Knöner (2014), o uso dos pré-moldados possui potencial de aplicação para
instalações provisórias em canteiros de obra, considerando inclusive a necessidade da
desmontagem e reutilização dos componentes em diferentes obras, além das outras
vantagens levantadas. Para esse autor, a desmontagem com fins de remontagem é
uma característica não comumente citada, mas deve ser considerada desde o início do
processo de projeto.
Existem poucos fabricantes que fornecem opções de instalações provisórias em
concreto pré-moldado no mercado brasileiro. Um deles é a empresa Prefacc (PREFACC,
1992) sediada em Uberlândia, Minas Gerais. Segundo o referido fabricante, trata-se
de um sistema construtivo formado por placas de concreto celular autoclavado, com
módulos de 0,60 m de largura, interligados por perfilados metálicos, que podem
chegar até 3 m de altura. Entre os clientes da Prefacc, podem ser verificadas empresas
de grande porte, consórcios e órgãos públicos.
Além deste tipo de instalações provisórias, são oferecidas pelo mercado
diferentes soluções construtivas, como o uso de madeira ou de chapas metálicas
(DIAS; SERRA, 2013), mas faltam dados para determinar o atendimento às condições
de desempenho de cada solução.
Apesar da existência das soluções comerciais, no Brasil, a maioria das instalações
provisórias dos canteiros de obras ainda é precária e não projetada com vistas ao
seu melhor funcionamento. Considerada como uma instalação temporária, não se
costuma seguir regras de projeto e de segurança, e somente em alguns casos, a NR-
18 – Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção (BRASIL, 2015),
que preconiza condições mínimas de uso e segurança, é atendida.
Também não são comumente considerados os requisitos de uso e operação
desses tipos de instalações, como resistência estrutural, desempenho térmico,
estanqueidade à agua, entre outros, os quais são prescritos pelas normas técnicas.
Dessa forma, este capítulo visa apresentar uma proposta de instalação
provisória em pré-moldado de concreto para uso em canteiro de obra e, em seguida,

316 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


analisar os principais requisitos técnicos identificados para a concepção de um sistema
construtivo. A proposta surge também no contexto de encontrar um sistema eficiente,
de construção rápida, econômico, com redução significativa na produção de resíduos
e que proporcione qualidade do ambiente de trabalho.
O sistema construtivo desenvolvido possibilita atender a demanda de mercado
para construção de canteiros de obra de acordo com os quesitos da NR-18 – Condições
e meio ambiente de trabalho na indústria da construção (BRASIL, 2015) e NBR 12284
(ABNT, 1991). O sistema pré-fabricado atende aos requisitos de rapidez na montagem,
eliminação de resíduo e baixo custo, além de utilizar um processo construtivo que
pode ser reaproveitado várias vezes em outro canteiro.

2. Método de Pesquisa
O trabalho foi desenvolvido com base na pesquisa de mestrado de Knöner (2014).
A pesquisa tratou de um estudo teórico e experimental, dividido em três etapas:
• A primeira etapa consis�u no estudo sobre a u�lização de diferentes sistemas
constru�vos para aplicação em instalações provisórias, buscando iden�ficar
as principais caracterís�cas necessárias para essas estruturas;
• A segunda etapa consis�u no desenvolvimento de um projeto de instalações
provisórias em pré-moldado de concreto de forma a agregar vantagens
técnicas, econômicas, sociais e ambientais;
• A terceira etapa consis�u na realização de simulações teóricas por meio
de ensaios de laboratório e da determinação dos parâmetros técnicos
necessários para desenvolvimento do produto.
A fase de montagem e desmontagem do protótipo não foi desenvolvida por
Knöner (2014) devido à duração do mestrado ser inferior ao tempo necessário para a
elaboração do produto. Este trabalho foca na apresentação sucinta das etapas 2 e 3,
que podem ser melhor verificadas no trabalho original.
O Anexo apresenta momentos da montagem do protótipo ocorrida em 2017.

3. Sistema Proposto de Instalações Provisórias


O sistema de pré-moldado de um pavimento foi criado inicialmente com
propósito da habitação social, visando proporcionar moradias para a classe de
baixa renda, com características de simplicidade, rapidez na montagem, viabilidade
econômica e resistência. O sistema inicial foi adaptado para obra de instalação
provisória atendendo às necessidades de montagem e desmontagem futura dos
componentes pré-moldados.

Cap. 16 Sistema Pré-Fabricado em Pré-Moldado de Concreto para... | 317


A Figura 1 mostra a planta da instalação provisória projetada para construção
do protótipo, que se trata de um ambiente de escritório, formado por uma sala e um
pequeno banheiro. A dimensão externa corresponde a 6 m de comprimento por 3,5 m
de largura, com uma varanda de 1,5 m. O protótipo conta com as seguintes peças pré-
moldadas de concreto:
• Montantes ou Pilares: seção 10 x 10 cm e altura 3,20 m;
• Placas: dimensões 50 x 100 cm e espessura 2,5 cm;
• Elemento de fundação (apoio para pilar): dimensões 25 x 25 cm e altura
12 cm.
Na planta baixa (Figura 1), percebe-se que as paredes são formadas por placas,
colocadas externa e internamente fixadas aos pilares, dotadas de um vão entre elas,
que se configura como uma câmara de ar. Esta solução beneficia também a resistência
térmica e conforto acústico do sistema construtivo.

120 600
100 100 100 100 100 100
80
20

BWC
100

Piso cimentado Sala


2,24m2 Piso cimentado
7,38m2
200/60

300
100

330
450

Hall
Piso cimentado
100

6,70m2 200/90
20

Circulação
Piso lajota de concreto
120

7,20m2

Planta baixa protó�po


Piso lajota de concreto
27,18m2
Figura 1 – Planta baixa do protó�po para instalações provisórias. Fonte: Knöner, 2014.

Na Figura 2, é possível observar as dimensões e a forma de fixação do pilar ou


montante sobre o elemento de fundação. O concreto para enchimento da fundação
pode ser magro, uma vez que o pilar poderá ser retirado e reutilizado.

318 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Montante
Ferragens do montante

250 A A

nível do
nível do
5cm

piso interno
piso externo
70

Elemento de
12cm

fundação

Areia grossa ou brita “0”

Figura 2 – Detalhe do montante e execução da fundação. Fonte: Knöner, 2014.

As principais características do sistema proposto são relacionadas a seguir:


• A instalação não necessita de fundação direta (blocos ou sapatas) nem possui
vigas de baldrames, posto que foi desenvolvida uma peça especial para
fixação do pilar na fundação;
• Os componentes dos montantes ou pilares foram feitos em concreto armado
e possuem dimensão compa�vel atendendo o pé direito e a profundidade da
fixação em solo;
• As paredes são formadas com duas placas de concreto fixadas externa e
internamente nos pilares ou montantes com parafusos e buchas;
• Na parte superior da parede é fixado um perfil metálico �po “U”, colaborando
para a estabilidade das paredes e suporte para a estrutura metálica do
telhado;
• Podem ser u�lizados diferentes �pos de telhas, sendo a mais indicada a
termoacús�ca;

Cap. 16 Sistema Pré-Fabricado em Pré-Moldado de Concreto para... | 319


• As paredes não precisam ser rebocadas, apenas pintadas. Deve-se u�lizar
massa de vedação entre as placas que compõem as paredes externas;
• Todos os pontos elétricos – caixa de passagem, interruptores, tomadas –
são fixados no momento da concretagem das placas. Durante a montagem,
as tubulações ficarão embu�das entre as placas. Outra solução possível é
a concepção de instalações aparentes que poderão ser montadas após a
finalização da estrutura do protó�po;
• Os pontos de água também foram concretados nas placas correspondentes.
As tubulações hidráulicas de fornecimento de água potável também são
fixadas durante a montagem e ficam entre as placas que compõem as
paredes. Outra opção seria também o uso das instalações aparentes;
• Os batentes de porta e janelas encaixam-se entre os montantes e são de
fácil colocação. Podem ser pré-moldados, metálicos ou de madeira. No caso
estudado, optou-se por esquadrias metálicas para as janelas e madeira para as
portas. As janelas devem ser encaixadas e simplesmente confinadas entre dois
montantes, sendo necessária sua fixação durante a montagem do protó�po.
A Figura 3 mostra o Corte A-A da instalação provisória, podendo ser identificada
a viga metálica de coroamento da estrutura de concreto pré-moldado e o uso previsto
da telha termoacústica.

5%
o-acús�ca i = 7,
Telha term
20
10
250

Piso de bloket

Vista lateral

Figura 3 – Corte A-A do protó�po para instalações provisórias. Fonte: Knöner, 2014.

320 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


A Figura 4 mostra a perspectiva do protótipo de acordo com o projeto concebido.

Figura 4 – Perspec�va do protó�po para instalações provisórias. Fonte: Knöner, 2014.

A partir da concepção do produto, procedeu-se ao cálculo e simulação


matemática dos componentes do protótipo. Em seguida, foram realizados os testes
experimentais nos componentes de concreto pré-moldado – pilares e placas – para
posterior liberação da produção necessária para montagem do protótipo. Os demais
elementos do sistema não foram ensaiados, pois o foco da pesquisa foi a análise do
sistema construtivo denominado “parede”.

4. Confecção das Peças de Concreto do


Sistema “Parede”
As peças de concreto que compõem o fechamento das paredes da obra foram
produzidas em concreto convencional, conforme descrito a seguir.

4.1 Placas de Concreto


Constituídas por concreto, cimento, areia, brita zero e tela com malha de
1-1/2", diâmetro médio 0,66 mm, fyk = 320 MPa, concreto de resistência característica
fck = 20 MPa, com as dimensões de 1,0m × 0,50m × 2,5cm e peso médio de 30 kg
por placa. Para confecção das placas, foi concebida a forma metálica mostrada na
Figura 5. Deve ser passado um desmoldante que facilite a desforma da placa. A peça é
concretada, vibrada e posta rigorosamente em nível, garantindo uma boa modelagem
e cura.

Cap. 16 Sistema Pré-Fabricado em Pré-Moldado de Concreto para... | 321


Figura 5 – Vista da forma metálica para confecção das placas de concreto pré-moldado.
Fonte: Knöner, 2014.

Após 12 h da concretagem, a placa pode ser desmoldada e permanecer curando.


As formas metálicas podem ser liberadas para concretagem da próxima placa.

4.2 Montantes ou Pilares


Para fabricação dos montantes, também se utilizou de uma forma metálica,
de desmoldante e colocação de armaduras. A Figura 6 mostra a forma metálica do
montante e a armadura do pilar posicionada ao lado. Foi dimensionado o uso de 4
ferros de diâmetro de 6,3 mm, CA 50, e estribos de diâmetro de 4,2 mm, CA 60, com
espaçamento a cada 12 cm. Utilizou-se o mesmo concreto das placas e o peso dos
montantes ficou em torno de 75 Kg.

Figura 6 – Detalhe da forma e armadura dos montantes estruturais. Fonte: Knöner, 2014.

As formas foram preparadas, niveladas e limpas antes que fosse passado o


desmoldante. As armaduras devem ser conferidas, garantindo-se um cobrimento
mínimo das peças. Da mesma forma, a peça foi concretada, vibrada e posta
rigorosamente em nível, garantindo uma boa modelagem e cura.

322 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


5. Análises Teóricas
5.1 Resistência ao Fogo
De acordo com a NBR 5627 (ABNT, 1980), o critério básico de classificação das
edificações em relação à resistência ao fogo é determinado em função do tempo de
duração que um elemento estrutural deve resistir.
No caso dos painéis, a análise mais importante é a da transmissão de calor
através da espessura do componente. Raramente o cobrimento das armaduras tem a
função de absorver as tensões das etapas de desforma e transporte, sendo um fator
predominante na determinação da resistência ao fogo dos painéis (Precast Concrete
Institute (PCI), 1989).
Segundo NBR 14432 (ABNT, 2001), a determinação do TRRF (Tempo requerido
de resistência ao fogo) é em função do tipo de ocupação da edificação e da sua altura.
A mesma norma menciona que “estão isentas dos requisitos de resistência ao fogo
estabelecidos nesta Norma as edificações cuja área total seja menor ou igual a 750 m2”.
Entretanto, optou-se por analisar o parâmetro tendo por base a norma do PCI
(1989) para painéis de concreto. Nesse caso, foi considerada a espessura da placa
aproximadamente igual a 10 cm (2 polegadas), sem considerar a camada de ar entre as
mesmas, e o tipo de concreto como leve (lightweight concrete). Com o ábaco disponível
na publicação, obtém-se o resultado identificado na Figura 7. Ou seja, utilizando gráfico
do PCI (1989) foi determinado o tempo de 50 minutos de resistência ao fogo.

5
Sand-Lightweight - 115 PCF
Lightweight - 100 PCF
4
Fire Endurance, hr

1
50 min. Carbonate aggregate
Siliceous aggregate
0
0 2 3 4 5 6 7
Slab or Panel Thickness, In.
*Interpola�on for Different Concrete

Figura 7 – Gráfico para determinação do tempo de transmissão de calor em concreto pré-


moldado considerando a espessura da placa. Fonte: PCI, 1989.

Cap. 16 Sistema Pré-Fabricado em Pré-Moldado de Concreto para... | 323


5.2 Desempenho Térmico
Segundo NBR 15575 (ABNT, 2013), o objetivo é verificar se a transmitância
térmica e capacidade térmica do sistema “parede” proporcionam desempenho térmico
mínimo conforme estabelecido para cada zona bioclimática do Brasil, de acordo com
NBR 15220 (ABNT, 2008).
Considerando a região de São Carlos, denominada região 4 devido a condição
do clima da cidade, a NBR 15220 (ABNT, 2008) estabelece que as paredes devem ser
pesadas e as coberturas devem ser leves. As paredes pesadas, conforme Tabela C.2
da referida norma, devem ter transmitância térmica (U) menor ou igual a 2,2W/m2.k,
atraso térmico (φ) maior ou igual a 6,5 h e fator solar (FSo) menor ou igual a 3,5 %.
Como se sabe, a área total do protótipo é de 27 m2 e o pé direito médio é de
h = 2,80 m, sabe-se também que as paredes possuem duas placas, com espessura de
2,5 cm cada. A câmara de ar de 10 cm entre as placas não é configurada como opção
entre as tipologias de vedações. A Figura 8 mostra os parâmetros que são considerados
na análise deste requisito.

Montante

Resistência térmica

Inércia térmica
Irradiação solar

Câmara de ar

Placa interna

Placa externa

Figura 8 – Esquema do sistema “parede” em estudo quanto aos aspectos de desempenho


térmico. Fonte: Knöner, 2014.

324 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Knöner (2014) verificou os cálculos de acordo com as normas, mas os valores
encontrados para a cidade de São Carlos não as atenderam, pois o atraso térmico
obtido numericamente foi de 2,2 h, quando deveria ser de 6,5 h.
Assim, entende-se que a análise foi prejudicada, já que não foi possível
considerar a câmara de ar. Mas a espessura da placa pode ser ajustada em função da
região bioclimática brasileira, aumentando ou diminuindo a inércia térmica.
Como exemplificação, a Figura 9 mostra que as propriedades de inércia térmica
do componente podem ser variadas para atingir o nível de desempenho desejado, em
qualquer parte ou região com diferentes climas (FIB, 2012).

Temperatura interna Temperatura interna


Temperatura
com elevada com baixa
externa
inércia térmica inércia térmica

Pico de A diferença entre o pico


temperatura de temperatura externa
atrasado por e interna é de 6-8 oC
30oC até 6 horas

30oC

Dia Noite Dia

Figura 9 – Atraso da onda de calor devido à massa térmica do concreto. Fonte: FIB, 2012.

Assim, torna-se importante que essas variáveis sejam medidas em campo


após a montagem do protótipo para comprovar as vantagens do sistema proposto.
O resultado da elevada massa térmica tem influências na redução significativa do
consumo de energia, sem necessidade de aquecimento ou resfriamento de forma
artificial.

6. Ensaios Experimentais em Laboratório


6.1 Ensaios de Compressão Centrada
Foram realizados ensaios de compressão centrada nos montantes para aferir
a capacidade resistente deles. A carga prevista no montante de concreto após
levantamento das cargas existentes pode ser verificada na Tabela 1.

Cap. 16 Sistema Pré-Fabricado em Pré-Moldado de Concreto para... | 325


Tabela 1 – Levantamento das cargas existentes no montante mais desfavorável.

Peça Dimensão Peso específico Carga


Peso próprio do pilar 0,10 × 0,10 × 3,20 2400 kg/m 3
0,80KN
Peso próprio das placas 0,025 × 0,5 × 1,0 2400 kg/m 3
3,60kN
(considerou-se a fixação de 12 placas
em cada pilar)
Cobertura metálica 27,18 m2 21,92 kg/m2 0,19kN
(considerou-se a carga distribuída em
32 pilares)
Telha termoacús�ca: 28m2 6,0 kgf/m2 0,06kN
(considerou-se a carga distribuída em
32 pilares)
Σ cargas ver�cais: = 4,65kN
Fonte: Knöner, 2014.

Considerando-se a carga máxima no montante majorada encontrou-se


uma seção de armadura (As) igual a 0,15 cm2, sendo adotado As = 1,27 cm2, que
correspondeu a quatro ferros de diâmetro igual a 6,3 mm. Considerou-se, no cálculo da
armadura transversal, estribos de 4,2 mm com espaçamento de 12 cm. Foi verificada
e atendida a excentricidade máxima do montante para que resista uma compressão
no concreto de 171 kN (valor da carga crítica de flambagem do montante). Foram
ensaiados três montantes com a aplicação de força centrada até a sua ruptura, como
pode ser observado na Figura 10.

Figura 10 – Ensaio de compressão axial dos montantes. Fonte: Knöner (2014).

326 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Foram utilizados os equipamentos disponíveis no Laboratório de Pré-moldados
(NETPRE) da UFSCar, principalmente a prensa hidráulica de 1000 kN. Os pilares se
romperam devido à flambagem, resistindo à força axial esperada, conforme Tabela 2.

Tabela 2 – Resultados dos ensaios de compressão axial dos pilares.

Montante Ensaiado Pu. exp. (kN)


Montante 01 131,12
Montante 02 164,21
Montante 03 195,71
Média 163,68
Pu. exp.: Máxima capacidade ob�da por meio de ensaio.
Fonte: Knöner, 2014.

Visto que a carga máxima verificada no montante que recebeu maior carga foi
de 55 kN, com coeficiente de segurança mínimo verificado de ɣ = 2,38, o pilar atendeu
às necessidades de uso.

6.2 Ensaio de Flexão da Placa de Concreto que


Compõe a Parede
Inicialmente foram avaliadas as placas pré-moldadas por meio de ensaios de
flexão. A carga máxima prevista na placa foi de 1,20 kN, distribuída em dois pontos,
com momento correspondente de 0,4 kN.m, conforme Figura 11. Foram considerados
31 diâmetros de armadura de tela, no sentido longitudinal da placa, cada diâmetro
corresponde a d = 0,50 mm e cada fio possui uma área de A = 0,05 cm2. Somando a
área total da seção da armadura encontra-se o valor de As = 1,7 cm2, sendo a espessura
da placa igual a 2,5 cm, largura de 50 cm e comprimento de 100 cm, conforme já
mencionado.

F F

L/3 L/3 L/3

Figura 11 – Esquema de ensaio de flexão em placa pré-moldada. Fonte: Knöner, 2014.

Cap. 16 Sistema Pré-Fabricado em Pré-Moldado de Concreto para... | 327


Com os ensaios, pode-se concluir que as placas pré-moldadas suportaram
um momento máximo no meio do vão de 0,41 kN.m, referente à aplicação de uma
força de 1,66 kN, dividida em dois pontos, conforme Figura 12. Tal resultado atende a
NBR 15575: Edificações Habitacionais – Desempenho (ABNT, 2013).

Figura 12 – Esquema de montagem das placas a serem ensaiadas. Fonte: Knöner, 2014.

Os resultados dos ensaios de flexão das placas pré-moldadas podem ser


visualizados na Tabela 3.

Tabela 3 – Resultados dos ensaios de flexão nas placas pré-moldadas.

Peça Ensaiada Pu,exp Mvão


(kN) (kN.m)
Placa 01 1,70 0,425
Placa 02 1,59 0,40
Placa 03 1,59 0,40
Placa 04 1,76 0,44
Média 1,66 0,42
Pu,exp: Máxima capacidade ob�da por meio de ensaio; Mvão: momento no meio do vão.
Fonte: Knöner, 2014.

328 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


6.3 Ensaio de Carga Suspensa
Inicialmente foi montado um sistema “parede” composto por dois montantes e
seis placas aparafusadas de um lado apenas. A Figura 13 mostra que, no laboratório, os
montantes foram dispostos no solo e as placas aparafusadas e fixadas com buchas de
PVC na horizontal. Após a fixação de todas as placas em seus respectivos montantes,
resultou um painel que foi erguido no local como painel tipo tilt-up.

Figura 13 – Fixação das placas nos montante, montagem de um painel no solo. Fonte:
Knöner, 2014.

Os ensaios a seguir consistem em submeter o sistema formado por montantes e


placas aos esforços de momento fletor e de força cortante, por meio de aparelhagem
ou dispositivos de carga compatível com a peça que se pretende ensaiar. Na análise
da resistência ao ensaio de carga suspensa indicado pela NBR 15575: Edificações
Habitacionais – Desempenho, parte 4 (ABNT, 2013), foi fixado um suporte em uma face
da placa e parafusada com parafuso de 8 mm de diâmetro e 6 cm de comprimento, e
bucha de PVC, tal como indicado na Figura 14.

Cap. 16 Sistema Pré-Fabricado em Pré-Moldado de Concreto para... | 329


Figura 14 – Ensaio de carga suspensa na parede 1,20 kN período de 24 h. Fonte: Knöner,
2014.

O ensaio foi realizado com os dispositivos em laboratório, reproduzindo as


situações previstas na NBR 15575: Edificações Habitacionais – Desempenho, sendo
aplicada a carga em patamares de aproximadamente de 50 N e sem golpes, aguardando
intervalo aproximado de 3 minutos entre os patamares de carregamento.
De início, o suporte foi carregado atingindo 1,0 kN e permaneceu com essa carga
por 24 h, sendo observado o deslocamento da placa em dh = 1,0 mm. O carregamento
foi ampliado para 1,2 kN e, permanecendo por mais 24 h, o deslocamento passou para
dh = 1,50 mm. A carga ficou exposta por vários dias e não foram observadas alterações
nos resultados.
Algumas observações:
• O deslocamento horizontal dh = 1,5 mm foi observado na ligação do parafuso
com a bucha de PVC;
• Não houve movimentação do sistema além do deslocamento verificado por
relógio de deslocamento;
• Não houve fissuras nem movimentações;
• O sistema de fixação obedeceu rigorosamente a NBR 15575: Edificações
Habitacionais – Desempenho, parte 4 (ABNT, 2013);
• Não houve restrições do fabricante do suporte para as cargas preparadas.

6.4 Ensaio de Estanqueidade à Água


A diretriz de ensaio consistiu em submeter, durante um tempo determinando, a
face externa de um corpo de prova do sistema montado a uma vazão de água, criando uma
película homogênea e contínua, com aplicação simultânea de uma pressão pneumática

330 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


sobre essa face, seguindo as orientações da NBR 15575: Edificações Habitacionais –
Desempenho, parte 4 (ABNT, 2013). Com isso, espera-se que as águas das chuvas não
venham a prejudicar o interior do ambiente de trabalho, com umidade ou infiltrações.
O corpo de prova foi constituído pelo sistema “parede”, formada por placa
externa de concreto com espessura de 2,50 cm, concentrando a análise em duas
placas, das quais uma pintada e a outra sem pintura, conforme Figura 15.

Figura 15 – Esquema de montagem do corpo de prova para ensaio. Fonte: Knöner, 2014.

Após 7 h de ensaio, apareceram pequenas manchas de água na face oposta da


placa de 2,5 cm de espessura entre as placas.

6.5 Ensaio de Corpo Duro


A norma NBR 15575: Edificações Habitacionais – Desempenho, parte 4 (ABNT,
2013), estabelece um método para verificação da resistência do sistema de parede à
deformação provocada pelo impacto de corpo duro. O ensaio consistiu na liberação
pendural, em repouso, de massa conhecida a uma altura determinada. A aparelhagem
consistiu em:
• Um corpo de impacto com forma (esfera) e massa (1 kg) conforme estabelecido
na norma; NBR 15575: Edificações Habitacionais – Desempenho (ABNT, 2013);
• Disposi�vo para medição dos deslocamentos com resolução de 0,1 mm.
O corpo de prova representou fielmente as condições do projeto, tipos de
apoios e vinculações. O ensaio foi realizado no interior do NETPRE, utilizando um
sistema “parede” em tamanho real.

Cap. 16 Sistema Pré-Fabricado em Pré-Moldado de Concreto para... | 331


A execução do ensaio visou suspender por um cabo o impactador, liberando-o
em movimento pendural, gerando a energia de impacto indicado na Tabela 4. Os
impactos foram aplicados em pontos aleatórios e distintos, conforme Figura 16, com
altura constante de h = 1,0 m para todos os lançamentos.

Tabela 4 – Representação e resultados dos impactos realizados sobre a placa.

Parâmetro por ponto° 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10


Dh (mm) 1,33 1,34 1,33 1,33 1,34 1,35 1,35 1,35 1,35 1,35
Ap (mm) 0,2 0,2 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,2
Daf (mm) 1,1 1,0 1,11 1,2 1,1 1,1 1,0 1,1 1,1 1,0
Dh – Deslocamento horizontal medido no lado oposto da placa;
Ap – Afundamento na parede da placa de concreto;
Daf – Diâmetro do afundamento na placa.
Fonte: Knöner, 2014.

Figura 16 – Local nas placas dos impactos de corpo duro na altura de 1,0 m. Fonte: Knöner,
2014.

Verificou-se que os resultados atendem à NBR 15775 (ABNT, 2013) quanto ao


desempenho recomendável do sistema em relação à resistência ao impacto de corpo
duro nos níveis intermediário e superior, tanto para a vedação externa quanto interna.
Com a energia de 10 Joules, não houve rupturas além das marcas. Tal resultado atende a
NBR 15575: Edificações Habitacionais – Desempenho no nível M (mínimo de aceitação).

6.6 Ensaio de Corpo Mole


Este ensaio consistiu no lançamento de um saco de couro com altura de 90 cm
e diâmetro de 35 cm, contendo areia e serragem, que totalizava uma massa de 40 kg,
conforme os quesitos da NBR 15575: Edificações Habitacionais – Desempenho (ABNT,
2013) e NBR 11675 (ABNT, 2016). É permitida uma variação de 40 cm para cima ou
para baixo no sistema de pêndulo, constituído de suporte (altura superior a da parede),

332 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


fio de aço para sustentar o saco e sistema para medição dos resultados. Um registro do
ensaio pode ser observado na Figura 17, na qual se verifica a placa rompida.

Figura 17 – Ensaio de corpo mole no sistema. Fonte: Knöner, 2014.

Esse ensaio teve como objetivo verificar a resistência do sistema à energia de


impacto dos choques acidentais gerados durante a utilização da edificação ou choques
provocados por tentativas de intrusões intencionais ou não.
Após o ensaio, verificou-se que a placa com altura mínima de h = 30 cm não
se rompeu. Com a altura intermediaria (h = 0,90 m), entretanto, a placa rompeu-se,
como observado na Figura 17. De acordo com a NBR 15575: Edificações Habitacionais
– Desempenho (ABNT, 2013), atendeu o limite inferior.

7. Análise do Sistema Proposto


Após a realização dos ensaios e simulação, bem como a consideração das
características do sistema construtivo proposto, pode-se verificar as seguintes
situações quanto aos parâmetros técnicos:
• Resistência ao fogo: Verificação teórica que o sistema suporta 50 minutos de
incêndio, conforme PCI (1989);
• Desempenho Térmico: Possui um atraso térmico de 2,2 h. Não está de acordo
com o mínimo desejado para a cidade de São Carlos, que é de 6,5 h;

Cap. 16 Sistema Pré-Fabricado em Pré-Moldado de Concreto para... | 333


• Estrutura: atende as condições de serviço e estado limite úl�mo para as
solicitações existentes nos componentes dos montantes (compressão) e das
placas (flexão);
• Carga suspensa: Atendeu NBR 15575: Edificações Habitacionais – Desempe-
nho (ABNT, 2013), nível superior “S”;
• Estanqueidade: Atendeu NBR 15575: Edificações Habitacionais – Desempe-
nho (ABNT, 2013), nível superior “S”;
• Corpo duro: Atendeu NBR 15575: Edificações Habitacionais – Desempenho
(ABNT, 2013), nível mínimo “M”;
• Corpo mole: Atendeu NBR 15575: Edificações Habitacionais – Desempenho
(ABNT, 2013), nível mínimo “M”.

Em relação aos parâmetros de projeto, foram observadas as seguintes situações:


• Facilidade de Construção: a montagem das peças é possível com apenas
dois trabalhadores, não sendo necessário o uso de equipamentos de grande
porte. O uso de ferramentas elétricas, como parafusadeira, é recomendado;
• Reaproveitamento: existe a possibilidade de desmonte e transporte para
outro lugar sem perdas de materiais e sem gerar resíduos significa�vos.
Os componentes podem ser desmontados com cuidados, remontados e
reaproveitados indefinidamente;
• Modulação: o projeto apresenta condições de modulação, facilitando a
adaptação de acordo com as caracterís�cas do terreno, espaço disponível e
necessidades de produção;
• Custos: o custo inicial maior é referente à fabricação das formas, que podem
ser reaproveitadas; o custo de mão de obra é referente aos salários de um
pedreiro e de um servente, que trabalharão inicialmente na fabricação e
posteriormente na montagem;
• Durabilidade: considerou-se a mesma durabilidade das estruturas de
concreto tradicional (mínimo de 50 anos);
• Resíduos: durante a produção dos componentes, pode ser considerado o
reaproveitamento de resíduos da construção, mediante ensaios de qualidade
dos agregados. Durante a montagem, pode haver perdas decorrentes de
quebras e transporte inadequado; deve-se procurar treinar a mão de obra
para obter menor desperdício.

334 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


8. Conclusões
O sistema proposto mostrou ser simplificado do ponto de vista do projeto,
sendo composto basicamente por montantes e placas separadas por uma camada de
ar, isolando a camada interna da externa. A fixação das placas é simplificada, podendo
ser facilmente desconectadas, em caso de manutenção ou remontagem.
As análises e ensaios realizados colaboraram para afirmar que o protótipo
idealizado é viável e possui diversas vantagens em relação às soluções improvisadas
comumente utilizadas em canteiros de obras. O uso de soluções pré-fabricadas
aumenta a sustentabilidade, em termos ambientais, econômicos e sociais, além de
melhorar as condições de trabalho.
Ressalta-se novamente que as normas consultadas não fazem referências às
instalações provisórias. Entende-se que é necessário ir além do que exige a NR-18 –
Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção (BRASIL, 2015) em
relação às áreas de vivência, incorporando requisitos de desempenho do edifício.
Considera-se importante que sejam propostos quesitos para as edificações provisórias,
tal como relacionado pela NBR 15575: Edificações Habitacionais – Desempenho (ABNT,
2013), de forma que sejam garantidas as condições de sustentabilidade das instalações
provisórias de canteiro de obra.
Foi possível concluir que o sistema construtivo proposto pode evoluir
tecnologicamente e apresentar soluções diferenciadas conforme as necessidades dos
empreendimentos e da cadeia produtiva na construção civil. Este trabalho procurou
apresentar um resumo da viabilidade e necessidade de projetar as instalações das
áreas de vivência em canteiro de obras, visando também ao conforto e à saúde do
trabalhador.

Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 11675: Divisórias leves internas
moduladas – Verificação da resistência aos impactos. 2016. 7p. Rio de Janeiro, Brasil.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12284: Área de Vivência em
Canteiros de Obra. Procedimento. 1991. 14p. Rio de Janeiro, Brasil.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14432: Exigências de resistência
ao fogo de elementos constru�vos de edificações – Procedimento. 2001. 15p. Rio de
Janeiro, Brasil.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15220: Desempenho térmico de
edificações. 2008. Rio de Janeiro, Brasil.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575: Edificações Habitacionais –
Desempenho. 2013. Rio de Janeiro, Brasil.

Cap. 16 Sistema Pré-Fabricado em Pré-Moldado de Concreto para... | 335


ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5627: Exigências par�culares das
obras de concreto armado e protendido em relação à resistência ao fogo. 1980. Rio de
Janeiro, Brasil. (cancelada)
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora 18 (NR-18):
Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção. 2015. Disponível em:
h�p://trabalho.gov.br/index.php/seguranca-e-saude-no-trabalho/norma�zacao/normas-
regulamentadoras. Acesso em: nov. 2016.
DIAS, C.M.; SERRA, S.M.B. Overview of Industrialized Technological Solu�ons for
Temporary Facili�es in Construc�on Sites. 2013. In: Portugal Sustainable Buildings (SB13).
Proceedings... Guimarães, Portugal, 2013.
FIB. Federa�on Interna�onale Du Beton. Guide to Good Prac�ce: Precast Insulated
Sandwich Panels. 2012. Commission 6 – Task Group T 6.11.
KNÖNER, N. Sistema pré-fabricado para aplicação em construções provisórias de
canteiros de obra. 2014. 147f. Dissertação (Mestrado em Estruturas e Construção Civil) –
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP.
PCI. Precast Concrete Ins�tute. Design for Fire Resistance of Precast Prestressed Concrete.
1989. 2nd ed. 93p. Disponível em: h�p://kerkstra.com/uploads/resources/MNL-124-89_
Fire_Resistance.pdf. Acesso em: dez. 2016.
PREFACC. Edificações em Concreto Celular. 1992. Disponível em: h�p://www.prefacc.com.
br/. Acesso em: dez. 2016.
SERRA, S.M.B.; FERREIRA, M.A.; PIGOZZO, B.N. Evolução dos pré-fabricados de concreto.
In: 1. Encontro Nacional de Pesquisa-Projeto-Produção em Concreto Pré-moldado, Anais...
2005, USP, São Carlos – SP. v. 1. p. 1-10.
VAN ACHER, A. Manual de Sistemas Pré-fabricados de Concreto. 2002. Tradução: FERREIRA,
M.A. 2003. 129f. Disponível em: <h�p://www.�.unicamp.br/~cicolin/ST%20725%20A/mpf.
pdf>. Acesso em: dez. 2016.

336 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Anexo

Registro da montagem do protótipo para


instalação provisória em pré-moldado de
concreto para canteiros de obra
Local: campus da UFSCar, São Carlos, SP
Período da montagem: fevereiro a maio de 2017
Empresa contratada: Fragalli Engenharia Ltda.
Convenente: Fundação de Apoio Institucional (FAI/UFSCar)
Projeto e responsável técnico: engenheiro civil Nery Knöner
Fotos e acompanhamento: profa. Sheyla Mara Baptista Serra e engenheiro civil José
Luis Morelli

Figura 1 – Vista da locação dos furos referen-


tes aos pilares da instalação provisória.

Figura 2 – Elemento de concreto para fixa- Figura 3 – Colocação do pilar de concreto


ção do pilar. pré-moldado.

Cap. 16 Sistema Pré-Fabricado em Pré-Moldado de Concreto para... | 337


Figura 4 – Vista geral da montagem da IP. Figura 5 – Vista da montagem da estrutura
metálica de coroamento e de fixação da
cobertura.

Figura 7 – Detalhe da fixação das instalações


elétricas.

Figura 6 – Assentamento de piso cerâmico Figura 8 – Vista geral da IP após pintura e


e calafetação das placas pré-moldadas de instalação dos vidros das esquadrias.
concreto.

338 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Seção V
Subprojeto Desenvolvimento
de Tecnologias de Execução
Relacionadas a Métodos e
Sistemas Construtivos Inovadores
(SPTEC)
17
http://dx.doi.org/10.26626/978-85-5953-027-8.2017C0017.p.341-362

Novas Categorias de Perdas


e sua Incidência em Sistemas
Industrializados na Habitação

Lucila Sommer
Carlos Torres Formoso
Daniela Dietz Viana

1. Introdução
O uso crescente de sistemas industrializados em empreendimentos habitacionais
constitui-se em uma das importantes estratégias adotadas pelo setor da construção
civil para obter melhorias de eficiência e redução de prazos na entrega das obras.
Entretanto, deve-se salientar que, para que isso aconteça, há a necessidade de mais
esforços em planejamento, coordenação e controle dos sistemas de produção, a fim
de que sejam obtidos os benefícios potenciais da industrialização.
Segundo Koskela e Vrijhoef (2000), a falta de sucesso na industrialização da
construção deve-se principalmente à utilização de métodos de gestão baseados
em conceitos de gestão da produção obsoletos, com foco apenas nas atividades
de transformação. Em muitas situações, atenta-se apenas para a modernização e
industrialização das atividades de transformação, sendo negligenciadas as atividades
que não agregam valor, tais como transporte, estoques, esperas e inspeção (KOSKELA,
1992). Höök e Stehn (2008) sugerem que, embora os sistemas industrializados
reduzam alguns tipos de complexidade e perdas existentes na construção, eles também
introduzem outras fontes de dificuldade devido à necessidade de integrar diferentes
unidades de produção (projeto, fábrica, logística e montagem) e ainda alteram os
papéis de diferentes agentes da cadeia de suprimentos.

341
A aplicação de conceitos e princípios da Filosofia da Produção Enxuta pode
contribuir para a implementação de sistemas industrializados, visto que se busca
um equilíbrio entre as melhorias nas atividades de transformação e a eliminação de
atividades que não agregam valor. A Produção Enxuta é uma filosofia que emergiu na
indústria automobilística do Japão e que mudou a forma de gestão dos sistemas de
produção em diferentes setores ao longo das últimas décadas, sendo uma abordagem
predominante em empresas de desempenho destacado em diferentes indústrias.
Este capítulo discute o conceito de perdas na construção, propondo uma forma
de mapeamento dessas perdas, de forma a entender as relações de causa e efeito
existentes. São destacadas três categorias de perdas, as quais normalmente não
recebem a devida atenção no contexto da construção civil: trabalho em progresso,
making-do e trabalho inacabado. Ao final, são discutidos brevemente os resultados de
estudos sobre sistemas industrializados, que adotaram tais conceitos.

2. O Papel das Perdas


Na filosofia da produção enxuta, perdas são atividades desnecessárias que
geram custos e não agregam valor ao produto final (SHINGO, 1996). Ohno (1997)
propôs um conjunto de categorias de perdas existentes no Sistema Toyota de Produção
com o objetivo de auxiliar na compreensão dos fundamentos da gestão da produção
e orientar ações para a implementação de melhorias. São conhecidas como as Sete
Perdas do STP: estoque, transporte, superprodução, defeito, espera, movimentação
e processamento. A partir destas categorias originais, diversas propostas de novas
categorias surgiram com a mesma finalidade, isto é, identificar oportunidades de
melhoria nos sistemas produtivos, tais como acidentes, projeto de produtos que não
atendem às necessidades dos clientes (WOMACK; JONES, 1996), investimentos de
capital desnecessários (MONDEN, 1983), roubo e vandalismo (BOSSINK; BROUWERS,
1996). Segundo Shingo (1996), o papel principal das diferentes categorias de perdas
é chamar a atenção para os problemas que existem em determinados contextos, mas
que não são óbvios na perspectiva dos profissionais que atuam na prática.
A partir de uma revisão sistemática de literatura, Viana et al. (2012) fizeram
uma análise crítica dos estudos sobre perdas na construção, chegando às seguintes
conclusões:
• De forma geral, a revisão sistemá�ca de literatura iden�ficou que o número de
ar�gos sobre perdas na construção é rela�vamente pequeno, considerando
a relevância do tema; no setor da construção;
• Em muitos estudos, o conceito de perdas adotado não é apresentado de
forma clara, mas somente discu�do em um nível mais abstrato. Em geral,

342 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


descreve-se apenas as medidas operacionais u�lizadas para guiar a coleta
de dados;
• Diferentes conceitos são adotados para descrever o mesmo �po de perda,
tornando di�cil a realização de análises compara�vas entre diferentes
estudos. Por exemplo, diversos ar�gos discutem a incidência de retrabalhos
em empreendimentos de construção (ASHFORD, 1992; LOVE et al., 2010), mas
não discutem em profundidade o conceito de retrabalho. Alguns, ademais,
não apresentam claramente a origem dos dados. Como consequência, as
contribuições sobre como medir retrabalhos e suas causas fundamentais são
muito limitadas;
• Diversos indicadores têm sido u�lizados para medir perdas. Alguns são
expressos em quan�dades �sicas, tais como o volume de entulho removido
de canteiros de obras (POON et al., 2004), já outros são medidos em custos,
tais como produtos defeituosos (BURATI; FARRINGTON; LEDBETTER, 1992)
e retrabalho (HWANG et al., 2009). O tempo tem sido também u�lizado
como uma importante medida de perdas, principalmente com o obje�vo
de iden�ficar a parcela de tempo que não agrega valor em um processo
(YU et al., 2009).
Formoso et al. (2015) destacam a importância de se compreender a relação de
causa e efeito que existem entre as diferentes categorias de perdas. Os referidos autores
caracterizam essas relações como formas de propagação da variabilidade no processo
de construção. A Figura 1 apresenta uma representação de tais relações de causa e
efeito, levantadas a partir de diferentes estudos sobre perdas reportados na literatura.
A figura está dividida em três zonas: (a) na parte superior, aparecem as categorias
de perdas denominadas de terminais, ou seja, aquelas que são consequências de
outras categorias de perdas; (b) na parte intermediária, são reunidas as categorias
denominadas de perdas na produção, que se referem a fenômenos importantes na
produção que devem ser controlados para evitar as perdas terminais; e (c) os processos
predecessores da produção, que podem contribuir para a ocorrência de perdas. Tal
mapeamento pode indicar as categorias de perdas que mais interagem com as demais,
ou seja, aquelas que têm mais centralidade na rede de relação causa-efeito. Assim, o
mapa sugere que o foco seja deslocado para as causas das perdas, em vez de tentar
monitorar ou controlar as consequências das perdas na produção.
No presente trabalho, buscou-se investigar três categorias de perdas que tem
um elevado impacto no desempenho da construção, particularmente quando se utiliza
sistemas industrializados. São elas: making-do (KOSKELA, 2004; FORMOSO et al.,
2011), falta de terminalidade (FIREMAN, 2012; ALVES, 2000) e trabalho em progresso
(BASHFORD et al., 2003). Tais categorias de perdas estão fortemente relacionadas ao
conceito de lote de produção, o qual se refere à realização dos processos em cada

Cap. 17 Novas Categorias de Perdas e Sua Incidência em Sistemas... | 343


unidade de produção (ou controle), que pode ser um setor da obra, um pavimento,
uma casa, ou um apartamento. A seguir, cada uma dessas categorias de perdas é
discutida em mais profundidade.

Consequências

Perdas na
produção

Etapas predecessoras à produção

Figura 1 – Rede Causal de Perdas na Construção. Fonte: Formoso et al., 2015.

2.1 Trabalho em Progresso


Trabalho em progresso pode ser associado às perdas por espera: ao se concluir
uma determinada etapa, aguarda-se o momento de início da etapa seguinte. Para
Shingo (1996), essa perda refere-se aos estoques de produto inacabado existentes entre
as etapas de processamento, os quais podem estar associados a itens não concluídos
que estão à espera do processamento. Tal estoque pode ser gerado em função de
superprodução, ou seja, quando há excesso de estoques de produtos produzidos
antecipadamente a espera de serem processados. No contexto da construção, esta
perda normalmente é associada à espera entre processos (BULHÕES, 2009; SAFFARO,
2007) ou ao excesso de frentes de serviço abertas (BASHFORD et al., 2003).
As causas para o trabalho em progresso estão relacionadas a sistemas de
produção que utilizam grandes lotes de produção, resultando no aumento do tempo

344 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


de espera para um item ser processado. Outro fator que contribui para o surgimento
dessa perda é a relação contratual tradicional da construção civil (SACKS et al., 2009).
Tais contratos normalmente apresentam cláusulas de remuneração que estimulam
a otimização local em detrimento da busca pelo melhor desempenho global do
empreendimento. Esta situação faz com que as equipes subcontratadas busquem
realizar trabalhos que resultem em uma maior produtividade, abrindo várias frentes
de serviço, em vez de completar as atividades em lotes já iniciados.

2.2 Falta de Terminalidade


Segundo Alves (2000), a falta de terminalidade refere-se à não finalização das
tarefas nos prazos estipulados e em conformidade com os critérios de qualidade pré-
estabelecidos, requerendo o retorno posterior de alguma equipe para a realização de
retrabalhos ou arremates. Assim, a falta de terminalidade contribui para o aumento de
trabalho em progresso, pois o tempo para sua conclusão aumenta, assim como o tempo
de liberação da unidade para atividades posteriores. Entre os fatores que influenciam
a falta de terminalidade das tarefas, destaca-se o grau de definição dos pacotes de
trabalho e o adequado sequenciamento dos processos. Além disso, muitas dessas
atividades são realizadas informalmente, sujeitando-se às incertezas e aumentando a
ocorrência de outros tipos de perdas na construção, devido à necessidade de refazer
trabalhos já executados, aumentando a quantidade de retrabalho e de trabalho em
progresso (FIREMAN, 2012).
Dificuldades na execução do controle da qualidade podem também ser uma
possível causa do aumento do trabalho em progresso: se uma equipe não concluir
adequadamente a sua tarefa, as falhas de qualidade são detectadas tardiamente, após
o deslocamento da equipe para outra frente de trabalho, deixando o local em espera
para ser corrigido.

2.3 Making-do
Segundo Koskela (2004), entende-se como making-do uma situação em que
uma tarefa é iniciada sem que todos os recursos necessários estejam disponíveis
para que o trabalho inicie ou continue adequadamente até o seu término. O termo
“recursos” refere-se não somente a materiais, mas a todos os outros recursos, como
máquinas, ferramentas, pessoal, espaço, condições externas, informações, entre
outros. Sem as condições adequadas, podem ser realizadas improvisações para que
seja dada continuidade ao trabalho das equipes, que realizam ações não especificadas
a fim de que o serviço não seja interrompido. Diferentes formas de making-do podem
ser identificadas em canteiros de obras (Quadro 1) e estão relacionadas aos recursos
que não estão disponíveis no local e momento certos para o processamento (SOMMER,
2010).

Cap. 17 Novas Categorias de Perdas e Sua Incidência em Sistemas... | 345


Quadro 1 – Categorias de Making-do Observadas em Canteiros de Obras.

Categorias de Making-do Definição


Acesso/mobilidade Rela�vo ao espaço, meio ou forma de posicionamento
de quem executa as tarefas
Ajuste de componentes Ar��cios para uso de componentes não adequados à
realização das tarefas
Área de trabalho Refere-se à bancada de trabalho ou área de apoio
durante as a�vidades realizadas
Armazenamento Organização de materiais ou componentes em locais não
preparados para o seu recebimento
Equipamentos/ferramentas Criados ou adaptados para uso durante as a�vidades
Infraestrutura para o trabalho Criados ou adaptados para uso durante as a�vidades
Proteção Forma de uso dos sistemas de proteção
Sequenciamento (FIREMAN, 2012) Alteração na sequência de execução
Fonte: Sommer, 2010.

Para Fireman (2012), há uma forte relação entre perdas por making-do e a
existência de pacotes informais, ou seja, pacotes de atividades que são executadas
sem terem sido planejadas e cujos pré-requisitos nem sempre são verificados de
forma sistemática. Consequentemente, falta de terminalidade das atividades, trabalho
em progresso e aumento do lead time1 também podem ser observados devido aos
pacotes de trabalho informais no canteiro de obras
O Making-do tem como causa principal as deficiências na realização do
planejamento de médio prazo, em que as restrições não são devidamente removidas
(FIREMAN, 2012; SOMMER, 2010). O início das tarefas sem que estejam disponíveis
todos os recursos necessários e devido a reações das equipes para que o trabalho não
seja interrompido podem ainda ter como consequência a diminuição da produtividade;
desmotivação; perdas de materiais; retrabalho; redução da segurança; e redução da
qualidade (FORMOSO et al., 2011).
Neste sentido, Formoso et al. (2011) destacam que, embora a elaboração e o
cumprimento de procedimentos padronizados possam contribuir para a redução das
perdas por making-do, tais medidas não são suficientes para a sua total eliminação.
Os mesmos autores apontam também para a necessidade de se dedicar um esforço
de projeto de processos e operações, por meio de, por exemplo, simulações 4D ou
realização de protótipos físicos, e também a remoção sistemática de restrições em
nível de médio prazo. Tais problemas são incidentes tanto em sistemas construtivos

1 Lead Time: Tempo de atravessamento contado do pedido até a entrega de um produto.

346 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


tradicionais, como também em sistemas industrializados, embora nestes últimos
existe um maior potencial para a sua redução, já que eles têm normalmente menores
possibilidades de improvisação.

3. Identificação e Mensuração das Perdas


3.1 Trabalho em Progresso
O trabalho em progresso pode ser identificado pela quantidade de estoques
intermediários de elementos já fabricados ou parcialmente montados ou pelas
unidades produtivas finalizadas. Para sistemas que possuem etapas de pré-montagem,
a quantidade de elementos pré-montados em relação ao que já foi montado indica a
quantidade de trabalho em progresso relativamente ao total da obra. Em estruturas
metálicas, geralmente esse indicador é medido em kg de aço, já em estruturas pré-
moldadas de concreto, em m3 de concreto. Pode-se também medir a aderência ao
sequenciamento dos lotes, ao longo das diferentes etapas construtivas, e avaliar os
ganhos de produtividade obtidos com os sistemas industrializados, no decorrer de toda
obra.
O trabalho em progresso deve medir a quantidade de trabalho pronto a ser
entregue na próxima etapa ou ao cliente final e aquela que está em espera, devendo-
se adotar a mesma unidade de trabalho, capaz de atender diferentes serviços. Seguem
os passos para quantificar o trabalho em progresso:
• Definir os lotes de controle (por exemplo, unidade, pavimento, casa, ou setor);
• Iden�ficar todos os serviços que fazem parte do escopo da obra;
• Mul�plicar o número de lotes pelo número de frentes de trabalho, a fim de
se obter o número total de lotes de trabalho (LT);
• Definir um ponto de verificação dos serviços para o aceite do lote e a entrega
do serviço seguinte;
• Contabilizar os lotes com tarefas já concluídas para cada serviço (LC);
• Contabilizar os lotes com tarefas em andamento para cada serviço (LA);
• Contabilizar o número de lotes em espera para iniciar um novo serviço (LE);
• Calcular o percentual de trabalho em progresso conforme a Equação 1:

LE
=
Trabalho em Progresso × 100 (Equação 1)
LT
Semanalmente, ao verificar o andamento dos pacotes de serviço, o indicador
pode ser atualizado. Da mesma forma, se for substituído na expressão acima LE por LC,
tem-se como resultado o avanço físico da obra, Equação 2:

Cap. 17 Novas Categorias de Perdas e Sua Incidência em Sistemas... | 347


LC
=
Avanço Físico × 100 (Equação 2)
LT

3.2 Falta de Terminalidade


Da mesma forma que o trabalho em progresso, a falta de terminalidade pode
ser medida por meio da identificação dos lotes que não estão prontos, impedindo
o serviço subsequente de ser iniciado. Pode ser associado ao controle de qualidade
e identificado mediante os serviços que apresentam não conformidades, ou apenas
identificado por meio de lotes que foram iniciados, porém, estão sem equipe alguma
realizando o trabalho. O número de frentes de trabalho existentes multiplicadas pelo
número de lotes cujo trabalho foi iniciado e não finalizado ou aceito indica o volume
de trabalho incompleto (LI), Equação 3.
LI
=
Falta de Terminalidade × 100 (Equação 3)
LT
Outra abordagem para quantificar o trabalho em progresso é a realização
de rotinas de controle da produção dos pacotes de trabalho que estão sendo
executados. Ao identificar equipes trabalhando em pacotes que não foram planejados,
denominados de pacotes de trabalho informais, deve-se verificar se o trabalho está
associado a algum retrabalho, finalização do serviço não concluído na semana anterior
e não planejado, arremates ou novas equipes iniciando serviços antes do previsto.

3.3 Making-do
A identificação e quantificação de making-do pode ser realizada pela observação
direta das tarefas realizadas nos canteiros de obras e a sua comparação com padrões
ou melhores práticas estabelecidas. Sommer (2010) propôs um protocolo para a
mensuração desse tipo de perda, o qual foi complementado pelos estudos de Leão
(2014) e Ibarra, Formoso e Lima (2016). As principais etapas deste protocolo estão
apresentadas a seguir:
• Descrever a improvisação observada e fazer um registro fotográfico;
• Iden�ficar os pré-requisitos que não estavam disponíveis;
• Analisar possíveis impactos devido à ação realizada;
• Categorizar os casos (conforme o Quadro 1) e iden�ficar as suas possíveis
causas;

348 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


• Quan�ficar o percentual de cada categoria em relação ao total de eventos
iden�ficados. Pode-se também mensurar a incidência de making-do, de
forma rela�va, por meio da relação de pacotes de trabalho com improvisação
e o número total de pacotes.

4. Estudos de Caso
4.1 Obra com Estrutura Metálica
A análise relativa ao trabalho em progresso foi a base para compreender o
sistema de planejamento e controle da produção de uma empresa que projeta, fabrica
e monta sistemas construtivos metálicos. Inicialmente, foi observado um alto índice de
atraso na entrega das obras. A análise aprofundada das causas desse atraso apontou
para problemas na estratégia de entrega de componentes por parte da fábrica. A
partir de tal constatação, foi iniciado um estudo mais amplo, envolvendo os diferentes
processos envolvidos na fabricação e entrega dos componentes para as obras.
Cada empreendimento era dividido em grandes etapas de produção que, por sua
vez, eram divididas em subetapas, conforme o projeto executivo (estrutura primária,
secundária, fechamento, telhas, etc.). Esta prática permite a redução do tamanho do
lote de transferência entre cada uma das fases do processo, o que deveria reduzir o
tempo de entrega. Entretanto, os incentivos dados aos departamentos relacionados
ao processo de produção não estavam atrelados ao fechamento das subetapas, mas
ao volume de produção.
Desta forma, cada departamento se beneficiava ao atingir uma determinada
tonelagem de componentes produzidos. Esse incentivo fazia com que o departamento
de projeto priorizasse os projetos mais fáceis e a fábrica produzisse os componentes
mais pesados, criando um alto nível de estoque entre cada uma das fases e dificultando
o envio dos componentes a obra. Para evitar o envio de peças que não pudessem
ser montadas, as subetapas eram pensadas de forma a englobar todos os produtos
necessários para a montagem dos componentes. A prática de priorizar produtos
pesados fazia com que muitos componentes ficassem prontos muito antes dos demais
produtos correspondentes ao seu lote.
A Figura 2 representa a quantidade de materiais armazenada no pátio de uma
das fábricas, ressaltando o quanto desse total representava um lote completo para
ser mandado para a obra. O departamento de logística, responsável pela entrega dos
materiais à obra, tinha apenas uma parcela do estoque para ser efetivamente enviada
à obra.

Cap. 17 Novas Categorias de Perdas e Sua Incidência em Sistemas... | 349


3117
2986
2773
2572 2465
2321
2152 2231 2164 2164
2013
1742 1834 1869
1416 1543
1412

837 758 751


578 622 511 606 588 537 598 551 539 548
492 497 385
361
15 mar.

20 mar.

25 mar.

27 mar.

02 abr.

08 abr.

11 abr.

18 abr.

26 abr.

06 set.
07 maio

15 maio

21 maio

29 maio

09 jul.

24 ago.

31 ago.
Em aberto Completas

Figura 2 – Total de materiais estocados no pá�o da fábrica (em toneladas).

Ao cruzar as informações sobre o tempo que os componentes aguardam no pátio


da fábrica e quão antecipada foi a produção, observou-se um alto desalinhamento entre
a fabricação e a real necessidade das peças. A Figura 3 apresenta esquematicamente
essa comparação, em um dia de pátio. É possível observar que a maioria dos compo-
nentes armazenados foram produzidos antecipadamente, o que significa que não havia
tempo disponível para alterações nos pedidos realizados pelos clientes. A empresa
tinha uma abordagem centralizada de planejamento e controle da produção, e não
costumava avaliar sistematicamente as reais demandas das obras. Cabe lembrar que
em ambientes complexos, as demandas são emergentes e dinâmicas, sendo muito
pouco aplicável um método de controle baseado na aderência a um plano definido
apenas com base em estimativas de demanda de longo prazo.

800
700
600
Tempo de espera no pá�o

500
400
300
200
100
0
-500 -400 -300 -200 -100 0 100 200 300
Desvio do planejado

Figura 3 – Trabalho em progresso na fabricação dos componentes.

350 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


A principal causa da espera dos componentes estocados no pátio era a falta de
condições do canteiro para que se realizasse o descarregamento dos componentes,
seja devido a restrições de espaço, seja devido à falta de equipes para produção.
O impacto dessa prática no canteiro de obras pode ser observado na Figura 4.
A maioria (61%) das subetapas esperam mais de 10 dias no canteiro antes de serem
utilizadas na montagem, 25% foram entregues antecipadamente. A Figura 4 indica que
receber os componentes de forma antecipada não reduzia o tempo de montagem,
devido ao desalinhamento das entregas e fases da obra. Em outras palavras, os lotes
entregues não eram os que a obra estava realmente necessitando.
Constatou-se também a ocorrência de tempos de espera negativos, ou seja,
embora apenas parte dos componentes da subetapa estivesse disponível, o engenheiro
da obra decidiu iniciar o processo de montagem de qualquer maneira, completando
com componentes similares de outros lotes. Trata-se de um exemplo de making-do
que ocorria nas obras.

250

200

150

100

50

-200 -150 -100 -50 0 50 100 150


-50 Desvio da entrega
Espera no canteiro

-100

-150

-200

Entrega antecipada No prazo Em atraso


Longo tempo no canteiro 21% 30% 10% 61%
(mais de 10 dias)
Pouca espera 3% 24% 7% 34%
(até 10 dias)
Uso antecipado 1% 3% 1% 5%
(antes de completar a entrega)
25% 57% 18%

Figura 4 – Impacto das antecipações nos canteiros de obra.

Cap. 17 Novas Categorias de Perdas e Sua Incidência em Sistemas... | 351


A análise do trabalho em progresso nessa empresa permitiu uma melhor
compreensão das deficiências do sistema de planejamento e controle existente. Esse
tipo de sistema é baseado em uma abordagem de planejamento centralizada, na qual
os planos de longo prazo dificilmente são alterados. Isso dificulta que o sistema seja
capaz de enfrentar o nível de incerteza inerente à natureza desse tipo de produção.

4.2 Obra em light steel frame


A identificação e monitoramento das perdas foi usada neste estudo para avaliar
a implementação de um sistema construtivo por uma empresa construtora que tinha
pouca experiência com esse tipo de sistema construtivo. A obra consistia na construção
de sobrados, com estrutura em light steel frame. A partir da verificação do andamento
da produção semanal, foram coletados dados que indicassem ações necessárias para
se obter os resultados esperados a partir da escolha do sistema construtivo.
A base para a análise era o plano semanal, no qual eram descritas as tarefas
planejadas, o lote e a equipe responsável pela tarefa. Nesse caso particular, o lote
era representado por um conjunto de casas geminadas em fita. A partir dos dados de
planejamento, o Quadro 2 foi usado como ferramenta de coleta de dados em campo.
Todos os pacotes do plano eram transcritos para a ferramenta indicando o lote, a tarefa,
a equipe e o tipo de pacote de trabalho, sendo todos eles formalmente planejados.
A rotina de monitoramento consistia em verificar todo o trabalho que estava sendo
realizado no canteiro. Caso o serviço não fizesse parte do plano, era indicado o local
(lote), o que estava sendo realizado (descrição da tarefa), quem estava executando
(equipe) e registrado como pacote informal, informando a causa: retrabalho, falta
de terminalidade ou novos pacotes iniciados após elaboração dos planos. Se fosse
identificado algum caso de making-do, eles eram também identificados quanto a sua
categoria e causa. No final da semana, eram contabilizados os pacotes que tinham sido
concluídos.

Quadro 2 – Ferramenta de Coleta de Dados.

Descrição da Pacote de Conclusão Categoria


Lote Equipe Causa Causa
Tarefa Trabalho S/N Making-do

A partir de cinco semanas de coleta, foi monitorado o número de pacotes


de trabalho informais devido à falta de terminalidade: em média, 33% dos pacotes
observados eram informais, dos quais mais de 60% ocorriam em virtude da falta de
terminalidade, gerando mais trabalho em progresso e tornando mais difícil o controle

352 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


da produção. Inicialmente, a falta de cumprimento dos planos era atribuída às equipes
de montagem devido apenas à baixa produtividade e ao pouco comprometimento com
os planos. Entretanto, a partir da análise realizada, ficou evidente que as equipes não
concluíam os pacotes planejados pela necessidade de realizar retrabalhos ou ajustes
por conta de falhas de projeto, principalmente no que se referia à compatibilização
entre a estrutura e o radier.
As atividades de logística foram analisadas separadamente, por evento
identificado. Foram observadas perdas por transporte acima do esperado em
decorrência de obstáculos nas rotas de acesso, limitações de altura ou dificuldade de
acesso dos equipamentos utilizados para apoiar as atividades. Constatou-se ainda que
48% das perdas por transporte observadas ocorreram durante a execução de pacotes
de trabalho formais, 39% não estavam relacionadas a pacotes de trabalho e 13%
ocorreram durante a execução de pacotes de trabalho informais. Em dois terços dos
eventos de perdas por transporte, foi possível relacioná-las a outros tipos de perdas,
tais como making-do, retrabalho, falta de terminalidade e trabalho em progresso.
Dentre os casos de making-do observados, 30% foram identificados durante
a montagem dos componentes do sistema light steel frame, enquanto 70% foram
observados nas etapas de infraestrutura e instalações provisória da obra. Entre as
principais causas desses tipos de perda, destacam-se algumas práticas tradicionais
de projeto, tal como a falta de planejamento das estruturas de apoio, as quais eram
frequentemente adaptadas pelas equipes, como nos exemplos da Figura 5. Adaptações
foram observadas também durante as etapas de escoramento, devido à ausência
de projeto ou componentes para a estabilização da estrutura durante o processo
de montagem. Inicialmente, a equipe utilizou madeira, que logo foi substituída por
componentes da própria estrutura, conforme ilustra a Figura 6.

Figura 5 – Exemplos de Making-do devido à ausência de acesso adequado.

Cap. 17 Novas Categorias de Perdas e Sua Incidência em Sistemas... | 353


Figura 6 – Improvisações para componentes de escoramento.

No Quadro 3, estão sintetizadas as ações propostas para melhoria do desem-


penho da etapa de montagem das estruturas. Dentre as causas das perdas identificadas,
destacam-se como necessárias as ações voltadas para as etapas de projeto do sistema
de produção, planejamento da produção e de logística.

Quadro 3 – Ações iden�ficadas a par�r da análise das perdas.

Perdas Causas Ações


Falta de Parâmetros de qualidade discu�dos Desenvolver um projeto de
Terminalidade pela equipe e seus fornecedores eram montagem capaz de ampliar a
pouco claros; comunicação, a transparência e
Encontro entre concreto e estrutura de reduzir as perdas.
aço não detalhado; Reduzir tamanho do lote.
Tolerância das fundações incompa�vel
com a da estrutura;
Lotes muito grandes, até 8 casas com 2
pavimentos.
Transporte Acesso restrito ou obstruído; Planejamento da logís�ca,
Áreas de estoque não adequadas; envolvendo a integração dos
Empacotamento impróprio; planos de fabricação, logís�ca e
Equipamentos indisponíveis ou não montagem.
adequados.
Making-do Acesso inadequado ou falta de Rever meios de flexibilizar as
mobilidade para execução das tarefas; diferenças entre as tolerâncias dos
Áreas de estoque não adequadas; sistemas de fundações e de LSF.
Instalações provisórias inadequadas; Desenvolver PCP, principalmente
Equipamentos/Ferramentas não no que diz respeito ao processo de
disponíveis ou inadequadas. iden�ficar e remover restrições.

354 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


4.3 Obra em Concreto Pré-Moldado
Este estudo foi realizado em uma obra de construção de um edifício habita-
cional para baixa renda, com estrutura pré-fabricada de concreto, em Hong Kong.
Nesse projeto havia um sistema para rastreamento eletrônico dos componentes de
fachada pré-moldada, cujos dados foram utilizados para mensurar perdas entre os
processos de fabricação, logística e montagem. Foram monitorados os tempos de
espera para completar os lotes na fábrica, transporte e espera no canteiro. Já entre as
etapas de estruturas e acabamentos, foi medido o trabalho em progresso e a falta de
terminalidade. O lote de montagem da estrutura consistia na metade de um pavimento
de 1.000m2, composto por 23 painéis pré-moldados de concreto para fachada.
Os dados de rastreamento foram obtidos pela leitura de uma etiqueta inserida
no painel com um código RFID2, em 4 momentos: final da concretagem na fábrica,
saída da fábrica, recebimento no canteiro e montagem. Os tempos foram quantificados
conforme os lotes de produção, a partir das datas da primeira e última peça, para as
seguintes variáveis:
• TCF – tempo de ciclo para fabricação do lote, medido pela leitura da data de
concretagem do úl�mo painel do lote subtraindo-se a data de fabricação do
primeiro e acrescentando-se o tempo de fabricação de um painel, descontados
os dias não úteis;
• TEF – tempo do lote em espera para ser completado, medido pela diferença do
tempo entre a fabricação do úl�mo componente e o primeiro, descontados
os dias não úteis;
• TT – tempo de transporte do lote, medido pelo período entre a data de
recebimento do lote menos a data de saída;
• TEC – tempo de espera do lote no canteiro, medido pelo período entre a data
de montagem e a data de chegada no canteiro;
• TL – tempo para logís�ca, sendo TL = TEF + TT + TEC;
• TCM – tempo de ciclo da montagem, medido pelo período entre as datas de
concretagem das lajes de cada lote.
A partir do mapa do fluxo de valor, quantificou-se em 72 dias o tempo gasto
desde o pedido até a conclusão do lote no canteiro (lead time). Destes, apenas 22
dias são necessários para o processamento. Com base em dados de 26 pavimentos,
construídos por 52 lotes com 23 componentes, os resultados indicaram que, na

2 RFID- Iden�ficação por radiofrequência ou RFID (do inglês "Radio-Frequency IDentification")


é um método de iden�ficação automá�ca através de sinais de rádio, recuperando e
armazenando dados remotamente através de disposi�vos denominados e�quetas RFID.

Cap. 17 Novas Categorias de Perdas e Sua Incidência em Sistemas... | 355


fabricação, ocorriam os maiores tempos de trabalho em progresso e variabilidade
conforme observado nas Figura 7, 8 e 9.

50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
9/F
8/F

17/F

27/F
10/F

14/F

16/F

24/F
19/F

26/F

29/F
20/F

31/F

33/F
13/F

15/F

23/F
11/F

18/F

25/F

28/F

32/F
21/F

30/F
12/F

22/F

34/F
TC Pav. TC Lote CD Plano Pav.
TC Lote AB Plano Lote

Figura 7 – Tempo de Ciclo de fabricação por lote e pavimento (dias).

25

20

15

10

0
9/F
8/F

17/F

27/F
10/F

14/F

16/F

24/F
19/F

26/F

29/F
20/F

31/F

33/F
13/F

15/F

23/F
11/F

18/F

25/F

28/F

32/F
21/F

30/F
12/F

22/F

34/F

Pavimento Lote CD Plano Pav.


Lote AB Plano Lote

Figura 8 – Tempo de processamento na Fábrica (dias).

356 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


35
30
25
20
15
10
5
0
9/F
8/F

17/F

27/F
10/F

14/F

16/F

24/F
19/F

26/F

29/F
20/F

31/F

33/F
13/F

15/F

23/F
11/F

18/F

25/F

28/F

32/F
21/F

30/F
12/F

22/F

34/F
Pavimento Lote AB Lote CD

Figura 9 – Tempo de espera para completar o lote de entrega (dias).

Nas etapas de logística, representadas pelo tempo em estoque (Figura 10),


em transporte (Figura 11) e pela espera no canteiro (Figura 12), foram calculadas
as médias dos tempos dos componentes de cada lote. Inicialmente, a estratégia da
fábrica foi iniciar a produção 3 meses antes do início da montagem para garantir o
estoque mínimo de 4 lotes.

100
76,50
80
60
40
20
13,58
0
9/F-CD
8/F-CD

17/F-CD

27/F-CD
10/F-CD

14/F-CD

16/F-CD

24/F-CD
19/F-CD

26/F-CD

29/F-CD
20/F-CD

31/F-CD

33/F-CD
13/F-CD

15/F-CD

23/F-CD
11/F-CD

18/F-CD

25/F-CD

28/F-CD

32/F-CD
21/F-CD

30/F-CD
12/F-CD

22/F-CD

34/F-CD

Média do Lote Média

Figura 10 – Tempo médio do lote em estoque na fábrica em dias.

Uma das principais preocupações em relação à confiabilidade do processo de


montagem era o tempo de transporte devido à fronteira existente entre a fábrica (na
China) e o canteiro (em Hong Kong). Em função desse problema, foi definido um local

Cap. 17 Novas Categorias de Perdas e Sua Incidência em Sistemas... | 357


próximo ao canteiro como área de estoque intermediário. Assim, atrasos na logística
ou na montagem seriam absorvidos sem comprometer a confiabilidade de entrega.

14
12
10
8
6
4
2
0
9/F-CD
8/F-CD

17/F-CD

27/F-CD
10/F-CD

14/F-CD

16/F-CD

24/F-CD
19/F-CD

26/F-CD

29/F-CD
20/F-CD

31/F-CD

33/F-CD
13/F-CD

15/F-CD

23/F-CD
11/F-CD

18/F-CD

25/F-CD

28/F-CD

32/F-CD
21/F-CD

30/F-CD
12/F-CD

22/F-CD

34/F-CD
Média do Lote Média

Figura 11 – Tempo médio do lote em transporte em dias.

Como o ciclo de execução do pavimento envolvia também a concretagem in loco


de outros elementos estruturais, atrasos na montagem eram frequentes. A quantidade
de componentes pré-moldados nessa obra era de apenas 30% do volume total de
concreto.

0
9/F-CD
8/F-CD

17/F-CD

27/F-CD
10/F-CD

14/F-CD

16/F-CD

24/F-CD
19/F-CD

26/F-CD

29/F-CD
20/F-CD

31/F-CD

33/F-CD
13/F-CD

15/F-CD

23/F-CD
11/F-CD

18/F-CD

25/F-CD

28/F-CD

32/F-CD
21/F-CD

30/F-CD
12/F-CD

22/F-CD

34/F-CD

Média do Lote Média

Figura 12 – Tempo médio de espera do lote no canteiro em dias.

A etapa de montagem, que envolvia a montagem dos componentes pré-


moldados e também de formas e estrutura de aço, havia sido planejada para entregar

358 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


um pavimento a cada 6 dias, sendo o tempo de ciclo do pavimento previsto para 9 dias
(Figura 13).

14
12
10
8
6
4
2
F9
F8

F27
F17

F29

F33
F23

F25
F20

F24

F26

F30
F19

F28

F34
F31
F32
F10

F13

F15

F21
F22
F14

F16

F18
F11
F12

Lote AB Lote CD Plano

Figura 13 – Tempo de Ciclo Montagem do Lote (dias).

Com base na quantificação das perdas, feita a partir dos dados de rastreamento
de componentes, foram identificadas oportunidades de melhorias no sistema de gestão
da produção (Quadro 4), por meio do aumento da transparência entre diferentes áreas
da empresa. Nesta análise, buscou-se questionar a visão tradicional de que se opera
com recursos ilimitados à montante, o que resulta na não consideração das perdas nos
processos de fabricação e logística.

Quadro 4 – Síntese das Causas e Oportunidades observadas.

Fabricação Logís�ca Montagem


Tempos 20,17 – 76,50 dias 0,5 – 4,73 dias 0,5 – 7,54 dias
máx. e mín.
Causas Superprodução, Trânsito, fronteira, Atrasos do fornecedor
adaptação de formas, inspeções da qualidade, de concreto,
lote planejado estoque intermediário disponibilidade de mão
diferente do entregue, de obra, interrupções
variabilidade na de medidas de
montagem segurança, processo de
aprendizagem
Oportunidades Elaborar o projeto do Aumentar transparência Padronização do
sistema de produção entre fábrica e canteiro trabalho
conforme estratégia de
montagem a par�r do
lote

Cap. 17 Novas Categorias de Perdas e Sua Incidência em Sistemas... | 359


Na interface com as outras frentes de trabalho, o trabalho em progresso foi
medido em relação à etapa de acabamentos da edificação, conforme a Figura 14.
Entretanto, foi constatado que parte dos ganhos obtidos com a rapidez na etapa de
estruturas acabou sendo dissipado na etapa de acabamentos.

Frentes de Trabalho Áreas Internas Unidades

Não Completo 24%


Iniciado
55% TNF 4%
TP 18%
Pavimento

Áreas Comuns
Não
Iniciado Completo
19% 31%

TP
TNF
38%
12%
Trabalho em Progresso (TP)
Falta de Terminalidade (TNF)
Completo

Figura 14 – Trabalho em progresso e falta de terminalidade na etapa de acabamentos.

5. Conclusões
Neste capítulo, procurou-se enfatizar que existe a necessidade de ampliar
a abordagem de industrialização na construção em relação a alguns conceitos
estabelecidos há mais de 50 anos, tais como produção em massa, robotização,
racionalização, modulação e padronização. Avanços na gestão, sustentabilidade e
tecnologia da informação devem ser incorporados na implementação de sistemas
construtivos industrializados, a fim de se obter os benefícios esperados.
Diferentemente do que ocorre em outros setores industriais, os
empreendimentos de construção são realizados por uma organização temporária, em
torno de um produto único e envolve normalmente uma ampla cadeia de suprimentos,
o que confere ao ambiente maior complexidade e incerteza quando comparado ao
ambiente da manufatura. Nesse sentido, existe a necessidade de entender as principais
categorias de perdas que ocorrem nesse ambiente específico e propor melhorias
visando à sua eliminação. O presente trabalho apresentou brevemente três estudos

360 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


nos quais a análise das perdas por trabalho em progresso, falta de terminalidade e
making-do trouxeram uma perspectiva diferente sobre os problemas existentes, que
não eram percebidos facilmente pelos gestores envolvidos.

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Cap. 17 Novas Categorias de Perdas e Sua Incidência em Sistemas... | 361


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362 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


18
http://dx.doi.org/10.26626/978-85-5953-027-8.2017C0018.p.363-382

Linha de Montagem para a


Produção de Habitações de
Interesse Social Modular em
Light Steel Frame

André Luiz Vivan


José Carlos Paliari

1. Introdução
Tradicionalmente, o processo de produção de edificações é caracterizado
pela movimentação dos operários, máquinas (se necessário) e materiais em áreas
que circundam o espaço ocupado pelo produto que está sendo construído, ou seja,
o produto é fixo enquanto operários e máquinas movimentam-se em praticamente
todo o recinto que forma o canteiro de obras. Além disso, grande parte das empresas
construtoras procuram melhorias nas atividades de processamento, tornando-as
mais eficientes em vez de torná-las mais eficazes (KOSKELA, 1992). Assim, entende-se
que a mudança nas bases técnicas seja indispensável para a aplicação de inovações
que rompam com o que tradicionalmente é praticado. Tal ação pode ser justificada
pelo fato de que as práticas tradicionais na construção estão se tornando cada vez
mais inadequadas, tendo em vista o crescimento contínuo da complexidade dos
empreendimentos e da necessidade de rapidez de entrega dessas edificações
(KOSKELA, 2000; KOSKELA; VRIJHOEF, 2001; KOSKELA, 2004; BERTELSEN et al.,2008).
Nesse sentido, mudanças nas bases técnicas de produção são uma das
transformações mais fundamentais que podem ser introduzidas na indústria da
construção. O uso de novos sistemas de produção, como os denominados flow shop,

363
mostram-se adequados nesse contexto, em que as linhas de montagem são uma das
técnicas que melhor definem tais métodos. De acordo com Gomes (2002), o termo
flow shop representa os sistemas de produção projetados a fim de fazer com que os
processos e os equipamentos necessários às tarefas estejam organizados conforme
as etapas sequenciais de produção pelas quais o produto é fabricado. Bachega (2013)
acrescenta ainda que os ambientes flow shop atuam, basicamente, em um fluxo de
peças/materiais e os equipamentos são de uso dedicado e específico.
Tubino (1999) indica algumas vantagens do uso de ambientes flow shop, como
o controle simplificado da produção, a facilidade em otimizar o sistema, a redução do
lead time da produção, entre outras. Assim, considerando a produção de habitações
em um ambiente flow shop, recorreu-se às linhas de montagem como método de
produção. Na visão de Bautista e Pereira (2007), uma linha de montagem é formada
por um determinado número de estações de trabalho, que são dispostas em série ou
em paralelo, nas quais os serviços se desenvolvem por meio de um fluxo de produção.
Os autores afirmam que tais estações são integradas por um sistema de transporte,
cujo objetivo é suprir o elemento (ou produto a ser fabricado) de componentes e
movimentar a produção de uma estação de trabalho a outra.
Tendo em vista o breve contexto apresentado, é necessário indicar a
tecnologia mais adequada a uma perfeita combinação entre o produto e o sistema
de produção. Dessa forma, foi selecionado o sistema construtivo Light Steel Frame
(LSF), pois, simplificadamente, o LSF pode ser definido como um sistema formado por
estrutura composta a partir da associação de elementos fabricados em perfis de aço
conformados a frio, que constituem os elementos estruturais e associam-se a diversos
outros sistemas, como o de vedação, o qual, geralmente, utiliza placas pré-fabricadas
com capacidade de variar sua composição. Mas a principal vantagem do LSF pode
ser identificada nos atributos dos seus elementos, que caracterizam a produção de
edificações em LSF como essencialmente de montagem, fato que representa uma
grande vantagem sobre sistemas construtivos baseados na alvenaria, por exemplo.
Dessa maneira, a justificativa do uso do LSF baseia-se em suas características
de industrialização, inerentes aos seus processos e subprocessos, em relação às
características de trabalho em uma linha de montagem que exige a pré-fabricação. Além
disso, o LSF, como qualquer estrutura metálica, possui outro atributo representado
pela precisão dimensional, de ordem de grandeza milimétrica de seus componentes,
em função das características do aço e dos processos de fabricação dos componentes.
Essa precisão pode ser mais difícil de ser obtida com outros materiais de uso comum
na construção, como a madeira para o sistema Wood Frame.
Considerando a indústria da construção, o uso de um sistema produtivo definido
por linha de montagem é algo pouco explorado, tanto no âmbito acadêmico quanto
comercial. Assim, a adoção de linhas na indústria da construção implica que as casas,

364 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


como produtos finais, sejam produzidas dentro de uma fábrica. Conforme afirmação
de Lee e Englin (1989), casas manufaturadas são inteiramente produzidas em uma
fábrica e, assim, oferecem uma grande vantagem econômica sobre casas construídas
de maneira convencional. Em termos operacionais, o processo de produção de
habitações industrializadas consiste em várias atividades realizadas em uma linha
de montagem, que deverão ser muito bem planejadas para garantir uma construção
contínua (sem imprevistos) (MEHROTRA; SYAL; HASTAK, 2003).
Assim, de acordo com o conteúdo exposto, foi proposto o desenvolvimento de
um sistema de produção flow shop, utilizando linhas de montagem manuais como
técnica de produção para unidades habitacionais modulares em LSF. O sistema
desenvolvido foi modelado e simulado computacionalmente, no intuito de avaliar o
seu comportamento, basicamente, em termos de rapidez de entrega das unidades
habitacionais e redução de desperdícios.

2. Metodologia
O projeto de uma linha de montagem envolve a integração entre o projeto
dos produtos, processos e o layout da fábrica, uma vez que os produtos devem
ser desenvolvidos com base nas regras de projetos para produção e nas restrições
produtivas entre tarefas (REKIEK; DELCHAMBRE, 2006). A fabricação de um item na
linha de montagem é dividida em um conjunto de tarefas conhecidas, e, para cada
estação de trabalho, é atribuído um subconjunto de tarefas denominadas “cargas
de trabalho da estação”, as quais são únicas e específicas para cada estação. Cada
tarefa demanda um tempo de operação, que deve ser determinado em função das
tecnologias de fabricação utilizadas e os recursos (máquinas, ferramentas, etc.)
empregados (BAUTISTA; PEREIRA, 2007).
Assim, uma casa manufaturada é produzida em um ambiente controlado de
uma fábrica e, uma vez concluída, é transportada para o destino final no qual será
instalada e conectada com as demais instalações, como fundações e sistemas prediais
(MEHROTRA; SYAL; HASTAK, 2005). Os autores mostram que, para a montagem da
unidade habitacional, são necessárias várias estações de trabalho de diferentes
tipos, as quais podem estar agrupadas em linhas principais, células de produção ou
em linhas alimentadoras. Além disso, as estações de trabalho devem ser adequadas
para comportar as ferramentas e máquinas necessárias para o desenvolvimento das
atividades atribuídas. Após a realização de diversos estudos de caso em várias indústrias
do ramo, Hammad (2002) e Mehrotra; Syal e Hastak (2005) sugerem uma divisão das
tarefas de montagem de uma casa para uso em linhas de montagem, independente
da tecnologia de construção, que serviu de base para o desenvolvimento do sistema
proposto neste estudo.

Cap. 18 Linha de Montagem para a Produção de Habitações de Interesse... | 365


Com as devidas adaptações na proposta dos autores, portanto, foi desenvolvido
o sistema de produção deste trabalho, bem como o seu respectivo modelo
computacional, adequadamente validado para posterior simulação computacional.
O modelo computacional foi elaborado no ambiente do software ProModel®,
desenvolvido pela ProModel Corporation®, obedecendo todas as premissas de
programação do software para o correto funcionamento do modelo. No que tange
à programação, destaca-se a lógica de cada estação de trabalho, que foi estruturada
com a regra FIFO (First In First Out), como condição para recebimento e liberação
dos elementos a serem processados ou já processados. Com relação aos recursos
de transporte, estes foram definidos por plataformas de montagem. Tais recursos de
transporte possuem atributos como velocidade, ponto de partida, aceleração, entre
outros, que foram informados ao software e sofreram alterações ou não, dependendo
das condições de simulação. Outros atributos como equipes e suas características e
máquinas, como pontes rolante, também foram inseridos no modelo.
Por último, a construção do modelo também contempla as definições a respeito
dos produtos. Além dos tempos de processamento que são característicos das
tarefas de montagem, o software necessita que sejam informadas as quantidades de
produção e as frequências de entrega de cada elemento. Assim, para o modelo, foram
consideradas variações nos processos. Dessa forma, as porcentagens de variação
foram obtidas considerando que, segundo Lane (2007), em sistemas de baixo volume
de produção, é usual que os tempos variem em um intervalo máximo de menos 15% e
mais 15%. O autor considera que essa variação é aceitável e, normalmente, o sistema
a compensa naturalmente ao longo dos postos de trabalho.
Com essa variação, os tempos das estações de trabalho descritos nos resultados
são entendidos como tempos padrão de processamento das atividades, possuindo
limites inferior e superior definidos com base na variação descrita, de maneira que
o lead time associado à tarefa de cada operário nos postos de trabalho variou dentro
de tais limites. A variabilidade de processos atribuída ao modelo configura o caráter
estocástico de suas simulações computacionais. Além disso, sendo um modelo
estocástico, entende-se que o seu comportamento seja algo mais próximo do que seria
observado em um sistema de produção real, dado que, por ser composto de linhas
manuais, a variabilidade de processo é algo mais recorrente, mas com capacidade de
ser melhor controlada por ser um ambiente de fábrica. A seguir, são apresentadas
as informações relativas à lógica do modelo, principalmente com relação às variáveis
incorporadas nele.
Além da programação básica que representa a sequência e o processamento
das atividades de cada estação de trabalho, o modelo também foi alimentado com
variáveis que foram utilizadas como parâmetros e medidas para comparação entre
cenários. Como explicitado, todo o transporte dos módulos ao longo das linhas é feito

366 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


pelas plataformas. Assim, houve a necessidade de não somente declarar e atribuir
as plataformas como recursos de transporte, mas também determinar qual o melhor
número desse recurso nas linhas e suas respectivas velocidades. Tais atributos das
plataformas são classificados como variáveis independentes do modelo, no qual
também se introduziu o WIP como variável independente. As variáveis dependentes
no modelo são: Tempo de ciclo (C); Lead time; Tempos de espera e bloqueio; Eficiência
do sistema (E).
Ainda dentro do contexto de lógica de funcionamento do modelo, destaca-se
que ele foi programado a partir das premissas do Just-in-Time (JIT), com a associação
do Kanban na programação das ordens de produção. Assim, algumas das variáveis
anteriormente enumeradas também foram utilizadas para a programação do
sistema JIT nos modelos. Junto a tais variáveis, também foram criados atributos, que
são específicos da programação e assumem valores absolutos para cada cenário,
necessários para o cálculo das variáveis dependentes. O cálculo dos tempos de
ciclo, tempos de produção, WIP, etc. foi feito a partir da inserção dessas variáveis em
determinadas linhas de comando do modelo, em associação com alguns comandos
reservados ao ProModel®.

3. Resultados
3.1 Unidade Habitacional em Light Steel Frame
Foi projetada uma unidade habitacional composta pela união de quatro
módulos de dimensões iguais, de acordo com as restrições técnicas e tecnológicas
do sistema LSF. Com relação aos módulos, cada um possui dimensões que foram
restringidas por dois fatores principais: transporte rodoviário e placas de vedação.
Assim, para condições usuais de transporte rodoviário, uma das dimensões do módulo
possui 2,60 m (largura) entre montantes externos, excluindo-se, portanto, as placas
de vedações externas, acabamento e beiral. A segunda dimensão, embora mais livre,
foi estabelecida em função da largura das placas de vedação (e suas juntas). Dessa
forma, decidiu-se pelo uso de três placas e suas respectivas juntas, o que resultou
em um comprimento de 3,59 m. Na Figura 1, pode ser analisada a planta da unidade
habitacional.
Cada módulo possui uma estrutura independente, o que garante a sustentação
de sua respectiva laje e cobertura sem a necessidade de estruturas especiais ou
provisórias, de maneira que, uma vez concluídos, são apenas acoplados uns aos outros
de acordo com o layout da arquitetura. A seguir, são apresentados alguns atributos
mais específicos das unidades habitacionais e seus elementos.
A unidade projetada consiste em cinco cômodos divididos em quatro módulos
de 9,42 m2 cada um, totalizando 37,66 m2 com o acabamento. O pé-direito de cada

Cap. 18 Linha de Montagem para a Produção de Habitações de Interesse... | 367


módulo alcança os 2,50 m, também considerando o acabamento no piso e laje. O
beiral da casa possui 0,30 m e avança por todos os lados da edificação.

Figura 1 – Planta da unidade habitacional composta por quatro módulos.

368 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Com relação aos cômodos, os Módulos 1 e 3 representam os dois dormitórios da
unidade. O Módulo 2 é destinado à sala de estar, comportando também a entrada da
unidade. No Módulo 4, encontram-se um corredor de acesso, a cozinha e o banheiro,
que contabilizam 1,93 m2, 3,40 m2 e 2,52 m2 respectivamente. No que diz respeito à
montagem final da unidade (acoplamento dos módulos), ela só é realizada quando
os quatro módulos encontram-se em seu destino, que deve estar com as fundações
concluídas.
A montagem de todos os elementos dos módulos obedece rigorosamente
às características do LSF como sistema construtivo, tanto em termos de sequência
de montagem quanto em termos de desempenho. Para melhor se adequar às
características do sistema de produção, foi considerado o uso de kits (montados em
células de produção) para instalações prediais, a exemplo do uso do PEX para instalações
hidráulicas). Para os módulos 1, 2 e 3, o acabamento dos painéis é representado pelo
uso de papel de parede previamente cortado, e o acabamento dos pisos é feito com
laminado de madeira, cujas peças também são previamente cortadas. O módulo 4,
por apresentar áreas molháveis, é revestido (nestas áreas) por vinil nas paredes e
pisos. Externamente, todos os módulos são revestidos com siding vinílico fixado sobre
a manta hidrofugante. As portas e janelas constituem kits e são fixadas com espuma
de poliuretano nas aberturas correspondentes. Finalmente, a fixação de mata-juntas,
rodapés e demais atividades de acabamento são executadas ainda com os módulos
separados, restando as juntas externas e internas, oriundas do acoplamento entre os
módulos, as quais são devidamente tratadas após a instalação final.

3.2 O Sistema de Produção Proposto


O sistema de produção é composto por uma linha de montagem principal em
formato U, além de outras três linhas alimentadoras e células de produção. A linha
principal, denominada Linha Alfa, foi concebida em formato U, com uma extensão
linear de 385 m, composta por 15 estações de trabalho e 2 pontos de inspeção. Tal
linha recebe elementos do LSF de 3 linhas alimentadoras: Linhas Beta e Gama, com 22
m, e linha Delta, com 62 m. As linhas alimentadoras são estruturadas por três estações
de trabalho cada uma, com exceção da Linha Delta, que possui quatro estações. A
estrutura destinada a receber as atividades de montagem é chamada de plataforma,
a qual é transportada ao longo do tajeto por trilhos que seguem o curso das linhas.
Por fim, há 10 células de produção que processam componentes para uso nas linhas
alimentadoras e para uso na linha principal. O Quadro 1 mostra a atribuição de tarefas
para a linha principal e as linhas alimentadoras, e o Quadro 2 indica as atividades
atribuídas às células de produção.
Para a Linha Alfa, foi escolhido o formato U, pois, nesse arranjo, os operários
podem ser colocados no centro do layout, possibilitando o monitoramento e auxílio

Cap. 18 Linha de Montagem para a Produção de Habitações de Interesse... | 369


mútuos sempre que necessário (REKIEK; DELCHAMBRE, 2006). Neste sentido, como
afirma Miltenburg (2001a), o espaço central da linha torna-se uma área de troca de
informações e aprendizado mútuo. Miltenburg (2001b) mostra que nesse formato,
o fluxo de produção e a movimentação dos operadores podem ser atribuídos tanto
no sentido horário quanto no anti-horário. Para essa configuração, o autor lembra o
fato de haver um constante estoque de Work in Process (WIP) entre as estações de
trabalho, o que também permite a visualização de desbalanceamentos.
Também foi considerado que todas as atividades das estações de trabalho
devem ser desenvolvidas sobre plataformas de montagem com dimensões capazes de
comportar a área ocupada por um módulo da unidade habitacional, alcançando uma
altura que permita o trabalho dos operários. Para isso, configurou-se as plataformas
com 4.40 metros de largura por 5.20 metros de comprimento. A distância adotada
entre estações de trabalho, levando em conta as dimensões das plataformas, foi de
5.80 metros, sendo essa medida suficiente para abrigar 1 plataforma que fica em
espera para entrar na estação seguinte.

Quadro 1 – Estações de trabalho e tarefas atribuídas.

Estação Descrição das A�vidades


I – Linha Principal Alfa
Alfa 1 Alinhamento e preparo da plataforma; Montagem da estrutura do contrapiso e
vedação inferior
Alfa 2 Instalação de kits hidráulicos
Alfa 3 Colocação de isolamento e de placas de substrato
Alfa 4 Fixação de painéis internos
Alfa 5 Fixação de painéis externos
Alfa 6 Fixação de laje e cobertura
Verificação da estrutura do LSF
Alfa 7 Passar fiação elétrica, instalar interruptores e tomadas
Alfa 8 Colocação de isolamento, fixação de OSB e membrana
Alfa 9 Fixar siding vinílico
Alfa 10 Fixação de OSB e PVC nos beirais e fixação das telhas shingle; Fixação de portas e
janleas
Alfa 11 Reves�mento na laje; Reves�mento de paredes internas
Alfa 12 Reves�mento na laje; Reves�mento de paredes internas
Alfa 13 Reves�mentos pisos
Alfa 14 Fixação de louças, metais e chuveiro
Alfa 15 Acabamentos interno e externo; Verificações finais de acabamento

370 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Quadro 1 – Continuação.

Estação Descrição das A�vidades


II – Linhas Alimentadoras Beta, Gama e Delta
Beta 1 Posicionar guias e montantes; parafusar ambos os lados
Beta 2 Passar eletrodutos; colocação de isolamento; fixação do gesso acartonado
Beta 3 Tratamento de juntas entre placas
Gama 1 Posicionar guias e montantes; parafusar ambos os lados
Gama 2 Passar eletrodutos; colocação de isolamento; fixação do gesso acartonado
Gama 3 Tratamento de juntas entre placas
Delta 1 Posicionar vigas e sanefas; parafusar ambos os lados
Delta 2 Passar eletrodutos; colocação de isolamento; fixação do gesso acartonado
Delta 3 Tratamento de juntas entre placas
Delta 4 Fixação da cobertura

Quadro 2 – Células de produção.

Célula A�vidade
C-2 Processamento de tubos de conexões hidráulicas para esgotamento sanitário:
montagem dos kits;
C-8 Processamento das mantas de isolamento, cortes nas placas OSB e cortes nas
membranas hidrofugantes;
C-9 Cortes e adequações nas placas de siding vinílico;
C-10 Processamento do PVC para forro dos beirais e cortes para adequação das telhas
shingle;
C11 Cortes no reves�mento para a laje; Cortes no papel de parede e vinil;
C-13 Cortes no piso laminado e no vinil;
C-15 Cortes e adequações em mata-juntas;
C-β2 Cortes e adequações nas chapas de gesso acartonado, eletrodutos, caixas de
passagem e kits hidráulicos;
C-γ2 Cortes e adequações nas chapas de gesso acartonado, eletrodutos, caixas de
passagem e kits hidráulicos;
C-δ4 Montagem de tesouras, fixação de OSB nas tesouras.

Com relação ao fluxo das linhas, para fins de simulação, sugeriu-se a adoção
do sistema chamado cart-on-track por não exigir altos níveis de automação e por
permitir que o próprio operário controle a movimentação. Tompkins e White (1984)
mostram que o mecanismo desse sistema baseia o percurso e a plataforma em um

Cap. 18 Linha de Montagem para a Produção de Habitações de Interesse... | 371


tubo rotativo. O funcionamento é relativamente simples e pode ser descrito da
seguinte forma, conforme Aized (2010): a plataforma é engatada nos trilhos sendo
movimentada pelo tubo rotativo, no qual está conectada uma roda de acionamento
que pode ser rotacionada em ângulos que variam de 0 até 45º; assim, variando-se o
ângulo, obtêm-se velocidades diferentes. A Figura 2 ilustra esse sistema. Dessa forma
Tompkins e White (1984) mostram que as plataformas podem ser controladas de
maneira independente, permitindo a alocação de várias plataformas no percurso. Isso
é possível porque as plataformas podem ficar paradas quando a roda de acionamento
estiver paralela ao tubo rotativo.

Trilhos

Plataforma

Tubo rota�vo

Roda de acionamento

Figura 2 – Sistema cart-on-track. Fonte: Adaptado de Aized, 2010.

Ao longo das linhas, há alguns pontos em que existe a necessidade de mudança


de direção das plataformas em função do layout do sistema e em função do retorno
das plataformas. Nesse caso, foram considerados pontos de mudança aqueles em que
os trilhos são rotacionados, a fim de que se alinhem em direção ao novo percurso.
Esse mecanismo, conhecido como round track, é estruturado nos próprios trilhos das
linhas de montagem e permitem as mudanças de direção necessárias quando não é
possível ou viável o uso de esteiras. Assim, na Figura 3, é mostrado o layout do sistema
proposto, com as orientações de fluxo e demais considerações necessárias para o
funcionamento.

372 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Figura 3 – Sistema de produção.

Cap. 18 Linha de Montagem para a Produção de Habitações de Interesse... | 373


Cada estação de trabalho desempenha atividades para o processamento de
diferentes elementos e/ou componentes. Portanto, os tempos de processamento de
cada estação variam de acordo com a sua finalidade, as ferramentas e/ou máquinas
que estão sendo utilizadas e com a quantidade de operários que desempenham
essas atividades. Os tempos de cada tarefa foram calculados com base em índices
de produtividade da construção para o sistema LSF e na coleta de dados em obras
residenciais que utilizaram tal sistema construtivo. Cabe destacar que algumas
condições foram pré-estabelecidas para o cálculo dos tempos, sendo elas:
• Todas as a�vidades obedecem à sequência de montagem, determinada pelo
projeto da montagem de cada elemento do módulo;
• Para cada estação, os movimentos são desempenhados por um montador e
um ajudante;
• Nos locais onde há supermercados de componentes ou elementos grandes,
montador e ajudante deslocam-se para carregar e transportar tais peças,
impactando no valor final do tempo;
• Nos locais onde há supermercados de componentes pequenos, apenas o
ajudante desloca-se para carregar e transportar, não impactando no valor
final do tempo;
• Todas as peças e componentes nos supermercados estão dispostas no chão,
exigindo que os operários se abaixem para carregar;
• As a�vidades de parafusamento são todas realizadas com parafusadeira
elétrica ao alcance dos operários.
Assim, para a linha principal, os tempos de processamento dos módulos em
cada estação de trabalho estão atribuídos na Tabela 1, bem como as equipes alocadas.

Tabela 1 – Tempos de processamento na linha principal e equipes alocadas.

Estação Equipe Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 Módulo 4


(operários) (min) (min) (min) (min)
Alfa 1 2 33.0 33.0 33.0 33.0
Alfa 2 2 0 0 0 22.0
Alfa 3 2 26.0 26.0 26.0 26.0
Alfa 4 2 7.0 7.0 7.0 12.0
Alfa 5 2 7.0 7.0 7.0 7.5
Alfa 6 2 12.0 12.0 12.0 12.0

374 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Tabela 1 – Continuação.

Estação Equipe Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 Módulo 4


(operários) (min) (min) (min) (min)
Inspeção 1 5.0 5.0 5.0 5.0
Alfa 7 2 18.5 18.5 18.5 25.0
Alfa 8 4 21.5 21.5 21.5 21.5
Alfa 9 4 31.5 31.5 31.5 31.5
Alfa 10 4 30.4 30.4 30.4 30.4
Alfa 11 6 20.65 20.65 20.65 24.25
Alfa 12 6 20.65 20.65 20.65 24.25
Alfa 13 2 35.0 35.0 35.0 35.0
Alfa 14 2 0 0 0 30.0
Alfa 15 + 5 35.0 35.0 35.0 40.0
Inspeção final

Para as linhas alimentadoras, os tempos de processamento dos elementos


podem ser visualizados na Tabela 2. Todas as estações das linhas alimentadoras
possuem 2 operários alocados.

Tabela 2 – Tempos de processamento nas linhas alimentadoras.

Elemento Estações e tempos associados (minutos)


Painel interno 3 β1 (3.2) β2 (12.9) β3 (12.9) -
Painel interno 14 β1 (7.4) β2 (15.3) β3 (15.3) -
Painel externo 1 γ1 (4.6) γ2 (12.9) γ3 (12.9) -
Painel externo 10 γ1 (7.8) γ2 (15.3) γ3 (15.3) -
Laje e cobertura 1 δ1 (12.4) δ2 (17.0) δ3 (17.0) δ4 (24.8)
Painel interno 4 β1 (5.7) β2 (12.9) β3 (12.9) -
Painel interno 15 β1 (8.2) β2 (15.3) β3 (15.3) -
Painel externo 2 γ1 (4.6) γ2 (12.9) γ3 (12.9) -
Painel externo 11 γ1 (9.0) γ2 (15.3) γ3 (15.3) -
Laje e cobertura 2 δ1 (12.4) δ2 (17.0) δ3 (17.0) δ4 (24.8)
Painel interno 8 β1 (3.2) β2 (12.9) β3 (12.9) -
Painel interno 16 β1 (7.4) β2 (15.3) β3 (15.3) -

Cap. 18 Linha de Montagem para a Produção de Habitações de Interesse... | 375


Tabela 2 – Continuação.

Elemento Estações e tempos associados (minutos)


Painel externo 5 γ1 (4.6) γ2 (12.9) γ3 (12.9) -
Painel externo 12 γ1 (7.8) γ2 (15.3) γ3 (15.3) -
Laje e cobertura 3 δ1 (12.4) δ2 (17.0) δ3 (17.0) δ4 (24.8)
Painel interno 6 β1 (5.7) β2 (12.9) β3 (12.9) -
Painel interno 17 β1 (7.4) β2 (15.3) β3 (15.3) -
Painel interno 19 β1 (5.7) β2 (12.9) β3 (12.9) -
Painel externo 9 γ1 (4.6) γ2 (12.9) γ3 (12.9) -
Painel externo 13 γ1 (6.1) γ2 (10.4) γ3 (10.4) -
Painel externo 18 γ1 (2.7) γ2 (4.55) γ3 (4.55) -
Painel externo 20 γ1 (1.5) γ2 (4.15) γ3 (4.15) -
Laje e cobertura 4 δ1 (12.4) δ2 (17.0) δ3 (17.0) δ4 (24.8)

3.3 Simulação Computacional


Assim, com as variáveis do modelo devidamente configuradas, foi iniciada a
simulação computacional. A seguir, são apresentados os resultados dessa simulação
com os resultados dos tempos de ciclo médios, lead time médio e níveis máximos de
trabalho em progresso, organizados na Tabela 3.

Tabela 3 – Tempos de ciclo dos módulos e da unidade habitacional.

Produto Tempo de ciclo médio Lead time médio WIP máximo


Módulo 1 242.27 min 121.59 min 7
Módulo 2 242.36 min 121.68 min 7
Módulo 3 242.46 min 121.79 min 7
Módulo 4 242.65 min 122.00 min 7
Unidade habitacional 242.65 min 487.06 min -

Analisando os resultados da Tabela 3 nota-se que o tempo de ciclo da unidade


habitacional é de 242.65 min. e o lead time médio é de 487.06 min., que em
horas representa, respectivamente, 4.04 horas e 8.12 horas, ou seja, uma unidade
habitacional completa leva pouco mais de 8 horas para ficar pronta, sendo o sistema
capaz de entregar uma unidade a cada 4 horas. Já o WIP teve um valor registrado de 7
unidades para cada módulo, o qual é controlado pelo sistema Just-in-Time programado

376 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


no modelo simulado. No que diz respeito ao desempenho das estações de trabalho,
na Tabela 4 estão as porcentagens relativas ao comportamento das estações da linha
principal e das linhas alimentadoras.

Tabela 4 – Estado das estações de trabalho.

Estações % Operação % Ociosa % Espera % Bloqueada


Alfa 1 56,57 2,07 41,36
Alfa 2 8,49 2,05 89,46
Alfa 3 45,02 1,28 53,69
Alfa 4 14,18 1,17 31,05 53,6
Alfa 5 12,15 1,18 28,08 58,6
Alfa 6 20,46 1,12 12,41 66,01
Alfa 7 35,09 0,92 64
Alfa 8 36,96 0,69 62,35
Alfa 9 52,71 0,54 46,74
Alfa 10 99,59 0,41
Alfa 11 68,53 31,47
Alfa 12 68,6 31,4
Alfa 13 56,87 43,13
Alfa 14 13,03 86,82 0,15
Alfa 15 61,74 38,19 0,07
MÉDIA 43,33 16,16 7,96 53,60
Beta 1 23,56 8,19 68,24
Beta 2 55,6 5,63 38,77
Beta 3 55,34 6,66 38
MÉDIA 44,83 6,83 0,00 48,34
Gama 1 22,19 6,51 71,3
Gama 2 48,02 5,82 46,16
Gama 3 48,19 6,12 45,69
MÉDIA 39,47 6,15 0,00 54,38
Delta 1 21,25 12,4 66,35
Delta 2 28,93 11,88 59,19
Delta 3 29,11 11,81 59,08
Delta 4 42,07 11,71 46,23
Média 30,34 11,95 0,00 57,71

Cap. 18 Linha de Montagem para a Produção de Habitações de Interesse... | 377


Pela Tabela 4, nota-se que as estações de trabalho passam grande parte do
tempo ocupadas, desempenhando as tarefas necessárias para a conclusão dos
produtos. Com os resultados apresentados, pode-se calcular a eficiência do sistema de
produção. O cálculo da eficiência da linha pode ser feito pelo uso da Equação 1:

WC
E= (Equação 1)
M×C
O uso dessa equação depende, portanto, do conteúdo de trabalho (WC),
número de estações de trabalho (M) e tempo de ciclo (C). De acordo com a soma
dos valores dos tempos de processamento médios para os quatro módulos, o WC é
identificado pelo valor de 1.550,40 min. Já o valor de M é de 15 estações de trabalho
(tendo em vista que as alimentadoras não participam diretamente do processamento
dos módulos, atuando apenas como fornecedoras de componentes), e o tempo de
ciclo (C) é de 242.65 min. Assim, a eficiência do sistema é de (Equação 2):

1550.40
=E = 0.4259
= 42.59% (Equação 2)
15 × 242.65
Os resultados dessa simulação mostram que é possível entregar habitações
de qualidade em poucas horas, sendo necessário, para isso, a promoção da inovação
tecnológica como atributo essencial. O sistema proposto foi capaz de entregar uma
casa a cada 4 horas, quantidade que, em termos de índices correntes na construção
civil, representa algo muito difícil de ser obtido, tendo em vista as atuais condições de
produção.
Além disso, os desperdícios, quando comparados ao de sistemas tradicionais de
construção, são drasticamente reduzidos. Por ser um sistema fabril, o desperdício de
materiais é menor e possui um nível de controle mais favorável do que num canteiro
de obras, por exemplo. Destaca-se que, em termos de desperdício, o sistema proposto
apresenta uma de suas maiores vantagens em face dos métodos tradicionais, tendo
em vista que as denominadas atividades de fluxo são reduzidas e controladas de
acordo com a demanda do sistema.

4. Conclusões
A contribuição dos resultados deste estudo, tanto no âmbito acadêmico
quanto prático, pode ser identificada em dois pontos principais. O primeiro deles é
a definição de um layout de produção específico para unidades habitacionais em LSF,
fato pouco explorado na literatura e com resultados inexpressivos sob o ponto de vista
do conceito de linhas de montagem. O segundo refere-se ao resultado da simulação
computacional, que permitiu o estudo do comportamento do sistema de produção e,

378 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


consequentemente, a compreensão da relação de causa e efeito entre as variáveis dos
modelos, garantindo a sintonia entre os elementos do sistema.
Considera-se que os resultados apresentados são de importância para o avanço
da construção civil. O desenvolvimento do layout e os resultados apresentados pelas
simulações mostram que é perfeitamente possível implementar meios de produção
mais eficazes e que não fazem parte da rotina da construção na maioria dos países.
Associado a isso, o sistema construtivo LSF corrobora para o aumento da qualidade das
edificações, tendo em vista as características de industrialização de seus componentes.
Além disso, os ciclos de produção obtidos (pouco mais de 4 horas) representam um
prazo de entrega incomum nas atuais condições da construção civil brasileira. A
rapidez de entrega e montagem das casas mostram que é possível entregar habitações
com qualidade em pouco tempo e com baixa utilização de recursos, em termos
comparativos com os tradicionais canteiros de obras.
Nesse sentido, é necessário destacar a contribuição deste estudo para a
redução do déficit habitacional no país. A rapidez de entrega das casas, associado à
qualidade que o sistema LSF pode garantir, além do baixo uso de recursos, mostram
que as políticas adotadas pelo poder público são, geralmente, ineficazes, pois não
contemplam a inovação tecnológica na construção. Pelo contrário, incentivam o uso
das velhas técnicas de construção. Como demonstrado, seria possível reduzir o déficit
habitacional apenas com algumas mudanças que garantem tanto melhores condições
de trabalho para os operários quanto melhores níveis de qualidade para as casas que
são entregues.
Outro ponto de relevância a ser destacado diz respeito à flexibilidade do
sistema de produção proposto. Apesar das simulações terem sido executadas para a
montagem de módulos que formam uma unidade habitacional, o sistema de produção
também poderia ser utilizado apenas para a montagem de painéis, por exemplo, o
que resultaria em tempos de ciclo mais baixos ainda. Outra opção seria a mudança
do sistema construtivo. Tendo em vista que o sistema de produção é essencialmente
manual, o LSF pode ser substituído pelo Wood Frame, sem grandes adaptações, uma
vez que os dois sistemas são semelhantes.
Ainda com relação à flexibilidade do sistema, outro ponto a ser destacado diz
respeito aos modelos que podem ser montados. A princípio, qualquer modelo pode
ser entregue pelo sistema de produção, desde que as questões relativas à modulação
e requisitos do sistema construtivo sejam obedecidas. Nesse sentido, é possível
entregar uma grande variedade de modelos que podem abranger diferentes tipos de
mercado, levando-se em conta que cada modelo implica em tempos de ciclo e lead
time diferentes.
Finalmente, o desempenho do modelo pode ser encarado como realístico,
tendo em vista que os tempos de processamento foram obtidos a partir de medições

Cap. 18 Linha de Montagem para a Produção de Habitações de Interesse... | 379


em obras e da análise da literatura, associado ao fato de terem sido atribuídas
variações a tais tempos. Além disso, os tempos atribuídos nas estações de trabalho
podem ser efetivamente reduzidos, dado que o fator de aprendizagem e a experiência
das equipes influenciam diretamente no comportamento das estações. Assim, a
variação dos tempos programada nos modelos pode ser significativamente reduzida,
e os tempos padrão de processamento podem, também, ser reduzidos, mesmo não
havendo automação das atividades.

Referências
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Cap. 18 Linha de Montagem para a Produção de Habitações de Interesse... | 381


19
http://dx.doi.org/10.26626/978-85-5953-027-8.2017C0019.p.383-406

Avaliação do Processo de
Revestimento com Argamassa
Projetada: Aspectos
Econômicos e Ambientais

Cristina Toca Pérez


Dayana Bastos Costa
Jardel Pereira Gonçalves

1. Introdução
Entre os sistemas de revestimento disponíveis no mercado brasileiro, o sistema
com uso de argamassa é o mais utilizado (PARAVISI, 2008). Esse tipo de revestimento
pode ser constituído de mais de uma camada, sendo denominadas de emboço e
reboco, ou pode possuir apenas uma camada, chamada de massa única (PARAVISI,
2008).
No intuito de melhorar o desempenho dos processos, o mercado da indústria
da construção civil vem implantado inovações tecnológicas, como o sistema de
revestimento por meio de argamassas projetadas (CRESCENCIO et al., 2000). No
entanto, poucos são os estudos que têm avaliado os impactos dos sistemas de
execução de revestimentos com argamassa projetada, principalmente do ponto de
vista econômico e ambiental.
O objetivo principal do presente capítulo é apresentar os resultados de uma
pesquisa que visa avaliar o processo de revestimento com argamassa projetada do
ponto de vista de seus aspectos econômicos e ambientais, a partir de quatro estudos

383
de caso realizados na região metropolitana de Salvador. Para tanto, foi definido um
conjunto de indicadores que orientaram tal avaliação de desempenho e, finalmente é
feita uma comparação entre os estudos.

2. Sistema de Revestimento com


Argamassa por Projeção
O sistema de projeção mecânica trata-se da aplicação de argamassa por meio
de equipamentos de projeção em uma superfície a ser protegida ou recuperada, com
espessura média variável de 3 a 5 cm. Duas classificações podem ser utilizadas para
categorizar o sistema de revestimento com argamassa por projeção, quais sejam: (a)
segundo a forma de projeção; e (b) segundo a mobilidade da argamassa no canteiro
(PARAVISI, 2008).
O sistema de revestimento classificado segundo a forma de projeção pode ser
divido em contínuo ou descontínuo. O processo contínuo é realizado por meio de
bombas que aplicam a argamassa no substrato sem interrupções no processo, desde
que haja uma alimentação constante. As bombas de projeção convencionais são
exemplos de processo contínuo. O processo descontínuo é realizado por projetores
a ar comprimido, nos quais a argamassa é colocada diretamente em um recipiente,
havendo uma quebra do processo de aplicação (CRESCENCIO et al., 2000; PARAVISI,
2008). O projetor por spray a ar comprimido (canequinha) é um exemplo de processo
descontínuo.
Quanto à classificação segundo a mobilidade da argamassa, tem-se a subdivisão
em sistemas estacionários e móveis. No primeiro, há a utilização de silos que distribuem
a argamassa por via seca ou por via úmida até o local de aplicação. No transporte por
via seca, o silo é pressurizado e, acoplado a ele, existe um compressor responsável
por bombear a mistura seca até o local de aplicação, onde será adicionada água. No
transporte por via úmida, a mistura de água ocorre no misturador abaixo do silo,
produzindo a argamassa. O sistema móvel utiliza argamassa ensacada e, junto com o
equipamento de mistura (misturador e bomba), são transportados entre os pavimentos
nos quais será realizada a projeção (CRESCENCIO et al., 2000; PARAVISI, 2008).

3. Indicadores para Avaliação do Sistema de


Revestimento com Argamassa por Projeção
A presente seção apresenta um conjunto de indicadores econômicos e ambientais
que podem ser usados para avaliar o processo de execução de revestimentos com
argamassa ou outros processos construtivos.

384 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


3.1 Avaliação Econômica
A seguir, serão discutidos os indicadores para avaliação econômica.

3.1.1 Índices de Produtividade


Para mensuração da produtividade, dois índices podem ser utilizados, quais
sejam: Razão Unitária de Produção (RUP) e Porcentagem de Tempo Produtivo (PTP).
A RUP é representada pela razão entre entradas (homens-hora demandados) e
saídas (quantidade de serviço executado), conforme proposto por Souza e Mekbekian
(2006). Um dos indicadores possíveis de serem levantados é a RUP cumulativa, que,
segundo Souza e Mekbekian (2006), deve ser calculada por meio da razão entre os
somatórios dos homens-hora demandados e das quantidades de serviço produzidas
diariamente, durante todo o período de estudo (Equação 1).

RUPc =
∑Hh
∑ QS (Equação 1)

Onde:
RUPc = Razão Unitária de Produção cumula�va (Hh/m²);
ΣHh = Somatório dos homens-hora demandados ao final do período de estudo (Hh);
ΣQS = Somatório da quan�dade de serviço realizada ao final do estudo (m²).
O PTP representa a porcentagem de tempo total do processo destinado a
atividades que agregam valor ao produto (SANTOS; FORMOSO; HINKS, 1996). No
processo de revestimento de argamassa por projeção, tais atividades são realizadas
pela equipe direta, ou seja, trabalhadores envolvidos diretamente com o processo.
Esse indicador pode ser calculado por meio da técnica de Amostragem do Trabalho
(OLIVEIRA et al., 1995), que será discutida no item 4. Esse indicador é calculado a partir
da Equação 2, conforme a seguir.

OP x 100
PTP = (Equação 2)
OT
Onde:
PTP =Porcentagem de Tempos Produ�vos em a�vidades que agregam valor (%);
OP = Número de observações iden�ficadas na realização de a�vidades produ�vas pela
equipe direta;
OT = Número total de observações realizadas durante as a�vidades da equipe direta.

Cap. 19 Avaliação do Processo de Revestimento com Argamassa Projetada... | 385


3.1.2 Índice de Perdas por Variação de Espessura
A variação percentual de espessura média em relação à especificada em projeto
tem o objetivo de medir as perdas de argamassa devido à espessura do revestimento,
as quais são causadas pela falta de esquadro e de prumo das estruturas e alvenarias
(PALLIARI et al., 2001). Para o cálculo desse indicador são realizadas medições em 30%
das taliscas de todas as superfícies a serem revestidas e utiliza-se a Equação 3.

Var.espessura ( % ) = ( emédia − eprojeto ) − 1 × 100 (Equação 3)

Onde:
Var.espessura = Variação da espessura média em relação à especificada em projeto (%);
emédia = espessura média (cm);
eprojeto = espessura de projeto (cm).
O cálculo do Indicador de Perdas por Variação de Espessura (Pvar.esp.) é realizado
a partir da fórmula expressada na Equação 4, que, por sua vez, é uma adaptação da
fórmula proposta por Costa (2005).

CR − CP
Pvar.esp. = (Equação 4)
CP
Onde:
Pvar.esp. = Perda por variação de espessura (%);
CR = Consumo real necessário (emédia × área produzida) (m³);
CP = Consumo previsto segundo a espessura de projeto (eprojeto × área produzida) (m³).

3.1.3 Indicador de Perdas por Transporte


As perdas por transporte podem ser definidas como todas as atividades de
movimentação de materiais que geram custo e que não adicionam valor (PÉREZ;
COSTA, GONÇALVES, 2016). Para o cálculo das perdas por transporte, foi adotado o
indicador Percentual do Tempo Total destinado em Atividades de Transporte (PTAT),
proposto por Pérez et al. (2016).
O PTAT objetiva identificar o tempo total destinado a atividades de transporte
(necessárias, evitáveis e desnecessárias) em relação ao tempo total gasto pela equipe
direta, a partir da Equação 5.

OTAT
PTAT = (Equação 5)
OT

386 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Onde:
PTAT = Percentual do Tempo total des�nado em A�vidades de Transporte (%);
OTAT = Número total de observações realizadas sobre a equipe direta executando
A�vidades de Transporte;
OT = Número total de observações realizadas durante as a�vidades da equipe direta.

3.2 Avaliação Ambiental


A seguir, serão discutidos os indicadores para avaliação ambiental.

3.2.1 Nível de Pressão Sonora


Para Iida (2005), fisicamente, o ruído é uma mistura de vibrações, medidas em
uma escala logarítmica, em uma unidade chamada decibel (dB). Acima do limiar da
percepção dolorosa, pode produzir danos ao aparelho auditivo. O indicador Nível de
Pressão Sonora (NPS) determina a intensidade do sonido que gera uma pressão sonora
instantânea. Para a coleta deste indicador, duas medidas são realizadas. A primeira
delas é feita junto aos equipamentos de mistura em funcionamento, e a outra, no local
de projeção. A NR-15 – A�vidades e operações insalubres (BRASIL, 2014) determina os
seguintes valores para um determinado período de tempo:
• Lmáximo = Valor máximo de NPS alcançado durante o estudo (dBA);
• Lmínimo = Valor mínimo (dBA).
A classificação dos riscos de ruído estabelecidos pela NR-15 – A�vidades e
operações insalubres (BRASIL, 2014) é apresentada a seguir:
• Risco grave e iminente – NPS acima de 115 dB(A);
• Risco grave – NPS acima de 100 dB(A) e abaixo de 115 dB(A);
• Risco médio – NPS entre 85 dB(A) e 100 dB(A);
• Risco leve – NPS acima de 80 dB(A) e abaixo de 85 dB(A).

3.2.2 Consumo de Água na Projeção


Para estudar o consumo de água na produção de argamassas, fez-se necessário
analisar o consumo de água por metro cúbico de argamassa produzido em central
(SILVA; VIOLIN, 2013). Neste sentido, para o cálculo do consumo de água total no
processo de revestimento com argamassa projetada é levado em conta o consumo de
água para a elaboração do traço da mistura e o consumo de água para a limpeza dos
equipamentos, conforme a Equação 6.

Cap. 19 Avaliação do Processo de Revestimento com Argamassa Projetada... | 387


A traço + Aequipamento
A=
Vreal (Equação 6)
Onde:
A = Água total consumida na projeção (m³/m³);
Atraço = Água consumida no traço (m³);
Aequipamento = Água consumida na lavagem dos equipamentos (m³);
Vreal = Volume de argamassa produzida (m³).
É importante ressaltar que o valor de água gasto no traço da argamassa é variável
com o fator A/Arg (água versus argamassa), podendo ser considerada a quantidade de
água recomendada pelo fabricante da argamassa industrializada para a elaboração da
mistura. Assim, o consumo de água no traço é o produto entre a constante dada pelo
fabricante e a quantidade de argamassa utilizada, conforme Equação 7.

A=
traço C traço × Q argamassa (Equação 7)
Onde:
Atraço = Água consumida no traço (m³);
Ctraço = 8,5 litros de água para cada 50Kg de argamassa= (0,00017m³/kg);
Qargamassa = Quan�dade de argamassa u�lizada (kg).
Para o cálculo da água consumida na lavagem dos equipamentos, pode-se levar
em consideração as leituras dos hidrômetros antes e depois da projeção, descontado
o consumo de água no traço, conforme a Equação 8.

A=
equipamento [(L f – L i )] − A traço (Equação 8)
Onde:
Aequipamento = Água consumida na lavagem dos equipamentos (m³).
Lf = Leitura final do hidrómetro (m³);
Li = Leitura inicial (m³);
Atraço = Água consumida no traço (m³).

3.2.3 Consumo de Energia Elétrica do Sistema de Projeção (E)


O consumo de energia elétrica leva em consideração a potência dos
equipamentos envolvidos no processo (argamassadeira e bomba de ar comprimido),
bem como o tempo de funcionamento deles, conforme a Equação 9.

P× d
E= (Equação 9)
Vreal

388 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Onde:
E = Energia consumida pelos equipamentos (Kwh/m³).
P = Potência do equipamento (W);
d = Duração do equipamento em funcionamento (h);
Vreal = Volume de argamassa produzida (m³).

4. Método de Pesquisa
Este trabalho foi desenvolvido por meio de quatro estudos de caso na Região
Metropolitana de Salvador, na Bahia, no período de setembro de 2012 até setembro de
2014. Cada estudo de caso foi desenvolvido em quatro etapas, conforme apresentado
no Quadro 1.

Quadro 1 – Períodos e Etapas dos Estudos de Caso.

Etapas da pesquisa Estudo A Estudo B Estudo C Estudo D


Seminário de 15/09/2012 11/03/2013 04/06/2013 30/04/2014
apresentação
Iden�ficação dos 16/09/2012 12/03/2013 06/05 a 06/05 a
fluxos �sicos 12/05/2013 12/05/2014
Coleta dos 17/09 a 13/05 a 13/05 a 13/05 a
indicadores 06/12/2012 12/04/2013 17/07/2013 17/07/2014
Avaliação do estudo 07/12/12 a 13/04 a 18/07 a 18/09 a
01/02/2013 01/05/2013 30/07/2013 05/09/2014

A primeira etapa consistiu na realização de um seminário no canteiro de obra de


cada estudo, visando explicar aos engenheiros e estagiários quais seriam as atividades
realizadas durante as visitas a campo, assim como a designação das atribuições tanto
da equipe de pesquisa como da equipe de obra. A segunda etapa correspondeu à
identificação dos fluxos físicos a partir do mapeamento de todas as atividades de
fluxo de materiais e mão de obra. A terceira etapa consistiu na coleta de indicadores,
conforme Quadro 2. É importante mencionar que a coleta de indicadores em cada
obra foi diferenciada, devido aos objetivos estabelecidos para cada estudo. Os estudos
A, B e C tiveram como foco uma análise mais geral sobre o processo de revestimento
de argamassa por projeção, abordando aspectos econômicos e ambientais. O estudo
D focou na avaliação desse sistema construtivo, do ponto de vista das perdas por
transporte, como parte da dissertação de mestrado de Pérez (2015). A última etapa
envolveu a avaliação final do estudo e a comparação entre os casos quando possível.

Cap. 19 Avaliação do Processo de Revestimento com Argamassa Projetada... | 389


Quadro 2 – Indicadores coletados em cada estudo.

Aspectos Econômicos Aspectos Ambientais


Índices de Índice de Perdas Índices de Nível de Consumo Consumo
Produ�vidade por Variação Perdas por Pressão de água de energia
Espessura transporte Sonora

RUPc PTP Pvar.esp. PTAT NPS A E


Estudo A X – X – X X X
Estudo B X – X – X – –
Estudo C X – – – X – –
Estudo D – X – X – – –

O Quadro 3 resume as principais características dos casos e da coleta geral de


dados, destacando-se os períodos de coleta, a descrição dos empreendimentos e a
descrição dos processos de revestimento com argamassa estudados. Neste trabalho,
foi considerado revestimento à base de argamassa, tanto o sistema emboço/reboco
como o de massa única.

Quadro 3 – Caracterís�cas dos Estudos de Caso.

Caraterização da Descrição do Descrição do Processo de


coleta Empreendimento reves�mento com argamassa
Estudo A 10 semanas Residencial alto padrão Reves�mento Interno
32 visitas de 2-3h 1 torre de 20 andares Projeção estacionária por via
úmida
Estudo B 5 semanas Empresarial Reves�mento Externo sem
17 visitas de 3-4h 2 torres de 23 e 15 andares vãos
Projeção estacionária por via
úmida
Estudo C 6 semanas Residencial alto padrão Reves�mento Externo com
25 visitas de 3-4h 2 torres de 28 andares vãos
Projeção móvel
Estudo D 13 semanas Residencial alto padrão Reves�mento Interno
32 visitas de 4-6h 8 torres de 16 andares Projeção móvel

4.1 Coleta de Dados


Para a coleta e o registro das informações, foram utilizadas ferramentas e
técnicas, envolvendo tanto a obtenção de dados qualitativos como quantitativos. Além

390 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


disso, foram utilizados como fontes de evidências a análise de documentos, observação
direta, anotações de campo, entrevistas e percepções das pessoas envolvidas e
documentação fotográfica.
A seguir, são apresentadas as principais ferramentas, técnicas e instrumento
utilizados para a coleta dos indicadores.

4.1.1 Planilha de Controle da Produtividade


Essa ferramenta foi utilizada para monitorar a produtividade dos operários,
por meio de medições de quantidades produzidas e homem-horas gastas em ciclos
de produção bem definidos. Os dados dessa ferramenta permitiram calcular a Razão
Unitária de Produção (RUPc).

4.1.2 Amostragem do Trabalho


Essa técnica permite determinar como o operário utiliza seu tempo, o qual
é dividido em tempos produtivos, auxiliares (transporte necessários, transportes
auxiliares e outras atividades auxiliares) e improdutivos (transporte desnecessários e
outras atividades improdutivas) (PÉREZ et al. 2016). A partir do uso dessa técnica, foi
possível o cálculo dos indicadores Porcentagem de Tempo Produtivo (PTP) e Percentual
do Tempo total destinado em Atividades de Transporte (PTAT).

4.1.3 Planilha para o Controle de Argamassa


Foi utilizado o método proposto por Costa (2005) para o controle da argamassa
produzida. Tal método permitiu o controle diário das quantidades de argamassa
que eram utilizadas no revestimento. Essas medidas eram obtidas com o apoio dos
trabalhadores da central de argamassa. A partir do uso dessa ferramenta, foi possível
o cálculo da Quantidade de argamassa utilizada (Qargamassa).

4.1.4 Planilha para o Controle de Água


Foi desenvolvida uma planilha para controlar a água incorporada na mistura e na
limpeza dos equipamentos. Nessa planilha, eram anotadas as leituras dos hidrômetros
antes e depois da projeção. A partir do uso dessa ferramenta junto com a Quantidade
de argamassa utilizada (kg), foi possível calcular o Indicador Consumo de água na
projeção (A).

Cap. 19 Avaliação do Processo de Revestimento com Argamassa Projetada... | 391


4.1.5 Planilha para o Controle de Energia
Foi criada uma folha de cálculo para controlar a energia gasta pelos equipamentos.
Nessa planilha, era anotado o tempo total que os equipamentos permaneciam em
funcionamento. A partir do uso dessa ferramenta junto com a Qargamassa, foi possível
calcular o Indicador Consumo de Energia (E).

4.1.6 Decibelímetro
O Medidor de Nível de Pressão Sonora (MNPS), também chamado
de decibelímetro, é um instrumento utilizado para realizar a medição dos NPS, e,
consequentemente, intensidade de sons, já que o NPS é uma grandeza que representa
razoavelmente bem a sensação auditiva de volume sonoro, quando ponderada. Esse
equipamento é normalmente calibrado para ler o nível de som em decibéis (uma
unidade logarítmica) (RODRIGUES et al., 2009). Dessa forma, tal equipamento permitiu,
nesta pesquisa, coletar o Indicador Nível de Pressão Sonora (NPS).
O Quadro 4 apresenta um resumo dos instrumentos, técnicas e ferramentas
utilizadas para a coleta dos indicadores utilizados no presente trabalho.

Quadro 4 – Instrumentos, Técnicas e Ferramentas u�lizadas para a coleta dos indicadores.

Indicador Instrumentos, técnicas e ferramentas u�lizadas


Índices de produ�vidade Planilha para o controle da produ�vidade
Amostragem do trabalho
Índice de perdas por variação de espessura Planilha para o controle das espessuras
Índice de perdas por transporte Amostragem do trabalho
Nível de pressão sonora Decibelímetro
Consumo de água Planilha para o controle de água
Planilha para o controle de argamassa
Consumo de energia Planilha para o controle de energia
Planilha para o controle de argamassa

5. Avaliação do Processo de Revestimento


de Argamassa
A seguir, são apresentados os resultados da análise econômica e ambiental do
processo de revestimento com argamassa projetada para os estudos realizados nesta
pesquisa.

392 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


5.1 Avaliação Econômica
5.1.1 Indicadores de Produtividade (RUPc e PTP)
Os resultados do indicador de produtividade Razão Unitária de Produção
Cumulativa (RUPc) nos Estudos A, B e C devem considerar as variáveis existentes em
cada processo, as quais levaram aos resultados registrados, tais como configuração da
equipe, tipo de sistema utilizado, tipo de transporte utilizado para a movimentação
dos funcionários, dificuldades construtivas, entre outros, conforme apresentado
no Quadro 5. Denominou-se, neste trabalho, equipe de produção de argamassa os
funcionários encarregados das funções de dosagem e projeção da argamassa. Foram
considerados pedreiros aqueles que realizavam apenas as funções de acabamento,
como sarrafamento e desempeno.

Quadro 5 – Informações para o cálculo do Indicador RUPc nos Estudos A, B e C.

Estudo A Estudo B Estudo C


Tipo de reves�mento Interno Externo sem Externo com
vãos vãos
Tipo de projeção Projeção Projeção Projeção móvel
estacionária por estacionária por
via úmida via úmida
Equipamento de transporte para a - Plataformas Balancim
movimentação dos funcionarios aéreas suspenso
mecanizado
Relação pedreiros: serventes: equipe 12:3:3 8:3:3 4:2:3
de produção de argamassa
RUPc pedreiro (Hh/m²) 0,45 1,26 0,76
RUPc servente (Hh/m²) 0,11 0,50 0,43
RUPc equipe de produção de 0,67 0,33 0,46
argamassa (Hh/m²)

Como pode ser observado no Quadro 5, os valores encontrados apresentaram


uma variação entre 0,11 e 1,26 Hh/m². Comparando-se as RUPc, observa-se que o Estudo
B apresentou o menor RUPc para a equipe de produção de argamassa (0,33 Hh/m²)
entre os três estudos realizados. Porém, esse mesmo estudo apresentou o maior RUPc
dos pedreiros (1,26 Hh/m²). Essa defasagem entre as equipes de produção e pedreiros
pode ser explicada devido à reduzida frente de trabalho encontrada no canteiro, fato
que propiciava à equipe de produção projetar uma grande área em apenas 2 horas de
trabalho, ficando ociosa o restante do tempo (Figura 1).

Cap. 19 Avaliação do Processo de Revestimento com Argamassa Projetada... | 393


Entre os fatores que contribuíram para a maior produtividade dos pedreiros no
Estudo A (0,45 Hh/m²), dentre os três estudos, destaca-se a facilidade de movimentação
dos trabalhadores, por se tratar do revestimento interno, assim como o tamanho da
equipe, formada por 12 pedreiros (Figura 2), que conseguiu acompanhar a grande
capacidade do equipamento de projeção.

Figura 1 – Equipe de produção de argamassa do Estudo B ociosa. Fonte: Autores.

Figura 2 – Cinco funcionários trabalhando num único ambiente no Estudo A. Fonte: Autores.

Os dados da amostragem de trabalho para o cálculo do indicador PTP coletado


no Estudo D foram comparados aos dados do estudo de Paravisi (2008), por ter sido o
único estudo a calcular este indicador (Figura 3).

394 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Equipe de produção
de argamassa Pedreiros Serventes
100 14 13
33,3 23,5 27
80 40
18
60 60 29
37,6 75
%

40 36
58,5
20 29,1 26
44
24
12
0
Paravisi Estudo D Paravisi Estudo D Paravisi Estudo D
(2008) (2008) (2008)

Produ�va Auxiliar Improdu�va

Figura 3 – Compara�vo amostragem do trabalho no Estudo D com Paravisi (2008).

Observa-se, pela amostragem do trabalho, que a Porcentagem de Tempo


Produtivo (PTP) da equipe de produção de argamassa foi de 26%. Ao se separar os
indicadores por função, no entanto, constata-se, no estudo D, que a produtividade da
equipe de pedreiros foi de 44% e da equipe de serventes 12%. Percebeu-se, no Estudo
D, que as atividades de sarrafamento realizadas pelos pedreiros não acompanhavam
o ritmo da projeção, embora os pedreiros dessa atividade apresentassem grandes
tempos produtivos.

5.1.2 Perdas por Variação de Espessura


Nos Estudos A e B, foi calculado o Índice de Perdas por Variação de Espessura
(Pvar.esp.), conforme apresentado no Quadro 6.

Quadro 6 – Indicadores u�lizados para o cálculo da Pvar.esp..

eprojeto emédia Nº de Área produzida CP CR (m³)


(cm) (cm) amostras (m²) (m³)
Estudo A 2,5 2,7 2131 16.653,16 416,33 449,64
Estudo B 2,0 3,0 50 1099,90 32,99 49,49

A partir do Quadro 6, pode-se observar que em ambos estudos a espessura


média executada ultrapassou o valor do projeto, de modo que a Variação da espessura
(Var.espessura) foi de 8% para o Estudo A e de 50% para o Estudo B. Em consequência, o
Pvar.esp. foi de 8% para o Estudo A e de 50% para o Estudo B. O alto valor encontrado de

Cap. 19 Avaliação do Processo de Revestimento com Argamassa Projetada... | 395


Pvar.esp. no Estudo B pode ser devido, entre outros fatores, à menor representatividade
das amostras coletadas, em virtude da dificuldade de coletar tais amostras por se
tratar de revestimento de fachada. Outro fator influenciador pode ter sido a falta
de esquadro e de prumo das estruturas e alvenarias, propiciando a necessidade de
incorporação de mais argamassa, conforme pode ser observado na Figura 4. No Estudo
B, foi inclusive necessária a instalação de tela de PVC para garantir a aderência entre
camadas, conforme indicado pela NBR 13749 (ABNT, 1996), nas áreas com espessuras
maiores a 4,0cm (Figura 5).
Comparando os resultados encontrados com trabalhos prévios, destaca-se
que Paliari et al. (1999) encontrou perda por sobre-espessura dos revestimentos com
argamassa de 82% e Costa (2005), de 21%.
Analisando a distribuição das espessuras (Figura 6) dentro dos intervalos de
valores mínimos e máximos nos Estudos A e B, observa-se que 61,0% das espessuras do
Estudo A e 30% das espessuras do Estudo B estão no intervalo de 2,0 a 3,0 cm, medidas
recomendadas pela norma NBR 13749 (ABNT, 1996). No entanto, há espessuras com
valores muito acima de 4,00 cm, observadas em 9% dos valores para o Estudo A e
22,5% para o Estudo B. Estas espessuras requerem especial atenção por contribuir
com as perdas e por deixar o revestimento vulnerável a falhas futuras, principalmente
com um maior risco de descolamento, situação que foi identificada em várias ocasiões
no Estudo B (Figura 7).

Figura 4 – Falta de esquadro entre a alvenaria e a estrutura. Fonte: Autores.

396 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Figura 5 – Aplicação de tela de PVC. Fonte: Autores.
% de observações

80
61
60
40 30 36,2
20 16,1 11,2 14 20
7,6 1,4 2,5
0
Menor Entre Entre Entre Maior
que 2,00 2,00 e 3,00 3,00 e 4,00 4,00 e 5,00 que 5,00
Espessuras (cm)

Estudo A Estudo B

Figura 6 – Distribuição das espessuras do reves�mento nos Estudos A e B.

Cap. 19 Avaliação do Processo de Revestimento com Argamassa Projetada... | 397


Figura 7 – Descolamento. Fonte: Autores.

Apenas no Estudo D foi identificada o Percentual do Tempo total destinado


em Atividades de Transporte (PTAP). As informações obtidas a partir das observações
aleatórias indicaram que 34% do tempo total do processo de revestimento com
argamassa ensacada e projeção móvel é destinado a atividades de transporte. Tais
Tempos destinados a Atividades de transporte são divididos em: transportes necessários
(16%), como a movimentação dos sacos no elevador cremalheira; transportes evitáveis
(15%), como a movimentação dos sacos entre um estoque secundário e um estoque
terciário no andar; e transportes desnecessários (3%), como a movimentação de
um pallet com sacos até um local não preparado para o estoque final da argamassa,
conforme apresentado na Figura 8. Neste estudo, ainda foram identificadas algumas
das principais causas das perdas por transporte (PÉREZ; COSTA, GONÇALVES, 2016) no
processo estudado (Figura 9).

398 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Outras a�vidades
improdu�vas, 16%
Tempos
produ�vos, 29%

Transportes
desnecessários, 3%

Outras a�vidades
auxiliares, 15%
Transportes
necessários, 16%

Transportes
evitáveis, 15%

Figura 8 – Resultados da Amostragem de Trabalho no Estudo D. Fonte: Pérez, Costa e


Gonçalves, 2015.

Informação, 2%
Embalagem
do material, 16%

Equipe, 1%
Acesso/Mobilidade, 42%

Equipamento, 27%

Armanezamento, 12%

Figura 9 – Causa das perdas nas a�vidades de transporte. Fonte: Pérez, Costa e Gonçalves,
2015.

A seguir, são apresentados, nas Figura 10, Figura 11 eFigura 12, alguns exemplos
das principais causas das perdas por transporte no Estudo D.

Cap. 19 Avaliação do Processo de Revestimento com Argamassa Projetada... | 399


Figura 10 – Perda por acesso (um banco Figura 11 – Perda por equipamento
situado na via de acesso dificulta o (funcionário transportando sacos
transporte da argamassa com o carrinho de manualmente devido à falta de carrinho de
mão). Fonte: Autores. mão). Fonte: Autores.

Figura 12 – Perda por embalagem do material (sacos rasgados). Fonte: Autores.

O cálculo dos indicadores econômicos nos estudos indicou que as produtividades


do sistema estacionário por via úmida e do sistema de projeção móvel são muito
semelhantes, sendo de extrema importância, em ambos os sistemas, um adequado
dimensionamento da equipe. No entanto, o sistema de projeção móvel, por ser menos
industrializado, destina mais tempo que o sistema de projeção móvel em atividades
auxiliares, principalmente em atividades de transporte.

400 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


5.2 Avaliação Ambiental
5.2.1 Nível de Pressão Sonora (NPS)
O Quadro 7 apresenta os Níveis de Pressão Sonora (NPS) nos locais da realização
das medidas, quais sejam: junto aos misturadores e no local da projeção, nos canteiros
dos Estudos A, B e C.

Quadro 7 – Nível de Pressão Sonora nos Estudo A, B e C.

Estudo A Estudo B Estudo C


Tipo de sistema Projeção estacionária Projeção estacionária Projeção móvel
por via úmida por via úmida
Lmáximo (dBA) 95,0 90,3 72,5

Lmínimo (dBA) 61,3 76,9 60,0

Iden�ficação dos
Lmáx e Lmín no
empreendimento

Conforme se observa no Quadro 7, os NPS obtidos nos estudos A (95dBA) e


B (90,3dbA) ultrapassam o limite de tolerância de 85 dBA, para a exposição máxima
de 8 horas, durante jornada de trabalho, conforme os limites da NR-15 – A�vidades e
operações insalubres (BRASIL, 2014). Esses valores permitem afirmar que o nível de
ruído gerado pelos equipamentos do sistema de projeção estacionaria por via úmida
são superiores aos níveis de ruído do sistema de projeção móvel, possivelmente devido
à menor potência necessária do misturador móvel para a projeção em decorrência da
energia disponível.

5.2.2 Consumo de água


No Estudo A, foi calculado o consumo de água (A) necessário para a realização
do revestimento de dez andares (Figura 13), tendo uma representatividade de 50%, na
medida em que o empreendimento estudado tinha 20 andares. Os valores encontrados
mostram que o consumo total de água para a realização de 209,62m³ de argamassa

Cap. 19 Avaliação do Processo de Revestimento com Argamassa Projetada... | 401


foi de 104,5m³, obtendo-se, portanto, um valor de 0,5m³/m³ para o indicador de Água
total consumida na projeção. Cabe ressaltar que menos da metade da Água consumida
é gasta no Traço Atraço (54,53m³).

25
18,1 19,29 19,38 20,14 18,95 19,2 19,33 19,84 19,77
20 16,31
Volume (m3)

13 15 12
15
10 9 8 10
10 6 6 6
5
7 7,01 4,44 4,44 6,99 4,44 4,44 7,06
0 4,44 4,27
1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º
Andar

Atraço+A equipamento” (m3) Atraço (m3) Vreal (m3)

Figura 13 – Consumo de Água total, consumo de Água no Traço e Volume Total de argamassa
produzida.

Na Figura 13, observa-se a grande diferença entre o consumo de água total


e o consumo de água incorporado na mistura (Atraço), obtida por meio das leituras
dos hidrômetro acoplado à boca do reservatório de água (Figura 14). Tal discrepância
é decorrente de um consumo excessivo de água na limpeza dos equipamentos
(Figura 15).

Figura 14 – Hidrômetro acoplado à boca do


reservatório de água para a mistura. Fonte:
Autores.
Figura 15 – Limpeza dos equipamentos de
mistura. Fonte: Autores.

402 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


5.2.3 Consumo de energia
No Estudo A, foi calculado o Consumo de energia elétrica do sistema de projeção
(E) durante os meses de estudo, conforme apresentado no Quadro 8. Observa-se que
a energia consumida para a projeção de um metro cúbico de argamassa foi em média
1,99Kwh/m³. O gasto total de energia para a projeção representa 9% da energia total
consumida no mês.

Quadro 8 – Energia consumida no Estudo A.

Energia Dias de Energia Volume de Energia % de


consumida no projeção consumida argamassa (Kwh/m³) energia
mês (Kwh) na projeção produzida gasta na
(Kwh) (Vreal) (m³) projeção
Setembro 2496,78 19 223,44 105 2,13 9
Outubro 3231,78 22 258,72 145 1,78 8
Novembro 2622,78 22 258,72 140 1,85 10
Dezembro 746,45 5 58,80 26 2,26 8

Por fim, o levantamento dos indicadores ambientais nos estudos indicou que
o sistema estacionário por via úmida apresenta maiores impactos que o sistema de
projeção móvel, do ponto de vista do NPS, consumo de água e energia.
Dessa maneira, a opção de utilizar projetores de ar para a realização do
revestimento, além de contribuir com a qualidade dessa atividade (PARAVISI, 2008),
pode ser uma forma de aumentar a produtividade, diminuir as perdas por espessura
e aumentar o tempo destinado a atividades produtivas, entre outras. Porém, esse
sistema apresenta maiores impactos ambientais diretos, tendo em vista o NPS, o
consumo de água gasto para a limpeza dos equipamentos e a energia utilizada pelos
equipamentos de projeção (Figura 16). No entanto, a partir de uma ponderação mais
ampla, considerando os impactos indiretos, a redução do prazo das atividades reduzirá
também atividades inerentes ao funcionamento da obra como um todo. Deste modo,
uma análise mais aprofundada e individualizada é de grande importância, já que tal
ganho de produtividade pode acarretar na compensação dos impactos ambientais
diretos.

Cap. 19 Avaliação do Processo de Revestimento com Argamassa Projetada... | 403


+

Econômicos e Ambientais
Impactos
0
Período de construção do empreendimento
Tempo

Reves�mento com argamassa projetada


Reves�mento com aplicação manual da argamassa

Figura 16 – Comparação dos impactos econômicos e ambientais ao longo do período de


construção de um empreendimento.

6. Conclusões
O presente capítulo apresentou uma análise econômica e ambiental do
processo de revestimento com argamassa projetada a partir dos indicadores coletados
em quatro estudos de caso realizados na região metropolitana de Salvador.
Entre os indicadores econômicos utilizados o PTP e o PTAT foram aqueles que
exigiram um maior esforço na sua coleta, devido à necessidade do uso da técnica da
amostragem de trabalho, consumindo bastante tempo de pesquisa. Por outro lado,
esses indicadores permitiram realizar uma quantificação dos tempos destinados em
atividades produtivas e de transporte no processo estudado. Já o indicador RUPc
mostrou-se como um indicador de coleta bastante simples, feita a partir da planilha
de controle da produção. Os resultados obtidos a partir da coleta da RUPc foram
importantes para a quantificação da produtividade dos sistemas de projeção. Por
último, embora o indicador Pvar.esp. demande uma coleta de amostras das espessuras
das superfícies a revestir, nem sempre de fácil acesso, sua análise é importante porque
a variação de espessura é apontada como uma das principais fontes de perdas de
argamassa no processo de revestimento com argamassa.
Já entre os indicadores utilizados para a avaliação ambiental, o indicador NPS
é de simples coleta, demandando apenas o uso de um decibelímetro. Para o cálculo
do Consumo de água na projeção (A), observa-se a necessidade da existência de um
hidrômetro no reservatório para a realização efetiva do controle de água utilizado. Tal
equipamento apresenta um custo baixo em relação ao benefício econômico que o

404 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


referido controle pode trazer. Por fim, a coleta do Indicador Consumo de Energia (E)
mostrou-se simples, tendo sido realizada a partir das informações dos equipamentos
oferecidos pelo fabricante e de outras informações obtidas com as planilhas de
controle de argamassa, também de fácil aplicação.
Do ponto de vista da avaliação dos sistemas de argamassa projetada estudados
nesta pesquisa, a coleta de indicadores de produtividade indicou que os sistemas de
projeção estacionários por via úmida apresentam ganhos de produtividade em relação
ao sistema de projeção móvel. De acordo com resultados obtidos, o sistema de projeção
estacionário por via úmida utilizado nas obras A e B apresenta o NPS mais elevado
(95 dBA) que o sistema de projeção móvel (72,5 dBA). Conclui-se que os operadores
das argamassadeiras analisadas estão submetidos a níveis de ruídos aceitáveis. Ainda
assim, ações de mitigação dos ruídos são recomendadas. Os resultados obtidos na
coleta do Indicador Energia consumida para a projeção (E) indicaram que são gastos
em media 1,99Kwh para a projeção de um metro cúbico de argamassa. O gasto total de
energia para a projeção representa 9% da energia total consumida no mês no canteiro
da Obra A.

Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13749: Reves�mento de paredes
e tetos de argamassas inorgânicas – Especificação. Rio de Janeiro, 1996.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora 15 (NR-15):
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Cap. 19 Avaliação do Processo de Revestimento com Argamassa Projetada... | 405


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406 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Conclusões:
Avanços e Perspectivas Futuras

O presente livro representa uma importante contribuição aos agentes da


indústria da construção civil e aos pesquisadores, compilando recomendações
práticas e reflexões teóricas úteis para a melhoria da sustentabilidade e das condições
de trabalho nos canteiros de obras. Vale ressaltar que todos os trabalhos relatados
neste livro decorrem, em maior ou menor grau, das colaborações entre pesquisadores
e representantes da indústria. Embora a importância dessa colaboração não seja
novidade, é preciso reiterar seu caráter imprescindível para garantir a relevância e
disseminação dos conhecimentos produzidos. Nesse sentido, ao longo do projeto que
permitiu a elaboração deste livro, nas cidades das universidades que fazem parte da
Rede de Pesquisa CANTECHIS, foram realizados diversos workshops visando à discussão
e disseminação dos resultados.
De modo geral, os resultados apresentados neste livro apontam que as
tecnologias para canteiros de obras sustentáveis e com condições de trabalho mais
adequadas vêm sendo objeto de melhorias incrementais, muitas vezes por parte de
iniciativas isoladas de empresas e profissionais.
Na seção do subprojeto de Diagnóstico das necessidades de inovações
tecnológicas para canteiros de baixo impacto ambiental (SPDIG), a partir dos três
trabalhos apresentados nos Capítulos 1, 2 e 3, identificou-se como desafio a exigência
inicial de um compromisso dos diversos intervenientes capazes de possibilitar
o desenvolvimento de canteiros de obras com baixo impacto ambiental , com
destaque para as construtoras, fornecedores da indústria da construção, órgãos
regulamentadores e instituições financiadoras. Com a contribuição de tais agentes, é
possível a aplicação efetiva das práticas e estratégias, além da utilização de produtos
de construção com menor impacto ambiental, social e econômico. Muitas das práticas
identificadas ao longo destes trabalhos têm valores significativamente baixos para
implantação, porém os retornos do investimento podem ser intangíveis, como o
aumento da competitividade e a melhoria da imagem da empresa perante os clientes
e a sociedade em geral.
Por outro lado, observou-se a importância dos órgãos regulamentadores e
das instituições financiadoras para o estabelecimento de políticas que demandem e

407
encorajem ações mais sustentáveis. Espera-se que os órgãos e instituições possam
estabelecer incentivos próprios para o desenvolvimento de materiais e tecnologias
para construção capazes de proporcionar o uso racional dos recursos, seja energia,
água ou materiais, bem como menores emissões e resíduos, de modo a tornar mais
rápida e efetiva a implantação dessas práticas com menor impacto ambiental, social e
econômico. Este subprojeto mostrou ainda o potencial de investigação concernente ao
estabelecimento de indicadores para o monitoramento dessas práticas e classificação
do nível de sustentabilidade adotado, sendo importante definir metas progressivas e
meios para acompanhar e divulgar os avanços do setor.
Um dos subprojetos mais desafiadores diz respeito à emissão de materiais
particulados por requerer estudos experimentais de campo e envolver variáveis
diversas, como questões meteorológicas (direção e velocidade do vento, pluviometria,
umidade e temperatura), diferentes atividades construtivas no canteiro e fatores
externos, como o arranjo físico do canteiro, a distância entre os pontos de coleta e a
construção, a proximidade dos pontos de coleta e atividades, a distância entre pontos
de coleta, a altura das construções e as contribuições externas.
O capítulo 4 trouxe uma parte dos resultados do referido subprojeto ao discutir
medidas para o controle da poeira, que podem mitigar alguns efeitos causados pela
poluição do ar, trazendo inúmeros benefícios para os diferentes intervenientes da
construção. Assim, em relação aos construtores, pode-se falar em uma provável
melhora na reputação empresarial, além de evoluções nas relações com trabalhadores,
vizinhança e clientes. Para a vizinhança, por sua vez, pode-se falar em melhoria na
saúde. O monitoramento e os estudos relativos à qualidade do ar no entorno das
construções, todavia, devem ser contínuos, dado os impactos e transtornos que as
atividades de construção causam à vizinhança da obra.
Na seção do subprojeto sistemas de proteções coletivas (SPSPC), os seis capítulos
apresentados ofereceram critérios de escolha entre as tecnologias disponíveis,
indicando-as como exemplos de melhorias incrementais. Ademais, descreveram boas
práticas que ainda não são de amplo conhecimento dos profissionais. De outro lado,
como exemplo de tecnologia recente, cujos benefícios e dificuldades de uso ainda são
pouco conhecidos, o emprego de Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs) foi discutido
no nono capítulo.
Neste subprojeto, diversas oportunidades de novas investigações foram
levantadas, como a avaliação e o aperfeiçoamento de tecnologias que, embora sejam
antigas, recentemente se consolidaram e estão em expansão, tais como: andaimes
fachadeiros, redes de segurança e novos tipos de linhas de vida. Além disto, foi

408 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


mostrado que se faz importante avaliar e aperfeiçoar tecnologias de informação
emergentes, como uso dos VANTs, sistemas eletrônicos de alerta sobre riscos e
controle por meio de radio frequência (RFID) e uso de dispositivos computadorizados
móveis. Por fim, concluiu-se que é essencial desenvolver tecnologias inovadoras para
o treinamento de profissionais de todos os níveis, como novos trabalhadores (mais
suscetíveis a acidentes) e terceirizados que ficam pouco tempo na obra, além de se
estimular tanto a implantação de simuladores, em escala real ou realidade virtual no
computador, como a integração do uso das tecnologias a novas abordagens de gestão
da segurança (por exemplo, engenharia de resiliência).
A questão da segurança do trabalho é fator essencial para que a sustentabilidade
seja efetivamente alcançada no canteiro de obra em todos os seus níveis, principalmente
no aspecto social de resgatar a dignidade e saúde do trabalhador.
Os seis capítulos do subprojeto instalações provisórias em canteiros de obras
(SPIPC) discutiram duas facetas dos desafios atualmente colocados para adoção de
tais facilidades: pelo lado da demanda, destaca-se o crescente nível de exigência por
parte dos órgãos normativos e reguladores, das construtoras e dos trabalhadores
por construções de melhor desempenho, mais econômicas e saudáveis; pelo lado da
oferta, observa-se uma mudança na diversidade e qualidade dos produtos disponíveis,
para melhor responder a tais exigências. Verificou-se a existência de vários produtos
disponíveis no mercado brasileiro para as instalações provisórias, com valor agregado,
e a possibilidade de continuar evoluindo no desempenho, seja por meio de pequenas
melhorias ou desenvolvimento de novos produtos.
Nesse contexto, os capítulos apresentam duas propostas de melhoria baseadas
nos experimentos realizados pela Rede CANTECHIS, que resultaram em soluções de
maior nível de sustentabilidade. A primeira se caracterizou por ser uma melhoria
incremental para aumentar o desempenho térmico e a economia de energia dos
módulos tridimensionais em aço – os contêineres. A segunda proposta é referente ao
desenvolvimento de um sistema construtivo de pré-moldados de concreto, visando ao
atendimento das normas técnicas de desempenho e à reutilização dos componentes.
Tais iniciativas mostraram a necessidade de continuar pesquisando e o
desafio da proposição de novas soluções que considerem a verificação do nível de
desempenho das edificações. As instalações provisórias são, muitas vezes, utilizadas
como escritórios dos canteiros de obra e deveriam ter as condições de conforto e
segurança necessárias para que os trabalhadores possam desempenhar suas funções
com produtividade e saúde.

Conclusões: Avanços e Perspectivas Futuras | 409


409
Os resultados do subprojeto voltado às tecnologias construtivas (SPTEC)
indicaram a interdependência entre as tecnologias de processo e produto. Concluiu-se
pela necessidade do uso de princípios e práticas gerenciais, como aqueles associados à
sustentabilidade e construção enxuta, que criem condições organizacionais favoráveis
ao uso das tecnologias de produto e garantam a sua melhoria contínua.
Destaca-se a proposição de novas categorias de perdas inseridas no contexto da
filosofia da produção enxuta, com aplicação em sistemas construtivos industrializados,
trazendo uma perspectiva diferente sobre a ocorrência de perdas nos canteiros de
obras e relação de causalidade, muitas vezes não percebidas pelos gestores de obras.
Como complemento, insere-se também a proposição de indicadores econômicos e
ambientais para avaliação do desempenho de processos construtivos, com ênfase no
processo de revestimento com argamassa projetada.
Além do foco no desempenho das atividades de construção realizadas nos
canteiros de obras, sob o ponto de vista gerencial, econômico e ambiental, com a
proposição de métodos e indicadores de avaliação, um dos resultados do SPTEC
transcende os canteiros de obras, com o desenvolvimento de um sistema de produção
flow shop, utilizando linhas de montagem manuais como técnica de produção
para unidades habitacionais modulares em LSF. O sistema modelado e simulado
computacionalmente se mostrou factível, contribuindo para a discussão e avanço da
industrialização da construção civil no país.
Uma vez que os resultados apresentados neste livro refletem tecnologias
existentes no período em que a pesquisa foi realizada, iniciado de fato em 2011 e
finalizado em 2017, eles estão, portanto, sujeitos à melhoria contínua. Para maior
aprofundamento sobre as questões levantadas, devem ser procurados os trabalhos
acadêmicos que resultaram do subprojeto, não incluídos no livro.
Percebeu-se que algumas situações contextuais observadas podem influenciar a
natureza dos canteiros sustentáveis e oferecer melhores condições de trabalho em um
futuro próximo, tais como: a gradativa industrialização dos processos construtivos, o
crescente uso das tecnologias da informação, a constatação do envelhecimento da força
de trabalho, as mudanças na legislação trabalhista, as mudanças climáticas, as normas
técnicas focadas em desempenho, a crescente complexidade e interdependência entre
os agentes da cadeia produtiva. Em função disso, uma dimensão da sustentabilidade
dos canteiros de obras, que possivelmente crescerá em importância, diz respeito à
sua resiliência ou capacidade adaptativa frente a um futuro contexto mais incerto e
dinâmico.

410 | Tecnologias para Canteiro de Obras Sustentável


Ao longo do projeto, várias situações positivas foram encontradas e outras
foram implantadas. A elaboração deste livro apoia-se na divulgação dessas ações e na
conscientização de mais profissionais atuantes no setor. Com o projeto CANTECHIS,
foi possível capacitar uma nova geração de pesquisadores, que estão conscientes e
dominam ferramentas gerenciais e conceitos que podem trazer melhorias efetivas
para a indústria da construção civil brasileira.
A equipe de pesquisadores envolvida no CANTECHIS tem a expectativa e entende
como necessária a continuidade do apoio das agências de fomento para promover
discussões e ações que possam levar adiante a efetiva melhoria da sustentabilidade
ambiental e das condições de trabalho na construção civil.

Tarcísio Abreu Saurin


Dayana Bastos Costa
Francisco Ferreira Cardoso
Sheyla Mara Baptista Serra
(Organizadores)

Conclusões: Avanços e Perspectivas Futuras | 411


411
O projeto de pesquisa CANTECHIS – Tecnologias para Canteiro de Obras
Sustentável de Habitações de Interesse Social (HIS) – também denominado Rede
CANTECHIS, se caracteriza como uma resposta à Chamada Pública MCT/FINEP/Ação
Transversal Saneamento Ambiental e Habitação 06/2010.
Quatro universidades formaram a rede de pesquisa colabora�va: Universidade
Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Universidade de São Paulo (USP).
A Rede CANTECHIS se iniciou em 2011 e teve duração até março de 2017 e
tratou do tema: “desenvolvimento de soluções tecnológicas aplicadas a canteiros de
obras de empreendimentos habitacionais, especialmente de interesse social, visando à
sustentabilidade ambiental e melhoria das condições de trabalho”.
A ênfase do projeto decorreu da expansão das habitações de interesse social
(HIS) por meio de programas governamentais, como o Programa Minha Casa Minha Vida
(PMCMV), das crescentes preocupações com sustentabilidade ambiental, segurança do
trabalho e necessidade de reduzir as perdas no setor da construção civil.
O projeto CANTECHIS, integralmente apoiado pela FINEP, foi estruturado em
cinco subprojetos que tratam de temá�cas relacionadas entre si, a saber:
• SPDIG – Diagnós�co das principais necessidades de soluções tecnológicas em
canteiro de obras de empreendimentos de habitação de interesse social;
• SPSPC – Aperfeiçoamento de sistemas de proteção cole�va em canteiros de
obras de empreendimentos do PMCMV;
• SPEMP – Desenvolvimento de soluções para redução da emissão de materiais
par�culados em canteiros de obras de HIS;
• SPIPC – Soluções tecnológicas sustentáveis para instalações provisórias de
canteiros de obras de HIS;
• SPTEC – Desenvolvimento de tecnologias de execução relacionadas a métodos e
sistemas constru�vos inovadores para empreendimentos do PMCMV, com foco
em sistema constru�vo industrializado.
Durante os seis anos de desenvolvimento da rede colabora�va foram realizados
vários trabalhos e a�vidades, que podem ser consultados na página do projeto
h�p://www.cantechis.ufscar.br/.
Este livro apresenta contribuições dos cinco subprojetos, oferecendo exemplos
prá�cos e reflexões teóricas relevantes para pesquisadores e outros agentes da
construção civil que desejam conhecer melhor as tecnologias que colaboram para tomar
o canteiro de obras mais sustentável e seguro.

Financiadora: Executoras: Convenente:

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